Volume1 2.edicao Classicas

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MATERIAL DIDÁTICO – VOL. 1

DANÇA ORIENTAL CLÁSSICA

Prefácio Estudar, se aprimorar e se aperfeiçoar... No mundo da dança os requisitos acima são fundamentais para quem quer uma carreira profissional ou para lecionar, ou para quem quer simplesmente aprender a arte da dança do ventre com verdade e qualidade. Todos os investimentos na dança são importantes para a formação de uma bailarina – não somente em figurinos – as aulas são igualmente importantes, os cursos e os materiais de estudo, que podem ser CDs, apostilas, livros, entre outros. Na minha caminhada na dança, estudei e me aperfeiçoei para que eu pudesse dar o melhor às minhas alunas e a quem busca meu trabalho; desenvolvi algumas metodologias específicas e particulares, algumas criadas das experiências em sala de aula, outras adquiridas nos países árabes em que morei e estudei, outras lendo e comparando histórias, textos, matérias e vertentes. Através disso tento manter de forma clara e pertinente informações que possam somar e auxiliar o aprendizado das alunas. Muitas vezes buscamos palavras rebuscadas, de alto grau de entendimento, mas muitas vezes não encontramos, pois a dança do ventre não nos presenteou com um vocabulário específico. Apesar de ser uma dança rica e milenar, não há palavras técnicas para expressá-la na grande maioria das vezes, mas é através do corpo quando dançamos que todas as informações são vivenciadas em forma de movimentos e emoção... Este trabalho foi feito com muito carinho para que possa trazer a você todos seus objetivos. Este é um pontapé inicial para um estudo que é contínuo. A história da humanidade é construída todos os dias e a nossa história é construída por nós mesmos. Nossa dança é construída a cada palavra lida, a cada vídeo assistido e a cada passo dentro de nosso cotidiano em sala de aula. O estudo é eterno!

Najwa Zaidan

SUMÁRIO

Dança Oriental Clássica: Elementos Essenciais .................................................... 04 A estrutura da dança oriental clássica / noções de leitura musical ................. 05 A música árabe e sua estrutura única ............................................................. 14 A típica estrutura de um show ......................................................................... 20 Quesitos fundamentais a serem observados em sua dança ................................ 22 Como avaliar sua própria dança .............................................................................. 38

Najwa Zaidan Cia de Dança e Arte Oriental

Dança Oriental Clássica Elementos Essenciais

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Dança Oriental Clássica

A estrutura da Dança Oriental Clássica A leitura musical

A interpretação da Dança Oriental Clássica é considerada a mais complexa de nossa arte, pois é através dela que demonstramos o domínio cênico e a interpretação das diferentes nuances da música. O Clássico contém vários elementos que devemos dominar para uma apresentação que seja tecnicamente perfeita – desde folclore, percussão, taksim, ritmos, véus, entre outros instrumentos. Utilizamos em nossos estudos o improviso, pois é através dele que podemos enriquecer a nossa dança, e trabalhar a emoção que estamos sentindo no momento, além de favorecer que possamos criar sequências surpreendentes utilizar os movimentos que mais gostamos. A rotina clássica é previsível, ou seja, ela tem uma estrutura que pode – e deve – ser estudada para que nossa dança seja considerada um sucesso, que cause encantamento e admiração do público. A técnica é importante para que tenhamos uma sequência lógica de movimentos e impactos na medida correta. O estudo da rotina clássica se chama leitura musical. A partir desse momento devemos prestar muita atenção nas músicas clássicas de maneira a saber quando devemos encaixar os movimentos e interpretações aprendidos em sala de aula, bem como saber, mesmo que nunca tenhamos escutado a música, a sequência que ela impreterivelmente seguirá.

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A estrutura básica da rotina clássica

Para fins didáticos, a música tem três grandes momentos e em cada um deles temos um espaço que deve ser utilizado para o desenvolvimento da música. A música possui começo, meio e fim, e vamos nos pautar nesses três momentos para analisar o espaço que será trabalhado. Considerando que o desenho abaixo seja o local que você irá trabalhar, vamos dividir este espaço em três para demonstrar o deslocamento que deve ser realizado:

1. Extremidades do palco: Devem ser utilizadas com grandes deslocamentos para a apresentação da bailarina (a entrada) e a rotina de despedida (final)

2. Espaço intermediário: deverá ser utilizado para todo o desenvolvimento (o “meio” da música)

3. Meio do palco (centro) : Local da finalização da música e (gran finale) e dos movimentos de impacto

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Dança Oriental Clássica

1. O começo (a apresentação da bailarina) Na rotina clássica, a introdução da música é um momento extremamente importante. O início da música é sempre reservado à apresentação da orquestra e dos músicos à plateia. Após a apresentação do início, há uma variação (ou até mesmo um sinal) de mudança de ritmo para a apresentação da bailarina. É nesse momento que a bailarina entra em cena. Postura, segurança, expressão corporal e facial devem ser lembrados nesse momento. O início da música é extremamente delicado, pois a forma como iniciamos a nossa dança fica para sempre marcada no nosso público/avaliadores. O espaço a ser utilizado deverá ser sempre a extremidade do palco/local que dançaremos. Lembrando que extremidade significa a extremidade do espaço que você definiu para dançar, não precisa ser necessariamente o espaço físico completo disponível. Alguns teatros possuem palcos enormes que o deslocamento se torna impossível para o desenvolvimento de nossa dança, pois em determinados momentos teremos que voltar para o centro do palco. Observe o gráfico: Utilize este espaço para trabalhar no início da música

Para os movimentos de impacto de véus, deve ser utilizado a porção central do espaço que está sendo trabalhado. Para chegar ao centro do espaço, faça giros ou chassés de maneira elegante. -7-

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Após o reconhecimento do espaço que vamos trabalhar, podemos definir um desenho para o deslocamento. Esse desenho não precisa ser necessariamente um círculo, isto vai depender se há público em todos os lados e no espaço que você tem disponível, além de outros fatores como iluminação de palco. Abaixo segue algumas sugestões de molduras para deslocamentos:

Melhores desenhos para palcos Melhores desenhos para públicos em todas as direções

O desenho espacial deve ser realizado de forma a conseguir ocupar todo o espaço disponível de forma esteticamente bonita e elegante – nesse momento da música temos que executar um trabalho primoroso de véu, mostrando sempre nossas melhores habilidades com esse instrumento.

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Dança Oriental Clássica

Os deslocamentos com ou sem véus que podem ser utilizados na entrada são inúmeros. Podemos citar o chassé, giros, arabesques, twists, andadas (evite andar todo o tempo), e corridas (conforme o ritmo determinar), acompanhando sempre a grandiosidade que a música oferece; Os movimentos com véus podem ser todos aqueles aprendidos em sala de aula. Recomendo pelo menos 4 movimentos elaborados que causem grande impacto nos momentos em que a música assim solicitar. As direções em que vamos trabalhar os véus dentro do desenho espacial escolhido também é fator importante. Devemos trabalhar sempre a lateralidade (frente, trás, esquerda, direita) e todas as diagonais, principalmente se houver público em todas as direções. O passo seguinte seria o momento em que a música modifica o seu ritmo. Trata-se do momento em que devemos deixar o véu. A música deixará bem claro qual é este momento e a saída do véu de cena deve ser feita com elegância e delicadeza longe do nosso espaço de trabalho. 2. O meio da música (o desenvolvimento e apresentação de técnicas de quadril, folclore e taksin) Utilize o espaço intermediário para a “miolo” da música

Para taksin ou movimentos de impacto, prefira a porção central do espaço

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O meio da música é aquele momento em que vamos executar deslocamentos essenciais, ou seja, deslocamentos que exijam espaços menores para que possamos ligar um movimento em outro, e utilizar, caso a música peça, as movimentações sinuosas variadas e combinadas; batidas de quadril; folclores, caso a música tenha; variações de quadril caso a música tenha percussão. É muito importante sempre utilizarmos movimentos elaborados com combinações criativas e, no momento em que a música sugerir o folclore, trabalhar somente passos de folclore sem misturar outras combinações. O meio da música também é chamado de “momento técnico”, onde a bailarina mostrará todo o seu repertório de movimentos e variações. É muito importante que nesse momento o quadril seja primoroso, limpo e com definição de movimento – é importante que tenhamos em mente o movimento que queremos executar; quando houver solicitação da música, temos que estar atentos aos detalhes, às sutilezas que fazem toda a diferença. Os elementos surpresa são uma ótima pedida para diversificar a apresentação! Estes elementos tornam a apresentação criativa, dinâmica e atraente para o público. Uma boa apresentação em minha opinião é aquela que é imprevisível, ou seja, nunca sabemos o momento em que a bailarina vai executar um movimento, se será na frase ou no refrão seguinte. Este é o momento de encantamento e de seu melhor – a sua marca e seu diferencial – e é o momento em que você traz o público para o seu mundo! São exemplos de ritmos folclóricos que podem aparecer em uma rotina clássica: 

Said



Soudi (Khalige)



Dabke



Ayub

Exemplos de instrumentos de taksin que devemos dominar para a rotina clássica: - 10 -

Dança Oriental Clássica Instrumentos de percussão: 

Derbak



Pandeiro



Katem

Interpretar com o conteúdo aprendido em técnicas de quadril; Instrumentos de sopro: 

Sax



Nai



Mizmar



Mijuiz



Acordeon

Geralmente estes instrumentos são interpretados com braços; Instrumentos de corda: 

Violino



Alaúde



Rabeb



Kanun



Guitarra (em músicas mais modernas)

Nos instrumentos de corda podemos utilizar quadril, em conjunto com molduras de braços. O Derbak, de todos os instrumentos apresentados, é um capítulo à parte. Devemos nos atentar a todos os shimmies aprendidos e demonstrar definição de movimentos, isto é, o espectador deverá saber qual é a nossa intenção, o movimento deve estar claro. São alguns exemplos de shimmies: - 11 -

Najwa Zaidan Cia de Dança e Arte Oriental 

Shimmies de joelho, de coxa, pélvicos, de quadril;



Avaliar tamanho do quadril (pequeno, médio, grande) e intensidade do movimento (forte, médio e fraco), combinado com diversas direções e variações. Devemos nos atentar também para uma possível interpretação de Mowashahat dentro

da música clássica. Neste momento deverão ser utilizados todos os movimentos aprendidos com o ritmo Samaai. 3. O fim e o “grand finale” Não menos importante e muito relevante, este é literalmente o momento em que não devemos deixar a peteca cair – depois do grande esforço físico no início e no meio da música, devemos sempre guardar oxigênio para terminarmos nossa apresentação em grande estilo. Essa é a hora de manter a empolgação e segurar a grandiosidade que a música nos oferece. Isso significa que, mesmo cansada deve-se manter e primar pelas características do início da música, que são a empolgação, a energia, a dinâmica, utilizando grandes deslocamentos, arabesques e braços em posições preferencialmente diferenciadas daquelas que utilizamos no início conforme o crescimento da música. A moldura de nossos braços deve acompanhar a grandiosidade do momento. Os movimentos de finalização são grandiosos e deverá ser retomada a energia do início da música

No gran finale a bailarina deverá estar posicionada no centro do palco/espaço - 12 -

Dança Oriental Clássica

Os giros são magníficos para cobrir estes momentos finais, suas combinações de intensidade e variações deixam qualquer finalização grandiosa! Enfim com a junção de tudo isso chegamos ao nosso gran finale, terminando com entusiasmo e força! Ao final, agradeça a seu público e feche assim sua apresentação.

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A música árabe e sua estrutura única

A dança árabe é determinada pela música que se faz presente. Esta música não tem o papel de servir com pano de fundo para a dança, muito pelo contrário, ela é a linha mestra que define o que vai acontecer enquanto movimento, através da bailarina. É tarefa desta, expressar em forma de desenhos corporais, as emoções musicais, e durante os momentos de solo melódico realçar o instrumento responsável pela improvisação. O termo “Música árabe” é enganoso. Notas, ritmos instrumentos e estilos variam muito de país a país. Ainda assim, podemos notar que as músicas provenientes de países árabes, compartilham sempre certas similaridades. Uma delas, é que, dentro de sua estrutura formal, ainda existe retida uma forte tendência para improvisação, que vem do passado e cuja essência é altamente melódica. Ao contrário da música ocidental, a música árabe não desenvolveu o uso da harmonia. A razão básica é que a teoria da harmonia depende em grande parte de um sistema tonal fixo – um espaço invariável entre as notas. Toda escala na música oriental tem algumas posições fixastom e meio tom- assim como na música ocidental mas entre elas, há notas sem lugares fixos, que caem incidentalmente em posições ligeiramente diferentes na escala, cada vez que são tocadas.

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Dança Oriental Clássica Na musica árabe, apenas uma oitava, pode conter algo entre 18 a 22 notas com pausas tão pequenas como a nona parte de um tom. As únicas composições que podem conter harmonias simples são aquelas baseadas em escala e melodia ocidental. Dentro do elaborado sistema de escalas da musica árabe, os instrumentos tem espaço para explorar a melodia, mais ou menos como numa improvisação de jazz. Isto é feito usando a melodia e desenhando ornamentos em volta dela, exatamente como na arte islâmica, que tem um padrão central, e a ornamentação construída ao redor. O mais perto que podemos chegar da música árabe antiga é o que podemos ouvir numa peça árabe-andaluz, o estilo Maghreb. Os mouros, termo europeu usado para designar os árabes e berberes, ficaram na Espanha por 700 anos. Conquistaram primeiramente a Andaluzia, como era chamada no início do século XVIII , e que permaneceu por algum tempo como nada mais do que uma remota província do império islâmico em franca expansão. Andaluzia nesta época era muito maior do que a área conhecida por este nome hoje em dia, e se tornaria o maior canal da civilização islâmica no Ocidente.

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Najwa Zaidan Cia de Dança e Arte Oriental Por volta de 750 AC a Dinastia Umayyad foi expulsa de Damasco e se estabeleceu na Andaluzia. Esta cultura fascinante trouxe consigo formas musicais persas que até hoje sobrevivem e podem ser apreciadas na música flamenca. O primeiro conservatório musical foi fundado no século 12 em Córdoba, sendo o mais celebrado pólo cultural europeu. Até aquele momento, a maioria dos habitantes da Andaluzia falava apenas árabe e tinham adotado a fé islâmica. A dominação islâmica na Espanha durou até o século 15 , quando a unidade de califados foi enfraquecida e então divisões étnicas e tribais tomaram lugar, expulsando os muçulmanos da Europa em 1492. As múltiplas influências do estilo artístico árabe na Espanha mourisca deixaram muito mais do que simples memórias arquitetônicas. A

música

espanhola,

em

seus

sentimentos e poemas cantados, muito mais árabes do que europeus. O Flamenco, uma mistura de elementos mouros, andaluzes e ciganos, e sua mais tradicional manifestação que é essencialmente árabe , com ritmos separados por pausas muito curtas. Esta característica acompanha tanto as canções quanto as peças instrumentais.

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Dança Oriental Clássica A guitarra flamenca, principal instrumento deste estilo de música, se desenvolveu a partir do alaúde, o clássico instrumento da musica árabe. O alaúde que provê a melodia e também o ritmo, é o protótipo sobre o qual a base teórica da música árabe se baseia. É feito de uma única peça de madeira. Através da Espanha mourisca, o alaúde encontrou seu caminho no resto da Europa, tornando-se mais tarde a guitarra que hoje conhecemos. Para examinar a música de todos os países árabes seria necessário um longo livro e talvez o tempo de uma vida. Neste texto residem apenas informações gerais sobre o estilo da música oriental, exemplificado pela música Egípcia, que tem absorvido a maior parte das mudanças através dos anos, e é a que se conecta diretamente com os solos usados nas danças femininas. A música oriental inclui muitas tradições do Iraque ao Egito. É difícil fazer a distinção entre música clássica e música popular. A música clássica é um refinamento da música folclórica. A forma menos sofisticada ou chamada folclórica é a música que encontramos no norte da África e também no Oriente Médio, que acompanha danças tradicionais como o Shickhatt no Marrocos ou a dança Gawazee no Egito. Mulheres reunidas para celebrar poderiam produzir música apenas batendo palmas e usando instrumentos simples de percussão como Bendir ou Daff para acompanhá-las. O sincopado é tocado usando diferentes formas de bater palmas. As mãos em concha produzem um som de baixo enquanto as palmas usando as pontas dos dedos contra a palma da mão, acabam produzindo um som claramente mais agudo. Esta riqueza e elaboração nas palmas são uma das características especiais da música do norte da África. O tambor único tocado com batões em lugar das mãos e o “Tabel baladi” um tambor enorme com dupla face que fica pendurado numa tira , ao redor do pescoço do músico. Seu som grave e profundo fez dele um instrumento muito popular em diversos tipos de celebrações, como procissões, casamentos e festas públicas religiosas ou não. O instrumento rítmico da música árabe é o Derbak ou Darabuka (África) chamado tabla no Egito. Este instrumento produz uma - 17 -

Najwa Zaidan Cia de Dança e Arte Oriental sonoridade intensa e, quando nas mãos de um músico talentoso, o mais sutil dos embelezamentos para a música. A música moderna oriental, tem sido influenciada de diversas maneiras pelo Ocidente. Em alguns pontos estas influências são bem vindas, e em outros não. No Yemen músicos que tocam peças tradicionais são altamente respeitados enquanto que os que usam a influencia ocidental, são deixados de lado.

Por outro lado, Líbano e Egito tem aceito enormemente as influências ocidentais em sua música, pela diversidade que oferecem. No Egito, a influência ocidental, teve lugar através das tentativas do país de se modernizar. No final do século 19, foi o momento deste florescimento, que teve grande impacto na mídia e foi um acontecimento concentrado nas grandes cidades. O Cairo é o exemplo perfeito. Desde o final do século 19, novas escalas melódicas, padrões métricos e tipos de composições diferentes foram absorvidos dentro da musica egípcia, enquanto a variedade de instrumentos era enriquecida pela presença de novas possibilidades e as orquestras aumentaram em tamanho e diversidade sonora. O tabla, originalmente um instrumento baladi, entrou na orquestra apenas após o final da segunda guerra. O tradicional grupo de 4 ou 5 instrumentos cresceu até o tamanho de - 18 -

Dança Oriental Clássica orquestra que podemos ouvir hoje em dia. Gradualmente outros instrumentos foram aceitos dentro da orquestração, vindos do Ocidente, como por exemplo: os pratos metálicos, herança das bandas militares, metais, violino, violoncelo e órgão eletrônico também passariam a fazer parte das orquestras egípcias.

Quanto maior o número de instrumentos e a sua variedade, mais fácil se torna criar uma rica sonoridade. Música ganha nova textura, com dominação exclusiva de certos instrumentos, dependendo do efeito desejado em certas partes da música. Os percussionistas produzem uma ornamentação mais refinada dos ritmos e a música que um dia foi absolutamente improvisada ganha então uma estrutura melhor definida.

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A típica estrutura de um show O nome dança do ventre parece ser uma troca de nome para esta arte tradicional apesar de ser amplamente utilizado hoje em dia. Em árabe, o nome tradicional de dança é Raks El Shark, que traduzido quer dizer Dança do Leste ou Dança Oriental. É uma arte para ser apresentada no palco e com uma orquestra de música ao vivo. Em sua forma ideal, seria apresentada sempre contando com músicos de qualidade e o grupo compreenderia uma gama de instrumentos variados; na sessão de percussão teríamos uma variedade de derback, daff, violino, órgão elétrico, rabab, alaúde, flauta, e até mesmo guitarra elétrica. Uma típica rotina de dança oriental consiste em pequenos trechos de música, variando em ritmo e melodia mas formando um conjunto coeso e obedecendo a uma estrutura estabelecida. Esta estrutura pode variar um pouco de rotina para a rotina mas é bastante consistente no uso de ritmos específicos para diferentes partes da dança e para os modelos de transições entre essas partes. Vamos ver como seria a estrutura tradicional: A dançarina entra no palco com um ritmo 2/4 que pode ser Malfouf, por exemplo, deslizando com o seu véu, acima da cabeça, utilizando espaço e conhecendo sua disponibilidade para a dança, apresentando a si própria e cumprimentando o público. Seu deslocamento pode ser somente andando ou utilizando passos ao mesmo tempo. Se a música é mais complicada ela pode coreografar alguns movimentos com véus, giros e acentos. A sessão de Malfouf termina depois de alguns giros e a preparação da bailarina através de fortes acentos com o quadril que assinalam a transição desse ritmo para alegre maksoum. Agora é o momento da dançarina mostrar o que pode fazer com seu quadril, ela alterna movimentos estacionários com deslocamentos acentuados e cheios de vida. O temperamento da música muda abruptamente quando a melodia do maksoum termina e é substituída por um único instrumento que inicia um lamentoso solo ou taksim. Agora a bailarina - 20 -

Dança Oriental Clássica muda seus movimentos para vagarosas ondulações e arredondadas linhas serpenteantes, alternando-os com pequenas trepidações e isolamentos, tornando a dança altamente entorpecedora. Esta é a parte enfeitiçante e sensual da dança, cheia de curvas, tremidos e ondulações. A próxima parte é chamada de taksim beledi e desabrocha para fora do taksim gradualmente construindo uma tensão dinâmica entre o padrão de perguntas e respostas entre o instrumento responsável pelo taksim e a percussão. A dançarina reflete as pontuações musicais através de pronunciados isolamentos corporais. Gradualmente os acentos musicais progridem para um forte e quente ritmo baladi que depois se transforma num saltitante e rápido falahi 2/4. Baladi e falahi podem se alternar para a frente e para trás até finalizar com falahi que desembocará no solo de percussão. Para muitas pessoas o solo de percussão é a parte mais excitante da rotina. A bailarina então abandona todas as paradas e realmente começa a suar na medida em que mostra todo o poder de seu quadril com acentos e isolamentos cada vez mais fortes e expressivos. Por último vem a finalização, seguida de uma repetição do tema de abertura com a qual ela se despede do público com um floreio. Este é um exemplo muito simplificado da rotina de um show que pode sofrer diversas variações ao sabor dos músicos e da bailarina responsável por ele. O ritmo de abertura pode ser um masmoudi, por exemplo ou baladi; uma entrada com malfouf pode evoluir imediatamente para um taksim; ou um ritmo turco chiftetelli pode entrar no lugar deste solo. Uma única canção pode conter diversos ritmos diferente seguidos diferentes um do outro para depois retornar à estrutura inicial. Uma longa rotina pode conter diversos takisims-baladi e falahi entremeados dentro das melodias mais rápidas, até finalizar no taksim-baladi que propicia o solo de percussão final. Às vezes nem há um solo de percussão ao final, nada é obrigatório. Não importa o modelo; as muitas mudanças em ritmo, melodia, tempo e instrumentos oferecem abundando material para a dançarina mostras sua especialidade e interpretação dessa complexa e multifacetada forma de dança. - 21 -

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Quesitos fundamentais a serem observados em sua Dança

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Dança Oriental Clássica

Como avaliar sua Dança do Ventre Este artigo tem por objetivo oferecer informações úteis para nortear seu caminho durante o desenvolvimento e a manutenção da sua qualidade na dança. Não se angustie se, num primeiro momento, ele lhe parecer árido demais. Com o tempo perceberá que as informações são simples e facilmente digeríveis. Sugerimos que você o imprima para lê-lo diversas vezes, pois existe uma gama de informações preciosas nas linhas abaixo, difícil de assimilar em uma única leitura. A idéia é esta: oferecer-lhe diretrizes e embasamento. Você vai se surpreender com os resultados a longo prazo. Esperamos ser de alguma ajuda para você que está trilhando seu próprio caminho dentro dessa arte. O resultado abaixo envolve três décadas observando, estudando e aperfeiçoando aquilo que chamamos, desde o início da Khan el Khalili, de "A Arte da Dança do Ventre". Portanto, prepare-se para uma jornada! Se observar estes princípios, sua dança nunca mais será a mesma. Pode acreditar!" "Aceite o fato de que nem todos os dias você vai estar leve para dançar como gostaria." O começo de tudo O sonho de qualquer bailarina é manter uma platéia presa e atenta a seus movimentos, do começo ao fim de uma apresentação. Se seu objetivo, ao entrar em cena, é apenas esse, algo estará perdido. Agilidade e qualidade técnica são pontos extremamente importantes, mas não são os únicos a serem observados. A naturalidade ao dançar aliada a um bom preparo artístico são a garantia de seu carisma em cena. Existem muitos caminhos para seu desenvolvimento, pois cada mulher é um - 23 -

Najwa Zaidan Cia de Dança e Arte Oriental enigma. O estudo da dança e a intimidade consigo mesma criam, ao longo dos anos, um panorama intrincado e rico que vai transparecer em sua dança. Alguns pontos a serem observados: Dinâmica A dinâmica diz respeito a variedade de nuances e diversificação de momentos em sua apresentação. Você pode favorecer a concentração do público através da correta utilização da música em seus diferentes caminhos. Sua interação com o som a transforma no exemplo visual daquilo que é apreciado por nossa audição. Se, porventura, optar por ignorar as modificações sonoras que lhe são oferecidas, sua apresentação se tornará homogênea e linear, e possuirá poucos atrativos para segurar a atenção dos espectadores. A previsibilidade de seus movimentos nunca será um fator de atração, mas de dispersão. Muitas vezes podemos perceber uma grande diferença de estilos ligada à personalidade de cada bailarina. Uma pessoa com alta sensibilidade e dotada de gosto pelo sensorial terá uma dança mais calma e delicada, seu objetivo ao dançar, provavelmente, estará conectado à necessidade de expressar sentimentos mais profundos. Pessoas fortes e voluntariosas tendem a um estilo assertivo e gosto por músicas mais suntuosas ou marcantes, demonstrando sua imposição e energia e favorecendo a visão do poder durante as apresentações. Logo, percebemos que "não é possível brincar com fogo sem se queimar!" Para atingir o equilíbrio, devemos nos lembrar que, em primeiro lugar, antes de nosso estilo pessoal, os humores de nossa apresentação devem ser ditados pela música que nos guia e não por nosso gosto individual. Claro que cada uma de nós terá uma forma única de dizer o mesmo, mas sempre respeitando a intenção do compositor que criou a peça. Dentro de uma música clássica, por exemplo, as falhas de dinâmica soam absurdamente claras. São peças criadas de forma diferenciada, com um número maior de - 24 -

Dança Oriental Clássica instrumentos e, conseqüentemente, com mais riqueza de possibilidades para a executorabailarina. Cabe a nós a preparação necessária para poder aproveitar tudo o que a música nos oferece. Normalmente, uma obra clássica tem muitos momentos diferentes, alguns suntuosos, outros melancólicos e dramáticas finalizações. Cada um deles convida para uma interpretação única. Para estarmos tranqüilas durante a leitura dessa música, não podemos ter dúvidas básicas sobre técnica ou ritmos. Um repertório rico em passos e variações é solicitado, e nosso corpo responderá automaticamente aos estímulos que o som oferece. A Dança é viva A dança é uma arte viva e, portanto, muda como você, a cada ano. Ao adquirir novos conhecimentos ou passos, tudo se altera, incluindo a forma como se trabalha a dinâmica. Sendo a dança uma forma de expressão sensível, ela é permeável a suas próprias flutuações de humor. Tudo pode influenciar em sua dança. Sabendo disso antecipadamente, vale a pena preparar-se. Queremos dizer, nos momentos em que a fragilidade se instala, você terá outros instrumentos para proteger a dança, se esta for sua opção profissional. Se você for bailarina profissional, não há como fugir da raia. Os grandes auxiliares nestas situações são o conhecimento técnico e a experiência de palco. Assim munida, pode enfrentar um dia complicado apresentando a mesma qualidade de dança que oferecería se tudo estivesse bem. Por dentro, você pode até saber que aquilo não foi o melhor, mas o público nunca perceberá. O Deslocamento Espacial Ter noção do espaço parece simples, mas não é. - 25 -

Najwa Zaidan Cia de Dança e Arte Oriental O que faz com que um gato passe numa fenda pequena de um portão? Seus "bigodes" indicam o tamanho da fenda a ser atravessada. Cortando-os, você tira-lhe toda a noção espacial. Esses pequenos fios garantem tamanha precisão, que o cálculo é feito em fração de segundos, enquanto ele está correndo, por exemplo. Então ele pula e passa de forma astuta. Deslocar-se requer mais que técnica e elegância. Requer criatividade! De posse dessa noção espacial, você executa as evoluções no momento certo e no lugar certo. Permita que todo o público possa apreciar sua apresentação e não apenas uma parte dele. Privilegiar apenas um segmento de espectadores é uma das grandes falhas encontradas nas apresentações. Nunca desmereça uma fração de seu público. Seus olhos devem estar atentos a cada ponto de sua área coreográfica, seja ela uma sala ou um palco. Acostume-se a medir, com os olhos e a sensibilidade do corpo, o espaço a sua volta. Muitas vezes dançamos perto das pessoas. Nossa sintonia fina deve, ao menos, pressentir até onde podemos nos aproximar sem tornar inconveniente a pequena distância entre esses pontos. Como passear entre as mesas, quando numa festa os convidados estão dispostos dessa forma? Como nos livrar de alguém que já bebeu um pouco além da conta e esqueceu que não é um rei ou um paxá? Como medir o tempo certo de olhar, sem intimidar ou criar constrangimento? O deslocamento bem trabalhado nos oferece liberdade de movimentação e elegância para fugir de situações embaraçosas sem dar o mínimo indício de desconforto a quem quer que seja, em especial às mulheres presentes. Giros e Eixo de Equilíbrio Os giros executados na dança estão diretamente ligados a seu "eixo de equilíbrio". Pessoas que não têm esse eixo desenvolvido perdem a noção enquanto estão girando e acabam saindo do ponto onde estão pisando, pendendo para os lados. Durante os giros, é necessária a elegância e a simetria dos braços e pernas. Quanto mais impecáveis eles forem, maior a facilidade dos giros. - 26 -

Dança Oriental Clássica A noção de eixo central é sempre trabalhada em dança acadêmica, não importa a área escolhida: ballet clássico, moderno, contemporâneo ou jazz. O giro sempre está presente em cada uma das vertentes da dança. Se você tem uma professora ativa e habilidosa nos giros, pode solicitar-lhe ajuda no desenvolvimento de sua própria habilidade. Se esse não é o seu caso, procure por uma escola de ballet conceituada e entre na classe de iniciantes. Com certeza o desenvolvimento dessa técnica irá lhe auxiliar no reconhecimento de seu centro de equilíbrio e favorecerá diversas facetas existentes na dança oriental. Dentro do trabalho com véus, por exemplo, os giros são fundamentais. Para os deslocamentos, são essenciais. A Emoção Paralelo a tudo o que foi dito até agora, corre a emoção. A expressão de seus sentimentos dentro da apresentação não acontece apenas pelas "caras e bocas", ou pelo famoso "sorriso automático" estampado no rosto. Deixando de lado regras pré-concebidas e formatadas, o caminho da expressão dentro da dança se passa " dentro de você". Se você não se permite "sentir", não haverá espaço em sua arte para expressar a sua emoção. Ao acontecer a entrega, estabelece-se uma ligação entre o público e aquela que dança. O significado dessa interação é difícil de ser explicado, mas traz algo mágico. Por alguns instantes não existe divisão entre nós. Cada bailarina sentirá de uma forma diferente o impacto dessa comunicação sensível, mas temos certeza de que a "marca emocional dessa conversa musical" deixará lembranças em todas elas. Por vezes, o caminho para a entrega emocional será propiciado pelo instrumento solista dentro de uma música: um violino triste e angustiado, o som de uma flauta suspirando e chamando por alguém, um choroso alaúde dedilhando interminavelmente acerca da tristeza do amor perdido. Estimule sua sensibilidade ouvindo música, tente absorver as impressões - 27 -

Najwa Zaidan Cia de Dança e Arte Oriental deixadas por ela em você. Que instrumento lhe inspira mais, qual lhe provoca tristeza, qual lhe convida para o silêncio? Fuja da superficialidade, mergulhe dentro dos sons e imagine que seus movimentos devem ser a forma visual daquilo que ouve. "Qual o encanto que exerce uma ópera?" Cenário, luz, figurino, uma orquestra primorosa, os cantores líricos impecáveis e tudo preparado para oferecer uma viagem sonora e visual para o público: uma estrutura enorme e perfeitamente orientada para falar direto ao nosso coração. Quando você menos espera, a ópera introjetou o sentimento em você. Guardadas as devidas proporções de grandiosidade e riqueza, deve-se preparar tudo, única e exclusivamente, para fazer vir à tona alguns segundos de emoção. Apenas estes instantes fazem valer sua noite ou seu final de semana. Serão lembrados para sempre e, provavelmente, não se apagarão de sua memória. Lembro-me de um momento pessoal... Estava eu no Teatro Municipal de São Paulo para assistir a uma ópera sobre uma saga grega: Xerxes. Isso aconteceu há mais de 15 anos e, para mim, parece que foi ontem. Se fecho os olhos, ouço novamente o tenor que representava Xerxes, sua voz preenchendo o teatro, fazendo meus olhos encherem-se d'água. Aquilo foi tomando uma proporção dentro de mim que, por um instante, sentia que iria transbordar completamente em prantos... de felicidade! Compreende o sentido da emoção? Ela vai provocar você durante milhares de vezes na vida, esperando sua reação. Quanto mais suscetível às emoções, mais aguçada será sua sensibilidade. Quanto mais emoção a bailarina tiver dentro de si, quanto mais profunda sua entrega, o jogo eterno das emoções fará sua parte. E você não será mais uma bailarina, mas sim uma mensageira da arte e da sensibilidade. Alguém que oferece vida através de movimentos e beleza. A Expressão Facial "O rosto é o retrato da alma." - 28 -

Dança Oriental Clássica

Como traduzir expressão facial? Não é algo que se ensine em sala de aula. Podemos dizer que a expressão do rosto é decorrente da emoção. O que você sente ao dançar pode ser visualizado pelo público através de seu rosto. Seus olhos podem denunciar qualquer coisa que esteja passando por sua cabeça no momento da dança: insegurança, medo, indecisão, tranqüilidade, força e afetividade. A incontável lista de possibilidades está guardada em sua face para dramatizar ou comunicar a quem lhe vê e mostrar a forma como você recebe a música. Desenvolva, devagar e sem pressão, essa parte da dança. Procure no som as pistas para sua expressão. Que sentimentos brotam ao ouvir determinada canção? O que lhe diz sua intuição e sensibilidade? Um repertório musical sempre renovado e atual é o melhor estímulo para a diversidade. Acostume-se a ouvir diversos estilos de música, aprecie as diferenças, descubra os pontos mais importantes de cada grupo musical e procure, através das similaridades e dos detalhes diferenciados, desenvolver uma leitura pessoal para cada um dos estilos. Como seria ter que dançar a mesma música por anos e anos? A renovação é necessária para as células e para o cérebro. Enjoou? Guarde o CD até sentir saudades da música. Não a use por falta de opção. Mude suas músicas constantemente para renovar sua emoção. Presença de Palco e sua Finalização A noção de palco, só o tempo vai lhe conferir. No começo de nossa experiência como bailarinas, geralmente o palco nos apavora, e saber que há público sedento de apresentação se parece mais com um pesadelo que com um sonho.

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Najwa Zaidan Cia de Dança e Arte Oriental Em primeiro lugar, tome seu espaço e acredite no direito de utilizá-lo. Seja qual for o lugar oferecido para que sua dança aconteça, as pessoas que lá estão aguardam exatamente por isto: uma bela apresentação de dança. De certa forma, elas estão preparadas para receber o que será oferecido e estão influenciadas positivamente para assistir ao espetáculo. Tudo o que você tem a fazer é relaxar e mostrar o que organizou para o momento. Lembre-se de olhar e se dedicar a todo o público. Quando dizemos isso, é para informar que seus movimentos deverão ser direcionados, de forma equilibrada, para todos os lados que tenham olhos direcionados a você. Não se esqueça de um pedaço da sala ou do teatro apenas porque parece menos cheio ou animado. Cada pessoa presente merece sua atenção de forma igualitária e sem predileções aparentes. A finalização deve ser absolutamente precisa. Qualquer engano a esse respeito retira grande parte de sua força dramática. Imagine sua apresentação como uma história que tem começo, meio e fim. Você se interessaria por ler ou ouvir uma história que não termina? Da mesma forma é a sua dança: o final coroa tudo o que aconteceu antes. Ele é a chave que fecha, de fato, a porta que se abriu aos primeiros acordes da música. Recordando sempre a fidelidade que devemos à música. Nosso corpo deve encerrar em forma de movimento as impressões sonoras que são recebidas. Termine junto com a música, nunca antes ou depois. Seu ouvido deve ser estimulado com os mais variados sons e, principalmente, com os acordes finais. Tranqüilidade e segurança em cena É perceptível, mesmo para o leigo, a insegurança da artista numa dança. Seja num olhar de soslaio ou de dúvida, num passo sem a medida certa e a percepção deste, ou na indecisão dentro de uma seqüência. Para adquirir segurança, uma de nossas metas passa pelo domínio técnico.

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Dança Oriental Clássica De certa forma, a tranqüilidade estará sempre ligada a ela. O conhecimento adquirido com estrutura propicia a calma necessária para sua permanência despreocupada em cena. Ter um estudo baseado no improviso também ajuda, e muito, seu desenvolvimento. Trabalhando alerta e sem imprimir força desnecessária em seus passos, oferecendo variações que fluem naturalmente e obedecendo às nuances propostas na música, seu caminho nasce sem esforço e tudo acontece como parte do todo. Você e a música passam a ser uma coisa só. Não se esqueça do que foi mencionado acima acerca da dinâmica: dançar tranqüilamente não significa dançar de forma tediosa. Hoje em dia, no Egito e Líbano por exemplo, praticamente todas danças são coreografadas. Pessoalmente, sempre fui um pouco reticente com relação à criação de seqüências fixas para apresentações, mas existem alguns fatores que devem ser levados em consideração. Um deles seria o caso específico de um show de uma hora ou mais que se repete 6 vezes por semana. Nesse caso, vale a pena preparar um programa fechado que garanta a qualidade de sua performance, mesmo quando você não vive um de seus melhores dias. Quando sua vida profissional é baseada em apresentações curtas, existe maior liberdade de ação e a opção pelo improviso dirigido parece muito mais estimulante do que a simples execução de coreografias prontas. Para mim (Jorge), coreografias limitam a emoção. Você não pode dar o melhor de si numa música que já dançou exaustivamente em ensaios. Torna-se maçante e artificial para você. Pense no caso de Mick Jagger cantando "Satisfaction". Ele já faz isso exaustivamente desde o início dos anos 60. Você acha mesmo que ele canta com "satisfação"? Tem que cantar, pois pedem, mas para o artista, a emoção já se diluiu há muito tempo. O que existe é uma coreografia cênica, uma improvisação dirigida. Improvisação Dirigida Chamamos de improvisação dirigida o estudo detalhado de uma música, com diversas repetições práticas de dança ligadas à música escolhida. Depois de algum tempo estudando, - 31 -

Najwa Zaidan Cia de Dança e Arte Oriental você treina suas reações de acordo com cada flutuação que se apresente, e seu corpo reage adequadamente aos momentos, diferenciando a apresentação em harmonia com os sons que se apresentam. De certa forma, a intimidade com a música lhe oferece calma e tempo para definir o que usar e quando. Os momentos dramáticos e cruciais já estão marcados dentro de seus ouvidos e, de posse desse conhecimento, poderá escolher entre diferentes opções de passos, previamente testados, aquele que lhe parece mais apropriado. O fato de ter tentado outras vezes dançar a mesma peça, enriquece seu repertório de variações. Assim, mesmo dançando a mesma coisa mais de uma vez, estará apta a oferecer uma versão fresca, de acordo com suas emoções naquele exato instante. Aspectos importantes para um bom resultado em cena: · Feminilidade claramente assumida. Não se esqueça, ao dançar, que o charme é fundamental na dança oriental. Não há mal algum em exercitar sua delicadeza e elegância em cena. Toda mulher possui dentro de si facetas nascidas em diferentes fases da vida. Em princípio, essas variadas expressões deveriam ter espaço dentro de nossa dança para se manifestarem livremente. Dessa forma, em algum momento visualizamos a mulher, em outros uma menina: diversas faces pertencentes a apenas uma pessoa. Quando assumimos nosso papel feminino de forma ampla e verdadeira, não corremos o risco de ofender ninguém. A sensualidade presente na dança faz parte de sua natureza e, se bem direcionada, não agride nunca. · Cuidado esmerado com seu traje e produção visual. Não se iluda ao pensar que os pequenos defeitos em sua roupa não serão notados, e que aquela lantejoula faltando passará desapercebida. Como bailarina, você alimenta o público de diversas maneiras. Todos os sentidos são estimulados por meio dos sons, das cores, do perfume que usa ao dançar, de sua roupa, e de sua aparência. Tudo faz parte do contexto. Cuide com esmero de seu visual. Não temos que ser magras como uma top model. Entretanto, nem mesmo no Egito, que no passado - 32 -

Dança Oriental Clássica tinha predileção por bailarinas generosas em suas curvas, essa posição é mantida. Atualmente, há preferência por corpos mais delineados, ainda que longe dos padrões espartanos das modelos internacionais. Convém pensar a esse respeito. Toda profissão tem suas exigências; a nossa não é diferente. · Conhecimento de folclore. Toda tradição traz consigo grandes riquezas, e isso não se modifica na dança oriental. O folclore dá um colorido especial a sua dança e funciona como elemento surpresa em suas apresentações. Dentro de um show longo, por exemplo, a apresentação folclórica cria momentos especiais e leves, dando a chance de alargar a visão do público acerca dessa arte. · O trabalho com os véus. Apesar de a utilização prolongada de véus na dança não fazer parte das tradições dos países árabes, é difícil deixar de lado esse elemento tão cenicamente mágico. Como todas

as

outras

possibilidades

presentes na dança, o uso dos véus depende de treino e apuro técnico: como utilizá-lo em suas entradas e saídas de cena, que força imprimir para obter o melhor resultado, qual a velocidade exata para criar o efeito que transformará a dança em sonho. Em nossa opinião, o véu também desempenha um papel fundamental entre a saída de uma bailarina e a entrada de outra. Levado pelos movimentos sinuosos e envolventes do véu, o público se distrai e apaga, momentaneamente, a imagem da bailarina anterior, limpando a memória para receber a próxima performance. · Agilidade e técnica de quadril para percussão e partes lentas. O quadril, dentro da dança oriental, tem o papel fundamental de ler a música em todas as suas variações. Não importa se num momento o instrumento solista é o alaúde e, num outro instante, o que se pede é a leitura dos ritmos ou frases de percussão. Tudo é essencial e não temos como ignorar um - 33 -

Najwa Zaidan Cia de Dança e Arte Oriental aspecto em detrimento de outro. A evolução dessa parte da dança se dá de forma gradativa e cresce na mesma medida em que o estudo se aprofunda, tanto em termos musicais quanto técnicos. O aprendizado vai abarcar diversas áreas na busca do domínio de nosso corpo. Precisamos sentir o que fazemos, pois o caminho desse domínio passa pela compreensão. Não há atalho mais curto para se aprender: o único jeito que conhecemos se traduz em aulas, prática e perseverança. · A simetria dos braços e elegância das pernas. Os braços são a moldura de sua dança. Se bem colocados, ninguém nota sua presença; mal colocados, estragam todo o resto. Pense neles como as molduras dos quadros: o mais importante é a pintura, mas nenhuma obra de arte que se preze é colocada em exposição sem uma moldura apropriada. Experimente o estudo das formas com um espelho que lhe ofereça a dimensão de seus desenhos. Nesse caso em especial, o espelho é um ajudante maravilhoso. Seus olhos crescem em técnica antes de seu corpo; portanto, confie em seus parâmetros visuais. Se olhar para o espelho e não gostar do que vê, pode ter certeza de que algo está muito errado. Deixe-se levar por seu senso estético, pois, nesse caso, ele é tudo o que você precisa. A simetria dever ser observada a fim de garantir harmonia e apuro na visão de sua dança como um todo. A movimentação assimétrica e descuidada revela falta de limpeza e tira a concentração do que é mais importante. É incrível como os pequenos erros se tornam enormes quando nos apercebemos deles. Se puder evitar esse desconforto, para que conviver com ele? No que diz respeito às pernas, seu bom senso também é chamado ao serviço. Dançar com as pernas abertas demais prejudica terrivelmente sua linha e a execução dos passos. Com distância entre os pés seus esforços se multiplicam e não há garantia alguma de alinhamento. O equilíbrio também está ligado à forma como as pernas trabalham durante a dança. Essas constatações, por si só, já são um excelente motivo se tomar o devido cuidado.

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Dança Oriental Clássica Hoje as roupas oferecem mil possibilidades para exposição das pernas. Algumas bailarinas preferem ser discretas e usam roupas completamente fechadas, outras abusam das aberturas e chegam a causar polêmica com a ousadia dos modelos. Cabe a cada uma de nós exercer escolhas de acordo com os parâmetros que temos a nossa disposição. Dependendo do evento e do público para o qual vamos nos apresentar, podemos variar nosso figurino. O gosto pessoal também interferirá na seleção. De qualquer forma, nenhum tipo de figurino poderá esconder os defeitos decorrentes de má postura ou colocação errada das pernas. A sensualidade presente na dança deve andar lado a lado com o noção de estética e bom senso. A beleza natural pode e deve ser mostrada. Em cada país encontraremos um padrão diferenciado. No Egito, temos todos os tipos de exemplo, desde os figurinos mais modernos e nada parecidos com o que chamamos de "traje típico" até os mais tradicionais, que nos fazem lembrar os filmes das décadas de 40 e 50. Posicionamento e uso dos joelhos Mantenha suas pernas próximas e, no caso de deslocamentos, dê preferência ao uso de meia ponta alta. Esses cuidados fornecer-lhe-ão maior agilidade e garantia de uma movimentação delicada e elegante. Outro cuidado que deve ser lembrado diz respeito ao posicionamento de seus joelhos durante a dança. Eles não devem se manter flexionados, pois essa colocação não lhe auxiliará em quase nada. Servirá apenas para colocar mais força sobre a articulação dos joelhos e oferecerá um esforço adicional e desnecessário para essa região. O desbloqueio do quadril está relacionado ao controle de movimentos pequenos e delicados e à habilidade de fazer trocas de peso alternadas, e não ao uso de força e à imposição de grandes desenhos para clarear o que está sendo feito. Musicalidade

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Najwa Zaidan Cia de Dança e Arte Oriental Como definir musicalidade? Para a bailarina ser musical, poderíamos dizer, por exemplo, que sua dança deveria ser harmoniosa. Com o que estabelecer esta harmonia? O som é nosso caminho, apenas ele pode determinar a ordem, velocidade, humores e nuances de nossa execução. O ritmo nasce conosco e está presente em nossa vida de forma natural. Nosso coração tem um ritmo próprio que se alterna de acordo com as experiências que passamos. Nossa respiração também obedece a estímulos externos, mas se mantém em níveis prédeterminados a fim de garantir a oxigenação necessária ao bom funcionamento do organismo. Com o ritmo musical não poderia ser diferente. Dentro da dança, essa divisão marca nossos passos e mudanças, definindo finalizações de frase e troca de humores. A qualidade como bailarina passa pelo crivo da musicalidade. Sendo eficiente na leitura sonora do que é proposto, pode-se libertar para sentir o que é dançado. Um pianista não tem o direito de alterar, só por gosto pessoal, o andamento de uma peça escrita há anos. Ele deve seguir o que está sendo solicitado pela partitura. Assim também é conosco, bailarinas. Se a música pede deslocamento, devemos responder com ele; se ela passa por um instante melancólico, que assim o seja: usaremos nossa capacidade dramática para expressar a melancolia contada no som. Se pudermos usar essa sentença como guia, creio que estaremos suficientemente inspiradas para todo o necessário no desenvolvimento de nossa musicalidade. O estilo pessoal: sua marca registrada na dança O seu estilo pessoal depende de tudo o que já viu, ouviu e sentiu até hoje, desde o início de seu contato com a dança. Vemos o desenvolvimento de sua "marca", como a conseqüência esperada de seu crescimento e maturidade profissional. Devemos observar profundamente todas as grandes bailarinas que se desenvolveram antes de nós. Cada uma delas terá um papel fundamental em nossa formação. Algumas serão nossas musas inspiradoras, outras a perfeita indicação do que não queremos para nossa - 36 -

Dança Oriental Clássica própria trajetória. Cada uma dessas mulheres desempenhou um papel dentro do cenário de dança e transformou a própria vida, assim como transformamos a nossa. Ao copiar grandes bailarinas, estudando seus diferentes estilos e formas pessoais de variação, desenvolvemos novas possibilidades. Num primeiro momento, tentamos realmente duplicar aquilo que vemos no vídeo ou em aula. Estudamos até que a qualidade de nosso movimento se aproxime daquela que foi nosso motivo de estudo. Isso, por si só, já é um árduo caminho. Depois de algum tempo você perceberá que aquele passo foi incorporado a seu repertório de movimentos e adquiriu características levemente diferenciadas. Nesse momento, seu estilo pessoal está nascendo.

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Najwa Zaidan Cia de Dança e Arte Oriental

Como av aliar sua própria Dança

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Dança Oriental Clássica

Como avaliar sua própria dança sob um olhar mais detalhado Se você quiser avaliar sua dança profissionalmente, atente para estes critérios: eles definem pontos a serem trabalhados de acordo com cada estilo escolhido em sua performance Alguns são pertinentes a todas os estilos. Perceba que o que está presente na análise de uma peça clássica serve para todas as outras também. Relação de critérios por partes da apresentação: Entrada 1 - Entrada, qualidade de entrada, calma e eixo 2 - Trabalho com véus, desenvolvimento e habilidades previamente estruturados 3 - Momento da entrada apropriado ou não. Toda música clássica tem o momento adequado de entrada, portanto a escolha da bailarina exemplifica sua preparação e conhecimento. Música clássica 

- Deslocamentos, respeitando a dinâmica e solicitação sonora.



- Expressão facial e capacidade dramática



- Aproveitamento espacial



- Base dos pés e linha das pernas. Elegância e qualidade durante o movimento.



- Diferença entre contagem de tempo e interpretação musical



- Noção das mudanças de humor na música e respeito as frases melódicas. Como aproveitar da melhor maneira o arranjo orquestral, e os solos presentes na peça musical.



- Qualidade da meia ponta – Linha postural



- Definição e limpeza na execução dos passos - 39 -

Najwa Zaidan Cia de Dança e Arte Oriental 

- Os braços como moldura de seu corpo – Harmonia e delicadeza. Concepção da movimentação dos mesmos e dinâmica dentro da dança.



- Qualidade da emenda entre os passos – quebra ou fluidez



- Giros



- Diversidade no repertório de passos



- Leitura poética da melodia – redondos, oitos e ondulações



- Decomposição de passos e criatividade



- Construção da finalização

Variações na qualidade de execução: Efeitos que podem ser acoplados aos passos dependendo da forma como a técnica é utilizada: 

- Diferença entre o forte e o fraco



- Intenso e delicado



- Grande e pequeno



- Acentos secos ou com reverberação



- Movimentos longos ou curtos



- O tamanho do som deve ser o tamanho do movimento Em outras palavras, o movimento deve ser igual em intensidade, intenção, e duração ao

som que o provoca. A procura da harmonia perfeita entre som e movimento. Seu corpo é a música em cena! Música moderna 

- Informalidade



- Expressão com o público



- Capacidade criativa mesmo quando a música é linear

Solo de percussão 

- Grau de dificuldade dos passos escolhidos - 40 -

Dança Oriental Clássica 

- Elemento surpresa



- Variações na qualidade da execução



- Relaxamento ao estar dançando



- Presença de palco

Folclore 

- Compreensão do estilo escolhido



- Escolha da musica



- Traje



- Variação de passos



- Capacidade criativa

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Créditos Pesquisa: Najwa Zaidan – Bellydancer, Teacher and Coreographer Fontes: Casa de Chá Egípcia Khan El Khalili. Artigos escritos por Jorge Sabongi e Lulu Sabongi. (2002) Disponível em: www.khanelkhalili.com.br Artigos de Lulu Sabongi, 2002 - 2010. Disponível em: www.lulusabongi.com; Sítio atual: www.lulufrombrazil.com.br Diagramação: Trainee Mariana Santos

www.najwazaidan.com [email protected] +55 11 2021-1525 / 98183-4400

Todos os direitos reservados. 2ª Edição – Julho / 2015

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