Manual Caveira De Autodefesa Por Wesley Gimenez

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Manual Caveira de Autodefesa por Wesley Gimenez

Manual Caveira de Autodefesa por Wesley Gimenez

AGRADECIMENTOS Agradeço a todos que confiam em meu trabalho desde o surgimento da nossa escola. Agradeço a todos os nossos alunos por me honrar com sua confiança em cada aula. Cada aluno faz parte do crescimento e desenvolvimento técnico da nossa escola, pois cada pergunta feita contribui para criarmos novas técnicas e aprimorar as antigas. Agradeço ao meu amigo e primeiro aluno do Krav Maga Caveira, Junior Cesar Santiago, pela fidelidade em todos esses anos de amizade e pelo auxílio na revisão deste livro. Agradeço aos instrutores representantes que fazem parte da nossa família caveira por acreditarem e se empenharem para a expansão do Sistema Caveira de Krav Maga e Defesa Pessoal por todo o Brasil. Sei o quanto eles se dedicam diariamente para oferecer o máximo de qualidade para seus alunos. Agradeço a cada aluno de nossas escolas espalhadas pelo Brasil, ainda que distantes fisicamente estamos próximos tecnicamente.

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Agradeço a cada um dos nossos faixas pretas por fazer parte da história de nossa escola: Cassio Henrique Zoccaratto Guerra, Pablo Enrico Monteiro Martins, Junior Cesar Santiago e Yngridi Gabrielli P. R. Costa. Agradeço principalmente a Deus que me dá forças e ânimo para enfrentar os dias difíceis e me abençoa com saúde e sabedoria para tomar as decisões em momentos importantes.

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Copyright© 2019 by Wesley Gimenez

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser utilizada ou reproduzida — em nenhum meio ou forma, seja mecânico ou eletrônico, fotocópia, gravação e etc. — nem apropriada ou estocada em sistema de bancos de dados, sem a expressa autorização do autor. Diagramação, capa e revisão Wesley Gimenez

G491aGimenez, Wesley, 1985 Autodefesa Manual Caveira defesa pessoal/ Wesley Gimenez. 1.ed. Presidente Prudente, SP. Edição independente, 2019. 312 p.; 14,8 x 21 cm Inclui Bibliografia. 1. Defesa pessoal2. Artes marciais3. Violência4. Segurança pessoal 5. Sobrevivência urbana6. Crimes I. Título. II. Autor. CDD 796.8 CDU:364:343.9 Impresso no Brasil Printed in Brazil

Presidente Prudente — SP

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DEDICATÓRIA Dedico esse livro a minha esposa, Tatiane Cristina Brandi Gimenez, que acreditou no meu sonho em criar a Escola Krav Maga Caveira ®. Ela trabalha ao meu lado de forma incansável para o desenvolvimento desta missão desde o primeiro dia. Tatiane é a pessoa mais dedicada e comprometida que conheci em toda minha vida e me orgulho por fazer parte da sua vida. Tatiane é quem alegra e dá charme a nossa escola que sem ela seria um local cinza e sem flores. A ela dedico minha eterna gratidão e amor.

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INTRODUÇÃO Muitas pessoas vivem com medo da violência diária que assombra todas as cidades do Brasil de norte a sul. É provável que você já tenha sentido medo de ser assaltado por um bandido armado ou ser agredido por algum marginal bêbado, drogado ou um valentão no trânsito. Escrevi este livro para ajudar as pessoas comuns e os profissionais da área de segurança a se defenderem de maneira realista dos perigos do dia a dia, independentemente de idade, sexo ou condição física. Você vai aprender como prevenir, agir ou reagir diante de um cenário crítico no ambiente urbano e conseguir seu maior objetivo: Chegar em casa o mais íntegro possível! O conhecimento em autodefesa é uma habilidade de pode ser aperfeiçoada constantemente por todos que desejam se sentir mais seguros e estar pronto para lidar com o crime ou simples ameaças. Este livro é fruto de 26 anos de treinamento e experiências em diferentes artes marciais e sistemas de defesa pessoal (1993) que obtive no Brasil e em outros 06 países em que tive a oportunidade de treinar, como Israel, Estados Unidos, Rússia, França, Inglaterra e Alemanha, além de 10 anos de trabalho no sistema prisional lidando diretamente com presos de alta perigosidade.

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Toda esta vivencia me proporcionou a capacidade de testar e comprar o que efetivamente funciona na prática e o que é fantasia marcial. Por isso trago neste livro apenas o que realmente tem efetividade e que pode salvar sua vida.

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SUMÁRIO Parte 1 Agradecimentos................................................................................................02 Dedicatória........................................................................................................05 Introdução.........................................................................................................06 Números da violência no Brasil.....................................................................12 O perfil das vítimas no Brasil.........................................................................14 Conhecimento do perfil comportamental da vítima...................................18 Conhecimento

de

suas

limitações,

medos

e

aptidões

técnicas...............................................................................................................22 Conhecimento do perfil e modus operandis do agressor..........................24 O poder da linguagem corporal.....................................................................35 O que é legítima defesa...................................................................................39 Porque treinar autodefesa...............................................................................44

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Os 05 tempos de ação da autodefesa............................................................51 Os 06 níveis de estado de alerta ou prontidão mental...............................64 Os 05 níveis de periculosidade e análises de riscos ....................................74 Círculo de defesa, as 07 camadas que compões um sistema de defesa eficiente .............................................................................................................79 Os

07

fatores

determinantes

para

vitória

em

um

combate.............................................................................................................87 Treinamento técnico realista e direcionado...............................................112 Uso da força e a proporcionalidade............................................................122 Raciocínio tático de sobrevivência e combate...........................................128 Táticas reativas ativas e passivas..................................................................135 Medo................................................................................................................138 Reagir ou não reagir?.....................................................................................152 Parte 2 — Dicas práticas de proteção urbana Ambientes fechados......................................................................................161 Ameaças veladas.............................................................................................176 Banco...............................................................................................................184 “Boa noite cinderela”....................................................................................186 9

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Bares e restaurantes.......................................................................................190 Blitz

policial



como

se

comportar



direitos

e

deveres.............................................................................................................193 Brigas...............................................................................................................201 Casa..................................................................................................................211 Celular..............................................................................................................221 Comércio.........................................................................................................225 Estupro............................................................................................................228 Internet............................................................................................................234 Pacotes suspeitos...........................................................................................239 Perseguido x seguido.....................................................................................243 Rua...................................................................................................................254 Sequestro.........................................................................................................260 Tiroteios em ambientes abertos...................................................................271 Trânsito............................................................................................................281 Transporte público........................................................................................294 Viagens............................................................................................................297

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Notas finais.....................................................................................................302 Referências bibliográficas.............................................................................303 O autor............................................................................................................310 Contatos com o autor....................................................................................312

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NÚMEROS DA VIOLÊNCIA NO BRASIL “Quem poupa o lobo sacrifica a ovelha”. Victor Hugo

Entender o ambiente em que vivemos é determinante para criarmos um plano de autodefesa eficiente, por isso usaremos os dados oficiais do Atlas da violência de 2018. Foram 62.517 mortes violentas intencionais, isso equivale a assustadoras 171 mortes por dia. Sendo 94,6% das vítimas do sexo masculino, ou seja, foram mortos 60.430 homens e 3.450 mulheres. 553 mil brasileiros morreram por morte violenta na última década, isso representa quase 10% de todas as mortes do 12

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mundo. Para termos uma ideia da gravidade destes números podemos comparar a taxa de mortes a uma bomba atômica por ano. Lembre-se que o Japão teve 75 mil mortes provocadas pela explosão da bomba nuclear na cidade de Nagasaki em 1945. Isso é alarmante e é neste país que vivemos. E quanto os demais crimes como furtos, tentativa de homicídio, sequestros e lesões corporais dolosas? Segundo os dados de 2018 da secretaria de segurança pública de São Paulo: . 127.364 lesões corporais dolosas; . 261.143 roubos; . 504.866 furtos; . 3.484 tentativas de homicídio; . 3.285 estupros; . 8.664 estupros de vulneráveis.

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O PERFIL DAS VÍTIMAS NO BRASIL “Quem conhece a si mesmo e ao inimigo pode garantir a vitória, mas quem conhece o tempo e o terreno alcançara de forma absoluta”. Sun Tzu

Para entender como adotar um sistema de autodefesa eficiente você deve ter o máximo de informações de como a violência acontece e quais os perfis das vítimas. Uma habilidade muito negligenciada e muitas vezes desconhecida é o conhecimento do cenário onde você vive. As pessoas possuem diferentes padrões e estilos de vida e estão sujeitas a diferentes formas e níveis de violências. Por exemplo, um jovem que vive em uma comunidade periférica enfrenta uma realidade e uma ameaça diferente em relação a um idoso que vive numa região nobre. O fator idade também é muito relevante, pois em cada faixa etária enfrentamos problemas diferentes, como um jovem 14

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do sexo masculino de 20 anos está mais sujeito a determinadas formas de violências do que uma pessoa do sexo feminino de 50 anos. Saber identificar quais são as ameaças mais graves às quais você está sujeito potencializa o desenvolvimento de uma estratégia eficiente de prevenção e reação.

Jovens: No país, 33.590 jovens foram assassinados em 2016, sendo 94,6% do sexo masculino. Quando se observa o perfil do jovem do sexo masculino, esses valores se elevam drasticamente, haja vista os homens representarem 94,6% das vítimas jovens. Assim, a taxa média de homicídios de jovens homens no Brasil salta para 122,6 por grupo de 100 mil.

Mulheres: Homicídios de mulheres Em 2016, 4.645 mulheres foram assassinadas no país, o que representa uma taxa de 4,5 homicídios para cada 100 mil brasileiras.

Estupros Foram registrados 49.497 casos de estupros nas polícias brasileiras, conforme informações disponibilizadas no 11º Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2016. Deste total de 15

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estupros68% dos registros se referem a estupros de menores sendo: . 50,9% crianças até 13 anos; . 17% entre 14 e 17 anos; . 32,1% de adultas. Um dado desconcertante é que parte das vítimas de estupro são pessoas que possuem alguma forma de deficiências física ou psicológica. Com efeito, 10,3% das vítimas de estupro possuíam alguma deficiência, sendo 31,1% desses casos contra indivíduos que apresentam deficiência mental e 29,6% contra indivíduos com transtorno mental.

Quem são os estupradores? Observou-se que a maioria dos casos de estupros contra crianças é cometido por amigos ou conhecidos (30,13%). No entanto, é estarrecedor notar que quase 30% dos casos de estupros contra crianças são perpetrados por familiares próximos, como pais, irmãos e padrastos. Na fase adolescente e adulta, prevalecem os casos de estupro por autor desconhecido (32,50% e 53,52%, respectivamente), enquanto constam como a segunda maior ocorrência casos em que amigos ou conhecidos são os agressores, sendo, na devida ordem, 26,09% e 18,82%. Por fim, descrevemos alguns aspectos situacionais acerca do estupro, relacionados ao local do crime, uso de álcool e número de agressores, além do meio empregado para a

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coerção. Quando a vítima e autor se conhecem, 78,6% dos casos acontecem dentro da residência. Quando eles não se conhecem, a via pública é o local majoritário de ocorrência. Cerca de um terço dos casos aconteceram em uma situação em que havia suspeita de o agressor ter ingerido álcool. A força física e as ameaças foram, em grande parte, o meio empregado para coagir a vítima.

Idosos Segundo os dados, denúncias sobre violência contra idosos correspondem a 25% do total de registros em comparação a outras denúncias. Em 2016, foram registradas 65.890 denúncias de violências contra idosos, considerando dados de todos os estados do país. Deste total, 60% das vítimas eram do sexo feminino. Os filhos eram apontados como agressores em 54% dos casos, sendo a casa da vítima o principal local da violação em 86% dos registros.

Pessoas com deficiência Foram 11.682 denúncias e 22.177 violações contra pessoas com deficiência. 77% das denúncias indicaram negligência; 50%, violência psicológica e 30% envolviam violência física. Entre esse grupo, 63,82% das violações foram registradas na casa da vítima.

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CONHECIMENTO DO PERFIL COMPORTAMENTAL DA VÍTIMA "Ao olharmos para a História, torna-se claro que o comportamento humano é muito mais fácil de prever do que o tempo”. Michael A. Levine

Por mais que a culpa do crime seja sempre do criminoso e não da vítima, temos que encarar a realidade como ela é. De nada adianta você fazer um texto enorme em suas redes sociais expondo seu direito à segurança, vida e etc. O máximo que você vai conseguir dizendo isso a um criminoso será fazê-lo rir e depois ser agredido, roubado, estuprado, humilhado ou morto. A polícia de nenhum país do mundo, mesmo os mais seguros, pode evitar 100% dos crimes nem ao menos prevê-los. Por isso cabe a nós adotarmos as medidas necessárias para nossa autoproteção. Posso afirmar que quanto mais preparado 18

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para a guerra (violência urbana) você estiver, menos chances de precisar enfrentá-la.

Perfil das vítimas Imagine que o criminoso é um predador em busca da sua presa para sua próxima refeição. Como esse predador a escolhe em meio a tantas outras? As mensagens corporais e comportamentais como: fraqueza, insegurança, incapacidade e vulnerabilidade, isolamento, falta de atenção e a chance de uma grande conquista são as características observadas. Assim como o animal selvagem, o criminoso escolhe suas vítimas por seus comportamentos e mensagens enviadas, ainda que de forma inconsciente. A vítima possui, normalmente, um padrão comportamental que desperta a atenção de criminoso seja consciente ou inconscientemente. O poder da linguagem corporal é tão grande que o criminoso pode muitas vezes escolher sua vítima simplesmente pela forma que ela caminha. Estudo Betty Grayson e Morris Stein Na década de 80, os pesquisadores desenvolveram um estudo sobre sinais e movimentos corporais que resultavam no aumento da probabilidade de uma pessoa ser escolhida aleatoriamente na rua por um criminoso.

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Os pesquisadores gravaram secretamente diferentes pessoas caminhando em Nova Iorque e depois mostrou estes vídeos para mais de 50 criminosos presos por roubo, assassinato entre outros crimes violentos. O que mais surpreendeu foi que as escolhas eram muito parecidas entre os criminosos que muitas vezes não sabiam explicar o porquê da sua escolha. Outra surpresa foi a escolha de muitos homens grandes como alvos, enquanto muitas mulheres e homens pequenos foram deixados de fora. Os pesquisadores chegaram a uma conclusão interessante: A maior parte das vítimas foi escolhida inconscientemente pela forma de caminhar, mas que forma foi essa? . Andar desengonçado: as pessoas davam passos longos ou curtos demais e normalmente arrastavam ou pisava os pés de forma desajeitada, além de não ter simetria entre os movimentos das pernas e os braços, o que pode significar uma pessoa sem fluidez e coordenação. . Andar em velocidade diferente do fluxo das outras pessoas, as vítimas selecionadas andavam mais devagar do que as outras pessoas ao redor, o que pode significar alguém distraído, descuidado ou fraco. . Postura insegura, as pessoas andavam com a cabeça abaixada, ombros arqueados para frente, o que transmite a imagem de submissão e fraqueza. 20

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Trabalhei quase 10 anos diretamente com milhares de presos reclusos em regime fechado de segurança máxima e tive a oportunidade de conversar e entender melhor como funciona a mentalidade do criminoso e posso acrescentar algumas informações valiosas sobre como ele escolhe sua vítima: . Postura insegura ou fraca: pessoas que caminham ou permanecem com os ombros curvados para frente, passos curtos, movimentos desengonçados, cabeça baixa e comportamento distraído, como olhar para os lados (típico de turistas e pessoas perdidas). O criminoso sabe que há menos chances de pessoas com esse perfil reagir durante o crime. . Destoar da multidão, pessoas que se destacam na multidão também chamam a atenção do criminoso oportunista, por exemplo, num fluxo de pessoas caminhando alguém que caminha demasiadamente mais devagar ou muito mais rápido. Pessoas ostentando roupas, calçados, joias ou equipamentos eletrônicos caros também chamam muito mais a atenção dos criminosos que aceitam correr um risco maior por maiores ganhos.

Como podemos usar esse conhecimento a nosso favor? Conhecendo quais linguagens corporais aumentam as chances de ser escolhido como vítima, podemos tomar a ação contrária para minimizar as chances de sermos escolhidos.

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CONHECENDO SUAS LIMITAÇÕES, MEDOS E APTIDÕES TÉCNICAS “Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece, mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas”. Sun Tzu

Para que você possa verdadeiramente aprender e aplicar a autodefesa em sua vida diária você deve entender que ela começa dentro de nós e vai muito além de saber socar, chutar, imobilizar ou atirar. Entenda sua condição física e mental atual, identifique o que te amedronta e o quanto te afeta no seu dia a dia.

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Aceite suas limitações físicas e se adapte a elas, por exemplo, uma pessoa que não tem um dos braços precisa ter uma estratégia física de combate diferente daqueles que possuem ambos. É importante entender, aceitar e criar uma estratégia realista para sua situação. Usando o exemplo acima, entendemos que entrar em um combate corpo a corpo seria totalmente desvantajoso, portanto o indivíduo que tiver apenas um braço deve potencializar suas habilidades com as pernas e fazer uso de objetos de defesa pessoal, como um bastão retrátil. É tolice pensar que alguém que tenha alguma limitação ou deficiência física possa adotar as mesmas estratégias de autodefesa de outra pessoa sem nenhuma limitação. Você deve conhecer qual sua aptidão natural, alguns são naturalmente mais flexíveis, coordenados e mais rápidos. Toda habilidade pode e deve ser treinada para diminuir gargalos e aperfeiçoar aptidões. Adaptamos o treinamento para a realidade de cada aluno, aqueles que não podem chutar por possuírem graves lesões ou traumas nas pernas são estimulados a lidar com essa limitação aprimorando suas habilidades em socar ou imobilizar, diminuindo a necessidade dos membros prejudicados. A verdade deve ser encarada e enfrentada.

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CONHECIMENTO DO PERFIL E MODUS OPERANTES DO AGRESSOR “É melhor prevenir os crimes do que puní-los”. Cesare Beccaria

Feche seus olhos e pense em um criminoso, imagine qual a cor dos seus cabelos, que roupa está usando e qual cheiro ele exala. Se você imaginou um homem jovem malvestido e cheirando mal você está cometendo um erro clássico, estereotipar o criminoso. Entenda que o marginal não tem idade, sexo, cor ou traje típico. Muitos criminosos sabem que normalmente as pessoas têm esta imagem quando pensam em um bandido e com isso encontram uma vítima mais descuidada. Há inúmeros casos de criminosos muito bem vestidos, sendo muitas vezes já de mais idade, inclusive mulheres. Normalmente estes marginais são os que cometem os crimes de maior gravidade. 24

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Como então identificar uma possível ameaça criminosa? Faça uso da leitura corporal buscando por que sinais como: . Nervosismo, ansiedade ou inquietação: geralmente o criminoso está ansioso com o crime que está prestes a cometer, por isso repare se há alguém: - Andando de um lado para o outro; - Arrumando a roupa repetidamente; - Tirando e colocando as mãos nos bolsos; - Cocando exageradamente a cabeça; . Comportamento circunstâncias:

incompatível

com

o

ambiente

ou

- Uso de óculos escuros em período noturno; - Uso de bonés ou gorros em período noturno; - Uso de capacete em locais fechados; - Uso de blusa em clima quente; - Pessoa parada em locais de acesso e saída rápida como um estacionamento. Num ambiente assim não é comum uma pessoa ficar parada observando a entrada e saída das pessoas; - Passar várias vezes em frente ao mesmo local; - Olhando para os lados a todo instante à procura de seguranças e policiais; 25

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- Desviando o olhar. . Alteração normal do comportamento, irritabilidade ou agressividade. A maior parte dos criminosos precisa ingerir bebida alcoólica ou fazer uso de drogas para criar coragem para cometer o crime, observe atentamente pessoas com as seguintes características: - Fala arrastada ou enrolada; - Olhos vidrados; - Olhos vermelhos; - Olhos lacrimejantes; - Cheiro de álcool ou maconha; - Caminhar irregular; - Tom de voz inadequado; - Lamber os lábios frequentemente. Boca seca é um dos sinais de que utilizou algum tipo de droga; - Mãos trêmulas podem indicar o uso de drogas inaláveis ou alucinógenos; - Suor nas palmas das mãos; - Euforia desproporcional; - Agitação; 26

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- Autoconfiança exacerbada; - Agressividade; - Desinibição; Atenção: nenhum desses sintomas por si só é prova de que alguém está drogado. Procure por combinações para confirmar se é disso que se trata. Algumas deficiências mentais e físicas podem ser similares aos efeitos de drogas. Falar arrastado, tiques e mudanças de humor pode ser resultado de outras condições. Perfil do Criminoso Basicamente existem cinco tipos de criminosos:

Oportunista O criminoso oportunista é literalmente um amador, é aquele marginal que fica à espera de uma oportunidade para atacar. Ele busca o menor risco de ser visto, confrontado ou preso. Algumas características: . Vítima distraída: mexendo no celular, lendo, dormindo ou olhando uma vitrine; . Facilidade: portas e janelas abertas, pertences fora da vista do dono, veículos deixados em locais escuros e desertos, lojas com portas frágeis, estabelecimentos sem sistemas de vigilância e proteção.

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. Menor risco: vítima frágil ou vulnerável, como pessoas com linguagem corporal de submissão, sozinhas, idosas ou com alguma deficiência física.

Interpessoal São os criminosos que conhecem a vítima ou possuem um relacionamento próximo. Geralmente são falsos amigos ou ex-companheiros (as). Este tipo de criminoso deseja roubar algo para impor medo, controle da vítima ou simplesmente se aproveitar da confiança, exemplos: . Um amigo do trabalho que rouba os pertences que está na bolsa do companheiro ao lado quando ele sai da sala; . Um amigo que rouba arquivos do celular como fotos e vídeos privados para uma possível chantagem; . Um vizinho que rouba roupas íntimas do varal; Normalmente não há emprego de violência nem grave ameaça durante a execução do crime. O mais comum é o criminoso agir de forma sorrateira.

Desorganizado É o marginal que age espontaneamente, quase sempre alcoolizado ou drogado. O crime se concentra em bens fáceis de roubar e transportar, como carteiras, celulares, joias ou bolsas. Pode ser cometido com ou sem grave ameaça. Não há planejamento elaborado, sendo a vítima escolhida instantes antes da ação e sem grandes preparativos. 28

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Organizado ou “profissional” Este é o perfil de criminoso que busca o máximo de lucro. Suas ações são previamente planejadas, suas vítimas são estudadas por certo tempo a fim de identificar sua rotina e oportunidades de ação. As principais vítimas destes criminosos são as pessoas com boas condições financeiras e as empresas. O crime pode ser planejado por dias ou meses.

Psicopata Temos aqui o perfil mais difícil de identificar, pois diferente dos livros e do cinema, o psicopata na maior parte das vezes se camufla na multidão como uma pessoa normal. Porém se observarmos com mais profundidade, podemos encontrar algumas características importantes: . Os psicopatas inflam a visão que tem de si mesmos e de suas habilidades. Costumam ser teimosos, arrogantes e pensam ser superiores às outras pessoas; . Possuem normalmente resposta para tudo e são capazes de contar histórias interessantes; . Eles parecem muito convincentes e fazem com que as outras pessoas acreditem que eles são especialistas em determinados assuntos; . São astutos, enganosos, fraudulentos e manipulam as pessoas; . Possuem facilidade para mentir e total ausência de culpa por isso. Manipulam as pessoas ao seu lado para obter o máximo de 29

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lucro a qualquer preço, eles não têm sentimentos de sofrimento ou preocupação com a perda da sua vítima; . São frios e não possuem capacidade de sentir empatia pelo próximo. Os únicos sentimentos verdadeiros que experimentam são raiva, autopiedade, indignação, inveja ou ódio; . Utilizam-se de qualquer recurso ou chantagem para conseguir seus objetivos e apoios da família ou amigos. Os psicopatas podem agir em vários crimes como: roubo, crimes sexuais, furtos, fraude, estelionatos e em geral se sentem orgulhosos e superiores por cometerem estes crimes e não ser descobertos. O psiquiatra alemão Kurt Schneider (1887-1967) definiu, em 1923, que psicopatas são aquelas personalidades anormais que sofrem por sua anormalidade ou causam sofrimento para a sociedade. Fique atento a estes detalhes ao lidar com as pessoas no seu cotidiano. Geralmente elas passam despercebidas ou estão acima de suspeitas. Segundo Robert Hare, pesquisador de psicologia criminal e professor da British Columbia, cerca de 1% da população mundial é psicopata do qual a maioria pode passar de forma despercebida na sociedade. As etapas de um assalto – como age um criminoso Vamos entender quais são as seis etapas de um assalto: 1. Escolha do local

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Nesta etapa o criminoso escolhe o local mais apropriado para abordar a vítima e cometer o crime. O marginal busca um ambiente que o mantenha escondido dos olhos da vítima e possíveis autoridades policiais. Quanto mais fácil para fugir, melhor. O local pode ser tanto em um ambiente aberto (ruas, praças ou parques) como um ambiente fechado (casa, bares ou escritórios).

2. Observar as vítimas em potencial Após escolher o local do crime, o criminoso agora ficará à espreita observando as pessoas em busca de um alvo mais vulnerável e que lhe traga o maior lucro com o menor risco. 3. Identificar um alvo Após observar atentamente as pessoas do ambiente escolhido, o criminoso determina quem será o seu alvo de acordo com a probabilidade de ele cometer o crime sem ser ferido, identificado ou preso. Já vimos que pessoas com postura corporal e forma e caminhar desajeitadas são mais atrativas. 4. Aproximar-se da vítima Tendo escolhido a vítima ideal para seu crime, agora o criminoso precisa diminuir a distância entre eles de forma discreta. Quanto mais próximo conseguir chegar sem chamar a atenção, mais rápida será a ação e consequentemente menos tempo de reação a vítima terá. 31

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Nesta etapa o criminoso olha de perto para confirmar se a vítima escolhida é um alvo vulnerável e os valores que ela carrega. 5. Analisar as possíveis presenças hostis Essa é a última checagem que o criminoso faz antes do crime. Aqui ele tenta evitar ser surpreendido no meio da execução do crime por um policial, vigilante ou segurança particular. O criminoso confere o ambiente para ver se nada se alterou que possa colocar sua ação em risco. 6. Atacar a vítima O crime acontece de fato. Momento em que o criminoso aborda a vítima anunciando o crime. É a fase mais perigosa para ambos, criminoso e vítima. O criminoso está sujeito ao surgimento de outras pessoas, a identificação por alguma câmera ou pela resistência da vítima. Já a vítima está sob o domínio de um marginal na maioria das vezes drogado e ansioso. O criminoso sempre vai buscar o maior ganho financeiro com o menor risco de ser apanhado ou visto, por isso vítimas como mulheres e idosos são mais atrativas para os bandidos, tendo em vista o menor potencial físico de defesa. Os criminosos se sentem mais confiantes em não serem vistos durante a execução do crime, por isso os locais preferidos são: locais escuros, com pouco fluxo de pessoas, baixa fiscalização por câmeras ou rondas policiais.

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Esses fatores deixam de ser relevantes quando o criminoso está sob efeito de drogas, passando a ser mais inconsequente e violento em seus atos. Na próxima vez que você sair às ruas, observe as pessoas ao seu redor, analise quantas estão distraídas, veja a linguagem corporal que cada uma delas está transmitindo e pense como fosse um bandido à procura de uma presa, quem você escolheria? Baseado no que você já aprendeu neste livro fica mais fácil identificar os alvos mais fáceis. Sabendo como é feita a seleção da vítima você deve agora pensar em medidas e posturas contraofensivas que deve usar para evitar ser escolhido em meio à multidão. Observar o comportamento também é fundamental, coisas simples que fazemos todos os dias servem de exemplo. Pense rápido: qual é o comportamento esperado de uma pessoa dentro de uma garagem de prédio ou no estacionamento de um shopping? Parece uma pergunta sem sentido, mas pare para refletir sobre isso: há padrões comportamentais específicos para cada ambiente. Na garagem do prédio ou estacionamento do shopping o comportamento esperado é que as pessoas que ali estão estejam se deslocando de um lugar para o outro e não paradas encostada atrás de um pilar olhando as demais pessoas passando. Esta atitude mostra um comportamento anormal e suspeito de quem está fora do contexto e com potencial para cometer um ato ilícito.

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Análise oportunidades

de

ambiente:

identificando

riscos

e

Seu poder de resposta e prevenção está diretamente ligado à sua capacidade de analisar e tirar proveito do ambiente em que você se encontra. Entenda que cada ambiente possui uma série de desafios e oportunidades muito específicas. Um sobrevivente urbano sabe identificar os riscos e vantagens de cada local. Sua ação em um cenário de violência vai depender muito do ambiente no qual você está, enquanto em ambientes maiores você possui mais opções para fugir ou lutar, em ambientes menores você terá menos opções para enfrentar a ameaça.

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O PODER DA LINGUAGEM CORPORAL “A plena consciência. - O homem não consegue esconder sua linguagem inconsciente de um observador avisado... e nem mesmo dele mesmo” Pierre Weil e R. Tompakow

Sabendo quais são os comportamentos que atraem a atenção do criminoso, podemos adotar uma linguagem corporal que transmita aquilo que afasta o bandido. Ao caminhar nas ruas utilize o método F.A.C.A. (Firmeza, Atenção, Confiança e Amplitude). . Firmeza: passos firmes e determinados, sabendo para onde vai e mostrando que conhece o território onde está pisando. . Atenção: ao caminhar não utilize equipamentos que demonstram que sua atenção está dividida, por exemplo, falar ao celular, escrever mensagens de texto, olhar para os prédios como se estivesse perdido ou fazendo turismo. Lembre-se que 35

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uma pessoa atenta consegue perceber mais rapidamente quando uma ameaça se aproxima e com isso tem mais tempo para prevenir ou reagir a uma situação crítica. . Confiança: caminhar com a cabeça erguida com o queixo na horizontal ao solo e peito estufado transmite uma mensagem de uma pessoa segura de si; . Amplitude: movimentos com os braços alinhados com a passada mostram coordenação motora e transmitem a mensagem de uma pessoa ágil e habilidosa o que com certeza não é o desejo de um criminoso. Através da observação da linguagem corporal podemos prever uma possível ação criminosa: . A pessoa movimenta exageradamente as mãos, cabeça, roupa, relógio ou cabelos, o que significa estresse e ansiedade; . Observação atenta e contínua do ambiente por possíveis obstáculos à sua ação criminosa como a presença de algum policial ou câmeras de vigilância; . Mexer nas roupas com freqüência, em especial na área da cintura, talvez como sinal de ansiedade e verificação da posição da arma a ser utilizada no crime; Podemos criminosos?

usara

leitura

corporal

apenas

contra

A leitura corporal é muito útil também para lidar com outras ameaças como discussões e agressões. Em uma discussão observe alguns sinais que podem indicar que a pessoa está prestes a te agredir fisicamente: 36

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. Punhos cerrados: esse é um sinal claro de agressividade e você está correndo sérios riscos de ser atacado a qualquer momento; . Cabeça inclinada em sua direção: significa que a pessoa está totalmente focada em você e que ela deseja avançar e não recuar; . Respiração curta e ofegante: significa que a pessoa está com elevados níveis de cortisol e adrenalina que são hormônios que potencializam a capacidade de combate; . Sobrancelhas contraídas para baixo: demonstram a raiva que a pessoa está sentindo neste momento; . Olhos e pálpebras tensionadas: significa que a pessoa está concentrada em você e em seus movimentos; . Lábios comprimidos: é sinal de pré-combate, pois é uma forma de defesa durante uma luta. Você também pode utilizar os sinais não verbais para tentar desestimular ou desencorajar uma agressão: . Pareça maior. Afaste um pouco as pernas, coloque a mão na cintura, alinhe a coluna e estufe o peito, desta forma você vai transmitir uma imagem de confiança e superioridade; . Pareça confiante. Confiança é uma característica de uma pessoa preparada. Ao parecer confiante você intimida a outra pessoa que passa a imaginar que você possui uma capacidade ou habilidade que pode vencê-la. Relaxe seus músculos faciais, muita tensão pode gerar espasmos que demonstram medo; . Mantenha contato visual o tempo todo. Desviar o olhar durante uma discussão pode significar medo e desespero.

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Caso real Dia 22 de julho de 2017, cidade de Carinhanha, Bahia, durante o show da banda Babado Novo, um homem conhecido por Sam iniciou uma discussão com um dos seguranças da portaria do evento. Sam exibia vários sinais corporais de agressividade como inclinação da cabeça, olhos cerrados, contração maxilar e principalmente punhos cerrados. Em determinado momento Sam deferiu um soco de surpresa que acertou o rosto do segurança levandoo ao chão. Importante observarmos que o segurança foi um alvo fácil, pois durante a discussão ele se manteve com o rosto muito próximo do agressor e com os braços cruzados na maior parte do tempo. O segurança poderia ter evitado a agressão simplesmente observando os sinais de agressividade que Sam exibia. Ao identificar estes sinais ele deveria ter adotado uma postura mais segura mantendo distância do rapaz.

Para aumentar ainda mais seus conhecimentos em leitura corporal e expressões faciais recomendo que visitem o canal do meu amigo Vitor Santos que possui o maior canal do youtube na América Latina: Metaforando.

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O QUE É LEGITIMA DEFESA “Ter direito à vida sem ter o direito de defendê-la seria uma grande estupidez”. Wesley Gimenez

Legítima defesa, Código Penal, Art. 25 – Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. Analisando o artigo por partes: 1) Uso moderado A legítima defesa deve ser feita com moderação. A defesa deve observar a proporcionalidade entre a agressão e a reação. A grande dificuldade é que esta análise quanto à gravidade da 39

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ameaça ou agressão deve ser analisada de acordo com cada caso. Exemplo 01: Um idoso ataca a tapas um homem de grande porte físico. Este homem revida com três facadas, matando o idoso. Nesse caso, considerada a discrepância física entre os sujeitos e a improvável capacidade do agressor em causar quaisquer danos à vítima, pode-se caracterizar o excesso na legítima defesa. Exemplo 02: Um homem armado com uma garrafa quebrada ataca outro homem que usa um martelo que estava em suas mãos e acerta a cabeça do agressor levando-o a óbito. Trata-se de caso típico de legítima defesa, amparado pelo Art. 25 do Código Penal. 2) Meios necessários Quando se trata de legítima defesa, quem sofre injusta agressão pode usar dos meios disponíveis para se defender enquanto o agressor for um perigo real ou iminente. Não existe um meio obrigatório, qualquer instrumento pode ser usado como: faca, bastão, garrafa, arma de fogo, cadeira ou pedra, enfim, qualquer meio disponível no momento que possa impedir a agressão de forma moderada e proporcional. Exemplo 01: Uma senhora de 60 anos sozinha em sua casa, percebe que sua casa é invadida por um agressor, ela 40

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pega seu revolver e dispara seis tiros para afastá-lo. Caso típico de legítima defesa, independentemente do número de disparos. Não se configuraria legítima defesa se o criminoso tivesse caído desacordado com o primeiro disparo e a senhora continuasse a atirar nele mesmo não sendo mais uma ameaça. Exemplo 02: Uma pessoa dentro do seu carro percebe a aproximação de um assaltante, a fim de evitar o assalto ele atropela o assaltante várias vezes, mesmo tendo a chance de fugir do local logo na primeira ocasião. Configura-se o excesso na legítima defesa. 3) Agressão atual ou iminente Diferente do que a maioria das pessoas acredita, não é necessário ser agredido primeiro para só em seguida iniciar a sua defesa. O que é justo, pois se fosse necessário a vítima sofrer o primeiro golpe para só depois contra-atacar haveria uma enorme desvantagem à vítima. Desta forma, a legítima defesa pode ser empregada em casos em que a agressão é atual ou iminente, ou seja, que ainda está por vir. Significa dizer que se o ataque do agressor é inequívoco a vítima já pode se defender. Exemplo: Um homem recebe várias ameaças de morte de um desafeto e este o aborda em uma rua deserta e levanta a camiseta com uma das mãos enquanto sua outra mão vai em direção à cintura. O homem que sob ameaça já está, neste

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momento, autorizado a iniciar sua defesa ainda que o seu desafeto não tenha sacado a arma. 4) A direito seu ou de outrem A legítima defesa também ampara quando você age em defesa de terceiros. Exemplo: Você presencia um homem agredindo uma mulher com socos e chutes, você decide intervir e aplica um estrangulamento para conter o agressor. Caso real No dia 12 de maio de 2018 (dia das mães) na cidade de Suzano/SP, um criminoso chamado Elivelton. N. M. armado com uma arma de fogo abordou as pessoas que estavam em frente a uma escola particular infantil. Enquanto o criminoso apontava a arma para o segurança do colégio uma mulher chamada Katia S. (policial militar de folga) sacou sua arma de dentro da bolsa e o atingiu com três disparos. Ao ser atingido, o criminoso deixou sua arma cair e foi rendido pela policial militar. O homem foi levado ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos. Atenção: Não confunda legítima defesa com Justiça pelas próprias mãos, pois são totalmente diferentes.

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Justiça com as próprias mãos Não há nenhum amparo legal que autorize alguém a fazer justiça pelos próprios meios. Caso não haja agressão real ou iminente, ou seja, se a agressão já se consumou ou simplesmente não se sabe quando irá ocorrer, a ação da vítima contra o agressor não estará amparada pela excludente. Caso Real: No dia 23 de maio de 2017 na cidade de Novo Santo Antônio, o açougueiro Fabiano R. de 42 anos foi preso por ter torturado e assassinado um adolescente de 17 anos por supostamente ter sido autor de uma tentativa de homicídio contra seu filho. Segundo investigação policial, Fabiano torturou outras duas adolescentes para conseguir informações sobre a localização do jovem morto. As adolescentes relataram que receberam chutes, socos, choque e foram sufocadas por sacos plásticos. Nesta situação não se configura legitima defesa, mas sim justiça pelas próprias mãos.

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PORQUE TREINAR AUTODEFESA “Prefiro ser julgado por sete a ser carregado por seis”. Desconhecido

Porque aprender autodefesa? Costumo ouvir que “depois que inventaram a arma de fogo não existe mais homem” essa é uma frase que talvez você já tenha escutado ou até mesmo dito. Vamos analisá-la melhor: Uma coisa que muita gente se esquece que a autodefesa vai muito além de saber socar, chutar, imobilizar ou se defender de ameaças com armas. A verdadeira autodefesa começa pela prevenção.

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Com certeza ter uma arma de fogo aumenta muito o potencial ofensivo, isso é indubitável, mas devemos nos questionar sobre: 1. Você possui uma arma de fogo legal? Sabemos o quão burocrático e principalmente caro isso é; 2. Você tem acesso ao porte de armas de fogo (autorização legal para andar com uma arma de fogo fora de seu domicilio)? 3. Você tem coragem de atirar em uma pessoa? 4. Você tem treinamento regular de tiro e de retenção da sua própria arma? 5. O que você fará se uma pessoa tentar te agredir, mas se ela estiver totalmente desarmada?; 6. Caso você possuía arma e o seu porte, você estará 100% do seu tempo com ela em mãos? 7. Se a arma falhar o que você vai fazer?

Mesmo possuindo uma arma de fogo, seu uso é muito restrito a situações extremas, por exemplo: contra um agressor armado com outra arma de fogo ou com uma faca. Situações do dia a dia, como desentendimento no trânsito e discussões muitas vezes podem acabar nas vias de fatos sem o emprego de nenhuma forma de arma. Ouço pessoas afirmarem que não precisam aprender autodefesa, pois “basta não arrumar brigas”. Será mesmo que isso basta? Assim como eu, provavelmente, você já presenciou pessoas que andam por aí buscando confusão, seja um bêbado, seja um estressado no trânsito ou um valentão querendo se aparecer.

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Constantemente me deparo com pessoas que procuram nossas aulas após sofrerem agressões e ameaças que causaram traumas físicos e psicológicos para toda a vida. Se estas pessoas tivessem procurado treinamento antes, provavelmente conseguiriam se defender sem maiores prejuízos. Além da preservação da vida e da integridade física, outros benefícios de se treinar autodefesa são a autoestima e a sensação de segurança. Sentir-se pronto para se defender, melhora muito sua qualidade de vida, deixando de ter medo de tudo e de todos. Por isso te digo: autodefesa deve ser lavada a sério!

Quem pode treinar autodefesa? Todos que desejam aprender a se defender dos perigos e ameaças do dia a dia, independentemente do sexo, idade, ou condição física. Nunca é cedo ou tarde demais para começar, em nossas turmas temos alunos de três a setenta anos de idade. O ideal é começar antes de sofrer uma violência, mas caso já tenha sofrido, que isso sirva como uma motivação a mais para começar. Como qualquer outra atividade física é importante que você procure um médico e faça alguns exames para analisar como está sua saúde. Engana-se quem pensa que é preciso estar em plena forma física, pois você vai melhorar sua condição treino após treino. Em relação a doenças pré-existentes temos muitos alunos com problemas ortopédicos como ombros, joelhos e coluna, mas que conseguem participar com êxito do 46

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treinamento, pois na autodefesa o aluno treina dentro de seus limites. Como não há competições, o aluno compete apenas com ele mesmo buscando evoluir de acordo com a sua realidade física e emocional.

Praticar qualquer arte marcial é o mesmo que treinar defesa pessoal? Por incrível que possa parecer a resposta é não! Quando falamos em autodefesa ou sobrevivência urbana as habilidades vão muito além de simplesmente entender como aplicar um golpe. Fatores como prevenção, análise de ambiente, análise de riscos, pontos quentes, fuga rápida, timing, uso de objetos adaptados, leitura corporal e táticas de confronto são determinantes para que alguém possa ter êxito em sua proteção. Saber lutar é apenas um dos requisitos fundamentais para sobreviver no mundo violento. Infelizmente grande parte das artes marciais está focada demasiadamente nas competições esportivas, o que é compreensível para preservar a segurança e integridade dos competidores, porém tantas regras e pontuações fazem com que o “melhor da arte” seja deixado de lado ou esquecido. Golpes traumáticos em pontos sensíveis e vitais como: olhos, garganta, nuca, área genital são proibidos, mas em um combate real contra um inimigo muito maior ou em vantagem numérica estes golpes podem significar sua sobrevivência.

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Entenda que um combate real é uma guerra na qual não adianta fazer algo mirabolante. Seu inimigo não terá limites para te agredir, seja sozinho, em bando, armado ou desarmado.

Casos reais 1. Morte no trânsito No dia 24 de abril de 2018 na cidade de São Luís/MA, o lutador T.G. campeão Mundial de jiu jitsu foi morto por um homem identificado como Wilcimar durante uma briga no trânsito. Conforme registrado por uma câmera de segurança, o lutador desceu do carro e foi em direção ao motociclista que desceu com o capacete da moto em uma mão e uma arma de fogo na outra. O lutador caminhou em direção a Wilcimar que andava para trás e após iniciarem uma luta corporal ambos vão ao chão, instantes depois Wilcimar consegue se levantar e efetua três disparos contra o lutador que acaba morrendo.

2. Morte ao reagir a um assalto No dia 31 de janeiro de 2012 na cidade de São Paulo/SP, um lutador de jiu jitsu foi abordado por um assaltante. O lutador entrou em luta corporal com o criminoso e conseguiu imobilizá-lo, porém foi surpreendido por um segundo criminoso. Pelas imagens captadas por uma câmera de celular de uma testemunha é possível ver o criminoso imobilizado gritando a seu comparsa: “Quadrado, mata ele, mata ele” e em seguida o comparsa efetua dois disparos contra o lutador que vem a óbito.

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Conclusão: Lutadores de artes marciais que são espancados e mortos em casos de violência urbana são mais comuns do que as pessoas imaginam, basta uma rápida pesquisa na internet e você encontrará dezenas deles. Isso revela que ser um campeão de determinada arte marcial não te faz um bom sobrevivente urbano, pois muitos são os fatores que envolvem um combate real. No primeiro caso real demonstrado acima, mesmo o lutador de jiu jitsu sendo muito bem treinado, ele não estava preparado para lidar com uma situação contra um agressor armado com uma arma de fogo. Pelas imagens gravadas podemos citar alguns erros básicos: . Descer do veículo para discutir ou brigar com o outro motorista; . Entrar em luta corporal contra um inimigo armado com uma arma de fogo sem antes encontrar uma janela de oportunidade; . Focar no ponto errado, a prioridade deve ser o ponto quente (arma de fogo) e não o ponto de foco (agressor); No segundo caso real, o lutador embora tenha conseguido imobilizar o assaltante, não observou outra regra básica de sobrevivência ao não considerar a possibilidade de o assaltante ter um comparsa na cena do crime.

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Algo que muitos praticantes de artes marciais não levam em consideração é que nossos reflexos são condicionados para realizar aquilo que praticamos repetidamente, por exemplo, um lutador que treina dentro de regras e pontuações segue uma série de normas que são inviáveis e frágeis diante de um combate real. Ele pode estar muito preparado para agir dentro do contexto e do ambiente que conhece, como uma luta com regras dentro de um tatame, mas sabemos que na rua a vítima normalmente está em grande desvantagem física, numérica ou de potencial ofensivo (armas) e é quase sempre pega de surpresa. Costumo dizer que você pode ser faixa preta em várias artes marciais, mas se nunca treinar situações com armas diversas, ao precisar reagir numa situação assim você será tão eficiente quanto um leigo.

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OS 05 TEMPOS DE AÇÃO DA AUTODEFESA “A suprema arte da guerra é subjugar o inimigo sem lutar”. Sun Tzu

Erro clássico quando se pensa em autodefesa é imaginar apenas o cenário no qual duas ou mais pessoas estejam se enfrentando fisicamente. Neste ponto tudo se torna mais difícil e arriscado, por isso precisamos entender que existem quatro momentos que antecedem um confronto direto que podem prevenir que ele aconteça.

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1. Prevenção Provavelmente você já ouviu falar sobre presunção de inocência que legalmente significa que ninguém pode ser considerado culpado até que haja uma sentença condenatória transitada em julgado. No dito popular: “todos são inocentes até que se prove o contrário”. Porém, em questão de autodefesa, costumo orientar meus alunos de forma contrária: “todo mundo é suspeito até que se prove o contrário”. Talvez você pense que isso é injusto, mas deixe-me explicar melhor este conceito. Diferentemente do que acontece no sistema jurídico o qual tem a finalidade de provar quem é o culpado por determinado crime e consequentemente aplicar a punição na forma da lei, a tática de sobrevivência urbana visa justamente prevenir que este crime aconteça. Por isso trabalhamos sempre nos antecipando ao problema, prevendo e calculando variáveis em busca de minimizar riscos. Imaginar que todos são “inocentes” nos coloca em uma posição vulnerável e baixamos a nossa guarda, pois deixamos de sermos proativos e passamos apenas a reagir às ações. Desta forma você acaba abrindo uma grande janela para que o agressor ou criminoso consiga te surpreender. Quando se tem em mente que todos são suspeitos até que se prove o contrário, você fica muito mais atento, observando a intenção e a atitude de todos que o cercam, seja aquele vendedor no semáforo ou uma pessoa que bate à sua porta dizendo ser de determinada religião. 52

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Sabemos que a estratégia de defesa pessoal funcionou 100% quando nada de ruim acontece, ou seja, quando nenhuma medida reativa foi necessária. O momento mais seguro é justamente antes do crime acontecer. Quando você se depara com o problema já estará em grande desvantagem, pois o agressor te deixa com pouca ou nenhuma margem temporal de defesa e o criminoso entende bem isso, tanto que ele fará de tudo para passar despercebido até o momento de agir. Então se você criar um padrão diário que desestimule a aproximação do criminoso haverá menos chances de se tornar uma vítima. Lembre-se que a maioria das pessoas são distraídas e não dão o devido valor à prevenção, muito menos adotam um sistema rotineiro de sobrevivência urbana, resumindo: o criminoso terá muitas outras opções mais fáceis do que você que adota um padrão de segurança colocando-o em risco de ser identificado, preso ou ferido. Não existe uma receita passo a passo para se prevenir contra todo tipo de ameaça, embora tutoriais de como agir sejam abundantes na internet e livros. Entenda que cada crime ou ameaça é um momento único com diferentes pontos e variáveis que são impossíveis de prever. Cada situação deve ser planejada de forma individual levando-se em consideração as características pessoais e ambientais de cada caso e momento. Como criar um plano de prevenção eficiente que desestimule ser escolhido como vítima por um criminoso? . Conheça o território (ambiente). Quanto mais informações você tiver sobre o ambiente em que vive e trafega maiores as chances de você criar um plano realista e eficiente. Por 53

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exemplo: entenda quais são as atuais vulnerabilidades e pontos fortes da sua residência. Pense como um criminoso. Por onde você entraria? Pularia o muro? Arrombaria o portão? Qual porta da casa é mais fácil de arrombar? Quais janelas são mais frágeis? Qual localização daria vantagem para o criminoso se esconder? Estando dentro da casa qual o trajeto o criminoso faria? Na rua: quais os trechos do seu trajeto são conhecidamente mais violentos? Há algum lugar neste trajeto que você tenha que passar por um local escuro? Isolado? Frequentado por pessoas em atitude suspeita? Se você fosse um assaltante em que trecho deste trajeto você se sentiria mais confiante para cometer um crime? Onde se esconderia? Por onde correria para fugir? Você consegue entender melhor quais são os pontos mais vulneráveis da sua rotina ao pensar como o criminoso, desta forma você consegue criar obstáculos eficientes.

2. Fuga

“Fugir não é vergonhoso, vergonhoso é apanhar na rua” Wesley Gimenez Fugir é a estratégia de sobrevivência mais antiga do ser humano, mas nem por isso menos eficiente. O ser humano na

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era das cavernas lidava constantemente com inúmeros riscos de morte no seu dia a dia pelos predadores naturais e tribos rivais. Fugir diante de uma ameaça em potencial ou de um combate muitas vezes era a melhor opção para se manter vivo. Nos dias atuais a fuga ainda é opção mais segura em muitos casos. O objetivo da fuga está em se afastar o máximo possível do perigo iminente ou escapar da agressão imediata preservando sua vida e sua integridade física. Isto me faz lembrar de uma frase que meu primeiro professor de caratê dizia: “o melhor combate é aquele que não acontece”. Quando se entra em um confronto físico você não tem como controlar todas as variáveis de um combate real, como o grau de conhecimento do seu inimigo, o ambiente, as surpresas que podem acontecer como surgir outro agressor, torcer um pé em um buraco, errar um tiro e acertar um inocente ou até mesmo o azar de tropeçar e cair durante o conflito, enfim, por mais que você esteja preparado, tudo pode acontecer. A fuga possui dois momentos distintos: Fuga antecipada É a fuga que acontece antes da agressão se concretizar, é o momento em que você consegue se antecipar à ameaça e imediatamente se afasta do perigo. Exemplo 01: Você está andando em uma praça e percebe que dois homens em atitude suspeita conversam entre si e 55

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observa que um deles possui um volume debaixo da camiseta na altura da cintura. Eles se posicionam no trajeto em que você irá passar e imediatamente você muda sua direção evitando se aproximar deles. Exemplo 02: Você está em um show e de repente percebe que um grupo de pessoas começa a discutir de forma enérgica, logo você entende que há um grande risco de acontecer uma briga generalizada em um ambiente fechado e rapidamente se afasta do local em segurança. Desta forma você conseguiu prevenir e fugir antecipadamente de uma ameaça em potencial. Esta é a forma mais segura e eficiente de fuga, pois conseguiu evitar que a agressão acontecesse efetivamente. Fuga crítica ou tardia É a fuga mais perigosa, pois você falhou na primeira linha de defesa que é a prevenção e o afastamento do perigo. Neste ponto você já está mergulhado dentro do problema e quando surge uma oportunidade você consegue escapar e se distanciar do agressor. Exemplo 01: Você está atravessando uma praça pública à noite e foi surpreendido por dois assaltantes que anunciaram o assalto, mas após roubarem os seus pertences, os criminosos te mantêm sob domínio e te levam até uma construção abandonada, chegando lá você se aproveita da distração de um deles e pula a janela fugindo para o mais longe possível em busca de ajuda. Neste caso o risco corrido foi imensamente superior em relação ao primeiro caso no qual você conseguiu 56

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evitar a violência, mas mesmo em uma situação de desvantagem conseguiu se livrar do problema com vida. Exemplo 02: Você está um show distraído assistindo o espetáculo e não percebe a movimentação hostil entre um grupo acontecendo ao seu lado e é surpreendido por uma briga generalizada com as pessoas se agredindo mutuamente, agora você está dentro do problema. Está correndo sérios riscos de ser atingido por todos os lados, mas você consegue sair do ambiente. Aqui você foi exposto a um altíssimo nível de perigo.

3. Esfriamento O esfriamento é uma tática que visa evitar que problema chegue às vias de fato. Trata-se daquele momento em que você e a outra pessoa estão na iminência de se agredirem, mas por uma ação proativa você consegue evitar que o ato violento se inicie. Imagine que você está dirigindo seu carro por uma avenida movimentada e você recebe uma fechada brusca de outro motorista quase ocasionando um acidente. Seu corpo vai descarregar muita adrenalina e outros hormônios e você ficará irado. Os dois descem do carro e começam a discutir violentamente e se aproximam um do outro (provavelmente você já passou por isso ou presenciou uma cena assim, não?). O esfriamento consiste, então, a partir do momento que você percebe que estão na iminência de se agredirem age de forma proativa tentando “esfriar” a discussão, seja baixando o 57

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tom de voz, seja pedindo desculpas, ou pedindo para a outra pessoa explicar o ponto de vista dela. Desta forma, muitos confrontos podem ser evitados. Claro que não dependerá 100% de você, mas sua atitude proativa vai abrir uma grande possibilidade do problema se encerrar ali. Caso real No dia 06 de março de 2016 na cidade de Governador Valadares, o policial militar J.C.S. que estava de folga matou a tiros o caminhoneiro F.A.M. O policial estava na frente de um bar e o caminhoneiro que estava no meio da rua começaram uma discussão intensa. O caminhoneiro estava com uma faca em mãos e o policial com sua arma. Os dois trocaram ofensas e ameaças: "Dá mais um passo pra você ver", diz o policial. "Você não é homem, você é homem com o revólver na mão", respondeu o caminhoneiro. "Você é homem pra sua família", retruca o policial. "Bate na sua mulher, bate nos seus parentes lá". diz o policial. O policial à paisana tenta acionar a PM com um celular, enquanto ele e o caminhoneiro continuavam se ameaçando: "Você não vai me dar tiro, não, que eu vou rasgar você todo", anuncia o caminhoneiro. "Entra, então, que eu vou passar ocê (sic) no tiro", retrucou o policial. O caminhoneiro se afastou e guardou a faca, porém voltou e iniciou a discussão com o policial que desdenhou: "Cê correu com a faca? Corre com a faca que eu te corto no tiro". "Que vai cortar o car...," desafiou o caminhoneiro. O policial então largou o celular no asfalto e disparou cinco tiros contra o caminhoneiro. Se o caminhoneiro tivesse usado o esfriamento é provável que não fosse morto, pois ele teve a oportunidade de ir embora, mas voltou para continuar a discussão contra

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alguém que estava em grande vantagem portando uma arma de fogo. Entenda que no esfriamento o risco é alto, pois você já se encontra na iminência da agressão e não depende exclusivamente de você, pois ainda que decida não mais entrar em vias de fato, a outra pessoa pode querer iniciar o combate, mas é uma opção que em grande parte dos casos se mostra eficiente.

4. Intimidação Intimidação por antecipação ou dissuasão: É quando você prevê a aproximação de uma ameaça em potencial e toma uma atitude antes da agressão acontecer que deixa o agressor inseguro quanto à execução do ato criminoso. Não há uma ameaça contundente neste caso, a intimidação ocorre de forma como “um aviso” ou “um alerta”. Para exemplificar: Você está andando em uma rua com pouca movimentação e percebe que alguém em atitude suspeita começa a te seguir, ao perceber isso você olha para trás diretamente nos olhos do suspeito e mantêm o olhar por cerca de 03 segundos e atravessa para o outro lado da rua e novamente olha para o suspeito. Você acabou de utilizar-se da intimidação antecipada, ou seja, antes que o agressor iniciasse o crime, você identificou a ameaça e mostrou claramente para ele que você já o 59

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identificou e suas possíveis intenções. Agora o criminoso perdeu algo que ele valoriza muito: o efeito surpresa. Ele não se sentirá tão confiante para te abordar como antes, pois já sabe que você está em estado de alerta e é um alvo muito mais arriscado para ele. Outro caso de intimidação por dissuasão é quando um criminoso planeja assaltar sua casa, mas durante a fase de observação, constata que você possui um bom sistema de alarme, monitoramento por câmeras e um cachorro de grande porte e se sente inseguro em lidar com todos estes instrumentos de defesa que dificultam e colocam em risco a prática criminosa. Neste caso você nem soube da intenção do criminoso, mas por causa da estrutura defensiva criada, intimidou por dissuasão a ação do marginal.

Intimidação por medo, consequência ou punição: Este tipo de intimidação é aquele que você utiliza para mostrar ao agressor que o ato dele trará consequências graves, normalmente maiores do que o benefício do crime ou agressão. É a forma de causar medo no criminoso ou agressor com o intuito de fazê-lo parar o ato em andamento ou na iminência de ocorrer. Exemplo 01: Você está em um estádio de futebol assistindo ao jogo do seu time e ao final se depara com dois torcedores do time adversário muito nervosos porque seu time perdeu. Eles começam a te ofender com palavrões e se aproximam com o intuito de te agredir. Você se afasta e imediatamente retira do bolso um bastão retrátil e com tom 60

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firme grita: Para trás! Neste caso você está tentando usar a intimidação para desestimular uma ação imediata dos agressores. Exemplo 02: Você está em um ambiente reservado e alguém tenta entrar no local sem autorização. Você simplesmente pega seu celular e diz que está ligando para a polícia. Com essa atitude você tenta intimidar a pessoa a desistir do seu intento pela intimidação de tomar uma atitude que resulte em um resultado que ela não deseja, ou seja, a abordagem policial.

Entenda que a intimidação por punição pode em alguns casos aumentar a agressividade do agressor que esteja sob efeito de drogas diversas ou distúrbios mentais. Portanto é importante estar preparado para agir de acordo com a ameaça e com a elevação do nível de agressão. Outro fator importante é a questão legal: Lembre-se do crime de ameaça: Código Penal - Decreto-Lei No 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Ameaça, art. 147 - Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave: Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa. Parágrafo único representação.

- Somente se procede

mediante

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Intimidar alguém lhe impondo temor de sofrer mal injusto e grave é crime de ameaça. Exemplo: jurar alguém de morte. O crime de ameaça é previsto no artigo 147 do Código Penal e consiste no ato de ameaçar alguém, por palavras, gestos ou outros meios, de lhe causar mal injusto e grave e, como punição, a lei determina detenção de um a seis meses ou multa. A promessa de mal pode ser contra a própria vítima, contra pessoa próxima ou até contra seus bens. Para a ocorrência do crime não precisa que o criminoso cumpra o que disse, basta que ele tenha intenção de causar medo e que a vítima se sinta amedrontada. Para a configuração do crime de ameaça é necessário que seja um mal injusto e grave, ou seja, não há crime ao dizer que vai processar ou fazer um boletim de ocorrência. Quanto à gravidade da ameaça ela deve atingir um interesse importante para a vítima. O crime de ameaça pode ser cometido por diferentes meios: oral, escrito, por telefone, gesto ou internet. Observe que há três variáveis que anulam as chances de efetividade do uso da intimidação: . Quando a possibilidade de ganho é muito atrativa para o criminoso; . Criminoso está sob efeito de drogas. . Perfil violento ou psicopata do criminoso.

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Se você deseja se aprofundar mais sobre o entendimento de diversas leis penais recomendo a leitura do livro: Código Penal Comentado por Cezar Roberto Bitencourt.

5. Combate direto Esse é o momento mais crítico e perigoso que queremos evitar. Nesta etapa é literalmente tudo ou nada, pois todas nossas tentativas para evitar o confronto falharam. Precisamos entender que em um combate direto todos os envolvidos sofrem algum tipo de prejuízo, seja físico, moral, legal ou financeiro. Entenda que quanto mais tempo durar um combate, maiores são os riscos de algo fora do controle acontecer. Por isso, ao entrar em um combate inevitável, faça tudo que estiver ao seu alcance para finalizá-lo o mais rápido possível.

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OS 06 NÍVEIS DE ESTADO DE ALERTA OU PRONTIDÃO MENTAL “A concentração é a raiz de todas as habilidades do homem”. Bruce Lee

Aprender a observar o ambiente em que vivemos de forma consciente é uma habilidade que determina a capacidade de prevenir, fugir e enfrentar os desafios que surgem à nossa volta. Quanto mais cedo conseguirmos identificar uma ameaça, maiores serão as nossas chances de sucesso. Pensando desta forma, o ex-marine, Jeff Cooper criou o chamado “código de cores” (branco, amarelo e vermelho) que posteriormente foi aperfeiçoado juntamente com Gabe Suarez que utilizou a definição “semáforo da violência” (branco, verde, 64

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amarelo, laranja, vermelho e preto) que é uma técnica que ajuda a desenvolver o hábito consciente de identificar e reagir a momentos potencialmente perigosos. O semáforo da violência apresenta seis cores que simbolizam o estado de alerta e prontidão mental de acordo com a gravidade de cada situação.

Branco Estado de relaxamento mental completo no qual a pessoa está dormindo, desmaiada, meditando ou em coma. É o estado mental de maior vulnerabilidade que uma pessoa pode estar. É muito comum vermos pessoas dormindo dentro de ônibus, metrô ou trens nas grandes cidades. Neste estado a pessoa que for surpreendida não terá nenhuma chance de se defender e a sua derrota é certa.

Verde Estado de relaxamento mental consciente no qual a pessoa está distraída ou focada em algo específico que requer atenção total. Neste estado mental a pessoa perde a consciência do que está acontecendo no ambiente ao seu redor. A pessoa está distraída ou desatenta é o que muita gente denomina de “estar no mundo da lua”, por exemplo: . Uma pessoa mandando uma mensagem de texto ou rolando suas redes sociais dentro do carro enquanto aguarda o semáforo abrir; 65

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. Pessoa andando na rua com fones de ouvidos e de cabeça baixa olhando para o chão; . Um casal de namorados namorando dentro do carro; Neste nível de alerta as pessoas são facilmente surpreendidas por um criminoso, desafeto ou por um acidente. A pessoa fica vulnerável a aproximação de pessoas em atitude suspeita e tem seu tempo de reação gravemente diminuído. Muitos são os relatos de acidentes de trânsito, domésticos e de trabalho em que a pessoa relata estar distraída e não percebeu que algo errado estava acontecendo até ser pega “de repente”. As frases típicas que você ouve destas pessoas após um susto ou crime geralmente são “Nossa, tudo aconteceu tão rápido”, “ele apareceu do nada”, “não vi ele se aproximar”, “não sei o que aconteceu”. Neste estado de alerta e prontidão mental a pessoa será facilmente surpreendida e subjugada. Basta uma rápida observação para constatarmos que a maioria das pessoas mantém um padrão de prontidão mental ou estado de alerta no nível branco. As pessoas caminham pelas ruas falando nos celulares, mandando mensagens, pensando no trabalho, em casa, no almoço ou no que vai fazer amanhã e muitas outras trivialidades e não se atentam ao que está acontecendo bem na frente dos seus olhos. O mais contraditório é que as pessoas vivem com medo da violência e criminalidade do dia a dia, mas mesmo assim se mantêm vulneráveis por estar desatentas e despreparadas, mas a questão é por quê? 66

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Rotina é a resposta. Um cidadão comum totalmente desatento ou negligente com sua segurança pode viver assim por 10 anos e nunca lhe acontecer nenhum mal até o dia em que cruzar com um criminoso em ação. Sabemos que o criminoso é um oportunista que busca surpreender suas vítimas obtendo o maior ganho com o menor risco possível. Combinação ideal para ser vítima de um crime: Cidadão desatento + criminoso atento. Quando se vive em nível branco de estado de alerta ou prontidão mental ser vítima de um criminoso não é questão de “se”, mas “quando”.

Caso real No dia 20 de outubro de 2018 na cidade de Nova Serrana/MG, um homem chamado Carlos A. estava dentro de um bar no momento em que este foi assaltado. As câmeras de segurança registraram o momento em que o criminoso chegou de moto e entrou armado no bar onde anunciou o assalto. Os frequentadores do bar se deitaram no chão e outros ficaram sentados, enquanto Carlos estava escorado no balcão mexendo no celular e não percebeu toda a movimentação. O ladrão passou ao lado de Carlos e abriu o caixa do bar que estava a poucos centímetros dele, mas Carlos nem sequer notou sua presença. O criminoso com a arma em mãos passa novamente ao lado de Carlos e foge do estabelecimento, apenas alguns momentos depois Carlos nota que havia pessoas deitadas no chão e sorri "eu nem percebi 67

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o assalto, inclusive quando o gordinho que tava aqui deitou no chão eu até ri, mas nem vi nada assim não", contou Carlos.

Amarelo É o estado de alerta e prontidão mental no qual a pessoa está consciente do ambiente ao seu redor e está atenta num sentido geral. Este é nível de alerta mental ideal que as pessoas devem manter em seu dia a dia, ou seja, em estado mental relaxado, mas atento sem qualquer foco de distração. Neste nível de alerta você consegue analisar melhor o ambiente a sua volta e os perigos em potencial, desde um simples pedestre que está atravessando fora da faixa ao criminoso te seguindo. Características de quem está em estado de alerta na cor amarela: . Caminha de cabeça erguida olhando para o horizonte e de tempo em tempo checa as laterais e retaguarda sem distrações como fones de ouvidos, celulares ou outros meios de distração; . Motorista parado no semáforo observando à aproximação de pessoas; Neste nível você não espera ser atacado imediatamente, mas reconhece a possibilidade de isso acontecer, exemplo: Você chega de carro em casa, desacelera o veículo e olha ao redor 68

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antes de abrir o portão para checar se não há nenhuma movimentação anormal (aqui você entende que o risco de ter alguém mal-intencionado é real, mas você não identificou nenhuma ameaça imediata em potencial) podemos resumir no seguinte pensamento: “pode ser que aconteça alguma coisa”. Neste Estado de prontidão mental se a pessoa for atacada ela terá grandes chances de se defender.

Laranja É o estado de alerta e prontidão mental no qual a pessoal está ciente de uma ameaça específica em potencial. Este é um estado elevado de atenção, no qual você tem um foco determinado. Algo em especial chamou sua atenção, como uma pessoa com uma blusa de frio em pleno verão. Neste caso você notou conscientemente que algo está fora do padrão normal e focou sua atenção especificamente em algo que possa a ser um problema. Outro exemplo é quando você está em um estacionamento e percebe que tem alguém escondido atrás de um pilar, obviamente esse é um comportamento anormal dentro de um estacionamento no qual a pessoa não tem motivo para ficar parada e principalmente escondida. Neste nível você adota uma postura defensiva para evitar um possível confronto ao mudar de direção e evitar cruzar com a pessoa em atitude suspeita. Resumindo: você notou algo potencialmente perigoso e concentrou sua atenção neste ponto tomando uma decisão 69

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sobre a melhor resposta para evitar o confronto. Neste estado de alerta a pessoa tem grandes chances de se defender.

Vermelho É o estado máximo de alerta no qual o confronto é iminente. É a certeza do problema. Aqui você não apenas suspeita de algo específico, mas já sabe que o perigo é imediato e você terá que tomar uma decisão rápida para não ser surpreendido. Está é a fase do “agora”, ou seja, sua tomada de decisão precisa ser rápida e bem planejada. É aquele caso, por exemplo, de você caminhar em uma praça olhando atentamente para frente e prestando atenção em tudo, mas não preocupado com nada especificamente (amarelo) e percebe que à frente tem uma pessoa vestida com uma blusa de frio em pleno dia ensolarado, então você nota que algo está fora do comportamento normal de uma pessoa e foca sua atenção nela e decide ir para o outro lado da passagem para não cruzar com ela (laranja) ao continuar sua caminhada você percebe que a pessoa atravessa para o seu lado e vem rapidamente ao seu encontro com a mão no bolso da blusa perguntando a hora, aqui você entende que precisa tomar uma decisão rápida e opta por responder, sem parar de caminhar, que “não tem horas” e acelera seu passo criando distância do indivíduo (vermelha). Note que no exemplo acima houve a mudança de uma cor para outra de forma gradual passando da amarela para laranja e finalmente para a cor vermelha. Neste esquema você terá muito mais chances de prevenir ou se necessário tomar 70

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uma atitude acertada do que teria caso fosse surpreendido e passasse diretamente da cor verde para a cor vermelha (estava caminhando na praça ouvindo música e escrevendo mensagens no celular e “de repente” alguém te aborda em atitude suspeita com a mão no bolso perguntando a hora, aqui você teria pouquíssimo tempo de avaliar o grau de periculosidade e também como planejar uma resposta efetiva para o problema. Ao usar a técnica do “semáforo da violência” você foi do nível amarelo para o laranja quando notou a atitude e vestimenta suspeita da pessoa e para o nível vermelho quando a pessoa atravessou para seu lado e se aproximou perguntando a hora. Você estará preparado para se defender. Em virtude de o criminoso também fazer uso da leitura corporal (ainda que inconscientemente) ele verá que você está preparado e já detectou a sua presença suspeita e simplesmente deixará de te seguir ou anunciar o assalto. Nove entre dez criminosos desistirão neste instante sem confrontos. Conforme o suspeito se afasta, reduza seu nível de alerta do vermelho para o laranja e do laranja para o amarelo. Mas e os 10% dos criminosos restantes? Estes geralmente estarão drogados, bêbados ou ambos; e falharão em identificar o seu nível de alerta. Seguirão em frente provavelmente para execução do crime. De acordo com estudos do FBI, cerca de 80% dos sujeitos que você de fato terá de enfrentar estarão sob influência de álcool ou drogas ou drogas e álcool ao mesmo tempo. E qual é boa a notícia? A boa notícia é que eles estarão bêbados ou drogados, o que destrói seus reflexos, tempo de reação e coordenação motora. Serão mais fáceis de lidar se você estiver 71

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técnica e mentalmente preparado (estiver sob a condição vermelha de alerta).

Preto É o momento mais temido e que deve ser evitado a todo custo. Aqui você já está literalmente no tudo ou nada, é o confronto direto, seja agindo de forma ativa ou passiva. Sua mente neste nível de atenção ou prontidão mental está no limite das suas funções e capacidades, tendo que reagir contra a violência ao mesmo tempo em que define escolhas para finalizar o combate ou ameaça. Em nosso dia a dia lidamos com diversas situações de diferentes níveis de complexidade e risco. Cada cenário exigirá uma capacidade de se antecipar ou até mesmo reagir em um estado de alerta ou prontidão diferente. Conforme seu nível de alerta (cores) sobe gradativamente, também as alterações físicas acontecerão de forma gradual como (aceleração do batimento cardíaco, respiração acelerada, suor, esfriamento das extremidades, medo, raiva ou ansiedade). Por isso manter um padrão de prontidão mental é questão de sobrevivência, pois suas chances aumentam proporcionalmente. O estado de atenção (amarelo) pode ser mantido por um período mais prolongado sem sobrecarregar as funções físicas e mentais. Contudo, os estados de alerta laranja e vermelho podem ser mantidos pelo organismo e pela mente apenas por períodos de tempo relativamente curtos, pois exigem um dispêndio maior de energia. Operar continuamente nesses avançados níveis de prontidão pode desencadear reações 72

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adversas, tanto no âmbito físico quanto psicológico, levando a síndromes de esgotamento (estresse crônico).

Caso real No dia 08 de setembro de 2018 na cidade do Rio de Janeiro/RJ, Fernanda S. G. chegava em casa quando notou que havia duas pessoas em uma moto estacionada com o motor ligado do outro lado da rua a poucos metros de sua residência. Fernanda achou algo suspeito e decidiu não parar em frente ao seu portão e passou direto por sua casa. Ao observar em seu retrovisor percebeu que o motorista da moto começou a gesticular apontando para seu carro e foram em sua direção. Fernanda dirigiu até a delegacia local a poucas quadras de distância. Segundo a mulher, ela “pressentiu” que algo estava errado e que por isso decidiu não parar.

Esse é um exemplo real de uma pessoa que estava atenta e por isso conseguiu passar pelas etapas de cores e assim, enfrentar de forma eficiente uma ameaça em potencial. Ela estava em estado de alerta na cor amarela (percebeu a presença dos suspeitos próximos da sua residência), em seguida notou com eles estavam com a moto ligada e decidiu não parar em frente ao seu portão temendo ser surpreendida (laranja), ao passar pelos suspeitos notou que eles começaram a segui-la e imediatamente dirigiu-se a delegacia a poucas quadras de distância para desestimular a ação criminosa (vermelho).

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OS 05 NÍVEIS DE PERICULOSIDADE E ANÁLISES DE RISCO “Só não corre riscos quem já morreu”. Wesley Gimenez

Assim como há uma escala de prontidão mental, existe uma escada de riscos que deve ser entendida e observada para potencializar a sua capacidade de autodefesa. A grande questão é o nível de risco que você está sujeito e por quanto tempo. Embora seja impossível viver sem riscos, podemos adotar medidas que minimizem o grau de periculosidade e o tempo que permanecemos vulneráveis. Toda situação em nosso dia a dia envolve algum tipo de risco potencial, seja decorrente de um momento específico, como 74

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andar em uma rua desconhecida com pouco movimento ou devido à sua atividade profissional. O grau de periculosidade ou risco é a probabilidade de concretização de uma ameaça contra pessoas e bens; é incerto, mas previsível. Para cada nível de risco existe um grau de prontidão mental compatível. Uma prévia avaliação realista e rápida irá minimizar os efeitos físicos e mentais do stress e te dará muito mais ferramentas e tempo de reação para tomar uma decisão ou atitude com mais eficiência e segurança.

“Quem é prudente vê o perigo e se esconde, mas os inexperientes vão em frente e sofrem as consequências”. Provérbios 22:3

Classificação do risco ou periculosidade Baixíssimo Este é o nível de perigo quase inexistente, por exemplo, você ser assaltado a mão armada dentro de um avião. Claro que nada é impossível de acontecer, mas neste ambiente é muito improvável que uma situação assim aconteça, pois sabemos que para entrar no avião todos os passageiros passaram por uma revista minuciosa por detector de metais, além do fato do avião ser um péssimo local para se cometer um assalto, haja vista a dificuldade extrema para fugir, além das inúmeras testemunhas. Então dentro de um avião você deve estar muito

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mais atento a possíveis furtos do que a um assalto à mão armada. Baixo Aqui o perigo existe, mas ainda há uma reduzida possibilidade de ocorrer. O ambiente e o comportamento das pessoas estão dentro de um padrão confortável de segurança. Exemplo: a chance de você ser abordado por um assaltante dentro de um aeroporto é pequena, não tão improvável quanto dentro do avião, mas ainda sim, o ambiente e a oportunidade estão contra o criminoso que terá apenas uma rota conhecida de fuga, muitas câmeras e pessoas para identificá-lo (lembre-se que ele não quer ser preso).

Moderado O risco moderado é caracterizado pela real possibilidade de ocorrer determinada violência ou ameaça. São aquelas situações nas quais algo no ambiente ou no comportamento das outras pessoas te chama atenção para um foco específico, mas que ainda não se concretizou. Usando o exemplo anterior, é aquela situação em que você desce do taxi e precisa caminhar 100 metros até a entrada do aeroporto carregando todos os seus pertences. Neste caminho existem pessoas dormindo na rua, usando drogas em plena luz do dia e uma pessoa usando uma blusa em pleno verão e que está parcialmente escondida atrás de um pilar.

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Você já entendeu que há uma ameaça em potencial e sua prontidão mental está em nível laranja, você sabe que algo pode acontecer a qualquer momento e tem um suspeito: a pessoa vestindo uma blusa. Aqui você pode simplesmente atravessar para o outro lado e seguir seu caminho até a entrada do aeroporto evitando cruzar com o suspeito.

Alto Este nível é marcado pela confirmação da ameaça. São as situações nas quais você precisa tomar uma atitude ativa ou passiva rapidamente. Mantendo o exemplo do aeroporto é aquele caso que você chegou de taxi e desceu a 100 metros de distância da entrada e precisa passar por pessoas dormindo na rua, usando drogas ou com comportamentos suspeitos. Você identifica uma ameaça potencial: um homem vestindo uma blusa de frio no verão e parcialmente escondido atrás de um pilar te observando. Você decide trocar de calçada para não cruzar com ele, mas ele também cruza e vem em sua direção dizendo que acabou de sair da cadeia e que quer conversar rapidinho com você. Diante disso você continua andando rápido e de forma enérgica diz que não quer conversa e aumenta a distância entre vocês. Claramente você passou por um alto risco de ser vítima de um criminoso, mas devido sua atenção baseada nas cores e atenção aos níveis de risco e periculosidade tomou as medidas mais rápidas e firmes necessárias para desestimular a ação do suspeito. 77

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Altíssimo É o nível cujo confronto acontece. A ameaça se concretiza. Esse é o estágio mais perigoso para você. Aqui tudo acontece muito rápido e as chances de algo ruim acontecer são grandes. É o caso no qual você chegou de taxi e precisa andar 100 metros até a entrada do aeroporto e precisa passar por pessoas dormindo na rua, usando drogas ou com comportamento suspeito. Você identificou uma ameaça potencial: um homem vestindo uma blusa de frio no verão e parcialmente escondido atrás de um pilar te observando, momento em que você decide trocar de calçada para não cruzar com ele, mas então o suspeito também cruza e vai em sua direção dizendo que saiu da cadeia e que quer conversar rapidinho com você. Você continua a andar rápido e de forma enérgica diz que não quer conversar e tentar aumentar a distância entre vocês, porém ele se aproxima e diz estar com uma arma debaixo da blusa e anuncia o assalto. Agora você está na cor preta de prontidão mental, precisa decidir rápido o que fará: reagir, correr, tentar desarmá-lo (ações ativas) ou tentar mantêlo calmo e entregar a carteira (ação passiva). Aqui há um altíssimo risco de você sofrer danos graves.

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CÍRCULO DE DEFESA AS 07 CAMADAS QUE COMPÕEM UM SISTEMA DE DEFESA EFICIENTE

“Aquele que se empenha a resolver as dificuldades resolve-as antes que elas surjam. Aquele que se ultrapassa a vencer os inimigos triunfa antes que as suas ameaças se concretizem”. Sun Tzu

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Um bom sistema de autodefesa é criado por camadas que impedem que o criminoso consiga seu atingir seu objetivo. Estas camadas são criadas para dificultar e desestimular a ação do criminoso que avalia que as dificuldades e os riscos aos quais ele estará sujeito são muito altos em relação ao benefício pretendido. Importante observar que quanto mais distante a camada estiver de você, maior será sua segurança e menores serão os seus riscos. Portanto o objetivo é criar camadas eficientes o suficiente para evitar que o criminoso consiga ultrapassá-las.

1. Conhecimento consciente da realidade do ambiente e do modus operandis do criminoso Esta é a primeira camada do círculo de sobrevivência que consiste na prevenção que é o meio mais seguro e eficiente para autodefesa. Trata-se do conhecimento do ambiente, dos sujeitos de um crime e das táticas preventivas. Ambiente: . Quais dias e horários mais perigosos em determinado local? . Quais são os pontos de vulnerabilidade (casa, empresa)? . Qual rota é mais segura e qual a mais arriscada?

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. Qual o melhor lugar para se proteger durante uma situação crítica? Criminoso: . Quais formas de abordagem utilizam? . Qual o perfil do criminoso? . Como agem? . O que temem? . O que desejam? . O que lhes desperta o interesse? Quanto mais informações você conhecer sobre as variáveis do ambiente e dos criminosos, mais condições de criar um planejamento de segurança eficiente.

2. Obstáculos físicos São as barreiras físicas que impedem ou dificultam a ação criminosa. Normalmente são instrumentos que são instalados em casas, empresas ou carro, por exemplo: . Cerca elétrica; . Arames nos muros; . Sistema de vigilância eletrônica; . Alarmes; . Bloqueadores de combustível; . Travas de volante e câmbio; . Cão de guarda; . Grades em janelas e entradas; 81

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. Iluminação inteligente; . Portões e trancas maciças. O criminoso busca o alvo mais fácil e com o maior lucro possível, quanto maior o grau de dificuldade e o risco de ser preso, identificado ou ferido, menor é a motivação para o crime. O criminoso odeia ser surpreendido, por isso um alarme que soa ou um cão que late podem ser suficientes para desmotivar a continuidade da ação criminosa, pois ele perde o efeito surpresa. As grades, portões, trancas robustas, travas de volante e de câmbio vão atrasar o criminoso que está preocupado em agir rápido, pois quanto mais tempo durar ação criminosa, maior o risco de ele ser visto. O cão de guarda além de alertar a presença de um estranho coloca a integridade física do criminoso em risco. Os obstáculos são camadas preventivas importantes para desestimular a ação do criminoso, mas se a chance de lucro for muito alta o criminoso aceitará correr mais riscos.

3. Hábitos São os comportamentos adotados diariamente que dificultam a aproximação e ação de um criminoso, exemplos:

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. Olhar nas câmeras antes de sair de casa; . Ligar o sistema de alarme ao chegar e sair; . Manter os vidros do carro fechados; . Não atender estranhos no portão; . Confirmar identificação de prestadores de serviços antes de abrir a porta da empresa; . Olhar de tempo em tempo para os lados e para trás para confirmar que não tem ninguém te seguindo. Os hábitos são camadas preventivas que por sua conduta inteligente dificultam a tentativa de aproximação do criminoso. Lembre-se que a facilidade é um atrativo para o criminoso de oportunidade. Se houver dificuldade ele se sente inseguro e simplesmente espera um pouco mais pela próxima vítima descuidada (a maioria das pessoas).

4. Estado de alerta e prontidão mental: Trata-se da perfeita união das camadas 1 e 2. É a camada na qual entramos em alerta mediante um entendimento ou leitura que fazemos do ambiente e dos suspeitos ao nosso redor fazendo que com ative nossa prontidão mental no padrão do semáforo de cores. Exemplo: você está caminhando num parque e percebe que há uma pessoa vestida fora do contexto (jaqueta de frio no verão) escondida atrás de uma arvore te observando. Devido seu conhecimento da realidade (bandidos observam as vítimas antes de atacar, a jaqueta serve para camuflar uma arma, se esconder ajuda a surpreender a vítima) você ativa seu estado de 83

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alerta mental de cor laranja (eu posso ser assaltado por essa pessoa em alguns instantes). Nesta camada ainda trabalhamos dentro do conceito de prevenção, pois você consegue se antecipar à ação do criminoso.

5. Resposta rápida evasiva É a atitude tomada com urgência para evitar um fato com alta probabilidade de ocorrer. Você identificou uma ameaça em potencial com grandes chances de se concretizar caso você não crie um distanciamento da zona de perigo ou da pessoa suspeita. Neste ponto você entrou em estado de alerta devido ao seu entendimento do modus operandis do criminoso e agora precisa tomar uma atitude. Usando o exemplo anterior: você caminha em um parque e percebe que há uma pessoa vestida fora do contexto (jaqueta de frio no verão) escondida atrás de uma arvore te observando. Temendo a grande probabilidade de ser assaltado você muda de caminho para aumentar a distância entre vocês. Note que, mais uma vez, uma camada está ligada a outra, ou seja, para que ter uma resposta rápida evasiva é necessário que você esteja em um estado prontidão mental adequado.

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6. Negociação Agora você está a poucos instantes do perigo se concretizar, esta é a última camada antes de um confronto franco ou crime e evitar o confronto já não depende mais apenas de você. Exemplo: Você está dirigindo seu carro quando, de repente, leva uma fechada brusca de outro motorista, você desce nervoso do carro e começa e a ofender o outro condutor que também desce e vai ao seu encontro iniciando uma discussão intensa. Você percebe que o risco de o confronto acontecer é alto e decide evitá-lo mediante negociação, você muda o seu tom de voz e argumenta que nenhum deles teve culpa e que ambos devem prestar mais atenção. Lembre-se que dependerá do outro sujeito aceitar sua negociação e mudar o rumo do conflito iminente.

7. Combate Entrar nesta camada de defesa significa que todas as outras falharam. Este é o ponto mais perigoso e difícil de resolver, pois você não dependerá apenas de suas habilidades físicas, mas de uma série de fatores que determinam o resultado de um combate. Esta é a camada que as pessoas imaginam quando falamos em autodefesa, porém ela é apenas a mais frágil e perigosa

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entre as sete camadas de sobrevivência. Imagine o exemplo anterior: Você está dirigindo seu carro e leva uma fechada brusca de outro motorista, você desce do carro e começa a ofender o outro condutor que também desce e se inicia uma discussão intensa. Você analisa que existe um alto risco de o confronto acontecer e decide evitá-lo mediante negociação. Você muda o seu tom de voz e argumenta no sentido de que nenhum deles teve culpa e que ambos devem prestar mais atenção, porém o outro motorista não aceita a negociação e te ataca com socos, chutes ou então saca uma faca. Neste instante você vai ter que usar todo seu treinamento específico para enfrentar o combate corpo a corpo.

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07 FATORES DETERMINANTES PARA VITÓRIA EM UM COMBATE “O que você sabe não tem valor; o valor está no que você faz com o que sabe”. Bruce Lee

Muitas pessoas acreditam que para se vencer um combate basta ser mais forte fisicamente do que seu inimigo. Esse é um grande equívoco. Claro que força física é um fator importante, mas há outros fatores muito mais relevantes para autodefesa. Vamos abordar os setes principais fatores que determinam as chances de sucesso de um sistema de autodefesa eficiente. Os fatores estão classificados por ordem de importância para que você tenha uma visão clara de cada um, sendo o fator número um o mais importante.

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07. Vantagem física individual Aqui podemos destacar a composição física, como altura, força física, volume muscular, velocidade de movimentação, resistência a dor e jovialidade. Esse é um fator que deve ser considerado em um combate real, embora não seja o mais importante. Uma pessoa pequena, fraca, doente ou em idade avançada estará claramente em desvantagem em um confronto corpo a corpo contra alguém que seja superior nestes quesitos físicos. Trata-se de biologia. Um organismo mais jovem, saudável e mais forte quase sempre vencerá outro mais fraco. Situação hipotética 01: Sujeito A: Um homem idoso, porte físico pequeno e sem conhecimentos relevantes em autodefesa. Sujeito B: Um homem jovem, porte físico grande e sem conhecimentos relevantes em autodefesa. Confronto corpo a corpo entre sujeito A e B: Resultado provável: sujeito B vence o combate com facilidade. Neste caso específico, o sujeito A deve evitar um combate direto no qual ele está em desvantagem. Ele deve se valer de um dos outros seis fatores que falaremos a seguir.

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06. Vantagem numérica O fator vantagem numérica é o sexto mais importante em um combate real. Muitas vezes um exército ou um grupo de pessoas mais fracas podem vencer um adversário muito mais forte e poderoso que está em desvantagem numérica.

Situação testada 01: Sujeito A: homem jovem, porte físico conhecimentos relevantes em autodefesa.

grande,

sem

Sujeito B: grupo de três homens de meia-idade, porte físico pequeno, sem conhecimentos relevantes em autodefesa. Discussão e confronto físico entre sujeito A e B. Resultado obtido: sujeito B vence 90% das vezes. O fator quantidade quase sempre prevalecerá, pois, mesmo sendo inferiores individualmente, a vantagem numérica aumenta a capacidade de combate do grupo de forma exponencial. Neste caso específico, o sujeito A deve identificar que um grupo, ainda que formado por pessoas fisicamente inferiores, possui um fator mais importante do que porte físico, a quantidade, por isso, deve tentar esfriar a discussão e evitar o combate ou simplesmente usar seu maior vigor físico para fugir. 89

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Contrariando os resultados: As chances do sujeito A vencer esse combate estão ligadas diretamente a sua capacidade de conseguir anular o grupo, ou seja, não enfrentar todos de uma única vez, mas sim, um por vez fazendo seu vigor físico prevalecer sobre cada agressor individualmente.

05. Vantagem poder de contundência Trata-se das armas ou qualquer objeto que possa ser utilizado como instrumento que potencialize os ataques e as defesas, tais como: lâminas, bastões, martelos, garrafas quebradas, barras de ferro e tesouras, exceto as armas de fogo que se enquadram em outro fator de vantagem. Classificamos estas armas como potencializadores, pois elas aumentam muito a capacidade de ataque e defesa em combate. O homem na pré-história fazia uso somente das suas defesas naturais, como punhos, unhas e dentes para lutar com um inimigo ou predadores naturais. Entre o período paleolítico e a pré-história começaram a surgir as primeiras armas de madeira e pedra lascada para defesa e ataque, como o uso de um galho como prolongamento de suas mãos. Como meio de atacar à distância começou a utilizar o arremesso de pedras com a mão. Após ganhar experiência em combate percebeu que se a pedra fosse lapidada em formas pontudas, cortantes e perfurantes, ela mataria, aleijaria ou paralisaria um inimigo 90

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mais rapidamente. As armas foram aperfeiçoadas e se tornaram facas, espadas, adagas e punhais tornando possível um homem fraco vencer um combate contra um inimigo mais forte.

Situação testada 02: Sujeito A: homem jovem, porte físico forte, sem conhecimentos relevantes em autodefesa e desarmado. Sujeito B: homem meia-idade, porte físico mediano, sem conhecimentos relevantes em autodefesa, armado com uma lâmina. Sujeito A discute com Sujeito B e inicia-se um confronto físico entre eles. Resultado obtido: sujeito B vence 89% das vezes. Contrariando os resultados: O sujeito A aumenta suas chances de vitória se conseguir acertar o primeiro golpe de forma contundente em uma área vital ou sensível do sujeito B. Recomendação: O sujeito A deve utilizar seu maior potencial físico e fugir para criar distanciamento do inimigo, ou utilizar algum obstáculo entre eles, como um carro ou canteiro e manter conduta evasiva. Caso a fuga seja impossível deve proteger suas partes vitais, como cabeça e tronco e tentar golpear os pontos vitais e sensíveis do corpo do sujeito A. 91

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Situação testada 03: Sujeito A: homem jovem, porte físico mediano, sem conhecimentos relevantes em autodefesa e armado com uma faca. Sujeito B: dois homens jovens, porte físico mediano, sem conhecimentos relevantes em autodefesa e desarmados. Confronto físico entre sujeito A e sujeitos B Resultado obtido: Sujeito A vence 71% das vezes. Contrariando os resultados: O sujeito B aumenta suas chances de vitória quando consegue efetuar um ataque em conjunto contra o sujeito A. Recomendação: neste caso específico o sujeito B está em desvantagem, pois o fator poder de contundência é superior ao fator quantidade. A recomendação, portanto, é que o sujeito B busque a fuga rápida para criar distanciamento do agressor. Caso a fuga seja inviável, pois o inimigo também tem vigor físico parecido, o sujeito B deve se armar com algum objeto contundente. Dicas de ação: . Fuga rápida – criar distanciamento; . Fazer uso de algum obstáculo como um carro, um trailer ou entrar em algum cômodo e se trancar; . Usar algum objeto do ambiente como arma de defesa, como cadeira, pedra ou uma vassoura; 92

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. Proteger suas áreas vitais, como cabeça e tronco e atacar o agressor em seus pontos vitais e sensíveis.

04. Vantagem técnica. É o conhecimento técnico de autodefesa e a habilidade em usar armas próprias ou improvisadas. Neste fator estão englobados os treinamentos físicos e mentais em sistemas de autodefesa realista e também artes marciais focadas em combate. Uma pessoa bem treinada leva grande vantagem contra outra não treinada, tornando possível superar um inimigo mais forte, um grupo maior e uma pessoa armada com uma faca ou bastão. Sujeito A: homem de porte físico mediano, desarmado e com conhecimentos relevantes em autodefesa. Sujeito B: homem de forte físico mediano, desarmado e sem conhecimentos relevantes em autodefesa. Sujeito C: homem de porte físico mediano, armado com uma arma branca e sem conhecimentos relevantes em autodefesa. Sujeito D: dois homens de porte físico mediano, desarmados e sem conhecimentos relevantes em autodefesa. Sujeito E: dois homens de porte físico mediano, armados com uma arma branca e sem conhecimento relevante em autodefesa.

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Situação testada 04: Combate franco entre sujeitos A e B. Resultado obtido: Sujeito A vence em 91% das vezes.

Situações testadas: 05.Combate franco entre sujeitos A e C. Resultado obtido: A vence 72% das vezes.

06. Combate entre sujeitos A eD. Resultado obtido: A vence 76% das vezes.

07. Combate entre sujeitos A e E. Resultado obtido: A vence 50% das vezes.

O fator vantagem técnica se mostra mais importante até mesmo do que ter uma arma branca ou estar em vantagem numérica, entretanto, é extremamente importante levar em consideração que a soma e a intensidade dos demais fatores podem suprimir essa vantagem, por exemplo:

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. Superioridade numérica muito elevada (a cada novo sujeito adicionado as chances diminuem exponencialmente). . Superioridade numérica + superioridade física + uso de armas brancas (você deve somar todos esses fatores ao ponto que ultrapassam o potencial individual armado ainda que com conhecimentos relevantes em autodefesa). Por exemplo: Situação testada 08: Sujeito A: homem forte, armado com uma arma branca com conhecimentos relevantes em autodefesa. Sujeito B: sete homens fortes, armados com facas e bastões sem conhecimentos relevantes em autodefesa. Confronto entre sujeitos A e B. Resultado obtido: B vence 83% das vezes.

03. Vantagem poder de fogo Com a evolução do conhecimento humano, os chineses desenvolveram a pólvora originando uma revolução na capacidade militar e de combate com o surgimento das pistolas, canhões e mosquetes que eram capazes de lançar um projétil a grande distância contra o inimigo de forma mortal. A arma de fogo mudou a forma de combate tanto nos campos de batalha quanto no cenário urbano. Com a arma de fogo se consegue atingir mortalmente um inimigo a grande distância, o que é uma grande vantagem, pois além de se 95

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manter seguro de um ataque inimigo, consegue-se atacar com máxima contundência. Você já deve ter escutado alguma destas frases: “Depois que inventaram a pólvora não existe problema sem solução”. Alexandre Scheibel. “Abraham Lincoln tornou os homens livres, mas Samuel Colt os tornou iguais”. Desconhecido. “Depois que inventaram a pólvora não existe homem valente”. Desconhecido. O uso da arma de fogo rompe uma barreira histórica no modo de lutar, as frases acima mostram uma ideia geral de que com uma arma, você pode vencer um homem mais forte, valente ou em maior número mesmo você sendo mais fraco. Mas não pense que basta ter uma arma de fogo que todos os seus problemas estarão resolvidos ou que você se tornará invencível. Como dito, em um combate real muitos são os fatores que determinam a vitória e por mais vantajosa que a arma seja ela não te garante êxito em todos os cenários. Situações testadas: Sujeito A: homem de porte físico mediano, armado com uma arma de fogo e com conhecimentos relevantes em autodefesa. Sujeito B: homem deporte físico mediano, desarmado e sem conhecimentos relevantes em autodefesa.

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Sujeito C: homem de porte físico mediano, armado com uma faca e sem conhecimentos relevantes em autodefesa. Sujeito D: homem de porte físico mediano, desarmado e com conhecimentos relevantes em autodefesa. Sujeito E: homem mediano, armado com um bastão e com conhecimentos relevantes em autodefesa. Sujeito F: cinco homens de porte físico mediano, desarmados e sem conhecimento relevante em autodefesa. Sujeito G: cinco homens de porte físico mediano, armados com facas com conhecimento relevante em autodefesa. Confronto franco entre os sujeitos iniciando o combate a 01 metro de distância. 09. A x B: A vence 95% das vezes. 10. A x C: A vence 70% das vezes. 11. A x D: A vence 71% das vezes. 12. A x E: E vence 78% das vezes. 13. A x F: F vence 81% das vezes. 14. A x G: G vence 100% das vezes. Confronto franco entre os sujeitos iniciando o combate a 03 metros de distância: 15. A x B: A vence 96% das vezes. 97

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16. A x C: A vence 92% das vezes. 17. A x D: A vence 88% das vezes. 18. A x E: A vence 80% das vezes. 19. A x F: A vence 50% das vezes. 20. A x G: G ganha em 71% das vezes.

Confronto franco entre os sujeitos iniciando o combate a 6,4 metros de distância. 21. A X B: A vence 99% das vezes. 22. A X C: A vence 99% das vezes. 23. A X D: A vence 97% das vezes. 24. A X E: A vence 96% das vezes. 25. A X F A vence 94% das vezes. 26. A X G: A vence 93% das vezes.

Conclusões importantes: Um homem armado com uma arma de fogo com a manutenção em dia e com as munições ideais, bem treinado e 98

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com conhecimentos relevantes tem o seu ápice de vantagem quando está a mais de 6,4 metros de distância durante um confronto, sendo os demais fatores facilmente vencidos, mesmo que somados, em virtude da vantagem de distância e contundência. Tal resultado confirma a teoria de Tueller que diz que um homem bem treinado e armado com uma arma de fogo gasta cerca de 1,0 a 1,5 segundo para sacar sua arma e efetuar 02 disparos, tempo suficiente para um homem saudável percorrer até cerca de 6,4 metros. Em relação à distância de 03 metros, a arma de fogo ainda se mostra superior aos demais fatores ainda que somados, mas tem um percentual de vitórias inferior à longa distância e perde o combate quando se somam muitos fatores de vantagem como no caso do sujeito G (cinco homens de porte físico mediano, armados com facas e com conhecimento relevante em autodefesa), pois com a diminuição da distância não houve tempo hábil suficiente para vencer o número expressivo de inimigos. No confronto a apenas 01 metro de distância a arma se mostrou superior, ainda que tenha atingido índices menores de vitória (71% a 95% das vezes). Assim como ocorreu na distância de 03 metros, o sujeito com a arma de fogo foi derrotado, porém desta vez a derrota foi absoluta por causa da pequena distância de ação contra muitos inimigos com conhecimentos relevantes em autodefesa e armados com uma faca. O teste realizado a 6,4 metros corrobora a teoria de Teuller, mas apresenta resultados diferentes em relação às distâncias de 01 e 03 metros. Tal diferença se justifica pela diferente metodologia aplicada no estudo. Enquanto Teuller 99

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testou o confronto com o sujeito armado partindo da posição neutra (arma no coldre) e com o inimigo atacando de surpresa, nós utilizamos o confronto declarado no qual o sujeito armado estava com a arma em mãos em posição de sobreaviso e consciente sobre a iminência do combate. Em um confronto no qual um sujeito está em estado de alerta e prontidão mental no nível amarelo ou laranja com uma arma de fogo em ótimo funcionamento e possua bom treinamento será muitíssimo difícil vencê-lo estando a mais de 06 metros de distância. Nesta situação, a recomendação é tentar se abrigar rapidamente e posteriormente tentar escapar da zona de confronto. A curta distância (menos de 03 metros), tente diminuir sua massa corporal protegendo seus pontos vitais, como cabeça e tronco e se aproxime o mais rápido possível do inimigo para fazer o desarme. É importante que você tenha consciência que o confronto nestes cenários é extremamente desvantajoso e que sua probabilidade de vitória é muito pequena ainda que possua treinamento em autodefesa. Suas habilidades em dissimular, encontrar o momento certo e atacar o inimigo de surpresa em regiões vitais enquanto sai da linha de fogo são suas maiores chances de vitória.

Método de avaliação utilizado: . Tempo de estudo 25 meses;

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. Número de testes por situações: 100; . Sujeito com conhecimento relevante em autodefesa: alunos com quatro anos ou mais de treinamento regular; . Sujeito sem conhecimento relevante em autodefesa: Alunos com menos de dois meses de treinamento regular; . Modelo de arma de fogo: Pistola elétrica Airsoft AEP Glock 18C CM.030 6.0mm – Cyma; . Bastão: Cano de PVC medindo 68 centímetros com seu interior preenchido com água e revestido por espuma; . Faca: Simulacro medindo 14 polegadas com tinta vermelha para marcação de contato; . Neutralização com a arma: foi considerado neutralizado o sujeito que recebeu dois disparos seguidos ou mais nas regiões do tórax ou cabeça; . Neutralização com a faca: foi considerado neutralizado o sujeito que recebeu dois cortes ou perfurações seguidas ou mais nas regiões do pescoço, cabeça e tórax e abdômen; . Neutralização com o bastão: foi considerado neutralizado o sujeito que recebeu um ataque na cabeça ou pelo menos dois ataques no braço; . Neutralização corpo a corpo: foi considerado neutralizado o sujeito que recebeu dois golpes fortes na região da cabeça ou um golpe forte na parte genital ou garganta. Também foi 101

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considerado neutralizado o sujeito que foi dominado por alguma imobilização ou foi mantido imóvel por mais de sete segundos ininterruptos.

02. Vantagem ambiental ou estrutural Aqui temos o ambiente e as estruturas agindo como meios de defesa e dissuasão. Podemos citar: . Uma casa com muros altos, um bom sistema de vigilância, cães de guarda; . Uma casa dentro de um condomínio fechado com muros altos, grupo de segurança monitorando o espaço interno; . Um presídio com muralhas altas, torres com guardas armados, grades e portões que bloqueiam o perímetro. A vantagem ambiental e estrutural é utilizada para desestimular a ação do agressor que sabe que será um alvo fácil pela distância do alvo, tempo de exposição na ação e pelo risco de estar em uma posição vulnerável. Não é à toa que com a criminalidade em níveis cada vez maior em nosso país as pessoas com melhores condições financeiras optam por condomínios fechados e investem em sistemas de vigilância Situações hipotéticas: Sujeito A: uma quadrilha de 10 homens armados com armas de alto calibre e sem uso de táticas avançadas. 102

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Sujeito B: uma penitenciária de segurança máxima. Tentativa de invasão da penitenciária: sujeito A x B Resultado provável: B vence com facilidade na maior parte das tentativas. Enorme probabilidade do sujeito A ser preso, ferido ou morto. A tentativa de invasão de uma penitenciária, ainda que os criminosos estejam em vantagem numérica e poder de contundência altíssima (arma de fogo) é facilmente combatida por um sistema em camadas que protege e dificulta a ação criminosa. Os criminosos precisam passar por cada uma das camadas de proteção da penitenciária até chegar ao seu objetivo final: . As câmeras de vigilância mostram a aproximação dos criminosos, o que evita o efeito surpresa e dá tempo para acionar apoio policial; . Em frente da penitenciária os criminosos precisam neutralizar os guardas armados que ficam nas torres altas e blindadas; . Ainda que consigam neutralizar os guardas das torres, os criminosos precisarão destruir as muralhas feitas de aço e concreto maciço; . Ao adentrar a penitenciária terão que arrombar as grades de ferro que isolam os ambientes.

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Os criminosos precisarão de muito tempo e recursos para conseguir vencer cada uma das camadas da estrutura de proteção.

Contrariando a probabilidade A estrutura deve estar em perfeita operação física e humana para garantir sua superioridade. Sistemas de monitoramento modernos, mas desativados, guardas desatentos ou portões abertos são os elos fracos que podem ser explorados.

01. Vantagem tática operacional Definição de tática segundo o dicionário Michaelis: sf. 1 MIL Arte de empregar as tropas no campo de batalha com ordem, rapidez e recíproca proteção, segundo as condições de suas armas e do terreno. 2 POR EXT Habilidade ou meios empregados para sair-se bem de qualquer negócio, empresa, situações cotidianas etc. Quando falamos em tática, a maior parte das pessoas pensa no contexto militar, mas se uso vai muito além. Devemos utilizar a tática em nossa vida pessoal, profissional, esportiva, relacionamentos e claro na autodefesa. Tática pode superar a força, a quantidade, as armas e as habilidades técnicas. A tática pode ser usada de forma 104

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defensiva ou ofensiva, a primeira foca principalmente em prevenção, criando um sistema que dificulta a ação do agressor de tal forma que ele seja desestimulado a agir ou que anule a sua tentativa, enquanto a segunda visa quebrar o sistema de defesa do adversário. Guerra dos 06 dias Junho de 1967, Israel estava cercado por tropas hostis que se mobilizaram nas fronteiras ao sul com o Egito, ao norte com a Síria e a leste com a Jordânia. Ao sul de Israel havia cerca de 150mil egípcios e a leste e nordeste 300 mil soldados jordanianos, sírios e iraquianos contra aproximadamente 50 mil soldados israelenses na ativa. Diante da grande inferioridade numérica e de equipamentos militares as perspectivas israelenses eram péssimas. Israel cercado por centenas de milhares de inimigos que aguardavam apenas uma ordem para atacar, adotou uma tática que definiu o resultado da guerra, atacou primeiro. Em 05 de junho a força aérea israelense lançou uma ofensiva surpresa contra as maiores bases aéreas egípcias. Em apenas 03 horas era o fim da força aérea egípcia, antes mesmo que ela tivesse chance de decolar, ou seja, eliminou os caças antes deles entrarem em ação. Simultaneamente, as tropas terrestres de Israel avançaram pelo Sinai, enquanto em Jerusalém a Jordânia atacava. Com total superioridade aérea, Israel vence a Jordânia em menos de um dia, empurrando o inimigo para além do rio Jordão. Ao Sul, a divisão de tanques comandada por Ariel 105

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Sharon força os egípcios para o Canal de Suez e ao Norte. Israel assume o controle das colinas de Golã, vencendo os Sírios. Em apenas 06 dias Israel destruiu todos os seus inimigos imediatos.

Caso Israel tivesse esperado o ataque inimigo provavelmente seria facilmente destruído, mas ao usar a tática de atacar primeiro conseguiu atingir seus inimigos desprevenidos e vencer uma guerra quase impossível. Como podemos usar o exemplo israelense para nosso dia a dia? Imagine uma situação na qual você se envolve em uma discussão de trânsito com duas pessoas que descem do veículo para te agredir. Você tenta manter uma distância segura entre vocês e esfriar os ânimos para que não haja um combate franco, porém, eles querem te agredir a todo custo. Após a tentativa de evitar o problema você entende que está na iminência de ser agredido injustamente e quando um deles invade sua distância mínima de segurança, você desfere o primeiro soco de surpresa e o derruba. Neste instante o combate fica mais equilibrado sendo um contra um. Há uma grande probabilidade do 106

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segundo agressor desistir do confronto por medo, porém caso ele decida te atacar, será um combate mais fácil de vencer, pois você igualou o fator numérico. Não estou dizendo para você sair batendo e agredindo as pessoas que se aproximam, mas sim te orientando a usar a lei a seu favor, pois se lembre que você não precisa levar um soco para poder reagir. Caso você tenha feito de tudo para evitar o combate, mas este se tornou inevitável e se estiver na iminência de ser agredido, atacar primeiro pode fazer toda a diferença no resultado. Exemplo de tática usada para o mal:

Assalto ao Banco Central do Brasil em Fortaleza O maior assalto a banco da história do Brasil aconteceu no Ceará entre os dias 06 e 07 de agosto de 2005 (na verdade o termo correto é furto, pois não houve contanto com nenhuma vítima). Os criminosos invadiram o banco através de um túnel que demorou aproximadamente 03 meses para ser escavado. A estimativa da Polícia Federal foi de que 164 milhões de reais foram furtados. A Tática: A quadrilha alugou uma casa e montou uma empresa falsa de comercialização de grama sintética (tática para disfarçar o crime).

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*foto da fachada da empresa falsa

Os criminosos disfarçados de empregados cavaram um túnel de 80 metros de comprimento por 70 centímetros de largura e 04 metros de profundidade. O túnel foi revestido com lona e escorado com vigas de madeira para evitar desabamentos, contava com sistema de ar-condicionado e iluminação elétrica.

*fotos da distância do Banco Central e do túnel escavado

Somente as cédulas destinadas à incineração foram levadas o que torna impossível a identificação do dinheiro (tática para evitar ser rastreado). Toda essa fortuna foi 108

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carregada através do túnel em bacias puxadas por cordas em sistema de roldanas. O furto cometido em um final de semana e só foi descoberto no dia 08 de agosto, cerca de quarenta e quatro horas após a ação dos criminosos (tática para ganhar tempo na fuga). Após o crime, os bandidos espalharam cal em toda empresa de fachada para apagar as impressões digitais (tática para impedir a identificação dos criminosos). Após o crime a polícia conseguiu recuperar 20 milhões de reais. Soube-se depois que este dinheiro foi deixado de propósito para atrapalhar as investigações (tática para despistar a polícia). Como isso serve de exemplo para nossa vida? Entenda que o criminoso busca o maior ganho possível com o menor risco. No caso do banco Central o risco era muito alto, mas o lucro também. Por isso, recomendo que tenha mais privacidade e reserva com as suas informações pessoais. Diariamente vemos postagens em redes sociais de pessoas ostentando seus carros, joias, mansões e barcos. Quanto mais ostentação, mais os criminosos se arriscarão para conseguir o que quer e como você viu no exemplo acima eles não medirão esforços para lucrar. Entenda que até o mais simples assaltante possui uma tática para cometer seus crimes, por exemplo, quando ele se esconde atrás de um muro aguardando o morador da casa abrir o portão para surpreendê-lo e cometer o assalto. Quando você adota uma tática diária de prevenção você afasta 90% dos criminosos, pois a maioria deles se enquadra no perfil de criminoso oportunista já abordado neste livro. 109

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A questão é: A tática defensiva que você adota diariamente é mais eficiente do que a do criminoso que cruzará seu caminho? Conclusões finais Há essencialmente sete fatores que determinam a probabilidade de vitória em um combate urbano. Cada um destes fatores possui uma escala de valor diferente em relação ao outro, o que faz com que uma pessoa em uma escala superior se sobreponha sobre outra na mesma condição em uma escala inferior. É necessário levar em consideração a intensidade de cada fator, pois quando é muito elevada faz com que uma pessoa em um fator abaixo possa derrotar outra em uma ou mais escalas acima. Outra questão é a soma dos fatores, quanto mais fatores somados, maior o potencial e chances de sucesso, por exemplo: Um homem jovem, forte, desarmado e com conhecimentos relevantes em autodefesa entra em confronto franco com uma dupla de jovens magros, desarmados e sem conhecimentos relevantes em autodefesa. Resultado provável: o homem vence com certa facilidade, pois ele conta com um fator a mais e mais alto na escala. Esse mesmo homem jovem, forte, com conhecimentos relevantes em autodefesa e armado com um canivete enfrenta não mais uma dupla, mas 15 jovens magros, desarmados e sem conhecimentos relevantes em autodefesa. Resultado mais provável: O grupo vencerá com certa facilidade. 110

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Note que mesmo o homem tendo um número maior de fatores, inclusive o de escala mais elevada (conhecimentos relevantes em autodefesa) o fator quantidade foi capaz de suprimir todas as vantagens que ele tinha em uma comparação individual.

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TREINAMENTO TÉCNICO REALISTA E DIRECIONADO “Quanto mais eu treino, mais sorte eu tenho”. Arnold Palmer

Quando se fala em defesa pessoal, a maior parte das pessoas pensa prioritariamente na parte técnica de combate e defesa. Já discutimos aqui neste livro que a prevenção é a ação mais segura e eficiente na qual o cidadão dispõe de maior controle. Quando toda sua estratégia de prevenção falha você precisa estar preparado para lutar por sua vida. Todo treinamento é válido? Entramos em um ponto polêmico e delicado, mas minha responsabilidade com todos os meus alunos é dizer a verdade: Nem todo treinamento é válido, apenas aqueles que são realistas podem ajudar a salvar sua vida. O que é um treinamento realista? Para responder esta 112

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pergunta quero começar explicando o que não é um treinamento realista. Muitas pessoas ainda estão presas nas cenas de filmes de Hollywood com os atores correndo pelas paredes, chutando as armas das mãos dos agressores, chutes acrobáticos e movimentos de torções mirabolantes. Esqueça tudo isso. Vivemos em uma era na qual a informação nunca fora tão acessível, porém a quantidade de informação inútil cresceu na mesma proporção. Basta uma simples pesquisa no google ou youtube sobre defesa pessoal e qualquer pessoa com um pouco de bom senso verá técnicas inacreditáveis que nunca funcionarão num cenário real. Como saber se um determinado treinamento é realista ou fantasioso? Para separar o joio do trigo recorra ao bom senso, analise se há lógica no que é ensinado. Como treinar de forma realista e direcionada Movimentos simples Quanto mais complicada e difícil for uma técnica, maiores serão as chances de algo dar errado no momento crítico, pois além da complexibilidade da situação, você estará sob forte stress, o que diminui a qualidade e precisão dos movimentos finos da nossa musculatura. Movimentos rápidos Lembre-se que num cenário de violência você não terá muito tempo para agir, portanto cada fração de segundo é 113

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crucial. Muita gente se esquece que seu inimigo também agirá simultaneamente e para cada medida que você tomar ele tomará uma contramedida para te anular. O que mais vejo nas aulas de defesa pessoal é a simulação na qual uma pessoa aplica um soco e ao fazer a defesa, ela segura o braço do agressor e começa a aplicar diversos movimentos consecutivos enquanto ele fica parado olhando tudo acontecer. Na vida real não será assim, saiba que para cada ação sua, o inimigo terá uma reação em resposta. Então técnicas nas quais o agressor fica “congelado” enquanto você aplica uma série de golpes bonitos não são realistas. Simulação próxima da realidade Este é um fator muito importante, mas negligenciado quando o assunto é defesa pessoal realista. Para aumentar as chances da técnica funcionar você deve criar o cenário mais próximo possível da realidade. Seu parceiro de treino deve tentar te anular durante a execução da defesa e oferecer resistência progressiva. Simule o ambiente mental em questão, pois além do corpo, você precisa preparar sua mente para lidar com o cenário específico. Sinta as emoções que sentiria em uma situação real, como medo, raiva, angustia, ansiedade, dúvidas e aprenda lidar com essas emoções. Treinar apenas o corpo e deixar a mente destreinada é uma falha mortal.

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Conhecimentos das distâncias de combate A distância é um fator extremamente importante em um combate real. A distância de combate é o espaço físico entre você e seu inimigo. Bruce Lee ensinou que existem quatro distâncias de combate, sendo: distancia de chute, soco, trapping e grappling. Diante da minha experiência de combate urbano, ouso acrescentar mais duas distâncias nesse rol e fazer algumas adaptações. As 06 distâncias de combate do Sistema Caveira de Defesa Pessoal e Combate (Krav Maga Caveira – Mestre Wesley Gimenez) 1. Longa distância (fora de alcance): É a distância na qual nenhum dos sujeitos se alcançam com ataques físicos. É a posição mais segura para estar em um combate, longe do alcance do ataque inimigo! Nesta distância você tem a opção de correr para o outro lado e fugir do confronto ou mesmo se armar com algum objeto ao redor para atacar ou se defender. A longa distância (fora de alcance) favorece a pessoa com maior capacidade de corrida e habilidades no uso de armas de fogo, bastões, pedras, enfim armas que podem ser utilizadas à distância na qual o inimigo não consegue te golpear. 2. Longa para média distância (longo alcance): Aqui temos a possibilidade de golpes longos. Nesta distância é possível golpear o inimigo com movimentos amplos com as pernas 115

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utilizando os chutes. A vantagem destes golpes é o controle de distância e a capacidade de ver o ambiente de forma mais ampla, enquanto as desvantagens são golpes mais lentos e previsíveis. 3. Média distância (médio alcance): Neste ponto é possível golpear o adversário com golpes mais rápidos utilizando os braços, como os socos. A vantagem de golpes de média distância (médio alcance) é que são golpes rápidos e que geram pouco desequilíbrio, a desvantagem é a diminuição do tempo de resposta tendo em vista a menor distância entre os sujeitos e a diminuição da capacidade visual do ambiente ao redor. 4. Curta distância (curto alcance): É quando os sujeitos estão muito próximos um do outro, nesta distância os golpes mais práticos são as cabeçadas, cotoveladas, joelhadas e socos de ângulos fechados como uppercut (gancho). As vantagens destes golpes são a velocidade dos ataques e a dificuldade de defesa devido à proximidade do alvo. A principal desvantagem é a diminuição da visão espacial por causa da proximidade com o inimigo. 5. Sem distância (agarrada em pé): Aqui não existe mais distância entre os sujeitos. Um está em contato direto com o outro, por isso, golpes longos como chutes são inaplicáveis. Os golpes mais eficientes são as imobilizações, quedas e pontos de pressão que podem causar sérios traumas e lesões. A vantagem desta distância é a possibilidade de vencer o combate sem a necessidade de machucar gravemente o inimigo, como imobilizar um bêbado ou agressor de pouco potencial ofensivo. As principais desvantagens são a 116

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impossibilidade de lutar contra mais de um inimigo e a diminuição da visão espacial. 6. Sem distância no solo (agarrada no solo): Esse é o combate que acontece no solo quando um dos sujeitos aplica uma queda e o combate se desenrola no solo. Podem ser utilizados socos, cotoveladas, cabeçadas e imobilizações. A vantagem desta posição é a possibilidade de imobilização e a capacidade de neutralizar o inimigo sem precisar machucá-lo, habilidades importantes para profissionais de segurança e policiais. As principais desvantagens consistem na impossibilidade de enfrentar mais de um inimigo ao mesmo tempo e as lesões causadas pelo piso urbano, como vidro, pedras e etc. Quem vence um confronto mortal: um leão ou um tubarão? A resposta é: depende de onde o combate vai acontecer, se for em terra o leão vence fácil, se for no mar, o tubarão vencerá rapidamente. Para ser um sobrevivente urbano mais completo e preparado, você deve treinar todas estas distâncias. Em um combate real entre duas pessoas de força física e técnica equivalente vencerá aquele que conseguir levar a luta para a distância na qual possui mais habilidade. Outra habilidade muito negligenciada, mas que é extremamente importante em um combate real é a habilidade em se defender e atacar utilizando diferentes armas próprias ou improvisadas. Vejo diariamente aqui em nossa escola praticantes que são faixa preta em outras artes que quando começam a treinar conosco não fazem a mínima ideia de como 117

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se defender contra uma paulada, garrafada ou facada. Eles cometem erros iguais às pessoas que nunca treinaram nenhuma arte marcial. Habilidade em usar armas diversas para ataque e defesa Em um combate real seu inimigo vai usar qualquer instrumento capaz de impor vantagem sobre você, seja uma faca, uma garrafa quebrada, um bastão ou até mesmo uma arma de fogo. A maior parte das artes marciais não ensina como se defender destas ameaças ou ensina técnicas fantasiosas e irreais. As armas são instrumentos capazes de anular a vantagem física, numérica e até mesmo a técnica do seu inimigo. Um homem bem treinado com um bastão retrátil ou uma faca terá vantagem contra outro homem ainda que este seja maior e mais forte.

Diferenças entre luta e combate de rua Feche seus olhos e imagine uma luta. Pense em todos os detalhes desta luta, onde está acontecendo? Quantas pessoas estão lutando? Como estão lutando? Aposto que você pensou em dois homens lutando com socos, chutes ou imobilizações não foi? Tenho uma informação para te dar: Se você pensou desta forma, você ainda pensa como um lutador de tatame ou competição e não como um sobrevivente urbano! Deixe-me te contar como é a imagem que tenho quando penso em uma luta: Três ou quatro homens lutando contra um 118

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no meio da rua com garrafa, cadeira, faca, socos, chutes e talvez algumas imobilizações. Gente correndo para todo lado, gritaria, briga generalizada sem regras e sem nenhuma honra. Esse é o pensamento de um sobrevivente urbano. Vamos fazer uma comparação entre luta controlada e um combate real. Luta Controlada Local: tatame, ringue ou octógono, enfim um ambiente controlado e organizado; Número de lutadores: dois, sendo um contra um; Regras: sim, visando preservar o adversário dos golpes fatais e realmente traumáticos; Tempo: sim, cronometrado, inclusive com pausa para descanso; Foco do lutador: 100% no adversário; Lutadores: mesma categoria de peso, ou seja, sempre um adversário de porte físico equivalente; Armas: nenhum tipo é permitido; Qual o objetivo final: marcar pontos ou vencer o combate para ganhar um título, medalha ou cinturão.

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Combate real Local: qualquer um, podendo ser a rua, bar, escritório, estádio, enfim um ambiente hostil desorganizado e não controlado; Número de lutadores: indefinido, podendo ser vários contra uma única pessoa; Regras: nenhuma, não há honra nem preocupação com a integridade física do inimigo; Tempo: não há. O combate dura até que o outro seja nocauteado ou alguém o interrompa; Foco do lutador: fica dividido entre os inimigos, o ambiente e as ameaças em potencial; Lutadores: não existe um perfil, podem ser muito mais fortes, mais altos, mais jovens e mais ou menos treinados; Armas: qualquer uma que estiver a disposição no momento, como um capacete, faca, bastão ou uma arma de fogo; Qual o objetivo final: sobreviver e preservar ao máximo sua integridade física ou a de outrem. Você percebe a grande diferença entre uma luta controla e um combate real? São mundos totalmente diferentes. Entender e assimilar essa diferença é primordial para que você possa treinar com eficiência e atinja sua capacidade máxima em autodefesa e combate real.

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Em uma luta controlada você respeita as regras, enfrenta uma luta justa e seu foco está 100% no adversário, em um combate real tudo é incerto. Você pode ter de enfrentar vários inimigos ao mesmo tempo, seu foco precisa ficar dividido entre os inimigos e o ambiente, pois na maioria das vezes o ambiente é hostil, cheio de imperfeições, buracos, piso liso e obstáculos, como postes, carros e canteiros. Entenda que para aprender autodefesa você precisa treinar todos esses fatores do combate real. Infelizmente posso afirmar que você vai encontrar poucos lugares que te oferecerão esta preparação, pois o foco da maioria das artes marciais é a competição, ou seja, a luta controlada.

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USO DA FORÇA E A PROPORCIONALIDADE “O mestre disse: Quem se modera, raramente se perde”. Confúcio

Durante a ação em legítima defesa, você deve observar a proporcionalidade do uso da força que deverá utilizar de acordo com cada fase do combate real. Não podemos nos esquecer dos limites legais amparados pela legislação penal em seu artigo 25. É importante entender o uso proporcional da força diante da ameaça ou confronto.

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Uso diferenciado de força Caracteriza-se por ser um processo dinâmico, no qual o nível do seu emprego pode aumentar ou diminuir de acordo com as circunstâncias que suscitarão a defesa urbana. a) Nível primário É a tentativa de intimidação utilizando-se da linguagem corporal e comunicação verbal. Durante a tentativa de aproximação do inimigo você deve utilizar uma postura corporal confiante aumentando sua envergadura e usar sua voz de forma firme para alertar o agressor a se afastar. As variações das posturas e no tom de voz dependem da atitude do agressor. Em situações de risco é necessário o emprego de frases curtas e firmes. Caso real Em 07 de abril de 2018 na cidade Uberaba/MG durante um acidente de trânsito ambos os condutores: Eduardo J.D. profissão desconhecida e Thiago T.S policial civil aposentado, desceram de seus veículos e iniciaram uma intensa discussão chegando a haver empurrões entre eles. Eduardo retornou a seu carro e pegou uma faca e foi em direção a Thiago que correu para trás de seu carro e sacou uma arma de fogo ordenando que Eduardo jogasse a faca no chão senão seria “levaria um tiro”. Imediatamente Eduardo cessou a ameaça e o caso foi solucionado com a chegada da polícia militar.

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b) Nível secundário - Técnicas de menor potencial ofensivo Controle de contato: Trata-se do uso das suas capacidades técnicas de defesa pessoal que permitam manter o controle da distância entre você e o agressor. O uso dos braços mais alongados e o distanciamento tático são opções de controle. Controle físico: É a aplicação das técnicas de defesa pessoal com um maior potencial de domínio para fazer com que o agressor seja controlado sem o emprego de golpes traumáticos ou uso de instrumentos ou armas de defesa pessoal. Visa desestimular a continuidade da ação por parte do agressor que não é uma ameaça de alto nível, por exemplo, um bêbado que mal consegue andar. Caso real— experiência própria Em outubro de 2015 eu estava em uma festa e próximo ao final do evento um dos convidados estava embriagado e começou a jogar taças no chão como protesto pelo buffet não servir bebidas, pois o horário de atendimento já havia se encerrado. Parte dos pedaços de vidro e liquido vieram em minha direção, momento em que chamei a atenção do bêbado de forma dizendo: “pare com isso, já acabou o horário da festa e você vai machucar alguém”. Em seguida o homem se aproximou de mim dizendo: “quem é você para mandar eu fazer alguma coisa” e outras frases que não consegui entender causa do seu nível de embriaguez. Neste momento disse a um familiar que estava ao lado que fosse chamar o segurança da festa. Nervoso, o bêbado tentou me empurrar, porém dei um passo para o lado e ele caiu sozinho. Ao se levantar ele tentou me socar, mas

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desviei e apliquei um estrangulamento conhecido como mata-leão e o mantive imobilizado até a chegada do segurança que o tirou do local. Controle com instrumentos de menor potencial ofensivo: É o uso de instrumentos de menor potencial ofensivo para controlar um agressor de baixo risco. Visa sua imobilização ou incapacitação temporária sem resultar em lesões. Podemos citar o uso de o gás de pimenta (uso restrito para apenas agentes de segurança) ou gengibre (uso liberado para civis). Caso real Em janeiro de 2016 uma jovem Dinamarquesa de 17 anos foi atacada sexualmente por um homem que a derrubou e tentou tirar sua roupa. Durante o ataque, a Dinamarquesa usou um spray de pimenta contra os olhos do criminoso que imediatamente recuou. A jovem conseguiu escapar do ataque do abusador que não foi identificado nem encontrado. c) Nível terciário — técnicas de médio potencial ofensivo É o uso de técnicas de defesa pessoal, com ou sem uso de equipamentos, direcionados a regiões sensíveis do corpo, como diafragma, costelas, ou coxas com a finalidade de neutralizar a agressividade do agressor. Deve ser utilizada quando você ainda está no controle da distância e possui habilidade de combate claramente superior ao inimigo. Tais ataques visam desestimular o agressor a continuar sua tentativa de agressão. 125

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Exemplo: Um profissional de segurança portando uma tonfa como arma não letal é confrontado por um agressor com um pedaço de madeira nas mãos. O profissional de segurança aplica um ataque no braço do agressor visando à contusão do membro e consequente desarme do agressor. d) Nível Quaternário — Técnicas de alto potencial ofensivo — letal É o uso de todas as suas habilidades em defesa pessoal com ou sem o uso de equipamentos ou armas direcionadas a regiões extremamente sensíveis e vitais do corpo como traqueia, queixo, olhos, área genital e cervical, por exemplo. Deve ser utilizada como último recurso quando você perde o controle do combate ou está em desvantagem grave. Tais ataques visam à aniquilação imediata do agressor que não te deixou alternativa a não ser agir de forma vigorosa. Caso real Em 17 de março de 2019 na cidade de Indiana/SP, a Policia Militar informou que foi acionada por volta de 1h30 para atender a uma solicitação de ocorrência de violência doméstica. Ao chegarem ao local, os policiais militares constataram que a solicitante era uma adolescente, que de imediato informou que sua mãe havia sido “severamente” agredida pelo seu pai. Os policiais militares identificaram o agressor, “o qual se achava momentaneamente perturbado, em discussão com seu vizinho, que havia acolhido a esposa agredida”. Ao perceber a presença dos 126

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policiais militares, segundo a corporação, o agressor passou a hostilizá-los, recusando-se a submeter-se à busca pessoal ou a entregar seus documentos. Questionado sobre a integridade física de sua filha e de sua esposa, o agressor apossou-se de uma corrente e de um objeto com cabo de madeira, caminhando na direção dos policiais. Os militares utilizaram gás de pimenta para tentar conter o indivíduo, contudo, o artifício foi insuficiente. Segundo a PM, o homem aproximou-se de um dos policiais e deferiu-lhe golpes com a corrente, desequilibrando-o, repetindo o ato agressivo, “motivo pelo qual seu parceiro efetuou disparo com sua arma de fogo”. O tiro acertou a barriga do homem e o fez cessar a agressão, segundo a PM. Após a imobilização, os policiais constataram que o segundo objeto portado pelo indivíduo era um martelo. Temos um caso típico de ação bem executada pelos policiais observando o escalonamento do uso da força ao primeiro verbalizar, depois utilizar um meio não letal, gás de pimenta e como último recurso a arma de fogo. Importante destacar que os policiais cessaram o ataque após o agressor ter seu potencial ofensivo neutralizado. É importante entender que o confronto deve ser resolvido nos níveis iniciais, pois quanto mais a situação se agravar, maiores serão os riscos e as conseqüências. É necessário ficar atento à necessidade de diminuir o potencial de contundência. A escala de força deve reduzir conforme a capacidade do agressor também reduz.

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RACIOCÍNIO TÁTICO DE SOBREVIVÊNCIA E COMBATE “Inteligência é a capacidade de se adaptar à mudança”. Stephen Hawking

A inteligência é sua arma mais poderosa para autodefesa. A capacidade de aprender e entender os mecanismos de funcionamento da ameaça e do combate te torna muito mais preparado para identificar, prevenir ou agir eficientemente diante de uma situação crítica. A inteligência se sobrepõe a força e até mesmo a técnica. Um planejamento eficiente de medidas de prevenção, tomadas 128

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de decisões rápidas, análise de riscos, estratégias de combate e estado de alerta e prontidão mental desestimulam a ação de um agressor e aumentam a capacidade de tomar decisões rápidas que são fundamentais para sobrevivência diante de um cenário critico de combate ou um crime.

Como pensa um sobrevivente urbano Umas das frases que mais gosto quando penso em autodefesa é:

“Estar preparado para a guerra é um dos meios mais eficazes de preservar a paz”. George Washington Preparação faz parte da prevenção e engloba o potencial de ataque e defesa, por exemplo, uma casa protegida por um ótimo sistema de vigilância, cães e com seus moradores entendendo como funciona o modus operandis do criminoso e assim adota medidas comportamentais preventivas. Estar preparado significa investimento diário em seu condicionamento físico para fugir ou lutar e aprender algum método de defesa pessoal eficiente para ser usado em casos críticos. Na frase de George Washington a prevenção também significa intimidação por dissuasão, ou seja, o agressor é desestimulado em praticar algum ato contra você, pois teme os danos que pode sofrer em virtude de identificar seu grande potencial de defesa e ataque. Lembre-se que o agressor e o 129

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criminoso também têm algo a perder, sua liberdade, integridade física ou sua própria vida. Ao sair de casa trace um mapa mental do seu percurso e identifique os locais de maior risco e os principais tipos de ameaças. Planejar sua rota e conhecer os locais mais perigosos o manterá em um estado de alerta e prontidão mental na cor amarela. Um sobrevivente assume o compromisso por sua segurança, não gasta seu tempo procurando culpados e não a deixa nas mãos do Estado. Frases do tipo: “não me preocupo com assalto, isso é problema para polícia resolver”, ou simplesmente “Fui assaltado porque a polícia não patrulha esta área etc.” são utilizadas por pessoas que querem terceirizar sua segurança e perdem o controle da sua autodefesa. Assuma a responsabilidade por sua segurança e o compromisso em adotar um sistema de autodefesa eficiente. Tenha uma visão realista e antecipada das ameaças potenciais. Entenda que você está, literalmente, sozinho na multidão e que ninguém vai te ajudar. É provável que você conheça casos de roubos ou agressões que aconteceram em plena luz do dia aos olhos de todos, mas ninguém ajudou a vítima. Aprenda a depender cada vez mais de você e menos dos outros.

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Rotina a sua maior inimiga A rotina é uma grande vilã da autodefesa que te torna desleixado, pois dia após dia nada de ruim te acontece, assim você baixa sua guarda e o pensamento “isso nunca aconteceu antes”, “nunca vai acontecer comigo”, “já fiz isso mil vezes e nunca aconteceu nada”, começam a dominar seu subconsciente ao invés de “talvez hoje eu tenha que salvar a minha vida”. Infelizmente quem vive sem um planejamento e um comportamento adequado acabará um dia cruzando com um criminoso oportunista e você entrará na estatística do crime. Conseguir manter diariamente um sistema de autodefesa é algo que exige muito comprometimento e esforço consciente. A grande dificuldade é que conforme os dias se passam sem que nenhuma ameaça real aconteça, nosso cérebro entra em um processo “automático” que é algo inato ao ser humano. Você precisa de uma boa dose de esforço consciente para se manter alerta na ausência de risco imediato. A questão então é: . Você consegue permanecer em alerta amarelo durante suas atividades diárias? Ou sua mente vaga e entra em modo verde constantemente? . Você criou o hábito de agir preventivamente mesmo que tudo pareça tranquilo e não haja nenhuma ameaça imediata? . Com que frequência você ignora seu sistema de defesa por pensar: “vai ser rapidinho”? 131

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A rotina além de desgastar seu sistema de defesa, favorece o criminoso que consegue estudar seu padrão de comportamento, seu trajeto, quanto tempo gasta, qual o momento você está mais vulnerável e como você se posiciona no ambiente.

Pensamento tático Pensamento tático é o método de análise do ambiente ao seu redor. Consiste em mapear as diferentes áreas e sujeitos em função dos riscos avaliados, identificar locais seguros para proteção e focar em pontos que demandem maior atenção para evitar ser surpreendido. Enquanto o preparo mental ocorre antes da atuação e se baseia numa análise de possibilidades, o pensamento tático se baseia em um diagnóstico que utiliza os dados e informações concretas obtidas por meio da avaliação de riscos de um acontecimento específico potencialmente perigoso. O pensamento tático somado à análise de riscos oferece a melhor opção de resposta diante de um conflito. Os 04 pilares do pensamento tático de combate Área de segurança É a área que possui potencial de proteção para se defender ou atacar diante de uma situação crítica. É o lugar 132

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onde você tem o domínio da situação. É o espaço onde buscar durante uma ameaça potencial, evitando se expor aos perigos desnecessários. Exemplo: Uma parede grossa de concreto na qual você pode se abrigar durante um tiroteio. Área de perigo É o local onde há ameaças potenciais ou reais que coloquem sua integridade física em risco. É o espaço no qual você não detém o domínio da situação. Exemplo: O espaço entre a área de segurança e o criminoso atirando. Podemos citar também os locais de reputação criminosa conhecida, como áreas de tráfico, furto ou roubo. Você só deve entrar nestes locais em casos estritamente necessários e deve permanecer pelo mínimo de tempo possível.

Pontos críticos Os pontos críticos são partes dentro da área de perigo que exigem monitoramento específico e requerem sua atenção imediata, pois são deles que podem surgir ameaças que representem risco à sua segurança e integridade física. Os pontos críticos podem ser locais ou sujeitos. Exemplo: Ao caminhar por uma área conhecida pelos furtos de usuários de drogas você identifica um suspeito que está em sua rota te observando fixamente (temos aqui a área de perigo: local conhecido por furtos e o ponto crítico: o usuário te 133

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observando). Sua concentração deve estar, portanto, no sujeito potencialmente perigoso. Pontos quentes Os pontos quentes são partes dos pontos críticos que devem ser prioritariamente observados por possuir maior potencial de se tornarem fontes reais de agressão. Você deve direcionar sua atenção, energia e habilidade para esses pontos a fim de responder à ameaça de forma eficaz e rápida. A avaliação dos pontos quentes decorre da avaliação dos pontos críticos. Exemplo: Policiais abrigados atrás da viatura em um confronto armado contra um criminoso escondido atrás do seu carro. . Área segura: Atrás da viatura; . Área de perigo: Espaço entre a viatura e o carro do atirador; . Ponto crítico: O criminoso; . Ponto quente: A arma na mão do criminoso.

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TÁTICAS REATIVAS ATIVAS E PASSIVAS “O exército pode passar cem anos sem ser usado, mas não pode passar um minuto sem estar preparado”. Rui Barbosa

Táticas reativas se aplicam quando sua principal linha de defesa falhou: A prevenção. O criminoso conseguiu te surpreender e você literalmente foi pego de calças curtas, agora o bandido está em vantagem em relação a você. Trata-se daquele momento que o bandido te aborda anunciando o assalto ou quando ele invade sua casa por exemplo. Nesta fase o risco é muito maior e as opções de defesa são muito menores. Você tem duas opções: 135

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Reagir ativamente É o enfrentamento ativo da ameaça. É quando você toma uma atitude enérgica contra o agressor visando tomar o controle total da situação. É um conceito simples de entender, pois é aquele momento que um ladrão anuncia um assalto ou simplesmente puxa seu celular das suas mãos e você entra em luta corporal com ele para recuperar seu pertence. Esta é a fase de maior perigo, pois você terá que reagir contra alguém que te surpreendeu e está no controle. Reagir passivamente Engana-se quem pensa que reagir passivamente é simplesmente não fazer nada e deixar as coisas acontecerem sem nenhuma interferência física ou guiada ficando à mercê do agressor. Na reação passiva você não age ostensivamente contra uma ameaça, mas se posiciona tentando contornar o problema visando minimizar os riscos. Exemplo: você caminha por um parque e é surpreendido por um assaltante armado com canivete que quer roubar o seu celular. Você pensa que logo à frente existe uma base policial e que será mais seguro demonstrar submissão e permanecer o mínimo de tempo possível sob domínio do assaltante que pode tentar algo mais grave caso você demonstre interesse em escapar ou reagir. Embora você não tenha reagido energicamente contra os criminosos, analisou a situação em que se encontrava e adotou

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a atitude de maior margem de segurança pessoal. Você identificou que a melhor reação era justamente não reagir. Outro exemplo é o caso em o assaltante após roubar seu celular, ao invés de fugir, ordena que você o acompanhe até um prédio vizinho abandonado. Você precisa pensar rápido e calcular se o risco em tentar fugir ou entrar em luta corporal é maior ou menor do que aceitar ser levado até um local desconhecido e possivelmente ser morto. Nesta pequena fração de tempo sua decisão decidirá seu destino. Você pode estar se perguntando: Mas como vou saber quando devo reagir ativa ou passivamente? Infelizmente não existe uma fórmula exata para isso. Não há uma receita pronta. O que posso te garantir é que existem indícios que te ajudam a determinar a probabilidade de algo ser mais ou menos grave. Você deverá agir diante da melhor probabilidade e também de seus instintos treinados.

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MEDO “Acho que é mais corajoso quem vence seus medos do que quem vence seus inimigos, porque a vitória mais difícil é sobre sí mesmo”. Aristóteles

Recebo diariamente muitas perguntas do tipo: como posso controlar o medo? Porque em uma situação de perigo ou ameaça eu fico paralisado? Se você se identifica com essa pergunta, fique tranquilo, pois você não está sozinho. A maioria das pessoas não sabe lidar com situações repentinas de stress, como um assalto ou uma ameaça, mas anime-se, pois a boa notícia é que isso é absolutamente treinável. Definição de medo segundo o dicionário Michaelis: 138

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1. Estado psíquico provocado pela consciência do perigo, real ou apenas imaginário, ou por ameaça; 2. Receio de ofensividade irracional; temor; 3. Receio de ofender, de causar mal ou de que ocorra algo desagradável”. Porque sentimos Medo? Sentimos essa emoção forte, como um sinal latente de alerta contraprováveis ameaças que podem nos trazer algum tipo de malefício. O medo é um instrumento de autodefesa que está presente desde a origem do ser humano. Antigamente o ser humano estava sujeito a muitos tipos de ameaças, como animais selvagens. Sua sobrevivência diante de um predador dependia do quão rapidamente ele conseguia identificar essa ameaça. O cérebro humano desenvolveu mecanismos para aperfeiçoar sua sobrevivência, portanto, o medo tem a função principal de nos proteger e chamar nossa atenção para um risco iminente.

Como o medo age biologicamente O cérebro humano é um órgão extremamente complexo, dentre as inúmeras estruturas que compõe o nosso cérebro podemos destacar a amígdala que se localiza no sistema

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límbico que é responsável por controlar as emoções, como raiva, medo e o instinto de sobrevivência. A amígdala é responsável por checar tudo o que acontece no exterior e interior do nosso corpo e caso identifique alguma anormalidade ou ameaça ela transmite ao hipotálamo um sinal ao sistema endócrino que o faz produzir uma série de reações químicas que liberam hormônios com o intuito de capacitar o corpo para uma fuga ou combate. Dentre os hormônios liberados se destacam a noradrenalina, cortisol e a adrenalina. Estes hormônios são rapidamente liberados e causando as seguintes alterações físicas: . Dilatação da pupila: O que faz aumentar a captação de luz, portanto, aumenta a capacidade visual favorecendo a visão do ambiente e de possíveis agressores em um local escuro; . Aumento da frequência cardíaca e pressão arterial: O que aumenta a irrigação muscular e consequentemente melhora a velocidade da contração muscular, tornando o corpo mais rápido, forte e explosivo, potencializando as habilidades em correr e lutar. Com o aumento dos batimentos cardíacos a respiração torna-se ofegante e mais curta o que causa a dilatação dos brônquios e aumenta a obtenção de maior volume de oxigênio; . Liberação de glicose pelo fígado para aumentar a energia dos músculos;

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. Diminuição do fluxo sanguíneo das extremidades do corpo, como dedos, pele e do intestino, o que o aumenta a disponibilidade de sangue para os músculos e diminui um possível sangramento em caso de ferimentos superficiais; . Aumento do número de glóbulos vermelhos na corrente sanguínea potencializando a oxigenação do corpo em geral;

Quais os benefícios desta tensão de combate O medo causa efeitos positivos e negativos que modificam nossa capacidade técnica de sobrevivência. Os principais efeitos relatados por policiais, soldados em guerra e pessoas comuns durante momentos de grande tensão, baseado no estudo da doutora Alexis Artwohl, coautora livro Deadly Force Encounters, que entre 1994 e 1999 entrevistou 157 policiais americanos que passaram por um tiroteio foram os seguintes: . 7% relataram paralisia / congelamento temporário; . 17% tiveram a percepção do tempo transcorrer em velocidade maior do que a verdadeira; . 21% informaram distorções auditivas, visuais e de memória; . 26 % experimentaram pensamentos introspectivos;

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. 39% relataram um estado de dissociação ou irrealidade; . 46% não se lembram do próprio comportamento; . 52% não se recordam de parte do evento; . 62% perceberam o tempo em câmera lenta; . 71% relataram embranquecimento visual (branco); . 74% informaram pouco ou nenhum pensamento consciente; . 79% relataram a visão em túnel; . 84% tiveram exclusão auditiva. Encontramos outro estudo muito importante sobre os efeitos do medo e as reações físicas no livro Sharpening the Warrior’s Edge: the psychology and Science of training escrito pelo pesquisador Bruce K. Siddle. O estudo mostra que quando uma ameaça é identificada ela ativa o Sistema Nervoso Simpático (SNS) que imediata e independentemente decide qual a ação o corpo tomará, como fugir ou lutar. Segundo os estudos de Siddle existe uma relação muito próxima entre a percepção da ameaça e a aceleração dos batimentos cardíacos durante a reação de sobrevivência. Siddle demonstrou ocorrer alterações específicas no corpo durante a variação dos batimentos cardíacos, tais como: 142

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Entre 115 e 145 BPM . Diminuição da habilidade motora fina. São habilidades físicas que envolvem a coordenação de pequenos músculos, como os das mãos, dedos ou pés. São extremantes importantes para ações como atirar, dançar, pintar ou golpear um alvo específico em um inimigo, como o queixo, olhos ou testículos. . Aumento da habilidade motora grossa. São as habilidades físicas que envolvem grupos de músculos grandes que geram maior capacidade de força, como pernas, peito, costas e braços. São importantes para correr, empurrar, saltar ou chutar. Entre 145 e 170 BPM . Diminuição da capacidade auditiva. Nesta faixa dos batimentos cardíacos o cérebro altera o funcionamento da audição, por isso, é muito comum vermos relatos de pessoas que disseram não ouvir com clareza um grito ou aviso durante uma situação de ameaça ou tensão. Entre 170 e 185 BPM . Visão de túnel. É a diminuição da visão periférica que limita o campo visual a um túnel que se estreita até um ponto específico. A pessoa perde a capacidade de enxergar o ambiente de forma ampla e todas as possíveis ameaças por se concentrar em um ponto específico prejudicando a autodefesa, pois podem 143

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surgir outros inimigos que não serão identificados até que estejam muito próximos; . Perda de percepção de profundidade. O que dificulta a identificação precisa da distância real do agressor ou da ameaça prejudicando a reação precisa dos movimentos de defesa ou ataque. Isso pode ocasionar um erro no tempo da defesa contra um ataque com faca, por exemplo; . Perda temporária da memória. É o esquecimento momentâneo dos fatos que acabaram de acontecer. Muito comum principalmente após ferimento ou traumas sérios. Entre 185 e 230 BPM . Hipervigilância. É a alteração no sistema de percepção e dos mecanismos cognitivos. Ocorre o aumento da atenção focada e pode gerar comportamentos desproporcionais em relação à realidade. Neste estado é comum o congelamento físico e mental, comportamento submisso, fuga irracional ou até mesmo erro de identificação de uma ameaça tal qual confundir uma furadeira com uma arma de fogo durante um confronto policial. Acima de 250 BPM . Ocorre a perda da consciência. Em virtude do grande aumento da respiração a pessoa entra em estado de hiperventilação na qual o oxigênio e o gás carbônico ficam em concentrações inadequadas para o sangue levando a pessoa ao desmaio. 144

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Podemos notar que mais de 70% dos policiais sob tensão tiveram problemas visuais e auditivos, seja pelo embranquecimento, pela visão de túnel ou perda de audição, além da diminuição considerável da habilidade motora fina. Quando analisamos profundamente essas respostas negativas entendemos o quanto é grave e complexo, pois em um confronto contra um ou múltiplos inimigos dependemos quase que exclusivamente da visão para identificar as ameaças e oportunidades e da nossa habilidade motora fina para efetuar um disparo certeiro ou acertar um golpe em um ponto sensível do corpo do agressor para tirá-lo de combate. Esse entendimento de como o seu corpo reagirá diante de situações críticas é muito valioso para que possamos treinar nosso corpo e mente para diminuir os efeitos negativos que iremos sofrer. Podemos melhorar nossa preparação técnica e mental através de treinamentos que envolvam simulações que nos coloquem próximos a situações reais tanto física como psicologicamente.

Medo é ruim? Podemos afirmar que o medo é bom, desde que saibamos dimensionar racionalmente sua origem e complexidade. O medo, portanto, nos torna mais rápidos, fortes, imunes a determinado níveis de dor e nos prepara para fugir de uma ameaça mortal ou para lutar por nossa vida.

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O principal problema é quando nos deparamos com o medo irracional ou o medo exagerado, estes sim são muito maléficos para o ser humano e em especial para nossa capacidade de autodefesa. O medo racional é fruto das percepções realista que temos, por exemplo, ao andar em uma rua escura sem nenhum movimento de pessoas e que sabemos possuir uma alta taxa de violência. É normal e necessário que entremos no estado de alerta para que possamos aumentar nossas chances de defesa caso sejamos surpreendidos. O medo irracional é a falsa percepção de perigo ou de baixíssima probabilidade de ocorrer, por exemplo, uma pessoa que tem pânico de sair de casa com medo de um avião cair em sua cabeça no meio da rua. Essa forma de medo é muito maléfica, pois limita muito a qualidade de vida e requer tratamento médico de acordo com a gravidade do caso. O medo exagerado é o sentimento desproporcional em relação ao perigo efetivo, neste caso o perigo existe, mas a pessoa supervaloriza a ameaça. Podemos usar como exemplo uma pessoa que sente pânico ao caminhar em plena luz do dia em uma rua movimentada onde não há registros de violência ou uma pessoa que tem medo de andar de avião com medo dele cair, ou seja, existe o perigo de algo acontecer, mas o medo está sendo exagerado.

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Como controlar o medo Caso você se enquadre no conceito de medo irracional ou altamente exagerado recomendo que busque auxílio profissional. Em relação ao medo racional há algumas estratégias que podem te ajudar a superá-lo. Sabemos que quando o assunto é autodefesa ficar paralisado pode ser fatal. Então como podemos melhorar nossa resposta ao medo? 1. Treinamento mental para o confronto Você sabia que nosso cérebro não distingue muito bem o que é realidade e o que é fantasia? Um experimento realizado pelo professor de neurologia Álvaro Pascual Leone, da Harvard Medical School demonstrou que a imaginação ativa as mesmas áreas do cérebro responsável pela ação real. Em seu experimento ele utilizou voluntários que treinaram uma sequência simples de música em um piano e foi constatado aumento da área cerebral responsável por esse tipo de aprendizado, porém os voluntários que apenas imaginavam a mesma sequência musical também tiveram a mesma área cerebral estimulada mesmo sem ter praticado no piano. Os resultados foram obtidos através de análise por ressonância nuclear magnética funcional que comprovou o mesmo estímulo cerebral tanto no grupo que treinou no piano quanto no que apenas imaginou. Esse estudo mostrou que o treinamento mental tinha a capacidade de mudar a estrutura física do cérebro. 147

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Outro experimento que mostra o poder da visualização e do treinamento mental foi realizado pela universidade americana de Yale na qual os pesquisadores selecionaram trinta indivíduos que, em comum, nunca haviam disparado uma arma de fogo e submetidos a uma prova de tiro obtiveram a mesma média de acertos. Esses indivíduos foram divididos em três grupos. O primeiro praticou tiro por vinte minutos, cinco dias por semana e durante seis semanas. O segundo grupo durante o mesmo período de tempo e no mesmo ambiente apenas se imaginou acertando o alvo reproduzindo na mente os gestos de atirar. O terceiro grupo, na mesma situação e no mesmo período, ficou à toa simplesmente brincando com a arma. Depois de seis semanas os testes de proficiência foram repetidos. Os dados foram surpreendentes: o primeiro grupo teve índice de acertos de 83%; o segundo grupo de 82%e o terceiro manteve a média de antes sem alteração. Ficou comprovado que os exercícios mentais são quase tão eficientes quanto o treino prático ao se preparar para um desafio. O indivíduo pode simplesmente simular na mente a situação que enfrentará criando e modificando quantas variáveis conseguir imaginar. Isso é poderosíssimo!

Como podemos aproveitar toda essa informação? Sabendo do poder da visualização dirigida e do treinamento mental, anote em uma folha quais são os seus 148

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maiores medos diante de uma situação real, como um assalto, uma briga ou um ataque em ambiente confinado por um agressor com uma faca. Enumere quais são as situações que mais te preocupa e comece a imaginá-las visualizando sua reação de acordo como gostaria de agir, sinta-se realmente naquele ambiente com o agressor, ouça as palavras de ameaça, gritos, sinta os empurrões e você começará a experimentar os efeitos do medo em seu corpo e na sua mente. Este exercício mental te propicia a oportunidade de desenvolver a melhor resposta diante de um determinado problema, seu cérebro ficará treinado para agir caso realmente aconteça, pois para ele não será a primeira vez. A grande vantagem é que você pode trabalhar todos os cenários que puder imaginar sem nenhum risco de dano físico e ao mesmo tempo adestrar seus reflexos para determinada situação. Visualize-se cara a cara com um inimigo armado com uma faca tentando te atacar. Imagine o tamanho, modelo, cor da lâmina e veja o inimigo se aproximando de você tentando te atacar. Sinta o vento do golpe passando próximo ao seu rosto. Ao imaginar essa cena com convicção você sentirá sua respiração aumentar, bem como os efeitos dos hormônios do stress se espalhando em seu corpo. Concentre-se em sua respiração utilizando a cadência de 3,2,3 (inspire em 03 segundos, segure a respiração por 02 e solte o ar em 03 segundos) isso irá ajudar a baixar seus batimentos cardíacos mantendo-os mais próximos de 110 e 140 BPM o que é importante para ter um ótimo desempenho físico.

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Imagine o barulho do ambiente, como gritos, ameaças e buzinas enquanto observa e se afasta de cada ataque inimigo. Visualize sua reação ao receber um corte no braço, sinta o cheio do sangue e tente manter sua mente tranquila. Imagine o ambiente em que você está, pode ser um bar ou restaurante, analise rapidamente qual objeto pode ser utilizado para equilibrar esse confronto, imagine-se utilizando uma cadeira para se defender dos ataques vorazes do inimigo e finalmente se veja acertando um golpe em uma região sensível ou vital do agressor, como garganta ou queixo. Imagine a reação do inimigo ao ser golpeado, lembre-se que em um confronto real dificilmente o inimigo é neutralizado com apenas um golpe, portanto, será necessário continuar o ataque até aniquilar toda a ameaça. Você tem coragem para isso? Esse treinamento mental é apenas um exemplo dentre milhares que você pode utilizar. Seja criativo e visualize diferentes situações de violências e as inúmeras variáveis e imprevisibilidades que podem acontecer. 1. Treinamento fino É o treinamento focado na precisão técnica que será aplicada na situação de confronto. Vimos que durante o estado de tensão nossas habilidades motoras finas são diminuídas, isso explica o porquê vemos um jogador profissional de futebol errar um chute como se fosse um amador, um lutador experiente errar ataques e defesas que não costuma errar em

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seus treinamentos ou um policial bem treinado que em um confronto não consegue acertar o tiro no agressor. É importante praticar estes movimentos que requerem precisão e tempo correto em simulações que repliquem o cenário hostil. Simplesmente ao imaginar o cenário de combate seu corpo iniciará reações químicas similares ao combate real, você será capaz de experimentar em menor escala todas as sensações que envolvem um confronto. Por meio do treinamento você pode trabalhar sua habilidade motora fina mediante o stress e aperfeiçoar sua resposta em uma situação complexa. Lembre-se que quanto mais treinado, maiores as chances de dar certo.

2. Planejamento Algo que causa muito stress é a incerteza do que esperar. Tenha um plano detalhado por escrito e em sua mente de como agir em cada situação que te causa medo. Por exemplo, se você tem medo de ser assaltado no trânsito enquanto dirige deve se informar quais são os trajetos e horários mais seguros para criar um roteiro mais seguro. Lembre-se que estar preparado diminui muito o seu nível de medo.

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REAGIR OU NÃO? “O discurso do "nunca reaja" não é garantia de segurança para você, mas é para o criminoso”. Bene Barbosa

Todos nós sabemos que a orientação geral é para nunca reagir, mas será mesmo isso é garantia de sobrevivência? Vamos analisar três situações diferentes: 1. Jovem não reage a assalto, mas é baleado. Em Aparecida de Goiânia, região metropolitana da Capital, um jovem estava em frente a uma oficina mecânica onde faria um teste de emprego quando foi surpreendido por um assaltante identificado como Rafael J.O de 30 anos, fugitivo do presídio de Trindade, que o abordou com uma arma de fogo exigindo o celular. Segundo uma testemunha, o jovem entregou o celular sem reagir nem esboçar nenhuma reação, mas mesmo assim o criminoso efetuou um disparo no abdômen. O 152

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jovem precisou ser levado com urgência para o Hospital de Urgências de Aparecida de Goiânia.

2. Mulher reage a assalto e é morta com facada no peito. Em 04 de novembro de 2018, no começo da madrugada, por volta das 0h, uma mulher foi morta após reagir a um assalto. A vítima foi abordada na rua e entregou seus pertences a dois criminosos. No entanto, logo após o roubo, ela correu atrás da dupla e foi atingida com uma facada na altura do peito. O crime aconteceu já na travessa Hermes Cortês, cerca de 150 metros do local do assalto. A mulher foi encontrada caída na rua pela Brigada Militar, com uma mochila e documentos. Após algumas tentativas de reanimação realizadas pelo Samuela foi levada ao Pronto Atendimento do Patronato, mas não resistiu aos ferimentos e morreu. A vítima foi identificada como Nicole V. R., 31 anos, moradora de Lavras do Sul. Os criminosos estão foragidos. O celular da vítima não foi encontrado.

3. Caso Ana Hickmann Dia 25 de maio de 2016 em um hotel em Belo Horizonte um homem chamado Rodrigo A. P de 30 anos invadiu o quarto onde estava hospedada a apresentadora Ana Hickmann. Segundo o boletim de ocorrência, Rodrigo rendeu o cunhado dela, Gustavo e o obrigou a levá-lo até ela, onde também estava a mulher dele, Giovana, que é assessora da apresentadora. Rodrigo que dizia ser um fã de Ana Hickmann rendeu os três e com uma arma em mão disse que iria brincar de “roleta russa”, foi quando Gustavo entrou em luta corporal

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com o Rodrigo por cerca de oito minutos, terminando com o cunhado da apresentadora desarmando e matando o agressor.

No primeiro caso mesmo a vítima não esboçando nenhuma intenção de reagir e cumprindo as exigências do assaltante acabou sendo baleado a sangue frio. Eis um exemplo de uma vítima que seguiu a orientação geral “não reaja” e mesmo assim acabou sendo vítima de um tiro sem nenhuma chance de defesa. A maior preocupação que temos nos dias atuais é a de sermos agredidos ou mortos durante um assalto mesmo sem esboçar qualquer tentativa de reação. Seguir a orientação geral de não reagir garante a segurança apenas do criminoso e não da vítima. No segundo caso, uma mulher teve seu celular roubado e quando os criminosos empreenderam fuga ela tentou reagir e acabou morta. Este é um caso típico em que a orientação geral “nunca reaja” deveria ser considerada. A situação mostrou que a intenção dos criminosos era assaltar e não matar a vítima durante a ação, mas ela cometeu um erro ao ir atrás dos criminosos para recuperar o que havia sido roubado e infelizmente essa ação lhe custou a vida. Em uma situação como essa a vítima deve evitar perseguir os criminosos. A ação mais correta é procurar um local seguro e ligar imediatamente para a polícia. No terceiro caso uma das vítimas temendo a probabilidade de ser morta, reagiu, desarmou e matou o 154

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criminoso. A vítima estava na iminência de ser morta e resolveu reagir para salvar sua vida. Neste caso a orientação “nunca reaja” é praticamente uma sentença de morte. Então devo ou não reagir? Estatisticamente não reagir durante um assalto é opção mais segura na maior parte das vezes, mas a autodefesa não é uma ciência exata e não reagir não te dá garantias de que não será agredido ou morto. Muitos são os casos de pessoas que foram assassinadas cruelmente durante um assalto sem esboçar nenhum sinal de reação, principalmente nos casos em que o criminoso está sob efeito de drogas ilícitas. Baseado em todo o conhecimento que você adquiriu neste livro, nas suas experiências, estudos sobre modus operandis do criminoso e análise de risco você deve tomar a decisão que te traga a maior probabilidade de sobrevivência. Você entende o quão sensível é essa decisão? Reagir na hora errada pode resultar em danos desnecessários, mas não reagir pode ser uma sentença de morte. Quanto mais você treinar e estudar maiores serão as chances de você tomar a decisão certa. Como reagir de forma eficiente? Para que uma reação ser bem-sucedida você deve levar em consideração vários fatores durante o crime ou violência:

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. Seu grau de habilidade técnica para reagir à ameaça específica; . O grau de dificuldade da situação, como número de agressores e potencial ofensivo que estão utilizando (arma de fogo, faca, bastão); . Oportunidades para a ação. Entenda que há momentos mais ou menos propícios para iniciar a reação, não basta simplesmente reagir; Antes de reagir você deve ter o máximo de informações para aumentar suas chances de sucesso para isso analise as seguintes questões: . Quantos são os agressores? . Há possibilidade de haver comparsas próximos escondidos? . Qual instrumento de ameaça o criminoso está usando? . Você possui treinamento específico contra aquela ameaça? . Você está na distância correta para se defender? . O risco de não reagir é maior do que reagir? Para cada situação crítica há uma resposta específica mais adequada. Vamos analisar as seguintes situações: 1. Você é surpreendido por um criminoso armado com uma arma de fogo:

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. Você nunca viu o criminoso antes; . Ele exige o seu celular ou carteira; . Não demonstra agressividade física excessiva nem de que está alucinado pelo uso de drogas. A maior probabilidade é de que o criminoso vai te roubar e em seguida fugir. Diante disso a sugestão é não fazer nenhum movimento brusco, como abaixar as mãos rapidamente para pegar o seu celular o que pode assustar o criminoso que está ansioso e pode disparar a arma de fogo em sua direção. Demonstre calma ao bandido, diga antecipadamente o que fará, como “vou pegar o celular aqui no meu bolso, está tranquilo” e faça o movimento de forma leve e entregue os pertences. Ligue para a polícia assim que o criminoso se afastar. Lembre-se que isso não é garantia de que ele não vá simplesmente atirar depois do crime, por isso é você quem deve tomar a decisão em reagir ou não. 2. Quando você é surpreendido por um criminoso com uma arma de fogo: . Você nunca o viu antes; . Ele exige seus pertences; . Ele está claramente alterado e agitado, possivelmente drogado; 157

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. Após o roubo ele ordena que você o siga até um prédio abandonado do outro lado do quarteirão. Temos aqui uma situação bem diferente. Enquanto na primeira situação o criminoso foge rapidamente após o crime, na segunda situação o criminoso, mesmo podendo fugir, ordena que você o siga até um local deserto. Conhecendo como o criminoso age é possível entender que não se trata mais de um assalto, mas talvez um estupro, sequestro ou latrocínio. O risco de não reagir está se tornando maior do que reagir. Neste ponto você precisa avaliar as oportunidades de reação, pois quanto mais o criminoso avançar na atitude criminosa, menores serão suas chances de defesa. Eis que você está em uma situação duvidosa: não reagir na esperança do criminoso não efetivar um crime pior ou acreditar que o criminoso vai fazer algo pior e reagir para tentar sobreviver? Eu particularmente tentaria achar uma janela de oportunidade para reagir. 3. Você é surpreendido por um inimigo declarado que: . Já te ameaçou de morte anteriormente; . Está armado com uma arma de fogo ou faca: . Está visivelmente nervoso. O cenário, agora, leva a crer que ele irá tentar te matar, pois ninguém aparece na frente do seu inimigo com uma arma para simplesmente fazer uma ameaça. 158

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Diferente da primeira situação cujo criminoso não te conhecia, não tinha nenhuma desavença pessoal com você e que exigia um bem material, nesta terceira situação o inimigo te conhece, é seu inimigo mortal e não está em busca de bens materiais, mas sim querendo sua morte. A recomendação é deixá-lo achar que está no controle da situação e reagir na primeira oportunidade. Melhor se ferir e sobreviver do que não fazer nada e morrer como um inseto. Conclusão: Reagir ou não é uma decisão que cabe apenas a você. Analise todos os detalhes da situação, como perfil do criminoso, oportunidade de reação, gravidade e finalidade do crime. Confie em seus instintos e se mantenha treinado para aumentar suas chances de sobrevivência.

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DICAS PRÁTICAS DE PROTEÇÃO URBANA Como prevenir e agir durante e após um crime.

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AMBIENTES FECHADOS

Ataque em ambientes fechados tem se tornado cada vez mais frequentes no Brasil. O criminoso busca matar ou ferir o máximo de pessoas possíveis por isso escolhem ambientes que tenham grande aglomeração de pessoas, como escolas, shoppings ou igrejas. Locais onde que o criminoso sabe que não encontrará resistência armada. Os criminosos que agem nestes crimes covardes geralmente não buscam alvos específicos, para eles quanto mais pessoas morrer, melhor. Vamos relembrar os ataques no Brasil que aconteceram nos últimos anos: Suzano, escola Raul Brasil, data: 13/03/2019 Dois criminosos de 17 e 25 anos, ex-alunos da escola, executaram um ataque na escola Raul Brasil, na cidade de Suzano matando cinco jovens, duas funcionárias do colégio e o tio de um dos criminosos que era proprietário de uma loja de veículos na região. A dupla de criminosos foi à loja de veículo atiram no proprietário e fugiram com um carro até a escola. Policiais foram acionados por causa do crime na loja de veículos. Um 161

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dos atiradores entrou sozinho na escola com uma arma de fogo e atirou contra duas funcionárias, em seguida ele foi até o pátio. Poucos segundos depois, o segundo atirador entrou na escola armado com uma machadinha e atacou as vítimas que estavam caídas no chão. No pátio a dupla de criminosos atacou outros jovens. Os atiradores tentaram entrar no centro de idiomas onde havia muitos estudantes, porém, uma professora trancou a porta e fez uma barricada com mesas e carteiras impedindo a entrada dos atiradores. Com a chegada da polícia na escola, um dos atiradores matou o comparsa e em seguida se suicidou. A motivação do crime ainda está sendo investigada no momento, mas já se sabe que os atiradores planejaram o crime por um ano e meio e pertenciam a uma seita religiosa. Cartas foram encontradas revelando o plano do “sacrifício”. Campinas, Catedral Metropolitana, data: 11/12/2018 Um criminoso armado com uma pistola e um revolver entrou na catedral e se sentou em um dos bancos, de repente, ele se levantou e atirou em três pessoas que estavam no banco de trás. O atirador foi até o corredor e atirou aleatoriamente em direção das outras pessoas. A polícia chegou ao local e atirou no criminoso que ferido se suicidou. Resultado: cinco vítimas mortas. De

Medianeira, Colégio João Manoel Mondrone, data: 28/09/2018 Um aluno de 15 anos armado com um revolver e uma faca, acompanhado de outro adolescente entraram na escola e atiraram contra os colegas de classe. Dois jovens, um de 15 e 162

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outro de 18 anos foram feridos. A polícia prendeu o atirador e o comparsa. Um deles informou que sofria bullying e que seu alvo eram nove colegas de classe e o ataque foi planejado por dois meses.

Goiânia- GO, Colégio Goyases, data: 20/10/2017 Um Aluno de 14 anos retirou uma pistola de dentro da sua bolsa e atirou dentro da sala de aula para todas as direções sem alvo definido. Após descarregar o carregador da pistola, a coordenadora convenceu o atirador a travar a arma e parar de atirar. Dois jovens foram mortos e outros quatro ficaram feridos. O atirador foi apreendido pela polícia. Em depoimento ele afirmou que sua motivação foi por bullying na escola.

João Pessoa, Escola Enéas Carvalho, data: 11/04/2012 Dois jovens de 13 e 16 anos entraram na escola e um deles efetuou seis disparos deixando três alunos feridos. Os dois jovens fugiram do local, mas foram presos no dia seguinte. Segundo eles a motivação do crime foi uma discussão com outro estudante da escola no dia anterior. São Caetano do Sul, Escola Alcina Dantas, data: 22/09/2011 Um aluno de dez anos armado com um revolver e atirou contra a sua professora dentro da sala de aula e em seguida se suicidou com um tiro na cabeça. Não havia indícios que o 163

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atirador sofria bullying e ele foi descrito por professores como uma criança tranquila e sem nenhum tipo de indisciplina.

Realengo, Rio de Janeiro, Escola Tasso da Silveira, data: 04/2011 Turma 1901 comenta massacre em Realengo Um atirador de 23 anos armado com dois revólveres invadiu a escola e atirou aleatoriamente contra os alunos deixando 12 mortos e mais de 13 feridos. O atirador se suicidou assim que os policiais chegaram ao local. Sua irmã relatou que o atirador era muito reservado e que sofreu bullying na época escolar. Taiúva, São Paulo, escola Coronel Benedito Ortiz, data: 28/01/2003 Um ex-aluno de 18 anos entrou na escola e atirou contra 06 alunos, 01 professora e 01 zelador. Após os disparos o atirador se suicidou. Nenhuma vítima morreu. Segundo declarações de alguns estudantes da escola o atirador sofria bullying por anos por ser obeso. Salvador, Bahia, escola Sigma, data: 28/10/2002 Um aluno de 17 anos sacou um revólver de sua mochila dentro da sala de aula e atirou contra duas colegas que vieram a óbito, em seguida ele foi até o pátio da escola onde ameaçou se suicidar, porém foi convencido pelo irmão a se entregar à polícia. Segundo informações de outros estudantes, o atirador

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tinha problemas de relacionamento com as vítimas que supostamente o ridicularizava constantemente.

São Paulo, Shopping Morumbi, data: 03/11/1999 Um jovem de 24 anos, aluno de medicina armado com uma submetralhadora assistia a um filme em uma das salas de cinema do shopping quando se levantou na primeira fila e atirou contra as pessoas deixando três mortos e cinco feridos. O atirador foi dominado por pessoas que estavam no cinema e em seguida preso. A defesa do atirador alegou que ele sofria de distúrbios mentais. Notamos que os casos de ataques em ambiente fechados na maior parte das vezes são cometidos contra pessoas aleatórias, o que torna a defesa da vítima ainda mais difícil pela imprevisibilidade do crime. Constatamos que quase sempre o criminoso escolhe um local onde ele sabe que haverá pouca ou nenhuma forma de resistência armada, como escolas, sala de cinema ou igrejas. O crime geralmente é motivado por vingança a algum tipo de bullying sofrido, insanidade mental ou convicções religiosas. Talvez você pense: “isso nunca vai acontecer aqui”, mas como você pode constatar, os ataques desta natureza acontecem justamente quando e onde ninguém está esperando. Por isso, sua capacidade de resposta diante de uma situação assim fará a diferença entre sobreviver ou não.

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Como agir em caso de tiroteio em um ambiente fechado Temos basicamente três opções de resposta diante de um tiroteio em ambiente fechado: Fugir, barricar-se e se esconder ou o confronto direto (armado ou desarmado). Estatisticamente a opção com maior índice de sobrevivência de pessoas desarmadas é a fuga, em segundo lugar, se esconder e por último e com menores chances o confronto direto desarmado. Vamos abordar cada uma destas opções e como proceder em cada caso. Fuga Ao ouvir barulhos de tiros ou explosões, pare imediatamente o que está fazendo e tente identificar de qual distância e direção o som está vindo. Corra em sentido contrário se calcular ser possível. Para isso você deve levar em consideração: . Conheça todas as entradas e saídas do local, principalmente as saídas de emergência. Muitos locais possuem uma mesma porta para entrada e saída de pessoas, por isso é muito provável que o atirador entre pela entrada principal do prédio, tornando essa opção uma má escolha para fugir, pois você pode acabar indo de encontro ao atirador. Saídas de emergência, janelas e muros são as opções mais seguras para você se evadir do local. Analise de onde vem o som dos disparos e escolha uma destas opções que estiver mais próxima a você; . Corra em zigue e zague. Correr em linha facilita que o atirador consiga te acertar. Correr em movimentos de zigue e zague 166

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dificulta que o atirador te mantenha na mira da arma. O atirador busca fazer o máximo de vítimas, por isso ele não perderá muito tempo com um único alvo e irá rapidamente escolher outro alvo para atirar; . Corra por entre obstáculos, pilastras e colunas, desta forma você manterá sua retaguarda protegida dos disparos que vierem em sua direção, além de dificultar a sua visualização por parte do criminoso; . Deixe seus pertences para trás. Não perca tempo tentando recolher seus pertences, cada segundo é valioso e determinante para escapar ou não. Carregar grandes volumes te deixará mais lento durante a fuga; . Leve as pessoas que estiverem próximas. Correr em grupo dificulta que o atirador mire em você. Em caso de um confronto direto, um grupo possui mais capacidade de enfrentar um atirador que apareça de surpresa.

Barrica-se e se esconder Precisamos entender a diferença entre se barricar e se esconder quando o assunto é defesa pessoal, embora sejam palavras utilizadas como sinônimos no dia a dia. Barricar se refere à proteção. É se colocar atrás de alguma estrutura que seja capaz de te proteger contra um disparo, tal como um pilar de concreto, uma parede reforçada ou um motor de carro. Ao se barricar você pode tanto estar 167

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escondido ou não do atirador, um exemplo de estar barricado, mas não escondido é o caso onde você está atrás de um vidro blindado no qual o atirador está te vendo, mas não pode te acertar um tiro. Esconder se refere a sumir de vista. É não ser captado pelo campo visual do atirador, ou seja, ele não sabe onde você está. Você pode se esconder e estar barricado ao mesmo tempo, por exemplo quando você está atrás de uma parede espessa na qual o atirador, assim você está protegido do disparo e escondido do atirador. É importante entender que você também pode estar escondido, mas não barricado (protegido), um exemplo é a vítima que se esconde atrás de uma cortina durante o ataque. Ela estará fora do campo visual do atirador, mas estará vulnerável a um tiro que vier em sua direção. Portanto o ideal é estar escondido e barricado! A recomendação que te dou é que se for inviável fugir, escolha se esconder e se barricar. Usando o exemplo do caso recente no tiroteio na escola de Suzano, muitos jovens foram salvos por uma professora que conseguiu trancar a porta da sala de idiomas e utilizou as mesas, carteiras, cadeiras e outros objetos pesados que haviam na sala obstruindo e travando a entrada dos criminosos que tentaram arrombar a porta, mas não conseguiram. Essa ação salvou dezenas de vidas! Outras dicas: . Dê preferência em se esconder em locais que sirvam de barricada;

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. Ao se trancar uma sala não fique atrás das portas, pois os disparos transfixam com facilidade; . Se houver um extintor de incêndio de pó químico use-o para criar uma nuvem branca que obstrua a visão momentânea do atirador caso ele consiga arrombar a porta; . Apague as luzes; . Se estiver em grupo, separe-se pelo ambiente para dificultar a mira do atirador e facilitar um confronto se for necessário; . Após se esconder e se barricar, ligue para a polícia solicitando socorro; . Coloque o celular em modo silencioso para não alertar o atirador sobre sua posição; . Se arme com os instrumentos mais afiados e pontiagudos que encontrar para caso seja necessário entrar em confronto direto com o atirador.

Confronto direto O ideal seria você responder à agressão com o mesmo poder de fogo ou maior, ou seja, a forma mais rápida e segura de se parar um homem mal com uma arma é um ou mais homens bons com outra arma.

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Infelizmente sabemos que o atirador busca um local onde ele sabe que não encontrará resistência armada, por isso a maior parte dos ataques são em escolas, igrejas, cinemas e shoppings. Entenda que estatisticamente são baixas as chances de se sobreviver a um tiroteio durante a tentativa de confronto direto desarmado. Quando não resta outra opção é melhor saber o que fazer para potencializar suas chances diante de um criminoso pronto para atirar em você. Então se não foi possível fugir nem se barricar ou se esconder, cabe a você lutar de todas as formas para salvar sua vida e a das demais pessoas, fique atento as dicas abaixo: . Reúna o máximo de pessoas que puder para ajudar no confronto direto e espalhem-se pelo local para conseguir atacar o atirador por todos os lados. Isso torna mais difícil a ação do criminoso; . Use algo afiado, pontiagudo ou pesado que possa ser utilizado como uma arma de ataque que com apenas um golpe tire o inimigo de combate; . Tente se manter fora da visão do atirador até que ele esteja o mais próximo possível. Lembre-se que a mais de 02 metros de distância o atirador terá tempo para mirar em você antes de atirar. Quanto menor for a sua distância, mais chances de surpreendê-lo e conseguir acertar um ataque fatal; . Faça a respiração tática de combate para controlar seus batimentos cardíacos diminuindo a tensão e os efeitos

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negativos dos noradrenalina;

hormônios

da

adrenalina,

cortisol

e

. Não perca tempo tentando implorar por sua vida. O atirador não possui nenhum tipo de empatia e estará em estado de ansiedade e nervosismo e não vai prestar a atenção no que você está dizendo. Isso só vai te atrasar mais para agir; . Vá com tudo. Ao iniciar seu ataque use toda sua força e vigor físico, lembre-se que é a sua vida em jogo; . Mire nos pontos vitais e sensíveis do atirador, tais como pescoço, olhos, garganta, nunca e cervical. É importante golpear onde possa tirar o inimigo de ação rapidamente; . Não pare de golpear até aniquilar a ameaça. Ao entrar em combate com o atirador prossiga atacando incessantemente até que ele esteja totalmente fora de combate; . Lembre-se dos conceitos de ponto quente, foque na arma do atirador e tente permanecer fora da linha de fogo enquanto luta com ele tentando desarmar e aniquilá-lo. . Após o confronto tente se abrigar, pois pode haver outro atirador.

Fingir-se de morto Ouço muitas pessoas afirmarem que sua primeira opção seria se fingir de morto. Eu te digo que esta opção é 171

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simplesmente contar com a sorte e depende muito pouco de você. Posso citar o caso recente do tiroteio em Suzano no qual o segundo agressor usou uma machadinha para atacar as pessoas que estavam caídas mesmo aparentando estar mortas ou gravemente feridas. Outro caso recente em que fingir-se de morto não resultaria em chances de sobrevivência foi o tiroteio dentro da mesquita na Nova Zelândia onde o atirador atirou em todos os corpos no chão para se certificar que ninguém sobreviveria. Há, entretanto, outros casos em que se fingir de morto funcionou para enganar o atirador. Portanto cabe a você analisar a situação imediata e confiar em seus instintos. Seguem algumas dicas caso você opte por se fingir de morto: . Controle sua respiração e diminua ao máximo seu movimento torácico e abdominal; . Fique em posição desarrumada, ou seja, um braço dobrado e o outro esticado. Simule a posição de um corpo que caiu desfalecido após um disparo fatal; . Evite e posição fetal, pois essa posição remete a ideia de alguém com medo ou dor. Isso vai chamar a atenção do atirador; . Deite-se ao lado de outro corpo que tenha sangue ao redor, pois isso aumenta a chance do atirador achar que o sangue é seu. O que mais você deve saber?

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Tome alguns cuidados importantes após escapar da ameaça direta: . Não corra em direção aos policiais quando eles estiverem invadindo o local, pois você pode ser confundido e ser baleado; . Caso tenha desarmado o atirador não fique com a arma em punho, pois pode ser confundido pela polícia; . Observe se foi ferido, caso tenha sofrido qualquer ferimento sua prioridade será o atendimento médico. Quando se trata deste tipo de crime é realmente muito complexo tomar uma decisão e atitude no calor do momento. Quanto mais treinamento técnico e mental você tiver, maiores serão as suas chances de sobrevivência. Como prevenir e se preparar contra um tiroteio em um ambiente fechado? A maior parte dos casos de tiroteio nas escolas e locais de trabalho é atribuída ao bullying e situações constrangedoras que o atirador supostamente teria sofrido. Por isso é importante que tanto os colegas quanto os profissionais que trabalham nestes locais observem mudanças de comportamento que possam indicar algo suspeito. Fique atento especialmente aos colegas que: . Estejam sendo alvo constante de constrangimento; . Tiveram mudança de comportamento, como isolamento, depressão, angustia ou agressividade; 173

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. Que estejam pesquisando sobre atentados, tiroteios, armas e casos anteriores de ataques; Identificar esses pontos não é uma tarefa fácil, mas pode ajudar a tratar ou intervir na ação de um potencial atirador. Diante de alguma suspeita entre em contato com os profissionais e autoridades competentes para tomar as providências necessárias.

Dicas gerais em ambientes fechados . Ao entrar em um ambiente fechado identifique onde ficam as saídas de emergência e equipamentos de socorro como extintores, pois numa situação crítica você terá pouco tempo para encontrá-las; . Evite sentar de costas para o fluxo de pessoas, sente-se de frente para observar a aproximação de algum suspeito ou desafeto; . Faça uma varredura visual de todos os pontos críticos e quentes do ambiente e se posicione no local mais seguro; . Ao entrar em um elevador posicione-se no fundo com as costas protegidas pelas paredes, desta forma você evita um ataque surpresa por trás e pode ver melhor quem entra; . Fique atento à abertura das portas do elevador, saia rapidamente se suspeitar de alguém; 174

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. Carregue seus pertences na mão não dominante, assim você terá sua mão dominante livre para reagir se for necessário; . Observe a expressão corporal das pessoas ao redor, tente notar se alguém está ansioso ou analisando o vigilante do local; . Evite se sentar encurralado em um canto, você pode precisar correr ou agir rápido; . Desconfie de mochilas ou pacotes deixados debaixo de mesas, lixos e próximo a locais inflamáveis. Comunique o caso à autoridade local;

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AMEAÇAS VELADAS

São ameaças feitas de forma indireta usando a imaginação da vítima para lhe trazer medo de uma consequência. Normalmente há uma situação real, mas a pessoa se aproveita da imagem, linguagem verbal, linguagem corporal e estereótipo para incutir medo na vítima. Neste tipo de ameaça o sujeito se aproveita dos seus medos e receios para tirar algum proveito através de um “pedido”, “favor”, “contribuição” ou “pagamento”. O sujeito não te ameaça diretamente, mas ele manipula a situação para te deixar intimidado a fazer o que ele deseja sob pena de algo ruim lhe acontecer. Legalmente a atitude de ameaçar, ainda veladamente, pode caracterizar o crime de extorsão:

que

Art. 158 - Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intuito de obter para si ou para outrem 176

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indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer alguma coisa: Pena - reclusão, de quatro a dez anos, e multa Embora o artigo não mencione claramente o enquadramento da ameaça indireta ou velada, o entendimento jurisprudencial majoritário entende que “a avaliação da intimidação não é abalizada pelo acusado, mas sim pela vítima, contra a qual é dirigida a promessa de mal”. Desta forma é indiferente o fato da ameaça ser explicita ou implícita. É comum muitas as pessoas cederem à ameaça por medo de sofrer algum mal. Entretanto você deve entender que há outras opções de resposta que você pode adotar diante dessas abordagens. Cabe a você analisar a situação e decidir qual é a opção ideal para o momento. Situação 01 Um sujeito malvestido te aborda dizendo que acabou de sair da cadeia e que precisa de 10 reais para pegar o transporte para casa porque senão ele vai fazer uma loucura e voltar para a cadeia. Neste momento é provável pensamentos passem pela sua cabeça:

que

alguns

destes

. O cara é perigoso, estava preso, deve ter matado alguém; . Se eu não der o dinheiro ele pode fazer alguma coisa comigo; . Ele não tem nada a perder. 177

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Estatisticamente e por experiência própria, são poucas as chances reais de você ser atacado por esse tipo de sujeito simplesmente por não dar o dinheiro. O criminoso sabe que basta esperar mais alguns minutos e encontrará alguém que vai lhe dar o dinheiro sem oferecer nenhuma resistência. Por isso ele não vai se arriscar a ser preso ou ferido por causa da sua recusa. Como evitar: . Mantenha uma postura corporal firme com o queixo erguido, ombros para trás e olhando para frente. Normalmente os sujeitos preferem abordar pessoas distraídas olhando para baixo, escrevendo no celular, lendo, ou que aparentem vulnerabilidade; . Não pare para conversar. Continue andando enquanto responde que está atrasado ou que não pode parar “agora”; . Ao observar a aproximação de alguém suspeito, atravesse a rua ou entre em um estabelecimento comercial movimentado. Isso fará com que o suspeito não tenha a chance de te abordar. Como agir Após ser abordado pelo criminoso você tem duas opções de resposta: não aceitar a ameaça e negar ou entregar o dinheiro por medo. Não aceitar a ameaça: . Fique tranqüilo e respire normalmente; . Analise o ambiente para ver se há outros suspeitos próximos; 178

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. Foque nos possíveis pontos quentes (bolsos, cintura e mãos) do suspeito; . Adote uma postura corporal de confiança, estufe o peito, erga o queixo e separe um pouco as pernas; . Olhe diretamente em um dos olhos do sujeito. Isso mostra que você não tem medo dele; . Seja firme e diga “não”. Não se explique demais como “eu não tenho porque isso ou aquilo” seja direto e diga que não tem ou simplesmente responda não; . Se afaste após dizer não. Não dê oportunidade para ele manter uma conversar com você; . Mande-o se afastar caso o sujeito te persiga insistindo na extorsão; . Se ele não se afastar diga que irá chamar a polícia. Entregar o dinheiro por medo: . Cuidado ao abrir sua carteira na frente dele; . Não inicie ou prolongue uma conversa; . Saia do local rapidamente; . Não dê informações pessoais; . Informe a autoridade policial; Situação 02 Ao estacionar seu carro em um local público, você é abordado por um flanelinha que diz você terá que pagar 30 reais para estacionar ali e que ele vai cuidar do veículo senão é perigoso “alguém” riscar seu carro se você não pagar. Essa é a realidade que muitas pessoas se deparam diariamente ao tentar estacionar seu carro em via pública. 179

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Infelizmente por se tratar de uma situação na qual seu bem material ficará a mercê do criminoso enquanto você se ausenta por algum tempo, não há muitas formas de respostas efetivas que você possa adotar. Entretanto considere as seguintes opções: Como prevenir essa situação . Antes de estacionar observe se há flanelinhas atuando na região. Se houver, considere estacionar seu carro em um local privado; . Calcule a despesa com combustível e estacionamento. Muitas vezes é mais barato ir de táxi ou serviço de aplicativo; Como agir ao ser abordado Você tem duas opções de respostas ao ser abordado pelo flanelinha mal-intencionado: 1.

Se recusar a pagar

Esta é a opção de maior risco ao seu patrimônio. Ao dizer que não pagará, você deixará a escolha de estragar seu veículo na mão do criminoso. Particularmente eu não faria isso. Caso não queria pagar vá embora ou simplesmente não pare no local e se julgar necessário acione a polícia militar; 2.

Aceitar a extorsão e pagar na expectativa de não ter o veículo danificado

Saiba que o pagamento não te dará nenhuma garantia de que seu veículo não será danificado pelo próprio criminoso 180

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em busca de valores. Mais uma vez eu te recomendo não parar nestes locais. Caso opte por pagar fique atento: . Não deixe valores visíveis dentro do veículo; . Não deixe sacolas e bolsas, ainda que vazias, dentro do veículo, pois o criminoso pode quebrar seu vidro pela simples possibilidade de ter algo dentro delas; . Não abra a carteira na frente do criminoso; . Não dê informações pessoais; . Não informe o tempo que vai demorar. Sabendo disso o criminoso pode agir com mais tranquilidade; Realmente é uma situação muito difícil, pois sabemos o quanto é revoltante ter que pagar para estacionar seu carro em via pública e por ser extorquido por um flanelinha malintencionado, por isso cabe a você a decisão entre pagar, não pagar ou acionar a polícia. Situação 03 Você está parado no semáforo quando, de repente, um sujeito mal-encarado para no seu vidro com uma caixinha velha com alguns pacotes de bala, chicletes ou bugigangas dizendo que ele poderia estar roubando ou matando, mas está ali vendendo seu produto por “apenas” 20 reais. Muitas coisas podem passar na sua cabeça neste instante: . Se eu não comprar ele pode me roubar ou matar; . Ele deve ser perigoso; 181

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. Ele deve estar armado; Desmistificando o crime Claro que o sujeito é uma ameaça, porém não a superestime. Estatisticamente criminosos que agem desta forma não estão armados, pois caso sejam abordados pela polícia é mais fácil negar uma ameaça do que se livrar da arma. Embora haja o risco de ele tentar te roubar, na imensa maioria das vezes quando a vítima se recusa a comprar o mais comum de acontecer é ficarem de cara feia, resmungando ou fazer outra pequena ameaça vazia. Como prevenir essa abordagem . Trafegue com os vidros do veículo fechados; . Não utilize seu celular nas paradas de semáforo; . Mantenha uma distância mínima de segurança do veículo da frente; . Se for possível, dirija defensivamente freando devagar no semáforo. Desta forma você permanecerá menos tempo parado; . Não abaixe o vidro para responder ao sujeito; . Sinalize com as mãos que não quer nada; . Mantenha o vidro fechado mesmo que o sujeito insista que você o abaixe. Como agir ao ser abordado . Diga de forma firme: “não, obrigado”; . Invente uma desculpa como: acabei de ajudar um cara lá traz ou acabei de comprar de outra pessoa; . Não fique discutindo com o suspeito. 182

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Após a situação você tem a opção de acionar a polícia informando as características do sujeito e do local onde ele está praticando a ameaça.

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BANCO

Pessoas que entram e saem do banco quase sempre estão carregando alguma quantia de dinheiro, seja para pagar uma conta ou após um saque. O criminoso sabendo disso se aproveita para ficar à espreita em busca da vítima mais vulnerável.

Caso real Cliente é roubado na saída do banco no Centro de Ribeirão - SP No dia 6 de fevereiro de 2019 um cliente de um banco registrou um boletim de ocorrência informando que foi vítima do crime “saidinha de banco”. A vítima relatou que foi abordada por duas mulheres e um homem. Sendo a vítima cada criminoso estava armado com uma faca. O cliente informou que o crime aconteceu do lado de fora do banco após sacar seu dinheiro em um caixa eletrônico. A vítima tentou conversar com os suspeitos para impedir que eles levassem sua bolsa, mas as mulheres mostraram as facas que estavam carregando e o ameaçaram. Um dos assaltantes deu um soco nas 184

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costas da vítima, enquanto uma das mulheres dizia que a "rasgaria na faca".

Dicas para prevenir o crime: . Evite ir a caixas eletrônicos sozinho durante a noite; . Antes de entrar no banco observe se há alguém parado de forma suspeita observando os clientes do banco; . Ao sacar dinheiro não conte na frente das demais pessoas; . Prefira uma agencia onde possa ser atendido de forma reservada; . Não informe a ninguém sua rotina de depósitos e saques de dinheiro; . Não aceite ajuda de estranhos, solicite auxílio apenas de um funcionário; . Carregue apenas os cartões necessários; . Prefira as transações eletrônicas e evite portar grandes valores ao fazer pagamentos e saques. . Ao sair do banco certifique-se de que não esteja sendo seguido, caso suspeite de alguma pessoa entre em um comercio movimentado;

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“BOA NOITE CINDERELA”

Esse é um tipo de golpe muito comum em ambiente de festas, bares, restaurantes e shows nos quais o criminoso utiliza drogas que provocam amnésia e períodos de total inconsciência. Essa modalidade de crime, na verdade, deveria ser chamada de boa noite “cinderelo”, pois segundo os dados da polícia civil do Estado de São Paulo, entre janeiro de 2016 e agosto de 2017, 93% das vítimas foram homens. O uso da droga tem a finalidade principal o roubo (homens) e abuso sexual (mulheres).

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O criminoso utiliza a droga para diminuir ou neutralizar a chance de defesa da vítima que fica desorientada ou quase sempre desacorda e sem memória do que aconteceu. Caso real: Um consultor de tecnologia de 36 anos estava em uma casa noturna quando começou a se sentir mal, segundo ele “meio mole, nunca havia ficado dessa forma, não era a sensação de estar bêbado”. Ao sair da festa tentou caminhar até um ponto de táxi, porém devido ao mal-estar sentou-se na calçada e logo foi abordado por uma pessoa que o levou até um carro, segundo ele “lembro de ter perguntado se era um táxi e a pessoa afirmou que sim, quando entrei no suposto táxi apaguei e não me lembro de mais nada”. O consultor foi encontrado no dia seguinte num galpão no Brás, sem seu dinheiro, cartões, celular, tênis, ou seja, todos os seus pertences de valor foram roubados. Em depoimento ele relatou: “em que momento doparam a minha bebida? Eu sinceramente não sei”. Conhecendo o perfil das vítimas e a finalidade do crime Segundos os dados oficiais da secretaria de segurança pública do Estado de São Paulo de 2018, 114 dos 123 boletins de ocorrências registrados (93%) tiveram os homens como vítimas e quase sempre o crime visava roubo ou furto e em dois casos estupro. As mulheres corresponderam a 7% e o crime foi cometido com a finalidade de estupro em 71% das vezes. Estima-se que o número de crimes seja ainda maior, porém devido à vergonha da vítima, muitos casos não são notificados.

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Perfil do crime Mediante as investigações policiais podemos constatar um padrão neste tipo de crime: . Local festivo. Quase todos os crimes foram cometidos em bares, restaurantes, danceterias ou mesmo na rua durante algum evento; . Abordagem por uma pessoa atraente. Uma pessoa flerta com a vítima demonstrando interesse; . Os criminosos atuam em dupla. Cada criminoso tem a sua ação definida previamente, sendo aquele (a) que irá se aproximar e ganhar a confiança da vítima e o outro criminoso que vai auxiliar no roubo; . A vítima é drogada por via oral mediante bebida. O criminoso se aproveita de um descuido da vítima para colocar a droga em seu copo; . Após a vítima se sentir mal o criminoso (a) se oferece para levar a vítima ao carro ou táxi, momento que é abordada pelo comparsa; . Os criminosos geralmente cometem o crime em hotéis, motéis de baixo custo ou algum prédio abandonado. Drogas utilizadas e seus efeitos Diferentes drogas podem ser utilizadas para o golpe do “boa noite cinderela (o) ”, normalmente são associadas duas ou mais substâncias, como Ketamina (special K), GHB (ácido 188

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gama-hidroxibutírico, Rohypnol (flunitrazepam), Lorax, Lexotan que em geral são substâncias depressoras do sistema nervoso central. Essas substâncias têm seus efeitos potencializados quando misturado na bebida das vítimas alterando seu nível de consciência por até vários dias. Elas são facilmente dissolvidas, não apresentam cor nem cheiro, por isso é tão fácil enganar a vítima. Como se prevenir contra esse crime . Não aceite bebida de outras pessoas mesmo que sejam conhecidas. Algum estranho pode ter drogado a bebida de seu amigo sem ele perceber; . Se precisar se ausentar, beba sua bebida antes de sair da mesa. Não continue bebendo após se ausentar; . Não aceite que outra pessoa vá buscar a bebida para você; . Troque sua bebida quando tiver se ausentado do local; O que fazer se suspeitar que foi drogado? . Ao primeiro sintoma de que você foi drogado, como desorientação, sonolência excessiva e repentina ou tontura, vá até o segurança do estabelecimento e informe que você pode ter sido drogado (a) e peça ajuda; . Não aceite a carona de ninguém e não saia do estabelecimento sozinho ou acompanhado de uma pessoa que conheceu há pouco tempo. 189

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BARES E RESTAURANTES

Bares e restaurante são locais de descontração e normalmente muita gente aproveita esse momento para beber e isso aumenta o risco de discussões e brigas. Caso Real Pai e filho são assassinados dentro de bar Um homem de 42 anos e o filho dele, de 23 anos, foram assassinados durante a madrugada do dia 17 de fevereiro de 2019 em um bar na cidade de Uberlândia/MG. Segundo as primeiras informações da polícia militar, as vítimas começaram a discutir com o autor dentro do estabelecimento quando ele se levantou da mesa, sacou uma arma de fogo e disparou contra os dois. As vítimas não resistiram aos ferimentos e morreram no local.

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Um vídeo das câmeras de segurança do local circula nas redes sociais e mostra o momento em que o jovem de 25 anos se aproxima da mesa do autor e, em seguida, o pai chega atrás. O autor então se levanta e atira primeiro contra o filho e depois contra o pai dele. O autor fugiu em um carro de cor preta e ainda não foi localizado. Dicas de prevenção e ação: . Evite discussões, se ocorrer alguma desavença com alguém vá embora imediatamente antes que o desafeto retorne ao local; . Não aceite bebidas de estranhos, há muitos casos de pessoas que são drogadas desta forma; . Sente-se em um local com visão geral do ambiente; . Não se sente de costas para o corredor de pessoas; . Fique longe das pessoas que estejam bebendo álcool demasiadamente, a maior parte dos focos de briga começam entre estas pessoas; . Ao utilizar o banheiro tranque sua porta; . Antes de entrar no banheiro observe se há alguma pessoa parada próxima observação a movimentação; . Ao sentar mantenha sua cadeira pelo menos 02 metros de distância da outra mesa, caso ocorra uma confusão você vai precisar sair rápido;

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. Localize as saídas mais rápidas do local ao chegar ao ambiente, pois durante uma situação de tumulto fica mais difícil encontrá-las; . Não conte detalhes da sua vida pessoal para pessoas que acabou de conhecer.

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BLITZ POLICIAL COMO SE COMPORTAR — DIREITOS DEVERES

O termo Blitz é uma palavra de origem alemã blitzkrieg que significa ataque relâmpago, sendo abreviada como blitz – relâmpago. No meio policial, blitz faz referência a uma ação policial repentina com a finalidade de combater, fiscalizar ou prevenir qualquer tipo de ilegalidade, seja em estabelecimentos, veículos ou pessoas. É importante que o cidadão saiba como se comportar diante de uma blitz policial conhecendo seus deveres e direitos.

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Como se comportar . Ao ver uma blitz policial diminua a velocidade do veículo de forma gradual e permaneça em seu caminho ou nos desvios instalados pelos policiais; . Não tente desviar ou acelerar seu veículo inesperadamente. Isso chamará a atenção dos policiais e pode agravar a abordagem; . Abaixe os vidros do carro. Isso facilita a observação dos policiais e mostra que você não tem nada a esconder, aumentando as chances de você não ser parado; . Acenda a luz interna para facilitar a visualização do interior do veículo. Desta forma os policiais conseguem observar o interior do seu carro; . Fique calmo. A não ser que você esteja cometendo um crime ou alguma infração tudo transcorrerá sem nenhum problema; . Pare o veículo se for solicitado;

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. Permaneça dentro do veículo tranquilamente. Não saia do carro sem ser solicitado isso pode ser interpretado como uma tentativa de fuga; . Aguarde a aproximação do policial com as mãos no volante. Evite movimentos bruscos ou abrir o porta-luvas do veículo. Lembre-se que o policial está atento a ação de um criminoso que pode pegar uma arma a qualquer momento; . Aguarde a solicitação do policial para pegar os documentos pessoais e do veículo; . Seja respeitoso ao falar com a autoridade policial; . Evite discutir com o policial durante a abordagem. Desta forma você abrirá um precedente para uma possível acusação de desacato. Se você tem conhecimento da lei e identificou alguma ação incorreta diga com calma. Se o policial se irritar com você não insista na argumentação, pois você poderá fazer uma denúncia posteriormente; . Se você for tratado ilegalmente anote o nome do policial, data, hora, local e dados das testemunhas que conseguir. Essas informações serão necessárias para acionar a justiça ou a corregedoria militar.

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Revista corporal A revista corporal também é conhecida por “busca pessoal” é a abordagem na qual a autoridade policial faz uma revista corporal em uma pessoa ou em seus pertences como bolsas, mochilas e pastas devido uma suspeita razoável de uma conduta possivelmente criminosa. De acordo com o Código de Processo Penal (art. 240, § 2o; art. 244) procederse-á à busca pessoal quando houver fundada suspeita de que alguém oculte consigo arma proibida, coisas achadas ou obtidas por meios criminosos ou qualquer outro elemento de convicção sobre crime. Também é autorizada no ato das prisões em flagrante ou por ordem judicial no curso de busca domiciliar, quando existir fundada suspeita de cometimento de crime, não sendo necessário, em qualquer dos casos, de mandado. A revista em mulheres deve ser feita por policial do mesmo sexo, salvo se existir real necessidade e seja impossível, no momento, a realização por policial feminino. Em tais casos, elevam-se os critérios de cautela e de razoabilidade. O abuso policial contra a dignidade sexual implica em crime. Quais os direitos dos cidadãos: . Ser tratado com respeito, sem agressão, xingamentos, humilhação, exibição ou ameaças; . Não ser forçado a confessar um crime;

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. Não ser extorquido por policiais que pedem “ajuda “ou “favor”; . Não ser encaminhado à delegacia de polícia pelo fato de não estar com sua carteira de identidade, desde que não haja nenhuma suspeita fundamentada; . Ter sua integridade física respeitada; . Saber a identificação do policial; . Denunciar quaisquer abusos à corregedoria policial e ao ministério público; Como agir em caso de abuso do policial Como em todas as profissões existem os maus profissionais que desvirtuam e mancham a reputação e a moral das organizações. Por isso caso você se sinta prejudicado por um deles saiba como agir: . Anote o nome do policial e os dados da viatura como placa e prefixo (número que fica na lateral ou na traseira); . Anote os nomes e endereços das testemunhas quando houver; . Dirija-se ao ministério público ou corregedoria da polícia e denuncie a ação irregular; . Se você for ferido, peça para ser levado ao IML (instituto médico Legal) para ser feito um exame que comprovará o abuso policial;

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Conheça a lei n. 4.898/65 Abuso de Autoridade Art. 3º. Constitui abuso de autoridade qualquer atentado: a) à liberdade de locomoção; b) à inviolabilidade do domicílio; c) ao sigilo da correspondência; d) à liberdade de consciência e de crença; e) ao livre exercício do culto religioso; f) à liberdade de associação; g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto; h) ao direito de reunião; i) à incolumidade física do indivíduo; j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional. (Incluído pela Lei nº 6.657 de 05/06/79) Art. 4º Constitui também abuso de autoridade: a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder; 198

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b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento não autorizado em lei; c) deixar de comunicar, imediatamente, ao competente a prisão ou detenção de qualquer pessoa;

juiz

d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe seja comunicada; e) levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança, permitida em lei; f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas, emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio em lei, quer quanto à espécie quer quanto ao seu valor; g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de importância recebida a título de carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra despesa; h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal; i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir imediatamente ordem de liberdade. (Incluído pela Lei nº 7.960 de 21/12/89)

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Art. 5º Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei, quem exerce cargo, emprego ou função pública, de natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem remuneração. Caso real Motociclista fica ferido ao tentar fugir de blitz. Um motociclista de 32 anos ficou ferido ao tentar fugir de uma blitz da polícia militar no dia 20 de maio de 2019 na cidade de Londrina/PR. O comandante da operação informou que o motociclista não chegou a passar pela blitz. "Ele estava se aproximando da blitz e com o objetivo de se evadir, ele passou pela faixa de pedestre, transpôs o canteiro e já caiu no sentido oposto da via. Tentou novamente erguer a moto e correr, perdeu novamente o controle sozinho e bateu no caminhão", relata. O motociclista socorrido e ficou sob escolta, devido à direção perigosa que praticou, para ser encaminhado para fazer um termo circunstanciado. "Ele alega que tem problemas com a habilitação e também pendências de dívidas com a motocicleta. Por isso ficou com medo de ser abordado. O que é um absurdo, pois poderia ter morrido", explica.

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BRIGAS

“Briga não serve para resolver diferenças, mas sim para salvar sua vida quando não for possível escapar”. Wesley Gimenez Por mais que todos nós saibamos que não é uma boa ideia entrar em uma briga, infelizmente nem sempre é possível evitá-la. Frases como: “quando um não quer dois não brigam” não é uma verdade absoluta. Claro que quando uma pessoa não quer briga há muito mais chances de evitá-la, porém às vezes o ímpeto do inimigo é tão grande que você não tem outra saída a não ser defender sua família ou a si próprio. Diferente de uma luta, as brigas não possuem padrões, regras, locais controlados, juízes ou qualquer respeito. Briga é guerra!

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Existem diferentes técnicas para se proteger e vencer uma briga. Há também diferentes formas de brigas, por exemplo: um contra um; um contra vários inimigos; generalizada; em ambientes fechados ou em ambientes abertos; É necessário um treinamento multidisciplinar eficiente para que você consiga evitar ou vencer uma briga. Não pense que você sabe brigar porque brigou na quinta série na escola ou porque é faixa preta de alguma arte marcial. Lembre-se que briga não é luta, é algo muito mais complexo e difícil. Ter conhecimento marcial é um grande diferencial, porém não é garantia de vitória. Você talvez conheça histórias de pessoas que praticavam determinada arte marcial e apanhou de outra pessoa que nunca pisou numa academia de lutas não é verdade? Briga um contra um Base de combate Abra sua base. Diante de qualquer ameaça não deixe seus pés paralelos, isso facilitará que você caia ou se desequilibre durante um empurrão ou contato corpo a corpo, além de expor uma área maior do seu corpo ao ataque do inimigo. Criar base é colocar sua perna dominante atrás e deixar a outra mais a frente aproximadamente a largura de seus ombros. Controle da distância mínima de segurança É muito comum vermos em uma discussão os sujeitos com os rostos muito próximos um do outro, tocando peito no peito ou ombro no ombro. Isso é um erro tremendo. À curta 202

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distância quem bater primeiro provavelmente vai acertar o ataque e pode acabar com a briga em um único golpe. Por isso sempre mantenha o agressor fora da sua distância mínima de segurança. Basta você esticar seu braço da frente deixando os cotovelos levemente flexionados de forma que o inimigo não consiga te golpear de onde ele está e que ele precise pelo menos de um passo largo para te alcançar.

Análise do ambiente Em um combate real você deve prestar muita atenção no ambiente à sua volta, diferente do tatame ou ringue, o piso talvez esteja molhado e você pode cair, pode haver obstáculos, como postes, carros ou canteiros e pode existir outras ameaças se aproximando como um amigo do agressor vindo pela sua lateral. Quanto mais inteligência espacial e visão periférica você conseguir utilizar, maiores as suas chances de vencer uma briga. Você deve utilizar todas as vantagens do ambiente a seu favor, como um pedaço de pau que está caindo na sarjeta, uma cadeira, uma barra de ferro ou uma pedra que possa potencializar sua capacidade de combate. Tentativa de esfriamento ou descalada Ninguém ganha com uma briga, os dois sempre perdem. Claro que um vai perder mais do que o outro, mas a briga não será boa para nenhum dos dois. Quem perder a briga provavelmente ficará mais machucado, porém quem vencer pode ter várias lesões também e até mesmo problemas legais 203

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que lhe tomarão muito tempo e chateação. Por isso tente esfriar a discussão. Algumas opções: . Baixe o tom da sua voz e ouça o que o outro está dizendo; . Se tiver parte da culpa, assuma-a e peça desculpas; . Diga que não quer briga e que é melhor conversarem; . Ouça o que o outro tem a dizer sem demonstrar raiva; . Mantenha a calma e adote uma postura corporal firme. Se o inimigo achar que você está amedrontado ele pode se sentir confiante para te atacar; Lembre-se que a maior parte das brigas se inicia com uma discussão. Sendo assim tente acabar com o problema por aí mesmo. Não alimente a discussão ainda que acredite estar certo. Entretanto se o agressor estiver alterado por drogas ilícitas ou álcool há uma grande chance de ele querer prosseguir com a discussão e chegar às vias de fatos com você. Caso perceber que o inimigo não muda de ideia e continua agressivo em busca do confronto, você deve usar uma estratégia diferente. Considere a possibilidade de intimidar o inimigo. Já que o diálogo não funcionou para esfriar o ímpeto dele, talvez você consiga assustá-lo. . Aumente o tom da sua voz e mande-o se afastar; . Simule que está pegando algo atrás da sua camiseta com uma das mãos. Lembre-se que isso pode não surtir o efeito desejado, por isso use a intimidação apenas quando não restar outra forma de dissuasão do inimigo. 204

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Fuga Sempre costumo dizer aos meus alunos aqui na escola em nosso canal do youtube que “fugir não é vergonhoso, vergonhoso é apanhar na rua”. O principal objetivo de quem realmente entende de autodefesa é chegar em casa o mais íntegro possível. De nada adianta você nocautear cinco pessoas e acabar ferido também. Melhor do que vencer um combate e sair machucado é fugir do combate e não ter lesão alguma. Você pode fugir tanto de alguém que acha que pode vencer e principalmente de um combate que pensa que perderá. Para isso observe algumas dicas: . Mantenha-se em forma para conseguir correr, pular um murro ou saltar um banco, enfim mantenha seu corpo ágil e rápido; . Se possível cause uma distração para fugir, assim você ganha alguns segundos valiosos à frente do inimigo. Pode ser apontando o dedo para uma direção dizendo algo que o distraia, por exemplo; . Não vire simplesmente de costas e saia correndo, desta forma você pode ser golpeado por trás; . Dê pelo menos dois passos lentos para trás para aumentar a distância entre vocês e fuja explosivamente; . Se você estiver atrás de uma mesa ou outro obstáculo empurre para cima dele e corra em sentido contrário. Isso fará que você ganhe um tempo para sair na frente;

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Combate direto Se a tentativa de esfriamento não funcionar e não for possível fugir provavelmente o combate será a próxima etapa desse desentendimento. Você tentou evitar o confronto de todas as formas, agora você usará tudo que estiver ao seu alcance para acabar com a briga o mais rápido possível com o menor dano físico para você: . Use as armas de defesa pessoal que você tiver: bastão retrátil, gás de pimenta entre outras; . Se não tiver portando nenhuma arma própria para defesa pessoal utilize os objetos ao redor como armas improvisadas de defesa e ataque, como cadeiras, pedaço de ferro ou chave do carro, enfim tudo que for mais contundente e comprido possível; . Caso esteja de mãos vazias (sem nenhuma arma de defesa pessoal) ataque os pontos mais vulneráveis do inimigo, como queixo, diafragma e testículos; . Ataque primeiro e de surpresa se o inimigo invadir sua distância mínima de segurança. Estatisticamente quem bate primeiro tem mais chances de surpreender o inimigo e vencer o combate; . Golpeie quando ele estiver falando. Além de potencializar o dano no queixo, você vai surpreendê-lo;

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. Seja explosivo, ao iniciar seu ataque vá com tudo forçando o inimigo a andar para trás. Desta forma ele terá mais dificuldades em te atacar enquanto recua; . Mantenha a guarda alta. Coloque suas mãos próximas ao seu rosto para se proteger dos ataques do inimigo. Menos mal o soco te atingir no braço do que no queixo; . Mantenha-se em pé. Lembre-se que na rua não há regras e ao ir para o combate no solo o inimigo pode ser mais pesado do que você ou alguém pode chegar e te acatar enquanto você está caído. No chão você só consegue lutar contra uma pessoa por vez, por isso será uma presa fácil para quem estiver em pé; . Se cair tente ficar por cima e se levante rápido; . Movimente sua cabeça para dificultar o ataque do inimigo. Um alvo parado é mais fácil de ser acertado do que um alvo em movimento; . Quando o inimigo estiver fora de condições de combate pare de atacar, não se esqueça que você pode responder criminalmente pelo excesso que cometer. Briga generalizada contra vários inimigos Se brigar com uma pessoa já é perigoso, brigar com várias é algo terrível que deve ser levado muito a serio. Como abordamos anteriormente a vantagem numérica é um fator muito relevante, mas o que fazer em uma situação assim?

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Lembre-se das dicas aprendidas de como lidar com uma briga contra um inimigo e acrescente as demais dicas específicas abaixo: . Arme-se o mais rápido possível. Desta forma você pode intimidar os agressores e também neutralizá-los com mais eficiência; . Mantenha suas costas protegidas. Os ataques virão de todos os lados e ângulos, os golpes mais difíceis e perigosos serão os que vierem por trás, pois você não os estará vendo. Por isso evite que alguém fique atrás de você; . Não tente atacar todos os agressores ao mesmo tempo. Você não vai conseguir golpear a todos de uma única vez, por isso concentre-se na ameaça prioritária; . Crie distância dos inimigos de forma que apenas um deles consiga te alcançar de cada vez. Aqui você vai precisar usar bastante a sua visão periférica e inteligência espacial para conseguir lutar com um agressor e fugir do alcance do outro. Brigas em ambientes fechados São as brigas que acontecem de dentro de prédios públicos ou privados, como escola, bares, danceterias, estádios, ginásios entre outros. A maior dificuldade em se defender nestes locais é a limitação do ambiente e a possibilidade de ter vários objetos perigosos à disposição. Para lidar com brigas em ambientes fechados adote as medidas já mencionadas nos artigos anteriores de briga um 208

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contra um e briga contra vários inimigos e acrescente as seguintes dicas: . Conheça a estrutura do local. Saiba onde ficam as saídas de emergência, janelas e salas. Em caso de necessidade você pode utilizá-las para escapar de uma briga ou acidente. Isso te ajudará a saber para onde correr ou não; . Observe os objetos do local. Ao adentrar qualquer ambiente observe os objetos que possam ser utilizados como instrumentos de defesa ou ataque por você ou por possíveis agressores; . Se possível entre em uma sala e se tranque. Utilize objetos pesados para travar a porta pelo lado de dentro e acione a polícia imediatamente; Brigas em ambientes abertos São as brigas que acontecem em espaço não delimitado por paredes ou murros. Normalmente são as vias públicas, praças ou parques. Para lidar com brigas em ambientes abertos siga as orientações gerais já mencionadas nos tópicos de briga um contra um e briga um contra vários e acrescente as seguintes dicas: . Utilize os obstáculos do ambiente como meio de fuga e proteção. Corra ao redor de um carro ou um canteiro alto para fugir do agressor; . Grite por ajuda enquanto foge, isso aumenta as chances de alguém acionar a polícia; 209

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. Utilize os objetos do ambiente a seu favor. Uma pedra para arremessar ou um pedaço de pau para manter o agressor longe de você, por exemplo; . Se estiver fugindo tente entrar em um local com segurança privada e peça ajuda; Importante . Pratique um sistema de defesa pessoal realista para estar preparado física, técnica e mentalmente para lidar com a violência do dia a dia; . Entenda a lei criminal sobre legítima defesa (artigo 25 do código penal) para que você saiba como e o quanto pode agir dentro da lei; . Mantenha-se em forma tanto para fugir quanto para lutar; . Lembre-se que é sempre melhor evitar o confronto; . Entenda que caso o agressor seja gravemente ferido você deve prestar socorro (ainda que apenas acionando o regaste médico) – artigo 135 do código penal – (Omissão de socorro).

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CASA

Nossa casa é nosso local sagrado onde nos reunimos com nossa família e onde descansamos após um dia de trabalho árduo, por isso é essencial que saibamos proteger nossa residência de invasores e assaltantes. Dicas de segurança: . Cuidado ao contratar prestadores de serviços. Prefira fazer por meio de uma empresa e não diretamente com a pessoa física. Confira a idoneidade da empresa consultando seu cpnj; . Evite ficar sozinho ao receber prestadores de serviços, como internet, pintura, eletricista, encanador, instaladores de antenas

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e pedreiros. Agende o serviço em horário que tenha outros familiares para acompanhar o trabalho; . Ao contratar qualquer prestação de serviço não deixe pertences de valores à mostra. A maioria dos trabalhadores é honesta, mas há alguns criminosos (muitos ex-presidiários) que se aproveitam das informações para voltar e cometer um crime ou repassar informação para um comparsa; . Não abra a porta para atender chamadas no portão. Instale um sistema de porteiro eletrônico para evitar o contato direto com estranhos; . Instale um portão eletrônico de acionamento rápido. Desta forma você evita descer do carro para abrir o portão e se expor à ação de criminosos; . Antes de abrir o portão para sair com o carro verifique nas câmeras se há alguém parado próximo ou em atitude suspeita; . Ao se aproximar da sua casa diminua a velocidade para observar se há alguém escondido ou se há algum veículo parado, principalmente motos com garupas observando os moradores. Se notar algo estranho não pare, passe direto; . Ao parar em frente de casa enquanto aguarda a abertura do portão eletrônico, mantenha os vidros fechados e as portas do carro travadas, permaneça atento à aproximação de motos e pessoas; . Mantenha os pontos de entrada e saída da casa bem iluminados; 212

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. Utilize sensores de presença que acendam a iluminação e disparem alarme. Isso intimidará o intruso que perderá o efeito surpresa; . Se for viável tenha um cão de guarda. Além do poder de ofensividade da mordida, os latidos servem como alarme. Algo que o criminoso tem medo é de cachorro; . Mantenhas as chaves nas portas internas da casa pelo lado de dentro. Em uma invasão você pode fugir e trancar as portas para atrasar o criminoso; . Dê preferência às chaves modelo tetras-chave, pois são muito mais seguras; . Nunca deixe chaves escondidas no lado de fora da casa para outro familiar usar. Cada um deve ter sua chave em sua posse e não debaixo de um vaso, por exemplo; . Portas e janelas externas são entradas e saídas frágeis da casa; . Invista em boas dobradiças e trancas; . Mantenha as portas trancadas mesmo quando estiver em casa. Caso contrário pode ser surpreendido pelo criminoso dentro da sua casa; . Ao chegar em casa antes de abrir a porta verifique se não houve arrombamento da mesma ou de alguma janela. O criminoso pode estar dentro da casa e te fazer de refém por horas;

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. Mantenha cercas vivas e demais plantas aparadas para evitar que criminosos se escondam; . Caso perca suas chaves, troque as fechaduras das portas externas; . Se for possível não dê cópia das chaves para os empregados; . Troque as fechaduras sempre que dispensar um empregado que tinha uma cópia das chaves; . Não coloque seu nome e endereço no seu molho de chaves. Essa é toda informação e ferramenta que o criminoso precisa para invadir sua casa; . Mude a frequência do seu portão eletrônico se perder o controle; . Em caso de suspeita de haver invasor no quintal da casa não ligue as luzes internas, vá ao cômodo mais seguro e ligue para a polícia; . Ao atender o interfone nunca informe estar sozinho em casa; . Instale um bom sistema de câmeras de vigilância em casa e baixe o aplicativo em seu celular, assim você pode verificar de tempo em tempo como está sua casa e principalmente antes de entrar e sair; . Verifique anualmente as baterias do seu sistema de alarme e cerca elétrica, pois normalmente não duram mais do que isso. Há muitos casos nos quais o criminoso desliga a energia elétrica 214

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e os alarmes e sensores param de funcionar porque a bateria está danificada; . Tenha muito cuidado ao atender alguém no portão, há muitos criminosos disfarçados de servidores públicos, carteiros ou que dizem arrecadar alimentos etc.; . Nunca deixe recados de ausência na porta ou portão da casa; . Tenha o contato telefônico dos seus vizinhos em especial os mais próximos para um alertar o outro em caso de alguma suspeita; . Ao entrar na garagem mantenha o carro ligado com os vidros e portas trancadas e fique de olho no retrovisor enquanto o portão se fecha; . Se estiver em dúvida se fechou alguma porta ou janela volte e confirme; . Caso more em algum condomínio combine um sinal de emergência para checagem; . Coloque um aviso de vigilância monitorada em um local visível. Ainda que não seja verdade, pode deixar o criminoso em dúvida e desestimular a ação oportunista; . Coloque um aviso de cão bravo, mesmo que você não possua um cachorro. Criminosos temem por sua ferocidade e o alarme pelas latidas. Um simples aviso pode deixar o marginal em dúvida;

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. Guarde equipamentos fora da vista das pessoas que trafegam pela rua. Qualquer objeto pode ser um chamariz mesmo que para você não tenha muito valor; . Utilize cortinas ou persianas nas janelas para dificultar que o criminoso espreite sua casa e descubra o que há lá dentro; . Desative a campainha quando se ausentar da residência por longos períodos; . Peça para um vizinho recolher jornais e demais correspondências quando tiver que se ausentar da residência por algum tempo. O acumulo destes materiais pode chamar atenção do criminoso que passa pela rua; . Não deixe luzes ligadas quando viajar, prefira usar um temporizador que acenda e apague a luz em horários específicos; . Crie um quarto de segurança. Instale portas maciças, fechaduras e trancas robustas; . Tenha um plano para o caso de a casa ser invadida com você dentro. Treine as pessoas que moram com você sobre como fugir para o quarto de segurança; . Faça um treinamento mensal de simulação de fuga na qual as pessoas fujam o mais rápido para o quarto de segurança, lembre-se que o treinamento vai ajudar a criar uma resposta automática facilitando a ação durante o stress e medo;

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. Deixe um celular de emergência no quarto de segurança para acionar a polícia rapidamente; . Deixe um celular de emergência no banheiro, pois caso você seja abordado há um a grande chance do criminoso te trancar no banheiro após o crime; Assalto à residência A maior parte dos assaltos à residência são cometidos quando a casa está sozinha. Os ladrões buscam bens de valor que possam ser carregados fácil e rapidamente, como dinheiro, joias e eletrônicos. Ao adotar as medidas preventivas você consegue desestimular a ação do criminoso. Não podemos nos esquecer que há também uma parte de criminosos que invadem a residência com os seus moradores em seu interior, seja por engano ou pela chance de lucro alto, por isso quando você perceber algum movimento ou som suspeito é hora de agir rapidamente para aumentar suas chances de defesa. O que fazer se a casa for invadida Cenário 01 Criminosos forçam a janela ou porta de entrada: . Reúna as pessoas que estiverem na casa e fujam para o quarto de segurança;

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. Tranquem o quarto e se abaixem atrás de alguma estrutura rígida; . Acione a polícia. Cenário 02 Criminosos estão dentro da sua casa e não há como fugir até o quarto de segurança: . Entre no cômodo mais próximo para se esconder; . Construa uma barricada colocando objetos pesados contra a porta, como mesa, cadeira, geladeira ou fogão; . Apague a luz; . Proteja-se atrás de uma estrutura rígida para evitar ser atingido por um disparo; . Acione a polícia. Cenário 03 Você percebe a invasão e não tem como ir ao quarto de segurança nem a outro cômodo para se trancar: . Esconda-se do melhor jeito que você puder, seja atrás de uma cortina ou atrás de uma porta, enfim conheça os melhores esconderijos da sua casa e permaneça escondido em silencio até a saída dos criminosos.

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Cenário 04 Você foi surpreendido pelos criminosos e não teve tempo de fugir nem se esconder: . Não faça movimentos bruços, pois isso assustará os criminosos que podem atirar; . Mantenha-se calmo, pratique a respiração tática de 3/2/3 inspirar em três segundos, segurar o ar por mais dois e expirar em três segundos, isso vai baixar seus batimentos cardíacos, te ajudar a pensar e a agir melhor; . Não discuta com os criminosos; . Obedeça às ordens sem questionamentos, o criminoso vai te pedir dinheiro ou joias, mostre a eles onde estão (lembre-se de nunca deixar grandes quantias em casa e caso possua joias ou bens de valores, guarde-os em locais diferentes para que possa entregar apenas a menor parte deles). Cenário 05 Os criminosos após o roubo não fogem e começam a agir ou conversar de forma que você acredita que será morto: Lembre-se o criminoso após cometer o crime quer fugir rapidamente, pois quanto mais tempo permanecer na cena do crime, maiores serão os riscos que dele ser preso. Se após o roubo ele tem todas as possibilidades de fugir, mas não o faz, talvez você terá que reagir. . Observe a quantidade de criminosos;

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. Observe qual deles está usando uma arma e de qual tipo ela é; . Espere o criminoso chegar o mais próximo possível para iniciar um combate; . Crie uma distração, seja olhar para o lado contrário como se tivesse chegando alguém ou fingir passar mal, enfim avalie as oportunidades do momento; . Ataque-o de surpresa; . Atinja os pontos sensíveis e vitais, como cabeça, garganta, testículos e nuca. Lembre-se que em um cenário como esse o grau de risco é altíssimo e você só deve reagir se entender que realmente o crime vai evoluir de assalto para um assassinato.

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CELULAR

Os aparelhos celulares se tornaram instrumentos indispensáveis na rotina moderna dos cidadãos. Com isso os celulares estão cada vez mais caros se tornando o item mais roubado e furtado por criminosos oportunistas. Segundo dados oficiais de 2018 da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo foram registrados 21.352 boletins de ocorrência de roubos e 14.798 furtos de celulares, ou seja, 36.330 casos de crimes envolvendo o aparelho celular.

Evite roubos e furtos de celular . Mantenha seu aparelho próximo a você o tempo todo, pois um pequeno descuido é suficiente para um oportunista furtá-lo; 221

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. Não o coloque em locais como mesas e balcões, pois é grande o número de furtos que acontecem quando o dono do aparelho sai do local por alguns instantes; . Evite andar com o celular à mostra em áreas de grande fluxo de pessoas; . Evite utilizar e deixar o celular à mostra dentro do transporte público, pois são justamente nestes locais que acontecem os maiores índices de furto; . Considere a possibilidade de carregar um celular mais antigo que você tiver para caso você seja vítima de roubo, assim você pode entregar o aparelho reserva de menor valor; . Não deixe o celular à mostra dentro do carro, pois além do risco perder o celular, você corre o risco de ter uma janela do carro quebrada; . Evite usar fones de ouvidos caros. Os criminosos sabem distinguir a qual aparelho eles pertencem, principalmente tratando-se dos modelos mais caros como da marca Apple, por exemplo; . Instale um rastreador no seu aparelho celular. Em caso de perda, roubo ou furto será a sua chance para recuperá-lo; . Anote os dados do seu telefone celular como o IMEI (identificação Internacional de equipamento Móvel, em tradução livre), esse código é o literalmente o RG do seu

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aparelho. Para conseguir o número do IMEI basta digitar *#06# em seu aparelho; . Coloque bloqueio de tela por senha; . Utilize a opção de desbloqueio do aparelho por impressão digital se ele tiver esse recurso; . Cuidado ao ser abordado por um estranho perguntando a hora, no momento em que você tira o celular do bolso pode se tornar vítima de um ataque rápido; . Habilite o recurso de rastreamento do seu celular. Uma simples busca na internet vai te ensinar o passo a passo de acordo com o modelo do seu aparelho;

O que fazer se seu telefone for roubado ou furtado . Entre em contato imediatamente com sua operadora para desabilitar seu número de telefone. Informe o ocorrido para que sua conta telefônica seja bloqueada imediatamente; . Se conseguir encontrar a localização do aparelho tome cuidado ao tentar recuperá-lo, você pode ser vítima de outro crime. Entre em contato com a polícia; . Faça o boletim de ocorrência imediatamente. Na maior parte dos Estados brasileiros esse serviço pode ser feito pela internet no portal policial sem a necessidade de ir diretamente a uma delegacia de polícia e passar horas para ser atendido. O boletim

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de ocorrência será necessário para acionar o seguro do aparelho se houver.

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COMÉRCIO

. Evite fazer compras carregando grande quantia de dinheiro, utilize sempre que possível os meios eletrônicos; . Ao notar uma movimentação suspeita dentro da loja se afaste discretamente e comunique a autoridade policial; . Esconda-se em um local seguro caso não seja possível fugir da loja durante um assalto; . Não deixe bolsas, mochilas e pertences em geral pendurados no interior da loja; . Não compre produtos em comércio clandestino;

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. Não troque dinheiro para pessoas desconhecidas, pois muitos criminosos utilizam esse momento para analisar quanto dinheiro você tem disponível; . Observe a presença de algumas pessoas que tenham um comportamento incompatível com o ambiente, como uma pessoa com as mãos o tempo todo escondidas de baixo da blusa ou que esteja observando a entrada e saída de clientes; . Antes de entrar em um estabelecimento comercial olhe para o interior e veja se há algo suspeito acontecendo; . Mantenha seus pertences nos bolsos da frente durante suas compras; . Carregue suas bolsas e mochilas na frente do corpo; . Antes de digitar sua senha do cartão, verifique se o valor já foi digitado. Há muitos casos de roubos de senha de cartões por pessoas que não digitam o valor e pedem para o cliente colocar e senha, o cliente a digita e o atendente pega os números da senha no visor e informa que a rede falhou, mas agora ele já tem o número do seu cartão e a sua senha; . Ao digitar sua senha cubra a visibilidade usando sua outra mão; . Não fique parado nas entradas de estabelecimentos comerciais; . Faça suas compras acompanhado de uma pessoa de confiança se for possível; 226

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. Guarde o recibo de todas as suas compras caso precise comprovar a compra ou informações, como data e horário; . Evite ir a centro de compras em datas de grande tumulto, como natal, dia das mães, dia das crianças e etc., pois a aglomeração de pessoas facilita o ataque dos trombadinhas.

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ESTUPRO

O estupro é um dos crimes mais revoltantes e traumáticos de que uma pessoa pode ser vítima. Quando pensamos em um crime tão bárbaro quanto esse imaginamos um homem estranho com uma arma abordando uma mulher adulta em um local escuro. Grande erro! Os dados estatísticos mostram que o cenário real é bem diferente do que a maior parte das pessoas imagina. Segundos os dados oficiais do Atlas da Violência de 2018, cerca de 89% dos estupros são contra mulheres (11% das vítimas são homens e provavelmente esse número é muito maior devido o número de não denúncias feitas por preconceito). Os estupros são cometidos por uma pessoa próxima da vítima, como familiares, companheiros e amigo sem quase 70% das vezes. Em relação à vítima, 68% são crianças ou adolescentes. Nos estupros cometidos por conhecidos da vítima o principal local do crime foi dentro da residência em 78,6% dos 228

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casos. A maior parte dos crimes de estupro em que a vítima e o criminoso não se conheciam aconteceram em via pública. Importante saber que 72,2 % dos estupros são cometidos sem nenhum tipo de armas, sendo 39,1 % mediante força física, 29,5% mediante ameaça e 3,6% por enforcamento. O uso de arma de fogo corresponde a 11,7%, objetos perfurocortante 7,2% e objetos contundente 1,8 %. Entendendo melhor o perfil da vítima, do estuprador e local de ocorrência do crime, podemos adotar algumas medidas para ajudar a prevenir este tipo de violência. Medidas de proteção contra estupradores conhecidos como amigos ou familiares. Sabendo que a maior parte das vítimas são crianças e adolescentes é dever dos pais ou responsáveis observar a conduta de amigos, familiares e do seu próprio cônjuge. . Observe se a pessoa próxima apresenta algum comportamento sexual quando está próxima à criança ou adolescente; . Analise reações de medo da criança ou do adolescente quando determinada pessoa se aproxima. Muitas vezes a vítima já foi estimulada anteriormente a cometer o ato sexual, mas ainda não foi violentada; . Mantenha um bom relacionamento de confiança com a criança ou adolescente para que eles tenham liberdade em relatar qualquer aproximação ou solicitação sexual;

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. Evite deixar seus filhos dormirem fora de casa ou passarem muito tempo na casa de amigos; . Oriente seus filhos a como agir em caso de uma tentativa de abuso sexual; . Considere a possibilidade de matricular as crianças e adolescentes em alguma escola de defesa pessoal; . Confira os e-mails, mensagens de celular e redes sociais dos seus filhos para checar se não há nenhum tipo de conversa suspeita. Medidas de proteção contra estupradores desconhecidos . Considere se matricular em uma escola de defesa pessoal de qualidade que ensine a lidar física e mentalmente com esses tipos de violência; . Fique atenta aos locais e horários que você trafega em vias públicas. Os estupradores desconhecidos costumam agir em momentos de pouco movimento; . Fique atenta ao ambiente e ao comportamento das pessoas que se aproximam de você. O criminoso se aproveita da distração da vítima para conseguir surpreender e deixá-la sem tempo de defesa; . Cuidado ao usar o celular em locais públicos. Esse é o maior motivo de distração das vítimas;

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. Carregue algum instrumento que possa ser usado como uma arma de defesa pessoal, como um bastão retrátil, chaveiros pontiagudos, canivete portátil, chave do carro entre os dedos ou um espargidor de gengibre (spray de pimenta é autorizado apenas para agentes de segurança); . Fique atenta aos prestadores de serviço que adentrarem sua residência e faça uma checagem prévia. É grande o número de ex-detentos, inclusive por estupro, que ingressam em companhias prestadoras de serviço; . Esteja acompanhada ao receber alguma pessoa estranha em sua casa; . Confie em seus instintos se achar que está sendo seguida; . Mantenha uma postura corporal rígida e confiante. Estupradores são criminosos covardes e oportunistas que buscam vítimas que não oferecerão reação. Uma boa postura corporal pode simplesmente desestimular que o criminoso te escolha; . Esteja em forma física para conseguir correr ou lutar por sua vida; . Treine sua mente para lidar com esse crime assim. Imagine-se na situação e a forma que deve reagir. Lembre-se que quanto mais preparada você estiver, maiores serão suas chances de escapar do criminoso e de controlar suas emoções;

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Como agir ao ser abordada por um estuprador . Analise se o criminoso possui alguma arma. Sabemos pelos dados oficiais que o criminoso não está com nenhum tipo de arma em 72,2% dos crimes; . Lute com todas as suas forças. Neste ponto existe muita divergência de opinião entre especialistas em segurança. Eu costumo orientar que se o criminoso não estiver armado, reaja! Estatisticamente sabemos que o estuprador desiste do crime quando a vítima reage com firmeza, mas cabe apenas a você tomar a decisão de reagir ou não; . Ao ser abordada ou perseguida em via pública grite “fogo” ao invés de gritar socorro. Lembre-se que há mais pessoas curiosas do que corajosas. Há muito mais chances de alguém sair de sua casa para descobrir o que está acontecendo; . Ataque os pontos mais sensíveis e vitais do estuprador. Espere por uma distração do criminoso e golpeei os olhos, garganta ou testículos; . Considere as opções instintivas do momento. Alguns especialistas orientam a vítima vomitar no estuprador, usar cabelos curtos, calças, mas essas orientações carecem de dados estatísticos que comprovem a eficácia de qualquer uma dessas orientações. Por isso te digo para seguir seus instintos e fazer o que julgar melhor para o momento;

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O que fazer após o estupro consumado . Tente se acalmar e entender que não foi sua culpa. O criminoso é sempre o culpado pela ação criminosa e não a vítima; . Não se limpe imediatamente. Você é a prova física do crime; . Chame imediatamente a polícia. A polícia vai te encaminhar para o exame de corpo de delito e a um hospital onde você receberá medicamentos anticoncepcionais e antirretrovirais para prevenir doenças sexualmente transmissíveis; . Procure apoio profissional com um psicólogo se achar necessário; . Converse com uma amiga ou familiar se sentir desejo disso.

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INTERNET

O número de pessoas que fazem compras pela internet cresce a cada ano e com isso o número de crimes virtuais também. Por isso é importante ficar atento as medidas de segurança: . Utilize senhas diferentes para cada conta virtual que tiver; . Nunca preencha informações de pagamento em sites não conhecidos; . Adquira um bom sistema antivírus e o mantenha atualizado; . Conheça a lei dos Crimes Cibernéticos (12.737/2012); . Informe-se sobre o Marco Civil da Internet (Lei 12.965/2014);

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. Não compartilhe suas senhas virtuais com outras pessoas, lembre-se que você pode ser responsabilizado pelas atitudes criminosas em suas contas; . Restrinja suas informações pessoais em sites; . Mantenha sua privacidade nas redes sociais, não compartilhe suas rotinas, locais e horários que frequenta determinados ambientes, isso dará toda informação para a ação do criminoso que saberá onde e quando você estará; . Não ostente bens materiais nas suas redes sociais, lembre-se que o criminoso é ambicioso e assumirá maiores riscos por maior lucro; . Não deixe seus dispositivos eletrônicos como notebook e celulares com estranhos, pois programas espiões podem ser instalados; . Não abra arquivos enviados por pessoas e desconhecidas;

contas

. Não pague nenhum boleto que você não solicitou diretamente; . Tenha um cartão de crédito com baixo limite para fazer suas compras on-line; . Não anote suas senhas no seu celular; . Memorize suas senhas para não precisar anotá-las em nenhum lugar, se for necessário, use códigos que só você entenda;

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. Crie senhas fortes utilizando números, letras e sinais. Não use datas específicas, como aniversários, número de telefone nem utilize nomes dos familiares; . Cuidados com a instalação de aplicativos em seu celular ou computador. Baixar e aceitar permissões de aplicativos de empresas não reconhecidas é um erro e um risco imenso. Há muitos aplicativos que pedem permissões de alteração e de acesso a informações relevantes; . Em caso de dúvida não instale o software; . Fique atento aos downloads. Evite sites desconhecidos, baixe apenas em sites de reputação conhecida; . Cuidado com os links. Fique atento em redes sociais e e-mail sobre histórias, fotos e vídeos muito curiosos ou engraçados. Muitas armadilhas podem estar escondidas nestes links; . Desconfie das ofertas imperdíveis. Há uma grande chance de haver algum vírus.

Ameaças pela internet A sociedade está mais conectada com o mundo virtual e com esse aumento de envolvimento on-line aumentam os problemas, como os crimes de ameaça, injuria e difamação. Muitos criminosos se sentem seguros por trás de um computador para cometer seus crimes devido à grande impunidade no meio virtual. Código penal:

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Ameaça (art. 147): significa intimidar alguém, pode ser através de gestos, telefonemas, de forma escrita, desenho e até e-mails. A pena para este crime é de 1 a 6 meses de detenção ou multa. Injuria (art.140): Injuriar alguém, ofendendo lhe a dignidade ou o decoro: ... §2º – Se a injúria consiste em violência ou vias de fato, que, por sua natureza ou pelo meio empregado, se considerem aviltantes: Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa, além da pena correspondente à violência Calúnia (art. 138) - Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, e multa. § 1º - Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propaga ou divulga. § 2º - É punível a calúnia contra os mortos. Difamação (art. 139) - difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Parágrafo único - A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções Como agir se for vítima de um desses crimes Se você conhece ou pode identificar o criminoso: . Reúna todas as informações possíveis sobre a pessoa;

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. Junte todas as provas que conseguir imprima e salve em um pendrive ou cd a foto da tela (printscreen) do crime, link da página da Internet onde ocorreu o fato e todas as informações relevantes; . Vá à delegacia de polícia e registre um boletim de ocorrência; . Leve todas as provas e documentos que você reuniu; . Acompanhe o andamento do caso e fique atento aos prazos.

Ações imediatas contra o criminoso . Caso a ameaça tenha sido direta e você saiba quem é o ameaçador informe-o que você irá registrar um boletim de ocorrência; . Mantenha a calma e não revide ameaças ou ofensas, muitas vezes o simples fato de ignorar desmotiva o criminoso em continuar com a conduta; . Analise o grau de risco da ameaça, leve em consideração: o perfil da pessoa que o ameaçou, a motivação da ameaça e o nível de proximidade ou conhecimento que o ameaçador possui sobre sua vida pessoal. Lembre-se que muita gente se vale da tela de um computador para simplesmente infernizar a vida dos outros; . Adote medidas de prevenção de acordo com o grau do risco analisado. 238

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PACOTES SUSPEITOS

O mundo tem sido vítima ataques terroristas, como explosões igrejas, estádios e parques que aglomeração de pessoas causando mortes.

de diferentes formas de em transportes públicos, são locais de grande um grande número de

Esses ataques podem executados por meio de pacotes, bolsas, latas de lixo, cartas, panelas, carros ou pessoas suicidas. No Brasil em 2018 tivemos um caso em Brazlândia no Distrito Federal onde um terrorista armou um explosivo com pregos dentro de uma bolsa e a deixou em frente à igreja Santuário Menino de Jesus. O artefato possuía cinco quilos de pólvora, relógios e marcadores e só não explodiu porque houve falha no detonador. Na cidade de Brasília em 2016 houve uma explosão de uma panela de pressão que continha pregos, porcas, parafusos e produtos químicos não identificados no estacionamento de 239

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um shopping por onde passam aproximadamente 700 mil pessoas por dia, mas ninguém se feriu.

*Imagem da panela após a explosão

Como agir diante de um pacote suspeito . Nunca toque ou se aproxime de bolsas, mochilas ou pacotes deixados em locais públicos; . Acione imediatamente a polícia e observe o máximo de informações possíveis; . Não entre em pânico nem faça um alarde para que haver confusão e possível pisoteamento de pessoas; . Informe aos seguranças do local a existência do objeto suspeito; . Afaste-se do objeto o máximo possível;

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. Caso não consiga sair do local, abrigue-se em um local protegido, como atrás de uma parede ou coluna de concreto ou aço; As ameaças podem ser direcionadas a pessoas específicas. Neste ponto trata-se de um ataque vingativo enviado por uma carta ou pacotes contendo agentes químicos letais ou explosivos. Como se proteger disso? . Observe se a encomenda possui os selos da empresa de transporte ou encomendas. Encomendas sem os selos são entregues diretamente por alguma pessoa desconhecida aumentando as chances de ser uma armadilha; . Fique atento a pacotes com peso incompatível com o tamanho da caixa ou envelope; . Olhe a embalagem para ver se há manchas de óleo; . Cuidado com pacotes inesperados ou de desconhecidos; . Caso o pacote tiver o nome de um remetente conhecido, entre em contato com o mesmo para confirmar o envio; . Fique atento se a embalagem estiver com cheiro forte. Isso pode ser indício de algum agente químico letal; . Observe se há algum som vindo do pacote como movimentos de ponteiro de relógio (tique taque) ou se há algum fio;

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. Analise se a embalagem possui muita fita ou barbante. Isso pode ser indício que o remetente quis dificultar a abertura do pacote; . Ao receber algum pacote ou encomenda suspeita tente manter a calma e se for possível coloque-o em um local seguro longe do fogo, calor e eletricidade; . Não abra o pacote e evite agitá-lo; . Acione imediatamente a polícia; . Lave sua mão com sabão imediatamente após entrar em contato com o pacote por causa do risco de agente químico.

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PERSEGUIDO X SEGUIDO

Essas duas palavras possuem significados diferentes quando se trata de autodefesa embora muitas vezes sejam confundidas e até usadas de forma similar. Seguido – alguém que te segue de forma oculta e sem demonstrar nenhum tipo de ameaça imediata. Pode ser a pé, no transporte público ou veículo. Essa situação é comum nos seguintes casos: . Espionagem na qual outra pessoa é contratada ou a própria pessoa se oculta para seguir seus passos e descobrir informações pessoais como qual local você frequenta, com quem ou quando. O seguidor busca obter o máximo de informações da pessoa que está sendo seguida. Comum em casos de detetive particular, namorado (a) ciumenta ou um admirador secreto; 243

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. Planejamento de um crime – O criminoso segue a vítima de forma velada para cometer o crime em um momento mais oportuno. Perseguido Situação de ameaça declarada na qual o perseguidor não se oculta. A vítima tem consciência que está sendo seguida de forma ostensiva e imprime fuga. Pode ser a pé ou em um veículo. Essa é a situação comum em discussões e em ameaças de trânsito, brigas, crimes de roubo ou sequestro.

Como saber se está sendo seguido Se você estiver a pé . De tempo em tempo olhe para trás e observe se há alguma pessoa específica sempre atrás de você; quando olhar para trás observe o rosto e a calça, sim, eu disse a calça, pois profissionais como detetives mudam de camiseta, colocam bonés e óculos para mudar sua aparência enquanto seguem a vítima, porém é muito difícil trocar de calça; . Mude de lado de calçada durante a sua caminhada e observe se alguém faz o mesmo logo em seguida; . Caso suspeite que alguém esteja te seguindo mude o ritmo da sua caminhada e observe discretamente se a pessoa também muda o ritmo dela. Pode ser aumentando ou diminuindo a velocidade dos seus passos;

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. Em caso de dúvida de ser seguido por determinada pessoa, entre em um estabelecimento comercial e analise se a pessoa também entra. Ao sair observe se a pessoa está parada próxima ao local; . Confie em seus instintos.

Se você estiver em um veículo: . Olhe em seu retrovisor de tempo em tempo para ver se algum veículo está sempre à mesma distância do seu. Caso suspeite de algum veículo cheque seus retrovisores a cada 20 segundos para analisar se ele continua te acompanhando; . Dê a volta no quarteirão e observe se o veículo suspeito continua te seguindo; . Mude a velocidade do veículo e observe pelo retrovisor se o suspeito também altera.

Como agir ao ser seguido Se você estiver a pé: . Evite entrar em ruas ou locais de pouco movimento;

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. Entre em um estabelecimento comercial e se perceber que a pessoa ficou do lado de fora sai pela saída de emergência ou outra saída diferente; . Se julgar necessário entre em um estabelecimento comercial que possua um profissional de segurança e peça a ele para ficar ao seu lado enquanto liga para a polícia; . Caminhe até uma delegacia ou posto policial se estiver passando por perto e informe o ocorrido; . Não vá direto para sua casa, mude o trajeto e mantenha-se em um caminho com grande fluxo de pessoas; . Segure discretamente algum objeto que possa ser utilizado como arma de defesa, como uma caneta ou guarda-chuvas, pois caso você seja abordado terá mais poder de contundência utilizando esses objetos; . Considere olhar diretamente para os olhos do suspeito e o encare por 03 segundos. Desta forma ele vai saber que foi identificado e terá perdido a vantagem do efeito surpresa, há grandes chances de ele desistir de te seguir;

Se você estiver dirigindo . Fique parado no sinal verde do semáforo. Em situações assim rapidamente os demais veículos começarão a buzinar e a te ultrapassar forçando o seguidor a fazer o mesmo ou então revelar sua intenção ao permanecer parado também; 246

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. Dirija até um posto ou delegacia policial e estacione em frente e observe a reação da pessoa que está no veículo te seguindo; . Diminua a velocidade próximo ao semáforo e avance no amarelo se for possível. Desta forma o outro veículo ficará para trás e você terá tempo para escapar; . Use as rotatórias. Entre em uma rotatória e a contorne por duas vezes, desta forma o seguidor terá que seguir à diante e te perder ou claramente demonstrará que está a te seguir. O que fazer ao ser perseguido Se você estiver a pé . Entre em uma loja movimentada e vá até o profissional de segurança e peça ajuda; . Pegue algum instrumento que possa ser utilizado como arma de defesa ou ataque, como uma lâmina, chave do carro, chave de fenda, um pedaço ou uma pedra para caso o perseguidor consiga se aproximar de você; . Considere a possibilidade de se virar na direção dele e abrir os braços enquanto grita “Deixe-me em paz, pare de me seguir”. Essa atitude inesperada pode confundir ou assustar o suspeito, além de chamar a atenção das outras pessoas ao redor. Continue gritando até que o suspeito fuja; . Chame a atenção das pessoas. Se a perseguição for em um local movimentado grite para que o máximo de pessoas possam ouvir e ver a situação; 247

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. Caso esteja em um local com baixo fluxo de pessoas ou área residencial grite “fogo” ao invés de simplesmente socorro, pois as pessoas são mais curiosas do que corajosas e a curiosidade em ver o que está acontecendo fará com que várias pessoas saiam de suas casas para observar o que está acontecendo.

Se você estiver em um veículo . Faça movimentos evasivos, desacelere o veículo e acelere inesperadamente e vire em cima da hora. Só faça esses movimentos se julgar capaz e for realmente necessário; . Dirija até um posto ou delegacia policial e buzine para chamar a atenção; . Dirija em ruas ou avenidas que conheça, desta forma ficará mais fácil manobrar e conhecer os pontos mais oportunos para a fuga; . Mantenha-se na faixa da esquerda, pois isso dificulta a ultrapassagem e principalmente te mantêm mais longe do carona que poderá estar armado. Lembre-se que pela direita o carona estará ao seu lado na janela durante a ultrapassagem e você será um alvo fácil para um ataque; . Considere a possibilidade de fazer um curso de direção defensiva, evasiva e ofensiva para melhorar sua capacidade de defesa, fuga e ataque utilizando o veículo.

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Outras formas de perseguição A perseguição por obsessão também conhecida por “stalking” normalmente ocorre em virtude de uma atração não correspondida. Na maior parte das vezes o perseguidor é um conhecido da vítima ou um ex-parceiro (a) amoroso, porém não podemos deixar de considerar os casos que envolvem pessoas desconhecidas. O perseguidor quase sempre se sente rejeitado pela vítima e por isso acredita que ela deve ficar com ele ou ela deve receber algum tipo de punição por não o querer. Podemos classificar os perseguidores nos seguintes perfis: Internauta Aquele que utiliza a internet como instrumento para perseguir a vítima. Normalmente em redes sociais e chats. Esse perfil costuma copiar fotos, vídeos e obter informações pessoais da vítima. Romântico secreto É o perfil de perseguidor que nutre uma paixão secreta pela vítima e a segue em seu caminho ao trabalho, escola e momentos de descontração. Geralmente faz gestos como enviar cartas, e-mails, textos ou presentes, como flores, bombons ou itens carinhosos e românticos. Romântico inconformado Geralmente um ex-parceiro amoroso que não aceita o fim do relacionamento ou aquela pessoa que acredita que a 249

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vítima tem a obrigado de querê-lo. Este tipo de perseguidor não sabe lidar com a rejeição. Romântico fantasioso É aquele que tem profunda admiração pela vítima e se engana acreditando ser amado por ela. A vítima quase sempre está em uma posição de superioridade social, fama ou profissional. Boderline São aqueles que possuem transtorno de personalidade que os tornam extremamente instáveis passando do sentimento de paixão ao ódio intenso de forma muito rápida e desproporcional. São pessoas conhecidas da vítima que normalmente é uma colega de trabalho ou do círculo de amizades. Esquizofrênico Trata-se de uma doença mental que causa delírios e alucinações que fazem o perseguidor ter dificuldades em distinguir entre realidade e fantasia.

Como identificar se alguém te persegue Lembre-se que um perseguidor é alguém que pode colocar sua vida em risco, por isso é importante identificar uma possível perseguição o mais rapidamente possível. 250

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Reconheça o comportamento de um perseguidor (stalking): . Convites insistentes. Observe aquela pessoa que não desgruda de você e que insiste muito em te levar para um evento, um almoço ou algum tipo de encontro; . Mensagens exageradas. Note a necessidade de alguém te enviar muitas mensagens sem necessidade durante o dia; . Insistência em saber seus planos, para onde vai, com quem e como. Fique atento com pessoas que demonstram grande interesse em sua vida particular; . Observe se a pessoa sabe informações sobre você mais do que deveria. Informações como seu endereço, pessoas da sua família, horários dos seus compromissos e etc.. Esses são sinais de que você está sendo vigiado ou perseguido; . Visitas fora de hora ou surpresa. O perseguidor tem a necessidade de ficar próximo da vítima, por isso observe o desejo desesperado de alguma pessoa em manter contato permanente com você; . Repare na reação da pessoa quando você impõe algumas restrições, como não telefonar após determinado horário ou final de semana. Há grandes chances de a pessoa ser um perseguidor caso não consiga respeitar esses limites; . Observe se a pessoa apresenta um comportamento agressivo quando você impõe restrições ou não aceita os seus convites;

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. Note os gestos exagerados ou muito generosos, como pessoas que estão sempre te dando presentes e agrados, principalmente, se forem caros.

Como agir contra um perseguidor . Imponha limites claros e diretos; . Fique atento às suas publicações em redes sociais quanto às informações valiosas que você compartilha sobre sua vida. Cuidado para não fazer da sua rede social seu diário; . Não discuta com o perseguidor quando estiver sozinho com ele. Caso precise confrontá-lo faça em um local público ou com alguma pessoa te acompanhando; . Guarde as provas que puder, como mensagens, fotos, vídeos, presentes e ameaças, pois isso será importante para acionar a polícia; . Acione a polícia se a pessoa não parar de te incomodar. Questões legais No Brasil ainda não existe tipificação penal específica para os casos de Stalking, embora haja um projeto de lei n. 236/2012 com intuito de constituir um novo parágrafo no artigo 147 do código penal sobre perseguição obsessiva ou insidiosa.

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O que normalmente acontece é o enquadramento do “stalker” no crime previsto pelo artigo 147 do código penal por ameaça escrita, verbal ou gestual, mas atente-se que aqui se enquadra a atitude de ameaçar e não de seguir. Algumas vezes há o enquadramento na contravenção penal prevista no artigo 65 do decreto-lei 3688/41 de perturbação à tranquilidade. Outra opção para enquadramento é a lei Maria da Penha 11.340/2006 que garante proteção à mulher contra qualquer tipo de violência doméstica, seja física, psicológica, patrimonial, sexual ou moral.

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RUA

Durante nossa caminhada nas ruas cruzamos com centenas ou milhares de pessoas diferentes e de todo tipo de índole. Por isso previna-se adotando as seguintes medidas de segurança: . Prefira andar em vias bem iluminadas; . Evite locais desertos onde não há fluxo de pessoas, se você estiver sozinho será um alvo muito chamativo; . Ande preferencialmente por caminhos já conhecidos, evite entrar em atalhos que não conhece para ganhar tempo, o perigo pode estar escondido ali; . Não fique parado em pontos de ônibus por mais tempo do que o necessário e tenha em mãos os horários da sua linha para esperar o mínimo possível; 254

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. Ao caminhar, correr ou se exercitar em via pública evite os aparelhos eletrônicos que diminuem sua percepção, tais como os fones de ouvidos e celulares; . Não pare para assistir apresentações de rua ou jogos de sorte, como adivinhar onde está a bolinha, cartas e etc.; . De tempo em tempo olhe discretamente para trás e para os lados para ver se há alguma movimentação suspeita; . Observe a presença de pessoas que destoam da multidão por seu comportamento ou vestimenta, como uma pessoa com uma blusa em pleno dia ensolarado e mãos dentro do bolso o tempo todo; . Evite transportar grande quantia de dinheiro em espécie, prefira meios eletrônicos como o cartão de crédito; . Evite ostentar joias, celulares caros e aparelhos que chamem a atenção e que sejam facilmente transportados; . Carregue dinheiro trocado separado da sua carteira para não precisar tirá-la em locais movimentados; . Evite parar em barracas de ambulantes, mas caso seja necessário, pague em dinheiro, nunca em cartão de crédito, assim você evita o risco de clonagem do seu cartão; . Fique atento aos esbarrões, pois pode ser uma gangue de trombadinhas em busca dos seus pertences;

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. Evite usar camisetas que estimulem animosidade, como camisetas de time de futebol, principalmente próximo aos estádios; . Ao carregar bolsa ou sacola dê preferência em usar a mão não dominante, assim você terá mais condições de defesa com a sua mão dominante; . Ao caminhar nas calçadas use o lado oposto ao tráfego dos veículos, assim você tem uma visão antecipada da aproximação de algum carro ou moto suspeita; . Não pare para dar informações, como localizações ou horários, quando for abordado por alguém continue andando, se desejar responder, seja o mais breve possível, caso a pessoa insista em manter uma conversa você tem o direito de mandá-la se afastar; . Não se encontre com a namorada (o) em locais isolados, vocês serão alvos fáceis para o criminoso de oportunidade que sabe que você estará distraído e que não há pessoas próximas para testemunhar sua ação; . Leve consigo apenas os documentos e cartões de crédito ou débito que sejam realmente necessários; . Considere a possibilidade em ter duas carteiras ou celulares para entregar ao criminoso em caso de assalto, mantenha uma carteira com alguns trocados ou um celular velho; . Ao carregar mochilas, bolsas ou sacolas use-as junto ao corpo à sua frente, desta forma você evita ser surpreendido pelas costas e desestimula a ações de trombadinhas; 256

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. Ao carregar seus pertences tente não parecer com medo ou inseguro, isso pode atrair a atenção do criminoso que pensará que você está com algo valioso; . Não conte dinheiro em público; . Fique atento a todas as pessoas, lembre-se que o criminoso pode ser homem, mulher, jovem, adulto, idoso, vestindo roupas simples ou sofisticadas. Entenda que o criminoso aparenta ser igual a todos; . Ao ser perseguido por alguém entre em algum estabelecimento comercial movimentado, procure o segurança e fique próximo dele enquanto liga para a polícia; . Ao ser atacado na rua não grite apenas “socorro”, use: Fogo! As pessoas muitas vezes ao ouvir o grito de socorro ficam com medo de ajudar e se escondem, mas ao ouvirem fogo ficam curiosas e saem para olhar a situação; . Quando estiver em um ponto de ônibus evite ficar de costas para as demais pessoas que transitam pela calçada, se possível encoste-se ao murro para não ser surpreendido pelas costas; . Fique atento à sua vestimenta ao sair, se for possível priorize roupas e calçados que permitam um deslocamento e mobilidade para fugir ou lutar; . Sempre porte alguns instrumentos para defesa pessoal ou armas improvisadas, uma simples torneira pode ser usada com o um soco inglês;

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. Caso seja viável, mantenha os familiares mais próximos informados sobre seus trajetos e compromissos. Em caso de emergência eles terão informações para facilitar a busca; . Ande com uma identificação do seu tipo sanguíneo, pois em caso de acidente você pode ser atendido mais rapidamente; . Antes de sair faça seu planejamento para onde vai e quais as rotas mais seguras; . Divida o dinheiro que carrega com você. Evite levar tudo em um único bolso; . Carregue apenas os objetos realmente necessários, pois caso precise se defender é melhor estar com as mãos livres; . Feche os bolsos que tiverem zíper; O que fazer se você for vítima de um assalto . Lembre-se que a maior parte dos roubos são cometidos em dupla, ou seja, ainda que você veja apenas um criminoso, há grandes chances de ter um comparsa próximo; . Fique calmo, respire fundo e não faça movimentos bruscos; . Evite encarar os criminosos diretamente nos olhos; . Mostre cooperação e não fique fazendo perguntas. Diante de um assalto é importante demonstrar para o criminoso que você não é uma ameaça ou obstáculo; 258

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. Tente observar o número de criminosos e quais tipos de arma utilizam como faca, arma de fogo e etc.; . Informe previamente toda a ação que for realizar, por exemplo: “vou pegar a carteira aqui no bolso” para evitar que o criminoso se assuste e dispare; . Não faça perguntas irrelevantes, responda apenas aquilo que ele te perguntar; . Não discuta com o criminoso, pois você está em desvantagem; . Analise constantemente a real intenção do criminoso, observe suas ações discretamente; . Caso perceber que o criminoso tem outra finalidade além de te roubar considere a possibilidade de iniciar um contra-ataque; . Faça um plano mental de fuga e combate caso for necessário; Após o assalto . Acione imediatamente a polícia; . Quando tiver mais pessoas verifique se alguém precisa de socorro médico e tente acalmar as vítimas; . Forneça o máximo de informações aos policiais; . Procure ajuda de um psicólogo caso achar necessário. 259

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SEQUESTRO

Caso Real Sequestro em Hortolândia: suspeito tinha informações privilegiadas e pediu cerca de R$ 1 milhão de resgate. O filho de um empresário de Hortolândia/SP foi seqüestrado por criminosos que receberam informações privilegiadas obtidas por um parente que trabalhava na empresa do pai. Os seqüestradores exigiram um resgate de 1 milhão de reais e parte do valor chegou a ser paga pela família do rapaz. Segundo as investigações, uma quantia foi recuperada. Quatro suspeitos foram presos e a polícia afirma que o homem com informações privilegiadas é parente de pessoa que trabalhava para a família.

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A vítima foi solta após os sequestradores receberem o dinheiro da família. Ao procurar a polícia para registrar o ocorrido, a vítima mostrou aos investigadores a região onde teria ficado preso e identificou a caminhonete que foi usada no sequestro e os policiais conseguiram prender os suspeitos.

Sequestro é o crime no qual uma pessoa é privada de sua liberdade de forma ilegal com a finalidade de extorsão do próprio sequestrado ou de sua família com objetivo de obter qualquer vantagem, como dinheiro, valores ou bens materiais como moeda de troca. Geralmente a duração é de vários dias ou até mesmo meses e o local é um cativeiro desconhecido pela vítima. Há outra forma de sequestro conhecida como “sequestro relâmpago” na qual a vítima é privada de sua liberdade por um curto espaço de tempo e normalmente dura algumas horas. O local do cárcere mais comum é o próprio veículo da vítima. O objetivo dos criminosos é sacar dinheiro em caixas eletrônicos e saques bancários com cheques assinados pela vítima. O crime é cometido por uma quadrilha na qual cada criminoso possui uma função específica no sequestro.

Como os criminosos agem? . Os criminosos escolhem uma vítima abastada. Quanto maior for a possibilidade de lucro, maior o interesse da quadrilha; . Sondagem: Os criminosos passam dias observando a rotina da vítima buscando informações de trajetos diários, locais que frequenta, horários, com quem se encontra e etc.; 261

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. Planejamento da ação criminosa; . Abordagem da vítima. Com todas as informações em mãos os criminosos abordam a vítima em um momento de vulnerabilidade e a faz refém levando-a a um cativeiro; . Cárcere da vítima por períodos longos como dias, semanas ou meses; . Contato com a família da vítima e exigências para libertar o sequestrado. Tratando-se de um sequestro relâmpago há algumas diferenças nos modus operandis: . A vítima não precisa ser rica. A quadrilha busca ganhos menores, porém mais rápidos e com menores riscos. Por isso, qualquer pessoa que aparente ter uma situação financeira média é um alvo em potencial; . Os criminosos são oportunistas. Eles escolhem suas vítimas poucos instantes antes do crime. Não há um planejamento nem obtenção de informações prévias sobre a vítima; . Cárcere por pouco tempo. A vítima é mantida sob o domínio da quadrilha por um período de minutos ou horas. Normalmente o local é o próprio veículo da vítima ou dos criminosos; . Não há contato com a família. A própria vítima faz o pagamento mediante saques em caixas eletrônicos ou saques bancários com cheques; . Liberação da vítima em local distante; . Abandono ou destruição do veículo da vítima. 262

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A conclusão do crime é incerta. O sequestro pode ter um final diferente em cada caso: 1. A família cumpre as exigências e os sequestradores soltam a vítima em um local distante; 2. A família cumpre as exigências, mas os sequestradores matam a vítima; 3. A polícia consegue resgatar a vítima; 4. A vítima consegue escapar;

Como se proteger contra um sequestro? Só quem já passou por uma situação assim sabe como é traumático e revoltante. O sentimento de impotência por ser submetido ao domínio dos criminosos é algo terrível. Imagine-se em um dia normal como todos os outros quando, de repente, alguém te aponta uma arma e após te amordaçar e vendar seus olhos, te joga dentro no porta malas do carro e te leva para um local desconhecido. Ao chegar ao cativeiro você é humilhado e constantemente ameaçado de morte. Seu cárcere pode durar dias ou semanas e se tudo correr bem e a extorsão dos sequestradores for atendida, talvez, você seja liberado com vida. Terrível, não é? Aposto que você experimentou por uma fração de segundos um pouco do sofrimento de uma vítima de sequestro. Por isso, assuma o compromisso de adotar medidas que minimizem as chances de você se tornar uma vítima:

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. Evite ostentar bens ou valores acima da média das pessoas em locais ou vias públicas, como joias, cartões de crédito (em especial os de alto nível social), relógios e carros; . Mude sua rota e horários com frequência. Lembre-se que a rotina favorece a ação do criminoso; . Fique atento nos semáforos. Geralmente são nestes pontos que os criminosos abordam suas vítimas; . Observe a presença de pessoas em atitude suspeita ou incompatível com o ambiente ao entrar ou sair de casa ou veículos; . Evite parar muito próximo do carro da frente nos semáforos, pois você não conseguirá sair com o veículo rapidamente se for necessário; . Ao entrar no banco observe se há alguém observando as pessoas pelo lado de fora; . Ao sair do banco certifique-se que não esteja sendo seguido; . Evite caixas eletrônicos em horários de pouco movimento; . Não exponha grande quantidade de dinheiro ou valores em público; . Considere instalar uma trava interna no porta malas para conseguir abri-lo pelo lado de dentro; . Considere deixar um celular escondido no porta malas para fazer uma ligação de emergência; . Confie em seus instintos e se suspeitar de alguém procure um local seguro e acione a polícia informando todas as características dos suspeitos; 264

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. Transporte apenas cartões de crédito com baixo limite. Deixe seu cartão de crédito em um local seguro e o carregue apenas quando for realmente necessário; . Não carregue talões de cheque sem necessidade; . Mantenha uma aparência dentro da média das outras pessoas. Isso diminui as chances de chamar a atenção de criminosos; . Eduque seus filhos para não fornecer informações sobre sua família para outras pessoas; . Não ande com cartões bloqueados ou que não saiba a senha. Em caso de um sequestro relâmpago o sequestrador pode achar que você não quer revelar a senha para sacar o dinheiro e assim ter uma atitude muito mais violenta; . Evite personalizar seu veículo com adesivos que indiquem seu padrão de vida, como adesivos do seu condomínio, faculdade cara ou clubes sociais de alto padrão; . Esconda um canivete multifunção em algum local do porta malas; . Evite revelar informações privilegiadas para funcionários da empresa; . Cuide de seu extrato bancário, não deixe que outras pessoas tenham acesso a essas informações ainda que sejam amigos, familiares ou filhos; . Tome cuidado com o seu lixo. Muitas informações valiosas podem ser encontradas nos lixos empresarias ou residências. Papeis com informações relevantes devem ser triturados; . Instale um rastreador em seu veículo e informe sua família. 265

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Como agir se você for vítima de um sequestro? Você já sabe que o crime de sequestro possui algumas etapas diferentes, por isso vou separar possíveis reações para cada momento do crime.

Momento da abordagem dos sequestradores A abordagem é o momento em que você é pego de surpresa por um ou mais criminosos que quase sempre estão armados. Neste momento é difícil raciocinar com clareza devido o stress e os níveis de ansiedade. . Tente manter a calma e use a respiração tática de combate para manter o raciocínio e tomar a melhor decisão: Fugir, lutar ou não reagir; . Observe o ambiente e tente identificar o número de agressores e as armas que possuem; . Analise as oportunidades para reagir ou fugir. Apenas quem está na situação pode decidir se deve reagir ou não. Reagir é arriscado, mas não reagir também não te garante outras oportunidades melhores ou que será liberado.

Momento do transporte para o cativeiro Fase do crime na qual os sequestradores transportam a vítima até o local do cativeiro. Nesta fase a vítima está plenamente ciente que foi vítima de um sequestro.

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. Caso esteja dentro de um porta malas chute as lanternas para conseguir derrubá-las e coloque o braço para fora acenando em busca de socorro; . Utilize a trava interna para abrir o porta-malas, caso tenha instalado uma; . Ligue para polícia imediatamente, caso tenha escondido um celular com bateria no porta-malas; . Concentre-se e tente identificar o caminho. Observe se o trajeto tem muitas subidas, descidas ou se saiu do asfalto e entrou em rua de terra. São informações importantes para o caso de fuga ou investigação policial posterior; . Observe o tempo de transporte até o local do cativeiro. Essas informações serão úteis se você conseguir fugir;

Momento dentro do cativeiro É a etapa do crime mais longa e cansativa para a vítima. O tempo de permanência é indeterminado, podendo durar dias, semanas ou meses. As condições são imprevisíveis, podendo ter o mínimo de dignidade ou absolutamente nenhuma. O comportamento da vítima em cativeiro pode determinar como será tratada, as chances de fuga e até sua sobrevivência. . Observe os criminosos. De forma discreta capte o maior número de informações que puder. Quantos são os criminosos? Que tipo de armas utilizam? Parecem preparados? Fazem revezamento, se sim, a cada quanto tempo? Algum deles é mais vulnerável do que os outros? Qual horário eles ficam mais distraídos? Parecem estar em boa forma física? Quem é o líder? 267

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. Analise o ambiente. O cativeiro possui janelas? Portas? Quais opções de saída do local? Há algum instrumento afiado ou pontiagudo que pode ser alcançado? . Permaneça fisicamente forte. Você não sabe o quanto o sequestro irá durar ou se haverá oportunidade de fugir, por isso mantenha seu corpo ativo, se tiver possibilidade faça flexões, agachamentos e abdominais; . Fique atento à noção de tempo, se puder marque os dias; . Crie hábitos saudáveis para sua mente e saúde. Medite, durma e se alimente; . Responda as perguntas dos sequestradores de forma clara; . Evite fazer reclamações; . Entenda o motivo do seu sequestro. Quanto mais informações você tiver melhor será para tomar uma decisão sobre fugir e quando tentar essa ação; . Tente criar uma conexão com os sequestradores. Não exagere na aproximação, pois pode gerar o efeito contrário; . Informe aos sequestradores qualquer problema de saúde que você tiver. Na primeira oportunidade informe que precisa de medicamentos contínuos, como diabetes, pressão alta entre outros; . Tente pedir alguns pequenos pedidos aos seqüestradores, como jornal, papel ou revista. Isso vai ajudar a desenvolver alguma conexão com os criminosos; . Não discuta ou ameace os criminosos. Controle sua revolta e tente permanecer acalmo; 268

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. Observe sinais críticos. Caso perceba que os criminosos não irão te liberar após o crime você precisará de um plano para fugir.

Fugindo do cativeiro É uma ação muito arriscada que deve ser tomada após analisar suas opções como: chances reais de conseguir escapar, probabilidade dos sequestradores não te libertar e te mata após o crime. Lembre-se que a recomendação geral é não tentar fugir a menos que você entenda que será morto. . Analise suas condições físicas. Antes de tentar fugir pense se está em condição para correr, pular ou lutar; . Analise o ambiente. Você tem alguma rota de fuga? Para onde vai? Sabe onde está? . Prefira o período da noite, pois a pouca iluminação favorece a distração dos criminosos que podem estar sonolentos e durante a fuga fica mais difícil deles te visualizar; . Caso não consiga mais correr, esconda-se em um local alto como uma arvore volumosa, desta forma você terá uma visão ampla do ambiente e conseguirá informações sobre estradas, casas próximas ou a localização dos criminosos; . Caso esteja em um grupo não conte seus planos de fuga, pois alguém pode entregá-lo em busca de melhor tratamento. Revele somente o indispensável aos demais reféns;

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Invasão ao cativeiro Momento tenso no qual a polícia invade o local onde a vítima está. Situação perigosa podendo haver tiroteios e mortes. Procedimentos em caso de invasão policial: . Ao perceber a invasão policial tente se abrigar para evitar ser vítima de um tiro perdido. Caso não haja um local para se abrigar, deite-se com as mãos na cabeça próximo a parede; . Tente se esconder dos sequestradores. Eles estarão distraídos o que facilita você se esconder evitando ser utilizado como escudo humano; . Não saia correndo. No desejo de fugir você pode querer correr em direção a polícia e desta forma corre risco de ser baleado pelas costas pelos criminosos ou pelos próprios policiais; . Grite seu nome repetidamente. Desta forma fica mais fácil dos policiais te identificar; . Obedeça aos comandos da equipe de resgate sem questionamentos. Pode acontecer de te mandarem colocar as mãos na cabeça e inclusive te algemar. Entenda que é um procedimento de segurança. Mantenha a calma e não fique questionando. Sua identidade logo será confirmada.

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TIROTEIO EM AMBIENTES ABERTOS

Apenas a região metropolitana do Rio de Janeiro registrou 2.389 tiroteios ou disparos de armas de fogo nos primeiros 100 dias de 2018, segundo relatório informado pelo laboratório de dados Fogo Cruzado. Foram quase 24 tiroteios por dia! Infelizmente nesta guerra entre criminosos e policiais muitos cidadãos são atingidos. Como agir em caso de tiroteios: . Procure se abrigar. Não se esconda atrás de materiais que são facilmente transfixados por um projétil, quanto mais sólida e rígida for a barreira melhor;

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. Ao ouvir o tiroteio não se deite em campo aberto, procure se rastejar atrás de uma coluna, pilar ou estrutura rígida de ferro ou aço, como vigas e atrás do carro na posição onde fica o motor; . Diminuía sua silhueta, lembre-se que quanto menor for o alvo menor a chance de acertá-lo; . Após se abrigar ligue para a autoridade policial; . Não saia do abrigo antes de ter certeza que o tiroteio tenha terminado, pois é comum haver interrupções dos tiros por até alguns minutos e em seguida iniciar novamente. Aguarde até que haja confirmação; . Não corra para áreas abertas; . Não se exponha na tentativa de filmar ou fotografar; . Mantenha-se em silêncio para não correr o risco de chamar a atenção do atirador; . Após o tiroteio certifique-se de que não esteja ferido, caso esteja ferido sua prioridade será solicitar socorro médico.

O que fazer se você ou alguém for baleado Você já pensou em como agir se fosse baleado? Infelizmente a maioria das pessoas só se preocupa com isso quando está ferida e pode ser tarde para se salvar. Recomendo 272

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seriamente que você faça um curso de primeiros socorros para lidar com situações urgentes, isso pode fazer a diferença para salvar sua vida e de muitas outras pessoas. Minha opinião é de que primeiros socorros deveria ser conteúdo obrigatório em todas as escolas. Tratando-se de ferimentos por projétil de arma de fogo, popularmente conhecidos como “bala”, a atuação não será focada em tratar ou diminuir a lesão, mas sim manter a vítima ou a si mesmo vivo até o atendimento médico profissional. . Acione imediatamente o socorre médico. As ambulâncias vêm equipadas com a infraestrutura mínima para um bom atendimento emergencial; . Informe todos os sintomas e sinais que a vítima tiver. Quanto mais informações os profissionais tiverem, maiores serão as chances de um atendimento rápido e preciso; . Espere pela ambulância ao invés de tentar ir ao hospital. É melhor esperar no local do que tentar ir ao hospital diretamente. Há mais chances de ambulância chegar primeiro até você do que você ao hospital. Lembre-se que as ambulâncias conseguem ser rápidas no trânsito enquanto você ficará preso e ainda corre o risco de se envolver em um acidente. E se por algum motivo a ambulância se recuar a ir ou você não tiver como acionar o atendimento médico Talvez você pense que o atendimento não vai se recusar a ir. Grande engano, vou relatar um caso que aconteceu comigo 273

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quando eu tinha 16 anos. Meu pai e eu estávamos voltando a pé de um trabalho às 03h00 quando ele começou a passar mal e pelos sintomas rapidamente entendi se tratar de uma parada cardíaca. Fui correndo até um orelhão na esquina, pois naquela época quase ninguém tinha celular e ao ligar para emergência o atendente achou que era um trote. Uma ligação de um adolescente às 03h00 realmente é suspeito, embora eu tenha ligado mais cinco vezes, o atendente não acreditava em mim. Foi quando percebi que meu pai estava em um momento crítico e então inicie os primeiros socorros fazendo a massagem cardíaca. Neste meio tempo corri até o orelhão mais uma vez e ligue para minha casa e solicitei que minha mãe ligasse para a emergência, pois eles não acreditavam em mim. Retornei e antes da chegada da ambulância tive ainda que repetir os procedimentos de emergência por mais duas vezes. Posteriormente o médico me disse que o socorro que prestei foi determinante para que meu pai sobrevivesse até o atendimento no hospital. Então, como já dissemos, existem maus profissionais em todos os lugares, por isso esteja preparado para fazer o que estiver ao seu alcance. Algumas dicas importantes: Analise o estado geral da vítima . Observe se as vias aéreas da pessoa estão desobstruídas; . Observe se a vítima está respirando, se não estiver, inicie a ressuscitação cardiopulmonar;

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. Observe os batimentos cardíacos, se não tiver, inicie a ressuscitação cardiopulmonar; . Observe há alguma fratura exposta ou deformidade de membros; . Observe quais e quantas lesões foram causadas pelo projétil; Com todas essas informações você poderá agir de forma mais eficiente. Lembre-se que o ideal é não mover a vítima por causa dos riscos de lesão à coluna, portanto só a mova se for realmente necessário. Com a vítima tendo batimentos cardíacos e respirando normalmente, o foco agora será a contenção de hemorragias externas ou internas. Lembre-se que o quanto de sangue a vítima perde vai determinar se ela viverá ou não.

Ferimentos nos membros inferiores causados por tiro Nos membros inferiores se localizam artérias de grosso calibre que se rompidas geram severas hemorragias que podem matar em menos de cinco minutos. O torniquete é uma opção para controlar a perda sanguínea. Você pode improvisar e usar um cinto ou tecido que possa ser amarrado diminuindo o fluxo de sangue para o local. Ao identificar um sangramento causado por um disparo utilize um pano para fazer uma pressão suave sobre o local do sangramento. Não tente colocar o pano dentro da ferida, apenas pressione de forma suave. Caso o pano fique encharcado de sangue não o troque, simplesmente coloque outro pano por 275

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cima dele, isso auxiliará na coagulação sanguínea. Vá acrescentando quantos panos forem necessários sem remover os anteriores. Caso a vítima continue a perder muito sangue, você precisa considerar a possibilidade de quebrar a regra de não movimentar a vítima e trocá-la de posição para outra que diminua o sangramento ou terá de fazer a compressão manual das artérias. Mover a vítima é arriscado, porém quando se nota que a perda de sangue é excessiva essa pode ser a única chance de salvá-la. Neste momento você terá de tomar uma decisão, inclusive considerar tapar a artéria rompida com seu próprio dedo. Lembre-se que você estará sujeito a série de doenças contagiosas. Vítima em Estado de Choque Alguns sintomas revelam se a vítima está entrando em Estado de choque . Vítima sente frio. Se for possível cubra-a com um cobertor ou pano; . Extremidades e lábios arroxeados; . Pulso fraco; . Pupilas dilatadas; . Sudorese; . Respiração agitada; . Náuseas ou vômitos. Caso a vítima apresente esses sintomas afrouxe suas roupas no pescoço, peito e cintura, se não piorar o sangramento eleve as pernas em relação ao corpo. Fique atento a 276

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sangramentos ou vômito pelo nariz ou boca, se houver deite a pessoa de lado para evitar sufocamento. Monitore os sinais vitais constantemente, pois devido a gravidade das lesões é muito provável que ela para de respirar ou tenha uma parada cardíaca e você terá de fazer a ressuscitação.

Hemorragia interna Quando se trata de lesão por disparo de arma de fogo é comum que a vítima apresente hemorragia interna, pois o projétil normalmente causa três tipos de ferimento: Penetração (perfuração na pelo que pode ser um pequeno furo), cavitação (lesão causada pelo impacto) e a fragmentação (dano causado pelos pedaços do projétil que se estilhaçam dentro do corpo. Observe se a pessoa apresenta os seguintes sintomas: . Mucosas, em especial, olhos e boca esbranquiçados; . Extremidades arroxeadas; . Tontura; . Sede. Havendo suspeita de hemorragia interna deite a vítima com a cabeça mais baixa que o corpo e se possível coloque gelo no local para que haja uma vasoconstrição e assim reduza o sangramento. Não tente remover o projétil ainda que ele esteja visível, pois ele pode estar pressionando alguma artéria e sua remoção vai aumentar o sangramento. Não deixa a pessoa tomar nenhum líquido e fique atento as suas funções cardíacas

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e respiratórias, pois há grande risco de uma parada cardiorrespiratória. Lesões em locais específicos Tronco Ferimentos no peito causados por projétil de arma de fogo normalmente atingem o pulmão e isso pode literalmente “sugar” o ar e causar atelectasia (um colapso pulmonar) que pode ser identificada pelo som de sucção, tosse, falta de ar ou espumação no sangue saindo da perfuração de entrada ou saída do projétil. Neste caso você deve identificar todas as perfurações existentes e pedir para que a pessoa solte todo o ar e em seguida tapar as perfurações. Braços Sangramento intenso necessita de uma ação urgente, faça um torniquete logo acima da ferida e coloque o braço da vítima acima do nível do coração para diminuir o fluxo sanguíneo no local do ferimento. Caso não for possível o uso do torniquete você pode pressionar diretamente a artéria braquial que fica no lado interno do braço próximo ao ponto do braço que quando abaixado toca seu corpo. Você saberá que está pressionando o local certo quando perceber a diminuição do sangramento. Uma vez encontrada, mantenha a pressão no local.

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Pernas Ao identificar um sangramento muito grande na perna você pode fazer um torniquete e elevar a perna da pessoa acima do nível do coração para diminuir o fluxo sanguíneo e consequentemente o sangramento. Na impossibilidade em aplicar o torniquete e se o ferimento for na parte superior da perna tente pressionar a artéria femoral. Para localizá-la pressione próximo à virilha na parte da frente e do meio da coxa. Essa artéria precisa de muita pressão, por isso vai ter que usar a mão inteira com firmeza. Caso o sangramento diminua continue pressionado, se não diminuir tente pressionar a virilha até achar o ponto. Se o ferimento for na parte inferior (panturrilha) pressione a artéria poplítea que se localiza na parte de trás do joelho. Cabeça Infelizmente não há muito que fazer além de tentar conseguir socorro o mais rápido possível. Observações extras . Não empurre para dentro os órgãos que por ventura saiam do corpo pelo ferimento; . Caso o órgão de desprenda totalmente do corpo, colete e refrigere-o em um recipiente com gelo enquanto aguarda a chegada do socorro médico; . Lembre-se de informar a equipe de resgate tudo o que você fez; 279

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. Não medique o ferido; . Não utilize remédios caseiros; . Não mova o corpo se a pessoa morrer.

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TRÂNSITO

Quem já não passou por um momento de stress no trânsito? Nossa rotina apressada e o número cada vez maior de veículos tornam o trânsito um local ideal para desentendimentos. Pense naquela fechada que você levou e que quase originou um acidente. Você se lembra como se sentiu? Você recebeu uma descarga de adrenalina em seu corpo e ficou muito nervoso, talvez tenha xingado, feito gestos vulgares ou pior, desceu do veículo e foi tirar satisfações. Todos nós estamos sujeitos a este tipo de sentimento de raiva durante um susto ou um acidente no trânsito, mas a 281

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grande questão é como podemos lidar com estes sentimentos e principalmente como nos defender de quem não sabe lidar com isso. Caso Real Motorista morre após briga de trânsito O motorista Murilo J. C. de 39 anos foi morto por traumatismo craniano após uma briga de trânsito com um motociclista. Segundo o delegado o laudo médico mostrou que haviam lesões em diversas partes do corpo do motorista, como cabeça, boca, pescoço, cotovelo e joelho. A Polícia Civil também ouviu uma pessoa que estava com Murilo no momento do acidente de trânsito. A testemunha afirmou que voltou ao local em que estava antes do acidente para avisar os amigos, mas quando retornou o motorista já estava morto. Uma testemunha que acompanhou toda a ação contou à polícia que o motociclista teria se exaltado e entrado em luta corporal com a vítima. Segundo a testemunha, que estava num carro atrás da moto antes de acontecer o acidente, Jean estava com a namorada n garupa da moto e ela machucou o pé com a batida. O motociclista ficou extremamente violento, arrancou o motorista do carro e bateu nele com socos e “capacetadas”. O Murilo bateu forte com a cabeça no chão e, mesmo no chão, o Jean ainda chutou a cabeça dele. Conforme apurado, antes da morte a vítima não esboçou qualquer reação e somente pedia para parar de apanhar— completa.

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Dicas de segurança: . Dirija defensivamente observando os retrovisores; . Ao perceber o semáforo em sinal vermelho à frente vá diminuindo a velocidade aos poucos ao invés de acelerar até ele; . Mantenha distância mínima de 03 metros do carro da frente ao parar em um semáforo, pois esse é o espaço de segurança para manobras rápidas evasivas; . Recuse pegar propagandas nos semáforos, pois ao abrir o vidro do seu carro você pode ser surpreendido; . Trafegue com as portas travadas; . Não carregue bolsas e objetos de valores no banco do carro, pois isso chama a atenção de criminosos oportunistas; . Quando estacionar não deixe objetos de valor nem à vista no interior do carro ainda que estejam vazias; . Instale um rastreador no veículo; . Instale um sistema de interrupção de motor para casos de roubos; . Não poste foto da sua placa nas redes sociais por causa do risco de clonagem da numeração; 283

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. Confira de tempos em tempos a condição do seu estepe. Muita gente se esquece de conferir e fica tempo demais exposto; . Mantenha a manutenção do carro em dia, desta forma você evita quebras inesperadas e evita parar em locais isolados e perigosos; . Evite estacionar próximo às saídas dos estacionamentos, pois os criminosos buscam uma fuga rápida e veículos próximos às saídas são alvos mais fáceis; . Tenha um celular ativo para fazer ligações de emergência em casos de acidente ou quebra do veículo, lembre-se que quanto mais tempo ficar parado mais risco estará correndo; . Não dê caronas. Ladrões se aproveitam do sentimento de compaixão da vítima e utilizam mulheres, crianças e até idosos como isca; . Cuidado ao seguir as orientações de GPS em grandes centros, muitas vezes eles te dão o caminho mais perigoso, como atravessar uma área de risco; . Fique atento a veículos que estejam te seguindo, em especial motocicletas com garupa; . Ao suspeitar que está sendo seguido dirija até um posto policial mais próximo, caso não haja, entre em algum estacionamento privado enquanto liga para a autoridade policial;

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. Carregue as chaves do carro em mãos ao se aproximar do veículo, não deixe para procurá-las depois; . Observe a presença de pessoas paradas próxima ao seu veículo quando estiver retornando. Caso suspeite de algo não pare e continue andando; . Instale as películas mais escuras que o código de trânsito brasileiro permitir para diminuir a visibilidade do interior do veículo; . Considere fazer um curso de direção defensiva; . Fique atento a pessoas paradas sobre pontes e viadutos, muitos crimes são cometidos por criminosos que arremessam pedras, pregos e objetos pontiagudos para forçar a parada do veículo e cometer o roubo; . Ao perceber um pneu furado tente permanecer rodando até um local seguro para estacionar; . Considere a possibilidade de adquiri pneus run flat que não murcham mesmo se o pneu furar, assim você evita o risco de ter de parar em locais perigosos; . Evite distrações dentro do veículo como uso de celular e dvd, lembre-se que tudo acontece muito rápido; . Esconda em seu porta malas: lanterna, faca e um celular prépago para usar em caso de emergência;

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. Evite parar o carro para atender e fazer chamadas, caso seja realmente necessário utilize o sistema de viva voz ou bluetooth; . Antes de desembarcar do carro verifique se não há alguma pessoa em movimentação ou ocultação suspeita, se desconfiar de alguém confie em seus instintos e vá embora;

Conheça as maiores causas das brigas de trânsito Mudança brusca de faixa O motorista está transitando normalmente, mas, de repente, faz uma mudança repentina e brusca de faixa. Isso normalmente acontece por desatenção do motorista que pode estar usando o celular, mexendo no som do carro ou com os pensamentos em outro lugar. O outro motorista que for “fechado” vai se sentir em risco de acidente e imediatamente terá seu ânimo alterado pelos hormônios do stress. Esse é o principal fator de acidente e brigas de trânsito com motociclistas. Motos são muito ágeis e muitas vezes são ocultadas pelos pontos cegos do carro. Buzinar continua e exageradamente Não é difícil encontrar pessoas que buzinam literalmente para tudo. Além de causar poluição sonora, o uso exagerado e indevido da buzina é um estopim para uma discussão. Tem também os motoristas que gostam de buzinar para fazer uma espécie de pressão nos outros veículos. Seja por uma reclamação, querer passar à frente ou outro motivo. 286

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Ficar parado em semáforo aberto Sinal verde. O primeiro carro na fileira hesita por um ou dois segundos para atravessar o semáforo e não demora a escutar buzinada dos veículos de trás. Um pequeno instante parado com o sinal verde não é perdoado. Esse atraso quase sempre ocorre pela distração do motorista. Dirigir muito próximo do outro veículo O motorista do carro de trás não respeita o distanciamento necessário. É como se ele quisesse pressionar o carro da frente a acelerar, mesmo que não esteja com pressa. Além de aumentar o risco de acidente, pois o motorista de trás não terá tempo de agir caso o veículo da frente precise parar rápido, vai causar nervosismo no motorista da frente que pode iniciar uma confusão. Estacionar em frente à garagem A motorista com pressa pensa: “vou parar aqui rapidinho” e então decide estacionar o carro na frente da garagem de outra pessoa. O morador que precisa sair ficará furioso o que pode acarretar uma séria discussão, danos ao veículo ou multa.

Não sinalizar as manobras É a não utilização da seta durante as mudanças de faixa, estacionamento ou virar o carro em outra rua. Muitos 287

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motoristas deixam de sinalizar e isso pode ocasionar acidentes ou, no mínimo, reclamação de um ou mais motoristas e, consequentemente, briga de trânsito. Dirigir em velocidade incompatível com a sinalização É o caso do motorista que dirige acima da velocidade permitida ou muito abaixo, normalmente menos da metade, o que também é uma infração de trânsito. Excesso de velocidade ou lentidão vai causar a irritação do motorista que está à frente ou que vem atrás. Uso inadequado da faixa da esquerda Motoristas dirigindo na faixa da esquerda de forma lenta e inadequada é mais um caso de brigas no trânsito. Mudança repentina na velocidade Nesta situação, tanto frear bruscamente, quanto acelerar desproporcionalmente pode acarretar sérios problemas, não somente uma briga de trânsito, mas também acidentes. Essa oscilação pode surpreender outros veículos mais próximos, o que aumenta o risco de batida e de discussões. Parar o veículo na faixa de pedestres Na pressa vários condutores insistem em passar quando o sinal está amarelo e não há mais tempo. Desta forma, param sobre a faixa e o pedestre precisa desviar dos carros. Uma briga de trânsito nesse caso é corriqueira. O mais seguro, em regra, é sempre para no sinal amarelo. 288

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Motos Temos aqui um caso delicado. As motos por serem muito ágeis e pequenas são constantemente surpreendidas pelos carros, seja pela falta de atenção do motorista, seja pelos pontos cegos do carro ou muitas vezes pela imprudência dos próprios motoqueiros que infringem as normas de trânsito.

A moto por ser mais frágil e por envolver acidentes mais perigosos faz com que os motociclistas se enfureçam mais facilmente. Basta um susto para que o motorista do carro se torne vítima de um chute no retrovisor ou de um ataque de vários motoqueiros que estiverem passando no local. E importante manter a máxima atenção durante as trocas de faixas e curvas olhando sempre atentamente nos retrovisores e fazer a mudança de forma suave para evitar o ponto cego.

Como agir em uma confusão de trânsito Se você não foi o responsável pelo susto ou acidente: . Respire fundo e controle-se;

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. Não abaixe o vidro para ofender o outro motorista, pois pode iniciar uma discussão que pode evoluir para um confronto físico; . Aceite a desculpa do outro condutor; . Entenda que ninguém provoca um acidente de propósito; . Lembre-se que você também já cometeu erros no trânsito em outro momento; . Aja como gostaria que a pessoa agisse com você; . Evite o uso exagerado da buzina, isso vai aumentar o stress entre os envolvidos. Use a buzina apenas de forma breve; . Caso haja colisão de maior gravidade verifique se seus acompanhantes estão feridos e em seguida se o outro condutor precisa de ajuda médica; . Sinalize a via para evitar que algum motorista distraído gere outro acidente; . Não persiga o veículo que tentar fugir após bater em seu carro, anote a placa e o modelo e faça o boletim de ocorrência; Se você foi o responsável pelo susto ou acidente: . Peça desculpas. É simples, mas surte um grande efeito, pois quem xinga muitas vezes se sente mal pela atitude após um pedido de desculpas;

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. Não revide as ofensas; . Faça cara de “paisagem”. Ao perceber que a pessoa não tem controle emocional e quer te xingar mesmo após o pedido de desculpas simplesmente aja como se não estivesse ouvindo as ofensas; . Caso a pessoa te siga para continuar a ofensa simplesmente a ignore e continue dirigindo normalmente; caso ela insista, dirija a um local seguro e chame a polícia; . Não desça do carro para discutir; . Durante um acidente no qual o outro motorista esteja nervoso, peça que se acalme, caso você tenha seguro do veículo informe imediatamente ao outro condutor, isso pode ajudar a tranquilizá-lo; . Mantenha uma distância física de pelo menos 02 metros do condutor que estiver alterado, caso ele tente se aproximar mande-o de se afastar; . Caso houver uma pequena colisão e o outro motorista descer do veículo alterado em sua direção trave as portas, erga os vidros e tire o seu cinto de segurança, mas permanece dentro do carro; . Ao identificar que está na iminência de ser agredido tente criar um obstáculo entre você e o agressor.

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O que fazer se estiver sendo perseguido por suspeitos em um veículo Você já pensou em como agir caso fosse perseguido por alguém em um veículo? Existem diferentes situações nas quais você pode ser perseguido e diante de cada uma você deve adotar medidas diferentes para manter sua segurança. Entenda que as perseguições podem acontecer pelos seguintes motivos:

Desentendimentos de trânsito Temos aqui uma ameaça e perseguição cujo perseguidor busca te confrontar fisicamente em virtude de alguma discussão ou ação iniciada momentos antes no trânsito. . Mantenha-se em movimento e não pare para discutir; . Deixe os vidros fechados e não revide as ofensas, pois isso aumentará ainda mais a discussão; . Caso a perseguição continue por mais de uma quadra dirija até um posto ou delegacia policial mais próxima;

Criminosos tentando te roubar ou sequestrar Nesta situação o criminoso quer roubar seu carro ou te sequestrar. Para que isso ocorra os criminosos precisam parar o seu veículo para ter acesso a você. 292

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. Posicione o veículo de forma que o criminoso não consiga te ultrapassar, posicione-se um pouco mais à esquerda para facilitar a ultrapassagem dos veículos da frente e se manter longe do alcance do carona; . Buzine para chamar a atenção das pessoas. Os criminosos não querem ser identificados e por isso odeiam serem vistos durante a ação criminosa. Ao ser perseguido buzine exageradamente para chamar a atenção dos outros motoristas que podem inclusive acionar a polícia; . Mantenha próximo a você um celular com discagem rápida para acionar a polícia rapidamente; . Evite dirigir em direção a um caminho desconhecido, pois você não saberá onde tem obstáculos ou se a rua é sem saída e acabará encurralado; . Dirija para o posto ou delegacia policial mais próxima; . Enquanto dirige abaixe a sua cabeça o máximo que puder; . Analise a situação e decida rapidamente se é mais seguro fugir ou para o veículo; Após a perseguição acione imediatamente a polícia militar e ofereça o máximo de informações possíveis para facilitar o trabalho policial, como modelo do carro e perfil físico dos criminosos.

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TRANSPORTES PÚBLICOS

Caso Real Durante assalto a ônibus, criminoso coloca arma na boca de passageiro

Um assalto a ônibus na manhã do dia 22 de abril de 2019 deixou passageiros em pânico, após uma das vítimas ter uma arma de fogo colocada na boca por um dos criminosos. Quatro homens cometeram o roubo, sendo dois maiores de idade e dois adolescentes. Os criminosos entraram no ônibus armados com uma pistola e facas e ameaçaram o motorista, cobrador e passageiros durante o crime.

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Os suspeitos levaram vários celulares, bolsas e o dinheiro do caixa. Como um dos celulares das vítimas tinha rastreador, policiais conseguiram deter os criminosos.

Dicas de segurança: . Sente-se próximo ao motorista quando houver poucos passageiros; . Deixe o dinheiro ou bilhete já em mãos antes de entrar no transporte público para evitar abrir a carteira na frente de outras pessoas; . Evite viajar sozinho em vagões de trem ou metrô; . Não abra a janela; . Carregue sua carteira no bolso da frente; . Carregue bolsas e demais pertences junto ao corpo na parte da frente; . Dê preferência em embarcar e desembarcar em pontos ou estações mais movimentadas; . Não deixe estranhos carregar suas bolsas ou pacotes;

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. Coloque suas bagagens no bagageiro do lado oposto ao seu, fique atento às paradas para que ninguém leve seus pertences; . Evite dormir durante o trajeto; . Evite o uso de fones de ouvidos e outros dispositivos que reduzam sua atenção; . Verifique previamente os horários de partida dos ônibus para não esperar muito tempo no ponto ou estação (você pode consultar pela internet e aplicativos de celular); . Prefira os pontos de espera que sejam mais iluminados e movimentados;

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VIAGENS

Caso Real Ladrões usam pedras e pregos para bloquear rodovias e assaltar motoristas Em 12 de novembro de 2018 os motoristas que passavam entre os quilômetros 318 e 325 das rodovias Anhanguera (SP-330) e Candido Portinari (SP-334 relataram assaltos após serem obrigados a parar os veículos. Segundo eles, os ladrões colocam objetos pontiagudos no asfalto para furar os pneus e forçá-los a encostar. Uma das vítimas, que prefere não ser identificada, diz que seguia de Araraquara/SP para Franca/SP quando percebeu que haviam tocos e laranjas espetadas com pregos no meio da rodovia. Como não conseguiu desviar, teve dois pneus furados e precisou parar. O motorista foi rendido por ladrões e foi roubado. 297

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“Estavam armados, chegaram já gritando para eu deitar no chão. Estavam em dois e tomaram meu celular. Começaram a mexer nos meus bolsos falando ‘cadê a carteira? ”. Eu falei: “está dentro do carro, com a chave no contato, pode levar tudo, pelo amor de Deus só não tira minha vida”, relata. Enquanto os assaltantes vasculhavam o veículo, o homem conseguiu fugir a pé pela rodovia. Desesperado, ele correu entre os carros e buscou abrigo no canteiro central, com a intenção de despistar os ladrões. “Eles tentaram sair com o carro, mas o pneu estava estourado. Eles andaram coisa de 100 metros e pararam o carro de novo. De lá entraram para o meio do canavial e ninguém viu mais nada. ” Dicas de segurança: . Prefira abastecer seu carro em postos com grande fluxo de pessoas; . Evite parar para abastecer no período da noite e em postos com a fachada com sinal de abandono; . Ande com o tanque de combustível sempre acima da linha da reserva para evitar ser surpreendido pela fala de combustível e ficar parado em um local deserto e desconhecido; . Faça a revisão do seu veículo antes de viajar para evitar quebras e consequentemente ficar exposto em um local isolado;

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. Carregue um GPS ou google maps para evitar se perder em locais perigosos ou ter de parar o carro para pedir informações a estranhos; . Evite viajar durante a noite, pois em caso de emergência ficará muito tempo isolado a espera de socorro; . Entre em contato com a empresa de revistas e jornais e suspenda a entrega pelo tempo que permanecer fora de casa; . Carregue em seu carro um kit de primeiros socorros; . Instale temporizadores nas lâmpadas em diferentes cômodos da casa os quais possam ter a iluminação identificada por quem está do lado de fora. Faça uma programação para que liguem por um tempo proporcional ao ambiente. Isso dará a impressão de que há pessoas dentro da residência se movimentando; . Carregue em seu carro equipamentos, como lanternas, faca e alicate multiuso para pequenos reparos; . Informe aos seus familiares mais próximos a sua rota de viagem e faça contato de tempo em tempo, pois em caso de emergência eles saberão orientar as autoridades com mais precisão; . Ao viajar de ônibus leve os pertences de valor com você e não no bagageiro inferior; . Não aceite ajuda de pessoas para carregar suas bolsas e mochilas que estejam no interior do ônibus;

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. Ao entrar no ônibus de viagem utilize o cinto e segurança obrigatório; . Quando estiver viajando de ônibus carregue sua bolsa pessoal com você sempre que fizer uma parada; . Quando possuir malas tente diferenciá-las com uma fita colorida ou outro meio que diminua a chance de alguém confundir e levá-la por engano; . Instale timer para ligar e desligar as luzes da sua residência durante o período que estiver ausente. Jamais deixe luzes ligadas ininterruptamente; . Não revele informações da sua viagem para pessoas que acabou de conhecer; . Leve apenas a quantidade mínima necessária de dinheiro em espécie, prefira usar cartões com limites baixos; . Tenha um cartão de crédito extra com limite baixo; . Durante a permanência no quarto do hotel não abra a porta para estranhos; . Ao chegar em um local novo peça informações ao gerente ou profissional do hotel sobre os locais mais seguros e informe-se dos ambientes que deve evitar; . Ao dirigir não pare para prestar ajuda a um carro “quebrado” se quiser ajudar ligue para a concessionária da rodovia ou para a polícia rodoviária solicitando ajuda; 300

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. Não dê caronas para nenhuma pessoa, seja mulher ou criança; . No aeroporto não aceite carregar as malas ou qualquer outro pertence para um estranho, criminosos utilizam este meio para tráfico de drogas; . Programe seus horários para não precisar esperar muito tempo dentro de rodoviárias;

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NOTAS FINAIS

Espero que este livro possa auxiliá-lo a prevenir e a agir contra situações de ameaças e de violências do dia a dia. Ficou claro que existem diversas estratégias que podemos adotar diariamente para minimizar nossos riscos e potencializar nossa capacidade de sobrevivência urbana. Autodefesa é uma capacidade que envolve esforço diário consciente de manter um padrão comportamental e mental mesmo quando tudo parece tranqüilo. Lembre-se que quanto mais atento você estiver, menores serão as chances de ser surpreendido por um criminoso. Quanto mais habilidades você conseguir desenvolver enquanto nada de ruim acontece, mais preparado você estará para reagir em uma situação de violência. Desejo muita paz e sabedoria a cada um que adquiriu este livro. Conte comigo para sanar dúvidas e também para me dar sugestões. Meus contatos estarão na parte final deste livro. Grande abraço, Shalom!

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https://g1.globo.com/sp/campinasregiao/noticia/2019/05/25/suspeito-preso-por-sequestro-emhortolandia-e-gerente-da-empresa-do-pai-da-vitima.ghtml Autodefesa: Contra o Crime e a Violência: Um Guia Para Civis e Policiais - Humberto Wendling https://www.nsctotal.com.br/noticias/laudo-confirma-causada-morte-de-motorista-apos-briga-de-transito-em-joinville https://brasil.estadao.com.br/noticias/geral,estudante-invadeescola-fere-a-tiros-9-pessoas-e-se-mata,20030127p472527 de janeiro de 2003 | 19h16 https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/ 2019/05/22/interna_cidadesdf,756622/durante-assalto-aonibus-criminoso-coloca-arma-na-boca-de-passageiro.shtml https://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u61747. shtml28/10/2002 - 17h55 http://g1.globo.com/pop-arte/cinema/noticia/2012/07/apostiroteio-em-batman-relembre-atos-de-violencia-em-salas-decinema.html https://g1.globo.com/sp/ribeirao-pretofranca/noticia/2018/11/12/ladroes-usam-pedras-e-pregospara-bloquear-rodovias-e-assaltar-motoristas-em-ribeiraopreto-sp.ghtml

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O AUTOR

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Wesley Gimenez é o fundador da Escola Krav Maga Caveira ®e do Sistema Caveira de Defesa Pessoal e Combate® com representação em dezenas de cidades em vários Estados do Brasil. É fundador do canal Krav Maga Caveira – Mestre Wesley Gimenez, MAIOR CANAL DO BRASIL NO YOUTUBE sobre defesa pessoal, artes marciais e krav maga com mais de 1.125.000 inscritos. Seus vídeos aulas possuem mais de 65 milhões de visualizações em mais de 49 países. Iniciou sua trajetória nas artes marciais em 1993 e treinou diversas modalidades de artes marciais e sistemas de defesa pessoal. Trabalhou por quase de 10 anos no sistema prisional de segurança máxima no Estado de São Paulo onde adquiriu experiência em confronto em ambientes confinados e técnicas policiais contra alvos de alto risco, bem como conheceu de perto a mente dos criminosos. O Mestre Wesley Gimenez fez 09 especializações internacionais em 07 países: Israel, Estados Unidos, Rússia, França, Inglaterra, Alemanha e Itália Ministra cursos e seminários por todo Brasil para civis e agentes de segurança que buscam aprimoramento técnico em defesa pessoal, sobrevivência e combate urbano.

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