Fr. Conrado Hock - Os Quatro Temperamentos

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          Os quatro temperamentos   

Fr. Conrado Hock       

 

 

Os temperamentos em geral  O  Dr.  Jorge  Hagemann  diz  em  sua  Psicologia:  "As  modificações  (ou  as  diferenças)  dos  estados  gerais  da  alma  se  referem  menos  ao  conhecimento  do  que  ao  sentimento,  ou  seja,  menos  ao  espírito  do  que  ao  coração.  Não  tanto  no  modo  de  conhecer  quanto  na  maneira  de  sentir  e  apetecer  se  manifesta  a  índole  particular  de  cada  alma.  Nisto,  sobretudo,  se  manifesta  como  o  coração,  centro  dos  sentimentos  e  afetos,  é  em  uns  e  outros,  mais  fácil  ou  lenta,  mais  profunda  ou  superficialmente  excitável.  Essa  diversa  excitabilidade  do  coração  ou  diversa  têmpera,  com  que  uma  alma  se  inclina  a  um  determinado  sentir  ou  apetecer,  se  chama  temperamento.  Se  considerarmos  as  características  fundamentais  dos  temperamentos  individuais  e  os  agruparmos  segundo  sua  semelhança,  podem-se  dividir  em  quatro  grupos,  aos  qual  já  a  antiguidade  deu  nomes  estáveis,  unindo  arbitrárias  teorias  com  acertadas  observações:  temperamento  sanguíneo,  colérico,  melancólico,  fleumático. Estes temperamentos  se  distinguem  entre  si  quanto  à  excitabilidade:  do  sanguíneo fácil e  superficial,  a  do  colérico  fácil  e  profunda,  a  do  melancólico  lenta  e  profunda,  e,  finalmente,  a do fleumático lenta e superficial. Já que o  coração  (o  sentimento  e  afeto)  está  intimamente  relacionado  com  o  espírito  e  a  fantasia,  a  diversa  excitabilidade  do  mesmo  tem,  por  consequência,  uma  diversa  atitude  no  próprio  entendimento  e  fantasia".  O  temperamento  é,  pois,  ​uma  disposição  fundamental  da  alma,  que  se  manifesta  particularmente,  quando  esta  recebe  uma  impressão​,  seja  por  ideias  e  representações,  seja  por  acontecimentos  exteriores.  O  temperamento  nos  dá  a  contestação  a  esta  pergunta:  Como  se  conduz  o  homem,  que  sentimentos  apreenderam,  que  motor  os  impulsiona  a  operar,  quando  algo  lhes 

impressiona?  Assim,  por  exemplo:  como  se  porta  a  alma,  quando  louvada  ou  repreendida,  que  se  ofende,  quando  adverte  em  si certa  simpatia  ou  talvez  antipatia  por  uma  pessoa,  ou  quando,  por  ocasião  de  uma  tormenta  ou  de  encontrar-se  de  noite  em  um  caminho  solitário,  lhe  sobrevém  o  pensamento  de  um  iminente  perigo?  Aqui cabe fazer as seguintes perguntas:  1.  Diante  de  tais  impressões  se  excita  a  alma  com  rapidez  e  força, ou, pelo contrário, com lentidão e debilidade?  2.  Sob  tais  impressões  se  sente  a  alma impulsionada a operar  imediatamente  e  a  reagir  com  rapidez,  ou  sente  bem  a  inclinação  de  esperar  e  estar-se  tranquila?  Move-a  tais  casos  a  operar  com  ardor, ou a colocá-la mais em um estado de passividade?  3.  Esta  excitação  da  alma  dura  por  muito  ou  pouco  tempo?  Ficam  gravadas  na  alma  por  muito  tempo  tais  impressões,  de  maneira  com  somente  com  sua  recordação  se  renove  a  excitação,  ou  sabe  a  alma  sobrepor-se  de  imediato  e com facilidade, de modo  que  a  recordação  de  uma  excitação  não  chegue  a  provocar  outra  nova?  A resposta a estas perguntas nos leva como que pela mão aos  quatro  temperamentos  e  nos  dá  ao  mesmo  tempo  a  chave  do  conhecimento de cada temperamento particular e individual.  O  colérico  se  excita  fácil  e  fortemente;  se  sente  impulsionado  a  reagir  imediatamente;  a  impressão  fica  por  muito  tempo  na  alma  e facilmente conduz a novas excitações.  O  sanguíneo,  assim  como  o  colérico,  se  excita  fácil  e  fortemente,  sentindo-se  assim  mesmo  impulsionado  a  uma  rápida  reação;  porém,  a  impressão  se  apaga  logo  e  não  fica  muito  tempo  na alma. 

O  melancólico  se  excita  bem  pouco  diante  das  impressões da  alma;  a  reação,  ou  não  se  produz  nele  ou  chega depois de passado  certo  tempo.  As  impressões,  todavia,  se  gravam  muito  profundamente  na  alma,  sobretudo  se  se  repetem  sempre  as  mesmas.  O  fleumático  não  se  deixa  afetar  tão  facilmente  pelas  impressões,  nem  se  sente  mais  inclinado  a reagir; e as impressões,  por sua parte, logo se desvanecem.  O  temperamento  colérico  e  sanguíneo  são  ativos;  o  melancólico  e  fleumático  são  mais  passivos.  No  colérico  e  no  sanguíneo  há  uma  forte  inclinação  à  ação,  e  no  melancólico  e  no  fleumático pelo contrário para a tranquilidade.  Os  temperamentos  coléricos  e  melancólicos  são apaixonados  e  repercutem  muito  profundamente  na  alma;  ao  passo  que  os  sanguíneos  e  os  fleumáticos  não  tem  grandes  paixões,  nem  induzem a fortes arranques da alma.  Se  queremos  conhecer  nosso  próprio  temperamento,  não  devemos  começar  averiguando  se  temos  ou  não  em  nós  os  lados  fortes  e  débeis,  anotados  acima  para  cada  temperamento,  senão  que  devemos  responder  antes  de  tudo  as  três  perguntas  a  pouco  enumeradas.  O  mais  fácil  será  considerar  essas  perguntas,  enquanto  se  referem às ofensas que recebemos e o melhor de tudo  será nos atermos a seguinte ordem:  Costumo  aceitar  repreendendo-as? 

as 

ofensas 

com 

dificuldade 

já 

Costumo guardá-las em meu interior?  Caso  respondamos  que  de  ordinário  não  posso  esquecer  ofensas;  as  guardo  em  meu  interior;  sua  recordação  me  renova  a  excitação;  por  muito  tempo  guardo  o  mal  humor;  por  vários  dias  e  mesmo  por  semanas  inteiras  trato  de  evitar  a  palavra  e  o  encontro 

com  a  pessoa  que  me  ofendeu,  se  é  este  nosso  caso,  estamos  então certos de ser coléricos ou melancólicos.  Se,  ao  contrário,  dizemos  que  não  costumo  guardar  rancor,  nem  mostrar-me  zangado  com  os  outros  por  muito  tempo;  não  posso  deixar  de  querê-los,  apesar  da  ofensa;  e  embora  quisesse  mostrar  mal  humor  e  cara  má,  não  posso fazê-lo mais que por uma  ou duas horas, neste caso somos sanguíneos ou fleumáticos.  Convencidos  de  ser  coléricos  ou  melancólicos,  sigamos  perguntando:  Afeta-me com força e rapidez as ofensas?  Deixo entrever em minhas palavras e maneiras?  Sinto  um  forte  impulso  ao  desafio  imediato  e  à  réplica  ofensiva?  Ou  sou  capaz  de  manter-me  exteriormente  tranquilo,  enquanto  fervo no interior?  Me  embaraça,  perturba  e  desalenta de tal modo as ofensas que  não  encontro  uma  palavra  conveniente  ou  o  ânimo  necessário  para  responder, resignando-me por isso ao silêncio?  Não  me  acontece  frequentemente  o  não  sentir-me  ofendido  no  próprio  momento  da  ofensa  para  cair  umas  horas  depois  ou  no  dia  seguinte em um extremo estado de prostração?  Se  nossa  contestação  à  primeira  série  de  perguntas  é  afirmativa, somos coléricos, e se à segunda, somos melancólicos.  Temos  chegado  à  convicção  de  ser  sanguíneos  ou  fleumáticos? Nos envolvamos conosco no seguinte interrogatório:  Ao  receber  uma  ofensa  me  acendo  e  encolerizo  no  instante  querendo operar com precipitação? 

Ou consigo manter a tranquilidade?  Mostro-me indiferente às ofensas?  Persisto em meu estado de tranquilidade?  No primeiro caso somos sanguíneos, no segundo fleumático.  Somente  se  com  este  exemplo  chegamos  a  conhecer  nossos  temperamento,  podemos  averiguar  se  possuímos  as  notas  características  particulares,  tais  como  mais  adiante  será  assinalada  a  cada  temperamento.  Podemos  então  aprofundar  o  conhecimento  de  nós  mesmos,  e  em  especial  podemos  chegar  a  conhecer  o  grau  de  desenvolvimento  ao  qual  chegaram  os  lados  fortes  e  débeis  de  nosso  temperamento,  descobrindo  ao  mesmo  tempo  as  modificações  que  nosso  temperamento  predominante  tem podido sofrer por mesclar-se com os outros.  Ordinariamente  parece  coisa  difícil  conhecer  o  temperamento  próprio  e  alheio.  Contudo,  a  experiência  demonstra  que  mesmo  pessoas  sem  maior  formação  chegam  de  uma  maneira  relativamente  fácil  ao  conhecimento  de  seu  próprio  temperamento,  e  dos  que os rodeiam e de seus subalternos, contanto que lhes seja  dado  instrução  adequada  para  isto.  Porém,  a  investigação  dos  temperamentos  oferece  dificuldades  especiais  nos  casos  seguintes:  1.  Quando  o  homem  comete  muitos  pecados.  Então  a  paixão  pecaminosa  sobressai  mais  que  o  temperamento.  Assim,  por  exemplo,  pode  um sanguíneo, por sua condescendência com a ira e  a  inveja,  molestar  muito  ao  próximo  e  causar-lhe  grandes  pesares,  embora por seu temperamento se incline a lidar bem com todos.  2.  Quando  o  homem  progrediu  muito  na  perfeição.  Os  lados  débeis  do  temperamento,  como  se  manifestam  ordinariamente  em  cada homem, são então pouco perceptíveis. Santo Inácio de Loyola,  um  colérico  apaixonado,  alcançou  tal  domínio  sobre  suas  paixões 

que  no  exterior  parecia  tão  isento  de  paixões  que  os  que  lhe  rodeavam  o  tinham  por  fleumático. No sanguíneo São Francisco de  Sales  conseguiu  extinguir  completamente  os  arroubos  e  explosões  de  ira;  o  que  não  obteve  certamente,  senão  depois  de  22  anos  contínuos  de  combate  consigo  mesmo.  Os  santos  melancólicos  nunca  deixam  exteriorizar  sua  tristeza,  o  mal  humor  e  o  desalento,  a  que  tende  seu  temperamento,  senão  que,  com  um  olhar  ao  Crucificado,  sabem  dominar,  depois  de  breve  luta,  essa  perigosa  disposição de ânimo.  3.  Quando  o  homem  possui  pouco  conhecimento  de  si  mesmo.  O  que  não  conhece  tanto  suas  boas  ou  más  qualidades,  o  que  não  é  capaz  de  formar  um  juízo  sobre  a  intensidade  de  suas  paixões  e  o  modo  de  sua  excitabilidade,  tampouco  poderá  dar-se  conta  de  seu  temperamento,  e  perguntado  por  outros  que  gostariam  de  ajudar-lhe  com  o  conhecimento  de  seu  temperamento,  dá  respostas  falsas,  não  intencionalmente,  senão  precisamente  porque  não  conhece  a  si  mesmo.  Por  isso,  os  principiantes  na  vida  espiritual não chegam geralmente a conseguir  conhecer  seu  temperamento,  senão  depois  de  ter-se  exercitado  durante algum tempo na meditação e no exame particular.  4.  Quando  o  homem  é  muito  nervoso.  Pois,  as  manifestações  do  nervoso,  como  o  que  é  variável  em  sua  conduta,  a  irritação,  a  inconstância  de  sentimentos  e  resoluções,  a  inclinação  à  tristeza  e  ao  desalento,  aparecem  em  homens  nervosos  em  tal  grau  que  as  exteriorizações  do  temperamento  ficam  relegadas  a  um  segundo  plano.  Particularmente  é  difícil  conhecer  o  temperamento  de  pessoas  histéricas,  nas  quais  o  assim  chamado  "caráter  histérico"  está já completamente desenvolvido.  5.  Quando  o  homem  tem  um  temperamento  misto.  Chamamos  temperamentos  mistos  àqueles  nos  quais  predomina  um  temperamento  determinado  mesclado  ao  mesmo  tempo  com  propriedades  de  outro.  Sobre  temperamentos  puros  e  mistos  já  se 

escreveu  muito.  Uma  solução  satisfatória  dos  múltiplos  problemas  que  surgem  se  encontra  levando  em  conta  o  temperamento  dos  pais  do  interessado.  Se  o  pai  e  a  mãe  possuem  um  mesmo  temperamento,  de  igual  temperamento  serão  também  os  filhos.  São,  pois,  ambos,  pai  e  mãe  de  índole  colérica?  Os  filhos  assim  mesmo  o  serão.  Mas  no  caso  de  temperamentos  distintos,  os  filhos  terão  um  temperamento  misto.  Por  exemplo,  se  o  pai  é  colérico  e  a  mãe  melancólica,  os  filhos  serão  ou  coléricos  com  tintura  melancólica  ou  melancólico  com  tintura  colérica,  segundo  que os filhos pareçam mais ou menos com o pai ou a mãe.  Para  averiguar  em  um  temperamento  misto  qual  é  o  temperamento  predominante,  deve-se  ater  exatamente  às  perguntas  formuladas  anteriormente  para  chegar  a  conhecer  um  temperamento.  Sucede,  todavia,  embora  não  tão  frequentemente,  como  muitos  creem,  que  em  uma  pessoa  se  encontram  tão  entrelaçados  dois  temperamentos,  que  ambos  se  manifestam  sempre  com  a  mesma intensidade e força. Por isso, é naturalmente  muito  difícil  tomar  uma  decisão  quanto  ao  temperamento  que  há  de  ser  atribuído  a  tal  pessoa.  Porém,  é  provável  que  com  o  correr  dos  anos,  por  causa  de  provas  e  dificuldades  o  temperamento  predominante se manifeste.  Presta-nos  ajuda  eficaz  no  conhecimento  do  temperamento  misto e mais ainda do temperamento puro, a expressão dos olhos e  em  parte  também  o  modo  de  andar.  O  olhar  do  colérico  é  resoluto,  firme,  enérgico  e  ardente;  a  do  sanguíneo  sereno,  alegre,  despreocupado;  mas  o  olhar  do  melancólico  é  ligeiramente  triste  e  preocupado,  enquanto  que  o  do  fleumático  é  lânguido  [abatido]  e  inexpressivo.  Ao  colérico  vemos  andar  com  firmeza  e  decisão  e  avançar  depressa,  o  sanguíneo  é  ágil  e  ligeiro  no  pé,  de  passo  curto  e  às  vezes  dançante;  o  passo  do  melancólico  é  lento  e  torpe;  o 

fleumático caminha lentamente e à vontade.  Muito  facilmente  se  reconhece  o  olhar  do  colérico  (cujo  tipo  é  o  conhecido  olhar  de  Napoleão,  Bismarck)  e  o  do  melancólico  (o  conhecido  olhar  de  Alban  Stolz).  Não  podendo  encontrar  nos  olhos  nem  a  decisão  nem  a  energia  do  colérico,  nem  a  suave  tristeza  do  melancólico,  cremos  estarmos  diante  de  um  sanguíneo  ou  um  fleumático.  Também  os  olhos  nos  descobrem  o  temperamento  que  predomina  no  temperamento  misto.  Depois  de  ter  adquirido  certa  experiência  na  distinção  dos  olhares,  muitas  vezes  se  pode  já  no  primeiro  encontro  com  a  pessoa  e  mesmo  até  vendo-a  de  passagem na rua determinar seu temperamento.  Detalhes  do corpo, que se apontam em acréscimo como notas  características  dos  quatro  temperamentos  (como  a  formação  do  crânio,  a  cor  da  cara  e  do cabelo ou a constituição do pescoço e da  nuca)  não  são,  ao  meu  parecer,  mais  que  um  simples  entretenimento.  Por  mais  difícil  que  seja  em  certos  casos  chegar a conhecer o  temperamento  de  um  homem,  nem  por  isso  devemos  economizarmos  do  trabalho  de  averiguar  nosso  próprio  temperamento  e  o  dos  que  nos  rodeiam  ou  das  pessoas  com  que  tratamos com mais frequência, pois a utilidade é sempre grande.  Conhecendo  o  temperamento  de  nosso  próximo  chegaremos  a  compreendê-lo  melhor,  o  tratá-lo  com  mais  justiça  e  a  suportá-lo  com  mais  paciência.  Estas  são  vantagens  para  a  vida  social,  as  quais nunca podemos apreciar devidamente.  Chegaremos  a  compreender  melhor  nosso  próximo.  O  Dr.  Krieg  em  sua  obra:  "​A  ciência  da direção espiritual em particular​" diz  na  página  114:  "​Não  podemos  entender  nosso  próximo  enquanto  não  chegamos  a  conhecer  seu  temperamento,  suas  aspirações  e 

tendências,  pois  conhecer  um  homem  significa  sobretudo  conhecer  seu temperamento​".  Trataremos  com  mais  justiça  nosso  próximo.  A  um  colérico  conquista-se  expondo-lhe  sossegadamente  as  razões;  as  palavras  severas  e  imperiosas  o  mortificam,  o  obstinam  e  o  irritam  ao  extremo.  O  melancólico  se  torna  tímido  e  calado  com  uma  palavra  dura  ou  um  olhar  suspeito,  mas  com  um  tratamento  atento  lhe  veremos  mais  dado, confiante e fiel. Da palavra de um colérico bem  pode  alguém  fiar-se,  mas  não  das  promessas  mais  formais  do  sanguíneo.  Desconhecendo,  pois,  o  temperamento  de  nosso  próximo  nosso  trato  redundará  sem  justiça  em  dano  próprio  e  alheio.  Suportarmos  com  mais  paciência  a  nossa  próximo.  Sabendo  que  os  defeitos  e  fraquezas  do  próximo  estão  fundamentados  em  seu  temperamento,  os  desculpamos  facilmente,  sem  irritar-nos.  Não  nos  impacientaremos  se  um  colérico é azedo, duro, impetuoso  e obstinado; ou se um melancólico se porta tímida e indecisamente,  se  não  fala  muito  ou  se  o  que  tem  que  dizer,  o  profere  de  modo  impróprio; ou se um sanguíneo se mostra loquaz, ligeiro e veleidoso  [volúvel];  ou  se  um  fleumático  nunca  sai  de  sua  acostumada  tranquilidade.  É  de  grande  proveito  para  conhecer  seu  próprio  temperamento.  Conhecendo-nos  compreenderemos  melhor  também  a  nós  mesmos,  nossas  disposições  de  ânimo,  nossas  propriedades  e  nossa  vida  passada.  Uma  pessoa  muito  experimentada  e  envelhecida  na  vida  espiritual,  ao  ler  os  seguintes  conceitos  sobre  os  temperamentos  confessou:  "​Nunca  cheguei  a  me  conhecer  tão  bem  como  quando  me  vi  pintada  de  corpo  inteiro  nestas  linhas;  porém,  tampouco  ninguém  me  disse  tão  francamente  a verdade como a faz este livrinho​".  Conhecendo  nosso  temperamento,  trabalharemos  com  mais 

acerto  em  nossa  perfeição,  posto  que  todos  nossos  esforços  em  prol  de  nossa  alma  se  reduzem  unicamente  a  cultivar  as  boas  qualidades  de  nosso  temperamento  e  a  combater  suas  deficiências.  De  maneira  que  o  colérico  sempre  terá  que  lutar  acima  de  tudo  contra  sua  obstinação,  ira  e  orgulho;  o  melancólico  contra  seu  desalento  e  medo  da  cruz;  o  sanguíneo  contra  sua  loquacidade  e  inconstância,  e  o  fleumático  contra  sua  falta  de  aplicação e preguiça.  Conhecendo  nosso  temperamento,  seremos  mais humildes, já  que  iremos  nos  convencendo  de  que  o  bom  em  nós  não  é  tanto  virtude,  senão  consequência  de  nosso  natural  e  de  nosso  temperamento.  Então  o colérico falará com mais modéstia da força  de  vontade,  de  sua  energia  e  intrepidez;  o  sanguíneo  da  serena  concepção  da  vida,  da  facilidade  de  tratar  com  caracteres  difíceis;  o  melancólico  da  profundidade  de  sua  alma,  de  seu  amor à solidão  e à oração; o fleumático de sua suavidade e sossego de espírito.  O  temperamento,  por  ser  inato  no  homem,  não  pode  portanto  trocar-se  com  outro.  Porém,  podemos  sim  e  devemos  cultivar  e  desenvolver  a  parte  boa  do  mesmo  e  combater  e  neutralizar  os  influxos nocivos.  Cada  temperamento  é  bom  em  si  mesmo  e  com  qualquer dos  quatro  se  pode  operar  o  bem  e  chegar  ao  céu.  É  insensatez  e  ingratidão  desejar  outro  temperamento. "Todos os espíritos louvem  o Senhor" (S. CL, 6).  Todos  os  movimentos  e  propriedades  de  nossa  alma  hão  de  servir  a  Deus  contribuindo  assim  à  glória  de  Deus  e  salvação  das  almas.  Homens  que  tem  diversos  temperamentos  e  vivem  juntos  não  deveriam  rejeitar-se  mutuamente  senão  completar-se  e  ajudar-se uns aos outros.  Quando  mais  adiante  se  diga  que  o  colérico,  o  sanguíneo,  etc, 

faz assim ou de outro modo, não se pretende dizer:  "Tem  que  fazê-lo  assim"  ou  "o  faz  sempre  assim",  senão  "ordinariamente faz assim" ou "se inclina a fazê-lo assim".   

 

 

O temperamento colérico  1. Essência do temperamento colérico  A  alma  do  colérico,  pelas  influências  que  recebe,  se  excita  de  imediato  e  com  veemência.  A  reação  segue  instantaneamente.  A  impressão fica na alma por muito tempo.  2. Distintivo do colérico, tanto do bom quanto do mal  O  colérico  sente  e  se  entusiasma  pelo  grande,  não  busca  o  ordinário,  mas  aspira  ao  grandioso  e  sobressalente.  Tende  ao  alto,  seja  nas  coisas  temporais  ambicionando  uma  fortuna  grande,  um  comércio  muito  extenso,  uma  casa  magnífica,  um  nome  de  prestígio,  um  posto  destacado,  seja  nas  coisas  de  sua  alma  sentindo  em  si  um  veemente  desejo  de  santificar-se,  de  fazer  grandes  sacrifícios  por  Deus  e  pelo  próximo  e  de  salvar  muitas  almas  para  a  eternidade.  A  virtude  inata  do  colérico  é  a  generosidade,  que  despreza  o  baixo  e  o  vil  e  suspira  pelo  nobre,  grande e heroico.  Nestas suas aspirações ao grande o apoiam:  Um  entendimento  agudo.  Na  maioria  das  vezes,  se  bem  que  nem  sempre,  o  colérico  é  um  bom  talento; é um homem intelectual,  ao  passo  que  sua  fantasia  e  especialmente  sua  vida interior não se  encontram desenvolvidas, senão que são um tanto raquíticas.  Uma  vontade  forte,  que  não  se  intimida  diante  das  dificuldades,  senão,  pelo  contrário,  emprega  toda  sua  vitalidade  e  persevera  a  custo  de  grandes  sacrifícios  até  chegar  a  sua  meta.  Não conhece o que é pusilanimidade e desalento.  Um  grande  apaixonamento.  O  colérico  é  o  homem  das 

grandes  paixões;  transborda  de  violentas  paixões  maximamente  quando encontra resistência ou persegue seus altos projetos.  Um  instinto  frequentemente  inconsciente  de  dominar  e  sujeitar  aos  demais.  O  colérico  nasceu  para  mandar;  está  em  seus  elementos,  quando  pode  ordenar  e  organizar  as  grandes  massas  do povo.  A  imprudência  é  para  o  colérico  um  obstáculo  sumamente  perigoso  em  sua  aspiração  ao  grande.  Ele  é  a  tal  ponto  absorvido  que,  uma  vez  que  deseja,  se  lança  apaixonadamente  e  cegamente  até  a  meta  concebida  sem  sequer  refletir,  se  o  caminho  adotado  realmente  conduz  ao  fim.  Vê  este  único  caminho  eleito  em  um  momento  de  paixão  e  de  pouca  reflexão,  sem  dar-se  conta  de  que  por  outro  caminho  poderia  chegar  a  seu  fim  com  muito  mais  facilidade  e  segurança.  Encontrando-se  diante  de  grandes  obstáculos  em  um  caminho  errado  pode,  cegado  pela  soberba,  resolver-se  com  dificuldade  a  desandar  o  andado  e  prova  ainda  o  impossível por conseguir seu fim.  Chega,  por  dizer  assim,  a  perfurar  a  parede  com  a  cabeça,  tendo  ao  lado  uma  porta  que  lhe  permite  a  entrada.  Deste  modo,  gasta  mal  suas  energias,  se  vê  aleijado  pouco  a  pouco  de  seus  melhores  amigos  e  acaba por estar isolado e mal visto em todas as  partes.  Depois  de  lançar-se  a  perder  seus  mais  belos  êxitos,  todavia  nega  que  ele  mesmo  é  a  causa  principal  de  seus  fracassos.  Esta  imprudência  na  eleição  de  meios  se  coloca  de  manifesta  também  em  suas  aspirações  à  perfeição,  de  modo  que  apesar  de  todos  seus  grandes  esforços  não  chegará  à  perfeição.  O  colérico  pode  prevenir  este  perigo  submetendo-se  dócil  e  humildemente  às  normas do diretor espiritual. 

3. Más qualidades do colérico  A. Orgulho: que se manifesta nos seguintes pontos:  a) O colérico é muito presunçoso.  b)  Tem em alta estima suas qualidades pessoais e seus êxitos  e  se  tem  por  algo  excepcional  e  chamado  a  altos  destinos.  Até  suas  próprias  faltas,  por  exemplo,  seu  orgulho  obstinado  e  cólera,  as considera justificáveis e mesmo dignas de toda aprovação.  c)  O  colérico  é  um  egotista  muito  caprichoso.  Crê  sempre  ter  razão,  quem  tem  a  última palavra, não sofre contradição e não quer  ceder em nada.  d)  O  colérico  se  fia  muito  em  si  mesmo.  Isto  é,  de  sua  ciência  e  faculdades.  Rejeita  a  ajuda  alheia,  gosta  de  fazer  os  trabalhos  sozinho,  seja  por  crer-se  mais  apto  que  os  demais  na  plena  segurança  de  sua  própria  suficiência  para  levar  a  feliz  término  a  obra empreendida.  Dificilmente  se  convence  de  que  mesmo  nas  coisas  de  pequena  importância  requer  auxílio  divino;  pelo  qual,  não  é  de  seu  agrado  impetrar  a  graça  de Deus e queria com suas próprias forças  resistir vitoriosamente a grandes tentações.  Por  esta  presunção,  na  vida  espiritual  cai  o  colérico  em  muito  e  graves  pecados  e  é  esta  também  a  causa  porque  tantos  coléricos,  apesar  de  seus  grandes  sacrifícios,  não  chegam  nunca  a  fazerem-se  santos.  Nele  radica  uma  boa  parte  do  orgulho  de  Lúcifer.  Se  conduz  como  se  a  perfeição  e  o  céu  não  devessem  atribuir-se  em  primeiro  lugar  à  graça  divina  senão  aos  seus  esforços pessoais.  e)  O  colérico  despreza  o  próximo.  Aos  demais  tem  por  tontos  e  débeis,  torpes  e  lerdos,  pelo  menos  em  comparação  consigo.  Este  menosprezo  pelo  próximo  se  manifesta  em  suas  palavras 

depreciativas,  zombeteiras  e  inconsideradas  e  no  seu  proceder  arrogante com os que o rodeiam, sobretudo com seus súditos.  f)  O  colérico  é  ambicioso  e  mandão.  Sempre  quer  figurar  em  primeiro  lugar,  ser  aplaudido  e  suplantar  os  demais.  Sua  ambição  lhe  faz  diminuir,  combater  e  perseguir  aqueles  que  lhe  cruzam  o  caminho, e isto não raras vezes com meios pouco nobres.  g)  O  colérico  se  sente  profundamente  ferido  quando  é  envergonhado  e  humilhado.  Não  sem  mal  humor  recorda  seus  pecados,  pois  lhe  obrigam  a  ter-se  em  menor  conta  e  não  poucas  vezes chega a desafiar a Deus.  B.  O  colérico  se  excita  profundamente  pela  contradição,  resistência e ofensas pessoais.  Este  estado  de  ânimo  se exterioriza por palavras duras, que se  bem  pronunciadas  em  forma  cortês  e  correta  ferem,  não  obstante,  profundamente, pelo tom com que as profere.  Não  há  nada  que  possa  ferir  tão  dolorosamente  com  menos  palavras  do  que  um  colérico.  Porém,  o  mais  agravante  é  que  o  colérico,  na  veemência  de  sua  ira,  faz  recriminações  falsas  e  exageradas,  e  em  seu  apaixonamento  chega  a  interpretar  mal  e  tergiversar  as  melhores  intenções  do  que  se  crê  ofendido,  e  estas  ofensas  falsamente  supostas,  as  reprova  com  as  expressões  mais  amargas.  A  injustiça  com  que  trata  a  seus  semelhantes  faz  com  que se esfriem suas melhores amizades.  Sua  ira culmina não poucas vezes em acessos de raiva e furor;  daqui  há  somente  um  passo  ao  ódio  concentrado.  Os  grandes  insultos  jamais  os  esquece.  O  colérico  em  sua  ira  e  orgulho  se  deixa  levar  por  ações  que  ele  sabe  muito  bem  que  serão  prejudiciais,  por  exemplo,  à  sua  saúde,  trabalho,  fortuna;  ações  pelas  quais  se  verá  obrigado  não  somente  a  abandonar  seu  emprego,  senão  também  a  romper  com  velhas  amizades.  O 

colérico  é  capaz  de  abandonar  projetos  queridos  durante  longos  anos,  somente  por  não  ceder  a  um  capricho.  Diz  o  Pe.  Schram  em  sua  "Teol.  Mist.,  II,  66":  "O  colérico  prefere  a  morte  do  que  a  humilhação".  C. Hipocrisia e dissimulação.  A  soberba  e  obstinação  conduzem  o  colérico  não  poucas  vezes  a  meios  tão  ruins como a dissimulação e hipocrisia, podendo  ser,  por  outro  lado,  muito  nobre  e  sincero  por  natureza.  Não  querendo  confessar  uma  debilidade  ou  derrota,  dissimula.  Ao  ver  que  seus  projetos  não  saem  sem  problemas,  apesar  de  seu  empenho,  não  lhes  resta  nada  mais  que  fingir  e  valer-se  de fraudes  e  mentiras.  O  Pe.  Schram  diz  em  outro  lugar:  "Se  é  castigado,  não  corrige seus vícios, mas os oculta".  D. Insensibilidade e dureza.  O  colérico  é,  antes  de  tudo,  um  homem  intelectual;  tem,  por  assim  dizer,  duas  inteligências,  mas  um  só  coração.  Esta  deficiência  na  vida  sentimental  lhe traz não poucas vantagens. Não  se  aflige  ao  ver-se  privado  de  consolações  sensíveis  em  meio  a  oração  e  pode  suportar  por  muito  tempo  o  estado  de  aridez  espiritual.  É  alheio  a  sentimentos  ternos  e  afetuosos  e  aborrece  as  manifestações  delicadas  de  amor  e  carinho  que  costumam  nascer  das  amizades  particulares.  Tampouco  uma  mal-entendida  compaixão  é  capaz  de  fazer-lhe  abandonar  o  caminho  do  dever  e  obrigar-lhe a renunciar a seus princípios.  Mas  esta  frieza  de  sentimentos  tem  também  suas  grandes  desvantagens.  O  colérico  pode  permanecer  indiferente  e  insensível  frente  a  dor  alheia  e  se  seu  próprio  engrandecimento  o  reclama,  não  vacila  em  pisotear  impiedosamente  a  felicidade  que  outros  desfrutam.  Seria  de  desejar  que  os  superiores  de  índole colérica se  examinassem  diariamente,  se  não  tenham  sido  talvez  duros  e  exigentes  com  seus  súditos,  particularmente  com  os  enfermos, 

débeis de talento e remissos.  E. Qualidades boas do colérico.  Quando  o  colérico  coloca  sua  vitalidade  característica  ao  serviço  do  bem,  chega  a  ser  um  instrumento  sumamente apto para  a  glória  de  Deus  e  a  salvação  das  almas,  redundando  tudo  isto  em  seu  próprio  aproveitamento  espiritual  e  temporal.  A  tudo  isto  contribui  sobremaneira  a  agudeza  de  seu  entendimento,  sua  aspiração  ao  nobre  e  grande,  o  vigor  e  decisão  de  sua  vontade  varonil  e  essa  maravilhosa  amplitude  e  clareza  de  olhar  com  que  concebe pensamentos e projetos.  Com  relativa  facilidade  pode chegar o colérico a santidade. Os  santos  canonizados  pela  Igreja,  são,  em  sua  maioria,  coléricos  ou  melancólicos.  Um  colérico solidamente formado não sente maiores  dificuldades  para  manter-se  recolhido  na  oração,  pois  com  a  energia  de  sua  vontade  desfaz  facilmente  as  distrações;  e  isto  se  explica  antes  de  tudo  levando  em  conta  que  por  natureza  sabe  reconcentrar  com  grande  prontidão  e  intensidade toda sua atenção  a  um  determinado  assunto e esta é provavelmente também a razão  pela  qual  os  coléricos  chegam  tão  facilmente  a  contemplação,  ou,  como  chama  Santa  Teresa,  a  oração  de  quietude.  Em  nenhum  outro  temperamento  poderá  encontrar-se  a  contemplação  propriamente  dita  com  tanta  frequência  como  no  colérico.  O  colérico  bem  desenvolvido,  é  muito  paciente  e  forte  em  suportar  dores  corporais,  sacrificado  nos  sofrimentos,  constante  nas  penitências  e  mortificações  interiores,  magnânimo  e  nobre  para  com  necessitados  e  débeis,  cheio  de  repugnância  contra  tudo  o  que  é  vil  e  baixo.  E  embora  a  soberba  penetre  a  alma  do  colérico  por  assim  dizer,  em  todas  suas  fibras  até  as  últimas  ramificações,  de  modo  que  pareça  não  ter  outra  paixão  além  da  soberba,  sabe,  não  obstante,  suportar  e  mesmo  buscar  voluntariamente  as  mais  vergonhosas  humilhações,  se  seriamente  aspira  à  perfeição.  Por  sua  natureza  insensível  e  dura  tem  poucas  tentações  de 

concupiscência  e  com grande facilidade pode levar uma vida casta.  Todavia,  entregando-se  um  colérico  voluntariamente  ao  vício  da  impureza  e  buscando  nele  sua  satisfação,  resultam  atrozes  e  horrendas nele as erupções desta paixão.  O  colérico  alcança  grandes  coisas  também  em  seu  labor  profissional.  Por  ser  seu  temperamento  ativo,  se  sente  incitado  continuamente  à  atividade  e  ao  trabalho.  Não  pode  estar  desocupado  e  os  seus  trabalhos  o  faz  com  rapidez  e  aplicação;  tudo  lhe  vai  muito  bem.  Em  suas  empresas  é  persistente  e  não  se  amedronta  diante  das  dificuldades.  Pode-se  colocá-lo  sem cuidado  em  postos  difíceis  e  confiá-lo  grandes  coisas.  No  falar  o  colérico  é  breve  e  conciso;  nem  é  amigo  de  repetições  inúteis.  Essa  forma  breve,  concisa  e  firme  em  seu  falar  e  apresentar-se  dá  aos  coléricos,  que  trabalham  na  educação,  muita  autoridade.  As  educadoras  coléricas  têm  algo  de  varonil  e  não  são  aos  seus  alunos  o  braço  a  torcer  como  ocorre  com  as  melancólicas  indecisas.  Os  coléricos,  ademais,  sabem  calar-se  como  um  sepulcro.  F.  Do  que  o  colérico  tem  que observar particularmente em sua  própria educação.  a)  O  colérico  deve  tirar  grandes  pensamentos  da  palavra  de  Deus  (meditação,  leitura,  sermão),  ou  da  experiência de sua própria  vida.  Eles devem enraizar-se bem em sua alma e entusiasmarem-se  sempre  de  novo  pelo  bem  e  as  coisas  de  Deus.  Não  importa  que  não  sejam  muitos  esses  pensamentos.  Ao  colérico  Santo Inácio de  Loyola,  lhe  bastava  o  "Tudo  para  a  maior  glória  de  Deus";  ao  colérico  São  Francisco  Xavier:  "Que  vale  o  homem  ganhar o mundo  inteiro  se  com  isso  perder  a  sua  alma?".  Um  bom  pensamento,  que  cativa  o  colérico  servirá  de  norte  e  guia  para  conduzi-lo,  apesar  de  todas as dificuldades, aos pés de Jesus Cristo.  b)  Um  colérico  deve  aprender  a  pedir  diariamente  a  Deus  com 

constância  e  humildade  sua  ajuda  divina.  Enquanto  não  tenha  aprendido  isto,  não  adiantará  muito  no  caminho  da  perfeição.  Pois  também  para  o  colérico  vale  a  palavra de Cristo: "pedi e recebereis"  e  se,  ademais,  se  vencer  para  pedir  um  conselho  e  apoio  a  seu  próximo,  embora  não  fosse  senão  a  seu  superior  ou  confessor,  adiantaria ainda mais.  c)  Um  colérico  deve  deixar-se  levar  em  tudo  por  este  bom  propósito:  não  quero  buscar  minha  própria  pessoa,  senão  considerar-me  sempre:  (a)  como  instrumentos  de  Deus  que  ele  pode  usar  à  vontade,  e  (b)  como  servo  de  meu  próximo,  que  diariamente  se  sacrifica  pelos  demais.  Deve  operar  segundo  a  palavra  de  Cristo:  "Quem  entre  vós  queira  ser  o  primeiro, seja servo  de todos".  d) Um colérico tem que lutar continuamente contra o orgulho e  a  ira.  O  orgulho  é  sua  desgraça,  a  humildade  sua  salvação.  Portanto,  (a)  faça  sobre  este  ponto um exame particular por muitos  anos!  (b)  Humilha-te  por  iniciativa  própria  diante  dos superiores, do  próximo  e  na  confissão!  Pede  por  um  lado  a  Deus  que  os que mais  proximamente  te  rodeiam  te  humilhem,  e  por  outra,  aceita  com  grande  generosidade  as  que  te  sobrevenham.  Vale  mais  para  um  colérico ser humilhado por outros do que humilhar-se a si mesmo.  G. Do que se deve observar na educação de um colérico.  O  colérico  pode, por suas faculdades, ser de grande utilidade à  família,  aos  que  o  cercam,  à  comunidade  e  ao  estado.  Pois,  o  colérico  bem-educado  vai  atrás  das  almas  extraviadas  sem  descanso  nem  respeito  humano.  Propaga  com  constância  a  boa  imprensa  e  trabalha  de  boa  vontade  apesar  dos  maus  êxitos  no  florescimento  das  associações católicas, sendo assim uma bênção  para  a  igreja.  Mas,  por  outro  lado,  se  o  colérico  não  combate  as  más  qualidades  de  seu  temperamento,  a  ambição  e  a  obstinação  lhe  poderão  levar  ao  extremo  de  causar,  como  a  pólvora,  grandes 

estragos  e  confusão nas associações públicas e privadas. Pelo que  o  colérico  merece  uma  educação  esmerada,  sem  economizar  trabalhos  e  sacrifícios,  já  que  são  grandes  os  bens  que  ela  comporta.  a)  Ao  colérico,  sendo  suas  aptidões  excelentes,  deve  aperfeiçoá-lo  quanto  seja  possível  a  fim  de  que  aprenda  realmente  algo.  Do  contrário,  quererá  ele  mesmo  aperfeiçoar-se  mais  tarde  descuidando  de  seu  labor  profissional  ou,  o  que  é  muito  pior,  envaidecendo-se  excessivamente  de  suas  habilidades  embora  na  realidade  não  tenha  cultivado  suas  aptidões,  isto  é,  em  rigor,  não  tenha aprendido algo.  Os  coléricos  menos  aproveitados  de  talentos  ou  com  suas  faculdades  pouco  desenvolvidas  (nas  forças  de  suas  faculdades)  podem  chegar,  alguma  vez  independentes  ou  com  o  cargo  de  superior  nas  mãos,  a  grandes  desacertos  e  amargar  a vida dos que  os  rodeiam,  obstinando-se  em  suas  ordens,  embora  não  entendam  muito  nem  tenham  claros  conceitos  do  que  se  trata.  Tais  coléricos  operam  frequentemente  segundo  aquele  famoso  axioma:  "Assim  quero, assim ordeno; basta minha vontade como razão".  b)  Deve-se  induzir  o  colérico  a  que  se  deixe  educar  voluntariamente,  isto  é,  a  que  aceite  voluntária  e  alegremente  tudo  o  que  se  ordena  para  humilhar  seu  orgulho  e  refrear  sua  cólera.  Não  se  corrigirá  o  colérico  com  um  tratamento  duro  e  orgulhoso,  antes,  se  amargará  e  endurecerá  mais;  ao  contrário,  propondo-lhe  razões  e  motivos  sobrenaturais  se  lhe  poderá  levar  facilmente  ao  bem.  Na  educação  do  colérico  não  deve  deixar-se  levar  pela  ira  dizendo:  "Para  ver  se  assim  consigo  romper  a  obstinação  deste  homem".  Ao  contrário,  deve  ficar-se  tranquilo  e  esperar  que  também  se  tranquilize  o  educando;  logo,  se  poderá  falar  nestes  termos:  "Seja  sensato  e  deixe-se  conduzir  de  maneira  que  possam  retificarem-se suas faltas e enobrecer-se o bem em você". 

Também  na  educação  do  menino  colérico  o  principal  será  sugerir-lhe  bons  pensamentos,  colocá-lo  diante  de  seus  olhos  sua  boa  vontade,  seu  pudor,  sua  repugnância  ao  baixo,  insinuar-lhe  sua  felicidade  temporal  e  eterna  e  induzir-lhe  a  corrigir,  sob  direção  do  educador,  suas  faltas  e  aperfeiçoar  suas  boas  qualidades,  por  iniciativa  própria.  Não  convém  amargar  ao  menino  colérico  com  castigos  vergonhosos,  senão  persuadir-lhe  da  necessidade  e  motivos justos do castigo imposto.   

 

 

O temperamento sanguíneo  1. Essência do temperamento sanguíneo.  A  alma  do  sanguíneo  se  excita  rápida  e  veementemente  por  qualquer  impressão;  a  reação  é  instantânea;  mas  a  impressão  fica  muito  pouco  tempo  na  alma. A recordação de coisas passadas não  provoca tão facilmente novas emoções.  2. Disposições fundamentais do ânimo sanguíneo (tanto do  bem como do mal).  1. Superficialidade.  O  sanguíneo  não  penetra  até  o  fundo,  nem  vai  ao  todo,  senão  se  contenta  com  a  superfície  e  uma  parte  do  todo.  Antes  de  concentrar-se  em  um  objeto,  o  interesse  do  sanguíneo  já  se  paralisa  e  desvanece  pelas  novas  impressões  que  o  ocupam.  É  amigo  de  trabalhos  fáceis,  vistosos,  que  não  exigem  demasiado  labor  intelectual.  E  é  difícil  convencê-lo  deste  seu  defeito:  a  superficialidade;  pois  sempre  crê  ter  entendido  todas  as  coisas;  assim,  por  exemplo,  ter  compreendido  bem  um  sermão,  embora  a  metade  do  mesmo  tenha  estado  muito  longe  de  seus  alcances  intelectuais.   2. Inconstância.  Por  não  ficar  muito  tempo  as  impressões  na  alma  sanguínea,  de  imediato  seguem-se  outras.  Consequência  disto  é  uma  grande  inconstância,  que  todos  os  que  tratam  com  os  sanguíneos  tem  de  levá-la  em  conta,  se  não  querem  desenganar-se  de  pronto.  O  sanguíneo  é  inconstante  em  sua disposição de ânimo; rapidamente  passa  do  riso  a  choradeira  e  vice-versa;  é  inconstante  em  suas 

opiniões:  hoje  defende com tensão o que impugnou a uma semana;  é  inconstante  em  suas  resoluções:  ao  propor-se  um  novo  ponto  de  vista  abandona  sem  remorsos  todos  seus  planos  e  projetos  anteriores;  esta  inconstância  faz,  às  vezes,  suspeitar  que  o  sanguíneo não tem caráter nem princípios.  O  sanguíneo  nega  esta  inconstância,  posto  que  aduz  novas  razões  para  cada  uma  destas  mudanças.  Não  se  fixa  o  bastante  em  que  é  necessário  deliberar  de  antemão  todas  suas  ações  para  não  se  entregar  sem  mais  nem  mais  a  qualquer  impressão  ou  opinião.  Também  em  seus  trabalhos  e  diversões  é  inconstante,  querendo  sobretudo  a  variedade;  se  assemelha  a  abelha,  que  voando  de  flor  em  flor  retém  de  todas  elas  tão  somente  a  melhor;  ou  um  menino,  que  bem  pronto  se  cansa  do  novo  jogo  recebido  de  presente de seus pais.  3. Interesse pelas coisas exteriores.  O  sanguíneo  não  se  concentra  de boa vontade em seu interior,  senão  que  gosta  mais  de  fixar  sua  atenção  em  coisas  exteriores,  sendo  nisto  justamente  o  contrário  do  melancólico,  quem,  com  predileção  penetra  em  sua  vida  interior  e  no  mundo  de  seus  pensamentos, sem advertir o que passa em seu exterior.  Este  gosto  pelas  coisas  exteriores  se  manifesta  no  interesse  que  toma  o  sanguíneo  pela  beleza  da  roupa  da  casa,  pelas  formas  elegantes  do  trato  com  os  demais.  Neles,  sobretudo,  são  ativos  os  cinco  sentidos,  enquanto  que  o  colérico  trabalha  mais  com  o  entendimento e o melancólico com os sentimentos.  O  sanguíneo  precisa  ver  tudo  e  ouvir  e  tem  que  falar  sobre  tudo.  A  ele  chama  muito  a  atenção  a  facilidade,  vivacidade  e  infinidade  de  palavras,  a  qual  muitas  vezes  é  para  os  demais  uma  pesada  loquacidade.  Por  sua  viva  ação  sensitiva  tem  muito  interesse  para  as  coisas  pequenas,  qualidade  favorável  que  mais 

ou menos falta ao colérico e ao melancólico.  4. Serena concepção da vida.  O  sanguíneo  considera  tudo  sob  seu  aspecto  mais  sereno.  Como  é  otimista  não  conhece  dificuldades,  senão  que  sempre  confia  no  bom  êxito  e  se  realmente  sai  mal  alguma  coisa  se  consola  facilmente  e  não  se  aflige  por  muito  tempo,  tendo  em  conta  este  seu  gozo  pela  vida,  se explica sua peculiar inclinação de  zombar  dos  demais,  tomar-lhes  pelo  cabelo  e  fazer-lhes  vítimas  de  suas  brincadeiras  e  más  jogadas;  para  a  qual  supõe  o  sanguíneo  como  coisa  natural,  que  os  demais  aguentem  seus  desagrados  extravagantes  e  não  pode  menos  que  admirar-se  ao  ver  que,  pelo  contrário,  se  zangam  por  suas  brincadeiras  e  provocações  pouco  agradáveis.  5. Carência de paixões enraizadas.  Como  se  excitam tão facilmente as paixões do sanguíneo, não  penetram no profundo de sua alma; e se parecem como um fogo de  palha  que  por  um  momento  produz  forte  crepitar  e  muito  logo  se  funde  em  si  mesmo;  enquanto  que  as  do  colérico  é  semelhante  a  um  incêndio  devorador.  Esta  carência  de  afetos  profundos  lhes  é  de  tanta  maior  utilidade  quanto  que  quase  sempre  lhe  priva  de  grandes  tempestades internas e lhe ajuda a servir a Deus com certa  hilaridade  e  sossego,  livre  do  apaixonamento  do  colérico  e  da  timidez e ansiedade do melancólico.  3. Más qualidades do sanguíneo  A. Vaidade e satisfação de si mesmo.  A  soberba  do  sanguíneo  não  se  manifesta  em  um  afã  imoderado  de  mandar  ou  sendo  egotista  como  no  colérico, nem no  medo  das  humilhações,  como  no  melancólico,  senão  em  certa  vaidade  e  complacência  de  si  mesmo.  Experimenta  uma  alegria 

quase  pueril  de  si  mesmo,  de  seu  exterior,  de  seu  vestido  e  seus  trabalhos;  se  olha  de  boa  vontade  no  espelho  e  no  vidro das portas  e  janelas.  Ao  ser  louvado  se  sente  feliz,  e  é,  por  conseguinte,  muito  viciado  na  adulação.  Por  meio  de  elogios  e  lisonjas  facilmente  se  deixa  induzir  às  maiores  necessidades  e  até  mesmo  aos  mais  vergonhosos pecados.  B. Inclinação aos galanteios, a inveja e aos zelos.  Como  o  sanguíneo  se  mostra  tão  suscetível  a  palavras  lisonjeiras  e  tão  pouco  concentrado  em  si  mesmo,  dando  por outra  parte  demasiada  importância  às  coisas  exteriores,  se  inclina  facilmente  às  amizades  particulares  e  as  intrigas. Porém, seu amor  inconstante não lhe penetra até o fundo da alma.  O  sanguíneo  bem  educado  gostaria  de  contentar-se  em  seus  galanteios  somente  com  as  ternuras  e  demonstrações  exteriores  de  afeto;  todavia,  sua  ligeireza  e  culpável  intransigência  lhe  arrasta  a  graves  extravios,  na  maioria  das  vezes  por  seu otimismo, ou seja,  da  opinião  que  tem,  de  que  o  pecado  não  lhe  poderia  acarretar  consequências  funestas.  Uma  mulher  sanguínea  de  má  vida  se  entrega  sem  temor  nem  vergonha  ao  pecado;  nem  depois  dele  se  inquieta por remorsos.  A  vaidade  e  a  inclinação  as  intrigas  levam  o  sanguíneo  à  inveja,  aos  zelos  e  a  todas  aquelas  concepções  loucas,  olhares  estreitos  e  violações  da  caridade  que  a  inveja  e  os  zelos  trazem  consigo.  Por  deixar-se  absorver  facilmente  pelas  exterioridades  e  por  sua  propensão  às  amizades  particulares,  ao  sanguíneo  lhe  custa  muito  ser  imparcial  ou  justo.  Os  superiores  e  educadores  têm  frequentemente  um  favorito  a  quem  antepõem  aos  demais.  O  sanguíneo se sente impulsionado a lisonjear aos que lhe agradam.  C. Gozo pela vida e afã de prazeres. 

O  sanguíneo  não ama a solidão senão que busca a companhia  e  conversações  dos  homens;  quer  desfrutar  da  vida  e  em  suas  diversões podem ser muito brincalhões, licenciosos e frívolos.  D. Medo das virtudes que exigem grande esforço.  Tudo  o  que  significa  sacrifício  para  o  corpo  e  os  sentidos  lhe  parece  difícil.  Coisas  penosas  são  para  ele  o  refrear  a  vista  e  os  ouvidos, o dominar a língua e observar o silêncio. Tampouco são de  seu  agrado  a  abnegação  do  paladar  e  a  abstenção  de  manjares  agradáveis;  teme  todo  exercício  de  penitência  corporal.  Somente  um  sanguíneo  perfeito  busca  fazer  penitência  de  muitos  anos  por  seus  pecados  anteriores.  O  sanguíneo  ordinário  vive  segundo  o  princípio  de  que  a  absolvição  sacramental  da  penitência  apaga  os  pecados  e  tem,  portanto,  como  inútil  e  ainda  prejudicial  o  afligir-se  pelas faltas passadas.  E. Outras desvantagens do temperamento sanguíneo.  a)  Os  juízos  do  temperamento  sanguíneo  são  com  frequência  falsos,  seja  porque  não  averigua  mais  que  a  superfície  das  coisas,  nem  vê  as  dificuldades  das  mesmas,  seja  porque se mostra parcial  em seus afetos de simpatia.  b)  As  empresas  do  sanguíneo  fracassam  facilmente,  pois,  confiando  sempre  no  bom  êxito,  não  detém  a  mente  em  eventuais  dificuldades  e  impedimentos;  outro  motivo  de  seus  fracassos  o  encontramos  em  sua  inconstância  que  bem  pronto  e  por  qualquer  coisa  lhe  tira  o  interesse.  Prova  disto  é o fato muito significativo de  que  muitos  dos  que quebram em seus negócios ou sofrem grandes  perdas de fortuna, são de índole sanguínea.  c)  O  sanguíneo  é  inconstante  no  bem.  Como  se  entrega  de  bom  grado  à  direção  dos  outros,  se  deixa  seduzir  com  grande  facilidade,  caindo  em  mãos  de  homens  perversos  e  levianos.  O  sanguíneo  se  entusiasma  rapidamente  pelo  bom, mas rapidamente 

languidesce  seu  entusiasmo.  Como  São  Pedro,  salta  com  valor  do  barco  querendo  caminhar  sobre  as  águas  do  rio,  mas  logo  lhe  sobrevém  o  temor  de  poder  submergir-se;  como  São  Pedro  saca  impetuosamente a espada em favor de seu Mestre para fugir pouco  depois;  como  São  Pedro  se  junta  com  a  melhor  intenção  aos  inimigos de Cristo e entre eles rapidamente o nega três vezes.  d)  Por  dissipar  sempre  seu  coração  e  ser  inimigo  de  todo  recolhimento  e  de  qualquer  reflexão  profunda  sobre  si  próprio  e  sobre  seu  modo  de  operar  não  alcança  um  suficiente  conhecimento de si mesmo.  e)  A  vida  de  oração  do  sanguíneo  padece  detrimento  com  estas  três  dificuldades.  A  primeira,  surge  nas  assim  chamadas  orações  interiores,  nas  quais  se  requerem  muitas  reflexões  mais  longas  e  tranquilas,  isto  é,  na  meditação,  na  leitura  espiritual  e  no  exame  particular.  Logo  a  distração  facilmente  provocada  pela  vivacidade  dos  sentidos  e  a  intranquilidade  de  sua  fantasia,  lhe  impede  de  chegar  a  uma  concentração  mais  profunda  e  duradoura  em  Deus.  Finalmente,  dá  em  suas  orações  excessivas  importância  aos  sentimentos  e  ao  consolo  sensível,  o qual, em tempo de aridez,  lhe tira o gosto pela piedade.  4. Boas qualidades do sanguíneo  A.  O  sanguíneo  tem  muitas  qualidades  pelas  quais  pode  levar-se bem com seus semelhantes e fazer-lhes simpáticos.  a)  Prontamente  conhecido  em  todas  as  partes  é  confiado  e  loquaz  com  todas  as  gentes  e  se  comunica  facilmente  com  pessoas desconhecidas.  b)  É  afável  e  alegra  em  suas  palavras  e  conduta  e  sabe  entreter  divertidamente  aos  que  o  cercam  referindo  interessantes  narrações, brincadeiras e agudezas. 

c)  É  muito  atento  e  obsequioso.  Não  presta  um benefício com  a  frieza  do  colérico,  nem  com  o  coração  tão  afetuoso  como  o  melancólico,  senão  que  o  faz  de  uma  maneira  alegre  e  serena  que  com gosto se aceita o favor.  d)  Se  mostra  sensível  e  compassivo  nas  desgraças  de  seu  próximo  sempre  disposto  a  ajudar-lhe  em  sua  aflição com palavras  serenas e alentadoras.  e)  Possui  o  dom  especial  de  fazer  notar  os  defeitos  do  próximos,  sem  que  este  se  sinta  ferido,  nem  lhe  custa  muito  dirigir-lhe  uma  repreensão.  Se  a  alguém  se  precisa  comunicar  coisas  desagradáveis  convém  preparar  o  terreno  por  intermédio  de  um sanguíneo.  f)  É  verdade  que,  ao  ser  ofendido,  se  acende  rapidamente  e  sua  ira,  prorrompe  às  vezes  em  expressões  ruidosas  e  quase  deliberadas;  mas  depois  de  ter  desabafado,  esquece  tudo,  sem  guardar rancor de nada.  5. Boas qualidade do sanguíneo  A.  O  sanguíneo  tem  muitas  qualidades  que  lhe  fazem  simpático a seus superiores.  a)  O  sanguíneo  é  dócil  e  submisso;  pelo  qual,  a  virtude  da  obediência,  que  geralmente  se  tem  por  difícil  de  guardar,  não  lhe  acarreta maiores dificuldades.  b)  É  sincero  e  sem  maior  sacrifício  sabe  desabafar-se  diante  dos  superiores  quanto  as  suas  dificuldades,  estado  de  ânimo  e  até  mesmo seus pecados vergonhosos.  c)  Se  é castigado não guarda rancores; pois a obstinação lhe é  desconhecida.  Os  súditos  sanguíneos  não  causam  maiores  dificuldades  ao  superior.  Não  obstante,  tenha  este  cuidado  com  eles,  posto  que  tais  podem  corresponder-lhe  com  a  adulação;  o 

qual  põe  em  perigo  a  paz da vida comum. Nem tampouco mostre o  superior  maior  preferência  por  um  sanguíneo  que  pelos  coléricos  e  melancólicos,  nem  repreenda  a  estes  últimos,  por  ser  eles  tão  reservados  e  por  não  pode  expressar-se  nem  desabafar-se  tão  facilmente.  6. Do que tem que observar o sanguíneo em sua auto  educação.  a)  O  sanguíneo  deve  aprender  a  refletir  muito,  tanto  nos  assuntos  espirituais  como  nos  materiais.  Com  especial  esmero  cultivará  os  exercícios  de  piedade  que  requerem  reflexão,  como  são  a  meditação  matutina,  a  leitura  espiritual,  o  exame  particular,  a  meditação  na  oração  do  rosário  e  frequentes  atos  da  presença  de  Deus.  A  disposição  significa  a  ruína  do  sanguíneo,  ao  passo  que  o  recolhimento  e  o  cultivo  da  vida  interior  são  sua  salvação.  Ao  ocupar-se  em  negócios  deverá  dizer-se  sempre:  "Não  creias  ter  deliberado  o  bastante  sobre  o  assunto";  considera  todos  seus  pontos  e  detalhes;  leva  em  conta  as  dificuldades,  que  casualmente  te prevenirem; não seja demasiado confiante, nem otimista.  b)  O  sanguíneo  deve  exercitar-se  diariamente  na  mortificação  dos  sentidos,  dominar  a  vista,  os  ouvidos  e  a  língua,  endurecer  o  tato, preservar seu paladar de guloseimas, etc.  c)  O  sanguíneo  deverá  seguir  as instruções dos bons (não dos  maus)  e  aceitar,  portanto,  sua  ajuda  e  seus  conselhos  na  direção  espiritual.  Diz  Schram:  "​Bem  protegidos  os  sanguíneos  chegarão  à  santidade​".  Uma  forte  muralha  de  amparo  oferecerá  um  horário  bem  regulado;  na  vida  comum  a  observância  da  regra  da  casa  ou  da ordem a que pertence.  d)  A  aridez  de  longa  duração  é  para  o  sanguíneo  uma  prova 

particularmente  saudável  porque  nela  se  purifica  sua  vida  sentimental malsã.  e)  O  sanguíneo  deve  aperfeiçoar,  ademais,  suas  boas  qualidades,  como  a  caridade  do  próximo,  a  obediência,  a  sinceridade,  a  alegria  da  alma;  e  estas  boas  qualidades  lhes  há  de  enobrecer  por  meio  de  intenções  sobrenaturais.  Combaterá  sem  descanso  aquelas  faltas  as  quais  mais  inclina  sua  natureza,  isto  é,  a  complacência  de  si  mesmo,  a  predileção  por  amizades  particulares,  a  sensualidade,  os  zelos,  a  ligeireza,  superficialidade e  inconstância.  7. Observações sobre a educação e o trato com os  sanguíneos.  A  educação  e  o  trato  com os sanguíneos é relativamente fácil.  O  tenha  reduzido  a  estreita  vigilância;  se  insista  em  que  não  deixe  sem  acabar  os  trabalhos  começados.  Não  se  deverá  demasiado  crédito  a  suas  palavras,  propósitos  e  promessas;  deve  fixar-se  ademais  no  cuidado  que  coloca  em  seus  trabalhos;  nunca  deverá  ser  tolerado  uma  lisonja  de  sua  parte,  nem  antepor-lhe  aos  demais  por  seu  caráter  atento.  Por  fim,  tenha-se  presente  que  o  sanguíneo  não  guarda  em  seu  interior  o  que  lhe  é  dito  ou  o  que  é  observado  em  nós,  senão  que  tudo  irá  comunicar  aos  demais.  Portanto,  se  deliberará bem antes de fazê-lo confidente.  Na  educação  de  um  menino  sanguíneo  tenha-se  em  conta  os  seguintes pontos:  a)  Conduzi-lo  com  severidade à abnegação de si mesmo, e em  particular,  ao  perfeito  domínio  sobre  seus  sentidos,  à  tenaz  perseverança em seus trabalhos e a observância de boa ordem.  b)  Reduzi-lo  a  estreita  vigilância  na  direção;  preservá-lo  cuidadosamente  das  más  companhias  (já  que  com tanta facilidade 

se deixa seduzir).  c)  Não  contraria-lo  nem  tirar  sua  jovialidade;  mantendo-lhe,  não obstante, em seus justos limites.     

 

 

O temperamento melancólico  1. Essência do temperamento melancólico  A  alma  do  melancólico  se  excita  debilmente  por  influências  externas;  e  sua  reação,  se  é  que  reage,  é  assim  mesmo  débil.  Porém,  tal  excitação,  mesmo  que  sempre  débil,  permanece  longo  tempo  na  alma;  e favorecida por novas impressões, que se repetem  no  mesmo  sentido,  aprofunda mais e mais até apoderar-se e mover  com  violência  a  alma,  e  não  deixar-se  arrancar  logo  sem  dificuldade.  As  impressões  na  alma  do  melancólico  se  parecem  a  um  poste,  que,  à  força  de  marteladas,  se  vai  afundando  na  terra  dura  com  lenta,  mas  crescente  tensão,  fixando-se  com  tanta  firmeza  que  não  é  fácil  arrancá-lo.  Esta  nota  característica  do  melancólico  merece  especial  atenção,  posto  que  nos  dá  a  chave  para  chegar  ao  conhecimento  de  muitas  coisas  que  na  conduta  do  melancólico nos parecem inexplicáveis.  2. Principais disposições de ânimo do melancólico  A. Propensão à reflexão.  Em  seu  modo  de  raciocinar,  o  melancólico  se  detém  demasiado em todos os antecedentes até as causas últimas. Como  se  dá  de  boa  vontade  à  consideração  do  passado,  sempre  volta  a  recordar  os  acontecimentos  que  transcorreram  a  tempos.  Seu  pensamento  tende  ao  profundo;  não  fica  na  superfície,  senão  que  seguindo  as  causas  e  a  conexão  das  coisas,  indaga  as  leis  ativas  da  vida  humana,  os  princípios  segundo  os  quais  deve  operar  o  homem;  seus  pensamentos,  por  fim,  se  estendem  a  um  campo  vasto, penetram no porvir e se elevam até o eterno.  O  melancólico  possui  um  coração  cheio  de  abundantes  e 

ternos  afetos,  no  qual  sente  de  certo  modo  o  que  pensa.  Suas  reflexões  vão  acompanhadas  de  uma  misteriosa  ânsia.  Ao  meditar  sobre  seus  planos  e  particularmente  sobre  assuntos  religiosos,  se  sente  comovido  em  seu  interior,  e  mesmo  profundamente  agitado.  Porém,  apenas  deixa  transluzir  em  seu  exterior  estas  ondas  de  violenta  paixão.  O  melancólico  sem  formação  incorre  facilmente  em  um  meditar  e  sonhar  desperto,  porque  não  é  capaz  de  resolver  as múltiplas dificuldades que de todas as partes o assediam.  B. Amor pela solidão.  Prolongadamente  o  melancólico  não  se  sente  bem  na  companhia  dos  homens.  Prefere  o  silêncio  e  a  solidão.  Encerrando-se  em  si  mesmo,  se  isola  do  que  o  cerca  e  emprega  mal  seus  sentidos.  Na  presença  dos  outros  se  distrai  facilmente  e  não  escuta  nem  atende,  por  ocupar-se  com  as  próprias  ideias.  Por  causa  do  mal  uso  que  faz  de  seus  sentidos  não  se  fixa  nas  pessoas,  como  se  estivesse  sonhando,  nem  sequer  saúda  a  seus  amigos  na  rua.  Semelhante  desatenção  e  sonhar  de  olhos  abertos  lhe acarretam mil contrariedades em suas tarefas e vida cotidiana.  C. Séria concepção da vida e inclinação à tristeza.  O  melancólico  sempre  considera  as  coisas  em  seu  aspecto  negro  e  adverso.  No  íntimo  de  seu  coração  se  encontra  continuamente  certa  suave  melancolia,  certo  "choro interno"; o qual  não  provém,  como  afirmam  alguns,  de  uma  enfermidade  ou  disposição  mórbida,  senão  de  um  profundo  e  vivo  impulso  que  o  melancólico  sente  em  si  para  Deus  e  a  eternidade,  e  ao  qual  não  pode  corresponder,  atado  como  está  à  terra pelo peso e as cadeias  da  matéria.  Vendo-se  ausente  de  sua  verdadeira  pátria  e  tendo-se  por peregrino no mundo, sente nostalgia pela eternidade.  D. Propensão à quietude.  O  temperamento  melancólico  é  um  temperamento  passivo.  O 

melancólico  não  conhece  o  proceder  acelerado,  impulsivo  e  laborioso  do  colérico  e  do  sanguíneo;  é  mais  bem  lento,  reflexivo,  cauteloso;  nem  é  fácil  empurrá-lo  a ações rápidas; em uma palavra,  no  melancólico  se  nota  uma  notável  inclinação  à  quietude,  a  passividade.  Deste  ponto  de  vista,  poderá  explicar-se  também  seu  medo  dos  sofrimentos  e  seu  temor  aos  esforços  interiores:  a  abnegação de si mesmo.  3. Particularidades especiais do melancólico  O melancólico é muito reservado.  a)  O  melancólico  dificilmente  se  aproxima  de  pessoas  estranhas,  nem  entra  em  conversação  com  desconhecidos.  Revela  seu interior com suma reserva, e na maioria das vezes somente aos  que  têm  mais  confiança;  e  então  não  encontra  palavra  conveniente  para  declarar  a  disposição  de  sua  alma.  O  melancólico  sente  a  necessidade  de  expressar-se  de  vez  em  quando  acerca  do  estado  de  sua  alma.  Porém,  até  chegar  a  tal  colóquio  deve  superar  numerosas  dificuldades,  e  no  próprio  discurso  será  tão  torpe  que,  apesar de sua boa vontade, não encontrará calma.  Tais  experiências  lhe  fazem,  todavia,  mais  reservado.  Um  educador  deve  conhecer  e  ter  em  conta  esta  nota  característica  do  melancólico;  do  contrário,  tratará  a  seus  educandos  melancólicos  com  grande  injustiça.  Geralmente,  ao  melancólico  custa  muito  o  confessar-se,  não  assim  ao  sanguíneo.  O  melancólico  gostaria  de  desabafar-se  por  meio  de  um  colóquio  espiritual,  mas  não  pode;  o  colérico poderia expressar-se, mas não quer.  b)  O  melancólico  é  irresoluto.  Por  suas  excessivas  reflexões,  por  seu  temor  das  dificuldades,  por  seu  medo  de  que  saia  mal  o  plano  ou  o  trabalho  a  empreender,  o  melancólico  não  acaba  de  resolver-se.  Adia  de  boa  vontade  a  decisão  de  um  assunto,  o  despacho  de  um  negócio.  O  que  poderia  fazer  imediatamente,  o 

deixa  para  amanhã  ou  passa  para  a  semana  seguinte;  logo  se  esquece  disto,  e  assim  sucede  deixar  passar  meses  inteiros  o  que  poderia  fazer  em  uma  hora. O melancólico nunca acaba uma coisa.  Muitos  necessitam  de  longos  anos  até  colocar  em  claro  sua  vocação religiosa e tomar o hábito.  O  melancólico  é  o  homem  das  oportunidades  perdidas.  Enquanto  que  os  demais  estão  já  do  outro  lado  do  fosso,  ele  está  pensando  e  refletindo,  sem  atrever-se  a  dar  o  salto.  Descobrindo  em  suas  reflexões  vários  caminhos  que  conduzem  à  mesma  meta,  e  não  podendo  decidir-se  sem  grande  dificuldade  em  determinado  caminho, facilmente concede razão aos demais, e não persiste com  obstinação em suas próprias opiniões.  c)  O  melancólico  se  desanima.  Ao  começar  um  trabalho,  ao  executar  um  encargo  desagradável,  ao  internar-se  em  um  terreno  desacostumado,  mostra  o  melancólico  desalento  e  timidez. Dispõe  de  uma  firme  vontade,  nem  lhe  faltam  talento  e  vigor,  mas  lhe  faltam  muito  frequentemente  valor  e  ânimo  suficientes.  Por  isso  disse-se  com  razão:  "Ao melancólico deve atirá-lo na água para que  aprenda  a  nadar".  Se  em  suas  empresas  atravessam  algumas  dificuldades,  embora  de  pouca  monta,  perde  o  ânimo, e gostaria de  deixar  e  abandonar  tudo,  ao  invés  de  sobrepor-se,  de  compensar  e  reparar os fracassos padecidos, redobrando seus esforços.  d) O melancólico é lento e pesado. O melancólico é lento:  Em  seu  pensar:  tem  que  considerar  tudo  com  atenção  e  examiná-lo seriamente, até formar-se um juízo discreto.  Em  seu  modo  de  falar:  quando  se  vê  obrigado  a  contestar  apuradamente  ou  a  falar  em  um  estado  de  perplexidade,  ou  quando  teme  que  de  suas  palavras  poderiam  depender  grandes  consequências,  se  intranquiliza,  não  encontra  a  resposta  adequada,  a  qual  é  às  vezes  mesmo  falsa  e  insuficiente.  Sua  aflição  de  espírito  é  talvez  a  causa  pela  qual 

o  melancólico  tropeça  com  frequência  em  suas  palavras,  deixa  sem  acabar  suas  frases,  emprega  uma  má  sintaxe  e  ande em busca da propriedade da expressão.  Em  seus  trabalhos:  trabalha  esmerada  e  solidamente,  mas  sozinho,  sem  impulsos,  e  com  muito  tempo.  O  mesmo,  todavia, não se crê lento em seus trabalhos.  e)  O  orgulho  do  melancólico.  Tem  seu  aspecto muito peculiar.  O  melancólico  não  aspira  a  honras:  tem,  pelo  contrário, certo medo  de  mostrar-se  em  público  e  de  aceitar  louvores.  Teme  muito  as  afrontas  e  as  humilhações.  Se  retrai  frequentemente  excitando  deste  modo  as  aparências  de  modéstia  e  humildade;  mas  na  realidade,  não  é  ela  uma  prudente  reserva,  senão  mais  um  certo  temor à humilhação.  Nos  trabalhos,  nas  colocações  e  ofícios  cede  a  presidência  a  outras  pessoas  menos  experientes  e  mesmo  incapazes;  sentindo-se, todavia, ferido em seu coração por não ter respeitado e  apreciado  o  bastante  seus  talentos.  O  melancólico,  se  quer  realmente  chegar  a  perfeição,  deve  dirigir  especialíssima atenção a  este  respeito,  enraizado  no  mais  profundo  de  seu  coração  e  fruto  da  soberba,  como  também  encontra  em  sua  sensibilidade  e  suscetibilidade às menores humilhações.  Do  que  se  disse  segue-se  que  é  muito  difícil  tratar  com  melancólicos;  pois  por  suas  particularidades  não  os  apreciamos  em  seu  ponto  justo,  nem  sabemos  tratá-lo  com  acerto.  Ao  sentir  isto  o  melancólico  se  torna  ainda  mais  sério  e  solitário.  O  melancólico  tem  poucos  amigos,  porque  não  são  muitos  os  que  o  compreendem e os que gozam de sua confiança.  4. Qualidades boas do melancólico  a)  O  melancólico  pratica  com  facilidade  e  gosto  a  oração 

mental.  A  séria  concepção  da  vida,  o  amor  à  solidão,  a  inclinação  à  reflexão,  são  para  o  melancólico  em  todos  os  pontos  proveitoso  para  conseguir  uma  grande  intimidade  em  sua  vida  de  oração.  O  melancólico  possui,  por  assim  dizer,  uma  disposição  natural  à  piedade.  Contemplando  as  coisas  terrenas,  pensa  no  eterno;  caminhando  na  terra,  o  céu  o  atrai.  Muitos  santos  tiveram  o  temperamento  melancólico.  Contudo,  também  o  melancólico  encontra  precisamente  em  seu  temperamento  uma  dificuldade  para  a  oração.  Porque,  desanimando-se  nas  adversidades  e  sofrimentos,  lhe  falta  a  confiança  em  Deus  e  assim  se  distrai  com  seus negros pensamentos de pusilanimidade e tristeza.  b) No trato com Deus, encontra uma profunda e inefável paz.  Ninguém  melhor  que  o  melancólico  entende  a  palavra  de  Santo  Agostinho:  "Criaste-nos  para  vós,  ó  Deus,  e  inquieto  está  nosso  coração  enquanto  não  repousa  em  vós". O coração brando e  cheio  de  afetos  do  melancólico  sente  no  trato  com  Deus  uma  imensa  felicidade,  a  qual  conserva  também  em  seus  sofrimentos  quando tem suficiente confiança em Deus e amor ao Crucificado.  c)  O  melancólico  é  para  os  demais  um  guia  no  caminho  para  Deus,  um  bom  conselheiro  nas  dificuldades,  um  superior  prudente,  benévolo  e  digno de confiança. As necessidades de seus co-irmãos  lhe  despertam  extrema  comiseração,  junto  com  um  grande  desejo  de  ajudar-lhes;  e  quando  a  confiança  em  Deus  lhe  alenta  e  apoia,  sabe  fazer  grandes  sacrifícios  pelo  bem  de  seu  próximo,  ficando  ele  mesmo  firme  e  imperturbável  na  luta  por  seus  ideais.  Schubert  em  sua  "Ciência  da  alma  humana",  diz  a  respeito  do  melancólico  natural:  "Esta  tem  sido  a forma predominante da alma dos poetas e  artistas  mais  sublimes,  dos  pensadores  mais  profundos,  dos  inventores  e  legisladores  mais  geniais  e  sobretudo  daqueles  espíritos,  que  abriram  em  seu  século  ao  seu  povo  o  acesso  a  um 

mundo  feliz  e  superior,  ao  qual  levantou  ele  próprio  sua  alma  atraída por uma inextinguível nostalgia".  5. Qualidades más do melancólico  a)  Os  melancólicos  incorrem  por  seus  pecados  em  terríveis  angústias.  Penetrando  mais  que  os  outros  no  profundo  da  alma  pela  ânsia  por  Deus,  o  melancólico  se  ressente  muito  em  particular  do  pecado.  Nada  lhe  abate  mais  do  que  o  pensamento  de  estar  separado  de  Deus  pelo  pecado  mortal  e  se  alguma  vez  cai  profundamente,  não  chega  a  levantar-se  senão  com  grande  dificuldade;  já  que  lhe  custa  muito  confessar-se  pela  humilhação, a  que  se  deve  submeter.  O  melancólico  vive  assim  mesmo  em  constante  perigo  de  recair  no  pecado;  pois,  continuamente  meditando  sobre  seus  pecados  passados,  isto  lhe  causa  sempre  novas  e  graves  tentações;  nas  quais  de  bom  grado  se  deixa  levar  por  sentimentalidade  e  tristes  sentimentos,  que  aumentam  mais  a  força  da  tentação.  A  obstinação  no  pecado  ou  a  recaída  nele  lhe  submergem  em  uma  profunda  e  prolongada  tristeza  que  pouco  a  pouco  lhe  vai  privando  da  confiança  em  Deus  e  em  si  mesmo.  Então  é  vítima  de  semelhantes  pensamentos:  não  tenho  as  forças  necessárias  para  levantar-me;  nem  Deus  me  envia  para  isto  seu  auxílio oportuno.  Deus  já  não  me  quer,  e,  pelo  contrário,  busca  condenar-me.  Este  estado  pode  chegar  a  converter-se  em  cansaço  da  vida.  O  melancólico  queria  morrer;  mas  teme  a  morte.  Por  fim,  seu  infeliz  coração  se  rebela  contra  Deus,  fazendo  amargas  censuras  e  sentindo  em  si  a  excitação  do  ódio  pela  maledicência  contra  seu  criador.  b)  Os  melancólicos  sem  confiança  em  Deus,  nem  amor  à cruz  são  arrastados  pelo  medo  de  seus  sofrimentos  a  um  excessivo 

desalento, e passividade e até mesmo desespero.  Se  os  melancólico  tem  confiança  em  Deus  e  amor  à  cruz  se  aproximarão  de  Deus  e  se  santificarão  precisamente  pelos  padecimentos,  como  enfermidades,  fracassos,  calúnias,  tratos  injustos,  etc.  Porém,  se  lhes  falta  estas  duas  virtudes,  sua  causa  andará muito mal.  Lhe  sobrevirá  penas,  talvez  muito  insignificantes,  e  então  se  entristecerá  deprimido,  enfadado  e  perturbado.  Não  falaram  nada  ou  muito  pouco  e  está  farto  de  desfalecimento  e  com  cara  severa;  fugirão  da  companhia  dos  homens  e  chorarão  continuamente.  Prontamente  lhes  acabará  o  ânimo  para  seguir  seus  trabalhos,  perderão  o  gozo  em  sua  vida  profissional  encontrando  sua  maior  complacência  em  ver  tudo  negro.  Sua  contínua  disposição  de  ânimo  será  nas  24  horas  ao  longo  do  dia  não  conhecer  nada  além  de  dores  e  penas.  Este  estado  pode  chegar  a  converter-se  em  formal melancolia e desespero.  c)  Os  melancólico  que  se  abandonam  a  seus  sentimentos  de  tristeza,  incorrem  em  muitas faltas contra a caridade que chegam a  ser onerosas para seus próximos.  O  melancólico  perde  facilmente  a  confiança  em  seus  semelhantes,  em  particular  a  seus  superiores e ao confessor; e isto  somente  por  alguns  defeitos  insignificantes que neles descobre, ou  porque recebe de parte dos mesmos algumas leves repreensões.  Interiormente  se  revolta  e  indigna  com  veemência  por  qualquer  desordem  e  injustiça  que  nota.  O  motivo  de  sua  indignação  pode  frequentemente  justificar-se,  mas  não  assim  no  grau de sua raiva; nisso vai demasiado longe.  Dificilmente  poderá  esquecer  as  ofensas;  das  primeiras  faz  pouco  caso a princípio, mas se chegam a repetir-se as desatenções  penetrarão  estas  até  o  mais  profundo  da  alma,  excitando-lhe  uma 

dor  difícil  de  superar,  e  despertando-lhe  profundos  sentimentos  de  retaliação.  Gota  a  gota  e  não  de  repente  vai  infiltrando-se  no  melancólico  o  vírus  da  antipatia  por  aquelas  pessoas,  das  quais  sofreu  muito  ou  nas  quais  encontre  algo  que  criticar.  Semelhante  aversão  chega  a  ser  tão  veemente  que  apenas  ao  olhar  tais  pessoas  ou  dirigir-lhes  a  palavra,  enche-se  no  fim  de  desgosto  e  nervos  somente  com  sua  recordação.  Ordinariamente  não  se  desvanece  esta  antipatia,  senão  quando  o  melancólico  está  separado  e  longe  de  tal  ou  qual pessoa, e então somente depois de  transcorridos meses e até mesmo anos inteiros.  O  melancólico  é  muito  desconfiado.  Raras  vezes  confia  em  um  homem,  temendo  sempre  que  não  busque  o  seu  bem.  Deste  modo  tem  frequentemente  e  sem  motivo  algumas  duras  e  injustas  suspeitas  de  seu  próximo;  imagina  nele  más intenções e tem medo  de perigos que não existem.  Vê  tudo  negro.  O  melancólico  gosta  de  lamentar-se  em  suas  conversações,  chamar  sempre  a  atenção  sobre  o  lado  sério,  queixar-se  logo  com  regularidade  da  malícia  dos  homens,  dos  tempos  às  cegas  que  correm  e  da  decadência  dos  bons costumes.  Seu  estribilho  é:  vamos  de  mal  a  pior.  Também  nas  adversidades,  nos  fracassos  e  ofensas  considera  e  julga  as  coisas,  porém,  mais  do  que  são  na  realidade.  Como  consequência  se  é  às  vezes  uma  exagerada  tristeza,  uma  grande  e  infundada  raiva  pelos  demais,  várias  reflexões  sobre  injustiças  reais  ou  suspeitas;  tudo  o  qual  dura dias e semanas.  Os  melancólicos  que  se  abandonam  a  esta  inclinação  de  ver  em  tudo  o  obscuro  e  maligno  chegarão  a  ser  pessimistas,  isto  é,  homens  que  em  todas  as  partes  esperam  o  mau  êxito;  hipocondríacos,  isto  é,  homens  que  em  pequenos  padecimentos  corporais  se  lamentam  continuamente  temendo  sempre  enfermidades  perigosas;  misantropos,  homens  que  adoecendo  de 

evasivas e ódio ao homem, manifestam aversão ao trato humano.  Uma  dificuldade  particular  tem  o  melancólico  na  correção  e  repreensão  dos  demais.  Como  já  foi  dito,  o  melancólico  se  indigna  excessivamente  ao  notar  desordens  e  injustiças  e  se  sente  obrigado  a  intervir  contra  estes  transtornos,  embora  muitas  vezes  não  tenha  nem  ânimo  nem  habilidade  para  tais  conversações.  Antes  de  dirigir  a  repreensão  medita  detidamente  o  modo  do  processo  e  as  palavras  que  devem  ser  empregadas,  porém,  no  momento  que  tem  que  falar,  lhe  ficam  as  palavras  na  garganta  ou  dá  a  reconvenção  tão  cautamente,  com  tanta  ternura  e  reserva que  apenas  merece  o  nome  de  reprimenda.  Em  toda  sua  conduta  se  nota  quão  difícil  é  castigar  os  outros  e  quando  o  melancólico  quer  dominar  essa  sua  timidez,  incorre  facilmente  no  extremo  contrário  de  dirigir  a  reconvenção  com  raiva  e  nervosismo ou prorromper em  palavras  demasiado  severas;  não  alcançando  desta  sorte  nenhum  fruto  verdadeiro.  Esta  dificuldade  é  a  cruz  pesada  dos  superiores  melancólicos.  Não sabem conduzir a ninguém e acumulam por isso  muita  raiva  e  deixam  muitas  desordens  lançar  raízes,  embora  sua  consciência  lhes  admoeste  a  opor-se  a  estes  transtornos.  Assim  mesmo,  diante  das  faltas  de  seus  subalternos  e  ao  repreendê-los  logo,  o  fazem  grosseira  e  ruidosamente,  e,  ao  invés  de  animar  os  educandos, os desanimam em sua formação.  6. Como deve educar-se a si mesmo o melancólico?  a) o melancólico tem que fomentar em si grande confiança em  Deus  e  amor  aos  sofrimentos.  Disto  dependerá  tudo.  A  confiança  no  amor  à  cruz  são  os dois pilares, com os quais se manterá em pé  com  tal  firmeza  que  nem  as  provas  mais  graves  subirão  aos  lados  fracos  de  seu  temperamento.  A  desgraça  do  melancólico  está  em  que  leva  sua  cruz;  sendo  sua  salvação  a  aceitação  com  gosto  e  alegria  (não  à  força)  a  qual,  o  melancólico  deve  ter  muito  em  consideração, a divina providência, bondade do Pai Celestial, que as 

envia  para  nosso  bem,  e  abrigar  assim  mesmo  terna  devoção  à  Paixão de Cristo e a Mãe Dolorosa.  b)  Se lhe sobrevém afetos de antipatia ou apatia, de desalento,  desconfiança,  abatimento,  deve  resistir  desde  o  princípio,  a  fim  de  que estas más impressões não penetram demasiado em sua alma.  c)  Ao  sentir-se  triste  deve  dizer-se  sempre  o  melancólico:  Não  está  tão  mal  como  te  imaginas;  vê  as  coisas  excessivamente  negras.  d)  O  melancólico  deve  estar  sempre  bem  ocupado;  para  não  dar tempo às reflexões. O trabalho assíduo supera tudo.  e)  O  melancólico  cultivará  as  boas  qualidade  de  seu  temperamento,  em  particular,  a  inclinação  à  vida  interior  e  a  compaixão  pelas  desgraças  dos  homens;  porém,  ao mesmo tempo  combaterá  constantemente  suas  particularidades  e  lados  fracos,  indicados anteriormente.  f)  Santa  Teresa,  em  um  capítulo  especial  sobre  o  tratamento  de  melancólicos  mal  dispostos,  diz:  "Com  muito  pouco  atenção  se  poderá  ver  que  se  inclinam  de  um  modo  particular  a  impôr  sua  vontade,  a  proferir  tudo  o  que  vem  à  mente,  a  deter a consideração  nas  faltas  dos  outros,  para  ocultar  as  próprias,  e  buscar  sua  satisfação  e  sua  paz  em  seu  próprio  capricho".  Santa  Teresa  assinala  aqui  dois  pontos  nos  quais deve fixar-se particularmente o  melancólico  em  sua  autoeducação.  Com  muita  frequência  está  o  melancólico  tão  excitado,  tão  cheio  de  amarguras  e  angústias,  porque  seus  pensamentos  não  se  ocupam  senão  nas  faltas  dos  demais  e  porque  tudo  queria  conforme  sua  vontade  e  gosto.  O  melancólico  pode  cair  no  mal  humor  e  desalento,  quando  a  coisa  não  avança,  mesmo  nas  menores  ninharias,  como  ele  gostaria.  Pelo  que  pergunte-se  o  melancólico  sempre  que  se  veja  invado  por  tristeza: 

Não  tenho  me  detido  novamente  e  excessivamente  nas  faltas  do próximo? Deixa os demais fazer o que queiram.  Não  resultou  talvez  tal  coisa  segundo  meu  desejo  e  vontade?  Convence-te  de  uma  vez  com  toda  fé  sobre  a  verdade das palavras  da  Imitação  de  Cristo:  "Porque  te  perturbas  se  não  sucede  o  que  quer  e  deseja?  Quem  é  que  tem  todas  as  coisas  à  medida  de  sua  vontade?  Certamente  nem  eu,  nem  você,  nem  homem  algum  sobre  a  terra.  Nenhum  homem  há  no  mundo  sem  tribulação  ou  angústia,  mesmo  que  seja  rei  ou  papa.  Quem,  pois,  é  o  que  está  melhor?  Certamente, o que pode padecer algo por Deus" (1, 22)  7. Do que se deve observar no tratamento e educação de um  melancólico.  a)  Deve  tratar  de  compreender  o  melancólico.  Os  melancólicos  apresentam  muitos  enigmas  em  sua  conduta  para  aquele  que  não  conhece  as  propriedades  de  seu  temperamento  melancólico.  Por  conseguinte,  deve  estudá-lo  e  esforçar-se  por  averiguar  de  que  forma  se  caracteriza  na  pessoa  interessada.  Sem  esses  conhecimentos  se  cometerão  graves  faltas  no  trato  com  melancólico.  b)  Trata-se  de  ganhar  a  confiança  do  melancólico.  O  qual  não  é  fácil,  por  certo,  e  somente  se  alcança  dando-lhe  todo  bom  exemplo  e  buscando  sinceramente  seu  bem.  Como  se  abre  ao  brilho  do  sol  um  broto  fechado,  assim  se  abre  a  alma  melancólica,  quando a iluminam raios solares de bondade e caridade.  c) Alentar sempre o melancólico.  d)  Repreensões  ásperas,  bruscas  de trato e dureza de coração  lhe  abatem  e  paralisam  as  forças.  Palavras  atentas  e  alentadoras,  paciência  sofrida  e  constante  lhe  dão  ânimo  e  fortaleza.  O  melancólico se mostra muito agradecido por tal amabilidade. 

e)  Se  deve  exortar  ao  melancólico  ao  trabalho;  mas  sem  esmagá-lo por isso.  f)  Como  tomam  tudo  excessivamente  a  peito  e  trabalham  muito  com  seus  sentimentos  e  coração,  estão  os  melancólicos  muito  expostos  ao  perigo  de  debilitar  seus  nervos,  pelo  que  deve  preocupar-se  que  súditos  melancólicos  não  esgotem  completamente  a  força  de  seus nervos; pois uma vez gastos cairão  em  uma  estado  lamentável  de  prostração,  e  não  se  aliviarão  senão  com grande dificuldade.  g)  Também  na  educação  do  menino  melancólico deve fixar-se  de tratá-lo com afabilidade, de animá-lo e impulsioná-lo ao trabalho.  Acostume-o,  ademais,  a  expressar-se  bem  em  suas  conversas,  a  empregar  bem  seus  sentidos  e  a  cultivar  a  piedade.  É  digno  de  especial  atenção  o  castigo  do  menino  melancólico;  pois  os  desacertos  tem  sobretudo  neste  ponto  fortes  consequências,  fazendo-o  sobremaneira  teimoso  e  reservado.  Por  isso  castigue-o  com  grande  prudência  e  bondade,  evitando  o  máximo  possível  as  aparências de injustiça.     

 

 

O temperamento fleumático  1. Essência do temperamento fleumático  As  várias  impressões  provocam  tão  somente  uma  excitação  débil  na  alma  do  fleumático,  se  é  que  em  algum  momento  a  afetam.  A  reação  é  também  débil,  se  não  chega  a  faltar  por  completo. As impressões desaparecem prontamente.  2. Disposições fundamentais do ânimo fleumático.  a)  O  fleumático  não  se  interessa  muito  pelo que se passa fora  dele.  b)  Mostra  pouca  vontade  pelo  trabalho;  dá,  todavia,  grande  preferência  ao  descanso.  Tudo  anda  e  se  desenvolve  nele  muito  suavemente.  3. Boas qualidades.  a)  O  fleumático  trabalha  lentamente,  mas  assiduamente,  contanto que não tenha que pensar muito em seu trabalho.  b)  Não  se  irrita  facilmente  nem  por  insultos,  fracassos  ou  doenças.  Permanece  tranquilo,  quase  inerte,  discreto  e  tem  um  juízo prático e sóbrio.  c)  Não  conhece  maiores  paixões,  nem  grandes  exigências  pela vida.  4. Más qualidade.  a)  É  muito  propenso  a  descansar,  a  comer  e  beber,  sendo,  ademais, lerdo e negligente no cumprimento das obrigações. 

b)  Não  tem  energia,  nem  se  propõe  um  ideal  elevado,  sequer  seja em sua devoção.  c)  É  sumamente difícil educar os meninos fleumáticos; pois se  deixam  comover  pouco  pelas  sensações  exteriores  e  por  natureza  se  inclinam  à  passividade.  É  necessário  explicar-lhes  tudo,  até  os  mínimos  detalhes;  repetindo-lhe  mil  vezes,  para  que  ao  menos  compreendam  algo;  deve-se  acostumá-los,  ademais,  com  grande  paciência  e  carinho,  a  uma  vida  bem  ordenada.  A  aplicação  do  castigo  corporal  traz  consigo menos perigo e aporta maiores frutos  na  educação  de  meninos  fleumáticos  do  que  na  de  outros,  sobretudo dos coléricos e melancólicos.     

 

 

Temperamentos Mistos  A  maior  parte  dos  homens  tem  um  temperamento  misto.  Predomina  em  tais  um  temperamento  principal  (por  exemplo,  o  colérico),  cujas  disposições  fundamentais,  as  qualidades  boas  e  más  se  atenuam  sob  o  influxo  de  outro temperamento. Geralmente  vale  mais  ter  um  temperamento  misto  que  puro;  pois  a  mescla  suaviza  a  estreita  e  vigorosa  índole  predominante.  Para  facilitar  o  conhecimento  do  próprio  temperamento,  será  bom  tratar  brevemente das seguintes mesclas.  O temperamento colérico-sanguíneo  Nele  a  excitação  é  instantânea,  como  também  a  reação;  a  impressão,  por  outro  lado,  não  é  tão  duradoura  como  no  temperamento  colérico.  A  soberba  deste  se  mescla  com a vaidade,  sua  ira  e  obstinação  se  temperam  e  moderam,  seu  coração  se  abranda. Resulta, portanto, uma mescla muito feliz.  O temperamento sanguíneo-colérico  O  temperamento  sanguíneo-colérico  se  parece  com  o  colérico-sanguíneo;  com  a  única  diferença  de  que  os  distintivos  do  sanguíneo  passam  ao  primeiro  plano  e  os  do  colérico  ao  segundo.  A  excitação  e  a  reação  se  seguem  imediatamente  e  com  veemência,  enquanto  que  a  impressão  não  se  perde  tão  prontamente  como  no  temperamento  sanguíneo,  se  bem que não é  tão  profunda  como  no  colérico  puro.  Os  defeitos  do  sanguíneo,  como  sua  ligeireza,  superficialidade,  distração e loquacidade, estão  melhorados pela seriedade e firmeza do temperamento colérico. 

O temperamento colérico-melancólico e o  melancólico-colérico.  Aqui  entram  em  união  dois  temperamentos  sérios  e  apaixonados:  o  orgulho,  a  obstinação  e  a  ira  do  colérico  com  o  caráter  amuado,  rude  e taciturno do melancólico. O homem provido  de  semelhante  mescla  de  temperamentos  necessita muito domínio  sobre  si  mesmo,  a  fim  de  alcançar  a  paz  da  alma  e  de  não  ser  um  fardo aos que vivem e trabalham com ele.  O temperamento melancólico-sanguíneo e  sanguíneo-melancólico.  Se  caracteriza  por  uma  débil  suscetibilidade  de  impressões,  por  uma  reação  igualmente  débil  e  uma  impressão  não  tão  duradoura  como  no  temperamento  melancólico.  O  temperamento  sanguíneo  comunica  ao  melancólico  algo  de  sua  mobilidade,  alegria  e  serenidade.  Os  melancólicos  com  um  colorido  de  sanguíneo  são  aquelas  boas  pessoas  e  almas  de  Deus  incapazes  de  ofender  a  qualquer  um  e  sempre  emocionadas;  as  quais,  por  outro  lado,  pecam  por  falta  de  força  e  energia.  Parecido  é  o  temperamento  sanguíneo-melancólico;  só  que  nesta  mescla  ressalta mais a superficialidade e inconstância do sanguíneo.  O temperamento melancólico-fleumático.  Homens  de  tal  índole  estão  mais  aptos  à  vida  comum  que  os  puramente  melancólicos.  Lhes  falta  a  amuadez,  grosseria  e  reflexão  do  melancólico,  o  qual  se  substitui  pelo  sossego  e  a  insensibilidade  do  fleumático.  Estas  pessoas  não  se  escandalizam  tão  facilmente,  sabem  suportar  insultos  e  em  seus  trabalhos  mantem-se tranquilas e constantes. 

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