Vol4

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Livro do Professor

a r u t a r Lite Volume 4

Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP) (Maria Teresa A. Gonzati / CRB 9-1584 / Curitiba, PR, Brasil)

A474

Alves, Roberta Hernandes. Literatura : ensino médio / Roberta Hernandes Alves ; ilustrações Daniel Klein, Marcos de Mello, Mariana Coan – Curitiba : Positivo, 2015. v. 4 : il. Sistema Positivo de Ensino ISBN 978-85-467-0092-9 (Livro do aluno) ISBN 978-85-467-0093-6 (Livro do professor) 1. Literatura. 2. Ensino médio – Currículos. I. Klein, Daniel. II. Mello, Marcos de. III. Coan, Mariana. IV. Título. CDD 373.33 ©Editora Positivo Ltda., 2015

Presidente: Ruben Formighieri Diretor-Geral: Emerson Walter dos Santos Diretor Editorial: Joseph Razouk Junior Gerente Editorial: Júlio Röcker Neto Gerente de Arte e Iconografia: Cláudio Espósito Godoy Autoria: Roberta Hernandes Alves Supervisão Editorial: Jeferson Freitas Edição de Conteúdo: Enilda Pacheco (Coord.) e Floresval Nunes Moreira Junior Edição de Texto: Juliana Milani Revisão: Chisato Watanabe, Fernanda Marques Rodrigues e Willian Marques Supervisão de Arte: Elvira Fogaça Cilka Edição de Arte: Joice Cristina da Cruz Projeto Gráfico: YAN Comunicação Ícones: ©Shutterstock/ericlefrancais, ©Shutterstock/Goritza, ©Shutterstock/Lightspring, ©Shutterstock/Chalermpol, ©Shutterstock/ Macrovector, ©Shutterstock/Jojje, ©Shutterstock/Archiwiz, ©Shutterstock/PerseoMedusa e ©Shutterstock/Thomas Bethge Imagens de abertura: ©Dreamstime.com/Alexandre Fagundes De Fagundes e ©Shutterstock/Samuel Borges Photography Editoração: Ivonete Chula dos Santos Ilustrações: Daniel Klein, Marcos de Mello, Mariana Coan Pesquisa Iconográfica: Janine Perucci (Supervisão) e Susan Rocha de Oliveira Engenharia de Produto: Solange Szabelski Druszcz Produção Editora Positivo Ltda. Rua Major Heitor Guimarães, 174 – Seminário 80440-120 – Curitiba – PR Tel.: (0xx41) 3312-3500 Site: www.editorapositivo.com.br Impressão e acabamento Gráfica e Editora Posigraf Ltda. Rua Senador Accioly Filho, 431/500 – CIC 81310-000 – Curitiba – PR Tel.: (0xx41) 3212-5451 E-mail: [email protected] 2018 Contato [email protected] Todos os direitos reservados à Editora Positivo Ltda.

Sumário Acesse o livro digital e conheça os objetos digitais e slides deste volume.

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Barroco ..................................................... 4 Barroco .......................................................................................................... Estética do Barroco nas artes plásticas........................................................... Estética do Barroco na literatura .................................................................... Período barroco português ............................................................................ Padre Antônio Vieira ...................................................................................... Período barroco brasileiro .............................................................................. Gregório de Matos Guerra ..............................................................................

7 7 9 12 12 15 17

ƒ Poesia lírico-amorosa de Gregório de Matos ......................................................................................... ƒ Poesia satírica de Gregório de Matos .................................................................................................... ƒ Poesia religiosa de Gregório de Matos ..................................................................................................

17 17 17

Resistência negra à escravidão ......................................................................

21

Arcadismo ................................................ 29 Produção artística do século XVIII ..................................................................

31

ƒ Mudanças na classe burguesa ............................................................................................................... ƒ O Iluminismo ........................................................................................................................................

32 33

Arquitetura no Neoclassicismo ..................................................................... Aspectos da literatura árcade ....................................................................... Mudanças na sociedade portuguesa no século XVIII ..................................... Arcadismo em Portugal: Bocage ................................................................... Arcadismo no Brasil ...................................................................................... Poesia lírica árcade: resquícios do Barroco e convencionalismo ....................

34 34 37 37 39 40

ƒ Cláudio Manuel da Costa ....................................................................................................................... ƒ Tomás Antônio Gonzaga .......................................................................................................................

40 40

Poesia épica árcade: representação do indígena na literatura do século XVIII

45

ƒ O Uraguai .............................................................................................................................................. ƒ Caramuru ..............................................................................................................................................

45 45

Poesia satírica árcade: crítica aos poderosos .................................................

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07 Barroco ©Dreamstime.com/Shaileshnanal

Ponto de partida

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11.. Na imagem, é possível ver dois homens em meio a uma paisagem natural. Descreva a postura de cada um deles. 2. O título dessa imagem é A contradição. Para você, qual a relação entre a imagem e o título? 3. O termo contradição tem como significados no dicionário as ideias de incoerência, oposição e contestação,

entre outros. Quais as diferenças de significado entre cada um desses três termos? 4. Segundo sua leitura, qual desses três sinônimos se associa melhor à imagem? Justifique sua resposta.

4

Objetivos da unidade: ƒ ƒ ƒ ƒ

compreender a relação do contexto sócio-histórico com as manifestações artísticas do Barroco; conhecer as artes plásticas barrocas, incluindo as obras de Aleijadinho; ler e interpretar poemas líricos, satíricos e épicos pertencentes ao Barroco; entender a função artística e social desempenhada pelos sermões no período barroco.

01

5.

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Lendo a literatura Me de rco s

Orientações para leitura do poema.

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Leia um poema do poeta brasileiro contemporâneo mporâneo José Paulo Paes.

Ao shopping center Pelos teus círculos vagamos sem rumo nós almas penadas do mundo do consumo. De elevador ao céu pela escada ao inferno: os extremos se tocam no castigo eterno. Cada loja é um novo prego em nossa cruz. Por mais que compremos estamos sempre nus nós que por teus círculos vagamos sem perdão à espera (até quando?) da Grande Liquidação. PAES, José Paulo. Ao shopping center. In: ______. _____. Os melhores poemas de José Paulo Paes: seleção o de Davi Arrigucci Jr. São Paulo: Global, 1998. p. 197.

vagamos: andamos sem destino, peregrinamos. amos. almas penadas: almas que circulam pelo mundo sem descanso, almas sofridas.

5

Klein. Daniel ital. ig 2015. D

José Paulo Paes nasceu em Taquaritinga, São Paulo, em 1926. Foi tradutor, poeta e crítico literário. Morreu em São Paulo, em 1998.

1. Na primeira estrofe do poema, o eu lírico aproxima a atitude de caminhar pelo shopping center à ideia de que não sabemos direito para onde queremos ir. Que ideias contidas nessa estrofe confirmam essa sensação? Os versos 2 e 3 (“vagamos sem rumo/nós almas penadas”) sugerem que a caminhada pelo shopping center pode não apresentar uma finalidade, uma direção.

2. Na segunda estrofe, há o emprego de uma figura de linguagem marcada por um recurso poético que se repete. a) Que recurso é esse? A antítese (oposição).

de sofrimento. Por isso, a cada nova loja em que se entra, uma nova necessidade de consumo surge, reforçando o sofrimento vivenciado pelo eu lírico.

4. O poema aproxima o passeio em um shopping center à ideia de peregrinação religiosa, em que os consumidores se tornam “almas penadas” subindo e descendo ao céu e ao inferno por elevadores e escadas. Seguindo essa interpretação, qual é o fim dessa trajetória religiosa? A espera do consumidor que “vaga sem perdão” à espera da “Grande Liquidação” fazendo referência à jornada do fiel à espera do Juízo Final.

b) Esse recurso é empregado duas vezes nessa estrofe. Uma delas pode ser percebida facilmente, a outra é mais sutil. Identifique essas ocorrências.

5. Uma das possibilidades de interpretação do poema é a de que ele expressa a ideia de ser o consumo uma espécie de nova religião? Justifique sua resposta.

A oposição entre “céu” e “inferno” e entre “elevador” (que

Pessoal. Espera-se que os alunos problematizem os hábitos

leva para o céu) e “escada” (que leva para o inferno).

relacionados à sociedade do consumo, destacando principal-

c) Explique por que as palavras indicadas na questão anterior podem ser entendidas como um caso da figura de linguagem empregada. As palavras “céu” e “inferno” expressam ideias opostas, já as palavras “elevador” e “escada” são ideias opostas no contexto desse poema: “De elevador ao céu” – ideia de ida para cima; e “pela escada ao inferno” – ideia de ida para baixo.

mente a necessidade ou não de consumirmos mais produtos do que realmente necessitamos.

6. No poema “Ao shopping center”, algumas palavras apresentam sentido oposto. Percebe-se, também, que esse poema tem um conteúdo crítico. Explique como as oposições podem reforçar o caráter questionador de um poema. Pessoal. Espera-se que os alunos considerem que as

3. Na linguagem comum, o termo cruz representa nossa sina (algo a que estamos condenados em nossa existência, nosso destino). Considerando essa informação, por que o poema afirma ser “cada loja” um “prego em nossa cruz”? O consumo, na visão do poema, corresponde a uma experiência

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contradições, em boa parte das vezes, fazem com que mais de uma visão sobre um mesmo assunto sejam apresentadas ao leitor.

Acontecia 3 Propostas de atividades.

Barroco O Barroco, também chamado de Seiscentismo, foi uma estética que, assim como o Classicismo renascentista, não ocorreu somente na literatura: aspectos do estilo barroco estão presentes na arquitetura, na pintura, na ópera, no teatro, na escultura e na música na Europa e em algumas de suas colônias no século XVII. Suas primeiras manifestações surgiram no último período do Renascimento italiano, momento em que os conceitos de equilíbrio e razão começaram a perder espaço para manifestações artísticas em que se podia observar a presença de alguns exageros e de certa extravagância nas representações artísticas. Do ponto de vista histórico, na transição do século XVI para o século XVII, muitos países europeus viviam uma fase otimista marcada pelo desenvolvimento econômico. A ampliação do comércio com a proliferação das rotas marítimas e a descoberta da América foram alguns dos fatores que desencadearam esse desenvolvimento. De modo oposto, mas complementar, outro conjunto de acontecimentos associados à crise religiosa que se instalou no centro do cristianismo espalhava uma sensação de pessimismo, de uma Europa dividida pelo surgimento de novas crenças religiosas. O otimismo econômico e o pessimismo religioso são características de um período histórico marcado por um espírito contraditório: de um lado, o aprofundamento do racionalismo e do pensamento antropocêntrico com o avanço das ciências e da filosofia desenvolvidas em alguns lugares como Inglaterra e Holanda; de outro lado, a crise desencadeada pelo embate entre o Protestantismo e a Contrarreforma, cujos grupos mais extremos defendiam um resgate de valores do cristianismo típicos da Idade Média, em países como Portugal e Espanha. A tensão gerada pela crise religiosa enfraquecia o poder da Igreja Católica, que se via dividida e, portanto, passava a ser mais criticada. As Grandes Navegações, por sua vez, favoreceram o enriquecimento de uma parcela da nobreza e da burguesia comercial com a expansão da circulação de produtos de diversos lugares do mundo. O resultado da queda de prestígio da Igreja e o aumento de poder da nobreza e de uma parcela dos comerciantes mais bem-sucedidos criaram condições para o surgimento do Absolutismo, sistema político em que o controle social se concentrava nas mãos da monarquia.

Olhar literário 4 Proposta de trabalho com as imagens.

Estética do Barroco nas artes plásticas Diferentemente do Classicismo renascentista, o Barroco apresentou muitas variações que foram determinadas por fatores políticos, religiosos e culturais nos países europeus. Havia diferenças individuais – relacionadas aos estilos dos artistas, que passaram a ter mais liberdade em suas composições, se comparados aos renascentistas; e diferenças nacionais – associadas aos desdobramentos da crise religiosa: o Barroco foi mais intenso e contraditório nos lugares em que a Igreja Católica manteve sua influência com a Contrarreforma.

oca Um dos pontos interessantes da arte barr oco. diz respeito à origem da palavra barr vem o term o que Alguns estudiosos afirmam irrea form do português e significa pérola de ente gular. Ao longo do tempo, mais precisam r gna desi a ou pass no século XVIII, barroco ular. aquilo que é extravagante ou irreg

Literatura

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No que diz respeito aos estilos dos artistas durante o período barroco, veja uma comparação entre pinturas de dois artistas tipicamente barrocos: o holandês Rembrandt e o flamengo Peter Paul Rubens.

REMBRANDT. A companhia militar do capitão Frans Banning Cocq e o tenente Willem van Ruytenburg (A ronda noturna). 1642. 1 óleo sobre tela, color., 363 cm × 437 cm. Rijksmuseum, Amsterdam. Nessa pintura de Rembrandt, fica bastante evidente a exploração do contraste claro-escuro

RUBENS, Peter Paul. O desembarque de Maria de Médicis em Marselha. 1623. 1 óleo sobre tela, color., 394 cm × 295 cm. Museu do Louvre, Paris. Rubens é amplamente conhecido como um dos maiores coloristas (se aprimoraram no uso das cores em suas obras) entre os pintores barrocos

A pintura de Rembrandt retrata a cena de um grupo de soldados se preparando para embarcar em uma missão de patrulhamento. O aspecto original dessa obra é o modo como o pintor organiza o espaço, como se algumas pessoas se colocassem acima de outras. No Classicismo, retratos coletivos dispunham as figuras humanas uma ao lado das outras, sem que elas se sobrepusessem, com a imagem mais importante ocupando o centro da cena. Essa obra do pintor holandês propõe uma organização em que todos os soldados aparecem com destaque semelhante, e não apenas os personagens do centro da imagem. Outro elemento do estilo barroco de Rembrandt pode ser notado: o uso do fundo escuro contrastando com o brilho das figuras principais. Em uma breve leitura da pintura de Rubens, é possível observar outra forma de utilização das cores escuras compondo o fundo da tela: em vez de utilizar um fundo escuro, comum em obras barrocas, tem-se a cor vermelha, que ajuda a orientar o olhar do leitor para a cena principal do cortejo real. O fundo é composto de tons de branco e cinza que se assemelham a brumas, como se a imagem de Maria de Médicis e parte das figuras que a acompanha não fossem pessoas reais, e sim seres vindos de uma dimensão etérea ou fantástica, o que é reforçado pela presença das figuras mitológicas que se encontram na parte de baixo da tela e a que sobrevoa a cena. Mesmo sendo diferentes, é possível dizer que nas duas pinturas há um princípio que corresponde a uma das características mais importantes da arte barroca: o choque entre opostos. Na pintura de Rembrandt, o contraste entre o claro e o escuro tem como intenção criar no leitor a impressão de que uma parcela da realidade se desprega da tela; na pintura de Rubens, há uma mistura entre o que pertence ao real (a figura de Maria de Médicis e sua corte) e o imaginário (imagens da mitologia). As artes plásticas do Barroco europeu, em geral, apresentam um conjunto de regras que as destacam das convenções da arte renascentista:

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a) apresentação dos objetos como manchas ou massas de cor, diferentemente da arte clássica do Renascimento, que procurava delinear as imagens; b) ênfase na profundidade, e não apenas no que está no primeiro plano, ou seja, nos detalhes que estão no fundo da cena que é retratada, fazendo parecer que outros acontecimentos situados atrás da cena em primeiro plano também têm importância – o primeiro plano era mais importante para o artista no Renascimento, já que as imagens que ocupavam o fundo das representações exerciam apenas o papel de cenário; c) valor à forma aberta, ou seja, as figuras não apresentam contornos totalmente definidos e não se destacam somente as imagens centrais; d) sensação de que o todo da obra é mais importante do que cada parte singular, como se pode observar na tela de Rembrandt, em que todos os soldados recebem destaque, e não apenas um ou dois deles; e) não é mais necessário, como o era na arte clássico-renascentista, reproduzir os elementos em todos os seus detalhes. Isso significa que no Barroco não há a intenção de reproduzir cada elemento exatamente com ele é (o espectador deve completar com sua imaginação, já que algumas “lacunas” são deixadas intencionalmente na obra pelo autor). No período barroco brasileiro, a construção e o acabamento de edificações, principalmente igrejas, deixaram um legado de grande importância estética. Algumas igrejas estão entre as obras arquitetônicas barrocas de maior destaque em todo o mundo, entre elas, destacam-se a de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, e a de São Francisco, em Salvador. No caso da Igreja de São Francisco de Assis de Ouro Preto, observa-se a utilização de uma técnica de uso da talha (utilizada para esculpir superfícies como madeira ou pedra) combinada à pintura, que pode ser considerada altamente desenvolvida para os padrões da época. Dois artistas desse período são considerados os maiores de todos os tempos no Brasil: Antônio Francisco Lisboa (o Aleijadinho) e Manuel da Costa Ataíde (o Mestre Ataíde). Sugestão de pesquisa: Proponha aos seus alunos que acessem o site do Museu do Aleijadinho. Sugestão de atividades: questões 1 e 2 da seção Hora de estudo.

Estética do Barroco na literatura No caso específico da literatura (em especial aquela que se ligou de modo mais direto à Contrarreforma e que era composta de poemas religiosos, peças teatrais e sermões), o Barroco promoveu uma mudança considerável na relação do texto com o público. A literatura passou a refletir uma necessidade de impressionar os sentidos do leitor. Muitas vezes, o texto literário procurou se aproximar do povo, tentando utilizar uma linguagem que pudesse ser compreendida quando o assunto da obra era algo ligado à fé. A Igreja Católica se servia da literatura para propagar sua doutrina, para aproximar as pessoas de sua concepção de mundo. Isso era feito não de modo que valorizasse o uso da razão, como no pensamento renascentista, mas sim que proporcionasse uma percepção básica ao leitor e uma compreensão imediata do tema ou assunto tratado na obra. Contudo, mesmo que os autores tivessem a intenção de ser compreendidos pelas pessoas menos instruídas, a linguagem usada ainda era inacessível a esse público. No Barroco, a linguagem se tornou muito mais sofisticada e exagerada do que foi ao longo do Renascimento. Os temas religiosos eram abordados de modo complexo, apresentando uma mistura entre sagrado e profano, baixo e elevado, carne e espírito, homem e Deus, revelando uma crise entre uma visão antropocêntrica em conflito permanente com uma visão teocêntrica. O amor, tema central da poesia lírica, também apresentou na poesia barroca efeito de duplicidade e de mistura. A mulher, vista como um ser puro, objeto da idealização do eu lírico, transforma-se, poucos versos depois, na figura que seduz e desvirtua, senhora dos prazeres e das tentações, revelando uma perspectiva dualista da realidade. Na literatura barroca, é possível ver uma produção de cunho satírico, de apelo popular, ironizando situações e figuras conhecidas socialmente. Nessa poesia, a linguagem é colocada a favor de uma crítica social, questionando os costumes que caracterizam os abusos por parte dos governantes e dos senhores do poder.

Literatura

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Além da poesia religiosa, da lírico-amorosa e da satírica, vale destacar a produção de uma poesia de cunho filosófico, que explora a fugacidade do tempo e a transitoriedade da vida, e uma poesia de cunho erótico. A produção barroca na literatura pode ser organizada em duas tendências: o cultismo e o conceptismo. • Cultismo – também conhecido como gongorismo, explora as imagens poéticas, o jogo de palavras, as inversões sintáticas e o uso culto da língua. • Conceptismo – utiliza a linguagem como estratégia para convencer e como jogo de raciocínio. De modo geral, o cultismo está relacionado aos textos poéticos; e o conceptismo, aos textos em prosa.

Atividades

5 Orientações sobre as atividades.

1. Analise as reproduções de obras barrocas e associe cada uma das características a uma obra.

(3)

(1) VELÁZQUEZ, Diego. As meninas. 1656. 1 óleo sobre tela, color., 318 cm × 276 cm. Museu do Prado, Madri.

EL GRECO (Doménikos Theotokópoulos). O enterro do Conde Orgaz. 1586-1588. 1 óleo sobre tela, color., 480 cm × 360 cm. Igreja de São Tomé, Toledo.

CARAVAGGIO, Michelangelo Mirisi de. A ceia de Emaús. 1601. 1 óleo sobre tela, color., 141 cm × 196,2 cm. Galeria Nacional, Londres.

(2)

fugacidade: velocidade.

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transitoriedade: brevidade, que é passageira.

erótico: relativo ao amor sensual.

( 1 ) A tela apresenta vários pontos luminosos, destacando a imagem central que está situada na parte da frente ao mesmo tempo que chama a atenção para o fundo da cena. Essa estratégia do estilo barroco ressalta a profundidade da tela. ( 2 ) Nessa pintura, destaca-se o jogo do claro-escuro, que faz com que algumas das imagens não apresentem um contorno totalmente definido. ( 3 ) O quadro apresenta uma divisão da cena principal em dois planos: o humano, que se encontra na parte inferior da tela, e o divino, na porção superior. Essa perspectiva dualista é uma das marcas do Barroco presente nessa pintura. 2. Leia o poema escrito por Luís de Camões.

Tanto de meu estado me acho incerto, que em vivo ardor tremendo estou de frio; sem causa, juntamente choro e rio; o mundo todo abarco e nada aperto.

©Shutterstock/pun photo/DeepGreen/Vso

É tudo quanto sinto, um desconcerto; da alma um fogo me sai, da vista um rio; agora espero, agora desconfio, agora desvario, agora acerto. Estando em terra, chego ao Céu voando; Num’hora acho mil anos, e é de jeito que em mil anos não posso achar um’hora. Se me pergunta alguém porque assim ando, respondo que não sei; porém suspeito que só porque vos vi, minha Senhora. CAMÕES, Luís de. Lírica: Luís de Camões. Introdução e notas de Aires da Mata Machado Filho. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: EDUSP, 1982. p. 154-155.

a) Ainda que a produção literária camoniana faça parte do Classicismo renascentista, é possível encontrar no poema lido elementos pertencentes ao Barroco. Selecione duas passagens que indiquem marcas típicas do estilo barroco. Justifique sua escolha. Pessoal. Sugestão: “que em vivo ardor tremendo estou de frio”; “o mundo todo abarco e nada aperto”. Nesses dois versos, como em outros que compõem o soneto, as figuras de linguagem têm a função de revelar a oposição e a contradição, que são características do Barroco.

b) Como você descreveria o estado amoroso vivido pelo eu lírico desse poema? Pessoal. Sugestão: O amor vivenciado pelo eu lírico é marcado por sensações contraditórias.

abarco: envolvo.

desconcerto: desarranjo, desacerto.

desvario: loucura.

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Acontecia Período barroco português No campo da produção literária portuguesa, o Barroco tem início em 1580, com a morte de Luís de Camões, o grande escritor do Classicismo renascentista. A estética barroca, porém, não se desenvolveu do mesmo modo como na Itália, em que pode ser considerada uma sequência da arte renascentista. Fatores políticos determinaram certa resistência à adesão de artistas portugueses ao Barroco. Em 1578, D. Sebastião, rei de Portugal, desapareceu na batalha de Alcácer-Quibir. Como morreu muito jovem, não deixou herdeiros diretos para seu trono. Quem assumiu o trono foi Henrique I. No entanto, este morreu em 1580 e o rei da Espanha, Filipe II, foi então proclamado rei de Portugal, pois era o parente mais próximo que atendia às regras definidas para a sucessão real. Essa situação de esvaziamento do poder fez com que a nobreza, que vivia em torno do palácio real, abandonasse a capital Lisboa. Muitos nobres seguiram para suas propriedades no campo, levando consigo artistas e intelectuais para formar suas próprias cortes. O domínio espanhol sobre Portugal durou 60 anos. As relações entre ambos eram marcadas por desavenças e por uma resistência sistemática dos portugueses a tudo o que vinha da corte de Madri. Como os artistas espanhóis haviam aderido à estética barroca, muitos portugueses passaram a recusá-la, preservando os princípios da literatura clássico-renascentista como um escudo para protegê-los de tais influências. Os Lusíadas, de Camões, passa a ser considerado mais que uma obra literária, torna-se uma espécie de bandeira que exaltava o modo de ser do povo português: em seus versos, os portugueses viam a representação dos tempos de glória de Portugal. Se de um lado artistas e intelectuais portugueses faziam resistência à entrada da estética barroca em Portugal, de outro, a Contrarreforma, com ligação estreita com a arte barroca, de certa forma, impunha o estilo em terras lusitanas. Como visto, a arte serviu de instrumento de divulgação de ideias relativas à doutrina da Igreja Católica, por meio, por exemplo, da escrita e da divulgação de autos sacramentais (uma espécie de teatro religioso) e dos sermões. 6 Explicação sobre os autos sacramentais.

Olhar literário Padre Antônio Vieira Considerado o mais importante prosador barroco em língua portuguesa, Padre Antônio Vieira escreveu sua obra parte em Portugal, parte no Brasil. Sua produção pode ser dividida em três grandes grupos: as profecias, em que escreve sobre o futuro de Portugal; as cartas, nas quais podem ser lidas ideias sobre a Inquisição, questões políticas, as relações entre Portugal e Holanda e os novos cristãos (muçulmanos e judeus convertidos para a fé cristã); os sermões, em que se pode observar o domínio dos aspectos da escrita barroca conceptista, isto é, em que desenvolve as ideias por meio de uma escrita persuasiva e altamente elaborada. Um fator importante a ser considerado para a compreensão da obra de Antônio Vieira diz respeito a sua presença ora no Brasil ora em Portugal. Diferentemente de outros escritores que se fixavam em um único lugar, Vieira teve um

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papel político de relevo tanto na Corte portuguesa como em localidades que serviam de apoio para os colonizadores que se transferiam para as regiões Norte e Nordeste do Brasil em busca de oportunidades de enriquecimento. 7 Sugestão de leitura.

Foi em seus textos, principalmente nos sermões, que Vieira manifestou sua visão sobre as questões de seu tempo: a colonização, a decadência de Portugal, a conversão e a exploração da terra e dos indígenas que habitavam a colônia brasileira, os problemas da religião decorrentes da crise religiosa (embate entre católicos e protestantes). Pode-se então afirmar que em sua escrita havia três dimensões complementares que servem de guia para a leitura: a primeira, religiosa, a segunda, literária, e a terceira, política.

Mello. 2015 Marcos de

Suponho, finalmente, que os ladrões de que falo, não são aqueles miseráveis, a quem a pobreza e a vileza de sua fortuna condenou a este gênero de vida, porque a mesma sua miséria ou escusa ou alivia o seu pecado, como diz Salomão: Non grandis est culpa, cum quis furatus fuerit: furatur enim ut esurientem impleat animam. O ladrão que furta para comer, não vai, nem leva ao inferno; os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são os ladrões, de maior calibre e de mais alta esfera, [...] Não são só ladrões, diz o Santo, os que cortam bolsas ou espreitam os que se vão banhar, para lhes colher a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título, são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor, nem perigo: os outros, se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam. [...]

. Digital.

Leia o trecho de um dos sermões escritos por Padre Vieira.

. Digital. ein. 2015 Daniel Kl

VIEIRA, Antônio. Sermão do bom ladrão. In: ______. Os sermões. São Paulo: Difel, 1968. p. 319-320.

Padre Antônio Vieira nasceu em Lisboa, em 1608. 8. Com 7 anos veio para o Brasil, onde entrou para a Companhia de Jesus. Após a restauração uração da monarquia portuguesa, em 1640, retornou a Portugal e tornou-se confessor do rei D. João IV. Voltou ao Brasil em 1681 e dedicou seus últimos anos à compilação de seus sermões. Morreu em 1697.

vileza: baixeza. escusa: desculpa. Non grandis est culpa, cum quis furatus fuerit: furatur enim ut esurientem impleat animam: esse trecho escrito em latim foi retirado de uma passagem bíblica (Provérbios, VI, vers. 30); pode ser traduzido como “Não se trata como ladrão quem rouba para matar a fome”. calibre: importância.

alta esfera: de grande importância social. espreitam: espiam. colher: roubar. encomendam: solicitam. manha: jeito. despojam: saqueiam, roubam. risco: possibilidade de ser pego.

Literatura

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O estilo da prosa de Vieira apresenta um uso constante de metáforas, comparações, anáforas, antíteses e paradoxos. Destaca-se também a naturalidade por meio da qual discutia assuntos relacionados à fé e à vida dos homens, em um raciocínio pautado pela condução lógica em que intenção era o de convencer seus ouvintes (apesar de escritos, os sermões de Vieira eram pregados oralmente) e enfrentar os poderosos. Nota-se uma intenção moral por trás dos argumentos usados pelo padre. Uma das estratégias dos sermões era associar passagens bíblicas a problemas concretos vivenciados pelos homens. Os problemas religiosos desdobravam-se em problemas éticos relativos à conduta que ele considerava reprovável das pessoas. Os sermões de Vieira, portanto, não se limitavam a oferecer conforto espiritual aos fiéis, mas, sobretudo, criticavam os modos de ser dos homens. Sugestão de atividades: questões de 3 a 5 da seção Hora de estudo.

Atividades 8 Sobre a leitura de sermões do Padre Vieira.

Leia uma passagem de um dos sermões mais importantes do maior representante do Barroco em Portugal, Padre Antônio Vieira: o “Sermão da Sexagésima”. Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos? Um estilo tão empeçado, um estilo tão dificultoso, um estilo tão afetado, um estilo tão encontrado a toda a arte e a toda a natureza? Boa razão é também esta. O estilo há de ser muito fácil e muito natural. Por isso Cristo comparou o pregar ao semear: Exiit qui seminat, seminare. Compara Cristo o pregar ao semear, porque o semear é uma arte que tem mais de natureza que de arte. [...] Já que falo contra os estilos modernos, quero alegar por mim o estilo do mais antigo pregador que houve no mundo. E qual foi ele? O mais antigo pregador que houve no mundo foi o céu. [...] Suposto que o céu é pregador, deve ter sermões e deve ter palavras. [...] E quais são estes sermões e estas palavras do céu? As palavras são as estrelas, os sermões são a composição, a ordem, a harmonia e o curso delas. [...] O pregar há de ser como quem semeia, e não como quem ladrilha ou azuleja. [...] Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão em xadrez de palavras. Se de uma parte está branco, da outra há de estar negro; se de uma parte está dia, da outra há de estar noite; se de uma parte dizem luz, da outra hão de dizer sombra; se de uma parte dizem desceu, da outra hão de dizer subiu. Basta que não havemos de ver num sermão duas palavras em paz? Todas hão de estar sempre em fronteira com o seu contrário? [...] Mas dir-me-eis: Padre, os pregadores de hoje não pregam do Evangelho, não pregam das Sagradas Escrituras? Pois como não pregam a palavra de Deus? Esse é o mal. Pregam palavras de Deus, mas não pregam a palavra de Deus. VIEIRA, Antônio. Sermão da Sexagésima. In: ______. Os sermões. São Paulo: Difel, 1968. p. 96-97-105.

porventura: talvez. púlpito: lugar de destaque, de onde se faz uma pregação. empeçado: transtornado. afetado: pretensioso. encontrado: contrário.

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Exiit qui seminat, seminare: Saiu o pregador evangélico a semear. curso: trajetória. ladrilha: assentar ladrilhos em uma superfície. azuleja: assentar azulejos em uma superfície.

1. Observe o estilo utilizado pelo Padre Antônio Vieira no desenvolvimento de seu sermão e indique, das afirmações a seguir, as opções incorretas. ( ) O tema abordado nesse trecho do sermão é a arte da composição, segundo a concepção de Antônio Vieira sobre o assunto. ( X ) O conceptismo, no trecho lido do sermão, só é perceptível nos momentos em que Vieira compara as palavras de um sermão às estrelas do céu. ( ) No final do segundo parágrafo, é possível encontrar uma série de termos que estabelecem entre si um sentido de oposição. ( X ) O uso das interrogações no trecho do sermão é um recurso utilizado para desviar a atenção do leitor/ouvinte dos pontos que merecem atenção para se compor um bom sermão. • Agora, escreva por que estão incorretas as afirmativas que você marcou nessa atividade. Sobre a primeira alternativa indicada como incorreta, é possível afirmar que o conceptismo em um texto barroco não se limita a uma das partes de um texto, mas sim ao modo como o texto é integralmente composto, valendo-se da construção de um jogo de ideias. Sobre a segunda alternativa indicada, as interrogações utilizadas em alguns trechos do sermão exercem justamente uma função contrária, que é a de atrair a atenção do leitor/ouvinte, fazendo com que ele seja impelido a, mesmo que no interior de sua consciência, responder às perguntas que são feitas, ou seja, a posicionar-se.

2. “O pregar há de ser como quem semeia, e não como quem ladrilha ou azuleja”. Nesse trecho, o Padre Antônio Vieira opõe a pregação correta (pregar como alguém que semeia) à pregação errada (pregar como quem ladrilha ou azuleja). Para você, qual o significado da metáfora “ladrilha ou azuleja”? Pessoal. Nessa resposta, é importante que os alunos percebam que tanto ladrilhar como azulejar se referem a ações relacionadas à decoração, a deixar uma superfície bonita. Vieira questiona a opção dos pregadores que utilizam um estilo que se preocupa mais com o aspecto decorativo da linguagem religiosa que com seu significado místico ou doutrinário.

3. Na passagem do texto em que se lê: “Pregam palavras de Deus, mas não pregam a palavra de Deus”, há uma aparente contradição. a) Que contradição é essa? A suposta contradição diz respeito à pregação correta ou não da palavra de Deus. Isto é, alguns falam palavras relativas a Deus, mas não falavam a palavra de Deus.

b) Que termo presente nessa frase apresenta sentidos opostos? Qual o recurso utilizado pelo escritor para criar a duplicidade? O termo que apresenta sentidos que se opõem é “palavra”. Para criar um efeito de oposição entre termos que são iguais, mas significam visões opostas do ponto de vista religioso: um pregador fala palavras variadas que parecem dizer respeito aos ensinamentos divinos, ao passo que outro pregador procura falar a palavra correta, única.

Acontecia Período barroco brasileiro No período histórico em que o Barroco floresceu no Brasil, os que aqui estavam estabelecidos pelo processo da colonização buscavam, em sua maioria, construir as bases para o desenvolvimento de uma economia fundamentada no plantio em grandes propriedades e na extração de metais preciosos. Ainda que apresentasse elementos comuns, como a presença de uma temática religiosa e um estilo baseado no contraste entre elementos opostos, o Barroco brasileiro variava de uma região para outra. O Barroco desenvolveu-se no Brasil ao longo dos séculos XVII e XVIII, na Região Nordeste com a figura de Gregório de Matos e na região de Minas Gerais com manifestações na música, arquitetura, escultura e pintura produzidas por artistas importantes como Aleijadinho e Mestre Ataíde. O estilo do barroco brasileiro aproveitou características de cada localidade para se constituir. Houve um barroco localizado nas regiões enriquecidas pela exploração da cana-de-açúcar e outro associado a localidades que se desenvolveram economicamente pela extração do ouro. Outra manifestação desse estilo também aparece em localidades menos ricas, desenvolvendo um estilo menos suntuoso, de conteúdo religioso, como é o caso do Barroco paulista.

Literatura

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Em suma, é possível afirmar que, nas regiões que enriqueceram com a mineração e o comércio de açúcar, podem-se encontrar obras literárias e artísticas feitas por artistas de renome, enquanto nas localidades em que a produção de riquezas não se desenvolveu de uma maneira tão acelerada na época – como em São Paulo – os trabalhos foram mais modestos e de artistas menos experientes. 9 Sugestão de leitura sobre o Barroco paulista. Na passagem do século XVI para o XVII, a ocupação da terra pelos portugueses deu início à formação de pequenas vilas e povoados que se instalaram distantes uns dos outros. A distância entre eles fez com que cada agrupamento social criasse condições autônomas para sua própria sobrevivência, pois pouco poderiam recorrer uns aos outros em caso de necessidade. O cotidiano das vilas girava em torno das propriedades agrícolas, que foram ganhando amplitude em virtude do aumento crescente da área de plantio, principalmente nas regiões de cultivo da cana-de-açúcar. Os espaços urbanos eram pequenos e viviam ligados aos espaços rurais. Essa condição de pouca importância das vilas, diante do poder político e econômico das propriedades rurais, distinguia a organização social que se fez no Brasil daquele período, em comparação com o desenvolvimento e a maior concentração da população e das riquezas nas cidades europeias. As exceções ficavam por conta de cidades costeiras que serviam de ponto de referência para a exportação de matérias-primas para Portugal, como foram os casos de Recife e Salvador. O espaço urbano com baixo nível de desenvolvimento no Brasil teve como consequência o pouco interesse por atividades literárias propriamente ditas. Outro aspecto a ser considerado era a proibição imposta por Portugal, segundo a qual as pessoas não deveriam adquirir livros que não fossem voltados para atividades relacionadas ao comércio ou às leis. Não havendo livros literários e não havendo um espaço em que livros possam circular, não se formou um público leitor de literatura consistente em terras brasileiras durante muitos anos. 10 Sobre a censura aos livros no século XVI. Mas, com o enriquecimento dos proprietários produtores de açúcar e dos primeiros mineradores que encontraram ouro no interior do país, muitos começaram a enviar seus filhos para Portugal para lhes dar uma educação que não havia aqui. Esses estudantes encontraram na Europa uma realidade muito diferente da que existia no Brasil Colônia. Portugal, por exemplo, vivia tempos de uma agitação política e cultural (dependência política da Espanha e distanciamento dos intelectuais das discussões sobre o estilo barroco, por exemplo) que seduziu os jovens, fazendo com que se desenvolvesse neles o interesse por instaurar uma cultura letrada por aqui. Aos poucos, apesar da restrição, textos e livros passaram a circular entre grupos interessados em literatura, arte, direito, filosofia, etc.

©iStockphoto.com.br/Gim42

Além da formação desses grupos de herdeiros enriquecidos, houve também a influência da Igreja Católica no desenvolvimento da literatura barroca brasileira, tanto que o Barroco é o estilo da Contrarreforma católica. Ocupados em divulgar o cristianismo, segundo os parâmetros da Contrarreforma, os religiosos importaram para a Colônia elementos barrocos juntamente com um material doutrinário: as imagens do reino dos céus ou do inferno eram representadas com uma linguagem marcada fortemente pelos sentidos e pelo gosto pela ornamentação (rebuscamento na linguagem).

O excesso de ornamentação, típico das artes plásticas barrocas, ficou bastante marcado na arquitetura e na escultura brasileiras. A Igreja de São Francisco, em Salvador (BA), é um exemplo da ornamentação aliada à religiosidade, características do Barroco brasileiro

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Olhar literário 11 Informações sobre Gregório de Matos.

Gregório de Matos Guerra Considerado o primeiro grande poeta brasileiro, Gregório de Matos Guerra representou o ponto alto da produção literária nacional no século XVII. Conhecido como Boca do Inferno (ou Boca de Brasa), por causa de sua língua ferina ao maldizer dos desmandos dos poderosos que se beneficiavam da exploração das brechas decorrentes da organização política e social deficitária do Brasil Colônia, foi um crítico voraz da sociedade de Salvador. Sua obra, contudo, não se restringe à poesia satírica, abrangendo também os gêneros lírico e religioso. O contexto geral de sua produção literária teve como marcas a ação dos jesuítas na colônia e a restauração do trono português que, desde 1580, vivia sob domínio espanhol. No que diz respeito às características de seu estilo, a escrita de Gregório de Matos dialogou com algumas das linhas do Barroco europeu, assumindo características como a luta entre a espiritualidade e o materialismo carnal, o dilema entre o poder público e o privado, a visão do feminino alternando sentimentos de desejo e de repulsa, de pureza e de degradação, sempre tendo em vista o cultismo como recurso formal da linguagem.

Poesia lírico-amorosa de Gregório de Matos A poesia lírico-amorosa escrita por Gregório de Matos é uma das mais relevantes produções escritas em língua portuguesa durante o Barroco. Gregório cria uma imagem feminina dividida entre uma figura idealizada e a manifestação da materialização carnal. Na poesia gregoriana, a mulher é amada não por representar um ser perfeito em todos os sentidos, como na poesia lírico-amorosa clássico-renascentista, mas por ser vista como a junção de características que se opõem: um ser de elevada pureza, semelhante a anjos e santas, e a expressão das tentações, desencadeando prazeres.

Poesia satírica de Gregório de Matos

12 Características da poesia de Gregório de Matos.

Algumas das produções literárias mais originais do Barroco em língua portuguesa são de autoria de Gregório de Matos e se referem à poesia satírica e religiosa. Apesar de tratarem de assuntos diversos entre si (a poesia satírica se volta para a crítica dos costumes, e a religiosa para os temas relacionados à fé), as produções satírica e sacra apontam para dois universos opostos, porém complementares: a realidade dura (e material) das relações sociais e da disputa dos homens pelo poder; e os impasses (religiosos) de uma época em que a religião se mostra em crise. Novamente a poesia de Gregório de Matos transmite a ideia de um jogo de contrastes: o político e o espiritual; carne e alma; problemas do mundo material e do imaterial.

Poesia religiosa de Gregório de Matos Uma das marcas mais recorrentes na poesia religiosa de Gregório de Matos é a preocupação com a salvação do homem. A dualidade barroca se expressa na relação entre culpa e salvação, ou seja, o argumento presente nos poemas religiosos induz o leitor a concordar com a ideia segundo a qual a salvação só é possível em função de o homem ter cometido o pecado. A atitude do eu lírico na poesia religiosa de Gregório de Matos lembra a de alguém que defende a si mesmo na presença de Deus, com a promessa de redimir-se, não mais pecar. Vale lembrar que o tema religioso na poesia gregoriana se situa no contexto da Contrarreforma, tendo como pano de fundo a educação jesuítica.

Literatura

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O homem ajoelhado pedindo perdão e se punindo ao assumir seus desvios morais é o primeiro passo para o arrependimento. A defesa de si mesmo, explorando o paradoxo “cometo pecado para poder ser salvo” (ou, “não há salvação sem o pecado”) remete à imagem do sujeito diante do Tribunal da Inquisição, em que deve argumentar sobre seus atos para ser absolvido.

Atividades

13 Sugestão para leitura do poema.

1. Leia o poema e responda ao que se pede.

Rompe o poeta com a primeira impaciência querendo declarar-se e temendo perder por ousado Anjo no nome, Angélica na cara! Isso é ser flor, e Anjo juntamente: Ser Angélica flor, e Anjo florente, Em quem, senão em vós, se uniformara:

Mariana Coan. 2015. Colagem digital.

Quem vira uma tal flor, que a não cortara, De verde pé, de rama florescente; E quem um Anjo vira tão luzente, Que por seu Deus o não idolatrara? Se pois como Anjo sois dos meus altares, Fôreis o meu Custódio, e minha guarda, Livrara eu de diabólicos azares. Mas vejo, que por bela, e por galharda, Posto que os Anjos nunca dão pesares, Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda. MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. Seleção, introdução e notas de José Miguel Wisnik. 13. ed. São Paulo: Cultrix, 1997. p. 202.

igital. n. 2015. D Daniel Klei

Gregório de Matos Guerra nasceu em Salvador, Bahia, em data incerta (1623 ou 1636). Ocupou vários cargos designados pelo rei, adquirindo grande prestígio. Foi denunciado para o Tribunal da Santa Inquisição, em 1685, por seus modos, tidos como pouco cristãos. Em 1694, passou a ser perseguido e jurado de morte por ter escrito poemas satíricos ridicularizando o governador Antônio Luiz da Câmera Coutinho. Morreu em 1695.

florente: brilhante. uniformara: se transformara em uma forma única.

18

Volume l 4

rama: conjunto de ramos. luzente: que emite luz. Custódio: protetor.

galharda: elegante. pesares: tristezas. guarda: protege.

a) A figura feminina presente no soneto é vista pelo eu lírico como “anjo” e “flor” ao mesmo tempo. Essas duas imagens, no contexto do poema, podem ser entendidas como uma contradição. O que elas representariam? A metáfora anjo remete à perspectiva imaterial da figura feminina, ao passo que flor se associa à dimensão material. Dizendo de outro modo, anjo e flor representam alma e corpo, espiritualidade e sensualidade.

b) O verso “Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda” apresenta um paradoxo. Qual é ele? O paradoxo pode ser visto na distorção do papel que culturalmente é atribuído a um anjo: um ser espiritual cuja função é a de proteger as pessoas, segundo a tradição cristã. No soneto, o “anjo” não “guarda” (ou seja, não protege), mas sim “tenta”, aproximando o eu lírico do pecado.

2. Leia o trecho do poema e responda às questões propostas. Um Branco muito encolhido, um Mulato muito ousado, Um Branco todo coitado, um canaz todo atrevido: o saber muito abatido, a ignorância, e ignorante mui ufano e mui farfante sem pena, ou contradição: milagres do Brasil são. [...] MATOS, Gregório de. Gregório de Matos: sátira. Ângela Maria Dias. 4. ed. Rio de Janeiro: Agir, 1996. p. 61.

14 Apresentação do poema integral e comentário

sobre a visão a respeito do negro na época.

a) Na estrofe, tem-se um exemplo de poema satírico de Gregório de Matos. O alvo de suas críticas é Lourenço Ribeiro, padre natural da Bahia, que, segundo consta, escrevia e recitava versos próprios. O motivo do ataque de Gregório deve-se ao fato de Lourenço haver falado mal do poeta. Como se estrutura a crítica feita por Gregório ao Padre Ribeiro? A sátira de Gregório começa por uma depreciação racial, variando entre homem branco ou mulato a fim de identificar o padre (consta que ele era mulato). O ponto maior da crítica, porém, foi identificar Lourenço com um cachorro grande (canaz) para, na sequência, ofendê-lo intelectualmente. O fecho da estrofe aponta para a ideia segundo a qual, somente no Brasil, é que ocorre o “milagre” de pessoas como Lourenço terem algum valor.

b) Qual a relação entre o ataque pessoal presente no poema e a crítica à sociedade como um todo? A poesia satírica de Gregório de Matos tem como marca central a utilização da crítica pessoal como uma oportunidade para criticar o todo da sociedade (no poema lido, o poeta vê a sociedade brasileira como tolerante ao dar voz a um sujeito “farfante”). A sociedade, portanto, se deixa corromper e enganar. Sendo assim, é possível afirmar que a poesia gregoriana é um instrumento do desmascaramento ao denunciar os enganos e as corrupções.

encolhido: pequeno. canaz: cachorro grande. abatido: nesse verso, referindo-se ao “saber”, tem sentido de “pequeno”, “fraco”.

ufano: que se vangloria de algo. farfante: alguém que se vangloria falsamente dos próprios feitos, impostor.

Literatura

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3. Leia o soneto e responda às questões propostas.

A Jesus Cristo Nosso Senhor Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado, Da vossa alta clemência me despido; Porque, quanto mais tenho delinquido, Vos tenho a perdoar mais empenhado. Se basta a vos irar tanto um pecado, A abrandar-nos sobeja um só gemido: Que a mesma culpa, que vos há ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado.

Marcos de Mello. 2015. Digital.

Se uma ovelha perdida e já cobrada Glória tal e prazer tão repentino Vos deu, como afirmais na sacra história: Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada, Cobrai-a; e não queirais, pastor divino, Perder na vossa ovelha a vossa glória. MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. Seleção, introdução e notas de José Miguel Wisnik. 13. ed. São Paulo: Cultrix, 1997. p. 297.

a) Selecione a opção correta entre as alternativas propostas. Na conversa que estabelece com Deus, o eu lírico: ( ) se apresenta confiante porque sabe que vai conseguir o perdão divino. ( ) se mostra humilde porque acha que tem pouca chance de conseguir ser perdoado. ( X ) se apresenta como um pecador que quer ser perdoado pelos erros cometidos. b) No poema, o eu lírico argumenta para convencer o Senhor que ele deve ser perdoado. Explique como ele desenSugestão de atividades: questões de 6 a 12 da seção Hora de estudo. volve essa argumentação. O eu lírico tenta jogar com a ideia de pecado e arrependimento. Na segunda estrofe, por exemplo, ele trabalha com as oposições ira (raiva)/abrandamento, culpa/perdão, como se os erros graves do pecador (que provocam a ira e a culpa) pudessem também suscitar o sentimento oposto de clemência.

despido: despeço. delinquido: cometido um pecado.

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Volume 4

abrandar-nos: suavizar-nos. sobeja: basta.

lisonjeado: honrado. cobrada: recuperada.

Acontecia Resistência negra à escravidão

15 Sugestão de atividades relacionadas ao texto.

A escravidão pode ser definida como o sistema de trabalho no qual o indivíduo (o escravo) é propriedade de outro, podendo ser vendido, doado, emprestado, alugado, hipotecado, confiscado. Legalmente, o escravo não tem direitos: não pode possuir ou doar bens e nem iniciar processos judiciais, mas pode ser castigado e punido. Não existem registros precisos dos primeiros escravos negros que chegaram ao Brasil. A tese mais aceita é a de que, em 1538, Jorge Lopes Bixorda, arrendatário de pau-brasil, teria traficado para a Bahia os primeiros escravos africanos. Eles eram capturados nas terras onde viviam na África e trazidos à força para a América, em grandes navios, em condições miseráveis e desumanas. Muitos morriam durante a viagem através do oceano Atlântico, vítimas de doenças, de maus tratos e da fome. Os escravos que sobreviviam à travessia, ao chegar ao Brasil, eram logo separados do seu grupo linguístico e cultural africano e misturados com outros de tribos diversas para que não pudessem se comunicar. Seu papel de agora em diante seria servir de mão de obra para seus senhores, fazendo tudo o que lhes ordenassem, sob pena de castigos violentos. Além de terem sido trazidos de sua terra natal, de não terem nenhum direito, os escravos tinham que conviver com a violência e a humilhação em seu dia a dia. A minoria branca, a classe dominante socialmente, justificava essa condição através de ideias religiosas e racistas que afirmavam a sua superioridade e os seus privilégios. As diferenças étnicas funcionavam como barreiras sociais. O escravo tornou-se a mão de obra fundamental nas plantações de cana-de-açúcar, de tabaco e de algodão, nos engenhos, e, mais tarde, nas vilas e cidades, nas minas e nas fazendas de gado. Além de mão de obra, o escravo representava riqueza: era uma mercadoria, que, em caso de necessidade, podia ser vendida, alugada, doada e leiloada. O escravo era visto na sociedade colonial também como símbolo do poder e do prestígio dos senhores, cuja importância social era avalizada pelo número de escravos que possuíam. A escravidão negra foi implantada durante o século XVII e se intensificou entre os anos de 1700 e 1822, sobretudo pelo grande crescimento do tráfico negreiro. O comércio de escravos entre a África e o Brasil tornou-se um negócio muito lucrativo. O apogeu do afluxo de escravos negros pode ser situado entre 1701 e 1810, quando 1 891 400 africanos foram desembarcados nos portos coloniais. Nem mesmo com a independência política do Brasil, em 1822, e com a adoção das ideias liberais pelas classes dominantes, o tráfico de escravos e a escravidão foram abalados. Neste momento, os senhores só pensavam em se libertar do domínio português que os impedia de expandir livremente seus negócios. Ainda era interessante para eles preservar as estruturas sociais, políticas e econômicas vigentes. Ainda foram necessárias algumas décadas para que fossem tomadas medidas para reverter a situação dos escravos. Vale lembrar que não eram todos os escravos que se submetiam passivamente à condição que lhe foi imposta. As fugas, as resistências e as revoltas sempre estiveram presentes durante o longo período da escravidão. Existiram centenas de “quilombos” dos mais variados tipos, tamanhos e durações. Os “quilombos” eram criados por escravos negros fugidos que procuraram reconstruir neles as tradicionais formas de associação política, social, cultural e de parentesco existentes na África. O “quilombo” mais famoso pela sua duração e resistência, foi o de Palmares, estabelecido no interior do atual estado de Alagoas, na Serra da Barriga, sítio arqueológico tombado recentemente. Este “quilombo” se organizou em diferentes aldeias interligadas, sendo constituído por vários milhares de habitantes e possuindo forte organização político-militar. A HISTÓRIA da escravidão negra no Brasil. Disponível em: . Acesso em: 23 set. 2014.

Literatura

21

Acervo Iconographia

1. Na imagem vê-se um grupo de pessoas sendo transportado para o Brasil para serem escravas. Destaque dois elementos presentes na imagem que, em sua opinião, caracterizam sua condição de cativos. Pessoal. Sugestão: o modo como as pessoas estão vestidas, com roupas mínimas a cobrir-lhes o corpo; suas expressões de cansaço físico, presença de capatazes armados com chicotes.

Imagem representando o interior de um navio negreiro

2. Leia a canção de capoeira e responda às questões propostas.

Homenagem a Zumbi dos Palmares Angola terra dos meus ancestrais, Angola Angola êêê terra dos meus ancestrais, Angola De onde veio a capoeira Angola Do toque do berimbau, Angola E vivia no Quilombo O valente rei Zumbi Guerreiro de muitas lutas Por seu povo sofredor Foi general de batalha Sem patente militar Inteligência e coragem Não lhe podiam faltar Ele nasceu no Quilombo Porém foi aprisionado Criado por Padre Antônio Francisco foi batizado Aprendeu língua de branco Mas não se subordinou Dentro dele era mais forte

O seu «eu» de lutador Fugindo para Palmares Ganga Zumba o recebeu O Quilombo estava em festa Viva Zumbi Ganga o rei Foi quando tudo mudou Até vir a traição Mataram Zumbi guerreiro Sem nenhuma compaixão Seu nome será lembrado Para sempre na história Força de espírito presente Não nos saia da memória Iê, viva meu Deus Iê, viva Zumbi. Iê, viva meu Mestre. Iê, a capoeira. Iê, viva Deus do céu. Iê, salve a Bahia.

BOA VOZ (Abadá Capoeira). Homenagem a Zumbi dos Palmares. Disponível em: . Acesso em: 23 fev. 2015.

a) Nessa canção, tem-se a indicação de dois tempos: o passado e o presente. Que elementos existentes no texto os representam? A evocação dos ancestrais é uma das referências do passado, juntamente com a história da vida de Zumbi; a “força do espírito presente” e a memória são as marcas do presente.

b) A figura de Zumbi dos Palmares, presente na canção, tem uma série de grandes virtudes. Indique ao menos três delas. Zumbi é guerreiro, tem coragem; é rei, tem poder; mostra-se um defensor de seu povo, é inteligente e forte.

22

Volume 4

Organize as ideias 16 Orientações para a execução da atividade.

Complete os parágrafos com os conceitos sobre o Barroco que se encontram nos boxes. a) O estilo

tem sua origem na crise de valores

barroco

resultante das

renascentistas

lutas religiosas

e

da crise econômica surgida como consequência de problemas relacionados à dificuldade do comércio com o Oriente. Na literatura do Seiscentismo, é possível perceber o desenvolvimento de uma visão de mundo que passou a considerar a realidade como um

contraste

permanente, um estado de tensão e

desequilíbrio

O culto do exagero das formas passou a ser um dos procedimentos que caracterizou o Barroco, predominante nesse período. A

literatura

antítese

literatura

estética

renascentistas

homem

o

profano

tiva era

e Deus (antropocentrismo e , o material e o

contraste

hipérbole

e a alegoria.

desequilíbrio lutas religiosas

entre o mundano e o

conflito

), o

teocentrismo

,a

celestial

,

e o perdão, o sagrado e

pecado

, que tanto atormentava o homem do século XVII. Sua perspec-

, ou seja, sempre abordava os problemas com base em uma compreensão de que tudo

dualista

apresenta uma

espiritual

antítese

hipérbole

b) Todo o excesso que aflora na arte barroca é resultado do o

estética

barroca teve como sua marca uma sobrecarga de figuras de

linguagem que tendiam ao exagero, especialmente a metáfora, a

barroco

.

de sentidos.

duplicidade

pecado homem

profano celestial

conflito espiritual

duplicidade dualista

teocentrismo

c) Os dois estilos do barroco literário são o cultismo e o conceptismo. • Cultismo – linguagem inversão

sintática

, valorização dos

• Conceptismo – jogo de objetivo o

raciocínio

detalhes

e dos

hipérboles jogos de palavras

, de conceitos, raciocínio

), uso culto da língua; . , que tem como

lógico

.

convencimento

sintática

, exagerada e extravagante (

rebuscada

hipérboles

rebuscada

raciocínio

convencimento

detalhes jogos de palavras

lógico

Literatura

23

d) O Barroco português desenvolveu-se no momento histórico em que havia uma dupla sensação na Europa, de depressão e

com euforia e contentamento. Essa alternância de sensações se refletia na es-

pessimismo

tética barroca, marcada por ser uma

e exaltada, feita para mobilizar os sentidos, distinta da

arte dinâmica

arte equilibrada do Renascimento. A crise religiosa e a

da Casa Real portuguesa influenciaram diretamente a produção

crise da sucessão

da arte barroca naquele país. De um lado, a intelectualidade e os artistas portugueses recusavam o Barroco por entendê-lo como uma

ligada à

estética

, a quem Portugal estava submetido naquele mo-

Espanha

mento, governada por Filipe II, rei espanhol. De outro lado, a influência da uma política de

dos fiéis utilizando a

convencimento

Contrarreforma

, que postulava

como meio, tornou-se poderosa

arte barroca

em terras lusitanas. Um dos maiores

do Barroco, em língua portuguesa, foi o

escritores

sermões que representavam o

estética

arte dinâmica pessimismo

crise da sucessão Padre Antônio Vieira

convencimento

e) O Barroco chegou ao Brasil em plena Era

de

santos,

personagens

arte barroca

escritores

barroco conceptista

cenas bíblicas

Contrarreforma

. As grandes obras da arte barroca brasileira têm predo-

Colonial

minantemente um tema sacro: a arquitetura de

, criador de

.

barroco conceptista

Espanha

Padre Antônio Vieira

contendo símbolos e figuras religiosas, esculturas

igrejas

nas pinturas, representações de anjos incrustadas nas pare-

des das igrejas. Quanto à

literatura

barroca do Brasil, é importante destacar a precariedade cultural da sociedade bra-

sileira no século XVII. Mais do que um movimento constituído de aos preceitos da

barroca, houve, na verdade, alguns escritores que, tendo como referência obras

estética

estrangeiras, produziram aqui textos com Entre esses escritores, destaca-se em três conjuntos temáticos: a

lírico-amorosa

lírico-amorosa

características

24

Volume 4

barrocas.

características

Gregório de Matos

cenas bíblicas personagens

produzindo obras alinhadas

escritores

, que produziu uma poesia de alta qualidade, dividida

, a religiosa e a

estética Colonial literatura

satírica

.

Gregório de Matos escritores igrejas

satírica

Hora de estudo 1. Assinale as afirmações que dizem respeito à estética do Barroco: ( ) Entre suas principais características, destacam-se o equilíbrio, a racionalidade.

b) Na arte barroca, por vezes é o leitor que completa aquilo que está “faltando” na obra. Nesse sentido, que elementos fazem parte da cena da crucificação de Jesus que a tela não mostra? Pessoal. Sugestão: O cenário e o público que acompanhou

( X ) Suas obras muitas vezes apresentam elementos exuberantes e contraditórios.

a crucificação não aparecem na imagem, ou seja, cabe ao

( X ) Em países como Portugal e Espanha, bem como em suas colônias, foi uma estética associada à crise religiosa.

leitor da tela imaginá-los.

( X ) É possível notar que essa estética apresenta aspectos que diferem de um lugar para outro. ( ) Teve como uma de suas influências a Antiguidade Clássica.

Museu de Prado/Fotógrafo desconhecido

2. Observe a pintura pertencente ao estilo barroco e responda às questões.

3. (ESPM – SP) Texto para esta questão. Será porventura o estilo que hoje se usa nos púlpitos? Um estilo tão empeçado1, um estilo tão dificultoso, um estilo tão afetado, um estilo tão encontrado toda a arte e a toda a natureza? Boa razão é também essa. O estilo há de ser muito fácil e muito natural. Por isso Cristo comparou o pregar ao semear, porque o semear é uma arte que tem mais de natureza que de arte (...) Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, como os pregadores fazem o sermão em xadrez de palavras. Se uma parte está branco, da outra há de estar negro (...) Como hão de ser as palavras? Como as estrelas. As estrelas são muito distintas e muito claras. Assim há de ser o estilo da pregação, muito distinto e muito claro. (Sermão da Sexagésima, Pe. Antônio Vieira) 1

empeçado: com obstáculo, com empecilho.

VELÁZQUEZ, Diego. Cristo crucificado. 1631. 1 óleo sobre tela, color., 248 cm × 160 cm. Museu do Prado, Madri.

a) Como se pode descrever a relação entre claro-escuro, típica da pintura barroca, nessa tela? Pessoal. Sugestão: Pode-se notar que a imagem do corpo de Jesus crucificado é destacada por meio da luminosidade que contrasta com o fundo escuro.

A expressão que traduz a ideia de rebuscamento no estilo é: a) “púlpitos” b) “semear” c) “céu” X d)

“xadrez de palavras”

e) “estrelas”

Literatura

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4. (FATEC – PR) Texto para a próxima questão. Os ouvintes ou são maus ou são bons; se são bons, faz neles grande fruto a palavra de Deus; se são maus, ainda que não faça neles fruto, faz efeito. A palavra de Deus é tão fecunda, que nos bons faz muito fruto e é tão eficaz, que nos maus, ainda que não faça fruto, faz efeito; lançada nos espinhos não frutificou, mas nasceu até nos espinhos; lançada nas pedras não frutificou, mas nasceu até nas pedras. Os piores ouvintes que há na Igreja de Deus são as pedras e os espinhos. E por quê? – Os espinhos por agudos, as pedras por duras. Ouvintes de entendimentos agudos e ouvintes de vontades endurecidas são os piores que há. Os ouvintes de entendimentos agudos são maus ouvintes, porque vêm só a ouvir sutilezas, a esperar galantarias, a avaliar pensamentos, e às vezes também a picar quem os não pica. Mas os de vontades endurecidas ainda são piores, porque um entendimento agudo pode-se ferir pelos mesmos fios, e vencer-se uma agudeza com outra maior; mas contra vontades endurecidas nenhuma coisa aproveita a agudeza, antes dana mais, porque quanto as setas são mais agudas, tanto mais facilmente se despontam na pedra. E com os ouvintes de entendimentos agudos e os ouvintes de vontades endurecidas serem os mais rebeldes, é tanta a força da divina palavra, que, apesar da agudeza, nasce nos espinhos, e apesar da dureza, nasce nas pedras. (Padre Antônio Vieira, Sermão da Sexagésima. Texto editado.)

Considere as afirmações seguintes sobre o texto de Vieira. I. Trata-se de texto predominantemente argumentativo, no qual Vieira emprega as metáforas do espinho e da pedra para referir-se àqueles em que a palavra de Deus não prospera. II. Nota-se no texto a metalinguagem, pois o sermão trata da própria arte da pregação religiosa. III. À vista da construção essencialmente fundada no jogo de ideias, fazendo progredir o tema pelo raciocínio, pela lógica, o texto caracteriza-se como conceptista.

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Volume 4

IV. Efeito da Revolução Industrial, que reforçou a perspectiva capitalista e o individualismo, esse texto traduz a busca da natureza (pedras, espinhos, .....) como refúgio para o eu lírico religioso. V. Vincula-se ao Barroco, movimento estético entre cujos traços destaca-se a oscilação entre o clássico (de matriz pagã) e o medieval (de matriz cristã), a qual se traduz em estados de conflito religioso. Estão corretas apenas as afirmações d) II, III, IV e V.

a) I, II e III. b) I, III e V.

X e)

I, II, III e V.

c) II, III e IV. 5. Assinale verdadeiro ou falso para as afirmações a respeito da obra de Antônio Vieira. ( F ) Os sermões do Padre Antônio Vieira representam o ponto mais alto do cultismo barroco em língua portuguesa. ( F ) A preocupação da prosa de Antônio Vieira era a de estabelecer um consenso entre os poderosos e aqueles que se sentiam explorados por eles. ( V ) Articulam-se na prosa de Antônio Vieira perspectivas políticas, religiosas e literárias. ( V ) Uma das estratégias da prosa de Antônio Vieira era a associação de passagens bíblicas a acontecimentos reais vividos pelos seus ouvintes. ( V ) O conceptismo presente nos sermões de Vieira evidencia-se na construção elaborada dos argumentos que apresenta, a fim de convencer os fiéis. Texto para as questões 6 e 7.

Segue neste soneto a máxima de bem viver que é envolver-se na confusão dos néscios para passar melhor a vida Carregado de mim ando no mundo, E o grande peso embarga-me as passadas, Que como ando por vias desusadas, Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo. O remédio será seguir o imundo Caminho, onde dos mais vejo as pisadas, Que as bestas andam juntas mais ousadas, Do que anda só o engenho mais profundo.

Não é fácil viver entre os insanos, Erra, quem presumir que sabe tudo, Se o atalho não soube dos seus danos. O prudente varão há de ser mudo, Que é melhor neste mundo, mar de enganos, Ser louco c’os demais, que só, sisudo. MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. São Paulo: Cultrix, 1989. p. 253.

6. (UFRJ) O Barroco faz um uso particular de metáforas para concretizar abstrações. No texto, encontram-se vocábulos cujos significados constroem imagens vinculadas à travessia do eu lírico no mundo. Retire do texto quatro vocábulos desse campo semântico, sendo dois verbos e dois substantivos. Os vocábulos são: ando, vou-(me), seguir, andam, anda, erra (verbos); passadas, vias, caminho, pisadas, atalho (substantivos).

7. (UFRJ) O soneto de Gregório de Matos apresenta, em sua construção, um conflito entre o eu lírico e o mundo. a) Em que consiste esse conflito? O eu lírico encontra-se em crise, pois demonstra se sentir completamente deslocado em relação às demais pessoas.

b) Qual foi a solução proposta? A solução proposta é ceder ao mundo.

8. (UNIFESP) Texto para a questão. Neste mundo é mais rico, o que mais rapa: Quem mais limpo se faz, tem mais carepa: Com sua língua ao nobre o vil decepa: O Velhaco maior sempre tem capa. Nos versos, o eu lírico deixa evidente que:

9. Leia o texto, escrito por Gregório de Matos, e selecione a alternativa em que as características apontadas melhor se relacionam ao poema.

Aos afetos, e lágrimas derramadas na ausência da dama a quem queria bem Ardor em firme coração nascido; Pranto por belos olhos derramado; Incêndio em mares de água disfarçado; Rio de neve em fogo convertido: Tu, que em um peito abrasas escondido; Tu, que em um rosto corres desatado; Quando fogo, em cristais aprisionado; Quando cristal em chamas derretido. Se és fogo, como passas brandamente, Se és neve, como queimas com porfia? Mas ai, que andou Amor em ti prudente! Pois para temperar a tirania, Como quis que aqui fosse a neve ardente, Permitiu parecesse a chama fria. MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. Seleção, introdução e notas de José Miguel Wisnik. 13. ed. São Paulo: Cultrix, 1997. p. 218.

X a)

Visão dualista do sentimento amoroso; construção que se baseia no paralelismo de imagens e frases; predomínio de pares antitéticos; finalização tendendo para o paradoxo.

b) Representação da natureza equilibrada; construção assimétrica das metáforas; predomínio da ordem indireta nas orações; temática religiosa. c) Utilização de trocadilhos; predominância de comparações e paradoxos; frases intercaladas e com sentido obscuro; visão irônica do amor. d) Organização vocabular em ordem lógica; uso da metáfora e da comparação; imagens claras e relacionadas, em sua maioria, à natureza; temática da fugacidade do tempo e da vida.

a) Uma pessoa se torna desprezível pela ação do nobre. b) O honesto é quem mais aparenta ser desonesto. X c)

Geralmente a riqueza decorre de ações ilícitas.

d) As injúrias, em geral, eliminam as injustiças. e) O vil e o rico são vítimas de severas injustiças.

abrasas: queimas. desatado: solto, livre. brandamente: de modo suave. com porfia: de maneira insistente.

Amor: grafado com a primeira letra maiúscula, refere-se ao deus do amor. temperar: equilibrar.

Literatura

27

10. Ainda sobre o poema da questão 9. a) O soneto se organiza com base na contraposição de duas imagens. Que imagens são essas? As imagens que se contrapõem relacionam-se a sensação de quente/frio (fogo/neve).

b) Na última estrofe do poema, o eu lírico traduz o sentimento amoroso com base em dois paradoxos. Quais são eles? Neve ardente e chama fria.

11. Transcreva, do poema religioso de Gregório de Matos a seguir, versos que representem: • a fugacidade da existência; “Nasce o Sol, e não dura mais que um dia”

• uma compreensão de natureza contraditória das coisas que existem. “E na alegria sinta-se tristeza.”

Moraliza o poeta nos ocidentes do sol a inconstância dos bens do mundo

12. Leia o poema.

Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia A cada canto um grande conselheiro. Que nos quer governar cabana e vinha; Não sabem governar sua cozinha, E podem governar o mundo inteiro. Em cada porta um bem frequente olheiro, Que a vida do vizinho e da vizinha Pesquisa, escuta, espreita, e esquadrinha, Para o levar à praça e ao terreiro. Muitos mulatos desavergonhados, Trazidos sob os pés os homens nobres, Posta nas palmas toda a picardia. Estupendas usuras nos mercados, Todos os que não furtam muito pobres, E eis aqui a cidade da Bahia. MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. Seleção, introdução e notas de José Miguel Wisnik. 13. ed. São Paulo: Cultrix, 1997. p. 41.

a) Partindo da divisão da poesia de Gregório de Matos em lírico-amorosa, satírica e religiosa, como você classificaria o poema lido? Por quê? O poema acima é classificado como satírico, pois explora os

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria. Porém se acaba o Sol, por que nascia? Se é tão formosa a Luz, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância. MATOS, Gregório de. Poemas escolhidos. Seleção, introdução e notas de José Miguel Wisnik. 13. ed. São Paulo: Cultrix, 1997. p. 317.

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aspectos negativos da Bahia com base nos comportamentos de sua população, isto é, satiriza costumes.

b) Com suas palavras, como você definiria a cidade da Bahia, segundo a visão de Gregório de Matos? Pessoal. Nessa resposta, é importante que os alunos destaquem a perspectiva pessimista de Gregório de Matos ao falar sobre os costumes das pessoas que habitam a cidade.

transfigura: transforma. se fia: se sustenta. constância: regularidade. vinha: terreno plantado de videiras. espreita: espiona. esquadrinha: observa com cuidado.

terreiro: espaço amplo de terra onde se reúnem pessoas. picardia: trapaça. estupendas: extraordinárias. usuras: juros, muitas vezes abusivos, de uma transação financeira.

08 Arcadismo ©Shutterstock/Peter Bernik

Representação do campo como um espaço caracterizado pela ausência de conflitos: um mundo calmo e harmonioso, sugerindo uma vida simples e tranquila

Ponto de partida

1

11.. Essa imagem representa um homem em um momento de integração com a natureza. Como você caracterizaria

a relação entre o homem e a natureza ao seu redor nessa imagem? 2. Que elementos compõem essa paisagem? 3. A que tipo de atividade turística essa fotografia pode ser associada? 4. A que visão de natureza ela se associa?

29

Objetivos da unidade: ƒ ƒ ƒ ƒ

compreender o movimento de inovação e ruptura que o Arcadismo propõe em relação ao Barroco; ler e interpretar poemas líricos e satíricos que compõem o Arcadismo; relacionar a Inconfidência Mineira às manifestações árcades no Brasil; conhecer as obras épicas brasileiras e o papel desempenhado pelo indígena nelas.

Lendo a literatura

2 Sugestão de complemento

à atividade e orientações.

Leia a letra da canção “Casinha branca”.

Mariana Coan. 2015. Colagem digital.

Casinha branca Eu tenho andado tão sozinho ultimamente mente Que nem vejo à minha frente Nada que me dê prazer Eu sinto cada vez mais longe a felicidade ade Vendo em minha mocidade Tanto sonho perecer Eu queria ter na vida simplesmente Um lugar de mato verde Pra plantar e pra colher Ter uma casinha branca de varanda Um quintal e uma janela Para ver o sol nascer Às vezes fico a caminhar pela cidade À procura de amizade Vou seguindo a multidão osto Mas eu me retraio olhando em cada rosto Cada um tem seu mistério Seu sofrer, sua ilusão Eu queria ter na vida simplesmente Um lugar de mato verde Pra plantar e pra colher Ter uma casinha branca de varanda Um quintal e uma janela Para ver o sol nascer GILSON. Casinha branca. Disponível em: . Acesso em: 24 fev. 2015. ©Universal Music Publishing MGB Brasil Ltda.

1. Os quatro primeiros versos dizem respeito a) à falta de um projeto de vida que dê sentido à existência do eu lírico. b) à vontade do eu lírico de fugir da cidade e ir para o campo. c) à falta de paciência do eu lírico com a vida moderna. X d)

a um sentimento de solidão vivenciado pelo eu lírico.

e) ao desejo do eu lírico de encontrar alguém que possa amar.

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Volume 4

perecer: acabar. retraio: encolho.

2. A expressão “Um lugar de mato verde”, nessa canção, tem um sentido específico. Qual é ele? Nessa canção, a expressão “lugar de mato verde” diz respeito a alguma moradia situada em um espaço campestre; seria um ambiente em que, de algum modo, a natureza estaria preservada. Por fim, a expressão corresponde a um espaço oposto ao da cidade – na cidade, o eu lírico se encontra deslocado; já no “lugar de mato verde”, sente-se em paz.

3. A canção propõe uma espécie de fuga da cidade e ida para um lugar melhor, que é o campo. Isso ocorre porque X a)

a vida no campo é mais simples e verdadeira.

b) vivendo no campo não teremos doenças causadas pela poluição. c) viver no campo é mais barato, já que temos muitas coisas de graça (água, luz, lenha). d) no campo não há desemprego. e) devemos retornar a nosso ponto de origem, afinal, como todos os seres vivos, viemos da natureza e para ela devemos retornar. 4. A canção apresenta uma contraposição entre o espaço do campo e o da cidade. Indique uma passagem da canção em que essa oposição possa ser observada.

5. Releia a canção. Em sua opinião, a representação da vida no campo como a solução da falta de sentido da vida na cidade é idealizada? Justifique sua resposta. Pessoal. Espera-se que os alunos percebam que a imagem do campo presente na canção se mostra como a solução dos problemas do eu lírico, um mundo sem conflitos ou angústia, o que reforça a visão idealizada desse lugar.

6. Na canção, há expressões que descrevem o desejo do eu lírico de ter sua vida relacionada a ciclos da natureza (plantar; colher; o sol nascer). Em sua opinião, a ideia de um retorno às coisas da natureza e à simplicidade da vida no campo pode ser entendida como uma ideia “comercializada” pela sociedade contemporânea ou é mesmo uma verdade que deveria ser seguida por todos? Essas ideias, de acordo com seus conhecimentos, são recentes ou já surgiram em outros períodos da História? Pessoal.

Pessoal. Os alunos podem destacar a transição dos versos “Às vezes fico a caminhar pela cidade / À procura de amizade / Vou seguindo a multidão / Mas eu me retraio olhando em cada rosto / Cada um tem seu mistério / Seu sofrer, sua ilusão”, que se referem ao espaço da cidade, para o refrão “Eu queria ter na vida simplesmente / Um lugar de mato verde / Pra plantar e pra colher / Ter uma casinha branca de varanda / Um quintal e uma janela / Para ver o sol nascer”.

Acontecia Produção artística do século XVIII Os críticos, de uma maneira geral, reconhecem que o Neoclassicismo (movimento artístico que sucedeu o Barroco e que na literatura assumiu o nome de Arcadismo) ocorreu a partir de uma atenuação, um enfraquecimento dos exageros da arte barroca. Como visto na unidade anterior, o Barroco está relacionado a uma arte baseada na representação das contradições humanas, fruto, em grande parte, da divisão da Europa entre países católicos e protestantes, do processo de colonização da América recém-descoberta e das transformações políticas e econômicas dos países europeus. Já o Neoclassicismo exalta a simplicidade da vida por meio da idealização do campo em contraposição ao ambiente urbano. Os poetas, por exemplo, assumiam o papel de pastores em seus poemas, defendendo um modo de viver que somente existia no interior da literatura. O Neopastores: guardadores de rebanhos, que vivem no campo. classicismo teve também um papel importante não apenas na história da literatura

Literatura

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e das artes. Suas ideias refletiam o ideal político de um governo burguês (portanto, antimonarquista), a valorização da razão, que havia sido deixada de lado no período barroco, o aprofundamento do estudo e da compreensão sobre o funcionamento da natureza, o desenvolvimento das ciências, a ideia da natureza como parâmetro para a definição do que é bom e belo, a crença na capacidade humana de progresso social e cultural. Uma imagem carregada de cores, em que os corpos dos homens e a paisagem se misturavam, a utilização de elementos pesados e maciços era marca do Barroco, seja nas catedrais construídas e decoradas por artistas, seja na TROYON, Constant. O pequeno rebanho. 1461. 1 óleo sobre tela, escrita de poemas que apelavam para contradições e pacolor., 73 × 92 cm. Museu do Louvre, Paris. radoxos. A virada para o Neoclassicismo se deu a partir do momento em que o exagero barroco passou a ser considerado uma estética de mau gosto, e a retomada de uma arte baseada na tradição greco-romana (assim como havia acontecido no Classicismo renascentista) passou a ser considerada uma alternativa para uma arte verdadeira. O Neoclassicismo deixou de lado, portanto, a exuberância barroca e buscou a representação da beleza simples e calma que se podia ver na natureza. Na literatura, em vez de versos repletos de palavras que confundiam o leitor, o escritor neoclássico adotava ritmos mais suaves e, segundo acreditavam, mais graciosos, assim como vocabulário menos requintado em substituição aos jogos de palavras associados ao cultismo e ao conceptismo barrocos.

Mudanças na classe burguesa A “simplicidade” do Arcadismo estava relacionada a uma mudança no perfil da própria sociedade europeia. O padrão cultural dessa sociedade teve como um de seus traços fundamentais a superação de uma estética rebuscada, como era a do Barroco, e preferência por obras com uma linguagem mais clara e direta. Depois das disputas pelas rotas comerciais marítimas que marcaram as relações econômicas e políticas no século XVI e XVII e a consolidação do sistema de exploração das colônias no novo mundo, a burguesia em alguns países, como França e Inglaterra, enriqueceu consideravelmente. Com tal enriquecimento, essa classe começou a dominar parte da economia dos Estados que anteriormente pertenciam à nobreza e ao clero. Há, porém, uma diferença significativa entre a burguesia ligada ao Neoclassicismo e a burguesia comercial, que teve seu momento glorioso ao longo do Classicismo renascentista: a “nova” burguesia neoclássica era culta, muitos eram leitores constantes de escritos filosóficos, frequentavam o teatro e compreendiam a política. No Classicismo renascentista, além da grande distância que apresentava em relação aos senhores feudais, no que diz respeito ao refinamento das atitudes e ao gosto pelas artes, grande parte dos burgueses tinha hábitos grosseiros, era analfabeta e se interessava mais pelas questões políticas locais que por grandes temas do saber humano. Outro fator importante do ponto de vista cultural: uma série de grandes pensadores surgiu no século XVIII, e suas ideias passaram a ser amplamente divulgadas, o que fez com que uma parte das pessoas, antes pouco ligada ao debate de ideias, pudesse ter acesso a novos modos de compreender as questões humanas, políticas e sociais. Pensar a sociedade, a divisão dos poderes e os problemas humanos de um modo geral tornou-se algo corriqueiro para uma parcela da população que não pertencia à nobreza ou ao alto clero.

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O Iluminismo O Neoclassicismo sofreu influência direta do Iluminismo, movimento intelectual que surgiu durante o século XVIII na Europa e que, entre outras características, propunha o uso da razão (identificada com a metáfora da luz) na definição de uma nova forma de pensar o homem e a sociedade. Colocava-se, portanto, contra o Antigo Regime – considerado um sistema político que refletia o pensamento obscurantista cuja origem se encontrava na Idade Média.

Antigo Regime: modo de viver característico das populações europeias durante os séculos XVI, XVII e parte do século XVIII, período que abarca desde as descobertas marítimas até as revoluções liberais.

Esse movimento, que uniu vários pensadores do período, defendia mudanças em várias esferas f dda sociedade, d d atingindo os planos político, econômico e social. Contava com o apoio de grande parte da burguesia, cujos interesses começavam a entrar em choque com o poder centralizado dos reis e os privilégios da nobreza. De certa forma, foram os pensadores iluministas que formularam as principais críticas ao Antigo Regime, colocando-se contra o absolutismo monárquico, o poder que a Igreja exercia sobre a sociedade e a economia mercantilista que era dominada pelo poder real. Em oposição aos fatores listados acima, os iluministas propunham uma mudança radical no modo como as questões relativas ao poder deveriam ser tratadas. Um pensamento liberal deveria substituir modelos considerados atrasados: uma liberdade econômica, sem a intervenção do Estado; o avanço das ciências e da razão como promotoras do progresso humano; a predominância do modo de pensar burguês em substituição à visão de mundo da nobreza. Rapidamente, as ideias iluministas ganharam apoio popular. Do mesmo modo, pode-se afirmar que o intercâmbio entre pensadores dessa época ganhou um grande impulso: iluministas franceses, por exemplo, tornaram-se grandes admiradores dos pensadores ingleses, assim como filósofos alemães passaram a ler com grande interesse obras de escritores franceses. Entre os princípios do Iluminismo não estava exatamente o combate à monarquia como regime político, mas, sim, uma crítica contra os abusos do poder monárquico. ©Wikimedia Commons/Long List of Contributors to the Encyclopedia

Quanto às questões políticas e econômicas, com receio de perder o direito de governar seus países, muitos reis incorporaram princípios do Iluminismo, ou seja, flexibilizaram suas formas de domínio. Esses governantes passaram a ser conhecidos como déspotas esclarecidos. Entre os mais importantes líderes que procuraram mesclar aspectos do Antigo Regime às concepções do Iluminismo, tem-se Catarina II, da Rússia; Frederico II, da Prússia; e Marquês de Pombal, de Portugal.

A Enciclopédia Publicada na França no século XVIII, a Enciclopédia, também conhecida como Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers (Dicionário fundamentado de ciências, artes e ofícios), foi uma tentativa de vários pensadores de organizar, em uma única coleção de livros, o conjunto dos conhecimentos adquiridos pela humanidade até aquele momento. Ela era composta de 33 volumes, 71 818 artigos e 2 885 ilustrações. Entre seus autores, estavam Voltaire, Diderot, Montesquieu e Rousseau. Um de seus objetivos era o de combater o pensamento considerado obscurantista (que não utiliza a razão), próprio do pensamento religioso, típico do período barroco. Sugestão de atividades: questões de 1 a 4 da seção Hora de estudo.

Capa do primeiro volume da Enciclopédia

Literatura

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Arquitetura no Neoclassicismo

3 Orientações sobre a diferenciação entre Barroco e

Neoclassicismo.

©Shutterstock/Neirfy

Uma das expressões artísticas mais características do período neoclássico foi a arquitetura. Ela se opunha de modo direto às concepções do Barroco, especialmente o apego aos detalhes, às torres altas de algumas igrejas (evocando o contato entre o mundo terreno e o plano celestial) e aos excessos nos azulejos (no caso do Barroco português) e ornamentos variados. As referências das construções neoclássicas remetem-se aos templos e palácios gregos e romanos, que passam a ser entendidos como exemplos de bom gosto. A utilização de materiais nobres, especialmente os mármores e a madeira, com a função de dar um acabamento final às superfícies é também marca do neoclássico. Colunas, cúpulas e pórticos também são resgatados da arquitetura da Antiguidade Clássica para fazer parte desse estilo. A decoração dos interiores passa a ser preferencialmente simples e funcional. A preocupação com o equilíbrio das linhas também pode ser considerada outro traço importante da arquitetura setecentista. Veja ao lado uma imagem da escadaria do Santuário do Bom Jesus do Monte, em Braga, Portugal. De autoria do arquiteto Carlos Amarante, o santuário é composto de capelas, jardins e uma igreja central. Sua escadaria, inserida em um monte, revela a preocupação com uma organização regular e repetida das linhas, o que cria um efeito de harmonia para os que a contemplam.

Escadaria do Santuário do Bom Jesus do Monte, em Braga, Portugal, vista de baixo

Olhar literário Aspectos da literatura árcade Dois dos principais elementos que configuram o estilo literário desse período foram o uso de uma linguagem simples e o respeito a um conjunto de convenções (regras, normas) literárias. O pastoralismo foi uma das convenções literárias que mais caracterizaram a poesia árcade: os poetas, ao escreverem seus textos, assumiam o papel de pastores, inclusive assinando suas obras utilizando pseudônimos pastoris. Também nomeavam suas musas com nomes de pastoras. 4 Pseudônimos e musas de alguns poetas árcades. O ideal de vida simples do campo era outro elemento que fazia parte do universo simbólico explorado pelos poetas do Arcadismo. Essa característica é chamada de bucolismo e inspirava-se na descrição poética de um cenário campestre em que viviam os pastores.

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Volume 4

Atividades 5 Sugestão de leitura.

1. Acompanhe a análise de alguns elementos que constituem a fachada de uma edificação tipicamente neoclássica: o Panteão (em francês, Panthéon), situado na cidade de Paris, França. Trata-se de uma construção que teve início em 1764, encomendada pelo rei Luís XV. Nele estão sepultados muitos dos mais importantes intelectuais, artistas, políticos e cientistas franceses.

©iStockphoto.com/Ingenui

Finalizada a leitura das características do Panteão, observe e descreva os elementos pertencentes ao estilo neoclássico que fazem parte da fachada de uma outra construção: o Memorial de Thomas Jefferson, situado em Washington, D.C., EUA, e construído entre 1939-1943. Presença de elementos geométricos na composição: semicírculo triângulo retângulos.

Simetria na distribuição das colunas.

Construção aparentando simplicidade em seu projeto. Referência histórica: a construção se assemelha a monumentos típicos da Antiguidade Clássica (templos e edificações gregas e romanas).

Fachadas lisas, com pouca decoração.

Simplicidade:

Fachada: lisa e regular.

o formato da construção é regular e simples.

Formas geométricas: as formas geométricas predominantes são os

Referência histórica:

retângulos e o semicírculo. há uma aproximação com

Simetria: o edifício é composto de uma simetria circular,

©Shutterstock/Gary Blakeley

templos greco-romanos.

lembrando uma roda deitada.

Literatura

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Ma

VIRGÍLIO. Bucólicas – Edição bilíngue. Tradução e comentário de Raimundo Carvalho. Belo Horizonte: Crisálida, 2005. p. 21-23.

. Digital. ein. 2015 Daniel Kl

5. Digital.

ello. 201 de M

[...] Nem sou tão feio assim: há pouco me vi n’água, quando o mar era calmo; até Dáfnis não temo, tendo-te por juiz, se não mente a imagem. Ah! Se só te aprouvesse estes meus pobres campos e uma cabana humilde habitar, caçar cervos e os cabritos guiar rumo ao hibisco verde! [...]

A poesia bucólica, como as Bucólicas, de Virgílio, em sua origem, era também conhecida como écloga e tinha como tema central a vida rústica e simples do campo. Esse tipo de poesia foi resgatado no período do Arcadismo por vários poetas, principalmente por alguns brasileiros.

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2. Leia um trecho do poema intitulado Bucólicas e responda às questões propostas.

Públio Virgílio Maro nasceu em Andes, região da Lombardia, Itália, no ano de 70 a.C. Escreveu três grandes obras: as Éclogas (ou Bucólicas), as Geórgicas e a Eneida. Foi um dos poetas da Antiguidade Clássica que mais influenciou o Renascimento e o Neoclassicismo. Morreu em 19 a.C.

a) Destaque, do poema de Virgílio, um trecho que corresponda à convenção da poesia árcade do ideal de vida simples do campo. “Ah! Se só te aprouvesse estes meus pobres campos / e uma cabana humilde habitar”.

b) Com base na leitura do poema, descreva como é o espaço do campo em que o eu lírico vive. Pessoal.

Reprodução, datada do século V, dos primeiros versos do poema Bucólicas, de Virgílio

Dáfnis: de acordo com a mitologia grega, Dáfnis foi um pastor que inventou a poesia bucólica.

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aprouvesse: satisfizesse. cervos: animais quadrúpedes que habitam os campos.

hibisco: espécie de planta que serve para ornamentação.

Acontecia 6 Sugestão de leitura.

Mudanças na sociedade portuguesa no século XVIII As ideias iluministas tiveram, em Portugal, como um de seus defensores o Marquês de Pombal, nobre que ocupou cargos importantes no reinado de D. José I (1750-1777). Seu grande projeto político foi o de “atualizar” Portugal a fim de que essa nação pudesse se equiparar às potências europeias dessa época. Entre suas medidas mais ousadas, destaca-se a expulsão dos jesuítas de Portugal e de suas colônias, em 1759. Até essa data, todo o sistema educacional estava nas mãos dos jesuítas. Pombal defendia que a educação não deveria receber influência direta da Igreja, pois dessa forma seria possível atualizar os currículos das instituições de ensino consideradas obsoletas. Essa atitude revigorou o ensino da filosofia, da cultura, da história e das ciências. Sugestão de atividades: questões de 5 a 7 da seção Hora de estudo.

Olhar literário Arcadismo em Portugal: Bocage O Arcadismo buscou revitalizar um tipo de produção literária que procurava afastar-se do Barroco. Os primeiros registros de um grupo de poetas que se reúne contra o “mau gosto” da poesia barroca data de 1690, na Itália. Essa agremiação de poetas, autointitulada Arcádia Romana, procurou rebater o verbalismo da literatura seiscentista. O nome desse movimento literário fazia uma referência à Arcádia, região do Peloponeso na Grécia Antiga, espaço habitado por pastores que levavam uma vida simples e bucólica. Do mesmo modo que os poetas italianos, os poetas portugueses se organizaram em uma agremiação chamada Arcádia Lusitana, em 1756. Esse fato marca o início do Arcadismo em Portugal. Esse grupo, porém, pouco influenciou a literatura escrita na época, dissolvendo-se em 1776. Em 1790, fundou-se outro agrupamento, que se intitulou Arcádia Nova. Dos poetas que participaram dessa iniciativa, o mais importante foi Manuel Maria Barbosa l’Hedois du Bocage. Bocage escreveu poemas líricos e satíricos. No primeiro tipo, especialmente os poemas pertencentes à primeira fase da produção poética do escritor, explorou as principais características da poesia árcade ligada aos sentimentos: o uso de pseudônimos pastoris, a utilização dos lugares-comuns explorados pelo estilo árcade, o domínio das formas poéticas clássicas e a preferência por um uso de linguagem concisa, equilibrada e que apresenta uma recorrência de recursos derivados da poesia da Antiguidade Clássica. Se boa parte da poesia de Bocage se relaciona aos modelos da poesia árcade, outro aspecto de sua poesia lírica que merece destaque é a presença, na fase madura de sua escrita, de uma visão subjetiva da realidade, elemento que somente apareceria em um período seguinte da literatura, o Romantismo. 7 Explicação sobre elementos pré-românticos na poesia de autores árcades.

Trata-se de uma poesia mais introspectiva, soturna e fatalista, que explora os sentimentos vivenciados pelo eu lírico. Mas vale ressaltar que Bocage se transformou em uma figura bastante conhecida em seu tempo por conta também dos inúmeros poemas satíricos.

A poesia árcade resgata da Antiguidade Clás era nte ume com sica uma série de temas que trabalhada pelos poetas. São os chamados lugares-comuns. Entre aqueles que mais aparecem nos poemas dos árcades, tem-se: a o fugere urbem, a fuga do espaço urbano e ; busca por um contato maior com a natureza o carpe diem, o “aproveitar o dia”, isto é, apro preento mom veitar os prazeres da vida e do o sente, já que a existência humana é curta; inutilia truncat, a retirada do poema de tudo o o que não seja essencialmente necessário; agra rio locus amoenus, a busca por um cená dável e natural.

Sugestão de atividades: questões de 8 e 9 da seção Hora de estudo.

Literatura

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Atividades

8 Sobre a leitura de poemas de Bocage.

igital. 2015. D

11. LLeia i o poema de autoria do escritor português Bocage.

Nada se pode comparar contigo

O Sol, que o céu diáfano passeia, A Lua, que lhe deve a formosura, O sorriso da aurora, alegre e pura, A rosa, que entre os Zéfiros ondeia: A serena, amorosa Primavera, O doce autor das glórias que consigo, A deusa das paixões e de Citera:

Klein. Daniel

O ledo passarinho, que gorjeia D’alma exprimindo a cândida ternura, O rio transparente, que murmura, E por entre pedrinhas serpenteia:

Manuel Maria de Barbosa l’Hedois du Bocage nasceu em Setúbal, Portugal, em 1765. Considerado o maior poeta português do Arcadismo, Bocage teve fama de ser um excelente compositor de versos. Morreu em 1805, em Lisboa.

Quanto digo, meu bem, quanto não digo, Tudo em tua presença degenera. Nada se pode comparar contigo. BOCAGE. Nada se pode comparar contigo. In: ______. Poemas: Bocage. Seleção e organização de José Lino Grünewald. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987. p. 36.

a) Pode-se afirmar que a representação da natureza presente no poema se vale de qual lugar-comum da poesia árcade? O poema expressa o locus amoenus, ou seja, a representação de um mundo natural sem conflitos.

b) Identifique, na segunda estrofe, palavras que caracterizam o cenário bucólico em que se encontra o eu lírico. “Formosura”, “alegre”, “sorriso”, “pura”.

c) Como pode ser compreendido o último verso do soneto, “Nada se pode comparar contigo”? Pessoal. Sugestão: Depois de descrever um cenário natural equilibrado e belo (segundo a concepção de beleza árcade), o eu lírico afirma que a beleza de sua amada é superior, pois, diante dela, tudo “degenera”, ou seja, tudo se desfaz, perde o valor.

ledo: alegre. gorjeia: canta. cândida: inocente. serpenteia: executa movimentos parecidos com os de uma serpente.

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diáfano: transparente. aurora: deusa da mitologia romana responsável pelo amanhecer. Zéfiros: representação do vento vindo do oeste, segundo a mitologia grega. ondeia: toma a forma de ondas.

deusa das paixões: referência a Vênus (Afrodite para os gregos), deusa romana do amor. Citera: ilha grega que, no século XVIII, se tornou uma referência para artistas e poetas como o lugar ideal dos amantes. degenera: corrompe, estraga, se desfaz.

2. Leia os fragmentos dos poemas de Bocage, em seguida escreva se eles pertencem à fase árcade ou à fase pré-romântica. Justifique sua resposta. a) c) Meu ser evaporei na lida insana Vítima do rigor, e da tristeza, Do tropel de paixões, que me arrastava; Em negra estância, em cárcere profundo, Ah! Cego eu cria, ah! mísero eu sonhava O mundo habito sem saber do mundo, Em mim quase imortal a essência humana: Como que não pertenço à Natureza: [...] [...] BOCAGE. Lenitivos do sofrimento contra as perseguições da desventura. In: ______. Poemas: Bocage. Seleção e organização de José Lino Grünewald. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987. p. 87.

BOCAGE. Sentimentos de contrição, e arrependimento da vida passada. In: ______. Poemas: Bocage. Seleção e organização de José Lino Grünewald. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987. p. 109.

Fase pré-romântica. O eu lírico expõe seus sentimentos (sentese como “Vítima do rigor, e da tristeza”) e fala de seu sofrimento no mundo.

Fase pré-romântica. O eu lírico fala da confusão de seus sentimentos.

b)

d)

[...] Oh benignas manhãs! tardes saudosas, Em que folga o pastor, medrando o gado, Em que brincam no ervoso e fértil prado Ninfas e Amores, Zéfiros e Rosas! [...]

[...] Bem que das Musas docemente amado, Se temi de uma idade a outra idade Não poder alongar-me em nome alado: [...]

BOCAGE. Desejos da presença do objeto amado. In: ______. Poemas: Bocage. Seleção e organização de José Lino Grünewald. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987. p. 32.

Fase árcade. Referência ao locus amoenus e ao ambiente pastoril.

BOCAGE. Ao Sr. Pedro Inácio Ribeiro Soares. In: ______. Poemas: Bocage. Seleção e organização de José Lino Grünewald. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987. p. 115.

Fase árcade. A referência às Musas (com letra maiúscula) é uma pista da influência clássica típica dos poemas árcades.

Acontecia Arcadismo no Brasil No século XVIII, o Brasil passou por mudanças importantes: a influência jesuítica começou a dar lugar ao Arcadismo/Neoclassicismo; o deslocamento do eixo econômico, que passava do Nordeste, onde estavam os latifúndios produtores de açúcar, para Minas Gerais, centro da descoberta e exploração do ouro; o Rio de Janeiro tornava-se um dos polos de exportação das riquezas da mineração para a Metrópole, ganhando relevância política, econômica, social e cultural; cresceu o número de estudantes brasileiros que se dirigiam para a Europa, trazendo, em seu retorno para o Brasil, novos ideais e tendências do pensamento liberal que se contrapunham à ideologia que embasava a dominação colonial imposta pelos portugueses. A articulação desses fatores gerou condições para que tivesse início àquilo que o crítico literário Antonio Candido nomeou sistema literário brasileiro: a existência integrada de produção e recepção de obras literárias envolvendo escritores, livros e leitores de modo constante. Isso significa que foi em meados do século XVIII, durante o desenvolvimento do Arcadismo no Brasil, que a vida literária começou a se organizar de forma mais sistemática no país. 9

estância: moradia. benignas: suaves. medrando: fazer ir aumentando.

Sugestão de trabalho com documentário envolvendo as disciplinas de Literatura e História.

ervoso: com bastante pasto. lida: trabalho. tropel: confusão.

alado: que tem asas.

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Olhar literário O Arcadismo no Brasil produziu obras que podem ser classificadas em três grandes grupos: poesia lírica, épica e satírica. Apesar de ser possível observar elementos barrocos na escrita de alguns poetas árcades brasileiros, a maioria seguiu os padrões da literatura neoclássica vigente na Europa. Tanto que é possível destacar como traços do Arcadismo nacional o pastoralismo, o bucolismo, a idealização do espaço do campo, o ideal da vida simples, a tentativa de expressão poética por meio de uma linguagem simples e o aproveitamento do instante presente.

Poesia lírica árcade: resquícios do Barroco e convencionalismo Uma parcela importante da poesia árcade brasileira foi lírica. Escritores como Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Silva Alvarenga, Alvarenga Peixoto e Domingos Caldas Barbosa foram os responsáveis pela produção 10 Sugestão de leitura. mais significativa dessa poesia. Vale destacar que os três primeiros poetas envolveram-se diretamente com os eventos relacionados à Inconfidência Mineira.

Cláudio Manuel da Costa Foi o responsável pela publicação da primeira obra árcade no Brasil, intitulada Obras poéticas, em 1768, contendo poemas líricos. Destaca-se também a publicação do poema épico “Vila Rica”, de 1773, em que ele apresenta os feitos dos bandeirantes em suas jornadas pelo interior do país, fundando diversas cidades na região mineira. O foco principal desse longo poema, inspirado em Os Lusíadas, de Camões, é a narração da história de Vila Rica (atual Ouro Preto). Seu estilo, particularmente na poesia lírica, pode ser entendido como de transição, pois trabalha em seus textos os elementos típicos do Arcadismo e suas convenções, mas não se distancia definitivamente das influências do Barroco e da poesia camoniana, que fizeram parte de sua formação durante a juventude, quando estudou Direito em Coimbra. Essa mistura entre referências de duas estéticas em conflito (Barroco e Arcadismo) se mostra como um traço singular da poesia de Cláudio Manuel da Costa.

Tomás Antônio Gonzaga A poesia lírica de Tomás Antônio Gonzaga pode ser lida com base em duas tendências: assim como em Bocage, sua poesia inicial apresenta uma adesão à estética árcade; em uma segunda fase, sua poesia apresenta elementos que podem ser considerados como do Pré-Romantismo. Gonzaga (nascido em Portugal, mas tendo escrito toda sua obra no Brasil) pode ser considerado um árcade por excelência, isto é, para muitos críticos foi nosso melhor representante, especialmente em se tratando dos poemas escritos na primeira fase do autor, ou seja, no período anterior a sua participação na Inconfidência Mineira. Como poucos, em língua portuguesa, ele soube trabalhar em sua poesia as convenções relacionadas ao pastoralismo e à vida bucólica. Comparada sua escrita à de outros poetas, sua linguagem aproxima-se do ideal de simplicidade que é uma das características mais importantes da literatura neoclássica. A segunda fase de sua poesia, escrita durante o período em que ficou preso por três anos, na fortaleza da Ilha das Cobras, esperando o anúncio de sua pena pela participação na Inconfidência (foi sentenciado ao degredo de dez anos em Moçambique, costa oriental da África), é caracterizada por uma escrita mais emotiva, voltada para a expressão de sentimentos pessoais (algo estranho para os padrões do Arcadismo) e pela descrição da paisagem brasileira.

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Atividades 1. Leia este poema. gital. n. 2015. Di Daniel Klei

Destes penhascos fez a natureza O berço em que nasci: oh! quem cuidara Que entre penhas tão duras se criara Uma alma terna, um peito sem dureza! Amor, que vence os tigres, por empresa Tomou logo render-me; ele declara Contra o meu coração guerra tão rara Que não me foi bastante a fortaleza.

Cláudio Manuel da Costa nasceu na Vila do Ribeirão do Carmo, Minas Gerais, em 1729. Foi fazendeiro e jurista, com grande atuação no período da mineração do Brasil Colônia. Participou de modo ativo na Inconfidência Mineira. Morreu em Vila Rica, em 4 de julho de 1789, em sua cela depois de ser preso como conspirador.

Por mais que eu mesmo conhecesse o dano, A que dava ocasião minha brandura, Nunca pude fugir ao cego engano: Vós, que ostentais a condição mais dura, Temei, penhas, temei, que Amor tirano, Onde há mais resistência, mais se apura. COSTA, Cláudio Manuel da. Soneto XCVIII. In: ______. A poesia dos inconfidentes: poesia completa de Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto. Organização de Domício Proença Filho. Artigos, ensaios e notas de Melânia Silva de Aguiar et al. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 95.

Entre os comentários a seguir, qual não pode ser aplicado ao poema? a) A oposição presente nos dois últimos versos da primeira estrofe apresenta uma marca barroca: o contraste entre a dureza da penha (pedra) e a suavidade do peito (lugar em que se localiza o coração, centro das emoções). b) Para desenvolver o jogo entre rigidez e candura, entre paisagem exterior das montanhas e paisagem interior dos sentimentos, o eu lírico evoca a figura de uma entidade da mitologia bastante comum na poesia árcade, o Amor (Cupido), que é apontado como o responsável por superar a aspereza do coração. X c)

O poema parte da descrição de uma paisagem totalmente estranha à região de Minas Gerais, localidade em que viveu o poeta. Trata-se de um espaço cujo significado é somente simbólico, fruto da convenção do Arcadismo.

2. Como é possível caracterizar a visão sobre o Amor presente na segunda estrofe do poema? O sentimento amoroso é associado a uma batalha. Palavras como “fortaleza”, “render” e “guerra” reforçam essa visão.

cuidara: poderia adivinhar. penhas: pedras, montanhas. terna: suave. Amor: representação do deus do amor na mitologia greco-romana, Cupido. por empresa: como intenção.

tomou: conseguiu. fortaleza: força, resistência. dava ocasião: favorecia, facilitava. brandura: fragilidade. apura: aperfeiçoa, se torna forte.

Literatura

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3. No poema de Gonzaga, o eu lírico (Dirceu) dialoga com sua amada (a pastora Marília) sobre qual seria o semblante, o 11 Sugestão. rosto, do Amor/Cupido. Pintam, Marília, os Poetas A um menino vendado, Com uma aljava de setas, Arco empunhado na mão; Ligeiras asas nos ombros, O tenro corpo despido, E de Amor ou de Cupido São os nomes, que lhe dão.

Dos rubins mais preciosos Os seus beiços são formados; Os seus dentes delicados São pedaços de marfim. Mal vi seu rosto perfeito, Dei logo um suspiro, e ele Conheceu haver-me feito Estrago no coração. Punha em mim os olhos, quando Entendia eu não olhava; Vendo o que via, baixava A modesta vista ao chão.

Porém eu, Marília, nego, Que assim seja Amor; pois ele Nem é moço nem é cego, Nem setas nem asas tem. Ora pois, eu vou formar-lhe Um retrato mais perfeito, Que ele já feriu meu peito; Por isso o conheço bem. Os seus compridos cabelos, Que sobre as costas ondeiam, São que os de Apolo mais belos; Mas de loura cor não são. Têm a cor da negra noite; E com o branco do rosto Fazem, Marília, um composto Da mais formosa união. Tem redonda e lisa testa, Arqueadas sobrancelhas A voz meiga, a vista honesta, E seus olhos são uns sóis. Aqui vence Amor ao Céu: Que no dia luminoso O Céu tem um Sol formoso, E o travesso Amor tem dois. Na sua face mimosa, Marília, estão misturadas Purpúreas folhas de rosa, Brancas folhas de jasmim.

Chamei-lhe um dia formoso; Ele, ouvindo os seus louvores, Com um modo desdenhoso Se sorriu e não falou. Pintei-lhe outra vez o estado, Em que estava esta alma posta; Não me deu também resposta, Constrangeu-se e suspirou. Conheço os sinais; e logo, Animado de esperança, Busco dar um desafogo Ao cansado coração. Pego em teus dedos nevados, E querendo dar-lhe um beijo, Cobriu-se todo de pejo, E fugiu-me com a mão. Tu, Marília, agora vendo De Amor o lindo retrato, Contigo estarás dizendo Que é este o retrato teu. Sim, Marília, a cópia é tua, Que Cupido é Deus suposto: Se há Cupido, é só teu rosto, Que ele foi quem me venceu.

GONZAGA, Tomás Antônio. Lira II. In: ______. A poesia dos inconfidentes: poesia completa de Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto. Organização de Domício Proença Filho. Artigos, ensaios e notas de Melânia Silva de Aguiar et al. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 575-576.

aljava: estojo no qual o arqueiro armazena as flechas. setas: flechas. empunhado: seguro com uma das mãos. tenro: jovem, delicado.

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Volume V l 4

Apolo: deus grego da beleza. arqueadas: que têm o formato de arco. mimosa: sensível, delicada. purpúreas: que apresentam coloração vermelha.

rubins: rubis (tipo de pedra preciosa). desdenhoso: rude. desafogo: alívio. nevados: brancos (como neve). pejo: vergonha, acanhamento.

a) Qual a relação construída no poema entre a mitologia grega e a observação do rosto da amada feita pelo eu lírico? Todo o poema se faz com base na comparação entre o que afirma a mitologia (Cupido é representado pela figura de um menino com flechas, etc.) e a conclusão marcada pela clareza e pela galanteria a que chega o eu lírico.

b) Pode-se notar que a figura da amada é construída por meio de uma estratégia que se prolonga em todo o poema: a comparação. A quais elementos as partes do corpo da amada são comparados? Por quê? As partes do corpo de Marília são comparadas a objetos valiosos (marfim, rubis) e elementos da natureza (sóis, rosas, Céu, Sol). A comparação com os itens de valor torna a figura da amada algo especial, fora da beleza comum. A aproximação de partes do semblante de Marília com elementos do mundo natural reforça a relação entre o belo como temática da poesia lírica e a natureza como ideal de beleza.

c) Além dos atributos físicos, Dirceu exalta as qualidades morais de sua amada. Indique uma passagem em que tal elogio é destacado pelo eu lírico. Os versos “Punha em mim os olhos, quando / Entendia eu não olhava; / Vendo o que via, baixava / A modesta vista ao chão.” dizem respeito ao comportamento recatado, discreto de Marília, uma qualidade que se pode associar à modéstia.

ventura: felicidade, prosperidade. sujeitos: submetidos. ímpio: desumano. Fado: destino.

bem: posses. campa: sepultura. sepulcro: túmulo.

Klein. Daniel

igital. 2015. D

Tomás Antônio Gonzaga nasceu em Miragaia, na região do Porto, Portugal, em 1744. É considerado, tanto pela literatura brasileira como pela portuguesa, um dos mais notáveis escritores do Arcadismo em língua portuguesa. Foi um dos mentores da Inconfidência Mineira. Morreu na Ilha de Moçambique, em 1810, para onde havia sido deportado por participar da Inconfidência.

4. Leia o poema de autoria de Tomás Antônio Gonzaga e indique V para verdadeiro ou F para falso nas afirmações referentes ao poema. Minha bela Marília, tudo passa; A sorte deste mundo é mal segura; Se vem depois dos males a ventura, Vem depois dos prazeres a desgraça. Estão os mesmos Deuses Sujeitos ao poder do ímpio Fado: Apolo já fugiu do Céu brilhante, Já foi Pastor de gado. A devorante mão da negra Morte Acaba de roubar o bem que temos; Até na triste campa não podemos Zombar do braço da inconstante sorte; Qual fica no sepulcro Que seus avós ergueram, descansado; Qual no campo, e lhe arranca os frios ossos Ferro do torto arado. Ah! enquanto os Destinos impiedosos Não voltam contra nós a face irada, Façamos, sim façamos, doce amada, Os nossos breves dias mais ditosos. Um coração que, frouxo A grata posse de seu bem difere, A si, Marília, a si próprio rouba, E a si próprio fere. GONZAGA, Tomás Antônio. Carta oitava. In: ______. A poesia dos inconfidentes: poesia completa de Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto Organização de Domício Proença Filho. Artigos, ensaios e notas de Melânia Silva de Aguiar et al. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 597.

ditosos: felizes. difere: adia, deixa para depois.

Literatura

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( V ) No primeiro verso desse poema, o eu lírico afirma que não há situação, boa ou má, que persista para sempre.

Selecione a alternativa que não representa a relação entre o significado do soneto de Cláudio Manuel da Costa e o contexto de produção da literatura árcade brasileira.

( F ) A vida alterna bons e maus momentos somente para os homens, nunca para os deuses.

a) O eu lírico retorna ao campo, depois de um tempo vivendo no espaço da cidade.

( V ) Mesmo após a morte, devemos estar atentos para o que pode nos acontecer.

b) A referência às vestes rudes (gabões) presente na primeira estrofe mostra o distanciamento, vivido literariamente pelo eu lírico, da Metrópole representada pela imagem do traje rico e fino.

( V ) Devemos aproveitar os momentos felizes antes que a infelicidade possa nos atingir. ( F ) Temos que viver atentos ao que de mal pode nos acontecer a todo o momento, negando a felicidade se possível. ( F ) Temos que adiar o aproveitamento dos bens que conseguirmos para usufruí-los somente em tempos futuros. 5. Ainda considerando o poema de Tomás Antônio Gonzaga, a que lugar-comum da poesia árcade os quatro versos da terceira estrofe fazem referência? Os versos finais fazem referência ao carpe diem (aproveite o dia).

6. Leia o poema. Torno a ver-vos, ó montes; o destino Aqui me torna a pôr nestes oiteiros, Onde um tempo os gabões deixei grosseiros Pelo traje da Corte, rico e fino. Aqui estou entre Almendro, entre Corino, Os meus fiéis, meus doces companheiros, Vendo correr os míseros vaqueiros Atrás de seu cansado desatino.

O poema problematiza a relação entre campo e cidade, algo que ocorria no Brasil do século XVIII, já que é nessa época que grande parte da população brasileira abandonava as zonas rurais para conseguir trabalho no espaço urbano.

d) O poema se desenvolve com base na característica do bucolismo, que expressava um ideal da vida no campo, segundo a mentalidade do século em que o soneto foi escrito. e) Há uma oposição explícita no poema de Cláudio Manuel: de um lado, a existência no campo; de outro, a representação da vida nos centros urbanos. Essa oposição pode ser relacionada com o conflito existente no Brasil entre campo e cidade ao longo da história. 7. A poesia de Tomás Antônio Gonzaga é tida como a que melhor traduz os ideais do Arcadismo em terras brasileiras. Leia o poema abaixo e destaque três características que confirmem a expressão das convenções árcades pelo poeta.

Aqui descanse a louca fantasia, E o que até agora se tornava em pranto Se converta em afetos de alegria.

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro, Que viva de guardar alheio gado; De tosco trato, de expressões grosseiro, Dos frios gelos e dos sóis queimado. Tenho próprio casal e nele assisto; Dá-me vinho, legume, fruta, azeite; Das brancas ovelhinhas tiro o leite, E mais as finas lãs, de que me visto. Graças, Marília bela, Graças à minha Estrela!

COSTA, Cláudio Manuel da. Soneto LXII. In: ______. A poesia dos inconfidentes: poesia completa de Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto. Organização de Domício Proença Filho. Artigos, ensaios e notas de Melânia Silva de Aguiar et al. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 78-79.

GONZAGA, Tomás Antônio. Lira I. In: ______. A poesia dos inconfidentes: poesia completa de Cláudio Manuel da Costa,Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto. Organização de Domício Proença Filho. Artigos, ensaios e notas de Melânia Silva de Aguiar et al. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 573.

Se o bem desta choupana pode tanto, Que chega a ter mais preço, e mais valia Que da Cidade o lisonjeiro encanto,

oiteiros: colinas, montes. gabões: capa comprida com capuz. Almendro; Corino: nomes de pastores árcades.

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X c)

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desatino: perda do juízo. choupana: casebre. lisonjeiro: que agrada.

Pessoal. Sugestões: Defesa da vida simples do campo; pastoralismo; bucolismo; linguagem simples.

guardar: proteger. tosco: rústico, simples. trato: espaço de terra.

casal: propriedade rústica e pequena. assisto: moro, habito. Estrela: sorte, destino.

Sugestões de atividades: questões de 10 a 15 da seção Hora de estudo.

Olhar literário Poesia épica árcade: representação do indígena na literatura do século XVIII O Arcadismo brasileiro desenvolveu uma produção épica de grande importância. Duas obras dessa produção destacam-se por abordar um tema que não aparecia de modo regular na literatura nacional desde os textos informativos, relacionados às viagens dos cronistas estrangeiros durante os anos iniciais do processo de colonização: o confronto entre colonizadores e indígenas. • O Uraguai – de Basílio da Gama, em 1769; • Caramuru – de Frei Santa Rita Durão, em 1781. Porém, as visões sobre o enfrentamento entre esses dois grupos apresentam perspectivas bastante diferenciadas sobre a posição que os povos indígenas ocupam no imaginário literário do século XVIII.

O Uraguai Tem como pano de fundo os acontecimentos em torno da assinatura do Tratado de Madrid, celebrado entre os reis de Portugal e da Espanha, o qual definiu que as terras ocupadas pelos jesuítas, no Uruguai, deveriam passar da Espanha para Portugal. Por essa razão, os portugueses ficariam com Sete Povos das Missões e os espanhóis, com a Colônia do Sacramento. Sete Povos das Missões era habitada por indígenas e dirigida por jesuítas, que organizaram a resistência à aspiração dos portugueses de apossarem-se dessas terras. O texto narra de modo poético a luta em torno da posse da terra, que teve início em 1757. Há uma consagração dos feitos de Gomes Freire de Andrade, general português que auxiliou o Marquês de Pombal em seu combate pela expulsão dos jesuítas das terras brasileiras. Ao longo de O Uraguai pode-se notar a crítica ferrenha de Basílio da Gama aos interesses dos jesuítas nas terras da Colônia: ao “defender” o direito dos indígenas pela posse, os jesuítas tinham na verdade a intenção de tomar para si essas terras. O enredo se desenrola a partir dos eventos da guerra e de um caso de amor e morte no reduto missioneiro. Seus principais personagens são: o General Gomes Freire de Andrade, chefe do exército português; Catâneo, chefe das forças espanholas; Cacambo, líder indígena; Sepé, guerreiro indígena; Balda, padre jesuíta, administrador de Sete Povos das Missões; Caitutu, guerreiro indígena e irmão de Lindoia; Lindoia, esposa de Cacambo; Tanajura, indígena feiticeira. No que diz respeito à representação do indígena propriamente dita, percebe-se no poema uma simpatia pelo indígena. A narrativa dos fatos não o torna simplesmente um coadjuvante do conflito. Ele se apresenta como um guerreiro que supera simultaneamente, em sua vontade e determinação, tanto o soldado português quanto o padre jesuíta desmoralizado. Essa visão do indígena guerreiro será amplamente trabalhada pela literatura do Romantismo brasileiro, período posterior ao Arcadismo. Do ponto de vista formal, O Uraguai é inovador: escrito em versos brancos (sem rimas) e sem divisões em estrofes.

Caramuru O poema Caramuru tem como base histórica o descobrimento da Bahia pelo náufrago português Diogo Álvares Correia, seguido de seu enamoramento das indígenas Paraguaçu e Moema. Um dos primeiros traços que caracterizam a obra é a vasta quantidade de referências, que abrangem fatos da história do Brasil e observações sobre o temperamento indígena, um conjunto de lendas da região, fantasias e referências

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de outras narrativas, etc. Pode-se considerar o Caramuru como a primeira obra literária a ter como tema central o habitante nativo do Brasil e seu modo de vida, ainda que o indígena não apareça como o protagonista da história (papel desempenhado por Diogo Álvares Correia, um português). O modo de escrita de Durão explora os acontecimentos ficcionais de maneira distinta de outras narrativas literárias comuns em sua época: a imaginação serve como uma estratégia para fazer com que o leitor possa compreender melhor os hábitos dos povos indígenas. Os personagens centrais são: Diogo Álvares Correia, que recebe o apelido de Caramuru; Paraguaçu, filha do cacique Taparica; Moema, indígena amante de Diogo; Gupeva e Sergipe, chefes indígenas. A representação do indígena para Durão é bastante diversa da de Basílio da Gama: enquanto este procurou representar um conflito histórico claramente marcado pela oposição ideológica entre portugueses e jesuítas, Durão narra uma aventura mais descompromissada de um herói de certo modo desapegado das questões históricas ou sociais de seu tempo. Do ponto de vista formal, o Caramuru apresenta alguns recursos de linguagem, como a utilização de referências mitológicas e do universo do maravilhoso pagão e cristão e uma estrutura de versos e estrofes rigorosamente nos moldes camonianos. Sugestões de atividades: questões de 16 a 18 da seção Hora de estudo.

Poesia satírica árcade: crítica aos poderosos As Cartas chilenas podem ser consideradas um dos mais importantes textos satíricos escritos em língua portuguesa. Trata-se de um longo poema incompleto que, de maneira indireta, critica os atos e a administração corrupta de Luís da Cunha Meneses, governador da Capitania de Minas Gerais, entre 1783 e 1788. Redigida sob anonimato, conservou-se inédita até 1845. Sua autoria foi motivo de grande especulação e estudo, até que se chegou ao consenso de ser seu autor o poeta Tomás Antônio Gonzaga. São 13 cartas, escritas em decassílabos brancos. Circularam anonimamente em Vila Rica, entre 1787 e 1788. Possivelmente, algumas cópias impressas também passavam de mão em mão, atendendo ao grande interesse que esse tipo de publicação despertava na população. A cada carta, Critilo (o sujeito que escreve) envia notícias sobre o comportamento do governador “chileno”, chamado de Fanfarrão Minésio, para seu amigo Doroteu. A relação quase explícita entre Chile = Minas Gerais e Santiago = Vila Rica não deixava dúvidas sobre o fato de ser Minésio = Luís Meneses. Talvez, meu Doroteu, talvez que entendas que o nosso Fanfarrão estima e preza os rendeiros que devem, por sistema, só para ver se os ricos desta terra, à força de favores animados, se esforçam a lançar nas régias rendas. Amigo Doroteu, o nosso chefe, se faz alguma coisa, é só movido da loucura ou do sórdido interesse. Eu vou, prezado amigo, eu vou mostrar-te esta santa verdade, com exemplos. GONZAGA, Tomás Antônio. Carta oitava. In: ______. A poesia dos inconfidentes: poesia completa de Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto. Organização de Domício Proença Filho. Artigos, ensaios e notas de Melânia Silva de Aguiar et al. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 856-857.

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preza: estima, tem consideração. rendeiros: pessoas que vivem de terras de arrendamento (terras cedidas sob contrato para outras pessoas explorarem mediante pagamento de uma porcentagem dos ganhos ou aluguéis). por sistema: por coerência. régias: grandiosas. sórdido: imundo, sujo.

As trapaças que ocorrem entre as classes mais abastadas de Vila Rica são expostas de maneira caricata e jocosa. No fragmento anterior, são mencionadas as negociatas do Fanfarrão, sempre ocupado em organizar sistemas de enriquecimento e práticas de abusos de poder. A influência dos pensadores iluministas franceses pode ser vista nessas cartas. Possivelmente, Gonzaga tenha lido textos satíricos de escritores como Voltaire e Montesquieu, que também criavam situações fantasiosas para denunciar as mazelas da sociedade, a Corte corrupta e a realeza decaída.

Atividades

12 Sugestões.

1. Leia os trechos selecionados das Cartas chilenas e responda ao que se pede. Trecho 1

Trecho 2

Carta Nona [...] A desordem, amigo, não consiste em formar esquadrões, mas sim no excesso. Um reino bem regido não se forma somente de soldados; tem de tudo: tem milícia, lavoura e tem comércio. Se quantos forem ricos se adornarem das golas e das bandas, não teremos um só depositário, nem os órfãos terão também tutores, quando nisto interessa igualmente o bem do império. Carece a Monarquia dez mil homens de tropa auxiliar? Não haja embora de menos um soldado, mas os outros vão à pátria servir nos mais empregos, pois os corpos civis são como os nossos, que, tendo um membro forte e outros débeis, se devem, Doroteu, julgar enfermos. [...]

Carta Décima [...] Perguntarás agora que torpezas comete a nossa Chile, que mereça tão estranho flagelo? Não há homem que viva isento de delitos graves, e, aonde se amontoam os viventes em cidades ou vilas, aí crescem os crimes e as desordens, aos milhares. Talvez, prezado amigo, que nós, hoje, sintamos o castigo dos insultos que nossos pais fizeram: estes campos estão cobertos de insepultos ossos de inumeráveis homens que mataram. Aqui os europeus se divertiam em andarem à caça dos gentios, como à caça das feras, pelos matos.

GONZAGA, Tomás Antônio. A poesia dos inconfidentes: poesia completa de Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga e Alvarenga Peixoto. Organização de Domício Proença Filho. Artigos, ensaios e notas de Melânia Silva de Aguiar et al. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996. p. 865-866; 876.

a) Sabendo que as Cartas chilenas tinham como tema principal a crítica à forma de a Metrópole governar a Colônia, qual a condenação feita por Critilo aos esquadrões militares? b) Uma das características da literatura árcade satírica é a elaboração de uma crítica ao modo como o poder corrompia a sociedade. Em sua opinião, qual o motivo para a monarquia conservar “dez mil homens” em sua “tropa auxiliar”? jocosa: que provoca riso, satírica. bandas: refere-se às golas altas com prolongamentos laterais que faziam parte da casaca, vestimenta de um soldado. depositário: confidente, testemunha.

débeis: fracos. torpezas: atitudes vergonhosas. flagelo: tormento, calamidade.

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c) No trecho 2, Critilo demonstra revolta ao descrever o lugar em que se encontra (Chile). Qual sua intenção em apresentar esse lugar dessa forma? d) O poema apresenta problemas relacionados à vida nas cidades: “crimes e desordens” relacionados aos “viventes” que ali se “amontoam”. Essa visão negativa do espaço da cidade remete a qual lugar-comum da poesia árcade? 2. Observe a reprodução de uma obra do artista Ernesto Frederico Scheffel. Essa pintura retrata uma cena do poema Caramuru, de Santa Rita Durão, em que Diogo Álvares Correia encontra indígenas no litoral da Bahia. Como você descreveria a relação entre o europeu (colonizador) e os indígenas (colonizados) representada nessa pintura?

Pessoal. Espera-se que os alunos interpretem os significados decorrentes da postura corporal de Diogo Correia (sua posição ereta, empunhando uma arma de fogo, associada ao mando e à submissão dos indígenas) e do grupo de indígenas (alguns ajoelhados em posição de subserviência e adoração, enquanto outros se distanciam de Diogo em movimento de recuo).

SCHEFFEL, Ernesto Frederico. Caramuru-Guaçu. 1958. 1 óleo sobre tela, color., 368 cm × 196,5 cm. Fundação Ernesto Frederico Scheffel, Rio de Janeiro.

Organize as ideias 13 Orientações para elaboração da síntese proposta na atividade.

Escreva um texto-síntese dos principais conceitos e conteúdos estudados nesta unidade. Seu texto deve conter aproximadamente nove parágrafos. Para ajudá-lo na composição, siga o roteiro indicado.

Conceitos

Conteúdos específicos

Número de linhas (aproximadamente)

Neoclassicismo e Arcadismo

• surgimento • diferenças entre o Barroco • características gerais do estilo

8 linhas / 1 parágrafo

Aspectos da sociedade europeia no período

• questões políticas • despotismo esclarecido • perfil das classes sociais

7 linhas / 1 parágrafo

Iluminismo

• principais ideias

6 linhas / 1 parágrafo

Arcadismo em Portugal

• sociedade portuguesa • Marquês de Pombal • Bocage

11 linhas / 2 parágrafos

Arcadismo no Brasil

• período da mineração • Inconfidência Mineira • aspectos do arcadismo no Brasil • tipos de poesia árcade produzidos no Brasil • principais escritores

16 linhas / 3 parágrafos

Síntese final

• destaque os conteúdos que você considera relevantes para a compreensão do Arcadismo

5 linhas / 1 parágrafo

Lembre-se de que seu texto não deve ser uma listagem de informações, ou seja, além de articular os conteúdos apontados, deve ser coeso e ter coerência.

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Hora de estudo 14 Gabaritos.

1. A arte neoclássica pode ser associada ao avanço das ideias liberais? Justifique sua resposta. 2. A respeito do Neoclassicismo é correto afirmar que a) teve como motivação uma visão crítica sobre a arte barroca, principalmente as relações entre a expressão artística e os temas religiosos que faziam parte de todas as obras pós-renascentistas. b) sua consolidação enfrentou oposição em países que se viam muito ligados ao barroco artístico, especialmente Portugal e Espanha, a ponto de se poder afirmar que não houve o Neoclassicismo nesses lugares. c) seu critério de beleza não se distancia daquele que fundamentou a arte barroca, fato que faz com que se possa afirmar que entre o Barroco e o Neoclassicismo não houve uma ruptura de padrões, mas, sim uma continuidade de estilos. X d)

as transformações na burguesia europeia e sua ascensão formaram um cenário ideal para o fortalecimento da arte neoclássica.

e) o Iluminismo pouco dialogou com a arte neoclássica, que se voltava quase que exclusivamente para problemas relacionados à crise religiosa e à formação dos Estados absolutistas. 3. Leia as seguintes afirmações sobre o Neoclassicismo. I. Em relação ao Barroco, a arte neoclássica busca uma representação menos contraditória dos dilemas humanos e o uso de um vocabulário mais simples. II. O Neoclassicismo corresponde a uma forma de expressão artística que prolonga muitos aspectos da arte barroca, especialmente a crise religiosa, que ganha uma nova maneira de utilizar a linguagem.

4. Comente cada uma das afirmações, indicando se são ou não corretas em relação ao Arcadismo. a) O racionalismo, a clareza da linguagem e a simplicidade são elementos que fizeram parte da estética árcade. b) O retorno aos princípios clássicos greco-romanos e renascentistas (o belo, o bem, a verdade, a perfeição, a imitação da natureza) ressurgem no Arcadismo. c) Pastoralismo, bucolismo, suaves idílios campestres podem ser encontrados na poesia árcade. 5. (UFSCAR – SP) Texto 1 (Zé Rodrix e Tavito) Eu quero uma casa no campo do tamanho ideal pau a pique e sapê Onde eu possa plantar meus amigos meus discos meus livros e nada mais Texto 2 (Cláudio Manuel da Costa) Se o bem desta choupana pode tanto, Que chega a ter mais preço, e mais valia, Que da cidade o lisonjeiro encanto; Aqui descanse a louca fantasia; E o que té agora se tornava em pranto, Se converta em afetos de alegria. Embora muito distantes entre si na linha do tempo, os textos aproximam-se, pois o ideal que defendem é

III. Com o Neoclassicismo, retorna ao universo artístico a presença do racionalismo que havia sido fundamental como um dos pressupostos da arte clássico-renascentista.

a) o uso da emoção em detrimento da razão, pois esta retira do homem seus melhores sentimentos.

( ) Todas as afirmações estão corretas.

c) a dedicação à produção poética junto à natureza, fonte de inspiração dos poetas.

( ) Somente a afirmação II está correta. ( ) As afirmações I e II estão corretas. ( X ) As afirmações I e III estão corretas. ( ) Nenhuma das afirmações está correta.

b) o desejo de enriquecer no campo, aproveitando as riquezas naturais.

d) o aproveitamento do dia presente – o carpe diem –, pois o tempo passa rapidamente. X e)

o sonho de uma vida mais simples e natural, distante dos centros urbanos.

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6. (AMAN – RJ) Leia os versos abaixo: “Se não tivermos lãs e peles finas, podem mui bem cobrir as carnes nossas as peles dos cordeiros mal curtidas, e os panos feitos com as lãs mais grossas. Mas ao menos será o teu vestido por mãos de amor, por minhas mãos cosido.”

X a)

eu lírico, liberdade e crítica ao despotismo.

b) poema, liberdade e crítica ao despotismo. c) eu lírico, povo português e crítica ao despotismo. d) eu lírico, liberdade e língua portuguesa. e) eu lírico, leitor e crítica ao despotismo. 8. Leia o trecho do poema a seguir.

Na solidão do cárcere A característica presente na poesia árcade, presente no fragmento acima, é X a)

aurea mediocritas.

b) cultismo. c) ideias iluministas.

[...] Por mais ardentes preces, que lhe faço, Meus ais não ouve o númen sonolento, Nem prende a minha dor com tênue laço: No Inferno se me troca o pensamento; Céus! Porque hei-de existir, porquê, se passo Dias de enjoo, e noites de tormento?

d) conflito espiritual. e) carpe diem. 7. (UEPA) Texto para a próxima questão. Liberdade, onde estás? Quem te demora? Quem faz que o teu influxo em nós não caia? Por que (triste de mim!), por que não raia Já na esfera de Lísia* a tua aurora? Da santa redenção é vinda a hora A esta parte do mundo, que desmaia. Oh!, venha... Oh!, venha, e trêmulo descaia Despotismo feroz, que nos devora! Eia! Acode ao mortal que, frio e mudo, Oculta o pátrio amor, torce a vontade, E em fingir, por temor, empenha estudo. Movam nossos grilhões tua piedade; Nosso númen tu és, e glória, e tudo, Mãe do gênio e prazer, ó Liberdade! (Bocage)

BOCAGE. Na solidão do cárcere. In: ______. Poemas: Bocage. Seleção e organização de José Lino Grünewald. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987. p. 79.

Esses versos são de um poema que pertence à segunda fase da produção poética de Bocage. Neles é possível observar um distanciamento dos lugares-comuns característicos do Arcadismo. Aponte dois elementos presentes no trecho do poema que se opõem à estética árcade. Justifique suas escolhas. 9. Leia o poema de Bocage para responder à questão. Olha, Marília, as flautas dos pastores Que bem que soam, como estão cadentes! Olha o Tejo a sorrir-se! Olha, não sentes Os Zéfiros brincar por entre flores? Vê como ali, beijando-se, os Amores Incitam nossos ósculos ardentes! Ei-las de planta em planta as inocentes, As vagas borboletas de mil cores.

Lísia = Portugal

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MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa através dos textos. São Paulo: Cultrix, 2006. p. 239.

Naquele arbusto o rouxinol suspira, Ora nas folhas a abelhinha pára, Ora nos ares, sussurrando, gira:

O poema de Bocage organiza uma situação comunicativa interna em que se verificam os seguintes elementos fundamentais da comunicação: emissor, receptor (contido no próprio texto) e mensagem. No poema estes elementos são:

Que alegre campo! Que manhã tão clara! Mas ah! Tudo o que vês, se eu te não vira, Mais tristeza que a morte me causara.

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númen: inspiração.

tênue: sutil, frágil.

A poesia lírica do Arcadismo brasileiro pode ser associada a um fato histórico de grande importância: a Inconfidência Mineira. Qual a relação existente entre a literatura produzida nesse período no Brasil e esse acontecimento histórico? 10. (UFV – MG) Ao evidenciar as tendências do Arcadismo brasileiro, Antônio Candido conclui: A poesia pastoral, como tema, talvez esteja vinculada ao desenvolvimento da cultura urbana, que, opondo as linhas artificiais da cidade à paisagem natural, transforma o campo num bem perdido, que encarna facilmente os sentimentos de frustração. (CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira. São Paulo: Martins, 1959. p. 54. v. I)

A partir de uma reflexão sobre a afirmativa transcrita acima, fale sobre as manifestações da natureza na poesia árcade. 11. (UFSM – RS) O poeta árcade Cláudio Manuel da Costa valeu-se, em alguns momentos, da natureza brasileira para compor sua poesia, fugindo, assim, pelo menos em parte, do convencionalismo neoclássico. A partir dessa ideia, leia o poema a seguir.

LVIII 1

3

Altas serras, que ao Céu estais servindo De muralhas, que o tempo não profana, Se Gigantes não sois, que a forma humana Em duras penhas foram confundindo;

Já sobre o vosso cume se está rindo O 4Monarca da luz, que esta alma engana; Pois na face, que ostenta, soberana, O rosto de meu bem me vai fingindo. Que alegre, que mimoso, que brilhante Ele se me afigura! Ah qual efeito Em minha alma se sente neste instante! Mas ai! a que delírios me sujeito! Se quando no Sol vejo o seu semblante, Em vós descubro, 2ó penhas, o seu peito?

Acerca do poema, assinale a alternativa INCORRETA. a) O poema é um soneto composto de versos decassílabos heroicos, com rima intercalada nos quartetos e cruzada nos tercetos. b) O eu lírico tem como interlocutor de seu poema as “Altas serras” (ref. 1), às quais se dirige diretamente também ao final, em “ó penhas” (ref. 2), caracterizando assim o uso de apóstrofes. c) O eu lírico emprega algumas inversões sintáticas no poema, como em “[...] que ao Céu estais servindo! De muralhas” (ref. 3), a que se chama de hipérbatos e que remetem mais ao estilo barroco que ao árcade. d) O eu lírico compara o Sol, a que chama de “Monarca da luz” (ref. 4), ao rosto de sua amada, o que caracteriza uma personificação. X e)

Ao olhar o Sol sobre as serras, o eu lírico enxerga uma imagem de sua amada, cujo peito seria composto então pelas penhas, visão essa que enche sua alma de alegria.

TEXTO PARA AS QUESTÕES DE 12 A 14: Leia o soneto de Cláudio Manuel da Costa para responder às questões. Onde estou? Este sítio desconheço: Quem fez tão diferente aquele prado? Tudo outra natureza tem tomado; E em contemplá-lo tímido esmoreço. Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço De estar a ela um dia reclinado; Ali em vale um monte está mudado: Quanto pode dos anos o progresso! Árvores aqui vi tão florescentes, Que faziam perpétua a primavera: Nem troncos vejo agora decadentes. Eu me engano: a região esta não era; Mas que venho a estranhar, se estão presentes Meus males, com que tudo degenera! (Obras, 1996.)

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12. (UNIFESP) São recursos expressivos e tema presentes no soneto, respectivamente,

16. Assinale a afirmação correta sobre a poesia épica árcade brasileira.

a) metáforas e a ideia da imutabilidade das pessoas e dos lugares.

a) Ignora elementos da realidade histórica brasileira, transpondo para o cenário nacional figuras da mitologia greco-romana.

b) sinestesias e a superação pelo eu lírico de seus maiores problemas. c) paradoxos e a certeza de um presente melhor para o eu lírico que o passado. d) hipérboles e a força interior que faz o eu lírico superar seus males. X e)

antíteses e o abalo emocional vivido pelo eu lírico.

13. (UNIFESP) No contexto em que estão empregados, os termos sítio (1º. verso), tímido (4º. verso) e perpétua (10º. verso) significam, respectivamente, a) acampamento, imaturo e permanente. b) campo, fraco e imprescindível. c) fazenda, obscuro e frequente. X d)

lugar, receoso e eterna.

e) imediação, inseguro e duradoura. 14. (UNIFESP) No soneto, o eu lírico expressa-se de forma a) eufórica, reconhecendo a necessidade de mudança. b) contida, descortinando as impressões auspiciosas do cenário. c) introspectiva, valendo-se da idealização da natureza. d) racional, mostrando-se indiferente às mudanças. X e)

reflexiva, explorando ambiguidades existenciais.

15. (UPF – RS) Na poesia de Cláudio Manuel da Costa verifica-se um conflito entre as solicitações da poética neoclássica ou árcade, que o levam a conceber artificialmente uma paisagem _________________, e o sentimento nativista do escritor, que o impele a aproveitar artisticamente a paisagem ______________ de sua pátria. A alternativa que completa corretamente as lacunas do texto anterior é:

X c)

Aborda a realidade nacional considerando fatos históricos e a presença dos indígenas.

d) Tem como grande temática o surgimento da nação brasileira, tendo à frente os povos indígenas como o verdadeiro símbolo da pátria. e) Coloca a figura do indígena como o herói das narrativas. 17. (UPE) Sobre as Cartas chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga, analise as proposições abaixo e conclua se são verdadeiras (V) ou falsas (F). ( F ) Há bucolismo no texto, tendo em vista pertencer ao Arcadismo. ( V ) Todos os versos são brancos, ou seja, não dispõem de rimas. ( V ) Trata-se de uma sátira endereçada ao governador da época, Luís da Cunha Meneses, criticando os desmandos administrativos e a corrupção praticados por este na capitania de Minas Gerais. ( F ) Trata-se de um poema lírico-amoroso em que o pastor declara o seu amor de forma tão enfática que o conjunto dos versos pode ser entendido como um convite de casamento. ( F ) Constitui-se em um poema elaborado por meio de uma linguagem totalmente rebuscada que remete à estética barroca. 18. As Cartas chilenas pertencem a um ramo da produção literária: poesia satírica. Cite um período literário, anterior ao Arcadismo, em que a poesia satírica desempenhou um papel importante na denúncia dos males sociais.

a) amena – bucólica

A poesia de cunho satírico que surge na Idade Média portugue-

b) rústica – bucólica

sa: as cantigas de escárnio e de maldizer.

X c)

bucólica – rústica

d) rústica – amena e) bucólica – amena

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b) Propõe uma continuidade de Os Lusíadas, simulando a chegada dos portugueses liderados por Vasco da Gama em terras brasileiras.

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