Barbosa, Marialva. História Cultural Da Imprensa No Brasil (1900-2000)

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Séo cem anos da Histéria da Imprensa Brasileira (1900-2000) que este livro reconstréi, sob a perspectiva de que é possivel, a partir dos restos que chegam ao

presente, interpretar o passado. Assim, os multiplos movimentos da imprensa do século XX nele estao mapeados: a transforma-

gao dos jornais na virada do século XIX para o XX; a eclosao do jornalismo sensacionalista nos anos 1920; as relagoes ambiguas

da imprensa com o poder durante o Estado Novo; a modernizagao dos jornais no periodo desenvol-

titular do Departamento de Estu-

vimentista da década de 1950; a questao da censura durante a ditadura militar; ojornalismo popu-

dos Culturais e Midia e do Pro-

lar e 03 novos cenarios dos trinta

MARIALVA BARBOSA é professora

grama de Pés-graduagao em Comunicagéo da Universidade Federal Fluminense (UFF). Mes-

ultimos anos do século XX. Acompanhar esta Histéria Cultural da Imprensa é se informar, se

enriquecer e mesmo se surpre-

tre e doutora em Histéria pela

ender corn fatos e relatos sobre

UFF, possui Pés-doutorado em

os momentos marcantes da Histéria do Brasil. Através dos jor-

Comunicagéo pelo CNRS-LAIOS (Franga). Pesquisadora do CNPq e “Cientista do Nosso Estado” da Faperj, dedica-se ha varias décadas a pesquisa histérica dos meios de comunicagao no

Brasil. E coordenadora dos Nucleos de Pesquisa da Intercom e do GT de Jornalismo da Rede Nacional de Pesquisadores de Historia da Midia. No momento coordena o

Laboratério de

Pesquisa de Midia e Histéria no Programa de Pés-graduagéo da UFF.

nais cariocas, com 0 Rio de Janei-

ro refletindo e projetando movimentos e agées culturais que pipocam por todo o Pals, a historiadora Marialva Barbosa faz

uma obra de folego, reconstruindo cenarios por vezes esquecidos pela nossa Histéria. Como salienta José Marques de Melo, Histéria Cultural da Imprensa situa—se no mesmo patamar ocupado pela vanguarda nacional da Historia da Midia. Neste livro, como ele observa, a autora adota uma postura investigativa e cons-

troi uma narrativa brilhante, conquistando “lugar de destaque na constelagao dos historiadores midiéticos brasileiros”.

MARIALVA BARBOSA

n '1‘611IA IM’RENSA CULTURAL DA

BRASIL — 1900-2000

Copyright @ by Marialva Barbosa, 2007 2ª 2" edição: edigfio: 2010 Direitos desta edição edigfio reservados à2‘1 MAUAD Editora Ltda. Rua Joaquim Silva, 98, 5º 5° andar Lapa — — Rio de Janeiro — — RJ — — CEP: 20241-110 Tel.: (21) 3479-7422 — — Fax: (21) 3479-7400 www.mauad.com.br www.mauad.com.br

Projeto Gráfico: Grdfico:

Núcleo de Arte/Mauad Arte/Mauad Editora Nficleo

Revisora: Revisora: Sandra Pássaro Péssaro

CIP-BRASIL. CATALOGACAo-NA-FONTE C IP-B RASIL. C ATALOGAÇÃO-NA-F ONTE SINDICATO DOS EDITORES DE LIVROS, S INDICATO NACIONAL NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.

B199h 1954Barbosa, Marialva, 1954Histéria cultural da imprensa :: Brasil, 1900-2000 1900-2000 / Marialva Barbosa. Barbosa. - Rio de História 2007. Janeiro :: Mauad X, 2007.

Inclui bibliografia ISBN 978-85-7478-224-9 1. Imprensa - Rio de Janeiro (RJ) - História Historia - Século XX. XX. 2. 2. Periódicos Periodicos brasileiros 1. Rio de Janeiro (RJ) (RJ) - História Histéria - Século XX. XX. 3. 3. Imprensa - Aspectos sociais - Rio de (RJ). 4. 4. Jornalismo - Aspectos sociais - Rio de Janeiro (RJ). (RJ). I. I. Titulo. Janeiro (RJ). Título.

07-2357.

CDD: 079.81531 079.81531 CDD: CDU: 070(815.31) 070(815.31) CDU:

iNDICE ÍNDICE

Prefacio — Prefácio — José Marques de Melo —– 7

Introdução — 11 Introduoao — 11 1a PARTE 1ª

I— – Tecnologias do novo século (1900-1910) — — 21 21 “Maravilhosa invenção” invenoao” — “Maravilhosa — 26 A imagem e o leitor — 31 — 31

— 37 As redações redaooes — Senhores do tempo — — 41 41 II — – Entre tragédias e sensações: — 49 sensaooes: o jornalismo dos anos 1920 — Mundo do leitor — — 51 51 — 57 A cidade e a imprensa — Paginas de sensação sensaoao — Páginas — 60

O desfecho da trama — — 65 Farrapos de lembrança — 71 lembranoa — 71 III — – Vestígios — 75 Vestigios memoráveis: memoraveis: construindo identidade e história historia (1920-1930) — 75 Chateaubriand inicia o seu império — — 77 Passado mítico — 79 mitico — historia memorável memoravel — Uma história — 83 Memoria: particularizando as publicaooes Memória: publicações — — 88 edificios — 91 Modernos e permanentes edifícios — 91 Memorias dos homens de imprensa — Memórias — 94 pliblico como “massa” “massa” (1930-1940) — 103 IV — – Imprensa e Estado Novo: o público — 103 105 Estado Novo: controle e pressoes pressões — — 105 historia, uma imprensa... — 108 Uma história, — 108 A questão questao nacional — 113 — 113 117 Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) — — 117

V— – Literatura como vestígio vestigio do tempo: a imprensa e o olhar dos literatos (1900-1950) — — 125 125 Tempo de contar e tempo contado — — 129 129 A experiência experiéncia fictícia ficticia no jornalismo — 132 — 132

Ecos do Estado Novo — — 138 138 143 Entrando em novos tempos... — — 143 2a PARTE 2ª

VI — – “Cinquenta “Cinquenta anos em cinco”: cinco”: consolidando o mito da modernização — 149 modernizaeao (1950-1960) — 149 O mercado jornalistico jornalístico da década — — 154 154 Lutas por representação — 156 representagao — 156 politicas — 165 Tribunas políticas — 165

Samuel Wainer, a Última — 168 Ultima Hora e a mítica mitica da renovação renovagao — 168 VII — – Novos atores em cena: a imprensa nos anos 1960 — — 175 175 — 176 A televisão televisao irrompe a cena — 176 politica: uma simbiose histórica histérica — 180 Imprensa e política: — 180

Sob o signo da censura — — 187 187 Cenarios dos anos 1970-80: VIII — – Cenários crise do Correio da Manhd Manhã e novo sensacionalismo — — 197 197

Manhã — — 200 A crise do Correio da Maniac? A reforma e a liderança lideranea de O 0 Globo — — 209 sensagfies: o sucesso editorial do jornal O 0 Dia — Jornalismo e sensações: — 212 Calidoscopio de mudanças mudaneas (1980-2000) — 221 IX — – Calidoscópio — 221 cenario para o jornalismo econômico econémico — Um novo cenário — 223 Cenario 2: Jornalismo investigativo — mitificaeao? — Cenário – categoria ou mitificação? — 226 Cenario 3: Narrativas de um outro fim fim de século se’culo — Cenário — 234

Consideraeoes Finais — Considerações — 245

Bibliografia — — 247

Prefacio Prefácio

José Marques de Melo **

A historiografia historiografia brasileira encontra-se encontra—se frente a um paradoxo, neste início inicio de sécuse’cu— lo. Cresce o0 volume de pesquisas sobre a imprensa, mas são sao raras as generalizações generalizaooes capazes de elucidar o seu desenvolvimento ou discernir melhor o seu futuro.

predominantemenA explicação explicaeao plausível plausivel para esse fenômeno fenomeno repousa no caráter carater predominantemen— te monográfico monografico dos estudos hegemônicos, hegemonicos, sem que possamos tecer quadros holísticos holisticos

ou compor visões tendências. Visoes panorâmicas panoramicas e muito menos vislumbrar Vislumbrar tendéncias. Essa obsessão políticas obsessao pela micro-história micro-historia reflete reflete evidentemente a ausência auséncia de politicas públicas capazes de induzir a comunidade acadêmica projetos pfiblicas académica a se comprometer com proj etos em longo prazo. Em vez de fortalecer o conhecimento integrado, em sintonia com projetos proj etos socialmente relevantes de interesse nacional, as agências agéncias de fomento se acoaco— modam, tolerando a pesquisa fragmentada, dispersa e não nao raro datada, repetitiva. A0 bibliografia na área area midiológica midiologica contamos nos dedos aqueles Ao revisar nossa bibliografia

territórios estratrabalhos científicos cientificos que dão dao conta de processos amplos e palmilham territorios tégicos, no tempo e 6 no espaço. espaeo.

intenoao didi— Fogem evidentemente desse padrao padrão os livros-textos, produzidos com intenção datica, como, por exemplo, aqueles assinados por Juarez Bahia — dática, – Histo’ria História da Imprensa Brasileira, 4ª. 43. ed., rev., reV., São sao Paulo, Atica, 1990 — Ática, 1990 – ou por Antonio Costella —– Comunicagdo — d0 grim a0 satélite, 5ª. 53. ed., Campos do Jordão, Jordao, Mantiqueira, 2002. Mesmo nicação – do grito ao compilaoao de fontes secundárias, secundarias, constituem obras de grande utiuti— sendo produtos da compilação geraeoes de jomalistas. lidade para guiar os primeiros passos das novas gerações jornalistas.

* * Professor emérito da Universidade de São Séo Paulo, diretor-titular diretor—titular da Cátedra Cétedra Unesco/Metodista de ComunicaComunica— géo e presidente da Rede Alfredo de Carvalho para o Resgate da Memória Meméria da Imprensa e a Construção Construgao da ção Histéria da Mídia Midia no Brasil. História

História Cultural da Imprensa —

7

Entretanto, no conjunto das publieaeoes publicações nutridas em fontes primarias, primárias, restam somente poucos livros que correspondem ao perfil perfil acima delineado, cuja autoria pertence a brasileiros atuantes no territorio território nacional: Rizzini, Martins, Sodré Sodre’ e Nascimento. –O jornal e a A matriz ée sem dúvida duvida o pioneiro estudo de Carlos Rizzini — 0 livro, livm, o 0 jornal tipografia tipografia no Brasil, lançado laneado com a marca marea tradicional da Livraria Cosmos (Rio de 1946) e reproduzido em fac-símile fac—simile pela Imprensa Oficial Oficial do Estado de São sao Janeiro, 1946) Paulo (1988). Trata-se hoje de raridade bibliográfica, bibliografiea, abarcando todo o espectro da mídia tecnológico (tipográfico) midia impressa. Desde o suporte teenologico (tipografieo) aos seus produtos culturais periodicos). (livros e periódicos). – A palavra palavra impressa (1957). Na sequência sequencia vem o erudito ensaio de Wilson Martins —A Ele faz um competente balanço balaneo crítico critico do itinerário itinerario percorrido pelo livro e pelas bibliobiblio— tecas, desde as origens até território. Fora ate sua introdução introdueao e desenvolvimento em nosso territorio. de circulação circulaeao durante algum tempo, este volume voltou ao mercado mereado livreiro no fim fim do século Ática (São seculo passado. Sua terceira edição edieao tem o selo da Editora Atica (sac) Paulo, 1998). 1998). Por sua vez, o clássico História da Imprensa no Brasil (1966) foi escrito pelo pai classico Histo’ria da “História Nova”, aquele que provocou acirrada polémica polêmica nos círculos “Historia Nova”, Circulos intelectuais brasileiros, na alvorada do regime militar pos-64. pós-64. Nelson Werneck Sodré Sodre’ chocou os historiadores nativos aplicando referencial marxista marXista para interpretar as contradições contradieoes da nossa civilização teórico-metodológica constitui a marea marca civilizaeao gutembergiana. Essa opção opeao teorico-metodologica registrada do historiador em sua obra polifacética. Não obstante, o livro em pauta poliface’tica. Nao contém contem o mais bem documentado inventário inventario da nossa imprensa. Trata especialmente dos jornais diários, Nediarios, cujas euj as coleções coleeoes foram exaustivamente consultadas pelo autor. Ne— las encontra evidências evidéncias para ilustrar suas teses sobre as relações relaeoes entre a imprensa e o capitalismo. A 4ª. 43. edição edieao desse livro foi publicada postumamente pela Mauad Editora (Rio de Janeiro, 1999). pensa1999). Ainda em circulação, circulaeao, ela inclui capítulo capitulo inédito inedito sobre o pensa— mento de Werneck Sodré Sodre a respeito da mídia midia no Brasil, no final final do século XX. A lista pode ser ampliada, com a inclusão inclusao de um quarto titulo, título, embora matizado pelo carater regional. Refiro-me Refiro—me ao monumento hemerográfico hemerografico representado pela Histo’ria caráter História (1821—1954). Obra em 14 14 volumes, escrita pelo jornalista da Imprensa de Pernambuco (1821-1954). jornalista eonfiados pelo autor àa Editora da UniversidaUniversida— Luiz do Nascimento, seus originais foram confiados de Federal de Pernambuco. Ainda permanecem inéditos alguns volumes dedicados àa imprensa municipal. Resultante de exaustiva pesquisa documental, realizada em biblioreferencia atualiza e complementa os Anais da imprensa tecas e arquivos, esta obra de referência perio’dica incursao pioneira de Alfredo de Carvalho, o periódica pernambucana pernambucana de 1821-1908, incursão guardiao da memória memoria da nossa imprensa no início inicio do século seculo XX. guardião Nao duvida em situar Histo’ria Não tenho nenhuma dúvida História Cultural da Imprensa, magnificamente escrito pela professora Marialva Barbosa, no mesmo patamar ocupaocupa— magnificamente



Prefácio

do pela vanguarda nacional da História Historia da Mídia. Midia. Sua instigante, deliciosa e sedutora História perfilando como Historia da Imprensa cobre todo o século seculo XX, perfilando corno narrativa de fôlego folego sobre a modernização – modernizaoao da nossa mídia midia impressa. O aparente reducionismo espacial — território carioca — – ganha elasticidade e densidade, durante o por estar concentrada no territorio curso da escrita, justamente pela captação captaeao da amplitude extraterritorial do objeto pesquisado. A imprensa carioca extrapola a natureza geopolítica geopolitica que a poderia atrelar ao estigestig— ma paroquial ou provincial, para se tornar a expressão expressao viva Viva da universalidade brasileibrasilei— ra. Ela assimila mestiçamente padrões importados d´além mestioarnente os padroes d’ale’m mar. Mais do que isso: processa os modelos rnodelos aculturados e os difunde para todos os quadrantes da nossa geogeo— grafia. grafia. Esse fluxo fluxo perdura até ate quando a Cidade Maravilhosa MaraVilhosa catalisa a hegemonia típica das capitais nacionais. tipica Marialva Barbosa revela, nesta obra, uma impressionante capacidade empática. empatica. Comporta-se metodologicamente trajetória rnetodologicamente como historiadora, periodizando a traj etoria da imprensa. Mas ao mesmo tempo recorre ao empirismo jornalistieo jornalístico para reconsrecons— pinçar e proj projetar persotruir cenários cenarios dotados de exuberante simbolismo. simbolisrno. Ou para pinear etar perso— nagens singulares que dão dao sentido aos jogos de cena. eena. Nesse diapasão, diapasao, constrói constroi uma narrativa brilhante, nutrida pela factualidade subjetiva subj etiva e sofisticada sofisticada pela inin— terpretação heterodoxa. terpretaoao É E importante destacar que a autora conquista lugar de destaque na constelação constelaeao dos historiadores midiáticos padrões da pesmidiaticos brasileiros pela ousadia de romper com os padroes quisa histórica – Os donos do Rio: imprensa, historica tradicional. Desde sua obra de estreia — imprensa, poder e publico público (Rio, Vício – ela se engaja na corrente que pensa a poder Vicio de Leitura, 2000) — história histéria como epistéme. Sua ambição ambieao intelectual ée’ construir uma narrativa em que o factual e o ficcional ficeional se mesclam meselarn e se recriam. reeriam. Trata-se Trata—se de postura investigativa embasada nos principios princípios historiográficos historiograficos defendidos por Agnes Heller: explicitar o implícito; implicito; publicizar o secreto; buscar a coerência coeréncia existente no que tern aparéncia de incoerente. tem aparência epistemologicos em ern que se fundamentam seus Mesmo transgredindo os postulados epistemológicos predecessores, Marialva não nao os recusa como fontes irradiadoras de sabedoria utilitáutilita— ria. Ancorada na sutileza da reportagem em profundidade de que se valeu Rizzini para tecer o perfil perfil enigmático enigmatico de Hipólito Hipolito da Costa, ela esboça esboea instantâneos instantaneos elucidativos de ampara—se na sensibilidade literária literaria de Wainer e Chateaubriand. Da mesma forma, ampara-se descrieoes apetitosas de ambientes e de conjunturas, eivadas Martins para construir descrições Sodre’, ela sentou praoa de sabor coloquial. A exemplo de Werneck Sodré, praça no quartel da memoria nacional, naeional, explorando a riqueza das coleções coleeoes de jornais microfilmados microfilmados para memória separar o joio do trigo. Ou seja, para navegar habilidosamente entre a tempestade metaforica dos gêneros géneros informativos e a calmaria metonímica rnetonimica dos gêneros géneros opinativos, metafórica vestigios indeléveis das fontes que privilegiou. vestígios História Cultural da Imprensa —

9

Historia da Imprensa que não nao se restringe às as operaPela primeira vez temos uma História ções políticas atribuídas coes capitalistas dos barões baroes da imprensa, nem às as maquinações maquinacoes politicas atribuidas aos governantes que ja já recorriam às tão as “verbas “verbas secretas” secretas” para irrigar os “mensalões” “mensaloes” tao cobiçados patrões). Alem Além desses vetores cobicados pelos jornalistas venais (empregados e patroes). alicerçados típicas da Etnografia alicercados na Economia e na Política, Politica, a autora recorre às as variáveis variaveis tipicas Etnografia para identificar identificar nuances imperceptíveis imperceptiveis nas fontes históricas historicas convencionais. E, desta maneira, monta um quebra-cabeça peças significativas, quebra—cabeca de pecas significativas, recolhidas na ironia da música mfisica popular, na sinédoque sine’doque de filmes filmes melodramáticos melodramaticos ou nas elipses dos romances folhetinescos.

O resultado dessa aventura protagonizada pela repórter reporter travestida de historiadora se expressa nos capítulos capitulos fascinantes deste livro de atualidades, em que o passado se revitaliza como se fora memória memoria em ern movimento. Década De’cada após apos década, o leitor vai acompanhando o ritmo da modernização da sociedade brasileira, cuja imprensa demodernizacao de— sempenhou o papel de laboratório laboratorio especular. As nossas mutações mutacoes tecnológicas tecnologicas foram testadas, em certo sentido, nos jornais e

nas revistas, difundindo-se de forma sutil ou de modo ostensivo pelo conjunto do tecido social. Assirn Assim sendo, os agentes jornalisticos jornalísticos se tornavam arautos do porVir porvir desejado, desej ado, protagonizando feitos sob medida para nutrir a agenda dos futuros historiahistoria— dores, impelindo-os impelindo—os a se assumirem como exegetas de um passado mítico. mitico. A leitura da narrativa de Marialva Barbosa deixa a sensação sensacao de que a História Historia da

Imprensa abandona decisivamente a tradicao tradição do “nariz “nariz de cera” cera” para agir como abrealas de uma “pirâmide “piramide invertida” invertida” na Galáxia GalaXia de Heródoto. Herédoto. Trata-se de rico e fascinanfascinan— te universo simbólico, simbolico, povoado por “histórias “historias de interesse humano”, humano”, enriquecido pela sensibilidade dos “colunistas” plantão, alertado pela argúcia “colunistas” de plantao, argficia dos “comentaristas” “comentaristas” setoriais e continuamente desafiado desafiado pela vigilância Vigilancia crítica critica dos “ombudsmen”. “ornbudsrnen”.

10 —

Prefácio

Introdueao Introdução

A ideia central desse livro ée organizar num único finieo volume o 0 material produzido ao longo de mais de uma década decada de convívio oonViVio diário diario com um tema: a história historia da imprensa no Rio de Janeiro, sobretudo aquela que foi construída construida no século se’culo XX.

Partindo da premissa de que é possivel possível visualizar Visualizar o passado de diversas maneiras, rnaneiras, escolhemos o olhar que procura Asprooura os indícios indicios e os sinais que chegam ehegam ao presente. As— sim, sirn, em cada um urn dos capítulos capitulos serão serao utilizadas espécies de vestígios vestigios que indicam indieam como oomo o público pfiblico se relaciona com os meios de comunicação. comunicaoao. Esses vestígios vestigios mostram também o papel da imprensa na sociedade e a sua propria própria conformação tarnbe’m conformaoao histórica historioa ao longo de um século. se’oulo. Ainda que o tema da história historia da imprensa venha sendo, nos últimos filtimos anos, objeto obj eto

de diversas pesquisas, o livro mais significativo – uma obra extresignificativo existente no Brasil — extre— mamente importante e de referência referencia obrigatória obrigatoria a quem se dedica dedioa a estudar a imprensa (estamos História da Imprensa no (estarnos citando eitando o clássico classieo livro de Nelson Werneck Sodré, Sodre’, Histo’ria – foi escrito Brasil) — esorito há ha mais de quarenta anos. São Sfio necessárias necessarias novas interpretações interpretaooes país. para explicar explioar o movimento movirnento da história historia na sua relação relaeao com a imprensa no pais. Além disso, há Ale’m ha que se considerar que os estudos desenvolvidos desenvolVidos sobre a questão questao historica da imprensa no Brasil são, 3510, em ern grande medida, tributários tributarios de uma ideia de histórica história particularidahistoria linear, orientada e baseada em grandes feitos, singularidades, particularida— des dos grandes personagens. A maioria dos estudos realizados adota uma visão Visao que privilegia a ruptura, produzida por fatos marcantes, Inaroantes, na qual a temporalidade linear e a sucessao de acontecimentos aconteoimentos dão dao o 0 tom da narrativa. sucessão Aprofundando um urn pouco mais esta constatação, constataoao, pode-se verificar, verifiear, a partir da anáanabibliografia sobre história historia da imprensa no Brasil, a existência existencia de cinco cinoo grandes lise da bibliografia Urn primeiro conjunto oonjunto — significativo em termos numericos grupos de textos. Um – o mais significativo numéricos —– earaoteriza por acompanhar o aparecimento apareeirnento e o desaparecimento desapareeimento de periodioos se caracteriza periódicos oaso, se enquadra tambe’rn numa perspectiva essencialmente factual. Nesse caso, também o princi— principal trabalho de síntese sintese de história historia da imprensa no pais, país, o livro de Nelson Werneck Sodre’. Sodré. folego. Traz informações informaooes detalhadas O livro de Nelson Werneck ée um trabalho de fôlego. 1808 até ate os anos 1960. 1960. O autor levou cerca de e preciosas da imprensa brasileira de 1808 História Cultural da Imprensa

— 11

30 anos para pesquisar e escrever o texto. Mas o livro não nao ée’ apenas um imenso regisregis— tro de quase todos os jornais publicados no território territorio nacional e dos seus fundadores. O autor permeia os dados factuais com comentários comentarios críticos oriticos e análises analises subjetivas, subj etivas, sobretudo nos capítulos capitulos em que trata do jornalismo que lhe era mais contemporâneo contemporaneo e no qual ele estava mais diretamente comprometido. Nelson Werneck Sodré Sodre’ foi, sem dúvida, duVida, um dos mais importantes historiadores do século XX. A História da Imprensa no Brasil ée apenas um de seus mais de 50 traba— trabaseculo AHisto’ria lhos publicados, entre os quais se destacam também Farmagdo Formação Histo’rica Histórica do Brasil, História da Burguesia Brasileira, Histo'ria História Militar do Brasil e Histo'ria História da Literatura Histo'ria Brasileira. Influenciou Influenciou gerações geraooes com seus livros e ideias. Propunha uma história historia engajada, partindo do pressuposto de que elementos do passado podem lançar lanoar luz sobre os problemas contemporâneos. contemporaneos. Assim, se, por um lado, somos devedores do trabalho pioneiro desse autor, por outro estamos presos aos limites da sua abordagem, ao não teóricos e metodológicos nao superarmos em termos teoricos metodologicos a sua perspectiva (Barbosa e Ribeiro, 2005).

Um segundo conjunto conj unto de textos sobre história historia da imprensa concentra-se nas modificações ficaeoes e na estrutura interna dos jornais. Em geral, são sao trabalhos monográficos, monograficos, dedicados àa pesquisa de um único periódico ou de um pequeno grupo deles. O princi— princiunico periodioo pal problema desse tipo de abordagem ée que, na maioria das vezes, não nao estabelece conexões periódicos com as trans— transconeXoes entre as características caracteristicas descritas e observadas nos periodicos formações formaeoes históricas historicas e sociais, centrando a análise analise nas ações aooes individuais dos atores envolvidos. envolVidos. Quando a história historia aparece, surge apenas como pano de fundo, como concon— juntura na qual os personagens se movimentam, e não nao como uma dimensão dimensao constitutiva dos seres e das suas ações. aeoes. Um terceiro grupo aborda os jornais —– e os meios de comunicação – comunicaoao em geral — como portadores de conteúdos políticos e de ideologias. A maior parte desses traba— trabaconteudos politicos condiooes de circulação, circulaoao, de recepção recepeao e mesmo de lhos, no entanto, desconsidera as condições produoao desses impressos, não nao levando em conta os limites específicos especificos da historicidade produção 0 quarto grupo é composto por pesquisas que abordam o contexto de cada tempo. O historico no qual os periodicos Vao se inserindo do seu surgimento àa sua evolução evolueao e histórico periódicos vão dimensao interna dos desaparecimento. Esses trabalhos, entretanto, desconsideram a dimensão logica propria meios, assim como a lógica própria do campo, como os aspectos te’cnicos, técnicos, discursivos profissionais. Novamente, na maior parte dos casos, a história historia aparece meramente e profissionais. correspondéncia entre o interno e o externo ée trabalhada como pano de fundo, e a correspondência mais descritivamente do que de maneira explicativa. Ha ainda um quinto grupo de estudos que considera a história historia como um prooesso Há processo relaoao com o 0 social. Ao mesmo tempo, visualiza-a Visualiza—a e, sobretudo, a imprensa na sua relação importancia o 0 concomo integrante de um processo comunicacional, no qual ganha importância

12 —

Introdução

teúdo, o produtor da mensagem e a forma como o leitor entende os sinais emitidos tefido, pelos impressos. impresses. Procura destacar, também, a dimensão dimensao histórica historica de um mundo pleno

de significados, significados, no qual se localizam os meios de comunicação. comunicaoao. Portanto, a dimensão dimensao interna e externa são sao contempladas nestas abordagens. Essas pesquisas visualizam Visualizam a história historia a partir de um espaço espaoo social considerado, interpretando os sinais que chegam até o presente a partir das perguntas subjetivas subj etivas e do olhar, igualmente subjetivo, subj etivo, que se pode lançar lanoar ao passado. Coerente com essa perspectiva, este livro propoe propõe escrever uma história historia da imprensa, localizada num espaço – no caso o0 Rio de Janeiro —, –, consideranespaoo social específico especifico — do que, ao realizar esta análise, pesquisaanalise, se faz escolhas, nas quais a subjetividade subj etividade do pesquisa— dor está esta presente. Neste sentido, não nao estamos pretendendo dar conta de todas as multiplicidades de aspectos que envolvem a questão questao histórica historica na sua relação relaoao com os jornais da cidade, durante cem anos. Sequer vamos nos referir a todos os periodicos. periódicos. com Elegeremos aqueles que consideramos os mais relevantes do ponto de vista Vista desta abordagem. Se por um lado pensamos a história historia como epistéme (conhecimento verdadeiro) que se opõe opoe àa doxa dam (simples opinião), opiniao), é preciso inserir o aspecto ficcional ficcional da narrativa histórica. historica. Quando enfatizamos o aspecto ficcional ficcional não nao quer dizer que o passado não nao tenha se so dado: o que está esta se destacando é a característica caracteristica de relato de um texto escrito por um narrador do presente, inserido num mundo completamente diverso daquele que está esta interpretando. O produto dessa reconstrução reconstruoao será sera sempre um discurso carregado de significados. significados. Há Ha que se considerar também que cada época está esta imersa num grau de do consciência consciéncia histórica própria história”. historica que foi sendo construído construido pelos sujeitos que “vivem “Vivem sua propria historia”. Se ao construir um texto que lança tenlanoa um determinado olhar sobre o passado estamos ten— tando produzir conhecimento ou epistéme, por outro lado não nao se pode esquecer que o reconstroi são sao sempre, como diz Heller (1993), os problemas da vida Vida e da que se reconstrói consciéncia cotidianas. O que cada pesquisador faz é tornar explícito explicito o implícito; implicito; consciência publicizar o que seria secreto e fornecer uma coerência coeréncia ao que em principio princípio poderia classificado como incoerente. Tudo isso sem a pretensao ser classificado pretensão de transformar o passado vestigio significante significante que pode chegar em presente, mas enxergando o passado como vestígio 1993). ao mundo de hoje (Heller, 1993). A tarefa da história historia não nao é, pois, recuperar o passado tal como ele 616 se so deu, mas interpreta-lo. A partir dos sinais que chegam até o presente, cabe tentar compreender interpretá-lo. significaoao. São Sfio a mensagem produzida no passado dentro de suas proprias próprias teias de significação. vestigios, que aparecem como documentos e como ato memorável memoravel (no qual está esta esses vestígios, incluida a memória memoria do próprio proprio narrador/pesquisador), que permitem reconstruir a hishis— incluída toria filtimos cem com anos. tória da imprensa na cidade do Rio de Janeiro nos últimos História Cultural da Imprensa

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O que será sera decifrado, através da interpretação, interpretaoao, está esta sempre localizado no presente. Vendo nesses sinais a possibilidade de conter uma mensagem e atribuindo um urn valor a eles no presente, produz-se produz-so a interpretação interpretaoao indispensável indispensavel na ação aoao história. historia. Para contar uma história predisposição para ler e a leitura, isto é, a interhistoria há ha que existir vestígios, vestigios, predisposioao pretação pretaoao crítica. oritica. A historiografia historiografia implica, pois, em leituras de mensagens sobre algo considerado como ausente no nosso aqui agora, a disponibilidade para visualizar nos indícios indicios a mensagem (método) e sua leitura (a crítica). critica). Para a teoria da história historia é fundamental o que aconteceu, como aconteceu e, sobretudo, por que aconteceu. transforAo atribuir um valor a cada um urn desses sinais que irrompem irrompern o presente, transfor— ma-se o vestígio vestigio memorável memoravel numa marca documental. Mas isso não nao quer dizer que esses sinais significantes significantes cheguem até nós nos sempre sob a forma escrita. Os vestígios, vestigios, que informam sobre uma dada história historia da imprensa na cidade do Rio de Janeiro, podem estar contidos em cenas de filmes filmes de época; materializados numa imagem turva em meio a um urn emaranhado de cenas; nas histórias historias que são sao repetidas oralmente. Podem também estar presentes em textos sem sern o valor de documento oficioficial, dispersos sob a forma de sinais variados: textos ficcionais ficoionais de escritores consagraconsagra— dos ou não; nao; entrevistas de jornalistas, cartas que despretensiosamente escreveram no passado; correspondência próprios leitores encaminharam publicações. Escorrespondéncia que os proprios encaminhararn às as publicaooes. tão práticas de leituras, tao nas imagens publicadas publioadas ou não, nao, que podem mostrar formas e praticas induções público com a induooes de sociabilidades contemporâneas contemporaneas nas fímbrias fimbrias da relação relaoao do pfiblico mídia. páginas dos jornais, nas suas edições midia. Enfim, Enfim, estão estao nas paginas ediooes comemorativas, no coticoti— diano das notícias, noticias, nos ecos que o passado produz no presente. Mas para ler essas mensagens é preciso considerar as múltiplas Infiltiplas interpretações interpretaooes de que a história já foi objeto, estabelecendo um diálogo historia da imprensa ja dialogo com outros autores que procuraram explicações transformação dos meios de comunicaexplicaooes para a transformagao comunica— ção já foi oao impressos ao longo do século XX. Isso significa significa levar em conta o que ja sern considerar as concon— realizado. N50 Não é6’: possivel possível produzir qualquer conhecimento sem nao é objeto obj eto de disputas e6 sim de quistas realizadas anteriormente. O conhecimento não mfituas. partilhas mútuas. mudanoa como parte do processo, no qual estão estao envolvidos particularismos, Pensar a mudança repetiooes, restos, que o passado legou ao presente, é fundamental na operação operaoao repetições, historiografica. Certamente Certarnente há ha muitas maneiras de fazer história historia e diversas formas de se historiográfica. debruoar sobre o passado. debruçar Pode—se acreditar que os fatos do passado ocorreram daquela forma eo que fazer Pode-se historia é trazer o passado de volta para o presente. Ou pode-se acreditar que o passa— história passaesta irremediavelmente perdido nele mesmo e o que fazemos nada mais é6' do que do está interpretaooes. Preferimos acreditar nesta última filtima premissa. produzir interpretações.

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Introdução

Paul Ricoeur (2001:374-375) (2001 :374-375) lembra com propriedade que a história historia só so nos atinge através atrave’s das modificações modificacoes que impõe impoe àa memória, memoria, pois a primeira relação relacao com o passado se dá da através atraVés dessa abertura fundamental. Sem memória memoria não nao há ha passado e a operaopera— ção transição da memória Através do testecao que assegura a transicao memoria àa história historia ée’ o testemunho. Atrave’s munho as coisas vistas Vistas se transferem para o plano das coisas ditas. historia da imprensa é, e, pois, fazer o mesmo movimento da “escrita “escrita da Construir história história”. É perceber a história como processo complexo, no qual estão engendradas historia”. E histéria estao relações relacoes sociais, culturais, falas e não nao ditos. Compete ao historiador perguntar pelos silêncios política. siléncios e identificar identificar no que não nao foi dito uma razão razao de natureza muitas vezes politica. Ao produzir uma escrita instaura-se instaura—se o mundo das coisas contadas. Segundo Harald Weinrich (1973), encontram-se três eixos essenciais da comuencontram—se nos tempos verbais os trés comu— nicação. nicacao. Na situação situacao de locução locucao existem dois mundos: o mundo contado e o mundo comentado. Há Ha ainda a perspectiva que produz a defasagem entre o tempo daquilo que ocorreu (o ato) e o tempo do texto. O último ultimo eixo essencial da comunicação comunicacao diz respeito ao relevo que é dado ao texto: é através atraVés da narrativa que serão serao destacados certos contornos, rejeitando-se rejeitando—se outros para pano de fundo.

também Ao relatar um acontecimento, ao produzir uma interpretação interpretacao a história historia tambe’m instaura, tal como faz o texto ficcional, ficcional, o mundo das coisas contadas. E esse mundo ée’ estranho tanto a quem produz a narrativa como a quem ela se destina. A perspectiva de locução locucao marca na narrativa, através atrave’s do emprego dos tempos verbais, a diferença diferenca entre o tempo do ato e o tempo do texto (o tempo contado). A descrição, descricao, por outro lado, faz com que o passado se prolongue. Comentando os

fatos ocorridos no passado, vislumbrando Vislumbrando a ação acao humana existente neste passado, prolonga-se o passado no presente. prolonga—se O texto que será – como qualquer narrativa que recupera um tempo que sera produzido — foi vivenciado – instaura o tempo das coisas contadas. E Vivenciado por outros sujeitos sociais — sera o narrador que irá ira selecionar de um conjunto de acidentes uma história historia completa será expressao de Paul Ricoeur (1994). e una, tecendo uma intriga, se quisermos empregar a expressão gostariamos de enfatizar nesta proposicao Outro aspecto que gostaríamos proposição diz respeito àa questao das generalizações. generalizacoes. Particularizar ée um dos principios tão princípios orientadores da teoria da historia. Ao proceder uma interpretação, interpretacao, não nao se pode generalizar as conclusões conclusoes para história. espaco social possui uma conformidade histórica, historica, uma todos os contextos, ja já que cada espaço traj etoria particular. trajetória A producao interpretacao está, esta, pois, intimamente relacionada àa conformação conformacao produção da interpretação espaco social. Pensar historicamente pressupoe espacos socide um espaço pressupõe contextualizar os espaços ocorréncias, costumes, instituições instituicoes que se conforconfor— ais numa cadeia de fatos, eventos, ocorrências, fluxo (antes e depois). Essa é uma das razões razoes para a delimitação delimitacao da mam como um fluxo História Cultural da Imprensa

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história historia que estamos propondo, ou seja, sej a, considerando como espaço espaco privilegiado o 0 Rio de Janeiro. período de análise Ao escolhermos com periodo analise o século seculo XX, procurando percorrer nuanças nuancas de cem anos no cenário cenario social da cidade, não nao estamos desvalorizando os processos ocorridos desde que se implantou a imprensa na cidade, em 1808. 1808. Procuramos como aspecto centralizador a questão questao tecnológica tecnologica que irrompe o século seculo XX e termina este mesmo século dando o tom das mutações no cenário do jornalismo impresso. Por se’culo 0 mutacoes cenario outro lado, ao escolhermos esses cem anos tomamos como relevância relevancia o fato de ter sido nesse periodo período que se deram transformações no jornalismo diário. derarn as mais bruscas transformacoes diario. Muitos dos valores, premissas, construções construcoes imaginárias imaginarias que ainda hoje frequentam o mundo do jornalismo foram construídos construidos exatamente ao longo do século se’culo XX. Até a virada passaAte’ Virada do século se’culo XIX para o XX, os jornais diários diarios do Rio de Janeiro passa— mfiltiplas configurações. configuracoes. Tendo sua implantação implantacao sob os auspícios auspicios da Coroa ram por múltiplas Portuguesa — – o primeiro jornal impresso na cidade ée exatamente a Gazeta do Rio de Janeiro, publicado, a partir de 1808, 1808, pela Impressão Impressao Régia Re’gia que aqui aportou junto com D. João 1050 VI, ao se transferir com a Família Familia Real fugindo da Europa durante o período – a imprensa, durante a Colônia, periodo napoleônico napoleonico — Colonia, divide-se diVide—se entre oficial oficial e “ofici“oficiosa”. também reproduz a fala oficial osa”. Esse jornalismo oficioso oficioso tarnbem oficial para se beneficiar beneficiar das cercanias do poder. Somente com a fundação fundacao da Aurora Fluminense, por Evaristo da Veiga, e do Jornal do Commercio, por Pierre Planchet Planehet Seignot, em 1827, 1827, ée que muda um urn pouco este cenário, já que esses jornais passam a ter na construção cenario, ja construcao de um discurso de cunho político politico a base de sua produção producao editorial. Apesar disso, a imprensa da cidade continua a ser ou oficial oficial ou oficiosa. oficiosa. Apenas na década de 1870 1870 há ha uma mudança mudanca mais radical, com a ampliação ampliacao dos debates e das polérnicas polêmicas em torno da questão Afinal, é questao republicana e abolicionista. Afinal, decada a fundação fundacao do Partido Republicano e o início inicio sistemático sisternatico das discussões discussoes desta década em torno dessa ideia no pais. país. A década decada de 1880 1880 encontra palco adequado para os grandes debates. A politica política agitacoes populares, que conduz tambe’m Vias pfiblicas ganha as ruas, em agitações também para as vias públicas as questoes do momento. questões No cenário cenario de uma cidade que vive Vive uma nova cultura politica, política, a imprensa passa a discussoes, construindo ideias dominantes num jornalismo Vie’s exeXampliar essas discussões, jornalismo de viés clusivarnente opinativo. É E nessa conjuntura que se instaura a imprensa abolicionista. clusivamente No início, inicio, são sao muitas as adversidades para o desenvolvimento dessa imprensa. Já Ja seculo XIX, no Rio de Janeiro, circulam alguns pasquins criticriti— na primeira metade do século escraVidao, os preconceitos raciais e o trafico cando a escravidão, tráfico negreiro, embora tenham alcan-

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Introdução

ce limitado e tiragem em torno de 400 ou 500 exemplares. Basicamente, esses peque— pequenos jornais atingem atingern os grupos urbanos insatisfeitos com o governo, em especial dudu— rante o periodo período da Regência. Não há Regencia. Nao ha ainda um movimento organizado antiescravista. antiescraVista. têm acesso aos jornais de maior Antes da década decada de 1880, 1880, os antiescravistas antiescraVistas não nao tém prestígio, ja já que estes adotam posição cautelosa em relação prestigio, adotarn posicao relacao àa emancipação, emancipacao, devido deVido principalmente àa dependência dependéncia dos anunciantes, muitos deles senhores de escravos.

A crise do escravismo e a ampliação ampliacao dos grupos sociais urbanos, contrários contrarios ao caticati— veiro, periódicos para as ideias abolicionistas. Veiro, permitem a ampliação ampliacao do espaço espaco nos periodicos Há também o papel da imprensa como instituição Ha que se perceber tambem instituicao de controle social, servindo àa própria manutenção da propria estrutura de poder e agindo como veículo veiculo de manutencao ordem ordern vigente. Vigente. Nesse universo, dominando pelo Jornal do Commercio, e por outras pequenas

publicações, como O Ângelo Agostini, A Reformo, Reforma, Vida Fluminense, publicacoes, 0 Mosquito, de Angelo Vida Fluminense, outras em línguas linguas estrangeiras como o Courrier du o’u Brésil, apenas para citar alguns, destacam-se os jornais que se colocam Notícias, coloeam contra a escravidão: escraVidao: a Gazeta de o’e Notz’cias, fundada em 1875, Araújo; a Gazeta da 1875, por Ferreira de Arafijo; do Tarde Toro’e e Cidade Cidao’e do Rio, ambos criados por José Jose do Patrocínio. Patrocinio. A questão questao abolicionista, portanto, ocupa com mais intensidade espaço espaco nos jornais

de Patrocínio. Notícias, em 1881, Patrocinio. Ao deixar a Gazeta de o’e Noticias, 1881, funda a Gazeta da do Tarde, Toro’e, que tem, de fato, posicionamento mais evidente na luta contra a escravidão. tern, escraVidao. Seis anos mais tarde, em 1887, 1887, vende sua parte no jornal e cria a Cidade Cidao’e do Rio, que será, sera, sem dúvida, dfiVida, o principal jornal abolicionista da cidade. As notícias noticias editadas por esses jornais contribuem contribuern para disseminar ideias

antiescravistas população, seja através antiescraVistas entre diversos segmentos da populacao, atrave’s de suas leituras, seja pelas manifestações públicas que promovem. Com também pessoas manifestacoes pfiblicas Corn isso, atraem tambérn que não têm acesso às nao tém as suas matérias, mate’rias, incluindo-se incluindo—se aí ai os analfabetos. estao inseridos num processo histórico historico de grande repercussão repercussao Conscientes de que estão para o futuro do país, pais, os abolicionistas desempenham, através atrave’s desses jornais, uma luta treguas contra o trabalho compulsório. compulsorio. sem tréguas AtraVes manifestacoes pfiblicas deba— Através de manifestações públicas que promovem, ampliando o universo do debate inicialmente inicialrnente veiculado por aquelas paginas, forma— páginas, essa imprensa contribui para a forma9510 de uma verdadeira cidade politica ção política que emerge na cena urbana do Rio de Janeiro final dos anos 1880. 1880. O tema terna da abolição abolicao não nao ée exclusividade dos líderes lideres do movimovi— no final discute—se o cativeiro nas ruas, toma-se toma—se posicao mento: discute-se posição contra ou a favor, participa—se participa-se 1991). (Fernandes, 1991). Vista da Todo esse universo do século XIX — – igualmente importante do ponto de vista historia da imprensa — esta ausente desse livro por uma questão questao de escolha. O nosso história – está História Cultural da Imprensa

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foco fooo recai reoai sobre a imprensa da cidade do Rio de Janeiro no século XX. Mas, evidentemente, muitos dos aspectos relativos àa imprensa do século XX, que abordaremos nos capítulos oapitulos que se seguem, dialogam dialogarn de forma implícita implicita ou explícita explicita com o cenário cenario 1 da imprensa do século XIX . XIXl. Dividimos esse percurso em nove capítulos: capitulos: cada um enfocando uma urna década. O primeiro analisa as tecnologias que entram entrarn em cena e mudam mudarn o cotidiano da cidade Cidade na alvorada do século. As transformaooes transformações dos jornais diários numa cidade também diarios tambérn em mudança mudanoa dão dao a senha para o ingresso em um mundo marcado por mutações mutaooes de natureza tecnológica. tecnologica. O segundo capítulo capitulo trata das tragédias e sensações sensaooes que invadem a cidade nos anos 1920. 1920. Essas notícias noticias sensacionais, como se qualifica qualifica na época, estão estao sobretudo em dois jornais que dedicam todo o seu conteúdo temática contefido a essas narrativas que mesclam a tomatica do dia-a-dia Manhã e6 Crítica. dia—a—dia dos leitores com corn uma estética melodramática: melodramatica: A Martha? Critica. São Sfio esses dois jornais, focalizados pelos farrapos de lembranças, lembranoas, que também emergem das crônicas cronicas de Nelson Rodrigues, que são sao analisados, como corno uma espécie de síntese sintese desse universo que tanto sucesso faz junto aos leitores da cidade. As memórias memorias dos jornalistas servem de pano de fundo para introduzir a discussão discussao da formação período que formaoao dos primeiros conglomerados de imprensa nos anos 1920. 1920. O periodo antecede a era Vargas é tambérn também marcado pelo sucesso do vespertino A Noite e pela construção construoao de um passado mítico mitico que revela algumas das caracterizações caracterizagoes da identidaidentida— de jornalistica, jornalística, cujos resquícios resquicios podem ser encontrados ainda hoje nos discursos dos hornens de imprensa. homens A questão questao do Estado é o foco da análise analise do capítulo oapitulo IV, que trata das relações relaooes ambíguas política no periodo período do Estado Novo. A consambiguas da imprensa com a sociedade politica trução truoao do público pfiblico como oomo massa, sobretudo a partir do pensamento conservador brasileiro, é particularizada neste capítulo, capitulo, assim como as agências agéncias e agentes do Estado, proj eto dos anos 1930/1940. 1930/1940. A questão questao da censura àa imprensa e fundamentais para o projeto dos aparelhos repressores do periodo período — – sobretudo o0 Departamento de Imprensa e6 Proanalise. paganda (DIP) — – complementa a análise. corno vestígio vestigio do tempo. Terminando a primeira parte do livro, a literatura surge como descriooes literárias literarias de diOs cinquenta primeiros anos do século XX aparecem nas descrições vestigio — versos autores que deixaram — – sob a forma de vestígio – nos seus romances, contos e cronicas informações informaooes preciosas sobre as relações relaooes da imprensa com o pfiblico crônicas público e do pfiblico com os meios de comunicação cornunicaoao na cidade do Rio de Janeiro. Da pena dos público

1 1 Para melhor compreensão compreensao da imprensa do século XIX, cf. os 03 estudos de Marcos Morel, Morel, Lúcia LL’Jcia Maria Paschoal XIX, cf. Guimaraes e Humberto Machado, entre outros. outros. Para referências referéncias completas, cf. cf. Bibliografia. Bibliografia. Guimarães

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Introdução

literatos, surgem surgeIn as redações, redaooes, a emissora rádio radio ficcional ficcional que existia na Casa de DetenDeten— ção, praças do Rio de oao, durante o Estado Novo, a partilha dos jornais nos bancos das praoas Janeiro, entre dezenas de outras descrições descriooes que revelam aspectos de uma imprensa que existe também como figuração figuraoao literária. literaria. período que passa àa história A segunda parte part6 começa comega enfocando os anos 1950, 1950, periodo historia do jornalismo carioca oarioca como sendo o 0 de sua maior Inaior modernização. modernizagao. Através dos depoimendepoimen—

tos dos jornalistas que participam desse processo, mostramos que esta modernização modernizagao é uma construção construgao discursiva dos homens de imprensa numa luta permanente pelo significar. Em lutas por representação. representaoao. direito de significar. Os filmes Atlântida, dão filmes em preto-e-branco preto-e—branco nacionais, produzidos pelos estúdios estfidiosAtlantida, dao a senha para a entrada de um novo personagem na cena midiática midiatica nos anos 1960: 1960: a televisão. Essa é a forma como introduzimos televisao. introduziInos a discussão discussao do cenário cenario da imprensa durante a ditadura militar. Também TambéIn faz parte part6 da análise analise uma discussão discussao sobre a censura no período periodo autoritário autoritario inaugurado com o Golpe de 1964. 1964. Os dois últimos filtimos capítulos capitulos colocam colocaIn em destaque múltiplos Infiltiplos cenários cenarios nos trinta anos finais finais do século XX. Se na década de 1970, 1970, os atores são sao a crise da imprensa e o – que leva ao desaparecimento de inúmeros periódicos e a processo de concentração concentraoao — inl’nneros periodicos supremacia de O –, nos anos 1980 0 Globo e do jornalismo popular de O 0 Dia —, 1980 novos cenários transcenarios introduzem um verdadeiro calidoscópio calidoscopio de mudanças mudanoas que marcam as trans— formagoes da imprensa. formações Escolhemos trés três cenários jornalismo econômico, jorcenarios para finalizar finalizar este livro: o jornalismo economico, o jornalismo investigativo e as configurações jornal O configuraooes narrativas do jornal 0 Globo nos anos 2000. Esses temas foram pesquisados por alunos que produzern, produzem, ao falar de questões questoes concon— temporâneas, vestígios temporaneas, vestigios de uma dada história historia da imprensa. Ao escolhê-los escolhé—los prestamos – também uma homenagem a todos aqueles que se dedicam ao estudo dessa história historia — mesmo que seja a do tempo presente —, –, mostrando Inostrando que o conhecimento só so é válido Valido quando carrega em si mesmo a ideia de tributo. Tributo aos que estudaram no passa— passaoontinuamos trilhando, e tributo ao futuro, aos jodo, percorrendo um caminho que continuamos continuarao caminhos que deixamos inconclusos. vens que certamente continuarão

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1“ P PARTE 1ª ART E

1. Tecnologias do d0 novo século (1900-1910)

“O “0 mês més de dezembro de 1899 1899 decorreu, na verdade, na esfera em que eu passava a exercer exereer atiVidade, festivo e animado. Os telea minha atividade,

gramas do Rio de Janeiro, que os jornais maranhenses publieavam, publicavam, anunciavam grandes demonstrações demonstraeoes de regozijo por toda parte. O 0 ‘século ‘século das luzes’ luzes’ ia apagar-se, apagar—se, legando ao que lhe vinha Vinha suceder uma infinidade infinidade de conquistas que o anterior jamais imaginara. Que espantos, que prodigios, prodígios, traria no seu mistério o século que ia surgir? Que nome lhe devia deVia dar, no nascedouro?” naseedouro?” (Humberto de Campos, 1954) 1954)

O texto do livro Memo’rias, Memórias, de Humberto de Campos, escrito na virada Virada do século funda— XIX para o século XX, possui marcas indiciais que revelam alguns aspectos fundamentais para a construção construeao de uma história historia da imprensa a partir dos vestígios vestigios e que começa comeea exatamente na cidade do Rio de Janeiro na alvorada do século XX. No seu texto, Campos faz referência referéneia a um mundo que se torna mais compactado, préximo e publicizado a partir de uma nova máquina maquina que transforma tambem mais próximo também as publicaeoes diarias: o telégrafo. tele’grafo. Graças Graeas a sua implantação implantaeao nos periodicos publicações diárias: periódicos mais importantes da cidade do Rio de Janeiro, a partir de 1874, 1874, ée’ possivel possível noticiar fatos do munate’ provincias longinquas como o Maranhão Maranhao noticias do ocorridos ontem e transportar até províncias longínquas notícias fim do “século “século das luzes” luzes” na capital da recém-criada recém—criada República. Republica. Muito do espanto do fim a que Humberto de Campos se refere certamente diz respeito aos aparelhos tecnolégicos tecnológicos que invadem a cidade. E o tele’grafo telégrafo ée apenas um dos artefatos do progresso que se pais e com mais intensidade na capital da República. Republica. disseminam no país cinematografo, o fonógrafo, fonégrafo, o gramofone, os daguereótipos, daguereotipos, a linotipo, as O cinematógrafo, sao algumas das tecnologias que invadem a cena urbana e o imaginário imaginario Marinonis são Virada do século XIX para o XX, introduzindo amplas transformaeoes social na virada transformações no cenario urbano e nos periodicos cenário periódicos que circulam na cidade. História Cultural da Imprensa

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tecnológicos produz alteração A entrada em cena eena desses modernos rnodernos aparelhos tecnolégicos alteraeao sigsig— nificativa percepção dos que passam a conviver quotidiananifieativa no comportamento comportarnento e na pereepeao quotidiana— mente com corn eles. E nos periódicos periodicos multiplicam-se multiplicarn—se as descrições descrieoes estupefatas com corn as transformações transformaeoes que a tecnológica tecnologica coloca coloea em cena. “No “No salão salao da Rua do Ouvidor, OuVidor, nº no 131, 131, inaugurou-se inaugurou—se anteontem anteontern o kinetoscópio, kinetoseopio, a última ultima invenção inveneao de Edison, que é, como corno todas as do estudioso corn todas as suas e fecundo inventor, maravilhosa. Vimos uma briga de galos com peripécias, peripecias, os aplausos e gestos de entusiasmo dos espectadores. Depois vimos Vimos a dança numa danea serpentina corretamente dançada daneada e por fim fim uma curiosa briga nurna taverna”. taverna”. (Jornal (Jamal do Brasil, 9 dezembro 1894. 1894. Apud Sussekind, 1987:39) 1987:39) O novo invento que permite a visão também anunciVisao de imagens em movimento rnovirnento ée tambe’m anuneiado como “uma das maravilhas deste fim de século”. Dois anos mais tarde, em 21 “urna maraVilhas fim se’culo”. 21 de Jornal do junho de 1896, 1896, o Jamal d0 Commercio descreve com corn detalhes uma outra invenção: inveneao: o cinematógrafo. periódico, este ée em cinernatégrafo. Na avaliação avaliaeao do periodico, ern muito superior ao aparelho de Edison. Se o0 kinetoscópio kinetoscopio possibilita a visão Visao de cenas de forma individual, o 0 cinematógrafo cinematografo permite a apresentação apresentaeao de figuras figuras em tamanho natural e que podem ser vistas público. Vistas de forma partilhada pelo publico. “Todos movimento “Todos nós nos vimos Vimos o kinetoscópio kinetoscopio de Edison, o 0 qual reproduz o movirnento por meio da passagem rápida, rapida, em frente àa retina, de uma série serie de fotografias fotografias instantâneas. instantaneas. Mas no kinetoscópio kinetoscopio as figuras figuras eram pequeninas e só so uma pessoa de cada vez podia apreciá-lo. aprecia—lo. O cinematographo, inventado pelos irmãos irrnaos Lumière, Lumiere, apresenta-nos as figuras figuras em tamanho natural, podendo ser vistas Vistas por um número numero qualquer de espectadores”. espectadores”. (Jornal (Jamal do Commercio, 21 21 de junho de 1896, 1896, p. 3) Também periódicos mais importantes da cidade implantam Tambe’m os periodicos implantarn outros artefatos tecnológicos produzem jornais: jornais: tecnologicos que mudam rnudam significativamente significativarnente a maneira como se produzern maquinas linotipos capazes de substituir o trabalho de até ate’ 12 12 das antigas composições composieoes máquinas maquinas de imprimir irnprimir capazes de “vomitar” “vornitar” de 10 10 a 20 mil exemplares por manuais; máquinas Inaquinas de fotografar capazes eapazes de reproduzir em imagens o que antes apenas hora; máquinas metodos fotoquímicos fotoquirnicos que permitern cliches em ern podia ser descrito; métodos permitem a publicaeao publicação de clichês periodieos transformam gradativamente gradativarnente seus modos de produeao discur— cores. Os periódicos produção e o discurcorn que se autorreferenciam. Passam a ser cada vez mais ícones icones de modernidade, so com eidade que quer ser símbolo simbolo de um novo tempo. numa cidade 0 Rio de Janeiro abre o século se’culo XX modernizando seu centro urbano. No caos da O iluminaeao elétrica, ele’trica, a adoção adoeao da traeao ele’triea nos bondes e a circulação circulaeao cidade, a iluminação tração elétrica automoveis nas ruas causam causarn sensação sensaeao e dão dao o 0 tom da modernização, modernizaeao, dos primeiros automóveis simbolo do novo século. se’culo. símbolo

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Tecnologias do novo século (1900-1910)

As tecnologias capazes de fornecer uma dimensão dimensao àa concepção concepeao temporal e espacial são sao decisivas na conformação conformaeao do novo mundo simbólico simbolico que emerge naquele final final de século. próximo e visível. se’culo. O mundo se torna proximo Visivel. As descrições descrieoes e a possibilidade de ver em longinquos e figuras figuras exóticas exoticas mudam gradativamente a percepeao imagens lugares longínquos percepção de um outro, agora visível, Visivel, e antes apenas imaginado. A possibilidade de saber o que se passa no mundo em poucas horas constrói constroi gradativamente nova espacialização. espaeializaoao. O mundo se torna mais compacto. A temporalidade ganha nova dimensão. dimensao.

Os periodicos, periódicos, sobretudo aqueles que querem consolidar sua força junto ao pfibli— públiforoa junto co e, consequentemente, sua força política, devem implantar de maneira compulsória forea politica, compulsoria novos artefatos tecnologieos, tecnológicos, permitindo maior tiragem, maior qualidade e rapidez na impressão. também diminuir as distâncias público. impressao. É E preciso tambe’m distancias entre o acontecimento aeontecimento e o pfiblico. Rapidez ée’ a palavra de ordem... “Desde “Desde ontem o Jornal do Brasil conta com uma Marinoni dupla, podendo tirar 4, 6 ou 8 paginas páginas de modo que assim conseguiremos satisfazer as exigências exigéncias da nossa extraordinária extraordinaria tiragem, pondo a trabalhar simultaneasimultanea— mente quatro máquinas páginas, cada uma, ou duas máquimaquinas singelas de quatro paginas, maqui— nas duplas para 6 ou 8 páginas. telegráfico aumentou (...) uma paginas. O serviço serVioo telegrafico expedição expedieao biquotidiana para dois sistemas intermediários. intermediarios. Especialmente cuicui— damos de melhorar as fontes de informação informaeao esperando que o Jornal do Brasil não nao deixe de verificar verificar nelas com a maior rapidez, rapidez. completando até ate’ a última filtima hora as recebidas, tudo quanto possa interessar a legião legiao dos nossos amigos leitores”. leitores”. (Jornal (Jamal do Brasil, 11 janeiro de 1901, 1901, p. 1. 1. Grifos nossos) Jornal do Brasil no primeiro dia do ano de 1901, No texto publicado publieado pelo Jamal 1901, fica fica evidente a importância tecnologias tém têm no dia-a-dia publicações. As importancia que as novas teonologias dia—a-dia das publicaooes. rotativas Marinonis possibilitam o aumento da tiragem que naquele ano chega àa extraorextraor— dinaria cifra de 60 mil exemplares. Por outro lado, o telegrafo atualizaeao dinária telégrafo permite a atualização noticias recebidas reeebidas de última filtima hora. Nao constante — – e com rapidez — – das notícias Não ée’ mais possivel possível apenas anunciar o que se passa no mundo, mas ée’ preeiso preciso informar com rapidez. Os jornais constroem um tempo cada vez mais comprimido. oomprimido. “O cabo submarino transformou tudo isso. Quando o pfiblieo “O público pode todas manhas saber que houve na véspera ve’spera um terremoto nos antípodas, antipodas, mandou as manhãs critico dogmático, dogmatico, quis saber com minúcias minficias ao diabo o jornalista politico político e o crítico funeao de repórter reporter cresceu de importânimportan— o que se passava na propria própria terra. A função entao concentrou-se coneentrou—se nele. Uma notícia notieia abala mais o governo do que cia: tudo então nao dão dao ao jornal a tiragem que uma notícia noticia proporcio— 30 artigos e 30 artigos não proporcioTambe’m, a consequência consequeneia disso ée que ja nao há hajornalistas: nos somos, na. Também, já não jornalistas: todos nós

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mas ou menos, repórteres reporteres e ée' dos sucessos da reportagem que mais nos orguorgu— lhamos...” (Idem, (Idem, ibidem) lhamos...” Constrói-se, Constroi-se, pois, paulatinamente, a imagem do jornalismo como conformador da realidade e da atualidade. As tecnologias são atua1idade.As sao fundamentais para a construção construeao do jornalismo como lugar da informação telégrafo torna os aconteciinformaeao neutra e atual. Se o 0 tele’grafo mentos visíveis, próximos ao pfiblico. público. A opinião Visiveis, há ha que informar fatos que ocorrem proximos opiniao é, e’, assim, gradativamente separada de uma ideia de informação informaeao isenta e, neste processo, os novos artefatos tecnológicos tecnologicos desempenham papel fundamental. Temporalidade ou a inscrição inscrieao das atividades atiVidades humanas na duração duraeao ée a forma como os homens apreendem e dão dao significado significado ao tempo. O 0 presente ou o passado ganham múltiplas mfiltiplas significações significaeoes em função funeao da qualificação qualificaeao que lhe atribuímos. atribuimos. Para diferentes indivíduos, individuos, em condições condieoes diversas, os dias, as horas e os minutos, metricamente idêniden— ticos, não heterogêneos nao são sao iguais uns aos outros. O presente ée’ composto de intervalos heterogeneos e incorpora variáveis variaveis cuja extensão extensao depende da complexidade dos acontecimentos percebidos. O presente apreendido por cada indivíduo individuo e guardado na memória memoria revela, pois, um tempo de natureza qualitativa (Pomian, 1984). 1984). Para os periodicos periódicos daquele longínquo – onde se multiplicam as longinquo 1901, 1901, o mundo — tecnologias na esteira do desenvolvimento da energia elétrica – que se transfigura transfigura eletrica — deve ser narrado como um calidoscópio calidoscopio de imagens múltiplas mfiltiplas e que se sucedem sem parar. O sentido dos acontecimentos sempre aponta para o futuro que se instaura permanentemente, capitaneado pelas novas tecnologias que mudam a paisagem sensorial. “Nesta “Nesta cidade, na Rua do Ouvidor, 135, 135, estará estara em exibição exibieao A machina que falla, última quefalla, filtima invenção, inveneao, a mais perfeita do célebre ce’lebre Edison. Boa oportunidade para se conhecer um dos inventos mais estranhos e surpreendentes. Esta máquina também toda a classe de sons, maquina não nao só so reproduz a voz humana, senão senao tambem caneoes, óperas, operas, músicas mfisicas militares.” militares.” (Tinhorão, (Tinhorao, 1981:18) 1981218) como canções, sensaeoes, os jornais não nao Enlevados pela tecnologia que transforma o cotidiano e as sensações, apologe’tico novos aparelhos que revolucionam a cessam de anunciar em tom sempre apologético apreensao do mundo e instauram múltiplas mfiltiplas percepeoes maquina que reproapreensão percepções temporais. A máquina guarda—los num novo tipo de suporte memorável. memoravel. duz os sons também ée capaz de guardá-los Nas publicaeoes diarias, o passado ée frequentemente obliterado. Têm-se Tém-se olhos publicações diárias, inclusao do pais Repliapenas para um futuro inaugurado com a inclusão país num novo tempo: a Repúfiliado obrigatoriamente àa origem colonicoloni— blica. Apaga-se quotidianamente o passado filiado historico que se quer esquecido. Paralelamente, cada diário diario do Rio al, a um momento histórico nao cansa de repetir a sua própria propria história historia nas edições edieoes comemorativas que de Janeiro não missao primordial do jornalismo: ser os olhos e ouvidos ouVidos da sociedade. evocam a missão

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O sentido de tempo fornece qualificações qualificacoes múltiplas multiplas ao passado. Gerações Geracoes que se compõem compoem de maneira desigual e heterogênea heterogénea se organizam em torno de acontecimentos e personagens memoráveis. memoraveis. Gestos, falas, fatos são sao evocados como relíquias reliquias ressuscitadas em festas particulares que instauram um sentido particular para um passa— passado reinventado. Se, por um lado, esses eventos marcos possibilitam trazer de volta o passado, o futuro, ao contrário, contrario, é sempre objeto de projetos, antecipações, antecipacoes, esperas, esperanças. esperancas. Antevisto, se constitui numa espécie de componente do proprio próprio presente. Afinal Afinal as AnteVisto, atividades atiVidades de hoje só so serão serao objetos de plena realização realizacao amanhã. amanha. O início inicio do ano e os seus aniversários aniversarios são 3510 os OS momentos escolhidos pelos jornais diários diarios mais importantes da cidade para informar sobre as maravilhosas tecnologias que os inserem compulsoriamente na modernidade. As novas máquinas não maquinas tornam nao apenas o tempo mais curto, mas os lugares mais proximos: próximos: “Os “Os nossos leitores ficarão ficarao assim a par de todo o movimento das grandes capitais e conhecedores das modificações política internaciomodificacoes que se dão dao na politica internacio— nal. Além Ale’m desse melhoramento, o 0 material tipográfico tipografico será sera completamente transformado a fim fim de que o Correio da Manhã Manha em todos os pontos corresponda às também cuidando de sua parte estética”. as exigências exigéncias de um jornal moderno, tambe’m estetica”. (Correio da Martha, Manhã, 2 janeiro de 1902, 1902, p. 1) l) Dessa forma, o Correio da Marthe? Manhã anuncia a implantação telegráfico na implantacao do serviço servico telegrafico redação, já ocorrera anteriormente em outros diários redacao, acompanhando o que ja diarios da cidade. O Jamal Jornal do Commercio, desde 1º Agên1° de agosto de 1877, 1877, publicava os serviços serVicos da Agencia Havas, que instalara seu escritório três anos antes. escritorio no Rio de Janeiro trés Os periódicos periodicos procuram, assim, na esteira de um novo tempo, no qual a marca mais incisiva ée a sua relação relacao com as novas tecnologias que informam sobre a inclusão inclusao pais num lugar cuja valoração valoracao ée’ positiva, tornar publica Visivel a existência existéncia em do país pública e visível seu cotidiano dos artefatos do progresso. Um tempo que aponta sempre para um futuro. Nesse sentido, a temporalidade espelhada quotidianamente por esses periodicos periódicos Vida de cada indivíduo. individuo. O tempo social do Rio de Janeiro na reproduz a linearidade da vida Virada do século se’culo configura-se configura—se como linear e orientado. No futuro, a redenção. redencao. No virada passado, o esquecimento. Ainda que tenhamos consciência consciéncia que o grau de subordinação subordinacao do presente ao futuro nivel cultural, a vida Vida de cada indivíindivi— varia de acordo com os grupos sociais, a idade, o nível duo ée voltada para o futuro cuja fronteira ée’ tracada traçada além da morte. 350 a rigor intervalos Dependentes dos estados afetivos, passado, presente e futuro são e’, pois, sempre de natureza qualitativa, irreversível irreversivel e desiguais. O tempo psicologico psicológico é, História Cultural da Imprensa

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finito. Não há período compreendido entre o finito. Nao ha possibilidade de vivê-lo ViVe—lo que não nao no periodo nascimento e a morte, em periodos períodos que invariavelmente se sucedem. Se, do ponto de vista também do ponto Vista pessoal, esses instantes são sao marcados pela ideia de sucessão, sucessao, tambe’m de vista Vista coletivo a ordem legítima legitima ée aquela que se estabelece como contínua. continua. E no caso do Rio de Janeiro do início inicio do século, se’culo, o futuro ée sempre alvo de projetos redentores, que deveriam ser gerados num presente que, esquecendo o passado, instaura um novo tempo. Um tempo marcado pela ideia de progresso, em cujo cerne repousa tam— também tecnológica. be’m a questão questao tecnologica.

“Maravilhosa invenção” invencao” “Maravilhosa

“Vi “Vi no Times (...) de 23 ou 31 31 passado, algumas linhas sobre a abertura de uma subscrição subscricao para lançar lancar em Londres, uma nova machina de compor o “Lynotype”. “Lynotype”. Mandei vir Vir de Londres o que há ha a este respeito e recebi hontem uma papelada e uma brochura que há ha algumas explicações explicacoes sobre esta maravilhosa maraVilhosa invenção. invencao. Vi tudo e estou com a cabeça cabega tonta, tal ée a minha admiração”. admiracao”. (Carta de Francisco Picot a José Jose’ Carlos Rodrigues. 4 agosto de 1889. 1889. Grifos nossos) tonta”, a que o diretor A tecnologia que causa admiração, admiracao, deixando-o deixando—o de “cabeça “cabeca tonta”, presidente do Jamal Jornal do d0 Commercio se refere em carta dirigida ao futuro diretor de redação periódico — – José – traz mudanças redacao do periodico Jose’ Carlos Rodrigues — mudancas extraordinárias extraordinarias na forma de fazer jornal e no cotidiano dos profissionais profissionais de imprensa. Em vez da composição sicao em caixas, em que cada letra forma palavras, que por sua vez, compõem compoem linhas, num trabalho manual extremamente especializado, agora é possivel, possível, com a invenção invencao do novo artefato tecnologico, tecnológico, produzir linhas inteiras a partir do simples acionamento de um teclado alfanumérico. alfanume’rico. A possibilidade de compor o texto nas linotipos — sao introduzidas nos jornais – que são jornais 1892, ou on seja, sej a, apenas trés cariocas a partir de 1892, três anos depois que Francisco Picot tomara alteracoes também no cotidiano profissioconhecimento da novidade — – traz profundas alterações profissiotipografos, que são sao gradativamente substituídos substituidos pelo novo nal dos antigos compositores tipógrafos, profissional gráfico: grafico: o linotipista. profissional alteracao não nao se dá da apenas nas oficinas. oficinas. A possibilidade de compor com Mas a alteração ampliacao do número nfimero de paginas mais rapidez o texto permite, por exemplo, a ampliação páginas dos jornais. Mas talvez a mudança mudanca mais drástica drastica tenha sido a possibilidade de se atualizar informacoes num prazo temporal mais curto. as informações “a linotipo permitiu àa redação redacao e ao noticiário, noticiario, margem ampla para um “a serVico de informações informacoes possa abrantrabalho completo, fazendo com que o serviço

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ger os acontecimentos ocorridos a horas adiantadas da noite. No regime de composição composieao manual só so por exceção exceoao a folha era paginada depois de 2 horas da madrugada; ao contrário, contrario, normalmente devia estar pronta a 11 hora. Fora disdis— so, era comprometer a expedição. expedioao. Hoje, com a celeridade do trabalho mecâmeca— nico, a folha opera normalmente a sua reportagem, quer da cidade, quer telegráfica grafica até ate’ cerca de 3 horas, podendo ser paginada, em casos extraordinários, extraordinarios, mesmo às as 4 horas da manhã”. manha”. (O (0 Paiz, 11 outubro de 1910, 1910, p. 1) 1) N

A tecnologia da linotipo ao lado das modernas máquinas maquinas a vapor, que invadem as

publicações da cidade na alvorada do século publicaooes seculo XX, traz na sua essência esséncia a ideia de rapidez. O tempo cotidiano parece estar voltado para um proj projeto eto de futuro que é construído construido no proprio próprio presente. Rapidez ée mais do que uma palavra de ordem: dá da sentido a uma ideia de tempo que se espraia pela sociedade. “O “O trabalho das oficinas oficinas nesse dia foi extraordinário: extraordinario: enquanto uma das máquinas maquinas rotativas, a São $50 Paulo, imprimia a folha dupla da Gazeta, a outra, a Camoes, imprimia a folha especial. Atiragem Camões, A tiragem total das tres três folhas foi de perto de 120 120 mil exemplares, cuja edição edieao esgotou-se esgotou—se inteiramente. (...) A tiragem de 10 justificou, mesmo aos olhos mais severos, a 10 de junho foi a primeira que justificou, extrema previdência previdéncia de que usamos, montando uma máquina maquina que pode ser necessária necessaria para tiragens superiores a 40 mil exemplares. Todas as vezes que o público o reclamar, estamos habilitados a fornecer-lhe publico fornecer—lhe em poucas horas um número tipografia da capital e do império numero de exemplares que nenhuma outra tipografia impe’rio tão rapidamente imprimir”. Notícias, 11 junho de pode tao imprimir”. (Gazeta de Noticias, 11 e 12 12 de junho 1880, 1880, p. 2. Grifos nossos) Mas a adoção adoeao da nova tecnologia de impressão impressao não nao ée a única unica inovação inovaeao introduzida Araújo, Henrique Chaves, Manoel Carneiro e pelo jornal fundado por Ferreira de Araujo, Elisio Mendes em 1875. 1875. Também Tambem a Gazeta ée responsável responsavel pela inauguração inauguraeao na cidade Elísio “j ornal barato, popular, fácil facil de fazer”. fazer”. Para isso de uma nova forma de fazer jornais: “jornal passa a empregar “os “os escritores mais estimados do tempo, que dando a sua colaboracolabora— 9510 àa Gazeta a tornaram querida em todo o pais” (Verissimo, s/d: 72). Alem ção país” (Veríssimo, Além disso, o periodico atraves de pequenos jornaleiros, que pasperiódico inicia o sistema de venda avulsa, através diarios da cidade. sam a gritar por todos os cantos os nomes dos principais diários 03 anos 1880, 1880, a Gazeta custa, quando do seu apareapare— Jornal barato e popular, desde os 2 1875, 40 réis re’is2 o número numero avulso e tem como principal cimento em 2 de agosto de 1875, caracteristica o destaque que dá (121 àa literatura, de maneira geral, e aos folhetins particu— característica particu-

2 Em 1875, 1875,40 40 réis era quanto se pagava pela passagem de bonde mais barata da cidade.

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larmente. Nesse jornal, Machado Noites”, Maohado de Assis escreve os seus “Bons “Bons Dias e Boas Noites”, desde 1882. também crônicas 1882. Publica tambem cronioas de Olavo Bilac Bilao e de Arthur Azevedo. Entre seus colaboradores figuram figuram Raul Pompeia, Silva Jardim e Adolfo Caminha, com corn as “Car“Car— tas Literárias”. Literarias”. periódiAntes do seu lançamento, laneamento, num prospecto de propaganda que anuncia o novo periodi— co, destacam o peso que a literatura teria em suas paginas. páginas. “Ale’rn de um folhetim romance a Gazeta de Noticias dara “Além Notícias todos os dias dará um folhetim da atualidade. Arte, literatura, teatros, modas, acontecimentos aeontecimentos notáveis, Notícias se propoe propõe a trazer ao corrente notaveis, de tudo a Gazeta de Notioias oorrente os seus leitores. A Gazeta de Noticias Notícias fornecerá fornecera aos seus assinantes informações informaooes coco— merciais, que mais possam interessar-lhes, interessar—lhes, procurando assim merecer mereoer a sua benevolência Notícias. Prospecto, s/d) benevolénoia e distinção”. distinoao”. (Gazeta de Notz'cias.

Bilac, Guimarães Guimaraes Passos, Coelho Neto, Pedro Rabelo e Emílio Emilio de Menezes são sao os seus principais colaboradores. oolaboradores. Bilac escreve crônicas cronioas aos domingos. Pedro Rabelo inaugura, em 1900, 1900, a seção seoao humorística humoristiea “Casa “Casa de Doidos”, Doidos”, Guimarães Guimaraes Passos redige 3 sueltos , enquanto Coelho Neto publica folhetins e Emílio sueltos3, Emilio de Menezes prosa e versos. Os artigos de fundo sobre economia eeonomia são sao de autoria de João Joao Lopes Chaves e João Joao do 4 . Com escritório Rio é, e, sem dúvida, duVida, o seu mais popular repórter reporter“. esoritorio na Rua do Ouvidor, OuVidor, 70, a Gazeta tern tem sua oficina tipográfica àa Rua Sete de Setembro, 72 e ée vendida “por oficina tipografioa “por toda a cidade, nos quiosques, nas pontes das barcas, nas estações estaooes de bondes e em todas as estações Notícias. Prospecto, s/d) estaeoes da Estrada de Ferro D. Pedro II”. II”. (Gazeta de Noticias. O uso de ilustrações, núilustraeoes, desenhos a bico-de-pena, ée’ comum desde os primeiros nuAlem de ilustrarem o folhetim, as notícias notioias tambe’m meros. Além também podem ser destacadas com a utilização utilizaeao desses desenhos, que reproduzem ora o retrato do personagem enfocado, ora as construções, construooes, embarcações embarcaooes ou outro tipo de objeto obj eto a que a nota se referia. Anunciando ainda no primeiro ano de publicaeao 12 mil exempublicação uma tiragem de 12 numero e adota diversas estratégias estrate’gias promocionais plares, cinco anos depois dobra esse número “Para compensar o incômodo incomodo de virem Virem no sentido de conquistar novos assinantes. “Para escritorio daremos aos nossos assinantes premios. ao nosso escritório prêmios. Entre esses premios prêmios esta o Almanaque que mandamos fazer para este fim”. fim”. (Gazeta de Notz'cias, está Notícias, 7 janei— janei1880, p. 1) 1) ro de 1880,

3 3 Chama-se Chama—se suelto o pequeno texto opinativo, opinativo, mas com característica caracteristica jocosa e humorística, humoristica, publicado pelos jornais brasileiros desde o início inicio do século. século. 4 4Joao Gazeta, chegando a ser seu redator chefe em 1913. 1913. Em 1915 João do Rio trabalhou durante onze anos na Gazeta, 0 Paiz. Paiz. abandona o jornal, jornal, na época de propriedade de Oliveira Rocha, e vai para O

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– incluindo a utilização – perAs inovações inovaeoes tecnológicas tecnologieas — utilizaeao das modernas rotativas — mitem o aumento sucessivo da sua tiragem. Em abril de 1880, 1880, anunciam a tiragem de 24 mil exemplares. “Julgamos “Julgamos conveniente consignar a tiragem a que se eleva atualmente nossa seeao do parla— folha, de 24 mil exemplares. O interesse que desperta a atual seção parlamento, bem como a expectativa do procedimento do novo ministro, influeninfluenciam, é certo, sobre a tiragem, mas porque não nao podemos prever o que será sera estável, estavel, consignamos o algarismo a que se elevou nestes últimos filtimos meses”. meses”. (GaNotícias, 23 abril de 1880, zeta de d6 Noticias, 1880, p. 1) l) Essas novas seções seeoes que despertam o interesse dos leitores, a que se refere o jornal, são 350 o “Boletim “Boletim Parlamentar” Parlamentar” e o “Diário “Diario das Câmaras”, Camaras”, que, quando deixam de ser publicadas, são sao substituídas substituidas pelos “Assuntos “Assuntos do Dia”. Dia”. Agora, o jornal edita dois foliterarios: um na primeira pagina lhetins literários: página e outro na 3. Definindo—se, desde o primeiro número, nl’imero, como um jornal jovem, a Gazeta de NotiDefinindo-se, Notícias apregoa tambem também a sua propria própria liberdade.

“Um jornal nasce com a idade do espírito “Um jomal espirito de seus redatores. Idade do espírito, espirito, digo, porque embora seja tao tão íntima intima a ligação ligaeao entre a matéria materia e o espírito, espirito, que alguns fazem depender este daquele, há ha homens cuja alma se amolda às as rugas do corpo, como há ha moços moeos cujo espírito espirito envelhece prematuramente. A Gazeta de Notícias tem vinte Notícias, 2 agosto de 1875, Noticias Vinte e... tantos anos”. anos”. (Gazeta de Noticias, 1875, p. 1) l) O ideal de modernidade da Gazeta de Noticias Notícias faz com que todas as inovações inovaeoes editoriais introduzidas, dentre as quais se destaca destaea a valorização valorizaeao dos textos literários, literarios, sejam jovem e moderna. A messej am apresentadas como necessidade para continuar sendo jovem ma modernidade levava a Gazeta, sem se esquecer esqueeer dos preceitos literários literarios de que é a principal divulgadora, a produzir um texto cada vez mais simples, leve, ao gosto de um pfiblieo público mais vasto. formaeao dessa autoidentidade, referenda Por outro lado, na ponta extrema da formação independéncia diante de grupos e facções faeeoes politicas, sempre a sua independência políticas, o que possibilita a mais absoluta liberdade. Na pratica, prática, entretanto, nem essa liberdade existe, como tam— tamnao há ha essa independência. independéncia. bém não A prosperidade leva a outras modificações modificaeoes de natureza te’cniea. eonseguir técnica. Para conseguir necessario importar uma nova máquina maquina rotativa, até ate’ então entao elevar a sua tiragem, ée necessário desconheeida pelos periodicos 10 de junho de 1880, 1880, anuncia a inauguinaugu— desconhecida periódicos da cidade. Em 10 raeao da máquina maquina rotativa de Marinoni, capaz de imprimir 20 mil exemplares por ração “Camoes”, em alusão alusao àa comemoração comemoraeao dos 300 anos do hora, a quem deram o nome de “Camões”, poeta portugués. português. História Cultural da Imprensa

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No mesmo jornal, reproduzem um desenho da máquina, maquina, tomando para si o 0 papel de divulgadores da nova tecnologia, ao mesmo tempo em que justificam justificam a ousadia, tendo em vista o0 crescente aumento da tiragem e a expectativa de ultrapassar a marca de 40 mil exemplares.

Essa expectativa, entretanto, só so se cumpriria nos primeiros anos do século se’culo XX. Na década de’cada de 1890, 1890, cinco anos depois do início inicio do funcionamento da nova máquina, maquina, o jornal ainda divulga uma tiragem de 35 mil exemplares. O número avulso permanece nfimero permaneee a 40 réis re’is e a assinatura de seis meses ée’ de 6$000 e a anual 12$000, 12$000, sendo o jornal mais 5 barato da cidade . eidade5. perióA partir de 1900, 1900, uma série serie de inovações inovaooes redacionais passa a fazer parte do perio— dico. dieo. A de maior sucesso de público pfiblico ée’ a introdução introdueao da coluna Binóculo, Binoculo, uma espécie de crônica cronica da sociedade, escrita por Figueredo Pimentel e que se transforma, no dizer dos cronistas terra”. eronistas da época, e’poea, na “bíblia “biblia das elegâncias elegancias da terra”. “Não “Nao há ha quem o não nao leia. A elite devora-o. devora—o. É E nesse plano de prosa que o 0 Dr. Ataulfo de Paiva vai aprender a melhor maneira de colocar a cartola eartola na cabeça; cabeoa;

onde o0 Sr. Humberto Gottuzzo toma conhecimento eonhecimento da cor da moda para as suas gravatas e onde os smarts urbanos e suburbanos aprendem, a proposito propósito de elegância gancia e de chic, coisas eoisas edificantes.” edificantes.” (Edmundo, 1957:955-956) 1957:955-956) Graficamente jornal tambem também muda. É Graficamente o jomal E impresso em oito colunas e utiliza invariavelmente ilustrações página. O número ilustraooes e caricaturas na sua primeira pagina. nfimero avulso custa 100 100 re’is. E em primeiro de janeiro ja réis. já anunciam a sua nova tiragem: tiragem: 40 mil exemplares. As transformações transformaooes não nao param aí. ai. Em 1907, 1907, importam da Alemanha uma máquina maquina capaz de imprimir até ate cinco cores, publicando o primeiro clichê cliche a cores. A partir de então entao o feitio pesado do jornal muda. Aos domingos edita um suplemento literário, literario, com desenhos coloridos e fotografias fotografias ilustrando um texto em que figura figura sempre o “Cinematografo”, comentários comentarios dos dias da semana, algumas poesias, um conto eonto e artigos. “Cinematógrafo”, A prosperidade do periodico, contrario do Correio da Marthe? periódico, ao contrário Manhã e do Jamal Jornal do Brasil, deve—se menos a sua venda avulsa do que aos vultosos contratos eontratos firmados firmados com Brasil, deve-se

orgaos municipais para a publicação publicaeao dos atos oficiais ofieiais da Prefeitura. Em abril de os órgãos 1901, por exemplo, assina contrato com a Diretoria Geral de Interior e Estatística, Estatistica, 1901, servieo o Jamal d0 Commercio que publica esses atos desde 1890. 1890. substituindo nesse serviço Jornal do 38033000 por quatro editais sobre a proibieao Oito anos depois a Prefeitura paga 380$000 proibição de artificios nas ruas. (Publicações. (Publicaeoes. Códices Codices 45-4-35 45-4—35 e 44-4-20. 44-4—20. AGCRJ) queimar fogos de artifícios

5 5 Só so a título titulo de comparação, comparagao, 100 réis era o 0 preço prego da travessia de barca Rio-Niterói Rio—Niteréi e seis mil-réis (6$000) (6$OOO) ocasiao, a um dia de trabalho de um operário operério gráfico. gréfico. equivalia, na ocasião,

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A imagem e o leitor A primeira pagina edioao comemorativa de 15 15 de novem— página do Jamal Jornal do Brasil da edição novembro de 1900 – inteiramente tomada por ilustrações 1900 — ilustraooes reproduzindo cenas das tecnologias que invadem a imprensa na virada – é um bom Virada do século XIX para o século XX — indicador não público mais vasto e nao apenas das estratégias utilizadas para atingir um urn pfiblico 6 , mas também para refletir parcamente alfabetizado alfabetizado6, refletir sobre a importância importancia da represenrepresen— tação imagética taoao image’tica na sociedade.

Mesmo antes da introdução introduoao da fototipia na imprensa, que possibilita o uso de fotografias, proliferação das revistas ilustradas, os jor— jorfotografias, fundamentais também para a proliferaoao nais diários diarios mais populares utilizam as ilustrações ilustragoes como representação representaoao privilegiada da vida páginas, observa-se Vida urbana. Nessas paginas, observa—se uma espécie de redefinição redefinioao do olhar que passa a existir no início inicio do século XX. página do dia 15 – que ocupa Na ilustração ilustragao principal da pagina 15 de novembro de 1900 1900 — terço superior — – os artefatos tecnologicos tecnológicos que permitem a rapidez todo o primeiro teroo necessária necessaria àa divulgação divulgaoao de notícias noticias estão estao representados: o telégrafo e suas linhas jornal transmissoras, o navio naVio a vapor e, 6, em cm destaque, a impressora que possibilita ao jornal representagao em imagem que imprimir 60 mil exemplares. Por outro lado, é essa representação permite a leitura intensiva e extensiva do periodico. periódico. No mesmo jornal, na part6 sao colocados lado a lado. parte inferior, cinco desenhos são

O primeiro mostra um tipo de pfiblico público ao qual o jornal jornal se autoatribui o papel de defensor: os pobres e6 os OS oprimidos. Abaixo, a figura figura do repórter reporter que toma nota das últimas telefônico. A filtimas novidades, que chegam ao seu conhecimento via Via aparelho telefonico. mobilidade que a tecnologia coloca ao seu dispor possibilita também a rapidez desejada desej ada profusão. pela imprensa para a divulgação divulgaoao das notícias noticias sempre atualizadas e6 em cm profusao. página, uma alegoria da imprensa, representada pela figura Ainda na mesma pagina, figura femifemi— alcanoa o universo, tal o seu poder de visualizar Visualizar amplamente o que se passa nina, que alcança fotografias encerram a visão Visao do jornal sobre seu papel na sociedasocieda— no mundo. Mais duas fotografias de: a do pequeno jornaleiro que distribui o periodico periódico pelas esquinas da cidade e a bem—vestido, que certamente representa um urn tipo imagem senhorial de um personagem bem-vestido, de pi’lblico público a quem o jornal precisa atingir: os grupos dirigentes.

6 6 O aumento real e a diversificação diversificagao da população, populagéo, decorrentes, em parte, parte, do afluxo de libertos e imigrantes periodo entre 1870 e 1890 registrasse um dos maiores crescimentos demográficos demogréficos da fizeram com que o período 1872, 274.972 é a população populagao do Rio de Janeiro. Janeiro. Dezoito anos depois este número namero atinge 522.651. 522.651. cidade. Em 1872, 1900, o seu contingente populacional jé 0 Rio de Janeiro com 621.565 moradores é Em 1900, já ultrapassa 600 mil e o pais e a 3 única (mice com mais de 600 mil habitantes. habitantes. Desse contingente, contingente, pelo menos a mais populosa cidade do país populagéo é constituída constituida de analfabetos (Lobo, (Lobo, 1978:448-453). 1978:448-453). 80% da população

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O Jamal Jornal do público como um calidoscópio a’a Brasil se apresenta a seu pfiblico ealidoseopio de imagens, nas quais cenas em que procuram reproduzir a realidade figuram ao lado de alegorias. Se os artefatos tecnológicos teenologieos estão estao representados em detalhes, se o 0 repórter reporter apresenta-se apresenta—se com a indumentária indumentaria que reproduz a sua ação aeao quotidiana, se o 0 pequeno jornaleiro de fato sobraça página imagens figuradas sobraea dezenas de exemplares de jornais, há ha na mesma pagina figuradas que apelam a um universo simbólico. simbolieo. Assim, a utilização utilizaeao da ilustração ilustraeao como eomo uma espécie espe’eie de arremedo da imagem técnica – que logo ocupará – constecnica — oeupara lugar de destaque na imprensa — cons— trói troi paulatinamente o seu caráter carater aparentemente objetivo, obj etivo, fazendo com que sejam sej am olhaolha— das como espécies Ao lado da pretensa representação espe’eies de janelas e não nao como eomo imagens. A0 representaeao do real, figuram outras ilustrações ilustraeoes que dizem respeito a um regime de representação representaeao anterior. Nesse sentido, a imagem ée’ ainda em muitos momentos alegoria pura. Entretanto, ée compreensível compreensivel que, em meio àa mudança mudanea de sentido introduzida por artefatos que querem reter o0 real — – do som que se transforma em voz ou canção, caneao, das imagens vistas películas —, –, a imagem teenitécniVistas pela retina e que poderiam ser fixadas em pelieulas ca adquira lugar de supremacia em todas as publicaeoes. publicações. Como suporte fundamental de memória, memoria, como monumento-documento, no sentido de que além alem de refletir refletir o que se passa no mundo, tambem também guarda nas paginas páginas impressas o proprio próprio mundo, a imprensa passa a reproduzir uma visão próxima do olhar. Visao de mundo que se constrói constroi como proxima Além disso, ante uma cultura urbana caótica, caotica, há ha que existir uma representação representaeao privilegiada do “real” “real” que marca de forma definitiva aquilo que alguns autores classificam como modernidade. Nesse sentido, o0 real ée apenas e tão-somente tao-somente as representarepresenta— ções eoes (Charney e Schwartz, 2004:27).

Lorenzo Vilches, Vilehes, na abertura do seu livro La lectura de la imagen (1995), afirma Virgem, porque retém retem preViamente es— que nenhuma imagem ée’ um espelho virgem, previamente a face do espectador. peetador. As imagens na comunicação eomunicaeao de massas são sao textos culturais que contêm contém o mundo real ou possível, possivel, incluindo o espectador. Os textos revelam o leitor na sua propria imagem. própria a’a Brasil dos 1900, 1900, contido nas narrativas do jornal, certamente eertamente O leitor do Jamal Jornal do “escrito” através de desenhos que são sao colocados eolocados lado a lado. Olhando sabe identificar o texto “escrito” sequéncia decodificam decodifieam a mensagem: trata—se as imagens em sequência trata-se de um jornal moderno, que informaeoes. É E tambem usa a mais inovadora tecnologia para difundir com rapidez as informações. também um jornal que para além ale’m de informar inforrnar procura intermediar as queixas e reclamações reelamaeoes do pfibli— públi0 Jamal a’a Brasil modela sua popularidade na esteira da construção construeao de uma autoimagem co. O Jornal do nao tém fundamental: defensor daqueles que não têm quem propugne por eles. circulaeao e tiragem ée’ preciso se Mas para que de fato se torne o jornal de maior circulação diarios. Numa ciei— transformar numa verdadeira revista ilustrada dos acontecimentos diários. dade cuja maioria absoluta da populaeao população ée analfabeta, a textualidade da imprensa se informaeao através atraves da imagem. faz pela possibilidade de transmitir a informação

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O mais popular diário, diario, desde 1894, 1894, orgulha-se orgulha—se também de publicar os palpites do jogo do bicho, as marchas dos cordões cordoes e blocos carnavalescos e6 os OS crimes, segundo os

cronistas de época, tao tão ao gosto de um público pfiblico mais vasto. Ser popular é6' atingir os ainda não nao alinhados entre os leitores tradicionais. É E ser o 0 jornal dos caixeiros, dos balconistas, dos empregados de comércio, dos militares de

baixa patente, dos trabalhadores em geral (Lobo, 1896:16). 1896:16). Mas não nao é apenas o destaque “aos “aos crimes sarabulhentos, às as notícias noticias hediondas, às as tragédias quotidianas” quotidianas” (Rio, 1987), 1987), ocupando mais de 50% do seu noticiário, noticiario, que

caracteriza essa busca de uma gama mais variada de leitores. A partir de 1900, 1900, o – criando edições jornal abre grandes espaços espaoos às as ilustrações ilustraooes — edigoes especiais ilustradas às as quintas e domingos — – num pioneirismo rapidamente imitado pelos outros periodicos. periódicos. Com ilustrações páginas inteiras, resumindo as noticias notícias da semailustraooes a bico de pena de paginas na sob a forma de caricaturas, inovando ao criar “o palavras”, na verdade “o conto sem palavras”, uma espécie de história Jornal do historia em quadrinhos sem fala, o Jamal a’a Brasil valoriza as imagens — – ainda em forma de desenho — – em detrimento do texto. Essa busca de popularidade só so começa, comega, na verdade, em 1894, 1894, quando é vendido àa firma Mendes & Cia., ex-proprietária eX-proprietaria do Diaria a’a Commercio, Cammercia, e passa a ser chefiado chefiado firma Diário do Jornal do pelo advogado Fernando Mendes de Almeida. Até então entao o Jamal a’a Brasil pouco se so diferencia dos periodicos periódicos mais tradicionais. Fundado em 9 de abril de 1891, 1891, por Rodolfo Dantas, ministro da Educação Educaoao do Impe’rio, e tendo na gerência geréncia comercial o ex-administrador eX—administrador do Jamal a’a Commercio, Cammeraia, Império, Jornal do afirma—se no artigo de apresentação apresentaoao com o dever de Henrique de Villeneuve, o jornal afirma-se fiscalizar fiscalizar os abusos do poder, acima das convicções convicooes ideológicas. ideologicas. Entretanto, era nitidamente monarquista, tendo entre os fundadores Joaquim Nabuco, que assume a cheche— fia fia de redação redaoao em junho daquele ano. No seu primeiro ano, custa 40 réis o exemplar e as assinaturas anuais são sao de 12$000 12$000 ale Naticias. e as semestrais de 6$000, o mesmo preoo preço da Gazeta de Notícias. No primeiro ano, com a tiragem ainda modesta de 5 mil exemplares, muito longe dos 60 mil que ja já inicio do século se’culo XX, é6' vendido principalmente na Zona Sul da cidade imprimem no início pelos meninos que gritam ao pfiblico ediooes é público o nome da nova folha. O restante das edições carrooas aos quiosques que se espalham pelas ruas centrais da cidacida— levado por quatro carroças 1940). de, que, ao lado de diversos outros artigos, também vendem jornais (Coelho, 1940).

Com o0 agravamento da crise entre o periédico periódico e o Governo Republicano, logo apos a entrada de Joaquim Nabuco para a sua chefia, chefia, o Jamal a’a Brasil tem sua após Jornal do oficina depredada em 16 16 de dezembro de 1891. 1891. Rodolfo Dantas e Nabuco deixam o oficina jornal, ficando ficando Villeneuve apenas alguns meses para efetuar a transioao. transição. Em abril de 1892 passa a ser propriedade de uma sociedade anônima, anonima, cujos sócios socios majoritários majoritarios 1892 sao Ferreira de Almeida e o 0 Conde de Figueiredo. são História Cultural da Imprensa

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Em maio de 1893, 1893, ée de novo vendido, assumindo Rui Barbosa o cargo de redator chefe. Sob a censura do estado de sítio, sitio, contrariando ordens expressas do Governo 10 de outubro tropas do Floriano, noticia a Revolta da Armada e na madrugada de 1º governo invadem a sua redação redacao e as suas oficinas, oficinas, ocupando-o militarmente. Sua edição já 950 ée’ suspensa por mais de um ano, só so voltando a circular, em novembro de 1894, 1894, ja sob nova direção. transformações que são direcao. A partir daí dai passa por drásticas drasticas transformacoes sao responsáresponsaveis pelo proprio próprio slogan criado pelo periodico: periódico: “o popularíssimo”. “o popularissimo”. Essa fase começa comeca a se caracterizar por profundas alterações alteracoes na estrutura empresaempresa— rial, administrativa, redacional e editorial. Dividindo esquematicamente a empresa em variados setores, o Jamal Jornal do a’a Brasil separa, na sua estrutura administrativa, a redação redacao da administração administracao e das oficinas. oficinas. Compõe-se técnicas, onde estão Compoe-se das seguintes seções: secoes: redação; redacao; seções secoes tecnicas, estao composição, composicao, paginação, paginacao, máquinas, maquinas, oficinas oficinas de obras, estereotipia, fotogravura, fotozincografia, fotozincografia, galvonoplastia, encadernação reviencadernacao e eletricidade; e os demais serviços servicos que englobam reVisão, sao, expedição, expedicao, almoxarifado e correio. A redação, redacao, por sua vez, também ée’ dividida diVidida em setores, onde trabalham os repórtereporteres e redatores: o redator de plantao; plantão; o encarregado de atender aos pobres; o redator de Palcos e Salões telegráfico, pelas notícias Saloes e os responsáveis responsaveis pelo serviço servico telegrafico, noticias da Marinoticiario policial, pelo foro, comércio come’rcio e esporte. Na redação redacao fica fica ainda a nha, pelo noticiário seção secao de desenhos, àa qual dedica especial atenção atencao (Lobo, 1896:18). 1896:18). A prosperidade do jornal dessa nova estruturação estruturacao ée’ assombrosa. Seis anos depois

dessa transformação transformacao administrativa, que leva igualmente a uma profunda mudança mudanca redacional/editorial, imprime uma segunda edição – a vespertina —– e adquire o edicao diária diaria — controle da Revista da publicação semanal do Jamal Jornal do a’a Semana, que passa a ser uma publicacao da Brasil. Editam além páBrasil. alem dos inúmeros infimeros romances, publicados anteriormente em suas paedicao mensal — a’a Jamal cla ginas sob a forma de folhetim, uma edição – o Guia Mensa] Mensal do Jornal do Brasil — edicao anual — cla Jamal a’a Brasil. – e uma edição – o Anuaria Anuário do Jornal do Vista editorial, o 0 periodico inovacoes. A profusao Do ponto de vista periódico introduz diversas inovações. profusão ilustracoes, o que leva àa criação criacao de uma edição edicao ilustrada — cla Brasil de ilustrações, – oa Jamal Jornal do Ilustraa’a 1898; a pretensa isenção isencao nas notícias, noticias, que recebem um cunho claraclara— Ilustrado —ja – já em 1898; opiniao politica mente informativo, deslocando a opinião política para duas colunas semanais; a edi950 de notícias noticias e ilustrações ilustracoes que se referem ao cotidiano dos habitantes da cidade; a ção critica concentrada nas caricaturas; a publicacao cancoes populares e crítica publicação das modinhas e canções inclusao de uma seção secao de passatempo podem ser alinhadas entre as mudanças mudancas mais a inclusão marcantes. O jornal publica diariamente os palpites para o jogo jogo mais popular da e’poca — época – o0 do bicho — – sob a forma de quadrinhas:

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“Não “Nao preciso de do concurso / De palpite de quem quern quer / Há Ha de do dar o gato ou o urso / Só janeiro de 1900, so perderei se quiser”. quiser”. (Jornal (Jamal do a’a Brasil, 4 janeiro 1900, p. 1) 1) Além de tudo isso, faz questão questao de referendar o seu papel de intermediário intermediario entre a

população e o poder pfiblico, público, de defensor dos pobres e dos oprimidos, abrindo espaço populaoao espaoo às – com as “Queixas “Queixas do Povo”, Povo”, ou incluindo nas suas caricaturas a figura figura do Zé Povo — corn uma fala expressiva — – ou ainda definindo-se definindo—se claramente neste papel. “Vítima prepotência ou de um abuso, a primeira lembrança tem o0 “Vitima da prepoténcia lembranoa que tom homem do povo é exclamar: Vou queixar-me queixar—me ao Jornal do Brasil! Brasil! E vem efetivamente e6 nós nos o 0 ouvimos com a maior atenção, atenoao, aconselhando-lhe calma e prudência, prudéncia, tornando-nos advogados de sua causa”. causa”. (Jornal (Jamal do a’a Brasil, 15 15 novembro novernbro de 1902, 1902, p. 2) Essa estratégia editorial faz com que de fato o jornal fosse “deveras – popularissirno. popularíssimo. O Jornal do Brasil é as“deveras e desvanece-se de ser — as— exceléncia e do agrado desse povo que quotidiaquotidia— sim, o jornal popular por excelência namente lhe dá proda provas de simpatia e incentivo àa manifestação manifestagao do seu pro— grama”. (Idem, (Idem, ibidem) ibia’em) grama”. páginas — – sai com A necessidade de aumentar o número nfimero de exemplares e de do paginas corn quatro nos dias de semana e6 com – leva-o a adquirir o número corn oito aos domingos — nfirnero 54 da Rua Gonçalves Gonoalves Dias, para ali instalar a distribuição distribuioao e a expedição, expedigao, abrindo espaço espago no nún11mero 56 para as novas máquinas maquinas rotativas, que dividem as instalações instalaooes com a administração e a redação. têm agora quatro máquinas traoao redagao. As oficinas oficinas tém Inaquinas impressoras, sendo uma género até então: entao: Marinoni, a mais moderna no gênero “Desde poden“Desde ontem ontern o Jornal do Brasil conta com uma Marinoni dupla, poden— paginas, de modo que assim conseguiremos satisfazer do imprimir 4, 6 ou 8 páginas, exigéncias da nossa extraordinária extraordinaria tiragem, pondo a trabalhar simultaneasimultanea— as exigências maquinas singelas de 4 paginas maquinas mente quatro máquinas páginas cada uma, ou duas máquinas (Jamal do a’a Brasil, 11 janeiro 1901, p. 1) 1) duplas para 6 ou 8 paginas”. páginas”. (Jornal janeiro de 1901, Ainda em 1900 1900 realizam obras na sede da rua Gonçalves Gonoalves Dias, embora ja estej am já estejam preparando a transferência transferéncia para aaAvenida 14 de outubro de 1904 1904 lançam lanoarn Avenida Central. Em 14 mudanga da redação redaoao e das oficinas oficinas para o a pedra fundamental da nova sede, mas a mudança so ocorrerá ocorrera em 12 12 de janeiro de 1910. 1910. novo prédio só 1900, imprime uma edição edioao ilustrada aos domingos e outra às as quintas-feiras. quintas—feiras. Desde 1900, A primeira custa 200 réis e publica, em paginas páginas inteiras de caricaturas, o retrospecto segoes de quebra-cabeça quebra-oabeoa e modinhas populares também ilustrailustrado da semana, seções

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das; uma seção seeao de modas, com as últimas filtimas novidades parisienses e dezenas de outros desenhos a bico de pena. Aos domingos são página, dois fosao publicados, na segunda pagina, lhetins, igualmente ilustrados. torna-se comum a ilustração A partir de 1901 1901 torna—se ilustraeao das matérias materias policiais, publicando ao lado do texto desenhos a bico de pena que reproduzem a cena do crime. Ou Cu o 0 ilustrador faz o croqui a partir de “uma tragédia” ou da “uma fotografia fotografia tirada no local da trage’dia” 7 visão que pessoalmente presenciara . A ilustração, mesmo antes da introdução Visao presenciara7. ilustraeao, introdueao do processo teenico técnico de fototipia que permitiu a publicaeao publicação de fotografias, fotografias, passa a figurar figurar ao lado do texto não nao mais com o sentido crítico critico e opinativo, mas para dar a sensação sensaeao de veracidade àa informação. informaeao. Essa necessidade da imagem significando significando o 0 real faz parte de um movimento cultural mais amplo que se instaura a partir da segunda metade do século seculo XIX, quando a descrição – fosse ela do ambiente ou de pessoas — – passa a ser gradativamente descrioao fotográfica fotografica — vista tecnologia que Vista como instrumento eficiente efieiente para reproduzir o 0 real e a verdade. A teenologia se espalha pelos múltiplos tributária da ideia de repromfiltiplos universos culturais da cidade ée tributaria dução dueao fidedigna. fidedigna. Seja do som, seja da imagem. A imagem passa a conter em si mesmo a ideia de verdade. Por outro lado, a construção trueao da cena sob a forma impressa torna presente o ausente e permite a fixação fixaeao da própria propria atualidade. Atual deixa de ser o que se passa no mundo, para ser aquilo que em se passando está páginas das publicaeoes. publicações. E de preferéncia preferência sob a forma de esta nas paginas significam dodo— imagem. Ilustrar, num primeiro, e fotografar, num segundo momento, significam cumentar episódios presença e inauepisodios e fatos contemporâneos, contemporaneos, fornecendo forneeendo indícios indieios da presenea gurando a noção noeao de tempo real (Przyblyski, 2004:357). A imagem sob a forma de ilustração, ilustraeao, mas realizada a partir da fotografia fotografia que estan-

ca o0 tempo ou a partir do olhar daquele que presenciara a cena, congela o instante passado, tornando-o presente, isto é, atual. verossimil. Neste sentido, despedespe— Carregada de atualidade, essa imagem ée’ tambe’m também verossímil. figurativo e passa a ser dotada espontaneamente de se de todo e qualquer elemento figurativo funeao referencial. É E vista Vista como a possibilidade de transmitir o 0 real. Verossímil, Verossimil, sua função Vida, sendo fiel fiel àa “realidade” “realidade” neste sentido, ée’ aquilo que é capaz de reproduzir a vida, 1995:21). (Ricoeur, 1995:21). Ao ser vista Vista por um aparelho técnico teenico — neutralida— – e portanto carregado da ideia de neutralidareporter que está esta presente na cena do de — – a imagem estanca o tempo. Nao Não ée apenas o repórter

“A infeliz Guilhermina, vítima vitima do desastre de ontem na Rua Beneditinos (croquis tirado do natural pelo Cf. “A In: Jornal Jorna/ do Brasil, Brasil, 17 janeiro de 1901, 1901, p. 2 e “O “O cadáver cadaver de Luiz Carlos da nosso companheiro J. Arthur)”. Arthur)”. In: Detengao”. In: In: Jornal Jorna/ do Brasil, Brasil, 11 11 outubro de 1900, 1900, p.1. p.1. Cunha, a partir de uma fotografia tirada na Casa de Detenção”. 7 7Cf.

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acontecimento, aconteeimento, mas o repórter reporter e a máquina maquina capaz de captar eaptar o 0 real. No jornal essa imagem se transfigura transfigura em uma outra, a ilustração, ilustraeao, que continua carregando o mesmes— Vista como corno neutra, atual e objetiva. Os mo real presumido. A imagem passa a ser vista preceitos centrais que irão preeeitos irao construir emblemas do jornalismo desde os anos 1900 1900 estão estao lançados. laneados. O Jamal Jornal do parece, ao iniciar publicação ala Brasil em quase nada se pareee, inieiar o século, séeulo, com a publicaeao surgida em 1891. Na primeira página a coluna de maior destaque é “Telegramas”, 1891. pagina e “Telegramas”, reproduzindo as correspondências correspondéncias exclusivas exelusivas enviadas de Lisboa, Porto, Paris e Roma, além página 2, continuam ale’m de outras de diferentes estados do País. Pais. Na pagina eontinuarn as notícias notieias policiais, eiais, as “Queixas “Queixas do Povo”, Povo”, “Palco “Palco e Salões”, Saloes”, ao lado de outras colunas fixas. fixas. Na 3, o “Enigma “Enigma Pitoresco” Pitoresco” dá da o 0 resultado do jogo de bicho, além ale’rn das “Notícias “Noticias Avulsas do Comércio”, Nacional”. A pagina página 4 ée’ toda tomada por anúncios. Comereio”, “Exército” “EXército” e “Guarda “Guarda Naeional”. anuneios. Aos domingos, incluem as “Modinhas “Modinhas Populares” Populares” e uma seção seeao de passatempo. Atribuindo-se o papel de benfeitor dos pobres, tern tem ainda um Atribuindo—se urn serviço serVieo regular de recebimento de donativos em dinheiro que são sao distribuídos distribuidos às as pessoas que procuram a redação redaeao para este fim. fim. “O “0 Sr. João J050 Batista Pereira mandou-nos mandou—nos a quantia de 20$ em comemoraeomernora— ção Noêmia, para que façamos eao ao aniversário aniversario de sua filhinha filhinha Noemia, faearnos chegar ehegar às as mãos maos Virginia de Jesus, em ern tratamento no Hospital da Misericórdia. Misericordia. Hoje da infeliz Virgínia mesmo nos desempenharemos dessa grata incumbência”. ineurnbéncia”. (Jornal (Jamal do a’a Brasil, 2 janeiro de 1900, 1900, p. 1) 1) Em 1906, 1906, passa a ser presidido por Carvalho de Morais, tendo como acionista aeionista Ernesto Pereira Carneiro, responsável responsavel pela parte comercial cornercial e financeira. financeira. A mudança mudanea acionária acionaria não nao influencia influencia no sucesso sueesso empresarial do jornal. Publica, então, entao, de cinco einco a seis edições edieoes diárias diarias e, em 1912, 1912, introduz as primeiras máquinas maquinas de escrever na redareda— eao. Quatro anos mais tarde possui um dos maiores parques gráfico grafico da imprensa irnprensa brabra— ção. 12 máquinas maquinas linotipos, 3 monotipos Inonotipos e a mais moderna impressora. sileira, com 12 acionario do Jamal a’a Brasil muda Inuda de mãos maos mais uma vez no final final dos O controle acionário Jornal do 10: em 1918, 1918, o Conde Pereira Carneiro adquire o jornal anos 10: jornal da Mendes & Cia. e direeao do periódico, periodico, nomeando como redator chefe o futuro fundador dos assume a direção Diarias Diários Assaciaa’as, Associados, Assis Chateaubriand.

redaeoes As redações A reprodução reprodueao fotográfica fotografica da redação redaeao do Jamal cla Brasil na virada Virada do século seculo XIX Jornal do para o XX coloca coloea em cena tambérn invadern não nao apenas também os artefatos teenologicos tecnológicos que invadem História Cultural da Imprensa

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as oficinas, oficinas, como eomo também as redações. redaeoes. Na ampla sala do primeiro andar da Rua Gonçalves ealves Dias, onde funciona inicialmente inieialmente o jornal, a luz elétrica se sobressai na imagem. A0 Ao fundo, na parede que a separa do setor de desenhos e gravuras, um relógio relogio marca marea invariavelmente a nova temporalidade na qual estão estao imersos os jornais diários. diarios. O acesso a este pavimento se faz por “uma “uma elegante e bem trabalhada escadaria de ferro, torcida podem-se ver os redatotoreida em espiral” espiral” (Lobo, 1896). 1896). Entrando-se Entrando—se na sala podem—se redato— res trabalhando nas suas bancas, lendo as notícias que escrevem em tiras, que vão baneas, notieias Vao em seguida para o redator chefe e dali para a composição. composieao. tem o seu lugar determinado. Na mesa proxima próxima àa escada fica Na redação, redaeao, cada um urn tern fica o redator de plantao, plantão, encarregado “de “de receber as reclamações, reclamaeoes, as notícias, noticias, as retificaretifica— ções, goes, enfim enfim tudo que diz respeito àa folha do dia seguinte”. seguinte”. Em seguida, o encarregado enearregado de atender os pobres: “serviço “servieo espinhoso e difícil, dificil, tal ée o número nfimero extraordinário extraordinario de infelizes, que vão Vao buscar ali os óbolos obolos que a caridade e a benemerência benemeréncia dos leitores da diariamente”. Mais adiante, outros redatores e repórteres, reporteres, resfolha lhes distribuem diariamente”. ponsáveis ponsaveis pelas diversas seções. seeoes. No centro da redação, redaeao, a grande mesa onde “se “se colocavam os jornais do dia e do estrangeiro” estrangeiro” (Lobo, 1896). 1896). A reportagem, por sua vez, é dividida diVidida em dois setores: a informação informaeao local e o serviço telegráfico do interior e do estrangeiro. As notícias servioo telegrafico noticias da cidade, ou as “locais”, “locais”, como se chamava na época, e’poca, são sao desvendadas por hábeis habeis repórteres reporteres que se espalham pelas diversas repartições. repartiooes. Essa informação informaeao é ainda complementada com o trabalho cc esporte 99 , “policial” cc policial” e outros, criando cada dos repórteres reporteres dos “teatros “teatros e concertos”, concertos ,, , “esporte”, jornal rubricas próprias. proprias.

O serviço servieo telegráfico telegrafico é feito pelos correspondentes e, principalmente, pelo recebirecebi— mento das notícias noticias das agências agéncias de informação. informaeao. “Além publicida“Além do serviço servieo combinado com um dos primeiros órgãos orgaos de publicida— de do continente americano amerieano e dos seus correspondentes literários literarios em Lisboa, provincias de Portugal, Paris e Roma, o 0 Jornal do Brasil tern Porto, províncias tem corresMontevi— pondentes telegraficos telegráficos especiais em Paris, Roma, Londres, Lisboa, Montevide’u e Buenos Aires, recebendo, em média, media, pelo cabo submarino de seiscentas déu diarias”. (Jornal (Jamal do Brasil, 11 janeiro 1901, p. 1) 1) a mil palavras diárias”. janeiro de 1901, Apesar da importância importaneia desse tipo de informação, informaoao, que ocupa geralmente as primeiearas paginas, páginas, a reportagem local ganha cada vez mais destaque. O sensacional, as catastrofes quotidianas e a notícia noticia inédita despertam o interesse do pfiblieo tástrofes público e fazem importaneia do trabalho do repórter. reporter. aumentar a importância cronicas do cotidiano, subindo os Esses passam também a escrever verdadeiras crônicas religioes populares, montando reportagens em morros, descrevendo os bastidores das religiões

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série temas. Algumas vezes, sorio sobre sobro curandeirismo, ourandoirismo, favelas favolas eo outros tomas. vozos, vale-se valo-so de do expedioxpodientes ontos não nao muito éticos o’ticos para conseguir consoguir a reportagem roportagom inédita inodita eo sensacional. sonsaoional. Bisbilhotar as conversas textos sobre convorsas alheias, alhoias, ler lor sorrateiramente sorratoiramonto toxtos sobro uma mesa ou mesmo mosmo em om bonbon— des, tamdos, são sao apenas aponas algumas das ações aooos para conseguir consoguir o furo de do reportagem. roportagom. Podem Podom tam— bém bo’m se so transformar em om outro personagem porsonagom para elaborar olaborar a sua história. historia. “Uma tentar no Rio a vida “Uma gentil gontil senhorita, sonhorita, que quo veio voio de do Minas tontar Vida de do imprenimpronsa, entrou ontrou para a redação rodaoao da Rua eo engendrou ongondrou uma reportagem roportagom muito interesintorossante. pedir agasalho santo. Fingiu-se Fingiu—so de do transviada eo foi ao Asilo do Bom Pastor podir penitência eo regenerar-se. para fazer fazor ponitoncia rogonorar—so. Muniu-se Muniu—so de do uma minúscula minfisoula kodak eo desembarcou dosombaroou no misterioso mistorioso convento, convonto, onde ondo a superiora suporiora a recebeu rocobou com benigbonig— nidade Não podo, pode, entretanto, permanecer no asilo mais de nidado eo bons conselhos. consolhos. Nao ontrotanto, pormanooor do 48 horas, porquo, porque, segundo parece, um sogundo parooo, urn jornalista, por motivos desconhecidos, dosconhooidos, a denunciou teve de donunoiou àa superiora suporiora como espiã, ospia, eo ela ola tovo do regressar rogrossar da tranquila mansão 350 das madalenas madalonas arrependidas arropondidas para o seio soio buliçoso buliooso dos repórteres roportoros de do onde ondo saíra, saira, num momento momonto de do original inspiração”. inspiraoao”. (O (0 Paiz, 16 16 maio de do 1914, 1914, p. 2) Os acontecimentos têm cada vez preferência do pfiblioo. público. As granacontocimontos policiais tom voz mais a proforoncia gran— des político xX descobriu dos massas desdenham dosdonham a notícia notioia se so “o “0 politico doscobriu uma fórmula formula ou apresentou aprosontou um projoto projeto capaz de do salvar a Pátria”. Patria”. Mas se so há ha “uma tragédia na rua tal, com tiros, facadas, mortes, torrente de “uma trago’dia mortos, uma torronto do sansan— gue viguo eo diversas divorsas outras circunstâncias circunstancias dramáticas, dramaticas, as turbas se so interessam, intorossam, Vi— bram, tom tem avidez avidoz de do detalhes, dotalhos, querem quorom ver vor os retratos rotratos das vítimas, Vitimas, dos crimicrimi— nosos, dos policiais empenhados Paiz, 26 junho junho de omponhados na captura destes”. dostos”. (O (0 Paiz, do 1914,p.l) 1914, p. 1) E o jornal conclui. “Como pode o repórter polícia deixar “Como podo roportor de do policia doixar de do fazer fazor verdadeiros vordadoiros romances-folhetins? público, cuja psioologia psicologia é, romancos—folhotins? A culpa não nao éo’ deles, dolos, éo’ do gosto do pfiblico, o, alias, muito compreensível”. comproonsivol”. (Idem, (Idem, ibidem) aliás, A valorização valorizaoao do ineditismo inoditismo também tambo’m transforma o trabalho. O repórter roportor passa a ser sor olomonto principal para a composição composioao da notícia. notioia. Dele Dolo se so espera ospora “o “o furo de do reportaroporta— o elemento gom”, a informação informaoao sensacional, sonsacional, todos os detalhes dotalhos do fato. O que quo importa para o leitor loitor gem”, “a notícia, notioia, a impressão improssao do fato, o fato com todas as suas minúcias, minfioias, todos os seus sous éo “a pormonoros, sous detalhes”, dotalhos”, pormenores, todos os seus “o leitor loitor apressado aprossado não nao queria quoria pensar, ponsar, não nao tinha tompo “o tempo para acompanhar rofloxoos filosóficas, filosoficas, passa por cima oima de do todas as considerações oonsidoraooos de do longas reflexões ordom social eo politica; diga—lho o que quo passou, como se so passou, em om que quo concon— ordem política; diga-lhe diooos se so deu dou o fato que quo o ocupa, pinto-lho carator dos protagonis— dições pinte-lhe o tipo eo o caráter protagonis-

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tas, e se for possivel possível fazê-lo fazé—lo sem palavras, pela fotografia fotografia tanto melhor!” melhor!” (O (0 junho de 1914, Paiz, 26 26junho 1914, p. 1) 1) Observa-se, jorObserva—se, pois, que as bases para a construção construeao do ideal de objetividade do jor— nalismo, que seriam aprofundadas com corn as reformas por que passariam os jornais cincin— quenta anos mais tarde, estão estao lançadas laneadas na virada Virada do século seculo XIX para o XX. A rigor, o mito da objetividade objetiVidade deve ser percebido na longa duração, duraeao, como um simbolismo construído próprias empresas jornalisticas jornalísticas e pelos jornalistas para assim cunhar construido pelas proprias uma distinção, distineao, no sentido que confere a esta palavra Bourdieu (1989), ou um lugar autorizado de fala. Quando no início – em função inicio dos anos 1900, 1900, o texto aconselha que o jornal deve — funeao da nova temporalidade em que está esta imerso o cotidiano da cidade e de seus habitantes – dizer o que se passou, como se passou e em que condições; — condieoes; está, esta, de fato, inventado aquilo que anos mais tarde seria conhecido como lide. Tudo isso, utilizando-se do ideal máximo maximo de reprodução reprodueao da realidade e da verdade. Daí Dai a importância importancia cada vez mais crescente da fotografia, fotografia, que, longe de representar o 0 real, ée construída construida como sensen— do em essência próprio real. esséncia o proprio Terminada a reportagem, esta ée’ entregue ao secretário, secretario, que, por sua vez, a passa ao chefe da paginação. – tipologia do titulo, título, destaque, paginaeao. Decididos os aspectos gráficos graficos — ilustração, – a pagina página ée enviada àa estereotipia e daí ilustraeao, etc. — dai àa impressão. impressao. O trabalho na redação redaeao dos matutinos se intensifica intensifica por volta das 9 horas da noite. O fechamento se dá da por volta da meia-noite. meia—noite. A voz do secretário, secretario, em tom grave, avisa aVisa que não nao há ha mais tempo a perder. Todos se levantam. Os que ainda não nao concluíram concluiram suas notícias noticias juntam as tiras escritas para terminar o trabalho nas oficinas. oficinas. Os que ficam plantão tem têm que aguentar até Há um ficam de plantao ate as 3 ou 4 horas da manhã. manha. Ha revezamento permanente de repórteres reporteres e redatores neste trabalho de aguardar que na cidade, no país pais ou no exterior aconteça aconteea algo que mereça mereea a descrição descrieao pormenorizada Ha noites em que o trabalho ée tranquilo. Apenas os telegramas das de suas penas. Há agéncias nacionais e estrangeiras ou notícias noticias policiais sem importância. importancia. agências Ha dias, entretanto, que um grande incêndio, incéndio, uma impressionante trage’dia Há tragédia passional, terrivel desastre ferroviário ferroviario movimentam os repórteres. reporteres. O secretário secretario se agita e dá da um terrível instrueoes: “Olha “Olha a hora! hora! O jornal não nao pode atrasar!”. atrasar!”. instruções: secretario planta—se 1ado dos repórteres. reporteres. Passa as vistas Vistas rapidamente pelas O secretário planta-se ao lado oficina que, por sua vez, as retranca retranca88 e distribui aos tiras, entrega-as ao chefe da oficina

8 8 Chama-se Chama—se retrancar retrancara identificagéo necessária necesséria à a paginação paginagéo que é indicada em cada texto: texto: a página pégina que irá iré a identificação ilustragao que receberá, receberé, a rubrica onde ficará ficaré localizada, localizada, entre outras. outras. ocupar, o tipo de ilustração

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linotipistas. Tudo feito rapidamente: cinco minutos depois da entrega, a composição composieao está esta revisada e paginada (Netto, 1977, 1977, p. 21, 67 e 70). Os paginadores, em volta da mesa, distribuem-se no trabalho de colocar fios, fios, e outro ajuda os emendadores. O secretário secretario acompanha os retoques finais finais com ansiedaansieda— de, consultando o relógio já está relogio a cada momento. Chega a gravura. Seu lugar lugarja esta reservareserva— do na página, pagina, na medida exata que o gravador antecipadamente fornece. Fundida a telha, a gravura ée nela adaptada por meio de solda, em segundos apenas. Começa Comeea então já pode ser ajustado entao o processo de estereotipia. Três Trés minutos depois o 0 material ja àa rotativa. E ao leve toque do impressor em um botão, botao, a pesada máquina maquina vai se mexendo lentamente, solta um silvo agudo, que sai da polia, e ganha gradativamente velociveloci— dade. De suas entranhas mecânicas meeanieas começa comeea a sair a folha, encadernada e dobrada. Das Marinonis, das Walter Scott e de outras rotativas, as notícias, notieias, transformadas em folhas impressas, saem aos milhares e ganham as ruas em busca dos leitores, assinantes assíduos assiduos ou compradores eventuais, para quem o grito dos meninos apregoanapregoan— do os jornais diários diarios é a senha para o conhecimento do que se passa no mundo.

Senhores do tempo Essa senha ée’ dada, sobretudo, pelos mais importantes periodicos periódicos em circulação circulaeao na cidade na alvorada do século se’culo XX. Segundo informação informaeao do escritor Olavo Bilac, Bilae, as cinco – o Jamal Jornal do Brasil, o0 Jamal Jornal do Commercio, cineo mais importantes folhas da cidade — 9 Gazeta de Noticias, Notícias, Correio da Marthe? Manhã e O – tiram juntas 150 . 0 Paiz — 150 mil exemplares exemplares9. Numa cidade de pouco mais de 600 mil habitantes, observa-se observa—se o extraordinário extraordinario poder de difusão difusao desses impressos. Cada um desses periodicos, periódicos, ao lado das revistas de críticas não criticas e de costumes que nao cessam de surgir, destina-se público em potencial. Em função destina—se a um publico funeao disso, adaptam seu texto e o suporte que lhe dá da sustentação sustentaeao ao gosto desse leitor. Enquanto a Gazeta de Notz’cias literario dava o 0 tom da preferencia, Notícias procura atingir um publieo público cujo gosto literário preferência, o Jamal estrategias no sentido de atingir um leitor de menor grau Jornal do Brasil multiplica as estratégias instrueao e, sobretudo, menor poder aquisitivo. Também popular procura ser o 0 Corde instrução circulaeao de seu primeiro número numero em 15 15 de junho de 1901. 1901. reio da Mani/1d, Manhã, desde a circulação oeorre a partir de 1875 1875 com a Gazeta de Noticias, Tal como ocorre Notícias, o0 Correio revoluciona informaeao em detrimento da opinião. opiniao. As noticias o jornalismo ao valorizar a informação notícias

9 9Segundo critico José Veríssimo, Verissimo, os jornais mais importantes da cidade possuíam possuiam uma tiragem conjunta em Segundo o crítico instrugéo e a imprensa. Rio de Janeiro: Janeiro: s.e, s.e, s.d. s.d. Já Jé Olavo Bilac, Bilac, torno de 100 mil exemplares. Cf. Verissimo, Veríssimo, A instrução Literério (1994), se refere a uma tiragem global de 150 mil exemplares. exemplares. no Momento Literário

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policiais, o dia-a-dia dia—a—dia dos grupos populares, as reportagens, as entrevistas entreVistas assumem lugar de destaque. Por outro lado, a crônica cronica passa a ser mais valorizada, ligada a temas do cotidiano, do que o próprio página de seu interior. proprio folhetim, impresso no rodapé rodape de uma pagina Fundado pelo advogado e ex-colaborador eX—colaborador de Rui Barbosa, em A Imprensa, o 0 Correio da Marthe? Manhã ée caracterizado por Edmundo Bittencourt, desde o início, inicio, como um jornal de oposição. oposicao. Funcionando no antigo endereço periódico dirigido por Rui Barbosa, de quem endereco do periodico Edmundo adquire as máquinas prédio 117 matuInaquinas e arrenda o pre’dio 117 da Rua Moreira Cézar, Ce’zar, o matu— ern oito paginas, corn oito colunas em cada uma. tino ée impresso inicialmente em páginas, com O jornal, que valoriza, ao lado dos temas politicos, políticos, a literatura, dedica o rodape rodapé da terceira pagina página ao folhetim diário, jornais na diario, ao contrário contrario do que acontece com os jornais década página 1. de’cada anterior, quando esse tipo de texto ocupava espaço espaco nobre na pagina 1. Manhã para se As estratégias estrategias editoriais, redacionais e administrativas do Correio da Marthe? tornar um urn jornal popular atravessam toda a primeira década decada do século. se’culo. As mais expressivas são, sao, sem dúvida, dfiVida, a inclusão inclusao de colunas de queixas e reclamações reclamacoes na esteira do sucesso conseguido pelo Jamal Jornal do Brasil, com a publicacao publicação de suas “Queixas Povo”. “Queixas do Povo”. Ainda em ern junho de 1901, 1901, incluem a coluna “Pelos “Pelos Subúrbios”, Subfirbios”, publicando notas diversas 10 sobre os bairros servidos . serVidos pela E.F. Central do Brasil e arredores e seus moradores moradoreslo. publicação dessa fala ée constante no jornal. Alern Além das cartas avulsas, algumas A publicacao assinadas e outras não, nao, edita as queixas dos habitantes da cidade, recebidas pessoalmente ou por carta, intermediando pedidos ao poder pfiblico, público, tambern também através atrave’s da coluna “Reclamações”. “Reclamacoes”. Ainda no primeiro ano de seu funcionamento começam comecam a publicar os telegramas distribuídos Agência Havas na coluna “Pelo distribuidos pela Agéncia “Pelo Telégrafo”. Telegrafo”. 1902, publicam as primeiras fotos na capa e no interior (a primeira foto apareEm 1902, ce em 30 de novembro de 1902, 1902, na coluna “Correio “Correio dos Teatros”) Teatros”) e, no ano seguinte, secao de anúncios anfincios com o resultado do jogo de bicho sob a iniciam na pagina página 4 a seção “Roda da Fortuna”. Fortuna”. Passam Passarn tambe’rn as vezes funcionando rubrica “Roda também a editar charges, às 1905 aparecem sob o nome como chamada, no alto da primeira pagina, página, que a partir de 1905 “Cinematografo”. de “Cinematógrafo”. oposicao ao Governo, empreende uma virulenta Virulenta campanha contra CamCam— Jornal de oposição funcao disso tern 19 de novembro de pos Sales. Em função tem a sua publicacao publicação suspensa em 19 1904, só so voltando a funcionar em 15 15 de dezembro do mesmo ano, mesmo assim tendo 1904, redacao. que conviver com um censor diariamente na sua redação.

1° Correio da Manhã, Manhé, 18 18 e 22 junho de 1901, 1901, p. 2. 2. Em 1910, 1910, “Pelos “Pelos Subúrbios” Subarbios” muda de nome para “Correio “Correio Suburbano” e, ainda no mesmo ano, ano, passa a se chamar “Subúrbios “SubL’eios e arrabaldes”. arrabaldes”. Para a análise analise do jornal Suburbano” segue, pesquisamos as edições edicoes do Correio da Manhã Manha" de 9 junho de 1901 1901 a 31 31 dezembro de 1910. 1910. que se segue,

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Todas essas transformacoes transformações são sao ainda maiores a partir de 1905. 1905. Nesse ano, além alem de publicar extensas reportagens, verdadeiras crônicas cronicas do cotidiano da cidade, abusa da transcricao transcrição integral de documentos e desloca a crônica cronica literária literaria para o lugar do artigo de fundo. O Correio da Mani/167 Manhã passa a ser fundamentalmente um jornal informativo nos dias de semana e literário literario aos domingos. Paralelamente, o noticiário noticiario policial invade em manchetes, inicialmente em corpo 18, mas já nos anos seguintes em até páginas. Logo abaixo 18, ja ate corpo 48, as suas primeiras paginas. da manchete o resumo da notícia, títulos entrecortados, anuncia o novo noticia, em pequenos titulos estilo do jornalismo sensacionalista. “Desmoronamento – Duas Vítimas – Quadro “Desmoronamento — Vitimas — Terrível – Os mortos — – As providências – Encontrados corpos —– No Necroterio Necrotério —– Terrivel — providencias — – Um dia aziago —– O predio prédio em que se deu o desastre —– Antes de Notas Diversas — demolida a parede principal.” principal.” O estilo entrecortado do texto faz supor um leitor titubeante seguindo as letras impressas das notícias tragédias do cotidiano noticias de crimes e tragedias que se espalham por todo o jornal. própria notícia, publicação de fotografias A ilustração ilustracao passa a integrar a prépria noticia, com a publicacao fotografias que reproduzem o momento da tragédia. trage’dia. Nas matérias mate’rias policiais publica sempre o retrato do assassino e da vítima, Vitima, sendo a foto invariavelmente da cena do crime. Mas não nao são sao apenas as notas policiais que merecem o destaque e a sensação sensacao de veracidade da fotografia: fotografia: os grandes homens, os grandes feitos, o desenvolvimento desenvolVimento e o progresso dos nossos navios naVios são sao reafirmados reafirmados pela imagem fotográfica. fotografica. Dez anos depois do aparecimento de seu primeiro número, Manhã nfimero, o Correio da Manhd muda quase que inteiramente. Nos dias de semana, o artigo de fundo, crítico critico e que destaca a campanha oposicionista do jornal no momento, ainda ée assinado por Gil Vidal. Aos domingos, com uma feição páginas. Na feicao mais literária, literaria, ée impresso em 14 14 paginas. primeira, Carmem Dolores, o pseudonimo Emilia Moncorvo Bandeira pseudônimo da jornalista Emília de Melo, divide o espaço política dos sete dias espaco com “Traços “Tracos da Semana”, Semana”, uma resenha politica cronica de Arthur Azevedo. Na pagina anteriores, assinada por Costa Rego e com a crônica página 2, cronicas, algumas destinadas ao pfiblico outras crônicas, público infantil, e poesias, além de transcricoes de pequenas pecas variacoes, ções peças teatrais. As seguintes reproduzem, com pequenas variações, secoes dos dias de semana. as mesmas seções As fotos agora utilizam novos recursos gráficos graficos para ganhar ainda mais destaque, superposicao. Na matéria mate’ria principal, mais de uma foto ée quase como o recorte e a superposição. entreVistas podem ser feitas para esclarecer masempre editada ao lado do texto. As entrevistas te’rias nao envolvem apenas personagens de relevo da térias publicadas anteriormente e não Vista gráfico grafico o jornal assume definitivamente definitivamente a edisociedade. E ainda do ponto de vista cao das matérias materias em duas colunas, introduzindo a manchete de pagina, ção página, seguida de subtitulos maiores. subtítulos

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Se as estratégias redacionais e editoriais introduzidas pelo mais novo matutino carioca carioea são sao inúmeras, infimeras, não nao menos numerosos são sao os recursos administrativos e empresariais utiliutili— zados para conquistar um pfiblico público cada vez mais amplo e heterogêneo. heterogeneo. Para isso deve ser um produto de venda fácil preço determina essa característica. facil e intensa. E o preeo caracteristica. 11 . Assim, ée um dos mais baratos da cidade, custando o exemplar avulso 100 100 réis re’is“.

De 1901 1901 quando aparece o primeiro número nl’imero até ate 1910 1910 aumentam sua tiragem de 3 mil para 30 mil exemplares. No final da primeira década final de’eada do século seculo alardeiam com orguorgu— lho o fato de o0 jornal ser distribuído distribuido não nao só so na cidade como em outras unidades da federação. federaeao. Também Tambe’m ée motivo para orgulho seguidamente referendado o fato de ser maquinas Marinoni e utilizar papeis PriouX impresso em modernas máquinas papéis importados da Casa Prioux & Cia, de Paris. Nesse breve panorama da imprensa na cidade do Rio de Janeiro na alvorada do século Jornal do se’culo XX, dois outros jornais são sao também dignos de nota: o Jamal d0 Commercio e O Paiz. Ainda que seja, do ponto de vista das estratégias estrate’gias redacionais e editoriais, o que menos muda, o Jamal Jornal do d0 Commercio é, e’, sem dúvida, dfivida, o que mais modifica modifica sua feição feieao empresarial para atender aos anseios do poder público, pfiblico, que efetivamente lhe dá da sustentação. política, tentaeao. Mantendo seu caráter carater conservador e de apoio irrestrito àa sociedade politica, o0 jjornal, ornal, fundado em 1827, 1827, passa por uma drástica drastica mudança mudanea na sua estrutura empresarial, a partir de 1890, periódico José 1890, quando assume o 0 controle do periodico Jose’ Carlos Rodrigues.

Em 17 17 de outubro daquele ano, o antigo correspondente nos Estados Unidos, em conjunto com mais 23 associados, adquire o jornal pela quantia de tres três milhões milhoes e re’is (3.500:000$000), uma verdadeira fortuna na época. e’poca. Com quinhentos contos de réis isso se torna sócio socio solidário, solidario, gerente e redator chefe. Para isso, um empréstimo empre’stimo por subscrição présubscrieao pública pfiblica ée solicitado ao Banco do Brasil. Como garantia são sao dados os predios que a empresa possui nas ruas do Ouvidor, Quitanda e Travessa do Ouvidor. Nova orientação orientaeao ée dada ao jornal: as seções seeoes são sao ampliadas, dilata-se dilata—se o noticiário, notieiario, “0 verdadeiro defensor com o intuito de torna-lo torná-lo mais abrangente, sem deixar de ser “o Brasil” (Senna: 1901). 1901). das classes conservadoras do Brasil” re’is Cinco anos depois, o lucro anual do jornal ée da ordem de 300 mil contos de réis ofieinas do jornal (300:000$000). Emprega 429 pessoas, sendo 220 tipografos tipógrafos nas oficinas diario e de obras e 66 pessoas na redação, redaeao, sendo 20 efetivos e 46 colaboradores. Entre diário tipografos, pessoal das máquinas, maquinas, entregadores e dobradores trabalham nas oficinas oficinas tipógrafos, operarios. Há Ha ainda dois paginadores e 50 revisores, enquanto na administração administraeao 349 operários.

11 Na época, cem réis ($100) correspondia ao valor de uma passagem de bonde. bonde.

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12 12 pessoas se revezam. Nestes números nl’imeros não nao estão estao incluídos incluidos os suplentes, aprendizes e serventes (Jornal técnicas tambem também são (Jamal do cla Commercio, Cammercia, 1908). 1908). As inovações inovacoes te’cnicas sao marcantes a partir de então. entao. três máquinas No início inicio do século seculo possuem trés maquinas Marinoni, capazes de imprimir, de uma única páginas, num total de 10 I’mica vez, entre oito e 16 16 paginas, 10 mil exemplares por hora. Há Ha também duas máquinas páginas, com tambem maquinas menores que podem imprimir duas ou quatro paginas, tiragem de 12 12 mil exemplares por hora. A oficina oficina de obras possui sete máquinas. maquinas. O três para jornal tem ainda uma oficina oficina para fundir tipos com seis máquinas, maquinas, sendo trés fio, outra para laminar entrelinhas e a última filtima para cortar fundir, uma para laminar o fio, espaços espacos de corpo 5 a 14. 14. Em junho de 1906, 1906, ao ser lançada lancada a pedra fundamental do seu novo edifício edificio àa já possui 12 Avenida Central, ja 12 máquinas maquinas de impressão impressao e nove para fundição fundicao de tipos, ocupando cinco prédios pre’dios da Rua do Ouvidor OuVidor e dispondo de luz elétrica eletrica em todas as suas instalações, instalacoes, desde 1901. 1901. Do ponto de vista Jornal do Vista editorial, na primeira década decada do século, o Jamal cla Commercio Cammercia introduz algumas modificações, modificacoes, sem, entretanto, abandonar o seu estilo eminenteeminente— mente opinativo, com uma mancha gráfica grafica que ocupa toda a sua extensão, extensao, sem a valovalo— rização rizacao da ilustração ilustracao ou outros recursos gráficos. graficos. É E editado em oito colunas, com 272 linhas em cada uma e invariavelmente em corpo 7. AgênNa primeira página pagina os “Telegramas” “Telegramas” reproduzem notícias noticias divulgadas pela Agencia Havas e por seus correspondentes nacionais e internacionais; a “Gazetilha”, “Gazetilha”, colecole— tânea das notícias tanea noticias mais importantes do dia, e o “Folhetim”, “Folhetim”, que ocupa todo o rodapé rodape’ da página. pagina. Na “Gazetilha” “Gazetilha” destaque igual ée dado às as notícias noticias nacionais, enviadas pelos correspondentes, às polícia. Ao contrário as notas teatrais e a um ou outro caso de policia. contrario dos periódicos mais populares da cidade não periodicos nao valorizam os dramas cotidianos, os crimes tragédias diárias. passionais, as tragedias diarias. aspiracao de ser popular, fazendo questão questao de acentuar o seu transito Sem a aspiração trânsito entre a classe orgulha—se de ser “o “0 jornal das classes conservadoras, lido pelos politicos, dominante — – orgulha-se políticos, pelos negocios, pelos funcionários funcionarios graduados” graduados” —, a’a Commercio Cammercia ée o periodico homens de negócios, –, o Jamal Jornal do periódico a’a Brasil. mais caro do Rio: a sua assinatura ée o dobro da do Jamal Jornal do nao há ha grandes mudanças mudancas editoriais no mais tradicional periodico, Se por um lado, não periódico, secoes e colunas, introduzidas em profusao, explosao das pequenas as seções profusão, permitem a explosão noticias, tornando-o tornando—o mais fácil facil de ser lido. Por outro lado, o jornal passa — notícias, – tal como os 12 reportagens”.. seus concorrentes — – a valorizar as reportagens

12Em 1907 publicam, por exemplo, uma série de reportagens assinadas por Euclides da Cunha sobre Em maio de 1907 Jorna/ do Commercio, maio 1907, p. 1. a Transacreana. Cf. Jornal

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Como em qualquer indústria – ou fábrica – parodiando a propria própria definição industria — fabrica — definieao de seu sócio prédio de seis socio majoritário majoritario quando do lançamento lanoamento da pedra fundamental de seu predio andares em concreto armado, situado na Avenida Central, há rígida divisão ha uma rigida divisao e hierarquia do trabalho. Na redação, redaeao, os responsáveis responsaveis pelas seções seeoes dividem a tarefa de escrever. Tudo isso premido pelo tempo. O 0 jornal agora tem hora certa para sair das oficinas ofieinas para as ruas e, neste contexto, o tempo se torna fator preponderante. O tempo da apuração apuraeao das notas, o tempo da redação redaeao das notícias, noticias, o tempo da sua distribuição, distribuieao, tudo ée regulado pela premência também toma preméneia de um uma nova realidade temporal que tambem conta da cidade. Vizinho ao Jamal Jornal do particid0 Commercio, na Rua do Ouvidor, um outro matutino partici— pa deste processo de modernização modernizaeao da imprensa na cidade: O 0 Paiz. Fundado em 1º 10 de outubro de 1884, 1884, ée’ dirigido nos primeiros anos por Quintino Bocayúva, Bocayuva, seu mentor intelectual, que com a ajuda financeira proprietário, o comerciante João financeira do proprietario, J050 José Jose’ dos Reis Junior, vai construindo gradativamente o jornal. Se inicialmente passa por sérios se’rios problemas financeiros, financeiros, que se refletem refletem nas suas instalações – “um instalaeoes — “um casarão casarao velho, sombrio, a pedir a esmola de uma boa picareta, a graça providencial” (Edmundo, op. graea de um desabamento, ou então, entao, um incêndio incéndio provideneial” op. cit.: cit: 929) —, –, a partir do momento em que passa a ser propriedade de João Joao Lage, começa comeea também o seu periodo período áureo, aureo, construído construido em função funeao das suas ligações ligaeoes com o poder. Vivendo das benesses do poder publico público e do que recebia em troca de apoio explícito explicito aos dirigentes, sejam prospesej am estaduais, municipais ou nacionais, O 0 Paiz constrói constroi sua prospe— ridade na razão política. razao direta de suas ligações ligaooes com a sociedade politica. Essa prosperidade faz com que, em pouco menos de dez anos após apos a nova fase, mude, em novembro de 1904, 1904, para uma suntuosa sede, de quatro andares, na esquina de Avenida Central com Rua Sete de Setembro, ocupando 36 metros de frente da rua e com 20 metros de altura. A entrada de João Joao Lage como gerente comercial do jornal se dá da em 1899. 1899. Cinco eontrole acionário acionario do jornal, aproveitando-se aproveitando—se da ida do anos depois passa a ter o0 controle emprestimo conseguido junto principal acionista a Portugal para, com um empréstimo junto ao Banco Republica, comprar suas ações. aeoes. da República, mudanea de propriedade, muda tambe’m chefia de redação redaeao do periodico. Com a mudança também a chefia periódico. Bocayuva se afasta da Presidência Presidencia da Diretoria da Sociedade desde abril de Quintino Bocayúva 1902, passando a ter o 0 cargo de Presidente Honorário. Honorario. Nessa mesma Assembleia, 1902, chefia de redação. redaeao. A Assembleia Geral dos Acio— Eduardo Salamonde ée mantido na chefia Acio1904 elege nova diretoria — J050 Lage, Quintino nistas em agosto de 1904 – composta por João Bocayuva e Rodolpho Abreu — ratifica a substituição substituieao de Eduardo Salamonde da Bocayúva – e ratifica chefia de redação, redaeao, em razão razao de seu estado de saúde, saude, por Dunshee de Abranehes. chefia Abranches.

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No ano seguinte, Alcindo Guanabara assume o 0 cargo. Salamonde volta a ser redator

chefe do periodico periódico em 1910. 1910. O periódico de 1884, 0 Paiz desse início inicio de século se’culo ainda lembra o periodieo 1884, quando anunciam diaria de 12 12 mil exemplares. Em 1900, 1900, ainda com as mesmas quatro uma tiragem diária páginas impressas, escondem propositadamente esse número paginas numero no slogan “O “O Paiz ée’ a circulaeao da America Sul”. folha de maior tiragem e de maior circulação América do Sul”. O exagero ée’ flagrante. própria estrutura redacional, comparada com a de flagrante. A sua propria outros diários, diarios, invalida essa afirmativa. afirmativa. Com parcos recursos gráficos, graficos, com poucas ilustrações, ilustraeoes, também tambe'm dão dao destaque àa literatura. A crítica critica literária literaria assinada por Frota Pessoa ocupa o espaço página. A0 Ao lado, os “Telegramas” espago nobre da primeira pagina. “Telegramas” reproduzem as notícias página com pequenas notas policiais. Na 2, noticias do exterior, dividindo a pagina publicam o 0 “Memorial”, “Memorial”, “Avisos “Avisos Especiais”, Especiais”, “Declarações” “Deelaraeoes” e o “Folhetim”. “F olhetim”. EventuEventu— almente divulgam as críticas público na coluna “Queixas criticas e anseios do publico “Queixas e Reclamações”. Aluísio de Azevedo, Gonzaga Duque, Júlia eoes”. Medeiros e Albuquerque, Aluisio Julia Lopes de Almeida são sao os seus colaboradores mais ilustres. Adotando mudanças mudaneas gráficas graficas e editoriais com mais lentidão lentidao do que os seus concon—

correntes, eorrentes, O 0 Paiz, a partir de 1905, 1905, aumenta extraordinariamente o número numero de suas páginas, em função paginas, funeao dos anúncios, anuncios, principalmente oficiais, oficiais, que publicam diariamente. Os Atos Oficiais páginas. Paralelamente àa Oficiais da Prefeitura ocupam oeupam por vezes até ate’ 10 10 paginas. publicação desses editais, os elogios a todos os governos aumentam em suas edições. publieaeao edieoes. Só so cinco anos depois, O 0 Paiz adota, com mais intensidade, as inovações. inovaeoes. Em 1910, página, e ha há a 1910, as ilustrações ilustraeoes são sao frequentes tanto no interior, como na primeira pagina, edição edieao das primeiras fotografias. fotografias. Tendo sempre elogios para os governos govemos de quem recebe claramente apoio sob forma de publicidade, O 0 Paiz atravessa toda a década decada de 1910 1910 envolvido envolVido em escândalos, eseandalos, criticriti— cando jornais concorrentes e sendo achincalhado por eles, mas, sobretudo, valendo-se eando os jomais valendo—se relaeoes com o poder para continuar se mantendo, apesar de ser cada vez de suas estreitas relações distancia em termos de crescimento empresarial em relação relaeao aos concorrentes. coneorrentes. maior a sua distância A relativa prosperidade do jornal no início inicio da década de’cada de 1910 1910 não nao impede a sua “quase falência”, faléncia”, ja 1915. Começa Comeea aí ai uma longa crise, atribuída atribuida ao aumento do “quase já em 1915. preeo diminuieao geral da sua receita, e que culmina com o preço do papel de imprensa e àa diminuição ineéndio na sede do jornal dois anos depois. O prejuizo balaneo de 1915 1915 incêndio prejuízo expresso no balanço eontos de réis. re’is. No ano seguinte, mais uma vez, amargam novos pre— ée superior a 300 contos pre13 juizos. 1917, o jornal deve mais de quase 600 contos de réis réis”.. juízos. Em 1917, 13 Cf. Ata da daAssembleia Extraordinéria de 18 nov. nov. 1909, 1909, publicada em O 0 Paiz, Paiz, 18 dezembro de 1909, 1909, p. p. Assembleia Geral Extraordinária Balango da Sociedade SociedadeAnénima de1915, 0 Paiz, Paiz, 16 janeiro de 1916. 1916. Ata da Assem— 3; Balanço Anônima O Paiz de 1915, publicado em O AssemExtraordinéria de 30 junho de de1917,publicada 0 Paiz, 22 julho de 1917, 1917, p. p. 2. bleia Geral Extraordinária 1917, publicada em O 13

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Esses cinco periodicos periódicos participam intensamente do movimento da criação criaeao de um novo tipo de jornalismo que muda drasticamente o padrao padrão editorial das publicaeoes. publicações. Editando com destaque notícias noticias policiais e reportagens envoltas em carga de neutralineutrali— dade, procuram construir uma representação representaeao ideal da sociedade. E para isso são sao funfun— damentais as estratégias estrategias redacional e editorial de isolar os artigos pretensamente inin— formativos e classsificados classsificados como neutros e objetivos, daqueles que são sao claramente opinativos. A opinião princiopiniao se isola definitivamente definitivamente no artigo de fundo que ocupa a princi— pagina em todas essas publicaeoes. pal coluna na primeira página publicações. Os principais jornais da cidade se constituem como empresas visando Visando ao lucro, luero, ainda que sobrevivam fundamentalmente das benesses do poder pfiblico. público. A venda avulsa ée extremamente restrita e a publicidade apenas engatinha. transformação por que passa o jornalismo inclui, como vimos, A drástica drastica transformaeao Vimos, do ponto de vista técnicas que permitem a reprodução Vista da impressão, impressao, inovações inovaeoes tecnicas reprodueao de ilustrações ilustraeoes e fotos e uma maior rapidez no processo de produeao. produção. Do ponto de vista Vista editorial, a mudança págimudanea no teor das notícias noticias publicadas e na forma como são sao distribuídas distribuidas nas pagi— nas. A valorização periódico leva àa criação valorizaeao do caráter carater imparcial do periodico criaeao de colunas fixas fixas para a informação informaeao e para a opinião, opiniao, ao mesmo tempo em que se privilegia a edição edieao de noticias informativas. notícias Para conquistar maior número nl'imero de leitores, um tipo de notícia noticia passa a ter mais espaço: policial. Com o0 mesmo objetivo assiste-se àa difusão espaeo: a policial‘ difusao do folhetim. Os jornais publicam tambem também charges diárias, jogo do diarias, os escândalos escandalos sensacionais, os palpites do jogo bicho, as notícias noticias dos cordões cordoes e blocos carnavalescos, entre uma gama variável variavel de assuntos, com a preocupaeao preocupação maior de atingir universo significativo, significativo, vasto e heterohetero— gêneo geneo de leitores. produção dos matutinos da cidade são A lenta e gradual mudança mudanea no processo de produeao sao marcantes, periódicos e segue um caminho mais ou mareantes, sobretudo, nos cinco maiores periodicos ate o 0 início inicio dos anos 20, quando o jornalismo ganha nova configuraconfiguramenos uniforme até eao. Além Ale’m do aparecimento de uma imprensa inteiramente sensacionalista, que fará fara ção. escandalo e dos dramas do cotidiano o destaque de seu conteúdo, contefido, surgem não nao do escândalo apenas jornais estruturados em moldes empresariais, mas grupos isolados que passam instalaeao de novas agências agencias noticiosas, desta vez a dominar mais de um titulo. título. A instalação Vinda das primeiras grandes agências agencias de publicidade dão dao a senorte-americanas, e a vinda nha para a entrada do jornalismo num novo tempo.

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II. Entre tragédias e sensações: sensaeoes: o jornalismo dos anos 1920

“Quando jornal do meu pai, “Quando fui trabalhar no jornal Manhã, o0 secretário perguntou: — – Vocé Você A Martha, secretario me perguntou: quer ser o quê? que? Dei a resposta fulminante: Repórter de polieia. polícia. Porque preferi a reportagem porter profissional policial, posso explicar. Um velho profissional costumava dizer, enfiando enfiando o cigarro na piteira: — – as grandes paixoes paixões são $510 as dos seis, sete, oito anos. Segundo ele, só so as crianças crianeas sabem amar; o adulto não. nao. Eu fui, sim, um urn menino àa procura de amor.” amor.” (Nelson Rodrigues,

1977:201) 19772201)

A razão razao que levara o jovem Nelson Rodrigues, com corn apenas 17 17 anos, a querer ser

repórter polícia, ainda que seja explicada em suas palavras pela emoção reporter de policia, emoeao passional que passaria a ter ao apurar as chamadas notícias também a impornoticias de sensação, sensaeao, indica tambem tância que este tipo de noticiário tancia noticiario ganha na maioria dos jornais diários diarios do Rio de Janeiinicio dos anos 1920. 1920. ro a partir do início páginas das princiA rigor, desde os anos 1910, 1910, as notas sensacionais invadem invadern as paginas pais publicaooes. digressoes politicas, publicações. Abandonando as longas digressões políticas, os jornais passam a ern manchetes, em paginas editarn, em profusao, ilustraooes e fotografotogra— exibir em páginas em que editam, profusão, ilustrações fias, os horrores cotidianos. fias, “E corrente entre certos jornais ilustrados do Rio a exibição eXibioao de horrores. “É craQualquer crime ou acidente serve de pretexto para gravuras repelentes: crâbraoos decepados, olhos esgazeados e mãos maos crispadas pela dor. nios abertos, braços divulgaeao do Se é6’: demasiado consagrar a notoriedade dos criminosos pela divulgação nao ser nos casos em que tal publicidade auxilie a ação aofio policial — nao retrato — – a não – não se compreende essa maneira de interessar os leitores. Que sadismo barato esse pfiblico!”(0 Paiz, 2 novembro de 1916, 1916, p. 2) que se pretende atribuir ao nosso público!”(O

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O texto publicado no jornal O 0 Paiz em 1916 1916 ée’ exemplar da popularidade dessas notícias público. Envolvendo crimes, denoticias que apelam a toda ordem de sensações sensacoes do pfiblico. sastres, roubos, incêndios, tragédias diárias, incéndios, enfim, enfim, as tragedias diarias, transportam para os textos um Rio de Janeiro construído construido de lugares existentes e personagens perfeitamente identificáveis. identificaveis. A sociedade parece de tal forma contida nessas narrativas que o leitor tem term a impressão impressao de participar daquela realidade. Compondo o texto a partir de um mundo, o repórter reporter gera um novo mundo: um mundo que mescla realismo e romance, uma vez que a estrutura narrativa lembra a dos romances folhetins, ainda que os per— personagens sejam sej am retirados da realidade. Podemos dizer que o que dá da coerência coeréncia a esses textos são sao os leitores, que assim os constroem como unidades de sentido. “Abro “Abro os jornais àa noite. Os jornais, no capítulo capitulo sensacional do crime, ainda são sao o reflexo reflexo exato da curiosidade, do horror ou da piedade dos leitoleito— res. @. Procuro os pormenores, a ânsia ansia informativa em torno do crime da porta do teatro Phenix. Notícias reprisadas e o0 ar enfadado que as reportagens to— toPheniX. Noticias mam, quando perdem interesse. Nada mais. O 0 crime impressionou nulamente o pfiblico. público. Por que?” que?” (O (0 Paiz, 2 dezembro de 1916, 1916, p. 1. 1. Grifos nossos) A crônica cronica “Tragédia “Trage’dia Falha”, F alha”, de João J050 do Rio, ilustra o destaque que os jornais dão dao

ao “capítulo “capitulo sensacional do crime”, crime”, o que para ele reflete reflete um sentimento ou uma apropriação apropriacao da leitura de forma a aplacar a curiosidade, manifestar o 0 horror ou desdes— pertar a piedade dos leitores. Ao procurar transpor a realidade para a narrativa, o autor dessas notícias noticias procura construir personagens e representações representacoes arquétipas. arquetipas. Quando isso ocorre, a narrativa passa a representar a existência, público. existéncia, atingindo, em consequência, consequéncia, diretamente o pfiblico. Não é6': representação N50 representacao de dados concretos que produz o senso de realidade, mas a sugestao de uma certa generalidade. O público pfiblico é, e, assim, movido tanto pelo inusitado da gestão participacao — Vida daqueles personagens. trama quanto pela participação – ainda que indireta — – na vida noticias podem tambe’m Essas notícias também inseri-lo em ambientes estranhos. Podem tambe’m também cinematografos. remontar a realidade como um conto folhetinesco ou uma cena dos cinematógrafos. enfim, elos de identificação identificacao com o pfiblico. Produzem, enfim, público. A edição edicao fantasiosa deve, entretanto, ser apresentada dentro de determinados parametros, onde a verossimilhança verossimilhanca ée’ o principal deles. É E preciso construir narrativas parâmetros, nao atendendo a esses dois aspectos: a realidade e a fantasia. Os elementos passionais não nao despertar o interesse do leitor, mas ao mesmo podem ser ocultados, sob pena de não nao ée possivel noticia tempo não possível exagerar nas tintas descritivas, sob pena de transportar a notícia para o lugar do folhetim.

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Construindo textos documentos, na esteira de um naturalismo realista que também triunfa na literatura, os diários diarios procuram convencer e seduzir, criando uma espécie espe’eie de

intimidade com o público, pfiblico, interlocutor reconhecido e, sobretudo, identificado, identifieado, que existe eXiste naquele contexto comunicativo. A experiência experiéncia do texto evoca a interação interaeao discursiva permanente entre os veículos público. veiculos e o seu pfiblieo. As notícias noticias policiais passam a ser, quase sempre, entremeadas por pequenos subtítulos que resumem o conteúdo, titulos contefido, motivando a leitura ou possibilitando o entendimenentendimen— Não basta mais estampar na to a partir da visualização Visualizaeao de breves elementos textuais. Nao manchete a “Explosão preciso particularizar, resumindo, o seu con“Explosao Formidável”. Formidavel”. É E preeiso teúdo em pequenos subtítulos: tefido subtitulos: “morteiro “rnorteiro em estilhaços; estilhaeos; um urn morto; mais de trinta vítiVitimas, a festa da Lapa dos Mercadores; como se deu o desastre; no local; as providenprovidências; a polieia polícia age”. Manhã, 6 setembro de 1912, age”. (Correio da Martha, 1912, p. 1) 1)

Mundo do leitor Na sua complexa teorização, teorizaeao, Paul Ricouer (1987) afirma afirma que a escrita eserita ée a plena manifestação proposição, onde a manifestaeao do discurso. Entendendo discurso como evento ou proposieao, função funeao predicativa e de identificação identificaoao convivem numa mesma frase, insere na sua discussão cussao a ideia de abstração, abstraeao, inerente àa noção noeao de discurso, e, portanto, dependente da unidade dialética dialetica de evento e significação. significaeao. Para o 0 autor, se todo discurso diseurso se atualiza como evento, todo o discurso ée’ compreendido como corno significação. significaeao.

É E porque esta dialética dialetiea do evento e da significação significaoao se torna óbvia obVia e explícita explicita na escrita que esta se transforma na plena manifestação manifestaeao do discurso. O que escrevemos, eserevemos, diz Ricouer, não nao ée’ o evento enquanto evento, mas a significação significaeao do evento linguístico. linguistico. Assim como, no discurso falado, a significação significaoao ée diretamente dependente da mímica, mimica, dos gestos e de outros aspectos não nao articulados do discurso, na escrita a significação significaeao esta diretamente vinculada Vinculada ao receptor da mensagem. A forma ée também fundamental está 14 para esta significação significaeao”. . Ao narrarem o seu texto sob a forma de memórias memorias ou de crônica, cronica, como fazem Nel— NelJ0510 do Rio, torna-se torna—se poss1’vel son Rodrigues e João possível a eles, como construtores de mensagens, situaoao vivenciada Vivenciada como corno real, ao mesmo tempo em que externam opiapresentarem a situação nioes e juizos antepos às as suas narrativas. niões juízos de valor sobre o acontecimento que se antepôs

14 Para Ricoeur os gêneros géneros literários literarios nada mais são sao do que expedientes generativos para produzir o discurso. discurso.

14

Antes de serem classificatórios, classificatorios, são sao para o discurso regras técnicas que presidem a sua produção produgao e o estilo analises semiolinguísticas semiolinguisticas é o fato de que de uma obra. O que distingue o pensamento de Ricoeur de outras análises explicagao se enraíza enraiza em uma compreensão compreensao prévia ou experiência experiéncia de mundo. mundo. Cf. Cf. também A para ele toda a explicação metéfora viva. viva. Porto: Editora Rés, Rés, 1983. metáfora

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Mas, certamente, para o leitor de hoje, esses textos possuem significações peculiasignificaeoes peculia— res geradas pela distância distaneia temporal. A não nao existência existencia de situações situaeoes comuns; as ausências auseneias das marcas externas da voz, da face, do corpo do escritor como construtor daquele tempo e daqueles lugares — – a rua e a redação –, e a autonomia semântica redaeao do jornal —, semantica do texto, que o separa do escritor e o coloca no âmbito ambito de leitores inteiramente desconhedeseonhecidos do futuro, tudo isso altera a significação signifieaeao do texto. Recuperando o tempo e o espaço possível espaeo da descrição descrieao contidos na narrativa ée possivel introduzir marcas distintivas, apreendendo a sua referência referencia ostensiva, inserindo o leitor na trama, como se dela partilhasse, graças graeas a procedimentos de identificação identificaoao singular. A pluralidade de significações, significaooes, construída construida na rede espacial e temporal, faz com que possam pertencer ao escritor e ao leitor de ontem ou ao de hoje. A escrita liberta o texto do proprio próprio autor, recolocando-o no lugar de sua significação. signifieaeao. O que importa agora não nao ée’ mais o que o autor quis dizer, mas a significação significaoao explícita explicita contida no seu dizer. É E mais uma vez Paul Ricoeur Rieoeur que trabalha com essa noção noeao de “autonomia “autonomia semântica”. semantica”. A inscrição inserieao do texto num código codigo torna-se, toma—se, segundo ele, sinônimo sinonimo de autonomia semântica, semantica, resultando numa desconexão desconexao da intenção inteneao mental do autor em relação relaeao ao significado significado verver— bal, ou seja, sej a, do que o autor quis dizer ao que o texto significa. significa. A significação significaeao no momento de apreensão apreensao do texto interessa mais do que o que o autor quis dizer quando o escreveu. Assim, naquele 1925 1925 da memória memoria de Nelson Rodrigues, emerge a redação redaeao

de A Manhd, Manhã, que faz dos crimes de sensação junto ao pfiblico. público. sensaeao a razão razao de seu sucesso junto “No “No meu primeiro mês mes de redação, redaeao, houve um desastre de trem que assombrou a cidade. eidade. Morreram cem eem pessoas. Quando nós, nos, da reportagem, chegamos, muitos ainda agonizavam; e uma moça, pernas esmagadas, pedia moea, com as duas pemas pelo amor de Deus: — – Me matem, me matem. Eu via, Via, atônito, atonito, os vagões vagoes trepados uns nos outros. Lá La estava a locomotiva entornada. entomada. Um trem cavalgando outro trem. E o pior era a promiscuidade de feridos e mortos. De vez em quando, uma mao brotava das ferragens. E um colega tropeeou cabeea sem corpo”. corpo”. mão tropeçou numa cabeça Em seguida completa: “Houve um momento em que me encostei eneostei num poste e tranquei os lábios, labios, “Houve nauseas medonhas. Um colega eolega achou aehou graça: graoa: — homem”. (Rodrigues, em náuseas – Seja homem”. 1977:201-202) 1977:201-202) Na descrição descrioao percebe-se que os repórteres, reporteres, em bando, se dirigiam rapidamente aos eenas visualizadas Visualizadas em toda a locais das tragedias, tragédias, para transcrever nos jornais as cenas haVia tempo para a emoção, emoeao, mesmo diante da dor e da agonia. sua intensidade. Nao Não havia estampa—la com as cores da violência Violencia nos Era preciso descrever a tragedia tragédia urbana e estampá-la periodicos da cidade. periódicos

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Segundo Nelson Rodrigues, a imprensa, naquele início inicio dos anos 1920, 1920, “Gostava página “Gostava de sangue. O futebol ainda não nao se instalara na primeira pagina (...) Areportagem A reportagem invadia o necrotério, necrote’rio, a alcova, e fazia um saque de fotografotogra— fias fias e cartas íntimas”. intimas”. (Rodrigues, 1993:88) 1993:88) O que leva esses periodicos periódicos a destacarem cada vez mais esta tipologia de notícias? noticias? O que faz com que sejam agora quase que inteiramente dedicados às “tragédias as “tragedias que apaixonavam a cidade” cidade” (Rodrigues, 1977:203)? 19772203)? Que tipo de sensação sensaeao estas notícias noticias causam no publico? público? Por que se inunda a cidade, no limiar dos anos 1920, 1920, de notícias noticias que descrevem toda sorte de barbaridades e horror? Essas narrativas, em primeiro lugar, apelam a um imaginário imaginario que navega entre o sonho e a realidade. As tragédias trage’dias quotidianas, por outro lado, descrevem conteúdos conteudos imemoriais, que aparecem e reaparecem periodicamente sob a forma de notícias. noticias. Mudam os personagens, não nao as situações. situaooes. De tal forma que podemos dizer que existe uma espécie espe’cie de fluxo fluxo do sensacional que permanece interpelando o 0 popular a partir da narrativa que mescla ficcional temáticas ficcional com a suposição suposieao de um real presumido. São sao tematicas que repetem, com as inflexões inflexoes necessárias necessarias ao tempo e lugar de sua construção, construeao, os mitos, as figurações, figuraooes, as representações representaeoes que falam de crimes e mortes violentas, Violentas, de milagres, de desastres, enfim, enfim, de tudo o que foge a uma ideia de ordem presumida, instaurando a desordem e um modelo de anormalidade. “Comecei “Comecei fazendo atropelamento (...). Um dia, mandaram-me mandaram—me fazer um pacto de morte na Pereira Nunes. Com mais confiança confianea em mim mesmo, inundei de fantasia a matéria. materia. Notara que, na varanda da menina, havia haVia uma gaiola com respectivo canário. canario. E fiz fiz do passarinho um personagem obsessiobsessi— vo”. vo”. (Nelson Rodrigues, 1977:202-203) 1977:202-203) A memória memoria de Nelson Rodrigues, descrevendo sua introdução introdueao no mundo do jorna— jornadao o 0 tom das matérias mate’rias policiais. MesclanMesclan— lismo, mostra que as narrativas fantasiosas dão minucias do realidade e fantasia, falam dos dramas cotidianos e devem descrever com minúcias todos os detalhes da trama, para que o leitor possa se identificar identificar e presumir — – a partir imaginaoao criadora — dramatica colocada em evidência. evidéncia. da sua imaginação – a cena dramática “Descrevi toda a história historia — “Descrevi – a menina, em chamas, correndo pela casa e o passarinho, na gaiola, cantando como um louco. Era um canto áspero, aspero, irado, martirio da dona. E forcei a como se o0 passarinho estivesse entendendo o martírio coincidéncia: — canario emudecia na coincidência: – enquanto a menina morria no quintal, o canário gaiola”. (Idem, (Idem, ibidem. Grifos nossos) gaiola”.

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À dramaticidade da cena ée preciso acrescentar um A urn aspecto inusitado, algo que apele àa fantasia do leitor. O passarinho não nao pode entender o martírio martirio da dona, mas a descrição descrieao da imagem com corn o 0 inusitado da proposta traz para a narrativa aspectos aspeetos fanfan— tásticos tastieos e que não nao se explicam baseados no ideal racional. O irracional ée’ a marca principal dessas narrativas. Entretanto, como a narrativa pertence ao mundo do jornalismo ée necessário necessario mesclar o ficcional ficcional e o imemorial, com dados de uma pretensa realidade objetiva. obj etiva. A morte do canário canario seria, sem dúvida, dfiVida, um urn efeito magistral para a construção construeao da carga earga dramátidramati— ca da notícia. notieia. Mas representaria também a inclusão inclusao da inverdade, o que do ponto de vista jornalística, como diz Vista das convenções conveneoes do jornalismo seria um urn desastre. A ficção ficeao jornalistica, Nelson Rodrigues, obriga a sobrevivência sobreViVéneia do canário. canario. “Quase, “Quase, quase matei o canário. canario. Seria um efeito magistral. Mas como matá-lo, mata-lo, se a rua inteira iria vê-lo Vé—lo feliz, cantando como nunca? nunea? O bicho sobreviveu sobreViveu na vida Vida real e na ficção jornalística. E foi um sucesso ficeao jornalistica. sueesso no dia seguinte”. seguinte”. (Idem, (Idem, ibidem) Os detalhes que apelam ao improvável improvavel voltam voltarn periodicamente na trama relatada. Nelson Rodrigues repórter repérter vai buscar na sua memória memoria narrativa os elementos presentes

no seu texto. Um Urn repórter reporter de sucesso sueesso tinha imaginado anos antes a morte de um canário canario num – como – o canário. nurn incêndio. incéndio. Assim, Castelar de Carvalho inventou — eomo ele agora faz — canario. “Entre “Entre parênteses, parénteses, a ideia do canário canario não nao era lá la muito original. Direi mesmo: — – não nao era nada original! original! Eu a tirara de uma velha e esquecida esqueeida reportagem de Castelar de Carvalho. Anos antes, ele fora cobrir um incêndio. ineéndio. Mas o fogo não nao matara ninguém ninguem e a mediocridade do sinistro irritara o repórter. reporter. Tratou de inventar um passarinho. Enquanto o pardieiro era lambido, o passaro pássaro cantava, Va, cantava. Só Sc’) parou de cantar para morrer”. morrer”. (Idem, (Idem, ibidem) temáticas se dará jorA popularização popularizaeao dessas tematicas dara definitivamente definitivamente com corn o 0 surgimento de jor— diarios inteiramente dedicados aos escândalos escandalos e tragédias tragedias quotidianas, como corno nais diários A Maniac? Critica (1928). São sao textos que se adaptam tambem Manhã (1925) e Crítica também no que diz habitos de leitura populares: manchetes resuminresumin— respeito àa forma, ao gosto e aos hábitos do em poucas palavras o0 drama narrado em corpo 48 e por vezes 64 ou 72. A0 Ao lado do fotografia. O estilo ée entrecortado. entreeortado. Os titulos texto, a cena da tragedia tragédia em desenho ou em fotografia. títulos sao seguidos por subtítulos subtitulos que resumem o 0 drama a ser reconstruído reeonstruido por um urn repórter reporter autorisão entreeortada, uma leitura titubeante, uma zado a realizar esse papel. Tudo sugere uma leitura entrecortada, nao está esta de todo familiarizado com as letras impressas. leitura de um leitor real que ainda não As interpretações interpretaeoes para a inclusão inclusao das chamadas notas sensacionais sensaeionais nas paginas páginas dos diarios e para a absorção absoreao dessas narrativas pelo gosto popular podem ser, portanto, de diários infimeras ordens, mas devem ser explicadas no contexto histórico historico de sua produeao. inúmeras produção.

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É E preciso considerar, antes de qualquer coisa, a questão questao da narrativa. Do ponto de vista Vista do texto, essas notícias noticias possuem marcas singulares: alicerçadas alicercadas nos fatos anterioanterio— res ao próprio proprio acontecimento, contêm, contém, a rigor, duas histórias, historias, a do crime e a de seus antecedentes que englobam outras notícias noticias semelhantes. sernelhantes. O jornalista-narrador conta não nao apenas “o “o que se passou efetivamente” efetivarnente” ou explica de que forma tomara conhecimento daqueles fatos, como também transporta para o corno tambem relato algo que ja já é, público. Outra caracteríse’, de alguma forma, do conhecimento do publico. caracteris— particularizá-los, o narrador constrói tica é a ênfase énfase nos detalhes singulares. Ao particulariza—los, constroi uma sequência sequencia textual onde o leitor também tambe’m pode se visualizar. Visualizar. Lugares conhecidos, relarela— tos comoventes cornoventes de fatos que adquirem a marca da excepcionalidade. O fato e a trama evocam uma realidade, tragédias trage’dias que não nao puderam ser presenciadas, mas que foram forarn sentidas através atrave’s da narrativa produzida pelos repórteres, reporteres, que passam a ver e ouvir ouVir por delegação delegacao e outorga desses mesmos leitores. A narrativa dos acontecimentos implica uma integração integracao do leitor àquele aquele mundo. rnundo. Ao se identificar, identificar, sai de seu lugar natural (o (0 de leitor) e se integra ao mundo do relato, para depois voltar novamente novarnente ao seu lugar natural. Ao voltar é uma outra pessoa: cada

narrativa produz uma mutação mutacao naquele que a realiza. Evidentemente, Evidenternente, quando evocaevoca— mos essas premissas não nao nos referimos a um leitor particular ou específico, especifico, mas a uma “funcao” de leitor, implícita implicita no texto, da mesma maneira que implícita implicita tarnbem esta a “função” também está função funcao de narrador. É E Todorov (1989) quem trabalha com corn essa noção nocao de “função “funcao de leitor”. leitor”. Segundo ele, essa função próprio texto, com a mesma precisao precisão que os movifuncao estaria inscrita no proprio mentos dos personagens. Ao interpretar a leitura, ao se apropriar das mensagens de forma diferenciada, ou simplesmente, como diz Todorov, ao proceder a uma interpreinterpre— tação, o leitor sai do mundo dos personagens e volta ao seu lugar natural. tacao, Assim, descreve-se descreve—se a situação situacao não nao apenas como corno um urn mundo dos personagens, mas corn que haja identificação identificacao com os sujeide pessoas efetivamente humanas, o que faz com tos particularizados na narrativa. Na trama do acidente de trem com cem mortos e duzentos feridos, que foi publicada pelo jornal, todos os detalhes do horror aparecem. A descrição descricao dos porrnenores, pormenores, o sofrirnento das vítimas, Vitirnas, as cenas de um desastre que “assombrou “assornbrou a cidade”. cidade”. sofrimento No processo de identificação identificacao induzido, o leitor/espectador se comove e se aproxiVitimas. Está Esta construída construida a cena dual: o 0 mau contra o bom born ma — – na dor e no medo — – das vítimas. Vida; o amor versus o 0 ou a pessoa indefesa que diante do inesperado pode perder a vida; odio ou a compaixão compaixao diante da dor alheia; a frieza em contraposição contraposicao àa inocência inocencia ou ódio Vitima ou não nao dependem meramente do acaso. a certeza de que os limites entre ser vítima Estao em cena os ingredientes fundamentais do jornalismo sensacional, que apela Estão História Cultural da Imprensa

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para valores culturais, para o imaginário imaginario e para as sensações sensacoes de uma memória memoria social e coletiva. Narram-se acontecimentos que se constituem pelo seu aspecto causal e pela coinNarram—se cidência. cidéncia. Existindo, perturbam a ordem pelo inusitado, por estabelecer uma ruptura, produzindo anormalidade. São Sfio desastres, assassinatos, raptos, agressões, agressoes, acidentes, roubos, tudo “que “que remete ao homem, àa sua história, historia, àa sua alienação, alienacao, aos seus fantasmas, aos seus sonhos e aos seus medos” (Barthes, 1965). As notícias medos” 1965). noticias construídas construidas soso— bre este tipo de conteúdo conteudo convertem-se convertem—se em espécie especie de grade de sentido, manejando em seu interior uma ideia de destino inexorável. inexoravel. É publicações e seu conteúdo E preciso, pois, considerar essas publicacoes conteudo no espaço espaco da receprecep— ção, já que é neste universo que as mensagens adquirem sentido. O cao, ja 0 receptor constitui um universo cultural complexo, explorado pelos veículos veiculos de comunicação comunicacao de massa. Mas não nao são sao apenas as marcas textuais que produzem o protocolo de leitura. As marmar— cas da edição edicao são sao profundamente significativas. significativas. O leitor recebe um segundo tipo de instrução próprio texto: a edição. instrucao contido no proprio edicao. A disposição disposicao na página, pagina, a ilustração, ilustracao, os cortes produzidos na narrativa, a tipologia

empregada, a diagramação, diagramacao, tudo indica um urn leitor e uma forma de leitura. também pela apreensão Não apenas A leitura se faz tambem apreensao de um outro sentido: a visão. Visao. Nao porque muitos desses leitores são sao parcamente alfabetizados, mas porque a materialização materializacao do acontecimento, através atraVes da imagem, produz um sentido de realidade que a descrição descricao textual sozinha não nao contém. conte’m. A narrativa detalhada e coloquial se faz necessária necessaria para que produza ele mesmo, leitor, o seu texto, a partir de sua imaginação imaginacao criadora. Existe, pois, um urn protocolo de leitura que esses dispositivos textuais tendem a imim— por. Toda escrita inscreve nos textos convenções convencoes sociais e literárias literarias que permitem uma espécie pré-compreensão, e as formas narrativas escolhidas provocam efeitos espe’cie de pré-compreensao, obrigatorios. Esses protocolos induzem a maneiras de ler. Um de leituras quase que obrigatórios. expressoes correntes, reproduzindo fragmentos de texto entrecortado, com o uso de expressões urn leitor que procura naquelas paginas emocao, a um cotidiano familiar, faz supor um páginas a emoção, sensacao de veracidade, ainda que entremeada por um mundo de sonho. sensação composicao das narrativas policiais mostram o que se Os fatos e, sobretudo, a composição Vida passou, evocam a realidade, acontecimentos semelhantes que se desenrolam na vida identificacao com o veícuveicu— dos leitores. Ao se perceberem na narrativa, aumentam a identificação Vidas, ainda que envoltas numa atmosfera de lo que é capaz de materializar suas vidas, anormalidade.

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Entre tragédias e sensações

A cidade e a imprensa O 0 Rio de Janeiro da década de 1920 1920 definitivamente definitivamente “civilizara-se”, “civilizara-se”, pelo menos no dizer dos cronistas de época. As revistas proliferareVistas de críticas oriticas e de costumes que prolifera— vam – Revista da Semana (fundada em 1900), Fon-Fon (criada em 1908), Vam pela cidade — 1900), Fon-F0n 1908), Careta (1907), O – abrem espa0 Malho (1902), apenas para citar as mais importantes — espa— ço footing na Avenida Central, para as festas na Beira Mar, para os torneios que 90 para o ofooting reúnem – ocupando habitualmente refinem as elites mundanas. A quantidade de publicidade — as quatro últimas filtimas páginas, paginas, além ale’m dos anúncios anl’incios que se distribuem ao longo de todas as publicações — – indica um público publicaooes pfiblico ávido avido por consumo e modernidade. Mas esse pfiblico público urbano e entusiasmado com os ícones icones da modernidade e que desdes— fruta da transformação transformaoao da cidade se concentra nos bairros nobres da cidade. A população eao mais pobre, que na década decada anterior fora obrigada a deixar as casas oasas de cômodos comodos e cortiços, cortieos, com o “bota-abaixo” “bota—abaixo” iniciado pelo prefeito Pereira Passos para “embelezar” “embelezar” o centro urbano e expulsar os pobres da paisagem nobre da cidade, se concentra agora nos subúrbios subfirbios da Central ou da Leopoldina. Em 1920, 1920, os subúrbios subfirbios abrigam quase a metade dos 1.167.500 Andaraí, ainda que os distritos 1.167.500 habitantes, notadamente, Inhaúma, Inhafima, Irajá Iraja e Andarai, próximos ao centro possuam as maiores densidades populacionais (São proximos (8510 José, Jose’, Santo Antonio, Santa Rita, Gamboa e Sant’Anna) Sant’Anna) (Censo de 1920). 1920). O Recenseamento de 1920 1920 indica também aumento no grau de alfabetização, alfabetizaeao, bem como da população população populaeao economicamente ativa: considera-se considera—se letrada 74,2% da populaeao maior de 15 15 anos. Mas o analfabetismo continua atingindo, sobretudo, as mulheres. Observa-se também o crescimento de áreas Observa—se tambe’m areas rurais, ocasionado pelo deslocamento de algumas indústrias indfistrias e pelo surgimento de vilas Vilas e residências residéncias operárias operarias na periferia da cidade. Irajá Iraja cresce 263% na década, enquanto Inhaúma, Inhafima, 92%, e Campo Grande, 67%. A especulação especulaeao imobiliária imobiliaria toma conta do Rio e os aluguéis alugueis aumentam de 300% a 400%. Crescem a populaeao população e o número nfimero de veículos, veiculos, sem que “a “a disposição disposioao atual das dé vazão vazao ao transito tem”, denuncia denunciaA 17 de julho de ruas do centro dê trânsito que tem”, A Nagdo Nação em 17 1923. O Distrito Federal conta com 7 mil automóveis automoveis em 1922. 1922. Em 1929, 1929, impor1923. tam-se 54 mil veículos veiculos dos Estados Unidos. oonsequéncias da crise econômica economioa que abala o mercado internacional, Vivendo as consequências o0 Rio de Janeiro é agora a segunda economia mais importante do pais país (perde a lideranoa desde o início inioio da década de’cada para São 850 Paulo), apesar de esta concentrar-se concentrar—se no setor rança servieos. A década de’cada de 1920 1920 caracteriza-se caracteriza—se pelo declínio declinio das grandes comercial e de serviços. plantaooes subfirbios, pela tendencia estagnaoao da produoao secundaria e por plantações nos subúrbios, tendência àa estagnação produção secundária 1978:532). uma politica política anti-industrial por parte do Governo (Lobo, 1978:532). A crise orise mundial, refletindo-se refletindo-se de maneira drástica drastica na economia brasileira, ocasiosuspensao das obras públicas, pfiblioas, com múltiplas ml’iltiplas consequências consequencias para a indústria, indfistria, o na a suspensão História Cultural da Imprensa

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comércio come’rcio e o mercado mereado de trabalho. O decréscimo do ritmo de desenvolvimento industrial no periodo período ée expressivo: 3,9%, atingindo principalmente as fábricas fabricas de tecidos, fumos e bebidas e transferindo para São país. Sofrensao Paulo a hegemonia industrial do pais. do particularmente os efeitos decorrentes da crise comercial de 1924/1926, 1924/1926, a indúsindus— tria carioca vê produção reduzida. Ve sua produeao Deficiência Defieiéneia dos serviços servieos públicos, publieos, baixos salários salarios e arbitrariedades das mais diversas são sao os temas preferidos dos leitores dos jornais para as suas “queixas “queixas e reclamações”. maeoes”. A maioria das publicações publicaeoes diárias diarias continua dando destaque às as colunas que estampam as reclamações público que, indo diretamente às reclamaeoes do publico as redações, redaeoes, procura a intermediação popuintermediaeao do jornal para tentar solucionar seus problemas. Para os grupos popu— lares, o jornal ée’ a voz publica pública de suas agruras quotidianas. E os periodicos periódicos usam o serviço própria autopromoção. serVieo como eomo arma para a sua propria autopromooao. “Um An“Um menor descoberto deseoberto graças graeas a uma nota nossa. D. Anna Maria dos An— jos veio ontem àa Crítica Critica comunicar que seu filho filho Gaspar dos Santos, que se achava desaparecido desapareeido há ha dois meses, fora descoberto, deseoberto, graças graeas àa notícia, noticia, por nós nos publicada passado”. (Crítica, publieada na edição edieao de 27 do mês mes passado”. (Critical, 8 maio de 1929, 1929, p. 5) Um levantamento das publicaeoes publicações existentes no Rio de Janeiro ao longo da década de’eada de 1920 periódicos. A maioria publica poucos 1920 indica indiea a existência existéncia de pelo menos oitocentos periodicos. números, numeros, sendo que os que duram mais tempo não nao atingem cinco einco dezenas (ABI: 1980). 1980). proliferação de tantos titulos: títulos: o desenvolvimento Alguns fatores podem explicar eXpliear a proliferaeao urbano, as cisões políticas produzindo divisões cisoes politieas diVisoes mais profundas na sociedade, os aperaper— feiçoamentos tecnológicos e uma certa especialização feieoamentos tecnologicos especializaeao dessa imprensa. No final final da década decada de 1920, 1920, conta-se, conta—se, na Capital Federal, 19 19 jornais diários, diarios, 13 13 estações estaeoes de rádio radio e várias Varias revistas semanais, com tiragens que chegam a 30 mil exemplares, como eomo ée o caso de O 0 Cruzeiro, Cruzeiro, lançada laneada em 1928, 1928, após apés uma campanha eampanha publicitaria em moldes modernos. Marca Marea tambe’m de’eada, o aparecimento apareeimento do primeiro tária também a década, midia brasileiro, inicialmente com a criação criaeao de O 0 Jamal (1925— conglomerado de mídia Jornal (19251974), que viria Viria a ser o 0 primeiro veículo veieulo de uma série se’rie pertencente aaAssis 1974), Assis Chateaubriand. A revolução revolueao na forma de fazer jornal, que ocorrera oeorrera no início inicio do século, seculo, tem conticonti— de’cada de 1920 1920 e ée’ marcada mareada agora pela difusão difusao de rotogravuras a cores, nuidade na década oficinas gráficas grafieas e pelas modificações modifieaeoes na organização organizaoao empelo reaparelhamento das oficinas 1928, o jornal presarial, incluindo novas formas de assinaturas e vendas avulsa. Em 1928, jornal A Noite (fundado por Irineu Marinho, em 1911) 1911) adquire modernas rotativas de fabrifabri— caeao americana Man, que substituem as velhas Marinonis, permitindo, ja cação já no ano laneamento do Suplemento Ilustrado de A Noiz‘e. decada vê Vé tambem seguinte, o lançamento Noite. A década também so ganharia importância importancia a partir de 1940: 1940: O 0 Globo, fundado surgir um periodieo periódico que só pelo mesmo Irineu Marinho que criara o vespertino A Noiz‘e. Noite.

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A grande grando sensação sonsacao no mundo do jornalismo, no último ultimo ano da década de do 1920, 1920, éo a inauguração prédio de inauguracao do moderno modorno pro’dio do A Noite, na Praça Praca Mauá. Maua.

“A Noite, a realizar-se “A inauguração inauguracao do novo eo imponente impononto edifício odificio da A Noito, roalizar-so hoje hojo às as 16 16 horas eo 30 minutos, não nao somente somonto é uma grande grando festa fosta do jornalismo brasileiro também se brasiloiro como tambo’m so reveste rovosto do caráter carator de do um notável notavol acontecimento acontocimonto da vida Noite, além país, uma Vida da cidade. cidado. É E que quo A Noito, alo’m de do representar roprosontar a imprensa impronsa do pais, luminosa vitória vitoria que quo a todos nós nés tanto envaidece, onvaidoco, constitui, sem som dúvida, duvida, um dos mais valiosos elementos patrimônio intelectual olomontos do patrimonio intoloctual do Rio de do Janeiro. Janoiro. Fundada, lá tendo àa frente 121 se so vão vao anos, por um grupo de do rapazes, rapazos, tondo fronto essa ossa figura figura por tantos eo moritorios títulos titulos admirável admiravol que quo foi Irineu Irinou Marinho, A Noito meritórios Noite tornou-so, tornou-se, logo a aparecer, aparocor, graças gracas as suas reportagens roportagons sensacionais sonsacionais eo a agudez agudoz de do seus sous comentácomonta— oxcoléncia popular”. (Critica, 7 setembro sotombro de do 1929) 1929) rios, uma folha, por excelência popular”. (Crítica, Destacando – as reportagens Dostacando dois aspectos aspoctos do jornal fundado por Irineu Irinou Marinho — roportagons sensacionais – enaltecem sonsacionais eo a agudez agudoz de do seus sous comentários comontarios — onaltocom a construção construcao do novo edifíodifi— cio como marco da modernização modornizacao do jornalismo daquele daquolo final final dos anos 1920. 1920. Fundada em om 18 18 de do junho de do 1911, 1911, por Irineu Irinou Marinho que, quo, em om função funcao de do desentendosontondimentos Notícias, da qual era dimontos com a direção dirocao da Gazeta de Notz'cias, ora secretário-geral, socrotario—goral, decide docido abandonar o cargo, A Noiz‘e Noite define-se política de dofino-so inicialmente inicialmonto por uma linha politica do oposição oposicao ao Marechal Marochal Hermes Hormos da Fonseca Fonsoca (DHBB: 4105). Em 1925, 1925, Irineu Irinou Marinho, depois dopois de do ter sido obrigado a caucionar a maioria de tor do suas ações acoos em om favor de do Geraldo Goraldo Rocha, deixa periódico, fundando no mesmo doixa o poriodico, mosmo ano O 0 Globo. transferência de propriedade do poriodico periódico para Geraldo A transforéncia do propriodado Goraldo Rocha inaugura a sesogunda fase primeira alteração faso do jornal, marcada por mudanças mudancas substanciais. A primoira altoracao ocorre ocorro na sua linha politica, política, que quo de do oposição oposicao passa a defensor dofonsor intransigente intransigonto das oligarquias dominantes. também neste período a construção dominantos. Inicia-se Inicia—so tambom nosto poriodo construcao de do sua nova sede sodo de do 23 andaros. Novas máquinas maquinas são sao adquiridas eo o seu sou aspecto aspocto gráfico grafico tambom sofro alteraaltora— andares. também sofre coos substantivas. É, E, sem som dúvida, duvida, o vespertino vosportino mais popular da cidade cidado no final final dos ções 1920. anos 1920. “A Noito possuia uma circulação circulacao muito grande. grando. Era um umjomal foito em om moldes moldos “A Noite possuía jornal feito aposar de do ser sor vespertino vosportino saía saia exclusivamente oxclusivamonto com noticiário noticiario do dia. novos eo apesar caractoristica obrigava os redatores, rodatoros, repórteres roportoros eo os gráficos graficos a desenvoldosonvol— Essa característica vorom uma atividade atividado enorme. onormo. Acho que quo havendo havondo circulação, circulacao, há ha automaticaverem monto publicidade”. publicidado”. (Depoimento (Dopoimonto de do Ferrone. Forrono. Pascoal. In: Memo’ria mente Memória da ABI) do oposição oposicao ao Governo Govorno Bernardes, Bornardos, A Noite chega choga a tor final Jornal de ter uma tiragom tiragem no final do’cada de do 1920 1920 de do 200 mil exemplares. oxomplaros. No mesmo mosmo poriodo, do O 0 Paiz é6’ 3 3 da década período, a tiragom tiragem de oxomplaros, estando ostando em om franca decadência. docadoncia. O Correio da Martha odita 40 mil, ja mil exemplares, Manhã edita já História Cultural da Imprensa

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“A jornal “A Noite devia deVia ter uma tiragem maior ainda, por se tratar de um jornal popular, que explorava bastante essa coisa de reportagem policial. Era um grande vespertino, com grandes redatores”. redatores”. (Depoimento de Peixoto, Armando Ferreira. In: Memo’ria Memória da ABI) público são política, de esporte e, As seções seooes mais apreciadas pelo pfiblico sao as de politica, 6, naturalmente, o noticiário notioiario policial. “A polícia. O Eustáquio “A Noite tinha uma grande reportagem de polioia. Eustaquio Alves e o Bacelar de vez em quando se deguisavam de mendigos e andavam pelas ruas, colhendo notícias noticias (...). A Noite fazia a melhor cobertura oobertura policial da época”. época”. (Depoimento de Gonçalves, Memória da ABI) Gonoalves, Manoel Antonio. In: Memo’ria É E esse mesmo noticiário noticiario policial que faz de Crítica Crz’tica o matutino mais popular da década de 1920 1920 na cidade. oidade. Com uma tiragem de 120 120 mil exemplares, o jornal criado por Mário Mario Rodrigues em 28 de novembro de 1928 1928 durou menos de dois anos, mas foi responsável responsavel pela explosão explosao das páginas paginas de sensação sensaoao na imprensa da cidade. Paginas de sensação sensagao Páginas

Com apenas oito paginas, páginas, pelas quais se distribuem as “notas “notas sensacionais” sensacionais” (pági(paginas 1, página 3, o primeiro número 1, 2, 4, 6, 7 e 8) e o esporte, ocupando toda a pagina nl’imero de Crítica Mário Critica circula no Rio de Janeiro em 20 de novembro de 1928. 1928. Dirigido por Mario Rodrigues e funcionando jornal destafunoionando num modesto prédio da Rua dos Ourives, 89, o jornal desta— ca invariavelmente os crimes e6 as atrocidades que chocam chooam a cidade. “Matou página 4, no dia “Matou o próprio proprio irmão irmao a facadas” facadas” grita a manchete em grise, na pagina 12 12 de dezembro de 1928. 1928. Na mesma edição, edioao, “A “A mulher que engoliu o escarro do tuberculoso”. E completa: “Quer “Quer que um jornal publique o seu diário, diario, logo marido tuberculoso”. apos a sua morte.” morte.” após Vida quotidiana transportam—se Todos os dias, cenas de horrores da vida transportam-se para as suas paginas: incêndios, incéndios, estupros, adultérios, atropelamentos, assassinatos, suicídios, suicidios, enen— páginas: tre dezenas de temas cujo mote é a miséria humana. noticias são sao publicadas na última filtima hora e, no dia seguinte, o Muitas vezes essas notícias jornal “completava “completava as rápidas rapidas informações informaooes de ontem, compensando-as da exiguidade, local”. (Crítica. (Critica. 27 dezemdezem— com detalhes variados, abundantes e colhidos no proprio próprio local”. 1928, p. 5) bro de 1928, Orgulhando—se de ser “o “0 único finioo matutino desta capital vendido no preoo Orgulhando-se preço de cem réis” (Crítica, (Critica, 23 dezembro de 1928, 1928, p. 8), uma série de estratégias é adotada para réis”

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aumentar sua proximidade com o pfiblico. público. Continua a receber na redação redacao “figuras “figuras extraordinárias extraordinarias e extravagantes da cidade” cidade” (Crítica, (Critica, 17 17 de novembro de 1929, 1929, p.2), entre uma gama variada de leitores, e cria a “Caravana “Caravana de Crítica” Critica” com o 0 objetivo obj etivo de ir aos locais onde são sao chamados para registrar os acontecimentos, apurar denúncias denfincias e investigar crimes. Passa a publicar uma coluna dedicada aos “Programas “Programas dos Cinemas” Cinemas” e a responder a cartas de leitores sob o mesmo tema na seção secao “Correspondência”. “Correspondencia”. “Iniciamos com prazer a nossa correspondência correspondencia cinematográfica. cinematografica. A soma “Iniciamos de perguntas feitas ja já nos autoriza a afirmar afirmar que esta seção secao está esta sendo lida com interesse. Assim ée que as respostas serão serao dadas, em poucas linhas, basbas— tando que as informações informacoes sejam sej am pedidas ao redator cinematográfico cinematografico de CrítiCritica”. ca”. (Crítica, (Critical, 28 dezembro 1928, 1928, p.7)

Adotando o slogan “o “o matutino de maior circulação circulacao no Brasil”, Brasil”, a partir de setembro de 1929, público o sucesso de suas 1929, continua seguindo a estratégia estrategia de materializar para o pfiblico edições. edicoes. Em maio de 1929, 1929, a reportagem sobre o padre Eugênio Eugenio de São 8510 João J0510 de Meriti alcança, jornal, êxito alcanca, segundo o jomal, exito extraordinário. extraordinario. Nos vestígios vestigios deixados pela notícia, noticia, obserobser— va-se o hábito periódico que ia além habito de divulgação divulgacao do periodico ale’m da sua venda avulsa ou sob a forma de assinatura: os exemplares são sao pregados em postes e muros das principais ruas para serem lidos. A leitura causa, em contrapartida, outras reações: público o principal reacoes: ée o pfiblico municiador das informações páginas da publicacao. publicação. informacoes retumbantes que ocupam as paginas “Coroada “Coroada do mais completo êxito, exito, sob todos os aspectos, foi a nossa reportagem sobre o repugnante procedimento do padre Eugênio Eugenio Hoetting, viVigário gario da localidade fluminense fluminense de São sao João J050 de Meriti. Vários Varios números nl’imeros de CríCritica foram pregados aos postes e muros das principais ruas de Meriti. O povo, que em sua mor parte conhecia a escandalosa crônica cronica do padre Eugênio, Eugenio, aplauaplau— dia a desassombrada atitude de Crítica público o escândalo. Critica ao tornar pfiblico escandalo. Assim, Varios moradores de São 8510 João J050 do Meriti, Meriti. ora pessoalmente. vários pessoalmente, ora por telefone. telefone, fizeram cientes de outros fatos referentes ao libidinoso sacerdote” sacerdote” (Crítica, (Critica, nos fizeram 1929, p. 8. Grifos nossos) 2 maio de 1929, “libidinoso sacerdote”, sacerdote”, tambem classificado Pouco importa o que tenha feito o “libidinoso também classificado pela reportagem como “alma “alma satânica”. satanica”. A repercussão repercussao da matéria, materia, em função funcao de suas marcas narrativas, leva o leitor — – direto ou indireto —– a tomar partido, contra ou a favor do personagem da trama, transformando a sua leitura em julgamento de valor e, pos— posteriormente, em ação. acao. A ação acao pode ser fornecer ao jornal novos detalhes que o possicapitulo da história historia ou tentar promover o linchamento do bilitariam construir um novo capítulo Ha tambe’m inocéncia do padre. Assim, enquanto acusado. Há também aqueles que acreditam na inocência “Hermogenes de Oliveira promove um abaixo-assinado em defesa do vigário Vigario culpa“Hermógenes História Cultural da Imprensa

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do”, justiçá-lo com próprias mãos”. do”, “o “0 povo de São 850 João J0510 de Meriti quer justioa-lo corn as proprias maos”. (Crítica, (Critica, 2 1929, p. 8) maio de 1929, Os vestígios práticas de leituvestigios deixados por essas publicações publicaooes mostram também as praticas leitu— ra existentes. O jornal é lido nos bondes, nos trons, trens, no horário horario do almoço, almooo, nas idas e vindas Vindas de casa para o trabalho e vice-versa. Vice-versa. É E lido ao ar livre, nas ruas, preso nos muros e postes. Essa leitura de pé, ao lado de outros leitores, induz ao comentário. comentario. O leitor, que fica tem fica sabendo do fato ao ver a informação informaoao nos jornais fixados fixados nos muros e postes, tern uma apreensão apreensao de sentido completamente diferente de um outro cujo contato com a mesma notícia tomar conhecinoticia se faz num ambiente fechado e solitário. solitario. Ao ler ou ao tornar conheci— mento do fato — – por um urn outro que comenta o inusitado da trama, transformando-o num leitor de segunda natureza — – produz uma interpretação interpretaoao que é transmitida sob a forma de comentário. prática de leitura singular, de certa forma, intima o comentario. O jornal, nesta pratica aoao. leitor àa ação. Por outro lado, a leitura realizada através atraVés de uma apropriação apropriaoao coletiva se presta aos rituais de sociabilidade, a partir de um texto que é decifrado em comum. comurn. ProtocoProtoco— los de leitura são práticas de leitura. sao impostos pelas praticas O sucesso das notas de sensação sensaoao arrebata novos leitores e, 6, em cm consequência, consequéncia, aumenta o poder do jornal. Na redação, redagao, o telefone toca para informar sobre a popularidade do periódico. periodico. E no dia seguinte esses ícones icones de notoriedade são sao destacados sob a forma de novas notícias. noticias. “Pelo “Pelo telefone Norte 5424, desde as 15 15 horas, recebíamos recebiamos chamados para irmos a São 8510 João J0510 do Meriti constatar, pessoalmente, o êxito éXito de reportagem de Crítica. Critica. Assim, resolvemos ir àa simpática simpatica localidade fluminense. fluminense. ConstataConstata— mos plenamente a popularidade de Crítica. Critica. Em quase todos os postes e muros viam-se jornal”. (Crítica, Viam-se exemplares de nosso jornal”. (Crz’tica, 2 maio de 1929, 1929, p. 8. Grifos nossos) investigaoao realizada pelos proprios re— Outra estratégia utilizada passa a ser a investigação próprios reporteres para denunciar “desmandos “desmandos pfiblicos “Critica despórteres públicos e privados”. privados”. Sob o titulo título “Crítica urn falsificador falsificador de café moído”, moido”, publicam, na pagina edioao de 21 21 de julho cobre um página 2 da edição julho 1929, a notícia noticia informando como se dera a investigação. investigaoao. de 1929, “Os nossos redatores investigaram e conseguiram descobrir que num ter— ter“Os urn profiteur reiro da Rua Rego Barros um profiteur secava ao sol a borra de café, em urn produto natural”. natural”. grande quantidade, e depois revendia como se fosse um (Grifos nossos)

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Entre tragédias e sensações

Em consequência, público, num “jornal consequencia, se transforma, na opinião opiniao do pfiblico, “j ornal que descobre tudo, diziam ontem, os moradores da rua Rego Barros, nas faldas da Favela” Favela” (p.2). (p2).

Mas a sensação sensacao continua sendo as notícias noticias envolvendo as tragédias urbanas. “Não “Nao respeitando a alcova conjugal, a adúltera adfiltera foi surpreendida, em flagrante, flagrante, nos braços bracos do amásio.” amasio.” Ou ainda: “Ante “Ante o ultraje de sua honra, vilmente Vilmente conspurcada pela esposa, desditoso marido desfecha um tiro na cabeça.” cabeca.” “Pagou “Pagou o enterro e o tipo foi sepulsepul— tado como indigente.” “Um escrivão da política niteroiense seduziu 12 moças!” indigente.” “Um escrivao politica 12 mocas!” Era esse o principal ingrediente para fazer de Crítica Critica “jornal “j ornal das multidões, multidoes, fez-se fez—se para as multidões, juízes de multidoes, que não nao admite, não nao atende senão senao aos sentimentos das multidões, multidoes, juizes sentenças sentencas irrecorríveis irrecorriveis pelo instinto”. instinto”. (Crítica, (Critica, maio-julho de 1929) 1929) persuasão desenvolvidas A dialética diale’tica do fenômeno fenomeno leitura inclui estratégias estrategias de persuasao desenvolVidas pelo autor para atingir seu leitor potencial. Para isso dispõe dispoe do recurso, só so dele, de poder ler diretamente a alma de seus personagens. De outro lado, há ha que se considerar o persuasão pode poder de ilusão ilusao que se instaura por esta estratégia. estrate’gia. Mas esta mesma persuasao caminhar numa outra direção: direcao: a retórica retorica da dissimulação dissimulacao ou on da ironia pode, ao invés inve’s de persuadir, produzir estranhamento no leitor. É E neste sentido que a leitura se torna campo de combate entre autor e leitor (Ricoeur, 1994). 1994). Em setembro de 1929, 1929, a sensação sensacao do noticiário noticiario é dada pelo “caso “caso singelo da morte de um homem em circunstâncias transcircunstancias misteriosas, entre uma dúzia dfizia de fanáticos fanaticos espíritas”, espiritas”, trans— “quis livrar-se do espírito espirito mal e foi morto a socos e pauladas”. formado na manchete “quis pauladas”. Entremeando a descrição descricao do crime, expressões expressoes como “hediondez “hediondez da alma, perversidade dos criminosos, indivíduos individuos de sordidez notável, notavel, instintos mais baixos e repelentes” repelentes” constambém pelos juizos juízos de valor presentes na qualifitroem a trama narrativa que se destaca tambem qualifi— cação cacao dos atos criminosos. As manchetes, entretanto, em estilo direto e sintético, apelam sempre para as sensações sensacoes corpóreas corporeas ou para os mistérios misterios inomináveis inominaveis do espírito: espirito: “Ven“Ven— deu-se deu—se ao diabo por dez mil contos!” contos!” (Crítica, (Critica, 11 e 4 setembro de 1929, 1929, p. 2 e 8) A partir de setembro de 1929, 1929, o jornal institui um concurso em que oferece cem mil-reis (100$000) de premio mil-réis prêmio a melhor reportagem. Como justificativa justificativa informam: “Critica tem, entre os seus cento e trinta mil leitores, uma grande maioria “Crítica que nasceu com a bossa da reportagem. Cada leitor conhece um caso sensadesej aria ver publicado. Entretanto, muitos silenciam a informacional, que desejaria cao por motivos vários. Varios. Ora, temos norteado nossas reportagens, em quase ção informacoes, direta ou indiretamente, fornecidas por leitoleito— sua totalidade, em informações, profilaXia social que vimos Vimos empreendendo, res que, colaborando na obra de profilaxia tem contribuído contribuido grandemente para o êxito exito de nossa campanha. E É justo, portanto, que se estimule o esforço esforco e o interesse de nossos leitores repórteres”. reporteres”. (Critical, 5 setembro de 1929, 1929, p. 3) (Crítica, História Cultural da Imprensa

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O prémio prêmio ée’ distribuído terças feiras e para concorrer ée distribuido todas as teroas “Suficiente “Suficiente enviar àa nossa redação redaoao uma carta que deverá devera conter detalhes claros e abundantes, firmada próprio nome ou pseudonimo pseudônimo do informanfirmada pelo proprio te. Guardaremos rigoroso segredo sobre a identidade do Crítica – Repórter, Critica — Reporter, caso esta nos seja confiada. confiada. As sindicâncias sindicancias a respeito serão serao procedidas pelos nossos redatores”. redatores”. (Idem, (Idem, ibidem) O leitor passa a ser produtor da narrativa que será sera composta pelo repórter. repérter. Assim, produz uma construção – ja já que qualquer texto só construoao primeira no ato de leitura — 36 se integraliza no ato configurante configurante de sua apropriação apropriaeao no instante em que passa a ser lido e interpretado — – passando, no momento seguinte, por uma estratégia estrate’gia mercadológica mercadologica do jornal, a ser desencadeador da propria própria notícia. periódico ée claro: noticia. O objetivo do periodico elaro: inundar as paginas páginas da publicaeao publicação de casos horripilantes que atravessam o cotidiano da cidade e devem fazer parte do cotidiano da leitura. Qualquer texto possui um urn caminho natural que vai de sua configuração configuraoao interna àa influência influéncia que passa exercer fora dele mesmo. É E o que Paul Ricoeur chama refiguração. refiguraeao. Ao produzir sentido, induz a uma ação, aoao, o que nos leva a afirmar afirmar que a leitura produz uma mudança mudanoa intrínseca intrinseca em quem a realiza. experiéncia vivida, Vivida, essas narrativas que apelam às as sensações sensaeoes dos Simulando a experiência leitores se projetam fora delas mesmas. mesrnas. A narrativa falando de um outrem enfoca a experiéncia do proprio urn mundo que, mesmo rigor a experiência próprio leitor, ja já que todo texto desenha um sendo fictício, ficticio, continua sendo um mundo. Um mundo que será sera sempre ofertado àa apropriação apropriagao crítica critica dos leitores. Se o 0 mundo do texto ée’ sempre imaginário, imaginario, o mundo rnundo do leitor é6': real, mas, ao mesmo tempo, capaz de remodelar a esfera do imaginário. imaginario.

Trazendo o seu mundo para as paginas páginas daquela publicaeao, publicação, ofertando seus sentidos para transformar a realidade sob a forma de texto, o leitor começa comega a preencher as lacunas do texto antes mesmo de sua produeao. produção. O confronto existente entre autor e urn trazendo recursos opostos para o combate que se realiza na leitura e na leitor, cada um interpretaeao (Ricoeur, 1990:39), 1990239), começa, comeea, portanto, antes mesmo da produeao interpretação produção textu— textuinformaeao do leitor seja validada pelo jornal — notial. Caso a informação – transformando-se em notíficoao impressa, passando a ser de um cias —, –, o seu mundo real se transforma em ficção universo abrangente de leitores. Esses, por sua vez, preenchem os vazios do texto, descobrindo lugares de indeterminaeao. Assim, o texto completa o seu itinerário itinerario pela leitura, tornando-se indeterminação. produoao comum do autor e do leitor. Essa leitura induz a novas formas obra, isto é, produção configurar a realidade, ao produzir interpretações interpretaooes que muitas de ver o0 mundo, de configurar as paginas nurn círculo circulo intermiintermi— vezes retornam às páginas do jornal sob a forma de novos textos, num navel produoao/leitura. nável produção/leitura.

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Cada ação aeao narrativa, por sua vez, ve2, instaura o 0 mundo das coisas contadas, o reino do d0 “como “como se”. se”. E, assim, o 0 jornal segue falando sobre o 0 mundo como se fosse real, como se o0 fato relatado tivesse acontecido aeontecido daquela forma, como se tivesse existido. Neste sentido ée que podemos dizer di2er que o 0 mundo das coisas contadas eontadas ée sempre do d0 reino do “como “como se” se” da ficção ficeao e a experiência experiéncia irá ira depender sempre da voz V02 narrativa que contém contem uma multiplicidade de vozes: V02es: a voz V02 do autor e de todos aqueles que são sao designados pelo ato de narrar. Existem, pois, inúmeros inumeros atos memoráveis memoraveis na voz V02 narrativa. O mundo proj projetado etado cruza-se eru2a-se com um outro mundo, o 0 do d0 leitor, fazendo com 00m que o 0 ato de leitura se torne médium produz a transferéncia transferência da medium decisivo, através atraVes do qual se produ2 estrutura da configuração transformação da ação configuraeao narrativa àa sua refiguração refiguraeao e a transformaeao aeao humahuma— na passada ou futura. O “como “como se” se” dessa experiência experiéneia da leitura coloca coloea em destaque a questão questao da voz V02 narrativa, que, como ja já dissemos, não nao ée’ apenas a voz V02 narrativa do autor, mas uma voz tradição, do V02 que em essência esséncia ée cultural (da tradieao, d0 mundo onde 0nde ele se insere, das representações, representaeoes, das visões Visoes de mundo sub-reptícias sub-repticias ao a0 texto). Esta é uma das rara— zões zoes pelas quais as histórias historias contadas parecem pertencer àa memória memoria de alguém alguem que “fala” “fala” no e pelo texto. “A “A voz V02 narrativa tem antes de qualquer coisa eoisa seu próprio e seu proprio próprio passado, de onde tempo proprio 0nde emergem os 0s acontecimentos aeontecimentos recontados.” recontados.” (Ricouer, 1990:34) 1990:34)

O desfecho da trama A edição edieao comemorativa de primeiro aniversário aniversario de Crítica, Crz'tica, em 21 21 de novembro n0Vembr0 de 1929, páginas, testemunha o0 sucesso do empreendimento de Mario Mário Rodrigues. 1929, com 40 paginas, Os anúncios publicação, mas, anuncios distribuem-se de maneira indiscriminada por toda a publicaeao, mesmo assim, “devido publicar “deVido ao a0 acúmulo acumulo de matérias”, mate’rias”, são sao “forçados “foreados a deixar de publiear edieao vários Varios anúncios anuneios e artigos de colaboração”. colaboraeao”. nesta edição historia, destacam destaeam as inovações inovaeoes gráficas graficas que introduzem. Referindo-se a sua recente história, “A folha com suas paginas 0s seus comentários comentarios palpitantes se “A páginas movimentadas, os feieao de todos os outros jornais. Era no letreiro luminoso, afastavam, e muito, da feição n0V0, de leve, de atraente. Os distribuidores tém alguma coisa de novo, têm o0 faro agudo, por isso iss0 mesmo, o 0 nosso Perrotta mandou que a máquina maquina rodasse logo de saída saida now matutino. Os velhos profissicem mil... A À tarde, ainda se lia e comentava o0 novo profissitítulos, os grises. Nao Não ée um onais afeitos àa rotina estranharam aquela variedade de titulos. jornal — di2iam — E que tudo em Crítica Critica se movimentava, ocasio– diziam – ée’ um carrossel. É d0 usual. Mas o publico hou— nando surpresas, fora do público compreendeu. E gostou. Nao Não houVe encalhe”. encalhe”. (Crítica. (Critica. 21 21 novembro de 1929. 1929. Quarta seção, seeao, p. 3. Grifos nossos) ve História Cultural da Imprensa

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– tipologias A profusão profusao de títulos titulos utilizando os mais variados efeitos gráficos graficos — 15 díspares, , recortes e, sobretudo, ilustrações – faz do jornal uma espécie dispares, grises grises”, ilustracoes — especie de calidoscópio público calidoscopio de imagens. Ao lado da “feição “feicao gráfica” grafica” inovadora, oferecem ao publico como unidade textual um cardápio tragédia urbana. cardapio envolvendo toda espécie espe’cie de trage’dia Na análise analise realizada por ocasião ocasiao de seu primeiro aniversário, aniversario, o sucesso do emem—

preendimento ée’ atribuído atribuido a essas inovações. inovacoes. Graças Gracas aos protocolos de leitura que incluíam nas suas páginas, chegam à marca dos 130 incluiam paginas, a 130 mil exemplares diários. diarios. “A “A sua circulação circulacao nunca fora atingida. Aos seus guichets corriam, por isso mesmo, os anunciantes. Muitos se decidiram, então, entao, a imitá-la. imita-la. Outros a copiácopia— serVilmente. Alguns foram até ate’ ao plágio plagio o mais evidente, adotando não nao só so a la servilmente. feição feicao gráfica grafica como, também, borboleteando sobre os artigos e comentários...” comentarios...” (Crítica, (Critica, 21 21 novembro de 1929. 1929. Quarta seção, secao, p. 3) padrão gráfico, A adoção adocao do novo padrao grafico, “chocando “chocando com os moldes antiquados e rotineirotinei— ros da maioria dos nossos periodicos”, periódicos”, é, e’, em grande parte, a razão razao para o sucesso da iniciativa. A0 Ao lado disso, também presença dos repórteres tambe’m ée’ fundamental a presenca reporteres no local mesmo dos acontecimentos. Para isso criam “a “a Caravana da Crítica”, Critica”, nomeada “impá“impa— vida Vida patrulha, perscrutadora de segredos e mistérios”. miste’rios”. E explicam: “A “A Caravana de Crítica Critica nasceu do entusiasmo dos nossos repórteres reporteres e, nesse mesmo ambiente, tornou-se uma força forca remarcada na nossa imprensa com a personalidade que o seu desenvolvimento lhe granjeou. Plasmou-se este grupo de empolgantes ‘sherlocks’ ‘sherlocks’ em um núcleo nucleo corajoso de farejadores farej adores de crimes, de tragédias, tragedias, dos pesquisadores de curiosidades, dos decifradores de mistérios. profícua deste jornal. jornal. Veloz, misterios. A Caravana ée o fulmen da ação acao proficua ativa, desconhecendo perigos, arrostando todos os sacrifícios pensasacrificios com o pensa— fixo no imprevisto, impreVisto, ela está esta em todo lugar; ée o olho vivo Vivo da nossa mento fixo reportagem”. (Crítica, (Critica, 21 21 novembro de 1929. 1929. Quinta Seção, Secao, p. 8) reportagem”. Atribuem, portanto, ao repórter reporter a tarefa de investigar os crimes, “farejar” “farej ar” trage’dias, tragédias, “decifrar” mistérios. misterios. Aos repórteres reporteres cabe o papel de investigador, descrevendo com “decifrar” minucias os crimes e outros fatos que interrompem o cotidiano e produzem todas as minúcias reporteres correndo pelas ruas da cidade uma espécie de ruptura na ordem casual. Aos repórteres acao com a da policia. cabe a tarefa de desvendar fatos, confundindo-se sua ação polícia.

15 Grise é o nome que se dá dé ao a0 recurso de impressão impressao que publica tons dégradés na escala de cinza. cinza.

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“Com “Com a criação criacao deste grupo impávido impaVido de criaturas perspicazes e intemeratas, que revoluteia por toda cidade em corrida desordenada, buscando anotações anotacoes sobre os fatos mais sensacionais, revolucionou-se revolucionou—se a nossa capital, onde, até ate’ então, entao, a reportagem policial era feita com imperfeição imperfeicao e sem o vulto que merecem as passagens mais rumorosas da vida Vida de vertigem da grande metrópole metropole brasileira. Crítica, Critica, efetivamente, implantou o sensacionalismo. Foi, aliás, público que se interessa avidamente pelos aconalias, ao encontro do gosto do pl’iblico acon— tecimentos do meio que o circunda”. circunda”. (Idem, (Idem, ibidem) Mas não nao basta a descrição descricao pormenorizada da tragédia. É E preciso sintetizar a notínoti— cia sob a forma de imagem. Só so a imagem poderia revelar a “emoção “emocao da tragédia, o 0 barbaros, o ofrisson desastres”. horror dos crimes bárbaros, frisson dos desastres”. “O “O controle desse conjunto de nossos repórteres reporteres é feito pelo artista Roberto Rodrigues e por Carlos Leite, dois temperamentos aventureiros, espíritos espiritos renovadores e cérebros privilegiados, sob cuja orientação orientacao se movimenta esta formidável formidavel organização organizacao que ausculta a cidade, recolhendo-lhe às as menores vibrações. Vibracoes. Roberto Rodrigues, o ilustrador sui generis, criou, na reportagem moderna, um novo gênero género que o consagra. Os seus trabalhos, inspirados nos episódios episodios mais impressionantes do fato do dia, dão dao ao noticiário; noticiario; transmite aos leitores curiosos, as emoções emocoes de uma tragédia, o 0 horror de um crime bárbar— baro, o frisson de desastres. A luminosidade do talento multiforme deste jovem artista empresta às as nossas páginas, paginas, ao vivo, Vivo, todas as emoções emocoes por que pode passar o cérebro humano, desde a expressão expressao horripilante de um monstro, até ate a reconstituição reconstituicao perfeita de um delito bárbaro, barbaro, em lugares algumas vezes inacessíveis...” inacessiveis...” (Idem, (Idem, ibidem) A imagem dá da ao leitor a proximidade necessária necessaria para visualizar Visualizar a veracidade da trama. A imagem traz o “ao “ao vivo” Vivo” para a notícia, noticia, reconstituindo com perfeicao perfeição o0 crime barbaro ou a expressão expressao horripilante de um monstro. Mais do que “auscultar “auscultar a cidade, bárbaro recolhendo—lhe as menores vibrações”, Vibracoes”, as imagens que acompanham invariavelmente recolhendo-lhe sensacoes sejam sej am contempladas pela descrição descricao os textos é que fazem com que outras sensações noticia. Ao lado da imaginação imaginacao criadora, colocada em evidência evidéncia com a descrição descricao da notícia. reconstrucao da tragédia ao visualizar Visualizar a imagem. A imagem induz da cena, assiste-se àa reconstrução sensacao do olhar. àa sensação Crz'tica investe, pois, neste tipo de estratégia estrate’gia editorial, multiplicando os persona— Crítica persona“Caravana”. Além do repórter reporter Carlos Leite e do gens que passam a fazer parte da “Caravana”. ilustrador Roberto Rodrigues, esta ée composta também de Fernando Costa, Eratostenes Frazao, Carlos Cavalcanti, Carlos Pimentel, Floriano Rosa Faria, além ale’m de outros memmem— Frazão, “secretos”. “Também “Também as nossas senhoritas repórteres reporteres tém gran— bros “secretos”. têm colaborado com granHistória Cultural da Imprensa

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de eficiência eficienoia para o êxito exito dos nossos trabalhos, isto sem aludir ao incansável incansavel Moraes, fotógrafo fotografo oficial oficial da Caravana, a quem se devem os furos fotográficos fotograficos de Crítica”. Critica”. (Idem, (Idem, ibidem). É E preciso considerar que a tipologia da narrativa depende em essência essencia das exigênciexigenci— as dos seus leitores e de sua necessidade de expressão. expressao. Falando de personagens do cotidiano, remontando histórias historias que pertencem ao universo do leitor, abrem espaço espaeo para as narrativas comuns, negando o valor dos personagens lendários lendarios e célebres. A celecele— bração peripécias daqueles que saindo do mundo dos leitores braoao se faz via narração narraoao das peripecias passam a pertencer pertenoer momentaneamente ao mundo dos personagens para, em seguida, voltar de novo ao mundo. Os personagens anônimos anonimos envolvidos nas tramas complexas e enigmáticas enigmaticas do cotidiano atendem, pois, às as exigências exigenoias dos leitores e de suas leituras, ao mesmo tempo em que as estratégias narrativas produzem repostas emocionais. Construindo personagens sem passado lendário, tradição anterior e, lendario, histórias historias sem tradioao sobretudo, tecendo uma descrição público, essas descrioao fiel fiel às as múltiplas mfiltiplas experiências experiéncias do pfiblico, notícias noticias sensacionais produzem uma espécie espe’cie de correspondência oorrespondéncia entre o texto e a realidade que ela imita. Com isso, constroem a proximidade desejada desej ada com o leitor, ao mesmo tempo em que os documentos — – incluindo aí – a1’ as ilustrações ilustraooes e as fotografias fotografias — produzem a crença crenoa na autoridade do impresso, suprindo a ausência ausencia da viva voz. Desta transforma—se no “ao “ao vivo”, vivo”, destacada pelo texto que celebra oelebra a proforma, a imagem transforma-se dução duoao noticiosa. Vinte e nove dias depois da edição edioao que destaca o sucesso de Crítica, Critica, uma tragédia produz uma peripe’cia peripécia na trajetória próprio jornal. Invadindo a redação, traj etoria do proprio redaoao, revoltada com a notícia noticia publicada na véspera, Sylvia Tibau “alvejou “alvejou a bala em premeditada emboscada” emboscada” Roberto Rodrigues. E continuam: “Atraindo “Atraindo o nosso companheiro a um gabinete reservado, a criminosa, traiooeiramente, traiçoeiramente, baleou-o baleou—o no ventre, com frieza sansan— guinaria sem nome”. nome”. (Crítica, (Critica, 27 dezembro de 1929, 1929, p. 8) guinária A0 Ao noticiar o fato, o jornal enfatiza de maneira emocional a brutalidade que se cfipula do jornal, com o atentado que Roberto Rodrigues sofre na reda— abate sobre a cúpula reda950. O filho filho do diretor Mário Mario Rodrigues ée descrito com minúcias, minficias, fazendo com que se ção. torne personagem reconhecido do leitor. “Apesar de sua pouoa nao tem na sua vida Vida de “Apesar pouca idade, Roberto Rodrigues não adolescéncia explica eXplica e absolve. Ausartista e de homem um fato desses que a adolescência intimos, ja familia, sua vida ée’ um exemplo de tero nos seus costumes íntimos, já chefe de família, circunspeoao”. (Crítica, (Critica, 27 dezembro de 1929, 1929, p. 8) circunspeção”. No calor dos acontecimentos, o leitor tem a reconstrução reoonstruoao do fato em uma descridescri— 950 pormenorizada. ção

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“Como já às tarde de “Como era dos seus scus hábitos, habitos, ja as 15 15 horas da tardc dc ontem, ontcm, Roberto Rodrigues palestrando com vários Rodrigucs encontrava-se cncontrava—sc na redação redacao palcstrando Varios companheiros. companhciros. Em dado momento, sem scm fazer-se fazcr—sc anunciar, de dc maneira mancira insólita insolita a criminosa, útero utcro dos apaziguados de penetra esta dc Assis Chateaubriand, pcnctra csta redação redacao e, c, dirigindo-se dirigindo-sc ao primeiro primciro que quc lhe lhc veio vcio ao encontro cncontro indaga, em cm desembaraço dcscmbaraco ec impolidez, impolidcz, se sc o0 nosso diretor, presente”. (Idem, dirctor, Dr. Mário Mario Rodrigues, Rodrigucs, estava cstava prcscntc”. (Idem, ibidem) E continua: “Obtendo “Obtcndo resposta rcsposta negativa, isso não nao a impediu, contudo, de dc ir até a porta do gabinete gabinctc da chefia chcfia de dc redação redacao cuja porta empurrou, cmpurrou, examinando cxaminando o 0 interior do aposento propício, pois, ao seu aposcnto inteiramente intciramcntc vazio ec propicio, scu plano sanguinário. sanguinario. Ato contínuo continuo dirigiu-se dirigiu-sc ao nosso companheiro companhciro Roberto e, c, sem scm alteração altcracao nenc— nhuma da voz, gesto ou fisionomia, disse-lhe desejar falar-lhe”. (Idem, ibidem) fisionomia, dissc-lhc dcscj ar falar—lhc”. (Idem, A descrição dcscricao coloca o leitor lcitor na redação rcdacao de dc Crítica. Critiea. Roberto, que quc se sc encontrava cncontrava

sentado, scntado, levantou-se lcvantou-sc àa aproximação aproximacao da mulher mulhcr ec “cortesmente “cortcsmcntc indicou-lhe indicou-lhc uma cadeicadcira ao lado”, preferiu encamilado”, dispondo-se dispondo-sc a ouvi-la. ouVi—la. A seguir scguir informam que quc a mulher mulhcr prcferiu cncaminhar-se tratar-se de tendo em nhar—sc ao gabinete gabinctc ao lado, por tratar-sc dc um lugar mais reservado, rcscrvado, tcndo cm vista Vista o0 aspecto particular do assunto que texto quc iria tratar. Criando um efeito cfcito suspensivo, o tcxto apela apcla a todos os sentidos. scntidos. “Minutos “Minutos após, apos, do gabinete gabinctc da chefia chcfia da redação, redacao, para onde ondc os dois se sc haviam haViam retirado, rctirado, partia uma detonação, dctonacao, seguida scguida de dc um apelo apclo de dc socorro clamado pelo pclo nosso Roberto. Imediatamente, Imcdiatamcntc, ao estampido, cstampido, ao grito e6 ao a0 baque baquc do corpo, os que quc se sc achavam na sala da redação redacao lançaram-se lancaram-sc ao local de dc onde ondc viera Vicra a denotação, dcnotacao, indo encontrar cncontrar a criminosa, em cm cinismo sorridente, sorridcntc, de dc arma fumegando perfurado, Roberto, fumcgando àa mão mao e, c, ao solo, estorcendo-se cstorccndo—sc com o ventre ventrc pcrfurado, vítima Vitima da emboscada cmboscada e da vilania Vilania da amante amantc de dc todos os flibusteiros flibustciros da imprcnsa dcssa terra”. tcrra”. (Idem, (Idem, ibidem) prensa dessa A narrativa implica uma interação interacao do leitor lcitor àquele aquclc mundo. Para isso é necessário necessario dcscrcvcr o 0 crime, detalhando dctalhando tudo aquilo que quc faz pulsar os sentidos. scntidos. Os sons ecoam ccoam descrever imaginacao do leitor, lcitor, construindo a cena ccna pclo scntido auditivo que quc introduz: prina imaginação pelo sentido mciro o estampido, cstampido, depois dcpois o grito ec por último ultimo o baque baquc do corpo ao chão. chao. Tal como o meiro lcitor, também tambc’m quem qucm está csta descrevendo dcscrcvcndo a cena ccna prcscnciou—a apcnas através atravc’s dos sons leitor, presenciou-a apenas quc ecoaram ccoaram na sala. E, tal como o repórter, reporter, o leitor lcitor reconstrói rcconstréi — memoria — que – por memória – as scnsacocs que quc a notícia noticia destaca. dcstaca. sensações funcao de dc narrador privilcgiado da ao repórter reporter a prcrrogativa dc se sc Mas a sua função privilegiado dá prerrogativa de scr onipresente, oniprcscntc, capaz de dc visualizar Visualizar o que quc se sc passara num cômodo comodo no constituir como ser

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qual apenas a vítima vitima e a criminosa estavam presentes. O redator descreve os detalhes, agora a partir de um outro sentido — – o olhar —, –, imaginando a cena para que tambe’m também o leitor possa imaginá-la. imagina-la. “Sylvia “Sylvia Thibau a sós sos com Roberto Rodrigues verberou asperamente a rere— portagem que ontem foi publicada sobre o seu desquite. Gentleman Roberto procurou, com a mesma delicadeza explicar a atitude do jornal, mas a meremere— triz não nao deu tempo, trazia o 0 crime premeditado. Queria matar. Roberto estava sentado a uma mesa, em cuja cabeceira se encontrava tambem também sentada a cricri— minosa. Disfarçadamente Disfarcadamente Sylvia Thibau abriu a bolsa onde trazia um revólrevol— ver Galant, tipo pequeno e de lá la retirou a arma”. arma”. Visualizando todos os detalhes, mescla a descrição descricao com opiniões opinioes veladas, que colocam em campos opostos o vilão e a vítima. Em contrapartida àa delicadeza do vilao vitima. ilustrador sobressaem a premeditacao premeditação do crime e a dissimulação dissimulacao da assassina. “Roberto ponta“Roberto nada percebera. De repente, erguendo-se erguendo—se a prostituta fez ponta— ria e deu ao gatilho. A bala foi atingir em pleno ventre. Roberto ergue-se da cadeira, soltando um grito de dor para cair, ensanguentado no assoalho. Sylvia arma em punho ainda tentava alvejar alvej ar Roberto, quando foi presa em flagrante flagrante pelo inspetor Garcia”. Garcia”. (Crítica, (Crz'z‘ica, 27 dezembro de 1929, 1929, p. 8) Durante quatro dias, o leitor acompanha o desfecho da trama. Roberto Rodrigues agonizando no hospital, as manifestações prisão de Sylvia Thibau, manifestacoes de solidariedade, a prisao a morte e o enterro da vítima. vitima. público sentir-se Narrativas emocionadas criam um mundo imaginado, fazendo o pfiblico sentir—se participativo daquela realidade mitificada. mitificada. Ao mesmo tempo em que se informa sobre o mundo, o leitor estabelece uma relação relacao com o jornal. Pode admitir que os fatos sao homólogos homologos àa realidade ou perceber exagero na descrição, descricao, de tal forma descritos são afirmar que as relações relacoes estabelecidas entre o pfiblico que podemos afirmar público e os periodicos periódicos se funcao das táticas taticas e estratégias estrategias de recepção. recepcao. fazem em função irao multiplicar as estratéestratePara construir um mundo tido como real, os periodicos periódicos irão verossimil em verdadeiro. Se a criação criacao da verossimilhança verossimilhanca se gias de transformar o verossímil aproximacao com as narrativas familiares, comuns e faz num primeiro momento pela aproximação verossimeis são 350 os OS textos que falam de um mundo quotidianas, num segundo instante verossímeis convencoes conhecido, que por ser semelhante é6': real e, portanto, verdadeiro. Entre as convenções estao aquelas que se configuram configuram como testemunho autêntico, autentico, narrativas fundamentais estão apos dia o 0 crime na Rua dos Ourives. tal como os textos que noticiaram dia após Ha que se considerar ainda que a notícia noticia possui uma perenidade, fazendo com que Há espe’cie de contínuo, continuo, oferecendo ao leitor a oporopor— cada texto tenha no subsequente uma espécie

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tunidade de se familiarizar com aquela rede de textos. Dessa forma, pode em cada

história historia recapitular uma outra história. historia. As narrativas sensacionais produzem heróis herois isolados da sociedade (como

Roberto Rodrigues), que podem ou não nao ser reincorporados ao mundo social, gragra— ças Assim, as notícias eas ao seu poder de ação aeao (como (eomo Sylvia Thibau). AssiIn, notieias deslocam desloeam a centralidade de seu herói – heroi para o mundo Inundo comum. eomuIn. Descrevendo seres ordinários ordinarios — como os leitores —, –, elevam tambe’m também a sua capacidade de construir valores miméticos mime’ticos (o leitor ora se identifica tragédia, ora se revolta com a iniquidade identifica com o herói heroi da trage’dia, do vilão), Vilao), aumentando a ideia de plausibilidade do fato narrado e o poder de verossimilhanea da narrativa. rossimilhança Essas notícias noticias de tanto sucesso sueesso nos anos 1920, 1920, na cidade do Rio de Janeiro, conscons— patéticos, perdedores, que, tais como os leitores, estão posição introem heróis herois pate’ticos, estao em posieao ferior. De tal forma que se deixa vencer trágico. veneer pela trama narrativa. O seu fim fim ée’ tragieo. A morte materializa sua inferioridade em poder e inteligência. inteligéncia. Essa rede de textos ganha, portanto, significações significaeoes múltiplas Infiltiplas que dependem fundafunda— mentalmente da tessitura da intriga construída, construida, do grau de proximidade que estabeleestabele— ce com o leitor, da possibilidade de instaurar uma espécie espe’cie de modelo de mundo a partir das descrições. descriooes. Cada começo comeeo induz a um fim fim esperado ou inesperado, que rere— produz, de certa forma, a intriga grandiosa do mundo. As notícias noticias policiais são sao uma espécie já pressupoe pressupõe um espe’cie de narrativa imanente, iInanente, cujo eujo começo comeeo ja urn desfecho esperado. lembranea Farrapos de lembrança

tragédia de Roberto Rodrigues desencadeia num curto espaço A trage’dia espaeo de tempo o 0 fim fun do proprio Mario Rodrigues morre dois meses depois. próprio jornal. Abatido, Mário “Foi o fim fim de meu pai, que morria dois meses depois. A mesma bala que “Foi Mario Rodrigues. Mas o cravou na espinha de Roberto, ah, matou o Velho Mário outros”. que preciso dizer, aqui, ée que eu me sentia mais ferido do que os outros”. 1977:339) (Rodrigues, 1977:339) A memória memoria de Nelson Rodrigues ao recordar o fato coloca em cena um outro texto nao figuram figuram na narrativa construída construida no calor dos acontecimenaconteeimenfeito de detalhes que não tos. Entretanto, as particularizaeoes sensaeoes se repetem nos dois textos. Na particularizações das sensações memoria das sensações, sensaeoes, o grito que envolve a cena eena forja o clímax climax da narrativa. memória A crônica cronica de Nelson Rodrigues, Rodri ues “Grito”, “Grito”, relembra com exatidão exatidao o som que ue sela o 9

fim tragico lider da “Caravana “Caravana de Crítica”: Critica”: fim trágico do líder

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“Naqueles “Naqueles cinco, seis minutos, acontecera tudo (e como, corno, nesses momentos, a figura figura do criminoso ée secundária, secundaria, nula. Eu me rne lembrei da ira; eu não nao pensei em tambem também ferir ou em tambe’rn também matar. Só so Roberto existia. Estava ali, deitado, certo, certo, de que ia morrer. Pedia só so para não nao ser tocado. Qualquer movimento movirnento era uma dor jamais concebida). Vinte V1nte e seis de dezembro de 1929. 1929. Nunca mais me libertei do seu grito. Foi o espanto de ver e de ouvir, ouVir, foi esse espanto que os outros não nao sentiram na carne e na alma. E só so eu, um urn dia, hei de morrer abraçado abraoado ao grito do meu irmão irmao Roberto. Roberto Rodrigues”. Rodrigues”. (Idem, (Idem, ibidem) três décadas No texto escrito trés de’cadas depois do crime, muitos rnuitos dos detalhes que figuram figuram na descrição 950 do jornal voltam àa cena pela memória memoria de Nelson. Outros são sao completamente esquecidos. “De “De vez em ern quando, antes de dormir, começo corneoo a me lembrar. Vinte e seis de dezembro de 1929. E as coisas tomam uma nitidez desesperadora. A memória 1929. tomarn memoria deixa de ser a intermediária intermediaria entre mim e o fato, entre mim e as pessoas. Eu estou na relação relaoao física, fisica, direta, com Roberto, os outros, os móveis”. moveis”. (Idem: 338) personagem que presenciou a cena, sobressaem tam— tamNa sua memória memoria afetiva de personagern bém bem detalhes que certamente certarnente passaram despercebidos desperoebidos aos leitores de outrora. A hora do crime, o0 inspetor presente na cena, as ações aooes realizadas por Roberto minutos antes irrornper a redação. redaeao. de Silvia Thibau irromper “São “‘Sao duas da tarde ou pouco menos. É E a redação redaoao da Crítica Critica na Rua do Carmo. Carrno. Ao lado, há ha uma serraria e, em seguida, um restaurante, chamado Virosca, ou coisa que o valha. Estamos Estarnos eu, Roberto, o chofer Sebastião, Sebastiao, que servia serVia meu pai há ha anos e anos; o detetive Garcia, que ia muito, lá, la, conversar fiado. fiado. Roberto acaba de tomar tornar uma cajuada. Eu não nao me lembro do contínuo continuo que fora buscar o refresco. É presença que me falta”. E essa a única finica presenoa falta”. (Idem: 338-339) 338—339) recriaeao da cena da tragédia trage’dia faz-se faz—se tambe’m recomposioao das sensasensa— Mas a recriação também da recomposição ooes que ficam ficam impressas nos sentidos do escritor. A criminosa orirninosa não nao é identificada, identificada, ções transformando—se na crônica cronica de Nelson em personagem personagern do esquecimento. esqueoimento. Mas os transformando-se estao gravados para sempre: a voz doce, a naturalidade, os detalhes de seus gestos estão carninharn e voltam... passos que caminham “Ouoo a voz perguntando, cordial, quase doce: — Mario Rodrigues “Ouço – Doutor Mário esta? Nao nenhurn de nós nos a mais leve, tenue, longinqua suspeita de está? Não ocorreu a nenhum tênue, longínqua Corno desconfiar desconfiar de uma naturalidade total? O 0 chofer Sebastião Sebastiao responnada. Como Mario Rodrigues não nao está. esta. Nova pergunta: — Mario Rodrigues deu: — – Doutor Mário – E Mário esta? Também Tambern não nao (...) Vejo os passos que vão Vao até ate a sala da frente. É E Filho está? vaivem. Ninguém lá. la. Os passos voltam”. voltarn”. (Idem, (Idem, ibidem) empurrada a porta de vaivém.

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Entre tragédias e sensações

Na sua memória, memoria, tal como na notícia noticia publicada pelo jornal no dia seguinte ao crime, figuram figuram as sensações. sensacoes. Quem pede ée a voz. Quem vai em frente são sao os passos.

“A – O senhor podia me dar um mo“A voz pede (e há ha um vago sorriso): — mo— mento de atenção? atencao? Roberto está esta do outro lado da mesa, sentado. Ergue-se: – Pois não. — nao. Enquanto ele faz a volta passando por mim e por Sebastião, Sebastiao, os passos vão Vao na frente. Entram pela porta de vaivém. vaiVem. Roberto entra em seguisegui— anos”. (Idem, (Idem, ibidem) da. Ele tinha 23 anos”. Na descrição descricao noticiosa interessa pontuar a gentileza da vítima Vitima (o “gentleman” “gentleman” Roberto), o seu caráter, carater, detalhes como a informação informacao que passaram a uma sala reservada por solicitação solicitacao da criminosa, tornando-o, tornando—o, a partir desta composição composicao textual, personagem reconhecido pelo publico. público. Na descrição descricao memorável memoravel do escritor sobressai a emoção. emocao.

“Enquanto “Enquanto Roberto caminhava para a sala, eu me dirigia para a escada. Ia ao café, Lá dentro, não cafe, na esquina da Rua do Carmo com Sete de Setembro. La nao houve tempo para uma palavra. Roberto levou o tiro ao entrar. Parei com o estampido. E veio, quase ao mesmo tempo, o0 grito. Nao Não apenas o grito do ferido, mas o grito de quem morre. Nao Não era a dor, era a morte. Ele sabia que sabia”. (Idem, (Idem, ibidem) ia morrer, eu também sabia”. Os detalhes da cena desaparecem. O diálogo dialogo imaginado na notícia noticia publicada no dia 27 de dezembro de 1929 – que revela a razão – não 1929 — razao do crime — nao mais existe. Eles ficaram público, não ficaram nas leituras realizadas e na memória memoria do publico, nao na do cronista. As suas lembranças lembrancas retêm retém traços tracos que dizem respeito àa ação acao individual. É E a narrativa de seus próprio irmão. passos, em contraposição contraposicao a dos passos de seu proprio irmao. “Todos “Todos corremos. Na frente, de revólver revolver na mão, mao, ia o detetive Garcia. Atras, Sebastiao, eu me lembro, agora me lembro — Atrás, Sebastião, – um bom crioulo, o Quintino, Vi: — caira de joelhos, cego de um olho. Eis o que vi: – Roberto caíra joelhos, crispava as duas maos na mão mao que o ferira. O detetive apontava o revólver. revolver. A voz estava dizendizen— mãos Mario Rodrigues ou um dos filhos. filhos. Simplicidade, doçura. docura. do: — – Vim matar Mário Mario Rodrigues ou um dos filhos”. filhos”. (Idem, (Idem, ibidem) Matar Mário A frase, que revela o ato cruel proferido pela vilã, vila, figura figura nas duas narrativas: na cronica de Nelson Rodrigues e na notícia noticia publicada em 27 de dezembro. No jornal crônica jornal Vir ée substituído substituido pelo verbo querer: “Eu “Eu queria matar Mário Mario Rodrigues apenas o verbo vir filhos.” ou um de seus filhos.” A intencionalidade da criminosa ée reforçada reforcada na notícia, noticia, construindo uma imagemimagem— lembranca em que se prioriza a crueldade. No jornal, a frase aparece várias Varias vezes. Ao lembrança História Cultural da Imprensa

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ser subjugada, subj ugada, segundo Crítica, Critica, a criminosa declara mais uma vez: “Nada “Nada mais quero Mario Rodrigues ou um urn de seus filhos.” filhos.” fazer. Eu queria matar Mário Considerando que a memória memoria ée um trabalho do presente e que os textos produzem significações significaeoes para os leitores que enxergam enxergarn essas narrativas como redes de textos, formando unidades de sentido, a notícia tragédia que se abateu sobre a noticia que relata a tragedia família tragédia familia Rodrigues é uma espécie espe’cie de metáfora metafora que destaca destaea a ideia de crise. A tragedia dos Rodrigues assume proporções gigantescas, transformando-se numa espécie de proporeoes transformando—se Apocalipse. Além Ale’rn da morte, o céu ceu ou on o inferno e o mundo nas mãos maos de sobreviventes esgotados. Restaurar a ordem toma conta ordern anterior parece uma ação aoao débil, de’bil, diante do terror que torna de tudo e de todos. A crise instaura o tempo da eternidade, um simulacro de um pre— presente que se eterniza de tal forma que subsistem — – ainda que sob a forma de ato memomemo— ravel — imagens—lembraneas de Nelson Rodrigues, mais de tres rável – nas imagens-lembranças três décadas depois. As sensações sensaeoes que ecoaram da redação redaeao de Crítica Crz’tica colocam na cena eena um urn fim fim que está esta

lá 121 e lá la ficará. ficara. O leitor, nesse jogo de espelhos, irá ira dissolver a intriga, construindo o 0 final publica final da obra. Ou Cu o 0 término termino se dará dara em 24 de outubro de 1930, 1930, quando Crítica Critica publiea seu último filtimo número, nfimero, ou trinta anos mais tarde, quando, a partir da memória memoria de Nelson Rodrigues, um urn novo fecho feeho será sera dado àquela aquela trama. Roberto Rodrigues encerra um urn capítulo capitulo de uma história historia na qual as sensações sensaeoes davam a senha da construção construeao de um mundo como texto.

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Entre tragédias e sensações

Vestigios memoráveis: memoraveis: III. Vestígios Construindo identidade e história histéria (1920-1930)

“Artur Bernardes era um homem extrema“Artur

mente impopular no Rio de Janeiro e tornou—se tornou-se Eu extremamente impopular no Brasil inteiro. @ era garoto, nessa época, minha opinião opiniao não nao tiimportaneia, só so tern agui, nha a menor importância, tem sentido aqui,

porque se trata de um depoimento. Eu era muiporgue to contra ele, porque era essa coisa de opressão opressao

e tal. Ele governou quatro anos sob estado de sítio. sitio. Já Ja tendo a Lei de Imprensa, lmprensa, ele governou quatro anos sob estado de sítio. sitio. Bernardes era um urn homem de espírito espirito autoritário”. autoritario”. (Depoimento de Leite Filho, Barreto a Gilberto Negreiros.

In: “Os História”. Folha “Os Jornalistas Contam a Historia”. de S. S. Paulo. Grifos nossos)

A memória memoria dos jornalistas constrói constroi um urn mundo particular da profissao profissão e particulafuneao específica especifica do ato de lembrar que vale pela sua significação significaoao futura e não nao riza a função pelo lugar que ocupa no momento da lembrança. lembranea. A memória memoria de Barreto Leite Pinto na de’cada de 1920 1920 só so tem importância importancia pela história historia que trilhou como corno jornalista. E década É desse urn depoimento validado para a história. historia. lugar que ele produz um Barreto Leite Filho inicia sua carreira como jornalista, com corn apenas 16 16 anos, em 1923, no jornal A Notz'cia, “Assisténcia Pública”, Pfiblica”, como era chamachama— 1923, Notícia, como setorista da “Assistência entao o pronto-socorro pronto—socorro do Hospital Souza Aguiar. Nas suas memórias memorias relembra do então final dos anos 1920, 1920, quando ja que, no final já se estruturam os primeiros conglomerados de imprensa no Rio de Janeiro, os jornais são sao ainda extremamente dependentes dos subsidios oficiais oficiais do governo federal. sídios

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Duas tipologias de jornais circulam na cidade: uma imprensa ainda de caráter carater artesanal, caracterizada projeto caraeterizada por suas baixas tiragens e, sobretudo, por ser proj eto executaexecuta— do normalmente por entusiastas na “arte” já estruturada “arte” de fazer jornal e uma imprensa imprensaja em moldes empresariais, processo que se inicia — – como – na eomo vimos Vimos anteriormente — virada Virada do século seculo XIX para o XX. A rigor, as contradições contradieoes entre estes dois tipos de jornalismo se acentuam acentuarn no decorrer da década com a fundação daquele que seria o veículo principal do primeiro condecada fundaoao veioulo glomerado de imprensa. A compra do O – fundado por Renato Toledo Lopes e 0 Jornal — um grupo de jornalistas que abandona o Jornal do Commercio por divergência divergeneia com corn o 0 16 então – por Assis Chateaubriand, em 1925, entao secretário secretario de redação redaeao Felix Pacheco Pacheco16 — 1925, inaugura o movimento de consolidação consolidaeao do poder de Chateaubriand frente àa sociedade política, politica, em função funeao do prestígio prestigio que vai adquirindo como uma espécie espe’cie de Barão Barao da Imprensa. Mas inaugura, sobretudo, um novo período nesta imprensa: a da criação Irnprensa. urn periodo irnprensa: criaeao de grandes grupos de mídia. midia.

O titulo título do jornal é uma espécie provocação ao tradicional Jornal do Commercio, espe’cie de provocaoao cuja identidade construída precisa partieulariza— particularizáconstruida na cidade ée’ de tal ordem que ninguém ningue’m preeisa lo. Basta pedir “O “O Jornal” Jornal” para que todos saibam que se trata do Jornal do Commercio. Escrito em linguagem rebuscada, o agora novo O prestígio entre 0 Jornal adquire certo oerto prestigio as elites, mesmo que nunca – até – nunea tenha atingido — ate a sua compra por Chateaubriand — tiragens expressivas. “Lembro-me “Lembro-me que o Chatô Chato no dia em que tomou conta de O 0 Jornal, tinha no bolso 20 cruzeiros e a camisa que vestia estava com a manga rasgada no punho àa axila. Ele conservou quase toda a redação redaeao aumentando-a com os articulistas Saboia de Medeiros e Antonio Leal, entregando a gerência gerenoia a Argemiro Bulcão”. Bulcao”. (Hora, 1959:33) 1959233) As peripe’eias peripécias realizadas por Assis Chateaubriand para conseguir a soma pedida sao descritas em outras memórias memorias de por Toledo Lopes para comprar o jornal tambe’m também são e’poca. Alguns afirmam afirmam que parte do dinheiro fora o resultado do pagarnento época. pagamento recebido empresario norte-americano Percival Farquhar. pelo trabalho realizado para o poderoso empresário oonseguiu o dinheiro das mãos maos do agiota mais célebre celebre da cidade, o conde Outros que conseguiu Modesto Leal.

“3 Comentava-se Comentava—se na cidade que Renato Toledo Lopes era testa-de-ferro testa—de—ferro de Pandiá Pandia Calógeras, Calégeras, Arrojado LisLis— Pires do Rio, os verdadeiros donos de O 0 Jornal. Jornal. Como em 1920 não nao precisavam mais do empreendiempreendi— boa e Píres questao siderúrgica, siderurgica, venderam-no a Renato mento, fundado para defesa de seus interesses em torno da questão Toledo Lopes que, no ano seguinte, o vendeu a Assis Chateaubriand.

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Vestígios memoráveis

Desde que chega ao Rio de Janeiro, Chateaubriand aproxima-se aproxima—se das cercanias do Ministério poder. É E convidado conVidado por Nilo Peçanha, Pecanha, então entao chanceler, para ser consultor do Ministe’rio do Exterior e por Alexandre Mackenzie para advogado da Light and Power. E essas relações Jornal e formando relacoes farão farao dos veículos veiculos de comunicação, comunicacao, criados na esteira de O 0 Jamal o que viria Diários Associados, um verdadeiro Estado dentro do Estado. Viria a ser os Didrios “Às “As oito da manhã manha de 30 de outubro de 1924, 1924, Assis Chateaubriand atravessou Vessou as oficinas oficinas instaladas no térreo te’rreo do pequeno prédio de quatro andares da rua Rodrigo Silva, subiu o primeiro lance de escadas, passou sem cumpricumpri— ninguem pela redação redacao no primeiro andar, subiu a pe’ mentar ninguém pé mais dois pavimentos e sentou-se na cadeira que até ate então entao pertencia a Renato Toledo Lopes. jornal. E começava Aos 32 anos, ele realizava o sonho de ser dono de um jornal. comecava a sonhar mais alto ainda: aquele seria apenas o primeiro de uma coletânea coletanea de diários país.” (Morais, 1994:140) diarios que ia gerar filhotes filhotes por todos os cantos do pais.” 1994: 140)

Chateaubriand inicia o seu império Jornal, Chateaubriand empreende uma série Assim que assume a direção direcao de O 0 Jamal, serie de mudanças: páginas, da inclusão mudancas: além ale’m da ampliação ampliacao do número numero de paginas, inclusao de textos de colaboradores de renome, como Afranio Afrânio Peixoto, Virgilio de Melo Franco, entre outros, passa a comprar artigos exclusivos do New York American Syndicate, para assim e’poca se chama “um “um estilo cosmopolita”. cosmopolita”. imprimir ao periodico periódico o que na época Em menos de um ano, dobra o seu faturamento com publicidade. Anuncios Anúncios da Companhia Antarctica Paulista, da General Motors, da Sul America América de Seguros, de várias Varias casas bancárias, bancarias, de distribuidoras de combustíveis combustiveis e, principalmente, de laboratórios publicação. ratorios de remédios remedios tomam várias Varias das 20 páginas paginas da publicacao. solucao adotada para tornar o jornal mais ágil agil do ponto de vista Vista gráfico grafico ée o Uma solução numero de paginas, dividindo—o em dois cadernos, sendo o segundo aumento de seu número páginas, dividindo-o 1925, o segundo caderno ée impresso frequentemente impresso a cores. Em abril de 1925, oficinas do La Nation, em Buenos Aires, em rotogravura, tecnica nas oficinas técnica ainda incipiente no jornalismo brasileiro. A política, politica, através atrave’s das campanhas periodicas periódicas que realiza, é o grande assunto. As tambem. Seus repórteres reporteres seguem os passos da Coluna Prestes, grandes reportagens também. romantico e aventureiro do “famoso “famoso capitão capitao exagerando nas tintas descritivas o lado romântico gaucho”. As retaliações retaliacoes não nao tardam. Lidas obrigatoriamente pelos censores, durante o gaúcho”. sitio vigente Vigente no governo de Artur Bernardes, muitas dessas reportagens só so estado de sítio sao liberadas um mês mes depois de escritas. são História Cultural da Imprensa

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“O “O ministro da Justiça, Justioa, que tanto se preocupa em censurar, não nao devia deVia ignominia dessa comparação. comparaoao. Lampião Lampiao ée’ um bandido, um salteasaltea— permitir a ignomínia dor vulgar, um miserável miseravel que assassina para roubar, um urn degenerado que se fez cangaceiro a fim fim de dilapidar os bens e tirar a vida Vida de seus semelhantes. O capitão capitao Prestes ée’ um revolucionário, revolucionario, e, enquanto não nao for julgado por um urn juiz civil ou um urn conselho de guerra, faz parte do Exército Exe’rcito brasileiro. O raid do capitão capitao Prestes valerá valera pela tenacidade e pelo arrojo do soldado-menino soldado—menino de 26 anos, bravo, ardente, pugnaz, como decerto o Brasil nunca tinha visto Visto nada comparável”. Jornal, apud Morais, 1994:150) comparavel”. (O (0 Jamal, 1994:150) Arthur Bernardes decreta o estado de sítio sitio em 5 de julho de 1924, 1924, estabelecendo

com corn ele a censura àa imprensa. “Durante “Durante o governo Bernardes havia haVia uma diferença diferenea entre a imprensa de então entao e a imprensa de hoje. Ele foi o primeiro que proibiu a fórmula formula clássica, classica, isto é, o jornal deixava em branco toda linha ou paragrafo parágrafo censurado, o que alertava o leitor quanto àa censura. Nao Não sei se a ideia partiu dele ou do chefe Chefe da Polícia, Policia, Marechal Fontoura, mas acontece que o jornal era obrigado a compor o espaço espaeo vazio para não nao dar ao leitor a impressão impressao de que fora censucensu— rado”. (Depoimento de Peixoto, Armando Ferreira. In: Memória da ABI) rado”. Memo’ria Adotando a defesa do capital estrangeiro e o antinacionalismo, Chateaubriand se

mantém período, de modo mante’rn na oposição oposioao até ate a Revolução Revoluoao de 1930. 1930. Nesse periodo, rnodo geral, todos os movimentos contra o governo são posição fez o jornal aproxisao apoiados por ele. Essa posioao mar-se mar—se do movimento tenentista. No final final do governo de Washington Luís, Luis, apoia a formaeao da Alianea (DHBBz2863). formação Aliança Liberal (DHBB:2863). Segundo depoimento de Austregesilo Austregésilo de Ataide Ataíde ao CPDOC-FGV, CPDOC—FGV, Getúlio Getulio Vargas, quando candidato àa Presidência Aliança Liberal, ia frequentemente Presidénoia da República Republica pela Alianea oonspirar com corn Chateaubriand contra Washington Luís. Luis. Assim, O 0 Jamal, ern ao jornal conspirar Jornal, em julho de 1930, 1930, acusa o governo federal de ser responsável responsavel pelo assassinato de João Joao Vice—presidencia da República Republica na chapa de Getúlio. Getulio. E, em outuoutu— Pessoa, candidato àa vice-presidência 17 (121 total apoio àa Revolução Revoluoao de 1930 193017 (DHBBz2863). bro do mesmo ano, dá (DHBB:2863).

17 17 O Jornal Jorna/ mudaria de posição posigao logo depois da instalação instalagao do Governo Provisório Provisério de Getúlio Getulio Vargas. Vargas. Apoia a Revolugao Constitucionalista de São Séo Paulo, em 1932, 1932, o que custou a Chateaubriand o confisco da sede do Revolução jornal e de seu maquinário maquinério e o exílio exilio de Chateaubriand (na sede do jornal passa a ser impresso o periódico periédico Nagao). Chateaubriand só so volta em 1933, 1933, quando consegue reaver seu jornal passando a diregovernista A Nação). gao geral do órgão Orgao ao seu sogro Zózimo Zézimo Barroso do Amaral. 1937, que ção Amaral. Apés Após o golpe de 10 de novembro de 1937, Jorna/ passa a sofrer rigoroso controle do governo. governo. Este momento e os 03 outros instaura o Estado Novo, O Jornal ate o 0 fechamento do jornal, consequéncia das péssimas condições condigoes subsequentes, até jornal, em abril de 1974, em consequência encontra, serão serao retomados nos próximos préximos capítulos. capitulos. financeiras em que se encontra,

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Vestígios memoráveis

Passado mítico mitico Os vestígios profissão no periodo período vestigios memoráveis rnernoraveis dos jornalistas que se iniciaram inioiaram na profissao imediatamente anterior ao Estado Novo compõem perfil particular daquele compoem não nao só so um urn perfil que viria Viria a ser um urn dos mais importantes magnatas da imprensa no século seculo XX, como também fundam profissão. Instauram um tarnbern fundarn uma espécie espeeie de passado mítico mitico da profissao. urn momento fundador para os que ingressam jornalisingressarn no mundo do jornalismo, caracterizando os jornalis— possível medir sacrifícios, tas como detentores da missão missao para a qual não nao ée possivel sacrifieios, ao mesmo tempo em que se destacam pelo combate. “Nessa “Nessa época, e’poca, jornalista e conspirador eram erarn na verdade a mesma coisa”, coisa”, afirma afirrna Barreto Leite Pinto (Memória (Memo’ria da ABI). Nas suas falas vão posteriori, a imagem distintiva da profissao. profissão. Uma distinção Vao construindo, a posteriori, distineao conseguida pela função funeao primordial atribuída atribuida pelos jornalistas como eomo grupo no seu discurso memorável. memoravel. Particularizando uma identidade especial —– a de ser detentor da informação informaoao e definidor políticas do Brasil da época – os jornalistas destacam, definidor das manobras politieas epooa — destaeam, como memória memoria do grupo, sobretudo, a ideia de sacrifício sacrifieio e missão. missao. “Jornal “Jornal ée’ vocação, vocaeao, ée amor; na década de’cada de 20 se caracterizava, sobretudo, porque a imprensa era feita com corn amor (...). Mas voltando a esse amor pelo jornal, não nao havia haVia hora de sair. Se houvesse um urn acontecimento, aconteeirnento, nós nos ficávamos ficavamos solidários Não havia solidarios com o secretário, secretario, que não nao precisava nos fazer apelos. Nao haVia nada disso, nem livro de ponto; era o0 orgulho, a satisfação satisfaeao de servir, serVir, de furar um jornal”. (Depoimento de Cotrim urn companheiro, oompanheiro, ou melhor, furar o outro jornal”. Álvaro. In: Memo’ria Memória da AB!) ABI) Neto, Alvaro. Daí também ser naturalizado o fato Dai ser possível possivel trabalhar sem remuneração. remuneraeao. Daí Dai tambe’m de trabalharem mais de 12 12 horas por dia... “Quanto ao horário horario de trabalho diário, diario, posso dizer que só so havia haVia um urn dia do “Quanto ern que os prelos não nao gemiam; era na teroa ano em terça feira de carnaval. Nem Natal ninguern ou Semana Santa. No jornal se trabalhava todo dia, domingo. Mas ninguém tinha ponto, todo mundo, rnundo, em geral, respeitava seu horário, horario, levava sua maquimáquifieava dentro da redação. redaeao. Havia HaVia uma boa convivência conViVéncia nas redações redaooes com na e ficava pequenas divergências divergencias de alguns perversos que criavam certas desavenças. desavenoas. maioria”. (Depoimento de Perdigão, Perdigao, José Jose’ Mas tudo isso era compensado pela maioria”. Maria dos Reis. In: Memo’ria Memória da AB!) ABI) A mítica mitica do amor verdadeiro àa profissao vooaoao, o que impõem impoem necessariaprofissão e da vocação, sacrifieios, atravessam primeiramente a sociedade, para depois se constituírem constituirern mente sacrifícios, corno memória memoria do grupo. Só Sc') porque existe eXiste um urn certo enlevo por aqueles que, mais do como História Cultural da Imprensa

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que uma profissao, profissão, tem têm uma missão missao política politica e social, ée que para o grupo se torna fundamental a existência memória de existéncia dessa premissa na construção construcao de seu passado. A memoria um certo passado comum atravessa primeiramente a sociedade, para depois aparecer na consciência consciéncia do grupo e se transformar em discurso uno em torno dos ideais da profissão. jornaprofissao. E são 350 esses restos do passado que constroem a memória memoria coletiva dos jornalistas no momento em que eles são sao instados a falar como grupo. “A “A gente desanima muito, os jornais deixaram de ser aquilo que eram, um conjunto de pessoas que vibravam Vibravam dentro da mesma ideia. Hoje não nao ée’ isso. Antigamente ninguém ningue’m podia pensar em horário horario de jornal porque o sujeito suj eito vivia ViVia dentro do jornal, porque ele queria e só roda56 saía saia dali depois que as colunas roda— vam”. Memória da ABI) vam”. (Depoimento de Perdigão, Perdigao, José Jose Maria dos Reis. In: Memo’ria Esse tipo de fala que arquiteta o passado como sendo em muito superior ao tempo presente, instaurando um momento de glórias glorias e virtudes, Virtudes, em contraposição contraposicao a um presente onde todos os valores existentes anteriormente se perderam, repete-se repete—se com frequência frequencia na mítica jornalismo. Assim, o jomalismo jornalismo feito no passado ée sempre construído mitica do mundo do jomalismo. construido como sendo de outra ordem: antes havia profissão, o que haVia a vibração, Vibracao, o amor verdadeiro àa profissao, fazia com que não nao houvesse pressa em deixar o 0 local de trabalho e ninguém ninguem pensasse em horário. jornalista, na mitificação horario. O jomalista, mitificacao construída construida como discurso memorável, memoravel, queria ver o 0 produto de seu trabalho pronto, não jornal. Agora, nao se importando com a hora de deixar o jomal. no discurso memorável jornalista que relembra o passado, tudo ée diferente. memoravel do jomalista Os indivíduos, individuos, ao se perceberem (ou ao se imaginarem, como diz Benedict Anderson) como membros de um grupo, produzem diversos tipos de representação representacao

quanto a sua origem, história historia e natureza neste grupo. E uma das marcas mais recorrentes no discurso dos jornalistas, ao lado da idealização profissão como lugar de idealizacao da profissao sacrifícios, sacrificios, ée’ a construção construcao de um dado ideal de modernidade. A cada década de’cada uma nova modernidade ée construída. construida. Assim, também tambe'm nos anos 1920, 1920, um novo movimento no forj ado na memória memoria do grupo. Ao considesentido de mudar e atualizar a profissao profissão ée forjado modernizacao como espécie espe’cie de palavra de ordem, utilizam-na utilizam—na tambem rar a modernização também como signo da identidade do grupo, ainda que essa fosse sempre de responsabilidade de profissionais claramente identificados. identificados. São $510 os 03 grandes nomes do jornalismo que, na profissionais memoria do grupo, promovem as revoluções revolucoes periodicas nao seria difedife— memória periódicas da imprensa. E não relacao àa memória memoria forjada forj ada para a década de 1920. 1920. rente em relação “O Chateaubriand transformou O Jornal em um órgão orgao austero, indepenindepen— “O nivel, que tinha os melhores colaboradores, inclusive esdente, do mais alto nível, duVida, no Rio, a trangeiros. (...) Foi o Chateaubriand que introduziu, sem dúvida, separacao completa entre informação informacao e comentário. comentario. A opinião opiniao era emitida em separação

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editoriais, em artigos dele ou em cartas no máximo. maximo. Ele lia toda matéria mate’ria importante do jornal e se houvesse alguma que ele não nao aprovasse como objetiviobj etiVi—

dade, chamava o jornalista responsável responsavel e passava uma reclamação”. reelamaeao”. (Depoimento de Pinto, Barreto Leite. In: Memo’ria Memória da AB]. ABI. Grifos nossos) Se para Barreto Leite Pinto, o ato solitário solitario de Chateaubriand cria eria o mundo do jornalismo objetivo, obj etivo, para outros, teria sido Irineu Marinho o grande nome da década

ao construir um jornalismo preocupado com a informação. informaeao. “A notícias “A imprensa naquela época epoea era por essência esséneia informativa, havia haVia notieias sobre todos os assuntos. Era muito raro, ou mesmo, não tinha jornais enfocando nao tinhajornais enfoeando apenas um assunto. A Noite primava por sua espetacular cobertura de reportagens nos mais diversos assuntos, publicando notícias notieias de todas as partes do Irineu nunca teve a postura de vangloriar-se mundo e do Brasil. O 0 nunea vangloriar—se pela vitória Vitoria de seu jornal, foi simplesmente um grande jornalista”. j ornalista”. (Depoimento de Castro, Luiz Werneck de. In: Memo’ria Memória da AB]. ABI. Grifos nossos) Como a identidade só so pode ser formulada na relação relaeao do sujeito com o outro, a partir de diferenças difereneas reais ou inventadas, se formando sempre em relação relaeao (alteridade), na qual desempenha papel fundamental a tradueao tradução desse lugar via Via formulação formulaeao discursiva diseursiva e memorável, memoravel, os jornalistas, ao falarem de si mesmos como grupo, instauram signos distintivos em relação produção de relaeao a diversos outros. É E a memória memoria como eomo lugar de produeao discursos que funda as partieularidades particularidades desse lugar de pertencimento. presença do passado no presente é muito mais complexa e menos explícita A presenea explicita do que se supõe. performance supoe. Assim, é importante distinguir entre competência competéneia e performance memorial. Nesse sentido, a recorrência jornalistas, como grupo, reeorréncia das lembranças lembraneas dos jornalistas, não nao se confunde com as lembranças lembraneas que possuem do passado, sendo apenas a memómemo— ria como eomo lembrança lembranea manifesta de um dado momento desse passado que constrói, constroi, no presente, a idealização idealizaeao fundamental para o grupo. Existe uma politica memoria, política da memória, eomo grupo, construírem eonstruirem a imim— fornecendo elementos essenciais para os jornalistas, como portancia profissao, a característica earacteristiea de visionários Visionarios de alguns, de homens além de portância da profissão, seu tempo. memoraveis dos jornalistas como grupo ée’ Outro aspecto recorrente nas narrativas memoráveis valorizaeao da informação. informaeao. Em todas as falas, a separação separaeao entre o mundo da o0 da valorização opiniao e o mundo da informação informaeao vai construindo o ideal de objetividade obj etiVidade como valor opinião imprescindivel para a notícia noticia e, sobretudo, como eomo aspecto fundamental da profissao. imprescindível profissão. mitiea da imparcialidade, impareialidade, indispensável indispensavel para quem quer se Com isso, instauram a mítica eomo tradutor do mundo para o publico. funeao disso, aquinhoar maior afirmar como público. E, em função poder simbólico. simbolico.

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Paralelamente a este trabalho da memória, memoria, constrói-se constroi-se a imagem dos jornalistas unico grupo, ganhando, portanto, uma identidade particular, que se deformando um único fine fine não nao apenas pela inclusão, inclusao, mas, sobretudo, pela distinção distincao entre aqueles que eram jornalistas e todos os outros que não nao estavam incluídos incluidos nesta categoria. A identidade social pode incluir ou excluir um indivíduo individuo ou os grupos uns dos outros, sendo uma categoria que modula a alteridade entre nós nos e eles e que está esta invariavelmente presente na diferença diferenca cultural. Mas a identidade social ée sempre multilocalizada. Ela aparece de forma homogênea prática mehomogénea e uniforme, porque é a pratica me— morável moravel que permite ultrapassar o registro individual, formulando coletivamente o que é ser jornalista nesse passado mítico. prática, não mitico. Na pratica, nao havia haVia nem a uniformidade pretendida, nem o sentimento de presente comum. A memória memoria funciona, pois, como uma espécie espe’cie de lugar de nutrição nutricao da identidade,

conformando-a, conformando—a, negociando o que cada um deve fazer e lembrar em relação relacao ao seu passado (Muxel, 1996). 1996). A identidade pode ser definida definida como consciência consciéncia da continuicontinui— dade da vida, Vida, mesmo com mudanças, mudancas, crises e rupturas. A identidade está, esta, pois, enraizada como um processo de memória. memoria. Se memória presença viva memoria pode ser considerada como presenca Viva e ativa dos sujeitos que produzem falas como resultados de traços também como materialidade tracos materiais, mas tambe’m de seus lugares de pertencimento, podemos dizer que a memória memoria ée generativa da ideniden— tidade, ao mesmo tempo em que a identidade ée memória memoria em ato. Assim, a identidade do jornalista da década decada de 1920, 1920, construída construida pelo registro me-

morável profissão que serão moravel do grupo, vai moldando algumas premissas da profissao serao fundamentais na definição mítica da definicao do ser jornalista, não nao no passado, mas no futuro. A mitica vocação, vocacao, do amor à21 profissão, profissao, dos sacrifícios sacrificios impostos, da necessidade de informar com isenção políticos momentâneos, isencao e longe dos arroubos politicos momentaneos, ao mesmo tempo em que cabia como missão político, tudo isso formula um lugar de fala no missao ter claro papel politico, de’cada. mundo do jornalismo que ultrapassa em muito os limites de uma década. fica patente também tambem a construção construcao mitológica mitologica do tempo de antes. Por outro lado, fica Na memória memoria do grupo, apenas no passado havia haVia o verdadeiro jornalismo, distante do profissionalismo, e cultuado como momento em que os afetos determinavam o grau profissionalismo, aderencia àquele aquele mundo. Considerando a natureza dialógica dialogica da memória, memoria, no sentisenti— de aderência correlacao com o outro e com o tempo, isto é, com o 0 par pre— do de estabelecer uma correlação presenca/ausencia, ée’ a ausência ausencia do cotidiano da profissao mitica do passasença/ausência, profissão que instaura a mítica Verdadeiro. Apartados do dia-a-dia dia—a—dia da profissao, do verdadeiro. profissão, os jornalistas, jornalistas, no seu trabalho memoravel, constroem a presenca auséncia memorável, presença — – o mundo do jornalismo — – a partir da ausência desse mesmo mundo. Assim, o tempo de antes é o mundo do verdadeiro jornalismo, sacrificios cultuados, num momento em que onde o que existe ée’ o amor àa profissao, profissão, os sacrifícios

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a imprensa possuía uma importância público um imprcnsa possuia importancia singular: mostrar para o publico urn mundo em cm constante constantc mutação. rnutacao. A memória memoria do grupo constrói-se constroi—sc como memória memoria coletiva na medida em que ela é partilhada em uma vivência ViVéncia em comum. E, como tal, modula mitos coletivos a partir

de particulares de vida. dc histórias historias particularcs Vida. Falando de dc um urn passado comum, fornecem forneccm a ilusão ilusao de dc torná-lo presente. Nesse sentido, a memória torna-lo memoria do grupo é dividida diVidida por outros que viveram experiências semelhantes, tornando-se evocação, Vivcram experiéncias scmelhantes, tornando—sc evocacao, lembrança lembranca de dc aconteciaconteci— mentos vividos testemunhos, escolhas, interpretação ViVidos como se sc fossem coletivos, colctivos, testcrnunhos, interpretacao instrumentalizada desse A memória individessc passado, mas também um saber particular. Arnemoria dual de dc cada um urn dos jornalistas que lembrou aqueles longínquos longinquos 1920 1920 forja a memómemo— 18 ria dos jornalistas que conservam, . conscrvam, pela lembrança, lembranca, um passado em comum comum”. Para Halbwachs (1990), a lembrança lembranca se reconstrói reconstroi sempre a partir do presente ec é6': o grupo ao qual pertencc pertence o indivíduo individuo que fornece a ele meios de dc reconstruir o passado (as palavras que exprimem exprimcm a lembrança, lembranca, as convenções, convcncocs, os espaços, espacos, as durações duracoes que dão dao ao passado sua significação). significacao). A seletividade da memória memoria nada mais é do que a capacidade capacidadc de dc ordenar e dar sentido ao passado, em ern função funcao das representações, representacoes, visões Visoes de permitem aos grupos sociais pcnsar pensar o prescnte. presente. dc mundo, símbolos simbolos ou noções nocoes que pcrmitem historia memorável memoravel Uma história

Dando sentido scntido ao passado, os jornalistas que faziam das redações redacoes meio de dc distindistin— ção 9510 e de sustento constroem constrocm uma particular caracterização caracterizacao dos jornais do Rio de dc JaJa— neiro daquele daqucle final final dos anos 1920. 1920. De um urn lado, a imprensa que sobrevive sobrevivc graças gracas aos subsídios subsidios do governo oficial oficial e, 6, de dc outro, aqueles aquelcs que forjam sua autoidentidade na esteira política. estcira da propalada independência independéncia politica. “Naquele tempo, havia haVia dois tipos de dc jornais ou publicacocs “Naquele publicações no Brasil. HaVia os jornais que viviam Viviam dos subsídios subsidios oficiais, subsídios subsidios do governo feHavia dcsscs jornais era O 0 Paiz, do Rio de dc Janeiro. Janciro. deral, por exemplo. O modelo desses Aqui no Rio eu cu poderia podcria citar, como representantes rcprcsentantcs mais importantes dessa dcssa dc Noticias, Candido de dc imprensa subsidiada O Paiz, A Gazeta de Notícias, ANoticia, A Notícia, do Cândido prirnciro jornal onde eu cu trabalhei (...) Mas os principais Campos, que foi o primeiro

18 Para Halbwachs (1990), (1990), a memória meméria é lembrança, lembranga, resto, resto, evocação evocacao do passado, passado, mas é também um saber. saber. E apenas na medida em que o pensamento individual existe no que ele conceitua como quadros sociais de meméria (língua, (Iingua, tempo e espaço) espaco) é que somos capazes de lembrar. lembrar. Assim, meméria individual se realiza memória Assim, a memória 9 lembramos em comum com outros, outros, formando grupos humanos que se instituinstitu— sempre num quadro social e conservagao de um passado em comum. em como tal pela conservação

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Notícias e A jornais do governo, aqui no Rio eram: O Paiz, A Gazeta de Noticias Notícia, e não Noticia, nao me lembro, francamente, de mais nenhum”. nenhum”. (Depoimento de Peixoto, Armando Ferreira. In: Mema’ria Memória da AB!) ABI) Só periódicos 86 no Rio de Janeiro, há ha o 0 registro do aparecimento de mais de 800 periodicos naqueles anos 1920. 1920. Destes apenas uma dezena atravessa a década. de’cada. Os mais imporimpor— tantes são Jornal do Notícias, A NatiNotí3510 de um lado O Paiz, o Jamal cla Commercio, Cammercia, a Gazeta de Naticias, cia. De outro: o Correio Manhã, o0 Jamal Jornal do Brasil. Aparecem ainda dois outros Carreia da a’a Martha, periódicos periodicos que terão terao importância importancia pela história historia futura: O 0 Globo, Glaba, fundado em 1925, 1925, e O 0 Jornal, que viria Jamal, Viria a ser líder lider da cadeia dos Diários Diarios Associados, de Assis Chateaubriand. “Porque provisório, jornais que apare“Porque naquele tempo havia haVia muito jornal provisorio, apare— ciam e desapareciam. Apareciam nas campanhas presidenciais, mas depois desapareciam. Agora, os jornais de oposição, próprios oposieao, esses tinham os seus proprios meios de vida, jornais... O Correio da Manhã Vida, porque esses eram jornais... Manha enquanto existiu foi o maior jornal do Rio de Janeiro. Depois, começou maiorjornal comeeou a decair a partir da época epoca do Juscelino, mas isso não nao tem nada que ver. De qualquer maneira lider, em primeiro lugar. Era um jornal notável”. notavel”. (Idem, (Idem, ibidem) ibia’em) foi o grande líder, própria caracterização periódicos, aparece na fala dos jornalistas a consNa propria caracterizaeao dos periodicos, trução trueao de um registro memorável memoravel do grupo. Os jornais que historicamente se automodularam como sendo de oposição oposieao aparecem sempre na memória memoria do grupo como os mais importantes, adjetivados como notáveis periódicos. Assim, O – um jor— jornotaveis periodicos. 0 Paiz — nal nitidamente governista em todas as fases de sua existência – ée referido com desexisténcia — des— prezo, enquanto o eterno oposicionista Correio Manhã aparece como uma espécie Carreia da a’a Manha espe’cie de ideal de imprensa. É E a polêmica, polémica, o destemor, a coragem de ser opositor que faz do Correio Manhã, reiteradamente, “o Carreia da cla Martha, “o maior jornal do Rio de Janeiro”. Janeiro”. política e de tiragens que ultrapassam os 40 mil Ao lado de jornais de importância importancia politica Carreia da Mani/1a ha aqueles de pouca expressão, expressao, exemplares — – como ée’ o caso do Correio Manhã —, –, há lideranea inconteste em décadas decadas anteriores. Esse ée’ o caso apesar de terem exercido uma liderança inicio do século seculo atingira a cifra de 60 mil exemplares e que do Jamal Jornal do Brasil, que no início “Nao tinha nenhuma expressão expressao naquele tempo. Inclusive, ée um fato curiocurio— “Não so era lido por causa dos pequenos anúncianfinciso este, porque o Jornal do Brasil só haVia ninguém ninguem que comprasse. Havia HaVia umas caricaturas do Raul Peos. Nao Não havia saiam na primeira pagina, entao, dava um certo eerto interesse, derneiras, que saíam página, então, de— mas, editorialmente, o Jornal do Brasil, que tinha mudado de dono, (...) deabsorVido pelo conde Pereira Carneiro, por motivos financeiros. financeiros. Mas pois foi absorvido nao tinha nenhuma expressão, expressao, eu não nao poderia dizer, sob o Jornal do Brasil não orientaeao do Jornal do Brasil, se era contra ou a favor, tortura, qual era a orientação

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mas devia deVia ser muito a favor; agora, o Jornal do Brasil era independente, ele vivia ViVia dos seus anúncios”. anl’incios”. (Idem, (Idem, ibidem) O aperfeiçoamento – entre elas a incorporação aperfeiooamento e a difusão difusao de novas tecnologias — incorporaeao de novos processos de impressão –, ao lado de estruturação impressao —, estruturaeao empresarial que inclui novos planos de assinaturas e vendas avulsas, são sao determinantes para o desenvolvimento da imprensa da cidade em novos moldes. A aquisição aquisieao de novas rotativas Man, de fabricação oao americana, possibilita o aparecimento apareeimento de suplementos a cores, como o Suplemento t0 Ilustrado de A Noite, lançado laneado em 1929. 1929. – que vão A chegada de novas agências agéncias internacionais de notícias noticias — Vao se juntar a Havas, que aqui estava desde o século – contribui para o novo formato dos jornais, jornais, que seculo XIX — também dos Estados Unipassam a destacar notícias notieias provenientes da Europa e agora tambe’m Uni— dos. A United Press, que desde 1918 S. Paulo, passa a 1918 presta serviços servieos ao Estado de S. fornecer noticiário também ao Jamal Jornal do Brasil, a partir de 1922 noticiario tambem 1922 e a partir do final final da década ao O Jornal. No mesmo periodo período aaAssociated Associated Press inaugura seu escritório 0 Jamal. escritorio no Rio de Janeiro, passando a atender inicialmente apenas ao Correio da Martha. Manhã. “O período entre a ocorrência transmissão para o Brasil era o0 “0 periodo ocorréncia do fato e sua transmissao seguinte: Nova Iorque era o0 centro irradiador do noticiário noticiario para a América Latina. O noticiário noticiario era mandado pelo telégrafo tele’grafo para Buenos Aires, onde estava localizada a United Press para a América Latina. De lá, la, então entao o noticiário noticiario era transmitido para outros países, também em telegrama para o paises, entre eles o Brasil. O 0 noticiário noticiario vinha Vinha tambem Brasil, através atrave’s da Western, a Pal American e da Italcabo. Os telegramas vinham Vinham em inglês”. Memória da ABI) inglés”. (Depoimento de Peixoto, Armando Ferreira. In: Memo’ria políticas e tecnologicas, tecnológicas, a imprensa conNesse cenário cenario de mutações mutaeoes econômicas, economicas, politicas eontinua dependente dos favores e favorecimentos oficiais oficiais para garantir a sua sobrevisobreVi—

vência. Vencia. A independência independencia dos jornais existe eXiste apenas como discurso memorável memoravel construído construido pelos próprios proprios jornalistas. “Aquino ale’m de O 0 Paiz, outros jornais viviam Viviam de subsídio subsidio do governo, “Aqui no Rio, além nao me lembro de qualquer outro entre eles, a Gazeta de Noticias Notícias e ANoticia. A Notícia. Eu não jomal. epoca surgiam alguns jornais cam— jornal. Naquela época jornais que desapareciam durante as campanhas presidenciais”. presidenciais”. (Depoimento de Leite Filho, Barreto. In: Memo’ria Memória da AB!) ABI) Num cenário cenario de transformaeoes demografico transformações urbanas marcantes —– o crescimento demográfico ha um aumento de 37% no número nfimero de pre’dios domicilios da foi da ordem de 28% e há prédios e domicílios 19782551) — 10 mil cidade (Lobo, 1978:551) – poucos jornais conseguem tiragens superiores a 10 exemplares. Esse era o0 caso do Correio da Marthe? Manhã e de A Noite. Dessa forma, trabalhar nesses jornais de sucesso é uma forma de reconhecimento para os proprios próprios jornalistas. História Cultural da Imprensa

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“A “A Noite saía saia em duas edições, edieoes, e estou lhe falando do começo corneeo da década decada de 20. Agora, o Correio da Manhã Manha era um urn grande jornal. O sujeito trabalhar lá la era uma honra. Esses jornais tinham vida própria, porque tinham grande cirVida propria, culação, também muito anúncio”. culaoao, de modo que tinham tinharn tambe’m anfineio”. (Depoimento (Depoirnento de Leite Filho, Barreto. In: Memo’ria Memória da AB]. ABI. Grifos nossos) Segundo o discurso podiseurso memorável memoravel dos jornalistas, esses são 350 os OS dois jornais mais po— pulares do Rio de Janeiro de então. entao. “O “O Correio da Manhã Manha devia deVia ter, variava muito, segundo a época, e’poea, eu não nao poderia jurar, mas eu tenho uma reminiscência reminiscencia qualquer, que naquele tempo o0 Correio da Manhã Manha tinha uma tiragem de 40 mil exemplares, o que era, para o0 Rio de Janeiro, uma tiragem muito grande. A Noite devia deVia ter uma tiragem urn jornal popular e explorava muito essa coisa ooisa da reportareporta— maior, porque era um gem de policia. polícia. Era um urn grande jornal, um urn grande vespertino, tinha esplêndiespléndi— dos redatores tambem também e o Irineu Marinho era um urn grande secretário secretario de jornal, quer dizer, a cozinha do jornal ele fazia admiravelmente”. admiravelmente”. (Depoimento de Leite Filho, Barreto. In: Memo’ria Memória da ABI) Ainda que a inclusão inclusao das chamadas notas sensacionais seja brevemente lembrada no

depoimento, o que faz o sucesso jornalista, a aproximação sueesso de A Noite não nao é, e’, na visão Visao do jornalista, aproximaoao que esse tipo de conteúdo público. O que faz de A Noite um grande contefido estabelece com o pfiblico. também “o jornal ée’ o fato de possuir “esplendidos “esplendidos redatores” redatores” e tambe’m “o Irineu Marinho”. Marinho”. jornalismo como Assim, o jornalisrno eomo atividade atiVidade depende do gênio genio criador eriador de alguns poucos nomes, responsáveis responsaveis diretos pelo sucesso sueesso da iniciativa. É E a criatividade do jornalista que produz invariavelmente o sucesso público. Forma-se, sueesso de pl’iblico. Forma—se, pois, uma espécie especie de meme— mória jornalísticas. moria forte do grupo em relação relaeao àa caracterização caracterizaeao dos jornais e das atividades atiVidades jornalistieas. É E isso que explica expliea a repetição repetieao sistemática sistematica dos mesmos signos de reconhecimento. reoonhecirnento. (1998240) chama memória memoria forte àa memória memoria massiva, coerente, ooerente, comcom— Joel Candau (1998:40) paeta e profunda que se impõe impoe àa maioria dos membros de um grupo. Uma memória memoria pacta estruturaoao do proprio forte ée organizadora, sendo importante na estruturação próprio grupo e da representaoao que faz de sua identidade. sentação classifieados como independentes —A Enquanto os jornais classificados – A Noite19 Noite19 e o Correio da Marthe? sao lembrados como os mais populares, aqueles que eram nitidamente goManhã — – são nao têm tern leitores. Esse ée o caso easo de O 0 Paiz e do Jamal vernistas não Jornal do Commercio.

19 Em função fungao de desentendimentos com a direção diregao da Gazeta de Notícias, Noticias, onde era secretário-geral, secretério—geral, Irineu funda, em 18 de junho de 1911, 1911, o jornal Marinho abandona o cargo e junto com mais 13 companheiros, funda, A Noite (1911-1956). (1911—1956). A Noite define-se define—3e desde o início inicio como jornal de oposição, oposigao, sendo crítico critico severo do 19

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“Até “Ate’ 30, jornal do governo não nao era lido. Por exemplo, O Paiz era uma obra-prima Não era muito jornalistico, jornalístico, era mais um jornal jornal obra—prima de jornal erudito. Nao assim, vamos dizer, semiliterário; semiliterario; publicava longos artigos, coisas muito leves, era muito bem escrito. Hoje em dia seria um urn jornal inconcebivelmente atrasado, mas, naquela época publicava artigos notáveis, notaveis, nacionais e estranningue’m lia. Tinha trés circulacao”. (Depoigeiros, mas ninguém três mil exemplares de circulação”. mento de Leite Pinto, Barreto. In: Memo’ria Memória da AB!) ABI) publicações que circulam Na divisão divisao que constrói constroi ao caracterizar as publicacoes circularn na cidade, o jornalista apela a valores do presente para, mais uma vez, qualificar qualificar os jornais. O estilo literário literario de O 0 Paiz, segundo sua visão, Visao, é um dos fatores que inviabiliza o seu sucesso, ao lado do ja já propalado alinhamento com o governo. Entretanto, somente a partir dos anos 1950 – e mesmo 1950 ée’ que o jornalismo diário diario abandona — assim lentamente — – as digressões digressoes literárias. literarias. Portanto, a memória memoria do jornalista reconstrói constroi o passado, a partir de um presente que materializa o distanciamento do jornalismo da literatura. A autonomização jornalisrno autonomizacao do jornalismo em ern relação relacao àa literatura seria fundamental para a construção profissionalismo e6 para o seu reconheconstrucao de seu profissionalismo cimento como corno lugar de fala específico, especifico, mas isso só so ocorre muitas Inuitas décadas de’cadas depois. Se as memórias memorias de época e’poca servem servern àa reflexão reflexao sobre a construção construcao de uma dada idenjornalística, são também para particularizar detalhes dessa imtidade jornalistica, sao fundamentais tambe’m prensa. Assim, também tambe’m será sera a partir dos registros dos repórteres reporteres e redatores da década de’cada de 1920 publicações da cidade. Mas como 1920 que procuraremos caracterizar algumas das publicacoes a memória memoria é feita do jogo entre lembrar e esquecer, certamente a construção construcao que faremos está esta baseada em nuanças nuancas desse jogo, que coloca em ern cena outras motivações motivacoes que não nao apenas o ato de lembrar. periódicos em detrimento de outros, Ao produzir um urn discurso destacando alguns periodicos os jornalistas arquitetam, a partir de sua fala, uma dada história historia da imprensa. Essa historia sofre as interferências interferéncias da interpretação interpretacao que construímos construirnos a partir desses vestihistória vestí-

1918, quando da disputa eleitoral entre Epitácio Epitacio Pessoa e Rui governo do marechal Hermes da Fonseca. Em 1918, Fazenda. Com a vitória vitéria de Epitácio, Epitacio, o jornal continua na Barbosa, apoia, mais uma vez, o ex-ministro da Fazenda. oposicao. Em 1921, 1921, apoia a candidatura de Nilo Peçanha, Pecanha, na disputa com Artur Bernardes. Bernardes. A vitória vitéria de oposição. caracteriza—se por forte Bernardes ocasiona uma série de problemas para o jornal, jornal, ja já que o seu governo caracteriza-se repressao às as oposições. oposicées. Durante todo esse período, periodo, que se estende até 1925, 1925, é e comandado por Irineu MariMari— repressão ano, Marinho, doente, parte para a Europa, Europa, e causiona a maioria de suas ações acoes em favor de nho. Nesse ano, Rocha, que realiza, em seguida, seguida, uma assembleia de acionistas e elegendo nova diretoria. diretoria. Com a Geraldo Rocha, transferéncia de propriedade de Irineu Marinho para Geraldo Rocha, Rocha, o ojornal mudancas. transferência jornal empreende amplas mudanças. A primeira delas é na linha Iinha política: politica: de oposição oposicao passa a apoiar a situação. situacao. Assim, Assim, o jornal seguiria apoiando ate o 0 governo de Washington Luís. Luis. Também no mesmo período periodo muda a feição feicao as oligarquias dominantes até grafica, com a aquisição aquisicao de novas máquinas maquinas de impressão. impressao. Em setembro de 1930, lança Ianca a revista Noite gráfica, //ustrada, toda impressa em rotogravura (DHBB, 4105-6). Ilustrada,

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gios. É E essa dupla reconstrução, reconstruoao, que figura figura como elemento fundamental para a descrição publicações, que faremos a seguir. oao das publicaooes, Memoria: particularizando as publicações publicagoes Memória:

O Jornal, ao final 0 Jamal, final da década de 1920, 1920, possui 25 mil assinantes e vende 35 mil exemplares nas bancas. Mas o periodico periódico de maior prestigio prestígio politico político é o Correio da Manhã, sobretudo pelo seu estilo combativo. O Jornal, na visão jornalistas, é um Manhd, 0 Jamal, Visao dos jornalistas, jornal de informação, enquanto o Correio é panfletário. informaoao, panfletario. “A linha do Correio da Manhã Manha era desabrida, com xingamentos. Xingamentos. Já Ja O Jornal “A informaoao, com uma série de colaboradores importantes, era um jornal de informação, uma informação informaoao pesada, com uma linha de orientação orientaoao não nao conservadora, mas equilibrada”. Memória da ABI) equilibrada”. (Depoimento de Peixoto, Armando Ferreira. In: Memo’ria

Marcada pelas transformações políticas da sociedade, a imprensa na transformaooes econômicas economicas e politicas década guarda ainda muitas relações relaooes com a do início inicio do século. O ingresso no mundo do jornalismo se faz — – tal como nos anos 1900 – pelas indicações. 1900 — indicaooes. Jovens estudantes de Direito constituem a maioria dos jornalistas, que faz das redações redaooes o lugar necessánecessa— rio para garantir a subsistência subsisténcia e o pendor literário. literario. Ingressando nas redações redagoes com idades entre 16 16 e 20 anos, valem-se das relações relaooes de amizade e da simpatia pessoal para entrar no mundo do jornalismo. Os méritos profissionais profissionais em nada contam. “Era “Era aluno da Faculdade F aculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro, que funcionava na Praça já me enconPraoa da República. Repfiblica. Em 1920, 1920, quando terminei o curso, ja encon— trava trabalhando no jornal. Comecei minha vida Vida de jornalista na segunda quinzena de maio de 1919, 1919, em cm A Noite. Tinha boas relações relagoes com a família familia conVite Marinho e isso facilitou muito a minha entrada no jornal. Atendi a um convite la fui apresentado ao secretário secretario de do Irineu Marinho para conhecer o jornal e lá redaoao Eurycles de Mattos, e aos demais redatores, repórteres reporteres e funcionários funcionarios redação entao ficar ficar trabalhando em cm A Noite”. da empresa. Decidi então Noite”. (Depoimento de Varzea, Afonso. In: Memo’ria Várzea, Memória da AB]. ABI. Grifos nossos) Varzea, para quem as boas relações relaooes com o dono do jornal Tal como para Afonso Várzea, jornal A Noite são sao determinantes para sua iniciação iniciaoao como jornalista, sao jornalista, para outros essas são desej ado. A partir do primeiro emprego, nofundamentais para conseguir o emprego desejado. sao fundamentais para a continuidade na profissao. vos conhecimentos são profissão. Cheguei ao Rio, procurei o Nogueira da Silva, que era meu Quando cheguei conterraneo e amigo, e ele, 616, imediatamente me colocou na redação redagao da Rua. conterrâneo

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Mas logo depois passei para O 0 Imparcial. (Depoimento de Perdigão, Perdigao, José Jose Maria da Silva. In: Memo’ria Memória da AB]. ABI. Grifos nossos) É E fundamental ainda o aprendizado que se faz a partir de ensinamentos ministraministra— dos por aqueles que dominam as técnicas da imprensa. “Comecei “Comecei a trabalhar na Agencia Havas em 1916, 1916, portanto, em plena guerra. Entrei para ocupar o cargo de redator, convidado conVidado pelo jornalista Lisboeta Lança Lanca Cordeiro, que me ensinou as primeiras noções nocoes de trabalho da agência”. agencia”. (Depoimento de Castro, Luis Werneck de. In: Memo’ria Memória da AB]. ABI. Grifos nossos) O conhecimento anterior, aprendido no dia-a-dia profissão, ée muitas vezes dia—a—dia da profissao, determinante para a mudança mudanca de jornal. É E o que acontece, por exemplo, com Manuel Antonio Gonçalves, Goncalves, que, quando desempregado pela venda do jornal onde trabalha, vai para o vespertino de maior sucesso da cidade. “Comecei jornalística no Imparcial, localizado na Rua da “Comecei minha atividade atiVidade jornalistica Quitanda, durante a primeira guerra mundial. (...) Eu trabalhava na revisão revisao e depois passei para a redação, redacao, onde fui fazer Câmara Camara Municipal e mais tarde Câmara jornal (...) Deixei o Camara Federal. O Macedo Soares acabou vendendo o jornal Imparcial e fui para ANoite, A Noite, que funcionava no Largo da Carioca. Expliquei Expliguei situacao ao Dr. Irineu Marinho, disse-lhe que gue precisava continuar a minha situação trabalhando para custear os meus estudos e que gue tinha uma certa experiência experiéncia da Câmara. Após um rápido Camara. Apos rapido teste na redação, redacao, fui admitido com o salário salario de 300 mil-reis, que para mim representava uma fortuna. E fiquei fiquei cobrindo a Câmara, Camara, então entao no Palácio Palacio Monroe. Trabalhei ao todo seis anos na Noite, até ate me transferir para O 0 Globo, onde fui secretário secretario durante quinze anos”. anos”. (Depoimento de Gonçalves, Memória da AB]. ABI. Grifos nossos) Goncalves, Manuel Antonio. In: Memo’ria Se a posicao posição de classe ée’ fundamental para galgar postos no mundo do jornalismo 1920, a condição condicao de classe (Bourdieu, 1989a) 1989a) ée determinante para ingressar dos anos 1920, profissao. As relações relacoes pessoais fazem a diferença diferenca entre aqueles que desejam se na profissão. tornar jornalistas. “Quando revelei ao meu pai, no começo comeco de 1914, 1914, minhas intenções intencoes “Quando jomalisticas, cartao a Souza Marques e a Irineu Marinho, que jornalísticas, ele redigiu um cartão entao diretores de A Noite. Irineu Marinho me disse que eu ia começar comecar eram então haVia começado. comecado. Entrei para o quadro de reportagem de policia, como ele havia polícia, àa noite, noticias tinham que ser apanhadas no local, pois os telefones praticamente a as notícias nao funcionavam. Corríamos Corriamos os subúrbios suburbios e bairros a procura de notícias”. noticias”. (De(De— não poimento de Peixoto, Armando Ferreira. In: Memo’ria Memória da AB]. ABI. Grifos nossos) História Cultural da Imprensa

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Os jornais circulam seis dias por semana, o que garante um dia de descanso semanal. Trabalhando muitas vezes até ate’ 12 12 horas por dia, não nao há ha horário horario estabelecido estabeleoido para o exercício profissão. Os salários exeroioio da profissao. salarios variam entre 700 e 800 mil-réis mil—reis mensais para o chefe de redação péssimos. redaeao e 150 150 mil-réis mil—re’is para um redator comum. oomum. “Os “Os salários salarios eram pessimos. Naquele tempo quando um jornalista tinha 250 mil-reis estava ganhando muito. O secretário secretario ganhava entre 500 e 600, era um grande salário”. salario”. (Depoimento de PerdiPerdi— gão, Memória da AB]. ABI. Grifos nossos) gao, José Jose’ Maria da Silva. In: Memo’ria “Em 1928 1928 precisava preeisava compor oompor meu salário salario e ainda não nao era redator chefe ohefe da “Em United Press, fui trabalhar também Austragésilo de tambem no O 0 Jornal, levado pelo Austragesilo Athayde (...) Eu passei a entrar lá 1a por volta das seis horas e trabalhava até ate as 11, Às vezes, mes11, meia-noite, meia—noite, quando guando estava de plantão plantao ia até ate as duas horas. As mes— mo sem estar de plantao plantão eu era obrigado a ficar ficar lá, la, porque o Chateaubriand chegava às jornal as 10 10 horas e gostava de conversar comigo. Então Entao fiquei fiquei no jornal até ate’ ser nomeado redator chefe ehefe da United Press”. Press”. (Depoimento de Peixoto, Armando Ferreira. In: Memo’ria Memória da AB]. ABI. Grifos nossos)

“Eu Não tinhamos tínhamos hora “Eu entrava às as 7 horas da manha e saía saia às as 7 da noite. Nao nenhuma, como tambem também não pertencia a um setor, mas nao havia haVia setores, todo sujeito suj eito perteneia mate’ria de prestigiar um noticiário noticiario do jomal funooes dos em matéria jornal todos faziam as funções outros”. Memória da ABI. Grifos nossos) outros”. (Depoimento de Magalhães, Magalhaes, Mário. Mario. In: Memo’ria daABI. A má ma remuneração remuneraoao ée apontada como fator determinante para que tivessem sempre

um outro emprego, normalmente pfiblico, público, e que se torna accessível aocessivel em função funeao da distinção público ganha em distineao que os jornais possibilitam. Enquanto um funcionário funcionario pdblico média media 600 mil-réis, mil-re’is, um jornalista recebe 200 mil-réis. mil-reis. Há Ha ainda um número nfimero consideconside— rável ravel de colaboradores que nada recebem. Apenas a distinção distinoao de ser jornalista... “A propósito proposito da posição posieao do jornalista, ele sempre teve status, não nao sei se “A ooncomitantemente ele arranjava arranj ava uma outra função, funoao. mas tambe’m porque concomitantemente também os jornalistas de maior destaque dentro do jornal, aqueles que de uma maneira influencia dentro da linha do jornal”. ou de outra, poderiam ter uma influência jornal”. (Depoimento de Peixoto, Armando Ferreira. In: Memo’ria Memória da AB]. ABI. Grifos nossos) e’, portanto, uma espécie especie de lugar intermediário intermediario para conseguir a Ser jornalista é, distinoao necessária necessaria para ocupar um cargo na administração administraeao pfibliea. distinção pública. Ter um emprego pfiblieo ée a aspiração aspiraeao primeira. Ocupar Ooupar um lugar na politica, aspiraoao máxima. maxima. público política, a aspiração “Em geral, os jornalistas que gue faziam essa parte p_arte política politioa tinham sempre “Em Camara. Alguns bons jornalistas, como João J0510 um emprego no Senado ou na Câmara.

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Leitão taquígrafos, de maneira que eles apanhavam Leitao ec Jacy Monteiro, eram taquigrafos, apanhavarn dentro da câmara, camara, em primeira mão, mao, tudo e depois mandavam Inandavarn escrito. Alguns iam levar”. Memória da levar”. (Depoimento de Perdigão, Perdigao, José Maria da Silva. In: Memo’ria AB]. ABI. Grifos nossos) “Na Na maioria dos casos os jornalistas do governo eram contemplados com corn nomeações públicos, em repartições nomeaooes para cargos oargos pfiblicos, repartiooes onde não nao tinham obrigação obrigaoao de aparecer”. Memória da AB]. ABI. Grifos aparecer”. (Depoimento de Lima, Paulo Motta. In: Memo’ria nossos) (6

Modernos e permanentes edifícios edificios A grande sensação sensaoao do mundo do jornalismo no último filtimo ano da década de 1920 1920 é6’ a inauguração prédio do vespertino A Noite, na Praça inauguraoao do moderno pre’dio Praoa Mauá. Maua.

O arranha-céu arranha—oéu situado no início inicio da então entao Avenida Central representa para os profissionais jornalístico fissionais uma vitória. Vitoria. Assim, o sucesso de A Noite envaidece todo o campo jornalistico que se identifica identifica com a modernidade expressa em concreto pelo jornal. “A realizar-se “A inauguração inauguraoao do novo e imponente edifício edifioio de A Noite, a realizar—se hoje às jornalismo as 16 16 horas e 30 minutos, não nao somente é uma grande festa do jornalismo brasileiro como também se reveste do caráter carater de um notável notavel acontecimento aoontecirnento da vida país, Vida da cidade. oidade. É E que A Noite, além de representar a imprensa do pais, uma luminosa vitória Vitoria que a todos nós nos dá da se tanto envaidece, constitui, oonstitui, sem dúvida, patrimônio intelectual dfiVida, um urn dos mais valiosos elementos do patrimonio inteleotual do Rio de Janeiro”. Janeiro”. (Crítica, (Crz’tica, 7 setembro seternbro de 1929, 1929, p. 1) 1) Assim Crítica periódico, Crz’tica anuncia anunoia a inauguração inauguraoao do novo prédio. O sucesso do periodioo, edifioio-sede, é partilhado pelos outros jornais, que viam Viam no fato de materializado no edifício-sede, atiVidade — noticias — desenvolverem a mesma atividade – construir o mundo a partir das notícias – uma espéoie de entrelaçamento entrelaoamento de objetivos. espécie noticia aparece a idealização idealizaoao dos grandes nomes da imprensa como Também na notícia responsaveis diretos pelo sucesso da iniciativa. inioiativa. Dessa forma, o jornal torna—se responsáveis torna-se Vito— vitoorientaoao editorial que Irineu Marinho implementou. rioso pela orientação “Fundada, lá 121 se so vão Vao anos, por um urn grupo de rapazes, tendo àa frente essa “Fundada, figura por tantos e meritórios meritorios titulos admiravel que foi Irineu Marinho, figura títulos admirável A Noite tornou—se, graoas as suas reportagens sensacionais tornou-se, logo a aparecer, graças comentarios, uma folha por excelência exceléncia popular”. (Critica, 7 e a agudez de seus comentários, popular”. (Crítica, seternbro de 1929, 1929, p. 1) 1) setembro História Cultural da Imprensa

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também dos trabalhos da memória, já que nessa época já Na notícia noticia utilizam-se utilizam—se tambe’m meméria, ja epoca ja fazia mais de quatro anos que Irineu Marinho saíra saira do jornal para fundar O 0 Globo, tendo falecido 21 21 dias depois do aparecimento do novo jornal. Mesmo assim, ao destacarem o ícone – o arranha-céu Praça icone maior da modernidade do novo jornalismo — arranha—ceu da Praea Mauá –, relembram aquele que é construído próprio jornal, o que Maua —, eonstruido como essência esséneia do proprio faz com que mesmo ausente continue presente sob a forma de lembrança. lembranea. Assim, foi o mérito merito pessoal de Irineu Marinho o responsável responsavel pelo sucesso do jornal, que culmina agora com a construção eonstruoao do moderno edifício. edifieio. Dois aspectos editoriais são – as reportagens sensacionais e a agudez de sao destacados — seus comentários – e, com cornentarios — corn isso, chama a atenção ateneao para aquilo que consideram sua marca mais característica. caracteristica. Partilham, assim, ainda que idealmente, o sucesso de A Noite, com a construção construeao e ocupação oeupaoao do mais arrojado arranha-céu arranha-eéu da cidade. “A “A Noite possuía possuia uma circulação eireulaeao muito grande. Era um urn jornal feito em moldes novos e apesar de ser vespertino saía saia exclusivamente com corn noticiánotieiario do dia. Essa característica caracteristica obrigava os redatores, repórteres reporteres e os gráfigrafi— cos a desenvolverem uma atividade atiVidade enorme. Acho que havendo circulação, eirculaeao, há publicidade”. (Depoimento ha automaticamente automaticarnente publicidade”. (Depoirnento de Ferrone, Pascoal. In: Memória da AB!) ABI) Memo'ria tiragem chega a mais de 50 mil exemplares e nem No final final da década de’cada de 1920, 1920, sua tiragern saida de Irineu Marinho, em 1925, 1925, diminui de imediato irnediato o sucesso sueesso do mais popular a saída vespertino da cidade. As seções público são política, de seeoes mais apreciadas apreeiadas pelo pfiblieo sao as de politica, esporte e o noticiário policial. notioiario polieial. jornal. Nelson Rodrigues, em ern suas memórias, memorias, destaca destaea o sucesso sueesso editorial do jornal. “A “A Noite foi amada por todo um povo. Eu penso nas noites de minha infaneia em Aldeia Campista. O jornalismo vinha, Vinha, de porta em porta. Os cheche— infância familia ficavam, ficavarn, de pij ama, no portao, 121 longe fes de família pijama, portão, na janela, esperando. E lá ‘A Noite. ANoite! ’. Eu me lembro de um sujeito, encoseneos— o jornaleiro gritava. ‘A A Noite!’. lampiao, lendo àa luz de gás gas o 0 jornal do Irineu Marinho. Estou certo de tado num lampião, saisse em branco, sem uma linha impressa, todos comprariam comprariamANoite que se saísse A Noite da amor”. (Rodrigues, 1977:179) 1977: 179) mesma maneira e por amor”. Na crônica cronica intitulada “Memória”, “Memoria”, Nelson Rodrigues relembra hábitos habitos cotidianos relaeao aos periodicos: do pfiblico público em relação periódicos: a espera àa tarde pelo grito do jornaleiro que ehegada do vespertino em subúrbios subfirbios distantes, como Aldeia Campista. TamTam— anuncia a chegada praticas de leitura aparecem apareeem na narrativa memorável memoravel do dramaturgo: a leitura bém as práticas indieaeao de que os chefes de família familia esperam o jornal na no ambiente privado, com a indicação espaeo pfiblieo. Lia—se na rua, encostado porta de casa ja já ao anoitecer, e a leitura no espaço público. Lia-se

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aos postcs postes para aproveitar a luz tênue profusão de ténuc ec fraca do lampião lampiao a gás. gas. A profusao dc leitores urna multiplicidade multiplicidadc de dc leituras. lcituras. indica tambérn também uma Na primeira primcira página, pagina, invariavelmente, invariavclrncntc, publicam as notícias noticias policiais, algumas veve—

zes acompanhadas de dc fotografias. fotografias. “A polícia. O Eustáquio Alves ec o “A Noite tinha uma grande grandc reportagem de dc policia. Eustaquio Alvcs Bacelar Bacclar de dc vez vcz em cm quando se sc deguisavam dcguisavam de dc mendigos ec andavam pelas ruas colhendo Noite fazia a melhor colhcndo notícias noticias (...) A Noitc mclhor cobertura policial da época”. época”. (Depoimento Memória da ABI) (Dcpoimcnto de dc Gonçalves, Goncalvcs, Manoel Manocl Antonio. In: Memo’ria Não raras vezes, prisões de Nao vczcs, as matérias matc’rias de dc crimes violentos, Violentos, prisoes dc delinquentes, delinquentcs, catáscatas— trofes de dc todas as ordens ordcns são sao substituídas substituidas por notícias noticias que quc exploram o sobrenatural.

É publicam a E o que ocorre, ocorrc, por exemplo, em cm várias Varias edições edicocs de dc maio de dc 1931, 1931, quando publicarn série séric de dc reportagens rcportagcns sobre “A “A Santa de dc Coqueiros”. Coquciros”. “Ontem, “Ontcrn, as últimas filtimas horas da tarde, estive cstivc em casa de dc Manoelina Manoclina e6 com corn ela cla palestrei, durante palcstrci, durantc largo espaço cspaco de dc tempo. A ‘Santa’ ‘Santa’ estava de dc pé, gozando de dc perfeita saúde. safidc. Hoje, Hojc, muito cedo, ccdo, mandou ela cla um portador chamar-me chamar—mc (...) En-

tem? pcrguntamo— perguntamotramos no quarto de dc Manoelina. Manoclina. Ela estava cstava prostrada: Que tern? lhes. pela mão lhcs. A moça, moca, com temperatura muito elevada, segurou-me scgurou—rnc pcla mao e disse: Fui avisada... aVisada... E não nao disse dissc mais nada”. nada”. (A Noite. 11 maio de dc 1931, 1931, p. 1) 1) primeira pagina página A agonia da Santa de dc Coqueiros Coquciros ocupa durante durantc semanas scmanas espaço cspaco na primcira “Manoclina agoniza, lentamente lentarncnte seus scus olhos cerraram-se, ccrrararn—sc, sua boca emudeemudc— do jornal. “Manoelina ceu. Apenas o coração ccu. Apcnas coracao lhe lhc arfa, com corn compasso desmedido. dcsmcdido. Contempla-lhe Contempla—lhc a fisionomia fisionomia ec ela justos”. (Idem, cla tem tern a serenidade screnidadc dos justos”. (Idem, ibidem) A essa cssa altura vivem-se Vivem—sc os últimos filtimos meses mcses da administração administracao de dc Geraldo Rocha. Tendo apoiado a candidatura de dc Julio Prestes, Prestcs, de dc maneira radical, sofre sofrc as consequências conscquéncias eclosao da Revolução Revolucao de dc 1930. 1930. Combatendo Combatcndo o grupo que quc propugna pclas idcias com a eclosão pelas ideias revolucionarias, realiza uma urna série séric de dc entrevistas cntrevistas com corn líderes lidcrcs que são, sao, àquela aqucla altura, revolucionárias, solucao de dc tomada do podcr Urn dos primeiros a ser scr entrevistado cntrevistado contra a solução poder pclas pelas armas. Um dc Medeiros, Mcdciros, ex-presidente cX-prcsidcntc do Rio Grande Grandc do Sul, que conclama o povo a é Borges de rcsultados eleitorais. cleitorais. Ncm cclosao da Revolução Revolucao de dc 1930, 1930, em cm 3 de dc outuoutu— acatar os resultados Nem a eclosão arrcfccc os ânimos animos de dc Geraldo Rocha, que continua publicando artigos contra os bro, arrefece insurgentcs. Essa campanha desperta dcsperta a ira dos revolucionários, rcvolucionarios, que após apos a Vitoria insurgentes. vitória do movimcnto empastelam empastclarn o jornal ec prcndcm scu proprietario movimento prendem seu proprietário (DHBB: 4106). Corn a sede scdc do jornal incendiada ec depredada, dcpredada, A Noite suspende suspendc por alguns dias Com edicoes. Impossibilitado de dc continuar a dirigir o jornal, Geraldo Rocha é substisuas edições. tuido quc inicia os preparativos para o relançamento rclancamcnto do periodico. tuído por Augusto Lima, que periódico.

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Inúmeras – dívidas Infimeras dificuldades dificuldades — dividas acumuladas, precariedade de funcionamento em razão – contribuem para a decadência razao dos danos sofridos, má ma administração administracao — decadéncia de A Noite. direcao da Brasil Railway verifica verifica a existência existéncia de uma dívida divida de Para culminar, a direção Geraldo Rocha com a empresa, relativa ao tempo em que fora representante da São sao Paulo-Rio Paulo—Rio Grande, subsidiária subsidiaria da Brasil Railway. Obrigado a assinar uma escritura de confissão confissao de dívida, divida, dá da em garantia todos os seus bens. Como não nao consegue saldar sua dívida, divida, a São sao Paulo-Rio Grande fica fica com a posse de todos os seus bens, incluindo as ações Noite. A partir daí acoes de A Noiz‘e. dai a propriedade do país, que escolhe, jornal passa a Guilherme Guinle, presidente da Brasil Railway no pais, para diretor, Carvalho Neto, funcionário funcionario do jornal (DHBB:4106). (DHBBz4106). Começa – Comeca neste momento a terceira fase da empresa, marcada pelo crescimento — incluindo a criação criacao das revistas reVistas Carioca e Vamos Vamos Ler e a inauguração inauguracao de uma emissoemisso— ra de radiodifusão, Rádio Nacional — – e pela expansão radiodifusao, a Radio expansao de suas tiragens. Apesar disso, o grande temor — – que se concretiza no início – ée’ a encampação inicio dos anos 1940 1940 — encampacao do jornal, na medida em que, desde 1930, 1930, a São $50 Paulo-Rio Grande se encontra sob o controle do governo federal. O Decreto-Lei nº 110 2.073, de 8 de março marco de 1940, 1940, legaliza a ocupação ocupacao pelo governo da Estrada de Ferro e de todas as empresas a ela filadas, Noite e a Rddio Rádio filadas, incluindo A Noiz‘e patrimônio da União, Nacional. Integrado ao patrimonio Uniao, o jornal viveria Viveria sua última filtirna fase, em crise (DHBB : 4107). permanente (DHBB:

Memórias Memorias dos homens de imprensa A rememoração rernernoracao da fundação fundacao de O 0 Globo, em 29 de julho de 1925, 1925, revelada pelas

estratégias estrate’gias memoráveis memoraveis dos jornalistas, o constrói constroi como corno iniciativa iniciatiVa do gênio génio criador de seu fundador: Irineu Marinho. Por outro lado, as memórias projetam memorias proj etam uma história historia de susu— so se efetivaria muitas décadas de’cadas depois. cesso para o novo matutino que, a rigor, só “O Globo nasceu praticamente de uma viagem Viagem que o Irineu Marinho fez a “O safide. Digo isso porque ele caucionou as ações acoes da Europa para tratamento de saúde. Noite com corn Geraldo Rocha e na sua volta quando ele quis resgatá-las resgata—las ou não nao nao aceitou mais, apoderando-se do direito teve meios ou o Geraldo Rocha não entao a decisão decisao de fundar O Globo e antes consulconsul— do jornal. O Irineu tomou então tou seus antigos companheiros para expor o seu projeto”. projeto”. (Depoimento de Goncalves, Manuel Antonio. In: Memo’ria Gonçalves, Memória da ABI) A mesma história historia da fundação fundacao do jornal, a partir de um ato ilícito ilicito — apropriacao – a apropriação acoes de A Noite — das ações – aparece no depoimento de outros jornalistas. Alguns detalhes

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são tratamento de sao repetidos, rcpetidos, outros são sao acrescentados. acresccntados. A enfermidade cnfcrrnidadc ec a viagem Viagcm para tratarncnto dc saúde passagem saudc são sao detalhes detalhcs comuns em ern muitas narrativas. Mas a forma como se dá (121 a passagcm do controle acionário acionario do jornal para o novo proprietário proprietario aparece aparecc de dc forma diferenciadifcrcnciada nas múltiplas multiplas lembranças. lcmbrancas. “Não “Nao conheço conhcco todos os detalhes. Mas sei sci que o Irineu Irincu Marinho contraiu uma enfermidade teve de tratamento, cnfcrrnidadc e tcve dc viajar Viaj ar para a Europa para seguir scguir um urn tratarnento, afastando-se – o que afastando—sc provisoriamente da direção direcao do jornal. No meio mcio da viagem Viagcm — o obrigou, inclusive a interromper – ele interrornper o tratamento tratamcnto — clc foi avisado aVisado que quc o Geraldo Rocha tinha assumido o controle acionário Noite. Foi assim que se acionario da Noitc. sc deu dcu o seu scu afastamento”. Memória da ABI) afastarncnto”. (Depoimento (Depoimcnto de dc Ferrone, Ferronc, Pascoal. In: Memo’ria Dependendo Dependcndo do lugar de dc onde ondc fala, no futuro, os mesmos fatos aparecem aparccem com corn nuanças traição, em outros é nuancas distintivas. O que em cm alguns depoimentos depoirnentos figura figura como traicao, construído construido como venda do jornal por Irineu Marinho a Geraldo Rocha. “Eu A Noite até 1924. “Eu trabalhei na naANoite 1924. Foi quando o Irineu Marinho saiu para fundar O Globo. E ele Noite para o Geraldo Rocha e6 eu 616 vendeu vendcu A Noitc cu continuei continuci na A Noitc, Noite, como corno diretor substituto, antes eu cu era redator”. rcdator”. (Depoimento de dc Magalhães, Memória da ABI) Magalhaes, Mário. Mario. In: Memo’ria Os mecanismos transmissão dessa história tradição mccanismos de dc transmissao historia particular constroem constroern uma tradicao que quc identifica identifica a fundação fundacao de dc O 0 Globo como parte de uma traição, traicao, cujo desfecho dcsfccho foi modificado modificado graças gracas àa ação acao empreendedora emprecndedora de dc Irineu Marinho. Essa mítica perda, aliada ao fato de rnitica da reconstrução, reconstrucao, a partir de uma pcrda, dc ter seu fundafunda— dor morrido exatos periódico, vai construincxatos 21 21 dias depois dcpois do aparecimento aparccimcnto do novo periodico, construin— do na memória memoria do grupo uma identidade particular para o jornal, que quc passa a ser scr identificado Nesse sentido, identificado como corno uma espécie cspécie de dc lugar indestrutível. indestrutivcl. Nessc scntido, nada mais Inais evievi— dente dentc do que seu sucesso como empreendimento emprecndimcnto empresarial. crnpresarial. construido pclo memoravcl como sendo scndo previsivcl O sucesso, no futuro, é construído pelo ato memorável previsível no passado. Por outro lado, nos depoimentos depoirnentos aparece aparccc como corno elo comum o fato de dc um jornalista — acepcao plena —, aprcndizado que quc se sc efetivara cfctivara na pratica, – na acepção –, a partir do aprendizado prática, tcr ter unico responsável responsavcl pcla fundacao do novo periodico. sido o único pela fundação periódico. A transmissão transmissao realizada rcalizada pclos quc falam do projeto rcproduz pelos jornalistas que reproduz nao não a historia particular do jornal, mas Inas a mítica mitica do sucesso. Com Corn a adaptação adaptacao do passado ao história prescnte lcrnbranca ec reiteração, rcitcracao, vão Vao forjando uma identidade particular, ao presente como lembrança quc pela transmissão transmissao repetem rcpetcm várias Varias vezes vczcs para diversos indivíduos individuos mesmo tempo em que rcproduzida, produz uma identidade particular. Reproa mesma narrativa que, assim reproduzida, ducao ec invenção, invencao, fidelidade fidelidadc ou traicao, lcmbranca ec esquecimento esquccimcnto fazem part6 dução traição, lembrança parte da transmissao dc memória. memoria. transmissão como trabalho de História Cultural da Imprensa

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Como um profissional, os jornalistas valorizam urn grupo profissional, valorizarn comportamentos apropriados e reprimem outros, de forma a construir uma memória memoria que seja adequada àa reprodução próprio saber e, sobretudo, de seu saber fazer, o que confere também ao ducao de seu proprio grupo identidade. Um grupo de redatores e repórteres repérteres decide continuar trabalhando com Marinho, segundo os relatos. No novo projeto, presidenproj eto, Herbet Moses (que seria anos mais tarde presiden— te da ABI) viria também fora fundador Viria a ser diretor-tesoureiro. diretor—tesoureiro. Eurycles de Mattos, que tambe’rn de A Noite, assume a chefia chefia de redação, redacao, ficando ficando no cargo até ate’ a década decada seguinte. Num único Nurn finico andar do edifício edificio da Rua Bittencourt da Silva, 21, no antigo Largo da Carioca, funcionam precariamente a redação, redacao, as oficinas oficinas de gravura e composição, composicao, a fotografia, térreo, nos fundos, fica fotografia, a revisão revisao e a gerência geréncia de O 0 Globo. No te’rreo, fica a rotativa, a distribuição distribuicao e o caixa. periódico, a imprensa destaca o que classifiNoticiando o aparecimento do novo periodico, classificam como “a jornal”, em função “a modernidade do jornal”, funcao de tentar reproduzir o caráter carater notinoti— cioso que tambem também possui A Noite. O destaque àa informação informacao estabelece a sua diferença diferenca em relação relacao aos outros. “O jornal moderno, com o feitio de um diário “O Globo ée’ um umjornal diario europeu, desapaixonado, muito rnuito noticioso, com corn uma infinidade infinidade de seções secoes informativas e parece pouco propenso a formar forrnar correntes vibráteis Vibrateis de opinião, opiniao, a não nao ser através atraVés do exato e minucioso noticiário”. noticiario”. (Diário (Didrio do Povo, Apud O 0 Globo, 31 31 julho de 1925) 1925) Na definição definicao dos jornalistas ser um urn jornal moderno ée destacar as notícias noticias informativas, relegando a opinião jornalístico no opiniao a plano secundário. secundario. Valoriza-se Valoriza—se o novo estilo jornalistico qual o noticiário noticiario “exato “exato e minucioso” minucioso” tem papel central. Observa-se, portanto, a continuação tinuacao da construção construcao gradativa do ideal de objetividade obj etiVidade no jornalismo carioca, que começa comeca antes mesmo da década de’cada de 1910. 1910. Com um urn longo trabalho para definir definir o papel acambarcar múltiplos mfiltiplos aspectos do jornalista e do jornalismo — – ser isento, imparcial e açambarcar figurar —, Vao de uma realidade a quem ée outorgado o direito de figurar –, os proprios próprios jornalistas vão urn lugar peculiar para a profissão, profissao, no qual a ideia de representação representacao fiel fiel construindo um atrave’s das notícias, noticias, ocupam lugar da realidade se sobressai. Ao espelhar o mundo, através emblematico e definem definern o valor da profissao. emblemático profissão. corn frequência frequencia está esta associado às as novidades introduzidas Outro ideal que aparece com periodico: a noção nocao de moderno. Como um urn conceito, moderno, Inoderno, nas palavras dos pelo periódico: jornalistas, ée o jornal que divulga a informação, informacao, numa linguagem que procura a isen950. A informação informacao passa a ter lugar de destaque. A valorização valorizacao dessa pretensa neutraneutra— ção. formatacao discursiva do periodico delimitacao dos lidade — – apresentada pela formatação periódico e pela delimitação espacos destinados àa opinião opiniao que não nao mais se confundiria com as colunas de informaespaços cao — suspeicao. ção – retira da narrativa jornalistica jornalística a ideia de suspeição.

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Os jomais jornais não nao devem opinar e muito menos persuadir. Os conteúdos conteudos revelam uma realidade existente a priori. priori. O jomal jornal deixa de expressar concepções, concepeoes, para se valer da isenção iseneao que vão Vao construindo em torno tomo da ideia de notícia. notieia. Assim, a uniformização uniformizaeao de múltiplos multiplos aspectos aspeetos numa retórica retorica que procura despir a linguagem de elementos opinativos constrói, jornalística neutra, elevada àa condição constroi, gradativamente, a noção noeao de linguagem jomalistica condieao de ciência, prestação de serviços. cieneia, afinada afinada com o mito da isenção, iseneao, da neutralidade e da prestaeao serVieos. “O “O Globo desenvolveu o jornalismo noticioso, porque a imprensa antiga era mais de crônicas cronicas e artigos. Dificilmente Dificilmente dava notícia. noticia. Para dar uma notínoti— cia eia era preciso que a notícia notieia fosse muito importante mesmo, senão senao não nao dava. O Globo desenvolveu o serviço jornal serVieo de notícia, notieia, noticioso, passou a ser um jornal noticioso, notieioso, não nao comentarista. Os comentários comentarios de O 0 Globo se restringiam a Ecos, eram os trés três Ecos que fazia, no principio. princípio. Nesses trés três Ecos pequenos eles davam a sua opinião opiniao de tudo. No mais era tudo notícia, noticia, era um serviço serVieo noticioso: foi a parte justamente que desenvolveu mais, foi a parte noticiosa”. noticiosa”. (Depoimento de Gonçalves, Memória da ABI) Gonealves, Manuel Antonio. In: Memo’ria prática, entretanto, essa valorização Na pratiea, valorizaeao da notícia noticia informativa não nao ocorre. Mesmo a intenção também não inteneao do jornal de ser voltado para os temas da cidade tambe’m nao ée’ evidente. As narrativas procuram, a rigor, construir a imagem do jornal a partir de elementos imim— já dissemos. As portantes para o jornalismo no futuro e não nao no passado, como ja memórias memérias de época epoca fornecem uma espécie especie de mapa futuro do lugar fundamental que deverá devera ser construído construido pelo grupo. página do jornal de 29 de julho de 1925 parece evidenciar Nada na primeira pagina 1925 pareee eVideneiar a intenção inteneao de ser um jornal isento e voltado para os temas da cidade. A manchete destaca “Voltam-se “Voltam-se às as vistas Vistas para a nossa borracha”, borracha”, referindo-se referindo—se a visita Visita ao Brasil de Henry notieia sobre o crescimento do número numero de autoFord. Ainda na primeira pagina página outra notícia móveis moveis no Brasil: de 2.772 para 12.995. 12.995. Em seguida, informam da abertura dos arquiarqui— seeretos de Viena. Completando a página pagina uma caricatura de Raul Pederneiras vos secretos politica econômica economica do governo. critica a política No periodo 1925 e 1930, 1930, O 0 Globo, além do pequeno espaço espaeo período compreendido entre 1925 dedieado àa opinião opiniao — “Ecos”, na segunda pagina dedicado – a coluna “Ecos”, página — – possui outras colunas do genero: na página pagina 4, “O “O Globo na sociedade”, sociedade”, na 5 “O “O Globo nos Teatros” Teatros” e na 6, gênero: “O Globo entre as senhoras”. senhoras”. Na pagina noticias fornecidas “O página 3, reproduzindo pequenas notícias pelas agências agéncias Havas, Americana e United Press, publiea “Ultima Hora”. Hora”. publica a coluna “Última “O Globo na sociedade” sociedade” relaciona noivados, casamentos, viagens, Viagens, doenças doeneas e imim— “O pressoes cronicas. Críticas Critieas às as peeas noticias dos pressões sob a forma de crônicas. peças teatrais e musicais, notícias espetaeulos em cartaz e das casas de danças daneas formam o conteúdo conteudo de “O “0 Globo nos espetáculos Teatros”. A coluna “O “O Globo entre as senhoras” senhoras” destinava-se “à “a leitora dona de casa Teatros”. História Cultural da Imprensa

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e àa mulher trabalhadora”. trabalhadora”. Entretanto, os temas tratados não nao fazem parte do universo das mulheres trabalhadoras dos anos 1920. 1920. “Não “N50 trataremos aqui de assuntos transcendentais, problemas de alta filofilo— sofia, política ou de finanças, sofia, questões questoes de politiea finaneas, mas sim dessas serenas coisas encantadoras tao tão indispensáveis tocaindispensaveis ao espírito espirito da mulher de hoje. Esta seção seeao toea— rá ra levemente em todos os assuntos: literatura, música, musica, elegâncias, elegancias, mundanismo, seja citando eitando o sucesso do livro do dia ou a nota original de uma moda que surge, seja seguindo o desenvolvimento desenvolVimento de uma ideia qualquer”. qualquer”. (O (0 Globo, 1l setembro de 1925, 1925, p. 4) Um ideal de mulher leitora ée claramente expresso na coluna, que busca uma mulher que resuma também tambe’m um ideal feminino: deve ser a guardiã guardia do lar, honesta, trabalhadora, mas ao mesmo tempo suave, leve e muito feminina. “Esta “Esta coluna será sera animada dos bons desejos de defender os interesses da mulher que trabalha, da mulher que luta para manter honesta e corajosamente o seu lar. Terá Tera um carinho muito especial para essas obscuras heroínas heroinas que fazem o orgulho do seu sexo. O principal intuito, entretanto, ée’ ser suave, ser leve, despretensiosa e feminina, muito feminina, que é a sua única uniea razão razao de eXistir”. (Idem, (Idem, ibidem) existir”. A delimitação delimitaeao dos assuntos por páginas paginas e por colunas e a amplitude dos temas

abordados parecem indicar a intenção público diversificainteneao do periódico periodico de atingir um publico diversificado. Noticias Notícias sobre as festas que agitam a cidade estão estao lado a lado com outras que dizem respeito ao mundo do trabalho. O esporte e a religião religiao contemplam um outro segmento de publico. público. Mas mesmo assim, ao terminar a década a tiragem do jornal não nao atinge 30 mil exemplares. comeea a ser O jornal queria um novo interlocutor: uma massa uniforme que começa consistencia na década de’cada seguinte. Para isso estandardiza sua adjetivada para ganhar consistência construeao da sua autoimagem a retórica retorica da imparcialidaimparcialida— linguagem, destacando na construção reforea também tambem a imagem de independência. independéncia. de. Com isso, reforça “E um penhor de nossa sinceridade, mas ée tambe’m indepen— “É também a garantia da independencia com que vamos agir, independência independéncia tao dência tão ampla quanto a permitam as possibilidades humanas e que nos autoriza desde ja já a proclamar que este jornal não nao tem afinidades afinidades com governos, não nao encerra interesses conjugados nao está esta ligado a grupos capitalistas ou a plutocom os de qualquer empresa, não nao existirá existira senão senao como uma força forea posta incondicionalmencratas isolados — – não servieo dos interesses gerais”. gerais”. (“Ecos”, (“Ecos”, O 0 Globo, 29 julho 1925, p. 2) te ao serviço julho de 1925,

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Na memória memoria dos que viveram Viveram este momento sobressai a idealização idealizaoao do tempo mítico primórdios existe uma idade de ouro redentora onde impera a mitico de antes. Nos primordios felicidade. As narrativas que constroem sobre a década jornalistas decada de 1920, 1920, os jornalistas relembram o passado como mito que ainda conserva um valor explicativo do presen— presenprofissionalismo do jornaliste, esclarecendo a forma como se formula lentamente o profissionalismo ta. O 0 mito não nao ée mistificação, mistificaoao, ilusão, ilusao, fantasma ou camuflagem, camuflagem, mas o relato ou a narrativa de um acontecimento que teve lugar num tempo imemorial, o tempo fabuloso dos começos comeeos (Eliade, 1992). 1992).

Esse tempo de antes foi vivido, Vivido, mas, sobretudo, foi sonhado, e sofre os trabalhos de seleção, transmissão. O passado a que se referem não seleeao, antes de sua transmissao. nao ée diretamente conhecido, sendo antes de tudo um modelo, um arquétipo arque’tipo que fornece uma espécie espe’cie de exemplo ao presente. Oposto àa imagem de um presente descrito como desencantadesencanta— mento, figura o passado em todo o seu fulgor. O tempo de antes é um mito, no sentido figura e’ mais completo do termo: ficção, ficoao, sistema de explicação explicaoao e mensagem mobilizadora. Nas redações, redaooes, recordam os jornalistas, há ha sempre relações relaeoes amistosas, o horário horario ée

fixado próximo. fixado ao bel-prazer do jornalista e o dono do jornal ée alguém alguem sempre muito proximo. Essas idealizações profissão envolta numa atmosfera de idealizaeoes constroem uma imagem da profissao sonho e melancolia e particularizam um mundo do jornalismo que só so existe eXiste como um tempo de antes e que é revigorado pelo trabalho de memória memoria dos depoentes. Uma memória memoria dominada por vestígios, vestigios, nos quais figuram figuram como categoria central a construconstru— ção profissão. oao idealizada da profissao. “Em “Em pé, pe, na calçada, caleada, depois do expediente, Roberto explicou seu papel. pó do tempo, o0 p6 pó que, desde No O 0 Globo, ninguém ningue’m cuidava de espanar o 0 p6 jusA Noite, cada geração geraeao legava àa geração geraoao seguinte. Ele estava disposto jus— tamente a usar o espanador. Mas sem assombrar os redatores antigos. QueQue—

ria tambem também mudar, sem choque e gradualmente, a pagina página de futebol. Mas Voces, um dia, confessou que tinha medo de nossos exageros. Disse mesmo: Vocês, puseram a fotografia fotografia de um penico com o Jaguaré”. Jaguare”. (Rodrigues, 1977:180) 1977: 180) Confissées, a entraentra— Dessa forma, Nelson Rodrigues recorda, em suas Memo’rias Memórias e Confissões, irmao Mário Mario para a redação redaeao de O 0 Globo, para dirigir a pagina da de seu irmão página de esporte, mil—re’is mensais. “Um “Um salário salario de primeirissima ganhando quinhentos e cinquenta mil-réis primeiríssima ordem”, para a época. e’poca. A contratação contrataoao de novos redatores e editores faz parte do projeto dem”, modernizaeao do jornal que o novo dirigente quer implementar. de modernização Nelson, na mesma época, também tambe’m vai trabalhar no jornal, ainda que apenas como irmao e, segundo seu depoimento, sem ganhar nada. ajudante do irmão

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“Eu tostão e continuava desempregado. Mas para ajudar “Eu não nao ganhava um tostao aj udar meu irmão, irmao, passei a trabalhar como qualquer funcionário funcionario de O 0 Globo e mais que qualquer funcionário funcionario de O 0 Globo. Chegávamos Chegavamos eu e o 0 Mário Mario às as sete horas da manhã, tarde”. (Idem, manha, e saíamos saiamos às as cinco da tarde”. (Idem, ibidem) Apenas um ano depois, começaria comeearia a ganhar. “Um “Um ano depois, comecei a ganhar. Eis o meu primeiro ordenado: duzentos mil-réis.” mil—re’is.” (Rodrigues, 1977:181) 1977:181)

O fazer jornalistico jornalístico passa àa história historia como missão, missao, uma árdua ardua e ao mesmo tempo agradável agradavel tarefa, apesar dos baixos salários, salarios, da necessidade de trabalhar em vários Varios lugares, do horário horario incerto nas redações, redaeoes, das relações relaooes nem sempre cordiais entre as chefias, traições como a de Geraldo Rocha. chefias, dos conchavos que resultavam em traiooes Colocando, lado a lado, passado e presente, os depoimentos vão Vao forjando forj ando um mundo dual. A evocação evocaoao da chamada idade do ouro repousa na oposição, oposigao, ontem e hoje, no qual o presente é o tempo da degradação, degradaoao, por oposição oposigao a um certo passado marcado pela grandeza, pela nobreza, por uma certa felicidade que precisa ser redescoberta. redeseoberta. Esse passado de luz, mais feliz e, sobretudo, mais belo, cristaliza-se cristaliza—se e se fixa fixa em valores essenciais, sempre evocados: evoeados: a amizade, a solidariedade, a comunhão. comunhao. “Eu A Noite, no Largo da Carioca, subi as escadas e lá “Eu saí, sa1’, fui aaANoite, la em cima estava o Adolfo, que era o0 porteiro e eu nesse tempo tinha uma cara de meni— menivocé no. Eu era mesmo menino, era mocinho, era estudante ainda. —– O que você Vocé conhece? — quer? — – Eu quero falar com o0 Dr. Irineu Marinho. Você – Nao, Não, nao não conheço. – ele não conheoo. Ele foi, voltou: — nao está. esta. Eu ia me retirando quando abriu uma porta e apareceu um senhor meio calvo. Era o proprio próprio Irineu Marinho. Virouse e disse: — – O que você – Eu queria falar com o senhor. —– Pode vocé quer, menino? — falar. Eu acabei de deixar O Imparcial, eu sou estudante, sou pobre, preciso continuar trabalhando para poder continuar os estudos. Ele disse: —– O que é vocé sabe fazer? Digo: de jornal eu sei tudo, mais ou menos tudo porque que você ate’ Câmara Camara dos Deputados, coisa e tal. Ele chamou eu tenho feito tudo, até secretario e disse: — V6 o que esse Eurycles de Mattos, que era o0 secretário – Eurycles, vê Da uma nota aí ai pra ele”. ele”. (Depoimento de Gonçalves, Gonoalves, menino pode fazer. Dá Manoel Antonio. In: Memo’ria Memória da ABI) No relato de Manuel Antonio Gonçalves Gongalves sobressai a proximidade e a generosidade do dono do jornal que se solidariza com a necessidade do jovem jornalista. Sobressai tambem o caráter carater prático pratico da profissao, cuj as tarefas forjam forj am um também profissão, aprendida no cotidiano, e cujas profissional capaz de executar qualquer função fungao no periédico. E a pratica construia profissional periódico. É prática que o construía — “de jomal – apesar da pouca idade — – como um jornalista que “de jornal fazia tudo”. tudo”.

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Essas memórias memorias são sao discursos cuja principal função funcao é forçar forcar uma imagem imagcm do grugru— própria identidade, privilegia o tempo po e6 sua propria identidadc, valendo-se valcndo—sc de dc um imaginário imaginario que quc privilcgia fabuloso do começo, jornalismo de comeco, ou seja, scja, o mito da idade idadc do ouro de dc um jornalismo dc outrora. Por outro lado, ao lembrar lcmbrar um número nfimcro restrito rcstrito de dc acontecimentos, acontccimcntos, ao priorizar determinados fatos ec relegar rclcgar outros ao esquecimento, csquccimcnto, ec ao manter mantcr o mesmo fio fio condutor nas narrativas, percebe-se perccbc-sc essas cssas histórias histérias de dc vida Vida como instrumentos de dc construção construcao da identidade identidadc do grupo. presente uma pcrccpcao percepção do meio Nas memórias memorias individuais está csta prescntc mcio físico fisico e6 social que quc circunda o sujeito. presente contínuo sujcito. Esse Essc prescntc continuo se sc manifesta por movimentos movimcntos (ações (acocs ec reações) tem influência cocs) do corpo sobre sobrc o ambiente. ambientc. O lugar ocupado por quem qucm relata rclata tn influéncia decisiva preservação da lembrança dccisiva na prescrvacao lcmbranca (Bérgson, 1990). 1990). O jornalista reconstrói reconstroi sua vivência, ViVéncia, baseado bascado neste nestc lugar social. Os pontos de dc sigsig— nificação nificacao da sua lembrança lcmbranca relacionam-se rclacionam-sc ao ambiente ambientc de dc trabalho, sendo scndo marcos memoráveis trajetória profissional ec a aposentamemoravcis a entrada cntrada na profissão profissao (iniciação), (iniciacao), a traj ctoria profissional aposcnta— doria (o fim). fim). peculiares, entre transformação da profissao profissão em Através de dc mecanismos mccanismos pcculiares, cntrc os quais a transformacao cm imagcm significativa, significativa, essas cssas memórias memorias expõem expocm um corpo de dc ideias idcias ec representações rcprcscntacocs da imagem sociedade papel que ter os jornalistas não socicdadc acerca accrca do papcl quc deveriam dcvcriam tcr nao no passado, mas no presente. Do ponto de privilegiam o podcr poder de prcscntc. dc vista Vista profissional profissional privilcgiam dc serem scrcm detentores dctcntorcs da informação, informacao, da atualidade atualidadc inédita ec imediata, e de serem scrcm uma espécie cspécic de dc orientadores orientadorcs do público, – espécie pfiblico, cumprindo com o que quc vão Vao construindo como missão Inissao — cspécic de dc sacerdósaccrdo— cio — – da imprensa. imprcnsa.

profissional faz com que A imagem imagcm de dc sacerdócio saccrdocio ligada àa atividade atividadc profissional quc destaquem dcstaqucm sacrifícios sacrificios inerentes incrcntcs àa profissão profissao ec ao cotidiano duro, com corn horários horarios incertos inccrtos ec parcos recursos transmitem ao futuro um legado rccursos materiais. matcriais. Nas suas memórias, memorias, os jornalistas transmitcm lcgado de profissão, construindo-se dc experiências cxpcriéncias adquirido no dia-a-dia dia—a—dia da profissao, construindo—sc como espécies cspécics de dc testcmunhas privilcgiadas de dc uma época. Ao fazê-lo, fazé—lo, constroem constrocm uma imagem imagcm prepon— testemunhas privilegiadas preponscu eu cu — sujcito de dc sua própria propria descrição dcscricao —, caractcrizando—sc de dc maneira Inancira derante do seu – sujeito –, caracterizando-se peculiar ec transmitindo essa cssa idealização idealizacao como memória memoria do grupo. Nessas narrativas, a imagem imagcm da profissao, dc parametros aprcprofissão, através de parâmetros pessoais, é aprescntada como comum ao grupo. Realizam, Rcalizam, assim, uma transformacao objcto de dc sentada transformação do objeto memoria — atiVidadc jornalistica imagcm significativa, significativa, criando mememória – no caso a atividade jornalística —– numa imagem dc transmissão transmissao da memória memoria coletiva. colctiva. O amor ec a dedicação dcdicacao àa atividade atividadc se sc canismos de sobrcssacm nesses ncsscs vestígios vestigios do passado. Mediado Mcdiado pclo scu lugar no mundo, esses csscs sobressaem pelo seu autorcs fazem fazcm da lembrança, lcmbranca, objeto obj cto do seu scu relato, rclato, uma das memórias memorias coletivas colctivas válidas Validas autores proprio grupo. do próprio

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IV. Imprensa e Estado Novo: O público pfiblico como “massa” “massa” (1930-1940)

“Era um alto negócio negoeio para os donos de jor— “Era jor-

nais colaborar com a ditadura de Getúlio Getulio e não nao protestar contra a censura e todas as outras limita-

ções jornais mantinham eoes impostas pelo regime. Os jomais a qualidade, os diretores podiam pagar menos aos repórteres, repérteres, as vendas permaneciam altas e não nao 20 ) havia haVia conflito conflito com o governo.” governo.” (Joel Silveira Silveirazo)

O período periodo inaugurado em novembro de 1930 1930 e que passa àa história historia como Estado também no campo jornalistico. jornalístico. Lembrado sempre, Novo ée’ marcado por ambiguidades tambe’m nos depoimentos dos homens de imprensa, como o momento em que os jornais jornais tém têm sua liberdade inteiramente cerceada pela ação aeao da censura e do Departamento de ImIm— prensa e Propaganda (DIP), criado em 1939, 1939, não nao se pode considerar de forma unâniunani— me que toda a grande imprensa sofre negativamente com a ação política do periodo período aeao politica ditatorial de Vargas. políticas, que se inicia com a coalizão A complexidade compleXidade das relações relaeoes politicas, coalizao de forças foreas que assume o0 poder em 1930, própria configuração jornalismo do Rio de 1930, se reflete reflete na propria configuraeao do jornalismo Clara utilização utilizaeao dos Janeiro, que funciona nas cercanias do poder. Ainda que haja a clara comunicagao — radio — meios de comunicação – inclusive os mais modernos, como o0 rádio – para atingir um publico identificado como massa, há ha tambe’m público agora identificado também o alinhamento dos dirigentes das principais publicaeoes encampaeao de alguns periodipublicações com o regime. Ainda que haja encampação periódiha mais proximidades, acordos e relações relaeoes conjuntas conj untas cos, perseguieao perseguição de outros tantos, há divergencias. entre os homens de governo e os homens de imprensa do que divergências. Getulio Vargas esteve Falar, portanto, da imprensa durante os quinze anos em que Getúlio relaeoes de poder que se estabelecem, da àa frente do Governo ée’ falar das complexas relações

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Baiéo. 12 de janeiro de 2001. 2001. Entrevista a Juliana Rodrigues Baião.

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questão questao do Estado, entendido de maneira ampliada, tal como concebeu Gramsci e, finalmente, compreender a formação formacao de um pensamento que se constrói constroi como dominante nesnes— se cenário cenario e que será sera fundamental para a formulação formulacao dos ideais estadonovistas. Há Ha a preocupação público agora visto ocupacao de incluir um novo personagem: o publico Visto como massa. Há, Ha, ainda, a construção político e construcao de um ideal de nação nacao onde prevalece a ideia de direcionamento politico intelectual dos que ocupam posicao posição dominante em face do restante da populacao. população. unanime, a historiografia aponta os primeiros anos da década decada de De forma quase unânime, 1930 política, diante da incapacidade de qualquer 1930 como de acentuada instabilidade politica, dos grupos dominantes em assumir o controle das funções políticas. Essa situação funcoes politicas. situacao teria sido responsável política braresponsavel por algumas das características caracteristicas mais marcantes da politica bra— sileira de então, – entao, entre elas a personalização personalizacao do poder, construindo-se construindo—se a imagem — meio real e meio mítica – da soberania da sociedade politica política sobre o conjunto da mitica — sociedade. Paralelamente a este movimento, instaura-se instaura—se como fundamental a ideia de participação – ainda que de maneira passiva — – das massas populares urbanas. Constaparticipacao — Consta— ta-se Nação a construção ta—se como sendo fundamental para a formatação formatacao da ideia de Nacao construcao de um auditório personificado de maneiauditorio que simbolicamente referendaria a imagem do poder, personificado mitica na figura figura do líder lider carismático. carismatico. ra mítica

Estavam em gestação gestacao desde a década de’cada anterior as ideias que dominam o cenário cenario ideológico país centra-se ideologico dos anos 1930. 1930. O diagnóstico diagnostico que se fornece para o pais centra—se na questão país como nação tao da organização organizacao nacional: é preciso conceber o pais nacao dentro de um projeto proj eto político politico que destina ao Estado (e aos seus intelectuais orgânicos) organicos) a missão missao de 21 dar direção população . direcao ao restante da populacaofl. político, a base sob a qual deve repousar o “edifício Nesse projeto politico, “edificio chamado BraBra— sil” tradições, herdadas de um passado e de uma terra promissora. No camsil” seriam as tradicoes, po estaria localizada a verdadeira riqueza da terra, sendo a cidade, em contrapartida, o lugar da ilusão, ilusao, da desordem, da multiplicação multiplicacao de valores alienígenas. alienigenas. antitese cidade versus campo tambe’m econémicas e Essa antítese também vai dominar as ideias econômicas politicas do Estado Novo. Constata-se, Constata—se, ja decada de 1920, 1920, o declínio declinio das instituiinstitui— políticas já na década coes, materializadas numa crise institucional, politica ções, política e social. Assim, ée fundamental acao dos homens de Estado e de governo para mudar este cenário. cenario. a ação A missão missao cabe naturalmente — Visao ideológica ideologica — – dentro dessa visão – aos que melhor estao aparelhados para desempenhar funções funcoes tao organizacao e na diestão tão complexas, na organização recao da educação. educacao. Enfim, Enfim, na construção construcao institucional que daria rumo àquele aquele que reção deveria ser guiado, o povo, que passara passará a ser nomeado como massa.

21 Essas ideias que podem ser sistematizadas sob a égide do pensamento conservador brasileiro são sao desenCampos. Para referências referéncias completas, completas, cf. Bibliografia. Bibliografia. volvidas por Oliveira Vianna, Alberto Torres e Francisco Campos.

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Na ideia de direção direoao há ha que se observar ainda algumas construções construooes ideológicas ideologioas presentes durante todo o Estado Novo. A primeira ée a de que os homens são sao por

natureza diferentes, havendo aqueles a quem caberia, como eomo missão, missao, a árdua ardua tarefa de educar eduear e fazer as leis a serem cumpridas e os outros, que deveriam ser educados e obedecer. obedeoer. Introduz-se, Introduz—se, em consequência, consequéncia, a naturalização naturalizaoao da ideia de hierarquia entre os grupos sociais. O segundo aspecto a ser destacado destaoado refere-se àa noção nooao nascente de sociedade de massas, em que o indivíduo individuo tem comportamento social e moral marcado maroado pela desorientação, entaoao, formando um todo amorfo, anônimo anonimo e uniforme. Caberia ao governo, através períoatraVes de múltiplos multiplos aparelhos burocráticos buroeraticos criados no periodo e com o concurso de intelectuais inteleetuais orgânicos organicos dos grupos dirigentes, desempenhar funções funooes cada vez mais complexas, inclusive a de dar orientação orientaoao ao povo, massa amorfa e indiferenciada. Paralelamente, apresenta-se apresenta—se a necessidade neeessidade de difundir conhecimeneonheoimentorna-se fundamental o papel dos intelectuais e dos tos e noções noooes elementares e, assim, torna—se veículos veiculos de difusão, difusao, isto é, a imprensa. Essas ideias, que constituem o pensamento conservador oonservador brasileiro inspirado no pensamento autoritário autoritario europeu, ganharão ganharao no Brasil nuanças nuanoas particulares. Enquanto, na Europa, a direção direoao ideológica ideologica fundamenta-se fundamenta—se na tentativa de os antigos grupos sociais manterem suas posições pressão dos trabalhadores e dos grupos populares, no posieoes diante da pressao Brasil o0 avanço avanoo das ideologias autoritárias autoritarias vincula-se Vincula-se àa emergência emergénoia de novos grupos sociais e forças foroas políticas, politicas, dentro de um projeto que almeja a modernização modernizaoao da sociedasooieda— de. Para isso, ée fundamental a existência existencia de um Estado forte que tutelaria a sociedade, sooiedade, os grupos sociais e o sistema econômico. economioo. Assim, nas ideias da década decada de 1920 1920 e que tomam corpo oorpo na configuração configuraoao

institucional dos anos 1930, traçar um programa que atinja a todos 1930, ée’ fundamental traear através atraVes da educação eduoaeao e da massificação massifioaoao das informações. informaeoes. Instituições Instituiooes fortes, porque baba— tradiooes, nos valores, na disciplina, na autoridade e na hierarquia, dariam, seadas nas tradições, atraVes de uma politica direeao ao povo brasileiro, agora classificado como eomo através política nacional, direção concepeoes sintetizarão sintetizarao o proj eto institucional implantado a partir massa. Todas essas concepções projeto Revoluoao de 1930 1930 e com mais intensidade a partir da instauração instauraoao do periodo da Revolução período autoritario, em 1937. 1937. autoritário, pressoes Estado Novo: controle e pressões revoluoionario que depôs depos o presidente Washington Luiz, em 24 de O movimento revolucionário 1930, instala no poder uma junta governativa provisoria outubro de 1930, provisória que, dias depois, transmite o governo ao candidato eandidato derrotado nas eleições eleiooes presideneiais: Getulio Vargas. presidenciais: Getúlio História Cultural da Imprensa —

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Oito dias depois de tornar tomar posse na chefia chefia do Governo Provisório, Provisorio, Vargas, em 11 11 de novembro do mesmo ano, promulga o Decreto nº no 19.398 19.398 que institucionaliza os poderes discricionários discricionarios do chefe do governo, reunindo em suas mãos maos atribuições atribuicoes do poder executivo e do legislativo. O decreto dissolve o Congresso Nacional, as Câmaras Camaras Estaduais e Municipais e quaisquer órgãos país. orgaos legislativos ou deliberativos existentes no pais. Caracterizado pelo caráter carater altamente centralizado e monolítico, monolitico, o novo regime cria condições favoráveis para a autonomia da sociedade política, instituindo mecacondicoes favoraveis politica, meca— nismos para fortalecimento do poder do Estado, aperfeiçoando aperfeicoando formas de controle das diferentes esferas da vida Vida social, multiplicando as ações acoes no sentido de se consolidar nacionalmente. Para ser tornar um urn governo forte, centralizado e apartidário, apartidario, monta um urn complexo quadro juridico—institucional, jurídico-institucional, criando mecanismos para interferir nos diversos setores da vida Vida social e ampliar os poderes do Executivo, construindo normas reguladoras nas relações relacoes entre o poder central e o estadual (restringindo a autonomia dos governos estaduais), instituindo instrumentos de intervenção político intervencao na economia e de controle politico e criando uma estrutura corporativa, onde se sentiam aparentemente incluídos incluidos os difedife— rentes grupos sociais, entre eles os trabalhadores urbanos (Fausto, 1986). 1986). O Estado Novo é, e, portanto, o conjunto de mudanças mudancas ocorridas de 1930 1930 a 1945, 1945, instaurando o que passaria àa história período viveuhistoria como corno “Era “Era Vargas”. Vargas”. Nesse longo periodo viveu— se, do ponto de vista político politico e institucional, o Governo Provisório Provisério (1930-1934), (1930—1934), o 0 Governo Constitucional (1934-1937) e o Período três Periodo Ditatorial (1937-1945). (1937—1945). Esses trés momentos distintos representam o desdobramento de um processo politico político que se inicia com a ascensão Aliança Liberal. ascensao ao poder da coligação coligacao representada pela Alianca Sonia Regina de Mendonça Mendonca identifica identifica no Golpe de 1930 1930 o momento de primeira ruptura no que diz respeito ao avanço país, para que avanco da acumulação acumulacao capitalista no pais, fosse implantado um produção. Para isso ée’ urn núcleo nficleo básico basico de indústrias indfistrias de bens de producao. redefinicao do papel do Estado no plano econômico, economico, de forma a tornar fundamental a redefinição 22 urbano—industrial o eixo dinâmico dinarnico da sociedade (1986:13) (1986: 13)”. o polo urbano-industrial . dispensaveis os tradicionais canais de O crescimento do aparelho do estado torna dispensáveis expressao da sociedade civil (partidos politicos, associacoes etc.), consolidando-se consolidando—se expressão políticos, associações fOrmula de participacao uma nova fórmula participação politica política no pais. país. Para isso, o Estado vai multiplicar nl’imero de agências, agencias, institutos, conselhos, autarquias que irão irao centralizar as demano número

22 Na mesma obra, a autora identifica quatro interpretações interpretagées principais sobre o caráter caréter do golpe de outubro: outubro: médias; os que o atribuem a ascensão ascensao da aqueles que o identificam como sendo um movimento das classes médias; a0 poder político; politico; os que explicam 1930 1930 como resultante da atuação atuagéo conjunta das oligaroligar— burguesia industrial ao agrérias produtoras para o mercado interno, interno, associadas aos militares; militares; e, finalmente, quias agrárias finalmente, os que sem se geral, avalipreocupar com os agentes que participaram do movimento, pretendem apreender o seu sentido geral, beneficiérios do novo direcionamento dado pelo Estado aos rumos da economia (Idem: (Idem: 14). 14). ando os beneficiários

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das dos diferentes setores da sociedade, através atrave’s da multiplicação multiplicaeao dos órgãos orgaos burocráburocra— ticos. Cria-se Cria—se o que Mendonça Mendonea chama Estado burocrático-autoritário. burocratico-autoritario.

período áureo A década de’cada de 1930 1930 pode ser visualizada como o periodo aureo de crise das ideoloideolo— gias liberais e da ascensão Não se trata de um fenôascensao das ideias e valores autoritários. autoritarios. Nao feno— meno brasileiro, como ja já enfatizamos. No decorrer da década decada de 1920, 1920, a Europa asas— sistira ao êxito exito de movimentos de caráter carater totalitário totalitario de direita, levando àa eliminação eliminaoao do sistema pluripartidario, pluripartidário, da competição política, da liberdade de imprensa, ao mescompetigao politica, mo tempo em que se edificava edificava a supremacia do executivo. Caracterizando o pensamento conservador moderno, inspiração inspiraeao do pensamento autoritario brasileiro, Karl Mannheim (1959) particulariza esse modelo como oposto autoritário ao pensamento do Direito Natural, na medida em que a ideia de Razão Razao estática estatica ée substituída substituida pela ideia de Razão Razao em permanente mudança mudanoa e movimento. Contra a conscons— trução de indivíduos totalidatruoao individuos como unidades isoladas, o conservadorismo opõe opoe uma totalida— de que não Nação não nao ée’ a mera soma das partes. Assim, o Estado ou a Naoao nao deve ser comcom— preendido como a soma de seus indivíduos individuos membros, mas, ao contrário, contrario, os indivíduos individuos devem ser vistos como fazendo parte de uma totalidade mais ampla. Forma-se Forma—se uma espécie de “espírito povo”, que domina a ideia de Naeao. Nação. “espirito do povo”, Todo indivíduo individuo e acontecimento isolados são sao puramente acidentais e fortuitos, em contraste com a unidade territorial que forma um todo uno e indivisível. Nação ée a indivisivel. A Naeao comunidade com suas gerações geragoes passadas, presentes e futuras, materializada a partir de uma linguagem, costumes e leis comuns, mas tambem também no conjunto de instituições, instituieoes, familias e, finalmente, finalmente, em uma família familia imortal, que é a do governante em antigas famílias (Muller, citado por Mannheim, 1982:129). 1982:129). O passado, nessa formatação formataoao ideológica, ideologica, (Müller, só já que a devoção so tem valor na medida em que sobrevive no presente, ja devoeao ée voltada para o presente, no que é definido definido como novo e atual. Mannheim argumenta ainda que nem o pensamento conservador nem o liberal sao sistemas prontos, sendo modos de pensar em permanente e contínuo continuo processo. são nao desejava desej ava apenas pensar alguma coisa diferente O conservadorismo, acrescenta, não de seus oponentes liberais, mas queria pensa-la pensá-la de modo diferente e esse foi o impul133-134). so que proporcionou a nova forma de pensamento (Idem: 133-134). oposigao ao pensamento Iluminista, o conservadorismo coloca em luSendo uma oposição razao conceitos como história, historia, vida Vida e nação. naoao. Em contraposição contraposieao àa gar do primado da razão tendencia opoe a irracionalidade da realidade, ao mesmo tempo em que tendência dedutiva, opõe difereneas entre os indivíduos. individuos. radicaliza o problema da individualidade, percebendo diferenças Assim, não nao haveria mais uma espécie espe’cie de indivíduo individuo de caráter carater universal. Combatendo crenea liberal na aplicabilidade de todas as inovações inovagoes politicas a crença políticas e sociais, concebem a valida apenas para determinada nação, naoao, o que impede a trans— ideia de organismo social, válida transferencia arbitrária arbitraria de modelos de liberdade institucionais de um lugar para outro. ferência História Cultural da Imprensa —

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Fechando as concepções podemos ainda acrescentar a negaconcepooes do conservadorismo, podernos nega— ção oao do individualismo e do indivíduo individuo e, por último, filtimo, a concepção concepoao dinâmica dinamica de Razão. 250. O que muda não nao é o mundo, mas Inas a Razão Razao e suas normas é que estão estao em constanconstan— te mutação mutaoao e movimento. Com políticas no Brasil dos anos 1930 – getulistas, Corn a emergência emergéncia de novas forças foroas politicas 1930 — tenentistas, integralistas, comunistas e aliancistas — – no contexto de modernização modernizaoao da sociedade e de reorganização do aparelho estatal, torna-se emergente a construção reorganizaoao torna—se construoao de um Estado forte com funções funooes tutelares sobre toda a sociedade. É E por isso que, mesmo ocupando posiooes posições diferentes, as forças políticas pertencem a um foroas politicas urn mesmo universo ideológico ideolégico caracterizado pelo autoritarismo, pelo intervencionismo e pelo nacionalismo (Fausto, 1986:517). 1986:517). historia, uma imprensa... Uma história,

O Estado Novo é também o momento de construção construoao de uma dada história historia da imim— prensa no Rio de Janeiro, na qual se destacam as relações relaooes da imprensa com o poder e o papel engendrado pelos jornalistas para o seu lugar social e6 politico, político, ante esta batalha de e6 pelo poder. Os anos 1930 período de evidência política e estes temas encontram 1930 são s50 um periodo evidéncia da politica encontrarn o seu lugar natural na imprensa. A polêmica polémica e o apoio institucional ao governo ou a oposição páginas das publicaooes. publicações. Os jornais se oposioao sistemática sistematica ganham espaço espaoo nobre nas paginas constroem como domínio dominio da política, politica, recuperando um urn lugar que a rigor nunca perderam, no qual a polémica polêmica ocupa espaço espaoo preponderante. O Estado ganha, cada vez mais, a exclusividade da divulgação – seja por coerção, político e, divulgaoao — coeroao, seja por alinhamento alinharnento politico portanto, por concordância política —, –, mas o pfiblico público é concordancia com corn as ações aooes da sociedade politica afastado dos periódicos. periodicos. De tal forma que em meados da década de 1930, 1930, o leitor está esta praticarnente ausente das publicaooes. praticamente publicações. Sua fala é silenciada nos jornais, jornais, enquanto a ampliaoao se dá da através atraVés da constituição constituioao de um amplo fala do Estado é ampliada. Essa ampliação burocratico—repressor, via Via formação formaoao do Departamento de Imprensa e PropaPropa— aparato burocrático-repressor, aoao da censura, ou através atraVés do alinhamento politico ganda (DIP) e pela ação político da imprensa, simbolicos, a partir de sua aproximação aproximaoao com o poder. que procura aferir lucros reais e simbólicos, A comunicaoao, há ha a inclusão inclusao da À medida que a fala politica política é ampliada nos meios de comunicação, rnidiaticos. No rádio radio e6 nas revistas mundanas a voz fala do pfiblico público em novos lugares midiáticos. pfiblico aparece em meio a uma atmosfera onde o glamour e a fantasia tomam o do público lugar da realidade politica. política. Podernos dizer que a proliferagao contefido na mídia midia do periodo Podemos proliferação de novos tipos de conteúdo período exigéncia do público pfiblico que procurará procurara cada vez mais na fantasia e6 na diz respeito a uma exigência

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emoção emooao de personagens mitificados mitificados a expressão expressao de seu rosto silenciado. Ao se ver apartado da discussão política, mostrará discussao politica, mostrara a sua face nas colunas que enfocam o entretenimento e nas notícias noticias que envolvem os dramas do cotidiano. Em 1938, 1938, estão estao oficialmente oficialmente registrados no então entao Distrito Federal 23 jornais, 23 entre vespertinos e matutinos . Desde o centenário Jornal do matutinos23. centenario Jamal cla Commercio, Cammercia, até ate’ aqueaque— les que aparecem no início Diário de Notícias. Dentre eles destainicio da década de’cada como o Diaria a’e Natz'cias. desta— cam-se pelo poder de difusão junto ao público, O Jornal, Diário da Noite, A Noite, cam—se difusao pfiblico, 0 Jamal, Diaria Naite, Naite, Manhã e o Correio Manhã. A Martha Carreia da a’a Manha. Ao lado desses circulam outros periodicos periódicos sem muita expressão A0 expressao como A Batalha, Nação, O Noite, A Nata, Nota, Vanguarda DemoA Nagaa, 0 Radical, Voz Vaz de Portugal, Correio Carreia da Naite, Vanguarda e Demacracia. Há Ha ainda os tradicionais diários diarios que tiveram importância importancia nas décadas de’cadas anteriores, mas que estão público, como o Jamal Jornal do estao em franco declínio declinio de pfiblico, a’a Brasil, O 0 Imparcial e Gazeta de Naticias Notícias (Porto, 1941:274-6). 1941 :274-6). Há Ha outros que só so ganham relevo nas décadas de’cadas seguintes, como o0 Diana Diário Carioca, Cariaca, fundando em 1928, 1928, e O 0 Globo, Glaba, criado em 1925. 1925. Os principais diários páginas, podendo diarios são sao editados em média media em cadernos de 24 paginas, atingir aos domingos até ate’ 60 páginas. paginas. As tiragens dos matutinos mais populares situam-se já vespertinos como O Jornal podem atingir am—se em torno de 40 mil exemplares, ja 0 Jamal 120 Noite publica até jornais 120 mil exemplares. A Naite ate cinco edições ediooes diárias. diarias. Em 1937, 1937, esses jornais praticamente saem de duas em duas horas, apesar de só so modificarem modificarem a primeira e a última páginas maior, divididos filtima página. pagina. No final final da década, com um número nfimero de paginas diVididos em cadernos, custam quarenta centavos nos dias úteis fiteis e cinquenta aos domingos. 1930 ée perceber as suas relações relaooes com o Falar em imprensa no Brasil dos anos 1930 Estado, entendido não político, mas como formação nao apenas como comando politico, formaoao que comcom— bina uma simbologia, onde os aspectos semióticos semioticos se sobressaem. Para Clifford Gertz, o Estado condensa pelo menos trés três temas etimológicos: etimologicos: o 0 status, no sentido de posto, posição, condição; presença; e posieao, condioao; a pompa, no sentido de esplendor, dignidade, presenoa; governanea, no sentido de regência, regéncia, regime, soberania, comando. Assim, o que desiggovernança, aeoes — sao namos por Estado combina estas trés três ações – status, pompa e governo —– que são (1991 : 153-163). sempre alardeadas (1991:153-163). atenoao para o caráter carater Gramsci, na sua Teoria Ampliada de Estado, chama a atenção multidimensional dos processos sociais, ja já que, para ele, o Estado seria produto de mfiltiplas e dinâmicas dinamicas inter-relações inter-relaooes entre sociedade civil e sociedade politica, múltiplas política, num permanente movimento de pressoes contrapressoes entre grupos de indivíduos individuos orgaorga— pressões e contrapressões

23 É E comum, até a década de 1960, a existência existéncia de jornais cuja edição edigao aparece às as primeiras horas do dia, dia, os 03 03 que circulam apenas à a tarde, tarde, os vespertinos. inicio da década de 1940, 1940, os vespertinos são 5:210 matutinos, e os vespertinos. No início 03 que possuem as maiores tiragens. Cf. Porto. Porto. 1941:276. 1941:276. os

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nizados, visando àa produoao produção do consenso, ou seja, a aceitação aceitaoao do projeto de um desses grupos por todos os demais. Essa concepção coneepeao inclui a ideia fundamental de direção direeao intelectual inteleetual que é imposta por um grupo a toda a sociedade, através atraves do consentimento e não nao apenas da coerção coereao explícita. explicita. As representações, representaeoes, valores e concepções, concepooes, apresentadas muitas vezes como divergentes ou conflituosas, conflituosas, fazem parte de um único unico processo, onde o que está esta em jogo ée a imposição de projetos elaborados pelos grupos dominantes. A hegemonia imposieao deve ser lida tendo em conta eonta a contra-hegemonia. Gramsci rejeita a ideia do Estado-força Estado-foroa e do Estado-objeto, Estado-obj eto, ampliando seu conceiconcei— to ao considerar os aparelhos privados de hegemonia existentes na sociedade civil e formados por adesão adesao voluntária. voluntaria. Na medida em que a hegemonia ée resultado da ação aeao orgânica política e a cultura, ganha relevo na problematizaeao problematização gramsciniana organica que envolve a politiea gramseiniana o papel do intelectual inteleetual como eomo “produto “produto de toda e cada uma das classes”. classes”. Considerar o Estado Ampliado da maneira como formulou Gramsci Gramsei impõe impoe que se avalie o conjunto dos meios que possibilitam a direção direeao intelectual inteleetual e moral de uma classe sobre toda a sociedade, de forma que possa realizar sua hegemonia —– a produ— produção –, o que pressupõe múltiplos equilíbrios 950 do consenso —, pressupoe sempre e necessariamente multiplos equilibrios de compromisso. Hegemonia em Gramsci não nao ée apenas domínio dominio ideológico, ideologico, implicando tambem também a construção construeao de nova forma de civilização. civilizaoao. Para isso ée fundamental a desconstrução desconstruoao de mitos da sociedade capitalista e a construção construeao de uma identidade nacional, naeional, incorporando nesse processo os trabalhadores (Gramsci, 1986, 1986, 1989 1989 e 1991). 1991). projeto No Estado Novo, o pilar para a construção construeao de um proj eto de identidade nacional naeional foi a inclusão, inclusao, via formulação formulaeao discursiva e ideológica, ideologica, do grupo urbano em maior crescimento nas cidades: também para realizar essa proposta, a eidades: os trabalhadores. E tambem ação aoao dos meios de comunicação comunieaoao ée’ decisiva. Por outro lado, numa sociedade onde são sao emergentes a formação formaoao de uma nova dinamica capitalista, as divergências, divergéncias, rivalidades e dualidades se multipliordem e dinâmica ha o 0 projeto de criação criaoao de uma estrutura de poder, que faz da cam. Mas, a par disso, há coereao e também tambe’m da busca do consenso chaves de sua ação. aoao. O que se objetiva é a coerção cooptaeao daqueles que possuem ingerência ingerencia sobre o discurso diseurso tornado visível visivel e, neste cooptação alianoa com os homens de imprensa são sao fundamentais. Há Ha tamsentido, o apoio e a aliança be’m o projeto comum de disseminação disseminaeao de nova visão visao de mundo e ée’ nessa intenção inteneao bém que os periodicos periódicos assumem papel-chave. A entrevista de Joel Silveira se referindo àa adesão adesao maciça maciea dos jornais ao proj eto do projeto emblematica do processo de cooptação cooptaeao da imprensa, fundamental para Estado Novo ée emblemática divulgaoao da mítica mitica do novo Estado. a divulgação

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“O “O Correio da Manhã Manha aderiu, não nao podia ser contra. Mas os elogios eram magros. O grosso da imprensa ficou ficou do lado do Estado Novo e assim se concon— servou ou compulsoriamente ou gostosamente. Ate Até que o proprio próprio Correio da Manhã Américo, Manha rompeu essa asfixia, asfixia, esse sufoco, com a entrevista entreVista do José Jose Americo, feita pelo Carlos Lacerda”. Lacerda”. (Depoimento de Silveira, Joel. “O “0 Estado Novo e o Getulismo”. S. Paulo) Getulismo”. Entrevista EntreVista a Gilberto Negreiros. In: Folha de S. Na mesma entrevista, entreVista, o jornalista refere-se aos múltiplos ml’iltiplos processos utilizados pelo Estado, no sentido de produzir o consenso e conseguir o concurso dos jornalistas jornalistas como intelectuais orgânicos organicos dos grupos dirigentes.

“O “O DIP exercia um duplo controle: um controle autoritário autoritario proibitivo, da atraVes da corrupção. corrupcao. O caso censura propriamente dita. E tinha o controle através da isenção isencao para a importação importacao do papel da imprensa. Você Voce importava o papel da Finlândia, Finlandia, do Canadá, Canada, mas tudo sob o controle do DIP. E tinha o derrame de dinheiro, que era tentador. Por exemplo, o DIP criou uma série de livros pequenos, tudo sobre o Getúlio: Getfilio: ‘Vargas ‘Vargas e o Teatro’, Teatro’, ‘Vargas “Vargas e o 0 Cinema’, Cinema’, ‘Vargas “Vargas e a Literatura’. Literatura’. Pagavam um dinheirão, dinheirao, em termos de época. epoca. Um pobre intelectual que ganhava, vamos dizer, Cr$ 1.500,00 1500,00 com a edição edicao de um romance, eles botavam dez mil cruzeiros no bolso dele para escrever quarenta pagipáginas sobre a coisa. Isso era um negócio terrível. Poucos resistiram”. negocio terrivel. resistiram”. (Idem, (Idem, ibidem) ibia’em) política depende das instituições jornais A sociedade politica instituicoes da sociedade civil, onde os jornais se incluem, para divulgar o simbolismo do novo tempo. Por outro lado, os símbolos simbolos incorporados ao cenário cenario social precisam se materializar sob as mais variadas formas, onde a transfiguração transfiguracao em realidade se sobressai. Os jornais disseminam ideias, mas tambem também transportam as narrativas para o munmun— do, sendo responsáveis responsaveis pela criação criacao de uma outra realidade. Ao mesmo tempo em que pfiblica a sua simbologia e ideologia politica ideo— materializam o Estado, tornando pública política — – a ideoperiodicos, ao narrar as ações, acoes, criam contextos para a descridescri— logia estadonovista —, –, os periódicos, cao, referendando convenções convencoes que passam a ser interpretadas significativamente significativamente de ção, sao dimensões dimensoes dos mecanismos uma forma ou de outra. Estado, hegemonia e cultura são exercicio de dominação dominacao de classe e da reprodução reproducao social. de exercício ha periodicos hegemonico, sofrendo em Se por um lado há periódicos que reagem ao discurso hegemônico, consequencia sanções, sancoes, há ha tambem beneficiam das cercanias do poder. consequência também aqueles que se beneficiam nao faltam expedientes os mais diversos, como isenPara conseguir o apoio irrestrito não tar os jornalistas de Imposto de Renda ou subsidiar inteiramente o papel de imprensa para os jornais que apoiam o governo. O que Joel Silveira considera o “lado “lado corrupto ditadura”, nada mais ée do que estratégias estrate’gias no sentido da construção construcao do consenso, da ditadura”, nao incluem necessariamente a coerção. coercao. que não História Cultural da Imprensa —

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“Um “Um ou outro jornal que tentou se rebelar foi imediatamente fechado. Mas a grande imprensa daquele tempo imediatamente aderiu ao Estado Novo. Toda. Com Corn exceção excecao de O 0 Estado de S. Paulo. É E só so você voce pegar as manchetes do dia 28”. Idem, ibidem) 28”. (Depoimento de Silveira, Joel. Idem, O período periodo que é instaurado em 1930 1930 e que vai até ate 1937 1937 pode ser caracterizado consolidacao do Estado autoritário, autoritario, que, como momento inicial e fundamental para a consolidação com sua máquina maquina centralizadora, domina todos os setores de 1937 1937 a 1945. 1945. Inclusive a imprensa. Os novos detentores do poder são sao heterogêneos. heterogéneos. Multiplicam-se após apos 1930 1930 novos grupos de interesse que passam a reivindicar reiVindicar junto ao Estado a sua inserção insercao na máquimaqui— na estatal. A imprensa encontra terreno fértil fertil para a defesa de cada um desses segmensegmen— tos se constituindo como campo político. também aos jornalistas politico. E nesse mundo cabe tambem definir definir o seu papel, ainda que a tomada de decisões decisoes continue pertencendo às as elites dirigentes. “O “O mercado de trabalho era limitadíssimo, limitadissimo, porque os jornais tinham tudo pronto da Agencia Agência Nacional. Vinha tudo mastigado. As redações redacoes tinham quaqua— tro ou cinco pessoas que faziam o jornal todo. Vinha tudo pronto, com ordem, inclusive, de publicar em tal pagina, página, com tal destaque. O DIP chegava a ponto de dizer que tipo devia deVia ser usado: negrito, corpo 9, àa esquerda. Entendeu?” Entendeu?” (Depoimento de Silveira, Joel. Idem, Idem, ibidem) Apesar dessas ingerências, ingerencias, a imprensa, de maneira geral, se alinha ao ideário ideario do Estado Novo. “O “O Jornal do Brasil, por exemplo, era uma louvação louvacao a Getúlio, Getulio, ao Estado Novo. A imprensa não nao reclamava do DIP” DIP” 24 24,, expõe expoe Moacyr Werneck de Castro.

político e ideológico No aparato politico ideolégico montado pelo Estado Novo para levar adiante o seu proj projeto, eto, sobressaem a formação formacao de um estado burocrático burocratico e a criação criacao do DepartaDeparta— missao ée divulgar a ideologia mento de Imprensa e Propaganda, cuja principal missão manipulacao são sao pecas estadonovista. Os mecanismos de manipulação peças centrais no primeiro periperíespecie de árbitro arbitro dos interesses nacionais. odo Vargas, constituindo o Estado como espécie concepcao que vem sendo formada desde a O Estado Novo ée estado de massas, concepção de’cada anterior pelos ideólogos ideologos do pensamento conservador brasileiro. década

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Baiéo, 20 de dezembro de 2000. Entrevista a Juliana Rodrigues Baião,

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A questão questao nacional Aumentando o número nfimero de agências, agéncias, institutos, conselhos e autarquias, o governo multiplica os órgãos orgaos burocráticos burocraticos de forma a ampliar sua área area de influência. influencia. Entre esses setores estatais passam a figurar figurar empresas midiáticas. midiaticas. É E o que ocorre, por exemexem— patrimônio da Brasil Railway, representada pelo plo, com a encampação encampacao de todo o patrimonio Noite, pela Radio Nacional, entre outras. jornal A Noiz‘e,

Há também a criação período de um ideal mítico Ha que ressaltar tambe’m criacao no periodo mitico de nacionalismo, como instrumento de legitimação. legitimacao. Nesta mítica mitica se destaca a obrigatoriedade de interinter— venção vencao governamental como única finica fórmula formula capaz de superar os pontos frágeis frageis da economia brasileira. O nacionalismo traduz-se na ideia de industrialização industrializacao como fator determinante para a independência independéncia econômica, economica, tornando-se imperativa a construção construcao de estratégias países dominantes do estrate’gias que significaria significaria a ruptura com a subordinação subordinacao aos paises capitalismo mundial. O nacionalismo passa a fazer parte dos discursos governamentais, como forma de justificar suas realizações, justificar realizacoes, sendo concebido como projeto do governo, a quem cabe mobilizar amplos setores da sociedade e engajá-los probleengaj a-los na tarefa de solucionar os proble— mas da sociedade. Nacionalismo corresponde, pois, a Estado Nacional. Torna-se Torna—se crucial, portanto,

político, construir a categoria nação. para a consolidação consolidacao do regime politico, nacao. E os conceitos de nação, nacao, nacionalismo e nacional passam a ser alvos de disputas de diferentes grupos sociais. Cada um urn procurando impor uma marca. Grosso modo esse movimento Inovirnento se configura totalitária dos buroconfigura em duas correntes principais: de um lado, a concepção concepcao totalitaria cratas e ideólogos ideologos do Estado e, de outro, a vertente autoritária autoritaria representando os interesses da burguesia industrial (Mendonça, (Mendonca, 1986). 1986). Apesar das divergências, divergencias, há ha um urn ponto em comum entre ambas as vertentes: para a construcao da nação nacao seria obrigatório obrigatorio o controle da classe trabalhadora. Cidadania ée’ construção definida, a partir daí, dai, pela integração integracao ao mundo do trabalho, enquanto se fabrica a definida, mitica da colaboração colaboracao e harmonia entre as classes. A questão questao social ée’ sublimada pela mítica uniao entre todos os indivíduos, individuos, cabendo ao Estado promover esta união, uniao, ideia de união nacao. organizando o povo como nação. A ampla propagacao eto e, sobretudo, de sua operacionalização, operacionalizacao, para a propagação desse proj projeto nao pode prescindir de uma nova linguagem — maioria da populacao população brasileira não – dirigida as massas, no dizer do ideólogo ideologo do Estado Novo, Francisco Campos — às – e dos meios de cornunicacao, como corno mecanismos indispensáveis indispensaveis para atingir a populacao. comunicação, população. Assim, o operacionalizacao da linguagem e da ideologia estadonovista é a imprensa e lugar de operacionalização comunicacao, sobretudo, o 0 rádio. radio. os novos meios de comunicação,

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O projeto proj eto inclui ainda a criação criacao de um órgão orgao para difundir em uníssono unissono a ideologia estadonovista, sendo o núcleo projeto nucleo institucional desse proj eto o 0 Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Mas, mesmo antes da ação já estava presen— presenacao do órgão, orgao, a censura censuraja te, ao mesmo tempo em que diários – como O Jornal25 —– diarios mais alinhados com o poder — 0 Jamal25 reproduzem esta ideologia, em editorias assinados por Assis Chateaubriand, ou em noticias. notícias. “O “O Góes Goes Monteiro foi ele que, num dos primeiros atos, baixou a censura total e absoluta àa imprensa. E a seguir o DIP foi ampliado, quase que com dimensão teórico do fascismo, chamado dimensao de Ministério, Ministerio, e controlado por um teorico Lourival Fontes. (...) Diariamente a gente recebia, lá la pelas nove e meia dez horas, um telefonema com aquela vozinha: Silveira, olha aqui, está esta falando fulano (geralmente dava só so o 0 primeiro nome), não nao pode sair aquilo, evite eVite comentários... comentarios... Eram as coisas mais desagradáveis. desagradaveis. Era a briga do Beijo Vargas que se embriagava no Cassino da Urca, dava um bofetão bofetao em alguém alguem e a vozivozi— comentario sobre a briga do Beijo, heim”. heim”. (Depoimento de nha: nenhum comentário Silveira, Joel. “O Negrei“0 Estado Novo e o Getulismo”. Getulismo”. Entrevista EntreVista a Gilberto Negrei— ros. In: Folha de S. S. Paulo) Nas suas memórias, memorias, Joel Silveira recorda a forma como se operacionalizava a censura aos meios de comunicação. comunicacao. “Mas “Mas a gente dizia: um momentinho. Botava o papel na máquina maquina e pedia para repetir a ordem. Datilografava e pregava numa cartolina. Anos seguidos eu guardei aquilo. A Constituição Constituicao do Estado Novo, que dizem ser do Chico Campos, não nao é. Ele apenas traduziu do polaco. Você Vocé lê lé hoje e ée’ exatamente igual, com uns laivos corporativistas, corporatiVistas, que era o 0 negócio negocio do Mussolini e do Salazar. Todos eles aqui estavam certos de que o Hitler e o Mussolini, o naziganhar”. (Idem, (Idem, ibidem) fascismo ia ganhar”. ideologo do Estado Novo, justifica Francisco Campos, o principal ideólogo justifica no seu livro 0 Estado Nacional (1940) as razões razoes para a criação criacao de um Estado totalitario, subs— O totalitário, em substituicao ao liberal democrático, democratico, uma experiência, experiéncia, segundo o autor, em processo de tituição decadencia. A emergência emergéncia fundamental do totalitarismo nos tempos modernos ée resuldecadência. faléncia do modelo anterior. O grande perigo, segundo ele, tendo em vista Vista o 0 tado da falência

25 25 Apps Jorna/ passa a apoiar Vargas. Vargas. Segundo o próprio préprio Assis Após o golpe de 10 de novembro de 1937, O Jornal “era necessário necessario atravessar um túnel, tL’mel, na esperança esperanca de que o futuro abrisse perspectivas para Chateaubriand “era restauragao do regime democrático”. democratico”. (DHBB: (DHBB: 2863) a restauração

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crescimento das massas, ée’ a adoção adoeao de uma educação educaeao liberal. É E necessário necessario arregimentar todos os esforços esforeos no sentido de conduzir as massas a um ideário ideario comum.

Anular-se-ia a neutralidade do Estado, criando-se no campo das ideias uma ideoAnular—se—ia logia forte. Somente um Estado portador de uma ideologia específica podeespeeifiea e precisa pode— ria desenvolver a grande missão técnica de condução missao pedagógica pedagogioa e tecnica condueao das massas. Para ele, não nao há ha dúvidas duvidas que o mundo caminha para regimes de autoridade, ao contrário contrario do século XIX, caracterizado como uma era de liberdade e individualismo inaugurada oaraeterizado com as revoluções. revolueoes. “O transição ée exatamente esta época “O que chamamos de época epoea de transieao e’poca profundamente trágica, em que se torna agudo o conflito tragiea, conflito entre as formas tradicionais do nosso espíriespiri— to (...) e as formas inéditas ine’ditas sob as quais os acontecimentos aeontecimentos apresentam a sua configuconfigu— ração raeao desconcertante”, desconcertante”, afirma. afirma. Assim, o grande perigo ée pensar que se educa para a democracia, democraeia, quando na verdade essa está esta passando por um processo de revisão. revisao. Com o 0 crescimento creseimento das massas ée urgente a necessidade neeessidade de arregimentá-las arregimenta—las segundo um ideário ideario comum eomum (Campos, 1940:63 1940:63 e ss).

Para Francisco Campos vive-se, naquele momento, um estado de massas, sendo necessária necessaria a construção construeao de nova e complexa estruturação. estruturaoao. Os mecanismos utilizados pelo liberalismo não nao mais se adaptam aos novos tempos. No mundo moderno predomina, na sua concepção, – e ée’ no texto de Campos que a expressão concepeao, a cultura de massa — expressao aparece com recorrência –, o que acaba gerando a mentalidade de recorrencia pela primeira vez —, massa, uma nova forma de integração integraoao que se origina nos mecanismos de contágio contagio via ampliação ampliaeao e difusão difusao dos meios de comunicação. comunicaeao. Ao lado disso torna-se também tambe’m fundamental a construção construoao de um mundo simbólisimboli—

co, capaz de arregimentar essas massas, unificando-as unifioando—as de tal maneira que este mundo se adaptaria às tendências e aos seus desejos. Aos meios de comunicação, as suas tendeneias comunieaeao, sobresobre— – leia-se – cabe a consolidação tudo, aos mais modernos — leia—se rádio radio — consolidaeao desse modelo. Observa—se, pois, no pensamento de Campos indícios indicios das formulações formulaeoes desenvolvidas por va-se, 26 d6 la lafoule.26 Gustave Le Bon em La psycologie psycologie de foule. A adoção adooao da ideia do primado da irracionalidade das multidões multidoes também ée’ visível visivel “O irracional”, irracional”, diz ele, “é “e o instrumento da integração integraoao politica no texto de Campos. “O política

26 Tendo como inspiração inspiragao a multidão multidao de proletários proletarios nas ruas das cidades europeias, europeias, no último Liltimo quartel do mas, sobretudo, sobretudo, controlacontrola— século XIX, Le Bon acreditava que esta massa irracional deveria ser compreendida mas, da. Se a civilização civilizagao industrial não nao seria possível possivel sem as multidões multidoes e se o 0 modo de existência existéncia dessas multida. does era a turbulência turbuléncia havia que controlá-las, controIa—Ias, ja dões já que o comportamento que aflorava sempre tornava visivel visível a “alma coletiva” coletiva” da massa. massa. A emergência emergéncia da multidão multidao era vista como ameaça ameaga à a civilização. civilizagao. E o futuro seria “alma multidoes, seduzindo-as seduzindo—as com imaima— daqueles que compreendessem as formas de manipular a psicologia das multidões, gens impressionantes.

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total” técnicas capazes de total” e a forma de controlar essa irracionalidade ée’ a utilização utilizacao de te’cnicas domar o inconsciente coletivo para, dessa forma, controlar politicamente a nação nacao (p. 12). 12). Daí Dai também ser fundamental a construção construcao de mitos como forma de dominar a irracionalidade. As massas seriam então entao unificadas unificadas em torno de um mito que corporificaria a figura figura do chefe. E, no caso do Estado Novo, esse mito ée construído construido em torno de Getúlio pobres” e chefe supremo da Nacao. Nação. A única Getulio Vargas, o “pai “pai dos pobres” unica maneira, no pensamento de Campos — – influenciado influenciado por uma literatura sobre o 0 comcom— portamento subjetivo das multidões –, de racionalizar o comportamento irracional multidoes —, dessas massas seria através atrave’s do destaque ao papel do líder lider carismático, carismatico, centro da integração política e sustentáculo integracao politica sustentaculo do totalitarismo. A racionalidade se limitaria àquele aquele a quem cabe o papel de comandante da ação política, só acao politica, so sendo esta bem-sucedida bem—sucedida se houver aceitação aceitacao total por parte das massas, irracionais e, ao mesmo tempo, submissas e extasiadas frente àa figura figura do chefe. “Somente “Somente pelo apelo às as forças forcas irracionais ou às tornará possivel possível àa integração as formas da solidariedade humana tornara integracao total das massas humanas em um regime de Estado” Estado” (Campos, 1940:30-31). 1940:30—31). O regime politico político ideal para as massas ée não nao outro que a ditadura. O sentido da democracia, no seu entender, precisa ser revisto, reVisto, retirando-lhe a representação representacao parlaeliminacao, desmantelava-se desmantelava—se também mentar falida, ineficaz e corrompida. Com essa eliminação, a possibilidade de tensão política. “No estado totalitário”, continua, “desaparecem tensao politica. “No totalitario”, “desaparecem as formas atuais do conflito político”, ainda que houvesse uma espécie conflito politico”, especie de intensificação intensificacao das formas potenciais de conflito. conflito. Daí Dai a urgência urgéncia de controlar as massas que vivem Vivem em estado de permanente excitação. excitacao. O novo Estado se caracteriza, nas palavras de Campos, pelo clima de ordem garantido por um chefe que encarnaria o espírito espirito de comunhão comunhao com o povo, do qual ée’ guia e ao mesmo tempo condutor. Somente ele pode tomar decisões, decisoes, encarnando a vontade e os anseios das massas. O chefe e o povo formam, num processo simbiótico, simbiotico, o novo estado e o seu caráter carater popular. Nessa linha de pensamento e nesse projeto politico ha lugar tanto para a pedago— político há pedago-

gia, como para o controle. Ao Estado cabe a responsabilidade de tutelar a populacao, população, aj ustando-a ao novo ambiente politico, modelando seu pensamento, ajustando-a político, preparando-a para e’gide do totalitarismo. Para isso ée’ fundamental a criação criacao de símbolos simbolos difunatuar sob égide unissono. E a imprensa cumpre mais uma vez, seja por adesão adesao didos e cultuados em uníssono. coercao, o papel de unificar unificar e tornar visível Visivel esta simbologia. ou por coerção, Ha também tambem a ideia de que com a emergência emergéncia do Estado-Nação Estado—Nacao ée’ fundamental Há utilizar—se de todos os meios tecnológicos tecnologicos disponíveis disponiveis para interagir com os cidadãos, cidadaos, utilizar-se Dai tambe’m substituindo-se progressivamente o contato face a face. Daí também a necessidade de importancia fundamental que a nova um controle rigoroso dos meios massivos e a importância difusao via Via meios radiofônicos radiofénicos ganha neste cenário. cenario. tecnologia expressa na difusão

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A formação formacao do Estado Nacional se daria via Via homogeneização homogeneizacao da cultura, dos costucostu— mes, da língua polílingua e da ideologia. Transformar-se-ia Transformar—se-ia a nação nacao em uma entidade moral, poli— tica e econômica economica que só so se realizaria via Via ação acao do Estado, que assim se afirma afirma como instrumento de realização Nação e Estado constroem a um realizacao do ideário ideario da nacionalidade. Nacao só so tempo a nacionalidade (Schwartzman, 1984:167). 1984: 167).

Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP) Em 1932, 1932, ainda na gestão gestao de Francisco Campos no Ministério, Ministerio, o Governo ProviProvi— sório, sorio, em dois decretos (21.111 (21.111 e 21.240), atribui ao Ministério Ministerio da Educação Educacao a orienorien— tação educacional nos serviços país e a sistematitacao servicos de radiodifusão radiodifusao que se iniciam no pais zação prózacao da ação acao governamental na área area do cinema educativo, através atraVes de órgão orgao proprio. É E dessa época epoca o projeto de um ambicioso Departamento de Propaganda do Ministério Ministe’rio da Educação Educacao (Arquivo Capanema, citado por Schwartzman: 1984:87). 1984:87). Caberia a este Ministério Ministerio atingir “com “com sua influência influencia cultural, a todas as camadas populares”, sendo o0 Departamento de Propaganda “um populares”, “um aparelho vivaz, Vivaz, de grande alcance, dotado de forte poder de erradicação erradicacao e infiltração, infiltracao, tendo por função funcao o esclaescla— recimento, o preparo, a orientação, orientacao, a edificação, edificacao, numa palavra, a cultura das massas”. massas”. O cinema ée visto Visto como instrumento privilegiado para esta ação, acao, pois tem o poder de “influir “influir beneficamente beneficamente sobre as massas populares, instruindo e orientando, instigando os belos entusiasmos e ensinando as grandes atitudes e as nobres ações”. acoes”. PosPos— sui, por um lado, esse aspecto positivo, mas pode, tambe’m, também, ao contrário, contrario, “agir “agir perniciosamente, pela linguagem inconveniente, pela informação informacao errada, pela sugestão sugestao moral ou impatriótica, impatriotica, pela encenação encenacao de mau gosto”. gosto”. (Idem, (Idem, idibem) Em julho de 1934, 1934, Getúlio Getulio Vargas cria o 0 Departamento de Propaganda e Difusão Difusao Cultural (DPDC), ligado ao Ministério da Justiça, EducaJustica, retirando do Ministério Ministerio da Educa— 950 o controle da propaganda, do rádio radio e do cinema. Francisco Campos, o formulador ção da primeira ideia de controle sobre o novo ator social — – as massas —, –, passa a ser o0 orgaos que teriam esta tarefa. Com isso, os meios de comunicação comunicacao atendem gestor dos órgãos coercao. diretamente ao Executivo, introduzindo-se novas formas de controle e coerção. Magalhaes Júnior, Junior, que foi funcionário funcionario do Departamento de PropaganPropagan— Raymundo Magalhães Difusao Cultural de 1936 1936 a 1939, 1939, distingue o órgão orgao antecessor do DIP como da e Difusão sendo diferente do seu sucessor. Relembrando os nomes que fazem parte dos quadros orgao de censura da era Vargas, diferencia: do principal órgão “Eu não nao era do DIP, eu era de uma outra coisa que se chamava Departa“Eu Difusao Cultural, onde estava a censura do cinema. mento de Propaganda e Difusão História Cultural da Imprensa —

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Eu era censor de cinema. Então, Entao, era um censor de cinema muito liberal. Dentro da censura havia haVia elementos muitos liberais. Basta dizer o seguinte: que colegas meus da censura eram Vinícius Vinicius de Moraes, o 0 Pedro Dantas, Nazareth Prado, dos Prados de São sao Paulo. Agora, tinha outra, tinha um católico catolico chamado Perilo Gomes, que era um homem do Itamaraty; tinha outro do Itamaraty, que foi depois ministro, que era caricaturista, tambem, também, Nemesio Nemésio Dutra; houve Ve uma senhora integralista, dona Maria Engraçadinha Engracadinha Pena, dona Maria de Oliveira Pena; tinha o nome de Engraçadinha, Engracadinha, era mãe mae deste ministro Oliveira Pena, do Itamaraty; e dona Stela Guerra Duval e umas outras pessoas”. pessoas”. (Depoimento de Magalhães Magalhaes Júnior, Junior, Raimundo. “Os “Os ensinamentos dos anos 30”. S. Paulo) 30”. Entrevista EntreVista a Gilberto Negreiros. Folha de S. O 0 Departamento de Propaganda e Difusão Difusao Cultural, dirigido por Lourival Fontes, funcionará funcionara até ate’ 1939, 1939, quando através atraves do Decreto Lei nº no 1915, 1915, de 27 de dezembro daquedaque— le ano, ée criado o DIP. Subordinado diretamente ao presidente da República Republica e ao Ministério da Justiça, Justica, suas funções funcoes não nao se restringem ao papel de censor. A censura ée apenas uma das facetas do trabalho principal do órgão, orgao, cuja tarefa maior ée’ difundir a ideologia estadonovista, fazendo dela o discurso de toda a sociedade brasileira no periodo. período. O DIP surge da juncao junção do DPDC e do Serviço Servico de Divulgação, Divulgacao, que funciona no Gabinete do chefe de Polícia Policia da Capital, Filinto Müller, Muller, e cuja função funcao ée repressora e policial. No artigo segundo do decreto de criação, criacao, são sao alinhados 16 l6 objetivos do órgão, orgao,

entre eles: “centralizar, “centralizar, coordenar, orientar e superintender a propaganda nacional, interna ou externa, e servir, serVir, permanentemente, como elemento auxiliar de informação informacao dos ministérios públicas e privadas, na parte que interessa àa propaganda ministerios e entidades publicas nacional”. relações da imnacional”. Em relação relacao àa imprensa, caberia “coordenar “coordenar e incentivar as relacoes im— prensa com os Poderes Públicos Publicos ao sentido de maior aproximação aproximacao da mesma com os nacionais”. fatos que se liguem aos interesses nacionais”. discricionarios e de incentivo àa producao unico Todos os aspectos discricionários produção de um discurso único estao contemplados. Assim, entre os em torno de aspectos relevantes para o Estado estão figuram, lado a lado, as funções funcoes censórias censorias (“fazer (“fazer a censura do Teatro, do objetivos figuram, Cinema”, “proibir “proibir a entrada no Brasil de publicacoes brasilei— Cinema”, publicações nocivas aos interesses brasileiros”) e as ações acoes incentivadoras ao alinhamento compulsivo daqueles que podem proros”) “promover, organizar, patrocinar ou auxiliar duzir discursos publicos. públicos. Cabe ao DIP “promover, manifestacoes cívicas civicas e festas populares, com intuito patriotico, manifestações patriótico, educativo ou de propaganda turistica” turística” e tambe’m também “autorizar mensalmente a devolução devolucao dos depósitos depositos efetuados pelas empresas “autorizar jomalisticas importacao de papel para a imprensa, uma vez demonstrada, jornalísticas para a importação

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a seu juizo, juízo, a eficiência pública dos jomais jornais ou periodicos periódicos por elas eficiéncia e a utilidade publiea administrados ou dirigidos”. dirigidos”. (Decreto nº no 1915, 1915, de 27 de dezembro de 1939) 1939) O DIP funciona até período entre 1940 ate’ maio de 1945, 1945, sendo a sua fase áurea aurea o periodo 1940 e 1944, havia limites: o aniver1944, quando forja a imagem sacralizada do regime. Para isso, não nao haVia aniver— sário transforma-se em data nacional e momento privilegiado de sario de Vargas (19 de abril) transforma—se apologia ao culto públicas são promoeulto Vargas. Encontro de jovens, palestras, solenidades publicas sao promo— vidos, Vidos, onde, sempre, Getúlio Getulio Vargas ée’ a figura figura principal. Durante o 1º 10 de maio, Dia do Trabalho, o Estádio Estadio de São 850 Januário Januario recebe multidões multidoes para aplaudir a fala do presidente em solenidade apoteótica, apoteotiea, comparável comparavel às as de Goebels na Alemanha nazista. Cria-se Cria—se uma espécie de “tempo “tempo festivo” festivo” (Gomes, 1988:235) 1988:235) cujo objetivo obj etivo ée’ envolenvol— ver a população populaeao em torno de comemorações comemoraooes que resumem a imagem do regime. Cada uma dessas festas assume o0 mesmo ritual: o presidente em pessoa fala para a multidão. dao. Acentuando o momento mítico, mitico, grandes desfiles, desfiles, música, musica, estandartes, bandeiras constroem a grandiosidade do espetáculo. espetaeulo. Como acentua Gomes, estas trés três comemorações – o aniversário comemoraeoes — aniversario do Presidente, o 0 Dia do Trabalho e o aniversário – constituem ocasiões-chave aniversario do Estado Novo — ocasioes—chave para a comunicação comunieaeao entre Vargas e a massa de trabalhadores. A essas ocasiões ocasioes somam-se somam—se ainda três trés outras: o 7 de setembro e os dias de Natal e Ano Bom. Esse conjunto de atividades – coordenado pelo DIP — – se associa a outras praticas práticas de propaganda do atiVidades — Departamento e outras iniciativas de autoridades estaduais e federais, para criar e 1988:235-237). difundir uma imagem do regime e de seu chefe (Gomes, 1988:235-237). O DIP procura, portanto, divulgar, propagar e criar o mito Vargas. Biografias Biografias diversas do presidente, ilustradas, em formato reduzido — – como os santinhos da Igreja CatóCato— lica — – são sao distribuídas distribuidas nas portas das escolas, ressaltando a figura figura excepcional de Vargas, a sua afeição tônicas da ideoafeieao pelos jovens e pelas crianças. crianeas. O trabalho e o trabalhador, tonicas ideo— logia estadonovista, são sao temáticas tematicas constantemente reforçadas reforeadas pelo discurso do DIP. no 1949/39 1949/39 torna a transmissao “Hora do Brasil” Brasil” obrigatória obrigatoria em O Decreto Lei nº transmissão da “Hora radiodifusao. Aconsequalquer estabelecimento comercial que possuisse possuísse aparelho de radiodifusão. lha—se também tambe'm — Cidades do interior — alto— lha-se – sobretudo nas cidades – que seja transmitida por altoVias de maior movimento. Nas entrevistas entreVistas e falantes instalados em praeas praças publicas públicas e vias opiniao realizadas pelo jornal A Manhd sondagens de opinião Manhã interessa sempre saber o que o publico 1988:232). público pensa do programa (Gomes, 1988:232). criaeao do DIP a máquina maquina politica Portanto, antes e depois da criação política do Estado Novo bem—sucedidas campanhas de propaganda politica articula uma das mais bem-sucedidas política no Brasil. Getulio é o personagem central das festividades, festiVidades, cartazes, fotografias, fotografias, artigos, livros, Getúlio concursos escolares, entre uma gama enorme de iniciativas em louvor do chefe do enearna o regime e todas as suas realizações. realizaeoes. Estado Novo: sua imagem encarna História Cultural da Imprensa —

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Uma das faces mais importantes dessa construção construcao ée’ a de Vargas como “pai “pai dos pobres” pobres” e líder lider das massas trabalhadoras. Assim, Vargas, em todas essas campanhas e peças pecas promocionais, ée sempre o sujeito da ação: acao: ele ée que cria, determina, estabelece, assina, manda, executa. Nos pronunciamentos, a preocupacao preocupação central ée mobilizar o povo transformado em trabalhador e os textos politicos políticos estruturam-se estruturam—se em torno da construção personificada na figura construcao de uma relação relacao entre povo e Estado-Nação, Estado-Nacao, personificada figura do líder. também o pai do povo trabalhador. E ée’ nessa lider. Nesse sentido, o pai dos pobres ée tambem posição, posicao, poderosa e, ao mesmo tempo, generosa, que Vargas pede e exige total obediência encia e sacrifícios. sacrificios. Constrói-se Constroi-se a ideia de nação nacao como “espírito “espirito comum”, comum”, o que favorece a autoridade em detrimento da solidariedade, tendo o Estado papel tutelar. “Os “Os censores dedicam-se dedicam—se a obrigar os donos de bares, restaurantes e mermer— cearias a exibirem eXibirem o retrato de Getúlio Getfilio Vargas enfiado enfiado em um fraque de tropiinglés, com a faixa presidencial no peito. A 4ª 4a Delegacia contrata 20 ou 30 cal inglês, jornalistas como censores, com salário salario de 300 mil-reis por mês. mes. Um arguargu— mento usado pelos jornalistas: era melhor que a censura fosse exercida por eles do que por policiais”. policiais”. (Depoimento de Vieira, Alvaro. Álvaro. Bolez‘im Boletim da AB], ABI, novembro—dezembro de 1974) 1974) ano XXIII, novembro-dezembro No seu depoimento, Alvaro Álvaro Vieira acrescenta que ele mesmo passa a trabalhar “como “como uma espécie especie de contrato entre a Censura e a direção direcao de O 0 Globo, Correio da Manhã e Didrio Diário de Noticias”. Notícias”. Manhd “Se “Se alguma notícia noticia proibida fosse publicada, eu procurava o diretor responrespon— sável savel e lhe transmitia as ameaças ameacas e apreensões apreensoes do Salgado Filho. A censura a posterori desses jornais era feita por mim na sala dos censores da 4ª posterori 4a Delegacia. As proibições proibicoes eram as mais absurdas: os porres do Benjamim Benj amim Vargas, as brigas das famílias familias ligadas ao Governo ou a um roubo em casa do então entao coronel Juarez Tavora o grande líder lider militar da revolução revolucao de 1930, 1930, sobre quem uma notícia noticia Távora Vitima de ladrão ladrao comum poderia comprometer a sua que o apresentasse como vítima heroi. A partir da revolução revolucao de 1932 1932 a censura passa a ser pre’via imagem de herói. prévia e redacoes dos jornais”. (Idem, ibidem) nos transferimos para as redações jornais”. (Idem, Corn a nomeação nomeacao de Filinto Müller Mfiller para a chefia chefia da policia, Com polícia, a transferencia transferência da Ministe’rio do Interior e Justiça Justica e há ha a progressiva incorporação incorporacao de censura vai para o Ministério ale’m das prerrogativas da policiais como censores em lugar de jornalistas. O DIP, além radio e serviços servicos de altocensura, controla o registro de jornais, das emissoras de rádio falantes, das revistas; distribui a propaganda do regime; ordena a prisao prisão de jornalisfechajornais radios, dita o que pode ou não nao ser publicado. A comunicação comunicacao entre tas; fecha jornais e rádios, veiculos se faz pessoalmente (os censores são sao civis, ciVis, funcionários funcionarios os censores e os veículos

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públicos ou militares recrutados aos serviços publicos servicos de informação informacao das Forças Forcas Armadas), por telefone ou por escrito. 1943 as instruções instrucoes da censura proibem: Em janeiro de 1943 proíbem:

“a “a divulgação divulgacao de qualquer notícia noticia ou fotografia fotografia sobre a visita Visita do Ministro da Guerra ontem às as oficinas oficinas da EFCB, onde se estão estao fabricando canhões canhoes para o Exército Exe’rcito e todo o 0 material referente àa chegada ao Rio, a estada, partida e as declarações declaracoes do embaixador da Rússia Russia no Uruguai, inclusive fotografia, fotografia, está esta sujeisuj eiprévia a este Departamento”. to a apresentação apresentacao pre’Via Departamento”. (Nasser, 1947. 1947. Apud Inoja: 1978) 1978) Também transcrição, envolvendo a Tambem nada pode ser divulgado, mesmo como transcricao, “controvérsia Agamêmnon Magalhães “controve’rsia entre o professor Agamémnon Magalhaes e o sr. Assis Chateaubriand; pede-se não nao sejam publicadas fotografias fotografias impressionantes, macabras maeabras do desastre de Inhaúma. Inhauma. Reiteramos a recomendação recomendacao anterior, segundo a qual são publicação obrigatória sao de publicacao obrigatoria os telegramas, decretos e atos emanados da Presidência Presidencia da República Republica que forem enviados enViados pela AN, entre 30 outras proibições proibicoes diversas”. diversas”. (Idem, (Idem, ibidem) ibia’em) As verbas oficiais oficiais engordam as receitas de jornais, revistas, agências agencias de notícias, noticias,

emissoras de rádio. radio. Subsídios Subsidios ao papel e àa importação importacao de equipamentos gráficos graficos e de som favorecem os que colaboram com o poder. As solenidades são sao transmitidas via Via rádio país. O DIP organiza congressos, palestras, seminários, radio para todo o pais. seminarios, divulgando as ideias do regime. Dentro do órgão, a Divisão de Imprensa, responsável orgao, Divisao responsavel pelo controle da informação informacao nos jornais, revistas reVistas e livros, ée’ a mais importante, sendo sua tarefa principal vigiar Vigiar a producao produção discursiva da imprensa. Os anos de chumbo do Estado Novo significam também o controle rigoroso dos significam tambe’m meios de comunicação, comunicacao, o que leva ao fechamento de inúmeros inumeros deles. Estima-se Estima—se que 61 publicacoes. no periodo período deixam de circular 61 publicações. No Rio de Janeiro, todo o grupo pertencente a Geraldo Rocha na década decada de 1920 1920 — – incluindo o vespertino A Noite”, Noite27, o Veiga, apenas para citar as mais matutino A Mani/167 Manhã e as Rddios Rádios Nacional e Mayrink Veiga, 27 27 Com a 3 encampação, encampagao, a administração administragao de A Noite ficou a cargo do coronel Luís Luis Carlos da Costa Neto, Neto, sendo diregao do jornal entregue ao jornalista Andre Carrazzoni. Este novo estágio estégio é marcado por dificuldades, dificuldades, a direção André Carrazzoni. mé administração administragao dos recursos. recursos. Gradativamente o jornal se decorrentes do empreguismo generalizado e da má diério oficial, no qual são séo fartos os elogios a todos os governos. governos. Com a queda de transforma numa espécie de diário agrava—se ainda mais a situação. situacéo. Em 19 19 de agosto de 1946, 1946, o presidente Dutra promulga o DecretoDecreto— Vargas, agrava-se n° 9610, autorizando o Ministério da Fazenda a arrendar A Noite por um urn prazo de 15 anos à a sociedade Lei nº andnima a ser construída construida pelos funcionários funcionérios do vespertino. vespertino. Segundo Carvalho Neto, Neto, a inviabilidade do jornal anônima deveu—se também ao fato de ser ele um urn órgão Orgéo do governo. “O “O povo não nao admite, admite, com toda razão, razao, que o deveu-se Ier. E deixou de ler IerA Noite... Jornal do governo é o Diário Diério Oficial”. Oficial”. A Noite governo seja dono de jornal para ele ler. A Noite... — int’Jmeros períodos periodos de grande dificuldade financeira — circulagao em 1958. 1958. (DHBB: (DHBB: 4107) – depois de inúmeros – sai de circulação capitulo anterior. Cf. também capítulo

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importantes empresas das 17 – ée incorporado ao Estado. Pelo 17 que compõem compoem o grupo — Decreto-Lei Decreto—Lei n° n0 2073, de 8 de março mareo de 1940, 1940, criam as Empresas Incorporadas do Patrimonio da União. Uniao. Patrimônio “Art. 19. 19. Ficam incorporadas ao Patrimônio Patrimonio da Uniao. “Art. União. A) Toda a rede ferroviária – Rio ferroviaria de propriedade da Companhia Estrada de Ferro São sao Paulo — Grande ou a ela arrendada. B) Todo o acervo aoervo das Sociedades A Noite, Rio Editora e Rádio Radio Nacional. C) As terras situadas nos Estados do Paraná Parana e Santa Catarina, pertencentes àa referida Companhia Estrada de Ferro São Pausao Pau— lo — – Rio Grande”. Grande”. (Diário (Didrio Oficial, Oficial, 9 março mareo de 1940) 1940)

jornalísticas que não As empresas jornalisticas nao aderem ao regime sofrem a ação aeao da censura, oensura, sendo muitas delas fechadas. Outras são têm seus dirisao empasteladas e outras ainda tem gentes presos. O Didrio Diário de Notz'cias, Notícias, fundado em 12 12 de junho de 1930, 1930, e que, após apos apoiar a Alianea Aliança Liberal e a Revolução Revoluoao de 1930, 1930, se distancia do Governo em 1932, 1932, sofre rigorosa censura, sendo seu diretor proprietario proprietário Orlando Dantas preso. Também Diário Carioca ée empastelado. O Didrio Diário Carioca, um dos principais Tambem o Didrio aliados da Alianoa Aliança Liberal nos primeiros tempos, rompe com o Governo em 1932, 1932, sendo empastelado em fevereiro daquele ano. “À “A meia-noite meia—noite dezenas de soldados em caminhoes do I Regimento de Infantaria entram na sede do jornal, armados de sabres caminhões e fuzis, destruindo-a”, destruindo—a”, relembra Fernando Sigismundo, ex-presidente eX-presidente da ABI. Mas além também outras fórmulas ale’m da repressão repressao direta há ha tambem formulas para manter a imprensa sob controle: o sistema de financiamento financiamento indireto ao papel importado ée’ um deles. “A “A ditadura de Vargas, com o 0 objetivo obj etivo de manter a imprensa sob seu controle, instituiu um sistema de financiamento financiamento indireto do papel importado, mediante o qual os jomais jornais obtinham a sua matéria-prima preço muito infemate’ria—prima essencial por um preoo rior ao do mercado mundial. O Estado cobria a diferença. diferenoa. O mecanismo sobrevisobreViate’ a Revolução Revoluoao de 64, embora o câmbio cambio artificial artificial estaesta— veu, com altos e baixos, até importaooes de papel constituísse constituisse um escândalo escandalo nacional. Na belecido para as importações Viabilidade econômica economica àa mercê mercé do ExeExe— medida em que colocava os jomais jornais sem viabilidade Central”. (Mesquita Neto, 1984:29) 1984229) cutivo, esse dispositivo interessava ao Poder Central”. A pressão pressao do governo se faz tambe’m economica, negando subsídios subsidios e, também sob a forma econômica,

sobretudo, publicidade. “E qualquer sinal de rebeldia cortavam o papel e a publicidade. A publici“E dade, o governo controlava, vamos dizer, 60% e ao mesmo tempo intimidava ficar contra o 0 Banco do Brasil. Sob o as empresas privadas. Ninguem Ninguém queria ficar Vista da censura, eu considero oonsidero o Estado Novo mais tenebroso, por— ponto de vista por-

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que não nao tinha saída. saida. Hoje existe o recurso de você vocé deixar o espaço espaco em branco. jornal”. (Depoimento de Silveira, Naquele tempo, se fizesse fizesse isso, fechavam o jornal”. Joel. “O “0 Estado Novo e o Getulismo”. Getulismo”. Entrevista a Gilberto Negreiros. In: Folha de FOlha d6 S. S. Paulo) Em 23 de dezembro de 1939, 1939, o então entao ministro da Educação Educacao Gustavo Capanema solicita informações informacoes sobre a revista Diretrizes, uma vez que Samuel Wainer, diretor da revista, havia pedido “a “a colaboração colaboracao deste ministério ministerio para um número numero especial sobre os problemas brasileiros de educação”. educacao”. Assim Capanema deseja “em “em caráter carater confidencial, confidencial, consultar o prezado amigo sobre o que consta a respeito da referida publicação na Chefia publicacao Chefia de Polícia, Policia, a fim fim de melhor poder resolver o caso em questão” questao” (Carta de Filinto Müller Arquivo Capenema CPDOC, citado por Muller a Capanema. Arguivo Schwartzman, 1984:313-315). 1984:313-315). Por “resolver publicação “resolver o caso em questão” questao entenda-se entenda—se colaborar ou não nao com a publicacao através publicitária. Vinte dias depois da consulta, Filinto Müller atraves da concessão concessao de verba publicitaria. Muller responde a Capanema, enviando um dossiê dossié sobre o que “consta “consta na repartição reparticao a respeirespei— três paginas, páginas, informações to da revista Diretrizes”. Diretrizes”. No arrazoado de trés informacoes sobre os diretores da publicacao publicação com antecedentes no então posentao DESPS. A revista ée classificada classificada como pos— suindo uma “tendência “tendéncia claramente esquerdista” esquerdista” e no arquivo do Serviço Servico de Censura àa Imprensa aparece como tendo orientação já que “de orientacao “suspeita”, “suspeita”, ja “de início inicio foi marcante em seu programa a tendéncia tendência esquerdista, combatendo o fascismo e o nazismo”. nazismo”. No histórico publicação completa: historico da publicacao “Fundada “Fundada em março marco de 1938 1938 pelo jornalista Azevedo Amaral, que se afasafas— tou para fundar a revista Novas Diretrizes. O escritor Genolino Amado pas-

sou a dirigi-la, afastando-se também para dar lugar ao Sr. Samuel Wainer, seu afastando—se tambe’m atual diretor”. diretor”. A seguir enumera os “escritores “escritores suspeitos de exercerem atividades subversivas e fichados na DESPS” DESPS” que colaboraram na revista: Alvaro fichados Álvaro Moreira, Graciliano Ramos e Jorge Amado. E continua: “Atualmente vem levando a efeito um programa de caráter carater nacionalista, “Atualmente nacio— entrevistando generais e outras personalidades ilustres sobre problemas naciosituacao do povo brasileiro em seus vários varios nais; publicando artigos em torno da situação economico, cultural, social, moral, etc.”. etc.”. aspectos: econômico,

Sobre Samuel Wainer acrescentam: “Em sua ficha ficha nada consta, o que quer dizer que não nao se encontra fichado fichado “Em informacoes vagas sobre o mesmo no DESPS. O censor de Diretrizes obteve informações História Cultural da Imprensa —

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e suas ideias avançadas, avancadas, anotando-as anotando—as em seu relatório relatorio de dezembro do ano proximo findo”. findo”. (Carta de Filinto Müller Mfiller a Capanema. Arquivo Capenema próximo CPDOC, citado por Schwartzman, 1984:313-315) 1984:313—315) Não se sabe se Capanema afinal Nao afinal colabora com o número nl’imero especial dedicado àa educação. cacao. Parece claro, entretanto, que a mudança mudanca de orientação orientacao editorial da revista reVista é uma estratégia Afinal ja já havia estrate’gia para manter a sua sobrevivência. sobreViVéncia. Afinal haVia sido suspensa em 21 21 de outubro de 1939, 1939, permanecendo fechada por quase um mês. mes. Só Sé volta a funcionar em 15 Procla15 de novembro do mesmo ano, editando um número nfimero especial dedicado àa Procla— mação macao da República Repfiblica e seus vultos. A partir daí, dai, passa a escolher assuntos do tipo que é destacado por Filinto Müller. Mfiller. Outro jornal que sofre as consequências consequéncias da ação acao policial durante o Estado Novo ée’ Notícia. Fundada ainda no século XIX, passa a ser propriedade de Candido de A Notz'cia. Campos em 1924. 1924. Na revolução revolucao de 1930, 1930, sua redação redacao ée’ depredada e seu acervo incenincen— diado. Campos exila-se país em 1938, exila—se e só so retorna ao pais 1938, reabrindo o jornal, que passa a dar ênfase énfase ao noticiário noticiario policial. Em função Notícia passa a ser um dos jornais jornais mais funcao dessa estratégia estrategia editorial, A Noticia vendidos no Rio. Impresso nas oficinas Diário de Noticias, Notícias, sua redação – oficinas do Didrio redacao fica fica — como a maioria dos jornais — – na Avenida Rio Branco. Na década decada de 1950, 1950, ée vendido aaAdhemar Adhemar de Barros, então entao governador de São sao Paulo, e Chagas Freitas, futuro governador do Estado do Rio de Janeiro (Ribeiro, 2000). A ação acao repressora da censura ée’ delimitada na constituição constituicao do Estado Novo.

O artigo 122, prescrição 122, na seção secao Dos Direitos e Garantias Individuais, estabelece a prescricao da censura, “com pública, a censura “com o fim fim de garantir a paz, a ordem e a segurança seguranca pfiblica, prévia pre’Via da imprensa, do teatro, do cinematógrafo, cinematografo, da radiodifusão, radiodifusao, facultando àa autoriautori— dade competente proibir a circulação, circulacao, a difusão difusao ou a representação”. representacao”. relacao àa imprensa acrescenta: Em relação “A imprensa regular-se-á regular-se-a por lei especial de acordo com os seguintes prin“A cipios: a) a imprensa exerce uma função funcao de caráter carater pfiblico; cípios: público; b) nenhum jornal insercao de comunicações comunicacoes do Governo, nas dimensões dimensoes taxapode recusar a inserção cidadao o direito de fazer inserir gratuidas em lei; c) ée assegurado a todo o cidadão inj uriarem, resposta, defesa ou retireti— tamente nos jornais que o infamarem ou injuriarem, ficacao”. (Constituições (Constituicfies do Brasil, 1970:91) 1970191) ficação”. 0 regime de censura àa imprensa permanece em vigor Vigor até ate’ fevereiro de 1945. 1945. O A Constituição Constituicao promulgada logo após apos o fim fim do Estado Novo, durante a Assem1946, estabelece novamente a livre manifestação manifestacao do penbleia Constituinte de 1946, dependencia da censura. samento sem dependência

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V. Literatura como vestigio vestígio do tempo: A imprensa e o olhar dos literatos (1900-1950)

“Nas “Nas frígidas frigidas noites, ela, toda estremecente sob o0 lençol lencol de brim, costumava ler àa luz de vela os anúncios anl'lncios que recortava dos jornais velhos do escritório. É que fazia coleção escritorio. E colecao de anúncios. anfincios. CoC0lava-os no álbum. album. Havia HaVia um anúncio, anl'lncio, o mais precioso, que mostrava em cores o0 pote aberto de um creme para pele de mulheres que simplesnao eram ela.” ela.” (Lispector, 1998:38) 199823 8) mente não

O texto que serve de epígrafe epigrafe deste capítulo, capitulo, retirado do romance A hora da estrela, procurará enxergar nos vestígios la, de Clarice Lispector, introduz uma narrativa que procurara vestigios deixados pelos textos literários literarios indícios indicios de uma relação relacao do leitor e dos jornalistas com os meios de comunicação comunicacao na primeira metade do século se’culo XX. Desde o clássico Isaías classico romance de Lima Barreto, As recordações recordagfies do d0 escrivão escrivcio Isaz'as 28 – na verda— verdaCaminha, que remonta o dia-a-dia jornal O dia—a—dia da redação redacao do fictício ficticio jornal 0 Globo Globo28 — de o0 Correio da Maniac? Manhã —, –, a literatura deixa inúmeros infimeros rastros do cotidiano das redareda— ções publicações. O mesmo Lima Barreto, coes e, sobretudo, das relações relacoes dos leitores com as publicacoes. infimeras vezes às as múltiplas mfiltiplas praticas no seu Didrio Diário do Hospz'cio, Hospício, refere-se inúmeras práticas de leituras no Hospital dos Alienados. Ha aqueles que fazem dos pape’is Há papéis emporcalhados, recolhidos nos banheiros do hospicio, restos de uma possível possivel leitura. Há Ha ainda aqueles que leem compulsivamente hospício, tudo que lhe caem às as mãos. macs. Múltiplas Mfiltiplas leituras, mas, sobretudo, múltiplas mfiltiplas formas de se relacionar com os textos impressos. 28 O livro Iivro de Lima Barreto, escrito quando o autor trabalhava como jornalista no Correio da Manhã, Manhé, é publicado 1909. Aaguda critica que destina a Edmund Bittencourt, dono do dojornal, incluséo de pela primeira vez em 1909. A aguda crítica jornal, vale a inclusão index de proibição proibicéo do jornal. dai, durante muitas décadas, o nome de Lima Barreto foi consiconsi— Lima num índex jornal. A partir daí, aluséo ao seu nome nas páginas péginas da publicaderado maldito no jornal, jornal, sendo vetada terminantemente qualquer alusão céo. Portanto, o jornal O Globo da ficção ficcéo de Lima Barreto nada tem a ver com o periódico periédico criado por Irineu ção. ficticio. O jornal representado por Lima Barreto é o Correio da Manhã. Manhé. Marinho em 1925: trata-se de um nome fictício.

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“Mas “Mas a loucura loueura tem tantos pontos de contato de um indivíduo individuo para outro, que seria arriscar tornar—se tornar-se fastidioso se quisesse descrever deserever muitos doentes (...). Há Ha três trés aqui muito interessantes. Um ée do tipo acaboclado acaboelado em trapos, com dois alforjes pendurados àa direita e àa esquerda, sequioso de leitura, a ponto de ler qualquer fragmento de papel impresso que encontre. Não chega eneontre. Nao aos extremos de um portugués, português, que vive Vive dia e noite, nas proximidades das latrinas, senão senao nelas e que não nao trepida os fragmentos de jornais emporcalhados, para ler anúncios anfineios e outras cousas sem interesse mas sempre delirando” delirando” 29 29.. tambem lê lé com “relativa “relativa minúcia” minficia” os jornais. E acresacres— Ele mesmo, Lima Barreto, também centa: “Até “Ate’ os 05 crimes de repercussão repercussao eu leio.” leio.” Mais adiante se refere a um militar que gosta de conversar cousas superiores. Embora fosse “francamente “francamente e permanentemente doido, não Notícias, de cabo a rabo”. nao lê lé coisa alguma, a não nao ser a Gazeta de Noticias, rabo”.

Descrevendo a sua própria propria leitura, o escritor, para fugir daquela realidade, concentra a sua atenção ateneao nas letras impressas. Para se distanciar da conversa que lhe “arrastava “arrastava de novo a pensamentos agoureiros”, periódicos. “Li-os agoureiros”, força forea a atenção ateneao nos periodicos. “Li-os com cuidado, li 1i seções seeoes que, normalmente, desprezava, mas não jantar.” nao findei findei a leitura. Misael chamou-me chamou—me para o jantar.” O texto leva-o leva—o a construir não nao só so uma outra leitura, como o transporta para outro lugar. Os ambientes descritos deseritos são sao como que recriados, se inserindo ele mesmo naquela descrição, descrieao, transformando-se, transformando—se, dessa forma, o texto, aprisionado pela sua leitura, numa vivência Vivéncia particular. Para isso ée preciso “ler “ler com cuidado”, cuidado”, “ler “ler minuciosamente”, minuciosamente”, com toda a sua atenaten— ção 950 e todos os seus sentidos voltados para aquele universo de letras impressas. – ou seja, A reflexão refleXao sobre a leitura — sej a, a apreensão apreensao de um sentido particular do texto indubitavelmente ligado ao leitor — – aparece inúmeras infimeras vezes no mesmo livro. Em outro trecho, um engenheiro, que num acesso de loucura matara a mulher e um filho, filho, “lia “lia o 0 dia inteiro o jornal”. jornal”. “Vivia “ViVia na biblioteca, lendo o jornal e fazendo em voz alta, de quando em quando, uma reflexão reflexao sobre a leitura.” leitura.” No livro de Lima Barreto figuram figuram dois mundos, marcados por duas temporalidades Vida, da saúde safide e da ação aeao e o mundo da doença doenea completamente diversas. O mundo da vida, perteneem ao primeiro mundo — e da morte. Os que pertencem – como Misael que vem de fora e utilizaeao de seu tempo. chama o doente para jantar — – tem têm uma certa liberdade na utilização Ja os outros, os Saem e voltam àa cena, marcando para o leitor a passagem do tempo. Já Vivem uma espécie espeeie de imobilidade que pertencem ao mundo da loucura e da morte, vivem eenas, as mesmas situações situaeoes e temporal. Tudo se passaigua1,todos passa igual, todos os dias. As mesmas cenas, nem mesmo a leitura insere esses personagens numa outra temporalidade.

29 Todas as citações citagoes referentes ao a0 texto de Lima Barreto foram retiradas de Diário Diario do Hospício Hospicio (1993). (1993). Para referéncia completa, completa, ver Bibliografia. referência

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João também descreve, com detalhes, a algazarra que se Joao do Rio (1987:161-162) (1987:161—162) tambem forma na Casa de Detenção Deteneao àa passagem do repórter, reporter, quando os condenados balançam balanoam no ar as folhas diárias, diarias, querendo provar inocência. inocéncia. Para o 0 cronista, a imprensa é uma das trés três ideias gerais da Detenção. Deteneao. Uma ideia, segundo ele, “quase “quase obsessiva”. obsessiva”. “Há “Ha os que têm tém medo de desprezá-la, despreza-la, há ha os 03 que fingem fingem desprezá-la, despreza-la, há ha os que a esperam aflitos. aflitos. O jornal ée a história historia diária diaria da outra vida, Vida, cheia de sol e de liberdade, ée o meio pelo qual sabem da prisao prisão dos inimigos, do que pensa o mundo a seu respeito. Nao Não há jornais.” 30 ha cubículos cubiculos sem jornais.” 30 Além de espelhar uma ideia de temor, que evoca a problematica problemática do poder, o jornal, jornal, Alem na composição composieao montada, é, e’, para o leitor, a inserção insereao na realidade, na vida Vida quotidiana diária, prisão. É diaria, longe das grades da prisao. E o meio pelo qual se colocam em contato com o mundo. Daí presença constante dos periodicos periódicos em todos os cubículos. Dai a presenoa cubiculos. O ócio ocio ée também tambe’m preenchido com a leitura dos jornais. “Leem “Leem com avidez aVidez as notícias noticias de crimes romantizados pelos repórteres reporteres e o pavor da pena ée o mais intenso sugestionador da reincidência.” reincidéncia.” O repórter, reporter, por outro lado, ée’ apresentado como o próprio poder. O anúncio proprio am’mcio da sua visita Visita provoca reações reaeoes diferenciadas. “Uns “Uns esticam papéis, provando inocência; papeis, inoceneia; outros bradam que as locais dos jornais estavam erradas, outros escondem-se, escondem—se, receando ser conhecidos, e ée um alarido de ronda infernal, uma ânsia ansia de olhos, de clamores, de misérias.” mise’rias.” Visualizar a literatura como registro de uma época epoca significa significa considerar que um autor deixa transparecer na sua obra não também seu nao apenas sua subjetividade, subj etiVidade, mas tambem próprio tempo. Significa proprio Significa também tambem perceber o papel decisivo da linguagem nas descridescri— ções – artefato de criação eoes e concepções concepeoes históricas. historicas. O texto literário literario — criaeao de um autor que constitui ambientes e valores nos seus relatos — – espelha a visão Visao de mundo, as representações, sentaeoes, as ideias de um dado momento histórico-cultural, historico-cultural, podendo ser lido como materializaeao de formas de pensar, das emoções emoeoes e do imaginário imaginario de um dado periomaterialização períoFor outro lado, as narrativas literárias literarias revelam a coerência coeréneia e a plenitude de uma do. Por Vida. Só Sc’) porque há ha esta coerência coeréncia ée que pode ser transformada em imagiimagem de vida. naeao. Uma narrativa só so ganha sentido porque a ela ée atribuída atribuida uma coerência, coeréncia, ao se nação. transformar, para o leitor, numa forma reconhecível reconheciVel de descrição descrieao da existência. existéncia. Ao se tornar familiar, torna-se inteligível. inteligivel. literarios, desde os autores que fazem das redações redaeoes mote de Percorrendo os textos literários, criaeao de suas obras e, ao mesmo tempo, lugar de onde retiram parte de seu sustento, criação

3° Todas as citações citagoes de João Joao do Rio foram retiradas de Alma Encantadora das Ruas (1987). (1987). Para referência referéncia completa, ver Bibliografia.

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mas sobretudo onde ganham notoriedade para atingir o grande pfiblico, público, até aqueles que recordam tornando-o revivido, recordarn um urn tempo vivido, Vivido, tornando—o reViVido, observa-se que uma das imagens mais recorrentes nestes textos refere-se ao poder simbólico periódicos. simbolico dos periodicos. OS jornalistas O proprio próprio Lima Barreto, a primeira vez que menciona os jornais e6 os 31 nas suas Recordagoes Recordações (1984) , deixa transparecer o simbolismo que esses veículos (1984)“, veiculos possuem na sociedade carioca. A notoriedade que ganham os que trabalham na imprensa, tornando-se pessoas conhecidas prestígio ao representar o mundo oonhecidas e aferindo prestigio para o público, pfiblico, é muitas vezes destacada na sua narrativa.

“Laje “Laje da Silva, porém, só so sabia que ele tinha a Aurora àa sua disposição, disposioao, jornal muito lido e antigo, respeitado eo que, no tempo do Império, derrubou

mais de um ministério. Escrevia nos jornais: era o0 bastante. E essa sua admiração, jornais, oao, se era de fato esse o sentimento do padeiro, pelos homens dos jornais, levava-o levava—o a respeitar a todos desde o mais graduado, o redator-chefe, redator—chefe, o polemista de talento, até ao repórter política, ao modesto revisor e ao caixeiro do reporter de politica, balcão. balcao. Todos para ele 616 eram sagrados, seres superiores ou necessários necessarios aos seus negócios, negocios, pois viviam Viviam naquela oficina oficina de ciclopes onde se forjavam forj avarn os temerosos raios capazes de ferir deuses e mortais, e6 os também de OS escudos capazes tambérn proteger os traficantes traficantes dos mortais e dos deuses.” deuses.” (Barreto, op. op. cit.: cit: 31) O movimento que Lima Barreto está esta descrevendo insere-se nas mudanças mudanoas por que passa a imprensa no início inicio do século XX, quando, se transformando em verdadeiras 32 . “fábricas “fabricas de notícias”, noticias”, os jornais ganham poder e notoriedade na sociedade carioca carioca32. Na sua descrição descrioao o destaque recai sobre o simbolismo que passa a ter a palavra impressa nessa política. nossa sociedade e a ingerência ingeréncia dos jornais junto àa sociedade politica. publicização de fatos do cotidiano, A publicizaoao ootidiano, a capacidade capaoidade de influir influir com o poder da palavra impressa leva o padeiro a ter admiração, admiraoao, respeito, pelos homens de imprensa. “Lage não nao lhe conhecia conheoia as obras, nem mesmo os artigos e ficou ficou satisfeito “Lage Viesse sentar-se sem cerimônia cerimonia alguma àa nossa que um outro conhecido seu viesse obrigando—me a não nao lhe fazer mais perguntas sobre o Pithecanthropus mesa, obrigando-me Bra o 0 Oliveira — nao me conhece? O Oliveira, do O 0 Globo...! Globo...! Tão Tao literato. Era – não Oh!” (Idem, (Idem, ibidem) conhecido!... Oh!” alguérn poderoso e amplamente conhecido e6 re— O jornalista é apresentado como alguém reconhecido na sociedade. O jornal, por outro lado, é capaz de derrubar ministro, de

31 As referências referéncias que se seguem foram retiradas de Recordações Recordagoes do Escrivão Escrivéo Isaías Isaias Caminha (1984). (1984). Para referéncias completas, cf. cf. Bibliografia. Bibliografia. referências

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32 Sobre esse movimento da imprensa carioca, ver especialmente Capítulo Capitulo I. |.

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Literatura como vestígio do tempo

promover campanhas, de influenciar. influenciar. Trabalhar no jornal confere status, torna a pes-

soa conhecida, ja já que nesse momento os periodicos periódicos mais importantes da cidade amam— público, tambe’m também no pliam sua representação representagao e seu alcance alcanee através atraVés da conquista de um pfiblico, dizer dos literatos, “sempre “sempre sequioso de novidades”. novidades”. jornalismo, as A revolução revolueao da imprensa do início inieio do século, seculo, as contradições contradieoes do jornalismo, autoconstruções periódicos para se tornarem representativos de autoconstrueoes engendradas pelos periodicos toda a sociedade aparecem, portanto, nas obras literárias. literarias. Da mesma forma, o movimento em direção também vai ser imortalizado pela literatura. direeao ao sensacionalismo tambem E não já que o autor, em seu ato criador, situa-se nao poderia ser de outra forma, ja situa—se na fronteira do mundo que está Não figura esta criando. Nao figura no seu interior, porque sua inclusão inclusao comprometeria a estabilidade estética este’tica do mundo em seu relato. Assim, o escritor re– o mundo do jornalismo do início presenta uma exterioridade — inicio do século, se’culo, no caso de Lima Barreto —, –, construindo uma imagem que ao mesmo tempo representa o0 real e o – a cidade, as redações jornal, a representatividade da transcende. A realidade — redaeoes do jornal, imprensa — – ée’ sólida, solida, mas entranhados neste mundo que rodeia o autor e o leitor estão estao os personagens, heróis herois da narrativa. E esses só so vivem Vivem na narrativa. Assim, o texto de Lima Barreto como eomo atividade atiVidade estética este’tica reúne refine um mundo disperso em seu sentido, mas também o condensa numa imagem concluída tambem concluida (Bakthin, 1997:202-214). 1997:202—214). Talvez seja por esta razão razao que todos os aspectos mais relevantes do mundo do jornalismo, incluindo as múltiplas mfiltiplas temporalidades instauradas naquele instante na atividade, atiVidade, estejam estej am Recordações. presentes nessas Recordagées.

Tempo de contar e tempo contado “Era “Era uma sala pequena, mais comprida que larga, com duas fileiras fileiras paralelas de minúsculas manminfisculas mesas, em que se sentavam os redatores e repórteres, reporteres, escrevendo em man— camisa.” gas de camisa.” descrieao da redação redaeao de um dos jornais Dessa forma, Lima Barreto partieulariza particulariza a descrição inicio do século. seculo. Primeiro o ambiente geral, as mais importantes do Rio de Janeiro do início mesas colocadas lado a lado, onde se sentavam os dois personagens centrais daquele reporteres. lugar: os redatores e os repórteres. deserieao que apela para a visão, Visao, a que deixa a impressão impressao a partir Em seguida àa descrição dos odores que particularizam o ambiente. “Pairava no ar at forte cheiro de tabaco: gas queimavam baixo e “Pairava tabaco: os bicos de gás espaeo era diminuto, acanhado, e bastava que um redator eram muitos. O espaço Vizinho. Um arrastasse um pouco a cadeira para esbarrar na mesa de tras, trás, do vizinho. História Cultural da Imprensa —

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tabique separava o gabinete do diretor, onde trabalhavam o secretário secretario e o redator-chefe: janelas para a redator-ehefe: era também tambe’m de superfície superficie diminuta, mas duas janelas rua davam-lhe ar, desafogavam-no muito. Estava na redação redaeao de O 0 Globo, já disjornal de grande circulação, circulaoao, diário, diario, matutino, recentemente fundado e ja dis— pondo de grande prestigio prestígio sobre a opinião” opiniao” (Barreto, 1984:72). 1984:72). Observa-se – o diretor, o secreObserva—se no texto, além ale’m da hierarquia existente nas redações redaooes — secre— tário, – o tempo físico tario, o redator chefe Chefe e, em seguida, os redatores e repórteres reporteres — fisico particularizado pelos sentidos visuais. A indicação indicaoao de que os bicos bieos de gás gas estão estao acessos mostra o desenvolvimento de um trabalho que se realiza àa noite, premido pelos horáhora— rios, ja já que o jornal, matutino, tem hora exata para ir às as ruas. Mas além alem desse tempo cronológico, cronologico, há ha na descrição descrioao um tempo narrativo. O tempo dos jornaleiros gritarem o nome dos jornais, a correria para fixar fixar as notícias noticias de última filtima hora na portaria do jornal, a ansiedade pelo termino término da matéria, materia, tudo isso descrito também tambe’m com sofreguidão. sofreguidao. O fato de o0 escritor ter composto o seu texto em referência próximo, referéneia a um passado proximo, dá da a narrativa caráter carater de testemunho. Mas, apesar disso, cada oada uma das descrições descrieoes figura figura para o leitor como se tivesse ocorrido oeorrido num determinado momento, sem que houvesse a intervenção interveneao expressa do locutor na narrativa. O escrivão escrivao recorda de fatos pretéritos, prete’ritos, mas quase nunca se imiscui imisoui no texto. Os fatos ocorrem num certo momento do tempo, sem qualquer intervenção intervenoao do locutor, como se o 0 passado fictício fictieio considerasse o passado real que é evocado no texto. Dessa forma, no tempo contado de Lima Barreto há ha uma espécie espeeie de quase passado que é introduzido pela ficção. ficoao. presenApesar de não nao participar diretamente na locução locueao memorável, memoravel, o escrivão escrivao ée presen— ça título da obra. Essa presenea—auséneia presença-ausência faz com que o uso dos oa ativa, até ate mesmo no titulo verbos no prete’rito pretérito não passado: todos sanao mantenha a sua função funoao de designação designaoao do passado: bem, os leitores de ontem e de hoje, que aquele mundo fictício fictioio representa o presente plausivel do escritor eseritor Lima Barreto. Suas angústias, angfistias, suas desilusões, desilusoes, sua verve implaplausível 33 cavel contra um mundo que o alijara alij ara33.. Mas como o texto composto por Lima Barreto cável insere—se no mundo da ficção, fioeao, supõe-se supoe-se que a história historia contada de fato não nao aconteceu. insere-se Instaura—se, na leitura e pela leitura, o tempo das coisas contadas. Instaura-se, nao há ha passado, ja aeao contada de fato não nao aconteceu, pode-se falar Como não já que a ação eerta medida de ausência auséneia da temporalidade na ficção. ficeao. Mas apenas em certa eerta medimedi— em certa

33 Depois de um breve período periodo como repórter repérter do Correio da Manhã, Manhé, Lima Barreto é dispensado, dispensado, não néo conseOrgéos da grande imprensa. Consegue trabalhar apenas em pequenas publicaguindo mais empregos em órgãos goes. O 0 álcool, élcool, os estigmas que o acompanham (negro, de origem pobre, pobre, sem ter terminado o curso superior) ções. derrotado, que acaba seus dias, após apés passar várias vérias vezes por internações internagées no hospício, hospicio, bêbabébafazem dele um derrotado, cidade. do pelas sarjetas da cidade.

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da, porque a narrativa só so se torna humana quando imersa na sua perspectiva temporal. 1995). (Ricouer, 1995). ouVinte, Em principio, princípio, o mundo das coisas contadas ée estranho ao locutor e ao ouvinte, mas, na medida em que o autor se transforma numa espécie espe’eie de testemunha daquele tempo, há ha uma correlação correlaeao entre o mundo das coisas contadas e o mundo que se conta, ainda que a relação permaneça ativa na narrativa. relaeao de antecipação antecipaeao permaneea

Instaura-se Instaura—se a defasagem temporal entre o tempo do ato de contar e o tempo do texto. O texto produzido por Lima Barreto naqueles longínquos longinquos mil e novecentos permanece interpelando o leitor e produzindo novas significações, significaeoes, instaurando um tempo do texto que nada mais tem a ver com o ato do autor no instante em que compôs compos a narrativa. também existem notações Na narrativa tambe’m notaeoes claras do tempo: os verbos no passado indicam que o mundo do jornalismo que estava sendo composto pelo autor só so existia agora na sua imaginação, transição entre a experiência imaginaeao, produzindo uma transieao experieneia do escritor e aquela que o faz capaz de transformar o mundo em letras impressas. O mundo contado, entretanto, não já que a narrativa estabelece nao deixa de ser mundo, ja uma relação prático através – ou seja, a relaeao com o mundo pratico atrave’s da refiguração. refiguraeao. É E a mimese II — autoestruturação –, que autoestruturaeao da narrativa baseada em códigos codigos narrativos internos ao discurso —, torna aquele mundo aberto a uma infinidade infinidade de interpretações interpretaeoes ou de leituras, inclusive a que o percebe como materializando condições condieoes reais de existência existencia (Ricoeur, 1994). 1994). Podemos dizer que, ao compor seu texto, Lima Barreto suspendeu o presente viviVivi— do — – ou seja, Manhã ou sua sej a, sua experiência experiencia quotidiana como repórter repérter do Correio da Martha experiência – para construir o experiéncia sofrida como eomo um interno do Hospital dos Alienados — passado da narrativa, instaurando o mundo das coisas contadas. Nesse momento, introduz aquilo que Paul Ricoeur vai conceituar como o “como “como se” se” da narrativa: fala de um mundo como se fosse passado, fala de uma experiência também ela estiexperiencia como se tambem esti— Vesse inscrita agora no passado. Estabelece tambem relaeao metafórica metaforica com a vesse também uma relação memoria: estanca o passado que está esta presente na memória memoria e torna—o sua memória: torna-o presente pelo 1995: 128 e passim). ato de contar (Ricoeur, 1995:128 passim). Vivem uma experiência experiéncia fictícia ficticia de tempo, há ha na narratinarrati— Enquanto os personagens vivem materializaeao da subjetividade subj etiVidade temporal existente eXistente na sociedade. Assim, os teXva a materialização textos dos jornais falam desse mundo, da mesma forma que a narrativa de Lima Barreto configuraeao de uma nova temporalidade: o tempo rápido, rapido, sem pausas, apela para a configuração reflexao. O tempo das mudanças, mudaneas, das notícias noticias que devem se suceder sueeder sem cessar. nem reflexão. atiVidade huSe entendermos temporalidade como a maneira como se inscreve a atividade duraeao, como eomo ja mana na duração, já enfatizamos, podemos observar nos textos citados das duas dispares. No hospital dos loucos, o tempo obras de Lima Barreto duas temporalidades díspares. História Cultural da Imprensa —

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lento, quase imóvel, imovel, dos dias que se repetem sem mudanças. mudanoas. Na redação redaeao do matutino, o tempo rápido, rapido, de um mundo que faz dos novos ícones icones do progresso a senha para entrada em uma nova era. Saindo do tempo real — – o0 da sua vivência – para ViVéncia quotidiana — o tempo da narrativa, os loucos do Hospital dos Alienados ingressam na temporalidade das notícias noticias que leem com sofreguidão, sofreguidao, igualmente sem pausas ou reflexão. reflexao. Leem os textos dos jornais que proj projetam etam um mundo igualmente desconhecido. deseonheeido. Como os personagens daquelas narrativas vivem, Vivem, eles mesmos, como leitores, uma experiência eXperiénCia fictíficticia do tempo. Mas a ficção prático e reorienta o olhar para ficeao conserva sempre o vestígio vestigio do mundo pratico traços não possa traeos da experiência eXperiéneia que inventa, ao mesmo tempo, um mundo, ainda que nao romper com as amarras do mundo fictício fieticio de onde vem e para onde retorna. Assim, se podemos enxergar nas narrativas experiências experieneias particulares de tempo, enen— tre as quais se sobressai a de um mundo marcado pela aceleração mudança, pode— podeaceleraeao e pela mudanea, se observar nos textos ficcionais ficeionais a tessitura de uma intriga capaz de tornar presente o ausente, fazendo com que cada um desses textos se liberte de seu passado. Múltiplas Mfiltiplas temporalidades figuram figuram nessas narrativas: a da vida Vida de cada um dos personagens; a da memória memoria do escritor que torna presente o que ficaria ficaria ausente; o trabalho do autor que levou um determinado tempo para compor o seu texto; o tempo da obra, ou seja, o tempo físico fisico mesmo que o leitor leva para percorrer o livro com sua leitura; e, finalmenfinalmente, o tempo do leitor, isto é, a temporalidade necessária necessaria a cada um para interpretar o que leu. Contar, conclui eonclui Paul Ricoeur, requer, portanto, lapsos do tempo físico. fisico. A compreensão compreensao do leitor, por outro lado, consiste em “saltar “saltar os tempos mortos” mortos” da

narrativa, precipitando o seu andamento, condensando num só so evento exemplar traços eos duradouros. O tempo e o ritmo de uma mesma obra dependem das múltiplas mfiltiplas interinter— pretações pretaeoes ou refigurações refiguraeoes narrativas operadas no momento da leitura, em suma, do tempo contado. E o tempo contado restitui a sucessão sucessao das cenas, dos episódios episodios interinter— mediarios, das fases de transieao constroi efeimediários, transição presentes numa mesma obra. O autor constrói lentidao, de velocidade, tempos breves e tempos longos, tempos qualitativos a tos de lentidão, tambem da possibilidade de entendimento e compreensão compreensao do leitor. Numa mespartir também lembranea, o tempo do sonho e o tempo do ma obra podem estar presentes o tempo da lembrança, dialogo transcrito. É E o tempo contado que transforma, na concepção concepeao de Ricoeur, o diálogo narraeao em tempo da vida Vida (Ricoeur, (Rieoeur, 1995:133-136). 1995:133-136). tempo da narração experiéncia fictícia ficticia no jornalismo A experiência 1910 são 3510 configurados configurados na literatura como o momento em que o jornaSe os anos 1910 jornalismo queria se autoconstruir como lugar de poder, a partir da notoriedade que cons-

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truía para o jornalismo, a década truia de’cada de 1920 1920 coloca em cena, com corn destaque, a experiênexperien— cia do ficcional. ficcional. As narrativas mirabolantes dos repórteres reporteres policiais que faziam da descrição pormenorizada dos crimes de sensação periódicos aparece descricao porrnenorizada sensacao o sucesso dos periodicos inúmeras Não apenas sua experiência pesinfimeras vezes nas crônicas cronicas de Nelson Rodrigues. Nao experiencia pes— soal, mas a dos que conviveram com ele nas redações periódicos de sensação redacoes dos periodicos sensacao do 34 Rio de Janeiro da década . decada de 1920 192034. “A polícia. O Quintanilha, “A grande figura figura da redação redacao era mesmo o repórter reporter de policia. trás de suas histórias, por exemplo, sabia de tudo, vira Vira tudo. Por tras historias, havia haVia toda uma cálida Calida maravilhosa experiência experiencia shakespeariana. Seria talvez analfabeto, sei lá. 121. E estava sempre bêbado. bébado. Deixava de beber há ha meses, anos, e continuava bêbado. Não importa. Contava coisas lindas.” bébado. Nao lindas.” (Rodrigues, 1993) 1993) O texto de Nelson Rodrigues — – uma crônica – possui uma estrutura narrativa inteicronica — intei— ramente diversa do texto de Lima Barreto. Ao compor a crônica, cronica, o autor constrói constroi não nao o desejo de ficcionalidade, produção textual a uma realificcionalidade, mas procura relacionar sua producao dade preexistente. O Quintanilha, personagem da crônica, cronica, é visto Visto como alguém alguern que de fato existiu: diante das convenções convencoes de veracidade que a crônica cronica introduz, interpreta-se a situação ta—se situacao e aqueles que a vivenciaram Vivenciaram como participantes de algo que, de fato, aconteceu. Há Ha na crônica cronica uma afinidade afinidade entre o mundo factual e o universo subjetivo subj etivo do cronista. Permite-se, por outro lado, a visibilidade Visibilidade do estado afetivo e emocioemocio— filtima e definitiva definitiva característica: caracteristica: nal do narrador. Silvia Borelli ainda alinha uma última assumida pelo escritor como gênero jornalístico e, genero literário, literario, ée’ destinada ao campo jornalistico como tal, sujeita às as suas regras (1996:76-77). Considerando gêneros géneros narrativos como molduras menores do discurso (frames), que orientam não nao só so sua formatação formatacao mas a expectativa de leitura em relação relacao a deterdeter— minadas redes textuais, seja o0 romance, a crítica, critica, a crônica cronica ou a autobiografia, autobiografia, cada um desses textos mostra, a rigor, as vozes do passado. Um Urn texto deve ser visto Visto dialogo, mas também tambem como uma rede de resistência. resisténcia. Como Corno um urn diálogo, dialogo, como um diálogo, possui no seu interior uma multiplicidade de vozes, que produzem significações significacoes nunHa nos textos vozes contestatórias, contestatorias, múltiplas, mfiltiplas, textos e contextos. Como Corno ca acabadas. Há resisténcias, manifestam manifestarn um mundo nem sempre possivel Visi— rede de resistências, possível de ser tornado visível no momento em que foi formulado. refletir sobre os gêneros, generos, deixa claro que as regras básicas basicas que orienorien— Todorov, ao refletir tam as obras literárias, literarias, como corno processos de comunicação, comunicacao, fazem fazern delas um corpus de texto pertencente a um único finico universo discursivo: o literário. literario. Para o 0 autor, “um “um novo

34 Sobre esse movimento da imprensa carioca, cf. Capítulo Capitulo 2. 2.

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gênero género ée sempre a transformação transformaeao de um ou de vários Varios gêneros generos antigos: por inversão, inversao, por deslocamento, por combinação”. combinaeao”. Assim, um texto de hoje deve tanto àa poesia e ao romance do século já combinava as caracterísseculo XIX, tal como a comédia comedia lacrimejante lacrimej ante ja earacteristicas da comédia precedente. Nao Não há comedia e da tragédia tragedia do século se’culo preeedente. ha possibilidade de haver literatura sem gêneros, géneros, da mesma forma que uma obra não nao se encerra nela mesma uma única unica tipologia de gênero. género. Uma obra pode manifestar mais de uma categoria, mais de género (1981:48 (1981248 e 1979:26). 1979226). um gênero Bakthin (1993:279-287) (1993 :279-287) acrescenta que há ha uma infinidade infinidade de gêneros generos do discurso, uma vez que qualquer possibilidade de utilização utilizaeao da língua lingua pela atividade atiVidade humana instaura formas variadas, enunciados orais e escritos, concretos e únicos unicos que emanam desses sujeitos. Esses enunciados refletem refletem condições condieoes e finalidades finalidades específicas, especificas, não nao apenas por seu conteúdo também em função conteudo e estilo verbal, mas tambe’m funeao da construção construeao da composição. três elementos —– conteúdo temático, estilo e construção composioao. Assim, esses tres conteudo tematieo, construeao composicional — – fundem-se no enunciado, sendo marcados pela especificidade especificidade de uma esfera de comunicação. comunieaoao. Qualquer enunciado considerado isoladamente ée’ individual, mas cada esfera de utilização utilizaeao da língua lingua elabora tipos relativamente estáveis estaveis de enunciados. São S510 estes que são sao denominados gêneros géneros do discurso. Apesar de considerar a amplitude dos gêneros generos como uma dificuldade dificuldade para seu

estudo, Bakthin procura sistematizar sua conceituação, conceituaeao, considerando em primeiro lugar a bipartição primários e secundários. bipartieao entre gêneros géneros primarios secundarios. No segundo grupo, complexo, estariam o0 romance, o0 teatro, o discurso científico, cientifico, o discurso ideológico, ideologico, que apareapare— cem em situações situaeoes mais complexas e principalmente sob a forma escrita. Apesar de considerar essa distinção, distineao, o autor postula a existência existéncia de inter-relação inter-relaeao entre os gênegeneros como fundamental para esclarecer a natureza do enunciado e, com ela, o problema da correlação correlaeao entre língua, lingua, ideologias e visões Visoes de mundo. Em cada época, epoca, a língua lingua escrita ée marcada pelos gêneros géneros do discurso, secundários seeundarios e primarios primários (diálogos (dialogos orais), isso porque a língua lingua escrita incorpora camadas da língua lingua géneros secundários, secundarios, o que leva sempre àa reestruturação reestruturaeao e àa popular em todos os gêneros renovaeao desses gêneros. generos. renovação géneros ée tambem eomo o mundo, Considerar essa mobilidade dos gêneros também entender que, como tambe’m os textos se modificam modificam através atraves de diálogos dialogos constantes, razão razao pela qual podem também numero de perspectivas, e devem ser abordados e examinados a partir de um grande número nao podendo ser reduzida a sua análise analise a um modelo monológico monologieo (Hunt, 1992:154). 1992: 154). não analise textual a este modelo criticado por Hunt é6’: considerar, por exemexem— Reduzir a análise ficcional representa um mundo, em essência, esséncia, imaginativo, não nao figurando figurando as plo, que o ficcional relaeoes sociais. Preferimos, ao contrário, contrario, descobrir no fictício ficticio a relação relaeao com o munmun— relações dialogica — ficcional. do de que fala e ver no mundo — – numa perspectiva dialógica – tambe’m também o ficcional. atraVes do texto. Chegar ao contexto, através

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“Eu polícia. Bem me “Eu começava comeeava no jornal. Era garoto e fui ser repórter repérter de polieia. lembro dos meus primeiros dias profissionais. profissionais. Ate Até os contínuos continuos me fascinavam. Revisores, linotipistas, todos, todos sugeriam não nao sei que mistério. miste’rio. Mas, pouco a pouco fui percebendo tudo. Acabei descobrindo deseobrindo que os mais importantes eram os piores. Dois ou três trés faziam o artigo de fundo. E andavam pela redação redaoao como pavões enfáticos. pavoes enfaticos. Mas não nao tinham nada que dizer.” dizer.” (Rodrigues, 1993:88) 1993288) Na sua crônica, crénica, Nelson Rodrigues recorda o seu momento de entrada na redação. redaeao. Com pouca idade — – como a maioria dos jornalistas que ingressavam nos jornais nana— queles 1920 – relata o encantamento que tomou conta dele ao se ver diante do que 1920 — chama “mistério”. “misterio”. Tudo o fascinava. O desconhecido e, sobretudo, o desvendamento de um mundo improvável improvavel para a maioria das pessoas. Como se transporta “a “a realidade” realidade” para o mundo das letras impressas? Como se descreve as agruras e os fatos que vão Vao formando e dando coerência profissão, autoconstruções coeréncia àa existência? existéneia? Idealizações Idealizaeoes de uma profissao, autoconstrueoes de um lugar de poder, que fascinavam o menino que se tornava jornalista.

Ao desvendar os mistérios A0 misterios daquele mundo, lentamente Nelson Rodrigues descobre que os que ocupavam posieoes posições mais importantes na redação – os redatores resredaoao — res— ponsáveis pelos artigos de fundo que eram publicados em lugar nobre na primeira ponsaveis página de todos os jornais, opinando sobre o fato de maior relevo —– materializavam a pagina distinção distineao do lugar pela pose empertigada com que andavam pela redação. redaeao. Ainda que andassem como “pavões “paVoes enfáticos”, enfaticos”, na opinião opiniao do cronista, que relata um tempo que só so existe na sua memória, memoria, não nao tinham nada a dizer. Ao contrário contrario do texto romanceado de Lima Barreto, que vimos Vimos anteriormente, as memórias memérias de Nelson Rodrigues, inseridas sob a forma de crônicas cronicas numa obra que tem no titulo título a revelação revelaeao de que ali ele faria “confissões”, “confissoes”, aproxima diretamente seu texto do caráter carater de testemunho. Diante do seu livro, o leitor não nao espera encontrar o ficcional, ficcional, mas as recordações recordaeoes do escritor, que, pelo ato memorável, memoravel, figura figura o seu texto. Espera-se Espera—se interveneao expressa eXpressa do autor como locutor da narrativa. O escritor, ao contrário contrario do a intervenção escrivao, recorda fatos prete’ritos escrivão, pretéritos se colocando em primeira pessoa no texto. Dessa ficeao, temos o passado memorável memoravel forma, em vez do quase passado introduzido pela ficção, Confissées. de Nelson Rodrigues, expresso sob a forma de Memo’rias Memórias e Confissões. “Por hoje volto as minhas memórias memorias de repórter reporter de polieia. “Por polícia. (...) Era uma e’poca de gordas. Em 1920, 1920, quem não nao era gorda? Tinha os senhora gorda na época flancos fortes, potentes de fecundidade. E todavia todaVia o toldo de lona suportou o flancos nao houve morte, nem fratura, nada”. nada”. baque e não cronica intitulada “Tempo “Tempo de Papelotes”, Papelotes”, o escritor Mais adiante, na mesma crônica continua: História Cultural da Imprensa —

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“Ainda no meu primeiro ano de repórter reporter de politica, “Ainda política, trabalhei num crime que me assombrou. Imaginem vocês voces um rapaz e uma menina que se casam, ela com 16, podia-se temer pela sorte de tal 16, ele com 18 18 anos. Já Ja pelas idades, podia—se casamento. E, de fato, ja já na primeira manhã não se manha da lua-de-mel, lua—de-mel, os dois nao entendiam mais”. mais”. (Rodrigues, 1977:19-22) 1977:19-22)

Em seguida, ele remonta a história – os dissentimentos, a infidelidade historia — infidelidade da mulher e finalmente – que aparece finalmente o desfecho da trama, com o tiro do marido contra a infiel infiel — com minúcias minl’icias na crônica, cronica, mas que a reportagem policial só so materializou como desfedesfe— cho. O repórter reporter Nelson Rodrigues escreveu em 1920 1920 uma reportagem sobre um assassinato. Os detalhes folhetinescos da narrativa permaneceram na sua memória, memoria, interpelando-o, e ée a partir dessa interpelação interpelacao que compõe compoe um novo texto, o 0 da crônica, cronica, décadas presença no texto feito a partir de uma experiência decadas depois. Observa-se Observa—se sua presenca experiencia quotidiana. O passado comparece na narrativa pelo uso do tempo verbal e tambem também pela inscrição polícia, inscricao do autor no texto: “Ainda “Ainda no meu primeiro ano de repórter reporter de policia, assombrou.” trabalhei num crime que me assombrou.” também a idealização Na memória memoria constrói constroi tambe’m idealizacao de um tempo de antes. Traçando Tracando um paralelo entre o jornalismo que se fazia no momento em que escrevia escreVia a crônica cronica e no momento em que ingressara nas redações, redacoes, enfatiza o fato de, no passado, haver uma espécie especie de simultaneidade entre a notícia noticia e o acontecimento, produzida pela emoção emocao como era construída. também uma espécie construida. Agora, o texto distanciado causava tambem espe’cie de hiahia— to entre o tempo da notícia noticia e o tempo do relato. “O página do jornal. jornal. E assim, o “O atropelado acabava de estrebuchar na pagina marido que matava a mulher e a mulher que matava o marido. Tudo tinha a tensão, própria vida. há o0 tensao, a magia, o dramatismo da propria Vida. Mas como, hoje, só so ha jornal da véspera, ve’spera, cria-se cria—se uma distância distancia entre nós nos e a notícia, noticia, entre nós nos e o nos e a calamidade pfiblica fato, entre nós pública ou privada”. privada”. (Idem: 299) Nelson Rodrigues critica o distanciamento produzido pela narrativa jornalistica jornalística a adocao de novos parametros redacao, em oposição oposicao ao estilo melodramámelodrama— partir da adoção parâmetros de redação, emocao, possibilitado pela descrição descricao minuciosa das trage’dias tico, envolto em emoção, tragédias que noticias que enfocavam os dramas e tragedias apaixonavam a cidade. As notícias tragédias banais aparediarios com um dramatismo, que, segundo o autor, imitava a prépria ciam nos jornais diários própria Vida. Esse estilo de texto que mesclava em seu interior gêneros géneros que o precederam — vida. –o cronicas mundanas — espe’cie de melodrama, os folhetins, as crônicas – produzia uma espécie melodramatizacao da realidade, que, afinal, afinal, era esperada pelo leitor. melodramatização eta, portanto, um mundo passado, mas que per— O texto de Nelson Rodrigues proj projeta, perVivo através atraVés da sua lembrança: lembranca: caracteriza assim uma tipologia de texto manece vivo

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jornalístico, construída jornalistico, construida de forma mítica Initica pela memória memoria do autor, que deixara lentamenlentamen— te de existir.

de Nessa história historia remontada a partir da literatura, não nao interessa demarcar quando Q fato isso ocorreu. Importa antes perceber como um – ficcional – revela m urn texto — ficcional ou não nao — um Afinal, a realidade só urn contexto que também se configura configura como texto. Afinal, so ée dada a ler através também o contexto é atraVés de processos textuais. Tal como em relação relaeao ao texto, tambe’m alvo de múltiplas interpretações. A oposição entre texto e realidade não multiplas interpretaeoes. oposieao nao se sustenta, uma vez que o passado também tambérn só so chega ao presente através atraVes desses remanescentes remaneseentes textuais: sejam memórias, memorias, relatos, escritos, arquivos, monumentos, sejam sejarn resquícios resquicios inscritos em fímbrias fimbrias de narrativas, vestígios vestigios de um tempo, que só so um urn olhar mais atento pode revelar. E revelando-o, infere um urn mundo rnundo que também só so existe como remanescente textual (LaCapra, 1983:95-96). 1983 :95—96). Considerando que a literatura sugere formas alternativas de conhecer e descrever o mundo, usando a linguagem imaginativamente para representar as ambíguas ambiguas categocatego— rias de vida, pensamento, palavras e experiências, Vida, pensarnento, experiéncias, podem-se visualizar Visualizar esses textos como vestígios vestigios de uma história historia que figura figura um urn passado (Kramer, In: Hunt, 1992:158). 1992: 158). Toda cultura fornece um urn lastro particular de mito que constrói constroi histórias historias peculiares. O escritor, por outro lado, recorre sempre a um lastro mitológico mitologico existente na mente dos seus leitores para conferir ao seu relato sentido e significado. significado. Portanto, aquele mundo que aparece hoje sob a forma de remanescentes textuais existia e tinha um urn significado significado preciso, falando de uma realidade que guardava plausibilidade. Resta-nos remontar esses remanescentes textuais, transformando o texto novamente em contexto. “Tinha 13 13 anos quando me iniciei no jornal, como repórter reporter de politica. “Tinha política. Na redação – era uma cova de redaoao não nao havia haVia nada da aridez atual e pelo contrário: contrario: — delícias. delicias. O sujeito ganhava mal ou simplesmente simplesrnente não nao ganhava. Para comer, dependia de um vale utópico utopico de cinco ou dez mil-reis. Mas tinha a compensaoao da glória. gloria. Quem redigia um urn atropelamento julgava—se urn estilista. E a ção julgava-se um propria enfatico. EscreVia própria vaidade o remunerava. Cada qual era um pavao pavão enfático. Escrevia na Vespera e no dia seguinte via-se Via-se impresso, sem sern o retoque de uma Virgula. véspera vírgula. HaVia uma volúpia volupia autoral inenarrável. inenarravel. E nenhum estilo era profanado por Havia 1977264). uma emenda, jamais.” jamais.” (Rodrigues, 1977:64). Alguns dados do contexto aparecem na descrição: descrioao: o papel simbólico sirnbolico conferido aqueles que podiam fazer da pena meio de sobrevivência. sobreViVéncia. Esse lugar dava ao jovem àqueles jovem reporter “glória” “gloria” — Visualizar como um urn escritor —, repórter – podia se visualizar –, que compensava os baixos salarios ou a completa falta de remuneração. remuneraoao. Mas o contexto percebido como corno texto salários produz interpretações interpretaeoes que são sao construídas construidas no presente: a mitificação mitificaeao de quem maneja distinoao simbólica simbolica conferida a quem fazia da produoao as letras impressas, a distinção produção textual História Cultural da Imprensa —

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o dia-a-dia dia—a—dia de sua existência. existéncia. A literatura era vista Vista na sociedade com uma alta carga positiva e o jornalismo queria ser literatura, porque esse era o0 lugar distintivo para o seu profissional. profissional. Nos anos que se seguiram muita coisa mudou. Construir um texto referenciado como neutro, isento, imparcial, autonomiza o campo jomalistico jornalístico e dá (121 a ele uma valoração terá que ser valoraeao acima aoima do campo literário. literario. Mas para isso um longo caminho tera percorrido.

Ecos do Estado Novo A popularidade dos periódicos periodicos nas duas primeiras décadas de’cadas do século se’culo modificou modificou a

relação público com os jornais diários. relaeao do publioo diarios. A entrada em cena de novos meios de comunicação, público mais comunicaeao, tecnologias que deveriam ser utilizadas para atingir um pfiblico vasto, conforme expresso inúmeras imimeras vezes nos discursos disoursos dos homens de governo, durante o Estado Novo, interferiu na maneira como o pfiblioo público se relacionava com os periódicos. periodicos. Mas os jornais continuavam sendo a forma como podia se ter conhecimento do que se passava no mundo. O que levava Vitória, Angústia, a ler com Vitoria, personagem de Graciliano Ramos, em Angdstia, sofreguidão sofreguidao o nome de todos os navios naVios que aportavam no cais? Sem nunca ter saído saido de Maceió, Maceio, como esclarece o autor, faria viagens Viagens imaginárias imaginarias a partir da informação informaoao desse movimento infindável infindavel de navios naVios que atracavam e desatracavam? “Quando “Quando se cansa, agarra o jornal e lê 16 com atenção atenoao os nomes dos navios naVios que chegam e dos que saem. Nunca embarcou, sempre viveu Viveu em Maceió, Maceio, mas tem term o 0 espírito espirito cheio de barcos. Dá-me Da-me frequentemente notícias noticias deste gênero: género: — 0 Pedro II chega amanhã. amanha. O Aritimbo Tera havido haVido desasdesas— –O Aritimbó vem com atraso. Terá comunicaoao me interessa. Há Ha trés tre? Nao Não sei como se pode capacitar que a comunicação três anos, quando a conheci, a mania dela me espantava. Agora estou habituado. deixo—o em cima da mesa, dobrado na pagina Leio o jornal e deixo-o página em que se publica Vitéria toma a folha e vai para a cozinha ler ao papagaio o movimento do porto. Vitória Viaj antes. No principio do mês, mes, quando se aproxima o recebimento reoebimento a lista dos viajantes. excita—se e não nao larga o Diário Diario Oficial.” Oficial.” (Ramos, 1995:27) 1995:27) do ordenado, excita-se A leitura do jornal aparece tambe’m também como possibilidade real de pausa para o descaninformaeao preoisa, noticia do movimento dos so. Mais do que a informação precisa, o que a leitora busca na notícia Viagens imaginárias. imaginarias. O hábito habito da leitura em voz alta — portos, é a possibilidade de fazer viagens – descrioao: Vitória Vitoria lê, 16, na cozinha, em voz sob a forma de ironia — – tambem também aparece na descrição: noticias que tanto lhe interessam. alta, ainda que seja para o papagaio, as notícias

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Ler dá também possibilidade de transmitir a informação. da a ela tambe’m informaeao. Informa ao amigo o navio naVio que chegaria e interpreta o atraso de uma outra embarcação embarcaoao com corn dúvidas dfividas que lhe assaltam o espírito. esp1’rito. Teria sido o atraso motivado por algum desastre? O movimento Inovimento de leitura desse personagem indica que o mundo do texto não nao produção impressa. O leitor reconfigura termina na produoao reconfigura a narrativa, produzindo interpretações, visualizando pretaeoes, Visualizando um urn mundo Inundo que pouca relação relaeao guarda com as informações informaeoes recolhidas nos periodicos. periódicos. Podemos Podernos ler o texto de Graciliano como uma espécie espe’cie de rastro do passado que, chegando até ate o 0 presente, mostra múltiplas rnfiltiplas relações relaooes dos leitores dos anos 1930 1930 com os meios de comunicação comunicaeao e, no caso da narrativa transcrita acima, com os jornais diários. diarios. O rastro, na medida em que foi deixado, exerce para com o passado a função fungao de representância, representdncia, ainda que não nao estejamos considerando nessa relação relaeao a questão questao ontológica ontologica contida na noção, nooao, isto é, a garantia de prova e de explicação explicaeao do passado que chega sob a forma de documentos. (Ricoeur, 1996:242-243) 1996:242-243) Ao chegar até A0 ate o 0 presente, sob a forma de remanescente textual, não nao seria o rastro, transforpresente? E, como corno leitores desse passado histórico, historico, não nao somos nós nos mesmos transfor— mados em contemporâneos reconstrução de contemporaneos dos acontecimentos acontecirnentos passados através atraVes da reconstrugao seu encadeamento? O passado não nao se torna inteligível inteligivel apenas ao persistir no presente? (Ricoeur, idem, 244) “Moisés “Moises comenta cornenta o jornal. Nunca vi Vi ninguém ninguem ler com corn tanta rapidez. Percorre as colunas com os dedos e para no ponto que lhe interessa. Engrola, saltando linhas, aquela prosa em língua lingua estranha, relaciona o conteúdo contefido com corn leituras anteriores e passa adiante”. adiante”. (Ramos, 1995:22) 1995:22) também faz da leitura do No mesmo romance de Graciliano, um urn outro personagem tambe’rn rapidez”, jornal base para o seu comentário. comentario. A indicação indicaoao da leitura feita com corn “tanta “tanta rapidez”, implicito do texto, mostra a familiaridade daquele leitor que impressiona o narrador implícito corn as letras impressas. Os dedos tornam-se auxiliares de uma leitura meio silencicom nao linearidade de sua leitura também aparece na narrativa. osa, meio em voz alta. A não urna leitura com corn outras ja O leitor de Angdstia Angústia salta linhas, sussurra o texto, relaciona uma já ficticio do texto e o mundo real do leitor mostram como se dão dao o feitas. O mundo fictício fenomeno da leitura e também tambe’m as mediações mediaeoes necessárias necessarias para a transformaeao fenômeno transformação do que interpretaeao. Nesse pequeno trecho surge a estratégia estrate’gia fomentada fornentada por era lido em interpretação. corno essa Graciliano para descrever aquele mundo e que é dirigida ao leitor; a forma como estrategia compõe compoe a narrativa visualizada Visualizada como corno ficção ficeao e as respostas do leitor, implíimpli— estratégia 16 e como pfiblico cito no texto, considerado como sujeito que lê público receptor. Mas o texto nao termina aí. ai. Aberto a múltiplas mfiltiplas interpretações, interpretaeoes, serve para indicar, como rastro, ao não 1930. leitor do futuro como o publico público se relacionava com os periodicos periódicos nos idos de 1930. História Cultural da Imprensa —

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Mas não nao ée apenas isso que aparece. Naquela sociedade em que o mundo impresso define publicação de define formas de pensar e de agir em uníssono, unissono, ter o 0 reconhecimento da publicacao um texto continua representando um valor para os que querem ter notoriedade. Em outros momentos do mesmo romance, a iniciação jornais também ée iniciacao no mundo dos jornais mostrada. “Dr. “Dr. Gouveia ée’ um monstro. Compôs, Compos, no quinto ano, duas colunas que publicou por dinheiro na seção jornal ordinário. secao livre de um jomal ordinario. Meteu esse trabalhinho num caixilho caiXilho dourado e pregou-no pregou—no na parede, por cima do bureau. Está Esta cheio de erros e paste’is. pastéis. Mas Dr. Gouveia não nao os sente.” sente.” (Ramos, 1995:6) 199526) A importância importancia de ser um autor faz com que Gouveia emoldure o seu artigo (“um (“um trabalhinho”) num quadro, ornando a parede. A moldura dourada e o 0 local nobre da trabalhinho”) sala indicam tambe’m também representação representacao do texto autoral naquela sociedade, não nao imporimpor— tando que a composição composicao e a redação redacao fossem falhas. “funcionario publico, ocu— Luiz, personagem principal de Angflstia, Angústia, um “funcionário público, homem de ocupações pacoes marcadas pelo regulamento”, regulamento”, apesar de nunca ter estudado e de julgar que os seus escritos não nao prestavam, trabalha num jornal. O emprego fora conseguido por uma carta de um deputado dirigida a um diretor da publicacao. publicação. Trabalha a noite, ja já que de dia ée funcionário público. funcionario publico.

“Um “Um sujeito feio: olhos baços, bacos, o nariz grosso, um sorriso besta e a atrapaatrapa— lhação, lhacao, o encolhimento que é mesmo uma desgraça. desgraca. (...) Habituei-me a escrever, já disse. Nunca estudei, sou um ignorante, e julgo julgo que os meus Ver, como ja escritos não À noite fecho as portas, sentonao prestam (...) Trabalho num jornal. A me àa mesa da sala de jantar, a munheca emperrada, o pensamento vadio longe do artigo que me pediram para o jornal.” jornal.” (Idem: 6) A atividade atiVidade jornalistica nao iniciara ainda no Rio de Janeiro plenamente o seu jornalística não inumeras tentativas de transformar o saber processo de profissionalizacao. profissionalização. Apesar das inúmeras pratico em objeto obj eto de estudo regulamentar — inicio no primeiro prático – movimento que teria início 1918, mas que só so se efetivaria com o proj eto de congresso de jornalistas realizado em 1918, projeto criacao do curso de jornalismo ainda durante o Estado Novo —, criação –, a profissionalizacao profissionalização so seria efetivada a partir da década de 1950. 1950. O ingresso no mundo do jornalismo só jornalismo relacao ao início inicio do século: se’culo: indicações indicacoes de pessoas influentes influentes pouco tinha mudado em relação relacoes de amizade são sao fundamentais para ingressar na profissao, e relações profissão, que se acumula atiVidade, normalmente no serviço servico publico. com outra atividade, público. repressao àa imprensa, que redundaram muitas vezes na prisao Os ecos da repressão prisão de jor— jord0 Cárcere, Cdrcere, nalistas, aparecem em outra obra de Graciliano Ramos. Em Memo’rias Memórias do figura lendária lendaria da imprensa brasileira — Barao de Itararé, Itarare, uma figura – Aparicio Aparício Torelly, o Barão

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fundador de A Manha35 Manha35 — – ée um dos personagens da prisao prisão onde tambem também Graciliano está esta encarcerado. “A “A chegada mais rumorosa foi a de Aporelly. Estávamos Estavamos recolhidos; a Rádio – Fala o Radio Libertadora, em meio do programa, comunicou o sucesso. — Barao — Varios cubículos”. cubiculos”. (Ramos, 2000:46) Barão – exigiram de vários A rádio, prática desenvolvida pelos presos da Casa radio, a que se refere Graciliano, ée’ a pratica de Detenção: Deteneao: das celas gritam e cantam, cantarn, improvisando programas de uma rádio, radio, que denominaram Libertadora. É E assim que os prisioneiros fazem circular informações informaeoes ou simplesmente encontram maneiras de se distrair. Todas as noites após apos o jantar, eles ouvem um dos presos — – eleito locutor oficial – anunciar o oficial devido deVido a sua voz possante — início inicio de cada emissão emissao com o slogan “Agrade “Agrade ou não nao agrade, todos àa grade para ouvir ouVir Liberdade”. Durante essas emissões, emissoes, o locutor lê 1e notícias noticias que a PR-ANL —A – A Voz da Liberdade”. chegam ao presidio presídio clandestinamente, comunicados escritos pelos dirigentes presos, ou anuncia números numeros musicais. Graciliano, em suas Memo’rias, Memórias, relata o seu primeiro encontro com o Barão Barao na Casa de Detenção: Deteneao: “De pró“De manhã, manha, ao lavar-me, lavar—me, notei que alguém alguem se esgoelava no chuveiro proximo, Ximo, recitando Os Lusíadas: Lusiadas: ‘As ‘As armas e os barões baroes assinalados’... assinalados’... A água agua jorrava com corn forte rumor, alagava o chão; chao; diversas torneiras abertas, resfôlegos, resfolegos, gente a esfregar-se, esfregar—se, magotes conversando àa porta, aguardando a vaga. O 0 voV0zeirão zeirao dominava o barulho: ‘E ‘E também tambe’m as memórias memorias gloriosas daqueles reis que foram dilatando a fé, fe, o império, imperio, a uretra’... uretra’ Dei uma gargalhada, ouvi ouVi este comentário: – ‘Hoje comentario: — ‘Hoje não nao se dilata império impe’rio nem fé. fe’. Essas dilatações dilataeoes vão Vao desadesa— parecendo. Agora o que se dilata ée’ a uretra’. uretra’. Saí. Sai. E enquanto me enxugava, conheci Aporelly, nu, um urn sujeito baixo, de longa barba grisalha, o nariz arrebitado, que uma autocaricatura vulgarizou. (Idem: 47). Nos anos do Estado Novo não nao poderia ser diferente: mesmo nas celas da Casa de Deteneao, ée’ através atrave’s de uma emissora de rádio radio imaginária imaginaria que os presos se comunicam Detenção, ou se distraem. Reproduzem o aparelho teenologico tecnológico que faz parte de seu cotidiano: caneoes, dramatizações dramatizaeoes e notícias noticias compõem compoem a programaeao so canções, programação de uma emissora que só imaginaeao. existe em imaginação.

comega a trabalhar na imprensa carioca, em 1925, 1925, fazendo crônicas crénicas para o recém-fundado Aparício Torelly começa

35 35Aparicio

jornal de Irineu Marinho, O Globo. Com a morte de Irineu, transfere-se, no mesmo ano, ano, para o jornal de Mário Mario Rodrigues, A Manhã. Manhé. No ano seguinte, fundaria seu próprio proprio jornal: periédico humorístico humoristico A Manha (1926-1952). (1926-1952). Rodrigues, jornal: o periódico

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Os acontecimentos são sao convertidos em história historia pela supressão supressao ou subordinação subordinaeao de alguns, pelo realce de outros, pela repetição repetieao de um motivo, variação variaeao do tom e do ponto de vista. – nos textos de outrora Vista. Inúmeras Inumeras estratégias estrategias discursivas são sao utilizadas — e nos textos de agora — – para urdir um enredo. O enredo, que Graciliano compôs compos em suas memórias, memorias, tem por objetivo obj etivo recordar um tempo vivido Vivido e personagens que construíam truiam o mundo. O enredo composto a partir dos vestígios vestigios que o passado lega ao presente procura indícios indicios de uma história historia particular. Como estrutura simbólica, simbolica, a narrativa histórica historica não nao reproduz os eventos que desdes— creve. Ela apenas nos diz àa direção direeao com que devemos pensar acerca dos acontecimenacontecimen— tos, carregando cada urdidura do enredo com valências valencias emocionais diferentes. A narnar— rativa histórica historica não nao imagina as coisas que indica: ela apenas traz àa mente imagens das coisas que indica tal como uma metáfora metafora (White, 1994:107-108). 1994: 107-108). Nas memórias, memorias, por outro lado, a voz narrativa do autor tem o direito indiscutível indiscutivel

de ser ouvida: ouVida: ela interpela o leitor a todo instante, mesmo quando sabemos que o autor, exterior a sua obra, não nao está esta mais entre os vivos. Vivos. Há Ha nas memórias memorias uma espécie espe’cie de imposição próprio texto. imposieao de autoridade da voz narrativa do autor no interior do proprio Memórias do Nas Memo’rias d0 Cárcere, Cdrcere, o lendário lendario jornalista aparece inúmeras inumeras vezes. O sonho de escrever uma biografia, Itararé, ée um biografia, que daria conta das glórias glorias do Barão Barao de Itarare’, projeto discutido com Graciliano. O sonho do jornalista que quer se fazer literato ée escrever um grosso volume, mostrando todas as nuanças nuaneas de sua personalidade. “Ao fundo, Aporelly arrumava cartas sobre uma pequena mesa redonda, “Ao infinita paciéncia. noticias do livro entranhado numa infinita paciência. Avizinhei—me Avizinhei-me dele, pedi notícias que me anunciara antes: a biografia biografia do Barão Barao de Itararé. Itarare. Como ia esse ilustre fidalgo? fidalgo? A narrativa ainda não nao começara, comeeara, as glórias glorias do senhor barão barao conservaconserva— vam-se Vam-se espalhadas no jornal. Ficariam assim, com certeza: o panegirista não nao se decidia a por pôr em ordem os feitos do notável personagem.” (Ramos, op. notavel personagem.” op. cit.: cit: 48) atraVes de um livro alentado ée para o jorna— Construir a imortalidade de sua escrita através jornarealizaeao: a senha para a entrada no mundo da literatura, da qual lista signo de plena realização: a passagem pelo jornalismo ée’ apenas a possibilidade de conseguir conquistar esse etoria em direção direeao àa notoriedade. lugar, ponto na traj trajetória “Volume grosso, um calhau no formato dos de Emil Ludwig. É E a história historia “Volume ampliaoao dos ridículos ridiculos que publiquei na Manha. Vecompleta do homem, a ampliação principios do Barão, Barao, a vida Vida politica, negocios, a maneira como remos os princípios política, os negócios, titulo. Um dia Itararé Itarare’ descobriu uma volumosa ladroeira oficial oficial e adquiriu o título. responsaveis numa longa campanha moralizadora. Aos íntimos intimos denunciou os responsáveis ‘Patifes! Canalhas! Canalhas! Para uma transaeao nao me conexplicou-se: ‘Patifes! transação como essa não

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Vidam’. Enfim Enfim quinhentas páginas paginas grandes. Acho que terei o 0 volume pronto vidam’. nao nos largarão largarao antes”. antes”. (Idem, ibidem) num ano; com certeza não

O projeto, prisão o deixa, segundo os vestígios proj eto, entretanto, nunca se concretizou. A prisao vestigios trazidos até ate nós nos pela narrativa memorável memoravel do velho Graça, Graea, alquebrado, sem forças, forgas,

doente. “Doía-me paciência triste dele, aparentemente alegre. Nao Não passava mal “Doia-me a paciencia o0 dia, mas àa noite, apagadas as luzes, entrava a aperrear-se, aperrear—se, em forte agitação. agitaeao. De repente, erguia-se erguia—se num tremor convulso, batendo os dentes, a arquejar. Isso me dava um sono incompleto. Abandonava o travesseiro, agarrava o doente até Atormentava-me. Iria Aporelly morrer-me ate que ele se acalmasse. Atormentava—me. nos braços? já me achava segubraeos? Por fim fim o meu ato era mecânico: mecanico: ao despertar ja segu— ro a ele, tentando um socorro impossível”. (Idem) impossivel”. Quando sai da prisao, prisão, às jornal que ele publica ha há as vésperas Vesperas do Natal de 1936, 1936, o jornal mais de 10 10 anos está esta fechado. Com a ajuda dos amigos reabre A Manha, mas com o período censório periodo censorio do Estado Novo, no ano seguinte, o jornal desaparecerá desaparecera de circulação Diário de Notz'cias. Notícias. eao mais uma vez. Aporelly vai então entao trabalhar como cronista no Didrio Em 1939, 1939, ée novamente preso e a partir daí, dai, até ate o 0 final final do Estado Novo, esse seria um Vida. fato rotineiro em sua vida.

Entrando em novos tempos... OuVidor coloca no cenário cenario de Lagos Um grito do jornaleiro na rua do Ouvidor Laços de Familia Família o jornal A Noite, principal vespertino do Rio de Janeiro, até ate’ o 0 início inicio dos anos 1940. 1940. O jornal, na descrição também em múltiplas descrieao de Clarice Lispector, aparece tambe’m mfiltiplas representaeoes, findar os tações, indicando um novo tempo que se inicia para as publicaeoes publicações ao findar 1940. “A “A Noite! anos 1940. Noite! Gritou o jornaleiro ao vento brando da rua do Riachuelo, e arrepiou—se pressagiada.” cronica “Devaneio “Devaneio e alguma coisa arrepiou-se pressagiada.” Mas adiante, na mesma crônica rapariga” descreve: “Deitou-se, “Deitou—se, abanava-se abanava—se impaciente com um embriaguez de uma rapariga” jornal a farfalhar no quarto.” quarto.” descrieao, deslocado da função fungao da leitura, ressurge Mas o jornal que aparece nessa descrição, relaeao intrínseca intrinseca leitor/leitura. Como leitura parti— em diversas outras, instaurando a relação partilhada, coletiva, pfiblica. pública. Como leitura que se materializa pela imagem e pela imagem representaeao do real. induz o leitor a pensar e a sentir a representação “Os bancos sempre têm tém lugar para mais um: ée só so pedir que se afastem e “Os as vezes deem um cantinho. Os que leem jornal, quando acabam uma folha, às História Cultural da Imprensa —

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oferecem página lida. Eu sempre oforocorn ao outro a pagina sompro aceito. acoito. E, embora ombora me mo sente sonto no banco de tarde, ja já me do tardo, mo foi oferecido oforooido o caderno cadorno B do Jornal do Brasil.” Brasil.” (Lispector, (Lispoctor, 1975) 1975) O hábito páginas ja já lidas para que habito de do partilhar a leitura loitura do jornal, oferecendo oforocondo paginas quo outros também praça, inditambom o façam faoam eo a descrição doscrioao de do que quo isso se so passa num banco de do praoa, indi— cam uma sociabilidade práticas de sociabilidado comum às as praticas do leitura loitura na cidade. oidado. Na descrição dosorioao seguinte, soguinto, mais uma vez voz os suplementos suplomontos dos jornais, que quo ganham importância importancia nos anos 1960, 1960, aparecem. aparocom. A fotografia fotografia em om tamanho real roal da Pequena Poquona Flor, uma mulher mulhor de do quarenta quaronta eo cinco centímetros, periódico. O realismo procontirnotros, trazia o inesperado inosporado para o poriodico. roalismo da imagem imagom pro— duz sensações pelo fato de ter sido publicada em sonsaooos de do aflição, aflioao, ainda mais Inais polo do tor orn tamanho natural. A leitura – mas uma leitura loitura dominical no ambiente ambionto privado — loitura igualmente igualmonto partilhada eo complementada – provoca sensações oomplomontada pelo polo comentário oomontario de do um outrem outrom — sonsaooos que quo induindu— zem zom ao esquecimento. osquocimonto. “Marcel “Marcol Petre Potro defrontou-se dofrontou-so com corn uma mulher mulhor de do quarenta quaronta eo cinco centímeoontimo— tros, madura, negra, nogra, calada. Escura Esoura como um urn macaco. macaoo. Informaria ele olo a imprensa pequeno concubino. impronsa eo que quo vivia ViVia no topo de do uma árvore arvoro com corn seu sou poquono A fotografia fotografia da Pequena Poquona Flor foi publicada no suplemento suplomonto colorido dos jornais de do domingo, onde ondo coube ooubo em om tamanho natural. Enrolada num pano, com a barriga em preta, os olhos fundos, os om estado ostado adiantado. O nariz chato, a cara prota, pés Nesse domingo, num apartamento, pos espalmados. ospalmados. Pareceria Parocoria um urn cachorro. Nosso apartarnonto, uma mulher, mulhor, ao olhar no jornal aberto aborto o retrato rotrato de do Pequena Poquona Flor, não nao quis olhar uma segunda – Pois olhe – declarou sogunda vez voz ‘porque ‘porquo me mo dá da aflição’. aflioao’. — olho — doclarou de do repente roponto uma velha, Deus volha, fechando fochando o jornal com decisão, dooisao, pois olhe, olho, eu ou só so lhe lho digo uma coisa: Dous sabe sabo o que quo faz.” faz.” (A Menor mulher do d0 mundo. In: Lispector, Lispoctor, 1975) 1975) Mas os periódicos também servem poriodioos tambo’m sorvom para informar sobre sobro o mundo. Os anúncios anunoios fúnebres têm para Olímpico, personagens principais de funobros torn Olimpioo, um dos porsonagons do A hora da estrela, a funoao de do fazê-lo fazo—lo poroorror oomitorios em om busca de do sensações. sonsaooos. Lê Lo sobretudo sobrotudo O 0 Dia, função percorrer os cemitérios jornal popular eo de do grande grando circulação circulaoao a partir da década docada de do 1960, 1960, eo que quo destaca dostaoa em om seu sou notioiario também tambom os crimes crimos eo as desgraças dosgraoas que quo atordoam a cidade. oidado. Olímpico, Olimpico, diante dianto da noticiário informaoao que quo o jornal lhe lho transmito, ontorro de do desconhecidos, dosconhooidos, produz uma ação: aoao: informação transmite, o enterro porcorro os cemitérios oomito’rios em om busca da emoção omooao real roal eo verdadeira, vordadoira, diante dianto da dor alheia. alhoia. percorre “Olimpioo era ora macho de do briga. Mas fraquejava fraquoj ava em om relação rolaoao a enterros: ontorros: às as “Olímpico vozos ia trés vozos por semana somana a enterro ontorro de do desconhecidos, dosconhooidos, cujos anúncios anunoios vezes três vezes saiarn nos jornais eo sobretudo sobrotudo no O 0 Dia; eo seus sous olhos ficavam ficavam cheios choios de do lágrilagrisaíam fraquoza, mas quem quom não nao torn Somana em om que quo não nao havia haVia mas. Era uma fraqueza, tem a sua. Semana ontorro, era ora semana somana vazia desse dosso homem homom que, quo, se so era ora doido, sabia muito bem born o 0 enterro, quo queria.” quoria.” (Lispector, (Lispoctor, 1998:70) 1998:70) que

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Tal como Olímpico também Macabéa, Olimpico tambem Macabea, a heroína heroina da narrativa, tem uma relação relacao páginas dos toda especial com os meios de comunicação. comunicacao. Os anúncios anuncios coloridos das paginas velhos jornais despertam sua imaginação, imaginacao, seu desejo de consumo, múltiplas multiplas sensasensa— ções. coes. Já Ja ouvir, ouVir, horas a fio, fio, o 0 rádio radio que pinga o tempo em “som “som de gotas” gotas” faz com que adquira ensinamentos que “talvez “talvez algum dia viesse Viesse precisar saber”. saber”. “Todas “Todas as madrugadas ligava o 0 rádio radio emprestado por uma colega de moradia, Maria da Penha, ligava bem baixinho baiXinho para não nao acordar as outras, ligava invariinvari— avelmente para a rádio radio relógio, relogio, que dava a hora certa e cultura, e nenhuma música, – cada gota de minuto que musica, só so pingava em som de gotas que caem — passava. E sobretudo esse canal de rádio radio aproveitava intervalos entre as tais gogo— – ela adorava anúncios. tas de minuto para dar anúncios anuncios comerciais — anuncios. Era a rádio radio perfeita pois também tambe’m entre os pingos de tempo dava certos ensinamentos dos quais talvez algum dia viesse Viesse precisar saber. Foi assim que aprendeu que o ImperaImpera— dor Carlos Magno era na terra dele chamado de Carolus. Verdade que nunca achara modo de aplicar essa informação. informacao. Mas nunca se sabe, quem espera sempre alcança. alcanca. Ouvira OuVira também a informação informacao de que o único unico animal que não nao cruza com filho filho era o 0 cavalo. — – Isso, moço, moco, ée indecência, indecéncia, disse ela para o 0 rádio.” radio.” (Lispector, 1998:37) 1998:37) Na narrativa de Clarice Lispector observa-se observa—se que Macabéa, Macabea, a protagonista da hishis— tória, estabelece com o0 rádio toria, radio uma relação relacao extremamente particular. Fala com o aparelho, como se tivesse dialogando com alguém, alguem, tal a proximidade que o meio de comucomu— nicação público: o0 rádio nicacao denota para o publico: radio se transforma na companhia imaginada no momento de solidão. solidao. De madrugada, tem como única unica companhia o som que sai do aparelho. Mas Macabéa escuta uma emissora que marca invariavelmente o tempo, em “gotas “gotas de minuto”, minuto”, como metaforicamente particulariza a escritora. Nesse pequeno trecho observamos uma relação relacao particular da personagem com o

Não o0 tempo cronológico, tempo. N50 cronologico, mas o que emerge da narrativa pelas marcas sensod0 Escrivdo riais que o texto produz. Se em Recordagfies Recordações do Escrivão Isaz’aS Isaías Caminha, é a luz a d0 Hospicio bico de velas que indica a presenca presença da noite, se em Didrio Diário do Hospício o fato de chama-lo para jantar que mostra o 0 final final do dia, em Hora da Estrela, o tempo Misael chamá-lo cronologico ée perfeitamente demarcado. É E de madrugada que Macabéa Macabe’a escuta uma cronológico radio. Mas a Rddio emissora de rádio. Rádio Relo’gio, Relógio, escolhida por ela, tem a propriedade de esta passando, como que a mostrar para ela que o indicar a cada segundo que o tempo está tempo se esvai como gotas, ao mesmo tempo em que nos intervalos oferece conheciimaginacao. O anúncio anuncio faz com que ela ingresse no mundo da fantasia (“ela (“ela mento e imaginação. anuncios”), enquanto a fala do locutor informa curiosidades e abre a possibi— adorava anúncios”), possibiatrave’s de uma experiência experiéncia temporal fictícia, ficticia, lidade de adquirir conhecimento. Assim, através a narrativa vai produzindo a persuasao persuasão do leitor. História Cultural da Imprensa —

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Através dessas marcações também o tempo interior de cada Atraves marcacoes temporais, visualiza-se Visualiza—se tambe’m um dos personagens. Para Macabéa, que na solidão solidao noturna escuta o “pingo “pingo do tempo”, po”, a marcação marcacao incessante dos minutos leva seu pensamento para longe, construindo sua vida Vida também tambe’m àa medida que adquire conhecimento. Um conhecimento que talvez “algum “algum dia viesse Viesse precisar saber”. saber”. Nessa narrativa existem, portanto, múltiplos multiplos tempos: a experiência experiencia temporal concreta da personagem, ou tempo cronológico, o tempo monumental marcado pelo som cronologico, da rádio radio relógio relogio e o seu tempo interior. A hora para Macabéa Macabea não nao ée apenas o ruído ruido de um tempo que inexoravelmente passa pela marcação marcacao que escuta no rádio. radio. A hora para Macabéa também o devaneio que os anúncios neMacabe’a ée tambe’m anuncios produzem e a concentração concentracao que ne— cessita ter para adquirir conhecimento. A ficção ficcao literária literaria tem, pois, a capacidade de heroi-narrador que persegue uma certa busca de si mesmo, cujo objetivo criar um herói-narrador ultimo ée’ precisamente a dimensão dimensao do tempo. último “Mas tinha prazeres. Nas frígidas frigidas noites, ela, toda estremecente sob o “Mas lençol lencol de brim, costumava ler àa luz de vela os anúncios anuncios que recortava dos jornais velhos do escritório. escritorio. É E que fazia coleção colecao de anúncios. anuncios. Colava-os Colava—os no álbum. album. Havia HaVia um anúncio, anuncio, o mais precioso, que mostrava em cores o 0 pote aberto de um creme para pele de mulheres que simplesmente não nao eram ela. Executando o fatal cacoete que pegara de piscar os olhos, ficava ficava só so imagiimagi— nando com delícia: delicia: o creme era tão tao apetitoso que se tivesse dinheiro para comprá-lo compra-lo não nao seria boba. Que pele, que nada, ela o comeria, isso sim, às as colheradas no pote mesmo.” mesmo.” (Idem: 38)

Macabéa, também leitora de jornais. jornais. Toma em suas Macabe’a, além ale’m de ouvinte ouVinte de rádio, radio, ée tambem mãos – pouco importam o titulo, título, a linha maos os jornais velhos que encontra no escritório escritorio — editorial e as notícias – e recorta os anúncios noticias — anuncios coloridos. O que lhe importa ée a beleza dos anúncios, técnicas de impressão. anuncios, possibilitada pelas modernas te’cnicas impressao. Esses recortes aleatorios pertencem agora a outro tipo de suporte: fazem parte de seu álbum. album. De aleatórios relé cada um deles e o mais precioso ée’ aquele que mostra um creme noite, sozinha, relê construcao de outras imagens e de para pele. Cada uma daquelas imagens favorece a construção multiplas interpretações interpretacoes no universo de Macabéa. Macabe’a. O creme de beleza ée’ para ela “ape“apemúltiplas titoso”, tão tao apetitoso que seria capaz de comê-lo. come—lo. titoso”, ficcionais, entendidos aqui como restos de um passado Esses trechos de textos ficcionais, ate’ o 0 presente, indicam sob o ponto de vista Vista de uma história historia da imprenque chegam até comunicacao — radio sa, que a partir do desenvolvimento de novos meios de comunicação – como o0 rádio decada de 1930, 1930, a televisao 1950 e a proliferacao na década televisão nos anos 1950 proliferação de meios impressos impressao —, ha a incorporação incorporacao das mensagens e dos com amplas possibilidades de impressão –, há midiaticos de tal forma junto ao publico, apelos midiáticos público, que os aspectos mais cotidianos da

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vida pela centralidade Não éo’ mais apenas Vida passam a ser sor regulados rogulados pola contralidado da mídia. midia. Nao aponas a questão quostao do podor poder da mídia produção de midia que quo está osta em om foco. O que quo está osta em om jogo éo a produoao do novas sociabilidades tecnológicos que relações sooiabilidados reguladas roguladas por estes ostos aparatos tocnologioos quo instauram rolaooos dialógicas produzem subjetividade. dialogicas eo produzom subjotiVidado. Os corpos oorpos passam a ser, sor, de do maneira manoira quase quaso que quo simbiótica, pelas relações simbiotica, afetados afotados polas rolaooos de do comunicação. comunicaoao. Em todos os lugares, lugaros, o 0 rádio, radio, a televisão, os jornais, as revistas toloVisao, roVistas inserem-se insorom—so na vida. Vida. Deitada Doitada no quarto, Macabéa Macaboa não nao se praça, a leitora so sente sonto solitária solitaria por que quo dialoga com o 0 rádio. radio. Sentada Sontada na praoa, loitora recebe rocobo de do um urn outro uma folha de do jornal para também tambom ler. lor. Olímpio Olimpio sabe sabo das informações informaooos eo produz a partir de do sua leitura loitura individual uma ação aoao concreta. oonorota. A voz que quo vem vorn do rádio radio restabelece rostabolooo a oralidade oralidado eo a vocalidade vocalidado das relações rolaooos com os meios moios que quo nunca nunoa deixaram doixaram de do existir. oxistir. A voz que televisão reproduz quo vem vom da toloVisao roproduz em om imagem imagorn um urn mundo como representância. representdncia. A vida Vida transporta-se para a mídia transporta—so midia eo os meios moios de do comunicação comunicaoao encerram oncorram a vida. Vida. “A – compro ou não? “A Rádio Radio Relógio Rologio me mo fascina. Os eletrodomésticos olotrodomo’sticos — nao? Eles Elos mandam que paupérrima. Mas estou quo eu ou compre. compro. Compro então. ontao. Fico paupo’rrirna. ostou sendo sondo moderna, Anunciam religião também. Deve-se dorna, éo o que quo vale. valo. Anunciarn roligiao tambom. Dovo-so ouvir ouVir o pastor tal eo tal. Fico religiosa, já acreditava protegida polo pelo anúncio roligiosa, aliás alias ja acroditaVa em oIn Deus. Dous. Me Mo sinto protogida anuncio eo por Deus. Dous. E a rádio radio relógio rologio pinga os minutos. Compro móveis movois na casa oasa tal eo tal. E o supermercado? preciso, até supormorcado? Encho Enoho o meu mou carinho oarinho de do coisa ooisa das quais não nao prooiso, ato a boca booa do carrinho. Depois tenho direito Dopois não nao tonho diroito para pagar. Abro o jornal, quero quoro me mo refurofu— giar nele. nolo. Mas eis ois que quo anunciam dois apartamentos apartamontos por andar. Que Quo faço?... faoo?... A propaganda me mo entra ontra em om casa. Mandam-me Mandam-mo uma espécie ospo’cio de do aspirina para minhas dores tenho dores pílulas. doros de do cabeça. cabooa. Sou sadia, não nao tonho doros de do cabeça, cabooa, mas tomo as pilulas. Assim quer quor Deus. Dous. E o mundo... Inundo... Estou arruinada mais Inais feliz. foliz. Sou uma mulher mulhor que quo compra tudo. E bebe Lispector, 1975) bobo tudo que quo anunciam”. anunciam”. (“Contra (“Contra veneno”. vonono”. In: Lispoctor, 1975) Os meios personagem imaginado, fornemoios de do comunicação, comunioaoao, na visão Visao de do mundo rnundo do porsonagom forno— cem publicidade corn refúgio, rofugio, induzem induzom comportamentos, comportamontos, produzem produzom inserção insoroao no mundo. A publioidado quo jorra das paginas omissoos, sobretudo, sobrotudo, a partir do crescicrosci— que páginas das publicaooos publicações eo das emissões, monto de do importância importanoia econômica oconomioa dos meios, moios, pela pola sua inclusão inclusao junto ao publico, mento público, coloom discussão discussao a questão quostao do consumo. ca em ficcional, cada um desses dossos toxtos sao a rigor narrativas históricas, historicas, Como narrativa ficcional, textos são polo simplos fato de do que quo ambos os modos narrativos — historico eo o ficcional ficcional — pelo simples – o histórico – invariavolmonto a vida Vida cotidiana para a produoao Do uma experiênoXporién— utilizam invariavelmente produção do toxto. texto. De litorato produz um urn toxto quo espelha ospolha uma realidade roalidado pro—textual. Con— cia no mundo, o literato texto que pré-textual. Contar nada mais Inais éo do que quo transformar algo de do que quo se so tom conhocirnonto em orn algo dizível, diziVol, tem conhecimento ostabolooondo entre ontro um urn eo outro momento rnomonto mediações modiaooos simbólicas. simbolicas. Cada uma dessas dossas estabelecendo modiaooos fala de do um urn mundo rnundo existente, oxistonto, transportando o discurso comum cornurn sob a forma mediações do texto, toxto, que quo nada mais éo’ do que quo imitação imitaoao da vida. Vida. de História Cultural da Imprensa —

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2a P PARTE 2ª ART E

VI. “Cinquenta “Cinquenta anos em cinco”: cinco”: Consolidando o0 mito da modernização modernizaeao (1950-1960)

“Sou “Sou da imprensa anterior ao copy-desk. (...) Na redação redaeao não nao havia haVia nada da aridez atual e pelo contrário: – era uma cova de delícias. contrario: — delicias. O sujeito ganhava mal ou simplesmente não nao ganhava. Para comer, dependia de um vale utópiutopico eo de cinco ou dez mil-réis. Mas tinha a compensação da glória. pensaeao gloria. Quem redigia um atropelamento julgava-se julgava-se um estilista. E a propria própria vaidade o remunerava. Cada qual era um pavão urn paVao enfático. Escrevia na véspera enfatico. EscreVia Vespera e no dia seguinte via-se Via-se impresso, sem o retoque de uma vírgula. Virgula. Havia volúpia autoral inenarrável. HaVia uma volupia inenarravel. E nenhum estilo era profanado por uma emenda, jamais. Durante várias Varias gerações geraeoes foi assim e sempre assim. De repente explodiu o copy-desk.” copy-desk.” 1977:64) (Rodrigues: 1977:64)

O slogan do Governo Juscelino Kubitschek, que pretendia modernizar o Brasil, construoao do pais fazendo o trabalho de construção país que levaria cinquenta anos em apenas cinco, eonta das redações redaooes dos principais jornais resume o processo que tomou conta jornais do Rio de decada de 1950. 1950. De acordo com o espírito espirito do tempo dos anos JK, em que Janeiro na década modernizaoao são sao palavras de ordem, tambem diarios desenvolvimentismo e modernização também os jornais jornais diários apressarn—se em se transforrnar mais importantes da cidade apressam-se transformar e, o mais importante, construir corno marco fundador de transformaooes aquele momento como transformações decisivas no campo jornalistico. jornalístico. A década de’cada de 1950 1950 passa àa história historia pelas narrativas dos proprios próprios homens de imprensa como o momento mais singular de sua traj etoria, quando uma série serie de mudantrajetória, oas introduzidas no processo de produeao diarios transforma inteiramente ças produção dos jornais jornais diários História Cultural da Imprensa —

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a face do jornalismo que se faz no pais. país. Começa Comeoa aí, ai, no dizer desses atores sociais, a nova imprensa brasileira. “O – o0 copy“O Pompeu trouxe para cá ca o que se fazia nos Estados Unidos — copy— desk. Começava Comeeava a nova imprensa. Primeiro, foi só so o 0 Diário Diario Carioca; pouco depois, os outros, por imitação, imitaeao, o acompanharam. Rapidamente, os nossos – a objetividade. Daí jornais foram atacados ataeados de uma doença doenoa grave: — Dai para o idiota da objetividade – o idiota obj etividade seria um passo. (...) Eis o que eu queria dizer: — da objetividade inunda as mesas de redação redaeao e seu autor foi, mais uma vez, Pompeu de Souza. Alias, Aliás, devo dizer que o copy-desk copy—desk e o idiota da objetividaobj etivida— de são sao gêmeos gémeos e um explica o outro”. outro”. (Rodrigues, 1977:65. 1977:65. Grifos nossos) jornalisA crítica critica caústica caustica que Nelson Rodrigues dirige às as mudanças mudanoas introduzidas no jomalis36 no sentido de transformar as notícias mo a partir da reforma do Didrio Diário Carioca Carioca36 transforrnar noticias produzindo a aura de neutralidade e objetividade, obj etividade, na verdade uma estratégia estrategia de poder, aparece nessas memórias memorias como um momento de singular importância importancia e, mais do que isso, como sendo obra de alguns poucos jovens jomalistas, jornalistas, visionários visionarios de um novo tempo. Na verdade, todo o processo de modernização modernizaoao do jornalismo da década decada de 1950 1950

sedimentou uma série já vinham sendo implementadas desde a pri— priserie de mudanças mudaneas que ja meira década de’cada do século seculo e que encontra na conjunta história historia dos anos 1950 1950 eco favoráfavora— vel ao discurso políticas brasileiras diseurso da neutralidade. Na década decada seguinte, as condições condieoes politieas – o Golpe de 1964 – consolidariam de vez o processo de — 1964 e a censura àa imprensa — transformação transformaeao do jornalismo carioca. carioea. O que se procura construir naquele momento ée a autonomização autonomizaeao do campo jornalístico em relação jornalistico relaeao ao literário, literario, fundamental para a autoconstrução autoconstruoao da legitimidalegitimida— de da própria propria profissão. profissao. Assim, as reformas dos jornais da década de 1950 1950 devem ser lidas como o momento de construção, próprios profissionais, do marco fundaconstrueao, pelos proprios funda— funda— dor de um jornalismo que se fazia moderno e permeado por uma neutralidade fundamitica da objetividade — mental para espelhar o mundo. A mítica – imposta pelos padroes padrões autonomo e reconhereconhe— redacionais e editoriais — – ée fundamental para dar ao campo lugar autônomo unica atividade capaz de decifrar deeifrar o mundo cido, construindo o jornalismo como a única para o leitor. (2000z8), a modernização modernizaeao gráfica, grafica, ediedi— Como enfatiza Ana Paula Goulart Ribeiro (2000:8), linguistica e empresarial dos jornais diários diarios do Rio de Janeiro representa para a torial, linguística instauraeao de um lugar institucional que lhe permite, a partir de então, entao, imprensa a instauração

36 O Diário Diério Carioca foi fundado em 1928 por José Eduardo Macedo Soares, Soares, sendo vendido, vendido, logo após apés a Revolugao Constitucionalista de São 8510 Paulo, a Horácio Horacio Gomes Leite de Carvalho Júnior. JUnior. Uma breve história histéria Revolução periédico pode também ser encontrada em Ribeiro, 2000. 2000. do periódico

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enunciar as verdades dos acontecimentos de forma oficializada oficializada e se constituir como registro factual por excelência. jornaexceléncia. Para a pesquisadora, a partir desse momento, o jorna— lismo se afirma afirma como fala autorizada em relação relacao àa constituição constituicao do real. O 0 discurso jornalístico se reveste da aura de fidelidade jornalistico fidelidade aos fatos, o que lhe confere considerável consideravel 37 . poder simbólico simbolico37. Portanto, analisar as transformacoes transformações por que passa a imprensa no periodo período ée visualizar o discurso memorável dos que se autodenominam agentes dessas mudanças Visualizar memoravel mudancas e promover uma discussão discussao em torno das relações relacoes imprensa e poder. Ao narrar as ações também A0 acoes que pretensamente se passam no mundo, espelhando tambe’m uma dada realidade para o leitor, os jornais criam contextos para a descrição, referendescricao, referen— dando convenções convencoes que passam a ser interpretadas significativamente. significativamente. Estado, hegemonia e cultura são sao dimensões dimensoes dos mecanismos de exercício exercicio de dominação dorninacao de classe e reprodução reproducao social. Por outro lado, ao implementar — – através parâmetros que são atrave’s da eleição eleicao de parametros sao construídos – a imagem peculiar de construidos como sendo os da modernização modernizacao da imprensa — intérpretes profissão e interpretes isentos e objetivos obj etivos do mundo social, os jornalistas idealizam a profissao o papel que devem ter na sociedade. Essa imagem, divulgada ao extremo e disseminada através atrave’s de múltiplos multiplos discursos, se constitui na memória memoria do grupo forjada por ele mesmo: um jornalismo moderno que entra numa nova fase profundamente diversa de todos os momentos anteriores. Os jornais, ao priorizarern, priorizarem, a partir daí, dai, um conteúdo conteudo enfeixado pela ideia de imim— parâmetros do lide e na edição, parcialidade contida nos parametros edicao, no qual o corpo de copy-desk ganha destaque, e ao prornoverem promoverem a padronizacao padronização da linguagem, constroem para a imprensa o espaço espaco da neutralidade absoluta. Com Corn isso, passam a ter o 0 reconhecimento reconhecirnento do publico público como lugares emblemáticos emblematicos para a difusão difusao da informação, informacao, ainda que a carga opinativa não publicações. A campanha da imprensa, em nao tenha sido alijada alij ada das publicacoes. 1954, quando do suicídio suicidio do presidente Getúlio Getulio Vargas, talvez seja o exemplo mais 1954, emblematico da sua vinculação Vinculacao ao campo político politico e de seu reconhecimento como emblemático forca dirigente superior mesmo aos partidos e as facções faccoes politicas. força políticas. corno força forca dirigente superior, mesmo que em função funcao de objetiobj etiOs jornais atuam como Vos específicos especificos se liguem a um urn ou a outro grupo e, dessa forma, exercem o papel de vos organico. Daí Dai tambe’rn constru— estado maior intelectual do partido orgânico. também ser fundamental a constru-

37 O processo de modernização modernizacéo da imprensa carioca na década de 1950 é exaustivamente estudado por Ana Paula Goulart Ribeiro em sua tese de doutorado, um trabalho completo e definitivo para o entendimento dos midia no período. periodo. Os dados factuais e muitas das reflexões reflexées desse capítulo capitulo processos culturais envolvendo a mídia construidos tendo como referência referéncia esse excelente trabalho. trabalho. Cf. Cf. Ribeiro, Ribeiro, Ana Paula Goulart. Goulart. Imprensa e foram construídos Histéria. Imprensa do Rio de Janeiro de 1950. 1950. Rio de Janeiro: ECO-UFRJ, ECO-UFRJ, 2000. 2000. Tese de Doutorado. Doutorado. História.

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ção cao da imagem de independência independencia e neutralidade. Quem desenvolve essa ideia da imim— prensa atuando como “partido” “partido” e como um “estado “estado maior” maior” do partido orgânico organico ée Gramsci. Em Maquiavel, Maquiavel, a polz'tica política e o0 Estado Moderno, o pensador italiano destaca a frequência frequéncia com que esses veículos veiculos reafirmam reafirmam a sua independência independencia para serem recoreco— nhecidos pelo publico público como força forca superior dirigente. No mesmo texto, Gramsci afirafir— ma que um jornal (ou um grupo de jornais) pode ser também “partido”, “partido”, “frações “fracoes de partido” partido” (Gramsci, 1991:22-23). partido” ou “de “de um determinado partido” 1991 :22-23). Como “partido”, política, mas tambem também de propaganda, “partido”, desempenha não nao só so função funcao politica, de polícia, política ée’ indireta, pois há policia, de influência influéncia moral e cultural. A função funcao politica ha sempre outros partidos, com os quais travam extensa polemica polêmica e, às as vezes, luta explícita. explicita. Gramsci identifica identifica duas formas de partido: o constituído constituido pela elite, que tem como função funcao dirigir, do ponto de vista Vista de uma ideologia geral, um grande movimento de partidos afins, afins, na verdade, frações fracoes do mesmo partido orgânico; organico; e o partido de massas que possui fidelidade fidelidade genérica gene’rica ao centro político. politico. Percebendo como fundamentais para a sua existência três elementos básicos –o existencia trés basicos — público, publico, a força forca coerciva, centralizadora e disciplinadora e o elemento de articulação articulacao que possibilita o contato moral e intelectual —, –, ée possivel possível ver, pois, as ações acoes no sentido de construir uma imprensa moderna —– cuja tecnica técnica a faz objetiva e neutra — – como movimentos de um partido orgânico, organico, cuja principal função funcao ée promover a articulação articulacao entre os grupos dominantes, que centralizam, disciplinam e organizam ideologicamente as ideias, e o publico público para o qual devem ser difundidas. O jornalista, jornalista, como elemento responsável responsavel por esta articulação articulacao intelectual, ganha notoriedade não nao apenas em função funcao do poder simbólico simbolico que desempenha, mas do poder de fato que detém. dete’m. Cada grupo social, segundo Gramsci, cria para si seus intelectuais orgânicos, organicos, sendo necessário necessario ver o 0 papel que estes exercem no conjunto do sistema de relações relacoes sociais. Esses intelectuais se transformam em executores do grupo dominante, exercendo funções político. funcoes subalternas da hegemonia social e do governo politico. atencao para a verdadeira divisão diVisao de trabalho O pensador italiano chama ainda a atenção gradacao de qualifiqualifi— existente dentro da categoria de intelectuais, havendo toda uma gradação cacoes, sendo que algumas não nao tem atribuicao diretiva e de organização. organizacao. cações, têm nenhuma atribuição E este o papel do jornalista, especialmente os que ocupam o núcleo nucleo dirigente, É organico. Nao funcao explícita explicita junto ao Estado, como intelectual orgânico. Não exercendo nenhuma função nao estando diretamente atrelado ao comando politico nao participando não político e, portanto, não acoes, como organizador, ée claramente executor do grupo dominante, mediatizando suas ações, decodificando o seu simbolismo, divulgando-as e buscando, principalmente, o 0 concon— decodificando espontaneo da populacao 198923-23). senso espontâneo população (Gramsci, 1989:3-23). A capacidade de tornar explícito, explicito, público, publico, visível Visivel e oficial oficial aquilo que poderia perexperiencia individual, representa considerável consideravel poder, constituindo manecer como experiência

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dessa próprio grupo. E na luta pcla pela dcssa forma o senso scnso comum, o consenso conscnso explícito explicito do proprio imposição poder proporimposicao de dc uma visão Visao legítima legitima do mundo social, os jornalistas detêm dctém podcr cional ao seu próscu capital, isto é, na razão razao direta dircta ao reconhecimento rcconhccimcnto que quc recebem rcccbcm do propúblico. Se, prio grupo e do pfiblico. Sc, além alc’m dessas dcssas relações rclacocs explícitas, cxplicitas, ainda considerarmos a língua lingua não nao apenas apcnas como código, codigo, mas como sistema sistcma simbólico, simbolico, a inter-relação inter-rclacao entre cntrc a produção do discurso ec a questão teórica do podcr poder ainda é mais evidente. producao questao tcorica cvidcntc. O podcr poder da palavra é o0 de dc quem qucm detém detc’m essa cssa palavra, ou seja, scja, não nao só so o 0 discurso, mas também tambc’m a formalização formalizacao da maneira de dc falar. Por outro lado, detê-la dcté—la significa significa criar um sistema sistcma de dc codificação, codificacao, intencionalmente intcncionalmcntc produzido, que possibilita a ordenação ordcnacao ec a manutenção própria ordem manutcncao da propria ordcm simbólica. simbolica. Quando a isso se sc soma o fato de dc codificar codificar na forma escrita, cscrita, isto é, tornando conceiconcei— públicos, conhecidos tos, ideias idcias ec a língua lingua oficial oficial visíveis, Visivcis, pfiblicos, conhccidos de dc todos, estabelece-se cstabclecc-sc uma distinção papel ec todos os outros que possuem distincao entre cntre a quem é delegado dclcgado esse cssc papcl quc não nao possucm essa cssa função. funcao. O autor, no verdadeiro público aquilo que parece confuso. verdadciro sentido, scntido, é quem qucm torna pl’iblico quc parccc É E alguém com a infinita infinita capacidade capacidadc de dc publicar o implícito implicito ec assim realizar rcalizar o verdaverda— deiro trabalho de criação. A publicação é um ato de oficialização, por excelência, dciro dc criacao. publicacao dc oficializacao, exccléncia, que quc dcsvendar algo para o pfiblico c, ao mesmo tempo, na legaliza, pois implica divulgar ec desvendar público e, sua homologação, homologacao, através atraVés do consenso conscnso de dc todos para quem qucm se sc revelou. rcvclou. Assim, os jornalistas se sc transformam em cm autores autorcs no sentido scntido empregado emprcgado por essa cssa palavra quando se sc estuda cstuda o processo de dc codificação. codificacao. A eles clcs cabem cabcm não nao só so divulgar, sobrctudo tornar pfiblico rcvelado. As suas relações rclacocs com o podcr Vao, informar, mas sobretudo público ec revelado. poder vão, portanto, além dos limites limitcs das relações rclacocs explícitas cxplicitas com o Estado e6 com grupos que quc

detêm poder político detém o podcr politico num nuIn determinado dctcrminado momento. As relações rclacocs de dc comunicação comunicacao são sao relações rclacocs de dc poder podcr ec a língua lingua como sistema sistcma simbólico simbélico é instrumento de dc conhecimento conhccimcnto ec construção construcao do mundo, sendo scndo suporte suportc de dc poder podcr absoluto, na medida em cm que quc através atraVés codifica o mundo social (Bourdieu, (Bourdicu, 1982 1982 ec 1990). 1990). dela se codifica quc os jornais pretendem pretendcm é não nao apenas apcnas atuar no campo politico, ondc se sc O que político, lugar onde analiscs, comentários, comentarios, conceitos ec acontecimentos, acontccimentos, enen— geram problemas, programas, análises, trc “consumidorcs” devem dcvcm escolher, cscolhcr, mas, sobretudo, sobrctudo, conseguir conscguir mobilização mobilizacao tre os quais os “consumidores” vcz maior Inaior do pfiblico. audiéncia, maior Inaior o seu scu podcr dc divuldivul— cada vez público. Quanto maior a sua audiência, poder de gacao ec a lógica logica da conquista do proprio condizcntc com o 0 mo— gação próprio podcr. poder. E nada mais condizente modc’cada de do 1950 1950 do que quc se sc transformar mais do que quc em porta—vozcs mento social da década porta-vozes da modernizacao, mas em cm seu scu proprio cmblcma, produzindo um jornalismo em cm padrocs modernização, próprio emblema, padrões complctamentc diversos do que quc fora feito fcito até atc’ então, entao, pclo quc completamente pelo menos no discurso com que rcfcrcndam esse cssc processo. Nada melhor Inclhor tambc’m conscguir audiência audiéncia do que referendam também para conseguir cxtrcmo que quc produzem um discurso que quc apenas apcnas espelha cspelha o mundo. E concon— divulgar ao extremo scguir audiência audiéncia é sempre scmprc conseguir conscguir podcr. seguir poder. História Cultural da Imprensa —

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Considerando que as relações relaeoes de comunicação comunicaeao dependem fundamentalmente do que foi acumulado aeumulado material ou simbolicamente pelos agentes envolvidos, envolVidos, ée preciso ainda perceber que está participação efetiva no campo politipolítiesta em jogo não nao somente a participaeao co, mas o uso de uma categoria particular de sinais e, deste modo, da Visao visão e do sentido do mundo social (Bourdieu, 1989:60-72). 1989:60-72).

O mercado jornalistico jornalístico da década No início inicio da década de 1950 1950 circulam no Rio de Janeiro 18 18 jornais diários, diarios, sendo 13 13 matutinos e 5 vespertinos, com uma tiragem global de 1.245.335 1.245.335 exemplares. Em todo o Brasil existem eXistem 230 jornais diários, diarios, com uma tiragem global de 5.750.000 exemexem— plares. (Unesco, 1951) 1951) Entre os que possuem maior poder de difusão, difusao, não nao apenas em função funeao das tiragens mas pela influência política que detêm, Manhã, influéncia politica detem, figuram figuram os matutinos Correio Carreia da Mani/la, O Jamal, Jornal, o Diaria Diário de Notícias, O Democrática e os vespertinos a’e Naticias, 0 Dia e a Luta Demacraz‘ica O Globo, Hora, a Tribuna da Diário Carioca. Glaba, Última Ultima Hara, cla Imprensa e o Diaria Cariaaa. Entre todos esses, apenas quatro são sao recentes: Última Ultima Hora, criada por Samuel Wainer em 1951, Imprensa, fundada por Carlos Lacerda em 1949, Luta DemacraDemocrá1951, a Tribuna da a’a Imprensa, 1949, aaLuta tica e O 0 Dia, ambos de 1954. 1954. Três Trés desses diários diarios estão estao em circulação circulaeao há ha mais de cinquenta anos: o Jamal Jornal do Notícia, fundada em 1894 cla Brasil, criado em 1891, 1891, A Noticia, 1894 e o Correio Manhã, em 1901. Jornal, Carreia da cla Martha, 1901. Os outros surgiram na década de 1920/1930: 1920/1930: O 0 Jamal, fundado em 1919 1919 e adquirido por Assis Chateaubriand, em 1925; 1925; O 0 Globo, Glaba, de 1925; 1925; o Diaria Diário Carioca, Diário de Notícias, de 1930. Cariaca, de 1928 1928 e o Diaria ale Naticias, 1930. Em relação – relaeao às as tiragens observa-se que, entre os matutinos, os jornais populares — O Luta Demacrdtica Democrática — – possuem os números 0 Dia e Lara numeros mais expressivos: em 1958 1958 a tiragem de O Luta Demacraz‘ica Democrática de 117 0 Dia era de 240 mil exemplares e da Lara 117 mil exempla0 Globo, Glaba, com 187 187 mil exemplares, e Última Ultima res. No que diz respeito aos vespertinos, O Hora, 105 mil, possuem a maior difusão. difusao. Observa-se Observa—se tambe’m exceeao Hora, com 105 também que, com exceção 0 Dia e da Luta Demacrdtica, mantém-se de O Democrática, as tiragens de todos os outros matutinos mantêm-se constante ou diminuem ao longo da década.

154 —

“Cinquenta anos em cinco”

TIRAGEM DOS MATUTINOS CARIOCAS (em mil exemplares)

Jornais/Ano

51

52

53

54

55

58

60

Dia’r/o Carioca

45

35

4O

4O

4O

17

17

Jorna/ do Brasil

6O

7O

45

4O

4O

57

59

Correio da Manhé

56

70

70

72

72

57

53

0 Dia

_

6O

90

90

115

240

230

Jorna/ do Commercio

33

6O

20

32

32

-

-

O Jorna/

7O

60

6O

60

6O

-

27

Diério de Not/'c/as

64

55

63



54

47

47

Luta Democrética

_

_

_

20

30

117

130

Fonte: Anudrio Anuário Brasileiro de Imprensa (1950-57) e6 Anudrio Anuário de Imprensa, Imprensa, Rddio Rádio e Televisão Televisdo (1958-60). Apud: Ribeiro, 2000:43 2000243

O Diário Carioca e O Jornal são têm o0 maior decréscimo 0 Didrio 0 Jamal 350 os dois matutinos que tém em suas tiragens: o0 primeiro roda 45 mil exemplares em 1951 número 1951 e em 1960 1960 esse 6556 nfimero se reduz a apenas 17 Jornal inicia a década com 70 mil exempla17 mil exemplares. Já J2’1 O 0 Jamal res e registra em 1960 1960 apenas 27 mil exemplares. No que diz respeito aos vespertinos, observa-se um aumento expressivo das tiraN0 gens de O 0 Globo ao longo da década de 1950 1950 e um decréscimo considerável considerével nos números Diário da Noiz‘e Noite e de A Noticia. Notícia. Os outros jornais mantêm nfimeros do Didrio mantém números nfimeros relativamente estáveis. estéweis. TIRAGEM DOS VESPERTINOS CARIOCAS (em mil exemplares)

Jornais/Ano

1951

1952

1953

1954

1955

1958

1960

U/t/ma Hora

-

7o

85

92

92

105

117

Tribuna da

30

25

25

40

4o

24

18

o G/obo

100

120

100

110

110

187

218

A Noticia

120

130

130

95

60

58

56

D/ério da Noite

95

129

88

75

90

70

40

Imprensa

Televisdo Fonte: Anudrio Anuário Brasileiro de Imprensa (1950-57) e6 Anudrio Anuário de Imprensa, Imprensa, Rddio Rádio e Televisão

(1958-60). Apud Ribeiro (2002:43)

História Cultural da Imprensa —

155

Ribeiro (2000: 64) aponta ainda que ao longo da década decada os vespertinos vão Vao progressivamente adiantando sua hora de circulação. periódicos, como Última circulaeao. Alguns periodicos, Ultima Hara, lanoam a edição edieao matutina, suprimindo progressivamente a vespertina. Outros Hora, lançam como O Diário da Noite antecipam o horário 0 Globo Glaba e o 0 Diana ala Naite horario de fechamento. fecharnento. A transformação eao dos jornais vespertinos em matutinos, segundo a pesquisadora, acentua aeentua ainda mais a concorrência concorrencia entre os jornais cariocas. próprios jornalistas há Na caracterização earaeterizaeao desse mercado mereado pelos proprios ha toda uma urna gradação gradaeao hierárquica publicações a partir do lugar politico político que ocupam hierarquiea da importância importancia das publieaeoes naquele momento. “Se “Se vocês vocés quiserem uma hierarquia, ée o seguinte: havia haVia mais ou menos rnenos 17, Manhã era o0 mais 17, 18 18 jornais no Rio. Certamente, Certarnente, disparado, o Correio Carreia da Martha importante, com político; o Diaria Diário de Notícias era o0 segundo, pela corn mais peso politico; a’e Naticias respeitabilidade. Era um jornal mais duro, menos malicioso. Nos Nós melhoramelhora— mos muito o Diaria Diário de Notícias — – quer dizer, o Odylo e a equipe que ele a’e Naticias levou. Em seguida vinha Jornal, dos Diários Vinha O 0 Jamal, Diarios Associados, que tinha o seu peso; o Diaria Diário Carioca, Cariaca, um jornal muito Inuito vivo, Vivo, muito inteligente, mas de tiragem relativamente pequena. Depois os jornais mais populares: populares: Gazeta de a’e Notícias, O político. Os vespertinos Naticias, 0 Dia, de grande tiragem mas sem sern peso politico. eram princípio, A Naite, Noite, o0 Diana Diário da Noite, um jornal jornal mais eserarn O Globo, Glaba, no principio, a’a Naiz‘e, candaloso, dos Associados, A Natz'cia, Notícia, na área Noite, area popular, Correio Carreia da Naite, jornal dos padres, Vanguarda, Vanguarda, jornal integralista. Entre os matutinos havia haVia também Um tipo tarnbem O 0 Radical, um urn jornal da sarjeta sarj eta do PTB, do George Galvão. Galvao. Urn desclassificado, desclassificado, de baixíssima baixissima extração”. extraeao”. (Depoimento Correia, Villas-Boas. CPDOC–FGV, CPDOC—FGV, p. 13-14) 13-14)

representaeao Lutas por representação rnenos expressivas na época epoca — Cariaca, a Os trés três jornais com tiragens menos – o Diaria Diário Carioca, cla Brasil — eonstruirao a mítica mitica da modernizamoderniza— Tribuna da Imprensa e o Jamal Jornal do – ée que construirão eao, reafirmada reafirmada exaustivamente pelo discurso memorável memoravel dos personagens que se ção, responsaveis por esse processo. Entre eles figuram figuram Alberto Dines, autoapregoam responsáveis Cariaca passaria a história historia como o Pompeu de Souza e Luis Paulistano. O Diaria Diário Carioca obj etivo, respondendo às as perguntas fundamentais do leitor através atrave’s do criador do texto objetivo, 1ide, graças graeas àa ação aeao individual de Pompeu de Souza, que, tomando contato nos Estados lide, norte-arnericana fazia na época, e’poea, trouxera para o Brasil Unidos com o que a imprensa norte-americana inovaoao. O Jamal da Brasil, o 0 responsável responsavel pela segunda revolução revolueao da década decada com corn a inovação. Jornal do rnudaneas implementadas a partir de 1956, 1956, teria realizado sua ampla reforma graas mudanças

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“Cinquenta anos em cinco”

ças poucos visionários. eas ao gênio genio criador e individual de alguns poueos Visionarios. Da mesma forma, a Tribuna da Imprensa, que, ao lado do Didrio Diário Carioca, implementaria normas precisas na redação redaeao através atrave’s de manuais a serem seguidos rigorosamente, implanta a inovainova— ção político Carlos Lacerda. eao graças graeas a determinações determinaeoes emanadas do seu fundador, o politico “Estava já dando ex“Estava a redação redaeao quase formada, com alguns dos futuros redatores ja ex— pediente diário, diario, quando o 0 Carlos preparou e mandou imprimir, numa folha de papel ofício, em corpo 60 (Kabel), a regra dos cinco ofieio, 6O cineo ‘QUE’: ‘QUE’: o quê? que? Quem? Quando? Onde? Por que (e para que), determinando que, na Tribuna, as notícias notioias teriam que ser redigidas respondendo àquelas aquelas perguntas. Tinha inovado, naquela oportunidade, a maneira de se fazer notícia notieia na imprensa brasileira. Na mesa de cada redator foi afixado afixado o impresimpres— so, para que nenhum deles esquecesse a determinação determinaeao do Chefe. Nascia, naquela oporopor— tunidade, o 0 lead. O 0 manual de redação redaeao foi preparado tempos depois e traria, no seu conteúdo, a marca pessoal de Carlos Lacerda” conteudo, Lacerda” (Oliveira, 1966:183). 1966: 183). Assim mais do que a mudança mudanea radical, o que se constrói constroi ée’ o discurso unívoco univoco dos

profissão e transfor— transforjornalistas, identificando identifieando esse momento como singular para a profissao mando a década jornalismo braside’cada de 1950 1950 numa espécie espe’cie de lugar mítico mitico do moderno jornalismo leiro. Entretanto, tal como eomo enfatiza Ribeiro (2002:17), os anos 1950 1950 longe de representarem ruptura são, período de consolidação transformações por que vem sao, a rigor, o periodo consolidaeao das transformaeoes lentamente passando a imprensa desde o início inicio do século XX. A reforma do jornalismo, enfatiza, ée um processo cumulativo eumulativo que incorpora ineorpora experiências experieneias desenvolvidas ao longo de décadas. Se há permanências e continuidades. ha inovações inovaeoes e rupturas, há ha também tambe’m permanéncias jornalismo como período A reforma dos anos 1950 1950 passa, portanto, àa história historia do jornalismo eomo o periodo em que jovens homens da imprensa, inovadores e visionários, Visionarios, transformam, como num passe de mágica, jornalistas”, na magica, o jornalismo que se fazia. São 8510 os OS “verdadeiros “verdadeiros jornalistas”, construção padrões indispenconstrueao discursiva diseursiva que reafirmam, reafirmam, que instauram na redação redaeao os padroes sáveis profissionalismo foi um longo processo empreendisaveis ao profissionalismo. profissionalismo. Mas o profissionalismo empreendi— do pelas empresas jornalistioas jornalísticas e corroborado pelo discurso dos proprios próprios jornalistas. definir a profissao eomo algo que se constrói constroi não nao Para os jornalistas ée fundamental definir profissão como Vinculos a um saber universitário, universitario, para apenas a partir de um saber pratieo, prático, mas com vínculos poderem assim galgar um degrau de importância importaneia na hierarquia das carreiras existenexisten— 38 tes38. tes . Por outro lado, ao serem detentores cada vez mais de um saber que possibilita — –

38 Há Ha que se ter em conta a importância importancia do chamado bacharelismo ilustrado no Brasil, Brasil, que faz com que desde pais fossem visualizados o século XIX somente os bacharéis formados nos tradicionais cursos existentes no país pais e capazes de conduzir a Nação. Nagao. O simbolismo do anel de doutor e do como verdadeiros intérpretes do país nivel superior são sao reafirmados ao longo Iongo de décadas e nos anos 1920 se tornam indispensáveis indispensaveis diploma de nível responsavel direto pela condução condugao do país. pais. Sobre o tema Cf. Cf. Holanda, Holanda, Sérgio Buarque. Buarque. para definir quem seria responsável Raizes do Brasil e Vianna, Oliveira. A Organização Organizagao Nacional, entre outros. outros. Para referência referéncia completa, completa, ver Raízes Bibliografia.

38

História Cultural da Imprensa —

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através práticas profissionais profissionais — – construir um discurso que reflete atraVés de suas praticas rcflete a realidade realidadc social (já (ia que a partir de agora informam com corn isenção isencao o que se passa no mundo), se transformam transformarn em ern atores indispensáveis indispensaveis para tornar visível Visivel esse mesmo mundo para um público pl’iblico cada vez mais vasto. Dessa forma é importante na construção permanenteconstrucao memorável memoravel dos jornalistas, permanentc— mente atualizada por múltiplos mfiltiplos discursos (inclusive o 0 acadêmico), académico), exaltar valores indispensáveis ao bom profissional, no qual um comportamento ético específico pensaveis born profissional, urn especifico se sc sobressai. Assim, o jornalismo é considerado um urn trabalho intelectual, intclcctual, lidando com corn “informações, “inforrnacocs, interpretações, interpretacoes, conceitos e por ter como suporte o texto escrito” escrito” (Ribeiro, 2000:185). Outros adjetivam-no próximo da arte, adj etivam—no como um urn processo criativo proximo artc, com corn fortes aproximaaproxirna— ções coes com a literatura. Outros vão Vao mais além alérn ec acreditam no papel do jornalista como educador. Para Alberto Dines, além ale’m do espírito espirito inconformado, inconforrnado, inquieto ec questionador, o jornalista deve ter em mente que “o ato de informar dcve quc “o dc inforrnar é um processo de dc formação, formacao, de dc conscientização conscientizacao da sociedade. socicdade. Sabe-se Sabe—sc que o processo de dc informar inforrnar é um processo formaforma— dor e, c, portanto, o jornalista, em ern última filtima análise, analise, é um educador” educador” (1986:118). (1986: 1 18). O processo de profissionalização do jornalismo no Brasil e, dc profissionalizacao 6, especificamente, especificamcnte, no Rio de Janeiro, se dá da nas primeiras cinco décadas do século XX (e (6 não nao apenas como num nurn passe de dc mágica magica na década de dc 1950/60), 1950/60), e6 será sera a partir desse dcsse modelo que serão serao construídos profissional, permitindo a conforconstruidos valores valorcs e representações rcpresentacoes sobre o ideal profissional, mação poder de macao de uma dada identidade. identidadc. Os jornalistas, notadamente notadamentc os que possuem podcr dc fala ampliado, arnpliado, passam cada vez mais a construir um urn discurso em ern que as suas represenrepresen— tações práticas, condutas ec tornada tomada de posição, o que permite recotacoes sociais conformam praticas, dc posicao, nhecer nhccer uma dada identidade do grupo. O habitus (Bourdieu, 1987 jornalista — – como um 1987 e 1989) 1989) do jornalista urn certo haver adquirido e permanentemente práticas escolares permanentementc atualizado desde a infância, infancia, nas praticas cscolares (incluindo ai o que passa a ser inculcado na universidade pelos profissionais profissionais que, saindo das redacoes, se constituem constitucrn como corno professores de dc uma pratica especifica) e no ambiente pro— ções, prática específica) profissional — caracteriza—se, ao lado de dc um urn natural estímulo cstimulo ao conflito, conflito, ja fissional – caracteriza-se, já que assim promovcrn a construção construcao da excepcionalidade excepcionalidadc das notícias noticias a cada dia, pela conformapromovem 950 de um lugar de dc produção producao de dc verdades: sejam aquelas que produzem o mundo ção aquclas que definem defincrn o seu scu lugar profissional. social, sejam aquelas profissional. As reformas da década de do 1950, 1950, introduzindo no dizer dizcr dos jornalistas — – a partir da mitica da neutralidade neutralidadc e da objetividade, obj ctividade, a rigor, servem servcm para impor uma técnica — – a mítica representacao dos jornalistas para si mesmos, investindo naquilo que Bourdieu dada representação afirrna ser scr lutas por classificação. classificacao. Cada vez mais procuram produzir represen(1980) afirma tacocs em cm que buscam a construção construcao de uma identidade gratificante gratificante e que quc trazem para tações 0 jornalismo passa a ser identificado identificado como uma espécie espécic eles o reconhecimento social. O dc mandato de dc natureza política politica e6 social. Procuram um urn lugar inteiramente inteirarnente diverso do de

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ocupado oeupado por outros grupos e como corno agentes do campo reivindicam um urn trabalho no qual sobressai uma aura particular que os diferenciem difereneiem de todos os demais (Bourdieu, 1997). 1997). Os jornalistas — – como – passam a compartilhar um conjunto corno grupo — eonjunto de crenças creneas e posições, nas quais se destacam as representações profissão e sobre a propria própria posieoes, representaeoes sobre a profissao história profissão: nesse sentido, os anos 1950 próprio dishistoria dessa profissao: 1950 são s50 marcos no seu proprio dis— curso de um momento singular, onde começa, já que comeea, de fato, o verdadeiro jornalismo, ja resultado da ação também de verdadeiros jornalistas. aeao tambe’m “Ningue’m publicava em jornal nenhuma notícia noticia de como o garoto foi “Ninguém atropelado aqui em frente sem antes fazer considerações consideraeoes filosóficas filosoficas e especulações trânsito, a fragilidalaeoes metafísicas metafisicas sobre o automóvel, automével, as autoridades do transito, fragilida— de humana, os erros da humanidade, o urbanismo do Rio. Fazia-se Fazia—se primeiro um artigo para depois, no fim, fim, noticiar que o garoto tinha sido atropelado defronte a um hotel. Isso era uma reminiscência reminiscencia das origens do jornalismo, pois o jornal inicial foi um panfleto panfleto em torno de dois ou tres aeontecimentos que havia haVia três acontecimentos a comentar, mas não já havia nao noticiar, porque ja haVia informação informaeao de boca, ao vivo, Vivo, a informação informaoao direta”. direta”. (Souza, 1988:24-29, 1988:24-29, citado Citado por Goulart: 2000:19)

Dessa forma, Pompeu de Souza relata as mudanças jornalismudaneas que tomam conta eonta do jornalis— mo na década de’cada de 1950. 1950. Na sua explicação, explicaeao, a aceleração aceleraeao da vida Vida quotidiana e a comcom— plexidade dos acontecimentos obrigam os jornais a se transformarem naquilo que ele pleXidade qualifica qualifica como “veículo “veiculo de notícias”. noticias”. “Quando jornal a se “Quando a complexidade compleXidade dos acontecimentos foi obrigando o jornal transformar num veículo veiculo de notícias, noticias, o jornal conservou essa reminiscência reminiscéncia do

panfleto, inclusive porque era até panfleto, ate’ um capitis diminutio para o redator escrever uma notícia noticia pura e simplesmente. Ele seria um mero noticiarista, não nao um urn redapreciso, então, tor. Era preeiso, entao, caprichar capriehar na forma, castigar o estilo para noticiar qualqual— Corn a ocupação oeupaeao e o dinamismo que foram tomando conta da vida, Vida, quer coisa. Com ninguem tinha mais tempo de ler esse tipo de noticiário”. noticiario”. (Idem, ibidem) ninguém razoes que levam o Jamal Odylo Costa Filho explica quase da mesma forma as razões Jornal do Brasil a empreender as mudanças rnudaneas da década de’eada de 1950/60. 195 0/60. “0 processo se inicia com a necessidade de os 03 jornais — “O – jornais como nao como corno instituições instituieoes — empresas, não – sobreviverem. No caso do JB, a base preexiste no Estado Novo, que era a do pequeno anúncio. anuncio. No Rio, havia haVia dois jornais que tinham pequeno anúncio, anuncio, o 0 JB e o Correio da Manhã. Manha. O Jornal do anuncios, mas não nao tinha redação. redaeao. Tinha redatores, alguns dede— Brasil tinha os anúncios, nao se sentia nele um jornal. A condessa PereiPerei— les da mais alta categoria, mas não História Cultural da Imprensa —

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ra Carneiro era filha próprio filha de jornalista. Seu pai trabalhara longo tempo no proprio JB. Escreveu inclusive um folheto sobre o Jornal do Brasil, sobre seu funcionamento, sobre como se fazia o jornal. De sorte que ela, desde viúva – casouViuva — casou— se com o conde Pereira Carneiro, tambe’m também viúvo – pensou na renovação Viuvo — renovacao do jornal, de que ele era o 0 único unico dono. Morto o conde e tendo recebido por testamento o jornal, a condessa se dedicou inteiramente àa sua renovação”. renovacao”. (Depoimento de Costa Filho, Odylo a Gilberto Negreiros. In: “Os “Os Jornalistas contam S. Paulo. Grifos nossos) contarn a história”. historia”. Folha de S. Portanto, no dizer do jornalista, a propria própria filiação jorfiliacao da Condessa ao verdadeiro jor— nalismo — – ja já que seu pai fora jornalista e ela dessa forma como corno que trazia no sangue essa condição – possibilita a renovação. condicao — renovacao. “Desde “Desde o começo, comeco, ela procurou efetivar aquilo que sempre pensara, em ern fazer do Jornal do Brasil um urn grande jornal da cidade. Aquele jornal que ela dizia — – nós – que fosse indispensável, nos nos dissemos várias Varias vezes — indispensavel, sem o qual ninguém política, da vida ningue’m pudesse participar da vida Vida politica, Vida social, da vida Vida esportiva, um urn jornal para todas as classes. (...) Mas tinha havido haVido experiências experiencias anterioexperiencia do Diário Diario Carioca, com corn Danton Jobim e Pompeu de Souza, res. A experiência mais o0 Luís projetaLuis Paulistano. Danton e Pompeu, que foram os homens que proj etaram e Paulistano que ajudou a realização. realizacao. Houve ainda as experiências experiencias da Ultima Hora”. Hora”. (Idem, (Idem, ibidem) Tribuna da Imprensa e da Última Aliado àa decisão decisao da Condessa e às as experiências experiencias anteriores de alguns poucos visioVisio—

nários, narios, ée indispensável, indispensavel, no dizer de quem participa do processo de modernização, modernizacao, o gênio génio criativo daqueles que anteriormente moldaram esse mesmo processo em outras empresas. “Então, “Entao, confluem confluern para o Jornal do Brasil, fornecendo gente, fornecendo experiencias anteriores. Por outro lado, o 0 Corknow-how de equipes, essas experiências Manha era um concorrente sério, tarnbem corn pequeno anúncio. anuncio. E reio da Manhã também com tambe’m começava comecava a penetrar na faixa do pequeno anúncio. anuncio. Tanto O Globo também ate’ hoje ele divide diVide com o 0 JB este mercado. O Globo ée dirigido por um urn que até renovacao. Estabeleceu-se Estabeleceu—se homem de imprensa, um homem sempre atento àa renovação. entao uma emulação emulacao natural e o Jornal do Brasil foi o coroamento desse proentão nao houvesse o surto desenvolvimentista, desenvolVimentista, cesso. Eu acredito que, ainda que não episodio estaria enquadrado dentro da história histéria de uma empresa privada, este episódio infancia pelo p_elo que é herdada por uma mulher excepcional, envenenada desde a infância Virus do jornalismo, desejosa de deter urn grande jornal nas suas mãos. maos. De mavírus ter um neira que eu atribuo o Jornal do Brasil mais àa presenca presença da condessa Pereira

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Carneiro, ajudada por seu genro ou com a cooperação cooperaoao dele, o doutor Nascimento Brito”. Brito”. (Idem, (Idem, ibidem. ibia’em. Grifos nossos) três fases no processo de reformulação Ana Paula Goulart Ribeiro identifica identifica trés reformulaoao do Jornal do Brasil: em todas elas há não se pode atribuíJamal ha o 0 trabalho de muitas equipes e nao atribui— lo a uma única finica pessoa. A mesma rnesrna autora aponta as controvérsias controve’rsias sobre os autores desdes— sas inovações, inovaeoes, mostrando que a autoria da reforma ée sempre um urn campo de disputas que mobiliza a memória memoria e as vaidades dos jornalistas (2000:132). (20002132). Alberto Dines, por exemplo, atribui a autoria da reforma do Jamal a’a Brasil a Jornal do

Odylo Costa Filho. Para outros, esta teria sido obra de Jânio Janio de Freitas, enquanto próprio Dines como autor das mudanças Nascimento Brito indica o proprio mudanoas mais significatisignificativas Vas por que passa o jornal. “Quem fez a reforma foi o Odylo Costa Filho, que eu conhecia bem, com “Quem o Arnilcar Amílcar de Castro, que eu conhecia muito bem, porque ele tinha sido diagramador da Manchete. Enquanto eu trabalhava na Manchete, ele tambe’rn também estava lá, la, levado pelo Otto. Mas, na Manchete, ele fazia uma coisa meio quadrada. Foi no Jornal do Brasil que ele criou um modelo de jornalisrno jornalismo que vige Vige até ate’ hoje. Durante 30 anos, foi copiado do Oiapoque ao Chuí. Chui. Foi a mais grafica feita no Brasil. Gráfica Grafica e jornalistica importante reforma gráfica jornalística tambe’m, também, eu acho”. (Dinis, Alberto. In: Abreu, Lattman-Weltman Lattrnan-Weltrnan e Rocha, 2003:87) acho”.

Inicialmente o Jamal Jornal do a’a Brasil contrata 13 13 novos repórteres reporteres e posteriormente outros jovens jornalistas que vinham DiáVinham das redações redaooes da Tribuna da a’a Imprensa e do Diario já tinham implantado algumas alterações ria Carioca, Cariaca, onde ja alteraooes no processo editorial e gráfico. profissionais, com uma nova mengrafico. Para alguns jornalistas, ée a entrada desses profissionais, Jornal do talidade, que possibilita as inovações inovaeoes realizadas pelo Jamal a’a Brasil. Citando o depoimento de Carlos Lemos, ao CPDOC, Ribeiro enfatiza que tambe’m também os jornalistas produzem uma narrativa em que relacionam as inovações inovaeoes ao fato de afluírem afluirern para as relaooes jovens, livres dos velhos vícios Vicios da imprensa (Ribeiro, 2000:133-134). 2000: 133-134). relações HaVia uma efervescência efervescéncia entre nós, nos, jovens que gue tinhamos convoca— “Havia tínhamos sido convocaganharia— dos para realizar esse trabalho. Primeiro, uma grande alegria porque ganharía0 JB pagava mais ou menos o dobro do salário salario dos outros mos muito mais. O jornais (...) Havia tambe’m autoafirmaeao de estar partambém grande entusiasmo e a autoafirmação ticipando do processo de transformar aquele que não nao passava de uma bananfincios em ern um urn grande jornal.” aa ca de anúncios jornal.” (Lemos, Carlos. In: Depaimenta Depoimento ao Citado por Ribeiro, 2000:134. 20002134. Grifos nossos) CPDOC — – FGV, citado (C

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Wilson Figueiredo assume a chefia Jornal do chefia de redação redaeao do Jamal a’a Brasil, logo após apos a saída saida de Odylo Costa Filho, em dezembro de 1958. 1958. Meses depois, em maio de 1959, 1959, Jânio Janio de Freitas ocupa página adota oeupa esse lugar e imprime àa reforma ritmo mais intenso. A primeira pagina um layout layauz‘ assimétrico, assime’trieo, sofrendo transformação transformaeao radical. Foi quando surgiu, segundo Ribeiro, o famoso “L” Jornal do “L” dos classificados, classificados, marca marea do novo Jamal a’a Brasil (Ribeiro, 2000:136). 2000: 136). Três Trés anos depois, em janeiro de 1962, 1962, Alberto Dines assume o 0 cargo de editorchefe do jornal, sistematizando — – segundo sua fala — – as modificações modificaooes implementadas anteriormente. “Quando janeiro de 1962, “Quando eu assumi o jornal, no dia 6 de janeiro 1962, uma segundasegunda— feira, o Brito me disse: Olha, quero amanhã amanha um jornal totalmente diferente. Você jornal Voce ponha os fios fios de volta (...). Eu disse: Brito, eu não nao vou fazer um jornal diferente, não. nao. Pode ser que daqui a alguns anos, se eu continuar eontinuar aqui, o jornal evolua gradualmente para alguma coisa diferente, mas eu não nao vou tocar nele agora. No máximo, maximo, vou botar um fio fio debaixo do logotipo. (...) Agora, evidentemente que, ao longo do tempo, fui implementando algumas inovações, goes, dentro espírito espirito original”. original”. (Dines, idem, idem, ibidem) Segundo seu depoimento, introduz reuniões reunioes regulares na redação, redaeao, organiza as editorias e cria eria o arquivo e o departamento de pesquisa do jornal, em 1964. 1964. Permanece como diretor de redação Jornal do redaeao do Jamal a’a Brasil de 1962 1962 a 1973. 1973. “Em “Em 1965, 1965, no dia em que a TV Globo foi ao ar, fiz fiz um memorando de umas quatro ou cinco paginas, páginas, para todas as chefias, ehefias, dizendo assim: Hoje começa comeea uma fase diferente do jornalismo. (...) Sugeri então entao tudo aquilo que eu tinha pensado nos Estados Unidos: um jornal jornal mais qualitativo, mais refereneial, mais organizado — eomum você voeé ver um assunto referencial, – porque era muito comum aqui, e o mesmo assunto estar lá página de esporte, digamos —– um jornal la na pagina reVista. Ao mesmo tempo, as matérias materias do departamento de pesquisa quase revista. passariam a ser assinadas pela pesquisa, para o jornal ter um diferencial. Nos Nós iriamos vender um jornal mais qualificado”. gualifieado”. (Dines, idem: ia’em: 91. Grifos nossos) iríamos Na imagem das reformas dos anos 1950/1960 1950/1960 sobressai a fala dos jornalistas que autodefinem como eomo introdutores de uma nova linguagem indispensável indispensavel a um tempo se autodefinem teenologieos entram em cena. Nao mo— em que novos aparelhos tecnológicos Não havia ainda, naquele mopreoeupaeao com a mítica mitica da objetividade e da neutralidade. O jornalismo mento, a preocupação jornalismo eomo um lugar de amplificação amplificaeao do discurso politico. continua tentando ser importante, como político. “Quando fizemos fizemos instalar nas editorias do Jornal do Brasil aparelhos de “Quando notieiosos, TV, para que suas equipes assistissem aos principais programas noticiosos,

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não nao estávamos estavamos tomando uma iniciativa inioiativa visando Visando ao conforto dos jornalistas, mas a entronização entronizaoao da TV como oomo o fator a partir do qual vai ser pensada e escrita jornalística para o0 dia seguinte.” esorita a matéria mate’ria jornalistica seguinte.” (Dines, 1987:90. 1987:90. Apud 20002216) Ribeiro, 2000:216) Os jornais continuam sendo — – a par da imagem construída posteriori em relação eonstruida a posteriori relaoao aos ideais de objetividade e neutralidade, introduzidos com as reformas — – lugares fundamentais para a tomada de posioao posição politica, política, onde o confronto se destaca. destaoa. Por outro lado, no exercício exeroicio do jornalismo permanecem se autoatribuindo o papel de únifini— co possível entre o poder pfiblieo público e o pfiblico. público. Nesse sentido, o jornalis— jornalisoo intermediário intermediario possivel mo não nao se revela como oomo um contrapoder, mas como poder instituído. instituido. Nas décadas déeadas de 1950 1950 e 1960, 1960, esse papel pode ser claramente elaramente observado através atrave’s das longas campanhas empreendidas pela imprensa para ampliar a voz de facções políticas39. faceoes politicas”. Há Ha que se considerar ainda que, no Brasil, o 0 jornalismo como oomo atividade atiVidade remuneraremunera— da não princípio da liberdade de imprensa. Se nos Estados nao se desenvolve no bojo do principio Unidos e em alguns países paises da Europa, o processo de industrialização industrializaoao da sociedade, com o avanço tecnológicas, ao lado da imavaneo da escolarização, eseolarizaeao, urbanização, urbanizaoao, inovações inovaooes teonologicas, plantação de regimes politicos, políticos, onde o principio princípio da liberdade da imprensa era sagraplantaoao sagra— do, foram fundamentais para o desenvolvimento profissional profissional da atividade jornalística, atiVidade jornalistica, no Brasil há próprio regime de historicidade. ha que se considerar oonsiderar as especificidades especificidades de seu proprio Assim, a profissionalização profissionalizaoao se dá da exatamente pelo vínculo Vinculo estreito com a sociedade política em regimes de completa falta de liberdade de imprensa. politica profissional do jornalismo jornalismo no pais país ée a A rigor, o que possibilita o desenvolvimento profissional idealização possível entre o pfiblico público e o poder idealizaoao do papel como oomo único finico intermediário intermediario possivel público, construindo-se pl’iblieo, oonstruindo-se simbolicamente simbolioamente como elo de ligação ligaeao indispensável indispensavel entre a fala de um pfiblioo, público, sem voz, e a sociedade politica. política. Com isso, transforma—se transforma-se numa instaneia privilegiada de poder real e simbólico. simbolico. Ale’m instância Além disso, construindo textos que emooionais e ao cotidiano ootidiano dos grupos populares, a imprensa, a partir apelam a valores emocionais inicio do século se’culo XX, faz das sensações sensaooes arma fundamental para alcançar alcanoar o gosto do do início pfiblico. Fiecional e real se mesclam em textos que constroem oonstroem uma narrativa proxima público. Ficcional próxima fiecionalidade, mas que falam de um real presumido. Observa-se, Observa—se, dos regimes de ficcionalidade, pois, que, no país, pais, profissionalizaeao nao quis dizer autonomização autonomizaoao do campo literálitera— profissionalização não politico. rio e nem do campo político. construeao de um ideal de neutralidade do texto — Por outro lado, a construção – fazendo com convenooes narrativas da informação informaoao se fizessem fizessem presentes — que as convenções – nao não impede a valorizaoao permanente da opinião, opiniao, o que pode ser explicado, eXplieado, tambem, funeao de valorização também, em função 39 Sobre esse papel, cf. of. o próximo préximo capítulo capitulo sobre o papel da imprensa na crise política politica dos anos anos1950 1960. 1950 e 1960.

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sua dependência dcpcndéncia do chamado bacharelismo bacharclismo ilustrado. A influência influéncia do Direito Dircito nos primeiros mciros tempos deixa marcas históricas historicas indeléveis indelévcis na conformação conformacao da narrativa jornalística, das quais, por exemplo, talvez a mais significativa. jornalistica, cxernplo, o valor da opinião opiniao é talvcz significativa. Há Ha que se considerar nesse processo, o analfabetismo analfabctismo da sociedade, socicdade, que quc favorece favorecc o aparecimento de práticas de dc praticas dc leitura oralizada e a valoração valoracao da opinião opiniao como fundafunda— mental para a narrativa jornalistica. jornalística. Assim, mais do que servir àa democracia, o ethos profissional profissional do jornalista desenvolve-se papel de possível (e outorgado) entre poder e o Volve-sc na esteira cstcira do papcl dc intermediário intermediario possivcl entrc o podcr público. população falar ec chegar às publico. Já Ja que quc não nao há ha cidadania suficiente suficicntc para a populacao as cercanias do poder, cabe ao jornalismo o papel autoinstituído autoinstituido de dc intermediar as chamachama— das causas do povo. A relação política tambérn também é explicável rclacao estreita cstrcita com a politica explicavel a partir do modelo de profissional desenvolvida dc cultura profissional dcscnvolvida historicamente, historicarnentc, ou seja, scj a, a partir da sedisedi— mentação de seu papel como o intermediário dos temas políticos, decifrados para um mentacao dc scu papcl intermediario tcmas politicos, urn público – publico não nao só so sequioso scquioso de dc novidades, novidadcs, mas, sobretudo, sequioso scquioso de dc ser scr incluído incluido — ainda que apenas – no mundo da politica. política. apcnas ao tomar conhecimentos conhccirncntos dos fatos — O profissionalismo profissionalismo como processo histórico jornalismo tambérn também a historico representa rcprcsenta para o jornalismo sedimentação scdimcntacao de dc imagens imagcns símbolo, simbolo, construídas construidas ao longo de dc décadas, entre entrc as quais se sc destaca a de público ante o Executivo e de se instaurar como persona— personadc intermediário intermediario do publico gem parâmetros gcm cujo compromisso maior estaria cstaria na busca da verdade. verdadc. Para isso, além alérn dos parametros profissionais, já profissionais, busca-se busca-so uma espécie de dc atitude inata, como se sc o 0 verdadeiro verdadciro jornalista ja nascesse – frequennascessc nesta condição. condicao. A definição definicao do que é o jornalismo de dc Alberto Dinis — temente – referenda esta ternentc repetida rcpctida por outros jornalistas — csta idealização. idealizacao. “(O “(O jornalismo) é um estado de dc espírito, espirito, é uma disposição disposicao existencial. cxistencial. Eu já disse profissões ja dissc em outra entrevista entrcvista que o jornalismo é uma das últimas ultimas profissocs românticas. Não é, romanticas. Talvez Talvcz o termo esteja cstcja mal empregado. emprcgado. N50 6’, estrito cstrito senso, uma questão questao de dc romantismo. É, E, no sentido scntido de que o jornalismo não nao é um emprego cmprcgo cm que quc você vocé chega, faz aquilo que quc a pauta lhe deu, dcu, cumpre o horário, horario, ec estamos cstamos em E uma disponibilidade disponibilidadc para a vida, Vida, uma vocação vocacao de dc particonversados. Nao. Não. É cipagao, ainda que não-intervencionista, nao—intcrvencionista, é tambérn atiVidadc eminentecrnincntecipação, também uma atividade mentc cultural. Eu chamo de dc arte. artc. O jornalismo é uma arte ligada àa arte literálitera— mente ultimos, as maiores maiorcs figuras figuras da literatura escreveram cscreveram ria. Nao Não é àa toa que, nos últimos, (Dincs, op. op. cit.: cit: 154). 154). em jornal” jornal” (Dines, Assim, o discurso memorável memoravcl construído construido dentro do proprio próprio campo ec pelos seus agentcs continua apregoando aprcgoando como corno aspecto fundamental da identidade identidadc proprincipais agentes fissional valores valorcs que quc não nao dizem dizcm respeito rcspcito àa profissionalizacao. fissional profissionalização. O jornalismo continua scndo, nas idealizações idealizacocs correntes, corrcntcs, uma espécie cspécie de dc arte com corn estreita cstreita vinculação Vinculacao ao sendo, literario. campo literário.

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Sobressai também profissão a ideologia da vocação, tambe’m na idealização idealizaeao da profissao vocaeao, através atraVes da qual o jornalismo teria uma espécie especie de missão rnissao superior, só so podendo ser alcançada alcaneada se revestir suas ações profissão torna—se torna-se uma espécie de reliaooes de um dever religioso. A profissao gião, giao, na qual se espera o cumprimento eumprimento do dever como eomo algo sagrado, um chamamento, uma ordem divina. politicas Tribunas políticas

Entre os jornais surgidos na década decada de 1950 1950 estão estao a Tribuna Tribzma da Imprensa e Última Ultimo: período, a partir da vinculação proprietários Hora, criados naquele periodo, Vinculaeao estreita de seus proprietarios com a politiea. política. Carlos Lacerda, em 1949, 1949, colabora diariamente com corn uma coluna no Correio da Manhã intitulada “Tribuna Marthe? “Tribuna da Imprensa” Imprensa” e por divergência divergencia com a direção direeao do jornal resolve fundar um urn jornal em que possa exercer claramente sua opinião opiniao e, sobretudo, seja um trajetória em direção político. Ser jornalista para urn ponto da sua trajetéria direeao ao campo politico. Carlos Lacerda — – como para diversos jornalistas desde o século – é uma espécie se’culo XIX — espe’cie de meio do caminho indispensável política. indispensavel para ocupar um urn lugar representativo na politica. “O primeiro número numero era feio. Nao contribuieao às as artes “O Não trazia nenhuma contribuição gráficas próprio papel, importação graficas e o proprio importaoao francesa, pouco encorpado, não nao ajudaaj uda— va página, em toda a extenVa a apresentação. apresentaeao. O título titulo do jornal, encimando a pagina, exten— são, sao, quebrava o usual dos vespertinos, assemelhando-a assernelhando-a mais a um urn matutino. Um página Urn único unico clichê, cliche, uma reprodução. reprodueao. Títulos Titulos sem grande destaque. Uma pagina maçuda.” maeuda.” (Oliveira, 1966:188) 1966: 188)

É E dessa forma que Wilson Oliveira, secretário secretario do jornal quando de sua fundação, fundaeao, descreve o primeiro número Imprensa, criado pelo futuro governador numero da Tribuna da Imprensa, 1949. Nada lemdo antigo estado da Guanabara (hoje cidade do Rio de Janeiro), em 1949. descrioao, os aspectos aspeetos inovadores com corn que o jornal foi entronizado entre os bra, pela descrição, promotores da modernização modernizaoao da imprensa. “Para os que foram ao jornal abraçar abraear o 0 Carlos e felicitá-lo felicita—lo pela vitória, Vitoria, “Para edieao da Tribuna, pouco importava o aspecto gráfico grafico do jornal. que era a edição aeionisO importante, e esse tinha sido o grande objetivo dos 4 mil e poucos acionistas, é que Carlos Lacerda tivesse uma tribuna e que sua voz não nao fosse calada por falta de um jornal.” (Idem, ibidem) jornal.” (Idem, criaeao do novo periodico comeearn no início inicio de 1949. 1949. Os preparativos para a criação periódico começam reune um urn grupo de amigos, em ern seu apartamento na Rua Toneleros, em Carlos Lacerda reúne História Cultural da Imprensa —

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Copacabana, para “examinar “examinar as possibilidades de tornar realidade a criação criacao de um jornal” (Oliveira, idem: 166). prejornal” 166). Segundo Oliveira, nesse encontro inicial estivavam pre— sentes: Prudente de Moraes Neto, Dário Dario de Almeida Magalhães, Magalhaes, Adauto Lúcio Lucio CardoCardo— so, Piquet Carneiro, João Joao Camilo de Oliveira, Alceu Amoroso Lima, entre outros. É E nesta reunião reuniao que se decide fazer uma subscrição subscricao para arregimentar novos acionisacionis— tas, fórmula projeto. formula indispensável indispensavel para conseguir viabilizar Viabilizar financeiramente financeiramente o proj eto. No mês já está més seguinte, o futuro jornal ja esta instalado provisoriamente num grupo de salas de um edifício míniedificio da Avenida Treze de Maio, no centro do Rio. O 0 orçamento orcamento minimo para fazê-lo fazé—lo funcionar estima despesas com instalação, instalacao, com compra de máquinas, maquinas, móveis moveis e outros equipamentos da ordem de 3 milhões milhoes e quinhentos mil cruzeiros. Isso sem contar os gastos com pessoal, que somam cento e sessenta e quatro mil e6 oitocenoitocen— tos e quarenta cruzeiros, distribuídos distribuidos entre despesas com o pessoal administrativo (Cr$ 69.700,00) e6 com a redação prevê-se um gasto redacao (Cr$ 95.140,00). Com as oficinas oficinas preVé—se de quase seis mil cruzeiros (Oliveira: 167-173). 167-173). A análise analise do orçamento orcamento indica que na redação, redacao, além ale’m do secretário, secretario, seriam necessánecessa-

rios cinco redatores e cinco repórteres, reporteres, além do chefe de reportagem. Prevê-se PreVé-se também o trabalho de mais dez repórteres reporteres que atuariam em setores específicos especificos (Ministé(MinistePolicia Central, Pronto-Socorro Pronto—Socorro Central e diversos hospitais da cidacida— rios, Prefeitura, Polícia de). Há Ha ainda outros seis no esporte e dois especialmente destinados a cobrir o turfe. profissionais: xadrez, palavras As seções secoes especiais englobam o trabalho de mais dez profissionais: cruzadas, bridge, infantil, econômica, plásticas, câmara economica, música, mfisica, artes plasticas, camara e rádio, radio, teatros e sociais. Na fotografia previa-se o trabalho de três profissionais: um fotógrafo, fotografia preVia—se trés profissionais: fotografo, um auxiliar e um revelador. Na seção secao de desenhos trabalharia apenas o chefe e um auxiauxi— PreVia-se ainda um gasto com a colaboração colaboracao de liar, o mesmo ocorrendo no arquivo. Previa-se artigos assinados (Idem, (Idem, ibidem). Se nessa fase inicial de estruturação, estruturacao, o jornal poderia funcionar precariamente nfimero viesse Viesse a num grupo de salas, no momento seguinte, isto é, quando o primeiro número pfiblico, isso não nao seria mais possivel. Comeca, segundo depoimentos dos atores que público, possível. Começa, criacao do periodico, participam desse momento de criação periódico, a busca pelo pre’dio prédio onde se instaredacao e as oficinas. oficinas. É E fundamental para o sucesso, lariam a parte administrativa, a redação minimo que fosse, a futura sede não nao ser longe do centro, nem em local de difícil dificil mínimo dificultaria a distribuição distribuicao do vespertino, impedindo o rápido rapido escoamenescoamen— acesso, o que dificultaria edicao. É E preciso encontrar um prédio no centro, que não nao precise de obras de to da edição. adaptacao, pois os recursos são sao escassos. Finalmente, encontra-se encontra—se algo que parecia adaptação, serVir na rua do Lavradio: um prédio onde funcionara, até ate’ então, entao, uma fábrica fabrica de pa— servir panegocio, dando um sinal correspondente a 50% do valor pel. Carlos Lacerda fecha o negócio, imovel, devendo pagar o restante em 24 meses. O prédio da rua do Lavradio tom do imóvel, tem 15 metros de frente por 60 de fundos. 15

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A quase quaso totalidade totalidado dos acionistas, em om número numoro superior a 4 mil, possui apenas aponas uma ação. aoao. Os dois maiores maioros acionistas são sao Adauto Lúcio Lucio Cardoso eo Severiano Sovoriano Luiz Ribeiro, Riboiro, com 500 ações proprietáaooos cada um. Também Tambo’m subscrevera subscrovora uma importância importancia de do vulto o proprietario do grupo Ducal. Na Assombloia Assembleia Geral Goral na qual éo promulgado o estatuto ostatuto do jornal, em om função funoao do grande grando número numoro de do acionistas, aoionistas, fica fica estabelecido ostabolocido que quo as ações aooos da Tribuna não poderiam ser nao podoriam sor vendidas vondidas ou negociadas nogociadas livremente. livromonto. O seu sou portador para vendê-las vondé-las deveria poderiam ser dovoria comunicar previamente proViamonto àa Sociedade Sociodado eo estas ostas só so podoriam sor adquiridas por outro acionista. Com isso queria-se políticos, numa quoria-so evitar oVitar que quo grupos econômicos oconomicos ou politicos, manobra, tomassem tomassom o controle oontrolo acionário acionario do jornal. Carlos Lacerda, Lacorda, na época, o’poca, possui procuração de pouco menos monos de do 10 10 ações, aooos, mas éo detentor dotontor de do proouraoao do quase quaso todos os acionistas, com podoros poderes para representá-los roprosonta-los eo votar nas assembleias assombloias gerais. gorais. A aprovação aprovaoao dos EsAssembleia Geral, tatutos ocorre ocorro na Assombloia Goral, realizada roalizada em om outubro de do 1949, 1949, no auditório auditorio da Associação Brasileira presiAssociaoao Brasiloira de do Imprensa, Impronsa, ocasião ooasiao em om que quo Carlos Lacerda Lacorda éo’ escolhido oscolhido prosi— dente donto da Sociedade. Sooiodado.

Neste mesmo Nosto mosmo mês mos a redação rodaoao começa comooa a ser sor estruturada. ostruturada. O redator rodator chefe chofo do jornal, deputado Alves, indica a maioria dos nomes. doputado Aloysio Alvos, nomos. Duas novidades novidados na época o’poca fazem fazom parte do projeto: pesquisa do jornal, ainda que parto proj oto: a criação criaoao do setor sotor de do posquisa quo de do responsabilirosponsabili— dade teria tambo’m também biblioteca, dado de do um único unioo redator, rodator, eo do arquivo que quo toria bibliotoca, eo reuniria rouniria recorrocortes de jornais e revistas classificados por assunto, funcionando como órgão auxiliar da tos do o roVistas classificados orgao reportagem. roportagom. Luís Luis Paulistano éo’ o chefe chofo da seção sooao de do esportes. osportos. A redação rodaoao éo organizada da seguinte soguinto forma: além alo’m do redator rodator chefe chofo eo do secretário soorotario (Wilson de do Oliveira), Olivoira), há ha a reporropor— tagem pesquisador, a reportagem política (com trés três tagom especial, ospocial, com um repórter roportor eo um posquisador, roportagom politica repórteres, telegráfico (tendo redator roportoros, entre ontro eles, olos, Villas Boas-Correa), Boas-Corroa), o serviço sorVioo tolografico (tondo como rodator Paulo de repórteres. do Castro) eo a reportagem roportagom chefiada chofiada por Borba Tourinho eo com cinco roportoros. A reportagem policial conta com mais seis repórteres, e o esporte com cinco (chefiaroportagom polioial sois roportoros, o osporto (chofia— dos por Luiz Paulistano). Finalmente, primeiro Finalmonto, em om 27 de do dezembro dozombro de do 1949 1949 aparece aparoco o primoiro numoro da Tribuna da Imprensa. número A Tribuna é um jornal poquono. nao possui pequeno. Como o Didrio Diário Carioca, tambo’m também não tiragom suficiente sufioionto para transforma—lo grando imprensa. impronsa. Durante Duranto os anos tiragem transformá-lo num jornal da grande 1950, sua tiragom mo’dia oscila entre ontro 25 eo 45 mil exemplares. oxomplaros. Em 1954, 1954, podo sor 1950, tiragem média pode ser ostimada em om 40 mil, enquanto onquanto que quo O 0 Jamal estimada Jornal tira 60 mil, o0 Didrio Diário da Noiz‘e Noite 75 mil, A Noticia Ultima Hora 92 mil eo O 0 Globo 110 110 mil exemplares oxomplaros (Ribeiro: (Riboiro: 2000). Notícia 95 mil, Última Aposar do ter tor uma tiragom inoXprossiva, a Tribuna é um jornal influente, influonto, ja quo Apesar de tiragem inexpressiva, já que tom papel papol decisivo docisivo na cena cona politica, amplificando as contradições contradiooos eo tem política, catalisando eo amplificando tonsoos sociais do poriodo (Azovodo, 1988). 1988). Segundo Sogundo Ribeiro Riboiro (2000), talvoz soja na tensões período (Azevedo, talvez seja ondo mais se so possa porcobor diloma em om que quo vivia ViVia a imprensa impronsa Tribuna da Imprensa onde perceber o dilema o’poca, entre ontro definir-se dofinir—so pola modornizaoao eo continuar empregando omprogando to’onicas o, soso— da época, pela modernização técnicas e, brotudo, pratioas quo a aproximam do arcaísmo. arcaismo. bretudo, práticas que História Cultural da Imprensa —

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Também jornalisTambe’m no que diz respeito àa memória memoria construída construida sobre o seu papel no jornalismo carioca dos anos 1950, 1950, destaca-se destaea—se o fato de ser obra de um “verdadeiro” “‘Verdadeiro” jornalista. Assim, nas palavras de Alberto Dines, a Tribuna teve importância importanoia porque Carlos Lacerda Laeerda era um grande jornalista. E apenas como um grande jornalista, na mítica mitiea articulada pelo discurso dos homens de imprensa, tal como eomo Samuel Wainer, nada mais natural que construir tambe’m também um “verdadeiro” “‘Verdadeiro” jornal. “Ele “Ele era um homem que gostagosta— va de jornal, conhecia eonhecia jornal. (...) e o jornal que ele fez no início inicio foi muito bem feito. Teve uma equipe maravilhosa, Diário Carioca, outros não, maraVilhosa, alguns do Didrio nao, e ele criou um grupo de jornalistas como Luiz Lobo, o Zuenir Ventura, etc.” etc.” (Depoimento de Dines, Alberto, 15 15 dezembro de 1999. 1999. Citado por Ribeiro: 2000) O mesmo discurso diseurso que atrela a imagem do jornal ao gênio génio criador, inventivo e político profissionais: politioo de Lacerda ée’ repetido àa exaustão exaustao por outros profissionais: “Carlos “Carlos Lacerda Laeerda estava sempre a par do desenvolvimento da imprensa mundial e não nao cabe dúvida duVida de que a moderna imprensa do Brasil muito deve, em estilo, agressividade, noticiário notieiario e apresentação apresentaeao gráfica, grafica, ao dinamismo e àa visão tribuna’ (...). Um dos empenhos de Lacerda Visao do fundador da ‘velha ‘Velha tribuna’ Laeerda era trazer para o jornal pessoas que, em sua opinião, opiniao, tivessem o dom e o dinamismo necessários necessarios para renovar a folha. Gente como Carlos Castelo Branco, Hélio He’lio Fernandes, Odylo Costa Filho. Membros da nova equipe do Jornal do Brasil, entre eles Mário Mario Faustino e Alberto Dines, passaram pela ‘velha “velha Tribuna’ tempo.” (Baciou, 1982:58) buna’ e lá la ficaram ficaram mais ou menos tempo.” 1982258)

Samuel Wainer, a Última Ultima Hora e a mítica mitica da renovação renovaeao Falar do jornal fundado em 12 12 de junho de 1951 1951 por Samuel Wainer ée se referir a Varios discursos míticos: miticos: o 0 do jornal que por ser dirigido por um “verdadeiro “verdadeiro jornalis— vários jornalista” passa a valorizar o profissional ta” profissional e ée capaz de revolucionar a forma de fazer jornalisjornalisate então; entao; o 0 do jornal que renova a imprensa brasileira, introduzindo inovações inovaeoes mo até nunea antes pereebidas; nunca percebidas; o0 do jornal que materializa mais do que qualquer outro meio eomunieaeao as suas relações relaooes com as cercanias do poder; entre diversos outros. de comunicação construidos, a maioria das vezes pelos proprios Esses discursos construídos, próprios jomalistas jornalistas que particinao do processo de criação criaoao e construção construeao da mítica mitiea Última Ultimo: Hora como o jornal param ou não mais popular de seu tempo, revelam os simbolismos da propria própria profissao, profissão, ao mesmo tem— temhistoria de singularidades para o jomalismo po em que constroem uma história jornalismo brasileiro. E talvez historia mais singular e repleta da ideia de importância importancia seja a da aliança alianea do ex-presidente eX-presidente a história Getulio Vargas, então entao exilado voluntário voluntario em São Sao Borja, Borj a, com Samuel Wainer. Getúlio

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Se o0 início – Samuel Wainer inicio dessa aliança alianoa marca a ideia de destemor de um homem — – que como repórter profética de Getúlio — reporter atravessou o Brasil para reproduzir uma fala profe’tica Getulio (“Eu –, a continuação (“Eu voltarei!”) voltarei!”) —, continuaoao dessa história historia deveria contemplar outras facetas para a construção construoao mitológica mitologiea do jornal. Assim, Última Ultimo Hora deveria incluir no seu cardácardapróprios jornalistas a mitica mítica da renopio de estratégias estrategias memoráveis memoraveis construídas construidas pelos proprios vação vaoao da imprensa. A história historia ée conhecida: Wainer, então entao repórter reporter dos Didrios desloea Diários Associados, se desloca

até ate São Sao Borja, Borj a, onde estava Getúlio Getulio Vargas recluso, para conseguir uma declaração declaraeao do futuro presidente de que seria candidato nas eleições eleiooes de 1950. 1950. A partir daí, dai, retorna a São – segundo Sao Borja outras vezes, selando uma aliança alianoa com Vargas, e passa privar — suas próprias – da intimidade de Getúlio. proprias declarações declaraeoes — Getulio. Isso será sera extremamente vantajoso para ele e fundamental para a criação criaoao do novo jornal. “(...) “(...) me pediram que como eu era a única unica pessoa, não nao só so a quem ele dava entrevistas pedientreVistas até ate então, entao, como conseguia interpretar o pensamento dele, pedi— ram que eu fosse até ate Getúlio Getulio e fizesse fizesse um apelo para ele dar uma declaração declaraoao que servisse serVisse àa manipulação manipulaeao para acalmar a campanha da UDN, que estava junto aos tomando proporções proporooes incendiárias, incendiarias, e preparar a posse dele, inclusive junto americanos (...). Eu cheguei, falei logo com Getúlio. Getulio. Os jornalistas quando me viram Viram ficaram ficaram meio preocupados, porque sabiam que eu era, afinal, afinal, o homem que obtinha de Getúlio Getulio qualquer declaração. declaraeao. Apenas não nao sabiam que eu ja já não nao era um simples repórter; reporter; tinha passado a ser quase um conselheiro e, algumas vezes, emissário. emissario. Portanto, eles não nao podiam competir comigo”. comigo”. (Wainer, Samuel. Fita F ita n. 1, l, p. 9/9, do material bruto de S.W, SW, citado por Rouchou, 2004:48-49) – de fato —– que detinha junto ao Na declaração declaraeao acima aeima sobressai não nao apenas o poder — detinhajunto presidente, assumindo a função funeao de “quase “quase um conselheiro” conselheiro” e, algumas vezes, “emissá“emissa— rio”, mas o orgulho porter aleado esta posição. posioao. Nesse papel privilegiado — refe— rio”, por ter alçado – mas referendando a cada momento o fato de continuar sendo jornalista —– nenhum outro profisprofisrivalizar—se com Wainer. sional poderia rivalizar-se fundaeao do jornal, Samuel Wainer lembra como foi sua passagem de Sobre a fundação reporter dos Associados para dono de jornal. repórter “Quando retornei da Europa o Assis Chateaubriand me convidou conVidou para os “Quando ‘Associados’, em julho de 1947. 1947. Aceitei. Primeiro porque eu queria conhecer ‘Associados’, por dentro uma grande empresa, o ventre de uma grande empresa. Porque ele salario excelente pra época. epoca. Eram 20 contos, equivalia hoje a me pagou um salário padroes. Ele sabia, ele tinha um instinto, 200 mil cruzeiros, quebrou todos os padrões. História Cultural da Imprensa —

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‘Diarios Associados’ Vi ele ja já tinha lido coisas minhas. Ai Aí entrei nos ‘Diários Associados’ onde eu vi por dentro o chamado grande jornalismo. Fui editor nos ‘Diários Associa‘Diarios Associa— dos’, dos’, fui secretário secretario de redação, redaeao, redator, colunista, mas principalmente repórreporter. Foi quando descobri Getúlio”. Getfilio”. (Wainer, S. In: “Jornalistas “Jornalistas contam a HisHis— toria”. Depoimento a Wianey Pinheiro. Folha de S. tória”. S. Paula) Paulo)

posteriorA proximidade de Getúlio Getfilio ée fundamental inicialmente para o repórter reporter e, posterior— mente, para o empresário empresario da imprensa. No início, inicio, Getúlio Getfilio era “uma jornalística. Eu o0 tinha combatido a vida “uma boa matéria-prima mate’ria-prima jornalistica. Vida inteira, mas nada tinha a ver com aquele outro Getúlio – como ele mesmo Getfilio que voltava — declarou — – como líder lider de massas e não nao mais como líder lider de partido. Pra mim o Getúlio jornalista ée o Getfilio era um grande assunto, porque o fundamental na vida Vida do jornalista assunto. (...) Dessa amizade com Getúlio nasceu Última Hora”. (Idem, Getfilio Ultima Hora”. (Idem, ibidem) ibia’em) A campanha eleitoral, segundo seu depoimento, foi objeto de frieza por parte da Getfilio incentiva Samuel a criar um jornal opuses— imprensa. Assim, o proprio próprio Getúlio jornal que se opusesse àa “conspiração “conspiraeao do silêncio” silencio” que a imprensa lhe impusera. Wainer funda, então, entao, duas empresas: uma gráfica, grafica, a Érica, Erica, e a outra editorial, a Editora Última Ultima Hora (Ribeiro, 2000). Viabilizar a primeira, consegue recursos com o banqueiro Walter Moreira Para viabilizar Salles, com Ricardo Jafet, presidente do Banco do Brasil, e com Euvaldo Lodi, empresário Nacional da Indústria. presario e presidente da Confederação Confederaeao Naeional Indl’istria. Obteve ainda um emem— préstimo pre’stimo de 26 milhões milhoes junto ao Banco do Brasil, que, além ale’m disso, absorveu a dívida divida da empresa com a Caixa Econômica Economica Federal. Para viabilizar Viabilizar a Editora Última Ultima Hora consegue recursos do Banco Hipotecário Hipotecario de Crédito Cre’dito Real, através atrave’s da intermediação intermediaeao de Juscelino Kubitschek, então entao governador de Minas. (Idem, (Idem, ibidem) “Portanto a Última Ultima Hora não nao foi criada acidentalmente, ela ia sendo criacria— “Portanto da àa medida que a gente criava novos quadros e novas ideias. Eu senti que a Getl'ilio me dava uma comunicação comunicaeao com todas as camadas popularidade de Getúlio comunicaeao com a camada dirigente do sociais e a linha nacionalista me dava comunicação Entao, a Ultima novo empresariado brasileiro. Então, Última Hora foi, realmente, um produto ViVéncia jornalistica “Jornalistas de uma imensa vivência jornalística e politiea”. política”. (Wainer, S. In: “Jornalistas Historia”. Depoimento a Wianey Pinheiro. Folha de S. contam a História”. S. Paulo) No discurso do fundador de Última Ultimo: Hora vai sendo construída, construida, paralelamente àa importaneia política politica do periódico, periodico, durante o governo de Getúlio Getfilio Vargas, a mitica importância mítica da renovaeao que introduz na imprensa brasileira. Somente um verdadeiro jornalista, renovação jornalista, nao abdicava desse papel, poderia criar não nao um simples jornal, mas um periodico que não periódico

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inovador e que — – nas suas palavras — – fora responsável responsavel pela introdução introdueao do jornalismo de massas no pais. país. “Última tradição oligárquica “Ultima Hora veio romper a tradieao oligarquiea da grande imprensa e dar início Até 1950, inicio a um tipo de imprensa popular que não nao existia no Brasil. Ate’ 1950, a opinião pública brasileira era dominada por meia dúzia pertenopiniao publiea duzia de jornais, perten— centes a famílias familias tradicionais, há ha mais de meio século.” se’culo.” (Wainer, S. Apud 1978:9) Barros, 1978:9) Nenhuma das afirmações afirmaeoes de Wainer se sustenta historicamente. Se, de fato, os

tradição familiar de uns poucos nomes —– jornais mais populares estão estao atrelados àa tradieao como ée o caso do Jamal Jornal do Brasil —, –, outros jornalistas, como Mário já Mario Rodrigues, ja haviam haViam criado eriado desde há ha muito jornais populares no cenário cenario da imprensa carioca. Nos anos 1950 1950 mesmo existem na cidade, além ale’m de Última Ultimo: Hora, outros jornais que em termos de difusão difusao conquistam público publico diversificado diversifieado e expressivo. reeonhecido Fazer um jornal, para Samuel Wainer, ée’ a possibilidade de se tornar reconhecido próprios pares. Imigrante, de origem pobre e sem reconhecimento pelos seus proprios reconheeimento entre os detentores do poder simbólico próximo das simbolico do jornalismo de então, entao, para ele estar proximo cercanias do poder e, sobretudo, tornar-se tornar—se empresário empresario da imprensa ée a certeza de que conseguira vencer veneer na profissão. profissao.

“Ele “Ele (Getúlio (Getulio Vargas) andando de um lado para o outro. Isso eu nunca contei em comissões já contei em vários comissoes de inquérito, inquerito, nada, mas ja Varios lugares. Ele me disse: Por que tu não nao fazes um jornal? Eu disse: olha presidente, todo repórter já fiz, reporter quer fazer um jornal, ainda mais um repórter reporter como eu, que ja fiz, e que estou sendo convidado a fazer um jornal que não nao seria de oposição. oposieao. Contraria a tradieao tradição da imprensa brasileira e do Rio de Janeiro, que é que só so jornal de oposição oposieao vence: venee: acontece que o senhor ée um líder lider de oposição. oposieao. con— Eu faria um jornal que apoiasse seu pensamento. O seu pensamento ée contra. Eu gostaria de fazer um jornal desses. Ele disse: então entao faça faea (...) Eu disse: Entao não nao falemos mais nisso. Boa—noite (...) em 45 dias lhe dou um jornal. Então Boa-noite profeta. Boa-noite, Boa—noite, Presidente. E aí ai nasceu a Última Ultima Hora”. Hora”. (Wainer, Samuel. 16/89, do material bruto de S.W. In: Rouchou, op. op. cit.: Cir; 66) Fita n. 5, 16/89, “verdadeiro jornalista”, reporter que se transmuta em senhor Mas o jornal do “verdadeiro jornalista”, do repórter nao poderia ser um simples jornal. memorias do da imprensa, não jornal. Gradativamente, as memórias proprio Vivem aquela história historia vão Vao construindo a segunda mítica mitica em próprio Samuel e dos que vivem torno do periodico: inovaeao. Assim, Última Ultimo: Hora teria sido responsável responsavel pela periódico: a da sua inovação. ate então, entao, introduzindo uma série serie de mais intensa e marcante reforma do jornalismo até inovaeoes na fórmula formula de fazer jornal. A diagramação, diagramaeao, o uso da cor, da fotografia, fotografia, o inovações História Cultural da Imprensa —

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conteúdo contofido redacional rodacional eo as estratégias ostratogias administrativas, bem born como a reimplantação roimplantaoao do folhetim, teriam sido responsáveis pela mais completa folhotim, da caricatura eo do colunismo, toriam rosponsavois pola complota 40 inovação periódico produziria na imprensa inovaoao que quo um poriodioo impronsa carioca carioca40.. Entretanto, Entrotanto, as fórmulas fOrrnulas redacionais, rodacionais, editoriais oditoriais eo administrativas implementadas implornontadas pelo periódico não pela polo novo poriodico nao eram oram novas na imprensa impronsa do Rio: a cor fora utilizada pola primeira já em pela Gazeta de Noticias; Notícias; a fotografia página primoira vez voz ja om 1907 1907 pola fotografia ocupando ooupando a pagina integralmente fora usada por inúmeras publicações ao longo de toda a primeira intogralmonto infimoras publicaooos do primoira décadéca— da do século também a caricatura nunca deixara parte dos recursos soculo XX; tambom doixara de do fazer fazor parto rocursos grágra— ficos ficos dessa dossa imprensa. impronsa. Portanto, a renovação ronovaoao que quo Última Ultima Hora realiza roaliza na imprensa impronsa do urn discurso mítico. mitico. Rio é muito mais um próprio propriotario proprietário Nas palavras do proprio “o pessoal da imprensa “o jornal não nao causou oausou grande grando impacto inicial. O possoal impronsa logo om cima, de do onde ondo eu ou realmente roalmonto aprendi aprondi que quo um urn jornal nasce nasoo aos poucos e, o, foi em depois dopois que quo se so cria oria uma imagem, imagom, nunca mais acaba”. aoaba”. (Wainer, (Wainor, Fita n. 13, 13, p. 2/ 289, material bruto de do S.W. In: Rouchou, op. op. cit.: 79) A construção construoao dessa dossa imagem imagom de do jornal que quo mais renovou ronovou a imprensa impronsa brasileira brasiloira dos anos 1950 período, como posteriormente, através 1950 foi sendo sondo efetivada ofotivada não nao só so naquele naquolo poriodo, oomo postoriormonto, atraVos dos discursos reiteradamente próprios jornalistas que, roitoradamonto repetidos ropotidos dos proprios quo, assim, constroem constroom Última porque éo produto da ação Ultimo Hora como oomo espécie ospo’cio de do jornal símbolo, simbolo, sobretudo, sobrotudo, porquo aoao eo da idealização idoalizaoao de do um urn personagem porsonagom que quo nunca deixou doixou de do ser sor jornalista.

jornal nos Ao alinhar uma série sorio de do depoimentos dopoimontos de do jornalistas que quo trabalharam no jornal idos de procura demonstrar do 1950, 1950, num trabalho (Barros, 1978) 1978) em om que quo prooura domonstrar que quo Última Ultimo: jornal, sobressai Hora promove promovo a mais drástica drastica renovação ronovaoao na fórmula formula de do fazer fazor jornal, sobrossai na fala desses dossos atores atoros sempre sompro essa ossa construção. oonstruoao. Última Ultima Hora, mais do que quo um urn jornal, passa a ser sor uma espécie ospo’cio de do sonho. “No caso da Última Ultima Hora aconteceu acontocou o seguinte: soguinto: àa medida modida que quo o jornal “No jornal tambom o ideal idoal de do um urn jornal sonhado por muitos jornalistas nascia, nascia também brasiloiros, sem som saber sabor como oomo defini-lo, dofini-lo, porquo olo era ora tocnicamonto brasileiros, porque ele tecnicamente bonito eo born feito foito eo moderno, modorno, coisa ooisa que quo não nao proocupava do jornal bem preocupava os outros donos de jornal (...) intorossados na força foroa que quo ele olo representaria roprosontaria (...) A Ultima subitamonto, interessados Última Hora, subitamente, romanticos que quo havia haVia na época, o’poca, do conceito concoito era o0 sonho dos jornalistas mais românticos do um urn jornal popular, porquo nos queríamos quoriarnos vender, vondor, nós nos queríamos quoriamos aplausos, de porque nós

4° Sobre as contribuições contribuigoes técnicas da UH para a renovação renovagéo da imprensa brasileira, brasileira, cf. Barros (1978). (1978).

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nós tínhamos o sentimento, embora fôssemos nos queríamos queriamos circulação, circulaeao, tinhamos fossemos intelecintelec— tualmente elitistas”. elitistas”. (Wainer, fita fita 4 (2ª (2a série), serie), p. 10/986, 10/986, material bruto de

S.W. In: Rouchou, op. op. cit.: cit; 118) 118) Com isso, não nao estamos querendo dizer que Última Ultima Hora não nao tenha adotado novas fórmulas formulas editoriais e redacionais, redaeionais, mas enfatizando que não nao se pode deixar de enxergar o discurso que constrói projeto constroi o proj eto gráfico grafico e editorial do jornal como “o “o mais inovador” inovador” de seu tempo como mítico. mitico. Se de fato houve implantação implantaeao de estratégias administratiadministrati— vas e editoriais, muitas delas ja já vinham periódicos. Vinham sendo adotadas por outros periodieos. O que se questiona, portanto, ée o fato de se tomar como eomo um dado real e inquestionável inquestionavel a afirmação afirmaeao de que Última Ultima Hora tenha, mais do que qualquer outro periódico, renovado a imprensa brasileira. A renovação produperiodico, renovaeao que implementa não nao ée produ— to apenas do gênio génio criador de um só 56 homem, no caso Samuel Wainer, mas de um processo de acumulação acumulaeao de experiências experiencias no jornalismo carioca. A mítica mitica da “maior “maior renovação”, renovaeao”, no nosso entender, constrói constroi um lugar ímpar impar para o jornalismo e, sobretusobretu— do, para os jornalistas, ja já que apenas um proprietario proprietário que fosse tambe’m também e antes de tudo jornalista poderia realizá-la. realiza-la. Assim, mais do que verificar verificar ou polemizar se há ha ou não nao renovação, renovaeao, se essa ée a

maior ou não, nao, interessa saber por que se constrói constroi um discurso, referendado a cada eada momento, que aponta para a singularidade do jornal. No nosso entender, isso faz parte de uma estratégia próprio campo jornalistieo jornalístico que precisa de embleestrate’gia de constituição constituieao do proprio mas míticos própria importância. mitieos de sua propria importancia. E, nesse sentido, um jornal fundado por um repórter, reporter, com origem modesta, que graças graeas ao seu papel de jornalista consegue sucesso na profissao, profissão, ée’ o melhor símbolo simbolo para as estratégias estrategias memoráveis memoraveis do grupo, isto é, dos jornalistas.

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VII. Novos atores em cena: A imprensa nos anos 1960

Os vestígios vestigios dos novos atores atorcs que entram em cena ccna na composição composicao de dc uma história historia da imprensa percebidos também através imprcnsa na década de 1960 1960 podem ser scr perccbidos atraVés dos filmes. filmcs. Resumindo o espírito possibilidades de cspirito do tempo existente cxistentc em cm relação rclacao às as possibilidadcs dc diálogo dialogo do público, as produções Atlântida mostram, com detalhes, pfiblico, producocs nacionais dos Estúdios Estfidios Atlantida dctalhcs, esses csscs atores personagem atorcs midiáticos midiaticos que irrompem a cena ccna quotidiana. E, entre cntrc eles, cles, um pcrsonagcm emblemático: emblematico: a televisão. televisao. Falar da década de 1960 política 1960 é6' também se sc referir refcrir às as consequências conscquéncias da censura politica que se abate sobre polêmica em sobrc a imprensa, imprcnsa, o que foi decisivo dccisivo para o apartamento apartamcnto da polémica torno desse dcsse tema dos meios de dc comunicação. comunicacao. Esse silêncio siléncio vai produzir drástica drastica altealte— ração terão que abandonar gradativamente racao no conteúdo contefido dos jornais diários, diarios, uma vez vcz que terao gradativamcnte o papel papcl de dc amplificadores amplificadorcs e, c, muitas vezes, vczcs, construtores desses dcsscs enredos, cnrcdos, afastando-se afastando—se dos protagonistas ec deixando de ser eles personagens do campo politico. político. cles mesmos pcrsonagcns Sobre Sobrc este cste apartamento apartamcnto do conteúdo contcfido político politico em função funcao da conjuntura da época, é 41 contundente o depoimento de : dc Paulo Branco Branco‘”: Depois, política — – é uma coisa curiosa —– Dcpois, quando fui trabalhar no Globo, a politica ficava página. As paginas páginas 2 ec 3 vinham ficava lá la pela pcla 13ª, 13a, 15ª 15a pagina. Vinham com notícias noticias de dc Cedae, Ccdac, engarrafamento cngarrafamcnto de dc trânsito. transito. Foi uma época que marcou maroon o 0 sepultamento scpultamcnto da politica. dc âmbiambi— política. Era mais importante o engarrafamento do que uma matéria de to nacional, uma medida do presidente da República, Repfiblica, um discurso no Congreseconomicas não, nao, essas cssas eram cram sempre scmprc muito divulgadas, muito so. As medidas econômicas significativo naquela naqucla época. (Branco, badaladas. A economia tinha um peso muito significativo a0 CPDOC. Rio de dc Janeiro, Janciro, CPDOC/Alerj, 1998) 1998) Paulo. Depoimento ao

41 Jornalista desde 1968, Paulo Branco foi repórter, reporter, chefe de redação redacao e colunista da Tribuna Tribuna da Imprensa, lmprensa, repérter de O 0 Globo, da Última Ultima Hora e da Bloch. Bloch. Por 10 anos comentarista político politico da TV Bandeirantes. Bandeirantes. Foi repórter Fundacao Roquette Pinto. Trabalhou em várias vérias ocasiões ocasioes para o Governo, Governo, inclusive como coorcoor— presidente da Fundação Comunicacao Social do Ministério da Fazenda na gestão gestao de Francisco Dornelles. Dornelles. Branco, Branco, Paulo. Paulo. denador de Comunicação CPDOC. Rio de Janeiro, Janeiro, CPDOC/Alerj, 1998. Depoimento ao CPDOC.

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No Brasil, os jornais jamais exerceram o papel de watchdogs, que tinham por exemplo no ideário já que nunca mantiveram distância ideario americano, ja distancia suficiente suficiente dos personagens politicos. políticos. A imprensa sempre teve relação política, ocurelaoao simbiótica simbiotica com a politica, pando lugar central em muitos episódios país. (Ribeiro, episodios decisivos da história historia do pais. 1999:53) 1999253)

Ribeiro credita essa característica jornalísticas àa configuração caracteristica das empresas jornalisticas configuraoao do campo politico político no pais, país, marcado por constante tensao tensão entre modernidade e arcaísmo, arcaismo, onde convivem lado a lado pratioas práticas decorrentes de um ideal de impessoalidade e racionalidade das instituições princípios da representatividade, da socieinstituiooes (baseado nos principios dade de direitos, da cidadania) e outras oligárquicas, oligarquicas, clientelistas, familiares, patriar(Idem, ibidem). cais e patrimonialistas (Idem, periódiNo mesmo período, periodo, inicia-se inicia—se vertiginoso processo de concentração concentraeao dos periodi— cos, que alcançaria alcanearia o seu auge na década decada seguinte. Paralelamente há ha a explosão eXplosao do que poderia se designada como a segunda fase de apogeu do jornalismo popular, representado pelo sucesso editorial do jornal O 0 Dia. publica-se no pais país a média Ao final final da década, de’cada, publica—se media de um exemplar de jornal diário diario para 22 pessoas e 90% dos periodicos periódicos do pais país são sao editados no Rio e em São 8210 Paulo. televisão a A tiragem dos jornais permanece praticamente estacionada e atribui-se àa televisao responsabilidade por este cenário, cenario, uma vez que dos 600 bilhões bilhoes de cruzeiros oruzeiros investidos com propaganda no pais, país, naquele momento, 35 por cento são televisao destinados àa televi— são sao (Rego, 1969). 1969).

A televisão televisao irrompe a cena Uma casa comum de subúrbio também comum. subfirbio do Rio, onde vive Vive uma família familia tambem O inusitado na cena ée que, de repente, todos estão estao em torno de um aparelho que ocupa lugar entronizado na sala de estar. Dezenas de pessoas se espalham diante de um movel entreaberto, deixando antever uma tela. Na janela, Vizinhos se amontoam móvel janela, os vizinhos crianoas tambe’m para poder ver as imagens em preto—e-branco. preto-e-branco. Na escada, as crianças também se enfileiram na tentativa de visualizá-las. Visualiza—las. As imagens que saem da televisao enfileiram televisão possuem siléncio dos personagens ée quebrado, de tempos em tempos, pelos pouca nitidez. O silêncio comentarios que a trama televisiva provoca. comentários filme Absolutamem‘e 1957, dirigido por Anselmo Duarte, O filme Absolutamente Certo, uma produoao produção de 1957, ficcional um dos programas de maior audiência audiéncia da década: de’cada: “O “O céu ce’u reproduz de modo ficcional limite”, apresentado por Jota Silvestre. No programa, como no filme, filme, a expectatiexpectati— ée’ o limite”, Va ée criada em torno da possibilidade de o 0 protagonista responder corretamente às as va sao dirigidas pelo apresentador. A torcida do pfiblico perguntas que lhes são público ée’ enorme e,

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no dia seguinte, multiplicam-se nas publicaeoes publicações especializadas ou não nao os comentários comentarios em torno da última performance do desafiante. filtima performance desafiante. Esta é uma das primeiras vezes em que a televisão televisao aparece como protagonista na cena cinematográfica Até então, cinematografica de uma produção produeao nacional. Ate’ entao, alguns filmes filmes mostraram o televisor como que entronizado na sala de visita Visita dos personagens abastados. A tela está esta sempre apagada. A televisão televisao é muito mais um móvel movel que compõe compoe o cenário. cenario. produção cinematográfica Nove anos depois, outra produeao cinematografica mostra, com detalhes, como a televisão podia ser responsável televisao responsavel pela construção, construeao, ascensão ascensao e queda de mitos. No episóepiso— dio final final do filme filme Os 0s Cariocas, Carioeas, drama de Roberto Santos baseado em histórias historias de Stanislau Ponte Preta, conta-se, transmissão de entrevista conta—se, a partir da transmissao entreVista ao vivo Vivo em uma emissora de televisao, televisão, a história historia de Marlene Cardoso, personagem vivido ViVido por Íris lris Bruzzi, que participara do concurso coneurso Garota das Praias do Subúrbio. Subfirbio. A protagonista que, após também por uma emissora de TV, alcança apos ganhar o concurso, promovido tambe’m alcanea rapidamente o estrelato, vive Vive naquele instante a decadência. decadéncia. A fama imediata construída construida pela TV a leva a estrelar comerciais e mesmo uma telenovela, não nao por acaso a de maior sucesso naquele ano — – Sheik de Agadir, telenovela escrita por Janete Clair —, –, onde vivia ViVia a personagem Sulamita. Marlene Cardoso conta, ao vivo, Vivo, num programa que também reproduz outro gênegene— ro de sucesso naquele momento — – em que o apresentador, a maior parte do tempo ausente da cena, em tom autoritário, autoritario, recapitula de forma dramática dramatica a trama da vida Vida do –, personagem e de que “O “0 homem do Sapato Branco” Branco” foi o exemplar mais famoso —, como passa da fama ao anonimato, graças Afinal, graeas àa ação aoao dos meios de comunicação. comunicaeao. Afinal, o seu aparecimento deveu-se deveu—se ao concurso promovido pela TV, o seu sucesso àa imaima— gem que, posteriormente, foi explorada em comerciais e em novelas de grande audiência, –O – promoveu de um encia, e a decadência decadéncia àa divulgação divulgaeao que um jornal popular — 0 Dia — escândalo eseandalo em que se envolveu com seus vizinhos Vizinhos na Penha, subúrbio subfirbio onde vivia. Vivia. Trazendo para o bairro, segundo a emissão emissao reproduzida pelo filme, filme, hábitos habitos coeo— subfirbios — muns na zona sul, mas ausentes do cotidiano dos moradores dos subúrbios – como por maio ou em trajes sumários sumarios pelas ruas —, exemplo andar de maiô –, Marlene Cardoso passou a Vizinhos e isso vai culminar com uma espécie de linchamento que ser execrada pelos vizinhos sofre ao ir lavar o carro novo, ganho no concurso, vestindo short e uma blusa que deixava a barriga àa mostra. Todo este enredo, que apresenta a televisao televisão como construtora de mitos e os jornais jornais populares como responsáveis responsaveis pela criação criaeao de excepcionalidade exeepcionalidade para o seu conteúdo, contefido, discussao da dimensão dimensao imaginária imaginaria dos meios de comunicação comunieaeao nos idos de introduz a discussão 1960 na cidade do Rio de Janeiro. 1960 emissao da TV, em 1967, 1967, ja esta longe o tempo Dezesseis anos depois da primeira emissão já está improvisaeao marcava as emissões. emissoes. Entre 1967 1967 e 1979, 1979, a venda de televisoem que a improvisação História Cultural da Imprensa —

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res em preto-e—branco preto-e-branco aumenta 24,1% televisão 24,l% (Mattos, 2002:83). 2002283). Nos anos 1960, 1960, a televisao adotará popularização da sua programacao, programação, capitaneada pelo aumento adotara a estratégia de popularizacao de consumo possibilitado também política expansionista de crédito. tambe’m pela politica cre’dito. Por outro lado, frente a um regime autoritário, autoritario, os veículos veiculos de comunicação comunicacao passam a exercer papel de difusores ideológicos, público. E essa criação ideologicos, mas para isso ée’ preciso criar publico. criacao também popularização a partir de uma série tambe’m se dá (121 via adoção adocao de estratégias de popularizacao serie de mudanças programação. mudancas na programacao. – proAs telenovelas, os programas que apelam aos valores dos grupos populares — movendo, por exemplo, a mítica mitica do casamento (“Casamento (“Casamento na TV”, TV”, com Raul Longras); realizando os sonhos de futuro, premiando a performance performance e valorizando o pretenso conhecimento (“O (“O Céu Ceu é o Limite”, Limite”, com Jota Silvestre); humorísticos humoristicos (como “Balança já habitam o “Balanca mais não nao cai”, cai”, que constrói constroi a cena imagética image’tica para as vozes que ja público através das emissoras de rádio), introduzindo o chiste, a estética publico atrave’s radio), estetica do grotesco, incluindo a excepcionalidade na cena midiática –, tudo isso faz com que a TV alcance midiatica —, 42 um publico público expressivo ja já na década . de’cada de 1960 196042. Há público, como consumidor cultural, realiza múltiplos Ha que se ter em conta que o publico, multiplos usos dos materiais disponibilizados. Dessa forma, a televisao televisão não nao se reduz ao papel de indutor e formador da realidade social. Produzindo e reproduzindo significados significados plurais, elaborando respostas para este mesmo publico, público, a narrativa teleVisual televisual constrói constroi réplicas público. re’plicas significativas significativas dentro do universo cultural de seu publico. Apesar disso, não nao se pode retirar dos meios de comunicação comunicacao seu papel de elaborador de um discurso consoante àa realidade social. Ao difundir uma narrativa do mundo (selecionada entre múltiplas multiplas possibilidades factuais), a mídia midia não nao ée’ mero espelho da realidade, realizando sempre um trabalho de producao produção de significados, significados, determinantes na constituição constituicao daquilo que chamamos realidade. A narrativa imagética imagetica instaura, por outro lado, um paralelismo sem precedente na Ha a construção construcao da coincidência coincidéncia entre o temporalidade em cena pelo ato de narrar. Há acao se dá da no instante da tempo do ato de narrar e o tempo do texto de contar. A ação producao do ato elocutório, elocutorio, fazendo com que o narrador seja associado aos eventos, produção transformando—o em testemunha. A narrativa da teleVisao género for transformando-o televisão — – seja ela de que gênero — transicao entre a experiência experiéncia que precede a construção construcao do texto e a experiexperi— – produz a transição encia que lhe ée posterior (a do publico) so ganha sentido quando passa a figurar ência público) e só espe’cie de suspensão suspensao do tempo — nesse novo mundo. Introduz uma espécie – o presente do esta na tela e ée’ apresentado como presente telespectador — – por um passado que agora está

42 Não Néo é objetivo deste livro Iivro a história histéria da televisão. televiséo. Entretanto, não néo é possível possivel falar em história histéria da imprensa a televisão. televiséo. Sobre o tema, tema, cf. cf. os 05 trabalhos de Caparelli, Caparelli, Mattos e sem se referir, mesmo que brevemente, à referéncias completas, completas, ver Bibliografia. Bibliografia. Sodré. Para referências

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vivido, Neste Vivido, instaurando “o “o mundo das coisas eoisas contadas” contadas” (Ricouer, (Ricouor, 1995:115-116). 1995:115-116). Nosto sentido, também o sontido, não nao há ha diferença diforenoa entre ontro narrativa ficcional ou não-ficcional. nao—ficcional. Daí Dai tambom embaralhamento público produz em embaralhamonto de do significações significaeoos que quo o publico om relação rolaeao aos gêneros gonoros televisuais, misturando ficcional eo factual. tolevisuais, telespectador, na sua rotina diária, Na casa do tolespoctador, diaria, irrompem imagens que quo colocam em om cena temporais, interpelando-o cona o ficcional, ficcional, com todos os jogos tomporais, interpolando-o a partir desse dosse lugar, eo construindo uma tossitura tessitura do enredo enrodo que quo remete romoto às as suas exigências exigéncias eo atende atondo às as necesnocos— sidades podemos dizer sidados de do expressão oXprossao nas suas experiências oXporioneias privadas. Neste sentido, sontido, podomos que personagens arrancaquo o 0 tom coloquial, a simulação simulaeao de diálogos dialogos eo a construção construoao de porsonagons arranca— dos do mundo comum eomum não nao devem dovom ser sor explicados oxplicados apenas aponas como simulação simulaoao do que quo ée oxigéncia dos telospoetadores, quo a partir do familiar para o publico, público, eo sim como exigência telespectadores, que texto compõem própria expressividade. toxto compoom sua propria oXprossiVidade. Expressividade que práticas da oralidade quo faz das pratieas oralidado a forma mais contundente contundonto do diálogo dialogo comunicacional. Assim, a sua construção construoao imagética imagetiea se so estrutura sempre sompro em modos que quo recuperam rocuporam a materialidade matorialidade da oralidade. oralidado. O improviso da cena, como rere— curso ao tempo presente, permite, ao mesmo prosonto, produz a sensação sonsaeao de do imediatismo e pormito, mosmo tempo, transcrever transerover quase quaso que quo simultaneamente simultanoamonto os sentimentos sontimontos experimentados oxporimentados eo suas circunstâncias. televicireunstaneias. A retórica rotorica do improviso, construída construida de maneira manoira frequente frequento pela toloVi— são, promove a aproximação permissividade para a sao, promovo aproximaeao do texto ao sentimento. sontimonto. Daí Dai a pormissividade expressão, expressao, emoção, emoeao, sentimentalismos sontimontalismos que irrompem irrompom muitas vezes vezos uma narrativa que, om principio, ontromoia esse esso em princípio, precisaria de distanciamento. Mas a narrativa da toleVisao televisão entremeia improviso com a ideia textos com proton— pretenidoia generalizada gonoralizada de do documentação, doeumontaoao, sobretudo sobrotudo nos toxtos são sao àa verossimilhança, vorossimilhanoa, considerando, portanto, a falibilidade falibilidado da memória memoria do narrador eo a necessidade nocossidado de do recorrer rocorror ao documento documonto como eomo prova material da existência. existéncia. Pensar televisão éo’ trazor trazer para o centro Ponsar a narrativa da toloVisao contro do debate a questão questao da cultura e a reflexão também porcober perceber que refloXao sobre o 0 popular. É E tambom quo toda cultura oultura requer roquor uma ativiatiVi— dade, transformação, ou seja, dado, um modo de do apropriação, apropriaoao, uma adoção adoeao eo uma transformaeao, soj a, um interintor— cambio instaurado na sociedade. sociodado. câmbio So cada discurso possui em si mesmo múltiplas multiplas vozes, vozos, tambe’m quo se so Se também o discurso que matorializa em significações significaooos (símbolos, (simbolos, tradições, tradieoos, maneiras manoiras de do ver vor e expressar oxprossar o munmun— materializa valoros) polos desenvolvom seu sou conheeonho— do, valores) pelos quais os homens comunicam, porpotuam perpetuam eo desenvolvem cimonto e suas atitudes atitudos porante Vida, ou seja, soj a, a cultura, carrega earrega dentro dontro dessas dossas signisigni— cimento perante a vida, fieaooos vozes vozos dialógicas. dialogieas. ficações Som querer quoror definir dofinir eo nem mesmo mosmo enfocar onfocar as múltiplas multiplas discussões discussoes que quo se so desendoson— Sem volvom em om torno da conceituação concoituaeao de do cultura, eo partindo da promissa volvem premissa da complexidade concoito (Williams, 2000), ée preciso prociso estabelecer estabolecer filiações filiaeoos toorieas quo possibili— do conceito teóricas que possibilitam um alargamento alargamonto do olhar sobre sobro a questão questao cultural. Nosto sontido, a noção noeao de do Neste sentido, oireularidado de do Bakthin éo’ fundamental para se enfeixar as múltiplas multiplas acepções aeepooos do circularidade História Cultural da Imprensa —

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conceito, identificando-o identificando—o como eomo modo de vida Vida ou modo de luta se quisermos quiserrnos empregar a conceituação conceituaoao clássica classiea de Thompson (1961). A cultura ée’ a experiência eXperiéneia comum, a forma como cotidianamente desenvolvemos nossas ações – como processos — – na sociedade. aeoes — Ainda que tenhamos tenharnos que considerar as particularidades desse momento histórico, historico, no qual o periodo período de autoritarismo determina muito dos conteúdos conteudos veiculados pelos meios de comunicação, eomunieaeao, há ha que se relativizar esse domínio dominio a partir da noção noeao de compecompe— tência dos públicos. téncia publieos.

Sem dúvida, período autoritário duvida, as consequências consequéncias do periodo autoritario para a imprensa foram muitas. Se, por um popularização da televisao televisão —– ja já que este urn lado, cria eria condições condieoes para a popularizaeao meio ée essencial para a divulgação divulgaoao de uma imagem imagern de Brasil moderno, ainda que àa custa do reforço reforoo da tecnoburocracia tecnoburoeracia estatal e o alijamento alij amento do poder de parte substansubstan— cial da sociedade civil —, –, por outro faz com país viva um período dramático corn que o pais urn periodo dramatico no que diz respeito àa censura aos meios de comunicação. políticomunicaeao. Mudanças Mudaneas essenciais na politi— ca econômica, economica, por exemplo, como a internacionalização internaeionalizaeao da economia, são sao decididas sem incluir neste debate os grupos interessados. O mesmo se dá política da em relação relaoao àa politica salarial, fiscal, fiscal, agrícola, agricola, educacional etc. O 0 processo decisório decisorio que o governo adota sequer chega população (Singer, 1986:242). ehega ao conhecimento do restante da populaoao 1986:242). Por outro lado, para esse mesmo governo os meios de comunicação comunicaeao são sao fundamentais na divulgação divulgaeao de premissas fundamentais para a construção construeao de um Brasil que só so existe no discurso diseurso ideológico. ideolégieo. – notadamente o A popularidade dos meios de comunicação, comunicaeao, portanto, ée essencial — audiovisual — – para a construção construoao de um pensamento único unico num regime de ausência ausencia de democracia no plano politico político e onde vigora o controle rigoroso da sociedade politica política em relação relaeao àa sociedade civil. Num cenário cenario em que a imprensa desempenha papel decisivo na construção construeao do debate politieo, político, há ha que apartar das publicações publicaeoes esse tipo de conteúdo, conteudo, alijando alij ando o granate então entao existente nos jornais — de personagem até – a polemiea polêmica — – das publicaooes. publicações. O mote modernizaoao e da inclusão inclusao dos periodicos e’, portanda modernização periódicos num tempo de modernidade é, adaptaeao num cenário cenario de controle e pressoes. to, fundamental para a sua adaptação pressões.

politica: uma simbiose histórica historica Imprensa e política: analise, ainda que passageira, dos ideais dos jornais de’cada anteante— Uma análise, jornais desde a década eulminara com o suicídio suicidio de rior e da campanha empreendida pela imprensa que culminará Getulio Vargas, em 1954, 1954, bem como eomo o papel da imprensa no periodo Getúlio período anterior ao 1964 mostra a simbiose que a imprensa carioca carioea tern Golpe de 1964 tem com os temas e a polémica politiea. polêmica política.

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Os jornais constroem e referendam um discurso que faz da eloquência políeloquencia arma poli43 . Por outro lado, tica, valendo-se valendo—se da retórica retorica intempestiva e emocionada emocionada43. 1ado, articulam

uma concepção concepcao que visualizam Visualizam os leitores 1eitores como sujeitos quase passivos diante da notícia, papel de induzi-los a pensar e, em consequência, noticia, cabendo àa imprensa o pape1 consequencia, atuar como atores politicos. políticos. Há Ha ainda que se acrescentar a reprodução reproducao de um discurso bacharelesco, falando como oradores e portadores de um ideal de verdade, defendido como fundamental para a consecução justiça. Os jornais se autoinstituem como consecucao da justica. lugares de formação formacao do leitor. 1eitor. Pelo combate, seja nos editoriais, seja nas notícias, noticias, política, não produzem um sentido único finico para a cena politica, nao abrindo espaço espaco ao diálogo. dialogo. O 0 tom autoritário autoritario não nao comporta outras visões, Visoes, além ale’m daquelas defendidas pelo periodico, multiplicando notícias noticias em que reproduzem uma tematica finica — riódico, temática única – o discurso de oposição – com o propósito percepção do momento historico histórico em que oposicao — proposito de impor uma percepcao se vivia ViVia (Campos, 1996:60). 1996:60). Segundo Campos (1996), o periodo período compreendido entre 1950 1950 e 1960 1960 deve ser visto periódicos: Tribuna da Imprensa e Última Visto como de intensa oposição oposicao entre dois periodicos: Ultima Hora. A batalha discursiva entre eles e1es se intensifica intensifica na medida em que UH UH se afirma afirma no mercado jornalistico jornalístico como jornal de grande circulação. circulacao. A partir daí, dai, uma campanha sem tréguas, treguas, contra UH UH e sobretudo contra Getúlio Getfilio Vargas, na esteira da Tribuna da Imprensa, ée empreendia pelos mais importantes jornais do Rio de Janeiro que formam um bloco de poder contra Vargas nos últimos filtimos meses em que este esteve àa frente do Catete, na crise política politica de 1953-54. 1953—54. As greves de 1953, 1953, a elevação elevacao dos salários salarios dos operários, operarios, no início inicio de 1954, 1954, a radicalização radicalizacao do discurso oficial oficial e a dinamização dinamizacao da vida Vida sindical sindica1 são sao temas exploraexplora— dos ao máximo maximo pelos jornais para conseguir o apoio dos grupos médios medios para o golpe e, também, a simpatia do proletariado urbano. Os jornais criticam, em uníssono – unissono — destoando apenas UH –, a “corrupção” UH —, “corrupcao” do governo em nome da “moralidade”. “moralidade”. Dez anos depois, os nomes mudarão, mudarao, mas a ação acao da grande imprensa será sera semelhante, ao “democracia” ao “comunismo”. “comunismo”. opor “democracia” repeticao sistemática, sistematica, cunhando slogans, individualizando os personaUsando a repetição 1953-54, a corrupção corrupcao no governo, classifica classifica os gens, a imprensa critica, na crise de 1953-54, salarios, especialmente a elevação elevacao do salário salario mínimo minimo em 100%, 100%, como aumentos de salários, ameaca ou como “aberrante “aberrante subversão subversao de todos os valores profissionais”, ameaça profissionais”, ja já que pro-

43 Exemplo deste papel pode também ser recuperado, recuperado, como vestígio, vestigio, a partir da análise anélise da série “JK”, “JK”, transtrans— Televisao (2006). (2006). Na trama ficcional, ficcional, mas que tem a pretensão pretensao de reproduzir um mitida pela Rede Globo de Televisão periodo histórico histérico “real”, “real”, os meios de comunicação comunicagao são sao atores secundários, secundarios, mas sempre presentes em cena. cena. período A televisão televisao pode transmitir a primeira missa realizada em Brasília; Brasilia; o 0 rádio radio é o palco para a fala de Carlos leem, em voz alta, alta, a transcrição transcricao dos discursos polítipolitiLacerda, ao mesmo tempo em que outros personagens leem, criticas dos partidos de oposição, oposicao, notadamente a UDN, UDN, à a política politica desenvolvimentista de JK. JK. cos e das críticas 43

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duz a “elevação “elevacao do custo de vida” Vida” e a “desestabilização “desestabilizacao da economia”. economia”. Essas campacampa— nhas desgastam, profundarnente, profundamente, a imagem imagern do governo, levando ao pedido de impeachment de Getúlio, parlamentaGetfilio, em ern junho de 1954, 1954, rejeitado pela maioria dos parlarnenta— res, e àa imposição irnposicao da renúncia renfincia do Presidente, o que culmina com o seu suicídio, suicidio, em agosto daquele ano. A grande imprensa do Rio, nesse episódio, episédio, defende os interesses dos grupos que lhe dão sustentação e prepara o clima sociopolítico, dao sustentacao sociopolitico, de forma a legitimar a intervenção cao em ern curso, criando uma atmosfera de desfecho urgente para a crise, a partir do atentado da rua Toneleros.

O país, Diário de Noticias, Notícias, de 6 de agosto, sente-se pais, segundo o Didrio sente—se “insultado “insultado com o bárbaro barbaro assassínio”. assassinio”. O Globo acrescenta: “Novas “Novas revelações revelacoes sobre o revoltante atenaten— tado.” Manhã em manchete destaca “a tado.” O Correio da Manhd “a multidão multidao que acompanhou a pé o 0 major assassinado”. Diário Carioca procura evidenciar a reação público, geneassassinado”. O Didrio reacao do pfiblico, gene— ralizando a reação: reacao: “Chorou “Chorou a cidade: indignados os militares.” militares.” E completa: “Povo “Povo 44 chora, ajoelha e grita na rua.” rua.”44 Apenas com essas manchetes, percebe-se que os jornais procuram generalizar as

reações população — – identificada reacoes ao atentado, imputando a toda a populacao identificada pelas palavras povo, multidão – a revolta por um multidao e cidade — urn atentado que deve ser visto Visto como corno brutal, bárbaro barbaro e revoltante. Além disso, publicarn publicam matérias políticos, das Forças Ale’m mate'rias em que mostram a reação reacao dos politicos, Forcas Armadas e da Igreja, criando um urn clima clirna de aparente unanimidade nacional contra o

atentado e contra o Governo. A multidão, periódicos, “gente multidao, segundo os periodicos, “gente de todas as classes”, país e a nação A notícia do Correio da classes”, o 0 povo, a cidade, o pais nacao condenam o 0 crime. Anoticia Manhã, “Aos Manhd, “Aos gritos pedia a multidão, multidao, vamos varnos ao Catete”, Catete”, ée’ representativa para mostrar este clima. clirna. “O “O corpo do major Vaz ficou ficou exposto em ern câmara camara ardente no Clube da Aeronautica (...). Foi levado pelo povo, em cortejo fúnebre: ffinebre: verdadeira multidão, multidao, comnáutica posta de gente de todas as classes. Abrindo o cortejo uma faixa com a seguinte inscricao: Para honra da nação nacao confiamos confiamos que este crime não nao fique fique impune (...). inscrição: Lenta— Saindo do Clube da Aeronautica Aeronáutica o cortejo ganhou aaAvenida Avenida Rio Branco. LentaInulheres, militares e civis ciVis avançaram avancararn silenciosos mente foi seguido. Homens e mulheres, Algue’m sugere: Pelo Catete! Catete! Vamos passar pelo Catete! Catete! A sugestão sugestao contagia (...) Alguém Erguem—se vozes de revolta incontidas. E o cortejo prossegue em carro o povo. Erguem-se funerario. A pé.” 1954, p. 1-2) 1—2) funerário. pé.” (Correio da Martha, Manhã, 6 de agosto de 1954,

44 Cf. edições edicoes do Diário Diério de Notícias, Noticias, Diário Diério Carioca, Car/00a, O Globo e Correio da Manhã Manha" de 6 de agosto de 1954, 1954, p. p. 1. 1.

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Procurando criar fidedignidade fidedignidade a partir do relato, o jornal mostra, pela descrição descricao pormenorizada, o repúdio repudio da população populacao ao atentado e a coragem dos que se opõem opoern ao

Governo. O clímax população climax do texto ée construído construido a partir da descrição descricao da reação reacao da populacao que engloba, de forma indeterminada, homens e mulheres, civil e militar. A0 Ao lado de um representante das Forças Forcas Armadas, um homem do povo fala de sua esperança, esperanca, que, na ótica população: “Fé otica do jornal, reproduz a de toda a populacao: “F e num nurn Brasil mais livre e mais limpo”, na medida em que esteja “livre “livre do poder corrupto.” corrupto.” limpo”, Dez anos depois, na crise de 1964, 1964, que culminaria com a deposição deposicao do presidente João político central no Joao Goulart, também tambe’m a imprensa exerce papel de personagem politico desenrolar da trama. Nesse contexto, as divergências divergencias entre a Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda, e a Última Ultima Hora, de Samuel Wainer, assumem lugar central. Esse embate deve ser entendido como ação acao de forças forcas concorrentes pela formulação periódicos 9510 ou cu conservação conservacao de uma dada visão Visao do mundo social. Assim, esses periodicos lutam por hegemonia, no sentido de Gramsci, tentando conquistar o poder simbólico sirnbolico de fazer ver e fazer crer, predizer e prescrever, dar a conhecer e fazer reconhecer (Bourdieu, 1990:174). – envolvendo críticas, 19902174). A lógica logica discursiva — criticas, confrontos e campacampa— nhas entre os jornais — – é determinada pela necessidade de os veículos veiculos afirmarem afirrnarem suas concepções concepcoes e legitimarem a identidade construída, construida, na qual se sobressai a imagem de formador de opiniões. opinioes. Concorrem, pois, pelo papel de divulgador, estruturador e centralizador das visões Visoes de mundo da sociedade. Dessa forma, forrna, mesmo em confronto, estão estao situados em campos idênticos. identicos. O que sobressai ée’ o jogo retórico retorico e teatral das diferendiferen— ças cas e oposições, oposicoes, para exercer o monopólio monopolio da enunciação enunciacao legítima, legitima, na qual está esta embutida a afirmação afirrnacao de um ponto de vista Vista particular para o restante da sociedade, elaborando, dessa forma, forrna, representação representacao igualmente igualrnente tida como corno legítima legitima (Bourdieu, 1989:175). 1989: 175). Às vésperas As ve’speras do golpe militar de 1º 10 de abril de 1964, 1964, a Tribuna da Imprensa regisregis— tra o discurso de João Associação dos Subtenentes e Sargentos, no qual Joao Goulart na Associacao enfatiza a necessidade de reformas, como um sinal de que o presidente teria se procla— procla“ao lado da sedição sedicao e da subversão”, subversao”, prestigiando pessoalmente “o “o processo de mado “ao insubordinacao de soldados e sargentos das Forças Forcas Armadas” “va— insubordinação Armadas” e, assim, negado a “vaeficacia às as leis que regulamentam regularnentam os militares, que regem regern as relações relacoes entre lidade e eficácia comandados”. E continua: comandantes e comandados”. “so reconheceu a validade e a eficácia eficacia dos sindicatos e demais entidades “Só cupulas comunistas. Foi um festival de demagogia e controladas pelas cúpulas J0510 Goulart indisciplina. (...) Agora no Automovel Automóvel Clube, os sediciosos e o0 Sr. João Cairam as máscaras mascaras e as distâncias. distancias. Os sargentos, estiveram juntos e unidos. Caíram enfim, revereve— os fuzileiros navais, os soldados da minoria sediciosa puderam, enfim, espirito.” (Tribuna da renciar o seu comandante — – presente de corpo e de espírito.” Imprensa, 31 31 março marco de 1964, 1964, p. 1) l) História Cultural da Imprensa —

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O Exército Exe’rcito articulado e aliado a setores conservadores desfecharia o golpe contra o governo Goulart no dia seguinte, tomando o poder. A imprensa, quase de forma unânime unanime (a exceção excecao representativa ée a do jornal Última Ultima Hora), dá da “vivas” “Vivas” àa ação acao dos afirmando, em inflamados inflamados editoriais, a legitimidade do movimento. Um militares, afirmando, exemplo ée’ o0 editorial publicado na Tribuna da Imprensa intitulado “Pela “Pela recuperação recuperacao do Brasil”. Brasil”. “Escorraçado, “Escorracado, amordaçado amordacado e acovardado deixou o poder como imperativo da legítima legitima vontade popular, o 0 sr. João J0510 Belchior Marques Goulart, infame líder lider dos comuno-carreirista-negocistas-sindicalistas. comuno—carreirista—negocistas-sindicalistas. Um dos maiores gatugatu— nos que a história já registrou, o sr. João historia brasileira ja J0510 Goulart passa outra vez àa história, também como um dos grandes covardes que ela já conheceu”. historia, agora tambe’m elaja conheceu”. (Tribuna da Imprensa, 2 abril de 1964, 1964, p. 1) l) Fazendo eco a esta posicao posição politica política —– como se constituíssem constituissem uma mesma materialidade textual tal ée a semelhança –, outros periodicos, periódicos, que semelhanca entre as opiniões opinioes —, pouco tempo depois se colocariam como opositores ao regime, apoiam integralmente a ação página 6 da edição acao dos militares. Num texto publicado na pagina edicao de 1º 10 de abril de 1964, título “Não Manhã afirma 1964, sob o titulo “Nao pode continuar”, continuar”, o Correio da Maniac? afirma que o presidente da República, juramento, Republica, por ter “se “se incompatibilizado com seus deveres, com seu juramento, com o Congresso, com as Forças trabalham”, Forcas Armadas, com todos os que produzem e trabalham”, levara o “país “pais para a subversão”, subversao”, para a “beira “beira da guerra civil ciVil e até ate mesmo àa guerra civil”, prossegue: civil”, não nao podendo continuar sendo presidente. E prossegue: “É país. “E demais. O sr. João Joao Goulart destruiu a base da liberdade neste pais. Destruiu os fundamentos da nossa independência. independéncia. Destruiu, por muito tempo, todas as possibilidades do nosso desenvolvimento, tornou difícil dificil as possibilidades de reequilibrar as finanças país, e mais difícil financas e a economia do pais, dificil ainmise’ria do nosso povo, àa qual acaba de da as possibilidades de acabar com a miséria desgraca de um conflito conflito fratricida. É E culpado de um monstruomonstruo— acrescentar a desgraça Republica”. (Correio da so crime politico. político. Nao Não pode continuar presidente da República”. Manhd, 1964, p. 6) Manhã, 11 de abril de 1964, A grande imprensa, quase em uníssono, unissono, continua apoiando o movimento militar. Vitoria, o Correio da Manhd Com o0 editorial Vitória, Manhã enfatiza: “A nação nacao saiu vitoriosa Vitoriosa com o afastamento do sr. João J050 Goulart da Presi“A dencia da República. Republica. Nao possivel mais suportá-lo suporta-lo em consequência consequencia de dência Não era possível administracao que estabelecia, em todos os setores, o tumulto e a sua nefasta administração pais foi vítima Vitima de uma terrível terrivel provacao desordem. O país provação que abalou a sua pro— pródemocratica”. (Correio da Mani/1d, 1°abril 1964, p. 1) 1) pria estrutura democrática”. Manhã, 1º abril de 1964,

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Mais adiante se coloca no papel de vigilante Vigilante da ação acao democrática. democratica. Cabe, na conscons— trução vigente, trucao Vigente, àa imprensa ser guardiã guardia da Constituição. Constituicao. Mais do que o poder de inforinfor— mar, de formar, os jornais se autoatribuíam autoatribuiam a função funcao de vigilante Vigilante das liberdades demodemo— cráticas. craticas. Têm, Tem, sobretudo, função funcao política. politica. “Todavia, “TodaVia, estamos em nossos postos, prontos para defender a Constituição, Constituicao, o Congresso Nacional, a democracia, a liberdade. O afastamento do sr. João Joao Goulart não justifica de modo algum um regime de exceção. Não justifica justifica vionao justifica excecao. Nao Vio— lências léncias nem crimes cometidos contra a liberdade individual e coletiva.” coletiva.” Assim:

“Não – e o fazemos com autoridade e isenção restau“Nao admitimos — isencao que para se restau— rar a disciplina se restabeleça Não podemos restabeleca o arbítrio arbitrio de quem quer que seja. Nao consentir que levemente se restrinjam restrinj am a liberdade de imprensa, a liberdade de reunião, partidária, ou melhor, que sofra o reuniao, a liberdade sindical, a liberdade partidaria, arranhao a livre manifestação manifestacao das ideias. (Idem, (Idem, ibidem. Grifos nossos) menor arranhão político consciente e atuante, portador de A imprensa se percebe, pois, como ator politico uma missão missao essencialmente política politica (Aldé, (Alde’, 1997:40). 1997240). É E nesse papel que se arvoram a não nao admitir e a não nao poder consentir, se autoatribuindo um lugar de poder muito maior do que o0 de qualquer outra instituição. instituicao. Como comunidade interpretativa (Zelizer, 1992), jornalistas se instituem como 1992), os jornalistas transmissores de conhecimentos, mas sobretudo como orientadores acerca de padroes padrões de comportamento e padroes padrões políticos. porta-vozes legítimos politicos. A imagem de porta—vozes legitimos da população 950 ée fundamental para que tenham direito, na sua argumentação, argumentacao, a apresentar interpretações legítimas pretacoes legitimas do mundo. No dia 2 de abril de 1964, 1964, numa edição edicao em que estampa a manchete “Empossado “Empossado Presidencia”, logo abaixo de um intertítulo intertitulo que informa “fugiu “fugiu Goulart e Mazzilli na Presidência”, esta sendo restabelecida”, restabelecida”, tambe’m 0 Globo enfatiza o fato de o 0 movia democracia está também O Forcas Armadas ser a possibilidade de volta da democracia. Em um editoedito— mento das Forças rial na primeira pagina, página, sob o titulo título Ressurge a Democracia!, sentencia: “Vive a Nacao unir—se todos os patriotas, “Vive Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se Vinculacoes politicas, opiniao sobre problemas independente de vinculações políticas, simpatias ou opinião Gracas a isolados para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças decisao e ao heroísmo heroismo das Forças Forcas Armadas, que obedientes a seus chefes dedecisão Visao dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplidiscipli— monstraram a falta de visão irresponsavel, que insistia em arrastá-lo arrasta-lo para na, o0 Brasil livrou-se do Governo irresponsável, contrarios a sua vocação vocacao e tradições”. tradicoes”. (O (0 Globo, 2 abril de 1964, 1964, p. 1) 1) rumos contrários História Cultural da Imprensa —

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Manhã noticia a invasão jornais Tribuna da Neste mesmo mesrno dia, o Correio da Maniac? invasao dos jornais Imprensa e O Globo por uma tropa de choque de fuzileiros navais.

“Sob “Sob a alegação alegacao de que cumpriam cumpriarn ordens do Governo, tropas embaladas ernbaladas do Corpo de Fuzileiros Navais impediram ontem pela manhã manha a circulação circulacao de O 0 Globo e da Tribuna da Imprensa, invadindo as redações, redacoes, paralisando as máquinas maquinas e dando ordens aos funcionários funcionarios para que se retirassem. retirassern. Nos dois casos, o almirante Aragão compareceu depois de efetuada a ocupaalrnirante Candido Aragao ocupa— ção, cao, acompanhado acornpanhado de um assessor portando metralhadora, rnetralhadora, sendo que no Globo invadiu o gabinete dos diretores e fez uma advertência adverténcia (sempre com a metralhadora apontada) para que não nao ousassem desobedecer a ordens”. ordens”. (Correio da Manhfi, Manhã, 2 abril de 1964, 1964, p. 2) No dia seguinte, em editorial, repudia não nao a ação acao dos militares ao deporem o 0 presidente, mas página 6, o rnas a investida contra os jornais, estampando com corn destaque, na pagina título titulo Basta: fora a ditadura! ditadura! O texto, entretanto, investe veementemente contra a desdes— truição periódicos que propugnarn propugnam pelo truicao dos jornais, deixando clara a aliança alianca entre os periodicos papel legítimo podem tudo falar, legitimo de intérpretes interpretes da realidade social. E, neste papel, podern tudo fazer. O 0 editorial, na verdade, é um libelo contra o então entao governador Carlos Lacerda e a investida da DOPS da Guanabara contra alguns jornais. “A “A Divisão Divisao de Ordem Ordern Política Politica e Social da Guanabara informa ter descoberdescober— to um urn plano dos subversivos, para ocupar e empastelar os jornais, inclusive esse jornal. Essa informação pré-fabricainformacao não nao nos assusta. Esses Planos Cohen, pré—fabrica— dos, ja já não nao assustam ninguém. ninguem. Apenas enfeitam de colorido histórico historico as outras informações, informacoes, admissões admissoes e confissões confissoes dessa DOPS, que representa a ordem política Manhã, 2 abril de 1964, litica e social do sr. Carlos Lacerda”. Lacerda”. (Correio da Martha, 1964, p. 6) Em seguida, refere-se refere—se explicitamente àa invasão invasao do jornal Última Ultima Hora. “so uma urna ilegalidade a DOPS não nao confessa, nem menciona: a invasão invasao e a “Só destruicao do vespertino Última Ultima Hora. Pode-se Pode—se discordar — corno discordadestruição – como orientacao desse jornal. Mas ée’ um jornal. O ataque a esse como a mos — – da orientação qualquer jornal ée’ crime contra a liberdade de imprensa. Advertimos todos os jornais da Guanabara e do país: pais: se o 0 crime contra aquele vespertino ficar ficar acabou”. (Idem, (Idem, ibidem) impune, a liberdade de imprensa no Brasil acabou”.

O que é importante para os jornais ée’ continuar a exercer o papel de direcionadores opiniao do pais, da opinião país, funcionando como atores politicos políticos privilegiados, ja já que sua orientacao, sua opinião opiniao e, sobretudo, seus ecos discursivos ée’ que tornam o mundo real para tação, o leitor. Assim, se no momento anterior figuram figuram como adversários, adversarios, ao ter afetado seu

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papel de porta-vozes reconhecidos, reconheeidos, se unem em favor de um objetivo mais amplo: a

construção construeao da imprensa como o lugar do exercício exercicio da verdadeira liberdade.

Sob o signo da censura Analisar o papel da censura eensura durante os anos 1960-70 1960-70 significa signifiea também estabelecer um urn diálogo dialogo com a memória memoria construída construida acerca da ingerência ingeréncia sobre os meios de comucornunicação nicaeao nesse momento, como bem lembra Aquino (2002:514). A autora afirma afirma que alguns trabalhos, elaborados sobre esse periodo período que tem a censura como um eensura eomo urn de seus aspectos, acabam, por vezes, construindo uma imagem imagern estereotipada da censura viVi— gente durante o regime militar. Essa imagem constrói constroi a ação aeao censória censoria como unilinear e aleatória, aleatoria, agindo ao sabor das circunstâncias, cireunstancias, muito em ern função funeao da ação aeao de agentes individuais, sem correlacionar a lógica logica da censura ao momento histórico. historico. Nessas conscons— truções, o Estado, entendido como sociedade politica, política, seria dotado de uma espécie trueoes, espe’cie de vontade própria, responsável pela condução dos destinos da nação. E, por fim, propria, responsavel condueao naeao. firm, a imim— prensa vítima Vitima do algoz censor, que mesmo assim procura brechas para cumprir a sua “missao” de formar e informar e, por isso, exerce uma luta sem treguas “missão” tréguas para restaurar a liberdade de expressão expressao (Aquino, 2002:515). 20022515).

Há, Ha, portanto, idealização idealizaeao na forma como se percebe a atuação atuaeao da imprensa duranduran— também, idealização te períodos periodos de exceção. exceeao. Há, Ha, tambem, idealizaeao na divulgação divulgaeao recorrente do discurso de que a imprensa luta bravamente —– de maneira indiscriminada e genérica – contra generica — a ação prática, essa luta não tão uníssona, também se observam aeao da censura. eensura. Na pratiea, nao é tao unissona, como tambe’m acomodações. acornodaeoes. Como uma empresa que procura aferir lucros e ganhos simbólicos, simbolicos, a imprensa se defronta entre a construção heconstrueao de um discurso que a coloca num lugar he— roico e a sua própria jornalístico e de bens simbólicos. propria sobrevivência sobreViVéncia no mercado mereado jornalistico simbolicos. política, conduzida em momentos de autoritarismo, geralmente age de A censura politica, nao constante, e de maneira diferenciada em relação relaeao aos veícuveicuforma intermitente, mas não cornunicaeao. Desde o golpe de 1964, 1964, informa Aquino (Idem: 516), instauram-se instaurarn-se los de comunicação. meeanismos para controlar as informações informaeoes veiculadas. Há Ha a preoeupaeao mecanismos preocupação com o armazenarnento de informações informaeoes e com a divulgação divulgaeao que a imprensa poderia produzir armazenamento para o publieo. 1964, cria-se cria—se o Serviço Servieo Naeional Informaeoes (SNI) e, público. Assim, em 1964, Nacional de Informações final da década, de’cada, estruturam-se estruturarn-se os centros de informação informaeao do Exército Exercito (CIE), da no final Aeronautica (D’Araujo, 1994). 1994). Aeronáutica (CISA) e se rearticula o centro da Marinha (CENIMAR) (D’Araújo, No periodo irnediatamente após apos o golpe e até ate 1968, 1968, a forma mais comum de coneon— período imediatamente trole da informação informaeao ée o telefonema para as redações redaeoes de jornais proibindo a divulgação divulgaeao noticias. Mas ée principalmente a partir da edição edieao do AI—5 aeao da censura eensura ée de notícias. AI-5 que a ação mais contundente. Aquino (2002) atribui esse fato ao acirramento das tensoes tensões entre o História Cultural da Imprensa —

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governo e instituições instituicoes da sociedade civil e das relações relacoes no interior da Forças Forcas Armadas. Outros autores (Marconi: 1980) 1980) localizam esse recrudescimento a partir de outuoutu— bro de 1968, 1968, dois meses antes da edição edicao do Ato Institucional, com a invasão invasao da Tribuna da Imprensa45 Imprensa45 por censores militares. Também Jornal do Brasil é, Tambe’m o Jamal e’, no mesmo período, prévia. periodo, colocado sob censura previa. “Enquanto me“Enquanto o Presidente Castelo Branco se negava a adotar qualquer me— dida restritiva da liberdade de imprensa, violências jornalisvioléncias contra jornais e jornalis— tas se verificavam pressão se exercia verificavam aqui e ali, fora dos grandes centros, e pressao sobre a atividade jornalistica, jornalística, por parte de autoridades encarregadas da segusegu— rança. ranca. Deve-se Deve—se registrar, entretanto, que, no seu primeiro estágio, estagio, o governo revolucionário revolucionario evitou obstruir a livre circulação circulacao das ideias, das opiniões opinioes e das informacoes.” (Jobim, (Jobirn, 1984:25) 1984225) informações.” O pressão e contro0 depoimento depoirnento de Danton Jobim revela a existência existéncia de formas de pressao le que extrapolam extrapolarn as determinações determinacoes do Executivo. Investidos no papel de exercer a segurança, seguranca, os agentes encarregados de fazer funcionar a máquina maquina burocrática burocratica do concon— trole das informações prática não informacoes agem de forma autoritária, autoritaria, ainda que na pratica nao existam medidas legais que os respaldem. respaldern. No período periodo Costa e Silva a situação situacao se agrava.

“Já “Ja no segundo estágio, estagio, o período periodo Costa e Silva, repetiu-se aquela situasitua— ção cao que se instalaria sob o Governo Provisório Provisorio da Primeira República. Repfiblica. Começou mecou a inquietar os círculos circulos ligados àa segurança, seguranca, sobretudo militares, o 0 comcom— portamento da imprensa. Afirmou—se Afirmou-se que os jornais e os 03 grandes magazines não nao sintonizavam sua dupla tarefa de informar e orientar com o esforço esforco dos órgãos orgaos controlados pelos militares, empenhados em eIn fazer frente àa guerra revolucionária; volucionaria; que, ao denunciar violências violéncias dos agentes do Governo ou exploexplo— rar os acontecimentos, estimulavam agitadores e contagiavam grupos sociais vulneraveis àa ação acao subversiva organizada; que se achando o pais bracos vulneráveis país a braços revolucionaria, das quais eram episódios episodios as manifestações manifestacoes estucom a guerra revolucionária, nao se concebia que a imprensa tratasse tao dantis e os atentados terroristas, não tão

45 Em outubro de 1961, 1961, o então entao governador da Guanabara, Carlos Lacerda, Lacerda, vende a Tribuna Tribuna da Imprensa a direcao a Mário Mario Faustino e Paulo Francis. Francis. Pouco Manuel Francisco do Nascimento Brito, que entrega sua direção depois, em 12 de março marco de 1962, 1962, o jornal é vendido a Hélio Fernandes. Sob sua direção direcao a Tribuna Tribuna faz tempo depois, oposicao a Goulart, Goulart, apoia o golpe de 64, 64, mas, mas, em seguida, passa a combater o governo Castelo Branco. Branco. oposição eleigoes legislativas de 1966, Hélio Fernandes tem sua candidatura a deputado federal Quatro dias antes das eleições ocasiao da morte de Castelo Branco, Branco, escreve violento editorial pelo MDB impugnada. Em julho de 1967, por ocasião indignacao nas Forças Forcas Armadas e o leva à a prisão, prisao, durante 30 dias, dias, em sobre o ex-presidente, que provoca indignação DHBB, op. op. cit. cit. Fernando de Noronha. Ver DHBB,

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levianamente leVianamente os temas explosivos que vinha Vinha expondo não nao apenas com realisrealis— mo, mas com exagero sensacionalista.” Idem, ibidem) sensacionalista.” (Jobim, Idem, O argumento usado pelo Governo para a instauração instauracao da censura coloca em evidênevidencia o papel que se atribui naquele momento aos meios de comunicação: comunicacao: além ale’m de informar, estes deveriam “orientar” população, tutelados pelo Executivo. Assim, os con“orientar” a populacao, teúdos que poderiam servir teudos serVir de estímulo estimulo àa oposição oposicao aos militares deveriam ser alijados alij ados das publicações. período de “guerra” publicacoes. O argumento de que se vive Vive um periodo “guerra” (promovida justificar as ações pelos estudantes e pelos “terroristas”) “terroristas”) serve para justificar acoes de exceção. excecao. Se, inicialmente, no momento de deflagração deflagracao do golpe militar, a grande imprensa e as Forças Forcas Armadas formam um bloco hegemônico hegemonico no sentido de conseguir a dissodisso— lução prolucao do governo constitucional (o que segundo os atores que participam desse pro— cesso, ée fundamental para o sucesso do movimento de abril de 1964), 1964), no momento seguinte essa aliança alianca se dissolve. “A “A grande imprensa e as Forças Forcas Armadas, dois fatofato— res de cuja aliança alianca resultou, em boa parte, a Revolução, Revolucao, por fim fim se dissociavam.” dissociavam.” (Jobim, Idem, Idem, ibidem) Logo após apos o episódio episodio que resultou na morte do estudante secundarista Edson Luís Luis no restaurante do Calabouço, Calabouco, há ha o 0 recrudescimento da ação acao repressiva contra alguns título Violência, Manhã jornais. Na edição edicao de 5 de abril de 1968, 1968, sob o titulo Violéncia, o Correio da Marthe? descreve o que chama “atos “atos deprimentes contra a liberdade de imprensa praticados pela milícia milicia armada”. armada”. “Repórteres “Reporteres e fotógrafos fotografos eram caçados, cacados, ameaçados ameacados ou agredidos em via Via pública pelos belequins, quando cumprindo a sua missão. publica missao. (...) E culminaram essa façanha facanha na hora em que, através atraVés do ofício oficio do CONTEL, o Governo retirou do ar a Rádio Radio Jornal do Brasil, porque esta emissora realizava a tarefa normal e natural de qualquer órgão orgao de imprensa, isto é, informar e relatar os acontecimentos”. (Correio da Mani/167, 1968, p. 1) 1) acontecimentos”. Manhã, 5 abril de 1968, No dia seguinte, o jornal denuncia a prisao prisão de jornalistas: jornalistas: “Para não nao serem fotografados enquanto transportavam mais de 300 pes“Para haViam saído saido do cinema Metro-Copacabana eeArt—Palacio, oficiais e soas que haviam Art-Palácio, oficiais soldados do Forte de Copacabana prenderam na madrugada de ontem, na reporter do Correio da esquina da AV. Av. Atlantica Atlântica com Joaquim Nabuco, um repórter Manha, um motorista e quatro repórteres reporteres do Jornal do Brasil, levando-os levando—os para Manhã, camioneta”. (Correio da Martha, 1968, p. 3) o Forte, dentro da camioneta”. Manhã, 6 abril de 1968, Na pagina integra da Portaria nº n0 117 117 — acao da página 5 publicam a íntegra – GB, que proibe proíbe a ação divulgacao de qualquer atividade atiVidade dessa Frente. O documento deterFrente Ampla e a divulgação História Cultural da Imprensa —

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mina às prisão em flagrante as autoridades policiais “a “a prisao flagrante delito de todos quantos forem encontrados violando proibição inserta no artigo 16, Violando a proibicao 16, item III, 111, do Ato Institucional nº n0 2 de 27 de outubro de 1965, 1965, combinado com o disposto no Ato Complementar nº n0 11 da mesma data”. data”. Determina ainda a apreensão apreensao de livros, jornais ou quaisquer publicações coes que divulguem manifestações manifestacoes de pessoas ligadas àa Frente Ampla. (Correio da Manhã, 6 abril de 1968, Manhd, 1968, p. 5) A censura age — – segundo depoimentos dos personagens que vivem Vivem o cotidiano das redações período46 — – por meio de telefonemas ou bilhetes encaminhados às redacoes neste periodo46 as redações prévia, normalmente quando o jornal jornal se recusa a aceitar dacoes ou através atraVes da censura preVia, as ordens ou por haver o entendimento de que seria necessário necessario maior controle de determinado veículo. veiculo. Neste caso, os censores instalam-se nas redações redacoes e são sao encarreencarre— gados de vetar, integral ou parcialmente, as matérias, publicação. materias, antes de sua publicacao. “Havia polícia e aquela que era feita através “HaVia censura da policia atraVes da troca de favofavo— res. Os donos dos jornais telefonavam para o governo pedindo favores e asas— sim também não tambe’m o governo se achava no direito de telefonar para pedir que nao fossem publicadas certas notícias. noticias. É E muito importante estabelecer o seguinte: dos jornais diários prévia foi a Tribuna diarios brasileiros, só so quem tem teve censura pre’Via 10 anos agora no dia 23 de outubro, e da Imprensa que iria completar 10 O Estado de São Não sao Paulo e Jornal da Tarde por 20 meses. Só, so, mais nada. Nao houve censura prévia pre’Via em nenhum outro jornal diário. diario. Nos semanários semanarios muita realmente.” realmente.” (Fernandes, Hélio. Helio. Depoimento a Marconi, em 22 setembro de 1978, 1978, op. op. cit.: cit: 167) 167) Se, inicialmente, a censura fica fica a cargo das Forças F orcas Armadas (Hélio (Helio Fernandes em seu depoimento a Marconi descreve as visitas Visitas recebidas na Tribuna de coronéis coroneis do Exército persuadi-lo num primeiro momento e num seExe’rcito e outros oficiais, oficiais, para tentar persuadi—lo se— gundo para exercer a censura preVia), prévia), num segundo momento passa a ser de responsaresponsa— Ministe’rio da Justiça Justica e, finalmente, finalmente, da Polícia Policia Federal. bilidade do Ministério (op. cit.: cit; 519), a única {mica tentativa de regu— Quanto ao aspecto legal, enfatiza Aquino (op. regulamentacao do exercício exercicio da censura preVia introducao de adendos ao lamentação prévia ocorre com a introdução Artigo 153, 153, § 8º, 8°, da Constituição Constituicao de 1967. 1967. Esses adendos são sao introduzidos pelo De— Decreto—lei nº n0 1077 1077 de 26 de janeiro de 1970. 1970. A parte final final estabelece que “não “nao serão serao creto-lei exteriorizacoes contrárias contrarias àa moral e aos bons costumes”. costumes”. toleradas as publicacoes publicações e exteriorizações 0 decreto relaciona eventuais proibicoes “um plano subversivo que poe O proibições a “um põe em risco a

46 Cf. Chagas, Carlos. In: 113 113 dias de angústia. angL'Istia. Porto PortoAIegre: Editores, 1979; 1979; Dines, Dines, Alberto. Alegre: L&PM Editores, Alberto. Depoimenoutros. to a Marconi (1978), entre outros.

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segurança seguranca nacional” nacional” e encarrega o Ministério Ministerio da Justiça Justica e a Polícia Policia Federal, por meio do Conselho Superior de Censura e do Juizado de Menores, de cercear as publica— publicações, coes, podendo inclusive determinar a busca e apreensão apreensao de todos os exemplares. A Tribuna da Imprensa ée’ ocupada por censores militares em outubro de 1968, 1968, dois meses antes da edição Jornal do Brasil ée’ colocado sob censura previa prévia edicao do AI-5. O Jamal de dezembro de 1968 S. Paulo e o Jamal Jornal da Tarde 1968 a janeiro de 1969. 1969. O Estado de S. têm suas edições apreendidas pela polícia, no mesmo período. A ação tem edicoes policia, periodo. acao censória censéria àa imim— período, a então proprieprensa perdura, com intensidade variada, de 1969 1969 a 1978. 1978. No periodo, entao proprie— tária do jornal Correio da Martha, Manhã, Niomar Muniz Sodré taria Sodre Bittencourt, ée presa, ficando ficando 23 dias em regime de incomunicabilidade. A justificativa justificativa recai no fato de o0 jornal ter publicado artigos e reportagens de cunho oposicionista. Em 11 11 de setembro dada— 47 quele ano, o jornal ée’ arrendado arrendado“.. A recapitulação recapitulacao dos fatos que antecederam a mudança de direção do periódico aparece no editorial “Retirada”: ca direcao periodico “Retirada”:

“Para “Para inventariar os fatos mais recentes e significativos significativos recordarei apenas que no dia 7 de dezembro de 1968 1968 uma bomba de alto teor explosivo foi atirada contra a nossa agência Av. Rio Branco, recém-reformada. agéncia da AV. recem—reformada. A 13 13 do mesmo mês, mes, tivemos a redação redacao invadida por policiais, de metralhadoras e revólveres, revolveres, para prenderem, não nao a mim, mas ao nosso diretor-superintendendiretor—superintenden— te e redator chefe Osvaldo Peralva, e que só so foi posto em liberdade no dia 28. Em 7 de janeiro de 1969, 1969, toda a edição edicao do Correio da Manhã Manha foi apreendida, antes mesmo de ser integralmente impressa, e todos nós nos fomos arrastados ao cárcere, carcere, ficando ficando ainda a Casa submetida a regime de terror. A 16 16 de fevereiro o jornal teve a sua circulação circulacao suspensa por 5 dias, enquanto a nossa sede, escritórios, agências – que imprimiam outros jornais jornais — – foram torios, agencias e oficinas oficinas gráficas graficas — interditados pela politica. política. A 12 12 de março, marco, em decorrência decorréncia de todos esses fatos, a Empresa era compelida a pedir concordata preventiva, a fim fim de evitar eVitar o pior, faléncia”. (Correio da Manhd, 11 setembro de 1969, 1969, p. 1) 1) que seria a falência”. Manhã, 11 Assim, ainda que haja múltiplas multiplas formas censórias censorias àa imprensa, sobretudo no perio— períoha que se considerar tambem reacao da imprensa tambem do pos-AI-S, pós-AI-5, há também que a reação também ée diversificada. Há Ha aqueles que optam por aceitar as ordens que chegam àa redação redacao por diversificada. ha aqueles que de fato sofrem censura preVia ha meio de bilhetes e telefonemas; há prévia e há inclusao no ato censório censorio posteriormente a sua aqueles que promovem um discurso de inclusão

47 47 Em 1969 1969 o Correio da Manhã Manha" foi arrendado por um prazo de cinco anos a um grupo liderado Iiderado por Maurício Mauricio deAIencar, irméo de Marcelo Alencar, Janeiro, ligado à a CompaCompa— Nunes de Alencar, irmão Alencar, que viria a ser governador do Rio de Janeiro, pais. O jornal deixaria de circular em 8 de julho nhia Metropolitana, uma das maiores empreiteiras de obras do país. 1974. Sobre o período periodo final do Correio da Manhã, Manha", cf. cf. o 0 próximo proximo capítulo. capitulo. de 1974.

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efetiva existência, existéncia, como forma de se incluir num movimento de defesa do interesse do público. pfiblico. Para muitos jornalistas e para muitos jornais ée’ mais interessante construir uma história – sendo identificado historia de destemor e de lutas — identificado como portadores dos anseios do pl’iblico público — – do que revelar as aproximações têm com o poder. aproximacoes que de fato tem A maioria dos jornais curva-se às as ordens superiores, introjetando introj etando o discurso

proibitivo antes mesmo que ele chegue às as redações. redacoes. Já Ja os que tentam exercer oposição oposicao ao regime, são submetidos à ação da censura, como a Tribuna da Imprensa. sao a acao “Você “Vocé pode dizer que havia haVia um clima de intimidação, intimidacao, ée verdade. O clima não propício ao jornalismo, não nao era propicio nao era. Mas um jornal, embora seja uma empresa, ée um negócio negocio diferente de um supermercado. Se você vocé resolve fazer nao botam a um jornal, mesmo que o clima seja intimidativo, enquanto não garrucha na sua garganta você vocé ée obrigado a gritar. Meu lema sempre foi esse”. esse”. He’lio citado por Marconi, op. op. cit.: cit: 60) (Fernandes, Hélio ponA censura prévia pre’Via exercida por censor enviado enViado àa redação redacao ée aplicada aplieada de modo pon— tual e, sobretudo, sem regras claras (Kucinski, 2002:534). Para Kucinski, entretanto, esses movimentos incidentes de censura são sao frequentes. Citando o levantamento rearea— lizado por Paolo Marconi (1979) e as conclusões conclusoes de Aquino (1990), o autor procura mostrar que a censura se direciona a uma multiplicidade de assuntos e com uma frequência também digna de nota. A frequência telefonequéncia tambem frequéncia e a incidência incidéncia de bilhetinhos e telefone— mas aos jornais sobre temas proibidos ou sensíveis, sensiveis, conforme levantamento de Marconi, sugerem uma atividade atiVidade ampla. aplicacao de censura pre’Via Para Kucinski, é a falta de regras claras para a aplicação prévia que leva os jornais a adotarem cada vez mais a autocensura. “Antecipando-se “Antecipando—se a essas rere— presálias, presalias, imprevisíveis, imprevisiveis, tentando adivinhar adiVinhar as idiossincrasias do sistema, jornalistas, editores e donos de jornais esmeravam-se na autocensura, no controle antecipado e voluntario das informações” informacoes” (Idem: 526). Segundo ele, o exercício exercicio generalizado da voluntário autocensura, estimulado por atos isolados de censura, determina o padrao padrão de controle informacao durante os dezessete anos do regime autoritário, autoritario, sendo os demais mémeda informação pre’Via e expurgos de jornalistas — acessorios e, sobretudo, instrumentodos — – censura prévia – acessórios implantacao da autocensura. Isso tambe’m opiniao de Kucinski, tais para a implantação também explicaria, na opinião “apenas quinze jornalistas terem sido processados por crime de imprensa, a o fato de “apenas dem’mcias de corrupção corrupcao ou mandonismo” mandonismo” (op. (op. cit.: Cir; 536). maioria em casos ligados a denúncias

Parece demasiadamente simplista explicar essa falta de envolvimento contra o inclusao e aderência aderéncia ao regime autocerceamento da liberdade de imprensa e a ampla inclusão ritario por uma espécie espe'cie de medo preVio ritário prévio da censura. Preferimos acreditar que, tal como as cercer— estamos mostrando, historicamente o jornalismo e os jornalistas se imiscuem às dai advindas. adVindas. A construção construcao de defensores do canias do poder, procurando as benesses daí

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bem comum, dos interesses públicos, das liberdades democráticas intercsses pl’iblicos, democraticas é muito mais um urn efeito discursivo — – no caso da imprensa brasileira – do que, de fato, se brasilcira — sc configura configura na prática. E esse discurso contribui para a ampliação público, através pratica. ampliacao do pfiblico, atraVés da construção construcao de um lugar simbólico papel de sirnbolico onde se destaca o papcl dc defensores dcfensores do bem bcrn comum ec dos anseios da população populacao de dc maneira mancira geral. Com isso, se autoconfiguram autoconfiguram como intermeinterme— diários poder ec o público, diarios entre entrc o podcr pfiblico, referendando o seu lugar de dc poder. Alguns jornalistas — cnfatizando ainda mais a construção construcao mítica mitica da profissao – enfatizando profissão —–

justificam o posicionamcnto posicionamento dos jornalistas durante período ditatorial, quando a justificam durantc o pcriodo maioria se padrões da autocensura, profissão”. sc adequa aos padroes autoccnsura, em função funcao da “paixão “paiXao pela profissao”. Para eles, elcs, é o fato de dc os jornalistas não nao conseguirem viver Viver longe da atividade atiVidade que faz com que se comportem de polídc acordo com corn que o que é preconizado pela sociedade sociedadc politica e referendado rcferendado pela direção dirccao do jornal. “Mas porque o jornalista é um homem “Mas a atmosfera da redação redacao freia frcia você, vocé, porquc hornem extremamente Não só cxtrernamentc dependente do emprego. Nao so do salário. salario. É E que o jornalista é jornalista no fundo porque gosta, porque precisa ser jornalista. Ele tern tem um scr jornalista. urn compromisso com o imediato, imcdiato, com a ansiedade do dia seguinte, com corn aquela ponte de que falei, pontc falci, entre cntrc o ontem ontern e o amanhã. amanha. Ele vibra Vibra com aquilo, é como se fosse fossc quase uma atividade de arte dele. Ele seria capaz de dc trabalhar até de dc graça. porque o apelo da profissao profissão é graca. Por que os salários salarios são sao baixos? Por isso, porquc enorme. Qualquer pessoa quer entrar cntrar na redação redacao de um jornal, é fascinante. Não é6’ apenas para se N50 sc prestigiar, ‘sou ‘sou jornalista, posso dar uma notícia noticia desse ou daquele”. daquelc”. (Coutto, Francisco Pedro do. Depoimento ao a0 CPDOC. CPDOC. Rio de dc Janeiro, CPDOC/Alerj, 1998) 1998) profissão desempenha — – o poder simbólico Assim, é o simbolismo simbolisrno que a profissao simbolico que de fato possui —, –, na argumentação argumentacao do jornalista, que faz com corn que todas as ações acocs sejam sejarn desculpadas. É jornalista: E como se sc tudo fosse fossc válido, Valido, desde que assim continue a ser scr jornalista: “O que eu estou dizendo é que quc você vocé entra numa redação redacao e vê Vé hoje o que “O amanha. As cm algumas algurnas redações, redacoes, há ha pessoas extremamente extremamentc vai sair amanhã. Às vezes, em intcligentes, informais. Essa comunicação, comunicacao, esse cssc aprendizado informal, apreninteligentes, scm saber que está esta aprendendo, aprendcndo, isso é fantástico. fantastico. Nao nao tern der sem Não tern tem prova, não tem vocé, como corno no futebol: futebolz entrou lá 1a e6 jogou, a prova é essa. nada disso. A prova é você, extremamentc dependente, dependentc, e6 tem tom um urn cuidado muito rnuito grande grandc O jornalista é extremamente atuacao para não nao perder o emprego. Porque se so ele 616 perder o emprecom a sua atuação so ele 616 deixar de ser jornalista, cai numa tristeza profunda”. (Idem, ibidem) go, se profunda”. (Idem, Ao ser perguntado como corno era efetivamente cfetivamcnte a ação acao dos jornalistas num nurn periodo cm período em estao submetidos “à “a rigorosa censura”, censura”, o jornalista que estão jornalista argumenta dizendo que jamais História Cultural da Imprensa —

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o jornalista consegue dizer o que quer e que neste periodo período utiliza as “brechas” “brechas” para divulgar o que deseja. Entretanto, no seu ato memorável memoravel constrói constroi um urn discurso subjesubj etivo, em ern que de fato não nao responde a questão questao que lhe ée destinada. Para ele, dizer alguma coisa era sempre sernpre melhor que nada dizer. Com Corn isso, referenda uma vez mais o poder individual que possui pelo fato de ser detentor da palavra. “Se alguém algue’m for trabalhar num nurn jornal, numa rádio radio ou on numa televisao, “Se televisão, e achar que pode escrever ou dizer o que quiser, está esta redondamente enganado, não nao vai conseguir. Mas nós nos sabemos que existem existern brechas, e isso sempre sernpre existirá. tira. Toda vontade humana, todo pensamento humano, todo comportamento comportarnento humano, ao longo da história historia da humanidade, sempre encontrou uma forma de expressão. expressao. Nunca conseguiu ser abafado integralmente, ée impossível. impossivel. Da mesma maneira não nao se inventou até ate hoje nenhum nenhurn sistema de poder capaz de contentar a todos os seus componentes. Isso não nao existe, nunca existiu, alguém algue’m vai ficar ficar de fora, alguém alguern vai ficar ficar contrariado. Mas você vocé sempre sernpre encontra uma forma de expressão. expressao. Você Vocé pensa: hoje não nao pude dizer isso, mas rnas se eu sair fora daqui, aí ai mesmo ée que vou dizer zero”. zero”. (Idem, (Idem, ibidem)

Há, período posterior ao AI-S AI-5 muito mais autocensura nos órgãos Ha, portanto, no periodo orgaos de imprensa do que censura préVia. prévia. Decide-se não publicar determinados conteúdos, Decide—se nao contefidos, obedecendo a “ordens “ordens superiores” superiores” extremamente vagas que estão estao mais no imaginário imaginario dos jornalistas, do que efetivamente na ação acao dos detentores do poder. Mas, mesmo naquelas publicações –O S. Paulo, o publicacoes em que há ha efetivamente censura — 0 Estado de S. Jornal da Tarde, a Tribuna da Imprensa, a revista Jamal reVista Veja, Veja, além dos jornais da chamada imprensa alternativa como O –, a ação 0 Pasquim e Opinião Opinifio —, acao ée’ diversa, variando de censor para censor. Exemplo disso ée o depoimento depoirnento de Ziraldo, descrevendo a censura no Pasquim, exercida por uma “certa “certa Dona Marina”, Marina”, que ele qualifica qualifica como “pessoa “pessoa cordial”. cordial”. Dona atiVidade na propria redacao do periodico Marina, segundo ele, exercia sua atividade própria redação periódico e que o redacao bebia ao longo do dia, hábito habito que tambem pessoal da redação também agradava àa censora. urn drinque e outro, as matérias materias iam sendo liberadas, até ate’ que a censora foi demiEntre um nao ter vetado uma charge de Ziraldo sobre um quadro de Pedro Americo tida por não Américo op. cit.: cit: 521). (Aquino, op. semanario Em depoimento a Pinheiro Machado, Fernando Gasparian, diretor do semanário Opinido, explica como corno funciona o sistema de censura pre’Via redacao no caso daOpinião, prévia na redação quele jornal, havendo inclusive possibilidade de discutir e questionar os cortes com Vigilancia: os encarregados da vigilância:

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“Mas possível discutir e “Mas como a censura era feita ainda na redação, redaeao, era possivel questionar os cortes — – e sempre passava alguma Às vezes, ganhávamos algurna coisa. As ganhavamos no cansaço: cansaeo: estávamos estavamos baixando a matéria materia de madrugada, por exemplo, às as 3 ou 4 horas da manhã, manha, os censores estavam com corn sono, acabavam liberando muita coisa para abreviar abreViar as discussões discussoes e irem dormir.” dormir.” (Machado, 1978:27) 1978:27) Clientelista e ligada ao poder, como forma de construir estratégias empresariais, a imprensa, também tambem nas décadas de 1960 1960 e 1970, 1970, faria dessa aproximação aproximaeao não nao só so estratégia estrate’gia de sobrevivência, sobreViVéncia, mas forma forrna para atingir o sucesso. A autocensura passou a ser uma espéespe— cie de palavra de ordem, fundamental para a aproximação aproximaeao com as cercanias do poder. “Há “Ha jornais e revistas que realizam a autocensura de modo a merecer Inerecer até ate elogios das autoridades. Optaram pela autocensura como solução solueao cômoda. Comoda. Não publicam um comentário, Nao cornentario, uma só so notícia notieia que, de algum modo, possa suscitar o desagrado daqueles que tutelam a imprensa. Muito diferente ée’ a situação situaeao dos órgãos orgaos independentes que não nao se deixam intimidar, que não nao abab— dicam público.” (Neto, Julio de Mesquidicarn de suas responsabilidades perante o publico.” ta, citado por Marconi, op. op. cit.: cit: 61) Ao realizar uma comparação publicações A0 comparaoao relativa àa ação aeao da censura em diferentes publicaeoes a partir de 1970, proibições foram 1970, Gláucio Glaueio Ary Dillon Soares (1989) observa que “as “as proibieoes mais numerosas durante a ditadura de Garrastazu Médici, Medici, mantiveram-se altas durante o primeiro prirneiro ano de Geisel, declinando rapidamente a partir de 1975”. 1975”. Aquino, entreentre— tanto, discorda desse agrupamento de Soares, uma vez que, para ela, o que marca o período censório periodo censorio ée a diversidade de ações aeoes e de intensidade em relação relaeao aos múltiplos multiplos veículos veiculos de comunicação. comunicaeao. São Paulo e TribuAo analisar especificamente especificamente o caso dos jornais Movimento, O 0 Sdo na da Imprensa, observa que não nao há ha o 0 declínio declinio da ação aeao da censura, uma vez que a so foi abolida em 1978. 1978. O jornal Movimento, fundado em julho censura pre’Via prévia só julho de 1975, foi censurado desde o seu prirneiro numero até ate a edição edieao de número numero 152, 152, de 5 de 1975, primeiro número junho de 1978 1978 (Aquino, op. Op. cit.: Cit; 529-230). 0 movimento generalizado de autocensura na grande imprensa, do qual partici— O participam, no nosso entender, não nao apenas os proprietarios proprietários dos jornais, mas tambem também os jorna48 Inostra que há ha um altíssimo altissimo grau de adesão adesao dos meios de comunicação comunicaoao“. listas, mostra . A imprensa foi complacente ou ignorou a sistemática sisternatica ação aeao repressora, que rere— dependéneias militares do regime. Conssultou na morte de milhares de pessoas nas dependências

48 Cf., sobretudo, sobretudo, Aquino (1990) e Soares (1989). (1989).

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truiu tambern também em uníssono unissono um urn discurso que destacava os “milagres” “milagres” econômicos economicos do período população. Amplificou Amplificou tambern também as glórias periodo e negava o empobrecimento da populaeao. glorias esportivas nacionais como se fossem população. fossern de toda a populaoao. Claro que há ha vozes discordantes, como enfatiza Kucinski (2002), mas essas são sao pontuais e, de maneira alguma, se constituem como um movimento da imprensa. Entre essas dissonâncias, dissonaneias, Kucinski, aponta no caso da imprensa carioca, a ação aeao de Niomar Muniz Sodré, proprietária do Correio da Manhã, que “se recusa a promover um Sodre’, proprietaria Martha, “se urn exex— purgo no jornal”, jornal”, sendo presa, como ja já descrevemos em momento anterior deste capícapitulo. Aponta ainda as muitas vezes em que Hélio He’lio Fernandes, diretor da Tribuna da Imprensa, ée preso e a prisão prisao da equipe de O 0 Pasquim, em novembro de 1970. 1970. Há, Ha, portanto, segundo o argumento de Kucinski (op. (op. cit.: cit: 545), um processo de dede— puração jornalísticos para favorecer puraeao de quadros jornalisticos favoreeer o regime, o que não nao irá ira ser suficiente suficiente a partir do período periodo da chamada abertura lenta, gradual e segura. Já Ja não nao basta a autocensura: agora ée preciso criar um padrão de abertura politica política e urn discurso consensual em torno do padrao 49 neste papel o discurso jornalistico jornalístico seria, mais uma vez, imprescindível . imprescindivel49. Faro (1981) destaca ainda o papel da Secretaria de Comunicação PreComunicaeao (Secom) da Pre— sidência sidéncia da República Republica na construção construeao desse novo viés Vie’s ideológico. ideologico. Caberia, a partir sobretudo do Governo Figueiredo (1979-1985), (1979—1985), aos comunicadores o “dever “dever de motivar e conscientizar o publieo público para obter sua participaeao participação voluntária voluntaria na solução solueao dos problemas nacionais ou mesmo locais”. política de comunicação locais”. (Bases para uma politica comunicaeao social no governo João S. Paulo, 12 J050 Batista Figueiredo In: O 0 Estado de S. 12 dezembro de 1979, 1979, citado por Faro, op. op. cit.: 91) – que mostra a contradição A complexidade compleXidade da ação aeao da Secom — contradioao do regime naquele momento, debatendo-se debatendo—se entre a necessidade de manutenção manutenoao do autoritarismo e projetos de liberalização – faz da autopromoção liberalizaeao — autopromoeao generalizada das ações aeoes do governo, via Via seus braços braoos de atuação, atuaeao, leia-se leia—se as assessorias de comunicação comunicaeao que irão irao proliferar decada de 1970, 1970, um de seus movimentos mais sobretudo nas empresas estatais na década importantes. diarios do Rio de Janeiro, cabe assinalar o processo de concenQuanto aos jornais diários traeao por que passariam, fazendo com corn que houvesse cada vez mais, a partir dos anos tração 1970, um menor número numero de publicaeoes diarias na cidade. Merece destaque tambem 1970, publicações diárias também Vigoraria na imprensa popular de grande tiragem, repreo novo sensacionalismo que vigoraria 0 Dia, que mostraremos a seguir. sentada sobretudo por O

4"A histéria da aliança alianga entre os jornalistas e o 0 general Golbery do Couto e Silva durante a abertura é estudada A história (1987). por Duarte (1987).

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Cenarios dos anos 1970-80: VIII. Cenários Crise do Correio da Manhd Manhã e novo sensacionalismo

“O “O Globo publicou no dia 9 deste mês, més, as suas declarações declaracées sobre o 0 caso do Correio. Corrcio. No 18, o Mauricio dc dia 18, Maurício Alencar usou do direito de

resposta. Nao Não quero que essa polémica polêmica se travc trave nas colunas do O 0 Globo. Estamos asfixiados asfixiados com o preco preço do papel papcl e estamos comprimindo cada dia mais o jornal. N510 Não publicarei, também, mais nada do que pedir o Mauricio Maurício Alencar. Por isso, muito a contragosto, deixo de dc publicar a sua carta. Um abraço abraco do Roberto”. Roberto”. (Carta de dc Roberto 21 de junho Marinho a Niomar Bittencourt, 21 junho de

1974. 1974. NMS 69.09.07. Documentos CPDOC)

proprietária do Correio da Mani/1d, Manhã, A carta de dc Roberto Marinho, dono de dc O 0 Globo, àa proprietaria Niomar Bittencourt, Bittcncourt, no auge augc da crise do jornal, que levaria lcvaria ao seu scu término dias depois,

em cm 8 de dc julho de dc 1974, 1974, serve para introduzir um urn dos cenários ccnarios mais expressivos cxprcssivos da década de periódicos. dc 1970, 1970, na imprensa imprcnsa carioca: o desaparecimento dcsaparccimcnto de dc inúmeros inumcros pcriédicos. Nos anos 1970, 1970, deixam dcixam de dc circular além do Correio da Marthe? Manhã (1901-1974), o0 50 51 Didrio d6 Noticias (1930-1976)”, (1928-1965)51 Diário de Notícias (1930-1976) , Didrio Diário Carioca (1928-1965) ec O Jamal Jornal (1919-

50A acentua—se na década de 1960, 1960, fazendo com que alcance um déficit, déficit, em 1968, 1968, A crise financeira do jornal acentua-se milhées. O proprietário proprietario do periódico periédico João Joao Dantas passa o Diário Diario para Delfim Neto, então entao de cerca de Cr$ 8 milhões. Fil’Jza. Em 1974, 1974, o ministro da Fazenda. Pouco tempo depois, o matutino é vendido ao deputado Ricardo Fiúza. jornal passa para as mãos maos de Joaquim Pires Ferreira e, deste, deste, para Olímpio Olimpio de Campos, Campos, que o edita até 1976, quando saiu o seu último L’Iltimo número. nl'Jmero. Cf. Ribeiro, Ribeiro, 2000: 2000: 72. 72. novembro de 1976, 50

51 Ribeiro (2000: 97-98) identifica o início inicio da crise do Diário Diario Carioca Car/00a em 1957, 1957, quando a tiragem média do jornal atinge inicio do governo de Jânio Janio Quadros, Quadros, é vendido a Arnon de Mello, Mello, político politico menos de 20 mil exemplares. Em 1961, no início depois, novamente é vendido, udenista de Alagoas (pai do futuro presidente Fernando Collor de Melo). Um ano depois, vendido, desta dai, apoia o governo de João Joao Goulart. Goulart. Aadesao a política politica trabalhista (expressa no apoio vez a Danton Jobim. A partir daí, A adesão à inicio da decadência decadéncia do jornal. “As tiragens diminuíam diminuiam conforme o jornal ia perdendo sua a JK e a Jango) marca o início jornal. “As influéncia política, politica, tradicionalmente identificada identificada a uma postura oposicionista. oposicionista. Em 1965, 1965, Horácio Horacio de Carvalho readquiriu influência ojornal, fecha-Io com a propriedade do título. titulo. O último ultimo número nL’Jmero saiu dia 31 31 de dezembro.” dezembro.” o jornal, para fechá-lo

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52 1974) . Outros, como Última Hora53 em nada mais lembra o jornal popular dos anos 1974)52. Ultima Hora53 1950/60, 1950/60, estando em processo de franca decadência. decadéncia.

Paralelamente, no final final da década, de’cada, em novembro de 1979, 1979, como resultado direto do realinhamento do pfiblico público em função funcao do processo de concentração, concentracao, em decorrência decorréncia das reformas tecnológicas tecnologicas e editoriais entre outros fatores, O 0 Globo passa a ser, de maneira inconteste, líder lider em termos de tiragens, ultrapassando a marca dos 400 mil exemplares diários, na edição diarios, edicao de 11 11 de novembro de 1979, 1979, 25% a mais do que a média media das edições edicées dominicais em 1978: 1978: 303.279 exemplares (Bahia, 1990:352). 1990:352). Vinte e quatro horas depois do anúncio anfincio de O 0 Globo, O 0 Dia declara ter vendido 401.598 exemplares, ou seja, 1.598 1.598 a mais do que o concorrente. Segundo entrevista publicada na época, e’poca, os diretores de O 0 Globo atribuem o crescimento das vendas a diversos fatores, destacando entre eles a utilização utilizacao da nova rotativa alemã alema Gross, que impressao a cores. “Cada “Cada vez que o jornal usa cor, as vendas permitia uma melhor impressão sobem”, produção, João sobem”, diz seu diretor de producao, Joao Roberto Marinho (apud Bahia, op. op. cit.: cit: 353). Nos dias úteis fiteis a tiragem do jornal ée’ de 220 mil exemplares. país localiza-se em No início inicio dos anos 1970, 1970, o maior contingente de jornais do pais São posição, atrás 8510 Paulo (229 jornais e 210 revistas). O 0 Rio de Janeiro ocupa a quarta posicao, atras do Rio Grande e do Sul e de Minas Gerais, tendo editado naquele ano 39 jornais. (Veículos (Vel'culos Brasileiros de Publicidade, 1971). 1971). Em 1978, 1978, estimativas feitas pelo Instituto Marplan e pelo Instituto Verificador Verificador de Circulação Circulacao indicam que as tiragens médias me’dias dos 31 país, incluindo os do Rio de Janeiro, atingem 5.932.648 exemplares. 31 jornais do pais, A média media de leitor por exemplar ée’ de 4,6. Aos domingos, O 0 Globo tem uma tiragem média Jornal do Brasil, 253.971. O media de 265.705 exemplares e o Jamal 0 maior número nfimero de leitores por edição edicao dominical ée atribuído atribuido a O 0 Globo: Globoz 1l milhão milhao 726 mil. Na década decada seguinte ja já ée’ lido diariamente por 2 milhões Dia atinge milh6es e 377 leitores, enquanto que O ODia milhao 962 mil (XXV (XXVESz‘udOS 1986). 1l milhão Estudos Marplan, 1986).

52Apés reformulacao gráfica grafica e editorial do jornal, Estacio Ramos, Ramos, em 1973, 1973, Após nova reformulação jornal, realizada sob o comando de Estácio Diarios Associados decidem fechar o jornal, a situação situacao financeifinancei— no ano seguinte os dirigentes dos Diários jornal, pois frente à 0 periódico periodico de maior patrimônio: patrim6nio: no caso o Jornal Jorna/ do ra do grupo optaram por manter no Rio de Janeiro o Commercio. Cf. Ribeiro, 2000: 63. 63. Commercio.

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53 Quando ocorre o Golpe de 1964, 1964, Última Ultima Hora vive um processo de plena expansão, expansao, mas a mudança mudanca dos rumos politicos do país pais leva Samuel Wainer ao exílio exilio e termina destruindo o seu império jornalistico. passa, políticos jornalístico. A UH paulista passa, Fo/ha, fechando em 1979. 1979. Os jornais nos outros estados também são sao transfe— em 1965, para o controle do grupo Folha, transfeproprietarios ou simplesmente fechados. Só 86 a UH carioca resiste. resiste. Mas como tem que ir paulatiridos para outros proprietários numero de páginas, paginas, dispensando grandes colunistas, colunistas, etc. etc. —, namente sacrificando a parte editorial — – reduzindo o número –, ojornal 1971 , Wainer Wainervende milhao de dólares d6|ares para o jornal perde pouco a pouco leitores. Em abril de 1971, vende a UH do Rio por 1,5 milhão Mauricio Nunes de Alencar, 1969, controlava o o empreiteiro Maurício Alencar, da Cia. Metropolitana, mesmo grupo que, desde 1969, Man/7a. Em 1973, 1973, o jornal passa para um outro consórcio consércio (a Arca Editora S.A.), S.A.), dirigido por porAry Correio da Manhã. Ary de anos. (Ribeiro, op.cit.: op.cit.: 117-118) Carvalho, mantendo-se em atividade ainda por nove anos.

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1950, existem no Rio de Janeiro 22 jornais diários, diarios, entre matutinos rnatutinos e vespertiEm 1950, nos. Dez anos depois o número numero se reduz para 16 16 jornais diários diarios e, no final final de 1970, 1970, chega a apenas a sete (Abreu, 2002:18). 2002: 18). O que leva ao desaparecimento de um númenume— ro tão tao elevado de jornais? O que faz com corn que a década de 1970 1970 seja marcada pelo sucesso de O 0 Globo e de O 0 Dia? Como se dá da a crise e por que ocorre o drástico drastico processo de concentração concentraoao dos jornais diários? diarios? A explicação explicaoao de o 0 desaparecimento estar relacionado ao elevado do custo do papel (Abreu, op. op. cit.: cit: 18) 18) não nao parece ser suficiente. suficiente. Outros fatores são, sao, no nosso enten-

der, determinantes para a nova configuração jornalístico carioca. configuraoao do mercado jornalistico A crise do Correio, que descreveremos descreverernos a seguir, funciona como corno uma espécie de

metonímia periódicos na décametonirnia do processo que leva ao desaparecimento de diversos periodicos de’ca— da. As ingerências política, os desmandos administrativos — – resultado ingeréncias de natureza politica, muitas vezes da adoção adooao de um modelo rnodelo que fazia do clientilismo e do favorecimento prática diária publicações —, –, somados polípratica diaria para o sucesso das publicaooes sornados àa mudança mudanoa de cenário cenario politico, econômico economico e midiático rnidiatico são sao responsáveis responsaveis direitos ou indiretos pelo processo de concentração concentraeao por que passa a imprensa irnprensa diária diaria do Rio de Janeiro. Frente a um momento em política sai de cena como discurso simbólico ern que a politica simbolico dominante perante o universo cultural do público, polêmica do publico, apartando definitivamente definitivamente a polémica noticiário noticiario (processo que começa corneea na década de’cada anterior), os diários diarios assumem assurnem uma nova face que não público. Num momento em que, por força nao encontra resposta do publico. forea da conjuntura política, não tomadas politica, nao há ha mais pluralidade de espaços espaoos para o exercício exercicio de sectarismos e tornadas de posição – que resultam a maioria das vezes em posioao — ern favorecimentos favorecirnentos administrativos e financeiros – cabe ao grupo que melhor políticas (até financeiros — rnelhor serve naquele momento às as elites politicas (ate televisão), porque domina com corn sucesso outras esferas midiáticas, midiaticas, incluindo o 0 rádio radio e a televisao), no caso O 0 Globo, alcançar alcanear sucesso empresarial ernpresarial cada vez mais representativo. Assim, ainda que a crise do petroleo petróleo na década Assirn, de’cada de 1970, 1970, fazendo com corn que o custo irnprensa passe, em 1971, 1971, de US$ 171.00, 171.00, a tonelada, para US$ 320.00, do papel de imprensa trés urn aumento de 187% 187% (Abreu, op. op. cit.: Cir; 18), 18), tenha sido três anos depois, representando um

importante para explicar o desencadeamento do processo de fechamento de muitos jornais, há ha que se acrescentar outros fatores, no qual se deve incluir tambem também a sirnbolizaeao da palavra impressa numa nurna década de’cada em que a imagem passara simbolização passará a dominar o publico. universo cultural do público. Ao lado disso, a perda da característica caracteristica historicamente historicarnente determinante da amplificaamplifica— eao discursiva dos jornais — politica — ção – a polémica polêmica política – ée fundamental para a quebra de referéncias de identificação identificaeao do publico. discussao politica, referências público. Se a discussão política, a polérnica, polêmica, as controve’rsias estão estao definitivamente definitivamente longe do jornalismo diário, diario, o publico nao enen— vérsias público tambem também não identificarn os jornais contra mais os parametros parâmetros culturais aos quais tradicionalmente identificam jornais diarios na sua formatação formataeao narrativa. diários História Cultural da Imprensa —

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– o aumento do papel de Assim, para além ale’m de motivos de natureza econômica economica — imprensa entre outras consequências petróleo” —, –, de natureza consequéncias do chamado “choque “choque do petroleo” política – sobretudo o alijamento politica — alij amento do noticiário noticiario de temas desse universo discursivo, ao lado das perseguicoes perseguições que sofrem alguns periodicos periódicos e que terao terão consequências consequéncias admiadmi— nistrativas significativas –, de natureza organizacional —– como por exemplo significativas —, favorecimentos e clientelismos, configurando configurando uma dependência dependéncia econômica economica baseada em alinhamentos políticos politicos de ocasião ocasiao e a visualização visualizacao dos processos de reforma como espécie tábua de salvação –, há especie de tabua salvacao para as crises financeiras financeiras —, ha que se incluir explicações explicacoes que envolvem necessariamente questões questoes de natureza cultural.

A crise do Correio da Manhd Manhã As mudanças mudancas por que passa a imprensa da cidade se iniciam com uma crise repre-

sentativa e que culminará Manhã, em meados culminara com o desaparecimento do Correio da Martha, dos anos 1970, mas que a rigor já é sentida desde a década anterior. 1970, ja e decada Em 7 de setembro de 1969 1969 ée assinado um contrato entre Niomar Moniz Sodré Sodre’ Bittencourt, diretora proprietaria proprietária do Correio da Manhã Manha S/A, desde a morte de seu marido Paulo Bittencourt, e Maurício Mauricio Nunes de Alencar e Frederico A. Gomes da Silva, do grupo de empresas que tinha na Cia. Metropolitana de Construções Construcoes (atuando no ramo de estradas de rodagem) a sua principal organização. organizacao. O contrato entra em vigor no dia 13 13 de setembro daquele ano, pelo prazo de quatro anos e cinco meses, devendo expirar-se expirar—se no dia 12 12 de fevereiro de 1974. 1974. Por este contrato, a Cia. MetropoMetropo— litana adquire o direito de utilizar o parque gráfico, grafico, as instalações instalacoes administrativas, a redação Manhã para publicar o jornal. jornal. A redacao na sede e nas sucursais e o título titulo Correio da Marthe? empresa Correio da Manhã Manha S/A continua em mãos maos de Niomar Bittencourt, que teria funcao supervisionar a execução execucao do contrato (NMS 69.09.07. Resucomo principal função CPDOC, FGV). mo da Aplicacao Aplicação do Contrato. Arquivo CPDOC, construcao de estradas de rodaroda— O interesse de um grupo empresarial do ramo de construção funcao das ligações ligacoes existentes entre esses empresários empresarios e o futuro gem ée explicado em função Mario Andreazza, que possui aspirações aspiracoes politicas ministro dos Transportes, Mário políticas maiores. sustentacao. Para tanto necessita de um jornal para lhe dar sustentação. “A história historia ée que eles tinham feito um urn acordo, de apoiar a candidatura “A Andreazza, que tinha o respaldo total do Costa e Silva. Acontece que os plane— planejamentos existem para não nao dar certo. Costa e Silva teve o derrame cerebral e ficou afastado. Mas eles tinham assumido o compromisso e acharam que talvez ficou o0 Costa e Silva se recuperasse, e o Andreazza pudesse tocar a candidatura para entao arrendou o Correio da Mani/167, divida, botou a frente. O grupo então Manhã, assumiu a dívida,

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os salários tocou”. (Coutto, Francisco Pedro salarios em dia, porque havia um atraso, e tocou”. do. Depoimem‘o Depoimento ao a0 CPDOC. CPDOC. Rio de Janeiro, CPDOC/Alerj, 1998) 1998) Manhã se estende desde as décadas A crise do Correio da Martha? de’cadas anteriores. No governo JK o dólar terço do valor real da moeda americana. dolar papel para os jornais custava um terco Com isso, os jornais importavam com facilidade de câmbio cambio grande quantidade de já que o custo de operação papel e obtinham maior lucratividade, ja operacao era reduzido. O Correio da Maniac? Manhã materializava essas facilidades na reprodução reproducao de inúmeros infimeros cadernos nas edições edicoes de domingo, quando vendia, segundo depoimentos da época, e’poca, 145 145 mil exemplares. No governo Jânio Janio Quadros, além do valor do cruzeiro ter sido desvalorizado em

relação Além disso, terminou a relacao ao dólar, dolar, acabou o câmbio cambio favorecido da imprensa. Alem isenção jornalistas. Aliado a tudo isso, isencao do imposto de renda para os jornais e para os jornalistas. iniciou-se o processo de divisão divisao do montante de publicidade com outros meios de comunicação, televisão. comunicacao, como as emissoras de televisao. “Isso “Isso abalou os jornais, tanto ée que a crise começou comecou aí, a1’, os jornais começacomeca— ram a morrer devido às A partir de 1961, as despesas que passaram a ter. (...) (...)A 1961, em suma, os jornais passaram a ter que operar como empresas organizadas e, em sua grande maioria, não nao estavam preparados para isso. Em segundo lulu— gar, as emissoras de televisão – havia a TV Rio, a TV Tupi, veio depois a televisao — TV Excelsior, em 65 a Globo —– começaram também a dividir, a tirar fatias comecaram tambem grandes do mercado publicitario. publicitário. Os jornais começaram comecaram a ter perdas relatirelati— vas e não nao se deram conta desse custo que era ao mesmo tempo direto e indireto. O Correio da Manhã Manha custou a frear os cadernos em excesso que talvez tivesse”. tivesse”. (Idem, (Idem, ibidem) Há posição que adotou sobretudo após Ha que se considerar ainda a posicao apos a edição edicao do Ato 54 n0 2 254. Comeca então entao a sofrer a pressao Institucional nº . Começa pressão do cerco publicitario. publicitário. “O poder público pfiblico era o 0 responsável responsavel por 30% dos anúncios anfincios do jornal — “O – ate um pouco mais, não nao sei —, hoje talvez seja até –, mas, ao mesmo tempo, as ficavam temerosas de anunciar, porque recebiam teleempresas particulares ficavam anonimos, ameaças: ameacas: Você Vocé está esta anunciando no Correio da Manhã, Manha, o fonemas anônimos, esta nos atacando, você vocé amanhã amanha não nao espere a concorrência concorréncia tal, não nao Correio está cre’dito tal... O Correio da Manhã Manha começou comecou a ter a sua receita espere o crédito

54 Em reação reacao a essa postura oposicionista, oposicionista, em 7 de dezembro de 1968 uma bomba foi jogada numa agência agéncia presa, juntamente com os jornalistas do jornal, jornal, e em janeiro de 1969 Niomar Moniz Sodré Bittencourt foi presa, Batista. Ver DHBB, op. op. cit. Osvaldo Peralva e Nelson Batista.

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restringida por esse motivo, e tambem também pelo fato de não nao se ter ajustado antecipadamente àa situação. situaoao. Foi fazendo dívidas, dividas, dívidas, dividas, dívidas. dividas. A concordata que a Niomar deixou foi de quatro milhões milhoes e duzentos, por aí, ai, e o grupo prestações semestrais. Era, na ocasião, Alencar teria que pagar em prestaooes ocasiao, muito dinheiro”. (Idem, (Idem, ibidem) nheiro”. O grupo arrendatário – em troca de receber todas a as receitas —– arrendatario do jornal deveria — efetuar o pagamento das dívidas Manhã S/A (cf. dividas contraídas contraidas em nome de Correio da Manha (of. cláusula clausula 4, alínea alinea a e cláusula clausula 8, alínea alinea e do contrato). Mas amortiza a dívida divida apenas nos primeiros anos, ao mesmo tempo em que contrai novas despesas, o que faz com que, em 1974, 1974, a dívida divida atinja Cr$ 15 15 milhões. milhoes. “Além política deliberada “Alem disso, o grupo da Metropolitana executou uma politica de liquidação do jornal, afirmando (como mais de uma vez afirmou liquidaeao afirmando afirmou Maurício Mauricio Nunes de Alencar, em conversa com corn D. Niomar) que estava agindo assim por incumbência incumbéncia dos chefes militares. E o fato é que as edições edieoes de Correio da Manha foram sendo sucessivamente mutiladas”. mutiladas”. Manhã E particularizam: “A “A partir de 10 10 de fevereiro de 1973 1973 elas passaram nos dias comuns de 16 16 para 12 páginas, depois para 10 páginas. Hoje o Correio 12 paginas, 10 e finalmente finalmente para 8 paginas. da Manhã Manha ée um boletim inexpressivo, sem notícias, noticias, nem opinião, opiniao, sem anúnamin— cios e sem leitores.” Aplicação do Contrato. leitores.” (NMS 69.09.07. Resumo da Aplicaoao Arquivo CPDOC, CPDOC, FGV) Depois de longo período proprietária do jornal, jornal, em periodo de contestação contestaoao na Justiça Justioa pela proprietaria função funoao da quebra do contrato, Niomar procura também tambe’rn denunciar na Câmara Camara dos Deputados a ação – segundo ela — – de aoao do grupo Metropolitana e a tentativa deliberada — periodico. liquidar o periódico. “A denúncia denfincia no Parlamento não nao tem tern tido melhor sorte. No dia 9 de agosto “A 1973, o deputado Thales Ramalho, secretário-geral secretario—geral do MDB, fez um urn disde 1973, atiVidades do grupo da Metropolitana contra a Fazenda Nacio— curso sobre as atividades Nacioobj etivo que recebeu apartes, apoiando-o, apoiando—o, de dois viceVice— nal. O discurso foi tao tão objetivo lideres da Arena, deputados Grimaldi Ribeiro e Elcio Alvares, alem de outros líderes Álvares, além deputados. Ao mesmo tempo, o0 parlamentar emedebista apresentou um pro— projeto proibindo que empresas devedoras àa Previdência Previdéncia Social possam negoeto foram vetados pela ciar com o Estado. Tanto o discurso como o proj projeto noticia vaga, inócua, inocua, Censura, admitindo-se a publicaeao publicação de uma ou outra notícia assunto.” sobre o assunto.”

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Enquanto a defesa da proprietaria proprietária do Correio não nao pode ser publicada, “um “um mês Ines e tanto depois disso, um urn deputado da Arena carioca, cariooa, Nina Ribeiro, proferiu longo discurso na Câmara, Camara, em defesa do grupo da Metropolitana. Esse discurso saiu na íntegra integra em ern vários Varios jornais do Rio, em uns como matéria mate’ria paga, em outros (Correio da Manhã Manha e Última Ultima Hora) como matéria mate’ria redacional”. redacional”. (NMS 69.09.07. Resumo da Aplicaoao Aplicação do Contrato, p. 5. Arquivo CPDOC, CPDOC, FGV) O silêncio proprietária do Correio da Marthe? Manhã contra a visibisilencio da argumentação argumentaoao da proprietaria Visibi— lidade das falas dos deputados favoráveis favoraveis ao grupo dos irmãos irmaos Alencar provoca veemente protesto por parte de Niomar Bittencourt, que encaminha enoaminha correspondência correspondencia tanproprietário de O Nascimento Brito, do Jamal Jornal to a Roberto Marinho, proprietario 0 Globo, como a Nascirnento do Brasil, cobrando igualdade de tratarnento. tratamento. Na carta datilografada e datada de 18 18 de outubro de 1973, 1973, em papel timbrado do

– simplesmente Roberto —– jornal, no qual acrescenta aorescenta àa caneta o nome do destinatário destinatario — Diário do Niomar pede que o recorte do Didrio d0 Congresso Nacional, no qual se transcreve a carta que ela encaminhara a Thales Ramalho, seja publicado no jornal de domingo. “Na “Na edição edioao de O 0 Globo do dia 23 do mês mes passado, saiu publicado em uma página e tanto o discurso do deputado Nina Ribeiro, em pagina ern torno da questão questao do Correio da Manhã, Manha, e no qual fui pessoalmente agredida e caluniada. oaluniada. Escrevi EsoreVi uma carta oarta ao Deputado Thales Ramalho restabelecendo restabeleoendo a verdade dos fatos e lançando lanoando um urn repto ao leviano parlamentar, posto a serviço serVieo da Cia. Metropolitana de Construções. Construooes. Agora envio enVio a você vooé o trecho do Diário Diario do Congresso Nacional, edição edioao de 13 13 do corrente, em que se transcreve o texto da aludida carta, lida na tribuna da Câmara peço-lhe o obséquio Camara dos Deputados, e peoo—lhe obsequio de autorizar sua acolhida próximo número aoolhida no proximo nfimero de domingo, de seu jornal, com o mesmo destaque concedido ao discurso do senhor Nina Ribeiro”. Ribeiro”. (Carta de Niomar Bittencourt a Roberto Marinho, 18 18 de outubro de 1973. 1973. NMS 69.09.07, CPDOC, FGV) arquivo CPDOC, corn idêntico idéntico teor, ée enviada na mesma data ao diretor do Jamal Outra carta, com Jornal do Brasil. Nessa Niomar acrescenta não nao o nome do destinatário, destinatario, mas o apelido “Maneco”. “Maneoo”. No mesmo dia, obtém obtern a resposta de Nascimento Brito. “O Jornal do Brasil, no dia 23 do mês mes p.p., publicou o discurso do DepuDepu— “O tado Nina Ribeiro, em torno da questão questao do Correio da Manhã, Manha, como matéria paga e assim perfeitamente caracterizada. N50 Não é6': assunto no qual tenharnos tenhamos imisouido, e existiu mesmo uma proibição proibigao para a divulgação divulgaoao jornalistica nos imiscuído, jornalística mate’ria sobre a questão questao que envolve o Correio da Manhã. Manha. Eis o de qualquer matéria História Cultural da Imprensa —

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esclarecimento publicação do discurso do Deputaesclarecirnento que lhe faço faeo a respeito da publicaeao Deputa— do Nina Ribeiro no Jornal do Brasil.” Brasil.” (Carta de Nascimento Brito a Niomar Bittencourt, 18 18 de outubro de 1973, 1973, NMS 69.09.07, Arquivo CPDOC, CPDOC, FGV. Grifos nossos) No dia seguinte, Niomar responde a Nascimento Brito, estranhando o fato de haver proibição proibieao para divulgar qualquer matéria mate’ria envolvendo a questão questao do Correio Carreia da a’a Manhã, ja já que outros jornais noticiaram o fato. Para provar o que diz, anexa recorte Martha, do Jamal Jornal de Brasília, da edição a’e Brasilia, edieao de 17 17 de outubro daquele ano, em que a carta que ela encaminhou ao Deputado Thales Ramalho foi publicada.

“Recebi “Recebi sua carta, em resposta a meu pedido de ontem, e devo esclarecer, por minha vez, o seguinte: desconhecia a proibieao proibição a que você vocé se refere, porquanto pelo menos alguns jornais, como O Estado de São 850 Paulo e Diário Diario de Noticias, Notícias, do Rio, entre outros, têm Não tern dado notícias noticias sobre essa questão. questao. Nao sei, pois, de quando data a proibição, já deve ter sido suspensa, porquanproibieao, mas ja to agora mesmo o Jornal de Brasília Brasilia publicou, na íntegra, integra, como matéria simplesmente jornalístico, minha carta ao Deputado Thales Ramalho, plesrnente de interesse jornalistico, conforme se vê página 3 do exemplar que aqui lhe remeto”. Vé da pagina remeto”. (Carta de Niomar Bittencourt a Nascimento Brito, 19 19 de outubro de 1983. 1983. NMS 69.09.07. Arquivo CPDOC, CPDOC, FGV) No mesmo dia, Niomar recebe a resposta de Nascimento Brito, negando que tives-

se se referido a qualquer proibieao, proibição, “oficial “oficial ou não, nao, que nos impeça impeea a divulgação divulgagao da sua carta ao Deputado Thales Ramalho”. Jornal do Brasil, teria Ramalho”. Segundo, o diretor do Jamal aludido “uma “uma norma interna” interna” do jornal. E acrescenta: “Espero “Espero que você vocé entenda que, até ate por sermos oficiais oficiais do mesmo ofício, oficio, não nao desejo imiscuir-me imiscuir—me numa controvérsia que, no mínimo, minimo, arrastaria o JorJor— esta entregue nal do Brasil para uma polemica polêmica cujo desfecho, talvez remoto, está Judiciario. Como lhe disse em minha carta anterior, o discurso do DeputaDeputa— ao Judiciário. nos divulgado como corno matéria materia paga — osten— do Nina Ribeiro foi por nós – e de forma ostencorn as características caracteristicas específicas especificas de tais casos, como, alias, ée regra aqui siva, com Brasil”. (Carta de Nascirnento 19 de no Jornal do Brasil”. Nascimento Brito a Niomar Bittencourt, 19 1973. NMS 69.09.07. Arquivo do CPDOC, CPDOC, FGV) outubro de 1973. Assim, para fugir da polérnica dificuldades do Correio Carreia da cla Martha, polêmica envolvendo as dificuldades Manhã, colocarn—se, ostensivamente, numa espécie especie de campo os diretores do Jamal Jornal do Brasil colocam-se, obj etiVidade, materializadas no regulamento regularnento interneutro, apelando para as regras da objetividade, nao tomando partido. Nesse momento, encontram-se claramente clararnente em no da empresa, não trineheiras opostas, numa posieao contra-hegemonica e, para isso, se valem das caraccarac— trincheiras posição contra-hegemônica

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terísticas do discurso jornalistico: jornalístico: a polémiea polêmica nas paginas páginas dos jornais jornais só teristicas so poderia ser veiculada como matéria mate’ria paga. “Não “Nao desejo, por motivos compreensíveis, compreensiveis, trazer o assunto para a área area editorial do Jornal do Brasil. Esta ée a minha orientação orientaeao e dela decorreu a proibição a que você proibieao vocé se refere, e que é minha, da minha inteira responsabilidade. A agir diferentemente, após apos acolher a sua defesa, que envolve terceiros que nela vejam vej arn também tambem injúrias injfirias e calúnias, calfinias, eu estaria trazendo para o Jornal do Brasil uma disputa que não nao nos compete veicular”. veieular”. (Idem, (Idem, ibidem) firma—se claramente elaramente num lugar construído construido como corno neutro e nem quando a O jornal firma-se polêmica envolve um – no caso a proprietaria proprietária tambem também de um jornal polérnica urn de seus pares — diário – haveria justificativa justificativa para a veiculação diario tradicional na cidade — veiculaeao de suas informações. eoes. Para isso, vale-se do ideal de servir serVir de maneira ampla ao leitor, selecionando fatos que, por principio, princípio, “interessariam “interessariam ao público”. pfiblico”. A única finica possibilidade de divulgar o teor do discurso do deputado que defendia o Correio seria, portanto, se este fosse publicado como corno matéria mate’ria paga.

“A “A publicação publieaeao pelo Jornal de Brasília, Brasilia, cujo recorte reeorte você vocé anexou, em nada altealte— ra, pois, a decisão decisao do Jornal do Brasil. Lamento dizer-lhe, assim, que não nao encontro nos seus argumentos, eivados de um equívoco equivoeo que agora esclareço, esclareeo, razão razao para reconsiderar o caso. Logicamente, assim como aconteceu aeonteceu com o discurso do DepuDepu— tado Nina Ribeiro, o discurso do Deputado Thales Ramalho não nao será sera por nós nos divulgado, a menos que, como corno ocorreu com o primeiro, entre pelo Departamento CoCo— mercial, com corn as características caracteristicas de praxe”. praxe”. (Carta de Nascimento Brito a Niomar Bittencourt, 19 19 de outubro de 1973. 1973. NMS 69.09.07. Arquivo do CPDOC, CPDOC, FGV) A diretora do Correio não nao responde de imediato àa correspondência. correspondencia. Somente em 5 5 de dezembro, encaminha nova carta ao Jamal Jornal do Brasil. “De posse de sua última filtima carta, earta, de 19 19 de outubro passado, não nao a respondi “De por motivos óbvios. obvios. A colocação colocaeao do problema do tema Correio da Manhã Manha tinha sido feita por você voce em termos terInos claros: deveria, sempre, ir ao JB através atrave’s Cornereial, o que não nao desejava fazer no caso da carta ao do Departamento Comercial, haVia a acrescentar na oportunidade”. oportunidade”. deputado Thales Ramalho. Nada mais havia 1973. (Carta de Niomar Bittencourt a Nascimento Brito, 5 de dezembro de 1973. NMS 69.09.07. Arquivo CPDOC, CPDOC, FGV) esta Dessa forma, Niomar justifica justifica a demora da reposta. Somente agora, quando está informaeoes, ée que ela, de novo, se dirige ao periodico, de posse de novas informações, periódico, mas, desta materia paga. vez, solicita a publicaeao publicação da sua carta sob a forma de matéria História Cultural da Imprensa —

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“Ontem, porém, encaminhei pelo Departamento Comercial “Ontem, pore’rn, Comereial do Jornal do Brasil matéria mate’ria relativa ao Correio da Manhã Manha S.A. SA. Cumpri rigorosamente rigorosarnente o cerimonial de estilo. O texto, composto e gravado, foi enviado enViado através atrave’s da Agência Arte Nova Propaganda Ltda que reservou espaço página da Agencia espaeo na 5ª 5a pagina edição publicada, o que significa edioao de hoje. Entretanto, a matéria mate’ria não nao foi publieada, significa privar o Correio da Manhã público da quesManha do elementar recurso de dar ciência cieneia ao pfiblico ques— tão tao que está esta envolvido”. envolvido”. (Idem, (Idem, ibidem) peça explicação publicação da matematéAinda que, indiretamente, a carta peea explicaeao sobre a não nao publicaeao Via Departamento Comercial, ao não nao ver atendida a sua solicitação, solicitaeao, ria encaminhada via informa ainda que

“não “nao se trata de matéria rnate’ria que possa ser tida como insultuosa ou, mesmo de caráter polêmico, ao contrário carater polémieo, contrario do discurso de Nina Ribeiro. Resume-se, Resume-5e, apenas, a um juntado aos urn requerimento do advogado do Correio da Manha S.A, SA, juntado autos do processo que corre na 11ª 113 Vara Civil.” Civil.” conelui: E conclui:

“Estou “Estou certa oerta de que não nao há ha de sua parte intenção inteneao discriminatória discriminatoria contra o Correio da Manhã pessoalmente. Por este motivo, peoo peço sua Manha ou contra mim pessoalrnente. atenção ateneao para o caso easo na segurança seguranea de que encontrarei boa e justa solução”. soluoao”. (Carta de Niomar Bittencourt a Nascimento Brito, 5 de dezembro de 1973. 1973. NMS 69.09.07. Arquivo CPDOC, CPDOC, FGV) A polemica laconica, de apenas quatro polêmica termina no dia seguinte, com a resposta lacônica, Vice—presidente executivo do JB: linhas, do vice-presidente

“Acabo “Acabo de tomar conhecimento conheoimento de sua carta earta e estou dando instruções instruooes ao Cornercial, sr. Cláudio Claudio Mello e Souza, para publicaeao Superintendente Comercial, publicação imemateria que você voeé mandou ao nosso Departamento Comercial, atraatra— diata, da matéria ve’s da Ageneia Ltda.” (Carta de Nascimento Brito, de 5 de vés Agência Arte Propaganda Ltda.” 1973. NMS 69.09.07. Arquivo CPDOC, CPDOC, FGV) dezembro de 1973. A tentativa da proprietária proprietaria do Correio da Manha? Manhã de ter de novo o controle do periédieo estende-se estende—se até ate 8 de julho de 1974, 1974, quando sai a última filtima edição edioao do jornal. periódico Nesse ínterim interim as dívidas dividas se acumulam, acumularn, bem como a crise que se materializa a cada edieao. O depoimento de Pedro do Coutto ée exemplar neste sentido. edição. “O grupo então entao arrendou o Correio da Manhã Manha (...) escolheu eseolheu para redator “O historia do Correio da Manhã, Manha, hors concours, chefe o pior redator chefe da história Magalhaes, filho filho do Agamenon Magalhães. Magalhaes. Tinha que era o0 Paulo Germano Magalhães,

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sido deputado federal. Nao Não havia haVia condição condicao desse homem dar certo, porque ele não nao tinha noção nocao de jornal. Ele um dia pegou uma tese da Escola Superior de Guerra, reduziu para 66 linhas e botou como editorial do jornal! jornal! (...) tam— também página perfis perfis militares com fotos daqueles gebe’m resolveu botar na última ultima pagina ge— nerais que mandavam aí”. ai”. (Coutto, Francisco Pedro do. Depoimento ao a0 CPDOC. CPDOC. Rio de Janeiro, CPDOC/Alerj, 1998) 1998) Se o0 redator chefe, segundo avaliação pasavaliacao do jornalista, representava os anseios do pas— sado, o responsável responsavel pelo projeto proj eto gráfico grafico Reinaldo Jardim “era “era o 0 homem do futuro”. futuro”. “Era “Era editor do jornal e fazia bolações bolacoes gráficas graficas fantásticas, fantasticas, dificílimas dificilimas de serem preenchidas. Qualquer coisa, ele rodava mais um caderno. Em abril de 70, como ja já contei, o prejuizo prejuízo chegou a 11 milhão milhao de cruzeiros, algo fantástico fantastico na ocasião. Reinaldo Jardim era mais um artista, não tinha preocupação ocasiao. nao preocupacao com custos, mas o jornal não produção. nao sentiu a necessidade de adequar o custo àa producao. prestações semestrais de 700 mil Ainda por cima eles tinham que pagar as prestacoes cruzeiros da concordata que a Niomar tinha deixado”. deixado”. (Idem, (Idem, ibidem). Os desmandos administrativos, a falta de coerência coeréncia editorial, as dívidas dividas acumulaacumula— das, a perda de uma identidade histórica, historica, tudo isso descaracteriza o diário diario que, nas vésperas ve’speras da última ultima edição, edicao, roda apenas 8 mil exemplares. Todos esses fatores “conduziram o jornal àa falência, falencia, não nao foi uma coisa só. so. Tinha a atuação atuacao “conduziram alucinada da Niomar, de fato, provocando muito, enfrentando, não nao se ajus— porque ela também tando, se isolando — tambe’m só so sabia atuar no confronto, na destruição. publicitário, projeto alucinado do Reinaldo destruicao. (...) Niomar, cerco publicitario, Jardim, comportamento da edição edicao de esporte que foi danoso... Houve um momento em que vários Varios fatores negativos convergiram, como num conto de Agatha Christie. O 0 destino uniu os incompetentes no caso do Correio da Manha. (...) Sai do Correio no dia 8 de julho de 1974, 1974, quando o jornal morManhã. mao. Fui, juntamente com o Cascon, o editor reu. O jornal morreu na minha mão. ultima edição edicao do Correio”. Correio”. (Idem, (Idem, ibidem) da última Nas palavras de Niomar Bittencourt, a crise do jornal se deve a um projeto delideli—

berado do grupo que assumiu o passivo da empresa. Em carta a Roberto Marinho, datada 19 de junho de 1974 1974 — 19 dias antes do fechamento do jornal de 19 – portanto, portanto 19 jornal —, –, sej am publicados em O 0 Globo, como direito de resres— solicita que seus esclarecimentos sejam posta “às “as declarações declaracoes constantes da matéria mate’ria publicada no jornal de V.Sa., dia 8 último, ultimo, Mauricio de Alencar”. contidas na carta do Sr. Maurício Alencar”. E enumera:

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“Ao “Ao arrendar o Correio da Manhã Manha o grupo econômico economico chefiado chefiado pelo Sr. Maurício já existentes, Mauricio Nunes de Alencar comprometeu-se a saldar os débitos de’bitos ja até ate’ o 0 momento de Cr$ 5.400.000,00. Entretanto, pagou menos de 4 milhões milhoes e contraiu novas dívidas – cerca dividas que se elevam elevarn a quase o triplo daquele passivo — de 15 – dos quais mais de sete milhões 15 milhões rnilhoes de cruzeiros — milhoes ao INPS e ao FGTS e mais de um milhão milhao da parcela mensal de arrendamento, que deixou de ser paga desde setembro de 1972. 1972. Assinale-se que a retenção retencao de contribuições coes de empregados ao INPS está esta caracterizada como apropriação apropriacao indébita indebita pela legislação legislacao federal”. federal”. (Carta de Niomar Bittencourt a Roberto Marinho, 19 junho de 1974. 19 de dejunho 1974. NMS 69.09.07A. Arquivo do CPDOC. CPDOC. FGV) Como segundo ponto, informa ainda que no contrato de arrendamento cabia ao grupo “manter “manter a área area de influência influéncia do jornal, diligenciando para ampliar-lhe ampliar—lhe a circulação”. cao”. Entretanto: “Faz “F az o contrário, contrario, reduzindo-o fisicamente fisicamente a oito paginas, sem notícias, noticias, sem anúncios anuncios e sem leitores. No último ultimo dia anterior àa posse do Sr. Maurício Mauricio Nunes de Alencar e associados, sábado, sabado, 13/9/69, 13/9/69, o 0 Correio da Manhã Manha vendeu 43.000 exemplares, conforme Boletim de Circulação Circulacao de que eles e nós nos dispodispo— mos, e não apenas 7.000, como ele afirma”. (Idem, ibidem) nao afirma”. (Idem, Reclama ainda que o grupo não razão nao pagou com “pontualidade “pontualidade os empregados”, empregados”, razao pela qual tramitavam na Justiça Justica do Trabalho 78 reclamações reclamacoes individuais e de grupos, “todas pessoal”. “todas iniciadas na gestão gestao dos arrendatários, arrendatarios, abrangendo a quase totalidade do pessoal”. “Some-se pagamento das diferenças “Some—se a isso o não nao pagarnento diferencas salariais decorrentes de dissídios já citado descumprimento das obridissidios homologados, férias retidas e o ja gações gacoes do INPS e FGTS. Em consequência consequéncia de tais inadimplências, inadimpléncias, e em vista Vista das reclamações reclamacoes trabalhistas, bens do Correio da Manhã Manha foram forarn levados a leilao judiciario arrernatados a preco Vil, para responder por débitos debitos contraícontrailão judiciário e arrematados preço vil, Mauricio Alencar e seu grupo”. grupo”. (Idem, (Idem, ibidem) dos pelo Sr. Maurício Em seguida, justifica justifica por que se recusa a receber de volta o jornal. “Ao recusar, na presenca 23° Oficio Oficio de Notas e de testemu“Ao presença do tabeliao tabelião do 23º Manha nhas insuspeitas, receber de volta o jornal, a Diretoria do Correio da Manhã valeu—se da cláusula clausula contratual que determina a devolução devolucao dos bens ‘sem ‘sem S.A. valeu-se onus” e em ‘perfeito ‘perfeito equilíbrio equilibrio financeiro’, financeiro’, e após apos reclamar comproqualquer ônus’ Vantes não nao apresentados, inclusive os referentes a aluguéis contratuais tamvantes be’m descumpridos”. descurnpridos”. (Idem, (Idem, ibidem) bém

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E continua: “Teve patrimônio da empresa “Tovo de do fazê-lo, fazé—lo, em om defesa dofosa do patrimonio omprosa eo em om face da situação precária da líder oao procaria lidor do grupo arrendatário, arrondatario, a Companhia Metropolitana Motropolitana de do Construções, já com títulos protostados protestados eo numerosos pedidos Construooos, ja corn centenas contonas de do titulos numorosos podidos de poder”. do falência faléncia na 17ª 17a Vara Cível, Civol, conforme conformo documentação documontaoao em om meu mou podor”. do maneira manoira dramática: dramatica: E tormina termina de

“Finalrnonto, o 0 Sr. Maurício Mauricio Aloncar Cita bilhete bilhoto no qual, lembrando lombrando vor“Finalmente, Alencar cita verdo Khalil Gibran, agradeci agradoci gentileza gontiloza que quo me rno havia haVia feito foito eo que quo acabou sos de custando-me custando—mo muito cara, eo estabelece ostaboloco relação rolaoao entre ontro isso eo o arrendamento. arrondamonto. Ora, sendo messondo o arrendamento arrondarnonto de do setembro sotornbro de do 1969 1969 eo o bilhete bilhoto de do julho do mos— mo ano, éo impossível Mauríimpossivol relacionar rolacionar as duas coisas. Tem, Torn, entretanto, ontrotanto, o sr. Mauri— complota eo integral razão razao em om um urn aspecto: aspocto: mudei mudoi meu mou pon— cio Aloncar Alencar plona, plena, completa ponjá o fez parte das possoas pessoas que to de do vista Vista a seu sou respeito, rospoito, como ja foz a maior parto quo o conhecem. conhocorn. Hoje, Hojo, em om lugar de do Gibran, restar-me-ia rostar—mo—ia apenas aponas citar o Judas, que quo afinal próprio Cristo”. afinal enganou onganou ao proprio Cristo”. (Carta de do Niomar Bittencourt Bittoncourt a Roberto Roborto 19 de do junho de do 1974. 1974. NMS 69.09.07A. Arquivo do CPDOC. CPDOC. FGV) Marinho, 19

lidoranoa de do O 0 Globo A reforma eo a liderança

jornalístico carioca está três Ao final final da década docada de do 1970, 1970, o mercado morcado jornalistico osta reduzido roduzido a trés grandes –O Jornal do Brasil — – que, grandos jornais — 0 Globo, O 0 Dia eo o Jamal quo, juntos, monopolizam quase quaso 90% dos leitores. loitoros. Isso terá tora consequências consoquéncias no aspecto aspocto financeiro financoiro eo patrimonial dos jornais (Ribeiro, (Riboiro, op. op. cit.: cit: 174). 174). A rigor, estamos ostamos afirmando afirrnando que quo a partir da década do’cada de do 1960 1960 a imprensa impronsa diária diaria do do Janeiro Janoiro passa por uma aguda crise criso eo somente somonto O 0 Globo consegue consoguo manter mantor a sua Rio de tiragom om torno de do 200 mil exemplares, oxornplaros, sendo, sondo, portanto, um dos jornais que quo mais se so tiragem em bonoficia com o procosso do concentração concontraoao empresarial omprosarial ocorrido neste nosto poriodo. beneficia processo de período. A TV avaliaoao de do Ribeiro Riboiro (2000), inaugurada no ano seguinte soguinto ao Golpe, Golpo, em om Globo, na avaliação do 1965, 1965, se so tornando, em orn algum algurn tompo, rodo de do toloVisao maio de tempo, a maior rede televisão da América Latina, daria força foroa ao jornal eo ao grupo como corno um todo. Na década, do’cada, o poriodioo Roborto Marinho prossoguo periódico comandado por Roberto prossegue com a sua modorni— modernizaoao tecnológica tocnologica eo administrativa. Aroforrna do 1971, 1971, quando assume assumo a redação rodaoao o ojornalista zação A reforma de jornalista do Andrado, significa a implantação implantaoao de do uma série sorio de do mudanças mudanoas editoriais oditoriais eo Evandro Carlos de Andrade, significa quo leva lova o jornal àa liderança lidoranoa do mercado morcado carioca. oarioca. Em 1978, 1978, novas impressoimprosso— administrativas que sao implantadas, dinamizando ainda mais o procosso do produoao. ras off-set são processo de produção. História Cultural da Imprensa —

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A reforma de 1971 1971 decorre, em parte, do crescimento que o Jamal Jornal do Brasil apresenta no mesmo período. público do concorrenperiodo. Para fazer frente àa conquista de pfiblico te, via to, O 0 Globo utiliza como estratégia a ampliação ampliacao do universo de seus leitores Via implantação jornal se beneficia implantacao de dc mudanças mudancas editoriais. Paralelamente, o jornal beneficia da migramigra— ção periódicos que deixam de cao de dc público pfiblico dos outros periodicos dc circular na década ou que entram decadéncia. em franca decadência.

“O “O Ibope tinha apontado o seguinte, scguintc, mais ou menos: O Globo tinha uma vendagem em banca no Rio, naquela ocasião, ocasiao, subindo de do 100 100 para 122 122 mil exemplares, enquanto o Jornal do Brasil estava cstava passando de 60 para 86 mil. Vendo que a progressão progressao percentual do Jornal do Brasil tinha sido muito superior àa do Globo, o sistema do Roberto Marinho, ou ele próprio, sentiu a neelc proprio, ne— cessidade de dc uma reforma. O Globo então entao fez a reforma, o Evandro teve êxito éXito total, e6 isso coincidiu com a queda qucda e o desaparecimento do Correio da Manhã, Notícias, dois, do O três, e do Diario Diário CarioManha, um, do Diário Diario de dc Noticias, 0 Jornal, trés, Cario— ca, quatro. Quatro jornais fecharam. O pfiblico público desses jornais teria que ir para outro, e acabou indo para O 0 Globo, muito mais que para o Jornal do Brasil”. Brasil”. (Coutto, Francisco Pedro do. Depoimem‘o Depoimento ao a0 CPDOC. CPDOC. Rio de Janeiro, 1998) CPDOC/Alerj, 1998) tamAs mudanças mudancas incluem não nao apenas ajustes e inovações inovacoes na parte gráfica, grafica, como tam— bém transformacoes transformações de dc natureza administrativa. Assim, O 0 Globo passa também a circir— cular aos domingos. “Quando “Quando o Evandro assumiu, e um ano depois O Globo passou a sair aos domingos, ele abalou seriamente a estrutura do Jornal do Brasil. O 0 Jornal do Brasil de dc domingo era uma coisa espetacular ec deixou de ser. E também entrou a TV Globo, que começou poucomccou a anunciar O Globo. Naquela ocasião, ocasiao, e até há ha pou— nao aceitava anúncio anfincio de dc outro jornal — cos anos, a TV Globo não – agora aceita, até o dc vez em quando, O 0 Dia bastante”. bastante”. (Idem, (Idem, ibidem) Jornal do Brasil sai de Nas palavras de Evandro Carlos de Andrade, entretanto, cada uma dessas inovainova— coes aparece como sendo ideia particular do dono do jornal: Roberto Marinho. “Um “Um ções lancar o jornal no domingo. Eu não nao inventei nada! nada! Ele dia, o0 dr. Roberto disse: Quero lançar vocé acha? Eu disse: Ótimo, Otimo, vamos fazer. Era tudo assim, entre o perguntou: O que você fazcr e o fazer, eram duas semanas” semanas” (Abreu et ez‘ alii: 2003:41). quero fazer Nas memórias memorias do diretor de dc redação redacao de O 0 Globo, Roberto Marinho até 1973 1973 “che“chemanha e saía saia àa noite”, noite”, razão razao pela qual é6’: do proprietario gava no jornal de manhã proprietário do jornal jornal todas as ideias inovadoras.

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Observa-se na construção construgao memorável memoravel de Evandro Carlos de Andrade a mesma estratégia utilizada por outros atores quando se referem ao chamado periodo período de momo— dernizaoao da imprensa carioca. Também Tambe’m em relação relaoao às as inovações inovaooes da década decada de 1970, 1970, dernização que atingem sobretudo O 0 Globo, elas foram gestadas, segundo esses discursos, graças graoas ao gênio génio criativo e inventivo de um só so homem. Dessa forma, se constrói constroi uma narrativa mitológica, mitologica, como se da cabeça cabeoa de um iluminado saíssem saissem ideias que são sao fundamentais para o sucesso do jornal não nao apenas naquela década, mas nas décadas de’cadas anteriores e seguintes. A história historia do jornal liga-se, liga—se, por esta estratégia, de maneira indelével indele’vel a Roberto Marinho. “Nesse resis“Nesse episódio episodio da edição edioao de domingo, ele encontrou uma grande resis— tência do conjunto da diretoria. Por quê? téncia qué? Ah, isso é uma loucura, esse espaço espaeo ée do Jornal do Brasil, como ée’ que nós nos vamos fazer isso, vamos sacrificar sacrificar a edição edigao de segunda, e por aí ai afora. Mas ele foi firme, firme, e fizemos fizemos a edição edioao de domingo”. domingo”. (Idem: 42) Também a adoção adoeao da impressão impressao em off-set, ofl-set, no final final dos anos 1970, 1970, ée’ nas palavras de Evandro Carlos de Andrade uma decisão decisao solitária solitaria de Roberto Marinho, que mais uma vez enfrenta reação reaoao adversa do restante da diretoria de O 0 Globo. Na avaliação avaliaeao do jornalista, a passagem para o novo sistema de impressão é determinante para o sucesimpressao so do jornal na década Jornal do decada seguinte, em contraposição contraposioao a derrocada crescente do Jamal Brasil. “A “A mesma coisa ocorreu quando ele resolveu mudar as rotativas, passou já tinha feito a sua reforma, aquele para off-set. off—set. Na época, e’poca, o Jornal do Brasil ja prédio suntuoso, aquela coisa toda, mas na hora de determinar o processo industrial, segundo nós Não vou mudar, nos ouvimos, ouVimos, o Nascimento Brito teria dito: Nao porque o 0 New York Times não nao mudou”. mudou”. E continua: “so que o Brito, no meu modo de ver, cometeu um erro estratégico. Ele “Só nao levou em conta que o 0 New York Times tinha 120 120 unidades rotativas e não la, que eram uma coisa terrivel nao enfrentava o problema dos sindicatos lá, terrível e não Entao era um drama para eles passar para o 0 offdeixavam mudar nada. (...) Então nao havia haVia nada disso, mas o Brito estabeleceu uma relação relaoao set. (...) Aqui não letter— direta New York Times-Jornal do Brasil e resolveu manter o sistema letterpress. Fez algumas adaptações adaptaooes para tentar melhorar a impressão, impressao, mas foi isso, competioao, porque a qualidade gráfica grafica no meu modo de ver, um desastre na competição, nao saibam disso necessariamenée um dado fundamental, embora as pessoas não

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te. As coisas que mais preocupam os leitores, segundo pesquisas feitas nos Estados Unidos, não nao são sao a qualidade editorial, não. nao. Em primeiro lugar está esta o seguinte: suja a mão? mao? Em segundo lugar: o tamanho da letra dá da pra ler facilmente? Depois ée’ que vem a substância jornal”. (Idem, substancia do jornal”. (Idem, ibidem) Outras mudanças mudanoas introduzidas e que, nas palavras de Evandro Carlos de Andrade, são sao fundamentais para o sucesso de O 0 Globo ée a criação criaoao de uma editoria de Economia que, até ate’ então, entao, não nao existia, eXistia, ao mesmo tempo em que “desfazia “desfazia aquele império impe’rio policial do Globo”, polícia e passando os asGlobo”, acabando gradativamente com a reportagem de policia suntos para a reportagem geral (Idem: 44). No entanto, na década decada de 1970, 1970, um dos principais jornais da cidade ée exatamente

O publicação (ao 0 Dia, que faz das notícias noticias policiais um dos principais conteúdos conteudos da publicaoao lado do futebol e das questões público). Porque esse jornalismo que questoes do funcionalismo publico). apela às público, chegando ao final as sensações sensaeoes faz tanto sucesso junto ao publico, final da década de’cada com uma tiragem de mais de 400 mil exemplares? O que particulariza o jornalismo de O público e por que este se identifica 0 Dia? Que apelos esse jornal dirige ao publico identifica com as tramas culturais enredadas nas suas narrativas?

Jornalismo e sensações: sensaeoes: o sucesso editorial do jornal O 0 Dia 0 jornalismo popular — qualificar como de sensações sensaeoes — O – mas que preferimos qualificar – assume a partir dos anos 1950, 1950, gradativamente, nova configuração configuraoao no cenário cenario midiático midiatico do Rio de Janeiro. Continua apelando a conteúdos conteudos e formatos narrativos que fazem parte do universo do público publico desde o 0 final final do século se’culo XIX, mas constrói constroi naquele momento uma ruptura: a inclusão têm apelo inclusao de outros temas do cotidiano dos leitores que tem de natureza política. politica. emblematico dessa estratégia estrate’gia editorial ée’ Última Ultima Hora. Mas outros jor— Exemplo emblemático jorperiodo — Tenorio Cavalcanti, Cavaloanti, e a Tribunais no mesmo período – como aaLuta Luta Democrdtica, Democrática, de Tenório na da Imprensa, de Carlos Lacerda — – engendram o0 popular a partir de temas que falam intermediarios das agruras do cotidiano, ao mesmo tempo em que se constroem como intermediários 55 possiveis de seus leitores junto àa sociedade política politica55.. Há Ha que se acrescentar ainda que possíveis dao claramente olaramente sustentação sustentaeao politica esses periodicos periódicos dão política a seus proprietarios proprietários ou a seus Ultima Hora, como ja Vinculaeao prepostos. Esse ée o caso de Última já abordamos, jornal jornal com vinculação Getulio Vargas; Tribuna da Imprensa, órgão orgao síntese sintese da UDN, que tinha na estreita a Getúlio

55 Sobre a inclusão inclusao nesses jornais da temática tematica política politica com característica caracteristica sensacionalista, sensacionalista, cf. cf. Siqueira, Carla “Sexo, crime e sindicato. sindicato. Sensacionalismo e populismo nos jornais Última Ultima Hora, Hora, O 0 Dia e Luta DemoDemo— Vieira de. “Sexo, crat/ca durante o segundo governo Vargas (1951-1954)”. (1951-1954)”. Tese de Doutorado em História, Histéria, PUC-Rio, PUC—Rio, 2002. 2002. crática

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liderança Luta Democrdtica, Democrática, fundada lideranca de Carlos Lacerda o seu ponto de inflexão; inflexao; e aaLuta em 1954 1954 por Tenório Tenorio Cavalcanti, deputado federal pela UDN e liderança lideranca em Duque de Caxias CaXias na Baixada Fluminense, indispensável indispensavel para divulgar a imagem imagern de Tenório Tenorio como povo.56 corno advogado do povo.56 Segundo Carla Siqueira o que diferencia esses jornais ée o fato de utilizar a popularidade em que se estruturam — – através atraVes de estratégias estrate’gias narrativas que apelam a valores caros àa cultura popular — – para o exercício do personalismo e do clientelismo exercicio clientelisrno populista, que afinal publicações. Esses jornais constroem um afinal são sao o 0 motor de sustentação sustentacao dessas publicacoes. urn canal de comunicação público, que é tambe’m também eleitor, e as lideranças comunicacao entre o publico, liderancas populistas, em que estas utilizam o apelo emocional veiculado por essas publicacoes publicações para formar uma ideia de identidade e de pertencimento entre as partes. “A perfil edito“A análise analise do perfil rial destes jornais revela a interseção política populista, a cultura popular e as intersecao entre a politica técnicas da indústria cultural.” (Siqueira, op. tecnicas industria cultural.” op. cit.: cit: 54) É permanências que E preciso refletir refletir quando se fala em jornalismo popular sobre as permanéncias se manifestam na forma e no conteúdo publicações. Tal conteudo como se estruturam essas publicacoes. como destaca Jesus Martin-Barbero, esse tipo de jornalismo jornalismo delineia a “questão “questao dos rastros, das marcas deixadas no discurso da imprensa por uma outra matriz cultural”. cultural”. É E a partir dessa matriz de natureza simbólica simbolica e dramática dramatica que são sao modeladas várias Varias das praticas práticas e formas da cultura popular (1997:246). (19972246). Há Ha nesse jornalismo a “estética “estetica melodramática melodramatica e dispositivos de sobrevivência sobreViVéncia e de revanche da matriz que irriga as culturas populares”, populares”, como enfatiza Barbero (op. (op. cit.: público ée’ exatamente essa estética, cit: 247). O que permanece interpelando o publico este’tica, que se metamorfoseia em ern dramas as agruras do cotidiano dos grupos populares. O que permanece como temáticas ée’ o exagero, a hipérbole, corno ênfase enfase nessas tematicas hiperbole, a descrição descricao densa, a linguagem incisiva. É, E, portanto, esse jornalismo de sensações sensacoes que constitui a essência essencia de O 0 Dia, na de’cada de 1970, 1970, o segundo jornal mais vendido na cidade. Esse sucesso editorial, a década 57 vern desde o seu surgimento em 5 de julho de 1951 195157. . Em pouco tempo possuia possuía rigor, vem

56 56 Sobre a Luta Democrática Democrat/ca ver sobretudo BELOCH, BELOCH, Israel. Capa preta e Lurdinha — Tenor/o Cavalcanti e o – Tenório povo da Baixada. Rio de Janeiro: Record, Record, 1986.

57 Chagas Freitas, deputado pelo Rio de Janeiro em 1954, 1954, 1958, 1958, 1962 e 1966, 1966, eleito indiretamente governador da 0 Dia em 5 de dejulho 1951. Na mesma época assume o 0 controle acionário acionario do dojornal Guanabara em 1970, funda O julho de 1951. jornal A Notícia, Noticia, numa transação transagao repleta de mistérios, mistérios, na qual consegue a posse das ações, agoes, então entao nas mãos macs do político politico fusao da Guanabara e do Rio de Janeiro, Janeiro, disputou com o grupo de Amaral paulista Adhemar de Barros. Apés Após a fusão apés seu afastamento temporário temporério dos quadros do partido, partido, a Peixoto o controle do MDB no novo estado. Mesmo após hegemonia, conseguindo que seu nome fosse aprovado pela Assembleia Legislativa corrente chaguista obteve hegemonia, sucessao do governador Faria Lima, Lima, em 1978. 1978. Com o 0 fim do bipartidarismo, bipartidarismo, organizou no Rio de Janeiro o 0 para a sucessão (PP), que posteriormente foi fundido ao PMDB. Nas eleições eleigoes de 1982, rompeu com Miro Teixeira, Teixeira, Partido Popular (PP), sucessor, sofrendo sua maior derrota eleitoral. eleitoral. A partir daí, dai, afastou-se afastou—se da vida candidato que ele transformou em sucessor, pl’Jblica, vendeu seus jornais e faleceu no Rio de Janeiro em 30 de setembro de 1991. 1991. Ver DHBB. DHBB. pública, 57

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uma das maiores circulações, circulacoes, com tiragem de quase 100 100 mil exemplares. Atinge, sobretudo, os grupos de menor poder aquisitivo e tem enorme força forca como veículo veiculo de propaganda política, politica, sendo instrumento importante do chamado “populismo “populismo de direita”. Anuário Brasileiro de Imprensa (1953:4), ta”. Segundo o Anudrio (1953z4), a receita do seu êxito exito era simples: 70% de notícias polícia, 20% de politica política e reivindicações noticias de crime e policia, reivindicacoes operáopera— rias e 10% 10% de esportes e divertimentos. Para Ribeiro (2000), o nascimento de uma imprensa popular, associada a politipolíticos, como ée o caso de O Dia, demonstra a importância políticos atribuem ao ODia, importancia que esses politicos fato de ter uma máquina jornalística voltada para expressivo segmento da populacao população maquina jornalistica ainda não nao alcançado alcancado pela grande imprensa. Mas afinal afinal o que estamos chamando jornalismo de sensações? sensacoes? Por que utilizar este termo em vez de sensacionalismo? E o quê, que, afinal, afinal, é o sensacionalismo? Chamamos habitualmente de jornalismo sensacionalista um tipo de notícia noticia que apela às as sensações, sensacoes, que provoca emoção, emocao, que indica uma relação relacao de proximidade com o fato, reconstruído reconstruido exatamente a partir dessa memória memoria de sensações. sensacoes. O termo sensacionalismo, entretanto, possui diversas apropriações. apropriacoes. No senso coco— mum, serve como espécie espe’cie de acusação, acusacao, sendo usado muitas vezes como sinônimo sinonimo de imprecisão imprecisao e de distorção distorcao das informações informacoes (Angrimani, 1995). 1995). Para Amaral (2005) o conceito, frequentemente utilizado para definir jornalísticos populares, ée’ definir os produtos jornalisticos amplo ao extremo, o que leva a equívocos teóricos. Segundo a autora, o sensacionalisequivocos teoricos. mo corresponde mais àa perplexidade diante do desenvolvimento desenvolVimento da indústria industria cultural no âmbito ambito da imprensa, do que a um conceito capaz de traduzir os produtos midiáticos midiaticos populares. Sendo assim, a palavra passa a designar, com frequência, frequéncia, o jornalismo que privilegia a superexposição superexposicao da violência Violencia por intermédio intermedio da cobertura policial e da publicação publicacao de fatos considerados chocantes, distorcidos, usando uma linguagem que não nao raras vezes apela a gírias, girias, palavrões palavroes e inclui no seu repertório repertorio expressões expressoes de fácil facil entendimento para os grupos populares. 1986 e Marcondes Filho, 1989) 1989) atribuem uma função funcao Outros autores (Serra, 1986 noticia, arrogando àa imprensa sensacionalista uma radialienante a essa tipologia de notícia, mercantilizacao das sensações, sensacoes, que se presta a satisfazer as necessidades instintical mercantilização publico e desviá-lo desvia—lo de sua realidade. Daí Dai o seu suposto potencial alienador. vas do público

Partindo do pressuposto de que o jornalismo se constitui como instrumento interpretacoes ressaltam que, ao exagerar as inforinfor— iluminador da esfera publica, pública, essas interpretações macoes, o jornalismo produz distorções, distorcoes, fazendo com que a realidade pareca mações, pareça mais palatavel em comparação comparacao ao cotidiano midiático midiatico apresentado. Marcondes Filho (1989) palatável ale’m ao acreditar que as notícias noticias de crimes servem para canalizar a rebeldia potenvai além normatizacao a sociedade a partir de uma cial das classes subalternas, assegurando a normatização

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nao compensa. Por meio desses jornais, o pfiblico narrativa moral na qual o0 crime não público poderia transgredir a ordem simbolicamente, identificando-se identificando—se momentaneamente com

o criminoso. Para Amaral (2005) ée simplista considerar o pressuposto de que o jornalismo “mexe ParaAmaral “mexe com as sensações psíquicas”, tal como foi explicitado há três décadas sensacoes físicas fisicas e psiquicas”, ha mais de trés de’cadas por profissionais profissionais e teóricos teoricos que participaram na Semana de Estudos de Sensacionalismo, realizada na Universidade de São S510 Paulo (USP). Naquele encontro, Alberto Dines (1971:68-9), por exemplo, enfatizou o pressuposto de que todo processo de comunicação já que o jornalismo sublinha sempre os elementos mais palpicacao ée sensacionalista, ja tantes da história historia com o intuito de seduzir o leitor. Desde a década notíde’cada de 1930, 1930, as discussões discussoes em torno do caráter carater “pernicioso” “pernicioso” das noti— cias arroladas sob o nome de “sensacionalistas” periodicamen“sensacionalistas” podem ser observadas periodicamen— Acadêmico Candido de Oliveira, da Faculdade te. Em 1933, 1933, o 0 Centro Academico F aculdade de Direito da antiga Universidade do Brasil, organizou uma campanha contra o sensacionalismo dos jornais. Na ocasião político e ocasiao foram conferencistas nomes de destaque do cenário cenario politico intelectual, como Carlos Lacerda, Cecília Cecilia Meirelles e Roquete Pinto. O jurista Roberto Lyra (1933, apud Siqueira, 2002:201), na época, e’poca, tentou explicar o sucesso do sensasensa— cionalismo junto ao pfiblico público por ser a “expansão, “expansao, o desabafo, o alívio, aliVio, a função funcao desatrofiadora, desatrofiadora, a rebeldia, a exceção, excecao, a invulgaridade, ée o subconsciente coletivo eses— cancarado nos seus mais ardentes e mais profundos esconderijos”. esconderijos”. E diagnosticava: “No “No jornal moderno (...) a gramática gramatica e o estilo cederam lugar àa manchete, ao subtítulo, subtitulo, àa legenda, aos negritos, àa técnica paginação para o efeito gráfico. tecnica da paginacao grafico. (...) O que se quer ée atrair o olhar do transeunte para o ponto do jornal.” jornal.” 1951, mais uma vez o sensacionalismo seria tema de discussão discussao na 1ª 181 ConfeEm 1951, rência – fator réncia Nacional de Polícia, Policia, realizada no Rio. Na palestra “O “O sensacionalismo — de criminalidade”, pública de São criminalidade”, o secretário secretario de segurança seguranca pfiblica sao Paulo concluía concluia que as notícias juventude”, noticias sensacionais exerciam influência influéncia “maléfica “male’fica sobre a infância infancia e a juventude”, necessario coibir “o “o pregao noticiario criminal por parte dos sendo necessário pregão escandaloso do noticiário “narracao detalhada do crime produz nos predispostos vendedores de jornal”, jornal”, ja já que a “narração 1951, um choque moral que os faz cair do lado para o qual eles ja já pendiam” pendiam” (Silva, 1951, op. cit.: cit: 202). apud Siqueira, op. No final final da década decada de 1960, 1960, o tema sensacionalismo figuraria figuraria pela primeira vez discussoes em uma escola de jornalismo, com a realização, realizacao, de 9 a 13 13 de junho em discussões junho de 1969, da I1 Semana de Estudos de Jornalismo, no Departamento de Jornalismo da 1969, Comunicacoes e Artes (ECA) da Universidade de São sao Paulo. Escola de Comunicações Na ocasião, ocasiao, além ale’m de fazer um balanço balanco das discussões discussoes realizadas em torno do tema, Jose Marques de Melo (1971:57-58), (1971 :57-5 8), afirmava afirmava a diferença diferenca o organizador da Semana, José nao se limitariam das preocupacoes preocupações anteriores com aquelas que dominariam a semana: não História Cultural da Imprensa —

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a constatar pura e simplesmente o fenômeno, fenomeno, mas aprofundar analiticamente o tema, sob “o “o prisma de algumas áreas areas básicas basicas da filosofia filosofia e das ciências ciencias humanas”. humanas”. Ou seja, sej a, procurava-se – agora no âmbito – discutir procurava—se — ambito de uma escola de jornalismo — diseutir cientificamencientificamente o problema58. problema58. S510 Com linguagem extremamente simples, o editor do jornal jornal mais popular de São Paulo na época, Notícias Populares, assim definiu, e’poca, Notz'cias definiu, o que seria primordial na escolha dos temas frequentes no jornal.

“É “E preciso sentir o pensamento, o gosto, a vontade, o interesse do leitor. Entrar no meio do povo, na sua alma, e oferecer-lhe exatamente o que preten— pretende comprar. E se o0 jornal vende um dia matéria mate’ria sem sabor, o freguês fregués não nao volta a comprá-lo compra-lo na manhã manha seguinte”. seguinte”. (Portão, (Portao, 1971:79) 1971279) O que Ramão Ramao Gomes Portão Portao chamava “matéria “materia com sabor” sabor” eram exatamente os temas que faziam parte do cotidiano dos leitores, por aproximação aproximaeao ou distanciamento. Ou On o 0 leitor se identifica identifica com a trama, imaginando um mundo de sonho, ou visualiza Visualiza na narrativa uma realidade que lhe parece próxima. pareee extremamente proxima. “No “No caso easo da faixa popular, em que o povo tem pouca instrução, instrueao, soletra as manchetes, prefere a fotografia fotografia ao texto longo, em suma, a imprensa sensaciosensacio— nalista, precisamos captar o desejo do homem da rua. E disto não nao tenham dúvida: dfivida: ele quer sangue e mulher, crime e sexo. Mas, diante da ação aeao da censura esses ingredientes devem ser bem dosados para atender a lei sem desatender o leitor”. tor”. (Idem, (Idem, ibidem) Os protocolos de leitura desse pfiblico público tambe’m também aparecem claramente elaramente na fala do jornalista, mostrando que há ha adaptações adaptaeoes da edição edieao em função funeao das possibilidades de leitura. O priVile’gio privilégio da ilustração, ilustraeao, entre outras estratégias estrate’gias da oralidade, figura figura com contefido dessas publieaeoes. nao ée’ apenas o conteúdo contefido que coloca coloea destaque no conteúdo publicações. Mas não sensaeoes: ée também tambe’m a forma — grafica e editorial — eomo esse jornalismo no lugar das sensações: – gráfica – como tematica é tratada. cada temática sensagoes, não nao o Portanto, quando consideramos este tipo de jornalismo como de sensações, as sensações sensaeoes físicas fisicas e psiquicas. fazemos apenas porque esses textos apelam às psíquicas. As sensaeoes a que nos referimos encontram-se na relação relaeao da leitura com o extraordinário, extraordinario, ções notieia do inominável. inominavel. São S510 sensações sensaeoes com o excepcional, aproximando esse tipo de notícia representaeoes arquetípicas arquetipicas do melodrama e que continuam subsistindo contidas nas representações

58 58 O conjunto das discussões discussoes da Semana foi publicado na Revista Comunicação Comunicaga‘o e Artes 4/1971. Publicagao 4/1971. Publicação Comunicagées e eArtes quadrimestral da Escola de Comunicações Artes da USP.

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nos modos narrativos dessas tipologias de notícias. noticias. Tal como os gostos e anseios po– formados na longa duração – tambe’m também as sensações pulares — duracao — sensacoes desse tipo de narrativa mesclam os dramas cotidianos, os melodramas, em estruturas narrativas que apelam ao imaginário imaginario que navega entre o sonho e a realidade (Barbosa, 2005). Esse tipo de jornalismo pode ser caracterizado como de sensações também porque sensacoes tambe’m estabelece como central a construção construcao narrativa de mitos, figurações, figuracoes, representações representacoes de uma literatura que subsiste há séculos. Uma literatura que falava de crimes violenha seculos. Violen— tos, mortes suspeitas, milagres, ou seja, sej a, de tudo o que fugia àa ordem, instaurando um modelo de anormalidade. Mas uma anormalidade baseada na presuncao presunção de uma nor59 malidade tambem também sensorial. permanências de um imaginário sensorial.59 Há, Ha, portanto, permanencias imaginario da longa duração duracao que faz com que os conteúdos conteudos dessa mídia midia ainda reproduzam mitos de um passado imemorial. Se nos Estados Unidos, a origem do sensacionalismo — – a chamada penny penny press, press, numa clara referência preço de venda avulsa —– ée localizada no final referéncia ao modesto preco final do século XIX no contexto da rivalidade entre o0 New York World World e o 0 Morning Journal, no Brasil desde o0 final final do século se’culo XIX a imprensa do Rio de Janeiro de grande tiragem páginas os chamados crimes de sensação passou a incluir nas suas paginas sensacao ou as notas sensasensa— cionais, como se adjetivava na época, epoca, como mostramos nos capítulos capitulos 1l e 2. Portanto, o que O Dia dos anos 1970 ODia 1970 faz para conquistar mais leitores ée incluir em seu noticiário público, proj projetannoticiario narrativas que simulam a experiência experiéncia da vida Vida de seu publico, etan— do-se pródo—se assim fora delas mesmas e incluindo-se, sob certo aspecto, no mundo do pro— prio leitor. Ao lado disso, editam temas ligados ao mundo do trabalho, ao mesmo tempo em que utilizam estratégias estrate’gias clientelistas. Na conquista do leitor (eleitor) Chagas Freitas faz do jornal o lugar em que torna visível Visivel a intermediação intermediacao estabelecida com o público, publico, no sentido de responder aos seus anseios cotidianos. “Quando já tinha assumido o comando do par— par“Quando chegou 70, Chagas Freitas ja tido, com a influência influéncia direta de O 0 Dia, porque O 0 Dia tinha o que oferecer, que V02. O 0 sujeito que estivesse com Chagas Freitas tinha uma certeza: seu era a voz. ocasiao era fundamental sair no Dia para se nome sairia no Dia, e naquela ocasião eleger”. (Coutto, Francisco Pedro do. Depoimento ao CPDOC. CPDOC. Rio de JaneiJanei— eleger”. 1998) ro, CPDOC/Alerj, 1998)

59 Essas temáticas tematicas que estão estao no centro desses relatos do jornalismo popular repetem, repetem, com as inflexões inflexoes necessarias ao tempo de sua construção, construcao, os mitos, as figurações, figuracoes, as representações representacoes de uma literatura popupopu— necessárias violentos, lar existente, na Europa Ocidental, desde o século XVI. XVI. Essa literatura popular falava dos crimes violentos, enforcamentos, dos milagres, ou seja, seja, de tudo que fugia à a ordem instaurando um das mortes suspeitas, dos enforcamentos, (1981 , 1987, 1987, 1993), ao estudar este tipo de publicação, publicacao, sublinha as modelo de anormalidade. Roger Chartier (1981, ml’JItiplas reconfigurações reconfiguracoes narrativas que estes textos sofreram para se adaptar aos padrões padroes e hábitos habitos de múltiplas publico em larga escala. escala. leitura do público

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O 0 Dia tem papel fundamental dentro do funcionamento do chagismo no Estado do Rio de Janeiro. “A força, forca, não nao politica, “A política, mas eleitoral, do Dia era muito maior do que a força forca eleitoral do Globo ou do Jornal do Brasil. O 0 Globo e o Jornal do Brasil nao elegeriam ninguém. Ningue’m forca de expressão, expressao, elegeriam um. Mas não Ninguém ée’ força Chagas Freitas elegia seis, sete, com O 0 Dia. Por quê? que? Porque o eleitor do Dia era um eleitor muito mais propenso a seguir o comando daquela corrente que o jornal representava, sintetizava, do que o leitor do Globo ou do Jornal do (Idem, ibidem) Brasil. E assim ele utilizou o jornal”. jornal”. (Idem,

O política no cenário 0 Dia só so possui expressão expressao politica cenario dos anos 1970, 1970, porque conta com uma rede de leitores e leituras. E essa aproximação público se faz graças aproximacao com o publico gracas àa construção de uma outra rede de textos, que apelam a valores caros ao universo popuconstrucao popu— lar. O 0 popular se realiza no massivo (Barbero: 1997). 1997). “O — não “0 Dia era um jornal mais de crimes do que ée’ hoje — nao deixou de ser até ate’ hoje, mas agora ée um jornal muito mais bem-feito. bem—feito. Eram crimes em larga escala. É E preciso ver que a notícia noticia do crime, do conflito, conflito, da violência Violencia urbana, da violência povão. Outro fator Violencia humana, tem um apelo muito forte junto ao povao. de apelo era que O também cobria bem o futebol. Por exemplo, a toda 0 Dia tambem questão questao popular, de interesse coletivo, de interesse dos trabalhadores, dos funcionários públicos, dos servidores, funcionarios publicos, serVidores, Chagas Freitas dava o seu apoio no jornal”. (Idem, ibidem) jornal”. (Idem, Trazendo o mundo do leitor para as paginas páginas da publicacao, publicação, ofertando esse mesmo mundo aos seus sentidos criam, pelo ato narrativo, a possibilidade de transformacao transformação da realidade. Lendo as notícias próximo, visualizando noticias de um mundo proximo, Visualizando a fantasia ao lado da realidade, abre-se para o leitor também a possibilidade de sonho. 0 Dia na década decada de 1970 1970 deve ser tributado àa permanencia Portanto, o sucesso de O permanência de uma mesma tipologia narrativa que constitui uma rede de textos. Uma rede de significacoes múltiplas multiplas e que, fazendo parte de um fluxo fluxo imemorial, textos que ganha significações cenarios continuam praticamen— reaparece periodicamente. Mudam os atores, mas os cenários praticamente inalterados. Dependendo da tessitura da intriga, da possibilidade de estabelecer Vinculos com o leitor, da capacidade de moldar uma espécie especie de modelo de mundo, vínculos identificacao do publico veiculo, via Via estratégias estrategias narrativas ligadas aumentam a identificação público com o veículo, as sensações. sensacoes. às A ocasioes (de 1970 1970 a 1974 1974 e de 1978 1978 a À frente do governo do estado por duas ocasiões 1982), Chagas Freitas intensifica intensifica a pratica 1982), prática do clientelismo ao extremo, desenvolven0 Dia uma do um sistema de trocas de votos por favores particulares. Possui em O

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coluna diária pensões dos aposentados, dificuldades diaria na qual temas como reajuste das pensoes dificuldades do funcionalismo publico, público, custo de vida, Vida, etc., são sao tratados sempre em ern linguagem exex— tremarnente tremamente simples (Ribeiro: 2000). Com término de A Noticia, Notícia, no final Corn o 0 térrnino deA final da década de 1970, 1970, O 0 Dia passa a ser o 0 único unico jornal popular da cidade, o que faz com corn que eleve sua tiragem a mais de 400 mil

exemplares, transformando-se num dos periodicos periódicos de maior sucesso do pais. país. Em 1983, – que havia – comprou também 1983, o grupo Arca — haVia comprado UH UH em 1973 1973 — O 0 Dia e, quatro anos depois, promove uma reforma editorial radical no jornal. Tenta-se construir uma nova imagem, ta—se imagern, distante do sensacionalismo. Os fatos gerais do Rio, como a seção secao Cidade, ganham espaço espaco e atenção atencao maiores. Investe-se em tecnologia padrão industrial ao jornal. São para garantir alto padrao S510 gastos cerca de US$ 32 milhões milhoes na construção construcao do parque gráfico grafico de Benfica, Benfica, então entao um urn dos mais modernos da América Latina. Com Corn a reforma, a penetração penetracao de O 0 Dia nas classes A/B aumentou 25%. O 0 Dia continua sendo ainda hoje um país (Ribeiro, 2000). urn dos maiores jornais do pais

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60 Calidoscopio de mudanças IX. Calidoscópio mudaneas (1980-2000) (1980-2000)60

Inúmeras diario a partir mutaeoes que podem ser apontadas no jornalismo diário sao as mutações Infimeras são dos anos 1980: avanoo dos temas ecoinformatiea; o avanço utilizaoao das tecnologias de informática; 1980: a utilização nômicos, ehefe de diversas earro chefe especie de carro nomicos, tornando a editoria de Economia uma espécie publicações; a eclosão profissioeclosao do chamado jornalismo investigativo, fazendo dos profissio— publicaeoes; nais espécies de investigadores do cotidiano, numa clara polítiestrategia de natureza politiClara estratégia ca; cidadao’, ou seja, a ‘jornalismo cidadão’, radicalizaeao do que alguns autores chamam ‘jornalismo ea; a radicalização visão aeao quotidiana da imprensa deve ter uma utilidade social, construida de que a ação Visao construída servindo aos “interesses dificidadaos, ajudando os leitores a enfrentar dificoneretos dos cidadãos, “interesses concretos culdades multiplieaoao de cadernos especializados quotidianas” (Abreu: 2000, 45); a multiplicação euldades quotidianas” em contraposição redaoional entrecortado, onde as colunas de criaeao de um estilo redacional contraposieao àa criação emblematioa, entre outras. pequenas notas proliferam de maneira emblemática, Observa-se, estratetransformaooes, duas estratéObserva—se, portanto, apenas no alinhamento dessas transformações, gias adotadas por ações parâmetros construeao de parametros aeoes e discursivamente pela imprensa: a construção no sentido de ampliar o poder simbólico dai ser fundamental, por exemsimbolico dos jornais, daí jornalismo como cidadão; cidadao; e a idealizaoao de um jornalismo plo, o papel de investigadores ou a idealização adoção relaeionados a uma nova temporalidade criterios editorias diretamente relacionados adoeao de outros critérios que emerge do cotidiano dos leitores. Diante do universo tecnológico espe’eie de eterno nao cessa de construir uma espécie tecnologieo que não – transformando rapidamente em obsoleto praticas práticas e representações –, tamrepresentaeoes —, presente —transfor1nando indieam a velociestrategias narrativas que indicam multipliear as estratégias irao multiplicar diarios irão be’m os jornais diários bém adoeao de um estilo entrecortado aceleraeao da atualidade. Neste sentido, a adoção dade e a aceleração Inais subdivididas e mate'rias cada vez mais sintese ou em matérias sao síntese — – em colunas onde as notas são

mudangas calidoscépio de mudanças possivel enfocar o calidoscópio seré possível nao será paginas não espago restrito de poucas páginas ‘50 Certamente no espaço Ultimas décadas do século XX. diérios da cidade do Rio de Janeiro nas duas últimas que enfeixou os jornais diários XX. Como metodolégica, escolheremos para nos referir a essas décadas estratégia narrativa e coerente com a proposta metodológica, porjovens trés pesquisas realizadas por três jovens que se dedicam a entender os processos complexos que envolvem o portanto, como espécies de vesti— consideradas, portanto, sao consideradas, comunicagao. Essas pesquisas são estudo dos meios de comunicação. vestíambito presente. Todos esses textos foram produzidos no âmbito gios que nos informam sobre esse tempo quase presente. coau— portanto, coauSéo, portanto, Fluminense. São, Comunicagao da Universidade Federal Fluminense. Pés—graduagao em Comunicação do Programa de Pós-graduação me— Matheus. Com esta estratégia meLeticia Cantarela Matheus. Mércio Castilho e Letícia capitulo Hérica Lene, Márcio tores deste capítulo é, sobretuaqueles que continuam construindo um saber que é, moravel prestamos também uma homenagem àqueles morável do, cumulativo. do,

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condensadas em infográficos, – parece ser a materialização infograficos, retrancas, etc. — materializaeao narrativa dessa nova temporalidade. O mercado jornalistieo jornalístico dos anos 1990 posição 1990 no Rio de Janeiro aponta para a posioao hegemônica hegemonica conquistada pelo jornal O 0 Globo desde a década de’cada anterior. Em 1995, 1995, atinge mais de 700 mil exemplares aos domingos, enquanto O Dia, na segunda colocação, ODia, colocaeao, vende 454.641 Jornal do Brasil, vivendo 454.641 exemplares. O Jamal Vivendo uma crise econômica economica sem precedentes, desde a década de 1980, imprime pouco mais de 150 mil exemplares. de’cada 1980, 150 A tiragem de todos os diários diarios do Rio nos dias de semana atinge 789.896 exemplares, num mercado – Mz'dia, Mídia, Ano 1, mereado com mais de 12 12 milhões milhoes de habitantes (Imprensa — 1, nono— vembro 1994). 1994). No mesmo período periodo um estudo sobre a evolução evolueao de circulação circulaeao das revistas reVistas realiza-

do pelas agências agéncias de publicidade Salles/DMB&B diagnostica diagnostiea um aumento de circulacircula— ção eao em todos os tipos de publicações. publicaeoes. O segmento que mais cresce ée’ o 0 de revistas femininas, tendo apresentado um acréscimo relação ao acre’scimo de 26% em suas tiragens em relaeao ano anterior. A Revista Claudia, por exemplo, que em maio de 1993 1993 circulava com 1994 com 572 mil (Meio e Mensagem, 17 17 julho 324 mil exemplares fecha o ano de 1994 1995 – TV Pesquisa — – PUC—Rio). PUC-Rio). 1995 — TVPesquisa Em relação – considerando as médias relaeao aos diários, diarios, dados do IVC mostram que — medias de vendas de segunda a domingo, por edição – a circulação títulos publicados em edieao — circulaeao de 39 titulos 18 18 capitais brasileiras, em 1994, 1994, soma quase o dobro dos jornais vendidos em 1993. 1993. Jornal do Brasil, o que leva A mesma pesquisa aponta as dificuldades dificuldades crescentes do Jamal os concorrentes a ocupar novos espaços, espaeos, sobretudo O 0 Globo e O 0 Dia. “O “0 crescimento no primeiro trimestre de O já ée mais que o dobro do resultado alcançado 0 Globo ja alcaneado no ano passado. O terça a sábado 0 Dia cresceu quase 18% 18% na sua circulação circulaeao de terea sabado e mais de 11% 11% aos domingos nos quatro primeiros meses do ano em relação relaeao àa média media anual de 94”. 94”. 0 Globo atinge 71% de sua audiIndica ainda as faixas preferenciais de pfiblico. público. O encia nos públicos pfiblicos AB. O 0 Jamal ência Jornal do Brasil conserva a preferéncia preferência do publico público AB aos Citada por TV Pesquisa — au— domingos (Pesquisa DPZ, citada – PUC—Rio). PUC-Rio). Atribui—se Atribui-se esse aucirculaeao em meados da década de 1990 1990 a trés econo— mento de circulação três fatores: impulso da econoimplantaeao do Plano Real, avanço avaneo teenologico mia, com a implantação tecnológico que aumenta a produtiViprodutiviperiodicos e esforços esforeos promocionais adotados pela maioria dos jornais nesse dade dos periódicos preoo de capa abaixo da inflação inflaeao permite o auau— momento. Alem Além disso, a politica política de preço mento das vendas diretas. A análise analise realizada pela DPZ mostra ainda que “na “na briga pela preferencia preferência dos

leitores, os jornais empregaram armas promocionais e produtos de valor agregado, editoriais”. E conclui: “Praticamente “Praticamente todos os titulos principalmente brindes editoriais”. títulos que lanearam mão mao destes recursos tiveram seu comportamento de circulação circulaoao beneficiado.” beneficiado.” çaram

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Aliada a essas estratégias há ha ainda o desenvolvimento de cadernos específicos especificos para

leitores jovens, gerando o aumento de participagao participação deste pfiblico. público. (Pesquisa DPZ citada Pesquisa — –P PUC Citada por TV TVPesquisa UC Rio). Há já que não Ha que se referir, ainda que pontualmente, ja nao é nosso objetivo obj etivo recuperar essa história – no historia recente que está esta sendo construída, construida, a informatização informatizagao das redações redaooes — caso do Rio de Janeiro processo desencadeado pelo O – mudando 0 Globo, em 1985 1985 — não só o cotidiano do trabalho nas redações, nas oficinas, mas tendo reflexo prónao so 0 redagoes, oficinas, reflexo na propria estruturação estruturaoao do conteúdo contefido do jornal. A transmissão transmissao eletrônica eletronica de textos transformou não nao apenas o universo das redareda—

ções, público e de suas leituras. Houve, como mostra Chartier, uma goes, mas o universo do pfiblico modificação modificagao na noção nogao de contexto, ao substituir a contiguidade física fisica entre os textos presentes num mesmo objeto obj eto (um livro, uma revista, um jornal) por sua distribuição distribuigao nas novas arquiteturas dos bancos de dados, dos arquivos eletrônicos eletronicos e dos sistemas de processamento que tornam possivel possível o acesso àa informação informagao (1999:27). (1999227). Essa nova relação – continua o historiador —, –, obriga a uma profunda relagao com os textos — reorganização produção, a transmissao transmissão e a leitura de um reorganizagao da “economia “economia da escrita”. escrita”. A produgao, mesmo texto passam a ser simultâneas. simultaneas. Um mesmo indivíduo individuo é agora responsável responsavel publicação, distribuição pela escrita, publicaoao, distribuioao de um mesmo texto, o que permite concluir que “a “a apresentação apresentagao eletrônica eletronica dos textos anula as antigas distinções distingoes entre papéis intelecintelec— tuais e funções fungoes sociais”. sociais”. (Idem, (Idem, ibidem) – de fato —– a relação A invasão invasao das novas tecnologias de comunicação comunicagao muda — relagao do público com esses veículos. princípio, submeter o texto a uma pfiblico veiculos. Os leitores podem, em principio, série de operações operagoes (decompondo-o (decompondo—o e recompondo-o, por exemplo), tornando-se espéespé— cies de coautores dessas produções. produgoes. Mas há ha que se considerar também que mídias midias anteriores sempre perduram numa nova mídia. midia. Feito este diagnóstico diagnostico inicial enfocaremos, a seguir, aspectos que consideramos as mudanças Inudangas ocorridas nos jornais diários diarios da cidade nas relevantes no que diz respeito às filtimas décadas do século XX e6 nos primeiros anos do século XXI. últimas 61 cenario para o jornalismo econômico economico61 Um novo cenário

Diversos fatores, no nosso entender, contribuem para a supremacia do jornalismo jornalismo econémico como tema dominante também nos jornais diários diarios a partir da década de econômico ‘51 Este subitem foi escrito em coautoria com Herica Lene. Lene. Serviu de base para a sua construção construgao a sua dissertagao de mestrado “A “A crise da Gazeta Mercantil: tradição tradigao e ruptura no jornalismo econômico econémico brasileiro”. brasileiro”. dissertação Niteréi: PPGCOM-UFF, 2004. Niterói:

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1970: políticos, em função 1970: o apartamento de temas politicos, funoao do controle da informação informaeao durante o regime militar; o alinhamento da imprensa com a sociedade politica política que tinha no sucesso econômico econémico discurso ideológico ideolégico privilegiado; a conjuntura histórica historica mundial marcada político-econômico de adoção mareada por um urn cenário cenario politico—economieo adooao do paradigma do chamado neoliberalismo; a emergência emergéncia e consolidação consolidaeao do processo de globalização, globalizaeao, instauraninstauran— do uma visibilidade tecnológica Visibilidade sem precedentes para os temas da chamada revolução revoluoao tecnologiea que resvalam resvalarn em aspectos de natureza econômica. economica. Por outro lado, há ha que se considerar que os meios de comunicação comunicaeao são sao fundamentais para a divulgação papéis divulgaeao de cenários cenarios econômicos economicos dominantes, desempenhando pape’is estratégicos estrategicos na naturalização naturalizaoao ideológica ideologica da economia liberal de mercado, fabricando o consenso sobre a superioridade das economias abertas e insistindo que não nao há ha saída saida fora dos pressupostos neoliberais. De acordo com corn Kucinski (2000:144), (20002144), como ideologia dominante, encampada pela cobertura jornalistiea jornalística da área area econômica, economica, a tese da globalização globalizaoao legitima a ocupação ocupaeao de novos espaços países perife’ricos, periféricos, espaeos pelo capital financeiro financeiro mundial, especialmente nos paises sob o argumento de que se trata de um desenvolvimento desenvolVimento natural das forças foreas produtivas. A adoção adoeao desses parâmetros parametros que, para alguns autores, configura configura o chamado neoliberalismo foi gradativamente se transformando em modelo hegemônico hegemonico no Brasil, desde o curto governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992). (1990—1992). A partir de então país abre-se aos ditames dos centros líderes entao e cada vez mais a economia do pais lideres do 62 processo de globalização globalizaeao62.. Nos governos seguintes, incluindo os dois mandatos do presidente Fernando Henrique

Cardoso, o neoliberalismo continua sendo o modelo dominante. Em 1994, 1994, o 0 Plano Real estabiliza os preços, preoos, mas Inas àa custa de uma crise industrial e agrícola agricola de caráter carater estrutural, com corn desemprego em massa e grande vulnerabilidade aos colapsos financeiros financeiros internaciointernacio— nais que atingem a economia entre 1995 1995 e 1999 1999 (Singer, 2001:124-125). E, pois, também tambe’m ancorado nesse discurso promotor da politica Via economia que É, política via economicos florescem florescem no jornalismo diário, diario, passando os jornais a dedicaos temas econômicos espaoos a esses assuntos, reestruturando suas editorias de economia ou rem amplos espaços criando—as em novos moldes, como por exemplo, ocorreu com O 0 Globo. É E tambem criando-as também

62 O 0 Plano Collor, programa de estabilização estabilizagao lançado Iangado no dia seguinte à a posse do presidente, presidente, era baseado em monetério. Mas o plano, plano, que pretendia reverter o processo de estagnação estagnagéo no qual se um inédito confisco monetário. néo acabou com a inflação inflagéo e a recessão recesséo do país pals aumentou. aumentou. No Brasil, Brasil, a 3 encontrava a economia brasileira, não 1930 e 1980 gozava de uma das maiores taxas de crescimento do mundo, estagnou e economia, que entre 1930 Ultimas décadas do século XX. 0 país pals foi atingido pela crise da dívida divida externa da deixou de crescer nas duas últimas XX. O polarizagao entre a vocação vocagéo do mercado interno, interno, que exigia redistribuição redistribuigao de renda e década de 1980. A polarização aceleragao do crescimento, e a atração atragéo do mercado global, global, que exigia redução redugéo do gasto e do tamanho do aceleração recessao, levou a um impasse, traduzido na longa Ionga e profunda crise inflacionária inflacionéria (Singer, (Singer, 2001:124). 2001 :124). Estado e recessão,

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nesse cenário jornal de economia e nego— negócenario que a Gazeta Mercantil se fortalece como jornal 63 cios, adotando, tal como fazia desde a década , uma série de’cada de 1970 197063, serie de ações acoes no sentido de se transformar num jornal de circulação Apesar disso, ao final circulacao nacional. naciona1.Apesar final da década, decada, o jornal começa comeca a enfrentar problemas financeiros. financeiros. Podemos atribuir esse revés reve’s ao fato de a Gazeta não nao ter se adaptado às as mudanças mudancas do cenário publicitárias e àa falta de cenario econômico economico mundial, aliado àa retração retracao das verbas publicitarias capital para investimentos. A década de’cada de 1990 1990 representa, segundo alguns autores, o momento em que a chacha— mada cultura da comunicação comunicacao começa comeca a tomar forma. As mudanças mudancas históricas historicas ocorriocorri— das — – abertura das sociedades umas às as outras; quebra de equilíbrios equilibrios familiares; mudança danca nas relações relacoes sociais e nas representações representacoes do indivíduo individuo e da coletividade; coletiVidade; rupturuptu— ra radical das formas de trabalho com a emergência emergéncia do setor de serviços, servicos, entre outras – trouxeram consequências — consequencias fundamentais para a comunicação, comunicacao, ancorada em um momo— delo tecnolégico tecnológico que funde a mídia midia de massa globalizada com a comunicação comunicacao mediamedia— da por computadores. (Wolton, 1999:171) 1999: 171)

Em meados da década já ultrapassa os R$ 100 de’cada de 1900, 1900, com uma receita que ja 100 milhões, jormilhoes, a direção direcao da Gazeta Mercantil decide fortalecer sua atuação, atuacao, lançando lancando jor— nais onde houvesse, na avaliação avaliacao feita, mercado compatível. compativel. Com isso pretendem afirmando—se perante os leitores 1eitores como um diádia— formar uma rede de jornais regionais, afirmando-se rio de economia que cobre fatos econômicos também locais economicos mundiais, nacionais e tambe’m (Lene: 2004). Com isso, o jornal continua crescendo. Em 1997 1997 alcança alcanca 89.844 assinaturas e sua circulação circulacao aumenta 22% em relação relacao ao ano anterior, ao passar a ser impresso em dez capitais do pais. país. Em 2000, este número já alcança nfimero ja alcanca 21 21 jornais regionais e as redações redacoes produzem o conteúdo contefido dos jornais nacionais e estaduais, empregando aproximadaaproximada— mente 500 jornalistas. (Idem, (Idem, ibidem) milhoes, ao contrário contrario de Encerrando o ano de 2000 com um lucro de R$ 25,758 milhões, 1999, quando teve um prejuizo 19,534 milhões, milhoes, o jornal alardeia os resultados 1999, prejuízo de R$ 19,534 positivos com a manchete: “Gazeta “Gazeta Mercantil obtém obte’m maior lucro líquido liquido de sua históhistoria.” Na matéria materia compara a sua propria atuacao num mercado onde poucos jornais ria.” própria atuação

‘53 Na busca por firmar-se firmar—se como jornal de “credibilidade” “credibilidade” no Brasil e no exterior, exterior, a empresa da família familia Levy modernizacao do jornal. A direção diregao decidiu fazer um veículo veiculo iniciou, ja já na década de 1970, um processo de modernização principaisjornais, mundial, especializados em economia e negócios. negocios. Adefinigao similar aos principais jornais, no panorama mundial, A definição das padrées gráficos graficos e a utilização utilizagao de bico-de-pena no lugar de fotos, fotos, por exemplo, exemplo, são sao alguns editorias, dos padrões econémico praticado nos granindicadores da vontade de se guiar pelo modelo internacional do jornalismo econômico reformulagao do jornal nos anos anos1970, des mercados. Quando ocorreu a reformulação 1970, as editorias foram estruturadas com area de Economia, Economia, como o The The Wall Wall Street Journal (Estados base em grandes jornais internacionais da área 0 Financial Times Times (Inglaterra) e o Handelsblatt Handelsb/att (Alemanha). (Alemanha). (Lene: (Lene: 2004) Unidos), o

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continuavam crescendo num cenário cenario de dc crise crisc que atingia as empresas, emprcsas, devido dcvido principalmente publicitárias e àa falta de capital para investimentos. palrncnte àa retração retracao das verbas publicitarias Apesar do lucro o jornal vive Vive uma aguda crise. crisc. O lançamento lancarnento do jornal Valor, Valor,

criado a partir do investimento realizado pelos grupos Folha da Manhã rcalizado pclos Manha ec Infoglobo Comunicações, Comunicacocs, no valor de dc R$ 50 milhões, milhoes, sob o argumento de dc que quc havia haVia espaço espaco para um período urn novo diário diario de dc economia, cconomia, é apenas mais um urn aspecto para recrudescer um urn periodo de incertezas. dc O insucesso insuccsso dos jornais regionais, a retração retracao do mercado, a crise de dc credibilidade credibilidadc em razão prática, um razao de dc estar cstar enfrentado, cnfrentado, na pratica, urn fracasso de dc natureza econômica economica (o que só so piorava a situação situacao do jornal, pois fazia parte da sua estratégia cstratégia discursiva historicahistorica— mente mentc noticiar os sucessos empresariais), aliada àa concorrência concorréncia de dc um urn jornal para disputar o mesmo nicho de dc mercado, tudo isso, contribui para o agravamento agravamcnto da crise da Gazeta Mercantil. A rigor, os dois grupos aproveitaram a fragilidade fragilidadc financeira financcira da Gazeta para disdis—

putar o mesmo pfiblico público leitor de Revista Propadc notícias noticias econômicas cconémicas e de negócios. negocios. A Revisz‘a ganda noticia que quc para a decisão decisao de dc lançar lancar o novo jornal de dc economia cconomia foi fundamental

o fato de a Gazeta Mercantil não nao apresentar boa situação situacao financeira. financcira. De A chegada do concorrente concorrcnte Valor Valor não nao afeta de dc imediato irncdiato a circulação circulacao do diário. diario. Dc acordo com corn dados do IVC, a circulação circulacao paga da Gazeta Mercantil atinge atingc 124.351 124.351 exemplares em dezembro dczernbro de do 2000, com corn aumento aumcnto de dc 5,4% em cm comparação comparacao a 1999. 1999. tiragem. Nos dois anos seguintes, scguintcs, continua aumentando sua tiragcm.

64 Cenário – categoria ou mitificação? Cenario 2: Jornalismo investigativo — mitificacz‘lo?64

O que possível visualizá-lo quc é afinal afinal o jornalismo investigativo? Seria Scria possivel Visualiza-lo como catescria melhor Inclhor defini-lo dcfini—lo como uma construção construcao originária originaria de dc dentro goria conceitual ou seria carnpo, como corno forma de dc qualificar qualificar a profissão? profissao? do campo, inicio do século XX, o 0 repórter reporter é a figura figura inovadora do jornalisrno, final Se no início jornalismo, no final parecc sintetizar sintctizar a mítica mitica da profissao construida do século, o jornalista investigativo parece profissão construída pelos proprios próprios jornalistas. 1950/1960 era importante importantc do ponto de dc vista Vista da construção construcao do Enquanto nos anos 1950/1960 jornalista como corno comunidade interpretativa mostrar rnostrar o jornalismo como o lugar natural

64 Este subitem foi escrito em coautoria com Marcio Castilho. Castilho. Serviu de base para a sua construção construcéo a sua dissertagao de Mestrado “Uma “Uma Morte em Família: Familia: martírio martirio e autoridade nos cem dias de cobertura do caso dissertação 0 Globo”. Globo”. Niterói: Niteroi: PPGCOM-UFF, PPGCOM—UFF, 2005. 2005. Tim Lopes em O

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da objetividade — – construção construeao feita graças graeas às as estratégias estrate’gias memoráveis memoraveis daqueles que se autointitulam instauradores do processo de modernização –, a partir dos anos 1980 modernizaoao —, 1980 caberá cabera aos jornalistas serem serern investigadores do cotidiano. também foi A adoção adoeao do modelo de jornalismo “objetivo, “objetivo, imparcial e neutro” neutro” tambe’rn favorecida pelos limites impostos durante o periodo período militar, uma vez que se distanciar da opinião própria soopiniao passou a ser uma espécie espe’cie de prerrogativa muitas vezes para a propria so— brevivência. Há que se considerar também que recusar os vínculos com a política breViVéncia. Ha tambem Vinculos politica naquele momento era também tambem essencial para os que queriam queriarn se beneficiar beneficiar das cercacerea— nias do poder. Se, como mostramos, junto ao campo politico, político, até mostrarnos, a ação aeao da imprensa imprensajunto ate’ a década decada de 1960, 1960, chega por vezes a se confundir, nas décadas seguintes há ha no jornalismo a valorização rizaeao de aspectos que na chamada modernização modernizaeao dos anos 1950 1950 ficaram ficaram encoberencober— – o investigativo —– parece se inserir neste tos. A ênfase enfase a um urn novo tipo de jornalismo — contexto. Esse tipo de jornalismo — – num claro processo de autoconstrução peautoconstrueao referendado pe— los proprios próprios profissionais – será principrofissionais — sera enfatizado a partir dos anos 1970, 1970, quando os princi— pais prêmios premios outorgados a jornalistas valorizam exatamente exatarnente esse tipo de abordagem (Castilho: 2005). Abreu (2002:48) (2002248) marca como ponto inflexivo inflexivo do modelo de jornalismo investigativo na imprensa brasileira, o caso Watergate (1972-1974), (1972—1974), destacando o significado significado de se particularizar o tipo de jornalismo realizado a partir do método Ine'todo e não nao mais pelo assunto (político, (politico, econômico, economico, esportivo, etc). Na nossa avaliação, avaliaeao, a conjuntura política politica dos anos 1970 1970 foi fundamental para a

construção jornalístico, no qual os proprios próprios atores irão construeao de um cenário cenario no campo jornalistico, irao se autoconstruir como descortinadores de assuntos envoltos em silêncio silencio pela sua carga de conflito. conflito. No instante em que a politica política como campo de debate e de polemica polêmica foi apartada discussoes quotidianas apresentadas pelos jornais, há ha que se construir um urn novo das discussões Esta montado, tambem Vista, o 0 lugar para essas mesmas polémicas. polêmicas. Está também sob este ponto de vista, cenario ideal para o discurso jornalistico instancias cenário jornalístico denunciador, mas agora em outras instâncias nao às as nitidamente políticas. politicas. Os jornais publicam matérias materias cujo foco central ée’ a que não investigaeao dos mais variados assuntos: desde as condições condieoes de vida Vida dos trabalhado— investigação trabalhadoate’ a poluieao res até poluição ambiental. afirma que a tradieao Em seu estudo sobre o tema, Silvio Waisbord (2000) afirma tradição da condieoes em que o jornalismo ée praticado tern influencia decisiva no imprensa e as condições têm influência significado que o jornalismo investigativo toma torna em determinado contexto. Nesse sensignificado tido, as definições definieoes correntes desse tipo de jornalismo refletem refletem praticas experiencias práticas e experiências História Cultural da Imprensa —

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próprias proprias do contexto norte-americano, norte—arnericano, nada tendo a ver com a historicidade do modelo brasileiro e, especificamente, especifieamente, carioca. Tendo como cenário oenario o jornalismo norte-americano, Waisbord destaca a caracteríscaracteris— tica “denuncista” “denuneista” desse tipo de jornalismo. Assim, mesmo sem evidências evidéneias suficientes, sufieientes, a partir de informações informaooes das fontes, os jornalistas podem fazer denúncias. denfincias. Predomina, assim, a narração narraoao de uma história historia dramatizada, onde a denúncia denfincia não nao é fundamentada (Waisbord, apud Abreu, 2000:51). 2000251). também ao conA eclosão eelosao desse tipo de jornalismo está esta diretamente relacionada relaeionada tambem eon— fronto que se estabelece no jornalismo, criando uma dualidade entre um profissional urn profissional voltado para ações política e outros governados pelos ditames do mercaaooes de natureza politica do (Roxo, 2000). Os anos 1970, também citado pelo autor, 1970, como eorno observa Lins e Silva, tambern significaram uma hipertrofia hipertrofia no jornal do plano politico. Ja os anos 1980 1980 deveriam significaram político. Já representar uma opção jornalística. O jornalismo — – agora graças opeao pela parte técnica tecnica jornalistica. graeas àa ação – implementou uma outra modernização, aeao das próprias proprias empresas jornalistas — modernizaeao, transnegoeio rentável, rentavel, na esteira da consolidação consolidaeao do capitaliscapitalis— formando o jornalismo num negócio mo na esfera econômica. político-adminiseconomica. Modernizar significava significava aderir ao projeto politico-adminis— trativo estabelecido pelos jornais, cuja eficácia efioacia estava centrada numa modernização modernizaeao agora implementada pelas empresas. Em função perfil do jorna— jornafuneao dessa nova concepção concepeao empresarial há ha uma mudança mudanea no perfil lista. Exige-se EXige—se dele cumprimento eurnprimento de prazos mais rigorosos para fechamento feehamento de matémate'rias, textos mais curtos e versatilidade para assumir outras atribuições joratribuieoes dentro do jor— nal. Uma outra mudança mudanea ganha força forea a partir dos anos 1980: 1980: a questão questao da exclusividaexclusivida— de das matérias, rnate’rias, como estratégia estrate’gia simbólica sirnboliea de construção construeao de autoridade. O jornalista deveria ser — – cada vez mais — – aquele que podia não nao só so revelar o que ficava fioava oculto, oeulto, mas a quem caberia descobrir público. Sem a deseobrir fatos, acontecimentos, denunciando-os denunciando—os ao pfiblico. sua ação aeao investigativa, não nao haveria sequer notícia. noticia. O fato de dominar um urn conhecimento inédito justifica uma permanente preoeupaoao preocupação do inedito evoca um urn lugar de poder, o que justifica reporter em se autoconstruir autoeonstruir como investigador. repórter constituieao da profissao reporter, a importância importancia da notícia noticia inédiine’diSe quando da constituição profissão de repórter, Vinculada ao gosto do público pfiblieo “sempre “sempre sequioso por novidades” novidades” (Barbosa, 1996: 1996: ta era vinculada 187), agora se constrói constroi uma nova categoria de jornalista — 187), – o investigativo —– que traz caraeteristica: ée capaz de configurar eonfigurar — para o campo outra característica: – e a ele ée’ dada esta outorga — propria notícia, noticia, a partir de seu “faro” “faro” investigativo. Com Corn isso, amplia arnplia sua ação aoao – a própria frente a outras esferas sociais.

Esta categoria tende a se manifestar na cobertura policial, lugar onde o trabalho de profissionais se confunde com corn as atribuições atribuieoes de investigador. Nesse sentido, o caso easo profissionais exemplificar esse processo, se constituindo numa espécie espéeie de Tim Lopes serve para exemplificar sintese. síntese.

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Tim esteve na fronteira entre esses dois territorios territórios —– o0 do jornalismo e o policial. É prestígio E preciso considerar ainda que repórteres reporteres policiais não nao gozam de grande prestigio na hierarquia das salas de redação. jornalisredacao. No sistema de divisão diVisao de poderes dentro jornalis— mo, os repórteres têm menos capital simbólico reporteres policiais tem simbolico do que um repórter reporter de econoecono— mia ou politica. política. Reivindicar para si o0 papel de investigador, dominar um conhecimento inédito ine’dito ou trazer o “furo” “furo” para o chefe da redação redacao deve ser visto, Visto, nesse sentido, como estratégia estrate’gia capaz de conferir ao jornalista investigativo maior poder simbólico. simbolico. O assassinato de Tim Lopes no alto da Favela da Grota, no Complexo do Alemao, Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro, teve intensa repercussão repercussao nos meios de comunicação comunicacao do país, especialmente no jornal O pais, 0 Globo, uma das empresas do grupo de comunicação comunicacao do qual o jornalista fazia parte. Desde o anúncio periódico anl'mcio do desaparecimento, o periodico procura demarcar a sua atuação atuacao no episódio. episodio. Coloca-se Coloca—se como principal adversário adversario dos executores de Tim Lopes, lidera uma campanha pela elucidação do caso e cobra a elucidacao prisão imediata dos responsáveis prisao responsaveis pelo crime. Interessa observar, no entanto, que o periódicos populares que valorizam as matéjornal não nao concorre diretamente com os periodicos materias policiais. Numa rápida público com rapida análise analise mercadológica, mercadologica, O 0 Globo tem um pfiblico interesse voltado para o noticiário político e econômico. noticiario politico econ6mico. As pesquisas mostram que 26% dos leitores de O 0 Globo situam-se na chamada classe A e 45% na classe B, representando 71% do total. O 0 jornal tem 25% do seu público na classe C e 4% nas classes D/E. A maior parte (41%) completou ou está pfiblico esta cursando nível periódico nivel superior e apresenta faixa etária etaria de 20 a 29 anos (24%). O periodico perfil de audiência tem maior venda entre as mulheres. Elas representam 55% no perfil audiencia (Marplan — – 1º 1o trimestre/2004). O 0 Globo vende uma média media de 239.453 exemplares nos dias úteis A maior leitura nos segmentos da classe média fiteis e 370.223 aos domingos. Amaior me’dia alta reflete reflete no mapa de distribuição distribuicao do jornal no Estado do Rio de Janeiro: do total de exemplares, 55% circulam na Zona Sul, seguidos da Zona Norte (17%), Zona Central (9%) e Niteroi Niterói (8%) (IVC —Agosto/2004). – Agosto/2004). A distribuição distribuicao das notícias noticias por editorias — espacos reservados para – os jornais tém têm espaços

assuntos de economia, politica, política, esportes, policia, polícia, cultura e geral —– traduz tambe’m também uma diVisao de status entre os repórteres reporteres na empresa. A editoria policial costuma ser a divisão porta de entrada para quem está esta iniciando a carreira. Em média, media, os salários salarios são sao infeinfe— comparacao com os rendimentos de jornalistas que ocupam as editorias riores em comparação 65 “nobres”, como politica economia65. consideradas mais “nobres”, política e economia .

‘55 O piso salarial do jornalista varia de acordo com a cidade onde trabalha, trabalha, a categoria (rádio, (radio, TV ou jornal) e horaria. De acordo com a Federação Federacao Nacional dos Jornalistas (Fenaj), (Fenaj), o redator, no Estado do Rio de a carga horária. recebia, em 2004, por mês més R$ 695,55 (5 horas) e R$ 1.113,26 1113,26 (7 horas). No Distrito Federal, Federal, o piso Janeiro, recebia, (midia eletrônica) eletr6nica) e R$ 1.161,00 1.161 ,00 (mídia (midia impressa). impressa). varia entre R$ 958,00 (mídia

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esta ligado ao Tim Lopes pertencia a um grupo, dentro da reportagem policial, que está ideário profissão: o jornalismo investigativo. Sua atuação ideario romântico romantico da profissao: atuacao se identificaidentificava prática do “verdadeiro jornalismo”, responsável Va com a pratica “‘Verdadeiro jornalismo”, responsavel por denunciar os escândaescanda— los, relatar os dramas humanos, investigar a corrupção públicas e o0 crime corrupcao nas esferas publicas organizado nas favelas. Tim Lopes, em várias perVarias passagens da carreira, incorporou per— sonagens para fazer suas reportagens. Vestiu-se Vestiu—se de operário operario para denunciar as condicondi— ções coes de trabalho nas obras do metrô metro do Rio de Janeiro. Como policial rodoviário, rodoviario, revelou o esquema de corrupção corrupcao entre os patrulheiros nas rodovias. Disfarçou-se Disfarcou—se de mendigo e Papai Noel para contar histórias historias da vida Vida “real”. “real”. A identificação identificacao com a imagem de “herói trajetória “heroi solitário” solitario” marcou a sua traj etoria nas revistas reVistas e jornais cariocas e na TV TV Globo, como repórter reporter do programa “Fantástico”. “Fantastico”.

profissão dizia se inspirar no repórter Aos colegas de profissao reporter Octavio Ribeiro, o “Pena “Pena Branca”, conhecido jornalista que obtinha informações informacoes antes de a policia Branca”, polícia ter acesso ao local da ocorrência. projetava profissional de imprensa ocorréncia. “Pena “Pena Branca” Branca” proj etava a figura figura do profissional como “herói justiça e resolver os pro— pro“heroi solitário”, solitario”, aquele com autoridade para cobrar justica blemas da sociedade. A lembrança lembranca de “Pena “Pena Branca” Branca” reforça reforca a identidade de Tim Lopes como “herdeiro” tradição de repórteres, “herdeiro” de uma tradicao reporteres, que empregam em seus métome’to66 dos de apuração técnicas de investigação policial . Em seu último apuracao te’cnicas investigacao policial66. ultimo trabalho, na Vila Cruzeiro, o repórter da TV Globo usava uma câmera oculta para registrar a venda de reporter camera drogas e exploração exploracao sexual infantil nas imediações imediacoes de um baile funk. O recurso da microcâmera já tinha sido utilizado por ele na matéria microcamera ja mate’ria que consagrou a atuação atuacao do repórter reporter como detetive em áreas areas de conflito. conflito. Em dezembro de 2001, Tim Lopes recebeu o Prêmio Prémio Esso na categoria Telejornalismo pela matéria mate’ria “Feira “F eira das drogas”, Nacional”, da TV drogas”, exibida eXibida no “Jornal “Jornal Nacional”, TV Globo, em agosto do mesmo ano. O trabalho lhe rendeu homenagens. A imagem do premiado, editada com trechos da matéria televisão mate’ria vencedora, foi ao ar durante o noticiário noticiario mais assistido da televisao brasileira. A premiação premiacao fortalecia o papel da reportagem investigativa na formação formacao da profissional do jornalista. identidade profissional No ano seguinte, o repórter reporter Eduardo Faustino tambe’m Prémio Esso na também venceu o Prêmio camera escondida para flagrar flagrar um esqueesque— mesma categoria. Como Tim Lopes, usou a câmera corrupcao envolvendo politicos empresarios no município municipio de São S510 Gonçalo, Goncalo, ma de corrupção políticos e empresários Regiao Metropolitana do Rio de Janeiro. Faustino, no entanto, não nao foi apresentado ao Região publico. O prémio público. prêmio foi entregue a um representante do vencedor (Jakobskind, 2003). ViVia o impacto do assassinato de Tim Lopes. O meio jornalistico jornalístico ainda vivia 66 Figura Figure carismática, carismética, com uma mecha branca nos cabelos negros, negros, Pena Branca era famoso por desvendar testemunhas. Acabou inspirando o personagem Valdomiro Pena, Pena, interinter— crimes, encontrar fugitivos e proteger testemunhas. TV Globo “Plantão “Plantao de Polícia”, Policia”, no final dos anos 1970. 1970. pretado pelo ator Hugo Carvana, na minissérie da TV came (1983). Pena Branca publicou ainda romances como Barra Pesada (1977) e Algemas de carne

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Até A morte do repórter reporter da TV TV Globo Globe soou como sinal de alerta para os jornalistas. Ate’ então, entao, havia haVia uma espécie espe’cie de crença crenca de que a imprensa estava imune às as forças forcas da sociedade para fiscalizar públicas e apontar os males do “estado paralelo” do fiscalizar as instituições instituicoes pfiblicas “estado paralelo” crime organizado, colocando-se sempre em favor do interesse pfiblico. público. Mas a execução 950 no alto da Favela da Grota expôs expos a vulnerabilidade de repórteres reporteres policiais no exercicio profissional areas de conflito. conflito. exercício profissional em áreas Mesmo que a morte de Tim Lopes tenha provocado um redimensionamento das 67 funções produção de notícias , observamos que o discurfuncoes do repórter reporter investigativo na producao noticias67, so de O jorna0 Globo e das entidades de classe permaneceu enaltecendo a imagem do jorna— lista como “herói risco: “heroi solitário” solitario” convocado para uma missão missao altruísta altruista e de muito risco: desvendar o0 crime que está esta oculto e desmascarar os males da sociedade. Para além alem do debate ético etico sobre o uso da microcâmera microcamera e a busca do “furo” “furo” a qualquer preco preço em detrimento da segurança seguranca dos repórteres, reporteres, a análise analise das narrativas de O profissão. O jornal se apropria do assassinato 0 Globo aponta para a idealização idealizacao da profissao. de Tim Lopes e acaba por reforçar reforcar a imagem da imprensa como instituição instituicao poderosa, intervindo sempre em defesa do interesse coletivo. Nesse sentido, os jornalistas jornalistas também be’m atuam preferencialmente a serviço servico da verdade (Mouillaud, 2002). O discurso crível jornalístico, pois crivel ou o poder de “fazer “fazer crer” crer” se torna o 0 capital maior do campo jornalistico, confere credibilidade ao jornal e oferece as condições condicoes da sua aceitabilidade. Os homens que detêm detem o 0 capital da informação informacao apelam para a objetividade, obj etiVidade, garangaran— tem estar comprometidos com os valores democráticos, democraticos, mas acima de tudo agem em defesa do grupo de jornalistas. As matérias mate’rias ilustram de maneira emblemática emblematica o modo como os profissionais profissionais exercem a sua autoridade interpretativa diante dos fatos. O editor de Opinião Opiniao de O 0 Globo, Globe, Luiz Garcia, definiu definiu a execução execucao de Tim Lopes como uma “morte “morte em família”. familia”. –e “Ele “Ele era dos nossos, e morreu fazendo o que todos queremos fazer — esta oculto e, para o bem nem sempre todos sabemos: descobrir o0 crime que está necessario contar. A sensação sensacao de perda e a tristeza tendem a domidomi— coletivo, ée necessário reacao, m interpretacao do que aconteceu: somos as vítimas, Vitimas, nar m nossa reação, nossa interpretação (“Somos todos vítiVitimataram um dos nossos quando fazia o w nosso trabalho.” trabalho.” (“Somos mas”. O 0 Globo, Claim, 10 10 junho 2002, p. 14) 14) mas”.

67 ‘57 Uma equipe do programa Cidade CidadeAIerta, a prova de balas Alerta, da Rede Record, chegou a trabalhar com coletes à operacoes policiais de busca pelo corpo de Tim Lopes no Complexo do Aleméo. enquanto acompanhava as operações Alemão. A agência agéncia de notícias noticias Association Press (AP) também informou que compraria kits de segurança seguranca (“Jornalistas (“Jornalistas a prova de balas em operações operacoes policiais”. policiais”. O Globo, 12 junho de 2002, 2002, p. p. 8). 8). passam a vestir coletes à

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O jornal fortalece a imagem dos jornalistas como profissionais profissionais onipotentes, munidos do poder oder da palavra, alavra, cuja cu'a missão missao consiste em “descobrir “descobrir o 0 crime que ue está esta oculto e, e para o bem coletivo, ée necessário jornanecessario contar”. contar”. No entanto, outras instituições, instituicoes, não nao o jorna— lismo, Naturaliza-se assim a prática lismo têm tém a atribuição atribui 50 de desvendar crimes. Naturaliza—se ratica do repórter re orter policial como investigador de policia, polícia, pois atuaria como intermediário intermediario em favor da coletividade. coletiVidade. 9

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A “morte “morte em família”, familia”, percebida como sentimento coletivo de luto, deve ser vista, Vista,

sobretudo, como construção construcao narrativa que reforça reforca a ideia da comunidade interpretativa. O autor apela todo momento para um discurso na primeira pessoa do plural, conforme destacamos no texto. Entendemos que há ha um claro indício indicio de autoridade ao ser enfatizado que os bandidos “mataram trabalho”. “mataram um dos nossos quando fazia o nosso trabalho”. O jornal busca legitimar os jornalistas como um grupo coeso que deve assumir o papel de interventor na sociedade para investigar crimes. Nas matérias mate’rias parece clara a crença crenca de que os repórteres reporteres são sao capazes de “ater-se “ater-se aos fatos” fatos” e reproduzir fielmente fielmente os acontecimentos da forma como eles aconteceram. porta-vozes legitimados e confiáveis Nesta concepção, concepcao, os jornalistas atuam como porta—vozes confiaveis da verdade do mundo (Zelizer, 1992), 1992), uma “verdade” “verdade” que não nao poderia ser ofertada ao público publico não nao fosse a atuação atuacao da imprensa.

“Já “Ja se disse que ue a primeira rimeira vítima, Vitima, na cobertura jornalística 'ornalistica dos conflitos, conflitos ée’ a verdade. Muitas vezes, vezes pode ode ser. Desta vez, vez não. nao. A vítima Vitima foi a busca da verdade. Da verdade que Tim buscava, sem o menor desvio para o sensacionalismo ou a autopromoção, autopromocao, movido por singelo e intenso desejo de contar as coisas que acontecem”. acontecem”. (Idem. Grifos nossos) 9

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Ao reivindicar reiVindicar para si o 0 papel de “descobrir “descobrir o 0 crime que está esta oculto e, para o bem coletivo, é necessário polínecessario contar”, contar”, o jornal sobrepõe-se sobrepoe—se a outras instituições instituicoes como a poliJudiciario Da mesma forma que estampava em sua manchete que o cia e o Poder Judiciário trafico havia haVia julgado, torturado e executado Tim Lopes, O 0 Globo também assume tráfico nao se limitando a relatar os acontecimentos. Albuquerque o0 papel de um tribunal, não afirma que “em “em face da ineficiência ineficiéncia da Justiça, Justica, os jornalistas brasileiros se veem tenafirma nao ée capaz de fazer” fazer” (2000:48). tados a realizar simbolicamente a justica justiça que ela não noticiario também reflete reflete as instruções instrucoes contidas nos artiarti— Interessa observar que o noticiário 0 Globo, tornando tênue ténue a linha clássica classica que separa as notícias noticias gos publicados em O obj etivas dos espaços espacos reservados para comentários comentarios e opiniões. opinioes. As matérias materias se relacioobjetivas nam com o sentido dado pelo escritor Silviano Santiago ao assassinato de Tim Lopes. reporter a um correspondente de guerra: “O “O correspondente de guerra Ele compara o repórter herois anônimos andnimos do cotidiano”. cotidiano”. (“Nos(“Nos— deve ser reverenciado como se reverenciam os heróis guerra”. In: O 0 Globo, 11 ll junho 2002, p. 19) 19) so correspondente de guerra”.

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Se a categoria jornalista investigativo ganha força, foroa, como vimos, Vimos, a partir dos anos 1970 política e econômica país, podemos refletir 1970 em função funeao da conjuntura politica economica do pais, refletir até ate que jorponto o caso Tim Lopes representou um momento de consolidação consolidaeao deste tipo de jor— nalismo do Rio de Janeiro ou um segundo ciclo de estratégia estrate’gia memorável memoravel por parte dos produtores de notícias. noticias. Nos meses que se seguiram ao assassinato, articulou-se articulou—se durante seminário, seminario, em parceria com o 0 Centro Knight da Universidade do Texas, a fundação fundaeao da Associaeao Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). (Abraj i). Criada nos moldes da Investigative Reporters and Editors (IRE), a entidade tem como objetivos obj etivos “o “o aprimoaprimo— ramento profissional profissional dos jornalistas” jornalistas” interessados no tema “investigação” “investigaoao” e a “difu“difu— são sao dos conceitos e técnicas tecnicas da reportagem investigativa” investigativa” (cf. Artigo 1º 10 do Estatuto da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo). A Fenaj, Associaeao F enaj, por sua vez, passou a Propromover, a partir da morte do repórter reporter da TV Globo, Claim, o 0 Prêmio Prémio Tim Lopes para Pro— jetos de Investigação Investigaeao Jornalística. Jornalistica. Quanto àa adesão adesao do grupo ao discurso que transforma Tim em mártir martir do jornalismo, percebemos que, através atrave’s das notas oficiais oficiais das entidades e das declarações declaraeoes dos seus representantes, O 0 Globo adquire poder interpretativo no episódio. episédio. Sem condição condieao de expressar suas convicções, convicooes, comentários comentarios e opiniões opinioes no noticiário, noticiario, posto que essas manifestações profismanifestaeoes devem se limitar ao espaço espaeo dos artigos, conforme as regras da profis— são, o jornal deixa que a comunidade interpretativa, ou seja, os sindicatos e associa350, ções eoes falem por ele. Essa tática tatica se torna eficaz eficaz graças graeas ao sistema de citações. citaooes. A convenconven— ção eao noticiosa do uso da terceira pessoa permite aos jornalistas reportar a opinião opiniao de outros grupos para legitimar o seu proprio próprio discurso. O sistema de citações citaooes que confere ao jornalista a possibilidade de interpretar os fatos aproxima as matérias materias noticiosas dos artigos. Em certos momentos, parece mesdificil perceber a diferença diferenoa entre noticiário noticiario informativo e opinião. opiniao. Os dois modelos mo difícil passam a ser incorporado na reportagem de O 0 Globo. Globe. A mesma dificuldade dificuldade se impõe impoe para definir definir quem ée o agente principal da fala: o jornal ou as entidades de classe. Os dois reivindicaoao de um tipo de autoridade específica especifica para modelos se imbricam na defesa e reivindicação “exigir” das autoridades a punieao os jornalistas ao “exigir” punição dos culpados. episodio surge na relação relaeao entre narrativa e po— Outro dado a ser observado neste episódio poClara estratégia estrategia der. Dois campos distintos (o jornalistico jornalístico e o politico) político) se aliam numa clara de autoridade. Bourdieu (1987) informa que, para explicar o discurso, ée preciso conlinguistico, ou seja, sej a, a capacidade de utilizar as possibilidades ofereofere— siderar o habitus linguístico, lingua, e o contexto social no qual a comunicação comunicaoao se instaura. Partindo cidas pela língua, compreensao, importa situar que a narrativa do caso Tim Lopes ée produzida dessa compreensão, foroas politicas estao em plena campacampa— durante o periodo período em que as forças políticas do Rio de Janeiro estão Identificanha para o Governo do Estado, administrado por Benedita da Silva (PT). Identificarelaeoes de força forea entre os jornalistas e as autoridades politicas sao flutuanflutuan— mos que as relações políticas são História Cultural da Imprensa —

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tes, variando de acordo com os interesses específicos políticos, especifieos de cada grupo. Para os politicos, estava em jogo a disputa eleitoral. Para os jornalistas, interessava mostrar o poder interventor do jornalismo na sociedade e minimizar o enfoque nos riscos das chamachama— das reportagens investigativas. Havia, HaVia, portanto, um sentido de cooperação cooperaoao entre os dois grupos em muitos momentos da cobertura, eobertura, como no caso das críticas critieas ao relatório relatorio dos investigadores policiais. A idealização também a cobertura idealizaeao de Tim Lopes guiou tambem eobertura do jornal, que procurou martir do grupo e símbolo simbolo do combate àa violência Violencia no pais. transformar o jornalista em mártir país.

periódico o responsabiliza pelos fatos ocorridos Ao mesmo tempo, o 0 periodieo oeorridos na noite de 2 de junho de 2002, no alto da Favela da Grota, como eomo forma de se preservar das críticas criticas

de que teria exposto o seu profissional profissional ao risco riseo numa “missão” “missao” que seria atribuição atribuieao da polícia. policia. Há, Ha, portanto, múltiplas mfiltiplas nuanças nuanoas neste caso síntese sintese da ação aeao do jornalismo além alem da esfera meramente noticiosa. Investigar passa a ser não nao apenas uma prerrogativa como eomo uma prática pratica quotidiana no mundo do jornalismo.

68 Cenário Cenario 3: Narrativas de um outro fim fim de século século68

O mundo contemporâneo contemporaneo aparece com toda a sua complexidade via Via expressão expressao narrativa dos meios de comunicação. tensão entre a expectativa comunicaeao. Nos jornais diários diarios a tensao da referencialidade e as estratégias estrate’gias ficcionalizantes ficcionalizantes do sensacionalismo sensaeionalismo parecem dominar as narrativas dos anos 2000. A cidade, eidade, seus habitantes, seus espaços espaeos físicos fisicos e simbólicos simbolicos aparecem representados através atraves de uma experiência experiencia humana que se articuarticu— la temporalmente nas coberturas jornalísticas. eoberturas jornalisticas. Este item fala de um personagem comum nas descrições descrieoes quotidianas da cidade do Rio de Janeiro nos anos 2000: o medo. O medo que resulta de uma violência Violencia que se esparrama nas paginas páginas dos jornais. O medo do terrorismo, o medo dos historicas, dos atos individuais e dos atos assaltos, da guerra urbana, das guerras históricas, eonfigurar esse medo? Como falar dessa violência Violencia que se transmuta coletivos. Como configurar em medo? cenario narrativo que apresentamos ée a arquitetura do medo construída construida e Portanto, o cenário Visualizaeao do jornal O 0 Globo. E falar em experimentada pelos leitores a partir da visualização as múltiplas ml’iltiplas figurações figuraeoes temporais. O jornalismo narrativa ée se referir às jornalismo articula o tempo

68 Este subitem foi escrito em coautoria com Letícia Leticia Cantarela Matheus. Matheus. Serviu de base para a sua construgao a sua dissertação dissertagao de Mestrado “Elos, “Elos, temporalidades e narrativas: narrativas: a experiência experiéncia contemporânea contemporénea do ção nojornalismo 0 Globo”. Globo”. Niterói: Niteréi: PPGCOM-UFF, PPGCOM-UFF, 2006. medo no jornalismo de O

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em uma rede de sentidos, sendo um dos formuladores da sua pereepeao percepção na contemporaneidade. Há Ha que se considerar ainda que o tempo simultâneo, simultaneo, ininterrupto, dos grandes acontecimentos, dos instantes que se sucedem, da velocidade, da instantaneidade e da aceleração visibiliaceleraeao emerge no cotidiano, dando sentido àa existência existéncia em função funeao da sua Visibili— dade produzida via Via meios de comunicação. comunicaeao. A relação relaoao dos meios de comunicação comunicaoao com o tempo é uma questão midiática. Não só porque participam da sedimentação questao midiatica. Nao so sedimentaoao no imaginário ginario de uma nova temporalidade-mundo, temporalidade—mundo, mas porque a configuração configuraeao narrativa da mídia midia se inscreve insereve numa relação relaeao de natureza, sobretudo, temporal. Além disso, as narrativas que aparecem nas paginas páginas dos jornais jornais são Alem sao construídas construidas de múltiplas mfiltiplas temporalidades. É E o que Ricoeur Rieoeur chama intratemporalidade, ou seja, uma estrutura temporal prática, pratica, não nao abstrata, do ser no tempo. O 0 primeiro tempo que emerge ée’ o tempo de contar as histórias. historias. Pode-se afirmar afirmar que a arquitetura temporal do jomalismo jornalismo ée composta de um tempo linear e, ao mesmo tempo, cíclico ciclico (Pomian, 1984). 1984). Todos os dias, há ha novos acontecimentos que emergem na duração, duraeao, mas também o sentido da existência existencia se desenvolve em relação relaoao ao amanhã, amanha, ao depois de amanhã, amanha, ou seja, para um futuro infinito. infinito. O tempo da mídia midia ée o 0 linear da ubiquidade sincrônica, transporsincronica, ée’ o tempo-mundo, tempo—mundo, da globalização, globalizaeao, da economia mundializada, dos transpor— tes, da padronização padronizaoao das medições medieoes da passagem do tempo por sistemas matemáticos. matematicos. Se, por um lado, a literatura jornalistica jornalística ée orientada pela flecha flecha temporal, por outro, o que a caracteriza ée sua periodicidade. Ainda que não nao seja a mesma edição, edieao, o jornal está esta todos os dias àa disposição disposioao de novas leituras. Mesmo algumas reportagens dizem respeito a acontecimentos que realmente se repetem nos calendários, calendarios, como as cerimônias cerimonias e acontecimentos cíclicos, ciclieos, além alem das festas profanas e católicas: catolicas: Réveillon, Natal, Carnaval, a chegada do verão, verao, o início inicio do ano letivo, as tempestades que alagam as cidades, eidades, o campeonato de futebol, as copas do mundo, as eleições, eleieoes, as Olimpíadas, Olimpiadas, tambem o dos calendários calendarios e do dia, este último ultimo a mais etc. Portanto, o tempo do jornal ée também me— natural das medidas do tempo, como lembra Ricoeur (1994:99). Se existe alguma meexperiencia dida abstrata de contar o tempo que se aproxima do tempo concreto da experiência pratica, duraeao do dia. prática, essa medida ée a duração nao são sao as únicas finicas formas segundo as quais a experiência experiéncia temporal se Mas essas não Ha tambem noticias, o 0 da publicaoao, circula— apresenta. Há também o tempo da produoao produção das notícias, publicação, da circula950 e, principalmente, o tempo da leitura. Destacamos nesta análise analise alguns dos tem— ção tempos que constituem a trama narrativa, cujos padroes veloeidades variam, bem como padrões e velocidades os marcos do que representam passado, presente e futuro. analise que estamos propondo elegemos dois acontecimentos que resultaresulta— Para a análise 0 Globo, em 2003, e que se apresentam como eomo ram em extensa cobertura no jornal O História Cultural da Imprensa —

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69 parte de um mesmo tema: a violência Além disso, essas duas coberturas são violéncia urbana. Alem coberturas69 sao como espécies especies de capítulos capitulos de uma mesma história historia do medo. Os textos apontam para uma forma de sociabilidade e de percepcao percepção do ambiente urbano com base em um imaginario do medo difuso, deslocado para diferentes espaços espacos da cidade: escolas, imaginário outras universidades e vias Vias expressas. Mas os elos entre as duas histórias historias vão vao além alem das semelhanças semelhancas na abordagem da experiência experiéncia urbana e na difusão difusao espacial do medo, dizendo respeito tambe’m também ao fato de apresentarem uma arquitetura temporal semeseme— lhante. A experiência experiéncia urbana, no nosso entender, só so pode ser percebida a partir do acionamento de uma memória viés memoria do medo e da violência violéncia que tem, necessariamente, vies temporal.

página, o jorNa cobertura do caso Gabriela, desde o primeiro dia, na primeira pagina, nal destaca a data de sua morte como marco de sua vida. Vida. A importância importancia que o jornal confere àa data deriva do fato de ter sido aquele o0 dia em que Gabriela iria andar sozinha de metrô. metro. Seu corpo estava preste a se misturar simbolicamente com a cidade. O texto principal (O Globo, 26 março marco 2003, p. 11) 11) divide-se divide—se em dois ambientes, cada qual com uma temporalidade propria. própria. Enquanto na Estação Estacao São Sfio Francisco Xavier o tempo dominante ée o0 da preméncia premência da morte, da agilidade do assalto, dos vários varios acontecimentos velozes e simultâneos, simultaneos, em uma sucessão sucessao de imprevistos, na outra estação, tacao, na Praça Praca Saens Peña, Pefia, onde uma mãe mae apreensiva aguarda a chegada da filha, filha, domina a lentidão lentidao do tempo da espera. Dez minutos, segundo o jornal, é uma eternidaeternida— de, tanto que Cleide tem a certeza de que algo acontecera àa sua filha. filha. A separação separacao entre as duas temporalidades ée’ inclusive insinuada por um entretítulo entretitulo que impõe impoe uma grafica do texto. O religamento entre elas se dá da quando a persofronteira na mancha gráfica nagem de um dos ambientes invade o outro, ou seja, sej a, quando o tempo da espera vai ao encontro do tempo da morte. Carlos, pai de Gabriela, resolve ir até ate’ a estação estacao São Sfio Francisco Xavier procurá-la. procura—la. Lá La encontra apenas os óculos oculos da filha filha caídos caidos na escada. Eles condensam a metonímia metonimia de Gabriela e a metáfora metafora da morte. Ao vê-los, vé—los, Carlos, e informacao ao mesmo tempo o0 narrador e o leitor, ja já tem a certeza da morte. Toda a informação esta contida naquele par de óculos. oculos. está construido por meio de indicações indicacoes da simultaneidade dos aconO enredo vai sendo construído levara ao clímax: climax: a morte da adolescente. A simultaneidade represenrepresen— tecimentos que levará subtitulo diz: “Jovem “Jovem de 14 14 anos ée atingida por bala ta, portanto, o grande mal. O subtítulo assaltantes” (O (0 Globo, 26 março marco de 2003, perdida durante confronto entre policial e assaltantes” 11). Em seguida, o jornal retrocede mais um pouco ao dizer que Gabriela não nao saía saia p. 11).

69 As coberturas que analisamos foram a do caso da adolescente Gabriela, morta na estação estagéo de metrô metro da apés o confronto entre policiais e um bandido, bandido, e o caso Luciana, Luciana, aluna de uma universidade no Rio cidade, após préximo ao a0 centro no Rio, que, que, vítima vitima também de bala perdida, perdida, ficou tetraplégica. tetraplégica. Comprido, bairro próximo

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de casa nunca e que ontem pegaria o metrô metro pela primeira vez sozinha. Informa, ainda, que os quatro bandidos chegaram àa estação estaoao às as 15h30. 15h30. Começa Comeea a ação aoao do assalto. Um dos bandidos tenta fugir pela escada e se depara com um detetive àa paisana que descia. Os dois entram em confronto e uma bala perdida atinge Gabriela, “que também descia a escada para entrar na estação”. “que tambem estaoao”. O texto improvavel: a menina estar fazendo a mesma ação aeao que o detetive e ao mesmo indica o improvável: tempo. Enquanto isso, a mãe espera na outra estação. mae estaeao. O texto constrói constroi a diversidade dos tempos dos bandidos, do detetive e de Gabriela. Quando são sao simultâneos, simultaneos, produzem a tragédia. Nao Não ée’ somente a bala que cruza o caminho de Gabriela. É E o tempo da menina que intercepta os tempos do bandido e do detetive. A reportagem ée mediadora da experiência experiencia urbana, entre outras razões, razoes, por sua

capacidade de articulação articulaoao dos tempos cronológicos cronologicos e não-cronológicos. nao-cronologicos. O texto se refere a um episódio episodio ocorrido em um determinado dia: pertencente a uma sequência sequéncia temporal linear, publicado em edições ediooes de um determinado dia que circulam em uma sucessão sucessao de agoras. Entretanto, para fazer compreender o episódio episodio que conta, a reporrepor— também em uma ordem não-cronológica, tagem precisa ser redigida tambem nao—cronologica, indo e voltando na flecha flecha do tempo, apresentando temporalidades múltiplas ml’iltiplas de vários Varios personagens ainda que sob o ponto de vista Vista de um único finico narrador. O clímax climax desta primeira reportagem da história historia de Gabriela ée evidentemente sua morte. Essa informação, já sabe desde o informaeao, que seria a conclusão conclusao da história, histéria, o leitor ja titulo “Adolescente ée’ morta em tiroteio no metrô” metro” (O (0 Globo, 26 título na primeira pagina página “Adolescente março maroo de 2003, p. 1). l). Em uma estrutura linear cronológica, cronologica, ainda que retrospectiva, o leitor encontra a explicação explicaoao para a morte somente ao avançar avanoar na história. historia. Mas a expliexpli— cação caoao vai até ate’ certo ponto. O que garante continuidade ao noticiário noticiario ée’ justamente o adiamento perpétuo perpe’tuo de todas as explicações. explicaooes. O fluxo fluxo do medo sobrevive sobreVive exatamente do fornecimento de conclusões conclusoes parciais a cada nova edição. edieao. Assim, o continuum narfica garantido. A mesma reportagem apresenta tanto um caráter carater linear — avan— rativo fica – avaneando sobre a história historia — Ciclico — çando – quanto cíclico – de repetir o tema no dia seguinte. Ale’m aoao dos bandidos e Além disso, o texto ée’ composto por dois tempos: o tempo da ação mae de Gabriela, Cleide. O primeiro tempo, o 0 do crime, é6’: retroso tempo de espera da mãe pectivo. O leitor fica fica sabendo que Gabriela morreu antes de conhecer detalhes sobre o es— assalto, embora este seja relatado cronologicamente. Mas o segundo tempo, o0 da espera, é cronológico cronologico prospectivo, produzindo deste modo sensação sensaoao de ansiedade, asas— Viveu Cleide. O leitor precisa acompanhar cronologicamente os fatos para sim como viveu familia soube da morte da menina. A notícia noticia da morte, pelo seu descobrir como a família sobreposioao do tempo de leitura com o tempo da explicação, explicaeao, acaba adiamento e pela sobreposição por ser mais dramática dramatica narrativamente do que a propria própria morte.

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Temos, portanto, dois tempos principais —– o cíclico –, que são ciclico e o 0 linear —, sao paralelos na reportagem. Na imagem reproduzida pelo jornal, ganha destaque o0 par de óculos oculos da menina caído caido ao chão chao junto àa escada. Podemos dizer que a morte de Gabriela está esta para o assalto assim como eomo os óculos oeulos caídos caidos no chão chao estão estao para a espera. Deste modo, a reportagem completa um círculo circulo inteiro do arco hermenêutico hermenéutico de Ricoeur Rieoeur (1994): os óculos oeulos no chão ehao são sao a refiguração refiguragao da morte. Ao se deparar com o 0 par de óculos, oeulos, o leitor já está ja esta interpretando a morte pela segunda vez, enquanto o pai que vai atrás atras de Gabriela está esta tomando conhecimento naquele momento. Mas o ciclo temporal da narrativa jornalistica jornalística tambe’m também engloba o futuro. Nessa mesma notícia, múltinoticia, num box intitulado “Plano “Plano era fazer festa de 15 15 anos no mar”, mar”, mfilti— plos futuros são sao descritos: deseritos: o 0 de Gabriela (que queria alugar uma escuna para a festa dos seus 15 15 anos, em agosto); o dos pais da adolescente e o 0 da cidade (a associação associaoao entre o0 crime e a vida Vida da cidade ée’ destacada destaeada pela mãe mae da vítima, Vitima, mostrando a decadêndecadencia do metrô metro como símbolo simbolo de segurança). seguranoa). O sentido ée aquilo que seria feito no futuro se não nao houvesse essa ruptura representada pela morte inesperada. São Sfio projetos, ou seja, sej a, uma memória memoria prospectiva como eomo antecipação antecipaeao de futuro. A vida Vida de Gabriela e de Luciana são sao também tambe'm pontos de ancoragem da narrativa do jornal sobre a experiência experiencia urbana. Para Ricoeur (1994:115), (1994: 1 15), não nao ée’ de todo incongru-

ente falar que as vidas Vidas são sao histórias historias não nao contadas, no sentido de serem narrativas potenciais. O jornal ancora sua narratividade própria narrativa narratiVidade nos acontecimentos aeontecimentos e a propria se torna um novo acontecimento, torna-se nova prefiguraoao. prefiguração. aconteeimento, ou seja, sej a, torna—se relaoao entre os fenômenos fenomenos que acontecem Talvez a melhor maneira de explicar a relação e os que ocorrem oeorrem nos jornais seja recorrer àa distinção distineao proposta por Nora (1976) entre acontecimento (aquilo que irrompe na história) historia) e fato cotidiano. eotidiano. Há Ha uma ansiedade característica caracteristica do nosso tempo em enxertar sentido histórico historico nos fatos cotidianos, eotidianos, num permanente estado de esforço jornalista essa interpretação esforeo interpretativo. Caberia ao jornalista interpretaeao e não nao mais ao historiador. A condição condieao de existência existéncia de um acontecimento histórico historieo midia. Diante da ansiedade de interpretar a atualidade, os meios de seria estar na mídia. comunicaoao reafirmam reafirmam sua importância importancia na sociedade. Cada novo crime parece concon— comunicação ter algum sentido maior. Halbwaehs (1990:115), (1990: 1 15), o acontecimento ée’ o que une diferentes grupos diante Para Halbwachs representaeao comum. Nesse sentido, podemos acrescentar, acreseentar, seria o instante de uma representação mfiltiplas temporalidades convergem, como durante o encontro dos óculos oeulos em que as múltiplas chao. Assim, o jornal não nao reconfigura reconfigura o passado proximo de Gabriela no chão. próximo ou distante. Ao enfocar múltiplas ml’iltiplas temporalidades, empurra para o passado ou lança lanea para o futuro a narrativa, de modo a enriquecer a trama. mareo, na pagina 14, onde O jornal segue dialogando com o futuro no dia 28 de março, página 14, anuneia que os amigos de Gabriela farão farao um protesto. Há H21 o 0 esforço esforeo de manter viva Viva a anuncia

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memória jornal se coadunam com a memoria de Gabriela de várias Varias maneiras e as estratégias estrate’gias do jornal dos amigos da vítima. Vitima. Na sala de aula da turma 101, 101, uma das cadeiras da primeira fila fila ficará ficara vaga. Por decisão decisao dos colegas de Gabriela, desde ontem o lugar onde ela costumava se sentar está para lembrar a presence! presença [original sem grifo] estd vazio para da estudante... (O (0 Globo, 28 março marco de 2003, p. 14) 14)

também como emblema A cadeira-monumento estará estara ali para lembrar a falta, mas tambe'm do que pode acontecer com aqueles que subestimam o medo. O monumento ée um suporte material de memória, meméria, um sinal do passado, que pode ser tanto obra comemocomemo— rativa quanto um monumento funerário, funerario, como a cadeira se tornou. Seu objetivo é perpetuar a recordação recordacao de Gabriela em um domínio dominio privilegiado de memória: memoria: a morte. Além dessa diferença, Alem diferenca, o monumento dialoga concretamente com os colegas de sala da adolescente, ele ée menos abstrato do que um documento. É E do universo sensível. sensivel. Cleide disse que costumava monitorar os passos da filha, filha, o que é o mesmo que monitorar seu tempo. “Quando “Quando ela demorou mais de dez minutos, sabia que alguma coisa tinha acontecido.” Não ée somente a morte e a experiência acontecido.” Nao experiéncia urbana que se pretendem domar, mas também suas temporalidades. A construção construcao da identidade leva a um processo permanente de des e reconstrução reconstrucao do passado (Velho: 1994). 1994). É E isso que observamos na reportagem, embora o autor dê dé mais ênfase percepções coletivas. Nesse énfase ao indivíduo. individuo. O que interessa aqui são sao as percepcoes sentido, embora seja a vida Vida individual de Gabriela a ser reconstruída, reconstruida, sua importância importancia como objeto obj eto midiático midiatico é somente na medida em que ela puder ser compreendida como categoria social. Nao Não se trata do destino de Gabriela do Prado Ribeiro, mas de como o jornal trabalha com um personagem arquetípico relação arquetipico melodramático melodramatico e com sua relacao com a cidade do Rio. Assim em março marco foi Gabriela, em maio foi Luciana. A mobilidade do tempo no episódio episodio Luciana ée menos dinâmica. dinamica. Ela se concentra principalmente no passado — – o ataque àa universidade — – e no que antecedeu, uma vez a motivacao ée o grande enredo da cobertura. Tem-se, portanto, o passado da bala alojaaloj a— motivação motivacao do ato. Já Ja o da na coluna cervical de Luciana e o passado misterioso da motivação iminéncia da sua morte ou por sua tetraplegia e pela possifuturo ée representado pela iminência natu— bilidade de crimes semelhantes se repetirem. Articula-se, portanto, um tempo de natuciclica. reza cíclica. A primeira pagina página de 6 de maio de 2003, primeiro dia de cobertura do caso Luciana, ja tensao entre o passado da bala perdida e o risco da estudante ficar ficar tetraplegica. já traz a tensão tetraplégica. direcao da universidade recebera uma carta naquela manhã manha ordeorde— O texto relata que a direção nando o fechamento do campus, mas que os alunos estavam sendo dispensados, aos poucos, para não nao causar panico. pânico. Luciana estava sentada na cantina esperando a aula História Cultural da Imprensa —

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seguinte. Há, Ha, mais uma vez, assim como na cobertura Gabriela, a oposição oposicao entre a temporalidade lenta da ordem de um lado contra a ação acao imediata dos bandidos de outro, onde o tempo passa rapidamente, surpreendendo aqueles que subestimam o medo. página 15, traficanNa pagina 15, o jornal afirma afirma que os disparos foram feitos depois que os traficantes ordenaram luto em toda a região regiao pela morte de Adriano Paulino Martins Miano, o Sapinho, e pelo desaparecimento de outros dois moradores vistos Vistos pela última ultima vez quatro dias antes. Esse fato, porém, não fora noticiado por O Globo. Do mesmo modo, porem, nao 0 o jornal não nao publicou a história historia da morte dos moradores do Morro do Borel, que apareceria posteriormente. Mas não nao podia deixar transparecer que se tratava de notícias noticias velhas, razão presentificadas. Portanto, o sentido do que foi relatado não razao pela qual foram presentificadas. nao ée’ de um passado, mas de um episódio episodio que vinha Vinha em andamento há ha quatro dias. periódico direciona sua narrativa para o Ainda na mesma edição, edicao, na página pagina 16, 16, o periodico futuro, por meio das declarações declaracoes do secretário secretario de segurança, seguranca, que pede aos comerciancomercian— tes que não nao obedeçam obedecam aos traficantes. traficantes. Ou seja, o jornal está esta aceitando a tese de um tempo cíclico ciclico de ameaças ameacas que se repetem. O efeito de continuidade entre um presente experimentado com medo e o futuro ée’ produzido tambe’m também na matéria materia coordenada na mesma página. pagina. Sua temporalidade ée coerente com o restante da cobertura. “Estou título, reproduzindo as pala“Estou morrendo um pouco com a minha filha”, filha”, diz o titulo, vras Vras do pai de Luciana. A frase faz referência referéncia àa iminência iminéncia da morte, uma morte gradugradu— al. Assim como o bairro do Rio Comprido, que, segundo o texto, sofre assaltos diários, diarios, tanto a cidade quanto Luciana e seu José trabalhaJ036’: morrem lentamente. Para o 0 jornal, os trabalha— dores do Rio Comprido tambem também não nao saem mais para almoçar almocar devido deVido àa violência. Violencia. O bairro sofre uma imobilidade gradativa. Ainda que, por um lado, haja a ideia de morte progressiva e de violência Violencia progres-

sivamente agravada, por outro lado, o tempo cíclico ciclico não nao deixa de ser articulado. Por exemplo, a mesma reportagem relembra o caso do filho filho do Neguinho da Beija-Flor, Beija—Flor, Junior, aluno da Estácio, Estacio, que tambem Luiz Antonio Antônio Feliciano Marcondes Júnior, também foi ferido marco do ano anterior. Também Tambem cita os por uma bala perdida na Rua do Bispo em março Fundao e um assalto àa Universidade Gama crimes no campus da UFRJ, na Ilha do Fundão Tambe’m destacam o pressuposto do secretário secretario de segurança seguranca de que as Filho em 2000. Também ameacas se repitam. Ou seja, os episódios episodios são sao cíclicos; ciclicos; a violência, Violencia, linear. ameaças insercao O que confere sentido de atualidade aos acontecimentos narrados ée a sua inserção nao pertencem ao passado. O jornal as reatualiza na temporalidade do jornal. As cenas não $510 cenas memoráveis, memoraveis, não nao por seu valor intrínseco, intrinseco, mas a cada nova publicacao. publicação. São pelo poder que o jornal lhe confere de trazer o passado para o presente e de construir memoria da cidade hoje. Essas imagens podem ter sido impressas pela luz do instaninstan— a memória Visibilidade. te passado mas ée àa luz do presente que produzem a sua visibilidade.

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Para Ricoeur, o presente não nao ée o mesmo que o agora. Ele pode até ate’ coincidir com a hora do relógio, percepção do que é o presente ée’ muito mais dinâmica. relégio, mas a percepcao dinamica. “O “O agora existencial é o presente da preocupacao, preocupação, que ée’ um tornar—presente, tornar-presente, inseparável inseparavel de um ‘esperar preocupação ‘esperar e de um ‘reter’”, ‘reter , diz Ricoeur (1994:100), (1994: 100), citando Heidegger. A preocupacao ée a dimensão dimensao da inquietação inquietacao existencial. “O “O que é considerado presente ée a articulaarticula— ção 9510 no discurso de um tornar-presente, tornar-presente, que se temporaliza em união uniao com uma espera que retém.” retém.” Se todos esses acontecimentos de até ate’ dois anos antes são sao atualizados pelo jornal, é porque através atraVés da narrativa se constrói constroi um grande presente. 9”

No mesmo texto ée enfatizado que a distância distancia espacial entre a Gama Filho, na

Piedade, e o0 Rio Comprido “não “nao diminuiu o medo dos alunos de passar pelo mesmo drama da estudante Luciana atingida no início não inicio da semana”. semana”. A distância distancia física fisica nao impede a contaminação contaminacao do medo, nem a distância distancia temporal, como indica a frase. Mais uma vez, tambem também “o início da semana” ainda não “o inicio semana” nao ée’ passado para o jornal, bem como moventodos os demais casos presentificados presentificados na matéria. materia. O jornal, portanto, trabalha moven— do a fronteira passado/presente. 13 da mesma edição, edicao, pela primeira vez um outro vínculo Vinculo Finalmente, na pagina página 13 mnemônico mnemonico entre as duas coberturas e o fluxo fluxo do noticiário noticiario emerge do subsolo do não-dito, ndo-diz‘o, da memória memoria silenciosa da violência. Violencia. A mesma matéria mate’ria rememora o caso Turano e relata o caso do Morro do Borel, onde quatro moradores foram mortos em 16 16 de abril daquele ano pela Polícia Policia Militar. Entretanto, essa notícia noticia (assim como o desaparecimento dos moradores do Turano) não nao tinha sido publicada pelo jornal. As famílias familias das vítimas Vitimas estavam mandando um dossiê dossié para o ministro da Justiça. Justica. Pela população das favelas tem primeira vez, nessas duas coberturas, a violência Violencia contra a populacao memória, memoria, que se coloca no lugar do silêncio siléncio quando da eclosão eclosao do acontecimento. A notícia noticia da morte dos quatro moradores do Morro Turano tem uma temporalidade incômoda jornal. Afinal, o0 crime ocorreu em 16 comoda para o jorna1.Afina1, 16 de abril. No último filtimo dia analisado, 10 10 de maio, o jornal jornal trabalha com o passado do passado, tentando explicar o 0 crime por um retorno a um passado mais antigo. Surge a hipótese, hipotese, investigacoes, de o 0 disparo ter sido feito por um PM ou por um traficante nas investigações, traficante de dentro do campus, o que de certa forma poe põe em xeque as narrativas do temor em relacao àa proximidade com a favela. relação E, ao mesmo tempo, algo que pertence ao passado e ao futuro. É E uma tese que É, nao se confirmou confirmou no futuro. Se quem atirou foi um PM, a hipótese hipotese construída construida ainda não pelo jornal ée’ que fosse um segurança seguranca contratado pela universidade. Esse dado confirconfirmado mudaria completamente o sentido do evento. Surge neste momento a possibi— possibi1idade de total inversão inversao do sentido do medo, vindo Vindo não nao mais diretamente das favelas, lidade forca policial, do Estado. Somente a existência existencia dessa hipótese hipotese ja mas da força já faz a cobertura — comeca dando uma certa configuração configuracao àa violência Violencia — – que começa – ter seu sentido alterado. História Cultural da Imprensa —

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Então, – que deveria ser Entao, no melodrama, o traidor seria não nao mais o cidadão cidadao das favelas — pacato — – e se volta contra a ordem, mas a Polícia Policia Militar, um traidor ainda pior porque instrumento dessa mesma ordem. Na mesma edição, edicao, em outra matéria, materia, o caso Luciana ée’ lembrado mais uma vez como justificativa justificativa para o medo ter chegado às as escolas do mesmo modo como no caso Gabriela. Os vínculos Vinculos mnemônicos mnemonicos se encontram no fluxo fluxo noticioso que garante uma sensasensa— ção de continuidade dos acontecimentos, no recurso de ir e vir na flecha do tempo 950 Vir flecha (“Mais (“Mais uma família familia derrotada...”), derrotada...”), rememorando outros casos nos quais ocorreram experiências experiencias urbanas semelhantes. Configura-se Configura—se assim a intriga maior da violência. Violencia. – a lentidão A semelhança semelhanca entre a topografia topografia temporal das duas coberturas — lentidao da ordem contra a velocidade do crime — – também tambem é fundamental para construir os vínculos Vinculos memoráveis. moraveis. Em ambos os episódios, episodios, o futuro está esta sob ameaça. ameaca. Esses vínculos Vinculos são sao muitos: a fotografia fotografia de Gabriela fazendo o símbolo simbolo da paz, o pretenso assassino acionando o fluxo fluxo do mal, ma], o 0 papel nocivo da PM em ambos os episódios, episodios, um mesmo tipo de diálogo dialogo com a cidade, o mesmo papel da bala perdida, a ligacao entre o Morro do Borel e o Morro do Turano, entre o assalto ao posto de ligação gasolina em 2002 e ao metrô metro em 2003, entre o ataque àa Estácio Estacio de Sá 821 em 2003, o assalto àa Gama Filho em 2000 e as ameaças perdiameacas contra escolas infantis, entre a bala perdi— da que atingiu o filho filho de Neguinho da Beija-Flor e a que atingiu Luciana, entre o andar sozinha de Gabriela e o receio dos pais deixarem os filhos filhos sozinhos, a simultaneidade entre o tempo da angústia angfistia de Cleide e o tempo da morte de Gabriela. analise leva a crer que não nao há ha um privilegio on do Tal análise privilégio do presente, do passado ou futuro, mas um entrelaçamento entrelacamento entre passado/presente/futuro no presente do jornal. Sem dúvida, dfivida, o jornal confere atualidade àa narrativa, um sentido de presente, ainda que se trate de acontecimentos passados e de expectativas de futuro. Nao Não há ha aí ai incoerênincoerencia, ja já que, conforme a análise analise de Ricoeur (1994:96), (1994296), ée’ justamente na articulação articulacao E no processo de presentificacao entre passado, presente e futuro que se tece a narrativa. É presentificação 70 ficcaom, dos acontecimentos, tanto passados quanto futuros, que se produz ficção , pois toda reconfigura o que não nao está esta em algum tempo específico, especifico, mas que é construído construido narrativa reconfigura metro e o ataque àa universidade são sao vestígios vestigios que chegam do no presente. O assalto ao metrô memoria no presente, são sao lembranças lembrancas reconstruídas reconstruidas passado e permitem refazer a memória 1990377) do que não nao se viveu. Viveu. Já Ja que não nao vivenciamos Vivenciamos os fatos narrados, (Halbwachs, 1990:77) ja nao vivemos Vivemos ao lado de Gabriela e de Luciana para saber como eram suas vidas Vidas já que não nao tivessem acontecido, aceitamos essas e imaginar como teriam sido se os crimes não

7° Ficção Ficcao aqui tem o sentido de muthos aristotélico, ou seja, seja, não néo se quer dizer que os fatos sejam inventados, inventados, referéncia e verdade, mas como agenciamento de fatos (Ricoeur, op. op. cit.: cit.: 102). sem nenhuma referência

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lembranças periódico funciona como memória lembranoas simuladas pelo jornal. Deste modo, o periodico memoria emprestada do que não nao vimos Vimos mas que passamos a incorporar. E, neste sentido, ée’ um artefato de memória. memoria. Além disso, ainda que tive’ssemos tivéssemos vivenciado Ale’m Vivenciado esses episódios, episodios, nossas lembranças lembraneas jamais seriam um retrato fiel fiel do passado. Para Fentress e Wickham (1992:17) ela ée

constituída constituida de informação informaeao e sensação. sensaoao. Para Halbwachs (1990:25) de realidade e ficficção. E Ricoeur (1994) sequer distingue esses dois estados na narrativa. 9510. Porém, Pore’m, essas coberturas acionam não nao somente a memória memoria de um passado ou de um presente mas também tambe’m de futuro. O 0 Globo também tambem apontou para uma interrupção interrupoao do

fluxo fluxo do tempo, interrompendo o futuro, seja das duas vítimas, Vitimas, seja da cidade, seja de outras famílias familias em perspectiva. Gabriela teve seus sonhos interrompidos. Deixou de aprender a andar de salto alto, ou seja, Não fez a festa de 15 sej a, deixou de ser mulher. Nao 15 anos em uma escuna eseuna no mar, como queria. Luciana não nao concluiu a faculdade. Se as duas histórias historias tratam de episóepiso— dios diferentes, por outro lado, tém têm em comum o fato de serem rupturas. A continuidacontinuida— de do fluxo fluxo do sensacional ée garantida pelo que há ha de rotineiro nas rupturas. Com o0 destaque dado ao medo, ao pânico, panico, às as ameaças ameaeas e ao risco, o diário diario configuconfigu— ra por meio dessas duas coberturas um caos que ainda não nao se vive Vive plenamente. O tempo, deste modo, parece estar em suspensão, suspensao, e a cidade estática, estatica, o que é evidenciado pela importância túneis nas narraimportancia que adquire o fluxo fluxo das vias Vias expressas e dos tl’meis tivas sobre violência. Violencia. O que essas duas coberturas dão dao a entender ée’ que o habitante da cidade vive Vive um tempo em suspensão suspensao pelo medo. Iminência Iminéncia eterna do caos que se atualiza em cada Ha um adiamento perpe’tuo novo crime narrado pelo jornal. Há perpétuo de um ideal de paz que é lançado Não um mito fundador, como os do passado, laneado para o futuro, como um mito. Nao mas um mito prospector, cujo narrador, ou seja, cujo sujeito-memória próprio sujeito—memoria ée o proprio jornal. Le Goff (1997:12) (1997212) afirma afirma que o comportamento narrativo, ou seja, o ato de mnemonico por excelência. excelencia. É E aí ai que o jornal se constrói constroi como narrar constitui o ato mnemônico espe’cie de emblema dos processos de memória. memoria. Ele não nao ée apenas um artefato. uma espécie memoria devido deVido ao seu poder de narração. narraeao. Por Trata-se de um lugar privilegiado de memória diaria de O 0 Globo, ée possivel memoria meio da leitura diária possível compartilhar uma determinada memória Violencia que envolve episódios episodios de disparos em universiuniversi— massiva sobre uma ideia de violência voltarao a irromper no dades, assaltos, sequestros que, se aconteceram no passado, voltarão futuro. final sobre a questão questao da ficcionalidade ficcionalidade da notícia noticia que Resta ainda uma palavra final parece ser síntese sintese histórica historica da configuração configuraeao narrativa dos textos jornalisticos jornalísticos na aplicaeao adequada de uma economia estética este’tica do sensacional contemporaneidade. A aplicação História Cultural da Imprensa —

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éo’ capaz de do estreitar ostroitar os vínculos Vinculos do leitor loitor com seu sou jornal eo tornar mais concreta, concrota, sensísonsi— vel, vol, a experimentação oXporimontaoao do espaço-tempo ospaoo—tompo narrados. Mas toda narrativa éo’ necessarianocossaria— mente monto ficcional, ficcional, sob o ponto de do vista Vista de do Ricoeur. Ricoour. Para o0 autor, toda narrativa, histórica histérica ou ficcional ficcional (no sentido sontido de do obra literária) litoraria) possui referencialidade, já que precisam comparroforoncialidado, ja quo para se so fazer fazor entender, ontondor, leitor loitor eo autor procisam compar— tilhar não pré-compreensão de nao apenas aponas códigos codigos comuns mas uma pré—comproonsao do mundo Inundo (mimese (mimoso I). 1). afirmar que quo uma prima pola roforoncialidado enquanto onquanto a outra não nao ja nao se so Por isso, afirmar pela referencialidade já não sustenta. poética possa ser sustonta. Segundo Ricoeur, Ricoour, ainda que quo a composição composioao poo’tica sor inovadora, ela ola necessariamente três traços nocossariamonto se so apoia em om trés traoos dessa dossa pré-compreensão: pro—comproonsao: uma trama conceitual concoitual compartilhada entre ontro leitor loitor eo autor, suas fontes fontos simbólicas simbolicas inteligíveis intoligivois eo uma estrutura ostrutura temporal que quo demanda domanda narração. narraoao. O leitor loitor de do O 0 Globo está osta familiarizado com o quem, quom, o quê, quo, por quê qué eo como das ações potencializada eo naturalizada pola pela esaooos das reportagens. roportagons. Essa familizarização familizarizaoao éo potoncializada os— trutura melodramática melodramatica conferida conforida a trama. Por outro lado as mediações modiagoos simbólicas simbolicas são sao operadas pelos jornais em textos oporadas polos om um uIn jogo narrativo que quo aparece aparoco claramente claramonto nos toxtos jornalísticos: os medos jornalisticos: modos da morte, morto, das sedições, sodiooos, da alteridade, altoridado, objetivados objotivados principalmente monto no caso do objeto objoto da nossa análise analiso em om um suposto inimigo interno intorno produzido historicamente também que tempohistoricamonto no Rio de do Janeiro. Janoiro. Há Ha tambo’m quo se so considerar considorar uma estrutura ostrutura tomporal compartilhada pela termos de pola memória momoria de do certo corto grupo social traduzida nos tormos do uma idealização presente em pela idoalizaoao de do um passado de do crimes crimos ingênuos, ingonuos, um prosonto om suspensão susponsao pola iminoncia do caos eo um futuro sob constante constanto ameaça. amoaoa. iminência Além desses Alo’m dossos três trés fatores, fatoros, toda narrativa está osta inserida insorida no “reino “roino do como se” so” (mimese (mimoso II). 11). O que quo muda entre ontro as histórias historias (jornalísticas) (jornalisticas) eo ficcionais ficcionais (literárias) (litorarias) são sao as estratéostratogias de trata-se de do verossimilhança. vorossimilhanoa. Para Ricoeur, Ricoour, trata—so do duas grandes grandos classes classos narrativas que quo traduzem pretensões àa verdade. traduzom diferentes diforontos protonsoos vordado. A intriga éo a composição composioao de do uma história historia sensata pluralidade de tempo. Ela agrega sonsata a partir de do uma pluralidado do acontecimentos acontocimontos extraídos oxtraidos do tompo. agroga hotorogénoas, além alo’m de do combinar tomporalidados diforontos. Por isso, a notícia noticia coisas heterogêneas, temporalidades diferentes. jornalistica do uma construção construoao fictícia: ficticia: éo obra da imaginação imaginaoao produtora. jornalística éo tambo’m também fruto de ultimo, éo’ prociso dostacar que quo essas ossas reportagens roportagons não nao se so referem roforom àa cidade cidado eo aos Por último, preciso destacar sous medos, modos, mas ao Rio eo seus sous medos modos projotados. E esse osso mundo projotado quo será sora seus projetados. É projetado que horizonto interpretativo intorprotativo polo loitor. Deste Dosto modo, Inodo, não nao se so podo dosconsidorar usado como horizonte pelo leitor. pode desconsiderar quo a comunicação comunicagao só 56 éo efetivamente ofotivamonto realizada roalizada no momento momonto em om que quo o leitor loitor lê lé essas ossas que roportagons, olha as fotografias, fotografias, manuseia manusoia o jornal eo o carrega carroga debaixo dobaixo do braço, braoo, reportagens, comonta o que quo leu, lou, recorta, rocorta, rasga ou joga fora, ou seja, soj a, quando reconfigura roconfigura o mundo Inundo comenta (mimoso III). Há Ha uma cadeia cadoia de do reapropriações roapropriaooos miméticas, mimoticas, todas elas olas sempre sompro fruto do (mimese sompro de do natureza naturoza ficcional. ficcional. agir criativo, sempre

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Considerações Consideracoes Finais

A proposta desse trabalho de recuperar um século se’culo de imprensa no Rio de Janeiro chega ao fim fim com a certeza de que percorremos um urn caminho rico e multifacetado e que, certamente, a trilha escolhida por nós nos ée apenas uma das possibilidades de interpretação do passado. pretacao

O passado afinal projetos, afinal ée’ sempre objeto obj eto de proj etos, olhares, ainda que seja sempre desdes— conhecido e inteligível. inteligivel. Mesmo assim, tentamos, tentarnos, graças gracas a uma espécie especie de fascínio fascinio que o passado exerce sobre nós, nos, desvelar rostos e ações acoes que permanecem hoje irremediavelmente perdidos, posto que fazem parte de um mundo que só so existe em ern sonho e imaginação. imaginacao. Sendo assim, o que fizemos fizemos foi pensar questões questoes que consideramos fundamentais porque inscritas no nosso aqui e agora. Questões Questoes que remetem para a importância importancia de uma sociedade midiatizada, governada por ações acoes e emblemas que surgem, se modifimodificam e retornam a partir do trabalho realizado pelos meios de comunicação. comunicacao. Procuramos mostrar como os jornais diários diarios da cidade do Rio de Janeiro ocupam lugar central ao longo de todo o século Não de maneira isolada, mas como seculo XX. Nao corno parte de um processo de comunicação. comunicacao. Assim, o seu estudo envolve sempre a ideia de processo em construção, construcao, que termina invariavelmente na interpretação interpretacao dos leitores. Os leitores e as leituras como último ultimo elo de aproximação aproximacao desses impressos com o interpretacao plural. Mas a invenção invencao criadora do publico mundo fornecem uma interpretação público e as praticas práticas que se apropriam de modo diferente dos materiais — – inclusive os textos impressos — ficaram, em ern muitos momentos, ausentes. – que circulam na sociedade ficaram, historia singular, porque a história historia não nao ée Procuramos percorrer cem anos dessa história historia ée feita de tempos longos — feita de tempos breves e nem por saltos. A história – a longa duracao de Braudel (1978) — construida tambem duração – e essa temporalidade particular, construída também peVisualize nos tracos matelas permanéncias, permanências, permite que se visualize traços mais do que nas marcas, a matésignificados plurais. ria para decifrar significados E preciso desvendar, quando se fala em história historia da imprensa, quem escreve nesses É jornais, como procuram se popularizar — estrategias, apelos e valores – ou seja, que estratégias, veiculos invocam no seu discurso —, corno funcionam funcionarn essas empresas e de que esses veículos –, como História Cultural da Imprensa —

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forma esses público. Percorrido preciso ver ossos textos toxtos chegam Chogam ao publioo. Porcorrido esse osso caminho oaminho éo prociso vor ainda como página impressa, oomo os leitores loitoros entendem ontondom os sinais na pagina improssa, quais são 350 os OS efeitos ofoitos sociais dessa pensadas não dossa experiência. oxporiénoia. Por outro lado, as inovações inovaooos devem dovom ser sor ponsadas nao apenas aponas como oomo circunstâncias política, econômica tecnológica, mas sobretudo circunstancias de do natureza naturoza politica, oconémica eo tocnologica, sobrotudo na relarola— ção público. Uma nova toonologia tecnologia prossupoo pressupõe sempre oao direta dirota com o pfiblico. sompro uma recepção rooopoao na sociedade, própria sociodado, uma espera, ospora, muitas vezes vozos anterior mesmo mosmo àa emergência omorgénoia da propria tecnologia. tocnologia. Evidentemente tivemos a protonsao pretensão de Evidontomonto que quo neste nosto trabalho não nao tivomos do desvendar dosvondar o circuito da comunicação comunioaoao dos impressos improssos que quo circularam Circularam no Rio de do Janeiro, Janoiro, durante duranto cem com anos. O que quo procuramos foi recontar rooontar uma história historia a partir de do vestígios vostigios significativos significativos que quo chegam presente, particularizando em chogam ao prosonto, om cada capítulo oapitulo uma década, do’cada, tipologias documentais pretensão não documontais eo uma questão quostao teórica. toorica. A nossa protonsao nao foi recuperar roouporar o passado tal como ele se deu, mas oferecer uma interpretação que só será completada pela leitura oomo olo so dou, oforooor intorprotaoao quo so sora oomplotada pola loitura do leitor presente. loitor do prosonto. História, Certeau Na sua Escrita da Histo’ria, Cortoau (1982) diz que quo éo’ fundamental sublinhar a singularidade possibilidade da sistematisingularidado de do cada análise. analiso. Fazendo Fazondo isso se so questiona quostiona a possibilidado sistomatização pluralidade de procedimentos. Suzaoao totalizante totalizanto eo considera-se oonsidora—so como oomo essencial ossoncial a pluralidado do procodimontos. Su— blinha ainda que quo o que quo se so produz ao fazer fazor história historia é um discurso que quo “enquanto “onquanto fala da história, historia, está osta também situado na história”. historia”. Ou seja, soj a, o discurso que quo fala da história historia éo ele olo mesmo preciso. mosmo histórico historico eo produzido a partir de do um urn contexto oontoxto prooiso. Por outro lado, o que quo história historia produz é uma escrita osorita que quo exorciza oxoroiza a morte, morto, introduintrodu— zindo-a no porcurso, percurso, ao mesmo tempo em permosmo tompo om que quo possui uma função funoao simbólica simbolioa que quo por— mite próprio passado (Certeau, mito a sociedade sociodado situar-se, situar—so, abrindo espaço ospaoo para o proprio (Cortoau, 1982: 1982: 107). também 107). E Certeau Cortoau continua: marcar maroar um urn passado éo dar um lugar àa morte, morto, mas tambom redistribuir possibilidades, determinar rodistribuir o espaço ospaoo das possibilidados, dotorminar negativamente nogativamonto aquilo que quo está osta fazor eo utilizar a narratividade narratiVidado que quo enterra ontorra os mortos como oomo um meio moio de do estabelecer ostabolooor por fazer Vivos. um lugar para os vivos. Acrosoontando osta frase fraso uma maravilhosa constatação constataoao de do Paul Ricouer Ricouor (2001) éo Acrescentando a esta prociso também perceber poroobor que quo o “passado “passado tinha um urn futuro” futuro” eo que quo nós nos somos o futuro preciso dosso passado. Assim, não nao nos cabe cabo cobrar — basoando-nos em om uma vivência ViVéncia postorior desse – baseando-nos posterior — aooos desses dossos homens homons do passado. Para eles, o1os, nós nos éramos oramos o desconhecido, dosconhocido, o futuro, o – ações inintoligivol. E eles olos para nós nos — quo transformamos em om vivos Vivos — continuarao ininteligível. – mortos que – continuarão sondo sempre sompro o passado, o desconhecido, dosoonhocido, o ininteligível. inintoligivol. sendo

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Bibliografia

CARACTERiSTICAS DESTE LIVRO LIVRO:: C ARACTERÍSTICAS DESTE x 23 Formato: 16 16 X 23 cm x 19 Mancha: 12 12 X 19 cm Tipologia: Times New Roman 10/14 10/14 Papel: Ofsete 75g/m 7 Sg/m22 (miolo)

Cartão Cartfio Supremo Supreme 250g/m 250g/m22 (capa) 1ª I a edição: edigdo: 2007 2ª 2" edição: edigdo: 2010 Impressão digital: Bandeirantes Soluções Impressdo Solugées Gráficas Gréficas

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