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COMO TIRAR 1000 NA REDAÇÃO DO ENEM - GUIA POLITICAMENTE INCORRETO SOBRE A REDAÇÃO DO ENEM - CÍNTIA CHAGAS

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Caro leitor, Sinceramente, eu preferiria não ter escrito este guia, uma vez que a elaboração deste denota quão distantes estamos do mínimo que se espera para a educação no Brasil. Afirmo isso com a convicção de quem trabalhou, durante os últimos 17 anos, com candidatos aos cursos de Medicina e sentiu, na pele, o abismo - criado pelo Enem - entre os estudantes de hoje e os de anos atrás. Atentemo-nos à realidade: o brasileiro, de um modo geral, não tem a cultura de aprender por aprender. Pelo contrário: somos um povo que, salvas as raríssimas exceções, estuda para um determinado fim, como passar de ano ou ser aprovado no vestibular. Nesse sentido, a redação do Enem trouxe perdas na medida em que ela cobra apenas um gênero textual, a dissertação argumentativa, o que levou a maioria dos estudantes do Ensino Médio a um processo de desvalorização e de desconhecimento dos demais gêneros textuais, como cartas, artigos de opinião e crônicas, ainda - felizmente - cobrados em alguns vestibulares. Somando-se a isso, o Enem, não satisfeito em limitar as possibilidades de gêneros textuais, cerceou, também, o conteúdo da redação. Por que retirar do candidato, por exemplo, a opção de apenas refletir sobre o problema proposto? É obrigatório não só dar a solução, mas também seguir os critérios da proposta de intervenção do Enem. A consequência disso? Textos padronizados, com soluções clichês, os quais mais lembram um palanque eleitoral do que uma dissertação que se propõe a ser, de fato, crítica. Isso sem contar o disparate cobrado na competência dois, sobre o qual falarei adiante. E os professores do Ensino Médio? Estes têm de fazer um esforço hercúleo para mostrar aos estudantes a necessidade de aprender os conteúdos não cobrados pelo Enem. É lamentável. Todos nós perdemos nessa situação.

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Mas, como dizem por aí, manda quem pode e obedece quem tem juízo, não é mesmo? Assim, em respeito aos investimentos de tempo e de dinheiro que os candidatos fazem para obter a tão sonhada aprovação no vestibular, eu criei este guia. Nele, você encontrará os segredos de quem tira 1000 (ou 980, o novo 1000 – isso também será explicado adiante). Aqui, escancaro verdades sobre o Enem, as quais, até então, eu havia revelado apenas para os meus estudantes (aliás, seria coincidência a média dos meus alunos ser 900?). E por que um guia POLITICAMENTE INCORRETO do Enem? Porque, hoje em dia, quem fala a verdade se tornou politicamente incorreto. Tudo bem. Que assim seja. O meu compromisso é com a sua aprovação. Boa leitura! Cíntia Chagas, Beijos!

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Como tirar 1000 na redação do Enem Guia politicamente incorreto do Enem

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Entenda as competências... E as maldades das quais você vai necessitar: A correção das redações do Enem é feita a partir de um

padrão de critérios denominado competências. Isso significa que, para tirar total, você terá de atender a um modelo de texto. Além disso, o corretor tem, em média, apenas dois minutos para corrigir cada redação. Isso mesmo, leitor! A sua entrada na tão sonhada faculdade depende de dois míseros minutos de correção. Na verdade, de quatro minutos, já que o seu texto passará pelas mãos de dois corretores. Mas o que eu quero dizer com isso? Quero dizer que você PRECISA escrever um texto no qual o corretor “bata os olhos” e fique satisfeito. É aquele clichê, né? “Se não pode com eles, junte-se a eles”. Mãos à obra?

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Competência 1: demonstrar domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa. Nessa competência, você será avaliado pelo seu conhecimento gramatical, ou seja, pelo domínio que você tem da escrita em si. Mas não se preocupe, pois há diversos exemplos de redações nota 1000 em que o candidato cometeu váááários erros gramaticais (eu não estou dizendo para você deixar de estudar concordância, pontuação e afins, o.k.? Eu estou apenas lhe “dando a real” sobre o que ocorre no Enem). Resumindo: para tirar 1000 na competência um, você não precisa ser um Machado de Assis, pelo contrário... Infelizmente, o Enem desvaloriza - e muito - a norma culta da língua portuguesa. Veja, abaixo, trechos de redações que ganharam 1000, apesar da existência de erros gramaticais básicos. Essa é uma feliz realidade para você, mas uma triste realidade para nós, professores de português.

“Somado a isso, tendo em vista a capacidade dos algoritmos de selecionar o que vai ou não ser visto, esses (ESTES) podem ser usados para moldar interesses pessoais dos leitores...” “...vale salientar como o controle de dados pela internet vai de encontro a (À) concepção do indivíduo...” “para combatê-la, é preciso acabar com os esteriótipos (ESTEREÓTIPOS)...” “...esse problema, está presente na vida da sociedade há anos.” (Vírgula inadequada, já que não se separa sujeito de predicado com vírgula).

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Competência 2: compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa. Nessa competência, vemos três direcionamentos distintos: o primeiro deles diz respeito à adequação ao tema proposto. O.k., isso é bem fácil. O segundo pede a escrita de um texto cujas características se enquadrem no gênero dissertativo-argumentativo em prosa, ou seja, nada de escrever poemas, artigos de opinião, editoriais ou quaisquer outros gêneros, tá? Só vale o gênero dissertativo-argumentativo. Mas o que chama atenção meeeesmo na competência 2 é a ordem de “aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento”. Oi? O que isso significa? Significa que o candidato é obrigado a, durante o texto, abordar temas relacionados a áreas diversas do conhecimento humano, como sociologia, filosofia, cinema, artes, literatura, música. E, antes de entrar nesse conteúdo, vou deixar clara uma coisa para você: O CORRETORES DO SEU TEXTO NÃO CONSEGUIRÃO CORRIGIR TODOS OS TEXTOS COM A EXIGÊNCIA E A ATENÇÃO NECESSÁRIAS. COM O TEMPO CONCEDIDO A ELES, ISSO SE TORNA HUMANAMENTE IMPOSSÍVEL. Ou seja: seria prudente colocar um conhecimento de outra área logo na introdução (e fazer alguma consideração sobre ele ao longo do texto), pois, de cara, você já aumentaria as suas chances de garantir os seus pontos nesse quesito. Vamos chamar esse direcionamento de “COA”, o.k.? Conhecimento de outra área. É assim que eu faço com os meus alunos. Mas atente-se para o fato de que não se trata de conhecimentos quaisquer, pois estamos falando de conhecimentos que agregam valor à sua redação. Por exemplo, se o tema fosse “O poder de transformação da leitura”, como ocorreu em 2006, seria

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interessante citar o filme italiano e “cult” O carteiro e o poeta, em que a vida de um carteiro é transformada (pela leitura) após o contato com o escritor Pablo Neruda. O que quero mostrar com esse exemplo é a preferência que você deve dar a temas considerados culturais, entendeu? Tente citar filmes como “Laranja Mecânica” em vez de citar filmes como “Crepúsculo”. Mas, antes que você diga que a cultura pop pode ser interessante para o Enem, eu já afirmo: houve, sim, redações nota 1000 com referências “moderninhas”. Em 2011, por exemplo, um candidato fez referência à atriz Scarlett Johansson e ganhou 1000. Tudo bem. Mas eu não quero que você se arrisque. Nós estamos aqui para garantir a sua nota 1000, não é mesmo? Outra coisa: tome cuidado com as frases que são culturais, mas que se tornaram clichês, como “Ser ou não ser, eis a questão”, “O homem é o lobo do homem”, “Os fins justificam os meios”. A transcrição desse tipo de citação comum e banalizada pode, na visão de muitos corretores, gerar um texto empobrecido, principalmente se você não fizer a relação da sua citação com o seu próprio texto. O Enem quer que você relacione o seu COA ao texto, como você verá neste trecho de uma redação nota 1000: “Em primeiro plano, é necessário que a sociedade não seja uma reprodução da casa colonial, como disserta Gilberto Freyre em ‘Casa-grande senzala’. O autor ensina que a realidade do brasil até o século XIX estava compactada no interior da casa-grande, cuja religião era católica, e as demais crenças – sobretudo africanas – eram marginalizadas e se mantiveram vivas porque os negros lhe deram aparência cristã, conhecida hoje por sincretismo religioso.” Perceba que o candidato relacionou alguns conhecimentos de literatura e de história ao problema do preconceito religioso. Pimba! Os olhos dos corretores até lacrimejaram de felicidade. Diante disso e levando-se em conta que o meu objetivo com este guia não é transformar você na pessoa mais culta do mundo (até porque você não tem tempo, até a data da prova, para adquirir um conhecimento tão vasto), seguem

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sugestões de conhecimentos de outras áreas que certamente serão aplicáveis a diversos temas do Enem. Devo ressaltar que você não precisa decorar as citações e as paráfrases abaixo. Basta, apenas, entender a ideia de cada trecho e memorizar o nome do autor. Eu sou ou não sou o máximo? Pode dizer que você já está me amando! Eu sei. Hahahaha!

Frases do falecido sociólogo Betinho (perceba que elas são uma espécie de curinga para os temas do Enem): “Só a participação cidadã é capaz de mudar o país.” “Democracia serve para todos ou não serve para nada.” “O desenvolvimento humano só existirá se a sociedade civil afirmar cinco pontos fundamentais: igualdade, diversidade, participação, solidariedade e liberdade.” “Para nascer um novo brasil, humano, solidário, democrático, é fundamental que uma nova cultura se estabeleça, que uma nova economia se implante e que um novo poder expresse a sociedade democrática e a democracia no estado.” Constituição de 1988: “É livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.” “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.

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Hannah Arendt (filósofa alemã): Em sua teoria intitulada “A banalidade do mal”, Hannah Arendt afirma que a violência, por estar tão concretizada na sociedade, foi normalizada. Platão (filósofo grego): Coletividade social: segundo Platão, a coletividade possui mais poder do que a individualidade quando se torna necessário combater os problemas que surgem no meio social. Karl Marx (filósofo alemão): “Só se transmite aquilo que a classe dominante deseja.” Durkheim (sociólogo francês): Fatos sociais: fatos sociais são instrumentos sociais e culturais que determinam a maneira de agir, de pensar e de sentir do ser humano. Segundo Durkheim, eles influenciam, independentemente da vontade do indivíduo, as normas vigentes, os valores e as convenções que imperam.

Acho que você já, como se diz, pegou a manha do conhecimento de outra área, né? O Enem ama caras como Marx e Durkheim. Preciso ser mais explícita? Não, né? Procure algumas informações sobre eles, tenha-as na ponta da língua (e por que não da memória?) e use isso a seu favor na hora da prova!

Quer um exemplo? Veja a redação da minha ex-aluna Luísa Bitarães. Ela

tirou 980 no Enem de 2018, cujo tema foi “A manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet”. Aliás, ela merecia total. E sabe por que ela não tirou total? Porque O ENEM CRIOU, HÁ POUCOS ANOS, UMA REGRA SEGUNDO A QUAL, PARA DAR 1000 A UMA REDAÇÃO, O CORRETOR PRECISA SE RESPONSABILIZAR PELA NOTA. O resultado disso? O número de

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totais na redação do Enem despencou! Ou você acha normal o fato de, em 2018, apenas 55 pessoas terem alcançado nota máxima em um universo de 4,1 milhões de redações? Isso mesmo! Foram apenas 55 totais entre 4,1 milhões de redações. Um verdadeiro absurdo oriundo de uma regra descabida. Meu bem, a realidade é a seguinte: A PROVA DE REDAÇÃO DO ENEM NÃO É DIFÍCIL... ELA APENAS POSSUI REGRAS BASTANTE QUESTIONÁVEIS. Mas atentemo-nos à redação da Luísa. Vou analisar, agora, apenas os COAs utilizados por ela (aliás, um número bom de COA por redação é o número dois). “A Constituição Federal de 1988, norma de maior hierarquia no sistema jurídico brasileiro, assegura a liberdade como direito inerente a toda a população. Torna-se válido perceber, entretanto, que essa garantia nem sempre é colocada em prática, uma vez que a manipulação - pelo controle de dados - do comportamento na internet advém, sobretudo, da lógica capitalista vigente e acarreta consequências como alienação e consumismo.” Ai, ai... Como é fácil tirar total na competência dois... Veja bem: a Luísa disse, no início, que a Constituição assegura a liberdade, não é mesmo? Logo depois, ela afirmou que, ao contrário do que se espera, essa liberdade não é colocada em prática; depois, ela contextualizou essa falha com o problema abordado na prova. Sacou o macete? Você afirma que alguma coisa deveria ser garantida (como pregado na Constituição ou como afirmado pelo filósofo X) e depois diz – com a contextualização necessária para o tema abordado - que essa coisa não está ocorrendo. É muito simples! Com esse macete, você cria uma introdução com COA e com problematização. É maravilhoso! Veja o parágrafo dois: “Diante desse cenário, faz-se possível relacionar a teoria kantiana de maioridade e menoridade à submissão de grande parte dos usuários da

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internet aos anúncios, tendo em vista que, na condição de menoridade, esses indivíduos são frequentemente manipulados por propagandas midiáticas devido ao comodismo e à falta de informação, assim como afirmava Kant. Nesse sentido, infere-se que a personalização de informações veiculadas na rede configura-se como um importante meio de influência utilizado por empresas que visam ao lucro, uma vez que esses anúncios são direcionados propositalmente a um tipo de consumidor característico.” Aqui, ela utilizou um outro COA, o da teoria Kantiana de maioridade e de menoridade. Daí eu lhe pergunto: você acha que a Luísa era uma amante de Kant? Você acha que, na hora da prova, ela foi tomada por uma inspiração divina? É claro que não!!!! A Luísa, assim como você vai fazer, DECOROU AS MINHAS FÓRMULAS DE ESCRITA. No parágrafo três, ela não usou COA: “Seguindo essa premissa, torna-se imprescindível ressaltar que o controle de dados na internet pode gerar consequências prejudiciais aos indivíduos. Nesse sentido, é válido citar a alienação, tendo em vista que apenas informações condizentes com o perfil do usuário são veiculadas, limitando, dessa forma, o conhecimento pessoal. Ademais, cabe ressalvar que a seleção de anúncios na internet fomenta práticas consumistas por parte da população, já que, ao apresentar produtos de interesse, os indivíduos são induzidos a comprar, muitas vezes, sem necessidade.” E, na conclusão, ela retomou a Constituição, o que mostra uma preocupação com o fechamento do raciocínio iniciado no primeiro parágrafo. É lindo fazer isso! FAÇA você também! Medidas, portanto, tornam-se necessárias para garantir pragmaticamente a liberdade, como preconiza a Constituição. Nesse sentido, o Ministério da Educação (MEC), com o auxílio da Secretaria de Educação, deve promover, em

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escolas públicas e privadas de todo o país, para o ensino fundamental e médio, palestras ministradas por pedagogos especialistas em internet - com o intuito de fomentar, em crianças e em adolescentes, senso crítico que lhes possibilite lidar com informações encontradas na rede. Com isso, progressivamente, a população se caracterizará menos como alvo de manipulação na internet.

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Competência 3: selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista. Essa competência se relaciona à sua habilidade para argumentar e organizar os seus pensamentos. Trata-se, pois, de uma competência que exige de você organização no que diz respeito aos argumentos utilizados em cada parágrafo. Isso significa que deve ficar claro, para o corretor, aquilo que você decidiu colocar em cada parágrafo, por exemplo: ao corrigir a redação, o corretor deve perceber, rapidamente, que o parágrafo dois foi usado para desenvolver causas e que o parágrafo três foi usado para desenvolver consequências. E, antes disso, na introdução, ele precisa já ter sacado que o seu objetivo é fazer um texto cuja técnica de argumentação será a da causa e da consequência. Se ele não perceber que você tem um projeto de texto, meu caro, você já poderá dar adeus para o seu tão sonhado 1000 na redação do Enem. Recapitulando: mostre, ao corretor, ainda na introdução, a sua estratégia de paragrafação. Seria como se você dissesse: senhor corretor, eu vou falar sobre a violência contra a mulher e usarei a técnica da causa e da consequência nos parágrafos de desenvolvimento, tá? Bom, voltemos à redação da minha ex-aluna: a Luísa deu a entender, na introdução, que falará sobre a lógica capitalista como causa da manipulação na internet e sobre as consequências dessa situação de controle virtual. Veja: “A Constituição Federal de 1988, norma de maior hierarquia no sistema jurídico brasileiro, assegura a liberdade como direito inerente a toda a população. Torna-se válido perceber, entretanto, que essa garantia nem sempre é colocada em prática, uma vez que a manipulação - pelo controle de dados - do comportamento na internet advém, sobretudo, da lógica capitalista vigente e acarreta consequências como alienação e consumismo.”

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No segundo parágrafo, ela desenvolveu as causas,

relacionando o

comodismo e a falta de informação do ser humano ao capitalismo. E, como ela anunciou, na introdução, que as causas vêm - principalmente - do capitalismo, não há problema em acrescentar o comodismo e a falta de informação. “Diante desse cenário, faz-se possível relacionar a teoria kantiana de maioridade e menoridade à submissão de grande parte dos usuários da internet aos anúncios, tendo em vista que, na condição de menoridade, esses indivíduos são frequentemente manipulados por propagandas midiáticas devido ao comodismo e à falta de informação, assim como afirmava Kant. Nesse sentido, infere-se que a personalização de informações veiculadas na rede configura-se como um importante meio de influência utilizado por empresas que visam ao lucro, uma vez que esses anúncios são direcionados propositalmente a um tipo de consumidor característico.” E, no terceiro parágrafo, ela desenvolveu as consequências da manipulação de dados. Simples assim! Observe: “Seguindo essa premissa, torna-se imprescindível ressaltar que o controle de dados na internet pode gerar consequências prejudiciais aos indivíduos. Nesse sentido, é válido citar a alienação, tendo em vista que apenas informações condizentes com o perfil do usuário são veiculadas, limitando, dessa forma, o conhecimento pessoal. Ademais, cabe ressalvar que a seleção de anúncios na internet fomenta práticas consumistas por parte da população, já que, ao apresentar produtos de interesse, os indivíduos são induzidos a comprar, muitas vezes, sem necessidade.” Acalme-se, que eu falarei da conclusão em breve. Medidas, portanto, tornam-se necessárias para garantir pragmaticamente a liberdade, como preconiza a Constituição. Nesse sentido, o Ministério da Educação (MEC), com o auxílio da Secretaria de Educação, deve promover, em escolas públicas e privadas de todo o país, para o ensino fundamental e médio,

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palestras ministradas por pedagogos especialistas em internet - com o intuito de fomentar, em crianças e em adolescentes, senso crítico que lhes possibilite lidar com informações encontradas na rede. Com isso, progressivamente, a população se caracterizará menos como alvo de manipulação na internet. Outro aspecto a ser destacado na competência 3 é o seguinte: muitos candidatos apenas apresentam os argumentos sem relacioná-los entre si. Por exemplo, em 2013, o tema proposto foi “A eficácia da ‘Lei Seca’ no brasil”. Nesse ano, diversos candidatos simplesmente afirmaram, no desenvolvimento, que as pessoas não cumpriam a “Lei Seca”. Mas eles não explicaram os motivos desse descumprimento, como a ausência de metrôs, de segurança e de meios de locomoção economicamente viáveis no país. Assim, se você deseja que a sua redação se destaque entre as demais e quer tirar nota máxima, atente-se para os argumentos que você usará e para a relação que fará entre eles; com isso, o avaliador terá bons motivos para olhar a sua redação com outros olhos.

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Competência 4: demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação. Essa competência diz respeito à coesão, ou seja, aos recursos de articulação, como pronomes demonstrativos (este, esse, aquele...) e conjunções (conclusivas, adversativas, concessivas...). É muito comum, por exemplo, o candidato, por conhecer mal as conjunções, cometer erros gravíssimos no texto, como ocorre com a confusão que se faz entre portanto (conjunção conclusiva) e entretanto (conjunção adversativa). Isso significa que você pode perder pontos pela sua falta de conhecimento linguístico, já que o simples uso de uma conjunção inadequada pode modificar o sentido pretendido por você. Mas fique calmo, que agora nós vamos analisar a coesão do texto da Luísa. E você vai fazer o quê? Você vai copiar. Isso mesmo! Copiar! Vamos encarar a verdade: até hoje você não aprendeu a escrever bem e você precisa entrar na sua tão sonhada faculdade, não é mesmo? Pois então. Se você não possui tempo hábil para aprender com maestria, o que você deve fazer? A solução é copiar (grifei alguns dos recursos coesivos usados por ela e acrescentei outras opções). Copie e faça as adaptações necessárias. Isso se chama modelagem, que nada mais é do que seguir um modelo que já deu certo. E não há nada de errado nisso! O.k.? “A Constituição Federal de 1988, norma de maior hierarquia no sistema jurídico brasileiro, assegura a liberdade como direito inerente a toda a população. Torna-se válido perceber, entretanto (todavia, contudo, no entanto), que essa (tal) garantia nem sempre é colocada em prática, uma vez que ( já que, visto que) a manipulação - pelo controle de dados - do comportamnto na internet advém, sobretudo, da lógica capitalista vigente e acarreta consequências como alienação e consumismo.

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“Diante desse cenário (nesse sentido, sob essa ótica, nesse viés), faz-se possível relacionar a teoria kantiana de maioridade e menoridade à submissão de grande parte dos usuários da internet aos anúncios, tendo em vista que, na condição de menoridade, esses indivíduos são frequentemente manipulados por propagandas midiáticas devido ao comodismo e à falta de informação, assim como afirmava Kant. Nesse sentido (nesse viés, a partir dessa ótica, sob esse prisma), infere-se que a personalização de informações veiculadas na rede configura-se como um importante meio de influência utilizado por empresas que visam ao lucro, uma vez que ( já que, visto que, porque) esses (tais) anúncios são direcionados propositalmente a um tipo de consumidor característico.” Seguindo essa premissa (como o segundo parágrafo trouxe causas e este traz consequências, é possível utilizar também recursos coesivos como “consequentemente” e “diante disso”), torna-se imprescindível ressaltar que o controle de dados na internet pode gerar consequências prejudiciais aos indivíduos. Nesse sentido (nesse viés), é válido citar a alienação, tendo em vista que apenas informações condizentes com o perfil do usuário são veiculadas, limitando, dessa forma, o conhecimento pessoal. Ademais (além disso), cabe ressalvar que a seleção de anúncios na internet fomenta práticas consumistas por parte da população, já que, ao apresentar produtos de interesse, os indivíduos são induzidos a comprar, muitas vezes, sem necessidade. Medidas, portanto (então, desse modo, dessa maneira), tornam-se necessárias para garantir pragmaticamente a liberdade, como preconiza a constituição. Nesse sentido, o Ministério da Educação (MEC), com o auxílio da secretaria de educação, deve promover, em escolas públicas e privadas de todo o país, para o ensino fundamental e médio, palestras ministradas por pedagogos especialistas em internet - com o intuito de fomentar, em crianças e em adolescentes, senso crítico que lhes possibilite lidar com informações encontradas na rede. Com isso, progressivamente, a população se caracterizará menos como alvo de manipulação na internet.”

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Competência 5: elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos. Uma das mais temidas competências, a número 5, consiste na exigência de solução para o problema abordado. Entretanto, essa tarefa não é tão simples quanto pode parecer, já que o Enem faz uma série de exigências para a elaboração da proposta de intervenção. Antes de escrever a sua proposta de intervenção, responda as seguintes perguntas: qual a finalidade da sua proposta? Quem vai fazer? O que vai fazer? Como vai fazer? Por meio de que vai fazer? Quais as implicações da sua solução? Depois disso, tente detalhar o máximo possível. E lembre-se de que o Enem vai avaliar apenas a solução que ele julgar mais completa, ou seja, escreva apenas uma solução, porém, beeeeeeem detalhada. Voltemos, então, à Luísa: “Medidas, portanto, tornam-se necessárias para garantir pragmaticamente a liberdade, como preconiza a constituição. Nesse sentido, o (agentes) Ministério da Educação (MEC), com o auxílio da Secretaria de Educação, deve promover, (onde) em escolas públicas e privadas de todo o país, (para quem) para o ensino fundamental e médio, palestras (quem executará) ministradas por pedagogos especialistas em internet – (para que fazer a ação) com o intuito de fomentar, (quem será beneficiado) em crianças e em adolescentes, senso crítico que lhes possibilite lidar com informações encontradas na rede. Com isso, (qual o efeito da ação como um todo) progressivamente, a população se caracterizará menos como alvo de manipulação na internet.” Vê-se que ela cumpriu, com maestria, as exigências do Enem. Tirou um belo total na competência 5. Ah, em qual competência ela perdeu 20 pontos? Na competência 3, sabe-se lá por quê.

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Agora, precisamos falar do respeito aos direitos humanos. Mas o que são direitos humanos? Na cartilha do participante de 2018, consta: “...pode-se dizer que determinadas ideias e ações serão sempre avaliadas como contrárias aos direitos humanos, tais como: defesa de tortura, mutilação, execução sumária e qualquer forma de ‘justiça com as próprias mãos’, isto é, sem a intervenção de instituições sociais devidamente autorizadas (o governo, as autoridades, as leis, por exemplo); incitação a qualquer tipo de violência, por questões de raça, etnia, gênero, credo, condição física, origem geográfica ou socioeconômica; explicitação de qualquer forma de discurso de ódio (voltado contra grupos sociais específicos).” Tirando a obviedade de não dar propostas de intervenção relacionadas a torturas, massacres e afins, cabe salientar que, no Enem, infelizmente, a

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esperteza consiste, sobretudo, em SEGUIR A IDEOLOGIA (que, a esta altura, já ficou bem clara para você) da prova. Siga, então, como um bom menino, a ideologia imposta pelo Enem, ou seja, nunca, por exemplo, sugira a redução da maioridade penal como forma de redução da violência, o.k.? Mesmo que você tenha argumentos plausíveis para defender esse ponto de vista, a chance de você dar um tiro no seu próprio pé é grande.

Bem, eu tive a coragem de escrever a verdade sobre a prova de redação do Enem. Agora, faça a sua parte: comece, hoje, a treinar tudo o que você leu aqui e garanta o seu 1000 (ou 980, que é o novo 1000). E mande este guia para o maior número possível de pessoas. Eu estou ajudando você. Ajude os outros também. Cíntia Chagas, Beijos!

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Cíntia Chagas Natural de Belo Horizonte, Cíntia Chagas possui formação em letras pela UFMG e também um jeito bastante peculiar de lecionar. Com características únicas e com 10 demissões no currículo, a professora teve de abrir o próprio curso pré-vestibular de redação, que se tornou o mais procurado na capital mineira devido a um índice de noventa por cento de aprovação nos vestibulares de Medicina. Seu Aulão de Português na véspera do ENEM, realizado nas baladas, foi capa do G1, destaque do Jornal da Globo, matéria do Jornal Nacional e tema do Programa The Noite, apresentado por Danilo Gentili. Com mais de 200.000 seguidores no Instagram e com uma popularidade crescente, a professora é colunista da Rádio Jovem Pan de SP e dá palestras e workshops em todo o Brasil. Seu livro “Sou péssimo em português” foi best-seller e tornou-se o primeiro stand-up comedy de português do país. Cíntia Chagas ainda democratizou o aprendizado da língua portuguesa ao utilizar a ferramenta “Melhores Amigos”, do Instagram, para ministrar cursos divertidos e práticos de gramática, o que se tornou assunto até da revista “Isto é Gente”.

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