O Tao Da Paz - Diane Dreher.pdf

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o TAO

DIANE DREHER

DA PAZ

Durante os muitos séculos de civilização, toda uma História correu paralela àquela narrada nos livros. Por não pertencer aos sistemas políticos e religiosos estabelecidos, essa História era mantida através de manuscritos e — principalmente — através da tradição orai. Mas ela existia, e seus personagens e heróis eram homens que buscavam respostas para as mesmas questões que os filósofos, cientistas e pensadores procuravam. Só que esta procura era feita de maneira muito pouco ortodoxa, pois envolvia coisas como Fé, Espírito, e processos mágicos. Por causa do seu isolamento, e por causa das respostas que desnorteavam mais que orientavam, essa História passou a ter uma lógica própria, diferente daquela a que estamos acostumados, e foi sendo cada vez menos aceita pela sociedade. Mas essa História persistiu e conseguiu chegar até aos dias de hoje, como se sua mensagem fosse destinada para o homem do final do século XX. De repente todos aqueles processos e descobertas passaram a ser aceitos. O pensamento de nossa civilização, esgotada com seus próprios processos, enfim, faz justiça aqueles homens e mulheres que — caminhando na obscuridade, lutando contra a sociedade estabelecida, enfrentando os preconceitos e a intolerância, aceitando o martírio — não deixaram que todo um processo de conhecimento se perdesse na noite dos tempos. A Série SOMMA, que a Editora Campus agora leva ao público, quer mostrar um pouco dessa História, e alguns dos resultados conseguidos.

o

TAO

DA PAZ

Paulo Coelho

www.therebels.biz www.therebels.com.br

SÉRIE SOMMA

DIANE DREHER Para todos os que buscam novos modelos de paz e percorrem esse caminho com emoção.

Guia para a paz interior e exterior Tradução Sonia Coutinho

Do original: The Tao of Peace Copyright© 1990 by Diane Dreher Portuguesa translation right with Sandra Dijkstra Literary Agency © 1991 Editora Campus Ltda. Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 5988 de 14/12/73. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros. Capa Otavio Studart Copy-desk Flavia Vasconcelos Composição DeskSys Revisão Katia Regina Alves Isabel Cristina Rodrigues Marcelo Balbio Projeto Gráfico Editora Campus Ltda. Qualidade internacional a serviço do autor e do leitor nacional. Rua Barão de Itapagipe, 55 Rio Comprido Telefone: (021) 293 6443 Telex: (021) 32606 EDCP BR FAX (021) 293 5683 20261 Rio de Janeiro RJ Brasil Endereço Telegráfico: CAMPUSRIO ISBN 85-7001-677-8 (Edição original: ISBN 1-55611-151-7, by Donald I. Fine. Inc, NY,N.Y.,USA) Ficha Catalográfica CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte. Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. D823t

Dreher, Diane O tao da paz: guia para a paz interior e exterior / Diane Dreher; tradução de Sonia Coutinho. — Rio de Janeiro: Campus, 1991. (Série Somma) Tradução de: The tao of peace. Bibliografia. ISBN 85-7001-677-8 1. Tao 2. Taoísmo. 3. Paz. I. Título. II. Série.

91-0208

CDD —299.51417873 181.09514 CDU —299.513 91 92 93 94 95 5 4 3 2 1

AGRADECIMENTOS

Tao ensina uma visão de vida como processo e este livro, sem dúvida, inclui-se neste caso. Durante os últimos vinte anos, muitos pacifistas partilharam comigo sua sabedoria e seu exemplo pessoal. Você encontrará seus nomes através de todas estas páginas e nas notas do final. Sou especialmente grata a Linus Pauling, Francês Moore Lappé, Norman Cousins, Mitch Saunders, Gertaide Welch e Gay Swenson pelas explicações e entrevistas, durante as etapas iniciais do livro. Gostaria de agradecer a minha agente, Sandy Dijkstra, e a Laurie Fox, da Agência Literária Sandra Dijkstra, por seu equilíbrio taoísta de profissionalismo com criatividade e apoio pessoal. Sou grata a Brad Bunnin por sua valiosa consultoria legal e a minha editora, Susan Schwartz, por acompanhar o livro até ficar pronto. Mike Yamashita fez a bela caligrafia e Miranda Gan, Richard Henry Gan, Paul Fong e Henry Chen ofereceram-se para dar indicações sobre os caracteres chineses. Gwilym Stover e Genevieve Farrow leram e criticaram os primeiros esboços do trabalho e Cory Wade emprestou seu ouvido de poeta à versão final. A todas essas pessoas e a meus amigos e colegas no caminho da paz sou profundamente agradecida. Os muitos grupos a favor da paz e do meio ambiente, que contatei durante o curso de minhas pesquisas, reforçaram minha

O

INTRODUÇÃO

crença no surgimento do novos modelos de harmonia e cooperação. No espírito da parceria, alguns dos procedimentos para a venda deste livro ajudarão a apoiar o trabalho que está sendo realizado a favor da paz pessoal e do planeta.

Por que os antigos apreciavam o Tao? Porque através dele Podemos encontrar um mundo de paz, Esquecendo um outro, de ansiedades, E assim possuir o maior tesouro do mundo. (TAO 62) 1

H

á séculos, os inquietos vêm encontrando a paz interior seguindo o Tao Te ching. Mais traduzido do que qualquer outro livro, com exceção da Bíblia, a obra de Lao Tsé, com suas cinco mil palavras, tem ajudado as pessoas a viver nestes tempos turbulentos, revelando a fonte profunda da paz íntima. Lao Tsé escreveu o Tao há cerca de vinte e cinco séculos como um guia para líderes. Na China antiga, a boa liderança significava viver bem, procurar o equilíbrio pessoal e a integração com os ciclos da natureza. Os ensinamentos de Lao Tsé assumem hoje uma importância especial, quando procuramos não apenas a paz de espírito, mas também a paz em nosso mundo. Buscando novos modelos da harmonia em tudo, desde a saúde holística, a psicologia e a física, até a ecologia e a ação social, as pessoas estão redescobrindo a sabedoria do Tao Te Ching. A paz, como percebeu Lao Tsé, é uma questão interior. Só quando encontramos paz dentro de nós mesmos podemos ver com maior clareza, agir com mais eficácia, cooperando com as energias que existem dentro e fora de nós, na construção de um mundo mais pacífico. O Tao ensina que nossas ações têm conseqüências de longo alcance e enfatiza a importância do equilíbrio e da relação íntima entre nós e nosso meio ambiente. Observando além das mutáveis marés das circunstâncias, reconhecemos os modelos de fluxo e

refluxo subjacentes à natureza inteira. O Tao ensina paciência, precisão e senso de oportunidade. Distanciando-nos dos problemas, descobrimos soluções. Aprendemos a parar de resistir e a fluir com os modelos naturais, trazendo maior alegria e harmonia para nossas vidas. O Tao conduz para fora, promovendo a ação bem-sucedida, isto porque, primeiro, conduz para dentro. Se procurarmos ver o que existe por trás do ruído e da agitação de nossas vidas, reconheceremos nossos ritmos interiores, que fazem parte dos abrangentes ritmos da natureza. Quando atendemos a esses ritmos, trazemos mais paz para nós mesmos e para nosso mundo. O título do Tao Te Ching enfatiza a relação vital entre paz interior e exterior. Ching significa simplesmente livro sagrado. Mas Tao quer dizer "O caminho", ao mesmo tempo trajetória e princípio de ordem. Tradutores explicaram a palavra como o princípio único que fundamenta toda a criação, as leis da natureza, a verdade e a fonte da vida inteira. O caracter chinês que corresponde a Tao* combina uma cabeça, que representa a sabedoria, com o símbolo que representa a caminhada. Uma tradução literal seria mais ou menos a de marcha pelo caminho da sabedoria, combinando teoria e práxis. A palavra Te significa virtude ou caráter. Seu símbolo chinês combina os signos correspondentes a "ir", "diretamente" e "coração". Transcendendo o conflito interior, Te significa viver autenticamente, de acordo com nosso verdadeiro caráter. Com a sabedoria do Te, combinamos intuição e compaixão; nossas ações são coerentes com nossos sentimentos mais profundos. O Tao Te Ching é o caminho que sai diretamente do coração. Lao Tsé escreveu que "a paz é o ponto para onde leva o caminho do qual ninguém pode desviar- se".² Esta nova discussão do clássico do Lao Tsé descreve o Tao como o caminho para a paz interior e exterior. Partindo de muitos trechos do Tao Te Ching, o livro apresenta as lições do Tao em ordem temática, começando com a paz de espírito, depois estendendo-se para fora, para o mundo a nossa volta. A primeira parte introduz os princípios taoístas do equilíbrio dinâmico, do crescimento cíclico, da unidade e da ação harmoniosa. A segunda parte mostra como a cooperação com esses princípios traz mais paz para nossas vidas. A terceira parte e a quarta descrevem os princípios que operam na natureza e em todas as nossas relações. A quinta parte demonstra como podemos usar as lições do Tao para construir um mundo mais pacífico. * Para diferenciar entre Tao, o título abreviado do Tao Te Ching, e Tao, o conceito, passei a grifar apenas o primeiro a partir deste ponto.

Aparentemente, o livro segue uma progressão linear, relacionando os princípios taoístas o indivíduo, a natureza e, depois, com a solução de problemas e a política. Pois o Tao ensina que a paz surge de indivíduos iluminados. E nos tornamos iluminados ao seguir os modelos da natureza. Transcendendo a organização linear, o Tao Te Ching descreve a vida como um processo unificado. Um tradutor atual chamou sua organização de "holográfica",³ cada capítulo refletindo a grande sabedoria do conjunto. Neste livro, também, cada capítulo faz eco à mensagem principal do Tao: nossa participação numa unidade abrangente, um processo muito mais amplo do que nós mesmos. Isto constitui, ao mesmo tempo, a jornada e o destino final, a chave para o Tao da Paz. As lições do Tao são explicadas através de analogias modernas e exemplos tirados da vida real, muitos deles de minha própria vida e de meu trabalho. Avaliações e exercícios pessoais ajudarão o leitor a aplicar essas lições a sua própria vida. O Tao é um caminho para a vida inteira, e eu também estou apenas começando. Quanto mais trabalho com seus princípios, mais percebo seu poder de liberar novas fontes de alegria e criatividade, novas soluções para todos nós. Sugiro que você leia este livro devagar, um capítulo de cada vez, aplicando as lições a sua vida, com a prática dos exercícios pessoais. Dê a si mesmo tempo suficiente para trabalhar com cada um deles. O Tao é um caminho de meditação e cooperação. Você pode querer trabalhar em alguns dos exercícios junto com um amigo ou amiga, ou membro de sua família, reforçando o que aprende e partilhando o caminho do Tao. Cada capítulo começa com uma citação do Tao Te Ching, que você pode usar como tema para meditação. Como essa mensagem se relaciona com você? E cada capítulo se encerra com uma afirmação que enfatiza sua união pessoal com os ensinamentos básicos do Tao. Este pode ser um instrumento poderoso para a transformação de sua consciência e para trazer uma paz maior para sua vida. Repita as afirmações em voz alta para si mesmo(a), pela manhã. Ou copie tudo e reveja o que escreveu durante o dia inteiro. O Tao ensina que a vida inteira é um processo. Nós e nosso mundo estamos nos desenvolvendo continuamente. Enquanto seguimos nosso caminho para o futuro, podemos sair do tumulto e do desequilíbrio e restabelecer nossa união com a natureza e com o próximo. O Tao nos oferece novas fontes de poder e inspiração, uma visão da paz para transformar a nós mesmos e ao nosso mundo.

SUMÁRIO

NOTAS 1. Minha própria versão do Tao Te Ching, Capítulo 62. A não ser que haja indicações diferentes, todas as citações do Tao no texto são minha versão e serão citadas por capítulo, para facilitar as comparações com outras traduções. 2. Lao Tzu: The Way of Life, trad. de R.B. Blakney (Nova York, New American Library, ©1955), capítulo 8, p. 60. Usado com permissão do editor. 3. R.L. Wing, introdução do tradutor e The Tao of Power. A Translation of the Tao Te Ching by Lao Tzu (Garden City, Nova York: Doubleday, 1986), p. 16. Ilustração da Parte 1. Te, virtude ou caráter, combinando os caracteres correspondentes a "ir", "diretamente" e "coração-mente". Uma pessoa com Te vive sábia, e autenticamente, expressando o poder do Tao.

PARTE 1 O CAMINHO: ANTES E AGORA

1

Capítulo 1 O Início da Jornada

3

Capítulo 2 Tao e Te

13

Capítulo 3 Princípios do Tao

27

Capítulo 4 O Caminho da Transformação

41

PARTE 2 O CAMINHO INTERIOR

51

Capítulo 5 O Caminho Começa em Sua Própria Porta

53

Capítulo 6 Como Enfrentar Seus Medos

63

Capítulo 7 Como Eliminar a Tensão

75

Capítulo 8 A Busca da simplicidade Capítulo 9 A Descoberta de Seu Centro Capítulo 10 A Explosão de Suas Dualidades: Yin e Yang Capítulo 11 Como Criar uma Alegria Maior na Vida

87

Capítulo 12 Harmonia Natural

241

PARTE 5

101

O CAMINHO DA PAZ

251

113

Capítulo 21 Resolução de Conflitos

253

125

Capítulo 22 Como Construir a Cooperação

271

133

Capítulo 23 O Tao da Comunidade

287

135

Capítulo 24 A Criação da Política Taoísta

303

Epílogo

319

PARTE 3

O CAMINHO DA NATUREZA

Capítulo 20 Ação Harmoniosa: Wu Wei

Capítulo 13 Ciclos Naturais

149

Capítulo 14 A Fórmula Taoísta para Solucionar Problemas

165

Capítulo 15 A Importância da Regulagem do Tempo

183

Capítulo 16 Como Transcender os Ciclos Hostis

191

Capítulo 17 A Liderança com o Tao

203

PARTE 4 O CAMINHO DA VIDA

215

Capítulo 18 Como Manter a Unidade

217

Capítulo 19 O Caminho do Amor

227

PARTE

1

O CAMINHO: ANTES E AGORA

CAPITULO 1

O INÍCIO DA JORNADA Uma árvore cuja copa você não pode alcançar cresce de uma pequena semente. Uma construção de mais de nove andares de altura começa com um punhado de terra. Uma viagem de mil milhas se inicia com um único passo. (TAO 64)

omo você começou sua busca de paz? Comecei a minha com o ativismo político, na década de 60. Meus amigos de universidade e eu fizemos manifestações e protestos, trabalhamos em prol da mudança social. Durante algum tempo, senti que os protestos me davam poder. Quando nos víamos no noticiário da televisão, sentíamos que nossa presença transformava as coisas. Nosso país até acabou se retirando do Vietnã. Mas, em meados dos anos setenta, a maioria de nós estava exausta e desiludida. Colocando todas as nossas esperanças em alguma causa distante, havíamos ignorado nossas necessidades pessoais. Muitos de nós até se indagavam quem verdadeiramente eram. Mergulhamos então no movimento em torno das potencialidades humanas, buscando alívio em grupos de encontro, banhos quentes, trabalho com o corpo e num colorido desfile de gurus. O Maharishi, Maharaji, Bhagwan e Wemer Erhard, todos eles vendiam um tipo diferente de paz interior. Esquecendo o conflito ao meu redor, eu ia dos grupos de Gestalt para os gurus ou para as terapias físicas. Depois de centenas de aulas, seminários e leitura de guias, tornei-me, massagista diplomada, ensinando ioga num centro de saúde holística no norte da Califórnia. Meus amigos e eu tentávamos com o maior empenho ser pacíficos. Mas faltava alguma coisa. O conflito permanecia.

C

3

A maioria das pessoas ainda está em guerra consigo mesma e umas com as outras. Vivemos estes tempos competitivos, de confrontos e crescentes frustrações, cheios de medo de não sermos "suficientemente capazes". Em casa e no trabalho, nossas vidas são muito estressantes. Nossa economia é perturbada, nosso futuro incerto e o índice de divórcio jamais foi tão elevado. Empenhados numa luta entre nossos ideais e a sombria necessidade, lutamos com a contradição entre o que somos e o que "deveríamos ser". Vivemos no país mais rico do mundo, mas somos cronicamente inseguros e defensivos. Todos os dias, desabam em cima de nós novas crises e conflitos, transmitidos pelos programas noticiosos da televisão e do rádio. Minha procura pessoal de um caminho levou-me ao Tao Te Ching, que oferece uma visão simples, porém abrangente, da paz pessoal e do planeta. No Tao, a paz interior e a exterior estão intrinsecamente relacionadas, como estamos relacionados com tudo, em nosso mundo. Em vez de esperar que o guru ou líder político certo nos traga a resposta, o Tao nos pede para assumirmos a responsabilidade por nossas vidas, seguindo seu caminho de ação e contemplação. Através de uma mudança de atitude, podemos começar agora mesmo a experimentar uma paz maior. Observando os modelos mais amplos, podemos tomar medidas eficazes, substituindo a competição pela cooperação, harmonizando-nos com os princípios naturais que são a base de toda a existência, desde a mínima célula ao mais vasto organismo social.

gado(a), aprisionado(a), oprimido(a), num beco sem saída, temeroso(a), infeliz. Não estou em paz nos meus relacionamentos. Sinto-me zangado(a), ressentido(a), ciumento(a), temeroso(a), ansioso(a), inseguro(a), entediado(a), num beco sem saída, limitado(a), manipulado(a), incompreendido(a), incapaz de me comunicar honestamente com as pessoas de quem gosto. Não estou em paz com minha família. Sinto-me culpado(a), zangado(a), entediado(a), inquieto(a), exausto(a), num beco sem saída, boicotado(a), manipulado(a), sobrecarregado(a) de obrigações. Não consigo ser eu mesmo(a), quando estou com eles. Não estou em paz com minhas finanças. Sinto-me pobre, ansioso(a), ressentido(a), limitado(a), esmagado(a) por contas e obrigações. Nunca há o suficiente para fazer o que eu quero. Temo não ter o bastante, ou me sinto culpado(a) pelo que tenho. Não estou em paz comigo mesmo(a). Sinto-me frustrado(a), culpado(a), confuso(a). Minha vida está cheia de conflitos. Nunca faço o que quero. Tenho medo de tentar. Adio tudo. Passo a vida agradecendo aos outros. Nunca realizo nada. Muitas vezes, sinto-me deprimido(a). Minha vida está compulsivamente cheia de trabalho, alimentação, compras, bebida ou drogas. Não sou suficientemente capaz. Não estou em paz com meu mundo. Sinto-me nervoso(a), ansioso(a), culpado(a), deprimido(a), quando penso no futuro. Tenho medo de criminosos, fascistas ou comunistas. Tenho pesadelos com a guerra. Tenho medo do amanhã, porque nos matamos com a poluição. Não há nada que eu possa fazer. Escondo-me por trás do cinismo ou da apatia. Sinto-me impotente para mudar meu mundo ou minha vida.

AUTO-AVALIAÇÃO Vamos começar por identificar todas as áreas possíveis de nossas vidas nas quais não estamos em paz. Será que alguma dessas declarações nos soa familiar? Não estou em paz com meu corpo. Ele entra em colapso, fica rígido de tanta tensão, mantém-se acordado de noite, dói, manca, sofre acidentes, apresenta falsos tumores, come em excesso, é louco por drogas ou álcool, sente-se desajeitado, gordo, magro, velho, fraco, impotente. Não estou em paz com minha carreira. Está cheia de estresse, tensão desapontamento, problemas, pessoas irritantes, prazos impossíveis de cumprir. Sinto-me nervoso(a), inseguro(a), zan4

COMO SE TORNAR UMA PESSOA TAO Qualquer que seja o conflito existente em nossas vidas, o primeiro passo no caminho da paz é mudar nossas atitudes. Segundo o Tao, o que importa não é a situação, mas a maneira como a percebemos. Uma pessoa Tao é alguém que reconhece os modelos da natureza e trabalha com eles. Seja qual for nossa formação religiosa ou origem nacional, nós nos tornamos pessoas Tao quando aprendemos a pensar em termos de totalidade, vendo nosso papel na unidade de vida, respeitando os ciclos naturais dentro e fora de nós. 5

As pessoas Tao solucionam naturalmente os problemas. Enquanto outras, muitas vezes, temem o conflito e a mudança, uma pessoa Tao percebe que o conflito é natural, que a vida constantemente desenvolve-se através de ciclos de mudança. As pessoas não-Tao percebem o mundo através de um dualismo redutivo, que as leva a se agarrarem ao status quo. As pessoas Tao percebem que a vida tem muitas opções. De forma criativa e habilidosa, fluem com a mudança, enxergando soluções além dos problemas. Integrados ao Tao, promovem uma paz maior em seu mundo. O USO DO TAO PARA SOLUCIONAR CONFLITOS Quando não estamos integrados ao Tao, muitas vezes nos tornamos defensivos, transformando problemas em jogos de culpa. Trabalhei durante um ano, durante meu período na universidade, como recepcionista de um consultório médico. Um dia, com o escritório cheio de pacientes, havia operários colocando tapetes nas salas de exame. O telefone tocava sem parar, pacientes entravam e saíam e, de repente, senti um cheiro de fumaça. Os operários, ao saírem para o almoço, deixaram o ferro quente ligado, queimando as tábuas do assoalho. Corri para a sala, puxei a tomada, coloquei o ferro em pé e voltei para minha escrivaninha. Então, a agitação começou. O médico sentiu o cheiro de fumaça e começou e gritar com as enfermeiras, que gritavam, por sua vez, com os atendentes do consultório. Fiquei observando seus rostos se avermelharem, as vozes se tomarem estridentes e defensivas. "De quem foi a culpa?", berravam. "Quem deveria ter ido inspecionar as salas de exame?" Fiquei pensando, sozinha, que diferença faz saber de quem é a culpa? A questão é solucionar o problema. O Tao ensina que: "Pessoas sábias procuram soluções; Os ignorantes só fazem atribuir culpas." (TAO 79) Em um grande número de conflitos, tanto interpessoais como internacionais, as pessoas ficam tão ocupadas, atirando a culpa nos outros e defendendo seus egos, que se esquecem de solucionar o problema — às vezes tão simples como puxar uma tomada. 6

A RESPIRAÇÃO COM O TAO Ficamos todos unidos ao Tao, experimentando uma profunda sensação de paz, na meditação, na comunhão com a natureza ou com alguém que amamos. Quando foi a última vez em que você teve uma experiência desse tipo? Quando nos vemos diante de um conflito, podemos alcançar a paz interior lembrando esse sentimento e nos concentrando em nossa respiração. • Relaxe, inspire profundamente e diga a si mesmo(a), ao inspirar: "Estou inspirando o Tao." Respire com esse sentido de paz e união. Deixe que isso flua pelo seu corpo. • Expire qualquer emoção negativa: medo, confusão, insegurança, tudo o que estiver perturbando você. • Quando se sentir relaxado(a), afirme: "Estou unido(a) ao Tao." • Em seguida, examine o conflito. O que criaria maior harmonia? O que faria, nessas circunstâncias, uma pessoa Tao? • Visualize a si mesmo(a) como essa pessoa, fazendo tudo o que for preciso fazer. Consiga uma visão clara do processo e sinta-se em paz com o resultado. Afirme para si mesmo(a), outra vez: "Estou unido(a) ao Tao." • Agora, aplique sua visão e aja, com base na infinita fonte de paz interior.

PARA EVITAR O FALSO DILEMA Há séculos, os taoístas vêem a vida como a síntese criadora de duas forças opostas, o yin e o yang. No Tao, toda a existência é criada por essa oposição dinâmica: "A vida inteira corporifica yin E abraça yang, Alcançando sua harmonia Através da união dos dois." (TAO 42) Quando reconhecemos esse princípio, evitamos cair no falso dilema, que limita nossas escolhas e uma alternativa em termos de ou/ou: certo ou errado, nós ou eles, ganhar ou perder, tudo ou nada. 7

Mas, muito freqüentemente, nossa visão se torna estreita em função do dualismo tão disseminado na cultura ocidental. Com nossas opções limitadas pelo reducionismo linear, percebemos a realidade como dois pontos opostos numa linha. Incapazes de encontrar uma síntese, ou de considerar outras alternativas, as pessoas não-Tao ficam presas na armadilha do falso dilema — ou/ou. Quando ingressei na universidade, meu namorado me fez uma proposta de casamento que continha o falso dilema. Ele estava próximo de sua formatura, preocupado com a carreira. "Se você me ama", disse, "vai sair da universidade e trabalhar, para eu poder me formar". Como podia ele me pedir uma coisa dessas, fiquei imaginando. Claro que eu o amava, mas também queria me formar. Será que eu precisava escolher entre o amor e minha vocação? Discutimos. Amor, disse ele, significava pensar no futuro dele, em nosso futuro juntos. Ele queria ser professor universitário. "Você está sendo egoísta", disse. Recusei-me a sair da universidade e fiquei zangada com ele por me pedir isso. Como podia desconsiderar meus ideais? Eu queria contribuir com alguma coisa para o mundo. Com os corações partidos, consideramos um ao outro muito egoístas e rompemos. Em nossa imaturidade, fechamos os olhos para as opções um do outro. Ele podia ter trabalhado durante um ano e economizado seu dinheiro. Podíamos ter ido juntos para a universidade, trabalhando meio expediente conseguindo bolsas de estudo. Aconteceu que ambos terminamos nossos doutorados e nos tornamos professores universitários. Algumas vezes, vejo o nome dele no boletim dos graduados. Mas há muito tempo nossas vidas tomaram rumos diferentes, porque o falso dilema nos cegou. EXERCÍCIO PESSOAL Quando você se descobrir lutando com um doloroso conflito interno, recue. Não se deixe apanhar pelo falso dilema. • Olhe além do conflito. Pergunte a si mesmo(a): "O que eu realmente gostaria de fazer?" Então, pense em todas as maneiras possíveis de chegar lá. • Debata o assunto com um amigo, que escreverá todas as suas respostas sem comentários. Mais tarde, você poderá decidir o que vai funcionar em seu caso. 8

• Ou pegue um pedaço de papel e escreva seu objetivo e todas as opções possíveis — por mais chocantes que sejam. Libere-se para ver as infinitas possibilidades diante de você. • Depois, reveja suas respostas, aceitando algumas possibilidades, descartando outras. Faça um plano de ação.

Sempre que se encontrar diante de um falso dilema, olhe além dele. Há sempre mais do que duas alternativas. Arranque as vendas impostas pelo hábito para revelar a sabedoria criadora do Tao.

A FORÇA DO BAMBU O Tao nos orienta com lições tiradas da natureza. Durante séculos, os calígrafos chineses pintaram o bambu como exercício espiritual. O bambu é gracioso, erecto e forte. Vazio por dentro, receptivo e humilde, curva-se com o vento, mas não se quebra. Flexíveis, habilidosas, abertas e novas possibilidades, as pessoas do Tao são fortes em qualquer situação. Evitando o orgulho e a rigidez, ajustam-se às mudanças da vida, harmonizando a elas seus próprios padrões de crescimento. As pessoas não-Tao só fazem resistir. O Tao nos diz: "Ao nascerem, todas as pessoas são brandas e dóceis. Ao morrerem, são duras e rígidas. Todas as plantas novas são macias e flexíveis. Ao morrerem, são quebradiças e secas. Quando estamos duros e rígidos, Associamo-nos com a morte. Quando estamos macios e flexíveis, Afirmamos uma vida maior." (TAO 76) A experiência mais arrasadora que muitas pessoas enfrentam é a de serem demitidas ou dispensadas. Uma pessoa não-Tao muitas vezes é destruída, fica incapaz de seguir em frente, superar a vergonha e a confusão. Muitas já caíram em séria depressão, chegando mesmo a cometer suicídio. O homem ou mulher do Tao vê a crise como uma oportunidade. Como o bambu, as pessoas Tao curvam-se e crescem, ajustando-se aos ventos da mudança. Olham para dentro de si mesmas, fazem um inventário de suas vidas e estabelecem novos objetivos. 9

Em 1986, dispensaram um grupo de mulheres quando a Bendel's, loja de novidades de Nova York, foi comprada por uma grande cadeia. O pessoal da Bendel's sentia orgulho de seu trabalho, de sua reputação de criatividade e habilidade. Algumas pessoas haviam trabalhado ali durante 30 anos e, para elas, a Bendel's tornarase outra família. A perda de tudo isso foi um choque profundo, mas dentro de poucos meses, aquelas mulheres começaram novas aventuras. As compradoras Joy DaRos e Yelena Dieterichs abriram butiques de sucesso, a editora de catálogo, Pat Tennant, tornou-se diretora dos Catálogos Monarch, a diretora de propaganda Jean Rosenberg, abriu três lojas de design e a presidente da Bendel's, Geraldine Stutz, tornou-se editora e presidente da Panache Press, uma divisão da Random Mouse. Em vez de sucumbir ao desespero, essas mulheres fizeram uma avaliação de suas vidas, estabeleceram novos objetivos e seguiram seus sonhos.

e uma agradável diversão, para contrabalançar meus estudos. Atendendo minha curiosidade, eu aproveitara uma nova oportunidade, exatamente na hora certa. O Tao nos encoraja a sermos espontâneos, a seguirmos nossas inclinações naturais, a continuarmos a aprender e observar os modelos mutáveis que existem dentro e em torno de nós. Lembrem-se, nada no universo permanece imutável. Somos almas em desenvolvimento.

Afirmação Agora sei que minha vida é pacífica e harmoniosa. Vejo os modelos mais amplos que existem dentro de mim e ao meu redor. Estou aberto(a) para novas descobertas. Afirmo a força do bambu. Sou uma alma em desenvolvimento. Estou unido(a) ao Tao. Respeito a mim mesmo(a) e ao processo. Estou em harmonia com a natureza e com todos os demais em meu mundo. Agora aceito uma paz maior em minha vida. E assim seja.

PERGUNTA TAO

Será que a crise em sua vida, na verdade, não é uma chance de avançar mais e concretizar algum sonho não realizado? Fique algum tempo sozinho. Examine-se internamente e saberá. Existe um velho ditado que afirma: "Quando uma porta se fecha, outra se abre." As pessoas Tao reconhecem essa porta porque estão abertas a novas possibilidades. As oportunidades muitas vezes aparecem quando seguimos nossa curiosidade natural. Quando eu era estudante na UCLA, notei que haviam inaugurado um novo restaurante, próximo de onde eu morava. "Restaurante e Casa de Gumbo do Coronel Beuregard, de Nova Orleans." Intrigada, atravessei a rua e dei uma espiada lá dentro, pela janela. O proprietário me deu uma olhada e perguntou se eu queria um emprego. Eu não queria, era assistente de pesquisa na UCLA. Mas, para satisfazer minha curiosidade, preenchi sua ficha e prometi que voltaria para experimentar a comida. Semanas depois, o orçamento da UCLA sofreu um corte e todos os assistentes de pesquisa foram repentinamente demitidos. Minha amiga Janette e eu estávamos sentadas em meu apartamento, pensando no que fazer, quando o telefone tocou. Era o proprietário do Coronel Beuregard's, perguntando quando eu gostaria de começar a trabalhar. Dois dias depois eu era a caixa, adorando um emprego que me dava a renda necessária, um jantar típico cinco noites por semana, 10

NOTA 1.

Algumas das idéias nesta auto-avaliação basearam-se no livro de Louise L. Hay You Can Heal Your Life (Santa Mônica, Califórnia: Hay House,© 1984), PP. 19-20. Usado com permissão do editor. Este livro é uma fonte excelente para a construção da auto-aceitação.

11

CAPÍTULO 2

TAO E TE Siga o Tao E viva em harmonia. Cultive o caráter (Te) E desenvolva seu mais elevado potencial. Te e Tao São o caminho da vida. Se abandonar qualquer um dos dois O Tao o abandonará. (TAO 23)

vida é dinâmica. Como um rio, ela flui constantemente, suas correntes formando novos modelos a partir dos elementos em interação. Seguir o Tao é fluir como um rio, reconhecer nosso papel num universo em contínua evolução. Com nossas correntezas pessoais — nossas ações e atitudes — contribuímos para o processo mais amplo. Esta é, talvez, a lição mais essencial do Tao: a de que temos o poder de mudar as coisas — em nossas vidas e em nosso mundo. Existe um antigo ditado metafísico: "O exterior corresponde ao interior". Renovamos nossa vidas externas com a transformação interior, com o desenvolvimento de um Te ou um caráter mais aperfeiçoado. Em chinês, Te significa poder pessoal, capacidade de ver claramente, de agir decisivamente, de estar no lugar certo na hora certa. Os antigos chineses chamavam as sementes de Te, porque elas têm o poder de brotar e gerar vida nova.1

Á

O QUE É UMA PESSOA TAO? Quando liberamos nossas potencialidades e fluímos com a natureza, tornamo-nos pessoas do Tao. Centralizadas, criadoras e dinâmicas, as pessoas do Tao são os homens e mulheres auto13

realizadores estudados pelo psicólogo Abraham Maslow. Como monges e místicos, escutam a voz interior e seguem o chamado de suas almas,2 demonstrando que elevações o espírito humano pode alcançar. As pessoas do Tao são flexíveis, espontâneas e otimistas. Têm um ativo senso de humor, um profundo amor pela vida. Sustentadas por sua fé em algo mais amplo do que elas mesmas, vão longe no trabalho criador e em serviços humanitários. Tornamo-nos homens e mulheres do Tao quando ousamos viver autenticamente e preencher nosso potencial maior. Como fazemos isso? Com o desenvolvimento do Te. TE SIGNIFICA VISÃO CIARA As pessoas Tao enxergam a si mesmas e ao seu mundo com clareza e sem ilusões. Te quer dizer buscar a verdade em todas as experiências, reconhecendo os modelos da natureza e os nossos próprios. A busca da verdade nos libera da pretensão: "Aqueles que sabem que não sabem Ganham sabedoria. Aqueles que fingem saber Continuam, ignorantes. Aqueles que reconhecem sua fraqueza Tornam-se fortes. Aqueles que ostentam seu poder Irão perdê-lo. Sabedoria e poder, Acima de tudo, são guiados pela verdade. Porque a verdade é o caminho do Tao."

acha da teoria dos gêneros de Northrop Frey? Já viu o novo livro sobre desconstrução?" Com o rosto vermelho de vergonha, Al ficava ali sentado, num silêncio constrangido, olhando fixamente sua xícara de café. Não apenas não lera os livros, mas também os autores eram completamente desconhecidos por ele. Criado como garoto de fazenda, em Iowa, Al era o único da família que tinha entrado para a universidade. Tirara notas decentes, sim, e freqüentara a Escola Estadual de Iowa, onde conseguira uma bolsa para estudar na Rutgers. Mas, com seus jeans desbotados, camisas quadriculadas e conhecimento limitado, ele ainda tinha um cheirinho de fazenda. Seus colegas pareciam muito mais sofisticados. Usavam paletós de tweed, liam o Times Literary Supplement e discutiam os críticos como se fossem seus amigos íntimos. Numa outra vez em que lhe fizeram essas perguntas, Al saiu caminhando sozinho, a refletir sobre o problema. Não estudara filosofia oriental, mas sua proximidade com a natureza dera-lhe a honestidade fundamental do Te. Te significa preferir a verdade ao próprio ego. Al percebeu que as perguntas eram um teste de verdade. Poderia mentir para proteger seu ego, ou aceitar cada pergunta como uma oportunidade para aprender. Al escolheu a verdade. Já sem constrangimento, respondia: "Não, eu não li esse livro. Será que você podia me explicar mais alguma coisa a respeito dele? "E, então, decidia se iria estudá-lo por conta própria. Quando se formou, Al começou a ensinar Inglês na universidade. Suas melhores qualidades continuam sendo sua honestidade, seu entusiasmo e sua capacidade de aprender. Seu exemplo encoraja outros e, com isso, ele se transformou num professor destacado.

(TAO 71) Muitas pessoas acham sinal de fraqueza admitir que não sabem alguma coisa. O Tao diz que é sinal de força, uma oportunidade para aprendei". Quando Al estudava na Rutgers, os outros universitários estavam sempre perguntando se ele tinha lido este ou aquele livro erudito. Na hora do almoço, durante o café, começavam as perguntas constrangedoras: "Já viu o novo livro de Stanley Fish? O que você 14

EXERCÍCIO PESSOAL

Da próxima vez em que se deparar com uma área de ignorância em sua vida, pense no que acontecerá se admitir que não sabe e pedir mais informações. A honestidade não apenas nos dá a oportunidade de aprender, mas também afasta a tensão do egoísmo defensivo, impede o conflito interior e nos traz a paz de espírito. 15

Lembre-se "Aqueles que sabem que não sabem ganham sabedoria". Os homens e mulheres do Tao buscam a verdade, acima de qualquer outra coisa. Não têm tempo para fingimento. TE SIGNIFICA AUTO-ACEITAÇÃO As pessoas Tao aceitam-se como são. Não desperdiçam sua energia com autocríticas. Na natureza, tudo é valioso, tudo tem seu lugar. Apenas os seres humanos sofrem de auto-estima baixa. Uma rosa, uma margarida, uma andorinha, um esquilo — tudo manifesta suas potencialidades de maneira diferente, porém bela. Cada forma tem sua própria expressão, cada flor seu perfume, cada pássaro sua canção. Martha trabalha até a exaustão porque não aprendeu a se aceitar. Morena atraente, ela começou recentemente sua carreira de socióloga, tendo feito o doutorado depois que os filhos cresceram. Implacavelmente autocrítica, Martha passa o dia inteiro encontrando-se com clientes, alunos e colegas, enquanto consome garrafões de Coca-Cola para se manter alerta. Depois, trabalha até tarde da noite, preparando relatórios, lendo ensaios, escrevendo palestras e artigos sobre temas de sua área. A agenda de Martha é sobrecarregada de compromissos. Ela raramente vê a família e há anos não tira férias. Quando tem alguns dias de folga, cai de cansada. Dormiu durante todo o feriado do Dia de Ação de Graças, sob o efeito de medicamentos, e passou a maior parte do Natal de cama, com dor nas costas. Qualquer colega de Martha dirá que seus cursos são excelentes, seu trabalho de primeira linha, mas ela vive com constante medo das críticas, esquecendo-se muitas vezes de suas próprias capacidades. Embora preferisse trabalhar com pessoas, ofereceu-se para fazer uma complexa análise estatística, porque parecia mais profissional. Agora, está presa a um trabalho que detesta. A compulsividade de Martha a impede, na verdade, de alcançar o sucesso que busca. Ela não só assume projetos que não lhe convém, mas também reduz sua criatividade, sobrecarregando-se de compromissos. Caso se aceitasse mais, Martha poderia ser mais saudável e ter mais sucesso. Como pessoa Tao, ela respeitaria seus próprios modelos permitindo que seus verdadeiros talentos se expressassem. Submeter-se a provas compulsivas só faz atravancar a vida da pessoa. Com a auto-aceitação, vem a paz. 16

"A pessoa Tao conhece a si mesma E não faz nenhuma exibição, Aceita a si mesma E não é arrogante." (TAO 72) A auto-aceitação traz humildade. A palavra chinesa para humildade, hsu, também significa vazio ou abertura. As pessoas Tao se expressam abertamente, sem fingimento ou pose. Como são concentradas, nem as críticas nem a lisonja as perturba. O julgamento dos outros não nos preocupa, quando sabemos quem somos. PERGUNTA TAO Muitas vezes, sentimo-nos inferiores porque nos ajustamos a algum estereótipo. Te significa sermos mais nós próprios, e não uma imitação de alguma pessoa. Indague a si mesmo: o que me toma diferente das outras pessoas que conheço? Qual é minha contribuição especial para esta vida? • Você é mais feliz dando uma tranqüila caminhada, sozinho(a), ou juntando-se a um grupo barulhento? • Você é uma pessoa que gosta de gente ou é mais contemplativo(a)? • Expressa-se com lápis, tintas ou linhas coloridas? • É uma pessoa prática, orgulhosa dos consertos que fez em casa e de seus projetos de construção? • É músico(a)? Matemático(a)? Bom (boa) nos números e nas finanças? Cada um de nós tem algum talento, que nos torna únicos. Qual é o seu? Identifique e alimente essa sua parte, realizando hoje uma atividade especial.

TE SIGNIFICA DISTANCIAMENTO As pessoas Tao são distanciadas e não gostam de julgar os outros. Agem com clareza e precisão, porque não perdem tempo criticando o próximo. 17

"A pessoa Tao, distanciada e sábia, Abraça tudo como Tao." (TAO 49) Minha amiga Genevieve Farrow é superiora de uma ordem religiosa e conselheira metafísica. Gen tem mais de 70 anos, mas parece muito mais jovem. Anos de leituras religiosas e meditação trouxeram-lhe serenidade e distanciamento. Ela cresceu na área rural de Minnesota, onde seus antepassados suecos estabeleceram-se no século passado. Aos doze anos, quando seu pai morreu e sua mãe sofria de uma doença cardíaca, Gen passou a cuidar da casa. A doença e a pobreza fizeram com que se voltasse para as questões espirituais. Aprendeu a se distanciar, a ver a si mesma como parte de uma totalidade mais ampla. Distanciamento não significa dar as costas ao mundo. Pelo contrário. Significa transcender o ego, interessar-se pelas coisas, mas não se deixar apanhar pela agitação cotidiana. Observando o panorama mutável da vida com paciência, aceitação e bom humor, Gen jamais critica os outros. Aceita-os como são, dizendo, simplesmente: "Estamos todos aqui para aprender". Muitas vezes, seu amoroso distanciamento proporciona exatamente o apoio de que as pessoas precisam para serem capazes de cuidar de suas vidas. Certo dia de outono, Gen caminhava pela rua, quando um rapaz maltrapilho pediu-lhe um cigarro. Enquanto outras pessoas teriam simplesmente passado adiante, Gen parou e respondeu: "Não, nunca aprendi a fumar". Depois olhou-o atentamente, com seus olhos azuis cheios de compaixão. Com a barba por fazer, sujo, sem dúvida ele vivia na ma já há algum tempo. Estava encurvado, e seu poncho verde surrado não dava para protegê-lo do frio. Nos pés, usava sapatos tipo clássico, marrons, sem cordões nem meias. Mas era jovem e forte. — Por que você não arranja um emprego e compra seus próprios cigarros? — perguntou ela. Ele tornou a olhá-la, surpreso por alguém lhe dirigir a palavra, e depois começou a contar sua história. — Bem, é que eu fiquei deprimido porque minha namorada me abandonou e, desde então, estava vagando sem rumo. Sua voz foi ficando mais fraca. Olhando para Gen, sentiu um clique na cabeça. 18

— Minha mãe mora perto daqui — disse. — Mas não quero incomodá-la. — Nenhuma mãe é incomodada pelo próprio filho — disse Gen. O rapaz fez um sinal afirmativo com a cabeça. Talvez ela tivesse razão. — Eu podia conseguir um emprego. Trabalhei como pintor de paredes — disse ele e, devagar, afastou-se. Parou, voltou-se e perguntou: — Quem é a senhora? — Meu nome é Gen Farrow — respondeu ela. — Meu nome é Victor — disse ele. Fez uma pausa por um momento, depois abraçou-a, repentinamente. — A senhora é maravilhosa — disse. — Muitíssimo obrigado. Acho que vou para a casa de minha mãe tomar um banho. Depois, saiu caminhando, com o corpo mais erecto e uma nova determinação em sua maneira de andar. Gen dera-lhe apenas alguns poucos momentos de atenção. Sem medo, sem culpa, sua preocupação e respeito por aquele rapaz perdido despertava nele algo profundo.3 Te é essa mistura de compaixão e distanciamento. Damos apoio emocional, mas respeitamos os direitos que os outros têm de encontrar seu próprio caminho. Nosso distanciamento livra-nos do medo, capacitando-nos a participar da grande harmonia.

TE SIGNIFICA FAZER, EM VEZ DE APENAS TENTAR Lao-Tsé nos ensina: "As pessoas Tao jamais tentam. Fazem." (TAO 48)4 As pessoas Tao jamais tentam. Não perdem tempo preocupando-se ou se esforçando. Elas ousam, assumem riscos. Vivem com compromissos. O terapeuta familiar Tom Suzuki ensina a seus clientes o caminho do Tao. Numa sessão de aconselhamento de grupo, uma mulher prometeu-lhe que tentaria comunicar-se de forma mais honesta com seu filho. — Tentar? — disse Suzuki, com uma voz baixa, rouca. Ele fez uma pausa, ergueu-se de sua cadeira e ficou em pé imóvel, diante de nós, com sua constituição compacta repentina19

mente cheia de poder. Parecia, de alguma forma, séculos mais velho, venerável, inescrutável, um mestre do Tao. Caminhando vagarosamente até o centro da sala, deixou cair sua caneta no chão. Abaixou-se repetidas vezes, tentando pegá-la. — Estou tentando, estou tentando — disse. Mas a caneta continuava no chão. Depois, endireitou-se e disse, secamente: — Não tente. Faça — e agarrou a caneta. A lição era clara: tentar é apenas um esforço pela metade. O esforço sem a intenção não pode ter sucesso. — As pessoas Tao jamais tentam. Fazem. As pessoas não-Tao contêm-se, não se esforçam plenamente, porque têm medo da mudança, medo de cometer erros. As pessoas Tao se arriscam. Aprendem fazendo. Te significa viver com compromissos, percebendo que a vida é contínua mudança, que até os fracassos nos levam para mais perto da verdade. No século passado, Henry David Thoreau mudou-se para uma pequena cabana, junto ao lago Walden, e explicou: "Fui para a floresta porque queria viver com vagar, ficar apenas diante dos fatos essenciais da vida, ver se podia aprender o que ela me ensinava, para não descobrir, quando fosse morrer, que eu não vivera. Te significa ousar viver com vagar. As pessoas Tao não têm tempo nenhum para tentativas a contragosto. PERGUNTA TAO Existe alguma área de sua vida na qual você anda se refreando, "tentando", em vez de fazer? • Caso afirmativo, pergunte a si mesmo o que aconteceria se você, realmente, se comprometesse. • Você teve medo do fracasso... ou do sucesso? • O que aconteceria, se você falhasse? • Que mudanças o sucesso traria para sua vida? • Pergunte a si mesmo se quer, realmente, continuar com essa atividade até o fim. • Se assim for, pare de tentar. Faça.

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TE SIGNIFICA PENSAR COM INDEPENDÊNCIA Te significa viver com a coragem de nossas convicções, transcendendo as normas sociais. As pessoas Tao não têm medo de pensar por si mesmas. Na antiga China, havia dois grandes mestres, Lao-Tsé e Confúcio. Confúcio era a favor de complicados rituais de etiquetas dever social. Ensinou a piedade filial, a reverência diante dos ancestrais e regras convencionais para os negócios, a política e os relacionamentos. Lao Tsé era contrário a regras rígidas e cortesia forçada, defendendo, em vez disso, o caminho do coração. Seguir o Tao significa viver compassivamente, intuitivamente, fluindo com o momento presente. O caminho de Confúcio modela as pessoas segundo as convenções sociais; o caminho de Lao Tsé nos libera para sermos mais autenticamente nós mesmos. Uma velha história conta que, certa vez, Confúcio visitou Lao Tsé e ficou confuso quanto à fonte de seu poder. Não era racional nem previsível. Confúcio entendia o poder nas asas dos pássaros, nas barbatanas dos peixes, nas pernas dos animais, que podem ser vencidos com setas, redes e armadilhas. Mas, disse ele, "Quem sabe como os dragões transpõem o vento e as nuvens, e chegam até o céu? Hoje, vi Lao Tsé, e ele é um dragão."6 Te é o caminho do dragão, no qual se deixam para trás velhas crenças, convenções e preconceitos. Atualmente, o caminho de Confúcio é forte. Pressões de todos os lados empurram-nos para que nos acomodemos; para que agrademos a nossos pais, família e amigos; ou para que capitulemos diante de alguma instituição. Te significa jamais nos perdermos num grupo, num emprego, num relacionamento. Fazer isso é perder o Tao.

OS MEIOS PARA EXPANDIR NOSSO EU As pessoas Tao não se subordinam a um grupo ou instituição. Expandem-se para fora, a fim de abranger a vida inteira. Transcendendo o ego, experimentam um parentesco espiritual com a vida inteira deste planeta. Lamentam quando alguém é prejudicado, alegram-se com o bem dos outros. Realizam sem maior esforço trabalho humanitário. 21

"Através da dedicação, Realizam-se plenamente." (TAO 7) Alguns empenham suas vidas na prestação de bons serviços, como fez Albert Schweitzer em sua clínica em Lambaréné. Outros coordenam serviços através de suas atividades profissionais. Norman Cousins, editor da Saturday Review, conseguiu cirurgias plásticas para as jovens japonesas feridas na explosão atômica em Hiroxima. Trabalhando junto a centenas de leitores interessados, levou as jovens de Hiroxima para a América, conseguindo alojamento, adoções e financiamentos. Hoje, essas mulheres levam vidas normais e produtivas. Depois da cirurgia, receberam tratamento de reabilitação e treinamento e iniciaram novas carreiras. Na maioria, casaram-se e têm filhos. Sem as operações, seriam párias pelo resto da vida. Durante o tratamento, fizeram amizade com muitos americanos, outrora seus inimigos. O choque que um homem teve com a tragédia de Hiroxima ajudou a aliviar um pouco a discórdia entre nossas nações.

TE SIGNIFICA VIVER AQUI E AGORA As pessoas Tao não se assustam com fantasmas do passado ou espectros do futuro. Aceitam a dádiva de cada dia e aproveitam-na da melhor forma possível. "A pessoa Tao Vive plenamente a cada momento." (TAO 14) Nossa plena atenção é o ponto de poder do taoísta. Quando estamos inteiramente presentes, geramos uma tremenda energia. Porém, como é raro dar nossa inteira atenção a qualquer coisa! A maioria das pessoas passa seus dias em monólogos interiores cheios de preocupações, faz planos para o futuro, entrega-se à autocrítica. Mesmo enquanto escutamos o que os outros dizem, estamos ensaiando nossas respostas, recuando mentalmente para o passado ou nos preocupando com o dia de amanhã.

TE SIGNIFICA FÉ NA VIDA

EXERCÍCIO PESSOAL

As pessoas Tao têm uma reverência pela vida, uma fé no processo mais amplo. Esta fé as sustenta, afirmando o poder de suas ações. Se Norman Cousins não tivesse fé durante o projeto de Hiroxima, as jovens não teriam tido a chance de uma vida melhor. Se Albert Schweitzer duvidasse de si mesmo, teria permanecido na segurança de seu lar na Alsácia, sem jamais se aventurar pela África para cumprir seu destino. Sustentadas por sua fé, as pessoas Tao não temem a mudança, tampouco se rendem à adversidade. Os complexos problemas de nosso tempo induzem-nos ao pessimismo, mas o pessimismo traz a paralisia moral. Portanto, não nos serve. Norman Cousins disse, certa vez: "O pessimismo é uma perda de tempo". Temos de acreditar que somos capazes de mudar as coisas. Agindo com essa crença, tornamonos pessoas do Tao.

Podemos desenvolver o Te praticando uma maior presença. Tenha como objetivo, hoje, dar plena atenção a alguma coisa durante pelo menos meia hora, seja um contato com um amigo, uma caminhada ou a execução de alguma tarefa doméstica.

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• Quando estiver com um amigo, ouça realmente. Ligue-se nas palavras da outra pessoa, em sua linguagem corporal, no tom de sua voz. Esteja presente para captar as energias que fluem entre vocês. • Se estiver caminhando, olhe as árvores, o céu, as casas ao seu redor. Repare nas cores, nas texturas, no perfume das árvores e das folhas. E as pessoas que você vê? Os olhares de vocês se encontram? Que sons você ouve? Às vezes, uma simples caminhada pode ser tão poderosa quanto uma prece. • Se estiver em casa, aja com mais calma. Enquanto estiver fazendo a limpeza, observe os desenhos da vida na velha mobília de carvalho, a beleza de um piso de madeira-de-lei. Enquanto estiver fazendo uma salada, reconheça os desenhos da cada verdura. Como pequenos sóis, as cenouras têm raios que partem 23

de seu centro. Os tomates vermelhos e os pimentões verdes estão cheios de sementes de vida. Quando você está plenamente presente, plenamente alerta, pode aproveitar ao máximo cada momento. O Tao é aqui e agora.

TE SIGNIFICA ABRAÇAR ALEGREMENTE A VIDA As pessoas Tao têm mais energia porque saúdam a vida com entusiasmo. As emoções positivas — amor, alegria, humor—nos dão energia e ativam nossos sistemas de imunidade. A depressão apenas nos esvazia. Muitas pessoas escondem-se por trás da autodefesa, com medo de amar, de estender os braços para abraçar a vida. Porém, o trabalho de Gerald Jampolsky com doentes crônicos do Centro de Cura através das Atitudes mostrou que o amor elimina a dor e, muitas vezes, opera milagres. Jampolsky conta o caso de uma jovem chamada Colleen, que era cega do ponto de vista legal, pois sofria desde o nascimento de fibroplasia retrolental, um tipo de cegueira doloroso e progressivo. Infeliz e ressentida, ela ingressou num grupo de cura através de novas atitudes, no Centro. Lá, aprendeu a liberar seu ressentimento e crenças limitativas, passando a expressar mais amor pelo próximo. A dor acabou, à medida que ela passou a se sentir mais em paz consigo mesma e com seu mundo. Depois, lenta, miraculosamente, sua visão voltou. Seu oculista diz que jamais viu tal recuperação em ninguém com essa enfermidade. Colleen agora tem uma nova vida, cheia de felicidade. Trabalhando na área da saúde holística, ela ajuda outros a perceberem o poder curativo do amor.

hospital, tomando vitamina C, comendo alimentos saudáveis e afirmando emoções positivas. Seu exemplo deu esperança a milhões de pessoas e ele trocou o mundo das edições pela profissão médica. Agora, é professor na escola de medicina de UCLA, onde partilha seu bom humor e abordagem positiva com alunos, pacientes e colegas. Como Norman Cousins, as pessoas Tao conservam seu senso de humor mesmo quando estão comprometidas com questões de justiça social. Será que isso é uma contradição? Não, é o caminho do Tao. As pessoas Tao jamais se angustiam com problemas, mas saúdam a vida com coragem, alegria e bom humor. O riso traz mais distanciamento ajuda-nos a ver as ironias da vida e a reconhecer a totalidade que nos ultrapassa. Para as pessoas não-Tao, a vida é uma luta constante, porque elas se levam demasiado a sério. As pessoas Tao podem rir de si mesmas. O Tao em si puxa a risada, porque desafia as convenções. Como nos diz Lao Tsé: "Quando uma pessoa convencional ouve falar do Tao, Explode em sonoras gargalhadas. Se não houvesse gargalhadas, Não seria o Tao." (TAO 41) PERGUNTA TAO

Há quanto tempo você ri mesmo de alguma coisa? Hoje, examine as pequenas ironias da vida e se divirta com elas. Comece a viver de forma mais espontânea. Faça alguma coisa apenas por divertimento. Veja um filme engraçado, tire uma folga para se divertir. E lembrese de partilhar sua alegria com os outros. Entregue-se ao entusiasmo, aos cumprimentos, às surpresas. Dê a todos um impulso de energia, sendo mais entusiasta você mesmo(a).

O TAO DO RISO

Afirmação Já nos tempos de Aristóteles, as pessoas no mundo ocidental perceberam que o riso libera a tensão. Pode até curar doenças "incuráveis", como demonstrou Norman Cousins, em Anatomy of an Illness (Anatomia de uma doença). Muitos sabem como ela ativou as energias curadoras de seu corpo, assistindo a comédias antigas no 24

Sei agora que minha vida é pacífica e harmoniosa. Manifesto um maior Te em minha vida. Vivo com alegria e empenho. Aceito a mim mesmo(a) e aos outros. 25

Expresso a mim mesmo(a) franca e honestamente. Entrego-me ao serviço humanitário. Não tento; faço. Respeito a mim mesmo(a) e ao processo. Harmonizo-me com a natureza e com todos os outros em meu mundo. Agora recebo uma paz maior em minha vida. E assim seja.

CAPÍTULO 3

PRINCÍPIOS DO TAO

NOTAS 1. R.L. Wing, The Tao of Power: A Translation of the Tao Te Ching by Lao Tzu (Garden City, Nova York: Doubleday, 1986), p. 9. 2. Em Ordinaty Peopleas Monks and Mystics (Mahwah, Nova Jersey Paulist Press, 1986), Marsha Sinetar descreve homens e mulheres modernos que escolheram vidas de contemplação, simplicidade e serviço comparando-os com os tradicionais monges e místicos. 3. Uma versão anterior dessa história apareceu em "A Strange Encounter", de Genevieve Farrow, em Science of Mind Magazine, maio de 1989, pp. 3-5. Usado com permissão da autora e do editor. Assinaturas: 15 dólares por ano (12 exemplares), com Science of Mind Publications, 3251 W. 6th St., P.O. Box 75127, Los Angeles CA 90075. 4. Minha versão inspirou-se em parte na tradução de R.B. Blakney, em Lao Tzu: The Way of Life (Nova York: New American Library, ©1955), p. 101: "But when you try and try, /The world is then beyond de winning." ["Mas, quando você tenta e torna a tentar, / O mundo fica, então, além da vitória."] Usado com permissão do editor. 5. Henry David Thoreau, The Variorum Walden. Ed. Walter Harding (Nova York: Waslhington Square, 1962), p. 67. 6. Witter Bynner, introdução do tradutor, The Way of Life According to Lao Tzu (Nova York: Putnam, 1944; reeditado em 1972), pp. 12-13. 7. Norman Cousins, Human Options (South Yarmouth, Massachusetts: john Curley and Associates, 1981), p. 66 8. Gerald G. Jampolsky, M.D., Teach Only Love: The Seven Principies of AttitudinalHealing (Nova York: Bantam, ©1983), pp. 56-59. Usado com permissão do editor.

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A maior sabedoria É seguir o Tao. O Tao é misterioso, insondável, Porém dentro dele está tudo aquilo que vive; Insondável, misterioso, Porém dentro dele está a essência; Nebuloso, intangível, Porém dentro dele estão os princípios vitais, Princípios da verdade Que guiam toda a criação, As lições da vida Inerentes ao Tao. (TAO 21)

uando reconhecemos a maneira de ser da vida e fluímos com ele, tornamo-nos pessoas Tao. Porém, muitas vezes, essa maneira de ser não é o que esperamos. O Tao nos diz que:

Q

"O caminho para a luz maior atravessa a escuridão. Seguir em frente dá a impressão de recuar. O caminho plano parece acidentado e escarpado, O poder maior, um vale de fácil acesso." (TAO 41) Nem tudo é o que parece. No início o Tao dá a impressão de renúncia. Para encontrar a paz, temos de abandonar nossos objetivos e valores? Na verdade, não. O Tao não nos pede para negar o que somos, mas sim para viver de forma mais criativa. O que parece rendição, na verdade, produz um maior sucesso na vida. As pessoas Tao têm sucesso porque estão em paz consigo mesmas. Livres do conflito interior, têm mais energia do que as outras. Nós também podemos alcançar isso, aceitando o mistério do Tao e vivendo de acordo com seus quatro grandes princípios, 27

a saber, a unidade, o equilíbrio dinâmico, o crescimento cíclico e a ação harmoniosa. A ACEITAÇÃO DO MISTÉRIO Seguir o Tao requer uma mudança fundamental na forma como enfrentamos a vida. Devemos parar de analisar, parar de tentar entender racionalmente o Tao. Como nos diz Lao Tsé: "O Tao que foi catalogado não é o Caminho eterno. Uma palavra que podemos definir não é a Palavra eterna. Wu, a eternidade, existia antes do céu e da terra. Nós a conhecemos como yu, a fonte de dez mil coisas." (TAO 1) O Tao não pode ser reduzido a nomes e fórmulas. É wu ming, sem um nome, porque é a fonte de toda a existência. Em seu infinito potencial criativo, o Tao é wu, eterno não-ser. Em sua existência criada, é yu, eterno ser. Mudando e se desenvolvendo eternamente, não é um nem outro: sempre ambos. Como o Tao, não podemos ser reduzidos a categorias. Cada um de nós existe em nosso atual estado de vida e em nosso potencial infinito. Somos tanto o que somos quanto o que poderíamos ser. Nisto está contida a força do wu: nossa ilimitada capacidade para o crescimento e a mudança. Saber que, a qualquer momento, podemos começar um novo ciclo de criação, podemos recorrer ao poder do wu em nossas vidas. Frank cresceu durante a década de 20 numa pequena fazenda do Kentucky. Filho único, ele era calado e sério, um garoto magricela e louro, com um sorriso ansioso. Seus pais eram filhos de imigrantes alemães; o pai era jardineiro, a mãe, uma católica praticante que falava de santos e ia à igreja duas vezes por dia. Os tempos eram difíceis, eles tinham pouco dinheiro e o jantar era, geralmente, café, kraut e batatas. Filho da Depressão, com dois serviços de entrega de jornais e uma porção de biscates, Frank tinha pouco tempo para brincar. Uma vez, economizou seu dinheiro para comprar uma luva de beisebol, mas sua mãe lhe disse que aquilo era tolice e fez com que a devolvesse. Aos 14 anos, planejaram sua vida. Deveria trabalhar 28

enquanto cursasse a universidade católica e ordenar-se padre, como sua mãe desejava. Nas longas tardes na escola, ela tentava concentrar-se, mas foi ficando cada vez mais inquieto. Olhando pela janela, ansiava por alguma coisa que não fosse a pequena sala de aula, as normas rígidas. Remexia-se na cadeira, com cãibras nas pernas, por causa das longas horas que passava à escrivaninha de madeira e ferro forjado. Observando-o, com seu longo traje negro, a freira o repreendia e ele ficava imaginando: "Será que devanear é mesmo um pecado?" Certo dia, enquanto trabalhava no campo, Frank viu um pequeno avião voando lá no alto. Elevando-se acima das copas das árvores, livre e desimpedido, o avião parecia acenar, enquanto virava as asas e descia em círculos. Frank deixou cair sua pá e começou a correr. Ouvira dizer que os pilotos davam aos garotos uma moeda de 25 centavos para cuidar do avião. Uma moeda de 25 centavos era muito dinheiro durante a Depressão. Mas ele não estava pensando em centavos enquanto corria pela poeirenta estrada rural. Não estava realmente pensando em nada. Sem fôlego, chegou à pequena pista de pouso, a cerca de quatro quilômetros de distância. O biplano amarelo vivo acabara de pousar. Com o motor ainda rugindo, seu aspecto era tudo aquilo que faltava a Frank. Poderoso e livre, podia cavalgar o vento, elevando-se bem alto, acima das casas estreitas com vigamento de madeira e do solo escuro do Kentucky. Frank estava frente a frente com wu. O potencial ilimitado que havia guardado dentro dele. Sentiu que tinha de voar. É claro que seus pais não entenderam. Seu pai estava satisfeito em trabalhar a terra, e a visão que sua mãe tinha do céu era bem diferente. "Que maluquice é essa de máquinas voadoras?", perguntou ela. "Se Deus quisesse que os homens voassem, teria dado asas a eles". A discussão continuou. Mas Frank continuou indo ao aeroporto para lavar os aviões e abastecê-los, qualquer coisa que lhe permitisse fazer pequenos vôos. Elevando-se acima da terra, no grande desconhecido, descobriu um mundo de possibilidades. Quando a discórdia em casa tornou-se insuportável, ele se mudou para o sótão do Serviço de Vôo de Louisville, onde foi adotado por atores ambulantes e pilotos da Primeira Guerra Mundial. Os dias eram longos. Ele ainda tinha suas entregas de jornais, em seguida a escola, depois a volta para o aeroporto, a fim de fazer 29

serviços extras e aprender o máximo que pudesse. Depois do pôr-desol, comia sua principal refeição do dia — uma tigela de sopa de feijão, com o maior número de bolachas grátis que conseguia arranjar na lanchonete do aeroporto, enquanto conversava com os pilotos. Com 16 anos, conseguiu seu brevê de piloto e apareceu numa matéria do Louisville Courier-Journalovi, que o destacava como o mais jovem piloto do Kentucky. Frank tornou-se instrutor de vôo e coronel da Força Aérea, pilotando tudo, de biplanos a hidroplanos, jatos e helicópteros de socorro, e deu a volta ao mundo várias vezes. Aos 72 anos, continua instrutor de vôo ativo, ainda cavalgando os ventos e mostrando o caminho a outros. Admiro-o por seu espírito livre e generoso, e sinto orgulho por ele ser meu pai. A vida de Frank Dreher demonstra que não precisamos ficar limitados ao que existe ou já existiu. Descobrindo o poder do wu, recorrendo a nosso potencial ilimitado, também podemos cavalgar os ventos de possibilidade maiores. EXERCÍCIO PESSOAL • Existe uma área de wu em sua vida que lhe acena, desafiando-o a se empenhar e desenvolver-se mais? • Para que direção conduz? Feche os olhos e visualize o que seria seguir esse caminho. Você fica entusiasmado com a perspectiva? • Caso afirmativo, pergunte a si mesmo: "Qual é o primeiro passo que preciso dar para chegar lá?" Faça uma lista desses passos e assuma o compromisso de dar o primeiro. Comece agora a liberar o poder do wu em sua vida.

COMO DESCOBRIR O WU NA INTUIÇÃO Estudos recentes do cérebro humano apontaram para uma área significativa de wu em nossa cultura. Os dois hemisférios cerebrais desempenham diferentes funções. O esquerdo controla o discurso, a análise, o pensamento lógico. O direito apreende simbólica e intuitivamente, percebendo o todo, em vez de partes isoladas. Durante séculos, a civilização ocidental enfatizou o pensamento da parte esquerda do cérebro, e passamos a desenvolver nossa capacidade para a ciência e tecnologia, enquanto praticamente rejeitávamos nossa capacidade intuitiva. Para a maioria de nós, a parte 30

direita do cérebro continua wu, uma fronteira de potencialidades escondidas. Explorar essa fronteira nos leva para mais perto do Tao. Lao Tsé nos diz: "uma palavra que podemos definir não é a Palavra eterna"(Tao 1). O Tao não pode ser definido, apreendido ou articulado pelo raciocínio da parte esquerda do cérebro. Mas isto não significa que não possa ser conhecido. Conhecemos intuitivamente o Tao, transcendendo os modelos de pensamento racional.

O PRINCIPIO DA UNIDADE "A pessoa Tao aceita o Um E vive em paz segundo seus modelos." (TAO 22)1 Segundo a psiquiatra Jean Shinoda Bolen, "quase todo mundo a certa altura da vida já teve uma experiência Tao", um relâmpago da intuição que nos leva para além de nós mesmos.2 Nesses momentos de inspiração, transcendemos nosso isolamento, alcançando a união com a vida em seu conjunto. Os poetas há séculos vêm escrevendo sobre essa experiência. Podemos encontrar nossa visão unificadora na natureza, no amor, na religião, na meditação, ou até na crise, mas em todas essas ocasiões estamos unidos com o Tao. Quando nossa percepção não é lógica, mas intuitiva, experimentamos um elo comum com toda a criação. Quando voltamos à consciência normal, lampejos dessa visão continuam conosco e nos servem de guia.

UNIÃO COMA NATUREZA Alcançamos a união com o Tao quando estudamos a natureza e olhamos para dentro de nós mesmos. Estas duas práticas estão intrinsecamente ligadas, porque nosso mundo interior reflete o mundo em torno de nós. Estamos unidos à natureza. Suas leis são nossas leis. O caracter chinês que corresponde a natureza, ou céu é igual ao que representa o homem apenas com duas linhas a mais. No pensamento chinês, fazemos parte da natureza, estamos intimamente relacionados com o céu, lá no alto de nossas cabeças, e com a terra, sob nossos pés. Ignorar esse elo, ou violar a natureza, é fazer mal a nós mesmos. 31

A civilização ocidental há muito ignora nossa união com a natureza, por causa de uma divisão da consciência ocorrida no fim do século XVII. A poderosa lógica de René Descartes e o método científico de Sir Francis Bacon levaram a um tremendo progresso tecnológico. Mas eles também nos deixaram com um perigoso dualismo, que nos separa da natureza e também uns dos outros. Durante séculos, separam nossas mentes de nossos corpos, os pensamentos dos sentimentos, a civilização da natureza, nós mesmos dos outros, transformando tudo em polaridades isoladas e em competição. A física moderna leva-nos de volta para o Tao, descrevendo o universo como um todo integrado que transcende a polarização. Os blocos básicos de construção da existência não são partículas infinitesimais de matérias, como antigamente se pensava, mas probabilidades, modelos dinâmicos de energia, nem partículas nem ondas, mas algo intermediário.³ O conceito de "ordem implícita", de David Bohm, descreve o universo como um holograma, no qual cada parte reflete e contém, o todo. A teoria da Matriz-S, proposta por Geoffrey Chew, descreve o universo como uma "teia dinâmica de eventos inter-relacionados". O mundo é uma Gestalt, com o todo infinitamente maior do que a soma de suas partes. Não mais satisfeita em entender a natureza através da análise de partes isoladas, a ciência tornou-se cada vez mais interessada nas relações entre essas partes. Focalizando modelos de energia interdependentes, a nova física oferece uma lição para as ações recíprocas dos seres humanos. Cada um de nós é mais do que nossos limites determinados pelo ego. Sabemos disso no momento em que entramos numa sala e sentimos suas sutis vibrações. Respiramos o mesmo ar, partilhamos a mesma energia com os outros que estão a nossa volta. A energia deles e suas atitudes, inevitavelmente, tocam as nossas. A vida não acontece em isolamento. Somos todos um, no Tao.

PERGUNTA TAO

Notei esses padrões quando entrei num spa local, para tratamento de saúde. Dos dois spas existentes em meu bairro, o primeiro transmitia uma sensação agradável, animada, positiva. Embora o equipamento fosse velho e as paredes precisassem de uma camada de tinta, as energias eram muito positivas. O outro lugar tinha um aspecto melhor, mas não dava boa impressão. Luxuosamente aparelhado, cheio de aparelhos de cromo reluzente, clientes atraentes e um pessoal de vendas dinâmico, a sensação que dava era de perturbação e desconforto. Tive vontade de sair, logo ao chegar. Sentindo que algo estava errado, fui para o outro spa. Um mês depois de minha visita, os proprietários do segundo spa declararam falência e saíram do negócio, deixando centenas de clientes sem qualquer compensação pelo título de "sócios vitalícios" que haviam comprado. Ainda gosto de ir para o spa que escolhi, e este, recentemente, adquiriu mais equipamento e ganhou uma nova e colorida camada de tinta.

LEMBRETE TAO

Torne-se mais consciente da atmosfera a sua volta. Reconhecendo os modelos sutis, intangíveis, você pode tomar decisões mais sábias em sua vida.

O PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO DINÂMICO "Ter e não ter motivam um ao outro. Dificuldade e facilidade se equilibram. O longo e o curto se completam. O alto e o baixo dependem um do outro. Altura de som e o tom juntos, compõem a harmonia. O começo e o fim se sucedem." (TAO 2)

Quando foi a última vez em que você experimentou as energias que existem além das fronteiras de seu ego? Qual foi a sensação que você teve ao entrar num escritório ou numa festa e se encontrar com muita gente desconhecida? Houve calor pessoal? Ansiedade? Hostilidade? Podemos sentir essas coisas, e realmente sentimos, o tempo inteiro. 32

O Tao ensina que a vida se compõe de opostos complementares: yin e yang. Yang é ativo, dinâmico, afirmativo; yin é tranqüilo, complacente, receptivo. Na natureza, yin e yang combinam-se em modelos com altos e baixos, montanhas e vales, turbulência e tranqüilidade. 33

Os lagos formados pela maré nas costas do pacífico são um exemplo perfeito. Quando as forças de yin e yang estão em equilíbrio, cada pequeno lago torna-se um minúsculo mundo com vida própria. Passei horas observando esses microcosmos de vida marinha, olhando os sargaços balançarem-se suavemente de um lado para outro, as anêmonas cor-de-rosa abrindo-se como flores viçosas. Caranguejos eremitas correm de um lado para outro e cardumes de pequenos peixes passam velozmente, cintilantes com a luz do sol da tarde. Todos os dias, a maré avança com novas fontes de água e nutrientes, proporcionando as forças ativas do yang. O recinto yin, formado pelos arrecifes, protege o pequeno mundo das ondas que se quebram. O equilíbrio é vital. Os lagos demasiados distantes das águas agitadas tornam-se estagnados, excessivamente yin. Próximos demais do yang da turbulenta arrebentação, outros lagos têm apenas areia e água, são agitados demais para conservar a vida. A natureza se renova através do equilíbrio dessas formas, porém, com muita freqüência, a sociedade moderna nos leva à exaustão, com atividade yang contínua. e frenética. Enquanto lutamos para adquirir mais, nosso comportamento agitado exclui a sabedoria do yin. Todos necessitamos de períodos de tranqüila reflexão, Um excesso de estase e, como os distantes lagos da maré, experimentamos a estagnação. Nossas vidas se tornam monótonas e sem graça. Sem o ativo yang que representa um compromisso com uma carreira, a vida fica demasiado yin para muitas pessoas aposentadas. Elas precisam encontrar novos interesses, novos desafios. Alguns conseguem isso iniciando outras atividades profissionais ou empenhando-se em trabalhos voluntários. Uma amiga minha afastouse recentemente de seu emprego de secretária, a fim de trabalhar em tempo integral pela paz. Antigamente, homens e mulheres eram divididos em papéis estereotipados. Os homens deviam ser yang : fortes, ativos, agressivos; as mulheres eram yin: passivas, complacentes, acalentadoras. Mas nem todo mundo seguiu a tradição. Há vinte e cinco séculos, o Tao condenava a rigidez dos papéis, declarando que não se trata de coisa natural nem saudável. Lao Tsé deve ter provocado algumas reações de reprovação, em seu tempo, ao dizer aos líderes masculinos que assumissem o yin, o vale, o caminho tradicional das mulheres. Mas ele sabia que o Tao transcende os extremos, afirmando a sabedoria da totalidade. 34

Ganhamos maior sabedoria e vigor integrando ambas as forças em nossas vidas. Se formos yang demais — ativos, sem papas na língua, perseguindo objetivos — podemos tornar-nos impacientes e pouco concentrados. Ocupados demais em fazer, cometemos erros, porque não escutamos durante o tempo necessário. Se formos sempre yin — escutando, esperando, acalentando, colocando as necessidades dos outros antes das nossas próprias — tornamo-nos tímidos, passivos e fracos. A pessoa Tao sabe quando deve falar, quando deve escutar, agir ou esperar. Equilibrando as forças interiores e exteriores, os homens e mulheres Tao são fortes e flexíveis, corajosos e sábios.

EXERCÍCIO PESSOAL

Reserve alguns minutos, agora, para entrar em contato com os opostos complementares de sua vida. • O quê, para você, é yang ativo? • O que é yin tranqüilo? • Se você passa seus dias trabalhando ao lado de uma porção de gente, em meio a muito barulho, como é que você se recobra? Como alimenta as tranqüilas correntezas do yin? • Se seus dias decorrem tranqüilamente, o que você pode fazer para colocar mais yang em sua vida? Quando dedicamos algum tempo para viver mais conscientemente, não reagimos de forma negligente ao nosso meio ambiente. Nossos dias são cheios de escolhas ativas, equilibrando as correntezas do yin e do yang numa harmonia maior.

O PRINCÍPIO DO CRESCIMENTO CÍCLICO "O movimento do Tao é de retorno, Em ciclos infindos. Submete-se e sai vitorioso, Cria as dez mil coisas, O ser do não-ser." (TAO 40) 35

Fazemos parte de um modelo universal de crescimento que se renova em ciclos. Movendo-se do dia para a noite, da primavera para o inverno, o yang ativo é inevitavelmente seguido pelo adormecido yin, que gera novo yang. A mesa de carvalho, as paredes ao seu redor, o teto acima de sua cabeça podem parecer sólidos, mas são, na verdade, formados por bilhões de minúsculas partículas que rodopiam em círculos de incessante energia, minúsculos universos independentes que evoluem continuamente. Da mesma forma, cada célula em nosso corpo muda sem cessar. Não somos as pessoas que já fomos. Todo ano, grande parte do tecido de nosso corpo se renova através da mudança metabólica. A dança da vida prossegue dentro de nós e a nossa volta. Nada no universo permanece imóvel. A sabedoria do Tao é reconhecer esses ciclos e harmonizar-se com eles. Freqüentemente, em nossa impaciência, ignoramos essa lição. Mexer com plantas serve como um lembrete para respeitar esses ciclos. Um ano, distraída com uma sucessão de hóspedes até o fim do verão, negligenciei minhas plantas. Em setembro, fui comprar sementes e fazer canteiros convencida de que a longa temporada de crescimento na Califórnia me daria tempo para uma boa colheita. O vendedor de sementes japonês sacudiu a cabeça. "É tarde demais para vagem e abóbora", disse. "Agora é plantar hortaliças de inverno — brócolis e cebola". Mas eu queria abóboras amarelas e vagens verdes. Os dias ainda estavam quentes, então ignorei o conselho e plantei algumas sementes que germinavam rapidamente. Quando as plantas nasceram, ri com meus botões e fiquei à espera de uma boa colheita. Dois meses depois, aprendi mais uma vez a respeito dos ciclos. As abóboras e vagens cresceram um pouquinho e depois morreram, atacadas por pragas e bolor. Precisavam dos longos dias de verão para frutificar bem. O Tao nos ensina a dominar nossa impaciência, a trabalhar com os ciclos. Nossos projetos, como as sementes que plantamos, têm diferentes estações. Alguns crescem, rapidamente. Outros demoram mais para germinar, e mais ainda para dar frutos. Nem toda a impaciência do mundo modificará o processo. Nossas vidas também têm seus ciclos. Algumas pessoas são de rápida florescência, chegam ao ponto culminante ainda na escola secundária e no começo dos vinte anos. Crescendo como pés de milho nos dias quentes de verão, chegam ao momento da ceifa numa curta temporada. 36

Outros crescem mais devagar. Observando os pés de milho subirem acima deles, muitas vezes desanimam, imaginando se colherão algo de valor. John Milton, poeta inglês do século XVII, escreveu um soneto manifestando seu desespero com o pouco que realizara até a idade de 23 anos. Mas aos 50 publicou Paradise Lost [Paraíso perdido], o maior poema épico em língua inglesa. Enquanto um pé de milho é ceifado numa curta estação, um carvalho leva anos para amadurecer. Mas, depois, eleva-se acima do milharal, com os galhos estendendo-se para o céu e dando frutos por muitas estações. Pés de milho, carvalhos, vagens ou brócolis: tudo o que vive tem seu ciclo, seu objetivo, faz parte do Tao.

PERGUNTA TAO Pare um momento para pensar nos ciclos de sua vida. Examine os modelos mais amplos. • • • •

Quais são os ciclos curtos? Quais são os mais longos? Que áreas você precisa cultivar mais ativamente? Onde você precisa ser mais paciente e respeitar o processo?

O PRINCÍPIO DA AÇÃO HARMONIOSA O Tao nos ensina a cooperar com os modelos naturais em nosso mundo. Este é o princípio da ação harmoniosa, ou wu wei: quando nos misturamos com as energias em torno de nós sem impor nossa vontade às outras formas de vida. Um bom jardineiro poda uma árvore cuidadosamente, para que o efeito seja natural. Quando caminha pelo bosque, uma pessoa Tao não deixa nenhum rastro e, principalmente, nenhum detrito. Caminhando de leve sobre a terra, os homens e mulheres do Tao vivem em harmonia com seu meio ambiente. Respeitando a natureza, não perturbam nem poluem. Respeitando suas próprias naturezas, as pessoas Tao não lutam contra seus padrões pessoais. Suas atividades e carreiras expressam harmoniosamente o que eles são. Viver o Tao é como trabalhar com madeira. Não se deve ir contra os veios. 37

Laura aprendeu essa lição quando começou sua carreira de artista comercial. Durante anos, sonhara mudar-se para San Francisco com seu noivo. Ele seria jornalista e ela, artista, e viveriam numa água-furtada com vista para a baía. Finalmente, surgiu a oportunidade. Don conseguiu um emprego no Chronicle de San Francisco. Depois de anos de aulas de arte na escola noturna, Laura deixou seu emprego de secretária em Los Angeles para ir em busca do sucesso. Ela tinha talento e formação para ser uma boa ilustradora comercial. Mostrando seu portfolio, conseguiu alguns empregos. Então, não pôde entender por que logo ficou profundamente deprimida. Todo dia, andava de robe de um lado para outro do apartamento, tentando animar-se, mas trabalhar em casa a deixava encurralada. Então, vestia-se e saía, carregando o portfolio de um diretor de arte para outro, mas isto não fazia com que se sentisse nem um pouco melhor. Ela amava Don, amava San Francisco e achou que amaria desenhar. Mas estava infeliz. Queria ir para casa. A questão não era o dinheiro. Laura tinha suas economias e Don ganhava bem. Mas sentia-se tão desenraizada e solitária que não conseguia trabalhar. Laura pensava com nostalgia no emprego que abandonara. Claro que era tedioso, mas sentia falta de seus amigos e dos pequenos rituais, as pausas para tomar café, as brincadeiras, os almoços. Tornando-se artista freelancer, Laura ia contra sua natureza. Extrovertida, com uma forte necessidade de estabilidade, correra atrás de um sonho romântico, que não combinava com seu temperamento. Finalmente, tornou-se artista gráfica numa grande firma de computadores, onde conseguiu as amizades e as estabilidades de que precisa. Agora, senta-se feliz diante da prancheta e desenha o dia inteiro, cercada por um alvoroço de pessoas e atividade.

• Descubra um canto sossegado onde possa ficar sozinho e observar os veios de uma mesa de madeira, uma escrivaninha ou qualquer outro móvel. • Relaxe seu corpo, liberando a tensão do dia com três respirações lentas e profundas. • Depois, corra os dedos sobre a madeira. Siga seus veios e linhas da vida. Tome consciência dos modelos de energia que a percorrem. • Saiba que você tem seus próprios padrões, enquanto o Tao flui através de sua vida. • Dê uma olhada na ponta de seus dedos, percebendo os veios, os modelos de energia que existem neles. • Feche os olhos, concentre-se em sua respiração e sinta a energia do Tao fluindo através de seu corpo. • Saiba que você é uma expressão única do Tao. Seus padrões não se parecem com nenhum outro. • Pergunte a si mesmo o que pode fazer, agora, para atender a seus padrões pessoais e viver mais harmoniosamente.

Seguindo o Tao e vivendo segundo seus princípios, você se tornará cada vez mais consciente das energias que existem dentro e em torno de si. Sua vida será mais natural, harmoniosa e pacífica.

Afirmação Sei que minha vida é pacífica e harmoniosa. Siga o Tao. Estou unido a tudo o que existe. Equilibro as forças do yin e do yang. Fluo com os ciclos da vida. Aceito as energias que existem dentro e em torno de mim. Respeito a mim mesmo(a) e ao processo. Harmonizo-me com a natureza e com todas as outras pessoas em meu mundo. Recebo agora uma paz maior em minha vida. E assim seja.

EXERCÍCIO PESSOAL

Viver o Tao significa tornar-se mais consciente de nossos próprios padrões e harmonizar-nos com eles. Lembre a si mesmo desses modelos, enquanto observa como é bonita a madeira natural. Com seus nós, redemoinhos e minúsculas linhas, cada pedaço é tão diferente do outro quanto uma impressão digital. Talvez seja uma impressão digital: a do Tao. 38

NOTAS 1.

Minha versão foi inspirada pela tradução de Tolbert McCarroll, The Tao: The Sacred Way(Nova York: Crossroad, ©1982), p. 47: "Therefore the 39

True Person embraces the One / And becomes a model for all." ("Assim e pessoa autêntica abraça o Uno e se torna um modelo para todos".) Usado com permissão do autor. 2. Jean Shinoda Bolen, The Tao of Psychology: Synchronicity and the Self (San Francisco: Harper and Row, 1979), pp. 95-96. 3. Para encontrar a melhor exposição sobre física e filosofia oriental, ver Fritjof Capra, The Tao of Physics: An Exploration of the Parallelo Between Modem Physics and Easlern Mysticism, 2a edição (Boulder, Colorado: Shambhala, 1983). Excelentes exposições em torno do dualismo cartesiano nas pp. 22-24 e das partículas-ondas e probabilidades na p. 81. 4. Fritjof Capra, The Turning Point: Science, Society and the Rising Culture (Nova York: Simon and Schuster, 1982). Exposição sobre a ordem implícita e a teoria da matriz-S nas pp. 92-93, 95-96.

CAPÍTULO 4

O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO Seguir o Tao com sabedoria e tranqüilidade Traz ordem para o mundo. (TAO 45)¹

caminho da transformação começa internamente. Renovando a nós mesmos, com a meditação diária, descobrimos uma fonte profunda de paz interior que cria uma paz maior em torno de nós.

O

A LEI DE CAUSA E EFEITO Nossos mundos interior e exterior estão intrinsecamente relacionados. Como explica o Tao : "Aqueles que se concentram no Tao Estarão unidos com o Tao. Aqueles que estudam seu poder Serão poderosos. Aqueles que se concentram no fracasso Certamente fracassarão." (TAO 23) Colhemos aquilo que cultivamos em nossas vidas. Como sementes, nossos pensamentos se enraizam em nossa experiência. Quando nos concentramos no poder do Tao, tornamo-nos poderosos. Quando nos concentramos no fracasso, fracassamos. Até 40

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nossos pensamentos não expressos afetam nosso trabalho, nossos relacionamentos, nossas vidas diárias. Em minha infância, freqüentemente passávamos as férias com membros mais afastados da família. Todo ano, minhas tias, tios e avós revezavam-se no preparo das ceias de Natal. O Natal em casa da minha avó era um banquete inesquecível. Com os olhos brilhando, ela corria para nos receber, usando um avental florido. O perfume dos temperos enchia o ar e seu amor dava um sabor especial a todos os pratos, desde o peru assado, com molho e recheio de broa de milho, ao cintilante condimento de uva-domonte e à picante torta de abóbora-moranga. Mas, numa das casas, o peru estava sempre seco, o molho e a sobremesa insossos, sem graça. Por quê? Aquele casal usava as mesmas receitas da família, mas alguma coisa ficava faltando. Anos antes, o casamento deles perdera a vida. Suas refeições refletiam o tédio dos dois — como, sem dúvida, as de minha avó refletiam seu tremendo amor pela vida. Nossas atitudes são poderosas e afetam continuamente nosso meio ambiente. Quando mudamos nossa atitude, mudamos nosso mundo. Por quê? Pelo fato de, no Tao, todos sermos um. Como diz meu amigo Joe Grassi, o mundo não é algo impessoal, que fica "lá fora",2 mas está tão próximo de nós quanto nossa respiração, tão imediato quanto nosso próximo pensamento.

Com sua atitude, construa um firme alicerce Da paz no Tao." (TAO 59) Muitos conflitos ocorrem quando não estamos vivendo com profundidade suficiente. Quando corremos freneticamente de um compromisso para outro, perdemos o contato com o Tao. Eu costumava ter conflitos entre meu trabalho e meus relacionamentos. Ao longo dos anos, as pessoas e situações mudavam, mas o doloroso modelo permanecia. Na véspera de um exame, meu namorado na faculdade gritava, zangado: "Você prefere estudar a ficar comigo!" Anos depois, quando eu tinha provas para corrigir, outros homens se queixavam. "Você se preocupa mais com seus alunos do que comigo". Dividida entre dois pólos em conflito, a cabeça e o coração, eu jamais estava em paz comigo mesma.

EM BUSCA DA UNIDADE

Podemos transformai" nosso mundo transformando nossa atitude. Isto não pode ser feito meramente lendo ou pensando a respeito da paz. Viver o Tao é mais do que um exercício intelectual. É a vida do coração. O caracter chinês hsin significa, ao mesmo tempo, mente e coração, a fonte de todos os pensamentos, sensações e motivações. Quando se segue o Tao, não há nenhuma divisão interna, nenhuma luta angustiante entre cabeça e coração. Encontramos a harmonia vivendo entusiasticamente.

Só transcendendo as polaridades, com uma visão mais ampla da totalidade, obtemos a paz. Chame-se a essa visão de Vida, Deus, Existência ou Tao. Tem muitos nomes. Emerson a chamava de Alma total. Além das diferenças superficiais, está o Um, que inclui todos nós. Homens e mulheres do Tao experimentam essa união através do exercício espiritual regular. Todo dia satisfazemos nossas necessidades físicas, comendo e dormindo a intervalos regulares. As pessoas do Tao também deixam um tempo para a renovação espiritual. Se negligenciamos nossos corpos, eles entram num processo de desequilíbrio e colapso. Se negligenciamos nossas necessidades espirituais, tornamo-nos emocionalmente desequilibrados e nosso mundo se divide em contínuos conflitos. Os momentos de reflexão permitem que nossas raízes mergulhem profundamente na fonte, bebendo do infinito poder e da sabedoria do Tao.

A VOLTA A NOSSAS RAÍZES

A PAZ COMEÇA NO ÍNTIMO

A VIA DO CORAÇÃO

O Tao nos diz: "Deixe que suas raízes mergulhem profundamente Na fonte. 42

Reservar um tempo para meditar pode parecer privilégio, quando vivemos num mundo de crise e conflitos. Mas é uma das coisas mais responsáveis que podemos fazer. 43

Quando estamos confusos e sem concentração, projetamos os conflitos interiores para o mundo ao nosso redor. Quando estamos em paz com nós mesmos, podemos ver com mais clareza, agir com mais eficácia. Estudos mostraram que os participantes do movimento para desenvolver as potencialidades humanas são mais responsáveis, socialmente, do que a maioria da população³. Sua busca de saúde e harmonia estende-se naturalmente de si mesmos para os outros. A serenidade que alcançam, com satisfação de suas necessidades espirituais, ajuda as pessoas Tao a manter suas vidas em ordem. Sem o constante desgaste causado pelas crises ou traumas espirituais, têm mais tempo para si mesmos e para as coisas em que acreditam. Equilibrados, responsáveis, em paz consigo mesmas, elas irradiam paz para todos aqueles que encontram.

A LIÇÃO DA TARTARUGA Existe um antigo ditado chinês: "A tartaruga sabe produzir energia, por isso pode sobreviver um século sem comida".5 Os antigos taoístas reverenciavam as tartarugas porque elas sabem quando se retirar para dentro de si mesmas, quando restabelecer sua energia. Assim, vivem até uma idade avançada. Os cascos das tartarugas — segundo se acredita, dotados de misteriosos poderes — eram usados para a adivinhação, tendo inspirado os desenhos dos hexagramas do I Ching. Podemos cultivar a paz interior seguindo a lição da tartaruga, reservando períodos diários para isolamento, a fim de alimentar a poderosa energia do Tao.

EM BUSCA DO SILÊNCIO A DEFINIÇÃO DA PAZ PARA NÓS MESMOS A meditação regular não só restabelece nossa harmonia interior e nossa energia vital, como nos proporciona uma verdadeira experiência da paz que buscamos. O Tao descreve a paz como aquele espaço interior, tão freqüentemente ignorado na pressa da vida moderna, sem o qual não existe ordem e nada, afinal, tem significado. "Trinta raios tem o cubo da roda; É o orifício central que a torna útil. Modele argila e faça um vaso; É o espaço interior que o torna útil. Abra portas e janelas para um aposento; São as aberturas que o tornam útil." (TAO II) 4 Cultivando esse espaço interior, tornamo-nos mais equilibrados, mais harmoniosos, mais úteis: pessoas do Tao. Não importa quem somos, podemos encontrar a paz no momento presente, dentro do padrão atual de nossas vidas. Não precisamos retirar-nos para um mosteiro. O espaço interior está aqui, tão próximo de nós quanto nossa respiração, tão íntimo quanto nossos pensamentos. Dentro de nosso cotidiano, como dentro da moldura de uma janela, da argila de um vaso, está nosso potencial para criar a paz. Encontramos a paz cultivando o espaço interior. 44

As pessoas Tao buscam períodos de silêncio. Gandhi mantinhase em silêncio durante um dia, uma vez por semana. Não importava o que acontecesse, ou quem fosse visitá-lo, ele passava aquele dia tranqüilamente, só se comunicando com os outros através da escrita. A maior parte de nós é incapaz de manter um dia inteiro de silêncio, mas podemos marcar períodos regulares de meditação. A cada tipo de temperamento corresponde uma forma de meditação. Algumas são complicadas, outras, simples e informais. Na alfagenética, as pessoas escolhem um número e vão fazendo devagar uma contagem decrescente, enquanto o relaxamento vem aos poucos. O biofeedback acompanha os processos do corpo através de máquinas. Na meditação transcendental, as pessoas centralizam a atenção num mantra pessoal. A psicossíntese usa imagens visuais e devaneios dirigidos. O guia espiritual Exmath Easwaren pede às pessoas que meditem sobre a oração de São Francisco. A escritora e conselheira Louise Hay simplesmente fica sentada em silêncio, esvaziando a mente, e pergunta: "O que é que preciso saber?" A respiração lenta e consciente centraliza nossa energia; palavras e imagens preparam o caminho. A mente acalma-se e canaliza-se para um nível bem mais profundo do que o ruído e a agitação superficiais. Depois da meditação, saímos renovados e reanimados, com a tensão eliminada, corações e mentes em paz. Estamos unidos com o Tao. Pode-se começar a meditar reservando-se para isso apenas quinze minutos por dia e, depois, estendendo esse tempo para atender às necessidades de cada um. Muitas pessoas têm a meditação 45

como sua primeira atividade matinal, outras a praticam no fim do dia. O ideal seria começar e terminar cada dia com meditação, mas o importante é meditar regularmente.

EXERCÍCIO PESSOAL: MEDITAÇÃO TAOÍSTA • Descubra um lugar tranqüilo, onde você não vá ser perturbado(a) Desligue o telefone, afrouxe o cinto, afaste todas as influências que possam distraí-lo(a). • Depois, sente-se no chão, ou numa cadeira de espaldar reto, mantendo a coluna ereta. Algumas pessoas gostam de deitar-se de costas. Se fizer isso, tente não dormir. • Feche os olhos e entre em sintonia com seu corpo. Sinta o peso de suas pernas na superfície embaixo de você, a pressão sutil que seu corpo exerce ao tocar de leve o mundo ao seu redor. • Respire devagar e profundamente, inspirando para dentro do abdome, o centro de seu ser. A cada respiração entre em sintonia com o poder do chi, a energia vital que flui através de seu corpo. • Concentre-se na energia que existe nos dedos do pé e, aos poucos, acompanhe essa energia pelas pernas acima, até o abdome e o coração. Depois, sinta como ela sai fluindo pelos braços e pontas dos dedos, das mãos, liberando toda a tensão neles existentes. • Respiração centralizada: Agora expire os conflitos, as preocupações, a dor, tudo aquilo que não o(a) deixa viver em paz. Sinta que tudo isso sai de seu corpo a cada respiração. Libere isso. Deixe ir embora. • Alternadamente, expire os conflitos e inspire paz, sentindo a nova energia que vem calorosa, revitalizadora, renovando-o(a). • Continue com essa respiração centralizada, até sentir-se profundamente relaxado(a). • A cada respiração, sinta mais intensamente a saudável energia chi fluindo através de seu corpo, formigando nos dedos dos pés e das mãos. Profundamente relaxado(a), diga a si mesmo(a): "Estou em união com o Tao". • Se pensamentos dispersivos cruzarem sua mente, afaste-os com tranqüilidade e afirme: "Estou em união com o Tao". • Se descobrir que está ficando sonolento(a), tente sentar-se, em vez de ficar deitado(a), lembrando-se de manter a coluna vertebral ereta. • Quando estiver preparado para parar, afirme, uma última vez: "Estou em união com o Tao". Aos poucos, abra os olhos, estique os músculos e saia da meditação reanimado(a), concentrado(a), e sereno(a). 46

COMO ESVAZIAR O CORAÇÃO Esvaziar o coração é uma importante prática taoísta, necessária para liberar tudo o que impede a paz interior. É preciso expirar todos os conflitos e tensões e depois afirmar: "Estou em união com o Tao". É impossível estar em paz com nós mesmos e, enquanto isso, em conflito com as outras pessoas. Liberando queixas e sentimentos negativos, recuperamos nossa própria paz de espírito.

MOMENTOS DE PAZ INTERIOR Esvaziar o coração e meditar regularmente aumentará sua força interior. Você se descobrirá mais equilibrado(a), mais em paz consigo mesmo(a) e com seu mundo. Você perceberá melhor as energias dentro e em torno de si. Como passa a senti-las com mais intensidade, às vezes as energias negativas dos outros podem desequilibrá-lo. Quando um colega de trabalho irritado despeja sua impaciência em cima de você, não há condições para sair às pressas e meditar durante meia hora. Mas você pode praticar uma das pausas curtas de paz interior mencionadas a seguir.

LIBERAÇÃO DE ENERGIA Para reconquistar sua paz de espírito, você pode fazer o seguinte em qualquer lugar, a qualquer hora: • Devagar, inspire, respirando profundamente, para dentro do abdome. • Expire completamente, liberando toda a dolorosa energia negativa. Diga a si mesmo: "Esta não é minha energia". E deixe que saia de você. • Depois, diga a si mesmo(a) "Estou em paz. Estou em união com o Tao."

LIMPEZA DA AURA A medicina chinesa dá grande importância à prevenção, e procura renovar as energias do corpo para afastar as doenças em 47

potencial. Há séculos, os curandeiros vêm usando a acupuntura e ervas medicinais para estimular os meridianos de energia vital. As energias negativas dos outros podem poluir a aura ou o campo energético de seu corpo. Quando sua energia é grande, a aura forma um forte escudo protetor, mas a energia negativa pode desgastá-lo, enfraquecendo seu sistema de imunidade. Quando você for atacado(a) por uma explosão de energia negativa, peça licença por um minuto. Vá sozinho(a) para algum lugar (um depósito ou banheiro servirão). Esfregue as mãos uma na outra, rapidamente. Depois, erga-as, formando um arco sobre a cabeça e, em seguida, faça-as descer pelos lados do corpo, enquanto visualiza a si mesmo cercado por uma branca luz curativa. Diga a você próprio(a): "Estou em união com o Tao". Anos atrás, quando eu trabalhava num escritório cheio de conflitos entre as pessoas, freqüentemente saía de minha mesa e ia lavar as mãos. Na verdade, estava limpando minha aura para manter meu equilíbrio pessoal.

ESCREVA UM DIÁRIO DA PAZ Outra prática útil é escrever um diário da paz. Comece agora e registre tudo o que surge em sua jornada interior. • Pergunte a si mesmo(a): "Onde, em minha vida, experimento a maior paz?" Escreva a resposta. • Agora, pergunte: "Que área de minha vida preciso trabalhar?" • Escreva sobre sua forma de enfrentar antigamente, os conflitos nessa área. • Agora, pergunte a si mesmo(a): "Como uma pessoa Tao enfrentaria esse conflito? Escreva a resposta da maneira mais detalhada possível. • Feche então os olhos e visualize a si mesmo(a) fazendo exatamente o que escreveu.

Use seu diário, nos dias seguintes, para registrar seus progressos, bem como as lições em que está trabalhando. À medida que você for seguindo o Tao, sua paz interior aumentará e o diário se tornará um registro valioso de seu crescimento espiritual. O Tao ensina que somos responsáveis pela paz em nossas vidas. Cabe a nós manter nossas energias em equilíbrio. 48

Quando fazemos isso, não apenas nós mesmos experimentamos uma paz maior, como também nos tornamos fonte de paz para os outros. O efeito de uma alma harmoniosa é irresistível. "Cultivado em sua alma O Tao traz paz para sua vida. Cultivado em sua casa, Traz paz para aqueles a quem você ama. Espalhando-se entre os amigos e vizinhos, Traz paz para sua comunidade." (TAO 54)

Afirmação Agora sei que minha vida é cheia de paz e harmonia. Reconheço o poder de meus pensamentos. Uso esse poder com sabedoria. Reanimo-me com a meditação. Descubro a fonte da paz interior. Manifesto minha paz aos outros. Respeito a mim mesmo(a) e ao processo. Harmonizo-me com a natureza e com todos os outros em meu mundo. Agora recebo maior paz em minha vida. E assim seja. NOTAS 1. Minha versão do Tao, Capítulo 45, inspirada na tradução de R.L. Wing de The Tao of Power (Nova York: Doubleday, ©1986), p. 45: "Clareza e imobilidade/Trazem ordem para o mundo". Usado com permissão do editor. 2. Joseph A. Grassi, Changing the World Within: The Dynamics of Personal and Spiritual Growth (Nova York: Paulist Press, 1986), p. 38. 3. Mark Satin, New Age Politics: Healing Self and Society (Nova York: Dell, 1979), p. 189. 4. Tradução do Tao, Capítulo 11, de Lao Tzu: Tao Te Ching, trad. de Gia-Fu Feng e Jane English (Nova York: Alfred A. Knopf, Inc., ©1972), p. 11. Usado com permissão do editor. 5. Lio I-Ming, Awakening to the Tao, trad. de Thomas Cleary (Boston: Shambhala, 1988), p. 12. 49

6. Louise L. Hay, You Can Hell Your Life (Santa Monica, Califórnia: Hay House, 1987), p. 95. 7. Henri Maspero, Taoism and Chinese Religion, trad. de Frank A. Kierman, Jr. (Amherst: Univ. of Massachusetts Press, 1981), p. 439. 8. Para maiores detalhes sobre pausas de paz interior e exercícios diários, ler, de Bob e Judy Cranmer, The Thirty Day Peace Diet (Cupertino, Califórnia, Right Brain Unlimited, 1988), disponível por 9.95 dólares, e mais 2 dólares para encomenda postal; pedidos a Right Brain Unlimited, P.O. Box 160484, Cupertino CA 95016-0484.

PARTE

2

Ilustração da Parte 2: hsin. O caracter que representa o coração-mente, centro de todos os sentimentos e motivações.

O CAMINHO INTERIOR 50

CAPITULO 5

O CAMINHO COMEÇA EM SUA PRÓPRIA PORTA Conheça o Tao Sem passar da soleira de sua casa. Veja o rosto dele Refletido na janela. Procurá-lo fora É deixá-lo para trás. (TAO 47)

caminho da paz começa com a auto-aceitação. Procurar a paz do lado de fora é deixá-la para trás. Por causa do princípio taoísta da unidade, quando aceitamos a nós mesmos, aceitamos aos outros, naturalmente. Sem autoaceitação, as pessoas vêem a vida como uma luta constante, brigando consigo mesmas e com os outros, em casa, no trabalho, nos relacionamentos. Sofrendo tremendos altos e baixos emocionais, esforçam-se para ganhar aprovação, mas nunca é o bastante, porque, bem lá no fundo, está escondido um incômodo senso de desajuste. Essas pessoas podem, com facilidade, perder o equilíbrio. Quando estão trabalhando para causas políticas, muitas vezes caem no fanatismo, dominadas por ilusões de poder e pela empáfia.1 Pondo em ordem nosso mundo interior, conquistamos uma paz maior. O caracter chinês hsien, que significa paz ou tranqüilidade, é formado por duas partes: uma porta fechada e a lua.2 Neste capítulo, fechamos a porta para os acontecimentos externos, a fim de aumentar a luz interior da auto-aceitação.

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O TAO DA AUTO-ACEITAÇÃO O Tao nos diz que: "A pessoa Tao conhece a si mesma E não se exibe de forma nenhuma. 53

Aceita a si mesma, E não é arrogante." (TAO 72) As pessoas Tao não têm nenhuma necessidade de se esconder atrás do artifício e da ostentação. Vivendo a simples verdade de quem são, colocam-se além da inveja, da competição e do exibicionismo artificial.

AUTO-AVALIAÇÃO Até que ponto você aceita a si mesmo(a)? Será que alguma dessas declarações lhe soa familiar? • Um colega de trabalho passa caminhando e me ignora. O que está errado comigo? • Um novo homem ou mulher em minha vida marca um encontro e não aparece. Sinto-me magoado(a) e rejeitado(a). • A pessoa que eu amo está deprimida ou zangada. O que fiz de errado? • Meu relacionamento termina e me sinto um fracasso. • Tenho medo de pedir um aumento. • Não preencho minha cota de vendas. Não consigo promoção, ou recebo uma avaliação ruim. Não sou suficientemente capaz. • Tenho medo de fazer alguma coisa nova, porque sei que fracassarei. • Tenho medo de pedir ajuda aos outros. • Sempre que cometo um erro — queimo o jantar, derramo o café ou quebro alguma coisa — sinto-me um(a) idiota. • Quando olho para o espelho, tudo o que vejo são meus defeitos. • Quando as pessoas me olham fixamente, sei que vêem algo errado em mim. • Quando alguém gosta de mim, acho que ou eu o (a) enganei ou essa pessoa é idiota. • Outra pessoa consegue uma promoção, um aumento, um carro novo e eu fico imaginando o que há de errado comigo. • Minha partida de tênis ou golfe termina e me sinto um fracasso. • Não importa meu peso, sinto-me gordo(a) e feio(a). • Preciso trabalhar realmente duro para me sentir legal em relação a mim mesmo(a). 54

A conclusão, em todos esses exemplos, é: "Não sou legal. Não sou suficientemente bom(boa). As pessoas com auto-estima baixa culpam logo a si mesmas, quando algo sai errado, porque se sentem muito inadequadas. Betty era uma jovem secretária, ansiosa para agradar a seu novo patrão. Ela trabalhava duro, datilografando, arquivando, organizando um dilúvio de papéis e, em geral, recebendo sua ríspida aprovação. Mas, um dia, o Sr. Tolliver chegou num terrível estado de espírito. Ignorando o animado "Bom dia" da moça, olhou-a furioso e foi caminhando sem dar uma só palavra. Betty ficou arrasada. O que fizera de errado? Ela passou a manhã inteira preocupada com a possibilidade de ser demitida e acabou com uma dor de cabeça, resultante da tensão, e com o estômago enjoado. Na verdade, o aborrecimento de seu patrão não tinha nada, absolutamente, a ver com ela. Ele estava aborrecido porque fora multado por excesso de velocidade, quando ia para o trabalho. A reação de Betty não é assim tão incomum. Quantas vezes não nos culpamos, quando as coisas dão errado? Mas, com saudável auto-estima, percebemos a nós mesmos como pessoas que merecem ser amadas, pessoas capazes, e passamos a ver os acontecimentos externos com mais objetividade. As reações negativas dos outros, em geral, nada têm a ver conosco, absolutamente.

A POLÍTICA DA AUTO-ESTIMA O parlamentar californiano John Vasconcellos trabalhou durante anos para promover uma maior auto-estima. Seus esforços refletem esta verdade essencial do Tao: nosso mundo externo reflete nosso mundo interno. As condições que estão em torno de nós refletem a maneira como nos sentimos em relação a nós mesmos. Veterano de longa data do movimento em prol das potencialidades humanas, John foi chamado de "o legislador de coração mole". Alto, com cabelos escuros e cacheados e grandes olhos espirituais, ele é um homem que transmite um profundo calor pessoal. Como presidente de poderosa Comissão de Finanças da Assembléia da Califórnia, seus dias são repletos de atividades. Mas ele ama falar sobre idéias. Ouve atentamente, a cabeça virada para um lado, muitas vezes fazendo anotações para si mesmo em pedacinhos de papel. Ele foi responsável por leis referentes a saúde mental, prevenção da violência, pesquisa sobre a Aids e negociação de paz 55

internacional, bem como pela Comissão Estadual sobre Auto-Estima. No Dia das Nações Unidas, 1988, Vasconcellos disse, num auditório de universidade, que "O futuro do mundo está em termos bastante auto-estima para aceitar outras pessoas diferentes de nós". Estudante com excelentes notas na escola secundária e também na universidade, John diz que sofria de auto-estima baixa e, constantemente, lutava para se afirmar. No início dos anos 60, ele descobriu a psicologia humanista de Carl Rogers, que seguia o Tao, defendendo uma visão da vida como processo. Desde então, sua busca da plenitude afetou seu auto-conceito, sua política e tudo o que ele faz. Só depende de nós, diz ele, "aprender a usar nosso poder para a vida, em vez de usá-lo para a morte, a renovar nossa fé em nós mesmos, e a viver cada dia, cada momento, de uma forma que possa realmente conduzir a um mundo de paz".

O TAO POR TRÁS DAS APARÊNCIAS "A pessoa Tao Jamais se esforça para parecer grande E é assim que se alcança a verdadeira grandeza." (TAO 34) As tentações do ego são grandes, quando sofremos de auto-estima baixa. Quantas pessoas se escondem atrás da pretensão, das poses, das muralhas de artifícios? As pessoas Tao ousam ser francas. São quem são, de forma dinâmica e espontânea, e estendem a mão aos outros para criar uma compreensão maior. Minha professora na escola governamental, a Srta. Sirabian, ensinou-me essa lição do Tao. Ao contrário de outros professores, ela jamais falou com arrogância aos alunos. Foi a primeira pessoa adulta que conheci a me tratar como igual. Seu curso exige um bocado de trabalho, mas era sempre entusiasmante. Cabelos escuros, baixinha, ela caminhava de um lado para outro, desafiando-nos a lidar com conceitos difíceis, perguntando-nos o que achávamos de política, poder, acontecimentos mundiais. Ou então ficava sentada à mesa, escutando pensativamente, partilhando aquilo em que ela acreditava. Tendo pais imigrantes, armênicos, ela levava muito a sério sua cidadania americana. Numa democracia, não é apenas nosso direito, 56

mas nosso dever participar, dizia-nos, acrescentando: "Jamais perdi uma eleição em minha vida". Com sua franqueza a integridade, a Srta. Sirabian mexia com aquela sala cheia de adolescentes indisciplinados, tornando-nos conscientes de nosso destino e dever como cidadãos. Levava a sério nossas idéias, nossas vidas e nosso futuro coletivo e, por causa disso, nós também levávamos. Tantos anos depois, lembro-me de tudo aquilo cheia de gratidão, percebendo o quanto seu exemplo significou para mim. Porque ela vivia a democracia que ensinava, tratando a todos com igual respeito e nos ensinando que somos responsáveis pelo mundo que criamos.

ALÉM DAS MURALHAS Não podemos ser francos com os outros a menos que, primeiro, aceitemos a nós mesmos. Uma auto-estima baixa constrói muralhas de auto defesa, afastando-nos da paz que buscamos. Carole Price, ministra da Ciência Religiosa em San José, Califórnia, acredita que "a paz pode ser conscientemente alcançada", quando derrubamos essas muralhas. Pessoas inseguras escondem-se atrás de sorrisos artificiais e poses confiantes, com medo de relaxar e se revelar, mas isto apenas aumenta sua insegurança. "Achamos que construímos muralhas para nos manter em paz", diz Carole, "e é completamente ao contrário". É um ciclo que perpetua a si mesmo. Quanto mais nos escondemos, mais temerosos ficamos. A saída está na auto-aceitação. A pessoa Tao "conhece a si mesma e não faz nenhuma exibição" {Tao 2). Quando paramos de nos esconder, as muralhas vão desaparecendo aos poucos.

NOSSO MONÓLOGO INTERIOR Leva tempo para se construir a auto-aceitação. Primeiro, notamos um monólogo de autocrítica. Transmitido em nossas mentes como um programa radiofônico, traz de volta erros passados, diz-nos que não somos "suficientemente capazes" e nos atemoriza com preocupações com o futuro. O monólogo repete todas as críticas que ouvimos de pais e professores: "Você fez errado de novo", "Você é uma menina má (ou menino mau)", "Você é preguiçoso(a)", "Você nunca vai valer alguma 57

coisa". Enfraquece nossa auto-estima, fazendo com que nos sintamos incompetentes, fracos e desamparados. Podemos desligar o monólogo com afirmações, ou prestando mais atenção ao que estamos fazendo.

EXERCÍCIO PESSOAL Como nossas expectativas afetam nossas experiências, precisamos ter cuidado com o que dizemos a nós mesmos. Jack Canfield, Presidente de Seminários de Auto-Estima, pede às pessoas para praticarem (um) exercício simples em frente ao espelho.

EXERCÍCIOS PESSOAIS

Da próxima vez em que escutar o monólogo, repita essa afirmação: "Amo a mim mesmo(a) Aceito a mim mesmo(a). Estou em união com o Tao." Você também pode interromper o monólogo dando plena atenção a alguma coisa. Eu vou esquiar, uma atividade que exige tal equilíbrio e precisão que me esqueço de pensar. Lá nas encostas, cercada por um panorama mágico de pinheiros cobertos de neve e muitas milhas de luminoso céu azul, qualquer sentido do ego é eliminado. Dançando com o vento, num balé silencioso, entro em plena união com os esquis enquanto me movimento em ritmo sutil, com a neve reluzente em torno de mim. Não há lugar para autocríticas numa comunhão que inclui corpo e alma. Não é preciso esquiar para descobrir essa comunhão. Ela é possível com qualquer coisa que se goste realmente de fazer: tocar sua música favorita, pintar, correr, caminhar pela praia, fazer jardinagem, meditar. Decida agora fazer regularmente alguma coisa de que você goste, pois trata-se de um importante exercício espiritual. A PROFECIA QUE CUMPRE A SI MESMA Anos atrás, autoridades disseram a um grupo de professores californianos que alguns de seus alunos dariam um salto em seu crescimento intelectual. Lá pelo fim do ano, o desempenho acadêmico desses estudantes havia melhorado de forma impressionante. Depois, anunciou-se que seus nomes haviam sido escolhidos ao acaso. Como os professores esperavam mais deles, os alunos também esperavam mais de si mesmos e seu desempenho correspondeu às expectativas. Criamos aquilo em que acreditamos. Este é o poder da profecia que provoca seu próprio cumprimento. 58

• Vá até o espelho, olhe-se diretamente nos olhos e diga a si próprio(a) algumas coisas a seu respeito que você gostaria que fossem verdadeiras. • Se parecer estranho, é que você não está acostumado(a) a dar aprovação a si mesmo. • Durante a semana seguinte, vá até o espelho no fim do dia e diga a si mesmo(a) todas as coisas que lhe agradam a seu respeito: "Estou realmente orgulhoso(a) de você, por fazer exercícios esta manhã, por comer um desjejum saudável, por dar uma caminhada durante a hora do almoço, por sair de um mau estado de espírito com as afirmações do Tao, por tomar uma decisão difícil, por ser honesto(a) com um amigo", e assim por diante. • Depois, chame a si mesmo(a) pelo nome e diga: "Eu realmente o (a) amo." A auto-aprovação contida neste exercício reforçará sua auto-estima, se ele for praticado regularmente, e aumentará sua paz interior.

O TAO DA FRANQUEZA Mitch Saunders, conselheiro matrimonial e familiar em Santa Clara, Califórnia, considera as relações honestas uma grande maneira de desenvolver a auto-aceitação. Quanto mais partilhamos nossos sentimentos com os outros e descobrimos que eles ainda nos aceitam, mais aumenta nossa auto-aceitação. Cada momento de franqueza desgasta nossas muralhas de defesa. Mitch compara essa procura com os satyagraha de Gandhi. Pessoal e politicamente, a força da verdade corresponde a uma grande investida e abre caminho para novas possibilidades. Mesmo quando as pessoas discordam em relação a certas questões, a investida constrói pontes e todos se beneficiam com isso. Os chineses têm uma palavra para isso: tzu jan, que significa expressar-se naturalmente, sem inibições. As pessoas Tao são tão 59

espontâneas quanto a própria natureza. Desafie você próprio(a), todos os dias, a ser mais aberto(a), mais natural.

EXERCÍCIO PESSOAL • Em vez de dizer coisas apenas para agradar às pessoas ou de se esconder por trás de desculpas, comece a dizer o que realmente sente. • Não use a honestidade como escusa para culpar ou atacar os outros. Em vez de dizer: "Você me deixa zangado(a)", diga "Fico zangado(a) quando..." Se a outra pessoa gostar de você, isto fará uma imensa diferença. • Quando as outras pessoas são mais honestas com você, lembre-se de ouvir com cuidado, respeitando seus sentimentos.

3. Meus agradecimentos à Rev. Carole Price, da Primeira Igreja da Ciência Religiosa, 1195 Clark St., San José,. CA, pelas entrevistas e discussões sobre paz interior, de 1986 a 1989. 4. Gerald Kushel, Centering: Six Steps Toward Inner Liberation (Nova York: Times Books, 1979), p. 56. 5. Da apresentação de Jack Canfield no seminário Fuul Esteem Ahead, em 1º de outubro de 1988, San José, Califórnia. Usado com permissão. Para novos exercícios de auto-estima, com guia de currículo e fitas com instruções, entrarem contato com Self-Esteem Seminars, 17156 Palisades Circle, Pacific Palisades CA 90272, tel. (213) 454-1665. 6. Informações de Mitchell Saunders, M.A., aqui e em outras partes extraídas de entrevistas, durante 1987 e 1988, usadas com permissão. Saunders é diretor da organização Programs for California Leadership, 2700 Augustine Dr., Santa Clara, CA 95054. 7. R.B. Blakney, introdução do tradutor a Lao Tzu: The Way of Life, p. 47.

O medo constrói muralhas, mas a verdade constrói pontes. O Tao é o caminho da verdade. Com maior honestidade, podemos construir pontes de paz e entendimento para nós mesmos e nosso mundo.

Afirmação Agora sei que minha vida é pacífica e harmoniosa. Amo a mim mesmo(a). Aceito a mim mesmo(a). Estou em união com o Tao. Sou franco(a) e honesto(a). Nada tenho a esconder. Respeito a mim mesmo(a) e ao processo. Harnonizo-me com a natureza e com todas as outras pessoas de meu mundo. Agora recebo uma paz maior em minha vida. E assim seja. NOTAS 1. Satin, New Age Politics, p. 189 2. Chang Chung-Yuan, Creativity and Taoism (Nova York: Harper, 1963), p. 231. 60

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CAPÍTULO 6

COMO ENFRENTAR SEUS MEDOS Medir o sucesso Palas palavras dos outros Cria ansiedade. O que você deseja E o que você teme Estão dentro de você mesmo (a). (TAO 13)

Tao nos ensina a tomar conta de nossas vidas, a enfrentar nossos medos e aprender com eles. O medo é um valioso sinal de alerta, nossa reação natural ao perigo. Numa reação automática de ataque ou fuga, nossos músculos se retesam, as batidas cardíacas se aceleram, os sistemas digestivo e imunológico param temporariamente de funcionar e nossos corpos produzem adrenalina e corticosteróides para enfrentar a ameaça percebida. Mas, no mundo moderno, muitos problemas não podem ser remediados com o ataque ou com a fuga. Sem nenhuma saída, nossos corpos permanecem estressados e gastamos bilhões de dólares por ano para aliviar a tensão, músculos rígidos, indigestão, dores de cabeça e insônia.¹ Estudos mostraram que os americanos que assistem com regularidade ao noticiário da televisão desenvolvem uma visão exagerada da criminalidade local. Bombardeados com imagens violentas, vivem com um medo crônico de ataque, enquanto telespectadores menos assíduos têm uma perspectiva mais realista. Harry e Mildred, um casal de aposentados, vivem num bairro rico da periferia, com guarda e portão de segurança. Os gramados espaçosos são bem tratados, há um Cadillac e um Mercedes novos na garagem e ali, praticamente, não se ouve falar em crime. Mas esse casal vive com um medo crônico. Sentem falta de

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programas governamentais para ajudar os sem-teto, porque consideram os pobres uma perigosa ameaça a sua segurança. Sequer confiam em seus vizinhos. A casa deles é uma fortaleza, com um sofisticado sistema de alarme e dois cadeados com cavilhas mortas na porta da frente. Depois do jantar e de três horas de noticiário na televisão, aventuram-se para o lado de fora, a fim de levar o doberman para dar a volta no quarteirão, cada um deles segurando um bastão de beisebol "para o caso de haver problemas". O medo crônico abala nossa saúde e nossa visão do mundo. Impelidos pelo medo, agimos precipitadamente, agravando nossos problemas. Enquanto a ansiedade aumenta, sentimo-nos cada vez mais desamparados, ansiosos e defensivos. Parecemos vítimas de um universo hostil, sob constante ameaça de calamidade. Projetando nossos medos sobre os demais, nós os vemos como inimigos. Um passo importante para levar uma vida mais pacífica é enfrentar nossos medos, descobrir se o perigo é real ou imaginário e tomar as medidas adequadas. As pessoas Tao permanecem concentradas mesmo em meio ao perigo. As pessoas não-Tao deixam que suas emoções disparem como uma manada de carneiros assustados. Entram em pânico. Com olhares alucinados, frenéticos, muitas vezes saem correndo na direção errada, machucando-se, e aos outros, em sua pressa de fugir.

PARA EVITAR O PÂNICO Em The Healing Heart (O coração saudável), Norman Cousins chama o pânico de "inimigo máximo" e explica como o estresse psicológico intenso pode causar danos ao coração, abalar o sistema imunológico e até causar a morte súbita. "Nada", enfatiza ele, "é mais essencial para o tratamento das doenças sérias do que liberar o paciente do pânico e dos pressentimentos".2

QUANDO SE ASSUME A RESPONSABILIDADE Podemos evitar o pânico com sabedoria e previsão. Na aviação, uma das primeiras coisas que os novos pilotos aprendem é o pré-vôo, a inspeção cuidadosa do avião antes de cada viagem aérea. Ao ensinar a previsão, o instrutor de vôo diz aos estudantes que se preparem para uma aterrissagem forçada, procurem um campo ou pastagem, no caso de perderem um motor. Meu pai surpreende seus alunos puxando para trás, de repente, o manete de gasolina, cortando 64

drasticamente a energia e perguntando: "O que você vai fazer agora?" Os alunos têm de mostrar que podem enfrentar uma emergência antes que ele os deixe voar sozinhos. Prevendo as possíveis emergências, um bom piloto está preparando. Ele não entra em pânico, porque sabe o que fazer. A reação correta torna-se uma segunda natureza. O mesmo acontece com as pessoas Tao. Sabem o que fazer, porque estudam a natureza. Entendendo os princípios do Tao, fazem escolhas melhores. Como um mestre das artes marciais, elas vêem a crise do momento em termos dos padrões mais amplos.

A IDENTIFICAÇÃO DO PERIGO Algumas pessoas acham que, se simplesmente ignorarem o perigo, ele desaparecerá. Isto é uma rejeição, ou seja, uma reação tola a qualquer problema. Porque o ciclo continua. Problemas não resolvidos não desaparecem: pioram. Isto é verdade tanto para nossos problemas pessoais quanto para os planetários. Não podemos nos dar ao luxo de nos debilitar com a rejeição, ou de abrir a porta para o desespero. As pessoas Tao enfrentam seus medos e reagem ativamente, respondendo até mesmo às grises globais com ação positiva. Em Despair and Personal Power in the Nuclear Age (Desespero e poder pessoal na era nuclear), Joanna Rogers Macy encoraja as pessoas a enfrentar seus medos em relação ao planeta, acabando com a apatia condicionada.3 Só enfrentando nossos medos recapturamos a energia emocional que eles absorvem, a energia que, de outra forma, nos aprisiona. Num capítulo mais adiante, aprenderemos a canalizar essa energia para a ação positiva, tornando-nos mais poderosos, com um compromisso maior com nosso futuro. Sejam nossas ações pessoais ou políticas, assumir a responsabilidade significa reagir com sabedoria às condições existentes em torno de nós, tendo conhecimento de quando e como agir. Fazemos isso seguindo o Tao, estudando a maneira como as coisas funcionam e agindo em harmonia com elas.

PARA AFASTAR AS SOMBRAS Existe uma velha história contada por Chuang Tsé sobre um homem que tinha tanto medo de sua sombra e do ruído de seus passos que corria deles. 65

Mas, quanto mais corria, mais rápido soavam os passos atrás dele, mais velozmente sua sombra o seguia. Ele entrou em pânico e passou a correr cada vez mais depressa até, finalmente, morrer de exaustão. Não percebeu que, se parasse simplesmente de correr, o que ele temia pararia de persegui-lo. Descansar à sombra de uma árvore faria com que a sombra desaparecesse e o ruído de passos cessasse. Se pararmos de correr de nossos temores interiores, eles também cessarão de nos atormentar. Dotados de maior compreensão das coisas e de autoconhecimento, as sombras não mais nos atemorizarão. AUTO-AVALIAÇÃO: DO QUE TENHO MEDO? Os medos interiores o(a) perturbam? Será que alguma dessas declarações lhe soa familiar? • Não gosto de minha casa/trabalho/relacionamento, mas tenho medo de mudar. • Tenho medo de me arriscar. • Existe algo que eu realmente gostaria de fazer, mas tenho medo de falhar. • Tenho medo de que, se realmente desejar muito alguma coisa (ou uma pessoa), eu vá perdê-la. • Gostaria de ter mais sucesso mas não mereço. • Tenho medo de que, se mudar como me agradaria, as pessoas não gostem mais de mim. • Gostaria de ter mais êxito em minha vida, mas temo não saber lidar com ele.

MEDO DO DESCONHECIDO Muitas pessoas continuam em empregos que são becos sem saída, ou em relacionamentos infelizes, porque têm medo da mudança. Por pior que seja sua situação, pelo menos sabem o que esperar. O desconhecido, cheio de promessas, está também cheio de ameaças. Minha amiga Beverly está num emprego de secretária, sem nenhuma perspectiva, há mais de cinco anos. Ela é inteligente, criativa e atraente, mas trabalha aquém de suas potencialidades, num emprego que oferece apenas um pagamento semanal. 66

O trabalho é monótono, o salário medíocre, não há nenhuma possibilidade de avanço e o patrão é insuportável. Mas ela continua ali, ano após ano, com medo de mudar um modelo familiar. Beverly tem medo do grande desconhecido, sem perceber que, por mais que se agarre ao que é familiar, a única coisa constante na vida é a mudança.

O TAO É DINÂMICO Seguindo o Tao, aos poucos superamos nosso medo de mudança. O fato de percebermos que nosso mundo está constantemente evoluindo em ciclos ajuda-nos a transcender qualquer fixação rígida ao status quo. Pairando sobre o panorama das formas mutáveis, o Tao, em si, é eterno. Lao Tsé diz: "O Tao é misterioso, insondável Mas dentro dele estão todas as coisas vivas; Insondável, misterioso, Mas dentro dele está a essência, Nebuloso, intangível, Mas dentro dele estão os princípios vitais, Princípios da verdade Que guiam toda a criação." (TAO 21) O Tao descreve a vida como um processo em marcha. Esta é a verdade de nossa natureza, a essência do Tao. Muitas pessoas temem o fracasso. As pessoas Tao sabem que mesmo os erros lhes trazem maior sabedoria. O teólogo Joseph Grassi diz a seus alunos: "Estejam preparados para se arriscar e aprender com os erros. As pessoas 'com experiência' são aquelas que aprenderam a lucrar com seus erros".5 Algumas pessoas temem o sucesso, com medo de que ele deixe suas vidas fora de controle. Roger teme as pressões maiores que uma promoção acarretaria, então fica no mesmo emprego previsível. Sua mulher, Doris, contêm-se, com medo de perdê-lo se ele conseguir mais do que tem. Muitos filhos dos anos 60 têm medo de perder o equilíbrio caso obtenham sucesso demais. Uma noite, meu vizinho, Dave, exmembro do Corpo da Paz, vendeu seu velho furgão azul e veio dirigindo um Toyota de volta para nosso prédio. 67

Preocupado com a possibilidade de "estar se vendendo ao sistema", ele bateu à minha porta, carregando um engradado com seis cervejas. Conversamos até tarde da noite. Ele tinha o furgão há quase quinze anos. Enfeitado com bandeiras e signos da paz, o carro tornara-se parte de sua identidade. Mas, agora, enguiçava, constantemente. Mesmo assim, Dave se perguntava se não estaria amolecendo, se entregando. Seria correto ele ter um carro novo, quando o meio ambiente estava poluído e pessoas viviam na miséria? As perguntas de Dave eram boas. Quando fazemos grandes mudanças, precisamos checar nosso equilíbrio, para nos certificarmos de que as mudanças não traem nossos valores. Dave tentava viver de forma simples, ecológica. Porém, o velho furgão, aos poucos, tornara-se um grande poluidor, desperdiçando gasolina e arrotando fumaça negra. Seu novo carro, movido a energia, na verdade é bem melhor para o meio ambiente. O carro simplificaria a vida de Dave, levando-o para o trabalho e para o centro de reciclagem sem aqueles problemas desagradáveis. Ele percebeu que não se entregara, pelo contrário, fizera uma mudança sensata.

• Atinja um visão tão clara quanto possível. O que você está fazendo? Que tal seu aspecto? Como se sente? • Agora, pergunte a si mesmo(a) sobre as conseqüências. "Qual a pior coisa que pode acontecer, se eu fizer isso?" • Você consegue lidar com isso? • Pergunte: "O que é ainda pior do que isso? E se tudo der errado?" • Você consegue lidar com isso? • Pergunte: "O que é ainda pior do que isso? A pior coisa que posso imaginar?" • Você ainda consegue lidar com isso?

Examinar as conseqüências ajuda a afastar nosso medo do desconhecido. Na maioria, nossos medos interiores são sombras que se desfazem à luz de uma maior percepção. Mas alguns medos são reais. À medida que mudam nossas vidas, ganhamos algumas coisas e perdemos outras. Talvez algumas pessoas se ressintam de nosso novo estilo de vida e nos abandonem. Mas encontraremos novos amigos, para nos amar e apoiar, enquanto continuamos a evoluir através de nossas escolhas. ALÉM DOS SEGUIDORES E LIDERES

PERGUNTA TAO Vivendo o Tao, aprendemos a ver nossas decisões em termos dos padrões mais amplos. Quando estiver pensando em alguma coisa nova, pare e pergunte a si mesmo: "Será que essa escolha se harmoniza com meus valores? Será que traz maior paz para minha vida e para o planeta?" EXERCÍCIO PESSOAL: EXPLORANDO AS CONSEQÜÊNCIAS Freqüentemente, temos medo de mudar por causa das conseqüências desconhecidas. Ficamos imaginando: "E se eu tentar e não gostar? E se eu falhar? E se meus amigos não gostarem de mim?" Podemos lidar com esses medos antecipadamente, explorando as conseqüências. Da próxima vez em que enfrentar um novo desafio, tente este exercício simples: • Vá para um lugar tranqüilo, onde não o perturbem, e dê-se tempo suficiente (pelo menos vinte minutos) para relaxar, mergulhar em si mesmo e visualizar-se fazendo a coisa que teme. 68

Ao afirmar uma unidade que a tudo inclui, o Tao transcende a hierarquia, a frenética luta dos seguidores e líderes. Um número excessivo de pessoas empenha-se em competir, consumir, colecionar coisas, numa pressa de ser maior e melhor. Mas isto revela apenas o vazio interior, uma falta de paz íntima. O pensamento hierárquico floresce na insegurança. Algumas hierarquias, claro, designam níveis de competência, como em nosso sistema escolar—série K-l2. Mas os americanos apaixonaram-se pela hierarquia, exagerando sua importância e impondo valores hierárquicos a nossos empregos, nossas posses, até mesmo a nossa vida social. Será que realmente acreditamos que algumas pessoas são melhores do que as outras? No Oriente, com sua ênfase no processo — o caminho, em vez do ponto de chegada — há apenas dois escalões no caratê: aluno e mestre, faixa branca e preta. Ao contrário de nossos equivalentes orientais, os centros de caratê americanos anunciam um arco-íris de faixas diferentes: amarela, verde, azul, roxa, vermelha e marrom. Constantemente, medimo-nos através da competição com outros. 69

As hierarquias têm exatamente esse efeito. Há sempre alguém para invejar e alguém para desprezar, enquanto batalhamos para chegar mais alto e fazer mais. As hierarquias reforçam a competição, não a cooperação. EXERCÍCIO PESSOAL Usando a imaginação, visualize a sociedade como uma enorme escada, com as pessoas subindo diferentes degraus em sua busca de progresso. Há um sujeito no topo, alto e poderoso, em seu assento de poder. Abaixo dele, estão os de escalão superior, seguidos pelos médios-superiores, os médios, médios-baixos e daí até os mais baixos. • Agora, pergunte a si mesmo(a): qual é a posição mais segura nessa escada? • No topo? Não, essa pobre criatura está desgastada com a subida e teme os que estão abaixo e ameaçam sua posição. Os que estão abaixo invejam esse poder e temem os que, por sua vez, lhes são inferiores. Alguns dos médios olham para o alto, cheios de reverência, temem a autoridade que faz deles perpétuas crianças. Outras, mais abaixo, vivem em constante medo de não conseguir satisfazer as necessidades de sobrevivência. • Agora, pegue um pedaço de papel e desenhe uma escada com sua própria hierarquia — no trabalho, na escola ou na comunidade. Entre todas as pessoas que você conhece, quem está no topo? no meio? embaixo? • Onde está você? Como é que essa escada faz você se sentir? • Pergunte a si mesmo(a): "Que critérios limitados usei para construir essa escada?" • Feche os olhos mais uma vez e relaxe. Substituindo a competição pela compaixão, veja todos vocês dando-se as mãos. Sinta amor e aceitação moverem-se através do círculo. • Inspire profundamente e solte a respiração. Se ainda sente alguma hostilidade por alguém no círculo, solte-a com outra respiração profunda. • Reconheça que, sob as diferenças, todos fazemos parte do círculo da vida, todos estamos unidos no Tao. • Como você se sente, agora? 70

Viver o Tao muda nossa visão das relações sociais. O pensamento hierárquico não pode conduzir à paz. Talvez seja por isso que os membros da Sociedade de Amigos (Quakers) não usam títulos, colocam o respeito por nossa humanidade comum além da deferência diante das diferenças sociais. Enquanto buscamos viver mais pacificamente, vamos ver com que freqüência deixamos a hierarquia afetar nossos relacionamentos. Será que tivemos medo de outras pessoas porque pareciam "acima" ou "abaixo" de nós? Com que freqüência nos julgamos por exterioridades, marcando pontos para nos sentirmos "OK"? Os pontos podem ser qualquer coisa, desde as notas da escola à renda, produção, bens de consumo, conquistas sexuais, até nosso peso —• tudo o que pudermos medir. O Tao nos lembra que: "Em pé nas pontas dos pés, não temos firmeza. Esticando-nos demais, perdemos o equilíbrio. Exibindo-nos, escondemos nossa luz. Competindo com os outros, perdemos nosso caminho." (TAO 24) Devemos deixar de lado a competição para seguir o caminho do Tao, que transcende nossa capacidade de medir.

A CONSTRUÇÃO DA PAZ, COM COMPAIXÃO O pensamento competitivo deixa as pessoas na defensiva. Como explica Gerald Jampolsky em Love Is Letting Go of Fear (Amar é livrar-se do medo), freqüentemente atacamos os outros porque sentimos — por causa de nossos medos — que eles estão nos atacando. Ele nos desafia a substituir os "pensamentos de ataque" pela compaixão. Em vez de ver os que nos atacam como inimigos, vê-los como pessoas assustadas e miseráveis. Reconhecendo seu pedido de ajuda, podemos romper o ciclo destrutivo do medo e ataque. Todo professor sabe que, por trás do aluno indisciplinado ou do valentão da turma, existe uma pessoa assustada, infeliz. Anos atrás, dois rapazes interrompiam constantemente um de meus cursos com comentários sarcásticos. Sendo professora nova, sentia-me atacada e me colocava na defensiva. Então, percebi que eles estavam exigindo atenção. Comecei a pedir sua cooperação, incluindo-os em discussões, ouvindo suas 71

opiniões. A atitude deles mudou. Ativos e ansiosos para aprender, tornaram-se dois de meus melhores alunos. O Tao diz que, quando estamos em paz com nós mesmos, não somos vulneráveis aos ataques dos outros: "A pessoa Tao É pura como uma criança. Na pureza existe uma força Que afasta todo o perigo. Se você não temer os outros, Eles não o temerão." (TAO 55) Quando estamos em união com o Tao, nossa consciência sutilmente transforma pessoas e situações, substituindo a discórdia pela união, o medo pela compaixão.

CONFIANÇA NO PROCESSO O Tao nos diz: "A pessoa mais sábia Confia no processo, Sem procurar controlar; Toma tudo como se apresenta, Não vive para realizar ou possuir, Mas simplesmente para ser Tudo o que ele ou ela podem ser Em harmonia com o Tao." (TAO 2) Quando seguimos o Tao, uma lição aparece sucessivas vezes: confie no processo. Não podemos mudar os ciclos da vida para satisfazer a nós mesmos, mas podemos aprender a fluir com eles. Para entrar em harmonia com o Tao é preciso confiança. Arlene Wiltberger, conselheira matrimonial e familiar em San Mateo, na Califórnia, vê nossas vidas como "uma dança entre confiança e medo". "Quando nosso nível de confiança é mais elevado do que nosso nível de medo, temos paz", ela explica. Mas "quando nosso desejo de controlar nos domina, então somos vítimas de nossos medos". Para ficar em paz, no curso de qualquer coisa em que estejamos empenhados, devemos liberar nossa necessidade de controlar o 72

resultado. Só podemos fazer o melhor de que somos capazes e depois confiar nos ciclos evolutivos do Tao. Gay Swenson, diretor do Instituto Carl Rogers para a Paz, diz ter experimentado essa lição em 1988, quando estava organizando uma conferência de paz para a América Central, na Costa Rica. Fortemente comprometida com o sucesso de seu projeto, ela estava muito preocupada, com medo de um fracasso. Imaginava: "E se as pessoas mais importantes não vierem?" "E se não funcionar?" Gay reconheceu que "recobrar minha paz implica enfrentar meus temores". Perguntou a si mesma: "Qual é a pior coisa que poderia acontecer?" Nesse caso, era um laboratório sem a presença dos principais líderes, mas talvez isto também pudesse ser uma experiência frutífera. O fato de enfrentar seus temores levou-a a "uma verdadeira sensação de alívio e liberação". Percebendo que não podia controlar o resultado, preferiu confiar no processo e abriu-se para novas descobertas. Do ponto de vista individual e coletivo, a reunião foi uma experiência valiosa para a promoção da paz.7 Despreocupar-nos com os resultados afasta nosso medo do fracasso, pois sucesso e fracasso são dicotomias que surgem quando tentamos controlar as coisas. O Tao transcende dicotomias. Confiando no processo, desenvolvemo-nos além das velhas definições, abertos a novas descobertas, unidos ao Tao.

Afirmação Agora sei que minha vida é pacífica e harmoniosa. Confio no processo. Olho para os ciclos mais amplos. Encaro meus medos e aprendo com eles. Reajo com sabedoria e compaixão. Ajo positivamente. Respeito a mim mesmo e ao processo. Harmonizo-me com a natureza e com todos os demais, em meu mundo. Recebo agora uma paz maior em minha vida. E assim seja.

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NOTAS

CAPÍTULO 7 1.

2. 3. 4. 5. 6. 7.

Uma parte do material deste capítulo apareceu anteriormente em "Stress Management for a Healthier World", de Diane Dreher, em Quality Living, abril de 1989, pp. 17-18. Revista dedicada a ajudar as pessoas a desenvolver uma paz maior em suas vidas, Quality Living pode ser obtida através de assinatura, a 20 dólares por ano (quatro exemplares); pedidos para Box One, Valle Crucis NC 28691. Norman Cousins, Tlie Healing Heart: Antídotos to Panic and Helplessness (Nova York: Norton, 1983), p. 168. Joanna Rogers Macy, Despair and Personal Power in the Nuclear Age Filadélfia: New Society Publishers, 1983), passim, Thomas Merton, The Way of Chuang Tzu (Nova York: New Directions, 1965), p. 155. Grassi, Changing the World Within, p. 40. Gerald G. Jampolsky, Loving Is Letting Go of Fear (Berkeley: Celestial Arts, ©1979), pp. 34, 85. Usado com permissão do autor e do editor. Meus agradecimentos a Arlene Wiltberger, M.A., e Gay Leah Swenson, Ph.D., por uma entrevista em San Carlos, Califórnia, em 2 de outubro de 1988. Arlene é conselheira matrimonial e familiar, com prática particular (501 First Avenue, San Mateo, CA 94401). Gay é Diretora do Carl Rogers Institute por Peace no Center for the Studies of the Person ,1125 Torrey Pines Road, La Jolla CA 92037, tel. (619) 459- 3861. Posteriormente, ela me disse que o seminário em questão foi um encontro muito bem-sucedido de cinqüenta líderes políticos e leigos de onze países, incluindo o Presidente Oscar Arias, da Costa Rica, ganhador do Prêmio Nobel da Paz, em 1987.

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COMO ELIMINAR A TENSÃO Ao nascerem, todas as pessoas são brandas e dóceis. Ao morrerem, são duras e rígidas. Todas as plantas novas são macias e flexíveis. Ao morrerem, são quebradiças e secas. Quando estamos duros e rígidos, Associamo-nos com a morte. Quando estamos macios e flexíveis, Afirmamos uma vida maior. (TAO 76)

eguir o TAO significa manter nossas mentes abertas, nossos corpos relaxados, liberando as tensões da vida moderna através de exercícios regulares. A ioga taoísta, a respiração e o t'ai chi ajudam a regular o fluxo de chi, e energia do Tao que circula através de nossos corpos e de toda a criação. Segundo a medicina chinesa, o chi se movimenta em ciclos contínuos, de nossas cabeças para nossos pés, alimentando todos os órgãos vitais. Quando essa energia é bloqueada — pelo estresse, emoções negativas, alimentação inadequada, falta de sono ou exercício insuficiente — adoecemos. Os tradicionais curandeiros chineses empregam a acupuntura para estimular pontos ao longo dos meridianos. Eliminando os bloqueios e restabelecendo o fluxo, devolvem a seus pacientes um estado de equilíbrio dinâmico. Muitas vezes, as pessoas consultam um curandeiro antes de adoecerem, reconhecendo que, quando seu chi está enfraquecido, têm resistência mais baixa às doenças. Nós também podemos praticar a medicina preventiva, tornando-nos mais conscientes de nossas energias, fortalecendo nosso chi com exercícios regulares e usando as técnicas descritas neste capítulo sempre que nos sentirmos cansados ou tensos.

S

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A tensão e o cansaço são demasiado comuns no mundo atual. O escritor e o curandeiro holístico Michael Reed Gach relaciona o enfraquecimento de nossa vitalidade com três características da vida moderna: (1) Respiração superficial e dias passados em ambientes fechados, respirando ar viciado, o que resulta numa oxigenação inadequada para nossos corpos. Todos nós necessitamos respirar mais profundamente e passar mais tempo do lado de fora ao ar livre. (2) Tensão crônica, que bloqueia a circulação do chi. Dedicar tempo para alongamento e movimentação é vital para as pessoas que passam o dia inteiro sentadas, ou num emprego estressante, que exige muito delas. (3) Falta de exercício, que torna mais lenta a circulação do sangue. Isto priva nossas células de oxigênio suficiente, permite que as toxinas se acumulem e faz com que nos sintamos lerdos. As pessoas perturbadas pelo cansaço crônico dirão que estão cansadas demais para fazer exercício. Porém, liberando a tensão, o exercício faz nossa energia crescer e aumentar nosso vigor. A maioria das pessoas se sente mais vigorosa, depois de uma hora de exercícios intensos.

TENSÃO E EMOÇÕES Emoções negativas produzem tensão. Alimentar mágoas, medo, raiva, frustração ou ressentimento pode causar dor muscular crônica. Ombros tensos e rígidos são o resultado da ansiedade, resistência à mudança ou sensação de estar sobrecarregado. Dor no meio das costas indica culpa, dor na parte inferior das costas, medo ou problemas financeiros. A tensão se acumula no abdome quando temos medo de ser nós mesmos e nos quadris, quando somos sexualmente inibidos ou tememos o futuro. Dor no pescoço indica frustrações ou resistência a pessoas ou a problemas. A depressão relaciona-se com a respiração superficial e contraída. Uma respiração lenta e profunda, durante cinco minutos, muitas vezes pode tirar uma pessoa da depressão. "Parece simples", diz Michael Reed Gach, "mas exige profunda concentração". Porém, ele diz que esse exercício simples "mudará completamente a maneira como a pessoa se sente em relação a si mesma".

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IOGA TAOÍSTA O Tao nos pede: "Você consegue atravessar sua vida Firmemente ligado ao Tao? Liberando sua tensão, Enquanto se concentra em sua respiração, Você consegue relaxar como uma criança? Consegue limpar sua visão E abrir-se para a vida?" (TAO 10) Esse trecho é a descrição que Lao Tsé fez da ioga taoísta, ou tso-wang, uma prática que restabelece nossa harmonia íntima e a união com o Tao. Há séculos, os taoístas exercitam-se para manter suas mentes e corpos flexíveis.

RESPIRAÇÃO TAOÍSTA A ioga taoísta começa com a respiração. Para os chineses, a própria vida começa com nossa primeira respiração, quando a alma, ou shen, entra no corpo. Inspirar é yin, a absorção de novas energias e sua circulação pelo corpo, passando pelo coração e os pulmões até nossos órgãos vitais. Expirar é yang, quando a respiração eleva-se do abdome e passa pelo coração e pelos pulmões, saindo para a atmosfera. Essa alternância de yin e yang continua até nossa última respiração, quando shen é liberado pela morte. A atmosfera, o ar em si, cada respiração e a energia nele contida, tudo isto é conhecido como chi. No século II a.C, o mestre taoísta Tung Chung-Shu explicou que o "espaço entre céu e terra" estava cheio de chi, e nele estávamos imersos, "como peixe na água."6 Enquanto inspiramos e expiramos, o que é interior circula em torno de nós; e o que está em torno flui outra vez para dentro de nós. Assim, a energia de nossos pensamentos e sentimentos flui constantemente para a atmosfera, afetando nosso mundo sem cessar. Nossos edifícios ficam carregados de chi positivo ou negativo, refletindo as energias das pessoas que lá se encontram. Áreas cheias de chi positivo tornam-se lugares maravilhosos para recarregar. Koichi Tohei, mestre de Aikido, diz a seus alunos para irem até o salão 77

de treinamento quando se sentirem deprimidos, porque assim as vibrações acumuladas irão ajudá-los a restabelecer suas energias.* Quando estão irritadas ou deprimidas, as pessoas podem restabelecer seu chi, tornando-o positivo com alguns exercícios, assim liberando a tensão e abrindo-se para uma vibrante energia nova.7

• Agora, lentamente, expire pela boca, sentindo qualquer tensão dissolver-se, no fluxo cálido e dourado de energia. • Repita isso três vezes e você se sentirá profundamente relaxado(a) e revigorado(a).

RÁPIDA PAUSA CHI PERGUNTA TAO

Onde você pode restabelecer suas energias com chi positivo? Num centro esportivo ou num de artes marciais? Num parque local ou numa capela tranqüila? Num lugar especial em sua casa ou no jardim? Identifique pelo menos um lugar onde você pode recarregar suas energias vitais. Lembre-se de ir lá freqüentemente. EXERCÍCIO PESSOAL: RESPIRAÇÃO CHI

Nossos corpos têm uma sabedoria natural para se restabelecerem. Muitas pessoas só respiram profundamente quando bocejam, reflexo natural que libera o ar viciado e causa a absorção de mais oxigênio8. Podemos cooperar com a sabedoria natural de nosso corpo praticando a respiração chi sempre que nos sentimos cansados ou tensos. • Sente-se ou fique de pé com a coluna ereta, inspirando lenta e profundamente pelo nariz, absorvendo o ar em profundidade no abdome, não no peito. Afrouxe o cinto e ponha a mão em cima do estômago, para sentir o ar mover-se para baixo e penetrar nessa área. • Visualize a radiante energia chi, como uma forte luz dourada cercando-o e fluindo com cada respiração. • Sinta a cálida energia chi fluindo para baixo, para seu abdome e através do seu corpo. • Prenda a respiração e conte devagar até três (avançando até dez segundos, se quiser). * É claro que, quando se está doente deve-se buscar atendimento médico qualificado. A ioga taoísta não é aceita pela medicina ocidental como meio de diagnóstico ou tratamento, mas pode ser de grande auxílio nos cuidados médicos. É preciso, porém, fazer um exame físico antes de adotar qualquer programa de exercícios. 78

Os exercícios respiratórios são maravilhosos porque é possível realizá-los a qualquer hora, em qualquer lugar. Durante um dia ocupado, muitas vezes faço esta pausa chi: • Inspire profundamente e retenha o fôlego por alguns instantes. • Expire devagar, dizendo para si mesmo(a): "Expiro a Tensão". • Inspire devagar, dizendo para si mesmo(a): "Inspiro a Paz".

IOGA

A ioga taoísta funciona suave e tranqüilamente, aumentando o fluxo de chi dentro de nós. Algumas posições ativam os pontos de acupressão com o peso de nossos corpos. Essas simples posições irão ajudá-lo a liberar o estresse e sentir mais paz: POSIÇÃO DE ORAÇÃO

A posição de oração abre o chakra do coração, aumentando nossa paz interior. • Sentado(a) numa cadeira, com a coluna ereta e os pés firmes no chão, junte as palmas das mãos, dobre-as como numa oração e pressione-as contra o peito, na altura do esterno, no centro do arcabouço de suas costelas, perto do coração. • Fechando os olhos, inspire profundamente, concentrando-se nesse ponto. Sinta que está sendo invadido por uma nova energia. • À medida que expirar, sinta que a energia circula através de sua mente e de seu corpo. • Continue a respirar lenta e profundamente por um minuto. • A postura de oração ativa o vaso da concepção 17, um ponto de acupressão que une todos os meridianos do yin, acalmando o sistema nervoso e renovando nossa energia. 79

O Tao nos diz: "Torça-se e fique direito. Curve-se e torne-se ereto. Esvazie-se e seja pleno. Gaste energia para se renovar." (TAO 22) Muitos exercícios de ioga, ou asanas, funcionam em oposição, contraindo e relaxando músculos para liberar a tensão, curvando a coluna vertebral para mantê-la reta. Essas duas asanas massageiam a coluna e as costas, acalmam o sistema nervoso e estimulam o fluxo de chi.

TRÊS FORMAS DE ALONGAMENTO • Fique deitado de costas numa esteira própria para fazer exercícios ou num tapete macio. Relaxe os músculos e sinta sua coluna endireitar-se. • Com os ombros ainda tocando no chão, eleve as mãos em direção ao teto, mantendo os braços retos. Inspire e expire lenta e profundamente. Depois, devagar, abaixe os braços até os lados do corpo. • Mantendo os braços retos, erga-os devagar outra vez e estenda-os acima da cabeça, deixando que repousem no chão, se possível. Inspire outra vez, profundamente, e solte a respiração. Depois, devagar, abaixe outra vez os braços até os lados do corpo. • Com os braços dos lados do corpo, inspire lenta e profundamente, fazendo uma pressão leve da parte inferior das costas contra o chão. Mantenha as costas nessa posição, depois solte a respiração e fique à vontade. • Termine deitado de costas, com as pernas retas e os braços dos lados do corpo, respirando lenta e profundamente por um minuto, enquanto sente que seus músculos se relaxam e as energias movimentam-se pelo corpo.

BALANÇO • Sente-se numa esteira própria para exercícios ou num tapete macio, de modo que suas costas não batam no chão duro. Fique num lugar onde haja espaço suficiente para se movimentar. 80

• Dobre os joelhos, prendendo as mãos uma na outra debaixo deles, e puxe-os para cima, em sua direção. • Curve a cabeça levemente para trás. Mantendo a coluna arredondada, balance-se para trás e para a frente, como se estivesse numa cadeira de balanço. • Balance-se de quatro a seis vezes e, depois, alongue-se no chão e relaxe, respirando profundamente. O professor de ioga Indra Devi recomenda essa posição para aliviar a insônia. Anos atrás, um de seus alunos, um oficial do exército britânico que tinha problemas para dormir, disse-lhe que, depois de uma semana de balanço, jogara fora os soníferos e passara a dormir tranqüilamente a noite inteira. Quando ensinava ioga, eu encerrava cada exercício com um rápido período de relaxamento, o complemento yin para o movimento yang. Aprendemos com o Tao que nossas energias beneficiam-se com períodos de contração e relaxamento. Se você gostar desses exercícios simples, pode querer entrar para uma aula de ioga, a fim de aprender asanas mais avançadas. A prática regular da ioga proporciona paz interior e crescimento espiritual, bem como a liberação da tensão, o controle do peso e o aumento de vitalidade. Uma de minhas posições favoritas, a posição de ombros, estimula a circulação, regula as glândulas e os órgãos internos e restabelece a energia vital. Os iogues dizem que quinze minutos na posição de ombros eqüivalem a mais ou menos duas horas de sono. Alguns anos atrás, dois amigos se valeram bastante dessa posição. Bill e Allan, pilotos comerciais foram contratados para levar um atarefado advogado até Bakersfield, para uma audiência no tribunal, depois a Los Ageles e, finalmente, de volta a San José, naquela mesma noite. Decolaram de San José com o passageiro de manhã cedo, na terça-feira, e levaram-no até Bakersfield, onde esperaram três horas, enquanto ele concluía suas tarefas no tribunal. Como tinha um longo dia pela frente, praticaram ioga para recarregar a energia. A imagem daqueles dois rapazes fazendo posições de ombro no gramado da biblioteca de Bakersfield deve ter surpreendido os transeuntes. Mas, depois da ioga e de um leve almoço, eles se sentiram repousados e prontos para partir. Tinham energia suficiente para voar até Los Angeles para o próximo compromisso e, depois, 81

para fazer todo o caminho de volta a San José, chegando em casa às quatro da madrugada. Para pessoas Tao, uma das lições mais decisivas é lidar com nossas próprias energias. A antiga prática da ioga pode ser uma afirmação útil para qualquer pessoa que esteja procurando levar uma vida equilibrada.

T'AI CHI T'ai chi, outro antigo sistema de exercício, usa posições e movimentos alternados para harmonizar nossas energias. Há um antigo ditado chinês que fala em ficar "em pé como um pinheiro", equiparando a estabilidade emocional a um profundo enraizamento no chão. Uma das primeiras lições do t'ai chi é a meditação em pé, que restabelece nossa força com a energia nutritiva da terra. MEDITAÇÃO EM PÉ • Fique em pé, com os pés cerca de trinta centímetros separados um do outro, mantendo a coluna ereta. Chegando os quadris para a frente, dobre ligeiramente os joelhos. • Estenda as mãos à sua frente, com os cotovelos dobrados, levemente acima do nível da cintura. • Agora, inspire profundamente em seu hara, que é o ponto de poder situado a cerca de cinco centímetros abaixo do seu umbigo. Sinta a energia da terra elevar-se a seus pés. • Expire, sentindo a energia fluir através de suas mãos. Você pode ter uma sensação de formigamento.

Esse exercício estimula o fluxo do chi, fortalece os músculos das coxas e "aterrissa" nossas energias, religando-nos com a terra. É uma maneira maravilhosa de ganhar forças, quando nos sentimos dispersos. Janet DeVore, curandeira holística que mora no monte da Califórnia, ensinou-me essa posição tempos atrás. Como fortalece muito, ela recomenda que seja empregada em todas as oportunidades possíveis, praticando-se uma versão modificada (sem estender os braços) quando estivermos escovando os dentes pela manhã ou esperando numa fila de banco.1 Seguindo o conselho de Janet, 82

descobri que a prática secreta da posição t'ai chi transformou muitas longas esperas em oportunidades para renovação. MOVIMENTO TAOÍSTA Os movimentos do t'ai chi semelhantes à dança, equilibram nosso corpo, por alternarem os impulsos do yin e yang, contração e expansão, esquerda e direita. Espontânea, fluida, graciosa como o vento, a essência do t'ai chi pode ser modificada para se adaptar a nossa vida moderna. DANÇA Al Chung-liang Huang, autor de Embrace Tiger, Return to Montain (Abrace o tigre, volte para a montanha) diz que, quando se sente deprimido, recupera sua energia dançando. "Quando danço e me movimento", diz, "tudo parece entrar nos eixos." O movimento libera a tensão e elimina bloqueios, equilibra naturalmente nosso corpo, nossas emoções. Dançando, tornamo-nos fluidos, espontâneos, unidos ao Tao. Da próxima vez em que se sentir cansado, ou tenso, ponha alguma música para tocar e comece a dançar. CAMINHADA Um velho ditado chinês compara a caminhada ao fluir do vento. "Caminhar como o vento"1 significa movimentar-se de leve, com facilidade, naturalmente, mudando nosso peso da esquerda para a direita e equilibrando nossas polaridades. Quando estamos cansados ou estressados, podemos restabelecer nosso equilíbrio simplesmente dando uma caminhada. Sendo exercício bipolar, a caminhada usa ambos os lados do corpo. Estimulando as partes esquerda e direita do cérebro, traz-nos maior equilíbrio. Melhorando a circulação e fortalecendo as energias chi, estimula nossos próprios ritmos interiores. Sintonizamos com nossa pulsação, nossa respiração, as sensações de nosso corpo, e alcançamos um sentido mais profundo de sermos nós mesmos. O Tao nos ensina a atender aos ritmos dentro de nós e à nossa volta. Mas, com muita freqüência, somos pressionados pelo mundo exterior e perdemos contato com nossa própria música interior. Uma barreira de ruído, telefonemas, prazos e exigências dos outros nos 83

interrompe constantemente, tirando-nos de sincronia. O exercício taoísta pode restabelecer nossa harmonia interior, fazendo com que os ritmos de nossas vidas voltem a padrões mais pacíficos.

Afirmação Sei que minha vida é pacífica e harmoniosa. Consciente de minhas energias, lembro-me de alimentá-las e de restabelecê-las. Liberando toda a tensão, relaxo e entro numa consciência mais profunda. Sigo minha própria música interior. Respeito a mim mesmo(a) e ao processo. Harmonizo-me com a natureza e com todos os outros em meu mundo. Agora recebo uma paz maior em minha vida. E assim seja.

10. Indra Devi, Yoga for Amertcans (Englewood Cliffs, Nova Jersey, Prentice-Hall, 1959; Nova York: Signet, 1968), pp. 41-42. Sou grata a Indra Devi por me ter apresentado esse exercício, anos atrás. 11. Gach, Acu-Yoga, p. 223. 12. DaLui, Taoist Health ExerciseBook(NovaYork:QuickFox, 1974), p. 37. 13. a palavra chinesa para esse centro de poder é tant'ien. Usei o termo japonês do aikido em todo o livro, porque é mais simples e mais fácil de lembrar. 14. A meditação em pé, aqui e em outras partes do livro, é usada com permissão de Janet Y. DeVore, R.N., curandeira holística e médica, que ensina acupressão, cura com ervas, harmonização, toque de tambores, uso de escudos e meditação no Earth Woman Medicine Shield Center, 1032 Lovell Aven., Campbell CA 95008. Minha gratidão a Janet por ter partilhado sua sabedoria sobre a arte da cura, combinando as tradições do Oriente e do Ocidente. 15. Al Chuang-liang Huang, Embrace Tiger, Return to Mountain: The Essence of T'ai Chi (Moab, Utah: Real People Press, 1973, p. 177. 16. Da Lui, Taoist Health Exercise Book, p. 37.

NOTAS 1. Citações e informações de Michael Reed Gach, aqui e em outras partes, do livro de Michael Reed Gach e Carolyn Marco, Acu-Yoga: Self-Help Techniques to Relieve Tension (Tóquio: Japan Publications, 1981), maravilhoso recurso para equilibrar energias. Informações sobre tensão e cansaço na p. 160. Usado com permissão. 2. Gach, Acu-Yoga, p. 169; Hay, You Can Heal Your Life. pp. 154,158,168, 176,184. 3. Gach, Acu-Yoga, p. 154. Usado com permissão. 4. Holmes Welch, Taoism: The Parting of the Way (n.c: Beacon Press, 1965), p. 71. 5. Maspero, Taoism and Chinese Religion, pp. 47-48, 326. 6. Maspero, Taoism and Chinese Religion, pp. 71-72. 7. Koichi Tohei, Ki in Daily Life (Tóquio: Ki No Kenkyukai, 1978), pp. 25-26. 8. Gach, Acu-Yoga, p.161 9. Por essa posição tranqüila e renovadora, agradeço a Michael Reed Gach. Usada com permissão, tirada de Acu-Yoga, p. 87. Para maiores informações sobre os guias de Gach, seminários sobre acupressão ou treinamentos, contatar o Acupressure Institute, 1533 Shattuck Ave., Berkeley CA 94709, tel. (415) 854-1059. 84

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CAPÍTULO 8

A BUSCA DA SIMPLICIDADE Seja fiel a estes princípios: Procure a simplicidade, Capte o essencial, Supere o egoísmo E os desejos perdulários. (TAO 19)

simplicidade limpa nossa visão, livra-nos dos falsos valores, traz maior beleza para nossas vidas. A palavra chinesa para simplicidade é su que significa seda crua: natural, pura, sem enfeites.1 Há muito tempo, a arte chinesa vem afirmando a beleza da simplicidade. Anos atrás, passei muitas horas solitárias tentando alcançar a inefável simplicidade da pintura chinesa. Praticar as pinceladas demanda paciência. Feitas com um único movimento fluido, as pinceladas são wu wei: não podem ser forçadas. O pintor precisa alcançar uma harmonia interior antes de tentar retratá-la sem possuí-la. As obras dos mestres são modelos de graça espontânea: um ramo de flores de cerejeira, koinum pequeno lago, um simples caniço de bambu. Não há pinceladas extras, nenhum enfeite. Tudo é sereno, contra um pano de fundo simples. A seda natural ou o papel de palha de arroz, em si, tornam-se parte do quadro. A arte chinesa ensina a importância do espaço vazio, da abertura, da sabedoria do Tao. Estudante de filosofia oriental, Henry David Thoreau elogiava a abertura dos devaneios silenciosos, a alegria da contemplação. Seus dias no lago Walden eram longos e sem pressa. "Gosto de dar a minha vida uma margem ampla", dizia ele. Quanta margem deixamos para nossas vidas? Não estarão nossos lares, nossos armários, nossas agendas, impossivelmente lotados?

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"Nossa vida é desperdiçada com detalhes", escreveu Thoreau, aconselhando seus leitores a "simplificar, simplificar." Este capítulo ajudará a tirar o entulho e a confusão de nossas vidas. COMO ENCONTRAR A SIMPLICIDADE NUM MUNDO MUTÁVEI Alvin Toffler cunhou a expressão "choque do futuro", para descrever nossa desorientação quando experimentamos um excesso de mudanças com demasiada freqüência. Segundo Toffler, as rápidas mudanças, nas últimas décadas, desgastaram nosso senso de segurança. Tornamo-nos uma "sociedade descartável". As embalagens de fast food, as sacolas de supermercado, garrafas, latas, guardanapos de papel, invólucros plásticos, roupa de última moda, lâminas que se gastam logo, câmeras, até mesmo os relacionamentos, são rapidamente jogados fora, quando sua utilidade acaba.3 Esse modelo tem causado desequilíbrio não apenas pessoal, mas também planetário, efetando adversamente nossa economia. A obsolescência planejada perturbou nossa balança comercial, porque muitos produtos americanos não são confiáveis, ou não têm conserto. Isto provocou o rápido acúmulo de lixo, desequilibrando nossa ecologia e envenenando o planeta. A busca de simplicidade, num mundo de impermanência é um grande desafio. Mas uma desescalada, assim como uma maior consciência de forma como usamos as coisas, cria uma paz maior, tanto do ponto de vista individual quanto do coletivo.

EM BUSCA DE SOLUÇÕES SIMPLES Seguindo o Tao, percebemos que até nossas mínimas ações têm conseqüências, contribuindo para o desenvolvimento dos ciclos em torno de nós. Um exemplo é o familiar copo de plástico. O uso desses copos no trabalho torna cada um de nós responsável por cinco copos por semana, vinte por mês e, dentro de um ano, 260 adendos não-biodegradáveis à montanha de lixo existente neste planeta. Se levarmos nosso próprio copo para o trabalho e encorajarmos os outros a fazer o mesmo, estaremos economizando dinheiro, criando uma atmosfera mais familiar e ajudando a reduzir o desperdício irracional e a poluição em torno de nós. 88

Recusar-nos a usar os copos de plástico, pedir sacolas e produtos biodegradáveis no supermercado, evitar os restaurantes que servem fast food, com suas embalagens descartáveis, e desescalar nossas necessidades — tudo isso são ações simples, mas com conseqüências a longo prazo.

A CRIAÇÃO DE MODELOS DE ESTABILIDADE Simplificar nossas vidas também significa conservar o que nos pertence. As pessoas Tao reservam tempo, todos os dias, para rituais pessoais de estabilidade. Alguns começam o dia com meditação ou exercícios. Outros dão uma caminhada diária ao meio-dia ou reservam tempo para descontrair, depois do trabalho. Meu parceiro de casamento, Gwilym, começa cada dia com caratê shoto-kan e uma corrida de três quilômetros. Enquanto ainda está escuro do lado de fora, ele pratica seus exercícios de aquecimento de caratê. Depois, corre pelo bairro quando está amanhecendo, observando o céu mutável e despertando a vida em torno dele. Os pardais cantam na copa das árvores e os atarefados esquilos dançam pelos galhos, lá em cima. Cercado por esse programa inspirador, ele faz suas afirmações, reconhecendo sua parte na comunidade mais ampla. Seu ritual matinal combina exercício aeróbico com renovação espiritual. Eu começo meu dia de maneira completamente diferente: concentrando-me com leitura tranqüila e meditação. Enquanto o amanhecer, aos poucos, filtra-se pela janela, olho minha agenda para ver que padrões o novo dia oferece, concluindo com afirmações de harmonia para o dia que começa. Algumas vezes, quando tínhamos hóspedes, eu deixava de cumprir meu ritual matinal para ir tomar o café da manhã com eles. Mas, então, eu encarava o dia sem concentração, tomava decisões tolas e reagia aos acontecimentos, em vez de responder de forma centralizada. Uma vida equilibrada exige disciplina. Só nós podemos viver nossas vidas da maneira que escolhermos. Agora, não importa o que os outros pensem, reservo meu tempo para esse encontro comigo mesma, todas as manhãs. Quando minhas energias estão centralizadas, o resto do dia corre mais suavemente para todos.

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PERGUNTA TAO

Qual é seu modelo pessoal de estabilidade? Você tem um ritual para começar o dia, reserva tempo para concentrar-se ou descontrair à noite? Se não, escolha um ritual de renovação pessoal que funcione para você — meditação, exercício, afirmação — e decida cumpri-lo todos os dias à mesma hora. Então, não importa o que o universo oferecer, você terá um modelo duradouro para sua vida. PARA SIMPLIFICARA SOBRECARGA SENSORIAL O Tao nos diz: "As cinco cores podem cegar nossos olhos, Os cinco sons ensurdecem nossos ouvidos. Os cinco gostos exaurem nosso apetite. A busca de satisfação dos desejos pode enlouquecer-nos. Portanto, a pessoa Tao Busca a sabedoria interior, Abra mão dos excessos, Afirme a verdade." (TAO 12) A vida moderna ataca nossos sentidos com ruído, cor e apelos incessantes ao apetite. É fácil perder nosso equilíbrio. Como disse Lao Tsé: "A busca de satisfação dos desejos pode enlouquecer". Pesquisas mostraram que a sobrecarga sensorial produz sintomas muito parecidos com os da esquizofrenia. Grande número de pessoas sai correndo numa dúzia de direções ao mesmo tempo. Comem, vestemse, trabalham e se divertem sem nenhuma orientação. Perdendo a visão do conjunto, sucumbem a fragmentação, à doença, à exaustão. EXERCÍCIO PESSOAL

Podemos reduzir a sobrecarga sensorial da seguinte maneira: • Buscando períodos de silêncio, todos os dias. Desligue o rádio e a televisão, feche a porta, desligue o telefone. Sinta a saudável sensação do silêncio. 90

• Passando algum tempo sozinho todos os dias, caminhando, lendo ou trabalhando, escutando os próprios pensamentos. • Passando algum tempo no mundo natural: trabalhando no jardim, caminhando no parque. Limpe seus sentidos com os sons e imagens naturais. Escute os pássaros cantarem, o roçar das folhas. Sinta o perfume das flores. Descanse os olhos no verde macio das coisas que crescem e no marrom fértil da terra.

PARA SABER O QUE É BASTANTE O Tao nos diz: "Grandes problemas ocorrem Quando não se sabe o que é o bastante. Grandes conflitos surgem quando se quer demais. Quando sabemos o que é o bastante, Haverá sempre o bastante." (TAO 46)5 Há vinte e cinco séculos, Lao Tsé percebeu os perigos do excesso, tanto em termos individuais quanto coletivos. Para os indivíduos, o excesso causa sobrecarga sensorial, desequilíbrio, doença. Coletivamente, o excesso de consumo por parte de alguns causa deficiências para outros perpetuando os ciclos de pobreza, injustiça e gueixa. O extremo yang leva ao yin, o excesso à deficiência. "Grandes conflitos surgem quando se quer demais". O caracter chinês que corresponde à sabedoria hui, consiste numa vassoura suspensa sobre a mente-coração. Para os chineses, a sabedoria, literalmente, significa varrer qualquer entulho. Podemos fazer isso de quatro maneiras diferentes: simplificando nossas posses, nosso conhecimento, nossa comunicação e nosso uso do tempo.

PARA SIMPLIFICAR NOSSAS POSSES Nossa sociedade parece encorajar o entulho. Muitos de meus vizinhos precisam deixar os carros do lado de fora, porque suas garagens estão cheias de coisas de que já se esqueceram há muito tempo. Livrar-se das coisas que não usamos mais ajuda-nos a descobrir o que temos. Também nos fortalece emocionalmente. Abrir mão dos velhos pertences ajuda-nos a nos libertar do passado. Antigas 91

queixas, culpas, ressentimentos e pesares desaparecem, capacitandonos a viver mais plenamente o presente.

EXERCÍCIO PESSOAL Você pode trazer uma ordem maior para a sua vida examinando seus armários, gavetas e garagem e dando tudo que não precisa. • Escolha uma área de cada vez e examine-a sistematicamente, jogando fora tudo aquilo que você não usa mais. Provavelmente, você descobrirá coisas que não sabia que tinha. • Coloque as peças que vai dar bem arrumadas numa caixa e leve-as para sua instituição de caridade favorita. Reciclar aquilo de que você não precisa mais coloca maior número de coisas em circulação e reduz o desperdício no planeta. Todos se beneficiam com isso. • Resolva limpar uma área por mês, livrando-se de velhos pertences, criando uma ordem maior e fazendo com que nova energia circule em sua vida.

A POLÍTICA DA SIMPLICIDADE Muitas pessoas, erroneamente, associam simplicidade com pobreza, mas existe uma diferença fundamental. A simplicidade é uma questão de escolha, e pobreza não. Simplificando, afirmamos maior poder sobre nossas vidas: escolhendo a saúde, a ordem e a beleza; descartando o entulho e a confusão. Como tudo está relacionado no Tao, os efeitos políticos de uma vida mais simples são de longo alcance. "Quando sabemos que o bastante é o bastante, haverá sempre o bastante" {Tao 46). Quanto mais pessoas escolherem um estilo de vida mais simples, mais equilíbrio e justiça existirão no mundo. Na década de 50, uma mulher que chamava a si mesma de Peace Pilgrim (Peregrina da Paz), começou a caminhar pela América numa peregrinação em prol da paz. Reduzindo seus pertences às roupas que levava às costas e algumas poucas peças nos bolsos, ela escolheu viver no que chamava de "nível da necessidade", alegrando-se com a liberdade que descobriu. Determinando seu próprio "nível de necessidade", muitos pacificadores de hoje cortam o excesso, considerando-o uma carga, além de ser pouco saudável e injusto e passam a viver com 92

simplicidade, para afirmar seu crescimento espiritual ou a solidariedade aos pobres. Muitos partilham sua riqueza com os famintos e desabrigados. Viver com simplicidade liberta e dá poder, como explicou Peace Pilgrim: "Uma simplificação persistente cria um bem-estar interior e exterior que dá harmonia à vida da pessoa." Há muitas vantagens numa vida mais simples. Leva-nos mais perto da natureza, encoraja-nos a partilhar, reduz a poluição, economiza dinheiro, preserva o meio ambiente, diminui a atenção, promove melhores condições para a saúde e alimenta-nos espiritualmente.8 A simplificação consciente de nossas vidas ajuda-nos a ver além dos valores materialistas de nossa sociedade e a perceber a sabedoria duradoura do Tao. Uma vida mais simples melhora nossa saúde mental, de acordo com Mitch Saunders, conselheiro matrimonial e familiar. Restabelece nossa inteireza liberando-nos da ética compulsiva do trabalho, "a maneira como nossa cultura está estruturada, valorizando as coisas, não as pessoas". "A paz", explica Mitch, "consiste em ficar próximo do que é natural e simples", voltando à sabedoria das sociedades primitivas, que estão mais perto da terra. Gandhi também reconheceu isto. A moderna sociedade industrializada pode, com facilidade, romper nosso equilíbrio.

A BUSCA DE SEGURANÇA ALÉM DE NOSSAS ILUSÕES Colecionar coisas obsessivamente tornou-se uma muleta emocional para muitas pessoas, uma ilusão de segurança num mundo inseguro. Quando a mãe de Denise morreu, no ano passado, minha amiga levou meses para separar seus pertences. Os armários da cozinha estavam entulhados de enlatados, antigos, cobertos de poeira; os armários de roupa branca estavam cheios de lençóis e toalhas novos, guardados "para hóspedes". Oito dúzias de rolos de papel higiênico estavam estocados em armários em toda a casa, cinco conjuntos de travessas empilhadas no guardalouças. Bugigangas enchiam três prateleiras e cobriam todos os tampos das mesas. Os armários estavam entulhados de roupas que não eram usadas há anos. O Tao nos ensina que não podemos encontrar segurança fora de nós mesmos e, sem dúvida, não a encontraremos por trás de 93

muralhas de entulho. Nós a descobrimos quando nos examinamos interiormente, seguindo o Tao e vivendo com integridade.

PARA SIMPLIFICAR NOSSA COMUNICAÇÃO O Tao diz:

PARA SIMPLIFICAR NOSSOS CONHECIMENTOS

(TAO 5)

O Tao nos diz: "Quando buscamos conhecimentos, Adquirimos muita coisa. Quando buscamos o Tao Descartamos muita coisa." (TAO 48) O Tao ensina a liberalidade e a liberação da tirania do costume e da autoridade. Muita coisa que, no mundo, passa por conhecimento, na verdade não passa de entulho intelectual que nos impede de pensar por nós mesmos. O conhecimento que encontramos na sala de aula, nos livros, nos jornais ou na televisão é principalmente a experiência e a opinião de outras pessoas. Uma parte desse conhecimento pode ser verdadeira, mas desistimos de nossa independência intelectual se o aceitamos como coisa estabelecida. O Tao diz para não deixarmos ninguém mais pensar por nós. As pessoas do Tao estudam a vida. Escutam os outros e pesam suas opiniões. Mas tomam suas próprias decisões, seguem sua orientação interior e os ciclos do Tao. A obediência cega à autoridade não só viola nossa integridade, como também perpetua a violência. Num memorável experimento psicológico, o Dr. Stanley Milgram pediu a alguns voluntários pagos para administrarem choques elétricos em seu laboratório. Ao lado dos voluntários, ordenou-lhes que aumentassem a dosagem, enquanto as vítimas (na verdade, atores pagos), gritavam e se contorciam de dor. Mais de 60% dos voluntários obedeceram. Como comprovam esse experimento e os muitos crimes de guerra, ao longo de toda a história, muitas pessoas obedecem a uma figura de autoridade, mesmo quando isto significa fazer mal aos outros. Podemos superar essa violência irracional permanecendo concentrados, olhando além da autoridade e seguindo nossa consciência e os princípios do Tao. 94

"Muita conversa traz apenas exaustão. Permaneça fiel a seu centro." O ruído da vida moderna torna difícil ouvir a nós mesmos enquanto pensamos. Os rádios zumbem dentro de nossas casas, automóveis e trabalho, seguem-nos para dentro do supermercado e nos conduzem rastejando pelas passagens entre fileiras de cadeiras. A televisão invade nossas salas de estar, trazendo a vida de outras pessoas, palavras e imagens artificiais, deixando pouco espaço para nossos próprios pensamentos. Muitas pessoas escondem-se atrás do ruído, sem querer enfrentar a si mesmas. Phil, recentemente, afastou-se de uma movimentada carreira em merchandising. Viúvo, com dois filhos adultos, ele mora sozinho num modesto apartamento do Brooklyn. É tempo de examinar sua vida e procurar um novo rumo, mas isto é a última coisa que ele quer fazer, então enche seus dias com ruído. Tem um aparelho de TV em cada cômodo de seu apartamento, inclusive no banheiro. Novelas, shows de perguntas e respostas e anúncios são mostrados o dia inteiro. Quando aparecem visitas, elas têm de gritar para serem ouvidas por cima do ruído. Phil ouve livros gravados, quando está de carro para manter a mente ocupada. As noites, passa assistindo a filmes no VCR, depois pega no sono enquanto escuta todos os programas noturnos de debates. Quando seu filho Peter o visitou, no mês passado, ficou exausto com todo aquele barulho. EXERCÍCIO PESSOAL: PARA EVITAR A TAGARELICE

A volta ao centro pessoal de cada um exige disciplina. As pessoas do Tao buscam períodos diários de silêncio e renovação para não se esquecerem de quem são. Como é fácil ligar o rádio, quando estou em casa sozinha. É companhia fácil, mas a que preço? Ouvir tagarelice corta a disposição para meditar, escrever para um amigo, trabalhar criativamente ou cuidar de meus próprios pensamentos. O silêncio devolve-nos a nós mesmos e aos ritmos naturais do Tao. 95

• Da próxima vez em que ligar automaticamente o rádio ou a televisão, pergunte a si mesmo(a) o motivo. • Se preferir ver ou escutar, deixe ligado. Caso contrário, desligue. • Transforme os períodos de silêncio numa parte importante de seu dia. Você pode perder algumas notícias locais, novelas ou programas de auditório, mas terá melhores relações com um velho amigo: você mesmo(a).

O Tao nos diz:

• Escuto o que os outros dizem, percebendo a linguagem de seu corpo, bem como a de suas palavras? • Evito o discurso inútil — tagarelice, fofocas, o vício do telefone? • Respeito a importância do silêncio em minha vida e nas interações com os outros? Posso estar presente com alguém sem falar incessantemente?

PARA SIMPLIFICAR NOSSO TEMPO

"A natureza não desperdiça palavras. Tampouco as pessoas do Tao."

O Tao diz:

(TAO 23) Quantos de nós não "desperdiçamos palavras" a cada dia, com fofocas sem sentido, conversa à-toa ou o vício do telefone? Quando eu era mais jovem, passava a maior parte das noites ao telefone. Espichada no chão, conversava durante horas. Minhas amigas e eu usávamos umas às outras como terapeutas, analisando os homens em nossas vidas, manifestando nossas frustrações, massageando nossos egos e aliviando nossa solidão — tudo pelo telefone. Depois de dois ou três telefonemas, com alguns estudos encaixados nos intervalos, outra noite havia passado. Durante todo o período do secundário e da universidade, este foi um modelo habitual: longas conversas até tarde da noite, pouco sono. Mas, de alguma forma, eu conseguia fazer as coisas. Durante anos, a maioria de nós chorou, xingou, riu e viveu uma boa parte de nossas vidas pelo telefone. Só uma mulher que conheci não fazia esse jogo. Pat nos dizia quando estava ocupada, quando podia nos encontrar para almoçar ou tomar chá. Os telefonemas com ela duravam uma média de no máximo, cinco minutos. Concentrada e disciplinada, ela estava escrevendo um romance e vendendo contos, enquanto nós desperdiçávamos energia pelas linhas telefônicas. EXERCÍCIO PESSOAL Para simplificar suas conversas nesta semana, pergunte a si mesmo(a): • Estou me comunicando honestamente? Falo sério, quando digo alguma coisa? Minha intenção é partilhar, em vez de expandir meu ego? 96

"Feche sua boca, Tranque suas portas, E viva próximo do Tao. Abra sua boca, Passe o dia inteiro ocupado, E viva na confusão." (TAO 52) Perdemos nosso centro quando somos apanhados por uma sucessão de atividades mundanas, mal sobrando tempo para recuperar o fôlego. Simplificar nosso tempo significa assumir a responsabilidade, colocar-nos de volta aos eixos. Quando fazemos coisas em excesso, nossos corpos, de alguma forma, revelam-se e simplificam as coisas à força. Uma vez, quando eu estava exausta devido a um implacável acúmulo de aulas, conferências, oficinas e prazos, perdi a voz durante três dias, o que me forçou a cancelar todos os meus compromissos e ficar em casa. De alguma forma, tudo continuou, mesmo sem mim, e aprendi uma lição valiosa. Agora, sempre que programo as coisas, tento não deixar que os compromissos se acumulem dessa forma. Olhando os modelos mais amplos de minha vida, deixo mais margem para mim mesma. Muitas vezes, nossas agendas entram em choque com nossos ritmos interiores. Sentimo-nos estressados porque estamos fora de sincronia. Da próxima vez em que se sentir estressado, dê uma caminhada sozinho. Redescubra seu próprio ritmo. Depois, pergunte a si mesmo como poderá harmonizar-se melhor com ele. 97

EXERCÍCIO PESSOAL COMO PASSO MEU TEMPO?

Os psicólogos sabem que a melhor maneira de mudar um padrão estressante é, primeiro, ter consciência dele. Nesta semana, verifique a maneira como você está usando seu tempo. Pergunte a si mesmo(a) quanto tempo você gasta todos os dias para:

Caso não se encaixe nesses critérios então não faça. Viver o Tao significa assumir responsabilidade pessoal pela estrutura de nossas vidas.

Afirmação Agora sei que minha vida é pacífica e harmoniosa. Simplifico minha vida. Abro mão de posses desnecessárias. Sigo minha orientação interior e a sabedoria do Tao. Uso meu tempo sabiamente Respeito a mim mesmo(a) e ao processo. Harmonizo-me com a natureza e com todos os demais em meu mundo. Agora recebo maior paz em minha vida E assim seja.

• Comer • • • • • • • • •

Dormir Fazer exercício Trabalho significativo Crescimento espiritual Atividades renovadoras (divertimento, leitura) Gozar a companhia de amigos Manutenção de rotina Serviço social Outros

Examine os modelos que surgem. Seus dias são equilibrados? Você deixa tempo suficiente para fazer exercícios, renovação e espiritualidade, ou está preso demais ao trabalho e a atividades de manutenção? Cuidadosamente, examine a última categoria: outros. O que mais você anda fazendo? Há algumas coisas aqui que você pode delegar, eliminar ou então simplificar? Há alguma coisa faltando em sua vida? Você pode deixar espaço para isso reduzindo seu envolvimento em outras áreas? Pense em si mesmo(a) como um(a) arquiteto(a) projetando uma bela estrutura viva. Que mudanças o(a) ajudariam a levar uma vida mais equilibrada? Projete um novo modelo incorporando essas mudanças e comece a vivê-lo.

NOTAS

1. ArthurWhaley, The Wayand Its Power: A Study of the Tao Te Ching and 2. 3. 4. 5.

6.

PERGUNTAS TAO

Sempre que estiver considerando a possibilidade de assumir um novo compromisso, você pode manter-se nos eixos perguntando a si próprio(a): • É necessário? • É saudável? • Trará mais paz para a minha vida ou para o planeta? 98

7.

8.

9.

Its Place in Chinese Tíioiight (Londres: Allen & Unwin, 1956), p. 167. Citações de Thoreau, extraídas de The Variorum Walden, pp. 68,83. Alvin Toffler, Future Shock (Nova York: Random House, 1970), pp. 4, 52-53. Toffler, Future Shock, pp. 308, 314-15. Minha versão aqui é parecida com a tradução de R.L. Wing em The Tao of Power (Nova York: Doubleday, ©1986), Capítulo 46, p. 46: "Therefore know that enough is enough. There will always be enough". ("Portanto saiba que o bastante é o bastante. Sempre haverá o bastante".) Usado com permissão do editor. Benjamin Hoff, notas do tradutor, The Way to Life: At the Heart of the Tao Te Ching (Nova York: Westherhill, 1981), p. 73. Peace Pilgrim: Her Life and Work in Her Own Words, compilado por alguns de seus amigos (Santa Fé: Ocean Tree, 1983), p. 51. Para obter um exemplar deste livro, ou maiores informações sobre Peace Pilgrim, contatar Friends of Peace Pilgrim, 43480 Cedar Avenue, Hemet CA 92344, tel. (714) 927-7678. Um sumário de idéias, extraídas de 99 Ways to a Simpler Lifestyle do Center for Science in the Public Interest (Garden City: Anchor Doubleday, 1976), pp. xi-xii! Kushel, Centering, p. 30-31. 99

CAPÍTULO 9

A DESCOBERTA DE SEU CENTRO Fique quieto E descubra seu centro de paz. Em toda a natureza As dez mil coisas movimentam-se, Mas cada uma volta à sua fonte. Voltar ao centro é paz. Descubra o Tao voltando à fonte. (TAO 16)

nquanto a vida moderna enfatiza a superfície das coisas, o Tao ensina que, sem o centro, a superfície nada significa. Não é nossa aparência, não é o que fazemos, mas o que somos, que dá a tudo significado e objetivo. O oceano é um símbolo maravilhoso do Tao: imenso, fluido, constantemente em movimento. Sob sua turbulenta superfície estão as tranqüilas profundezas. Sob a superfície inquieta de nossas vidas há uma profunda fonte de paz, poder e inspiração. Podemos encontrar esse centro profundo através da reflexão ou da meditação. Distanciando-nos de particularidades, vemos os modelos em desenvolvimento. As pessoas não-Tao identificam-se com exterioridades. Descentralizadas não sabem quem são. Quando seus apoios externos mudam ou entram em conflito, perdem facilmente o equilíbrio.

E

QUEM SOU EU? Emily era o protótipo de uma pessoa descentralizada. Sua vida era estruturada pelo esforço para agradar aos outros: seus pais, amigos, patrão e o homem que ela amava. 101

Loura clara, com vinte e poucos anos, ela estava toda encolhida na cadeira à minha frente, o corpo esguio sacudido pelos soluços. Esforçava-se tanto, disse, mas enfrentava um conflito após o outro. Agora o problema era o Natal. O namorado queria esquiar, os pais queriam que ela ficasse em casa e o patrão pedira-lhe para trabalhar horas extras. "O que você quer fazer?", perguntei. Ela ficou me olhando com os olhos arregalados. "Não sei", disse, com voz de choro. "Não sei o que acho... de nada". Anos agradando os outros haviam causado, apatia emocional. Até seus movimentos eram rígidos, quase mecânicos. Fora de contato com seu centro ia satisfazendo as necessidades de outras pessoas, até que as solicitações se impunham umas às outras e o conflito se transformava em crise. Os "você deve" em oposição a estavam dilacerando. Calmamente, examinamos seus compromissos, separando as escolhas positivas da culpa e da obrigação. Centralizada em seus próprios sentimentos, a vida de Emily tornou-se mais harmoniosa. EXERCÍCIO PESSOAL

Se, tentando agradar aos outros você ficar preso(a) em compromissos conflitantes, volte ao centro, eliminando as palavras "deve" e "não pode" de seu vocabulário. Elas só fazem reforçar a culpa e o desamparo. Em vez de "devo", diga "prefiro". Em vez de "não posso", diga "não quero". Que tal? Quando você afirma seu direito de escolher, torna-se mais consciente de seu centro, de seu poder pessoal.

NÃO SOMOS OS PAPÉIS QUE DESEMPENHAMOS O Tao ensina que a vida inteira é dinâmica. A natureza e os indivíduos estão desenvolvendo-se constantemente. Shakespeare escreveu que "o mundo inteiro é um palco", em que cada um de nós desempenha muitos papéis. Jamais confunda seu centro com os papéis que você desempenha. O Tao não pode ser reduzido a uma simples definição. Tampouco nós. Os papéis são rígidos e sem vida. O Tao cresce e muda para sempre. Será que você se tornou superidentifiçado com algum dos papéis de sua vida? Leia a auto-avaliação a seguir e verifique. 102

AUTO-AVALIAÇÃO

I MEU EMPREGO 1. Quando me apresento, sinto orgulho de dizer o que faço, ou constrangimento de admitir isso? 2. Acho difícil me descontrair nas férias? 3. Quando me saio bem no trabalho, fico em êxtase? 4. Quando me saio mal no trabalho, sinto-me um fracasso completo? 5. Trabalho é minha prioridade número um? 6. Sinto-me mais eu mesmo(a) no trabalho?

II MINHA FAMÍLIA 1. Quando faço planos, penso em primeiro lugar em minha família? 2. Sinto que minhas próprias necessidades são egoístas? 3. Faço as coisas porque meus pais/filhos/parentes acham que "devo"? 4. Minha agenda está cheia de obrigações de família? 5. Não tenho tempo para meus próprios interesses? 6. Preocupo-me muito com os membros da minha família?

III MEU COMPANHEIRO(A) 1. 2. 3. 4.

Quando faço planos, penso primeiro em meu companheiro (a)? Tenho medo de ser honesto com ele(a)? Faço coisas de que não gosto para agradar meu companheiro(a)? Reajo aos estados de espírito de meu (minha) companheiro(a) com altos e baixos emocionais? 5. Deixo de lado meus amigos e outros interesses por causa de meu (minha) companheiro(a)? 6. Sinto ciúmes com facilidade? Preocupo-me com meu (minha) companheiro(a) ou lenho medo de perdê-lo(la)?

IV MEU CORPO 1. Sinto-me constrangido em grandes grupos? Sinto que todos estão olhando para mim? 2. Estou insatisfeito(a) com meu corpo? 3. Quando vejo alguém que me faz lembrar de mim mesmo(a) quando era mais jovem, fico deprimido(a) ou tenho inveja? 4. Sinto que preciso ser forte/bonito(a)/simpático(a)/magro(a) para ser aceitável? 5. Tenho medo de envelhecer? 103

6. Passo muito tempo fazendo dietas ou exercícios compulsivos, ou cuidando da aparência? Se você responder sim a três ou mais perguntas em cada categoria, volte atrás e examine as implicações. Se alguma parte de sua vida tornou-se fonte de ansiedade, culpa ou variações radicais de estados de espírito, você está com superidentificação. A superidentificação fragmenta seu sentido do eu. Na próxima parte deste livro, veremos como as pessoas que se superidentificam perdem seu centro. Podemos romper com esse doloroso modelo percebendo que ultrapassamos sempre os papéis que desempenhamos.

MEU EMPREGO NÃO É MEU CENTRO Durante os últimos vinte anos, Jim tem andado à procura da carreira ideal. Sujeito de aspecto agradável, com cabelos cor de areia e olhos azuis intensos, ele foi cadete da polícia, assistente social, instrutor bilíngüe, fotógrafo e estudante de Direito. Lança-se em todos os campos com entrega total. Era o primeiro de sua turma na polícia, até que sua paixão por uma assistente social impeliu-o a mudar de carreira. Para se tornar melhor assistente social, aprendeu espanhol, e não só passou a dominar o idioma, como também o ensinava em suas horas livres. Quando estava no México, para fazer um curso intensivo da língua, interessou-se por fotografia, então deixou seus outros empregos, investiu num equipamento fotográfico e mudou-se para uma água-furtada em San Francisco. Depois de dois anos como fotógrafo comercial, decidiu tornar-se advogado. Inteligente e decidido, Jim obtém sucesso em todos os empreendimentos, até que, de repente, perde o interesse. Quando se esgota o entusiasmo inicial, decide que aquela carreira não é a certa para ele e abandona-a. Seu centro, sua identidade, sempre fica de fora. A meta fugidia acena, pouco além de seu alcance, prometendo, daquela vez, dar um significado à sua vida. Jim continua procurando a carreira de seus sonhos. Outros agarram-se ao emprego por segurança. De qualquer forma, fazem de suas carreiras seu centro. Há vinte anos, em Seattle, vários engenheiros aeroespaciais suicidaram-se. Por quê? Haviam sido dispensados. Sem seus empregos, sentiram-se inúteis, incapazes de enfrentar a vida. 104

Crise de identidade semelhante muitas vezes aflige as pessoas aposentadas. Sem seus empregos, ficam imaginando quem são. Sucumbindo ao desespero, muitas jamais chegam a viver até descobrir. A identificação com nossas carreiras é fortemente encorajada em nossa sociedade. Quando nos apresentamos, em geral definimos quem somos como o que fazemos: "Meu nome é Jim Pierce. Sou estudante de Direito". O Tao nos ensina a ver além das categorias. Quem somos ultrapassa sempre o que fazemos.

AFIRMAÇÃO

Se você se identifica em excesso com seu emprego, restabeleça seu equilíbrio lembrando a si mesmo, várias vezes por dia: "Tenho um emprego, mas não sou meu emprego. Estou em união com o Tao."1

MINHA FAMÍLIA NÃO É MEU CENTRO Tradicionalmente, os empregos para os homens e os relacionamentos para as mulheres têm sido fontes importantes de superidentificação. Enquanto os homens vêm construindo suas identidades em torno de carreira, as mulheres constroem as suas em torno do lar e da família. Durante vinte e oito anos, Beth mergulhou em seu papel de mulher de médico. Encontrou Don na universidade e trabalhou como secretária, enquanto ele lutava para se formar em medicina. Quando ele pendurou na porta a placa de médico, ela, satisfeita, deixou o trabalho para cuidar dos filhos, entrar no clube de jardinagem e se tornar membro ativo da comunidade. No verão passado, quando o último filho do casal foi para a universidade e Don pediu o divórcio, Beth entrou em estado de choque. De repente, não havia marido, não havia filhos, não havia centro algum para sua vida. 105

AFIRMAÇÃO

Nossas famílias são fontes de amor e apoio mas a superidentificação com elas é pouco saudável. As pessoas mudam. Os filhos se tornam adultos. Pessoas amadas podem partir. Caso você sofra de superidentificação, lembre a si próprio(a): "Tenho uma família, mas não sou minha família. Amo minha família porque amo minha vida. Estou em união com o Tao."

MEU RELACIONAMENTO NÃO É MEU CENTRO Os tempos mudaram, mas muitas mulheres ainda constroem suas vidas em torno dos homens que amam, ou perdem tempo esperando perdê-lo ou esperando pelo homem perfeito. Há mais de dois anos, Lois vem tentando comprar uma casa. Para uma mulher solteira, profissional, de trinta e cinco ano, isto faz sentido, do ponto de vista financeiro. Mas um problema após o outro impedem-na de fazer isso. Seu corretor é incompetente, diz ela, e seu atual relacionamento é um sujeito vacilante. Lois supervisiona um departamento de crédito para vendas a varejo em uma grande empresa. Seu salário é alto, ela economizou para dar a entrada, mas, mesmo assim, não consegue comprar uma casa. Fazendo terapia, ela descobriu que uma casa era parte de sua visão de casamento. Deixava de comprá-la porque estava faltando o homem certo. Para Lois, comprar uma casa sem um homem significava desistir de seu sonho de casamento. Lois precisa descobrir seu próprio centro. Ela não pode continuar a adiar sua vida a espera de que o relacionamento certo vá tornar todos os seus sonhos realidade. Muitas mulheres desistem de seus centros em favor do homem que amam. Não consigo lembrar-me de todas as identidades que Christa assumiu, cada uma reflexo de sua relação do momento. Quando ela estava saindo com um aficionado das corridas de automóveis, entrou em meu escritório lendo Road and Track. Seu caso com um escritor de livros de mistérios fez com que ela mudasse o guarda-roupa, passando a usar capas e golas rulê — seu material de leitura era então Ellery Queen e Dashiel Hammett. Atualmente, namora um empresário de grupos de dança — e estuda balé e se veste com uma colorida coleção de malhas e meias. 106

O que transforma uma mulher inteligente numa camaleoa assim? O tempo todo, ela mantém seu centro fora de si mesma, nas mãos do homem que ama. Ao abrir mão de si mesma, Christa torna-se compulsivamente ligada ao namorado, criando problemas, grudando-se a ele e enlouquecendo-o. Quando ele se afasta, sufocado com suas exigências, ela fica arrasada. Quem poderá ser, sem ele? AFIRMAÇÃO Mais uma vez, o Tao nos devolve ao centro. Nossos relacionamentos tornam-se mais saudáveis, quando paramos de nos identificar com eles. Quando você se descobrir excessivamente identificado(a) com uma pessoa importante em sua vida, repita essa afirmação muitas vezes por dia: "Tenho um relacionamento, mas não sou meu relacionamento. Amo (seu parceiro) porque amo a mim mesma. Estou em união com o Tao."

MEU CORPO NÃO É MEU CENTRO Muitas pessoas identificam-se com seus corpos. Lutando para alcançar padrões artificiais de perfeição, não são jamais suficientemente altas, suficientemente fortes, suficientemente magras. O Tao ensina que nada na vida permanece imóvel. Mesmo quando alcançamos os ideais de nossa sociedade, estamos sempre mudando. A identificação com uma imagem corporal impede-nos de crescer. Em grande número, jovens atletas ficam deprimidos na meia-idade, quando sentem que estão perdendo seus poderes. Mulheres adoradas quando jovens e bonitas podem achar a transição da meia-idade cheia de dor e perda. AFIRMAÇÃO Se você tem andado excessivamente preocupado com sua imagem física, repita essa afirmação: "Tenho um corpo, mas não sou meu corpo. Estou em união com o Tao." 107

NÃO SOU MINHA CAUSA Muitas pessoas que trabalham pela justiça social sofrem um grande desgaste pelo fato de que por mais que trabalhem, por mais que se sacrifiquem, o problema continua. Os Defensores da paz, como os conselheiros, enfermeiras e professores, podem perder a noção de seu centro, quando se identificam excessivamente com uma causa. Os problemas da fome, pobreza, injustiça, perigo nuclear e meio ambiente são tão esmagadores que é fácil nos perdermos neles. Mas, ao nos perdermos, não podemos agir. Ficamos paralisados pelo desespero. Recentemente, dois estudantes universitários vieram me procurar depois de terem assistido a um filme sobre a América Central. "Sinto-me péssima", disse uma moça. "Há tanta pobreza. O problema é enorme. Não há nada que eu possa fazer". Mas há. Cada um de nós pode fazer alguma coisa, mesmo não podendo, isolados, solucionar o problema. Nós três decidimos coletar roupas para as vítimas do furacão na Nicarágua. Em vez de nos rendermos ao desespero, agimos e afirmamos nossa esperança num mundo melhor. Como pacifistas, podemos ser mais eficientes se permanecermos centralizados, recusando-nos a nos render à culpa ou ao desespero. Por mais importante que seja a causa, ela não é nosso centro. Devemos nos lembrar de equilibrar a preocupação com nossos vizinhos e nosso planeta com a renovação pessoal. AFIRMAÇÃO

Se você andou identificando-se excessivamente com sua causa, lembre a si mesmo: "Tenho uma causa, mas não sou minha causa. Estou em união com o Tao."

CENTRALIZAÇÃO Distanciando-nos das extremidades, afirmando nosso centro ficamos em união com o Tao. Distanciamento não significa que não possamos apreciar nosso trabalho, nossas famílias, nossos 108

relacionamentos, nem nos comprometer com uma causa — apenas não nos identificamos com isso. Distanciamento não significa desistência, e sim abertura para o Tao, a fonte da vida. Porque nosso centro é nossa fonte de paz, nosso elo com o infinito, o tesouro que carregamos junto de nossos corações. Lao Tsé diz: "Rejeitando as aparências A pessoa Tao usa roupas simples, Vive fiel ao centro, Usa jade junto do coração." (TAO 70) Centralizada, a pessoa Tao olha além das exterioridades, jamais ostentando realizações ou posses. Podemos apreciar as bênçãos de nossas vidas, mas não podemos possuí-las. São parte do movimento fluido do Tao, parte do processo que flui como um rio, em torno e através de nós. Quando sabemos disto, encontramos nosso centro e estamos em união com o Tao. Lao Tsé nos diz: "A pessoa Tao abraça o Uno E vive em paz segundo seu modelo. Não se prenda a seu ego e encontrará sua alma. Evite atos arrogantes e seu trabalho durará. Se você não competir, ninguém neste mundo competirá com você. Siga a antiga sabedoria: 'Ceda e Vença'. A verdadeira paz é alcançada Quando a pessoa se centraliza E se mistura com a vida."2 (TAO 22)

Afirmação Agora sei que minha vida é pacífica e harmoniosa Estou centralizado(a), pleno(a) e completo(a). 109

Tenho um emprego, mas não sou meu emprego. Tenho uma família, mas não sou minha família. Tenho relacionamentos, mas não sou meus relacionamentos. Tenho um corpo, mas não sou meu corpo. Tenho uma causa, mas não sou minha causa. Estou em união com o Tao. Respeito a mim mesmo(a) e ao processo. Harmonizo-me com a natureza e com todos os outros em meu mundo. Agora recebo uma paz maior em minha vida. E assim seja.

Não se vanglorie e terá mérito. Não seja orgulhoso(a) e seu trabalho durará. É pelo fato de você não lutar que ninguém sob o céu pode lutar com você. O ditado dos Antigos, "Ceda e Vença", não é uma frase vazia. A verdadeira plenitude á alcançada misturando-se com a vida."

NOTAS 1.

Variações desse processo de desidentificação são amplamente usadas no aconselhamento. Para maiores informações e discussões, ver: Roberto Assagioli, The Act of Will (Nova. York: Viking, 1973), pp. 214-217. 2. Minha versão inspirou-se na bela tradução do írmão Tolbert MacCarroll, The Tao: The Sacred Way (Nova York: Crossroad, ©1982), p. 47. Usado com permissão do autor. "Therefore the True Person embrace the One and becomes a model for all. Do not look only at yourself, and you will see much. Do not justify yourself, and you will be distinguished. Do not brag, and you will have merit. Do not be prideful, and your work will endure. It is because you do not strive that no one under heaven can strive with you. The saying of the Old Ones, "Yield and Overcome", is not an empty phrase. True wholeness is achieved by blending with life." "Assim a Pessoa Autêntica abraça o Uno e se torna um modelo para todos. Não olhe apenas para si mesmo(a). e verá muita coisa. Não se justifique e será distinguido(a). 110

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CAPÍTULO 10

A EXPLORAÇÃO DE SUAS DUALIDADES YIN E YANG O Tao é o Uno. Do Uno vem o yin e yang; Desses dois, a energia criadora; Da energia, dez mil coisas, As formas de toda a criação. A vida inteira incorpora yin E abraça yang, Através de sua união Alcançando a harmonia. (TAO 42)

Tao ensina que a vida é dinâmica com seus modelos mutáveis que abrangem yin e yang, as polaridades encontradas em toda a natureza. Nós a conhecemos como dia e noite, calor e frio, macho e fêmea, ação e repouso. Mas a mente ocidental, muito freqüentemente, coloca dilemas, forçando-nos a escolher um extremo e não outro: dia ou noite, macho ou fêmea, ação ou repouso. Com nossa preferência pelo yang em vez do yin, a cultura americana equipara a vida bem-sucedida com o dia ("dormir cedo e acordar cedo"), com o estereótipo masculino, com a ética de trabalho puritana. Na sabedoria do Tao, um extremo completa o outro. Ação e repouso parecem contrários, mas a ação sábia inclui o repouso, a reflexão e a orientação interior, evitando os extremos da compulsividade (yang excessivo) ou da passividade (yin excessivo). Em nossas vidas e em nosso mundo, o equilíbrio dinâmico dessas forças traz harmonia.

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A COMPREENSÃO DO YIN E DO YANG Yin e yang são as duas polaridades da vida. Aparecem sob as seguintes formas: yin escuridão lua noite inverno terra vale água aberto macio deficiência interior contração passivo contemplativo feminino alimentar sentir escutar intuição inconsciente repouso saber

yang luz sol dia verão céu montanha pedra fechado duro excesso exterior expansão agressivo ativo masculino realizar pensar falar razão consciente ação fazer

A oposição dinâmica do yin e do yang é central para a filosofia oriental. O I Ching, antigo livro de sabedoria e adivinhação, é composto de linhas sólidas (yang), que se combinam com linhas interrompidas (yin) para produzir os sessenta e quatro hexagramas que retratam toda a experiência humana. O filósofo chinês Chu Hsi, do século XII, explicou que "a fase de repouso é o yin, a fase de atividade, o yang, e essa perpétua alteração de yin e yang, por sua vez, produz os cinco elementos... Dos cinco elementos nascem o céu e a terra e deles, toda a criação." O Tao ensina que "a vida inteira incorpora yin e abraça yang ". (TAO 42). Toda a existência surge da síntese dessas forças. Enquanto

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yin contrasta com yang e o abraça ao mesmo tempo, a interação dos dois produz uma nova criação. Esse paradigma dinâmico de yin e yang parece com a dialética hegeliana da tese/antítese/síntese, segundo a qual um conceito (tese) inevitavelmente gera seu oposto (antítese), e a interação de ambos produz um novo conceito (síntese). A semelhança não é nenhum acidente, porque Hegel também estudou o Tao, tendo dado aulas sobre taoísmo em Heidelberg, no início de sua carreira.2

O EQUILÍBRIO DO YIN E DO YANG Tanto o ativo yang como o contemplativo yin são essenciais para a vida inteligente. Todos precisamos de momentos de silenciosa reflexão, do contrário nossas ações não teriam nenhuma direção, nenhum significado. Inversamente, sem ação nossos pensamentos não podem tomar forma. Algumas vezes, as pessoas ficam presas num extremo ou no outro tornando-se demasiado yin ou demasiado yang. Sunny e Sam cresceram juntos nos anos sessenta, adotando modelos opostos para suas vidas. Sunny abraçou o idealismo dos anos sessenta. Participou de manifestações e trabalhou em campanhas políticas, acreditando que podia transformar as coisas. Depois da universidade, ingressou no Corpo da Paz e, em seguida, tornou-se jornalista, especializando-se em questões de justiça social. Sunny trabalha longas horas no jornal, dá aulas de produção de textos na universidade, dá conselhos a mulheres readmitidas, trabalha como voluntária no abrigo local e pertence a uma dúzia de organizações da comunidade. São todas boas causas e Sunny, simplesmente, não consegue dizer não. Sua vida pessoal é quase inexistente — está ocupada demais ajudando os outros e há sempre muita coisa para fazer. Correndo de um compromisso para outro, ela é como um cometa, perpetuamente em movimento, com os cachos louroavermelhados sempre despenteados, as roupas amassadas, as refeições feitas às pressas. Quase nunca está em casa. O ritmo de sua vida vai do movimentado ao frenético, excessivamente yang, pontilhado por breves períodos de yin involuntário, quando entra em colapso por exaustão. Seu irmão Sam não só carece do impulso da irmã como também parece perfeitamente feliz sem fazer nada. Os anos sessenta levaram115

no às drogas, ao cinismo e à passividade. Saiu da escola depois do "verão do amor" em San Francisco e passou a trabalhar em empregos sucessivos. Mas prefere viver do fundo de garantia. Sempre que tem alguns dólares, Sam começa a discutir com o patrão, é demitido e volta para o desemprego, a fim de aproveitar sua versão de boa vida. Depois de dormir até o meio-dia, passa o dia fumando maconha e assistindo à TV. Sam fica deitado no sofá durante horas, lendo, devaneando ou cochilando. Sendo o tipo mais caseiro do mundo, vagueia pelo apartamento brincando com o gato do rapaz com quem divide o apartamento ou observando os garotos do vizinho. Por volta da hora do jantar, dá uma caminhada até o supermercado da esquina, a fim de arranjar alguma coisa para comer. Gosta de cozinhar para seus amigos, sendo especialista em preparar comidas ao molho de curry. Sam pensa em abrir um restaurante, mas é tão chato trabalhar. Então volta para o aparelho de TV e assiste a outra reapresentação de "Leave It to Beaver", até que suas finanças vão chegando ao vermelho e ele é forçado a arranjar outro emprego. Sunny jamais se senta e Sam raramente se move, a não ser que tenha necessidade. Os pais deles preocupam-se pelo fato de ela ser uma viciada em trabalho, ocupada demais para arranjar um marido, enquanto o filho parece que nunca consegue segurar um emprego. Se Sunny fosse a passiva, que não sai de casa, e Sam o trabalhador compulsivo, algumas pessoas os considerariam normais, porém, mesmo assim, eles ainda seriam radicais. A vida saudável, integrada, combina tanto a contemplação corno a ação, yin e yang. Nossa sociedade também precisa de um equilíbrio melhor. Como Sunny, muitas pessoas no mundo ocidental correm sem parar de um lado para outro à caça de seus sonhos de uma vida melhor, sem tempo para refletir, para perguntar para onde eles — e todos nós — nos encaminhamos. Duane Elgin escreve em Voluntary Simplicity (Simplicidade voluntária): "Nossa crise civilizacional surgiu em grande parte da imensa disparidade que existe entre nossas 'faculdades interiores' relativamente subdesenvolvidas e as tecnologias externas extremamente poderosas que hoje estão à nossa disposição."3 "Como é dentro, assim é fora." O desequilíbrio do mundo resulta do desequilíbrio pessoal. O Tao nos ensina a levar uma vida mais calma, a olhar para dentro de nós mesmos e a fazer escolhas mais sábias.

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PARA RESTABELECER NOSSO EQUILÍBRIO Sem equilíbrio, vamos para um extremo, como Sunny ou Sam, ou experimentamos uma alternância de altos e baixos. Quase todos conhecem alguém como Terry. Ela passa de uma dieta para outra, com o peso variando de 50 a 80 quilos. Seu armário está cheio de roupas tamanho 40, e mais alguns cáftãs grandes como tendas, para usar quando nada mais serve. A pobre Terry é obcecada, ao mesmo tempo, por comida e por dietas, passando constantemente de um extremo ao outro. Entre um namorado e outro, come para se consolar, concedendo-se a comida confortadora que aprendeu a amar quando era criança: frango frito, batatas fritas, presunto frito com cereais, empadões fritos, sorvete, biscoitos doces e queijada. Depois, quando nenhuma de suas roupas serve, lança-se numa dieta radical, passando a viver de aipo, caldo, suco e salada. Quando se livra dos quilos indesejáveis, o ciclo recomeça, mais uma vez. Ao longo dos anos, Terry já perdeu e ganhou centenas de quilos. Os extremos yang e yin de indulgência e privação são terrivelmente duros para seu corpo, primeiro invadindo seu sistema com gorduras e colesterol, depois privando-se de nutrientes especiais. Uma dieta nutritiva e exercícios regulares ajudariam a harmonizar sua vida e também seu peso com o equilíbrio correto do yin e do yang. Para restabelecer equilíbrio, precisamos recuar, dedicar algum tempo para nos centralizar e orientar. Do contrário, como Terry, estaremos apenas ziguezagueando loucamente entre dois extremos. Quando reconhecemos os modelos excessivos em nossas vidas, podemos tomar alguma providência.

EXERCÍCIO PESSOAL Você está experimentando variações violentas em alguma parte de sua vida: no peso, nos relacionamentos, na saúde, nas finanças ou na carreira? Caso afirmativo, dedique alguns minutos para avaliar suas orientações. • Saia sozinho e relaxe, com algumas respirações lentas e profundas. • Agora, faça a si mesmo uma pergunta de cada vez. Depois de cada uma, feche os olhos e espere pela resposta. 117

• Onde, em minha vida, está o ponto de excesso, de expansão, o ativo yang? Onde é, que me descubro fazendo algo além da medida? • Onde está o ponto de deficiência, contração, o passivo yin? Onde, em minha vida, nunca tive o bastante? Onde me sinto diminuído ou privado? • Como o yin e o yang se relacionam em minha vida? Existe algum modelo causai entre os dois extremos? • O que posso fazer para trazer mais equilíbrio para minha vida? Escreva suas descobertas em seu diário. Depois, reveja tudo no dia seguinte e comece a criar um novo modelo mais equilibrado. O objetivo, claro, não é eliminar os altos e baixos. Isto seria impossível. Na vida, haverá sempre contrastes: vales e montanhas, yin e yang. Mas, quando estamos centralizados, nossas emoções fluem em ondas suaves. Não mergulham mais de altos cumes a profundos abismos. À medida que nos tornamos mais conscientes dos modelos naturais em nossas vidas, aprendemos a fluir com eles. Todos nós nos sentimos, às vezes, expansivos, vibrantes, ativos — yang — e, outras vezes, quietos, tranqüilos, reflexivos — yin. A pessoa Tao atende a esses ritmos interiores, aprecia as diferenças.

A HARMONIA COM O MUNDO A NOSSA VOLTA Algumas vezes, precisamos modificar nossos ritmos para nos harmonizar com as pessoas e situações ao nosso redor. Uma maneira de fazer isso é com música. Durante séculos, as pessoas perceberam que certos padrões de som nos motivam, enquanto outros acalmam e aliviam nosso espírito. O psiquiatra Roberto Assagioli prescrevia diferentes músicas para seus pacientes: marchas para acelerar as energias das pessoas deprimidas, valsas para acalmar os superansiosos. Acho que as marchas são revigorantes e dão energia, constituem o perfeito impulso para mim, quando tenho um novo projeto ou vou enfrentar um desafio. Para me acalmar e relaxar, ouço Bach, Vivaldi, ou música New Age, para meditar. Os ritmos medidos, contrapontos e tons suaves misturam os acontecimentos do dia, compondo modelos harmoniosos. Outra maneira de alcançar o equilíbrio é com a cor. Os decoradores criam ambientes repousantes com tons suaves de azul e 118

verde, ou elevam nossas energias com cálidos amarelos, laranjas e vermelhos. Quando se vestem, pela manhã, muitas pessoas, inconscientemente, escolhem cores que se harmonizam com seus estados de espírito. Estudiosos de filosofia oriental dizem que somos cada um de nós um arco-íris ambulante. Nossos sete chakras, os centros de energia que atravessam nossos corpos, vão dos apaixonados centros inferiores do vermelho e do laranja ao plexo solar amarelo, ao verde chakra do coração, até os tons tranqüilos do azul (chakra do pescoço), anil (o terceiro olho) e violeta (a coroa chakra, no alto da cabeça). Usar as cores correspondentes estimula os chakras. Vermelho e laranja, as cores dos chakras inferiores, ativam nossas tendências yang, tornando-nos mais enérgicos, afirmativos e fisicamente ativos. Uso vermelho quando quero aumentar minha energia. O amarelo estimula o intelecto e ativa seu poder pessoal. É, muitas vezes, usado em bibliotecas e áreas de estudo. O verde, a cor da natureza, tem um profundo efeito calmante. Muitos decoradores equilibram escritórios movimentados usando o verde suavizante das plantas tropicais. O azul claro ou o violeta ativam nossas tendências contemplativas, yin, estimulando a espiritualidade, a criatividade, a serenidade. Minha igreja, recentemente, redecorou seu santuário com tons de um azul suave, criando uma atmosfera pacífica e meditativa. PERGUNTA TAO

Quando você for se vestir amanhã, pense nas cores que vai usar. Você quer ficar em harmonia com os seus sentimentos ou modificálos levemente, complementando yin e yang ? A escolha é sua, mas lembre-se de que tudo, em nosso mundo, transmite vibrações sutis. É nossa missão misturá-las em modelos harmoniosos.

PARA TRANSCEDER OS PAPÉIS SEXUAIS O Tao nos diz: "Desenvolva seu poder masculino Mas seja gentil e acalentador(a). Torne-se aberto(a) como um vale 119

Para que o rio da virtude Corra através de você, Devolvendo-o(a) à fonte." (TAO 28) Embora as culturas tradicionais tenham consolidado nos homens o comportamento yang, ativo, agressivo, e, nas mulheres, o yin submisso, cada um de nós tem ambas as tendências. O psicanalista Carl Jung percebeu que, sob a imagem masculina consciente de cada homem, há a anima, seu potencial feminino inconsciente. Da mesma maneira, dentro de cada mulher está o animus, suas tendências masculinas irrealizadas. Segundo Jung, até nos reconciliarmos com nosso contrário inconsciente, a vida é uma contínua busca de plenitude.5 Os contrários se atraem. Em nossa juventude, projetamos a anima ou o animus na pessoa que amamos, procurando um "companheiro espiritual", que corporifica nosso potencial irrealizado. Rapazes atléticos, musculosos, sentem-se muitas vezes atraídos por moças miúdas, "femininas". Mulheres emotivas ficam fascinadas por homens fortes e silenciosos porque são tão diferentes delas. À medida que amadurecemos, procuramos esse oposto dentro de nós mesmos, num processo que Jung chamou de individuação. Homens saudáveis tornam-se mais conscientes de seus sentimentos, aprendendo a ouvir e acalentar os outros. Mulheres adultas aprendem a competência e a afirmação. Ao descobrir esse potencial inconsciente, equilibramos yin e yang, tornando-nos mais plenos, mais completos, mais em paz conosco. Antigamente, muitas culturas confinavam homens e mulheres a rígidos papéis sexuais, designando os homens como agressivos e as mulheres como acalentadoras. A sabedoria do Tao conduz além das definições estreitas. Homens e mulheres do Tao são tão gentis e fortes, pacientes e afirmativos, dando vazão a suas próprias energias e reagindo apropriadamente às situações em torno deles. Anos atrás, ter uma carreira era considerado "pouco feminino" para as mulheres americanas. Esperava-se que encontrassem sua realização cuidando do marido e dos filhos. Esperava-se que os homens trabalhassem duro e fossem "bons provedores", mas raramente vendo suas famílias. Era uma vida desequilibrada para todos. Quando eu estava na universidade, durante os anos setenta, sentia pena das donas-de-casa, considerando-as múmias de uma era 120

morta. Depois de ler FeminineMystique(A mística feminina), de Betty Friedan, minhas amigas e eu erguemos o estandarte do feminismo. Ingressamos num grupo formado para despertar consciências e tínhamos encontros nas casas umas das outras, para nos liberar dos grilhões sexistas. Porém algumas de nós foram longe demais. Uma declarou que todos os homens eram inimigos. Algumas desistiram de usar maquilagem e jóias, porque "nos transformavam em objetos sexuais". Muitas vezes abraçaram um feminismo que transformava as mulheres em criaturas tão agressivas e competitivas quanto os homens tradicionais, pregando uma total dedicação a suas carreiras. Eu me sentia culpada porque tinha amigos homens, usava maquilagem e gostava de fazer coisas "femininas", como tricotar e bordar. Agora percebo que meus projetos de costura yin serviram para equilibrar o yang competitivo da universidade, mas, naquele tempo, eu mantinha em segredo meus hobbies "divergentes". Décadas mais tarde, o movimento feminista reconheceu que cada mulher deve procurar seu próprio equilíbrio entre ativa e passiva, yang e yin. Os homens também estão rejeitando os papéis sexuais rígidos, capacitando-se para serem acalentadores, sensíveis e fortes. Os casais podem encontrar o seu próprio equilíbrio, delegando atividades de acordo com escolhas pessoais, e não com estereótipos sexuais. Em meu casamento, ambos cozinhamos, fazemos compra de supermercado e cuidamos da casa. Algumas vezes, um de nós tem mais tempo do que o outro para fazer as tarefas diárias, mas tudo se equilibra, no fim. Valorizo minha liberdade para me expressar de muitas maneiras, seja fazendo jardinagem, cozinhando ou limpando um piso de madeira-de-lei. Mas também valorizo a parceria com Gwilym, suas habilidades e as deliciosas refeições que ele faz para nós. PARA ABRAÇARA SOMBRA O Tao nos ensina a ver além das polaridades, comentando que: "Quando as pessoas chamam uma coisa de bela, Vêem outra coisa como feia. Chamando uma coisa de boa, Seu contrário se torna mau. Porém, ter e não ter produzem um ao outro. Difícil e fácil se equilibram. 121

Longo e curto se completam. Alto e baixo dependem um do outro. Altura e tom formam juntos a harmonia. Começo e fim se sucedem." (TAO 2) Com essa lição tornamo-nos mais tolerantes, menos prontos a condenar alguém diferente de nós mesmos. Porque os contrários, yin e yang, são parte de um modelo em constante evolução. É tolice impor nossa moral sobre essas diferenças, vendo um extremo como bom e seu contrário como mau, porque, em outros tempos, em outras culturas, as pessoas os viram exatamente como o inverso. As pessoas Tao podem aceitar tendências contrárias no mundo porque reconhecem os contrários dentro de si mesmas. Carl Jung percebeu que cada pessoa tem um eu consciente e um lado escuro, os sentimentos e desejos não expressos, chamados "sombra." Mostramos ao mundo nosso eu consciente {yang), mas sob ele jaz a sombra inconsciente {yin), nossos medos, fraquezas e desejos escondidos — tudo o que não aceitamos em nós mesmos. Um homem que se orgulha da racionalidade e da ordem permitirá suas tendências apaixonadas, sensuais e impulsivas, que se tornam parte de sua "sombra". Ele criticará qualquer pessoa que tenha sentimentos apaixonados, simultaneamente desagregado e atraído por aquilo que reprimiu em si mesmo. Até aceitarmos as partes não expressas de nós mesmos, somos vulneráveis perante alguém que as expresse. Nossos inimigos e nossos amores são projeções de nosso lado sombra. Francine aceitou finalmente sua sombra. Durante toda a sua vida, Frankie, como seus amigos a chamam, foi positiva, competente e bem-sucedida, a pessoa que tinha as boas idéias, a energia, a motivação. Foi presidente do conselho de estudantes na escola secundária, oradora da turma na universidade e tornou-se uma destacada advogada trabalhista. Morena atraente, Frankie obteve sucesso em quase tudo — menos no amor. Por que, meu Deus, perguntavam-se os amigos, ela se envolvia com uma tal sucessão de fracassados? Jerry era um músico de rock temperamental; Fred, um empreiteiro sem trabalho; Jim, um aspirante a romancista. Nenhum deles conseguia dar conta de suas vidas, então iam, um atrás do outro, morar com ela. Frankie os encorajava, sustentava, pagava suas contas e os amava, até que eles esgotavam todos os seus recursos. 122

Por que ela se sentia atraída por homens fracos, quando não podia suportar fraqueza em si mesma e nas outras mulheres? Ardente feminista, odiava a fraqueza feminina, porque detestava ser fraca ela própria, cedendo a seu lado sombra. Desamparados, fracos e necessitados, os namorados de Frankie eram o oposto de seu eu competente, dinâmico. Eles também eram reflexos de sua sombra, mas, sendo homens, atraíam-na. Durante toda a sua vida, ela fora incapaz de pedir ajuda, teimosamente fazendo tudo por si mesma. Então, ser ajudada, acalentada e cuidada permanecia yin, algo escondido em seu inconsciente. Até aceitar sua sombra, ela permaneceu vulnerável aos homens fracos e necessitados. Felizmente, Frankie entrou para uma nova igreja, que dava aulas de desenvolvimento pessoal. Lá, aprendeu a relaxar, abrir mão das defesas e aceitar a si mesma sem ter sempre de ser competente e controlada. À medida que se tornou emocionalmente mais saudável, passou a atrair relacionamentos mais saudáveis. Agora está casada com Will, um arquiteto bem-sucedido, gozando uma vida mais feliz e mais equilibrada.

EXERCÍCIO PESSOAL: ABRAÇAR A SOMBRA Todos temos nossas sombras, partes de nós mesmos que permanecem inconscientes. Este exercício, irá ajudá-lo(a) a começar a reconhecer as suas. • Saia sozinho(a) para um lugar onde vá ser perturbado(a) e fique em pé, com os joelhos dobrados, os braços do lado do corpo, respirando para dentro de seu hara, o ponto de poder logo abaixo do umbigo. • Sinta a energia fluindo através de seu corpo e saindo pelas pontas dos dedos. Experimente você mesmo(a) como um centro de poder. • Agora, feche os olhos e visualize alguém de quem você não gosta, em pé a sua frente. Quem é essa pessoa? O que você sente com relação a ele/ela? • Pergunte a si mesmo(a): "Do que não gosto nessa pessoa?" Entre em contato com essa mensagem. Essa característica é parte de seu lado sombra, algo que você não pode aceitar em si mesmo(a). • Diga a essa pessoa: "Libero você. Estou em união com o Tao" Quando fizer isso, inspire profundamente e expire. 123

• Olhe para dentro de si mesmo(a), em busca de alguma fraqueza correspondente, e diga: "Aceito a mim mesmo(a). Perdôo a mim mesmo(a). Estou em união com o Tao". Torne a inspirar profundamente e solte a respiração. • Sinta energias renovadas fluindo em você. Depois, volte para suas atividades normais, mais em paz consigo mesmo(a) e com as polaridades que tem dentro de si.

CAPÍTULO 11

COMO CRIAR UMA ALEGRIA

À medida que você for seguindo o Tao, julgará menos a si mesmo(a) e aos outros, será mais paciente, perdoará com mais facilidade. Mais consciente dos modelos, misturará os vários níveis de yin e yang em novas harmonias, criando uma paz maior em sua vida.

MAIOR NA VIDA

Afirmação Agora sei que minha vida é tranqüila e harmoniosa. Tenho consciência dos modelos dentro e em torno de mim. Equilibro o yin e o yang em minha vida. Respeito a mim mesmo (a) e ao processo. Harmonizo-me com a natureza e com todos os outros em meu mundo. Agora recebo uma paz maior em minha vida. E assim seja. NOTAS 1. Maspero, Taoism and Chinese Religion, p. 73 2. Chang Chung-yuan, Creativity and Taoism, p. 4 3. Elgi, Voluntary Simplicity, p. 158 4. Assagioli, The Act of Will, p. 206. Para exercícios de maior integração, ver também: Assagioli, Psychosynthesis (Nova York: Viking, 1971). 5. Para uma discussão detalhada da anima e do animus, ver: Carl Jung, "Marriage as a Psychological Relationschip", em The Development of Personality, trad. de R.F.C. Hull, Collected Works 17 (Nova York: PantheonBocks, 1954), p. 198. 6. Para uma discussão da sombra, ver: Carl Jung, Man and His Symbols (Garden City: Doubleday, 1979), p. 168-76.

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Guarde o Tao dentro de você E a alegria certamente virá. (Tao 35)

eguindo o Tao, ficamos cheios de um profundo senso de alegria. Observamos os modelos mutáveis do yin e do yang em torno de nós com distanciamento e paz de espírito. Alcançamos a alegria do Tao voltando a nossa natureza original, afirmando p'u, que significa literalmente "o cepo não cinzelado", madeira natural sem entalhes nem embelezamentos. Os que alcançam op'u não são presunçosos; portanto, não temem o desmascaramento nem o ridículo. Sabendo quem são, a lisonja ou a crítica não os afetam. Ligados ao Tao interior, transcendem as armadilhas do ego. Apreciam o drama da vida sem ser apanhados nele. Seguir o Tao muitas vezes significa viver em ritmo mais lento, perguntando se o que estamos fazendo tem sentido. Com pressa excessiva, perdemos nosso equilíbrio e a vida se torna uma mancha nebulosa. Acalmando-nos, podemos reconhecer os ritmos da vida e voltar para a harmonia. Muito freqüentemente, as pessoas colocam sua felicidade fora de si mesmas, o que conduz a um interminável esforço, à competição e à infelicidade. Inquietos e insatisfeitos, estão sempre procurando algo mais. Filho único de pais alcoólatras, Dennis cresceu sentindo sempre que havia feito algo errado. Hoje, possui sua própria companhia imobiliária. Homem de boa aparência, alto, com trinta e poucos anos,

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ele parece uma imagem do sucesso. Ganha mais de 700 mil dólares por ano, tem um Porsche negro 928 personalizado e é dono de uma bela casa em Miami. Porém, ainda sofre de auto-estima baixa. Cobrando constantemente a perfeição de si mesmo, Dennis trabalha 16 horas por dia, seis ou sete dias por semana. Dois casamentos fracassaram, porque ele não consegue relaxar por tempo suficiente para manter um relacionamento. Sua luxuosa casa tem uma vista deslumbrante para o mar e uma coleção de arte de um milhão de dólares, mas ele quase nunca fica lá. Dennis é viciado em ganhar dinheiro. Passa a maior parte do tempo no carro, falando no telefone sem fio, correndo de um compromisso para outro, fechando negócios cada vez mais vultosos e melhores. Ganha uma fortuna com comissões, usa ternos importados, sapatos Gucci e um relógio Rolex de ouro, não consegue colecionar exterioridades suficientes para preencher o vazio interior. O Tao alerta contra a caça às ilusões. O tipo errado de sucesso pode inchar nosso ego e deixar nossas almas à míngua. Um excesso de interesse pelo mundo exterior pode fazer-nos perder o equilíbrio. Lao Tsé diz: "Grande sucesso, como a desgraça, Pode trazer grandes problemas. O sucesso que promove o ego Pode desencaminhá-lo." (TAO 13) O Tao nos adverte repetidamente para não construirmos nossas vidas sobre ilusões, o "sucesso que promove o ego", mas para olharmos dentro de nós mesmos e seguirmos nossos próprios ritmos. Neste capítulo, veremos como o equilíbrio entre objetivos, distanciamento, ordem, aventura e bom-humor pode encher nossas vidas com a alegria do Tao.

A ALEGRIA DO OBJETIVO Muitas pessoas presas em rotinas sem significado ou trabalhos que detestam ficam fisicamente doentes. Para ser saudáveis, todos nós precisamos de um senso de objetivo. Molly, uma mulher com quarenta e poucos anos, detestava tanto seu trabalho que tinha uma doença após a outra. Deprimida e exausta, procurou ajuda psiquiátrica. O médico disse que Molly se 126

ajustaria ao trabalho, então ela voltou, adoeceu de novo e ficou ainda mais deprimida. Finalmente, Molly queixou-se a Peace Pilgrim, a mulher que caminhou através da América, de 1953 a 1981, numa peregrinação pela paz. Verdadeira mística, Peace sabia que descobrimos nosso objetivos examinando-nos interiormente. "O que você realmente gosta de fazer?", perguntou ela. Molly gostava de nadar, tocar piano e trabalhar com plantas, mas como poderia ganhar a vida com qualquer uma dessas coisas? Não tocava piano suficientemente bem para dar concertos ou ensinar. Nadava o bastante para ficar à tona, mas quase apenas isso. "Ora, que tal as plantas?", perguntou Peace Pilgrim, com uma idéia a iluminar seus olhos azuis e cintilantes. Então Molly conseguiu um emprego numa floricultura, que adorou. Mas não era tudo, porque as pessoas precisam de mais do que apenas um meio de vida. Nadar tornou-se o exercício regular de Molly e tocar piano, seu caminho para servir. Passou a tocar antigas músicas de sucesso para os velhinhos de um abrigo local. Fazendo o que amava e partilhando isso com os outros, Molly tornou-se saudável, feliz e forte. Casou-se cerca de um ano depois mas continuou vivendo em seu modelo harmonioso.

A ALEGRIA DO DISTANCIAMENTO O Tao nos diz: "A pessoa Tao, distanciada e sábia, Abraça tudo como Tao." (TAO 49) Viver no Tao é combinar o senso de objetivo com distanciamento. As pessoas Tao expressam o que os chineses chamam de pu shih, aceitando tudo o que vem no ritmo da vida. "O homem sábio", como já foi dito, "faz o que tem de fazer para tudo e todos, mas permanece independente de qualquer coisa." Meu amigo Lyle Farrow pratica esse princípio do Tao. Jantando juntos, certa noite, Gwilym e eu ficamos surpresos ao ouvi-lo dizer: "Não existe nada que eu não goste de fazer". Lyle é um bem-sucedido corretor de imóveis, aos setenta e poucos anos. Em boa forma, cheio de energia, bem-humorado, com um brilho de animação nos olhos, Lyle está envolvido com um amplo 127

leque de atividades que aprecia. Numa idade em que muita gente mora em abrigos para idosos, ele joga golfe três vezes por semana, encontra-se com clientes e faz serviço de manutenção em suas propriedades. Mas seu comentário ainda me fez recuar: "Quer dizer que você gosta de tudo o que faz, até mesmo de passar a tarde inteira, como ontem, consertando o encanamento", perguntei, sem acreditar. "Gosto", respondeu com um sorriso. "Passei a fazer questão de gostar de tudo o que tem de ser feito. Ontem, trabalhei como bombeiro. Hoje, joguei golfe — e gostei das duas coisas." Lyle começou a trabalhar cedo, ajudando a dirigir o cinema de seus pais em Little Falls, Minnesota, e descobriu que "havia sempre alguma coisa interessante para fazer". A humildade faz parte de seu distanciamento. Ao longo dos anos, trabalhou com empreiteiros, bombeiros e eletricistas, fazendo ele próprio grande parte das tarefas. "Nunca senti que era melhor do que qualquer pessoa que eu contratava", disse-nos. E tomou a repetir: "Nunca senti que havia alguma coisa que eu não gostasse de fazer". Durante dias, refleti sobre os comentários de Lyle, percebendo que sua atitude não apenas é o segredo de seu sucesso, mas também a explicação para sua constante boa saúde. Porque ele jamais fez nada com ressentimento, e o ressentimento envenena nossas mentes e corpos. As pessoas como Lyle dão plena finalidade a suas vidas, evitando os conflitos interiores. Abraçam tudo o que fazem com interesse e entusiasmo, a alegria do Tao.

A ALEGRIA DA ORDEM Uma vida alegre é fluida, mas bem ordenada. A paz de espírito não acontece, simplesmente. Exige disciplina. Há uma velha história sobre um homem que se aproximou de Buda, perguntando o segredo da felicidade. — Você comeu seu desjejum? — perguntou Buda. — Sim, mestre — respondeu o rapaz, imaginando se a resposta podia ser assim tão simples. — Você lavou sua tigela — continuou o Buda. — Sim, mestre — respondeu outra vez o rapaz. — Você fez um serviço bem feito? •— perguntou o Buda. Então o homem percebeu que a resposta estava no momento presente. A felicidade vem de cuidar bem de qualquer coisa que se 128

esteja fazendo, consciente de que, nas mínimas ações, afirmamos nossas crenças. Como a história budista, a autodisciplina taoísta significa encontrar valor no cotidiano. Significa mover-se harmoniosamente sentar-se ereto(a) escutar atentamente, falar com honestidade e estar presente em tudo o que fazemos. Vivendo o Tao, respeitamos nossas ações, nossas palavras, nossos pensamentos, a vida interior e exterior. Pois tudo isso é Tao. Viver com harmonia exige esforço. É fácil cair em modelos preguiçosos de pensamento, sucumbindo à raiva, ao ressentimento, à autopiedade ou a outras emoções negativas que nos arrastam, levando-nos para ciclos destrutivos.

AFIRMAÇÃO Para construir a alegria do Tao, precisamos substituir os pensamentos negativos por afirmações positivas. Tente o seguinte, sempre que se descobrir deslizando para o negativismo: • Inspire profundamente e solte a respiração. • Agora torne a inspirar, para restabelecer suas energias, e depois afirme, ao expirar: "Preferi a paz. Estou em união com o Tao". Essa disciplina mental é especialmente importante para as pessoas empenhadas na justiça social. Tanta coisa no mundo precisa ser mudada que podemos ficar facilmente arrasados, deprimidos, exaustos. Mas, então, não seremos úteis a ninguém. Em capítulos posteriores, aplicaremos os princípios do Tao aos problemas sociais, poluição e políticos, mas não podemos mudar os ciclos em torno de nós até mudarmos nossos ciclos interiores, passando do negativo para o positivo, abrindo nossas mentes a novas possibilidades.

A ALEGRIA DA A VENTURA O caminho do Tao combina disciplina e aventura. Uma pessoa que serve como exemplo disso é Robert William Smith, Ph.D., extreinador profissional de futebol, agora professor de Filosofia em Mesa College, em Arizona. Homem alto e vigoroso, com cinqüenta e poucos anos, Robert viaja muito, explorando o mundo, escrevendo livros sobre filosofia 129

oriental e vivendo com um gesto que torna cada dia uma aventura. Em sua vida e em seu trabalho, ele combina a disciplina do treinamento, a sabedoria do Oriente e seu próprio entusiasmo intenso. Começa cada curso pedindo aos alunos para "dar uma resposta positiva" à vida, o que significa "aprender a passar seus dias da maneira adequada". "Levantem-se cedo", diz-lhes, e "saúdem o dia" com uma bênção, uma canção, um cântico, uma prece. Tome cada dia um dia seu. Somos, cada um de nós, formados por espíritos, mente e corpo, explica ele, e todos esses elementos precisam de estímulo diário. Para o corpo, estímulo significa exercício: "dê duro durante uma boa hora", diz, "seja qual for o esporte que você pratique". Ele gosta de correr. Para a mente, Robert recomenda "devaneios criativos", a fim de estimular a imaginação. Para o espírito, aconselha, que se cultivem os pensamentos poderosos, que se leiam obras inspiradoras e que se cuide do que se está fazendo. "O segredo, neste caso", diz ele, "está em dar continuidade". A maioria das pessoas começa os projetos com boas intenções, mas os que conseguem bons resultados em qualquer campo são os que dão continuidade às coisas.''

EXERCÍCIO PESSOAL Robert Smith vê cada dia como um desafio para atingir a perfeição, praticar aquilo em que ele acredita. Reserve alguns minutos, agora, para responder a estas perguntas sobre sua própria vida: • Encontrar um desafio significativo torna qualquer vida uma aventura. Qual é o seu? • Você consegue ver cada dia como uma oportunidade de praticar aquilo em que acredita? • Você pode fazer alguma coisa a cada dia para renovar seu senso de desafio? • Você poderia se beneficiar de uma disciplina mais consciente, ao seguir seus objetivos? • Onde, na vida, você poderia aperfeiçoar sua capacidade de dar continuidade? • Feche os olhos e veja a si mesmo (a) fazendo essas coisas, vivendo com maior alegria, energia e aventura. Como se sente? • Quando preferir, abra os olhos, mas mantenha a sensação com você. À medida que seguir o Tao você realizará mais esse potencial. 130

A ALEGRIA DO HUMOR As pessoas riem das ironias da vida, encontrando alegria no humor, até quando riem de si mesmas. O Tao nos lembra que: "Quando uma pessoa convencional ouve falar do Tao, Explode em sonoras gargalhadas. Se não houvesse gargalhadas, não seria o Tao." (TAO 41) Com muita freqüência, esquecemo-nos de rir, levando nós mesmos e a vida demasiado a sério. Uma amiga minha costumava brincar: "Não leve a vida a sério demais. Você nunca sairá dela viva". Com a risada vem a percepção de que todas as coisas vêm para passar, de que a vida se desenvolve através de ciclos de mudança. Podemos apreciar esses ciclos ou resistir a eles. Mas a resistência nos traz dor. Não é o caminho do Tao. Você já notou como se sente muito melhor depois de uma boa risada? A risada estimula a produção de endorfinas, os anestésicos naturais do corpo. Também melhora a respiração, ativa nosso sistema de imunidade, relaxa nossos músculos e alivia o estresse. Podíamos todos levar uma vida mais saudável, mais feliz, desenvolvendo um espírito de brincadeira. O que você faz como brincadeira? Uma de minhas coisas favoritas é alimentar os esquilos num parque próximo de minha casa. Com sua energia sem limites e movimentos graciosos, eles parecem a personificação da alegria, pulando pelo chão, caminhando pelos fios de telefone como acrobatas e saltando de árvore em árvore. Gwilym e eu damos caminhadas regulares até uma "castanheira" especial, e enfiamos amendoins ou nozes nos sulcos entre os ramos mais baixos. Depois, observamos quando os esquilos vêm reclamar seu banquete. Eles ainda são bastante selvagens, de modo que não chegamos muito perto. Um dia, recentemente, eu estava em pé junto da árvore, com uma bolsa cheia de castanhas, quando um esquilo brincalhão veio do lado contrário e ficou ali, me olhando com seus grandes olhos castanhos, retorcendo o nariz e dando chicotadas com a longa cauda cerrada. Depois subiu às pressas por um galho e ficou espiando desconfiado, enquanto eu distribuía as castanhas. Os esquilos me deram mais do que eu a eles: risadas, surpresas e uma oportunidade de observar de perto algumas das maravilhas da natureza. 131

A alegria do Tao é composta de muitas coisas, mas, principalmente, de uma percepção de que fazemos parte de algo maior do que nós mesmos, um modelo de infinita beleza que flui dentro de nós e a nossa volta. Sentimos essa alegria revelada na natureza, em nós mesmos e mutuamente, quando experimentamos a unidade do Tao.

Afirmação

PARTE

3

Agora sei que minha vida é tranqüila e harmoniosa. Sinto a alegria do Tao em minha vida. Vivo com objetivo e distanciamento, disciplina e senso de aventura, risada e brincadeira. Estou em união com tudo o que existe. Respeito a mim mesmo (a) e ao processo. Harmonizo-me com a natureza e com todos os demais em meu mundo. Agora recebo uma paz maior em minha vida. E assim seja. NOTAS 1. Lin Yutang, comentário ao Tao Te Ching, em The Wisdom of China and índia (Nova York: Modem Library, 1942), p. 590. 2. A história é de Peace Pilgrim: Her Life and Work in Her Own Words, 1925, Santa Fé, Ocean Tree Books, P-D- Box 1295, Santa Fé NM 87504, ©1982), p. 61-62, Usado com permissão do editor e do Friends of Peace Pilgrim, 43480 Cedar Avenue, Hemet CA 92344. O nome "Molly" é acréscimo meu. 3. Citação e descrição do pu shih extraída do comentário de R.B. Blakney em Lao Tzu: Tzu: The Way of Life (Nova York: New American Library, ©1955), p. 400. Usado com permissão do editor. 4. Para uma descrição mais completa da autodisciplina taoísta, ver: HuaChing Ni, Tao: The Subtle Universal Law and the Integral Way of Life (Los Angeles: College of Tao and Traditional Chinese Healing, 1979). 5. Robert William Smith, Ph.D., "The Distinction Between Life as a Problem or a Mystery", sumário de curso. Usado com permissão do autor. Ilustração da Parte 3. O caracter chinês que corresponde a água, simbolizando o poder e a flexibilidade do Tao e o ciclo da água que sustenta toda a vida do planeta. 132

O CAMINHO DA NATUREZA

CAPÍTULO 12

HARMONIA NATURAL Quando você sentir a natureza como parte de si mesmo(a), Agirá com harmonia. Quando você sentir a si mesmo(a) como parte da natureza, Viverá com harmonia. (TAO 13)

s pessoas Tao permanecem próximas da natureza. Reconhecendo a unidade das "dez mil coisas", sabem que:

A

"O Tao dá vida ao mundo, Modelando todas as coisas Nas formas em que se manifestam. As dez mil coisas Seguem seus princípios, E o Tao as sustenta, Proporcionando alimento e abrigo, Apoiando seu crescimento Através dos ciclos da vida. Seguir o Tao É atender a seus princípios, Perceber: Que vivemos na natureza Mas jamais podemos possuí-la; Podemos guiar e servir Mas jamais controlar. Esta é a mais elevada sabedoria." (TAO 51) 135

A unidade do indivíduo com a natureza é ponto central da filosofia taoísta. Como aprendemos no Capítulo 3, o caracter chinês que corresponde a natureza inclui o caracter que representa uma pessoa com os braços abertos, significando "grande", tendo ao lado outra linha horizontal, que retrata o céu sobre nossas cabeças. Assim, tornaremo-nos grandes reconhecendo nossa parte na harmonia da natureza. Os antigos chineses viam cada pessoa como um microcosmo, um mundo em miniatura. Em descrições complicadas, equiparavam nossas cabeças com o céu, nossos pés com a terra, nossas veias com os rios, nossos muitos ossos com os 365 dias do ano, nossas emoções mutáveis com o clima mutável.2 Para eles, as doenças nos seres humanos, bem como as desordens no mundo, eram causadas pelo desequilíbrio. Visão semelhante prevalecia outrora no Ocidente. Da Idade Média à Renascença, os europeus viam a si mesmos como microcosmos, pequenas versões do mundo em torno deles, acreditando que uma grande cadeia do ser ligava toda a vida. No século XIII, São Francisco de Assis celebrou a relação da criação em seu "Cântico do Sol", celebrando o "Irmão Sol", a "Irmã Lua", a "Irmã água" e "nossa Irmã, a Mãe Terra, que nos sustenta e governa".³ Durante a Renascença inteira, as pessoas meditavam sobre a natureza e aplicavam suas lições à vida de cada um. Thomas Traherne afirmou, em seu Centuries of Meditations (Séculos de meditações): "Você jamais gozará o mundo apropriadamente antes de descobrir como (um grão de) areia exibe a sabedoria e o poder de Deus:.. .antes que o próprio mar flua em suas veias, antes de você estar vestido com o céu e coroado com as estrelas." As pessoas viam a si mesmas como parte de um modelo mais amplo. John Donne escreveu: "Nenhum homem é uma ilha, inteiramente isolada; cada homem é um pedaço do continente, uma parte do todo. Se um torrão for arrastado pelo mar, a Europa é o mínimo, como se fosse um promontório, como se fosse a casa de teu amigo ou a tua própria: a morte de qualquer homem me diminui, porque estou envolvido com a humanidade e, portanto, nunca mandes perguntar por quem os sinos dobram; eles dobram por ti".5 Até o final do século XII, as pessoas no Ocidente conheciam uma sensibilidade unificada, percebendo corpo e alma, razão e paixão, a natureza e o indivíduo como parte de um todo mais amplo. Esta visão unificada perdeu-se quando as revoluções científica e industrial desenvolveram um novo paradigma mecanicista. Deus 136

tornou-se o Divino relojoeiro, que deixou o mundo funcionar por si mesmo. As fábricas reduziram os indivíduos a partes especializadas, engrenagens de uma máquina. O sentido da vida como uma totalidade consciente e orgânica foi substituído pelo ritmo frenético e pela fragmentação da vida moderna. As pessoas começaram a medir seu valor em termos de produtividade — rendimento — como se todos tivéssemos virado máquinas. O mundo ocidental está agora à beira de um novo paradigma, e a ciência novamente indica o caminho, desta vez afirmando uma visão mais holística. Com a física, aprendemos que o mundo é composto de modelos de energia dinâmica. Os psicólogos desenvolvimentais descrevem a vida como um processo de contínuo crescimento e Carl Jung acreditava que somos todos parte de um inconsciente coletivo. O círculo se recompõe outra vez quando novamente percebemos que ninguém é uma ilha. Todos estamos intrinsecamente ligados na teia dinâmica da vida. Uma visão de unidade orienta o ativismo ecológico do Greenpeace. Arriscando-se a ferimentos e morte, esses bravos homens e mulheres fazem-se ao mar em pequenos barcos, colocando seus corpos entre as baleias em perigo e seus atacantes, enfrentando com bravura o gelo do noite para salvar focas recém-nascidas do massacre anual. Como explica a filosofia do Greenpeace: "A ecologia nos ensina que a humanidade não é o centro da vida no planeta. A ecologia nos ensinou que a terra inteira é parte de nosso 'corpo' e que devemos aprender a respeitá-la, como respeitamos a nós mesmos. Os mesmos sentimentos que temos para com nós mesmos, devemos tê-los por todas as formas de vida — as baleias, as focas, as florestas, os mares. A tremenda beleza do pensamento ecológico é que ele nos mostra o caminho de volta para uma compreensão e apreciação da própria vida — uma compreensão e apreciação que é imperativa daquele próprio caminho de vida."

AS LIÇÕES DA NATUREZA As pessoas não-Tao vêem o mundo como uma reunião de partes desconexas. As pessoas Tao vêem a unidade subjacente. Meditando sobre seus ciclos mutáveis, aprendem o equilíbrio pessoal e planetário. Ficando próximos da natureza, eliminamos nossas ilusões de isolamento, o ego excessivamente desenvolvido que os taoístas chamam de ying (literalmente, "estar cheio de si mesmo")7 e os 137

cristãos chamam de pecado do orgulho. A natureza nos torna humildes, fazendo-nos ver que somos apenas uma parte do todo infitamente mais amplo. Com os ciclos da natureza, em sua lenta evolução, aprendemos a paciência e o distanciamento. Tornamo-nos mais pacientes quando nos ajustamos às mudanças de clima, ao contrário de Hal, que perde a cabeça quando uma repentina tempestade cancela seu jogo de golfe. Pisando duro de um lado para outro, mal-humorado, com o rosto vermelho, ele enfia seus tacos na mala do carro, amaldiçoando o "mau tempo". Mas o Tao ensina que o tempo não é "bom" nem "mau". Simplesmente é. A chuva que perturba os planos de Hal é bem recebida pelos fazendeiros a poucos quilômetros de distância. Como um monge taoísta, o escritor do século XIX Henry David Thoreau buscava as lições da natureza. Num dia chuvoso, ele aprendeu a paciência, vendo o modelo mais amplo, além do ego: "A suave chuva que molha meus feijões e me mantém em casa hoje não é enfadonha nem melancólica, mas sim boa para mim também. Embora me impeça de trabalhar neles com a enxada, vale muito mais do que esse trabalho. Mesmo que continue por tanto tempo a ponto de fazer as sementes apodrecerem no solo e destruir as batatas, nas terras mais baixas, ainda será boa para a pastagem no planalto e, sendo boa para a pastagem, será boa para mim." Vivendo próximo da natureza, reconheceu sua união com o processo da vida. Levando-nos além de nossa visão limitada e linear da vida, a natureza celebra o crescimento e a perpétua renovação. Como Thoreau, os homens e as mulheres do Tao encontram beleza em todos os climas e estações. Eles aprendem que é loucura agarrar-se a um momento ou a uma posse. Pois os objetos também passam, de diferentes formas. Dias, momentos, são passos dados no caminho, e o modelo desenvolve-se com a contínua mudança, criando a maravilha das dez mil coisas.

PAZ E HARMONIA COM AS LEIS NA TURAIS O Tao nos diz: "Viver em harmonia é seguir o Tao. Seguir o Tao é iluminação. O esforço excessivo Conduz à exaustão. A luta competitiva 138

É contrária ao Tao. Tudo o que violar o Tao Não durará." (TAO 55) As pessoas do Tao harmonizam-se com as leis naturais, seguindo os princípios subjacentes que sustentam a vida. As leis físicas são facilmente observadas: a lei da gravidade, por exemplo. Solte um objeto e ele cairá na terra. Seguindo seus próprios modelos de causa e efeito, os princípios taoístas do equilíbrio dinâmico, da união e do crescimento cíclico aplicam-se aos indivíduos, à natureza e às sociedades. Quando seguimos o Tao, temos harmonia; quando trabalhamos contra ele, temos problemas. Sempre que enfrentamos um problema, podemos ter certeza de que a ordem do Tao foi violada. A escritora Dorothy L. Sayers considerou a guerra "um julgamento que atinge as sociedades quando vivem baseadas em idéias demasiado conflitantes com as leis que governam o universo." As guerras e perturbações sociais são sintomas de uma sociedade desequilibrada, doenças causadas por uma ordem social pouco saudável. Seguindo os princípios do Tao, podemos criar uma vida mais saudável e mais pacífica para nós mesmos e nosso mundo. Aprenderemos a respeito da ação política taoísta na parte final. Mas, primeiro, vamos considerar como o Tao funciona na natureza. Este capítulo explica dois princípios taoístas: equilíbrio e unidade dinâmicos. O próximo capítulo gira em torno do princípio do crescimento cíclico. Criamos ação harmoniosa cooperando com esses princípios.

O PRINCÍPIO DO EQUILÍBRIO DINÂMICO Os taoístas há muito equiparam paz com equilíbrio. O hexagrama que corresponde a paz, no I Ching, é composto de três linhas horizontais divididas no centro, acima de três linhas inteiras horizontais, o yin da terra equilibrado pelo yang do céu.1 A paz resulta do equilíbrio dinâmico dos contrários, dentro e em tomo de nós. Seguindo esse princípio, os taoístas ensinam moderação, percebendo que um extremo, invariavelmente, leva a outro. Chuang Tsé sabia que "toda ascensão e declínio são inter-relacionados. Quando alguma coisa chega a um limite muda sua direção; quando o fim é alcançado, inicia-se o começo."11 Os gregos também descobriram 139

este princípio, chamando-o de Média de Ouro Aristotélica, o equilíbrio entre excesso e deficiência. Excesso de qualquer tipo traz o desequilíbrio e o desastre. O economista E.F. Schumacher criticou o mundo ocidental por seu extremo materialismo: "uma vida dedicada fundamentalmente à perseguição de finalidades materiais, negligenciando-se o espiritual. Uma vida assim, necessariamente, coloca um homem contra o outro e uma nação contra a outra."¹² O desequilíbrio provoca a desordem pessoal e política. Vinte e cinco séculos antes, Lao Tsé ensinou a mesma lição: "Quando as pessoas não seguem o Tao, Seus cavalos são arreados para a guerra, Suas energias são usadas para a destruição, E muitos ficam famintos. Grandes problemas ocorrem Quando não se sabe o que é o bastante. Grandes conflitos surgem quando se quer demais. Quando sabemos o que é o bastante, Haverá sempre o bastante." (TAO 46)13

O PRINCÍPIO DA UNIDADE Para que haja paz, as sociedades e indivíduos devem entender a inter-relação de microcosmo e macrocosmo, reconhecendo sua unidade com a natureza e um com o outro. Conscientes dessa unidade subjacente, as pessoas Tao respeitam a natureza e as outras pessoas, sem explorar seus vizinhos ou o meio ambiente. Elas vêem nosso ecossistema como um todo integrado, percebendo que qualquer ação tem efeitos de longo alcance. Muitos erros são cometidos quando as pessoas ignoram essa lição. Na década de 50, a Organização Mundial de Saúde tentou eliminar a malária ao norte de Bornéus usando o pesticida dieldrin para matar os mosquitos portadores da doença. Inicialmente, o projeto pareceu um grande sucesso. Não apenas os mosquitos e a malária desapareceram, como também os moradores da vila não eram mais incomodados por moscas nem baratas. Mas, depois, os telhados das casas começaram a cair, e eles enfrentaram o risco de uma epidemia de tifo. 140

Como foi que isso aconteceu? Primeiro, centenas de lagartos morreram por comer os insetos envenenados. Depois, os gatos locais as vilas, carregando pulgas infestadas de tifo em seus corpos. Para piorar as coisas, os telhados de palha das casas dos aldeões desabaram. Por quê? O dieldrin mata as abelhas e outros insetos que, comumente, comem os gafanhotos — e estes se alimentam dos telhados de folhas. O Tao ensina que tudo na vida está interligado, uma lição que os funcionários da organização Mundial de Saúde tiveram de aprender no Bornéus. Depois de afastar a ameaça de tifo, eles começaram a considerar as implicações mais amplas de suas ações. Outro exemplo mais global de nossas inter-relações é o efeito estufa, causado pela quantidade crescente de dióxido de carbono na atmosfera. Este excesso está elevando a temperatura da Terra, ameaçando transformar terras agrícolas em deseitos, queimar as florestas dos climas temperados e inundar áreas costeiras, à medida que o gelo polar se derrete e os níveis do mar se elevam. Até este século, a natureza mantinha um equilíbrio de oxigênio e dióxido de carbono, porque os seres humanos e os animais inalam oxigênio e exalam dióxido de carbono, enquanto as plantas fazem exatamente o contrário. Os taoístas chamariam a isso de perfeito equilíbrio do yin e do yang. O efeito estufa decorre do enorme uso, por parte das sociedades industrializadas, de combustíveis fósseis e clorofluorocarbonos, mas também de algo que, inicialmente, parece completamente desvinculado — o aumento de consumo de hambúrgueres nos restaurantes de fast-food. Para produzir mais carne a baixo preço, os empresários na América Central e América do Sul andaram devastando florestas úmidas, transformando-as em pastagens para gado destinado ao abate. Só na Costa Rica, entre 50.600 e 70.800 hectares de floresta são destruídos anualmente.15 Tal ação é desaconselhável, tanto do ponto de vista local quanto global. Como o fino solo tropical carece de húmus, ele se desgasta com a erosão em poucos anos, deixando a região erma e mais pobre do que antes Do ponto de vista global, os efeitos são agourentos. Com sua vegetação luxuriante, as florestas pluviais sempre serviram como os "pulmões" do planeta, transformando imensas quantidades de dióxido de carbono em oxigênio e purificando a atmosfera. Agora, enquanto produzimos dióxido de carbono, ao mesmo tempo sabotamos esse processo natural de equilíbrio, destruindo as florestas pluviais. 141

Se essa tendência continuar, o acúmulo de dióxido de carbono causará um aquecimento global maciço, com horrendos efeitos nos Estados Unidos. O meio-oeste americano se tornaria um deserto esturricado e árido, e o Canadá e a União Soviética, passando a ter climas mais quentes, tomariam nosso lugar como o grande produtor mundial de alimentos. Cidades costeiras, de Nova York a Miami, de Nova Orleans a San Diego e Seattle, seriam inundadas com o aumento da temperatura da terra, o que derreteria as calotas de gelo polares e elevaria o nível do mar em todo o planeta. Mais uma vez, a lição é clara. Como somos parte de um todo mais amplo, a ação imprevidente pode causar desequilíbrio em grande escala. Devemos lembrar-nos de procurar os modelos mais amplos, a fim de permanecer em equilíbrio, porque "Tudo o que viola o Tao Não durará." (TAO 55)

HARMONIA COM NOSSOS VIZINHOS O naturalista americano John Muir foi uma pessoa Tao, no sentido mais elevado. Perambulando pelas montanhas do Oeste, ele concluiu que "Poluição, sujeira, imundície são palavras que jamais teriam sido criadas, se o homem vivesse em conformidade com a natureza". As pessoas não-Tao são, muitas vezes, imprevidentes. Poluem e destroem a vida, porque não vêem os modelos mais amplos. Pacific Grove, uma linda cidade costeira ao norte da Califórnia, é conhecida por suas borboletas do gênero Danausplexippus. Todos os anos, essas borboletas voltam para Pacific Grove, e assim tornaram-se o símbolo da cidade. Suas fotos aparecem em letreiros de rua, mapas e material promocional. Mas, ultimamente, houve uma diminuição radical das borboletas. Por quê? O maior desenvolvimento local causou a destruição dos arbustos e flores que são seu habitat natural. A população humana em expansão expulsou essas criaturas naturais de seus lares. Todos os anos as pessoas vêm a Pacific Grove para ver as borboletas. Se o desenvolvimento sem freios continuar, a cidade perderá seu caráter especial, tornando-se apenas outra reunião de ruas, casas, shopping centers e restaurantes de fast-food. As únicas borboletas serão as dos cartões postais e souvenirs de plásticos. 142

Quantas vezes fazemos isso, inadvertidamente, com nossos vizinhos não-humanos? Enquanto os fomentadores do desenvolvimento substituem a paisagem natural por grama artificial e concreto, algo precioso se perde. Destruindo nossos habitais naturais, ameaçamos os elos vitais na cadeia da vida e roubamos sua beleza de nós mesmos.

EXERCÍCIO PESSOAL Até que ponto você conhece a paisagem natural de sua área? Respondendo este questionário e contando os pontos, você descobrirá. 1. Que árvores crescem em sua área local? Dê o nome, ou descreva cinco delas. 2. Que flores selvagens crescem em sua área? Dê o nome de cinco. 3. Dê o nome de cinco plantas comestíveis nativas de sua região. 4. Nomeie cinco frutas e verduras cultivadas localmente. 5. Que pássaros são nativos de sua região? Designe cinco ou mais. 6. Que pássaros migram e quais os que permanecem durante o ano inteiro? 7. Que outros vizinhos não-humanos são nativos de sua área? Designe cinco (ou mais, se possível). 8. O que aconteceu com seu meio ambiente local, nos últimos cinqüenta anos? 9. Há algum pássaro, ou animais, em perigo de extinção? 10. Caso afirmativo, qual a razão? Se você fez 9 ou 10 pontos, tem uma percepção excelente de seu meio ambiente. Se sua marcação foi de 7 ou 8, você é mais perceptivo do que a maioria das pessoas. Se fez menos de 5 pontos, você, como a maioria dos americanos, está fora de contato com seu meio ambiente. Muitos de nós sequer sabemos os nomes das plantas em nosso quintal, quanto mais as plantas e animais nativos em torno de nós. Mas podemos aprender. Comece respondendo a essas questões dando uma caminhada pelo bairro e observando o que o(a) cerca, conversando com moradores de longa data, lendo livros de história natural na biblioteca local. Você desenvolverá uma compreensão mais profunda de seu habitat e aprenderá a respeito das ameaças a seu meio ambiente. Com essa percepção, vem a possibilidade de 143

soluções, porque, quanto mais sabemos a respeito de nossos problemas, mais rapidamente podemos começar a solucioná-los. SUPERAÇÃO DO DUALISMO

O número crescente de espécies em perigo no planeta é um testemunho triste do atual nível de ignorância, falta de bondade e de respeito dos seres humanos pelas outras vidas que partilham nosso inundo. O Tao nos diz: "Aqueles que dominam a natureza E busca possuí-la Jamais conseguirão, Porque a natureza é um sistema vivo, tão sagrado Que, quem o usar de forma profana, Certamente o perderá; E perder a natureza É perder a nós mesmos." (TAO 29) O Tao ensina uma visão de unidade que transcende o dualismo, afirmando a necessidade de cooperação. Percebemos que "a natureza é um sistema vivo", que abusando dela nós destruímos a fonte de nossa própria vida, porque "perder a natureza é perder a nós mesmos". Nosso velho paradigma mecanicista, com seu conceito entranhado de dualismo e separação, fez com que as pessoas passassem a ver o mundo como uma reunião de objetos para explorar. Tal visão não é apenas inexata, mas também destrutiva, tornando nosso relacionamento com a natureza e o resto do mundo uma luta pelo domínio. Nossos problemas ecológicos deveriam ensinar-nos que, inevitavelmente, destruímos aquilo que dominamos. O Tao nos leva além do dualismo antropocêntrico, da equivocada ilusão de separação entre as pessoas e entre estas e o meio ambiente. O ecologista Robert Aitkin Roshi considera que essa maneira limitada de ver é a responsável pelo racismo, sexismo, nacionalismo e outras formas de alienação e exploração.18 Afirmando nossa unidade, a sabedoria holística do Tao transcende o dualismo e a violência que ele provoca. 144

EXERCÍCIO PESSOAL

Podemos experimentar a unidade do Tao dando uma caminhada lenta e meditativa, em meio à natureza. Para fazer justiça a esse exercício, reserve bastante tempo para explorar uma paisagem natural próxima, sozinho(a) e sem pressa. • Use roupas e sapatos confortáveis, sem carregar mais do que você precisa. Deixe longe de você seu calendário, bolsa, pasta, e tudo o que implicam. Você pode querer levar uma pequena mochila com água e um sanduíche, mas o importante é viajar sem nenhuma carga. • Vá calmamente, concentrando-se no ritmo de sua respiração. • Permaneça no presente. Não deixe sua mente divagar. • Sintonize-se com seus sentidos. Sinta a terra sob seus pés e diga para si mesmo(a); "Estou em união com a terra". • Sinta o calor do sol em sua pele e diga para si mesmo(a): "Estou em união com o sol". • Enquanto o vento acaricia seu corpo, diga para si mesmo(a): "Estou em união com o vento". • Observe atentamente as plantas em torno de você, notando as variedades e todas as tonalidades locais de verde. Afirme sua União com as plantas. • Ouça o farfalhar das folhas das árvores, acima de sua cabeça. Afirme: "Estou em união com as árvores". • Sinta o perfume das árvores e das flores. Afirme sua união. • Ouça a melodia de um riacho ou lago. Afirme: "Estou em união com a água". • Veja e ouça os pássaros e outras criaturas em torno de você. Ao notar cada uma delas, afirme sua união. • Sinta como os ritmos de seu corpo entram em interação com os ritmos naturais ao seu redor. • Quando estiver pronto(a), volte devagar pelo caminho por onde veio, conservando esse senso de harmonia natural quando reentrar no mundo mecanizado. Porque, sob todo o alvoroço e ruído, existe a duradoura unidade do Tao.

Se você gostou desse exercício, pode querer tentar uma variação. Seguindo as mesmas diretrizes gerais, partilhe uma caminhada silenciosa com alguém que você ame. Decida olhar, ouvir e sentir, mas não falar. Enquanto estiver caminhando, vocês podem 145

apontar as maravilhas naturais um para o outro, partilhando uma comunhão com a natureza. UNIÃO COMA NATUREZA O reconhecimento de nossa união com a natureza amplia nossa visão e nos dá um senso mais profundo de nós mesmos. O ativista ecológico John Seed explica como seu trabalho tirou-o de uma visão individualista, levando-o para a união com todo o processo da vida. " 'Estou protegendo a floresta pluvial', passa a ser, 'sou parte da floresta pluvial, protegendo a mim mesmo. Sou aquela parte da floresta pluvial que recentemente evoluiu para o pensamento'. Que alívio, então! Encerram-se milhares de anos de separação imaginária, e começamos a lembrar nossa verdadeira natureza". "A mudança", diz ele, "é de ordem espiritual". Estudar a natureza é seguir o Tao; seguir o Tao é conhecer a nós mesmos. No final de sua vida, John Muir descreveu seu trabalho dizendo: "Saí apenas para dar uma caminhada e, finalmente, decidi ficar até o entardecer, porque, saindo, como descobri, eu estava na verdade entrando."20 Sair para a natureza é mergulhar em nós mesmos, alcançando muito além da frágil superfície da vida, para entrar em união com a natureza, em união com o Tao. Há muitas maneiras de estudar a natureza, desde acampar e pegar carona até trabalhar em seu jardim. Este capítulo pode apenas dar um impulso inicial em você. A natureza, para os taoístas, é um sistema vivo. Deve ser experimentada. A melhor maneira de fazer isso é guardar este livro e sair, dar uma caminhada, alimentar os pássaros ou cuidar de uma árvore. Aproxime-se das coisas vivas, em crescimento, respire profundamente e participe da harmonia infinita do Tao.

Afirmação Agora sei que minha vida é tranqüila e harmoniosa. A cada dia aprendo mais sobre a vida em torno de mim. Estou em união com a natureza. Atendo a seus princípios. Respeito a mim mesmo(a) e ao processo. Harmonizo-me com a natureza e com todos os outros em meu mundo. 146

Agora recebo uma paz maior em minha vida. E assim seja.

NOTAS 1. R.L. Wing, The Tao of Power, comentário ao Tao, Capítulo 73, p. 732. A teoria taoísta das correspondências, discutida na obra de Maspero, Taoism and Chinese Religion, pp. 339-40; Chang Chung-yuan, "Creativity and Taoism", p. 138. 3. A visão ecológica de São Francisco é descrita na obra de Bill Devall e George Sessions, Deep Ecology: Living as if Nature Mattered (Salt Lake City: Gibbs M. Smith, 1985), p. 92. 4. Thomas Traherne, Centuries of Meditations, em Seventeenth-Century Prose and Poetry, 2a edição. Ed. Alexander Witherspoon e Frank J. Warnke (Nova York: Harcourt, Brace, Jovanovich, 1982), p. 696. 5. John Donne, Devotions Upon Emergent Occasions (Ann Arbor: University. of Michigan Press, 1959), pp. 108-9. 6. A Filosofia do Greenpeace, usada com permissão do Greenpeace EUA e Canadá. Para maiores informações sobre o Greenpeace, contá-los em 1436 U. Street NW, Washington DC 20009, tel. (202) 462-1177, ou 578 Bloor St. West Toronto, Ontario Canadá MÓE lkl, tel. (416) 538-6470. 7. Discussão do Ying, de Lin Yutang, org. Tlie Wisdom, of China and índia, p. 587. 8. Thoreau, The Variorum Walden, pp. 98-999. Dorothy L. Sayers, Creed or ChaoS (New York: Harcourt Brace, 1949), p. 47. 10. Ver, por exemplo, R.G.H. Siu, TlieMan of Many Qualities: A Legacy of the I Ching (Cambridge: Massachusetts Institute of Technology, 1968), p.7. 11. Chuang-Tsé 7:4 em The Wisdom of Laotse, trad. de Lin Yutang (Nova York: Modern Library, 1976), p. 148. 12. E.F. Schumacher, Small is Beautiful: Economics as if People Mattered (Nova York: Harper & Row, 1973), pp. 38-39. 13. Minha versão é próxima da tradução de R.L. Wing em The Tao of Power (Nova York: Doubleday, ©1986), Capítulo 46, p. 46: "Portanto saiba que o bastante é o bastante. Sempre haverá o bastante". Usado com permissão do editor. 14. História de Bornéus, recolhida da obra de G. Tyler Miller, Jr., Living in the Environment, 2a ed. (Belmont: Wadsworth, ©1979), p. 92. Usado com permissão do editor. 15. John Seymour e Herbert Girardet, Blueprint for a Green Planet (Nova York: Prentice Hall, 1987), p. 73. Para mais informações sobre florestas pluviais, contatar a Rainforest Action Network, 301 Broadway, Suite A, 147

San Francisco CA 94133 ou Enviromental Defense Fund, 257 Park Ave. South, New York NY 10010. 16. John Muir, John of the Mountains: The Unpublished Journals of John Muir, org. Linnie Marsh Wolfe (Boston: Houghton Mifflin, ©1938, de Wanda Muir Hanna. Copyright ©renovado em 1966 por John Muir Hanna e Ralph Eugene Wolfe), p. 222. Esta citação e a seguinte republicadas com permissão de Houghton Mifflin Company. 17. Algumas idéias neste questionário basearam-se em "Where You At? A Bioregional Test", de Jim Dodge, Leonard Charles, Lynn Milliman e Victoria Stockley, publicado em CoevolutionQuaterlyrí2 32, inverno de 1981, p. 1. Usado com permissão de Jim Dodge e do editor, agora Whole Earth Review. Assinaturas a 20 dólares por ano (4 exemplares) com Whole Earh Review, 27 Gate 5 Road, Sausalito CA 94965. Para maiores informações sobre espécies ameaçadas de extinção, contatarThe Nature Conservancy, 1815 North Lynn Street, Arlington, VA 22209 ou The World Wildlife Fund, 1250 Twenty-Fourth Street NW, Washington DC 20037. 18. Ver: Robert Aitkin Roshi, "Gandhi, Dogen, and Deep Ecology", publicado inicialmente em Tlie Mind of Clover, ©1984, da North Point Press, Berkeley, republicado no Appendix C, em Devall Sessions, p. 233. 19. John Seed, "Anthropocentrism", Appendix E, em Devall e Sessions, Deep Ecology (Layton, Utah: Gibbs Smith, 1985), p. 243. Republicado com permissão de John Seed e do editor. O livro de John Seed, ThinkingLike a Mountain, pode ser pedido à New Society Publishers, P.O. Box 582, Santa Cruz CA 95061-0582. 20. Muir, John of the Mountains, p. 439. Usado com permissão.

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CAPÍTULO 13

CICLOS NATURAIS

O movimento do Tao é de retorno Em ciclos infindáveis. Cedendo, vence, Criando as dez mil coisas, O ser do não-ser. (TAO 40)

Tao flui dentro e em torno de nós em ciclos de energia conhecidos como chi, dando vida às "dez mil coisas", wan wu, o símbolo chinês correspondente a toda a criação. As pessoas Tao trabalham com esses ciclos. As pessoas não-Tao trabalham contra eles. Impelidos pela ignorância, pelo ego ou pelo apetite desenfreado, perturbam o equilíbrio da natureza. Como aprendemos nos capítulos anteriores, a energia chi circula em ciclos contínuos através de nossos corpos. Na meditação taoísta, focalizamos nossa respiração em ciclos de yin e yang, ajudando o chia circular e a nos renovar. Os antigos taoístas ensinavam que a própria terra respira, em padrões alternados de yin e yang. A maneira como as plantas e os animais trocam oxigênio e dióxido de carbono em nossa atmosfera corresponde a esse ensinamento taoísta. A pintura chinesa retrata o movimento do chi através de toda a natureza. Os taoístas acreditam que a energia yang do céu encontrase com a energia yin da terra em pontos conhecidos como "as veias do dragão". Há séculos os artistas chineses retratam essas energias. Com grandes curvas majestosas, torrentes de chi fluem através da paisagem, ligando nuvens e montanhas, terra e céu.1

O

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CICLOS DE ENERGIA

Nada no universo fica imóvel. O Tao explica:

O Tao ensina uma visão da vida como processo, movendo-se constantemente, mudando e crescendo, enquanto as energias chi circulam através de toda a existência:

"Através de toda a natureza As dez mil coisas se movimentam, Mas cada uma volta a sua fonte." (TAO 16)

"Algo infinito, Mais antigo do que o céu e a terra, Silencioso, solitário e vasto; Eterno, imutável, Porém em perpétua evolução, Através de todas as dez mil coisas. Sem saber seu nome, chamo-o de Tao. Sendo um mistério além das palavras, Chamo-o de grande." (TAO 25) As energias evolutivas do Tao foram comparadas com a teoria quântica na física. Os modelos de energia subatômica — os equivalentes científicos do chi — são as forças criativas sob toda a existência. Essa energia não é exatamente uma partícula, uma forma sólida e previsível da matéria. Não é exatamente uma onda, uma ação ou um processo, mas uma combinação dos dois. Como o Tao, a energia essencial da existência é, ao mesmo tempo, princípio e processo, movendo-se em ciclos conhecidos como ondas de probabilidade.2 Essa visão dinâmica da existência é intrínseca à cultura chinesa e a outras igualmente antigas. Em chinês e galês, o antigo idioma dos celtas, as palavras são simultaneamente verbos e substantivos: existência e processo combinados num conceito. Tais idiomas transmitem um senso de que "objetos são também acontecimentos",3 de que a vida é formada por modelos dinâmicos.

Experimentamos esses modelos cíclicos aproximando-nos da natureza, observando um pomar florescer durante a primavera, dar frutos no verão. No outono, vemos as folhas das árvores caírem no chão. Desintegrando-se lentamente para se transformar em húmus, elas enriquecem o solo, trazendo nova energia para a árvore na primavera. Até o clima frio do inverno faz parte desse modelo. O "fator frio", prolongado período de temperaturas abaixo dos 7°C, é essencial para que essas árvores floresçam e dêem frutos. As árvores frutíferas precisam passar tempo suficiente num estado de letargia (yin) para brotar com nova vida (yang). Reconciliando os opostos numa harmonia infindável, as estações mudam e o ciclo começa outra vez. O calendário chinês retrata as alternâncias cíclicas de yin e yang, inverno e primavera, morte e renascimento. No solstício de inverno, o apogeu do yin, o ativo yang fica em repouso. O mundo é frio e escuro. Os animais hibernam, as árvores estão nuas, os campos ficam soterrados por cobertores de neve. Porém, com esse eclipse do yang, vem seu inevitável renascimento. A seiva se eleva, aparecem pequenos brotos. Yang aos poucos acorda para a primavera. No solstício de verão, yang começa outro declínio, enquanto as estações se movem para uma nova fase de yin. Com essas alternâncias, flui o ritmo da natureza, combinando polaridades, criando vida, com a dinâmica dos contrários.

OS CICLOS E NÓS O RITMO CÍCLICO DA NATUREZA Os modelos cíclicos acontecem em toda a natureza, do universo infinitesimal do átomo até o universo infinitamente mais amplo acima de nossas cabeças. Em nosso sistema solar, os planetas traçam no espaço ciclos em expansão. Na imensidade cósmica do tempo, as estrelas atravessam seus próprios ciclos de vida. Nascem, crescem em brilho e, depois, lentamente, morrem, após trazerem luz para nosso universo durante milênios. 150

Como as estações, passamos por ciclos. O Tao nos ensina a ficar quietos e a observar os modelos em evolução: "A pessoa sábia segue a terra; A terra segue o céu; O céu segue o Tao; E o Tao segue sua própria natureza." (TAO 25) 151

Observando os ciclos da natureza, conhecemos a nós mesmos; observando nossos ciclos, conhecemos a natureza. Seguindo os ciclos, estamos em união com o Tao. Os ciclos naturais do sol e da lua figuraram* com destaque nas mais antigas religiões do mundo. Durante séculos, os chineses honraram os ciclos lunares com comemorações de ano novo e da lua, com bolinhos especiais ("Moon cakes", bolos da lua) e fogos de artifício. Os antigos egípcios comemoravam os ciclos das estações e seus reflexos no Nilo com o mito de Ísis e Osíris. Na Europa, os druidas observavam solstícios e equinócios, registrando os modelos mutáveis da luz no céu. Com velas e fogueiras, iluminavam a escuridão do inverno e comemoravam a volta da vida, na primavera. Podemos ganhar uma consciência maior de nossos ciclos cotidianos ao reconhecer os modelos de yin e yang. Os psicólogos dizem que todos nós temos períodos de apogeu durante o dia, quando nossa energia flui com mais força. Esse é nosso período de vigor, yang. Durante nosso período de retardamento, passamos por uma diminuição de energia. O ciclo muda para yin. Sentimo-nos cansados e recuados. As coisas se tornam mais lentas.

EXERCÍCIO PESSOAL • Reserve alguns momentos, agora, para identificar seu próprio ciclo diário. Quando é seu apogeu? Você é uma pessoa matinal, vespertina ou noturna? • A que horas do dia suas energias diminuem? • Você pode cartografar seu ciclo diário? Onde estão o yin e o yang para você? Ter consciência de nossos ciclos diários pode nos ajudar a viver mais criativamente. Meu amigo Bill, físico pesquisador, planeja seu dia em torno de seu ciclo de energia. Ele faz pesquisas de manhã, durante seu período de apogeu, e reserva o trabalho de rotina, como abrir a correspondência, para seu período mais lento, às 15 horas. Mais sutil, porém igualmente poderoso, é o ciclo lunar. As luas crescente e minguante influenciam as marés, o ciclo menstrual das mulheres, as emoções humanas e as energias físicas. Há séculos, a lua cheia é equiparada com inquietação, impulsividade, dando origem à palavra "lunático" (do latim "luna", ou lua). Os policiais sabem que os crimes passionais acontecem com mais freqüência durante a lua cheia do que qualquer outro período. 152

Há séculos, os lavradores plantam sementes segundo os ciclos da lua, registrando suas mudanças em almanaques. Alguns cultivadores orgânicos que conheço recomendam que se plantem sementes de verdura dois dias antes da lua nova e sementes de flores dois dias antes da lua cheia, período que também é o melhor para os enxertos.

EXERCÍCIO PESSOAL Até que ponto você tem consciência dos ciclos naturais em torno de si? Leia este questionário, faça sua própria marcação de pontos e verifique. • Quando é o próximo solstício? E o equinócio? • Em que fase está a lua agora? • Por que mudanças passam as plantas de sua área, durante as diferentes estações do ano? • Alguns tipos de pássaros em sua área migram? Caso afirmativo, quando? • Alguns animais de sua área hibernam? Caso afirmativo, quais, e por quanto tempo? • De onde vem sua água? • Para onde vai sua água, quando sai de sua casa? • Para onde vai seu lixo? Quantas respostas você sabe? O que isso lhe diz a respeito de seu conhecimento dos ciclos naturais?

TRABALHO CÍCLICO Durante séculos, monges taoístas e budistas encararam o trabalho cíclico — jardinagem, cozinha, limpeza da casa — como exercício espiritual. Em nosso cotidiano, também podemos participar dos ciclos de renovação fazendo alguma coisa cíclica. Podemos: • Plantar num jardim — ou em algum trecho do telhado, ou num pátio, se não tivermos um quintal. • Plantar uma árvore e cuidar dela. • Reciclar nossas latas, garrafas, jornais — devolvendo-os à fonte, para que sejam renovados repetidas vezes. 153

• Fazer um montão, ou caixa, de adubo composto — reciclando restos de cozinha, para que se transformem em nutrientes naturais para o solo.

Estabelecem-se em lugares baixos, Em união com a natureza, em união com o Tao." (TAO 8)

Cada uma dessas práticas afirma nossa participação num modelo muito mais amplo do que nós mesmos. Cada uma beneficia fisicamente o planeta, enquanto renova nossa visão do processo da vida. Uma prática budista é plantar uma árvore a intervalos de alguns anos e tratar delas cuidadosamente. Isto combina renovação pessoal com verdadeiro pragmatismo porque, como aprendemos no capítulo anterior, as árvores são de importância vital para preservar a ecologia do planeta. Sem árvores, o mundo, como o conhecemos, deixaria de existir.7 No ano passado, meus amigos Eric e Brendan me deram de aniversário um bordo japonês. Naquela noite, quando cheguei em casa para jantar, fiquei surpresa ao descobrir uma árvore pequena e graciosa num vaso na varanda de frente de minha casa, com as folhas verdes bailando sob a suave chuva da primavera. Agora, já conheço a árvore há quase um ano, transplantei-a, podei-a, molhei-a, e alimentei-a. Vi suas folhas caírem e censurei a mim mesma por tê-la negligenciado durante um período de calor, no verão passado. No último outono, vi que suas folhas se tornaram vermelhas e fiquei preocupada quando ela permaneceu em letargia durante todo o inverno. Será que a molhara o suficiente? Ainda estaria viva? Nesta primavera, durante um período de racionamento de água, passei a molhar a árvore com um balde de água de chuveiro, mais consciente da necessidade de conservar e partilhar. Agora estamos em março e a arvorezinha brotou, numa profusão de delicadas folhas verdes e algumas minúsculas flores vermelhas, enchendo-me de alegria e de uma percepção mais profunda dos ciclos que modelam nossas vidas.

Na arte e na filosofia chinesas, a água é símbolo do Tao. É fluida, nutriente, atende a todos, mas possui grande força, é capaz de cortar as pedras mais duras. A água, como o Tao, "movimenta-se retornando/Em ciclos infindáveis". (Tao 40) A água que existia há um milhão de anos ainda está aqui hoje, sem aumentar nem diminuir. Sempre temos a mesma quantidade de água na terra. A água se movimenta num infindável ciclo hidrológico, começando com a evaporação do mar, que compreende 97% do fornecimento mundial. O calor do sol transforma essa água em vapor, que se eleva para a atmosfera, formando nuvens, as quais, por sua vez, voltam à terra sob forma de chuva ou neve, mais uma vez engrossando nossos abastecimentos de água fresca. A precipitação é absorvida pelo solo ou corre para lagos e rios, que a levam de volta para o oceano, onde todo o ciclo recomeça. As plantas, animais e seres humanos interceptam a água em seu ciclo, usam-na, excretam-na, depois passam-na adiante, muitas vezes poluindo-a nesse processo. À medida que os anos se passam, interferimos cada vez mais no ciclo natural, desviando água de seus canais originais, tirando grandes quantidades do solo e contaminando-a com esgotos e produtos químicos. Nosso abastecimento de água fresca — apenas 3% da água da terra — vem de rios e lagos, ou da água do solo, que é naturalmente purificada ao se filtrar através de muitas camadas de sedimento até chegar aos lagos subterrâneos das profundezas, conhecidos como aquifers. Cavamos poços para tirar essa água potável pura. Mas, com muita freqüência, abusamos de nosso fornecimento de água violando os princípios do Tao. Ignorando o ciclo, usando água como produto, não como processo, poluindo-a e desperdiçando-a.

O CICLO DA ÁGUA

QUANDO IGNORAMOS O CICLO

O Tao nos diz: "As melhores pessoas são como a água. Beneficiam todas as coisas E não competem com elas. 154

A maioria dos países ocidentais tem usado seu abastecimento limitado de água fresca com pouca compreensão ou respeito pelo ciclo natural. Sempre que aumenta a poluição de uma cidade, os departamentos de água cavam mais poços, esvaziando os aquifers 155

locais, ou constroem imponentes aquedutos, importando água de lagos ou rios, distantes, causando prejuízos incalculáveis aos habitais naturais. Os aquifers no mundo inteiro estão sendo esgotados por excesso de consumo. O Aquifer Ogllala, no meio-oeste americano, tem milhares de anos, vem dos tempos do pleistoceno. Se continuarem os atuais índices de consumo, estará seco dentro de quarenta anos, e levará milhares de anos para se encher outra vez.8 O esvaziamento do aquifer alterará radicalmente a vida em toda a extensão do Kansas, Nebraska, Iowa e outros estados do meio-oeste, causando não apenas graves secas, mas um aluimento maciço. O aluimento, ou seja, o afundamento da terra depois da remoção da água do solo, já está disseminado na Califórnia. A cidade de Alviso, perto da extremidade sul da Baía de San Francisco, afundou três metros, colocando toda a área abaixo do nível do mar, e sujeitando-a a repetidas enchentes. O vale central da Califórnia afundou ainda mais dramaticamente — até cerca de 30 metros, em algumas áreas. Quando a água do solo e da superfície é insuficiente, muitas cidades importam água através de grandes aquedutos. Os projetos para fornecimento da água urbana modificaram a paisagem natural, inundando a terra com reservatórios artificiais, secando rios e lagos. Lago Mono, um lago salgado com um milhão de anos de idade, no nordeste da Califórnia, está sendo esvaziado para fornecer água a Los Angeles. Estendendo-se por mais de 158 quilômetros quadrados, o lago é um refúgio de pássaros, cheio de camarões. Todo ano, 50.000 gaivotas da Califórnia, 85% da população do estado, criam seus fillhotes em suas ilhas vulcânicas. Mais de um milhão de outros pássaros param ali durante suas migrações anuais. A medida que o nível da água cai e a salinidade aumenta, o Lago Mono vai, aos poucos morrendo. Os rios que o enchem foram desviados 600 quilômetros para o sul, através do Aqueduto de Los Angeles, e em breve o lago estará demasiado salgado para conservar a vida. Em 1978 e 1989, a água, baixando, expôs uma estreita faixa de terra ligando as linhas à terra firme. Coiotes e outros predadores atacaram e mataram os pássaros e filhotes em seus ninhos. O nível da água continua a cair, deixando uma faixa de poeira branca em torno do lago, agora com um quilômetro e meio de largura. Quando agitada pelos fortes ventos da área, essa camada alcalina mata a vegetação local, e poderá tornar-se um risco para a saúde dos moradores das proximidades. Os cidadãos locais desenvolveram um movimento espontâneo para salvar o Lago Mono, apoiados por outros indivíduos interessados 156

em todo o estado e em toda a nação. Enfrentando os poderosos interesses de uma imensa empresa de serviços públicos, eles estão perguntando por que o lago e sua vida selvagem deverão ser sacrificados em nome de um maior desenvolvimento e para encher as piscinas de seus vizinhos esbanjadores do sul. A história do Lago Mono e o problema do alimento ilustram dramaticamente o princípio taoísta da unidade. Como aprendemos no último capítulo, o Tao ensina que: "A natureza é um sistema vivo, tão sagrado Que, quem o usar de forma profana, Certamente o perderá; E perder a natureza É perder a nós mesmos." (TAO 29)

POLUIÇÃO A natureza é uma teia interligada, um complexo sistema integrado. Quando mexemos numa parte, causamos inevitáveis repercussões. Todo ano, os países desenvolvidos enchem rios e lagos com produtos químicos da indústria, derivados do petróleo, solventes, sal da estrada, lixo, detergentes domésticos, pesticidas e detritos orgânicos. Alguns quilômetros adiante, no rio, a água é bombeada, tratada com cloro e outros produtos químicos, e depois mandada de volta, através dos canos, como água potável. Por uma espécie de carma aquático, o que enviamos nos é devolvido, ameaçando nossa saúde. Fertilizantes químicos contendo nitratos (transformados pelo corpo humano em nitrossaminas, que causam câncer de estômago) muitas vezes filtram-se em nossa água de beber. Hormônios e anticoncepcionais excretados na urina já foram parar nos rios urbanos e podem resultar num decréscimo da fertilidade da população. Os produtos químicos industriais contaminam a água do solo em muitas áreas, com chumbo, mercúrio, cádmio, arsênio, dioxina e outros venenos, colocando a vida em risco, por repetidas vezes. Esse aumento da população da água está ameaçando nossa saúde e destruindo outras formas de vida. Nos últimos anos, peixes e mamíferos marinhos têm morrido de doenças misteriosas, com seus sistemas de imunidade enfraquecidos pelas águas poluídas. Até nossas mal-orientadas tentativas de permanecer limpos 157

podem prejudicar o meio ambiente. Os fosfatos contidos na maioria dos detergentes correm para as vias aquáticas, encorajando o maciço crescimento de algas, que tornam a água verde e limosa e esgotam seu oxigênio, de forma que os peixes morrem sufocados. EXERCÍCIO PESSOAL: PARA REDUZIR A POLUIÇÃO DA ÁGUA Como participantes conscientes do ciclo da água, podemos ajudar a reduzir a poluição tomando medidas positivas nas seguintes áreas: • Evite ou reduza seus fosfatos. Use sabão ou detergentes biodegradáveis, que não contenham fosfatos. Estão à venda em algumas lojas especializadas em comida natural e são usados há anos na Suíça. Até encontrar alternativas, pelo menos reduza a quantidade. Meia xícara de sabão em pó ainda basta para lavar suas roupas. • Não use em excesso substâncias para branquear e tirar manchas. Algumas lojas de alimentos naturais e catálogos para encomendas pelo correio vendem produtos de limpeza biodegradáveis. Procure por eles e, até encontrá-los, use menos do tipo comercial. • Não use produto para purificar a água no banheiro. Eles simplesmente poluem a água com substâncias químicas e perfumes artificiais. • Não use produtos químicos no jardim. Os fertilizantes artificiais, como os fosfatos, causam o crescimento desenfreado das algas e colocam nitratos na água. Os pesticidas entram na cadeia da água, prejudicando muitas outras formas de vida. Faça jardinagem orgânica, fertilizando a terra com adubos compostos e usando controles naturais para as pragas. Você aprenderá como fazer isso lendo o próximo capítulo. • Não atire óleos, tintas e produtos químicos pelo escoadouro. Óleo de motor, ácido de bateria, cera para polimento de automóveis, terebentina, tinta — tudo isto precisa ser jogado fora com segurança. Algumas cidades têm um depósito de lixo especial para restos deste tipo. Telefone para a companhia de lixo local e peça conselhos. • Troque idéias com outras pessoas. A água que usamos pertence a todos nós, a nossos descendentes e às muitas formas de vida neste planeta. Quanto mais pessoas a usarem com sabedoria, mais saudável será nosso futuro coletivo. 158

Todo dia, a maioria das pessoas não-Tao abusam do ciclo da água, desperdiçando-a. Na natureza, nada é desperdiçado. Tudo é usado, reciclado, devolvido à fonte. Os povos nativos que vivem próximos da terra sempre respeitaram seus ciclos, cooperando com a natureza. Quando deixam para trás suas raízes, os povos industrializados substituem a cooperação pela conquista. Na América do Norte, os índios das planícies faziam uma oração antes de matar um búfalo e, depois, usavam todas as partes do animal: a carne para a alimentação, o couro para roupas e abrigos, os ossos para instrumentos e objetos decorativos. Quando a rodovia transcontinental estendeu-se em direção ao Oeste, outros americanos começaram a abater os búfalos a tiros, como esporte. Disparando fuzis pelas janelas, mataram centenas de búfalos, enquanto o trem passava velozmente, deixando seus corpos a apodrecer na poeira. Como o búfalo, a nação índia desapareceu na esteira da expansão para o Oeste, e jamais cuidamos de aprender sua sabedoria. Na América, essa atitude de conquista e exploração ainda distorce nosso relacionamento com a natureza. Achamos que ela não precisa de cuidados e tiramos-lhe tudo em grande quantidades, desperdiçando recursos com irresponsável descontrole. Em 1975 cada pessoa nos Estados Unidos usava 1595 galões de água por dia: para uso pessoal, para cultivo agrícola e para sustentar negócios, usinas elétricas e manufaturas. Se a atual tendência continuar enfrentaremos racionamentos gerais de água nos Estados Unidos, por volta do ano 2000.12 Mas o desperdício ainda continua. Sem levar em conta os ciclos naturais, os americanos agem como se existisse um ilimitado abastecimento de água todas as vezes em que abrem a torneira. E nossa tecnologia encoraja esse desperdício. Um quarto de toda a água doméstica desce diretamente pela privada, poluindo de cinco a sete galões de água pura, a cada descarga. Para sustentar nossa típica dieta de carne e batata, a empresa agrícola usa enormes quantidades de água a cada ano: 2.500 galões para produzir meio quilo de carne. Meio quilo de arroz precisa de apenas 500, um copo de leite, 100, meio quilo de farinha de trigo, 75, uma espiga de milho, 80, um ovo, apenas 40. Comer menos carne e mais carboidratos complexos não apenas reduziria nosso uso de água, mas baixaria nosso colesterol, trazendo maior saúde para nós mesmos e para nosso planeta. Mudanças nos negócios e na tecnologia reduziriam o desperdício de água e causariam um corte significativo na poluição. Inventores suecos desenvolveram um tipo de privada que aduba, 159

devolvendo ao solo os detritos orgânicos sem poluir o abastecimento de água. Os estudiosos John Seymour e Herbert Girardet recomendam um sistema de água dual nas casas, com um conjunto de canos trazendo água fresca, destinada ao consumo e à limpeza, e outros para a descarga da privada, lavagem do carro, irrigação da grama e, ainda, para finalidades industriais. Mas até nossa sociedade realizar mudanças em ampla escala, podemos, cada um de nós, começar a conservar voluntariamente nossa água. Uma seca recente na área onde moro tornou imperativa a conservação da água. A maioria de meus amigos atendeu ao racionamento de água, mas algumas pessoas ainda ignoram os regulamentos. Para salvar seus gramados bem-tratados, irrigam excessivamente, deixando centenas de galões de água escorrerem pela rua. Juntamente com muitos vizinhos, no verão passado, Gwilym e eu começamos a conservação voluntária, instalando cabeças de chuveiro que economizam água, colocando garrafas nos tanques da privada para reduzir o desperdício e checando nossas torneiras para evitar qualquer vazamento. Este ano, temos uma coleção de baldes pela casa toda — um para cada chuveiro, pia, e outro para a pia da cozinha. Apanhamos essa "água cinzenta" e a levamos para fora, a fim de molhar nosso jardim. Os gramados — jamais gostamos muito deles — não molhamos, absolutamente. Planejamos substituí-los por paisagem comestível, plantas nativas e alecrim, que resiste à seca. Embora muitas pessoas se queixem das restrições causadas pela falta de água, talvez elas sejam, na verdade, um grande bem, tornando as pessoas mais conscientes do meio ambiente e do uso que fazem da água. Talvez passemos todos a considerar a natureza de forma menos despreocupada, percebendo com maior clareza nosso lugar no ciclo mais amplo. EXERCÍCIO PESSOAL

Mesmo se não houver nenhuma seca em sua área, você pode conservar a água usando-a mais conscientemente. A conservação pessoal faz diferença. Você pode começar pelo seguinte: • Fechando a torneira quando estiver escovando os dentes, barbeando-se ou lavando a louça. • Só usando as máquinas de lavar pratos e de lavar roupas quando estiverem inteiramente cheias. 160

• Consertando logo todos os vazamentos. • Colocando um recipiente plástico cheio de cascalho, ou uma sacola plástica cheia de água, no tanque de sua privada, para reduzir o desperdício. Se todas as privadas da América tivessem isso, poderíamos economizar 60 milhões de galões por dia. • Instalando cabeças de chuveiro que economizam água. • Não usando a lixeira, que gasta água em grande quantidade. Em vez disso, transforme em adubo os restos de sua cozinha. • Tomando banhos de chuveiro mais curtos. • Lavando seu carro com um balde, usando a mangueira por pouco tempo e, em seguida, fechando a água. Você também pode chamar o departamento de água local e descobrir de onde vem sua água. Fiz isso e eles me enviaram algumas informações sobre o sistema de água da área onde moro. O Tao nos encoraja a aprender cada vez mais sobre a natureza, procurando os modelos mais amplos e nos tornando mais conscientes dos ciclos em nossas vidas. Porque, quanto mais entendemos, mais somos capazes de nos harmonizar com eles. Respeitando nosso ciclo de água, cuidando de uma árvore ou plantando um jardim, sintonizamo-nos pessoalmente com a sabedoria do Tao. Familiarizados com o ciclo das estações, aprendemos que a primavera inevitavelmente se segue ao inverno e que, com cada declínio, vem uma renovação correspondente. Esta princípio do Tao traz sabedoria, paciência e esperança duradouras. Como a vida inteira é dinâmica, percebemos a futilidade de nos prendermos em excesso a qualquer objeto ou experiência. Sabemos que todo organismo, toda situação, até o pior dos problemas, tem seu próprio ciclo de nascimento, crescimento e declínio. Aprendemos a importância da regulagem do tempo. Observando os ciclos em torno de nós, descobrimos quando combinar nossas energias com as dos outros. Será que a estação está madura para a mudança? Estudem o Tao e saberão.

Afirmação Agora sei que minha vida é pacífica e harmoniosa. Estou mais consciente dos ciclos dentro e em torno de mim. Observo as modificações no sol, na lua, na água e na terra, e coopero com elas. Respeito a mim mesmo(a) e ao processo. 161

Harmonizo-me com a natureza e com todos os demais em minha vida. Agora recebo uma paz maior em minha vida. E assim seja.

NOTAS

12. Miller, Living in the Environment, p. 345. 13. Seymour and Girardet, Blueprint, p. 26. 14. Miller, Living in the Environment, p. 346. 15. Seymour and Girardet, Blueprint, pp. 24-25. 16. Muitas dessas recomendações são encontradas na obra de Miller, Living in the Environment, p. 353. Para maiores informações sobre conservação de água e energia, contatar o Rocky Mountain Institute, 1739 Snowmass Creek Road, Snowmass CO 81654.

1. Para uma explicação sobre as veias do dragão, ver: John Blofeld, Taoism: The Road to Immortality (Boulder: Shambhala, 1978), p. 7. 2. Para a melhor explicação sobre física quântica e taoísmo, ver: Capra, The Tao of Physics. 3. Allan Watts, The Way of Zen (Nova York, Pantheon, 1957), p. 5 4. Explicação do "fator frio" na p. 141 e algumas excelentes idéias sobre paisagem comestível no livro de Robert Kourik, Designingand Maintaining Your Edible Landscape (Santa Rosa: Metamorphic Press, 1986). 5. Algumas idéias deste questionário basearam-se em "Where You At? A Bioregional Test", de Jim Dodge, Leonard Charles, Lynn Milliman e Victoria Stockley, publicado originalmente em Coevolution Quarterly nº 32, inverno de 1981, p. 1. Usado com permissão de Jim Dodge e do editor, agora Whole Earth Review. 6. Para obter uma brochura e informações sobre centros locais de reciclagem, escrever para o Environmental Defense Fund, Recycling, 257 Park Avenue, Nova York NY 10010. 7. Para uma explicação sobre "Economia Budista" e reverência pelas árvores, ver: Schumacher, Small is Beautiful, pp. 53-62. 8. Pelas informações complementares sobre o ciclo das águas, sou grata a meu amigo James Degnan, escritor especializado em meio ambiente. Informações sobre o Aquifer O gallala, de John Seymour e Herbert Girardet, Blueprint for a Green Planet (Nova York: Prentice Hall, 1987), p. 22. Este livro é uma excelente fonte de referência para se viver em harmonia com o meio ambiente. 9. Informações usadas com permissão da comissão do lago Mono, P.O. Box 29, Lee Vining CA 93541. Também quero agradecer a minha aluna Farah Chichester, cujo relatório oral e tese ainda não publicada, "A Bela e a Fera do Lago Mono", Universidade de Santa Clara, março de 1989, ajudou-me a enxergar o problema com maior clareza. 10. Informações sobre a poluição da água, de Seymour e Girardet, Blueprint, pp. 24, 34-36. 11. Muitas dessas recomendações são de Seymour e Girardet, em Blueprint fora Green Planet (Nova York: Prentice Hall, ©1987), p. 33. Usadas com permissão da editora. Para excelentes informações sobre sabões, detergentes e outros produtos domésticos não tóxicos, ver: Debra Lynn Dadd, Nontoxic and Natural (Los Angeles: Jeremy Tarcher, 1984). 162

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CAPÍTULO 14

A FÓRMULA TAOÍSTA PARA SOLUCIONAR PROBLEMAS As pessoas sábias procuram soluções; Os ignorantes apenas atribuem culpas. (TAO 79)

studando a natureza, aprendemos os princípios do Tao. Cooperando com esses princípios, podemos solucionar problemas de forma mais eficiente. O primeiro passo na fórmula taoísta para solucionar problemas é ver nosso lugar no modelo mais amplo. Respondendo com humildade e distanciamento, as pessoas Tao não deixam que as exigências do ego estreitem suas perspectivas e as conduzam para a ação tola. Por toda parte, em torno de nós, vemos pessoas reagindo dentro de um espaço do ego: culpando os outros, tendo acessos de raiva, fazendo exigência ou buscando vingança — tudo, menos solucionando o problema. Em março de 1989, um grupo de californianos do norte, irados, processaram o serviço de água de Marin County por impor um racionamento obrigatório de 35% e restrições a novos empreendimentos. Chamando a si mesmos de "Cidadãos Contra o Racionamento Irracional", acusaram o departamento de água de usar uma cláusula de emergência para impor o racionamento, quando não havia nenhuma emergência "verdadeira" — um terremoto ou represa rompida — apenas falta de água. Usando detalhes técnicos como argumentação, resistiram ao problema, mas não o solucionaram. Aconteça o que acontecer no tribunal, isso não vai mudar a crescente falta de água em alguns pontos do país. Em nossa sociedade litigiosa, muitas pessoas acreditam que a

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melhor maneira de solucionar um problema é processar alguém. Porém, isto apenas sobrecarrega os tribunais já apinhados e faz o dinheiro mudar de mãos, grande parte dele seguindo para o bolso dos advogados — mas o problema original, com freqüência, permanece sem solução. As pessoas Tao olham para os modelos mais amplos, enxergando além do dualismo artificial que coloca tudo em termos de "nós contra eles". Dos tribunais ao combate, um número excessivo de pessoas neste mundo desperdiça suas energias atribuindo culpas, perpetuando conflitos e fazendo inimigos, em vez de resolver problemas. A miopia — vista curta — intelectual é uma maldição da existência moderna. Não apenas o dualismo nos distrai, como também sucumbimos à superespecialização. Concentrando nosso conhecimento numa área, ignoramos o quadro completo. A maneira taoísta de solucionar problemas implica em pensar holisticamente, trabalhando com os modelos mais amplos encontrados na natureza. O conhecimento especializado não pode solucionar nossos complexos problemas globais. Especialistas acadêmicos aconselharam presidentes durante anos. Mas, em 1979, muitos líderes acadêmicos disseram ao Washington Post que não sabiam como solucionar os problemas globais. Na Universidade de Nova York, um professor especializado em vida urbana afastou-se de seu cargo porque não tinha "mais nada a dizer". O Tao nos ensina a examinar os ciclos naturais. Problemas surgem quando procuramos soluções a curto prazo, ignorando esses ciclos. Em março de 1989, espalhou-se o pânico entre consumidores norte-americanos, quando o Conselho de Defesa dos Recursos Naturais anunciou o perigo carcinogênico do alar, produto químico borrifado em maçãs vermelhas cultivadas para fins comerciais, de modo a aumentar a duração e melhorar o aspecto das frutas, quando embaladas. O relatório do conselho deu lugar a protestos de cidadãos preocupados, à proibição das maçãs nos refeitórios escolares e a uma audiência no Senado em torno da segurança de nossa alimentação. O pânico do alar acabou e a companhia envolvida parou de produzi-lo. Mas a lição permaneceu. Até há pouco tempo, os produtores comerciais estavam tão preocupados em melhorar a aparência da fruta e aumentar sua duração após a colheita que ignoraram as implicações mais amplas de suas ações. Este exemplo e outros semelhantes demonstram os princípios taoístas da unidade e do crescimento cíclico. Pois os produtos químicos agrícolas tornam166

se uma parte irrevogável do ciclo alimentar, afetando não apenas o produto tratado, mas todos os que o comem. Enquanto o ciclo continua, esses produtos químicos entram em nosso solo e nos abastecimentos de água e podem envenenar também a terra. O Tao nos ensina a ser mais cuidadosos em nossas escolhas.

TRABALHO COM OS CICLOS As pessoas Tao reconhecem as conseqüências de suas ações. Como veremos neste capítulo, a maneira taoísta de solucionar problemas trabalha com os ciclos, impedindo que os problemas cheguem a ocorrer e resolvendo os problemas atuais através da cooperação com a natureza. Pensando cíclica e globalmente, enquanto agimos no quadro local, podemos trazer maior harmonia para nosso mundo.

SABEDORIA DA PREVENÇÃO O Tao nos diz: "Enfrente a dificuldade Enquanto ainda é fácil. Resolva os grandes problemas Enquanto ainda são pequenos. Evitar os grandes problemas Tomando pequenas medidas É mais fácil do que solucioná-los. Por isso, a pessoa Tao É previdente e vive com sabedoria, Realizando grandes coisas Através de pequenas ações." (TAO 63) Praticamos a sabedoria da prevenção quando consideramos nossas ações dentro de um quadro mais amplo, tendo em vista os ciclos. Comendo mais alimentos integrais, podemos ajudar a prevenir a doença, bem como a fome e a poluição no planeta. Como isto é possível? Vamos considerar os ciclos envolvidos. Para começar com nosso próprio ciclo de vida, uma dieta mais simples de cereais, verduras, frutas frescas e legumes é muito mais saudável do que a pesada carga de carnes, gordura, açúcar e comidas 167

processadas consumidas pelos americanos médios. Essa dieta pouco saudável levou a um aumento da obesidade e às "doenças da afluência" — problemas cardíacos e câncer — entre a população em geral.3 Podemos melhorar nossa saúde reduzindo ou eliminando a carne, obtendo proteínas através da combinação de carboidratos complexos, cereais e legumes. Em 1988, The American Journal of Clinicai Nutrition informou que uma dieta vegetariana reduz grandemente o risco da obesidade, doenças do coração, pressão sangüínea alta, câncer do pulmão, diabetes que começam na idade adulta, pedras na vesícula e problemas digestivos. Como toda a vida é inter-relacionada, nossas escolhas diárias afetam nossos vizinhos no planeta. Se um número maior de pessoas reduzisse o consumo de carne e de produtos animais, haveria comida mais do que suficiente para todos. Foi a conclusão surpreendente a que chegou Frances Moore Lappé, há quase vinte anos, em seu livro Diet for a Small Planet (Dieta para um planeta pequeno). Comer os animais que consomem toneladas de cereal e proteína de soja reduz imensamente o volume de alimento disponível. A dieta tradicional americana perpetua os ciclos de escassez. Metade de nossos hectares cultivados é utilizada para alimentar rebanhos: são necessários pelo menos três quilos e meio de ração de cereais e soja para produzir meio quilo de carne. Uma dieta pesada de carne também gasta água. A comida de um dia para o americano médio requer 4.200 galões de água por dia, 80% dos quais vão para a produção de carne (2.500 galões para cada meio quilo de carne). Lappé diz que "uma dieta baseada em carne de gado alimentado com cereais é como dirigir um automóvel que vaza gasolina", um desperdício de recursos e uma carga intolerável para o meio ambiente.5 A criação de bovinos, suínos, ovinos e similares, tendo por base a alimentação dos animais com rações comerciais em larga escala, produz toneladas de excrementos que poluem o abastecimento de água. Para manter os animais saudáveis em condições de superlotação, os criadores os enchem de produtos químicos e hormônios, que são então passados para as pessoas que comem a carne. Sem os aditivos artificiais, as comidas integrais não sobrecarregam nosso organismo. Como produzem menos lixo, também não sobrecarregam o meio ambiente. Ao contrário de seus equivalentes processados, os alimentos integrais, como laranjas e batatas, não precisam de embalagens sofisticadas. Cereais e legumes podem ser vendidos em grandes quantidades, sem embalagens que representem desperdício. 168

O processamento comercial cria montanhas de detritos a cada ano, em termos de embalagens descartáveis, grande parte das quais não é sequer biodegradável. Com o aumento do processamento, o valor nutritivo da comida diminui. Transportar alimentos das fazendas para as indústrias de processamento, e daí para as lojas, é tarefa que resulta na poluição do ar e exige o consumo de imensas quantidades de petróleo. Comidas demasiado processadas são pouco saudáveis para nossos corpos e para nosso meio ambiente. EXERCÍCIO PESSOAL: COMO FAZER ESCOLHAS MAIS ACERTADAS Podemos fazer escolhas mais acertadas cooperando com os ciclos naturais para evitar a doença, a fome e a poluição. Aqui estão algumas diretrizes úteis para comprar comida: • Diminua ou corte o uso da carne. Coma mais cereais integrais e legumes, comprando em grandes quantidades, quando possível. Livros como Diet for a Small Planet, Laurel's Kitchen e ThePritikin Diet oferecem conselhos úteis e receitas. • Compre produtos frescos. É muitos mais nutritivo do que comprar as versões processadas, que contêm sal, açúcar e aditivos químicos. • Evite as frutas superembaladas e as verduras desnecessariamente embrulhadas com camadas de plástico. Alguns estudos revelam que os plásticos soltam resíduos pouco saudáveis. Talvez não sejam saudáveis para nós e, sem dúvida, poluem o planeta • Compre frutas e verduras locais, sempre que possível. Elimine o desperdício e a poluição envolvidos no transporte de alimentos de outras áreas. Descubra que alimentos são produzidos em sua área e compre-os em sua estação própria, vivendo em harmonia com os ciclos naturais. • Compre produtos orgânicos, quando for possível, reduzindo a poluição planetária e ambiental resultante do emprego de fertilizantes químicos e pesticidas. Se sua loja não tem produtos orgânicos, peça-os. Quanto maior a demanda de frutas e verduras orgânicas, maior o fornecimento, e teremos todos uma vida mais saudável.

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CULTIVO PRÓPRIO Outra maneira de reduzir a poluição é cultivar seus próprios produtos. Um jardim nos dá alimentos frescos, que amadureceram naturalmente, enquanto nos leva de volta ao contato com o solo e com os ciclos naturais. Com o uso, apenas, de adubo composto e fertilizantes naturais, a jardinagem orgânica não polui nem exaure o solo, e sim, na verdade, melhora-o. As plantas que crescem organicamente são mais saudáveis e menos suscetíveis a pragas e doenças. Os agricultores orgânicos acreditam firmemente na prevenção: plantações associadas, rotação de colheitas e inibidores naturais, como alho e cebolas, para repelir pulgões. Quando os problemas acabam acontecendo, recorrem a pesticidas naturais, como água com sabão, matando as pragas sem envenenar o jardim. O livro de John Jeavons, How to Grow More Vegetables (Como cultivar mais verduras), é um guia excelente para o cultivo orgânico.7 Embora você talvez não possa "viver da terra" numa cidade ou num subúrbio, ficará surpreso de ver quanto pode cultivar num pequeno espaço. Os chineses cultivaram manual e organicamente durante séculos, usando apenas fertilizantes produzidos na fazenda. Conseguiram alimentar até duas vezes mais pessoas, por hectare, do que se obtém com os métodos modernos. John Jeavons diz que o cultivo intensivo biodinâmico, com pequenos canteiros elevados, produz pelo menos quatro vezes mais verduras por hectare do que a agricultura química mecanizada. Além disso, esta forma de cultivo é mais respeitosa para com o meio ambiente, não acarreta poluição e usa apenas metade da água e 1% da energia consumida com o cultivo comercial. Algumas pessoas passaram a se dedicar com paixão ao cultivo orgânico. Richard Stevens, professor da Universidade do Colorado, em Denver, cultiva todas as verduras que consome em seu próprio quintal, que tem cerca de 2.000 metros quadrados. A cada outono, ele e sua família enlatam, cada um, vinte quilos de ervilha, feijão, abóbora e milho, guardando no porão cenoura, cebola e outras colheitas de raízes. O que não guardam para o inverno, vendem numa feira, nas proximidades. Enquanto a maioria de seus colegas está fazendo pesquisas acadêmicas na biblioteca, Stevens usa seu jardim como laboratório para ver quantos alimentos as pessoas podem cultivar em seus quintais. O professor sorri e diz: "A idéia é mostrar às pessoas da cidade que elas podem cultivar comestíveis, em vez de maconha". 170

O jardim fornece mais do que comida. Quando sai da sala de aula e entra em seu laboratório natural, o professor Stevens tem uma forte sensação de paz. "Há uma atmosfera criada pelas plantas e pelo solo", admite. "Quando caminho por ali, minhas preocupações desaparecem."9 Depois de passar o dia de ontem escavando meu próprio jardinzinho para o plantio da primavera, entendi o que ele quer dizer. Meus músculos estavam doendo pela manhã, mas acordei cheio de expectativa. Corri para a janela e olhei para fora, para o solo recémlavrado, com as pequenas plantas verdes colocadas em desenhos cuidadosos. Nas próximas semanas, ficarei observando para ver os brotos, a evidência física do poder da natureza — bem no meu quintal. Mesmo que você more num apartamento ou condomínio, ainda pode cultivar verduras e ervas frescas em recipientes no pátio ou no telhado. Tomate, alface, pimentão e morango crescem bem em vasos ou caixas próprias para plantio. Pergunte na sementeira local que plantas crescem melhor em sua área. Minha prima Norma tem sempre alguma coisa comestível crescendo em seu quintal. Num ano, era pepino, no outro, uma variedade de ervas. Há alguns anos, ela e seus colegas iniciaram uma horta coletiva no próprio local de trabalho, passando a cultivar verduras no terreno atrás do prédio do escritório. Com um pouco de habilidade, você também pode descobrir o espaço adequado onde seu jardim poderá ser cultivado. O cultivo orgânico leva-nos de volta aos ciclos da natureza. Aprendemos a trabalhar com as estações, a terra, o ar, a luz do solo e a água — todos os alimentos que sustentam a vida. Cooperando com a natureza, estamos em união com o Tao, evitando problemas em nossas vidas e em nosso mundo ao harmonizar-nos com os ciclos naturais.

OS CICLOS AJUDAM A SOLUCIONAR PROBLEMAS Os taoístas contam com os ciclos naturais não apenas para evitar problemas, mas para solucioná-los. Um excelente exemplo disto é a reciclagem, solução natural para o crescente desperdício e esgotamento do planeta. O Tao nos diz: "A pessoa Tao ajuda as outras Para que ninguém se perca 171

E usa as coisas com sabedoria Para que nada se desperdice." (TAO 27) O jardineiro chinês "usa as coisas com sabedoria". Em 1970, quando Peter Chan e sua família mudaram-se para seu novo lar em Oregon, o quintal estava cheio de barro duro e grandes pedras, o suficiente para fazer qualquer outro homem erguer as mãos para o céu, horrorizado. Peter viu o quintal não apenas como problemas, mas também como uma oportunidade. Hoje, seus jardins ganharam prêmios e já apareceram na Sunsel Magazine Better Homes and Gardens e na televisão. O solo de barro foi enriquecido com adubo composto e as outrora incômodas pedras agora formam caminhos bem arrumados entre os canteiros elevados de sua horta. "Nada é desperdiçado". Tão entranhado é este princípio entre os chineses que eles têm dificuldade em entender o que queremos dizer quando falamos de lixo. Para eles, "os subprodutos de alguma coisa são potencialmente bons materiais para outra coisa." Na filosofia chinesa, tudo faz parte de um processo em andamento. Reconhecer este processo e cooperar com ele é estar em união com o Tao. Mas o esgotamento e o desperdício são por demais comuns no mundo ocidental. Os países industrializados — um quarto da população mundial — usam 80% dos recursos da terra. Nossa necessidade de carne a baixo preço, madeira-de-lei e papel está destruindo as florestas pluviais do mundo ao índice alarmante de 38 hectares por minuto, agravando o efeito estufa. Para produzir nosso dilúvio diário de meios de comunicação impressos—jornais, revistas, catálogos — matamos milhares de árvores. Uma tiragem do Sunday New York Times usa 75.000 árvores. Também empilhamos montanhas de lixo. Nos países industrializados, cada pessoa joga fora até cerca de 80 quilos por mês de papel, vidro, metal, plástico e detritos da cozinha. Nos Estados Unidos, isso corresponde a uma média pessoal de mais de 900 quilos por ano, sendo que os moradores das cidades produzem mais de uma tonelada de lixo cada um. Como nossos locais de depósito não podem conter todo esse lixo, firmas especializadas em detritos estão procurando novos terrenos para servir de locais de depósito, transferindo o problema para outros pontos, em vez de resolvê-lo. As barcaças de lixo estão criando mal-estar e mau cheiro no panorama internacional, já que os Estados Unidos tentam descarregar seu lixo no Terceiro Mundo. Em 1988, a 172

Filadélfia embarcou 14.000 toneladas de lixo tóxico, que foi transportado através do Caribe, rejeitado sucessivamente por Guiné-Bissau, Honduras, Bahamas, Bermudas e República Dominicana, sendo a carga afinal atirada, subrepticiamente numa praia do Haiti, que protestou sem sucesso. Segundo o princípio taoísta da unidade, todas as ações têm conseqüências e repercussões inevitáveis. A maneira irresponsável como os Estados Unidos se livram de seu lixo não apenas contribui para a poluição do planeta, como poderá conduzir a novos ciclos de hostilidade nas relações internacionais. Os Estados Unidos, como outros países industrializados, criam um tremendo desperdício com o excesso de embalagens. Apenas uma geração atrás, as pessoas compravam comida em grandes quantidades nas lojas locais, levavam para casa açúcar, chá, arroz, farinha de trigo e outros grãos e farináceos em bolsa de algodão que podiam ser novamente utilizadas, e guardavam tudo em latas de cozinha. Minha mãe e minha avó tinham conjuntos de latas, coisa que raramente vejo nas cozinhas modernas. Passamos a ser uma sociedade descartável que cria pilhas maciças de papel, cartolina e plástico todas as vezes que vamos ao supermercado. Pelo menos um décimo da conta média da mercearia é gasto com embalagens. Algumas embalagens não são sequer biodegradáveis. Esses invólucros, sacolas e garrafas de plásticos que usamos todos os dias são feitos de produtos petroquímicos não-renováveis e não se quebram naturalmente. A terra já entulhada com lixo plástico que polui o planeta e causa danos à vida selvagem. Focas e peixes são feridos, muitas vezes estrangulados, por redes, envoltórios e engradados de refrigerantes — tudo isso de plástico. No supermercado perguntam se queremos nossas verduras embrulhadas em "papel ou plásticos". Eu costumava ficar imaginando que escolha responsável poderíamos fazer: papel destrói as árvores, enquanto o plástico polui o planeta. Posteriormente, passei a evitar esse dilema levando minhas próprias sacolas de lona, quando vou ao supermercado. Outro dia, perguntei a uma amiga que trabalhava numa loja de produto naturais se eles podiam fazer alguma coisa para reduzir o desperdício com embalagens e a poluição. "Usamos tanto plástico", concordou, sacudindo tristemente a cabeça, "e não sei se o plástico é seguro, em qualquer modalidade, do ponto de vista ambiental, seja biodegradável ou não". Duas semanas depois, a loja anunciou uma nova orientação: descontos para os clientes que devolvessem as suas 173

sacolas para serem utilizadas, ou que levassem as suas próprias. Na semana seguinte, uma balconista de uma mercearia local notou minhas sacolas. "Que grande idéia! Precisamos fabricar mais desse tipo", disse ela, oferecendo-se para dizer ao gerente da loja que deveriam oferecer sacolas de lona de baixo custo, com o logotipo da loja, como alternativa ecológica. Levar sacolas de lona quando vou fazer compras é uma medida de pequena monta, na verdade, mas é uma ação direta que posso empreendei" para ajudar a reduzir o desperdício e a poluição. E descobri que a maioria das pessoas que conheço se importa verdadeiramente com o meio ambiente. Apenas precisam de uma expressão tangível para esse cuidado. Se um número suficiente de nós prestar atenção nos ciclos mais amplos, poderemos encontrar novas soluções para nossos problemas globais. Enquanto isso, podemos ajudar não usando tantas bolsas de supermercados, preferindo produtos em vidros em vez de plásticos e pedindo às lojas locais alternativas biodegradáveis.

PARA TRANSFORMAR PROBLEMAS EM RECURSOS Muitas vezes, aquilo que parece um problema pode ser um recurso, quando encarado sob outra perspectiva. Alguns anos atrás, um cientista da 3M Corporation aperfeiçoou uma nova cola, que não parecia absolutamente promissora. Tinha capacidade adesiva muito limitada, só se grudando às coisas temporariamente. Porém, hoje, essa cola tornou-se quase indispensável nos escritórios do país inteiro, porque é usada para fazer os blocos de notas adesivos removíveis. A reciclagem transforma nosso crescente problema de desperdício em recurso, criando novas fontes de materiais de vidro, metal e papel. O vidro pode ser reciclado de duas maneiras. As garrafas que devem ser devolvidas têm um curto ciclo de uso, devolução, novo uso. O vidro que não se destina à devolução, reciclado (derretido e transformado em novos recipientes de vidro), é novamente utilizado. As latas podem ser usadas, recicladas (derretidas e transformadas em novas latas), e novamente utilizadas, e o papel pode ser usado, reciclado (desentintado, imerso numa solução química e transformado em novo papel) e também, mais uma vez, posto em uso. Durante anos, separei todas as minhas garrafas, latas e jornais e levei-as para o centro local de reciclagem na mala de meu carro. No 174

ano passado, minha cidade iniciou a reciclagem no meio-fio, colocando três caixas de plásticos muito coloridas e uma série de instruções em cada casa da área. Que possibilidades de reciclagem existem em sua comunidade? Chame sua companhia de lixo local e descubra. ADUBO

COMPOSTO

Para quem tem jardim, o lixo de cozinha pode ser transformado em adubo natural, devolvido ao sol e usado para cultivar novos produtos alimentícios ou plantas. A grama aparada, as folhas caídas e outros detritos de jardim também podem entrar no montão de adubo. Depois de alguns meses, os materiais decompõem-se num fértil húmus escuro, perfeito para os enxertos e para adicionar nutrientes ao solo. Chocada com as barcaças de lixo que os Estados Unidos estavam enviando para o Caribe no ano passado, decidi assumir maior responsabilidade pelo lixo de minha casa. Como já praticávamos a reciclagem individual, o que restava de lixo fácil de reciclar eram as sobras da cozinha e do quintal, que abrangem de 20 a 30% de nosso lixo. Então, investi numa caixa para adubo composto que, segundo os fabricantes, rapidamente decomporia os detritos da cozinha e do jardim, permanecendo, enquanto isso, livre de cheiro. Com algum receio, fui de carro até Palo Alto para pegá-la, imaginando se eu não estaria louca de pagar 100 dólares por uma caixa de adubo. Mas descobri que, realmente, ela evitava o mau cheiro e era eficaz. Depois de alguns meses, a grama aparada e os restos de cozinha transformam-se em húmus escuro e farelento com aspecto (e cheiro) de solo em vaso. Meu jardim está mais viçoso do que nunca, dando-se muito bem com sua dieta de nutrientes naturais que, se não tivessem esse destino, iriam acabar no depósito de lixo municipal. Claro, você não precisa comprar um recipiente para adubo composto. Muitas pessoas os constroem elas mesmas, de madeira ou tela de arame para galinheiros. Outras pessoas preferem os antiquados montões de adubo composto. Let It Rot (Deixe apodrecer), de Stu Campbell, é um guia útil para fazer o próprio adubo.

O PRINCIPIO DO RETORNO Muitas comunidades têm seus próprios projetos em torno da adubagem natural, reunindo detritos de cozinha e quintal em 175

recipientes especiais e transformando tudo em fertilizante orgânico. Os Estados de Nova York e Nova Jersey iniciaram recentemente programas de transformação de folhas em adubo e também em palha. A adubagem composta tornou-se um projeto em larga escala em muitos países europeus. A França tem cem fábricas de adubo composto, enquanto a Suécia transforma em adubo composto, anualmente um quarto de seu lixo sólido.17 Seja em pequena ou grande escala, o adubo composto coopera com os ciclos naturais. Stu Campbell considera que este é um dos meios de devolvermos algo à terra, depois de termos tirado tudo dela durante tanto tempo. O Tao "movimenta-se através do retorno, em ciclos infindáveis" (Tao 40). Com a preparação do adubo composto e a reciclagem, participamos desses ciclos, tornando-nos mais conscientemente unidos ao Tao.

O povo sueco, como o chinês, sempre viveu próximo da natureza. Aos domingos famílias inteiras caminham juntas pelos bosques, apontando ervas e flores nativas. Talvez por isso os suecos sejam tão bons no pensamento cíclico, tentando igualar os ciclos naturais. Um de meus exemplos favoritos disso é o sistema pneumático de canalização, usado nas cidades suecas desde 1969 para aproveitar o lixo doméstico. Tubos pneumáticos, instalados em cada unidade de um prédio de apartamentos, carregam o lixo até o porão, onde ele é separado em vidro e metal reciclável, sendo o lixo remanescente queimado num incinerador. O calor da incineração eleva-se, através de outro conjunto de canos, para aquecer o prédio. Assim, cada apartamento é um pequeno sistema fechado, com seu próprio fornecimento de calor gerado pelo lixo doméstico. Em vez de problema, o lixo na Suécia tornou-se uma solução: parte de um ciclo em andamento e fonte de energia radiante.

CICLOS E SOLUÇÕES O Tao ensina que tudo parte de um processo mais amplo. Os subprodutos de uma coisa são valiosos componentes de outra. A fórmula taoísta para solucionar problemas nos torna mais conscientes do processo, envolvendo-nos mais ativamente nas soluções. Prestando atenção aos ciclos, descobrimos novas possibilidades criativas. Um grande problema com que se defrontam lavradores, em todo o planeta, é a exaustão do solo. Todo ano, eles adicionam mais fertilizantes químicos, que lentamente se filtram no abastecimento de água e vão para o mar, deixando o solo esgotado. Como explicaram os estudiosos John Seymour e Herbert Girardet, "o metabolismo de nossa espécie é, no momento, linear", quando "deveria ser cíclico". Mineramos fosfatos no norte da África para adubar uma colheita. Quando o alimento é consumido, os refugos são carregados para o mar e perdidos. Antes dos sistemas modernos de esgoto, o lixo orgânico era transformado em adubo composto e depois devolvido ao solo, para renovar o ciclo agrícola. Pensando ciclicamente, engenheiros suecos vêm separando a água do esgoto de outras águas sujas. Enviam a água cinzenta para usinas de purificação e transformam em adubo composto a água de esgoto, tratam-na e devolvem-na à terra. Isto vem sendo feito desde 1959. Na China, cada cidadezinha tem sua própria instalação para tratamento da água de esgoto, que produz fertilizantes e também gás metano, usado para iluminar e aquecer a cidade.20 176

PENSAMENTO GLOBAL, AÇÃO LOCAL Como os habilidosos suecos, podemos trabalhar em busca de soluções locais para os problemas intimamente relacionados de aumento de lixo e decréscimo de recursos naturais. Pensando globalmente, vemos como nossas ações se ajustam ao quadro planetário. Agindo localmente, ajudamos a restabelecera ordem e o equilíbrio no planeta. Aqui estão algumas coisas que você pode fazer: • Separar e reciclar seu lixo. Peça à companhia de lixo da área onde você mora para iniciar um sistema de reciclagem no meio-fio, se ainda não fizeram isso. • Inicie uma pilha, ou recipiente com adubo composto, para reciclar o lixo da cozinha e do jardim, se você não tem um quintal. Ou então peça à limpeza pública para começar um projeto local de adubo composto. • Evite os produtos superembalados e peça às firmas para usarem menos embalagem, especialmente os restaurantes de fast food, que empregam toneladas de papel, cartolina e plástico. • Evite as embalagens plásticas. Escolha produtos em recipientes de vidro ou metal, sempre que possível. • Peça às lojas para usarem embalagens biodegradáveis. • Reduza o lixo e desperte consciências levando suas próprias sacolas de compras. 177

• Use garrafas que podem ser devolvidas sempre que possível — e devolva-as. • Descubra que firmas são grandes poluidoras e peça que mudem seu sistema de trabalho, boicotando-as sempre que possível. • Escreva a líderes políticos, manifestando seus pontos de vista e recomendando uma maneira mais responsável de lidar com o lixo. • Ingresse num grupo de ação ecológica local. • Quando tiver estabelecido ciclos mais positivos em casa, parta para o local de trabalho. O empregado mediano de escritório joga fora mais de um quilo e meio de papel por dia, o que representa cerca de 450 quilos por ano. Reciclar o papel do escritório e usar papel reciclado ajuda a salvar árvores, energia e água, reduzindo, ao mesmo tempo, o volume de lixo e a poluição química, especialmente de dióxido sulfúrico, que produz chuva ácida.

Na maneira taoísta de solucionar problemas, o recurso mais importante é sua consciência, sua percepção dos ciclos naturais. Participando ativamente desses ciclos, você terá novas idéias, fará descobertas próprias. Com essa percepção, vem a responsabilidade de tomar medidas e partilhar suas preocupações com outras pessoas. Encoraje as pessoas em torno de você a apresentarem soluções mais saudáveis para problemas coletivos. Nossa consciência faz realmente diferença. Durante o ano de 1989, Berkeley e Santa Cruz, na Califórnia, proibiram as embalagens plásticas, exigindo que as firmas e escritórios governamentais locais usassem alternativas biodegradáveis. Em West Milford, em Nova Jersey, um grupo de estudantes da escola secundária convenceu sua escola a oferecer bandejas de almoço de papelão, como alternativa para as bandejas de plástico descartáveis. Proclamando "ponha seu dinheiro onde está a sua boca", os estudantes escolheram as bandejas de papelão, embora custem cinco centavos a mais. Na primavera de 1989, esses adolescentes disseram, num encontro sobre o meio ambiente promovido pelas Nações Unidas, em Nova York, o que estavam fazendo para alcançar um mundo mais saudável. A preocupação do público com os pesticidas perigosos levou os produtores de alface em Salinas, na Califórnia, a usar uma forma mais segura de controle das pragas. Com uma nova invenção, chamada aspirador-de-salada, eles literalmente aspiram os piolhos da alface. Mais econômica do que os pesticidas, essa invenção, atualmente, poupa o dinheiro da firma. Tempos depois, encontrei alface que havia sido submetida àquele processo nos supermercados locais. 178

Muitas vezes, é mais barata do que a variedade borrifada com agrotóxicos e, sem dúvida, mais saudável, tanto para as pessoas como para o planeta. Essas são apenas algumas poucas mudanças positivas que decorrem de nossa crescente preocupação com a saúde pessoal e do planeta. O que está acontecendo em sua área? O que você pode fazer para apoiar mudanças positivas perto de sua casa? Nossa vida diária, nossas escolhas diárias, podem fazer uma tremenda diferença. Seguindo o Tao, podemos, "com pequenas ações, realizar grandes coisas" (Tao 63). Vivendo em harmonia com os ciclos naturais, podemos liberar novas torrentes de criatividade para curar a nós mesmos e ao nosso mundo.

Afirmação Agora sei que minha vida é tranqüila e harmoniosa. Reconheço os ciclos naturais e trabalho com eles. Pratico a sabedoria da prevenção. Quando me vejo diante de problemas, olho para os ciclos mais amplos e coopero com o Tao. Penso globalmente, ajo localmente. Respeito a mim mesmo e ao processo. Harmonizo-me com a natureza e com todos os demais em meu mundo. Agora recebo uma paz maior em minha vida. E assim seja. NOTAS 1. Capra, The Turning Point, p. 25. 2. A pesquisa sobre o alar e outros aditivos químicos foi obtida de um press release de 1989 sobre a daminozida, emitido pelo Departamento de Proteção Ambiental e pelo Conselho de Defesa dos Recursos Naturais em 27 de fevereiro de 1989. O panfleto e os resultados de estudos mais recentes podem ser obtidos no Conselho de Defesa dos Recursos Naturais — Natural Resources Defense Council, 90 New Montgomery, San Francisco CA 94105, tel. (415) 777-0220. 3- Seymour e Girardet, Bluepnint, p. 70. 4. Informações de Stephanie Turner, em "Orientação para um estilo de vida vegetariano" (Entrevista com Frances Moore Lappé), Chronicle de San Francisco, 15 de março de 1989, Seção Alimentar, p. 3. 179

5. Citação de Lappé e estatísticas nos parágrafos anteriores extraídas de Turner, Orientação, citado na nota 4. Por informações complementares sobre a fome mundial, sou grata a Frances Moore Lappé, que me deu uma entrevista (telefônica) em 1987. Para uma discussão completa da relação entre dieta e fome mundial, ver, de Frances Moore Lappé, Diet for a Small Planet: Tenth Anniversary Edition (Nova York: Bellentine, 1982), ou contatar Food First, do Instituto de Política para Alimentação e Desenvolvimento — Institute for Food and Development Policy, 145 Ninth Street, San Francisco CA 94103, tel. (415) 863-8555. 6. Ver Dadd, Non toxic and Natural, p. 112, 241-42. 7. De John Jeavons, How to GrowMore Vegetables Than You EverTíioiight Possible on LessLand Than You Can ImagineiPalo Alto: Ecology Action, 1974) pode der encontrado na Ecology Action/Common Ground, 2225 El Camino Real, Paio Alto CA 94306. 8. Informações sobre agricultura chinesa de Ecolohy Action Common Ground Newsletter, de fevereiro de 1976; outros dados do livro de Jeavons, em Peter Chan, Better Vegetable Gardens the Chinese Way e Peter Chan'sMagical Landscape (Pownal, Vermant: Comunications, 1985 e 1988) que são guias excelentes para os métodos chineses de cultivo. 9. Informações sobre Richard Stevens de Patti Thorn, "Professor grows his groceries instead of grass", Rocky Mountain News, 18 de maio de 1988, p. 52; republicado em The Orange County Register, 3 de dezembro de 1988, Seção Doméstica, F3. 10. Chan, Magical Landscape, pp. 6, 86-87. 11. Stu Campbell, Let ik Rot: The Home Gardener's Guide to Composting (Pownal, Vermant: Storey Communications, 1975), p. 13. 12. Miller, Living in the Environment, p. 1. 13. Informações de Earth Care Papel Company, Recycled Paper Catalogue, outubro de 1988 — setembro de 1989. p. 11. Esta empresa (P.O. Box 3335, Madison, WI 53704) fabrica artigos de papelaria, papel comercial, cartões e embalagens para presentes de papel reciclado todos muito bonitos, e enumera informações sobre poluição e reciclagem em seus catálogos. 14. Seymour e Girardet, Blueprint, p. 75, 77-79. 15. Earth Care, Recycled Paper Catalogue, p. 15. 16. Seymour e Girardet, Blueprint, p. 85. 17. Earth Care, Recycled Paper Catalogue, p. 7. 18. Campbell, Let it Rot, p. 19. 19. Seymour e Girardt, Bleuprint, p. 29. 20. Seymour e Girardt, Blueprint, p. 30. 21. Miller, Living in the Environment, p. E120. 22. Algumas idéias de Seymour e Girardt, Blueprint, pp. 80,92, e Mary Trahan, "Recycling at the Office" Windstear Journal, verão de 1989, p.26-28. 180

Assinaturas a 18 dólares por ano (4 exemplares) ou incluídas na condição de sócio anual, com a Windstar Foundation, 2317 Snowmass Creek Road, Snowmass CO 81654, tel. (303) 927-4777. Mais de 900.000 toneladas de papel de escritório recuperável são jogadas em depósitos de lixo nos Estados Unidos anualmente. O Paper Stock Institute of America (330 Madison Avenue, Nova York NY 10017) fornecerá informações sobre os serviços de reciclagem de pape! jogado fora em sua área. 23- Detalhes tirados da matéria "Students give environmental lesson at U.N.", do serviço telegráfico da AP, reproduzida no Mercuryàe San José em 2 de maio de 1989, p. 11A.

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CAPÍTULO 15

A IMPORTÂNCIA DA REGULAGEM DO TEMPO A pessoa Tao Vive plenamente em todos os momentos. (TAO 14)

urante séculos, os taoístas vêm modelando suas vidas segundo os ciclos da natureza. A palavra chinesa tzu jan significa não apenas as ciências naturais, mas viver em harmonia com a natureza. Seguindo a natureza, as pessoas Tao aprendem a lição vital da regulagem de tempo. Gozam todas as estações de suas vidas, praticam a sabedoria dos começos e dos fins e evitam problemas fazendo escolhas cuidadosas. Reconhecendo os ciclos dentro de si e ao seu redor, elas sabem qual é a melhor ação em cada etapa.

D

AS ESTAÇÕES DE NOSSAS VIDAS Todos nós atravessamos ciclos de crescimento: física, emocional, espiritualmente. Os psicólogos Carl Jung e Erik Erikson descreveram as etapas da vida humana, uma abordagem popularizada por Gail Sheehy em Passages (Passagens). Para os psicólogos desenvolvimentais, cada estação da vida tem sua própria lição, ou "crise". Na infância, aprendemos a confiar em nós mesmos e nos outros, desenvolvendo a competência física e intelectual. A adolescência traz a busca de identidade pessoal e intimidade. Na idade adulta, aprendemos lições de responsabilidade, integridade e espiritualidade. 183

As pessoas Tao aceitam cada estação da vida e as oportunidades que ela oferece. Não lutam contra os ciclos, resistindo ou olhando para trás. Mas a forte ênfase de nossa cultura na juventude muitas vezes obscurece nossa percepção da idade adulta, fazendo com que muitas pessoas percam o equilíbrio.

A ACEITAÇÃO DE NOSSAS ESTAÇÕES MUTÁVEIS: IDADE ADULTA E MATURIDADE ESPIRITUAL Nosso ciclo físico continua e as estações mudam, da juventude para a maturidade. Sem crescimento espiritual, a vida adulta torna-se superficial e sem significado. Devemos continuar a desenvolver nossas mentes e almas. As grandes tradições religiosas do Oriente e do Ocidente reconhecem isto há muito tempo. O cristianismo traz as conversões de São Paulo e Santo Agostinho, na metade de suas vidas. O hinduísmo também reconhece o divisor de águas da meia-idade. No início da idade adulta, a maioria dos hindus se torna chefe de família, passando a ter compromissos não apenas familiares, mas também comunitários. Porém, mais tarde, muitos se tornam sannyasin, renunciando a suas responsabilidades mundanas. Retirandose para o campo, dedicam seu tempo à tranqüila contemplação, ao serviço e ao crescimento espiritual. Combinando espiritualidade com serviço político, Mahatma Gandhi seguiu seu caminho. Como seus colegas hindus, os mestres taoístas buscam o caminho da maturidade espiritual. Combinando força com compaixão, dedicam suas vidas à contemplação e ao serviço.2

O INÍCIO DE UM NOVO CICLO: A RENOVAÇÃO PELO ISOIAMENTO

de protesto, organizou cursos e seminários para sua igreja e viajou por conta própria para União Soviética, Oriente Médio e América Central, impelida por uma visão de paz e justiça. Viveu com os camponeses nicaragüenses, falou num programa de debates na TV, partilhou seus pontos de vista com políticos e pessoas nas ruas. Militante da paz aonde quer que vá, ela tranqüilamente dá o testemunho de suas crenças, estendendo os braços para os vizinhos, os desabrigados e os oprimidos. "Acredito que a paz é um estilo de vida", diz. "É preciso vivê-la em sua casa, em sua comunidade e em seu mundo". Aposentada, está satisfeita com o tempo extra que tem para trabalhar pela paz. Líder de longa data em sua igreja, na Liga Internacional das Mulheres pela Paz e Liberdade, na Associação da Reconciliação e no Centro pela Paz local, ela combina o trabalho nas organizações com serviço e contemplação. Trabalha como voluntária uma noite por semana num abrigo para os sem-teto e passa algum tempo, todos os dias, rezando pela paz, pela boa orientação dos líderes mundiais, pela saúde e pelo entendimento. Existe um antigo adágio chinês: "Água que corre não deteriora." Em nossa sociedade, muitas pessoas ficam estagnadas, quando atingem a meia-idade. O desafio acabou. Entediadas e insatisfeitas, enchem o vazio de suas vidas com estimulantes artificiais ou bens de consumo. As pessoas Tao sabem que a vida evolui em ciclos e que, sem renovação, vem a estagnação e o declínio. Apenas quando enfrentamos novos desafios, iniciamos um novo ciclo, somos revitalizados. Depois de criar sua família e ganhar a vida, Gertaide Welch agora trabalha para construir um poderoso legado de paz e justiça, afirmando um novo ciclo de esperança para todos nós no planeta. O RESPEITO AOS CICLOS

Minha amiga Gertaide Welch escolheu esse caminho. Na tradição das donas-de-casa, ela foi a típica mulher americana — esposa, mãe, avó, ativa em sua igreja e em sua comunidade. Durante anos, trabalhou como secretária, primeiro na Escola Estadual de San José, depois, na Universidade de Santa Clara. Mas, em 1984, afastouse de seu emprego para trabalhar em tempo integral a favor da paz. Afável e graciosa, Gertaide irradia um calor pessoal que derruba todas as barreiras. Com seu pronto sorriso, imediatamente deixa as pessoas à vontade. No curso dos anos, trabalhou em acampamentos de imigrantes e abrigos para os sem-teto, participou de manifestações 184

Seguir o Tao ajuda-nos a trabalhar com os ciclos da vida, não contra eles. Isto significa atender não apenas às estações da vida, mas a nossos próprios ciclos de energia, para evitar os impulsos violentos, a compulsão, a exaustão de tanto "esforço". Algumas vezes, isto significa um recuo e uma avaliação do que está acontecendo, enquanto centralizamos a atenção em nossas energias e também no processo mais amplo. Na universidade, eu só conseguia estudar até um certo ponto, quando então começava a render menos. A partir daí, cometia 185

erros, ou tinha de ler uma página repetidas vezes para entendêla. Mesmo sem ter terminado meu trabalho, aprendi que era melhor respeitar minhas energias, não lutar contra elas. Na verdade, demorava menos terminar uma tarefa, se eu parasse quando estava cansada, e depois a concluísse, já com a mente recuperada. EXERCÍCIO PESSOAL • Da próxima vez em que chegar ao ponto em que começa a render menos, não lute contra os ciclos. • Faça uma pausa. Descanse, dê uma caminhada ou faça alguma coisa diferente, por alguns minutos. Depois, volte para seu projeto com nova energia e concentração.

COMEÇAR E TERMINAR Conscientes dos ciclos da vida, percebemos que, para cada projeto, para cada processo, há um começo e um fim. O Tao nos ensina a tomar um cuidado especial nesses tempos de mudança: "Se conhecermos a sabedoria do início E do fim, Jamais falharemos." (TAO 64)

A SABEDORIA DO INÍCIO Existe uma sabedoria especial para começar alguma coisa. Devemos ter fé em nós mesmos e no processo. De outra maneira, adiaremos tudo. Com medo do fracasso, deixaremos as coisas para depois, não começaremos realmente. Escrever uma dissertação a longo prazo faz muitos estudantes entrarem num parafuso de insegurança. Vão adiando tudo até o último minuto e acabam apresentando um trabalho inconsistente após terem se esforçado freneticamente — isto, até conseguirem sair desse modelo destrutivo. Muitas pessoas ficam intimidadas com projetos a longo prazo, esmagadas pela idéia de todo esse trabalho. Porém, se dividirmos o 186

trabalho em unidades fáceis de lidar, podemos dar conta de tudo. Escrever uma tese de doutorado de 300 páginas também me deixou arrasada, um dia. Mas, então, fiz um rascunho e me convenci de que era capaz de escrevê-la — um capítulo de cada vez. Seguindo o Tao, desenvolvemos fé no processo. Não desistimos, quando não podemos ver resultados imediatos. Meu vizinho Jack é um engenheiro bem-sucedido, entrando na casa dos trinta anos. Ele corre pelo bairro todos os dias, depois do trabalho, e participa de maratonas locais. Um dia, soube que ele perdera mais de 70 quilos. Ele me mostrou uma calça e um cinto que guardava dos velhos tempos. Eram enormes. A mudança era incrível. "Como você conseguiu isso?", perguntei. Obeso desde a infância, Jack enfrentou seu problema — consultou um médico, mudou de dieta e se habituou a correr. Mas os resultados não aconteceram da noite para o dia. "Um dia de cada vez", ele disse. Sarah é conselheira em minha igreja. Há dez anos, sua vida era prejudicada pelo alcoolismo. Ela perdeu o emprego, o marido e o respeito por si mesma, antes de chegar ao fundo do poço. Hoje, ninguém advinharia que ela, um dia, chegou a esse ponto. Como Sarah conseguiu? Ela sorriu e disse: "Foi preciso coragem, orações e viver um dia de cada vez". Empenhados defensores da paz, como minha amiga Gertrude, também vivem um dia de cada vez. Trabalhando como voluntários em abrigos locais, dando aulas, escrevendo cartas, distribuindo petições ou participando de ação política, eles agem para acabar com a pobreza, a injustiça e o desequilíbrio em nosso mundo. Em vez de se preocuparem sozinhos com os problemas do planeta até ficarem desesperados, eles agem de forma positiva. O Tao nos lembra que: "A jornada de mil milhas começa com um único passo." (TAO 64) Precisamos dar esse passo, depois outro, mas lembrando-nos de ser pacientes com nós mesmos. Porque nossos objetivos são alcançados com um passo de cada vez. Como na natureza, tudo tem seu ciclo de crescimento próprio. Nossas sementes brotarão quando estiverem preparadas para isto. Não podemos apressar o processo. Mesmo não vendo qualquer resultado, não devemos sucumbir à insegurança. 187

O Tao também nos diz: "Tenha cuidado com os compromissos. Não comece alguma coisa Que pode não querer terminar." (TAO 63) Quantos de nós enchemos nossas vidas de tensões e conflitos, dizendo sim a um número excessivo de pessoas, a demasiados projetos? Uma lição importante na regulagem do tempo é saber quando dizer sim e quando dizer não. Não seja reativo, fazendo qualquer coisa que as outras pessoas pedem sem considerar seus próprios ciclos. Reserve tempo para olhar para dentro de si mesmo(a) antes de responder. O Tao diz: "A pessoa sábia escolhe o que é real E olha sob a superfície, Escolhe a fruta e não a flor, Não reagindo, mas respondendo Em harmonia com o Tao." (TAO 38) PERGUNTAS TAO Se você tem dificuldade para dizer não, como acontece com muitas pessoas, faça a si mesmo(a) estas perguntas, antes de assumir outro compromisso: • • • • •

É necessário? Trará um bem maior para minha vida ou para o planeta? Deixará de acontecer sem minha participação? Quero realmente fazer isso? Tenho tempo?

Se forem afirmativas suas respostas a pelo menos três destas perguntas, incluindo a última, então você está assumindo um compromisso significativo. Caso contrário, por que fazer isso?

A SABEDORIA DOS TÉRMINOS Existe uma sabedoria especial para terminar alguma coisa. Muita gente estraga um projeto, quando já está quase pronto, porque 188

ficam impacientes. Vêem o fim à vista e se perturbam. Com a pressa de terminar, cometem erros. A vida oferece muitas oportunidades para aprender essas lições. Trabalhando em meu quintal na semana passada, percebi mais uma vez o preço da impaciência. As longas e emaranhadas trepadeiras de abóbora estavam tomando conta de meu jardim e eu ouvira dizer que, arrancando-se algumas flores, os frutos são melhores, então saí para fazer algumas podas. Estava quase terminando, quando fiz um movimento em falso e cortei a melhor trepadeira com um escorregão da faca. Olhei para a trepadeira cortada e para as abóboras que jamais amadureceriam, percebendo quantos danos são causados num instante de impaciência. Adoro terminar projetos. Sempre consegui. Completar qualquer coisa me deixa exultante. Mas, com muita freqüência, fui empurrada por minha paixão pela conclusão, tornando-me descuidada perto do fim. Seguir o Tao nos ensina paciência. Sem ela, nossa teimosia subjugará o processo e cometeremos erros. Estou aprendendo a me manter calma e a concentrar minha atenção, para que minha paixão pelos términos não prejudique minha regulagem de tempo.

REGULAR O TEMPO SIGNIFICA PREVENIR Trabalhando com os ciclos naturais, as pessoas Tao praticam a prevenção em suas vidas, pois entram em ação antes que as coisas saiam de controle. Aprendem essa lição estudando a natureza. Stella, uma bem-sucedida artista gráfica, leva uma vida cheia de conflitos e perturbações, porque não aprendeu essa lição do Tao. À primeira vista, ela dá a impressão de ser a pessoa mais arrumada do mundo. Seu cabelo é bem penteado e suas roupas são sempre elegantes. Mas, sob esse verniz impecável, ela passa por sucessivas crises. Quando vai para casa, à noite, verifica as luzes, para ver se a eletricidade ainda está funcionando, levanta o receptor, para se certificar de que o telefone não foi cortado. Por quê? O motivo é que, apesar de todo o seu jeito profissional, ela não consegue pagar suas contas a tempo. Ganha dinheiro mais do que suficiente, mas se esquece dos compromissos, e sua caixa de correspondência fica cheia de notas vencidas. Ele atribui tudo a seu temperamento artístico. Durante todo o ciclo de nossas vidas, devemos lidar com os acontecimentos antes que eles cheguem à etapa da crise, como nos ensina o Tao. Desta maneira, muitos problemas são evitados em nossos relacionamentos e em nosso meio ambiente, e muita violência pode ser impedida em nosso mundo. 189

Os princípios do Tao funcionam em todos os níveis, do pessoal ao planetário. Como vimos nos últimos dois capítulos, nossos problemas ambientais são resultado direto do descuido e da má administração. Como Stella, não temos cuidado de nossas responsabilidades domésticas — em nível mundial. E, a menos que façamos isso, nossa energia e nossa água, um dia, serão cortadas. O Tao nos lembra:

CAPÍTULO 16

COMO TRANSCENDER

"Enfrente a dificuldade Enquanto ainda é fácil. Resolva os grandes problemas Enquanto ainda são pequenos."

os CICLOS HOSTIS

(TAO 63)

Uma planta que se enraíza profundamente na terra Não pode ser arrancada. Prenda-se firmemente ao Tao E nada o(a) derrotará.

Viver o Tao significa atender aos ciclos, dentro e em torno de nós, cooperando com eles nas muitas escolhas que fazemos a cada dia. Porque, escolhendo com sabedoria, aperfeiçoamos nossa regulagem do tempo, trazendo maior harmonia para nossas vidas.

Afirmação Agora sei que muita vida é pacífica e harmoniosa. Há bastante tempo para tudo o que preciso. Vivo no presente, aceitando as estações mutáveis da vida. Pratico a sabedoria dos inícios e dos términos. Evito os problemas trabalhando com os ciclos. Respeito a mim mesmo(a) e ao processo. Harmonizo-me com a natureza e com todos os outros em meu mundo. Agora recebo uma paz maior em minha vida. E assim seja. NOTAS 1. 2. 3. 190

Informações de R.L. Wing, The Tao of Power, comentário ao Tao, Capítulo 17, p. 17. Para maiores informações sobre os mestres taoístas, ver Waley, The Way and Its Power, p. l6l. Hua-ching Ni, Tao: The Subtle Universal Law, p. 31.

(TAO 54)

ossos pensamentos, nossas atitudes, nossas emoções, tudo são formas de energia, constantemente influenciando o mundo a nossa volta. Os médicos não se consideram mais observadores distanciados. Sabem que sua própria presença influencia as propriedades das partículas/ondas que estudam. Nossas atitudes afetam os ciclos dentro e em torno de nós. Sabendo disso, as pessoas Tao vivem de forma consciente e respeitosa, por perceberem que exercem uma poderosa influência sobre seu mundo.

N

COMO SE ESGOTA A ENERGIA Além de influenciar as pessoas a nossa volta, somos continuamente afetados pelas ações e atitudes dos outros. Passar tempo com outras pessoas significa respirar o mesmo ar, partilhar o mesmo campo de energia. Algumas interações dão energia. Outras nos esgotam. Você conhece alguém que o arraste para baixo? Se está sempre exausto, depois de passarem algum tempo juntos, essa pessoa é uma esvaziadora de energia. Desequilibradas, descentralizadas, fora de contato com a fonte do chi em suas vidas, essas pessoas subsistem com transfusões de energia das outras. As pessoas que roubam energia estão constantemente clamando por ajuda. Sempre que alguma coisa dá errado, correm para um 191

amigo forte que as socorre, agindo de forma tão desamparada que os outros se sentem culpados de dizer não. Grudando-se como sarnas, essas pessoas tornam-se cada vez mais exigentes e dependentes. Na universidade, conheci Michael, o rapaz moreno e pensativo que escolhi para amar. Talvez fosse meu desejo tornar as coisas melhores, aperfeiçoar o mundo. Afinal, era a década de 60, fomos uma geração idealista. Decidida a torná-lo feliz, a me tornar um "raio de sol" em sua vida, cuidei de suas doenças, ouvi suas tiradas sobre injustiça social, ajudei a solucionar seus problemas, consertei suas roupas e levei-lhe sacolas de verduras, quando ele ficava sem dinheiro. Os estados de espírito negativos de Michael deixavam-me exausta. Dormia muito pouco, tentando acompanhá-lo, enquanto também cumpria as obrigações de meu emprego e fazia os trabalhos da universidade, mas achava que aquilo valia a pena para torná-lo feliz. Porém, apesar de meus esforços, Michael só fez piorar, passando a ter ciúme de meus amigos, de meus estudos, de meus pais, de qualquer coisa que me afastasse dele. Queixava-se constantemente, chamava-me a todas as horas, insultava meus pais e provocou uma briga com meu amigo Peter. Suas exigências aumentaram até que, finalmente, rompemos. Mais tarde, percebi que eu o atraíra porque era insegura. Eu "precisava que precisassem de mim" para reforçar minha autovalorização. As pessoas com auto-estima baixa muitas vezes são apanhadas pelas energias negativas de outras. Sua insegurança e confusão tornam-nas vulneráveis a manipuladores.

EXERCÍCIO PESSOAL Você tem algum ponto de esgotamento de energia em sua vida? Estar com uma pessoa em particular deixa-o(a) exausto(a)? Se é assim, você precisa centralizar-se. • Antes de ver novamente essa pessoa, saia sozinho(a) e faça o exercício de centralização deste capítulo. • Quando sentir que está sendo esgotado(a), ponha sua mão sobre seu hara, seu centro de poder logo abaixo do umbigo. • Diga para si mesmo(a) (sobre a negatividade de outra pessoa): "Esta não é minha energia. Estou em união com o Tao". • Depois de ver essa pessoa, faça um exercício de centralização, limpe sua aura ou lave suas mãos. 192

• Pergunte a si mesmo(a) por que atraiu essa relação pouco saudável. O que existe em você que criou esse modelo? • Tome medidas para mudar o modelo iniciando um ciclo mais positivo. Este capítulo irá mostrar-lhe como.

O CAMINHO PARA A TRANSCENDÊNCIA Podemos transcender ciclos hostis em nossas vidas, nos relacionamentos, na saúde, na carreira e nas finanças. Também podemos ajudar a superar os ciclos hostis na sociedade. Sejam esses ciclos grandes ou pequenos, pessoais ou planetários, o caminho para transcendê-los é a mesma combinação de princípios taoístas: 1) Centralização, 2) resistência passiva e 3) empreender ação positiva.

CENTRALIZAÇÃO Quando enfrentar outro ciclo hostil, reserve, antes de mais nada, alguns minutos para centralizar-se. Centralizados(as) na força do Tao, não somos arrancados de nosso equilíbrio pelas energias distorcidas e negativas de outras pessoas. Não reagimos por culpa, medo ou raiva, mas orientados por uma fonte profunda de sabedoria. O Tao diz: "Manter seu centro é resistir." (TAO 33) Os estudantes de artes marciais praticam esse poder de centralização. Concentrando-se no hara, um mestre de aikido gera uma força incrível. Ele não pode ser tirado do lugar, mesmo quando puxado por vários indivíduos com o dobro de seu tamanho. Centralizado, ele resiste. O aikido ensina que uma pessoa sábia estende os braços com movimentos fluidos, integrando energias aparentemente hostis num todo mais amplo. Usando a própria força e campo de ação de um agressor, um mestre de aikido arrasta-o para um padrão circular no qual a energia agressiva é neutralizada e o adversário fica ileso. Os mestres do aikido resolvem os conflitos externamente porque, primeiro, fazem isso em seu interior. Enfatizando a importância da centralização, acreditam que somos apanhados em ciclos hostis quando estamos presos à superfície da vida. Distraídos pelos detalhes, deixamos de ver os ciclos mais amplos. 193

Muito freqüentemente, os problemas nos fazem perder o equilíbrio porque a vida moderna fragmenta nossa consciência. Com nossas mentes sobrecarregadas, nossos corpos rígidos de estresse, experimentamos a vida apenas do pescoço para cima. Separados de nós mesmos, não podemos agir com sabedoria. EXERCÍCIO PESSOAL CENTRALIZAÇÃO Há quanto tempo você não sente que está com os pés firmemente plantados no chão? Os mestres de aikido ensinam a seus alunos a "manter o ponto um", permanecendo centralizados. Reconquistamos nosso centro com a meditação em pé: • Fique em pé, com os pés cerca de trinta centímetros separados um do outro, mantendo a coluna ereta. Curve ligeiramente os joelhos. • Estenda as mãos em frente do corpo, com os cotovelos dobrados, ligeiramente acima do nível da cintura. • Agora, inspire profundamente para dentro de seu hara, o ponto de poder cerca de cinco centímetros abaixo do umbigo. Sinta a energia elevar-se de seus pés, enquanto estão firmemente plantados no chão. • Expire, sentindo a energia sair fluindo através de suas mãos. • Agora, volte para o que você estava fazendo, centralizado e fortalecido pela energia do Tao. Da próxima vez em que se sentir apanhado num ciclo hostil, faça a meditação em pé e lembre-se dessa lição de Lao Tsé: "Uma planta que se enraíze profundamente na terra Não pode ser arrancada. Prenda-se firmemente ao Tao E nada o(a) derrotará." (TAO 54)

só faz tornar mais poderosos os manipuladores, que nos arrastam para a negatividade. Aquilo que repartimos volta inevitavelmente para nós. Os ciclos de Tao são como a lei budista do karma. Toda ação produz uma reação correspondente. A violência gera mais violência, e negatividade gera mais negatividade. Os budistas acreditam que uma pessoa repete suas lições cármicas até, finalmente, aprender com elas, um processo que pode demorar por centenas de encarnações. Transcendem os frustrantes ciclos do karma através do nirvana, unidade mística com a vida. O Tao ensina que as conseqüências de nossas reações ocorrem neste período da vida. Estamos sujeitos a ciclos repetidos, muitas vezes viciosos, até os transcendermos com a sabedoria do Tao. Se reagirmos violentamente a uma pessoa violenta, criamos mais violência, iniciando outro ciclo negativo. Isto se aplica aos indivíduos e às nações. Nossas reações agressivas nos tornam sujeitos a novas agressões. E, se não ultrapassarmos esse modelo violento, ele acabará por nos destruir. A alternativa do Tao para os contínuos ciclos hostis é o princípio de resistência passiva ou wu wei. A resistência passiva neutraliza os ciclos negativos. Em vez de reagir emocionalmente ao torvelinho em torno de nós, no início, não devemos fazer nada, diz Lao Tsé, apenas recuar e observar os ciclos. Quando nossos corações-mentes não estiverem mais perturbados pelas emoções negativas, podemos agir com sabedoria, suprimindo a negatividade com a sabedoria do Tao. Podemos praticar a resistência passiva todos os dias: no trabalho, em casa, até dirigindo nossos automóveis. Presas em seus ciclos estressantes, muitas pessoas manifestam sua frustração atrás do volante. Um amigo meu, que tem um Porsche, acaba sendo continuamente desafiado por motoristas agressivos. Outro dia, enquanto ele entrava na autopista, um caminhão amassado deu-lhe uma cortada na rampa, depois reduziu a velocidade, desafiando-o para um "pega". Em vez de entrar em outro perigoso ciclo de "guerras automobilísticas", meu amigo praticou resistência passiva, deixando o outro motorista ir embora. Ele não precisa provar sua masculinidade todas as vezes em que um carro lhe dá uma cortada.

RESISTÊNCIA PASSIVA Centralizadas, as pessoas Tao não se tornam hostis, temerosas ou zangadas, quando se defrontam com acontecimentos negativos. Sabem que uma resposta irada só criará outro ciclo de violência, com inevitáveis represálias e mais agressão. Sucumbir ao medo ou à culpa 194

EXERCÍCIO PESSOAL-. RESISTÊNCIA PASSIVA

Podemos praticar a resistência passiva seguindo estas orientações: 195

• Da próxima vez em que alguém se mostrar hostil com você, ou tentar manipulá-lo através do medo ou da culpa, não reaja emocionalmente, o que intensificaria o ciclo negativo. Inspire profundamente e se centralize. • Isto não significa sujeitar-se a injúrias ou abusos. Se necessário, coloque-se à parte, aja evasivamente. O importante é não reagir em excesso nem retribuir o ataque. • Num espaço centralizado, escute e observe. O que está acontecendo com essa pessoa? O que ele ou ela realmente quer? O que você está sentindo? Pense nos ciclos mais amplos. • Quando estiver preparado, responda. Use sua intuição e aja a partir do centro. Inspirando-se na infinita sabedoria do Tao, você saberá o que fazer. A resistência passiva ajuda-nos a mudar do negativo para o positivo. Quando ninguém reage em excesso, o ciclo hostil é desmontado. A raiva da outra pessoa consome a si mesma, e um novo modelo, mais pacífico, pode ser articulado.

AÇÃO POSITIVA O passo final para transcender os ciclos hostis é a ação positiva. Não precisa sequer ser voltada para a direção de uma solução do problema. O importante é afirmar sua fé na vida e colocar em movimento novas e saudáveis energias. Marsha Sinetar escreve em Elegant Choices, Healing Choices (Escolhas elegantes, escolhas saudáveis) que nos tornamos mais saudáveis quando fazemos escolhas positivas, trazendo beleza, ordem, bondade e alegria para nossas vidas. Como professora na escola elementar de uma cidade do interior, ele levava para a classe flores recém-colhidas, obras de arte e música clássica, despertando um novo ciclo de auto-estima entre seus alunos. Eles mantinham suas carteiras e a sala de aula mais arrumadas e prestavam mais atenção às aulas. As pequenas afirmações de beleza de Marsha iniciaram um ciclo novo e mais positivo para todos. PERGUNTA TAO

Quando foi a última vez que você fez alguma coisa positiva para si mesmo — uma afirmação de consideração que tem para consigo mesmo (a)? Não precisa ser algo caro ou extravagante. Um veterano 196

que conheço sofria de uma séria depressão e da síndrome do estresse pós-Vietnã, até que iniciou um novo ciclo saudável. Como parte de sua terapia, disseram-lhe para desenvolver um ato ritual de cuidar de si mesmo. Ele escolheu comer uma salada todos os dias, como maneira de dizer: "Sou OK. Mereço uma vida saudável e feliz". Agora, onde quer que esteja, tem uma salada, mesmo que consista apenas de uma folha de alface do lado de seu prato, e tornou-se muito mais saudável, emocional e fisicamente.

ATOS POSITIVOS YIN E YANG Os taoístas têm uma tradição de ação positiva espontânea, pregando as boas ações como meio de desenvolvimento espiritual. O mestre Hua-ching Ni descreve dois tipos de boas ações: as ações yang, que todos notam, e as ações yin, mais sutis, que passam despercebidas. As ações yang realçam nossa reputação e sustentam nosso ego, mas as ações yin, praticadas simplesmente pela alegria de afirmar o bem, fortalecem nosso espírito. Uma maneira de encerrar um ciclo de tédio é fazer alguma coisa inesperada, talvez até mesmo anônima, simplesmente por divertimento. Já coloquei moedas em medidores de estacionamento com o tempo esgotado, consertei livros da biblioteca pública, enviei bilhetes de encorajamento para autoridades e pratiquei outros pequenos atos yin, para os quais não recebi nenhuma resposta — no entanto, a alegria espontânea desses atos melhorou meu estado de espírito em muitas ocasiões. AÇÃO TAOÍSTA: RESPONDENDO COM VISÃO CIARA Quando seguimos a fórmula taoísta — centralizar-nos, praticar a resistência passiva e adotar medidas positivas — respondemos aos ciclos hostis com maior sabedoria e clareza. Então, nossas mentes se tornam como um espelho. Com a mente clara, centralizados, podemos agir com sucesso em todas as situações. Quando nossa visão é clara, as respostas corretas estão ao nosso alcance, sempre que precisamos delas. Agimos harmonicamente, afirmando o bem do todo, seguindo a intuitiva sabedoria do Tao. Os chineses chamam essa sabedoria de hui? Está sempre conosco, mas nas profundezas de nosso íntimo, muitas vezes obscurecida pela perturbada superfície da vida. Quando clareamos nossa visão, dando os três passos indicados neste capítulo, recuperamos a inerente 197

sabedoria interior e nos tornamos recebedores da luz celestial, transcendendo os ciclos hostis com a duradoura sabedoria do Tao. TRANSCENDENDO POR CONTA PRÓPRIA OS CICLOS HOSTIS Sempre que as circunstâncias o(a) arrastarem para um ciclo negativo, você pode recuperar-se com a centralização, a pratica da resistência passiva e partindo para a ação positiva. Marsha Sinetar me contou o caso de um homem que foi lhe pedir conselhos após ter perdido o emprego, quando a firma onde trabalhava passou a ser controlada por outra. Deixando de ser, como de hábito, confiante e enérgico, ele se tornou descentralizado, caindo numa depressão reativa. Resistindo a essa mudança, sentiu-se emocionalmente esgotado, exausto demais para fazer qualquer coisa. Com as roupas amassadas, maltratado, admitiu que até sua casa estava numa confusão completa. Não tinha energia suficiente para fazer a cama, pendurar as roupas ou lavar a louça. Consciente de que uma ação positiva o faria recuperar a auto-estima, Sinetar pediu-lhe que fosse para casa, tirasse os lençóis da cama, lavasse-os e, em seguida, fizesse a cama cuidadosamente. Ele devia, então, limpar toda a cozinha, a começar pelos pratos empilhados na pia. No dia seguinte deveria usar seu terno favorito, dedicando tempo extra para barbear-se, tomar um banho de chuveiro e vestir-se, de modo a sair de casa com aspecto confiante e bem-sucedido. Ela lhe disse para manter esse modelo de ordem até o próximo encontro. Na semana seguinte, ele voltou, sentindo-se mais ele próprio outra vez. O ciclo negativo fora interrompido. livre da depressão, ele encontrou um novo emprego.8 Um sábio amigo me disse uma vez: "A ordem é a primeira lei do universo." O Tao nos ensina a respeitar a ordem natural dentro e em torno de nós. Quando nos descobrimos cercados de confusão, precisamos recuar, olhar para dentro de nós mesmos e trabalhar em nossa consciência. Podemos iniciar um ciclo mais positivo afirmando maior ordem e beleza em nossas vidas. Colocar seus negócios em ordem tem uma influência sutil, saudável. A paz e a tranqüilidade de um cômodo simples e bem arrumado, com o sol brilhando nas janelas, restabelece minha alma, quando estou exausta com o mundo barulhento lá de fora. Uma hora silenciosa, trabalhando no jardim, arrancando as ervas daninhas, escorando os pés de ervilha, ou até aparando a grama, pode ser uma afirmação e um exercício espiritual. 198

PERGUNTA TAO

Existe alguma coisa que você pode fazer para afirmar maior ordem e beleza em sua vida? Pode ser tão simples como fazer sua cama todas as manhãs, um ritual pessoal que adotei anos atrás, quando trabalhava para encerrar velhos ciclos de insegurança. Minha cama sem fazer, entulhada de roupas que eu acabara de usar, confirmava minha vida confusa, sem rumo. Agora, simplesmente, entrar em meu quarto e ver a cama feita, com seus lençóis brancos e lisos e o acolchoado cor de marfim, é uma afirmação de beleza e ordem.

PARA SUPERAR OS CICLOS HOSTIS E SEGUIR PARA OUTROS Algumas vezes, as medidas que tomamos para tornar nossas vidas mais saudáveis também trazem saúde para outras pessoas. Depois de um acidente de automóvel, em 1983, que matou sua mulher e o deixou paralítico, Richard Woolstrum tomou medidas positivas. Com o dinheiro do seguro recebido pelo acidente, comprou um hotel de três andares em sua cidade natal, Lodi, na Califórnia, e abriu um alojamento para pessoas de baixa renda e sem lar. Também comprou 16 hectares de terras não cultivadas, nas proximidades de Amador County, com o objetivo de transformá-lo num refúgio para a vida selvagem. "Todos me disseram que eu devia pegar o dinheiro e ir embora, levar uma boa vida em alguma outra parte, divertir-me. Mas eu não queria sair daqui", disse ele. Então_ficou em Lodi, ajudou os outros a construir uma nova vida para si mesmo. Sua vizinha, Joani, que o ajudou durante sua recuperação, tornou-se sua segunda mulher, partilhando seu compromisso para com a justiça social. Estendendo os braços para dar e tomando medidas positivas diante da adversidade, Richard Woolstrum começou um ciclo novo e criativo para si mesmo e sua comunidade. PARA TRANSCENDER OS CICLOS HOSTIS NA SOCIEDADE Todos os dias pessoas famintas perambulam pelas mas dos Estados Unidos, remexendo em latas de lixo à cata de migalhas, fazendo filas diante de abrigos apinhados e locais de distribuição de sopa gratuita. De alguma forma, os ciclos de fornecimento no país 199

mais rico do mundo estão deixando de lado centenas de milhares de pessoas, que caminham pelas ruas de nossas cidades sofrendo de negligência, subnutrição e desespero. Conheço um homem que tomou medidas positivas — é Frank Olson, co-proprietário do Ernesto's, um elegante restaurante mexicano em Los Gatos, na Califórnia. Quando visitei o restaurante na semana passada, Frank me contou como começou a alimentar os desabrigados. Homem enérgico, chegando aos cinqüenta anos, com olhos azuis brilhantes, cabelo grisalho e bigode, Frank explicou que sua família sempre havia enfatizado a necessidade de as pessoas se interessarem em cuidar umas das outras. Ele ouvira noticiários a respeito das pessoas famintas e sem teto em nossa área, e ficou imaginando o que podia fazer para ajudar. No dia de Natal, no ano de 1987, Frank foi até o Arsenal da Guarda Nacional, abrigo temporário dos sem-teto, para ver o que poderia fazer. O lugar estava cheio de pessoas famintas. Até 200 pessoas por noite, durante os meses de inverno, apinhavam-se ali dentro. Frank trouxe alguma comida do restaurante e uma centena de notas de um dólar, para que Papai Noel as distribuísse às crianças. Deste então, passou a ajudar. Frank faz entregas diárias de comida para o Arsenal entre quatro e cinco horas da tarde, quando há menos clientes nos restaurantes. E não são migalhas ou restos, mas o mesmo tipo de comida de que seus clientes gostam: enchiladas frescas, carne cozida com tomates e temperos, feijões verdes com ervas, arroz espanhol, salada verde fresca — uma refeição bem equilibrada. "É muito difícil para qualquer pessoa fazer alguma coisa, ganhar forças para ir a uma entrevista com empregador, tendo o estômago vazio", disse ele. "Como essa pessoa pode sentir-se bem consigo mesma?" Então, serve-lhes deliciosas refeições quentes e uma generosa dose de esperança. Recentemente, os esforços de Frank chegaram aos jornais e muitos clientes passaram a contribuir para pagar as refeições. Ele entrou em contato com outros restaurantes e quer organizar uma rede de pessoas do ramo alimentício, que se disponham a ajudar os famintos. Frank disse: "Sempre acreditei que é muito melhor fazer alguma coisa por conta própria, ir até lá e cumprir a tarefa. Quando a gente dá o próprio tempo, está dando de si, e é muito mais significativo do que, simplesmente, preencher um cheque". Frank é um homem muito ocupado, trabalha muito em seu negócio, convive com a família e freqüenta o Lions Club local, que mantém muitas atividades de serviço 200

para a comunidade. Mas reservou tempo para levar as refeições quentes para seus vizinhos desabrigados, iniciando um novo ciclo de cuidados, envolvimento e esperança.11 Lao Tsé nos diz que: "A pessoa Tao ajuda os outros Então ninguém se perde. E usa as coisas sabiamente Então nada é desperdiçado." (TAO 27) Como nação, ignoramos por muito tempo esta lição do Tao. Desperdiçamos nossos recursos, desperdiçamos nosso tempo e desperdiçamos mais comida do que qualquer outro país. Como resultado, criamos ciclos negativos de poluição, frustração, pobreza e desespero. Há mais pessoas famintas e desabrigadas agora do que em qualquer outro período da história de nossa nação. Se mais pessoas tivessem a visão e dedicação de Richard Woolstrum e Frank Olson, poderíamos vencer esses ciclos hostis e começar um novo ciclo de esperança para todos.

Afirmação Agora sei que minha vida é tranqüila e harmoniosa. Reconheço os ciclos de energia em meu mundo. Afirmo a ordem do Tao em minha vida. Venço os ciclos hostis dentro e em torno de min. Centralizo-me, pratico a resistência passiva e tomo medidas positivas. Respeito a mim mesmo(a) e ao processo. Hamionizo-me com a natureza e com todos os demais em meu mundo. Agora recebo uma paz maior em minha vida. E assim seja. NOTAS 1. Para novas discussões sobre as relações entre observador e observado em física, ver: Capra, The Tao of Physics, p. 141 e R.G.H. Siu, The Tao of

Science: An Essay on Western Knowledge and Easlern Wisdom (Cambridge: M.I.T. Press, 1957), pp. 76-77. 201

2. A.Westbrook e O. Ratti, Aikido and the Dynamic Sphere (Rutlancl, Vermont: Charles E. Tuttle, 1970), p. 70. 3. Westbrook e Ratti, Aikido, p. 24. 4. Elegant Choices, Healing Choices: Finding Grace and Wholeness in Eveiything We Choose (Mahwah, Nova Jersey: Paulist Press, ©1988 da Dra. Marsha Sinetar), p. 2-3, 22. Usado com permissão do editor. 5. Hua-ching Ni, Tao: The Subtle Universal Law, p. 128. 6. Ver: The WritingsofChuang-Tzu, em Legge, Tlie Texts of Taoism, p. 314. 7. Para uma discussão do huie da luz celestial, ver: Maspero, Taoism and Chinese Religion, p. 284. 8. Detalhes de Elegant Choices, Healing Choices (Mahwah, Nova Jersey: Paulist Press, ©1988 da Dra. Marscha Sinetar), pp. 13-15. Usado com permissão do editor. 9. Minha amiga, a Rev. Genevieve Farrow, afirma este princípio de ordem em seus conselhos, aulas e seminários. 10. Detalhes de "From a tragedy comes a hotel to help the poor, homeless", Mercuryáe San José, 11 de novembro de 1988, p. 9B. 11. Meus agradecimentos a Frank Olson, co-proprietário do ErnestoVs, em Los Gatos, Califórnia por este exemplo e pela entrevista em abril de 1989.

CAPÍTULO 17

A LIDERANÇA COM

o TAO As melhores pessoas são como a água. Beneficiam-se com todas as coisas, E não competem com elas. Estabelecem-se nas terras baixas, Unidas com a natureza, unidas com o Tao. (TAO 8)

caracter chinês correspondente a líder sábio é composto de três símbolos. A parte inferior significa "dirigente", uma pessoa situada entre os planos do céu e da terra. Acima disso, os símbolos para "ouvido" e "boca" indicam não só que o líder atingiu o equilíbrio pessoal, mas também que ele escuta, assimila tudo, antes de falar.1 As pessoas Tao evoluem naturalmente para se transformar em líderes responsáveis. Tornando-se mais pacíficos em seu íntimo, reconhecem as possibilidades de uma paz maior no mundo. O mestre Liu I-ming, do século XVIII, escreveu que, durante gerações de taoístas, o equilíbrio pessoal e a responsabilidade pessoal foram sinônimos: "O Grande Caminho não é transmitido às pessoas sem consciência social".2 Com muita freqüência, o materialismo e o ego fragmentam nosso mundo em facções opostas, fazendo-nos perder a visão do todo. Equilibradas, as pessoas Tao transcendem as demandas do ego. Vêem além dos valores materialistas que aprisionam tantas pessoas em ciclos de competição e escassez. Ch'iang, o termo chinês para um ego teimoso, também significa orgulhoso, voluntarioso, inflexível, rígido. Ser teimoso e inflexível é carecer da sabedoria fluida do Tao. As pessoas Tao praticam hsu, ou humildade, que também significa liberalidade ou vazio.3 Tirando seus

O

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egos do caminho, elas podem tomar medidas apropriadas e mudar de rumo, quando necessário. Humildes e flexíveis, estão sempre prontas para perguntar a si mesmas: "E se eu estiver errado(a)?"

PARA SUPERAR OS ANTIGOS ESTEREÓTIPOS: A LIDERANÇA COM O TAO Lao Tsé rejeitou os líderes que governam pela força, intimidação ou culto à personalidade, reduzindo as outras pessoas a "seguidores". Reconhecendo a destruição causada por egos combativos, o perigo da devoção cega a líderes carismáticos, ele nos pede para descartar nossos antigos estereótipos, afirmando, em vez disso, uma sabedoria além da competição, uma liderança feita de cuidados e humildade. O líder Tao não é uma superestrela, que hipnotiza os outros com a força da retórica ou feitos espalhafatosos. Enquanto pessoas de menor importância anseiam pelo poder e pelo domínio, os líderes Tao rejeitam as hierarquias competitivas considerando-as pouco naturais. Constroem redes percebendo que são todos parte da teia interligada da vida. Como veremos neste capítulo, as pessoas Tao lideram com uma nova combinação de talentos: cooperação, percepção dos ciclos, coragem e simplificação. Afirmando o que Lao Tsé chamava "o espírito do vale", elas se inspiram na infinita sabedoria e no poder do Tao.

A LIDERANÇA ATRAVÉS DA COOPERAÇÃO Os líderes progressistas, em qualquer campo, jamais se escondem atrás do elitismo e das hierarquias. Lideram através da cooperação. Vivendo o Tao, trabalham com os outros. "A pessoa mais sábia Confia no processo, Sem procurar controlar nada; Aceita tudo como se apresenta, Não vive para realizar ou possuir, Mas simplesmente para ser Tudo o que pode ser Em harmonia com o Tao."

Eleanor Roosevelt exemplifica a liderança através da cooperação. Como primeira dama dos Estados Unidos viajou por todo o país e, depois pelo mundo, tomando-se a grande auxiliar de seu marido. Caminhou através dos milharais do Nebraska e das favelas urbanas, visitando operários bóias-frias na Califórnia, desempregados em Detroit, mineiros na Virgínia Ocidental e crianças negras no Alabama, sempre com os olhos brilhando de bondade e preocupação. Durante toda a Depressão, manteve o marido informado dos problemas das pessoas. Armando redes de amizade e cooperação, ela descobriu pessoas talentosas convidou-as a ir à Casa Branca, a fim de trabalhar com o Presidente. Durante a Segunda Guerra Mundial, seus esforços abarcaram o globo. Visitou soldados e chefes de Estado, levando sua mensagem de conforto e compreensão a todo um mundo dilacerado pela guerra. Em 1945, depois da morte de Franklin Roosevelt, o Presidente Truman deu-lhe o cargo de delegada das Nações Unidas. Primeiro ela hesitou, duvidando de sua qualificação para o posto. Mas sua competência, seu calor pessoal e espírito de cooperação logo evidenciaram que ela era a pessoa indicada. Durante um debate com Andrei Vishinsky, da União Soviética, Eleanor Roosevelt dirigiu-se à Assembléia Geral, defendendo os direitos das pessoas desalojadas. A Assembléia votou a favor dos direitos dos refugiados, mas, durante anos, Vishinsky protestou. Porém, em 1954, o Embaixador e a Sra. Vishinsky compareceram à festa dos 70 anos de Eleanor Roosevelt, confirmando sua habilidade em sustentar opiniões fortemente diferentes em política sem animosidade pessoal. Em 1946, ela se tornou presidente da Comissão dos Direitos Humanos das Nações Unidas. Seu incansável trabalho e espírito de cooperação resultaram na Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 1948 depois de longos debates, pela Assembléia Geral. Em 1952, sem ser indicada para o cargo pelo Presidente Eisenhower, ela começou a trabalhar como voluntária das Nações Unidas. Quando Eleanor Roosevelt voltou a ser delegada das Nações Unidas, em 1961, por indicação do Presidente Kennedy, toda a Assembléia recebeu-a de pé. Nenhum outro delegado foi homenageado dessa maneira, uma demonstração de cooperação em escala global.

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A OBSERVAÇÃO DOS CICLOS: OLHAR E ESCUTAR Os líderes Tao passam seu tempo observando e escutando. Para ver com clareza, devemos olhar além de nós mesmos. Para escutar, precisamos primeiro ficar quietos. Em sua quietude, as pessoas Tao aprendem a sabedoria da natureza, percebendo que: "Quando nos sentimos parte da natureza, Vivemos em harmonia." (TAO 13) Os ciclos da natureza ocorrem dentro e em torno de nós. Agir com sabedoria é harmonizar-se com esses ciclos. Este é a base para toda harmonia, pessoal ou planetária. As pessoas sábias não ignoram que os princípios do Tao prevalecem na ecologia, na sociedade e nos indivíduos. A descrição que Bill Devall e George Sessions fazem da consciência ecológica também se aplica à liderança Tao. Consiste em perceber que "tudo está ligado", tratando-se também de "um processo de aprender a apreciar o silêncio e a solidão e a redescobrir como escutar. É aprender como ser mais receptivo, confiante, ter uma percepção holística", cooperativa e não exploradora.3 Os líderes Tao ouvem os adversários e também seus amigos. Conscientes das energias positivas e negativas, yin e yang, aprendem de ambos. Voltando-se para dentro, escutam também a si mesmos, confiando em sua intuição, em sua orientação interior. Dag Hammarskjóld, ex-Secretário Geral das Nações Unidas, praticava essa lição do Tao. Pensativo, contemplativo, intensamente voltado para sua vida pessoal, em meio a uma vida pública ocupada, ele sabia como era importante ouvir. Como escreveu em seu diário íntimo, Markings (Notas): "Quanto mais atentamente escutarmos nossa voz interior, melhor ouviremos o que soa do lado de fora". Pelo fato de escutarem, os líderes Tao podem entender e solucionar problemas complexos. Sua observação paciente traz maior penetração e empatia. Os colegas de Hammarskjóld comentavam todos sua paciência excepcional ao escutar as pessoas, e ele escreveu que "a abertura para a vida concede uma penetração veloz como o relâmpago na situação de vida de outras pessoas". Em tempos de crise, Hammarskjöld trabalhava de dezoito a vinte horas por dia, durante semanas a fio, mantendo sua serenidade. Como Secretário Geral, durante os anos tensos da Guerra Fria, 206

solucionou muitas crises internacionais, ganhando o respeito dos líderes, tanto nos Estados Unidos como na União Soviética. Como homem intensamente espiritual, Hammarskjöld escreveu sobre o "cepo não lapidado", praticando a sabedoria do distanciamento. "Permaneça no centro, que é seu e também de toda a humanidade", disse ele. Pelos objetivos que ele dá a sua vida, faça o máximo que, a cada momento, lhe for possível. Também haja sem pensar nas conseqüências e sem buscar nada para si mesmo."8 Cidadão dedicado e funcionário público do mundo, ele afirmou, em sua vida, a visão mais ampla, a disciplina pessoal e a força íntima do Tao.

A LIDERANÇA CORAJOSA O Tao nos diz: "Um homem com coragem exterior ousa morrer. Um homem com coragem interior ousa viver." (TAO 73) 9 Um homem que exemplificou a coragem do Tao foi Raoul Wallenberg, jovem diplomata sueco que sozinho, salvou as vidas de 100.000 pessoas, durante a Segunda Guerra Mundial. Numa noite escura em Budapeste, em outubro de 1944, um trem estava sendo carregado com judeus húngaros destinados às câmaras de gás. De repente, um rapaz alto subiu para o telhado do trem, distribuindo documentos suecos para as pessoas desesperadas — seus passaportes para a vida e para a liberdade. Diariamente, Wallenberg arriscou sua vida para salvar pessoas condenadas pelos nazistas, interceptando as brutais marchas para a morte, tomando judeus sob sua proteção, levando-os para casas seguras e enfrentando a ira de Adolf Eichmann, que publicamente, jurou matá-lo. Nascido de uma próspera família de banqueiros suecos, ele deixou uma vida de facilidades para seguir o impulso de seu coração, fazendo tudo o que podia para impedir as atrocidades. Parecia estar em toda a parte, enfrentando os nazistas nas ruas, aparecendo quando chegavam à noite para levar as pessoas. Wallenberg não tinha nenhuma proteção além de sua imunidade diplomática, nenhuma equipe ou apoio oficial de seu governo. Confiou em sua inteligência, habilidade, capacidade de negociação. E ainda assim realizou milagres com seus documentos 207

forjados, sua coragem e força de vontade. Socorria os judeus húngaros como um anjo da noite, autorizado por sua consciência. Em janeiro de 1945, quando os russos entraram em Budapeste, descobriram esse solitário diplomata sueco, que ficara para trás durante a libertação aliada, decidido a proteger seu povo. Incapazes de entender o que estivera fazendo — por que um capitalista cristão sueco estaria salvando judeus? — detiveram-no, convencidos de que era um espião. O governo sueco pediu sua libertação em 1945, e, novamente, em 1946. Sua família ficou preocupada. Informaram-lhes que logo ele seria libertado, que morrera no cativeiro, que estava vivo e logo seria solto. Mas Wallenberg jamais voltou. Informações de outros prisioneiros russos deram conta de que um homem sueco, homenageado pelos que o conheciam, ainda estava vivo em alguma prisão distante, no Gulag. Foi visto em 1959,1963 e até em 1975. Mas o governo russo permaneceu silencioso. Ficamos com a lembrança de sua coragem diante da adversidade, a gratidão de centenas de milhares de pessoas que ele salvou e o mistério da vida de Raoul Wallenberg. Tendo libertado tantas outras pessoas, foi depois cruel e ironicamente, apanhado na rede de intrigas de uma guerra fria. Mas seu exemplo brilha, como a luz de uma estrela distante, contra a escuridão. Um santo leigo, com a Coragem interior" do Tao, ele ousou salvar as vidas de outras pessoas e afirmar, pagando um grande preço pessoal, o mundo mais humano, justo e harmonioso para o qual podemos esperar um dia evoluir. O LÍDER COMO FACILITADOR Os líderes, tranqüilamente dão poderes a outros. Lao Tsé nos diz: "Quando as pessoas Tao lideram e o trabalho é realizado, As pessoas dizem: 'Fizemos isso nós mesmos'." (TAO 17) Buscando inspiração nessa citação do Tao, o psicólogo Carl Rogers carregava-a em sua carteira como um lembrete diário. Em sua terapia centralizada na pessoa e na negociação da paz, ele viu seu próprio papel na tradição taoísta do líder como facilitador. Criando uma atmosfera de confiança e cooperação, afirmando a visão mais ampla, esses líderes trabalham em equipe para alcançar o bem geral. Ajudam os outros a crescer como indivíduos, a se tornarem mais confiantes, competentes e bem-sucedidos. Trata-se de 208

um processo contínuo de engajamento pessoal, jamais de uma questão de ego, comportamento espalhafatoso ou fama pessoal. Os líderes Tao não são bem-sucedidos para si mesmos. Seu poder não é pessoal, mas interpessoal. Esse tipo de líder é bemsucedido quando o grupo trabalha junto, quando seus membros sobressaem. James Treybig, fundador da Tandem Computers, segue esse caminho porque também dá bons resultados nos negócios. Desde seu início, em 1974, a Tandem floresceu, tendo uma visão da equipe que estimula o moral, e criatividade e a produtividade dos funcionários. Lemos em Megatrends (Grandes tendências) que, na empresa tradicional autoritária, com uma cúpula de poder e subordinados, os empregados americanos "geralmente desistem dos direitos mais fundamentais ao livre discurso e ao processo justo... em seu dia-a-dia de trabalho"10. Isto não acontece na Tandem, que promove uma atmosfera igualitária, de abertura e confiança. Foram-se os antigos escalões hierárquicos e seus símbolos: sala de almoço, toaletes para executivos e muralhas de intimidação. Na Tandem todos chamam Treybig pelo primeiro nome, "Jimmy", e sabem que sua porta está aberta. Ele tem um escritório que não é maior do que o de nenhum gerente. Quando convidados visitam a Tandem, recebe-os na sala de reuniões. A Tandem enfatiza a abertura e a comunicação. A tecnologia eletrônica mais avançada — correspondência por computador, uma rede de televisão — e freqüentes boletins da empresa informam aos empregados o que está acontecendo. Um Fórum de criatividade recompensa as pessoas pelas novas idéias. Através de opções por ações, os empregados tornam-se co-proprietários da empresa, mantendo-se informados sobre a situação financeira da Tandem através de teleconferências quinzenais. Esta participação encoraja a lealdade, a maior produtividade e maior atenção para a solução de problemas. Muitas decisões da Tandem são tomadas por consenso. O pessoal da maioria dos departamentos reúne-se com freqüência e, muitas vezes, um departamento inteiro entrevista os candidatos a empregos para ver se entram em bom entendimento com a equipe. "Encontros de pauta" são mantidos regularmente, para que os empregados discutam as novas providências. Essa visão de equipe é equilibrada, com respeito pela individualidade. Os empregados podem escolher horas de trabalho flexíveis. Os funcionários da Tandem tendem a trabalhar com muito empenho, assim a empresa lhes dá seis semanas de férias pagas, a 209

cada quatro anos, para renovação e crescimento pessoal. Durante os últimos anos, os empregados da Tandem fizeram de tudo nas férias: reformar a casa, visitar os parentes, estudar música, aprender um idioma estrangeiro ou praticar alpinismo no Himalaia. Um homem fez um curso de culinária para gourmets no Cordon Bleu, em Londres. Outro passou o tempo em casa, com seu filho recém-nascido. Uma vida equilibrada é outro princípio importante da Tandem. Os empregados têm um seguro de saúde abrangente, incluindo atendimento de dentistas e oculistas. Assistem a seminários grátis, ao meio-dia, sobre questões de saúde, como estresse, colesterol, dieta e AIDS. A Tandem também oferece uma piscina da companhia, salas de levantamento de pesos, quadras de tênis e instalações para ginástica, em muitos locais. A Tandem alimenta de muitas formas o espírito de comunidade e comunicação entre os empregados, desde um encontro para alcançar um consenso até "festas de pipoca" semanais. Toda sextafeira, às quatro da tarde, as pessoas se reúnem para comer pipoca, batata frita e beber cerveja e refrigerantes, partilhando idéias e construindo melhores relações de trabalho. E essas diretrizes trazem suas recompensas. A Tandem tem um dos índices mais baixos de rotatividade de pessoal e constrói os computadores mais confiáveis da indústria. Reconhecendo seu papel na comunidade humana mais ampla, a Tandem oferece "férias de serviço" especiais. Os empregados podem passar algum tempo fora, com despesas pagas para si mesmos e suas esposas, a fim de realizar projetos humanitários. Alguns trabalharam como voluntários em abrigos locais; outros foram para a África ensinar novos métodos agrícolas ou construir escolas em Appalachia. Dessa maneira a Tandem apoia o trabalho a favor da Justiça Social, como parte integral da vida. Facilitando o trabalho de equipe, a iniciativa pessoal, o equilíbrio e a responsabilidade social, Jimmy Treybig aplica valores cooperativos ao local de trabalho, ajudando as pessoas a levar vidas mais saudáveis e criativas, enquanto constroem uma empresa bemsucedida, que continua a obter excelentes resultados.

A LIDERANÇA TAO Você não precisa ser executivo de empresa, diplomata ou figura política para liderar com o Tao. Você pode ajudar a construir um mundo mais pacífico praticando os princípios do Tao em sua vida e 210

em seu trabalho. Muitos outros já fizeram isto. No início da década de 1980, o Instituto de Pesquisa Stanford descobriu que mais de 15 milhões de americanos adultos estavam preferindo vidas com maior simplicidade, cooperação, percepção ecológica e crescimento pessoal. O número aumenta constantemente, causando uma mudança em nossa maneira de viver e criando ciclos mais pacíficos em nossa sociedade. PERGUNTA TAO

Quando assumimos papéis de liderança em nossa casa e no trabalho — como pais, professores, conselheiros, ministros, gerentes, líderes de negócios e da comunidade — precisamos perguntar a nós mesmos: como posso ajudar a criar uma atmosfera de maior confiança e compromisso? Como posso ajudar os outros a dar o melhor de si? Trabalhar com os ciclos? Criar uma harmonia maior? Podemos aprender ouvindo e observando, prestando atenção aos ciclos do Tao. Também podemos aprender com os outros. Todos conhecemos pessoas que são exemplos desse tipo de liderança. EXERCÍCIO PESSOAL

• Saia sozinho(a) por alguns minutos, relaxe, feche os olhos e inspire profundamente. • Agora, pense em alguém que lhe tenha ensinado a liderança com o Tao. Veja essa pessoa com os olhos de sua mente. • Como é que essa pessoa lidera com o Tao? O que ele ou ela faz? Concentre sua atenção nos detalhes. Veja-os tão nitidamente quanto possível. • O que você pode aprender com isso? • Como você poderia aplicar essa lição a sua vida? • Veja a si mesmo(a) fazendo isso. Como seria? Sente? Experimente tudo em sua imaginação, tão nitidamente quanto possível. O que você faria e diria? • Aceite a lição com gratidão. Diga para si mesmo(a): "Obrigado. Eu lidero com o Tao." • Abra os olhos, espreguice-se e volte a suas atividades, consciente de que você é um líder, criando novos ciclos positivos em seu mundo. 211

Liderar com o Tao é um contínuo desafio. Como criar harmonia com as experiências conflitantes em torno de nós? Como afirmar tanto o espaço interior como o exterior? A resposta está em nosso uso consciente e criativo da energia. Conscientes dos ciclos da natureza, desenvolvemos nossa visão. Aprendemos quando devemos agir, quando devemos nos distanciar, tudo isto a partir da visão do lugar que ocupamos no quadro mais amplo. Enfrentando um mundo de conflito e confusão, devemos nos lembrar de permanecer centralizados, de manter nosso equilíbrio interno. Centralizados, resistimos. Como um mestre aikido, canalizamos um tremendo poder. Sem equilíbrio, nosso entusiasmo pode facilmente tornar-se mal orientado, prejudicando nossa saúde ou nos arrastando para o fanatismo. Não devemos nunca deixar uma causa, uma organização, uma carreira ou um relacionamento eclipsar nossas vidas a ponto de esquecermos quem somos. Devemos fluir com as correntes que estão em movimento em nosso mundo, porém, sem jamais submergir nelas. Tanto quanto possível devemos lembrar-nos de considerar os modelos mais amplos, para equilibrar nossas necessidades com as do planeta, sem praticar nenhuma violência a nós mesmos ou aos outros. Respeitando o processo da vida, cuidadosos com a nossa regulagem de tempo, lideramos com o Tao, criando novas possibilidades para nosso mundo.

NOTAS 1. Huang, Embrace Tiger, Return do Mountain, pp. 141. 2. Lui I-Ming, Awakening to the Tao, pp. 70, 81. 3. Yutang, The Wisdom of China and índia, pp. 591, 622. 4. Ver Siu, The Man of Many Qualities, p. 68. 5. Bill Devall e George Sessions, Deep Ecology, p. 8. 6. Dag Hammarskjóld, Markings, trad. de Leif Sjoberg e W.H. Auden (Nova York: Alfred A. Knopf, Inc.; Londres: Faber and Faber Ltd., ©1965), p. 13. Esta citação e as que se seguem foram usadas com permissão dos editores. 7. Hammarskjóld. Markings, p. 13. 8. Hammarskjóld, Markings, p. 157. 9. Witter Bynner, trad. de The Way of Life According to Lao Tzu (Nova York: Putnam, 1972), p. 101. ©1944 de Dorothy Chauvenet e Paul Morgan; Copright renovado em 1972. Republicado com permissão de Harper & Row Publishers, Inc. 10. John Naisbitt, Megatrends. Ten New Directions Transforming OurLives (Nova York: Warner, 1982), p. 181. 11. Pelas informações sobre Jimmy Treybig e a Tandem Computers, sou grata a Jeri Flynn, Gerente, Relações Públicas da área Financeira, Tandem Computers, Cupertino, Califórnia. 12. Fritjof Capra e Charlene Spretnak, Green Politics (Nova York: Dutton, 1984), p. 195. Ilustração da Parte 4. O caracter chinês correspondente a tz'u, ou compaixão, a empatia do Tao que abrange a vida.

Afirmação Sei agora que minha vida é tranqüila e harmoniosa. Lidero com o Tao. Escuto cuidadosamente, consciente dos cilos dentro e em torno de mim. Coopero com eles. Ajo com coragem e confiança. Trabalho com minha equipe pelo bem do conjunto. Respeito a mim mesmo(a) e ao processo. Harmonizo-me com a natureza e com todos os outros em meu mundo. Agora recebo uma paz maior em minha vida. E assim seja. 212

213

PARTE

4

O CAMINHO DA VIDA

CAPÍTULO 18

COMO MANTER A UNIDADE A pessoa Tao abraça a unidade E vive em paz segundo seu modelo. (Tao 22)1

O

Tao nos ensina a abraçar a unidade, a perceber que, por trás de toda a mudança aparente, a vida é essencialmente una. Meditando regularmente, observando a natureza e ouvindo sua voz interior, a pessoa Tao volta para essa unidade que a tudo impregna. Os chineses chamam a esta prática de shou-yi, ou "manutenção da unidade", que é o tema de toda a arte taoísta e a lição deste capítulo/. O RECONHECIMENTO DO UNO As modernas descobertas da física, psicologia e ecologia reforçam a lição do Tao em torno da unidade. A física redefiniu nossa visão do universo. Não mais o vemos como uma coleção de partes isoladas, mas como um todo unificado. A vida inteira é interligada pelos modelos dinâmicos de energia. A psicologia junguiana reflete essa visão de unidade, afirmando que, no nível inconsciente, todos participamos de uma percepção unificada, o inconsciente coletivo, que contém símbolos e sabedoria comuns a toda a humanidade. Carl Jung ensinou seus seguidores a desenvolver a intuição como um meio para alcançar essa sabedoria coletiva. Os analistas junguianos vêem a sincronicidade — aquelas coincidências, aparentemente inexplicáveis, que ligam nossas vidas 217

— como uma nova evidência desse inconsciente coletivo3. As pessoas se encontram inesperadamente, depois percebem que têm muita coisa em comum. Duas pessoas dizem a mesma coisa, ao mesmo tempo. Antes de você pegar o telefone e ligar para um amigo, este lhe telefona. Para os junguianos, essa sincronicidade mostra que fazemos parte de alguma coisa mais ampla do que nós mesmos. Nossos atuais problemas ecológicos — poluição, chuva ácida e o esgotamento da camada de ozônio — lembram-nos, diariamente, que não somos entidades isoladas, e sim parte de uma complexa rede de vida. Qualquer ação descuidada — um vazamento de óleo, a liberação de produtos químicos tóxicos — produz reações danosas, com repercussões de alcance mais longo na cadeia da vida. Durante as últimas décadas, ignoramos nossa união com a natureza. Violando despreocupadamente o meio ambiente, colocamos em risco a nós mesmos e nosso futuro. Nossos próprios erros nos colocam diante da unidade que ignoramos. A poluição industrial e a chuva ácida ultrapassam as fronteiras nacionais, afirmando a nossa unidade subjacente. O Efeito Estufa ameaça perturbar o clima do mundo inteiro, porque estamos cobrindo a terra de concreto, dirigindo automóveis que vomitam quantidades maciças de dióxido de carbono e destruindo as florestas tropicais, tudo isto com uma rapidez alarmante. Os fatos cada vez mais concretos tornam impossível negar que nós e outras formas de vida somos parte de um corpo coletivo conhecido como planeta Terra. Este capítulo irá ajudá-lo(a) a recuperar a unidade do Tao. Você praticará shou-yi (manutenção da unidade) numa meditação dirigida. Aprenderá como evitar a fragmentação, essas distrações que nos impedem de ver o todo, e descobrirá como a unidade com o Tao ajuda a fazer mudanças positivas no mundo. O senso de unidade com toda a criação pode ser mais bem atingida através da meditação ou da contemplação, que despeita nossos poderes de intuição. Nosso intelecto analisa e separa a realidade em categorias lógicas, mas o Tao transcende a razão. Como a água, contém tremenda força. Alimenta, mas não pode ser capturado. Porém, pode ser experimentado através da faculdade de intuição da metade direita de nosso cérebro.

EXERCÍCIO PESSOAL: MEDITAÇÃO DIRIGIDA • Vá para um lugar tranqüilo, onde não o(a) perturbem. Relaxe, afrouxe suas roupas, chute para longe os sapatos e sente-se, ou então deite-se confortavelmente no chão. 218

• Suavemente, massageie qualquer parte de seu corpo que estiver tensa, depois relaxe, feche os olhos e respire lenta e profundamente. • Imagine a si mesmo(a) em pé junto ao mar, olhando as ondas fluírem devagar, aproximando-se da praia e recuando. Em seus modelos alternados de yin e yang, a maré segue os inevitáveis ritmos da natureza. • Sinta o cheiro da maresia e a brisa suave que vem da água. O borrifo delicado toca seu rosto, unindo-o com o oceano, deixando-o em união com a natureza, em união com o Tao. • Olhe em direção ao horizonte. Veja a larga extensão do oceano, a sua frente, estendendo-se tão longe quanto o olho alcança, mais resistente e poderoso do que os séculos da humanidade que percorreu suas praias e cavalgou suas ondas. Este é o poder duradouro do Tao: fluido, nutriente, a fonte de toda a vida. • Ouça as ondas que se quebram, os gritos distantes das gaivotas voando em círculos lá no alto, criaturas da terra, do mar e do céu. Sinta seu espírito fluir com as ondas e elevar-se com as gaivotas, sabendo que você está em união com o vento e com as ondas, em união com o Tao. • Colocando a mão no pulso, sinta sua própria pulsação que se alterna, em harmonia com os ritmos do Tao, os ritmos do mar. São suas correntezas, sua força vital, partilhando a mesma salinidade, em união com o mar. • Saiba que, para onde quer que você vá, o que quer que você faça, estará em união com o oceano e com tudo o que ele toca: os rios que fluem das montanhas para o mar, a vida dentro e em torno dele, os pássaros marinhos, os peixes e o coral, os minúsculos crustáceos, as gigantescas baleias e as pessoas que estão em suas praias distantes. • Sinta a si mesmo em união com o oceano, enquanto ele abraça este planeta, estendendo-se pelo Atlântico afora, com a Europa e a África do outro lado, chegando ao noite pelo Ártico e ao sul através do Estreito de Magalhães, até o Pacífico. Então as águas fluem para baixo, até a Antártica, e novamente para o Atlântico, unindo toda a vida num abraço azul envolvendo o pequeno planeta azulado que chamamos de lar. Saiba que está em união com o planeta, em união com o Tao. • Quando estiver pronto(a), abra os olhos devagar e se espreguice, sentindo-se relaxado(a), em paz, cheio(a) de nova energia e inspiração. 219

Seja meditando sobre o oceano, na imaginação, ou completando-o, na experiência real, unimo-nos com o infinito poder e a presença do Tao. Em união com o Tao, vivemos a partir de nosso centro mais profundo, nossas ações guiadas por duradoura sabedoria e poder.

MISTICISMO PRÁTICO: AÇÃO POSITIVA Os taoístas são conhecidos por seu misticismo prático, pela forma como unem espiritualidade e ação social. Enquanto os místicos cristãos ou maometanos buscam a união com Deus, os taoístas buscam a união com Deus na natureza. Estar em união com a natureza significa agir na natureza, harmonizando-se com os ciclos naturais do mundo. Seguir o Tao leva as pessoas, naturalmente, da contemplação para a ação. O naturalista americano John Muir escreveu que, "na maioria, as pessoas passam pelo mundo, sem penetrar realmente nele — não têm nenhuma solidariedade para oferecer, nem capacidade de relacionamento —, não se misturam, estão separadas e rigidamente sozinhas, como esculturas de pedra polida, tocando-se, mas separadas".5 O senso de isolamento do próprio Muir levou-o a escrever The Mountains of California (As Montanhas da Califórnia), a fundar o Club Sierra, a fazer a campanha no Congresso pela preservação de nossas regiões naturais e a criar o Parque Nacional Yosemite. Sendo uma pessoa Tao, profundamente enraizada na natureza, o senso de unidade de Muir levou-o à ação positiva. Seguindo o Tao, desenvolvemos uma paz interior maior e promovemos a paz em torno de nós, porque sabemos que os indivíduos, a sociedade e a natureza estão todos unidos. Como os mestres budistas, ou Bodhisattvas, as pessoas Tao não podem encontrar a verdadeira paz sozinhas, porque nada vive separado. Como Gandhi, uma pessoa Tao sabe que o esforço exterior só é bem-sucedido quando flui de uma profunda consciência íntima, que a paz íntima é incompleta sem a ação correspondente pela paz em nosso mundo. O ecologista Tom Moss também agiu de forma positiva. A partir de seus estudos na costa norte do Pacífico, percebeu que os pássaros nativos e a vida selvagem estavam desaparecendo, porque perdiam seu habitat natural. Em janeiro de 1988, ele começou sua campanha individual para restabelecer a ecologia nativa da área, substituindo a peça que faltava no desenho ao recompor a paisagem natural do Parque Estacionai de Asilomar. 220

Durante anos, as dunas que dão para o Pacífico azul haviam sido invadidas pelo capim e pelas ervas-do-gelo, plantadas por pessoas bem-intencionadas para evitar a erosão. Essas plantas foram expulsando o capim e as flores selvagens locais, privando os pássaros e os insetos de seu habitat. Removendo o capim invasor e a erva-do-gelo, Tom começou a plantar sementes em sua estufa e mudas de vegetação nativa nas dunas — a verde e emplumada artemísia, a cauda-de-largato nativa, com suas flores cor de laranja vivo, pequenas verbenas da areia, com suas folhas em forma de espadas e as amarelas margaridas selvagens, uma espécie ameaçada de extinção e protegida pela lei. Cobriu as plantinhas com tela de arame para protegê-las, marcando-as com fitas coloridas e observando-as atentamente para ver se pegavam. Construindo novos caminhos para os visitantes do parque, afixou letreiros: "Área frágil. Fique nas tábuas". Montou uma exposição para explicar o que estava fazendo e plantou mais mudas, milhares delas por ano. Agora, as dunas estão voltando à vida, uma paisagem de suaves tons pastéis ao longo das praias do Pacífico. Várias tonalidades de verde acrescentam tons sutis à areia dourado-pálido: o verde e o azul da artemísia, o verde suave da verbena, a folhagem verde vivo das papoulas da Califórnia, tonalidades sutis de verde e castanho amarelado, acentuadas por minúsculas flores laranja e amarelo. Pássaros volteiam o céu e borboletas imensas voam por entre as flores. O cenário inteiro é de plenitude e paz. Com seus letreiros e exposições, Tom se dá aos demais, em seu habitat costeiro. Muitas pessoas tornaram-se mais conscientes da frágil beleza do meio ambiente, mais conscientes da sua união com a natureza. Em minha última viagem a Asilomar, encontrei uma mulher local que trabalhava como voluntária na estufa. "Você tem que fazer alguma coisa para ajudar a preservar o meio ambiente", disse ela, explicando que vê a natureza como uma extensão de si mesma. "É uma contribuição duradoura que estará aqui por muito mais tempo do que eu".

AFIRMAÇÃO DA UNIDADE DE NOSSO MUNDO O projeto de restauração da duna é apenas um exemplo de como nossa visão de totalidade conduz a uma ação positiva. Há outros exemplos em sua comunidade e novas oportunidades em sua própria vida. Como você pode, ativamente, "manter a unidade" em sua experiência? Descubra, neste exercício. 221

EXERCÍCIO PESSOAL • Descubra um espaço tranqüilo, feche os olhos, relaxe e respire três vezes, profundamente. • Agora, pergunte a si mesmo(a): "Como posso manter melhor a unidade em minha vida? Existe alguma coisa que eu possa fazer para afirmar maior saúde e totalidade em meu mundo?" Enquanto você faz a si mesmo as perguntas a seguir, uma oportunidade de ação se apresentará. • Em meu meio-ambiente. o que posso fazer para promover maior unidade? Como posso cooperar com as plantas e animais nativos na minha área? Do que eles precisam, realmente neste momento? Como posso ajudar? • Em meu trabalho: o que posso fazer para promover maior unidade? Qual a minha visão da totalidade? Será que deixei de lado alguma coisa, ou alguém? Como posso promover maior cooperação e entendimento? Será que posso comunicar-me mais claramente? Partilhar minhas idéias com alguém? Incluir uma nova pessoa num projeto? • Em meus relacionamentos: o que posso fazer para promover maior unidade? com meus amigos? minha família? minha comunidade? meus vizinhos no planeta? Posso comunicar-me mais claramente? Partilhar mais meu tempo e energias? Dedicar mais tempo à renovação pessoal? Expandir meu círculo para incluir outras pessoas? • Quando descobrir sua oportunidade para uma ação positiva, vizualize você mesmo(a) fazendo o que escolher fazer. Vizualize a ação completada. Sinta as saudáveis energias e experimente uma visão maior da unidade. • Agora, abra os olhos e empenhe-se nessa ação pessoal. Saiba que, enquanto você age, libera novas energias saudáveis no mundo e se torna, de forma mais forte e consciente, uma pessoa Tao.

PARA EVITAR A FRAGMENTAÇÃO O Tao nos diz: "Todas as coisas voltam para o Tao Enquanto os rios correm para o mar." (TAO 32) Somos todos parte da unidade, mas algumas vezes, distraímonos com detalhes. Apanhados num dos rios, perdemos nossa visão 222

do oceano. Na vida moderna, isto pode acontecer com muita freqüência. Um risco é uma superespecialização. Buckminster Fuller, certa vez, fez uma descoberta notável, enquanto assistia a uma conferência da Associação Americana para o Progresso da Ciência. Lendo o programa, notou que havia dois ensaios em campos completamente diferentes, cada qual discutindo o fenômeno da extinção. Sem saber do trabalho um do outro, um biólogo estudara a extinção entre espécies e um antropólogo estudara a extinção das tribos indígenas. Ambos haviam chegado à mesma conclusão: a causa era a superespecialização, que limita nossas opções e enfraquece nossa capacidade de responder aos desafios. Como podemos evitar a superespecialização? Esforçando-nos para permanecer equilibrados. Devemos resistir às pressões culturais que nos reduziam a um papel ocupacional ou social. Para afirmar nossa totalidade, precisamos reservar tempo para meditação, exercícios, passatempos criativos, e lembrar-nos também de seguir nossos próprios ritmos. Outro risco para a "manutenção da unidade" é uma preocupação limitada com nosso grupo ou problema local, com exclusão de todo o resto. Um exemplo disto aconteceu nas cidades-estados italianas. Florença, Gênova, e Veneza tomaram-se centros mundiais de comércio e inauguraram o florescimento da Renascença. Entretanto, quando a Inglaterra, a Espanha e a França tornaram-se nações unificadas, a força da Itália tornou-se sua maior fraqueza, retardando o nacionalismo italiano por séculos. Tão fortes eram suas partes que a Itália não conseguiu unificar-se como país durante séculos. Ainda hoje, o regionalismo e o partidarismo dominam a política italiana. Política e pessoalmente, alguns indivíduos identificaram-se de tal forma com um grupo que deixam de ver o conjunto mais amplo. O compromisso emocional para com um relacionamento, a família, a igreja ou a carreira é admirável, mas não quando bloqueia nossa visão da comunidade em conjunto. Por demasiado tempo, o extremo nacionalismo impediu-nos de desenvolver uma visão global. Podemos não concordar com os outros governos. Podemos nem mesmo gostar um do outro. Mas não podemos fugir do fato de que somos todos vizinhos, neste planeta. Bebemos a mesma água e respiramos o mesmo ar que as outras vidas que habitam o planeta Terra. Se não chegarmos a perceber isso, estaremos repudiando a unidade, negando o Tao.

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VIVENDO A UNIDADE A lição de unidade do Tao, nos leva a buscar a paz, não na fragmentação ou no isolamento narcisístico do mundo, mas numa entusiástica participação nele. Como disse Mark Satin, em New Age Politics (Política da nova era). "A cura do ego de cada um conduz quase inevitavelmente a um sentido de unidade com outros seres e a um desejo de curar a sociedade". Seguindo o Tao, nossa procura de equilíbrio e totalidade estende-se para fora, guiando todas as nossas ações. Curar o planeta, através de um reconhecimento da unidade, é a missão de John Randolf Price, homem de negócios do Texas e autor de The Planetary Comission (A comissão planetária). Em 1984, Price decidiu que, se um número suficiente de pessoas se reunissem para meditar, podiam "mudar a consciência coletiva da humanidade". Elaborou um plano — ao meio-dia, hora de Greenwich, em 31 de dezembro de 1986, as pessoas do mundo inteiro meditariam, em busca da paz-. Num movimento popular com a força de um maremoto, Price e sua mulher, Jan, difundiram a mensagem, falando em igrejas. Não havia nenhum levantamento de fundos nem publicidade oficial, mas os jornais publicaram uma matéria a respeito, em dezembro de 1986, e mais de 500 milhões de pessoas, em 77 países, aderiram ao plano de Price e se reuniram para meditar, a fim de ajudar a curar o planeta. Desde então, o mundo testemunhou um crescente desejo de paz, aberturas na cooperação internacional e melhoria nas relações entre Estados Unidos e União Soviética. Coincidências? Price não pensa assim. "Quando tantos milhões de pessoas se reúnem, de uma só vez, com um sentido de paz e um ideal espiritual em seus corações", disse ele, "deve haver conseqüências". As Meditações para Curar o Mundo são agora realizadas anualmente, ao meio-dia, hora de Greenwich, em31 de dezembro, e o objetivo de Price é atingir dois bilhões de pessoas, espalhando a mensagem da paz através de um crescente reconhecimento de nossa unidade.9 Como John Randolph Price, podemos alcançar surpreendentes resultados inspirando-nos na unidade do Tao. Em nossas vidas, em momentos de meditação, reconhecimento ou ação consciente, tornamo-nos parte dessa poderosa unidade. Observando, sob o fluxo e refluxo da vida cotidiana, o oceano da unidade que flui dentro e em torno de nós, também podemos começar a curar nosso mundo. Assim como uma semente brota do minúsculo embrião que há em seu centro, também a paz projeta-se 224

para fora, a partir de nosso ser mais interior. Vivendo a unidade do Tao, cada um a sua própria maneira, podemos agir com sabedoria e graça, trazendo maior harmonia para o planeta.

Afirmação Agora sei que minha vida é pacífica e harmoniosa. Mantenho a unidade em minha vida. Estou em união com toda a vida neste planeta. Evito a fragmentação e confirmo a unidade através da ação positiva. Respeito a mim mesmo(a) e ao processo. Harmonizo-me com a natureza e com todos os demais em meu mundo. Agora recebo uma paz maior em minha vida. E assim seja. NOTAS 1. Minha versão inspirou-se na tradução de Tolbert McCarroll, em The Tao-. The Sacred Way (Nova York: Crossroad, ©1982), p. 47: "Therefore the True Person embraces the One/And becomes a model for all" ("Assim a Pessoa Autêntica abraça o Uno /E se torna um modelo para todos"). Usado com permissão do autor. 2. Maspero, Taoism and Chinese Religion, p. 365. 3. Para uma explicação da sincronicidade, ver: Bolen: The Tao of Psychology, p. 36. 4. Para uma boa explicação sobre os fundamentos da religião taoísta, ver: H.G. Creell, Chinese Thoughtfrom ConfuciustoMao Tsé Tung. (Chicago: University of Chicago Press, 1953), p. 101. 5. Muir, John of the Mountains (Boston: Houghton Mifflin, ©1938 de Wanda Muir Hanna, Copyright ©renovado em 1966 por John Muir Hanna e Ralph Eugene Wolfe.), p. 320. Republicado com permissão de Houghton Mifflin Company. 6. Para uma explicação sobre o taoísmo e o movimento da paz, ver: Herrymon Maurer, The Way of the Ways (Nova York: Schocken, 1985), p. 6. 7. Matéria sobre Buckminster Fuller, de Amy Edmondson, "Peace 2010", no WindstarJournal, inverno de 1986, p. 24. 8. Satin, New Age Politics, p. 24. 9. Detalhes e citação usados com permissão, de "Two Billion People for Peace: An Interview with John Randolph Price", de John S. Niendorff ©Science of Mind Magazine, agosto de 1989, pp. 18-29. Assinaturas da Science of Mind custam 15 dólares por ano (12 exemplares), com a Science of Mind Publications, 3251 W. 6th St., P. O. Box 75127, Los Angeles CA 90075. 225

CAPÍTULO 19

O CAMINHO DO AMOR Trago três tesouros Junto de meu coração. O primeiro é o amor; O segundo, a simplicidade; O terceiro é a superação da vaidade. (TAO 67)

Tao é o Caminho do Amor, uma via de compaixão que nos capacita e enxergar além da discórdia aparente, penetrando na unidade subjacente a toda criação. A compaixão por nós mesmos ou pelos outros derruba as ilusões da separação, trazendo maior harmonia para nosso mundo. Podemos entender melhor o Caminho do Amor referindo-nos aos caracteres chineses utilizados para retratá-lo. A expressão chinesa para compaixão, tz'u, combina dois caracteres. Hsin significa tanto coração como mente, a fonte de todos os pensamentos, sentimentos e motivação. O caracter tzu (vegetação abundante), colocado acima de hsin, indica um coração aberto e compassivo. A compaixão taoísta une o indivíduo a toda a criação.7 Como não existe nenhuma divisão interior, em chinês, entre mente e coração, com a compaixão não existe nenhuma divisão externa entre nós mesmos e nosso mundo. O Caminho do Amor vence a apatia, o medo, a posição defensiva e a agressão. Este capítulo explicará as propriedades unificadoras do amor, sua capacidade de transcender o ego. E nos mostrará como seguir esse caminho: 1) amando a nós mesmos, 2) evitando as críticas divisórias, 3) transcendendo o hábito da raiva e 4) estendendo os braços para o mundo no serviço amoroso.

O

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O PODER UNIFICADOR DO AMOR O poder do amor une os seres humanos há séculos. O amor inspirou obras-primas da poesia, da música e das artes visuais, porém, ainda ultrapassa nossa capacidade de explicá-lo. Tão misterioso quanto o próprio Tao, o amor é mais do que a soma de suas partes, unindo as nossas almas de forma inefável e inesquecível, para sempre. Leva-nos além de nossos limites pessoais, expande o alcance da consciência individual. Iluminando um mundo solitário e confuso com a luz de uma nova percepção, o amor nos leva, num salto quântico, para um mundo além do ego, para uma nova forma de conhecimento. Platão descreveu o amor como a união de duas almas com a própria divindade, o amor de Dante por Beatriz conduziu-o para os portões do paraíso, onde ele cantou "o amor que move o sol e as outras estrelas". O antigo taoísta Chuang-Tsé ensinou que, através do amor, experimentamos as conexões inerentes entre nós mesmos e os outros, vendo toda a criação como uma coisa única.

AMOR, UM PROCESSO ATIVO Todos querem amor. Segundo os psicólogos, todos nós precisamos de amor. Abraham Maslow colocou a necessidade de amor acima de nossa necessidade de ar, água, alimento e abrigo. Mas, para muitas pessoas, a busca do amor é frustrante e mal dirigida, Erich Fromm explicou que "a maioria das pessoas vê o problema do amor, fundamentalmente, como o de ser amado, em vez de amar". Passamos nosso tempo tentando nos fazer "amoráveis", com as roupas, cosméticos e conversas certos, e depois esperamos que a pessoa certa apareça e nos ame.3 Nossa frustração vem da definição de amor como produto, não como processo, fazendo-nos esperar satisfação, em vez de nos darmos ativamente. O amor requer que façamos algo: estender os braços, agir, falar, nos entregar. Desta forma, tornamo-nos ativas expressões do amor. Loura, alta, atraente, com seus trinta e poucos anos, Phyllis estava ansiosa e insegura de si mesma, buscando amor e realização. Depois de mais uma relação abusiva, ela entrou para uma terapia de grupo. Na primeira sessão, ficou encolhida na cadeira. Olhos baixos, a voz trêmula, perguntou: — O que posso fazer para encontrar o homem certo? 228

Mas, em vez de responder a sua pergunta, o terapeuta perguntou: — O que você realmente gosta de fazer? — O quê? — disse ela, com os olhos arregalados e incrédula. — O que gosto de fazer?... Cozinhar. Adoro cozinhar. — Ora, então matricule-se num curso de alta culinária — disse o terapeuta. — Aulas de culinária: Será que posso encontrar um homem na aula de culinária? disse ela, sacudindo a cabeça, incrédula. A questão era parar de viver à espera de um homem, como alguma princesa de conto de fadas, e tocar a vida para diante. Seguindo seus próprios interesses, ela podia se tornar a pessoa que pretendia ser. A última vez que vi Phyllis foi em uma festa de despedida, pouco antes de viajar. Radiante e segura de si mesma, parecia outra mulher. Desaparecera a pessoa hesitante e carente que eu conhecera. A nova Phyllis estava cercada de amigos — do trabalho, do prédio onde morava e do curso de culinária, que organizara aquela comidinha festiva. Estava toda feliz, fazendo planos para começar uma nova vida no Colorado, convidando a todos para visitá-la, quando estivesse instalada. Durante os últimos oito meses, Phyllis melhorou suas habilidades culinárias, encontrou novos amigos, conseguiu uma grande promoção no trabalho e criou uma vida alegre — porque parou de esperar de ser amada e começou a amar sua própria vida. Em seu próximo relacionamento, ela não se apoiará em algum homem só por solidão, mas se disporá a partilhar com alguém a pessoa dinâmica e amorosa que ela é.

O CAMINHO ALÉM DO EGO Manifestar amor nos tira de nossos egos limitados. Pairamos acima da nossa individualidade amarrada à terra, percebendo nosso papel no modelo mais amplo. Como uma visão aérea de nossa cidade favorita, o amor nos eleva até descobrirmos uma simetria maravilhosa. Novos modelos de harmonia surgem, enquanto vemos como a vida toda está ligada. O Caminho do Amor não é o da possessividade egoísta, que se mascara como amor em tantos relacionamentos. Tz'u se expressa através da partilha alegre, sem nenhum pensamento de retribuição. Transcendendo nossos egos limitados, ele nos une ao bem comum. 229

Para os taoístas, tz'u é a expressão natural de uma alma equilibrada. Se nossas energias são harmoniosas, estendemos naturalmente os braços com benevolência, em direção a toda a criação, gerando harmoniosos ciclos novos. Estudioso de longa data do taoísmo, Carl Jung reconheceu o poder do amor para ampliar nossa consciência, levando-nos a "uma reunião com as leis da vida".5 Sua descrição da maturidade psicológica (individuação) combina com as descrições taoístas, segundo as quais nosso eu se expande para incluir o mundo ao redor, toda a aparente discórdia e dualidade resolvendo-se numa maior harmonia. O amor afasta as sombras do conflito. As ilusões dualistas do "eu" e do "outro" desfazem-se à luz da nova percepção. Como o Tao nos diz: "A terra é eterna Porque não vive para o eu apenas Mas existe como uma unidade com vida. As pessoas do Tao transcendem o eu Através da amorosa compaixão E descobrem a si mesmas Num sentido mais elevado. Através da dedicação Alcançam a realização." (TAO 7) O Caminho do Amor nos une com o Tao. Esses momentos de união nos quais estendemos os braços amorosamente, no ato de conhecer ou de servir, trazem-nos a mais pura alegria que podemos sentir. Todos já somos abençoados com tais momentos, mas eles, em geral, acontecem inesperadamente, arrastando-nos para uma rápida, porém bela, comunhão. Como pessoas Tao, podemos expandir essa visão para abranger tudo o que fazemos.

O CAMINHO DA AUTO-ACEITAÇÃO Enquanto o ego constrói muralhas, o amor constrói pontes, levando-nos além da posição defensiva até alcançarmos a confiança, a plenitude e a paz. O Tao nos diz que: "As pessoas Tao conhecem a si mesmas E não fazem nenhuma exibição, 230

Aceitam a si mesmas E não são arrogantes." (TAO 72) Alimentar culpa e insegurança só faz perpetuar o conflito. A auto-aceitação traz maior paz para nós mesmos e para o nosso mundo. Tina Clare, que dá aulas de meditação e crescimento pessoal no norte da Califórnia, vê a auto-aceitação como o primeiro passo para o caminho espiritual. Uma tarde, falei com ela em seu centro de meditação, abrigado sob um copado carvalho, em Los Altos Hills. "Construímos o centro honrando o espaço dessa árvore de 150 anos de idade", disse-me. A árvore, acrescentou, é uma maravilhosa professora, com suas lições de perseverança e renovação cíclica. Construído com vigas de madeira, painéis de cedro e vidro o centro de Tina, chamado de Centro da Luz, fica no alto de um morro aberto para as árvores e para o céu. Seu espaço circular é mobiliado com simplicidade, nas cores areia, rosa e bege, realçadas por algumas conchas do mar. O dia estava tempestuoso; o estresse de dois empregos e a mudança de estação me provocara uma sinusite, mas, quando entrei ali, minha cabeça repentinamente clareou. Será que anos de meditação haviam refinado as energias naquele lugar, criando um espaço curativo? "Tento criar um espaço onde as pessoas possam, muito naturalmente, deixar cair suas máscaras e partilhar o que vem do coração", disse-me Tina, com um sorriso. Ela começa suas sessões de aconselhamento particular, aulas e debates estabelecendo um lugar seguro onde as pessoas se sintam à vontade. Honrando a pessoa e o processo, ela ajuda a alimentar a auto-aceitação. Escuta pensativa, com seus olhos azuis brilhando como as jóias de turquesa e prata que usa, lembranças de suas viagens ao Peru. Escutando atentamente, faz com que as pessoas aprendam a escutar a si mesmas. Depois de estudar religiões nativas americanas e orientais durante mais de vinte anos, ela vê convergências das principais correntes espirituais em algumas verdades simples: a unidade da vida, o dever de honrar a nós mesmos e uns aos outros, a harmonia com a natureza e a aceitação de nossa própria autoridade interior. Usando a meditação dirigida, música suave, carrilhões tibetanos e imagens naturais, ela ajuda as pessoas a redescobrir seu espaço interior, tornando-se conscientes de seu objetivo. 231

Tina vê uma ligação direta entre o espaço interior e exterior. "Não podemos alimentar os outros mais do que fomos alimentados, então nossa primeira responsabilidade é nutrir a nós mesmos", explicou. Escutando a nós mesmos, aprendemos quando devemos estender os braços em novas direções, quando devemos nos afastar de situações que nos esgotam ou, ainda, quando o mais indicado é, nos interiorizar em busca de renovação pessoal. EXERCÍCIO PESSOAL

O que você precisa agora, a esta altura do caminho? Escutando a si mesmo(a), certamente saberá. Delicie-se com essa suave meditação da concha, inspirada por Tina Clare: • Saia sozinho(a) para um lugar tranqüilo, onde não vá ser perturbado(a). Se possível, dê uma caminhada, sente-se debaixo de uma árvore e recupere o contato com a natureza. • Relaxe, fique confortavelmente sentado(a), afrouxe o cinto e tire os sapatos. Remexa os dedos dos pés, alongue-se e distenda o corpo. • Agora feche os olhos e respire lenta e profundamente, concentrando a atenção no ritmo de sua respiração. A cada respiração, desprenda-se do mundo exterior, tornando-se cada vez mais relaxado(a). • Enquanto escuta seus ritmos interiores, sinta a si mesmo(a) cercado(a) pelos ruídos calmantes do oceano. Agora, veja a si mesmo (a) caminhando ao longo da praia. Sinta a areia molhada sob seus pés e a suave brisa do oceano acariciando seu corpo. Sinta o cheiro fresco do ar salgado. • Ao caminhar pela praia, você vê uma bela concha diante de si. Abaixando-se, observe a concha, correndo a mão por sua superfície curva. • Sob seu olhar, a concha começa a aumentar de tamanho. Aos poucos, fica do mesmo tamanho que você, até maior, suficientemente grande para você entrar nela. • Urna luz suave sai de dentro da concha, convidando você para entrar. Lentamente, aos poucos, caminhe para dentro da concha, descendo pelo saguão curvo, penetrando no espaço profundo e curativo que existe lá dentro. • Cercado(a) pelas energias suaves e calmantes, desprenda-se de tudo do passado que você deseja deixar para trás. Inspire profundamente. Solte a respiração. Acabou. 232

• Agora, faça a si mesmo(a) uma pergunta: "O que resolverá meu atual problema?" "Que direção devo tomar?" Ou, simplesmente: "O que preciso saber?" Relaxe e saiba que a resposta virá — talvez agora, talvez mais tarde, enquanto você estiver entregue a suas outras atividades. Torne a inspirar profundamente e solte a respiração. • Quando estiver preparado(a), você pode sair desse espaço curativo, sair outra vez pelo vestíbulo curvo, para o fresco ar salgado. • De novo em pé na praia, observe a concha voltar pouco a pouco ao tamanho original. • Enquanto você volta a sua consciência normal, saiba que leva consigo essas energias curativas. Abra os olhos aos poucos, esticando-se, voltando para suas outras atividades, profundamente renovado(a) e consciente da verdade interior de quem você é.

Tina Clare trabalha com meditações suaves, harmonias naturais, movimentos. Não acredita em grupos de encontro agressivos. "A natureza jamais força o crescimento", diz, "mas permite que ele aconteça". Cada um de nós desdobra-se a partir de nosso próprio centro de auto-aceitação, de acordo com nossos próprios ritmos. Quando fazemos uma pergunta na meditação, a resposta vem em seu próprio tempo.

ALÉM DOS JULGAMENTOS O reconhecimento de nossos ritmos interiores é uma parte importante da auto-aceitação e uma lição fundamental do Tao. Da mesma forma que cada planta tem seus próprios ciclos, o mesmo acontece conosco. Julgar a nós mesmos, comparando-nos com outros, não é natural nem justo. Os narcisos florescem no início da primavera, enquanto os crisântemos enfeitam os jardins no outono. Uma flor selvagem floresce por apenas uma estação, um carvalho pode viver por centenas de anos, e as seqüelas gigantes da Califórnia resistem há séculos. Como as árvores e as flores, cada um de nós tem seus próprios ritmos, seu próprio tempo de fruição. Quem vai dizer qual é o modelo certo para nós? Só nós mesmos podemos saber. Praticamos tz'u, ou a compaixão amorosa, quando paramos de julgar a nós mesmos e aos outros. Porque, se somos todos seres únicos, com modelos de vida individuais, como podemos julgar um ao outro? O Tao nos pede apenas para seguirmos nosso próprio caminho com entusiasmo. 233

No mundo ocidental, nosso hábito de analisar e julgar conduziu a uma era de maravilhas tecnológicas, mas também nos alienou de nós mesmos e um do outro. Concentrando a atenção nas diferenças, e não nas semelhanças, criamos muralhas de separação entre os indivíduos, grupos e nações. Muito freqüentemente, o espírito crítico bloqueia a compaixão, separando-nos em facções polarizadas. O Dr. Gerald Jampolsky diz que até a crítica construtiva é, muitas vezes, um ataque velado, uma tentativa de provar que estamos certos, porque alguma outra pessoa está errada. O Tao nos diz, simplesmente: "Uma boa pessoa não discute. Quem assim faz não está em união com o Tao." (TAO 81) Uma atitude crítica não ajuda a nós mesmos nem aos outros. Os argumentos ou pregações raramente mudam as outras pessoas. Até mesmo quando nossas opiniões são justificadas, criticar os outros, em geral, torna-os desconfiados e defensivos. E afasta nossa atenção de nossas próprias vidas, que nós podemos mudar. Preste atenção a seus pensamentos e conversas. As críticas e argumentações hipócritas apenas massageiam o ego, perpetuando a separação, aumentando o conflito pessoal e planetário. O Tao nos diz: "Embora algumas pessoas pareçam más, não as rejeite." (TAO 62) O Tao aconselha a tolerância, não por fraqueza, mas como forma de preservar nosso poder. A condenação nos fragmenta como grupos e indivíduos. Escolhendo a separação, perdemos nossa união com o Tao; com a tolerância, nós a reconquistamos. Lao Tsé nos diz: "Seguir o Tao traz compaixão. Compaixão traz tolerância. Tolerância traz força. Força significa harmonia com a natureza; Harmonia com a natureza significa união com o Tao. Unido com o Tao, você tem poder E sua vida estará livre do mal." (TAO 16) 234

PERGUNTA TAO

Enquanto procuramos viver mais pacificamente, é bom perguntarmos a nós mesmos: Será que isto (pensamento, ação) produz maior separação ou maior paz? Vamos desenvolver o poder curativo do tz'u focalizando o crescente potencial para o bem em nós mesmos e nos outros. ALÉM DA RAIVA Quando seguimos o Tao, reconhecemos o poder destrutivo da raiva. Expressa externamente, ela enche nosso mundo, há séculos, de conflitos violentos, crimes de paixão e todas as formas de sofrimento. Reprimida e mantida dentro de nós, abala nossa saúde, envenenando nossas mentes e corpos. Uma de nossas lições mais importantes é como tratar a raiva com sabedoria. Até fazermos isso, continuaremos a perpetrar violências contra nós mesmos e contra os outros. O Tao ensina que tudo na vida é feito de energia. A raiva é uma energia muito poderosa. Não podemos ignorá-la porque, em última instância, ela acaba por se expressar, prejudicando a nós mesmos e aos outros. Peace Pilgrim, a mulher que caminhou mais de 40.000 quilômetros numa manifestação em favor da paz, ensinou as pessoas a transformar a energia de sua raiva em ação construtiva, canalizando-a para exercícios aeróbicos ou usando-a para completar uma tarefa necessária. Atacado pela síndrome do estresse pós-Vietnã e pela dor de um divórcio, Steve precisava fazer alguma coisa para liberar sua violenta raiva. Sempre que sua ex-mulher lhe telefonava aos gritos com uma queixa, ficava histérica ou ameaçava levar os filhos de volta para a Itália, Steve saía correndo pela ma, o mais rápido que podia. As cenas voavam em torno dele, como um borrão, enquanto percorria os dois quilômetros entre sua casa e o jardim de rosas municipal. Muitas vezes, atirava-se na grama para recuperar o fôlego. Depois, exausto, mas já nos eixos, caminhava de um lado para outro e sentia o perfume das rosas antes de voltar para casa e enfrentar o problema. Liberar assim sua raiva, fazia com que Steve expelisse suas violentas emoções e clareasse a mente, além de lhe proporcionar um saudável exercício aeróbico. Da próxima vez em que se sentir zangado, pegue essa poderosa energia e a transforme. Dirija-a para trabalho ou exercício úteis: corra pelo quarteirão, arranque ervas daninhas do quintal, saia para uma 235

caminhada rápida a fim de clarear a mente — use seu corpo para expressar energia. Não vomite sua raiva em palavras e ações violentas, não dirija descuidadamente nem parta para atos de retaliação e vingança. Libere essa poderosa energia numa direção construtiva, depois volte para um espaço de amor, a fim de lidar com o problema. Nossa raiva é real. Não podemos negá-la. Mas também não devemos permitir que nos domine, ou nos vitime, perpetuando um mundo hostil. Aprender a canalizar a energia da raiva contribui infinitamente para a harmonia em torno de nós e constitui um passo decisivo a caminho da paz.

VIVER NO PRESENTE O poder do amor traz a nossas vidas uma proximidade radical. Sem nenhum tempo para fixações no passado ou preocupações com o futuro, estamos completamente aqui, em união com o momento, sem separação no tempo ou no espaço. Quando nossos relacionamentos pessoais deslizam do mágico para o mundano, tornam-se fortemente carregados de acréscimos do passado e exigências do futuro. Olhamos para a pessoa amada e pensamos: "Você não fez...", "Você não devia ter feito", "Você devia". Todas essas queixas e exigências silenciosas cimentam-se numa muralha entre as duas almas, tornando mais difícil o encontro no amor e na confiança. Talvez seja por isso que novos relacionamentos, novas amizades, trazem tanta euforia. Então não temos nenhuma história, nenhuma expectativa capaz de nos arrastar para baixo. Podemos expressar-nos livremente, partilhando nosso potencial mais elevado. Será que não poderemos trazer essa vibração para todos os nossos relacionamentos, deixando de lado o passado, recusando-nos a alimentar velhas queixas? EXERCÍCIO PESSOAL

Existe alguém em sua vida por quem você sinta ressentimentos, por antigos males causados e desapontamentos? Este exercício removerá queixas contra qualquer pessoa, viva ou morta. • Descubra um espaço tranqüilo onde você não seja perturbado(a). Relaxe, libere qualquer tensão em seu corpo e fique sentado(a) confortavelmente, com a coluna ereta. 236

• Feche os olhos e visualize aquela pessoa sentada a sua frente. Inspire profundamente e solte a respiração. • Agora diga alto, três vezes: "Perdôo você e perdôo a mim mesmo(a)". • Torne a inspirar profundamente, solte a respiração e sinta qualquer tensão remanescente deixar seu corpo. • Agora abra os olhos. Renovado(a) e reanimado(a), volte para suas atividades habituais. Repita este exercício sempre que pensar nessa pessoa até suas emoções estarem limpas e seu coração em paz. Viver no presente nos libera da prisão das antigas mágoas e ressentimentos. Imagine como seus relacionamentos seriam mais livres, se você vivesse mais plenamente no presente. Imagine como as nações deste mundo se relacionariam, caso se livrassem dos séculos de conflitos, preconceitos e suspeitas que as dividem. Concentrando a atenção no momento presente, poderiam trabalhar juntas para solucionar nossos problemas globais da fome e da poluição. Eliminando a atribuição de culpas e as posições rígidas, poderiam dispor-se à ação construtiva, construindo pontes de paz, em vez de muralhas de hostilidade.

O CAMINHO DO SERVIÇO AMOROSO Assim como as águas de uma pura fonte da montanha lentamente limpam um lago estagnado, podemos com a circulação de energias amorosas, curar aos poucos, nosso mundo. Tina Clare nos pede para ampliarmos nossa definição de serviço. Nem sempre significa trabalho árduo ou auto-sacrifício. Um simples elogio pode mudar as energias a nossa volta. Uma palavra amável pode iniciar um novo ciclo positivo, influenciando dúzias de outras interações. As pessoas Tao, como Tina, estão conscientes da energia em torno delas. Sabem quando fazer um cumprimento, quando manifestar gratidão, quando permanecer em silêncio. Quando ela sai pelo mundo, todos os dias, pergunta qual a contribuição que pode oferecer. Recentemente, dois folhetos seus estavam sendo preparados numa movimentada casa impressora. Com o telefone tocando, duas máquinas despejando cópias e os clientes pedindo para ser atendidos, uma funcionária apoquentada tentava fazer tudo. Quando Tina entrou, olhou cheia de compaixão para a moça atrás do balcão e 237

disse: "É bom respirar". A mulher devolveu o olhar de Tina, respirou fundo, sorriu e disse: "Obrigada". Foi apenas isso. Decidida a aplicar esta lição, ontem eu me vi avançando a custo através do trânsito de San José na hora do rush, às cinco da tarde, com uma tarefa a cumprir antes de voltar para casa. Quando entrei na loja de iogurtes congelados a fim de comprar um litro para Gwilym, notei, com horror, que a loja estava cheia, com mais de uma dúzia de pré-adolescentes vestidos com camisas verde vivo, todos enfileirados para comprar copinhos de iogurte congelado. Parentes e treinadores estavam por perto, tentando organizar as coisas. Percebendo que eu podia, por um lado, sucumbir à impaciência ou, por outro, apreciar o espetáculo, optei pela segunda alternativa. Conversei com uma garota sobre os sabores e, depois, virei-me para os adultos, que pareciam cansados e arrasados. — Que time é esse? — perguntei. — Somos o time de vôlei da Escola Price — respondeu uma das treinadoras, com óbvio orgulho. — Que maravilha para os jovens fazer parte de uma equipe — falei. As duas mães sorriram e, de repente, não pareciam tão cansadas. Existe uma vantagem oculta em servir, descobri. É tão bom que dá energia tanto a quem oferece quanto a quem recebe. Na verdade, não tenho plena certeza de quem foi o verdadeiro recebedor, em minha experiência tz'u. Todos parecíamos felizes e mais cheios de energia. Depois, outro cliente entrou e perguntou se eu fazia parte da equipe. Eu disse que não. Mas, talvez, em outro sentido, eu faça. Porque, como diz o Tao, somos todos um só.

NOTAS 1. Informações sobre t'zu e taoísmo, de Hoff, em The Way to Life, p. 77. 2. Para a explicação do Chuang-Tsé, ver: Livro XXV, The Texts of Taoism, de Legge, p. 5553. Erich Fromm, The Art of Loving (Nova York, Harper & Row, 1956), p. 1. 4. Ver Hua-ching Ni, Tao: Tlie Subtle Universal Law, p. 126. 5. Carl Jung, comentário, The Secret of the Golden Flower: A Chinese Book of Life, trad. de Richard Wilhelm (Londres: Kegan Paul, 1945), p. 96. 6. Informações extraídas de uma entrevista com Tina Clare, no Center of Light, Los Altos Hills, Califórnia em maio de 1989. Meditação adaptada com permissão do audioteipe gravado com ela, Silence in the Heart: Meditations for Inner Growth and Relaxation (Los Altos Hills: Clarity Productions, ©1989)- Para maiores informações sobre fitas ou aulas, escrever para a Clarity Productions, The Center of Light, 12620 La Cresta Drive, Los Altos Hills CA 94022. 7. Gerard G. Jampolsky, Love is Letting Go of Fear (Berke\ey. Celestial Arts, ©1979), p. 34. Usado com permissão do autor e do editor. 8. Peace Pilgrim: Her Life and Work in Her Own Words (Santa Fé: Ocean Tree Books, P.O. Box 1295, Santa Fé NM 87504 e Friends of Peace Pilgrim, 43480 Cedar Avenue, Hemet CA 92344. Sou grata a Peace Pilgrim por me introduzir nessa poderosa lição sobre a recanalização da energia da raiva.

Afirmação Agora sei que minha vida é tranqüila e harmoniosa. Vivo com compaixão. Amo e alimento a mim mesmo(a). Não critico a mim mesmo(a) nem aos outros. Canalizo minha raiva para escoadouros construtivos. Vivo no presente, libero o passado. Estendo os braços para servir amorosamente. Respeito a mim mesmo(a) e ao processo. Harmonizo-me com a natureza e com todos os demais em meu mundo. Agora recebo uma paz em minha vida. E assim seja. 238

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CAPÍTULO 20

AÇÃO HARMONIOSA:

Wu WEI O caminho para a luz maior atravessa a escuridão. Seguir em frente dá a impressão de recuar. O caminho plano parece acidentado e escarpado, O poder mais elevado, um vale de fácil acesso. (TAO 41)

Tao está cheio de paradoxos. Muitas vezes é irracional, ilógico: "Seguir em frente dá a impressão de recuar... O poder mais elevado, um vale de fácil acesso". Isto se torna mais evidente no conceito de wu wei. Wu wei significa ação harmoniosa, mas, muitas vezes, parece inação, porque não é o que esperávamos. Em vez do caminho dominador e impositivo do ego, wu wei é uma ação da consciência em união com o Tao. Algumas vezes, significa esperar pelo momento certo, outras vezes, agir de forma espontânea e intuitiva. Como Thomas Merton explicou, wu wei "não é uma manipulação violenta da realidade exterior e o 'ataque' ao mundo exterior, dobrando-o à (nossa) vontade de conquista", mas ação "em harmonia com o poder oculto que impele este planeta e o cosmos".1 Wu wei transcede os modelos imaturos do egoísmo caprichoso que, com tanta freqüência divide nosso mundo e viola a ordem natural. Seguindo wu wei, cooperamos com a natureza para restabelecer a harmonia.

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Este capítulo nos dará uma compreensão mais profunda de wu wei, com a descrição de seus três atributos: 1) ação harmoniosa, 2) atitude não violenta e 3) atenção ao processo.

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AÇÃO HARMONIOSA Wu wei flui naturalmente da visão holística do Tao. Quando vemos a nós mesmos como parte de um todo mais amplo, cooperamos com os ritmos da vida. Para os taoístas, esta cooperação era o estado original do mundo. Chuang-Tsé nos diz: "Na era da perfeita virtude, os homens viviam em comum como os pássaros e os animais e estavam em termos de igualdade com todas as criaturas, como se formassem uma família". Com tal visão, empenhamo-nos naturalmente em proteger a vida neste planeta. Entrar em ação conduz, por sua vez, a um reconhecimento mais profundo de nossa unidade com a vida, ampliando a nossa visão, coragem e engajamento. Em suas missões de resgate de baleias, os membros do Greenpeace experimentaram comunhões misteriosas e quase místicas. Robert Hunter descreve um incidente desse tipo. Colocando-se na água entre as baleias e seus atacantes, os membros do Greenpeace tinham acabado de salvar cinco baleias da ação de um baleeiro russo. Na manhã seguinte, um dos membros comemorou o fato cantando uma canção no tombadilho. A música fluiu, pelos alto-falantes, por sobre as ondas agitadas. De repente, cinco baleias apareceram no horizonte e se aproximaram do barco do Greenpeace. Chegaram mais peito, saltando para a superfície soltando repuxos, movimentando-se no ritmo da música. Rodearam o barco por quase uma hora. Depois seguiram adiante, pararam e ergueram suas grandes cabeças na superfície, com os olhos enormes no nível do barco, enquanto ele passava. A tripulação ficou silenciosa no tombadilho. "Foi como se as baleias nos saudassem", disse Robert Hunter. "As baleias nos saudaram. Foi uma ação consciente e deliberada da parte delas". Depois, as baleias mergulharam e desapareceram no mar, emergindo outra vez, bem distantes, no horizonte. Enquanto a tripulação observava, choveu um pouco e um arco-íris apareceu por cima das baleias.3 Uma surpreendente sincronicidade de arco-íris, música e baleias afirmou algo que a lógica não pode explicar. Por que as baleias aproximaram-se tanto de um barco tão parecido com os temidos baleeiros? Era como se conhecessem aqueles que as ajudaram — e lhes agradecessem —••, como se o trabalho do Greenpeace fosse abençoado pelas baleias, pelo arco-íris e pela unidade da vida. 242

As antigas religiões sempre ensinaram a reverência pela vida e o respeito pelos ciclos naturais: fluxo e refluxo da maré, inverno e primavera,yin e yang, que fazem parte de toda a existência. Os cultos egípcios do mistério equiparavam os ciclos da vida com o mito de ísis e Osíris e as variações anuais do Nilo. Os druidas celebravam a mudança das estações acendendo fogueiras na escuridão do inverno e afirmando a volta da primavera com os fogos de Beltame. Os americanos nativos tinham celebrações rituais das estações e consideravam os campos de caça sagrados, fazendo orações antes de tirar qualquer vida animal. O Velho Testamento recomenda aos judeus e cristãos que sejam bons guardiães da natureza, que cuidem do Jardim do Éden, nosso lar terrestre, e o protejam, (Gênesis 2:15). Os budistas ensinam a reverência pela vida e pelos sistemas naturais. Se afirmamos o que E.F. Schumacher chamou de "economia budista", encararemos a natureza com sabedoria e cuidado, evitando submetê-la a uma irresponsável exploração. O que agora é prática comum — a poluição irracional e o uso excessivo dos recursos não-renováveis — seria encarado como "ato(s) de violência". Praticaríamos wu wei — resistência passiva e respeito pela natureza — em todos os aspectos de nossas vidas. Os hindus defendem também a resistência pacífica, sustentando o princípio do ahimsa, que inspirou Mahatma Gandhi. Ahimsa significa viver intensamente de forma a não danificar outras formas de vida: indivíduos, animais e meio ambiente. Gandhi era um vegetariano estrito e vivia o mais simplesmente possível, praticando suas crenças nos mais mínimos rituais de vida diária. Wu wei nos ensina a trabalhar com as leis naturais e não contra elas. Os taoístas vêem a natureza como um sistema equilibrado, que perpetua a si mesmo. Quando acontecem catástrofes, acreditam que é porque as pessoas perturbaram esse equilíbrio.5 Recentemente, os cientistas reconheceram essa lição do Tao nos campos da energia e da ecologia. A Primeira Lei da Termodinâmica nos diz que "a energia não é nem criada nem destruída. Meramente muda de uma forma para outra". Com esta visão reconhecemos a loucura de desperdiçar valiosas fontes de energia. Reciclando, cooperando com os ciclos da natureza, podemos usar repetidas vezes os produtos do vidro, do estanho e do papel, sem exaurir nem poluir nosso meio ambiente. Num ecossistema equilibrado, as plantas e os animais vivem juntos com aquilo que Fritjof Capra chamou de "uma combinação de 243

competição e mútua dependência".7 Os predadores mantêm as outras espécies sob controle, conservando o equilíbrio. Quando qualquer espécie excede seus limites, sobrevêm a fome e a destruição. Cada sistema tem seus limites ou "capacidade de transporte".8 Uma área da terra pode sustentar apenas uma certa quantidade de vida. Número excessivo de uma determinada espécie causa o colapso de todo o sistema. Esta lição é clara para qualquer pessoa que já tenha criado peixes tropicais. Um tanque de peixes é um pequeno ecossistema, onde o equilíbrio é decisivo. Quando montei meu aquário pela primeira vez, não conseguia entender porque os peixes morriam. A água estava clara, os peixes pareciam saudáveis e, sem dúvida, lhes dávamos comida suficiente. Mas, como o tanque era novo, a água estava demasiado limpa. Um tanque "maduro", aos poucos, desenvolve bactérias benéficas suficientes para diluir os detritos dos peixes. O nosso não tinha. E também havia a comida. Sem comida suficiente, os peixes morrerão. Mas comida em excesso cai no fundo e polui o tanque. Quando já havíamos absorvido a questão das bactérias e da comida, e nosso tanque estava estabilizado, compramos mais peixes. Errado, outra vez. Uma comunidade harmoniosa requer o número certo de peixes. A capacidade de carga de qualquer tanque é de 2,5 cm de peixes por galão de água: no nosso caso, oito peixes pequenos era o máximo. Excedendo-se este número vem o desequilíbrio, a poluição e a doença. Nosso equívoco final foi juntar o tipo errado de peixes. Alguns peixes simplesmente não são bons vizinhos. Nossos dois anjos-do-mar brancos eram lindos, mas eram muito malvados, atacando e matando os pacíficos peixinhos antilhanos. Finalmente, nós os tiramos do tanque e os levamos de volta para a loja especializada. Nosso tanque estava agora estabilizado: peixes antilhanos de caudas vermelhas e neons com listras azuis e vermelhas nadam de um lado para outro, formando desenhos coloridos, enquanto dois bagrinhos brancos comem os detritos do fundo do tanque. Um bagre estava apático e solitário, então conseguimos outro para lhe fazer companhia. Agora todos parecem felizes, mas equilibrar todo os sistemas não foi fácil. Depois de minha experiência com o aquário comecei a imaginar qual a capacidade de carga de minha comunidade. Todos os dias, ao que parece, mais casas e prédios de escritórios são construídos, mais espaço aberto desaparece, mais pessoas mudam-se para cá. 244

()s construtores estão atarefados fazendo transações, os negócios se expandem rapidamente, mas será que alguém já parou para considerar quantos residentes esta área pode conter, antes que nós, também, comecemos a nos destruir mutuamente, poluindo nosso tanque? Em escala global, todos nós precisamos respeitar nosso frágil ecossistema, reconhecer a capacidade de carga limitada da Terra e trabalhar em favor de um controle responsável da população. A população mundial mais do que duplicou durante meu tempo de vida, aumentando de 2,5 bilhões em 1951 para 5 bilhões em 1987 e, se continuar a tendência atual, chegará a 8,4 bilhões por volta de 2025. Sem dúvida, nosso direito à vida neste planeta só durará enquanto praticarmos a sabedoria do wu wei, respeitando outras formas de vida e reconhecendo nosso lugar na complexa teia da vida. ATITUDE NÃO VIOLENTA Há muito tempo a água é um símbolo para a ação do wu wei. Flui naturalmente, adapta-se a seu ambiente, porém, possui uma tremenda força. Como o Tao explica: "Nada na terra É mais suave e complacente do que a água, Porém, nada é mais forte. Quando ela se defronta com uma muralha de pedra A suavidade supera a dureza; O poder da água prevalece." (TAO 78) Você já viu o Grand Canyon, talhado pelo rio Colorado através de quilômetros de pedra sólida? E as cavernas carlsbad, ou as Cavernas Mammoth, com suas surpreendentes estalagmites e estalactites, criada à medida que a água depositava minérios, gota por gota, ao longo dos séculos? Esses são monumentos da natureza ao poder e à persistência da água. Como a água, a atitude de resistência passiva, do wu wei é a suavidade que vence a dureza da pedra. A força do amor e da compaixão pode ultrapassar incríveis obstáculos. Você já desarmou alguém com um inesperado ato de compaixão? Com a idade de 16 anos, Gary começou a namorar Maureen, que era dois anos mais velha. Ele sabia que ela se encontrava com Hank, 245

um jovem Fuzileiro Naval que estava fora, em missão, mas não sabia que estavam noivos. Quando Hank voltou para casa e soube que sua noiva estava namorando outra pessoa, ficou furioso. Foi atrás de Gary, planejando arrebentá-lo de pancadas. Quando o encontrou, berrou: "Você sabe quem eu sou? Sou Hank Stevens!" Hank, sem dúvida parecia perturbado com alguma coisa, pensou Gary, então estendeu a mão e apertou a dele. "Prazer em conhecê-lo", disse. "Já ouvi falar tanto a seu respeito". Hank ficou ali, estupefato. Todo o ódio desapareceu. Devagar, deu a volta e se afastou. No ano seguinte, Hank casou-se com Maureen. Gary entrou para a universidade e, mais tarde, tornou-se um bem-sucedido diplomata, aplicando o poder do wu wei aos confrontos políticos. Analisaremos o uso político do wu wei no capítulo seguinte, mas, primeiro, vamos descobrir como funciona em nível pessoal. Wu wei transcende o ego. Consciente dos ciclos naturais, uma pessoa Tao não força sua vontade sobre os acontecimentos; empatiza e coopera, trabalhando com os ciclos naturais. A empatia de Gary com Hank rompeu as muralhas da raiva e da trapaça, defendendo-o, ao desarmar seu adversário. Usando wu wei, um mestre aikido responde às energias de seu adversário, neutralizando-as com um espontâneo bloqueio ou virada. Como os mestres das artes marciais, as pessoas Tao respondem sabiamente às energias a sua volta. Não se opõem intencionalmente a elas, mas buscam suas possibilidades mais amplas.

O PODER DA CONFIANÇA O Tao diz: "Se você não confia em outras pessoas, Os outros jamais confiarão em você." (TAO 17) Como a água talha as pedras mais duras, a confiança acaba com a rigidez das defesas, construindo uma abertura maior entre as pessoas. Construindo vales pacíficos nos corações dos homens e das mulheres, a confiança os une num vínculo de paz. A pessoa Tao afirma esse poder da confiança, algumas vezes nas circunstâncias mais hostis. Porque o Tao nos diz: 246

"Seja bom com quem é bom E também com quem não é. Porque a bondade aumenta a bondade. Tenha fé nos que são fiéis E nos que não são. Porque a fé traz uma fé maior; E a bondade e a fé constroem a paz." (TAO 49) Anos atrás, a fé de Sally nas pessoas ficou muito abalada. Depois de se divorciar de um alcoólatra, ela se mudou para Seattle, a fim de iniciar uma nova vida. Mas os credores de Henry a seguiram, apresentando-lhes as dívidas que ele contraíra antes do divórcio. Então, por mais de um ano, um terço do salário de Sally foi usado para pagar as contas dele. Finalmente, a dívida foi paga mas Sally continuou zangada e ressentida. Atirou-se ao trabalho como conselheira universitária, tentando esquecer a dor. Fazendo amizade com um grupo agradável de estudantes, começou a reconquistar sua fé nos outros, mas, uma noite, essa fé foi testada. Um jovem estudante de arte chamado Pete fez uma baderna, num ato de rebeldia contra seus problemas em casa e o estresse na escola. Quando ele foi preso como bêbado e desordeiro, seus amigos foram procurar Sally. Sendo apenas estudantes universitários, eles não podiam levantar o dinheiro da fiança. Será que ela podia fazer alguma coisa para ajudar? Sally era a única com um emprego de tempo integral. As autoridades disseram que, se ela garantisse o bom comportamento de Pete, sob pena de ter de abrir mão de seu salário, eles o deixariam sair da prisão. A soma era aterrorizante: 2.000 dólares. Sufocando as dívidas, ela assinou os documentos e Pete foi liberado. Tranqüilamente, Sally lhe disse: "Estou depositando minha confiança em você. Sei que você pode ajeitar sua vida". Dessa vez, sua fé não foi mal depositada. Pete não bebeu mais, trabalhou duro e produziu algumas belas obras de arte. Dois anos depois, formou-se na universidade e iniciou uma carreira promissora. Na formatura, Sally sentiu uma sensação de leveza, seu ressentimento foi substituído pela fé nos outros e pela fé no lado positivo da vida. Não apenas a confiança, mas a sinceridade, são essenciais para wu wei. A ação não violenta só funciona quando somos sinceros, quando nossas ações vêm do coração. Ela só neutraliza a agressão quando agimos de modo consistente com nossos sentimentos. Como 247

explica um estudante de longa data do Tao, a pessoa Tao "sabe que até ser não-agressivo pode ser uma agressão, se a não-agressividade da pessoa faz os outros se sentirem inferiores".1 A maneira certa de pensar e sentir é essencial, porque wu wei funciona como as energias subliminares dentro e em torno de nós. Embora mal perceptível, uma nota de insinceridade e condescendência é captada por nosso inconsciente. Uma tentativa sem muito entusiasmo de empregar wu wei torna-se um gesto vazio, que não funciona. Ate pode aumentar os ciclos de hostilidade. Por que as efusivas tentativas de amizade de Mildred sempre soam falsas? Ela dá presentes aos colegas de trabalho, faz-lhes longos elogios mas muitos deles sentem que não podem confiar nela. "O que ela quer agora?", ficam imaginando, quando a vêem aproximar-se, pelo corredor. Embora as palavras de Mildred sejam sempre gentis, sua secretária ressente-se de seu tom condescendente. Por trás de todos os gestos amigáveis, as pessoas sentem que ela não está sendo honesta. Aprendi através de anos de aconselhamento, ensino e solução de problemas, que minhas ações só funcionam quando acredito nelas. Se não posso fazer alguma coisa de boa fé, é melhor que não faça de forma alguma. Esta lição é essencial, na prática do wu wei.

ATENÇÃO AO PROCESSO O aspecto final do wu wei é a atenção ao processo. Guiadas por uma visão do conjunto, as pessoas Tao não agem apenas por si mesmas, porque enxergam além da ilusão da separação. Yu wei, ou seja, a ação caprichosa e egocêntrica, naturalmente cede lugar ao wu wei quando reconhecemos nosso papel no todo mais amplo. O Tao nos diz: "A pessoa mais sábia Confia no processo Sem buscar controlar." (TAO 2) Considerando nossa parte no processo mais amplo, agimos de forma natural e espontânea, seguindo o caminho do tzu-jan, que, em chinês, significa tanto "natureza" como "agir naturalmente". As pessoas Tao seguem sua intuição. Unidas com a natureza, unidas com o Tao, agem naturalmente da maneira certa, na hora certa. 248

Confiando no processo, as pessoas Tao também praticam a sabedoria da regulagem do tempo. Sabem quando agir para impedir ou neutralizar ciclos negativos. O Tao nos diz: "A paz é mantida com a sabedoria do Tao, Problemas são evitados antes de surgirem. Pois o que é rígido se quebra facilmente; O que é pequeno se dispersa com facilidade. As pessoas Tao lidam com os problemas antes que eles surjam. Afirmando a ordem, evitam a confusão." (TAO 64) A sabedoria do Tao, como a do Eclesiastes, afirma que existe "um tempo para todos os objetivos sob o céu". Seguir o Tao é reconhecer os ciclos e harmonizar-se com eles. As pessoas não-Tao, como Esther, estão sempre esmagadas pelas crises. Os prazos lhe vão sendo subrepticiamente impostos no trabalho, e ela corre de um lado para outro, sem fôlego, tentando jogar suas tarefas para cima dos colegas. Como, na última hora, ela esqueceu de planejar uma reunião de diretoria, os gráficos e relatórios foram atirados sem cerimônia em cima dos funcionários de dois departamentos, prejudicando seus horários de trabalho e seu humor. Sempre que alguém vê Esther na lanchonete, dá meia-volta e se afasta, com medo de que ela tente lhe empurrar um trabalho. Embora sempre pareça terrivelmente ocupada, Esther não tem mais trabalho do que os outros gerentes. Mas é tão desorganizada que não consegue veros ciclos, as ondas de acontecimento em torno dela. A vida, para ela, é uma luta constante. Em vez de cavalgar as ondas, como uma pessoa Tao, é atirada de um lado para outro em sua esteira. A mudança da luta para a serenidade é tão próxima quanto uma mudança de atitude, um movimento no sentido da sabedoria do wu wei. Reconhecendo nossa união com o Tao, agindo em harmonia com os ciclos mutáveis, podemos também trazer maior paz para nosso mundo.

Afirmação Agora sei que minha vida é tranqüila e harmoniosa. Afirmo a sabedoria do wu wei Pratico a ação harmoniosa, a atitude não violenta e presto atenção ao processo. 249

Tomo cuidado com minha regulagem de tempo. Respeito a mim mesmo(a) e ao processo. Harmonizo-me com a natureza e com os demais em meu mundo. Agora recebo uma paz em minha vida. E assim seja. NOTAS

PARTE

5

1. Merton, The Way of Chuang Tzu, p. 43. 2. Chuang Tzu, em Legge, The Texts of Taoism, p. 326. 3. Detalhes do incidente e citação de Robert Hunter, em Warriors of the Rainbow: A Chronicle of the Greenpeace Movement (Nova York: Holt, Rinehart & Winston, ©1979). p. 339-40. Usado com permissão do autor. 4. Schumacher, Small is Beautiful, p. 60. 5. Para novas explicações, ver: Maspero, Taoism and Chinese Religion, p. 227. 6. Para a fonte desta citação e uma excelente explicação sobre energia e ecologia, ver: Miller, Living in the environment, p. 39. 7. Capra, The Turning Point, p. 279. 8. Para maiores informações sobre capacidade de carga, ver: William Catton Jr., "Overshoot: The Ecological Basis of Revolutionary Change (Urbana: University of Illinois Press, 1980). 9. Para uma discussão sobre o controle e a paz da população mundial, ver Robert Muller, "Global Cooperation", Windstarfoumal, verão de 1989, p. 15. 10. Welch, Taoism, p. 33- Ilustração da Parte 5. Caracteres chineses correspondentes a muita paz e segurança, o resultado de viver o Tao.

Ilustração da Parte 5. O Tao, o caminho da vida, paz e iluminação.

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O CAMINHO DA PAZ

CAPÍTULO 21

RESOLUÇÃO DE CONFLITOS Pratique wu wei Trabalhe sem disputas. Aprecio os sabores suaves e sutis. Observe as ações, Grandes e pequenas. E sempre Enfrente o conflito Com compaixão. (TAO 63)

urante séculos, a resposta mais comum ao conflito foi a violência: emocional, física, interpessoal e internacional, culminando com o assassinato ritualizado que chamamos de guerra. Muitas pessoas equiparam conflito com guerra e buscam a paz planejando a "perfeita" sociedade, que venha reprimir nossa individualidade na tentativa de eliminar o conflito de nossas vidas. Mas o Tao ensina que a paz não pode ser encontrada em idéias utópicas que violam nossa natureza. Quanto mais negarmos ou reprimirmos o conflito, mais lutaremos com nossas sombras, mais nos desviaremos do Tao. Não é o conflito em si, mas a maneira como respondemos a ele, que produz a violência. O Tao ensina que os valores conflitantes, os interesses em conflito, são inevitáveis, intrínsecos à vida. As polaridades do yin e do yang estão presentes em toda parte. A oposição não é algo para ser temido. Yin e yang, originalmente, significavam os lados ensolarado e sombrio de uma montanha, polaridades contrastantes combinadas na totalidade da vida. O Tao diz que:

D

"Comprido e curto se completam. Alto e baixo dependem um do outro. 253

Tom e timbre compõem juntos a harmonia. Começo e fim se sucedem." (TAO 2)

de uma luta de vida ou morte entre adversários. O choque das polaridades em competição resiste no sistema adversário de justiça, que joga autor contra réu. Questões complexas são reduzidas a falsos dilemas, com decisões de "inocente" para uma das partes e "culpado" para a outra. Em vez de sangue, este combate atualizado provoca, anualmente, o derramamento de bilhões de dólares, na maioria das vezes nos bolsos dos advogados em disputa. O velho dualismo cresce na disputa e na acusação. Como explica Chuang-Tsé:

Quando visto nesse contexto, o conflito é normal: entre pessoas, entre grupos, até mesmo entre indivíduos. Cada um de nós tem necessidades e desejos conflitantes. Experimentamos o conflito entre o desejo e a consciência •— ou, como explica Freud, entre id e superego — e a realidade, muitas vezes, entra em conflito com nossas expectativas. Enfrentar o conflito é a maneira de aprender. Segundo os psicólogos desenvolvimentistas, é a base de todo o pensamento, da forma de solucionar os problemas, da criatividade e do desenvolvimento pessoal. Através da dissonância cognitiva — quando a realidade externa choca-se com o nosso sistema de crenças — ganhamos novas idéias e descobrimos coisas novas. As velhas crenças são sempre desafiadas por novas descobertas. Quando isto acontece em nível de sociedade, temos uma mudança de paradigma. No Renascimento, quando Galileu desafiou a velha visão geocêntrica da Terra como o centro do universo, a humanidade ocidental descobriu aos poucos um sistema solar que mudou para sempre nossa visão do cosmos e de nós mesmos. Através do conflito, muitas vezes aprendemos a ver mais claramente.

A solução dos conflitos através do combate deixa-nos tateando na escuridão. Não é o caminho do Tao.

PARA EVITAR O DUALISMO

EXERCÍCIO PESSOAL: COMO ACABAR COM O J O G O DE CULPA

O Tao ensina que o conflito faz parte dos ciclos evolutivos da vida. Mas, quando polarizamos a oposição em termos de "nós contra eles", vendo a nós mesmos como "bons" e a nossos adversários como "maus", caímos na falácia lógica do falso dilema, perdendo a totalidade do Tao. Quando somos apanhados no dualismo, invariavelmente o conflito se transforma em combate. Temerosos e defensivos, projetamos nossas sombras negativas sobre nosso adversário, a quem vemos como a causa de todos os nossos problemas. Definimos a solução dos conflitos como uma questão de "ganhar" ou "perder", derrotar nosso adversário ou ser derrotados. Todas as outras opções se desvanecem e, em vez de usar nossas energias para solucionar o problema, voltamos furiosos contra quem percebemos como "inimigo". O dualismo afetou nosso sistema de justiça, pois remonta ao "julgamento por combate" medieval, que resolvia os conflitos através 254

"Admitindo que você e eu discutamos. Se você levar a melhor, e não eu, Estará você necessariamente certo e eu errado? Ou, se eu levar a melhor e não você, Estarei necessariamente certo e você errado? Ou estaremos ambos em parte certos e em parte errados? Ou estaremos ambos inteiramente certos e inteiramente errados? Como você e eu não podemos saber, Vivemos todos na escuridão."²

Da próxima vez em que você se descobrir culpando alguém, em vez de tentar solucionar um problema, pare e pergunte a si mesmo(a): "Esta é minha sombra?" Tudo aquilo que você teme nos outros, ou que lhe desagrada neles, em última instância volta a apontar para você mesmo(a). Dedique tempo para se centralizar, examinar seus pensamentos e sentimentos. O que você realmente teme, ou o que lhe desagrada? Trabalhe para melhorar esses traços em si mesmo(a) e se tomará mais centralizado, menos crítico, capaz de enfrentar os conflitos com sabedoria e distanciamento. À medida que as pessoas percebem que os combates não podem solucionar os problemas, buscam alternativas mais saudáveis. Alguns advogados com visão avançada estão usando a arbitragem e a mediação para resolver as disputas legais. As empresas e universidades progressistas passaram a adotar o conceito sueco de ombudsman, um indivíduo contratado para resolver os conflitos internos. 255

COMO PARAR DE FAZER INIMIGOS A antiga percepção do conflito como combate apenas torna nossa visão mais estreita, limita nossas escolhas, puxa-nos para intermináveis lutas entre polaridades em competição. O Tao nos di2: "Não existe maior desastre Do que fazer inimigos, Pois assim você perde seu tesouro, Sua paz. Quando surge o conflito, Sempre prevalece a compaixão." (TAO 69) Fazer inimigos causa a perda de nosso poder, impede-nos de assumir a responsabilidade por nossas vidas. Em vez de solucionar os conflitos, concentramos nossa atenção no medo, na raiva e nas invectivas contra supostos "inimigos". Fazer inimigos acontece em todos os níveis, do interpessoal ao internacional. Ainda na semana passada, minha amiga Penny envolveu-se num conflito com um criador de cães, em torno do contrato de compra de seu collie, North Star. Ele comprara seu cãozinho cerca de seis meses antes e ainda não recebera o contrato de Zack Edwards, que cria collies em sua fazenda no Colorado. Quando o contrato finalmente chegou, declarava que Edwards reservava-se o direito de usar o cão de Penny como reprodutor. Penny sentiu-se traída e violentada, com medo de que, a qualquer momento, Zack chegasse de caminhão e levasse seu cachorro. Quando viu que não conseguia localizá-lo pelo telefone, chamou todos os criadores de cães da cidade. Uma mulher lhe disse que era melhor ela chamar um advogado; outra, que, se ela não assinasse o contrato, Zack poderia lhe tomar o cachorro. Finalmente, Penny me chamou. Será que eu não conhecia um bom advogado. Já telefonara para dois, que lhe disseram que havia motivos para um processo. Ela poderia processar o criador por quebra de contrato verbal. Mas Penny não queria ir para a justiça. Só queria seu cachorro. — Você tem mesmo certeza de que Zack Edwards quer essa cláusula no contrato? — perguntei. — Você já falou com ele? — Não — respondeu. •— Ele deveria ter me ligado de volta, mas não ligou ainda. — Ora, antes de começar a processá-lo, você realmente devia 256

investigar bem os fatos. Antes de serem assinados, os contratos são documentos negociáveis. Você precisa conversar — falei. — E tente não vê-lo como inimigo. Esse caso todo pode ser um mal entendido. E não houve dúvidas: dois dias depois, Zack telefonou e se desculpou. Enviara-lhe um contrato errado, que se destinava apenas aos outros criadores. Disse a Penny para eliminar a cláusula que causara o problema. O cão era dela. Como Penny aprendeu, solucionar os problemas, muitas vezes, significa olhar além de nossos medos, em busca dos fatos. Dedicar algum tempo para descobrir a verdade impede que muitos conflitos se transformem em combates. Nossa resposta aos conflitos determina a forma de nosso futuro. Se definirmos conflito como combate, produziremos violência. Se reagirmos com medo, paralisaremos a nós mesmos ou nos recolheremos na rigidez e na posição defensiva. Nosso desafio é ver o conflito sem estreitar nossa visão, permanecer flexíveis, abertos a muitas opções. O Tao nos lembra que: "Todas as plantas novas são macias e flexíveis. Ao morrerem, são quebradiças e secas. Quando estamos duros e rígidos, Associamo-nos com a morte. Quando estamos macios e flexíveis, Afirmamos uma vida maior." (TAO 76) Como podemos responder ao conflito da mesma forma que o próprio Tao, combinando todos os elementos em modelos criativos de renovação? É o que investigamos neste capítulo, aprendendo ao mesmo tempo a: 1) afirmar o Te, 2) procurar maior clareza e 3) praticar a política da resistência passiva.

AFIRMAÇÃO DO TE Centralizados e unidos ao Tao, respondemos com sabedoria e distanciamento. Como já aprendemos, Te é o poder do Tao, a sabedoria que ultrapassa o ego e nos guia para a ação correta. Quando agimos com Te, permanecemos calmos e concentrados. Trabalhamos com os ciclos da vida, em vez de trabalhar contra elas, e enxergamos além dos modelos do medo, da confusão, além das 257

posições defensivas e das agressões. Mas, para afirmar Te, devemos distanciar-nos do conflito por um tempo suficientemente longo para nos centralizar, voltando à infinita sabedoria do Tao.3

EXERCÍCIO PESSOAL: CENTRALIZAÇÃO Da próxima vez em que for apanhado(a) num conflito, faça este exercício de centralização: • Saia sozinho(a) por alguns minutos. Distanciando-se do conflito por um tempo suficientemente longo para voltar a concentrar suas energias. • Fique em pé, com os joelhos ligeiramente dobrados e os braços relaxados, estendidos a sua frente, no nível da cintura. • Concentrando a atenção em seu hara, cinco centímetros abaixo do umbigo, inspire profundamente. • Agora, solte a respiração, liberando toda a tensão e ansiedade. • Inspire mais urna vez, concentrando-se no hara, inspirando aos poucos novas energias. • Agora, solte a respiração, sentindo-se centralizado(a), relaxado(a), em paz.

Depois de um curto espaço de tempo, você será capaz de se centralizar apenas concentrando-se no hara, enquanto inspira profundamente. De forma rápida e sem esforço, você pode se centralizar em qualquer situação.

PARA ALCANÇAR A CLAREZA Com o Te vem a clareza, a capacidade de ver além dos problemas e divisar soluções. Quando estamos centralizados, nossos medos não ampliam mais nossos problemas, fazendo com que vejamos as outras pessoas como inimigos. Penny alcançou a clareza conversando comigo. Eu, muitas vezes alcancei-a fazendo o exercício respiratório, conversando com uma pessoa centralizada, meditando, escrevendo meu diário ou trabalhando no jardim — qualquer coisa que me tire do conflito imediato e me traga de volta para o centro, de volta para o Tao. Com a clareza, enxergamos novas possibilidades, novas soluções. 258

A POLÍTICA DE RESISTÊNCIA PASSIVA Do ponto de vista pessoal ou político, o Tao ensina o caminho da não-violência, a solução dos conflitos através da resistência passiva. Uma pessoa Tao sabe que a ação agressiva só faz perpetuar a violência em nosso mundo: "O líder sábio Não escolhe a agressão Para conquistar pela força Pois isto só traz resistência. Ele sabe que, onde marcham os exércitos, Crescem espinhos e sarças E anos de carência se seguirão. O líder sábio pára Ao alcançar seu objetivo, Sem se vangloriar da conquista Nem jactar-se da vitória. Trabalha com os ciclos naturais E não usa a violência. Agressão resulta na perda de força E viola o Tao. Tudo o que viola o Tao Não resistirá." (TAO 30) O líder Tao neutraliza os ciclos negativos praticando a política do wu wei. Ao longo dos anos, sempre houve muitos a trilhar esse caminho, de Thoreau a Gandhi e a Martin Luther King, afirmando a unidade e a compaixão. Suas ações incluem-se em duas categorias: 1) testemunhar a favor da verdade e 2) adotar a resistência passiva.

O TESTEMUNHO A FAVOR DA VERDADE Testemunhar é uma afirmação do princípio taoísta da unidade. Os Quakers, que têm uma longa tradição de testemunho, acreditam que, ao reconhecermos uma injustiça em nosso mundo, este conhecimento se toma parte de nós. Não podemos mais virar as costas e permanecer na ignorância. 259

O testemunho assume muitas formas. Pode significar participar de manifestações ou escrever cartas para apoiar sua causa. Durante as décadas de 1970 e 1980, um número crescente de grupos ecológicos prestou testemunho em favor da preservação de nosso meio ambiente. As pessoas fizeram manifestações contra armas nucleares, amarraram-se em árvores para impedir a destruição das florestas, fizeram circular abaixo-assinados e realizaram campanhas enviando cartas. Organizações como o Greenpeace dramatizaram o suplício das baleias, das focas e de outros animais em perigo de extinção. O objetivo dessas ações é despertar consciências, promover maior clareza. Testemunhar é o primeiro passo para a solução de qualquer grande problema, porque precisamos entender primeiro, e só depois agir eficazmente. À medida que os meios de comunicação de massa transformam o planeta numa aldeia global, testemunhar torna-se uma força de mudança poderosa. Jornais, rádios e televisão ligam-nos a todos numa rede planetária, uma teia de consciência interligada. Um acontecimento do outro lado do planeta é regularmente transmitido para bilhões de salas de estar, tornando a unidade da vida uma experiência cotidiana. O Greenpeace usa o poder dos meios de comunicação de massa, acreditando que a "consciência, em si, é a cura. Se uma consciência maciça se desenvolvesse em torno do problema das focas, o problema seria resolvido". O membro fundador, Robert Hunter, disse que "se fossem necessários loucas proezas para atrair o foco das câmaras, que, depois, é dirigido para milhões e milhões de cérebros, então loucas proezas era o que faríamos. Porque, no momento em que fosse atraída a atenção das câmeras dos meios de comunicação de massa, percepções novas e vitais passariam para as mentes de pessoas que queremos alcançar no mundo inteiro. Os meios de comunicação de massa são um caminho para fazer com que milhões de pessoas prestem testemunho de uma só vez." A Anistia Internacional presta testemunho no mundo inteiro em relação ao problema dos prisioneiros políticos. A cada dois meses, a Anistia envia uma lista de prisioneiros por questões de consciência a seus membros, que escrevem cartas para líderes políticos dos países envolvidos. Ao longo dos anos, centenas de pessoas presas por suas crenças religiosas ou políticas foram liberadas. Suas condições melhoraram depois que as autoridades receberam as cartas, pois elas perceberam que, no mundo inteiro, havia pessoas atentas a suas atitudes.5 Na América, os Quakers realizam uma ativa campanha de envio de cartas para promover uma política mais humana. Conscientes de 260

que as autoridades eleitas devem ser responsáveis perante os eleitores, os Quakers apelam não apenas para a consciência, mas também para o pragmatismo político. Recomendam o desenvolvimento de relacionamentos a longo prazo com os representantes eleitos e o envio de agradecimentos por votos importantes. Minha amiga Barbara leva muito a sério seu testemunho. Ela se mantém atualizada em torno de questões importantes e escreve cartas — às vezes, até seis por dia — para autoridades do governo. Com um sorriso, diz que "ser uma Quaker é uma verdadeira responsabilidade". Costumo encontrar bilhetes seus em minha caixa de correspondência, quando vai ocorrer uma votação importante. Algumas vezes, ela deixa informações sobre boicotes dos consumidores ou sobre o trabalho em favor da justiça social. O testemunho de Barbara produz resultados. Recentemente, ela mobilizou todos os seus amigos para telefonarem ao deputado estadual Chuck Quackenbush, que deu o importante voto decisivo para a proibição dos fuzis semi-automáticos na Califórnia. Mas igualmente importante é o poder do exemplo pessoal. Por causa de Barbara, agora tenho uma assinatura do Friends Washington Newsletter, o que me faz permanecer informada e escrever cartas sobre questões importantes. Por causa de Barbara, um outro colega interessou-se pelas pessoas sem teto, e vários estudantes estão agora trabalhando em abrigos locais e serviços de distribuição de sopa gratuita. Com sua disposição amistosa e seu espírito generoso, Barbara tornou-se a consciência de nosso departamento, gentilmente ajudando todos nós a nos tornarmos mais responsáveis do ponto de vista social, mais preocupados com o mundo em que vivemos. EXERCÍCIO PESSOAL: ESCREVER CARTAS POLÍTICAS Escrever para autoridades do governo é uma maneira simples de testemunhar por uma causa na qual você acredita. Estas dicas vão animá-lo(a): • Escolha uma ou duas questões. Estude-as em profundidade e descubra como os parlamentares que você elegeu se posicionam diante delas. • Desenvolva um plano de ação. diga aos amigos o que você está fazendo e encoraje-os a se unirem a você. • Escreva cartas curtas, oportunas, aos parlamentares que você ajudou a eleger, concentrando-se num assunto de cada vez. Lembre-se: cartas pessoais têm impacto muito maior do que cartas-padrão. 261

• Acompanhe os votos de seus parlamentares e agradeça-lhes por tomarem medidas positivas, ou continue a registrar sua preocupação. • Encontre-se com os parlamentares de sua escolha quando estiverem em seu distrito. Leve junto outras pessoas interessadas para discutir a questão em que você está envolvido(a), preparando-se antecipadamente para o encontro. • Continue a aprender e a se comunicar. Sua voz pode realmente ajudar a mudar as coisas.

AÇÃO NÃO VIOLENTA Ao longo dos anos, pessoas corajosas têm praticado a ação não violenta, usando a compaixão e o interesse pela verdade para neutralizar os ciclos de agressão e injustiça social. A ação política não violenta assume muitas formas: desde os suaves protestos simbólicos, vigílias e manifestações pacíficas, até a ação direta, como boicotes, greves e campanhas de não-cooperação que imobilizam a oposição. Um exemplo radical destas últimas é a desobediência civil: violar deliberadamente uma lei injusta, para afirmar um princípio moral mais elevado. Os que praticam a desobediência civil já foram detidos e presos, mas seu exemplo tocou a consciência das nações. Henry David Thoreau escreveu: "Sob um governo que prende qualquer um injustamente, o verdadeiro lugar para qualquer homem justo é também numa prisão.' Thoreau foi preso, durante um curto período, por se recusar a pagar impostos que apoiavam a escravidão e a Guerra Mexicana. Martin Luther King, Jr. escreveu na prisão de Birmingham que "temos não só uma responsabilidade legal, como também moral, de obedecer às leis justas. Inversamente, temos uma responsabilidade moral de desobedecer às leis injustas", chamando a lei injusta de "ausência de lei". Numa afirmação de unidade, ele disse que "a injustiça, seja onde for, é uma ameaça para a justiça em toda parte. Somos apanhados numa rede inescapável de reciprocidade, amarrados numa roupa única do destino. Tudo o que afeta diretamente a pessoa afeta tudo, indiretamente".8 Protestando contra as leis injustas, afirmando a unidade de toda a experiência humana, aqueles que praticam a política do wu wei demonstram três importantes lições do Tao: 1) clareza, 2) compaixão e 3) uma visão da unidade. Os resultados de suas ações afirmam o poder da liderança moral. 262

PARA PROMOVERA CLAREZA Antes de entrar em ação, os líderes morais, como King e Gandhi, pediam a seus seguidores para investigar os fatos, negociar com os adversários e ficar preparados para agir no espírito da não violência. Reconhecemos aqui os passos da clareza e da centralização, discutidos anteriormente. Porque a pessoa precisa saber da verdade e estar em paz, interiormente, para praticar a política do wu wei. King e seus adeptos realizavam mesas de debates sobre a não violência, passando por "um processo de autopurificação". Perguntavam uns aos outros: "Você é capaz de suportar golpes sem retaliação?" "Você é capaz de suportar o suplício da prisão?"9 Gandhi ensinou as pessoas a praticar ahimsa, ou a compaixão amorosa, e a tratar os adversários com respeito e interesse, olhando além da causa que os dividia, para que pudessem ver a humanidade comum a ambos. Gandhi e King também falaram ao público em geral sobre seus objetivos e o motivo de estarem praticando a ação não violenta. Assim, incluíram os espectadores interessados como testemunhas de sua causa, aumentando a pressão sobre as autoridades para que mudassem a situação.

PARA AFIRMAR A COMPAIXÃO Superficialmente, a política do wu wei assemelha-se a muitas greves e operações-tartaruga no trabalho, bem como às manifestações não violentas e aos protestos. Mas existe uma diferença essencial: a atitude dos participantes. Muitos participaram das passeatas e defenderam seus direitos com raiva no coração, amargos, acusando hipocritamente seus adversários. Isto não é wu wei, e sim fazer inimigos, mantendo o dualismo de "nós contra eles". Essa relação agressiva só pode vencer batalhas temporárias: não pode conduzir à paz. Pois o Tao nos diz: "As pessoas do Tao Agem com compaixão E não brigam." (TAO 81) Afirmando a compaixão, Gandhi tratou todos os seres humanos com igual respeito, incluindo militares e autoridades governamentais que se opunham a ele. Condenava a não-cooperação, quando era 263

usada como expressão de sentimentos antibritânicos, acreditando que, "para uma pessoa não violenta, o mundo inteiro é uma única família. Essa pessoa, com isso, não temerá ninguém, tampouco os outros a temerão".10 Praticando essa filosofia, Gandhi espantou muitos de seus seguidores ao convidar adversários ingleses para o chá, ultrapassando as diferenças políticas em encontros em nível pessoal com eles. O que alguns irados nacionalistas indianos encaravam como uma "entrega" era apenas um outro passo na política do wu wei ou, em termos de Gandhi, satyagraha, a "força da verdade", que conduziu à vitória final sobre a opressão britânica. O ex-Secretário das Nações Unidas, Dag Hammarskjöld, reconhecia o poder da compaixão na solução de disputas. "Você só pode esperar encontrar uma solução duradoura para um conflito", disse, "se tiver aprendido a ver o outro objetivamente, mas, ao mesmo tempo, se experimentar suas dificuldades subjetivamente". Clareza e compaixão resolvem as disputas em nível mais elevado, criando uma nova compreensão entre adversários, que constrói os alicerces de uma paz duradoura. A política do wu wei transforma o conflito, que passa de combate a oportunidade de cooperação, rompendo-se assim os ciclos de violência para se construir um novo modelo de harmonia. Como percebeu Thomas Merton, "A única libertação verdadeira é aquela que liberta tanto o opressor quanto o oprimido" do que ele chamou de "tirânico automatismo do processo violento".12 Com o conhecimento de que o Tao trabalha em ciclos de energia, passamos a encarar a política do wu wei não como fraqueza em face da adversidade, mas como uma tentativa de transformar a própria dinâmica da adversidade numa nova síntese, um novo ciclo de paz. Com uma mensagem muito parecida à da caritas cristã, que guiou Martin Luther King, o Tao ensina seus seguidores: "Seja bom com aqueles que são bons E com aqueles que não são. Porque a bondade aumenta a bondade. Tenha fé nos que são fiéis E nos que não são. Porque a fé traz uma fé maior E a bondade e a fé constroem a paz." (TAO 49) 264

PARA AFIRMAR A UNIDADE Afirmando o princípio da unidade, a política do wu wei transforma o relacionamento entre adversários, ao transformar suas percepções. Para citar dois modernos teóricos políticos, o conflito passa a ser não mais um assunto de disputa, mas "um problema com que eles se defrontam em comum". Tornam-se "não contendores, mas parceiros, e sua unidade em relação a isto constitui a possível base para transcender o conflito".13 Livres da tirania do ódio e do medo, as pessoas podem trabalhar para resolver o problema, afirmando um novo senso de cooperação. Para realizar essa unidade, as pessoas vêm se dispondo a enfrentar o perigo, a brutalidade, até mesmo a morte. A campanha do wu wei já teve suas baixas. Defensores dos Direitos Civis já foram brutalmente espancados na América do Sul; os adeptos de Gandhi foram chutados, espancados, até mesmo mortos a bala por seus opressores. Praticar wu wei requer a coragem de qualquer soldado e até mais, porque não se deve lutar nem mesmo correr diante do perigo, e sim resistir corajosamente, com compaixão, pelo bem comum. Na política do wu wei, o caminho e o ponto de chegada são a mesma coisa. Um relacionamento com verdade e compaixão é a meta, e verdade e compaixão são também o único meio para chegar a essa meta. As pessoas Tao vivem esse relacionamento a cada passo do caminho, enfrentando a violência, e até mesmo a morte, como parte de um processo de mudança pelo qual sacrificariam até mesmo suas vidas. A violência usada contra eles opera daquela maneira que Gene Sharp chamou de "jiujitsu político". A opressão violenta abala o apoio do opressor, em última instância levando os ciclos de violência a um término.14

O PODER DO WU WEI O Tao nos diz que: "Ao nos depararmos com uma muralha de pedra, A suavidade vence a rigidez; O poder da água prevalece." (TAO 78) Aqueles que praticam a política do wu wei inspiram-se neste poder paradoxal: cedendo, vencem grandes obstáculos. Gandhi levou a Índia 265

à independência sem a tecnologia moderna, sem armas nem apoio econômico. Nessa campanha do satyagraha, ele mobilizou os únicos recursos de que dispunha: um país com 300 milhões de pessoas, com fortes valores espirituais. Lenta, pacientemente, a satyagrahis de Gandhi tocou os corações de seus opressores britânicos, até que eles se retiraram, libertando a Índia e a si mesmos da contínua injustiça. Durante a campanha pelos Direitos Civis na América, as pessoas aprenderam que a segregação era errada, uma contradição de sua própria democracia. Com as passeatas e protestos que infatizavam a injustiça, as leis começaram a mudar, liberando as almas de muitos negros, e brancos também, dos grilhões do medo e da discriminação. Alguns céticos argumentam que se a não violência só pode prevalecer em exemplos selecionados, que ela não tem poder nenhum contra a desumanidade de um Hitler. Entretanto, a história prova que estão errados, considerando-se as sucessivas campanhas de wu wei praticadas contra os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Os dinamarqueses protestaram contra a ocupação nazista de seu país, em 1940, com a não-cooperação social, política e econômica, resistindo a tentativas de incorporá-los à Nova Ordem de Hitler. Empenharam-se em operações-tartaruga no trabalho, boicotaram os concertos alemães em favor de festas da comunidade, em que se cantava a música dinamarquesa tradicional. Quando os nazistas ordenaram que os judeus dinamarqueses usassem a estrela de David, um grande número de outros dinamarqueses, a começar pelo próprio rei, apareceram usando a estrela. Recusaram-se a executar as ordens nazistas para que fossem tomadas medidas repressivas contra os judeus, ajudando mais de sete mil deles a fugir para a Suécia; e, em agosto de 1943, entraram em greve contra o governo 15

de ocupação. A não-cooperação com as ordens dos nazistas ocorreu até mesmo entre as fileiras alemãs. Na França ocupada, um jovem guarda nazista deixou um funcionário de socorros (um Quaker americano) atravessar um posto de controle na fronteira sem apresentar salvoconduto. Anos antes, no fim da Primeira Guerra Mundial, Quakers americanos tinham enviado alimentos para sua família, e o jovem alemão sentia um contínuo elo de boa vontade para com essas pessoas, agora supostamente os "inimigos" do Reich. A não-cooperação com os alemães operou em escala ainda mais ampla na Noruega, que, no fim da Primeira Guerra Mundial, abrigara centenas de crianças alemãs para salvá-las da fome. O Reich de Hitler enviou dois navios de guerra, com jovens soldados nazistas que 266

haviam vivido entre os noruegueses, para invadir o antigo país hospedeiro. Mas os laços de compaixão foram mais fortes do que o poder da guerra e do Alto Comando Alemão. Os jovens soldados voltaram para seus navios, recusando-se a lutar contra o povo da Noruega, que os tratara como membros de suas famílias. Isto exigiu grande coragem, pois os soldados podiam ter sido fuzilados por desobedecer às ordens. Mas o Alto Comando respeitou seus desejos e embarcou-os para outros compromissos.16 Repetidamente, vemos como a compaixão vence os ciclos de violência. Enquanto as reações violentas só produzem mais violência, a política wu wei cria um novo ciclo de paz e compreensão. Pessoal e politicamente, o Tao nos diz para construirmos a paz resolvendo sabiamente o conflito, pois: "Quando o conflito é resolvido E ficam ressentimentos, Certamente outros conflitos Virão. As pessoas Tao negociam sabiamente E trabalham pela concórdia. As pessoas sábias buscam soluções; Os ignorantes apenas atribuem culpas. O Tao favorece para sempre Os compassivos e os sábios." (TAO 79)

Afirmação Agora sei que minha vida é tranqüila e harmoniosa. Resolvo os conflitos com compaixão. Centralizo-me. Busco a clareza. Afirmo a unidade e trabalho com os modelos mais amplos. Ajo de forma não violenta, tratando a todos com amor e respeito. Respeito a mim mesmo(a) e ao processo. Harmonizo-me com a natureza e com todos os demais em meu mundo. Agora recebo uma paz maior em minha vida. E assim seja. 267

NOTAS 1. Para uma discussão desse processo, ver: Leroy H. Pelton, The Psychology of Nonviolence (Nova York: Pergamon, 1974), pp. 191 ss. 2. Chuang-Tsé em Yutang, The Wisdom of Laotse, pp. 54. 3. Para uma explicação do uso do Te na solução de conflitos, ver The Taoist I Ching, trad. de Thomas Cleary (Boston, Shambhala, 1986), p. 219. 4. Hunter, Warriors of the Rainbow (Nova York: Holt, Rinehart & Winston, ©1979), pp. 252-53. Usado com permissão do autor. 5. Para maiores informações sobre a Anistia Internacional, entrar em contato com o escritório nacional, 322 Eighth Avenue, Nova York NY 10001 tel. (212) 804-8400. 6. As sugestões sobre maneiras de prestar testemunho baseiam-se em conselhos de Society of Friends. Para maiores informações, entrar em contato com o Friends Comittee on National Legislation, 245 Second St. NE Washington DC 20002, tel (202) 547- 6000. 7. Thoreau, Walden and Civil Disobedience, ed. Sherman Paul (Boston: Houghton Mifflin, 1960), p. 245. 8. Extraído de "Letter from a Birmingham Jail", de Martin Luther King, Jr. Copyright© 1964 de Martin Luther King, Jr. Estas citações e a que se segue foram usadas com permissão de Joan Daves. 9. King, "Letter from a Birmingham Jail". Usado com permissão (ver acima). 10. Mohandas K. Gandhi, em Gandhi on Non-Violence-.Sélected Texts from Mohandas K. GandhVs Non-Violence in Peace and War, org. Thomas Merton (Nova York: New Directions, 1965), p. 67. Para explicação sobre as táticas de Gandhi, ver: Timmon Milne Wallis, Satyagraha: The Gandhian Approach to Nonviolent Social Change (Northhampton, Massachusetts: Pittenbruach Press, 1985), pp. 29-33. 11. Hammarskjóld, Markings (Nova York: Alfred A. Knopf, Inc.; Londres: Faber and Faber Ltd., ©1965), p. 114. Usado com permissão dos editores. 12. Merton, "Introduction", Gandhi on Nonviolence, p. 14. 13. Anders Boserup e Andrew Mack, War Without Weapons: Nonviolence in National Defense (Nova York: Schocken, 1974), p. 14. 14. Gene Sharp, "Investigating New Options in Conflict and Defense" em A Peace Reader: Essential Readings on War, Justice, Non-violence and World Order", org. Joseph Fahey e Richard Armstrong (Nova York: Paulist Press, 1987), p. 115. 15. Informações sobre a resistência dinamarquesa extraídas de uma entrevista com William J. Stover, Ph.D., ex-diplomata e professor americano de relações internacionais, e do ensaio de Chirstopher Kruegler e Patrícia Parkman, "Identifying Alternatives to Political Violence: An Educational Imperative", em A Peace Reader, p. 253, de Fahey e Armstrong. 268

16. Relato da resistência pacífica entre as fileiras alemãs extraído do livro de Haridas T. Muzumdar, "Gandhi's Nonviolence", originalmente publicado no Priendsjournal, republicado em A Peace Reader, de Fahey e Armstrong, pp. 217, 218. Usado com permissão do Friends Journal. Assinaturas a 18 dólares por ano (12 exemplares), sendo o endereço de contato 1501 Cherry Street, Philadelphia PA 19102-1497, tel. (215) 2417280.

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CAPITULO 22

COMO CONSTRUIR A COOPERAÇÃO Coopere e não haverá males, Apenas felicidade, ordem e paz. (TAO 35) .

cooperação constitui o próprio alicerce da vida, tal como a conhecemos: criando toda a matéria das ondas de energia subatômica, combinando os milhões de células que compõem nossos corpos, dando formas a toda a natureza, arte e sociedade humana. Lao Tsé ensina que a compreensão é natural na vida. O medo e a agressão surgem quando as pessoas se esquecem da unidade do Tao. A pesquisa de Riane Eisler fornece provas arqueológicas para o paradigma cooperativo de Lao Tsé. Em seu livro The Chalice and the BladeiO cálice e a espada) ela refuta a alegação de que os seres humanos são naturalmente agressivos. Acompanhando nossa história, num recuo de cinco mil anos, até um tempo em que não havia guerras, Eisler descreve florescentes sociedades nas quais imperava a parceria e o poder era percebido não como a capacidade de destruir, mas de alimentar e sustentar a vida. A arte do período minóico antigo e da antiga Europa enfatizou a cooperação de homens e mulheres e uma profunda reverência pelos ciclos da natureza, revelando valores muito diferentes daqueles últimos impostos pelas hordas de guerreiros que assolaram toda a Europa. Esses invasores trouxeram seus deuses da guerra para um povo outrora pacífico, juntamente com a violência, a ordem patriarcal, a opressão das mulheres e uma visão competitiva do mundo. 1

A

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Muitas sociedades, do Oriente e do Ocidente, dão conta de uma "era do ouro" mística, de cooperação pacífica, soterrada profundamente das névoas do tempo. Este paradigma cooperativo permanece encravado em nossa memória cultural, reconhecido mesmo hoje por líderes políticos. Quando Anthony Donovan entrevistou diplomatas nas Nações Unidas, em 1983, a maioria deles definiu a paz como cooperação. A paz ocorre quando" a cooperação vence o conflito", segundo cientistas políticos. Num processo conhecido como funcionalismo, duas ou mais partes cooperam quando um bem comum transcende seus interesses em competição. Um exemplo disto é o Mercado Comum Europeu. Depois de séculos de guerra, os países da Europa Ocidental estão aprendendo a cooperar economicamente, forjando o modelo para uma Europa unida através dos laços do comércio internacional. Psicólogos desenvolvimentistas vêem a cooperação como um importante indicador da condição adulta. Os indivíduos passam da dependência infantil para a independência da adolescência, e acabam chegando a um reconhecimento de nossa inter-relação. Em nível internacional, muitos países ficaram presos na adolescência. Porém, como provam os atuais problemas ecológicos, respiramos o mesmo ar, bebemos a mesma água, partilhamos o mesmo sol e a mesma chuva. O Tao nos lembra que: "A terra e o céu cooperam E cai a suave chuva Sobre todos nós, igualmente, Não em obediência às leis dos homens, Mas à harmonia natural."

OBJETIVOS COMUNS Os objetivos comuns são os grandes unificadores. Uma crise pode fazer aparecer o melhor que há nos seres humanos, quando trabalhamos para o bem comum. Durante o terremoto na Cidade do México, em 1985, equipes de socorro do mundo inteiro foram ajudar as vítimas enterradas vivas nos destroços. Depois do acidente nuclear de 1986, em Chernobyl, especialistas médicos americanos e russos trabalharam juntos para ajudar as centenas de pessoas atingidas pela radiação mortal. Os desastres foram enormes, mais a resposta foi um esperançoso sinal de nossa capacidade de cooperação. Porém, com freqüência, um objetivo comum não é suficiente para sustentar a cooperação. Laurel Robertson, autora de Laurel's Kitchen (A cozinha de Laurel) conta que trabalhou num jornal que fazia oposição à guerra do Vietnã, em 1967, mais o projeto fracassou porque as pessoas não se entenderam. "Foi arrasador", disse ela, e perguntou: "Se uma grande causa não pode unir as pessoas, o que poderá ?" Ela encontrou sua resposta na meditação, percebendo que a paz deve ser um esforço equilibrado de mãos e coração, atitude correta e trabalho ativo.4 O Tao afirma a importância dessa atitude: "As pessoas do Tao Agem com compaixão E não entram em disputa." TAO (81)

(TAO 32) O que nos impede de ver essa harmonia, de reconhecer nossa interdependência? O medo. Sempre que sentimos que nossa segurança está ameaçada, tornamo-nos defensivos, hostis e agressivos. Isto é verdade tanto para os indivíduos como para as nações. Para cooperar, devemos vencer nossos medos, construindo a confiança, desenvolvendo uma compreensão mais profunda de nós mesmos e um do outro. Este capítulo mostra como podemos fazer isto: 1) identificando objetivos comuns, 2) comunicando-nos mais eficazmente e 3) vendo nós mesmos como parte da natureza, afirmando o princípio taoísta da unidade através da ação política cooperativa. 272

COMUNICAÇÃO TAOÍSTA Podemos desenvolver uma compaixão maior através da comunicação honesta. Reservando tempo para nos centralizar, podemos escutar atentamente os outros. A palavra chinesa para uma pessoa sábia, sheng jen, significa literalmente "aquele que escuta". Os mediadores internacionais Arnold Gerstein e James Reagan enfatizam a importância da escuta em seu livro Win-Win. (Vencer, vencer). A pacifista Joanna Rogers Macy considerou a escuta "o instrumento mais poderoso para alcançar a paz e realizar qualquer outro tipo de trabalho a favor da mudança social".5 273

QUANDO ESCUTAMOS A NÓS MESMOS Para nos comunicarmos claramente com as outras pessoas, devemos escutar atentamente a nós mesmos, reconhecendo nossas próprias atitudes e emoções. Os perigos da repressão e das projeções da sombra foram explicados em capítulos anteriores. Se não entendermos nossos sentimentos, complicaremos as comunicações com agendas escondidas e ressentimentos intensos. Os sentimentos transmitem mensagens importantes que ignoramos, para risco nosso. Não é fácil respeitar nossos sentimentos numa sociedade que os encara como admissão de fraqueza valorizando uma racionalidade fria. Porém, entra em contato com o que os chineses chamam hsin, nosso coração-mente, é um passo importante para a comunicação honesta. EXERCÍCIO PESSOAL Por mais ocupados que estejamos, todos nós precisamos de tempo para escutarmos a nós mesmos, todos os dias. Algumas pessoas fazem isto logo ao acordar; outras preferem o fim do dia. Algumas reservam tempo livre para escutar sempre que se sentem fora de seu equilíbrio. Aqui estão algumas maneiras de permanecer em contato com você mesmo(a). • Escreva um diário, registrando nele seus objetivos, seus pensamentos e sentimentos, a cada dia. • Escreva seus sonhos, quando acordar. Você vê algum modelo que se repete? O que dizem a seu respeito? • Passe alguns momentos em meditação diária. Pergunte a si mesmo (a): "O que estou sentindo? Estou aqui para aprender o quê?" • Dê caminhadas ou corra regularmente. Escute seu mantram. o som de sua respiração, a sensação de seus batimentos cardíacos. Note os pensamentos que lhe vêm à mente. • Quando estiver ansioso(a) ou perturbado(a), passe alguns minutos sozinho(a). Pergunte: "O que estou sentindo agora?" e fique, simplesmente, à escuta.

A COMUNICAÇÃO HONESTA Quanto mais ouvimos a nós mesmos, em um nível mais profundo, mais abertos podemos ser para com os outros. O psicólogo humanista 274

Carl Rogers enfatizou a importância da abertura para a manutenção dos relacionamentos. Todos nós já sentimos a necessidade de pequenas mentiras e álibis gentis, quando a verdade não parecia lá muito perfeita, mas, com freqüência, esses logros criam novos problemas. Você consegue se lembrar da última vez em que foi apanhado (a) numa rede de complicações resultantes de uma única mentira? Como se sentiu? O psicólogo clínico Lewis Andrews diz que a mentira abala nossa integridade, nosso senso do eu. Até mesmo mentiras bem-intencionadas podem nos tirar de nosso equilíbrio. O Tao ensina uma reverência pela verdade. A desonestidade nos separa de nós mesmos e um do outro, violando o princípio da unidade. Não podemos cooperar quando não entendemos um ao outro. Para indivíduos e grupos, reter informações ou suprir sentimentos negativos garante uma trégua temporária, ao custo da verdadeira compreensão. Não é assim que podemos construir uma paz duradoura. Durante as décadas de 1970 e 1980, muitas pessoas foram para o outro extremo, atacando as outros com brutal negatividade, sob o disfarce de "partilhar" e "ser francas" com elas. Essa honestidade brutal não é o caminho do Tao. Nosso desafio é combinar abertura com compaixão em todas as nossas interações.

ESCUTANDO OS OUTROS O Tao ensina não apenas o discurso verdadeiro, mais a escuta cuidadosa, dizendo-nos ainda, que devemos ter cuidado com a retórica vazia, porque: "A verdade não é dita por palavras espalhafatosas. Palavras espalhafatosas não são verdadeiras." (TAO 81) A busca da verdade, quando nosso mundo nos cerca com cortinas de fumaça de palavras e imagens, não é fácil. As pessoas Tao observam, escutam, olham além das palavras, a fim de captar a linguagem não verbal das ações e dos gestos. Carl Rogers viu o papel do terapeuta como o de um ouvinte. Para indivíduos, grupos e nações ele acreditava que a escuta ativa e a comunicação franca podiam construir uma atmosfera de confiança e compreensão. Nos últimos anos de sua vida Rogers fundou o Instituto Carl Rogers para a Paz, em La Jolla, Califórnia. Lá, organizou turmas de debates e ensinou comunicação interpessoal. Junto com 275

sua dedicada equipe, ele viajou pelo inundo inteiro, encontrando-se com grupos hostis da América Central, Europa e Oriente Médio, ajudando-os a alcançar maior compreensão e cooperação, a construir a paz praticando os princípios do Tao.7 EXERCÍCIO PESSOAL: A ESCUTA ATIVA A escuta ativa nos torna melhores defensores da paz em nossas vidas pessoais e públicas. Mas exige prática. Qualquer dia desses, sente-se ao lado de um amigo ou membro da família e escute, seguindo estas orientações: • Sente-se diante da pessoa sem quaisquer barreiras externas (mesas ou escrivaninhas) entre vocês. • Relaxe, centralize-se e olhe bem nos olhos da pessoa. • Faça uma pergunta inicial: "Então, o que tem acontecido com você, ultimamente ?" "Como andam as coisas ?" • Ouça atentamente. Não deixe sua mente divagar. Não fale sobre você mesmo (a). • Olhe para a outra pessoa. Centralize sua atenção no que ela está comunicando com palavras, gestos, linguagem corporal, tom de voz. Que emoções você está captando ? A pessoa está nervosa excitada, feliz, relaxada, hostil? • Sem parecer mecânico, faça eco ao que ouve, dizendo coisas como: "Parece que você está entusiasmado(a) com seu novo emprego". Ou:"Esse novo compromisso realmente deixou-o(a) preocupado(a)". Se as emoções que você ouve entram em conflito com as palavras, faça eco aos sentimentos: "Você parece ansioso(a)", "frustrado (a)", "tenso (a)" ou o que você escutar. • Depois, escute mais uma vez. Se tiver entendido claramente, a pessoa concordará com você e continuará. Caso contrário ela esclarecerá a mensagem. De uma forma ou de outra, você pode confirmar sua compreensão. • Resista à tentação de falar, partilhar histórias com a outra pessoa. Lembre-se, seu papel é escutar. • Continue escutando, observando a linguagem corporal, e responda quando for apropriado. • Quando o processo parecer completo — quando a pessoa tiver alcançado uma nova visão e estiver decidida a tomar alguma medida, ou se mostrar agradecida a você por sua preocupação — conclua sua escuta. Você pode querer encerrar a sessão com um abraço. 276

Sua escuta atenta criará um laço mais forte entre você e seu amigo (a). A comunicação autêntica constrói a confiança, que alimenta a cooperação. Quanto mais aprendemos a confiar um no outro, menos sucumbimos ao medo e à agressão. O antropólogo David Barash observou que "tanto os animais humanos quanto os não-humanos tendem a reservar suas agressões mais ferozes para os estranhos".8 Quanto mais conhecemos uns aos outros, menor é a probabilidade de guerra. Pessoas em todo o planeta começaram a reconhecer a importância da comunicação, construindo novas pontes de compreensão através da democracia e do intercâmbio cultural exercidos entre cidadãos. A professora de escola secundária Barbara Warner viajou para a União Soviética, em 1983, numa visita organizada pelo Conselho Nacional das Igrejas Presbiterianas. A missão deles, diz, "era investigar, de uma perspectiva da fé, como podemos incentivar o espírito comunitário entre as duas nações". Gertaide Welch, militante de longa data em prol da paz, visitou a Nicarágua, bem como a União Soviética. Ela enfatiza "nossa responsabilidade de construir pontes entre os povos, para dar um rosto às pessoas que nosso governo chama de "o inimigo". A professora de ciência política Jane Curry organizou um intercâmbio educacional, em 1989, entre a Universidade de Santa Clara, na Califórnia, e universidades da Polônia e da União Soviética. No mesmo ano, uma escola elementar em Los Gatos, na Califórnia, trocou desenhos e votos de um futuro feliz com colegiais da Lituânia. Em fotos e cartas, as crianças manifestaram seu desejo de paz, sua preocupação com o meio ambiente. Se tivéssemos paz, disse uma delas, de 12 anos, "talvez não tivéssemos tantos problemas com a poluição ambiental". A estudante e bailarina Linda Filley, de 21 anos, viajou com um grupo de dança pela Polônia e União Soviética, em 1988. Ela ajudou a unir nossos países, comunicando-se na linguagem universal da música e da dança. Com os olhos azuis brilhando, Linda fala do amor que sentiu refletir de volta para ela, no palco, e também dos amigos que fez nos dois países.9 À medida que aprendemos mais uns sobre os outros, reconhecendo os laços que nos unem, vamos seguindo o Tao da paz. Como nos lembra Lao Tsé: "A pessoa Tao abraça a unidade E vive em paz segundo seu modelo." (TAO 22) 277

A CONSTRUÇÃO DO CONSENSO A tomada de decisões através do consenso constrói a paz, trabalhando com as energias do grupo, permitindo que aflorem os modelos naturais da ordem. O consenso é um exemplo dinâmico de cooperação entre iguais. Como a escuta ativa de Carl Rogers, baseia-se numa forte fé no processo. A pessoa Tao escuta respeitosamente, percebendo que nenhuma pessoa tem todas as respostas, que a verdade surge do próprio processo. O consenso evita as soluções estreitas impostas por personalidades fortes ou por decisão majoritária. Respeita as objeções da minoria e investiga as questões que elas levantam. As diferenças de opinião — os conflitos — são encarados como informações valiosas para o grupo. Numa atmosfera não combativa, os membros trabalham juntos, em vez de defender seus egos. Cuidadosamente, examinam suas próprias atitudes, escutam os demais e permanecem abertos à mudança. O consenso é apoiado por: 1. 2. 3. 4. 5.

objetivos e finalidades partilhados; ausência de pressões externas e agendas; partilha democrática de poder; uma atmosfera segura, de confiança; tempo suficiente para as pessoas se comunicarem e chegarem a um acordo; 6. percepção de nossos próprios sentimentos e os dos outros; 7. comunicação honesta e simplificação rogeriana; 8. compromisso com o processo e com o bem maior do grupo. O consenso exige tempo: tempo para escutar, tempo para explicar, tempo para aprender. Os membros do grupo vêem seus próprios sentimentos e idéias como parte de um processo mais amplo e confiam nesse processo, até mesmo quando os desacordos os impedem de chegar a soluções rápidas. Uma voz dissidente, numa votação majoritária, seria rapidamente dominada; uma voz dissidente num grupo de consenso é ouvida com respeito. O Tao nos diz: "Cuide dos detalhes E desenvolva maior penetração. Ceder em coisas pequenas Pode fortalecê-lo (a). Cuide da luz 278

Interna e externa, Evitando os infortúnios Com a busca da verdade." (TAO 52) O consenso conduz à clareza de visão e às soluções que nenhum de nós pode alcançar sozinho. Comecei a usar o consenso por desespero, quando designada para fazer algo que eu jamais fizera. Alguns anos atrás, dirigi um seminário, durante o verão, de professores de inglês em escolas secundárias. O assunto — crise de adolescência na literatura e na vida — me entusiasmou. Mas eu só tinha um conhecimento de leiga sobre os problemas da adolescência, e jamais ensinara em escola secundária. Então reuni um grupo de amigos: uma conselheira e ex-professora de escola secundária, professores de literatura e teatro e um especialista em formação de professores. Em nossos encontros anteriores ao seminário, foi empregado o consenso, combinando visões diferentes num plano coerente. Quando os vinte professores de escolas secundárias chegaram para a mesa-redonda, nosso consenso ampliou-se. Esses empenhados professores tornaram-se fontes valiosas, enriquecendo nossos debates com seus conhecimentos práticos e seus conselhos. Numa atmosfera de crescente entusiasmo, trocamos idéias. Um forte senso de comunidade desenvolveu-se, à medida que todos começaram a trazer livros, fitas e materiais escolares para mostrar aos outros. Fizemos bolos de café e bolinhos de milho para servir durante os animados intervalos, quando discutíamos tudo, desde o planejamento de seminários até estratégias de ensino e objetivos pessoais. O resultado foi um encontro descrito pelo avaliador oficial como um modelo cooperativo para seminários de formação de professores. A ativa participação dos professores não apenas transformou o plano oficial num encontro bem-sucedido, mais criou uma duradoura rede colegial. Anos mais tarde ainda estávamos em contato, trocando cartas, telefonando-nos, trocando informações uns com os outros e — acima de tudo — amizade e apoio. O consenso cria laços duradouros. Sendo a democracia em ação, desafia as pessoas a se envolverem, em vez de dependerem de "especialistas" e "autoridades" para tomar decisões em seu lugar. Desde as comunidades Nova Era até os grupos políticos progressistas, o consenso é um novo modelo para a tomada de decisões e para a ação política que parte de bases populares. Peter Cardy, co-fundador da Comunidade Findhorn, no norte da Escócia, diz que o grupo toma 279

por consenso todas as decisões importantes. Bob Pickford, da Federação das Cooperativas do Rio Ohio, alogia o consenso, dizendo que isto sedimenta a unidade.¹² O consenso usa a sabedoria coletiva e o processo de grupo para a apresentação de novas soluções, unindo as pessoas num elo comum, como fomentadoras da paz e solucionadoras de problemas.

agricultura era orgânica, trabalhando em harmonia com a terra. Levou décadas para percebermos que os venenos que espalhamos em nossas plantas entram nas frutas e verduras que comemos. A antiga sabedoria, redescoberta, ensina: o que distribuímos volta para nós; toda a vida é ligada, está unida no Tao. A CONSTRUÇÃO DA POLÍTICA COOPERATIVA

A COOPERAÇÃO COMA NATUREZA Como a cooperação mútua, e cooperação com a natureza é essencial para uma paz duradoura. Esta visão inspira muitos poetas modernos. Gary Snyder, estudioso de longa data da filosofia oriental, diz " para vivermos com leveza na terra, permanecermos conscientes e vivos, livres de egoísmo", e assim perceberemos que toda a vida é interdependente. Cory Wade escreve sobre o suplício dos animais, advertindo-nos para respeitar as outras vidas que partilham nosso mundo. " Há muito tempo, a atitude dos países industrializados para com a natureza vem sendo de domínio e destruição — de nosso habitat, de nossos vizinhos não-humanos e em última instância de nós mesmos. É hora de respeitarmos as leis naturais dentro e em torno de nós, os princípios duradouros do Tao. A antiga sabedoria de todas as culturas afirma nossa unidade com a natureza. Porém, com freqüência, nossa tecnologia obscurece essa verdade essencial. As palavras do Chefe Seattle, em 1854, fazem eco tanto à sabedoria de Lao Tsé quanto à crescente consciência ecológica de hoje: " Isto sabemos. A terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra. Isto sabemos. Todas as coisas são ligadas, como sangue que une uma família. Todas as coisas são ligadas. Tudo o que acontece com a terra acontece com os filhos da terra. O homem não teceu a teia da vida; ele é, simplesmente, um fio seu. Qualquer coisa que faça com a teia, faz consigo mesmo." A percepção de que tudo o que fazemos com a teia da vida fazemos com nós mesmos cresceu no fim da década de 1980, à medida que um clamor público contra os perigos dos pesticidas químicos conduzia a uma crescente demanda por uma produção segura, orgânica. Em 1989, os certificados para a lavoura orgânica dobraram de número na Califórnia, e programas parecidos espalharam-se por toda a Europa, Peru, México, Canadá, Japão e Austrália. Antes do advento de fertilizantes e pesticidas sintéticos, toda a 280

O Tao nos pede para ampliarmos nossa definição habitual de política, à medida que vemos as implicações de todas as ações, grandes e pequenas em relação, com o todo. Uma manhã, acordei com um som agourento, enquanto serras zumbidoras destruíam incansavelmente três árvores da minha vizinha. Correndo para a rua, vi uma árvore bela e doce que produz borracha sob o ataque dos implacáveis ceifeiros do departamento de obras públicas, enquanto outra jazia morta e desmembrada no chão, nas proximidades. A venerável cerejeira do vizinho também estava marcada para a destruição. O trabalho era oficial, aprovado por licenças, porque três raízes haviam arrebentado a calçada. Tristemente, pensei em meus anos na Alemanha, onde as árvores são encaradas como tesouros públicos, mais importantes do que camadas de concreto. Lá, um proprietário de casa tem de conseguir a aprovação do governo para abater uma árvore, mesmo em seu próprio quintal. Quem pode dizer que danos foram causados a nosso sistema naquele dia, que habitais foram destruídos, que perturbações ocorreram no frágil equilíbrio de oxigênio e dióxido de carbono existentes no ar que respiramos ? Jurei combater novas remoções de árvores em meu bairro e plantar mais árvores em meu quintal, para ajudar a restabelecer o equilíbrio. Até agora, um minúsculo pessegueiro está em minha varanda, esperando para ser transplantado. Mas demorará anos, talvez o período de uma vida, até o prejuízo ser compensado. Quão rápida, quão inconscientemente, vamos destruindo nosso habitat. Nos últimos anos formaram-se alguns grupos empenhados em reverter essa tendência destrutiva, trazendo o princípio da unidade e a política do wu wei para nossas cidades, com "programas de cidades verdes". A Fundação Planet Drum, em San Francisco, realiza seminários bio-regionais para ensinar às pessoas a ecologia nativa de sua região e os trabalhos para restabelecer o equilíbrio da vida em nossas cidades. Entre algumas de suas idéias estão: a purificação do ar da cidade, plantando-se mais árvores, arbustos e hortas da comu281

nidade; a criação de melhores sistemas de trânsito público; o aumento de nosso uso de energia solar; o início de programas de reciclagem em larga escala; a criação de uma comissão especial de planejamento para considerar os efeitos de todas as decisões futuras sobre o ecossistema.15 O Partido Verde Alemão pratica a política ecológica em escala global. Em março de 1983, vinte e sete membros foram eleitos para o Bundestag, o Parlamento da Alemanha Ocidental. Eles entraram no recinto carregando um grande globo e o ramo de uma árvore que estava morrendo em conseqüência da poluição na Floresta Negra. Proclamando "Não somos nem de esquerda nem de direita; somos de frente", os Verdes não apenas influenciaram a política alemã, mais prenderam a imaginação do inundo. Apelam para nossa crescente percepção de que a vida inteira está intrinsecamente relacionada. Como explica Petra Kelly: "O conteúdo espiritual da política dos Verdes... significa o entendimento de como tudo está ligado e o entendimento de sua relação com o planeta Terra na vida cotidiana".1 Isto reflete muito intimamente, a pragmática espiritualidade do Tao. Linus Pauling e Norman Cousins consideraram uma maior cooperação e percepção ecológica como caminhos para a paz. Pauling propõe que "os grandes problemas do mundo sejam solucionados da maneira como os outros problemas são solucionados", através da pesquisa. Ele insiste para que os povos entrem em cooperação nas pesquisas para a paz, "lutando de todas as maneiras possíveis para descobrir quais são os fatos, para aprender cada vez mais sobre a natureza do mundo e para usar todas as informações que podem ser obtidas no esforço para descobrir a solução".17 Norman Cousins vê a paz e a ecologia como coisas "intimamente relacionadas", porque, na política da paz saímos da destruição para a criatividade, "protege (ndo) as condições que sustentam a vida". Ele encara nossos problemas ecológicos como uma oportunidade para a cooperação internacional, um caminho para a paz mundial. Se, simplesmente, pudéssemos redefinir nossos conceitos de segurança, escreveu, profeticamente, em 1987, se os Estados Unidos e a União Soviética pudessem" desviar seu olhar um do outro e passar a ver a necessidade de tornar o planeta seguro e adequado para a habitação humana, talvez promovessem sua própria segurança, enquanto avançassem para a segurança comum".18 Enquanto escrevo este livro, a atenção já se desviou. A guerra fria terminou. Pela primeira vez em minha vida, talvez a primeira vez neste século, vejo os americanos tendo uma oportunidade vital de abraçar um 282

novo paradigma de cooperação, de perceber que todos somos vizinhos neste planeta. "Qualquer coisa pode acontecer agora", disse-me, outro dia, um amigo antigamente cínico. "Nunca houve um período como este". Esta percepção cresce à medida que um número maior de pessoas imagina: "O que acontecera agora ?" Podemos recuar para o velho paradigma e posturas defensivas ou avançar para a cooperação. Podemos parar de usar nossa tecnologia para destruir a vida e traçar um novo caminho, fornecendo alimentos, abrigo, ar limpo e água para todos, preferindo viver em paz com nossos vizinhos e com o planeta que chamamos de lar.

AFIRMAÇÃO Agora sei que minha vida é tranqüila e harmoniosa. Sinto minha união com a vida inteira neste planeta. Comunico-me com clareza, ouço com atenção e respeito os pontos de vista dos outros. Coopero mais a cada dia, vivendo a sabedoria do Tao. Respeito a mim mesmo (a) e ao processo. Harmonizo-me com a natureza e com todos os demais em meu mundo. Agora recebo uma paz maior em minha vida. E assim seja. NOTAS 1. Ver o excelente livro de Raine Eisler, The Chalice and the Blade: Our History, Our Future (San Francisco: Harper & Row, 1987). Maiores informações, seminários e guias de estudos podem ser encontrados no Center for Partnership Studies, P.O. Box 51936, Pacific Grove CA 93950. 2. Anthony Donovan, World Peace: A Work Based on Interviews with Foreign Diplomais (Nova York: Anthony J. Donovan, 1986). 3. Informações de William James Stover, Ph. D., cientista político e exoficial do Ministério de Relações Exteriores, e John Spanier, Games Nations Play, 6a ed. (Washington, DC: CQ Press, 1987), pp. 634-72. 4. Citação de "A Split at the Razor's Edge", de John Hubner, revista West, Mercury News de San José, 30 de abril de 1989, p. 17. 5. Explicação do shengjen no livro de Blackney, Lao Tzu: The Way of Life, p. 41. Citação de Despair and Personal Power, de Macy, p. 45. Para uma explicação sobre escuta e solução de conflitos, ver: Arnold Gerstein e James Reagan, Win-Win: Approaches to Conflit Resolution (Salt Lake City: Gibbs M. Smith, 1986). 283

6. Lewis M. Andrews, Ph.D., To Thine Own Self Be True (Nova York: Doubleday, 1987), pp. 3-5, 91-92. 7. Para uma explicação da comunicação rogeriana, ver: Carl R. Rogers, Becoming Partners: Marriage and Its Alternatives (Nova York:Delacorte Press, 1972). Maiores informações sobre comunicação rogeriana num trabalho sobre a paz internacional que existe no Carl Rogers Institute for Peace, Center for Studies of The Person, 1125 Torrey Pines Road, La Jolla CA 92037, tel. (619) 459-3861. 8. DavidP. Barash, Sociobiology and Behavior, 2a ed. (Nova York: Elsevier, 1982), p. 437. 9. De entrevistas com Barbara Warner, Santa Clara, Califórnia, dezembro de 1987, e Gertrude Welch, San José, Califórnia, abril de 1987;"US-Soviet Student Exchange Employs Art for Peace's Sake", Mercury News de San José, 10 de maio de 1989, Extra 3, p. 9; debate com Jane Curry, Ph.D., e Linda Filley na Universidade de Santa Clara, maio de 1989. 10. Minha versão inspirou-se na tradução de Tolbert McCarroll, The Tao: The Sacred Way (Nova York: Crossroad, ©1982), p. 47: "Therefore the true Person embraces the One/And becomes a model for all"("Assim a Pessoa Autêntica abraça o Uno/E se torna um modelo para todos". Usado com permissão do autor. 11. Baseado em idéias extraídas de Building United Judgment: A Handbook for Consensus Decision Making (Madison: Center for Conflict Resolution, 1981), pp. 8-9. Para este e outros materiais sobre consenso e resolução de conflitos, contatar o Center for Conflict Resolution, 731 State Street, Madison WI 53703, tel. (608) 255-0479 12. De uma discussão sobre consenso e cooperativas, no livro de William Valentine e Frances Moore Lappé, What Can We Do? (San Francisco: Instituto for Food and Development Policy, 1980), p. 14. 13. Citação do livro de Gary Snyder, Turttle Island (Nova York: New Directions, 1974), p. 99. O livro de Cory Wade, July in Geórgia, pode ser encomendado com Wisbeck, England: Red Candle Press, 1990. 14. A mensagem do Chefe Seattle, ao Presidente Pierce, 1854, no livro de Fahey e Armstrong, A Peace Reader, p. 195. 15. Para maiores detalhes sobre "programas das cidades verdades", ver A Green City Program, de Peter Berg, Beiyl Magilavy e Seth Zuckerman (San Francisco: Planet Drum Books, 1989) que pode ser pedido à Planet Drum Foundation, Box 31251, San Francisco CA 94131. Os San Francisco Friends of the Urban Forest (512 2nd Street, 4th floor, San Francisco CA 94107, tel. (415) 543-5000), fornecerão informações sobre a importância das árvores no equilíbrio de nosso ecossistema, e o(a) ajudarão a formar grupos de ação verde em sua área. 16. Citação de Petra Kelly e informação a respeito do Partido Verde extraídas do livro de Capra e Spretnak, Green Politics, p. 55. 17. Informação extraída de uma entrevista telefônica com Linus Pauling, em 284

dezembro de 1986, e de seu livro no More War!, edição de 25° aniversário (Nova York: Dodd, Mead, 1983), p- 193. 18. Informação extraída de entrevista com Norman Cousins na UCLA, em julho de 1988, e de seu livro The Pathology of Power (Nova. York: Norton, 1987), p. 193. Cousins é presidente da World Federalist Association, que trabalha para a paz mundial através da lei mundial. Para maiores informações, escrever para a W.F.A, P.O. Box 15250, Washington DC 20003.

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CAPÍTULO 23

O TAO DA COMUNIDADE A pessoa Tao vive em paz: Estendendo os braços Numa comunidade do coração, Encarando tudo o que vive Como uma única família. (TAO 49)'

stendendo os braços numa "comunidade do coração", afirmamos um novo paradigma de cooperação. Começando em nível local, estendendo-se para o nível global, nossas relações reforçam toda a nossa visão de mundo. Se são hostis e competitivas, percebemos o mundo como um local perigoso, passando a reagir de forma defensiva, perpetuando os ciclos de violência. Mas, se vivermos numa comunidade interdependente, cheia de zelo, então nossa visão de mundo e, conseqüentemente, o mundo que criamos, serão pacíficos. Como aprenderemos neste capítulo, nossa comunidade local é tanto o meio como o fim: um símbolo vivo da meta que buscamos. Numa única geração, o aumento da mobilidade e as novas tecnologias abalaram o espírito de comunidade na América. Os negócios menores, existentes no passado, não exigiam que os empregados se deslocassem. A maioria das pessoas crescia, encontrava emprego e se casava na mesma cidade. Antes do advento do automóvel, os empregados não fragmentavam suas vidas morando e trabalhando a quilômetros de distância. As famílias viviam mais próximas, na mesma cidade, freqüentemente sob o mesmo teto. Em décadas anteriores, as famílias sentavam-se na varanda da frente, em noites de verão, para conversar com os vizinhos. Agora,

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sentam-se diante do aparelho de TV. Na verdade, a maioria dos americanos "conhece" os tipos de programas de televisão mais do que seus próprios vizinhos. Como resultado, muitas vezes nos sentimos alienados, impotentes e deprimidos. Agarrando-nos à família nuclear, talvez em excesso, esquecemo-nos de que somos parte de uma família humana mais ampla. Os últimos cinqüenta anos testemunharam um deslocamento populacional maciço das cidades pequenas para extensões suburbanas cujo único ponto de encontro é o shopping Center mais próximo. Todos os dias, milhões de pessoas passeiam ansiosas pelos shoppíngs, em busca de algo que não pode ser comprado, a comunidade que deixaram atrás de si. O Centro para Solução de Conflitos de Wisconsin culpa pela desintegração da comunidade os valores comerciais dos Estados Unidos, que jogam as pessoas umas contra as outras, numa corrida frenética para produzir e adquirir mais.2 Para muitos, a vida parece um jogo solitário de sobrevivência, num mundo darwiniano brutal. Com sua forte ênfase no individualismo, a sociedade americana ficou presa na adolescência, quando a principal tarefa da vida é afirmar nossa independência. Muitos americanos sofrem de solidão e frustração crônicas, incapazes de realizar seu destino como seres humanos. A vida sem comunidade é infeliz e pouco saudável. As pesquisas mostraram que constante interação com estranhos, nas cidades apinhadas, torna as pessoas mentalmente doentes. Um recente estudo indica que 82% das pessoas em Manhattan estão sofrendo de neuroses ou psicoses. O Serviço de Saúde Pública norte-americano informa que, nas áreas urbanas, os problemas de coronárias são 42% mais elevados.³ Este capítulo nos ajudará a reconquistar nosso senso vital de comunidade, 1) reconhecendo nossa interdependência, 2) fortalecendo nossa comunidade local, 3) aprendendo sobre organizações e habitações coletivas, 4) apoiando nosso habitat natural e 5) voltando-nos para a comunidade humana mais ampla.

O RECONHECIMENTO DE NOSSA INTERDEPENDÊNCIA O primeiro passo para reconquistar nosso senso de comunidade é reconhecer nosso papel no todo mais amplo. Desde os tempos da colonização, os americanos alimentaram o mito da autosuficiência, mas, na verdade, não chegamos a ser auto-suficientes. 288

Estamos indissoluvelmente ligados uns aos outros por centenas de interações. "Olhe ao seu redor", peço às pessoas, em meus cursos e seminários. "Quantas pessoas tocaram sua vida, hoje?" A comida que comemos, as roupas que usamos, os sapatos em nossos pés unem-nos num laço de interdependência com a natureza e com pessoas que talvez nunca vamos encontrar. Participamos não apenas da frágil teia da vida, mas de uma vasta rede de artífices, lavradores, inventores, artistas, engenheiros, operários de construção, escritores, operários de fábricas, caminhoneiros e comerciantes. A lista é interminável. Nenhuma pessoa, nenhum país do mundo é independente. Estamos todos ligados, numa troca contínua de energias. Nossa interdependência é um fato. Reconhecer este fato e fortalecer esses laços pode promover uma paz maior para todos.

A CONSTRUÇÃO DE NOSSA COMUNIDADE LOCAL As comunidades vêm sob diferentes formas e tamanhos, tão radicais quanto o último coletivo Nova Era, tão tradicionais quanto a América das pequenas cidades, com seus piqueniques de Quatro de Julho, feiras distritais e reuniões de munícipes. A comunidade começa em nosso bairro, seja numa vila, cidade ou subúrbio. É uma família ampliada de pessoas em quem você pode confiar, pessoas que você cumprimenta com um sorriso, vizinhos que estendem uma mão amiga, mostrando que a vida pode ser amistosa, acalentadora e boa. Laurel's Kitchen, um livro de culinária de comida natural, fornece esta receita para um mundo mais saudável: "Vamos supor que devêssemos nos empenhar em construir um bairro para viver: uma espécie de vila, onde as vidas se sobrepõem e se misturam, de uma maneira rica e produtiva. Que maior desafio poderia haver para nossa criatividade? A solidão aparece sempre que vivemos para nós mesmos, e nos deixa imediatamente quando começamos a trabalhar pelo bem-estar dos outros, a partir daqueles que estão imediatamente em torno de nós." Meu próprio bairro, a quatro quilômetros de distância do centro de Campbell, na Califórnia, me proporciona um senso de comunidade acolhedor, depois de uma infância nômade como dependente de militar. Meus vizinhos e eu trocamos flores e verduras de nossos jardins e molhamos as plantas uns dos outros, quando alguém está fora. As pessoas na loja de alimentos naturais próxima, na biblioteca e na papelaria sabem meu nome, e o mecânico de meu automóvel 289

tornou-se amigo da família. Trocamos não apenas mercadorias e serviços, mas boa vontade, tecendo os fios de nossas vidas individuais para compor um tecido de cuidados e apoio mútuos. Uma comunidade local cria um mundo mais saudável, tanto do ponto de vista individual quanto ecológico. As pessoas dão carona umas às outras e se emprestam instrumentos de jardinagem, trocando verduras cultivadas no quintal ou iniciando hortas comuns. Começa um sistema informal de permuta. Um vizinho faz pequenos consertos em automóveis, em troca de refeições festivas. Outro troca cortes de cabelo por tarefas domésticas. Uma mulher aposentada, no fim da rua, negocia pão feito em casa por serviço no quintal. Algumas famílias passam adiante as roupas, bicicletas e brinquedos que seus filhos não usam mais. Algumas pessoas encontram sua comunidade básica em casa, outras, no trabalho. Batendo um papo todos os dias enquanto tomam um cafezinho, almoçando ou comendo um sanduíche juntas, as pessoas trocam idéias e falam de preocupações comuns. Na Universidade onde ensino, alguns amigos, para trabalhar, rodam diariamente cerca de 120 quilômetros para o sul, de San Francisco, ou Berkeley; outras dirigem 60 quilômetros, saindo de Palo Alto; e um amigo roda 180 quilômetros para o Norte, saindo de Pacific Grove. O resto vive em algum ponto intermediário. Embora nos vejamos principalmente no trabalho, temos uma "comunidade interurbana" que se estende através de muitos quilômetros e usa o telefone para se manter em contato. Onde quer que você a encontre, sua comunidade básica é um grupo de pessoas que cuidam umas das outras, uma rede de amor e apoio que torna o mundo um lugar amigável. EXERCÍCIO PESSOAL Reserve algum tempo, nesta semana, para avaliar sua própria comunidade. Escreva as respostas a estas perguntas: 1. Fora de seus relacionamentos básicos, onde você tem a sensação de pertencer a um todo mais amplo: em seu bairro ? no trabalho ? na igreja ? num grupo comunitário ? em alguma outra parte ? 2. Que sentimentos positivos sua comunidade lhe traz ? 3. O que você pode fazer para fortalecer sua atual comunidade ou, caso você tenha mudado de residência, ou perdido o contato com ela, o que pode fazer para construir uma ? 4. Dê um passo para isto, nesta semana. Pode ser tão simples quanto 290

se apresentar a um vizinho ou telefonar para um velho amigo. Os relacionamentos são coisas vivas, que crescem. Faça alguma coisa para alimentar os seus toda semana. 5. Finalmente, considere sua comunidade natural — as plantas e a vida selvagem nativas que partilham seu habitat. O que você sabe a respeito delas ? Descubra que plantas, pássaros e animais são nativos de sua área. Reconheça seu papel na rede de vida ao seu redor.

A DESCOBERTA DE NOVOS TIPOS DE COMUNIDADES Indivíduos esperançosos têm vivido há séculos em comunidades criadas intencionalmente. De São Francisco de Assis e as comunidades religiosas da Idade Média às povoações Puritanas e Quaker no Novo Mundo, de Oneida e a Fazenda Brook ao mais recente coletivo político ou Nova Era, todas essas comunidades refletem a tentativa das pessoas para estruturar suas vidas de acordo com suas crenças. A Comunidade Findhorn, no norte da Escócia, foi estabelecida com base no simples princípio: "Ame o lugar onde você está, ame as pessoas com quem está e ame o que você faz". Fundada por Peter e Eileen Caddy, em 1962, desenvolveu-se numa vila global de mais de 225 moradores, de mais de vinte e cinco países diferentes. A cada ano, mais milhares de pessoas visitam seus maravilhosos jardins e o centro de conferências Nova Era. Amor em Findhorn significa cuidados e compromissos, e foi o que permitiu a criação dos jardins, com a transformação de um velho depósito de lixo, localizado num antigo campo para motoristas de trailers, numa edênica profusão de verduras, frutas, ervas e flores. Centenas de espécies crescem, anualmente em solo composto fundamentalmente de areia e cascalho. Os moradores de Findhorn acham que até a maquinaria trabalha melhor, quando cuidada com amor. Os canos, fogões e boilers são todos limpos e pintados regularmente e até recebem nomes. Em Findhorn, o respeito pelo indivíduo é equilibrado por uma visão cooperativa mais ampla, na qual todos combinam seus talentos para o bem do conjunto, vivendo em harmonia com a natureza e um com o outro. O Centro de Vida de Filadélfia, uma comunidade política progressista na Filadélfia Oeste, foi formado em 1971 por pessoas que acreditavam que "qualquer um que esteja seriamente empenhado em mudar nossa sociedade doente deve considerar mudanças em seu estilo de vida pessoal e em suas relações interpessoais". De um grupo 291

de 35 pessoas, o Centro cresceu para mais de 125, vivendo em dezessete lares, ligadas por um compromisso comum com a mudança social não violenta. A maioria dos membros trabalha apenas meio expediente em empregos fora de casa, e todos vivem com simplicidade, de modo a haver tempo para o trabalho político. Dirigem suas casas por consenso, partilham as responsabilidades e se esforçam para vencer o sexismo. Todos se revezam, preparando as refeições, fazendo a limpeza e cuidando da manutenção da casa. Homens e mulheres fazem pão, cuidam das crianças, fazem serviços de carpintaria e de hidráulica. O Centro tem sua própria cooperativa alimentar, jardins comunitários e grupos de ação política, bem como uma editora, a New Society Publishers, que publica livros sobre não-violência, comunicação e mudança social. A cada ano, ativistas de todo o país e também de várias partes do mundo, vão até o centro para assistir os seminários sobre resolução de conflitos, habilidades estratégicas, discursos na rua, dinâmica de grupo, não-violência e ação direta. O grupo tem ramificações em todo o território dos Estados Unidos e participa de uma rede internacional da paz. Convencido de que o sistema tradicional de habitação nos isola uns dos outros, um grupo da Dinamarca fundou Trudeslund, um projeto de moradias coletivas com trinta e três unidades, perto de Copenhague. Cada família tem uma residência particular, mais partilha uma cozinha e um salão de refeições comum, bem como área de recreação para as crianças, oficinas, instalações de lavanderia e quartos de hóspedes. Embora os moradores tenham suas próprias cozinhas os jantares coletivos tornaram-se parte importante da vida comunitária. As mulheres casadas norte-americanas descobrem que, muitas vezes, enfrentam uma dupla jornada de trabalho. Depois de um dia frenético no escritório, enfrentam um programa exaustivo que inclui preparação de jantar, cuidados com as crianças e tarefas domésticas. Os pesquisadores Kathryn McCamant e Charles Durrett apresentam um contraste animador ao descreverem uma comunidade de habitações coletivas: "Anne está feliz, porque o dia de trabalho terminou. Chegando a sua garagem, ela começa a se descontrair, afinal... Sua filha grita: "Oi, mamãe!" ao passar por ela correndo com três outras crianças. Em vez de tentar freneticamente preparar às presas um jantar nutritivo, Anne agora pode relaxar, passar algum tempo com seus filhos, e depois, comer com a família na casa comum. Caminhando pela casa comum ao se dirigir para seu lar, ela vai parando e batendo papo com as cozinheiras da noite, duas de suas 292

vizinhas, que estão atarefadas preparando o jantar—frango grelhado com molho de cogumelos — na cozinha. Várias crianças estão pondo as mesas. Lá fora, no pátio, algumas vizinhas dividem um bule de chá sob o sol do fim de tarde. Anne acena e continua a descer a aldeia em direção a sua própria casa", onde poderá relaxar com seu marido antes do jantar.7 O ritmo é descontraído, as pessoas prestam atenção umas às outras e tomam conta das crianças, quando elas chegam da escola. Jovens mães e pais jamais se sentem sobrecarregados, os velhos nunca ficam isolados: fazem parte de uma comunidade integrada, zelosa. Já em 1988 havia vinte e sete dessas comunidades, chamadas bofoellesskaber ("comunidades vivas") na Dinamarca. A idéia espalhou-se pela Holanda, Suécia, França, Noruega e Alemanha. Nos Estados Unidos, a habitação partilhada tornou-se uma solução para muitas mães solteiras, que passam a viver juntas para dividir o aluguel e, depois, descobrem as vantagens da comunidade — cuidado com as crianças e tarefas domésticas partilhadas, companherismo e apoio — e se tornam uma família ampliada.

O APOIO E SUA COMUNIDADE NATURAL Lao Tsé nos diz: "Harmonia com a natureza significa união com o Tao." (Tao 16). As pessoas Tao cooperam com a comunidade natural em torno delas, respeitando as outras vidas que partilham seu mundo. Para apoiar a população de vida selvagem local, o fazendeiro Dayton Hyde, do Oregon, fez um quarto de suas terras voltar a ser pântano. Hoje, os pássaros, peixes e pequenos mamíferos nativos estão florescendo. Sua terra é lar de coelhos, de uma manada de cervos, até mesmo Coiotes. O Tao ensina que, sempre que damos, recebemos de volta. No caso de Hyde, a água adicional produziu o dobro do capim para seu gado, e os incômodos gafanhotos foram praticamente eliminados pela abundante população de pássaros. Mais a maior alegria de todas, diz ele, é partilhar a beleza da vida natural em torno dele. Ele iniciou um movimento nacional, "Operação Stronghold", para ajudar a criar em todo o país refúgios parecidos de vida selvagem. Não somos nunca demasiados jovens para começar a cooperar com a natureza. Um grupo de crianças, no noroeste de Montana, formou um clube, o "Crianças pela vida selvagem". Acreditando que as pessoas e os animais deveriam viver juntos e em paz, os membros 293

PERGUNTA TAO

Pergunte a si mesmo(a): "O que posso fazer para estender os braços para a comunidade mais ampla ? Existe uma causa com a qual você esteja comprometido(a), algum projeto de serviço local ao qual você pudesse ser útil ? Suas energias e idéias podem mudar as coisas — em sua vida e em seu mundo.

ESTENDENDO OS BRAÇOS PARA APOIAR SUA COMUNIDADE GLOBAL Na última década, as pessoas no mundo inteiro buscaram o bem-estar de todo o globo, afirmando nossa reunião em vigílias pela paz internacional, em movimentos populares, desde o Band Aid à Convergência Harmônica, e em esforços recentes para salvar as florestas tropicais. As fronteiras artificiais entre nós se dissolvem à medida que percebemos que somos vizinhos no mesmo pequeno planeta. Hoje, nossos problemas mais complexos envolvem o planeta inteiro. Fome, pobreza e poluição afetam a todos nós e exigem nossas energias combinadas para sua solução. As pessoas Tao desenvolvem uma visão holística que ultrapassa as antigas fronteiras do passado, conduzindo a novas descobertas, novas soluções. Como desenvolvemos essa visão? Christer Jonsson, professor de relações internacionais da Universidade de Lund, na Suécia diz que a melhor maneira é através da experiência intercultural. Quando Chris tinha 18 anos, passou um ano no Texas, através de um programa de intercâmbio estudantil. Ele e seu "irmão americano", Mike, formaram um conjunto musical chamado "Os Cosmopolitas". Chris tocava piano, Mike, bateria e outro amigo, Gordon, tocava baixo. Juntos, criaram harmonia e ampliaram seu senso de identidade. Mais tarde, Mike visitou a Suécia, estudou na Alemanha e casou-se com uma alemã. Gordon estudou na Suécia e viajou por toda a Europa. Chris tornou-se especialista em relações internacionais, ensinando e dando assessoria no mundo inteiro. O contato precoce com outra cultura tomou esses três rapazes cidadãos do mundo. Chris acredita nos intercâmbios educacionais e culturais, especialmente para jovens. Sua família hospedou estudantes holandeses, através de um intercâmbio, em sua casa em Lund. Sua filha Lena passou seis semanas no México numa Vila de Verão Internacional da UNESCO, quando tinha 11 anos, e ainda hoje tem contato com amigos 296

que conheceu lá. Recentemente, Lena e seu irmão, Linus, passaram seis meses com os pais na Califórnia, enquanto Chris ensinava na Universidade de Stanford. Diplomacia entre cidadãos, intercâmbios profissionais e educacionais constroem pontes de amizade e compreensão entre culturas, ajudando-nos a "pensar globalmente" e a reconhecer nosso papel na comunidade mundial. Todos os anos, a Fundação Windstar, no Colorado, acolhe cidadãos interessados e peritos internacionais para explorar questões globais em seu simpósio "Escolhas para o futuro". Algumas pessoas trocam informações sobre suas habilidades, numa base profissional. O Dr. Max Ibsen, pediatra do norte da Califórnia, passa várias semanas, todos os anos, tratando de crianças no Brasil, Honduras, Colômbia e Equador. Depois de servir no Navio Esperança e de manter clínicas nas florestas da América do Sul, ele agora é voluntário do Interplast, um grupo de médicos que realiza cirurgia corretiva em crianças do Terceiro Mundo. Como pediatra, ele ajuda a preparar as crianças para a cirurgia e supervisiona sua recuperação. Mostrou-me algumas fotos desses jovens pacientes, com os olhos brilhando de compaixão, enquanto dizia que sua maior recompensa era ver uma criança sorrir. Muitas pessoas que conheço passaram suas férias realizando missões diplomáticas, como cidadãos, visitando outros países e construindo pontes de entendimento. Quando o Dr. Ibsen e sua família visitaram a União Soviética, na década de 1960, ele conheceu um pediatra russo num elevador e os dois, desde então, se correspondem. Jeff Arnett, que ensina inglês na Universidade de Santa Clara, passou um mês na Nicarágua e em El Salvador, numa visita combinada pela organização Testemunha da Paz. Desde que voltou para casa, ele tem feito sessões de. exibição de slides em torno do que aprendeu. O professor da escola secundária Bill Sullivan trabalhou nos campos de refugiados do Camboja e numa cooperativa agrícola na Nicarágua. Membro atuante da Anistia Internacional, ele trabalha pela justiça social escrevendo cartas durante o ano escolar e oferecendo-se para trabalhar como voluntário durante as férias.11 Uma experiência internacional modifica para sempre nossa consciência, tornando-nos mais abertos, menos críticos. Jamais tornamos a cair na estreiteza mental ou na xenofobia, acreditando que nosso caminho é o único. A pessoa se torna mais tolerante e mais inovadora, capaz de ver novas soluções para problemas já antigos. Líderes como Willy Brandt, Bruno Kreiske e Olaf Palme tiveram todos experiências internacionais precoces. Quando jovem, Brandt viveu 297

na Noruega, depois da Primeira Guerra Mundial; Kreiske passou vários anos na Suécia; e Palme viajou, em sua juventude, por toda a América do Norte.

EXERCÍCIO PESSOAL: PENSAR GLOBALMENTE

Mesmo se você não puder viajar muito nem morar em outro país, ainda assim pode desenvolver sua perspectiva global, segundo algumas destas sugestões. • Tome-se anfitrião(ã) de pessoas que participam de intercâmbios educacionais ou culturais neste país. Convide um estudante que vem através de um programa de intercâmbio para ficar em sua casa, ou escolha visitantes em intercâmbios culturais de curta duração. • Se você não está preparado(a) para um intercâmbio de longa duração, convide um estudante estrangeiro para fazer uma refeição em sua casa. Telefone para o clube internacional dos estudantes da universidade local de modo a obter uma referência e aproveite uma noitada de intercâmbio cultural. • Participe de um programa de cidades-irmãs. Será que sua cidade não tem uma irmã em alguma outra parte do planeta? Telefone para a Câmara de Comércio local e descubra. • Matricule-se, num curso de língua estrangeira, numa escola pública local. Aprender outra língua ensina novos conceitos, novas maneiras de perceber as coisas. • Compareça a feiras e atividades culturais internacionais em sua área. Procure informações em seu jornal local. • Procure livros ou vídeos, na biblioteca local, sobre um país de esteja interessado(a). Aprenda sua história e seus costumes. • Como a grande imprensa, em geral, informa-nos muito pouco sobre as pessoas de outros países, procure alternativas. Leia a Christian Science Monitore a World Press Review. Consulte a seção de notícias internacionais do Times de Londres ou do Manchester Guardian, na biblioteca. Descubra uma boa estação de rádio pública ou escute o Serviço Mundial da BBC num rádio de ondas curtas.

Educar-nos a respeito de outros países é uma parte vital do processo para nos tornarmos cidadãos do mundo. À medida que expandimos nosso senso de comunidade, vemos nosso mundo e seus problemas sob uma luz diferente. 298

Desde os tempos de Lao Tsé, até o mundo complexo e interdependente de hoje, seguir o Tao significa desenvolver um senso de comunidade com nossos vizinhos próximos e distantes. O Tao sustenta esta visão no modelo de um "pequeno país", onde as necessidades e recursos são equilibrados e a vida se passa numa escola humana: "Procure o país pequeno Com uma pequena população, Onde as pessoas são vizinhas E a vida é equilibrada: Nada desperdiçado, Nada perdido. Lá as pessoas amam a vida E não vagueiam para muito longe Saqueando a terra Com máquinas destruidoras. Com suas armas de guerra Jamais usadas ou exibidas, O povo vive com simplicidade, Aprecia a alimentação integral E roupas confortáveis, A beleza da natureza, Os prazeres do lar; Deliciam-se com os rituais da vida E com o trabalho significativo. Outro país talvez esteja tão próximo Que as pessoas podem ouvir Os sons da vida De um vale distante, Inventando juntos A música da paz." (TAO 80) É uma transição natural, a visão do pequeno país de Lao Tsé para a de nosso próprio pequeno planeta. O senso comunitário começa em nível local colocando-nos em contato com nós mesmos e com nossos vizinhos próximos e distantes, unindo-nos numa rede, em permanente expansão, que rodeia o globo. Separadas, porém suficientemente próximas para partilhar os rituais diários da vida, as pessoas escutam "os sons da vida de um vale distante", sentindo-se intimamente em casa com seu mundo e uns com os outros. Este é o Tao da paz. 299

Afirmação Agora sei que minha vida é tranqüila e harmoniosa. Vejo a mim mesmo(a) como parte de uma comunidade viva. Afirmo esta união diariamente, através da cooperação, da compaixão e do serviço. Penso globalmente, ajo em termos locais, estendendo os braços para minha comunidade, próxima e distante. Respeito á mim mesmo(a) e ao processo. Harmonizo-me com a natureza e com todos os outros em meu mundo. Agora recebo uma paz maior em minha vida. E assim seja. NOTAS 1. Citação de abertura do Tao, capítulo 49, baseada em The Wisdom of Laotse, traduzido e organizado por Lin Yutang. Copyright© 1948 de Random House, Inc.: "The people of the World are brought into a community of heart,/ And the Sage regards them all as his children ("As pessoas do mundo são trazidas para comunidade do coração/E o sábio as considera todas seus filhos"), p. 231. Republicado com permissão do editor. 2. Building UnitedJudgment, p. 15. 3. Pesquisa realizada por Anne e Paul Ehrlich em Satin, New Age Politics, p. 38. Para uma exposição de psicologia da comunidade, ver: M. Scott Peck, The Dijferent Drum: Community-Making and Peace (Nova York: Simon and Schuster, 1987). 4. A citação e as informações no parágrafo seguinte são de Laurel Robertson, Carol Flinders e Bronwen Godfrey, LaureVs Kitchen: A Handbook for Vegetarian Coohery (Petaluma: Nilgiri Press, © 1976), p.6l. Usado com permissão do editor. Esse livro foi substituído por The New Laurel's Kitchen (1986), publicado por Ten Speed Press, Box 7123, Berkeley, CA 94707. 5. Informações do seminário de Peter Caddy's em São José, Califórnia, setembro de 1986, e Eileen Caddy, Foundations of Findhorn, org. Roy McVicar (Forres, Scotland: Findhorn, 1978). Para maiores informações, escrever para Findhorn, The Park, Forres, IV36 OTZ, Scotland. 6. Informações sobre o Philadelphia Life Center obtidas com Suzanne Gowan et al., Moving Toward a New Society (Filadélfia: New Society Publishers, © 1976), p. 284-96. Usado com permissão do editor. O livro pode ser encomendado à New Society Publishers, P.O Box 582, Santa Cruz CA 95061, tel. (408) 458-1191. 300

7. Citação e informações sobre as comunidades de habitação coletiva dinamarquesas extraídas de Co-housing: A Contemporary Approach to Housing Ourselves (Berkeley: Ten Speed Press, © 1988 Kathryn McCamant e Charles Durrett), usado com permissão do editor. O livro pode ser encomendado à Ten Speed Press, Box 7123, Berkeley CA 92707, tel. 1-800-841-26658. Informações do Champions of Wildlife, vídeo produzido pela National Wildlife Federation. Para obter o vídeo e material correspondente, escrever para National Wildlife Federation, 1400 l6th St. NW, Washington DC 20036-2266 ou telefonar para 1-800-432-6564. 9. Informações extraídas do folheto Invite Wildlife to Your Backyard, da National Wildlife Federation, endereço citado acima. 10. Macy, Despair and Personal Power, p.54. A cada ano, pescadores de atum para comercialização matam mais de 100.000 golfinhos em suas redes. Para ajudar a salvar os golfinhos em risco, contatar o Earth Island Institute, 300 Broadway, nu 28 San Francisco CA 94113, tel. (415) 7883666. 11. Informações sobre "Choices for the Future" com a Windstar Foundation, 2317 Snowmass Creek Road, Snowmass CO 81654-9198, tel. (303) 9274777. Meus agradecimentos a Max Ibsen, M.D., Jeff Arnett e William Sullivan pelas conversas e entrevistas e, 1988-89. Para maiores informações sobre a diplomacia de cidadão, contatar o Institute for Soviet American Relations, 1608 New Hampshire Ave. NW, Washington DC 20009 ou Witness for Peace, P.O. Box 33273, Farragut Station, Washington, DC 20033.

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CAPÍTULO 24

A CRIAÇÃO DA POLÍTICA TAOÍSTA Siga o Tao, Cultive seus caminhos, E se descubra em paz. Cultivando em sua alma, O Tao traz paz para sua vida. Cultivado em sua casa, Traz paz para aqueles a quem você ama. Espalhando-se entre amigos e vizinhos, Traz paz para sua comunidade. Espalhando-se entre comunidades, Traz paz para sua nação. Espalhando-se pelas nações, O Tao leva a paz ao mundo inteiro. Como sei disso ? Porque ele começa com você e comigo. (TAO 54)

política é tradicionalmente definida como "quem consegue o quê, quando, como", ou seja, é o meio pelo qual a sociedade distribui recursos e valores . Esse meio pode assumir muitas formas. A maior parte do poder político, no passado, era hierárquico, com a maioria dominada pelos monarquistas, oligarquias ou ditaduras. Mais recentemente, as democracias entraram em cena, envolvendo a participação dos cidadãos na escolha de seus líderes. As decisões em torno das diretrizes, porém, permaneceram nas mãos de um grupo seleto. O Tao sustenta um paradigma político mais cooperativo, que funciona com os ciclos da natureza, beneficiando-se das contribuições de todos os seus membros. Substituindo a hierarquia pelos ciclos cooperativos, o Tao nos pede para assumirmos nós mesmos a liderança. A criação de política taoísta "começa com você e comigo". Se desejamos um mundo mais pacífico e cooperativo, devemos viver mais pacificamente, nós mes-

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mos. Então, como os círculos de um seixo lançado num lago, nossas ações ampliarão, trazendo uma paz maior para nosso mundo. Criar uma política significa vencer o entorpecimento psíquico e o cinismo, que prevalecem tanto em nossa sociedade. Fazendo isto: 1) reivindicando nosso poder pessoal, 2) liderando a partir dos movimentos populares, 3) praticando uma política holística e 4) vivendo o processo em todos os dias de nossas vidas.

A REIVINDICAÇÃO DE NOSSO PODER PESSOAL O Tao nos lembra que: "Aqueles que concentram sua atenção no Tao Estarão em união com o Tao. Aqueles que estudam seu poder Serão poderosos." (TAO 23) Estudamos os ciclos do Tao em nossas vidas, na natureza e na sociedade. Todos os níveis, do pessoal ao planetário, refletem esta verdade fundamental: a vida é dinâmica e inter-relacionada. Nisto reside nosso poder de mudar as coisas, pois participamos da contínua criação do mundo. Reivindicar nosso poder significa acreditar em nós mesmos e em nossas próprias possibilidades. Dag Hammarskjóld disse: "Não tenha medo de si próprio. Viva plenamente sua individualidade — mas para o bem dos outros. Não copie os outros com o objetivo de comprar amizade, nem faça da convenção sua lei." Renunciamos ao Tao quando imitamos os outros. Quando nos rendemos às circunstâncias externas, também desgastamos nosso poder. Perdendo seu centro, muitas pessoas tornam-se consumidores compulsivos. Em vez de buscara realização, entulham-se de coisas, gerando um volume de lixo, todos os meses, superior ao peso de seu corpo. A proliferação de lixo em nosso mundo reflete um alto grau de insegurança de nosso povo. Vendo a nós mesmos como parte da unidade do Tao, reconhecendo que todas as nossas ações têm conseqüências, reivindicamos nosso poder. Afirmando seu poder, a classe de formandos de 1987, da Universidade Estadual de Humboldt, no norte de Califórnia, assinou um documento comprometendo-se a examinar as implicações sociais e ambientais de qualquer emprego para o qual se candidatassem. 304

Ao contrário de Confúcio, que sustentava a tradição, Lao Tsé apela para indivíduos progressistas, que pensam por si mesmos, afastam-se das convenções e buscam a verdade mais elevada. Ele sabia que novas soluções raramente vêm de velhos líderes, entrincheirados no status quo. Freqüentemente, elas vêm de pessoas comuns, que acreditam em seu poder de transportar as coisas. Na zona rural do Kentucky, Becky Simpson lutou contra empresas de mineração de carvão por escavação de superfície para acabar com a erosão e as inundações, trazendo esperança para sua pequena comunidade de índios Apalaches. "Já vi muito sofrimento humano em minha vida", diz ela. "E detesto isso. Há coisas melhores no mundo para as pessoas". Com uma educação de terceiro ano, seis filhos para criar e um marido cego em decorrência de uma enfermidade, ela começou seu trabalho em 1977. Organizando os vizinhos, processou as empresas de mineração, pedindo que reparassem os danos ao meio ambiente — e ganhou. Depois, em 1982, criou o Centro de Sobrevivência Cranks Creek, que fornece a milhares de pessoas, a cada ano, alimentos, roupas, ensino e orientação vocacional. Fazendo o curso de alfabetização do centro para melhorar sua escrita, ela pressionou autoridades na capital do estado para obter um financiamento do governo. Todo dia, essa pequenina mulher de jeans e camisa quadriculada trabalha no centro, distribuindo cestas de alimentos, roupas e esperança de uma vida melhor. Em dezembro de 1982, o convidado de um programa de debates no rádio, Eddie Schwartz, fica furioso ao saber que a administração da cidade de Chicago ia cortar os financiamentos destinados a alimentar os sem-teto, enquanto gastava 100 mil dólares com os fogos de artifício para a véspera de Ano Novo e com as luzes acesas nas pontes da cidade. Ele transmitiu sua raiva pelo rádio, convidando os ouvintes a levarem alimentos para a estação, a fim de compensar os cortes do governo. Sem saber se alguém iria aparecer, ele passou a noite inteira na frente da estação, falando pelo radio através de um microfone — e reuniu cerca de 20 mil quilos de alimentos. "É um acontecimento bem popular, uma coisa realmente das classes mais baixas", diz ele. Trata-se de povo ajudando povo. Agora, numa noite qualquer de dezembro, uma fila de automóveis, caminhonetas e ônibus dirige-se para Dearborn, Street, no Loop, algumas vezes chegando a se estender por vinte quarteirões da cidade, para doar comida. Num evento que se tornou anual, elogiado pelas administrações da cidade, a comida obtida por Eddie ajuda mais de 800.000 pessoas famintas por ano, durante as férias de inverno.5 305

Indivíduos empenhados estão mudando as coisas, em todo o planeta. Em julho de 1988, quando o botânico Paul Cox chegou para fazer pesquisas na vila de Falealupo, na Samoa Ocidental, ficou espantado de descobrir madeireiros abatendo a floresta. Sabendo que os aldeões haviam resistido aos madeireiros durante gerações, perguntou porquê. Tristemente, os chefes disseram que sua escola local havia sido condenada pelo governo samoano e que eles foram forçados a escolher entre sua floresta e a educação de seus filhos. Para pagar o débito de 55 mil dólares para a construção de uma nova escola, os chefes desesperados, haviam assinado um acordo com a companhia madeireira, que podia cortar as árvores até a soma estar completamente paga. Depois choraram, quando viram suas árvores abatidas. Cook entrou imediatamente em ação, enviando seu próprio cheque de 500 dólares para o Banco de Samoa, a fim de cobrir a conta daquele mês e prometendo pagar durante os próximos seis meses. Calculando que a salvação de um hectare de floresta custaria 1 dólar e 83 centavos ele disse: "Que incrível legado podemos deixar para o mundo com uma quantia tão pequena". Depois de entrar em contato com amigos e grupos conservacionistas, presenteou os chefes com um cheque de 45 mil dólares, o saldo da hipoteca, salvando assim 12.000 hectares daquela rara floresta pluvial paleotropical. Por suas ações, Cox foi transformado em "grande chefe" honorário pelos Falealupoanos e homenageado pelo rei da Suécia, ele próprio um doador, que convidou Cox para visitar seu país. Como demonstram esses exemplos, podemos iniciar novos ciclos positivos reconhecendo nosso poder de mudar as coisas e entrando em ação.

EXERCÍCIO PESSOAL Reserve alguns minutos, agora, para desenvolver sua visão de um mundo de paz e comprometa-se a dar o primeiro passo. • Encontre um recanto tranqüilo onde não vá ser perturbado (a). Sente-se confortável mente e diga a seu corpo para relaxar, livrando-se da tensão do dia. • Feche os olhos e respire três vezes, profundamente, soltando quaisquer pensamentos que o (a) distraiam. E, a cada respiração, relaxe mais. • Agora, pergunte a si mesmo(a): "Qual é minha visão de mundo em paz ? Qual é seu aspecto ? Qual a sensação que causa ?" 306

• Pense no que você andou fazendo ultimamente. Pergunte a si mesmo(a): "Em minha vida diária, venho criando um mundo de paz ?" E que tal suas interações com as pessoas, em sua vida ? Foram pacíficas ? harmoniosas ? ansiosas ? defensivas ? • Pense, por um momento, numa interação pacífica e lembre-se do que você fez, qual era a sensação de paz. • Depois, pense numa interação negativa. O que você poderia ter feito para torná-la mais pacífica ? Veja a si próprio(a) fazendo isso, agora. • Sinta a paz dentro e em torno de você. Afirme para si mesmo(a): "Sou um poderoso centro de paz". • Pergunte a si mesmo(a) o que pode fazer a fim de estender essa paz para uma esfera mais ampla. Veja a si mesmo(a) fazendo isso. • Sentindo-se intensamente tranqüilo, volte a inspirar profundamente e, em seguida, sinta-se reanimado(a), centralizado(a), renovado(a), pronto(a) para agir de acordo com sua visão. • Escreva todas as novas descobertas que você fez durante esse processo e comprometa-se com seu próprio plano, para criar um mundo mais pacífico.

Seguindo o Tao, sabemos que, ao transformai" a nós mesmos, transformamos nosso mundo. Partindo do nosso centro de poder, podemos criar novas soluções, novas possibilidades. A LIDERANÇA DE BASE A visão de poder pessoal de Lao Tsé corresponde a uma nova orientação de liderança, que se firma à medida que nos aproximamos do ano 2.000. Por toda a América, Europa e Ásia, as pessoas estão perdendo a fé na política tradicional. Cansados de esperar por líderes para solucionar seus problemas, assumem a liderança elas próprias. Desde a política Verde, na Europa, até a preocupação local com detritos tóxicos, lixo e poluição dos reservatórios naturais de água nos Estados Unidos, a liderança popular trabalha para promover a justiça social e preservar o meio ambiente. Desde 1980, partidos Verdes foram sendo organizados em dezesseis países da Europa, afetando as diretrizes políticas do Mercado Comum Europeu. Defensores do meio ambiente surgiram no Brasil, Argentina, Índia, Malásia, Tailândia, Indonésia, Quênia, México, Equador e em outros países em desenvolvimento. O surgimento de uma democracia popular e a queda das estruturas centralizadas é descrita por John Naisbitt como uma das 307

"megatrends' (grandes tendências) de nossa era. Ralph Nader considera-a uma maneira de vencer o cinismo, a apatia e sentimentos de impotência. Enquanto a magnitude dos problemas globais pode paralisar nossa vontade, tomar medidas locais dá resultado e restabelece nossa fé. Aqui vão alguns exemplos. Na década de 1980, uma rede de grupos de mulheres e associações de bairro de um distrito pobre de Lima, no Peru, plantaram meio milhão de árvores e treinaram centenas de pessoas locais para fazer serviços de saúde. Construíram 26 escolas, 150 centros de atendimento diário e 300 cozinhas comunitárias. O analfabetismo, lá, caiu para 3%, um dos percentuais mais baixos da América Latina, e a mortalidade infantil está 40% abaixo da média nacional. A ação política de base construiu uma forte comunidade local e uma vida mais saudável, numa área que antigamente era de extrema pobreza. Com freqüência, um movimento pequeno se esconde à medida que as pessoas ganham um senso maior de poder e possibilidade. Em 1965, um grupo de donas-de-casa do distrito de Setagaya, em Tóquio, formou uma cooperativa de compradores, que se transformou num Seikatsu (clube de consumidores) com 1.000 membros. Comprando diretamente dos produtores, os membros recebiam descontos em produtos de fábricas e laticínios. Hoje, Seikatsu tem 170.000 membros e tornou-se uma força ativa na luta pela segurança dos alimentos e pela mudança política progressista. Na década de 1970, o clube começou a comprar arroz e verduras orgânicas, pois seus membros estavam preocupados com a presença de produtos químicos perigosos em seus alimentos. A maior consciência ambiental estimulou uma proibição, defendida pelo grupo, de detergentes sintéticos. Como os membros do governo os ignoravam, os membros do Seikatsu candidataram-se a cargos públicos, em 1979, com o lema: "Reforma política a partir da cozinha". Hoje, 33 membros ocupam cadeiras nas assembléias locais, trabalhando por questões ligadas a saúde e segurança, proteção ambiental, paz, direitos das mulheres, cooperação e maior participação dos cidadãos.10 Até agora, na maioria, os líderes políticos do mundo inteiro têm sido oficiais militares ou advogados, versados na guerra ou no sistema de justiça do adversário. À medida que cresce a liderança de base, podemos esperar novas soluções, novas possibilidades para um mundo mais saudável. Cidadãos mais interessados envolvem-se ativamente e vão trazendo visões de muitas esferas de ação — em sua condição de professores, artistas, conselheiros, operários de 308

construção, engenheiros, pais, funcionários de saúde, comerciantes, cozinheiros, gerentes, músicos e lavradores, só para citar algumas das esferas. Se nossa velha liderança nos decepcionou, a proliferação de movimentos de base sustenta a promessa de cooperação: a de que, juntos, podemos criar novas harmonias e construir um mundo mais pacífico. À medida que assumimos a liderança em nossas próprias vidas, em nossas próprias comunidades, também nos tomamos pessoas Tao: "Com pequenas ações Realizando grandes coisa". (TAO 63) EXERCÍCIO PESSOAL PÔR EM PRÁTICA 1. Comprometa-se com um objetivo. Pode ser global ou local. Alguns exemplos: eliminar a fome, proporcionar uma água segura ou habitações acessíveis, preservar as florestas pluviais, proteger as espécies ameaçadas de extinção. 2. Concentre-se em seu objetivo. Escreva sobre as circunstâncias em que cuidará dele com freqüência. Medite a respeito. Visualize os resultados que gostaria de ver. 3. Procure recursos. O bibliotecário que lhe dá indicações pode ajudá-lo (a) a descobrir organizações com um interesse comum. Entre em contato com elas em busca de idéias e informações. 4. Fale a seus amigos de seu objetivo. Alguns oferecerão apoio. Troque idéias com eles. Pergunte se têm recursos para partilhar. 5. Observe sua rede crescer, enquanto se interligam diferentes vidas e talentos. Ouça. Reconheça que todos têm alguma contribuição valiosa para dar. 6. Encontre-se com os adeptos e estabeleça um plano de ação. Estabeleça objetivos a curto prazo e uma agenda, determinando quem fará o quê. Mantenha encontros regulares para verificar os resultados. 7. Comunique-se com freqüência. Use notas, telefonemas, até mesmo um boletim, para manter todos informados e envolvidos. As redes, como coisas vivas, precisam ser alimentadas. 8. Não discuta em torno de diferenças. Esteja aberto (a) a novas idéias, novas possibilidades, e observe as coisas crescerem.

A PRÁTICA DE UMA POLÍTICA HOLÍSTICA O Tao nos ensina a pensar holisticamente, lembrando-nos de que somos parte de um todo muito mais amplo. A solução dos 309

complexos problemas atuais exige uma visão da totalidade. Mas algumas pessoas não conseguem enxergar tão longe. Olhando a sua volta, você descobrirá algumas pessoas que pensam holisticamente, enquanto outras estão presas à antiga visão fragmentada, sem consciência das conseqüências de suas ações. Quando USA Today perguntou a um grupo de americanos escolhidos ao acaso se estavam dispostos a pagar para ter um ar mais limpo, muitas respostas revelaram uma visão limitada. Marie, uma secretária aposentada de Nova Jersey, disse que seus impostos já eram atos demais e que os caminhões e ônibus que causam a poluição deviam pagar a conta. Bob, produtor de vídeo na Flórida, disse que o ar local é ótimo e "quando não é você quem cria o problema, não deve ter de pagar a conta."12 Pessoas como Bob e Marie talvez não percebam, mas realmente contribuem para o problema. Todos nós poluímos o ar, quando compramos alimentos e bens de consumo transportados, quando usamos objetos de plástico, dirigimos automóveis, enviamos ou recebemos correspondência, lemos livros, revistas ou jornais. A lista prossegue. Qualquer coisa demasiadamente processada ou transportada por uma longa distância causa prejuízos ao meio ambiente. Percebendo que a produção e a distribuição de seus livros exaure o meio ambiente, a Editora New Society estabeleceu um "imposto verde", pedindo aos clientes para compensarem os custos ambientais. Metade do dinheiro vai para o restabelecimento ambiental local e a outra metade, para a educação ambiental. Outras empresas socialmente responsáveis acrescentaram recentemente o "imposto verde" a seus planos de negócios.13 Tendo uma visão da totalidade, as pessoas Tao agem com wu wei, cooperando com o mundo natural em torno delas. Algumas vezes, suas ações parecem um pouco excêntricas aos pensadores convencionais, porém, como nos lembra Lao Tsé: "Quando uma pessoa convencional ouve falar do Tao Explode em sonoras gargalhadas. Se não houvesse gargalhadas, Não seria o Tao." (TAO 41) Um desses intercâmbios aconteceu quando o Presidente Carter chamou E.F. Schumacher para a Casa Branca, em 1977, a fim de solucionar os problemas da crescente inflação e do desemprego. "Acho que você deveria plantar mais árvores", disse ele ao presidente. 310

Considerada num quadro de totalidade, a resposta de Schumacher foi mais do que uma questão de riso. As árvores enriquecem a sociedade de muitas maneiras, não apenas criando empregos a curto prazo, enquanto são plantadas e cuidadas, mas também gerando energia, que pode ser usada para combustível ou materiais de construção. As árvores dão sombra e abrigo, purificam o meio ambiente, fornecem-nos oxigênio, enriquecem o solo e criam um habitat para plantas e animais. Vendo o quadro mais amplo, as pessoas Tao praticam a solução holística de problemas, tomando medidas com conseqüências positivas em muitos níveis. Na zona rural de Minnesota, um veterano do Vietnã chamado Jeff Steiner está plantando uma árvore para cada pessoa morta ou desaparecida no Vietnã, criando assim uma floresta como seu próprio memorial. Com milhares de pequenos pinheiros, ele afirma a vida, recuperando-se de sua própria perda e contribuindo para a ecologia a sua volta. Sua ação é boa para si próprio e boa para o planeta. Outro exemplo de política holística, um projeto das Nações Unidas no Quênia, emprega mulheres locais em trabalhos de reflorestamento, pagando-lhes em milho e óleo de cozinha. Antes do projeto, a área sofria de seca e erosão do solo por causa do excesso de uso com pastagens. Agora, as mulheres estão plantando árvores de crescimento rápido, resistentes às secas, além de sorgo, contornando o terreno, para ajudar a captar a água das chuvas. O projeto oferece contribuições positivas em muitos níveis: alívio da fome, recuperação do meio ambiente, oportunidade igual para as mulheres e treinamento para uma vida melhor. É bom para as pessoas e para o meio ambiente, promovendo o equilíbrio e a justiça social.1 Numa abordagem holística da questão habitacional, os construtores do Vale Santa Clara, na Califórnia, estão combinando novas casas com árvores frutíferas, num projeto inovador chamado Lee's Orchard (Pomar do Lee). Conhecida como "O Vale das Delícias do Coração", a área, antigamente, era cheia de pomares, mas, nos últimos anos, o meio ambiente foi atacado com camadas de concreto e novos prédios para sustentar a florescente indústria dos computadores. De propriedade de uma cooperativa e dirigido por um administrador contratado, o pomar ajudará a restabelecer a proximidade dos moradores com a natureza, à medida que eles forem observando a mudança das árvores com a passagem das estações. O complexo também incluirá uma piscina da comunidade e um prédio de lazer. Constituindo um projeto holístico para a moradia dos anos 90, o pomar incrementará as relações comunitárias, purificará o ar, 311

produzirá frutas locais para a área e proporcionará uma sensação de paz às pessoas.17 Incorporando uma visão cooperativa para o problema da habitação no mundo, o Habitat for Humanity (Habitat para a Humanidade) mobiliza voluntários e futuros moradores, bem como operários, que literalmente colocam sua fé para trabalhar, a fim de construir "uma morada decente, numa comunidade decente, para os filhos de Deus necessitados". Proporcionando casas para pessoas de baixa renda em toda a América do Norte, África e América Central, o Habitat constrói ou remodela casas em parceria com as famílias locais e as vende ao preço de custo. Financiamento, compra de material e trabalho voluntário constituem doações de igrejas, grupos comunitários e indivíduos interessados. Mais do que habitação, o Habitat oferece: cooperação, serviço significativo, dignidade para os pobres e esperança num mundo mais compassivo. Em 1965, o fundador do Habitat, o advogado e empresário milionário Millard Fuller, abriu mão de sua prática e fortuna pessoal para seguir os impulsos de sua alma. Mudando-se para a vila de Koinonia, na Geórgia, redescobriu sua fé cristã e, depois, lançou um projeto de habitações no Zaire. Lá, Fuller e sua família tornaram-se mais unidos, enquanto ajudavam as pessoas não apenas a construir casas, mas a restabelecer sua fé. Repetidas vezes, pessoas e materiais apareceram exatamente na hora certa, como a resposta para as orações da família. O livro de Fuller, Love in the Mortar Joints (Amor nos encaixes de argamassa) descreve muitos episódios desse tipo, bem como o apoio de voluntários cujo amor, diz ele, tornou-se parte de cada edifício. O ex-Presidente Jimmy Carter tem sua própria visão total da paz. Depois de uma tentativa mal sucedida de se eleger para um segundo período de governo, em 1980, ele voltou para casa, na Geórgia, a fim de decidir o que fazer. Um projeto que escolheu foi o Habitat para a Humanidade. Durante os últimos anos, ele e Rosalynn martelaram pregos, colocaram pisos, espalharam areia, pintaram e ergueram as paredes de novos lares, trabalhando lado a lado com os futuros moradores. Enquanto outros presidentes anteriores contentaram-se em repousar sobre os louros, Carter continua comprometido em ajudar aos outros através de trabalho ativo, tangível. "Para mim, esta é uma das maneiras quase perfeitas de por em ação minhas crenças religiosas", explica. E acha que o Habitat é o tipo de programa "que pode derrubar barreiras e curar o ódio".19 312

Carter demonstrou a mesma abordagem ampla ao criar sua biblioteca presidencial. Em vez de um depósito para papéis oficiais, Carter desejava um centro educacional vital, onde as pessoas pudessem estudar novos enfoques em torno de saúde, negociações e paz mundial. O Centro Carter oferece seminários sobre negociação e mediação, refletindo a crença de Carter nestes princípios como o meio para alcançar uma paz maior, tanto em termos coletivos quanto individuais. Em recente entrevista coletiva à imprensa, perguntei-lhe o que os cidadãos podem fazer para criar um mundo mais pacífico. Ele sorriu, olhando diretamente para mim, com aqueles seus olhos azuis claros. "Há princípios na busca da paz — negociação, mediação, arbitragem — que se aplicam a todas as pessoas, até mesmo à vida privada de uma família. Os mesmos princípios se aplicam à solução de disputas internacionais", disse ele, numa referência a livros recentes sobre o assunto.20 Encorajou os cidadãos a aprenderem esses princípios e insistiu para que os governos também os utilizassem. Carter disse que gostaria de ver a América confiar mais na negociação e na diplomacia, tomando-se "uma campeã da paz", em vez de acreditar na "beligerância ou na injeção de soldados americanos em locais de perturbação no mundo inteiro". "É muito difícil manter a paz; é muito fácil guerrear", disse ele, com ar pensativo. Fomentando a guerra, recaímos nos velhos hábitos dualistas, perpetuando os ciclos de postura defensiva, de agressão e violência. Vendo os problemas amplamente, praticando a cooperação, abrimos os braços em novas direções, explorando o desconhecido potencial wu do Tao e dando o que os cristãos chamam de "um salto de fé". Seguir a intangível sabedoria do espírito não é fácil, num mundo que nos condiciona a aceitar apenas realidades materiais. Mas, como diz Carter, há princípios que se aplicam igualmente a indivíduos e nações, princípios estudados em nosso tempo pelo Centro Carter e registrados, centenas de anos atrás por Lao Tsé: "Princípios da verdade Que guiam toda a criação, As lições da vida Inerentes ao Tao." (TAO 21)

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VIVER O PROCESSO O Tao pede que tenhamos a coragem de viver esses princípios. Esta é a mensagem final de Lao Tsé. Neste período decisivo de transição, quando o velho paradigma está sendo abandonado, podemos criar um novo ciclo de paz vivendo o Tao: em casa, no trabalho, na natureza e no silêncio de nossos próprios corações. Será que podemos seguir o Tao? Só nós podemos saber. Os princípios estão aí, mas o caminho de cada um de nós é desconhecido, não há mapas para encontrá-lo. As possibilidades são muitas; a escolha é nossa. Como disse Dag Hammarskjóld, "A vida só exige de você a força que você possui. Apenas um feito é possível — não ter saído correndo". Se você for chamado a viver o Tao da Paz, reconhecerá o sentimento que Hammarskjóld registrou em seu diário, Markings (Notas): "Assim foi. Estou sendo impelido adiante Para uma terra desconhecida. O desfiladeiro torna-se mais íngreme, O ar mais frio e cortante. Meu destino desconhecido, como se vento fosse, Agita as cordas Da expectativa. Volta a pergunta: Será que, algum dia, lá chegarei ? Lá, onde a vida entoa Uma nota pura e clara No silêncio."21 Seguir o Tao nos conduz para território desconhecido, a área do wu. É um caminho menos percorrido, menos seguro, mas muitíssimo necessário. Jamais estivemos lá. Poucos, neste mundo, já estiveram lá algum dia. Porém, nosso mundo perturbado espera, a meta distante nos chama, o caminho está bem próximo. Como aprendemos nestas páginas, o caminho é o processo. E nós somos o processo. O processo é o Tao. Lao Tsé nos diz: "Perseverar no caminho é força. Manter seu centro é resistir." (TAO 33) 314

Perseverar, lembra-nos o Tao, ser forte e complacente como a a água. Permanecer aberto(a) e centralizado(a), flexível como o bambu. Praticar a compaixão. Respeitar os ciclos dentro e em torno de você. Buscar a harmonia com a natureza e com todos os outros em seu mundo. Então, sem dúvida, a paz encherá sua vida e seu fluxo curará este planeta: "Espalhando-se pelas nações, O Tao leva a paz ao mundo inteiro. Como sei disso? Porque ele começa com você e comigo." (TAO 54)

Afirmação Agora sei que minha vida é pacífica e harmoniosa. Centralizado(a) e poderoso(a), vivo minhas crenças. Lidero a partir da base, trabalhando para o bem de todos. Tenho uma visão da totalidade, ajo cooperativamente, pratico a política taoísta. Lembro-me sempre de que a vida é um processo. Respeito a mim mesmo(a) e ao processo. Harmonizo-me com a natureza e com todos os outros em meu inundo. Agora recebo uma paz maior em minha vida. E assim seja. NOTAS 1. Citação de Harold D. Lasswell, em Politics: Who Gets Wliat, Wlien, How (Magnolia, Massachusetts: Smith, 1936), Esta referência e outros conselhos políticos de William James Stover, Ph.D., de San José, Califórnia. 2. Hammarskjöld, Markings (Nova York, Alfred A. Knopf, Inc.; Londres: Faber and Faber Ltd., ©1965), p. 53. Esta e outras citações, neste capítulo, foram usadas com permissão do editor. 3. Andrea Choen-Kiener faz essa reivindicação em "Smaller and Simpler Is Sáfer, Saner", escrito para o Courantàe Hartford, impresso no Mercury News de San José, em 5 de maio de 1989, p. 7P. 4. Para imformações a respeito da associação estudantil (p. 88) e outras maneiras de levar uma vida mais equilibrada, ver: Bill Devall, Simple in Means, Rich in Ends {Sah Lake City: Gibbs Smith, 1988). 315

5. Histórias sobre Becky Simpson e Eddie Schwartz extraídas de "You Just Have to Try", Copyright ©1989 de Michael Rian, publicado inicialmente em Parade Magazine, 28 de maio de 1989, pp. 40-43- Republicado com permissão da editora, do autor e dos agentes do autor, Agência Literária Scott Meredith, Inc. 6. Informações e citações extraídas de "How One Rainforest Was Saved", de Nancy Perkins, em Greenpeace, maio/junho de 1989, p. 16. Usado com permissão de Greenpeace. A revista (4 exemplares) está disponível a 20 dólares por ano, ou doação superior, para Greenpeace, 1436 U. Street NW, Washington DC 20009. 7. Para maiores informações sobre movimentos populares no mundo inteiro, ver: Alan B. Durning, "Grassroots Groups Are Our Best Hope for Global Prosperity and Ecology", originalmente publicado em The Progressive, abril de 1989, republicado em UtneReader, julho/agosto de 1989, pp. 40-48. 8. Ver Naisbitt, Magatrends, pp. 97, 129, e uma entrevista de 1982 com Ralph Nader, citada por Macy em Despair and Personal Power, p. 131. 9. O projeto Lima é descrito extensamente na obra de Durning, "Grassroots Groups", p. 42. 10. Informações sobre o Seikatsu extraídas de David Morris, em "Political Reform from the Kitchen", Building Economic Alternativos, revista dos membros da CO-OP America, verão de 1989, pp-3. Usado com permissão da CO-OP America, que oferece aos membros produtos ambientalmente seguros, vindos de indústrias caseiras e cooperativas do Terceiro Mundo. Para maiores informações, escrever para CO-OP America, 2100 M Street NW, NQ 310, Washington DC 20063. 11. Algumas idéias neste exercício foram inspiradas por sugestões do livro de Arnold Gerstein e James Reagan, Win-Win: Approaches to Conflict Resolution (Salt Lake City: Gibbs Smith, 1986), p. 99. 12. Levantamento de "Voices: Are You Willing to Pay Higher Prices for Clean Air?", em USA Today, 13 de julho de 1989, terça-feira, p. 10A. 13. Para maiores informações sobre o imposto verde, contatar a New Society Publishers: 4527 Springfield Avenue, Philadelphia PA 19143, ou o Finger Lakes Green Fund, P.O. Box 6578, Ithaca, NY 14851, tel. (607) 387-3424. 14. A história a respeito de Shumacher foi tirada do livro de Byron Kennard, Nothing Can Be Done, Everything Is Possible (Andover, Massachusetts Brick House Publishing, 1982), p. 14515. Informações sobre Jeff Steiner, obtidas de CBS Evening News, maio de 1989. 16. Informações sobre o projeto de reflorestamento extraídas de Barbara Howell, "Seedlings of Survival", de Christianity and Crisis, 16 de setembro de 1985, p. 349. Usado com permissão da editora. Assinaturas a 24 dólares por ano (19 exemplares), podendo ser feitas com "Christianity and Crisis, 537 W. 121 Street, Nova York NY 10027. 316

17. Informações sobre o chamado Pomar de Lee extraídas de "Back to Basics: Homes Within an Orchard", de Alan Hess, Mercury News de San José, 7 de maio de 1989, p. IP. 18. Informações sobre o Habitat for Humanity extraídas de "Sharing the Vision" e Love in the Mortar Joints, de Millard Fuller e Diane Scott (Piscataway, Nova Jersey: New Century Publishers, ©1980), usadas com permissão do editor. O livro pode ser encomendado à New Century Publishers, 220 Old New Brunswick Road, Piscataway NJ 08854, ou ao Habitat Church Streets, Americus GA 31709-3498, tel. (912) 924-6935. Para as sucursais locais do Habitat e projetos em sua área, consultar o catálogo telefônico local. 19. Citação de "Carter Finds Fulfillment in Providing the Poor Modest, Low-cost Homes", de Sunny Merick, org., The Los Altos Town Crier, abril de 1989. Meus agradecimentos a Sunny Merick por partilhar suas idéias sobre cooperação e paz. 20. Alguns livros úteis sobre o assunto: Gerstein e Reagan, Win-Win, citado anteriormente, e Roger Fisher e William Ury, Getting to Yes: Negotiating Without Giving Up (Nova York: Penguin, 1983). As citações de Carter são de uma entrevista coletiva à imprensa no De Anza College, Cupertino, Califórnia, em 6 de maio, de 1988. Para maiores informações sobre o Carter Center e seus programas, escrever para Office of Public Information, The Carter Center, One Copenhill, Atlanta GA 30307, ou telefonar para (404) 331-0296. 21. Hammarskjóld, Markings, pp. 8, 5. Usado com permissão.

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APÊNDICE

A autora e o editor são sinceramente gratos pela permissão para usar seleções e informações das seguintes obras: Jack Canfield, exercício do espelho mostrado no workshop Full Esteem Ahead [Em busca da plena estima] em San José, Califórnia, outubro de 1988. Usado com permissão de Self Esteem Seminars. Tina Clare, Silence in the Heart: Meditations for Inner Growth and Relaxation. Los Altos Hills: Copyright © 1989. Usado com permissão de Tina Clare. Jim Dodge, Leonard Charles, Lynn Milliman e Victoria Stockley, "Where You At? A Bioregional Test", publicado pela primeira vez em Coevolution Quarterly, na32, inverno de 1981. Usado com permissão dos autores e do editor, atualmente Whole Earth Review. Genevieve Farrow, "A Strange Encounter", Originalmente publicado em Science of Mind Magazine, maio de 1988. pp. 3-5. Usado com permissão da autora. Millard Fuller e Diane Scott, Love in the Mortar Joints, Piscataway, Nova Jersey: New Century Publishers, © 1980. Usado com permissão do editor. Suzzane Gowan et ai. Moving Toward a New Society. Filadélfia: New Society Publishers, Copyright© 1976. Usado com permissão do editor. The Greenpeace Philosophy. Usado com permissão do Greenpeace, Estados Unidos e Canadá. Dag Hammarskjöld, Markings, tradução inglesa de Leif Sjoberg e W.H. Auden, Nova York: Alfred A. Knopf, Inc.; Londres: Faber and Faber Ltd. Copyright 1965. Usado com permissão dos editores. 319

Louise L. Hay, You Can Heal Your Life. Santa Monica: Hay House, Copyright© 1984. Usado com permissão do editor. Barbara Howell, "Seedlings of Survival". Christianity and Crisis, setembro de 1985. Usado com permissão do editor. Robert Hunter, Warriors of the Rainbow: A Chronicle of the Greenpeace•Movement. Nova York: Holt, Rinehart, and Winston, Copyright© 1979Usado com permissão do autor. Gerald G. Jampolsky, Love is Letting Go of Fear. Berkeley: Celestial Arts, Copyright© 1979. Usado com permissão do autor e do editor. Gerald G. Jampolsky, Teach Only Love: The Seven Principies of AttitudinalHealing. Nova York: Bantam, Copyright© 1983. Usado com permissão do editor. Martin Luther King, Jr.,"Letter from a Birmingham Jail". Copyright © 1963, 1964 de Martin Luther King, Jr. Usado com permissão de Joan Daves. Kathryn MaCamant e Charles Durrett, Cohousing: A Contemporary Approach toHousing Ourselves. Berkeley: Ten Speed Press, Copyright© 1988 de Kathryn McCamant e Charles Durret. Usado com permissão do editor. G. Tyler Miller, Jr., Living in the Environment. 2a edição, Belmont: Wadsworth, Copyright© 1979. Usado com permissão do editor. Informações sobre o Lago Mono usadas com permissão do Comitê do Lago Mono, Lee Vining, Califórnia. David Morris, "Political Reform from the Kitchen", Building Economic Alternatives, revista dos sócios de CO-OP America, verão de 1989. Usado com permissão de CO-OP America. John Muir, John of the Mountains: The Unpublished Journals of John Muir, org. Linnie Marsh Wolfe. Boston: Houghton Mifflin, Copyright© 1938 de Wanda Muir Hanna. Copyright© renovado em 1966 por John Muir Hanna e Ralph Eugene Wolfe. Reeditado com permissão de Houghton Mifflin Company. Haridas T. Mazumdar, "Gandhfs Nonviolence", originalmente publicado em FriendsJournal. Usado com permissão do editor. John S. Niendorff, "Two Billion People for Peace: An Interview With John Randolph Price", Science of Mind Magazine, agosto de 1989. Usado com permissão do editor. Peace Pilgrim: Her Life and Work in Her Own Words. Santa Fé, Ocean Tree Books, Copyright© 1983. Usado com permissão do editor e de Friends of Peace Pilgrim. Nancy Perkins, "How One Rainforest Was Saved", in Greenpeace, maio/junho de 1989. Usado com permissão do Greenpeace. Laurel Robertson, Carol Flinders e Bronwen Godfrey, Laurel's Kitchen: A Handbookfor Vegetarian Cookery. Petaluma: Nilgiri Press, Copyright © 1976. Usado com permissão do editor. Michael Ryan, "You Just Have to Try", Copyright © 1989 de Michael Ryan. Publicado pela primeira vez em Parade Magazine, maio de 1989. 320

Reeditado com permissão do editor, do autor e dos agentes do autor, Scott Meredith Literary Agency, Inc. Lao Tzu: The Way of Life, tradução para o inglês de R.B. Blakney. Nova York: New American Library, Copyright, © 1955. Usado com permissão do editor. The Way of Life According to Lao Tzu, tradução para o inglês de Witter Bynner. Nova York: Putnam, 1972. Copyright© 1944 de Dorothy Chauvenet e Paul Horgan. © renovado em 1972. Reeditado com permissão de Harper and Row Publishers, Inc. Lao Tzu: Tao Te Ching, tradução para o inglês de Gia-Fu Feng e Jane English. Nova York: Alfred A. Knopf, Inc., Copyright© 1972. Usado com permissão do editor. The Tao: The Sacred Way, tradução para o inglês de Tolbert Mc Carroll. Nova York: Crossroad, Copyright© 1982. Usado com permissão do autor. The Tao of Power, tradução para o inglês de R.L. Wing. Nova York: Doubleday, Copyright © 1986. Usado com permissão do autor e do editor. The Wisdom of Laotse, tradução para o inglês e organização de Lin Yutang. Copyright© 1948 de Random House, Inc. Reeditado com permissão do editor. John Seed, "Anthropocentrism", Apêndice E em Deep Ecology, de Bill Devall e George Sessions. Layton Utah: Gibbs Smith, Copyright© 1985. Usado com permissão do autor e editor. John Seymor e Herbert Girardet, Blueprint for a Green Planet. Nova York: Prentice Hall, Copyright© 1987. Usado com permissão do editor. Marsha Sinetar, Elegant Choices, Healing Choices: Finding Grace and Wholeness in Everythind We Choose. Mahwah, Nova Jersey: Paulist Press, Copyright© 1988 de Dr. Marcha Sinetar. Usado com permissão do editor. Robert William Smith, "The Distinction Between Life as a Problem or a Mistery", roteiro de curso de filosofia. Usado com permissão do autor.

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