Porque Devo Crer Na Trindade - Robert M. Bowman Jr.pdf

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“Existe a escolha, portanto, entre crer no Deus verdadeiro conforma Ele Se revelou, com mistérios e tudo, ou crer num Deus que é relativamente fácil de ser compreendido, mas que tem poucas semelhanças com o Deus verdadeiro. Os trinitários estão dispostos a conviver com um Deus a quem não conseguem compreender plenamente. ” Robert M. Bowman, Jr.

Por Oue Devo Crer na Trindade oferece motivos positivos para crer na Trindade. Refuta as alegações feitas pelas Testemunhas de Jeová que a Trindade é um conceito apóstata que deve ser rejeitado por todos os cristãos. r

E um recurso valioso para os crentes que desejam aumentar seu entendimento dessa doutrina. Esse não é um estudo exaustivo da doutrinas da trindade. É, sim, uma explicação simples e escrita com clareza da base bíblica para a fé num Deus trino e uno. Robert Bowman oferece definições concisas e facilmente compreendidas de termos e conceitos que muitas vezes são ambíguos.

A A r t e E d it o r ia l

arteeditorial.com.br

© Candeia

candeia.com.br

ISBN 978-85-7352-182-5

9 7 8 8 5 7 3 52 182 5

Robert M. Bowman, Jr., também escreveu Jeovah's Witnesses, Jesus Christ, and the Gospel o f John (As Testemunhas de Jeová, Jesus Cristo e o Evangelho segundo João); Understanding Jeovah's Witnesses (Entendendos as Testemunhas de Jeová) e Orthodoxy and Heresy (Ortodoxia e Heresia).

Por que devo crer na Trindade

Robert M. Bowman, Jr,

A rte E ditorjal

São Paulo I 2008

Copyright © 1989 by Robert M. Bowman, Jr. ' Publicado original mente por Baker Books, a divislon o1 Baker House Company. Todos o» diretos reservados em íngua portufluesa por Editora Candeia. Titulo original em inglês: Why you shoutd bckevt in

ttie Trinity *

.

Coordenação editorial; Magno PaganeHI Tradução: Gordon Chown Revisão. Fausto Camargo Dlagramaçâo Sandra Reis Oliveira Capa: Magno Paganelli 1* ErSçôo 1996 2* Edição: 2001 3* Edição: 2006 Esta é uma edição conjunta de

Rua Tino ao Pombo, 402 / 2963 - Freguesia do Ú 02844-060 - São Paulo - SP [email protected] www.aneeditorial.com.br www.candeia.com.br

índice Introdução: Antes de você rejeitar a Trindade ;...........

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1 Compreendendo a Trindade.................................

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2 A Bíblia e a Trindade........ .................................. ;

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3 A Igreja e a Trindade............................. ..............

31

4 Vejamos quem é realmente politeísta........ .........

55

5 Jesus é criatura?......................................... ........

67

6 A Bíblia nega que Jesus é Deus?.........................

79

7 Jesus Cristo é D eu s............................................. 101 8 O Espirito Santo é uma fo rç a ? ....................... ..... 127 .

\

9 O Trinitarismo no Novo Testam ento.................... 141 10

Adore a Deus conforme Ele se tem revelado

... . 153

Notas .......................... ............................. ................ 161 Leituras recom endadas

......................................... 167

índice de assuntos ................................................ ..

169

I ntroüução

Antes de você rejeitar a Trindade

D

eve-se

"Crer na Trindade?” Esta é a pergunta

instante form ulada no título de um a bròchura das Testem unhas de Jeová, que em suas 32 folhas argum enta que a Trindade e um a doutrina apóstata, inspirada pelo Diabo, e que resultou da influência do paganism o sobre o cristianism o. Se fossem sólidos os argum entos do livreto das Testem unhas de Jeová, a doutrina da Trindade deveria ser rejeitada por todos os cristãos. Como, porém, não são, deverá ser considerada a alternativa de ser a doutrina da Trindade bíblica e cristã apesar das dúvidas levantadas. Este livro não oferece um estudo cabal ou exaustivo da doutrina da Trindade. Ao invés disso, oferece respostas resum idas ãs alegações do livrete das Testem unhas de Jeová e, ao fazê-lo, apresenta um resumo do ensino bíblico sobre a Trindade. Em bora este livro tenha como seu enfoque a negação da Trindade pelas Testem unhas de Jeová, ele não pode ser considerado uma obra exaustiva sobre o assunto. Existem vários aspectos da doutrina da Trindade que não foram

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explanados neste livro. Mesmo assim, certas porções dele devem ser de interesse para pessoas que não estejam preocupadas com as Testem unhas de Jeová. Por exemplo, o estudo no capítulo 3: “A Igreja e a Trindade,” deve ser do interesse de todos aqueles que gostariam de saber a respeito da origem das form ulações trinitárias. Algum as Testem unhas de Jeová talvez não gostem de ler um livro com o este, que critica um a das suas publicações. Talvez sintam estar sendo “vitim adas” porque este livro as isola para criticá-las e às suas crenças. Talvez o rejeitem como literatura “contrária às Testem unhas” e, portanto, podem recusar-se a lê-lo. Toníar essa atitude é uma liberdade que possuem. D eve ser notado, no entanto, que a broch u ra das Testem unhas, para a qual este livro é um a resposta, é em si m esm a negativa e crítica. O propósito inteiro dela é _ ^ ' . criticar a crença na Trindade. Declaram que essa doutrina é com pletam ente pagã e que aqueles que nela creem são apóstatas, que desonram a Deus, e que desconhecem Sua verdadeira natureza. Tudo quanto este livro pretende fazer é explicar a base bíblica da fé na Trindade e resp on d er às acu sações esp ecíficas do livrete das Testem unhas de Jeová. Na realidade, este livro é m ais positivo do que aquela brochura, pois oferece m otivos p o s itiv o s para. a cren ça na T rin d a d e (em v e z de sim plesm ente dar m otivos negativos para a descrença nas doutrinas das Testem unhas de Jeová a respeito de Deus). ■ A s citações da Bíblia são feitas sem identificar a tradução, quando sua maioria disser virtualm ente a mesma coisa. Nos demais casos, em pregue!a abreviatura 'TNM ao citar a Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas (Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1984), e

Introdução

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AR A ao citar a Tradução de Alm eida Revista e Atualizada no Brasil (Sociedade Bíblica do Brasil). Em todas as partes deste livro, referências serão feitas a fontes inform ativas eruditas torcidas ou falsam ente interpretadas na brochura das Testem unhas'de Jeová. Essas citações falsas são indicadas visando oferecer aos leitores todos os fatos relevantes para a avaliação das declarações dos eruditos em consideração. Os eruditos, como todas as demais pessoas, são falíveis e com etem pecados, com seus preconceitos, predisposições, e m al­ entendidos. Frequentemente têm razão naquilo quehizem , m as também se enganam muitas vezes... talvez a situação m ais freqüente é terem razão apenas parcial. O leitor é conclam ado a pesar na balança tudo quanto esses estudiosos têm dito, tudo que a brochura das Testem unhas de Jeová diz, e tudo quanto este livro diz, à luz das Escrituras (At 17.11; 1 Ts 5.21). A c o lh e re m o s bem as p erg u n ta s, as c rític a s e com entários, qüe podem ser dirigidos ao Instituto Cristão de Pesquisas, Caixa Postal 5011, CEP 01061-970, São Paulo, SP.

1 Compreendendo a trindade Deixando clara a doutrina Antes de podermos-legitimamente defender ou criticar a doutrina da Trindade, devem os nos esforçar para compreendê-la. A m aneira certa de com eçar esse esforço é definindo nossos termos. Neste capítulo basearem os nossa definição da Trindade no Credo de Atanãsio. A m aneira mais simples de definir a Trindade é dizer que é um Deus em três pessoas. E assim, o Credo de Atanãsio fala da Trindade em term os de “um só Deus” e “três pessoas.” Mas é necessário expandir essa definição a fim de evitar mal-entendidos. % * Os trinitários ou trinitaristas (os que crêem na Trindade) mantêm com muita firm eza e sem m eios-term os a fé num

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só Deus. O Pai, o Filho e o Espirito Santo não são três deuses. (Os mórm ons que acreditam que são três deuses, alegam crer na Trindade, mas deixam m uito claro que rejeitam qualquer form a da doutrina tradicional da Trindade.) O Credo de Atanásio deixa claro esse argumento repetidas vezes: “Não há, porém, três Deuses, mas um só Deus... De modo que somos proibidos pela fé católica [universal] de dizer que há três deuses ou três senhores.” O Deus adorado p e lo s trinitários é o Deus único e exclusivo; não reconhecem nenhum outro deus. Jesus não é outro deus lado a lado com Deus: Ele é Deus, juntam ente com o Pai e o Espírito Santo. • As Testem unhas de Jeová freqüentem ente criticam a Trindade como se essa doutrina negasse a unicidade de Deus. Por exemplo: Deve-se crer na Trindade? ( 1) expressa a opinião das testem unhas de Jeová: “... a doutrina da Trindade e falsa, que o Deus Onipotente se destaca cpmo um ser separado, eterno e todo poderoso” (pág. 3 : doravante, as citações de páginas entre parênteses referemse à brochura das Testem unhas de Jeová: Deve-se Crer na Trindade7\. Mas os trinitários creem que o Deus Onipotente é o único ser separado e todo poderoso. O ensino bíblico de que “sojnente Deus é o Todo Poderoso, o Criador, separado e distinto de qualquer outra pessoa” (pág. 12 ), é considerado pelas Testemunhas de Jeová uma contradição da Trindade, mas, na realidade, concorda plenam ente com ela TO escritor antitrinitarista, L. L. Paine, é citado com aprovação quando critica a doutrina da Trindade por afastar-se do “m onoteísm o estrito” da Bíblia (pág. 12) - a despeito do fato de sustentar o trinitarismo, rigorosamente, o m onoteísm o (a crença num único Deus). Fazem a pergunta: “Será que honra a Deus cham ar a alguém de Seu igual?” (pág. 30), como se a Trindade ensinasse que

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Jesus era uma pessoa separada de Deus, porém igual a Ele, ao passo que a Trindade ensina que Jesus é Deus. Ironicam ente, são as Testem unhas de Jeová que negam o m onoteísm o, Acreditam que além do “único Deus verdadeiro* (João 17.3), e além dos m uitos deuses falsos, existem m uitas criaturas que ,sáo corretam ente honradas com oÇdeuses^abaixo de Jeová Deus. (Voltarem os a essa questão no capítulo 4). . Outro aspecto da uniçidade de Deus é o fato de que não hã separações, divisões ou repartições em Deus. A doutrina trínítarista sustenta que Deus é um ser infinito, único, que transcende os limites do espaço e do tempo, que não possui corpo material nem espiritual (a não ser o corpo que o Filho tomou sobre Si ao tom ar-se homem). O Deus trino, portanto, não tem partes. Não se, pode dividir em componentes a existência infinita. O Credo de Atanãsio afirma que Deus não é dividido pelas três pessoas, quando declara que a fé tiinitarista não aceita a possibilidade de “dividir a substância” (em pregando “substância” no sentido da essência ou existência de Deus). A s três pessoas, como consequência, não são três partes de Deus, mas três distinções pessoais dentro de Deus, cada uma das quais é integralmente Deus. A s Testem unhas de Jeová e outros antitrinitaristas freqüentemente criticam aTrindade como se esta ensinasse ou subentendesse que o Pai, o Filha e o Espírito Santo fossem três partes, componentes, ou divisões de Deus. Nesse sentido, declaram que o Espírito Santo “Não é parte de uma Trindade” (pãg. 22). A idéia de que Jesus fosse • * “parte de uma Trindade” é criticada como im possível (pãg. 23). A palavra parte ê empregada repetidas vezes na brochura dasTestem unhas de Jeová para designar pessoas na Trindade. É levantado o argum ento de que “se Deus fosse composto de três pessoas" a Bíblia teria deixado

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claro o fato (pág. 13) - m as a Trindade nega que Deus seja “com posto” de partes. Por enquanto tem os concentrado a nossa atenção em explicar a intenção dos trinitaristas ao declararem que a Trindade é “um só Deus.” Mas a declaração de que esse Deus único refere-se a “três pessoas” tam bém tem sido m al com preendida. É comum a pressuposição de que “pessoa” seja empregada para referir-se a um ser individual separatio, o que daria a entender que três pessoas divinas fossem três divindades. A crença em três deuses, cham ada triteísmo, sem pre tem sido condenada pelos cristãos trinitaristas. Jã notamos que o Credo de Atanásio condena com clareza, o triteísm o. Se “pessoa” fosse usada no sentido de um ser individual separado, nesse caso os trinitaristas confessariam francamente acreditar que Deus é um a só “pessoa.” , Hã, no entanto, outro significado da palavra pessoa que focaliza, não a existência separada, m as o relacionam ento: os trinitaristas acreditam que o Pai, o Filho, e o Espírito Santo são três "pessoas” no sentido de cada um a ter consciência das outras, falar ás outras, e honrar as ; __ outras. Deus, portanto, pode ser descrito como sendo “um a pessoa” ou "três pessoas,” - sendo que tudo depende do significado de “pessoa.” Para evitar m al-entendidos, os trinitaristas têm tradicionalm ente concordado entre si que em pregarão a palavra pessoa para referir-se à m útua distinção entre o Pai, o Filho, e o Espírito Santo. É essa a praxe seguida no Credo de Atanásio. Os trinitaristas reconhecem que Deus fála na B íblia com o uma só “pessoa, ” no sentido de um único ser pessoal quando se dirige à raça hum ana ou quando fala do Seu relacionam ento com o mundo. Sendo assim, Deus se refere a Si mesm o com o pronom e “Eu,” e os seres f

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humanos dirigem -se a Ele como “Tu ,” no singular; Esse fato não é nenhum im pecilho para a crença trinitarista, m as se encaixa com perfeição, pois os trin itaristas acreditam que as três “pessoas” são um único ser divino. Outro fato que se encaixa com perfeição na doutrina da Trindade é que o Pai e o Filho falam entre Si, e se referem entre Si, como pessoas distintas. É falta grosseira de entendim ento quando perguntam se Jesus orou a Si mesmo, quando se dirigiu ao Pai. Essa pergunta pode ser em baraçosa quando é dirigida aos monarquianístas (que negám a Trindade e ensinam que Jesus é Deus Pai), mas os trinitaristas simplesmente respondem que Jesus o Filho orou ao Pai. O trinitarism o reconhece a distinção das três pessoas, que não devem ser confundidas entre si. O Credo de Atanásio, nesse sentido, declara que a , fé trinitarista não perm ite “a confusão entre as Pessoas.” Finalmente, algo deve ser dito a respeito da questão da submissão do Filho ao' Pai. Nenhum trinitarista duvida que enquanto Cristo esteve na Terra, vivia em subm issão a Deus Pai. O Pai no céu era exaltado, enquanto o Filho era humilde; o Pai era m aior do que Cristo (João 14.28). A natureza humana de Cristo não era divina em si mesma; a hum anidade de Cristo foi criada e, portanto, Cristo como homem tinha de honrar o Pai como Seu Deus. Por isso, o Credo Atanasiano declara que Cristo é "iguãl ao Pai no tocante à sua deidade, e inferior ao Pai no tocante à sua hum anidade.” Não hã dúvida, da perspectiva trinitarista, de que Cristo, como homem, estava em submissão ao Pai. Parece, no entanto, que essa submissão transcende a vida histórica de Jesus na Terra, Ele foi enviado ao mundo pelo Pai ( 1 J oão 4.9), o que subentende nalgum_sentido que Cristo estava em submissão ao Pai antea.de tom ar-se homem. Mas, ao tom ar-se homem, tom ou-se um seiyo de

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Deus (Fp 2.8), o que dã a entender que Ele não estava naquele relacionam ento (entre servo e senhor) com o Pai antes de tom ar-se homem. Depois da Sua ressurreição e ascensão, Jesus continuava a referir-se ao Pai como Seu Deus (João 20.17; Ap 3.12) e a considerar Deus Pai como Seu “cabeça” (cf, 1 Co 11.3). Os tiinitaristas têm várias m aneiras de explicar esses fatos, mas todos concordam entre si quanto às conclusões que seguem. Primeira: o Filho sempre foi distinto do Pai, e Ele sem pre o será. Segunda: na Sua natureza humana, Cristo sempre honrou o Pai como Seu Deus. (Os trinitaiistas crêem que Jesus ressuscitou dentre os m ortos como um homem glorificado, e não um espírito im aterial - como as Testem unhas de Jeová ensinam). T e rce ira mesmo antes de tom ar-se homem Cristo Se dispôs a representar o Pai diante dos homens e buscava honrar ao Pai. Quarta: na Sua natureza divina Cristo sempre foi plenam ente Deus, igual ao Pai na natureza essencial e nos atributos, e sem pre o será. Quinta; na Sua humanidade Cristo tem um relacionam ento com Deus diferente daquele que tinha antes de tom ar-se homem. Sendo assim, Cristo na Sua natureza divina, é essencialmente igual ao Pai, embora no relacionamento (ou funcionalm ente) subordinado ou subm isso ao Pai, m orm ente depois de tom ar-se homem. C on form e verem os, quase todos os argu m en tos levantados pelas Testem unhas de Jeová contra a Trindade dependem, em m aior ou m enor grau, do falso conceito que têm da Trindade,

Além do entendimento? A s Testem unhas de Jeová, diante da sugestão de que não entendem a Trindade, provavelm ente retorquirão que

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ninguém a entende. A brochura Deve-se CrernaTrindade? cita vários teólogos e escritores eruditos para com provar que até mesmo os trinitaristas reconhecem que não com preendem essa doutrina. A brochura passa, então, a tirar a conclusão de que uma doutrina que não pode ser com preendida não merece crédito. É verdade que m uitos trinitaristas - especialm ente entre os católicos, mas tamhém entre os protestantes e ortodoxos - declaram taxativam ente que a Trindade não pode ser com preendida e que é, nesse sentido, um “m istério.” É válido o aspecto da verdade que estão ressaltando, embora não seja bem exata a sua linguagem. Um “m istério” na linguagem bíblica é geralm ente um segredo que antes não era conhecido pelo homem, mas que agora passou a ser revelado, m ais do que uma verdade que os hom ens não conseguem entender. Mesmo assim , esses m istérios tendem a possuir um elem ento “m isterioso” que não pode ser totalm ente entendido pelos homens. Por exemplo: o ensino bíblico^ de que a igreja é o corpo de Cristo é Chamado um m istério (E f 5.32, on d e “m is té r io ” p a rece s ig n ific a r a lg o de d ifíc il entendim ento, bem como algo que D eus tinha de revelar a fim de nós o conhecerm os). Dizer que não se pode entender a Trindade é inexato, também, ou pelo m enos passível de equívocos. Os teólogos trinitaristas não querem dar a entender que a Trindade é um absurdo ininteligível. Pelo contrário, apenas querem ressaltar que a Trindade não pode ser totalm ente sondada e com preendida pela mente finita do homem. Há uma diferença entre conseguir uma com preensaobasicam ente correta de alguma coisa e ter um axom preensão completa, integral, total e perfeita da mesma. O modo de m uitos teólogos expressarem essa diferença seria declarar que a

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Trindade pode ser entendida ou “apreendida,” mas não "com preendida". ' Algum as das referências eruditas citadas pela brochura das Testem unhas de Jeová ressaltam esse mesmo fato. Por exemplo, a Enciclopédia Americana, que é citada na brochura por ter dito que a Trindade está “além do alcance do raciocínio hum ano,” realm ente faz essa declaração, mas no seguinte contexto: É sustentado [pelos trinitaristas) que, embora a doutrina esteja além do alcance do raciocínio humano, ela, de modo semelhante á muitas das formulações da ciência física, não contraria a razão, e pode ser apreendida (embora talvez não compreendida) pela mente humana. (2) E, portan to, um erro argu m entar, con form e as Testemunhas de Jeová frequentemente o frizem, que a T rin d a d e deve ser rejeita d a porqu e iiã o pode ser compreendida ou porque é “confusa" {Deve-se Crer na Trindade? págs. 4-5). Òs cristãos que creem na Trindade e que têm estudado com cuidado essa doutrina, reconhecem livremente que não conseguem compreendê-la plenamente, mas negam que é confusa. Geralmente só é consideradá confusa pelos não-cristãos, ou pelos cristãos que sáo novos na fé ou que meramente não se deram aò trabalho de estudar a doutrina cristã. Não é, portanto, justo rejeitar a Trindade na base de "Deus não é Deus de confusão” (1 Co 14.33). A lém disso os trin itaristas não acreditam que é necessário entender com exatidão perfeita a doutrina da Trindade conform e é definida nos credos a fim de serem salvos. A s testem unhas de Jeová têm razão ao indicar que na Bíblia “o povo comum” tinha fé em Jesus e sabia a verdade a respeito de Deus. Logo, se algumas pessoas

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acham difícil entender a Trindade, náo precisam duvidar da sua salvação. . O Credo de Atanãsio declara: “Nós adoramos um só Deus naTrindade e a Trindade na unidade”: a ênfase recai na adoração a Deus de modo harm onioso com a& verdades a respeito ,de Deus que a doutrina da Trindade expressa, e não no dom ínio intelectual da própria expressão doutrinária. Devemos adorar ao Deus único e confiar nEle, e essa adoração e confiança devem honrar ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo como Deus* sem crer em três deuses, nem negar as distinções bíblicas claras entre o Pai, o Fi|ho e o Espírito Santo. Mas nossa salvação não depende de serm os teólogos, nem de entenderm os como t ■ ■ essas coisas podem ser assim, nem de conseguirm os discorrer com exatidão sobre essa doutrina. O propósito das form ulações teológicas cuidadosas não é levantar barreiras no cam inho de quem está buscando a salvação, mas, sim, definir com clareza as verdades què fundamentam a fé cristã genuína, a fim dè que ninguém seja enganado por falsas doutrinas. Os credos foram formulados somente depois de certos falsários astutos terem introduzido modos novos de explicar os relacionam entos entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, modos estes que subvertiam a fé bíblica e que im pediam as pessoas de realm ente conhecerem a Deus. Para deixar claro exatàmente como essas negações astutas da doutrina bíblica eram erradas, era necessário que a igreja definisse de m odo form al sua crença nessas coisas, Embora, portanto, não seja necessário entender a Trindade para ser salvo, nem sequer em pregar a palavra Trindade, é necessário não rejeitar deliberadam ente as verdades a respeito de Deus as quais a doutrina da Trindade foi form ulada para exprimir.

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A relevância prática da Trindade U m a das queixas expressas pela b roch u ra das Testemunhas de Jeová, através de citações da New Catholic E^nciclopedia e do teólogo católico Joseph Bracken, é que a doutrina da Trindade parece im praticável e irrelevante, mesmo para muitas pessoas que creem na Trindade (pág. 4). É verdade que em muitas igrejas hoje, a doutrina da TrindáQe se apresente pouco apreciada, mesmo onde seja form alm ente reconhecida como verídica. Mas geralmente, essas mesmas igrejas apreciam bem pouco a relevância da Bíblia em sua vida, embora sua denominação reconheça oficialm ente a Bíblia como a Palavra de Deus. Assim acontece especialmente em muitas congregações católicas rom anas (mas não bem em todas elas). Logo, sua falta de apreciação da Trindade não refuta aquela doutrina, assim como sua falta de apreciação da Bíblia não refuta que a Bíblia é a Palavra de Deus. O fato é que onde a Trindade não recebe vãos louvores da boca para fora, mas onde os fiéis, conforme diz o Credo de Atanásio, “adoram a um só Deus na Trindade,” essa doutrina tem trem enda im portância e relevância. Os trinitaristas têm a certeza de que Aquele que os salvou, Jesus Cristo, é nada menos do que o próprio Deus. Regozijam-se, ainda, em saber que é o próprio Deus, na pessoa do Espírito Santo, que habitem no seu coração. Para o ' cristão trinitarista Deus não é aquilo que as Testem unhas de Jeová ensinam - um ser muito distante que nos enviou um empregado para nos salvar do nosso pecado, ou que agora nos ajuda somente ao nos transm itir de uma grande distância, uma força ou energia impessoal. Pelo contrário, Deus veio à Terra pessoalm ente para nos salvar, e está presente de modo direto e pessoal a cada

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momento. Esse fato dá ao trinrtarista, que realm ente cré na sua doutrina, confiança trem enda em Deus e a garantia de que D eu s está com ele e intimamente perto dele.

Aqui tem os enfatizado a relevância positiva da doutrina da Trindade. M as a questão pode ser explicada numa perspectiva diferente, em bora esta seja negativa. Se a doutrina da Trindade for verdadeira as criaturas nada contribuem para a salvação. Jesus Cristo nosso Salvador náo é um a “criatura”, a não ser no fato em que se dignou a rebaixar Sua condição para com partilhar da nossa natureza humana. Ele é Deus. Sua morte, portanto, não é a m era substituição de um homem perfeito para tom ar o lugar de üm homem pecaminoso, mas a m orte do Deushomem, num sacrifício de valor infinito. Esse sacrifício infinito pelo pecado subentende que a m orte dóC risto não é meramente uma oportunidade que é dada aos homens para se salvarem a si mesmos, mas reoim ente para salvar aqueles que confiam nEle como seu Salvador. O Espírito Santo não é uma energia im pessoal de que nós, as pessoas humanas, aproveitamos para nos dar poder; pelo contrário, o Espírito Santo é Deus, e nos reveste de poder som ente à m edida que vivem os num relacionam ento pessoal com Ele. A doutrina da Trindade, portanto, subentende que a salvação é totalm ente uma obra de Deus, do com eço até . ao fim (E f 1.3-14; 1 Pe 1.2), e que nós, as criaturas, não tem os a capacidade de fazer coisa algum a para salvar a nós mesmos. Posto que os seres hum anos gostam de pensar que contribuem com algo para sua própria salvação, a doutrina da Trindade é altam ente ofensiva ao orgulho humano. Essa é outra razão por que grupos tais como as Testem unhas de Jeová, que negam a Trindade, também sempre negam ou prejudicam as doutrinas bíblicas da justificação pèla fé e da salvação pela graça somente.

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A c re n ç a na Trindade, portanto, realm énte faz uma diferença. Não é simples palavrório sem sentido, um jogo de palavras que não afete nosso conceito de Deus ou nosso modo de viver. A veracidade du não dessa doutrina pode ser verificada somente pelos ensinamentos dà Bíblia. Se é a verdade, portanto, é uma doutrina que as pessoas que buscam uma fé que satisfaça devem regozijar-se em aceitar. .

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A Bíblia e a Trindade Deixando a Bíblia ser a palavra definitiva Conform e acabam os de dizer a veracidade da doutrina da Trindade deve ser decidida na base das Escrituras. Neste assunto é necessário confessar que nem todas as pessoas que creem na Trindade sentem clareza nesta questão. Os católicos romanos, em especial,^ frequen­ tem ente alegam que a Trindade não é um a doutrina bíblica e que foi revelada pela prim eira vez pelo m inistério da igreja, séculos depois da B íblia ter sido escrita. Essa idéia está de acordo com a crença católica rom ana de que a doutrina cristã pode basear-se ou na Bíblia, ou na tradiçáo eclesiástica (embora insistam, que, pelo menos, nenhum a doutrina pode contradizer a Bíblia). Os cristãos evangélicos, por outro lado, crêem que a Bíblia é a única fonte infalível da verdade doutrinária. Nenhum a tradição, nenhuma organização religiosa e

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nenhum a filosofia pode acrescentar algo ao corpo da doutrina cristã, embora qualquer uma dessas possa ajudar a explicar ou aplicar a doutrina bíblica. É essa a perspectiva adotada nesta obra. >

A palavra Trindade É verdade que a palavra Trindade não está na Bíblia. No entanto, nem sequer a palavra Bíblia está na Bíblia? Essa não é uma sim ples resposta hum orista sem substância. Nenhum versículo da Bíblia declara explicitam ente que certa coletânea de livros é o único escrito inspirado que deve ser reconhecido como a Palavra de Deus. Não há na Bíblia nenhum a lista dos livros que devem constar ali nenhum “índice” inspirado. Mas a crença de que esses livros, e somente eles, têm o direito de estar na Bíblia, baseia-èe no ensinamento da Bíblia, Conforme as próprias Testem unhas de Jeová reconhecem. „ Os trinitaristas sustentam que assim acontece com m uitos ensinam entos bíblicos. A palavra mvfQ-grfetente por exemplo, não consta na Bíblia, mas os cristãos acreditam que Deus é Auto-existente, ou seja: que Sua existência não depende de nada fora dEle mesmo. O q u e ' im porta é se as idéias níanifèstadas por tais palavras são fiéis aos ensinamentos da Bíblia, e não se essas próprias palavras acham-se nas suas páginas. :



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A Trindade no Antigo Testamento Todos os trinitaristas concordam em que as idéias a respeito de Deus que se acham na doutrina da Trindade não se acham diretamente no Antigo Testamento. Conforme nota a brochura das Testem unhas de Jeová (pãg. 6),

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algumas, tais como Edmund Fortman, têm ido a ponto de negar que o Antigo Testamento contém “sugestões, prefigurações, ou ‘sinais velados’ da trindade de pessoas.” (1) Mas até mesmo Fortman, na mesma página onde consta a declaração supra, reconhece que “talvez se pôssa dizer que alguns desses escritos ido" Antigo Testam ento] no tocante à palavra, à sabedoria e ao espírito, realm ente forneceram um clim a dentro do qual a pluralidade dentro da deidade ficou sendo concebível áos ju deu s.”; O fato é que o Antigo Testam ento prepara o caminho para a revelação de Deus em três pessoas, sem a declarar nitidamente. A mensagem principal da revelação do Antigo Testam ento a respeito de Deus é m ostrar Jeová, o Deus de Israel, como o único Deus vivo e verdadeiro. Num a cultura im pregnada de politeísm o, era necessário que os israelitas (que tam bém eram idólatras in corrigíveis) tivessem enfatizado a unicidade e a singularidade, de Deus, sem qualificações. Somente depois de terem total certeza quanto a isso, teriam as condições m ínim as necessárias de aprender a respeito das pessoas do Filho e do Espírito -e mesmo assim a lição foi difícil para a m aioria dos judeus no século I. O Antigo Testam ento realm ente contém indicações de que o Messias seria Deus (SI 45.6; Is 7.14; 9.6) e o Filho de Deus (SI 2.7). Mas elas não foram com preendidas a não ser depois da vinda do Messias.

A Trindade no Novo Testamento No Novo Testam ento, porém, a situação é diferente. Em bora o NovoTestam ento não contenha um a explicação form alizada da Trindade, com o em prego de palavras tais com o “Trindade,” “três pessoas,” “um a só substância,”

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etc., as idéias expressas pela linguagem trinitarista estão decididam ente presentes. A s Testem unhas de Jeová, procurando desfazer-se dessa declaração, citam várias referências eruditas (sendo algumas trinitaristas e outras antitrinitaristas) que dão a entender que a Trindade não é uma doutrina do Novo Testamento. Fortman, por exemplo, é citado assim: “Os escritores do Novo Testam ento.;. não nos deram nenhuma doutrina formal ou formulada da Trindade, nenhum ensino explícito de que num só Deus há três pessoas divinas coiguais” (pãg. 6). As palavrasformcd, formulada e explícito devem servir para indicar ao leitor cuidadoso que Fortman não está negando que a idéia da Trindade está no Novo Testam ento. No contexto, é isto que Fortman realmente tem a dizer: Se ttímarmos os escritores do Novo Testamento em conjunto, eles nos contarão que há um só Deus, o Criador e Senhor do Universo, que é o Pai de Jesus. A Jesus, chamam o Filho de Deus, Messias, Senhor, Salvador, Verbo, Sabedoria. Atribuem a Ele as funções divinas da criação, da salvação, do juízo. Às vezes eles chamam explicitamente de Deus. Não falam de maneira tão plena e clara a respeito do Espírito Santo como falam do Filho, mas às Vezes eles O coordenam com o Pai e o Filho e O colocam no mesmo nível que Eles, no que diz respeito à divindade e à personalidade. Eles nos oferecem nos seus escritos uma base triádica e fórmulas triádicas. Não falam em termos ab stratos a respeito da natureza, da substância, da pessoa, do relacionamento, dacircunsessão, da missão, mas certamente apresentam, da sua própria maneira, as idéias que subjazem a esses termos. Não no(s deram nenhuma doutrina formal ou formulada da Trindade, nenhum ensino explícito de que.em um só Deus há três

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pessoas divinas coiguais. Mas realmente nos oferecem um trinitarianismo elementar, os dados na base dos quais se pode formular semelhante doutrina formal do Deus Trino e Uno. (2) A brochura das testem unhas de Jeová, na m esm a página, cita The New Encyclopaedia Britannica (Nova Enciclopédia Britânica) assim: “Nem a palavra Trindade, nem a doutrina explicita constam nó Novo Testam ento.” M ais um a vez a palavra explícita qualifica a declaração. No mesmo parágrafo a Britarmíca assevera que “o Novo Testam ento estabelece a base para a doutrina da T rin ­ dade. ^(3) O mesmo padrão é achado na citação do N o v o Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento: “O N[ovo] T[estam entb] não contém a produzida doutrina daTrindade. ‘Não existe naB íblia uma declaração expressa de que o Pai, o Filho e o Espírito Santo sejam de igual essência’, [disse o teólogo protestantefíCarl B arth ln 4 ) A palavra produzida*™* eexpressãTq u S ific^a^ãèãaráçào, de modo que esta leve em conta a presença no Novo Testam ento de um trinitarism o implícito, inform al e ainda não desenvolvido. A brochura cita, ainda na m esma página, E. W ashbum Hopkins, assim: "Jesus e Paulo, que aparentem ente, desconheciam a doutrina da Trindade; ... nada dizem a seu respeito.” Esta citação omite ais palavras “ou pelo m enos” antes de “nada dizem a seu respeito”, pois essas palavras "ou pelo m enos” serviríam para qualificar um pouco a declaração de Hopkins. M ais im portante do que este fato, no entanto, é que Hopkins, declara, na frase im ediatam ente anterior: “O com eço da dou trina da *NT - a obra em português diz desenvolvida

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Trin dade aparece já em João (c. de 100).”(5 ) Esta declaração, portanto, deixa claro que Hopkins adm itia a presença do trinitarism o pelo menos nalgumas porções do Novo Testamento. Finalmente, o livrinho das Testem unhas de Jeová, cita “O historiador Arthur W eigall” no seu livro O Paganismo no Nosso Cristianismo. O próprio título deixa clanTqué não se trata de uma obra im parcial de erudição, mas, sim, um a**obra p olêm ica que ataca a s cren ças cristã s tradicionais.

A fé trinitària dos cristãos primitivos O que foi dito supra a respeito do trinitarism o do Novo T estam en to é a p licá vel, de m odo sem elh an te, ao trin ita rism o da Ig reja p rim itiva . A b ro ch u ra das Testeihunhas de Jeová continua citando referências eruditas fora do contexto para dar a impressão de que essas origens documentais negam que era trinitària a fé daTgreja primitiva. Por exemplo: a Encyclopaedia ofR eligion and Ethics (Enciclopédia de Religião e Ética) é citada assim: “De início a fé cristã não era trinitarista.., Não era assim na era apostólica e na pós-apostólTca, como se reflete no NJovo] T[estam ento] e em outros prim itivos escritos cristãos” (pãgs. 6-7). A prim eira parte dessa citação foi truncada rio m eio da frãse, que diz por extenso: “De início, a fé cristã não era trinitarista na referência rigorosamente ontõlógica [grifos nossos].”(6) Aqui, a questão em pauta é que, ao passo que os cristãos prim itivos considerassem Deus economicamente trinitãrio, na Sua atividade no mundo e na experiência dos cristãos, não falavam explicitam ente de Deus como ontologicamente trinitário. na Sua própria

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natureza ou ser essencial. Mas isso não subentende, de modo algum, que os cristãos prim itivos negassem a T rin ­ dade. O artigo referido, portanto, continua na m esma página: "D eve ser observado que não hã nenhum a separação real ou antítese entrè as doutrinas daTrindade econôm ica e a Trindade essencial, e é natural que seja assim. A Triu n idade [ou a Trindade essencial, a doutrina do Deus Trino e Uno] representa o esforço para excogitar a Trindade [econômica], de modo que lhe forneceu uma base na razão. ”(7) Essa declaração é consistente com aquela que foi feita anteriorm ente neste artigo: “se a doutrina da Trindade apareceu um pouco tarde na teologia, deve ter existido bem cedo na devoção.”(8)

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Já vim os que as Testem unhas de Jeová deturpam de m odo consistente as referências eruditas que citam na tentativa de com provar que não existe na Bíblia nenhum fundam ento para a doutrina da Trindade. A m aioria das referências citadas declara que a Trindade tem sua base no Novo Testam ento, em bora as expressões form alizadas dessa doutrina tenham sido desenvolvidas posteriormente. Antes de se voltarem para as evidências da própria Bíblia - onde se deve tomar a decisão final a respeito da questão - as Testem unhas de Jeová também argum entam (dependendo, de novo, de uma fieira de citações breves de referências eruditas) que a doutrina da Trindade teve sua origem perto do fim do século IV. C onsiderarem os porm enorizadam ente essa alegação antes de debater o ensino bíblico sobre ò assunto.

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A teologia trinitáxia dos Pais da Igreja A brochura das Testem unhas de Jeová cita de modo seletivo, e Sem docum entar suas citações, vários Pais anteniceanos (escritores cristãos que viveram antes do Concilio de Nicéia) tentando dem onstrar que nenhum deles acreditava na Trindade. Esses escritores cristãos antigos são citados como se cada um deles, ao ser c o n s fd e ra d o um d os “ P a is ” , fo s s e c o n s id e ra d o com plçtam ente ortodoxo em sua teologia. Tal nã6 é o caso. Justino, o m ártir é considerado um “apologista” por ter dado respostas eficazes a alguns dos falsos conceitos populares do cristianism o no século II, m aá não é considerado teólogo, e é geralmente criticado pelos teólogos cristãos por ter misturado crenças cristãs cóm a filosofia pagã. Clem ente da Alexandria, em grau ainda maior, procurava interpretar as crenças cristãs de um modo aceitável aos filósofos pagãos, e em bora seus escritos ten h a m s id o e s tim a d o s p o r c o n te re m a lg u m a s introspecções legítim as da fé, não têm sido levados a sério, de modo global, depois do século IV. Origenes foi de fato rotulado de herege por causa de algum as das suas opinióes (mas não por causa da sua doutrina daTrindade). Sendo assim, as citações dos Pais anteniceanos devem ser tratadas com certa cautela. Em m uitos casos, não refletem as crenças teológicas gerais dos cristãos comuns 1 » dos seus dias, mas as especulações, freqüentem ente brilhantes, e freqüentem ente errôneas, de intelectuais que procuravam levar a sério a nova fé. M esm o assim, de modo geral, as Testem unhas de Jeová têm deturpado esses Pais, conforme dem onstrará a vista panorâm ica que se segue.

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Justino, o mártir A brochura das Testem unhas de Jeová, Deve-se Crerna Trindade?assevera que Justino, o Mártir, “cham ou o préhumano Jesus de um anjo criado que ‘não é o itíèsm o que Deus, que fez todas as coisas/ Ele disse que Jesus era inferior a Deus e ‘nunca fez nada exceto o que o C riador... queria que Ele fizesse e dissesse’" (pãg. 7). O fato real é que Justino, o Mártir, ensinava que ò Jesus pré-hum ano era Deus e não um anjo. Justino disse, também, que alguns se referiam á Cristo como a um anjo, mas explicou que isso era porque Cristo, que pa realidade era Deus, assumiu a aparência de um anjo. Nesse sentido, Justino escreve que “o Pai do Universo tem um Filho, e Ele, sendo o primogênito Verbo de Deus, é o próprfo f. nos tempos antigos Ele apareceu na form a de fogo e na sem elhança de Um anjo a Moisés e aos dem ais profetas.. [grifos nossos].(1) Noutro trecho, Justino afirm a que Cristo é "tanto Deus quanto Senhor dos Exércitos" (isto é, Jeová),(2) “Deus o Filho de Deus.”(3) . 1 Justino não somente acreditava qpe Cristo era Deus; acreditava também numa forma rudim entar da Trindade. Declarou, pois, que os cristãos adoravam a Deus Pai, “ao Filho (que veio da parte dEle...) e ao Espírito profético/’(4) Que isso significava que Cristo e o Espírito eram igualmente Deus fica subentendido na sua declaração repetida de que "devemos adorar a Deus somente... a Deus som ente prestam os culto."(5) Resumindo: Em bora Justino, o M ártir, não tenha empregado termos tais como “Trindade,” e suas explicações filosóficas do relacionam ento entre Cristo e Deus tenham sido algo confusas, adorava ao Pai, ao Filho, e ao Espírito Santo, e considerava que Cristo era Deus Jeová. »

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Ireneu (ou Irineu) A brochura da Torre de Vigia declara que Ireneu, um teólogo dos -fins do século II, sustentava que Cristo era inferior a Deus, “não igual ao ‘Um só e único Deus,’ que ‘é suprem o sobre todos, à parte de quem não há outro’.” (pág. 7). Mas no contexto, Ireneu estava contrastando “um só e único Deus” com os deuses inferiores da especulação gnóstlca (a respeito da qual comentaremos inais adiante), e não negando que Cristo é Deus. Na realidade Ireneu defendia um conceito do Pai, Filho e Espírito Santo que era implicitamente trinitarista. Dessa maneira declara que a igreja tem sua fé “em um só Deus, o Pai Onipotente, Criador do Céu, da Terra, do mar, e de tudo quanto neles existem; e em um só Cristo Jesus, o Filho de Deus, que se encarnou para a nossa salvação; e no Espírito Santò/que proclamou mediante os profetas as dispensações de Deus,” e no mesmo contexto fala de “Cristo Jesus, nosso Senhor, e Deus, e Salvador,, e Rei.”(6) Ireneu escreve a respeito de “Cristo Jesus, o Filho de Deus: que, por causa do Seu amor incomparável â Sua criação, condescendeu em ser nascido da Virgem, sendo que Ele mesmo uniu em Si a humanidade com Deus... [grifos nossos).”(7) Dessa maneira, Jesus Cristo era tanto Deus quanto homem, o Criador que se tom ou homem para salvar a Sua criação.

Clemènte de Alexandria Os escritos das Testemunhas de Jeová alegam que Clemente de Alexandria sustentava que Cristo era “uma criatura” e inferior a Deus (pág. 7). Na realidade, Clemente sustentava exatamente o inverso. Ensinava que Cristo é “realmente a deidade plenamente manifesta, sendo Ele feito

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igatd ao Senhor do Universo; porque Ele era o Seu Filho,"(8) e o mesmíssimo Deus que o Pai,(9) Clemente chamou Cristo explicitamente de “o Filho eterno,”(10) e negou que o Pai tenha existido nalgum tempo sem o Filho. (11)

Tertuliano Tertuliano não som ente acreditava na Trindade, como tam bém form ulou a term inologiá básica usada nas expressões form ais dessa doutrina. A palavra Trindade, bem como a distinção entre “um só Deus” e “três pessoas,” foi desenvolvida prim eiram ente por Tertuliano. Escreveu explicitam ente a respeito de “uma trindade de um a só divindade, Pai, Filho e Espírito Santo."(12) O livrete das Testem unhas dè Jeová cita Tertuliano dizendo: “O P a f é diferente do Filho (outra pessoa), uma vez que é maior; assim como quem gera é diferente de quem é gerado; quem envia, diferente de quem é enviado” (pág. 7). Isto é trinitarism o clássico. Tertuliano estava ressaltando que o Pai e o Filho eram pessoas distintas entre si. Conform e indicam os em nosso estudo do significado da Trindade, as Testem unhas de Jeová usualm ente’entendem m al a doutrina da Trindade, como se esta ensinasse que o Pai é o Filho. . A brochura também cita Tertuliano como se este dissesse: “Houve tem po em que o Filho não existia... antes de todas as coisas virem a existir, Deus estava sozinho.” Narealidade, a expressão “houve tempo em que o Filho não existia” não foi usada pelo próprio Tertuliano, Pelo contrário, essa expressão foi usada por um estudioso moderno para resumir uma declaração feita por Tertuliano,(13) que argumentou que Deus sempre foi Deus, mas não sempre Pai do Filho: “Pois Ele não podería ter sido o Pai anteriormente ao Filho.

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nem o juiz, anteriormente ao pecado. ”(14) Posto que, noutros trechos, Tertuliano deixa claro que considera que a pessoa do Filho é eterna, nessa declaração Tertuliano está provavelmente asseverando que o título de “Filho” não se aplicava à segunda pessoa da Trindade até que Cristo começasse a relacionar-se com o “Pai” como “Filho” na obra de criação.(15) Á declaração “antes de todas as coisas, Deus estava sozinho,n aparece num a obra inteiram ente diferente de Tertuliano, na qual declara que a “Razão” de Deus era o Verbo anteriorm ente à sua atividade na criação, e que, p ortan to; que essa pessoa cham ada R azão existia etem am ente lado a lado com Deus: “Pois antes de todas as coisas, Deus estava sozinho,.. Mas mesmo então, não estava sozinho: pois tinha consigo aquilo que possuía em Si mesmo, ou seja: Sua própria Razão... Mesmo antes da criaçao do Universo, Deus não estava sozinho, posto que Ele tinha dentro de Si mesmo tanto a Razão quanto, inerente na Razão, Seu Verbo...”(16) Esse Verbo é o Filho, igual a Deus, mas funcionalmente em segundo lugar depois do Pai: “Assim Ele [o Pai] tom a-O [o Filho] igual a Ele... embora eu reconheça o Filho, assevero a Sua distinção em segundo lugar depois do Pai [grifos nossos].”(17) Tertuliano, portanto, embora sua linguagem fosse às vezes inconsistente, acreditava claramente na Trindade, Numa tentativa desesperada de negar esse fato a brochura das Testem unhas de Jeová declara: r

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‘ Contudo, isso [o emprego da palavra trinitas porTertuliano] em si não prova quê o próprio Tertuliano ensinasse a Trindade. A obra católica T r in ita s - A T h e o lo g ic a l ■E n c y c lo p e d ia o f the H o l y T rínity (Trinitas - Enciclopédia Teológica da Santíssima Trindade), por exemplo, diz que

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algumas das palavras de Tertuliano foram mais tarde usadas por outros para descrever a Trindade. Daí faz o alerta: “Mas não se podem tirar conclusões apressadas a respeito do uso, pois ele não aplica essas suas palavras ã teologia trinitarista.” [Deve-se Crer na Trindade?-5-6]. Na base do argumento supra poderiam os supor que a obra católica Trinitas está dizendo que Tertuliano não em pregava a palavra trintías [“Trindade"] a respeito de Deus num contexto trinitarista. Mas isso é totalm ente falso. A verdade é que a enciclopédia diz que Tertuliano não em pregava a palavra substanttae seus derivados com referência à Trindade. Note q que a obra realm ente diz: O grande africano formulou a linguagem latina da Trindade, e muitas das suas palavras e frases tiveram seu emprego mantido permanentemente: as palavras Trinitas e persona, as fórmulas “uma só substância em três pessoas,” “Deus de Deus, Luz de Luz.” Emprega a palavra substantia 400 vezes, assim como também emprega consubstantialis e consubstantivus, mas não podemos tirar conclusões apressadas a respeito do uso, pois ele não aplica essas suas palavras à teologia trinitarista. (18) Só nos resta concluir que o escritor ou escritores da brochura das Testem unhas de Jeová tiveram a máxima dificuldade em procurar evidências sólidas para apoiar a sua teoria de que a doutrina da Trindade foi desenvolvida quase dois séculos depois de Tertuliano.

Hipólito A brochura da Torre de Vigia cita Hipólito, dizendo que Deus era “Um Só, sozinho” e que “trouxe à existência o que

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não existia antes.” Isso está em perfeita conformidade com a crença trinitariana. Mas, depois, a brochura passa a dizer que Hipólito incluiu entre as coisas que Deus trouxe à existência “o pré-humano Jesus, que foi criado” (pãg. 7). Isso, não somente é falso, como também contradiz frpntalm ente os próprios ensinos de Hipólito, no próprio contexto em que fez essas declarações.'Hipólito escreve: Deus, subsistindo sozinho, e não tendo nada contem po­ râneo com Ele mesmo, resolveu criar o m undo... não havia nada contemporâneo com Deus. Além dEle nada havia; mas Ele, enquanto existia sozinho, mesmo assim existia na pluralidade fgrifos nossos] .” (19) . Essa pluralidade consiste no Pai, no Filho e no Espírito Santo, confòrm è Hipólito declara num parágrafo anterior; O homem, portanto, embora ele não queira, vê-se obrigado a rèconhecer Deus o Pai Onipotente, e Cristo Jesus o Filho de Deus, que, sendo Deus, fez-se homem, e a Ele o Pai sujeitou todas as coisas, excetuando-se o próprio Pai; e o Espírito Santo; e que estes, portanto, são três. (20) , Hipólito até declara que a Escritura chama “Cristo o Todo Poderoso” e que “Cristo é Deus acim a de ti*do”. É portanto inegável que as testemunhas de Jeová têm deturpado os Ensinos de Hipólito.

Oxigenes Orígenes, conforme jã foi mencionado, acabou sendo considerado herege. Embora o motivo para esse juízo não tenha sido seu ensinamento a respeito da Trindade, a igreja sempre considerou a maneira de Òrígenes explicar a Trindade muito útil em alguns aspectos, e noutros, totalmente errada.

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Por um lado, Orígenes acreditava claram ente nalgum a form a da Trindade. Edmund J. Fortm an dem onstra esse fato com várias citações breves de Orígenes: "Nós, porém, estamos convictos de que realmenterhã três pessoas [t r e is h y p o s t a s e is ], o Pai, o Filho e o Espírito Santo” (Jo. 2.6). Para ele, “declarações feitas no tocante ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo devem ser consideradas transcendentes de todos os tempos, de todas as eras, e de toda a eternidade” (Princ, 4.28), e que nâo existe “nada que não foi feito, a não ser a natureza do Pai\ e do Filho, e do Espírito Santo” (Frtnc. 4.35). “Além disso, nada na Trindade pode ser chamado maior ou menor” (P r in c . 1.3.7). (23) Por outro lado, Orígenes era pouco ortodoxó noutros aspectos dos seus ensinam entos sobre a Trindade. Tendia a considerar as três pessoas como (por assim dizer) três deuses, sem, porém, expressar-se exatam ente assim, e (de modo inconsistente) sustentava que o Filho e o Espírito, em bora fossem seres totalm ente superiores a quaisquer criaturas, eram inferiores ao Pai. Negava, tam bém , portanto, que adoração ou orações devessem ser dirigidas ao Filho ou ao Espírito. (24) Resumindo: o conceito de Deus que Orígenes m antinha possuía sem elhanças com o trinitarism o ortodoxo, m as tam bém com a d ou trin a de D eus m an tid a p ela s Testem unhas de Jeová. Diferentem ente das Testem unhas de Jeová, Orígenes acreditava que o Filho era eterno e não criado, e decididam ente considerava o Espírito como uma pessoa. Mas, de modo sem elhante às Testem unhas de Jeová, consideravam que o Filho era um segundo Deus inferior, abaixo do Deus Onipotente.

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Avaliando os Pais anteniceanos O ensino dos Pais anteniceanos é geralmente trinitarista. Este fato fica im plícito nos Pais do século II (Justino, o M ártir, Ireneu, Clem ente de Alexandria}, è se torna razoavelm ente explícito nos Pais do século III (Tertuliano, Hipólito, Orígenes). Os Pais anteniceanos que exerceram m aior influência sobre a linguagem trinitarista da igreja, dejSbis de Nicéia,' foram Tertuliano e Orígenes. A respeito destes dois pensadores, o ju ízo sumário de Gerald Bray vem bem ao caso; “A teologia de Tertuliano, a despeito dos seus lapsos, era fundam entalm ente sadia, e a teologia posterior pouco mais fez do que arrum ar algumas arestas na sua.obra. Orígenes, por outro lado, foi com pletam ente reescrito. Sua contribuição permanece, mas recebeu um novo contexto e um significado diferente."(25} O ponto em que os Pais anteniceanos se afastaram do trinitarism o era principalm ente em suas tentativas de explicar a Trindade em term os que fossem Compreendidos e aceitos pelos judeus (Justino, o Mártir) e pelos pagãos (Justino, de novo, Clemente, Orígenes). Suas tendências ao subordinacionism o e ao triteísm o nãò harm onizavam com suas próprias declarações a respeito da fé còm adoração que toda a igreja tinha no Pai, no Filho e no Espírito Santo.

Teologias primitivas n&o-trinitáiias A fim de avaliarm os corretam erite a alegação das Testem unhas de Jeová de que a doutrina da Trindade foi um desvio da fé cristã prim itiva, é necessário dizer álgo a respeito das heresias daqueles tempos. Tratavam -se de form as alternativas e não-trinitárias do cristianism o, que

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os Pais da Igreja rejeitaram, e que forçaram a igreja a definir com mais exatidão a sua fé na Trindade.

O gnosticismo Posto que o assunto do gnosticismo ’é muito complexo, será necessário sim plificar bastante. O gnosticism o não era uma só seita ou doutrina religiosa, mas um movimento bastante amplo que assumia muitas formas, das quais algumas alegavam ser cristãs, e outras, não. A idéia essencial do gnosticismo era que o homem era um espírito divino emaranhado num mundo material corrupto, e necessitado de um “conhecimento" {gnosis) especial a fim de escapar deste mundo material. Os gnósticos de tendência “cristã" sustentavam que do Deus supremo tinham emanado deuses inferiores, inclusive um que criou o mundo m aterial e nele prendeu os espíritos humanos. Sustentavam, ainda, que “o Cristo” era um ser divino bom, que trabalhava para desfazer os danos feitos pelo deus criador maligno. Esse Cristo veio temporariamente sobre o homem Jesus, e o abandonou imediatamente antes da sua morte. A s Testem unhas de Jeová não devem ter dificuldade em perceber que essa teoria era com pletam ente' falsa e antibíblica. Os Pais da Igreja do século II consideravam o gnosticism o como um a heresia, e enfatizavam nos seus escritos que o Deus supremo também era o Criador, e que não havia falta de união de idéias ou propósitos entre o Pai o Filho e o Espirito Santo.

O monarquianismo O termo (monarquiantsmd)ás vezes é usado como rótulo global para várias teorias que surgiram a partir do fim do

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século II. Segundo essas teórias, o Deus supremo era um a só pessoa, o Pai, e se m anifestara em Jesus. Uma versão desta idéia, o modalismo, sustentava que o Pai, o Filho e o Espírito Santo eram três “m odos’*sucessivos segundo os quais o único Deus se m anifestava e operava para trazer ao m' undo a salvação. Outras versões sustentavam (ou * f pelo m enos os ortodoxos diziam ou subentendiam } que o Pai foi feito carne, morreu, e ressuscitou dentre os mortos. Afe Testem unhas de Jeová reconhecerão prontam ente que essa opinião é antibíblica. O que talvez não reconheçam tão facilm ente é que o monarquianismo não era trinitãrio. Os pais principais da igreja do século III consideravam , todos eles, que essas opiniões eram heréticas. Os trinitaristas reconhecem que o Filho é uma pessoa distinta do Pai, e negam que o Pai se tom ou cam e.

O arianismo O arianismo surgiu no começo do século IV, com os ensinos de Ário de Alexandria. Ário, alegando estar seguindo nos passos do pai da igreja na Alexandria no século II, sustentava que o Filho era um segundo Deus, inferior ao Pai, e que o Espírito Santo era um terceiro Deus, inferior tanto ao Pai quanto ao Filho. Diferentem en­ te de Orígenes, no entanto, Ário negava que o Filho e o Espírito Santo fossem eternos, e sustentava que “houve tem pos quando o Filho não existia" e descrevia tanto o Filho quanto o Espírito Santo como criaturas exaltadas. De todas as opiniões alternativas ao tiinitarism o que circulavam nos três prim eiros séculos depois da era apostólica, o arianismo parece mais próximo dos conceitos das testem unhas de Jeová. A diferença doutrinária principal parece ter sido que os arianos consideravam o

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Espírito Santo como um ser pessoal, ao passo que as Testem unhas de Jeová ensinam que "espírito santo” é uma-energia ou força im pessoal em itida por Deus. É interessante, no entanto, notar que as Testem unhas de Jeová hoje não alegam que os arianos eram seus equivalentes na antiguidade. Há bons m otivos para isso, além do d esacord o a resp eito do E sp írito Santo. Historicam ente,'não há dúvida de que as opiniões de Ário eram uma novidade* Ele não fazia parte de um a comunhão de crentes que se considerassem os cristãos fiéis, e aos trinitãrios como apóstatas. Embora Ário tenha se baseado nalgum as id éias de O rígenes, tam bém d iscord ava nitidam ente delas, e isso de uma m aneira que ninguém na igreja teria im aginado antes.

Onde estavam as Testemunhas de Jeová? Tudo isso levanta' uma pergunta interessante. Onde, durante os séculos que se seguiram depois da era no N o vo T e s ta m e n to , e s ta v a m os e q u iv a le n te s às Testem unhas de Jeová dos nosSos dias? De acordo com as Testem unhas, a igreja caiu em apostasia nalgum período depois da era apostólica, e as verdades d a Bíblia foram restauradas som ente em fins do século X IX e no com eço do século XX, pela religião das Testem unhas de Jeová. Se for assim, seria de esperar que achássem os algum registro a respeito de um grupo religioso no século II ou III com opiniões que se assem elhassem pelo m enos um pouco com aquelas das Testem unhas de Jeová. Mas assim não acontece. O p aralelo m ais próxim o às Testem unhas de Jeová é o m ovim ento ariano, m as este não passou a existir a não ser no século IV.

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Constantino e Nicéia A brochura das Testem unhas de Jeová contém várias asseverações falsas ou enganosas a respeito do Concilio de Nicéia e do papel que o im perador romano Constantino desem penhou nele. A brochura declara que o concilio “não estabeleceu a Trindade, pois náo houve nele menção do Espírito Santo como a terceira pessoa de uma Divindade triníT (pág. 7). Em bora esse concilio não definisse seu conceito do Espírito Santo, o Credo de Nicéia (que não deve ser confundido com a obra posterior, popularm ente cham ado o Credo Niçeano) era trin itarista em sua estrutura: Cremos em um só Deus, o Pai... e em um só Senhor Jesus Cristo... E no Espírito Santo.”(26) Nada foi debatido a respeito do Espírito Santo, simplesmente porque o assunto da controvérsia era a pessoa do Filho. Sendo assiiá, o concilio sustentava uma teologia trinitarista sem elaborar a respeito da pessoa do Espírito,Santo. A broch u ra passa, então, a alegar que “Por' m uitos anos havia m u ita oposição, por m otivos bíblicos, contra a em ergente id éia de que Jesu s era D eus” (pág. 8). Na realidade, conform e já vim os, a divindade de Jesu s era a opinião da igreja a p a rtir do sécu lo II (n o'm ín im o), e os ú n icos dissiden tes eram h ereges que até m esm o as T estem u n h a s de J eõ vã co n sid era ria m com o n ãocristãos, i

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Em seguida, a brochura nos inform a que som ente “um a fração do total” do número dos bispos com pareceu no -Concilio de Nicéia. Posto que essa declaração pode ser interpretada no sentido de subentender que o concilio era composto de modo favorável aos trinitários, deve ser explicado que a situação era bem inversa. A m aioria dos bispos provinha do Oriente, onde se achava a m aioria dos

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arianos: bem poucos bispos vieram do Ocidente, em bora o Ocidente fosse solidam ente trinitário.(27) A brochura passa, então, a repetir a opinião convencional de que Constantino não era um cristão" sincero, mas um mèro pagão que usava o cristianism o visando propósitos políticos. É falsa essa opinião, conform e bem explica The

New Encyclopaedia Bntannica: A “teologia” pessoal de Constantino aparece comclareza específica numa série notável de cartas, que se estende desde 313 até o começo da década de 320, a respeito do cisma donatista na África do Norte,,. O cisma, na opinião de Constantino, era “loucura demente e fútil," inspiradá pelo Diabo, o autor da iniqüidade. Os que aderem ao cisma estavam agindo em desafio à clemência dp Cristo, e por isso podiaín esperar a condenação à perdição nó Juízo Final (Juízo este cujos rigores Constantino também sabia que teria de enfrentar). Entrementes, cabia aos membros justos da comunidade cristã demonstrar paciência e longanimidade. Ao fazerem assim, estariam imitando Cristo, e sua paciência recebería o mesmo galardão que é oferecido ao martírio... Do começo ao fim, Constantino não tinha a mínima dúvida de quê remover o erro e propagar a verdadeira religião era tanto sau dever pessoal quanto um emprego apropriado da posição imperial. Esses pronunciamentos, registrados nas cartas aos oficiais im periais e' aos clérigos cristãos, deixam insustentável a opinião de que as atitudes religiosas de Constantino fossem, mesmo naqueles primeiros anos, veladas, confusas ou com meios-termos. Suas atitudes, m anifestadas abertam ente, revelavam um nítido compromisso com a fé. (28)

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A brochura da Torre da V igia passa, em seguida, a citar a EncyclopaediaBritannica (uma edição anterior) relatando que Constantino "pessoalmente propôs... o preceito crucial, que expressa a relação de Cristo para com Deus no credo instituído pelo concilio, ‘de um a só substância com o Pai’.” O que está om itido aqui é que Constantino fez essa proposta provavelm ente m édiante a sugestão do seu conselheiro teológico, Hósio, um bispo da Espanha. Além disso a idéia expressa pelo term o não era nova. A brochura concluiu, então, que Constantino “interveio e decidiu em favor dos que diziam que Jesus era Deus.” Isto é .sim plesm ente falso. O que Constantino fez foi encorajar os bispos a alcançar um consenso tão perfeito quanto possível, e então empregou sua autoridade política para depor aqueles poucos bispos que insistiam em oporse àquele consenso. A vasta m aioria dos bispos acreditava com ,firm eza que Jesus é Deus; se não fosse assim, teria sido contrário ao propósito de Constantino “decidir em favor dos que diziam que Jesus era Deus.” O credo que o concilio realm ente adotou, redigido p or Eusébio da Cesaréia, descreveu Cristo como “Deus de Deus,” meSmo antes da sugestão por Constantino da expressão “de uma só substância com o Pai.” Antes desse credo ter sido redigido e aceito, outro credo, redigido por Eusébio de Nicomédia, um ariano, foi considerado. Embora a m aioria dos bispos no Concilio pertencesse ao Oriente, e que houvesse mais arianos do que trinitaristas ali, o. Concilio “rejeitou totalm ente” o credo ariano, porque n egava que Jesu s era D eu s.(29) Q uanto ao credo trinitarista, a única parte dele com que m uitos dos bispos orientais não se sentiam à vontade era a expressão “de um a só substância com o Pai.” O motivo não era porque subentendia que Jesus era Deus {que a m aioria deles

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tom ava por certo), nem porque fosse triiiitarista, mas p o rq u e p a ra e le s so a va m p o r d e m a is com o o m onarquianism o.

Depois de Nicéia Embora Constantino tenha apoiado os trinitaristas em Nicéia, esse não foi o fim da controvérsia ariana. A brochura das Testemunhas de Jeová atenua os fatos quando confessa: “Os que criam que Jesus nâo era igual a Deus até mesmo recuperaram tem porariam ente o favor.” Na realidade, Constantino inverteu sua opinião em 332 d.C., sete anos depois do Concilio de Nicéia, e passou a apoiar Ário. Durante 45 anos dos 49 que se seguiram, os arianos gozavam o favor dos imperadores romanos. (30)' Durante boa parte desse período, Atanásio, um dos trinitaristas principais em Nicéia, era praticamente o único líder cristão que não se dispunha a encontrar um m eio-termo com os arianos, e assim surgiu o ditado Aíhanasius contra mundum: “Atanásio contia o mundo.” Mas em 381 o imperador T eod ósio, que acred itava na Trin d ad e, d eclarou o cristianismo trinitarista a religião oficial do império, e convocou o Concilio de Constantinopla, onde foi-adotado um credo ainda mais explicitamente trinitarista.. M uitas pessoas, inclusive as Testem unhas de Jeová, declaram -se escandalizadas diante do estabelecim ento do trinitarism o pelo Im pério Romano com o sua religião oficial. Isso não deixa subentendido que a doutrina da Trindade era, dalgum a forma, m ais pagã do que cristã, e que foi aceita pelas massas somente porque çra a ordem ditada pelo im perador? A resposta a essa pergunta é decididam ente “não.” No auge da controvérsia ariana, entre 325 e 381, o arianism o

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era geralm ente reconhecido pelos im peradores como um sistem a religioso mais atraente do que o trinitarism o. O motivo disso era porque o arianismo, que ensinava que Jesus era um a criatura divina, dava a entender que uma criatura podia ser um Deus, poderia ficar altam ente exaltada e conseguir a obediência incondicional dos h o­ mens. Essa idéia era atraente para os im peradores, pois seüs antecessores pagãos freqüentem ente exigiam a adoração dos súditos, e achavam m ais fácil governar se o povo os con sid era sse d ivin os, n algu m sen tid o. O trinitarism o, por outro lado, sustentava que a totalidade da divindade pertencia ao Deus trino e uno, e m antinha um a distinção mais nítida entre o Criador e a criatura; assim, deixavam subentendido que o im perador era mero homem comum, (31) Que um imperador romano declarasse o cristianism o trinitãrio como a religião oficial do seu im pério era, portanto, surpreendente, e sugeria que a preocupação com a verdade pesava na balança m ais do que a conveniência política. Por mais que o triunfo do trinitarism o fosse devido ao apoio político do império, a questão da veracidade ou da falsidade da Trindade não poderia ser resolvida por sua aceitação na política. Era uma lógica bem errônea aquela que tom ava como certo que qualquer crença apoiada pelos líderes políticos fosse forçosam ente falsa. Os defen­ sores principais do Trinitarism o, especialm ente Atanásio, foram intérpretes cuidadosos da Bíblia, e se dedicaram de todo o coração a Jesus Cristo como seu Deus e Salvador. Finalmente, deve ser notado que a alegação da bVochura das Testem unhas de Jeová de que “mesmo após o Concilio de Constantinopla, a Trindade não se tom ara um credo am plam ente aceito,” era falsa. Em bora o arianism o não tivesse d esap arecid o n aqu ela ocasião, a T rin d ad e

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desfrutava de aceitação generalizada; na realidade, tinha sido a opinião m ajoritária dos cristãos professos durante Séculos antes. O s desenvolvim entos adicionais na teolo­ gia Trinitãria foram m eros ajustes porm enorizados de questões relativam ente secundárias. Emborar o Credo Atanasiano não fosse escrito por Atanãsio, foi fie lã teologia de Atanásio e foi sim plesm ente um a afirm ação m ais explicita e uma form ulação mais exata daquilo em que a igreja já acreditava. ■

Crenças Pagãs e a Trindade Cristã Os antitrinitários, durante os últim os três séculos, têm sustentado em comum que a Trindade é uma doutrina adotada por em préstim o das crenças pagãs. É possível citar muitas obras eruditas, e menos eruditas, nesse sentido. A brochura das Testem unhas de Jeová cita várias obras que argumentam, ou que nalguns casos parecem subentender, que a Trindade era uma noção pagâ que corrom peu a fé cristã (pãgs. 9, 11-12). Reproduz, ainda, ilustrações de várias “triades” (ou grupos de três) pagãs, e as coloca lado a lado com quadros de arte cristã que retratam ou sim bolizam a Trindade (págs. 2, lô ). Esse argum ento envolve vários problemas. Prim eiro: pelo menos algumas das referências citadas pela brochura foram deturpadas. Por exemplo, a EncyclopaediaofReligion andEthics é citada nas suas descrições de alguns paralelos “trinitários” na çeligião do Egito e na filosofia neoplatônica. No contexto, porém, a enciclopédia está considerando n oções sem elhantes, sem id en tificar as origen s ou influências da Trindade cristã. Na m esm a página, essa obra declara: “Essa fé cristã na encarnação do Verbo ( togos, sermo, ratio) no homem Cristo Jesus, com quem o

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crente está unido m ediante a comunhão do Espírito Santo, constitui-se na base distintiva da doutrina cristã da Trindade.”(32) Segundo: a brochura não indica uma ou duas origens da doutrina da Trindade, explicando como influenciaram o seu desenvolvim ento. Ao contrário, cita uma variedade de obras, alegando que várias noções pagãs totalm ente diferentes form aram um paralelo da Trindade ou que podfem ter sido origens dessa doutrina. Tríades egípcias, babilônicas, assírias, hindus, e budistas, bem como o platonism o, são alegadas com o influências sobre o desenvolvim ento da Trindade. Mas é absurdo alegar que todas essas tenham influenciado os trinitãrios de modo significativo. Terceiro: a m aioria dessas alegadas "influências” era ou antiga demais, ou recente demais, ou geograficam ente em dem asia distante, para exercer algum a influência relevante. São reproduzidas obras de arte que retratam tríades egípcias ou babilônicas, a despeito do fato de que essas obras datavam cerca de dois mil anos antes da dáta em que as Testem unhas de Jeová alegavam que a Trindade teve sua origem! Outras obras de arte que retratam tríad es. hindus e budistas dos séculos VII e X II tam bém foram reproduzidas, a despeito do fato de terem sido executadas séculos depois da Trindade ter se tom ado a religião oficial do Im pério Romano! Quarto: a brochura das Testem unhas de Jeová indica que Atanásio foi um bispo na Alexandria, no Egito, e argum enta na base desse fato que seu trinitarism o refletia a influência das tríades egípcias (pãg. 11). M as essa coincidência geográfica não é mais significante do que o fato de que o rival principal de Atanásio, Ário, também era de Alexandria!

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Quinto: em bora seja verdade que os povos pagãos do m undo antigo adorassem tríades de deuses, essas tríades eram sempre três deuses separados e não um só Deus. Além disso, sem pre eram (ou quase sem pre} meffamente os três deuses no ponto mais alto da hierarquia de m uitos deuses adorados nas religiões politeísticas. Sexto: um a com paração entre o trinitarism o e as principais heresias não trinitárias dos prim eiros séculos revela que elas, e não a Trindade, eram corrupções devidas à in flu ê n c ia do p a ga n ism o , e e s p e c ia lm e n te do neoplatonism o. Por exem plo: os gnósticos “cristãos” sustentavam a idéia neoplatônica de que o espiritual era bom e o m aterial era mau. Consequentem ente, o Deus suprem o e perfeitam ente espiritual não podería ter pessoalm ente criado o mundo, e, portanto, esté deviaXer sido criado por algum a deidade inferior. O arianism o revela um modo semelhante^ de pensar ao ensinar que Deus não criara o m undo m aterial, mas sim, deixava que o Verbo, um a deidade inferior, criasse o mundo. Os trinitários, opondo-se a essas teorias, sustentavam o ensino bíblico de que somente Deus era o Criador, que havia feito todas as coisas (Gn 1.1; Is 44.24). O gnosticismo, o monarquianismo e o arianism© também concordavam entre si sobre o Ser Supremo, que. deve ser um Ser indiferenciado, isto é, em harm onia com a idéia1 neoplatônica de que o Ú nico estava com pletam ente separado dos muitos, livre de toda a pluralidade - achavam inconcebível que Deus fosse três, em qualquer sentido que fosse. Sendo assim , os gnósticos e os arianos sustentavam que Jesus era uma deidade separada do Deus supremo, e os m onarquianos sustentavam que Jesus era uma m anifestação do Pai, a única pessoa divina. A despeito das suas diferenças, portanto, todas

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essas heresias tomavam por certo que Deus não podia ser um, em certo sentido, e três, noutro sentido. Essa pressuposição foi herdada da filosofia pagã, não da Bíblia, que simplesmente declara que Deus é um, sem nunca negar que, noutro sentido, Deus também é três. Por outro lado, os trinitãrios insistiam em que a questão da unicidade e trindade de Deus tinha de ser decidida exclusivam ente na base da Bíblia, sem auferir pressuposições estranhas, pnytftenientes da filosofia grega. Sendo assim, os fatos históricos demonstram que o trinitarism o desenvolveu suas fórmulas e credos teológicos exatos, não para batizar o paganismo como parte do cristianismo, mas para salvaguardar as verdades bíblicas da corrupção pelo paganismo.

O Que é a Apostasia? Segundo as Testemunhas de Jèová, o desenvolvim ento da teologia trinitaríana enquadra-se nas predições do Novo Testam ento de que viria “uma apostasia, um desvio, um abandono da adoração verdadeira até à volta de Cristo” (pág. 9); as Testemunhas de Jeová acreditam que “a vólta de Cristo” aconteceu figuradamente em 1914 d.C. Argum entam que o trinitàrism o cumpriu essa predição ao .misturar com o cristianism o a religião e filosofia pagâs. Conforme já vimos, os fatos históricos a respeito do desenvolvim ento da doutrina da Trindade não apoiam o argumento das Testemunhas de Jeová. O trinitarism o representava o triunfo do monoteísmo bíblico e a revelação de Deus em Cristo, contra o politeísm o pagão, * Há maneiras melhores áé interpretar as referências à apostasia no Novo Testam ento. Éntre outras coisas: algum as das referências à falsa doutrina e à apostaria que

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as testem unhas de Jeová citam são provavelm ente aplicáveis a heresias diferentes e a períodos diferentes da H istória Eclesiástica. Certam ente algum as das advertênciás bíblicas contra a heresia foram cum pridas até certo ponto (se não completamente) muito tempo a n tes do século IV. Por exemplo, um dos textos bíblicos referidos como alusão ã “apostasia” advertia a respeito de pessoas que negavam que Jesus Cristo viera na carne (1 João 4.1-3). Essa advertência foi cumprida nas especulações gnõsticas de que Cristo era um espírito divino que repousou sobre Jesus sem' realm ente tom ar-se homem. Essas opiniões estavam em pleno florescim ento no século II, e m uitos dos antigos teólogos da igreja escreveram obras refutando-as. Outro texto citado pela brochura das testerrtunhas.de Jeová adverte a respeito de um “homem que é contra a lei” que se assenta no teínplo de Deus e alega ser Deus (2 Ts 2.3-7). Seja qual for o significado dessa profecia - e tem sido interpretada num a variedade estonteante de m odos - parece não ter nada a ver com os evenios do século IV ou do desenvolvim ento do trinitarism o que tenha a ver com a profecia. . Se a predição de lim a apostasia refere-se a utn desvio m aciço da verdade por uma grande porção da igreja cristã professa, o chamado Iluminismo destaca-se como o m elhor candidato até agora na História registrada. Nos séculos XVI e XVII quase a totalidade da cultura cristã professa estava experienciando uma fé renovada em Cristo e na Bíblia como a Palavra de Deus. Nos séculos X V III e XIX, porém , essa m esm a cultura abandonou, em grande medida, até mesmo uma profissão daquela fé, à medida que as teorias críticas a respeito da origem da Bíblia, negações céticas dos milagres, e a teoria da evolução

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naturalístícam udou a cosmovisão dominante do Ocidente, que passou de cristã para secular. Durante esse período também, e continuando até dentro do século XX, um grande número de versões alternativas da religião cristã veio a existir. A maioria dessas religiões teve sua origem no nordeste dos Estados Unidos, e a m aioria fo i fundada por pessoas qüe tinham sido protestantes. Essas religiões incluíam o Unitarismo, o Mownonismo, o Novo Pensamento, a Ciência Cristã, a Escola União do Cristianismo, a Teosofia (que é uma das origens principais do movimento contemporâneo da Nova Era) - o Espiritismo Moderno (que é outro precursor principal do movimento da Nova Era) - e as testemunhas de Jeová. Sem dúvida, as testemunhas de Jeová vão sentir-se ofendidas ao ser incluídas numa lista desse tipo, e há, sem dúvida, diferenças entre essas várias religiões, Mas todas elas têm em comum, além do seu lugár e período de origem, uma crença firme, herdada do Iluminismo, de que o cristianism o ortodoxo dos 15 séculos anteriores já não era aceitável. Todas elas, çm particular, rejeitam a Trindade. ■ Quer o antitrinitarismo seja um aspecto da “apostasia,” quer não, certamente não se pode negar que a rejeição da Trindade pelas testemunhas de Jeová é consistente com o espírito dos tempos. Os seguidores do humanismo, do secta rism o , do liberalismo, das filosofias da Nova Era, e das seitas pseudocristãs, todos concordam entre si que já não se pode crer na Trindade. Naturalmente, este fato, em isolamento, não comprova, que a Trindade é mesmo a verdade, mas pelo menos deve servir para advertir as testem unhas de Jeová de que negar a Trindade não é nenhum sinal de ser dono da verdade.

Velamos quem é realmeníe polfleísfa O restante deste livro vai ocupar-se com a m atéria bíblica que diz respeito à Trindade, levando em conta os argum entos propostos pelas testem unhas de Jeová na tentativa de dem onstrar que ela é antibíblica. Com eçám os com o ensinamento bíblico de que existe um só Deus. As testem unhas de Jeová afirm am que o m onoteísm o é o ensinamento bíblico (pãg. 12), e citam vários textos bíblicos como conflrm açáo (pág. 13). E os trinitários concordam totalm ente. Há um só Deus, e esse Deus é uno. A unicidade de Deus é a prim eira prancha na plataform a trinitarista. Por essa razão, concordo com o argum ento na brochura que diz que a form a plural elohim como um nom e de Deus no Antigo Testam ento não pode ser evidência em favor da Trindade (págs. 13-14).

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A Trindade e a unicidade de Deus Hã dois problem as, porém, que exigem atenção. Prim eiro, as testem unhas de Jeová alegam que as afirm ações do monoteísmo na Bíblia significam "que Deus é uma só Pessoa - um Ser ímpar, indiviso, sem igual” (pág. 13). C onform e já fo i e x p lic a d o ,, os trin itã rio s não consideram as três pessoas com o “divisões” de Deus, nem qüe*b Filho e o Espírito são seres fora de Deus, porém iguais a Ele. Realmente, se "pessoa” for definida no sentido de um ser pessoal individual, os trinitãrios concordarão que naquele sentido "Deus é uma só Pessoa.” Sendo assim, as testemunhas de Jeová, ao argum entarem como se essas verdades contradissessem a Trindade, dem onstram que interpretaram erradam ente a doutrina. Realmente, o fato de Deus ser uma “Pessoa” nesse sentido não Comprova que Ele não é também três “pessoas” no sentido tencionado pelos trinitãrios. Em segundo lugar, o monoteísmo bíblico não significa sim plesm ente que a existência do Deus Onipotente é uma única existência. Isso não deixa de ser a verdade, mas as Bíblia taínbém ensina simplesmente que há um só Deus. A B íblia é bem enfática nessa questão, e a repete freqüentem ente no Antigo Testam ento (Dt 4.35,39; 32.39; 2 Sm 22.32; Is 37.20; 43.10; 44.6-8; 45.5, 14, 21-22; 46.9) como no Novo Testam ento (Rm 3.30; 16.27; 1 Co 8.4, é; G1 3.20; E f4 .6 ; 1 Tm 1.17; 2.5; T g 2.19; Jd 25). E o próprio significado da palavra monoteísmo é a crença num só Deus. • E, portanto, im portante notar que as testem unhas de Jeová negam term inantem ente essa dou trina m ais fundam ental da Bíblia. Em bora reconheçam que há um só Deus Todo Poderoso, alegam que há, além de Deus, e

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sem contar os m uitos deuses falsos adorados pelos idólatras, m uitas criaturas corretam ente reconhecidas na Bíblia como "deuses” no sentido de “criaturas poderosas” (pág. 28). Esses “deuses” incluem Jesus Cristo, anjos, ju izes hum anos,, e Satanás. As testem unhas “d e Jeová adotam esse ponto de vista a fim de ju stificar sua idéia de que a B íblia chama Jesus de “um deus” sem O honrar como Deus Jeová. Devem os perguntar, portanto, se as testem unhas de Jeová podem escapar à acusação de ser politeístas (que creem em muitos deuses). A resposta usual é que, ao passo que creem que há m uitos deuses, adoram somente ao único Deús, Jeová. Mas essa crença não é monoteísmo, tampouco. O termo usual para definir a crença de que existem m uitos deuses, mas somente um quó deve ser adorado, é henoteísmo. A questão piais im portante é, logicamente, se a Bíblia apóia a opinião das testemunhas de Jeová. A s declarações explícitas e diretas da Bíblia, dç que há um só Deus (citadas supra) não podem ser corretam ente interpretadas no sentido de que existem m uitos deuses, mas somente üm que é todo-poderoso, ou somente um que deve ser adorado, ou som ente um que é chamado Jeová. Realm en­ te existe um só Deus Jeová Todo Poderoso, e que.somente Ele deve ser adorado - mas a Bíblia também declara categoricam ente que Ele é o único Deus. Com mais exatidão: a Bíblia diz que há um só Deus verdadeiro (Jo 17.3; ver também 2 Cr 15.3; J r 10.10; 1 Ts 1.9; 1 Jo 5.20), por contraste com todos os outros deuses, deuses falsos , que não são deuses de m odo nenhum (Dt 32.21; 1 Sm 12.21; SI 96.5; Is 37.19; 41.23-24, 29; J r 2.11; 5.7; 16.20; 1 Co 8.4; 10.19-20). Há, portanto, duas categorias de “deuses”: os Deuses verdadeiros, dos quais

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só existe um, Jeová) e os deuses falsos (dos quais infeliz­ mente há muitos). As Testem unhas de Jeová, no entanto, em harm onia com a m aioria dos atuais grupos antitrinitaristas que alegam crer na Bíblia, não conseguem concordaram que há somente um Deus verdadeira, embora a Bíblia diga isso explicitam ente assim , porque então, teriam de confessar que Jesus é aquele Deus. Por isso, apelam a algtrns textos isolados na Bíblia que, segundo alegam, honram às criaturas com o título de deuses sem suben­ tender que são deuses falsos. Passemos a considerar resum idam ente esses textos.

Os anjos são deuses? Existem dois tipos de criaturas que, segundo as testéhlunhas de Jeová alegam, são honradas como deuses nas Escrituras - os anjos e os homens. Começemos com os anjos. O texto usualmente citado como prova dessa alegação é o Salmo 8.5, que é traduzido na TNM assim: ‘Tam bém passaste a fazê-lo [ao homem] um pouco m enor que os sem elhantes a Deus.” A palavra aqui traduzida por “sem elhantes a Deus” é elohim, a palavra que usualm ente representa “Deus,” mas (porque está no plural) tam bém pode ser traduzida por “deuses.” Posto que Hebreus 2.7 cita essé versículo assim: “Tu o fizeste um pouco m enor que òs aryos’' (TNM), as testemunhas de Jeçvã concluem que o Salm o,8.5 está chamando os anjos de “deuses.” Há numerosas objeções a essa linha de raciocínio, mas só algumas delas poderão ser mencionadas aqui. Primeiro: é duvidoso que no contexto original, elohim no Salm o 8.5 deva ser entendido como umá referência aos anjos, , e traduzido por “deuses” ou “os sem elhantes a Deus.” Isto

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porque, no seu contexto, esse salmo fala do lugar do hom em na criação em termos que formam um paralelo estreito com Gênesis, capítulo um. O Salmo 8.3 fala da criação dos céus, da lua e das estrelas (cf. Gn 1.1, 8, 16). O v. 4 pergunta como Deus pôde considerar -o homem significante ao ser com parado com a grandeza da criação. A resposta dada é que o homem governa a criação - reina sobre os habitantes da terra, do çéu, e do m ar (w . 6-8; cf. Gn 1.26-28). O que liga essa pergunta e resposta no Salmo 8 é a declaração que Deus fez o homem "um pouco m enor que eíohim,” que form a um paralelo com a declaração em Gênesis de que o homem foi criado “à im agem de elohim ” ou seja, à im agem de Deus (Gn 1.26-27). Assim fica bem razoável concluir que o Salmo 8,5, no seu próprio contexto, deve ser entendido no sentido de que o homem é lim poyco inferior a Deus, e não aos anjos. Se for correta essa opinião, por que Hebreus 2.7 tem a palavra anjos ao invés de Deus? A resposta sim ples é que o autor de Hebreüs estava citando da Septuaginta, uma tradução grega do Antigo Testam ento preparada por estudiosos judaicos e que era comumente usada no século I. O fato de ter o escritor de Hebreus citado a Septuaginta não subentende que a tradução da Septuaginta, por ele citada, era uma tradução literal, ou verbalmente exata, do texto hebraico (afinal das contas, “anjos”, certamente não é uma tradução literal de “deuses”). Pelo contrário, Hebreus 2.7 é uma paráfrase do Salmo 8.5 que, em bora apresente uma nova maneira de entendê-lo, não o contradiz. O Salmo 8 diz que o filho do homem (que significa a humanidade) foi feito um pouco inferior a Deus; Hebreus 2 diz que o Filho do Homem (referindo-se a Cristo) foi feito um pouco inferior aos anjos. O salmo fala da posição exaltada do homem, ao passo que Hebreus fala da humilhação tem porária de

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Cristo. Posto que os anjos são, obviamente, inferiores a Deus, e posto que a posição humilhada de Cristo foi a de um homem, o que Hebreus diz não contradiz o Salmo 8.5, embora realmente vá um passo além. Deve ser reconhecido que essa não é a única m aneira de entender Hebreus 2.7 e Salmo 8.5. Existe a possibilidade de Hebreus 2.7 estar dizendo im plicitam ente que o Salmo 8.5 está chamando os anjos <Je “deuses.” Se for assim, não significaria que os anjos eram realmente deuses. Podería ser argumentado, então, que a lição de Salmo 8.5 era que o homem foi feito só um pouco inferior às criaturas espirituais que os homens tão freqüentem ente adoravam erroneam ente como deuses. Esta interpretação também se encaixaria no contexto de Hebreus 2.7, posto que, desde Hebreus 1.5 até ao fim do capítulo 2, o autor argum enta em favor da superioridade do Filho sobre os anjos:- Isto é: pode-se entender que Hebreus subentende que até mesmo os anjos de Deus podem ser idolatrados se forem erroneamente exaltados ou adorados como deuses o que alguns hereges antigos estavam fazendo (cf. Cl 2.18). Além disso, essa interpretação também se encaixaria em Hebreus 1.6, que cita o Salmo 97.7 dizendo que todos os anjos de Deus devem adorar ao Filho. O Salmo 97.7 em hebraico é uma ordem aos “deuses” (identificados no contexto im ediato como ídolos) no sentido de adorar a Jeová, Sendo assim, Hebreus 1.6 testifica, de uma só vez, que oS anjos, se forem considerados deuses, são deuses falsos, e que Jesus Cristo é adorado pelos anjos como Jeová o Deus verdadeiro. Há outros m otivos para negar que os anjos sejam verdadeiram ente deuses num sentido" positivo. A Bíblia declara categoricam ente que os espíritos dem oníacos não são deuses (1 Co 10.20; G14.8). Posto que os demônios são

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espíritos e “poderosos* (embora iníquos) tanto quanto os santos anjos, segue-se que os anjos náo podem ser deuses em virtude de serem “poderosos.” Além disso, a tradução de elohimno Salm o 8.5 como “os sem elhantes a Deus” tem o problem a de contradizer a Bíblia, que declara nítida e repetidam ente que ninguém é . sem elhante a Deus (Êx 8.10; 9.14; 15.11; 2 Sm 7.22; 1 Rs 8.23; 1 Cr 17.20; Sl 86.8; Is 40.18, 25; 44.7; 46.5, 9; Jr 10,6-7; Mq 7.18), em bora as criaturas possam refletir as qualidades m orais de Deus (Rm 8.29; E f 4.24; Cl 3.10; 2 Pe 1.4; 1 Jo 3.2). ’ Finalmente, ainda que os anjos fossem deuses nalgum sentido positivo, isso não explicaria em que sentido Jesus é cham ado “Deus,” posto que Ele não é um anjo - Ele é Filho de Deus (Hb 1.4-5); é adorado por todos oSanjos (Hb 1.6); é o Deus que reina, e não um m ensageiro espiritual (Hb 1.7-9); e é o Senhor que criou tudo, não um anjo criado para servir (Hb 1.10-13); ■. , Antes de deixar esta questão, deve ser notado de passagem que Satanás é chamado “o deus deste século” (2 Co 4.4), mas claramente no sentido de um deus falso, que nesta presente era secular, tem licença de usurpar o lugar do Deus verdadeiro. A lição de 2 Coríntios 4.4 é esta! e não para declarar que Satanás é um ser poderoso.

Os homens poderoso^ são deuses? A s testem unhas de Jeová alegam que não som ente os anjos poderosos, mas também os hom ens poderosos, sáo cham ados “deuses” nas Escrituras, com o form a de reconhecer seu grande poder. Essa alegação, no entanto, é- passível de objeções ainda m ais difíceis do que a declaração de que os anjos são deuses.

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A Bíblia nega explicitamente que homens poderosos, tais como reis, ditadpres e líderes militares, sejam deuses {Ez 28.2, 9; cf. Is 31.3; 2 Ts 2.4), De fato, freqüentem ente nas Escrituras, "homem” e “Deus” são em pregados como categorias opostas entre si, num paralelo com “carne” e “espírito” (Nm 23.19; Is 31.3; Os 11.9; Mt 19.26; Jo 10.33; A t 12.22; 1 Co 14,2). Tendo em vista este fato, os textos que chamam os homens de “deuses” num sentido positivo devem ser estudados com cuidado, e interpretações alternativas seguidas quando assim perm itir o contexto, O texto usualmente citado nessa conexão, como, por exemplo, na brochurà das testemunhas de Jeová, é o Salmo 82.6: “Eu disse; Sois deuses,” que é citado por Jesus em João 10.34. Esse versículo tem sido comuínente interpretado (por trinitários bem como por antitrinitãrios, masp tirando conclusões diferentes) no sentido de cham ar os juífces israelitas de “deuses” em virtude do seu cargo honroso* de representar Deus diante do povo no juízo. Mesmo supondo que essa interpretação seja certa, o versículo não estaria dizendo que os ju izes realm ente são deuses no sentido de “seres poderosos.” Pelo contrário, seria uma simples declaração de que, cómo ju izes em Israel, representavam Deus. Esse sentido representativo de “deuses” teria, então, de ser distinguido de um senso qualitativo , no qual as criaturas são chamadas “deuses” como uma descrição do tipo de seres que são. Hã, no entanto, bons motivos para pensar que os ju izes israelitas foram chamados “deuses” não como honraria, mas para desm ascará-los como falsos deuses. Este fato pode mais bem ser percebido por uma leitura cuidadosa do Salmo inteiro. No Salmo 82.1, Jeová Deus está sendo referido pelo salm ista na terceira pessoa: “Deus se põe em pé... Ju lga... ” *



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(NASB). O salm ista dlz: “Deus [eíohím] se põe em pé na assem bléia de Deus [el]; Ju lgano meio dos deuses [eíohím]” [TOMl. Aqui tem os dois elohim diante de nós: Deus, e os ju izes, que o salm ista cham a de “deuses," Nos w . 2-5 Deus pronuncia ó Seu ju ízo contra os ju izes israelitas. São injustos, m ostram parcialidade aos iníquos, deixam que os iníquos abusem dos pobres e indefesos, e com seu julgam ento injusto estão destruindo os alicerces da vida na Terra. . Lemos, então, no v, 6: “Eu disse; Sois deuses...” Esta é um a referência áo v. 1, onde o salm ista cham a os ju izes de “deuses”; “Ju lgan o m eio dos deuses" [TN M ],As linhas que se seguem deixam claro que, em bora o salm ista tenha se referido aos ju izes iníquos como “deuses,” não eram realm ente deuses de modo nenhum, e com prováram que não estavam à altura de ser “deuses.” Este fato é deixado claro de duas maneiras, ■ , Prim eiro: a segunda linha do v. 6 acrescenta: “E todos vós sois filhos do Altíssim o” [TNM], O que pode significar isso? A expressão sem elhante “filhos de Deus" é empregada no Antigo Testam ento somente a respeito dos^ anjos (Gn 6.2, 4; Jó 1,6; 2.1), a não ser que interpretem os Gênesis 6.1-4 como uma referência a uma linhagem piedosa de homens. Os ju izes israelitas não eram nem anjos, nem hom ens piedosos. Oséias 1,10 fala profeticam ente dos gentios que se tom arão “filhos do Deus vivo," mas esse texto refere-se aos gentios que se tom arão cristãos e, portanto, filhos adotados por Deus (Hm 9.26). Os ju izes não eram cristãos, tampouco. A explicação mais fácil (e talvez a única) é que são chamados “filhos do A ltíssim o” com ironia. Isto é, o salm ista os cham a “filhos do Altíssim o" não porque realm ente o eram, mas porque assim se consideravam, e ele queria desm ascarar aquela atitude

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ridícula deles (ver um emprego semelhante de ironia pelc^ apóstolo Paulo em 1 Co 4.8). Sendo correta essa interpretação, fica subentendido que também com ironia foram chamados "deuses.” Sendo assim, o pensam ento em pauta seria que esses ju izes humanos consideravamse deuses, seres imortais com o poder da vida e da morte. As linhas seguintes, no Salmo 82.7, confirmam essa interpretação: os ju izes são relem brados que são homens comuns que morrerão. A implicação clara é que embora parecessem dom inar sobre a vida e a morte dos seus concidadãos israelitas, não eram mais deuses do que qualquer outra pessoa, porque assim como os mais grandiosos entre bs homens morreriam. Depois, no v. 8, o saímista dirige-se a Deus na segunda pessoa: "Levanta-te, ó Deus, julga a terraí.. Noutras palavras: os Juizes comprovaram ser falsos deuses; que venha, agora, o Dçus verdadeiro e julgue o mundo com justiça. Essa maneira de interpretar o Salmo 82 não entra em conflito com o argumento de Cristo, em João 10.34-36. S e ele chamou ‘deuses' aos contra quem se djrigia a palavra de D eus...” (João 10.35 TNM), nada no texto exige que os "deuses” sejam outra coisa senão deuses falsos. O argum ento de Jesus pode ser parafraseado e expandido da seguinte maneira: Nao está escrito na Lei que vocês dizem ser de vocês: “Eu disse: ‘Sois deuses*”? O saímista, que vocês consideram um dos seus, e vocês mesmos como sucessores dignos dele, chamaram aqueles juizes iníquos, contra os quais a palavra de Deus veio,em condenação, “deuses.” E a Escritura nâo pode ser anulada: forçosamente tem algum cumprimento. Portanto, esses juizes imprestáveis devem ter sido chamados "deuses" por algum motivo, a fim de ser

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ressaltado algum juiz humano digno, que é corretamente chamado Deus. Ora, o Pai tem dado testemunho da minha vocação santa, e me enviou ao mundo para cumprir todos os Seus propósitos. Sendo assim, como podem vocês, que alegam ser seguidores da tradição do salmista, ter a mínima possibilidade de serem justificados ao rejeitarem o cumprimento das suas palavras, e ao me acusarem de blasfêmia porque me chamo o Filho de Deus? Como vocês poderão escapar de ser classificados juntamente com aqueles juizes iníquos que julgaram com injustiça, quando vocês me julgam com injustiça? Segundo essa interpretação, Jesus está dizendo que aquilo de que os ju izes israelitas foram cham ados com ironia e condenação, Ele o é na realidade e na santidade; Ele fa z o que eles não poderíam fazer, e Ele é o que eles não poderíam ser. Esse tipo de cum prim ento positivo em Cristo contrastado com uma falha hum ana registrada no Antigo Testam ento, ocorre noutras partes do Novo Testa­ mento, notadamente no contraste com o pecador Adão e o Cristo ju sto (Rm 5.12-21; 1 Co 15.21-22, 45), Resumindo: os ju izes chamados “deuses” no Salmo 82 não poderíam realm ente ter sido deuses, pois a Bíblia nega que homens poderosos ou autoritários sejanvdeuses. Se fossem chamados “deuses” num sentido positivo, seria rigorosam ente um a expressão figu rada pelo fato de representarem Deus ao julgarem o Seu povo. M as é mais provável que tenham sido chamados “deuses” com ironia, para desm ascará-los como ju izes iníquos que estavam com pletam ente inadequados para a tarefa de exercer o julgam ento divino. Seja como for que interpretem os o Salm o 82, portanto, não existe nenhum fundam ento para ensinar que .existam criaturas que podiajn ser descritas qualitativam ente como deuses.

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Concluímos, portanto, que as declarações bíblicas de que existe um só Deus não são contrariadas ou modificadas nem um pouco pelos “textos de prova” citados pelas testem unhas de Jeová no sentido de com provar que as criaturas possam ser honradas como deuses. Hã um só Criador, e tudo o mais é criado; há um só Eterno, e todo o resto é tem poral; um só Senhor Soberano, e todos os demais são servos indignos; um só Deus, e todos os demais são adoradores. Qualquer outro ensino é um repúdio ao monoteísm o bíblico.

Jesus é crialura? A s testem unhas de Jeová negam que Jesus é o Criador, e argumentam em Deve-se Crer na Trindade? que “a Bíblia diz claram ente que na sua existência pré-humana, Jesus era um ser espiritual criado, do mesmo modo como os anjos são seres espirituais criados por Deus” (pág. 14). Para apoiar essa alegação, a brochura cita Provérbios 8.22; Colossenses 1.15; e Apocalipse 3.14. Os ãrianós, querendo ensinar a mesma coisa, citavam esses mesmos textos, especialm ente Provérbios 8.22. Considerarem os cada um desses textos por sua vez, e então indicarem os algumas das evidências bíblicas que levam a Jesus ser considerado o Criador e não uma criatura.

Jesus é uma sabedoria criada? Provérbios 8.22 [TNM], onde a Sabedoria está falando; com eça assim : “O próprio Jeová raç produziu como

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princípio do seu cam inho...” A s testemunhas alegam que aqui, no tocante à Sabedoria, “a maioria dos peritos concorda que se trata realm ente de um a figura de linguagem que se refere a Jesus e sua condição de criatura espiritual anterior à sua existência como hum ano," e concluem que o Jesus pré-humano foi criado (pág. 14). Há vários motivos porque essa interpretação deve ser rejeitada. Em prim eiro lugar, a palavra que as testem unhas de JedVá traduzem por “produziu,” e que algumas versões até mesmo traduziram por “criou,” é qanah em hebraico. Essa palavra é empregadafreqüentemente em Provérbios, nunca com o significado de “criar," mas seinpre de “adquirir" ou “com prar,” ou seja: adquirir com dinheiro (Pv 1.5; 4.5, 7; 8.22; 15.32; 16.16; 17.16; 18.15; 19.8; 20.14; 23.23). Esse também é o seu significado consistente em cerca de 70 outras ocasiões em que a palavra é empregada no restante do Antigo Testamento. Em segundo lugar, a “sabedoria" é personificada, não somente em Provérbios * 8.22-31, mas na totalidade de . t Provérbios caps, 1-9. Nada em Provérbios 8.22-31 sugere que essa é uma “sabedoria” diferente daquela que é aludida nos capítulos anteriores e posterior. Se, portanto, entenderm os que 8.22 fala literalm ente a respeito de Cristo, devemos também tom ar por certo que Cristo é uma m ulher que grita na rua (1.20-21), e que m ora com alguém chamado “Prudência” (8.12) numa casa de sete colunas (9.111 Em terceiro lugar, o texto pode ser lido com toda a naturalidade como um tnodo poético de dizer que a Sabedoria preexistia etemamente com Jeová. Nos capítulos anteriores, Salomão tinha conclamado seu filho a “adquirir" [qanah) sabedoria (Pv 4.5, 7), e esse desafio é continuado nos capítu los p o s te rio re s ,(16.16; 17.16; 19.8). Em

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Provérbios 3* 19-20, Salomão declara resum idam ente que Deus exerceu sabedoria na Sua obra de criação. Em todas as partes de Provérbios capítulos 8 e 9, a sabedoria é personificada como uma m ulher que convoca os habitantes da cidade a aceitarem dela instrução (cap, 8) e a i r com er à sua m esa na sua casa (cap. 9). No m eio desse trecho altam ente poético de Provérbios, surge um (8.22-31) que fala a respeito de Deus adquirindo {qanah de novo) sabedoria antes das suas obras, e de ter Ele criado o mundo através da sabedoria - obviam ente um paralelo com o significado de 3.19-20, e que deve, com Igual clareza, ser entendido como uma personificação de um dos própriòs atributos de Deus: a sabedoria. Portanto, ò sentido é que Salomão, depois de conclam ar seu filho a “adquirir” a sabedoria, responde à pergunta dacrian ça: “Quando Deus obteve a sabedoria?" dizendo, com o efeito: "Deus ‘adquiriu’ a sabedoria na eternidade,” ou seja: Deus sem pre teve sabedoria. Por isso, 8.23 diz: “Desde a eternidade foi estabelecida...”; note que a frase desde a eternidade é a mesma que é aplicada a Deus no Salmo 90.2, onde as Testem unhas de Jeová reconhecem que Deus está sendo descrito como Aquele que não teve princípio. Com orm e Derek Kidner expressou o caso tão bem no seu com entário sobre Provérbios: "... esta passagem faz sentido excelente ao nível da metáfora: i.é, como modo poderoso de dizer que, se nós nada podem os fazer sem a sabedoria, o próprio Deus não criou nada, nem agiu,'sem ela. A sabedoria através da qual se faz o uso devido do mundo, não é outra senão aquela sabedoria através da qual ela existe,” (1) É im provável, no entanto, que Provérbios 8.22-31 deva _ ser entendido como uma descrição de Cristo, em bora 't

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algumas coisas ditas ali a respeito da sabedoria possam ser cum pridas num sentido em Cristo, assim como 2 Sam uel 7.14 estava realmente falando a respeito de Salom ão, em bora no sen tido p rofético tivesse um cum prim ento m aior em Cristo (Hb 1.5b). Mesmo supondo, portanto, que Provérbios fosse uma descrição de Cristo, seria um erro tão grande argumentar na base de Provérbios 8.22 que Cristo foi criado, como argum entar na base de 2 Safhuel 7.14 que Cristo seria um pecador! Na realidade, seria um erro m ais grave, p ois P ro vérb io s 8.22, c u id a d o s a m e n te in te rp re ta d o , n ã o e s tá m esm o asseverando uma origem criada da sabedoria, conforme tem os demonstrado. Mesmo se aquilo que é dito a respeito da sabedoria em Pv 8.22-31, seja aplicado de algum m odo a Cristo, seria uma afirmação poética de Ele sem pre existir, e não uma prova de que Ele foi criado.

"O Primogênito de toda a criação" Em Colossenses 1.15 Cristo é chamado “o prim ogênito de toda a criação.” Essa expressão écitada na brochura da Torre de V igia sem nenhum com entário explanatório, tom ando por certo, sem dúvida, que será entendido no sentido de Cristo ser uma criatura. Numa outra publicação da Torre de Vigia, Raciocínios d B a s e das Escrituras. três argum entos são apresentados em favor de interpretar Coldssenses 1.15 dessa maneira. . Primeiro: as testemunhas de Jeová notam que a inter­ pretação trínitária usual entende que “o prim ogênito de toda a criação” significa que Cristo ê “o m ais distinto em relação aos que foram criados,” e perguntam por que, então, esse título não foi aplicado ao Pai e ao Espírito Santo. (2) Mas esse é simplesmente um argum ento na

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base do silêncio, ou seja, raciocinar que porque algum a coisa não é dita, não é a verdade. Argum entos assim são notavelm ente indignos de confiança. Por exemplo, porque M ateus 28.1 m enciona som ente duas m ulheres que visitaram o tumulo de Jesus, devemos concluir que somente duas m ulheres foram ? Não, porque Lucas 24.10 deixa claro que pelo menos cinco m ulheres visitaram o túmulo. A Bíblia nunca diz explicitam ente (nem sequer na TNM) que Deus Pai é Jeová. Mas é claro que Ele é Jeová, porque ela m esm a diz que o Pai é o único Deus verdadeiro (Jo 17.3), e o Antigo Testam ento nos inform a que Jeová é o único Deus verdadeiro (p.e. Jr 10.10). Além disso, hã uma boa razão por que uo prim ogênito de toda a criação” nunca e aplicado ao Pai ou ao Espirito Santo. As testem unhas de Jeová reconhecem um averdade quando dizem que a idéia de filiação não pode ser elim inada da palavra primogênito . Mas deturparam o modo de os trinitários entenderem aquela palavra. Os tiinitaristas acreditam que a palavra não significa m eram ente algo vago como "o m ais distinto,” mas, pelo contrário, significa o herdeiro, aquele que tem o direito de herdar tudo do seu pai. Cristo, como o Filho de Deus, é o “herdeiro” do Pai porque tudo quanto é do Pai tam bém é do Filho. *É claro que essa é uma figura de linguagem, e não deve ser forçada a ser literal dem ais (Deus Pai nunca vai m orrer e “deixar sua herança” ao Filhoí) A questão em pauta é sim plesm ente que, assim como dizemos que o prim ogênito de um homem é usualmente o herdeiro de todas as suas propriedades, assim Colossenses 1.15 cham à Cristo “prim ogênito [herdeiro! de toda a criação.” Em segundo lugar, as testem unhas d,e Jeová ressaltam que as expressões paralelas: “prim ogênito de Faraó,” "prim ogênito de Israel,” etc., sempre são usadas no sentido

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da prim eira pessoa a nascer naquele grupo, de modo quç “o prim ogênito de toda a criação” deve significar a prim eira pessoa a ser criada. Com mais exatidão, porém, o que essas expressões significam é o prim eiro filho da pessoa m encionada - de modo que o prim ogênito de Farão é o prim eiro filho de Faraó; o primogênito de Israel é -o prim eiro filho de Israel; e assim por diante. Se.a expressão "o prim ogênito de toda a criação” for considerada paralela cdtn essas frases, significaria, então, o prim eiro filho de toda a criação. Isto, porém, seria exatamente o inverso de tudo quanto o texto realmente diz: que toda a criação veio a existir através de Cristo (Cl 1.16). A criação não produziu Cristo; foi Cristo quem produziu a criação! Posto, portanto, que o significado de “primeiro filho de” não se encaixa no contexto, deve fica r subentendido o sign ificado de “herdeiro.” Somente essa interpretação dá sentido ao texto, que significa, então, que Cristo é o herdeiro da criação porque todas as coisas foram criadas por meio dEle e para Ele. Uma ilustração talvez ajude a esclarecer o que está em jogo aqui. Se lermos a frase "o herdeiro de João Rocha," não teríam os problemas em com preender que aquele que foi chamado herdeiro também foi (provavelm ente) um filho de João Rocha, Se, no entanto, a mesma pessoa fosse ch a m a d a “h e rd e iro d ãs p ro p rie d a d e s R o c h a ,” reconheceriam os imédiatamente que quem era chamado herdeiro não era nem parte das propriedades nem filho das propriedades! Nem ficaríam os confusos, se léssem os “o herdeiro da fam ilia Rocha”; embora esta expressão fosse incomum, entenderiam os que o herdeiro efa um membro da fam ília Rocha. Deve ficar óbvia a lição desse paralelo. “Toda a criação” não pode ser entendida no sentido de ser pai de Jesus Cristo. Nem pode ser conside­

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rada a fam ília da qual Ele faz parte, nem sequer dentro das opiniões das testemunhas de Jeová, pois então Deus teria de ser incluído naquela “fam ília” cham ada “toda a criação.” Sobra, então, somente a possibilidade de que “toda a criação” é a propriedade que Cristo “herda” em virtude de ser o Filho de Deus, Aquele para quem foi feita toda a criação (v. 16). Finalm ente, as testemunhas de Jeová traduzem a. frase “todas as coisas” em Colossenses 1.16-20 como “todas as [outras] coisas, quatro vezes, afim de deixar subentendido que Cristo é uma das coisas criadas. Justificam esse acréscim o ao apelar a textos tais como Lucas 13.2, onde outros está claram ente subentendido. Esse argumento olvida dois fatos chaves. Primeiro, o termo traduzido por “todas” em Colossenses 1.16-20 não é merafriente ,a palavra geral para tudo,” pas, mas ta panfa, uma forma neutra do plural queé empregada no sentido de “ainteireza” õu “a totalidade,” e que, quando é empregada a respeito da criação, significa “o universo,” todas as cóisas criadas, sem exceção (cf., por exemplo, E f 1.10-11 TNM). Em segundo lugar, o acréscimo também altera o significado do texto, ao invés de tom ar explícito ou que já é óbvio, conforme é o caso em Lucas 13.2. Isto é: a palavra outros pode ser omitida de um texto tal como Lucas 13.2 sem alterar o significado óbvio; mas o significado de Colossenses 1.16-20 fica muito alterado com o acréscimo da palavra outras. Concluindo: Colossenses 1.15 certam ente não pode ser usado para comprovar que Cristo foi criado. A interpretação “herdeiro de toda a criação” faz sentido no contexto e entende "prim ogênito” num sentido figurado legítim o. A m aneira das Testem unhas de Jeová interpretarem o texto exige que acrescentem “outras” quatro vezes aos versículos que se seguem, para forçar o texto a concordar com a

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opinião deles, e mesmo assim não oferece, um significado razoável para a expressão “o primogênito de toda a criação. ” Sendo assim, esse trecho serve mais como um poderoso texto de prova de que Cristo é o Criador. (3)

O princípio da criação de Deus Apocalipse 3.14 chama Cristo “o Amém, a testem unha fie r e verdadeira, o princípio da criação de Deus.” Ô emprego da palavra principio como descrição de Cristo indica, segundo dizem as testemunhas de Jeová, que Ele foi criado. Se considerarmos a gam a de significados possíveis da palavra grega archê que aqui é traduzida por "princípio,” deve ser reconhecido que a palavra pode ter esse significado, Não é, no entanto, o único significado, nem sequer um significado provável. O argum ento principal apresentado na brochura das testem unhas de Jeová para interpretar “o princípio da criação” no sentido de “prim eira criação" é que João (o autor do Livro do Apocalipse) sem pre em prega archê com “o significado comum de ‘princípio’” (pãg. 14). Se, porém, for para entender "primeira coisa" com a palavra "princípio,” essà declaração é falsa. Na realidade, tem esse significado um a só vez nos escritos de João (João 2.11). Em todo o resto do Evangelho segundo João e nas suas epístolas, sempre se refere a um ponto inicial no tempo (João 1.1, 2; 6,641 8.25, 44; 15,27; 16.4; 1 João 1.1; 2.7, 13, 14, 24; 3.8, 11; 2 João 5, 6) e não à primeira coisa numa série. No livro do Apocalipse, na realidade, archê é em pregada só mais três vezes, e sempre no tocante a Deus como "o princípio e o fim ” (Ap 1.8; 21.6; 22.13). Mas as testemunhas de Jeová negarão, com toda a razão, que Deus é um prim eiro objeto numa série doutros objetos.

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Sendo assim, é pelo m enos possível, ou até m esm a provável, que Apocalipse 3.14 não em pregue “princípio” no sentido de prim eira coisa.” Devem os, portanto, considerar duas interpretações alternativas,*sendo que am bas sáo consistentes com a Trindade. *r Prim eiro, é possível que em Apocalipse 3.14 archê signifique "soberano” ou “prim eira autoridade” sobre a criação. O argum ento em favor dessa opinião é simples. Parece que em todos os demais lugares no Novo Testam ento em que archê é usada no tocante a um a pessoa, quase sem pre se refere a um soberano dalgum tipo. [As únicas exceções são os três em pregos no Apocalipse da expressão “o princípio e o fim ” como título de Deus.) Em especial, a form a plural archai ocorre frequentem ente no Novo Testam ento e é usualm ente traduzida por “principados” ou palavras sem elhantes (Lc 12.11; Rm §.38; E f 3.10; 6.12; Cl 1,16; 2.15; T t 3.1). D iias vezes é usada no singular no sentido de “governo” ou “dom ínio” (Lc 20.20; Jd 6). Três vezes ocorre na expressão “todo governo” ou “todo soberano” (1 Co 15,24; E f 1j21; Cl 2.10). Além disso, em Còlossenses 1.18, o único outro lugar no Novo Testam ento onde Cristo é chamado archê, e onde a palavra é usualm ente traduzida por “prinoípio,” o significado de ^soberano” é praticam ente certo. Isto;porque o plural archai ocorre três vezes naquele contexto (1.16; 2.10, 15) com o significado de “soberanos,” e porque em Colossenses 1.18 (“o archêf o prim ogênito de entre os m ortos”) form a um paralelo claro com Apocalipse 1.5 (“o prim ogênito dentre os m ortos e o archôn soberano dos reis da terra.”) Essa linha de raciocínio possui m uitos méritos, e é possível que “soberano” seja o significado correto de archê em Apocalipse 3.14. Mas também é possível (em bora não

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seja certo) que archê signifique “origem ” ou "prim eira causa.” * A palavra grega archê podia, no grego do século I, ter o significado de “prim eira causa” ou “origem ” ou “fonte,” quando é em pregada com relação ao universo ou à criação. Em bora esse uso da palavra não pareça ser encontradiço claram ente noutras partes do Novo Testam ento, no livro do A pocalipse archê parece estar sendo em pregada nesse sentido em todas as três outras ocorrências da palavra naquele livro. Nesses três versículos, Deus é cham ado “o princípio e o fim ” (1.8; 21.6; 22.13). A m elhor in terpreta­ ção dessa expressão parece ser a de que Deus é o iniciador e o consum ador da criação - que Ele é a sua causa original e seu alvo final. É, portanto, razoável supor quê esse mesmo uso ocorre em 3.14. Respondendo a essa linha de raciocínio, pode-se dizer que, o fato de Jesus não ser aqui cham ada “o fim ”, além de ser cham ado “o princípio”, sugere que a palavra está sendo usada com um a nuança diferente. Essa observação não refuta a interpretação da “prim eira causa”, mas certam entè indica que essa não é a única interpretação possível. Resum indo: archê em .Apocalipse 3.14 pode significar OUl "soberano” ou “prim eira causa.” O significado dç prim eira coisa criada” é a interpretação m enos provável, levando-se em consideração o contexto e o uso de archê no N ovo Testam ento com referência às pessoas. Certam ente n ã a é possível usar Apocalipse 3 .14 para comprovar que C risto foi criado.

«Jesus como Criador Por enquanto, olham os os três textos de prova principais usados pelas testem unhas de Jeová (e por m uitos outros

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antitrinitários) a fim de com provar que Cristo é uma criatura. Já vim os que certam ente nenhum desses textos diz isso com clareza, e que todos os três são m ais bem interpretados no sentido de ensinar que Cristo é o Criador eterno. Logo, se a Bíblia oferece noutros lugares um testem unho nítido a Cristo como o Criador, podem os con clu ir com segurança que esses textos de prova concordam com aquele ensinamento. É bastante fácil dem onstrar que a B íb lia ensina claram ente que Cristo criou todas as coisas. “Todas as coisas vieram à existência por interm édio dele; e à parte dele nem mesmo uma so coisa veio ã existência” (João 1.3). Se todas as coisas que “vieram a existir” dependeram de Cristo para sua existência, Ele mesmo não pode ter “vindo a existir.” Já mencionamos Colossenses 1.16, que declara que “nele foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele” (ver também Kingdom InterlinearTranslation [KIT] “Tradução Interlinear do Réino”, publicada pela Torre de Vigia). Se todas as çoisas que foram criadas, o foram nEle, por meio dEle, e para Ele, segue-se que Ele mesmo não foi criado. Hebreus 1.2 diz: “através de quem [o Filho] ele [Deus] fez as eras” (KIT). Isso deixa subentendido que o Filho transcende as eras. A s Testem unhas de Jeová procuram inverter essas evidências, dizendo que todos esses textos dizem que Deus criou o mundo através de Cristo, e concluem daí que Cristo era “por assim dizer, um sócio subordinado” a Deus (pàg. 7), na obra da criação. Notam que 1 Coríntios 8.6 diz quê a criação veio do Pai, mas por Cristo. Existem pelo menos duas razões por que essa objeção não pode ser válida. Primeiro, o Novo Testam ento tam bém

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declara que o mundo veio por intermédio de ou através de Deus (Rm 11.36), especificam ente por interm édio do Pai (Hb 2.10 TNM). (A mesma palavra grega traduzida por “através de” ou “por interm édio de” [dià\ ou sua form a contraída IdV] aparece em todos esses versículos. Isso significa que “através de” não subentende um papel in ferior ou secundário na criação (que é o que as testemunhas de Jeová alegam). Esse fato parece embaraçar tanfo as testemunhais de Jeová que traduziram dV como “por” em vez de “através de” ou “m ediante” em Romanos 11.36 - "Porque todas as coisas são dele, e por [dV] ele, e para [eis] ele.” (TNM). É também digno de nota que Rom anos 11.36 diz que todas as coisas são "para” (eis) Deus, ao passo que Colossenses 1.16 diz que todas as coisas são “para” (eis) Cristo, Em segundo lugar, a Bíblia ensina que Deus criou o munido sozinho. “Eu, Jeová, faço tudo, estendendo os céus por mim njesmo, estirando a terra. Quem estava com igo?” (Is 44.24, TNM). Fica claro que a pergunta retórica “Quem estava comigo?” convida a resposta; “Ninguém.” Logo, é bem impossível do ponto de vista bíblico sustentar que Deus criou Cristo e então criou tudo o mais através dEle. A idéia de que o Deus supremo precisava de um “sócio inferior” para fazer o serviço Sujo de criar o mundo é pagã, e não bíblica, conforme vimos em nosso estudo da história da teologia trinitãria no capítulo 4.

6 A Bíblia nega que Jesus é Deus? Por enquanto, em nosso exam e dos ensinam entos bíblicos relevantes à Trindade, tem os visto que hã um só Deus verdadeiro, sendo que os demais cham ados deuses sáo deuses falsos; e que Jesus é o Criador, e não um a criatura. A s testem unhas de Jeová alegam, no entanto, que outras linhas de evidência das Escrituras excluem a p o ssib ilid a d e de J esu s ser D eus. N este cap ítu lo, considerarem os alguns desses argumentos.

Jesus distinto de Deus O tipo m ais fundam ental de argum ento em pregado pelas testem unhas de Jeová para m ostrar que Jesus não

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pode ser Deus é este: Existem vários textos bíblicos que fazem uma distinção entre Jesus e Deus, e que os tratam com o in d ivíd u os d iferen tes. A lgu n s desses textos sim plesm ente fazem uma distinção entre Jesus e o Pai (João 8.17-18). Esses textos não apresentam nenhuma dificuldade para a posição trinitarista, posto que a doutrina da Trindade também distingue entre o Pai e o Filho como duas “pessoas.” Existem, ainda, os textos bíblicos que falam do Pai com o o Deus de Jesus Cristo (p.e. João 20.17: 1 Co 11.3). A broch u ra da Torre de Vigia argumenta: “Visto que Jesus tinha um Deus, seu Pai, ele não podia ao mesmo tempo ser esse Deus” (pãg. 17). Mas também, os trinitãristas não sustentam que Jesus é Seu próprio Pai. Sustentam que Jesus, porque se tom ou homem, foi colocado numa posição na qual tinha que honrar o Pai como Seu Deus. Ao mesmo tempo, os trinitãrios podem ressaltar alguns aspectos do ensino da Bíblia que demonstram que as testemunhas de Jeová não compreenderam as implicações do fato de o Pai ser o Deus de Cristo. ' Primeiro: Jesus deixou claro que o Pai era o Seu Deus de m aneira bem exclusiva, por comparação com a maneira de ò Pai ser nosso Deus. Em João 20.17, portanto, Jesus declarou: “Eu ascendo para junto de meu Pai e VOSSO Pai, e para meu Deus e VOSSO Deus” [TNM ]. Na realidade, Jesus nunca se referiu ao Pai como “nosso Pai,” não se incluía juntam ente com os Seus discípulos. (Em Mateus 6.9 Jesus disse aos discípulos que eles deviam orar: “Pai nosso...” mas não se incluía Ele mesmo naquela oração). Jesus tomava o cuidado de distinguir entre os dois rela1 i cionamentos, porque Ele era o Filho de Deus por natureza. ao passo que os cristãos são “filhos” de Deus por adoção. Semelhantemente, o Pai era Deus de Jesus porque Jesus t

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se hum ilhou para tom ar-se homem (Fp 2.7), ao passo que o Pai é nosso Deus porque somos criaturas por natureza. Em segundo lugar, no contexto im ediato de João 20.17 fica claro que, qualquer que fosse o relacionam ento de Jesu s com o Pai, o relacionam ento ’ que ncfe, como discípulos, temos com Jesus é que Ele é nosso “Senhor” e nosso Deus” (João 20.28). (Teremos mais para dizer a respeito de João 20.28 no capítulo 7). Além disso, há textos que sim plesm ente se referem a Deus lado a lado com Cristo, de tal m aneira qüe fazem distinção entre Eles. Por exemplo: 1 Tim óteo 5.21 fala em “Deus e Cristo Jesus,” e 1 Coríntios 8.6 distingue entre “um só Deus, o Pai,” e “um só Senhor, Jesus Cristó.” Os trinitários, no entanto, têm um a resposta simples: Esses textos referem -se ao Pai como “Deus”, não porque Jesus Cristo é m enos que Deus, mas sim plesm ente porque o título Deus era norm alm ente usado para o Pai. Poderá ajudar uma analogia, se não for forçada além da liçã o que p rocu ra ilu s tra r .'R e fe r in d o -s e ao ca sa l presidencialdos E.U.A. G eorgee Bárbara Bush, u m jom al pode noticiar: “Bush apareceu com Bárbara,” não quer subentender que som ente George tem o sobrenom e de Bush, ou que o sobrenome de Bárbara n ão,é Bush; a linguagem joi^ialística é sim plesm ente determ inada pelo fato de que é George que é usualmerite referido como Bush. Ora, essa analogia tem um problema, posto que George e Bárbara são dois Bush separados, ao passo que o Pai e o Filho não são dois deuses. Mas essa diferença é exatamente o que esperaríamos ao com parar o Deus infinito com seres humanos infinitos. Podem os com provar que esses textos não significam que Jesus não é Deus, m ediante o estudo dos próprios textos. Conform e dissemos: 1 Coríntios 8.6 distingue

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entre “um só Deus, o Pai,” e “um só Senhor, Jesus Cristo.” A s testem unhas de Jeová concluem desse versículo que, posto que o Pai é o “um só Deus,” Jesus não podeserD eus. Mas, por esse tipo de raciocínio, posto que Jesus é o “um só Senhor,” o Pai não pode ser Senhor! Mas sabem os que o Pai ém esm e Senhor (Mt 11.25). Logo, deve haver algo de errado com esse raciocínio. O erro, conform e já foi explicado, é que tom a por certo que o emprego de um título paÜi uma pessoa exclui sua aplicação a outra. Isso não pode ser pressuposto, mas deve ser determinado m ediante a con sideração de todos os ensinam entos b íb licos relevantes. Finalm ente, 1 Tim óteo 2.5 diz que Jesus é “um só m ediador entre Deus e hom ens” [TNM], e a partir dessa declaração* a brochura das testem unhas de Jeòvã conclui que Jesus não pode ser Deus, porque “por definição m ediador é alguém a parte dos que precisam de m ediação” (pãg. 16). M as por esse raciocínio, Jesus não pode ser um homem, tampouco; mas esse próprio texto diz que ele é “um hom em ”! A verdade é que Jesus tem a capacidade de m ediar entre Deus e os homens, porque Ele mesmo é tanto Deus quanto homem.

Os paradoxos de Jesus A lgunsargiim entos que granjearam popularidade fácil, contra a crença de que Jesus é Deus, baseiam -se em vários paradoxos que surgem quando com param os o que a Bíblia diz a respeito de Jesus com aquilo que ela diz a respeito de Deus. A brochura das testem unhas de Jeová considera alguns deles. Deus não pode ser tentado, mas Jesus foi tentado (pãgs. 14-15); Deus é m aior do que os anjos, mas Jesus era inferior a eles (pãg. 15); Deus não

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pode ser visto, mas Jesus foi visto (pãg. 16); Deus não pode morrer, mas Jesus morreu de fato (pãg. 18); Deus sabe tudo, mas Jesus tinha conhecim entos lim itados e apren dia (pãg. 19). A esses paradoxos podem ser acrescentados outros tantos. Deus é eterno, porém Jesus tlasceu; Deus nunca muda, mas Jesus crescia; Deus não fica cansado, mas Jesus ficou cansado. Todos esses paradoxos baseiam -se num único paradoxo básico; Deus não é um homem, porém Jesus era um homem; , Poderiamos imaginar que numa brochura sobre aTrindade que levanta esses paradoxos, seria pelo menos mencionada a resposta trinitãrla a eles. Mas assim não acontece. Os trinitáiios acreditam que Jesus era Deus e também homem. Com mais exatidão, acreditam que Jesus era uma única pessoa divina (a segunda pessoa da Trindade) em quem foram unidas duas naturezas - Sua própria natureza divina, que Ele sempre possuía, e a natureza humana, que Ele tomou sobre Si a fim de redimir a humanidade. A reação usual das testem unhas de Jeová diante dessa doutrina é perplexidade. Como Jesus pode ser tanto Deús quanto homem? Isso não é contraditório e irracional? Os trinitários acreditam que não é irracional riem contraditório dizer que Jesus era e é tanto Deus quanto homem. Seria contraditório se asseverássem os que a carne de Jesus era divina em si mesma, ou que a Sua . natureza divina fosse mortal. Mas essas asseverações não representam o trinitarism o clássico. O que asseveram os mesmo é que Deus, sem cessar de ser Deus, tomou sobre Si a natureza humana, não por meio de m isturar as duas juntas, mas por meio de uni-las na única pessoa de Jesus. É difícil com preender ou entender plenam ente esse fato, assim como é difícil a própria doutrina ,da Trincjade, mas não é incoerente. ( d *

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Por exemplo: Jesus foi tentado. Mas os trintãrios não acreditam que a Sua tentação derivou-se nalgum sentido da Sua natureza divina, mas, sim, foi resultado do Seu viver com o ser humano num mundo corrupto onde abundam as tentações. Fica assim: Deus, como Deus, não pode ser tentado: mas Jesus, que é tanto Deus quanto homem, foi tentado como homem vivendo na Terra depois da Queda. . Além disso, a brochura das testemunhas de Jeová deixa desapercebidos certos ensinamentos relevantes de Jesus que lançam uma luz diferente sobre esses paradoxos. Certo. Deus não é homem (Nm 23.19), ao passo que Jesus ô é (1 Tm 2.5); mas Jesus também é Deus (João 20.28). Certo: Deus não pode ser tentado (Tg 1.13), ao passo que Jesus foi tentado (Hb 4.15); porém Jesus não podia pecar (João 5.19). Certo: Deus sabe todas as coisas (Is 41.22­ 23), áo passo que Jesus não sabia o dia da Sua volta (Mc 13.32); porém Jesus sabia todas as coisas (João 16.30). Certo: Deus não pode ser visto (Jo 1.18), ao passo que os homens realm ente viram a Jesus (1 João 1,1-2); porém nenhum homem tem visto nem poderá ver Jesus (1 Tm 6.16). Certo: Deus não pode m orrer (1 Tm 1.17), ao passo que Jesus realm ente morreu (Fp 2.8); porém ninguém podería tirar de Jesus a Sua vida (João 10:18), era im possível para Ele permanecer morto (At 2.24), e Êle ressuscitou a Si mesmo {João 2.19-22). Certo: Deus núnèa muda (SI 102.26-27), ao passo que Jesus crescia (Lc 2.52) e aprendia (Hb 5.8); porém Jesus também nunca m uda (Hb 1.10-12; 13.8). Certo: Deus é eterno (SI 90.2), ao passo que Jesus nasceu (Mt 1.18); porém Jesus também sempre existiu (João 8.58). Esses fatos bíblicos excluem a possibilidade de resolver o paradoxo por. meio de simplesmenteJnegar que Jesus é

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Deus. Nem é possível resolver o paradoxo por meio de negar Sua humanidade (conforme fizeram alguns gnósticos). Nem é legítimo resolvê-lo por meio de dizer que Jesus era um mero homem em quem Deus habitava, pois também podia-se dizer que Deus habitava noutros homens, ainda-que fosse em grau menor. Todas essas teorias foram propostas nos primeiros séculos da História da Igreja, e todas elas foram rejeitadas pelos ortodoxos, e por bons motivos: realmente não se encaixam com aquilo que a Bíblia diz a respeito de Jesus. São menos misteriosas, menos paradoxais, mas contradizem categoricamente a Bíblia. Deve ser mantido em mente que nenhum desses textos bíblicos que falam a respeito de Jesus nascendo, crescendo, aprendendo, resistin do tentações, fican do cansado, morrendo, e assim por diante, consegue tirar desses fatos as conclusões que as testem unhas de Jeová tiram . Isto é: a Bíblia nunca chega ã conclusão: “Portanto, Jesus não é Deus,” ou algo assim. O que temos são declarações que as testem unhas de Jeová acham que são incom patíveis com o fato de Ele ser Deus. M as essa é questão de inferência, e não questão de algum a declaração explícita. Além disso, essas declarações não contradizem, a rigor, a idéia de que Jesus é Deus, conform e já foi explicado.

O sacrifício vicário de Jesus A s testem unhas de Jeovã acreditam que se Jesus fosse Deus, Sua m orte não teria sido por um resgate apropriado, porque teria sido em excesso da ju sta exigência de. Deus. A brochura das testem unhas de Jeová explica: Jesus, nada mais e nada menos do que um humano perfeito, tomou-se um resgate que compensou exatamente f

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o que, Adão perdera - o direito à vida humana perfeita na terra ... A perfeita vida humana de Jesus foi o “resgate correspondente” [1 Tm 2.6 TNM] exigido pela justiça divina - nada mais, nada menos... Se Jesus, no entanto, fosse parte de uma Divindade, o preço do resgate teria sido infinitamente superior ao que a lei do próprio Deus exigia [pág. 15], Qeve ser notado que, mais uma vez, as testemunhas de Jeová têm construído um argumento sobre aquilo que supõem ser uma inferência válida do seu modo de entender o significado da morte de. Cristo. A Bíblia nunca tira a conclusão de que Jesus nâo poderia ter sido nada mais do que um mero homem. Além disso, esse argumento acaba revelando o conceito que as testemunhas de Jeová realmente têm de Jesus. Embora admitam que Jesus tenha tido uma “existência pré-humana,” isto não significa que o homem Jesus fosse aquela mesma criatura espiritual poderosa que, segundo acham as testemunhas de Jeová, tenha sido o “sócio subordinado” de Deus na criação do mundo. Pelo contrário, a opinião das testemunhas de Jeová é que no momento da concepção de Jesus no ventre de Maria, o espírito préhumano chamado “o Verbo” (Jo 1.1) ou o “Filho” de Deus (Hb 1.2) cessou de existir, e uma pessoa humana foi criada por Jeová com as lembranças da criatura espiritual que antes existira. Portanto, segundo as testemunhas de Jeová, Jesus na Terra não era o “Deus Forte” (Is 9.6), mas somente um mero homem com as lembranças daquele Deus Forte. Assim som os levados a uma conclusão curiosa: As testem unhas de Jeová não podem oferecer a m ínim a razão por que Deus preciSaria mesmo enviar o Seu Filho à Terra como homem. Posto que tudo o que se precisava

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era um ser hum ano perfeito, Deus podería sim plesm ente ter criado “do nada” um desses, se assim o tivesse desejado. O argumento das Testem unhai de Jeová a respeito do “resgate correspondente” também padece pelo m enos dois problemas mais diretos. O primeiro é que traduzir antdutron por “resgate correspondente” em 1 T im ó teo 2.6, se “correspondente” for entendido no sentido de “nada mais, nada m enos,” é um caso claro de tradução exagerada - de , atribuir à palavra mais do que está realmente ali. Embora a palavra antilutron seja muito rara em grego, e embora apareça somente aqui na Bíblia, o significado é certamente o mesmo que a declaração de Cristo em Marcos 10.45, de que Ele veio dar Sua vida “como resgate em troca de [lutron antQ m uitos" (TOM). A idéia nos dois trechos bíblicos é simplesmente a da substituição - de Cristo tom ai o nosso lugar. A idéia de que isso exigia que Cristo fosse “nada m ais” do que um ser humano perfeito está ausente. Em segundo lugar, a alegação das testem unhas de Jeová de que a morte de Cristo tinha a intenção de ser meramente o sacrifício de um ser humano perfeito para compensar o pecado de um só homem, Adão, é refutada por Marcos 10.45, que diz que Cristo “foi resgate em troca de m u ito s Cristo, portanto, não era meramente um homem que morria em favor de um só outro homem; estava morrendo em favor de milhões de homens, mulheres, e crianças. Cristo é chamado o “último Adão” e contrastado com Adão (Rm 5.12-21; 1 Co 15.21-22, 45), mas isso não comprova que Ele era “nada mais” do que Adão.

A de Jesus ,a Deus * Submissão •, Tâlvez o argum ento mais frèqüentem ente ouvido contra o fato de Jesus ser Deus pela Sua natureza e igual ao Pai •*

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na Sua divindade, seja o ensinamento bíblico a respeito da submissão de Jesus ao Pai. As testemunhas de Jeová têm consciência de que os trinitários acreditam que Cristo; na Sua natureza humana, estava numa posição de submissão ao Pai. As testemunhas de Jeová, no entanto, argumentam que isso não explica como Jesus Se submeteu a Deus depois da Sua ressurreição dentre os mortos e a Sua ascensãò ao Céu. SShdo assim, as testemunhas de Jeová, em bora citem, textos bíblicos que se referem à posição hum ilde de Cristo, enquanto era um hom em na Terra, relativo áo Pai (especialm ente João 14,28), dependenj ainda m ais de textos bíblicos que falem da submissão de Cristo depois da Sua ressurreição. Notam, por exemplo, que 1 Coríntios 11 -3 diz que “Deus é o cabeça de Cristo”; 1 Coríntios 15.28 diz que o Filho se sujeitará a Deus Pai depois de eliminados o pecado e a morte; e vários textos bíblicos dizem que até mesmo agora, depois da ascensão de Cristo, o Pai é Deus de Cristo (p.e., João 20.17; Rm 15.6; 1 C o45.24; 2 Cò 1.3; Ap 1.6; 3.12). Na base desses textos bíblicos, concluem que J esu s não era sim p lesm en te in fe rio r ao Pai tem porariam ente enquanto estava na Terra, mas que sem pre estará submisso a Deus. . Podemos ressaltar dois fatos que dem onstrarão que nenhum desses textos bíblicos contradiz o ensino da Bíbliã de que Jesus Cristo é Deus. Primeiro: o argumento das testemunhas de. Jeová tom a por certo que Jesus cessou de ser um homem. As testemunhas de Jeová acreditam que o corpo físico de Jesus nunca foi ressusci­ tado à vida, m as foi “levantado” (“criado de novo” pode ser m ais exato) como mero espírito. Se o corpo de Jesus fosse ressuscitado dentre os mortos, porém, da m aneira Como os tr in itá r io s a c re d ita m , J e s u s , com o h om em ,

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naturalm ente continuaria tendo algum tipo de subm issão ao Pai como Seu Deus. Em bora esta não seja a ocasião própria para uma discussão extensiva da natureza da ressurreição de C risto, umas poucas observações breves virão ao caso; A Bíblia declara explicitam ente que Jesus Cristo, depois da Sua ressurreição e ascensão, é “um homem”; Ele, como homem, é m ediador da nova aliança (1 Tm 2.5), e, como homem, ju lg a rá o m undo (A t 17.31). Jesus tam bém negou totalm ente que Ele era mero espírito (Lc 24.39). Antes da Sua morte, Jesus profetizara que ressuscitaria Seu próprio co rp o d e n tre os m o rto s (J oã o 2 ,1 9 -2 2 ), o qu e, naturalm ente, também subentende que Jesus ér Deus. Jesus também disse que entregaria a Sua “alm a,” ou vida física, a fim de recebê-la de novo (João 10.17-J8). Petjro pregou no Dia do Pentecostes que Jesus não podia ser mantido na morte e que a Sua carne vivia na esperança da ressurreição da Sua aím a do Hades (At 2.24-32), o que subentende, naturalmente, que a carne de Jesus foi ressuscitada da morte. As testem unhas de Jeová argumentam que Jesus não podia ter ressuscitado com Seu corpo físico porque isso teria envolvido tom ar de volta o “preço de resgate” que pagou pela nossa salvação. Conform e jã vim os, as testem unhas de Jeová têm alguns m al-entendidos a respeito do “resgate” de Cristo. De novo, esse argum ento baseia-se num a inferência que não tem apoio na Bíblia, Jesus deu a Sua alma como resgate (Mc 10.45), e Ele tinha o direito de receber Sua alma de volta (João 10.17-18), tendo por base a promessa de Deus de que a sua alm a não perm anecería no Hades (At 2.27). As testem unhas de Jeová também indicam os trechos nos Evangelhos onde os discípulos não reconheceram

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Jesus de início. Mas em cada caso, o texto oferece outra explicação do que aquela de ser Ele mero espírito: os olhos dos discípulos foram impedidos de reconhecê-Lo (Lc 24.16, 31); Maria Madalena estava chorando de m adrugada e nem estava olhando Jesus diretam ente de início (Jo 20.11 -16); os discípúlos no barco estavam longe da praia e, de novo, m al rompera a aurora (João 21.4-7). Hã m ais alguns outros trechos bíblicos citados pelas testerftunhas de Jeová na tentativa de com provar que o corpo físico de Cristo não foi ressuscitado, mas estes também foram interpretados de modo equívoco. (2) A questão continua sendo que se Jesus foi ressuscitado como um ser humano - embora fosse um ser humano glorificadò, exaltado, e im ortal - Ele continuaria a subm e­ ter-se ao Pai como Seu Deus em virtude de Ele ser homem. A segunda verdade que deve ser ressaltada no tocante à submissão do Filho ao Pai depois da Sua ressurreição e ascensão, é que semelhante submissão não é, de modo algum, inconsistente com a Trindade. A doutrina da Trindade sustenta que as três pessoas são iguais entre si no tocante à essência ou à natureza, e deixa em aberta a questão de como as três pessoas se relacionam entre si dentrò da Trindade. Sendo assim, ao passo que os trinitários insistem que Cristo é tanto Deus como o Pai, não negam que o Filho está, nalgum sentido, submisso ao Pai mesmo depois da Sua ascensão. U m -exam e dos textos “subordinacionistas” citados pelas testem unhas de Jeová confirm a essa verdade. Por exemplo: 1 Coríntios 11.3 diz que “Deus é o cabeça de Cristo. ” Mas também declara que Cristo é o cabeça de todo homem; ç que o homem (ou seja: o marido) é a cabeça dá m ulher (ou seja: da sua esposa). Ora, a Bíblia deixa bem claro í^ue os homens e as m ulheres são iguais quanto à

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sua natureza; ambos são plenam ente humanos, ambos são à imagem de Deus, e em Cristo são um (Gn 1,26-28; G13.28). A submissão fem inina, portanto, é uma questão de função, dê posição, ou de papel a ser desempenhado, e não de superioridade do homem sobre a mulher. Quanto a Cristo ser o cabeça de todo homem, no contexto há referên cia a um a ch efia fu n cion al, e não a um a superioridade essencial. E em certo sentido, Cristo não é essencialm ente superior aos homens, posto que o próprio Cristo é um homem, conforme tem os visto. É lógico que, noutro sentido, Cristo é muito superior aos hom ens na Sua essência, posto que pristo também é Deus. O fato de que a submissão de Cristo ao Pai é tão frequentem ente considerada uma prova da inferioridade da Sua natureza acaba revelando algo a respeito da nossa própria atitude enganada e pecam inosa para com a autoridade e a submissão. Pressupom os que seja quem está “em cim a” está ali porque, dalgum modo, é “m elhor.” Consideram os a subm issão como uma posição indesejá­ vel. Mas parece claro que as pessoas da Trindade não se sentem assim. Cada um a das três pessoas deleita-se em glorificar as outras. Nesse sentido, o Filho quer ser glorificado pelo Pai a fim de assim poder trazer m ais glória ao Pai (João 17.1). O Espírito Santo vem exclusivam ente com o propósito de glorificar ao Filho (João 16.14). O Pai exalta Jesus diante do mundo, e conclam a todos a honráLo como Senhor, òu seja: como Jeová; isso, porém, dá glória a Deus Pai (Fp 2.9-11). Entre as pessoas da Trindade, não há concorrência visando a glória, a honra, ou o poder; a única coisa desse tipo é que as pessoas da Trindade estão trabalhando com zelo a fim de trazerem glória uns aos outros.

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Jesus como o “Filho Unigênito” As testemunhas de Jeová alegam que a descrição de Cristo como o “Filho Unigênito” indica que o Filho foi criado. Argum entam que o termo “unigênito” (em grego, monogenês) realm ente inclui a idéia de gerar, e, portanto, que Jesus foi gerado pelo Pai. Notando que os trinitários alegam que a palavra é aplicada a Jesus, significando “um relacionam ento do tipo filho único sem a parte do gerar” (aliás, só uma m inoria dos trinitários definiría assim a palavra), a brochura da Torre de Vigia pergunta: “Isso soa lógico para você? Um homem pode ser pai de um filho sem gerá-lo?” (pág. 15). Indicando que Isaque é chamado o “unigênito” de Abraão em Hebreus 11.17, a brochura continua: “Não pode haver dúvida de que, no caso de Isaque, ele era unigêiiito no sentido nonpal” (pág. 16). Na realidade, porém, essa alegação está sujeita a graves dúvidas. Isaque não era o filho unigênito de Abraão no sentido literal de* o único filho que Abraão gerou. Abraão tinha m uitos outros filhos, inclusive Ismael, que foi gerado por Abraão antes de Isaque. Portanto, Isaque é chamado o “unigênito” de Abraão no sentido do filho incomparável ou especial de Abraão. Depois de citar algumas obras eruditas que parecem estar de acordo com a interpretação que as testem unhas de Jeová atribuem a “unigênito,” a brochura conclui que "o Deus Todo-Poderoso pode corretam ente ser chamado de seu [de Jesús] Genitor, ou Pai, no mesmo sentido que um pai terrestre, como Abraão, gera um filho" (pág. 16). Se essa lintía de raciocínio fosse sadia, no entanto, t sugeriría uma conclusão bastante embaraçosa para as testem unhas de Jeová. Se, portanto, Deus é o Pai de Jesus

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"no m esm o sentido que um pai terrestre... gera um filho,” parece que Jesus deve ter tido uma M ãe celestial, bem como um P ai celestial. Naturalmente, as testem unhas de J e o v á recu ariam d ia n te de sem elh an te su gestã o. D ife re n te m e n te d o s m ó rm o n s, p o r e x e iftp lo , as testem unhas de Jeová negam que o Jesus pré-hum ano foi gerado através de um a mãe divina. Mas seus argum entos parecem indicar sem elhante conclusão. P o d em o s e x p lic a r esse fa to d o u tra fo rm a . A s testem unhas de Jeová estão empregando um argum ento que tem a seguinte form a lógica: (a) Todos os filhos são gerados; (b) o Jesus pré-hum ano era um filho; logo (c ) Jesus foi gerado; mas (d) todos que são gerados também com eçam a existir nalgum mom ento do tempo, e, portan­ to, são criaturas; por isso (e) Jesus, tendo sido gerado, deve tam bém ser um a criatura. Isto soa bem , e é logicam ente válido - o que significa que se as premissas, ou asseveração de fato em que se baseia o argumento, são verdadeiras, a conclusão também teria de ser verdadeira. Considere, no entanto, o seguinte argum ento paralelo: (a) Todos os filhos tiveram mães; (b) o Jesus pré-hum ano era um filho; logo, ( c ) o Jesus pré-humano teve uma mãe. O argum ento pode Ser colocado assim: (d) Todos* que são gerados tiveram um a mãe; (e) Jesus, tendo sido gerado, tam bém teve uma mãe. . ' Há somente duas maneiras de escapar desse argumento. A prim eira é indicar que a Bíblia não diz qtie Jesus tinha um a mãe celestial. Isso não chega a refutar o argumento, mas pelo m enos dem onstra que, do ponto de vista bíblico, pode haver algo de errado nele. A segunda é argum entar que aquilo que se aplica aos pais e filhos terrestres nem sem pre se aplica ao Pai divino e ao Seu Filho divino. E assim fica dem onstrado que as declarações “todos os

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filhos tiveram m ães” e “todòs que são gerados tiveram m ães” são generalizações apressadas - somente se aplicam a seres terrestres. Essas mesmas respostas, no entanto, também podem ser feitas aos argumentos das testemunhas de Jeová no sentido de comprovar que Jesus deve ter tido um começo. A Bíblia não che^a a declarar que o Jesus pré-humano foi gerado pelo Pai nalgum momento do tempo; não declara que file teve um início,. (Já notamos que Pv 8.22; Cl 1.15; e Ap 3.14 não sustentam semelhante conclusão). Além disso, um fato certo a respeito de pais e filhos terrestres (que os filhos são sempre mais jovens do que os pais e nascem dentro do tempo) não se aplica necessariamente ao Pai eterno e ao Seu Filho. A brochura das testemunhas de Jeová argumenta: “Os trinitáristas dizem que, visto que Deus é eterno, o Filho de Deus também é eterno. Mas, como pode uma pessoa ser filho e ao mesmo tempo ter a mesma idade de seu pai?” (pág. 15). A resposta é: não pode, se fo r umjüho literal. E, conform e já vimos, Jesus não pode ser considerado um filho literal de Deus. Mas a brochura das testemunhas de Jeová, inconsciente desse fato, alega que, quando a Bíblia chama Jesus de Filho de Deus, “quer dizer ‘Filho* em sentido literal, como no caso de um pai e seu filho, não como uma misteriosa parte duma Divindade Trina” (pág. 29). -

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A pergunta mais apropriada a ser feita é: como um Pai eterno, infinito, e divino- poderia mesmo ter um filho temporal, finito e que é uma criatura. Se Filho, conforme a palavra é aplicada ao Jesus pré-humano, é alguma descrição da Sua natureza, e não (conforme sua aplicação aos anjos ou aos homens) uma expressão completamente

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sim bólica que retrata o nosso relacionam ento com Deus, esperaríam os que o Pilho fosse do mesmo tipo de ser que Seu Pai, em todos os aspectos substanciais. E é realm ente isso que a Bíblia diz a respeito do Filho.

Jesus pode ser Filho d e Deus e também ser Deus? O raciocínio das testem unhas de Jeová a respeito dessa questão parece ser tão lógico. Como Jesus pode ser ‘'Filho de Deus” e tam bém ser Deus? Como alguém pode ser seu próprio filho? Não é irrazoável e ilógico? Sim, é irracional dizer que alguém é seu próprio filho, mas não é assim que o trinitarism o ensina. A doutrina da Trindade não entende que Jesus é Seu próprio pai, nem entende que Deus Pai é seu próprio filho. Conférm e tem sido necessário repetir muitas vezes neste livro, o Pai e o Filho são duas pessoas distintas na Trindade. É certo que Jesus é chamado o Filho de Deus, e não sim plesm ente o Filho do Pai (em bora Ele tam bém receba esse título em 2 João 3). Mas isso deve ser entendido no sentido de usar o título Deus com referência especialm ente ao Pai, sem negar que também se aplica ao Filho, com validade igual. Empregando um a analogia uti*, porém lim itada, se alguém se referisse a m im como “filho de Robert Bowm an,” teria razão, em bora “Robert Bowm an” seja meu próprio nome, porque também é o nome do meu pai. (Relem bre a analogia de George e Bárbara Bush tendo o m esm o sobrenom e em comum, e as lim itações daquela analogia). Noutras palavras, “Éilho de Deus” é uma form a abreviada de “Filho de Deus Pai." A designação de Jesus como o “Filho de Deus,” longe de refutar a igualdade essencial entre Jesus e Deus, é um a das provas mais im portantes na Bíblia inteira, daquela

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verdade (Aqui, é importante m anter em mente que a doutrina da Trindade sustenta que o Filho é igual ao Pai na Sua essência ou natureza, e que não nega que o Filho obedece ao Pai ou que busca a Sua glória). As considerações abaixo revelarão que esse é o caso. 1. Há numerosos exemplos nas Escrituras da palavra filho sendo usada figuradam ente no simples sentido de “possuir a natureza de”; por ekemplo: “os filhos da desobediência” em Efésios 2.1 significa aqueles que são desobedientes. A expressão “Filho do homem” significa, não que Jesus era literalm ente o filho de um homem (Ele não tinha pai humano!), mas que Ele m esm o-era um homem. 2. Não se pode duvidar que Jesus é chamado o Filho de peu s num sentido não literal, posto que não foi fisicam ente procriado. Este fato já foi ressaltado detalhadamente. 3. Ê' também certo que Jesus é chamado o Filho de Deus de m odo muito especial, posto que é chamado o monogenês Filho de Deus. Para o presente argumento, não im porta se monogenês é entendido no sentido de “unigênito” ou de “incom parável”, posto que atê mesmo “unigênito” dá a entender que há algo incom parável no sentido èm que Jesus é Filho de Deus. 4. O Filho de Deus, segundo o Novo Testamento, real­ m ente possui a natureza de Deus, plena e com pletam ente (Cl 2.9; Hb 1.2). Logo, é razoável interpretar o título Filho » i no sentido de ter Ele a natureza do Seu Pai. 5. Um filho físico com partilha da natureza do seu pai, inclusive porque tanto o pai quanto o filho tiveram um com eço (em bora o começo do paí fosse anterior). Posto que o Filho com partilha da natureza do Seu Pai, é lógico que Ele possui também a eternidade do Seu Pai, pelo fato de não ter tido nenhum começo.

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6. Que Jesus não teve um ,com eço é coniirm adp por vários textos bíblicos (João 1.1; 8.58; 17.5; Cl 1.17; Hb 1.2).



7. Que esse raciocínio é válido é confirm ado pelo fato de que os difam adores de Jesus entre os judeus entenderam Suas declarações de que era o Filho único de Deus basicam ente nesse sentido. Tanto em João 5.17-18 como em João 10.30-39 os líderes judaicos procuraram m atar Jesus como blasfemo, porque entendiam Sua declaração de ser elè o Filho de Deus còmo uma declaração da Sua igualdade com Deus. Persistia esse modo de entender as coisas, a despeito do fato de Jesus ter sido, conform e certam ente concordarão as testem unhas de Jeová, um M estre na com unicação das idéias. Quando O entregaram a Pilatos, citaram o mesmo motivo: Jesus, ao declarar-se Filho de Deus, violara a lei deles (contra a blasfêm ia) e m erecia a morte. ^ Nessa últim a questão, não basta alegar (conform e faz a brochura das testem unhas de Jeová - págs. 24-25) que os ju d eu s sim plesm ente entenderam erron eam en te as p a la vra s de Jesu s. S eria n ecessá rio d em on strar, prim eiram ente, que os m otivos independentes supra paira entender que “Filho de Deus”, é uma reivindicação da igualdade com Deus, é um erro. Depois disso, seria necessário explicar por que Jesus nunca sim plesm ente negou ser Deus. Por exemplo, quando Ele disse que “o Filho nada pode fazer de si m esm o” (João 5.19a), não se tratava de um a negação de ser essencialm ente igual com Deus, mas na realidade era uma reivindicação tácita da igualdade: Jesus, como o Filho , nõo podia fazer nada senão aquilo que Deus faz! Se Jesus fosse mero homem, e nada mais, certam ente podería ter feito algo contrário àquilo que

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Deus faria. Se houve algum ponto em que os judeus nãò entenderam as palavras de Jesus, foi em pensar que Suas declarações de que fazia obras que somente Deus podia fazer, eram uma reivindicação à igualdade com Deus com o um segundo Deus, independente dEle - m al­ entendido este que Jesus repudiou ao declarar que Ele nada fazia por conta própria. Jesus passou, então, a asseverar que Ele fazia tudo quanto o Pai fizesse (w . 19b20), fessuscitaria dentre os m ortos a quem Ele quisesse, prerrogativa esta que pertence a Deus (v. 21), e que será o ju iz fin al de toda a hum anidade (v. 22). Com o conseqüência, disse Jesus, todos devem atribuir a mesma honra ao Filho - ou seja, ao próprio Jesus - que é devida ao Pai (v. 23). Essa dificilmente pode ser uma m aneira convincente de negar que Ele está reivindicando igualdade com Deus! O mesmo padrão aparece em João cap. 10. A queixa dos próprios judeus era que Jesus, ao chamar Deus de Seu próprio Pai (e assim, ao considerar-Se Filho de Deus de modo exclusivo), estava alegando ser Deus, (João 10.30­ 33). A brochura das testemunhas de Jeová declara que Jesus, na Sua resposta, “argumentou enfaticam ente que as suas palavras não eram uma afirmação de que ele era Deus” (pág, 24). Isso é interessante, porque, nesse caso, deve ser considerada incorreta a tradução que a TNM fez da acusação dos judeus contra Jesus: “tu, embora sejas um hó'mem, te fazes um deus.” Mas Jesus em Joãó 10.34­ 36 certamente não negou que era Deus. Simplesmente asseverou m ais enfaticamente aquilo que escandalizara os judeus desde o inicio, a saber, que Ele era o Filho de Deus de modo exclusivo. De novo: se havia algum m al­ entendido que Jesus queria refutar, era que Sua declaração de igualdade com Deus envolvia um a reivindicação de ser

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um Deus independente. Jesus passou, então, a dizer que a comprovação da Sua reivindicação achava-se no fato de que Ele fazia obras que somente Deus podia realizar (João 10.37-38). O resultado foi que os ju deu s “tentaram novam ente apoderar-se dele” (10,39 TNM), obViamente porque ainda entendiam que Ele estava declarando que era Deus. É digno de nota que na brochura, as testemunhas de Jeová param no v. 36, e deixam de considerar o significado dos w . 37-39. Interpretado assim, João 10.30 deve ser entendido com o uma declaração de Jesus da Sua unicidade essèncial com Deus. A brochura das testemunhas de Jeová, notando que noutros lugares a m esm a palavra neutra (hen) traduzida por “um" subentende apenas a união de propósitos (João 17.21-22; 1 Co 3.6, 8), conclui que semelhante união funcional é tudo quanto é entendido em João 10.30. A brochura também cita João Calvino que, embora fosse um trinitãrio, interpretava o versículo de modo serpelhante (pãg. 24). Mas embora hen não precise, de si mesmo, indicar mais do que a unidade funcional, no. contexto de João 10 certamente significa muito mais. Concluímos, portanto, que nada na Bíblia nega que Jesus é Deus. Peto contrário, a Bíblia ensina que Ele é Aquele que criou todas as coisas, que Ele é eterno, que Ele p ossu i a p róp ria n atu reza de D eus, e que E le é essencialm ente igual a Deus. E todas essas verdades têm sido vistas prim ariam ente na base dos textos bíblicos que as testem unhas de Jeová acham que sustentam o ponto de vista delas, de que Cristo é uma criatura! Passaremos, em nosso próximo capítulo, a evidências ainda mais positivas na Bíblia de quê Jesus é Deus.

Jesus Cristo é Deus A erudição moderna e Jesus como Deus 4 Antes de exam inarm os as evidências bíblicas em prol da crença de que Jesus é Deus, seria útil responder ao uso que as testemunhas de Jeová fizeram de um artigo não identificado do Bulletm o f the John Rylands Library (“Relatório Periódico da Biblioteca John Rylands”) que citam no sentido de comprovar que uns estudiosos bíblicos concordam com elas, quando afirm ám que Jesus nâo era Deus. Primeiro, a brochura das testemunhas de Jeová: Devese Crer na Trindade? cita esse artigo no seguinte sentido: ^Deve-se encarar o fato de que a pesquisa dç> Novo Testam ento, ao longo dos, digamos, últim os trinta ou quarenta anos tem levado um crescente núm ero de renom ados peritos do Novo Testam ento à conclusão de que Jesus... certam ente nunca creu ser ele mesm o Deus”

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(pág. 20). Essa declaração avalia corretam ente a erudição bíblica moderna, mas a brochura das testem unhas de Jeová omitiu uma parte da frase, que lança uma luz totalm ente diferente sobre esse fato. A frase inteira diz (grifando a parte omitida): Seja isso como for, deve-se encarar o fato de que a pesquisa do Novo Testamento, ao longo dos, digamos, últimos trinta ou quarenta anos tem levado um crescente número de renomados peritos do Novo Testamento à conclusão de que Jesus p e s s o c d m e n te p o d e n ã o ter reivin d ica d o a lg u n s d o s , títulos cristológicos q u e o s E v a n g e lh o s a trib u e m a e le , n e m s e q u e r o d e s íg n io jítn c io n a i d e “C risto , ” e certamente nunca creu ser ele mesmo Deus. (1) Isto ê, os mesmos estudiosos bíblicos que negam que Jesus reivindicava ser Deus duvidam, também, que Ele se chamava o “Cristo,” o Messias. As testemunhas de Jeová dificilmente podem alegar que esse julgam ento é fidedigno. Em seguida, a brochura das testemunhas de Jeová cita o mesm o artigo quando ele diz, no tocante aos cristãos primitivos: “Quando, pois, eles atribuíram [a JesusJ títulos honoríficos tais como Cristo, Filho do homem, Filho de Deus e Senhor, essas eram maneiras de dizer, não que ele era Deus, mas sim que ele fez a obra de Deus” (pág. 20). Note que o artigo diz que os cristãos primitivos “atribuíram ” esses títulos a Jesus. Aqui, a questão em pauta é que Jesus, na opinião desses estudiosos^ náo declarava ser Ele nem Cristo, nem o Filho do homem, nem o Filho de Deus, nem o Senhor! Além disso, não estão declarando que Jesus ou os cristãos prim itivos consideravam Jesus como uma criatura divina preexistente que, segundo a vontade de Deus, tom ou-se homem. Pelo contrário, estão

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declarando que os cristãos primitivos deram a Jesus esses títulos por causa da sua “experiência” daquilo que Ele fazia, e que esses títulos nada diziam, originalmente, a respeito de quem, ou o que, Jesus realmente era. Sendo assim, bem na frase imediatamente em seguida, o artigo declara: “Noutras palavras, semelhantes designações expressavam, originalmente, não tanto a natureza do íntimo do ser de Cristo com relação ao ser de Deus, mas, sim, a preeminência da sua função soteriológica [i.ê, sua função ao trazer a salvação] na redenção divina da huma­ nidade.” (2) Finalmente, mais tarde na brochura, o mesmo artigo é citado no sentido de dizer que, segundo Karl Rahner, “ao passo que theos [‘Deus’] é usado em textos como João 1.1 como referência a Cristo, ‘em nenhum desses exemplos theos é usado de tal modo que identifique Jesus com aquele que em todas as outras partes no Novo Testamento aparece como ho Theos, isto é, o Deus Supremo” (pág. 28). Em seguida, a brochura cita com aprovação o argumento do artigo de que esperaríamos que o Novo Testamento declarasse mais freqüentemente que Jesus era Deus, se fosse tão importante confessar esse fato. O que a brochura deixa de relatar, porém, é que o artigo anota (3) que Karl Rahner reconhecia que Jesus era chamado theos em Romanos 9.5; João 1.1, 18; 20.28; 1 João 5.20; e Tito 2.13. As testem unhas de Jeová reconhecem que assim aconteceu nos três versículos alistados do Evangelho segundo João, mas negam que os outros textos aplicaram theos a Jesus. Afinal de contas, nesse caso os demais textos estariam chamando Jesus de “o Deus que está sobre todos” (Rm 9.5), “o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1 João 5.20), e “nosso grande Deus e Salvador” (Tt 2.13). Gomo Rahner podia reconhecer que

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esses títulos eram dados a Jesus, e ainda negar que Ele estava sendo chamado ho theos [“o Deus”] é, no mínimo, de difícil compreensão. O que os estudiosos pensam a respeito do ensino do Novo Testamento a respeito de Jesus é interessante, mas longe de ser decisivo. Tanto as testemunhas de Jeová como os trinitários evangélicos concordam que a erudição b íb lica crítica, com sua negação da in spiração e fidedignidade da Bíblia, e com suas tentativas de negar o Jesus sobrenatural, operador de milagres da Bíblia, é apóstata e indigna de confiança. É, portanto, lastimável que as testemunhas de Jeová tenham citado (e ainda fora do contexto) esses estudiosos, no argumento contra o trinitarismo.

“O Verbo Era Deus” Em João 1.1 lemos: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.” A TNM traduz assim a última frase desse versículo: “e a Palavra era [um] deus.” Várias traduções são citadas pela brochura das testemunhas de Jeová, e uns poucos estudiosos são citados como se concordassem com a interpretação que as testemunhas de Jeová atribuem a esse versículo, como se ensinasse que Jesus era um segundo deus, inferior. Em 1987 ofereci à Sociedade Torre de Vigia um convite para fazer uma crítica do manuscrito original de um livro que tratava, em grande parte, de João 1.1. Prometi que incluiria, como apêndice do livro, a crítica das testemunhas de Jeová. Ninguém sequer deu uma resposta a essa oferta. O mesmo convite foi feito a outras testemunhas de Jeová que diziam ter competência no estudo do grego, e elas também não responderam. Depois disso, o livro foi

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publicado, com o título As Testemunhas de Jeová, Jesus Cristo, e o Evangelho de João. (4) Neste capítulo, simplesmente resumirei alguns dos argumentos que levantei naquele livro - argumentos estes que essa nova brochura publicada pela Torre de Vigia nem sequer m en­ ciona. As testemunhas de Jeová raciocinam que o Verbo não pode ser “Deus” e também estar “comDeus,” pois “alguém que está ‘com’ outra pessoa não pode ser ao mesmo tempo aquela outra pessoa” (pãg. 27). Mas os trinitários concordam, neste sentido: sustentam que “o Verbo estava com Deus” significa que o Verbo estava com a pessoa comumente chamada “Deus,” ou seja: o Pai, ao passo que “o Verbo era Deus” significa que o próprio Verbo era pessoalmente Deus pela Sua natureza, não menos Deus do que o Pai, sem ser a mesma pessoa que o Pai. (5) A brochura argumenta que porque “não existe artigo [“o”] antes do segundo theos em João 1.1... uma tradução literal seria ‘e Deus era a Palavra’.” (pág. 27). Declaram que isso é confirmado pelo fato da palavra theos em João 1.1 ser “um substantivo predicativo” que antecede o verbo e que não tem o artigo definido. Exemplos são oferecidos doutros versículos na Bíblia que exibem esse padrão e que são trad u zid os com o artigo in d efin id o an tes do substantivo, Esses exemplos demonstram, alegadamente, que “a regra de Colwell” (6) não pode comprovar que theos em João 1.1 não pode ser traduzido por “um deus” (págs. 27, 28). Esse tipo de raciocínio talvez pareça válido, mas na realidade, confunde várias questões entre si. Primeiro: até mesmo Jeová pode ser chamado “um Deus” na Bíblia, em textos que empregam exatamente a mesma construção em grego. (Deve ser notado que não há diferença

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substancial eiitre “um deus” e “Deus,” pois só algumas línguas modernas conseguem até mesmo fazer essa distinção). Por exemplo, em Lucas 20.38 lemos na TNM [em inglês] que Jesus disse, a respeito de Jeová: “Ele é um Deus, não de mortos, mas de viventes...” Aqui, “um Deus" traduz theos sem o artigo e antes do verbo, exatamente como em João 1.1. Sendo assim, mesmo se alguém quisesse traduzir theos em João 1.1. como “um deus,” isso não refutaria o fato de ser Ele o peus verdadeiro. (7) Em segundo lugar, os textos paralelos citados pela brochura das testemunhas de Jeová, alegando que têm a mesma construção grega, são dignos de nota porque nenhum deles dá ao substantivo grego um significado mais fraco, ou diferente, do que se tivesse o artigo definido na sua frente. Por exemplo, “um fantasma” (Marcos 6.49) não é menos fantasma do que um que é chamado “o fantasma”; o Diabo é tão “mentiroso” e “homicida” (João 8.44) quanto qualquer pessoa poderia ser! Além disso, as testemunhas de Jeová deixam de mencionar o fato de que noutros lugares no Novo testamento, sempre quando a palavra theos é usada na mesma construção, sempre se refere claramente ao único Deus verdadeiro (Marcos 12.27; Lucas 20.38; João 8.54; Fp 2.13; Hb 11.16). Logo, o fato de que o Verbo é chamado theos em João 1.1 nessa construção não O faz menos Deus do que o Pai. (8) Em terceiro lugar, não é de modo nenhum necessário traduzir substantivos nessas construções, usando o artigo indefinido, conforme as próprias testemunhas de Jeová reconhecem ao dizer: “quando o contexto o exige, os tradutores podem inserir um artigo indefinido na frente do substantivo nesse tipo de construção de frasé” (pág. 28, grifo nosso). Posto que foi demonstrado que o único argumento do contexto que as testemunhas de Jeová

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propuseram (que o Verbo [ou: Palavra] estava com Deus e, portanto, não podia ser Deus) não exige a interpretação deles, é incorreto traduzir como elas fizeram. Em qu arto lu gar, o co n texto rea lm en te a p óia enfaticamente a conclusão de que o Verbo era Deus, e não um deus secundário e inferior. O versículo começa dizendo que o Verbo existia “no princípio,” o que significa que o Verbo já existia quando o próprio tempo começou. Logo, o Verbo não era uma criatura, mas era realmente eterno. (9) Além disso, o v. 3 declara que tudo que já veio a existir foi feito pelo Verbo: conforme foi indicado no capítulo 5, isso significa que o Verbo era o Criador e, portanto, Deus. Em quinto lugar, ao traduzirem “um deu s” , as testemunhas de Jeová fizeram a Bíblia contradizer a si mesma. Conforme foi demonstrado anteriormente neste livro, a Bíblia nega categoricamente, e repetidas vezes, que há qualquer outro deus real e verdadeiro fora do único Deus verdadeiro. Posto que o Verbo claramente não é um deus falso, forçosamente deve ser um Deus verdadeiro ou seja, o único Deus verdadeiro, Jeová. O problema,'portanto, não é principalmente com a inserção de “um” antes da palavra deus; é mais com a própria palavra deus com “d” minúsculo que em português (mas não nas línguas antigas) sugere ao leitor um deus inferior. Traduzir “um Deus” em português também subentendería essa idéia, mas de modo bem menos claro, e somente porque no contexto “um Deus” parecería estar contrastado com “Deus.” Mas em grego a diferença entre ton theon (“Deus” no meio do versículo) e thêos (“Deus” no fim do versículo) não sugere esse tipo de mudança de significado. Esse fato pode ser percebido ao ler outros trechos no Novo Testamento onde theos aparece no mesmo contexto tanto com o artigo definido quanto sem ele, mas

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sem mudança de sentido (João 3.2; 13.3; Rm 1.2í; í - r ç 1.9; Hb 9.14; 1 Pe 4.10-11). (10) Talvez a melhor maneira de traduzir a fim de ressaltai1 essa diferença seja esta; “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com a Deidade, e o Verbo era Deidade.” O único problema com essa tradução é que normalmente, não traduzimos theos por “Deidade”; fora desse fato, prova­ velmente seja a tradução mais exata em português. (11) Deve ser mencionado, também, que a brochura continua a prática das testemunhas de Jeová de citar fora do contexto as referências eruditas. Mais notável, nesse sentido, é seu emprego de um artigo no Journal ofBiblical Literature (“Revista de Literatura Bíblica”) a respeito de João 1.1. A brochura chega a ponto de alegar que o artigo no JBL diz que a construção grega de João 1.1 “indica que o logos pode ser assemelhado a um deus” (pág. 27). A alegação é totalmente falsa. O que Philip Hamer, que escreveu o artigo no JBL, realmente disse que se João tivesse escrito ho logos ên theos (traduzindo palavra por palavra: “O VERBO ERA DEUS”) o significado teria sido “que o logos era ‘um deus’ ou algum tipo de ser divino,” mas que João não escreveu assim! Pelo contrário, conforme indica Harner, João escreveu theos ên ho logos (traduzin­ do palavra por palavra: “DEUS ERA O VERBO”), que, segundo ele conclui, significa que o logos, “não menos que ho theos, tinha a natureza de theos.” (12) Noutras palavras, João poderia ter dito que “o Verbo era um deus” como um meio de alterar a ordem das suas palavras, mas não o fez, e preferiu, pelo contrário, dizer enfaticamente que o Verbo era Deus tanto quanto a pessoa chamada “Deus” com quem Ele existia no princípio. Outro estudioso, John L. McKenzie, é citado fora do contexto, dizendo: “João 1.1 deve rigorosamente ser

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traduzido... ‘a palavra era um ser divino’.” (pág. 28). A brochura das testemunhas de Jeová subentende que chamar a Palavra (ou Verbo) de “um ser divino” faz dEle algo menos do que Jeová. Mas na mesma página em que McKenzie chama Yahweh (Jeová) “um ser divino pessoal”; McKenzie também declara que Jesus é chamado “Deus” cm João 20.28 e em Tito 2.13, e que João 1.1-18 expressa "uma identidade entre Deus e Jesus Cristo.” (13)

"Meu Senhor e meu Deus!” O Evangelho segundo João começa (1.1) e termina (20.28, excetuando-se o cap. 21, que é um tipo de epílogo) com a confissão de dois dos discípulos originais de Jesus de que Jesus Cristo é Deus. Em João 1.1, o apóstolo João, cuja fé em Jesus foi talvez a mais forte entre todos os discípulos, declarou que Jesus Cristo foi Deus no próprio princípio do tempo. Em João 20.28 Tomé, que entre os discípulos teve provavelmente a fé mais fraca (a não ser no caso de Judas Iscariotes), também confessou que Jesus Cristo foi seu próprio Senhor e Deus. A maneirã das testemunhas de Jeová debaterem esse versículo demonstra que não têm certeza que sentido devem fazer dele: “Para Tomé, Jesus era como ‘um deus’, especialm ente nas circunstâncias m iraculosas que provocaram essa sua exclamação. Alguns peritos sugerem que Tom é talvez estivesse simplesmente fazendo uma exclamação emocional de assombro, falando a Jesus, mas dirigindo-se a Deus” (pág. 29). Nenhuma dessas explicações convence muito. Tratando da primeira, e supondo (como as testemunhas de Jeová) que Jesus não era Deus, se Tomé tivesse chamado Jesus de seu ‘d eu s’ num a exclam ação p rovocad a pelas

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‘circunstâncias miraculosas’, isso não teria passado de superstição, e teria exigido uma repreensão (compare At 14.11-15). Quanto à segunda explicação, a idéia de um judeu devoto do século 1 ter exclamado algo semelhante a “Meu Deus!” por ter ficado atônito, é um anacronismo, que atribuiria à Bíblia algo que é comum em nossa cultura, mas virtualmente desconhecido na cultura à qual Tomé pertencia. O judaísm o do século 1 considerava qualquer emprego descuidado ou impensado das palavras Senhor e Deus como blasfêmia (pelo menos nalgum grau). Além disso, embora as pessoas freqüentemente exclamem: “Meu Deus!” ou “Meu Senhor!” ao ficarem confrontadas com alguma coisa chocante - nem em nossa cultura, nem em nenhuma outra, as pessoas exclamam: “Meu Senhor e meu Deus!" numa situação assim. , As testemunhas de Jeová raciocinam que, seja qual for o significado de João 20.28, não pode significar que Jesus seja Deus Jeová, por três razões: (1) João 17.3 diz que “apenas Jeová é ‘o único Deus verdadeiro’.” (2) Jesus em João 20.17 referiu-se a Jeová como Seu Deus; e (3) João 20.31 declara que o Evangelho foi escrito para demonstrar que Jesus é o Filho de Deus, e não o próprio Deus (pág. 29). Mas esse raciocínio das testemunhas de Jeová sai pela culatra. Se Jeová é o único Deus verdadeiro (e Ele o é), Jesus não pode ser o Deus de Tomé a não ser que Jesus fosse também o único Deus verdadeiro; doutra forma, Tomé estaria adorando um deus falso. O fato de que no contexto imediato Jesus chamou o Pai de “meu Deus,” longe de demonstrar que Jesus era um deus inferior, demonstra que Tomé, ao chamar Jesus “meu Deus” em João 20.28, estava prestando a Jesus as mais altas honrarias possíveis. E o fato de que Jesus é o Filho de

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I )cus sustenta (e não contradiz) o fato de ser Ele também I )eus - doutra forma, João 20.28 seria uma contradição de 20.31. Podem ser levantadas mais duas considerações. A linguagem de “meu Senhor e meu Deus” acha-se noutros lugares na Bíblia, com referência a Jeová (SI 35.23; Ap 4.11). Em segundo lugar, pelo menos uma publicação das testemunhas de Jeová tem declarado que quando um hebreu (isso é, um israelita ou um judeu) diz “Deus meu”, está referindo-se a Jeová. (14) Esses fatos oferecem con­ firmação adicional de que Tomé falava de Jesus Cristo como sendo o único Deus verdadeiro, Jeová.

“Deus Poderoso” Isaías 9.6 chama Jesus de “Deus Poderoso,” que, segu n do a rgu m en tam as testem u n h as de J eová, subentende que Ele é um deus inferior, porque não é chamado de “Todo Poderoso.” Argumentam, ainda, que “chamar a Jeová Deus de Todo Poderoso’ pouco significaria se não existissem outros que também são chamados de deuses, que, nó entanto, ocupam uma posição inferior” (pág. 28). Esse raciocínio é comprovadamente falso pelas seguintes considerações. Primeiro, em Isaías 10.21, um só capítulo mais adiante no mesmo Livro, Jeová é chamado “o Deus poderoso.” Logo, o contexto não somente refuta a idéia de que a expressão “Deus Poderoso” significa um deus inferior, como também apóia a interpretação segundo a qual identifica Jesus como Jeová. Em segundo lugar, a expressão “Deus Todo Poderoso” é muito importante, embora esse Deus Todo Poderoso seja também o único Deus genuíno e real. Por exemplo; os que

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sustentam o deísmo dizem crer em um só Deus, mas negam que o único Deus é Todo Poderoso, e sustentam, pelo contrário, que Deus não tem,a capacidade de mudar o curso da História. O argumento das testemunhas de Jeová nessa questão acaba revelando o falso conceito que têm de Deus. Acham que “Todo Poderoso” significa que Deus é simplesmente o mais poderoso, aquele que é mais forte do que todos os outros seres poderosos (inclusive um número desconhecido de “deuses poderosos”). O conceito bíblico é que “Todo Poderoso” significa que Deus possui “todo o poder,” que Ele é “poderoso para tudo,” Aquele para quem nada ê impossível (Lucas 1.37). Logo”, posto que Deus é o Deus todo Poderoso e o único Deus verdadeiro, Jesus não pode ser o Deus Poderoso sem ser o próprio Deus verdadeiro e Todo Poderoso, Jeová.

“Eu Sou” Em João 8.58, na TNM, as palavras de Jesus são registradas assim: “Antes de Abraão vir à existência, eu tenho sido.” A maioria dos tradutores traduz a parte final do versículo por “Eu sou” ao invés de “eu tenho sido.” A expressão “Eu sou” tem geralmente sido entendida como eco das palavras de Jeová em Êxodo 3.14 (“EU SOU O QUE SOU” na maioria das traduções). As testemunhas de Jeová argumentam que assim não pode ser, porque (1) Êxodo 3.14 deve ser traduzido “Eu serei o que serei” ou algo assim; (2) a expressão grega em João 8.58 é mais bem traduzida: assim “eu tenho sido,” ou algo semelhante; e (3) a surpresa dos judeus diante da declaração de Jesus que Ele tinha visto Abraão apesar de ter menos de cinquenta anos de idade (João 8.57) demonstra (segundo as Testemunhas de Jeová) que no v. 58 Jesus estava simplesmente afirmando

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que era mais velho do que Abraão (pãg. 26). Esse argumento baseia-se principalmente em meias verdades. A segunda metade do meu livro: JehovaKs Witnesses, Jesus Christ, and the Gospel o f John, que a Sociedade Torre de Vigia e várias testemunhas de Jeová individualmente foram convidadas a avaliar, é um estudo exaustivo desse versículo, e demonstra que é errônea a interpretação que as testemunhas de Jeová fazem dele. (15) Aqui, só levantarei algumas questões mais simples que ali foram tratadas. Primeiro, embora seja verdade que a expressão em Êxodo 3.14 seja provavelmente mais bem traduzida como “Serei o que serei,” o assunto não se esgota aí. Entre outras coisas: realmente não há muita diferença, quanto ao sentido, entre essa tradução e “Eu sou o que sou.” As duas expressões dão a entender que Deus é completo em Si mesmo, e que somente Ele determina o que ou quem Ele é, e o que Ele fará, e que simplesmente ser quem Ele é bastará para satisfazer as necessidades do Seu povo. (16) Além disso, a Septuaginta, a tradução principal do Antigo Testamento em grego que circulava no século I, traduziu Êxodo 3.14 como “Eu sou Aquele que é” {egõ eimi ho õn), e os leitores do Evangelho segundo João que conheciam a Septuaginta poderíam facilmente ter notado um paralelo com Êxodo 3.14 no texto grego de João 8.58, onde'as palavras “eu sou” também são egõ eimi. Não falta proba­ bilidade, portanto, de haver uma conexão entre os dois trechos. (17) Em segundo lugar, a tradução “Eu sou” para as palavras de Jesus egõ eimi em João 8.58 deve certamente ser preferida a “Eu tenho sido” ou qualquer outra tradução dessa natureza. Debati exaustivamente as questões gramaticais no meu livro anterior. (18) Aqui, simplesmente

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quero indicar que as palavras egõ eimi aparecem em toda parte no Evangelho segundo João, e sempre (ao serem faladas por Jesus) com a maior relevância, sendo sempre traduzidas (até mesmo na TNM) por “Eu sou” (João 4.26; 6.35, 48, 51; 8.12, 24, 28, 58; 10.7, 11, 14; 11.25; 14.6 15.1, 5; 18.5, 6, 8). Esses ditos com “Eu sou” obviamente existem em mútuo relacionamento deliberado, e essa conexão se perdería se egõ eimi em João 8.58 fosse traduzido por “Eu tenho sido.” Portanto, a tradução “Eu sou” que se acha na maioria das versões é correta, e não as formas do tempo passado do verbo que aparecem noutras versões. Outra coisa que a TNM perde é a conexão entre João 8.58 e as declarações de Jeová, na forma de “Eu sou” no livro de Isaías. A maioria dos estudiosos bíblicos que têm escrito exaustivamente sobre esse assunto concordam que essas declarações “Eu sou” em Isaías são ainda mais relevantes para João 8.58 do que as palavras de Deus em Êxodo 3.14. A TNM traduz essas declarações como “Eu sou o mesmo” ou “Eu sou o Mesmo,” que esconde ainda mais o paralèlo. Em hebraico dizem literalmente “Eu [sou] ele,” e na Septuaginta foram traduzidas por egõ eimi, “Eu sou” (Is 41.4; 43.10; 46.4; 52.6; cf. 45.18). (19) Em terceiro lugar, a alegação das testemunhas de Jeová que em João 8.58 Jesus estava m eram ente asseverando que Ele era mais velho do que Abraão não se encaixa no contexto. É verdade que os judeus ressaltaram que Ele ainda não tinha cinqüenta anos (v. 57). Não se tratava, porém, de uma pergunta a respeito da Sua idade real (pois nenhum ser humano do século I teria a mínima possibilidade de ter vivido nos dias de Abraão, uns 2.000 anos antes!) A questão realmente em debate na totalidade do capítulo 8 é a identidade de Jesus (João 8.12, 19, 24,

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25, 28, 53). A pergunta, então, tratava realmente de quem Jesus pensava ser (sendo Ele um homem na vida plenamente adulta) para alegar que tinha visto Abraão. ( 20 ) . Nesse contexto Jesus não declara meramente ser Ele mais velho do que Abraão. A mesma coisa podería ter sido ■ reivindicada por Gabriel, pelos anjos, ou até mesmo pelo Diabo. Devemos realmente acreditar que Gabriel ou o Diabo poderia dizer: “Antes que Abraão existisse, Eu sou ”? A verdade é que essa declaração era uma reivindicação por ser Ele eterno, existente sem começo, por contraste com Abraão, que teve um começo. Essa verdade encaixa-se no contexto em que Jesus declarava ser maior do que Abraão (w . 52-57). Harmoniza-se, também, com a linguagem exata que foi empregada, e que contrasta “veio a existir” com “sou.” (21) Esse mesmo contraste, que emprega até mesmo as palavras idênticas, acha-se na tradução na Septuaginta do Salmo 90.2, que diz a Jeová: “Antes de os montes serem levados à existência... de eternidade a eternidade tu és." (22) Posto que as testemunhas de Jeová reconhecem que no Salmo 90.2 a linguagem indica que Jeová é eterno, assim também devem reconhecer que a linguagem de Jesus em João 8.58 indica a mesma coisa a respeito dEle mesmo.

“Igual a Deus” Filipenses 2.6, na TNM, diz a respeito de Cristo: “O qual, embora existisse em forma de Deus, não deu consideração a uma usurpação, a saber, que devesse ser igual a Deus.” As testemunhas de Jeová argumentam que aqui Paulo está dizendo que Jesus não era igual a Deus e nem sequer considerava tentar fazer-se igual a Deus.

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Reconhecem q\ie esse versículo tem sido entendido no sentido de Jesus ter sido igual a Deus, mas que Ele não considerava a igualdade com Deus como algo que precisava manter firme, mas argumentam que a palavra harpagmos (“uma usurpação,” TNM) não pode ter aquele significado. Procuram apoio no comentário de Ralph Martin, que citam: “É questionável, porém, se o sentido do verbo [harpazõ, o verbo do qual se forma harpagmos] pode desviar de seu sentido real de ‘usurpar,’ ‘arrebatar violen­ tamente,’ para o de ‘reter com firmeza”’ (pág. 25). No entanto, Ralph Martin (cujo livro anterior sobre Filipenses 2.5-11 tom ou-o geralmente considerado a autoridade principal na interpretação desse trecho (23)) oferece uma interpretação desse versículo-chave que é diferente daquela das testemunhas de Jeová. Em primeiro lugar, Martin declara que “subsistindo na form a de Deus relembra a existência pré-temporal do nosso Senhor como a Segunda Pessoa da Trindade.” (24) Em seguida examina as interpretações possíveis da frase “não considerou a igualdade com Deus uma coisa a ser agarrada” (NASB). As opiniões tradicionais eram que Cristo era igual a Deus e não considerava que isso fosse errado, ou que Ele fosse igual a Deus e não se agarrou a essa con dição. Essas op in iõ es são co n sid era d a s inadequadas. (25) Assim, temos de ficar com a opinião de que Cristo, quando estava “na forma de Deus,” não procurou agarrar, ou conseguir com força, a igualdade com Deus. Até aqui esse argumento talvez pareça uma confirmação das opiniões das testemunhas de Jeová, mas no seu livro anterior, Martin faz uma distinção importante que a s . testemunhas de Jeová deixam passar despercebida. Martin relaciona a “igualdade como Deus” em Filipenses 2.6 com

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"igual a Deus” em João 5.18. Na base de expressões paralelas na literatura judaica rabínica, entende que as duas expressões significam, não a igualdade substancial da natureza divina que Cristo possuía desde a eternidade como a segunda pessoa daTrindade, mas uma “igualdade” independente segundo a qual Ele teria sido um Deus rival ou rebelde. Martin conclui que Cristo era por Seu próprio direito (de jure) igual a Deus no sentido de possuir a natureza de Deus, e podería ter exigido que as Suas criaturas O adorassem como tal; mas Ele optou por buscar a igualdade de fato (de Jacto), sem a exigir independentemente do Seu Pai, mas, pelo contrário, por meio de humilhar-se como homem e deixar que o Pai O exaltasse. (26) . • O contexto revela que esse modo de raciocínio é essen­ cialmente correto. O própria brochura das testemunhas de Jeová chama a atenção a um aspecto desse contexto. Em Filipenses 2.3-5 Paulo diz que devemos seguir o exemplo da humildade de Cristo, e “que cada um considere os outros melhores do que a si mesmo” (v. 3 Douay, conforme é citado na brochura, pág. 25). Na base dessa declaração, a brochura conclui que Jesus “reputava a Deus como sendo melhor do que ele” , e que assim negou ter qualquer tipo de igualdade com Deus (págs. 25-26). Mas essa conclusão é o inverso do argumento no contexto. Paulo não está dizendo aos cristãos que são realmente inferiores uns aos outros (obviamente não, pois nem todo cristão pode ser inferior a todo outro cristão!), mas que devem tratar uns aos outros como se a outra pessoa fosse mais importante, ou melhor. E então ele cita o exemplo supremo: Cristo, na realidade, não era inferior a Deus, e podería ter reivindicado o direito de ser tratado como igual a Deus; mas, ao contrário, Ele optou por fazer-se o servo

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de Deus e humilhar-se como homem, até o ponto da morte (w . 7-8). Isso se encaixa com perfeição com a doutrina da Trindade, porque ensina que as três pessoas são iguais na sua natureza, mas tão perfeitas no amor que procuram glorificar umas às outras, ao invés de a si mesmas. A outra característica principal do contexto que indica que Jesus era verdadeiramente Deus é o fato de que nos w . 9-11 Paulo diz que Deus exaltou Jesus sobremaneira e Lhe déu “o nome que está acima de todo nome,” a fim de que cada um confesse Jesus como Senhor. Conforme indica Ralph Martin, a linguagem em pregada aqui (parafraseando as palavras de Jeová em Is 45.23) e o emprego da palavra Senhor indicam que “o nome que está acima de todo nome” é Senhor, a palavra que no Novo Testamento Grego substitui Jeová. (27) A s testemunhas de Jeová usualmente argumentam que isso é impossível, porque se Jesus fosse Jeová, Ele sempre teria tido aquele nome, e não precisaria ser “exaltado” por Deus nem receber aquele nome “dado.” Mas esse argumento deixa desapercebida a lição do texto, que é que o Filho de Deus humilhou-se ao tornar-se homem, e que assim colocou-se na posição de precisar ser exaltado pelo Pai e revelado pelo Pai como o verdadeiro Senhor Jeová. Assim como Jesus era o Filho de Deus, o Messias, e o Senhor, pelo menos desde o Seu nascimento (Lc 1.35; 2.11), mas foi revelado ou declarado, pela Sua ressurreição (At 2.36; Rm 1.4), assim também Ele era Jeová, Deus na carne, o tem po todo, m as só foi publicamente exaltado pelo Pai como tal, depois de ter sido ressuscitado dentre os mortos (Fp 2.6-11). Jesus Cristo, portanto, não foi um deus inferior que foi obrigado, por causa de ser mera criatura, a fazer tudo quanto. D eu s ex igisse, nem um seg u n d o D eu s

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independente, que asseverasse os Seus direitos como Deus sobre o mundo que Ele criara. Pelo contrário, Ele foi o humilde Filho de Deus, que possuía a natureza de Deus e que tinha todo o direito de ser reconhecido como tal, mas que voluntariamente escolheu, por causa do Seu grande amor, humilhar-se diante do Pai e servir a Deus e os homens como o Salvador do mundo, dependendo do Pai para exaltá-Lo segundo a Sua perfeita vontade.

Jesus como Deus; não apenas um título Além dos trechos bíblicos considerados até agora nesse capítulo, existem mais quatro textos na Bíblia que não foram estudados na brochura das testemunhas de Jeová, mas que dão testemunho claro da verdade que Jesus Cristo é Deus Jeová. Esses textos também demonstram por que é tão importante reconhecer Jesus como Deus. Esses quatro textos são: Tito 2.13, “do nosso grande Deus e Salvador Cristo Jesus”; 2 Pedro 1.1, “nosso Deus e Salvador Jesus Cristo”; 1 João 5.20, que chama Jesus Cristo “o verdadeiro Deus e a vida eterna”; e Hebreus 1.8♦ ■ 12, que chama Cristo Deus e Senhor. A tradu ção dos dois prim eiros desses textos é freqüentemente disputada. E assim, a TNM os traduz como “do grande Deus e [do] Salvador de nós, Cristo Jesus” (Tito 2.13) e “de nosso Deus e [do] Salvador Jesus Cristo” (2 Pedro 1.1). Mas o acréscimo da palavra do entre parênteses (que indica que não se acha no grego original), tentando fazer “Deus” uma pessoa diferente do “Salva­ dor, ” é incorreto (a despeito do fato de que alguns tradutores tenham feito assim). Esses trechos seguem exatamente a mesma construção que se acha nas expressões “nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo,” “o Senhor e Salvador

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Jesus Cristo,” e “o Senhor e Salvador” (2 Pedro 1.11; 2.20; 3.2, 18). Essa construção em grego liga dois substantivos por meio da palavra grega kai (que significa “e”), e coloca o artigo definido “o” na frente do primeiro substantivo, mas não do segundo (p.e., “o Senhor e Salvador”). A verdade é que cada vez que essa construção ocorre, quando os su bstan tivos estão no sin gu lar e são substantivos comuns que descrevem pessoas (Pai, Filho, Senhor, Salvador, irmão, etc.), os dois substantivos são usados para se referirem à mesma pessoa. (28) Portanto, a construção usada, e especialmente a maneira de Pedro a usar noutros lugares, apóia enfaticamente a conclusão de que em 2 Pedro 1.1 Jesus é chamado “Deus.” Em T ito 2.13 o co n texto tam bém a p ó ia essa interpretação. Prim eiro, a palavra grega traduzida manifestação (ou aparecimento nalgumas traduções) é sempre usada por Paulo com referência a Cristo somente (2 Ts 2.8; lT m 6 .1 4 ; 2 T m 1.10; 4.1, 8; Tito 2.13). Isso faz sentido, posto que Jesus Cristo é a representação ou manifestação visível de Deus (João 1.18; Cl 1.15; Hb 1.2; etc.). Em segundo lugar, três vezes em Tito,a expressão “nosso Salvador” é usada com referência a Deus (1.3; 2.10; 3.4) é então imediatamente depois com referência a Cristo (1.4; 2.13; 3.6). Em todos esses seis textos, as palavras “nosso Salvador” têm o artigo definido grego diante delas, excetuando-se Tito 2.13. A explicação mais fácil (e talvez a única) dessa omissão é que o artigo definido antes de “Deus” (“o grande Deus e Salvador de nós”) serve como o artigo dos dois substantivos. * 1 João 5.20 termina assim: “... seu Filho Jesus Cristo. Esse é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (TNM). Os estudiosos bíblicos discordam entre si quanto à expressão “o verdadeiro Deus”: se é aplicada aqui a Jesus Cristo, ou

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ao Pai, de quem Jesus Cristo é o “Filho”. As testemunhas de Jeová, naturalmente, insistem em que o Pai está sendo chamado o verdadeiro Deus. Gramaticalmente, existe essa possibilidade (mas não é a interpretação mais óbvia ou fácil), mas o contexto indica o contrário. A declaração: “Esse é o verdadeiro Deus e a vida eterna" refere-se claramente a uma só pessoa que é tanto “o verdadeiro Deus” quanto “a vida eterna.” Mas em 1 João 1.2 Jesus Cristo é identificado como “a vida eterna que estava com o Pai e nos foi manifestada” (TNM). Nesta epístola, portanto, João começa e termina com uma referência a alguém chamado “a vida eterna” - e no começo da epístola é forçosamente Jesus, ao passo que, no fim, a gramática sugere com a maior naturalidade que também é Jesus. Tanto a gramática como o contexto, portanto, indicam muito fortemente a conclusão de que é Jesus Cristo que está sendo chamado “o verdadeiro Deus e a vida eterna.” Esses três textos revelam que não podemos conhecer Jesus como “Salvador,” como a fonte da “vida eterna,” sem também O conhecermos como “nosso grande'Deus,” “o verdadeiro Deus.” É somente porque Jesus Cristo é Deus que Ele nos pode salvar. (29) Finalmente, Hebreus 1.8-12 é um dos trechos mais poderosos na Bíblia no assunto de Jesus como Deus. Os primeiros versículos de Hebreus já declaram que o Filho é o “herdeiro de todas as coisas” (v. 2a; cf. Cl 1.15-17), Aquele através de quem tudo foi feito (v. 2b), a “expressão exata” do próprio Ser de Deus (v. 3a), Aquele que “sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder” (v. 3b), e que realizou a nossa salvação (v. 3c), que é melhor do que todos os anjos (v. 4), e que é adorado pelos anjos (v. 6). O Filho, portanto, já foi descrito como Deus, em essência, identificado como o Criador, Sustentador, Dono e Salvador,

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a Quem é atribuída adoração pelos habitantes do Céu. Não deve se constituir uma surpresa, portanto, que no v. 8 Deus Pai diga “acerca do Filho: ‘O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre...’” Para contornar essa declaração nítida, a TNM traduz assim o v. 8: “Deus é o teu trono para todo o sempre...” Na dependência só de considerações gram aticais, essa tradução seria possível, e alguns estudiosos bíblicos a têm favorecido. Se for aceita essa interpretação, o sentido da declaração será o de que Deus é a origem da autoridade de Jesus. Essa, portanto, parece ser uma maneira incomum, ou até mesmo completamente estranha, de dizer isso. Nas Escrituras, um “trono” não é a fonte da autoridade da pessoa, mas a posição ou lugar de onde ela governa. Sendo assim, o Céu é chamado “o trono de Deus” (Mt 5.34). Por certo, Deus não deriva a Sua autoridade do Céu, nem de qualquer pessoa ou objeto! Mas mesmo supondo que “Deus é o teu trono” fosse entendido assim, não faz sentido no contexto. O escritor de Hebreus está citando o Salmo 45.6 e aplicando-o ao Filho a fim de demonstrar que o Filho é muito maior do que qualquer dos anjos. Entretanto, esse versículo não O faz de nenhum modo incomparável ou maior do que os anjos, posto que essas palavras podiam ser ditas a respeito de qualquer um dos anjos obedientes de Deus. De qualquer maneira, a citação seguinte dos Salmos não deixa lugar para dúvidas. Continuando a falar a respeito do Filho, o escritor de Hebreus cita estas palavras (Hb 1.10-12 TNM): Tu, ó Senhor, lançaste no princípio os alicerces da própria terra, e os céus são obras das tuas mãos. Eles é que

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perecerão, mas tu és que hás de permanecer continuamente; e todos eles envelhecerão qual roupa exterior, e tu os enrolarás assim como a uma capa, como a uma roupa exterior; e eles serão mudados, mas tu és o mesmo, e os teus anos nunca se acabarão. '

No contexto do Salmo 102.25-27 do qual foi feita essa citação, essas palavras são faladas a respeito de Jeová. Se o Filho não era Jeová, não era correto da parte do escritor de Hebreus citar essas palavras a respeito de Jeová e aplicá-las a Jesus na tentativa de comprovar que Ele era superior aos anjos. Além disso, o que esses versículos dizem a respeito de Jesus só pode ser aplicado a Jeová a saber, que Ele criou os céus e a terra (cf. Is 44.24) e que Ele é imutável e eterno pela Sua própria natureza. A totalidade do primeiro capítulo de Hebreus, portanto, testifica que o Filho, Jesus Cristo, é Ele mesmo Deus. Não é mera questão de possuir o título Deus, embora Ele realmente o possua. É questão de ser Ele Aquele que nos criou, sustenta, e salva; Aquele a quem deve ser prestado culto; Aquele que tem o direito de reinar no trono por toda ' a eternidade. Essas coisas aplicam-se somente a Deus Jeová, e é o zelo pela grandeza e caráter incomparável de Deus Jeová que exige que essas coisas sejam admitidas como descrições de Jesus tão-somente se Ele é realmente o próprio Jeová.

Jesus como Jeová A quantidade de matéria , na Bíblia que sustenta o ensino de que Jesus Cristo é Jeová Deus é realmente assombrosa. Aqui, só temos espaço para resumir uns poucos dos textos mais notáveis nesse sentido que ainda

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não examinamqs. Já mencionamos Filipenses 2.9-11, que diz que Jesus recebeu “o nome que está acima de todo nome,” o nome Senhor, ou Jeová. Romanos 10.9-13 é ainda mais claro. Aqui, somos ensinados a confessar Jesus como Senhor (w . 9-10), com fé efetiva de que ninguém que confia nEle, Jesus, a rocha na qual os judeus tropeçaram, será decepcionado (v. 11; cf. 9.33), porque Ele é Senhor tanto para os judeus como para os gregos, rico para com todos os que O invocam pedindo a salvação (v. 12). Então o v. 13 conclui que quem invocar o nome do Senhor será salvo. No contexto, forçosamente se trata de Jesus, pois é Ele o Senhor que precisa ser invocado por aqueles que querem ser salvos, conforme os w . 9-12 acabaram de dizer; mas a TNM traduz “Senhor” aqui como “Jeová,” porque é uma citação de Joel 2.32, onde o hebraico original tem o Nome Divino! Sendo assim, Jesus é identificado aqui como Jeová. 1 Pedro 2.3 é semelhante, pois é uma citação quase literal de Salmo 34.8, onde o Senhor éJe ová; mas os w . 48 também deixam claro que o Senhor no v. 3 é Jesus. (30) Além do nome Jeová e o título Deus, Jesus tem outros títulos que pertencem exclusivamente a Jeová. Jesus é o primeiro e o último (Ap 1.17; 22.13; cf. Is 44.6). Ele é o Rei dos reis e Senhor dos senhores (1 Tm 6.15; Ap 17.14; 19.16). Revela-se que Jesus é Deus mediante os seguintes títulos usados no sentido espiritual e ulterior: Salvador (Lucas 2.11; João 4.42; 1 João 4.14; cf. Is 43.11; 45.2122; 1 Tm 4.10), Pastor (João 10.11; Hb 13.20; cf. SI 23.1; Is 40.11), e Rocha (1 Co 10.4; cf. Is 44.8). Jesus também recebe as honrarias devidas somente a Jeová Deus. Ele deve receber a mesma honra concedida ao Pai (João 5.23). Deve ser temido (Ef 5.21), receber amor

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absoluto (Mt 10.37), e ser o objeto da mesma fé que temos em Deus (João 3.16; 14.1). Ele recebe orações (João 14.14; Atos 7.59-60 comparado com Lucas 23.34, 46; Rm 10.12-13; 1 Co 1.2, etc.), adoração (Mt 28.17; Hb 1.6), e serviço sagrado (Ap 22.3). Jesus também possui as características ou atributos exclusivos de Deus. Ele é exatamente igual a Deus, a própria imagem do Seu Pai (Cl 1.15; Hb 1.3). Toda a plenitude da natureza de Deus habita em Cristo na forma corpórea (Cl 2.9): Noutro livro, as testemunhas de Jeová fazem esse com entário interessante a respeito de Colossenses 2.9: “O fato de Jesus ser verdadeiramente ‘divindade,’ ou ‘de natureza divina,’ não faz com que ele, como Filho de Deus, seja coigual e coetem o com o Pai, assim como o fato de todos os humanos fazerem parte da ‘humanidade’ ou da ‘natureza humana’ nãõ faz com que sejam coiguais ou todos da mesma idade.” (31) É lógico que as pessoas que compartilham da natureza humana não têm a mesma idade, mas isso é porque todos os seres humanos têm um começo. Mas a lição em pauta é que assim como um filho humano é tão “humano” quanto o seu pai, assim também Jesus Cristo, que em Colossenses 2.9 é declarado plenamente “divino,” é, portanto, não menos divino que Seu Pai. A Bíblia também cita atributos específicos que Deus possui exclusivamente, e que Cristo possui. Ele existe por Si mesmo (João 5.26); é imutável (Hb 1.10-12; 13.8); é eterno (João 1.1-2; 8.58; 17.5; Cl 1.17; Hb 1.2,12); é onipresente, atributo este que as testemunhas de Jeová negam mesmo a Deus (Mt 18.20; 28.20; E f 1.23; 4.10; Cl 3.11); e além do entendimento humano (Mt 11.25-27). Este último fato merece ser enfatizado. O ensinamento bíblico de que Jesus Cristo é Jeová, o Senhor de todos,

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Deus existente na carne, acha-se em todas as partes do Novo Testamento. Mesmo assim, esta verdade permanece oculta àqueles que buscam a Deus segundo as regras impostas por eles, que exigem que Ele seja compreensível a eles. Ninguém poderá saber que Jesus Cristo é o Senhor Jeová à parte da revelação do Espírito Santo (1 Co 12.3). E, de modo apropriado, é ao assunto do Espírito Santo que agora dirigimos a nossa atenção.

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0 Espírito Sanío é uma força? As testemunhas de Jeová acreditam que não existe nenhum a pessoa chamada “o Espirito Santo.” Pelo contrário, acreditam que “espírito santo” é uma força impèssoal. Dentro em breve passaremos a considerar o ensinamento bíblico relevante a essa questão. Mas, em primeiro lugar, será útil relacionar essa doutrina com as crenças das testemunhas de Jeová a respeito de Deus.

Por que o Deus das testemunhas de Jeová precisa de uma força Segundo a brochura das testemunhas de Jeová, espírito santo é “uma força controlada que Jeová Deus usa para realizar uma variedade de propósitos” (pág. 20). Deus usa

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essa “força ativa” para criar, para esclarecer os seus servos, para transmitir informações ao seu povo (como as ondas do rádio), para energizar as pessoas para serem corajosas e para fazer coisas que normalmente estariam além da capacidade humana e para executar os Seus ju ízos (págs. 20-22). Mas por que o Deus das testemunhas de Jeová precisa de semelhante força? Pela simples razão porque acreditam que Jeová não é onipresente. Acreditam que Deus tem um corpo composto de espírito, que está localizado nalgum lugar nas alturas do céu, sem dúvida bem longe, mas pelo menos nalgum lugar dentro do universo físico do tempo e do espaço. (1) Tudo isso contradiz a Bíblia, que ensina que Deus criou os céus (Gn 1.1; SI 102.25-27; Is 44.24; Hb 1.10-11; etc.); se Deus criou os céus, onde estava Seu \ c orpo espirituar/cintes dEle os ter criado? A Bíblia ensina que Deus ríão pode ser contido dentro dos céus (1 Rs 8.27; Is 66.1; At 7.48-49), que Ele enche o universo (Jr 23.2324; A t 17.27-28), e que semelhantemente Cristo, que também é Deus, está presente em todos os lugares (Mt 18.20; 28.20) e que enche todas as coisas (E f 1.23; 4.10; Cl 3.11). Mas as testemunhas de Jeová negam essas verdades. Na opinião delas, Deus está limitado em qualquer localidade que Seu corpo espiritual ocupar. Conseqüentemente, o Deus adorado pelas testemunhas de Jeová precisa de muita ajuda para fazer cumprir a Sua vontade. Depende muito das Suas legiões de anjos para levarem os Seus recados, para descerem à Terra e descobrirem o que está acontecendo e então voltar para informá-Lo, para executarem os Seus planos, e assim por diante. (Por contraste, o cristianismo ortodoxo ensina que Deus não precisa dos Seus anjos para fazer coisa alguma, mas simplesmente se apraz em operar através deles a fim

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de deixá-los deleitar-se em fazer parte da Sua grande obra , no universo). Mas para qualquer coisa que Ele mesmo faz, precisa operar através da força im pessoal chamada “espírito santo.” Diferentemente do próprio ser de Deus, “o espírito de Deus pode alcançar toda parte” (pág. 21). Quando, portanto, o Salmo 139.7-12 diz que o próprio Jeová está em todos os lugares, as testemunhas de Jeová entendem que isso significa que Ele tem a capacidade de exercer a Sua influência em todos os lugares mediante a atividade dessa Sua força. Sempre deve ser mantido em mente que ás testemunhas de Jeová não acreditam no mesmo tipo de Deus que os cristãos ortodoxos, menos a doutrina da Trindade. Não acreditam no mesmo tipo de Deus, de modo nenhum. O Deus ortodoxo é absolutamente infinito, o Criador do espaço, do tempo, da matéria e da energia, que transcende todas as limitações finitas, Onipresente, Onipotente, Onisciente. O Deus das testemunhas de Jeová não é nenhuma dessas coisas. Surge um enigma curioso quando perguntamos a respeito da natureza da “força” de Deus. Não é Deus, segündo as teátemunhas de Jeová, pois é uma força impessoal que Deus emprega. Nem é uma coisa criada, pois Deus a empregou para criar todas as coisas. De onde, pois, surgiu? Se não é nem Criador nem criatura, nem Deus nem coisa criada, o que é? Parece que existem apenas duas maneiras de responder a essa pergunta (que as testemunhas de Jeová parecem ter deixado sem resposta). Essa força pode ser considerada uma fonte de energia que emana do próprio corpo espiritual de Deus. Mas assim surge a dúvida perturbadora de se é infinito o suprimento que Deus tem dessa força. Se ele tem um corpo finito composto de uma quantidade limitada de

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espírito, pode esgotar-se a quantidade de espírito à sua disposição? Ou éle tem algum jeito de reciclá-lo? A outra maneira de responder à pergunta é dizer que essa força coexiste lado a lado com Deus por toda a eternidade, e que ele a emprega para os seus propósitos. Mas nesse caso, teríamos algo fora de Deus, que existe eternamente, independentemente de Deus - algo que ele não criou e, portanto, que ele não pode destruir. Essas duas explicações não servem para ajudar na resposta a outra pergunta - a saber, como Deus, que está localizado nalgum lugar muito distante, consegue controlar essa força a partir de uma distância de tantos trilhões de quilômetros. Essas perguntas podem parecer levianas, mas se constituem em problemas graves para as testemunhas de Jeová que insistem que conseguem compreender o Deus a quem adoram. A moral da questão é que no seu zelo para evitar algum mistério, acabam se enveredando numa coisa que só se pode chamar de tolice. O Deus trinitário não tem problemas assim. O Espírito Santo não é nada menos do que o próprio Deus. Deus está presente em todos os lugares, de modo que não tem problemas em controlar as Suas obras. Ele não precisa de nenhuma força fora de Si mesmo para fazer as Suas obras, nem precisa emanar alguma parte da Sua própria energia para lugares distantes da Sua presença a fim de “estar ali.” Já até a estas alturas, uma coisa deve ficar clara - o Deus trinitário, por mais misterioso que seja, é um Deus muitíssimo mais grandioso do que aquele que é adorado pelas testemunhas de Jeová. Um Deus assim tão grandioso merece muito mais respeito, honra, e louvor, e Ele nos dá motivo de tanta maior confiança na Sua capacidade de fazer o que promete.

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Mas o que diz a Bíblia a respeito do Espírito Santo? Ensina que o Espírito Santo é uma pessoa, ou não? O Espírito Santo é Deus, ou algo que Deus usa? Que o Espírito Santo é uma pessoa divina pode ser visto em Atos cinco, onde Pedro diz a Ananias, primeiramente que este “mentiu ao Espírito Santo” e em seguida: “Não mentiste aos homens, mas a Deus” (Atos 5.3,4). A TNM coloca “trapacear” no lugar de “mentir ao”, talvez para diminuir o impacto das palavras “mentir ao Espírito Santo” mediante o emprego de uma expressão não tão obviamente pessoal. Mas fora disso, a implicação fica bastante clara: O Espírito Santo é uma pessoa a quem se pode mentir, e é equiparado com Deus. Há, na realidade, numerosas referências ao “Espírito Santo,” ou, freqüentemente, simplesmente ao “Espírito,” que subentendem claramente que Ele é uma pessoa. Neste capítulo, examinaremos primeiro aqueles trechos que são mencionados pela brochura das testemunhas de Jeová, e depois passaremos a uns poucos trechos de grande importância que ela não menciona.

O nome do Esjúrito Santo Mateus 28.19 diz que os cristãos devem ser batizados “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.” Posto que se sabe que o Pai e o Filho são pessoas, e posto que a palavrai,nom^é empregada aqui com referência ao Espírito Santo também, parecería que o Espírito Santo está sendo referido como pessoa também aqui. A brochura das testemunhas de Jeová oferece duas considerações para tentar repudiar esse argumento. Primeiro, declaram que “a palavra ‘nome’ nem sempre significa um nome pessoal, quer em grego quer em

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português,” e oferecem como exemplo a expressão “em nome da lei” (pág. 22). Não oferecem, porém, nenhum exemplo do grego bíblico. Na realidade, a palavra grega que significa “nome” (onoma) é empregada cerca de 228 vezes no Novo Testamento, e, excetuando-se quatro nomes de localidades (Mc 14.32; Lc 1.26; 24.13; At 28.7; cf. Ap 3.12) sempre se refere a pessoas. Procurar lançar a expressão idiomática moderna “em nome da lei” para dentro do texto de Mateus 28.19, tão antigo, é simples anacronismo. Em segundo lugar, a brochura cita WordPictures in the New Testament (“Quadros Verbais no Novo Testamento”), de A.T. Robertson, dizendo que a palavra nome é usada “para poder ou autoridade.” Isso é verdade, naturalmente, mas sempre representa o poder ou autoridade dalguma pessoa, e nunca alguma força impessoal. Uma força impessoal não pode ter autoridade; somente uma pessoa o pode. As ondas sonoras, a eletricidade, as energias, as forças, e coisas semelhantes, não possuem nenhuma autoridade ou poder pessoal. Percebe-se facilmente que o modo de interpretação dos trínitários de Mateus 28.19 encaixa-se melhor no texto do que a interpretação das testemunhas de Jeová. Segundo as testemunhas de Jeová, Jesus aqui ordena que os cristãos sejam batizados em nome do Deus eterno pessoal Jeová, do deus inferior angelical criado, Jesus, e daforça ativa impessoal que Deus emprega de modo desconhecido. Segundo os trinitários, Jesus nos mandou batizar em nome das pessoas divinas do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. O O u tro

Ajudador

Em João caps. 14-16 Jesus fala extensivamente a respeito do Espirito Santo, chamando-0 o “Ajudador” ou

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“Consolador” (grego paraklêtos). A única consideração feita pela brochura da Torre de Vigia no tocante ao ensino desse trecho a respeito do Espírito Santo é trivial. Indica que o emprego de pronomes masculinos com referência ao Espírito Santo não comprova que Ele é pessoa, mas é imposto pela gramática, posto que paraklêtos é um subs­ tantivo masculino. Embora alguns escritores tenham tira d o d e sses p ro n o m es m a s c u lin o s c o n c lu s õ e s demasiadas, existe muito mais nessa passagem que testifica de personalidade do Espírito. Em primeiro lugar, há o emprego por Jesus da expressão “outro ajudador” (João 14.16 TNM). A palavra outro subentende claramente que há um primeiro “Ajudador" (ou: “Consolador”), que é Jesus Cristo; e na primeira Epístola de João, este chama Jesus explieitamente de nosso “ajudador ou advogado junto ao Pai” (1 João 2.1 TNM). Posto que o primeiro Ajudador, Jesus Cristo, é uma pessoa, normalmente esperaríamos que o outro Ajudador também fosse uma pessoa. Essa expectativa é confirmada pelo emprego da palavra paraklêtos, que parece ter sido usada quase sempre no sentido de um conselheiro jurídico, um representante pessoal, um advogado, defensor ou ajudador. (2) No contexto, Jesus está dizendo que, embora Ele esteja de partida, os discípulos não serão deixados sozinhos, porque o Espírito virá para ser outro Ajudador. Pouco depois de ter feito essa promessa, Jesus diz aos discípulos que “o Ajudador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse VOS ensinará todas as coisas e VOS fará lembrar todas as coisas que eu VOS disse” (14.26TNM). Aqui somos informados que o Espírito Santo será enviado em nome de Jesus; não se fala normalmente em enviar uma força ou uma energia, e muito ipenos em enviar uma força impessoal em nome de alguém! E,

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imediatamente em seguida, somos informados que o Espírito S an to' ensinará aos discípulos tudo quanto precisam saber. Posteriormente, Jesus diz aos discípulos: “Quando chegar o Ajudador que eu vos enviarei do Pai, o Espírito da verdade, que procede do Pai, esse dará testemunho de mim, e vós igualmente haveis de dar testemunho...” (15.26-27TNM). Diz-se, de novo, que o Ajudador é enviado; ele “chega”, palavra esta que não se diz normalmente a respeito de uma força (tal como uma onda de rádio); e ele realiza ainda m ais uma função pessoal, o de dar testemunho de Cristo. É notável que os discípulos são ordenados a dar testemunho depois de receberem o testemunho dado pelo Espírito; mais uma vez, a implicação é que os dois atos de dar testemunho são atos pessoais. A explicação mais extensiva feita por Jesus do ministério do Ajudador aparece no capítulo 16. Aqui, Jesus diz aos discípulos que, quando Ele for embora, “enviará” a eles o Ajudador (16.7). Quando o Ajudador “chegar, dará ao mundo evidência convincente a respeito do pecado, e a respeito da justiça, e a respeito do julgam ento” (16.8 TNM). Além disso, “quando esse chegar, o espírito da verdade, ele VOS guiará a toda a verdade, pois não falará de seu próprio impulso, mas falará as coisas que ouvir e VOS declarará as coisas vindouras. Esse me glorificará, porque receberá do que é meu e VO[-lo] declarará” (16.1314 TNM). De novo, é dito que o Espírito Santo é enviado e que chega; vem trazer evidências de como o mundo atenta ao pecado, do padrão divino dajustiça, e do juízo iminente de quem não se arrepender. Guia os discípulos a toda a verdade. Não fala por sua própria iniciativa, mas diz tudo quanto ouve da parte de Jesus e do Pai, procurando só glorificar a Cristo. Certamente ê absurdo dizer que uma

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força impessoal dirá nada por conta própria, mas somente o que ela ouvir dizer. O Espírito Santo é descrito aqui como sendo humilde, abnegado, e zeloso só pela glória do Filho. Nenhum atributo é mais pessoal dp que a humildade! Reconhecemos que é possível escolher algumas das características da doutrina dessa passagem a respeito do Espírito Santo e imaginar como poderíam ser aplicadas a u m a fo rç a im p e s s o a l. M as a to ta lid a d e d e ss a s características receberá sua explicação mais fácil se o Espírito for considerado como uma pessoa, e algumas das coisas ditas a respeito do Espírito simplesmente não podem fa zer sen tid o na base de q u a lqu er ou tra interpretação.

O Espírito Santo vs. espíritos impuros As testemunhas de Jeová reconhecem que a palavrà espírito pode referir-se a uma pessoa. Sendo assim, reconhecem que Jeová é uma pessoa; consideram que Jesus é um espírito, e também uma pessoa; sustentam que o Diabo e os seus demônios, sendo todos eles espíritos maus, tam bém 'são pessoas; e acreditam que alguns cristãos serão ressuscitados como espíritos, e que viverão no Céu como pessoas espirituais. Deve ser admitido como possível, portanto, que “o Espírito Santo” também é uma pessoa. Conformejá vimos, existem algumas evidências em favor dessa conclusão. Outra linha importante de evidência provém do fàto de que a Bíblia contrasta o Espírito Santo com espíritos impuros. Existem pelo menos três trechos no Novo Testamento onde fica explícito esse contraste. Em Marcos 3.22 os eseribas acusam Jesus de expulsar demônios “por meio do governante dos demônios” (TNM),

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ou seja: com a ajuda do Diabo. Depois de argumentar que é uma contradição lógica dizer que Satanás expulsa Satanás (w . 23-27), Jesus lhes adverte: “Deveras, eu vos digo que todas as coisas serão perdoadas aos filhos dos homens, não importa que pecados e blasfêmias cometam blasfemamente. No entanto, quem blasfemar contra o Espírito Santo, nunca terá perdão, mas é culpado de pecado eterno.” Marcos acrescenta, então: “Isto, porque diziam: ‘Ele tem um espírito impuro”’ (w . 28-30 TNM). Duas coisas aqui merecem a nossa atenção especial. A primeira é que é possível blasfemar contra o Espírito Santo. Isso não comprova, por si mesmo, nem que o Espírito Santo é uma pessoa, nem que Ele é Deus, posto, que por exemplo, “a palavra de Deus” pode ser blasfemada (Tito 2.5). No entanto, o fato de que esse é o pior tipo de blasfêmia que pode ser cometido sugere enfaticamente que o Espírito Santo é o próprio Deus. Além disso, no trecho paralelo em Mateus, Jesus diz que “quem falar uma palavra contra o Filho do homem, ser-lhe-á perdoado; mas quem falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado...” (Mt 12.32 TNM). Aqui, falar contra a pessoa do Filho do homem ê contrastado com falar contra o Espírito Santo, que é considerado muito pior. A implicação é porque o Espírito Santo é uma pessoa divina. A segunda coisa a ser notada, e talvez ainda mais importante, é que o Espírito Santo é contrastado com um espírito impuro (Marcos 3.29-30). Isto é: Jesus, ao ser acusado de ter um espírito impuro, respondeu que, na realidade, Ele tem um espírito santo - o próprio Espírito Santo, na realidade. Posto que os espíritos impuros que Jesus expulsou eram entidades pessoais e não forças impessoais, assim o próprio Espírito Santo, por cujo poder Jesus os expulsou, também era uma pessoa.

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Outro trecho que contém um contraste é 1 Timóteo 4.1, ’ que diz: “Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e doutrinas de demônios.” -O contraste entre “o Espírito” e “espíritos enganadores” convida à conclusão de que “o Espírito” é uma pessoa, e não uma mera força; e essa maneira de entender é reforçada pelo fato de que se declara que “o Espírito” falou. Esse texto indica tão claramente a ..personalidade do Espírito que a TNM faz uma tradução falsa, dizendo: “No entanto, a pronunciação inspirada diz definitivamente que nos períodos posteriores de tempo alguns se desviarão da fé, prestando atenção a desencaminhadoras pronunciaçòes inspiradas....” Que essa é uma tradução falsa vê-se no fato de que os “espíritos enganadores” são ligados com “dou­ trinas de demônios, ”que indicam que esses “espíritos” são realmente seres malignos e não meras “pronunciaçòes.” Outro texto onde ocorre uma tradução pervertida semelhante de “espírito” é 1 João 4.1-6, onde a frase “expressão inspirada” ê empregada oito vezes no lugar da simples palavra “espírito” (pneuma, assim como ém todos os trechos suprâ). Neste contexto, esse fato fica muito significativo porque no versículo anterior, João fala a respeito do “espírito que ele nos deu” (1 João 3.24 TNM), ou seja: do Espírito Santo. A razão da sua advertência em 1 João 4.1 “não deis crédito a qualquer espírito” ê que existem espíritos falsos que alegam provir da parte de Deus, mas que realmente são do Diabo. Assim fica subentendido que o Espírito que Deus tem dado a cada cristão, “o Espírito da verdade” (1 João 4.6, cf. João 14.17; 15.26; 16.13), é um espírito pessoal, da mesma m aneira que o demoníaco “espírito do erro” (1 João 4.6).

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Pessoa ou personificação? Quase toda a matéria bíblica apresentada supra para sustentar a personalidade do Espírito é evitada pela brochura das testemunhas de Jeová (além de muita outra matéria que o presente livro não está discutindo). Mas, em princípio, as testemunhas de Jeová têm uma explicação para tudo isso. É simplesmente “personificação” - a praxe de descrever uma realidade impessoal como se fosse pessoal. A brochura indica que a sabedoria tem filhos (Lucas 7.35), o pecado e a morte são chamados “reis” (Rm 5.14, 21), e a água e o sangue, juntam ente com o Espírito, são chamados “testemunhas” (1 João 5.8). É verdade que realidades abstratas e impessoais são ocasionalm ente personificadas dessa maneira. Mas ninguém chega a se confundir com essas figuras de linguagem. Ninguém pensa que o pecado é uma pessoa, pois noutro lugar recebe uma definição abstrata explícita como atos de incredulidade (Rm 14.23) óu como deixar de praticar o que é certo (Tiago 4.17) ou como transgressões da lei (1 João 3.4). Ninguém pensa que a morte ou a água ou o sangue são pessoas. Ninguém pensa que a sabedoria é uma pessoa, embora algumas pessoas pensem que no Livro de Provérbios, “sabedoria” às vezes retrata Cristo figuradamente. Por outro lado, a maioria das pessoas (inclusive a maioria dos antitrinitários) que já leram o Novo Testamento, têm pensado que o Espírito Santo é uma pessoa, e isso por bons motivos, conforme tem sido explicado. Além disso, a personificação como dispositivo metafórico só serve para explicar uns poucos fatos. A não ser, talvez, nas formas poéticas e altamente simbólicas de literatura - especialmente Salmos e Provérbios, mas também Daniel

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e Apocalipse - não parece haver outros exemplos de realidades impessoais personificadas e repetidas muitas vezes em seguida de modo tão firme como o Espírito Santo é “personificado” em João caps. 14 - 16. Onde quer que realidades pessoais sejam personificadas, conforme foi notado, o fato de serem impessoais já é muito bem conhecido. Dizer, portanto, que todos esses trechos bíblicos que falam do Espírito Santo como uma pessoa são meras personificações de uma força impessoal, mesmo quando isso não sejas claramente indicado na Bíblia, é dar a entender que a Bíblia está nos enganando a respeito da natureza do Espírito Santo. As testemunhas de Jeová, no entanto, acreditam que existem tais indicações nas Escrituras da natureza impessoal do Espírito Santo. A brochura das testemunhas de Jeová oferece alguns exemplos típicos dessas indicações (págs. 21 -22). Podemos comentá-los resumidamente como exemplos do raciocínio errôneo m ediante o qual as testemunhas de Jeová negam que o Espírito Santo é uma pessoa. Supostamente, o Espírito Santo algumas vezes é equiparado com 6 poder de Deus (Jz 14.6; Lc 5.17). Mas, na realidade, nenhum desses textos diz que o Espírito Santo é o poder de Deus. De fato, Juizes 14.6 não chega realmente a usar a palavra poder ou qualquer sinônimo (BLH diz: “Mas o Espírito do Deus Eterno fez Sansão ficar forte” - diferentemente daquela versão em inglês, TEV, que segundo a paráfrase referida pelas testemunhas de Jeová, diz “poder” em vez de “Espírito”), e ,Lucas 5.17 não m en­ ciona o Espírito Santo. O Espírito Santo apareceu na forma de uma pomba (Marcos 1.10); mas isso não comprova a impessoalidade do Espírito Santo mais do que o fato de Jeová (ou Seu anjo)

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ter aparecido a Moisés como um fogo numa sarça (Êx 3.24) comprova que Jeová (ou Seu anjo) não é uma pessoa. O Espírito Santo é assemelhado com o fogo (Mt 3.11; Lc 3.16); mas conforme acabamos de ver, Deus apareceu como fogo a Moisés, e a Bíblia diz noutros textos (falando figuradamente, é claro) que Deus é um fogo (Dt 4.24; 9.3; Hb 12.29). Ficar cheio do Espírito é comparado com ficar bêbado com vinho (Ef 5.18); certo; mas a mesma epístola diz aos cristãos que devemos ficar cheios de Deus (Ef 3.19; 4.10). A lição ensinada em Efésios 5.18 éj ustamente que devemos entregar o controle da nossa vida, não a alguma substância impessoal (tal como o vinho), mas, sim, devemos ser controlados somente por Deus, na pessoa do Seu Espírito. O Espírito Santo é supostamente “incluído entre várias outras qualidades” (pág. 22) em 2 Coríntios 6.6, mas segundo esse raciocínio o Espírito Santo deve ser uma qualidade, e não uma força. Resumindo: esses argumentos demonstram, não que o Espírito Santo seja uma força impessoal, mas também que Ele age de maneiras que não são facilmente retratadas como as ações de um ser humano. Porque o Espírito Santo opera no íntimo de um número incontável de indivíduos, opera de modo invisível, e geralmente passa despercebido, Ele convida a comparação com forças impessoais nalgumas figuras de linguagem e manifestações simbólicas. Mas que Ele pessoalmente não é uma força impessoal tem sido revelado claramente através do ensino de Jesus Cristo em João caps. 14 - 16, Marcos 3, Mateus 28.19, e noutros textos bíblicos.

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0 Irínlfarísmo no Novo Testamento Por enquanto, neste livro, temos visto que a doutrina da Trindade foi desenvolvida na Igreja Primitiva como resposta a reinterpretações*da doutrina bíblica que eram heréticas e antibíblicas - até mesmo segundo o pensamento das testemunhas de Jeová, na sua maior parte. O trinitarismo representa a unicidade absoluta de Deus e a crença de que somente Deus nos criou e de que somente Ele nos salva. Temos visto evidências de que Jesus Cristo é Deus, e de que o Espírito Santo é uma pessoa que também é Deus. E temos desenvolvido esses ensinos bíblicos em plena harmonia com as distinções claras que a Bíblia faz entre o Pai e o Filho, e com a distinção entre o Espírito Santo e o Pai e o Filho. O que temos por enquanto, pois, são os elementos da doutrina da Trindade. Mas a Bíblia nos encoraja a pensar

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em Deus como Pai, Filho, e Espírito Santo? Essa qualidade tríplice fica evidente na própria Bíblia, ou foi imposta artificialmente na Bíblia? Neste capítulo, veremos que a própria estrutura do ensino neotestamentário é trinitária, a despeito de faltarem alguns termos teológicos que vieram a ser usados nas formulações trinitárias em tempos posteriores.

“Textos que provam” a Trindade A atenção é usualmente focalizada nesse contexto nos versículos tais como Mateus 28.19, onde Jesus ordena o batismo “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.” Também são mencionados comumente 1 Coríntios 12.46 e 2 Coríntios 13.14. E não deixam de ser textos importantes. É interessante notar o comentário da brochura das testemunhas de Jeová sobre esses textos: “Dizem esses versículos que Deus, Cristo, e o Espírito Santo constituem uma Divindade Trina, que os três são iguais em substância, poder e eternidade? Não, não dizem, assim como o fato de alistar três pessoas, como fulano, sicrano e beltrano não significa que sejam três em um” (pãg. 23). Indicam, ainda, que “Abraão, Isaque e Jacó,” bem como “Pedro, Tiago e João,” são mencionados juntos numerosas vezes, “o que tampouco os torna um.” Essas ilustrações, no entanto, dificilmente apoiam os argumentos das testemunhas de Jeová. Entre outras coisas, todos os três exemplos dos grupos de três pessoas são exatamente isso - grupos de três pessoas, cada uma delas não sendo mais nem menos uma pessoa do que as demais. E realmente, a expressão “fulano, siclano e beltrano” é geralmente usada no sentido de “quaisquer

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três homens,” tendo por certo que um é bem igual a outro! Da mesma maneira, Abraão, Isaque, e Jacó são três patriarcas, e Pedro, Tiago e João são três apóstolos. Se essas ilustrações demonstrarem alguma coisa, seria mais provavelmente isso: que “Pai, Filho, e Espírito Santo” refere-se basicamente a três pessoas do mesmo tipo - neste caso, três pessoas divinas - e não que se refere a um Deus todo-poderoso, um anjo criado, e uma força impessoal! Procurando reforçar sua negação de que esses textos falam da Trindade, as testemunhas de Jeová citam da Cyçlopaedia de McClintock e Strong, que diz que esse grupo de textos “não prova, em si mesmo, que todos os três pertençam necessariamente à natureza divina, e possuam igual honra divina” (pág. 23). Na frase imediatamente seguinte, no entanto, a Cyçlopaedia declara que isso pode ser comprovado mediante uma “segunda classe de textos,” a saber: os textos que já estudamos nos capítulos anteri­ ores que falam de Jesus e do Espírito Santo em termos de Deus. (1) As razões citadas por McClintock e Strong para negarem que Mateus 28.19 fala claramente de três pessoas divinas são menos que persuasivas: P ois (a ) o sujeito em q u e a p e s s o a é b a tiz a d a n ã o é n e c e ss a ria m e n te u m a p e s s o a , m a s p o d e s e r u m a d o u t r i n a o u u m a re lig iã o , ( b ) A p e s s o a em q u e m a lg u é m é b a tiz a d o n ã o é n e c e ss a ria m e n te D e u s , c o n form e v em o s em 1 C o 1.13: “Fostes, p o rv e n tu ra , b a tiz a d o s em n o m e de P a u lo ? ” ( c ) A co n exão en tre e sse s três su jeitos n ã o c o m p ro v a s u a p e r s o n a l i d a d e o u i g u a ld a d e . (2)

Respondendo, podemos indicar os seguintes fatos: (a)E m bora não ten h a sido o fe re c id a n en h u m a

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,exemplificação, podemos reconhecer que seja possível falar em ser batizado numa doutrina ou religião. No entanto, a expressão “batizando-os em nome de” comprova, além de toda a dúvida, que há alusão a pessoas. Além disso, sabemos que o Pai e o Filho são pessoas, de modo que fica mais natural entender que o Espírito Santo também é uma pessoa - e muito ilógico e forçado negar essa conclusão. (b) Em 1 Coríntios 1.13 Paulo está expressando seu horror diante da idéia de haver quem batize outras pessoas em nome dele. Ele não está dizendo que o batismo pode ser realizado em nome de uma criatura tal como ele mesmo pelo contrário, está repudiando semelhante prática. Além disso, já sabemos que o Pai é Deus, de modo que a coordenação do Filho e do Espírito com o Pai tende a apoiar o fato de serem Deus, também. (c ) A mera conexão do Pai, do Filho e do Espírito Santo não comprova por si só que cada um é uma pessoa divina em um só Deus; mas a ordem de batizar em nome deles, compreendida juntamente com o fato de que se sabe que os dois primeiros são pessoas, comprova no míriimo que o Espírito Santo é uma pessoa, e subentende fortemente que todas as três são Deus. No tocante a 2 Coríntios 13.14, a brochura das testemunhas de Jeová (pág. 23) cita a seguinte declaração da Cyclopaedicv. “Não podemos com justiça inferir que elas possuíam igual autoridade, ou a mesma natureza.” Em isolamento, isso é provavelm ente certo. Mas a Cyclopaedía diz, na primeira parte da mesma frase, que “podemos inferir, mediante o paralelismo entre o terceiro membro do trecho com os dois anteriores, a personalidade do Espírito Santo.” (3) Um outro texto que comprova a Trindade precisa ser mencionado. Quando Jesus é batizado, o Espírito Santo

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desce simbolicamente sobre Ele como pomba, e o Pai proclama que Jesus é o Seu Filho (Mt 3.16-17; cf. Marcos 1.10-11; Lc 3.21-22; João 1.32-34). A brochura das testemunhas de Jeová argumenta que a descida do Espírito sobre Jesus no Seu batismo subentende “que Jesus não fora ungido com o espírito até aquele momento” (pág. 23), mas nada disso é dito. Devemos acreditar que João Batista estava cheio do Espírito desde o ventre da Sua mãe (Lucas 1.15), ao passo que o Filho de Deus estava destituído do Espírito até ficar com cerca de 30 anos de idade? Devemos acreditar que um mero ser humano (que Jesus era, segundo as testemunhas de Jeová) viveu uma vida sem pecado durante cerca de 30 anos sem a ajuda do Espírito Santo? O fato é que a descida do Espírito Santo sobre Jesus não foi para Ele tornar-se ativamente presente na vida de Jesus pela primeira vez, mas para marcar publicamente o início do ministério de Jesus e manifestar ao mundo que o Espírito realmente estava sobre Jesus. Esses textos de prova, portanto, realmente apoiam a crença de que o Pai, o Filho, e o Espírito Santo são três pessoas, e também dão algum apoio - mas não servem de comprovação tdtal - à crença de que essas três pessoas são Deus. Sua importância principal, no entanto, não se acha em se constituírem em textos de prova isolados em favor da Trindade como uma doutrina completa. Nenhum versículo isolado nos conta tudo a respeito de Deus. A importância desses textos é que demonstram que os escritores do Novo Testamento realmente pensavam em categorias “trin itá ria s ,” m as n atu ralm en te sem o vocabulário formal da teologia trinitária posterior. Mas não é apenas nalguns poucos textos de prova que se acha esse aspecto tríplice, esse padrão trinitário. Pelo contrário, ele permeia o Novo Testamento inteiro.

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Um panorama ,do trinitarismo do Novo Testamento A história do Novo Testamento é a história dos atos do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. A figura central é obviamente o Filho, Jesus Cristo; mas Ele vem para revelar o Pai e para nos reconciliar com o Pai e, depois da Sua ascensão, Ele envia o Espírito Santo a fim de glorificar o Filho e levar as pessoas a* conhecerem o Filho como Senhor, para a glória do Pai. Essa estrutura segue como fio de meada na totalidade do Novo Testamento, desde Mateus até ao Apocalipse, desde o nascimento de Jesus até às revelações dadas ao último dos apóstolos.

A Trindade nos Evangelhos Podemos começar seguindo a pista desse padrão nos Evangelhos. Jesus Cristo, o Filho de Deus, é concebido mediante o poder do Espírito Santo (Lucas 1.35). Conforme já foi notado, quando Jesus foi batizado, o Espírito Santo desceu sobre Ele, e o Pai proclamou que Jesus é Seu Filho (Mt 3.16-17; Mc 1.10-11; Lc 3.21-22; Jo 1.32-34). Jesus enfrenta a tentação no deserto como o Filho de Deus com a plenitude do Espírito Santo (Lc 4.1-12). Promete aos discípulos que não precisarão preparar de antemão o que devem dizer ao serem julgados pela sua fé, porque as palavras lhes serão dadas pelo Espírito do seu Pai (Mt 10.20, por Cristo (Lc 21.15), e pelo Espírito Santo (Mc 13.11; Lc 12.12). Jesus vem preparar o caminho para a vinda do Espírito, que encherá os que crerem em Cristo com uma vida que transborda de adoração ao Pai (Jo 4.1026; 7.37-39). Depois de Jesus ter ascendido, o Pai enviará o Espírito Santo em nome do Filho (Jo 14.16-17, 26; 15.26; 16.7). O Pai, Filho e Espírito Santo habitarão no

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crente (Jo 14.17, 23). Tudo quanto o Pai tem pertence ao Filho, e tudo quanto o Espírito nos revela provém do Filho (Jo 16.14-15). Assim como o Pai enviou o Filho, assim também o Filho envia os discípulos no poder do Espírito Santo (Jo 20.21-22), com a comissão para batizar em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo (Mt 28.19).

A Trindade em Atos No Livro de Atos surge o mesmo padrão na vida da igreja. Jesus, depois de relembrar aos discípulos a promessa do Pai no sentido de enviar o Espírito Santo no lugar do Filho (At 1.4-5), manda que deixem o futuro nas mãos do Pai ao testemunharem de Jesus no poder do Espírito Santo (1.7-8). Jesus então sobe ao Céu, e no Dia do Pentecostes envia o Espírito Santo da parte do Pai, conforme o próprio Jesus prometera (2.33). Aqueles que são cham ados por Deus e que correspondem com arrependimento e fé são batizados em nome de Jesus e recebem o Espírito Santo (2.38-39). Ananias e Safira foram condenados por terem mentido ao Espírito Santo, a Deus, e ao Espírito do Senhor (5.3, 4, 9). Os apóstolos pregam Jesus como Cristo e Salvador àqueles que recebem o testemunho do Espírito Santo através deles (5.30-32). Nos seus últimos momentos, Estêvão, o primeiro mártir da igreja, ficou cheio do Espírito Santo e viu Jesus à destra de Deus (7.55-56). Depois de ouvir a mensagem de que Deus ungiu Jesus Cristo, o Senhor de tudo, com o Espírito Santo (10.36-38), Comélio e a sua família receberam o Espírito Santo, exaltaram a Deus, e foram batizados em nome de Jesus (10.44-48; 11.15-18). Posteriormente, Pedro, que tinha pregado a Comélio, narrou que Deus concedera a salvação e o dom do Espírito Santo aos

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gentios mediante a graça do Senhor Jesus (15.8-11). Paulo mandou os presbíteros em Éfeso a zelarem pela igreja de Deus, que Deus comprara mediante o sangue de Cristo e sobre a qual o Espírito Santo os constituira bispos (20.28). O Livro de Atos termina quando Paulo cita as palavras que o Espírito Santo falou através de Isaías a respeito da incredulidade dos judeus, e de passar a pregar aos gentios o reino de Deus e a ensinar a respeito do Senhor Jesus Cristo (28.25-31).

A Trindade em Paulo Esse padrão trinitário passa a ser ainda mais evidente nas epístolas de Paulo, mas o espaço disponível só permite que mencionemos alguns dos trechos mais notáveis no assunto. Comecemos com a Epístola aos Romanos. Paulo prega o Evangelho de Deus, a respeito do Seu Filho, cuja filiação foi vindicada pela Sua ressurreição mediante o Espírito da santidade (Rm 1.1-4). O amor de Deus nos foi revelado na morte do Seu Filho e colocado em nossos corações mediante o Espírito Santo (Rm 5.5-10). Deus enviou o Seu Filho para nos livrar da morte e nos vivificar no Seu Espírito (Rm 8.2-4), que é tanto o Espírito de Deus quanto o Espírito de Cristo (Rm 8.9-11). Mediante o Seu Espírito habitando em nós, somos filhos adotados de Deus, em união com Cristo, e assim temos o privilégio de conhecer Deus como Pai (Rm 8.14-17). Passando, agora, a examinar as Epístolas de Paulo aos Coríntios, o apóstolo diz que os cristãos são lavados, santificados, ejustificados em nome de Jesus e no Espírito de Deus (1 Co 6.11). A despeito da diversidade dos dons,. há o mesmo Espírito, Senhor, e Deus (1 Co 12.4-6). O Espírito distribui os dons segundo Ele quer ao corpo de

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Cristo, de modo que cada membro fique onde Deus deseja (1 Co 12.11-12, 18). Deus alicerça os cristãos em Cristo, o Filho de Deus, e nos dá o Espírito (2 Coríntios 1:19-22). A nova aliança é um ministério do Espírito, transformando nos para que reflitamos a imagem gloriosa do Senhor em Cristo (2 Coríntios 3:6-8, 14-18). Paulo termina 2 Coríntios com a bênção: “A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós” (2 Co 13.14). A maioria das demais epístolas de Paulo revela padrões semelhantes. Deus nos justifica e nos dá o Seu Espírito mediante a fé em Jesus Cristo (G1 3.8-14). Deus envia o Espírito do Seu Filho aos nossos corações a fim de sermos filhos adotados de Deus (G1 4.4-7). Os cristãos adoram a Deus no Seu Espírito e se gloriam em Cristo Jesus (Fp 3.3). Por determinação de Deus, os cristãos têm a salvação em Cristo e uma vida transformada no Espírito Santo (1 Ts 1.3-6; 2 Ts 2.13-14). Deus nos salvou mediante o Espírito Santo que Ele derramou sobre nós através de Jesus Cristo (Tt 3.4-6). É possível, no entanto, que a Epístola de Paulo aos Efésios seja ufna das mais sublimes expressões da fé trinitária em todo o Novoj Testamento. Deus nos escolheu e nos predestinou para a salvação mediante Jesus Cristo e nos selou no Espírito Santo (Ef 1.3-14). Com esse fundamento, Paulo ora para que o Deus de Jesus Cristo dê aos cristãos o Espírito de sabedoria e de revelação (1.15-17). A respeito de Cristo, escreve: “porque por Ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito” (2.18) e nos tom am os “... santuário dedicado ao Senhor... habitação de Deus no Espírito” (2.21-22). Paulo ora de novo, e dessa vez pede que o Pai nos fortaleça mediante o Seu Espírito, de modo que Cristo habite em nossos corações e assim

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conheçamos plenamente o amor de Cristo (3.14-19). Ele nos faz lembrar que há “um Espírito... um só Senhor... um só Deus e Pai de todos” (4.4-6). Não devemos, portanto,, entristecer o Espírito Santo, mas perdoar os outros assim como Deus nos tem perdoado em Cristo (4.29-32). Devemos ser cheios do Espírito, dando graças a Deus Pai em nome de nosso Senhor Jesus Cristo (5.18-20).

A Trindade no restante do Novo Testamento O restante do Novo Testamento também dá testemunho de uma fé trinitária fundamental (embora sem definir uma doutrina formalizada da Trindade). A palavra da salvação foi falada pelo Senhor, e Deus continua dando testemunho dela mediante os dons do Espírito Santo (Hb 2.3-4). Cristo se oferece a Deus como sacrifício de sangue pelos nossos .pecados, pelo Espírito eterno (Hb 9.14). Os que rejeitam Cristo estão, com efeito, matando de novo o Filho de Deus, ofendendo o Espírito Santo e, portanto, têm a certeza de serem julgados por Deus (Hb 10.28-31; também 6.4-6). Pedro declara que somos conhecidos de antemão por Deus Pai, santificados pelo Espírito, e aspergidos pelo sangue de Cristo (1 Pedro 1.2). João declara que os cristãos têm confiança diante de Deus ao crerem em Cristo e permanecerem em união com Cristo mediante o Espírito de Deus (1 João 3.21-24; 4.13-14). Judas encoraja os cristãos a orarem no Espírito Santo, a se manterem no amor de Deus, e a esperarem na misericórdia de Jesus Cristo (Judas 20-21). No Apocalipse, o Filho de Deus declara ter autoridade do Seu Pai e conclama Seus ouvintes a prestarem atenção naquilo “que o Espírito diz às igrejas” (Ap 2.18, 27-29).

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A fé cristã é fé trinitária O p ro p ó s ito d e ss e p a n o ra m a de I ó j f iü neotestamentários não é declarar que cada um d piei, examinado isoladamente, “comprove” a Trindade. A lição em pauta é, isto sim, que no seu conjunto, somado ás evidências consideradas nos capítulos anteriores em prol da divindade de Cristo e do Espírito Santo, constituam-se num argumento cumulativo sólido em favor da opinião de que a fé do Novo Testamento é trinitária. Com isso queremos dizer, não que seja necessário conhecer ou aceitar a palavra Trindade para ser cristão, mas, sim, que a fé cristã revelada no Novo Testamento realmente é o que a doutrina da Trindade diz ser o que ela é. Para ser cristão, não é necessário conhecer nem compreender as expressões formais do trinitarismo que foram o resultado de séculos de reflexão sobre o Novo Testamento, diante das distorções heréticas daquela fé. Por outro lado, para ser cristão, não se deve rejeitar a fé que a doutrina da Trindade foi projetada para salvaguardar. Além disso, para ser um cristão responsável, não meramente no Sentido de obter a salvação pessoal, mas no sentido de ser um sócio ativo do restante de Igreja de Cristo na comunhão e serviço de Cristo, é necessário aceitar a doutrina da Trindade. Não aceitar a Trindade, depois de ter a igreja elaborado essa doutrina com cuidado e cautela como resposta aos ataques contra a sua fé, é negar que Cristo preservou a igreja através das devastações provocadas pelas heresias e apostasias, e com isso, é ofender implicitamente a Cristo (Mt 16.18; Judas 3-4).

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Adore a Deus conforme Ele se íem revelado As testemunhas de Jeová têm razão ao dizer que devemos “adorar a Deus segundo os seus termos” (Devese crer na Triádade?, pág. 30). Mas, ao rejeitarem a doutrina da Trindade, as testemunhas de Jeová estão reálmente rejeitando a revelação de Deus a respeito de como ele quer ser adorado. A vida eterna, conforme as testemunhas de Jeová indicam corretamente, depende de conhecer a Deus y o ã o 17.3). A Bíblia, porém, deixa claro que ninguém pode conhecer a Deus sem conhecer a Cristo conforme Ele realmente é. De fato, Jesus indica em João 17.3 que a salvação depende de conhecê-Lo, também. O. Apóstolo Paulo, que, como fariseu, parecia ter todos os motivos para estar confiante no seu conhecimento de Deus e na

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Sua aprovação (Fp 3.4-6), considerava “todas as coisas como perda, por causa do valor superior de Cristo Jesus, meu Senhor” (Fp 3.8 TNM). Isso seria estranho se Jesus fosse simplesmente o mais sublime entre todos os seres criados, mas apropriado se, conforme já comprovamos, Jesus é Deus. O fato de Paulo considerar Jesus como Deus é indicado no contexto imediato, onde declara que, como cristãos, nós “temos a nossa jactância em Cristo Jesus” (v. 3 TNM), embora o próprio Paulo insistisse no princípio do Antigo Testamento: “Mas aquele que se gloriar, glorie-se no Senhor” (2 Co 10.17 TNM). Conhecer a Cristo, portanto, é realmente conhecer a Deus: “Se vós me tivésseis conhecido, teríeis conhecido meu Pai; deste momento em diante vós o conheceis e o tendes visto” (João 14.7 TNM). Não somente isso, mas ninguém pode conhecer o Pai à parte de Cristo: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim” (v. 6 TNM). “Todo aquele que nega o Filho, tampouco tem o Pai. Quem confessa o Filho, tem também o Pai” (1 João 2.23 TNM). Se o filho fosse uma criatura, deveria ser possível conhecer a Deus à parte daquela criatura. Mas ninguém o pode, porque Jesus é Deus. Além disso, ninguém pode honrar a Deus se não honrar a Cristo. Realmente, Deus quer que todos “honrem o Filho, assim como honram o Pai” (João 5.23a TNM). A Bíblia contém muitas advertências contra a adoração às criaturas; contém, ainda, mandamentos para exaltar, honrar, adorar, amar, louvar, temer e servir a Cristo, e advertências contra aqueles que negam que Cristo é “o nosso único Dono e Senhor” (Judas 4 TNM). (Como Jesus poderá ser nosso único Dono e Senhor se Ele não for Deus?) Mas a Bíblia nunca adverte contra exaltar Jesus demasiadamente. Ninguém é nunca censurado por prestar-Lhe alguma

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honraria que Ele não merece. Isso é porque Jesus Cristo tem “o nome que está acima de todo nome” (Fp 2.9), e está “muito acima de todo governo, e autoridade, e poder, e senhorio, e todo nome dado, não só neste sistema de coisas, mas também no que há de vir” (Ef 1.21 TNM). É, portanto, impossível exaltar Jesus demasiadamente.

Confundindo a questão em debate A brochura das testemunhas de Jeová, Deve-se Crer na Trindade? lança a acusação de que a doutrina da Trindade “confundiu e diluiu o entendimento das pessoas a respeito da verdadeira posição de Deus” (pág. 30). A doutrina da Trindade, no entanto, não é a origem a respeito da confusão no tocante à natureza de Deus. Pelo contrário, foi a negação dos ensinos bíblicos simples a respeito do Pai, do Filho e do Espírito Santo que levou à variedade estonteante de teorias a respeito de Cristo e do Espírito Santo, que exigiu, como resposta, a formulação cuidadosa e exata do significado da doutrina de Deus na Bíblia. É interessante que a brochura das testemunhas de Jeová cita o teólogo católico Hans Küng perguntando: “Por que deveria alguém querer acrescentar algo à noção da unicidade e da imparidade de Deus que possa apenas diluir ou anular tal unicidade e imparidade?” (pág. 30). No con texto, K ü n g está expressan do com sim p á tica compreensão a atitude para com a doutrina da Trindade expressa pelos muçulmanos, seguidores da religião de Maomé. (1) Küng passa a notar que os muçulmanos ficam ig u a lm en te es ca n d a liza d o s p elo en sino do N ovo Testamento de que Jesus é o Filho de Deus. (2) Na realidade, é o ensino das testemunhas de Jeová, de que existem muitos deuses, dos quais Jeová é o m aior e

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Jesus o segundo maior, que dilui ou anula a unicidade e a imparidade de Deus. Sustentar que Jesus Cristo é Aquele que criou diretamente todas as coisas, que sustenta todas as coisas, que fez a grande obra de morrer pelos nossos pecados, que tem “toda a autoridade nos céus e na terra” (Mt 28.18), e que julgará o mundo - e passar então a negar que Jesus realmente é Deus, certamente subtrai a unicidade e glória de Deus. Somente o trinitarismo, que afirma todas as coisas gloriosas ditas a respeito de Jesus no Novo Testamento, mas que também afirma que Jesus é o Filho de Deus, enviado pelo Pai, e revelado a nós pelo Espírito Santo, preserva a unicidade e a imparidade de Deus à luz do Novo Testamento. Nesse caso, portanto, as testemunhas de Jeová, assim como a maioria dos antitrinitários, concordam com os judeus e os muçulmanos, e discordam dos cristãos, quanto ao significado de dizer que Deus é um só. Ao rejeitarem a Trindade, estão rejeitando aquilo que faz incomparável o conceito cristão de Deus, por contraste com todos os conceitos não-cristãos e subcristãos. As testemunhas de Jeová também alegam que a crença na Trindade tem levado a vários males - especificamente, à exaltação antibíblica de Maria, à perseguição dos antitrinitários, e às guerras nas quais os trinitãrios matam uns aos outros. Essa alegação, porém, simplesmente confunde a questão em debate. Nenhuma dessas coisas é, de modo algum, o resultado da crença na Trindade. O título “mãe de Deus” aplicado a Maria não tinha, originalmente, nada a ver com a exaltação de Maria. A palavra usada era precisamente theotokos, palâvra grega que significa “Portadora de Deus”. Isso significa que a Pessoa concebida e nutrida no ventre de Maria era realmente Deus. Conforme já vimos, essa é uma doutrina

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bíblica. A expressão “mãe de Deus” parece, em muitos casos, subentender que Maria tem uma posição de autoridade sobre Deus, e fica claro que isso é falso; mas bem poucos (ou talvez nenhum) católicos entendem assim, e de qualquer maneira, o uso da expressão para exaltar Maria não tem nada a ver com a Trindade. A crença de que Maria é uma “mediatriz” (crença esta que é rejeitada por todos os trinitários protestantes), também não tem ligação com a doutrina da Trindade. A exaltação de Maria no catolicismo romano a uma posição próxima da divindade surgiu muito tempo depois da doutrina da Trindade, e nada tem de ver com ela. Outra coisa que confunde a questão em debate é a r e fe r ê n c ia aos tr in itá r io s qu e têm p e rs e g u id o antitrinitários. Embora tal coisa tenha acontecido, não foi como resultado da crença na Trindade, mas por sustentar a crença que o governo civil tinha a responsabilidade de castigar ou até mesmo de executar hereges. Quando e onde antitrinitários estavam no governo e sustentando uma crença semelhante a respeito do papel das autoridades civis, freqüentemente eram perseguidos os trinitários. Logo, a perseguição histórica de antitrinitários por trinitários, por lamentável que tenha sido, não refuta de nenhuma maneira a doutrina da Trindade. Deve-se manter em mente que a mera crença na Trindade não faz com que uma pessoa seja cristã. Para alguém ser cristão, precisa colocar a sua fé no Deus que é trino e uno, e nãò simplesmente reconhecer que Ele é trino e uno. Nem o fato de crer na Trindade é garantia de que as crenças e práticas do cristão sejam certas em todas as demais áreas. Ainda menos relevante é a história lastimável de guerras em que trin itá rio s têm m atado trin itá rio s. Q u er concordemos ou não com a premissa de que toda a

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participação na guerra é um pecado (premissa com que concordam alguns cristãos, mas não todos), o fato de alguns trinitários terem matado outros na guerra, embora seja lamentável, não serve de refutação da doutrina da Trindade. No máximo, serve de prova de que a crença na doutrina da Trindade, por si só, não garante que a conduta da pessoa, ou a conduta de nações inteiras que aceitam essa doutrina, seja consistentemente cristã. Mas simplesmente não existe conexão lógica entre a crença na Trindade e a participação na guerra. Essas são questões separadas, e tentar alegar que a verdade da Trindade é suspeita por causa das crenças a respeito da participação na guerra é simplesmente confundir a questão.

Confiança no Deus Trino e Uno Jeová conclama o múndo a reconhecer que “não há outro Deus, nem alguém semelhante a mim” (Is 46.9 TNM). Não é mera questão de saber o fato de que somente Jeová é Deus, mas de confiar somente em Jeová como Deus e Salvador: “Não fui eu, Jeová, além de quem não há outro Deus; Deus justo e Salvador, não havendo' outro além de mim? Virai-vos para mim e sede salvos, todos vós [nos] confins da terra; pois eu sou Deus, e não há outro” (Is 45.21b-22 TNM). É o trinitário que reconhece Jeová como o único Deus e Salvador mediante sua confissão que Jesus Cristo é verdadeiramente Jeová, e não uma criatura. Jesus Cristo é nosso Deus e Salvador ( T t 2 . 1 3 ; 2 P e l . l ) , e Ele somente pode sê-lo se é Jeová. Mas simplesmente reconhecer essa verdade não basta. Precisamos confiar em Jesus Cristo como Deus e Salvador, pôr nEle a nossa confiança, e viver de uma maneira que o honre (Tito 2.13-14).

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As boas-novas para as quais o Diabo cega as mentes dos incrédulos são as boas-novas a respeito de Cristo, “o qual é a imagem de Deus” (2 Co 4.4). A mensagem que devemos pregar é “Cristo Jesus como Senhor” (v. 5). Quando aceitamos Cristo como Senhor, Deus faz brilhar em nosso coração a luz do conhecimento de Deus na face de Jesus Cristo (v. 6). É a verdade gloriosa a respeito de Jesus Cristo que o Diabo odeia e procura esconder da raça humana, por meio de todos os truques que se pode imaginar (João 8.43-44). A doutrina da Trindade foi formulada pelos seguidores de Jesus Cristo a fim de salvaguardar as boas-novas de que em Jesus Cristo nos encontramos com Deus face a face. Não foi elaborada a fim de deixar Deus menos compreensível, nem para fazê-Lo tão misterioso que o povo comum teria que depender dos clérigos e dos teólogos para compreendê-Lo em seu lugar (conforme acusam as testemunhas de Jeová). Pelo contrário, a doutrina da Trindade foi elaborada com o devido respeito à revelação que Deus fez de Si mesmo. As doutrinas das testemunhas de Jeová a respeito de Deus, de Cristo, e do “espírito santo,” por oütro lado, foram elaboradas, não para representar mais fielmente o ensino da Bíblia, mas para reduzir Deus ao nível do entendimento humano. Existe a escolha, portanto, entre crer no Deus verdadeiro conforme Ele se revelou, com mistérios e tudo, ou crer num Deus que é relativamente fácil de ser compreendido, mas que tem pouca semelhança com o Deus verdadeiro. Os trinitários estão dispostos a conviver com um Deus a quem não conseguem compreender plenamente. C. S. Lewis expressou o fato assim:

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S e o cristian ism o fo sse a lg u m a c o isa q u e e stiv ésse m o s in v e n tan d o , é óbvio q u e p o d e ria m o s to rn á -lo m a is fácil. N ã o c o n se g u im o s con correr, em term o s d e sim p licid ad e, com

a s p e s s o a s q u e estão i n v e n t a d o religiões.

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p o d e ria m o s? E s ta m o s lid a n d o co m fatos. É ó b v i o q u e q u a lq u e r u m p o d e sim p lificar a s c o isa s se n ã o p re c is a r le v a r em co n ta os fatos! (3)

Crer nalguma doutrina - até mesmo na Trindade - não basta. Devem os colocar nossa confiança do Deus verdadeiro indicado pela doutrina. Devemos, também, repudiar aquelas doutrinas que negam “nosso único Dono e Senhor, Jesus Cristo” (Jd 4TNM). As testemunhas de Jeová precisam buscar a luz da verdade de Deus a respeito de Jesus Cristo (2 Co 4.6), verdade esta que pode libertá-las (Jo 8.32) das exigências de uma organização que toma sobre si ditar a elas o que devem crer. Somente Jesus Cristo, e não alguma organização religiosa, tem as palavras da vida eterna (Jo 6.68). Que Deus Pai liberte muitas testemunhas de Jeová, e pessoas doutras religiões também, “da autoridade da escuridão” e as transfira “para o reino do Filho do seu amor” (Cl 1.13 TNM).

Noías Capítulo 1 Compreendendo a Trindade 1. Deve-se Crer na Trindade? (Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados, 1989). As páginas citadas no texto da presente obra referem-se a essa brochura. 2. Frederick C. Grant, “Trinity, The,” (“Trindade, A”), em The Encyclopaedia Americana, Vol. 27 (Danbury, Conn.: Americana Corp., 1980), 116.

Capítulo 2 A Bíblia e a Trindade *

1. Edmund J. Fortman, The Triune God: A Historical Study of the Doctrine of the Trinity (Philadelphia: Westminster Press, 1972), 9. 2. Ibid., xv-xvi. 3. “Trinity,” The New Encyclopaedia Britannica: Micropaedia, Vol. X (Chicago: Encyclopaedia Britannica, 1981), 126. 4. Johannes Schneider, em “Deus, Deuses, Emanuel” em O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento (São Paulo: Edições Vida Nova, trad. Gordon Chown, 1981) Vol. 1, pág. 652. 5. E. Washbum Hopkins: The Origin and Evolution of Religion (New Haven, Conn.: Yale University Press, 1923), 336.

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6. W. Fulton: ‘Trinity,” em Encyclopaedia of Religion and Ethics, ed. James Hastings, Vol. 12 (Nova York: Charles Scribner’s Sons, 1958), 461. 7. Ibid. 8. Ibid., 458-59.

Capítulo 3 A Igreja e a Trindade 1. Justino, o Mártir: Primeira Apologia 63, em The Ante-Nicene Fathers: Translations of the Fathers down to A.D. 325, ed. Alexander Roberts e James Donaldson, edição revisada A. Cleveland Coxe (Grand Rapids: William B. Eerdmans Publishing Co., 1969 reimpressão [orig. 1885], 1:184; doravante citado como ANF. 2. Justino, o Mártir: Diáologo com Trifão 36, em ANF, 1.212. 3. Ibid., 128, em ANF, 1:264 4. Justino, o Mártir, Primeira Apologia 6, em ANF 1:164. 5. Ibid., 16, 17, em ANF, 1:168. 6. Ireneu, Contra Heresias 1.10.1, em ANF, 1:330. 7. Ibid., em ANF, 1:417. 8. Clemente de Alexandria: Exortação aos Pagãos, 10, em ANF, 2.202. 9. Clemente: O Instrutor 1.8, 1.11 em ANF, 2.227, 234. 10. Clemente: Exortação aos pagãos 12, em ANF, 2:206. 11. Clemente: Miscelâneas [Stromata] 5.1, em ANF, 2.444. 12. Tertuliano: De Pudicitia21, citada em Fortman: The Triune God: A Historical Study of the Doctrine of the Trinity (Philadelphia: Westminster Press, 1972), 112. 13. “Elucidações,” em ANF, 3.629. 14. Tertuliano: Contra Hermógenes 3, em ANF, 3:478. 15. “Elucidações,” em ANF, 3:629-30. 16. Tertuliano: Contra Praxeas 5, em ANF, 3:600-601. 17. Ibid., 7, em ANF, 3:601, 602. 18. Michael 0 ’Carroll: Trinitas: ATheological Encyclopaedia of the Holy Trinity (Wilmington, Del.: Michael Glazier, 1987), 208. 19. Hipólito: Contra Noêcio 10, em ANF, 5:227.

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20. Ibid., 8, em ANF, 5:226. 21. Ibid., 6, em ANF, 5:225. 22. Hipólito: A Refutação de Todas as Heresias 10.30 em ANF, 5:153. 23. Edmund J. Fortman: The Triune God: A Historical Study of the Doctrine of the Trinity (Philadelphia: Westminster Press, 1972), 58. 24. Ibid., 56. 25. Gerald Bray, [Creeds, Councils and Christ] (Downers Grove, III.: Intervarsity Press, 1984), 83. 26. Pará texto e estudo, ver ibid., 104-9. 27. Harold O. J. Brown: Heresies: The Image of Christ in the Mirror of Heresy and Orthodoxy from the Apostles to the Present (Grand Rapids: Baker Book House, 1988 [orig. 1984]). 116-17. 28. The New Encyclopaedia Brítannica: Micropaedia, Vol. 16 (Chicago: Encyclopaedia Britannica, 1981), 730. 29. Brown: Heresies, 117. 30. Bray: Creeds, Councils, and Christ, 109. 31. Brown: Heresies, 115; Rousas John Rushdoony, The Foundations of Social Order: Studies in the Creeds and Councils of the Early Church (Fairfax, Va.: Thobum Press, 1978), 14-15. 32. W. Fulton: “Trinity,” em Encyclopaedia of Religion and Ethics, ed. James Hastings, vol. 12 (Nova York: Charles Scribner’s Sons, 1958), 458.

Capítulo 5 Jesus é criatura? 1. Derek Kidner: Provérbios: Introdução e Comentário (São Paulo: Edições Vida Nova, Trad. Gordon Chown, 1980), 76. 2. Raciocínios à Base das Escrituras (Watchtower Bible and Tract Society, 1985), 408. 3. Ver mais: Larry R. Helyer: “Arius Revisited: The Firstbom over All Creation,” Journal of the Evangelical Theological Society 31, 1 (março de 1988): 59-67.

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Capítulo 6 A Bíblia nega que Jesus ê Deus? 1. VerNorman L. GeislereWilliam D. Watkins: “The Incamatíon and Logic: Their Compatibility Defended,” Trinity Journal n° 6 (1985): 185-97. 2. Ver, especialmente, Robert M. Bowman, Jr., e Brian A. Onken: “Was Jesus Raised as a Spirit Creature? Dialoguing with Jehovah’s Witnesses on 1 Corinthians 15.44-50,” Christian Research Journal 10, 1 (verão de 1987):7.

Capítulo 7 Jesus Cristo é Deus 1. G. H. Boobyer: “Jesus as Theos’ in the New Testament,” Bulletin of the John Rylands Library 50, 2 (primavera de 1968): 251. 2. Ibid., 250. 3. Ibid., 253. 4. Robert M. Bowman, Jr., Jehovah’s Witnesses, Jesus Christ, and the Gospel ofJohn (Grand Rapids: Baker Book House, 1989), doravante citado como Bowman, Gospel of John. 5. Ibid., 25-26. 6. Ver ibid., 65-69, para um estudo da regra de Colwell. 7. Ibid., 48-49. 8. Ibid., 43-53. 9. Ibid., 20-24. 10. Ibid., 60-61. 11. ibid., 27, 63. 12. Philip B. Harner: “Qualitative Anarthrous Predicate Nouns: Mark 15.39 and John 1:1, Journal of Biblical Literature 92, 1 (março de 1973): 85, 87; ver Bowman: Gospel of John, 70-73. 13. John L. McKenzie, Dictionary of the Bible (Nova York: MacmillanPublishingCo., 1965), 317; ver Bowman: Gospel ofJohn, 80-81. 14. Ibid., 133-34; citando Ajuda ao Entendimento da Bíblia (Watchtower Bible and Tract Society, 1971), 885.

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15. Ibid:, 87-132. 16. Ibid., 125-27; ver também RobertM. Bowman, Jr.:Jehouah's Witnesses and Biblical Interpretation (no prelo), capítulo 8. 17. Bowman: Gospel of John, 124-25. 18. Ibid., 87-112. 19. Ibid., 120-21. 20. Ibid., 122-24. 21. Ibid., 112-16. 22. Ibid., 117-20. 23. Ralph P. Martin: Carmen Christv Phüippinas ii.5-11 in Recent Interpretation and in the Setttng of Early Christian Worship (Cambridge University Press, 1967). 24. Ralph P. Martin: Filtpenses: Introdução e Comentário (São Paulo, Edições Vida Nova, trad. Oswaldo Ramos), 108. 25. Ibid., 108-109. 26. Martin: Carmen Christi, 148-149; ver também Martins: Filipenses, 109-110. 27. Martin: Filipenses, 116; Carmen Christi, 235-39; 255-57, 278-83. 28. Esse argumento é documentado em Robert M. Bowman, Jr.: Our GreatGod and Saviour (manuscrito inédito, 1987), 2-8; pode ser adquirido de CRI, Box 500, San Juan Capistrano, CA, EEUU 92693-0500. 29. Para um estudo mais pormenorizado de Tito 2.13; 2 Pedro 1.1; e 1 João 5.20, ver ibid. 30. Cf. Robert M. Bowman, Jr., Jehovah’s Witnesses and Biblical Interpretation (no prelo), capítulo 8; Robert H. Countess: The Jehovah's Witnesses New Testament: A CriticalAnalysis ofthe New World Translation ofthe Christian Greek Seriptures (Phillipsburg, N.J.: Presbyterian & Reformed Publishing Co., 1982), 34-39; D. R. DeLacey: ‘“One Lord’ in Pauline Christology,” em Christ the Lord: Studies in Christology Presented to Donald Guthrie, ed. HaroldH. Rowdon (Leicester, Inglaterra: Inter-Varsity Press, 1982), 191-203.

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31. Raciocínios à Base das Escrituras (Brooklyn: Watchtower Bible and Tract Society, 1985), 420.

Capítulo 8 O Espírito Santo é uma força? 1. Quanto a esta e outras questões correlatas, ver Duane Magnani: The Heavenly Weatherman (Clayton, Calif.: Witness Inc., 1987). 2. Georg Braumann: “Advogado, Parácleto, Ajudador,” em O Novo Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, Vol. I (São Paulo: Edições Vida Nova, trad. Gordon Chown, 1981), 105-107; Johannes Behm: “paraklêtos," em Theological Dictionary of the New Testament, ed. Gerard Friedrich, trad. e edit. Geoffrey W. Bromiley, Vol. 5 (Grand Rapids: William B. Eerdmans Publishing Co., 1967), 800-814.

Capítulo 9 O trinitarismo no Novo Testamento 1. John M’Clintock e James Strong: Cyclopaedia ofBiblical, Theological, and EcclesiasticalLiterature (Nova York: Harper & Brothers, 1881), 10:552. 2. Ibid. 3. Ibid.

Capítulo 10 Adore a Deus conforme Ele se tem revelado 1. Hans Küng: Christianity and the World Religions: Paths of Dialogue withlslam, Hinduism, and Buddhism, com Josef van Ess, Heinrich von Stietencron, e Heinz Bechert (Garden City, N.Y.: Doubleday & Co., 1986), 112-13. 2. Ibid., 116-18. Deve ser notado que Küng adota o conceito crítico modernista da Bíblia, negando, por exemplo, que Jesus afirmava ser o Filho de Deus (pág. 117). 3. C. S. Lewis: Beyond Personality: The Chrisüan Idea of God (Londres: Geoffrey Bles, 1944), 19.

Leituras recomendadas McDowell, Josh & Stewart, Don. Os Enganadores, Candeia, São Paulo, 2001. Jesus — Uma defesa bíblica da Sua Divindade, Candeia, São Paulo, 1994. M EN EZES, A ld o dos Santos. M erecem crédito as testemunhas de Jeová? Centro de Pesquisa Religiosa, Teresópolis-Rio, 1994. *

SILVA, Esequias Soares. Como responder às testemunhas de Jeová, Candeia, S. Paulo, 1995.

Testemunhas de Jeová, vol II, Candeia, S. Paulo, 1994.

índice de assuntos Adão, 55 Todo-poderoso, significado de, 9394 anjo, Jesus com, 28-29, 52 anjos, como deuses, 49-52 Pais Ante-Niceanos, 27-34 apostasia, 44-45 arianismo, 36-37,39-41,43,57 Ário de Alexandria, 36, 42 Credo Atanasiano, 11-15, 17, 18, 41 Atanásio, 40-42

Constantinopla, 40:41 Credo de Nicéia, 37 Credos, propósito dos, 17, 44-45 Egõ eimi ("eu sou”) , 94-96 Elohim, 49, 52,55 Encyclopaedia Britannica, 24, 3839 E ncyclopedia o f R eligion and Ethics, 25, 41,42 Iluminismo, 45 E usébio de C esaréia, 39; de Nicomédia, 39

*

Barth, Karl, 24 Bíblia, como Palavra de Deus, 18,

Pai, é Deus de Jesus, 14-15,74-75 Fortman, Edmund, 22-23, 33

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Blasfêmia, Jesus acusado de, 8186 Bracken, Joseph, 18 B u lletin o f the John Rylands Library, 85-87 Calvino, João, 83 Ciência Cristã, 45 Clemente de Alexandria, 28, 30, 34 Constantino, 37-40 Concilio, de Nicéia, 37-40; de

Gnosticismo, 29, 35, 44, 71 Deus, como Criador, 35 43; não tem corpo, 12, 107; não com­ posto de partes, 12-13, 48; o único verdadeiro, 49; unicidade de, 11-13, 47-49; usos repre­ sentativos e qualitativos da palavra, 53 Deuses, falsos, 48-53 Hamer, Philip, 90

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Henoteísmo, 49 Hipólito, 32-34 Espírito Santo, evidências alegadas da natureza impessoal, 112-113 e espíritos imundos, 111-113; como o Ajudador (paráklêtos), 109-111; blasfemando-o, 112; incoerência do conceito das tes­ temunhas de Jeová do, 107; pro­ nomes masculinos usados a res­ peito do, 109; personificação do, 113-116; por que as testemu­ nhas de Jeová O consideram como uma força, 105-108 Hopkins, E. Washbum, 24 Hósio, 39 Ireneu, 29-30, 34 Jesus, como Criador, 30, 57, 6162, 66-69, 101-2; como sendo eterno, 59 89-90, 96,102 çomo Jeová, 98-99, 102-104; atribu­ tos de, 104 morte de, 19, 70-74; distinto de Deus, 67-69; honras devidas a Ele, 103-104, 128; lamentações de, 70-72; orou ao Pai, 14: ressuscitou com Seu corpo físico, 15, 74-76; submeteu-se ao Pai, 14-15, 7477,97-99; títulos de, 103; duas naturezas de, 14-15, 70-72 Judeus, 34, 129 Journal of Biblical Literature, 91 Juizes, como deuses, 52-56 Justino, o Mártir, 28-29, 34 Conhecimento, de Deus e Cristo, 127-128 Küng, Hans, 129, 137 Lewis, C.S., 132, 137

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M'Clíntock e Strong; Cyclopedia, 118-120 Martin, Ralph, 97-98 Maria, exaltação de, 129-130 McKenzie, John L., 91 Homens, como deuses, 52-56 Modalismo, 35 Monarquianismo, 14, 35, 36, 43 Monoteísmo (um só Deus), 12, 44, 47-48,56 Mormonismo, 11, 45, 78 Muçulmanos, 129 Mistério, 16, 72,107,132 Neoplatonismo, platonismo, 42-43 Movimento da Nova Era, 45 New Catholic Encylopedia, 18 New International Dictionary of New Testament Theology, 24 NewThought (“Pensamento Novo”), 45 Credo Niceno, 37 Unigênito (monogenês), 77,80-81 Orígenes, 28, 33-34 Paine, L. L., 12 Paradoxo, 70-72 Paraklêtos, 109-110 Perseguição, por trinitários, 129130 Pessoa, significado de, 13-14, 48 Politeísmo, 47 Rahner, Karl, 86-87 Sacrifício vicário, 72-74 Robertson, A.T., 109 Catolicismo Romano, 16, 18, 21 Satanás, como um deus, 52 Septuaginta, 50,94

Í ndice

de a s s u n t o s

Filho de Deus, Jesus como, 68, 7782,92 Filhos de Deus, 53-54,68 Espírito, falsas traduções de, pelas testemunhas de Jeová, 113 Espiritismo, 45 Substância, consubstanciai, 13, • 32, 39 Tertuliano, 30-32, 34 Teodósio, 40 Teosofia, 45 tríades págãs, 41-42 T rin ita s A T h eo lo gica l E ncyclopaedia o f the Holy Trinity, 31 Trindade, e salvação, 17-19, 125132; definindo, 11-15; cristãos

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primitivos e, 25; no Novo Testa­ mento, 23-25, 118-124; no An­ tigo Testam en to, 22-23; ontológica e econômica, 25; origem do termo, 30; significado p rático de, 1819,40,101,102,108; compreen­ dendo, 15-18,127-129; palavra que não está na Bíblia, 22 Triteísmo (três deuses), 11, 13, 2324, 41-42 Unitarismo, 45 Escola União de Cristianismo, 45 Guerras, trinitários e as, 130-131 Weigall, Arthur, 25 Sabedoria, 57-59, 113-114

Im pressão e A c a b a m e n to

bandeirantes on damand

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