Sexus-32

  • Uploaded by: Carlos Neves
  • 0
  • 0
  • January 2021
  • PDF

This document was uploaded by user and they confirmed that they have the permission to share it. If you are author or own the copyright of this book, please report to us by using this DMCA report form. Report DMCA


Overview

Download & View Sexus-32 as PDF for free.

More details

  • Words: 12,234
  • Pages: 62
Loading documents preview...
#3

X . E . S

S . .U

“Progressões de Balcão “ conto de CLARA AVERBUCK Entrevista com a ilustradora do momento APOLLONIA SAINTCLAIR Poemas de GERMANA ZANETTINNI Ilustrações de EMERSON WISKOW

1

2

.s.

Índice

Ano 1 - n° 2 - maio de 2013

Índice

EDITORIAL Ovelhas Negras, Bruno Ribeiro - 4 ILUSTRAÇÕES

Lauro Perazzo - 7 Mariana Sales - 9

Emerson Wiskow - 12 CINEMA

Nove Horas, Rodolpho de Barros - 14 Frame - 18 CONTOS

Eu nunca fui Romeu Trajano, Matheus Borges - 19 Metaconto, Carolina Pontes - 25 Progressões de balcão, Clara Averbuck - 27 Mini-Contos, Teodoro Balaven - 29 POESIA

Anna Apolinário - 32 Flá Peres - 33 Germana Zanettini - 35 Gil Cleber - 38 Susy Freitas - 40 MÚSICA

Asaf Avidan , Gabriela Borges - 41 Sexualmente musical - 43 ARTIGO

Uma breve consideração sobre a censura, Roberto Denser - 46 CRÍTICA DE LIVRO

Não existem ninguém que escreva cenas de sexo no chão tão bem como Henry Miller, Viviane Ka - 50 ENTREVISTA

Entrevista com Apollonia Saintclair - 52

3

.s.

Editorial

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Ovelhas Negras Entrem sem proteção

Acordar e pensar: quero fazer uma revista de sexo. É estranho, mas foi mais ou menos assim. Desejava criar uma revista que tivesse uma temática relevante e um toque de transgressão. Então surgiu a temática sexual. Transgressão? Sim. Foi aí que me questionei: porque sexo ainda é transgressão? O ato de fuder, amar, trepar, transar, ter relações sexuais e conceber uma vida, ainda é um ato transgressivo. Um ato que pode ser visto como vida (no nascimento de uma criança) ou como morte (no sentido metafórico da palavra), pois se uma filha decide virar atriz pornô, por exemplo, boa parte dos pais – homens de família do bem e sem pecados – dirão que suas filhas estarão mortas para eles. Mães chorando desesperadas. Tios e tias perplexos. Primos felizes, ao saber que verão a prima peladinha dando pra galera. Já para alguns pais tradicionais (religiosos extremos), o ato de seus filhos engravidarem fora do casamento é digno de morte metafórica também. O ato sexual e seu prisma de atividades diversas ainda é transgressão.

O sexo funciona como um símbolo intangível. Uma espécie de universo próprio, um yin yang feito de ejaculação, gozada, amor, nascimento, prazer, remorso, culpa, dor, suor e preconceitos. A complexidade dada a uma coisa tão simples como o ato de transar é extremamente relevante e transgressiva, mesmo nos padrões atuais em que teoricamente as pessoas já têm cabeça o bastante para não se deixar levar por preconceitos arcaicos. Pensando nisso que consegui visualizar a importância da Sexus. Ela provoca, ela questiona sem perguntar, ela causa curiosidade, prazer, riso, raiva (sim, algumas pessoas deixaram de falar comigo por causa da revista) e outros sentimentos misturados e amorfos. Por conta dessa miscelânea de aromas e opiniões que vocês estão lendo essa revista hoje. Ela existe para agradar, oferecer prazer e entreteni-

mento cultural relevante, e existe para perguntar também: arte e sexo podem coexistir? O sexo deixará de ser transgressivo? Pau e cu também são poesia? E outros questionamentos que podem estar passando na cabecinha de vocês agora. Respostas: para mim existe. Sim, para mim é poesia. E para mim, o sexo nunca deixará de ser transgressivo, feliz ou infelizmente. Nunca deixará porque sempre existirá aquela cabecinha pestilenta e medieval para dizer que mulher não pode usar saia, mulher não pode gozar ou curtir um pau. Ou aquela cabecinha doente que sempre irá falar que homem tem que falar grosso, homem que é homem tem que curtir futebol e trepar com todas, macho varão tem é que dominar na cama. Tem que ter bla,bla,bla... Enfim, aqui estamos: incomodando e não incomodando, mas existindo.

Opiniões diversas, seres “puros” e símbolos religiosos sendo molestados na capa dessa edição e muito tesão nas páginas virtuais da nossa revista. Ansiosos para ver o recheio da Sexus 3? Teremos o conto “Progressões de Balcão” da Clara Averbuck, uma das maiores escritoras contemporâneas do Brasil. Entrevista com a ilustradora que está na boca de toda a internet, Apollonia Saintclair. Infelizmente, não conseguimos descobrir a identidade dela, mas garantimos que a entrevista está ótima. Poesias e contos excitantes, ilustrações, uma resenha de Viviane KA comparando o livro Sexus do nosso guru Henry Miller com Memórias de uma Beatnik de Diane di Prima.

Leia na frente ou escondido dos seus pais. Mais leia. Seja a ovelha negra da família, faz bem para a saúde mental. Quem se importa com símbolos antiquados e preconceitos da idade média, não é verdade? Vamos viver, comer, dar, fazer, e se tiver alguém incomodado, excelente. Quem se incomoda com o alheio, definitivamente merece ser incomodado. Bruno Ribeiro Editor-Chefe

4

.s.

Editores

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Bruno Ribeiro – Editor-Chefe

André Luís – Editor

Mineiro, formado em publicidade e propaganda, lançou o e-book Poluição Mental em 2011. Trabalha com televisão e cinema, dirigiu dois curtas: O Coração Fere Tudo o que Despreza (2010) e O Caminho (2011). Já publicou diversas vezes no jornal Contraponto (JP) e em outros blogs literários. Vive em Buenos Aires e estuda cinema e teatro. Edita o site: quebrandoogenio.com

Pernambucano, psicólogo. Autor do livro de poesias Um Anjo que Cai (2006). Apreciador do estranho e do erótico. Fascinado pelos mistérios da interação humana.

Jorge Elô – Editor e diagramador João Matias – Editor Cearense, autor dos livros de contos Aos Olhos de Outro e O Vermelho das Hóstias Brancas. Editor da Revista Blecaute de Literatura e Artes, também publica no jornal Contraponto de João Pessoa (PB) e revistas diversas.

Paulistano, formado em história, já desenvolveu trabalhos na área de ilustração, pintura, animação, escultura, além de escrever poemas e contos no Paraíba Online. Edita o blog: aventurasdavidacomum.blogspot.com Manela Mayona – Revisora Formada em Letras pela UEPB no ano de 2010, atuou como revisora de textos no Museu de Arte Assis Chateaubriand, de 2011 a junho de 2012. Mestranda no curso de Literatura e Interculturalidade, na UEPB. Menção Honrosa no Prêmio de Literatura da Universidade FUMEC: categoria Conto, em 2011 – Belo Horizonte/MG.

5

.s.

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Editor-Chefe: Bruno Ribeiro Editores: João Matias e André Luís Diagramação e arte: Jorge Elô Revisão: Manela Mayona

Capa da edição: Apollonia Saintclair Colaboradores: Clara Averbuck, Rodolpho de Barros, Carolina Pontes, Matheus Borges, Teodoro Balaven, Viviane KA, Apollonia Saintclair, Emerson Winskow, Lauro Perazzo, Mariana Sales, Gabriela Borges, Anna Apolinário, Flá Perez, Germana Zanettini, Gil Cleber, Suzy Freitas, Luanna Alves e Roberto Denser.

Contato [email protected] sexusrevista.com sexusrevista.tumblr.com @sexusrevista No facebook: Revista Sexus

6

.s.

Ilustrações

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Lauro Perazzo

7

.s.

Ilustrações

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Lauro Perazzo nasceu em João Pessoa e hoje reside em Campina Grande na Paraíba. Estuda Jogos Digitais e trabalha com quadrinhos. Edita a página no Facebook Leite de Baleia (facebook.com/leitedebaleia)

8

.s.

Ilustrações

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Mariana Sales

9

.s.

Ilustrações

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

10

.s.

Ilustrações

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Mariana Sales: Paraibana, estuda letras francês na UFCG, ama desenhar e edita a página Ana e o Mar. (facebook.com/anaeomaar) 11

.s.

Ilustrações

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Emerson Wiskow

12

.s.

Ilustrações

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Emerson Wiskow: cartunista gaúcho. Vive isolado numa pequena cidade do interior do RS. - Rio Grande do Sul. Blogue: Cavalos Não Correm Deitados: cavalosnaocorremdeitados.blogspot.com.br/

13

.s.

Cinema

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Nove Horas Rodolpho de Barros INT. BANHEIRO COLETIVO DA PENITENCIARIA - DIA Um a um os presos pegam sabonete e toalha ao entrar no galpão que se configura como um quadrado preenchido por chuveiros. Discretamente Manga-Rosa, um negro magro de 1,60m, fura a fila para ficar atrás de Macarrão, um amarelo meio introncado. MACARRÃO MACARRÃO Calma aí, negão. Deixa de ser afobado. Quer fuder tudo, porra? MANGA-ROSA Aí Macarrão, só pude ajeitar pras nove horas. MACARRÃO Fala baixo, seu viado. Quer entregar a gente? Macarrão dá as costas à Manga-Rosa. Os presos formam uma fila diante dos chuveiros. Um guarda apita, eles dão um passo e abrem as torneiras. MACARRÃO (com medo de se molhar) Puta que pariu! Que bando de filho da puta! A primeira coisa que vou fazer quando sair daqui vai ser tomar um banho quente. MANGA-ROSA E eu vai ser comprar um shampoo pra cabelos secos porque fi14

.s.

Cinema

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013 car lavando com sabão de côco fudeu a oleosidade do meu. Um guarda circula perto de onde estão. Eles se calam. Um preso ao lado sai para trocar de lugar com o Serra, sujeito branco, magro e baixo. MACARRÃO Puta que pariu! Só me junto com amador. Porque num gritam logo avisando que a gente vai fugir? MANGA-ROSA Que que tu tá fazendo aqui, cacete? SERRA Vim pra tu lavar meu pau! MANGA-ROSA Vai tomar no cú! MACARRÃO Escuta aqui, bando de viado. Se vocês fuderem tudo eu vou fazer tudim sair daqui envelopado dentro de um caixão. SERRA E é o dono do mundo agora, é? Faltou freio, foi? MACARRÃO O negão aqui ajeitou pra gente vazar de nove horas. Alguém tem que avisar ao Bola. Eles olham o Bola, um moreno gordinho, do outro lado do galpão. MACARRÃO Se ele ficar a gente se fode, o fresco nunca disse onde o carro vai parar. 15

.s.

Cinema

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Bola!

SERRA (Gritando)

Todos os dententos e policiais olham pro Serra, inclusive o próprio Bola. SERRA (Gritando) Limpa teu cú direitinho porque amanhã a gente vai comer ele de 9 horas, visse!? Todos riem, até mesmo os guardas, só não Macarrão. MACARRÃO Seu buceta! Tá doido, porra? SERRA (Dando uma tapa na bunda de Macarrão) Quer ficar aqui tomando banho frio,princesa? MANGA-ROSA Humm, chama ele pra tomar banho com você na sua banheira. SERRA Tá com ciúmes, é cachorra? MACARRÃO Ajeitem o relógio igual ao meu. Todo mundo tem que sair exatamente de 9hs. MANGA-ROSA Eu não tenho relógio. MACARRÃO Se fode. Quem não aparecer de nove e quinze na encruzilhada fica. SERRA (à Manga-Rosa) Teu sabonete é de que? 16

.s.

Cinema

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013 Baunilha.

MACARRÃO

Um guarda apita. Um a um desligam o chuveiro e formam uma fila. Cheiroso, né?

SERRA

MANGA-ROSA Só uso ele. O guarda apita novamente para começarem a andar. Nove Horas!

MACARRÃO

Rodolpho de Barros: estudante de Direção Cinematográfica na Universidad del Cine em Buenos Aires. Trabalha com publicidade, fotografia e cinema. 17

.s.

Cinema

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Frame

CALIGULA, 1979, dirigido por Tinto Brass

18

.s.

Conto

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

EU NUNCA FUI ROMEU TRAJANO Matheus Borges

Naquele dia, Francisco conseguiu escrever pela primeira vez em muito tempo uma página inteira sem que a palavra “buceta” aparecesse. Não que Francisco fosse obcecado por essa palavra, seus sinônimos, sua fonética, etimologia ou algo semelhante. Muito pelo contrário. Ao escrever “buceta” – ou “xoxota” –, como já havia escrito tantas vezes nos últimos dois anos, sentia que havia deixado de valorizar a própria ambição em prol do que deveria ser feito para que pudesse receber algum dinheiro, sete dias úteis depois. Sentia-se uma prostituta. E ao vender a “buceta”, mas também não só a “buceta”, como um ou outro “boquete”, o “cu” e muitas vezes o “pau” em si, deixava de investir em outros territórios, como aqueles ainda a serem descobertos no mercado editorial tradicional. Uma “puta da palavra”, oferecendo uma buceta gráfica aos punheteiros que liam aquela revista. Como toda puta, Francisco não assinava com seu nome de batismo, deixava a autoria daqueles contos imorais ao ignóbil Romeu Trajano, escritor imaginário com razoável prestígio entre os consumidores de pornografia do país. Francisco – Romeu – escreveu contos como “Bacanal das Virgens”, “A Aventura de Lucinha”, “A Ninfeta Que Me Queria” e o polêmico “Mamãe, Eu Quero Mamar”. Todos os contos foram publicados na revista mensal Hard Mind Master Sexxx, que, além dos contos, trazia ensaios fotográficos extrema e profundamente uterinos, onde as posições tanto de câmera quanto da modelo convergiam em um único mistério: “como foi que conseguiram fazer isso?”. Se considerarmos a correspondência recebida pela revista como ferramenta crítica, opinativa e analítica, os contos de Francisco – Romeu – poderiam sim ser chamados de sucesso editorial. Algumas das cartas eram bastante sutis: Adorei o último conto do Romeu. Como sempre, um estímulo à imaginação do leitor. Mas havia também aquelas que eram bastante diretas e sintetizavam

19

.s.

Conto

a satisfação do público em um comentário objetivo e claro: Bati três punhetas. Estas “resenhas”, por assim dizer, eram as preferidas de J. Resende, editor. Media a qualidade dos contos pelo número de vezes que esse leitor – sim, era sempre o mesmo – se masturbava. Quando “O Garanhão e a Loirinha” foi publicado, o leitor escreveu: Bati sete punhetas. Empolgado, o editor enviou a Francisco – Romeu – um pedido: que investisse mais em temas como a zoofilia, o incesto, o grupal e fetiches dos mais variados. Iniciou-se uma segunda fase da obra de Romeu Trajano, de onde saíram o já citado “Mamãe, Eu Quero Mamar” e o fracasso “A Nave das Gostosas”, que mereceu um comentário ríspido: Broxei. Enquanto isso, Francisco pensava em abandonar o atual emprego, mesmo que fosse bem remunerado, mesmo que não exigisse grandes esforços físicos ou intelectuais. Naquele dia, Francisco não escreveu “buceta”. Naquele dia, Francisco

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013 não se utilizou do disfarce de Romeu Trajano. Naquele dia, Francisco assinou com o próprio nome aquela que era a primeira página de um possível futuro romance.

Mas essa não é a história de Francisco Morgado, pretenso escritor, nem de J. Resende e de como havia transformado a gráfica herdada do pai em uma editora voltada ao mercado adulto. Muito menos de Políbio, o solitário onanista – outrora secretário de saúde municipal de uma cidade do interior de Santa Catarina – que, isolado de tudo e de todos em seu apartamento na avenida Protásio Alves, era o pollice verso das histórias de Trajano (mesmo que não utilizasse exatamente o polegar). Essa história é unicamente sobre, exclusivamente para e especialmente dedicada... ao próprio Romeu Trajano. O grande personagem de Francisco. O maior romance que jamais conseguirá escrever. Dois anos no papel. Detém o poder da palavra, identidade absoluta e um estilo inconfundível. Romeu Trajano é o que todo homem sempre quis ser. Mas depois se arrepende: “Enquanto acariciava os róseos mamilos de Lúcia, Francisco penetrou com a língua em sua buceta, fazendo a garota silvar. Era ele que tinha chegado, finalmente: o Prazer. E assim continuou, em movimentos circulares e salivares. Seu rosto entre as coxas de Lúcia, que, como qualquer mulher, adora uma boa lambida. Lúcia se agarrava aos lençóis, a voz afunilando num espiral agudo. Foi quando Francisco afastou o rosto de sua toca, que Lúcia pôde ver a satisfação do namorado em chupar sua xoxota. Foi então que Francisco...” ...percebeu que estava narrando suas relações sexuais na terceira pessoa. Da mesma maneira que Trajano narraria. O estilo inconfundível. A sucessão de entra-e-sai, a meteção de pau na boca, tudo era Trajano. Absolutamente tudo. Sentiu-se culpado. E com raiva. Não por estar tão distante na cama com a namorada (que, pra falar a verdade, nem se chamava Lúcia), mas por Trajano. Sentia, simultaneamente, que Trajano invadia seu espaço e que ele próprio estava plagiando seu alter ego. Não parecia fazer sentido. Mas muitas coisas realmente não fazem. O escritório de J. Resende estava localizado em

20

.s.

Conto

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013 um prédio bastante fuleiro e embolorado na subida da General Câmara, também chamada Rua da Ladeira. Nesse escritório, J. gostava de sentar e tomar cafezinho. Dali, recebia ligações de potenciais anunciantes da Hard Mind Master Sexxx: serviços de acompanhantes, casas de massagem, clubes noturnos, sex shops, videolocadoras, casas de swing e saunas. Também era dali que negociava com os ucranianos (a Hard Mind Master Sexxx não produzia seus próprios ensaios fotográficos, mas comprava-os já prontos da empresa ucraniana показати всі моделі – e a preços bem baixos, o que é bastante compreensível, dada a situação econômica do Leste Europeu após a dissolução da URSS). No entanto, J., mesmo entre elaborações de anúncios e videoconferências com os ucranianos (as quais não entendia nada, mas sempre saía feliz porque não iria pagar em euro), sempre deixava um horário vago em sua agenda para o jovem Francisco, a carne de Trajano. Resende era um homem culto. Quis um dia ser escritor, como Francisco. Contentava-se em gerir a revista que construíra a partir da herança do pai. Mas a mente inquieta nunca adormecera. Em não raros momentos, apresentava ideias para Francisco, que as ouvia com paciência. Uma delas, chamada “A Égua de Tróia”, era um épico pornográfico recriando a guerra entre gregos e troianos, onde a égua seria a própria Helena. “Com muito homem dentro dela”, segundo Resende. Francisco entrou no escritório de J. Resende pela última vez. J. estava com o telefone no ombro e um cafezinho na mão (e não vice-versa!), falando qualquer coisa em ucraniano. Desligou.

- Francisco, Francisco, Francisco. Recebeu meu e-mail? Cinco punhetas pro Trajano! Mais três e a gente que bate, hein... Um recorde! Ha! Ha! Ha! Não quero nem saber, a próxima história vai ser sobre uma virgem. Que vai ser oferecida em sacrifício num vulcão... Aí vai lá outra virgem que salva ela... Aí as duas ficam se lambendo, colam velcro, dedo no cu, no grelo, maior sacanagem mesmo! Meu Deus, vão ser oito num dia só.

21

.s.

Conto

- Jota, eu só vim aqui dizer uma coisa. Uma coisa apenas e depois eu vou: Eu não sou mais Romeu Trajano. Eu acho que nunca fui. - Que papo é esse? E o meu negócio aqui? E a nossa amizade? - Eu não consigo mais. Eu tenho ambições. Maiores que o pornô.

- Chico... Tu sabe quantas pessoas te leem todo mês? Só na revista? Chico, acorda! Teus textos estão sendo traduzidos na Ucrânia! Essa gente é depravada, eles te adoram. Só “Apocalipse Anal” teve 5.000 visualizações. E o trocadilho nem funciona no idioma deles. Eu acho. Francisco saiu dali em dúvida. E a dúvida se somava à culpa e à raiva. E, bem, no Grande Livro de Coquetéis Esquizoides, esses são os três ingredientes essenciais para um dos coquetéis mais conhecidos do livro: a Frustração, o drink dos covardes. O Cosmopolitan mental. Francisco voltou toda a sua atenção ao tão sonhado romance que escreveria: passava horas seguidas em frente ao notebook, revisando anotações de três anos num moleskine meio batido. Comia em intervalos irregulares. Se terminava de escrever às seis da manhã, comia às seis da manhã. Dormia. Acordava. Revisava anotações. Esquecia do banho. Comia às quatro da tarde. E assim foi, até completar cinquenta páginas sem escrever “buceta”. Na página cinquenta e um, sua mente branqueou. Ele estava cansado da história de duas irmãs lidando com a morte do marido da mais velha. O mesmo homem que tinha um caso com a mais nova. E a morte desse homem que reaproxima duas mulheres tão distantes, apesar de tão próximas, em suas memórias. Ele não era Tchekhov. Ele não era Strindberg. O romance era frígido. Completamente vazio dos sentimentos intensos a que estava acostumado a escrever. A que Romeu Trajano estava acostumado a escrever.

Meio que por sorte, meio que não, um emprego surgiu e Francisco correu atrás dessa vaga. Fran-

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013 cisco agora se inseria no mercado editorial tradicional, regular, bonitinho e caretão. Escondia o passado: ninguém no novo emprego sabia de sua identidade secreta. O novo trabalho consistia basicamente em escrever sinopses para livros infantis, encher de floreios e redebosteios as histórias que todo mundo já ouviu e vai ouvir de novo algum dia, mesmo que não queira. O trabalho, aparentemente simples, parecia extremamente complicado a Francisco, que, ao tentar escrever a sinopse de “Cachinhos Dourados”, tinha extrema dificuldade em lembrar que a Família Urso era mesmo uma família composta pelos animais de mesma espécie, e não um clube de encontros para gays de meia-idade acima do peso. Quando o Lobo come a Vovó, ele de fato come a velha. Saindo do trabalho, decidiu comprar chicletes na Banca do Carlito. Entrou na banca e, por força do hábito, olhou a seção pornográfica. Lá estava ela: Hard Mind Master Sexxx. A edição do mês. A primeira sem Romeu Trajano. Na capa, Зоряна Бойки, a sensual modelo ucraniana que já estampara a frente da revista em outras seis ocasiões. Francisco se aproximou. Notou que logo acima do título da revista, havia uma curiosa manchete: “Um novo e excitante conto de Romeu Trajano”. Não entendeu. Como poderia haver um novo conto de Romeu Trajano?

Olhava em pânico para a revista sobre o sofá: “Um novo e excitante conto de Romeu Trajano”. Aquilo tudo borbulhava em sua mente. Mas se Romeu Trajano é capaz de escrever sem ele, ele também é capaz de escrever sem Romeu Trajano! É isso! Finalmente livre! Finalmente! Nunca mais Romeu, nunca mais Trajano. Abriu o documento de onde tinha parado: Clarissa sempre fora fraca. E sua fraqueza inspira um esforço descomunal para criar explicações que justifiquem suas próprias falhas. E a minha fraqueza sempre foi aceitar essas fraudes, intencionais ou não. Desde o episódio do barco não nos falávamos e, na manhã da quinta-feira seguinte ao ocorrido, marcamos de nos encontrar em seu apartamento. Como encontrar calma para esquecer o que aconteceu no barco se esta-

22

.s.

Conto

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

mos no apartamento onde, muito provavelmente, ela e meu marido se encontraram cinco anos seguidos pelas minhas costas?

Como? Por incrível que pareça, Francisco ainda não sabia o que aconteceria a seguir. Às vezes isso acontece: a história parece que vai render e, quando a gente se dá conta, não dá nem metade do que a gente imaginou que poderia escrever. Fazer o quê? Postar num blog, mas e daí? E a Silvia? Francisco ponderava sobre sua habilidade de escrita: Será que ainda era realmente capaz? Será que não perdera seu talento? Será que Trajano escrevia melhor do que ele? Tinha inveja dos elogios a Trajano? “Essa é a minha sina. Um cara que não existe escreve melhor do que eu, que existo”. E foi comprovar, folheando a Hard Mind Master Sexxx que havia comprado. E lá estava, o novo e excitante conto de... Romeu Trajano: VULCÃO DA VOLÚPIA

Keloa era a virgenzinha mais gostosa na tribo do Sol. Com quinze aninhos, Keloa tinha lindos peitos, fartos como a Lua. As coxas de Keloa, da cor do bronze, reluziam contra o sol e sustentavam um rabo enorme, uma toca das tentações, onde qualquer viajante se perderia. Keloa, no entanto, tinha um triste destino: ia ser sacrificada naquela noite. Jogada no vulcão, para acalmar os deuses. Pecado seria queimar essa delicinha, não é mesmo? “Não é mesmo?”. Aquele não era Romeu Trajano. Aquele era J. Resende. Não bastasse Resende ter roubado Trajano para si, aquela era a pior história já assinada pelo pseudônimo. Irritado, Francisco enfiou a revista no lixo como se estivesse podre. “Este não é o Romeu Trajano! Este é o Trajano!”.

(...) Como encontrar calma para esquecer o que aconteceu no barco se estamos no apartamento onde, muito provavelmente, ela e meu marido se encontraram cinco anos seguidos pelas minhas costas?

23

.s.

Conto

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Fazendo exatamente o que faziam. Nunca pensei desse jeito, mas foi o que fiz. E de pronto acariciei a xana de minha irmã. Ela gostou. Tirou a calcinha e sentou de frente para mim, de pernas abertas: sua bucetinha estava encharcada. Fiz o mesmo. O tesão tomou conta de mim. Passei minha mão por suas coxas, sua barriga, seus seios tão gostosos e macios e a peguei pelo cabelo. Conduzi sua cabeça até minha gruta, onde ela encontrou o que eu tanto precisava: a cada linguada sua, sentia um tremor da cabeça aos pés. Comecei a beliscar meus próprios mamilos, que já estavam duros há muito tempo. Clarissa continuava a me lamber. Cada vez mais fundo, cada vez mais gostoso. Mas eu também precisava chupar sua buceta. Minha língua ansiava por sentir o sabor de Clarissa. Eu queria sentir o calor das suas coxas, enquanto minha língua espalhasse umidade e prazer. Eu queria oferecer a Clarissa o que Thomas ofereceu. Eu queria que Clarissa me chupasse como chupava Thomas. Naquele momento, Silvia não chupava a buceta de Clarissa. Naquele momento, Clarissa não chupava a buce

ta de Silvia. Naquele momento, as duas ansiavam pelo prazer do sexo de Thomas.

“Bucetas”, pensou Francisco. Sim, bucetas. Como são matreiras as bucetas! Elas podem até fugir de você, mas você não consegue fugir delas. E então Francisco percebeu que todas as histórias do mundo eram frustração sexual. E que Romeu Trajano é demiurgo de um mundo perfeito, onde paus e bucetas reinam soberanos, acima de qualquer coisa. E que os paus penetrem nas bucetas e que as bucetas se esfreguem nas bucetas e que – mesmo a Hard Mind Master Sexxx não sendo direcionada ao público gay – os paus se esfreguem nos paus. Trajano era um Imperador. E não havia outra escolha a não ser aceitar a coroa. E, enquanto lia e relia seu final, Francisco esfregava o pau na mão. E enquanto revisava o texto, adicionava detalhes ainda mais sujos, ainda com o pau na mão. Ao longo da noite, bateu as oito punhetas. Mas guardou segredo. Esse era o tesouro de Trajano.

Matheus Borges entrou em 2010 no Curso de Realização Audiovisual da Unisinos/RS, onde se especializou em roteiro. Desde 2008, mantém o rstrs.wordpress.com, onde publica contos e outros escritos. Em outros círculos, também é conhecido como Nosso Querido Figueiredo. Mora atualmente em Porto Alegre e manda um abraço. 24

.s.

Conto

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013 2013

Metaconto Carolina Pontes

Quando o telefone tocou já podia imaginar que vinha merda, das grandes. O diretor de marketing da empresa em que trabalho é um cretino que pensa saber de tudo. O idiota é filho do dono da empresa, precisa dizer mais? E justo hoje li que o Thor Batista foi escolhido como novo diretor de uma das empresas do papai. A mediocridade não deve ser subestimada, nunca.

O papo era sobre um texto que eu havia escrito para a divulgação de uma campanha solidária (filantropia burguesa, Marx está certo!). Ele sugeriu algumas alterações com as quais, claro, eu não concordava. Meu apuro estético alimentado a muito Glauber Rocha e Paulo Leminski era incompatível com o Shiniashik dele. Discordava de praticamente tudo o que ele me dizia e do outro lado da linha, pude vislumbrar seus perdigotos saltando pelo bocal do telefone. A certa altura, ele me chamou pelo meu nome todo E-L-I-Z-A-B-E-T-E. Perceba que todos me chamam de Bete. Eu mesma me apresento como tal. É mais prático.

co. Rebati com um irônico “sim, senhor”, o bicho ficou louco. Começou a rememorar rancores de há séculos entre nós dois, desceu até o mais baixo nível da ofensa infantil. Só faltou me chamar de boba. Sua boba! Quis tanto...

Minha diversão começou a tomar outro rumo quando ele insinuou que eu não sabia fazer meu trabalho. Ora, eu tenho asco de qualquer empresário que tenha “vencido na vida”, caso de papai, ex-aluno da instituição em questão e que, de alguma maneira escusa – não tenha dúvida – tornou-se diretor e dono da famigerada escola. O caso é tão apavorante que a tal instituição é de ensino a distância. Alguém pode imaginar instituição mais cafona que essa? Tudo ali funciona de maneira provinciana, familiar (alguém pode imaginar instituição mais cafona que essa?), mesquinha e amadora. Fato é que, apesar de odiar aquele lugar, meu trabalho é feito com muito esmero. Esforço-me para elevar o nível da comunicação da empresa e não admito que um serzinho incompetente, nascido em berço esplêndido, dê-me lição de moral. Enquanto ele produzia saliva nos cantos da boca, vociferando que exigia respeito, eu, em um exercício criativo, imaginei como seria colocar em prática um costume comum à época da Revolução Francesa. Eu faria assim: condenaria o playboy à guilhotina. Na cela imunda, exigiria uma campanha de âmbito mundial para a elaboração de um plano de disseminação do leninismo. “E o briefing?”,perguntaria ele. “Pau de cu é rola, filho da puta!”, responderia. No dia da execução, colocaria o corpo, outrora faustoso, em posição degradante - talvez frango assado - e apoiaria o pescoço na armadilha. A lâmina atingiria primeiro o Pomo de Adão, para, ao final, desmembrar a cabeça imaculada pela Aveia Quacker. Imediatamente, eu resgataria o crânio e posicionaria seus olhos em direção ao corpo decepado. Li em algum Dostoiévski que nesse milésimo de segundo em que a cabeça é separada do corpo, o cérebro ainda consegue absorver a

25

.s.

Conto

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

mensagem que lhe é passada. Seu último pensamento, a última transferência de informação entre seus neurônios, seu momento eterno antes da morte, seria a imagem de seu corpo decepado capturada pelos seus próprios globos oculares. Ao sair da sala decorada com foguetes e astronautas de brinquedo, virei as costas, deixando meu desprezível interlocutor falando sozinho. Subi até minha sala, ocupada com meus outros colegas de departamento e, às gargalhadas, escrevi esse conto.

Carolina Pontes: não me lembro da época em que não escrevia. Escrevo desde sempre. Dostoiévski é minha paixão, Cèline meu terror e Bukowski meu amigo. Aos quase 30, moro em São Paulo. Estudei sociologia, mas ganho a vida com publicidade.

26

.s.

Conto

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Progressões de balcão Clara Averbuck No bar:

- Tá esperando alguém? - Não. - Tá sozinha? - Tô. - Aceita companhia? - Tô sozinha porque quero. - Mas e vem pro bar ficar sozinha? - Saí porque queria ficar sozinha. - É casada? - Não. - Mora com alguém? - Com os gatos. - Por que precisou sair pra ficar sozinha, então? - Porque eu quis, moço. Silêncio.

- O que você faz? - Sou escritora. - Ah, é? E escreve o que? - Livros. - De que tipo? - Livros de histórias. - Que tipo de histórias? Contos, romances? - Os dois. - E de onde você tira as suas idéias? - Das ruas. Da vida. Sei lá, as idéias vem. - E o que mais? - Como, o que mais? - O que mais você faz? Você vive de escrever? - Vivo de escrever muitas coisas. - E dá dinheiro? - Não acho essa pergunta muito polida, moço. - Relaxa, baby. - Não me chama de baby. - Entendi agora por que você é sozinha. - Eu sou sozinha porque quero.

27

.s.

Conto

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

- Duvido. Ainda mais tratando as pessoas assim, seca desse jeito. - Estou apenas respondendo as suas perguntas. - Mulher tem que ser simpática. - Mulher, meu querido, tem que ser como quiser. - Assim você não vai conseguir homem. Homem nenhum gosta de mulher com cara de merda. *Suspiro*

- Amigo, você está bem equivocado nessa vida, hein? - Tô apenas tentando ajudar. - Olha só, eu disse que saí pra ficar sozinha e você está aqui tagarelando nos meus ouvidos. Está me ajudando em que, exatamente? - Sei lá, tô tentando melhorar essa sua cara. - Eu estou ótima. - Mas não parece, bebendo, sozinha aí. - Ninguém nunca te ensinou que não se julga um livro pela capa? Eu estou ótima, moço. - Duvido, sozinha no balcão... - Eu estava sozinha, estava sozinha porque queria. Agora você está aqui falando comigo. - Posso te pagar um drink? - Não. - Por que? - Porque eu tenho dinheiro pra pagar meus drinks. - Você é o que, feminista, é? - Sou. - Ih, sabia. Feminista não gosta de homem. - Feminista não gosta de gente que invade espaços e caga regras, moço. Moço, você é chato, será que eu poderia continuar em silêncio curtindo minha cerveja com 10% de álcool sem você estragar o momento?

- Aff, fica à vontade, ô mal comida. - Moço... Sai daqui? - Logo vi que era assim, sentada aqui com essa cara. Também, gorda desse jeito, ninguém deve querer. - Moço, não me obrigue a desperdiçar minha cerveja cara na sua fuça. - Puta. - Tchau, moço.

Clara Averbuck: nasceu em Porto Alegre em 26 de maio de 1979, escreveu para revistas como Showbizz, Trip e TPM. Autora dos livros Máquina de Pinball, Vida de Gato, Nossa Senhora da Pequena Morte, entre outros.

28

.s.

Conto

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Mini-Contos Teodoro Balaven Beijo

, ela, hoje mais do que nunca lembrou do telefone de caio, ela, está próxima da certeza absoluta de estar sozinha, ela, decidiu que fará com as pessoas o mesmo que faz com os produtos, não estando em acordo ou se o atendimento foi ruim simplesmente deixa de ir até o estabelecimento, ela, deixará de ir até as pessoas, ela, estoica, sabe que isto vai custar caro, mas fará poupanças, a casa será térrea e terá barras de apoio por todos os lados, sabe que será assassinada pelo namorado da sua acompanhante, enquanto estiver dormindo, sozinha... Teodoro Balaven – em desacordo ortográfico desde 1976

vinte dentes na buceta de elizabeti O pinguim.

O pin gu im é u ma a ve nã um vo a de i ra de coor pô fu si foor mi e che gaum a te a té rá du fo gu... O pinguim? Tu tá de sacanagem João? Porra! Não fode cumpadi! Que porra é essa? Um livro? Porra; João! Você roubou o livro da criança? Que merda! Pra que João? Não; não sei se pinguim é ave João. Foda-se se essa porra voa ou não João! Puta que o pariu. Já falei que essa mania do caralho vai acabar te fodendo João! Pior que isso! Vai acabar fodendo tudo aqui na boca Filho-da-Puta! Vai molhar de pulíça essa porra aqui! E os dentes João? Sabe quantos dentes tem uma criança? Aqui; tu só pode tá de sacanagem braba João! Não sei porra nenhuma de dente que isso é coisa para dentista. Vai se foder João! Tem vinti. Já espalhou os trabalhador que encontraram a criança no acostamento João? Porra... Pelo menos isto tu fez direito. Jogou no córrego? Isso! E se até sabe quantos dentes tem é porque tirou tudo direitinho? Boa; João! Agora vai com o Piloto no barraco da Elizabeti e enfia tudo esses dente na buceta da cadela; que é pra essa vagabunda para de jogar os objeto das trepada dela por ai. Aproveita e devolve o livro que tu já tá batizado. - Ei. Pinguim. Essa porra de tu fica lendo ainda vai foder contigo. Teodoro Balaven – em desacordo com essa porra de brasil desde 1976 29

.s.

Conto

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013 comemoração

, olá meu amor, flores para você, vinho para nós, flores e vinhos? para que? minha esquecidinha favorita, hoje é dia quinze, dia quinze? sim, dia da nossa trepada mensal, ah sim, desculpe amor solta este cinto e deixa eu chupar este seu pau gregoriano... Teodoro Balaven – brochando em todos os calendários desde 1976

la vie quotidienne , acho melhor a gente não se metê. , e ele tá abrindo a calça, tá?

, e ele tá com a mão na boca dela, tá? , e ele tá puxando a saia dela, tá?

, e ele tá apertando ela no vidro do ônibus, tá? , e ele tá com o pinto duro, tá?

, e ele tá virando ela de lado, tá?

, e ele tá enfiando a mão na boceta dela, tá? , e já chegou nosso ponto, já? , minina,

, acho melhor a gente não se metê.

Teodoro Balaven – sendo estuprado neste país miserável desde 1976 (aprendendo a dar o troco)

30

.s.

Conto

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

robert, um bom velhinho , Robert, um velho de 92 anos, contabilizou nesta noite de sexta-feira seu sétimo estupro. Curiosamente, Robert, estuprava suas vítimas - companheiras das casas de repouso - com uma agulha de crochê. Teodoro Balaven – emprestando agulhas de crochê desde 1976.

Teodoro Balaven: nasceu em São Paulo, em 1976, mas passou a maior parte da vida entre caixas de papelão e caminhões de mudanças, vivendo em 40 e tantas cidades por tudo isso ai de mundo. quando era criança foi só criança. quando adolescente: ficava na rua e se masturbava.agora anda por São Paulo outra vez:mobile débil e sujo.autor do livro nunca publicado de contos ‘bananas podres’ (2012, animado por DimitriKozma e musicado por Estrela Leminski e Natalia Mallo hyoutube.com/watch?v=A-enRVVDhFU). fez oficinas com o mestre Marcelino Freire; com a artista plástica Ana Rabelo e com os astros Nacho Vidal e Rocco Siffredi. mantem o sitio www.asfodelos.com 31

.s.

Poesia

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Anna Apolinário Sinos para Ela

Quando tinha nove anos Eu vi o demônio Ele era grande e verde E ficou embaixo do meu vestido Quando o padre falou: “Abre as pernas, meu amor...”

Pétalas do Sonho

Eu dançarei sobre o teu corpo Até que estejas impregnado de flores ardentes Lírios negros fervilhando Pelas tuas coxas, teu peito, tua boca. Mas vejo que és vinho novo Esperarei na sombra até que amadureças Para então beber-te com deleite. HEDONÊ

Existe algo de obsceno nos olhos dela Algo que se espalha feito doença Pelos contornos do meu corpo Seu apetite pecaminoso Vem me atiçar todas as noites Sua voz é um sussurro melodioso Que perpassa meu desejo Sombra que arde em meu sonho Sua febre me possui e me torna pura Uma pureza de pecado poético que me faz transcender NIILIRISMO Do regaço desse leito, transbordam rosas outonais E a febre da minha carne em delírio Os espelhos da Noite se fundem na sombra da luxúria lunar Tua boca, dália carmesim, me traz o vinho e a oniria do Amor Em teu corpo, eu escrevo minha lira bacante.

Sinfonia Imaginária Ela põe um beijo fálico Nas minhas têmporas de outrora. Traz qualquer coisa de vertigem Na epiderme do descontentamento cardíaco Vejo esse vagido na madrugada : é um demônio verde a levantar meu vestido. Emudeçamos todo desassossego Com amores dadaístas Encharcados de absinto Pairamos sob o mundo inimigo, em metamorfose de gozo e xamanismo. Está escrito no livro primeiro do Uivo que iluminou Buda: minha vênus profética vulvando em teu falo que confabula O inventário do tempo Foi comungar no Cabaré Místico É teu verso? Delira-mo Sem paletó de poeta pixote derrama teu inaudito vinho de menino lírico. Azulei para um verde em dó maior Encontre-me aquém do verbo Os ciganos esconderam a Loucura no porta-seios da Musa O pingente de gelo da Poetisa Incendeia o céu de querubins Sob o dossel do Silêncio vejo-o enfim átomo Infindo unido ao balé de meu delta Os olhos do Sonho solfejam o delírio: uma sinfonia imaginária para o amante metafísico.

ANNA APOLINÁRIO: natural de João Pessoa, Paraíba. Poetisa e pedagoga. Publicou Solfejo de Eros (2010, Poesia, Câmara Brasileira de Jovens Escritores - Rio de Janeiro - RJ). Participou de diversas revistas literárias como Germina, Mallarmargens, Samizdat e Triplov. 32

.s.

Poesia

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Flá Perez Aureolada

Eu tão anjo tenho andado que em mim nasceram asas. O que me perde pro céu é esse meu grande rabo endemoniado e minhas coxas grossas... Ultimato

Vem cá benzinho, para de pensar se tua amada merece. Ou dá ou desce! As deusas não se negam aos seres humanos. Não vai gastar de usar e mil podem aproveitar, antes que caia o pano. Então escuta bem e decide: Ou te dou, Ou me dano.

Vampira Sedenta,provo com a língua e gosto do gosto do teu beijo. Tua desdita,meu desejo. Deixo-te vazio e me afasto, satisfeita. Devoro a alma, mas ponho no pires do meu gato o sangue dos homens que mato. Espiral

Meu passado ora me chicoteia as costas e sangro,lanhada e roxa ora me morde a nuca docemente e me encoxa.

33

.s.

Poesia

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013 Seleção Natural

Colaterais entre pontos cardeais, enquanto ele se banhava em cachoeiras de Laurásia, eu me deitava no mar de Gondwana. Criatura tipo mignon, quase à beira da extinção, deito nesse peito cro-magnon e ouço bater o coração de pedra. Tô lascada! Prelúdio Tua boca descreve apocalipses. A minha devolve espasmos,ipsis literis. Tua boca manda coisas,inconteste. Meus dedos deslizam orgasmo sem teu vértice. Engastados em minhas órbitas, fractais dos teus olhos sábios. Enquanto teus dedos molhados contornam Pequenos e grandes lábios.

Flá Perez: nasceu no Rio de Janeiro em 1968, atualmente mora em Campinas, SP. Publicou os livros “Leoa ou Gazela, Todo Dia é Dia Dela” em 2009 pela Editora Utopia e “Poesia se Escreve com T” em 2011 pela Multifoco. Participou das antologias “Bar do Escritor”, “Bar do Escritor Edição Brand”, “Bar do Escritor Terceira Dose”, “EnlaOtraOrilladel Silencio”(Mexico, 2011), “Diário Falando de Amor” e “Vide-Verso”. Obteve primeiro lugar no XII Prêmio Cidadão de Poesia, Menção Honrosa no concurso Silvestre Mônaco 2008 e no XI Prêmio Cidadão de Poesia. Edita o blog : tudoqpuderbyblabla.blogspot.com

34

.s.

Poesia

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Germana Zanettini FERMENTO

todo pau tem um quê de massa de pão: pegue de jeito que ele cresce na sua mão

AFLUENTE não falarei sobre o que sinto quando tua boca fala o que sente em meu ouvido e tua língua fala a língua da pele do meu umbigo e tuas mãos descortinam o meu vestido e meu corpo se abre porta janela postigo não falarei do perigo do temor do tremor que sinto não falarei sobre nada disso apenas me farei rio e fluirei e fugirei contigo

HAPPY HOUR na cama de casa todo dia a esposa o esperava: estupidamente gelada

35

.s.

Poesia

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

ESSE HOMEM esse homem que me penetra em todos os poros homem-meteoro esse homem pelo qual eu choro esse homem que me come com uma fome ancestral esse homem sem igual esse homem que goza no meu gozo que gosta do meu gosto

esse homem que fala a minha língua que lambe a minha fala que escreve a minha sina

esse homem que me faz tremer ao mínino contato

homem-terremoto homem que eu monto

esse homem que brinca no meu quintal homem-menino que eu quero proteger do mal esse homem que me faz rir do absurdo do mundo me faz sentir cada segundo

esse homem que me banha com seu suor esse homem que entra em erupção homem-vulcão esse homem que me mastiga por entre os dentes me bebe na saliva homem-lascívia

36

.s.

Poesia

esse homem que me leva às alturas me tira do chão homem intergaláctico

esse homem me tem na palma da mão esse homem que me despe de mim das loucuras cotidianas esse homem que me joga na cama e me arranca as roupas esse homem que me deixa rouca de tanto dizer que o amo esse homem que ontem disse “prazer em conhecer-te” é o homem que eu conheço desde sempre

é o meu princípio e o meu fim esse homem que eu já tinha em mim esse homem é a minha perdição esse homem é a minha salvação

Germana Zanettini: Natural de Porto Alegre. É poeta, tradutora e jornalista. Foi uma das vencedoras do Concurso Poemas no Ônibus e no Trem 2012 e finalista do Prêmio Açorianos de Criação Literária 2012, com a obra “Leia Antes de Usar”. Contato: [email protected]

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013 DOMINGO uma certeza a percorreu veloz como as mãos vãs a amarrotar o tecido: havia ainda vida debaixo do seu vestido CLIMÁTICA eu na seca você saara acho que chove hoje saca?

37

.s.

Poesia

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Gil Cleber Amor desesperado

Ó transparente – feito sonho – criança (branca como a luz através da névoa) Cujo sexo morno quero beijar entre espinheiros ao cruzar o vento o canteiro dos jasmins e a ramagem dos ciprestes… Doce menina dos lábios de romã que provar espero ao desabrochar de girassóis nas encostas que os vulcões devastam com sua lava ardente, a qual no entanto corre entre teus dedos… Ó pássaro entre flores, voo entre pétalas,

Imponderável escultura de gelo e ventania que um artista desvairado talhou antes de atirar-se no abismo; Ah, o despenhar de chuva dos teus cabelos quando no meu peito te debruçares chorando Enquanto navios se perdem de suas rotas batidos pelo vendaval E cavalos selvagens desembestam pela pradaria: Do mastro erguido no pátio escuro As manchas na bandeira serão sangue: o sangue da tua virgindade que um ladrão há de roubar em hora de descaminho, em noite de desespero!

38

.s.

Poesia

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Serei eu talvez o ladrão da tua nudez e da tua inocência antes que sobrevenha o granizo e o inverno desponte com suas névoas, suas agulhas de frio e geada. Teu gemido de dor soará como um cântico sagrado que fantasmas acompanharão ao piano na sala de música, Mas teu grito de volúpia terá o dom de fazer com que os mortos abram os olhos embaixo da terra e um cortejo de condenados cruze em fuga o pântano e se dilua no fim da madrugada! Será assombro o que verei em teus olhos ou tão só o rolar de astros errantes na solidão dos céus vazios? Será de júbilo o riso que te fará entreabrir os lábios ou de pavor do inesperado que abalará teu corpo? Que noite terá transcorrido em que todas as horas uma só hora, e cada minutouma rosa vermelha, um escândalo e um entorpecimento?

No amanhecer quando eu enfim correr as cortinas e abrir as janelas o vento será um morcego travesso a agitar as asas pelo quarto e nossas pupilas serão atravessadas pelas flechas do sol. No momento em que nua te aproximares de mim e eu te erguer em meus braços, os que irão me julgar ouvir-me-ão chamar-te minha filha.

Gil Cleber: nasceu em Paty do Alferes – RJ. É pintor surrealista, escritor e poeta, sendo autor de vários livros de poesia e contos, alguns divulgados em seu site (gilcleber.com.br). Possui um romance intitulado “No caminho para Muito Longe”. Dedica-se também, amadoristicamente, à fotografia. 39

.s.

Poesia

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Susy Freitas Teu corpo sorri

um rasgo e por dentro a chama – é a mulher é a mulher que te ama. cavar fundo o abrigo indelével pregado à cama – são os lençóis que te levam ao coma. não há mistério no teu prazer de homem pois teu corpo sorri como criança. exposto e rijo dominas-me sem amarras – tu te despes no baile de máscaras e eu canto em tua honra. um monstro que afaga a presa – é o homem, é o homem que me ama. acoplar-se firme ao halo de onde pende viril tua vingança – a paixão é cruel como a guerra.

Susy Freitas: amazonense de Manaus, formada em Letras e Jornalismo e mestre em Ciências da Comunicação. Seu alter-ego, de mesmo nome, é poeta e artista plástica. Um pouco dessa produção pode ser conferida em susyecfreitas.blogspot.com.br 40

.s.

Música

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Asaf Avidan Gabriella Borges

Confesso que não tinha ideia de quem era Asaf Avidan até me deparar com o clipe Love it or Leva it, um dos melhores clipes que já vi. São vários corpos nus dançando ao som da canção homônima.  Todos os corpos, curiosamente, usam uma máscara com o rosto do cantor. Foi um pouco chocante nos primeiros segundos, mas é tão bonito, tão artístico e feito de forma surpreendentemente fluida que o próprio Youtube, conhecido por ter uma política bem rígida com material que contenha cenas de sexo ou nudez, o liberou. E atenção: não é necessário fazer login para confirmar sua idade e ver o vídeo. Se o Youtube liberou de tal forma, não restam dúvidas de que o clipe é a mais pura expressão da arte.

Voltando ao mesmo, o que vemos é um fluxo natural de movimentos, em uma coreografia “sexy e desengonçada”. Os dançarinos desfrutam de seus corpos, livres de serem identificados pela aparência. O rosto de Asaf, estampado nas máscaras, permite que todos se expressem livremente sem medo de maiores julgamentos; de serem aceitos ou não. Nada mais apropriado, já que a canção fala sobre aceitação do seu self. Ame-o ou deixe-o. A nudez e a dança se completam. Ambas representam essa liberdade.

Em sua página no Facebook, Asaf explica que o clipe apresenta de modo abstrato como é difícil mostrar-se como se é de verdade. No clipe isso foi possível graças à sutileza dos dançarinos que se expuseram totalmente, sem medo e nem vergonha. Despontando como eles são: seres huma-

41

.s.

Música

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

nos com toda a sua beleza e suas imperfeições. A máscara, que exclui suas personalidades, foi um recurso para eles sentirem-se confortáveis. Porém, a mesma máscara que esconde também revela. Em tradução livre, Asaf explica que “fazendo-os usar uma máscara com minha efígie, eles adotam a minha personalidade e, de repente, tornam-se eu. E isso me expõe para o público através deles. Eles se escondem atrás do meu rosto, eu me escondo por trás dos seus corpos.”.

O clipe, então, se define em dois movimentos antagônicos, mas que se entrelaçam em um só: a exibição e o resguardo. A exposição, portanto, é apenas aparente. O que realmente é mostrado é a impossibilidade dessa exposição total. Ninguém realmente se aceita sem “esconder-se” atrás do outro.

Love it or Leave it, como toda boa arte, é inerentemente provocadora por natureza e exibe a nudez de forma franca e em seu estado natural, em vez de retratá-la como clichê sexual que nos tornamos acostumados a ver. E se você ainda tem qualquer dúvida sobre a grandeza musical e artística de Asaf Avidam, saiba que tem um monte de gente dizendo que sua voz é o equivalente masculino da lendária Janis Joplin.

Gabriella Borges: uma goiana estereotipada. A não ser pelo fato de ter crescido em Pernambuco, morar na Paraíba e torcer por um time do Rio Grande do Sul. É redatora publicitária e quando se sente intimamente inspirada escreve para o Obvious Mag. Sempre quis escrever um texto em 3ª pessoa sobre si mesma para parecer uma pessoa importante. 42

.s.

Música

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Sexualmente Musical Na sessão da Sexualmente Musical de hoje, apresentamos três dicas da leitora Luanna Alves. Nas palavras dela: “Falar de sexo e não incluir Portishead, Hoouverphonic, Bitter:Sweet, ou seja, um pouco de batida trip hop é até pecado. Trip hop foi feito justamente para essas ocasiões. Então vamos lá...”

Hooverphonic - 2wicky http://www.youtube.com/watch?v=wobu_4uASfE

43

.s.

Música

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Portishead - Glory Box http://www.youtube.com/watch?v=yF-GvT8Clnk

44

.s.

Música

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Bitter:Sweet - Bittersweet fair http://www.youtube.com/watch?v=k30_3FHb4_c

45

.s.

Artigo

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Uma breve consideração sobre a Censura por Roberto Denser

“Quem publica um manual de química também pode ser acusado se alguém utilizá-lo para envenenar a avó.”  (Umberto Eco) No livro Os 7 Minutos, publicado pela primeira vez em 1969, o escritor Irving Wallace narra a batalha político-judicial travada entre, assim poderíamos dispor, a liberdade de expressão e a defesa da moral e dos bons costumes.

Com o objetivo de promover uma carreira política no senado, o promotor Elmo Ducan, incentivado pelo poderoso industrial Luther Yerkes, move uma ação contra a comercialização do livro Os 7 Minutos acusando-o de, dentre outras coisas, ser uma obra obscena, escrita com o único objetivo de exaltar o ânimo das disposições carnais de seus leitores, pervertidos em potencial, e atacando-o como o principal responsável pelo estupro que posteriormente resultaria na morte de uma jovem estudante. Alcançando, deste modo, grande repercussão na imprensa, o julgamento se transforma num dos mais acirrados debates sobre a censura já registrados na literatura. Mike Barret, advogado escolhido para representar a defesa, não é apenas um profissional bem preparado, mas também um grande leitor e defensor da liberdade de expressão, característica que acaba por tornar sua defesa apaixonada e ideológica.

Num dos momentos mais marcantes do julgamento, Barret interroga a Sra. White, testemunha que representa a mulher americana mediana dos anos 60, e, após tomar ciência de seus hábitos de leitura, se dispõe a ler quatro trechos de traduções recentes de quatro livros populares, todos escritos por autores famosos, para que ela, após ouvi-los, os caracterize como sendo ou não obscenos. Após a leitura dos três primeiros trechos,

a Sra. White, indagada por Barret se se tratam de obras obscenas, responde veementemente que não. Entretanto, após a leitura do quarto trecho, afirma em alto e bom som para todos na corte: “É obsceno. É absolutamente e definitivamente obsceno.”[1]

Barret, oferecendo-a então as fotocópias dos quatro livros recém-lidos, declara:

“Sra. White, o primeiro trecho que li era a passagem mais sugestiva que pude encontrar em Uma Jornada Sentimental Através da França e da Itália, de Sterne. A senhora disse que essa passagem NÃO era obscena. Mas em 1819 o livro foi declarado obsceno pelo Vaticano e banido em todo o mundo. O segundo trecho foi um dos mais controvertidos de Madame Bovary, de Flaubert. A senhora disse que essa passagem NÃO era obscena. Mas em 1856, quando o livro de Flaubert foi publicado na França, foi levado ao tribunal, acusado de obscenidade, e ainda em 1954 ele estava na lista negra de certos grupos puritanos nos Estados Unidos. O terceiro é um dos mais sugestivos de Dreiser, Sister Carrie. A senhora disse que essa passagem NÃO era obscena. Mas em 1900, quando o livro foi publicado, foi banido em Boston, e para evitar outras acusações de obscenidade, foi retirado de circulação e suprimido. Quanto ao quarto e último livro que eu citei, o 46

.s.

Artigo

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013 determinado autor escreve uma obra narrada em primeira pessoa, sendo que este narrador-personagem é um antissemita obcecado pela eliminação dos judeus da face da terra e, vez por outra, está fazendo declarações, mesmo que indiretas, do tipo: “Os judeus querem dominar o mundo”, “Eles merecem ser extirpados da face da terra” etc. Imaginem ainda a mesma situação, sendo que desta vez o personagem-narrador é um pedófilo louco por garotinhas pré-adolescentes e vive a fazer declarações sobre o quanto ele adora vê-las, suas “pequenas ninfetas”, brincando de amarelinha no parque, com suas “saias curtas e coloridas”, ou mesmo o quanto adora a “esbeltez de um membro pubescente”. Vamos mais além, vamos imaginar que determinado autor escreva, dessa vez em terceira pessoa, sobre um velho solteirão que se masturba para uma garota de “qualquer coisa entre 6 e 9 anos” após, vendo-a brincar com seu coleguinha, vislumbrar sua “calcinha com uma porção de babadinhos na barra” e se sentir excitado pela garota como nunca antes se sentira “por nenhuma mulher adulta”, que, após se masturbar, vai até ela e, encurralando-a, “começa a beijá-la”, “apalpar com as mãos a calcinha de babados” e depois a estupra com “um pau que deve ter a metade do tamanho do corpo dela” . Todas essas situações são referentes às obras O Cemitério de Praga (Umberto Eco),

único trecho que a senhora disse que ERA obsceno, absolutamente obsceno, esse trecho foi retirado de uma tradução moderna do Antigo Testamento da Bíblia Sagrada!”[2] [grifo meu].

Após surpreender a todos com sua declaração, Barret fala sobre os perigos de trechos de obras citados fora de contexto, e diz ainda que: “...qualquer coisa pode ser considerada obscena se partes dela forem lidas fora de contexto.”[3]

Ora, para deixar ainda mais claro o quanto isso é verdade, basta imaginarmos a seguinte situação:

Lolita (Vladimir Nabokov) e o conto O Diabo em forma de Gente, disponível no volume I da antologia Ereções, Ejaculações e Exibicionismos, de Charles Bukowski, publicados no Brasil pelas Record, Companhia das Letras (dentre outras) e L&PM, respectivamente. Alguma dúvida de que trechos desses livros, caso citados fora de contexto, possam não apenas causar uma opinião equivocada sobre as obras, mas também sobre os autores? Os exemplos acima citados são exemplos aleatórios que pesquei ao acaso aqui em minha estante, onde certamente conseguiria mais mate47

.s.

Artigo

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Lolita (Vladimir Nabokov) e o conto O Diabo em forma de Gente, disponível no volume I da antologia Ereções, Ejaculações e Exibicionismos, de Charles Bukowski, publicados no Brasil pelas Record, Companhia das Letras (dentre outras) e L&PM, respectivamente. Alguma dúvida de que trechos desses livros, caso citados fora de contexto, possam não apenas causar uma opinião equivocada sobre as obras, mas também sobre os autores?

Os exemplos acima citados são exemplos aleatórios que pesquei ao acaso aqui em minha estante, onde certamente conseguiria mais material “censurável” por ofender, de algum modo, à “moral e os bons costumes”, ou por serem “politicamente incorretos”. Se me detenho a pensar mais um pouco, vem à memória os subcapítulos extremamente misóginos do quarto livro de 2666, do Bolaño, o Oscar “Butch” Bowers, pai de Henry Bowers no livro A Coisa, de Stephen King, personagem que vive fazendo declarações extremamente preconceituosas contra os negros (“Todos os negros são burros”, “Maldosos” etc.), além, é claro, dos que me chegam por terem sido alvo de alguma polêmica recente, a saber, O Caso dos dez negrinhos, de Agatha Christie, que teve seu título alterado para o politicamente correto E Não Sobrou Nenhum..., Caçadas de Pedrinho, do Lobato, que quase foi retirado das escolas — e só não o foi, creio, simplesmente por se tratar de um titã da literatura nacional —, e os dois mais recentes e que mais me surpreenderam: a censura ao verbete Cigano, no Dicionário Houaiss, que, mesmo advertindo sobre o uso pejorativo da palavra, não escapou aos olhos dos bastiões da moral e dos bons costumes, e ao, pasmem, A Divina Comédia, de Dante Alighieri, por supostamente incentivar o preconceito religioso ao mostrar líderes judeus e mulçumanos no inferno — o mesmo inferno que, segundo me consta, está cheio de boas intenções. A Caça às Bruxas das Artes não é, bem sabemos, um fenômeno recente. Muitos foram os artistas e intelectuais que tiveram suas obras censuradas por motivos políticos, morais ou religiosos[4] no decorrer da história. Da condenação de Sócrates,

passando pela censura aos pornógrafos, filósofos e enciclopedistas da França pré-revolucionária — acontecimento que levou não apenas ao contrabando de livros como também influenciou a Revolução Francesa[5] — ao estado totalitarista, teocrático, ou mesmo democrático de direito, dos chamados tempos pós-modernos, muitas foram as injustiças cometidas em nome da moral e dos bons costumes, mesmo sabendo que esses conceitos mudam no tempo e no espaço, e que algumas obras outrora consideradas impublicáveis hoje são exaltadas não apenas pela crítica, como também pelo leitor comum. Para citar alguns exemplos, e nos limitando apenas ao campo da Literatura, podemos falar de Miller, Joyce, o anteriormente citado Nabokov, Flaubert, Sade, Paulo Coelho, Salman Rushdie, Burroughs, Pynchon, Lawrence, Ginsberg, J.K. Rowling, Voltaire, Huxley, Kafka, Steinbeck, Stephenie Meyer etc. etc. etc... a lista, como podem ver, é gigantesca, e não se limita apenas a determinado gênero literário.

A censura existe, via de regra, como uma ação de repressão por parte do Estado, apesar de, obvia48

.s.

Artigo

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

mente, existir também a censura prévia, como no controverso caso do filme sérvio, ocorrido no Brasil no ano passado[6], nada menos que o primeiro caso de censura cinematográfica no país desde a promulgação da Constituição de 1988. Infelizmente, o que tem ocorrido nos últimos anos é o surgimento de uma nova forma de censura, a “censura revisionista”, direcionada aos grandes clássicos que, durante tanto tempo, nada mais foram que isso: grandes clássicos, um dos ingredientes formadores do espírito não apenas de algumas pessoas, mas de gerações inteiras. Existem problemas na sociedade? Sim, existem. São as obras de arte culpadas por eles? Claro que não. A censura dessas obras é a solução? Tampouco. O cerceamento à liberdade de expressão artística, ouso dizer, nunca foi solução para nada. E a arte — e eis aqui a única afirmação passional deste artigo — não deve estar presa às rédeas do politicamente correto, ela deve estar tão somente onde sempre esteve: muito além do bem e do mal.

NOTAS

[1] WALLACE, Irving. Os 7 Minutos. Tradução de Alves Calado. Rio de Janeiro: BestBolso, 2008, p. 565. [2] Ibid., p. 566. [3] Ibid., p. 567. [4] Apesar de concordar com a distinção comumente aceita, costumo incluir a censura moral e religiosa como subitens da censura política. (N.A.) [5] DARNTON, Robert. Os best-sellers proibidos da França pré-revolucionária. Tradução de Hildegard Feist. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. [6] Em ação ajuizada pelo DEM no ano passado (2011), a juíza Katerine Jatahy Nygaard, da 1ª Vara da Infância, da Juventude e do Idoso, do estado do Rio de Janeiro concedeu liminar proibindo, de forma prévia, a exibição do longa “A Serbian Film - Terror sem Limites” baseada no art. 221 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que veda a filmagem, reprodução, divulgação por qualquer meio de cenas de sexo explícito ou pornográfico envolvendo crianças ou adolescentes. Vale salientar, porém, que tal censura foi feita com base na sinopse do filme, e que o mesmo não exibe, em nenhum momento, “cenas de sexo explícito envolvendo crianças ou adolescentes”, mas com, na mais sórdida das cenas, um boneco mecânico e articulado que simula um recém-nascido. Na opinião deste autor, o filme é uma porcaria, e foi realizado com a única intenção de chocar de forma gratuita. Apesar disso, sou radicalmente contra a censura do mesmo.

Roberto Denser: nasceu em 1985, em Bayeux, na Paraíba. Ex-estudante de Letras e acadêmico de Direito, ajudou a fundar o CAIXA BAIXA, grupo que movimentou os círculos literários paraibanos entre os anos 2011 e 2012 e, posteriormente, se desfez. Publicou alguns contos em jornais, revistas e antologias, e atualmente trabalha em seu primeiro romance. 49

.s.

Crtítica de livro

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Não existe ninguém que escreva cenas de sexo no chão tão bem como Henry Miller. Viviane Ka

Em 1934, quando Henry Miller terminava de escrever Trópico de Câncer nascia Diane di Prima, a escritora que ousou descrever putarias com olhar feminino num mundo dominado pela testosterona beat . Seu livro Memórias de uma beatnik termina em uma orgia no chão com Allen Ginsberg, amigos e Jack Kerouac. Segundo ela, Jack a puxou para uma foda privé pois era hetero e gostava mesmo é de buceta. Há controvérsias. Gore Vidal, grande escritor e autor de livros como a Cidade e o Pilar (que rendeu grande escândalo por ser um dos primeiros romances americanos a retratar a homossexualidade), descreveu a carinha lânguida de Jack olhando para trás enquanto era enrabado por ele.

Mas voltando às cenas de sexo, que é o que interessa, Henry Miller tenta acalmar a ira de sua ciumenta mulher Maude com uma trepada no chão do banheiro que rende cinco páginas no livro Sexus, sem precisar recorrer a expressões patéticas como “botão rosa” e “suco sagrado”. Mesmo que ele compare os lábios vaginais a pétalas aveludadas e chame o útero de palaciano, a descrição do encontro sexual desses dois seres ficcionais começa com uma inocente, mas sórdida limpeza da buceta da moça e vai adquirindo um ar cada vez mais sacana e real. É uma habilidade de poucos. Diane também tem suas páginas de transa no chão, uma cena de sexo anal com o rosto voltado para as tábuas sujas, que seria bem erótico se ela não tentasse poetizar tudo com odes “à luzes de êxtase” e coisas assim. Henry também fala de caminhar em lagos com estrelas, mas Henry é um escritor profundo e de fôlego infinito. Os dois têm algo em comum em sua liberdade e na revolta contra a hipocrisia americana. Mas se é possível a uma mulher ter ejaculação precoce, Diane tem. Frases curtinhas como pequenos ge-

midinhos, arfadas, pensamentos rápidos. Não é fácil descrever sexo. O mérito de Diane é assumir as rédeas de uma sexualidade que parecia ser apenas coadjuvante na visão de seus colegas escritores. A obra de Diane tem um cunho mais esotérico sem o cinismo e o chute no saco dos escritos de Henry. Há particularidades do universo feminino, como a descrição da chupada cavalheira que Jack Kerouac lhe oferece, mesmo ela estando menstruada. Henry gostaria disso. Para ele, o que importa é a vida, e nada melhor do que uma boa cena de sexo para validar a existência humana nesse universo. Afinal, como ele mesmo afirma em Trópico de Capricórnio, o que mantém o mundo unido é a relação sexual, a superbuceta, onde o orvalho sempre brilha e onde mora o pai da fornicação. É também neste livro que está outra descrição de sexo no chão. Hen50

.s.

Crtítica de livro

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

ry come a irmã do melhor amigo no vestíbulo do apartamento dele, imaginando o cara dormindo ao lado e ficando com mais tesão por isso. Os beats pagavam um pau para Henry Miller. Diz a lenda que Jack Kerouac e alguns amigos foram para Big Sur, onde o escritor morava, mas deram com a cara na porta. Muito provavelmente Henry estava jogando ping pong pelado com sua nova esposa japonesa e não queria ser incomodado.

Finalmente, em 1961,depois de anos de censura, Trópico de Câncer é publicado pela primeira vez nos EUA enquanto no mesmo ano, Diane di Prima é detida por causa de dois poemas seus, considerados obscenos. A vida não é fácil para os libertinos. Desde Flaubert, Sade e Wilde que a moral tenta calar os que manifestam o poder transformador da sexualidade.

Viviane Ka: paulistana, produtora editorial e autora dos livros 10 mandamentos para a felicidade sexual da mulher (editora Jaboticaba) e Triunfo dos Pelos (editora GLS). Editora da Touch Editorial, especializada em conteúdo para tablets. 51

.s.

Entrevista

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Entrevista com APOLLONIA SAINTCLAIR

REVISTA SEXUS: Você almeja alcançar algo com sua arte além da autoexpressão? APOLLONIA SAINTCLAIR: Meus desenhos são produto de meus desejos. Eu comecei a desenhar para meu próprio prazer egoísta. Desde que comecei a publicar em meu blog, o prazer pôde ser compartilhado. Não tenho nenhum objetivo especial e basicamente não quero alcançar algo. Eu percebo, entretanto, que meus desenhos falam a outras pessoas, que talvez eles tenham uma influência em suas vidas, então talvez meus desenhos tenham, além da alegria que me trazem, um objetivo que eu ainda não compreendo, mas que preciso levar a sério.

RS:A expressão “Ink is my blood” (“A tinta é meu sangue”, em português) é utilizada mais de uma vez em seu blog; ela parece ter algum sentido especial para você. Você pode explicá-la? AS:Escolhi essa frase como meu lema porque ela expressa exatamente o que sou: sem desenhar, não existo de verdade. Sem a tinta, sou na melhor das hipóteses uma possibilidade, na pior delas, uma fantasia. A tinta é o fluido vital que me move.

52

.s.

Entrevista

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

53

.s.

Entrevista

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

RS: Por que você escolheu o nanquim como meio de trabalho? Você gosta ou utiliza outros materiais? Qual sua opinião sobre eles? AS: Eu sou o produto de minha tinta e não consigo pensar em utilizar outro material por enquanto. Para ser honesta, eu uso mais tinta digital porque trabalho principalmente em um tablet... Eu adoro trabalhar com tinta preto-e-branco porque o nível de abstração é automaticamente alto. Aprender a desenhar é aprender a ver de uma forma abstrata, aprender como reduzir o real através de lentes cada vez mais pessoais. A tinta me obriga a seguir seu caminho: na verdade, a cada desenho, eu luto pela simplificação; ainda assim, estou muito longe da simplicidade a que almejo.

54

.s.

Entrevista

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

55

.s.

Entrevista

RS: Seu trabalho parece ser influenciado pelos quadrinhos. Você planeja utilizar esse meio artístico? AS: Adoro quadrinhos, pois desde seus primórdios, eles foram desprezados como arte menor, popular. Milo Manara uma vez disse que suas pin-ups penduradas em armários ou em caminhões foram o que o permitiram se aproximar das pessoas. Grandes mestres mostram que os quadrinhos são uma forma de arte. Eu não tenho motivos para trocar de meio artístico; na verdade, eu estou apenas no início de minhas explorações e ainda não fiz nenhum trabalho sequencial.

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013 RS: Qual foi seu primeiro contato com a arte erótica, como público e como criadora? AS: Primeiramente, o mármore antigo e barrocoLaocoonte, o Rapto de Prosérpina. Depois, através da literatura: Sade, Apollinaire, Henry Miller e Anais Nin. Em seguida, através de quadrinhos baratos, aqueles que você compra freneticamente escondido, com o coração acelerado do medo de ser descoberto... E finalmente, os grandes mestres, encontrados na penúltima prateleira da biblioteca: Crepax, Manara, Moebius e assim por diante.

RS:Seu trabalho tem as mulheres em posição de destaque; mesmo quando há outros personagens, eles parecem secundários, como se fossem apenas acessórios para o desejo feminino. Para mim, o tema geral em seu trabalho parece ser uma exploração da sexualidade feminina. É por isso que você enfatiza as mulheres em suas obras? De onde vem sua inspiração? AS: A mulher é onipresente na história da arte, mas está frequentemente confinada à dualidade santa/puta. O fato de uma mulher poder desejar – ou até que ela tem uma alma – tem sido cuidadosamente ignorado. Sem depreciar o desejo masculino, eu acho que as fantasias femininas são eminentemente complexas e, portanto interessantes de representar. Explorar a sexualidade é, em última instância, uma jornada solitária, pois é o cérebro a maior zona erógena. Durante a evolução, a mulher desenvolveu estratégias muito sofisticadas para alcançar seus objetivos e isso torna rico e extenso o arquipélago de seu desejo.

56

.s.

Entrevista

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

57

.s.

Entrevista

RS: Como você acha que o trabalho erótico é recebido pelo público em geral? Como você vê seu trabalho nesse contexto? AS: O sexo está na cabeça de todo mundo. O mundo é dividido em duas categorias: aqueles que têm uma relação saudável, profunda, alegre, variada ou relaxada com a sexualidade e aqueles que têm uma relação patológica com ela. Ambas as categorias são interessantes e claro que sua recepção da arte erótica é muito diferente. Pessoalmente, acho a trivialização tão insuportável quanto o puritanismo; o fato de meus desenhos servirem de inspiração para meus seguidores é um grande elogio. Todos nós precisamos de arte como um espelho para contemplar nossos próprios desejos de forma segura. Na verdade, ironicamente o desenho mais frequentemente compartilhado é uma cena de pura paixão.

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013 RS: Você é uma artista em tempo integral? Deseja ser? Quais são seus planos para sua carreira? Algum dia pretende publicar suas obras em livros ou expô-las? AS: Eu sou uma mulher renascentista, então não faço nada em tempo integral... e a noção de carreira é indiferente para mim. Por enquanto, continuarei a desenhar tanto quanto desejar; caso surja algum projeto sério de exibições ou publicações, verei o que fazer a respeito.

58

.s.

Entrevista

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

59

.s.

Entrevista

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

Tradução da entrevista por André Luís Para ler a entrevista em inglês, acesse nosso site: sexusrevista.com to read the interview in english, enter in our site: sexusrevista.com

60

.s.

Como publicar

Ano 1 - n° 3 - agosto de 2013

. E . S

S . U . X

Como Publicar na SEXUS Quem tiver interesse em divulgar suas produções na SEXUS devem enviá-las para o e-mail: [email protected] Os arquivos textuais devem ser compatíveis com o editor de texto Microsoft Office Word. Aceitamos contos, poemas, ensaios, críticas de filmes e livros, reportagens e artigos. (sugerimos no máximo 7 páginas por trabalho).

Para as ilustrações e fotografias, envie uma amostra do trabalho para o nosso e-mail (no mínimo duas fotografias ou ilustrações). Lembrando que todos os trabalhos devem seguir a linha erótica, sem exceções.

Observação: Para os colaboradores que forem aceitos na publicação, nós sempre pedimos uma foto e uma minibiografia do artista, com no máximo quatro linhas. A revista é trimestral.

61

facebook.com/sexusrevista sexusrevista.tumblr.com twitter.com/sexusrevista

site: sexusrevista.com E-mail: [email protected] 62

More Documents from "Carlos Neves"