Paul Brunton - A Imortalidade Consciente

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PAUL BRUNTON

A IMORTALIDADE CONSCIENTE

UNIVERSALISMO

A IMORTALIDADE CONSCIENTE Diálogo com Ramana Maharshi Gravado por Paul Brunton E Munagala Venkataramiah

Sumário Prefácio da edição em inglês Capítulo 1 – Além do Yoga Capitulo 2 – O significado da religião Capítulo 3 – O significado do Misticismo Capítulo 4 – O significado da Filosofia Capítulo 5 – O Intelecto Capítulo 6 – As características da Disciplina Capítulo 7 – A Filosofia da Sensação e da Percepção Capítulo 8 – As ilusões do espaço, tempo e exterioridade Capítulo 9 – A Doutrina do Mentalismo Capítulo 10 – A ilusão da experiência do mundo Capítulo 11 – A ilusão da experiência do ego Capítulo 12 – Avastatraya Capítulo 13 – O último como verdadeiro Capitulo 14 – A Filosofia Prática Capítulo 15 – A companhia do sábio como ideal Capítulo 16 – A Doutrina da não-casualidade Capitulo 17 – A mente Capítulo 18 – A realidade suprema Capitulo 19 – A necessidade de ultramisticismo

Prefácio Há alguns meses atrás, veio a nós o Senhor Kenneth Hurst deixando um precioso tesouro para que nós o aproveitássemos. Esse tesouro era uma coleção de conversações com Sri Ramana Maharshi anotadas por Paul Brunton e Munagala Venkataramiah. Paul Brunton foi divinamente inspirado em chegar a Maharshi; pois, o fato é que os dois capítulos do seu livro – Índia Secreta, foram o instrumento à expansão da mensagem de Maharshi. Munagala Venkataramiah guardou para a posteridade as recolhidas notas de perguntas de pesquisadores espirituais, e as respostas de Sri Ramana, notas que foram tomadas durante quatro anos, entre 1935 e 39. A lucidez, a integridade e a utilidade prática do ensinamento fizeram com que publiquemos e divulguemos integralmente o recém-chegado material, embora uma pequena parte deste tenha aparecido em nossas outras publicações. Uma palavra sobre o título. É somente através de vigilante, persistente e consciente esforço que se chega à plenitude da CONSCIÊNCIA. A atenção nunca pode se permitir ao erro além daquilo que eternamente existe. Então, a imortalidade é vivenciada aqui e agora. A inspiração e a insistência para que este seja publicado o mais breve possível, vem de Sri Ganeshan – administrador-gerente e editor de Mountain Path. As notas foram compiladas por Sri A. R. Natarajan – membro do Conselho Editorial. Nossos agradecimentos especiais devemos ao Senhor Kenneth Hurst, por nos haver concedido os direitos desse material e a Sri Srimati Desikan – das Impressoras Especializadas – pelo desprendido esforço deles. Devemos também nossos agradecimentos à Índia Linotirpo de Bengalore.

(Prefácio da 1ª edição em inglês, publicada na Índia em 1984.)

CAPÍTULO 1

Além do Yoga Milagres? Prodígios? Clarividência? Clariaudiência? O que isso representa? O maior milagre é a realização de SER. Tudo o mais é secundário, que encobre a Realidade. O Homem realizado está acima disso. Leadbeater descreve centenas de vidas passadas percebidas por clarividência. Para que serve isso? Ajuda os outros ou ele mesmo a conhecer o SER? Você poderia estar agora na Inglaterra (astralmente) mas estaria em melhor situação? Não estada nem um pouco mais perto da realização. Visões e sons que eventualmente possam surgir durante a meditação, devem ser encarados como distrações e tentações. Não se deve permitir a nenhum desses fenômenos desviar a atenção do aspirante e distraí-lo. P. As visões e sons, místicos vêm depois que a mente estiver concentrada, quieta e em branco ou antes? R. Tanto podem vir antes como depois. O importante é ignorá-los e prestar toda atenção somente no SER. Que bem pode resultar dos Siddhis (poderes ocultos)? Vamos supor que você esteja exercendo todos esses maravilhosos poderes, ardentemente desejando algo e procurando satisfazer esse desejo. E quando um novo desejo surgir, irá desdobrar sua energia e atenção a isso. O resultado será apenas inquietação e aborrecimento da mente agitada. Se a felicidade for realmente seu alvo, terá que definitivamente largar sua diversão com Siddhis e procurar encontrar-se através da pergunta: “Que é que deseja a felicidade?” P. Por que sinto a paz na sua presença, e, quando me afasto, ela não perdura? R. Esses arrebatamentos são meros sinais da revelação constante do SER. Esta paz é a nossa real natureza. E pelo contrário, somente as idéias estão sendo sobrepostas. É o verdadeiro yoga. Você pode dizer, no entanto, que essa paz pode ser adquirida pela prática. As noções erradas se deixam pela prática. Frequentemente as pessoas compreendem mal o Samadhi. Conta-se que um yogue passou centenas de anos em transe à beira do Ganges e, ao despertar, seu primeiro pensamento foi para a água que havia pedido ao discípulo antes de entrar no transe. A força do pensamento reassumiu sua ascendência, o êxtase lhe foi inútil. A real consecução, disse Maharshi, é estar PLENAMENTE

CONSCIENTE, cônscio de seu meio-ambiente e das pessoas que o cercam, mover-se entre elas todas, mas não apagar sua consciência nesse arredor. E sim, permanecer na sua íntima e independente conscientização de tudo isso. Pois, SER é o mais elevado estado, e não ficar sentado em êxtase que nada mais faz senão parar a mente que tem que ser completamente destruída, e não apenas detida. O homem segue o curso de seus Samskaras. Quando pensa que ele é o SER, o ensinamento afeta-lhe a mente cuja imaginação corre desenfreada. Suas íntimas experiências estão conforme sua imaginação no estado de “eu sou o SER”. Mas, quando ele estiver maduro para receber o ensino e a sua mente prestes a cantar louvores dentro do Coração, o ensino participa dos trabalhos no corpo e o homem conscientiza o SER. Caso contrário, o esforço se impõe. O ocultismo e a teosofia de mãos dadas juntos rondam o mesmo alvo. Afinal, seus seguidores querem chegar ao SER. Seus dirigentes, porém, não lhes ensinam a meditar no SER. Para aguçar a inteligência dos outros aspirantes, os Vedas dizem: “Sendo o SER enuviado pelo Avarana, ou seja, coberto da ignorância, como no sono aparece esse mundo dos fenômenos. Na realidade, o SER não está encoberto; apenas parece estar aos olhos das pessoas que acham ser o corpo. Quando as formas interferem no principal curso ou corrente da meditação, não se deve deixar que a mente fique distraída. Volte a meditar no SER, o Testemunho, e não se preocupe com semelhantes desatenções. Este é o único meio para lidar com tais intervalos. Nunca esqueça de si mesmo! P. O que seria se a pessoa meditasse ininterruptamente e não agisse? R. Experimente e veja. Suas predisposições não lhe deixarão fazê-lo. Dhyana vem gradativamente, diminuindo aos poucos os Vasanas pela Graça do Guru. Intelecto é o corpo astral. Nada mais é senão um agregado de certos fatores. E o que mais é o corpo astral? De fato, sem o intelecto nenhum Kosa teria sido conhecido. Quem diz que ali haja cinco Kosas? Não é o próprio intelecto? Não existe nenhuma espécie de pesar para quem deixou de ver através de seus sentidos físicos e começa a perceber todas as coisas à luz do seu próprio SER. Além do mais, esse pesar (da perda de sua mulher) não é uma indicação do verdadeiro amor. O amor que a pessoa tem para com objetos externos e formas não é o verdadeiro amor. O verdadeiro amor sempre tem permanência no próprio SER da pessoa. P. Estando em meditação, vejo diante de mim lindas cores. É um verdadeiro deleite olhá-las. Nelas podemos ver Deus? R. São meras concepções mentais.

Objetos ou sentimentos ou pensamentos, quer dizer, todas as experiências, em meditação, não passam de concepções mentais. Quando Sundaresa Iyer, um professor local, descrevia experiências de Yoga que havia tido, inclusive visões da luz, repicar dos sinos, etc. Maharshi respondeu: “Elas vieram e foram embora. Apenas testemunhe, observe-as; eu mesmo tive milhares de experiências similares, mas ninguém para consultar a respeito.” P. Em visões concretas podemos ver Deus? R. Sim. Deus é percebido na mente. A forma concreta pode ser contemplada, mas mesmo assim, dentro da própria mente do devoto. A forma e a revelação de Deus-Imanente estão sendo determinadas pela mentalidade do devoto. O motivo, porém, é apenas para que não se tenha o sentido de dualidade. É semelhante a uma visão no sonho. Depois de ter tido percepção de Deus, Vichara começa e acaba na conscientização do SER. Vichara é um método que vem por último. P. Paul Brunton não viu o Senhor em Londres? Foi isso apenas um sonho? R. Sim, ele teve uma visão, todavia, ele me viu na sua própria mente. P. Não obstante, ele não viu esta forma concreta? R. Sim, mas ainda assim, isso era na própria mente dele. Guardando Deus na mente, todas as coisas circundantes se lhe tornam Dhyana (meditação). Esta é a última etapa antes da realização que sobrevém somente no SER. Dhyana tem que preceder a realização, não importa de que modo seja. Em qualquer dos dois que você meditar, seja sobre Deus ou no SER, o alvo será o mesmo. P. Através da poesia, música, etc, às vezes a pessoa experimenta o sentimento de gozo profundo. Isso poderia levar ao mais profundo Samadhi e, no fim, à plena percepção do Real? R. Por um aprazível vislumbre, você sentiu esta Felicidade. Felicidade é inerente ao SER. Esta Felicidade não é alienígena, nem muito distante. Você esteve mergulhado no puro SER na ocasião em que achou este estado aprazível. Desse mergulho resultou o vislumbre do SER-bem-aventurança existente. Contudo, é a associação de idéias responsável em provocar essa Felicidade, percebendo o que se passa ao lado. Mas, de fato, isso está dentro de você. Naquelas ocasiões você fica mergulhado no SER completamente inconsciente. Se você fizesse isso conscientemente, chamaria de Realização. Quero que você mergulhe conscientemente no SER ou melhor, no seu próprio Coração. P. Santa Teresa, assim como os outros, viu a imagem de Nossa Senhora moverse. Ela a viu de fora. Os outros vêem as imagens de sua devoção flutuando na

sua visão mental. Isto é, dentro deles. Não há diferença alguma de grau nesses dois casos? R. Ambos indicam que a pessoa tem desenvolvido fortemente o ponto alto da meditação. Ambos os casos são bons e progressivos. Aí não há diferença de grau. Uma pessoa tem um conceito sobre a Divindade e, conforme esse conceito, cria imagens mentais e sente-a nessa imagem. Uma outra tem diferente concepção da Divindade na imagem mental e sente-a nessa imagem. O sentimento está dentro da pessoa em ambos os exemplos. P. Quanto à experiência espiritual de Santa Teresa, era ela devotada à figura de Nossa Senhora, que parecia ter vida à vista dela, fazendo com que a Santa ficasse em êxtase de felicidade. R. A figura animada preparou-lhe a mente para a introversão. É um processo de concentração mental na sua própria sombra que, em dado momento, adquire vida e responde às perguntas feitas a ela. Isso se deve a Manobala (poder da mente) ou Dhyanobala (poder da meditação), a qualquer que seja, a experiência sempre é externa e também temporária. Semelhante fenômeno pode provocar um deleite por algum tempo. Mas a paz permanece, isto é, Shanti, que não concorre para o resultado. Isso se obtém somente pelo descarte de Avidya (ignorância).

CAPÍTULO 2

O Significado da Religião Quando adoramos imagens e formas, de fato, estamos adorando a nós mesmos nessas imagens. P. Vishnu, Shiva e outras Divindades existem mesmo? R. Não somente as almas humanas individuais estão sendo conhecidas. Mas, em vez de perseguir a busca nessa direção, por que você não procura dentro de si mesmo? A quem essas idéias surgem? P. No que diz respeito à ajuda de Deus no meu esforço, não é para ser ela alcançada pela adoração, prece etc.? Não seria isso de grande auxílio? R. A Graça de Ishvara, adoração a Ele etc., são os degraus intermediários adotados e necessários para serem adotados enquanto o alvo não for alcançado. Ao alcançá-lo, verá que não há diferença entre Deus e SER. P. Devo continuar a adoração ao ídolo? R. Enquanto pensar que você é o corpo, não fará mal. Isso pode até levá-lo à concentração da mente. Procure mantê-la num ponto só! P. Há um SER separado, Ishvara, que recompensa virtudes e castiga pecados? Ali há Deus? R. Sim. P. Tem Ele forma? Dissolver-se-á na Pralaya? R. Pralaya é a mente mantida presa pelo Maya. Se você pode, com todos os seus defeitos e limitações, elevar-se pelo Jnana a ter consciência do SER – que é além de todo Pralaya e Samsara, não é razoável estar na expectativa de que Ishvara, que é infinitamente mais inteligente que você, esteja acima e além do Pralaya? Ilumine a si próprio através do autoconhecimento! P. Terei de praticar Sandhya? (rituais religiosos cujo ofício é praticado pela manhã e à noite). R. Se você acha isso necessário, sem dúvida deve praticá-lo.

P. Os jovens que aprendiam as Escrituras na sua mocidade, à medida que envelheciam achavam isso detestável. R. A reviravolta de gênio não é por causa da idade, mas por causa da carência de compreensão. Se estivessem corretamente orientados quando moços, apreciariam as Escrituras muito mais na idade madura. Para as massas, todos os credos não passam de introdução à real Verdade do SER. As religiões não são necessariamente a mais alta expressão ou a mais alta Sabedoria de seus fundadores, considerando as épocas em que viveram, inclusive a capacidade mental do povo. A mais alta Sabedoria é por demais sutil para a maioria das mentes, de modo que todo o esquema sobre o mundo, os deuses, os corpos, a evolução etc., não deve ser rejeitado porque o povo parece achar mais fácil e preferível acreditar em todas essas coisas do que crer na mais simples Verdade cuja Realidade é uma só: – SER. Dessa maneira, consequentemente, a reencarnação, os planos astrais, a sobrevivência depois da morte etc. se tornam verdades, embora apenas do ponto de vista inferior. Do mais alto ponto de vista, ou seja, do real SER, todo o resto desaparece como ilusório e somente a Realidade permanece. É verdade que o corpo astral sutil existe, porque no mundo dos sonhos, o corpo é necessário a fim de funcionar naquele mundo, que também é real, mas tão-somente no seu próprio plano, enquanto que um SER é sempre real, sempre e eternamente existente, quer estejamos disso cientes, quer não. Por isso é melhor procurar este, porque os outros seres-corpos só relativamente são reais. Um cristão comum fica satisfeito somente quando lhe falam que Deus está nalgum lugar longínquo do Céu – e não para que seja encontrado por nós mesmos exclusivamente; que somente o Cristo O conhecia e somente Ele pode salvar-nos. Por essa razão quando Jesus afirma uma simples Verdade, que o Reino do Céu está dentro de nós, o cristão não está satisfeito e procura dar interpretações muito afastadas daquela afirmação. Somente a mente madura pode apreender uma simples Verdade em toda a sua nudez. P. O que o Senhor pode dizer-me a respeito dos ídolos? R. Eles têm profundo significado. Sua adoração é um método que faculta concentração mental. A mente está acostumada a trabalhar fora, externamente. Ela precisa ser detida e dirigida para dentro. Possui ela o hábito de guardar por muito tempo os nomes e formas de todos os objetos externos, que possuem nomes e formas. Tais nomes e formas são símbolos de concepção mental que desviam a mente do seu curso habitual e levam-na para dentro de si mesma. Os ídolos, mantras, sílabas sagradas, rituais, etc., todos eles são alimentos que nutrem a mente em sua volta para dentro de si e, deste modo, tornam-na capaz de concentrar-se, somente antes que o estado supremo seja alcançado.

Ishvara possui individualidade na mente e no corpo, ambos perecíveis, porém, ao mesmo tempo Ele tem Consciência Transcendental e a libertação intrínseca. Ishvara, Deus pessoal, ou Supremo Criador do universo, não existe. (Esta verdade vem do relativo ponto de vista para quem não compreendeu a Verdade última, para quem acredita na realidade de uma alma individual.) Do ponto de vista absoluto, o Sábio não aceita nenhuma outra existência, salvo a do SER Impessoal, Único e Sem Forma. Ishvara tem corpo material, forma e nome, embora não seja tão denso como é o corpo de matéria sólida. Ele pode ser percebido em visões na forma que o devoto cria. Há diversas formas e nomes de Deus, variando de acordo com as religiões. Sua essência é igual à nossa. Somente o SER real é UM e sem forma. Portanto, as formas que Deus assume são apenas criações ou aspectos. Ishvara é imanente em cada pessoa e em cada objeto em toda a parte do Universo. A totalidade de todas as coisas e todos os seres constitui Deus. É um Poder cuja fração tem-se tornado todo esse Universo, e cujo excesso fica em reserva. Tanto esse Poder em reserva quanto a energia manifestada como mundo físico, constituem juntos, Ishvara. Para adorar a esse Criador, o homem deve compreender a Natureza de Deus e a sua relação com Ele. Toda conduta moral, cada pensamento racional, é uma adoração correta para com esse Deus.

CAPÍTULO 3

O Significado do Misticismo P. É inofensivo continuar fumando? R. Não, pois o fumo é um veneno. É melhor deixá-lo. É bom que você tenha deixado de fumar. Os homens são escravizados pelo fumo e não conseguem se libertar dele. O fumo é um estimulante passageiro cuja reação é a súplica para mais. Também não é bom para a prática de meditação. P. Que são as paixões? R. É a mesma energia que se usa na meditação, somente desviada para outros canais. P. O Senhor recomenda deixar de comer carne e abster-se de bebidas alcoólicas? R. Sim. É aconselhável que se deixe, porque a abstinência é uma ajuda bastante proveitosa para os principiantes. A dificuldade de renunciar à carne e ao álcool não é porque são absolutamente necessários, mas porque temo-nos acostumado pelo hábito a seu consumo. Em toda alimentação há uma sutil substância e é esta que afeta a mente. Assim, para quem estiver empenhado na prática de meditação a fim de encontrar o SER, existe uma regra dietética que será aconselhável seguir. A alimentação sátvica incentiva a meditação, enquanto que a rajásica carne e o alimento tamásico a prejudica. Até que a mente esteja firme na realização, deve se apoiar em alguma imagem ou frase, pois a meditação rapidamente predispõe ao sono ou ao vaguear dos pensamentos. Sim, a meditação matinal ao sol nascente é o melhor momento, porque então a mente fica livre dos pensamentos, preocupações, etc. P. A meditação deve ser praticada em grupo ou sozinho? R. A última é aconselhável para os principiantes. No entanto, temos de procurar aprender a progredir a ponto de criar nossa solidão mental. Então, não importam

as circunstâncias em que estivermos. Devemos aprender a encontrar a solidão (mentalmente) no meio das pessoas; não precisamos deixar de meditar só porque estamos rodeados de pessoas. Mesmo então, prossiga na meditação, mas não o faça ostensivamente. Seja discreto, não se exiba pelo fato de estar meditando. Quando a atenção está voltada aos objetos e ao intelecto, a mente toma conhecimento só daquilo. Este é o nosso estado presente. Mas, quando tentamos encontrar o SER dentro de nós, tornamo-nos cônscios exclusivamente disso. Logo, toda questão está na atenção. Nossa mente que por tão longo tempo estava voltada para as coisas externas, por fim ficou escravizada e arrastada para cá e acolá. P. Dizem que o Yogue para meditar, senta-se numa pele de veado a fim de precaver-se contra a perda do magnetismo durante a meditação. É verdade isso? R. Não. Não há necessidade de servir-se dela. A terra não lhe roubará os efeitos da meditação pelo fato de você não se sentar na pele do veado. Se a mente vaguear, devemos ao mesmo tempo conscientizar-nos que não somos o corpo e fazer a pergunta: “Que sou eu?” A mente tem que regredir para estar consciente do SER. Assim, todas as maldades são destruídas e a felicidade contemplada. Você pode meditar de olhos abertos ou fechados, de qualquer modo, como lhe convém melhor. A verdadeira percepção é quando a mente percebe através dos olhos. Se ela não estivesse olhando dessa maneira, é porque estaria ocupada no seu interior com algo mais e não poderia ver com os olhos abertos. De modo semelhante no que diz respeito aos ruídos. Se der atenção aos ruídos, naturalmente, você os ouvirá. Mas se persistir e insistir em ficar atento somente no SER dentro de si, não os ouvirá. P. A mente é caprichosa, instável e vadia. Como controlá-la? R. Se você dirigisse sua atenção simultaneamente à pergunta: “Que é a individualidade a quem essas instabilidades ocorrem?” Então, é mais que provável que as agitações da mente vagueando de um lado para outro cessassem. P. Como dominar a luxúria, sensualidade, cólera, etc.? R. Através de Dhyana; mantendo a mente firme num só pensamento, afastando todos os outros pensamentos. P. Sobre que se deve meditar?

R. Sobre qualquer coisa de sua preferência. Contudo, terá que se agarrar a uma coisa só. A contemplação significa batalha contra um enxame de pensamentos invasores. Logo que você comece a meditar, os outros pensamentos invadem a mente que, ganhando força, procura reduzi-los a um só pensamento. No fim desta luta, a mente deve ganhar terreno e resistência pela prática de meditação repetida. Essa batalha sempre tem lugar na meditação. A seu turno, a paz da mente é ganha através da contemplação com a ausência dos pensamentos vadios. Quando a meditação estiver bem estabelecida, não poderá ser deixada. Continuará automaticamente, mesmo quando você estiver trabalhando, se divertindo ou mesmo dormindo. Esta se tornará tão profundamente enraizada quanto natural. P. O Coração ao qual o Senhor se refere é o mesmo que o coração físico? R. Não. É apenas um meio para auxiliar o aspirante na sua busca. É somente a Fonte do “eu-pensamento”. É a última Verdade. Procure a Fonte. Sua busca o levará direta e automaticamente ao Coração. Dentro da prática de Yoga, inicia-se com o mais baixo Chakra, descendo e daí, subindo, se passa através, de todos os Chakras até que se atinja o centro cerebral, ou seja, “Lotus de mil pétalas”. Ao praticar Jnana Yoga, vai-se descendo e diretamente se instala no Centro do Coração chamado Anahata Chakra, Chakra do Coração, embora este não seja o mesmo que aquele Coração. Se é assim, por que, neste caso, eles devem seu progresso posterior a Sahasrara? Ainda mais, a pergunta se levanta porque o sentido separatista persiste em nós. Nunca estamos fora deste Centro. Antes de alcançar Anahata ou depois de passar por ele, fica-se somente no Centro, quer se compreenda isso quer não, pouco importa, nunca se está fora desse centro. A prática de Yoga ou Vichara faz com que se permaneça exclusivamente no Centro. P. O que é pranayama? R. Prana equivale ao SER, à Alma, a Atma, etc., tanto como à corrente-Vida, qualquer que seja o nome que se lhe queira dar. Pranayama significa o controle do corpo, dos sentidos e do intelecto por meio da respiração . Desse modo a mente é controlada e, assim, através dessa prática, ela desfalece. A mente e Prana procedem da mesma Fonte. O controle da respiração faz com que a mente se aquiete e fique em branco, produzindo um estado inconsciente, um desmaio ou transe igual à morte. Embora esse estado seja natural, o homem que não tenha controlado a mente fica pasmo e nele mergulha. É um estado de grande paz, verdade, embora seja passageiro; quando acabar, o Yogue se esforça para voltar a si novamente e, assim, recomeça a fazer outra vez o controle da respiração. Para ele importa chegar além do pranayama e conseguir o controle da mente de modo direto e, assim, usufruir da paz permanente no Sahaya

Samadhi – e não apenas temporário Samadhi. A coisa é ter capacidade de trazer paz à mente, fazer com que ela permaneça quieta, não lhe permitindo vadiar. É para isso que Pranayama está sendo divulgada. A retenção da respiração leva à contemplação, mas isso é para os Yogues adiantados. Inicia-se com Puraka, segue Kumbaka e no fim vem Rechaka. Pranayama é útil tão-somente enquanto serve de ajuda para conquistar o controle da mente. Para quem procura a paz mental isso é suficiente. Mas, além disso, existe um altamente detalhado e complicado pranayama para aqueles que buscam Siddhis – os poderes ocultos. Pranayama é para quem não possui aptidões nem resistência suficiente para controlar a mente. Para esse propósito não há meio mais seguro que a companhia dos Sábios. Pranayama não precisa ser exatamente como é descrita em Hatha-Yoga. Se o devoto estiver com devoção entregue à meditação, só um pequeno controle da respiração será suficiente para que a mente esteja sob controle. A mente é um cocheiro e a respiração um cavalo. Pranayama é um freio para frear o cavalo. Através desse freio o cocheiro também é controlado; por pequeno que seja, esse controle pode ser obtido. Basta observar a própria respiração, é o único meio para fazê-lo. Então, a mente fica abstraída das outras atividades costumeiras, entregue a observar a respiração. Isso controla a respiração, e a seu turno, a mente, e não se preocupe em fazer Rechaka e Puraka; a respiração pode ser retida durante a meditação por um curto período de tempo. Daí em diante, muitos bons resultados surgirão. Obter-se-á o ritmo respiratório regular pela observação de seus movimentos. E mais, quando a mente estiver observada, os pensamentos cessarão automaticamente, isto é que é a mente-andarilha. Certo tipo de meditação leva a desconfiar da respiração; enquanto que, pelo contrário, a mente cessa de ser irrequieta depois de algum controle de respiração. O espontâneo controle da mente resulta em controle da respiração, ou seja, Kumbaka. Pessoas dadas a usar o controle da respiração são especialmente aquelas que praticam a meditação sozinhas, sem a presença do Guru. Quando a vida é posta em perigo, todo o interesse começa a girar em torno da salvação. Igualmente, quando a respiração é retida através de Pranayama, a mente não tem possibilidade de pular para os seus costumeiros objetos exteriores, de um para outro. Consequentemente, lá haverá o repouso, o momento de tranquilidade, logo que a respiração estiver retida. Então, toda atenção está sendo dirigida à respiração e ao seu ritmo; os outros interesses ficam completamente esquecidos. Pensamento e respiração, ambos são os diferentes aspectos da mesma corrente-Vida individual da qual ambos dependem. Se a respiração estivesse retida forçadamente, o pensamento seguiria o processo e fixar-se-ia no costumeiro e predominante pensamento. Se o pensamento diminuísse a

velocidade e forçado prendesse seu curso, reduzindo-se a um ponto, a atividade vital da respiração equilibrada baixaria, estando reduzida e posta no mais baixo nível, compatível com a continuação da vida. Assim, a mente pegará o sutil e nele se fundirá. O controle da respiração aquieta a mente agitada. Então, fique observando o processo e pergunte: “Quem está cônscio da quietude?” Pranayama mecânico não levará ninguém ao alvo. Seria apenas um auxílio. Quando feito mecanicamente, tome cuidado para que sua mente esteja alerta, lembre-se do “pensamento-eu” e vá em brusca da Fonte dele. Então se conscientizará que quando o Prana baixa, o “pensamento-eu” se levanta. Eles submergem e emergem juntos. O “pensamento-eu” também quer baixar junto com Prana. Simultaneamente, o outro, luminoso e infinito “EU-EU” vem a manifestar-se e permanecer indestrutível. Este é o alvo. É chamado de nomes diferentes – Deus, Bhakti, Jnana, etc. Quando você fizer a tentativa, o próprio “eu sou” o levará ao alvo. P. Qual é a diferença e o efeito entre os três métodos: a busca, Bhakti ou o controle da respiração? R. Kumbaka auxilia no controle da mente, isto é, prende ou aniquila os pensamentos. Alguém pode praticar Pranayama: Rechaka, Puraka e Kumbaka lhe virão automaticamente. Simplesmente observar a inspiração e a expiração também é Pranayama. Esses sistemas trifólios são apenas aparentes; pois, de fato, são de uma folha só, porque levam ao mesmo escopo. Contudo, são adotados e utilizados de diferentes maneiras de acordo com a evolução espiritual dos aspirantes e seus antecedentes Vasanas ou Samskaras. O controle da mente importa para quem não consegue controlar seus pensamentos diretamente. Serve como um freio que é útil para frear um carro. Mas, a pessoa não deve parar nisso, deve prosseguir na concentração e contemplação. As posturas ajudam no controle da respiração, que auxilia a contemplação. Portanto, Hatha-Yoga também é um processo purificador. P. Eu ouço os psíquicos sons do Nada, campainhas tocarem, ecos ressoarem – o que pode o Senhor dizer-me a respeito? R. Se você os encarasse objetivamente, provavelmente se teria perdido nisso: ouvirá um som, depois um outro, seguido de espaço em branco, um vazio, porém não esqueça de perguntar a si mesmo: “Quem é que está ouvindo esses sons?” Se você estivesse mantido firme no seu íntimo Ser, Ele se desmaterializaria, quer o ouvisse, quer não. Mantenha em vista o Sujeito; Nada-Yoga é certamente um dos métodos de concentração; mas depois de haver conseguido a concentração, procure concentrar-se no SER. Mas se o Sujeito estiver perdido de vista, irá direto a Laya – brancura.

Para quem fixou os olhos entre as sobrancelhas e não sentiu progresso, Maharshi disse que a visão, embora estivesse fixada, não perceberia o Observador. Se o Observador for lembrado sempre, isso será correto. P. Qual é a diferença entre a meditação e auto-indagação? R. A meditação pode ter lugar somente quando o ego estiver afastado. Ali há ego-sujeito e o objeto sobre o qual você medita. Esse método é indireto. E, ao contrário, estando em busca da Fonte do ego, o ego desaparece. O que fica é SER. Esse método é método direto. O obstáculo à meditação a ser vencido é Laya (um vazio temporário). Assim, o professor cuja palestra foi sobre Bhagavad Guita, falou: “Sejam moderados no sono. Os faquires que procuravam cortar o sono, todos eles incorriam em extremos de ascetismo, absolutamente desnecessários.” Isto quer dizer que 4 a 5 horas de sono são suficientes. O sono em demasia pode ser causado pelo excesso de alimento, pelo esforço intelectual ou a excitação demasiada. Portanto, devem moderar essas coisas também. O sono profundo não é possível durante o dia, pois os raios solares têm efeito peculiar que o impedem. Porém, quando você estiver tirando uma soneca durante o dia, é muito fácil convertê-la em meditação, sendo esta bastante próxima daquela. Quanto ao sono, o momento em que você desperta, esteja alerta, e pense em Deus (SER). Mantenha-se alerta completamente durante o dia inteiro, vivencie a presença de Deus! O segundo obstáculo é a mente voltada aos objetos externos; quando isso acontece, segue-se o terceiro obstáculo: o esquecimento de que se está aí para praticar meditação. Então, o quarto obstáculo surge: a mente trabalhando internamente. Para ajudar a controlar a mente, se houver alguma dificuldade, vá controlando através da respiração que vem somente pela prática. Também pela convivência com o Sábio, a mente então fica sob controle espontaneamente. Tal é a grandeza de Satsanga (a companhia do Sábio). Deve-se compreender claramente que, para praticar meditação, não é proibitivo tomar determinadas posturas, determinar horários ou servir-se de outros acessórios quaisquer. P. Nenhuma postura para os europeus? R. Isso depende da bagagem mental de cada um individualmente. Não há regras estabelecidas. P. E quanto àqueles que não estão acostumados à dieta vegetariana? R. Somente o hábito faz o ajuste para com o ambiente. É questão da mente. O fato é que a mente havia sido treinada para pensar em sabor de certos alimentos. O consumo de produtos vegetarianos não é menos saboroso e nutritivo que o da

carne. Contudo, a imaginativa mente humana não se deixa influenciar pelo alimento que come. Porém, faça isso gradativamente até acostumar-se ao vegetarianismo. P. Mas se isso é questão de matança, então, mesmo as plantas não têm vida? R. Também as lajotas nas quais você está sentado têm. P. Por que o Senhor toma leite e não come ovos? R. As vacas domesticadas dão mais leite de que seus bezerros necessitam, e sentem prazer de estarem aliviadas, porém, os ovos contêm vidas em potencial. P. Tenho praticado Dhyana no “Aham Brahmasmi”. Algum tempo depois, um vazio predominou, meu cérebro ficou febril e tive medo da morte. Senhor, seja meu Guia, preciso de Sua orientação. R. Que é que vê a mente em branco? A consciência que contempla o vazio é o SER. O medo da morte vem somente depois de pensamentos surgirem. De que morte você tem medo? A quem vem esse medo? Aí está a identificação do Ser com o corpo. Enquanto for isso, haverá medo. O Coração espiritual não é o mesmo que o coração físico; as batidas dele é um fenômeno ligado exclusivamente a esse último. O primeiro é a sede da experiência. Assim como o dínamo abastece de força motora todo o sistema de luz, de ventiladores, etc., assim o original shakti abastece de energia as batidas do coração, da respiração, etc. P. O que são Chakras? Pode dizer-me algo a respeito? R. Somente Atma deve ser conscientizado. Esta percepção mantém tudo o mais girando em seu redor. Shakti, Siddhis, etc. nisso estão incluídos. Quem fala a respeito daquilo, nada sabe a respeito de Atman. Atma está no Coração e é o próprio Coração. A revelação ocorre no cérebro. Considera-se que a energia surge desde o Coração e vai até o cérebro passando através de Sushuma. Os yogues afirmam que essa corrente de energia sobe a Sahasrama para ali se fixar. Esta experiência é incompleta, pois, para Jnana, ela se mantém no Coração. Hridaya é alfa e ômega, Dizem que os yogues durante suas práticas vêem luzes e cores, antes de realizarem o SER. No tempo de Párvati (a consorte de Shiva) penava-se muito para chegar ao Eterno. Uma vez, ela percebeu certas luzes, mas como isto se deu através de seus sentidos e da visão, ela concluiu que essa luzes também não revelavam o Eterno. Depois de muito penitenciar, ela atingiu uma luz poderosíssima, chegando à conclusão mesma de que aquilo ainda não revelava o Eterno. Passou-se tempo e ela alcançou a paz, concluindo que SER é Eterno. As coisas são vistas somente através da luz. Consequentemente, como pode

estar errado dizer que é através desta luz que se percebe o próprio SER? O conhecimento da realização do próprio SER é esta Luz. Durante Nirvikalpa Samadhi existe um tipo de conhecimento pelo qual não se é capaz de perceber a Luz vista em Samadhi e ao mesmo tempo de conscientizar o que haja além desta Luz. Isso não é ignorância; pode se dizer então que isto não é a Luz? A concentração significa reduzir a mente e não pensar em mais que uma só coisa, afastando todos os outros pensamentos que obstruem a percepção de nossa verdadeira natureza. Agora parece difícil acabar com os pensamentos, ao passo que, no regenerado estado, serão mais dificilmente encontrados os pensamentos para evocá-los! Para que então pensar em coisas, quando aí haverá somente o SER? Os pensamentos funcionam somente quando houver objetos para neles pensar. Sem isso podem os pensamentos surgir de algum modo? Pensamentos fazem com que acreditemos que é difícil cessar de pensar. Se o erro for encontrado, ninguém será bastante tolo para esforçar-se inutilmente em pensar. P. Qual caminho o Senhor nos aconselha a tomar? Necessitamos de Sua Graça. R. “Aquiete-se, não pense, e saiba que EU SOU”. Quando as notícias do casamento de um devoto foram participadas a Maharshi, alguém perguntou: “Como pode ele fazer isso? Certamente agora vai regredir”. Maharshi sorriu e disse: “Por que o casamento deveria interferir no progresso espiritual?” A menos que a satisfação das necessidades do corpo, tais como fome, a sede e a evacuação dos excrementos possam influenciar no progresso da meditação. Os resultados de meditação Vichara são: força de vontade, concentração desenvolvida, paixões controladas, indiferença para com as coisas mundanas, virtude e equidade para com todos. A hipnose e seus métodos não são recomendáveis para induzirem os yogues a ficar em Samadhi, isso porque o olhar fixo no foco da luz estupefaz a mente e produz catalepsia temporária da vontade, e não garante benefício permanente. Uma deidade pode ser útil à meditação sobre a imagem mental até que aquele que medita submerja no Ser. Então, a própria imagem vai se desfazer por si mesma e a deidade se esvanecer como parte do mundo Ilusório. Só o SER Supremo permanecerá para ser objeto da meditação. A meditação, verdade seja dita, permanece seriamente empenhada no SER. Mas basta os pensamentos cruzarem a mente e o esforço estar dirigido para eliminá-los, para que o esforço termine com a meditação. Fique como você é. Este é o objetivo. A meditação se torna negativa somente quando se procura afastar os pensamentos.

P. Minha mente não sossega. Não tenho paz. R. Paz é a nossa real Natureza. Ela não precisa ser conquistada. São os nossos pensamentos que devem ser eliminados. Bhagavad Gita traz um método único, que você pode aplicar; quando sua mente estiver vagueando, procure trazê-la de volta à sua tendência de meditar. P. Eu não posso levar minha mente à meditação. R. Um elefante em liberdade mete sua tromba aqui e acolá e parece estar irrequieto. Se uma corrente estivesse posta nele, a tromba não se comportaria como dantes, mexendo-se de um lado para outro. O mesmo ocorre com a mente, que fica irrequieta sem objetivo. Se a mente tivesse um alvo, estaria quieta. A concentração será impossível enquanto Samskaras permanecerem. Esses impedem inclusive Bhakti. A prática e a calma são necessárias. A calma significa a ausência da prolixidade de pensamentos. Prática significa repetida concentração sobre um só pensamento. A firme perseverança também. A primeira é positiva, a outra é o aspecto negativo da meditação. Sim, nossa MENTE é fraca; um auxílio que chamam Graça torna-se necessário. A ajuda do Guru é a única para obtê-la. Na presença do Guru (alma de mente forte), a mente fraca se entrega ao controle mais facilmente. Isso é que é a Graça, nada mais. P. Seria melhor meio livrar-se dos pensamentos? R. Você quer que a mente procure matar-se a si mesma? Como pode um ladrão pegar a si próprio? Isso não pode ser. Assim, o melhor meio é procurar conscientizar sua real natureza e perguntar-se o que realmente você é. Quando nos conscientizamos nós mesmos, então, não haverá pensamentos para serem enxotados. P. Como a mente pode ser controlada? R. Existem dois métodos: um é para perceber o que a mente é; então ela se aquieta; o outro é para segurar alguma coisa mais, e logo, controlar a mente. O Yoga serve, além do mais, para fazer com que a mente se concentre. A idéia predominante afasta todas as outras. O objeto está conforme a individualidade de cada um. P. Minha mente não fica firme na meditação. Que devo fazer? R. Todas as vezes que ela estiver vagueando, faça com que ela se volte para dentro dela, e se for preciso, repita isso vezes e mais vezes. A mente é fraca demais, assim deve fortalecer-se a cada prática da meditação, até ficar reduzida a um só pensamento. P. De que maneira se deve meditar? De olhos abertos ou fechados?

R. De qualquer jeito. A questão primordial é que a mente esteja introvertida e mantida ativa em sua própria perseguição. Às vezes, quando os olhos estão fechados, os pensamentos latentes correm desenfreadamente. Também acarreta dificuldade manter a mente introvertida de olhos abertos, pois isso requer um esforço mental redobrado. Quando a mente está agarrada aos objetos, se contamina. O principal fator está em não deixar os outros pensamentos virem, mantendo a mente na sua própria perseguição, não lhe deixando tomar impressões externas ou pensar em outras coisas. P. Como controlar os pensamentos? R. A oscilação da mente vem por causa de sua fraqueza devido à dissipação de energia em forma de pensamentos. Quando a mente se reduz a um só pensamento, a energia é conservada e a mente se torna mais forte. Como o Bhagavad Gita aponta: ganha-se a mente forte pela prática. Nas etapas iniciais, a mente se absorve espaçadamente, há longos intervalos, no entanto, a prática contínua torna os intervalos mais curtos, até que, finalmente, pára de vaguear. E É ENTÃO QUE A SHAKTI ADORMECIDA SE REVELA, E A MENTE SE ABSORVE DENTRO DA CORRENTE-VIDA. P. Como livrar-se da mente? R. Será que a mente quer matar a si mesma? A mente não pode matar-se. Portanto, cabe a você descobrir a real natureza da mente. Então, o que você encontrar aí não é a mente. Basta procurar o SER para que a mente desapareça por si mesma, completamente. Permanecendo no SER, não será preciso preocupar-se com a mente. Terá consciência da iluminação do lado direito do peito, no Coração, após ter tido a revelação do SER. Existem Kundalini e Chakras para os principiantes que praticaram esse caminho de Yoga, mas para quem pratica auto-investigação, eles não existem. “Aham Brahmasmi” é apenas idéia, meras palavras. Quem diz isso? De certo, Brahma não disse. Que necessidade teria Ele de dizê-lo? Nem tampouco o real “Aham” teria dito o mesmo. Para que Aham fique, deve aderir a Brahma. Dizendo isso assim é apenas um pensamento. De quem é o pensamento? Todos os pensamentos brotam do Irreal, isto é, do ego. Permaneça sem pensar. Enquanto tiver ali um pensamento, terá medo. Enquanto aí houver pensamento, mesmo de “Aham Brahmasmi”, terá olvido. Aham Brahmasmi é mero auxílio para concentração, porquanto afasta outros pensamentos. Substituirá apenas um só pensamento. Agora veja de quem é esse pensamento. Será encontrado surgindo do “eu”. De onde vem o “pensamento-eu”? A resposta será do “eu”. Tentando indagar dentro de si, o “pensamento-eu” desvanecerá. O SER Supremo brilhará de si mesmo. Aí não haverá esforço. Quando o “Eu” real permanecer só, não

será para dizer “Eu sou Brahma”. O homem diz “Eu sou homem”? A não ser desafiado, pois, por que iria ele declarar a si mesmo que é homem? Talvez alguém cometesse um engano ao dizer-lhe “você é uma besta.” Então sim, poderia responder “Não, não sou uma besta, e sim, um homem”. Da mesma forma Brahma ou EU, estando só, aí não há ninguém mais para desafiar e não há necessidade de dizer “Eu sou Brahma”. P. Deve-se meditar no Coração? R. Sim, porque você está buscando sua própria Consciência. Onde poderia encontrá-la? Poderia buscá-la fora? Você há de encontrá-la internamente. Por conseguinte, irá dirigir-se para dentro de si próprio. Repito: somente o Coração é a Sede da Consciência. P. Sobre que devemos meditar? R. Quem é que medita? Faça esta pergunta primeiro. Permaneça como quem medita. Não há necessidade de pensar nisso. Aí há o sentido de doador, fato que impede Dhyana (meditação). P. Por que a mente não pensa dentro do Coração, mesmo quando estiver meditando? R. O corpo oscilante não está disposto a pensar, a menos que houvesse algum sentido viável para isso fazer. Pranayama faz a mente se tornar quieta. A mente deve estar viva e prosseguir na meditação ininterruptamente, mesmo quando está em paz. Ela pensa dentro do Coração. O oscilante vigor do corpo pode ser sobrecarregado de peso e afundar. Assim também Satsanga fará com que a mente submerja dentro do Coração. Satsanga é ao mesmo tempo fora e dentro. O externamente visível Guru empurra a mente para dentro. Ele também fica no Coração daqueles que buscam, e, assim, os atrai à intima tendência da mente para ir dentro do Coração. A questão é somente perguntar quando o homem começa a meditar e encontrar nisso dificuldades. Deixe-o praticar Pranayama só um pouco; isso lhe purificará a mente. Ela não sabe pensar dentro do Coração, porque Samskaras1 constituem obstáculos. Ficarão removidos pelos Pranayama ou pelo Satsanga. De fato, a mente sempre está no Coração, mas procura resistir e dar voltas por causa dos Samskaras. Quando os Samskaras não mais exercerem efeito sobre a mente, ela ficará calma e em paz. Só através de Pranayama a mente se aquieta, embora temporariamente, porque Samskaras ainda continuam persistindo. Se a mente fabricasse Atmakara, não demoraria muito a provocar o descontrole pela meditação. É mister estar atento durante o controle dos pensamentos, caso contrário, isso facilmente levará ao sono. A atenção é o principal fator, sendo indicada pelo fato da importância que representam Pratyahara, Dharana, Dyana, Samadhi, mesmo depois de Pranayama. Pranayama faz com que a mente se firme e suprima os

pensamentos. Por que isso não basta? Porque a conscientização se torna um fator indispensável. Tais estados estão sendo imitados por quem está tomando drogas como morfina, ópio, etc. Contudo, as drogas não levam à Libertação. 1. Samskaras – Impressões deixadas na mente. N. da T.

Meditação é uma forma semelhante àquela que faz expulsar outros pensamentos. Um único pensamento em Deus predominará sobre os outros. Isso é concentração. O objeto de meditação é igual a este do Vichara. P. Que é o Coração? R. É a sede (se isso pode ser dito assim) do SER. Não é um coração físico. P. Como superar o desconforto do corpo tranquilo em meditação quando os mosquitos vierem incomodá-lo? R. Se você desejar mesmo chegar à concentração, então não deverá importarse com o que lhe aconteça com o corpo. Deve manter a mesma disposição, o mesmo empenho! O desconforto do corpo passará, consequentemente, não pense no desconforto, mas continue firme na sua meditação. Se você não estiver bastante forte para resistir ao ataque dos mosquitos, então, como pode esperar que a realização lhe venha? É semelhante à espera das ondas do mar passarem antes de você nele mergulhar. Seja forte e mantenha o esforço constante. Um devoto pediu ao Maharshi a Graça, e quando este lhe respondeu: “Você já a tem” – sentiu a pulsação no centro do peito como um leve aperto; sentiu-se muito feliz e extraordinariamente tranquilo. Depois perguntou a Maharshi sobre o ocorrido. Maharshi virou-se para ele e disse: “Mantenha essa sensação firme quando sua mente estiver distraída. Não há mais necessidade para você repetir seu mantra”. A isso dão nome Sphurana. O mesmo se sente em várias ocasiões, tais como na excitação pelo medo, etc. Isto realmente está sempre aí, sentido no centro do coração. Tem ligação com causas anteriores e geralmente é confundido com o corpo. Isso realmente é único e puro; isso é Ser. Se a mente fosse naquilo fixada e os sentidos do homem estivessem naquilo contínua e instintivamente, a realização adviria. Agora é um estado que antecipa a realização. P. O que pode fazer no caminho espiritual um chefe de família? R. Se você andasse como um Sannyasi, semelhantes pensamentos de que você é Sannyasi não o perseguiriam. Mesmo se você ficar em casa ou for para uma floresta, sua mente irá prossegui-lo. O ego é a fonte dos pensamentos. Gera o corpo e o mundo e faz com que você pense ser um chefe de família. Se você renunciasse a isso, seria apenas uma substituição do pensamento Sannyasi por pensamento de chefe de família, e o meio-ambiente da floresta seria substituído pelo da casa. Contudo, os obstáculos mentais continuarão sempre. Nem a

mudança do meio-ambiente ajudaria para que a mente chegasse a dois lugares ao mesmo tempo. Se você pode fazer aquilo numa floresta, por que não em casa? Por que mudar de meio-ambiente? Seus esforços podem ser feitos mesmo agora, não importa onde você estiver. Os arredores nunca o abandonam. Olhe para mim. Eu deixei a casa. Como acha você, é melhor aqui, agora? É diferente da sua casa? Esta é razão para dar ênfase a Sahaya Samadhi. Pode acontecer a alguém entrar em Samadhi espontaneamente, ou seja, no seu estado primevo, mesmo em meio ao ambiente. P. Acho a concentração difícil. R. Vá praticando. Sua concentração deve vir tão fácil como respirar. Fixe uma única coisa e procure manter-se nisso. Tudo dará certo. P. O Senhor mencionou seis Chakras. Jiva, dizem, reside no Coração. É isso mesmo? R. Esse Coração não deve ser considerado como se fosse de carne. Aliás, isso não importa, pois, nós não nos referimos a nenhuma outra coisa que não seja o SER. Quanto a este, certamente O temos dentro de nós; não há dúvidas nem discussões. Os centros ou Chakras existem para fim de concentração. Sua interpretação é simbólica, assim como a interpretação da corrente de Kundalini e de nós mesmos também o é. P. A vida mundana distrai e dispersa a mente dos aspirantes. R. Não se deixe ficar desatento. Indague quem está distraído. Isso não o magoará depois de um pouco de prática. P. Mas mesmo uma tentativa para mim é impossível. R. Procure fazê-lo e não achará isso tão difícil. P. Kundalini, dizem, surge da base da espinha. dorsal? R. Esta Corrente-Vida é o que nós somos. A meditação está reduzida a um só pensamento. Este único pensamento impede os outros pensamentos de surgirem. A mente desatenta demonstra sua fraqueza. Pela constante meditação, a mente se fortalece, isto é, livra-se da fraqueza dos pensamentos dispersos. P. Uma forma-objeto para a meditação é dualidade? Pode ser isso Deus? R. A pessoa cuja pergunta é como esta, fará melhor adotando Vichara-Marga. A forma não é para ela. P. Em minha meditação, um vazio se interpõe. Não vejo figura alguma.

R. Naturalmente que não. Quem vê o vazio? Você deve estar lá, aí está a Consciência que testemunha o vazio. P. Isso não significa que eu devo afundar sempre mais e mais fundo? R. Sim. Aliás, aí não há um momento em que você não esteja. P. O que significa a renúncia? R. Deixar o ego. P. Isso quer dizer deixar as posses? R. O possuidor também. P. Como desenraigar a idéia do sexo? R. Desenraigando a idéia errada do corpo, tornando-se o SER. Não há sexo no SER. Seja verdadeiro SER. Então não será perturbado a respeito do sexo. P. Pode o jejum curar o sexo? R. Sim. Embora temporariamente. O jejum mental é verdadeira ajuda. Jejum em si não é fim. Deve acompanhá-lo o desenvolvimento espiritual lado a lado. O jejum total torna a mente fraca demais. Você não poderá prover-se de energia suficiente para a busca espiritual. A busca espiritual deve prosseguir sem falhas através do jejum, se é para o benefício espiritual dela. P. Qual postura é a melhor para ser adotada? R. Qualquer uma – possivelmente Sukha Asana. Contudo, a postura para o caminho de Jnana é imaterial. Postura realmente significa a firmeza, imobilidade, imperturbabilidade, posição característica do SER. Esta é a interna. Mas há diferentes posturas de acordo com os graus. Todas essas perguntas a respeito de postura e Hatha-Yoga surgem para quem tem consciência do seu corpo, isto é, para quem pensa “eu sou o corpo”. Todavia, os yogues dizem: “adotem aquela postura na qual pela experiência acharem a meditação mais fácil”. Mas você pode não adotar necessariamente a postura de Yoga. Se você acha estar sentado numa cadeira ou andando mais fácil para meditar, estas são posturas ideais para você. Hatha-Yoga serve para certos principiantes. Encontre o SER e permaneça Nele, e não dê importância às posturas. P. Para a meditação, qual tempo é o melhor e quanto tempo deve levar? R. O que é tempo? Apenas uma idéia. No entanto, você pensa nele e ele lhe parece assim. No caminho de Jnana nada representa. Às vezes há bons tempos para os novatos.

Existem apegos que não são prejudiciais; ações em si não são más. Não há dano em comer 3 ou 4 vezes por dia. Contudo, não diga: “quero esse gênero de comida e não aquele” – e rápido! Além do mais, você toma esse alimento em 12 horas ao longo do dia, enquanto que durante 12 horas, à noite, não come. O estado de sono levará você, a Mukti?2 É errado supor que uma simples inatividade possa levar alguém a Mukti. 2. Libertado durante a vida. (N. T.)

Tanto quanto alguém pensa que é Sannyasi, de fato, não o é; mas quando não pensa sobre o mundo ilusório e não é dado ao mundo, aí sim, ele é verdadeiro Sannyasi. É o paciente que deve tomar o remédio que o médico lhe receitou, a fim de ficar curado de sua doença. O Guru também receita o caminho a tomar, mas é o próprio discípulo que deve segui-lo. P. É melhor para busca de salvação estar casado ou solteiro? R. O que você acha melhor. Não há diferença. Os pensamentos têm que cessar e o razoamento desaparecer. A faculdade de sentir é o principal fator na meditação e não de razoar. O sentimento vem do lado direito do peito, e não na cabeça, isso porque ali está a sede do Coração. Mantenha-O firme! Você deve sua experiência presente de ausência dos pensamentos à influência da atmosfera aí reinante. Poderia ter a mesma experiência longe desse ambiente? Contraia-se essa atmosfera intermitente. Até que se torne permanente, a prática é necessária. Mas depois de se ter conscientizado estar por dentro da Verdade, não haverá mais mister de prática, que se esgota naturalmente. P. A meditação é analítica ou sintética? R. A análise e a síntese pertencem à região do intelecto. O SER transcende o intelecto. Que é meditação? Simplesmente pensar sobre uma coisa. Assim, estando em meditação, procure mantê-la num só pensamento, e todos os outros pensamentos gradativamente vão esvanecer-se. Eles podem permanecer ainda por algum tempo, mas, se você resolutamente se mantiver num só pensamento, eles não vão perturbá-lo mais. Nossa mente é fraca por índole, incapaz de concentrar-se. Precisamos fazer com que a mente se fortaleça a fim de poder ficar concentrada num só pensamento. P. Por que é tão difícil praticar a meditação e conquistar a mente?

R. Por causa de passados Vasanas que prevalecem. Contudo, devemos prosseguir tentando. (Tendências, etc, originadas de nascimentos anteriores se chamam Vasanas.) A ausência de operações mentais é Solidão. Aqueles que tomam bebidas alcoólicas ou cheiram ópio, inconscientemente procuram o gozo de bem-aventurança, descuidando do SER real. Acabam eles por se iniciar nesse gozo através de drogas, no entanto, depois de retomarem forçosamente seu estado normal, o desejo ardente torna-se cada vez mais forte, até que novamente sucumbem e tornam-se viciados crônicos e escravos. Para todas essas artificiais ascensões deve haver uma queda. Se a mente fosse subjugada, cada coisa teria sido conquistada. Onde está a renúncia? Não está longe de nós. Está aqui (apontando o coração). Onde está a solidão? Na mente. Devemos descobrir essas coisas em nós mesmos. O Reino do Céu deve ser encontrado dentro de nós. P. Se os esforços para com a meditação estiverem impedidos de continuar pelo Karma passado, que remédio seria eficiente para aplicar? R. É absolutamente ridículo afogar-se em tais fantasiosos receios. Destino e Karma passado dizem respeito ao mundo externo. Mergulhe completamente dentro de si. Ninguém o impedirá disso. Pensar em obstáculos gera um sério obstáculo. Todos nós temos de voltar à nossa Fonte de origem. Todo ser humano está procurando sua Fonte e um dia deve chegar a encontrá-la. Viemos de Dentro, andamos fora, e agora devemos voltar para Dentro. Que é meditação? É o nosso real estado de ser. Nos mesmos o temos encoberto de pensamentos e paixões. Para descobrir-nos e livrar-nos destes, temos de concentrar-nos num só pensamento – SER. Quando Mouna (silêncio) é necessário? Isto é apenas um dos apoios que auxilia a realização. Uma vez que a realização esteja plena, a prática do silêncio pode ser deixada de lado, por ter cumprido sua finalidade. O próprio Mouna (silêncio) é a realização. Os Mounis consideram a fala como puro esbanjamento de energia, cuja corrente eles dirigem imediatamente para dentro do SER. Um método de fazer cessar temporariamente o vadiar dos pensamentos dispersos (Manolaya), é a convivência com Sábios. São peritos em Samadhi e tornam a convivência com eles acessível, fácil, natural e indissolúvel. Aquele convívio íntimo com eles e a mútua simpatia, gradativamente levam ao hábito contagiante de absorver-se no Samadhi. Qual pode ser o conceito mental, a não ser o da meditação? Japa vocal tornase mental, e acaba sendo o mesmo que meditação.

P. Como o Senhor pode dizer estar o coração do lado direito, enquanto que os anatomistas afirmam estar ele do lado esquerdo do peito? R. É quase correto. Que o órgão físico seja do lado esquerdo, é indiscutível, porém, o Coração de que eu falo fica do lado direito. É a minha experiência. Não se requer autoridade. Achará a confirmação disso em Sita Upanishad. Ali há um mantra cuja letra assim o diz. O Cosmos inteiro está sendo junto ligado a um pontinho no Coração. Uma abertura no Coração, que sempre fica fechada, através do Vichara se abre. (Vichara: a investigação sobre o SER.) Disso resulta “EU-EU Consciência, a mesma que no Samadhi. P. Como pode o Todo Imanente Deus residir no Coração? R. E você não reside nalgum lugar? Não diz que está no seu corpo? De modo semelhante, Deus, dizem, mora no Coração. O Coração não é um lugar. Algum nome deve ser dado à moradia de Deus em razão de pensarmos que somos o corpo. Esse gênero de ensino tem significado somente para quem aprecia o conhecimento relativo. Deus, sendo Imanente em toda parte, não tem lugar específico para Sua morada. Por pensarmos estar no corpo, também acreditamos que nascemos. Entretanto, não pensamos no corpo, em Deus ou em nosso método de realização quando estamos dormindo profundamente. E mais, quando estamos acordados, tomamos posse do corpo e pensamos que nele estamos. Paramatma é isso de que o corpo nasce, em que ele vive e dentro do qual ele se dissolve. Nós, todavia, pensamos que residimos no corpo. Assim sendo, haverá quem ensine tais coisas daí por diante? O significado do ensino é o seguinte: “Olhe para dentro.” O “Coração” não é físico. A meditação não deve ser mantida nem à direita nem à esquerda e sim, unicamente no SER. Cada um sabe “eu sou”. Que é esse “eu”? Tampouco seria fora ou dentro, nem à direita nem à esquerda. Esse “eu sou” é tudo. O Coração é o ponto central do qual surgem todas as coisas. Por isso é que você vê o mundo, o corpo, etc., dizem haver aí um centro a que chamam Coração. Mas, quando realmente queremos Nele estar, percebemos que o Coração não é nem o centro, nem a circunferência, mais nada havendo então. O que você é? O corpo? Não. Você é pura Consciência. O isolamento significa a permanência no SER, nada mais. Isto não é absolutamente deixar um ambiente circundante para estar envolvido no outro, nem tampouco significa deixar o mundo concreto a fim de atolar-se em mundo mental. O nascimento do filho e a sua morte, etc. também estão no SER. Não há questão de compatibilidade. Um esquilo agitado estava esperando oportunidade para dar o fora, correndo da sala. Maharshi reparou e disse “todos desejam sair apressadamente, não

havendo limite para se ver fora. Contudo, a Felicidade está dentro de nós e não fora”. P. Qual é o significado do pontinho vermelho entre as sobrancelhas? R. Isso já foi mencionado, quando disse “não olhe com seus olhos”. A mente funciona de duas maneiras, como luz e como objetos. Basta despojar-se das coisas, a Luz somente estará a brilhar. P. Mas deve-se saber da existência de tal Luz? R. Percepção ou conhecimento pertencem ao estado presente de ser, porque aí há luz. A luz é primordial requisito à percepção. É mais que evidente em nossa vida diária. Entre as luzes, a luz solar é a mais importante. Consequentemente, fala-se da glória de milhões de sóis. P. Como pode o sujeito estar afetado, quer os objetos sejam percebidos quer não? R. Se a luz, isto é, o conhecedor ou a consciência for percebida, não haverá objeto a perceber. A pura Luz, isto é, Consciência, só ela permanecerá. Não é suficiente perceber a luz. Também é necessário que a mente esteja entregue nesse simples trabalho, isto é, o movimento da tromba do elefante e a corrente que a segure. P. Por que é preciso regular a respiração? R. A concentração da respiração ou a sua cadência faculta o controle da mente que assim passa a vaguear um pouco menos. P. Há diferença entre o interno e o externo Samadhi? R. Sim, certamente, há. O externo Samadhi é a quietude, enquanto se presencia o mundo sem reagir a ele. O externo Samadhi é como um mar calmo e o interno Samadhi como uma chama imóvel. Em Sahaya Samadhi, a chama com o oceano se fundem e tornam-se idênticos. P. Estando em Samadhi, perde-se a consciência do corpo? Se fosse assim, então como se saberia da diferença entre várias categorias de Samadhi? R. O que é a consciência do corpo? Analise isso. Aí deve haver um corpo e uma consciência limitada a ele, fazendo juntos a consciência do corpo. Isso deve acusar a existência de uma outra Consciência que é absoluta e inafetada. Agarre-se nela. Aquela é Samadhi. Ela permanece quando não se tem consciência do corpo, porque transcende esta última; mas também permanece quando se tem consciência do corpo. De fato, está sempre aí. Que importância tem se a consciência do corpo esteja perdida ou mantida? Quando fica perdida é Samadhi interno, quando mantida é o externo Samadhi. Isso é tudo.

P. E a mente em Samadhi não pensa? Nem por um segundo? R. Torna-se necessária uma forte convicção de que “Eu Sou o SER”. Transcende a mente e o próprio fenômeno. P. Contudo, a mente ia se revelar disposta a fechar-se à invasão dos pensamentos? R. O que importa se a mente está ativa? Mesmo neste caso, ela é, afinal, um substrato do SER. Mantenha-se firme no SER durante as atividades mentais! P. Não consigo chegar bastante fundo dentro de mim. R. É errado dizer assim. Onde você está agora senão no SER? Para onde quer ir? Tudo o que de fato é necessário é crer inflexivelmente que você é o SER. Melhor seria dizer que as outras atividades estenderam um véu em cima de você. P. Haveria algum mal em continuara recitar Japa desta maneira ou seria imprescindível que eu fizesse a pergunta e descobrisse o “que sou eu”? R. Não; pode seguir a raiz de qualquer pensamento ou recitar Japa ou mantra e prosseguir até que obtenha a resposta. Isto, em si, é meditação orientada na direção certa, levando você ao mesmo alvo que a pergunta, o “que sou eu”. O homem pode ter diariamente uma refeição sólida ao meio-dia, e a refeição leve e líquidos só de manhã e à noite. A melhor postura é manter firmemente o Guru no seu coração. P. Como aquietar a mente? R. Somente Vichara fará isso. No Coração você vê o corpo, vê o mundo Nele, nada existe que esteja separado Dele, assim, todos os tipos de esforços estão somente aí localizados. Há diversos caminhos que conduzem a Tiruvanamalai, porém, Tiruvanamalai é a mesma, não importando o caminho pelo qual se chegue a ela. De modo semelhante é a aproximação do SER, que varia conforme a personalidade, embora o SER permaneça o mesmo. P. Por que o Senhor fugiu de casa na sua mocidade? E não disse aos outros para renunciarem? R. Algum poder me puxava. Isso não teria convencido ninguém. É somente quando o homem se conscientiza de que o mundo para ele cessou de existir; isso, no entanto, não significa que temos de deixar o nosso trabalho.

P. Por que a mente não consegue se voltar para dentro a despeito de repetidas tentativas? R. Isso pode ser somente feito através de Abhyas (prática) e Vairagya (desapego) e isto sucede lentamente. A mente por tanto tempo tem estado acostumada a voltar-se para fora que agora não é tão fácil fazer com que ela se volte para dentro. Quando uma vaca está acostumada a furtar pasto das outras propriedades, não é fácil limitá-la a seu estábulo. Contudo, o vaqueiro procura agradá-la com suculenta grama e fina pastagem, tentando-a. A vaca, no início recusa; depois, come um pouco, mas a sua tendência inata para pastar faz valer seus direitos e, burlando o vaqueiro, a vaca escapa, comete o deslize, mas deixa-se prender. Sendo repetidamente tentada pelo dono, ela se acostuma ao estábulo e, finalmente, mesmo estando solta, não mais irá pastar. O mesmo ocorre com a mente. Se uma vez encontra a felicidade interior, não mais ficará fora. P. Como fazer cessar todos os pensamentos, a mente estando no coração? R. Pela força de vontade, com fé forte no ensino do Mestre para esse efeito. A vida do pensamento centraliza-se ao redor do cérebro, enquanto que nós temos liberdade de segui-la e, consequentemente, seguir o ego. Aí, ele se farta de sangue do coração, embora os pensamentos, no fim das contas, venham dele. Na prática de auto-indagação há uma zona neutra de sono, coma, desmaio, etc. em que a operação mental não se processa enquanto a Consciência do SER não predominar. Em primeiro lugar, a mente deve libertar-se de sua inquietação costumeira; ela deve estar apaziguada e liberta de distrações, treinada a olhar para dentro de si habitualmente. O primeiro passo, consequentemente, será a indiferença para com o mundo de fora. O passo seguinte, um hábito de introspecção. A conscientização da efêmera natureza dos fenômenos exteriores levará a essa indiferença. Desacato à grosseria é o pão para a prosperidade, a fama, o prazer, etc. Então, é o momento em que o “pensamento-eu” precisa ser examinado pela auto-indagação e perseguido até a sua fonte, no Coração. P. Surgem os pensamentos no Samadhi? R. Há somente a sensação de “Eu Sou” e nenhum outro pensamento. P. O “eu sou” não é um pensamento? R. O “Eu-Sou” sem ego não é pensamento, e sim, Realização. Um homem capaz de permanecer quieto durante anos num só lugar, dominando a saída dos impulsos da natureza, pode tornar-se um verdadeiro Adepto-Sábio por seu feito hercúleo e receber a recompensa da Natureza conquistada. P. Devo deixar minha esposa e a família?

R. Que dano podem lhe fazer? Primeiro, descubra o que você é. P. Não se deve deixar a casa, mulher, filhos, posses, etc. – todos sendo Samsara? R. Primeiro procure saber o que é Samsara; você acha que tudo isso é Samsara? As pessoas que vivem no seio da família não alcançam realização? P. É necessário o estado de Brahmacharya? R. Bramacharya significa “viver em Brahma”. Não tem relação alguma com a castidade, assim como comumente se entende. O real Bramachari encontra o gozo no Brahma – que é o mesmo que SER. P. Mas o celibato não é condição sine qua non para o Yoga? R. Sim, é. Mas é apenas um auxílio à realização entre outros tantos auxílios. P. Então, Bramacharya não é indispensável? Pode um homem casado tomar consciência do SER? R. Certamente; casado ou não casado, o homem pode conscientizar-se do Ser, e isso porque o SER está aqui e agora. É uma questão de aptidão. Será que nunca existiu um homem que vivendo com a esposa e a família não tenha conseguido realização? “Aquieta-te e saiba que EU SOU DEUS”. Tão rápido quanto procurar obedecer a este conselho, aí começará a luta regular contra as suas tendências costumeiras, com os seus naturais hábitos arraigados. P. O Senhor aprova a abstenção? R. É Bramachari quem vive em Brahma, consequentemente, aí não há mais questão de desejos em absoluto. P. O casamento entrava o progresso espiritual? R. A vida de dono de casa não fica entravada, no entanto, o dono de casa tem que fazer o máximo, esforçar-se muito para praticar o autocontrole. Se o homem tiver um forte desejo pela vida mais alta, então, suas tendências sexuais cairão por água abaixo. Quando a mente estiver destruída, os outros desejos também serão destruídos. Somente a entrega a Deus é o verdadeiro Asana. Quando fazemos Tapas nossa mente permanece fixa naquilo que pronunciamos. Para que servem Tapas? Para autoconhecimento. Uma pessoa precisa de forma para contemplar. Mas isso não é suficiente para qualquer um

poder manter sua visão sempre numa imagem? Assim, a imagem deve servir de apoio, sustentada pelo Japa. Japa ajuda a mente a fixar-se numa imagem, acrescentando-se o olhar fixando-a. Resulta desses esforços a concentração da mente que, enfim, encontrou o objetivo. Alguns ficam satisfeitos com o nome da imagem. Seja qual for a forma, deve ter um nome. Esse nome revela todos os atributos de Deus. A repetição constante de Japa afasta todos os outros pensamentos, mantendo a mente imóvel. Esta é vontade de Tapas. A pergunta – “o que são Tapas” foi feita a fim de se saber a qual propósito servem. Isso vem tomar forma adequada para esse propósito. Não são as austeridades físicas também Tapas? Existem, devido a Vairagya. Vi um homem que permanecia de braços levantados o tempo todo de sua vida. P. Por que o homem deve maltratar seu corpo para atingir o alvo? R. Você pensa que isso é maltrato, enquanto que para ele é um voto, e para outro homem representa uma façanha e um prazer. Dhyana pode ser tanto externo como interno ou ambos. Japa deve prosseguir até tornar-se natural. Ele começa com esforço e continua até que isso se faça sem esforço, por si mesmo. Veja o quão natural é a realização. Japa pode ser feito mesmo quando se está entregue aos outros afazeres. Bhakti-Yoga, Vichara, Japa, todos eles, finalmente, se dissolvem dentro de uma simples Realidade. Eles representam apenas diferentes formas de um esforço para manter longe a irrealidade. Atualmente a irrealidade se tornou uma obsessão. A Realidade é a nossa verdadeira natureza. Temos erradamente insistido na irrealidade, no saber, no pensamento e nas atividades mundanas. O cessar desses fará com que a Verdade se revele. Nossas tentativas estão apontadas direto para impedir-lhes a entrada. Embora pareça que os pensamentos se dirigem à Realidade, o que realmente fazemos é importar-nos com o afastamento dos obstáculos para que não impeçam a revelação do verdadeiro SER. A meditação então se torna caminho à nossa verdadeira Natureza. P. Como a mente rebelde pode estar sob controle, trazida de volta de suas perambulações? R. Do mesmo modo em que você busca a Fonte dela, assim ela é capaz de sumir ou entregar-se, e pode fica calada.

EXTERIOIRIDADE A mente pula de um objeto a outro. Faça com que ela se aquiete, fixa na realidade diante dela. Aí está o fenômeno exterior, dizem ter sua origem na única Realidade.

Busque-a e mantenha-se Nela. Mergulhado em uma única Realidade latente em todos os fenômenos, você fica alheio às manifestações transitórias. Este estado é comparado ao oceano sem ondas, cujas profundezas são calmas e plácidas. Todos os quatro tipos de Savikalpa Samadhi se alcançam com esforço.

INTERIORIDADE A mente está aflita pelo desejo, sensualidade, luxúria, ira, etc. Veja de onde eles surgem e de que modo vêm a ter sua existência. Mantenha-se na Fonte deles. Aí há maneiras de pensamentos surgirem da realidade interior para começarem a manifestar-se. Mantenha-se nesta Realidade. Mergulhado no seu íntimo ser, que é a única realidade, dando origem a todos os pensamentos, etc., não se ficará ciente de coisa alguma. Quando ambos esses tipos de Nirvikalpa Samadhi não se alcançam com esforço e nele vem sendo conscientizado que o oceano sem ondas do Samadhi externo e a chama parada do interno Samadhi são idênticos, este estado dizem ser de Sahaia Samadhi.

P. Dizem que alguém que permaneça em Nirvikalpa Samadhi por 21 dias, deve necessariamente deixar seu corpo físico. R. Samadhi significa passar além – e não a identificação do corpo com SER. É uma conclusão anteriormente aceita. Também dizem haver pessoas que permanecem imersas em Nirvikalpa Samadhi por mil anos ou mais. I) Conscientizar a Realidade é Samadhi. II) Conscientizar a Realidade com esforço é Savikalpa Samadhi. III) Mergulhar na Realidade e ficar inconsciente do mundo é Nirvikalpa Samadhi. IV) Mergulhar na ignorância e ficar inconsciente do mundo é dormir (de cabeça abaixada, mas não em Samadhi). V) Permanecer no primevo, puro, natural estado sem esforço é Sahaia Nirvikalpa Samadhi. P. Pessoas que praticam meditação, etc. dizem contrair uma nova doença. De qualquer maneira, sinto a dor. Declaram ser isso uma prova que Deus lhes manda. É verdade isso? R. Aí Bhagavan não está fora de você e não há provação alguma a afligi-lo. Por que você acredita que seja uma prova ou uma nova doença, sendo resultado de

práticas espirituais? O que há realmente é o esforço feito agora, influenciando seus nervos, etc. de cinco sentidos. A mente que, até este ponto estava operando através de Nadis no sentido de objetos externos, consequentemente, manteve ligação entre si própria e os órgãos de percepção, etc. Agora é preciso que ela se retire dessa ligação, e essa ação pode naturalmente causar opressão, uma distensão que resulta em dor. Se você quer continuar sua meditação, bastar-lhe-á um único pensamento para compreender a si mesmo, ou seja, chegar à auto-Realização. Então todo o resto irá apagar-se. Aí não há melhor remédio do que este de continuar o Yoga, ou seja, a união com Deus ou Atma. P. A solidão é necessária para um Jnani? R. Uma pessoa pode estar no meio da gente mundana e manter serenidade. Uma outra pode estar sozinha numa floresta e não ser capaz de controlar sua mente, portanto, ela não pode dizer estar em solidão. Quem está apegado a algum desejo, dificilmente encontra solidão, seja por onde estiver. O homem desprendido está sempre em solidão. Mesmo quem trabalha desapegado está em solidão e seu trabalho não o afeta absolutamente. O trabalho, quando executado com apego, escraviza. Solidão não se encontra somente no mato. Também pode haver no meio das ocupações mundanas. Numa certa feita, Maharshi fez observar ao Sr. G., sentado numa cadeira de balanço; “Qual é a razão para sentir ansiedade em tal luxo?” Se alguém mais quisesse tomar esse assento, o dono certamente não iria gostar. Balançar-se é realmente tão agradável? É simples desperdiçador do pensamento do prazer. Shiva desfez-se de todas as suas posses a favor de Vishnu e foi-se andando pelas matas adentro, na solidão dos cemitérios, vivendo de alimento que ele próprio mendigava no caminho. Do ponto de vista dele, a ausência de posses é maior na escala de felicidade do que a posse das coisas. A maior felicidade está em ser livre das aflições. As posses e sua utilização geram ansiedade; assim também com a necessidade de segurança. Ao passo que a ausência de posses não traz nenhuma aflição em seu cortejo. Portanto, Shiva, resignado, deixou todas as coisas a Vishnu e ele próprio se foi andando feliz. Despojar-se das posses é a maior felicidade. Durante meu transe relatado em “Auto-Realização”, tive muito clara experiência. Tudo de repente ficou inundado de luz que vinha de um lado cegando a visão do mundo ao meu redor e continuou a esparramar-se em volta de tudo; então, a visão do mundo ficou completamente apagada. Senti o musculoso órgão do meu coração parar de trabalhar. Percebi que o corpo era como o corpo de um cadáver, que a circulação do sangue havia parado, o corpo tornou-se azulado e sem movimento. Visudeva Sastri me abraçou (o corpo) chorando minha morte, porém, eu não consegui falar. Todo o tempo senti que o Coração-Centro, à direita do peito, estava trabalhando tão bem como dantes. Este estado durou uns 20 minutos. Então, de repente alguma coisa detonou como um relâmpago,

saltando da direita para a esquerda, parecendo uma explosão de foguete no ar. A circulação do sangue recomeçou e a condição normal foi restabelecida. Assim compreendi que o Coração é o Centro do corpo. Podemos senti-lo quando não sentimos o corpo, contudo, dizem ser o centro porque temos sido acostumados a pensar que sempre estamos no corpo. De fato e realmente, o corpo e tudo o mais estão neste Centro somente. Nessa experiência eu não estava, como está afirmado no livro, inconsciente; pelo contrário, era eu todo o sempre consciente. Podia sentir a ação do coração físico parar e ao mesmo tempo a ação do Coração-Centro não diminuir. P. Diz-se que o coração está do lado direito, esquerdo ou no centro. Com semelhante diferença de opiniões, como se pode meditar em Hridaya? R. Você sabe o que você é! E é fato de que Dhyana tem sido praticado por você. Irá acompanhá-lo por onde você estiver. Assim, você torna-se o centro de Dhyana e isso é Coração. Um lugar, todavia, lhe é dado, e diz respeito somente ao corpo. Aonde você está? No corpo e não fora dele. Melhor ainda, no corpo todo. Ainda que você pense penetrar em todo o corpo, mesmo assim, deve admitir que é desse centro que brotam todos os seus pensamentos e é nele que desfalecem. Mesmo quando as pernas lhe fossem amputadas, ainda assim, você estaria aí; mesmo com seus sentidos deficientes, você ainda estaria aí. Assim, o Centro da Consciência absolutamente não deve ser negado. A isso chamam Coração, o que é apenas o outro nome para o SER. Surgem as dúvidas somente quando você o compara com alguma coisa tangível e física. O Coração não é um conceito, não é um objeto para meditação. E sim, é como sede da meditação, em que somente o SER permanece, P. A concentração é uma das Sadhanas? R. A concentração não significa pensar em alguma coisa, mas, principalmente, afastar todos os outros pensamentos que obstruem a revelação de nossa verdadeira Natureza. Todos os nossos esforços estão sendo dirigidos somente para levantar o véu da ignorância. Agora parece difícil dominar os pensamentos, mas no estado regenerado achar-se-á mais difícil chamar pelos pensamentos. Por que pensamos nessas coisas? Existe somente o SER. Pensamento podem funcionar só quando aí houver objetos. Porém, aí, não há objetos. De que modo podem surgir os pensamentos? O hábito faz com que acreditemos seja difícil cessar de pensar. Quando o erro estiver corrigido, alguém será bastante louco para se esforçar desnecessariamente? P. Mas a mente escapa ao nosso controle. R. Assim é. Contudo, não pense nisso. Basta lembrar-se de trazê-la de volta e virá-la para dentro. Isso será suficiente. Ninguém chega ao êxito sem esforços. O controle da mente não vem de primeira tentativa. Os bem sucedidos são poucos eleitos que devem o sucesso à sua perseverança.

Quando Maharshi falou à pessoa muito dada aos livros disse: “Isso que você procura aí está dentro de si”. Os livros, como tais, ficam de fora. Então, por que olhar numa direção errada, lendo-os e estudando? P. Que união significa a palavra Yoga? R. Você é a pessoa que busca. Há alguma coisa cuja união seja procurada e da qual você está separado? Você ja está cônscio do SER. Buscando-O fora. Ele se expandirá ao infinito. Seja ISSO. P. Existe alguma droga que favoreça a meditação? R. Não; porque depois, quem toma drogas será incapaz de meditar sem tomálas habitualmente. P. Como meditar? R. Todos precisam aprender isso: simplesmente, fechar os olhos e voltar-se para dentro.

CAPÍTULO 4

O Significado da Filosofia P. Por que há tantos métodos mencionados? Por exemplo, Sri Ramakrishna dissera que Bhakti é a melhor forma para se alcançar Mukti. R. Isso está conforme o ponto de vista do aspirante. Krishna disse (Cap. 2. 12): “Nunca houve um tempo em que eu não tivesse existido, nem tu, nem tampouco esses reis dos homens. Nunca, daí por diante haverá um tempo em que nenhum de nós cessará de existir. Porque o que é irreal nunca existe. O irreal nunca é, o Real nunca deixa de ser. Tudo o que eternamente foi, mesmo agora é e sempre será.” Mais tarde Krishna continuou: “Ensinei esta Verdade a Vivasvat que, a seu turno ensinou-a a Manu, etc. (Cap. 4. 1). Arjuna perguntou: “Como isso pode ser? Seu nascimento era posterior ao deles?” Então Krishna respondeu (Cap. 4. 4): “Tenho passado por muitos nascimentos, ó Arjuna! E também tu os tiveste. Eu conheço todos eles, mas tu não conheces os teus. Eu te direi o que aconteceu naqueles nascimentos passados. Repara, este Krishna que começou a falar-te, aí não era eu, nem eras tu, nem tampouco estes reis, agora diz que teve muitos nascimentos anteriores. Krishna não contradisse a si mesmo, ensinou-lhe a ver desse modo assim, conformando-se com o ponto de vista de Arjuna e falou-lhe no nível dele. Há semelhante passagem na Bíblia, onde Jesus falou que Ele ensinou a Verdade a Abraão e Abraão a Moisés e assim por diante. Os ensinamentos dos Sábios seguiram através dos séculos, lugares e outros arredores. Quando o homem se entrega como um escravo ao Divino Senhor, por fim, conscientiza que todas as suas ações são ações de Deus. Ele perde seu ego – ismo. Esta é a forma de “fazer a vontade de Deus”. Quando o homem se conscientiza de que perdeu seu Ahamkara (egocentrismo) e que ele não é diferente de Ishwara, torna-se um Jnani. Este é o Vedanta; o formador é Sidhanta, mas, veja bem! O objetivo é o mesmo. Aí existem dois caminhos abertos, a quem quiser segui-las: Bhakti e Jnana. Um Bhakta se entrega a Deus e fica seguro sob sua proteção. Um Jnani sabe que não há nada além do SER e fica feliz. Feita a escolha, se deve seguir firmemente um ou outro desses trajetos.

Este caminho é o maior de todos e é seguido somente por aspirantes adiantados. Aqueles que seguem outros caminhos não estão suficientemente maduros para ele, até que se adiantem no caminho que sigam. Isso acontece realmente pela Graça, quer do Guru, quer do SER ou Deus, não importa, pois, finalmente traz os aspirantes ao mais alto caminho. Naturalmente, estes devem ter praticado outros caminhos em suas existências passadas e, consequentemente, nasceram preparados para isto; os outros procuram outros caminhos e, depois de haverem realmente progredido, voltam à descoberta do SER praticando autoindagação. Mas o último tropeço em todos os caminhos é o mesmo: – a entrega do ego. Somente este é o método direto. Os outros métodos, ultimamente, pretendem levar cada um a este método de investigação a respeito do SER. Os outros métodos servem de meios para aqueles que não podem se entregar à investigação do SER. P. Que tipo de ensino é adequado para os jovens? Eles não podem entender a verdade nua. R. A atenção deles pode ser atraída à Verdade de quando em vez de maneira apropriada. P. O que Maharshi dirá sobre Hatha-Yoga ou as práticas tântricas? R. Maharshi não critica nenhum dos métodos existentes. Todos eles são bons para a purificação da mente, porque só a mente purificada é capaz de pegar o método Dele e perseverar na prática deste. P. Qual dos diferentes Yogas é o melhor? R. Veja o parágrafo 10 de Upadesa Saram. Permanecer no SER é tudo aquilo no seu mais alto sentido. Os outros Yogas são os caminhos inferiores. Este é superior e direto. Todos os outros caminhos servem para aqueles que não sejam capazes de autoinvestigação. No fim, também aqueles levam você a Vichara. P. Por que Atma-Vichara é necessário? R. Se você não fizesse Atma-Vichara, então, Loka-Vichara o arrastaria a isso. Procure aquilo que não é visto e não o que é óbvio. Uma vez você encontre o que procura, sua busca também terminará, e terá o repouso. P. Como a meditação poderá ajudar-me? R. Nenhuma meditação sobre um objeto é eficiente em si. Para isso você terá que aprender a conscientizar-se de que o sujeito e o objeto são um, meditando sobre um objeto, quer seja concreto, quer abstrato. De outra forma, você está

destruindo o sentido da unidade e, assim, criando a dualidade. Medite somente no SER. Experimente conscientizar-se de que o corpo não é você, as emoções não são você, o intelecto não é você. Quando tudo isso estiver descartado, verá que Alguma Coisa está aí; pegue-a – ela irá revelar-se por si mesma. P. Mas quando consigo aquietar tudo em mim, quase estou caindo de sono. Que devo fazer? R. Isso não importa. Ponha-se no estado tão profundo como o do sono e então observe, não se mexa, adormeça conscientemente, então não haverá nada aí senão CONSCIÊNCIA. P. Yoga é um bom método para aproximação? R. No fim, fica somente a aproximação do alvo, e isso se deu através da conscientização do SER. Sendo assim, por que perder tempo em outros caminhos, quando, com a melhor boa vontade levam ao alvo apenas no final do caminho? Contudo, é melhor estar no fim deste caminho o tempo todo, que num desvio auxiliar. Medite no SER. O que Ele é – que é tudo. Aí não haverá nada mais, salvo a revelação em resposta para isso. Veja o SER em tudo. Aja automaticamente, por assim dizer, e deixe “isso”, e ISSO sempre será. Não vise os resultados, faça o melhor que puder e deixe-os.

CAPÍTULO 5

O Intelecto Dúvida ou incerteza dizem respeito à mente ou ao intelecto. Dentro de ambos não há lugar para perfeição semelhante à Realização. O orgulho do conhecimento e o desejo de aplausos aí estão condenados, embora não o esteja o conhecimento em si. A educação e o conhecimento levam à busca da Verdade e a humildade é apreciada. P. Então, todo o nosso progresso intelectual não vale nada? R. O intelecto de quem está progredindo? Procure descobri-lo. P. Quais são os obstáculos que impedem a conscientização da Realidade? R. A memória, a importância, o hábito de formular conceitos e as acumuladas tendências. P. Como ficar livre desses obstáculos? R. Descubra o SER através da meditação feita desta maneira: procure levar de volta cada pensamento que surge, à sua origem, que é a mente, nunca deixe a mente vadiar à toa, pois, se o fizer, não haverá fim nisso; leve os pensamentos de volta à fonte deles que é a mente, e eles – os pensamentos e a mente – morrerão de inanição; porque só o pensamento sustenta a mente, trazendo-a quase morta; retrocedendo o pensamento, a mente também morrerá, tão rápido quanto a dúvida e o desânimo se levantarem. Então, pergunte a si próprio: “De quem é a dúvida? Que é que está desanimado?” Acabe uma vez por todas com essas coisas, até que nenhum pensamento sobre, à exceção da fonte. Viva só no presente! P. De que maneira posso desenvolver-me? R. Por que aparar o ego? É exatamente isso que ele quer: vir-a-ser o centro de atração.

CAPÍTULO 6

As Características da Disciplina P. Por que às vezes acho a concentração no SER tão fácil e outras vezes desesperadamente difícil? R. Por causa dos Vasanas. Mas realmente isso é fácil, já que nós somos o SER. O que temos a fazer é lembrar-nos disso. Temo-lo mantido no esquecimento e, assim, pensamos que somos este corpo ou este ego. Se a vontade e o desejo de lembrar-se do SER fossem bastante fortes, eles, eventualmente superariam Vasanas. Aí deve travar-se uma grande batalha, declarada no íntimo, o tempo todo, até que o SER esteja conscientizado. Esta batalha da qual simbolicamente fala a Escritura bíblica, é como um combate entre Deus e Satanás. Em nosso Sruti, é no Mahabarata, onde os “Asuras” representam nossos pensamentos ruins e os “Devas”, nossos elevados pensamentos. P. Como se pode apressar esta chegada da Realização? R. Quando alguém tentar seriamente conhecer seu verdadeiro “EU”, o apego aos objetos, os maus e degradantes pensamentos gradativamente vão abandoná-lo. Quanto mais nos lembramos do SER, tanto mais qualidades elevadas adquirimos. Então, a Realização eventualmente talvez venha. P. Por que no Upanishad está escrito: “Só àquele que Atma escolhe, Ele se revela, e não aos outros.”? Isso não lhe parece um tanto arbitrário? R. Não. Está correto. Pois o escolhido é pessoa que se devota a Ele, torna-se o Seu devoto. Ele o atrai para dentro de Si. Só voltando-se para dentro é que se pode encontrar Atma. Quem pensa nisso O atrairá a si. Os pensamentos tais como “chegar à consecução do SER é difícil” ou “autorealização está longe de mim”, ou “tanta dificuldade tenho a superar para conhecer a Realidade” devem ser absolutamente banidos, pois, precisamente esses pensamentos impedem a Realização. São criações do falso ser, do ego, não são verdadeiros. Nunca duvide de ser você a Realidade; viva nessa compreensão. Nunca questione em adiar sua realização para algum tempo futuro. Isso porque as pessoas estão sendo vitimadas e hipnotizadas por semelhantes pensamentos falsos. Gita diz: “Poucos entre os milhões são os que realizam SER.”

A ordem de Ashrama foi estabelecida como base fundamental, isto é, tem sido regularizado o desenvolvimento gradual dentro do normal decurso da humanidade. Contudo no caso de alguém estar plenamente amadurecido e altamente adiantado em Atma-Vichara, não haverá necessidade do desenvolvimento gradativo. Neste caso de Jnana-Vichara, isto é, a autoindagação a respeito de seu próprio SER, os resultados são imediatos e rápidos e a percepção clara. P. Sou digno de ser um devoto? R. Cada um pode ser um devoto. O alimento espiritual é oferecido a todos e nunca é negado a ninguém. Para um devoto desanimado: A pergunta deve ser feita assim: “quem está desanimado?” É um fantasma do ego cuja queda oprime e torna vítimas de semelhantes pensamentos. No sono, a pessoa não fica aflita. O estado de sono é um estado normal. Pergunte e descubra. Será que não encontra reminiscência de paz em meditação? Esse é o sinal do progresso; paz será mais profunda e mais prolongada à medida da prática contínua. Isso também leva ao alvo. E quanto mais você sustentar que é um ignorante, tanto mais informado será para fazer com que seu caminho para a remoção da ignorância se torne fácil. O homem é um louco quando diz que ele é louco? A restrição do desejo da mente e a meditação estão sendo mutuamente dependentes. Devem andar lado a lado. Abhyas e Vairagya trazem o resultado. Vairagya reprime a mente a não se projetar; Abhyas faz com que ela se volte para dentro. Aí está a luta entre o controle e a meditação. Esta luta interna é quase constante. A meditação, no devido tempo, será bem sucedida. Se você procura Deus de todo seu coração, então pode estar seguro de que a Graça de Deus também o está procurando. P. Quando tropeçamos e caímos no caminho, que devemos fazer? R. Tudo dará certo no fim. Basta uma firme decisão de que você porá seus pés novamente no caminho, mesmo depois da queda ou quebra. Com o tempo, pouco a pouco, os obstáculos vão se enfraquecendo e suas energias se tornando mais fortes. Tudo dará certo no fim. A única coisa que se pede é uma firme determinação. P. Minhas tendências inatas fazem com que me distraia. Podem ser cortadas pela raiz? R. Sim. Os outros já o fizeram. Por conseguinte, acredite nisso. Eles conseguiram porque acreditaram que podiam fazê-lo. Isso podia ter sido feito

pela concentração. Naquilo que é livre de predisposições e continua sendo o âmago deles. Se o anelo estivesse aí, a Realização estaria forçada a vir, mesmo se você não a quisesse. P. É necessário desenvolver qualidades? R. Somente para os principiantes, por revelarem tendências a desenvolver diferentes tipos de qualidades. Para os adiantados é suficiente olhar para dentro de sua própria natureza. Este é o método direto. Todos os outros caminhos envolvem o ego. Somente este responde à pergunta “o que é ego?” o Yoga Vashista diz que a pergunta “que sou eu?” é um eixo que leva à raiz do ego e o destrói. P. Receio que este último alvo não seja coisa fácil de buscar. R. Por que ridicularizar a si próprio pelo receio a respeito de sucesso ou fracasso no seu percurso? Vá em frente! Entregue-se à meditação profunda. Afaste todas as outras compensações da vida. A vida calculista não será coroada de êxito espiritual. Sim, a entrega total é impossível no início. A entrega parcial é certamente possível para todos; no decorrer do tempo, isso levará à entrega completa. Bem, se a entrega parcial fosse impossível, corno fazer então? A mente não tem paz. Você está impotente para trazê-la de volta. Isso poderia ser feito somente pela entrega. De fato, aí não se pode encontrar uma única pessoa no mundo possuindo todas as qualidades em perfeição necessária para Mumukshu, como está mencionado em Yoga Sutra, etc. Ainda assim, a busca de Atmagnana não deverá ser abandonada. Cada um é o SER por Aparoksha, embora não esteja cônscio disso, e, identificando o SER com o corpo, sente-se miserável. Todas as vezes que você tiver pensamento sobre a dificuldade, disponha dele completamente, procurando descobrir com que motivo e de onde ele surgiu. P. Sou eu capaz de vislumbrar o SER? Parece tão difícil? R. Você já é o SER. Não obstante, a percepção é para cada um. A conscientização não conhece diferença entre os aspirantes. Esta sua dúvida: “será que eu sou capaz de vislumbrar”, ou a sentença: “ainda não conscientizei” são os obstáculos. Fique livre disso também. P. Não obstante, a menos que eu tivesse experiência, como posso me libertar desses conflitantes pensamentos?

R. Também estes estão na sua mente. Ficam aí porque você identificou-se com o corpo. Do momento em que essa errada identificação deixar de pertencer-lhe, a ignorância desvanecer-se-á e a Verdade lhe será revelada. P. O Senhor aceita a parábola de Jesus, onde a mulher procura uma moeda perdida até encontrá-la? R. Por que não? Nesta parábola sabemos que Deus está buscando as almas. A Alma humana sempre aproveita a Graça de Deus. Não obstante, o homem deve pelo menos aceitá-la. Você conhece a luz solar. Se fechasse os olhos e dissesse que o sol não se encontra aí, isso seria culpa sua e não do sol. Se a Graça de Deus não o tocar, isso não significa que Deus está de má vontade, e sim, que você não se entregou a Ele completamente. Deus é Graça. De acordo com seu Pakkuvam (estado de desenvolvimento preparatório) você poderá estar cônscio da Graça.

CAPÍTULO 7

A Filosofia da Sensação e da Percepção Maharshi me disse. “Que é que vê? Os olhos físicos? Não. É a mente. Quando a mente olha através dos olhos, só então eles vêem. Quando ela se retira, os olhos nada enxergam.” P. E a respeito da dieta? R. A alimentação afeta a mente; faça-a mais sátvica (viva, vibrante, rítmica). Praticando qualquer tipo de yoga, a alimentação vegetariana é absolutamente necessária. P. Alguém pode ter Iluminação espiritual, embora esteja comendo carne? R. Sim, porém, deixando-a gradativamente até se acostumar à alimentação sátvica. Entretanto, uma vez alcançada a Iluminação, não fará diferença o que você estiver comendo, ao exemplo de grande fogo, que, sendo imaterial, pouco importa qual combustível o alimente.

CAPÍTULO 8

As Ilusões do Espaço, Tempo e Exterioridade Certa feita, ao receber um presente de um novo calendário, Maharshi disse: “Você trouxe para mim um novo calendário a fim de lembrar-me de dias, enquanto eu frequentemente tenho sérias dúvidas quanto ao ano em que estamos. Tempo é todo igual para mim.” Falei a Maharshi que um certo compromisso que tive. Foi uma perda de tempo. Nisso Ele sorriu: “O tempo não existe. Como podia você perdê-lo?” P. A distância tem algum efeito na Graça do Guru? R. Tempo e espaço estão dentro de nós. Tempo é apenas uma idéia. Há somente a Realidade. Seja o que for que você pense a respeito, será à semelhança daquilo que você criou na mente. Se você chamar a isso tempo, será tempo. Se a isso der o nome de existência, será existência; e ainda haverá alguém, que, depois de tê-lo chamado tempo, dividilo-á em dias, meses e anos. A Realidade, porém, não pode ser nova. Deve existir mesmo agora; e não existe. Fica neste estado, nem no presente, nem no passado, nem tampouco no futuro. Ela é além do tempo. É existente para todo o sempre.

CAPÍTULO 9

A Doutrina do Mentalismo O universo é apenas uma idéia. É o Coração que toma todas essas formas. A isso chamam Testemunho, enquanto que nem o ego, nem os sentidos, nem a personalidade permanecem. Appar (um santo homem) era decrépito e velho; mesmo assim, resolveu empreender uma viagem a Kailas. Um outro homem velho apareceu e acompanhou na caminhada, procurando dissuadi-lo da intenção, dizendo o quão difícil era chegar ali. Appar era teimoso. Então, o forasteiro disse-lhe para mergulhar num tanque perto dali. Appar fez isso e encontrou Kailas aí mesmo. Onde isso aconteceu? Em Tiruvaiyar, um lugarejo a 9 milhas de Tanjore. Se Tiruvaiyar fosse realmente Kailas, os outros peregrinos a teriam visto também. Mas somente ao Appar parecia nela estar. Também os outros lugares de peregrinação no Sul da Índia, diz-se serem moradas de Shiva. Os devotos acham isso também. Do ponto de vista deles é verdade. Tudo está dentro da pessoa. Não há nada fora de nós mesmos, aí. Erradamente se identifica o espírito com o corpo carnal. O corpo foi concebido pela mente; a origem da mente é o espírito. Se a errada identificação cessar, voltará a paz da mente e sentir-se-á a permanente e inquebrantável bemaventurança de gozo. Vida é a existência que é SER. Esta é a vida eterna. Caso contrário, pode você imaginar o tempo em que você não é? Aquela Vida não está condicionada pelo corpo e erradamente você identifica sua existência com essa do corpo. Você é Vida incondicionada. Assim, os corpos se prendem a você como projeções mentais, deixando-o aflito pela idéia “eu-sou-o-corpo”. Se parasse com essa idéia de identificação, você, seria seu próprio Ser. Você existe quando dorme, mesmo sem o corpo, cuja consciência momentaneamente se apagou. Ao acordar, o ego surge e a mente que concebeu o corpo, torna a existir; você diz que ele nasceu e morrerá e, passando para o Ser afirma: por você ter nascido, terá que morrer. De fato, você existe sem corpo, dormindo, tanto como existe agora, neste momento, junto ao corpo também. O Ser pode existir separado do corpo. O pensamento de “eu sou o corpo” é a ignorância; ao passo que o pensamento de que o corpo não é separado do SER, é, portanto, o conhecimento. O corpo é uma projeção mental.

O pensamento-corpo está sendo confundido com o do SER. A que serve o corpo ou o nascimento? Não é para o SER, nem para o Espírito, e sim, para o Não-ser que imagina estar separado. Exatamente como um avarento que leva seu tesouro sempre consigo e nunca se separa dele, assim o Ser salvaguarda Vasanas a fim de ficarem mais perto de si, isto é, dentro do Coração. O Coração irradia vitalidade ao cérebro, incentivando-o assim a funcionar. Os Vasanas, em sua forma mais sutil, estão ancorados no Coração para depois serem lançados ao cérebro que os reflete com a alta magnificência. É desse modo que o mundo é feito a fim de continuar a desenrolar-se, e isso é assim porque o mundo nada mais é senão um filme cinematográfico. O mundo não é externo. As impressões sensoriais têm outra origem, visto que o mundo pode ser conhecido somente através da consciência. O mundo não clama que existe; é a sua impressão. Mesmo que essa impressão não seja inquebrantável. No sono não se conhece o mundo; ele não existe para quem dorme. Portanto, o mundo é resultado do ego. Descubra o ego. Encontrar a fonte do ego é o objetivo final. O mundo é resultado de sua mente. Conheça sua mente! O mundo é apenas um fenômeno que se revela naquela pura Consciência. Mas a pura Consciência, em si, permanece inafetada. O Universo é como uma pintura na tela. Aquilo que surgiu e submergiu foi inventado daquilo que disso surgiu. A finalidade do Universo é o SER. A mais refinada transformação da universal força elétrica se efetua dentro da força-pensamento, pensamento que é dado à criatividade; o divino “farei isso” está entregue à criatividade, à ideação, a Sankalpa. P. O Sábio Realizado vê o mundo? R. Sim, embora seu ponto de vista seja diferente. As imagens cinematográficas se movem, mas experimente pegá-las! O que você pega? Somente a tela. Assim também aqui. Mesmo quando o mundo aparece, o Jnani não o vê senão como a manifestação exclusiva do SER. Aí só a mente está funcionando através de cinco sentidos, mas através de cinco sentidos há um poder que trabalha. O trabalho dos sentidos inicia e termina. Aí deve haver uma substância da qual as atividades dos sentidos dependem e na qual se apóiam – um simples substrato. O corpo denso é tão-somente uma forma concreta de matéria sutil – a mente. P. Talvez eu não pudesse voltar aqui e pedir a Bhagavan pela Graça. R. Aonde vai você? Você não estará indo à parte alguma. Mesmo admitindo que você é o corpo, como seu corpo podia ter chegado de Lucknow a

Tiruvannamalai? Você simplesmente estava sentado no carro ou em qualquer outro veículo que se movia e, finalmente, você disse ter chegado aqui. O fato é que você não é o corpo. O SER não se move, mas o mundo nele se move. Você é apenas o que é. Não há mudança em você. Assim, mesmo depois do que pareça ser sua despedida daqui, você está aqui como ali e em toda a parte. Apenas cenários mudam. Todas as Escrituras foram escritas unicamente para investigar se há duas consciências. A experiência de cada um prova a existência de uma só consciência. Há somente uma consciência. Contudo, falam de vários tipos de consciência, de corpo-consciência, de autoconsciência, etc. Sem a consciência, tempo e espaço não existem. Eles surgem na consciência. É como uma tela na qual se projetam imagens que se movem como num filme na sala de projeção. A Consciência Absoluta é a nossa real Natureza. P. De onde essas coisas surgem? R. Exatamente de onde você veio. Sujeito compreende objeto também. Este aspecto é o aspecto todo-abrangente. Primeiro olhe você mesmo; depois, olhe os objetos. Aquilo que não está dentro de você, não pode vir de fora. Como o exemplo do cinema: você é a tela; o SER criou o ego, o ego tem seus pensamentos que se desenrolam no mundo afora feito imagens na tela cinematográfica. Aqueles pensamentos representam o mundo. Mas, na realidade, aí nada existe além do SER. Aqueles são todos projeções do ego.

CAPÍTULO 10

A Ilusão da Experiência do Mundo P. As pedras, etc. estão mesmo destinadas a existir tais como são, sempre? R. Quem vê as pedras? É a mente que as percebe. Portanto, elas ficam na sua mente. O que é a mente? Quem pergunta deve encontrar-se a si mesmo. Se o SER for encontrado, esta pergunta não teria surgido. O SER é mais íntimo que os objetos. Encontre o Sujeito e os objetos tomarão conta de si mesmos. Os objetos são vistos por diferentes pessoas de acordo com o ponto de vista delas e as teorias nisso envolvidas. Mas quem é o principal coordenador dessas, teorias, senão você mesmo! Encontre seu SER, então, porá fim a todas essas fantasias mentais. Certa feita, Maharshi contou como ele teve a realização. No dia em que seu pai falecera, sentiu-se perplexo, desconcertado pela morte e ponderava naquilo, enquanto sua mãe e os irmãos choravam. Refletia durante horas e, depois da cremação do corpo, chegou pela análise ao ponto de percepção de que isso era “Eu”, que faz o corpo ver, correr, andar e comer. “Agora conheço esse “Eu”, mas o “Eu” do meu pai deixou o corpo.” Lemos o jornal e todos os artigos nele impressos, porém, pouco nos importa saber algo sobre o próprio papel. Absorvemos a palha e não a substância. O substrato no qual tudo está impresso é papel e, se conhecêssemos o substrato, tudo o mais teríamos conhecido. Somente UM é SAT, a existência, ou seja, o papel, ao passo que o mundo, as coisas que vemos, inclusive nós mesmos, são apenas palavras impressas. Há um fim para tudo aquilo que você percebe. A isso que foi criado há destruição ou fim. Para isso que não foi criado, jamais haverá fim. Aquilo que existe não pode ser percebido. É imperceptível. Devemos descobrir o que é isso que aparece, a destruição e o fim daquilo que aparece. Isso que existe, existe para sempre; isso que aparece, desaparece e está perdido quando consumado. O que é isso que nasceu? O que você chama de homem? Em vez de procurar explicações a respeito de nascimento, morte e depois da morte, cada pergunta que fizer agora é para que essas perguntas não mais se levantem. Você é o

mesmo quando profundamente adormecido, sonhando ou no estado de vigília, andando. O “eu-pensamento” é Jiva ou o corpo é Jiva? Esse pensamento é a nossa Natureza? É o corpo que sente dor? Não existe dor no SER. O Universo externo para o Homem Realizado nada representa senão um filme cinematográfico se desenrolando. Ele é livre e seu desempenho prossegue dia e noite. Ele vive e trabalha no reconhecimento de que os semelhantes objetos e seus semelhantes corpos (pessoas) são ilusórias aparências, exatamente como o homem comum conhece as cenas e as personagens na tela do cinema, assim como as do teatro, que não passam de meras ilusões e não existem na vida real. Contudo, o homem comum toma os externos objetos da vida diária como sendo reais, enquanto que um Realizado os vê apenas como imagens ilusórias do filme. O Universo não existe separado do SER. Toda a “evolução”, todas as coisas externas giram em volta do SER e nele desaparecem. Para onde o mundo vai quando entramos no sono profundo? Embora existamos, o mundo não mais existe para nós. Consequentemente, o SER se torna substância que realmente sustenta o Universo, oferecendo-lhe a realidade. Se o nosso Ser não existisse, o Universo para nós não existiria. A Realidade está no SER, portanto, não no Universo! A conscientização disso vem para o Homem Realizado. SER é a tela, o Universo e seu desenrolar são as imagens do filme que passa. A tela não muda, mas as imagens são transitórias e mudam. O Sábio experimenta que ele é o corpo, assim como faz o ignorante; mas, enquanto esse último crê que o SER esteja preso ao corpo, o Sábio crê que o corpo não pode estar separado do SER. Para ele o SER é infinito, incluindo também o corpo. P. Quais são os primeiros passos para a prática espiritual? R. No início a pessoa deve reconhecer que ela não é o corpo, isso por ter ela pensado ser exclusivamente o corpo, enquanto que além do corpo, ela é algo mais, o corpo é apenas uma parte. Faça com que ela se convença e que esteja firme. Em primeiro lugar ela deve discriminar Chit do Jada e ser somente Chit. Depois, deixe-a conscientizar-se de que Jada nada mais é senão Chit, isto é, discernimento. O inicial Viveka persistirá até o fim. Sua frutificação é Moksha. P. As pedras etc. estão destinadas a permanecer assim para sempre? R. Quem vê as pedras? São percebidas por seus sentidos que, a seu turno, atuam através da sua mente. Portanto, elas estão na sua mente. De quem é a mente? Se o SER fosse encontrado, esta pergunta não teria surgido. SER é mais íntimo que os objetos. Encontre o Sujeito e o objeto tomará conta de si mesmo.

P. Os mundos angelicais realmente existem? R. Tanto quanto você considerar este mundo real, aqueles também serão reais. Por que não deveriam existir? P. Mas, são esses mundos meras idéias? R. Para você tudo realmente é uma idéia, pois nada lhe aparece, a não ser através da mente e como a idéia dela. P. Então onde estão esses mundos? R. Estão dentro de você. Os humanos podem renascer animais, dependendo da última sequência do pensamento ou o modo de vida precedente à morte. (Aí ainda é o produto de predominantes pensamentos durante a vida.) P. Existe uma religião chamada Ciência Cristã que tem uma doutrina semelhante. É correto? R. Sim, mas não pense em resultados. P. O que me diz a respeito da dor de dente? R. A dor está na mente. Diga-me o que acontece com a dor de dente durante o sono? Sente você então a dor? Não. Bem, no SER, você está sempre em felicidade. P. As curas da Ciência Cristã se baseiam no mesmo princípio: “Pense no SER a despeito dos mosquitos e da dor de dente”. Isto exige um grande esforço. Mas, o homem deve ser um herói para superar isso e alcançar Realização. P. Que é a morte? R. Tudo está na mente; o nascimento e a morte, o prazer e a dor, em suma, o mundo e o ego, tudo que existe. Se a mente é destruída, tudo isso também é destruído. Mas, note bem, embora isso possa ser aniquilado, ainda assim, não se ficará quieto. Por estar a mente tranquila no sono, não sabe coisa alguma. Ademais, ao despertar, você é o mesmo como era dantes; e suas aflições não terminaram. Mas, se a mente for destruída, a aflição, não tendo onde se apoiar, desaparecerá junto com a mente. P. O homem renasce como um humilde animal? R. Sim, é possível, conforme ilustra a anedota de Jada Baratha. P. Jiva é capaz de progredir espiritualmente no corpo animal? R. Não, é impossível. É extremamente raro conceito.

P. Que é a morte? R. Morte é o ininterrupto sono entre os dois sucessivos nascimentos, quando o sono intervém entre os dois Jagrat, sendo ambos transitórios. De acordo com as palavras sânscritas: “A mulher é a metade do corpo do marido”. Sem dúvida seria uma coisa muito triste para o marido se a sua mulher morresse. Se alguém começa a pensar em termos de seu Atma, absolutamente não terá nenhum pesar. Conforme as Escrituras, a mulher é amada porque ela agrada a seu marido, satisfazendo-lhe os desejos. Então, se tudo isso é para o prazer de Atma, onde fica o pesar? A despeito disso, mesmo as pessoas que tenham alcançado o vislumbre do Real Conhecimento, perdem seu equilíbrio mental quando tais calamidades ocorrem. Durante o sono, algumas pessoas sentem-se felizes. No sono, o SER permanece feliz, embora não veja a mulher. Mas agora, no estado de vigília, o mesmo SER que era feliz no sono, goza tanto de felicidade como da desgraça devido à presença de coisas do mundo. Por que a felicidade, sentida no sono pelo SER, não poderá ser desfrutada no estado de vigília também? A idéia da identidade do corpo com Atma impede o gozo de felicidade. Aquilo que existiu, está sempre presente e aquilo que nunca existiu, não pode existir. Que é que nasce? Que é isso que morre? Mover-se é nascer, dormir é morrer. Sua mulher o acompanhava enquanto você cumpria suas obrigações e quando você dormia? Ela tem ficado alhures, separada, contudo, você pensava que ela estava viva. Agora, depois da sua morte, você pensa que ela não existe. A coisa toda reside na imaginação da sua mente. Por conseguinte, a diferença a respeito da sua mulher está na categoria dos pensamentos de não-existência (da mulher). Tudo é apenas imaginação mental. No seu próprio ser, que, pela natureza, é pleno de felicidade ou cheio de dor causada pelo pesar. Por que deveria haver aflição por aqueles que estão mortos, já que quem morre, libertase da escravidão? O SER cria aflição por penetrar no pensamento que diz respeito a uma pessoa morta. Por que se deverá dar alguma importância, quer a pessoa esteja morta, quer ainda exista? Vocês têm que destruir seu ego. Se o ego estivesse morto, não haveria absolutamente tristeza alguma. Deixando o “pensamento-eu” enquanto o corpo ainda permanecer, é a isso que chamam aniquilamento do ego. Se o ego não estiver aniquilado, certamente a pessoa que sente dor, sentir-se-á arrasada pela morte. Alguns choram a morte das pessoas mortas. Mas se o “eu” delas tivesse sido aniquilado antes do falecimento dessas pessoas, então não haveria necessidade de lamentar a morte delas. Nossa experiência da felicidade existe somente durante o sono profundo, quando cessamos de pensar em nosso corpo. Também o homem sábio, um Jnani, fala da incorpórea libertação. Por essa razão, o homem sábio, isto é, um Jnani, procura ser, antes do momento em que terá de deixar seu corpo. Exatamente como um cozinheiro que levando uma carga na cabeça sente-se aliviado logo após chegar ao seu destino, pondo sua carga no chão. Assim é o Jnani que aguarda seu tempo para se desfazer da carga de seu corpóreo sangue e carne.

Portanto, a morte da esposa aliviará o marido da metade da sua carga e, consequentemente, fará com que ele se sinta feliz. Mas não devemos levar isso em consideração, já que percebemos essas coisas através de nossos sentidos físicos. Até os Jnanis, homens sábios, pensam, completa e perfeitamente cônscios, sobre a necessidade de estar incorpóreos para a final libertação, embora se fale da libertação do corpo, deixando deduzir deste modo que o corpo esteja feito para ser eterno. P. Qual é o estado um pouco antes da morte? R. Quando a pessoa está ofegante é um indício de que ela esteja inconsciente do seu corpo; enquanto a pessoa estiver respirando com dificuldade é como se ela estivesse numa espécie de sono, inconsciente de tudo que a rodeia. P. O novo corpo envolvido neste estado representa a próxima reencarnação da pessoa? R. Sim, neste caso; mas há também em outros casos um período de pausa entre os nascimentos. Alguns nascem imediatamente depois; outros, depois de algum lapso de tempo; poucos são os que não renascem nesta terra e, contudo, alcançam sua salvação nas mais altas Regiões; a muitos poucos é dado ter capacidade de absorção aqui e agora. Para um budista: A idéia da diversidade vem com a consciência-do-corpo, idéia que surgiu em algum momento; teve a origem e o fim. O que é de Origem deve ser alguma coisa. O que é essa alguma coisa? É o “EU-Consciência”. Encontrando a sua Fonte, você se torna cônscio da Absoluta Consciência. Pode o mundo existir sem que ninguém o reconheça? O que é anterior, o serConsciência ou o vir-a-ser consciência? O Formador está sempre aí, é eterno, enquanto que o formado surge e desaparece. É transitório. P. O que é ilusão? R. Descubra de quem é a ilusão e esta não demorará a esvanecer-se. É insensato falar a respeito disso, porquanto, embora esteja fora de nós, é conhecida, enquanto que o pesquisador fica dentro e para ser conhecido. Descubra o imediato que, embora seja íntimo, é, pelo contrário, distante e desconhecido. P. “Brahma é Real, o mundo é ilusório” – é uma das frases da coletânea de Shankara. Os outros afirmam que o mundo é real. Qual dessas afirmações é verdadeira? R. Ambas. Referem-se, pois, a diferentes estágios de desenvolvimento. O aspirante inicia pela definição que o Real sempre existe; portanto, ele elimina o mundo como irreal e por ser cambiante, fica sem possibilidade de ser real. Afinal,

ele busca o SER e aí encontra a unidade. Então, isso que inicialmente rejeitou como sendo irreal, acha ser uma parte da unidade. Estando absorvido pela realidade, acha o mundo também real. Em Realização há somente existência – e nada senão ISSO. Os estudiosos do Vedanta dizem que a manifestação de Maya é um reflexo do Cosmos a partir de Pura Consciência como as imagens no espelho. As imagens não podem permanecer na ausência do espelho. Assim também o mundo não pode ter uma existência independente. Sri Shankara disse que o Absoluto é sem atributos. Qual é a diferença? Ambos concordam que o reflexo no espelho é irreal. A irrealidade do mundo está implícita nos ditos de Shankara, enquanto que no Vedanta fica explícita. Aí não há diferença entre a matéria e o espírito. A ciência moderna admite que toda matéria é energia. Energia é Shakti. Consequentemente, tudo está determinado entre Shiva e Shakti, isto é, o SER e a MENTE. Os corpos são meras aparências. Não há realidade neles como tais. P. Por que Maya se torna ativo? R. Como pode esta pergunta surgir? Você mesmo está nele envolto. Será que você se considera à parte desse movimento universal para formular semelhante pergunta? O mesmo poder levanta esta dúvida a fim de que cessem, finalmente, todas as dúvidas. Maya é apenas Ishvara-Shakti, ou seja, ação da Realidade. P. O que é existência? R. Esse é o assunto do nascimento e da dissolução, a fim de que nos sustente que este não é o nosso verdadeiro estado.

CAPÍTULO 11

A Ilusão da Experiência do Ego P. Como controlar a mente? R. A mente é impalpável. De fato ela não existe. O meio mais acertado de controlar a mente é ir em sua busca. Então, as atividades, dela cessam. Vá à procura de sua própria mente; uma vez estando perseguida, desaparecerá. A mente e apenas um feixe de pensamentos. Pensamentos surgem porque aí há um pensador. O pensador é ego. O ego desvanece automaticamente, quando o estamos procurando. O ego e a mente são idênticos. Ego é a raiz-pensamento da qual todos os outros pensamentos brotam. Mergulhe em si mesmo. Você agora sabe que a mente surge de dentro. Portanto, afunde-se dentro de si e aí procure. Não precisa eliminar o falso “eu”. Aliás, como o “eu” poderia eliminar a si próprio? Todos deveriam fazer o mesmo para descobrir sua origem e aí permanecer. Seus esforços, contudo, não podem se estender além disso. Então o Além tomará conta de si próprio. Aí você está impotente. Nenhum esforço poderia lho revelar. O individual não pode existir sem SER, mas o SER pode existir sem o individual. Nossas análises não têm fim, isto é, vão tão longe quão longe o intelecto pode levar. Porém, as nossas análises não são suficientes. Não basta eliminar o “nãoeu”. O processo é tão-somente intelectual. A Verdade não pode ser diretamente apontada. Daí a necessidade do processo. Agora, a verdadeira busca interior começa. O “pensamento-eu” é a raiz e deve agora ser perseguido até a sua fonte. Descubra o que há aí e nela permaneça. P. O processo é puramente intelectual, ou faz com que se manifeste uma sensação que predomine? R. O último. O “eu” pessoal é um reflexo na mente do “EU” real. Pergunte a si mesmo QUE SOU EU? O corpo e suas funções não são “eu”. Persista, vá mais a fundo. Os sentidos e suas funções não são “eu”. Vá fundo: a mente e suas funções não são “eu”. O passo seguinte é a pergunta: “De onde esses pensamentos surgem?” Os pensamentos são espontâneos, analíticos ou superficiais. Quem está ciente deles? A existência de suas operações se torna evidente para o “eu” individual. A análise leva à conclusão de que essa individualidade é operante como

conhecedora da existência dos pensamentos. Isso é ego. Depois pergunte: “O que é aquilo e de onde vem?” Faça a análise do sono: “O Eu-sou” está subjacente em três estados – sono, vigília e sonho. – Após haver descartado todos os “não-eus”, encontramos o resíduo – o SER Absoluto. O mundo e o ego, ambos, sendo objetivos, devem estar eliminados de nossa análise. Eliminado o irreal, o Real aparece. Depois de haver feito esta eliminação, procure eliminar a mente, progenitora da idéia da dualidade e do ego. A mente é uma das formas de manifestação da Vida. P. Esse método é mais rápido que o desenvolvimento da qualidade dos pensamentos necessários à salvação? R. Todas as más qualidades são as amarras em volta do ego. Quando o ego se vai, a realização torna-se evidente. No “Eu Sou” não há nem boas nem más qualidades. “EU SOU” é livre de quaisquer qualidades. As qualidades pertencem só a mente. A indagação deveria estar lá onde o “eu” estivesse. Após haver surgido o “pensamento-eu”, vem a falsa identificação do “eu” com o corpo, os sentidos, a mente etc. O Verdadeiro SER os tem perdido longe de vista. Para peneirar o puro “EU” do “eu” contaminado, cujo descarte (dos revestimentos citado em Chastras) está em pauta. Contudo, isso não significa exatamente o descarte de “não-ser”, e sim, significa a descoberta do real “SER”. O SER real é o infinito “EU-EU” em perfeição. Ele é eterno. Não tem origem nem fim. O outro “eu” nasce e morre. Ele é impermanente. Observe a quem esses pensamentos mutantes ocorrem. Você os encontrará surgindo depois do pensamento “eu”. Mantenhase no “pensamento-eu”; esses vão sossegar. Seguindo o vestígio da fonte do “pensamento-eu”, somente o “EU SOU” permanecerá. A raiz dos pensamentos é ego, Ahankara. Dizer “não sou o corpo”, mas “EU SOU O QUE SOU”, também não está correto. Não há pensamento do “eu” no verdadeiro SER. Descubramos se os pensamentos podem ser dirigidos a qualquer pensamento que seja, como base de suas operações. Você não percebe que o pensamento ou a idéia sobre “eu”, idéia sobre a personalidade é igual ao pensamento-raiz? A individualidade, Antakarana, é mediadora. Esta é o que chamamos Sukshma (corpo astral) e age como mediadora entre o corpo e o SER. Esta pode voltar-se tanto ao corpo como para o SER, imergindo num ou no outro. O “pensamento-eu” não é puro; é contaminado pela associação com o corpo e os sentidos. Observe a quem isso causa problema. Ao pensamento-“eu”. Mantenha-o, então, os outros pensamentos não surgirão. P. Sim, mas como fazê-lo? É nisso que está toda dificuldade.

R. Pense “eu-eu-eu” e mantenha-se somente nisso, excluindo todos os outros pensamentos. P. O que é auto-entrega? R. É o mesmo que autocontrole. O controle fica inoperante para remover Samskaras1. O ego se submete somente quando reconhece o Alto Poder. Tal reconhecimento é auto-entrega; a submissão a Ele é autocontrole. De outro modo, o ego fica presunçoso como a imagem esculpida na torre, a fim de que se faça notar pelo seu aspecto incomum, carregando a torre nos seus braços. O ego não poderia existir se não houvesse o Alto Poder, no entanto, pensa que age por sua própria vontade. Um passageiro de trem leva a sua bagagem na cabeça por sua própria tolice. Deixe-o colocá-la no chão; e ele pensará que a bagagem chegará ao seu destino da mesma forma. O auto-controle não nos deixa tomar atitude de quem pensa que age, mas faz com que nos resignemos a ser guiados pelo Poder. 1. As impressões deixadas na mente. N.T.

O desejo de dormir ou o medo da morte existem quando a mente está ativa e não nos respectivos estados. A mente sabe que a entidade-corpo subsiste e reaparece depois de haver dormido. Por conseguinte, o sono não é esperado com medo, mas com prazer pela inexistência temporária do corpo – a não existência dos pensamentos. Por outro lado, a mente não tem certeza de aparecer depois da chamada morte e, consequentemente, tem pavor dela. A fonte do ego está no “Eu Sou” e não está separado dele. Contudo, para que o ego possa imergir nessa fonte, deve retroceder até à sua origem. Ao âmago do ego damos o nome de Coração. Hrydaia. P. O que é a morte? Não seria o desfalecimento das forças vitais do corpo? R. Você não deseja isso no sono? Então o que está errado? P. Mas eu sei que vou acordar. R. Sim, raciocine bem. Houve um pensamento anterior “Eu despertarei”. Os pensamentos decretam a vida. A libertação dos pensamentos é a nossa verdadeira Natureza-Beatitude. A morte é apenas pensamento, nada mais. Quem pensa, levanta distúrbios. Deixe que o pensador diga o que acontece com ele na morte. O EU real fica silente. Não se deve pensar – “sou isso" – “sou aquiloutro”. – Dizer “isso” ou “aquilo” é errado. Também não passam de limitações. Somente “EU SOU” é verdadeiro. Silêncio é “EU”. P. Se uma pessoa a quem amamos morrer, isso causará sofrimento. Podemos evitar que semelhante sofrimento seja causado amando a todos de igual maneira, ou simplesmente não amando ninguém?

R. Quando um ente-querido morre, o sofrimento atinge só a outrem que vive. O meio de superar o sofrimento está em não-viver. Mate aquilo que sofre. Quem gostaria de estar sofrendo? O ego tem que morrer. Esse é o único meio. As duas alternativas resultam do mesmo estado. Quando tudo é o SER, quem fica aí para ser amado ou odiado? Há uma categoria de pessoas que quer saber tudo a respeito do seu futuro e dos nascimentos passados. Ignoram o presente. O peso do passado é a presente miséria. Por que trazer de volta o passado? É um desperdício de tempo. O SER é Dínamo Elétrico; a mente é o contato de ligação ou de distribuição, um interruptor, enquanto o corpo é uma lâmpada. Quando a hora-karma chegar, trazendo morte, a mente desliga a corrente e retira a Luz-Vida do corpo. A mente e a vitalidade, ambas são manifestações da Suprema Vida-Energia, o SER. P. Podem os Yogues mostrar-nos alguém que morreu? R. Sim, eles podem, contudo, não me peça para fazê-lo, pois eu não posso. Conhecemos nossos pais antes deles nascerem? Então por que devemos conhecê-los depois da morte deles? P. O que acontece com a pessoa depois da morte? R. Empenhe-se em viver o presente. O futuro tomará conta de si mesmo. Não se preocupe com o futuro. O estado antes da Criação e o processo da Criação têm sido tratados nas Escrituras a fim de que você possa saber o presente. Você diz que nasceu é porque elas assim o dizem? O que é que nasce? De onde? É do “pensamento-eu” ou do corpo? O “Eu” está separado do corpo ou é idêntico a ele? De que modo surge o “pensamento-eu”? Será que o “pensamento-eu” é a sua natureza? Ou algo mais é sua natureza? Isso inclui o “eu” do Jnani, porém, este não se identifica com o corpo. Pois para ele nada pode existir além do SER. Quando o corpo falece, não há perda alguma para o “EU”. O “EU” permanece o mesmo. Se o corpo sente a morte, deixe-o fazer perguntas. Estando inerte, não pode fazê-lo. O “EU” nunca morre e não faz perguntas. Então, o que é que morre? Quem pergunta? P. O Senhor vê o morto? R. Sim. Nos sonhos. P. De onde então surge o ego? R. A alma, a mente, o ego são meras palavras. Aí não existe nenhuma espécie de verdadeira entidade. Somente a Consciência é única verdadeira. O esquecimento da verdadeira natureza é a morte real; a recordação dela é verdadeiro nascimento. Ponha fim aos sucessivos nascimentos. Sua se torna

então a Vida eterna. Por que lhe vem o desejo de Vida eterna? Porque o estado presente em que você se encontra é insuportável. Por quê? Porque essa não é a sua verdadeira natureza. Faça com que ele seja sua real natureza, então, não mais haverá o desejo para deixá-lo agitado. Como, de que maneira o estado presente difere de sua real natureza? Em verdade, você é espírito. O homem julga a si próprio limitado; isso o incomoda. A idéia está errada. No sono não existiam o mundo, nem o ego, e não havia confusão. Alguma coisa acorda desse feliz estado e fala “eu”. Para esse ego o mundo reaparece. O ressurgimento do ego é a causa da confusão. Basta observar o ego e segui-lo até a sua fonte para reaver esse imutavelmente feliz estado de sono sem sonhos. O SER está sempre aí; a sabedoria aparece somente em declive, embora isso seja natural. P. Ego e SER são a mesma coisa? R. O SER pode existir sem ego, ao passo que o ego não pode existir sem o SER. Egos são como borbulhas no oceano. As impurezas e os apegos mundanos afetam somente o ego. O SER permanece sempre puro, nada pode afetá-lo. Todas essas coisas são apenas conceitos mentais. Você agora está se identificando com o falso “eu”, com o “pensamento-eu”. Esse pensamento-“eu” surge e pensa; sempre está no vaivém. Enquanto que o “EU SOU” no seu verdadeiro significado não pode fazer isso. Não pode haver quebra no seu ser. O pai do seu “eu” pessoal é o real EU SOU – DEUS. Procure encontrar a Fonte do seu “eu” pessoal, e achará o outro “EU”. Onde os desejos vão, o “eu” pessoal segue. P. Quando jovem, eu era muito autoconfiante. Agora que estou velho, tenho medo. As pessoas riem de mim. R. Mesmo quando você diz que “era autoconfiante”, não era assim como disse – você era ego confiante. No lugar disso, se eliminasse o ego, seria realmente o SER autoconfiante. Seu orgulho era meramente o orgulho do ego. Tanto quanto você se identificar com o ego, reconhecerá também seus outros egos pessoais, e lá haverá lugar para o orgulho. Mas, desligando-se do ego, os outros egos também se desligarão; assim, não haverá mais lugar para orgulho. Tanto quanto permanecer na mente o sentido de separação, os pensamentos serão sempre aflitivos. Quando tornar a reaver a Fonte original, o sentido de separação irá desaparecer por completo. Sobrevirá então a paz. Considere o que acontece quando uma pedra está lançada para o alto. A pedra, ao ser lançada, deixou sua fonte e procura cair, estando sempre em movimento até

alcançar sua fonte, o lugar onde estava. Assim também ocorre com as águas do oceano que evaporando-se das nuvens movidas pelos ventos se condensam em água e caem como chuva; as águas rolam agitadas dos topos de morros em córregos e rios até encontrarem sua fonte original, o oceano, e a ele se juntando, se acalmam. Assim, você percebe que, onde haja o sentido de separatividade da fonte, há agitação e rebuliço, até que o sentido de separação se perca. O mesmo ocorre com você. Agora, estando identificado com o corpo, pensa estar separado. Você tem que reaver sua Fonte Primeva, antes que essa falsa identidade cesse para que seja feliz. O ouro não é um ornamento, mas o ornamento é feito de ouro e, embora haja diferentes formas de ornamentos, deve sua feição somente a uma realidade, isto é, ao ouro. Conforme foi demonstrado, diz respeito também aos corpos e ao SER. – A Realidade é o SER. Identificandose com o corpo e ainda procurando a felicidade é como uma tentativa de atravessar nas costas do jacaré um rio pouco fundo onde se pode passar a pé. A identidade-corpo deve-se à extroversão e ao vaguear da mente. Continuar nesse estado, só poderá mantê-lo numa das infinitas massas confusas, e aí não haverá paz. Procure sua fonte, mergulhe no SER, no “EU SOU”, e permaneça todo UM. O desejo de renascimento significa de fato a insatisfação com o presente estado e quer-se renascer onde não haverá dissabores. O nascimento, sendo do corpo, não pode afetar o SER. “EU SOU” sempre permanecerá, mesmo depois de o corpo perecer. O descontentamento é devido à errada identificação do SER Eterno com o corpo perecível. O corpo é um necessário adjuvante do ego. Se o ego morresse, o SER Eterno revelar-se-ia em toda a Sua Glória. O corpo é a cruz. Jesus, o Filho do Homem é o ego, ou melhor, a idéia “eu-sou-o-corpo”. Quando crucificado, o Glorioso SER, o Cristo, Filho de Deus, ressuscita. “Não te apegarás a essa vida se quiseres viver”. Um Jnani esmaga o ego na fonte, desde que surge. O ego porém não deixa de se levantar vezes e mais vezes, tanto num Jnani como no ignorante, pois, é impelido pela natureza, isto é, Pravabhda. O ego brota e cresce no ignorante tanto como no Jnani, mas com esta diferença: O ego do ignorante, quando surge, é ignorante de sua fonte, ou seja, ele não está cônscio disso nem no sono profundo, nem no sonho e nem tampouco no estado de vigília; enquanto que um Jnani, quando seu ego surge, desfruta sua vivência transcendental com esse ego, sempre mantendo Lakshya nessa fonte. Seu ego não é perigoso, representa meras cinzas do esqueleto de uma corda incinerada, apesar da ineficiência da sua forma. Mantendo constantemente o nosso Lakshya em nossa fonte, faremos com que o nosso ego se dissolva. P. Como se torna possível esta realização? R. Há um SER ABSOLUTO do qual vem a centelha como a do fogo. À centelha damos o nome de EGO. No caso do ignorante, que se identifica com algum objeto logo que surge, porque não pode ficar livre de semelhantes associações. Esta associação é ignorância, cuja destruição é o objetivo de nossos esforços.

Quando as tendências objetivas do ego estiverem mortas, ele fica também puro e imerge na sua fonte. Podemo-nos separar daquilo que é externo, mas nunca daquilo que está dentro de nós. Consequentemente, o ego não é mais um com o corpo. Isso deve ser conscientizado no estado de vigília. A pergunta “Que sou eu” é um machado que corta fora o ego. O intelecto sempre está em busca do conhecimento externo, excluindo o conhecimento de sua própria origem. A mente é apenas identificação do SER com o corpo e é isso que o falso ego inventou e em volta disso gerou falsos fenômenos e neles parece mover-se. Se uma falsa identidade esvanecesse, a Realidade se tornaria aparente. Isto não significa que a Realidade não esteja mesmo agora, neste instante. Ela é sempre presente e perenemente a mesma. P. Como se ver livre do egoísmo? R. Quando você se conscientizar do que o ego realmente é, isso será suficiente para livrar-se do egoísmo. É o próprio ego que irá se esforçar para libertar-se dele. De outro modo, como poderia ele morrer? Quando seu ego se for é porque alguma coisa deve tê-lo matado. Alguma vez ele consentiria em cometer suicídio? Por conseguinte, de primeiro, conscientize o que é a verdadeira natureza do ego, e ele concordará em sair por ele próprio. Examine, observe a natureza do ego – esse é o processo de percepção. Quem perceber o que é sua verdadeira natureza, será livre do ego. Até que os nossos esforços sejam corretos, é como correr atrás de sua própria sombra; mais se avança, mais distante se torna a sombra. Se deixamos nosso próprio SER, então o ego imediatamente se manifestará. Ao perceber nossa verdadeira natureza, então o ego morrerá. Estando em nossa própria realidade, não mais precisamos preocupar-nos com o ego. Vá em busca de sua Fonte. Descubra de onde brota o “eu”-pensamento. De que coisa poderíamos estar mais seguros e certamente saber mais que o nosso próprio SER? Mas isso é uma vivência direta e não pode ser posteriormente descrita. Quando o presente “eu” se vai, a mente então se torna reconhecível pelo que ela é – um mito. O que fica é puro SER. No sono profundo o SER, embora imperceptível – pois nem o corpo nem o mundo O percebem – existe; então reina a felicidade. P. O Senhor disse que devemos encontrar o divino centro dentro de nós. Pois bem. Se cada ser individual tem um centro, então deveria haver milhões de centros divinos. R. Há somente um Centro, para o qual não existe circunferência. Mergulhe fundo dentro de si mesmo e O encontre.

Concentrado sobre Ele ou sobre o Observador – “EU SOU” – há uma vibração mental “Eu” no qual tudo se reduz. Perseguindo-o até a Fonte do “EU”, o Primordial “EU-EU” somente permanece. Mas isso é inexprimível. P. Aí não há um mutável e um imutável SER? R. A inconstância é mero pensamento. Todos os pensamentos surgem depois de haver surgido o pensamento-“eu”. Observe a quem esses pensamentos surgem; então, transcenda-os e eles baixarão. Isto quer dizer que, prosseguindoos até a fonte do pensamento-“eu”, você conscientizará o perfeito “EU-EU”, que é o nome do SER. P. A memória, o sono e a morte afetam o SER? R. Aí está a confusão que se deve à distinção que não se faz entre o falso e o real “EU”. Esses três aspectos ou modos pertencem ao falso ego. Viveka-Chudamani deixa claro que o “eu” artificial de Vijnana Kosha é uma projeção através da qual se deve olhar para perceber o verdadeiro princípio do “EU”. P. O que é ego-entidade? R. O ego aparece e desaparece; ele é transitório, mas o SER-entidade real, está sempre, permanentemente. P. O que é prostração? R. Significa submissão do ego. O que é submissão? Mergulhar na Fonte. Deus não se deixa ludibriar pelas externas genuflexões e reverências. Ele sabe se o ego está ali ou não. EU SOU é oceano e os egos são Nele borbulhas. As borbulhas se formam e passam. P. E quanto às más condições, nascimentos e mortes, por exemplo? R. Primeiro o ego vem; brota logo que nascemos, porém, realmente não morremos. É errado dizer “percebemos”, pois, procurando descobrir quem percebe, o SER desaparece. “Eu” é o sujeito e todos os outros pensamentos inclusive o objeto são – a mente. Estava você cônscio de si quando pegou no sono à noite passada? Não! Evidentemente. O que há que agora existe e o perturba? É o ego. Livre-se dele e seja feliz.

A ego-libertadora mente tem sua força minada; é fraca demais para resistir aos torturantes pensamentos. Porém, a mente sem ego é feliz no sono profundo, sem sonhos. Portanto, isso claramente demonstra que a felicidade e a infelicidade são apenas modos da mente. Contudo, o modo dela fraco não é fácil de se converter em seu modo forte. A atividade da mente é fraqueza e, portanto, é o gozo da alma. A força adormecida não é aparente, de modo que fica sem utilidade alguma. Considera-se a Criação sob dois aspectos: Criador e a alma individual. E é isso que posteriormente tem causado a dor e o prazer, sem consideração para quem os tenha concebido. A dor e o prazer não têm relação com o fato em si, mas com os conceitos mentais. Mate a personalidade-ego e não haverá aí nem dor nem prazer. A natural beatitude da alma subsistirá eternamente. A morte consciente é a finalidade da evolução e a imortalidade consciente deve ser vivida enquanto ainda se está na carne. P. Como conhecer o “EU SOU”? R. Procure conscientizar o que esse “Eu Sou” é. O que você considera como SER, na realidade, ainda não é; é apenas a mente, o intelecto ou “eu”pensamento. Assim, pegue-os, assenhore-se deles. Os outros pensamentos esvanecerão por si mesmos, deixando o SER se revelar. Há dois “eus” aí? Sabe você de sua própria existência? Vê-se você a si próprio com estes olhos? Pergunte a si mesmo como esta pergunta lhe veio? O “Eu” fica para perguntar isso ou não? Posso eu encontrar a mim mesmo como num espelho? Por ser sua visão acostumada a voltar-se para fora, perdeu o vislumbre do SER, e sua percepção é toda externa. O “EU SOU” não pode ser encontrado em coisas externas. Faça com que seu olhar vire para dentro, e mergulhe fundo em si mesmo. Você será o SER. P. De que maneira se deve proceder para matar o ego? R. Observe de quem são as dúvidas. Que é aquele que duvida? Quem é o pensador? Esse é ego. Agarre-o! Os outros pensamentos morrerão ao nascer. O ego é puro em si. Observando de onde ele surge, você contemplará pura Consciência. P. Começo a perguntar-me “quem sou eu”. Eliminei o corpo, por não ser “Eu”, o prana, por não ser “Eu”, a mente, por não ser “Eu” e não sou capaz de prosseguir adiante. R. Bem, o intelecto vai só até aí. Seu processo era apenas intelectual. Deveras, todas as Escrituras Sagradas mencionam o processo para guiar aquele que busca. Por isso existe o processo intelectual. Agora, escute bem. Quem eliminou todos os “não-eus”, não pode eliminar o “Eu”. Ao dizer “eu não sou isso” ou “não

sou aquilo”, pensa que aí deveria haver um “Eu”. No entanto, esse “Eu” é apenas ego ou pensamento-eu”. Porque depois desse “eu”-pensamento surgir, surgem todos os outros pensamentos. Consequentemente, o pensamento-“eu” é raizpensamento. Se a raiz estivesse cortada, todos os outros pensamentos estariam desenraizados. Portanto, procure a raiz-“eu” e pergunte a si mesmo – “Que sou eu?” Encontre a Fonte dele. Então, tudo isso desvanecerá e somente o puro “EU SOU” permanecerá. Este “EU” fica sempre aí – em Shushupti – tanto durante o sono como quando estamos plenamente despertos. Um no sono e Um que agora fala é o mesmo “Eu”. Há sempre uma sensação do “Eu”, do contrário, você negaria sua existência. Não diga “eu sou” mas descubra o que sua existência é. A realidade de você mesmo não pode ser contestada. SER é primordial Realidade. Um homem comum, inconscientemente toma por realidade sua realidade interior, inclusive todas as coisas que lhe cheguem à consciência como seus pertences, o corpo, a mente etc. Ele tem que desaprender e esquecer. P. É possível conhecer o estado de uma pessoa depois da morte dela? R. É possível; mas por que procurar sabê-lo? P. Porque eu julgo a morte do. meu filho real, conforme o meu nível de compreensão. R. Com o nascimento do “eu”-pensamento nascem os filhos. A morte deles é a morte do progenitor. Depois do “eu”-pensamento, ao surgir o corpo, surgiu uma identidade falsa. Pensando com o corpo, você apresenta falso valor para os outros e identifica-os como corpos. Pensa você sobre seu filho antes do nascimento dele? Só porque está pensando nele, julga ser seu próprio filho. Para onde ele se foi? Regressou à fonte de onde brotou. Ele é um com você. Tanto quanto você existir, ele existirá também. Contemple o SER real, e esta confusão com o corpo esvanecerá. Você é eterno. Os outros serão encontrados por serem eternos. Enquanto esta Verdade não for conscientizada, sempre existirá o sofrimento devido à identificação errônea. Nascimento, morte e renascimento deveriam ao menos fazer com que você investigasse essa questão e visse que aí não há nascimentos ou reencarnações. Estes dizem respeito ao corpo e não ao SER. P. O que acontece ao ego criador depois da morte do corpo? R. O ego é “eu”-pensamento. Em sua forma sutil permanece como pensamento, enquanto que no seu aspecto sólido abrange a mente, os sentidos e o corpo. Esses desaparecem no sono profundo junto com o ego, porém, o SER continua ali sempre. Algo semelhante ocorre na morte. O ego não é uma entidade independente do SER, porquanto pode ser criado ou destruído por si próprio. As funções dele, como instrumento do SER, cessam de funcionar periodicamente, quer dizer, aparecem e desaparecem com o nascimento e a morte.

P. Procuro encontrar o real “EU” e fico sempre frustrado, sem poder alcançá-lo. R. É suficiente renunciar ao “eu” pessoal, e não lhe serão necessários os esforços para conquistar o verdadeiro “EU”. Contudo, não pense que haja alguma diferença entre você e o SER. Então, entregue-se a Ele, mergulhe nele sem reservas tanto como não há como enganar Deus. P. E depois da morte? R. Pergunte primeiro “quem” ou “que é” aquilo que nasce. É o corpo e não você. Por que se atormentar com as coisas que estão além de você, como com a morte, por exemplo, quando seu SER está aqui presente? P. Quanto tempo se fica em outro mundo entre os nascimentos e mortes (reencarnação)? R. O sentido do tempo é relativo. Do sonho você pode viver os acontecimentos do dia inteiro em dois tempos. Ao passo que, em corpo sutil, no mundo dos mortos, você pode fazer o mesmo e viver aquilo que, embora pareça passaremse mil anos, pelo seu tempo poderia ter passado apenas cem anos. Quando as notícias da morte de alguém chegavam a Maharshi, Ele respondia: “O sono faz com que o homem o tema? O sono é a morte temporária. A morte é um longo sono. Quem desejaria permanecer preso no corpo perecível? Deixe que o homem descubra seu SER imperecível e seja imortal.” Para quem identifica-se com o corpo carnal, os pensamentos materializados, tanto como densas manifestações, devem ser reais. Havendo existido aqui, certamente sobreviverá à morte. Mesmo sob essas condições, o outro mundo existe. Por outro lado, deve-se tomar em consideração que a única Realidade é o SER, do qual o ego se originou. O ego O tem perdido de vista e identifica-se com o corpo, fato que resultou em ignorância e sofrimento. A corrente-Vida, embora tenha passado através de inúmeras encarnações, nascimentos e mortes, ainda permanece intata. Portanto, não há razão para se lamentar. A mente vem do ego, o ego vem do “EU SOU”. O touro sagrado (Nandi na Índia) representa o ego, Jiva. O touro sempre está exposto em nossos templos, face virada à Divindade. A frente dele há uma pedra plana circular. Esta pedra-altar é o lugar onde se oferecem os sacrifícios. Tudo isso simboliza que o ego deve ser sacrificado e, submisso, deve-se voltar sempre para Deus interno. Aprenda o que é Jiva. Qual é a diferença entre Jiva e Atma? Ou não há entre eles coisa alguma diferenciando-os? P. Qual é o objetivo da vida em si?

R. O objetivo é para fazer compreender o que é esse “eu” contido no seu “meu”. P. Compreendo intelectualmente que sou uma parte do Grande “EU”, o Universo. R. Então, há aí dois “eus”? Conscientize. Você não é apenas uma parte, mas um Todo. P. Qual é a razão dessa aparente dualidade dos seres viventes? R. A dualidade existe somente quando você está no estado de vigília. O que houve com o mundo quando você estava dormindo? Aquele “EU” existia em todos os três estados, se é isso que você queria saber. Os pensamentos sobre a vida, sua finalidade ou ausência da finalidade, não o atormentavam durante o sono. Um elefante costumava ser frequentemente castigado por seu dono. Um dia, o dono teve um acidente e caiu. O elefante podia facilmente tê-lo matado, porém, não o fez. No entanto, tempos depois, o dono abriu um grande buraco no mato e matou o elefante. Por essa estória, Chudala queria apontar o erro de Sikhidwaja. Era ele um vairagya mesmo no tempo quando governava seu reino e podia ter consumado sua realização de SER, contanto que levasse seu vairagya ao ponto de sacrifício do ego. Mas ele não fez isso. Contudo, foi para o mato a fim de dedicar seu tempo aos Tapas e ainda assim não se aperfeiçoou, mesmo depois de 18 anos de esforço. Fez-se passar por uma vítima de sua própria criação. Chudala aconselhou-o a largar o ego e realizar-se no SER, o que Shikhidwaja fez e foi libertado. Torna-se claro nessa estória de Chudala que o Vairagya, acompanhado de ego, não tem valor, enquanto que estando sem ego, não importa que tenha posses.

CAPÍTULO 12

Avastatraya No sono, no êxtase, no desmaio, não há diferenciação na ausência de consciência. Isto que então era ausente, agora está. A diferença se deve à mente. A mente, algumas vezes, está presente e outras vezes, ausente. Dentro da Realidade não existe mudança; a mesma pessoa que estava dormindo, no estado de vigília é a mesma. O SER é sempre o mesmo através de tudo. A limitação está só na mente. O mesmo SER está aqui e agora, tanto no estado de vigília como no sono profundo em que não se sente limitação alguma. No sono profundo a mente não existe, ao passo que agora ela está sendo ativa. O SER existe também na ausência da mente. P. Por que não se pode fazer meditação durante o sono? É possível isso? R. Pergunte isso no sono. Pede-se que você medite agora e pergunte “o que você é?” Mas, em vez disso, você limita-se a formular aquela pergunta. Sonho e sono vêm para a mesma pessoa, assim como o estado de vigília; você é testemunho de ambos – eles passam diante de você. Por estar agora fora de meditação, tais perguntas lhe surgem. O que acontece à consciência no sono de um Realizado? Semelhante pergunta vem só na mente de irrealizados observadores. Ele está simplesmente NUM estado inquebrantável através de 24 horas, quer você o chame de sono, quer o de vigília. Na realidade, a maioria das pessoas vive adormecida porque não está cônscia do SER. No estado de sono profundo depositamos o nosso ego (Ahankara), nossos pensamentos e nossos desejos. Se ao menos pudéssemos fazer tudo isso quando estamos conscientes, teríamos conhecido o SER. O SER ter-se-ia revelado a nós. A melhor forma de Dhyana, ou seja, meditação, é quando esta continua não meramente no estado de vigília, mas se estende aos estados de sonho e sono profundo. A meditação deve ser tão intensa que nem sequer dê lugar à consciência da idéia “estou meditando”. Como os estados de vigília e de sono estão completamente tomados pelo Dhyana, desta maneira, a pessoa no estado de sono profundo poderia considerar que este fosse uma parte de Dhyana.

Sannyasa significa renúncia ao ego, embora a pessoa possa viver como dono da casa, no seio da família. E nenhuma circunstância mundana o tiraria do seu sério, se tivesse conquistado seu ego. Assim, as experiências no sonho não nos atingem realmente. Aquele que dorme deitado, quieto na sua cama, sonha que está dentro de água. Mas a sua cama realmente não fica molhada. Por outro lado, a pessoa, embora permaneça no Ashram de Sannayasi e, contudo, ainda esteja apegada ao corpo, e um Karmi (o homem de ação), e não um renunciado. P. Os povos do Ocidente não enxergam o quanto os Sábios solitários podem ser úteis? R. Não importa sejam eles europeus ou americanos. Onde estão eles senão em sua mente? Se você despertar de um sonho, irá procurar saber se os personagens de sonho de sua criação também já acordaram? P. Se o estado de sono fosse tão bom, por que a pessoa não gostaria de estar sempre nele? R. Há pessoas que estão sempre e somente dormindo. O estado presente não é mais senão um sonho. O sonho pode ter lugar somente no sono. O sono fica subjacente nesses três estados. O desenrolar daqueles três estados ainda é o sonho que, a seu turno, está dentro de um outro sono. De certa forma, esses estados de sonhos e sono são infindáveis. Semelhantes a esses estados são nascimento e morte, inclusive o sonho dentro do sono. Aí, francamente falando, não há nem nascimento nem morte. Depois do sono vem o acordar e logo então surge o ego. Ao mesmo tempo surgem os pensamentos. De onde? Devem vir do Ser consciente. Prendê-los, mesmo de leve, ajuda a extinção do ego, depois de haver sido conscientizada UMA INFINITA EXISTÊNCIA. Neste estado não há outras individualidades senão a ETERNA EXISTÊNCIA. Permaneça no ETERNO SEMPRE INERENTE SER e seja livre da idéia a respeito do nascimento ou medo da morte. P. Não sabemos que estamos sonhando, embora ao acordar não percebamos disso. R. O sonho é uma combinação de sono profundo com o estado de vigília. É devido a Samskaras no estado de vigília; por isso lembramos de sonhos. De outro modo, os Samskaras não se formam. Por isso não estamos ao mesmo tempo cônscios do mundo de sonho. Ademais, cada um que se recorda das estranhas peripécias no sonho, pensa consigo mesmo se ele está bem acordado ou ainda sonhando. Quando realmente acorda, acha que tudo isso não passou de um sonho. P. Como desarraigar a ignorância?

R. Você, no sonho, acha estar numa outra cidade. Pode uma outra cidade entrar no seu quarto? Poderia você ter deixado o quarto e ido ali? Ambas as coisas são absolutamente impossíveis. Ambas são irreais. Parecem reais à mente. O “eu” no sonho esvaneceu, mas o seu substrato continua na mente todo o tempo. Procure encontrar isso e será feliz. P. Eu considero o sono estado pior que o de vigília. R. Se fosse assim, por que todos querem dormir? Há diferentes métodos de aproximação para provar a irrealidade do Universo. O exemplo de sonho é um entre outros. Jagrat, Swapna e Sushupti são todos tratados elaboradamente nas Escrituras a fim de que a Realidade subjacente possa ser revelada. Isso não significa acentuar a diferença entre os três estados. A finalidade deles deve estar exposta às claras. Sustentam elas (as Escrituras) que o mundo é irreal. De que grau da irrealidade? É como do filho da mãe estéril? ou a flor no céu? Estas são meras palavras sem nenhuma referência ao fato, ao passo que o mundo é um fato e não mera palavra. A resposta é que ele é aparentemente sobreposto em cima de UMA realidade à semelhança de uma corda na escuridão, que parece uma cobra enroscada. Aqui também a identificação errada cessa logo, tão rápido quanto um amigo nos apontar que isso é uma corda. Quanto ao mundo em questão, ele persiste mesmo depois de eu ouvir falar da irrealidade dele. Como assim? A visão da água numa miragem o tem demonstrado; o mesmo ocorre com o mundo. Embora ele saiba que é irreal, continua a manifestar-se. Talvez seja, mas a água na miragem não é procurada para satisfazer a sede de seja quem for. Tão logo se tome conhecimento de que isso é uma miragem, ela é deixada como inútil e vã e não se corre atrás procurando água. P. Não é assim com a aparência do mundo? Mesmo depois de declarado repetidamente falso, ninguém pode evitar de satisfazer suas vontades vindas do mundo. Como pode o mundo ser falso? R. É como uma pessoa que, satisfazendo seu sonho, aspira por criações sonhadas. Aí estão os objetos, aí estão as vontades e aí as satisfações mútuas. As criações no sonho parecem estar tão cheias de propósitos como é o mundo de Jagrat, e mesmo assim não são consideradas reais. Consequentemente, percebemos que todos esses exemplos servem de propósito para formar o palco de irrealidade. O Sábio Realizado declara, finalmente, que no estado regenerado, o estado de Jagrat é. Cada representação deverá ser entendida no seu contexto exato; isso não deverá ser estudado como uma declaração isolada. É um elo numa corrente. A finalidade dessas ilustrações é para guiar a mente de quem busca para dentro de UMA Realidade subjacente em todas as coisas. P. O mundo de sonho não está tão cheio de propósitos como o mundo de ação, e por que não sentimos vontade de estar satisfeitos?

R. Você se engana. No sonho também se sente sede e fome. Talvez você tenha se saciado e guardado os restos de alimento, contudo, sente fome no sonho, embora esse alimento, no sonho, não lhe ajude a saciar sua fome: pode estar satisfeito comendo apenas criações sonhadas? P. Lembramos de sonhos em nosso Jagrat, mas não vice-versa. R. No sonho, você é você mesmo e se identifica consigo como sendo o mesmo que agora está falando. P. Mas não sabemos que estamos sonhando como se fôssemos à parte do estado de vigília, assim como agora. R. O sonho é uma combinação de Jagrat com Sushupti. Isso se deve a Samskaras no estado de Jagrat. Por isso recordamos de sonhos no presente. Samskaras não se formam de outro modo. Assim estamos cônscios do sonho e do Jagrat ao mesmo tempo. Ademais, cada um recorda estranhas peripécias que se passam no sonho. Pensa e pergunta a si mesmo se ele está acordado ou sonha. Quando realmente estiver acordado, achará que tudo isso não passou de um sonho. P. Não há nenhuma real diferença entre o sonho e o estado de vigília? R. Apenas aparente, não real. O sonho é para quem diz estar desperto. Ambos são irreais do ponto de vista absoluto. A realização é possível no desmaio e impossível no sono. O ego surge quando você desperta do sono. Dormindo, você não diz que dorme. Você diz somente quando acorda. Contudo, você ainda está aí. Você não estava interessado no corpo quando dormia; assim, pode ficar sempre desinteressado. No estado de vigília, o ego se identifica com o corpo físico. Dormindo, sonha com a mente sutil. As percepções então, passam a ser também sutis. P. É possível estar consciente sem pensamento? R. Sim. Aí haverá somente consciência. No sono não existe “eu” – o “eupensamento” surge no estado de vigília e só então o mundo aparece. Onde estava esse “eu” no sono? Estava aí ou não? Deve ter estado, embora não de modo que você o sinta agora. O estado presente é só o “pensamento-eu”, enquanto que o “eu” dormindo é o “Eu” real. Esse susta todo pensamento. Esse é a consciência. Se você a conhecesse, perceberia que está além de pensamentos. Os pensamentos talvez possam ser encarados como outras atividades, não perturbando a Suprema Consciência. P. Não compreendo sua referência ao sonho e a ilusão mental.

R. Nossa experiência do mundo é evocada e dissolvida pela mente. Quando você viaja da Índia à Londres, é o seu corpo que realmente se move? Não. É o veículo que se desloca; e seu corpo fica dentro dele, sem se mover. É o navio e o trem que atravessam distâncias. São exatamente esses movimentos que estão sobrepostos a seu corpo; daí vêm visões; sonhos e até reencarnações sobrepostas no seu real SER. Este último não se move e não fica afetado por todas essas mudanças externas; permanece quieto no seu próprio lugar, assim como o corpo que fica quieto num camarote de navio. Você é sempre o mesmo e, portanto, além do tempo e além do espaço. No sono profundo você perde o sentido do tempo. O conceito de tempo e espaço surgem somente quando não há limitação do “eu”. Mesmo agora, o “eu-pensamento” é tanto sem limites como limitado. Tanto quanto você pensa ser o corpo, está limitado. Quando você acorda, antes mesmo de tornar-se plenamente consciente do mundo de fora – esses intervalos sem tempo e sem espaço – é o estado de verdadeiro “Eu”. Por que durante o sono profundo suas perguntas não se levantam? O fato é que durante o sono você não tem limitações e, consequentemente, perguntas a fazer. Ao passo que agora, ao identificar-se com o corpo, as perguntas dessa categoria lhe venham. O estado de sono profundo é sempre presente mesmo no estado de vigília. Portanto, o que temos a fazer é levar o estado de sono profundo para dentro de nossa vigília, a fim de haver um estado de “sono consciente”. A realização pode ocorrer somente no estado de vigília. O sono profundo é pertinente ao estado de vigília. Pode-se fazer com que uma consciência seja dividida em duas? Teria sido sentida a divisão do SER? Despertando do sono, a pessoa se encontra a mesma tanto no estado de vigília como no sono profundo. Essa é a experiência de cada um. A Diferença reside na percepção, no ponto de vista. Imaginando que você é um vidente, como que separado da experiência, esta diferença aparece. A experiência diz que você realmente é o mesmo através de tudo isso. Sente você a diferença entre o externo e o interno – no seu sono? Esta diferença aparece somente no que diz respeito ao corpo e surge com o corpo-consciência (eupensamento). O assim chamado Jagrat é, ele mesmo, uma ilusão. Mesmo as ciências concretas aliam a origem do Universo a alguma espécie de matéria primordial – muito sutil. Deus é o mesmo, tanto para quem diz que Jagrat é real, como para quem se opõe a isso. Apenas seus pontos de vista são diferentes. Você não precisa se envolver com semelhantes controvérsias. O objetivo é um só e o mesmo para todos. Perceba isso. Os estados de sono profundo, de vigília e de sonho são acréscimos no ego; o SER é Testemunho de todos esses acréscimos. O SER transcende todos eles. Esse Testemunho-Consciência deve ser encontrado. No SER não há três

estados, nem o de vigília, nem o de sono profundo ou o de sono. Ele sempre permanece o mesmo. P. Ao investigar a origem de pensamentos, há percepção do “EU”. Mas isso não satisfaz a pessoa. R. É quase correto. A percepção do “Eu” é ligada à forma, talvez seja ao corpo. Ao Puro SER nada poderia ser ligado. O SER é UM – sem ligações, Pura Realidade, na qual Luz, corpo, ego etc. brilham. Aquietando todos os pensamentos, a pura Consciência permanece o tempo todo. Exatamente, no momento de despertar do sono e antes de tornar-se consciente do mundo, está aí esse puro “EU-EU”; procure mantê-lo durante a vigília quando não dorme, e não deixe que os pensamentos se apossem de você. Quando isso for mantido firme, pouco importará que o mundo seja mesmo visto. O observador fica intocado pelo fenômeno. Se não houver atividades tais como pensamentos-no-estado-de-vigília e pensamentos-sonho, não haverá mundos correspondentes, isto é, não se os perceberá. No sono profundo não existem tais atividades e o mundo então não existe para nós. No sono sem sonhos não há mundo nem ego nem infelicidade. Mas o SER é. No estado de vigília há tudo isso inclusive o SER. Basta apenas remover os acontecimentos transitórios para conscientizar a sempre presente bemaventurança do SER. Sua Natureza é beatitude. Veja que tudo o mais é sobreposto, então você ficará como o puro SER. P. Há alguma genuína diferença entre a experiência do sonho e do estado de vigília? R. Por ter achado as criações no sonho transitórias em relação ao estado de vigília, você diz existir alguma diferença. Mas, a diferença é apenas aparente, não real. P. Por que não podemos estar sempre nele e entrar no sono profundo à vontade? R. O sono profundo existe também no estado de vigília. Sempre estamos no sono profundo. Isto deve ser bem compreendido e conscientizado. Isso não quer dizer realmente o vaivém desse estado. Tornando-se cônscio do estado de sono profundo, enquanto que no estado de mundo se é em Samadhi. É toda Natureza, isto é, Prarabhda que força você a emergir dele. Seu ego não está morto e surgirá vezes e mais vezes. P. Por que lembramos de sonhos quando despertamos e não ao inverso? R. Você está errado. Você mesmo, embora esteja vivendo no sonho, identificase à pessoa que agora está falando.

P. O estado de vigília é independente dos objetos existentes? R. Antes fosse. Os objetos devem existir sem o observador; será que os objetos devem dizer-lhe que existem? Fazem eles isso? Por exemplo, a vaca, andando à sua frente, diz-lhe que está andando? Ou fala você por sua própria vontade “Aí há uma vaca andando”? Os objetos existem porque o observador os reconhece. Recorde o estado de sono. Estava você ciente de alguma coisa ocorrida? Se o sol e o mundo não fossem reais, estariam eles presentes consigo no sono? Você não pode negar sua existência no sono, nem tampouco negar que nele você era feliz. Ademais, você continua a ser a mesma pessoa agora falando e levantando dúvidas. Você não está feliz conforme tem me falado, mas, no sono era feliz. O que aconteceu nesse meio tempo para que a felicidade no sono se desmorone? É a presença do ego. Ele é o recém-chegado no palco de Jagrat. Não havia o ego no sono. Ao nascimento do ego se diz nascimento da pessoa. Aí não há outro nascimento. Seja quem for que nasça, compulsoriamente deve morrer. Mate o ego! Aí não há medo da morte para quem já está morto. O SER permanece depois da morte do ego. Isso é Beatitude – Isso é Imortalidade. Já que você deseja aprender, o debate é inevitável. Deixe tudo isso para trás. Considere seu sono. Você está cônscio da escravidão ou está procurando meios para se libertar? Tem consciência do seu corpo? O sentido de escravidão diz respeito ao corpo. De outro modo não haverá escravidão nem matéria para ser confinada junto e ninguém para estar limitado. No entanto, no seu estado de vigília, eles aparecem. P. Eu não conheço o sono consciente. R. (Maharshi) Quem não está consciente disso? Você admite “eu sou” – o estado de ser é você mesmo. P. O Senhor quer dizer que o sono é auto-realização? R. Isso é SER. Por que você fala da Realização? Existe um momento em que o SER não esteja realizado? Por que escolher o sono para isso? Mesmo agora você é auto-realizado. P. Mas eu não compreendo isso. R. Porque você está identificando SER com o corpo. P. Então como se libertar do Maya? R. Os apegos ao mundo não se acham no sono. Agora os percebemos e sentimos. Eles não são sua real natureza. A quem são eles acrescentados? Se a real natureza fosse conhecida, não haveria apegos. Se o SER fosse conscientizado, não se ligaria às posses. Maya não é um objeto do qual se possa estar livre de um jeito ou do outro.

P. Como adormecemos e acordamos? R. Exatamente como a galinha, o corvo e os pintos fazem ao cair da noite, escondidos debaixo de suas asas; a galinha, então aconchegada no galinheiro, dorme junto com os pintinhos, protegendo-os. De madrugada, os pintos saem e a galinha faz o mesmo. É exatamente assim: a mãe simboliza o ego, que recolhendo todos os pensamentos, vai dormir. Ao sol nascente, eles começam a levantar-se de novo. Assim, quando o ego marca sua presença, ele o faz junto com todos os seus componentes, e quando ele se recolhe, eles desaparecem com ele. P. Que é o sono profundo? R. Exatamente como na escuridão da noite enuviada torna-se impossível a identificação individual, pois aí há somente a escuridão, embora o observador mantenha seus olhos bem abertos, assim se é no sono profundo; o observador é cônscio apenas de sua simples insciência. P. Por que há diferença de sensações ou experiências nesses dois estados? R. Você perguntou enquanto dormia alguma coisa a respeito do seu nascimento ou para onde você iria depois da morte? Por que pensar em tudo isso agora, quando acordado? Deixe o que está nascido pensar em seu nascimento e alívio, em sua causa e último destino. Por que trazer à baila essas perguntas que dizem respeito ao que vem após a morte? Faça agora essas perguntas a si mesmo e responda-as. O que nasceu foi o “eu”? É o “Eu Sou” que reapareceu, trazendo frutos de meu Karma passado? E assim por diante. Nunca surgirão quando você cair no sono. Por quê? Será por que você é diferente de si no sono? Você é no sono, no sonho e no estado de vigília exatamente o mesmo. O sono é um natural estado de felicidade; aí não existe angústia ou sofrimento; o sentido do desejo, da dor, da carência etc. surgem somente no estado de vigília. Que mudança houve? Você continua o mesmo em ambos os estados, porém, há diferença na felicidade. Por quê? Porque a mente surgiu agora. Esta mente surge depois do “pensamento-eu” surgir. O “pensamento-eu” surge da consciência. Se a pessoa permanecesse nisso, seria sempre feliz. P. É o corpo quando cansado que vai dormir? R. Mas será que é o corpo que dorme ou acorda? Você mesmo falou antes, que a mente fica quieta no sono. Os três estados são para a mente. O SER permanece incontaminado. Ele é a substância passando através de todos esses três estados. O estado de vigília passa, mas “Eu sou”; o estado de sono passa, “Eu sou”; eles repetem: “ainda sou eu”. São como as imagens movendo-se na tela de um cinema. Elas não afetam a tela. Exatamente como aqui também. O “Eu Sou” continua inafetado, embora passe por esses três estados. Se isso for para o corpo, estará você consciente do corpo no sono? Sem saber que o corpo

esteja aí deitado, como poderia esse corpo dizer que está dormindo? O sentido do corpo é pensamento. O pensamento está na mente, a mente surge depois do “pensamento-eu”. O “pensamento-eu” é raiz-pensamento. Procure prendê-lo, os outros pensamentos não surgirão. Então, aí não haverá o corpo, nem a mente, nem mesmo o ego, somente o SER em toda a sua pureza. Depois de a mente surgir, o pensamento-corpo surge e é percebido; os pensamentos a respeito de nascer, do estado antes de nascer e do estado depois da morte – todos esses pensamentos vêm da mente. Você, que dormiu, também agora está acordado. Não havia infelicidade no seu sono, ao passo que agora ela está presente. O que ocorreu agora para que essa experiência diferente fosse vivenciada? Não havia “pensamento-eu” aí, no sono; enquanto que agora está presente. O verdadeiro “Eu” não é aparente e o falso “eu” exibe agora sua presença. Este “eu” falso é um obstáculo travando a percepção correta. Procure encontrar de onde esse falso “eu” vem. Logo desaparecerá. Você será somente o que realmente é –, isto é, SER absoluto. Busque a fonte do “pensamento-eu”. Isso é tudo o que deve fazer. O Universo está em avaliação do “pensamento-eu”. Se este findar, o sofrimento também findará. O falso “eu” terá fim, somente quando sua fonte for encontrada. P. Pode a alma ficar sem o corpo? R. Ela poderá estar assim por um curto período de tempo durante o sono profundo. Posto que o SER, então, não tem corpo. Mas mesmo agora ele não o tem. No sono profundo, você existe sem o ego; então, você está livre de dúvidas. Somente agora, no estado de vigília, o ego surge e as dúvidas voltam. No sono profundo você é feliz, porém, no estado presente, é infeliz. Procure aquele estado de sono profundo, de onde você veio. P. O que é Turyia? R. Turyia é a mente absolutamente quieta, imersa na sua fonte e disso estando consciente. Quer os sentidos sejam ativos, quer inativos, é imaterial. Em Nirvikalpa Samadhi os sentidos permanecem inativos. Conhecer subentende sujeito e objeto. Estar cônscio significa ser livre do pensamento.

CAPÍTULO 13

O Último Como Verdadeiro O SER é como um poderoso ímã oculto dentro de nós. Ele nos atrai pouco a pouco, embora imaginemos que somos nós que vamos a Ele porque assim o quisemos. Quando estamos bastante perto, Ele põe fim a nossas outras atividades, faz com que nos aquietemos e, então, absorve nossas próprias tendências pessoais, assim, matando nossa personalidade. Subjuga completamente o intelecto e inunda nosso ser inteiro. Pensamos estar meditando sobre Ele e desenvolvendo-nos para Ele, e consideramos que a Verdade é isso. Somos como lascas de ferro laminado e Ele, o Atma-Magneto nos animando, prendendo a Ele. Assim, o processo da descoberta do SER tornase uma forma de Magnetismo Divino. R. É necessário praticar meditação regular e frequentemente até que a condição requerida se torne habitual e permanente ao longo do dia. Portanto medite! Você perdeu de vista o deleite porque sua atitude meditativa não se tornou natural e por causa do retorno dos Vasanas. Quando você ficar habitualmente reflexivo, o deleite de espiritual beatitude tornar-se-á questão de natural vivência. Não é pela simples compreensão de que “não sou o corpo mas Atma” que o alvo pode ser atingido. Nossa posição pessoal torna-se mais alta só porque uma vez avistamos o rei? A pessoa deve entrar constantemente em Samadhi e conhecer seu próprio SER, riscando completamente os antigos Vasanas e a mente, antes de tornar-se o SER. Se você mantiver o pensamento sobre o SER, estando com toda atenção fixa Nele, então, mesmo que um pensamento cruze sua mente, como ponto de concentração, desaparecerá e você será o verdadeiro SER. Meditação no SER é um estado natural nosso. Somente por termos achado a meditação penosa, imaginamos esse estado arbitrário e extraordinário. Nós todos estamos carentes de naturalidade. A mente ficando parada no SER é uma condição natural dela, mas, em vez disso, a nossa mente não sossega, pulando nos objetos externos. Depois de haver expulso o nome e a forma que constituem o mundo externo e, fixando-se na EXISTÊNCIA–CONHECIMENTO–BEATITUDE, tome cuidado para impedir que o nome e forma expulsos reentrem na mente.

P. De que modo se pode encontrar o SER? R. Aí não deve haver uma investigação real dentro do Atma. A investigação pode ser conduzida somente dentro de não-ser. A eliminação de não-ser é a única possível. O SER, sendo sempre auto-evidente, brilhará de si mesmo. “Conhecer” significa “ser”, porém, isso não é o conhecimento relativo. O progresso pode ser dito a respeito das coisas a serem alcançadas, enquanto que aqui se trata de descarte da ignorância agora e de aquisição do Conhecimento. P. Qual é o caminho do Jnana? R. É similar a Yoga porque ambos auxiliam a concentração da mente. O propósito de Yoga é a união do individual com a Realidade Universal. Yoga em si é um auxílio à auto-realização – que é o alvo de todos. Esta Realidade não é nova. Há de existir mesmo agora. Por conseguinte, Jnana procura encontrar como se deu a separação no sentido dos opostos. P. Como surgiu Avidya? R. Avidya é como Maya – “isso que não é”. Contudo, a sua pergunta é Avidya. Avidya significa ignorância. Ela envolve sujeito e objeto. Torne-se sujeito e não haverá objeto. As Escrituras, ao postular que o SER é perfeito, tornando a remoção da ignorância necessária, parecem contraditórias, por terem sido orientadas por sérios pesquisadores que ainda não podiam compreender a plena verdade. Krishna claramente falou que o povo O confunde com o corpo, enquanto que Ele não nasceu nem morrerá. O SER é simplesmente SER. Seja! – e aí a ignorância terá fim. O “Eu” está sempre aí. Não há como não conhecê-lo. Não é um novo conhecimento a ser adquirido. Mas há um impedimento quanto a esse conhecimento chamado ignorância. Afaste-o! Porém, tanto a ignorância como o conhecimento não são para o SER. Eles cresceram bastante e devem ser esclarecidos. P. Por que eu não conscientizo o SER? R. O fato é que minutos antes você estava conhecendo o “SER”. Como pode o SER não conhecer o SER? Somente você. O SER para você tem de entrar dentro do hábito de pensar que você é uma terceira coisa. O que deve ser feito é livrar-se da errônea noção do SER. Mas como pode você ignorar o sempre presente e inevitável “eu”? Você precisa constantemente dar-se conta e descartar falsas noções sobre “Eu”, uma após a outra. Faça-o. Então, esse feito o levará à auto-realização. Quem é ignorante de quê? Pergunte e continue a indagar; como, quem e que é isso que diz que é ignorante? Uma vez feita a

pergunta procure investigar dentro do “eu” – o “eu” desaparecerá. Então, o que ficar é o verdadeiro autoconhecimento. Outrossim, o que é Avidya? A ignorância a respeito do SER. Mas quem é ignorante do SER? O SER pode ignorar o SER? Há aí dois seres? Se você aceita um sistema filosófico; então, forçosamente deve condenar os outros sistemas. Uma criança e um Jnani se assemelham. Os incidentes interessam à criança somente enquanto duram. Ela cessa de pensar neles logo que passam. Embora sejam aparentes, não deixam nenhum marco ou impressão na criança, cuja mente não fica tocada. Assim é com o Sábio também. P. Compreendo isso mas não conscientizo. R. Porque você está dentro da diversidade. Diz que tem lampejos de discernimento etc. Considera essa diversidade real, mas a única real é a Unidade. Esta variedade deve desaparecer antes que a Unidade revele sua Realidade. A Unidade está sempre real; esta não envia clarões do seu SER à falsa variedade. Pelo contrário, esse gênio variável está obstruindo a Verdade de ser vista. A Realização está sempre presente – não ausente num tempo e presente no outro. Por exemplo: o sol não vê a escuridão. Mas os outros falam da escuridão e fogem à aproximação dela. Assim, a ignorância é um fantasma. Quando se descobre sua real natureza, diz-se que ela é removida. E mais: o sol está lá e você fica envolto em luz do sol, mas para sabê-lo, deve dirigir seu olhar direto ao sol e fixá-lo. Assim também o SER é encontrado somente pela prática, embora Ele esteja aqui e agora. P. O pensamento “Eu sou Deus” ajuda muito? R. “EU SOU” é Deus – não o pensamento. Conscientize “EU SOU” e não pense “eu sou”. Saiba – não pense! “EU SOU QUEM SOU” significa que se deve ficar assim como “EU”. Ele É sempre “EU” solitário – nada mais. P. Como vem geralmente o engano da identificação errada? R. Veja se isso é geral! O ego-ser não existe. P. O que terei de fazer para chegar ao estado de SER? R. Nenhuma tentativa é necessária para estar nesse estado. O que é preciso é deixar todas as idéias falsas. Quando uma idéia lhe vem, siga o rastro dela e pergunte: “A quem isso ocorre?” Quando um novo pensamento lhe vem, siga seu rastro pela análise. Passado algum tempo, todos os pensamentos serão aniquilados. P. Suponhamos que a idéia é um desejo de possuir certo objeto.

R. Há muitos objetos, porém, o sujeito é um. Siga a mesma linha e descubra perguntando “a quem vem o desejo”? Tanto a concentração como todas as outras práticas são os meios para que se reconheça a ausência, isto é, a não-existência da ignorância. Ninguém pode negar sua existência. Existência é o conhecimento, ou seja, a conscientização. Isto subentende a ausência da ignorância. E mais, por que se sofre? O homem pensa ser isso ou aquilo. Isto é errado. “EU SOU”, simplesmente, é certo – e não “eu sou assim ou assim”. Quando a existência é absoluta, tudo está correto. Quando ela é particularizada, tudo está errado. Esta é toda verdade. Um homem, olhando-se no espelho, sabe que existe? Sua percepção faz com que admita isso. Contudo, ele confunde a existência com o corpo etc. No sono, ele continua a existir, mesmo sem corpo. Apreenda essa verdade. Embora não possa ver seus próprios olhos, você negaria a existência deles? Da mesma forma o SER, embora não sendo concretizado, você está cônscio Dele. Que é que está cônscio do SER? Pode o corpo conhecê-lo? Seu dever é para SER e não para ser isso ou aquilo. O método se resume em “ESTEJA QUIETO”. Isto significa destruir a si próprio, porque não há nenhuma forma que possa deixar de causar incômodo. Quando o “eu” for apenas “EU SOU”, e não “eu sou isso” ou acrescentado àquilo – será o SER; quando voa pela tangente é o ego. O verdadeiro SER não fará tais perguntas. Todos esses colóquios são questão de competência da maturidade. P. De onde surgiu a ignorância? R. Não há nada que se assemelhe à ignorância. Ela nunca surge. Cada um é Jnana Svarupi. Contudo, Jnana não vem facilmente. A rejeição da ignorância é Jnana, que sempre existe –, por exemplo: um colar no pescoço que supostamente estava perdido ou os dez malucos que falharam na conta, por não incluir a si próprios, contando os outros. Para quem é o conhecimento ou a ignorância? Sua natureza é Ananda. A ignorância agora lhe está cobrindo Ananda. Afaste a ignorância para que Ananda apareça, P. Como conseguir a paz? R. Paz é um estado natural. É a mente que impede a paz inata. Nosso Vichara se passa só dentro da mente. Investigando a mente, ela desaparece. Estando eliminada, você permanece. Assim, a questão é apenas do ponto de vista. Você percebe tudo. Vê a si próprio e tudo lhe está claro. Mas agora, você ficou perdido em manter-se a distância e ocupou-se de outras coisas duvidosas, P. Se “eu sou” está sempre aqui e agora, por que eu não o sinto dessa maneira? R. É isso mesmo. Quem diz que não o sente? É o “EU” real que diz ou o falso “eu”? Examine isso. Você descobrirá que é o falso “eu”. O falso “eu” é um

obstáculo. Ele tem que ser desarraigado, a fim de que o verdadeiro “EU” se revele. O sentimento de que “eu” não o tenha realizado é um empecilho à Realização. De fato “Ele” já é realizado. Aí não há nada a realizar. A Realização não está longe e não é a última vez que vem, virá outra vez, tomando lugar doravante. O que nasceu, também morrerá. Se a Realização não fosse eterna, não valeria a pena tê-la. Daí por diante, quando vamos procurá-la, não é isso que deve acontecer outra vez; é somente o que é ETERNO e DESCONHECIDO, devido aos obstáculos, e é isso que estamos buscando. Tudo o que precisamos fazer é afastar os obstáculos. O que é eterno não é conhecido desta maneira por causa da ignorância. A ignorância constitui um obstáculo. Largue essa ignorância e tudo irá bem. A ignorância é identificada ao pensamento-“eu”. Encontre a fonte dele e ele se esvanecerá. “O pensamento-eu” é como espírito impalpável surgindo ao mesmo tempo que o corpo, florescendo junto com ele e desaparecendo com ele. Na consciência-do-corpo está o falso “eu”. Largue essa consciência-da-corpo! Isso poderia ser feito através da busca da Fonte do “eu”. Buscando a Fonte dele, esvanecer-se-á. O ego, livre da identificação objetiva, em sua pureza, é experimentado em intervalos entre os dois estados ou dois pensamentos. O ego é como uma lagarta que larga o que agarrou somente depois de agarrar-se a outra coisa. Conscientize este intervalo com convicção adquirida pelo estudo dos três estados de consciência. Este estudo auxilia a ter este ponto de vista. P. Um alvo poderia ser alcançado, quando alguém estiver nos olhando? R. Que alvo é esse? A coisa que você acha ser o alvo existiu mesmo antes da própria existência do ego. Se consideramos nós mesmos como o ego, o corpo ou a mente, então nós somos essas coisas. Mas se não nos consideramos como tais, então somos nossa real natureza. É o pensar que faz surgir tais dificuldades. O próprio pensamento que aceita semelhante coisa como nosso ego, está errado, porque o ego é o pensamento-“eu” e nós somos o “EU” real. O estado sem pensamento, em si, é realização. A declaração dos Vedas “eu sou isso ou aquilo” é mero auxílio. Se aí houver um alvo a ser alcançado, ele não será permanente. Aquilo que é o alvo já está aqui. Buscar o alvo com ego, o alvo estando existente antes do ego! Isso que está no alvo é anterior ao nascimento do ego. Porque existimos, o ego aparece para existir também. Se olhamos o SER como ego, então somos o ego, se como a mente, somos a mente e se nos olhamos como o corpo, somos o corpo. É o pensamento que trabalha de várias maneiras. Olhando a sombra na água, vemos a água se agitar. Pode alguém fazer parar a sombra que treme na água? Se a água parar de tremer é que você não está olhando nela. Olhe para seu SER, consequentemente, não olhe para o ego. O ego é “eu”-pensamento. Verdadeiro “EU” é O SER. P. Como podemos estabelecer contato com o Ser Superior?

R. É uma coisa tão distante que você precisa entrar em contato? O Ser Superior é sempre UM, mas são os nossos pensamentos somente que nos fazem sentir que Ele não é isso. Você pode pensar tanto deste modo como não pensar Nele. O Ser Superior é sempre assim, quer você siga o caminho Dele, quer não. A existência Divina é a nossa verdadeira Natureza. P. Como podemos fazer com que esses falsos pensamentos se desliguem de nós? R. Você desnecessariamente se preenche de muitos pensamentos para formular perguntas de maneira a forçar determinadas respostas. É isso que o perturba. Apenas seja como você realmente é, e aqueles pensamentos vão se desligar por si mesmos. A quem aqueles pensamentos e emoções surgem? Por ser hábito seu formar estranhos pensamentos, torna-se difícil mudá-lo. P. Posso continuar pensando “eu sou Deus”? É uma prática correta? R. Por que pensar nisso? De fato você é Deus. E quem vai dizer “sou homem”, “sou macho”? Por exemplo: se nenhum pensamento contrário de que “sou uma besta” respondesse a esse desafio baixo, então, naturalmente, você poderia dizer “eu sou homem”. Em seguida dominando o errado impulso de que a pessoa é isso ou aquilo de acordo com as suas impressões ou imaginações erradas para acabar com a idéia de que a pessoa é isso ou aquilo, mas Deus ou SER, há indulgência por ser uma questão de prática, mas quando a prática estiver terminada, o resultado não será apenas a extinção de todos os pensamentos (salvo tais como “eu sou Deus”) mas simples auto-realização. Neste estágio não se tem necessidade do significado de pensamento, porque aí o pensamento passou além do pensamento conceitual. P. Se o SER é Ele mesmo consciência, por que eu não estou igualmente cônscio até agora? R. Seu atual conhecimento é devido ao ego e é apenas conhecimento relativo: o relativo conhecimento necessita de sujeito e de objeto, enquanto que o conhecimento do SER é absoluto e não requer objeto. A recordação é igualmente relativa. Esta requer um objeto para ser recordado e um sujeito para recordar. Quando aí não houver duas coisas, quem ficará para recordar quem? O que está além do conhecimento e da ignorância é Atma. P. Até que ponto levar as perguntas dirigidas a si próprio para considerá-las terminadas? R. Você deve se empenhar na demolição das idéias erradas através dessas perguntas (Vichara), até que a última, noção errada, esteja demolida. Até que o SER se revele.

P. De que modo a mente submerge no coração? R. A mente agora se vê diversificada no universo. Se essa diversidade não se manifesta, a mente então fica dentro de sua própria essência. Aí está o Coração. Somente o Coração é verdadeiro. A mente é apenas uma fase transitória. Por ter o homem se identificado com corpo, vê o mundo separado dele. Esta identificação errônea surge porque o homem perdeu suas ligações e desviou a direção para o seu estado original. Agora ele está sendo aconselhado a deixar de lado todas essas falsas idéias, seguir o rastro de sua Fonte e aí ficar como o SER. Neste estado não há diferenças nem perguntas a fazer. Todos os Sastras eram simplesmente meios para reconduzir seus passos à Fonte de sua Origem. Ele não precisa adquirir coisa alguma. Deve apenas deixar as falsas idéias e seus acréscimos inúteis. No entanto, em vez de fazer isso, ele procura correr atrás de alguma coisa estranha e misteriosa, por acreditar que a sua felicidade está alhures. É aí que está o engano. Se a pessoa ficasse como o SER, estaria em beatitude. Provavelmente pensaria que, ficando quieta, isso não a levaria a esse estado de beatitude. Tal pensamento se deve à sua ignorância. A única prática é descobrir “a quem estas perguntas surgem”? P. O que é para ser nosso Sadhana? R. Sahaya de Siddha! Sahaya é o estado de Origem, portanto esse Sadhana importa na extinção dos obstáculos no intuito de perceber a Verdade encoberta. P. Que é o egoísmo? R. O mundo não é externo. Por identificar-se erradamente com o corpo, você vê o mundo, presencia suas dores, suas angústias, embora não sejam reais. Busque a Realidade e deixe esses sentimentos irreais. Só pode haver satisfação quando você estiver buscando a Fonte. Do contrário, haverá desassossego e inquietação. Lendo um livro, enquanto seus olhos percorrem as linhas, seu coração deveria estar fixo no UM. P. Meu amigo dedica-se fervorosamente ao serviço social, mesmo com o sacrifício de seus próprios interesses. R. O abnegado trabalho dele é muito útil; sua utilidade não pode ser negada. Inteire-se a respeito do trabalho dele e fique em contato com ele, enviando-lhe o resumo de nossas conversações. É um elo entre os dois. Além do mais, o trabalho purifica a mente do homem e, assim, ele ganha no discernimento, na sabedoria dos Sábios melhor e prontamente. O trabalho social tem lugar no esquema da elevação espiritual. O trabalho é social e não egoísta. Tem-se em vista Deus ao longo desse trabalho. O bem público é o próprio bem da pessoa.

Tais afazeres do corpo e da mente purificam a mente, portanto, um bom trabalho social é caminho para tornar a mente mais purificada. P. Mas o trabalho social não nos dá muita folga para meditar. R. Naturalmente, os esforços de uma pessoa não podem ter terminalidade no serviço social. O posto de observação sempre aponta à mais alta Verdade. No devido tempo, tudo vai dar certo. P. Como Mouna é possível quando se está empenhado em transações mundanas? R. Quando as mulheres andam, levando na cabeça um cântaro são capazes de trocar idéias com suas companheiras e ao prestam toda atenção para não derramarem água de cima da também o Sábio, que empenhado em atividades, não sente incomodado porque sua mente fica concentrada no Brahma.

cheio de água, mesmo tempo cabeça. Assim estar por elas

A dificuldade está no homem que pensa ser ele que faz ou dá algo de si; enganase, pois é o Alto Poder que faz todas as coisas e o homem é apenas um instrumento. Se ele aceita esta posição fica livre dos aborrecimentos; caso contrário, ele os procura. Faça seu trabalho sem antegozar os frutos do mesmo. É tudo que cabe a você fazer.

CAPÍTULO 14

A Filosofia Prática Perguntei a Maharshi por que seus livros contêm poemas e cânticos. Respondeu que é mais fácil as pessoas aprenderem e lembrarem esta forma. No Ocidente será apreciada tão-somente por quem estiver desgostoso da vida material, quem quer ingressar no Caminho. Alegria e dor são os atributos de Ahankara (ego). Quando pelo Atma-Vichara você se conscientiza não ser este invólucro, então, aonde estão o prazer ou a dor para você? Sua real natureza. transcende sensações tais como prazer e dor. Desse modo o benefício de Atma-Vichara se lhe torna tangível no invólucro como forma de escape a todas as enfermidades e sofrimentos do mundo. O que mais se pode desejar? Quem estiver sempre parado no Atma, pode estar no meio da multidão e mesmo assim continuar imperturbável. Aquele não precisa nem deseja a solidão. A quem as pessoas chamam Satã, Diabo, Lúcifer, Forças Negras etc., é simplesmente por ignorarem o verdadeiro SER. Todos os objetivos, aspirações e desejos do homem para servir à humanidade tencionam reformar o Mundo – deixe-os cair sob o Poder Universal (Deus) que sustenta este universo. Deus não é louco. Fará o que Lhe é pedido. Você perdeu noção de que “eu que estou fazendo isso”. Livre-se desse egoísmo. Não pense que é a pessoa indicada para alguma reforma. Deixe essas intenções ficarem latentes. Deixe Deus atendê-las. Então, quando desfizer-se do egoísmo. Deus pode usá-lo como instrumento para efetivá-las. Contudo, a diferença haverá porque então você não ficará ciente de estar fazendo aquilo; pois o Infinito estará trabalhando através de você e aí não haverá mais auto-adoração para estragar o trabalho. Caso contrário, é desejo de nome ou fama que irá servir ao ego pessoal, ao invés de servir à humanidade. Quase todos os seres humanos são mais ou menos infelizes porque quase todos desconhecem o verdadeiro SER. A real felicidade está no autoconhecimento. O resto é efêmero, passa com o tempo. Conhecer seu próprio SER é estar sempre no estado de felicidade. P. O mundo está progredindo agora?

R. Isso que governa o mundo é UM; Quem deu vida ao mundo sabe como cuidar dele. Se nós progredimos, o mundo progride também. Assim como você é, assim é o mundo. Sem compreender o SER, como querer compreender o mundo? Sem autoconhecimento, o conhecimento do mundo não tem utilidade alguma. Olhe o mundo através dos olhos do seu SER Supremo. P. É muito difícil para os ocidentais voltarem-se para dentro de si mesmos? R. Sim. Por serem rajásicos, a energia deles vai para fora. Devemos estar quietos por dentro, não esquecendo do SER. Externamente então, podemos continuar com as nossas atividades. O homem que representa no palco e faz o papel feminino, esquece de que ele é homem? Igualmente, nós também devemos dar a voz ativa em nosso papel no palco da vida, porém, não devemos identificar-nos com esse papel. Você pode continuar com a sua Administração Pública, pode continuar no mundo, viver a vida de homem casado como dantes. Pode assumir o papel que transcenda todos os papéis; apenas não esqueça de UM. Mantenha sua mente Nele o tempo todo, não importa qual seja a coisa que na ocasião estiver fazendo. P. Qual é a melhor maneira de se viver? R. Ela difere conforme cada um, quer seja um Jnani quer não. Um Jnani não acha nenhuma coisa diferente ou separada do SER. Todos estão no SER. O universo e o que está além se encontram no SER. P. Como persuadir os outros a deixarem sua preguiça espiritual? R. E você deixou a sua própria? Dirija suas indagações ao SER, buscando. A força levantada dentro de você vai operar nos outros também. P. O que há sobre a idéia da ação inspirada de Paul Brunton? R. Deixe as atividades funcionarem. Essas não tocam o puro SER. A dificuldade está em pensar que o homem seja o doador. É um engano. É o Alto Poder que faz todas as coisas; o homem é apenas mero instrumento. Se ele aceita essa posição, fica livre das coisas que o chateiam; caso contrário, tem que aguentá-las. A figura esculpida em cima da torre do templo parece exercer grande pressão, mas a torre fica na terra que realmente sustenta a figura. Assim é o homem, cujo sentido de fazer aplica a si mesmo. P. De que modo um aspirante deve executar seu trabalho? R. Como um ator, sem identificação. Por exemplo: quando você esteve em Paris, não tencionava visitar esse lugar. Veja como você tem agido sem a sua própria iniciativa para fazê-lo. O Capítulo três, verso quarto do Bhagavad Gita diz que o

homem não pode ficar inativo. O propósito do nascimento de uma pessoa se cumprira por si mesmo. Pouco a pouco, a concentração se tornará agradável e fácil e você estará nesse estado quer queira quer não, seja dando assistência aos negócios ou seja sentado expressamente para meditar. Os negocies serão beneficiados e muito mais fáceis para você quando sua mente estiver calma, fortalecida pela concentração. P. Não tenho interesse em negócios. Receio que minha prática de Yoga será prejudicada. R. Não, seu ponto de vista vai mudar, como é citado no Bhagavad Gita, Cap. 2. Você vai encarar os negócios à luz de um mero sonho, sem se sentir afetado por eles, já que terá de assisti-los como se fossem sérios. P. A dificuldade é que estando no estado sem pensamentos, será preciso atender as obrigações. R. Deixe o estado sem pensamentos estar por si mesmo. Não pense nele como se pertencesse a você. Assim como quando está andando, você dá passos instintivamente, assim seja em todas as suas ações. Agora, você quer ir a qualquer outra parte e dali vai desejar ir a algum outro lugar. Nessa ordem não haverá fim para as suas andanças. Você não concebe que é a sua mente que viaja assim? Controle-a primeiro e será feliz por onde estiver. Tenho a impressão de que Vivekananda contou, em algum lugar, uma estória sobre um homem que procurava enterrar sua própria sombra. Por cima de cada leira da terra havia colocado uma sepultura, escavando uma cova para nela sepultar sua sombra. O recém-falecido apareceu mais uma vez por cima da escavação recente. Assim, a sombra nunca podia ser enterrada. É exatamente como o caso de querer sepultar seus pensamentos. Portanto, deve-se tentar alcançar o mais fundo de nós mesmos de onde surge o pensamento, e cortá-lo pela raiz, assim como a mente e os desejos. P. A busca do SER é egoísta no mundo de desgraças. Acho que o trabalho abnegado é melhor. R. O mar não toma conhecimento de suas ondas. Da mesma forma o SER não toma conhecimento do ego. Alguns garis estavam trabalhando, enquanto descíamos a montanha. Um deles parou de trabalhar e aproximando-se, prosternou-se diante de Maharshi. Este último falou-lhe: “Empenhar-se no seu dever é o verdadeiro Namaskar. Cumprir seu dever com todo cuidado é o maior serviço prestado para Deus”.

Desde o início da Criação existiam o mal e o sofrimento. Você pergunta por que os Rishis não endireitam isso. Nos Vedas se lê sobre os demônios (Asuras) que existiam desde os tempos mais remotos. É a força oposta no mundo que faz com que a luta, a competição e o sofrimento nele estejam, mas ela também trabalha para fazer o homem crescer e evoluir. É uma força na Natureza que coexiste com o bem. P. Como conciliar a vida espiritual com a material? R. É apenas questão de prática. Quais são as experiências mundanas que não estejam baseadas no falso “eu”? P. Por que o mundo vive na ignorância? R. Deixe o mundo tomar conta dele mesmo. Se você é o corpo, o mundo é de matéria sólida. Se você é espírito, tudo é unicamente espírito. Olhando para este – o ego esvanece. Quando fizer Vichara, a ignorância se derreterá na nãoexistência. É a mente que sente a pobreza, carência, obscuridão etc. Olhe o SER! P. Qual é a finalidade do sofrimento e de toda a maldade no mundo? R. Sua pergunta em si, resulta do sofrimento. O sofrimento faz com que o homem se volte para Deus. Não fosse por causa do sofrimento, faria você semelhante pergunta? A exceção do Jnani, todo homem, desde o rei ao camponês, tem certo montante de sofrimento. Mesmo nos casos onde parece estar ausente é apenas o fator tempo que faz você pensar assim – mais cedo ou mais tarde virá inevitavelmente. Também algum homem pode não questionar o sofrimento a Deus na primeira desgraça, mas provavelmente, irá fazê-lo na quinta desgraça. Temos aceito esse veículo a fim de saber a respeito de nosso estado real. P. Mas por que a imperfeição teria que vir da perfeição? R. Para que o universo se manifeste, porque não queremos pensar a respeito de nosso real estado. O propósito da manifestação é para você saber a causa, por que razão isso se deu. Aí não haverá Maya do momento em que você conhecer o seu estado real. É sua culpa se você não se conhece a si mesmo. P. Qual é a diferença entre o Ocidente e o Oriente? R. Todos vieram para a mesma finalidade. P. Sou um médico. Como devo curar? R. A cura definitiva é Jnana. O paciente deve ponderar e conscientizar-se por si mesmo. Conforme a maturidade dele, compreenderá. Se não, quando uma doença vai, uma outra vem.

A um moço que veio para pedir que lhe sejam dados poderes, a fim de acabar completamente com todo o materialismo no mundo, Maharshi disse: “As pessoas que são incapazes de pedir por si mesmas pelos Poderes Divinos para que sejam utilizados no bem-estar do povo são como um aleijado que disse que gostaria de vencer o inimigo, contanto que ele o ajudasse a carregar seus pés! A intenção é boa, mas carente do sentido da proporção.” P. O plano do mundo realmente é bom? R. De verdade é bom. O erro é de nossa parte. Quando corrigirmos este erro, todo o esquema tornar-se-á bom. P. Como minorar os sofrimentos do mundo? R. Conscientize o SER, isto é tudo que se requer. P. O mundo está sobremodo materialista. Qual é o remédio para isso? R. Material ou espiritual, é conforme seu ponto de vista. Corrija seu ponto de vista. O Criador sabe como cuidar da Sua criação. P. Como posso ajudar outrem? R. Qual outrem? Está aí para você o ajudar? Que é esse “eu” que está para ajudar aos outros? Primeiro, esclareça esse ponto e, então, todas as coisas se assentarão por si mesmas! P. Fala-se de muitas calamidades, desastres no mundo todo; por exemplo: fome, pragas, pestes, inundações etc. Qual é a causa deste estado de coisas? R. Para quem surge tudo isso? Você não está ciente do mundo e seus sofrimentos enquanto dorme. Fica ciente deles somente quando acorda. Continue no estado em que você não tem noção do mundo, onde seus sofrimentos não o afetam. Quando você ficar tal como o SER, como no sono, o mundo e seus sofrimentos não o afetarão. Portanto, olhe dentro de si mesmo, busque o SER. Lá, então, não haverá o mundo, nem misérias, nem seus sofrimentos. P. Apesar de haver aí grandes homens, altos funcionários públicos, será que todos eles não são capazes de resolver o problema de carência e fome no mundo? R. São egocêntricos, daí a incapacidade. Se eles ficassem no SER, seriam diferentes. P. Como conciliar o trabalho com a meditação? R. Que é o trabalhador? Deixe-o trabalhar. Faça Vichara. Você é sempre o SER e não a mente. É a mente que levanta essas perguntas. O trabalho sempre

prossegue na presença do SER. Isto não constitui um impedimento à realização. É a falsa identidade do trabalhador que traz problemas. Deixe a falsa identidade. Cada dia as atividades continuam automaticamente. Saiba que embora a mente as estimule, o fantasma vem do SER. Por que você pensa que está ativo? As atividades não são suas; são pertences de Deus. P. Dizem que o esforço leva a mente ao vazio, o que torna o trabalho impossível. R. Primeiro, esvazie a mente e depois venha falar-me. P. Se a pessoa guardar tal SER na lembrança, as ações dela serão sempre corretas? R. Hão de ser. No entanto, tal pessoa não está interessada em agir certo ou errado. Seus atos são de Deus, portanto estão sendo corretos. P. Como a minha mente pode estar calma se hei de usá-la mais que as outras pessoas? Quero ficar na solidão e renunciar a meu trabalho de diretor de escola. R. Não. Você deve ficar onde está e continuar no seu trabalho. Qual é a tendência subjacente que, vivificando a mente, seja capaz de todo esse trabalho? Ora, o SER! Portanto, esta é a real Fonte da sua atividade. É só tornarse sabedor disso durante seu trabalho e não o esquecer. Contemple o mais fundo (background) de sua mente, mesmo quando estiver trabalhando. Fazendoo, NÃO ESTEJA APRESSADO. Tome seu tempo à vontade; mantenha viva a recordação da real Natureza, ainda que esteja trabalhando, e evite a pressa que causa o esquecimento, e faz você esquecê-lo. Seja vagaroso e ponderado. Pratique a meditação para aquietar sua mente e faça-o para tornar-se cônscio de sua verdadeira relação com o SER que o sustenta. (Ele, o Maharshi, fez uma comparação: falou a respeito da roda cuja circunferência, quer seja fina quer grossa, comporta tudo no mesmo círculo; assim o trabalho intelectual está dentro do círculo do SER.) Não imagine, contudo, que é você que faz o trabalho. Pondere que é a corrente subterrânea que está fazendo aquilo. Identifique-se com essa corrente! Se você trabalha sem pressa, ponderada e atentamente, seu trabalho ou serviço não deve ser um obstáculo. No Bhagavat Gita, Krishna realmente falou a Arjuna para que fixasse sua mente no SER e agisse de acordo com a sua natureza, sem o pensamento de ser ele quem faz. Então, o resultado que obtiver das diligências não o afetará. Aquela inerência no SER é o sumo do ensinamento do Gita. Mesmo interpretando como sendo dever a ação, o significado é atuar como instrumento do Alto Poder. P. Há proveito em aproximar o Oriente do Ocidente? R. Todos os acontecimentos sobrevêm automaticamente. É o Poder que dirige o destino das Nações. Essas perguntas surgem por você ter perdido o contato com a Realidade.

P. Como conciliar a Realização com as atividades renumeradas? R. Os empenhos empregados não são a causa da escravidão. A escravidão está tão-somente na falsa noção de que “eu” estou agindo. Livre-se de tais pensamentos, mas deixe o corpo e os sentidos desempenharem seu papel livremente, sem sua intromissão. P. O trabalho é um impedimento? R. Não. Para um homem realizado não existe impressão de ser ele o agente. Mesmo para um principiante é possível praticar auto-indagação a respeito de sua própria identidade. Quando estiver empenhado no trabalho, talvez no início seja difícil para um principiante. Todavia, depois de algum tempo de prática, tornar-se-á eficiente e seu trabalho prosseguirá, sem lhe impedir a meditação. P. Como irão as transações da pessoa, se ela mantiver o silêncio mental? R. Quando mulheres andam levando um cântaro cheio de água nas suas cabeças e tagarelam com as companheiras, ficam muito atentas à carga que levam. Igualmente o Jnani, quando empenhado em suas atividades não se descuida, por estar sua mente fixa em Brahma. P. Somos seres humanos vivendo no mundo e cada um tem um tipo ou outro de aflição. Oramos pela ajuda e ainda não estamos atendidos em nossa prece. O que fazer? R. Confie em Deus. Se entregar-se, será capaz de se firmar pela Sua Vontade e não se queixar daquilo que possa não ser do seu agrado. É bem possível tornar as coisas diferentes do que elas parecem ser. O desespero frequentemente leva o homem à fé em Deus. P. Eu sou um pecador. R. Por que pensar em si mesmo dessa maneira? Você acertadamente confiou todas as responsabilidades a Deus, em quem tem Fé; e é Ele que cuidará delas. Tenha amor compassivo para com outrem, mas mantenha-o em segredo: não o demonstre nem fale disso. Se seus desejos forem satisfeitos, não se exalte; se forem frustrados, não se desaponte. A exultação talvez seja ilusória. Isso deve ser conscientizado; a alegria inicial pode ter fim na tristeza. Afinal, seja o que for que lhe aconteça, não importa onde estiver, nada o atingirá, por ser como até agora foi. P. Mas como posso eu ajudar o outro no seu problema, naquilo que o perturba? R. Por que essa conversa sobre o outro? – está somente UM aí. Procure apreender que aí não há nem “eu” nem “ele” nem você, mas única e exclusivamente UM SER que abarca tudo. Se você crê no problema do outro,

está acreditando em alguma coisa fora do SER Você o ajudará a conscientizar a unidade de todas as coisas melhor que pela ação externa. O ego pertence a todas as atividades no estado de vigília, à consciência-docorpo, ao intelecto. No sono profundo onde está o “eu”? O intelecto ainda está, o corpo ainda está e mesmo o SER está aí. São as atividades no estado de vigília que, encobrindo o SER real, fazem aparecer o Ego. O falso SER aparece como se fosse real. Todas as coisas neste Universo estão se movendo por Um Supremo Poder. Mas se o homem não quer aceitar para seu destino o Caminho que lhe é apontado, mas se desvia além de seus limites, então Deus o castiga e, através de sofrimentos, faz com que retorne para o SER. E quando o castigo terminar, ele cessará de adorá-Lo e novamente pecará, deste modo convidando ao castigo majorado. Quando se torna excitado ou ansioso então, é capaz de reconhecer que ele não está no caminho destinado a ele, mas num desvio, pois, se for o caminho apontado estará em paz e contente. Ele terá de permanecer no SER e não procurar afogar-se nos desejos, ambições etc., além do que Deus lhe deu. Portanto esteja sem ego. De quem é o livre-arbítrio? Você acha que lhe pertence. Você está além da vontade e do destino. Permaneça como aquele. Isso abrange o significado de conquistar o destino pela vontade. O destino pode ser conquistado. Destino é o resultado de Karma. Porém pelo Satsanga, os maus Vasanas serão conquistados. Você vive suas experiências dentro da perspectiva exata, sua pessoal. Eu agora estou desfrutando de Karma. Eu era no passado e estarei no futuro. Que é esse “eu”? Encontrando-o torna-se pura CONSCIÊNCIA, além do Karma e do prazer, ganha-se liberdade e êxtase de gozo. Aí não há esforço, porquanto o SER é Perfeito e aí nada há para ser ganho. Enquanto a personalidade estiver aí, haverá o que goza e o que faz. Todavia, se ele perder a vontade divina então agirá conduzindo o curso dos acontecimentos deliberadamente. Restrições e disciplina são para Jivas e não para Muktas. O livre-arbítrio está implícito nas injunções bíblicas como bom. Ele envolve o destino a superar, coisa que pode ser feita pelo Jnana (veja Número 37 de Bhagavad Gita) “Como o fogo que queima, reduzindo todo o combustível a cinzas, oh! Arjuna, assim faz o fogo de conhecimento que reduz todos os trabalhos a cinzas.” Quando nada nos acontece, estamos prestes a atribuir o mesmo a alguma coisa ou a alguém mais. No entanto, o fato é que a nossa experiência já tem sido vivida por nós, e nada acontece que não seja mais ou menos aquilo que merecemos. Que podem os outros fazer para nós? Os outros não são responsáveis por aquilo que acontece conosco. Eles são meros instrumentos daquilo que poderia acontecer a nós de uma maneira ou de outra. Deixemo-nos tornar fortes na fé e não sucumbir ao medo. Seja o que for

que aconteça, acontece conforme o nosso Prarabdha; deixe-o esgotar-se por si mesmo. Más intenções e más ações reagirão por si mesmas, não nos afetando, simplesmente porque assim o desejam. Pede-se para não se ter pensamentos aflitivos para consigo, portanto, qual é a razão para ansiedade a respeito dos outros? P. Se a alma de uma criança em tenra idade morrer, parece não ser justo, porque ela não teve bastante experiência da vida para chegar à realização. R. Simplesmente você não conhece o ponto de vista de uma criança. O seu é mormente o intelecto. Nós e nossas crianças, todos viemos de Deus. Deus toma conta de nós e de nossas crianças. Os animais pensam como serem humanos. Não devemos imaginar que eles são criaturas insensíveis. Alguns que estiverem em contato prolongado com as pessoas, podem compreender as palavras e até entender conversações. Ele, o Maharshi, apontou uma vaca e disse: ela pode pensar inteligentemente. Os individuais seres humanos têm que sofrer seus Karmas para o objetivo Dele. Deus manipula os frutos do Karma; Ele não os acrescenta, nem diminui. O subconsciente do homem é como um armazém do Karma bom ou mau. Ishwara escolhe desse armazém o que Ele julga ser melhor de se adaptar à evolução espiritual de cada homem no tempo, quer seja este agradável quer penoso. Portanto, não há nada arbitrário. O Homem Realizado conhece o passado, tanto como o presente e o futuro. Ele está além do tempo, por estar vivendo no SER que é intemporal. O que é isso que nasce? Não é o verdadeiro SER. Uma vez nele nascendo, será a derradeira vez. Este é o verdadeiro e único nascimento – o nascimento espiritual. Os outros nascimentos não passam de transitórias encarnações de Vasanas. Se isso não tivesse nascido para o corpo, não falaríamos do Espírito estar dentro de nós. Pretenderíamos ser o verdadeiro SER. O homem iluminado irá apenas observar, esperar e ver o que acontece. Ele deixa as coisas tomarem seu rumo. Entrega tudo ao Poder Absoluto, que você pode chamar de Deus, Karma ou de qualquer nome que lhe agrade melhor. Nele não há egoísmo. Assim, esteja quieto! No Gita há um Sloka que reza: “Quem age sem apego para com os sentidos e sem egoísmo (o sentido de que “eu” estou fazendo isso), embora matasse um inimigo, não sobrecarrega seu Karma.” Assim é o iluminado; ele está livre de todo Karma passado e de todos os passados Vasanas. Como pode haver para ele o Karma ou os Vasanas, quando o ego, aquele que os causa, foi destruído?

O homem iluminado não faz planos para o futuro e não toma providência alguma. E por que afaria? Nele não há mais o sentido do “eu” ou do “meu”. O Poder Infinito que é capaz de fazer todas as coisas o dirige. P. E se eu quiser ir a Kailas? R. Pode-se visitar esses lugares só quando se é destinado a vê-los. Caso contrário, não. No entanto, depois de ter visto todos eles, ainda restarão mais lugares a visitar – se não neste hemisfério, então no outro. O conhecimento continua a ser sempre ilimitado. Entregue-se e tudo irá bem. Descarregue todas as responsabilidades em Deus. Não carregue o fardo! O destino não pode fazê-lo. Se você se entregar a Deus não terá motivo para ansiedade. Nada o afetará se estiver afirmado por Deus. O sentido de alívio está dependente e proporcional à confiança para com Deus ou para com o SER. P. Meu trabalho me atrapalha; R. Se você tem atitude correta, a espécie de vida que leva não importa muito. P. Aqui, nessa atmosfera pura, o Caminho é fácil, mas nas cidades é bastante difícil. R. Quando você contempla o verdadeiro SER, isso não torna a atmosfera pura? Deixe o corpo cogitar naquilo que almeja, e por que você não pensaria assim? Ao menos se você pudesse ficar quieto, sem nenhum outro afazer em perseguir alguma coisa que lhe interesse, seria muito bom. Se isso não pode ser feito, então qual é utilidade de ficar quieto? Enquanto se é obrigado a estar ativo, pelo menos não abandone as tentativas para ter consciência do SER. Mesmo o Homem Realizado, se tivesse de destruir muitas vidas, nenhum pecado poderia afetar a alma pura. Disso também fala a Gita. Você, você mesmo é a fonte de toda a sua felicidade, qualquer que ela seja, e não as coisas externas. Mesmo quando imagina que algum objeto externo lhe tem proporcionado a felicidade, é engano seu. O que aconteceu realmente é que o objeto inconscientemente fez com que você voltasse a vislumbrar seu SER, pedindo-lhe a felicidade emprestada, e daí foi presenteada a você. A felicidade lhe veio como sombra; por que não olhar direto à fonte, para o SER, e deleitarse com aquela? P. Fico possuído pelo medo da doença e da morte. R. Quem contrai doença? É você? Se analisar o que você é, perceberá que a doença não pode afetá-lo. Que é você? Você morre? Pode você morrer? Pondere no Atma; conscientize-O.

P. Procuro, mas não o guardo na mente por longo tempo. R. A prática aperfeiçoa. P. E neste meio tempo? R. Neste meio tempo não deve sofrer esperando. P. O controle da natalidade pode ser um dispositivo que leva à imoralidade? R. Você deve penetrar a raiz das coisas. Descubra a verdadeira causa do nascimento e então reprima-a. Deixe aquilo que nasce controlar a si mesmo. Que é que nasce? Há um antigo verso que reza: “Desejos vão aumentando e queimando mais ardentemente à medida em que são contrariados.” Assim, o único efetivo controle é perseguir as causas, observando os desejos, o que consequentemente se torna moral. P. A abstinência é o único método para controlar o tamanho da família? R. Sim. Pois os outros métodos proporcionam apenas assistência temporária. P. Quando há conflito de desejos, um pela criança, e outro pelo sexo, qual deles deve ser escolhido? R. Por que não reprimir a ambos, se se é capaz de reprimir um desses desejos? Por que interferir nas Leis da Natureza? Deixe a quem faça as Leis da Natureza operá-las. O impulso sexual já é bastante forte. Por que você deve reforçá-lo ainda mais, favorecendo-o? Se você compreendesse a verdade na Natureza, os desejos sexuais não teriam surgido absolutamente. Se você deixasse o sentido de diversidade, o que deu ao sexo seu poder, também poderia retomá-lo. Por brincadeira Maharshi acrescentou: “Se pudéssemos todos ficar crianças e deixássemos de crescer, o quanto seria o mundo feliz! A Natureza faz algumas pessoas estéreis, a outras priva de suas crianças, ao passo que para outras dá muitas crianças. Consequentemente, se você tenciona controlar o nascimento, também procure controlar a morte.” Sentimos que o que gera a grande miséria no mundo é a superpopulação, porém, se não tivéssemos existido, a miséria também desapareceria. Podemos encontrar a causa dessa miséria encontrando a causa de nosso nascimento. Se aquilo que nasce (o ego) for conhecido, não haverá maldade no mundo. P. Como controlar a luxúria, sensualidade, ira etc.? R. De quem são estas paixões? Procure descobrir. Se você estiver ficando como o SER, encontrará alguma coisa além do SER? Aí não haverá nenhuma necessidade de controle etc. P. Cometi o pecado sexual.

R. Mesmo que você o tenha cometido, não importa desde que depois não pense em tê-lo cometido. O SER não toma conhecimento de nenhum pecado e a renúncia ao sexo é interna, não é única e exclusivamente do corpo. P. Tenho vontade de cometer o adultério, embora seja casado. R. É melhor permanecer fiel à sua esposa. Se o homem devesse sua felicidade às causas externas ou às pessoas, então, o homem que é destituído de tudo e carente de posses não poderia ter felicidade, qualquer que ela fosse. Será que a genuína experiência mostra isso? Não. Em sono profundo, o homem então é destituído de todas as posses, inclusive do seu próprio corpo; e em vez de estar infeliz, ele goza de liberdade beatífica. Será que cada um não deseja dormir profundamente? Isso prova que a felicidade não vem das coisas externas, mas de se voltar para dentro do SER. Quando o puro “EU” – a Realidade, é esquecido, surgem todas as desgraças; quando o puro “EU” estiver mantido firme, as desgraças não afetarão a pessoa. A necessidade urgente e a negligência disso têm sido a causa de todas as misérias. P. Fico embevecido pela visão dos seios de uma jovem vizinha e, frequentemente, sou tentado a cometer adultério com ela. O que fazer? R. Você é sempre puro. São os seus sentidos e o corpo que estão tentados e você os confunde com seu real SER. Assim, procure saber quem e tentado e quem está aí para tentar. Mas, admitindo que cometa o adultério, não pense naquilo depois, porque você, você mesmo é sempre puro. Não é o pecador. P. Qual é a opinião do Senhor a respeito da reforma social? R. A auto-reforma traz automaticamente a reforma social: Limite-se à autoreforma. A reforma social tomará conta de si mesma.

CAPÍTULO 15

A Companhia do Sábio Como Ideal O Homem Realizado se encontra nos outros – por não os achar diferentes de si próprio. Para com o homem sábio, ele é sábio, mas com o ignorante, ele se torna ignorante; com as crianças ele brincará e com o homem instruído, ele será erudito. A meditação sobre o rosto ou a forma do Guru é meditação para os principiantes. Os discípulos adiantados terão de se concentrar interiormente no SER – o que equivale a meditar no Guru, por ser Ele Um com o SER. O auto-Realizado não é para ser considerado como um ocioso ou um preguiçoso malandro. Seus poderes se expandem incessantemente, na medida do correr do tempo. Poderia desenvolver e manifestar poderes ocultos, se isso fosse o Karma dele. Para um Jnani isso seria meramente uma espécie de esporte no mundo objetivo, por não ter nenhum interesse ou particular finalidade a servir. Mas, se seu Prarabdha é também Siddhi, não os manifesta; e o homem cônscio, que habitualmente permanece no Atman, não procura nenhum outro caminho. Quando alguém alcança a realização, uma corrente de vida universal toma posse dele e doravante o usa. Sua própria vontade separada se foi. Torna-se mero instrumento em Suas mãos. Este é o real auto-entregue SER. É a maior Kundalini, este é real Bakti, este é Jnani. Um Realizado emite ondas de ascendência espiritual de sua aura, que atrai muita gente a ele, mesmo estando sentado numa gruta e mantendo absoluto silêncio. Podemos ouvir palestras sobre a Verdade e sair relutantes, sem ter levado nenhuma compreensão do assunto, enquanto que entrando em contato com UM Realizado, embora não dizendo uma palavra, teríamos muito maior compreensão a respeito. Nunca precisa ele sair para arengar o público. E caso precisasse, servir-se-ia de outrem como instrumento. P. É necessário um Guru para o progresso espiritual? R. Sim, mas o Guru dentro de você. Ele é Um com o SER de você.

Todas as palestras e livros pouco bem fazem; são lidos e ouvidos somente por principiantes no intuito de lhes apontarem o caminho. O real servir é feito em meditação. Um santo sentado quieto e em silêncio – como é mencionado num poema em tamil do Santo Tayunnanavar – pode influenciar todo o país. A força da meditação é infinitamente mais poderosa que as palavras faladas ou escritas. Quem fica em silêncio sentado, meditando sobre o SER, atrai toda a gente a ele, sem sair para chamar ninguém. Mesmo os livros como o Bhagavad Gita e Luz no Caminho devem ser postos de lado, para que o leitor encontre o SER, olhando-se para dentro. O que diz também o Bhagavad Gita: “Meditem sobre o SER” e não diz “meditem sobre o livro Gita”. P. Prajananda me escreveu pedindo para que eu perguntasse ao Senhor se ele poderia tornar-se seu discípulo. R. Todos esses Gurus e discípulos existem somente do ponto de vista do discípulo. Para um SER Realizado não há nem Guru nem discípulo – existe somente UM SER O Guru é discípulo. Isso lhe veio somente porque você tem consciência-do-corpo e considera-o separado. P. Mas o Guru pode dar um auxílio? R. Certamente. Sim, ele pode ajudar. P. Bem, diria eu, a Fé e o Amor para com Ele é tudo que ele precisa demonstrar? R. Sim. Pela prática constante, a pessoa pode acostumar-se a voltar para dentro de si e aí encontrar o SER. Alguns devem fazer sempre um incessante esforço até que estejam realizados plena e permanentemente. Depois disso, todo o esforço cessa e o estado se torna natural. O Supremo toma posse do homem cuja corrente de vida permaneça inquebrantável. E até que ele torne natural seu estado permanentemente, sabe que você ainda não conscientizou o SER, apenas teve um vislumbre Dele. A alma de quem O tem percebido pode ainda ficar em contato com o corpo, os sentidos e a mente, sem, todavia, identificar-se com esse corpo. P. Há aí alguma coisa a ser transferida pelo Guru na Iniciação? R. Transferência significa erradicação do sentido de ser um discípulo. O Mestre faz isso. Não que o homem fosse alguma coisa num determinado tempo e depois se metamorfoseasse numa outra. Se o individual for notado, em parte alguma será achado. Tal é o Guru. Assim é Dakshinamurthi. Como ele o fazia? Ele estava silente; os discípulos vinham prostrar-se diante dele; ele manteve silêncio; as dúvidas dos discípulos se dissiparam, o que significa que eles

perderam sua individual identidade. Tal é o Guru e tal é a verdadeira Iniciação. Isso é Jnana e não a verbalização comum ente associada àquela. O silêncio é a mais poderosa forma de ação. Por muito vastos e enfáticos que sejam os Sastras, eles falham nos seus efeitos. O Guru fica quieto e a paz predomina em todo o seu silêncio que é muito mais vasto e eloquente que todos esses Sastras juntos. Essas perguntas surgem por causa do sentimento de que, tendo estado tanto tempo penando, exercitando com tanto esforço, não tenho ganho nada com isso. O trabalho que se processa dentro, não era aparente. De fato, o Guru está sempre presente na pessoa. Tayummanavar disse: “Ó Senhor, venha comigo acompanhar-me em todos os meus nascimentos, nunca me abandone e, no fim, salve-me.” Tal é a vivência da Realização. Srimad Bhagavad Gita disse a mesma coisa em diferentes palavras: “Nós dois não somente somos agora, mas temos sempre existido desse modo.” P. Não é Graça a dádiva do Guru? R. Deus, Graça e Guru são todos sinônimos e também Eternos e Imanentes. O SER já não está no âmago da pessoa? O olhar do Guru não é suficiente para conceder isso? Se o Guru pensasse assim, não mereceria o nome. Os livros falam que há inúmeras iniciações como por exemplo: Hasta Diksha, Sparsa Diksha, Diksha mental etc. Afirmam eles que o Guru oficia alguns rituais de fogo, água, Japa, Mantras etc., e dá o nome a tais fantásticos espetáculos de iniciações, como se o sishya se tornasse de pronto maduro logo depois desse processo! A Graça do Guru vale mais que o estudo e a meditação; a Graça vem em primeiro lugar, o resto é secundário. A Graça do Guru é como a mão estendida a você para tirá-lo de dentro da água. P. A Graça divina é realmente necessária? Será que os esforços honestos do homem não podem levá-lo ao alvo? R. Sim, isso também. Mas a dádiva de tal Graça é um refúgio para um verdadeiro devoto ou um Yogue que tem-se esforçado séria e incessantemente no Caminho. A Graça do Guru é a mesma que a Graça de Deus, porque o Guru não é diferente Dele. P. Eu rogo por Sua Graça porque os esforços humanos são insuficientes sem a Graça. R. Ambos são necessários. O sol está iluminando mas você deve voltar seu olhar para ele a fim de ter um vislumbre do sol. Igualmente os esforços individuais estão sendo necessários tanto como a Graça.

A Graça está dentro de você; se ela fosse externa, teria sido inútil. Graça é o SER; você nunca está fora de Sua operação. Se você se lembrasse do Guru, estaria disposto a fazer o mesmo para com o SER. A Graça já não está aí? Há momento em que a Graça não esteja operando em você? Sua recordação do Guru é a precursora da Graça. Posteriormente, ambos se tornam resposta e estímulo. Esse é o SER e essa é a Graça. Aí não há razão para ansiedade. P. Mas não é a Graça do Guru ou a Graça de Deus necessária para o progresso de Vichara? R. Sim, mas a pergunta que você está fazendo, já, em si, é Graça do Guru ou Graça de Deus. P. Que é o Caminho? R. O método pode não ser grande coisa; contudo, não importa de onde vieram os peregrinos, terão de entrar em Kaaba por uma só passagem. P. Pessoas falam de diferentes métodos. Quais desses métodos é mais fácil? R. Os métodos parecem fáceis, conforme a natureza individual da pessoa. Dependem daquilo que se tem praticado anteriormente. P. Quanto tempo o Guru será necessário? R. Tanto quanto a ignorância estiver predominando. O Guru, também chamado Deus Imanente, guia o devoto dizendo-lhe que Deus está dentro de você e que Ele é o SER que leva à introversão da mente e, no fim, à Realização. O esforço é necessário até se estar no estado de realização. Só então o SER vai se revelar espontaneamente. Até este estado de espontaneidade, o esforço, de algum modo, absolutamente é necessário. P. Como encontrar o Guru indicado? R. A intensa meditação ocasionará aproximação. O olhar do Sábio tem efeito purificador. Se você compreendesse a sua própria realidade, a vontade do Rishi lhe teria sido clara. Há somente um Mestre e este é o SER. Sanat Kumara era UM Iniciador, cuja iniciação se efetuava através de todos os Gurus no mundo, portanto não havia diferença entre eles e ele. Transmitia seu ensinamento e a iniciação – de modo maior – em silêncio. P. O Guru dá sua ajuda deliberadamente? R. A Graça de Guru trabalha automática e espontaneamente. O discípulo recebe exatamente o auxílio de que necessita.

P. O Senhor disse que “conviver com o Sábio e servi-lo” é só o que se requer do discípulo? R. Sim. A primeira realidade é a convivência com o imanifestado Sat, ou seja, a Existência Absoluta. Mas muito poucos são os que podem fazê-lo; eles têm tomado a segunda melhor convivência com o manifestado Sat, isto é, o Guru. A companhia com os Sábios deve ser mantida, porque os pensamentos estão sobremodo resistentes. O Sábio cuja mente fica em paz, já os tem superado. A própria proximidade do Sábio ajuda a transmitir iguais condições aos outros. Não fosse assim, não haveria sentido de procurar a companhia do Sábio. O Guru confia a cada um necessárias obrigações imperceptíveis a outrem. Essas obrigações, antes de mais nada, consistem em ficar no SER, mas também nisso está incluído o cuidado para com o Guru, dando-lhe o necessário conforto a seu corpo e ao ambiente onde mora. Além do mais, o contato direto com o Guru é necessário, contudo, significa isso o contato espiritual. Se o discípulo encontrar o Guru internamente, então, pouco importa onde estiver e para onde irá. Ficando aqui ou em qualquer outra parte, deve ter em mente que isso significa o mesmo e tem o mesmo efeito. Um Jnani não sente estar oprimido por seu corpo. Aqueles Jnanis de antanho, que viveram no corpo e escreveram Livros Sagrados, não permaneceram até hoje Jnanis? Afinal, Guru é o SER, embora esteja manifestado externamente como Guru, no baixo estágio do desenvolvimento mental. Espiritual e mentalmente desenvolvido, o homem toma Deus por seu Guru, crendo que Deus esteja em toda parte. Posteriormente, Deus o põe em contato com o Guru pessoal, cuja Graça faz com que o homem sinta que o seu SER é tanto a Realidade como o Guru. P. Pode o Guru nos presentear com a realização? R. O Guru é um auxílio muito poderoso no Caminho. Todavia, o esforço pessoal é absolutamente necessário; é tão essencial a você como olhar o sol; podem os óculos olhar o sol por você? Você mesmo tem que perceber sua verdadeira natureza. P. Não será de grande ajuda para mim um Guru competente? R. Sim. Vá trabalhando, e a luz que tiver aproveitando agora lhe ajudará a encontrar seu Guru, assim como Ele o estará procurando. “Quem quer a imortalidade física? Importa querer realizar somente uma coisa: estar no SER e tirar esse corpo fora. Por que então prolongar a vida do corpo?” Quem é que fala da Graça do Guru? Será que o Guru o segura pela mão e lhe sopra alguma coisa no ouvido? Você o imagina ser como você mesmo é. Por

estar com corpo, você julga que Ele também seja o corpo, que possa fazer algo tangível para você. Mas o trabalho que Ele faz se processa internamente. Como o Guru o aproveita? Quando o devoto orar desinteressada e generosamente, Deus, que é Imanente, em sua Graça tem piedade do devoto amante e revelase para provar-lhe que está de acordo com o pedido do devoto. O devoto acha que Ele é um homem e conta com que haja afinidade igual a dos corpos, porém o Guru, que é Deus ou SER encarnado, trabalhando de dentro da pessoa, ajuda o homem a ver seu engano e o conduz ao caminho certo, até que o discípulo conscientize por ele próprio o SER que está dentro dele. Depois de semelhante realização, ele pondera: “antes eu era tão preocupado, depois fiquei todo SER, o mesmo que dantes, embora inafetado por coisa alguma. Aonde está ele que era o sofredor? Este não mais se encontra. Como devemos agir agora? Apenas deixando as palavras do Mestre agirem. Trabalhe interiormente. O Guru está ao mesmo tempo dentro e fora. De modo que Ele cria as condições para levá-lo adentro e lhe prepara o interior para arrastá-lo ao Centro. Consequentemente, Ele o puxa de fora para dentro e dando-lhe um empurrão faz com que você se fixe no Centro. No sono você está centrado em si mesmo; logo ao acordar, no estado de vigília, sua mente corre para fora, pensando nisso, naquilo ou em qualquer coisa que lhe vier à mente. Isto deve ser posto em observação. Isso pode ser feito somente pelo agente capaz de trabalhar tanto por dentro como por fora. Pode ser ele identificado com o corpo? Avaliamos que o mundo possa ser conquistado com o nosso esforço. Quando estamos frustrados por coisas externas e somos levados para dentro de nós, sentimos que aí há Poder maior que o do homem. A existência do Supremo Poder deve ser admitida e reconhecida. O ego é como um elefante irrequieto cuja força não pode ser controlada por menos que a de um leão. Quem é ele neste caso senão o Guru. cujo olhar penetrante faz o elefante tremer e morrer? Bem sabemos que no devido tempo, quando cessamos de existir, nossa glória acaba. A fim de alcançar o estado de SER, devemo-nos entregar completamente, dizendo: “Ó Senhor, tu és meu refúgio!” O Mestre então vê que este homem, alcançou o estado em que se é digno de receber orientação, portanto, pode ser guiado por Ele. O melhor ensino é a fala de coração para coração em silêncio. P. Quando a pessoa, depois de longos esforços, atingir o conhecimento, é por seu próprio mérito ou pela ação da corrente do Espírito? R. É uma ação da Corrente. P. Clamam que a Graça de Ishwara é necessária. R. Nós somos Ishvara. Pela percepção de nós mesmos, de que somos iguais a Ele, temos Sua Graça. A própria Natureza Dele é Graça. O exemplo pessoal e a instrução são os melhores e mais eficientes auxiliares no Caminho, todavia, a prática é melhor que os livros.

P. Bhagavan facilitou o Caminho para os aspirantes, por ter-se tornado Ele mesmo um tipo de “Vicarial de Tapas”. Assim, eles não precisam sofrer agora passando pelas dificuldades que apresenta o Caminho? R. Se assim fosse, cada um facilmente teria alcançado o alvo! Cada um deve trabalhar por si mesmo. É o Poder Superior que o está guiando; faça com que você seja guiado pelo mesmo. Ele sabe o que fazer e como fazer. Confie Nele. P. Tenho eu Sua Graça e bênção? R. Por que duvida? Jnana é conquistado pelo Sat-Sanga, ou melhor, pela atmosfera dele. Entregue-se a Ele. Entregue-se sem reservas, porque, de outro modo, você está admitindo sua inabilidade e recorre ao Poder Superior para ajudá-lo, ou investigar. Vá à fonte e mergulhe no SER. Deus nunca desampara quem a Ele se entregou. P. A Graça é necessária? R. Certamente. Mas a Graça está sempre aí, todo o tempo. Ela é o próprio SER e não precisa ser conquistada. Quem percebe o SER tem poder para ajudar a outrem a olhar o “eu” dele. Ele é o real Guru e esta é a única Iniciação. P. Pode o Guru fazer com que o discípulo realize o SER pela transmissão do Seu próprio Poder a ele? R. Sim. O Guru não lhe traz a Realização; apenas erradica-lhe os obstáculos, pois o SER é sempre Realizado. P. No entanto, o homem pode-se empenhar em ensinar Seu conhecimento, por muito que seja imperfeito? R. Se fosse esse modo de seu Prarabdha Karma. O Jnani diz: “Eu sou corpo”, o Ajnani diz: “eu sou o corpo” – qual é a diferença? Só o “EU SOU” é a Verdade. O corpo é a limitação. O Ajnani limita o “Eu” ao corpo. O “eu” no sono fica afastado do corpo. O mesmo “eu” está agora também no estado de vigília. Embora o pensamento esteja dentro do corpo, o “eu” não tem corpo. A noção errada não está em dizer: “sou o corpo” e é o “eu” quem diz assim. O corpo está inanimado e não pode dizer isto. O engano reside em pensar que “eu” é como o “eu” não é. O “Eu” não pode ser o corpo inerte. Os movimentos do corpo estão sendo confundidos com “eu”-movimentos que resultam na tristeza. Quer esteja o corpo trabalhando quer não, o “EU” permanece livre e feliz. O “eu” de um Ajnani é exclusivamente o corpo. Aí jaz todo o erro. No “eu”

de um Jnani estão incluídos o corpo e tudo o que É. Alguma entidade intermediária surge e gera confusão. P. A Graça não é mais efetiva do que Abhyasa? R. O Guru simplesmente lhe ajuda na erradicação da ignorância. P. Estou impossibilitado de lhe fazer tantas visitas como eu gostaria. R. Você não precisa vir e não necessita sentir-se desanimado por causa disso. Esteja onde você estiver, não se desvie de si mesmo! P. O Senhor tem pensamentos? R. Geralmente não tenho. P. E quando o Senhor está lendo? R. Então tenho pensamentos. P. E quando alguém lhe faz perguntas? R. Então também tenho pensamentos. quando respondo, de outro modo não. P. Como posso ter uma idéia a respeito daquele real estado, sempre diante de mim? R. Por não ser capaz de ter essa simples idéia, você não está firme, porque pensa que é o corpo! A idéia de que você deve ir a Tiruvannamalai e ver Maharshi e mera função do intelecto. Não é preciso ter uma ajuda. Você já está no seu estado original; pode alguém ajudá-lo a chegar onde você já está?! A ajuda dada, realmente é para esclarecer-lhe as suas noções erradas a respeito. Grandes Homens, os Gurus podem lhe ajudar somente em erradicar os obstáculos no seu Caminho. Uma criança e um Jnani, de certo modo, se assemelham. A Criança cessa de pensar em incidentes logo após eles terem passado. Com isto demonstra que eles não deixaram impressão profunda na mente da criança. O mesmo ocorre com o Jnani. P. Os Santos Homens que vivem na longínqua selva ou nas montanhas tibetanas são de alguma utilidade para o mundo? R. Certamente. A Realização do SER é a maior ajuda que pode ser dada à Humanidade, pouco importa onde os Santos estão vivendo. P. Não carecem os Santos Homens de misturar-se com o povo a fim de trazerlhe auxílio? R. A criatura realizada não vê o mundo diferente dela mesma. A ajuda dada por ela é imperceptível, embora esteja aí operando. Um Santo ajuda toda a Humanidade, mesmo que não a conheça. O silêncio do Sábio traz à Humanidade

permanentemente o benefício e a instrução, ao passo que as palestras prendem pessoas por algumas horas, sem lhes deixarem impressão alguma. O silêncio é uma eloquência incessante. Dakshinamurti é o ideal. Ele ensinava seus Rishisdiscípulos através do silêncio. P. Mas não teria sido mais efetivo se se misturasse com eles? R. Aí não há outrem com quem se misturar. O SER é a única realidade. P. Mas, nos. tempos atuais os discípulos devem ser feitos para procurar. R. Isto é um sinal de ignorância. O Poder que o criou, criou o mundo e é também capaz de tomar conta de ambos. P. Necessito eu de um guia para ver Deus? R. Quem era seu guia para ver Bhagavan Ramana? Com orientação de quem, você vê o mundo diariamente? Exatamente como você é capaz de ver o mundo, assim também será capaz de perceber seu “SER”, se mais tarde se esforçar para isto fazer, seu próprio “SER” será o seu guia também nesta busca. P. O Guru é absolutamente necessário? R. Considere o Guru como SER real e seu SER como SER individual. Enquanto a dualidade persistir em você, o Guru será necessário. Por causa da sua identificação com o corpo, você julga que o Guru seja algum corpo e você não é nem corpo nem Guru. Esse conhecimento de que você é o SER faz com que o Guru seja conquistado por aquilo que você chama de Realização. P. Como se pode saber se o Guru é competente? R. Pela paz que a mente sente na Sua Presença, e o sentido de respeito que você sinta por Ele. P. Qual é a utilidade das pessoas como o Senhor, sentado de pernas cruzadas, quieto, nada fazendo, quando o mundo está em ebulição, transtornado por tamanhas calamidades? R. A auto-realizada Criatura não pode ajudar a beneficiar o mundo, isso porque a sua própria existência faz o maior bem ao mundo. Você imagina o Guru ser tal como você é. Por estar com o corpo, você O imagina capaz de fazer alguma coisa tangível para você. Mas o trabalho do Guru se efetua por dentro. O devoto pensa que o Guru é homem e espera entrar em contato com Ele, tal como entre os corpos. Todavia, o Guru, que é auto-encarnado, trabalha de dentro. Ele cria condições para levar você para dentro e lhe prepara o interior para puxá-lo até o Centro. Desse modo Ele dá um empurrão para dentro a fim de que você possa fixar-se no Centro. Dormindo, você está centrado por dentro e quando acorda,

sua mente desperta e corre para fora, pensando nisso, naquilo ou naquiloutro. Isso deve ser posto em observação. P. Vivekananda falou de seu Guru que transmitia espiritualidade. R. Haverá aí alguma substância a ser transferida? Transferir realmente significa erradicar no sentido de tornar-se discípulo. P. Deve o Guru ter um corpo humano? R. Por ter-se identificado com seu corpo, você levanta pergunta. Descubra se você é mesmo o corpo. O Gita diz que aqueles que não sejam capaz de compreender a Natureza Transcendental de Sri Krishna, são loucos, ludibriados pela ignorância. O Mestre aparece afim de dissipar-Ihes essa ignorância. Como Tayummanavar disse a respeito, Ele aparece para dissipar a ignorância do homem, exatamente como um veado que está sendo usado como chamariz na captura de um veado da selva. O Mestre tem que tomar o corpo para aparecer a fim de erradicar nossa ignorância, descartar a idéia de que “eu sou o corpo”. P. Por que toda essa conversa sobre os “mestres” etc. guiando os destinos do mundo? R. Não foi dito: “Querem as pessoas impedir sua mente de vadiar pelo mundo afora e fazer com que ela volte para dentro e medite?” Esta é a finalidade dos Mestres e de suas hierarquias mencionadas por teosofistas. Pelo Rishi sentado quieto num lugar longínquo, todas as coisas podem ser feitas, se ele assim o quiser. Pode provocar guerras ou pôr fim a elas. Mas ele sabe que aí se desenrola o processo cósmico e kármico de modo que Ele não quer interferir insensatamente. Como o Guru faz isso? Facilita a Realização do discípulo? O SER não é eternamente realizado? Por ficar em contato com o Sábio Realizado, o homem gradativamente perde a ignorância até que a erradique totalmente. Doravante o SER eterno se lhe revela. A Realização é eterna, não é algo novo que o Guru lhe tenha trazido novamente. Ele apenas ajuda a desarraigar a ignorância. O discípulo se entrega ao Mestre. Isso significa que aí não existe nem o vestígio da individualidade que, eventualmente, o discípulo possa conservar, e que é a causa do sofrimento. Sem compreenderem corretamente, as pessoas pensam que o Guru ensina ao discípulo “Tu és isso”, como algo que o possa fazer mais poderoso que nenhuma outra coisa. O homem já é vaidoso: como seria o caso se o mesmo “eu” lhe crescesse demasiadamente? Ele será ainda mais insensato e mais ignorante. Este falso “eu” deve perecer. Seu aniquilamento é fruto da assistência do Guru. P. Como poderia eu estar mais perto do meu Mestre?

R. Você é a personalidade? Falou o SER que o Mestre está longe daqui? P. A formação escolar faz o Sábio mais útil ao mundo? R. Mesmo o homem instruído deve se curvar diante do Sábio iletrado. A instrução é ignorância erudita. P. É possível os líderes espirituais do Este entrarem em contato com esses do Oeste? É a Índia o centro espiritual do mundo? R. O espírito não tem limites nem forma. O Centro espiritual é o mesmo. Há só um semelhante Centro. Seja no Ocidente ou no Oriente, não há diferença do Centro e não tem localidade. Sendo ilimitado, ele encerra líderes, mundo, forças construtivas e destrutivas. Você fala do contato, porque tem em mente os seres encarnados como líderes. Homens espirituais não são corpos. Eles não ficam cônscios de seus corpos. São espíritos ilimitados e sem forma. Sempre há unidade entre eles. E tais perguntas não teriam surgido se o SER fosse conscientizado. P. Os teosofistas, ao meditar, buscam os Mestres? R. O Mestre está dentro. A meditação é para afastar a ignorância de que Ele esteja fora. Se ele fosse um estrangeiro cuja vinda você estivesse esperando, seria obrigado a ir embora também. Aonde está o proveito de um hóspede como este? De qualquer modo, enquanto você pensar que é uma individualidade distinta ou o corpo, tanto o Mestre será necessário e terá o corpo. Quando a identificação errônea cessa, o Mestre será o SER. P. Baba disse que é um Avatar (encarnação). Isso é verdade? R. O que posso eu dizer? Esta é a pergunta que aqueles que buscam a Verdade não precisam levar em consideração. As pessoas que estão no baixo degrau da escada perdem sua energia completamente ao ouvirem tais perguntas. Cada um é Avatar de Deus. Quem sabe a verdade também vê cada um como a manifestação de Deus. Em cada rosto ele vê Deus. O Guru vê a todos como UM SER; para ele não há ninguém que seja ignorante. Não acha diferença entre eles e si próprio. Um Realizado não pensa nem faz projetos para o futuro. Deixa o futuro tomar conta de si mesmo. Para ele o futuro está no presente. P. Como faz o Guru-Kripa para levar o discípulo à auto-realização? R. Um principiante começa a ficar insatisfeito. Não estando contente com o mundo, procura a satisfação dos desejos alhures. Ora a Deus, sua mente se purifica, anseia por conhecer Deus mais que satisfazer seus desejos carnais. Então, a Graça de Deus começa a manifestar-se. Deus toma forma de Guru e

aparece ao devoto; ensina-lhe a Verdade, purifica-lhe a mente através de Seus ensinamentos e Sua Presença. A mente do discípulo ganha força, torna-se capaz de voltar-se para dentro; com a meditação contínua purifica ainda mais e fica silente, sem o menor murmúrio. Esta expansão é o SER. O Guru é tanto externo como interno, ambos. Do exterior Ele dá um empurrão à mente, a fim de que ela se volte para dentro; do interior Ele puxa a mente para o SER e ajuda a mente a se aquietar totalmente. Esse é o Krippa. Ai não há diferença entre Deus, Guru e SER. A ajuda do Guru é necessária e útil para iniciá-lo na Vichara. Contudo, é você que deve prosseguir a indagação. P. Por que os Mahatmas não ajudam? R. Como você sabe que Eles não ajudam? Conferências públicas, atividades físicas e ajuda material, todas elas se excedem pelo silêncio de Mahatmas. Estes executam muito mais que os outros. P. Existe uma Hierarquia espiritual entre todos os autênticos testemunhos das religiões zelando pelo bem-estar espiritual de seres humanos? R. Deixe-os estar ou deixe-os não estar. Apenas se submeta. No melhor dos casos procure conhecer Atma e faça-o real e ponderadamente. Uma pessoa talvez possa admitir tal hierarquia, uma outra não. Mas ninguém pode contradizer ou negar Atma. A Hierarquia não pode existir à parte da auto-Revelação do SER que é o único objetivo. P. O Senhor não sentiria a bofetada se alguém lha desse? Pois, para o Senhor não há diferença. Então, onde está o Jnana? R. O homem sob anestesia ou embriagado não sente a bofetada. E Ele é um Jnani? Jnana é incompatível com a sensação da bofetada. P. Fico relutante em deixar sua presença e voltar a meu longínquo lar. R. Visualize que você está sempre na minha presença. Isto lhe fará sentir-se bem.

CAPÍTULO 16

A Doutrina da Não-Casualidade Essas perguntas tais como fatalidade, livre-arbítrio e qual deles é mais forte, surgem somente para quem careça de olhar dentro da raiz de ambos. Saber a causa não significa entreter pensamentos, um sobre a fatalidade e o outro sobre o livre-arbítrio. O corpo nasce vezes e mais vezes. Identificamo-nos erradamente com o corpo, razão por que imaginamos que estamos reencarnando constantemente. Não. Pelo contrário, o que devemos é identificar-nos com o verdadeiro SER. O Homem Realizado goza de consciência inquebrantável, jamais quebrada pela morte – como pode Ele morrer? – ou pelo nascimento. Somente quem pensa “eu sou o corpo” fala de reencarnação. Para quem sabe “EU SOU O SER” não há renascimento. Reencarnações existem enquanto a ignorância subsiste. Desta feita, não há reencarnação, nem agora, nem antes nem tampouco depois. Esta é a verdade. P. Os Vedas contêm Cosmogenia. O Brahma Absoluto, dizem, criou o Akasha que posteriormente se transformou em todos os elementos do Universo. Como pode alguma coisa surgir do nada? Outrossim, questionaram Vivekananda a respeito do início do tempo; nisso ele começou a contar as grades fingindo a resposta: “Como posso eu fixar um ponto em que houve início do eternamente correndo tempo?” – e declarou ser esta pergunta ilógica. A resposta dele talvez seja lógica, mas não satisfaz a mente. R. A Cosmogenia que você mencionou não é a essência da Realidade de UM Absoluto e da irrealidade de tudo o mais. O que se ensina sobre a origem do mundo não passa de uma razão suplementar. Essas passagens são para pessoas que desejam ter uma idéia completa sobre o mundo, para quem pergunta sobre a criação e a destruição dele. Contudo, se houver aí um conflito entre o essencial ensinamento e a visão do mundo, rejeite-as e aceite a última opção. As Escrituras surgiram para que os determinados processos sejam revelados cautelosamente. Mas o espírito dela continua idêntico. As perguntas são feitas de um certo ponto de vista e as respostas são dadas do mesmo modo. As Escrituras são úteis para indicar a existência de um Alto Poder (o SER) e o meio de alcançá-lo. A essência é uma só e exclusiva delas e, quando estiver alcançada, então, tornam-se inúteis. São muito volumosas por estarem

adaptadas ao desenvolvimento do estudioso. Assim que uma lhe vier na medida, ele acha que servem de degraus conducentes à alta etapa, a porção delas (as Escrituras) que tenha porventura superada. As pessoas que não são capazes de entender a Verdade no que toca seus eternos seres, estão impacientes por saber o que haja além – céu, inferno, reencarnação etc. – Mesmo depois de terem andado por toda parte, no fim, terão de voltar a UM só e Único SER. Então por que não saber? Afinal, os outros mundos requerem o SER como espectador. A validade delas é tão-somente no mesmo grau que a dele. “No Absoluto não existe nem Criação nem Destruição. Somente quando a mente aparece, faz com que o mundo apareça. A Criação e Destruição, ambas são movimentos, porém, não no Absoluto substrato. São oriundas de Shakti e eternas.” P. Sendo sempre SAT-CHIT-ANANDA, por que Deus põe-nos em dificuldades? Por que Ele as criou? R. É Deus que faz com que venham? Diz que Ele o colocou em dificuldade? É você que o diz. Isso também está errado. Se o mundo desaparecesse não haveria ninguém para dizer que Deus o criou. ISSO que é nem mesmo fala “EU SOU”, para não haver dúvida alguma de que “eu-não-sou”. Somente em tal caso deve o homem trazer à sua memória que “EU SOU”. Caso contrário, não. Por exemplo, o homem sempre diz “sou um homem”? Isso ele não faz. Por outro lado, se alguma dúvida surgir dele ser uma vaca ou um búfalo, então terá que se lembrar de que ele não é uma, vaca nem búfalo, e sim, “eu sou um homem”. Isso nunca haverá de acontecer. O mesmo ocorre com a própria existência da pessoa e com a Realização. P. Por que o SER não se manifestou assim como este mundo miserável? R. Para que você possa buscá-lo. Seus olhos não podem ver a si mesmos. Ponha um espelho diante deles. Somente então eles se vêem no espelho. É a mesma coisa com a criação. Primeiro veja a si mesmo – depois verá o SER em todo o Universo. O Guru é ambos, um interno e um externo indicador de Caminho. Ao passo que os livros são somente externos indicadores de caminhos. Como existência interna, Ele é uma força ativa no sentido do próprio SER Superior do discípulo.

CAPÍTULO 17

A Mente Não existe uma entidade chamada mente. Por causa do aparecimento dos pensamentos conjeturamos que deve haver alguma coisa da qual eles tenham começado. Essa coisa denominamos a “Mente”. Quando sondamos para ver o que é aquilo, não encontramos nada igual a isso. Após ela ter desvanecido, encontraremos paz a ser eterna. As faculdades de raciocínio ou de discernimento são meros nomes. Sejam o ego, a mente ou o intelecto, é tudo igual. De quem é a mente? De quem é o intelecto? Do ego. O ego é real? Não. Confundimos o ego e o chamamos de intelecto ou mente. Expressar-se através de palavras não é um culto. A desnudação dos pensamentos é Jnana. Este sim, é a existência absoluta. Pessoas insistem em fazer-me perguntas de modo que eu deva lhes responder. Mas a Verdade está além das palavras. P. Como fazer parar a mente? R. Quer um ladrão pegar um ladrão? Quer a mente encontrar a si própria? A mente não pode buscar a mente. Você andava ignorando o que é Real e guardou na mente aquilo que é irreal, inclusive procurando saber o que ela é. Existia a mente enquanto você dormia? Não. Não existia. Agora ela está aqui. Por isso é impermanente. Pode a mente ser encontrada por você? A mente não é você. Por ter pensado ser a mente, por isso me pergunta de que modo examiná-la. Se ela estivesse aí agora, poderia ser examinada. Mas ela não está. Compreenda esta verdade através da busca. A busca da irrealidade é inútil. Portanto, vá procurar a Realidade, ou seja, o SER. Esse é o meio para superar a mente. Existe só uma coisa Real. As outras são meras aparências. Diversidade não é a Natureza d’Aquela. Estamos lendo as letras impressas no papel, contudo, ignoramos qual é a substância (background) dele. O mesmo se dá com você, que absorve as manifestações da mente e não toma conhecimento do fundo (background) delas. De quem é a culpa? A essência da mente é apenas o conhecimento ou a conscientização. Quando o ego, seja por que meio for, dominar a mente, ela funcionará como razoamento, pensamento abstrato ou faculdade sensorial. A Mente Cósmica, não sendo

limitada pelo ego e não tendo nada separado dela, permanece pura Consciência. E é isso que a Bíblia entende pelo “EU SOU O QUE SOU”. P. Por que o Senhor não prega à massa para que siga o caminho certo? R. Você já decidiu que eu não prego. Sabe você quem sou eu e o que é a pregação? Como sabe que eu não estou fazendo isso? A pregação consiste em subir no palco e arengar a multidão em volta? Pregação é simplesmente comunicar o conhecimento. Talvez isso possa ser feito também em silêncio. O que você está pensando de alguém ouvindo um orador durante uma hora ou mais e indo embora sem levar impressão alguma? Compare-o com outro, que sentado na santa presença e depois de algum tempo deixando-a, tem seu ponto de vista sobre a vida completamente mudado. O que é melhor? Pregar em voz alta sem impressionar o ouvinte ou silenciosamente, deixando que as forças intuitivas ajam no outro, ao captá-las? Também, como essas palavras surgem? É o imanifestado conhecimento abstrato de onde brota o ego para pensar e daí formar as palavras. Nessa ordem, a descendência das palavras que fluem é a Fonte Original da qual são bisnetos. Se a palavra pode produzir efeito, quanto mais a pregação através do silêncio? Julgue por si mesmo. O verdadeiro estado de consciência não tem conteúdo. Os psicólogos ocidentais contestam isto e afirmam que a consciência deve ter um objetivo. Eles têm toda a razão, enquanto a consciência individual e mental entrarem em jogo (sem a mente não há individualidade, pois o corpo é algo inerte), porém, não acertaram no que diz respeito à EXISTÊNCIA UNIVERSAL. Quando alguém perguntou a Maharshi “Eu suponho que o Senhor tenha vislumbrado Deus?” – Ele permaneceu em silêncio. Seus olhos fixavam um vácuo. Quando o frustrado inquiridor saiu, Maharshi explicou a seus discípulos que a resposta a semelhante pergunta seria inútil é só poderia levar a infindável diálogo. O sentido ou significado de “EU” é Deus. A vivência de “EU SOU” significa estar quieto. Mouna não significa calar a boca. É a fala eterna. Esse estado que transcende a fala e o pensamento é Mouna. P. Como consegui-lo? R. Mantendo firme alguma coisa e puxando-a para trás. O resultado da concentração é Mouna. Quando a prática se tornar natural, acabará em Mouna. A meditação sem atividade mental é Mouna. Subjugar a mente é meditação; a meditação profunda é a eterna fala. P. Como fazer tudo isso? R. A carência de sentimento de que somos o SER é a causa-raiz da dificuldade. Largue os pensamentos e simplesmente seja! Apenas seja! São os

pensamentos, os únicos que geram obstáculos. São eles que dificultam. Encontre a quem os pensamentos ocorrem; tanto quanto você pensar que o falso ser existe, fará com que ele se mostre assim, mas, encontrando de onde ele surge, logo desaparecerá. Os que descobriram a grande Verdade fizeram isso no profundo silêncio do SER. P. A dificuldade está em manter o estado sem pensamento e, forçosamente, ainda pensando em obrigações. R. O pensador é você mesmo. Deixe a ação se ajeitar de acordo. Por que ligarse às dificuldades? Quando você sai à rua, levanta os pés automaticamente e anda, sem pensar sobre isso. Assim, aos poucos, o estado se torna automático; pense, quando a necessidade surgir e deixe-a desaparecer por sua própria conta. A intuição trabalha quando o pensador não tem pensamentos, guiado pela intuição. Aqueles que fizeram grandes descobertas, fizeram-nas não quando ansiosos nelas pensaram, mas em silêncio, pela intuição. A atividade mental cessa com a resposta à pergunta dirigida a si próprio. Mesmo quando você está pensando em Deus, ainda é uma atividade e tem que abandoná-la. A pergunta do Vichara mergulha em Deus e então cessa todo pensar sobre Ele. A auto-realização consiste em fazer cessar os pensamentos, inclusive toda a atividade mental. Os pensamentos são como borbulhas na superfície do mar (SER). O falso ego se relaciona com os objetos; só o Sujeito é Realidade. O mundo é o único que é percebido pelo reflexo da luz da mente. A lua brilha refletindo a luz do sol. Ao pôr do sol, a lua é útil para que os objetos possam ser vistos. De madrugada ninguém precisa de lua, embora seja visível no céu. Assim é com a mente e Coração. A mente serve para perceber os objetos. O intelecto é um instrumento do SER, que o usa para medir a variedade. O SER o acompanha. Como poderiam surgir as manifestações do intelecto sem as suas sementes – existindo? P. Onde estão localizados a memória e o esquecimento? R. No Chitta (intelecto). Pessoas como inventores buscando novo material para suas descobertas, fazem-no no estado de auto-esquecimento. Ficam em uma condição de profunda concentração intelectual. Quando o ego ressurgir do seu esquecimento, a invenção vem sendo revelada. O esquecimento também é um meio para desenvolver a intuição. Embora uma forte concentração intelectual seja útil e

mesmo essencial em assuntos relacionados à matéria, a revelação ou a intuição leva tempo para surgir, e a pessoa deve por ela esperar. A mais valiosa coisa no oceano jaz no fundo dele. A pérola é tão pequena, uma coisa de tanto valor e de tão difícil acesso! Semelhante ao SER que é como uma pérola preciosa, mas, para achá-lo, deve-se mergulhar bem fundo no silêncio, toda vez mais e mais fundo até que seja encontrado. P. O estado de inconsciência está perto daquele do Infinito ser? R. Somente a Consciência existe. Quem conhece o SER, nada mais tem a fazer daí em diante, pois o Infinito Poder fará todas as demais ações que possam serlhe necessárias através Dele. O homem não tem mais pensamentos. Durante a meditação, que está sendo dirigida para o SER, os pensamentos agora morrem automaticamente. A meditação pode ser dirigida aos diferentes objetos, mas quando estiver dirigida para o verdadeiro SER, significa estar fixada no mais alto objeto, ou melhor, o Sujeito. Os pensamentos são os nossos inimigos. Estando livres de pensamentos, ficamos no estado de bem-aventurança naturalmente. O vácuo entre os dois pensamentos é o nosso verdadeiro estado, este é o real SER. Afaste os pensamentos! Esteja vazio deles, fique no estado de perpétuo não pensar. Então, passará a ser conscientemente Auto-Existente. Pensamentos, desejos e todas as qualidades são alienígenas à nossa verdadeira natureza. O Ocidente pode homenagear o homem por ser grande pensador. Mas o que ele é? A verdadeira grandeza, pois, está em ficar livre de pensamentos! A verdadeira resposta à pergunta “Que sou eu” não vem em pensamentos. Pois, então, todos os pensamentos cessam – mesmo o próprio pensador desaparece. Sejamos em nossa natureza! Assim, precisaremos buscar algo mais? Quando conhecermos a nós mesmos, os pensamentos e desejos não mais irão nos incomodar. Esse não é o nosso verdadeiro estado. Não temos de ir em busca de nossos próprios seres, e sim, simplesmente SER nós mesmos. Isto para sermos como verdadeiramente somos – livres de pensamentos e do egoísmo. Para alcançar esta Auto-Realização, os meios são: (a) a mente deve estar afastada de seus objetos, a percepção objetiva do mundo deve cessar; (b) as operações internas da mente também devem terminar; (c) assim, a mente deve se submeter e continuar a despersonalizar-se a fim de perder sua índole finalmente; (d) deve continuar a ficar no puro Vichara. Silêncio é a fala interminável. Palavras impedem a fala silente. Pensamentos são as predisposições acumuladas de inúmeros nascimentos anteriores. O aniquilamento deles deve tornar-se o nosso objetivo. Estar livre deles significa Pureza. O homem fica desanimado por misturar o ser consciente

com o corpo inanimado; este desânimo deve cessar. O sempre-presente SER não precisa de esforços para se revelar. Mas antes o desânimo deve ser desarraigado. P. Então, os pensamentos não são reais? R. Isso mesmo. Quando a cânfora queima, não deixa resíduos. A mente é como a cânfora. Quando se tiver absorvido no SER, não deixará o menor vestígio do ego. É a Realização. A mente está abarrotada de pensamentos, embora tenha sua origem na Consciência ou SER. Os pensamentos não são reais; a única realidade é SER. O eternamente paciente fundo (background) livre de pensamentos e cuja expansão também é destituída de pensamentos é o SER. A Mente, em sua pureza, é SER. O que você chama de mente é uma ilusão. Surge depois do “eu-pensamento” surgir. A mente é apenas mero feixe de pensamentos. Os pensamentos têm sua raiz no “pensamento-eu”. Você não consegue, sem os densos ou sutis sentidos, estar cônscio do corpo ou da mente. Embora possa ficar sem estes sentidos. Nesse estado, somente você pode estar ou adormecido ou cônscio do SER; visto que esta conscientização do SER é sempre presente. Fique como você é e as perguntas não lhe surgirão para atormentá-lo. Isso que está além do ego é a CONSCIÊNCIA, o SER. No sono, a mente passa a ser neutra, não destruída. O que passou a ser neutro (Laya) reaparece. Mas a mente, sendo destruída, não pode reaparecer. O objetivo deve ser a destruição e não Laya. Na paz da meditação, embora Laya possa ocorrer, não é suficiente. A destruição está no não-reconhecimento da mente como separada do SER. Mesmo agora, a mente não está. Reconheça isso! P. Não há nada para ser percebido dentro do Real? R. Por ter-se acostumado a identificar-se com o corpo e a olhar com os olhos, você diz que nada percebe. O que há aqui para ser visto? Que é que vê? De que modo olhar? Aí há somente consciência, que, manifestando-se como “pensamento-eu”, identifica-se com o corpo e, projetando-se através dos olhos, percebe os objetos circundantes. O individual está sendo limitado ao estado de vigília e espera ver alguma coisa diferente. A evidência de seus sentidos será o marco de autoridade. Mas dessa maneira o mundo não admitirá o observador; o olhar e o visto são as manifestações da mesma Consciência ou seja “EU-EU”. Dhyana auxilia a afastar a ilusão de que o SER deve ser perceptível. O sentimento “eu” está sempre presente no conhecimento. O conhecimento subtende algum resultado das impressões deixadas na consciência da pessoa.

Na verdade, aí não há nada perceptível. Que nome você daria ao “eu” agora? Colocaria um espelho diante de si para conhecer seu próprio SER? A conscientização é “EU”. Compreenda isso, pois, isto é a verdade. P. Deveríamos pensar que não somos o ego? R. No sono profundo não pensamos, simplesmente somos; assim, no estado de vigília também podemos viver sem pensamento – em nossa realidade – e o nosso Ser neste estado é absolutamente feliz. É o pensamento que faz o ego. Ego é apenas um pensamento que nos acompanha. Fiquemos sem pensamentos: a fonte dos pensamentos está dentro de nós, portanto, se começarmos a nos observar, descobriremos nossa real natureza. Não é pelo mero pensamento que você pode livrar-se do ego, e sim, pela vivência. Não imagine que o estado sem pensamento é semelhante ao sono profundo, transe, desmaio etc. Não é parecido à Realização, faz apenas repelir os pensamentos. Seja você a Realidade e não perca tempo mantendo e repetindo “eu sou Brahma” milhares de vezes oralmente. O ego deve ir à procura da fonte de sua própria Realidade. P. Como se pode fazer para que a mente nos deixe? R. Não tente destruí-la. Pensar ou desejar é, em si, um pensamento. Quando o pensador estiver visado, os pensamentos sumirão. P. Desaparecerão por si próprios? Parece tão difícil. R. Vão sumir porque são irreais. A idéia da dificuldade é, em si, um obstáculo à Realização. Isto deve ser superado. Ficar como o SER, não é difícil. Esse pensar em dificuldade é o principal obstáculo. Um pouco de prática para descobrir a fonte fará com que você mude de idéia. Absolutamente livre dos pensamentos é um estado conducente ao tal reconhecimento do SER. A mente nada é senão um agregado de pensamentos. Alguns Jnanis são capazes de adquirir a invisibilidade e a intangibilidade do corpo conhecidos como Siddhas. São como Shiva e podem até conceder favores. Porém, não há poderes que possam se igualar aos de auto-Realização. Pessoas, não estando satisfeitas com a idéia que fazem sobre o Jnana, querem Siddhas no seu cortejo. Visam somente o corpo. Vivem provavelmente cheios de promessas para negligenciar assim a suprema felicidade de Jnana e, em vez de seguirem o régio Caminho de Jnana, vão pelos caminhos nos quais se perdem. Jnana abrange tudo e um Jnani não quer gastar um pensamento sequer nos poderes ocultos. A linguagem é apenas um meio de comunicação de pensamentos transmitidos através de um para outro. É uma chamada dentro de um, depois de lhe surgirem os pensamentos; fazem-no após o “pensamento-eu”. O “eu”-pensamento é a raiz

de todas as conversações. Um compreende o outro através da linguagem universal quando um fica sem pensamento. Silêncio é uma eterna linguagem; é perene; fica ininterrompido pela conversa. As palavras obstruem esta mútua troca de idéias. A corrente de eletricidade escoa pelo fio. Quando a resistência ocorre na sua passagem, brilha como lâmpada acesa ou gira como ventilador, ficando cheia de energia elétrica. Igual ao silêncio que é o eterno fluir da linguagem, obstruído pelas palavras. Quando um falha em saber do outro através da conversação interrompida por alguns anos, ele pode conhecer em dois tempos, em silêncio, ou antes do silêncio. Por exemplo, Dakshinamurti e seus discípulos. Esta é a mais alta e a mais efetiva linguagem. Os poderes ocultos ficam no reino da mente. Por exemplo, a telepatia. Qual é a diferença entre ouvir de longe ou de perto? A telepatia não pode existir sem o receptor, tanto como a clarividência não pode existir sem o vidente. É apenas disso que se trata. Sem o receptor não pode haver telepatia, sem o vidente, a visão. Telepatia e rádio, ambos são igualmente capacitados para ver e ouvir de longe. Eles têm o mesmo ouvido e a mesma visão. Não fazem nenhuma diferença com relação à função. O fator fundamental é o ouvinte – Sujeito. Sem ele não pode haver nem ouvinte, nem vidente. Esses últimos são as funções da mente. Os poderes estão exclusivamente na mente. Eles não são naturais ao SER. Aquilo que não é natural, mas adquirido, não pode ser eterno. Não vale a pena neles se empenhar. Quando o possuidor de limitados poderes é infeliz, ele procura expandir seus poderes para ser feliz! Mas considere, será ele aquilo que quer? Com as percepções limitadas, ele sente-se miserável. Sua mesquinhez deve diminuir à proporção de lhe aumentarem as percepções. Os poderes ocultos não lhe trarão felicidade. Além do mais, para que servem eles? Para fazer os outros respeitarem seu ego! Deus, SER, é o maior Poder e é o mais valioso a procurar. Aquilo que resulta em Paz é o maior poder oculto. P. O SER tem esquecido sua verdadeira natureza? R. Ambos, o esquecimento e a memória são apenas formas-pensamentos. Querem revezar-se enquanto são pensamentos. Memória e esquecimento dependem do “eu” que, quando se olha para ele, não se acha, porque é irreal. Essas verdades não são conscientizadas porque os Samskaras não foram destruídos. As raízes das dúvidas e confusões são Samskaras, que devem ser cortadas. Esse corte é feito em seguida à prática, prescrita pelo Guru. O Guru deixa o discípulo fazer sua parte, para que descubra a Verdade por si mesmo. A prática torna as sementes de Vasanas sem efeito. P. Por que Maharshi não ajuda as massas, proferindo-Ihes palestras? R. Deus não está trabalhando? Faz Ele palestras? Pode o trabalho ser feito exclusivamente através da palestra? Sabe você a quantidade de trabalho que pode ser feito silenciosamente, sem nenhuma palestra?

Observa a mente. Mantenha-se distante dela. Você não é a mente; o SER permanecerá do princípio ao fim.

CAPÍTULO 18

A Realidade Suprema Este Caminho (Atma-Vichara) é caminho direto; todos os outros são indiretos. O primeiro leva ao SER, os outros alhures. E mesmo se os outros chegassem ao SER, seria unicamente por causa de terem, por fim, levado ao primeiro caminho, que acaba por conduzir direto ao alvo. Assim, os aspirantes, no final, devem seguir o primeiro. Por que, então, não fazer isso agora? Por que perder tempo? P. Então, tudo se resume em que devo sempre olhar para dentro? R. Sim. P. Deveria eu absolutamente não olhar o mundo? R. Você não está ensinado a fechar seus olhos para o mundo. Se você se considera o corpo, o mundo lhe aparece exteriormente, mas se você é o SER, o mundo lhe aparece como Brahma. P. Bhagavad Gita postula que os mundos são como contas enfiadas no rosário. Por quê? R. Krishna afirmou que eles não estão separados de MIM. As diferenças aparecem fisicamente, por isso Gita põe em ênfase a Unidade. P. A dificuldade fica em buscá-la. R. Não se trata de buscá-la, sendo eterna. Se o SER tivesse que ser conquistado novamente, não seria eterno. P. De que modo devo buscar o SER? R. Não se há de buscar o SER. Se o SER devesse ser buscado, significaria que Ele não está aqui e agora, mas teria que ser adquirido de novo. O que é adquirido outra vez, também poderá estar perdido. Assim, desse modo, será impermanente. O que é impermanente, não merece esforço para ser conquistado. Assim, eu digo, o SER não é para ser procurado. Você é o SER! Você já é ISSO. O fato é que você ignora seu estado de beatitude. A ignorância sobrevém e põe um véu em cima do puro gozo. Os esforços estão sendo dirigidos exclusivamente à remoção da ignorância. Esta ignorância é apenas o conhecimento errôneo. O errado reside na falsa identificação do SER com o

corpo, a mente etc. A falsa identidade deve desaparecer pela indagação sobre o SER, para que Este apareça. Ele é além da dualidade. Estando UM, forçosamente aí será também dois. Sem um, não há outros números. A Verdade não é nem uma nem duas. É como ela é. Seja sempre ponderado e sinta dentro de si o SER Real. Seja ISSO. Esteja intimamente ligado a Ele! Esteja constante em Vichara, mantendo-o, até que pegue o SER e encontre a felicidade eterna. P. Como se libertar do Maya? R. Não se preocupe com a conquista do Maya. Fique no seu verdadeiro estado e Maya vai desaparecer por si próprio. Se você tentar conquistar Maya, este o levará a passar muitas dificuldades. Simplesmente seja! Se ainda tem conservado alguns estranhos pensamentos, descubra quem os tem. Mas, de qualquer modo, quer você pense que seja o Real SER, quer não, você é sempre ISSO. Para tão simples coisa, patente como auto-realização, há tamanha dificuldade, tanta aflição e tantos Yogas! Por Quê? Você é o Real SER. Como poderia ser diferente d’ÍSSO? P. Somos ignorantes. Ensine-nos o Caminho para atravessar o oceano da ilusão. R. Maharshi não respondeu. Meia hora depois o visitante reiterou sua pergunta. Maharshi falou: “Você disse saber que é ignorante. Deveras! Você é sabedor de tudo. E ainda diz que não sabe. Se tivermos o conhecimento de UM, saberemos de todos os inúmeros deuses. A consciência do SER é estado normal, enquanto que a nossa dificuldade presente é o estado anormal. Imaginamos que temos de desenvolver-nos ao estado perfeito, quando já nele estamos agora; apenas temo-lo encoberto com acréscimos de coisas externas e pensamentos. A gente fala para atingir a superconsciência, É errado. SER é a nossa consciência normal. Imaginamos que devemos nos desenvolver a fim de alcançá-la, mas estamos nela o tempo todo, somente a nossa atenção está afastada disso voltada ao intelecto e aos objetos. Nada que tenha de ser alcançado é Verdade, não é a Realidade. Já somos a Realidade, a Verdade. Cheguei aqui sem saber por que; eu estava literalmente “encantado” por aqui. Mas quando alguém realiza o Observador, não há mais nada a ser visto, nem outro lugar a visitar. Observador, objeto visto e o ato de olhar, tudo isto agora mergulhou no UM – a essência de tudo.

O estado de Realização é como uma reta da estrada preferencial. O intelecto e os sentidos são uma selva. Todos estamos conjeturando como sair da selva. Difícil se torna chegar à estrada principal, quando estamos perdidos na selva. No entanto, uma vez à estrada chegando, a caminhada é fácil e não exige esforços. E por isso afirmo que a conscientização de que somos o SER é fácil. P. E quanto à criatura sentada em silêncio, meditando no SER e cujo poder é capaz de influenciar outrem, conforme o Senhor falou, estas Forças são mesmo capazes de transcender as paixões e assentar os excitados pensamentos da maioria das pessoas? R. Sim. É o Alto Poder que transcende tudo mais. Não há sequência de tempo dentro do verdadeiro desenvolvimento espiritual. Você é espiritual aqui e agora. Não se engane a si mesmo, não se deixe apanhar na armadilha mental de planos, graus de evolução estados de ser etc. Não se deixe afagar com esses falsos e limitados informes! Você é um SER espiritual. Seja ISSO! Essa idéia de que você deve ENCONTRAR a si próprio é uma idéia absurda. O que há aí para encontrar? De acordo com isto, deduzimos que haja duas pessoas – uma procurando a outra. Embora você seja o verdadeiro SER, identifica-se erradamente com o ego (Ahankara) e o corpo. Falamos em alcançar o SER, em buscar Deus com o tempo. Não há nada aí para se encontrar, pois, já somos AUTO-EXISTENTES. Nem haverá tempo algum em que possamos estar mais perto de Deus que agora. Agora e sempre somos o Bem-Aventurado, o Auto-Existente, o Infinito SER. Nossa consciência continua sendo inquebrantável e eterna. Tudo o mais é Maya, a auto-hipnose que faz com que imaginemos que agora somos diferentes. Desipnotize-se! É o ego (Ahankara) que engana a si mesmo de que haja dois seres: um de que estamos cônscios agora (a pessoa) e outro, o superior, o Divino do qual um dia tornar-nos-emos cônscios. É falso. Há somente um SER e é plenamente consciente agora e sempre. Para Ele não existe nem passado, nem presente, nem futuro, porque É além do Tempo. Sem o Infinito Poder, Deus, o verdadeiro SER, esse incenso não se queimará, este mundo não existirá. Esse SER está em todas as formas. Só Ele faz com que estas sejam reais. Desde então, o Homem Iluminado se encontra nos outros, por ter finalmente encontrado a Unidade, e não mais percebe a pluralidade. O Universo existe dentro do SER. Não é apenas por isso que é Real, mas porque recebe essa realidade do SER. Chamam-no de irreal para indicar sua aparência transitória, suas transformações e formas passageiras; ao passo que chamamos o SER – Real, porque Ele é imutável. Depois da realização, o corpo e tudo o mais não irão aparecer diferente do SER.

O conhecimento subentende algum resultado das impressões deixadas na consciência da pessoa. Ishvara, Deus, o Criador – Deus Pessoal é a última das formas irreais para esvanecer, visto que só o Absoluto SER é Real. Daí em diante, não somente o mundo, não somente o ego, mas inclusive Deus Pessoal, são de irrealidade. Cabe a nós encontrar o Absoluto – nada menos. Enquanto os homens considerarem a si mesmos como corpos, ignorando a sua verdadeira natureza como Espírito dentro deles, naturalmente cairão no erro em considerar Deus Supremo como tendo forma. A Realização cura ambos. P. O Absoluto conhece a si mesmo? R. O Sempre Consciente está além do conhecimento e da ignorância; sua pergunta subentende sujeito e objeto, mas o Absoluto está além de ambos. Ele é o próprio Conhecimento. P. Eu sustento que o corpo físico do homem imerso em Samadhi como resultado de ininterrupta contemplação no SER, não precisa ficar parado por causa disso. Ele pode estar tanto ativo como inativo. Um outro homem, no entanto, afirma que as atividades físicas certamente impedem Nirvikalpa Samadhi, ou seja, a contemplação ininterrupta. Qual é a Sua opinião? R. Vocês dois estão certos. Você refere-se a Sahaja Nirvikalpa. Em um caso, a mente fica menos imersa na Luz do SER; o sujeito discrimina um Samadhi do outro – emocionado, volta do Samadhi e recomeça suas atividades costumeiras. Longe ficaram a inquietação do corpo, o deleite da força vital e da mente, a noção dos objetos e a atividade, coisas que impedem o Samadhi. Porém, no Sahaja, a mente, estando dissolvida no SER, fica perdida. As diferenças e os impedimentos mencionados acima, em Sahaja porém não existem. As atividades de uma tal criatura são como alimentar uma criança dormindo, embora perceptível a um espectador mas não à própria criança (sujeito). O motorista que adormece ao guiar seu carro, não está consciente do movimento do carro, porque a sua mente ficou mergulhada na escuridão. Igualmente em Sahaja, o Jnani permanece inciente das atividades de seu corpo, porque sua mente está morta – tendo estado dissolvida no êxtase de Chitananda (SER). (As duas palavras – contemplação e Samadhi – têm sido livremente usadas no assunto. A contemplação é um processo de força mental, enquanto que Samadhi está além do esforço.)

Paz é a íntima natureza do homem. Se você a encontrar dentro de si, então a encontrará em toda a parte. A paz que você sentiu em sua vivência espiritual temporária, é por estar ela dentro do seu SER, não foi tirada de você. Tempo virá em que teremos de rir de nossos próprios esforços para conscientizar isso; por termos percebido que o que éramos antes e seremos depois, é o mesmo. P. Como fazer para livrar-se do medo? R. Todo medo nada mais é senão pensamentos. Se aí existisse somente UM, não poderia haver um segundo (quem está com medo de). Se olhássemos para o nosso SER, então não haveria o outro para ser temido. A causa do medo está em pensar que haja alguma coisa além de nós mesmos. Todavia, estando firmemente enraizados na nossa própria realidade, o medo não existirá, nem dúvida nem tampouco qualidades indesejáveis como todas essas últimas que, estando centradas no ego, nos rodeiam. O estado de equanimidade é o estado de beatitude. A Realização já está consumada. O estado, livre de pensamentos, é o real estado. Não existe ação semelhante à Realização. Há alguém que não tenha realizado o SER? Não há ninguém que negue sua existência. Então, como é que não conhecemos nosso próprio SER? São os pensamentos que se interpõem na nossa felicidade. Como sabemos que existimos? Se você responder que é por causa do mundo em volta de nós, então como sabe que você existe no sono? P. Que é a libertação? R. É saber que você não nasceu. Esteja quieto e saiba que EU SOU DEUS! Estar quieto significa não pensar. Temos perdido de vista aquilo que nos mantém. Volte para dentro. Se perceber aí a fonte da mente, os pensamentos irão esvanecer-se, deixando o SER atrás.

Você torna-se. consciente disso depois, contudo isso não significa que a sua natureza ficou diferente depois da meditação, mesmo agora. Quietude ou paz é a realização. Não há um momento em que o SER não seja. Tanto quanto houver dúvida ou o sentimento de não-realização, o esforço deve ser feito com objetivo de afastar-se desses pensamentos. Pensamentos vêm por causa da identificação do SER com o não-ser. Quando o não-ser desaparece, fica somente o SER. Dar-lhes lugar é suficiente, melhor que paralisar ou remover-lhes as câimbras. O espaço não os traz de novo. Nem tampouco o espaço que está ainda em câimbras. A ausência do pensamento não significa o branco. Aí deve haver alguém que conheça o branco. Conhecimento e ignorância vêm da mente; não nascem da dualidade. Mas o SER está além do conhecimento e da ignorância. É Autoluminoso. Aí não se há de olhar o SER com o outro SER. Não existem dois seres. O que é o não-ser é simplesmente não-ser. O não-ser não pode perceber o SER. Aí não existem visão ou audição. SER permanece além – todo UNO como pura CONSCIÊNCIA. Assim como uma mulher, que tendo um colar em volta do seu pescoço, imagina tê-lo perdido; vai à procura dele, e até que os amigos não lho lembrassem, estava criando sua ansiedade e, posteriormente, sua alegria, por não o ter perdido. O SER fica sempre o mesmo, quer você O procure, quer não. Outrossim, é exatamente como a mulher que sente alegria por ter recuperado o colar perdido, assim também a remoção da ignorância e o findar da falsa identificação trazem felicidade por revelarem o SER, eternamente existente. A isso chamam Realização. Mas a Realização não é nova. Ela trata de eliminar a ignorância, nada mais. A mente é má em procurar a brancura. A mente deve ser riscada da existência. Veja quem é o pensador, quem é que busca. Sujeite-se como pensador, como quem busca. Todos os pensamentos desaparecerão. Esse ego se torna puro ego quando purificado de pensamentos. É igual ao SER. Enquanto a falsa identificação persistir, dúvidas persistirão também; perguntas surgirão e não haverá fim para elas. Dúvidas cessarão somente quando o nãoser também findar. Isso resultará em realização. Não haverá então ninguém aí para duvidar ou perguntar. Todas essas dúvidas deverão estar dissolvidas de dentro. Então, nem o amontoado de palavras satisfarão. Segure o pensador; quando o pensador não se mantém quieto, os objetos aparecem e as dúvidas surgem. P. De que modo Deus pode ser visto? R. Dentro. Quando a mente se volta para dentro, Deus se revela no âmago da consciência. P. Mas Deus não está em todos os objetos que vemos em volta?

R. Deus está em tudo e também no observador. Onde Deus pode ser visto? Não pode ser visto fora. O observador deve senti-Lo dentro de si. Para ver os objetos, a mente é necessária, mas perceber Deus neles é apenas mera concepção mental. Isso não é real. A consciência dentro, que purifica a mente, faz com que se a sinta como se se sentisse Deus. P. Se eu sou infinito, como tornei-me finito? R. Analise suas palavras. Você começa com “eu”. Primeiro, conheça esse “eu”. Se a pergunta depois persistir, pode ser considerada, mas não antes. O Ser está aqui e agora. Não é inédito e nem é alguma coisa para ser adquirida. É natural e permanente. O termo “SER” se refere ao Ilimitado, ao Infinito SER; não limite o sentido! P. Por que há sofrimento e maldade no mundo? R. Vontade de Deus. P. Por quê? R. Inescrutável. Nenhum motivo pode ser atribuído a esse Poder, nenhum desejo, nenhum objetivo pode ser asseverado a esse Onisciente, TodoPoderoso SER. Deus, como o sol, é intocável pelas atividades que se desenrolam na Sua Presença. Se a mente fica insatisfeita ou não está de acordo com o correr dos eventos, uma boa solução seria aceitar a Vontade do Supremo como solução; portanto, sábio seria deixar o sentido de responsabilidade e o livre-arbítrio, observando a nós mesmos como instrumentos de Deus – fazer e sofrer, se assim lhe agrada. Shiva, Ganapati e outras Deidades como Brahma, existem do ponto de vista humano, isto é, se você considera seu ser pessoal real e existente, então, Eles também existem. Assim como um Governo que tem seus altos funcionários executivos para tomarem conta do Governo, assim também o Criador os tem; porém, do ponto de vista do Supremo Absoluto SER, todos esses deuses são ilusórios e a maioria deles deve imergir dentro de Uma Realidade. Paramatma e Atma são um e o mesmo SER. Se Ele não fosse eterno, deveria ter um início. O SER é eternamente Realizado. O que começa deve ter fim, e é somente transitório. Não se há de buscar uma condição temporária. O fato é que haja o estado de Paz Atenta sem esforço. Sem esforço enquanto se esteja cônscio de que esse é o estado de Beatitude. P. O Senhor disse que mesmo o mais alto Deus é ainda apenas uma idéia. Isto significa que não haja Deus? R. Não; aí há um Ishwara.

A sede da realização fica dentro, porque quem a busca não vai procurá-la como um objeto externo, de fora. Essa sede é a Felicidade e o Âmago de tudo. Por isso é chamada de Coração. O único e legítimo propósito deste nascimento é voltar-se para dentro e conhecer a si mesmo. Além disso, não há mais nada a fazer. P. Por que Krishna falou sobre a evolução? O Bhagavan acredita na evolução? R. A evolução deve se passar de um estado para outro. Quando as diferenças não estão sendo admitidas, como poderia ter surgido evolução? Onde está o início de Gita? Portanto, não há nascimento, nem morte, nem presente do modo como você os vê. Realidade era, é e será. Esta é imutável. Posteriormente, Arjuna perguntou a Krishna como podia ele ter vivido antes de Vivasvat? Então Krishna, achando que Arjuna o confundiu com o corpo denso, lhe falou consequentemente. A instrução então era ministrada àquele que via a diversidade. Portanto, do ponto de vista do Jnani, não há libertação ou escravidão para ele ou para os outros. Poderia ter havido se houvesse escravidão. Realmente, não houve escravidão, de modo que, o que segue, não é libertação. Isto não é questão de anos. Afaste tal pensamento já, neste instante. Esteja apenas no seu natural estado, quer pratique o Yoga, quer não. P. Por que então, neste caso, todos não se realizam? R. É a mesma pergunta em outra forma. Por que você levantou essa questão? Em último caso, como você já fez esta pergunta sobre o esforço em Yoga, isso demonstra que você precisa dele. Faça isso. Mas fique sem perguntas e dúvidas; e este é o estado natural. SER não é alcançável porque você é o SER. O esquecimento jamais toca o SER. É a sua natureza. SER está agora confundido com o não-ser, e é isso que lhe faz falar do esquecimento. Se a pergunta for feita quando a mente toma parte, será considerada não feita. Esse é o controle da mente. E, pelo contrário, se a mente for considerada existente e alguém procurar controlá-la, disso resultará que a mente esteja controlando a mente. Seguindo o mesmo raciocínio, a mente apenas persiste, mas não engana a si mesma. P. Por que há imperfeição dentro da Perfeição? R. Para quem a relatividade existe? Para quem está a imperfeição? O Absoluto não é imperfeito. Poderia o Absoluto dizer-lhe que Ele esteja encoberto? É a alma individual que diz que alguma coisa encobre o Absoluto. P. Muitos termos estão sendo usados nos Livros Sagrados – Atman, Paramatman, Para etc, Qual é a diferença entre eles?

R. Significam o mesmo para quem os usa como palavras, embora sejam compreendidas diferentemente pelas pessoas de acordo com o desenvolvimento delas. P. Mas por que usar tantas palavras para designar a mesma coisa? R. De acordo com as circunstâncias. Todas elas significam o SER. “Para” significa “não relativo”, ou seja, o Absoluto. P. Bhakti não envolve a dualidade? R. Bhakti e auto-realização são o mesmo. O SER para os Advaitas é Deus para os Bhaktas. Exatamente como o corpo individual compreende a alma, o ego e o corpo denso, também Deus compreende Paratma, mundo e criaturas individuais. Sendo o SER, por que se continua a implorar pela felicidade? Estar livre dessa súplica já, em si, é salvação. As Escrituras dizem: “Você é ISSO”. O importante desse conhecimento é o próprio objetivo delas. A realização deve implicar a descoberta do que você é e tal como esse “EU” é, ficar. Falar “Eu sou isso e não aquilo” é mera perda de tempo. Para um discípulo atento, o trabalho se processa dentro dele e não fora. Estando em Tiruvannamalai, se alguém lhe perguntar o caminho até lá, é ridículo. Assim também, sendo o SER, se alguém lhe perguntar como realizá-Lo, é ridículo. Fique no SER. Isso é tudo. O “Eu” é a base fundamental, cujo conhecimento faz com que todo o resto seja conhecido. P. Por que há tantos deuses mencionados? R. O corpo é somente um. Todavia, quantas funções estão sendo desempenhadas por ele? A fonte de todas as funções é somente uma. O mesmo ocorre com os Deuses. P. Como posso lembrar-me do meu SER real? O que o Senhor disse é para as pessoas em condição igual ao próprio Maharshi. R. Como pode você esquecê-Lo? O quê? Maharshi é diferente de você? Ele não é pessoa com dois cornos. Seja o que for que aconteça com seu corpo, o SER continua do começo ao fim. P. Como é o SER? R. Conheça o SER e conhecerá Deus. De todas as definições de DEUS, nenhuma é tão bem definida como o bíblico “EU SOU QUEM SOU”, em Êxodo, III. Mas nenhuma é tão direta como o nome de – JEHOVA – “EU SOU”. O Absoluto É. ISSO é SER, DEUS.

P. Convença-me da existência de Deus. R. A realização do SER supera qualquer tentativa de convicção. Para quem busca ajuda – Ei-la: Eu sou Atma: Atma é Guru, e Atma também é Graça. Ninguém pode estar sem Atma. Ele está sempre em contato; nada é mais íntimo. O corpo não “sou eu”. O corpo não pode existir sem a nossa própria existência. Por que devíamos olhar o corpo diferente do SER? O SER não nasce nem morre. Aí não há nada novo. Os Sábios vêem todas as coisas no Ser e do SER. Aí não há diversidade. Consequentemente, não há nascimento ou morte. Conceder Graça não é função especial de Deus; nem tampouco há algum tempo especial ou ocasião em que Ele concede Sua Graça, ou ocasiões em que Ele não a concede. P. Deus é pessoal? R. Sim. Deus é sempre a primeira pessoa antes de tu. Devemos deixar todas as coisas e fazer Deus estar só Munnilai (trad.: ficar antes de). P. Nenhuma resposta me vem para minha busca interna. R. A própria pessoa que busca é a resposta e não há outra resposta a ser dada. O que vem pode não ser verdade. O que É, é Verdade, O homem, estando em sua própria natureza, não pode ajudar. Ele tem que, primeiro, conhecê-la. P. Como a Consciência do “EU-EU” é sentida? R. Como uma conscientização ininterrupta do “Eu”. É uma simples consciência. Você é isso, mesmo agora. Aí não haverá o engano, quando pura. P. Pode essa Consciência proporcionar algum prazer? R. Sua natureza é prazer. É somente prazer. Aí não há pessoa para o gozo do prazer; a pessoa que sente gozo e o próprio prazer, ambos nela mergulham. Prazer se recolhe dentro de si e segura a mente. A dor é mandada para fora. À ausência do prazer chamam dor. Nossa natureza é prazer, ou seja, a beatitude. Não existe uma alma que não anseie pela Realização, que, embora seja posterior, está sempre presente. Nega você a si próprio? Não. Então, o SER existe! Mas é somente o ego que você busca. No Yoga Vasishta está escrito que o que é real está oculto de nós, mas aquilo que é falso, é revelado como sendo Verdade. Temos agora experimentado pura

Realidade e, mesmo assim, não a conhecemos. Isso não é uma maravilha das maravilhas? P. Como livrar-se do medo? R. O que é medo? É apenas um pensamento. Quando nada houver além do SER, não haverá razão para ter medo. Quem vê o segundo? O ego surge primeiro e vê o objeto. Se o ego não estivesse aí, o SER somente ficaria – e não haveria o segundo. A ninguém coisa alguma se exterioriza, pois, a fonte é interna. Ao encontrá-la, não existirá dúvida, nem medo, nem todos os outros pensamentos no ego centrados, rodeando-o. Eles desaparecem junto com o ego. Fraquezas e forças estão na mente. O SER está além da mente. P. É necessário deixar os desejos mundanos? R. Por que desejamos? Descubra. Se não encontrar a real felicidade, é porque sua mente aí estará e através das tendências subconscientes poderá tentá-lo a desejar, contudo, você não transigirá. Por que você quer uma vida livre? Pelo fato de ansiar pela liberdade, você admite estar vivendo escravizado. Mas, realmente, você é sempre livre. Conheça esse SER e deseje sumir espontaneamente. Junte todos os pensamentos, desejos e fracassos num ponto no seu íntimo: Isso é Realização. A mente tem que ficar quieta. Como o zumbido de uma abelha ruidosa em volta da flor procurando mel, cessa de zumbir logo que se tenha saciado, segue seu vôo em silente quietude. Assim é com a alma do homem, procurando saciar seus desejos com verdadeiro mel. P. Se alguém desejar chegar mais depressa à meta, como fazê-lo? R. Tempo é um conceito da mente. A meta sempre existe. Isso não é alguma coisa para ser novamente descoberta. O Absoluto é a nossa natureza. O problema aparece, porque você está limitando a si próprio. P. O Senhor está certo de que seus esforços sejam bem sucedidos? R. A Realização está em nossa natureza. Não é nada novo para ser ganho. O que é novo não pode ser eterno, portanto, não há necessidade para duvidar se alguém quiser perder ou ganhar o SER. P. Quanto tempo será preciso para conquistar Chintamani, a gema celestial, que atende todos os desejos de quem a possui? R. O exemplo de Chintamani se encontra em “Yoga Vasishta”. Chintamani significa Natureza Real do SER. A estória é a seguinte: um homem estava fazendo Tapasya para ganhar Chintami. Uma gema misteriosamente lhe caiu nas mãos. Estava pensando que isso não poderia ter sido Chintamani, porque seus esforços eram recentes e tão pequenos para ele ganhar uma gema dessa. Descartou essa idéia e continuou a fazer seus Tapas. Pouco depois, um Sadhu,

pôs-se diante dele, tomando forma de uma brilhante pedrinha. O homem ficou desapontado com essa aparência e achou que esta não poderia lhe preencher os desejos que almejava. Assim também o SER, sendo inerente ao homem, não poderia ser encontrado em nenhum outro lugar. P. Como Purna Brahman pode ser alcançado? Qual é o melhor método a seguir para chegar a um Grihasta? R. Você acabou de mencionar Purna (a perfeição). Acha estar longe de Purna? Se estiver realmente longe, será Purna? Se não, então, como esta pergunta lhe veio? O conhecimento de que Purna Brahman e você não estão separados do mesmo, é a finalidade. Observe isso e saberá que você não é nem um Grihasta nem algum limitado ser. O conhecimento a respeito disso esclarecer-lhe-á outros assuntos automaticamente. Quando eu era jovem tive experiência da “morte”. Penetrei no SER e, desde então não “progredi” ou movi uma letra.

CAPÍTULO 19

A Necessidade de Ultramisticismo Toda a discussão sobre a metafísica é inútil, a não ser quando nos faça buscar dentro de nós o SER e aí perceber a verdadeira realidade. Uma pessoa pode ler inúmeros livros, até uma biblioteca inteira, e ainda ficar sem a mínima compreensão de si mesma, o que ela realmente É. A erudição muitas vezes se torna prejudicial quando provoca o desenvolvimento do egoísmo bem como de orgulho o que, evidentemente, gera um sério obstáculo para o progresso. Todas as controvérsias sobre a Criação, a Natureza, o Universo, a Evolução ou os Desígnios de Deus são inúteis. Não nos levam à verdadeira Felicidade. As pessoas procuram descobrir coisas que estão fora delas, antes de tentarem descobrir “Que sou eu”? Mediante essa busca somente, podem elas ter felicidade e não pela compreensão de todo o universo. Pois SER é Felicidade. Ananda significa Felicidade, por não estar perturbada pela atividade mental ou suas características afins. Há uma felicidade temporária e a outra permanente. O primeiro estado é chamado de Kevala Samadhi, o último é chamado de Sahaja Nirvikalpa Samadhi, isto é, quando o estado de Nirvikalpa se torna natural. O Jnani, no primeiro estado, goza felicidade do Samadhi que sobrevém ocasionado pela ausência de atividade mental e pela invisibilidade dos objetos externos. Todavia, depois de algum tempo, sua felicidade cessa, as atividades mentais recomeçam e durante algum tempo não há Samadhi. Mas, o último estado significa que não há reincidência nas atividades mentais etc. e, consequentemente, não há perda de felicidade. Sua felicidade passa a ser ininterrupta e permanente. Seu corpo, seus sentidos e sua mente podem voltar à ação, embora a pessoa esteja dificilmente consciente dos atos do seu corpo. A corrente-vida se origina no “Coração”. Esse Coração, porém, não é o órgão fisiológico desse nome, mas é o Centro espiritual situado na vizinhança daquele. Dessa feita, cada uma, mesmo uma criança, não importando o credo ou a raça, quando se refere ao coração em metáfora, ao demonstrar o mais profundo sentimento, não obstante, apontará com a mão seu peito. Porém, as discussões, seja ele fora ou dentro do corpo, não podem fazer com que a auto-realização se consuma. Quando você, encontrar o Centro, descobrirá que ele se expande,

abrangendo todo o universo. Se você assim desejar, a circunferência poderá se estender tanto ao seu corpo como ao mundo. Começamos com presunção errada de que o círculo fica restringido à forma humana. Primeiro, localize o Centro, ao qual você sempre retorna e no qual sempre permanece. É um Centro comum a toda a humanidade quando esta o realiza. P. Depois de algum tempo de meditação, acho que os pensamentos se esvanecem e a quietude reina. Dentro dessa quietude fico ciente de mais tênue grão ou um ponto no meu peito ou coração, sobre o qual toda a minha atenção se focaliza. Isto é SER que o Senhor mencionou? R. Sim. Isso é O SER, contudo, ainda assim você precisa penetrar mais a fundo para aperfeiçoar sua realização. Por isso segure-a. Não perca a corrente. Não a perca, mesmo por ter uma idéia errada de que “eu estou meditando sobre O SER”; “estou meditando sobre outra coisa qualquer”. Chegando a esse ponto, procure se conscientizar de que você É O SER, que esta quietude se tornou sua condição natural. Doravante, fique observando atentamente, esteja vigilante para não cometer algum deslize. Não falhe! As diferentes escolas de intrincado labirinto da filosofia, embora procurem esclarecer a matéria a estudar e revelar a verdade criam a maior confusão onde não deve haver confusão. Para compreender alguma coisa mais, a presença do SER se impõe. É evidente, é óbvio. Por que não ficar assim como o SER? Há necessidade de explicações do que seja o não-ser? Tome o Vedanta como exemplo. Dizem eles que há quinze espécies de Prana. O estudante deve memorizar os nomes e as funções de cada Prana. O ar que sobe é chamado de Prana; o ar que desce é chamado de Apana; à função de Indryas dão outro nome qualquer. Por que tudo isso? Por que deve você classificar, dar nomes, enumerar funções e assim por diante? Não é suficiente saber que Prana faz todo o trabalho? Antahkarana pensa, deseja, tem vontade, razão etc. e a cada função foi dado um nome, tal como a mente, o intelecto etc., etc. Alguém tem visto Pranas ou Antahkaranas? Têm eles existência real? Serão meros conceitos quando e onde tais conceitos cessarão de existir? Considere o seguinte: O homem dorme. Acordado, diz que estava dormindo. A questão é perguntar-lhe: Por que ele não disse no sono que estava dormindo? A resposta é que ele havia mergulhado no SER e não pôde falar; é como o homem submergido na água para trazer algo do fundo dela. O mergulhador não pode falar. Depois de haver encontrado o objeto que buscava, volta à tona e fala. Bem, mas qual é a explicação que daria? Estando dentro da água, a água entraria-lhe na boca se ele a abrisse para falar – isso não é bastante simples? Mas, o filósofo não fica contente com esse simples fato. Ele explicaria dizendo que o fogo é uma deidade presidindo a fala que é incompatível com a água, por conseguinte, não pode funcionar. A isso chamam filosofia e os aprendizes se esforçam para assimilar todo esse amontoado de palavras. Não é pura perda do tempo? Outrossim, os Deuses, dizem, presidem os membros e os sentidos da pessoa. Assim, passam

explicando Hiranyagarba etc. Por que criar confusão seguida de uma explanação de fora? Felizmente há homens que não se deixaram envolver nesse labirinto. De verdade era eu bastante afortunado por não me ter aproximado sequer. Pois, se me tivesse deixado levar, provavelmente, estaria em parte alguma, sempre em confusão. Meus Vasanas felizmente conduziram-me direto a indagar: “Que sou eu”? P. E quanto ao conhecimento científico? R. Todo conhecimento relativo pertence à mente, não ao SER, portanto, é ilusório e impermanente. Por exemplo: Um cientista que formulou teoria de que a terra é redonda, indiscutivelmente, pôde prová-lo. Mas quando está dormindo toda idéia a respeito esvanece; sua mente em branco parou de funcionar. Pouco lhe importa se o mundo é redondo ou plano, quando dorme. Assim, você vê a futilidade de um conhecimento relativo. O real conhecimento é passar além de todo o conhecimento relativo e ficar no SER. Conscientize que o SER transcende o intelecto, que deve se esvanecer para encontrar o SER. P. O que é melhor, praticar a meditação ou estudar livros espirituais tais como, por exemplo, os Upanishad? R. É inteiramente questão de temperamento. Se achar que a meditação lhe satisfaz e auxilia no seu progresso, então prossiga. Alguma outra pessoa pode achar que estudar os livros lhe convém mais que meditar. Pessoas diferentes devem ter Caminhos diferentes. É uma questão de preferência e índole pessoal. P. Há pensamentos no Samadhi ou não? R. A pessoa apenas sente “eu sou” e não tem nenhum outro pensamento. P. “Eu sou” não é um pensamento? R. O “eu sou”, sem ego, não é pensamento. É a realização. A quietude mental é fácil de se obter e logo, mas a última meta consiste na destruição de toda atividade mental. A maioria dos caminhos leva à primeira, enquanto que a autoindagação conduz rapidamente ao primeiro estado e, passando logo então, ao segundo. Ao descobrir de onde surge a mente e aí ficando mentalmente quieto, você vencerá. P. Quais são os meios particulares que ajudam a controlar a mente? R. Isso depende das circunstâncias e da índole de cada um. Bhakti, Jnana e Yoga, todos são um só. Você pode amar a Deus sem conhecê-Lo, ou conheceLo sem O amar. O amor se manifesta em tudo que você faz e isso é Karma. A adoção da percepção mental (Yoga) e uma necessidade preliminar, antes que você possa conhecer ou amar a Deus de maneira apropriada.

Os Jnanis apontam que o Yogue admite a existência do corpo, e a sua separação do SER, portanto, aconselham o esforço dirigido à união pela prática de Yoga. O corpo está na mente que tem o cérebro como sede e que funciona através da Luz emprestada de outra fonte, conforme os próprios Yogues admitem na teoria original deles. O Jnani argumenta ainda; se a Luz é emprestada, o foco dela deve vir da fonte natural. Assim, vá direto à Fonte e não dependa de meios emprestados. Tal como uma bola de ferro vem a existir ao separar-se da massa quente e flamejante e mais tarde esfria, deixando a fornalha, a fim de tornar-se outra vez flamejante para unir-se à massa, assim também a causa de separação deve constituir o fator da união. Outrossim, se há uma imagem refletida, deve haver uma fonte e também os acessórios tais como o sol e um recipiente com água para servir-lhe de reflexo. Para apagar o reflexo, a superfície deve estar coberta, fato que corresponde ao nosso encontro com a fonte, conforme o dizer dos Yogues; ou a água deve ser derramada – a que chamam de Tapas – isto é, os pensamentos e as atividades do cérebro devem cessar. Isto é Jnana Marga. Tudo isso, contudo, é uma hipótese de que Jiva seja separado do SER ou Brahma. Mas nós, estamos mesmo separados? “Não” – diz Jnani. O ego é simplesmente uma identidade falsa do SER, confundida com o não-ser. Como no caso do cristal incolor, cujo fundo é colorido. O cristal, embora seja sem cor, parece vermelho por causa do seu fundo tinto de vermelho. Se o fundo (background) for removido, o cristal brilharia em toda a sua pureza original. Assim é com o SER e os Antahkaranas. P. Três ou quatro vezes em minha vida tive grandes êxtases, gostaria de tornálos permanentes. R. Vieram e se foram, mas você não se foi. Seu SER real ainda está aí! Existe realmente uma unidade, mas o intelecto faz diferenças. Todavia, o intelecto é uma força (faculdade) do SER. Porém, o Princípio que está além do intelecto, não pode ser conhecido pelo intelecto. Por mais que você aprenda, não há limites para o conhecimento. Você ignora aquele que duvida (duvidador) mas tente dissipar-lhes as dúvidas!... Por outro lado, se você pegar quem duvida, as dúvidas desaparecerão. Yoga e meditação são para as pessoas comuns. Vichara é para o Sábio. Vichara é um meio para ter Realização. Há homens de intelecto gigantesco que passam a vida adquirindo conhecimentos sobre muitas coisas, mas todo esse conhecimento não passa de intelecto voltado para o exterior. Que utilidade há em saber de tudo, quando você não conhece a si mesmo? Pergunte a esses homens se sabem o que eles são. Envergonhados, baixarão a cabeça. P. Qual é a diferença entre a meditação e Vichara?

R. A meditação pode ser dirigida a um ou outro qualquer objeto externo. Assim, o sujeito é diferente do objeto. Mas, na Vichara, ambos, sujeito e objeto, são o mesmo – o SER. Eu nada sabia sobre essas charadas filosóficas, controvérsias e problemas antes de vir a Tiruvannamalai. Quando vim para cá, as pessoas começaram a assediar-me e chegar até mim. Até lá estava eu alheio a tudo isso; não conhecia nenhum sistema filosófico. Com o tempo, esses sistemas iam-se desenvolvendo pelo simples fato de realização. Portanto, busquem a realização, pratiquem Vichara e não se preocupem com as filosofias, sistemas e problemas. E todos esses regulamentos relativos a horários etc. de meditação, são apenas para os principiantes. Virá tempo em que você exclamará: “Deixei a meditação!” Isso porque, então, terá compreendido que o conceito denota dualidade, ou seja, a pessoa que medita e o objeto a meditar. Você perceberá que do ponto do verdadeiro SER não há necessidade de meditação. Não vamos começar a esforçar o nosso intelecto sobre o Atma, procurando saber de que tipo é a auto-efulgência desse Atma, seja ela qual for. Precisamente são esses pensamentos discursivos que fazem nosso cativeiro. Não permita que uma única atividade mental venha se interpor na meditação (Dhyana). Tem-se de continuar a prática até que o ego (Ahankara) ou sentido de posse esteja completamente nivelado, isto é, até que você possa voluntariamente e sem esforço estar livre de conceitos e de todas as atividades mentais costumeiras. Caso contrário, terá de prosseguir a prática. A experiência do êxtase implica participação da mente muito sutil. Qual é seu estado no sono? Não há nem êxtase nem sofrimento porque esse estado é além de ambos. O natural estado é exatamente como aquele em que a consciência da existência é acrescentada. O último obstáculo à meditação é Êxtase. Você sente grande deleite e felicidade e fica nesse êxtase; não se entregue a isso, vá passando à sexta etapa que é de grande calma. A quietude, sendo superior ao êxtase, mergulha no Samadhi. O Samadhi bem sucedido provoca um estado de sono consciente que sobrevém quando você está sempre consciente, para conscientizar sua natureza. Daí em diante, o homem fica sempre em Samadhi. Somente não sabe disso. Tudo que ele tem a fazer é descartar os obstáculos mencionados acima. Sim, o intelecto pode servir de auxílio à realização até certo ponto. Contudo, para estar no estado de SER, o intelecto deve esvanecer. P. A erudição pode ajudar? R. Somente até tornar o homem um aspirante à espiritualidade.

P. Como o intelecto pode ajudar? R. Somente até que a pessoa afunde seu intelecto no ego e o ego no SER. Depois da realização, toda a bagagem intelectual é jogada no mar como restos inúteis de um navio. De quem é o intelecto? É do homem. O intelecto é apenas um instrumento. O estudo dos Livros Sagrados não será suficiente para revelar a Verdade. Tanto quanto os Vasanas estiverem latentes na mente, a Realização não poderá ser consumada. O estudo dos Sashtras é, em si, o Vasana. A Realização está somente no Samadhi. Só o Samadhi pode revelá-la. Os pensamentos cobrem a Realidade com véu, de modo que, Ela não pode estar clara nos outros estados senão no de Samadhi. P. Yoga significa união. Mas a união de que com quê? R. Exatamente. Yoga subentende divisão – e a união ele uma coisa com a outra. Que é que há de estar unido com o quê? Você é a pessoa que busca, procurando a união com alguma coisa. Essa alguma coisa é separada de você. Você é um amigo íntimo de si mesmo. Você está cônscio do SER. Busque-O e seja ISSO. Ele se expandirá ao infinito. Consequentemente, não haverá aí questão de Yoga etc. Que é o Viyoga? Descubra isso. “A parada de atividades mentais” está sendo incluída em todos os sistemas de Yoga. Apenas métodos diferem. Quando o esforço é feito para essa finalidade, chamam-no de Yoga. O esforço é Yoga. Para fazer cessá-lo, há muitas maneiras: 1) Questionando a própria mente. Quando a mente é procurada, suas atividades cessam automaticamente. Este é o método de Jnana. Pura Mente é SER. 2) Procurar a fonte da mente é um outro método. A fonte, pode-se dizer que é Deus ou SER, ou Consciência. 3) Concentrando-se sobre um pensamento, fazendo com que todos os outros pensamentos desapareçam. Por fim, esses pensamentos também desvanecem. P. Como é o Caminho Solar “Ravi Marga”? E como é o Lunar? R. O Caminho Solar é Jnana; o Lunar é Yoga. Os Yogues pensam que depois de haver purificado os 12.000 Nadis dentro do corpo, Sushuma é penetrado e a mente passa através dele, subindo a Sahasrara Chakra, onde o néctar goteja. Estes são todos conceitos mentais. A mente já é sobrecarregada de mundo de conceitos. Os melhores conceitos estão sendo agora acrescentados na forma deste Yoga. O Objetivo de tudo isso é livrar o homem dos conceitos e fazê-lo inerente ao puro SER, ou seja, à Consciência Absoluta, livre de pensamentos! Por que não ir direto a ISSO? Por que acrescentar novos empecilhos aos já existentes?

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