Segurança Na Engenharia E Na Vida

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Prof. Wilson Aragão Filho

SEGURANÇA NA ENGENHARIA E NA VIDA – Consciência Segura

ISBN: 978-85-909910-1-4

Edição do Autor

Prof. Wilson Aragão Filho

SEGURANÇA NA ENGENHARIA E NA VIDA – Consciência Segura

1ª Edição

Vitória – ES – Brasil Edição do Autor 2012

Copyright ©: 2012, Aragão Filho,Wilson Distribuição: formato eletrônico (pdf) Capa: Wilson Aragão Filho

Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP) (Biblioteca Central da Universidade Federal do Espírito Santo, ES, Brasil)

A659s

Aragão Filho, Wilson Correia Pinto de, 1957Segurança na engenharia e na vida : consciência segura / Wilson Correia Pinto de Aragão Filho. - 1. ed. - Vitória : O autor, 2012. 35 p. : il. ; 21 cm Inclui bibliografia. ISBN: 978-85-909910-1-4 1. Prevenção de acidentes. 2. Segurança no trânsito. 3. Segurança do trabalho. I. Título. CDU: 614.8

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APRESENTAÇÃO

A vida do homem moderno é cercada de conforto, automação e informação instantânea, mas, ao mesmo tempo, ameaçada por muitos riscos de acidentes, inclusive fatais. O conceito de segurança – ou de “consciência segura” – aplicado à engenharia e à vida, de um modo geral, é o objeto deste texto, que, originalmente, foi preparado para um Minicurso dado durante a Semana da Engenharia, no âmbito do Centro Tecnológico da Universidade Federal do Espírito Santo – UFES, no ano de 2010. Busca-se, por meio deste curso, levar o leitor a inteirar-se sobre conceitos pouco discutidos em relação à questão da segurança pessoal, ressaltando-se a importância da engenharia – por trás de grande parte dos confortos da vida moderna – e da consciência de segurança, que a pessoa deve desenvolver para viver uma vida mais segura e, portanto, mais feliz. São apresentados e discutidos conceitos essenciais para o alcance do que aqui se propõe denominar “consciência segura”, além de discutidos criticamente diversos acidentes, que poderiam não ter existido se tal consciência segura já fosse uma realidade entre nós, cidadãos do terceiro milênio. Prof. Dr Eng. Wilson C. P. de Aragão Filho, Depto de Eng. Elétrica do CT/UFES. E-mail: [email protected]

Vitória, Maio de 2012

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SUMÁRIO SEGURANÇA NA ENGENHARIA E NA VIDA ....................................... 6 INTRODUÇÃO .............................................................................. 6 DEFINIÇÃO DE ACIDENTE............................................................. 7 ATITUDE E ATO ........................................................................... 7 CONSCIÊNCIA SEGURA ................................................................ 9 CONDIÇÕES E ATOS INSEGUROS ................................................ 11 Condições inseguras .............................................................. 11 Ato inseguro.......................................................................... 12 SEGURANÇA DOMÉSTICA .......................................................... 13 Para crianças ......................................................................... 13 Para idosos............................................................................ 14 SEGURANÇA NO TRÂNSITO ....................................................... 15 SEGURANÇA NO TRABALHO ...................................................... 20 Ambiente seguro ................................................................... 20 Consciência segura ................................................................ 22 SEGURANÇA NA ENGENHARIA .................................................. 22 SEGURANÇA NA VIDA................................................................ 26 CONCLUSÃO.............................................................................. 29 REFERÊNCIAS ............................................................................ 30 APÊNDICE ................................................................................. 30

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SEGURANÇA NA ENGENHARIA E NA VIDA – Consciência Segura

Resumo:

Mostra-se que o conceito de segurança está

associado, sobretudo, a uma atitude pessoal de respeito e cuidado diante dos riscos naturais contra a integridade da vida, em todos os ambientes e situações em que vive o ser humano. Esta atitude proativa será chamada de “consciência segura”, e será esclarecida por meio de vários exemplos concretos de acidentes ocorrentes nas diversas dimensões da vida humana.

INTRODUÇÃO O conceito de segurança contra acidentes pode ser tão amplo quanto se queira. Pode-se falar em segurança pessoal e patrimonial em diversos ambientes, como no trabalho, na moradia, no trânsito, etc., e, também, pode-se falar em segurança pública, entendida como aquela contra os ataques à integridade da pessoa por meio de roubos, assaltos, furtos, etc. Pode-se ainda falar em segurança nacional, associada à necessária segurança de um país contra possíveis ataques terroristas, internos ou externos, ou de nações inimigas. O conceito também pode estar associado à segurança contra acidentes naturais provocados por fenômenos da natureza como enchentes, chuvaradas, ciclones, etc. Neste curso será tratado o conceito de segurança contra acidentes pessoais, salientando-se a importância da engenharia e da tecnologia como fatores de segurança dos mais importantes. Conceitos associados à segurança, como acidentes, consciência segura, atos e condições inseguros, além de outros mais, serão também objeto de estudo. Deseja-se que, ao final do curso, o estudante, particularmente de engenharia, tenha adquirido maior consciência sobre a importância desses conceitos acima citados, em especial sobre o conceito de consciência segura.

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DEFINIÇÃO DE ACIDENTE Acidente pode ser definido como toda ocorrência inesperada causadora de algum tipo de prejuízo, material ou humano. Observar que o termo semelhante “incidente”, segundo o dicionário Houaiss significa: acontecimento imprevisível que modifica o desenrolar normal de uma ação. Incidente não está, necessariamente, associado a algum prejuízo, como acontece com o termo acidente, que está, normalmente, ligado a prejuízos humanos ou materiais. Segundo a norma da ABNT [1], acidente do trabalho “é a ocorrência imprevista e indesejável, instantânea ou não, relacionada com o exercício do trabalho, de que resulte ou possa resultar lesão pessoal”. Pode-se perguntar se um acidente é evitável. Ora, como o seu conceito envolve o inesperado, o imprevisível, estas características, ao serem eliminadas, anularão a ocorrência que geraria o acidente! Um exemplo simples pode ser dado: Se uma pessoa estiver para escorregar numa casca de banana largada no piso, mas antes do evento ocorrer, alguém retirar a tal casca, a ocorrência futura, deixará de acontecer: o “acidente” potencial, futuro, estará anulado! Portanto, um acidente potencial futuro pode ser evitado ou anulado!

ATITUDE E ATO A partir do exemplo acima, pode-se concluir que acidentes “potenciais” podem ser evitados, anulados, se os elementos inesperados e imprevisíveis, associados ao possível acidente, puderem ser eliminados. Acidentes, então, podem ser evitados, por meio de atitudes e ações próativas (ou proativas). Deve-se aqui, então, salientar-se a diferença entre atitude e ação (ou ato). Atitude é um posicionamento mental, psicológico, uma disposição

8 interior, que faz com que a pessoa aja desta ou daquela maneira: a atitude provoca uma ação concreta, ou um ato concreto. Ação (ou ato), portanto, é uma consequência prática de uma atitude (interior) de uma pessoa. Como exemplo: uma atitude de preconceito racial (posicionamento pessoal, interior, psicológico) pode gerar, em uma dada circunstância, um gesto concreto de preconceito – um ato de preconceito! Este ato, pode ser registrado por uma câmera fotográfica ou por uma filmadora; mas a atitude interior de preconceito, naturalmente, não pode ser identificada... Atitudes de prevenção contra acidentes, ou atitudes proativas devem, portanto, ser cultivadas por todas as pessoas, desde a mais tenra idade. Alguns outros exemplos de atitudes e atos: a) Uma pessoa desligada (sonsa), apresenta uma atitude relaxada, desligada, pouco atenta, pouco proativa, sujeitando-se a acidentes com mais facilidade, pois não notará uma “casca de banana” no chão... b) Uma mãe preocupada com a segurança de seu filho pequeno, que brinca num parque de diversões, sob seus olhares, exemplifica uma atitude de preocupação, de atenção, proativa. Esta mãe, provavelmente, protegerá mais eficazmente seu filho, do que outra mãe que tenha uma atitude de negligência, de despreocupação. Enquanto esta está lendo, aquela está atenta às brincadeiras da criança... c) A direção defensiva, no trânsito, denuncia um motorista que esteja mais seguro, pois sua atitude mais atenta, mais cuidadosa, mais proativa, gerará ações que resultarão em direção realmente defensiva, cuidadosa, tendo como consequência um número muito menor de acidentes, em relação a outros motoristas com atitudes despreocupadas.

9 d) Um profissional que vivencie ações corruptas denuncia uma atitude de falta de ética. e) Ações violentas decorrem, normalmente, de atitudes agressivas, isto é, atitudes violentas e agressivas acabam gerando atos e ações violentos e agressivos. Esses exemplos devem ser suficientes para estabelecer as diferenças entre esses dois conceitos básicos, que serão aplicados nas reflexões posteriores sobre acidentes.

CONSCIÊNCIA SEGURA Esta expressão “consciência segura”, ainda não é comum, mas, assim como já é comum a expressão “consciência ecológica”, espera-se que esta nova consciência de segurança em geral – na família, no trabalho, no trânsito, enfim, na vida –, seja a cada dia mais divulgada e vivenciada. Estou propondo este termo, consciência segura, como rotulador para um tipo de consciência que envolva “atitudes” proativas contra os potenciais acidentes da vida atual. Vale aqui uma distinção, também oportuna, entre “consciência intelectual” e “consciência vivencial”. Consciência intelectual é aquela que está associada a conceitos (intelectuais) adquiridos por uma pessoa. Esta é capaz de definir, explicar e argumentar a favor ou contra determinado conceito. Por exemplo: consciência contra a violência por armas de fogo. Alguém pode ter uma consciência intelectual totalmente antiviolência, expressando-a através de argumentos até emotivos. Consciência vivencial corresponde àquela que uma pessoa apresenta em suas relações interpessoais, em suas ações concretas. É, muitas vezes, distinta da consciência intelectual, a ponto de uma pessoa, tendo consciência intelectual antiviolência, ser capaz de agir violentamente contra o outro pelo uso de uma arma de fogo... Pode-se citar o exemplo de

10 um jornalista brasileiro que, tendo dado uma entrevista pela paz e contra a violência, pouco tempo depois foi capaz de assassinar sua namorada a tiros... A consciência deve iluminar-se de tal forma que passe, naturalmente, de um nível intelectual para o mais profundo, o vivencial. Ou, dito de outra forma, talvez mais poética, de um nível mental para o emocional, do nível da teorização para o nível do coração!... A consciência segura, então, deverá ser esclarecida por conceitos teóricos e intelectuais, mas, sobretudo, deverá procurar atingir o nível mais profundo da consciência vivencial. Isto se dá, normalmente, quando se vivenciam acontecimentos dramáticos em relação a algum assunto. No caso de acidentes, estes devem ser avaliados, discutidos e visualizados a ponto de serem tiradas conclusões importantes para a própria vida. Uma consciência segura torna-se assim se, e somente se, ela atingir aquele nível do coração, da vivência. Somente assim a pessoa que cultivou tal consciência terá atitudes naturalmente seguras e proativas, sendo capaz de “anular” possíveis acidentes potenciais. Para o alcance de níveis bons de consciência segura, o cidadão deveria ter contato com o assunto “segurança na vida” desde a infância, desde, portanto, os primeiros anos de escola. Sendo expostos à temática por meio de abordagens variadas e inteligentes, tais como filmetos, teatralizações, histórias interessantes, passeios com abordagem crítica em relação às condições de segurança ou insegurança existentes nos bairros da cidade, dentre outras, a criança, o adolescente e o jovem estariam tornando-se pessoas, cidadãos, mais conscientes em relação ao problema dos acidentes na vida. A consciência segura estaria sendo formada, desde cedo, no cidadão, com consequências das mais positivas para a sociedade. Em particular podem ser citados os filmetos divulgados na TV sob títulos como “vídeo-cassetadas” ou semelhantes, em que são expostas situações engraçadas, em geral, mas que contêm muitos ensinamentos sobre segurança na vida, pois não deixam de constituir verdadeiros

11 acidentes. Sendo expostos a tais vídeos, o jovem será levado a analisar criticamente os riscos envolvidos na cena, suas consequências negativas e, por outro lado, as possibilidades de anular tais acidentes. Como a emoção estará ativada, por serem cenas engraçadas, os ensinamentos daí decorrentes tendem a entrar mais profundamente na consciência da pessoa, criando nelas atitudes proativas de segurança e tornando-a mais segura. E uma pessoa com consciência segura torna-se multiplicadora, por exemplos e palavras, dessa mesma consciência.

CONDIÇÕES E ATOS INSEGUROS Condições inseguras e atos inseguros são dois conceitos também muito importantes na área de segurança em geral. Podem ser conceituados como a seguir. Condições inseguras São aquelas condições que, não sendo do conhecimento explícito da pessoa, criam-lhe situações de risco, propícias a provocar acidentes. Alguns exemplos: 1. Cabo de energia de um computador atravessando uma área de passagem de pessoas: embora a maioria possa ver e evitar tropeçar no cabo, pode haver alguém, que, por não estar atento, ou por estar usando um telefone e concentrado na conversa, possa tropeçar no cabo, sendo vítima de um acidente. 2. Escada com defeito não visível: o usuário, por desconhecer o defeito invisível, utiliza a escada e pode sofrer uma queda perigosa, se o defeito é suficiente para provocar o acidente. 3. Aparelho condicionador de ar com altura baixa em um corredor: embora a maioria das pessoas possa estar atenta e ver o aparelho, evitando o choque com a cabeça, pode-se imaginar, mais uma vez,

12 algum circulante que, por um momento de distração, não perceba a quina do aparelho e venha a bater sua cabeça, vivenciando um acidente de consequências dolorosas. 4. Tomadas de parede sem tampa de proteção: embora não ofereça perigo para os adultos, é fonte potencial de acidente envolvendo crianças, já que estas não têm consciência do risco do choque elétrico. A criança pode enfiar o dedinho ou algum objeto metálico (como grampo de cabelo) e sofrer sério acidente doméstico. Ato inseguro É o ato que envolve risco de acidente e é feito conscientemente por uma pessoa. Alguns exemplos: 1. Limpeza de janela no alto de um edifício: o funcionário, dependendo apenas de seus cuidados, está consciente de que o risco de queda existe e depende apenas dele. É um ato inseguro, pois a pessoa está agindo consciente do risco. A condição insegura também existe, mas por ser visível, é o ato que se torna inseguro. 2. Conserto de aparelho elétrico energizado: a pessoa que age assim está consciente do risco de choque, acreditando em seus cuidados e sua competência; no entanto, o risco está presente e o ato caracteriza-se por ser inseguro. 3. Limpeza de chão molhado e com sabão: o trabalhador doméstico sabe que corre risco de escorregar no chão escorregadio e está confiando nos próprios cuidados; este cuidado, no entanto, pode não ser suficiente para garantir sua segurança, sendo esse um ato inseguro. Ter consciência da existência das condições e dos atos inseguros leva a todos os envolvidos com o ambiente a cuidar para evitá-los. As

13 condições inseguras estão muito relacionadas com a manutenção das condições do ambiente e das suas instalações. Na condição insegura o indivíduo não tem consciência do risco de acidente. Os atos inseguros estão mais ligados ao nível de consciência segura do envolvido com o ambiente. No ato inseguro o indivíduo tem consciência do risco de acidente.

SEGURANÇA DOMÉSTICA Mesmo estando em casa, o cidadão pode sofrer variados e sérios acidentes. Crianças e idosos, em especial, estão sujeitos a acidentes ocasionados, normalmente, por: quinas de mesas, tapetes e capachos soltos, ressaltos no piso, bancos altos, forno quente, panelas ferventes, pisos molhados, fios soltos, fios de energia descascados ou nus, tomada elétrica destapada, quinas elevadas de armários, televisão solta no móvel, etc. Se os elementos imprevisível e inesperado não forem anulados por meio de análise crítica de riscos presentes no ambiente doméstico, acidentes podem vir a acontecer. E o eventual descaso com tal análise denuncia, por si mesmo, a falta da necessária consciência segura. Sem tal consciência, as condições inseguras proliferam-se no ambiente doméstico e são fontes de muitos e lamentáveis acidentes. Algumas orientações fundamentais podem ser dadas para favorecer a segurança de crianças e idosos. Para crianças a) Tapar todas as tomadas elétricas que possam ser alcançadas pela criança (existem protetores plásticos próprios para tapar os orifícios da tomada);

14 b) Verificar a fixação de aparelhos e demais objetos sobre móveis, para evitar que a criança possa puxá-los sobre si mesma, como é o caso de uma TV sobre uma pequena estante; c) Eliminar móveis que tenham quinas vivas e que possam ferir a criança, no caso de um contato com tais partes; d) Proibir a entrada de crianças (ou criar obstáculos à sua entrada) na cozinha e na área de serviço, locais de risco elevado pela presença de ferro de passar, detergentes líquidos, inflamáveis, forno quente, panelas ferventes, etc.; e) Gerenciar objetos manipulados pela criança, de tal forma a afastar dela objetos pontiagudos, cortantes, ou que possam ser engolidos pela criança. Para idosos a) Eliminar tapetes e capachos soltos, pois podem vir a derrubar o idoso por tropeço; igualmente, ressaltos no piso; b) Instalar apoios metálicos em paredes de banheiros, e corrimões em escadas,usados pelo idoso, de tal forma a dar-lhe mais segurança em seus movimentos e deslocamentos; c) Manter o ambiente bem iluminado e conferir, periodicamente, a condição visual do idoso, de tal forma a evitar acidentes por consequência de visão fraca; d) Incentivar o idoso a usar, sempre que possível, cadeiras de braço ou poltronas com braço, evitando, especialmente, banquetas e pufes; e) Orientar o idoso a utilizar, sempre, criando um hábito, o auxílio dos corrimões em escadas: em caso de tropeço, o fato de se estar segurando um apoio minimizará suas consequências; f) Cuidar para que o idoso utilize, sempre, sapatos ou sandálias sempre bem fixos nos pés: se estiverem frouxos ou largos, serão possíveis causas de acidente.

15 Muitas outras orientações podem ser listadas. E tanto as acima descritas, quanto quaisquer outras, são identificadas simplesmente fazendo-se uma análise de risco cuidadosa sobre os ambientes de vida da criança e do idoso.

SEGURANÇA NO TRÂNSITO O trânsito é outra realidade comum nas cidades de médio e grande portes, suscetível a causar sérios e variados acidentes. A consciência segura aplicada à vivência no trânsito, poderá anular talvez a maior parte dos acidentes mais comuns ocorrentes no trânsito e que vitimam cidadãos de todas as idades, e sem distinção de qualquer espécie. Todos os envolvidos no trânsito – condutores em geral, pedestres, ciclistas, carroceiros, etc. – são igualmente responsáveis pela sua segurança e pela dos demais. Mas como os condutores (motoristas profissionais ou não e motociclistas) estão associados aos veículos motorizados, e em geral, maiores e mais pesados, são eles, especialmente, aqueles que devem tomar mais cuidado para evitar acidentes, visto que seus veículos, pelas próprias características, estão mais propensos a produzir acidentes com maior seriedade. Dirigir com segurança, evitando todo o tipo de acidentes, é sobretudo uma questão de atitude de segurança proativa, fruto de uma consciência segura, isto é: aquela prontidão, aquele estar atento, aquela disposição interior de respeito à vida e aos outros. Tem-se usado o termo direção defensiva para referir-se, exatamente, ao dirigir com segurança. Mas o termo “defensiva” tem, justamente, a ver com a atitude: o espírito de defender-se de eventuais “ataques”, mesmo que involuntário, de algum motorista que não esteja dirigindo de forma segura, em quem a consciência segura ainda é falha.

16 Abaixo, então, seguem algumas regras que podem e devem ser seguidas por todo condutor de veículos que queira dirigir com segurança, buscando aumentar a sua própria e a de todos. 1. Ter humildade suficiente para contar com a proteção de forças do alto, ou de “seu” Deus! 2. Considerar que todos os outros motoristas são “imprudentes”... (Tais que possam fazer manobras inesperadas e perigosas.) 3. Nunca dirigir permitindo que a mente esteja cheia de “preocupações”. 4. Nos cruzamentos, que são fonte potencial de acidentes, redobrar a atenção, parando o veículo e “procurando”, proativamente, outros veículos, pedestres, ciclistas, animais, motos, etc. 5. Manter, sempre, uma distância segura do carro à frente, tanto em movimento quanto parado. Nesta última situação, se houver uma batida por trás, a distância de um carro, pelo menos, poderá impedir que o próprio carro seja jogado à frente e atinja o carro seguinte; além disso, se o motorista estiver pisando no freio, evitará que o carro seja projetado à frente com muita velocidade! 6. Ao dar a ré, olhar, efetivamente, para trás – antes de colocar o carro em movimento! –, procurando algum obstáculo. 7. Evitar mudar de faixa de direção sem justificativa; e ao fazê-lo, olhar efetivamente para o lado desejado, antes de fazer a manobra! Mudanças de faixas sem motivos reais (andar em ziguezague, ou “costurando”) são, também, fontes comuns de acidentes. 8. Usar o farol baixo (não o farolete), mesmo durante o dia! A segurança, advinda da maior visibilidade, aumenta em cerca

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de 30% dizem alguns especialistas. Isto se justifica, particularmente, para carros de cores pouco vivas, tais como prata, preta, grafite, cinza, marrom, branco, etc. Usar, sempre!, e cobrar dos passageiros, o cinto de segurança, mesmo aqueles do banco traseiro, e mesmo para trechos considerados pequenos: estando o carro em movimento, os acidentes já podem ocorrer! Os passageiros do banco traseiro não devem negligenciar! E cuidar muito bem das crianças e dos bebês, que devem ser protegidos por equipamentos adequados! Manter velocidades de deslocamento compatíveis com o ambiente por onde se circula. Velocidades acima dessas elevam as chances de acidentes. Especialmente em dias chuvosos, em que o pavimento fica mais deslizante, devese diminuir a velocidade, para níveis abaixo daqueles de dias secos! – a velocidade deve ser compatível, também, com a capacidade de frenagem do veículo e com a quantidade de carga transportada. Conscientizar-se, por meio de profunda reflexão, que o carro é, em primeiro lugar, um meio de transporte, de deslocamento, e nunca um meio de diversão ou lazer, e muito menos uma arma a ser apontada para os concidadãos. Olhar, sempre, para trás, ao frear, e pisar no freio de forma pulsada, para chamar a atenção do motorista que venha atrás. Sempre manter suficiente distância do veículo à frente e estar sempre atento ao fato de que ele possa frear repentinamente! – neste caso, a distância suficiente e a reação rápida garantirão a segurança. Confiar apenas em carro parado no outro lado de um semáforo. Não confiar cegamente em sinal verde! Colisões acontecem porque um motorista aproximando-se de um sinal que se torna verde, acelera o veículo... ou quando o

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motorista procura “aproveitar” o sinal amarelo, e também acelera... São situações com grande potencial de acidentes. Não se permitir distrair-se enquanto dirige. E fontes perigosas de distração são o uso do telefone celular, de alguma TV portátil, comer dirigindo, ouvir rádio ou qualquer fonte sonora em alto volume, conversar sobre assuntos sérios, etc. ... Permitir que o “piloto automático” (o automatismo do ato de dirigir) tome conta do volante, é abrir mão da segurança, pois tal automatismo somente funciona bem para situações normais. Se houver necessidade de uma freada abrupta, de uma reação rápida, esta não acontecerá.. Buscar, sempre, identificar outros “veículos”, durante a direção, especialmente as bicicletas. Estas normalmente circulam sem respeitar qualquer regra (o que precisa urgentemente ser mudado!): nas calçadas, na contra-mão, no canteiro central, além de atravessar semáforos fechados e em velocidades relativamente altas. Imaginar previamente o percurso, ao sair para algum lugar, para evitar mudanças abruptas de direção. Não fazer isto é sujeitar-se ao aumento da chance de acidentes. Manter-se, sempre que possível, na faixa do meio, se esta existir. Passar para a direita ou para a esquerda quando já souber que deverá tomar uma direção correspondente. E não esquecer de sempre sinalizar com a seta a intenção de mudança de faixa!(Na cidade não vale a regra das rodovias: ultrapasse sempre pela esquerda!...) Atentar sempre para o chamado “ângulo morto”, que dificulta ou impede a visão de um outro carro que esteja com seu para-lama dianteiro alinhado com a linha do parabrisa traseiro do próprio carro. Esta falta de visão obriga o motorista a verificar, com cuidado!, a presença de tais carros antes de mudar de faixa. Fazer isto usando apenas o retrovisor externo é candidatar-se, fortemente, a um acidente. Especialmente com motoqueiros!

19 19. Aprender a usar o sistema de “retrovisor a 90º”!(Ver figura ao lado.) Este sistema é tão importante para a eliminação do “ângulo morto” que vale apenas explorar o assunto. Em resumo: o retrovisor externo, normalmente, permite ver a lateral do próprio carro (ângulo aprox. de 60°). Abrindo-se o espelho retrovisor para 90°, não se vê mais o próprio carro, mas se vê o carro que estava no ângulo morto! Sugere-se consultar o blog a seguir, no sítio da internet: . A única ressalva que se faz, é que o estacionamento do carro, lateralmente, resulta um pouco dificultado, justamente pela falta de visão da sua lateral: mas nada que um olhar pela janela não possa resolver, se necessário. E o espelho retrovisor deve ser destinado, muito mais à segurança no dirigir, do que ao ato de estacionar. 20. Nunca sair antes de um ônibus (ou veículo igualmente grande), estando um ao lado do outro em um semáforo fechado! Se a luz vai a verde, algum carro ainda poderá estar passando e o ônibus não permitirá sua visão!... A figura abaixo esclarece esta situação perigosa.

20 Muitas outras regras podem ser identificadas por qualquer motorista interessado em observar, criticamente, o trânsito e seus riscos de acidente! Que outras duas regras o leitor é capaz de elaborar, a partir de sua experiência de motorista?...

SEGURANÇA NO TRABALHO Todo cidadão é, também, um trabalhador, pelo menos até o momento em que se aposente. Tendo sido bem formado, em seu processo educacional, desde criança, terá ele adquirido uma consciência segura. Se isto é verdade, certamente a quantidade de acidentes no ambiente de trabalho será muito reduzida e, talvez, até totalmente anulada. A consciência segura é a base da segurança do indivíduo e da coletividade. Um cidadão com consciência segura agirá com mais segurança, tendo atitudes proativas contra acidentes e buscando identificar, como por hábito, as condições inseguras ou os riscos no seu ambiente de trabalho. A consciência segura, geradora de atitudes proativas contra acidentes, produzirá, também, atos seguros, ações mais seguras. E o trabalho, fonte de crescimento pessoal e social, será, também, fonte de vida mais plena, e não, fonte de dores e de morte. Ambiente seguro Se o ambiente de trabalho é bem planejado e sofre permanente processo de manutenção e de avaliação periódica de riscos, os denominados equipamentos de proteção individual (EPI) poderão nem mesmo ser necessários [2]. O que é fundamental, além do ambiente de trabalho acima citado, são os equipamentos de proteção coletiva (EPC), que são necessários quando as condições do ambiente, pela própria natureza, são prejudiciais à saúde e à segurança do trabalhador. É o caso de lugares muito ruidosos, em que o “enclausuramento acústico das fontes de ruído” constituirá um equipamento de proteção coletiva.

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Ora, por este exemplo acima, pode-se verificar que, na verdade, o que se deve fazer em um ambiente de trabalho é eliminar toda e qualquer fonte de risco contra a saúde e a segurança do trabalhador, de tal forma que, idealmente, não haja necessidade de qualquer EPI. E os EPC estarão, naturalmente, incorpo rados ao ambiente de trabalho seguro. Exemplos ilustrativos:

(1) Um capacete (EPI) somente será necessário, se o ambiente de trabalho apresentar, de fato, o risco de queda imprevista de objetos, sobre os passantes. Se tal risco for eliminado, por meio de planejamento adequado do prédio ou da instalação, não haverá necessidade de uso do EPI !!

(2) Óculos de segurança (EPI) serão necessários diante da possibilidade de poeira grossa, elementos granulados, ou assemelhados, estarem disseminados no ar ambiente, e que possam afetar os olhos do trabalhador. Se, no entanto, o ambiente pôde ser planejado de tal forma a evitar a disseminação de tais particulados – por exemplo, por meio de ventilação adequada ou meios de contenção (=EPC) – os óculos passam a ser desnecessários!!

22 Consciência segura No ambiente de trabalho, mesmo com baixo nível de risco ao trabalhador, é a sua consciência segura a maior responsável pela eliminação dos potenciais acidentes de trabalho. E para que esta consciência torne-se “segura”, há necessidade de que todo trabalhador seja, periodicamente, exposto a análises e avaliações sobre acidentes de trabalho e acidentes em geral. Acidentes, como visto acima, são situações de risco inesperadas ocorrentes em todas as áreas da vida. Portanto, é o cidadão, é a pessoa, independentemente da idade, do sexo ou do fato de trabalhar ou não, que precisa esclarecer sua própria consciência diante dos riscos de acidentes, buscando alcançar uma consciência segura. Na indústria, em geral, é claro que os riscos potenciais de acidentes são, naturalmente, maiores do que dentro de casa, por exemplo. Eis, portanto, a maior responsabilidade do empregador, do industrial, da empresa, na busca incessante para tornar a consciência do trabalhador uma consciência segura: consciência vivencial, não apenas intelectual! Daqui a necessidade de treinamentos dramáticos, que atinjam os sentimentos, a emoção do trabalhador, e não apenas análises teóricas, técnicas e frias... A segurança no trabalho, enfim, deve estar baseada tanto em ambientes planejadamente seguros quanto na consciência segura do trabalhador, periodicamente exercitada de forma dramática e vivencial.

SEGURANÇA NA ENGENHARIA O engenheiro é um dos grandes responsáveis pela segurança do cidadão na sociedade moderna. É ele o responsável pelos equipamentos e dispositivos que costumam garantir o conforto do cidadão, embora estes também possam – se não tiverem sido bem projetados e elaborados com consciência segura! – causar sérios acidentes.

23 O Código de defesa do consumidor estabelece que “Os produtos e serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos consumidores” [3]. Esta lei faz com que as normas técnicas vigentes tenham, também elas, força de lei, já que um produto, para não apresentar risco ao consumidor, terá de estar de acordo com as normas técnicas vigentes no País [4]. Entre agosto de 2009 e março de 2010 aconteceram duas mortes de adolescentes (15 e 21 anos) em Pernambuco. As duas ocorreram em função do uso das chamadas “chapinhas”, equipamentos elétricos alisadores de cabelo. Embora as notícias deem conta de que as meninas tivessem saído do banheiro, estando ainda com cabelos molhados, isto não faz com que elas sejam declaradas culpadas. É um absurdo imaginar que um consumidor, um cidadão, ao utilizar um equipamento eletrodoméstico, por não ter muita consciência de comportamentos mais adequados e seguros, venha a ser vítima de um acidente fatal. Se for feita uma perícia sobre o acidente, certamente será concluído que o aparelho apresentava-se fora das condições de uso seguro. Mas como um aparelho elétrico para uso doméstico, inclusive por crianças e adolescentes, pode apresentar defeito tão sério a ponto de provocar a morte do usuário?... Certamente o engenheiro por trás do projeto, bem como a empresa fabricante, terão de explicar-se diante do juiz e à luz do que afirma o Art. 8° do CDC (acima). Muitos casos podem ser descritos e que apontem para essa responsabilidade do engenheiro. Afinal, produtos e serviços, em geral, que tenham um engenheiro como responsável, devem ser absolutamente seguros, independentemente do nível de conhecimento, ou de ignorância, do usuário, quanto à sua utilização correta, respeitando-se o bom senso, naturalmente.

24 Uma jovem mãe, tendo sido acordada pelo seu bebê, de madrugada, em Florianópolis – SC, teve de amamentá-lo. Tendo o bebê vomitado sobre seus cabelos, a jovem mãe precisou tomar banho. Ao sair do banho, resolveu utilizar um secador de cabelos, mas teve também de segurar o bebê, que ainda chorava. No banheiro, com o secador ligado à tomada, este cai na pia, que estava com um pouco de água, e ao pegá-lo, a jovem mãe é eletrocutada, juntamente com seu bebê!...

A análise de um caso como este leva ao mesmo questionamento anterior: onde está a segurança de tal equipamento, que pode eletrocutar alguém, uma pessoa leiga em eletricidade, por um descuido totalmente humano e previsível? Afinal, quantas vezes uma escova de cabelos ou qualquer objeto de banheiro não cai dentro de uma pia? Pelo fato de um secador de cabelos cair dentro de uma pia, isto é causa de condenação à morte de uma pessoa? Certamente a resposta é não! Mas, por que têm acontecido episódios como este? A resposta passa pelos baixos níveis de consciência segura ainda existentes, tanto para cidadãos comuns quanto para engenheiros. O conhecimento sobre engenharia de segurança, e a consciência resultante, tem evoluído na sociedade de maneira um tanto lenta. Haja vista que nos inícios dos anos 1960, os carros eram projetados e comercializados com para-choques super duros, latarias reforçadas – para durar a vida inteira... –, e não tinham cintos de segurança! No caso do Fusca, os encostos dos bancos dianteiros não tinham qualquer trava, o que os jogava para a frente em qualquer freada mais brusca. E para que o único e largo banco traseiro não ficasse sendo jogado para a frente, em qualquer freada, ele tinha pequenas argolas de borracha que o fixavam a pequenos ganchos, fixados na lataria e no próprio banco. Os engenheiros e os cidadãos, em geral, ainda não tinham aprendido conceitos ligados à

25 segurança do passageiro. Somente com o passar dos anos os pesquisadores forem tomando consciência de que: a) A lataria e o para-choque não deveriam ser tão duros, para que, numa batida, eles se contraíssem e absorvessem parte da energia do movimento, que, de outra forma, seria toda absorvida pelo corpo do motorista, com as consequências imagináveis; b) Os bancos deveriam ter travas de fixação e deveriam ser instalados no carro cintos de segurança para que o corpo do usuário não fosse arremessado para a frente, no caso de uma batida frontal. Muitos outros elementos de segurança foram incorporados aos carros, desde então. E hoje os quesitos de segurança existentes, até mesmo em carros ditos populares, já dão ao motorista e aos passageiros muito mais segurança do que os carros mais antigos, incorporando o conceito de “célula de segurança”. Alguns exemplos, de forma sucinta: a) Freios ABS; b) Motores e capôs que, diante de uma batida frontal, não invadam a “célula de segurança”; c) Barras laterais de segurança; d) Bolsa de segurança (Air Bag) para motorista e passageiros; e) Encosto de cabeça (contra impactos traseiros e retorno da cabeça – efeito “chicote”). A consciência segura, aplicada à segurança na engenharia, é, portanto, fundamental na vida da sociedade, aumentando a segurança de equipamentos, dispositivos, produtos e serviços na área técnica, beneficiando a todos. É claro que os custos de produção de alguns produtos podem aumentar, em função da aplicação dos atuais conceitos de segurança à prática profissional dos engenheiros. Mas tais custos

26 certamente diminuirão outros custos, muito mais importantes, em termos financeiros e de vidas humanas.

SEGURANÇA NA VIDA Quanto mais conhecimento tem uma pessoa, pode-se afirmar que mais segura ela será na vida em sociedade! E quanto mais bem selecionados forem tais conhecimentos, tanto mais ampla será essa segurança. A educação – entendida como o processo por que passa o cidadão durante os ciclos formais de ensinos fundamental, médio e superior, bem como pelas fases informais de formação na família e na sociedade –, tem o poder de contribuir eficazmente para que os futuros homens e mulheres de uma nação possam ser pessoas verdadeiramente equilibradas, criativas e, também, seguras! A sociedade brasileira, e as sociedades humanas em geral, no entanto, pecam em alguns aspectos ligados à formação básica de seus cidadãos. Dito de outra forma, a Educação – com E maiúsculo –, tem falhado na formação integral e prática, nos seus aspectos humano, político, social e religioso dos cidadãos. Vê-se que os currículos ou projetos pedagógicos, atualmente existentes no Brasil, não contemplam itens dos mais importantes para a vida segura e produtiva dos estudantes. Dá-se ainda muita importância a itens por demais teóricos e específicos em detrimento de itens muito mais relevantes e necessários para a vida do futuro cidadão e profissional. Antes de avançar para discutir a importância da revisão urgente dos currículos da Escola, serão dados alguns exemplos de situações em que o desconhecimento, ou a ignorância, é causa remota de acidentes na vida, independentemente do campo específico em que possa ocorrer: em casa, no trânsito, no trabalho, com eletricidade, etc..

27 Exemplos ilustrativos:

(1) Um casal, vindo do interior, chega à capital. Na sua simplicidade e pobreza, escolhe um posto de gasolina abandonado, na periferia da cidade, como moradia provisória. O marido, precisando de eletricidade (sobre o que ele, provavelmente, já tivesse algum conhecimento) vê uns fios altos descendo numa pequena casinha de alvenaria. Sem ter noção clara de que eram cabos de alta tensão, tenta ligar seus fios àqueles cabos, que estavam acessíveis (= condição insegura), e é eletrocutado!

(2) Um homem, um tanto emocionalmente desequilibrado, resolve subir em um vagão de um trem suburbano e começa a andar sobre ele e chama a atenção dos pedestres e funcionários da estação. Em dado momento, sem demonstrar muita preocupação, estende o braço direito e toca os cabos de energia que passavam acima de sua cabeça. É eletrocutado imediatamente, com duas descargas consecutivas!...

28 (3) Uma jovem moça precisou entrar em um banheiro público. Em função do estado deplorável de higiene do vaso sanitário, ela resolveu subir neste, com os dois pés, para fazer suas necessidades. O vaso não suportou seu peso e se partiu, provocando na jovem cortes profundos, em toda a sua região glútea. Ela desconhecia que tais vasos são frágeis e não suportam o peso de uma pessoa que fique em pé sobre ele.

Estes acidentes são acidentes da vida comum... Não são acidentes de trânsito, nem de trabalho, nem doméstico... Podem acontecer com qualquer cidadão. E, embora muitas considerações técnicas possam ser feitas, que suavizem a “culpa” do cidadão, a verdade é que, se tais pessoas tivessem uma consciência mais segura, teriam evitado tais tragédias. Esta consciência segura precisa ser construída já desde a tenra idade, na família e na Escola. E a Escola, precisa ser mais eficaz na formação de cidadãos mais seguros, mais conscientes. Para isto seria muito importante que a Escola superasse os atuais e ultrapassados projetos pedagógicos que ainda se baseiam muito nas disciplinas estanques e dissociadas da realidade, que é integrativa! Seria muito mais eficaz e importante: a) Ensinar leitura em público e interpretação de textos, do que a tradicional “análise sintática”; esta é para quem vai ser escritor...; aquelas são para o cidadão! b) Ensinar a psicologia dos relacionamentos humanos, do que ficar ensinando excessos de “matemática” e “física”, ainda mais quando dissociados das aplicações na vida! c) Ensinar segurança doméstica, no trânsito, em relação aos perigos da eletricidade, enfim, consciência segura, do que

29 perder tempo com as tradicionais “geografia” e “história”, ou os atuais ”estudos sociais”, ainda mais quando estanqueizados! Enfim, d) Ensinar o básico da filosofia, da evolução do pensamento humano; ensinar sobre o funcionamento da sociedade, sobre a política em sentido amplo, sobre a política partidária, sobre os direitos e deveres fundamentais do cidadão, etc. Esses conhecimentos mais práticos, serão muito mais úteis ao cidadão desde a sua juventude: um cidadão mais consciente de seus direitos e deveres, mais conhecedor do funcionamento de sua sociedade, terá muito mais condições de contribuir mais eficazmente para a evolução dessa mesma sociedade!

CONCLUSÃO A segurança do cidadão contra acidentes no trânsito, no trabalho, em casa ou na vida em geral, depende tanto do nível de sua consciência segura quanto das condições do ambiente em que vive. Quanto melhor for a educação do jovem, na escola e na família, tanto melhor será o seu nível de consciência segura adquirido e mais seguro será e estará o cidadão, independentemente do ambiente em que estiver. E quanto melhores forem as condições de segurança do ambiente de vida do cidadão, isto é, quanto mais bem planejados e pensados em termos de segurança em geral, tanto mais seguros estarão as pessoas, os funcionários, enfim, os cidadãos, pois terão sido associadas as condições mais adequadas, internas (consciência segura) e externas (condições seguras), para a garantia da segurança de todos. Este trabalho terá atingido o seu objetivo, se tiver despertado no leitor a importância de criar-se ou desenvolver-se uma consciência

30 efetivamente mais segura. Se isto ocorreu, os acidentes em sua vida e à sua volta certamente terão muito menos chances de acontecer, e toda a sociedade ganha.

REFERÊNCIAS [1] NBR 14280/01, Cadastro de Acidentes do Trabalho – Procedimento e Classificação. [2] Marcos Fernandes Gonçalves.Equipamentos de Proteção Individual e Coletiva. Página da Internet: <www.juslaboral.net/2008/03/utilizao-de-equipamento-deproteo.html> Acesso em 11/08/2010. [3] Código de Defesa do Consumidor (CDC). Lei n.º 8.078, de 11.9.1990: Art. 8°. [4] Código de Defesa do Consumidor (CDC). Lei n.º 8.078, de 11.9.1990:Art. 18, §6°, item II.

APÊNDICE Casos de acidentes em diversos campos da vida, e sua análise crítica, à luz de tudo o que foi apresentado no texto acima. (1) Um funcionário trabalhava em um prédio cujo elevador é do tipo de porta convencional, em que o usuário deve puxá-la para abrir, o que somente ocorre após a cabine chegar ao andar e liberar a trava da porta. Ora, naquele dia fatídico, o funcionário aproximou-se da porta do elevador e puxou-a, como estava acostumado a fazer: se ela estivesse travada, ele esperaria, caso contrário, se abrisse, ele entraria, pois a cabine já teria chegado. Ocorre que nesse dia a porta abriu, mas o elevador não estava lá!... O funcionário entrou, caiu e sofreu traumatismo craniano, tendo morte instantânea.

31 Análise crítica O caso ilustra o fato de que muitos acidentes decorrem de situações que se poderiam denominar “pegadinhas” ou verdadeiras “arapucas” para o cidadão. O elevador, pelo seu projeto, criou no usuário um (mau) hábito de ter de puxar a porta para entrar; isto é, dependendo dele a ação de abrir a porta, ele sempre se acostumou a puxá-la: se ela abriu é porque o elevador está no local. Este hábito e a certeza decorrente foram assimilados por um processo repetitivo ao longo de um tempo considerável. No dia em que, por uma falha técnica, sem ter chegado a cabine, a porta abre-se pelo esforço automático do usuário, a entrada no vazio é inevitável... O usuário é vítima de um mau-hábito desenvolvido pelo sistema planejado por engenheiros! Mas é vítima, também, de sua consciência pouco segura, pois aceitou a criação de um hábito não-seguro!

(2) Um médico estava com sua família à beira da piscina quando a bola das crianças cai e fica presa na calha do telhado da casa. Na tentativa de retirá-la, o médico resolve utilizar a vara metálica de limpeza da piscina, contendo um filtro em forma cônica na ponta. Ao levantá-la, ele se aproxima, sem perceber, da rede elétrica de alta tensão que passa próximo à casa. Com a aproximação excessiva ocorre uma descarga elétrica, fatal para o médico.

Análise crítica O caso mostra a falta de consciência segura, no seu aspecto de uma ação não precedida de uma costumeira análise de risco. Mostra, também, uma condição insegura, na medida em que uma rede elétrica, não deveria estar localizada tão próxima de uma área de lazer doméstica. E este é o

32 fator mais relevante como causa do acidente, já que o cidadão – para os níveis baixos de consciência segura atuais – não estava fazendo nada de tão arriscado: não era um ambiente de trabalho de alto risco; não era uma ação tão perigosa, em si mesma. Portanto, se a rede elétrica estivesse localizada numa posição mais segura, ou se existisse alguma barreira mecânica isolada que impedisse a aproximação de algum objeto a partir da casa (uma possibilidade real), o acidente não teria acontecido, e uma vida teria sido poupada, e com ela, todo o sofrimento associado. A engenharia, mais uma vez, está por trás de uma condição insegura e perigosa!

(3) De um ônibus urbano, um garoto de seus 12 anos salta no ponto e, sem olhar para os lados, demonstrando pressa, atravessa imediatamente a rua, por detrás do ônibus, e é atropelado por um carro que passava e não pôde parar a tempo. O garoto só não morreu pela velocidade do veículo, que não era excessiva!

Análise crítica Um garoto de doze anos já deveria ter suficiente consciência segura para não deixar de olhar para o trânsito ao tentar atravessar uma rua... No entanto, essa falta de formação ainda é comum, mas precisa ser mudada! Mas o motorista também tem sua parcela de culpa, na medida em que, ao passar por um ônibus parado em ponto-de-ônibus, ele deveria ter diminuído ainda mais a velocidade e tentado identificar algum pedestre tentando atravessar a rua, o que é absolutamente previsível. A verdade é que um acidente ocorre, no trânsito, geralmente quando duas pessoas falham juntas, nos seus cuidados de segurança. A condição é insegura, também, pois se houvesse algum redutor de velocidade na região de

33 parada de ônibus, com placas de advertência para o motorista, ou faixa de pedestre bem sinalizada, a chance para o acidente diminuiria drasticamente. (4) Numa calçada ao longo de uma série de lojas vem um jovem ciclista em alta velocidade e deslocando-se na região mais próxima das lojas e mais distante da rua. Uma senhora abre a porta, despedindo-se do lojista, dá um passo e é atingida pelo ciclista, felizmente de raspão, o que não impede que o ciclista caia, ralando-se bastante, e a senhora receba uma forte pancada nos braços.

Análise crítica Ciclistas são cidadãos, no entanto, como condutores de um veículo, deveriam ter formação adequada para comportarem-se no trânsito – e por que não... desde o ensino fundamental? Este não demonstrava, como a maioria deles, preocupação, isto é, consciência suficientemente segura para analisar os riscos a que se submetia, e aos outros, ao pedalar sobre uma calçada, que é prioritariamente de pedestres, e, ainda mais, em velocidade imprudentemente alta, e à frente de portas de lojas. Aqui fica clara a importância da Escola e da Família na formação do cidadão com consciência segura! Se o garoto tivesse tal consciência, com atitudes proativas diante de possíveis acidentes, este não teria acontecido. A prefeitura e seus engenheiros também têm sua parcela de culpa, uma vez que as condições não eram das mais seguras. À prefeitura cabe a fiscalização e a orientação de seus condutores: formação específica e cobrança da aplicação da Lei. Ora, o código de trânsito já prevê que os ciclistas transitem com capacete, viseira, segurando o guidão com as duas mãos, e com vestuário de proteção adequado (Código de Trânsito Brasileiro, Lei nº 9.503, de 23-9-97, Art. 54).

34

(5) Uma senhora estava passando roupa em uma casa em que havia uma piscina cheia, mas abandonada. Ela teve de levar o seu menino de dois anos. Deixou-o brincando nas proximidades de seu local de trabalho, que era justamente na área próxima à piscina. Sem perceber o perigo, e considerando que o portão da casa estivesse fechado, impedindo que a criança saísse para a rua, distraiu-se no trabalho. Ao lembrar-se da criança, que estava muito silenciosa, procurou-a por toda a parte, chegando a consultar vizinhos. Quando sugeriram procurar dentro da casa, com mais cuidado, descobriram a criança afogada, no fundo da piscina.

Análise crítica Num primeiro momento, a mãe seria escolhida como a culpada pela morte da criança, por negligência nos seus cuidados. No entanto, embora a mãe tenha sua parcela de culpa, ela é uma cidadã que, como qualquer outro cidadão da atualidade, se ressente da falta de formação de uma consciência segura. Ela, de fato, não fez qualquer avaliação dos riscos possivelmente presentes no seu ambiente de trabalho, especialmente em relação à presença de uma criança tão pequena. No entanto, o ambiente doméstico comportava condições inseguras notáveis. A piscina estava abandonada, mas com água! Não havia sido prevista a instalação de uma cerca em volta da piscina, justamente para prevenir a entrada de crianças em ambiente potencialmente perigoso. Estas duas condições inseguras, se tivessem sido eliminadas pelos donos da casa, teriam evitado a morte da criança. Faltou consciência segura, também, aos proprietários do imóvel.

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(6) A tampa de um bueiro, em uma calçada, quebrou-se e ainda não havia sido trocada, de forma que o buraco estava destapado. Embora à frente de algumas lojas, o buraco estava, já há alguns dias, perigosamente aberto. Um senhor, caminhando pela calçada, distraiu-se com a leitura da primeira página de um jornal e, não percebendo o buraco, cai e quebra a perna, além de sofrer várias escoriações.

Análise crítica A falta de consciência segura por parte dos lojistas esclarece o fato de que o bueiro tenha ficado aberto, sem qualquer tipo de proteção, mesmo que provisória. Observa-se, também, total irresponsabilidade e negligência da prefeitura ao não providenciar, com a devida rapidez, o conserto da tampa do bueiro. Da parte do senhor acidentado, percebe-se algo que é comum a todo ser humano: a distração como fonte de acidentes. A distração denuncia uma atitude relaxada, pouco proativa diante da possibilidade potencial de um acidente. Por um lado, se a condição insegura tivesse sido eliminada com rapidez, a distração do cidadão seria algo absolutamente normal, pois é própria de qualquer pessoa. Por outro lado, um nível mais elevado de consciência segura teria protegido o cidadão contra condições inseguras presentes em nossa sociedade e potenciais causadoras de acidentes.

Prof. Wilson Aragão Filho ([email protected]) – maio/2012

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