A Mãe Invisível - Revista Psiqué

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DESCUBRA

OS SEGREDOS DOS

CÓDIGOS E SÍMBOLOS DE TODOS OS TEMPOS.



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editorial Gláucia Viola, editora

mãe é vivenciar contrações e contradições Ser

A

123RF

maternidade é, sem dúvida, a construção de um novo papel na vida da mulher. Acredito que mesmo já tendo passado por esse momento mais de uma vez, cada gravidez tem a sua particularidade de sentimentos e emoções. O fato é que a idealização da maternidade faz parte da nossa cultura. Ela já começa antes da gestação, com um movimento punitivo e de muito julgamento às mulheres que defendem o seu direito de NÎOQUERERSERMÎE¡DIFÓCILASOCIEDADEENTENDERODESEJODENÎOTERlLHOS/CONCEITODESERCOMPLETOPOR meio da maternidade manifesta-se ainda durante a infância através das brincadeiras de boneca. /MITODEQUEESSEÏOPERÓODOMAISLINDODAVIDADEUMAMULHERPERMANECE PELOMENOSATÏOlNALDA INFÊNCIAEAENTRADADAADOLESCÐNCIADOlLHO.OSPRIMEIROSANOS TUDOÏUMANOVADESCOBERTAOANDAR  OFALAR OCOME¥ODAESCRITA ENTREOUTROSENCANTAMENTOS/FOCOÏSEMPREACRIAN¥A-ASONDElCAAMÎE nesse processo? Seus medos, suas inseguranças, suas dúvidas? Permanece tudo praticamente invisível, diluído em meio aos cuidados do bebê e na luta emocional de conciliar maternidade, carreira, vida afetiva e individualidade. Sim, porque a perda da identidade da mulher diante da vivência materna é um fenômeno aceito socialmente. Frente a esse cenário, esta edição da Psique Ciência & Vida, convidou a psicóloga perinatal Raquel Jandozza para debater esse paradoxo que envolve intensa felicidade EMSERMÎEEOSCONmITOSGERADOSPELAhINVISIBILIDADEvDAPRØPRIAIDENTIDADEAPARTIRDAÓ h!O ENGRAVIDAR  A MULHER SE VÐ DIANTE DE MUDAN¥AS FÓSICAS E BIOLØGICAS COMUNS  contudo, ao mesmo tempo, passa a ocupar um papel social investido de uma série de VALORESECONCEP¥ÜESQUEAENGESSAMEMUMhMODELOvNOQUALSØLHERESTASEADEQUARv EXPLICA2AQUELNOARTIGODAPÉGINA Essa adequação, porém, é custosa em muitos sentidos e possui questões muito subjetivas da mulher. É por essa razão que a maternidade passou a ser estudada e comPREENDIDAPORDIFERENTESCAMPOSDOSABER INCLUSIVEPELA0SICOLOGIA.ESSESENTIDO O texto apresenta também a discussão sobre o modelo obstétrico tradicional e a implementação de alternativas como o Parto Humanizado. Para a psicóloga, esse procedimento oferece à mulher a possibilidade de retomar seu lugar de protagonista ativa tanto na sua gravidez, no parto diferenciado e, consequentemente, no exercício materno. Que esse artigo contribua para que as contrações e as contradições da maternidade sejam vividas em equilíbrio aos outros aspectos também importantes da vida. Boa leitura! Gláucia Viola WWWFACEBOOKCOM0ORTAL%SPACODO3ABER

3ERMÎENÎOÏUMAPROlSSÎO NÎOÏNEMMESMOUMDEVERÏAPENASUM DIREITOENTRETANTOSOUTROS Oriana Fallaci

sumário CAPA

56

Combate à invisibilidade

IMAGEM DA CAPA

: SHUT TERSTOCK

/MERGULHONOUNIVERSO MATERNODAGRAVIDEZ e na criação de um lLHOFAZCOMQUEA mãe vivencie a perda da identidade de mulher 07/03/2017

13:17:59

08

MATÉRIAS Afetividade rompida !DIFÓCILACEITA¥ÎODOlMDARELA¥ÎO ESBARRAEMCONmITOSPSICOLØGICOS COMOOAMORPRØPRIOEORESGATE de quem somos como indivíduos

ENTREVISTA

Dislexia em pauta

70

Para Cristiana Facchinetti, a Psicanálise precisa descobrir novos caminhos para enfrentar alterações profundas nas subjetividades humanas

24

Não se trata de um problema comportamental ou educacional, AINDAQUEESSESPOSSAMDIlCULTARA IDENTIlCA¥ÎOEMELHORA

SEÇÕES

66 CINEMA 80 EM CONTATO 82 PSIQUIATRIA FORENSE

Equívocos sobre a Dislexia ainda a relacionam às questões de hereditariedade e à possível maior incidência em meninos doss



O universo da

COGNIÇÃO e o ato de aprender

Pesquisadores como Jean Piaget a dedicaram sua obr r para compreende do e explicar o mun da criança e o seu desenvolvimento emocional, além es do tanto que ess fatores influenciam de no processo aprendizado iaevida.com.br

www.portalcienc

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74

Dossiê: NOVOS MECANISMOS DE APRENDIZAGEM Habilidades socioemocionais SÎOFERRAMENTASDEAPRENDIZADO EDEVEMSERALVOESTRATÏGICODA atenção de educadores e familiares

SHUTTERSTOCK

52 CIBERPSICOLOGIA 54 SEXUALIDADE 64 DIVÃ LITERÁRIO

Diagnósticos incerto

ologia Educação e Psic

06 EM CAMPO 16 IN FOCO 18 PSICOPOSITIVA 20 PSICOPEDAGOGIA 22 UTILIDADE PÚBLICA 30 PERFIL 32 COACHING 34 LIVROS 48 NEUROCIÊNCIA 50 RECURSOS HUMANOS

vida

psique ciência&

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23/02/2017 12:50:32

giro escala

CONSCIÊNCIA FEMININA REV ISTA FILOSOFIA – EDIÇÃO 124 Em artigo da edição 124 da revista Filosofia Ciência&Vida, Isaque Trevisam Braga, mestre em Filosof ia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e especialista em Filosof ia Clínica pelo Instituto Interseção de São Paulo, destaca como a Filosof ia tem o objetivo de liberar o homem daquilo que é denominado imprevisível, além de indicar os limites de qualquer classif icação, acabando por oferecer ao homem a liberdade que, em uma situação de ordenamento total, coincide com a indicação do espaço do possível. Para ele, em consonância com ESSE PAPEL ATRIBUÓDO Ì &ILOSOlA  A &ILOSOlA 0RÉTICA COMO ACONSELHAMENTO lLOSØlCO SURGE COMO UMA

atividade bastante conhecida na %UROPA E NO MUNDO  NA QUAL O llósofo, com seu olhar através da &ILOSOlA  PROPORCIONA A ASCENSÎO às dimensões de mundo e do eu, introduzindo a procura por um discernimento daquilo que se subtrai, daquilo que não é, mas poderia ser, lembrando seu papel fundamental de orientar o outro com a investiGA¥ÎO DO lLOSOFAR COMO UMA CHAma que acende improvisadamente na alma. Não perca esse ótimo conteúdo presente na edição 124 da revista &ILOSOlA, além de artigos sobre política, ética, sociedade, comportamento e economia, todos elaborados por especialistas e desenvolvidos com base em uma AMPLAVISÎOlLOSØlCAEACADÐMICA

Em Sala de Aula: Discuta o trabalhismo e seus desdobramentos atuais

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O VERDADEIRO DESENVOLVIMENTO Os aspectos que o influenciam e como o Estado pode promovê-lo, na teoria e na prática

Mundo na era Trump Ações do novo presidente dos EUA podem TFDPOmHVSBS enormes paradoxos, BTVSQSFFOEFS os reacionários FBFTRVFSEB Quem é o novo intelectual? Pensadores precisam rever TFVQBQFM frente aos novos cenários sociopolíticos Política na modernidade 3FHSBT  JOTUJUVJªFTF atores políticos DPOTBHSBEPT não mais respondem isoladamente às demandas na BUVBMJEBEF

O LEGADO NADA LÍQUIDO DE BAUMAN, POR DENNIS DE OLIVEIRA , DA ECA

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TON MARAR

RENATO JANINE RIBEIRO

A sinergia entre as várias disciplinas do saber para a exposição da matemática

A dura realidade da supressão do ensino das matérias humanas

ANO X No 124 – www.portalespacodosaber.com.br

BELEZA PURA? Em meio aos padrões, como pensar sobre questões de autenticidade

EQUILÍBRIO

CONSTANTE

A filosofia prática como um importante exercício terapêutico na contemporaneidade

ÓDIO A PRIMEIRA VISTA A correspondência entre afeto e razão na construção da tolerância

(',d­235(d25

REFLEXÃO E PRÁTICA: Ética e julgamento sobre o prisma da escolha

O LEGADO DE BAUMAN REVISTA SOCIOLOGIA – EDIÇÃO 68 No início do mês de janeiro, o mundo perdeu um de seus principais intelectuais do século XX e XXI. Aos 91 anos, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman morreu em Leeds, na Inglaterra, cidade onde vivia desde a década de 1970. Bauman deixou uma extensa e relevante obra, sendo mundialmente reconhecido pelo conceito de modernidade líquida. A importância e a peculiaridade de seus pensamentos despertaram, no início dos anos 2000, o interesse de Dennis de Oliveira, professor associado da Universidade de São Paulo, jornalista e doutor em Ciências da Comunicação. Para Dennis de Oliveira, Bauman discutia estruturas sociais,

analisando os impactos nas relações entre as pessoas como consequências dos ordenamentos sociais contemporâneos. O professor acompanhou toda a trajetóRIA LITERÉRIA DO SOCIØLOGO POLONÐS e tem ideias consolidadas a respeito do legado deixado por ele. Destaca que a teoria crítica e o marxismo apresentam referências importantes para se compreender O MUNDO ATUAL  AO CONTRÉRIO DE muitos que acham que essas teorias morreram. Em entrevista ao número 68 da revista Sociologia, /LIVEIRA ABORDA VÉRIAS QUESTÜES que diziam respeito ao universo e às ideias de Zygmunt Bauman e fala sobre o legado deixado por sua extensa e rica obra.

psique ciência&vida

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em campo

por Jussara Goyano EDUCAÇÃO EMOCIONAL

FORMA X CONTEÚDO ANATOMIA DO CÉREBRO ESTÁ ASSOCIADA A PERSONALIDADE E DOENÇAS PSIQUIÁTRICAS, DIZ ESTUDO #ADAVEZMAISACHADOSDEMONSTRAMCOMOAANATOMIAEAlSIOLOGIADOCÏREBRO determinam nossos comportamentos. Altos níveis de neuroticismo, que predispõem as pessoas a distúrbios neuro-psiquiátricos, por exemplo, foram associados com o aumento da espessura e à área reduzida em algumas regiões do córtex, como pré-frontal e temporal. Por outro lado, uma personalidade mais aberta, ligada à curiosidade, à criatividade e ao gosto por novidade, foi associada com o padrão oposto: reduzida espessura e um aumento na área do córtex pré-frontal. Um estudo a respeito, CONDUZIDOPELA5NIVERSIDADEDO%STADODA&LØRIDA FOIPUBLICADONAREVISTACIENTÓlCA Social Cognitive and Affective Neuroscience. A pesquisa baseou-se em neuroimagens de mais de 500 indivíduos, disponíveis através do Human Connectome Project, uma iniciativa dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA para mapear vias neurais de funcionamento do cérebro humano. O arquivo do projeto contém imagens de indivíduos saudáveis entre 22 e 36 anos de idade, sem histórico de graves problemas médicos neuro-psiquiátricos ou outros. Os pesquisadores explicam que a relação entre a estrutura do cérebro e traços de personalidade em pessoas jovens e saudáveis pode mudar à medida que as pessoas envelhecem, como indicado em estudos anteriores conduzidos pela mesma equipe, incluindo a colaboração de especialistas da Universidade de Cambridge.

Competências socioemocionais são a aposta de iniciativa mundial na educação com vistas a uma formação diferencial no novo milênio. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) encabeça a construção de instrumentos que meçam tais competências no ensino público, e quem auxilia nesse trabalho é uma entidade brasileira, o Instituto Ayrton Senna. Resiliência, autocontrole, perseverança, protagonismo, entre outras características já são conteúdo ensinado na escola estadual Chico Anysio, no Rio de Janeiro, referência em competências emocionais. A instituição continua, pelo terceiro ano executivo, sendo indicada como colégio de excelência na rede pública nacional, apresentando excelentes resultados acadêmicos e na gestão de vida de seus alunos.

EMPRESAS POSITIVAS Pelo menos três grande empresas brasileiras perceberam que bem-estar e produtividade caminham juntas e aplicaram conhecimentos da Psicologia Positiva em seus treinamentos e gestão. Natura, Elektro e 3M já colhem excelentes resultados, que extrapolam as suas instalações e contribuem na gestão pessoal de vida de seus funcionários. A taxa de retorno do investimento nesse tipo de iniciativa é sempre positiva, segundo estudos do especialista norte-americano em Psicologia Positiva Shawn Archor. No Brasil não tem sido diferente e a aplicação da abordagem nas companhias tende a ser um novo paradigma na condução dos

PARA SABER MAIS: Roberta Riccelli, Nicola Toschi, Salvatore Nigro, Antonio Terracciano, Luca Passamonti. 3URFACE BASEDMORPHOMETRYREVEALSTHENEUROANATOMICALBASISOFTHElVE-factor model of personality. Social Cognitive and Affective Neuroscience, 2017; nsw175 DOI: 10.1093/scan/nsw175 6

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COGNIÇÃO NA DEPRESSÃO ESTUDO IDENTIFICA PROTEÍNAS POSSIVELMENTE RELACIONADAS AOS PROBLEMAS DE MEMÓRIA E CONCENTRAÇÃO EM QUADROS DA DOENÇA

ATIVIDADE FÍSICA PODE INTERFERIR NO PROCESSAMENTO VISUAL

IMAGENS: 123RF

Bom para a depressão e o coração, determinante da longevidade, excelente para a memória: o exercício físico é remédio e terapia para uma série de distúrbios e parece interferir, também, em nossa visão, embora ainda não seja possível determinar, com precisão, em que nível ele é capaz de aumentar nossa acuidade visual. Estudos anteriores já haviam determinado relação entre a ativação dos mecanismos de processamento visual de ratos e a atividade f ísica, em nível cerebral e, agora, pesquisadores da Universidade de Santa Barbara trataram de verif icar se o mesmo acontece no cérebro humano, quando praticamos esporte. Um experimento baseado em neuroimagem e testes comportamentais, envolvendo também atividade física, resultou na descoberta de que exercícios de baixa intensidade impulsionam a ativação do córtex visual e podem mudar a forma como a informação visual é processada. O estudo foi publicado no Journal of Cognitive Neuroscience. PARA SABER MAIS: Tom Bullock, James C. Elliott, John T. Serences, Barry Giesbrecht. Acute Exercise Modulates Feature-selective Responses in Human Cortex. Journal of Cognitive Neuroscience, 2016; 1 DOI: 10.1162/ jocn_a_01082

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PARA SABER MAIS: Francesca Calabrese, Paola Brivio, Piotr Gruca, Magdalena Lason-Tyburkiewicz, Mariusz Papp, Marco A. Riva. Chronic Mild Stress-Induced Alterations of Local Protein Synthesis: A Role for Cognitive Impairment. ACS Chemical Neuroscience, 2017; DOI: 10.1021/acschemneuro.6b00392 Jussara Goyano é jornalista e coach certificada pelo Instituto de Psicologia Positiva (IPPC). Atua com foco em performance e bem-estar. Estudou Medicina Comportamental na UNIFESP.

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ARQUIVO PESSOAL

EXERCÍCIO E VISÃO

Quase 7% da população mundial (aproximadamente 400 milhões de pessoas) é afetada pela depressão, considerada pela Organização Mundial de Saúde a doença mais incapacitante da atualidade. Tristeza, fadiga e pensamentos obsessivamente negativos fazem parte do quadro, que também engloba disfunções cogniTIVAS$IlCULDADEDECONCENtração, de memória e tomada de decisões são sintomas que tendem a se arrastar até mesmo quando os outros sintomas desaparecem, o que carateriza o potencial incapacitante da doença. O pesquisador Marco A. Riva e seus colegas determinaram, por meio de pesquisa em animais, como a depressão cerebral pode afetar a COGNI¥ÎOEMUMNÓVELMOLECULAR IDENTIlCANDOSUBSTÊNCIASQUE sinalizam as mudanças ocasionadas pelo distúrbio. Certas proteínas foram encontradas em maior quantidade no grupo de ratos de controle em resposta a um teste cognitivo normal, de reconhecimento de objetos, e em menor frequência no grupo de ratos com sintomas característicos de depressão humana. Outros estudos recentes sugeriram que essas proteínas (oligophrenin-1 e Bmal1) desempenham funções nos processos cognitivos. A descoberta servirá de base para futuras pesquisas sobre tratamentos para depressão maior e transtornos relacionados ao estresse, que também ocasiona as mesmas disfunções cognitivas.

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CRISTIANA FACCHINETTI

CRÉDITO DA FOTO: DIVULGAÇÃO

Cristiana acredita que os conceitos permanecem, mas ela não concorda com a ideia de comparar as diversas linhas existentes da Psicanálise

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E

N

T

R

E

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A

ESTAMOS VIVENDO UM MOMENTO DE

MUDANÇAS NAS SUBJETIVIDADES Na opinião de Cristiana Facchinetti, por isso mesmo a Psicanálise deve se repensar para lidar com esse novo cenário contemporâneo, com as subjetividades adquirindo formas muito distintas daquelas produzidas desde o século XVII Por Lucas Vasques

O

documentário Hestórias da Psicanálise – Leitores de Freud discorre sobre a apropriação brasileira da obra de Sigmund Freud e da Psicanálise e foi elaborado a partir de entrevistas com leitores de Freud espalhados por cidades brasileiras e europeias. O f ilme toca em temas como história, tradução, cultura, linguagem e, principalmente, Freud. A partir da obra do diretor e também psicanalista Francisco Capoulade, a psicóloga e psicanalista Cristiana Facchinetti, uma das convidadas a participar do documentário, fala sobre esses e outros temas. Cristiana possui graduação em Psicologia (1993) e mestrado (1996) e doutorado (2001) em

Teoria Psicanalítica, todos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Tem um estágio de pós-doutoramento em História das Ciências e da Saúde (2006) pela Fiocruz. Atualmente é pesquisadora do Departamento de Pesquisa e professora do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde, ambos da Casa de Oswaldo Cruz (Fiocruz), além de professora do Programa de Mestrado Prof issional em Atenção Psicossocial do IPUB (UFRJ) e coordenadora da Rede Iberoamericana de Investigadores em História da Psicologia. É especializada nas áreas de Psicanálise e de História, atuando como orientadora principalmente nos seguintes temas: Brasil, Psicanálise, Psiquiatria e Psicologia. Lucas Vasques é jornalista e escreve nesta publicação.

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SOBRE O QUE FOI SEU DE -

POIMENTO NO DOCUMENTÁRIO DA

HESTÓRIAS

PSICANÁLISE?

CRISTIANA: Tratamos de diversos assuntos. A minha entrevista foi feita em diálogo com Sérgio Paulo Rouanet. Então, falamos bastante de literatura, romantismo, iluminismo e Psicanálise. Mas eu diria que o que mais apareceu DAMINHAFALANOlLMEFOIADIMENSÎODA Hestória da Psicanálise, tanto no sentido das apropriações singulares – a história pessoal de encontro com esse Estranho mundo do Inconsciente e as apropriações sociais – quanto no sentido das condições locais de apropriação. Quem SABE NA CONTINUA¥ÎO DO lLME A DIMENsão estética e cultural por nós dois assinalada seja mais sublinhada.

A PSICANÁLISE ESTÁ SEMPRE EM EVOLUÇÃO. MESMO ASSIM, VOCÊ CONSIDERA QUE AS IDEIAS DE F REUD AINDA SÃO ATUAIS? COMO ADAPTAR OS PRINCIPAIS CONCEITOS FREUDIANOS PARA OS DIAS DE HOJE? CRISTIANA: Vamos começar pela ideia de evolução, que eu considero equivocada, porque remete a progresso, melhoria. Eu não acho que a Psicanálise esteja sempre em evolução. Eu acho que ela é sempre apropriada de acordo com os contextos – temporais, sociais, culturais – e que o referente “Psicanálise”, isto é, aquilo que Freud realmente pensou ao escrever seu trabalho, seu sentido último, está para sempre perdido; a escritura é sempre apropriada e reapropriada de modo particular, incessantemente. No capítulo sete da Interpretação dos Sonhos (1900), &REUD AlRMA QUE AS MARCAS MNÐMICAS sempre tendem a seguir as mesmas Bahnungen, facilitadas que são, mas que, ao mesmo tempo, sempre se produz um diferencial, mesmo quando se trata de repetir o idêntico. Assim, ainda que se pense que os conceitos são universais e atemporais, como alguns o propõem, a Psicanálise também se faz marcar pelo contingente e pela historicidade. Só é possível compreender aquilo que passa pelo aparelho psíquico. Esse entendi10

psique ciência&vida

mento é construído com os instrumentos dados pela língua, pela cultura e pela história social e familiar que antecedem o sujeito, de onde ele surge, como efeito dos discursos que o atravessam. Se os sujeitos não têm imanência e não antecedem os discursos, mas são produzidos por eles, o que dizer dos objetos? Podemos dizer que há um referente externo? Não é o que parece. Eles são tão variáveis quanto é variável a compreensão sobre eles. Por isso, usos e leituras dos objetos é que determinam seu sentido. E tal leitura, que é psíquica, é também limitada por uma determinada Weltanschauung.

Ainda que se pense que os conceitos são universais e atemporais, como alguns o propõem, a Psicanálise também se faz marcar pelo contingente e pela historicidade. Só é possível compreender aquilo que passa pelo aparelho psíquico ATUALMENTE ,

COM TANTAS COMPLEXI-

DADES QUE NORTEIAM O COMPORTAMEN TO HUMANO, O MÉTODO DE

F REUD

AIN -

DA É INDICADO PARA OS MESMOS CASOS DE SUA ÉPOCA?

EM

CASO POSITIVO, POR

QUAIS RAZÕES?

CRISTIANA: Mais uma pergunta difícil. As complexidades do comportamento humano sempre existiram; sempre existirão. A questão é que o que é patológico ou anormal em um período pode deixar de ser em outro. Mais do que biológica, então, a questão do comportamento é uma questão cultural. Por exemplo, até algumas décadas atrás a homossexuali-

dade era considerada patologia (inversão sexual) pela Medicina mental. Hoje não mais, graças ao movimento social e político que lutou pela capitulação da Medicina nesse caso. Desde o século XIX, muitos indivíduos, especialmente mulheres com crises histéricas graves, adentravam os asilos e os consultórios médicos. Além disso, mulheres que não QUERIAM CASAR  QUE NÎO QUERIAM lLHOS  que estudavam muito etc. foram tomadas como alienadas. Mas essas moças, frequentemente diagnosticadas como histéricas, desapareceram dos prontuários ainda na primeira metade do século XX, dando lugar no asilo para a psicose maníaco-depressiva e para a degeneração. Mudou a cultura, mudou o tempo. Com a entrada da Psicanálise no discurso da Psiquiatria dinâmica, em meados DOSÏCULO88 MUDOUOPERlLDOSSUJEItos internados, mapeados nos prontuários como neuróticos ou psicóticos. Essa FORMADEIDENTIlCAROSOFRIMENTOPSÓQUIco ganhou a opinião pública, as artes, os jornais, gerando em muitos lugares aquilo que se concebeu como cultura psicanalítica. A partir do DSM-III (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders) e com o crescimento da Psiquiatria dita biológica, certamente diminuiu o número de mulheres que chegam ao consultório do analista se intitulando como histérica. Por outro lado, o DSM ganhou circulação social: os pacientes que nos chegam ao consultório hoje já nos chegam frequentemente anunciando serem portadores de síndromes e transtornos, lidos nas revistas femininas ou obtidos através de questionários para medicamentos, ou mesmo dados pelo ginecologista, ou clínico geral... às vezes até pelo psiquiatra (rs.). Os diagnósticos, por sua vez, criam – eles próprios – uma identidade de doente para o paciente. Então, sem dúvida, a Psicanálise precisa hoje lidar com os novos sujeitos advindos das condições da cultura do nosso tempo; e também com a nova/velha maneira de perceber o sujeito e seu sofrimento psíquico como resultado de uma disfunção www.portalcienciaevida.com.br

IMAGENS: DANIEL ISAIA/AGÊNCIA BRASIL E 123RF

BASICAMENTE,

neuronal, hormonal etc. Mas enquanto houver esse sujeito moderno – dividiDO  EM CONmITO  MARCADO PELO RECALQUE e pelo inconsciente, mas também pela liberdade –, a Psicanálise também continuará a existir.

COMO PESQUISADORA DA HISTÓRIA DA PSICANÁLISE , VOCÊ ACREDITA QUE É POS SÍVEL COMPARAR AS DIVERSAS LINHAS DE

F REUD, LACAN, WINICOTT, M ADALAINE ETC., EM TERMOS DE CONCEITOS E PRÁTICAS CLÍNICAS? CRISTIANA: Alguns conceitos permanecem, mas não compreendo a ideia de comparação; são apropriações diversas, que valorizam determinadas partes da teoria freudiana sob a luz de interesses e entendimentos locais e particulares.

LACAN,

APESAR DE ADEPTO DE

F REUD,

DESENVOLVEU ALGUMAS RELEITURAS E REFORMULOU TEORIAS QUE SÃO MUITO CONCEITUADAS HOJE . QUE AS IDEIAS DE

ISSO

NÃO SIGNIFICA

F REUD

PRECISAM SER

ATUALIZADAS?

CRISTIANA: Considero que Lacan, ao se dizer freudiano, ao propor um retorno a Freud, o faz dando plena legitimidade PARA AQUILO QUE OUTROS lZERAM  TALVEZ sem perceber: ele reconhece essa apro-

Se os sujeitos não têm imanência e não antecedem os discursos, mas são produzidos por eles, o que dizer dos objetos? Podemos dizer que há um referente externo? Não é o que parece. Eles são tão variáveis quanto é variável a compreensão sobre eles priação e faz dela sua própria escritura. E é justamente o reconhecimento dessa apropriação personalíssima – marca da circulação da Psicanálise na França de seu tempo e de seus círculos intelectuais – que faz a obra dele ganhar a originalidade e a dimensão que possui. E por outro lado, é por isso também que ele pode AlRMARSUALEITURACOMOFREUDIANA SEM hesitar. Assim, como disse anteriormen-

Cristiana cita que, até algumas décadas atrás, a homossexualidade era considerada patologia. Hoje não mais, graças, principalmente, ao movimento social e político

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te, não se trata de necessidade de atualizações, mas da existência de circulação e apropriações diferenciadas.

EXISTEM

NOVAS PESQUISAS SENDO DESEN-

VOLVIDAS HOJE EM DIA A RESPEITO DA EFICÁCIA DO MÉTODO FREUDIANO, E SE EXIS TEM, COM QUAIS OBJETIVOS?

CRISTIANA: A pesquisa em Psicanálise que se realiza atualmente traz a marca de sua historicidade. De fato, desde Freud se questiona sobre o estatuto da Psicanálise. Sua Interpretação dos Sonhos (1900) foi muitas vezes considerada como adVINDA DO CAMPO DA lC¥ÎO  ASSIM COMO sua Metapsicologia (Strachey, 1975; Ellenberger, 1976). Já Legrand (1973) a contrapôs à ciência empírica, propondo a Psicanálise como uma terceira via de conhecimento. Tais debates sobre o estatuto da Psicanálise ganharam particular interesse primeiro na França e depois no Brasil, especialmente a partir da década de 1990, quando passaram a ser sistematizados nas universidades – em particular nas pós-graduações. De lá para cá, um número muito grande de pesquisas vem sendo desenvolvido no campo. Nessa tradição, fazer pesquisa em PsicanáLISEÏRECONHECERSUASESPECIlCIDADESO legado da clínica e a centralidade do sujeito do Inconsciente, para começar; sua metodologia; e o retorno aos textos que formulam suas teorias para a construção de novas perguntas, a partir de interesses particulares de pesquisas e dos novos contextos históricos e culturais. Já com RELA¥ÎOÌElCÉCIA ALGUNSOUTROSESTUDOS – em sua maioria advindos de uma tradição anglo saxã – buscam estabelecer e comprovar os resultados positivos da terapia psicanalítica, como indica Wallerstein (2001). Entretanto, é bom chamar atenção que tais investigações parecem estar mais preocupadas com dados para a assistência e para os planos de saúde, assim como com bons argumentos para os consumidores, do que propriamente com a singularidade do sujeito do Inconsciente, pesquisa essa que não pode SERQUANTIlCADA#OMOJÉAPONTOU,ACAN psique ciência&vida

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As complexidades do comportamento humano sempre existiram; sempre existirão. A questão é que o que é patológico em um período pode deixar de ser em outro. Mais do que biológica, então, a questão do comportamento é uma questão cultural (1998), tal preocupação com o sucesso pode levar à tentativa de vender a Psicanálise dentro de um regime de exigência de felicidade, o que seria mesmo uma total renegação da Psicanálise.

prios e preferências, dependendo de contextos culturais e estilos pessoais, como disse anteriormente. No caso da segunda hipótese, a Psicanálise é hoje muito centralizada nos países latinos: França, Argentina, Brasil são centrais não apenas no uso do método, mas na circulação de uma cultura psicanalítica, difundida por grande parte da sociedade letrada. Por OUTROLADO DIlCILMENTEPODERÓAMOSFALAR do método de Freud hoje sem estar atravessado pelos discursos pós-freudianos, como o de Lacan, por exemplo.

QUAIS QUAIS OS IMPACTOS DO LEGADO DE F REUD PARA OS PROFISSIONAIS DA PSICANÁLISE E

TÉCNICAS DA METODOLOGIA FREUDIANA?

POR QUE HÁ TANTOS ESPECIALISTAS QUE DIVERGEM DE SUAS IDEIAS?

CRISTIANA: Freud reabriu a ferida narcísica que a Medicina positiva e tecnológica, apoiada na promessa de cura, sempre insistiu em fechar. O legado de Freud é justamente essa insistência de se apontar para o mal-estar estrutural do sujeito na cultura. É esse chamado mal-estar, que não é sempre o mesmo, ainda que postulemos e saibamos de sua insistência permanente, assim como esse método OBSCURO QUEESCAPAMÌQUANTIlCA¥ÎOE à objetivação e que atraem as críticas. Os especialistas desejam um modelo experimental de observação e teste, para adequar o saber psicanalítico à ciência positiva. Como se o humano coubesse em uma expressão matemática. Ou numa estatística. Não cabe. E isso incomoda. Como Freud mesmo observou, isso fez – e faz – com que a Psicanálise perca “a simpatia de todos os amigos do pensaMENTO CIENTÓlCOv &REUD    P   Além disso, suas teorias sobre a sexualidade ganham até hoje certa resistência.



UMA

PSICANÁLISE

BRASILEIRA?

E

PSICANÁLISE BRASIL FRENTE A OUTROS PAÍSES?

UMA PREVALÊNCIA DA

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psique ciência&vida

Na visão de Cristiana, Lacan, ao propor um G! 9  G‚G9 GII hGGG GhÔ e faça dela sua escritura

Segundo a psicanalista, Freud reabriu a ferida narcísica que a Medicina positiva e tecnológica, apoiada na promessa de cura, sempre insistiu em fechar

HÁ NO

CRISTIANA: No caso da primeira resposta, PODEMOSAlRMARQUEOSCONCEITOSDECIRculação e apropriação implicam sempre em considerar a existência de estilos pró-

SÃO AS PERSPECTIVAS FUTURAS DAS

Joel Birman, ao tratar do lugar da Psicanálise, discutiu a separação entre público e privado, ou seja, as marcas na pele pelas tatuagens substituem as marcas simbólicas

CRISTIANA: Creio que estamos vivendo um momento de muitas mudanças nas subjetividades. Alguns apostam que, nessa modernidade tardia, os sujeitos vêm exacerbando determinadas características modernas, e que se desdobram no aumento do individualismo, numa cultura da imagem, no abuso de substâncias psicoativas. Nesse sentido, a Psicanálise deve se repensar para lidar com as subjetividades contemporâneas. Outros, ENTRETANTO APOSTAMNOlMDAMODERNIdade. No cenário da pós-modernidade, as subjetividades podem adquirir formas muito distintas daquelas produzidas desde o século XVII. Para estes, o processo de interiorização que caracterizou o sujeito moderno pode estar acabando, com a construção desses sujeitos em rede, na SUPERFÓCIE SEMTANTADElNI¥ÎOENTREOINterior e o exterior, assim como uma aposTANOlMDASEPARA¥ÎOENTREOPÞBLICOE o privado, como já discutiu Joel Birman (2000) ao tratar do lugar da Psicanálise nesse imbróglio. Nesse caso, as marcas na pele pelas tatuagens viriam substituir as marcas simbólicas. As redes sociais SUBSTITUIRIAMAREmEXÎOSISTEMÉTICAENlM ESSASETANTASOUTRASMUDAN¥ASVÐM colocando em questão a manutenção do sujeito como o conhecemos.... nesse futuro, a Psicanálise poderia funcionar como resistência... e insistência, me parece. Ou, como querem alguns, poderia desaparecer. Espero que não. Falar do www.portalcienciaevida.com.br

lM DO SUJEITO MODERNO PODE SIGNIlCAR OlMDOSUJEITOLIVRE DETERMINADOPELO cérebro e pela hereditariedade.

QUAL A SUA AVALIAÇÃO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE PSICANÁLISE E CULTURA? É POSSÍVEL TRAÇAR UM PARALELO ENTRE TEORIA E VERDADE A PARTIR DESSE TEMA?

CRISTIANA: Lacan dizia que “o inconsciente é o social”. Por quê? Desde a descoberta do inconsciente, suas implicações para a reformulação social e seu impacto na constituição das subjetividades têm convocado a Psicanálise a pensar seu lugar na cultura. Com a circunscrição do conceito de recalque como parte dos traços de moralidade existentes em uma dada cultura, não é possível pensar no sujeito do inconsciente sem pensar naquilo que o circunda e que, nessa fricção, produz e é produzido. Assim, o analista, ao ocupar-se de questões clínicas e dos regimes de verdade que se estabelecem de maneira singular nesse processo, não precisa produzir qualquer ruptura frente a um pensamento mais amplo e que abarca o campo sociocultural ou abrir MÎODASFERRAMENTASDA&ILOSOlA

A

RELAÇÃO ENTRE

PSICANÁLISE

E CUL -

TURA PODE SER UMA TRADUÇÃO DA DU -

A Psicanálise precisa hoje lidar com os novos sujeitos advindos das condições da cultura do nosso tempo; e também com a nova/velha maneira de perceber o sujeito e seu sofrimento psíquico como resultado de uma disfunção neuronal, hormonal etc. CRISTIANA: A Psicanálise – tal como pensada hoje – se difere da Sociologia ou Antropologia. Não está voltada para discutir valores sociais comuns ou buscar uma marca identitária única nem forjar uma entidade psíquica permanente que nos reúna como povo. Ao contrário, a 0SICANÉLISECHAMAATEN¥ÎODAlC¥ÎOQUE constitui a identidade. Trata-se muito MAISDEDESCONSTRUIRAlC¥ÎO PERMITINdo novos arranjos do sujeito em análise.

ALIDADE RECEPÇÃO X APROPRIAÇÃO E ,

COMO

PSICANÁLISE PENETRA HOJE NA SOCIEDADE , SENDO APROPRIADA POR COLUNAS SENTIMENTAIS, NOVELAS, PROPAGANDAS ETC.? A

CRISTIANA: É possível notar que além de um modelo de escuta, leitura do mundo e tratamento, a Psicanálise se articulou a um processo de “psicologização” da sociedade. Esse conceito foi utilizado por um grupo de antropólogos do Museu Nacional (UFRJ), quando buscaram analisar cidades urbanas brasileiras. O grupo, iniciado por Gilberto Velho, produziu diversas análises, nas décadas de 1970 e 1980, que investigaram a ampliação dos discursos psi por toda a sociedade. Nessa linha de análise, Jane Russo (2002), por exemplo, utiliza o conceito quando trata do boom psicanalítico entre as classes médias urbanas da década de 1970. Embora a sociedade brasileira tenha sofrido essa expansão vertiginosa da Psicanálise na década de 1970, a circulação social da Psicanálise começou a ocorrer a partir dos anos 30, em revistas femininas e manuais de educação, alcançando certo espaço simbólico no sistema de valores, noções e práticas sociais das cidades urbanas.

TAMBÉM , SOBRE A CIRCULAÇÃO TRANSNA-

PODE

CIONAL DOS SABERES?

AFIRMAÇÃO DE QUE A

ESTÁ

EM SUA AVALIAÇÃO, MANIFESTAÇÕES COMO

CRISTIANA: A relação da Psicanálise com a cultura é completamente íntima, já que o sujeito é efeito dela, dos poderes e saberes que a conformam. Por outro lado, os indivíduos são capazes de seleção e de dar sentido próprio àquilo que recebem, se apropriando do conhecimento e criando a partir dele também.

SEMPRE IMERSA NA CULTURA NA QUAL SE

O CINEMA PODEM SER CONSIDERADAS ARTE

INSERE E QUE GUARDA MARCAS DESSE CON-

OU COMUNICAÇÃO?

TEXTO LOCAL , COLOCANDO EM QUESTÃO A

EM SI MESMO, EXPLORANDO SUA PRÓPRIA

UNIVERSALIDADE E A NEUTRALIDADE COS -

LINGUAGEM PARA FORNECER UMA VISÃO

TUMEIRAS E CONSIDERANDO AS APROPRIA-

DE MUNDO, OU USAR A POPULARIDADE DO

ÇÕES ATIVAS COMO POSSIBILIDADES LEGÍTI-

MEIO PARA TRANSMITIR UMA MENSAGEM

MAS, AINDA QUE NEM SEMPRE NA DIREÇÃO

ÚTIL À SOCIEDADE?

DO NOSSO DESEJO?

CRISTIANA: A arte transmite mensagens, ainda que não necessariamente voltadas para a utilidade. O cinema é hoje, talvez, aquilo que a literatura representou nos séculos XIX/XX: é a possibilidade de nos experimentarmos no outro como outro, ampliando, assim, nossas possibilidades de nos aproximarmos da alteridade. Não acho que a arte deva estar a serviço do social, embora seja sempre social/cultural.

EM SUA OPINIÃO, DO PONTO DE VISTA DA PSICANÁLISE, EXISTE, DE FATO, UM POVO BRASILEIRO, OBSERVANDO OS ASPECTOS CULTURAIS PRÓPRIOS? EM CIMA DISSO, QUAL O VALOR QUE O POVO ATRIBUI, POIS IMAGENS:123RF

partir de seus referenciais, problemas de pesquisa e interesses.

O BRASILEIRO É CONHECIDO COMO UMA NAÇÃO QUE NÃO DÁ O REAL VALOR PARA A SUA CULTURA? www.portalcienciaevida.com.br

EXPLICAR, EM LINHAS GERAIS, A

PSICANÁLISE

CRISTIANA: Não existe a possibilidade de efetuarmos o uso da Psicanálise de maneira asséptica, neutra e objetiva. Ela sempre é lida e compreendida a partir de um psiquismo (no caso individual) e de UM CONTEXTO ESPECÓlCO 0OR OUTRO LADO  isso não implica numa recepção passiva: a apropriação desse saber é ativa, e os indivíduos se apropriam da Psicanálise a

ELE

DEVE SER UM FIM

psique ciência&vida

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O

QUE SÃO TEORIAS BIODETERMINISTAS E

O QUE VOCÊ QUER DIZER QUANDO FALA QUE HOJE EXISTEM EMBATES ENTRE A

PSI-

CANÁLISE E ESSAS TEORIAS?

CRISTIANA: !0SIQUIATRIASURGIUEMlNSDO século XVIII, com o emblemático gesto de Philippe Pinel (1745-1826). Com ela, organizou-se o asilo como instrumento de cura e nele a clínica psiquiátrica foi marcada pelo tratamento moral. Assim, desde esse momento, a Psiquiatria se constituiu como disciplina médica sem, entretanto, jamais ter se enquadrado plenamente em sua metodologia, permanecendo em constante diálogo com saberes do campo biomédico e, ao mesmo tempo, com o campo moral, ou das humanidades. Até os dias de hoje, podemos observar essa oscilação: ora busca em cada (psico)patologia o mecanismo biopatológico característico e curso da doença que permitam a construção de categorias diagnósticas generalizáveis, ora emoldura o sofrimento humano a partir das mais diversas inmUÐNCIAS QUENECESSARIAMENTEINCLUEMAS dimensões psíquicas, sociais e culturais para o adoecimento. Tal oscilação pode ser acompanhada ao longo da história DESSA DISCIPLINA NO lNAL DO SÏCULO 8)8  as explicações de cunho moral perderam a hegemonia, dando espaço para teorias organicistas, que passaram a explicar a loucura exclusivamente a partir de fatores biológicos – o que, nesse contexto, implicava necessariamente considerar fatores hereditários e degenerativos. Já a partir do segundo pós-guerra, quando as teorias eugênicas e a Psicologia dos povos passaram a ser consideradas como um erro, após o massacre do holocausto, ganharam novamente destaque as teorias de cunho psicológico e/ou humanista, como a Psicanálise ou o existencialismo, por exemplo. Nesse período, conceitos como os de neurose, recalque, édipo, inconsciente, perversidade polimorfa, entre outros, passaram a circular não apenas no campo mesmo da Psiquiatria, mas foram sendo difundidos pelo corpo social, sendo apropriados pela educação, pela literatura e por diversos outros setores da sociedade, construindo 14

psique ciência&vida

Enquanto houver esse sujeito moderno – DIVIDIDO EMCONmITO  marcado pelo recalque e pelo inconsciente, mas também pela liberdade –, a Psicanálise também continuará a existir paulatinamente a cultura psicanalítica de QUE TRATAMOS ACIMA %NTRETANTO  AO lNAL do século XX, as matrizes biológicas da Medicina mental voltaram a ser privilegiadas. Como consequência, a sociedade passou também a utilizar tais referenciais para pensar as relações humanas e intervir nessas relações. Apesar de podermos AlRMARQUENO"RASILHÉUMADISPUTAENtre os dois modos de pensar o sujeito e a sociedade, não é possível negar que houve, a partir desse período, a ascensão das teorias biomédicas nas ciências neuropsiquiátricas assim como na opinião pública. Vale lembrar, a retomada do viés biológico ganhou ímpeto principalmente a partir do surgimento da vertente da Psiquiatria biológica norte-americana, consolidada internacionalmente a partir da publicação do DSM-III, em 1980.

UMA

DE SUAS ÁREAS DE ESTUDO É A HIS -

to dos psicofármacos, a partir dos anos 50, e o fortalecimento dessa indústria farmacêutica, que passou a estimular e lNANCIAR PESQUISAS QUE VIABILIZASSEM diagnósticos que pudessem ser associados a medicamentos. Em consequência de tais estímulos e investimentos, essa abordagem começou a ser difundida também na opinião pública, e tal circulação passou a produzir e responder a uma demanda dos próprios sujeitos na busca de dar um sentido (mais) “objetivo”, mais médico e menos psicológico “mais real EMENOSIMAGINADOvPARASEUSCONmITOS e sofrimentos. Segundo George Weisz (2005), essa aproximação da Psiquiatria das ciências de laboratório corresponderia ao objetivo de dar maior autoridade à Medicina mental, aliando seus resultados a tecnologias a partir das quais dados estatísticos poderiam ser recombinados em múltiplas formas de pesquisa, dando maior visibilidade ao seu conteúdo, construindo regimes de verdade, marcados PELASIMAGENSNEUROCIENTÓlCASEPORSEUS dados quantitativos, bem de acordo com A IDEOLOGIA DA -EDICINA CIENTÓlCA CONtemporânea, que considera as ciências básicas como a principal fonte de inovação em Medicina (Löwy, 1994).

UMA DE SUAS PESQUISAS MAIS RECENTES É SOBRE A APROPRIAÇÃO, INTERNALIZAÇÃO E NEGOCIAÇÃO DOS SABERES MÉDICO -MENTAIS NOS MODOS DE SER, SENTIR E FAZER DOS INDIVÍDUOS EM UM DADO CONTEXTO

TÓRIA DA CIÊNCIA PSIQUIÁTRICA, DE SUAS

HISTÓRICO - CULTURAL .

PRÁTICAS E TECNOLOGIAS.

SÕES VOCÊ CHEGOU?

COMO

VOCÊ

OBSERVA A INFLUÊNCIA NA TECNOLOGIA E SEUS AVANÇOS QUASE DIÁRIOS NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DO INDIVÍDUO?

CRISTIANA: Bem, cada época tem a sua tecnologia psiquiátrica. Mas o movimento para a retomada de um referencial exclusivamente biológico ou organicista das doenças mentais articula os desenvolvimentos de pesquisas realizadas (e lNANCIADASå  NO CAMPO DA "IOQUÓMICA  com a tentativa de enquadramento da Psiquiatria dentro do campo médico mais geral, além, é claro, do surgimen-

A

QUE CONCLU-

CRISTIANA: Atualmente estou coordenando uma pesquisa bem grande a partir de documentos clínicos do antigo Hospício Nacional (apoio: Proep, CNPq/Fiocruz). Essa pesquisa a que você alude, e que obteve apoio da Faperj, já terminou. Para a investigação, utilizei como fonte cartas de leitores e de conselheiros em revistas de grande circulação. A ideia era justamente avaliar até que ponto e de que forma os saberes psi eram apropriados pelas pessoas comuns na capital brasileira na Era Vargas (1930-1945). O resultado www.portalcienciaevida.com.br

sociais particulares, como busquei destacar ao longo dessa entrevista. Por meio DESSACHAVEDELEITURAÏPOSSÓVELVERIlCAR QUE PAUTAS POLÓTICAS ESPECÓlCAS  ASSIM como contextos sociais, impactam na apropriação de um saber.

ESPECIFICAMENTE

NO QUE SE REFERE À

PRÁTICA CLÍNICA DAS DOENÇAS MENTAIS, QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS AVANÇOS?

O cinema é o que a literatura foi nos séculos XIX/XX, a chance de experimentar no outro como outro, ampliando as chances de aproximação da alteridade

permitiu acessar formas de apropriação das novas ideias psi que circulavam pelas revistas e o modo como impactaram DEMANEIRADIVERSIlCADAAPRODU¥ÎODOS sujeitos concretos e da cultura urbana DO PERÓODO 0UDE IDENTIlCAR DISPUTAS E negociações pela hegemonia discursiva na construção do ideal de mulher e de homem modernos, em que o processo DEAPROPRIA¥ÎODOSSABERESCIENTÓlCOSSE mostra sempre relativo e parcial nos discursos do público leitor leigo, permitindo refutar a ideia de um controle biopolítico ABSOLUTONOPROCESSODEREDElNI¥ÎODOS papéis sociais.

VOCÊ

É UMA ESTUDIOSA ESPECIALISTA NA

HISTÓRIA DA

PSICANÁLISE. EM

LINHAS

GERAIS, O QUE MUDOU EM TERMOS DE CONCEITOS E PRÁTICAS PSICANALÍTICAS AO LONGO DOS ANOS?

CRISTIANA: Não trabalho com a epistemologia da Psicanálise, mas com a história social da Psicanálise. Nesse sentido, faço parte de um grupo de autores que, nos últimos anos, vem chamando atenção para a importância de se considerar a Psicanálise como um fenômeno social, cultural e político, seja como saber, movimento internacional ou epifenômeno mesmo da modernidade, sua crítica. Isso implica alertar para os efeitos que a Psicanálise adquire em cada contexto. No www.portalcienciaevida.com.br

A pesquisa em Psicanálise que se realiza atualmente traz a marca de sua historicidade. De fato, desde Freud se questiona sobre o estatuto da Psicanálise. Sua Interpretação dos Sonhos foi muitas vezes considerada como ADVINDADAlC¥ÎO caso da América Latina, de passado colonial (de fato e cultural), a discussão ganha novos contornos. Trata-se, aqui, de considerar também as discussões mais amplas acerca das ciências instituídas no mundo europeu, principalmente francês, germânico ou anglo-saxão, e sua recepção em países tradicionalmente considerados na periferia da modernidade. Esse interesse é movido pela compreensão de que o campo intelectual tem apenas certa autonomia frente aos determinantes

CRISTIANA: O desenvolvimento das Neurociências e de suas tecnologias possibilitou a aproximação da Psiquiatria da Medicina somática geral, sonho acalentado desde Pinel, que já sonhava com o dia em QUE SE CHEGARIA Ì CAUSALIDADE lSICALISTA das perturbações psíquicas. Nesse diapasão, o funcionamento psíquico se aproxima cada vez mais da idealização de uma subjetividade reduzida ao cérebro e aos seus neurotransmissores. Em resposta, no campo das terapêuticas, os psicotrópicos se tornaram o centro do tratamento, ao passo que as psicoterapias foram relegadas a segundo plano, ou mesmo recusadas como importantes. A Psicanálise PERDEUESPA¥OSIGNIlCATIVONOCAMPODA Psiquiatria, portanto. Se entre as décadas de 1950 e 1970 ela era o discurso teórico central da Psiquiatria, após o DSM-III e seu paradigma biológico o processo de autonomização da Psiquiatria frente à Psicanálise se radicalizou. De acordo com alguns autores, como Birman (2005), teria ocorrido uma inversão de planos: a Psicanálise estaria enfrentando um processo de medicalização, passando a ser atravessada por discursos advindos das Neurociências e do cognitivismo. Além disso, teria passado a ocupar um plano secundário no campo da intervenção terapêutica. Investigar tais acontecimentos históricos, não como avanços ou evoluções, mas como essa luta de forças em que o somático e o psíquico se tensionam (no sentido de tensão mesmo), e entender os contextos que os fazem mover-se é o interesse do historiador dos saberes psi. Compreender por que a Psicanálise permanece resistindo em alguns contextos culturais é outro DESAlO4EMOSMUITOOQUEESTUDAR psique ciência&vida

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in foco

por Michele Müller

DESAFIOS da comunicação

O PAPEL DA LINGUAGEM INFLUENCIA NA FORMA COMO NOS RELACIONAMOS E ENXERGAMOS O MUNDO, E O SEU EXERCÍCIO ENVOLVE CAPACIDADES QUE NÃO SÃO ESQUECIDAS

N

ão foi a necessidade de aprender sofisticadas fórmulas matemáticas ou de construir espaçonaves que obrigou a evolução a nos privilegiar com um cérebro tão complexo. Foi a necessidade de conviver e de interagir com tantas mentes diferentes da nossa. A natureza sabiamente poupou espécies mais individualistas ou que vivem em grupos pequenos de carregar o peso de um cérebro volumoso e que consome tanta energia. E nos diferenciou com um equipamento biológico que permite criar vínculos e resolver conf litos, ao custo de incontáveis desafios psicológicos, como ansiedade, solidão, perdas afetivas e rejeição. Com a ajuda de uma nova tecnologia, conhecida como agent based modeling, foi finalmente possível comprovar que espécies que vivem em grupos precisam de cérebros maiores e as que vivem em grupos muito grandes e complexos precisam de um que comporte recursos altamente sofisticados, como a linguagem. A investigação foi feita por pesquisadores da Universidade de Oxford para avaliar a demanda cognitiva das decisões sociais, simuladas por uma ferramenta que reproduz situações com muitas variáveis e que não podem ser explicadas com a precisão de uma fórmula. Nossa extraordinária habilidade de comunicação, resultado de uma neces16

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sidade vital de conexão, é um dos aspectos mais fundamentais daquilo que nos faz humanos. A linguagem, assim como a capacidade de interpretar a mente do outro, partindo dos mais sutis e inconscientes sinais, é uma derivação da nossa interdependência, da busca pelo amor, aceitação e aprovação.

A LINGUAGEM PODE NÃO NOS SALVAR DA CONDIÇÃO SOLITÁRIA DE PERCEBER O MUNDO DE UMA PERSPECTIVA ÚNICA. MAS NOS OFERECE O ALÍVIO DE COMPREENDER E SER COMPREENDIDO A comunicação representa a busca fundamental pelo conforto de termos testemunhas da nossa experiência nesse mundo. Mas mesmo com toda a sua complexidade, transforma apenas uma pequena parte desse f ilme mental caótico e subjetivo em informações que podem ser compartilhadas e que façam sentido aos outros. Muitos dos nossos

pensamentos e sentimentos continuam desordenados, incomunicáveis e, muitas vezes, indecifráveis. Outros são desf igurados por uma comunicação não apenas incompleta, mas suscetível a inúmeras falhas, sendo que muitas delas estão fora do nosso controle e jamais serão esclarecidas. A linguagem pode não nos salvar da condição solitária de perceber o mundo de uma perspectiva única. Mas nos oferece o alívio de compreender e ser compreendido em um nível que, mesmo dando acesso à beirada do mar de percepções da nossa mente, favorece conexões profundas e significativas. Além disso, ao tornar mais nítido aquilo que percebemos e sentimos, nos permite ter um maior domínio sobre as emoções e ações. Sobre esse poder das palavras, a psicóloga e escritora americana Tara Brach, uma das mais populares professoras de mindfulness no Ocidente, ensina, em uma de suas meditações guiadas: “Aquilo que você nomeia passa a ter menos controle sobre você. Nomeie um medo e será mais forte que ele. Dê nome a uma ref lexão e você sairá do meio da nuvem de pensamento e estará aberto a algo maior”. Ao ganharmos familiaridade com determinados conceitos, eles passam a fazer parte da forma como operamos. Se integram aos pensamentos, www.portalcienciaevida.com.br

IMAGENS: SHUTTERSTOCK E ARQUIVO PESSOAL

oferecem novas formas de interpretar o mundo e modif icam ou formam os padrões de expectativas que temos em relação aos outros e a nós mesmos. Somam-se à nossa própria essência, que a f luidez da língua tem o poder de remodelar. “(...) as palavras têm por característica fundamental serem um ref lexo generalizado do mundo. Este aspecto da palavra conduz-nos ao limiar de um tema muito mais profundo e mais vasto – problema geral da consciência. As palavras desempenham um papel fundamental, não só no desenvolvimento do pensamento mas também no desenvolvimento histórico da consciência como um todo. Cada palavra é um microcosmos da consciência humana”, coloca Vygotsky em Linguagem e Pensamento. Passamos a enxergar injustiças e desigualdades, a identificar melhor sentimentos como mágoa e remorso e a entender comportamentos movidos www.portalcienciaevida.com.br

pelo orgulho ou ganância depois que esses conceitos são incorporados ao nosso vocabulário. Essa compreensão não ocorre de uma forma restrita e dentro de um tempo limitado. Depende de conhecimentos dominados em níveis variados – mesmo dentro de uma mesma faixa etária e contexto cultural – e aprimorados no decorrer de toda a vida, nas diversificadas formas de interação social e troca de informações. E por não se reduzirem a um conjunto de regras que podem ser transmitidas por meio de métodos sistemáticos, com resultados facilmente medidos, acabam trabalhados no meio acadêmico apenas de forma indireta e não planejada. A educação formal, em geral, espera que estudantes ganhem natural-

mente a capacidade de compreensão necessária para assimilar uma quantidade de informações crescente em volume e complexidade. Desconsidera que a comunicação, com suas possibilidades ilimitadas, representa um desaf io para muitos e envolve capacidades que podem ser exercitadas no ambiente escolar. Práticas que estimulam o desenvolvimento das habilidades verbais são fundamentais na superação de dif iculdades acadêmicas. Mais que isso, ajudam na formação do pensamento crítico e da consciência da intenção por trás dos discursos. E, mesmo entre aqueles que não se intimidam com a f lexibilidade que a linguagem exige, exercem um grande impacto na forma como se relacionam com o mundo.

Michele Müller é especialista em Neurociências e Neuropsicologia da Educação. Pesquisa e cria ferramentas para o desenvolvimento da linguagem. É autora do blog www.leituraesentido.blogspot.com

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psicopositiva

por Lilian Graziano

As FORÇAS incompreendidas (parte II) DE TODAS AS FORÇAS PESSOAIS ELA É A MAIS INCOMPREENDIDA. E VOCÊ, SABE O QUE SIGNIFICA HUMILDADE?

É

realmente incrível. Apesar de sua signif icativa importância para a Psicologia Positiva, algumas das forças pessoais ainda são bastante incompreendidas, seja por parte do público leigo quanto, pasmem, dos prof issionais. Nesse sentido, demos início, na edição passada, a uma série de três textos que têm por objetivo discutir sobre o que chamamos de as três forças mais incompreendidas da Psicologia Positiva: a bondade (sobre a qual falamos na coluna passada), a humildade e a perspectiva. 18

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Sendo assim, vamos direto ao ponto. Imagine a seguinte situação: você está conversando com uma pessoa em uma festa e, dentro de um determinado e pertinente contexto dessa conversa, a pessoa lhe diz: “Eu sou muito inteligente”. Seja sincero(a): você diria que essa pessoa é humilde? Muito provavelmente não. E, pior, diria tratar-se de alguém arrogante, não é mesmo? Pois saiba que você pode estar errado, sendo def initivamente vítima de uma cultura popular que absolutamente desconhece o signif icado da palavra “humilde”.

Mas vejamos até onde consegue ir a nossa incoerência. E para isso, permita-me, leitor, recorrer novamente ( já o f iz na coluna anterior) à f igura de Jesus. Observe que não o faço aqui (como não o f iz anteriormente) a partir de uma perspectiva religiosa, nem mesmo espiritual. Recorro aqui à imagem de Jesus como elemento cultural e f igura importante da cultura ocidental. Nesse sentido, é inegável que a f igura de Jesus Cristo seja vista como ícone de bondade e de humildade. Na coluna anterior falei sobre a bondade, razão pela www.portalcienciaevida.com.br

Loja

IMAGENS: SHUTTERSTOCK / ACERVO PESSOAL

AO LONGO DOS SÉCULOS O CONCEITO DE HUMILDADE FOI SENDO DISTORCIDO ATÉ CHEGARMOS NOS DIAS DE HOJE, QUANDO CONFUNDIMOS HUMILDADE COM INSEGURANÇA E FALTA DE ASSERTIVIDADE qual f icaremos apenas com a humildade. Jesus é símbolo de humildade. Não obstante isso, disse, de acordo com a Bíblia: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Se utilizarmos os mesmos padrões de julgamento que utilizamos naquela festa hipotética do parágrafo anterior, a conclusão seria inevitável: Jesus era um tremendo arrogante! Por que então essa incoerência? Por que Jesus permanece há milênios como símbolo de humildade enquanto nós não podemos sequer reconhecer publicamente nossas qualidades sem que sejamos julgados como arrogantes? Porque ao longo dos séculos, e muito provavelmente pela própria ação das religiões, o conceito de humildade foi sendo distorcido até chegarmos nos dias de hoje, quando confundimos humildade com insegurança, com falta de assertividade e, por vezes, com ausência de autoestima. Eu o desaf io, leitor, a relacionar as pessoas do seu círculo social que você costumeiramente classif icaria como humildes. Você poderia af irmar com toda certeza não se tratar de sujeitos inseguros? Pois é, essa distorção talvez tenha feito de nós uma sociedade pouco humilde. Não admiramos os humildes. Temos pena deles. Isso porque, def initivamente, não sabemos o que é humildade. Para a Psicologia Positiva, humil-

dade corresponde à característica daquele que deixa que as suas realizações falem por si, sem procurar estar o tempo todo em evidência. Trata-se do sujeito despretensioso, que não se considera mais especial que os demais, e, o mais importante, alguém que possui uma percepção correta – e não aquém – de si mesmo. Confesso, com um pouco de constrangimento, que demorei mais de 40 anos para entender precisamente o conceito de humildade. E como a vida acontece para além dos estereótipos, quem me ensinou sobre isso foi um CEO de uma grande empresa, rico e com MBA em Harvard. Ele era meu último paciente da noite, razão pela qual o estacionamento do meu prédio estava sempre fechado. Nunca reclamou por ter que parar seu carro na rua, nem sobre as confusões que o g uarda da noite fazia, tentando substituir o porteiro do meu prédio. “Isso acontece com todo mundo. Por que não aconteceria comigo?”, dizia. Eu sorvia essas e outras manifestações de humildade com a avidez de uma aluna dedicada. Mas senti que a lição estava completa no dia em que, durante uma sessão, eu disse a ele: “...Mas você é muito inteligente!”; ao que ele me respondeu com f irmeza: “Eu sei”. Sim, ele sabia. Mas não precisava f ingir. Porque a verdadeira humildade não precisa de falsa modéstia.

Lilian Graziano é psicóloga e doutora em Psicologia pela USP, com curso de extensão em Virtudes e Forças Pessoais pelo VIA Institute on Character, EUA. É professora universitária e diretora do Instituto de Psicologia Positiva e Comportamento, onde oferece atendimento clínico, consultoria empresarial e cursos na área. [email protected]

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psicopedagogia

por Maria Irene Maluf

Desenvolvimento

INFANTIL

OS MARCOS IMPORTANTES DE CADA FASE NUNCA DEVEM SER NEGLIGENCIADOS, POIS OS SINAIS DE QUE HÁ ALGO ERRADO APARECEM SEMPRE NO DIA A DIA E NÃO APENAS NO CONSULTÓRIO MÉDICO

À

parte o amor que temos pelos lLHOS HÉTAMBÏMUMAGRANDE responsabilidade por seu desenvolvimento sadio. Assim, o acompanhamento pediátrico é muito importante, mas o olhar diário da família é imprescindível. Para além de problemas emocionais e comportamentais, inclusive aqueles que merecem atenção redobrada, há uma pergunta que os pais sempre se fazem: essa aquisição está de acordo com a faixa adequada de desenvolvimento ou existe um atraso? Algumas áreas podem ser de importância vital no amadurecimento da criança e alguns sinais estão presentes desde os primeiros meses de vida. São alertas que podem ajudar famílias a proCURAREM PROlSSIONAIS E ASSIM IMPEDIR DANOSMAIORESAOSlLHOS ANTESDAENTRAda no ensino fundamental. A primeira aquisição que exige atenção diz respeito ao desenvolvimento motor dos bebês. Segurar a cabeça, o TRONCO SENTAR SEEAlNALINICIAROANDAR são etapas esperadas do crescimento que acontecem sucessivamente antes dos 12 ou até 15 meses de idade. Ao entrar na pré-escola, aos 2 anos, a criança deve ser capaz de subir e des-

20

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cer sozinha uma escada, chutar uma bola com objetivo, assim como aos 36 meses completos deve copiar um círculo desenhado em um papel e andar de triciclo. Não ser capaz de copiar uma cruz ao completar 4 anos, e um quadrado aos 5, assim como abotoar seu casaco, amarrar os cadarços do tênis, usar talheres para comer, não desenhar como esperado para essa idade levantam a suspeita de um problema de coordenação motora. Existem pequenas variáveis no tempo dessas aquisições, devido às oportunidades de treino, mas a avaliação da gravidade em atrasos de mais de 6 meses deve SERFEITAPORPROlSSIONAIS No 5º aniversário, a criança é capaz de armar um quebra-cabeça de 4 peças em até 20 segundos, pode abotoar seis botões em até 70 segundos, pula com os pés juntos uma corda, e aos 6 anos avança em linha reta com os olhos abertos, colocando alternadamente o calcanhar do pé que avança contra a ponta do que apoia. Nessa idade também pula bem corda, se equilibra em um pé só por 15 segundos, distingue direita e esquerda e recorta corretamente com a tesoura. Outra aquisição muito importante é a da linguagem. Bebês muito quietos, que não vocalizem antes dos 12 meses e

só falem mamãe e papai no seu segundo aniversário, ou que cheguem aos 3 anos e não formem frases com linguagem compreensível pela maioria das pessoas, devem ser levados para uma avaliação, pois esses atrasos repercutem de modo decisivo na aquisição da alfabetização. O próprio desenvolvimento cognitivo pode ser avaliado, em parte, pela riqueza e tipo de linguagem que a criança utiliza e também por seus desenhos, mas entre 3 e 4 anos espera-se que já domine algumas FORMASE NOlNALDESSEPERÓODO SEUDEsenho tenha intenção clara de reproduzir um ser humano reconhecível, com cabeça, pernas, braços e tronco. Estimular essas formas de linguagem é muito importante também para o incremento de novas habilidades indispensáveis para a escolarização. Por volta dos 6 anos, a criança já recorda uma historinha, sabe explicar um fato ocorrido, fala articulando muito bem todos os sons, ordena objetos de acordo com determinada qualidade (grossura, cor, tamanho). Reconhece os números www.portalcienciaevida.com.br

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de 1 a 10 associando-os com as quantidades que representam e faz somas simples. Distingue palavras escritas singelas como seu nome, mamãe e papai. Até completar 7 anos, é capaz de explicar o porquê de um raciocínio seu, e as diferenças principais entre um homem e um cachorro, por exemplo. Faz analogias (por exemplo: um irmão é um menino, uma irmã é...), conta moedas fracionárias e notas de dinheiro, mostra rápida progressão do pensamento. É um ser curioso, de lógica concreta e pronto para a alFABETIZA¥ÎOEOSDESAlOSESCOLARES Voltando à fase de bebê, ressalto a importância do aspecto social. Aos 3 meses a criança de desenvolvimento adequado mostra interesse pelo rosto das pessoas que cuidam dela, por objetos em movimento, e até os 6 meses deve reconhecer a mãe de modo especial, demostra curiosidade por coisas, e aos 9 meses mostra sentir angústia perto de estranhos enquanto em seu rosto já se percebem expressões variadas de acordo com a situação vivenciada. www.portalcienciaevida.com.br

O PRÓPRIO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO PODE SER AVALIADO, EM PARTE, PELA RIQUEZA E TIPO DE LINGUAGEM QUE A CRIANÇA UTILIZA E TAMBÉM POR SEUS DESENHOS Ao assoprar a primeira velinha, uma de suas brincadeiras favoritas consiste em brincar de se esconder com sua mãe, mostra preferência por um ou outro brinquedo, enquanto engatinha ou anda explora o espaço a sua volta. Perto dos 2 anos, a criança estabelece contato visual

mais continuado, sorri quando alguém sorri para ela, responde ao ser chamada, imita ações e compartilha interesses. Aos 3 anos já brinca em grupo de crianças e procura se enturmar. Por volta dos 6 anos é esperado que tenha um melhor amigo EPRElRABRINCARSOZINHAOUCOMDOISOU três companheiros da mesma idade do que em grupos numerosos. É conhecendo nossas crianças e observando seu desenvolvimento que as TORNAMOS APTAS AOS PRIMEIROS DESAlOS da vida. Qualquer atraso no desenvolvimento até essa fase é de suma importânCIA  DEVE SER AVALIADO POR PROlSSIONAIS  pois vai atuar de modo a prejudicar todo o aproveitamento pessoal e acadêmico subsequente, além de diminuir sua autoestima e ter repercussão na sua segurança emocional.

Maria Irene Maluf é especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e Neuroaprendizagem. Foi presidente nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia – ABPp (gestão 2005/07). É autora de artigos em publicações nacionais e internacionais. Coordena curso de especialização em Neuroaprendizagem. [email protected]

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utilidade pública

Por Tiago J. B. Eugênio

Estímulo à

perseverança J

ogos de videogame são feitos de deSAlOS/SUCESSOÏMEDIDOQUASEQUE totalmente pela destreza do jogador, sobretudo a coordenação. Se alguém acredita que jogar videogame é uma atividade passiva, pode ser que desconheça ou subestime o poder ativo do cérebro necessário para integrar todas ASA¥ÜESECONlGURARAVITØRIADOJOGADOR SOBRE OS DESAlOS CRIADOS PELO DESIGNER do game. Acredite, jogar videogames é a nova academia para nossos cérebros. A Neurociência tem se posicionando como o principal advogado de defesa dos games. Pesquisas recentes mostram um efeito positivo dos jogos sobre as fun¥ÜESCOGNITIVAS%SSAINmUÐNCIATEMSIDO relacionada a mudanças de massa cinzenta dos jogadores, especialmente no córtex pré-frontal. Em estudo publicado na revista PLoS ONE, 152 adolescentes foram submetidos à ressonância magnética enquanto jogavam videogame. O experimento estimou a espessura cortical e relacionou com o tempo (horas) de jogatina dos participantes por semana. Os cientistas observaram uma correlação positiva entre a espessura cortical e o tempo em contato com os jogos no córtex pré-frontal dorsolateral esquerdo (DLPFC, sigla em inglês para dorsolateral prefrontal cortex) e o campo visual do lobo frontal esquerdo (FEF, sigla em inglês para LEFT FRONTAL EYE lELDS . Nenhuma re22

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gião mostrou perda da espessura cortical em associação com o uso dos jogos. O DLPFC é uma das áreas do córtex pré-frontal mais recentes do cérebro primata, que sofre mudanças estruturais e funcionais por um longo período – até o início da vida adulta. Relaciona-se às funções executivas, como a memória de TRABALHO  mEXIBILIDADE COGNITIVA  O PLA-

A NEUROCIÊNCIA TEM SE POSICIONADO COMO O PRINCIPAL ADVOGADO DE DEFESA DOS GAMES. PESQUISAS RECENTES MOSTRAM OS EFEITOS POSITIVOS DOS JOGOS SOBRE AS FUNÇÕES COGNITIVAS

nejamento, a inibição comportamental e o raciocínio abstrato. Estudos anteriores mostraram que essa área desempenha um papel importante na forma como processamos decisões complexas, tais como aquelas que envolvem opções que incluem a realização de objetivos de curto prazo com implicações a longo prazo. O FEF é responsável pela elaboração de julgamentos sobre como lidar com os estímulos externos. Também é importante na tomada de decisão, uma vez que permite ao cérebro atentar ao tipo de reação mais adequaDAFRENTEAUMESTÓMULOESPECÓlCO Juntos, DLPFC e FEF são cruciais no sistema de tomada de decisão executivo do nosso cérebro. Maior espessura nessas áreas do cérebro (em outras palavras, mais conexões entre as células cerebrais) indica maior capacidade de lidar com diversas variáveis e as implicações dessas de forma imediata e a longo prazo. Resultados de estudos como esse podem representar a base biológica e os efeitos da sociedade gamer sobre nossos cérebros. É como se estivéssemos descobrindo uma nova academia e encarando o cérebro como um novo músculo que precisa ser exercitado e DESAlADO!SSIMSENDO SEHOJEOpersonal trainerÏOPROlSSIONALMAISADEQUADOPARA elaborar exercícios para o corpo, pode ser que no futuro o designer de games seja o PROlSSIONAL MAIS ADEQUADO PARA ELABOrar exercícios para nossos cérebros. As www.portalcienciaevida.com.br

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O APRENDIZADO ENVOLVE A REPETIÇÃO POR UM PERÍODO DE TEMPO E FAZER ISSO NOS GAMES LEVA O CÉREBRO A CRIAR NOVAS CONEXÕES NERVOSAS LIGADAS À ATIVIDADE CEREBRAL

escolas devem ser as próximas instituições AABSORVEREMESSENOVOPERlLPROlSSIONAL capaz de criar um ambiente de aprendizaGEMMAISElCAZEDIVERTIDO Porém, segundo um artigo publicado na revista Neurology Now, o contato excessivo com jogos causa mudanças no comportamento dos adolescentes. %SSAMODIlCA¥ÎOSEDEVEAOEXCESSODE produção de dopamina pelo cérebro, neurotransmissor relacionado à dependência em jogos, inclusive os eletrônicos. A estrutura de recompensa dos games é similar ao de máquinas de um cassino. O jogador insiste em bater um recorde, a solucionar um quebra-cabeça, matar um inimigo, coletar um item raro, conquistar mais territórios, passar aquela fase difícil. A vitória e a conquista fazem o cérebro produzir dopamina enquanto joga. A produção de dopamina aumenta quando o jogador vê a possibilidade de conquistar UMDESAlOMAIORAINDA.ÎOÏÌTOAQUE o level design dos jogos segue uma lógica UNIVERSAL AUMENTO GRADATIVO DA DIlCULwww.portalcienciaevida.com.br

DADE.OSSOCÏREBROADORASERDESAlADO e a resposta neuroquímica será mais efetiva quando as tarefas tendem a se tornar mais difíceis com a progressão do jogo. Como o cérebro gosta de dopamina, não é difícil compreender a preferência das pessoas pelos bons games que exigem mais do jogador paulatinamente. O córtex pré-frontal é um dos principais alvo da dopamina. No entanto, em excesso, pode desativá-lo. Como essa região é ligada à tomada de decisões, julgamentos e autocontrole, o aumento de dopamina no pré-frontal faz com que os jogadores percam a noção de tempo, deDICANDO SEHORASAlOAOGAMEEDEIXANdo de lado outras tarefas. Ainda, como essa região do cérebro completa sua formação apenas quando a pessoa tem entre

25 e 30 anos, esse tipo de problema é ainda mais preocupante nos jovens. -ESMO DIANTE DESSE DESAlO  NÎO Ï a melhor estratégia proibir os jovens de jogar videogames. Isso porque eles também trazem benefícios. Jogos são uma ótima ferramenta de aprendizado e de estímulo à perseverança. REFERÊNCIAS KÜHN, S.; LORENZ, R.; BANASCHEWSKI, T.; BARKER, G. J.; BÜCHEL, C.; CONROD, P. J.; HEINZ, A. Positive association of video game playing with left frontal cortical thickness in adolescents. PLoS ONE, v. 9, n. 3, p. 1-6., doi:10.1371/journal.pone.0091506 PATUREL, A. Game theory: how do video games affect the developing brains of children and teens? Neurology Now, v. 10, n. 3, doi: 10.1097/01.NNN.0000451325.82915.1d

Tiago J. B. Eugênio é coordenador do curso de pós-graduação em Games e Tecnologias da Inteligência aplicados à Educação da Capacitar. Mestre em Psicobiologia pela UFRN e licenciatura e bacharelado em Ciências Biológicas pela UNESP. Possui formação em Game-Based Learning na Quest to Learn (NY - EUA) É professor STEAM e de projetos relacionados a produção de jogos e ciências forenses do Colégio Bandeirantes. [email protected]

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RELACIONAMENTO

COMO ACEITAR O

FIM

O ser humano ainda encontra muitas dificuldades no sentido de saber lidar com alguns desafios afetivos, como, por exemplo, como amar ou ser amado ou como enfrentar questões relacionadas ao amor-próprio Por Andrea Calçada

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Dificilmente encontra-se alguém que não tenha tido tal tipo de vivência. Os consultórios psicológicos e psiquiátricos estão cheios de pacientes que os procuram após um rompimento, seja para lidar melhor com o luto, seja para controlar uma crise mais grave que foi disparada. Bielski e Zordan (2014) definem que “o relacionamento amoroso é compreendido como um fenômeno afetivo social que abrange os sentimentos e os processos de comunicação na dinâmica das relações amorosas. Abrange o cotidiano e os hábitos dos relacionamentos, o processo histórico de construção dos papéis na conjugalidade e sua dimensão jurídica, a consciência do valor atribuído aos vínculos nas re-

lações afetivas, como também os sentimentos e os processos de comunicação envolvidos na dinâmica das relações amorosas” (Cruz; Maciel, 2012). Ainda segundo os autores: “O desejo pessoal de encontrar o parceiro ideal corresponde à principal característica das relações amorosas. Atualmente, esse desejo convive com a facilidade em desistir da relação frustrada e seguir buscando uma nova relação prazerosa, o que é estimulado por fatores externos, tais como mídia, novas tecnologias e artes em geral, que enfatizam a busca de uma grande paixão. Todos são influenciados desde o nascimento com a informação de que, se não encontramos no outro a felicidade, deixamos de vivenciar o

Andreia Calçada é psicóloga, psicoterapeuta com formação em Gestalt, psicoterapia breve, terapia cognitivo-comportamental, hipnose ericksoniana, pós-graduada em Psicopedagogia, especialista em Psicologia Clínica e Psicopedagogia Clínica. Professora de cursos sobre avaliação psicológica e experiência de 10 anos em Psicologia Jurídica, como assistente técnica ou perita. Autora dos livros Falsas Acusações de Abuso Sexual – o Outro Lado da História. Coautora do livro Guarda Compartilhada – Aspectos Psicológicos e Jurídicos.

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ste é um tema universal! Entra ano e sai ano e apenas muda de tom em suas abordagens e apresenta novas roupagens; seja ele com enfoque presencial ou virtual, entre adolescentes, jovens adultos ou na maturidade. Hetero, homo ou bissexual. É sobre o amor enquanto este existe e sua felicidade. Sobre o amor quando finaliza e suas dores! Das depressões advindas dessas rupturas aos crimes passionais que nos impressionam. A ideia desse artigo é abordar através da pesquisa de alguns autores, bem como da experiência psicológica clínica, as diferentes formas como as pessoas lidam com o rompimento afetivo nos relacionamentos amorosos, bem como esclarecer essas dinâmicas, a fim de explorar formas mais equilibradas para lidar com esse tipo de situação. Quem dera se pudesse sempre lidar com perdas conforme o poema de Fernando Pessoa.

Eu amo tudo o que foi Tudo o que já não é A dor que já me não dói A antiga e errônea fé O ontem que a dor deixou, O que deixou alegria Só porque foi, e voou E hoje é já outro dia (Fernando Pessoa)

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RELACIONAMENTO desejado bem-estar subjetivo” (Silva Neto; Mosmann; Lomando, 2009). Assinalam que, de acordo com a literatura, o luto é uma resposta natural ao rompimento de um vínculo significativo para o indivíduo, e quanto mais dependente e intenso for o vínculo, e a dependência, mais difícil poderá ser o processo de luto. Durante e após esse processo a pessoa precisará se reorganizar. A pesquisa desses autores buscou identificar os sentimentos predominantes em adultos jovens após o término de relacionamentos amorosos. Nesse estudo, constatou-se o seguinte: após o fim do relacionamento amoroso, houve uma predominância de sentimentos positivos tanto para homens como para as mulheres, embora em intensidades diferentes, pois o nível de sentimentos positivos para eles foi superior ao delas. Além disso, as mulheres atingiram níveis mais elevados de sentimentos negativos quando comparadas aos homens, o que indica um maior sofrimento por parte delas. Esses achados podem estar relacionados a aspectos culturais que caracterizam a diferenciação de gênero, pelos

Dificilmente encontra-se alguém que não tenha tido tal tipo de vivência. Os consultórios estão cheios de pacientes que os procuram após um rompimento, seja para lidar melhor com o luto ou para controlar uma crise mais grave que foi disparada quais as mulheres ainda são educadas com uma maior valorização do relacionamento amoroso, estimuladas a encontrarem um parceiro, enquanto os homens são educados com maior ênfase no aspecto predominantemente profissional, preponderando a expectativa de que eles devam exercer

maior autocontrole, não se envolvendo tanto nos relacionamentos amorosos e, também, não expressando sofrimento quando dessas rupturas. Para eles, o fato de prevalecerem os sentimentos positivos e não os negativos, como era esperado em outros tempos, pode estar relacionado aos novos valores que regem a sociedade contemporânea, dentre eles a repulsa ao sofrimento, o consumismo, o hedonismo, a descartabilidade e a efemeridade. Ao mesmo tempo, a sociedade está mais permissiva, aceitando, com maior naturalidade, a troca de parceiros e a vivência de relacionamentos amorosos seriais. Na visão de Marcondes, Trierweiler e Cruz (2006), a ruptura é a quebra de vínculos, de laços emotivos, sexuais e afetivos, criados tanto pelo amor como pelo ódio, pelas brigas e pelas reconciliações. Embora seja uma vivência dolorosa para ambos, geralmente sofre mais aquele que se percebe como preterido (Gikovate, 2008). Essa dor é, com frequência, sentida fisicamente. São comuns dores no peito, sensação de sufocamento, falta de ar, disfunção sexual, incapacidade de trabalhar efetivamente, alterações no peso, insônia e outros transtornos do sono (Pereira et al., 2012). Esses autores investigaram os sentimentos que predominam após o rompimento de relacionamentos amorosos e as diferenças de intensidade quanto ao gênero, iniciativa de término e duração do relacionamento em pessoas entre 17 e 44 anos, ampliando a amostra do estudo citado anteriormente. De um modo geral, a separação provoca abalo emotivo tanto em homens como em mulheres, nas diferentes situações.

Conclusões

D

Existem diferentes maneiras de se lidar com o rompimento afetivo nas relações amorosas, e o objetivo é descobrir formas mais equilibradas para isso 26

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essa forma, segundo os resultados obtidos com a pesquisa, o sofrimento causado pelo término de um relacionamento amoroso independe do tempo de duração deste. Além www.portalcienciaevida.com.br

PARA SABER MAIS

MEDEIA, UMA HISTÓRIA DE AMOR E ÓDIO

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edeia é uma das personagens mais fascinantes da mitologia grega. Diz a lenda que ela foi uma feiticeira que ajudou Jasão, o líder dos argonautas, a conquistar o velocino de ouro (a lã de ouro do carneiro alado Crisómalo), que pertencia a seu pai, Aetes, rei da Cólquida. Neta do Sol, Medeia se apaixonou por Jasão e movida pelo amor traiu seu pai. Fugiu de sua terra com o grupo do amado para Iolcos, na Tessália. Depois de dez anos de casamento, Jasão se GG "PI G9G ‚ G 9   9GHG  G ‚ GG IG:$IG GGG hÔ   G G9I  ` GHG^ GhG:/  G ¢

 9G‚  GI%GÔG GI um manto mágico, que se incendiou ao ser vestido, matando Gláucia. O destino de Jasão é incerto. Depois disso, Medeia se casou com o rei Egeu, pai de Teseu, I    ‚ 9 ( : ` I G IG G  G  .9   H G G G   G  G9 G 9   G9 GG ` G: -G  G  GGG GHGG^ IG P G9 GG GG  I I G\GG\ GMedeia, de Eurípedes.

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Pesquisas investigaram os sentimentos que predominam após o término de relacionamentos e as diferenças de intensidade quanto ao gênero, iniciativa de término e duração em pessoas entre 17 e 44 anos, ampliando a amostra do estudo disso, há uma predominância de atitudes negativas tanto para homens como para mulheres, embora em intensidades diferentes. Nesse ponto, as mulheres atingiram níveis maiores quando comparadas aos homens, mas, quando analisadas as atitudes positivas nas mesmas situações, os níveis foram semelhantes para ambos. Com relação à diferença na intensidade de sofrimento entre homens e mulheres, é interessante considerar o contexto sociocultural em que essas pessoas estão inseridas, já que este pode estar interferindo nas respostas dos sujeitos. Levy e Gomes, no artigo “Relações amorosas: rupturas e elaborações”, fazem uma reflexão sobre os sentimentos que eclodem quando do rompimento de uma relação amorosa. www.portalcienciaevida.com.br

Abordam principalmente os efeitos da perda do amor para a mulher no lugar que ocupa como mãe e nas exigências feitas ao parceiro nessa reflexão. Enfocam que muitas vezes, nesses casos, a paixão se torna perversão do amor e a perda do objeto amado assemelha-se à perda de partes de si, impedindo a superação da dor. Se a mulher precisa ser amada para “ser”, a falta de amor do parceiro e o rompimento da relação provocam reações de intensa carga destrutiva. A personificação de Medeia em crimes passionais e em processos tramitando em Varas de Família ilustra seu “enlouquecimento” diante da perda do amor. Em seguida, as autoras abordam algumas contribuições teóricas que nos ajudam a compreender o caminho

para a superação das dores de amor e de uma separação conjugal e aspectos que a inviabilizam. Freud, em Luto e Melancolia ([1917] 1969), indica a necessidade de um tempo determinado para o trabalho de luto ser concluído e o ego se ver novamente livre e desinibido para novas investidas libidinais. O desinvestimento amoroso sobre o ex-parceiro se faz concomitantemente com a recuperação das partes de si que foram projetadas no outro; e isso só pode vir acompanhado por uma possibilidade de integração egoica de cada um dos envolvidos, o que significa quebrar com a idealização do modelo fusional de relacionamento (sem diferenciação e limites entre os parceiros). Com isso, a energia poderá ser canalizada para outras áreas ou relacionamentos. A capacidade de reorganização interna está intimamente ligada com a forma como foi estruturada a personalidade das pessoas envolvidas em um relacionamento e sobre a percepção de si mesmo: dependente/independente, capaz/incapaz, ser uma pessoa capaz de ser amada ou não. Enfim, como foi estruturada a autoestima.

ŒLuto e Melancolia Œ Na obra Luto e Melancolia, Sigmund Freud procura desenvolver considerações sobre a natureza da melancolia, traçando um paralelo com o afeto normal do luto e buscando discutir suas manifestações de origem psicogênica. A correlação utilizada por Freud entre luto e melancolia se justifica pela semelhança no cenário geral dos dois elementos. O luto se caracteriza pela reação normal à perda de um ente querido e a melancolia hoje atinge boa parte da população mundial, sob o nome de depressão.

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RELACIONAMENTO As mulheres alcançaram níveis mais elevados de sentimentos negativos se comparadas aos homens, o que mostra maior sofrimento por parte delas

Neurociência afetiva

M

aria Tereza Maldonado, na apresentação do livro Labirinto de Espelhos, aponta que os conhecimentos recentes da Neurociência afetiva e as pesquisas sobre as origens da construção do vínculo entre mãe e filho desde a gravidez mostram a possibilidade de desenvolver, desde os primeiros anos de vida, as sementes do amor, da empatia e da capacidade de cuidar. Criando, assim, condições para que desenvolvam habilidades e competências a partir da construção de uma base sólida de boa autoestima. Essa base sólida permite percorrer, de modo mais seguro, os labirintos da vida, com suas dificuldades e possibilidades, surge como alicerce de força de vida. Acreditar em si mesmo, em sua força, em suas possibilidades de ser bem-sucedido é ingrediente básico da autoestima, que influencia o grau de autodeterminação. A formação da boa autoestima depende profundamente do olhar amoroso de apreciação, do ser visto como pessoa de valor, com competência, no mínimo por uma pessoa significativa nos círculos de convivência.Quando esse olhar estruturante falha, a pessoa tenta alicerçar-se externamente no parceiro, procurando nele a segurança (e a auto28

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estima) que lhe falta. Quando, então, o rompimento se dá a insegurança e as instabilidades internas surgem à tona, além do luto esperado para a finalização de um relacionamento. Estas estavam apenas tamponadas pelo relacionamento. Dependendo do tamanho da insegurança e da instabilidade, além

O sofrimento causado pelo término de um relacionamento amoroso independe do tempo de duração deste. Além disso, há uma predominância de atitudes negativas tanto para homens como para mulheres, embora em intensidades diferentes

da estrutura de personalidade de cada um, a reação será mais ou menos agressiva, mais ou menos depressiva, e a dificuldade em responsabilizar-se pelo término, culpabilizando o outro, se impõe. Muitas vezes o ódio se manifesta pela ferida aberta e o estrago é feito na vida de quem está em volta. Do ex-parceiro (a), dos filhos, enfim chegando a tragédias como vemos estampadas em jornais do nosso país e do mundo. Interessante pensar a partir dos resultados das pesquisas apresentadas anteriormente: em adultos jovens há a predominância de sentimentos positivos tanto para homens como para as mulheres, embora em intensidades diferentes, pois o nível de sentimentos positivos para eles foi superior ao delas. Além disso, as mulheres atingiram níveis mais elevados de sentimentos negativos quando comparadas aos homens, o que indica um maior sofrimento por parte delas. Constata-se que as mulheres ainda possuem a maior dificuldade em fazer o luto, bem como lidar com a separação, principalmente quando do lugar de mãe e as exigências feitas ao ex-parceiro. Como já relatei neste arquivo sobre a imagem das Medeias, Levy e Gomes levantam a questão das que “matam” seus filhos nas Varas de Família após separações. Embora não seja este o objetivo do artigo, é importante vincular aqui a questão da alienação parental, ensejando a morte psicológica dos filhos envolvidos nesses litígios. A necessidade, porém, de uma análise histórico-cultural se faz imprescindível para que se entenda que essa não é uma questão de gênero, mas da contextualização da mulher no mundo e nas relações e seus vínculos com o poder. O quanto a questão das relações vinculares significativas e seu olhar de valorização e respeito sobre a criança são fundamentais na estruturação da autoestima e da personalidade. O quanto a desvalorização da mulher por séculos ainda pesa na estruturação de www.portalcienciaevida.com.br

sua autoestima. Quanto mais bem estruturadas encontram-se a autoestima e a personalidade, maior a flexibilidade e melhor a forma como cada um vai lidar com os rompimentos de relacionamentos amorosos.

( GhG

P

ercebem-se mudanças contemporâneas quando se analisa o resultado da pesquisa com adultos jovens que demonstram reações positivas às separações, diferentemente do que era esperado anteriormente. Segundo os autores, podendo estar relacionado aos novos valores que regem a sociedade contemporânea, dentre eles a repulsa ao sofrimento, o consumismo, o hedonismo, a descartabilidade e a efemeridade. À dificuldade em fazer contato e vivenciar emoções mais negativas, bem como lidar com as frustrações e a realidade do cotidiano de um relacionamento mais duradouro. Ao mesmo tempo, a sociedade está mais permissiva, aceitando, com maior naturalidade, a troca de parceiros com maior frequência.

Com relação à diferença na intensidade de sofrimento entre homens e mulheres, é interessante considerar o contexto sociocultural em que essas pessoas estão inseridas, já que este pode estar interferindo nas respostas dos sujeitos Sobre formas melhores de lidar com rompimentos não foram encontrados textos de cunho acadêmico que falem sobre o assunto diretamente, como diversos sites o fazem. Tais dicas vão desde “deixar fluir” as emoções e fazer o luto até encontrar hobbies, estar com familiares e amigos. A internet e as redes sociais devem ser evitadas bem como ambientes que fazem lembrar-se do ex-parceiro. Apesar dessas dicas (que por vezes soam como parte de livros de autoajuda) que são importantes, necessário se faz um mergulho interno de cada um em busca do resgate de partes de si que se perderam no relacionamento e projetadas no ex-parceiro, das necessi-

dades que foram procuradas externamente ao invés de serem desenvolvidas internamente. Da busca de autonomia interrompida, que deverá ser resgatada, que ajudará cada um a não se sentir tão frágil e vulnerável frente a uma separação. A autonomia e autoconfiança que impedirão que medos infantis, sentimentos de rejeição e abandono surjam em uma regressão devastadora. Que dos rompimentos venham a tristeza, o luto e a saudade. A experiência agregada que fará buscar novas experiências evitando repetições prejudiciais ao crescimento individual. E também à monotonia de um casamento falido, bem como aprendendo a lidar com as frustrações normais a um relacionamento. Enfim, quem se encontra não se perderá frente a um rompimento. REFERÊNCIAS

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Inúmeras vezes o ódio se impõe pela ferida aberta e o estrago é feito na vida de quem PG9I‚ 9 chegando a tragédias sociais relativamente comuns

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ALMEIDA, Thiago de. Relacionamentos Amorosos: o Antes, o Durante... e o Depois, v. 2. São Paulo: Polo Books, 2014. ASSIS, S. G. de; AVANCI, J. Q. Labirinto de Espelhos: Formação da Autoestima na Infância e na Adolescência. Coleção Fiocruz Criança Mulher e Saúde. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, BIELSKI, D. C.; ZORDAN, E. P. Sentimentos Predominantes, após o Término do Relacionamento Amoroso, no Início da Adultez Jovem, v. 38, n.144, p. 17-24, dezembro/2014, Perspectiva, Erechim. LEVY, L.; GOMES, I. C. Relações amorosas: rupturas e elaborações. Tempo Psicanalítico, v. 43, n.1, jun. 2011, seção temática, Rio de Janeiro. MARCONDES, M. V., TRIERWEILER, M.; CRUZ, R. M. Sentimentos predominantes após o término de um relacionamento amoroso. Artigo 94 da Psicologia: Ciência e Profissão, v. 26, n. 1, p. 94-105, 2006. psique ciência&vida

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PERlL

Por Anderson Zenidarci

De GENEROSA a LOUCA A TRAJETÓRIA DA RAINHA DE PORTUGAL, D. MARIA I, MOSTRA UM GOVERNO COM GRANDES FEITOS, MAS OS CAPÍTULOS DE DESAGREGAÇÃO PSÍQUICA COM DELÍRIOS PARANOIDES TAMBÉM MARCAM SUA HISTÓRIA

D.

Maria I nasceu em Lisboa EM lLHADOREI$*OSÏ) e da rainha consorte D. Mariana. Em 1777, com a morte DOPAI FOIAPRIMEIRARAINHADE0ORTUGAL Por não haver príncipe varão, e por não EXISTIREM0ORTUGALA,EI3ÉLICAQUEAFASTAVAASMULHERESDOGOVERNODOESTADO  foi coroada e empunhou o cetro, carregando um governo de extrema responSABILIDADE!TÏENTÎOTODASAShRAINHASv tinham conquistado esse posto por meio de casamento com o rei, portanto não POSSUÓAMESSEPRIVILÏGIO4AMBÏMOTÓTULO DE PRINCESA DO "RASIL PASSOU A SER DELA$EVIA PORPROTOCOLO SECASARCOM um príncipe português. Apesar da grande diferença de idade, casou-se com o tio D. Pedro, irmão do pai. Mesmo sendo um casamento de interesses, afeiçoou SEAOMARIDOEELEAELA TORNANDO SE AMIGOS E PRØXIMOS TIVERAM SETE lLHOS TRÐSHOMENSEQUATROMULHERES QUATRO MORRERAM ANTES DE COMPLETAR UM ANO Dos três que sobreviveram: o príncipe HERDEIRO$*OSÏ FALECEUCOMANOSDE VARÓOLA$*OÎO QUEPASSAASEROHERDEIro, é mais tarde coroado como João VI, e AINFANTA$-ARIANA6ITØRIA QUECASOU COMOINFANTEDE%SPANHA$'ABRIEL ! RAINHA ERA EXTREMAMENTE CATØLIca e dedicava grande respeito e veneRA¥ÎO PELA MEMØRIA DE SEU PAI %NTROU EMCONmITOCOMO-ARQUÐSDE0OMBAL  poderoso grande ministro no reinado do pai, mas tinha mais interesses pesso30

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AIS DO QUE PELO REINO %LE EXILOU VÉRIOS duques, marqueses, pensadores que de forma direta ou não se opunham ao seu COMANDO%XPULSOUOSJESUÓTASDOPAÓSE tomou seus bens. Fosse porque D. Maria TIVESSEANTIPATIAPELO-ARQUÐSDE0OMBAL QUE O SEU ESPÓRITO DEVOTO HAVIA DE sentir contra o perseguidor dos jesuítas ou porque juntasse o rancor motivado PELOCONHECIMENTODESEUSPLANOS ODEmitiu oito dias depois de subir ao trono, TRAZENDODEVOLTAOSJESUÓTASEOSOUTROS A partir daí ocorre uma mudança RADICALNOPODERENASCABE¥ASPENSANTES OSEXILADOSVOLTAMTRAZENDONOVAS IDEIAS E INFORMA¥ÜES DAS POLÓTICAS  HÉBITOS  NOVIDADES TECNOLØGICAS E ECONO-

Era extremamente católica e dedicava grande respeito e veneração pela memória de seu pai

mias dos vários países onde estiveram. !O CHEGAREM Ì TERRA NATAL ENCONTRAM NO PODER  NOMEADO PELA RAINHA  UM HOMEM QUE  PELA SUA LONGA RESIDÐNCIA EM ,ONDRES  ADQUIRIRA O GOSTO PELOS MELHORAMENTOS E PELO PROGRESSO INTELECTUAL ,UÓS0INTODE3OUSA#OUTINHO A estes homens se devem os méritos que honram o reinado de D. Maria I, FUNDA¥ÜES DE ESTABELECIMENTOS DE CIência e instrução, como a Academia 2EALDAS#IÐNCIAS A!CADEMIADE-ARINHA  A !CADEMIA DE &ORTIlCA¥ÎO  A #ASA 0IA  A "IBLIOTECA 0ÞBLICA ETC %LA apoiava e propiciava a criação desses ESTABELECIMENTOS  SOBRETUDO QUANDO ENVOLVIAM TAMBÏM lNSDECARIDADEE AJUDAÌPOPULA¥ÎO ERACONHECIDACOMO MUITOBONDOSA/SEUESPÓRITORELIGIOSO A FEZ CONSTRUIR MAGNÓlCAS EDIlCA¥ÜES RELIGIOSAS E MONUMENTOS QUE HOJE VISITAMOSENCANTADOS0ORTUGALRESSURGIU COMRENOVA¥ÜESEMELHORIAS #OMO MUITO RELIGIOSA  TINHA UM CONFESSORPESSOAL DURANTEDÏCADASFOIO ARCEBISPODE4ESSALØNICA HOMEMPOUCO ILUSTRADO  MAS DE UM CARÉTER CORRETO E de bom senso, que não usava o fato de SERCONFESSORDARAINHAPARAINmUENCIÉ LA POLITICAMENTE OU MANIPULÉ LA POR MEIODARELIGIÎO3UAINmUÐNCIAERAPARA ACALMAR A CONSCIÐNCIA ENFRAQUECIDA DE $ -ARIA E LHE SERENAR OS CONmITOS DE CONSCIÐNCIA PELA CULPA DE hTER TRAÓDO O reinado de seu pai”. Foi um choque para ELASABERDESUAMORTE www.portalcienciaevida.com.br

IMAGENS: WIKIPEIDA/ ARQUIVO PESSOAL

NAS CAMINHADAS DIÁRIAS, SEMPRE MONITORADAS POR DAMAS DE COMPANHIA, DEVIDO AO ESTADO ALTERADO DE CONSCIÊNCIA, APRESENTAVA-SE ALIENADA DE TUDO AO REDOR, DAÍ VEM !&2!3%h-!2)!6!) COM AS OUTRAS” )NCLUIUESSATRISTEZAÌSOUTRASPERDAS DO MARIDO  DA MÎE E DO lLHO HERDEIRO $ *OSÏ /S LUTOS A DESORGANIZARAM TOTALMENTE 3EU CONFESSOR PASSOU A SER O BISPO DO !LGARVE  UM FANÉTICO E DESTItuído de bom senso, que não fazia senão AGRAVAROESTADODEDESEQUILÓBRIODARAINHA MOSTRANDO LHEOSPECADOSECRIMES QUECOMETIA5SAVASUAFRAGILIDADEPARA lNSPRØPRIOSEDESEUSPROTEGIDOS!LUTA QUETRAVAVANOSEUEMOCIONALENLUTADO  OSMEDOSRELIGIOSOSDEPUNI¥ÎOETERNAE ASPRESSÜESPOLÓTICASCADAVEZMAISACIRradas produziram uma desagregação PSÓQUICACOMDELÓRIOSPARANOIDESEALUCINA¥ÜESCOMFATOSOCORRIDOSEMPÞBLICO $E h2AINHA 'ENEROSAv  PASSOU AOS 58 anos de idade, quase duas décadas de REINADO  A SER DESIGNADA COMO h! ,OUca”. Não mais recuperou a capacidade de governar. Em 1807 embarcou fugida COMTODAAFAMÓLIAREALPARAO"RASIL POR ocasião da invasão dos franceses em PorTUGAL&OILEVADAÌFOR¥APARABORDOEPELO caminho gritava de dentro da carruagem QUEAQUERIAMLEVARAOSUPLÓCIO AOINFERno, que eram demônios que vieram rouBÉ LA %SSE COMOVENTE EPISØDIO OCORREU depois de quinze anos da manifestação do transtorno esquizofrênico severo, o QUEOBRIGOUSEUlLHO OPRÓNCIPE$*OÎO  AASSUMIRAREGÐNCIADOREINO OQUAL POR www.portalcienciaevida.com.br

Lidava com uma tristeza profunda pelas perdas do marido,

GÔ ‚    :%\:* lutos desorganizaram seu estado emocional totalmente

respeito à mãe, a conservou até a morte COM O TÓTULO DE RAINHA -ARIA VIVEU NO "RASIL POR OITO ANOS  SEMPRE EM ESTADO ALTERADODECONSCIÐNCIAEDEMONSTRANDO PROFUNDAPERTURBA¥ÎODELIRANTE.ASSUAS caminhadas diárias, sempre monitoradas PORDAMASDECOMPANHIA ELASESEGURAVA NELAS QUEACONDUZIAMPARAONDEQUISES-

SEM  SEM OPOSI¥ÎO  ALIENADA DE TUDO AO REDOR DAÓVEMAFRASEh-ARIAVAICOMAS OUTRASv-ORREUEM NO#ONVENTODO Carmo, no Rio de Janeiro, aos 81 anos de IDADE%MSEUSRESTOSMORTAISFORAM TRANSLADADOSPARA,ISBOAESEPULTADOSNO MAUSOLÏUDA"ASÓLICADA%STRELA UMADAS igrejas que mandou erguer.

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coaching

por Eduardo Shinyashiki

Aprenda a APRENDER A VIDA É FEITA DE NOVAS EXPERIÊNCIAS, SEJA NA ÁREA PROFISSIONAL OU PESSOAL E, DESDE AS SITUAÇÕES SIMPLES ÀS COMPLEXAS, É IMPRESCINDÍVEL QUE POSSAMOS NOS MARAVILHAR COM AS NOVIDADES CONSTANTEMENTE. ESSE JÁ É UM APRENDIZADO

H

á sempre mais para ser explorado! Esse talvez seja o pensamento que deveríamos ter ao menos uma vez por dia, para colocar sempre em pauta a necessidade de olharmos por cima do muro do cotidiano e encon32

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trar possibilidades onde antes acreditávamos existir apenas o trivial. Vamos a um exemplo prático? Imagine que está escrevendo uma carta sobre a sua vida para um amigo que não vê há muito tempo. Logo num primeiro momento, não lhe vêm

à cabeça apenas as coisas que já são conhecidas, ou seja, o que já realizou e faz no presente? Dif icilmente a primeira ideia a apresentar nessa carta será o seu planejamento para o futuro e as descobertas que tem feito ao longo dos dias. Por uma característica www.portalcienciaevida.com.br

IMAGENS: 123RF/ACERVO PESSOAL

de “sedentarismo mental”, buscamos sempre o estado de equilíbrio baseado nos fatos e nas situações que já nos são familiares e confortáveis, ainda que dentro desse cenário existam situações desagradáveis. Ref letindo sobre essa questão, é imprescindível que a gente possa se maravilhar com as novidades da vida constantemente. Deixe de lado, ainda que por alguns instantes no dia, todas as certezas e b usque as perguntas em vez de respostas. Lembre-se de que na história da humanidade tivemos a queda de grandes verdades, entre as quais o pensamento de que a Terra era plana. Bem, se a curiosidade – e o empenho em saná-la – nos fez evoluir nesse caso, por que não utilizá-la a nosso favor também nas demandas de nossa existência? Felizmente, não temos a capacidade de aprender algo a ponto de dominá-lo, o que exige uma renovação periódica do que acreditamos conhecer. Contudo, quando deixamos de investir energia e tempo na tarefa de redescobrir, corremos o risco de cair no mar do “conhecimento ignorante”. Essa é a situação vivenciada pelos prof issionais que viajam o mundo todo a trabalho sem se darem a oportunidade de explorar de forma concreta as regiões por onde passam. Após algum tempo, eles até poderão ter muitas histórias interessantes para contar sobre suas idas e vindas, mas poucas terão realmente algo de original, pois é bem provável que não saibam falar sobre a experiência da culinária local ou de como o povo se comporta. Quantas vezes na semana você faz uma parada para pensar como estão se relacionando os fatos ligados a diferentes dimensões da sua vida? Por exemplo, a sua última promoção no trabalho se deu em um momento positivo no âmbito familiar? Além disso, como seu comportamento com amigos e pessoas queridas é modif iwww.portalcienciaevida.com.br

SE O CAMINHO PARA O SUCESSO PUDESSE SER ESCRITO DE FORMA SIMPLES, ENCONTRARÍAMOS A SUA SÍNTESE AO DIZER QUE ELE CHEGA PARA OS QUE ENXERGAM O QUE NINGUÉM VIU, AINDA QUE OLHANDO PARA UM MESMO REFERENCIAL cado quando algo não está bem no escritório? Essas questões podem parecer simples, mas escondem algo importante: a existência do plano macro, ou seja, de uma forma de visualizar o mundo que está diretamente relacionada à sua totalidade e às conexões que se fazem presentes por trás dos fatos. Como sempre, é necessário um bom planejamento, e essa visão macro o auxilia nesse processo. Estabeleça seus objetivos e pontue as metas sem deixar de lado os efeitos que elas terão no plano geral. Para isso, uma boa dica é ouvir a sua intuição. O que muitos chamam de “aquela voz que fala comigo mesmo” pode ser, quando estimulada da forma correta, uma potente ferramenta para as tomadas de decisão. Em outras palavras, devemos conf iar em nossa intuição, deixando que ela nos guie e, à medida que essa relação se tornar mais contínua, os insights serão mais precisos e constantes. Quando ouve a sua própria voz, você vê o que mais ninguém pode ver. Se o caminho para o sucesso pudesse ser escrito de forma simples, encontraríamos a sua síntese ao dizer que ele chega para os que enxergam o que ninguém viu, ainda que olhando para um mesmo referencial. Inovações tecnológicas, novas formas de comportamento e tendências no mercado

surgem dessa forma. É fácil comprovar essa situação. Há poucos anos, ninguém precisava de um telefone celular para dar conta de sua existência. Atualmente, ninguém mais sai de casa sem seu aparelho pessoal, nem mesmo para ir até a padaria. Para os QUEESTÎOPENSANDOOK ISSOJÉNÎOÏ mais uma novidade”, f ica o convite: qual será o próximo meio de comunicação da humanidade? Vislumbre essa resposta e você pode ser a mais nova personalidade do mundo. Aprenda a aprender! “Viver e não ter a vergonha de ser feliz. Cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz.” Eternizada na voz de tantos talentos da nossa música, a canção de Gonzaguinha é o resumo do que há por trás de pessoas que unem sonho e vontade de fazer a diferença. Por isso, deixo aqui um pedido: crie um ambiente bem aconchegante em sua casa para realizar o café da manhã do aprendizado, deixe essa canção de fundo e escreva tudo o que você deve reaprender, abordando tópicos complexos ou simples, como “aproveitar o amanhecer em um dia de folga”. O importante é que você se reconecte com o espírito da boa desconf iança e aprenda o novo, mesmo que ele já seja muito conhecido pelo hábito. Há sempre algo de novo para conhecer e enxergar! Fazer diferente para fazer a diferença!

Eduardo Shinyashiki é palestrante, consultor organizacional, especialista em Desenvolvimento das Competências de Liderança e Preparação de Equipes. É presidente do Instituto Eduardo Shinyashiki e também escritor e autor de importantes livros como Transforme seus Sonhos em Vida (Editora Gente), sua publicação mais recente. www.edushin.com.br

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livros

Por Lucas Vasques

Atuação do psicólogo jurídico (comunicação entre Psicologia e Direito)

IMAGENS: DIVULGAÇÃO

No livro Psicologia Jurídica no Processo Civil Brasileiro, a autora, Denise Maria Perissini da Silva, psicóloga clínica e jurídica, atualiza o panorama geral da atuação do psicólogo jurídico nas ações de Família e )NFÊNCIA TRAZENDONOVASJURISPRUDÐNCIAS REVISÎOBIBLIOGRÉlCAEASINOVA¥ÜESDASLEGISLA¥ÜESREFERENTES à Guarda Compartilhada e novo Código de Processo Civil. A perícia psicológica será enfocada quanto AOSASPECTOSLEGAISElNALÓSTICOS RESSALTANDO SEAIMPORTÊNCIADASIMPLICA¥ÜESÏTICASNOEXERCÓCIOPROlSSIONALDOPSICØLOGO BEMCOMOAATUA¥ÎODOPSICØLOGOJUDICIÉRIONAS6ARASDA&AMÓLIAENAS6ARAS DA)NFÊNCIA$ISCUTETAMBÏMACOMUNICA¥ÎOENTREA0SICOLOGIAEO$IREITO QUESTIONANDOAlGURADO juiz e a imagem do Judiciário frente à sociedade, e analisando a contribuição de ambos para a compreensão do ser humano, a busca do ideal de Justiça e a construção da cidadania. Psicologia Jurídica no Processo Civil Brasileiro Autora: Denise Maria Perissini da Silva Editora: Forense Número de páginas: 592

Compulsão precoce (comportamento na infância) Estudos revelam que o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) afeta cerca de 2% a 3% da população geral; em cifras, estima-se que mais de 100 milhões de pessoas no mundo INTEIROSEJAMPORTADORASDADOEN¥A QUETAMBÏMACOMETEOPÞBLICOINFANTIL/TEMA ÏOFOCOCENTRALDOLIVROTOC: Aprendendo sobre os Pensamentos Desagradáveis e os Comportamentos Repetitivos. Escrito pelas especialistas em terapia cognitivo-comportamental *ULIANA"RAGA'OMESE#RISTIANE&LÙRES"ORTONCELLO AOBRAABORDA DEMANEIRALÞDICA O transtorno que, muitas vezes, inicia na infância ou adolescência e tende a se manter ao LONGODAVIDASENÎOTRATADO TRAZENDOPREJUÓZOSSIGNIlCATIVOSNAQUALIDADEDEVIDA/ LIVROTEMCOMOOBJETIVOAUXILIARNAPSICOEDUCA¥ÎODOTRANSTORNOENOTRATAMENTO APREsentando os principais tipos de sintomas que podem surgir na infância ou adolescência. TOC: Aprendendo sobre os Pensamentos Desagradáveis e os Comportamentos Repetitivos Editora: Sinopsys Gd% GGGG"  G!ÏI Número de páginas: 32

O que é hipnoterapia? (técnica traz benefícios) %SSEPEQUENOGUIAENSINANÎOSØOQUEÏAHIPNOSE MASTAMBÏMPARAQUESERVEESEUUSONASVÉRIAS ESPECIALIDADES PRINCIPALMENTECOMOFERRAMENTANASTERAPIASALTERNATIVAS6OCÐSABEOQUEÏSERHIPnotizado? E para que serve a hipnose nos tratamentos em Psicoterapia, Medicina e Odontologia? A PSIQUIATRAEPSICANALISTA3OlA"AUER AUTORADOLIVROPara Entender a Hipnoterapia, EXPLICAOCONCEITO ECOMOELAÏFEITA#LARIlCATAMBÏMDOISPONTOSIMPORTANTESQUANDOUSARECOMQUEM!DOUTORA POSSUIANOSDEEXPERIÐNCIANOUSODAHIPNOTERAPIANASSESSÜESEOLIVROFOIUMAMANEIRADELEVARAO público o conhecimento dessa alternativa que vem acumulando ótimos resultados em seus pacientes. /GUIATAMBÏMABORDAOSMITOSSOBREAHIPNOSE ASDIFEREN¥ASENTREHIPNOSEDEPALCOversus hipnoTERAPIA AHISTØRIADAFAMOSAHIPNOTERAPIAERICKSONIANA FALASOBREAAUTO HIPNOSEETRAZTÏCNICASEM hipnose. Um material rico e completo para quem quer entender a hipnoterapia. Para Entender a Hipnoterapia Gd-‚GG Editora: Wak Número de páginas: 124 34

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Educação e Psicologia

dossiê

O universo da

COGNIÇÃO

Pesquisadores como Jean Piaget dedicaram sua obra para compreender e explicar o mundo da criança e o seu desenvolvimento emocional, além do tanto que esses fatores influenciam no processo de aprendizado www.portalcienciaevida.com.br

SHUTTERSTOCK

e o ato de aprender

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dossiê

FERRAMENTAS de aprendizagem Cognição e habilidades socioemocionais são importantes mecanismos de auxílio no que se refere ao aprendizado das pessoas e, por isso, devem ser alvo estratégico da atenção de educadores e familiares Por Luiza Elena L. Ribeiro do Valle

A

regulação das emoções constitui uma habilidade fundamental para a interação social, influenciando diretamente na expressão de sentimentos e no comportamento de cada pessoa. A regulação das emoções tem sido definida como estratégia consciente ou inconsciente dirigida a manter, aumentar ou diminuir um ou mais componentes dos comportamentos e respostas fisiológicas que constroem as emoções (Mauss; Evers; Wilhelm; Gross, 2006), em cada indivíduo. As diferenças individuais resultam em dimensões de traços pessoais, de níveis de ansiedade e de tendências comportamentais, assim como se alteram as ativações cerebrais que influenciam a capacidade de regular as emoções ou que resultam no surgimento de patologias mentais, como no caso do estresse, que pode se desdobrar em diversos comprometimentos psicofisiológicos. Como a aprendizagem ocorre a partir de processamentos cognitivos, a regulação das emoções que atuam nos comportamentos é alvo de interesse

dos estudos, sendo importante que se voltem para essa questão que, tradicionalmente, não se liga aos currículos escolares, nem ocupa a preocupação com o bom desempenho do aluno, embora esteja presente em cada momento do aprendizado. Considera-se, portanto, que a cognição e as habilidades socioemocionais sejam ferramentas de aprendizagem e devem ser alvo de atenção de educadores e familiares.

Cognição e emoção

N

os anos 80, o encontro entre a Psicologia e as Neurociências proporcionou um canal de comunicação e pesquisas em conjunto. Desde então, a parceria denominada neuropsicologia cognitiva tem incrementado a demanda de produções a partir da troca de informações, material teórico e experiência clínica (Andrade et al., 2004, p. 6). A terapia cognitivo-comportamental (TCC) baseia-se numa postura construtivista de que nossas representações de eventos internos e externos determinam nossas respostas emocio-

Luiza Elena L. Ribeiro do Valle é psicóloga, mestre em Psicologia Escolar e Educacional, com especialização em Psicopedagogia e Psicologia Clínica. É autora do livro Cérebro e Aprendizagem – um Jeito Diferente de Viver (Wak Editora).

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nais e comportamentais. Nossas cognições ou interpretações sobre os fatos refletem formas de processar informação. Assim, um objeto qualquer tem um significado diferente para cada pessoa: ir à escola pode ser uma aventura de descobertas ou pode ser uma tortura de cobranças, especialmente, se existe uma dificuldade particular em atingir as expectativas avaliativas. Por isso, uma das técnicas iniciais da terapia cognitiva consiste em identificar e corrigir as conceituações distorcidas e crenças disfuncionais, substituindo-as por outras crenças e ideias que possibilitem ao indivíduo experimentar novos comportamentos e emoções menos prejudiciais a ele mesmo e, como consequência, aos outros (Valle, 2015).A partir do aprofundamento dos pensamentos automáticos, é possível chegar às crenças centrais do indivíduo, que são as ideias mais fixas e enraizadas, oriundas do processo de desenvolvimento, das experiências e da formação do indivíduo desde a infância, aceitas por eles como verdades absolutas. Pensamentos já definidos, independentemente dos acontecimentos situacionais, que concluem simplesmente: “eu sou assim”, “eu não consigo”, “eu tenho que”, “eu www.portalcienciaevida.com.br

Educação e Psicologia

123RF

A habilidade imprescindível para a interação social se chama regulação das emoções, que interfere diretamente na expressão de sentimentos e no comportamento

não gosto” e assim por diante, podem resultar em comportamentos que inibem a iniciativa de tentar, característica de uma constante capacidade de “vencer” limites que caracteriza o ser humano. Essas conclusões pessoais se referem a pensamentos automáticos, que definem resultados de processos cognitivos e se aplicam de forma generalizada a todas as outras situações. Por exemplo, a partir de não ter bons resultados em uma prova, o indivíduo pode ficar convencido de que isso significa que ele é assim, que não consegue e não vai gostar da experiência etc. O comportamento consequente será rejeitar tentativas que possam mudar a posição, fortalecendo aqueles pensamentos e, em vez de modificá-los, www.portalcienciaevida.com.br

essas experiências passam a ter uma função limitadora.A pesquisa de Albert Bandura (2008) sobre modelos de processamento de informações e aprendizagem, e as evidências empíricas na área do desenvolvimento da linguagem, suscitou questões sobre o modelo comportamental tradicional disponível até então, e apontou as limitações de uma abordagem comportamental não mediacional para explicar o comportamento humano. O modelo baseado nos reforçadores de respostas com premiação e punição propôs uma compreensão da aprendizagem sem tentativa, conhecida como “modelação”, que ocorre pela observação de um modelo, sem a necessária reprodução do comportamento, com

reforços automáticos. Michael Mahoney (1946-2006) foi um importante precursor do movimento cognitivista. Em uma publicação intitulada Cognition and Behavior Modification (Mahoney, 1974), ele enfatiza a importância do processamento cognitivo. Os conceitos cognitivos foram estudados intensamente por diferentes correntes, como autores russos, com destaque para Lev Semenovich Vygotsky (18961934), que verificou que crianças eram bem-sucedidas na aprendizagem de regras gramaticais, independentemente de reforço (Vygotsky, 1962; 1991).  O papel do mediador se diferencia nas questões de inteligência, porque orienta, sem executar os caminhos da aprendizagem, uma vez que psique ciência&vida

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dossiê

 hG   G GGGG Gh€IHG  ƒI G  HG psicológicos, como no caso do estresse

Como a aprendizagem ocorre a partir de processamentos cognitivos, a regulação das emoções do comportamento é alvo de interesse dos estudos, sendo importante que se voltem para essa questão que, tradicionalmente, não se liga aos currículos escolares aprender é uma mudança cognitiva que independe do outro. Outro nome significativo em seus achados teóricos foi Jean Piaget (1978), um os principais representantes da Psicologia Cognitiva, porque construiu uma teoria do desenvolvimento mental humano. Segundo Piaget, a aprendizagem é entendida como mudanças que ocorrem na estrutura do cérebro e só acontece quando as estruturas cerebrais se modificam (o que se comprova, hoje, em exames neurológicos). Em outras palavras, para que alguém aprenda, ocorrem mudanças no cérebro com reconfiguração da estrutura cognitiva (através de esquemas de assimilação e acomodação) do indivíduo, resultando em novos esquemas de adaptação, para seu equilíbrio. Foi Beck (1967), no entanto, quem 38

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ŒFundamentos da aprendizagem Œ O psicólogo canadense Albert Bandura é dono de uma extensa lista de contribuições nas áreas de Psicologia Social, Cognitiva, psicoterapia e pedagogia. Em 1968, aos 48 anos, foi eleito o presidente mais jovem da Associação Americana de Psicologia (APA). A fase inicial de uma de suas principais pesquisas analisou os fundamentos da aprendizagem de crianças e adultos, particularmente, em imitar o comportamento observado em outros, especialmente comportamentos agressivos.

propôs o raciocínio teórico subjacente da terapia cognitiva de que o afeto e o comportamento de um indivíduo são amplamente determinados pelo modo como ele olha o mundo (cognições/ pensamentos). Embora vindo de uma tradição psicanalítica, Albert Ellis (1913-2007) também revelou insatisfações com os resultados práticos do trabalho psicanalítico (Ellis, 1997). Segundo Jacobson (1987), a incorporação das teorias e terapias cognitivas à terapia comportamental foi assumida por diversos terapeutas e teóricos comportamentais. Uma “revolução cognitiva” começou a emergir, embora os primeiros textos centrais sobre modificação cognitiva tenham aparecido somente na década de 1970. A memória operacional sustenta o processo de cognição por tempo suficiente para que as informações sejam retidas pela memória de longa duração, ao mesmo tempo que oferece subsídios para o gerenciamento de atividades correntes de cognição, entre elas a atenção e suas diferentes formas.

Psicofisiologia do estresse

O

organismo, ao receber um estímulo, desencadeia uma resposta, uma preparação para fuga ou reação de enfrentamento da situação. Conforme a vulnerabilidade individual e abrangendo a esfera física e psicossocial ocorrem alterações orgânicas e mentais, de uma maneira ampla e diversificada (Albert; Ururahy, 1997). A reação do estresse decorre da ativação de uma série de eventos, iniciando na estrutura do sistema nervoso central (SNC), interagindo com o sistema nervoso autônomo (SNA) e o sistema límbico, desencadeando uma cadeia de reações e com ativação do eixo hipotálamo-hipófise, liberando o hormônio adreno-corticotrópico (ACTH) na corrente sanguínea, estimulando as glândulas supra-adrenais, que vão produzir, principalmente, a adrenalina e os corticosteroides, www.portalcienciaevida.com.br

levando o indivíduo ao estado de alerta, pronto para lutar ou fugir, uma manifestação instintiva (veja quadro Processo psicofisiológico). No hipotálamo estão vários conglomerados de neurônios, responsáveis por tarefas diversas, regulando processos fisiológicos contínuos como respiração, pressão sanguínea, digestão e equilíbrio entre as diversas

PARA SABER MAIS

PROCESSO PSICOFISIOLÓGICO Sistema límbico Córtex

Sistema reticular

Hipotálamo

Hipófise

Glândulas

Sistema nervoso vegetativo

Fonte: França e Rodrigues (1999:, p. 29)

funções orgânicas. É o núcleo paraventricular que libera a corticotropina (CRH), estimulante que desencadeia a reação ao agente de estresse. O estímulo do hipotálamo sobre o sistema nervoso simpático, via suprarrenal, libera o hormônio adrenocorticotrópico (ACTH), que, por sua vez, ativa as glândulas adrenais para liberar hormônios glicocorticoides no sangue. Os níveis de glicocorticoides, normalmente, seguem um ritmo diário: alto no começo da manhã e baixo no

fim do dia, porque uma de suas principais tarefas é aumentar a glicose no sangue para fornecer energia aos músculos e nervos.A regulação de diversas funções do organismo são controladas pelos hormônios por um mecanismo de feedback ao hipotálamo, que pode acertar o sistema de produção de adrenalina e noradrenalina. A adrenalina aumenta o suprimento de sangue para o coração, músculos e cérebro; dilata as coronárias e aumenta a frequência cardíaca. Já a noradrenalina causa vasoconstrição e aumenta a pressão arterial (veja quadro Hormônios: mecanismo de feedback ao hipotálamo) A liberação hormonal no sangue atua em vários órgãos e sistemas, regiões distantes do seu local de origem, ocorrendo uma redistribuição sanguínea, com menor fluxo sanguíneo para pele e vísceras e maior para os músculos e cérebro (Goldstein, 1995). As alterações se fazem sentir em todo o organismo, interferindo nos diversos sistemas.

IMAGENS: 123RF E WIKIPEDIA

São eles:

S /G GhÔI  G  ‚IG  GGIG GG9I OIG9  ser uma aventura de descobertas ou uma tortura de cobranças www.portalcienciaevida.com.br

istema cardiorrespiratório – No sistema respiratório ocorrem o aumento da frequência da respiração e a dilatação dos brônquios para facilitar maior captação de oxigênio pelo organismo. O organismo, com excesso de

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O encontro entre a Psicologia e as Neurociências proporcionou comunicação e pesquisas em conjunto. Desde então, a parceria denominada neuropsicologia cognitiva tem incrementado a demanda de produções a partir da troca de informações

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Para Piaget, a aprendizagem é entendida como mudanças que acontecem na estrutura do cérebro e `IG GGIHG  ‚IG

adrenalina, pode desencadear, no sistema cardiovascular, manifestações de crise hipertensiva, palpitações, infarto do miocárdio, arritmias; no cérebro, arteriosclerose, acidente vascular cerebral (AVC); nos pulmões, a dilatação crônica dos brônquios e predisposição à infecção por vírus, fungos, bactérias, bacilos e outros micro-organismos. As manifestações cardiorrespiratórias consistem na elevação da pressão ar-

terial, palpitações, respiração ansiosa, acompanhadas de extremidades frias e suadas. Nos olhos, há aumento da pressão intraocular e dilatação nas pupilas, preparando uma resposta fisiológica de adaptação do corpo. Se as circunstâncias externas estimulam o sistema que provoca o estresse repetidamente, conforme a suscetibilidade pessoal e a intensidade das mudanças, a tensão crônica podePARA SABER MAIS

TCC USA A REGULAÇÃO COGNITIVA COM FREQUÊNCIA

A

regulação cognitiva da emoção é muito usada na terapia cognitivo-comportamental (TCC), que pressupõe uma relação entre pensamento, emoção e comportamento (Rangé, 1998). De acordo com essa abordagem terapêutica, as emoções são, em grande parte, determinadas pela forma como cada um interpreta as situações, e as interpretações dos fatos e situações estão diretamente relacionadas às crenças do indivíduo acerca de si mesmo, do mundo e do futuro. Uma das estratégias comumente empregadas é a da reestruturação cognitiva, que visa ajudar o paciente a interpretar as situações de modo mais adaptativo. A regulação emocional focalizada na resposta comportamental ou supressão emocional considera que, após a emoção já ter sido instalada, é possível inibir as respostas emocionais, de maneira que as outras pessoas não percebam o que se está sentindo (Gross, 2001). Tal inibição aconteceria sobre os sinais de saída das emoções, de modo que o indivíduo não expressasse o que está sentindo (Butler et al., 2003; Gross, 2001;).

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A TCC baseia-se numa postura construtivista de que nossas representações de eventos internos e externos determinam respostas emocionais e comportamentais. As cognições ou interpretações sobre os fatos refletem formas de processar informação rá tornar o sistema vulnerável a danos, causando o adoecimento. Se ocorrer a persistência do agente e/ou ambiente agressor, o organismo poderá ser sobrecarregado, resultando no aparecimento de inúmeras repercussões psicofisiológicas, por sobrecarga de adrenalina e cortisol. A liberação excessiva de cortisol acarreta alterações metabólicas, com aumento da destruição das proteínas, diminuição de massa muscular e, em relação aos carboidratos, haverá aumento da produção de glicose, diminuição dos receptores de insulina, menor utilização da glicose pelos tecidos e, no metabolismo dos lipídeos, aumento da lípase e lipídeos na corrente sanguínea e redistribuição da gordura corporal (Goldstein, 1995). O sistema cardiovascular sofre o efeito potencializador do corticoide com a adrenalina, com o aumento da hipercoagulabilidade sanguínea, favorecendo o infarto do miocárdio (Albert; Ururahy, 1997). Sistema imunológico – Nesse sistema, há diminuição da defesa do organismo, pela diminuição dos glóbulos brancos e menor síntese de anticorpos, observando uma involução www.portalcienciaevida.com.br

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ŒMudanças de paradigmas Œ

IMAGENS: SHUTTERSTOCK E WIKIPEDIA

Nascido em Neuchâtel, na Suíça, Jean Piaget (1896-1980) foi um dos mais relevantes pesquisadores de educação e pedagogia. Especializou-se em Psicologia Evolutiva e no estudo de epistemologia genética. Seus trabalhos sobre pedagogia revolucionaram a educação, pois alterou paradigmas e teorias tradicionais referentes à aprendizagem. As ideias de Piaget estão presentes em inúmeros colégios no mundo todo e suas teorias procuram implantar uma metodologia inovadora, que busca formar cidadãos criativos e críticos.

do timo. As repercussões no SNC, por destruição de proteínas e glicose, levam a alterações psíquicas e comportamentais; no sistema musculoesquelético, ocorrência de atrofias e astenias musculares; no tecido ósseo, a competição do cortisol com a vitamina D, impedindo a absorção de cálcio, levando à osteoporose. Ao nível hepático, ocorre maior liberação de glicose na corrente sanguínea a partir do glicogênio, para o fornecimento de mais fonte energética para os músculos. Paralelamente, o baço sofre contração e libera mais glóbulos sanguíneos para facilitar a captação de oxigênio, e há, ainda, um aumento de números de linfócitos para reparar possíveis danos nos tecidos (Goldstein, 1995). Possibilidade de aparecimento de obesidade, de diabetes mellitus, de câncer (diminuição do sistema imunológico). Sistema gastrointestinal e reprodutivo – O sistema gastrointestinal apresenta aumento do ácido clorídrico e pepsinogênio, com diminuição do muco protetor intestinal. Os ovários www.portalcienciaevida.com.br

A liberação hormonal no sangue atua em vários sistemas, provocando redistribuição sanguínea, com ƒGG^IGG GGbII\H

Uma das técnicas iniciais da terapia I  GI   ‚IGI  G conceituações distorcidas e crenças disfuncionais, substituindo-as por outras crenças e ideias que possibilitem ao indivíduo experimentar novos comportamentos e emoções e os testículos diminuem a produção, respectivamente, da progesterona e testosterona, interferindo no sistema reprodutivo (Albert; Ururahy, 1997). No sistema gastrointestinal, as perturbações interferem tanto na má digestão como no surgimento de gastrite, úlcera, colite, até diarreia crônica, e, na pele, com a erupção de micose e psoríase. Incide, também, no envelhecimento dos órgãos sexuais, levando à impotência

e à frigidez. O estresse provoca tensão física e psicológica, queda de capacidade intelectual, perturbações do sono, levando à fadiga (Goldstein, 1995). Em síntese, o estresse ocorre em resposta psicobiológica ao agente estressor interno ou externo, por meio da ação integrada dos sistemas nervoso, endócrino e imunológico, em um processo de alteração e recuperação do equilíbrio homeostático.

REFERÊNCIAS BECK, J. S. Terapia Cognitiva. Teoria e Prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1997. LURIA, A.; VYGOSTKY, L. S.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem. São Paulo: Ícone, 2001. MAHONEY, M. J.   G  G ( ‚IG . Cambridge: Ballinger Publishing Company, 1974. VYGOTSKY, L. S. Thought and language. Cambridge: M.I.T, 1962. psique ciência&vida

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Aprendizagem cognitiva PERCEPTIVA Esquemas cognitivos do adulto são derivados dos esquemas sensório-motores da criança e os processos responsáveis pelas mudanças são assimilação e acomodação Por Yago Felipe Hennrich

J

ean Piaget revolucionou a educação. Uma de suas maiores realizações dentro da abordagem da aprendizagem foi a realização de testes avaliativos em crianças, um processo que possibilita a existência de experiências significativas para quem as vivencia. Piaget teve princípios epistemológicos comuns com Vygotsky e Wallon e elaborou a epistemologia genética, observando o processo da criança ao estabelecer relações da parte com o todo dos objetos e situações envolvidos. A partir daí iniciou o estudo do processo do conhecimento. Algumas fases de desenvolvimento infantil são descritas por Piaget como pré-operatório, operatório concreto e operatório formal. Já Vigotsky tem sua ideia centrada em algumas teorias, como zona de desenvolvimento proximal, que se refere ao desenvolvimento atual da criança (nível de desenvolvimento efetivo ou real) e o desenvolvimento que poderá atingir (nível de desenvolvimento potencial). Para Vigotski, o ser humano precisa ser interdependente nesse processo. Ele questiona se as divi-

sões entre as dimensões cognitivas e afetivas do desenvolvimento psicológico, para Wallon, são genéticas e organicamente sociais. A estrutura orgânica do ser humano supõe a intervenção da cultura para uma atualização. Assim, a teoria do desenvolvimento cognitivo de Wallon tem como foco a psicogênese da pessoa completa. Os estágios de desenvolvimento do ser humano (impulsivo-emocional, sensório-motor e projetivo, personalismo, categorial e adolescência), apresentados por Wallon, sucedem-se em fases com predominância afetiva e cognitiva. A reflexão pedagógica sobre um homem dotado de razão, afetividade, inteligência, corpo e desejo possibilitará a criação de um espaço educativo, que será o lugar de construção dos saberes, por meio de diálogo, de reflexão, de pesquisa e da troca entre os pares de maneira crítica e politizada. Jean Piaget formou-se em Biologia e procurou utilizar os princípios biológicos na compreensão dos problemas epistemológicos. No desenvolvimento cognitivo, ele ressaltou

Yago Felipe Hennrich elaborou este artigo como Trabalho de Processos Psicológicos Básicos 2, apresentado no curso de Psicologia das Faculdades Integradas do Vale do Iguaçu – Uniguaçu, como requisito parcial para obtenção de nota do 1º bimestre do 2º período. Sua professora foi Darciele Mibach

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que, no desenvolvimento biológico, a inteligência é construída sobre um equipamento biológico inato e se desenvolve numa sequência predeterminada. É um processo ativo e interativo, construído pelo sujeito em interação contínua com o meio. Descreveu estágios de desenvolvimento cognitivo – a inteligência vai mudando profundamente ao longo do desenvolvimento; o sujeito passa por períodos de reorganização profunda, seguidos de períodos de integração, durante os quais um novo estágio é alcançado e as mudanças são assimiladas. A cada estágio de desenvolvimento corresponde um sistema cognitivo específico, que determina todo o funcionamento do sujeito, ou seja, cada estágio resulta do anterior e prepara o seguinte. Suas contribuições foram incontáveis: a construção do conhecimento ocorre quando acontecem ações físicas ou mentais sobre objetos que, provocando o desequilíbrio, resultam em assimilação ou acomodação e assimilação dessas ações e, assim, em construção de esquemas ou conhecimento. Em outras palavras, uma vez que a criança não consegue assimilar o estímulo, ela tenta fazer uma acomodação e, após a assimilação, o equilíbrio é, então, alcançado. www.portalcienciaevida.com.br

Educação e Psicologia /G GG Gh€ + GGI GhG9I H  GG ÈI G  ÈI G  ‚IG GGGG I G

Josiane Lopes (revista Nova Escola, ano XI, n. 95) cita que para quando o equilíbrio se rompe, o indivíduo age sobre o que o afetou, buscando se reequilibrar. E para Piaget, isso é feito por adaptação e por organização.

Teorias

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A

lguns autores sugerem que imaginemos um arquivo de dados na cabeça. Os esquemas são análogos às fichas desse arquivo, ou seja, são as estruturas mentais ou cognitivas pelas quais os indivíduos intelectualmente organizam o meio. São estruturas que se modificam com o desenvolvimento mental e que se tornam cada vez mais refinadas, à medida que a criança se torna mais apta a generalizar os estímulos. Por esse motivo, os esquemas cognitivos www.portalcienciaevida.com.br

do adulto são derivados dos esquemas sensório-motores da criança, e os processos responsáveis por essas mudanças nas estruturas cognitivas são assimilação e acomodação. Assimilação é o processo cognitivo de colocar (classificar) novos eventos em esquemas existentes. É a incorporação de elementos do meio externo (objeto, acontecimento etc.) a um esquema ou estrutura do sujeito. Em outras palavras, é o processo pelo qual o indivíduo cognitivamente capta o ambiente e o organiza, possibilitando, assim, a ampliação de seus esquemas. Na assimilação o indivíduo usa as estruturas que já possui. Já a acomodação é a modificação de um esquema ou de uma estrutura, em função das particularidades do objeto a ser assimilado. Pode ser

de duas formas, visto que se podem ter duas alternativas: criar um novo esquema, no qual se possa encaixar o novo estímulo, ou modificar um já existente, de modo que o estímulo possa ser incluído nele. Após ter havido a acomodação, a criança tenta novamente encaixar o estímulo no esquema e aí ocorre a assimilação. Por isso, a acomodação não é determinada pelo objeto, e sim pela atividade do sujeito sobre este, para tentar assimilá-lo. O balanço entre assimilação e acomodação é chamado de adaptação. Em outras palavras, é o processo pelo qual o indivíduo cognitivamente capta o ambiente e o organiza, possibilitando, assim, a ampliação de seus esquemas. Na assimilação, o indivíduo usa as estruturas que já possui. psique ciência&vida

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dossiê

As contribuições de Piaget foram incontáveis, como, por exemplo, uma vez que a criança não consegue assimilar o estímulo, ela tenta fazer uma acomodação e, depois da assimilação, o equilíbrio é, então, alcançado A equilibração, por sua vez, é o processo da passagem de uma situação de menor equilíbrio para uma de maior equilíbrio. Uma fonte de desequilíbrio ocorre quando se espera que uma situação ocorra de determinada maneira, e esta não acontece. Segundo Matui (1995), para responder como se dá a construção do conhecimento no adulto, partindo da biologia do bebê, Piaget elaborou a epistemologia genética, uma teoria evolutiva do conhecimento. Elaborando testes de inteligência para crianças francesas, Piaget observou o processo da criança em estabelecer relações da parte com o todo dos objetos e situações envolvidos. A partir daí, iniciou o estudo da construção do conhecimento, observando que, na interação com o meio externo, o indivíduo busca sua melhor sobrevivência, visando uma constante equilibração. De acordo com Coll, Marchessi, Palacios; Cols (2004), para Piaget a meta sempre é a adaptação. A adaptação leva o indivíduo a procurar uma resposta adequada aos problemas que encontra em cada momento. No entanto, segundo Piaget in Pozo (1998), a aprendizagem seria 44

psique ciência&vida

PARA SABER MAIS

ORGANIZAÇÃO INTELECTUAL

P

iaget descreve o desenvolvimento como um processo de estágios sucessivos. Se a criança explica em parte o adulto, pode-se dizer também que cada período do desenvolvimento anuncia em parte os períodos. Período

Faixas etárias aproximadamente

Sensório-motor

Nascimento até 1 1/2 a 2 anos

Pré-operatório

2 a 6-7 anos

Operatório-concreto

6-7 anos a 11-12 anos Fonte: Piaget e Inhelder (2003, p. 11).

produzida quando houvesse um desequilíbrio ou conflito cognitivo entre dois processos complementares: a assimilação e acomodação. Piaget define a acomodação como qualquer modificação de um esquema assimilador ou de uma estrutura. “Esquema é aquilo que é generalizável numa determinada ação” Piaget in Matui (1995, p. 122). Se há um desequilíbrio, ou seja, um esquema não correspondente,

Desenvolvimento Œ intelectual das crianças

Œ

Psicólogo renomado, o bielo-russo Lev Semenovich Vygotsky (18961934) foi descoberto nos meios acadêmicos ocidentais somente após sua morte, aos 38 anos. O intelectual foi pioneiro na ideia de que o desenvolvimento intelectual das crianças acontece em consequência das interações sociais e condições de vida. Segundo conceito de Vygotsky, a evolução mental da criança é um processo contínuo de aquisição de controle ativo sobre funções inicialmente passivas.

a característica de um objeto, é necessário modificar o esquema prévio para restaurar o equilíbrio (veja quadro Organização intelectual). Piaget tem algumas outras contribuições, como: a organização e a adaptação, os esquemas, a assimilação e acomodação, a teoria da equilibração. A organização e a adaptação se justificam. Jean Piaget, para explicar o desenvolvimento intelectual, partiu da ideia de que os atos biológicos são atos de adaptação ao meio físico e organizações do meio ambiente, sempre procurando manter um equilíbrio. Assim, ele entende que o desenvolvimento intelectual opera do mesmo modo que o desenvolvimento biológico (Wadsworth, 1996). Para Piaget, a atividade intelectual não pode ser separada do funcionamento “total” do organismo (1952, p. 7). Do ponto de vista biológico, organização é inseparável da adaptação. São dois processos complementares de um único mecanismo, sendo que o primeiro é o aspecto interno do ciclo, do qual a adaptação constitui o aspecto externo. Ainda segundo Piaget (Pulaski, 1986), a  adaptação  é a essência do funcionamento intelectual, assim como a essência do funcionamento biológico. É uma das tendências bá-

sicas inerentes a todas as espécies. A outra tendência é a organização, que constitui a habilidade de integrar as estruturas físicas e psicológicas em sistemas coerentes. Ainda de acordo com o autor, a adaptação acontece através da organização, e assim o organismo discrimina entre a miríade de estímulos e sensações com os quais é bombardeado e as organiza em alguma forma de estrutura. Esse processo de adaptação é, então, realizado sob duas operações, a assimilação e a acomodação.

Desenvolvimento

IMAGENS: 123RF E WIKIPEDIA

N

o desenvolvimento sensório-motor (0 a 2 anos), Piaget chamou de inteligência sensório-motora um tipo de inteligência baseada na percepção da realidade e na ação motora sobre ela. Nessa etapa, a criança faz uso de percepções sensoriais (por exemplo, a sucção) para explorar o mundo que a rodeia e suas ações são práticas: pegar, jogar, morder.

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Para Piaget e Inhelder (2003), na falta de função simbólica, o bebê ainda não apresenta pensamento, nem afetividade ligada a representações que permitam fazer evocações de

Educação e Psicologia

Durante o desenvolvimento sensório-motor, a criança faz uso de percepções sensoriais, como a sucção, para explorar o mundo que a cerca

Após ter havido a acomodação, a criança tenta novamente encaixar o estímulo no esquema e aí ocorre a assimilação. Por isso, a acomodação não é determinada pelo objeto e, sim, pela atividade do sujeito sobre este, para tentar assimilá-lo pessoas ou objetos na ausência deles. Nesse estágio, a criança elabora uma estrutura cognitiva para que possa dar a ela um suporte a futuras construções e atitudes que irá cometer, construções perceptivas e intelectuais. O mesmo se dá sobre a afetividade subsequente, que é determinada por certo número de reações afetivas elementares. No desenvolvimento PARA SABER MAIS

LIMITAÇÃO DO PENSAMENTO

P

iaget descreve o desenvolvimento como um processo de estágios sucessivos. Se a criança explica em parte o adulto, pode-se dizer também que cada período do desenvolvimento anuncia em parte os períodos. Aparência perceptiva / traços não observáveis:

A criança não realiza inferências a partir de propriedades não observáveis diretamente

Centração / descentração

O foco está em um só ponto de vista (o próprio), evitando outras possíveis dimensões

Estados / transformações

Não faz relação dos estados iniciais e finais de um processo

Irreversibilidade / reversibilidade

Não refaz mentalmente o processo seguido até voltar ao estágio inicial

Raciocínio transdutivo / pensamento lógico

Faz associações imediatas entre as coisas raciocinando do particular ao particular Fonte: Coll; Marchesi; Palacios e Cols (2004, p. 144)

psique ciência&vida

45

dossiê PARA SABER MAIS

PRINCÍPIOS DA TEORIA COGNITIVA

A

teoria cognitiva foi desenvolvida pelo suíço Jean Piaget e os princípios que foram base para o seu trabalho são conhecidos como o conceito da adaptação biológica, portanto não foram ideias originais. Piaget tomou esse conceito preexistente e o aplicou sabiamente ao desenvolvimento da inteligência dos indivíduos, à medida que amadurecem, da infância até a vida adulta, baseado em sua própria conclusão de que a atividade intelectual não pode ser separada do funcionamento “total” do organismo. A teoria de Piaget sobre o desenvolvimento cognitivo classifica o desenvolvimento em quatro etapas, e comprova que os seres humanos passam por uma série de mudanças previsíveis e ordenadas. Ou seja, geralmente todos os indivíduos vivenciam todos os estágios na mesma sequência. Porém, o início e o término de cada estágio sofrem variações, dadas as diferenças individuais de natureza biológica ou do meio ambiente em que o indivíduo está inserido.

pré-operatório (2 a 7 anos), estágio também chamado de inteligência verbal ou intuitiva, a criança se vê envolta em uma realidade existencial, que é um mundo interior de representações. A função simbólica da criança permite a ela a formação de símbolos mentais, que representam objetos, pessoas ou acontecimentos ausentes. Desse modo, a criança pode antecipar um resultado, utilizando representações (signos, símbolos, imagens e conceitos) como substitutas da reali46

psique ciência&vida

dade não presente. A linguagem para a criança é enriquecida rapidamente e as respostas adequadas já serão raciocínios. São desarticulados e ainda precisam de lógica, porque a criança só consegue ver o mundo a partir dela mesma. Para Coll, Marchesi, Palacios e Cols (2004), nesse período, o pensamento infantil é descrito por Piaget como um período de espera das nove grandes transformações operatórias, que acontecerão nas próximas etapas. Por isso, ressaltou as limitações da criança nessa fase (veja quadro Limitação do pensamento).

Estágio lógico formal

E

sse período é onde o pensamento lógico alcança sua expressão máxima e é aplicado de forma coerente e sistemática. A representação agora permite a abstração total. A criança não se limita mais à repre-

Henri Paul Hyacinthe Wallon (1879-1962) foi um psicólogo, filósofo, médico e político francês que se tornou muito conhecido em função de seu intenso trabalho científico a respeito da Psicologia do desenvolvimento, direcionada, principalmente, à infância, na qual assume uma postura interacionista. A obra de Wallon é caracterizada pela ideia de que o processo de aprendizagem é dialético, ou seja, não é aconselhável afirmar verdades absolutas. O caminho correto é revitalizar perspectivas e possibilidades.

sentação imediata, nem somente às relações previamente existentes, mas é capaz de pensar em todas as relações possíveis, logicamente buscando soluções a partir de hipóteses e não apenas pela observação da realidade. Em outras palavras, as estruturas cognitivas da criança alcançam seu nível mais elevado de desenvolvimento e tornam-se aptas a aplicar o raciocínio lógico a todas as classes de problemas. Um exemplo: Se pedem para a criança analisar um provérbio, como “de grão em grão a galinha enche o papo”, ela trabalha com a lógica da ideia (metáfora) e não com a imagem de uma galinha comendo grãos.

REFERÊNCIAS COLL, César; MARCHESI, Álvaro; PALACIOS, Jésus e colaboradores. Desenvolvimento Psicológico e Educação – Psicologia Evolutiva, v. 1. Porto Alegre: Artmed, 2004. MATUI, Jiron. Construtivismo – Teoria Construtivista Sócio-histórica Aplicada ao Ensino. São Paulo: Moderna, 1995. PIAGET, Jean; INHELDER, Bärbel. A Psicologia da Criança. Rio de Janeiro: Difel, 2003. PULASKI, Mary Ann Spencer. Compreendendo Piaget. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e  ^‚I9
WIKIPEDIA

O balanço entre assimilação e acomodação é a adaptação. É o processo pelo qual o indivíduo cognitivamente capta o ambiente e o organiza, possibilitando a ampliação de seus esquemas. Na assimilação, o indivíduo usa as estruturas que já possui

Œ Psicologia do desenvolvimento Œ

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neurociência

por Marco Callegaro

Empatia ou compaixão? A EMPATIA ENVOLVE A EXPERIÊNCIA DE SENTIR O QUE PENSAMOS QUE A OUTRA PESSOA ESTÁ SENTINDO E TEM SIDO APONTADA COMO CRUCIAL PARA MOVER O COMPORTAMENTO MORAL

E

M EMUMAFALAMUITOCITADA OENTÎOSENADOR"ARACK/BAMAAlRMOUQUETEMOSUMDÏlCIT em empatia, reivindicando um SENSODEEMPATIAPARAINSPIRARAPOLÓTICA e a sociedade. Segundo esse movimenTO  QUANTO MAIS EMPATIA  MELHOR SERÉ O MUNDO  E O FOCO Ï PROMOVER INTERVEN¥ÜES VOLTADAS PARA AUMENTAR A EMPATIA EMINDIVÓDUOSECOMUNIDADES4AMBÏM EXISTEPREOCUPA¥ÎOCOMPESSOASQUETÐM FALTADEEMPATIAECOMSITUA¥ÜESQUEPODEMENFRAQUECÐ LA %MBORASEJAUMGRANDEAVAN¥OCONSIDERAR A IMPORTÊNCIA DA EMPATIA  Ï NECESSÉRIO ENTENDER EM MAIS DETALHES A RELA¥ÎOQUEEXISTEENTRECOMPORTAMENTO MORALEEMPATIA POISNÎOÏALGOTÎOSIMples como parece. Considere as recentes pesquisas mostrando que a empatia PODEMOVERAAGRESSÎO3EEMPATIZAMOS com uma pessoa ou grupo, o comportaMENTO AGRESSIVO FRENTE A OUTRAS PESSOas ou grupos por ser turbinado quando “tomamos as dores” dos outros. Ao inmUENCIAR NOSSAS EMO¥ÜES  A EXPERIÐNCIA empática pode nos levar a vieses morais e comportamento cruel para aqueles que supostamente merecem ser punidos. PoDEMOSPONDERARTAMBÏMQUEAEMPATIA PODEACARRETAREXAUSTÎOEMOCIONALEESTRESSE  E OS PROlSSIONAIS QUE TRABALHAM COMSOFRIMENTOHUMANOCOMOMÏDICOS  PSICØLOGOSEENFERMEIROSFREQUENTEMENTE DESENVOLVEMASÓNDROMEDE"URNOUTEM SEUTRABALHODEVIDOÌEMPATIA 48

psique ciência&vida

#OMOEXISTEMVÉRIASDElNI¥ÜESDEEMpatia, torna-se necessário um breve exame DE SEUS PRINCIPAIS SIGNIlCADOS 5MA DAS DElNI¥ÜESSEREFEREÌEMPATIACOGNITIVA A capacidade de imaginar o que se passa na mente do outro, a “teoria da mente” como se designa em Psicologia cognitiva. Esse tipo de empatia pode levar um psicopata APLANEJARSUASMANIPULA¥ÜESECRUELDADES COMGRANDEElCÉCIA PORTANTONÎOÏEXATAmente aquilo que mais precisamos na sociedade. Outro sentido da palavra empatia ÏOQUEPODEMOSCHAMARDEEMPATIAhAFEtiva”, quando sentimos o que a outra pessoa está sentindo, ou, pelo menos, aquilo QUE INFERIMOS QUE A PESSOA SENTE &INALmente, temos um conceito de empatia que SEFUNDECOMOSIGNIlCADODECOMPAIXÎO 

A EMPATIA SOMENTE PODE LEVAR A CONSEQUÊNCIAS INDESEJADAS COMO AGRESSÃO E CRUELDADE, EXAUSTÃO EMOCIONAL E BURNOUT. PRECISAMOS DE MAIS COMPAIXÃO NO MUNDO EM QUE VIVEMOS

ternura ou gentileza. Nesse caso, a empaTIA ENVOLVE SENTIMENTOS POSITIVOS FRENTE aos outros. Nesse sentido, desejo que um AMIGOANSIOSOlQUEMELHORECALMO MAS NÎOMESINTOANSIOSOJUNTOCOMELE COMO ACONTECENAEMPATIAAFETIVA2ESERVAREIO TERMO hCOMPAIXÎOv PARA DESCREVER ESSA ATITUDE ENQUANTOMANTEMOSADESIGNA¥ÎO de “empatia” para a ressonância emocional com o outro. ! EMPATIA AFETIVA OU EMOCIONAL ESTÉ LIGADA Ì ATIVA¥ÎO DOS CIRCUITOS CEREBRAIS da dor na pessoa que empatiza com quem ESTÉSOFRENDO5MEXPERIMENTOCOMNEUroimagem examinou os circuitos cerebrais DOCØRTEXANTERIORCINGULADO REGIÎOQUESE ativa com a experiência de dor. Os partiCIPANTESFORAMEXPOSTOSAVÓDEOSEXIBINDO PESSOASSOFRENDOCOM!IDS EVERIlCOU SE que sentiam mais empatia e apresentavam MAIORATIVA¥ÎONOCØRTEXCINGULADOANTErior quando se descrevia que as pessoas TINHAMCONTRAÓDOASÓNDROMEPORMEIODE TRANSFUSÎO DE SANGUE  BEM MAIS DO QUE quando a narrativa era de contágio pelo USODEINJE¥ÜESINTRAVENOSASCOMDROGAS A empatia está sujeita a vieses morais, COMOFOIDEMONSTRADONOESTUDOEUROPEU EMQUETORCEDORESDEUMTIMEDEFUTEBOL RECEBIAMUMCHOQUENAMÎOEASSISTIAM A OUTRO HOMEM RECEBER O MESMO CHOQUE1UANDOOOUTROHOMEMERADESCRITO como sendo do mesmo time, acontecia muito mais resposta neural empática de dor do que quando era do time concorRENTE.ÎOÏDIFÓCILIMAGINARQUEAEMPAwww.portalcienciaevida.com.br

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TIACOMAQUELESQUESÎODENOSSOGRUPO PODEMOVERACRUELDADEEATÏOGENOCÓDIO COMAQUELESQUESÎODEOUTROGRUPO%SSE PONTO TEM IMPORTANTES IMPLICA¥ÜES NO mundo atual, onde aumentam a migra¥ÎO E O NÞMERO DE REFUGIADOS  LEVANDO Ì NECESSIDADE DE INCLUSÎO DE GRUPOS DE estrangeiros na sociedade. 0ODEMOSPENSARQUEAFALTADEEMPATIA LEVA Ì AGRESSÎO  E QUE SE ESTIMULARMOS A empatia reduziremos os problemas em um mundo violento. No entanto, uma análise DOS ESTUDOS QUE RELACIONAM AGRESSÎO E FALTA DE EMPATIA DESCOBRIU QUE SOMENTE DAVARIA¥ÎOEMAGRESSIVIDADEPODERIA SERATRIBUÓDAÌFALTADEEMPATIA2ESULTADO surpreendente, em um estudo que conSIDEROU AGRESSÎO VERBAL  SEXUAL E FÓSICA  CONCLUINDOQUEOUTRASEMO¥ÜESEFATORES eram mais importantes. Outra pista vem DOSAUTISTAS QUESABEMOSTERFORTESDÏlCITS www.portalcienciaevida.com.br

EM EMPATIA /S PORTADORES DE SÓNDROME DE!SPERGER UMAESPÏCIEDEAUTISMOLEVE  NÎOAPRESENTAMNENHUMAPROPENSÎOPARA AGRESSÎOOUEXPLORA¥ÎO ESÎOCONHECIDOS PORSEGUIREMPRINCÓPIOSMORAISRÓGIDOS ! EMPATIA ENVOLVE EMO¥ÜES  E ESTAS podem nos desviar de julgamentos moRAISPONDERADOS LEVANDOADECISÜESIMOrais. Uma alternativa mais razoável para AEMPATIAÏACOMPAIXÎO QUEPODENOS MOVER A FAZER O BEM E AUXILIAR AS PESsoas sem as desvantagens da empatia.

-ESMOACOMPAIXÎONÎOSUBSTITUIAREmEXÎO CONSCIENTE E DELIBERADA SOBRE OS DIREITOSEDEVERESENVOLVIDOSNASITUA¥ÎO  EAAPLICA¥ÎODEUMAESCALADEVALORESNO JULGAMENTOMORAL BEMCOMOPRINCÓPIOS DEMORALIDADE.ÎOPODEMOSDELEGARDECISÜESMORAISQUEAFETAMAVIDADASPESsoas unicamente aos sentimentos empátiCOS5MAPONDERA¥ÎOQUEUSEPRINCÓPIOS morais pode ser mais justa e equilibrada COMOGUIAPARANOSSASA¥ÜES AINDAMAIS SEENDOSSADAPELACOMPAIXÎO

Referências: Bloom, P. Against Empathy: The Case for Rational Compassion. Nova York: Ecco Press, 2016. Vachon, D. D. et al. The (non)relation between empathy and aggression: surprising results from a meta-analysis. Psychological Bulletin, v. 140, p. 751, 2014. Marco Callegaro é psicólogo, mestre em Neurociências e Comportamento, diretor do Instituto Catarinense de Terapia Cognitiva (ICTC) e do Instituto Paranaense de Terapia Cognitiva (IPTC). Autor do livro premiado O Novo Inconsciente: Como a Terapia Cognitiva e as Neurociências Revolucionaram o Modelo do Processamento Mental (Artmed, 2011).

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recursos humanos

Relações

PRODUTIVAS 5-02/#%33/).34)45#)/.!, 0/335)5-3)'.)&)#!$/-!)/2$/ 15%3)-0,%3-%.4%/.·-%2/ !02%3%.4!$/.!0,!.),(!$%6%.$!3 15!.$/%33%6!,/2!42)"5°$/¡ #/-02%%.$)$/%2%,!#)/.!$/± .%'/#)!—§/ /!4%.$)-%.4/¡%&)#!: 50

psique ciência&vida

por João Oliveira

A

s relações institucionais estão cheias de valorações que, na maioria das vezes, é mais de ordem subjetiva do que realmente material. Toda instituição mantém uma relação de troca com seus clientes, seja no próprio mercado interno (corpo laboral e fornecedores principalmente) e no mercado externo (clientes e concorrentes principalmente), e os resultados positivos só são alcançados quando essa relação de valores está adequada aos interesses das partes envolvidas no processo. Dessa forma, sempre que ocorre a aquisição de um produto ou serviço, existe um valor simbólico que é agreGADO AO lNANCEIRO 5MA PESSOA  POR exemplo, pode comprar uma roupa www.portalcienciaevida.com.br

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PARA SE SENTIR MAIS BONITA  PARA lCAR MAIS AUTOCONlANTE EM BUSCA DE UMA promoção no trabalho, ou para um encontro com uma pessoa especial. %SSEVALORNÎOESTÉNAROUPAEMSI ELE pertence ao consumidor que possui mUÐNCIAS EMOCIONAIS RELACIONADAS AO UNIVERSO EM QUE VIVE 5M CASAL PODE ir a um restaurante não pela comida ou pelo menor preço, mas porque aquele foi o restaurante onde se encontraram pela primeira vez e, para eles, isso tem UM SIGNIlCADO MUITO ESPECIAL 5M funcionário pode obedecer uma ordem dada por um gestor sem sequer analisar seu conteúdo e resultados apenas porque esse gestor criou laços de comprometimento que geram segurança à equipe de trabalho. 0ENSANDOASSIM TODOELEMENTONA INSTITUI¥ÎOSETRANSFORMAEMPROlSSIOnal de atendimento, pois sempre que se comunica está na posição de uma pessoa que atende outra pessoa, buscando acolher uma determinada necessidade ESOLUCIONANDOUMADEMANDA/ATENdimento, portanto, torna-se sinônimo DECOMUNICA¥ÎOCLARIlCADAQUEDÉVAlor ao que está sendo negociado. 3ÎO ALGUMAS CARACTERÓSTICAS BÉSIcas que devem receber investimento para que essa valoração dos processos possa ocorrer de forma natural entre o elemento que apresenta a situação (comunicação, produto ou serviço) e o cliente (qualquer pessoa dentro ou FORA DA EMPRESA  3ÎO ELAS   $ESENvolver um bom relacionamento e conlAN¥A COM O TEMPO  O OUTRO PASSA A dar respostas mais rápidas por saber COMQUEMESTÉLIDANDO !TENDERAS NECESSIDADES DOS CLIENTES SOLUCIONAR DEMANDAS EXISTENTES  lNALIZANDO OS PROCESSOS ABERTOS   3UPERAR AS EXPECTATIVASIRALÏMDOESPERADOSEMPRE ofertando algo que surpreende positiVAMENTE O OUTRO   3ER EMPÉTICO SER capaz de prever as necessidades que O OUTRO PODE TER DIlCULDADE DE APRESENTAR   3ER SIMPÉTICO A ATEN¥ÎO dedicada ao outro está mais ligada à www.portalcienciaevida.com.br

LINGUAGEMNÎOVERBAL 3ERASSERTIVO buscar ser objetivo nas colocações sem aprofundamentos e detalhes desnecesSÉRIOS   3ER ORGANIZADO ADMINISTRAção do tempo e informações relevantes são os elementos-chave de qualquer pessoa que deseje passar uma imagem de organização ao outro; 8) Transmitir segurança sobre a informação passaDAOCONHECIMENTODOTEMAÏIMPRES-

5-"/-#!-).(/ 0!2!!&5452! 6!,/2!—§/ 0/3)4)6!¡/).°#)/ $/#!-).(// "£3)#/*!-!)3$%6% 3%2%315%#)$/ #/-02/-%4)-%.4/ #/-!%-02%3!  #/-/42!"!,(/ %#/-!3!4)3&!—§/ $//542/ CINDÓVEL 3E NÎO TEM DOMÓNIO SOBRE O assunto, delegue a quem tem para a condução do processo comunicacional DANEGOCIA¥ÎO 3ERCONlÉVELNUNCA prometa o que não tem certeza de poDERCUMPRIRNOFUTURO.ÎOHÉESPA¥O para possibilidades e, se essa for a única opção de comprometimento, deixe isso claro para o outro; 10) DemonsTRAR SENSIBILIDADE E RESPEITO ENTENDER claramente as questões que os clientes APRESENTAM 3AIBA OUVIR E NO CASO DE dúvida pergunte para que o entendiMENTOSEJAPLENO 3ABERLIDARCOM DIFERENTESTIPOSDEPESSOASNINGUÏMÏ

MENOSIMPORTANTE.OSSOPAÓSGUARDA muitos preconceitos que estão enraizados na cultura e passam, muitas vezes, ocultos ou aceitáveis pela maior parte DAPOPULA¥ÎO&A¥ADIFERENTESENDOÏTIco e correto com todos, independenteMENTE DO PERlL QUE APRESENTE  SENDO PRESTATIVOEPROATIVO 'ERENCIARAS EMO¥ÜES E TER INTELIGÐNCIA EMOCIONAL SEFOROCASODESENTIRDIlCULDADENESSE ASPECTO PROCUREUMPROlSSIONALTERApeuta ou coach que possa auxiliá-lo no processo de alinhamento emocional;  3ERCOMPROMETIDOCOMAEMPRESA  com seu trabalho e com a satisfação do OUTROUMBOMCAMINHOPARAAFUTURA VALORA¥ÎOPOSITIVAÏOINÓCIODOCAMINHO/BÉSICOJAMAISDEVESERESQUECIDO 3ABERSEPARAROPESSOALDOPROlSSIONAL MANTENDOOPROlSSIONALISMO PROVAVELMENTE O DETALHE MAIS DIFÓCIL de todas as dicas aqui apresentadas. -UITOSACREDITAMQUESEREMOSNAVIDA PROlSSIONALUMESPELHODOQUESOMOS NAVIDAPESSOAL0OROUTROLADO OUTROS confundem os processos e misturam a VIDAPESSOALCOMAPROlSSIONAL GERANdo problemas de ordem emocional ou invés de ter um bom relacionamento interpessoal com todos à sua volta; 15) 6ESTIR SE DE MODO CONDIZENTE COM O LOCALDETRABALHOPORÞLTIMOMASNÎO MENOSIMPORTANTE AlNALAEMBALAGEM DIZMUITOSOBREOPRODUTO%STARADEquadamente vestida com o padrão da instituição coloca a pessoa mais próxima de adquirir uma boa credibilidade com o outro. 0ORTANTO  PARA TER RELA¥ÜES PRODUtivas é necessário um investimento constante em vários e pequenos detalhes que, com o tempo, podem fazer uma grande diferença no resultado das ações de uma pessoa ou instituição.

João Oliveira é Doutor em Saúde Pública, psicólogo e diretor de Cursos do Instituto de Psicologia Ser e Crescer (www.isec.psc.br). Entre seus livros estão: Relacionamento em Crise: Perceba Quando os Problemas Começam. Tenha as Soluções!; Jogos para Gestão de Pessoas: Maratona para o Desenvolvimento Organizacional; Mente Humana: Entenda Melhor a Psicologia da Vida; e Saiba Quem Está à sua Frente – Análise Comportamental pelas Expressões Faciais e Corporais (Wak Editora).

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ciberpsicologia

Por Igor Lins Lemos

Espelho, espelho MEU... A ERA DA BUSCA PELO HEDONISMO, FREQUENTEMENTE, DO NARCISISMO NAS REDES SOCIAIS E DA DEPENDÊNCIA PELA TECNOLOGIA TRAZ UMA PERCEPÇÃO DE FELICIDADE BASEADA NA AVALIAÇÃO DE TERCEIROS SOBRE NÓS. QUE FELICIDADE É ESSA? 52

psique ciência&vida

T

rago este mês provocações ancoradas em uma série televisiva que tem íntima relação com esta coluna. Muitos devem estar familiarizados com o nome Black Mirror. Para os que não conhecem, trata-se de uma série que traz a temática tecnológica e suas reverberações, em alguns momentos, trágicas. O nome Black Mirror, traduzido livremente como “espelho negro”, pode ser compreendido, no sentido literal, como a forma que enxergamos o nosso aparelho celular, televisor, computador, ou seja, uma tela que está em stand-by. São esses milhões de espelhos que estão ao nosso redor e, como debatido em diversos outros textos nesta coluna, permitimos que eles se tornassem papel central nos lares, nos locais de trabalhos, nas escolas, nas faculdades, nas ruas, nos ambientes culturais, nos momentos de lazer, no trânsito e em diversas outras circunstâncias. A temática de Black Mirror se refere a uma sociedade que utiliza amplamente os recursos eletrônicos, com diversas www.portalcienciaevida.com.br

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temáticas: uso de mídia, tecnologia na força militar, realidade virtual, crimes virtuais etc. A série é rica na abertura de possibilidade de debates no campo da Psicologia, porém irei me deter apenas no primeiro capítulo da terceira temporada, intitulado “Nosedive”. Nesse mundo futurístico (será que tão distante de nós?), as pessoas avaliam qualquer outra pessoa (do funcionário de uma loja de sorvete até o colega de trabalho) por meio de um aparelho que se assemelha a um celular. Mas o que isso realmente implica no cotidiano? Em tudo. As nossas estrelas, assim como no conhecido Uber, que compreende uma escala de um a cinco, servem como referência para que possamos ser convidados a postos maiores de trabalho, viajar de avião com melhores possibilidades de horários e conforto, alugar um carro, comprar uma casa mais bonita, entre diversas outras situações que são avaliadas pelo aparelho. Pensemos: se é por meio da avaliação digital de terceiros e com essa nota que obtemos deles, quais serão os comportamentos que desenvolveríamos para sempre alcançarmos altas notas? Será que seríamos transparentes ou iríamos vestir diversas máscaras sociais para que possamos estar sempre no topo? Infelizmente isso já está sendo feito – há um bom tempo! A reação de alguns alunos ao assistir a esse capítulo é de que esse futuro não irá ocorrer, que não iremos permitir que simples avaliações guiem nossa vida. Porém, será que não devemos nos preocupar? Diversos aplicativos geram nota para os usuários, desde os de transporte até os de paquera. O número de curtidas em uma foto também não retrata, de forma indireta, a necessidade de estarmos sendo sempre vistos e validados? Temas que são discutidos neste capítulo são: a necessidade de estarmos em redes sociais virtuais constantemente; a avaliação de terceiros sobre nossos hábitos, corpo e gostos; a busca pelo hedonismo frequentemente; o narcisismo; a DEPENDÐNCIA E  POR lM  A PERCEP¥ÎO DE www.portalcienciaevida.com.br

DIVERSOS APLICATIVOS GERAM NOTA PARA OS USUÁRIOS, DESDE OS DE TRANSPORTE ATÉ OS DE PAQUERA. O NÚMERO DE CURTIDAS EM UMA FOTO TAMBÉM RETRATA, DE FORMA INDIRETA, A NECESSIDADE DE ESTARMOS SENDO SEMPRE VISTOS E VALIDADOS que essa mídia não nos traz felicidade. Em relação ao primeiro ponto: quantas vezes você percebe que está no looping “Whatsapp-Facebook-Instagram”? O mecanismo é simples: visualizamos quais recados chegaram no Whatsapp, os respondemos, entramos no Facebook para ler o feed de notícias, aguardamos as mensagens do Whatsapp fazendo hora no Instagram e então voltamos ao primeiro aplicativo (isso não é novidade alguma, concorda?). Esse tipo de sistema é descrito apenas para três redes sociais, porém atendo pacientes que usam entre 12 e 16 redes no mesmo celular. Precisamos estar on-line o tempo todo? Se sim, por qual motivo? Se não, então o uso se refere a quê? Escapismo? Dois

outros tópicos igualmente importantes se referem à busca do prazer, de ser avaliado positivamente pelo próximo, e a relação com nossos traços narcisistas. Imaginemos que você alcance um número absurdamente alto de curtidas em sua foto. O que ocorre após? Manter o número alto de curtidas o tempo inteiro o torna natural ou será que vai precisar adaptar suas fotos e mensagens para que elas sejam divulgadas no molde que a sociedade as valida? A dependência tecnológica, tema que enfatizo em diversos momentos, não será discutida nesse momento, mas sim em um último ponto: a felicidade. Certamente avaliamos e interpretamos conceitos sobre o que é felicidade de forma distinta. Mas tentemos nos aproximar de uma interseção: qual a relação da felicidade com o uso de tecnologia? Se sente feliz, realizado(a), acolhido(a) nas redes SOCIAIS ! FELICIDADE  EM DElNITIVO  NÎO está nas redes sociais. Ela se relaciona a realizações pessoais muito mais nobres e subjetivas que, mesmo variando de sujeito para sujeito, sabemos que é alcançada apenas de forma momentânea. Nossa sorte é exatamente essa, a busca pela felicidade permanente (e encontrada na internet) na verdade nos tornaria mortos-vivos-digitais acomodados diante dessa tela, que, quando olham diretamente para ela, a única coisa que enxergam é O SEU REmEXO MORTO /S ELETRÙNICOS SÎO fantásticos, mas eles são apenas um dos diversos recursos que existem em nossa vida. Momento de sair do piloto automáTICO$ESAlOACEITO

Referências: ROSE, S.; DHANDAYUDHAM, A. Towards an understanding of internet-based problem shopping behaviour: the concept of online shopping addiction and its proposed predictors. Journal of Behavioral Addictions, v. 2, 2014. TAVARES, H.; LOBO, D. S. S.; FUENTES, D.; BLACK, D. W. Compras compulsivas: uma revisão e um relato de caso. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 30, 2008. . *.4& 9+:e-. & 9&:e(›'' 9:e )9(:+G  IGH  GGI ‚I internet addiction: a model-based experimental investigation. PLoS One, v. 10, 2015. Igor Lins Lemos é doutor em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental Avançada pela Universidade de Pernambuco (UPE). É psicoterapeuta cognitivo-comportamental, palestrante e pesquisador das dependências tecnológicas. E-mail: [email protected]

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sexualidade

Por Giancarlo Spizzirri e Carla Pereira

Dispareunia masculina

A PRESENÇA DE DOR DURANTE AS RELAÇÕES SEXUAIS É MAIS COMUM NAS MULHERES, PORÉM, COM MENOR FREQUÊNCIA, TAMBÉM É REFERIDA POR ALGUNS HOMENS

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ispareunia é o termo técnico utilizado para a dor antes, durante ou após a relação sexual e, em alguns casos, presente na masturbação. $E ACORDO COM A #LASSIlCA¥ÎO %Statística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, 1993 (CID-10), a dispareunia é uma dor intensa durante o intercurso sexual, podendo ocorrer em homens e mulheres, tendo como causa uma condição patológica local ou uma causa emocional. A dispareunia ocorre, aproximadamente, em 15% a 20% das mulheres e na população masculina não excede 5%; ainda assim, essa não é uma situação que deva ser ignorada pelos homens, uma vez que há tratamento praticamente para todos os casos. É importante observarmos que as relações sexuais dolorosas não são uma doença, mas sim um sintoma que pode estar associado a alterações anatômicas, PSICOLØGICAS INFECCIOSASOUINmAMATØRIAS Entre as causas anatômicas e/ou mecânicas podemos destacar: 1) FimoSE Ï A DIlCULDADE EOU INCAPACIDADE de se expor a glande, a parte terminal do pênis, pois a pele que a recobre não APRESENTA ABERTURA SUlCIENTE #OMO O 54

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prepúcio não pode ser retraído, surge a dor ao tentar a penetração ou também durante a masturbação; 2) Língua presa: o frênulo do pênis é a pequena dobra de tecido que liga o prepúcio à cabeça da glande; em alguns homens essa dobra é menor, de modo que pode ocorrer uma lSSURA DURANTE A PENETRA¥ÎO  CAUSANDO queimação intensa, dor e às vezes sangramento. 3) Doença de Peyronie: é a curvatura anormal do pênis durante a ereção. Esse processo ocorre por formação de cicatrizes no revestimento do corpo cavernoso do pênis. 4) Assoalho pélvico espástico: hipertonia da musculatura do assoalho pélvico, prejudicando a função dessa região e levando AUMADIlCULDADEDECONTRAIRERELAXAR esse grupo de músculos. Outros fatores que levam à dispareuNIA EM HOMENS SÎO OS PROCESSOS INmAmatórios como, por exemplo, a prostatite INmAMA¥ÎO DA PRØSTATA  URETRITE INmAmação da uretra), epididimite (edema do epidídimo – via pela qual as secreções dos testículos para os canais deferentes e dutos ejaculatórios são despejados), condiloma (infecção viral que causa verrugas na mucosa da glande), herpes (lesão da mucosa que gera dor intensa), processos alérgicos ocasionadas por produtos www.portalcienciaevida.com.br

DISPAREUNIA É UMA DOR INTENSA DURANTE O INTERCURSO SEXUAL, PODENDO OCORRER EM HOMENS E MULHERES. NOS HOMENS AS DORES PODEM OCORRER NOS GENITAIS, PÊNIS OU TESTÍCULOS, TENDO COMO CAUSA UMA CONDIÇÃO PATOLÓGICA LOCAL, ALTERAÇÃO MUSCULOESQUELÉTICA OU UMA CAUSA EMOCIONAL

IMAGENS: SHUTTERSTOCK E ARQUIVO PESSOAL

DE HIGIENE CORPORAL  LUBRIlCANTES OU LÉtex, doenças fúngicas e doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). Com relação às causas emocionais, essas podem estar relacionadas a causas PSICOLØGICAS  DECORRENTES DOS CONmITOS inconscientes que provocam esse tipo de dor. Embora menos comum em homens do que nas mulheres, podemos citar como fonte de certos problemas receber uma educação familiar repressiva, responsável pela transferência de tabus, preconceitos e sentimentos negativos. Histórico de abuso ou violência sexual, que ocorrem geralmente na infância, TAMBÏM PODE  GERAR CONmITO INTENSO e negação do prazer. É importante investigar e analisar a dinâmica do casal, UMAVEZQUECONmITOSCONJUGAISPODEM agravar / despertar a dor durante a relação sexual. Observa-se que os aspectos psicológicos chegam a representar, como causa, aproximadamente 50% dos casos. Em muitos casos, a dor pode estar presente em homens que tiveram pouca atividade sexual até a terceira década de idade. Não se masturbavam, não têm muitas experiências de namoro e de intimidades físicas. Assim, as primeiras

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experiências sexuais podem ser dolorosas, produzindo evitação de aproximações sexuais na sequência, e sempre estão associadas a outras condições psicológicas relacionadas à falta de asserTIVIDADE DIlCULDADEEMEXPRESSIVIDADE emocional e de relacionamento social, com poucas habilidades sociais e de relacionamento afetivo. O tratamento da dispareunia masculina depende da causa, uma vez que pode ser física, orgânica ou emocional. Dessa forma, o tratamento poderá ser farmacológico, cirúrgico, psicoterapêuTICO E lSIOTERÉPICO E  EM ALGUNS CASOS  uma intervenção interdisciplinar. Para o sucesso do tratamento é importante que o homem quebre paradigmas, tabus e preconceitos e, quando apresentar dor na relação sexual e/ ou na masturbação, peça ajuda para o seu médico, o qual poderá investigar e direcionar a melhor opção de tratamento, visando sempre a cura e o bem-estar do indivíduo. ÈI Gd ABDO, C. H. N. Descobrimento Sexual do G dpara Curiosos e Estudiosos. São Paulo: Summus, 2004.

Giancarlo Spizzirri é psiquiatra doutor pelo Instituto de Psiquiatria (IPq) da Faculdade de Medicina da USP, médico do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do IPq e professor do curso de especialização em Sexualidade Humana da USP. GG+ G\‚ GG9 G GG!GI G   ÈI G Médicas da Santa Casa de São Paulo. Especialização em Sexualidade Humana (FMUSP); Fisioterapia em Gerontologia e Oncologia. Fisioterapeuta do Serviço de Fisioterapia Pélvica (Santa Casa de SP).

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GRAVIDEZ

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INVISIBILIDADE

MATERNA Além A lém da da intensa intensa felicidade felicidade proporcionada pela maternidade, proporcionada p ela m aternidade, am missão dee sser mãe issão d er m ãe ttraz raz como como cconsequência onsequência aaspectos spectos biopsicossociais biopsicossociais eenvolvidos nvolvidos nnaa perda perda daa iidentidade daa m mulher d dentidade d ulher após após o do bebê nnascimento ascimento d ob e bê Por Raquel Por Raquel JJandozza andozza

Raquel Jandozza é psicóloga perinatal formada pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, especializada em Psicanálise Lacaniana pela PUC-SP; doula e coach ontológica www.portalcienciaevida.com.br

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GRAVIDEZ

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á anos, acredita-se que a “maternidade” é um dom inato à mulher. Que há uma imensidão de afeto na relação materna, não se pode negar. Contudo, sócio-historicamente, sabe-se que nem sempre essa relação se deu dessa forma. A partir de uma compreensão sociológica, pode-se dizer que “amor materno” é conquistado e construído. Dois grandes autores e historiadores, Elizabeth Badinter e Philippe Ariès, vão apresentar em suas obras, Um Amor Conquistado: o Mito do Amor Materno (1985) e História Social da Criança e da Família (1981), respectivamente, a concepção de que o amor materno não é inato e que a infância é uma construção recente. Para ambos, o “sentimento de infância” surge em meados do século XVIII, momento em que a criança passa a ser incluída na cena e convívio familiar e seus cuidados – antes delegados a amas de leite – tornam-se função da família, mais diretamente da mãe. Para Ariès, as famílias não se apegavam afetivamente às crianças e tampouco lhes dispensavam maiores cuidados, uma vez que o índice de mortalidade infantil era muito alto. Já para Badinter, a mortalidade infantil seria justamente reflexo desse distanciamento e ausência de cuidados familiares efetivos. Um dos objetivos principais desses

O sentimento de infância surge em meados do século XVIII, momento em que a criança passa a ser incluída na cena e convívio familiar e seus cuidados – antes delegados a amas de leite – tornam-se função da família, mais diretamente da mãe estudos é apontar que naturalizamos algo que foi socialmente construído – infância e maternidade. Quais os reflexos dessa concepção para as mães na atualidade? Ora, vejamos: a concepção de amor materno, inclusive propagado como “instintivo”, lança na maternidade uma enorme expectativa do exercício de funções e características balizadas por um ideal social e cultural. Dentre as transformações sociais, não se pode esquecer os avanços tecnológicos e medicinais que propiciaram à mãe e ao bebê receber tratamentos responsáveis por diminuir os riscos e mortes materno-fetais. Sendo assim, se antes gravidez e parto significavam também possibilidade de risco e morte, um novo cenário obstétrico e neonatal trouxe um oposto positivo de vida, mas não menos complexo e por vezes ainda doloroso. Ao engravidar, a mulher se vê diante de mudanças físicas e biológicas comuns às mamíferas, contudo, ao mesmo temHouve mudanças em relação ao entendimento do processo da “maternidade”, pois hoje existe uma compreensão sociológica de que “amor materno” é construído

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po, essa mesma mulher passa a ocupar um papel social investido de uma série de valores e concepções que a engessam em um “modelo” no qual só lhe resta se adequar. Essa adequação, porém, é custosa em muitos sentidos, uma vez que o social pode, em certa medida, ser o pano de fundo da vivência materna; entretanto, no campo subjetivo e emocional, cada mulher vai vivenciá-la de modo singular. A gravidez, portanto, deixou de pertencer somente ao campo do orgânico e a maternidade passou a ser compreendida por diferentes campos do saber, inclusive pela Psicologia, que tem buscado o entendimento acerca dos principais fenômenos psíquicos correlacionados ao ciclo gravídico-puerperal. Dentre os fenômenos psicossociais observáveis nesse ciclo, destacamos um – a “invisibilidade e perda da identidade materna”.

Padecimento

A

“invisibilidade e perda de identidade” das mulheres diante da vivência materna se trata de um fenômeno a ser compreendido sob um prisma também social. Consideram-se aspectos individuais da mulher nesse processo de apagamento. Contudo, não recai sobre ela a total responsabilidade pelo fato. Pelo contrário, por vezes as mães sequer reconhecem tal padecimento. Frequentemente, ouve-se das mães a menção de alguns chavões, reclamações e queixas de sintomas físicos e emocionais que, muitas vezes, caem em descrédito por serem já tão comuns à ideia que se tem da figura materna e, por isso, passam a ser naturalizados ou, pior, banalizados. A crescente valorização da infância, www.portalcienciaevida.com.br

Ao engravidar, a mulher se vê diante de mudanças físicas e biológicas, mas passa a ocupar um papel investido de valores e concepções que a engessam em um “modelo”

IMAGENS: 123RF

Antes das transformações sociais, a gravidez e o parto significavam também possibilidade de risco e morte, mas um novo cenário obstétrico e neonatal trouxe um oposto positivo de vida, mas não menos complexo e por vezes ainda doloroso como explicitado nos estudos de Àries (1981), também contribui de modo complexo na dinâmica de esmaecimento da mulher e, nesse caso, dentre as personagens da cena da vida materna, o bebê é quem ganha maior destaque e importância social. Sendo assim, uma vez grávida, a mulher perde seu status individual – ela não só deixa de falar em nome próprio como tampouco é ouvida como um indivíduo para além da sua condição gravídica. Em geral, quando a sociedade se preocupa com essa mulher é para obter acesso e informações acerca do bebê em detrimento do indivíduo que o carrega. Tomando isso como premissa, a ideia não é desqualificar os cuidados neonatais, mas agregar a compreensão de que, sendo essencial a presença da mãe tanto para os cuidados físicos como para o acolhimento e estabelecimento da saúde emocional do bebê, uma vez que ela “desapareça”, a quem ou a que recorre esse bebê? www.portalcienciaevida.com.br

E como as mães desaparecem? Há um preditivo? Ela recebe algum tipo de ameaça de um “rapto” social e identitário? Ela sequer deixa um bilhete de socorro ou de volto logo? Não! Toda a cena materna tem se investido de um primado de beleza. Ao longo da gravidez, a mulher “tem que” ganhar cada vez menos peso e curvas e, quando inevitavelmente a barriga ganha contorno e total expansividade, “coitada” da mulher que ganhar as linhas das temíveis estrias. Se, ainda assim, com sobrepeso, ela não “desaparecer”, que ao menos esconda as estrias. O mesmo vale para a recuperação do peso e forma física no pós-parto. “Fique linda para seu parceiro e seu bebê, afinal quem vai querer uma esposa ou uma mãe toda largada?” Muitas mulheres ouviram isso, internalizaram e acreditam ser delas mesmas essa cobrança estética – e, claro que é delas, mas para atingir um padrão e expectativa que a precede! A

partir da idealização estética feminina, não desaparece somente o “belo corpo feminino”, com a tal concepção se esvai também a autoestima da mulher. É no parto em que, atualmente, mais pode ser visto o “desaparecimento” da mulher. Com os avanços da Medicina obstétrica, as mulheres têm sido submetidas a procedimentos que antes eram delegados ao corpo que naturalmente cumpria sua função durante o trabalho de parto, como, por exemplo, as “cesáreas eletivas”. A cirurgia cesárea – que, segundo a História, foi praticada pela primeira vez no ano de 1500 por um homem simples que, em um ato de coragem, salvou mãe e bebê durante um trabalho de parto complicado, cortando a barriga da mãe com uma lâmina de barbeiro – teve sua prática ampliada e exclusiva ao uso médico obstétrico somente no século XVIII. Entretanto, só se tornou rotineira no século XX. Anteriormente, o procedimento apresentava altíssimas taxas de mortalidade materno-fetal e só era considerado quando realmente todas as alternativas para um parto normal vaginal não tivessem obtido sucesso. A cirurgia cesárea salva vidas de mulheres e bebês e quando bem sugerida

ŒManobra de Kristeller Œ O procedimento obstétrico chamado manobra de Kristeller consiste na aplicação de pressão na parte superior do útero, com o intuito de facilitar a saída do bebê. O profissional junta as mãos no fundo do útero, sobre a parede abdominal, com os polegares voltados para frente, tracionando o fundo do útero em direção à pelve, no momento em que ocorre uma contração uterina durante o parto natural ou cesárea. A técnica traz riscos para mãe e filho e é desaconselhada pela Organização Mundial da Saúde.

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Inúmeras mulheres, quando ficam grávidas, perdem o “rumo profissional”, pois frequentemente a licença maternidade não é bem-vista no mundo corporativo

A gravidez deixou de pertencer só ao campo do orgânico e a maternidade passou a ser compreendida por diferentes campos, como a Psicologia, que busca o entendimento dos fenômenos psíquicos correlacionados ao ciclo gravídico-puerperal evita danos e traumas maiores para todos. Contudo, o cenário atual apresenta uma realidade no mínimo alarmante. Em julho de 2016, a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) publicou dados do Mapa Assistencial e constatou que o Brasil apresenta taxas de cesarianas três vezes superior à média de países como EUA, Espanha, Alemanha, França, entre outros que compõem a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Segundo esses dados, a cada 100 nascimentos no Brasil 84,6 foram de partos cesáreos. Em contrapartida, a taxa média dentre os 34 países que compõem a OCDE foi de 27,6.

Realidade alarmante

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om toda certeza, as mulheres no Brasil não são anatomicamente diferentes das outras mulheres do mundo. Então, o que realmente acontece, para que as cesáreas no Brasil sejam a primeira alternativa de parto para médicos e mulheres? 60

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Uma das hipóteses, inclusive que baseou novas medidas por parte da ANS, era de que o parto normal, por sua imprevisibilidade e longa duração, tornava-se desvantajoso economicamente para os médicos. Como uma das medidas para diminuir o número de cesáreas previamente agendadas, baseadas nesses motivos, a ANS, desde 2015, determinou que os médicos recebessem três vezes mais pelo atendimento ao parto normal. É curioso que, mesmo nesse texto, ao se falar de parto, logo se faz alusão à cena médica hospitalar, taxas, modelos de parto, esforço e, por último, fala-se da escolha da mulher. Diniz e Duarte (2004) observaram em seus estudos, a partir de evidências científicas a respeito do modelo médico intervencionista nos partos no Brasil, que as equipes médicas e hospitalares passaram a ter domínio sobre o corpo da mulher, que, por sua vez, deixou de ser protagonista ativa no momento do parto e passou a

ser “paciente” dependente das escolhas e condutas médicas. “Nesse modelo tradicional considera-se o corpo feminino sempre dependente da tecnologia, frágil e potencialmente perigoso para o bebê. Isso é o que muitos pesquisadores chamam de viés de gênero, um olhar preconcebido sobre a mulher, em que seu corpo é por definição imperfeito e ameaçador, e não potencialmente adequado e saudável” (Diniz; Duarte, 2004, p. 19). Muitas mulheres sequer arriscam entrar em trabalho de parto. Temem a dor e possivelmente uma nova frustração ou constatação de uma “fraqueza”, pois infelizmente é essa a cultura que começa a permear o cenário do parto. Muitas mulheres que conseguiram ter seus partos normal, natural e humanizado, por vezes, passam a desqualificar as que não tiveram e as provocações do lado oposto também acontecem. Lamentavelmente, dos dois lados, quem acaba perdendo é a mulher que, informada ou não, empoderada ou não, fez ou foi induzida a uma escolha. E não esqueçamos as mulheres que nem escolhas tiveram ou, pior, que sofreram diversas violências obstétricas.

Humanização

C

ontrapondo tais cenários é que uma rede de profissionais se uniu em 1993 em prol da humanização do parto e nascimento. A ReHuNa concentra profissionais de diferentes partes do Brasil e busca disseminar conhecimento baseado em evidências científicas e, dessa forma, promover impacto e mudanças no modelo obstétrico tradicional, implementando o que hoje já nomeia-se como “parto humanizado”. Esse movimento de “humanização” busca promover os cuidados à mulher e ao bebê, respeitando o protagonismo feminino em seus aspectos emocionais, sociais, naturais e fisiológicos, diminuindo, assim, a quantidade de intervenções médicas, já comprovadas cientificamente desnecessárias e por vezes danosas e letais para mãe e bebê, como é o caso da manobra de Kristeller, www.portalcienciaevida.com.br

hoje totalmente desaconselhada no parto, mas ainda muito utilizada no Brasil (Diniz; Duarte, 2004). Com o parto humanizado, a mulher tem a possibilidade de retomar seu lugar de protagonismo ativo tanto na sua gravidez como parto e, consequentemente, no exercício da maternidade. As informações e acompanhamento que a mulher deve receber no modelo humanizado priorizam as evidências científicas em detrimento da opinião médica, que, por vezes, poderia ser enviesada (ReHuNa, 2016; Diniz; Duarte, 2004). Em conjunto, equipe e a mulher podem discutir o “plano de parto” dela e, juntas, optarem pelas melhores alternativas. Desse modo, o médico, com toda sua expertise, fica a serviço da mulher e não o contrário. Contudo, não é somente pelo parto que a mulher vai travar batalhas para impedir seu “desaparecimento”, pois são diversas as situações que facilitam que o mesmo aconteça ao longo da gravidez, puerpério e maternidade. Um dos raptos mais recorrentes é o da dignidade e independência financeira. Muitas mulheres, ao se verem grávidas, perdem o “rumo profissional”, pois comumente a licença maternidade não é bem-vista no mundo corporativo. Se empreender ou administrar a própria empresa, a mulher irá se desdobrar mais uma vez para dar conta da maternidade, renda e

Um dos dilemas da mulher é que se ela permanecer em casa, cuidando do filho, pode dar a impressão de que não tem ambição suficiente para um crescimento profissional

finanças de seu negócio. Por isso, muitas mulheres não conseguem conceber trabalho e maternidade em um mesmo plano de vida e carreira.

Desigualdade

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ão se pode esquecer, inclusive, que o mercado de trabalho já é desfavorável para as brasileiras. Como é possível constatar em pesquisas mais recentes do IBGE (outubro, 2015), as mulheres foram as mais afetadas pelo aumento do desemprego no Brasil. De acordo com a Pesquisa Nacional de Domicílios (Pnad/IBGE 2015), 4,6 milhões de brasileiras estão desempregadas, o que representa 52% do total de desocupados PARA SABER MAIS

COMPLEXO DE ÉDIPO TEVE INSPIRAÇÃO EM TRAGÉDIA GREGA

IMAGENS: 123RF

S

egundo Plon e Roudinesco (1998), o complexo de Édipo é uma noção central na Psicanálise. Seu inventor, Sigmund Freud, teorizou o dito complexo a partir de um personagem da tragédia grega de Sófocles, a saber, o jovem Édipo. O complexo de Édipo seria para Freud (1909) a representação inconsciente do “desejo sexual” da criança pelo genitor do sexo oposto e sua rivalidade e hostilidade com o genitor do mesmo sexo. Para Freud, esse complexo ocorreria entre os três e cinco anos de idade da criança e sua resolução se daria após a puberdade, na concretização de uma nova escolha de objeto amoroso. “O complexo de Édipo desempenha papel fundamental na estruturação da personalidade e na orientação do desejo humano. Para os psicanalistas, ele é o principal eixo de referência da psicopatologia” (Laplanche; Pontalis, p. 77).

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no país e, dentre os que estão empregados, a mulher recebe um salário médio inferior ao salário médio de homens ocupando a mesma função e cargo (Mulheres - R$ 1.567 e Homens - R$ 2.058). Ao perder a colocação no mercado de trabalho, ou mesmo ao receber um salário inferior, a mulher deixa de ter potência financeira e, para algumas famílias, isso significa a perda de uma renda fundamental. A estabilidade financeira ameaçada pode deflagrar situações de estresse não só para mulher, mas para todo conjunto familiar. Então, em algum momento a mulher se depara com uma temida decisão: retornar ao mercado formal ou informal de trabalho. Contudo, essa escolha pressupõe perdas, pois, se optar por estar mais próxima do filho, perde a possibilidade de renda e, optando por ter renda e trabalhar, terá que delegar os cuidados do filho a terceiros. Feita uma das escolhas, a mulher poderia seguir cuidando a seu modo da sua própria vida e filho. Mas não. Mediante as cobranças sociais, a mãe não pode sentir que fez a escolha certa em nenhuma das hipóteses. Se permanecer em casa, não tem ambição suficiente para um crescimento profissional e financeiro; o que fica nas entrelinhas é que “nasceu para ser dona de casa”, entendendo tal atividade de modo depreciativo. Caso ela reassuma o cargo, “fez o psique ciência&vida

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Estrutura psíquica

A

s teorias freudianas, embora desenvolvidas em conformidade com as características fundamentais da família burguesa, ainda ressoam suas constatações para a compreensão da maternidade contemporânea que, em muitos momentos, refletem os aspectos tipicamente burgueses. Sendo assim, é preciso comparar e contrastar também os valores atuais com os da sociedade vitoriana na qual Freud teorizou. Se antes a mulher apenas cuidava dos filhos, hoje ela está no mercado de trabalho e acumula funções. Se por um lado ela é cobrada para competir de igual para igual com os homens, profissionalmente falando, por outro, ela segue ganhando menos e ainda tendo funções extras – ditas como próprias “da mulher”

NAS BANCAS!

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Grávida, a mulher perde seu status individual – ela não só deixa de falar em nome próprio. Em geral, quando a sociedade se preocupa com essa mulher é para obter acesso e informações acerca do bebê em detrimento do indivíduo que o carrega (tarefas domésticas, cuidado com os filhos etc.). As mulheres da época de Freud eram responsáveis principais pela educação e criação dos filhos. No entanto, se atualmente, como já mencionado, as funções e papéis da mulher na sociedade Ao decodificar o choro do bebê, a mãe ocupa o lugar de interlocutor desse bebê, e é nesse sentido que Lacan refere-se à mãe como o Outro primordial

mudaram, nem por isso a teoria freudiana deixou de ter sua importância para a compreensão da psique humana. Alguns autores pós-freudianos, como Lacan, também vão teorizar sobre a mulher e a maternidade e sua importância na constituição psíquica do sujeito. Lacan (1969), em seu texto “Nota sobre a criança”, vai ressaltar a importância da função materna, relacionando tal função aos cuidados marcados por um interesse particularizado da mãe pelo bebê, dando a ele um lugar específico em seu desejo e interesse. Para além de todos os cuidados físicos essenciais para a sobrevivência do bebê, como alimentação, higiene etc., a mãe terá que prover outras necessidades de ordem psíquica, para que o bebê possa advir como sujeito. Tais necessidades devem ser ao mesmo tempo articuladas ao campo simbólico, o campo da linguagem. Para Lacan (1960), é por meio da linguagem

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filho para os outros ou o governo criar”. A essa altura, o “desaparecimento” já passa a ser considerado boa alternativa. O cenário apresentado, acrescido de um cinismo ao final, resulta da junção inclusive de diferentes momentos e construções históricas. O apego e a importância da função materna na estruturação psíquica do sujeito passaram a ser mais amplamente estudados no final do século XIX com Freud teorizando o Complexo de Édipo.

ŒReHuNa Œ A Rede pela Humanização do Parto e Nascimento (ReHuNa) é uma organização da sociedade civil que atua em todo o Brasil. O objetivo é a divulgação de cuidados perinatais, com base em evidências científicas. A rede tem um papel relevante na estruturação de um movimento denominado humanização do parto/nascimento. Pretende diminuir as intervenções desnecessárias e promover um cuidado em relação ao processo de gravidez/ parto/nascimento/amamentação, com base na compreensão do processo fisiológico.

que o grito da criança pode adquirir um significado, isso através da significação dada pela mãe para esse grito. Ao decodificar o choro do bebê, por exemplo, a mãe vai ocupar o lugar de interlocutor ou intérprete desse bebê, e é nesse sentido que Lacan refere-se à mãe como o Outro primordial. Esse “‘banho de linguagem” (Faria, 2010) impõe à criança uma condição de assujeitamento, ou seja, para ter suas necessidades atendidas, a criança totalmente dependente

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precisa que seus gritos, balbucios e choros sejam interpretados por esse Outro materno. A função materna não termina aqui, mas já é possível perceber, a partir dessa pequena explanação, a tamanha importância e implicação psíquica de uma mãe diante do desenvolvimento físico e emocional de seu bebê. Os recortes históricos, sociais e psicológicos feitos para este artigo buscaram dar visibilidade à importância e complexidade que recaem sobre a mu-

lher que figura a maternidade contemporânea. O termo “figurar” foi propositalmente escolhido, pois, de fato, pouco se sabe dessa mulher, já que, uma vez “mãe”, ela só agregou para si mais funções, estereótipos, demandas e expectativas internas e externas a que vemos sucumbir seus desejos, necessidades e essência, que não deixaram de existir, mas podem estar timidamente ou sufocadamente pedindo por socorro. Resgatemos essas mulheres!

REFERÊNCIAS ANS – Agência Nacional de Saúde Suplementar, 2016. In: http://www.ans.gov.br/aans/noticias-ans/ numeros-do-setor/3402-ans-publica-dados-sobre-assistencia-prestada-pelos-planos-de-saude-2 ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1981. BADINTER, Elisabeth. Um Amor Conquistado: o Mito do Amor Materno. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1985. DINIZ, Simone Grilo; DUARTE, Ana Cristina. Parto Normal ou Cesárea? O que Toda Mulher Deve Saber (e Todo Homem Também). São Paulo: Editora Unesp, 2004. FARIA, Michele Roman. Constituição do Sujeito e Estrutura Familiar. O Complexo de Édipo de Freud a Lacan. Taubaté: Editora e Livraria Universitária, 2010. FREUD, Sigmund. Análise de uma fobia em um menino de cinco anos. In: FREUD, S. Edição standard brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v. 10, p. 11-133, tradução J. Salomão. Rio de Janeiro: Imago, (Trabalho original publicado em 1909.) . Carta 71. In: FREUD, S. Edição standard brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, v., tradução J. Salomão. Rio de Janeiro: Imago, (Trabalho original publicado em 1897.) LACAN, Jacques (1969). Nota sobre a criança. In: Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003. LAPLANCHE, Jean; PONTALIS, Jean-Bertrand. Vocabulário da Psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 1992. PNAD e IBGE 2015. In: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/pesquisas/pesquisa_resultados.php?id_ pesquisa=40 REHUNA – Rede pela Humanização do Parto e do Nascimento. In: http://www.rehuna.org.br/ ROUDINESCO, Elisabeth; PLON, Michel. Dicionário de Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

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divã literário

por Carlos São Paulo

A segurança da

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LOUCURA

LER O CONTO O HORLA E TORNAR-SE A TERCEIRA PESSOA QUE PODE DISTINGUIR O EXERCÍCIO DA PRÓPRIA RAZÃO, COMO AFIRMA FOUCAULT, É A FORMA DE PERCEBER QUE O LOUCO NÃO PODE SER LOUCO PARA SI MESMO 64

psique ciência&vida

G

uy de Maupassant, contista francês, no curso de sua doEN¥AMENTALPROVOCADAPELASÓlLIS ESCREVEUUMASEGUNDA versão do seu conto “O Horla”, acentuando a verossimilhança e, como em um diário, contando o seu estado de enlouquecimento. O escritor nasceu em 1850 e, ao terminar esse conto, tentou suicídio, foi internado num hospício e veio a falecer aos 43 anos, um ano depois do seu internamento. h/ (ORLAv  LINGUISTICAMENTE  SIGNIlCA PRESENTE  MAS NÎO AQUI  ONDETEMOSEGUINTESIGNIlCADOOQUENÎOESTÉEMMIMNÎOSOU EU.ARRADONAPRIMEIRAPESSOA OCONTOTRAZCOMOPERSONAGEMUM cidadão que convive com a presença de uma entidade invisível. Ele inicia sua história escrevendo a data como em um diário, admiranDOODIAEMOSTRANDOOQUANTOGOSTADACASAONDECRESCEU6AIAOS POUCOSMOSTRANDOUMESTADOPROGRESSIVODEDILUI¥ÎODAFRONTEIRA www.portalcienciaevida.com.br

entre o que ele é e as formas pelas quais ele se representa. /NARRADORCONVIVEANGUSTIADOCOM os limites dos sentidos humanos. Diz no SEURELATOh.ÎOPODEMOSENXERGARNEM os habitantes de uma estrela e nem os HABITANTES DE UMA GOTA DÉGUA % NOSSOSOUVIDOSQUENOSENGANAM POISNOS transmitem as vibrações do ar em notas SONORASv %M SEGUIDA  VIAJA PARA OUTRA cidade e lá presencia a prima submetenDO SEÌSUGESTÎOHIPNØTICA ! SUGESTÎO HIPNØTICA  APLICADA A essa prima rica, a faz precisar tomar-lhe um empréstimo e, com isso, neNHUM ARGUMENTO LØGICO FAZ SENTIDO para ela. Convencida dessa necessidade, ela suplica-lhe, sem saber que atende a um comando hipnótico do qual não tem consciência, enquanto ele, que assistiu ao transe hipnótico, sabia que não havia NENHUMA LØGICA PARA ESSE PEDIDO %SSA EXPERIÐNCIAFAZONARRADORASSOCIARTUDO que viu à criatura Horla. No século XIX, época em que viveu Maupassant, a Medicina passou a admiTIR A AMEA¥A INVISÓVEL DOS MICRORGANISmos causadores de doenças. Medicina e 0SICOLOGIAJUNTASCOME¥AVAMACONSIDErar o invisível. Sabemos que há muitas coisas em nós ENOMUNDOEMNOSSAVOLTAQUEINEXISTEM PARANØSMESMOS!0SICOLOGIACHAMADE COMPLEXos essas subpersonalidades que, assim como na demonstração hipnótica, nos fazem viver sem compreender muitas das decisões que tomamos. Mas à luz da ANÉLISE  ALGUÏM PODE COMPREENDER POR que sua vida afetiva é sofrida e não repetir o erro em casamentos sucessivos. Ou pode resistir a mudar uma vida sofrida por entender que, como um torturado habituADOADETERMINADOTORTURADOR lCARÉCOM

Bola de Sebo (conto “O Horla”) Autor: Guy de Maupassant Editora: Artes e Ofícios Número de páginas: 96 Ano de edição: 2011 www.portalcienciaevida.com.br

NO SÉCULO XIX, ÉPOCA EM QUE 6)6%5-!50!33!.4  A MEDICINA PASSOU A ADMITIR A AMEAÇA ).6)3°6%,$/3 MICRORGANISMOS CAUSADORES DE DOENÇAS. MEDICINA E PSICOLOGIA *5.4!3#/-%—!6!- A CONSIDERAR /).6)3°6%, medo se lhe aparecer um torturador novo, POISOANTIGOLHEDÉMAISSEGURAN¥A Para nos darmos conta do nosso próprio eu, precisamos ter um funcionaMENTO SAUDÉVEL DE NOSSO EGO ! SÓlLIS  COM OS SEUS AGENTES MICROSCØPICOS  FOI capaz de produzir uma disfunção no EGODE-AUPASSANTAPONTODEDEIXÉ LO em condições de maltratar a si mesmo e buscar saída na tentativa de suicídio. %M SUA DESCRI¥ÎO  DIZ O PERSONAGEM h6IVERCOMALOUCURAÏCOMOSENTIRQUE o monstro invisível, como um vampiro, SØSESACIADEPOISQUESUGAAVIDAQUEHÉ EMMIMEMEDEIXASEMENERGIAEENFRAquecido”, ou similarmente diz na voz do COCHEIROh!SNOITESMECOMEMOSDIASv 4OMANDO A MITOLOGIA PARA MELHOR ENTENDERMOSALOUCURA DESTACOQUEEXIStia para os romanos o deus Baco (DioNÓSIOPARAOSGREGOS QUEREPRESENTAVAA intensidade emocional capaz de dissolver os limites do eu. Ele era descrito como um eterno adolescente, devorado pelas emoções e que, por essa razão, vivia em BUSCADESEXOOUDROGAS3ABEMOSQUEAO cérebro adolescente, ainda incompleto,

FALTAODESENVOLVIMENTOPLENODOCØRTEX pré-frontal para lhe permitir encontrar OBJETIVIDADE EM MEIO ÌS SUAS PAIXÜES Assim, os seus pais precisam fazer o paPEL DESSE CØRTEX PRÏ FRONTAL %RASMO DE Rotterdam, em Elogio da Loucura NOSDIZ h3ØALOUCURATEMAVIRTUDEDEPROLONGAR AJUVENTUDE EMBORAFUGACÓSSIMA EDEREtardar bastante a malfadada velhice […]. Baco tem sempre, como um rapazinho, o ROSTORUBICUNDOEALONGACABELEIRALOUra? É porque passa a vida fora de si, emBRIAGADO NOS BANQUETES  NOS BAILES  NAS FESTAS NOSFOLGUEDOS RECUSANDOQUALQUER relação com Minerva”. Outro mito que descreve a loucura é o mito de Cassandra. Apolo, cativo à JOVEM#ASSANDRA LHEDEUODOMDEANTEVERTRAGÏDIASEFAZERPREVISÜES.OENTANTO ABELAJOVEMSENEGOUADEITAR SE com o deus. Como punição, Apolo fez com que as pessoas não acreditassem na previsão de Cassandra e esta passou a ser vista como louca. Ai de quem for PREPARADO PARA ENXERGAR MAIS LONGE quando as demais pessoas ainda não CONSEGUEMACOMPANHÉ LO POISTAMBÏM será um louco. Somos loucos quando intuímos uma escolha e insistimos nela enquanto os outros em nossa volta nos FOR¥AMASEGUIROUTROCAMINHO 4ODOS OS DIAS  NESSE MUNDO GLOBAlizado, nos deparamos com notícias e PROGNØSTICOS E NÎO SABEMOS O QUANTO Cassandra nos amedronta com sua louCURA.INGUÏMOUVIU#ASSANDRAQUANDO ela previu uma crise econômica, moral, ética e institucional nessas dimensões NO "RASIL !GORA QUE JÉ ACONTECEU  PRECISAMOSCONTEMPLARSEMPAIXÎOONOSSO modo de ver os candidatos liderarem a nação e evitar sentirmo-nos impotenTESDIANTEDEUM"RASILAINDANOESTÉGIO h"ACOv OQUALNÎOSEDÉCONTADEQUEJÉ é hora de sair da adolescência e enfrentar Minerva, a deusa da sabedoria.

Carlos São Paulo é médico e psicoterapeuta junguiano. É diretor e fundador do Instituto Junguiano da Bahia. [email protected] / www.ijba.com.br

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cinema

Por Dr. Eduardo J. S. Honorato e Denise Deschamps

A era da “pós-verdade” /3%2)!$/.!#)/.!,3%¡ $%3#2)4/0%,/)$%!,):!$/2% 0%,!-°$)!%30%#)!,):!$!#/-/ 5-!$)34/0)! -!3./3&!:0%.3!2 3%%34!-/34§/,/.'%!33)-$! 2%!,)$!$%15%!02%3%.4!

O

SERIADONACIONALDEPRODU¥ÎODA.ETmIXE"OUTIQUE Filmes estreou recentemente e vem a calhar de forma assustadora com o momento social. O “piloto” lLMADOEMINSPIROU SENAPRØPRIAVIVÐNCIADE seus criadores como jovens em um mundo altamente compeTITIVOEEXCLUDENTEEQUE INCLUSIVE EMUMPRIMEIROMOMENTO disse não para a produção. #HEGAAOESPECTADOREMUMAÏPOCANACIONALEMQUEAJUVENTUDELUTAMAISDOQUEOSBRAVOSDOROTEIROECONTRAPERIGOSTÎO REAISEhCONTROLADOSvQUANTO-OMENTONOQUALOMUNDODISCUTE  ABISMADO DADOSQUEAPONTAMPARAUMPERCENTUALMUITOPEQUENO DEINDIVÓDUOSQUEDETÐMAGRANDEMAIORIADOSRECURSOSMONETÉRIOS DOPLANETAEQUE PORTANTO TÐMUMMODODEVIDAMUITOPRIVILEGIADOCOMACESSOABENSECUIDADOS MASAMAIORIADAPOPULA¥ÎONÎO TEMESSEDIREITOASSEGURADO.ADAMUITOLONGEDOQUEVEREMOSNESSAINTERESSANTEPRODU¥ÎO APRIMEIRABRASILEIRADA.ETmIX QUEPARECE TERCONTADOCOMUMOR¥AMENTOPRØXIMOAOS2MILHÜES OQUE ÏCOMPATÓVELCOMASPRODU¥ÜESNACIONAIS MASBEMMENOSPOLPUDO PERTODEOUTRASPRODU¥ÜESBANCADASPELA.ETmIX

-¡2)4/3).%'£6%)3 %MBORANÎOTRAGAUMAGRANDENOVIDADE UMMISTODEFRANQUIAS como Jogos Vorazes e Divergente  ENTRE OUTRAS MENOS CONHECIDAS  APRESENTAMÏRITOSINEGÉVEIS!LGUMASCRÓTICASPOSSÓVEISNOSENTIDO APENASDEALCAN¥ARMAISQUALIDADE PRINCIPALMENTEDEDIRE¥ÎO ELENCO E DUBLAGEM / ROTEIRO ORIGINAL FOI CRIADO EM  POR 0EDRO !GUILERA COM A PARCERIA DE $AINA 'IANNECCHINI  $ANI ,IBARDI E *OTAGÉ#REMA EQUEPARAASÏRIECONTA ALÏMDE!GUILERA COMOS ROTEIROSDE#ÉSSIO+OSHIKUMO  E E*OTAGÉ#REMATODOS  %SSAPRIMEIRATEMPORADAFOIDIRIGIDAPELOURUGUAIO#ESAR#HARLONE  www.portalcienciaevida.com.br www ww.po .porta porta po rtal talci lcienc lc ienciae en enc ncia n iae iae aevid id da.c a com a.com om br om. br

IMAGENS: DIVULGAÇÃO

A série apresenta um mundo pós-apocalíptico e devastado em que faltam água, comida, energia e outros recursos. Aos 20 anos, todo cidadão pode participar do Processo, uma seleção para passar para o Maralto, onde há oportunidades de uma vida digna

INDICADO AO /SCAR DE MELHOR FOTOGRAlA em Cidade de Deus/PRODUTOREXECUTIVOÏ 4IAGO-ELO QUEACREDITOUNOPROJETO /UTRO FATOR QUE CATIVA NA SÏRIE Ï TER sua trilha sonora composta por uma vaRIEDADEDANOSSAMÞSICA CADAUMADELAS MUITOBEMESCOLHIDAPARAASSEQUÐNCIAS  em alguns momentos comovem tanto QUANTO OUATÏMAIS QUEACENA COMOOUVIR EM DETERMINADO TRECHO %LZA 3OARES cantando A Mulher do Fim do Mundo ESSA MULHERQUEPORTANTOSANOSTEMMARCADO a cena nacional por sua ousadia e fortes POSICIONAMENTOS COMO  POR EXEMPLO  QUANDO CANTA PARA O PÞBLICO A Carne (Negra) .AS SEQUÐNCIAS PODEMOS TAMBÏMOUVIRABELAINTERPRETA¥ÎODE-ONICA3ALMASOE!NDRÏ-EHMARIDAMÞSICA Último Desejo DO MESTRE .OEL  ALÏM DO BELOCANTODEABERTURADE-ARCELO0RETTO3ÎOMOMENTOSMARCANTES 3ERÉ QUE ACREDITAR EM UMA SUPOSTA MERITOCRACIA Ï ALGO RAZOÉVEL -AIS DO QUENUNCAAATUALIDADEPEDEQUESEPENSENISSO SOBORISCODEENTERRARMOSQUALQUERPOSSIBILIDADEDEUMPAÓSOUMESMO DEUMMUNDOMAISJUSTO!PAISAGEMDE FAVELA ONDE VIVEM OS  DA POPULA¥ÎO contrasta com o mundo futurístico dos SELECIONADOS PARA PARTIREM PARA O -AWWWPORTALCIENCIAEVIDACOMBR

/$%"!4%¡3/"2%/0%2#%.45!,0%15%./ $%).$)6°$5/315%$%4º-!-!)/2)!$/3 2%#523/3-/.%4£2)/3$/0,!.%4!%15% 0/335)5--/$/$%6)$!-5)4/02)6),%')!$/ #/-!#%33/!"%.3%#5)$!$/3 -!3! 0/05,!—§/.§/4%-%33%$)2%)4/!33%'52!$/ RALTO ONDE HABITAM  DISTANTES DA PLEBE  OSSUPOSTAMENTEMAISCAPAZESQUECOMPÜEMOS%SSEESQUEMASUPOSTAMENTE perfeito como modelo de sociedade foi FUNDADOPORUMCASALQUEÏCULTUADOPOR TODOSQUASECOMODIVINDADES PORÏMHÉO GRUPOQUETENTAROMPERCOMESSEMODELOAPARENTEMENTEAVAN¥ADO MASQUENÎO PASSADEUMANOVAFORMADESEORGANIZAR EM CASTAS /S QUE PARTICIPAM DESSE MOVIMENTODERESISTÐNCIASENOMEIAMCOMO h!#AUSAv%NAEDI¥ÎODESELE¥ÎOQUEO ROTEIRO ABORDA  O MOVIMENTO TENTA INlLTRARUMDESEUSMEMBROS ABRAVA-ICHELE "IANCA#OMPARATO PARAFAZERCOMQUE

seja aprovada e assim começar a operar o movimento contra esse modelo social de DENTRODAQUILOQUESEQUERDERRUBAR

.).(/$%6%30!3 h6OCÐÏOCRIADORDOSEUPRØPRIOMÏRITOv  REPETE EM TOM CONDESCENDENTE O COORDENADORDO0ROCESSO %ZEQUIEL*OÎO -IGUEL QUECONHECEREMOSODRAMAÓNTIMOQUEVIVEAOLONGODAPRIMEIRATEMPORADASEUPRØPRIOCONmITOALIMENTARÉAINSTABILIDADEDAQUILOQUEUMMODELOQUESE pretende perfeito defende como a melhor VIA/GRUPOQUECONDUZAPARTEPRINCIPAL DA TRAMA  ALÏM DE -ICHELE E %ZEQUIEL  Ï

Eduardo J. S. Honorato é psicólogo e psicanalista, doutor em Saúde da Criança e da Mulher. Denise Deschamps é psicóloga e psicanalista. Autores do livro  GG Gd   ƒ : Participam de palestras, cursos e workshops em empresas e universidades sobre este tema. Coordenam o site www.cinematerapia.psc.br

PSIQUECIÐNCIAVIDA

COMPOSTOPOR&ERNANDO-ICHEL'OMES  2AFAEL 2ODOLFO 6ALENTE  *OANA 6ANEZA /LIVEIRA  -ARCO 2AFAEL ,OZANO  !LICE 6IVIANE 0ORTO  -ATHEUS 3ÏRGIO -AMBERTI E.AIR:EZÏ-OTA  ! .ETmIX JÉ DIVULGOU NOTAS SOBRE O COMPROMISSO DE PRODUZIR UMA SEGUNDA TEMPORADA  NOTÓCIA QUE AGRADOU A QUEM apreciou a primeira e provocou surpresa EMQUEMNÎOCONSEGUIUVERMUITOSMÏRITOSNELA/FATOÏQUEPARAUMASÏRIEINICIANTEACRÓTICAnETEXTOSEMBLOGSnFOI  EMMUITOSCASOS BASTANTEDURA ALGUMAS VEZES POLÓTICA MESMO  REmETINDO ASSIM O VERDADEIRONINHODEVESPASQUEAQUESTÎO CENTRALDOROTEIROABORDA%MUMPAÓSQUE SERECUSAAPASSARALIMPOSEUSERROSHISTØRICOSEQUESUSTENTAADESIGUALDADESOCIAL COMOUMAQUESTÎODEMÏRITO ASÏRIEPODE MESMOSECONSTITUIREMUMAElCIENTEBOfetada e em um palco de acirradas dispuTASIDEOLØGICAS ! JUVENTUDE REBELA SE MUNDO AFORA  PERDIDAEMPERSPECTIVASNADAFAVORÉVEIS O mundo atravessa um momento de proFUNDAS MUDAN¥AS QUANTO AO MODO DE PRODU¥ÎO FALA SEJÉNOQUESERIANOMEADODEUMAŠ2EVOLU¥ÎO)NDUSTRIAL&ATO Ï QUE COM A AUTOMA¥ÎO CADA VEZ MAIS RÉPIDA E FRENTE A UMA POPULA¥ÎO QUE SØ AUMENTA EONÞMERODEVAGASDEEMPRE-

3%2£15%!#2%$)4!2 %-5-!350/34! -%2)4/#2!#)!¡ !,'/2!:/£6%, -!)3$/15%.5.#! !!45!,)$!$% 0%$%15%3%0%.3% .)33/ 3/"/2)3#/ $%%.4%22!2-/3 15!,15%2 0/33)"),)$!$%$%5- 0!°3/5-%3-/$%5- -5.$/-!)3*534/ GO DIMINUI CONSIDERAVELMENTE  LEVANDO com elas a esperança de uma vida digNA DE AMOR E TRABALHO  OS VÓNCULOS VÎO se formando com um quantum a mais de competitividade e de uma impulsão inveJOSA/SUCESSOÏUMABÞSSOLACRUEL AINDAMAISQUANDOPERDEDEVISTAOSENTIDO DEBEM ESTAREPASSASEUNORTEPARAUMA orientação consumista em um mundo QUESEDElNECADAVEZMAISPELODESCARTÉVEL  PELA OBSOLESCÐNCIA PROGRAMADA 5MlLMEMUITOEMOCIONADOQUETOCANO EMBATEENTREOMUNDODEANTESEOQUE

A meritocracia é a questão principal da série e explorada com uma crítica interessante. A premissa de 3% é muito atual. Nesse contexto, o sucesso é uma bússola cruel PSIQUECIÐNCIAVIDA   PS PSIQU Q ECCIÐN IÐNCIA IÐ CCIA IAAVID VI V VI V DA DA

JÉSEANTECIPAÏOAs Neves do Kilimanjaro Les Neiges du Kilimandjaro DE2OBERT 'UÏDIGUIAN  O QUAL RECOMENDAMOS COMVEEMÐNCIA

'!4),(/3$%$)3#533§/ /GRUPODEJOVENSQUECONDUZATRAma da série representa de certo modo algumas das principais formas de posicionar-se frente a esse mundo altamente EXCLUDENTE3UASVIDASDIRECIONADASAUM OBJETIVO QUE CUMPREM COMO UM RITUAL  ALGUMASVEZESATÏMACABRO ARESOLU¥ÎO do resto de seus dias. Cada um leva para a COMPETI¥ÎOTRA¥OSDESUAHISTØRIAAFETIVA  DOABANDONOPORPAISQUESAÓRAMPARAO 0ROCESSOINDOPARAO-ARALTOEMORRENDO NELE AOSQUEVIRAMSEUSPAISRETORNAREM  agora tomados pela fatalidade da falta DEESPERAN¥AEDOCONFORMISMO OUTROS  COMO O PAI DE &ERNANDO  SUBLIMANDO O desamparo em uma espécie de fanatismo QUANTOAO0ROCESSO!SNUANCESQUEVEmos na série são muito interessantes se OBSERVADASÌPARTE PODEMSERBONSGATILHOSDEDISCUSSÎOQUEDARÎOVOZAMUITAS DASANGÞSTIASQUEHOJEATRAVESSAMPRINCIPALMENTENOSSOSJOVENS MASTAMBÏMÌS GERA¥ÜESPASSADAS QUEFORAMVENDOSEUS SONHOSCAPTURADOSEESTERILIZADOS .AHORADOCLÓMAXDASÏRIEPODEMOS VERASTESESDE,E"ONTÎOBEMESTUDADAS POR3IGMUND&REUDPsicologia das Massas e Análise do Eu    SOBRE SUGESTÎO E CONTÉGIO  OPERANDO DE FORMA MARCANTE QUANDOUMGRUPOPERDESUACARACTERÓSTICA de coletivo e se entrega a um movimento DEMULTIDÎOBRUTALIZADA%MOUTROSMOmentos podemos ver operando muito do QUEUMDOSGRANDESTEØRICOSSOBREGRUPOS  7ILFRED "ION  NOMEOU COMO PRESSUPOSTOS BÉSICOS  QUE FUNCIONAM COMO MOMENTOS lXOS QUE GRUPOS COSTUMAM ATRAVESSAR  DEPENDÐNCIA  ACASALAMENTO  LUTA E FUGA ! APROXIMA¥ÎO AMOROSA DE -ICHELEE&ERNANDOEACATEGØRICACREN¥A QUELHESÏLAN¥ADACOMOMALDI¥ÎODEQUE NAMOROSQUESURGEMDURANTEO0ROCESSO NÎOPERMANECEMNAVIDANO-ARALTO/ COLETIVOQUESEDESMANCHAEMMULTIDÎO CEGAEEMBURRECIDADEVESERUMAQUESTÎO ww www www.portalcienciaevida.com.br ww w w.po porta rttalci rtalci l ienc lcienc enciae ncia iaeevid iae id da.com a.ccom. om m brr

ASERMUITODEBATIDADAQUIPORDIANTESE QUISERMOSENCONTRARALGUMASAÓDASAUDÉvel para nossos impasses. .AS GRANDES LIDERAN¥AS QUE AQUELE TIPO DE ORGANIZA¥ÎO POSSUI HÉ UM BELO TOQUE TAMBÏM A RESPEITO DAS MAIS ANTIGASFORMASDEPODEREASNOVASQUESURGEM COM %ZEQUIEL E !LINE  BEM MAIS AGRESSIVOS QUE .AIR E -ATHEUS  DOS LÓderes acolhedores e incentivadores indo DIRETO AOS QUE MOTIVAM A AGRESSIVIDADE como o tom para alcançar o mais alto DESEMPENHODACOMPETITIVIDADEEDAElCÉCIA6EREMOSOMODELODEMUNDOQUE AS ÞLTIMAS GERA¥ÜES FORAM TENDO QUE LIDAR QUANTOMAISVELHOSMAISDIFÓCILLIDAR com essa nova aceleração e pragmatismo QUESEINSEREMNOATOMAISBANALLIGADO ÌVIDAEQUE RECONHE¥AMOS ACABAMPOR TAMBÏMIMPRIMIROUTRORITMOAOSVÓNCULOS CADAVEZMAISOBJETIlCADOSEMMETAS ECAPACIDADEINTRÓNSECADEUTILIZA¥ÎO

IMAGENS: DIVULGAÇÃO

6!,% 45$/ Nossos concorrentes entendem em alGUMMOMENTOQUEGRUPOSDENTRODOCOletivo são uma forma de aumentarem suas CHANCES ESERÉASSIMQUEOENREDOREUNIRÉ OSPERSONAGENSPRINCIPAISEMBUSCADESEU LUGAR NOS DESEJADOS  %STARÉ VALENDO QUASE  TUDO PARA ALCAN¥AR ESSE OBJETIVO  OSAMORES OSLA¥OSCOLABORATIVOS AÏTICA  ATÏMESMOAMORALPODERÎOSERhmEXIBILIZADOSv EM NOME DO INTERESSE MAIOR  UM VALE TUDOONDEAARTEIRONIZAAVIDAEMSEU MUNDODENEGØCIOSNAATUALIDADE -AIS AO lNAL lCAREMOS SABENDO QUE como último degrau de comprometimenTO PARA ENTRAREM  OU SEJA  IREM PARA O -ARALTO SERÉNECESSÉRIOABRIRMÎODESUA CAPACIDADE REPRODUTIVA n NÎO HÉ CRIAN¥ASENTREOSHABITANTESDOLADODELÉ/S  QUE VIVEM NA ESCASSEZ SÎO TAMBÏM RESPONSÉVEIS PELA PRODU¥ÎO DE NOVOS INDIVÓDUOS QUE TERÎO  DESDE O NASCIMENTO  A META DE ALCAN¥AREM AOS  ANOS A IDA PARAOGRUPODOSMAISAPTOS-UITASDESSASCRIAN¥ASABANDONADASÌPRØPRIASORTE  UMA VEZ QUE SEUS JOVENS PAIS SUMIRAM ENGOLIDOSPELO0ROCESSO PORÐXITOOUFRACASSO NELE #OMO ÞLTIMO OBSTÉCULO A SER www.po www.portalcienciaevida.com.br www .porta porta po rt lcienc lccienc lci en enciae nciae iaevid vidaa.c vid a com a.com om br om.br om. br

->Ú  candidatos são aprovados no Processo, que testa os limites dos participantes em provas físicas e psicológicas e os coloca diante de dilemas morais

!0!)3!'%-$%&!6%,!/.$%6)6%-/3 $!0/05,!—§/#/.42!34!#/-/-5.$/ &5452°34)#/$/33%,%#)/.!$/30!2! 0!24)2%-0!2!/-!2!,4/n/.$%(!")4!-  $)34!.4%3$!0,%"% /3350/34!-%.4%-!)3 #!0!:%315%#/-0š%-/3 superado encontra-se a capacidade do aprovado nas etapas anteriores de aceitar O PROCESSO DE ESTERILIZA¥ÎO OBRIGATØRIO PARA A PASSAGEM PARA O -ARALTO 4ALVEZ a infância não possa ser tolerada com seu caos criativo em uma sociedade cuja asSEPSIA DE CREN¥AS NÎO INCLUI EMO¥ÜES E EXPERIÐNCIASIMPULSIVAS REPLETASDECHORO E GARGALHADAS  DE AMOR E FÞRIA 0OR AQUI ANDAMOSAMEDICÉ LAEMEXCESSO #OMOALERTAVA,AO4SÏ SØAmEXIBILIDADEFALADEVIDA OQUEÏRÓGIDOFALADE MORTE EESSASÏRIEVEMSUBLINHARISSODE FORMABEMASSINADADEVEMOSREJEITARSIMULACROS DE MOBILIDADE COMO PRETENDE UM MODELO DE MUNDO TÎO BEM CARICATURADOPELOROTEIRO3ERIAMAISPRUDENTE ABRA¥ARMOSAmEXIBILIDADEQUEDAN¥ANOS corpos vivos e saciados de algo muito

MAIORQUEAMERASOBREVIVÐNCIANENHUM DOSLADOSDEVEPERDERESSADIMENSÎOQUE PODEATÏSERVISTAPARAALÏMDAESTÏTICA  DE UMA ÏTICA #OMO DIZ UMA FRASE QUE roda sem autor determinado em bytes DASREDESSOCIAISh%MTEMPOSDEØDIOÏ PRECISOANDARAMADOv-ICHELEE&ERNANDOTRAZEMAFOR¥ADESSAQUESTÎOh¡QUE AFOR¥AEARIGIDEZSÎOCOMPANHEIRASDA MORTE%ADOCILIDADEEAmEXIBILIDADESÎO AMIGAS DA VIDAv&ATO Ï QUE NESTA ERA  JÉ IRONICAMENTEAPELIDADADEhPØS VERDADEv  NÎO Ï MAIS TÎO FÉCIL LOCALIZARMOS ONDE CADA FOR¥A SE ENCONTRA  OS DISFARCES DE uma sociedade perversa são múltiplos e VÐMSEMPREEMVOZDOCEEPLENADEPROMESSAS%SEHÉALGOQUE%ZEQUIELPERSONIlCABEMÏAVERDADEIMPRECISA DAQUAL até ele mesmo duvida.

>Ú: Criado por Cesar Charlone, Pedro Aguilera. Ano de produção - 2016. GhÔ¢?B :"È¢GG9! IhÔI ^‚IG9-:+G^  origem - Brasil

DISTÚRBIO

O QUE HÁ POR TRÁS DA DISLEXIA? Um transtorno específico de leitura, que traz dificuldades na aprendizagem ou desenvolvimento dessa habilidade. Não se trata de um problema comportamental ou educacional, ainda que esses possam dificultar a identificação e melhora

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mados de pouco inteligentes ou pouco esforçados, o que se reflete diretamente na motivação e em sua autoimagem. Talvez por essa razão existam vários estudos internacionais mostrando que a população com transtornos de aprendizagem que não tem apoio terapêutico, familiar e/ou educacional torna-se mais vulnerável à criminalidade, provavelmente pela saída mais precoce do sistema escolar ou pela menor possibilidade de emprego. Em compensação, aqueles bem estimulados, com ambiente favorável e/ou resilientes, apresentam todas as possibilidades de desenvolvimento e sucesso, apesar de um certo esforço inicial. A questão passa a ser a seguinte: se é um déficit específico, por que esses estudantes apresentam outras dificuldades? A leitura, há anos, vem sendo a base do ensino formal. Ela é boa parte do acesso à informação, e sua limitação pode atrapalhar o rendimento em outras matérias. Vale lembrar que não há uma dificuldade para aprender. O problema é que se o único caminho para o conteúdo for a leitura, ela pode servir como

um gargalo ou funil, limitando o acesso. Além disso, o erro na leitura de enunciados pode provocar respostas aparentemente sem nexo, o que não aconteceria na linguagem oral. Outro exemplo são os problemas matemáticos, que podem ser um grande desafio, mesmo quando não há dificuldade em cálculo, pois é necessário ler e interpretar a questão. A escrita também pode ser um limitador, visto que nem tudo o que pensa, o que é elaborado mentalmente, consegue ser explicitado através desse instrumento. Como se fala no dia a dia: fica difícil colocar as ideias no papel.

Déficit linguístico

A

dislexia, definitivamente, não tem origem na má qualidade da educação. Mesmo em países em que a educação apresenta altos índices de sucesso a dislexia existe, e apresenta a mesma porcentagem de países onde estes não são uma realidade. Trata-se de um déficit linguístico, fortemente associado a uma tendência familiar. O processamento fonológico está prejudicado, bem como

Renata Mousinho é professora associada, mestre, doutora e pós-doutora em Psicologia, todas pela UFRJ. Coordenadora do Projeto ELO: escrita, leitura e oralidade (UFRJ). Autora do livro Dislexia: Novos Temas, Novas Perspectivas, ao lado de Luciana Mendonça Alves e Simone Capellini (Wak Editora).

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SHUTTERSTOCK

D

islexia é um transtorno específico de leitura, e disortografia um transtorno específico de escrita. A dislexia vem acompanhada da disortografia, mas essa última pode vir sozinha (ou seja, problema de escrita, mas com leitura adequada). Não se trata de uma dificuldade comportamental, apesar de ser possível que coexista ou apareça em consequência de suas dificuldades escolares. É importante também destacar que, para ser considerado dislexia, o nível de leitura não pode ser compatível nem com o nível de leitura de seus colegas que tiveram as mesmas oportunidades educacionais nem com o nível do seu próprio desenvolvimento em outras áreas, como potencial cognitivo, por exemplo. Não custa reforçar que não se trata de um déficit intelectual. O potencial para aprender está totalmente intacto. As pessoas com dislexia têm consciência das dificuldades que apresentam, mas não necessariamente do diagnóstico. E sofrem muito por isso. A dúvida do que têm, do porquê dessa aparente limitação, fora as pressões externas, que fazem com que ele próprio questione suas possibilidades, impacta muito sua autoestima. Não é incomum serem cha-

Por Renata Mousinho

Os manuais diagnósticos mais modernos propõem que, para um diagnóstico seguro de dislexia, haja um teste terapêutico ou proposta de resposta à intervenção (RTI). O que, em um país de tanta diversidade como o nosso, torna-se ainda mais importante seguinte: estratégias na escola para que todas as crianças consigam aprender (camada 1), estimulações em pequenos grupos para aquelas que estão apresentando dificuldades (camada 2). Então, será possível observar dois grupos: aquele das crianças que superaram as dificuldades iniciais (podem ser descartados diagnósticos como dislexia) e aquele com dificuldades persistentes, o que pode se confirmar como dislexia, e deve seguir para atendimento especializado (Veja quadro esquema simplificado de RTI).

Confirmação

P sua relação com o processamento visual. Mas é claro que uma má qualidade da educação prejudica. Ela pode ou potencializar as dificuldades dos disléxicos ou causar dificuldades de aprendizagem de outra ordem (que podem até parecer em um primeiro momento, mas não são casos de dislexia realmente). www.portalcienciaevida.com.br

Exatamente por essa razão, os manuais diagnósticos mais modernos, como o DSM-5, propõem que, para um diagnóstico seguro de dislexia, haja um teste terapêutico ou proposta de resposta à intervenção (RTI). O que, em um país de tanta diversidade como o nosso, torna-se ainda mais importante. A proposta é a

ara confirmar a presença da dislexia ou dificuldades similares são necessárias avaliações clínicas, mas é possível desconfiar através de alguns sinais. Tanto na leitura quanto na escrita há impasses que fazem parte do processo. Mas a persistência deles pode indicar dificuldade. No caso da leitura, por exemplo, ler sob esforço no início é comum, mas manter um ritmo muito devagar por um tempo prolongado não é esperado. psique ciência&vida

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DISTÚRBIO PARA SABER MAIS

CARACTERÍSTICAS

Crianças sem dificuldade vão ganhando fluência progressivamente, o que não acontece com quem tem dislexia. O estalo, ou o clique, como alguns chamam, não acontece sem uma ajuda adicional. E tem mais: a leitura laboriosa prejudica secundariamente a compreensão do texto lido, mesmo que a compreensão oral seja boa. Isso acontece porque a criança lê em pedaços, segmentando muito, e no final não consegue mais lembrar do que leu. É possível imaginar melhor vendo o quadro Diferença de leitura.

Escrita

N

a escrita há algumas trocas que, mesmo precocemente, são sinais de alerta. Não que indiquem 100% uma dislexia ou disortografia, mas, em alta porcentagem, sim. E são trocas raras para a maior parte dos escolares. Como exemplo há a substituição entre letras que representam os fonemas homorgânicos, como P/B, T/D, K/G, F/V, S/Z, s, ou X/J. Mesmo em palavras regulares, omo seja, que se escrevem exatamente como adas, se fala, as primeiras a serem dominadas, as seos erros se mantêm. As inversões nas muns, quências das letras também são comuns, ngas especialmente em sílabas mais longas (cravo para carvo, por exemplo). As regras ortográficas, que sãoo doos os minadas progressivamente por todos safio escolares, tornam-se um grande desafio rar, é para quem tem dislexia. Para ilustrar, possível falar de M antes de P e B, S–SS ou R–RR entre duas vogais ou G e C an72

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tes de A, O e U, que têm som diferente de quando colocado antes de E e I. A dificuldade do disléxico não é entender as regras, e sim aplicá-las, pois é necessário prever o som que vem depois, antes de optar pelo que vem antes. Então, ele consegue completar lacunas para completar M ou N antes das consoantes, já que as visualiza e conhece a regra. Mas na hora de escrever ele deve recuperar a letra que vem depois, para optar pela que vai colocar antes. Já fazer opções que explicitam dificuldades ortográficas do português, sem nenhuma regra que explique (um som com várias possibilidades de grafia), como X ou CH, por exemplo, demanda um tempo ainda maior. Essa demora se dá, pois é necessária experiência de leitura para que se estruture o

tal vocabulário mental que foi explicado acima, o léxico. Mas continuar errando ao longo da escolaridade, sem que isso nem cause ao menos alguma estranheza, pode ser um sinal. Além das questões ortográficas, sempre considerando que apenas a persistência em padrões anteriores é problemática, podem existir falhas no nível da frase, truncadas, sem pontuação ou sem letra maiúscula iniciando, ou ainda no nível do texto, que parece restrito se compararmos com o potencial de linguagem oral e tempo de escolarização. A seguir é possível observar um texto, na versão digitada, de uma menina de 10 anos, filha de professores. É relevante lembrar que o perfil pode ser bastante heterogêneo, portanto nem todos apresentarão exatamente os mesmos tipos de erros: “Mamãe agetou (ajeitou) a cossinha (cozinha) e o cão pagunsol (bagunçou) A a mamãe gegou (chegou) na cosinha (cozinha) e viu duto (tudo) Bagusado (bagunçado) e viu o cão ali Bagusado (bagunçando) a mamãe não codou (acordou) e Pegol (pegou) o cão E pretel (prendeu) o cão mais (mas) o cão coziquil (conseguiu) fugir e vodo (voltou) Para a cossinha (cozinha) mais (mas) como a mamãe esdava (estava) na cozinha ele não gozegel (conseguiu) fim”. PARA SABER MAIS

ESQUEMA SIMPLIFICADO DE RTI Intervenção escolar In

PPequenos grupos de estimulação III GhGI ‚I G  SSomente aqueles eescolares com d dificuldades p persistentes www.portalcienciaevida.com.br

Para confirmar a presença da dislexia são necessárias avaliações clínicas, mas é possível perceber alguns sinais. Tanto na leitura quanto na escrita há impasses que fazem parte do processo Providências

PARA SABER MAIS

DIFERENÇA DE LEITURA

A

mesma frase pode ser lida de forma diferente por dois escolares. No primeiro caso a criança tem que recuperar sete informações, sendo várias delas palaGI  ‚IG 9GI  G G` G: G9IGG da, tem que tentar lembrar quase do dobro, sendo que esses 13 segmentos não È  ‚IG :$HIGGI GG ` G GHG 9Gla de curto prazo, mas que é indispensável para o sucesso de algumas tarefas.  ‚IG G ^I  G G GhÔ    Ô    HG G: ,G  G I  G I  G  G Ô9 elas passam a entender o que leem quando ouvem, pois o canal auditivo ainda é IP GG  GI: G I G GI direto ao léxico, nosso dicionário mental. É quando conseguimos ler de forma GP IG9I I HGGGGGI G:

V

alorizar os pontos fortes do aluno com dislexia (raciocínio científico, habilidade matemática ou dom artístico, por exemplo) e evitar colocá-lo em evidência em suas fragilidades, como ler alto diante do grupo ou colocar sua produção de texto em um mural, são orientações que parecem ser de senso comum. Mas, além disso, há condutas importantes tanto no que se trata do sistema de avaliação quanto das estratégias para favorecer a aprendizagem na escola. Em sala de aula muitos são os recursos que o professor pode lançar mão. A re-

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Ledor Œ Œ Por definição, ledor é aquele que gosta de ler. No entanto, é muito mais do que isso. Ledor é aquele que empresta aos cegos, deficientes visuais e outras pessoas com problemas de leitura, por meio de sua voz, a possibilidade de leitura de diferentes textos, especialmente em avaliações, concursos e vestibulares. A função ganha cada vez mais importância no cenário educacional, em consequência do movimento inclusivo na educação. Esse profissional é fundamental para assegurar acessibilidade aos conteúdos escolares.

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alização de gráficos ou organogramas para auxiliar na compreensão de textos ou na organização da informação, o uso frequente de recursos visuais, o acesso à informação para além da leitura. Recursos que a família também pode usar em casa. Além desses, os horários fora da escola podem ser aproveitados para visita a museus, para assistir a filmes e documentários, além de animações sobre os assuntos tratados na escola. Adaptações das avaliações escolares devem ser consideradas, e minimizadas, à medida que a criança vai evoluindo. Por exemplo, em um primeiro momento, um ledor (alguém que leia a prova para ele) é útil. Mais à frente, ela já poderá ler sua própria prova (se ouvindo, de preferência), pedindo auxílio quando necessário, e com mais tempo para sua realização,

tendo em vista que sua leitura é mais lenta. Depois, apenas um prazo mais flexível de prova pode ser suficiente. No que diz respeito à escrita, deve-se considerar o que é o mais importante para aquela avaliação específica: o conteúdo ou a forma. Não parece justo um aluno com dislexia, que acerte uma resposta, perder pontos superiores ao valor de uma questão, que acertou, por conta de falhas na ortografia. Às vezes, a prova oral pode ser mais eficiente como forma de medir a aprendizagem de alguns, em determinadas disciplinas. Ou seja, por mais que existam orientações gerais, essas adaptações são sob medida. Elas não servem para favorecer um escolar com dislexia, mas para lhe dar as mesmas oportunidades de seu colega em determinada fase do seu desenvolvimento.

REFERÊNCIAS MOUSINHO, R.; ALVES, L.; CAPELLINI, S. Dislexia: Novos Temas, Novas Perspectivas III. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2015. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders9! ‚  Edition (DSM-V). Arlington: American Psychiatric Publishing, 2013. KETTERLIN-GELLER, L. R. Knowing what all students know: procedures for developing Universal Design for Assessment. The Journal of Technology, Learning and Assessment, v. 4, n. 2, nov. 2005. MARCHESAN, I.; SILVA, H.; TOMÉ, M. Tratado das Especialidades em Fonoaudiologia. São Paulo: Book Toy, 2014. TALBOT, J. Experiences of the criminal justice system by prisoners with learning disabilities and

‚I :Prison Reform Trust, 2008. psique ciência&vida

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DISTÚRBIO

DESVENDANDO

DISL

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MITOS SOBRE

EXIA 123RF

EExistem xistem muitos muitos eequívocos quívocos a rrespeito espeito desse desse distúrbio, distúrbio, mas mas os os mais mais comuns comuns ssão ão questões questões rrelacionadas elacionadas à hhereditariedade, ereditariedade, à troca dee lletras troca d etras e à possível possível maior maior incidência incidência em em meninos, meninos, eem m função função do do excesso excesso de de testosterona testosterona da da mãe mãe Por Lou Por Lou de de Olivier Olivier

SHUTTERSTOCK

Lou de Olivier é multiterapeuta, psicopedagoga, psicoterapeuta, especialista em Medicina Comportamental, bacharel em Artes Cênicas e Artes Visuais. Portadora do distúrbio da dislexia adquirida, é precursora da multiterapia e criadora do método terapia do equilíbrio total/universal. É também dramaturga e escritora. Recentemente participou como oradora on-line do Congresso de Psicólogos Clínicos Globais, na Malásia, abordando dislexia adquirida e multiterapia. Site oficial dislexia adquirida: http://dislexiaadquirida.com

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DISTÚRBIO

H

á anos tem sido divulgada uma série de equívocos sobre dislexia e isso torna não só o entendimento falho como confunde os leigos e até os profissionais que tratam o distúrbio. São três os principais mitos, que precisam ser explicados a respeito do transtorno: hereditariedade, troca de letras e a questão da testosterona. Há alguns meses um programa de TV entrevistou supostos especialistas abordando dislexia. Na sequência, muitos outros veículos de comunicação passaram a abordar o tema e os vídeos na internet viralizaram. Isso continua repercutindo de forma negativa pelos diversos erros que foram veiculados. Daí a necessidade de esclarecimento. A questão da hereditariedade/ genética tem sido amplamente difundida. Não se pode negar que exista um tipo de dislexia possivelmente hereditária/genética, que faz com que algumas famílias sejam propensas ao distúrbio, ou seja, se o pai ou a mãe tem dislexia, os filhos têm mais probabilidade de apresentarem o problema. Mas é preciso frisar que este é apenas um dos tipos de dislexia. Há outras

Conceito Œ Œ Como o termo já diz, dislexia: dificuldade ou ausência da aquisição do conjunto de palavras de um determinado idioma. De forma simplista pode-se dizer que seja dificuldade na aquisição da leitura. Ou a perda da capacidade de leitura, em casos de acidentes que causem dislexia adquirida. Entre tantos dicionários e livros que pretendem definir a dislexia, a definição mais precisa e simples é a de Gutenberg: “dificuldade de ler e compreender a escrita”.

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A questão da hereditariedade/genética se faz presente em alguns casos de dislexia, mas é importante ressaltar que existem vários outros tipos do transtorno

A identificação da dislexia ocorreu pela primeira vez em 1881, pelo médico alemão Oswald Berkhn. O termo dislexia foi oficialmente utilizado por um oftalmologista, também alemão, Rudolf Berlin, em 1887 classificações que dependem, inclusive, da linha de pesquisa adotada pela Neuropsicologia, pela psicopedagogia, pela multiterapia e outras linhas de pesquisa que classificam os diversos tipos de dislexia. De todos os tipos, o que gera mais confusão tem sido o causado por trauma, ou seja, a dislexia adquirida. Essa dislexia quase sempre é renegada e, quando citada, geralmente é de forma equivocada. Em certo debate televisivo, um médico citou fatores que podem causar dislexia adquirida, mas omitiu o principal que é anoxia perinatal/hipoxia neonatal. Em 1998, diversos sites de Saúde e/ou Educação e também meu portal publicaram essa pesquisa na íntegra, tanto no Brasil quanto na Europa, onde se comprova a aquisição de distúrbios, especificamente dislexia e disgrafia, por anoxia. Inúmeras pesquisas fizeram com que a dislexia adquirida fosse oficialmen-

te reconhecida pela Ciência da Saúde, a partir de 2011/2012. Lamentável que esse tipo de desconhecimento ou omissão ainda exista. Já em relação à troca de letras, trata-se de outro equívoco que tem sido amplamente difundido, classificando o problema como sendo supostamente característica da dislexia. Baseado em pesquisas, posso afirmar que o distúrbio não provoca troca de letras. O que ocorre com o cérebro do disléxico é uma dificuldade de entender os sinais das letras, ele não identifica o que é letra, ele apenas não distingue uma letra de outra e acaba não conseguindo ser alfabetizado ou perdendo a capacidade de leitura, no caso da dislexia adquirida. Isso é muito diferente de trocar “p” por “b” ou “d” por “q”, ou seja lá qual for a troca. Quando uma criança faz essas trocas de letras, o mais provável é que tenha uma dificuldade auditiva www.portalcienciaevida.com.br

PARA SABER MAIS

MULTITERAPIA

U

G GG‚I  GGG  G\G G G9G hÔ  G G:UGGG9GG G I G  IG GIGIb I G : G GGI GGI^‚I: HGGPG  I G G9 ( I G GG9 ) I G9  G \I IG  + IGP 9 G\ GG G9 IG G9H  GhG9 I GG9G GG GI GGIG GIG9GGG‡GGGˆG P 9‚I P I: +GGIG GIGÔ G GG \I IGPGGIG G: `GGGGP   I G9GGH  GI I IG  G 9 ‚IG G G GhGI GHG:

e, ao passar por ditado, escute errado e, na sequência, escreva errado. Pode também ser uma dificuldade visual, que a faz inverter letras ou enxergá-las de forma espelhada. Nessa forma de escrita espelhada, deve-se citar também que é comum a quase todas as crianças em fase de alfabetização inverterem letras e, com a continuidade dos estudos, passarem a escrever de forma normal. Portanto, trocar letras não pode ser classificado como “dislexia”.

Mais polêmica

IMAGENS: 123RF

O

utro ponto polêmico é no que se refere à possível maior incidência em meninos, em função do excesso de testosterona da mãe durante a gestação, o que já há tempos se descartou. Essa linha de raciocínio iniciou-se em 1982, com a publicação de The Testosterone Hypothesis: Assessment since Geschwind and Behan, de Albert M. Galaburda. O resumo dessa publicação é o seguinte: “A hipótese de Geschwind propõe uma interação causal entre imparcialidade não direita, doenças imunológicas e deficiência, inclusive dislexia, através da ação intra-uterina do hormônio masculino (testosterona). Alguns estudos epidemiológicos têm apoiado, pelo menos, uma associação estatística entre os três traços; outros não têm. As associações entre distúrbios de aprendizagem e doença imune e entre os transtornos de aprendizagem e lateralidade direita não parecem ser mais bem apoiadas do que www.portalcienciaevida.com.br

entre doenças imunológicas e imparcialidade não direita. No entanto, nenhum dos dados acumulados até o momento é conclusivo, porque não é claro que as amostras estudadas foram verdadeiramente representativas. A evidência neuropatológica, tanto em estudos de autópsia em disléxicos humanos e em modelos animais de anormalidades corticais de desenvolvimento, é coerente, mas não um diagnóstico de patologia imunológica. Mecanismos são discutidos porque um sistema imunitário anormal poderia, assim, ferir o cérebro em desenvolvimento, com ênfase nas interações materno-fetais anormais, incluindo doença autoimune materno e incompatibilidade materno-fetal. Uma origem genética também possível em que o papel materno é menos significativo”. O que precisa ser frisado e entendido é que, além do próprio autor ci-

Apesar da descoberta e do termo ser citado na Alemanha desde 1881, demorou a ser usado em outros países, especialmente no Brasil, onde, até algumas décadas atrás, ainda se intitulava “cegueira verbal” tar que não havia nenhum dado conclusivo e considerar o fator genético isentando as características da mãe, esses estudos americanos foram feitos em autópsias de humanos disléxicos e em animais e, além da crueldade a que se expunham animais que sequer têm o mesmo organismo e reações humanas, as pesquisas “mais avançadas” nessa época (1982) eram feitas em cérebros de disléxicos mortos. Enquanto isso, países como a Alemanha já estudavam casos de pacientes. A teoria do excesso de testosterona seguiu até que, em 2007, outro estudo – “No relation between 2D : 4D fetal testosterone marker and

A possível maior incidência de dislexia em meninos, em função do excesso de testosterona da mãe durante a gestação, já foi descartada por especialistas psique ciência&vida

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DISTÚRBIO

* 

A

identificação da dislexia ocorreu pela primeira vez em 1881, pelo médico alemão Oswald Berkhn. O termo dislexia foi oficialmente utilizado por um oftalmologista, também alemão, Rudolf Berlin, em 1887. Apesar da descoberta e do termo ser citado na Alemanha desde 1881, demorou a ser usado em outros países, especialmente no Brasil, onde, até algumas décadas atrás, ainda se intitulava “cegueira verbal” e até hoje há quem defenda apenas a causa hereditária/genética, negando-se a aceitar a evolução das pesquisas de diversos profissionais e pesquisadores de dislexias no mundo todo. O termo “cegueira verbal” surgiu em 1896, com W. Pringle Morgan, que descreveu a “cegueira de palavra congenital”, publicado em British Medical Journal. De 1890 a 1900, James Hinshelwood publicou vários artigos sobre dislexia e sugeriu que o maior problema no distúrbio era a deficiência 78

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Comorbidades Œ Œ Quando dois ou mais distúrbios se manifestam no mesmo indivíduo chama-se de comorbidade. Geralmente, há um distúrbio principal e outro(s) que se desenvolve(m) em paralelo. É preciso prestar atenção, pois muitas das comorbidades acabam se manifestando após algum tempo de tratamento, o que pode representar um procedimento errado ou ineficaz.

na memória visual de palavras e letras. Lesão cerebral era outra causa muito estudada, mas, em 1925, Samuel T. Orton escreveu que a dislexia não dependia de lesão ou dano cerebral. Orton, em parceria com a psicóloga Anna Gillingham, desenvolveu

Uma das formas eficientes de se tratar a dislexia é a multiterapia. Engloba as áreas de psicopedagogia, Medicina Comportamental, Neuropsicologia, entre outras técnicas de Psicanálise, além de arteterapia, musicoterapia, biodança e psicodrama

as intervenções educacionais que formaram a base do ensino multissensorial, que, até hoje, são usadas para ensinar crianças disléxicas. Já em 1951, G. Mahec fez experimentos em que percebeu que crianças sem dislexia leram da esquerda para a direita mais facilmente e crianças disléxicas leram na mesma velocidade, independentemente do sentido, e 10% dos disléxicos leram melhor da direita para a esquerda. Isso deu início à ideia do hemisfério direito ser maior nos portadores de dislexia. Essa ideia seguiria por muitos anos, mas, na verdade, após muitos anos de pesquisas teóricas e práticas, consegui comprovar que o que ocorria com o cérebro dos disléxicos (assim como de outros distúrbios) era uma maior excitação no hemisfério direito e maior inibição no hemisfério esquerdo. E isso nada tinha a ver com o tamanho dos hemisférios. Nos anos 70, enfim, entendeu-se a importância da consciência fonológica na dislexia. Como portadora de dislexia adquirida, a partir de um afogamento, eu mesma defendia a tese do surgimento do distúrbio por meio de um acidente em que ocorra diminuição ou ausência de oxigênio no cérebro, o que inclui AVC, anoxia por afogamento, por enforcamento, entre outros.

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ão diversos os distúrbios que se assemelham, mas não são dislexia. Os mais confundidos são: disgrafia – desordem de integração visual-motora. De origem grega, dys = dificuldade; difícil, e graphos = grafia, entende-se que é a dificuldade ou ausência na aquisição da escrita. Geralmente, o portador de disgrafia é desatento, pode tornar-se hiperativo e o principal é que a dificuldade se estende a todas as formas de escrita (letras, sinais e até desenhos). Por essas características, é comum diagnosticar crianças como disléxicas, sendo que seu distúrbio é, na verdade, disgrafia.

IMAGENS: 123RF

dyslexia – Boets, Barta b”, de Smedt, Berta; Wouters, Janb; Lemay, Katriena; Ghesquière, Pola (Neuroreport, v. 18, n. 14, p. 1487-1491, 17 September, 2007) – publicou o seguinte: “Tem sido sugerido que os níveis elevados de exposição pré-natal à testosterona estão implicados na etiologia da dislexia e seus frequentes problemas sensoriais. Este estudo examinou 2D: 4D relação dígitos (um marcador de exposição à testosterona fetal) em crianças disléxicas e normais de leitura. Foram observadas 4D: há diferenças entre os grupos em 2D. Mas não mostraram a relação postulada com leitura, escrita, habilidade fonológica, a percepção da fala, processamento auditivo e processamento visual. Esses resultados desafiam a validade das teorias que atribuem um papel proeminente à exposição à testosterona fetal na etiologia da dislexia e suas deficiências sensoriais.

As crianças que reproduzem letras, sinais e desenhos, mas não reconhecem ou conseguem ler o que escreveram, podem ser consideradas disléxicas. Já as que não conseguem nem ler nem escrever devem ser consideradas disléxicas e disgráficas. Outro caso passível de confusão é a disortografia – dificuldade na expressão da linguagem escrita. A ortografia é a parte da gramática que ensina a escrever palavras corretamente, portanto a disortografia é o escrever incorretamente. Esse é um distúrbio específico na aquisição e reprodução de letras (escrita de um idioma) e diferencia-se da disgrafia, que é generalizada.

'  I G

A

síndrome de Irlen (S.I.), por sua vez, é uma alteração visuoperceptual, causada por um desequilíbrio da capacidade de adaptação à luz, que produz alterações no córtex visual e déficits na leitura. A síndrome tem caráter hereditário e se manifesta sob maior demanda de atenção visual.

Outro caso passível de confusão é a dificuldade na expressão da linguagem escrita. A ortografiaé a parte da gramática que ensina a escrever palavras corretamente, portanto a disortografia é o escrever incorretamente

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Descrita em 1983 pela psicóloga Helen Irlen, a síndrome tem como manifestações, além da fotofobia, problemas na resolução visiospacial, dificuldades na manutenção do foco, estresse visual, alteração na percepção de profundidade e cefaleias. Durante a leitura, segundo pacientes, o brilho ou reflexo do papel branco contra o texto causam irritabilidade, assim como a luz natural ou fluorescente. Eles possuem ainda sensação de movimentação das letras que “pulsam, tremem, vibram, confluem ou desaparecem”, e a leitura passa a ser fragmentada. Além disso, queixam de insegurança ao dirigir, estacionar, com esportes com bola ou em outros movimentos, como descer e subir escadas rolantes. A questão da dislexia necessita urgentemente de uma nova abordagem. Os profissionais tanto pesquisadores quanto clínicos devem ter mais atenção ao que se publica. Em especial, os pesquisadores devem perceber a importância da informação minucio-

Como agir Œ Œ Existem algumas indicações de como se deve agir em relação às pessoas disléxicas: não forçar a alfabetização; encaminhar a pessoa ao psicopedagogo; incentivar sua criatividade; o acompanhamento neurológico também é fundamental; e havendo comorbidades, outros profissionais devem fazer parte da equipe de atendimento, como psiquiatra, psicólogo, fonoaudiólogo etc.

samente verificada, devem entender que, de suas publicações, surgem republicações, fundamento de teses, dissertações, TCCs e tudo isso pode perpetuar um equívoco, como tem sido por tantos anos a troca de letras e outros nessa linha. Cabe também aos profissionais clínicos buscarem boas informações, livros e palestras de qualidade, sempre questionando as informações que chegam, de forma a entender em profundidade os distúrbios e suas características. Aos pais e professores cabe a responsabilidade de conversar com seus filhos/alunos, percebendo alterações no comportamento e/ou na aprendizagem, reconhecendo o momento de encaminhar o indivíduo a um tratamento adequado às suas necessidades. REFERÊNCIAS Vídeo de Lou de Olivier, abordando os três principais equívocos sobre dislexia: https:// youtu.be/326yylCXxDQ Vídeo de Lou de Olivier, abordando a dislexia adquirida: https://youtu.be/mdsj7e7-1nU OLIVIER, Lou de. R (ebook). São Paulo: e, 2015. OLIVIER, Lou de. Distúrbios de Aprendizagem e de Comportamento. Rio de Janeiro: Editora Wak. . Transtornos de Comportamento e Distúrbios de Aprendizagem. Rio de Janeiro: Editora Wak. psique ciência&vida

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em contato O EXAGERO NA MIRA A Psicologia é mesmo surpreendente. Na edição 132, um dos artigos mostra uma relação direta entre algumas características comportamentais, que, comumente, são chamadas apenas de vícios. Então, dependência química, jogo patológico, dependência da internet, o comprar compulsivo e ATÏMESMOOSEXOEXAGERADOSÎOCLASSIlCADOSCOMOTRANSTORNOSDOEXAGERO%SSEÏUMCAMPOQUE PROPÜEUMDESAlOIMPORTANTEPARAOSPROlSSIONAISESPECIALIZADOS4ODOSESSESQUADROSCOMPREENDEMUMTIPODECONmITOENTREOPRAZERNAREALIZA¥ÎODAA¥ÎOEXAGERADAEOPREJUÓZOQUECAUSA EMFUN¥ÎODESEUDESCONTROLE%ÏPOSSÓVELIDENTIlCARNASOCIEDADEVÉRIASPESSOASQUESEENQUADRAMNOPROBLEMA0ARASETERUMAIDEIA POROBSERVA¥ÎO POSSODIZERQUEÏDIFÓCILENCONTRARUMA pessoa que não conheça alguém próximo que sofra de uma das formas desse transtorno. Leandro Quadros, por e-mail

4%-15%#/22%2 E não é que a ciência vem provando, ao longo dos anos, que a saúde do cérebro também depende do exercício físico? A CORRIDA  ESPECIlCAMENTE  VEM MOLDANDO a evolução do ser humano ao longo dos anos. O texto que saiu no número 132 da Psique mostra bem que, em dado momento da evolução humana, a própria seleção natural favoreceu a capacidade das pessoas em aguentar longos períodos de estresse cardiovascular. Não no que se refere à poTÐNCIA OU RAPIDEZ  MAS  SIM  Ì RESISTÐNCIA Historicamente, estudiosos defendem a tese de que os humanos evoluíram em consequência da necessidade de correr longas distâncias em busca de alimentos, o que ACABOUADAPTANDOAANATOMIAEAlSIOLOGIA %MRESUMO OMOVIMENTOFOIRESPONSÉVEL por determinar a estrutura e a função cerebrais. Portanto, a inatividade e o sedentarismo tornam os humanos doentes física e mentalmente. Parabéns! Sérgio Ricardo Andrade, por e-mail

MATOU DEZENAS DE PESSOAS  A SOCIEDADE  em geral, se relaciona mais com o medo, a constatação do sentimento de fragilidade da vida, a impotência e a revolta. Acredito, inclusive, que são sentimentos que surgem mesmo em pessoas que não têm nenhuma relação direta com as vítimas. Além disso, também creio que um tipo de curiosidade MØRBIDA INERENTEÌSPESSOAS FAZCOMQUE acidentes com essa magnitude ganhem muita repercussão na mídia. Selena de Alencar, por e-mail

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O LADO BOM DA VIDA

Mais uma personagem interessante foi escolhida para a entrevista da revista Psique. .AVERDADE DESSAVEZ NAEDI¥ÎO NÎO foi uma personagem, mas duas. As especiaLISTAS!NA0AULA2EISDA#OSTAE-ANOELA -ICHELLI ESCLARECERAM VÉRIOS ASPECTOS A respeito de um tema bem difícil de se lidar: o luto. Descobri, por exemplo, que frente ao primeiro impacto de uma tragédia, como a que ocorreu com o voo da delegação DO TIME DE FUTEBOL DA #HAPECOENSE  QUE

*ÉTINHAOUVIDOFALARDA0SICOLOGIA0OSITIVA MASAPENASSUPERlCIALMENTE0ORISSO  gostei muito do material publicado no número 132 da revista, que explicou, de forma mais aprofundada, as características DESSA LINHA DE PENSAMENTO 4RATA SE DE UMMOVIMENTOCIENTÓlCO QUEESTUDAFELIcidade e bem-estar, além de mostrar como implementar esses elementos no cotidiaNODASPESSOAS5MMÏTODOQUEPRETENDE ISSOSØPODESERINTERESSANTEEFAZEROBEM

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!0SICOLOGIA0OSITIVAFAZCOMQUEOLADO SAUDÉVEL E BOM DO INDIVÓDUO SEJA LEVADO a sério, sempre, é claro, com os parâmeTROSQUEACIÐNCIATRAZ%HOJEMEPARECE QUEHÉUMCENÉRIOBEMPROPÓCIOPARASUA A¥ÎO POISCOMOSAVAN¥OSTECNOLØGICOSHÉ uma sociedade, especialmente as crian¥AS NASMÎOSDASCHAMADASNOVASBABÉS  como tablets, smartphones e videogames. A consequência é um empobrecimento de relações sociais positivas. #AROLINA#ASTRO PORe-mail

A revista Psique provou, na edição 132, QUEAFRASEhRIRFAZBEMPARAASAÞDEvNÎO Ï UMA lGURA RETØRICA 0ODE SER  INCLUSIve, uma forma de terapia para combater inúmeros problemas físicos e emocionais. %XISTEM DIVERSAS EXPLICA¥ÜES CIENTÓlCAS PARAESSESBENEFÓCIOS5MADELASDIZQUE a sensação provocada pelo bom humor AJUDANOTRATAMENTODEDOENTES POISFAZ AUMENTAR A SECRE¥ÎO DE ENDORlNA  QUE é uma substância que relaxa as artérias, MELHORAACIRCULA¥ÎOEBENElCIAEREA¥ÎO imunológica. Em contrapartida, “pessoas mal-humoradas, impacientes, irritadas, CONTRARIADAS  RÓGIDAS E AUTORITÉRIAS ESTÎO mergulhadas num processo de tensão, que promove uma grande descarga de adrenalina, o que aumenta a predisposi¥ÎOPARAACIDENTESVASCULARESv EXPLICAO texto. Então, o remédio é sorrir sempre e procurar olhar o lado bom da vida. Sem DÞVIDA FAZBEMPARAASAÞDE !NA#ÏLIA#ORRÐA PORe-mail www.portalcienciaevida.com.br

PSIQUE CIÊNCIA & VIDA é uma publicação mensal da EBR _ Empresa Brasil de Revistas Ltda. ISSN 1809-0796. A publicação não se responsabiliza por conceitos emitidos em artigos assinados ou por qualquer conteúdo publicitário e comercial, sendo esse último de inteira responsabilidade dos anunciantes.

LINHA DIRETA Ao longo da história, a loucura vem GANHANDO CADA VEZ MAIS ESPA¥O NO ambiente de discussões acadêmicas e CIENTÓlCAS %XISTEM ALGUMAS IDEIAS QUE passam de geração a geração e, apesar de serem desmascaradas com o tempo, SEGUEMPOVOANDOOIMAGINÉRIOPOPULAR 5MDOSMITOS REFOR¥ADOAINDAHOJEPOR algumas crenças religiosas, que segue com muitas de suas características originais é o mito da possessão demoníaca, que surgiu na Idade Média. Pessoas AINDA FAZEM PRECES  SE BENZEM DIANTE de pessoas em crises psicóticas e até MESMO NOS MEIOS DE COMUNICA¥ÎO HÉ rituais de exorcismo aplicados em quem ESTÉSOBSOFRIMENTOPSÓQUICO0ARAESSAS pessoas, em seus mitos, a loucura não se

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Ano 11 - Edição 133

distingue do mal. Ela é o mal, a fonte do pecado, o próprio demônio. MatéRIA COMPLETA DA EDI¥ÎO  ESTÉ NO SITE http://portalespacodosaber.uol.com.br/

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CONSELHO EDITORIAL AICIL FRANCO é psicóloga, mestre e doutora em Psicologia #LÓNICAPELA5300ROFESSORANO)*"!ENA%SCOLA"AHIANA de Medicina e Saúde Pública, Savador, BA. ANA MARIA FEIJOO é doutora em Psicologia pela 5NIVERSIDADE&EDERALDO2IODE*ANEIRO AUTORADE LIVROSEARTIGOSCIENTÓlCOS PARECERISTADEDIVERSAS REVISTASERESPONSÉVELTÏCNICADO)NSTITUTODE0SICOLOGIA Fenomenológico-Existencial do RJ. ANA MARIA SERRA é PhD em Psicologia e terapeuta COGNITIVAPELO)NSTITUTEOF0SYCHIATRY 5NIVERSIDADEDE ,ONDRES$IRETORADO)NSTITUTODE4ERAPIA#OGNITIVA)4#  ATUAEMCLÓNICA FAZTREINAMENTO CONSULTORIAEPESQUISA 0RESIDENTEHONORÉRIA EX PRESIDENTEEFUNDADORADA!"0#

IMAGENS: 123RF/ARQUIVO CIÊNCIA E VIDA

ANDRÉ FRAZÃO HELENE é biólogo, mestre e doutor EM#IÐNCIASNAÉREADE.EUROlSIOLOGIADA-EMØRIA E!TEN¥ÎOPELA5NIVERSIDADEDE3ÎO0AULO onde também é professor no curso de Biociência e COORDENAO,ABORATØRIODE#IÐNCIASDA#OGNI¥ÎONO Instituto de Biociências. CLÁUDIO VITAL DE LIMA FERREIRA é psicólogo, DOUTOREM3AÞDE-ENTALPELA5NICAMP PØS DOUTORADOEM 3AÞDE-ENTALPELA5NIVERSIDADEDE"ARCELONA %SPANHA  PROFESSORASSOCIADODE0SICOLOGIADA5NIVERSIDADE&EDERAL DE5BERLÊNDIA!UTORDEAids e exclusão social. DENISE TARDELI, graduação em Psicologia e Pedagogia. Mestrado em Educação e doutorado em Psicologia %SCOLAREDO$ESENVOLVIMENTO(UMANO AMBOSPELA530 0ESQUISADORANAÉREADA0SICOLOGIA-ORALE%VOLUTIVA 0ROFESSORAUNIVERSITÉRIA DENISE GIMENEZ RAMOS é coordenadora do Programa DE%STUDOS0ØS 'RADUADOSDA05# 30EMEMBRODA Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica.

KARIN DE PAULA PSICANALISTA DOUTORAPELA05# 30  PROFESSORAESUPERVISORACLÓNICAUNIVERSITÉRIAEDO#%0  autora do livro $em? Sobre a inclusão e o manejo do dinheiro numa psicanálise EDEVÉRIOSOUTROSARTIGOSPUBLICADOS LILIAN GRAZIANO é psicóloga e doutora em Psicologia PELA530 COMPØS GRADUA¥ÎOEM0SICOTERAPIA#OGNITIVA #ONSTRUTIVISTA¡PROFESSORAUNIVERSITÉRIAEDIRETORADO )NSTITUTODE0SICOLOGIA0OSITIVAE#OMPORTAMENTO!TUA em clínica e consultoria. LILIANA LIVIANO WAHBA, psicóloga, PhD, professora da 05# 300RESIDENTEDA3OCIEDADE"RASILEIRADE0SICOLOGIA !NALÓTICA#OEDITORADArevista Junguiana. Diretora de 0SICOLOGIADA3EREM#ENA 4EATROPARA!FÉSICOS MARISTELA VENDRAMEL FERREIRA é doutora em Audiologia PELA5NIVERSITYOF3OUTHAMPTONn)NGLATERRA MESTREEM $ISTÞRBIOSDA#OMUNICA¥ÎOPELA05# 30 ESPECIALISTAEM 0SICOTERAPIA0SICANALÓTICAPELO)NSTITUTODE0SICOLOGIADA530 MÔNICA GIACOMINI, presidente da Sociedade Brasileira de 0SICOLOGIA(OSPITALARnBIÐNIO%SPECIALISTAEM Psicologia Hospitalar, psicóloga clínica junguiana, psicóloga DO)NSTITUTODE/RTOPEDIAE4RAUMATOLOGIADO(#&-530 e supervisora titular do Aprimoramento em Psicologia Hospitalar em Ortopedia. PAULA MANTOVANI é graduada em Psicologia pela 5NIVERSIDADE0AULISTA PSICANALISTA CONSULTORAEDITORIAL DOPROGRAMADEENTREVISTASDA&.!#EMEMBRO CORRESPONDENTEDO%SPA¥O-OEBIUSDE0SICANÉLISEDE 3ALVADOR"!  PEDRO F. BENDASSOLLI é editor da GV Executivo, psicólogo GRADUADOPELA5NIVERSIDADE%STADUAL0AULISTA5NESP E DOUTOREM0SICOLOGIA3OCIALPELA530¡TAMBÏMPROFESSOR da Fundação Getúlio Vargas e da ESPM.

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Rua Santo Ubaldo, 28 – Torre C – CJ. 12 – Vila Palmeira – São Paulo – SP CEP: 02725-050 – Telefone - (11) 4114-0965 EDITORA: Gláucia Viola EDIÇÃO DE ARTE E DIAGRAMAÇÃO: Monique Bruno Elias COLABORARAM NESTA EDIÇÃO: Andreia Calçada; Lou de Olivier; Lucas Vasques Peña; Luiza Elena L. Ribeiro do Valle; Raquel Jandozza; Renata Mousinho; Tiago J B Eugênio; Yago Felipe Hennrich. Revisão: Jussara Lopes. COLUNISTAS: Anderson Zenidarci; Carla Pereira; Carlos São Paulo; Denise Deschamps; Eduardo J. S. Honorato; Eduardo Shinyashiki; Giancarlo Spizzirri; Guido Arturo Palomba; Igor Lins Lemos; João Oliveira; Jussara Goyano; Lilian Graziano; Marco Callegaro; Maria Inere Maluf; Michele Muller. O Conselho editorial e a Redação não se responsabilizam pelos artigos e colunas assinados por especialistas e suas opiniões neles expressas.

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psique ciência&vida

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psiquiatria forense

por Guido Arturo Palomba

DIAGNÓSTICO

partido em dois A PATOLOGIA DUAL JÁ CONTA COM INÚMEROS ADERENTES AQUI NO BRASIL E EM OUTROS PAÍSES, A SERVIÇO DA INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

N

82

psique ciência&vida

não se ignora que a maioria dos dependentes de maconha é portadora de disritmia cerebral e usa essa substância empiricamente para acalmar as manifestações da doença. São maus calmantes? Sim, são, mas ainda assim são calmantes. E se tratada a causa, o efeito termina. Em outras palavras, dominada a disritmia cerebral o vício em maconha arrefece. E assim ocorre com os outros transtornos mentais. Dominada a ansiedade e a obsessão-compulsão, com certeza os comportamentos dela decorrentes amenizam. Não existe patologia dual, mais uma invenção da decadente Psiquiatria contemporânea, em que os ataques aos princípios fundamentais da especialidade ocorrem por todos os lados, lembrando que já “mataram” a psicopatologia, substituída pelos infantis inventários e protocolos, os quais alargam os diagnósticos, a permitir que cada vez mais pessoas tenham algum transtorno mental e, consequentemente, a justilCARMAISRECEITASEMAIORVENDADEREMÏDIOS/ATUALACINTEÌ nosologia vai no mesmo sentido: agora, em vez de um transtorno psiquiátrico, dois.

Guido Arturo Palomba é psiquiatra forense e membro emérito da Academia de Medicina de São Paulo.

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ARQUIVO PESSOAL/SHUTTERSTOCK

OlNALDADÏCADAPASSADANASCEUNA%SPANHAEEM0ORtugal a curiosa ideia de que um paciente pode ter dois diagnósticos principais ao mesmo tempo, por exemplo, esquizofrenia e toxicomania, epilepsia e alcoolismo, transtorno depressivo e vício em jogos de azar, transtorno obsessivo-compulsivo e dependência de tabaco, café, comida e daí por diante. A isso deram o nome de patologia dual. E hoje já é POSSÓVELIDENTIlCARSOCIEDADESEASSOCIA¥ÜESPROMOVENDOVÉRIOS eventos em diversos países sobre o assunto. Para se ter uma ideia, em março de 2017 ocorrerá o primeiro congresso mundial na Espanha sobre esse tema. Os inventores dessa concepção mostram-se, com todo o respeito, totalmente leigos em nosologia, que é uma ciência com regras, preceitos e leis, nascida da necessidade de organizar racionalmente os sinais e sintomas clínicos de uma doença, disciplinando a massa caótica e desorganizada das inúmeras moléstias e manifestações patológicas existentes. Em outras palavras, a nosologia é uma forma sintética para concentrar e nominar a essência da moléstia, cujo conceito começou com Carlo Lineu (1707-1778, pai da taxonomia moderna) e foi se lapidando no correr dos séculos. A proposta da patologia dual é fracionar a doença, e isso BATE DE FRENTE COM O PRIMORDIAL PRINCÓPIO DAS CLASSIlCA¥ÜES  segundo o qual é preciso colocar o máximo possível de sinais e sintomas clínicos em uma única entidade nosológica e não SUBDIVIDI LOS0ARAEXEMPLIlCAR NOSARAMPOOBSERVA SEINFECção pulmonar, coriza, tosse com catarro, anorexia, conjuntivite e as características lesões maculopapulares eritematosas. Se o sarampo passasse pela avaliação dos “médicos duais”, certamente uns diriam que o paciente tem transtorno pulmonar e dermatopatia, enquanto outros acrescentariam transtorno do apetite e conjuntivite também. É preciso recordar que muitas doenças e perturbações mentais podem apresentar-se com adições de todo o gênero. Hoje

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