Assistencia Logoterapeutica.pdf

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“ ASSISTÊNRGIAa LOGOTERAPEIITIGA Eârora ÍSinodal

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coleção lOGOTERAPIA

ELISABETH LUKAS

© Verlag Herder Freiburg 1m' Brekgau 1985 Hcrder Frcibuxg o Basel o Wien Título or1g1n"al alernão: Psichologische Seelsorge Du'en'tos dc publicação em língua portugucsaz Editora Vozes Ltda. Rua Frci Lu1$', 100 25689 Petrópohs°, RJ Brasü

Copidcsque Orlando dos Reis Diagramação Daniel SantA'nna

ISBN 3.451.08180-6 (Ediçáo ongm"a1 alemã) ISBN 85326.0650-4 (Edição portuguesa)

DEDICADOÀ FAMÍLIA DEMUIH

Este hvro' foi composto e 1m'presso nas 0ñc1n'as gráñcas da Editom Vozes Ltda. cm junho de 1992



Sumário

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A reumamza'çao' da medicina foi iniciada através de um livro -Aerztliche Seelsarge* - de Vzkror E. Frank,1 escrito em 193,9 perdido no campo de concentraçao' de Auschwitz, reconstruído no campo de concentração de Dachau, durante as noitesfebris do entao' pns'ioneiro níZ 119104, publicado pela primeira vez em 1946 e, desde entao', aperfeiçoado através de 53 edições e 10 idiomas. 0 presente Iivro constitui uma reverência diante desta obra-pn'ma, na tentativa de complementá-la em direção a uma reumamzaç'ao' da psicologia.

' Em portuguész FRANKL, V. E. - Psz'coterapm' e sentido da vida: Fundamemos da lagolerapia e málzs'e cus'tencz'aL Tradução de Alípio Maia dc Castro. São Paulo, Quadrantc. 1973.

Prefácío dc San_dra A. Wawrytko, 9 A. A TRANSIÇAO PARA UMA PSICOLOGIA HUMANIZADA, 13 1. A busca do sentido e a saúde psíquica, 15 2. Da “psicologia profunda” para a “psicologia das alturas”, 31 3. O esquemÂa terapêutico da logotcrapia, 45 B. A EXISTENCIA PARA ALGO OU ALGUÉM, 71 1. Três rcgras básicas para a família, 73 2. accitar ñlhos com problemas, apcsar dc tudo, 93 3. A mulher que trabalhaz entrc 0 estresse e a reahza'ção, 111 4. O homem que trabalha: enlre o sucesso e a dedicação, 127 5. Sobre o Aamor e o trabalho , 134 A C. ASSISTENCIA LOGOTERAPEUTICA , 147 1. A ansiedade como desaño ao espüito humano, 149 2. A culpa como possib1h"dadc para mudança de pcnsamcnto , 168 3. Pensamentos sobre prevenção de suícídios, 185 4. Livros com poder lerapêutico, 195 5. Dignidadc humana c psicoterapia , 207

Prefac'io

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Em 1942, quando V1k'tor E. Frankl foi levado para 0 campo dc conccntração, trazia consigo o manuscrito dc um livro que contmh'a as idéias básicas de sua leoria, ma15' tarde dcnommada logoterapia. O livro cra Aerztliche Seelsorge* , que apareceu sob essc mcsmo título após a chunda Guerra MundiaL Neste m'tenm', amadureceu uma nova geração, a qual passou por ma15° transformações que dez gcrações anteriorcs. Muitas tradições desmoronarm, as hicrarquias de valores sofrerm mod1ñ'caço'es, transformaram-se as noçõcs dc h'berdadc, rcsponsabilidade, d1r'eitos humanos e dignidade humana. Essas mudanças acarretaram conseqüências ñlosóñcas c psicológicas, as quais se mamf°estaram tanlo nas salas de aula um'versitárias, como nos consullórios médicos do mundo m°teiro. A responsabd1"dadc da ñlosoña sempre é, e foi a de elaborar prm'cípios básicos sobrc como nós, scres ' N.T. Seelsorgq em alemáo, signiñca litcralmemc “preocupaçáo com a alma", “assms'téncia à alma". ou “cura d'almas". Nas religióes cns'tãs, ímplica “conduzir os ñéls' para Dcus". Rcfcre-sc à ativídadc altru|s'ta da comunidadc cristã dc cuidar de cada ser humano: on'cntar os dcson'emados, consolar os docmcs, indicar caminhos para os dcscspcrados, cnñm, acompanhar o scr humano cm todas as cuc'unstâncias da sua vida. Todas as aptidócs pcssoa¡s' e conhecimcmos técnicos dcvem serutillza'dos para mitigaras afliçóes humanas, tanto f1s'icas, quamo psíquicas c cspm"tuais. (E›nraído de (1) SlMMEL SJ, O. c STAEHLIN, R. - Chns'll¡'che Religlbn Frankfun a.M., Flsc'her, 1957. (2) DER NEUE BROCKHAUS, Wicsba-

den, 1968.) Aerzzhthe Seelsorgq ponanto. signiñca “preocupaçáo médica com a alma” ou “ass¡s'tencia médíca à alma" e Psycholothe Seelsorge, “prcocupaçào psicológica com a alma" ou “ass¡s'léncia psicológica à alma". Nesle hvro', Póychologüche Scelsorge é usado lambém no scntido de “assistência logolerapéutica".

humanos, podemos nos comprcendcr como seres humanos. Por sua vez, os psicólogos têm a rcsponsabüdade de transpor esses pnn'cípios básicos para a prática, de modo quc possamos pennaneccr seres humanos sa'os. O prcscnte lívro busca alcançar esscs d015' objetívos de mancu'a exemplaL Assun,' é apropriado que traga o título Psychologische Seelsorge (vcr nola), para fazer par com o pnm'cu'o livro de Frankl; cste marcou 0 m1"cio de sua carreüa como fundador, enquanto aquele complcmenta a obra de vida daqucle que agora já fcz oitcnta anos. Nm'guém ma15' categonza'do para fazê-lo do que sua aluna ma1s° 1m'portante, Ehs°abeth Lukas. Aparcnlemcntc, o antiqmss"'Lm'o conselho do oráculo dc Dclfos, “Conheça-se a si mesmo”, não é suñcientc. Hoje, ma15' do que nunca, é prcciso quc, rcciprocamcntc, nos rcspeitcmos como scres dotados de valor e dignidade. As conseqüências de qualquer desumamza'çâ0não alm'gem apen45' avíum'a 1m'ediala, mas desumamzam' também aquele que transforma os outros em vítxm'as. Quem costumeu'amentc fcre 0 valor e a dignidade das pessoas, acaba sc fermdo a si próprio. Frequ"entemcntc, é a falta de consideração por nós mcsmos que leva ao tratamcnlo desumano dc nossos scmclhantes. Os psicoterapeutas, de modo nenhum, estão 1m'unes contra esse podcr recíproco de deeruição da d1gm"dade humana desprezada, conforme Ehs'abeth Lukas dcscrevc cm scu texto gcniaL O problema parece ter suas raües numa antropologia ñlosóñca dcñcientc, que 1'denuñ'ca esse poder de destruição com um abls'mo lasum'ávcl entre a d1m'ensão cspm"tual e psíquica do ser humana As tcndências reduc1'oms'tas da psícologia tradicional dcsviaram cssa d1$'ciplm'a cicnüñca da cssência da cxrs°tência humana. Por outro lado, há um mov1m'ento dentro das escolas psioolerapêuticas para novamente chm1n"ar essas tendências dcgradantcs: trata-se dos prm'cípios humams'tícos da logoterapía. A dignidadc m'violável do pacíentc, que dcscmpcnha papcl ccntral no “credo psiquiátrico” de V1k°tor E. Frankl, constilui, ao mesmo tempo, a base dc seus anseios pela reumamza'ção da psicotcrapia. Para FrankL em cada sessão, 0 médico ou terapeuta devc criar um encontro sm'gular e exclusívo de homem para homem, mantendo ass¡m' a dignidadc de ambos durante todo lratamento. Pode-se até dlz'er que este encontro conslitui parte m'tegrantc do tratament0.

Através da aliança com a logoterapia, a ñlosoña obtcve a possib1h"dade adicional de serv1r° como complemcntação perfcita à psicoterapia. AñnaL temas profundos como destm'o c h'berdade,

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consciência c responsab1h"dade, cns°lência c scnlido, m'cluídos por V1k't0r Frankl no lrabalho médico-psicológico e dls'culidos tão convm°ccntcmente por Ehs'abeth Lukas nestc livro, constituem também temas centrals' da ñlosoña. Assim, ao se ehmm"ar a cegucüa cx15'lenciaJ através da logoterapia, podc ocorrcr paxalelamcnte uma corrcção da miopia metafísica no am^bito ideológico-ñlosófico, e vicc-vcrsa. O esscncial, no caso, é quc o homcm pam'cpie das c1r°cunstan^cias de sua realidade, ao ln'vés de submeter-se a elas. Exalamcnlc essa nuancc quanto à aútude m'terna dls'tm'guc um homem que percebe sua liberdadc daquele que se vê cntreguc ao seu desun'0. Por excmplo, pacicntcs que vivcm em “scrvídão” em rclação a scus scnum'cntos scntcm-sc mf'chzc's por sua própña culpa, por oolocarem-se elernamente depcndentes de c1r'cunstan^cias externas. No entanto, 0 homcm vcrdadcüamente lívre - c sábio - sabe agü dentm dos encaxgos m°evitáve15° que a vida lhe 1m°põe. Spm'oza se refcrc ao homem quc é escravo dc scus scnüm'entos como a alguém que “d61xa' dc vivcr, ao delxar' dc sofrcr”. Somenlc quem é livre para agü possui as encrgias dxs'poníve15' para buscar o scntido cm uma situação globaL Com 1s'so, dcsvia-se automalicamcntc dos objetivos dcstrutivos e d1r'igc-sc para os construtivos, quc são “plcnos dc scntido”. Ehs'abeth Lukas dcmonstra a mamf'estação psicológica dessa estratégia através dc estudos de caso trágicos, onde a renúncia à liberdade, em favor da t1r'am'a do dcstm'o, teria prontamente levado a um caos emocionaL não fosse a m'tervenção da ajuda logotcrapêulica. Ehs'abeth Lukas chega, assm,' a uma conclusão que se lornaria a qum'tcssência dc sua afumação: “A01m'a dc qualqucr cslralégia psicotcrapêuúca, mostrar a um homem o - evcntualmente derradeu'o - cspaço livre dls'ponível conslitui um ato de d1gm"dade humana!” Gostaria de am'da acrcscentar uma comparaçãoz um jogo de têms' não nos priva de nossa dignídade ao nos obrígar a respcitar as rcgras e hm1"laço'es do jogo. Ao contrário, são cssas regras c hm1"tações quc tornam o jogo poss¡'vcl, constitucm sua condição prévía, dando-nos oportunidade para desenvolvcr nossa aptidão m'dividual. De maneüa scmelhantc, a vida não nos tolhe ao colocax-nos hm1"tes 1m°utávels'. Nossa responsablll"dade consxs°te em aceitar csscs hm1"tes, 1n'tegrand0-os em nossa liberdade, para que não os superesnm'emos, nem subesumemos nossa capacidade espm"tual de enfrentá-los.

A logoterapia, e cspccialmentc a prcscntc obra dc Ehs'abcth Lukas, elucida as múlliplas p0551'b111"dades de como enfrentar o

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dcsun'o de mancüa positiva c oricntada pelo scnlido,' possibxh"dades que, cspcro, sc dHundm e sxrv'am à humam'dadc. San Diego, setcmbro de 1984.

Traduzido para o alemão por Joscph B. Fabry Dra. Sandra A. Wawrytko Professora de Füosoña na “San Díego Statc Universitty” e Professora V¡s'itanlc na “Chm'esc Culturc Univcrsity” de Taiwan

A. A TRANSIÇÃO PARA UMA PSICOLOGIA HUMANIZADA

1. A busca de sentido e a saúde psíquica

a a k.« .

¡ Amalmcntc, todos cstamos cicntcs da amcaça sob a qual se t'enoontra ahumanidadc c do futuro duvidoso do nosso meio ambienf te. Em todos os tempos, a juvcntude se revollou contra o lradicionaL buscando 1m'pctuosamente novas du"eções; porém, nunca esteve a \ juvcntudc tão 1m'pregnada de pressennm'entos sombrios como no presentc, a ponto de se aulodenommar “geração sem futuro”. No entanto, cssa d1$'posição sombria é causada apenas m'du"etamcnte pelo mcdo daquüo que de negatívo possa ocorrer no futuro. O homcm é um scr dcmasiadamenle efêmero, c cspccialmcnte míope, para se delxar' pertutbar na sua atividade cotidiana, Incsmo que possa 1m'ag1n°ar a evcnrualidade dc uma guerra atômíca, pondo üm a qualquer aspüação humana, e que se avolumem os prognósticos alarmantes sobre ambientes poluídos e cscassez de ahm'entos. Não é o medo de horrores utópicos que constittú o falor decisivo fundamental desse mal-cstar observável cm todo mund0, c que atmg'e não só a juvcntude, mas lambém cada vcz ma15' as gerações dc mcia idade e as mais velhaslo quc rcalmcntc caractenza' a “geração sem futuro” é uma sensação defalta de sentido no seu grau máx1m'o, uma perda conuhuada de scntido, ocorrendo aqui e agora, eLgdasoalphs forças para cncarar o dia de amanhã. Basicamente, cstá sc descnvolvendo uma “gcração sem scnlido”, o que é a1n'da ma15' depr1m'ente do que a 51m'ples preocupação com a sobrevivêncía dc nossa cspécie. Sc pcrdermos a basc cxxs°tcncial do “para quê”, qualquer contmuidade de nossa vida também perde seu valor.

kator E. Frankl, um dos mals' 1m'portantes psiquialras do nosso século, foí o pnm'e1r'o a comprovar a exls'lência de uma relação cstreita cntre a oríentação de sentido 1n'terna de um m'divíduo e sua saúde psíquica; até então dcsconhccida pela psicología, cssa comtatação tornou-sc a pedra angular dc uma mudança em todas as ciências humanas. Graças às suas pcsquisas, podemos hojc reconstru1r' aquele “círculo diabóh'co", quc altera, de maneüa funesta, o destm°o tanto de m'djvíduos, quanto de povos m'teu"os, e que atualmentc ocorre cm muitos nívcis. Por lcrmos conhec1m'ento a seu respeito, também somos capazcs de sugenr' possívc15' soluções a ñm dc qucbrar o tal “c1r'culo diabólico”. Embora cssas sugestões não tenham tido repercussão suñcientc nos grandes eventos da hls'tória um°vcrsal, foram uuhza"das m'tcnsamente na ajuda m°dividual prcstada pcla psicoterapia, a qual, bascand0-se na metodología de Frankl, tornou-se capu dc prestar ass¡s'tência ativa ao homem moderno em sua crise de falta dc scntido. O quc 51'gmñ'ca cntão o “01r'culo diabólico”? Trata-se dc uma cadeia causal com vários elos que sc condícionam mutuamente, ocasionando contmuas ações rccíprocas. Dc maneüa snm'phf1'cada, podemos dlz'cr que 0 fator A lcva ao fator B, por sua vez, B leva a A, dep015' o fator rcforçado A lcva a B etc. Esses mecams'mos c1r'culares são conhccidos há muito tcmpo dcntro da tcoria geral das neuroscs. No 1n1"cio, encontra-se scmprc um evento que gerou m'segurança. Por exemplo, suponhamos que, por mf'elicidadc, alguém fracassa num exame, para o qual sc prcparara sen'amcute. Esse sería 0 fator A. É possível que, diante do próx1m'o exame, ele desenvolva um medo exager'ado, uma “ansiedadc antecipatóría”, conforme dlzc'mos. Esta constitmn"a o fator B. Dcvido a um estado cmocional cada vcz mais m'tenso de cxpectativa ncgativa no sentido de novamente fracassar, essa pessoa torna-sc tão tensa e bloqueada por ocasião do próx1m'o exame, que acaba _fracassando nele também; assun', B voltou para A. Torna-se clar0, cntão, quc agora se estabeleccu, de verdade, o medo de cxames, com A 1m'ediala e novamentc m'tcns¡ñ'cando B: 0 “c1r'culo diabólico” entre ansiedade antecipatória e fracasso está fechado! Ev1'dentemente, trata-se dc um exemplo muíto 51m'ples, mas que praticamente constitui o cmbrião dc todos os mccams'mos psicopatológicos. Conforme o lcilor deve ter obscrvado, a origem está na lmh'a de cncontro entre o mundo m'terno subjetivo c o mundo extcrno objetivo, pms° a ansiedade antccipatória faz parle da cxpcriência subjctíva, cnquanto que o fracasso num exame constitui uma situação objeL-'va.

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aumenta o medo de exames

stI'uaça'o objetiva

fracasso no exame

mecanismo

circular neurótico

ansiedade = ntecipatóri .

experl'_ ência subjetiva

bloqueia a capacidade de desempenho

Há vários falores envolvidos ncssc “cu'culo díabólíco” que explicarci a seguu', por reumr' em si os grandcs problemas do nosso tempo, podcndo sua sombra rccaü em cada um de nós. No enlanlo, trata-se da mesma ação recíproca de caráter patológico entre expcriências subjelivas e realidades objetivas, cstando no scu 1n1"cío lambém uma m'segurança, e, precisamente, uma ms'egurança ems'tcncialmcnte bastantc profunda. É aquela enormc m'scgurança global do homem moderno, sua dúvida fundamental quanto à plcnitude de sentídos da vida, cuja formação V1k'tor Frankl explica da segumtc manekaz “Se me pcrguntam como explicaria a origem do sennm'ento de falta de sentido, d1r'ia 0 scgu1n'te: contrariamenle ao animaL os m'stm'los já não m'dicam ao homem 0 quc tem que fazer, e, contrariamentc ao homcm de anligamenle, as tradições não lhc d¡z'em ma15' 0 que deven'a fazcr - e agora parccc nem sabcr ma15' o que quer fazer. Assm', ou ele quer apcnas o que os outros fazem - seria o conform15'm0 (do mundo ocidental), ou elc só faz o que os oulros querem, ou quercm dele - seria o totaütarismo (dos pals'es do bloco comum'sta).” , Vcr1f1'camos, assm', que homem não mais possui a scgurança dos ms'lm'los para ag1r' e, aJém disso, foi perdendo, prm'cipalmente no nosso século, o apoio nas tradições e normas de valores transmitidas, para o quc ccrtamemc conlribmr'am as duas Guerras Mundials' e a vclocidade m'crível do progresso técnico. Isso acarretou um súbito “v421'.0 existencial", conforme foi denommado por Frankl, uma desoríemação e m'slab1h"dade, da qual irrompeu sub1'tamente, e permancceu scm resposla, a questão do scntido de toda atividadel O que ocorreu em scguida foi um simples mecanismo cücular ncuróticojov sennm'ento crônico dc falta de sentido abala a saúde psíquica do homemíjA saúde psíquica afelada freqüentcmcnte ocasiona comportam utos socia15' e m'dividuajs m'adequados, dando

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gcralmcntc lugar a um molivo concrcto para quc o medo do futuro possa sc ms'talar. Por sua ch o mcdo pcssms"ta daí dccorrente não é mfun'dado e reforça o sent1m'ento rcsignado de que todo esforç0, em úluma anáhs'e, é destituído dc sentido, fechando-sc assm o “Clr'culo díabólico”. (Vcr o c1r'culo m'tcrno na üustraçãoD neuroses de massa (crim¡nalidade, drogas, / / V suicídios, etc.)

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doença psíquica“°\f/O)^ 0/Q senti~ mento crônico de Íalta

"vazio existencial" (instabilidade, desorientação)

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"círcu|o diabólico“ do presente

componamentos sociais e indivi~ duais

destruição irracional (armamento militar excessivo, exploração, destruição l /

inadequados

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futuro

, §° /§ / c5°

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\ x "geração sem 1uturo"

A

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do futuro sc reflete numajuvcntude sem idcais e compromlss'os, que aLribuí a si mesma o nome de “geração sem futuro”. (Vcr círculo externo na üustração!) Delxan'd0 de lado os evcnlos do um'verso e vollando nossa atenção para o nível m'dividual, cncontramos paralelos nítídos com os processos ac1m'a citados. Também m'dividualmentc, qualquer ljpo de fruslração do scnlido afcta a cslabüídadc psíquica do homem, levando-o a comportamcntos quc ma15' tardc voltam-sc conlra elc como um bumeranguc, subtram'do-1hc qualqucr pcrspecliva de objelivos fuluros. Um falor relcvantc é novamente conslituído por aquela falta de dislm'ção cnlre o mundo m'terior aubjetivo e 0 mundo cxtcrior objcu'vo, quc já conhecemos a partü do esquema básico dos mecanismos cu'culares ncuróticos. Ao exammarmos melhor o “c1r'culo diabólico” anteriormcntc díscutido, vcr1f1'camos quc elc contém um c1x'o objctivo e dois subjetívos, ou scja, em dois pontos da cadeia rcvela-se a reaüdade 0bjetiva. Um dos pontos é ew'dentc, não necessiludo de csclarecnm'cntos cspecia15': trata-sc do arco entre comporlamentos m'adequados e mcdo do futuro. Dos comportamemos m'adequados decorrem, logicamcnlc, além das cxpcriências subjctivas de fraca5'so, erros e prcjuüos objetivos, desvalorcs sob várias formas. Por exemplo, quando a humanidade cfetua a devaslação das Ílorestas Lropicais, é fácü comprecnder quc haverá conscqüências chm'alológicas e ccológicas negalivas; ou quando uma pcssoa gasta todo seu dmh°elr'o em divcrum'entos, é clan quc a família lerá dívidas e perd45'. Trata-se, então, não apenas de senl1m'enlos subjelivos, mas de evídências totalmenlc rcais, as qua15' conferem um mímmo de legimidade ao medo cmcrgenle do fuluro.

Com respcilo aos evenlos do uuiverso mais amplo, podcmos acrescentar a cada um dos qualro falorcs uma palavra chave, indicando a complcxidade dc seus efcilos. Ao semimcnto dc falla dc senlido de cada um, indiv1'dualmcnlc, correspondc, a nívcl colcliv0, o “vaL1"o ex15'\lcncial” de uma “geração sem scntid0”, conforme cnfaltum"os. A doença psíquica de cada um cquivalem as neuroscs de massa da aluah"dade, com seus m'dices clevados dc crimm'alidade, dcpendência dc álcool e drog45', dcpressão e suicídios. Como comporlamenlos m'adequados, social c m'dividualmcnlc, podcmos comsiderdr', em escala mm's ampla, Iodas as ações 1r'racionais da humanidade que lêm por objelivo o dr'mamcnlo m111"lar cxcessiv0, a cxploração, a deslruição da nalurcu c da cullura. ch, e 0 medo

O oulro ponto no círculo, onde se manifesla a realidade objctiva, não é lão cvidenle assun' e foi ignorado por muilo lempo, pelo mcnos pcla psicologia. Rcfere-sc ao arco cntrc o scnum'enlo de falla dc scnlido e docnça psíquica. Para explicar essa relaçã0, precisamos nos dclcr um pouco na conccpção quc geralmcnlc se faz do homcm ü Quem é 0 homem? Há m11'ôm'os, ñlósofos e pensadores buscam uma m°lcrprclação do homem; scmprc, porém, seus projelos permancccram m'complclos. Pclo mcnos chcgou-se a alribuk ao homcm um corpo c uma AM'a, cmbora sua m'ler-rclação permancccssc misteriosamcnlc obscura. Dc acordo com a conccpção ocidcmaL o corpo represenlaria a dimcnsão malcriaL quc o homem, pela sua origcm cvoluLiva, comparulh'a com os amm'a15'; a alma, por oulro lad0, como “1m'agcm à scmelhcmça dc Dcus", assumu'1'a um

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(desesperança, resignação e revolta da juventude. etc.)

"' valor mals' elcvado, ac1m'a dc todo o rcstanlc da natureza. No mí'cio do século XX, quando, por um lado, os dogmas rehg1"osos perderam sua cstabd1"dade e, por outro, a rccém-críada ciência psicológjca cnlwu nos consultóños médicos e nos mcios acadêmicos, a noção de alma sofrcu uma súbíla mudança. A “1m'agem à semelhança de Deus” transformou-se numa “1m'agcm à semelhança do homem”, desm1'uñ'cada.' é a psique, que foi também ms°en'da na conccpção naturahs'ta. Do ponto de ws'ta cientíñco, da mcsma forma que o corpo sería uma cvolução a parür' dc orgams'mos amm'aJs', a psiquc também constituma" uma conun'uação c aperfeiçoamento cstrutural de ms'nn'los c cmoçõcs amm'als' c dc capacidadcs m'tclcctuaxs' rudimentares de solução de problemas. Com base nessas m'tcrpretações, surgüam a psícanáhs°c e a tcrapia comportamenlal, duas cscolas psicológicas básícas que apesar dc suas d1f'ercnças metodológicas acentuadas conceítuaram o homem como um orgams°mo orientado, cm úlnm'a anáhs'e, para sua autoconservaçáo. À scmelhança de um regulador aulomático de homeostase, o homem cstaria sempre vollado para uma equ1h"bração do seu bem-estar, tentando saüs'fazcr todas as suas necessídades e buscando, além d1$'so, o número mámm'o de vivências dc prazen Essa vns'ão realmente t1nh'a seus atrativos, pons' combmava exatamente com a busca de emancípação do homcm moderno e scm preconccitos, dando-lhe a nccessáría retaguarda para vcncer o podcr daquclas antigas Lradiçõcs, que estava em vias dc dcscartan Como já m'dícamos, ocorreu uma accntuada perda de tradições no mundo civ1hza"do, que não dc¡x”ou de ter seus efeitos também sobrc os povos menos civ¡hza"dos. SLm'ultaneamcntc, levantaram-sc vozcs críticas contra essa concepção psicológica do homem extremamente orientado para sí próprio; um de seus críticos maxs' 1m'portanlcs é V1k'tor FrankL Antcs mesmo da pcrda de tradições, venñ'cada em meados do nosso século, pondcrou elc reiteradamcntc que o homem não é um homeostato, cuja mls'são exclusíva na vida consts'tc em satls'fazer a si próprio. Dc acordo com a conccpção de Frankl, o homem realmentc possui um corpo, comparávcl ao dos outros orgams'mos, c uma d1m'cnsâo psíquica, que abrange as emoções humanas d1f'erenciadas, com base nos 1n5't1n'tos. Por6m, ac1m'a destas d1m'cnsões, possui am'da uma dimensão espin'tual, que constitui a d1m'ensão verdadeüamente humana, a d1m'ensã0 que realmcntc clcva 0 homem ac1m'a do amm'al, não apenas quantilatíva, mas também qualitativamente. A dímcnsão cspüituaL de certa maneira, está s¡m'bollza'da nas conccpçõcs tradicionab da “1m'agem à scmelhança

dc Dcus”; não ma15' foi rctomada, porém, pcla modcma psicologh c¡'entlñ'ca. Foi Frankl quem rem'troduziu a d1m'cnsão espln"tual do homcm na psicologia, ocasionando uma rews'ão fundamcntal da concepção do homem. O cspírito não busca o prazer; busca o sentida O espírito não procuxa a sausf'ação dc suas necessidades; procura no mundo tarcfas e objctivos que lenham scntida E justamcnte ncstc ponto surge o mundo exterior com suas m'úmcras possibilidades de Ãjsntido c scus valorcs objctivos, que precxsam' scr comcreuza'dos. nicamcnte uma 1m'agem do homem, que m'clua a d1m'ensão csp1r'itual, pode transcender o mundo m'terior do eu, regulado homcostaúcamente, e reconhecer o homem como um ser que, além de sua equmbração m'lema de necessidades, tem a motivação smgul°ar e suprema de encontrax c reahzar' um sentido no mundo cxterno; este scntido podJe s'gmñ'car-lhe tanto quc, se neccssário, consagraria até sua vida a el Já o grandc ñlósofo Pascal d15°sc: /4“O homcm transccnde mñm"tamcntc a si mcsm0." Voltemos ao nosso esquema do “círculo diabólico”, que atualmente mantém muilas pessoas em seu cerco. Constatamos que, após a pcrda das tradiço'es, surgiu uma ms'egurança cxistenciaL a qual acarretou universalmente um sentun'ento dc falta de sentido. Dc acordo com as dcscobertas de Frankl,/sabemos também que o scnum'ento dc falla de scntido constitui a expressão de uma fruslração puramentc espirimak po¡s' é o potcncial espm"lual que, 1n'dcpcndentcmente de qualãür pressão dos ms'l1n'tos, busca uma ens'tência plena de sentid á uma m'congruência entre a d1m'ensão psíquica, com sua busca constante dc “auto-rcahza°ção”, e a dun'cnsão esplr'itual, com sua não menos constante busca de “rca11m'ção dc valores'/'Essa m'congruência ñcou evidenlc quando se observou que o m1"cio da fruslração de scnlido, dc carátcr epidêmico, com'cidiu com a época em que comcçou o “m¡l'agre econômico” nos paxs'es m'dustriahza'dos do Ocidente. A prosperidade gcnerahza'da pcrmitiu a satls'fação de m'um'cras necessidades psicológicas, man1f'cstand0-se, por cxcmplo, no mov1m'ento de liberação sexual ou na mam'a de esbanjamento de uma socicdade de consumo excessivo. Qualqucr desejo consum15'ta 1m'agm'ável poderia agora ser reahza'do, com cxcessão do anseio csp1r'itual do homcm, 0 anseio dc vivcr para alg0, de servu' para algo na vida. De acordo com Frankl, havia cada vcz mals' do que vivcr, e cada vez mcnospara que viver.

A desgraça do prcscntc bascia-sc, a551m', numa cnorme fruslração csplr'itual, que faz0 homem voltar-sc para sipróprio c 0 1n'duz a procurar pcla felicidade dentro da d1m'ensão psíquica, o que

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ocasionou a abcrtura surprecndcntc de um mercado para reccitas dc feh'c¡'dadc. Com Lss'o, o homem acaba negligcnciando aquelas únicas d1m°cnsões de valorcs que são d1gn'as do cspm"to humano, c que são constituídas pcla reahza'ção de valores objctivos no mundo, tals' como 0 bem, o bclo, o positivo, enñm, tudo que tenha sentido. Essa negligência, porém, tem seu preçoz justamente a saúde psíquica. Dls'cum"cmos cm seguida o porquê dxs'so e, sobretudo, como surgc a oportunidade de, nestc ponto, quebrar o “c1r'culo diabólico" e, em d1r'cção contrária, restabelecer a saúde psíquica através de proccssos de busca dc sentido. Anlcs, porém, gostaria dc completar nosso csquema com os três ckos que mencíoneiz o cxx°o objctivo, que deve ser traçado no “círculo diabóh'co” entre a negligência de valores objetívos e a criação de dcsvalores objetivos, c os dons' elx'os subjetivos, dctermm'ados, do lado “patológico”, por doenças psíquicas c comportamentos socials' e m'dividuals' 1n'adcquados, e, do lado “normal”, pelo medo do futuro e senum'cnlos de falta de scntido. negligência de valores objetivos \ (do bem, do positivo, etc.)\ \ .\›\ xdoença //v°\a \ 2 psíquica \ eg\\' N

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sentlmemo ' de falta de señtido

9/ij»› \ sociais e \I'ndividuais inaaeq\uados

(trustração espirituaD

criação de desvalores objetívos (prejuízos, erros. etc.)

TalJv uIn exemplo possa demonstrar na prática nosso esquema tcóri Suponhamos que um ñlho assuma a empresa de scu pa1,' sem, no entanto, vcr um sentido mals' profundo na düeção dessa empresa; apenas sente-se na responsabüdade dc assumi-la, ou, s¡m'plcsmcnte, não pcrccbc outras pcrspectivas na vida. Evidenlcmentc, é possívcl quc, mesmo assxm,' cle passe aos poucos a sc idenhñ°car com 0 trabalho, obtcndo uma certa saüs'fação através de suas aüvidades. Porém, é possível a1n'da que a empresa jamals' venha

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a constituk para ele uma tarcfa quc tcnha senlido, sigmñ'cando, quando muílo, uma fontc dc rcnda cômoda ou um fator dc prcstígio. Se assm' for, há am'da a possíbxh"dadc de que esse jovem, fora da sua atividadc proñssionaL lenha tantos conteúdos sans“fatórios na vida, que possam wmpensan m'teriormente, o tempo e esforço que precns'a dls'pcnder para a empresa. Podemos, então, supor que cle não 1n"a se cmpenhar muito nos negócios da empresa, mas, do ponto de v1$'ta da higiene psíquica, é amda possível que tudo dê ccrto. / Sc, porém, o jovcm tivcr poucos m'tcrcsscs c “h0bbics” tam~ bém fora do trabalho, for m'capaz dc um ralacionamento duradouro c ñcar enlcdiado no seu tempo de lazcr, ao m'vés de se enlregar a atividades que tcnham sentido, poderá ter 1n1"cio aquclc “cu"culo diabólico”. Isto sigmñ'caria que o jovem não uuhzar"á suas forças esp1r'itua15' latentcs c saudáve15' para melhorar a situaçã0, quc scnte como frustrante. Ao contrário, poderá entrcgrapsc à busca de prazer a cuno prazo, de vantagens cgors'tas c de auto-af1rmação forçada, a nível subumano, procurando na _d1m'cnsão psíquica a saüs'fação que não cncontrou na d1m'ensa'o espm"tual. Provavclmcnte, ncgügcnciará cada vcz mals' a cmprcsa, comcçará a beber ou a cntregar-sc à vida notuma em boates, trocará constantementc suas namoradas, exibirá aulomóvc15' caros, senür'-sc-á excitado com avcnturas ams°cadas ctc. Paralelamcnte à neghg'ência de possibilidades objetivas de sentido, ocorre a decadência da estabú1"dade psíquica. O jovem em qucstão, logicamente, percebe-o e, no quc lhe rcsta de sua cms'tência cspm"rual, rejcita-o profundamcntc - ou seja, está num contlito com sua consciência - 1rr1"ta-se consigo próprio e podc passar a reag1r' dc maneüa cada vez mzus' depressiva ou agressiva, ou a refugiar-se cm cstados dc cmbríagueL Sc não rccebcr ajuda d1n”gida, o jovem cstará corrcndo o r1.s'co dc transformar-sc num caso patológico, desenvolvendo uma neurose ou um vício, entrando em confüto com a le¡,' ou até tentando o suicídio. Dccorrenlcs dls'so, surgem brigas com a família, são tomadas dccm'o'cs crrôncas no trabalho, há desperdício ou desfalque de dmh'eu'o ctc. Os comportamentos 1n'adcquados do jovcm tornam-se cada vcz maJs' cvidentes e causam efcitos cada vcz ma15' trágicos, até que ocorra algum Lipo dc colapso, cnvolvendo a cmprcsa ou a família toda. O colapso poderia servxr° como um últIm'o alerta, assLm' como também poderia sxgmñ"car o ñm, po¡s' o jovcm tomaria consciéncia da desesperança quanto a um futuro duvidoso, parahs°ando qualquer poder dc obstmação dc scu espm"lo, o úníco capaz de, a partü dos escombros, reconstruu' uma cms'tência que tenha sentido.

Se reflcürm'os, passo a passo, sobrc tal cvento trágico, que aparece sob m°úmeras variantes, lcvanta-sc a questão sobrc como poderíamosprevem'-Io, como poderíamos ajudar. Ass¡m,' passarei a mc conccntrar sobre as perspcctivas positivas da busca dc scntido, abandonando o “círculo diabólico”. Gostaria de antecipar, porém, quc, com uma psícotcraph de basc espm"tual conforme a tcoria dc FrankL poderíamos ajudar ojovcm cm questã0, em qualquer estágio de sua cns'e ems°tenciaL não apcnas no mí'cio do processo cu'cular neurótico, contanto que qucüa scr ajudado, po¡s' a psícotcrapia não é absolutamente aplicávcl contra a vontadc dc uma pessoa. A prevençao', no entanto, só pode ser feita no começo, quando a busca de scntido cstá ameaçada dc fracasso, c tem mí'cio a “dcsumamza'~ ça'o” de uma pessoa. Como já vi muitas pessoas nestc d11'ema, tenho consciênch da 1m'portan^cia até do ma15' sun'plcs apoio que uma outra pessoa possa oferecer na luta pelo senLido, das palavras certas no momento certo, de um lívro encorajador, de uma idéia ou sugestão, quc podcnam' accndcr a ccntclha cspm"tual; cnñm, a m'dicação dc uma possn'b111"dadc de sentído, que a pessoa cm qucstão não pode perccbcr no momento, poxs' scu “olho m'terior” cstá como que coberto por um véu. Muitas vczes não 1m°ag1n'amos quanta desgraça podcria ser evitada por c01$'as ms'1gmñ"cantcs; que cssas mnh'arias possam dcsencadcar efcitos desastrosos, é conhccido de todos;

porém, elas podem tcr também um cfeito salvador, às vezes maior do que procednn'entos mans° soñsticados. Esta é a oportunídade para cada um de nós. A psicologia c psicoterapia não podetn ser praticadas por todos, ncm é tarefa de todos curar pessoas psiquicamente doe es; porém, a tarcfa de todos nós é ajudar onde for possích Então, como podemos ajudar, a nós próprios e aos outros, nessa busca dc sentído, que todos nós, ma15' cedo ou mals' tarde, e em situaço'cs-hm1"tc, prcc15'amos rcítcradamente efctuar? Devcmos nos lembrar dc que o sentido não pode ser dado, prccm'a ser encontrado. O que podemos fazcr é descrcvm o proccsso dc busca de scntido e descobnr' o scnlído a parm dcssas dcscríções; é constru1r' m'dicadorcs para a busca dc scntido e 0rientar-nos por elcs Ac1m'a de tudo, porém, devemos estabelecer como param^ctro para nossas ações aquüo que tcm sentido, mesmo quando csse param^etro não corrcspondc exatamcntc aos nossos desc_i0s m'dividuals'. Tratasc de du"ccionar a vida dc acordo com um critérío que se estenda para além da vida, à semclhança da agulha de uma bússola, que aponta para algo além da bússola, para algo m'dependentc da posição cspacial dela. Com cssa mctáfora, podemos tornar o conccito dc “sentido” bem mals' explícito: também ele constitui um meio

sempre válido para a orientação quanto à nossa locahza'ção, po¡s' também o sentido mantém-se 1n'depcndcntc da respcctíva situação de vida, a partü da qual nós o procuramos. Essa mctáfora é oportuna am'da por um outro motivo, poxs' s¡m'bohza' que uma dn'cção não m'clui qualqucr mf'ormação sobre a d15'tan^cia. O norte, para ondc a agulha da bússola aponta, podc estar a uma d15'tan^cia ma'cessível ou bem próx1m'a, à semelhança do sentido da vida, que é mñm"tamcnte abstrata c, ao mcsmo tcmpo, extrcmamentc concreto. Podemos d1f'ercnciar o sentido, grosso modo, cm três m'vc15'. SUPRA~SENTIDO conteúdos de sentido encontrados pelo homem em sua vida Mreaüzações possibilidade de sentido de sentido no no futuro passado "sentido do momento" a ser realízado

Para aquele sentido, não apreensível pclo homcm, a não scr através de um mov1n1'ento de fé em d1r'eção à transccndência divm'a, V1k'tor Frankl criou o conccito de “supra-sentido”. É desncccssário cspccular sobre este “supra-scntido” - que nada tem a vcr com “sobrenatural”* - p015', por deñm°ção, escapa da nossa compreensão humana. A suposição de um “supra-sentido” abre-nos, porém, a possibüdade de que elementos do mundo, que nossa razão consideraria “scm sentido”, como por exemplo a cxzhtência do mal, as com'cidências funestas, o sofr1m°ento de pessoas m'ocenles ou 0 fato m'cvitávcl do cnvelhecm'cnto c da morte, tcnham seu sentido numa outra dun'cnsão superior, m'acessível ao homem

Aberta ao homem, mas não ao amm'al, está a aprccnsão dc íconteúdos de sentido cspccmcos cm sua vida. Ta15' conteúdos de sentido poderiam ser constituídos pela reahza'ção de uma tarefa cscolhida voluntan'amcnte, pela exploração dc novos honz'ontes, pela descoberta dc um bcnefício, pela produção de obras de ane, pelo fabrico dc artigos novos, pela luta contra um mal, c ass¡m' por dianlc, lendo sua ênfase na existênciapara alga Esses conteúdos de ' N.T. Em alcmão, Ubasvm~' (supra-scntido) c das Ubasumhche"" (o sobrenatural) podcm dar margcm a confusão.

jsenüdq porém, podem também ser encontrados na constituição de uma família, no amor pclos ñlhos, no engajamento caxilativo ou na assm'te^ncía a outras pcssoas, culmm'ando na exzs'tência para alguém. É esscncial obscrvar que os conteúdos dc scntido não cquiva~ lcm totalmentc aos objclivos que estabelecemos para o futuro, cmbora os objetívos possam scr bastantc desejávels'. Os conteúdos de sentído, porém, permelam' a extensão total dc uma vida humana. Estendem-se do futuro ao passado, po¡s', enquanto um objetivo pcssoal dcsaparccc com sua consccução, permanece a plcnitude de scntido de uma obra positiva, de uma cxperiência agradávcl, dc um amor rcahza'do, elc.; não há nmgu'ém ou nada quc possa extmgul"-los. Assm1,' o futuro contém, além de objctivos estabelecidos subjctivamentc, 1n'um'eras possib1h"dades de scnúdo objctivas, quc csperam pcla sua reahza'ção c que, ao screm aproveitadas, lransformam-sc em reahza°çõcs de sentido também objetivas. São valores reahza'dos e criados pelo homem, que estão armazenados, de modo seguro, em seu passado. Se, por excmplo, um jovem médico perccbeu como possib1h"dade de sentido em seu futuro dcsenvolver um soro contra uma cnfermidadc pcng'osa, e se sc dedicar a esse objetivo com succsso, a reahza'ção dessa possíb1h"dade de senLido estará ctema c ms'cparavclmcntc hg'ada à sua vida. Nada poderá m'ar-lhc o fato de quc foi capaz de dar ao mundo um soro precioso, nem mesmo dep01$' que, há muit0, cstiver morto. Gostaria de enfanzar' esse ponto de ws°ta da teoria de FrankL po¡s' no decorrcr da vida os do¡s' “montes” de possíb111"dades de scntido c de reahza'ções dc sentído se mod11i°cam contm'uamente. O jovcm, mg'essando na vida adulta, tcm pcrantc si uma enorme montanha dc possíb1h"dades de sentido, porém, atrás dc si, provavelmcnte não sc cncontra nenhum grande tcsouro quanto às realizações dc scntidoz seu futuro é rico c seu passado, pobre. Najuventudes

Mpossibilidades realizações de sentido no passado de sentido no futuro O

Por outro lado, o idoso, sc tívcr conscguido levar uma vida plena de scntido, já atravessou a enorme cadeía de montanhas, que agora cstá atrás delc, com toda sua plenitude de valores, os quals'

reahzo'u cm sua vida e quc conseguiu “colocar a salvo” no scu passado, onde cstão consolidados ñrmcmentc. Em compcnsação, seu futuro contém possib1h"dadcs dc scntido apenas hm1"ladas, é pobre em comparação com seu passado, quc é rico. Na velhice:

/_\<>(7Krealizações de sentido possibilidades de sentido no Íuturo no passado

Assm,' ñcou claro por que não podemos considcrar como fatores de sentido apenas os rcspcctivos objctivos de uma pessoa. O homem que se aproxma do ñnal dc sua exts'tência quase não possui objctivos para sua vida c, mcsmo sc os tivcsse, provavelmente não consegunr°ia ma15' alcançá-los. O que possu1,' porém, são os objetivos reahza'dos com sucesso, o quc alcançou, o que vivenciou, o quc sofreu, a plcnitudc dc tudo pclo qual valeu a pcna tcr vivido; são os conteúdos de sentido reahza'dos em sua vida, que lhe pertencem etemamcntc. Também a velhicc tcm scu consolo... Bem, após canunh'armos do m'vel de maior abstração do scntido, o supra-scntído, que ccrtamcntc é atcmporaL para os conteúdos bcm mcnos abslralos do futuro c do passado dc uma vida plena de sentido, abordarcmos a1n'da o nívcl verdadcüamente ooncreto do sentido, e que se situa no prescnte. Consxs'te no respectivo sentido presente, no “sentido do momento”. Ncsle ponto, deparamo-nos, de acordo com Frankl, com 0 “marcapasso da ems'tência”. Os grandes conteúdos de sentido da vida, os objctivos, tarefas e obras pessoals', a dcdicação a algo c a alguém, só podem ser reahza'dos ao serem relacionados a pequenas unídades, a momentos, a situações concretas, das quals' cada uma é única e nrr'epetível, contendo em si scu próprio caráter dc sentjdo, também um"co c 1rr'epctívcl. Na verdade, o homem não pode nr°ar um sentido qualquer do nada, para então reahzá'-lo! Imag1n'emos 0 quc 15°so s¡gmñ"caria: para uma pessoa tena° “sentido” alear fogo a uma casa, paIa oulra teria “sentido” fazer explodn' um avião ctc. Porém, não cabc ao homcm dcñnü o sentido, assxm' como não cabc a elc deñnk as lels' matemáticas. 0 fato de a

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ra1z' quadrada de 169 ser 13 não pode ser inventado, só pode ser cncontrad0, descoberto*. Da mcsma forma, 0 respectivo “scntido do momcnto” prec15'a ser descoberto, decodlñ'cado. Trata~se de um scnlido tão prcems'tente quanto a regularidadc das opcrações matcmáticas. Durante toda mmh'a exposição, esforcei-mc sempre cm mostrar a hnh'a de contato cntrc subjetivídade e objetividadc, para caractcnzar' o homem como um ser ms'erido no mundo, tornando-se humano somente à medida em que entra em contato com esse mundo. Também delx'ei transparecer que qualqucr forma de autoreahza'ção prcssupõe uma rcahza'ção de valorcs. A reahza'ção do “sentido do momento” constituL ass¡m,' a fusão completa cntrc subjetividade c objctividade do sentido; se essa função estiver parturbada, toda a característica dc ser-humano do homem se transtorna, podcndo essa perrurbação contm'uada ocasionar desarmonias psíquicas tão gravcs, como as descñtas no “c1r'culo diabólico”. Exam1n'emos mals' uma vez o nosso exemplo do jovem que assume uma cmpresa, sem, no enlant0, perceber um sentido mals' profundo nesta tarcfa. Argumentamos que a frustração pcrmancnte de sentido podería levá-lo a doenças e a comportamentos m'adcquados. Porém, há ma.15' um clcmento que não foí mencionado, p015' nos detivcmos unicamente nas cücunstan^cías subjetivas da vida do jovem. O fato objetivo da cx15'tência dessa empresa também tem caractcns't1'cas de scntido, ou seja, um apclo do sentido para tornar a empresa a melhor possíveL E, no momento em que ojovem assume a d1r'eção da emprcsa, confronta-se não apenas com suas próprias idéias subjctívas sobre conteúdos de scntido da vida, mas também com aquclc apelo do sentido objetívo, para não só assum1r' a cmpresa, mas assumi-la com rcsponsab1h"dadc. Isto sigmñ'ca quc, para seguü o “sentido do momento”, sc o jovem não sc scnns'se com competência para essa emprcsa, não devería tê-la assumid0; deveria ter cntregue sua d1r'eção a pessoas ma15' capaa°tadas. Dessa manelr'a, porém, além dc dcmar' que sua própria busca de scntido ñcasse frustrada, agiu também contra o carátcr de conclamação, ou chamamento, da situação; a subjctividadc e a objetívidade de senti~ do daquelas cu'cunstan^01'as absolutamcnte não c0m'cidiam, o que ele, psiquicamente, não foí capaz dc suportan

Em contraparlída, voltando ao exemplo brevemente mencionado do jovem médico, que se colocou como tarefa desenvolvcr um ' N.T. Emalemão,erñndcr = m'vcntar,heramfínden = dcscobnr'.

soro 1m'portante, torna-sc claro que as horas que csse homcm passará no laboratório, cmpenhado em seu trabalho de pcsqmsa,' serão das ma15' sans'fatórias de sua vida, mesmo que se cansar c tiver que se esforçar dema15', ou até renunciar a muitas outras coxs'as. Scm dúvida, muitas vczes o “sentido do momcnto” o chamará c m'tcrrompcrá scus estudos prcfcridos, quando, por exemplo, scrá solicitado cm sua função de médico praticante ou de pai de família. Dcverá também obcdecer a esse chamado sc quiser manter sua consciência reahza'da, poxs', como podería se dedicar, com a consciência tranqml"'a, às suas pesqms'as, sabendo que, ao mesmo tcmpo, estaria ncgligenciando outras tarefas, que assumu'a com responsab1h"dade? Cumpnr' o “sentido do momcnto” sngmñ"ca, cntão, umr' haxmoniosamcntc os objctivos e valores superiores, que consideramos como contcúdos de sentido pcssoaxs', com a respectiva resp0nsabxh"dadc perantc a situação concrcta cm que nos cncontramos. Ou, expressando-o de mancüa mals' sm'ples: cumpnr' o “sentido do momento” s¡gmñ"ca seguü nossa consciência. Aquela consciência que, segundo FrankL representa a capacidade do homem de descobnr' o scntido únioo e smgul°ar oculto em cada situaçao'. Em cada situação... por acaso, cstará o leitor pcnsando que sc trata dc cxagcro? Uma situação dc sofnm'cnto, dor, perda, também conterá um sentid0? Dm"a que sxm,' e gostaria que o leitor retletbse sobre cstc “sun'” com muito cannh'o. Mcsmo os momentos dc sofrimento m'alterável têm suas p0551'b111"dades de sentido, as qums' não aparecem no mundo dos senUm'entos da psiquc, mas que certamente podem ser descobertas através de sondas esp1r'ituaxs'. Poxs' o sofr1m'ento nos desaña a assum1r' uma postura ereta, a suportá-lo com dignidade e, assm', a crcsccr m'teriormentc e amadurccer, para que, cm ul't1m'a anáhs'c, nos transformemos. Também csta é uma forma de auto-rcahza'ção com base numa reahza'ção de valoresz os valores dc um modelo heróico, que alguém 1rr'adia para seu ambiente ao posicionar-se corajosamente frente à sua desgraça, fazem com que sc transcenda.

Porém, o defensor daquela velha concepção psicológica do homem, segundo a qual o ser humano ex15'te prm'cipalmcnte para saüs'fazer suas neccssidades, para conseguk felicidade e reumr' sucesso c poder, desmoronará psiquicamente diante do sofr1m'cnto, po¡s' ele am'da não pcrcebeu o m've1 de valores próprio do ser humano, o “sentido do momento”, o sentido da vida. Há um provér~ bio dc doxs' m11' anos que contém uma sabedoria que a psicologia moderna estáagora redescobnn'do como scndo a chavc para a saúde

psíquica. 0 versículo é do evangehs'ta Mateus, segundo o qual Cns'to dxss'e: “Quem achar a sua vida, pcrdê-la-á; e quem pcrder a sua vida por amor a m1m,' achá-la-á¡.”l Se, nas palavras de Cns'to, substitmrm'os “por amor a m1m'” pclo na'o-humano, pelo que objetivamcnte tem sentido, pelo ser no

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mundo, chcgamos cxatamcntc à añrmação quc grande psiquíatra V1k'tor Frankl legará a csse caótico século XX./2''c 0 homcm qu15'er manter sua saúde psíquica, deverá autotranscender-sc em d1r°eção a um sentido a scr cumpn'do. fl

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2. Da “psicologia profunda” para a “psicologia das alturas”

Nas úlum'as décadas houve o surgimcnto de uma profusão dc correntes psicológicas, trazcndo prcjuízos à população de nossa cultura c seriamente prcocupando os psicólogos conscientes de suas responsablll"dades. Todos os aspcctos humanos, bcm como os 1n'umanos, foram observados e analisados a parhr' de pontos de VIs'ta os mals' estranhos, tcndo como resultado muita 1rn"tação no cotidiano do lcigo e uma fragmentação sectária c fanaus'mo entre os proñs~ síonals'. A ñm de detcr estc proccsso calamitoso de psicologls'mo, não necessitamos de uma “cscola de psicología” adicionaL ou seja, de uma nova oricntação de acordo com a últ1m'a moda, mas de uma reumamzaç'ão de toda a psicalogia. Isto sngmñ"ca que precxs°amos 1n'tcnsnñ'car as forças saudávc1s' dc auto-ajuda nas pcssoas, prevcmn'do com ls'to a formação dos “círculos diabólicos de qualqucr cspécie”, sem ter quc pagar o preço do psicologls'mo. Além dlss'o, precxs'amos melhorar as ofertas de ajuda terapêutica por parte dos pcrítos, os quaxs' deveriam estar cientes das d1m'ensões múltiplas do scr humano, scm que elcs próprios m'corram no erro da uml'atcra.1idade. Conhcço um único pnn'cípio dc pcnsamcnto através do qual um emprcend1m'ento desse tipo tcr1a' sucessoz trata-se do sxs'tema da logotcraph de FrankL

A apenas dezesscte anos mgr'essei pela pnm'eu"a vez ncste sns'tcma como estudantc. Desdc então, em sentido ñgurado, percorri

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todos os scus andarcs, do porão ao sótão, c scmpre novos corrcdorcs foram se abnn'do diante dc m1m,' conduzm'do-me a oômodos m15'teríosos e quasc m'tocados, dando-me a 1m'pressão de que o conjunto todo era uma enorme moradia do espm"lo humano. A logoterapia é uma antropologia que não se contenta em esclarecer fenômenos psíquicos, mas m'clui os fcnômcnos cspm"tua15' da cxns'tência huma~ na. Assxm,' certas portas que permaneciam fechadas para o substrato emocional da psique, dc rcpente se abrem para as capacidadcs do espírito humano. Todos sabcmos que a psicologia profunda*, num longo c m°cansável processo dc pesquisa, tentou revclar a verdade1r'a natureza do homem, m'terpretando até as mmun"as reações psíquicas; dc fato, ela foi capaz de descobm' e explicar muitos fenômenos, que até enlão tmh°am sido m15'térios. Sobrou, porém, um rcsíduo m'explicávcl, 1m'possível dc ser m'tcrprctado psicanah't1'camcnte, à semclhança das manchas brancas num mapa. Trata-se de uma lmh'a div1s'ória, que não pode ser ultrapassada somcntc com os conheam'entos sobrc a dln'am1^'ca dos 1m'pulsos, porque para além dela valem parâmetros d1f'erentes dos 1m'pulsos e sans'fações. Foi mérito m°questionável da logoterapia mostrar quc, num nível cspm"tual, 0 ser humano não se 1m'porta pnm'an'amcnte com a saus'fação de suas necessidades; ao contrárío, clc sc preocupa com a percepção de tarefas, a consecução dc objetivos por ele cstabclecidos, a reahza'ção de valores, cnñm, com a rcahza'ção de algo como um sentido pessoal de vida. E para pcrseguü csla “vontade de scntido”, 0 scr humano se dispõe até a renunciar a qualquer sans'fação de necessidades.

A grande obra da psicologia profunda foi contm'uada, completada c rcws'ada pela obra da “psicologia das alturas”, como costuma ser denommada a logoterapia. E se hojc somos capazes de esquemaüzar' uma 1m'agem razoavelmente reahs°ta do ser humano, podcndo também ofereccr auxílío para comglr" d1$'torções patológicas da cx¡s'tência humana, dcvêmo-lo a duas correntes psicológicasz à psicología profunda por tcr m'vestigado a psíque do ser humanoaté scus hm1"tes, c à “psicologia das alturas” por tcr rompido justamente esses hm1"tcs através da comprovação de que a condição dc ser humano scmpre ultrapassa a d1m'cnsão psíquica, alcançando uma d1m'ensão espm"tual. A scgulr', gostaria de citar alguns exemplos da práxis em que tals' ultrapassagcns dc hm1"tes são 1m'prcscm'dívcis, p01s' os procedi' N.T. Psicologia dm'ámíca, ou psicanáhse'.

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mcntos psicológicos tradicionais rapidamcnlc csgotariam scus rc~ cursos. Selecionei os exemplos arbitrariamentc da mmh'a cxpen'ência dc anos com pcssoas procurando oricntação. Para os leítorcs que são proñssionaxs', cstes exemplos serão conhccídos como comtitum'do os problcmas mais rcsistcntes à tcrapia c mais complicados dentro da psiquiatria e psicotcrapia. Mcncíonemos logo de mí'cio a h¡s'teria quc, apesar dos m'úmcros tratados teóricos a respeíto, contm'ua sendo uma patologia psíquica quase quc m'curávcl. O termo “histcria” não é muito ut1h"zado atualmcntc devido às suas conotaçõcs degradantcs; com o passar do tempo também mudou consideravelmentc a maneüa como csta cnfcrmidadc sc man1f'esta. Contudo, não é raro dcparar~ se a1n'da hojc com esses pacicntcs quc, com perfcição dramática, enccnam aprcsentações trágicas de carátcr dcmonstrativo com a úm'ca ñnalidadc de manipular seu ambiente, ou scja, forçá-lo a determmadas reaço'es. Os docntes utihzam'-se de qualquer meio, até mesmo dc automutüação c outras armas d1r'igidas contra si próprios. Dor, alegria, medo, pa1xa"o, vontade de morrer ou de viver - tudo no h15'térico é 1n'autêntico cm maior ou mcnor grau c tcm scmpre como objetivo apelar para os outros. A algumas pessoas pode scr aplicada a teoria corrcnte de que elas não recebcram amor c atenção suñcientcs dos pais na mf'an^cia c que, por sua enorme nccessidadc dc recupcrar esta dedicação, produzem durante toda a vida cstas cns'es hls'téricas para quc, pelo menos por curtos períodos, possm ganhar à força a atcnção das pessoas ao rcdor. Porém, raramcntc foi comprovada a teoria de que com a rcvclação dcstas conexões dunm"uísse automaticamcntc a lendência a cstas aluaçõcs hm"téricas. O hls'térico, para mantermos esta denominação pela sua sm'ph'c1'dade, é um docnte que quer ser doente, que espcra obter algum proveito de sua doença, scja uma vantag'em para si próprio, ou stm'plesmentc a alcgria pervcrsa pelo prejuuo' causado a outrem com scu acesso hls'térico. Que ajuda terapêulica podemos fornccer neste caso, v15°t0 que toda terapia prcssupõe a chamada “pressã0 da dor” do pacicntc, ou seja, sen desejo sm'cero dc se curar? A s¡m'ples compreensão de como a docnça sc dcsenvolvcu não sigmñ'ca absoIutamente quc despertará no paciente a vontade dc se curar.

A logotcrapia, porém, aprescnta 0 delm'eamento dc uma “rc~ núncia plena de sentido”, o que sigmñ'ca 0 pacíentc renunciar voluntariamcntc por causa dc uma pcssoa que ama ou de algo que scja 1m'portantc para just1ñ'car sua rcnúncia. E justamente estc csqucma é também 0 único que conhcço que lcnha alguma pcrspectiva de sucesso no tratamento da h15'tcria. O pacientc estará salvo no

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momento em quc se torna capaz dc perceber um conteúdo dc vida pelo qual valha a pena abandonar a hls'tena' e desxs't1r' da encenação de um próJnm'o accsso, oferccendo, por assun' dxze'r, a doença como um sacnfí'cio a este novo conlcúdo dc vida. Curar um lns'térico sigmñ'ca cnsm'ar-lhe a rcnunciar.

Sem qucrcr cntrar cm muitos dctalhcs, possa confirmar a pamr' de m1nh'a cxpcriência quc, ao ultrapassar os hm1"tes da d1m'ensão afetiva perturbada em quea neccssidadc de amor de uma pcssoa nãof01'sat15'feita, para pcnctrar na dun'ensão cspm"tual m'tacta (apcsax dc toda pnv'ação) de uma pessoa orientada para o sentido, podcm ocorrcr vcrdadeüos m11'agrcs. Foí o que pude observar cm uma jovcm mãe, levada a julgamento por causa de maus tratos mH1g¡'"dos com muita crueldade a scu ñlho, e absolvida sob a condição de quc sc submctesse a uma teraph comxg'o durantc quatro anos. Nos diálogos logotcrapêuticos aprendeu a renunciar a scus accssos h15'térícos para cxpiar sga culpa; hoje ela é a mãe maJs' cannh'osa quc sc possa un'agm'ar. Um outro excmplo de um problcma psicológico quc não poderíamos enfrentar sem conhcc1m'entos logotcrapêuticos é o da htpe'r-ref1<›1›cão.3 Trata-sc dc um fcnômeno bcm conhccido e tcmido pelos médicos, orientadores e “curas d'alma” (See1so›ger), pons' a hiper-rcflcxão é capaz de Lransformar “um mosquito num elefantc”, 1m'pcdm'do que o paciente alcanoc a tranth""dadc e se sm'ta satls'feito com alguma cms'a. Por ma15' mñm'as quc possam scr suas prcocupaçõcs, seus pensamcntos gkam constantemcntc cm torno dclas, lnfl'ando-as até se tornarcm sobrccargas enormes, sob o pcso das quals' 0 paciente ñnalmcnte sucumbe. A hiper-reñexão podcria, assxm,' ser deñnida como a atribuição de 1m'portan^cia a algum cvento desagradáveL o qual não merecería ser levado tão a sério, ou a ñxação do pensamento num contcúdo negativo, ms'igmñ'cantc em s¡,' mas que vai adqumn"do um s¡gmñ"cado cada vez mals' negativo justamente por causa desta ñxação.

E novamcntc coloca-se a questão sobrc qual ajuda tcrapêutica a ser ofcrccida ncstc caso, cm que toda aflição, quc talvcz tcnha sido mitigada através de grande esforço terapêutico, volta novamente a sofrer um aumento maciço devido à tendência de hiper-rcflcxão do pac1'ente. ch, o logoterapeuta tem à dls'posição um 1ns'trumcnto que pode empregar, desde o 1ní'cio, de forma d1r'ecionada para enfrentar a tendência maléñca à hiper-ret]exão: é o chamado método da dcrreñexâo4. Em resumo, a derretlexão consistc em d1r'ccionar a atcnção do paciente, cm quantidadcs bem dosadas, para outro conteúdo dc sua vida que scja tão positivo, 1m'portante e pleno de

sentido quc o pacienle possa temporariamenlc abandonar sua aflição hiper~refletida, fazcndo com quc csta ailição, ao não rcccber atcnção por algum tcmpo, d1m1n"ua c às vezcs até dcsaparcça por complcto. À semelhança da hxs'ter¡a, quc não raramcnlc sc propaga da d1m'ensa'o psíquica para a somática produzmdo sm'lomas dc docnça Hsica, também a hipcr~rcflexão acarrcta pcrigosas rcpcrcussocs' ñsiológicas. Quem não conhecc os típicos problcmas cstornacals', distur'bios cardIacos, dorcs dc cabcça, noitcs dc ms'ônia, ctc., ocasionados por pensamentos que cxageram o valor de desavcnças c atritos cotídianos, por vívências ms'igmñ'cantcs dc fracasso, os qums', de repente, aparecem como obsláculos m'u'ansponívens', sobrecarregando todo o orgams'mo? E o que poderá aconlcccr se, am'da antcs de se m1"ciar o mccanismo ampliador da hiper-reñcxão, já cns'tem no paciente pequenas lesões físícas, como ocorrc atualmcntc com muitas pessoas do mundo civ1111a"'do? Sob a pressão constamc da hiper-rcflcxão, cstas lcsõcs m'sigmñ'cantcs já cxxs'tcmcs não podcriam sc trans__formar em doenças crôm°cas dc grandes proporçocs'? ADeutscheArzteblatt (Rcv1$'ta Médica Alcmã) dc sctembro dc 1982 dlz' num artigo que vivemos numa cra de doentes crôm'cos, para' a qual o corpo médico absolutamcntc não cstá preparado. Em 1901 foram regls'trados 46% dc óbitos cm dccorrência dc docuças crõni~ cas, em 1955 foram 81%, hojc provavchncnte já ultrapassamos os 90%. O artigo d1n"da d1L" o segum'te: “No caso de doentes crôm'cos, a questão não é tanto o diagnóslico, mas a mancu'a como o paciente se sentc; muito maxs' 1m'portante que a evolução objctiva da docnça, é a sua aütude subjctiva diante dela.”

E o quc seria csta atitudc subjctíva? Podc consns'tu' na dc015'ão pessoal de um m'divíduo por um dos d015' camm'hos segum'tes: ou elc se ocupa prm'cipalmcnlc com seus próprios achaques, quc1xa'-sc deles, hiper-rcfletindo-os, ou dispõe~se a d1r'ecionar sua atenção para a reahza'ção de possibxh"dadcs positivas de scntido, cncontrando assxm' a força para efetuar uma dcrrcflexão sadia, apcsar da cns'tência de problemas diversos. Pclo menos a logoterapia não eslá dcspreparada para enfrentar esta quantidade dc doentes crôm'cos, psíquicos ou físicos, ao contrário do que añrma dc si a mcdicm'a tradícionaL A logoterapia conhecc meios suñcientes para afastar a perigosa hiper-rcflexão c, assxm,' liberlar os pacíentes para as verdadcüas e frutíeras oportum'dades dc suas vidas. Com isto chegamos a uma outra mancha branca no mapa psicológico que, por muilo tempo, esquivou-sc do alcance da psico~ tcrapia, até quc f01'conquxs'tada pela “psicologia das alturas”: trata-

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sc do dxama do egocentrisma do homem moderno. Na rcalidadc, somcnle um m'divíduo constantementc ocupado consigo próprio podena' ñcar sujeito a uma hiper-reflexão. E quem constantemente se prcocupar consigo mcsmo, também não cncontrará a felicidadc, po¡s' esta sempre envolve em certo csquec1m'ento de si mesmo, uma teutativa de alcançar algo além de si, como, por cxemplo, dcdicar-sc a um trabalho satxs'fatório, vivenciar uma cntrcga 31710rosa, cms't1r' para algo ou alguém, mas não apcnas para si próprio Eslc conceíto de autotranscendênc1'a5, ou seja, a capacidade esp1r'itual do homem dc crescer para além de si próprio, foi pela pr1m'eu"a vez formulada pela logotcrapia, e ls'to muito tempo antes de scr dlfun°dido o conceito da auto-rcahza'ção, que ocasionou muitos mal-entcndidos] Atualmcntc o conccito dc auto-rcahza'ção tornou-sc ma15' do quc questíonávcl, 0 que podcrá scr confirmado pclos colegas que, como eu, trabalham num scrviço de aconselhamento e têm que lidar com um “docntc crôm'co” e sua família. Quantas vczes não acontcccu quc a busca de auto-reahza'ção acabou cm divórcio, a ênfasc exagerada nos próprios m'tcresscs acarrctou uma 1n'capacidade dc amar, e a busca excessiva e psicologicamente fundamentada de emancipação lcvou famílias ao colapso. E quantas crianças - e como 15't0 nos assusta - sofreram pclo cg015'mo 1m'aturo de seus pals', aos quals' foi cnsm'ado como sc libcrtar dc scus bloqucios scxuaJs', mas não como assumu' suas responsabxlx"dades. Sc não retomarmos o conccito logoterapêutico de autotransccndência, aquele “estar-prcsente dc um para o outro”, não haverá cura nem salvação para a família. Estão aumentando os m'dícios de que está ma15' do que na hora de mudar nossa maneüa dc pensar, se quls'ermos quc os contcúdos da cultura ocidental sejam transmitidos para as gerações vm'douras.

A expressão “geração v1n'doura" nos leva umpasso adiante na rclação de questõcs até então não solucionadas, às quaxs', porém, a “psicologia das alturas” ofcrecc uma resposta. Nossa juventude praticamente não é bloqueada, m1"bida ou ncurótica, ela não sofre por causa de um eu fraco ou de sent1m'entos dc mf'crioridade, e apenas em pequcno grau teve a experiência dc pals' autoritários e mães severas, cuja mñ'uência pudcssc pcrsegui-la pelo resto da vida. Nossos jovens carrcgam um peso totalmente d1f'erente; conforme eles próprios d12'cm, “têm vontade nenhuma dc nada”*. No caso, as duas negações da güia não se anulam rec1'procamente, ao contrário, dcvem ser entcndidas como um efeito m'tens¡ñ'cador, ou scja, abso' N.T. Nullback auf nichzs, gfna' que lítcralmeme sigmñ'ca “tcr voutade nenhuma dc nada". Nullbock Gmeration é uma geraçáo scm cngajamcnto (social).

lutamcnte nada nn'tercssa a elcs. Embora csta dcclaraçáo prctcnda ser u"ônica, e lambém não sc apliquc a todos osjovcns, constilui, scm dúvida, uma conñssão amarga v1n'da dc pcssoas tão J'ovc.ns'. Como uma psicotcrapia canrada na climinação dc sm'tomas c dcscoberta de causas subjaccntcs poderia lidar com csla dejíciém cia de motivaça0', com csta falta lotal dc m'tcrcssc das pcssoas? Não há nada traumático no seu passado, os problemas do prcscnlc não podem ser explicados por ocorrências na m'fância, não há sm'tomas tangívcxs' ou, muito menos, causas rcals'. No día v1n'tc c qualro dc dezcmbro do ano passado, uma estudantc dc 17 anos de Munique delx'ou para seus pals' uma carta cm quc lhcs dm"a pma não procurá-la; dep015' foi até o bosque, ens›opou-sc de álcool e colocou fogo em si própr1a'. Ela morreu qucun'ada no dia dc NataL A polícxa' observou laconicamente que a moça não havia lido problcmas na escola, nem qualquer decepção amorosa, quc nada havm' acontecido no lar que pudesse ser m'tcrprelad0 como motivo para sua ação; falou-se então dc uma súbita depressão sem mou'vo. Mas como pode ocorrermna “súbíta deprcssão sem motivo" na vida de uma moça dc 17 anos? Como a psicoterapia sc coloca diante de um fato como estc, em que os jovens não têm ma15' vonlade de viver? Este é justamcnte o ponto em que a “psicologia desmascaradora” (aufdeckende Psychologíe), que é a psicología profunda, dcve transformar-sc numa “psícologia dcscobridora” (entdeckende Psychologie), que é a “psicologia das alluras", abstcndo-sc de qucrer desmascarar o porquê da situação prcscntc e engajando-se em descobrir quaxs' as conñgurações de senüdo que cslariam ocultas numa vida humana, quaxs' os objctivos pcrmancntes quc tornwiam a vida, apesar de ludo, digna de scr vivida c 1n°teressante, pelos quanã valha a pcna viver. Somente uma psicoterapia ccntrada no scntido tem a chancc dc supcrar aqucla “v0ntade ncnhuma dc nada", c somente uma “psicologia descobridora” poderá liberar eslruturas de vida quc am'da não foram regislradasw no livro do passado, mas aguardam por sua rcahza'ção nas págm'as vaúas do futuxo. Com rcspeito à ponderação “passado contra futuro”, há uma oulra área cxtcnsa da psicotcrapía e psiquiatria que nccessítou dc complcmcntações da “psicologia das alturas”: é o capítulo abrangentc das ansicdades e compulsõcs. Praücamente nenhum outro dls'túrbio psíquico é tão persxs'tcntc quanto o quadro patológico das rcpresentações exageradas de ansiedadc e compulsão, que, embora combatidas c vcncidas, voltam constantemente c alormcntam suas' vítlm'as até a exaustão e o desespero. O 161g'o jama15' pode un'ag1n'ar a magnitude destas ansicdades patológicas, que muilas vezes tam~

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bém acompanham as rcprescntações compulsivas; a parür' dc uma certa m°tensidade poderão praticamcnte tornaI scm efeíto a razão e a capacidadc cognitiva dc uma pcssoa, mesmo tIatando-se dc um d1s°túrbio puramcnte emocional e não cognitivo ou m'telectual. A m'tensidadc da docnça constitui também o critérío para o tipo de uatamcnto m°dicad0: em casos maus° leves, uma m'lcrpretação da sua origem podc ajudar, ao passo quc em casos ma15' sevcros são mm1m"as as chances de cura através dc uma m'terpretação. Talvcz uma parábola possa csclaxecer melhor csta añrmação. Suponhamos que alguém se perdeu num labmn"to. Se estiver perdido há pouco tempo, poderá tcr scntido parar c reñctk sobre a maneüa como cntrou no labmn"to, para dcpoxs' tentar sa1r' pclo mcsmo cammh'o cm sentido contrário. Nestc caso, a reconstrução do passado seria únl Sc, porém, estivcr há vários dias c noites percorrendo a esmo o labxr'1n'to, andando repetidas vezes cm cu'culo, a tcntativa de reconstrução dc scus passos antcriorcs será cm va'o, p01s' seria un'possívcl reenconLrar as b1fur'cações dec¡s'ívas. Seria então a hora dc de1xar' de reñetü sobre as condições de entrada, paxa ded1'car-se um'camentc à busca dc uma saída, usando para Ls'to todas as suas forças dísponívck e, se necessán'o, dcrrubando até mesmo as parcdes que 0 cercam e o mantêm pns'ione1r'o.

Assm,' basicamente podemos constatar que quanto mals' crítica a situação, menos útü é conheccr o “p0r ls'so” c ma15' 1m'portante se torna a força para agü “apesar dls'so”. Vls'to desta forma, a evolução de uma “psicologia profunda” para uma “psicolog;ía das alturas” pode ser deñnida como uma passagem do “por ls'so” para o “apesar dls'so”, como uma mudança da reconstrução mm'uciosa de derrotas psíquicas para o uso generoso do “p0der dcsañador do csp1r'ilo”, conforme dcnommamos na logoterapia aquclc potencial cspu'1'tual do homem capaz de derrubar até as paredes de confusão psíquíca, sc ncccssán'o. ê Porém, 0 ms'trumento quc líberta do labu'1n'to da ansíedade e compulsão atológicas é o método logotcrapêutico da “1n'ten 'o parado ” , o qual se baseia no “poder dcsañador do espíxítdçf e busca um aliado não menos forte que a ansiedade, quc é o humor. Um paciente que aprendeu a nr' de sua ansiedadc sempre que cla qucüa atacá-lo traiçoeüamcnte não se torna tão fac11m'ente sua v1't1m'a; a vitóna' sobre sua fraqucza faz com quc sc fortalcça. E, por mals' m'acreditável que pareça, é realmcnte possível conseguü nr' dos própríos sm'tomas usando um truque ao mesmo tcmpo sun'ples c eñcicntc. Consm'te cste truque etn Lrazer ao pcnsamento o próprío objeto de medo, cm querer tê-lo presente no pensamento através

de todos os possívcns' cxageros, como sc a mclhor cons°a do mundo fosse cxatamenle a reahza'ção daquüo quc por tanto lempo foi tão temido. Anteriormente eu dls'se que “portas quc permaneciam fechadas para o substrato emocíonal da psique abrem-se para as capacidadcs do espíríto humano”. Bem, ao cmpregarmos a “1n'lcnção paradoxal”, podcmos, como terapeutas, obscrvar diretamenlc como sc abrcm cerlas porlas para o pacicntc que durantc anos pcrmancccram fcchadas. Quando o objeto do tcmor ou da compulsão é descjado m'teriormcnte pclo pacíentc, ao menos por fraçoe's de mm'uto, todo o medo desaparece, po¡s' desejo e medo bloqueíamse rccíprocamente e, assun', a establh"dade cmocional lhc é dcvolvi~ da. Na vcrdade, o ncurótíco compulsivo ou dc ansicdade não cstá realmente enclausurado num labmn"lo, mas cncontra-se diantc de uma úm'ca parcde conLra a qual pressiona scu rosto por achar-sc perdido. Sc, porém, de modo paradoxal, ele puder dnzc'r a sí mesmo que não gostaria de estar em outro lugar a não ser num grande e magnxñ'co labm'°nto com muitos cscondcrijos c bccos românticos, podcrá olhar em volta, sorrm'do, e descobrü repcntmamentc quc, atrás dclc, cx15'te tcrrcno livrc. Evidentcmente, precisamos acrescentar que o método da “m'tençã0 paradoxal” somentc é m'dicad0 quando se tralar dc medos mfun'dados, por assun' dLZc'r, “1m'ag1n'áríos”, e não pode ser uuhza"do no caso de uma ameaça rcal ou cmergência verdadcnr'a. E acontccc quc nos casos de emergência verdadeüa ou golpes do deslm'o a psicoterapia recusou-se durante muito tempo a consíderá-los como seus campos de ação; nunca a psicoterapia qucria se ver no papel de consoladora, prefcrmdo ceder este campo para os saccrdotes que, no caso, contam com uma experiência de séculos. Além d15'so, a ciência psícológica até hoje não sabc como oonsolar. O mais humano dc todos os fenômenos humanos, a allição jusnñ'cada ou o luto fundamentado, foi visto por cla apcn45' como fator de dcsarmonía psíquica quc prec15'ava ser “elaborado”, porém nunca o aceitou como um fato objetivo quc pcrtcnce m'evilavelmente à condição humana e que prects'a ser suportado também psicologicam'ente. Se não tivéssemos o esquema loggtcrapêutico da “ass¡s'têncía médica à alma” Aerztliche Seelsorge) , quc sc confronta com a “Lríade lLrágica”1 de sofrimenta cupla e mone, cstaríamos com as mãos vazias diantc de todos aqueles que buscam nossos serviços proñssionak por causa de golpes trágicos do destm'o; e isto seria La'tastróñco diantc da tendência atual de abandunar o confessionárío e passar a procurm os centros terapêuücos.

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Embora as neuroses de ansiedade e as compulsw'as sejam dnfí'cels' de screm curadas, pelo menos são curávels'. Por outro lado, um sofnm'cnto 1n'cvitávcl, uma culpa quc não podc scr rcparada, ou a morte quc sc apro7nm'a, não são passívexs' dc curaz podem apenas ser supcrados, e também 15°to é extremamentc d1f'íc11'. Estes labmn"tos são pcrmancntcs, cstas parcdes nós homcns não podcmos combatcr e derrubaL Porém, exus'tc a1n'da uma liberdade, uma única liberdade quc possuímos d1an'tc deta15' realidades até nosso últnn'o momento de vidaz é a libcrdade da nossa atitude espm"tual. A maneüa como nos posicionamos diantc daquüo quc 0 destm'o nos rcservou é um assunto muito particulax nosso. A logoterapía m'vestigou am'da csta liberdade últ1m'a para tomá-la d15'ponível a seus pacientes e possib1h"tar-lhes a reconcih'ação com seu dcstm'0. Neste ponto, a logotcrapia ocupa uma posição solitária, po¡s' nenhuma tentaüva scmelhante foi rcahza'da por uma outra escola psicológica. Esta “modulação de atitudcs”ll logoterapêutica scrá explicada mediante um caso prático. Um casal suíço vcío cspecialmcnte procurar-me em Munique para buscaI on'entação. A esposa pediu~me quc ajudasse seu marido quc já esteve em tratamcnto com sens' psiquiatras suíços, sem succsso. O casal havia perdido há um ano, num acidentc de carro, scu úníco ñlho e herdeu'o de sua propriedade agrícola; desde então, o pai mcrgulhou numa passividade total, não cuidava mals' de sua fazenda, não convcrsava maJs' com nm'gué¡n; dc vcz cm quando declarava quc nada mals' tmh'a scntido c quc scnna' muita vontade dc se matar com um tu"o na cabcça.

Por ms'ls'tência de sua esposa, o homcm veio até Munique e agora estava sentado à mmh'a frente com a ñsionom1a' 1n'expresslv'a. Eu sabia que nada, a não ser uma coisa, poderia atmg1"-lo e assm' perguntci-lhc: “Sr. X, se am'da pudesse fazer algo pelo scu ñlho, cstaria dls'posto a fazê-lo?” O homem levantou o olhar, assentiu e dlss'e: “Faria tudo por ele.” Contm'uei: “Há algo quc o Senhor poderia fazer pclo seu ñlho, c mn'guém mcus" a não ser o Scnhor. Veja, até agora resultou apcnas dcsgraça da morte dc scu ñlhoz O senhor está doente por causa do sofr1m'ento, a fazenda está abandonada, sua esposa está desesperada... Todas as co¡s'as boas quc scu ñlho talvcz qu13'esse alcançar c reallzar' em sua vida, quc tcna' colocado no mundo, foram barradas pela sua mortc - a não scr que, a partk de sua morte, am'da surglss'e .algo positivo quc pudessc, rctroaüvamente, dar scntido à sua vida e morte. Porém, 15't0 não está mals' nas mãos de seu filho, depende de outro, talvaz de seu paL para

dar contm'uidade a cstas coxsas' posilivas por elc c cvitar quc elc tenha mom'do cm vã0." Os olhos do pai se cncheram dc lágrun'as. “Como podc surgu' algo dc bom de sua mortc?” sussurrou. Porém, clc própn'o teria quc encontrar a resposta, eu apenas poderia lhc m'dicar a d1r'eção. Dlss'e-lhe: “Suponhamos quc o Senhor tomassc suas terrm novamente produLivas c abrESC sua casa para os ncccssitados c os excursn'on15'tas quc faze'm canunh'adas. A todos quc gozassem dc sua hosp1'lah'dade, rccebesscm suas dádivas c pcrguntasscm do porquê de sua mls'cricórdia, podcria rcspondcrz faço-o pcla lcmbrança dc meu ñlho; elc nos dexx'ou muito jovem e eu gostaria quc muítas pessoas se lembrassem dclc com alegria e gratidã03° Ncste ponlo, o homem cobriu o roslo com as mãos c chorou amargamcnte por mcm' hora, pela pnm'eu"'a vez desdc um ano. Dcpoxs' levantou-se e, ajudando sua esposa a vestü o casaco, dxss'c-lhe: “Vamos para casa, nós delxam'os de fazer muilas coxs'a5', mas agora vamos honrar a lembrança de nosso ñlho ...” O homem foí dcvolvido à vida. A logoterapia nos ensm'ou quc qualqucr dcsun'o, por mms' penoso quc seja, é psiquicamentc suportávcl se pudcr scr ms'erido num contcxto dc sentido accitávcl para nós. Invcrsamcntc, nem as condiçõcs ma15' positivas são suporláve¡s' sc a vida em si for pcrccbida como destituída de sentido. A estc respeíto, os anos anteríores de prospelidade forneceram-nos liçõcs un°portantcs, asst' como serão ms'trutivos os anos v1n'douros da recessão. Creio quc não prcms'o d1ze'r a mn'guém quc a curva do nosso desenvolvxm'ento cconômico (na Alemanha) aun'giu seu ponto culmm'amc nas duas últ1m'as décadas, estando agora já num processo de declím'o. É 1n'tcrcssantc observar, porém, quc a curva da saúde psico-higiênica da população não com'cide com a curva do dcsenvolwm'ento econo-^ mico; cla cstá cronologicamente avançada, apro›nm'adamcntc como no esquema da págm'a 42.

Destas curvas deduznm'os quc a saúdc psico-h1g1"ênica de uma população está no seu ponto ideal quando seu dcsenvolvun'ent0 cconômico está progredm'do, ou seja, quando as pessoas têm à frente um objetivo quc tcntam alcançar, quando m'vestem todas as suas forças para construk algo quc está em progresso. É surpreendentc observar quc o fortalecnm'ento das forças psíquicasjá comcça num ponto em que o desenvolvmento econômico ncm almçou seu ponto mals' ba1x'o. AñnaL a mls'6ria tem também uma função dc dar scntido ao motivar o scr humano para uma dls'posição aumentada de esforçar-sc, trazendo rcsultados positivos.

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Ouando a prosperidade atinge seu ponto max'imo. já se iniciou o declínio das íorças psíquicas.

Quando o desenvolvimento econômico atinge seu nível mais baixo, já se iniciou o Íonalecimento das torças psíquicas.

A situação muda tolalmcnte quando 0 desenvolvmento econômico alcança seu ponto máximo e se 1m"cia um pcríodo de prospen'dade. Subitamente a saúde psico-higiênica da população dechn'a, pons' a fartura degenera os homens c facúm'cntc 1m'pede que vejam objetivos que possam querer alcançar - a que deve-se asplr'ar, quando sc tem de tudo? Como, porém, é sabido que apenas as posses matcn'a15' não lrazcm fclicidadc, surgem o aborrcc1m”ento e o tédio; as pcssoas têm dmh'eu"o e bastante tempo livre, mas não sabcm para quê. Uma frustração ems'tencial, como se dlz' na logoterapía, uma sensação de falta de scnüdo toma conta de largas camadas da população c fomenta os típicos cxccssos de situaçõcs de fartura, como aumento da cnmm"alidade, perversõcs sexuais, altas taxa5' dc suicídio c consumo crcsccntc dc drogas. Não prec:15'o me estendcr muito neste assunto, poxs° todos nós tivemos e em pane contln'uamos tendo experiêncías dn"etas destes fenômenos. Quando a prosperidade chega ao seu ñm, geralmente a saúdc psico-hígiênica dc uma população já está bastante afetada, acrescentando-sc a Ls'to o mcdo da decadência. Não podem mals' ser mantidos os cxcessos matcria1s', mas as pcssoas acostumadas à prosperidade não aprenderam a viver de forma modcsta, tornaramse patologicamentc dependcntcs dc bcns materials' e, com a d1m1"nuição do poder econômico, aprescntam algo scmclhante a uma “síndrome de absün'ência”. Ao m'vés de voltar-sc com 1n'tensidade maior para valores espm"tuals', cntregam-se à resignação e depressa'o, acresccntando àsensação defalta dc sentido a de desesperança. Ncstc solo descnvolvem-sc medos excessivos do futuro e são toma-

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das atitudcs 1m'pulsívas scm a dcvída reflcxão, incomprccnsívc15' a parur' da perspccúva de geraçõcs futuras. E a Hls'tória nos moslra que a maioria das culturas altamente c¡'v1hza"das cnlraram cm dccadência pouoo depoxs' dc ultrapassarem scu apogcu econômico, ou scja, ao 1n1"ciar-se 0 reuocesso de sua prospcridadc. lslo aconleccu justamcntc por ocasião dc seu dcclínio psico-higiêm'co, cmbora a1n'da cstivesse dls'ta.nte uma mls'éria rcaL Certamente estas curvas não constituem um deslino m'evitávcl; porém, podcmos extrak dclas a constatação dc que a cstabílidadc psíquica dc povos m'tcu"os cstá rclacíonada à sua vivêncía dc senüd0; e enquanto esta vivência dc scntido acompanhar os altos e ba1x'os da economia, também a saúde psíquica da população está acoplada a cla. Dc acordo com csta prevns'ã0, nosso mundo ocidcntal dcverá brcvemcnte sofrcr um declímb acentuado. Levanta-sc, porém, uma 1m'portantc voz dc oposição, añrmando que lal decadência não prec1s'a ocorrer necessan'amemc, que a vivência de sentido não prec15'a absolutamente estar ligada à rcspectiva situação econômica, mas que, ao contrán'o, o senlido podc ser encontrado em qualqucr tipo dc situação; csta é a voz da logotc~ rapia. Durante a época passada dc prospcridade, a logoterapía constantemente lutou contra o enfraquccmcnto gradual das forças psíco-cspm"tuals', mostrando através dc muilos excmplos c modelos que a vida também conscrva abundantcs possíbmdades de sentido quando materialmcntc há um exccsso à d15°posição; e cspeciahnentc nestas condiçõcs podem ex15'ur' muitas possiblh"dades dc senu'do. Nós não prccm'amos ccder à frustração cns'tcncidl,' po¡s' as condições positivas dc épocas de prospeñdade podem ser aproveitadas de modo que tenham sentid0, criando obras posiüvas que, em outras m'cunstan^cias, nem scriam possíve¡s, como por exemplo obras de ajuda ao próx1m'o, dc axte, de pesqms'a c¡'enuñ'ca. E o mesmo é válido para a época atual de um lní'cio dc recessão; também os tempos áridos dc desemprego, aposentadoria prccoce, falências de cmpresas c crescente empobrecmento a1n'da têm suas possíbmdadcs positivas ao cducar as pessoas para a rcsponsab1h"dade pcssoal, fortalcccr o senso dc união da família, colocar hm1"tcs para a técnica c fazcr ressurgü a condição humana como o bem supremo.

Dc fato, somos ¡m'potcntcs dianlc de uma reccssão cconômica, porém diante de uma reccssão dc nossas condições espm"tuals' e psíquicas podemos reag1r' ativamente com o awdlio da “psicologia das alturas”12, que se colocou como larefa aguçar nossa vxs'ão para as possibúx"dades de sentido de qualquer época c de cada dia. É justamenle para ls'to que temos uma “vontade de scntido”13 que

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possamos empregar contra a sensação de falta de sentido de uma socicdade dc consumo cxcessivo e um “poder desañador do cspm"to” que possamos uuhzax" contra a sensação de desespetança de uma cns'e cconômica. E a psicologia, após mcio século de 1uta, conseguiu cvolu1r' do “p0r ls'so” para um “apesar dls'so” justamcntc para dlssomar" o bem~cstar psíquico da humanidade da depende^ncm' de condicionamentos cmoc1'onals', econômicos ou socials' e colocar este bem~estar exclusivamente sob a líderança do espírito humano, que é a úm'ca ms'tância capaz dc m'tuu" c rcahzar' o scntido da vida. Abordamos de mancnr'a rcsumida algumas das csfcras problemáticas para as quals' não teríamos solução scm os conhccun'entos e o repcrtório de métodos da “psicolog1a' das alturas”, pons' são problemas para os qua15' a atitudc espln"tual do homem tem a palavra ñnal e dec15'iva. A h1$°tcría, a hiper~reflexão c o egoccntns'mo basicamentc são atitudcs errôneas pcrante si próprio, atribum'do a si mesmo um vaJor exagerado; nos jovcns, a dcñm'ênc¡a' de moüvação, a resígnação dcprcssiva, 0 aborrcc1m'ento e o tédío são atitudes errôneas perante 0 caráter dc mlss'ão da vida; c as cr15'es de uma sociedade dc consumo, ou melhor, suas reações de abstm'ên01a' diante do dcchm”'o eoonômico, scus medos e seu desespero, são atitudes crrôneas diantc dc fatores m'cvitávc15' do destm'o. Para cstcs ptoblemas, a logotcrapia tem à d1$'posição várias possibxll"dades dc solução, po¡s', como nenhum outro s¡s'tema psicológico antcrí0r, ela enconüou o acesso ao centro mals' m'terno dc todas as atitudes cspm"tuaxs' do homem, que é a sua consciência. Este acesso lcva a uma área dc dupla oompetênciaz a da psicología c a da “ass¡s'tência à alma” (Seelso¡ge). Esta pode justamenle scr a complementação dc quc nccessitamos para a rcumam'zação da psicologiaz não uma nova tendência da moda dentro da psicologia, mas uma cura, uma assistênciapsicológica à alma baseada na filosoña e ccntrada no sentido.

3. O esquema terapêutico da logoterapia*

Há a segumte lenda sobre o homem modcrnoz Um homem moderno perdeu-se no deserta Durante d1as' arrastou-se, desorientado, pelas dunas de arcia; a m'clcmência do sol ardente foí desidratando scu corpo. De repente, a uma ccrta d¡s'tan^cia, av15'tou um oásm'. “Ah”, dls'se a si próprio, “esla é uma m1r°agcm que qucr mc enganar!” Aprox1m°ou-sc do oá515', o qual não desapareceu. Diante de seus olhos 1r'ritados surg1r'am tamarelr'as, pedaços de relva vcrde e, sobretud0, uma nascente de água murmurante. “Isto não passa de fantasias produzidas pela fome e de alucma'ções auditivas", d121"a para si o andante exausto, “como é cruel a natureza!” Pouco tempo dep015', do¡s' bedu1n'os enconlraram-no morto. “Você cntendc uma co¡s'a dessas?” pcrguntou um ao outr0. “As tam^aras praticamcntc cstavam ao alcancc dc sua boca, hav1a' uma nascentc ao lado dcle, c ele morrc dc fome c sedcl Como 1s'to é possível?” “Bem”, respondeu o outro, “clc cra um homem moder~ no.”

' Estc capítulo é a muscriçáo dc uma confcrência proferida pela autom num congresso de espec1'al¡s'tas cm Roma, no verão de 1984. Dcpors' da conferéncxa°, cla foi rccebida cm audíéncia particular pclo Papa João Paulo II, quc mostmu aprccíação pelo seu trabalho rcallza'do.

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O que nos faz lcmbrar csta lcnda? Oue algo verdadeüo é considcrado como falso, c com tal convícção quc nem mcsmo se cogita em comprovar scu grau de autcnücídade. Islo, por sua vcz, nos lcmbra a leon'a cicntíñca da psicologia, quc, sob ccrtas c1x'cunstâncm lcm ma15' conñança _em suas próprias hipótcses do quc nos fcnômcnos notonam'cntc humanos com os quzus' vê-sc confrontada. Por excmplo, numa scssão dc orientação cm quc uma mãe rclata com gratidão a valiosa ajuda quc sua ñlha ma¡s' vclha lhc prcstara ao cuidax dc scus mn'ãos gêmcos quc nasccram dcpoxs', pode ocorrer quc a esta ñlha seja atribuído pelo terapeuta um severo complexo de mãe causado por uma síndrome de eng'êncms' excessivas. Neste caso, conñrma-sc a lenda do homem modcrno: a dls'posição dc ajudar e a gratidão são fcnômcnos demasiadamentc sun'ples para cxplicar psicologicamentc a situação; termos como “complcxo de mãc” c “síndrome de eng'ências cxccssivas” parccem ser mals' Íidedxgn'os. Porém, conforme ficamos sabcndo, a lcnda não tcm um ñnal fchz,' c o mcsmo ocorre na rcalidadc do nosso cotidiano psicológico; umajovcm à qual se tenta atribuh complexos psíquicos delxa' de scr prcstativa, c uma mãe quc se vê acusada de fazer exccssivas ex1g'êncxas' dexxa' dc mostraI-se grata. O autêntico rapidamcntc pcrde seu valor, mas nem por lss'o o m'autêntico ganha em valor. E assm° chcgamos à palavra-chavc que nos leva ao centr do esquema terapêutico da logotcrapia, quc é o conccíto de valor A logoterapia é uma psicologia quc se volta novamcntc para os valores, quc dc novo admite a ems'tência do autêntico, quc volta a acreditar na possibmdade scmpre prescntc dc scntido da condição humana./[

Quando tcvc xní'cio a psicologna' modema com Freud, podcríamosdnzc'r, cm scntido ñgurado, quc todo oá515' era uma mlr'agem. Escreveu elez “No momcnto em quc perguntamos pelo sentido e valor da nossa vida estamos docntcs, poxs' ambos não ems'tem dc forma objetiva. Após m1nh'a morte, os Senhores me conservarão vivos na sua cordial lcmbrança, e esta é a úm'ca forma dc 1m'ortalidade quc admito. Delxc'mos o céupara os anjos e os parda15'.” ch, Freud dc fato permanecc em nossa memóna' como o fundador da psicanálkq à qual dcvemos agradccer, dc acordo com F.W. Focrster, quc, em oposição à sua uml'ateralidadc e seus exageros, um psiqma'tra como V1kt'or E. Frankl pod^e se mamf'estar. Para FrankL novamcnte em sentido ñgurado, poderíamos dlze'r quc há um oáms' até mesmo onde não podemos vê-lo ma15'. Ele cscrcvc:/'Não podemos ver o oéu, nem com o auxílio do ma15' potentc holofotc. Sc enxergarmos algo, uma nuvem, por exemplo, comprovar-sc-á quc não é o céu quc cstamos vendo. Porém, sãojustamentc

cstas nuvens v15í've¡s' quc constitucm o símbolo do cóu m'v¡.<sí'w:l.7zq Assxm,' cnquanto quc Frcud tcnta dcsmascarar tudo quc é subjcu'vamenle m'autêmioo, e ncstc afã acaba dcsvalonzan°do também muitos aspectos autênticos, Frankl tcnla cncontrar no homcm 0 autênu'co/zl, “espcc15'camente humano", e dirccioná-lo para valorcs objctivos.a realidadc, para Frankl a cxistência humana comcça exatamcntc no momento em quc estiver du'ccionada a um logos, um prcssupos/mto 'dcpendentc quc não cstá fundamcntado na própria cms'tência. /A scgmr', comentarci sobre três pnn'cípios tcrapêuticos quc selecionei da multiplícidadc conceitual da logoterapia, os quals' cstão todos rclacionados com 0 conccito de valorcs c podcm facümente ser transpostos para a psícoterapia aplicada. O pnm'c¡r'o pnn'cípio podcria ser denom1n'ado dc Como pemeber o valor em si, o segundo de Como aumentarasensaçdo de valorda vida e o tcrocu°o de Como Iidar com os conflitos de valores e a perda de valoresy Pclas explanações scgmn'tcs vcnñ'carcmos quc podcmos atn'buir a cada uma destas três normas terapêuticas um termo geral quc contém respectivamente em uma palavra o objelivo a scr alcançadoz razão, conjíança e reconciliaçãa ®omecemos com o pnm'elr'o prm'cípio terapêutico, Como percebero valorem sí. Na logoterapia acreditamos quc lanlo os seres amm'ados quanto os 1n'amm'ados possuem um valor própn'o. Os vegctals', os amm'ais e os homcns, mas lambém os objctos, lêm um “valor em si”, e não apenas um valor para ñns uuh"tários, a parth de uma v1$'ão humana. Alérn dls'so, há valorcs abslratos quc scrvem à manutenção e ao desenvolwm'cnto do ser, tals' como pcnsamentos posítivos, ações plenas de sentido, reahza'ções espm"tuais, etc., quc poderíamos 51m'plesmentc denomm°ar de “o bcm”. E também cste “bem”, embora não possa ser compreendido concretamcnte, encerra cm si uma conotação de valor, cle nunca é bom apenas a partü de uma certa perspcctiva. Embora não quercndo m'correr cm um absoluns'mo de valorcs, prccxs'amos recusar aquele relativxs'mo de valorcs quc nega qualqucr vaJor objetivo, alegando tratar~se de uma reprcsentação subjetiva dc valores, cfetuada por uma humam'dadc

prcviamentc condicionada pela sua tradição. Ao lidarmos com 1n'divíduos psiquicamcntc pcrturbados, ms'távc15', fracassados ou desesperados, nota-se uma caracleríslica marcantc comum a todos, qualqucr quc seja seu problema m'dividual. Trata-se da ñxação em si mesmo, ou scja, da subjugação à sua própria dls'posição, a seu próprio estado de cspírit0. Quasc lodas as pessoas quc não se dão bem con51g'o próprias ou com a vida colocam

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Estas pessoas quase não percebem mals' os valores que ex15'tem ao seu redor, independentemente da sua condição pessoal, o que torna sua vida lão pobrc de vaJorcs c tão vazia. Porém, quanto maJs' pobre c vazia lhes parccer sua vida, ma15' mf'ehzc's naturalmentc sc scntkãq ñxando scus pcnsamentos a1n'da maxs' em seus mf'ortum"os. Para 1n'tcrromper cstes efeitos recíprocos, não basta utlhzar" 51m'plcsmentc cstratégias paxa mclhorar sua d15'posiçã0 negativa ou para resolver o problcma cm questão. Como pcssoa do lado de fora podemos dc vcz em quando ehmm"ar alguma mf'clicidadc; não podemos, porém, colocar valores numa vida sc a rcspectiva pessoa não descnvolver a sua capacidade de VIs'lumbrar aqucles valores que, o tempo todo, já exxs'tiam dentxo e fora da sua vida. Quando, por cxcmplo, um m'divíduo deprcssívo csüvcr passeando numa pals'agcm Horida, é bem provávcl que nada perccberá da bcleza dcsla pms'agem, por estar lotalmente 1m'erso cm sua tns'lcza. Esta ms'teza possivclmente podcrá scr rcduzida mediantc uma medicação suñcicntcmcntc forte, mas ls'to não garantká que a beleza da paisagem brotará no coração desle m'divíduo. Ou um outro exemplo: um jovcm com uma decepção amorosa poderá descontar toda sua desüusão com 0 relacionamento mal sucedido em sua famí1ia, ñcando cego para perceber a compreensão e a paciência que sua família terá para com ele. Ele pode ser ms'truído a ab~reagu' sua agressividade excessiva em competiçõcs esportivas e não no jantax em famí1ia, mas ¡s'to não lhc trará necessariamente a consciência da segurança que sua família cstá lhe ofercccndo. l Os comportamentos m'adequados são passívels' de serem corrigidos até um certo grau através de meios tcrapêuticos; porém, enquanto que a pcssoa em questão permanecer ñxada em si própria, porque não consegue perceber os “valores em si” que a vida coloca à sua dls'posição, a séríc de reaçõcs m'adequadas prosscgu1r'á. E prosseguu'á porque a pessoa contmuaxá sendo aquela que “reage” àquüo que lhc acontecc, que reagc com tns'tcza, dcsapontamcnto, ctc. Ela não crcscerá paIa “ag1I'”, paxa exccutar uma ação m'dcpendentc e rcsponsách uma açao' de intencionalidade espin'tual, conforme d1L" Frank1, um ato que acontece para a reahza'çã0 de um valor objetivo.

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sua própria mf'clicidade no centro dc sua atenção; estão constantemcnlc ocupadas cm dela rcclamar, em tcr mcdo ou v1n'gar-se dela, cm combaté-la ou refugíapsc ncla; em rcsumo, clas próprias cons~ titucm pralicamcntc seu contcúdo dc vída.

Somente quando o mundo pudcr ser pcrccbido dc mancüa relativamentc m'dependente da rcspcctiva condíção do observador, poderá ser espüitualmente m'tcrprctado dc acordo com os elcmcntos dc sentido que nclc aguardam por sua rcahza'ção. São csscs elementos que dão conteúdo a uma vida humana, e com isso capacítam o observador a dar respostas às perguntas que a vida lhe faz. Um m'divíduo deprcssivo, que apesar dc sua depressão am'da é capaz de perceber harmonia e graça na natureza cu'cundante, admite tambem a m'dulgéncia além de sua melancoha'; talvez até pudesse ms'enr' sua melancolia nesta indulgência, o que lhe daria mals' forças para suportar avida do que uma tcrapia medicamcntosa unüateraL capaz de cstlm'ulá-lo aruñ'cialmcntc, mas que, cm úlnm'a anáhs'c, acabará cnfraqueccndo-o. Algo semclhantc podena' acontccer com aqucle jovcm que tcvc uma dcccpção amorosa se, além dc sua 1rn"tação pcssoal, ele for capaz de comprccndcr a dedicação c abncgação daquelas pcssoas que contmuam exns'nn'do para cle. Um amor não pode substitmr' outro, mas pode provcr consolo, c cstc ajuda a a dccepção. Fortalecer em seus pacientes a capacidade de pcrceber valores, ao mostrar-lhes c trazer à sua presença valores obj etivos durante os encontros terapêutícos, oonstituL portant0, um pnn'cípio tempêutico bastante elementar da logoterapia. Este processo faah"ta ao mesmo tempo a busca dc sentido, que, de acordo com a logoterapia, constitui 1gu'almente um anseio básico do homem, especialmente do homcm com problcmas ou daquelc acometido de uma frustração ex15'tcncial, o qual não raramente prcc15'a cncontrar uma rcsposta sobre o “porquê” c o “para quê” de sua cns'tência no mundo. Os ñlósofos ems'tenciahs'tas nos moslraram através da máxam'a “a cms'tênc1a' vem antes da essência” que o homcm preas'a se conceber como alguém que foi lançado na vida, que vivencia sua ems'tênc1a' antcs de conhcccr sua essência. Cabe a ele cncontrar dcpons' sua essência.

Se traduzmos estas considcrações ñlosóñcas para o cotidiano psicotcrapêutico, poderíamos também dcñnk o homem psiquicamentc docnte como alguém que am'da não eucomrou sua própn'a cssência. Seria aquelc que am'da está vivendo sua ems'tênc1a' “nua” c lutando pelo scntido dcsta sua ems'tência. Porém, nenhum tempeuta, orientador ou consclhcu'o rcligioso podcña dlze'r àquele que busca oricntação qual o sentido de sua cms'têncía. Somente podc dcscrever através de muitos exemplos que toda existência humana tem seu sentido; um sentido que se abre para aquele que o busca tão

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Nos nossos exemplos sobre a Bulimarexie, ls'to SIgmñ"ca que, ao m'vés dc m'vcstigar qual cstado m'terno ncgativo levana' uma pcssoa a tcr hábitos al1m°entares tão dcscontrolados e desnaturals', seria muito mals' m'teressante saber em quc 1m'aturidade ou bloqucio espüitual se basela' esta fraqueza dlan'le de uma lenlação e por quc

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Enquanto conun'uarmos a nos qucstionar sobrc “qual potcnc1al'emocional produz cste ou aquele dls'túrbio dc comportamento”, am'da não alcançamos o prm'cipal questionamenlo na psicotcrapia quc 6 “por que acontecc quc o potcncial espin'tual de uma pessoa obedcoe, ou até sucumbc, a um cvcntual comando cmocional falso?”

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No dccorrcr da dxs'cussão foram fcitas as mans' variadas tcntativas de m'tcrprctação, novamcntc no sentido dc quc dcven'am cns't1r' conflitos m'tcrnos profundos, os quaJs' 1m'pcd1r'íam as mulheres de se permitü algo de bom, esum'ulando nelas “atitudes puniti~ vas” anormab contra si próprias. Como teorias explicativas foram citados sent1m'entos de culpa exagerados, sensação dc abandono, ódio de si próprio, etc. Porém, mn'guém lcvantou a qucslão se, dc fato, scna' tão natural quc cstcs senüm'cntos precxs'asscm scr automaticamente obedecidos. ngu'6m se cspantou dc ver o scr humano, aíinaL dotado dc razão, transformado num súdito tão passivo dc scus próprios sentlm'cntos.

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Ela se entusiasmou com estas idéias e começou a tomar aulas de expressão corporaL Devido ao seu ba1x'o peso, precm'ou empregar muito esforço nestes exercícios, o que, por sua vcz, causava-lhe cansaço c fome, d1m1n"um'do sua res¡s'tência à comida. Ao mesmo tempo, csta atividade fcz com quc conhcccsse um grupo dc jovcns

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Lembro-mc, por exemplo, de uma jovem que me procurou para se submctcr a uma terapia por causa de sua anorexla,' a qual constituL por a551m' d1zc'r, um vício às avessas; durante csta terapia praticamcnte não abordamos o tcma “comida”. Em apro›nm'adamcntc v1n'te horas de tcrapia 1n'vestigamos conjuntamente os aspectos positivos dc seu campo dc cxpcriência pessoaL Ela tinha mov1m'entos graciosos, de uma graça natural que nunca fora trcm'ada. Para ela, dançar sxgnxñ"cava apenas d1'vcrt1I'-se em dls'cotecas. Exploramos o tema da dança e mostrci-lhe o que a dança podena' serz uma obra de arte rítmica, um mcio de expressão, um ms'Lrumento para dar alegria aos outros, um anseio de perfeição.

slm'pátícos que passaram a tcr uma mfl'uência mujto mclhor sobrc ela do quc os scus antigos companheu'os dc d¡s'cotcca. Hoje cla sc tomou uma talcntosa csquiadora c uma ousada pat1na'dora artística no gelo; cmbora conlmuc lcndo um corpo csguio, não está absolutamcntc magra. Durantc anos cla sc submctera a tratamentos com vários médicos, os quals' procuraram c encontraram uma sóric de conflitos fam1h"arcs quc foram wnsidcrados por clcs como causa da docnça, o quc podc até ter sído um diagnóstico correto. Porém, ao apontar estes conflitos para cla, não sc conseguiu um déc1m'o daquele rcsultado que foi alcançado no ñnal, ao apontar um único valor. Reccntcmcnte, alguns médicos espea'ahs'tas na Alcmanha dls'cut1r'am sobrc o suxgun'ento de uma nova docnça, uma combm'ação dc anorexia e buhm1"a, denomm'ada por elcs dc Bulimarada As pacientes que sofrem desta docnça - são sobreludo mulhcres mg'crem porções cnormcs dc comida, para dcpois provocarcm vômitos para chmm"ar tudo que foí ingerido. Estc proced1m'ento é rcpetido quatro ou cm'co vezes ao día, o que acarreta carêncnas' nutritivas, d15'túrbios cstomacals', am'tmias cardíacas c toda cspécic de ontros sm'tomas orgânicos.

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Uma das enfcrmidades atuals' de carátcr cpidêmico que não tcm chances dc cura sc não ocorrcr csta abertura para 0 mundo é a (toxic0)mania. Comumentc ela é deñnida como “dependência”; no fundo, porém, não se trata tanto dc dependência do tóxico, mas dc depcndência do toxicômano em rclação à sua própria d15'posição ou estado de cspírita Além dxss'o, 1m'plica a pcrda gradual de todos os “valorcs em si”, p01$' todo o ambientc externo se restnn'ge a duas categorias, aquela que scrve para satkfazcr as ncccssidadcs de seu vício c aqucla que sc opõc a esta sans'fação. O tóxico torna-se o regulador do respectivo estado de cspírito, estabelecendo o jugo sob o qual o toxicômano se curva. O tóxico mclhora o cstado de espírito da pessoa, mas gradualmcnte d1m1n"ui a sua capacidadc de suportar estados negativos. Faz a pcssoa ver valores 11'usórios, como por cxcmplo na cmbriagucz ou nos delírios produzidos pelas drogas, mas faz a pessoa acordar numa pobrcza real de valores, tão ms'uportável que coloca o m'divíduo novamentc sob o jugo da droga. O sucesso de qualqucr tcrapia scrá questionável se, além dc todas as medidas neccssán'as, como dcsm'toxicação c abstm'ência, reab1h"tação sociaL oricntação à famí1ia, etc., não se acrescentar aquele pnn'cípio terapêutico da logotcrapia quc promove a pcrccpção de valores objetivos por partc do paciente, dando lugar, assnm,' a um alto grau de m'dependênc1a' da respectiva dls'posição subjetiva e uma centração espüitual nos conleúdos de valores autênticos da vida.

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logo cle conseguk superar sua ñxação em si próprio c abnr'-se apütualmcnte para o mundo c suas larefas.

a raza_'o da pessoa não sc mamf'esta díantc dc uma “ação contra a razão”. Pclo mcnos a logotcrapia não m'daga pnm'ariamcntc sobrc o porquê de tcr se fortalecido o aspecto doente dc uma pessoa, mas sobrc o porquê dc não scr suñcicntemente fortc o scu aspecto saudách sensalo e m'tehg'cntc. E como resposta ela obtém, ao m'vés de teorias de conñitos quc csclarcccm os aspcctos doentes, a tcoria da motívação da “vontadc de senu'do”, a qual todo ser humano possuí c que sustentará scu proccsso de rcstabcleam'ent0 se cle perceber um “valor em si” ao qual puder se cntregar com m'tencionalidadc cspln"tual. Parece ser o destmo da nossa espécic cstar constantemente oscüando enLre d015' extrcmos, sem conscgmr' chegar a um meio-termo sadio. Isto também se aplica às corrcntes psicológicas predominantes quc, atualmcntc, ocupam-se quasc quc cxclusivamcnte do nívcl emocional do ser humano, cm oposição à racionahza'ção c m'telccruahza'ção enfocadas anten'0rmentc. Scm dúvida, a afeLividade com todas as suas rcpcrcussões cmocx'ona1$' c d15°posicionais tem grandc un'portan^cia, porém, mcsmo assxm,' não rcprcsenta a “h15'tóría toda” do ser humano. Está mals' do que na hora de pensar cm dar mais atenção àsforças espin'tuais do scr humano c usá-las para superar problcmas psíquicos; caso contrário, nossos empcnhos terapêuticos acabarão num beco scm saída. E não apcnas o trabalho terapêutico, mas também os grandcs problemas mundiaxs' da huma› nidade, como por exemplo os problemas do Tcrcc1r'o Mundo e da supcrpopulação, quc absolutamentc não são solucionávcls' através da anáhs'e das cstruturas cmoc1'ona15', mas apcnas através de um enorme esforço da razão humana, levando em oonsidcração os valores éticos, ecológicos c cultura15' exxs'tcntes. Assun,° a logoterapia apela novamentc à razão do homem,' ela está convencida de que esta força espm"tual poderá ser utlhza"da sc o homem souber de xum sentido, para cuja reahza°ção valcria a pena recuperar a sau'dc. As vezes pergunto aos meus pacientes, após tcrem mc relatado suas mul'tiplas quexxas', o que fariam da sua vida se não tivessem estas suas qucxxas'. Pouqu15'51m'a5 pessoas conseguem dar uma rcsposta cspontan^ca a csta pergunta. E cste fato constitui exatamente 0 ponto ccntral dc scu sofr1m°enloz nao' conhecem nenhum motivopararecuperarem a sua saúde. Mas este também é o ponto ondc começamos a tIabalhar logotcrapeuticamentez além da clmm"aça'o das que1xa's tenlamos tornar transparentc um motivo destc tipo para o paciente, mostrando~lhe um “valor em si”. Caberá ao pacíente decid1r' até que ponto cstará d15'poslo a se engajar por cstc valor. De qualquer forma, dcverá sc tornar consciente de que

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enst'cln tarefas no mundo quc esperam por ele, quc, dc certa manexra,' só poderão ser realmdas por cle e quc ncccssitm dc sua saúdc, ou seja, da mobnhza"ção dc sua pcrsonalidadc totaL Elc dcverá ver estas tarefas para dcpons' dar forma à sua vida de acordo com sua própna' consciência. Nós logoterapcutas não pm'lamos para elc 0 mundo numa tela da forma como nós o 1ma'g1n'amos, mas quercmos quc cle vcja o mundo de olhos abcrl'os, da forma como clc 615, e que dcpoxs' pm'te a sua própria ¡m'agem do mundo, com as mals' bclas cores que possa achar. Ptaticamcntc nós lhc retüamos o véu que cobrc seus olhos c chmm"amos a ñxação ncfasla em si mesmo.

“Eu pinto exatamente o que eu vejo, é claro."

(E.s'ta caricatura stm'bolzza' muito bem a “cegueira de vanres” de que muitos dos nossos pacientes estão atualmente acometid0s, asm' como a tarefa do logoterapeuta de restituir-Ihes sua, “capacidade de m'ao' ".) Retomemos agora o segundo prm'cípi0 terapêutico da logoleraph que denomm'amos de Como aumentar a sensaçâo de vanr da tha'. A expressão “sensação de valor da vida” demonslra que a logoteraph ccrtamentc não neglígencia o nível emocíonm do ser humano, embora não lhe atribua a mesma 1m'p0rtan^cia superior que

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' N.T. Em alcmáo, Lebemwatgcpuhl = sensação de valor da vida; Selbsxwmgcfudll = scnsaçáo de valor própn'o, autocsnm'a.

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Para mclhor comprcensão, retomemos uma vez mals' o nosso excmplo dos memn'os que ajudaram a carregar as maças'. 1mag1n'emosas conseqüências se a velha, após ter recebido ajuda, não tivesse sc mostrado agradecida c não tivcssc lhes dado as maçãs. Será que, ncste caso, 0 pnm'c¡r'o memn'o dcscrito não ñcaria tremendamente 1m"tado por ter se esforçado “m'utllm'ente", ñcando com ls'to afctada sua auto-cst1m'a? O segundo memn'o, porém, tem a possib1h"dadc dc am'da encontrar um sentido nesta situação ms'ahs'fatória, p01s' o fato dc ele ler ajudado uma mulher que necessítava de auxílio não lhe pode ser m'ado, m'dependentemente de clc tcrrecebido um agrade-

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Como a sensação de valor da vida cstá 1n't1m'amente hg°ada à motivação básica dc uma pcssoa, uma pequcna comparação entrc uma mcsma ação praticada a partu' dc do¡s' motívos d1f'crentes podena' contribuk para estabclecer a dchm1"tação da scnsação dc valor próprio. Suponhamos quc nm mcmn'o cncontrc pclo cammh'o uma vclha carregando uma cesta pesada de maças'. O menm'0, ao ver as maças' apetitosas, sente muita vontade de comer uma delas. Pensa então que certamentc a Inulher lhe dana' algumas maças' sc ele a ajudasse a carregar a oesta para casa. E assun' acontcccuz ele carregou para ela a cesta pesada e ela lhc dcu algumas maças' em troca Tudo bem até aqui. Embora o motivo do memn'o não fosse totalmcnte altruísta, ele, añnaL praticou uma boa ação, o que é muito melhor do que sc não tivcsse prestado ajuda. Scu ganho, além das maças' que reccbeu, será também um aumento dc sua scnsação de valor próprioz ele foi esperto e seu plano deu ccrt0.

A partü do exemplo, podemos concluu' que uma sensação positiva dc valor próprio é um subproduto dc uma ação bcm-sucedida, c uma sensação positiva de valor da vida é o subproduto de uma experiêncía de sentido. Naturalmente também nós, logoterapeutas, ñcamos sans'feitos em ver que consegunn'os levar nossos pacientes a reahzar' uma ação bem-sucedida; vemos, porém, um ccrto pcrigo ao fazcr dls'to o objctivo da terapia. Com cfeit0, o quc poderia acontecer se nossos pacientes, após sua rccupcração, cvcntualmentc não tivercm ma15' expcriências bem-sucedidas c, subítamente, sua sensação de valor próprio dimm'u1r'? Ncste caso, provavelmente, nós os teríamos de volta como “casos rem'cidentes”. Parece-nos consideravelmente mals' scguro torná-los abertos para experíências dc sentido que possam aumentar sua sensação de valor da vida, p015/'o sentido pode scr cncontrado scmpre e cm qualqucr lugar, até mcsmo nos ms'ucessos,

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Toda psicoterapia tcm como objetivo melhorar e mantcr cm cqmlíb'rio a scnsação de valor próprio dc pcssoas docntcs. Nada temos a objetar a csta idéia, poxs° a auto-cst1m'a e a consciência de scu próprio valor rcalmente constitucm establhza"dores poderosos da saúde fls'ica e psíquica. Incrcntc ao cu há, de fato, um “valor em si”, quc prccns'a ser pcrccbido cspm"tualmente, po¡s' nele se baseia a autoconñança do homem. Porém, também ncste caso devemos dxze'r que esta não é a “hls'tóna' total” do homem. Apenas a consciência de seu próprio valor não é suñcientc para cxplicar a condição humana. Uma elcvada sensação de valor próprio a1n'da não é uma garantia para se viver bem. A sensação de valor próprio reñcte sm°plcsmentc a quantidade e m'tcnsidade das rcahza'çõcs de acordo com as quaxs' alguém se julga bem-sucedido, nada dcclarando, porém, sobre a pIenitude de sentido destas reahza'çõcs. Uma tal declaração somente se condensaria na sensação de valor da vida, naquela sensação, que precedc todas as exterionza'ções humanas, dc que a vida valc a pcna ser vivida, que a vida 51m'plesmente é “plena de scntido”.

Contrastemos agora o caso de um outro memn'o que lambém encontra a velha com a ccsta pesada, mas ele vê a vclha e não as maças'. Ele percebe como ela vai se arrastando pesadamentc pclo cam1nh'o, de costas curvadas, e como cla tcm quc usar todas as suas forças. Ncste momento, o mcmn'o perccbc o “scntido do momcnto”, que c0n515'te em colocar suas forças juvcms' a scrviço de algo ou alguém que necessita delas. Também clc sc oferece para lcvar a ccsta para casa, e, ao fazê-lo, recebc algumas maças' de prescntc. Qual seria 0 ganho destc segundo menm'0? Ele teve contato com o “valor em si”, aquüo que é bom e tem sentido, que estava m'erentc à sua dls'posição de ajudar, m'dependentcmente dos rcsultados da ação que lhe adviriam no ñnaL Com ls'to 1r'á aumentar não apenas sua sensação dc valor próprio, mas sobretudo sua scnsação dc valor da vida, ao sabcr da plcnítudc de scntido da sua cx15'tência. Enquanto quc o pr1m'e1r°o memn'o podcria dlzc'r, saüs'fcito: “Flz' um bom negócio!”, o segundo poderia se senür' rcahza'do ao pensarz “Foi bom eu ter passado pela estrada naquelc momento!”

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Ihc confere a psicologia profunda. Porém, a expressão am'da m'dica a ampliação do conceito dc“sensação de valor próprío”*, damesma forma que, analogamente, a logoterapia tcm uma função ampliadora e complcmentadora na psicoterapia.

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Sabe-se que até hoje toda psicoterapia capltul'ou d1ant'e do problema do abandono. O slogan “terap1a' ao m'vés dc punição”, quc a psicologia forense de vez em quando faz rcssurgü cm d¡v'ersas partcs, mf'ehzm'entc não está baseado numa conccpção reallsta,' e contm'ua scndo até hojc bastante m'cíicicnte. Estou convcncida dc que 15'to cstá relacíonado com o fato já mcncionado de qne a psícoterapia tradicional tcm como objeüv'o fortalccer e estabnhzar" a sensação de valor próprio dos pacientes, o que podena' ser perfeitamcntc adcquado junto a ncurótioos c melancóh'cos, mas quc absolutamente não constitui o problema das pessoas abandonadas

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Um dls'túrbio quc 1m'pede radicalmcnte o desenvolvnm'cnto espm"tual e pessoal de uma pcssoa c que, cspcmalm'cntc com rcspeito àquüo que foi dito dcve scr levado a séri0, é o abandono (ou ncgligência). Não raramcntc csta cxpcn'ênc¡a' de abandono acom~ panha os quadros de psicopatia, dchn'qüência, prostmn"ção e Inn estüo de vida dcgradanta Nestc dls'túrbio enoontramos geralmentc uma supreendente dcsarmonia entre sensação de valor próprio c sensaçáo de valor da vida: enquanlo que a pnm'elr'a pode ser bem dcsenvolvida, e às vezes até exageradamentc clevada, a segunda dccaj até o nível zcr0. Esta dls'crepan^cia sc man1f'esta num cgoísmo mesclado com agressividade de acordo com o lemaz “Apodero-me daquüo que necessito.'”, associado a um nnhsm"'o fatalístico scgundo o lcmaz '*ngu'ém prems'a mesmo de m1m'!” Da combma'ção destas duas atitudcs rcsulta uma relação despreocupada e dcscuidada com osvalorcs, quc não são 1'denüñ'cados como tals', qucr scjam objetos, seres humanos ou até a própna' pessoa. Assume-se altos nscos' quc não são proporcíona1s' ao lucro esperado a curto prazo. Arnscam'~se homicídios por causa de dls'cussões m'elevantes, rcahzam'-se fraudes e assaltos por causa de uma riqucza passagcu'a, vendcm-se o oorpo e a alma por causa de relacionamcntos amorosos m'dlsmm1"'nados. AfmaL a vida sob o aspccto do abandono não constitui um valor elevado que dcvcria ser guardad0, cuidad0, protegído, rcflctido c construído, não é umaprcciosidade pcla qual se 6 responsách mas um joguete da sortc quc lançamos para ganhar ou para pcrdcr tudo. Enquanto que a m'd1f'crcnça exprcssa falta dc consacn'^aa' dc valorcs, o prazer em assum1r' ns'cos expressa consc1'ênaa' de scu próprio valor.

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cun'cnto ou não; sua ação é “seu própn'o monumen10”16. Ee aIé mesmo poderia aumentar a qualidadc dc sua ação ao acrcscenlarlhc o perdão pcla mgr'atidão rccebida. O que elc fez nunca scrá “m'u'ul'” e, assxm,' sua sensação dc valor da vida não scrm' atmg1"da por esta rcação da mulher.

e páoopatas Ncstc caso prcas'aríamos dc um pnn'cípio tcrapêutico quc, ao conlrário, fossc capaz dc forlalcccr a scnsação dc valor da v1da.' E não conheço ncnhum prm°cípio, a não scr o logolcrapéuticq que pclo menosm'dicasse a d1r'eção quc sc dcvcria scguu'no Lrabalho com esta chent'ela. Já dlsc'ut1m'os que ambas as sensaço'es, a dc valor próprio e a dc valor da vida, na realidade são subprodutos quc, porlanto, não podcm scr düctamcnlc prctcndidos ou m'tentados. mas quc prccisam dc um dcsvio; c cstc dcsvio pclo qual forçosamcntc podc scr oonseglnda' uma scnsação de valor da vida é a busca dc scntido. Como, poréln, por um lado, as pessoas abandonadas são tão cegas perante os valores que, mostrando~lhcs valorcs mcdlan'tc palavras ou exemplos, não há pratícamente efeito de Lransferência sobre eles e, poroutro lado, seu ego seguro de si é tão dom1nan°te que não estão dlspost'os a se delxar'eln mfl°uenciarpor oricntaçõcs c sugesto'es, resta apenas uma única possib1h"dade: prccls'am ser envolvidas e engajadas cm tarefas que tenham scnu'do, na csperança dc quc a centelha da busca dc sentido possa um día sc accndcr, pclo menos em retrospecto. Concretamcnte, 1s'to sxgmñ"ca, por excmplo, que jovens que costumam pichar c damñ'car construções públícas devcriam ser convocados para tarefas dc embelczamento ambicntal de toda cspécie; ou então, conforme está sendo cogitado prcsentcmentc na Áustna,' os motons'tas detidos por embriaguez no volante devcriam prestar serviços de atend1m'ento em prontos-socorros por algumas semanas Além dlss'o, a ênfase pedagógica cm ms'tituiçõcs de ensm'o para alan'ças problemáticas ou abandonadas não devcría sc rcstrm'g1r' às rcahza'çocs' do cotidlan'o, ou scj a, ao controlc do absolutamentc ncccssán'o, mas os m'ternos devcúam scr cstxm'ulados a encontrar a coragcm para desaños espm"tuals'. Isto poderia ser conscguido se os confrontarmos constantemcntc com tarefas que tenham sentido, para as qums' estão preparados exteriormente c com as quaxs' poderão crcscer mt'eriormen1e.

Naturalmcntc estas confrontações podem ocasionar cohs'ões, po¡s' não podemos contar de antemão com a partícipação cspontâ~ nca da che'ntcla. E tudo que é feito sob coação, mesmo que seja uma “coação salutar”, tem um gosto amargo. Porém, posso añrmar, a pamr' de m1nha' própr1a' cxpcriência como supems'ora psicológica dcvánas' para cnan'ças e adolescentes, que ambos, tanto o “scr obnga'do a fazer”, quanto a “tarefa” como tal, ajudam a combatcr com sucesso o abandono. O “ser obng'ado a fazer” atenua a scnsaçao' cxageradadevalor próprio c, por consegmn'te, o egoísmo

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Passemos agora para o terccüo prm'cípio tcrapêutico que anunciei e que decorre logicamente dos dms' antcn'ores. Trata-se dç Como Iidar com os conflítos de valores e aperda dre valores. Quanto a esta tripla subdív15'ão dos prm'cípios devemos observar que as bases antropológicas da logoterapia são tão ricas em m'dicaçõcs metodológicas que na prática resultam scmpre em sugestões apropna'das para cada caso 1n'dividual. Porém, como estamos reHetmdo sobre a recuperação logoterapêutica dos valorcs, precns'amos também accitar o fato de que os valores podem conñitar entre si c também podem se perdcn Ambos os fatos rcquerem reconc1h"ação.

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Dls'se propositalmcnte “conhec¡m'ent0 ou f ” po¡s', embora a dehm1"tação entre ambos normalmente deva ser fcita de maneüa prec1$'a, os doxs' se sobrcpõem no conceito da coniiança, a qual poderíamos deñn1r' como “conheam'ento do coração” ou “fé da razão”. Trata-sc de uma conñança pré-rcflcxiva de que tudo, da forma como cstá, de algum modo, é bom e corrcto, mcsmo que não possamos comprecndê-lo. Para a pessoa rehg1"osa, esta conñança

Ao dls'cut1r' o pr1m'elr'o prm'cípio tcrapêutico da logoterapia, m'diquei que atualmcnte muitos dos nossos pacicntcs não têm um motivo para sua cura, bloqucando assun' seu processo dc rcstabelec1m'ento. Gostaria de acresccntar que muitos deles sun'plesmcnte também não têm a força para se curarem Eles cncontraríam um motivo somente se de1xas'sem se guim novamente pela sua razão, que terá seu desenvolwm'ento pleno na “vontade de sentído”. E a força somente será encontrada numa conñança m'abalável na vida, a qual jaz no conhccm'ento c na fé de lcr seu valor¡As.sun,' os doxs' objetivos terapêuticos prm'cipais dcntror dos pnn'cípios logotcrapêuticos seriam ajudar a pcssoa psiquicamente doentc a cncodntrar tanto um motivo quanto a força para recuperar a saúde. Precm'amos reconhecer, porém, que ambos somentc poderão ser encontrados c não dados pela terapia. Também para a psicoterapia vale o ditadoz “o melhor não pode scr feito pela mão do homem c o que pode ser feito pela mão do homem am'da não é o melhor”.

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Conhecemos ass¡m' a sensação de valor da vida como um corretivo para aquele m1hsm"'o falahs'ta segundo o qual nada tem mcsmo sentido. Exprcsso no positivo, podcríamos também designar esta sensação como o m'dicador da “conñança básica”, aquela conñança na vida que nunca poderia cmcrgü apenas do próprio eu. Certamente uma grande segurança de si tcrá como conseqüência uma conñança em suas próprias capacidades produtivas. À medida, porém, que a capacidade produtiva d1mm"u1,' também a segurança ' de si próprio d1mm"um"a se não houvessc um fator adicional que garantxs'se uma oonñança prévia m'condicional. Este fator é justamcntc o conhemm'ento ou a fé de que a vida é vah'osa até o últlm'o momcnto.

Esta conñança, que se baseia na sensação de valor da vida de uma pessoa, d1f'erencía-se fundamentalmente de qualquer fatahs'mo, que considera todos os evcntos como m'evitavelmcntc prcdctermm'ados, com a conseqüêncía de que seus adeptos cruzam os braços e permaneccm como que parahs'ados numa atitude passiva díantc do que a ex15'tência possa lhes trazcr. Ao contrárío do falahs'mo, a conñança torna-nos ativos, não constitui um dcscncorajamento, mas um encorajamento para ag1r', p01s' o agentc cstá apoiado num fundamento onde nada pode falhar; ele poderá errar, poderá sucumbu', mas sua vida contmuará tcndo valor. Ele poderá reparar seus erros, podcrá levantar-se novamente, e mesmo se não tiver mals' nada a reparar ou se não puder maJs' se levantar, am'da lhe rcsta a possibílidadc dc uma mudança m'tcrior quc, retroativamcntc, dará sentído a tudo que aconteceu.

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Ao se questionarem adultos, que vivcram uma parte dc sua juventude cm ms'tituições por causa de düculdadcs cducacionals', sobre suas melhores recordaçõcs daqucle tempo, costumam relatar epls'Ódios de divcrsas açõcs em grupo que foram rcahza'das naquela época. Foram citados como exemplos um coral de natal, ensaiado durantc muito tempo e aprcsentado num asüo para velhos, ou a cscalada longamcnte prcparada de uma montanha nas férías. É m'teressantc observar que, quasc sempre, é relatado que o esforço empregado nos preparativos para tals' ações é scntido m1"cialmente oomo negativo, e 0 jovcm precm'ava ser “forçado” pcla pressão do grupo; porém, durante c após a reahza'ção do evento, os corações se abriam para o entusiasmo pcla causa. Podemos ver, assun,' que, ao se soh'citar uma criança ou adulto com dls'túxbios dc comportamcnto para rcahzar' tarcfas que tenham scntído, mesmo contra sua vontade, cncontramos um cammh'o quc, em últun'a anáhs'e, será ma15' humano do que a toleran^cia de uma “atitude lals'sez-fa1r'c” perantc crianças abandonadas, à qual se segue a m'toleran^cia do desprezo da sociedade pcrantc adultos mfr°atores cumprm'do pena numa pns'ão.

sigmñ°ca a fé em Dcusl7, em um “supra-scntido” ac1m'a dos aspcctos mundanos.

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agressivo que m'duz a pessoa a fazer apenas o que tcm vontadc; c a “tarefa” eleva a scnsação reba1xa'da de valor da vida e ajuda a superar o nuhs"'mo fatahs'tico que 1m°pede a pessoa de fazer aqu11'o que tcm sentido.

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- ÚWÊÊÃ

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Rcconcxh"ação com uma rcalidadc cm quc Inuitas com não podem scr rcahza'das s¡m'u1taneamentc e em que nada cslá cm d¡s'ponib111"dade 111m1"'lada. Por ls'so, nossos pacicntcs preasam,' além da razão, também da renun'cia, além da conñança no futur0, também da reconmh"ação com o passado e além da capacídadc dc viver, também da capacidade de suportar o sofnm'ento'. Se não conscgmrm'os sensiblhzá"-los para 1s'to, não podemos ñcar üanqml"os ao dar-lhcs alta, po¡s' contm'uam cms't1n'do rames' para prcocupaçao'. Añrmo até que a dls'posição de uma pessoa psiquicamcnte doente para a reconciliação consigo própna' c com a vida consütul" um critério seguro para o estabelecnm'ento dc umprognóstico favorách E, no caso contrário, não há dúvida de que a 1rr'eoonc1ha"bí1idadc tende a mantcr a partc docntia da pessoa. Provavelmentc há mulla' aflição psíquica quc resulta justamente dcsta falta dc dls'posição para a rcconc111"ação. Comccemos n ssas reflcxõcs com a mancu'a dc sc hdar' com um condito de valor1 . Estc não é um conñito cntre um valor e uma fraqueza pcssoal a qual se oporía à reahza'ção deste valor, cstc oonflito scria solucionável ajudando-sc a pcssoa a “percebcr 0 valor em sí”, o que capacílaria a pessoa a supcrar sua fraqueza pesoal ao sua concentração espüítual totalmente sobre este valor. Considera-se um contlito como sendo de valores quando se trata reaL mente de um conñito entre doxs' (ou ma¡s') valorcs que 1m'possib1h"tam a pessoa de colocar-se sxm'ultaneamentc a scrviço dcles. Como exemplos tcmos o conñito entre proñssão e famíl1a,' entre vocações artísticas c responsabd1"dadcs dc trabalho ou enlIe uma promcssa dada c uma situação que sc modlñ'cou. A logoterapia partc do prm'cípio dc quc aquílo que nossa wnsciência pcssoal nos dxz' é inequívocq Frankl d1f'ercnaa' mu1t°o claramentc entre o quc na psicologia sc dcnomma' dc “supcrcgo”, que pode ser considerado comu o reprcsentante da soma acumulada de todos os valorcs e normas morals' transmitidos pcla tradiçao' c que nosfoi1n'culcad0 dcsde a mf'an^cia, c aqucla voz mals' müma," m'ata, que podemos repnmu", ignorm ou zombar dela, mas que não podemos subomar, porque cla mostra ñrmcmcntc aquela ação que, num dado momento, tem mals' scntido c é a mals' rcsponsáveL “A consciência é o único cspelho que não nos engana, nem nos hso'n-

' Frankl considera a “capacidade de suportar o sofnm'cnto", ao lado dos objcum da psicanáhsc' posrulados por Freud, a “capacidadc dc txabalho" c a _“capacidadc dc prach', como um objcuvo' tcmpeutioo adíctonnl' e não menos lmponante.

jeia”, dls'se oportunamente Cns't1n'a da Suécia. Talvez scria cxagcro denomm'ar a consciência como a “voz da vcrdade”, pons' tudo quc é humano está sujeito a crros. Mas sc há algum aspccto humano quc pode chegar muito perto da vcrdade, cntao' é cstc “órga'o dc scnúdo” (Frankl) dcntro dc nós, que am'da pode valorar os valorcs, dando~ lhcs pontos mals' altos ou ma¡s' ba1x'os numa cscala dc acordo com o scntido dc uma dada situação. Rcflcxõcs semelhantcs lcvaram Carl Fricdrich von Wcmsa"'ckcr a exprcssar os scgtun'tcs pensamcntosz

No lugar da conduta ms't¡n'tiva que domm'a no amm'al, e umbém no an1m'al social, o homem age segundo nonnas de conduta sociaL Estas normas prcdomm'antes na maioria dos comportaxnentos humanos dão à liberdade dos ms'l1n'tos o pr1m'elr'o contcúdo domm'antc. A libcrdade sxgmñ"ca 1m"cialmentc a libcrdadc dc scguü normas socia1s'. Mas como añnal sc formaram os _costumcs? Não podemos acrcditar que, pelo menos nas culturas mals' clevadas, o proccdímento ccgo de ensaio-e-crro fosse suñciente para quc se cstabcleccsscm os costumes. Para cssas estruturas ricas c harmoniosas foi prcc13'o a comprecnsão daquclcs que ma15° lardc foram homcnagcados pcla hls'tóría ou mitologia como patriarcas, lcgisladores c sábios da Ant1gm""dade. Porém, aquüo que foi construído aLravés da compreensão, só poderá ser conscrvado aLravés dcsla mesma compreensão. Somente a compreensão do sentido dos costumes conserva a flem'b111"dade da sua adaptação e cvita que resvalem para um “ponto morto” scm sentido. Assun', toda sociedade vive na tensão entrc o cumpr1m'emo ccgo de normas morais, delcrmmando algumas vidas humanas de forma quase lotal e todas as vidas humanas cm proporçõcs mals' amplas, e a alitude h'vre e comprecnsiva, d15'posla a mudanças e à cspontaneidadc. Num novo patamar repete-se a rclação automaüs'mo versus liberdadc: cnquanto quc o comportamento segundo normas represcnta a libcrdade um rclaçáo ao ms't1n'to, a atitude dc comprcensão rcprescnta a libcrdadc eln rclação à norma.

A pcssoa h'vrc, dotada de compreensão, também podc dlze'r “nã0” a um costum6. Desdc quc por “comprecnsão” se entcnda a compreensão da plenitudc de sentido de uma ação, e que, por sua vez, a “plenitudc de sentido” possa scr avalíada de acordo com pmam^cttos objctivos, poderíamos rcsumu° todo o cód1g'o de ação da humanidadc numa única setençaz

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. zau

vaa de maneu'a quc rudo tenha sentido e faça o que qms'cr suas ações scrão cticamente defensáve15' c moralmcnte jusuñ'cávc¡s'! Assm,' ao tratarmos de conflitos de valores na logotcrap13,' não queremos fac1h"tar ao paciente a sua tomada de dccma"o, e muito menos tomá-la por ele, mas qucremos levá-lo a ouvnr' a voz “compreensiva” de sua consciêncxa' c, com ls'so, torná-lo cônscio de sua rcsponsablh"dade. Em sessões terapêuticas fxcqücntemcntc ocorrc de o paciente perguntar d1r'etamente qual opção devcna' fazcr numa dctcrm1n'ada situação de conflito, o quc, porém, não sxgmñ"ca que ele nccessariamcnte segum"a a resposta oferecida. Mesmo assxm,' acredítamos na logoteraph quc dcvcmos uma resposta a uma pargunta a nós dmg1"'da e, portanto, não nos rcfugiamos numa atitude terapêutica obscura.

Uma possib111"dade dc dar uma resposta sem no entanto t1r'ar a responsabmdadc do cliente é a técnica logoterapêutica do “denomm'ador comum”, descrita nos livros de Frankl e da qual gostaria de dar um exemplo a segulr'. O conñito em questão era o questionamcnto de uma mulher casada sobrc se dcven'a se separar de seu marido ou renuncxar' a scu amante. Por maxs° banal quc seja esta pcrgunta, c mcsmo quc tenha sido abordada m11h'arcs dc vczes cm romances e ñlmes, é precxs'o quc hojc, ma15' do quc nunca, lhc dediqucmos nossa atenção, p015' a relação cntrc casamcntos c divórcios cstá 1:1, o que corrcspondc às proporçõcs rea15' nos países m'dustriahza'd0s do Ocidentez para cada casamento 1n'tacto há pelo menos um arrum'ado ou que tcrmm'ou em divórcio. Há d01s' aspcctos relevantcs no contato tcrapêutico que tive com csta mulhcr. O pnm'e¡r'o é que era uma oricntação anômm'a v1a' telefone, poxs' a clicntc se recusou a v1r' pcssoalmente ao consultório, c o segundo é que, 1m'ediatamentc antcs de me telcfonar, ela havia lelcfonado para uma orgamza'ça'o de assm'te^ncia psicológíca por telefone, c csta orientação aparentemente não hav1a' sido satlsf'atóna'. Pclas suas alusões, deduzi que o terapeuta que a havia atendido usou proced1m'entos de uma terapia centrada no cliente, ou seja, ele s1m'plesmente reformulou e espelhou para a clientc os conteúdos que cla havia exprcsso, na espcrança de quc, através do esclarecimento, cla chegasse espontancamcnte a uma solução. A solução também foi encontrada, e foi justamente nestc momcnto que a orientação ccntrada no clicnte foi m'terrompida. Ficou esclarccido

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que a mulhcr, por um lado, aprccm'va muito a scgurança pcssoal c ñnanceüa que seu marido lhe proporcionava, assxm' como sua dcdicação a cla, sent1n'do-se atraída para ele “pela razão”; por oulro lado, fruía do cannh'o e do erotIs'mo do amante e cstava fascinada pclo scu cstüo dc vida aventurcüo e dcsprcndido, sentm°do-sc alraída para elc “pclos scnüm'cntos”. O marido queria uma dcc15'a'o por não mals' aceitar o triângulo amoroso, mas estava d¡s'posto a recomeçar tudo com sua mulher. O amantc, por sua ch unh'a uma oulra namorada, mas cstava d15'posto a mantcr o m'ângulo, ou mclhor, o quadrado, recusando-se a fazcr quals'quer planos para um futuro em comum com a mulher, mesmo quc csta se d¡'vorc1ass'e. Estcs então eram os fatosz por um lado a razão, por outro o sentlm'cnto; por um lado um relacionamcnto sólido, por oulro um dcscompromxs'so atraentc; e no meio dls'so tudo uma pcssoa quc ora se sentia atraída por um, ora por outro. Como solucionar o conñito? Sugeri à mulhcr que ñzésscmos um tipo dc balanço espccml'. Perguntei-lhc: “Se estou entendcndo corrctamente, a Sra. tcm apcnas duas opções. Ou ems'te uma terccu'a?” Ela dlss'e quc não. Só poderia voltar realmente para junto de seu marido ou separar-se dele e ñcar com seu amante. A terce1r'a possib1h"dade, uma combm'ação dc ambas, era equivalente à situação vivida amalmente, mas não poderia mals' contm'uar. “A551m'”, respondL “a Sra. está diante dc uma decxs'ão d1fí'c11'. Diga~me, quantas pcssoas serão afetadas pela sua dec15'ão?” A mulhcr rcfleüu, depois enumerou seu marido, ela própria, seu amante c a namorada dele. “Então”, resumí, “o destm'o de quatro pcssoas 1r'á mudar de acordo com sua decns'ão. Tentemos venñ°car dc quc mancu'a o destm°o se modlñ'cará para cada uma dessas quatro pessoas. Aquelc que provavelmente será fehz,' em dccorrência dc sua dcas'ão, recebcrá um sm'al 'ma15", e aquele que provavelmente será mf'ehz' receberá um sma'l 'mcnos*.” A mulher providenciou lápls' e papel para que pudesse fazer as anotações junto ao telefonc.

an'elr'amente ponderamos a decns'a'o “a favor do marido”, depoxs' aqucla “a favor do amante”. Paxa cada decxs'ão foram delxa'das quatro subdivns'ões para as quatro pcssoas envolvidas. Na rubri~ ca “a favor do marido” foi dado um ponto positivo para o marido, po¡s' cle provavelmcntc a1n'da amava sua mulher; para o amante um ponto positivo e um ncgativo, porquc para ele a decns'ão parecia ser relativamente m'd1f'crcntc; sua namorada reccbcu um ponto positiv0, p015' ela ccrtamcnte ñcaria contenle sc a mulher voltasse para junto do marido; c a mulhcr quc cstava buscando oricntação reccbeu um ponto positivo c um negativo, o quc correspondia à sua

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posição ambivalcnte. Balançoz 4 pontos positivos c 2 negativos. O mcsmo levantamcnto foi feito na rubríca “a favor do amante”. O marido rccebcu um ponto ncgativo, p01s' ele ñcar1a' trls'te ao perder sua mulher,' o amantc novamente recebeu um ponto positivo e um ncgativo devido à sua m'd1f'erença; sua namorada recebeu um ponto negativo porque ncste caso ñcaria prcocupada pelo seu próprio rclacionamcnto; e a mulhcr se atribuíu novamcntc um ponto positivo e um negativo para represcntar sua ambivalência. Balanço: 2 pontos positivos e 4 ncgau'vos. .- Nestc ponto faltou uma um"ca m'dicação. Dls'se cntão à mulherz “A Sra. telefonou-mc buscando uma ajuda para tomar sua dec13'ão e nós ñzemos conjuntamente um balanço de suas duas possibih'dadcs de cscolha. A últ1m'a pergunta, am'da em aberto, a Sra. mesma tcrá que respondcr. Trata-se da pcrgunta 'quanta felicidade ou mf'clicidade a Sra. quer quc decorra de suas ações?”' A mulher ñcou em süêncio por alguns ms'tantes. Dep015' rcspondeu em voz ba1xa°z “Estou entendendo. A Sra. me mostrou algo que quase esqueciz a responsab1h°°dade. Não sei se tenho suñciente maturidadc para ls'to, mas 1r'ei lcvá-la em consideração. Quero lhe agradecer, pons' a Sra. mc ajudou bastante.” ESQUEMA DE ACORDO COM 0 MÉTODO LOGOTERAPEUTICO DO “DENOMINADOR COMUM” Dec1sã'o “a favor do Decnsã'o “a favor do amantc” dcusã'o da mulher marido"

Just1ñ'cat¡va'

para scu marido?

+

Scu marido ainda a ama.

para scu amantc7

+/-

+/-

Scu amantc gosta de estar com cla, mas não quer assunur' compromlsm Ela tcmc pclo scu relacíonamento com o namorado.

díantc dc ambos os homcns.

Nem scmprc é possívcl fazcr um tal “cálculo supcn'or”, mas cm pnn'cípio, cm qualqucr conflito de valorcs, um dos valorcs a screm cscolhidos dcvc sc revelar como aquelc quc, eticamentc, é valorado mals' alto, se accitarmos o carátcr m'equívoco da consciêncm'. A logotcrapia, como um s¡s'tcma médico-tcrapêutico, não se vê como uma ms°tan^cia morahzan'tc que dccidc sobrc o bem c 0 ma1; ela considera como sua tarcfa 31m'plesmcnte d1r'ecionar a vnsa"o do paciente para aquele “altímctro” quc cada um tem como órgão 1n'tcrno, c que éjustamente capaz de perceber a deasa"o quc em cada situação scrá a que tem mals' scntido, aquela única dects'ã0 necessán'a, aqui c agora. A 1m'agem do “altímetro” podc scr uuhza"da am'da num outro contexto, que também trata dc algo como uma “mcdida das alturas”: é o caso da perda m°evogável de um valor. Há sun'plcsmente golpcs do destm'o quc não dmxam' ma15' oportunidades para qualqucr decns'ão pessoaL quc ur'am do ser humano qualquer ação, ao mfh"g1r'-1he um sofnm'ento m'cvitávcl. Como sofnm'ento destc tipo tcmos docnças m'curávels', amputaçõcs, a perda de pessoas da família, mas também situações dc mf'ortúnio de toda espécie, como pobreza, mls'ér1a,' fomc e dor sem perspectiva de melhora a cuno prazo. Neste ponto, cm que termm'a a “prioridadc” de poder efctuar qualqucr mudança ou mclhora, m1"cia-sc, de acordo com os conceilos dc FrankL a “superioridadc” de suportar algo heroicamcnte e com d1gn1"dade'19. Quando as cücunstan^cias cxternas derrubam um scr humano, forçando-o a ñcar de joelhos, ele pode m'teriormente mostrar toda sua grandeza. Na logoterapia falamos então de “valores de atitude”, ou seja, na mancüa como uma pessoa se posiciona espm"tualmente díante dc cnr'cunstan^cias 1rr'emovívels' de sua vida, vemos uma últJm'a possib111"dade de rcahza'ção de valorcs, uma possib1h"dadc que talvcz compense, numa d1m'cnsã0 mals' elevada, a pcrda de um valor. Antes de fazer um paciente entrar em contato com idéias desse típo, é precko venñ'car se não ems'tem am'da p0551'b1h"dades dc cura para sua atlição. Um sofnm'ento dcsnecessário sena' um sofn'mcnto sem sentido e absolutamente não representaria uma m'lenção tcrapêutica. Sempre que numa aflição psíquica houver uma possib1h"dadc de mudança, prec15'amos fortalecer a coragem para a açao' a ñm de rcduzü a aflição. Somente quando houver uma situação 1m'utável, devcmos apclar para a coragem da palxao",' a coragem ' N.T. No scntido dc “ma.rtfrio".

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para accitax aquüo quc sena' m'aceitável sc não houvesse uma perspcctiva dc sentido. Ao se lidar com a perda dc valores, também preasam'os efctuar uma espécic dc balanço; neste caso, porém, não é um balanço quc rcvela o valor maJs' alto entrc muitos, mas quc nos faz v151'umbrar o scntido mals' profundo de um desvalor, ou sofnm'cnto. da vida, am'da é possível E, de fato, mcsmo nas horas mals' lutar para vcr algum sentido, contanto quc a pcssoa afctada não pcrmancça na fasc de rcvolta ou de rcs¡gna'ção e se cntrcgue ao desespem Na vcrdadc, nós não nos descspcramos por causa do sofnm'ento, mas por causa da falta dc scntido de um sofr1m'ento!2°

Assm' que toda aflição quc nos domma' pudcr ser ofcrecida como um sacnfí°cio para algo posit1v'o quc, em relação a ela, surg1r' no honzo'nte do conhecxm'ento, o venenomortal do descsperojá cstá neutrahza'do. Para poder_ fazcr com quc uma das mmh'as pacientes cntendcssc cstc modo dc pcnsar, contei a ela a respeito da concha no fundo do marz ela está bem até quc um grão de areia cortante penetra na sua came e lhe causa dor. Sem dúvida, o amm'al tenta expulsar o corpo estranho, o que, porém, se mostra m'út11'. A dor cont1n'ua. O quc faz o molusco ncsta situação m°evogávcl? Ele mob1hza" suas própnas' forças, recobrc o grão c o transforma numa pérolal Dlss'e a mmha' pacientez “Isto também a Sra. pode fazer. Transformc scu sofnm'cnto numa reahza°ção humana, e ele não terá sido em vão.'” A paciente, quc sofrc dc uma gravc parahs°ia cspástica agitante, após nossa conversa, até comprou um colar dc pérolas, quc usa d1ar1am"entc. Sempre quc o sofnm'ento por causa de sua llm1"tação física toma conta dela, toca nas pérolas com mãos trêmulas e tcnta lembrar-sc de quc também ela é livrc para transformar seu sofnm'cnto em algo grandioso; é o tdunfo do cspm"to sobre o dest1n'o. E quando ela aba1xa' as mãos, um levc soms'o toma conta de seu rosto. Pessoas como ela dão tcstcmunho de quc a reconciha'ção é possívek por ls'so, temos esperança de quc a reconcdla"ção mals' d1fí'c11' quc cns'te - a reconcú1a"ção dos seres humanos entrc si - também será possíveL

Do ponto de v15'ta logoterapêutico, um dos obstáculos quc se opõe a qualquer rcconc1h"ação é a tendência a falar dcmals' sobre aspectos negativos Neste ponto, a concepção tcrapêutica da logoterapia se d1f'ercncia muito claramcnte daqucla de outras hnh'as psicoterapêun'cas, que, em parte, considcram quc a cura seria decorrentesxm'plesmcntc do desabafo detudo quc é negativopor partc

do paciente. Naturalmentc, a pcssoa sentc-sc aliviada quando pudcr desabafar toda sua aflição para uma pessoa compreensiva. Também nós logoterapeutas não vcmos m'convem'cnte algum msso'. Acrcditamos, porém, quc o desabafo através de palavras e choro dcve tcr apenas o “caráter de condição prévia”, pons' quando o potcncnal' espm"tual dc uma pessoa flcar sotcrrado e bloqucado pclo estresse cmocional de uma dada problemática, ele poderá tornar-se novamentc livre quando o estresse emocional sc dls'sipar através de é poder cntrar em palavras ou lágnm'as. Nossa prcocupação contato com aquelcpotencial espin'tual no ser humano e, assxm,' todo “trabalho dc liberação”, scja ele através de palavras, lágr¡m'as, téc~ m'cas de relaxamento ou sedação mcdicamcntosa, tem apcnas o objctivo de criax condições para quc nosso trabalho tcrapêutico propriamcntc dito possa ser m1"ciado. bloqueio parcial da d1m'ensáo espm"tual

estressc emoa'onal, tcnsao ffsica

à rcmoção do bloqueio

dcvc ser reduzido

nmsãommrrm

cstrcssc, tensão

é rcduzido por

pode

mle'nsiñcação cmocional por causa do desabafo através de palavras ou chom

l_1_moa de palavras

ocasionar

Dnmxjsm ESPmHU.& novo bloqueio parual' da d1m'en.sáo psfquical

Consideramos altamente peng'oso quando este “de¡xar' desa~ bafar” perdc seu caráter de condição prév1a' e passa a ocupar o papcl terapêutico pnn'cipaL Um paciente quc parcce ter prazer em ñcar falando de scus problemas, depo¡s' quc já teve oportunidade de desabafar e “lavar a ahna”, acaba aumcntando sua aflíção de tanto falar dc seu sofr1m'cnto! Com ls'to, a sua cmotividadc é m'tcn515'cada c novamente são trazidas à tona tragédias passadas quc já foram

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elaboradas espm"rualmente, reacendcndo-se abalos emocíonak quc, no ñnal, acabam encobnn'do c parahsan'do a dun'ensão espm"tual de uma pcssoa muito maxs' m'tcnsamentc do quc era o caso no início. Já em 1931, Bumke dls'se: “Fa1a-se dcmms' com m'tençoes' psicotcrapêuu'cas, espccialmentc por parte dos paciaantcsP21 Esta añnnação contm'ua válída da mesma forma até hoje, mals' dc 50 anos depons', e foi abordada., entre outros, também por B. HorányL da Clím'ca Neurológica Universitária de Budapcsg que fala até de um “remédio do snl'êncio”. Horányi chama a atenção para o fato de que os afetos c cmoções cstão sujeitos às regras gerals' da teoria da ma'tividadc, da mcsma forma quc todas as outras man1f'cstações vitals'. Elc concluiu quc, falando constantcmcnte sobrc uma atlição psíquíca, justamcntc tende a mantê-la atw'a, fazendo-a surgü semprc de novo, enquanto quc não falando sobre ela faz com que m'cvitavclmentc atroñc como tudo no orgams'mo humano que, por algum tempo, não é posto em funcionamento.22 A logoterapia não usa métodos tão snn'plcs como proibIr' seus pacientes de falar sobrc aspectos negaüvos. Porém, conhecendo o pcng'o de uma m'tensnñ'cação emocionaL desenvolveu métodos para manter opuro “choro dc desabafo” dentro dc hm1"tcs saudávexs° e de educaI cuidadoszgamnte seus pacicntcs para quc dêem atenção aos aspcctos positivos. Não qucremos dwe'r com ls'so que todas as pessoas que buscam orientação scrão trem'adas para se tornarcm otlmls"tas. Porém, para transfonná~los pclo mcnos parcialmentc cm rcahs'tas, é precxs'o muitas vezcs usar contrapcsos ositivos para combater uma dls'torção em d1r'eção ao negativo. deí'c1l' 1mag1n"ar como uma pessoa pode sc enganar quanto aos eventos negativos e positivos na sua vida sc ela cstiver totalmentc mergulhada em sua aflição, dedicando toda sua atenção aos aspcctos ncgativos.

Presencieiumavezum m'teressanteexpcnm'ento comcnan'ças num centro de on'cntação. Era época de morangos c nós providcn~ ciamos uma grande quantidade de frutas maduras, das quaxs' aprox1m'adamentc umscxto estava esüagada Quando as crianças vieram para a hora da terapia, nossa pedagoga tcrapêutica dividiu-as em doxs' grupos, e também dividiu os morangos em duas metades. Um dos grupos de crianças recebcu a tarefa de selecionar todos os morangos bons, o outro grupo a de cscolher os Inorangos cstragados. Depo¡s' as frutas foram colocadas fora da v1$'ão das crianças e cada grupo, m'dcpendcntcmcntc um do outro, dcvcria cntão adivi-

nhar qual a proporção apronma'da dos morangos bons na quantídadc totaL O resultado foi surprccndcntc. Aquelc grupo quc ante~ n'ormcnte havia dedicado sua atcnção aos frutos bons concordou com bastante precxs'ão quanto às verdadekas proporçõcs, cnquanto que o grupo que teve que escolhcr as frutas estragadas fcz uma esnm'ativa muito mals' bmxa' quanto à partc das frutas boas, mostrando-se descabidamente “pessms"ta”.

Dlss'o não podcríamos dedum' que a concentração espm"tual em problemas psíquicos un'pcdm"a, dc forma scmelhantc, que a pessoa pudcssc ver as verdadeüas riquezas da alma, os valorcs m'tangívels' da cns'tência humana eas estruturas dc scntido queestão presentes até no sofnm'ent0 1n'cvitável? Façamos com que nossos pacícntes possam olhar os frutos bons de sua vida e, a pamr' dcsses aspcctos positivos que perceberem, t1r'arão a força para a rcconciliação com os ncgativos! Ncnhuma ciência podcrá cxplicar o sentido da docnça, da culpa c do sofrun'cnto, ncm mesmo a psicologia. A logotcrapia, porém, rcsponde pclo fato de que o homcm é fundamentalmente capaz de buscar um sentido até na doença, na culpa e no sofnm'ento, elcvando-se espm"tualmente ac1m'a deles e cncontrandotalvez1 neste cammh'o, a sua determhação maJs' espccíñca.' O sm'al da cruz que, no ocidente cns'tão, há séculos é considerado o símbolo do sofn'mcnto, é também um sm'a1 positivo numa outra s¡m'bologia. Quem não ñcana' pcnsativo ao observar cste paralehs'mo? 1~-+

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é maxs' _ “0 papcl dcscmpcnha do por um logoterapeuw pintor. Um pmtor lcnta nos transmitír uma 1m'agcm oftalmologm do que de um ao passo que o oftalmologüta capacítamos a vcr o do mundo conformc elc o ve,

mundo como cle é.") Mmsth:Anlhrapolaguc'he Gmndlagen 16. FRANKL V1k'tor E. Derle1dende' HubeL ch, Ekl daPsychothcrapk E. KoescL (Em 17, FRANKL, V1k'tor E. Der unbewusslc Gonl Mucnchcn, iywmda de Deus. Pctrópohs'/Sáo uoportuguesz FRANKL, Vlkt'or E. A presença poldo, VozeslSínodaL 1991. 18. Ibid (p. 87).

Opwn'mnus'. In: 19. FRANKL, Viktor E Argumente fucr em'm traglkchen portuguesz Argumentos em favor de nn 1156. (Em Ed. Hcrder, hvro' Smn'voll heilen Lcopoldq Vozcs/Sm'oum oamumo" migka Inz Darsenndo' à vzda' Petrópohsl' São dal, 1990.) 20. FRANKL. V1k'tor E. ...uoadem Ja zum Lebcn sagm Dtv, n9 10023.

21. BUMKE, Muenchnermedtzznu"'che Wochmschn'ft, nov. 1931, p. 2003-2004.

22. HORANYI', Bcla, Rews'ta “Psychotheraple'", Ano 9.

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23. LUKAS, Ehsa'beth. Von der Tze' en- eroehen hol ' f Póyc ogm m Herder' n'1020.(Pane II, Cap. 9 c 1o.)

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dos modelos cxplicativos psicossociológicos e da sensaçâo de dcsamparo daí decorrcnte, procurando um modelo de pensamento de outra espécic, quc não se contenta em documentar a grandc quantidade de causas de cns'e, mas quc procura atmglr" aquelas fontes de força que podcm domm'ar as cns'cs. Nesta d1r'eça'o, a variedade de possíve15° tcorias é hm1"tada e, em m1nh'a op1m"ão, só rcsta a logoterapla', que se colocou como objetivo não apenas colecionar “argumcntos cm favor de ot1nns"mo trágico"1, mas também revxs'ar e rcnovar a conccpção do homem na medicm'a e psicologia. Hans Schaefer, doccnte na Universidade dc He¡'delberg, dcscreve em scu livreto Im Blickpunkt: der Mensch (“Em foco: o homem”) que cx15'tc realmente uma relação entre a capacidade de funcionamento da família e a concepção do homem scgundo a medicm'a. Ele escrevez “O homem que arualmente abandonou a scgurançada famí11a,' a ñrmeza de uma ordem social, a ms'erção num s¡s'tema reh'gioso, ca1n'do como que num poço sem fundo, 1m'põe novas tarefas para a medicm'a, p015' desenvolve novos males em seu mundo tão mod1ñ'cado. A medicm'a não é mais ws'ta unicamente sob o aspecto de uma autoridadc médica, nem mesmo sob aquele de ser apenas uma ajuda para problemas orgam^'cos. A medicm'a tornou-se ma1s' abrangente, e o apelo social a ela é mals' 1n'tt:nso.”2 Aos novos males dc que fala Hans Schacfer ertcnce pr1n'cipalmente o “sofnm'ento por uma vida scm senlido” , o qual, conformc expus, afligiu gtandemcnte 0 homem moderno, tornando~o psíquica e ñsicamente docnte por reür'ar-lhe o fundamento de sua emtência espln"tual. Quem sofre por causa dc uma vida que considera sem sentido, também sofre por sentü sua vida proñssional sem sentido, sua vida fam111"ar sem sentido, etc. Com ls'to, realmente cai num poço sem fundo, ñcando afetado seu bem~cstar psíquioo, da mcsma forma que sua capacidade de contato social ou a sua saúdc física, poxs' tudo cstá rclacionado numa só unidade e totah'dadc. Retletmdo sobre as maneu'as como as cns'espodem ser resolvidas, sem nos dctermosmuíto em rcconstrmr' sua or1g'em, podcmos part1r' de uma fórmula resumida que d12' 51m'plesmente: onde se vê um sentido, a vida é suportável; onde não se vê um sentido, a vida é ms'uportável; e ls'to ocorrc m'dependentemcnte das dcmaxs' c1r'cunstan^cias desta vida. Gostaria de dar um excmplo, dc ccrta forma cômico, para üustrar a nossa fórmula rcsumida. Li há algum tcmpo a conclusão a que chegaram os psicólogos orgamza'cionals' num sm'pós¡'o em chneflSicg sobrc as cns'es psíquicas ligadas ao desemprego. Segundo eles, somente os preguiçosos e os quc quercm sc esquivar do txabalho conseguem superar bem esta cns'e de vida,

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aqucles, portanto, quc “voluntariamcntc” sc lornam dcsemprcgados e, cm casos cxtrcmos, lcvam uma segunda vida cm paíscs cnsolarados do suL com base cm scu auxílio-dcscmprcgo. O quc ls'to sigmñ'ca? Qucm se torna descmpregado por vonlade própria parccbe algum scntido na sua condição dc descmprcgado c, mcsmo que cste scntído scja qucstionáveL constitui um motivo básico para a pcssoa cm questão accitar as dcsvantagcns do dcscmprcgo cm tmca dc um ganho pessoal que 1m'agm'a obtcr. E cstc contcúdo de scnúdo de seu desemprego protege-o contra aflições psíquicas. Por outro lado, aquele quc pcrde o emprego conlra sua vontadc corre o peng'o de não ver um scntido nesta sua condição de dcsempregado e, em consequ"ência, de adoeccr psíquicamentc pcla falta dc sentido dc sua situação, mcsmo que rcccba do govemo o seu auxílio~dcscmprego. Conforme d12' V1k°tor Frankl, o homem não vive apenas de scu scguro-dcsemprcgo. Sc qms'crmos cncontrar uma receíta patcnte pará dumn"u1r' ou até 1m'ped1r' as conseqüências críticas do dcscmprego 1m'erecido, bcm como as ms'cguranças pcssoais, o dcsamm^'o c a apatia, devcriam ser buscadas as possx'bd1"dadcs dc scntido ems°tcntes mesmo scm ter um emprego - não seria, como nas pessoas que se csquivam do trabalho,por causa do descmprego, mas no caso de pessoas desejosas de trabalhar, apesar do dcsemprego - como, por exernplo, um cncargo honor1ñ'co ou uma tarefa voluntária no am'bito social. Neste sentido, quero citar um cxemplo da mmh'a prática clfm'ca quc, ao mcsmo temp0, nos conduz ao tcma “família”, p015' trata de um pai de famíl1a' dcsemprcgado, que foi trazido ao meu scrviço dc aconselhamento pcla esposa que não podia ma1s' suportá-lo em casa. Constantementc quelxa'va-se de tédio e dcsan1m^'o, o quc compreensivelmente era depnm'ente para seus famüx"ares.

Quando estava sentado à Inmh'a frente, perguntei-lhc como avahan"a sua chance de receber uma resposta positiva para qualquer pedído seu de solicitação de emprego. Riu e dlss'e 1r'onicamente: “Um quarto por cento de probablll"dade, não maxs'!” “ch”, d15'selhe, “enta'o prec¡s'aria escrever e enviar 400 cartas de solicitação dc cmprego para que tcnha sucesso com uma delas.” O homcm olhoume, surpreso, mas aparentementc meu cálculo estava certo. “400 Cartas dc solicitação de emprcgo...”, resmungou, “ls'to dá muito trabalho...” “Bem”, m°terrompi-o, “15'to não só dá muíto trabalho, como também scrá uma prova da sua persm°tc^ncxa,' rcsxs'tência c capacidade dc enírcntar seu dcst1n'o. Além dns'so, o Sr. acabou dc se quelxar' amargamcnte dc seu tédio diário, c 400 cartas seriam um

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Vw óum'o rcmédio contra ele!” Alguns mescs mals' tarde, recebi dele um cartão poslaL dxze'ndo: “Eu cstava enganado, bastaram 93 ...”

Vcnñ'camos que foi suñcicnlc a idéía dc quc também a grandc quantídade dc soh'citaçoe's cscritas m'ut11m'cnte teria um sentido, poxs,' no todo, aumentaria a oportunidadc dc ser bem~succdido, para levá-lo dc uma fase passivadc dcpressão para um cstágio ativo, ondc logo foí capaz dc tcr dom1n1"o sobrc a situação. O lcitor podcria argumcntar quc, añnaL cste homem a1n'da tmh'a pcrspectivas proñssiona15' rcals', embora fossem poucas. Mas o quc acontcccria sc alguém não tiver absolutamcnte ncnhuma possibílidade'? Scrá quc ncstc caso am'da seria possível uma “busca dc scnlido plcna dc sentído", uma esperança dc cncontrar e reahzar' um scntido ncsta siluaçã0? Em relação a 15'lo, gostaria de mencionar brcvemcnle 0 quc uma vcz dlss'e a um pai dc família quc teve quc se aposenlar prccoccmente por m'validcz após uma grave cuur'gia e passou a se sentü lotalmcnte m'úl¡l'. Ele tmh'a d015' ñlhos adolesccntcs quc frcqücntavam a cscola scm muito succsso c passavam lodo seu tcmpo livrc na rua. Rcfcnn'do-me a eles, dlss'c ao pai quc, cmbr ra não tivcssc ma15' grandes p0551'b111"dades dc destacar-sc proñss1'onalmentc, cle tmh'a a cportunidade única de moslrar aos seus ñlhos, através de sua própria vida, que o tempo livrc podena' ser usado de mancu'a bastantc s¡'gmñ'cat1'va, c não apenas fumando, lcndo jornal c freqüentando barcs. Scu exemplo positivo nesta situação talvez scria mals' ncccssário do que a sua capacidadc dc trabalho, po¡s' as atitudes que dernonstrará na situação crítica de uma vida proñssional não mak exístentc poderiam uma d1a' ser mn"tadas pclos seus ñlhos se estcs cntrasscnr numa cns'e, o que nmgu'ém podcria prevcr. E então o ponto dccns'ivo não seria quanto o paj ganhava, mas a coragem c rctídão com que suportava o sofnm'ento c o que fez delc nas c1r'cunstan^cias dadas. Também cste pai comprcendcu bem mmhas' palavras e montou uma espécie de serviço de pm'tura e estofamcnto para seus conhecidos, ofereccndo ajuda cm reformas e embelczamentos dc rcsidências contra pequenas recompensas. Para saüs'fação do pa1,' um dos ñlhos acabou gostando de ajudar o pai e decídiu, após termm'ar a escola, fazer um curso dc tapcccu'o.

De acordo com a concepção logoterapêutica, não há situação que não cncerre pelo menos uma possibmdadc de senlido e, sc for possível percebê~la, poderá ocorrcr uma “revolução oopernícana” no eslado da pcssoa, seja no am^bito cspm"tual/psíquico ou no físico. Scr humano começa com a busca de sentido e chcga ao seu complc-

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tamento na reahza'ção de scntído; porém, cnquanto náo mancjarmos a agulha'" nesta du'eça'o, o trem da nossa c_x1$'tência não prosseguká viagem, poxs' os sm'axs' m'dicam “parc"1 Somcntc a pcrccpção dc uma possib1h"dade dc sentido na cxmência para algo ou alguém solta os freios quc nos seguram e faz com que supcrcmos obstáculos que pareciam 1m'cnsos, mas que encolhcm dianle da grandeza dc um objetivo am'da maior.'Até o obstáculo “passado" quc, scgundo quasc todas as m'tcrprctaçõcs psicológicas do homcm, rcprcscnta uma barrexr'a m'transpom'vcl para o dcsenvolwm'cnlo pcssoaL perde sua un'portan^cia diantc de um prcsentc pleno dc scntida No meu trabalho de aconselhamcnto semprc vcnñ'qucí quc, scm exceção, as lcmbranças tr¡s'tcs da infan^cia, as vivências traumáticas e as hum1lh'ações sofridas surgem c sc transformam em fatorcs de distúrbios psíquicos 1n'varíavclmente quando o presente é x'nsatu'fatório e 0 futuro vazi0. Ouando, além disso, tcnta-se “claborar" tcrapeuticamente estc passado que tcssurge, ou scja, radiografá-lo e dlss'ecá-lo, estc passado torna-sc cada vcz mans' sngmñ"cativo, 0 presente mals' ms'ans'fatório e o futuro ma15' vazio, constituindo um desenvolvm'ento pen'goso. Se, ao contrárío, conscgmmos passar ao lado do passado mf'cllz' para m'vestigar o contcúdo dc sentido do prcscntc c m'vest1r' no futuro, as recordaçõcs amargas logo dimm'tu'rão, ms'tmando-se com os aspcctos positivos do passado, que também ems'tcm, para formar uma basc dc vida relatívamentc ncutra. Lembro-me do contato com um jovem que rcalmentc provmh'a dc um relacionamento fammar tcrrívcl e cuja m'fan^cia fora uma úníca Lragédia. Seu pai brutal mñ¡"g1'a~lhc torturas e maus Ualos, mas piores a1n'da cram as cenas lns'téricas de sua mãe, quc reprcsentava diante dele um esgotamento nervoso atrás do outro; posso fazer esta añrmação, p015' conhcço os pa¡s' pcssoalmentc. Este jovem tevc um descnvolvmcnto muito bom, tendo em v15'ta tudo que lhe acontecera; terminou seus estudos de segundo grau, dep015' cumpriu scm problemas seu serviço substitutivo ao scrviço m1h"tar numa instituiçâo socíaL Um dia, porém, caiu numa dcprcssão peng'osa após uma violenta d1$'cussão com sua namorada. Ao mesmo tempo, estava atormentado pela m'ccrteza sobre o quc faria de sua vida após temúnar o serviço obrigatório dc compensação ao scrviço m111"tar. Ncsla cns'c surg1r'am, dc rcpcntc, mcdos intensos e scnsações de ódio contra si próprio, com rcaçocs' quasc tão hls'téricas quanto sua mãc, ao cogitar da idéia dc suicídio. ' N.T. Ncszc scntido. s15'tema dc tnlh'os dc fcrro móvcns' para facilítar. nas lmh'as férreas, a passagem dos trcns dc uma via para ourra.

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Venñ'camos que à ms'aüs'fação com o presente e à falta de sentido do futuro mcsclaram-se as sombras do passado. Desm'to, porém, de, a título dc cxplicação, fazê-lo recordar todas as atrocidades de seus pals,' as quals' não poderiam mesmo ser apagadas. Além do mals', somente scmnam" para afetar o seu autoconceito, pois, como suposta vínm'a dc sua educação, o jovcm m"a se senth m'capaz dc lcvar uma vida normal e saudách e esta “sensação” 1r1"a tomá-lo, de fato, m'capaz de viver. Ao m'vés dls'so, pcrguntei-1hc se ele, mals' do que outras crianças, não desejava que seus pals' tívesscm um relacíonamento mclhor c tivcsscrn entendido o amor como um parceüo estando presente para o outro, e não como um constante exercício de domínio rccíproco. Imediatamentc ele conñrmou mmh'a pergunta. Rcstou mostrar~lhe quc, embora não fosse rcsponsávcl pclo que seus pals' ñzcram, cra co-responsável 0 que, aqui e agora, acontecia cntrc cle c a namorada; a sua participação era dec1$'iva para que o seu rclacionamento amoroso atual fossc mclhor c ma1$' harmonioso que o de seus pals'. Dc alguma forma, o sofnm'cnto causado pela família de repente adqmr'iu para ele um sentidoz poderia scmr'-lhe como alerta c evitar que o 1m1"tasse. Ao mesmo tempo, compreendeu que ele não era apcnas um produto de sua mf'an^cia, mas também um produtor dc scu destln'o prcscnte c, como tal, dotado de responsab111"dade. Esta conscienüza'ção foí suñcicnte para debelar, de vez, qualquer m1"cio de um d1$'túrbio h1$'térico.

Foi m°tercssantc obscrvar, ncste caso, que o jovcm foi capaz de quebrar os laços do scu passado mf'ellz,' 1m"ciand0 logo após seu serviço altcmativo uma formação como assm'tentc sociaL à qual se dedicou m'te¡r'amente. Se me perguntassem hoje qual o prognóstico que ams'can'a quanto à sua carrelr'a, d1n"a que na sua proñssão futura dará o mclhor dc si, e ls'to justamente porquc o sofnm'ento dc sua mf'an^c1a' scns¡'b1hzo"u-o para o sofnm'ento de seus semelhantes. Não devemos acreditar naquüo que a psicologia sempre tcnta nos m'culcar: que todos os evcntos ncgativos do nosso passado scmpre carrcgaremos conosco como fardo por toda vida. A carulh'a da realidade nos cnsm'a d1f'crcnlcmentc. Há muitas pessoas que tivcram uma mf'an^cia boa e protegida c que, assun' mesmo, fracassaram na vidae, ao contrário, tambémhá muitabondade c sabedoria que se ongm"ou de experiências dolorosas. Naturalmentc, não podcmos negar queos pnm'c1r'os anos de vida sejam sxgn'lñ'cativos, com conseqüências marcantes na adolescência, mas na idade adulta cada pcssoa traz dentro a si a força para prosseguü seu dcsenvolwm'ento, através de uma auto~educaçao'. Se, porém, os cspcciahs'tas lhe suge-

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nr'cm que sua mf'an^cia é a culpada por todos os seus cnos prescntcs, o 1m'pulso para a auto-cducação é am'qu11'ado, poxs' é muito ma15' cômodo atribuk toda e qualquer culpa aos pals,' ao m'vés de csforçar-se para efetuar mudanças em si próprio. Assxm,' a psicologia profunda contribuiu, scm querer, para que os pans' fosscm considerados bodcs cxpiatórios e para que as pcssoas ms'távels' encontrassem desculpas para sua lab111"dade, o que não rcsultou em benefício algwn Quanto aos resultados absurdos que daí podem decorrer, Ehs'abcth Hoet1-I-Iielscher escrcveu um arüg'o corajoso no jornal Sueddeutsche Zeitung por ocasião do Día das Mãcs dc 1984, pelo qual lhc apresento mcus agradec1m'entos cspecuus". Mamãe é a melhor... desculpa Semprc, e especialmentc no mês de maio, añrma-sc que nossa sociedade não dá atenção suñciente às ma'e's. Aquele, porém, que prestar atcnção ao que se d12' por aí, não vai concordar com lss'o. Sempre e onde quer que as pessoas falam de sua vida, acabam falando mals' cedo ou mals' tarde dc sua mãe. Acontece que o público a1n'da não reconheceu totalmente 0 sigmñcado deste fatol Por cxemplo, Helmut, um operário evcntual dc 22 anos, contaz “Na reah'dade, queria scr p11'oto. Porém, não gostava da escola. E, além dls'so, o ambicnte de casa era ms'uportável. Mmh'a mãc só vívía para satls'fazer mmh'as necessidades; o dia todo fazia cons'as por m1m' - lavava roupa, 11m'pava a casa, cozmh'ava e assm por diante. De alguma forma, scmpre me scntia culpado por lss'o.” E acrcscentouz “Se ela tivesse sido d1f'erentc, certamente teria termmado meus estudos de scgundo grau c, hoje, estaria cm situação melhor."

“A estudante dc psicologia, Ilseb111', de 30 anos, há muito tempo gostaria dc ter um relacionamento mals' estáveL Dlz' elaz “Mas todos os meus relacionamentos logo termm'am.” Também uma viagcm ao Oregon junto a Baghwan nada mod1ñ'cou neste sentido. Há d01s' anos cstá se submetendo a uma anáhs'e. “E através desta anáhs'e perccbi que por detrás da mmh'a dxñ'culdade com os homens cstá um conñito não-rcsolvido com a mmh'a mãe. No fundo tenho um ódio 1m'cnso dela porquc semprc deu prefcrência a meu um'ã0 mals' nov0.” Dcp015' que ñnalmentc Ilscbm dls'sc ls'to a sua mãc, cla cstá melhor. “Infehzm'ente mmh'a mãe parece não ter entendido bem o que lhe dls'sc. Há duas semanas cla chegou a tricotar um pulôvcr pelo anivcrsário dc 18 anos de meu 1rm'ão! Com 15'to, tivc uma rccaída tão forte que fui obrigada a acabar o rclacionamento com meu namorado!”

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Durante tres^ meses, M1'chael, de 24 anos, uabalhou num estúdio de propaganda, após tcr sc formado em dcsenho pub1icitário. Há um ano atrás tcve que m'terrompcr repcntm'amente sua carreu'a. “Mmh'a namorada tevc um bcbê”, contou. “No mí'cio, tudo dcu oerto. Enquanto a Gabi cstava na csoola, a mãc dcla cuídava do bcbê. Mas quando a Gabi concluiu seu curso técnico, sua mãc de rcpente qucria voltar ao banco para txabalhar c exigiu que a ñlha ñcasse cm casa cuidando do bebê!” Ao lcmbrar-sc dls't0, a1n'da hoje Michacl mostra sua m'dignação. “Mas nunca 1r'íamos fazer Ls'to. A Gabi praücamente acabara de ser admitida na faculdadc de pedagog1a' terapêuüca. Então nós decid1m'os que eu ma" cuidar da criança.” O papel de dono de casa acabou agradando a MichaeL “Posso scr um pai companhcu'o para mcu ñlho c acompanhax seu dcscnvolv1m'cnto em lodas as suas fascs.” O ralacionamento com a mãe de Gabi porém, a1n'da não se normahzo'u. “E1a s¡m'plesmente quer nos pagar o mín1m'o possích somcnte o alugucl c a mcsada c basta! E, añnaL foi ela que nos levou d1r'ctamente a esta dependência dela!" Estcs são os casos de Hclmut, Ilsebm e MichaeL Mas ccrtamentc muitos leítores do jomal Sueddeutsche Zeitung conhecem muitos excmplos scmclhantes dc sua própria expcriência quc mosLram o papcl 1m'portantc da mãe cm nossa socíedade!

Elisabelh Hoefi-Hielscher

A psicología do desenvolvnm'cnto nos mostra quc durantc o desenvolwm'ento há normalmentc duas fascs cm quc o jovem assumc uma postura muito crítica cm relação aos seus pals': a pnm'en"a ooorre no 1m"cio da puberdade quando desaparcce sua crença na mf'alib111"dadc c onls'ciência dos pa15' e cle dcscobre quc seus pa15', añnal, também são seres humanos com fraquezas humanas, e a scgunda vez man1f'esta-se no m1"cio da idade adulta, por volta dos v1n'te anos, quando, ao buscar sua própria identidade, dcscobrc que elc mcsmo também tcm suas fraquezas. Especialmcnte na segunda fase dc decepção por sua própria 1m'perfcição, que gradativamente se ms'tala após o período dc 1m'petuosidade da adolescência c devcria dcsembocar numa auto-educaçã0 construtiva, há uma forte tcndência para atñbuk culpas aos pals', aos sm'temas poh'ticos, ctc. Sc houver teses adicionais de uma psicologia profunda mal comprecndida que batem na mcsma tecla, fac11m'entc é esquecida a

responsabüdade própria quc dcveria embasar a vida futura. A mf'anuh"dadc propriamentc dila é constítuída pela negação dc uma auto-cducação construtiva c pcla alribuiçáo forçada da rcsponsab1h"dade sobre outras pessoas. Comcçamos o tema deste capítulo com a fórmula rcsumída dc que a suportab111"dadc da vida humana cstá ligada à pcrccpção dc scntido. Além dlss'o, tcntei mostrar quc uma lal “pcrccpção dc scntido" cstá acoplada ncm a condíçõcs externas favorávcis dc v1'da, ncm a uma vida harmoniosa no passado, e quc até mcsmo d1ñ'culdades como desemprego, ou evcntos mf'anus' mf'cluc"s, não 1m'pcdcm quc o scntido seja possívcl de scr vivido c expcnm'cntado em cada momento. Como ls'to podena° ser aplicado à família, aqucla unidade mín1m'a composta de pessoas com idadcs e sexo d1f'eremcs, quc vivem numa prox1m1°'dade recíproca7 Seriam válidas as mesmas rchas?

Três regras logotcrapêuticas básicas: 1n rcgraz A suportablll"dade da vida está ligada à pcrcepção dc scntido.

2° regraz A perccpção de sentido não está ligada a condiçoe's extcp nas favorávc1s' da vida. 3a rcgra: A pcrcepção dc scntido não está h'gada a uma vida hdr'moniosa no passado. Às vezes chego a peusar que a qum'tcssênc1a' dc m1nh°a cxpcriência de doze anos com aconselhamcnto educacional c fam1h"ar é sxm°plesmentc o reconhccmento de que, com refcrência à questão do sentido, são válidas para toda a família cxatamente a5' mesmas regras que para cada um m'dividualmente. lnicíalmcnte 15°to que também a famí11a' somentc é suportávcl quando oferccc um certo contcúdo dc scntido para scus mcmbros. A scguu', contrariando as opm1"ões geraxs', podemos añrmar que a felicidade da família é surprcendentemente 1n'dcpcndenlc da qualidade das condiçõcs cxternas de vida. E, por ñm, a hns'tória que uma família tcm - e toda família tem sua hls'tória fam1h"ar própn'a - não pode lotalmentc predctermmar' o desenvolwm'ento futuro de uma família. Também na família há algo como a auto-educação e a rcsponsab111"dade própria, capazcs de dcsañar divcrsas mñ'uênci.15' negatívas. Abordaremos a scguu' as três rcgras logolcrapêuticas básicas. \ Em pnm'eu'o lugar, temos asuportabilidade da família, quc u"á

decidu' sobrc a sua coesão futura. Não precxs'o dns'culu" como atualmcnte cstá, cm média, esta coesão. Além dos elcvados índices dc

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divórcio, também é grande o número de idosos que são cxcluídos da famíha' c de jovcns quc abandonam prccocementc o lar paterno; sc qms'crmos, poderíamos a1n'da acresccntar o considcrávcl númcro de abortos rcalxza'dos. De maneu'a geraL não apenas a família cxtcnsa, mas também a nuclear, cstá sc dcsm'tcgrando. Se atualmcnte a vida fam111"ar tornou›sc ms'uportável para tantas pessoas, 15°to sxgnlñ"ca quc para elas perdcu o scu sentido; e este sentido perdído deve ter afetado algo em comum, algo que justamente teria evitado a scparação. Creio tratar-se de uma dun'cnsão de necessidades recpIrocas, em quc cada um precxs'a do outro e cada um é neccssário para o outIo. Nós, homens modernos, conqu15'tamos uma ccrta consciêncía de nosso próprio valor, ou auto-est1ma,' da qual nos orgulhamos; não mms' gostamos de obcdccer ordens do govcmo, da 1gr'cja, do ptofessor na escola ou do chcfe na empresa. Nós nos emancipamos, conhccemos nossos d1r'citos e pretcnsõcs c sabcmos como reiv1n'dicá-los. Nm'guém mans' prcc1$'a repnmxr" suas ncccssidades, o mcrcado cconômíco nos fomeoe bcns dc consumo dc toda cspécie, a justiça nos garante a igualdade de d1r'citos, a redc social nos protegc e cada um de nós é livre para se auto-rcahzar'. E com tanto progresso e todas estas vantagens, ondc eslá a felicidadc que deveria ter tomado conta de nossos coraçõcs?

Há quatro anos, umajovem mãe c scu marído mc procuraram no centro de aconselhamento porque não conseguiam chegar a um acordo sobrc sc a mulher dcveria ou não rcassum1r' sua atividade proñssional como assm'tentc odontológica. Na época, os ñlhos estavam, respectivamente, com 2 c 3 anos, c o pai queria que a mulhcr ñcasse em casapara cuidar das crianças, enquanto que ajovem mãe queria trabalhar. Para ela, ñcar em casa era monótono demais; cla achava que durantc 0 dia seus ñlhos podcríam ñcar num jard1m' dc mf'an^cia. Aconselhei-a dc que seria melhor se esperassc pelo mcnos mals' um ano até recomcçar scu trabalho, e dci-1hc sugestõcs de como podcria valonzar' um pouco ma¡s' também a sua vida como dona-de-casa; ela, porém, decidiu-se pelo contrário e recomeçou a trabalhar. Dcp015' de novc mcses, ela estava de volta ao centro dc aconselhamento por causa de d1ñ'culdades com os ñlhos, que à noite, quando cla voltava cansada do trabalho, quenam' brm'car, não lhe obedeciam, não queriam u'para a cama e estavam acabando com seus nervos. Tcntci exph'car-lhe que, já que as cnan'ças ñcavam 0 día todo scm a mãe, prec15'avam pelo menos à noite de toda sua dedicação e atenção, as quals' elas estavam tentando obtcr por todos os meios. Novamcnte sugeri que a mãe trabalhasse ao menos meio

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perfodo apcnas, mas novamcnte cla não quxs' ouv1r'. Mcio ano ma¡s' tardc, o pai vcio ao centro de aconsclhamemo porque cstava preocupado com o cstado dc saúdc dc sua csposa. Ela ñcava muito nervosa e 1rr1"tada c chorava por qualquer bagalela a ponto dc clc não sabcr mms' o quc fazer. Aconsclhei uma csladia numa cstação balneária e nossa médica tomou as providências para o encamio nham'ento, enquanto eu arrumei uma pessoa que cuídasse da família durantc a ausência da mãc. Porém, por mclhorcs quc tivessem sido nossas m'tenções, deu tudo errado. Durante scu tratamcnto no balncán'o, ajovem mulher conheceu um homcm c precipitadmcntc abandonou a família. 0 pai não encontrou outra saída a não ser colocar scus d015' ñlhos numa ms'tituição, v1$'itando-os a cada duas scmanas. Neste meio tempo também foi concluído o divórcio. Não mms' vi a jovem mulher, mas por acaso cncontrci há algum tcmpo uma conhecida dcla que me contou o segum'te: o relacionamcnto dcla com o namorado do balncário teve pouca duração; dcpons' desta scparação ela começou a bcber por causa de sua solidã0, perdendo ass1m' scu cmprego; agora estava morando num quarto sublocado c vivcndo do auxílio da assm'te^ncia social. Este drama tocou fundo a m1m' e a meus colaboradorcs e nós nos quesüonamos se, de alguma forma, poderíamos tê-lo evitado. Por ñm chegamos à conclusão de que 0 motivo ma15' profundo da desm'tegração da família não foí a atividade profissional retomada pela mulher, nem sua estadia no balneário, mas a atitude m'terior da mãe que não se on'entou pelo sentido da situação, mas pelo “eu” e scus desejos momentan^cos. Os homens modernos, acostumados a satxs'fazcrcm seus desejos c fazerem valer suas cxigências à vida, esqucccm-se fac11m'cnte de seus scmclhantes c do laço que os hg'a a clcs, ao neccssitá-los e scr ncccssitado por eles. Da auto~esum'a exagerada passam para a auto-reahza'ção c acabam num amor-própn'otambém exagcrado; e dc tanta auto-observação pcrdem dev15'ta a consideração pelo próxun'o c o sentido nela encerrada. A exagerada auto-estm1°a lhes dlz' quc não devcriam prec15'ar de nmgu'é.m para não se tomarcm dependentes, o que constitui o objcüvo mals' elevado dc qualquer emancipação; c o exagerado amor-própn'o complementaa tese nosentidodc quenão se entende por quc outras pessoas poderiam prccxs'ar dc nós, já quc nós não precm'amos de nm'guém. No ñnal tcmos a solidão c o vazio, o chamado vazio ens'tcncia1. Uma pcssoa quc não prcms'a de mn'guém, e também mn'guém precns'a dcla, é m'capaz de uma convivência fam111"ar, talvez até m'capaz de viver.

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um pouco nossa auto~cst1m°a Precisamos, portanto, excessiva e reconhecer que os homensnecessitam-se rcciprocamente e depcndcm um do outro. Com a conscíência tranqml"'a podemos acrescentar quc este reconhccm'ento constitui também uma das possíbüdades de sentido ma15' belas c mals' básicas da ems'tência humana. No amor para um “tu”, o eu pode desenvolver-sc de mancu'a muito ma15' genuína e natural do que na busca forçada de uma auto~reahza'ção 11'usória. Se a jovcm mulher ac1m'a mencionada tivesse v15'to o sentído de sua situação presente como ela sendo necessária para o dia-a-dia dc scus filhos desamparados e dc scu parccüo dcdicado, mas também como cla tcndo necessidade da farnília como um local dc scgurança e rcfúgio, não lhc teria acontecido todo essc tcrrívcl sofnm'ento que acabou desm'tegrando toda sua famílía. É bem provávcl que, dc vez cm quando, ela tcda sentido falta dc uma auto-reahza'ção no trabalho ou de pequenas aventuras, mas o comteúdo de sentido de sua vida e trabalho, ligado ao bem-estaI de sua famí1ia, teria tornado esta família pelo menos suportável para cla e talvcz teria lhc dado até um pouco de feücidadc adicional. Quando na logoterapia falamos da suportabll1"dade daquüo que resulta num contexto de sentido, estamos nos refermdo à base mals' restrita dc nossa existência, praticamente o argumcnto para a sm'ples sobrevivência. Além dls'so, nosso onm1"smo faz-nos acredítar que uma vivência de sentido acarreta um ganho espm"tual m'comparavclmcntc superior do que sxm'plesmentc a suportab111"dade da ems'têncía; cste ganho espüitual seria a reahza'ção últ1m'a c ma15' elevada da nossa ens'tência na scnsação de felicidade de não ter vivido cm vã0. Assun' chegamos à segunda regra que d12° quc a felicidadc da família é surprecndentemente independente da qualidade de condiçoe's ertemas.

Anteriormente questíonamos ondc está a sat15'fação que deveríamos sentü com toda a “libertação” e todo o bem-estar material das úlnm'as décadas; ao fazcr cste questionamento, porém, scguimos 0 erro dc raciocm1"o comum na psicologia dc quc condições externas positivas deveriam tcr uma repercussão m'tcrna também positiva e vicc~versa, de acordo com o modeloz quem está bem de vída, deve estar saüs'feito. Neste mcio tempo, porém, aprendemos através de uma lição amarga que ls'to não aconteccu, po¡s' procuramos em vão a sans'fação em nossa geração acostumada à fartura. A logoterapia reconheccu estc erro dc rac1'ocm1"o da psicología há

muito tempo, contrapondo-lhe um modelo mals' próxun'o da rcalidade, segundo o qual não é o bem-estar cxtcrior quc acarreta automaúcamcntc a satxs'fação m'tcrior. O crilérío dccísivo para a saüs'fação m'terior do homem é a sua atitude imeriorperante condições waemas, scjam clas positim ou ncgalivas. Examm'cmos csta añrmação através dc um exemplo da práu'ca. Um casal procurou nosso ccntro dc aconsclhamcnto com uma qucstão mals' propriamcntc da medicm'a: queriam sabcr qual seria o ns'co dc um ñlho de ambos hcrdar a cegucu'a congênita do marído, e até que ponto pudessem assumü a responsabmdadc por esle ns'co. Enquamo nossa médica providencíou mf°ormações junto a especna'hs'tas na áxea e transmitiu scus parccercs ao casal, tivc alguns contatos com ambos para m'vestjgar como eles enfrentavam a cegueka do marido. Tive então uma surpresa atrás da outra, poxs' raramente presenciei um relacíonamento tão bom entre um casal. Fiquei cspccialmente comovida quando os dois mc contaram como passaram juntos as noítcs. Facúm'cnte poderiam tcr surgído d15'córdias c brigas por causa do lazcr cm comum, pois ao homcm ccgo estavam vedadas atividadcs como ver TV, fmr artcsanato, dançar, ctc. Os dons', porém, transformaram esta dJñ'culdade numa v1r'tude, ao cncontrar uma atívidade capaz de trazer prazer a ambos: a esposa lia as últlm'as notícias ou capítulos de livros em voz alta para o marido, apreciando, ao mesmo tempo, a pronmx"dade fls'ica e união com clc, que, muitas vezes, colocava afetuosamente a cabeça em seu colo enquanto ouvia suas palavras. Ele, por sua vcz, gostava destas horas à noite porque sua esposa lhe abria as portas para o mundo, conforme ele dm"a, fazcndo com que a claridade o m'undassc. Para ambos, estas horas eram un'perdíveis; elcs estavam saüs'feitos com scu dcsun'o, apcsar dc a ccgucu'a do marid0, por outro lado, constitmr' certamente um problema. Se, ao contrário, obscrvarmos muitos casals' de possc de uma saúdc perfeíta e quc usam suas noítes para se atormentarcm reciprocamente com brigas absurdas, podemos entender o que V1k°tor Frankl quer d12'er com a ênfase nos chamados valores de atitude; para ele, há valores que somente podcm ser reahza'dos numa d1m'ensão “mais elevada" do que a nível das necessidades e suas saüs'fações. Scriam exemplos a atitude corajosa diante de condíçõcs cxtemas ncgalivas que não podem ser mod1fí'cadas, conforme a teve estc homem diante de sua hnu"tação; ou a também atitude excmplar diantc dc condíções externas positivas que são colocadas a serviço dc uma tarcfa que tcnha sentído, conforme a demonstrou esta mulher que usou sua v15'ão m'tacta para ler em voz alta c dar alegria a outra pessoa. Estes são valorcs que

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Os valores de atitudc semprc têm algo a vcr com a d15'posição para fazcr um acordo, ou scja, a d15'posição para encontrar um eqmlíb'rio cntre uma renúncia pessoal e um ganho pessoal a favor de um valor ma15' clevado, que está além de qualquer rcnúncia ou ganho. Por lss'o, um acordo pleno dc sentido é mals' do que “mei0 a meio” ao procurarmos ag1r' por nossa própria vontade, p015° é snn'ultaneamcnte a m°tervcnção de uma vontade superior, que busca um objctivo maior ac¡m'a dos 1n'tcresses próprios.

Por ñm, exam1n'emos a terccüa rcgra, scmclhantc à scgunda, que, porém, será d15'cutida separadamentc porque cspalhou-sc antre o público leigo a idéia ñxa de que o passado'de cada um, e também o da famí1ia, scria o clemento prcponderante na prcdcterm1n'ação de estruturas presentes e futuras. Atualmente, quase todo aconsclhamento c psicoterapia compõem-se, cm grandc partc, do esclarec1m°cnto e reconstrução de cvcntos passados, a pamr' dos qua15' se tüam conclusões váh'das para o presente. Esta abordagcm não seria tão crrada se cla fosse relacíonada com as possibúx"dadcs do futuro. Frcqu"cntemente, porém, ocorre exalamentc o contrário, ou scja, as possíbxh"dades do futuro são solcrradas porque se lem a 1m'pressã0 de que o futuro, baseado nos cventos do passado, não apresenta mals' possiblll"dadcs de esoolha, que, p'or assun' d12'er, tudo já cstá feito. Esta, porém, é uma conclusão ams'cada c catastróüc3, que m1"be qualquer esforço para melhorar a situação presentc.

14 rm_›-w«

Para a família, ls'to sigmñ'ca que, com todas as c1r'cunstan^cias externas, por mans' opressivas e d1fí'cels' que possam ser, é possí_vel eslabelecer-se comprom15'sos se a atitude dos membros da família se on'entar por um scntido ac1m'a destas cücunstan^cias. Por outro lado, de nada adiantam as melhores condições externas se não

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Na logoterapia identücamos esta vontade superior para o bcm~estar comum, para a paz, etc., como a “vontade dc scntido”. Trata-sc daquela vontade no homcm que cstá ac1m'a dc scus dcsejos pcssoals,' sendo capaz de fazer acordos com eles c até renúncias pessoais, as quals', porém, nunca ultrapassam um grau suportách justamente porque podem ser aceitas dentro de um contexto de sentída

Por acaso, um dia prescnciei um epls'ódio cm que uma professora com formação em psicologia cxplicou detalhadamenle para uma mãc adotiva dc que o mcnm'o que ela adotara aos quatro anos apresentava dls'túrbios psicológicos por causa dc freqüentcs mudanças quanto às pessoas que dele cm'davam no 1n1"cio dc suavida, e que provavelmentc não tcria um desenvolvmento normaL A profcssora expücou am'da que clc m"a aprescntar as maiores d1ñ'culdadcs já na escola por causa de seu atraso no desenvolwm'ento e que a mãe, quando o mcnm°o tivcr uns 14 anos, provavelmcntc 1r'ia sc arrependcr amargamente de sua dccns'ão de tê-lo adotado, p015' na puberdade seus dls'túrbios 1r'iam se mamf'cstar mals' m'tcnsamcnte no scu comportamento sociaL Quando a mãe adotiva, após a conversa com a professora, pegou o menm'o afetuosamente pela mão e de1x'ou a sala com lágnm'as nos olhos, não consegui mc scgurar e, apesar dc ter sido apenas uma ouvm'te acidenlal do CdS'O, corri atrás da mãe para lhe dnze'r que a ciência não está absolutamente capacitada para fazer um lal prognóstico a longo prazo e que cla, a mãe, não devería ñcar temerosa, po¡s' as crianças são mw'to mais ücxívek c adaptávek do que os adultos geralmente pcnsam, e que num ambiente bom elas podcm muito bem dcsabrochar e se desenvolvcr bcm, apesar de anteriormentc não tcrcm tido uma educação idcaL Logícamentc cms'tem danos ocorridos no passado que podem ter cfeitos posteriormente, tanto no am^bito físico, quanlo no psíqui~ co; porém, não podemos assunnr° diantc dclcs a atitudc fatalls'üca de que nenhum esforço presente terá sentido, poxs' nada mais poderá

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Por cxemplo, se d01s' membros de uma família, um dos qua15' qucr dar um passeio e o outro quer ñcar em casa, chegam a um acordo para dar pelo menos uma pcquena volta jun'tos, cada um então aJcançou algo c ccdcu um pouco, ou scja, cada um tevc uma meia~perdae um meío-ganho. No conjunto, porém, amboslucraram como acordo, po1s' não se separaram, nem brigaxam, e cncontraxam uma atividade em conjunto que ambos puderam aceitar, apcsar de tercm tido desejos d1f'erentcs. A vontade de estarem juntos e de condescenderem estava num nível superior à vontade m'dividual de passear ou ñcar em casa, c diantc desta vontade ambos venceram, passando a domm'ar, no balanço destc acordo, o ganho sobre a perda. Algo semelhante acontece na poh'tica mundial quando, por exemplo, um acordo sobre a questão do desarmamcnto pressuporia que ambas as grandes potências cedessem, 0 quc seria ao mesmo tempo um documcnto de uma vontade supcrior para a paz, que traria um ganho substancialmente maior para ambos oslados do que a perda de poder c prestígio causada pelo fato de cedeL

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com'cidu"em com uma atitudc m'teríor posítiva c oricntada pclo scntido.

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não podem scr avaliados com os param^ctros usums' de uma satlsf'ação de 1m'pulsos; são pontos altos do espm"to humano.

ser rcparado. Sempre há algo a remediar, até o últ1m'o momento de nossa vida, sempre tem senüdo esforçar-se por uma reparação, scja para supcrar danos do passado, seja para expxar' uma culpa, seja para superar uma grande pcrda, seja paraprccnchcr relroativamenre com scnüdo uma vida dcsperdiçada. Enquanto a pcssoa puder pensar, cnquanto tivcr forças espm"tuaxs', enquanto souber o quc é ccrlo, a rcparação é possích c não apcnas possíveL mas necessáña e plena de scnlíd0. Também este é um dos argumentos do nosso onmmm"o logotcrapêutico. Porém, não devemos pcnsar, por xss'o, quc o passado dc uma pcssoa seja neghg'cnciado pcla logotcrapia; a hxs'tória do passado tem scu lugar na vida humana; a d1f'crença na abordagem logoterapêutica, porém, é que ela não lem um poder exclusivo sobre a vida humanaf Infelmcnte cslc modelo cxplicativo ligado ao passado d1ftm'diu-se muito na população em função da m'tensa divulgação da psicolog1'a. Muitas vezes as pcssoas que buscam orientaça'o, grotescamenle, logo na pnm'enr'a entrews'ta, antcs dc mencionarem com uma única palavra quaxs' os scus problcmas atuals,' comcçam a falar dc sua mf'an^cia. Parece que esperam que, diante do psicólogo, dcvem comcçar no ponto 1m"cíal, dc preferência rclatando as suas sensações no venüe materno, para que clc lhes m°terprete, a partü dc suas recordações, os seus fracassos do prcscnte. Nunca entro neste jogo, mas cn'j0 quc 1n1"cialmcntc sc faça um m'ventário do presente, um levantamento da situação, esboçando-se grosselr'amcnte as correçõcs 1m'agm'ávc15' e os objctivos para o futuro, o quc daria sentido ao empenho reahza'do no presente. Depo¡s', a partu' de um certo dls'tanciamento, podcm ser observados os evcntuak obsláculos para tals' objetivos, podendo cntão, naturalmente, ser abordados também eventos passados, mas do ponto de v1$'ta dc como se poderia lídar melhor com eles, c não como sendo eles um grave empccdh'o para vivcr.

Não quero ncgar que houvc uma época em que as pessoas tendiam a “engohr”' scusproblemas, anão falar sobrc suas expen'ências de sofr1m'ento, a repnm1"-los, enñm. Nessas c1r°cunstan^cias, cntão, cst1m'ular os pacientes a falar dc suas afliçõcs, para tomá-las ma15' compreensívels' e mals' claxas, constinúa uma compensação terapêutica adcquada. Os tempos, porém, mudaram Com a crescente auto-est1m'a das pessoas c os esclarccm'cntos psicológicos, a repressão dos problemas transformou~se no contrário, na chamada hpier-ref1exao' dos problcmas, da mcsma forma que a educação autorítária transformou-se numa educação antiautoritária.

Hojc as pcssoas lêm a tcndência a dar 1m'portan“cía cxccssiva aos cvcntos do passado, compadccendo-sc cxauslivamcntc dc si mcsmas c atribumdo todo seu mal-estar prcscntc à cducação c às mtl'uênc1as' amb1'cntals' dc scu passad0. Ass¡m', a compcnsação tcrapêutica hoje dcvcria scr encorajar as pessoas a assumu'em sua responsabüdadc própria e mostrar-lhes que são suas açõcs aqui e agora que u'a'o dctermmm o fuluro, e não as lágnm'as choradas dc ontem A reprcssão e a hiper-reflcxão constiluem os do¡s' exlremos de um mesmo contínuo, entre os quals' se locahza' a rcconcmação salutar com scu passado. Somcnte a partü desta reconcxh"ação, o homem se toma livre para uma ems'tência d1gn'amentc humana. Refenn'do-nos à vida fath"ar, podcmos añrmar o scgumtcz embora seja 1m'portante percebcr e accilar o fato dc que um ncccssita do outro, c que é prec15'o faur acordos um com o outro e com ' as condiçõcs ems'tentcs quc não podcm scr_ modlñ'cadas, é 1gu'almente un'portante delxar' em paz o passado, até um certo grau, c csforçar-sc para dian'amcntc cstar dxs'posto para um novo comcço. Quem constantcmentc ñcar rcvüando o passado, o quc normalmentc acontcce durante as recrnmm"ações recíprocas, gradaüvamente acaba dcstrumdo a família por não ma1s' delxar' opções para seu futuro. Quem, no enlanto, for capaz dc dar algo por lermm'ado, colocando um ponto ñnaL também scrá capu de abnr' novas portas. A cstc respeito gostaria dc mencionar uma sessão dc aconselhamento que tive com um casal que, no começo de seu casamento, morava com os sogros da mulhcr, ocasionando gravcs contlítos. Mals' tardc cles construíram sua própria casa e mudaram-sc para lá. Durante a d1fí'c¡l' construção da casa,' o casal manteve-se muito unido, mas quando estava pronla e elcs podcriam fruü dc seu qucrido 1ar, comcçaram as acusaçõcs e recnm1n"ações recíprocag que sempre acabavam Lrazendo à tona as vclhas dls'cussões com os sogros. No ñnaL a mulher achava que o marido só havia sc aproveitado do d1nh'elr'o quc cla ganhava com scu trabalho, c o marido vocüerava quc devcna' tcr dado ouvidos aos scus paJs' c nunca ter casado. Também este exemplo mostra a pouca corrclação ems'tente entrc as condições dc vida extcruas, como por cxemplo a posse de uma casa, c a sans'fação m'terior.

De qualquer maneu'a, no caso ac1m'a, parecia quc o problema todo do casal era scu passado não-resolvido; csta, porém, é uma hipótese enganosa, poxs', como já mcncionekãs sombras do passado sc mñl'tram num prcscnte desprovikdío dc sentido; sc a luz do sol não pcnetrar, a escuridão toma conta. Meu objetivo não cra trazer as sombras à consciêncm,' mas novamcnte de1xar' bnlh'ar o sol, e para

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Validade para a famíliw A felicidade da família é m'dcpendcmc dc condiçõcs externas de vida. Somcntc a orienlação pelo scnlido da atirudc m'lerior, dianle dc condiçócs dc vida cxtcmas, decide sobrc a saüs'fação na famflia.

ls'to cra prec15'o que o relacíonamento mútuo de ambos fosse preenchido com senúdo. Invesligamos conjuntamentc se havia algo quc tanto o marido quanto a csposa gostañam dc fazer em companhia um do outro. Revclaram que, há muitos anos, logo após seu casamcnto, eles haviam planejado uma viagem ao Canadá para vxs'itar uma amiga de cscola da esposa. Logicamente não tmh'am d1nh'cu'o suñcíentc na época, dcp015' m'veslu'am tudo na construção da casa e agora ambos cstavam ms'eguros quanto aos scus conhccnm'cntos dc mgl'ês, há m1út0 csquecidos, para fazcr uma v1ag'em tão dls'tante. F1z'-lhes, então, a scgum'te sugcstãoz

3° regraz A pcrccpção dc seutido não está hg'ada a uma vida harmom'osa no passado. Validadepara afamflia: A cvolução de uma família não é predctcrmm'ada pcla sua hls'tória. Somente as ações preasntes dos membros da

1. Inscrever-sc conjuntamcnte para um curso de m'glês numa cscola dc línguas.

família, orientadas pelo sentido, decidcm sobre o futuro da famílm'.

2. Prov1'dcnc1ar' prospectos c matenal' mf'ormativo sobrc 0 Canadá c, juntos, cstudar este material à noite.

Toda a família, em qualqucr momento, lem uma profusão de possib111"dadcs de sentido das quals' os seus mcmbros prccm'am sc consciennzar'. Nos últun'os anos, a scxualidadc na família foi valorizada cxccssivamcntq também como rcação oontra a época em quc a sexualídadc era tabu. A sexualidade é um componcnle 1m'portante do casamento, mas não é mndição nem necessária, nem suñcicnlc; é sun'plesmente a expressão dc um rclacionamcnto amoroso. A oricntação pelo sentido, porém, é realmenle uma condição neccssária e suñciente para uma vida fam1h"ar fclh pois ela envolvc c clcva o relacionamento amoroso e 0 transforma em algo mals' do quc sexo.

1a regraz A suportablll"dade da vida está ligada à percepção de sentid0. VaItdade' para afamília: A pcrcepção dc sentido na família é constituída pelo reconhec¡m'ento dc quc cada um prccm'a do outro c quc cada um é neccssário para o outro. Sem estc reconhcc1m'ento, a família torna-se dcsprovida dc scntido e, conscqu"cntemcnte, ms'uportávcl.

As possib1h"dades de um senüdo vivem através de sua reahza'ção. / Quem dmz' ls'to é a logoterapia. Toda possiblll"dade de scmido tem um carátcr dc “uma vez por todas”, p015', sc for concrcuza'da, 0 scrá para scmpre, e sc delxar' de ser concrcuza'da, o será também para scmprc.4 Por exemplo, a jovcm mãc de quem f41'ei ao abando~ nar sua famíha' também perdeu apossibmdade de sentido de cduw scus d01s' ñlhos. Talvez um dia tcrá outros ñlhos que possa educar, masesta possibnh"dadc de scntidodesapareceu para ela, que tcráque

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/

2Fregraz A percepção de sentido não está ligada a condições extcrnas favorávels' da vida.

Esta não é uma nova sabedoria psicológica. Foi dila por Friedrich von Sch111'er. Por outro lado, é válido dxze'r: -

' Rcsumm'do, podemos ampliar e complementar as rcgras logoterapêulicas básicas para a família da segmn'tc mancüaz

Os cncantos dos sentidos morrcm com sua saüs'fação.

›-

as velhas hostlh"dadcs na família haviam d1mm"uído um pouco.

Não podcmos expressar 0 que não cxts'tc, ou scja, scxualidadc sem amor nada sign¡ñ'ca. Um verdadeu'o relacionamcnto amoroso, porém, pode sc cxprcssar através dc centcnm dc mancüas d1f'crcntcs, não precxs'a necessariamcnte dc uma potência cm pleno funcionamcnto.

4-,._›.»

O casal concordou e um ano dcp01$' concrenzo'u sua viagem além-mar. Vicram mc ver uma vcz mals' para mc mostrar as fotograñas que o marido hab11m'entc havia m'ado. Enquanto espalharam umas cem fotograñas sobre mmh°a mcsa e relataram os pontos prm°cipals' das várías etapas de sua viagcm, a esposa dls°sc algo que me fcz somr' por dentro; ela mencionou dc passagem que também scus sogros ñcaram entusiasmados quando v1r'am as fotos. Evitei tocar neste assunto, mas ñqueí contente de ver que aparentemcnte

-

parcclr'o, passando a mensagemz Pense no futuro e não no passa~ do!

«

3. Combm'ar entre si que, cada vcz que um dos d01$' começasse a falar sobrc os lempos mf'clwc's na casa dos sogros, o outro dcvcna', em süêncio, buscar um mapa do Canadá e colocá-lo em frentc do

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Pf to de sua vida. Por oulro lado, o casal quc suponar ISS'0 PMa ° orcs ^coggun ' ta ao Canadá como ' reu a v1ag_em

' de fazcr a scgum'te añrmação referente ñnam cns'e”: não há f_amília que não blParaática atual,gdoaStf“anamí1iaa cm por_ém, cntando Herpositivas, à pm e'm da suas poss1'b111"dadcs é prcmso .scmpre tcntar reahzc', se possuaHessamc ara quc o possívcl palogoterapcutlcam6nte, Ou, formulado nomvamanncnle o,¡mp'possívcl. por J que se'a absorvido é prcmso ' cle próprlo, ' que o “cu” sc torne ra um utu"l

2. ...aceitar filhos com problemas, apesar de tud0*

Um dos “Dez Mandamentos” Lrata do relacionwcnto cnuc ípm c ñlhos. Para aqueles leitorcs quc perdcram a fammaridade com este mandamento, gostaria de citá-lo a scguirz “Honra lcu pai e tua mãe para que teus dias se prolonguem c pa.r'a que vivas bcm sobrc a terra”.* * Absolutamentc não vou mc cmbrcnhar numa árca que não mc compctc, a da rehg1"ão. Considero cstc mandam'enlo, ou csta sabcdoria antiqms"'s¡m'a, somcnte do ponto dc visla psicológico; aliás, admu'o-me dc quc a psicologia gerd não o tenha am°da feit0. De fato, estc mandamento contém a declaração dc uma notávcl corrclação cnlre doxs' fatos quc, aparcnlcmcnlc, nada lêm cm comum. AfmaL a quamidadc de respeilo c aprcciação que alguém tem pelos pals' e a qualidade posterior de sua própria vida, ou até a duração de sua própria vida, são cons'as lotalmcntc d1f'erentes quc racionalmcnte não podem tão facxlm'ente ser relacionadas.“*

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Não podemos, porém, negar ofato de quc avaloração dos pzns' nunca foi tão ba1xa' como nesta segunda mctadc do nosso século cm quc a cultura ocidcntal praticamente abandonou o conccito de ' N.T. Alusão ao tftulo dc um lwro' dc Frankl, “..170tzdem Ja zwn chm Sagen" (“... sz'cr sim à vida, ou accílar a vídaI apcsar dc tudo”).

“ N.T. “... e para quc vwas' bcm": traduzido litcralmcntc do alcmao “...und cs dü wohlergehe".

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” ' Em nosso pcnsamcmo é ma|s' comum a vcrsáo contrárim ou scja, sc os pals' amam e valormm seus ñlhos, cstes tcrao bcm-estan

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' a1110' ' ' mcnc10n_°¡ 111"podradúledenm scntjdo de sua emstencm presente. Me5mo que umaposmb areçam d1f'ercnças e mesmo_q_u_c o casamentç deles futuramcnibcap ambos reahzax'am esta posmb_1hdade de sc_nudo e a Vclonha aamnacaosarêu bela e umñcadora passado como uma_ experiênaa car o ñm dc suas vxdas. qucoc assm' o será até

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didas pelas univcrsidades populares e cenlros de aconselhamcnto, o mcrcado de livros apresentc uma quanlidadc enormc de litcralura pcdagógica, c o rádío também aborde o tcma com frequ"ência. Por

Desenho de Barbara e de Jlm Dala. USA. 1984

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Mas mcsmo se fosse ass¡m', seria possível retornar a um relacionamento pals'-ñlhos em que os conceitos dc rcvcrência e rcspeito dosjovens perantc os mals' vclhos am'da scnam' 1m'portantes? Para que os jovcns vivam bem sobrc a tcrra...? A maioúa de nós mencará a cabeça cm sxl'êncio. Não há volta, a roda do dcsenvolvmento g1r'a cada vcz mals' depressa, o ab15'mo cntrc as gerações ñca cada vez ma¡s' largo, a compreensão recíproca cada vez mals" d1fí'c11'. Os pedagogos não maxs' cstão cm condições de modlñ'car o mundo, ao contrário, eles corrcm, ofegantes, atrás das mudanças que se efetuaram- no mundo. O que fazer cntão? Precns'amos também desktü dc mfl'uenciar no bem~estar dc nossa descendência? Snn,' talvcz seja prccm'o. É prec15'o abandonar a id61a' dc que nós, pa15' e educadorcs, somos os únicos rcsponsávek pelo destm'o de nossos protegidos, de quc precm'amos cuidar de seu bem-estax a qualqucr prcço; de que, sc, apcsar dc tudo, clcs têm um dcsenvolv¡m'ento negativo, mn'guém devería ser culpado a não ser nós masmos; e de quc, cntão, a partü da nossa consciência pesada, dcvcríamos cuidar am'da melhor do seu bem-estar. Daquele velho mandamento deveríamos aprender algo quc tem validade cternaz que o bem-estar, contanto que não csteja lígado ao destm'o, é sempre conseqüência do próprio comportamento e não o produto dos cuidados dos paxs'. Ao contrário, quanto ma15° cuídadosa for a educação dada, maior a possib111"dade de ela 1m"b1r' a capacidadc deas'ória das crianças; também o outro extrcmo, o abandono ou negligência, poderá acarrelar conseqüências negaüvas. O quc cspc01ñ'camcnte a educação pode dar é apcnas o axemplo vivido, e estc exemplo, no vcrdadcüo sentido da palavra, dcveria ser “d1gn'o”. Se estc exemplo será, de fato, homado pela nova geração ou não, não devcria m'tcressar ao educador, po¡s' esta deas'ão cabe aos jovens, c, portanto, está no am^bito de sua responsabüdade pela própna' vida. A tarefa do educador 31m'plesmentc não é produm' bem-estar, mas apenas mostrax aquele exemplo digno dc ser un1"tado. De modo algo polêmico, mas bem-m'tencionad0, podenam'os dlzc'r aos educadorcs de hojez “Comp0rtem-se de modo quc possam mcrcccr o respeito dc scus alunos, se cstcs am'da tivercm respeito por vocês! ” Estc consclho nunca dexxar'á de dar resultada

Mencionci os perigos tanto do estüo dc educação com cuidados cxcessívos, quanto daquelc ncgligcntc c m'd1f'crcmc. A mclhor combm°ação parccc ser “am0r aliado à ñrmcza", uma du'clru" pcda~ gógica que já devc scr bastante conhccida. Não tão conhccido é o fato dc quc também há d15'tur'bio psíquico cnlrc críanças c adolcscentes cujo ambiente e educação, de modo geral', dcvcm scr con5iderados como bons. É lógico que, sc procurarmos crros com uma lentc de aumento, encontrá-los-cmos em todo pai, mãc ou profes~ sor. Contudo, um certo númcro mímm'o de erros cducacionak não justlñ'ca qualquer comportamento cxlrcmamcntc m'adequado dos educandos. Tudo que é humano é necessarimentc m'completo; os pals' pcrderiam 1m'cdiatamentc sua “condição human'a” sc fossem pcrfcitos. Há nada ma15' lrágico do que pedagogos quc qucrcm scr pcrfeítos; elcs perdem não só sua “c0ndiçã0 humana”, mas também sua cspontaneidadc, que constítuí uma grave pcrda da qual a1n'da falarcmos. Os pals', portanto, também podem ter seus pontos fracos, contanto que cstcs se mantenham dcntro dc hm1"tes ace1'távc15', scm logo tcrem que temcr estar causando danos aos scus ñlhos. O que, porém, está acontccendo? Atualmente o num'ero dc crianças com dasenvolvmdento psíquico pcrturbado cstá assustadoramente clevado, embora há anos os adultos estejam cada vez ma1"s rctletmdo sobrc educação, as sugcstõcs sobrc educação cslcjam scndo d1fun'-

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autoridade; e prec1s'amos adm1't1r' que também nossa juventude nunca tcve um “bem-esla:" de pior qualidade, nunca “vivcu real~ mcntc” tão pouco, como em nossa época de abastança matenaL' mas dc decadência espm°°tual. Scrá que o anliquís"s¡m'o provérbio, além dc uma advcrtência moral, não conteria também um pouco de vcrdade, que hojc exige seu tributo amargo?

que o número de crianças sem problemas estâ diminuindo, enquanto que nossos conhecimentos pedagógicos estão aumentando?

A pergunta não é d1f'íc¡l' de scr rcspondidaz a educação contríbui com apenas uma parte para o desenvolwm'cnto total da pessoa, po¡s' há oquas mfl'uências decxs'ivas dc ordcm espüituaL como a mfl'uência do “espírito da época” (Zeitgeist) c prm'cipalmentc a m'dividualidade da pcrsonah'dade. Ao exam1n'armos rapidamcntc cstes d015' poderosos fatorcs de mfl'uência, que absolutamentc não cstão nas mãos do cducador, comprecndcrcmos que desenvolvimentos psíquicos m'adcquados dc adolcsccntcs são fac1lm'cntc cn~ contrávc1s' em comunidadcs fam1h"axcs e núcleos residenciak cm que cxms'tem todos os pré-req1us'itos para uma educação excmplar “com amor e ñrmeza”. Para caractenzar' a influência do espflito da época, gostaria dc abordar um de seus muitos aspectos; trata-se da brutalidade enlre os alunos que foi abordada na pnm'avera dc 1984 pela telev1s'ão alemã num programa comovente. De três acídentes ocorridos nas escolas, um é dccorrcnte dc bng'as entrc os alunos, quc sc agridcm com tapas, arranhõcs, mordidas e correias de bicíclcta; ao todo, rcg15'tram-sc na Alcmanha apromm'adamentc 400.000 destes m°cidentes pernicíosos por ano. O comentário na telev15'ão foi o scgum'te: “A violêncía 1m'pera nas escolas e os pa1$' estão preocupados. Os professores eslão igualmente abalados e alarmados. Um atribui a culpa ao outro. Os pals' argumentam que os profcssores devcríam entcnder do seu ofício e ser capazes de 1m°ped1r' estes acessos de fúria. Os professores devolvem o “mico prcto”, d12e'ndo que as crianças deveríam aprcnder comportamentos corretos no lar, onde, porém, muitos pals' lhes servem apcnas como modelos de agressividade.”

ch, as cntrev15'tas com os participantcs mostraxam que o “mico preto” não cabe rcalmcnte a ncnhum dos lados. Os professores, em geraL fazem o mclhor que podem e os pals' sã0, cm média, muito menos agrcssivos que seus íilhos. D015' especiahs'tas, porém, quc foram consultados durante o programa, acertaram ao apontar cücunstan^cias da época cm quc vivemos como rcsponsávels'. Dicter Wunder, prcsidente do Sm°dicato para a Educação e Ciênc1a', d15'se: “Nos últh'os anos, a libcrdade aumentou. Todos apreciamos esta mudança. Porém, com a liberdade, aumcnta também 0 atrcv1m'cnto das criança5.” E W11h'elm Ebert, presidente da Associação de Cultura e Educação, ex-prcsídentc da Associação Mundial dc Profes~ sorcs, acrcsccntaz “Em comparação com gerações antcriorcs, as crianças têm hoje uma vida apcnas aparcntemente maxs' fácxl'. Não

prccbam ma1s' se prcocupar quanto às su45' ncccssidadcs básicas dc al1m'ento, roupa, moradia. Porém, muitos adultos não conscguem ma15' transmitü às crianças e adolcscentcs um sentido dc vida. Surgcm aSSIm' o tédio e o vazio. E estcs podcm sc lransformar em agressão.” Com csta añrmação, W11h'clm Ebcrt retomou uma tcsc quc VLk'tor Frankl já formulou quando os alunos am'da ñcavam bcm~ comportados cm suas carteu°as, na década de 20 e 30, ao percebcr mundialmcnte o surg1m'ent0 dc uma sensação de falla dc scnlido como um fator social patogênico; desenvolveu então a logoterapia como uma reação contrária. Conforme m'dícamos repclidas vezcs, esta scnsação de falta dc sentido se lransformou numa cns'c acentuada do homem moderno. Novamcntc seria m'justo atn'bu1r' a culpa por ls'so aos pais que não cstariam “transmit1n'do” um scntido suñciente de vida aos seus ñlhos, pois justamente a vivência de sentido não é transm15'sívcl, no máx1m'o ela é demonstrável a parur' do cxemplo. E cstas reñexões novamcntc nos conduzem ao cxcmplo pedagógioo, o único m'strumcnto dc quc dispomos na educação para fac111"tar o desenvolv1m'cnto da pcrsonah'dadc. A rcahza'ção de senlido só pode ser mostrado pelo exemplo dc vivência. Quando, porém, os próprios pals' duvidam do scntido da sua vida, e muítos atualmentc soErem por 1s'so (c csle sofnm°ento é ampliado quando a ele se juntam dcsgoslos causados pelos ñlhos), serão m'capdz'es dc demonstrarcm uma rcahza'ção de sentido pela própria vivência, fechando-sc assun' o cúculo vicioso. Depende, porém, dc cada m'divíduo, de cada criança ou adolescente, da m'dividuah'dade de cada pessoa, se esta cr15'e de sentido se transformará em agressão sem sentido, ou, então, talvez em frustração construtiva quc motivará cada um para a busca dc uma aúvídade com scntido. Naturalmcntc uma criança não tem as mesmas possiblh"dadcs de um adulto, mas também as cr1'ançd5' não têm o “d1r'eito sancionado dc ab-rcaçã0” dc scus aborrecmentos c tédios, também elas podcm lidar com estas sensaçõcs de diversas maneu'as c, até certo grau, dc acordo com sua idadc e d1$'cermm'ento, dcvcm scr consideradas responsávels' pelo seu comporlamento.

Chegamos agora à segunda grandc mfl'uência de ordem espiritual que não está sob 0 controle do educador c que, como desenvolv1m'ent0 do adolescente, torna-se cada vez mals' 1m'portantc, ma15' 1m'portantc até que a mfl°uêncía do “esp1n"lo da época”. Trata-se da m'dividualidade. Ou, conforme Frankl, da sm'gularidadc c originalídadc de cada pessoa, quc já começam a se cns'tahzar' na juven-

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' N.T. Em alcmão, Teig: massa de pão ou bolo.

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Infelmn'entc temos hoje uma 1m'agcm cxccssivamcnlc mccam'cns'ta do homcm, um modelo compuladonza'do no qual às vczcs “um parafuso cstá solto”, o qual precm'a scr apcrtado pclo cspcciahs'ta para que a unidadc “homem" funcione novmenle. Porém, da mcsma maneüa quc o pcdagogo não pode produar" cresmm'ento, o médico não produz saúde física, nem o psicólogo, saúdc psíquica. O homem cresce por si só, também sc cura por si só, seus pdr'afusos, por ass¡m' dxze'r, gu'am automaticamente; nós, de fora, só podemos contribmr' com 1m'pulsos 1n1"bidores ou est1m'uladores, na espcrança de quc atm'jam seus objetivos. E o mcsmo ocorrc com a criança psiquicamente perturbada; quando sc orig1n'ou seu dxs'lur'bio, o “eu”, de alguma forma, tcve uma parücípação, c qumdo seu d15'túrbio desapareccu, estc também se cuxou espontancamente. O educador podc contribuü somcnte com uma pcquena parccla, e o melhor que pode fazer é aceitar basicamcnlc a criança, sze'r seu “51m'” a ela, com aqucle amor que sempre encerra ao mesmo tcmpo um “apesar de” tudo que possa aconlcccr. A seguu' gostaria de dls'cuur' alguns pontos quc poderiam facmtar a convivência dos pa15' com crianças e adolescentes que apresentam dls'túrbios de comporlamcnm Não se Lrata de oferecer uma solução-patentc para todas as d1ñ'culdades quc aparccerem; faço-o, porém, na convicção de que, m'crcntc a todas as d15'culdadcs, há semprc uma possib111"dadc dc sentido, pcrmilmdo 0 amadurcci~ mcnto dc um amor, a partu' dc aflições c sofrnm'cntos, capaz de scmr' como basc. O pr1m'elr'o ponto que gostaña dc d1'scut1r' já foi mencionado anteriormente e consxs'te na preservação da espontaneidade nas m'tervençõcs educacionais. A este respeito podemos aprcndcr muito da logoterapia dc Frankl, que não rcnuncia à cspontancidade mesmo na prática psicoterapêuu'ca, embora uullz"e scus métodos de forma bastantc d1r'etiva junto a seus pacicntcs. A cspontaneidade na

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meu'amcnte as pessoas que a educm, o quc não é possívcl atravós de crílicas, moerando~lhcs seus crros, mas uniwm~cntc pclo cncorajamenlo, ajudand0-as a aceilar a criança, lal como cla é, com amor, sem constantemenle procurar em si as causas dc problcmas da criança e tentar conserlá-los. Somcnlc poderá sc pensar conjunta e calmamenle sobre quais os procedLm'cmos didálicos mals' adcquados para reduzü ao máx1m'o os problemu cns'tcnlcs, quando for dito este “s¡m' à criança, apesar dc ludo", com basc na accitação dc sua 1n'dividualidade cspccíñcm suas qualidades c dcfcilos, suas tendêncías e dls'túrbios m'atos ou adquu'1'dos, a mullipücicladc dc sua personalidade em formação sob a mf1'uência do “cspín'to da época”.

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tudc c conúnuam a se descnvolver dc acordo com a vontade própria c no confronto com o próprio carátcr. O homcm não é uma massa' cujos m°gredientes foram mls'turados a parür' de suas prcd15°posições hereditáriaS, à qual o educador dá a forma dcscjada c que é assada no forno do Iempo para scu completamento. Tornar~sc ser humano não é tão fácü assm'! Para se tornar ser humano é prcciso acrescentar algo especial, algo 1m'prev¡s'ível, que não pode ser dcrivado totalmcnte da gcnética, ncm da psicologia c nem da sociologia. A cste respcit0, Frankl escreveu crn scu livroAnthropologische Grundlangen der P.sych0thempie (“Fundamentos Antropológicos da Psicotcrapla'”) a segu1n'te frase nolávelz “Na conccpção de um Eilho, os pa15' fornecem os cromossomos, mas não lhe ms'uflam o espíñto.” Esta añrmação também podc scr estcndida c ampliada para o processo educacionalz o cducador trem'a, elogia, pune, oferece-se como cxemplo, mas também ele não podc ms'ul]ar o espírito. Em úluha ms'tan^cm,' aqu1l'o quc não pode ser produzido no homem decide sobrc aqu1l'o quc ele rcccbeu na concepção, e aquüo que não pode scr mcdido no homcm, sobrc o quc podc scr avalíado psicologicamentc. Esta idéia contém, sun'ultaneamcnte, algo m'quictantc c algo consolador. É m'quietante porque nos mostra que, ao gerarmos um novo ser humano, preasam'os assum1r' um ns'co para o qual não há garantias, ncm mesmo no melhor lar e nos tcmpos mals' paradls'íacos. Consolador, porém, é sabcr que sobre nosso trabalho pedagógico não se apóia todo o peso da responsabú1"dadc por uma vida jovem; prccisamos nos rcsponsabmzar" pelo exemplo, mas não pela sua cñcácia. O leitor provavelmentc está se perguntando por que, se pretcndia dlze'r algo sobre como lidar com crianças problemáticas, começo cnumerando tudo aquüo quc escapa da ação cducacional O motivo pode rapidamente scr explicadoz quem dcsoonhece suas oportunidadcs pedagógicas não 1r'á aprovcitá-las, qucm, porém, dcsconhecc suas hm1"taçõcs pcdagógicas, jama15' poderá “accitar a criança, apesar de tudo”, se as oportunidades aprovcitadas não trarão o espetado sucesso. Não são apenas pals' psiquicamente ms'távc15' quc podem causar dls'tur'bios em scus ñlhos, também, m'versamente, ñlhos psiquicamente ms'távels' podem facúm°ente provocar dxs'túrbios nos pals', quando estes não vêcm rcsultados nas suas tentativas educacionak e sentem medo do fracasso, acusam-se reciprocamcntc ou rcagem exageradamentc dc alguma oulra mancu'a ma'dequada. Pata establhzar" uma criança, é prems'0 estab1hzar" pri-

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psicologia, ncm na psicoterapia, c muílo menos no colidiano cducacional. Não 1m'porta quaxs' métodos uswos com as cn'anças, scja a distribuição cuidadosa dc elogio c pum'ção, scja a ñrmcm cocrcmc ou o compromlss'o amigách scja 0 m'ccntivo à crialividadc ou o trem'amenlo compcnsador, nunca algo dcvc scr usado dc forma aruñ'cial, m'aulêntica ou dcsnaturaL Conscqu"cntcmcntc, cstcs mótodos não podem scr usados de maneu'a cxlrcma c rígida, mas levc c flcxíveL caso contrário todo ambicntc educacional ñca pcrturbado. Pals' normais não podcm constantcmcntc dar clogios ou castigos com critério rigoroso; dc vez em quando também podcm emitü uma palavra cordial “sem motivo” ou ralhar un'pulsivamentc “por cngano”. Também não precisam sempre ser totalmentc conseqüentcs, porque os alos de cedcr, dc dcnx'ar-sc convcnccr, dc pardoar e fazcr as pazes são comporlamcntos nalurms' quc fazcm partc do dia-a-dia. Além dls'so, os paxs' ncm scmprc podcm sc colocar em nívcl de igualdade com os ñlhos, poís há sítuaçõcs em quc país c ñlhos 51m'plesmente não são parccnr'os. E não podcm dc mancka alguma elaborar constanlemente programas para incentívar a cna'üvidadc ou para treinamentos compcnsatóríos dc seus ülhos, pms° assun' estaríam 1m"bm'do o desenvolvxm'enlo natural da fantasia de seus ñlhos, que somente se man1f'csla sc as crianças têm oportunidadc de ocasionalmcntc pcnsarcm por si mesmas. Por outro lado, porém, o educador não pode esquivar-sc dc loda autoridade sobrc seus educandos, para não acontcccr, por excmplo, quc lodos os dias, com voz lamuriante, as crianças dc um jard1m' de mf'an'^cia cxtrema~ mcnte antíauloritário e não-d1r'ctivo cm Bcrh'm perguntdm". “Tia, scrá quc hojc prccm'amos de novo brm'car com aquüo que nÓs queremos?” O quc gostaria dc dlz'cr com o ac1m'a cxposto é que não podcmos sacr1f1'car a espontancidade no relacionamcnto com cn'anças a favor de uma determm'ada táüca educacional que aprendemos ou sobre a qual lemos e da qual esperamos sucesso; tal sacr1f1"cí0 |m'ped1n"a de antemão qualquer succsso. Esta 6 uma ochrvação que mf'cllzm'ente é feita mm'tas vczes em crianças por professores, médicos, psicólogos, etc. O outro ponto, além da esponlaneidade do w'mportamento, é a espontaneidade da vida e da esperança. Este é um aspecto ma15' sério a1n'da, pms' se a naturalidade de alguns valores básicos eslivcr perdida, ela o será para sempre. Por exemplo, pais quc ameaçam suicidar-sc não 1m'ag1n'am como estão prejudicando scus ñlhos por abalarem a espontancidadc com quc sc vive bem ou mal, conforme

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psicologia c pcdagogia não sigmf1'ca “espontaneidadc m'cñctida”, mas, ao m'vés dlss'o, a “ms'crção dc pnn'cípios mctodológicos no ambicnlc namral”. Isto sigmñ'ca alcançar a máx1m'a eñciênch com o mímm°o possívcl de situaçõestcrapêuticas aruñ'cialmente criadas. Um excmplo maravúh'oso dcsta “espontaneidade com métodos dmg1"'dos” foi publicado na rews'la “Medical Tribune” de 23 de março dc 1984, em que é relatada a idéia do pediatra Edgard Rey no Hospital San Juan dc Dios em Bogolá, na Colômbia. E15' o relatoz Os recém~nascidos com peso aba1x'o dos 1000 gramas gcralmcnte não sobrevivem nos pa1s'es em dcscnvolwm'cnto, snm'plesmente pcla falta de m'cubadoras c oulros equipamcntos dc tcrapia m'tcnsiva. A ídéia do pcdiatra sul-americano consktc então cm scgurar ñrmcmcnlc o prcmaturo junto ao pcito materno. Com ls'to sc rcsolvcria por si próprio um problcma fundamcntal dc críanças com dcsenvolwm'ento m'complcto após o nasc1m'ento, que é o da compensaçâo de temperatura. Ao mesmo lemp0, a ahm'cntação com leite matcrno podc prevcnn' uma séric dc complicações de ordem 1m'unológica e num'cional. Assim, estas crianças sofrem muito manos de diarréia ou constipaça'0, além da m'tcn51ñ'cação do cfeito psicológico posítivo da ligação mãe-ñlho. O Fundo das Nações Um'das para a Infan^cia (Unicef) considcrou os resultados desta forma dc cuidar dos bcbês como “dramáticos” no sentido positívo, pons' Lrês entre quatro bebês, com um peso ao nascer de 1200 gramas, sobrevivcram com o novo métoda Até então morriam por ano mundialmentc ccrca dc 20 m11h'õcs dc bcbês com ba1x'o peso. A taxa dc sobrevivência de bebês que pcsavam cntre 1200 e 1800 gramas elevou-se am'da mals', de 30 para 90%. Apcsar dc o problema da prcmaturidade estar apenas m'd1r'etamente relacionado ao nosso tema, podemos exIxah deste artigo uma m'dicação 1m'portante. Por um lado, há o método que dcvcria garantk aos bebês prematuros uma tempcralura constante, ahm'entação, protcção contra mf'ccções, etc. Certamente a m'cubadora podcña provcr tudo ls'to da melhor formapossível, mas ao prcço da csterllx"dade, artlñ'cialidadc e perda dc contato com a mãe. Por outro lado, há 0 comportamento natural de todajovem mãe que gosta dc segurar seu bebê contIa o pcito, transmiün'do-lhc sensação dc contato corporaL carmh'o e algo como uma “união psíquica”. Porém, cste comportamcnto materno ms'tm'tivo não seria suñciente para os prematuros. Mas a combinação deambos, o prm'cípio metodológico e o ambienle natuxaL produz resultados excelentes. O que podemos aprendcr dxs'to é que somente o método não é eñciente, nem na

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Dc maneüa gcraL rcwmcnda-sc não tcntm míl'ucncíar dc~ mals' os outros. Gottfricd Kellcr já sabia d1s'so ao cscrcvcn “Vcnñ'falam dcmais nunca quei que muitas pessoas - que scmprc . di ns comprecndem aquelas quc sao por clas lmpcdas de falar. É uma añrmação sábia que deve scr lcvada cm consideração quuto à nossa tcndência arual dc quercr dls'culir tudo abcrtamente com as crianças. Também aqui é válida a rcgra dc quc não podcmos unhzar" um detcrmm'ado mélodo e levá~lo às suas últ1m'45' conseqüêucias quando clc estivcr contradlzc'ndo a snm'ples naturalidadc. Podcmos fazcr com quc os jovcns sob nossos cuidados cmcnv dam mesmo sem palavras a naturalidadc do nosso “cslar d1$'ponível para cles". Podemos fazê-lo ao ouvi-los pacicntemenle, ao mostrar m'tcresse, ao tentar comprcendê-los, ao respeitar sua m°diví~ dualidade. Ao sermos dcfrontados com sua agrcssiv1'dade, devcmos lembrar que “a bondade dcsarma”, o que, poróm, não quer dlzc'r que o educador sempre deva ceden Ele deve se dxs'lanciar de um gravc comportamento m'adcquado, m43' o dls'tanciamcnlo não sigmñ°ca abandono. Podemos manler dxs'tan^cia, mas contmuar sendo bondosos; podemos d12'er “não” a um comporlamcnto mf'anul,' mas, apesar disso, d12'cr “s¡m'” à criança, conformc já cxph'quei.

Precns'o explicar uu"cialmcnte o que a logolerapía enlendc por 1a'trogenia para dcpms' podcr esclarcccr que também na ação pcdagógica podc ocorrcr algo semelhantc, com resultados igualmente m'dcsejávels'. A palavra “iatrogênico" dcriva-sc da palavra grega “iatros” que s¡gmñ"ca “médico”, e o suñxo “gênico” scmpre tem algo a ver com a 0r1g'em c formação; “ialrogênico”, portanto, mgmñ"ca “causa-

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Bem, até aqui discuum'os o “prescrvar'”, a preservação da naturalidade e esponlaneidadc. Dcpois abordamos o “falar” e veriñcamos quc, além de falar de menos, o quc certamentc é desfavorável do ponto de vísta pedagógico, cxns'te também um “falar demals'”, que não raramente leva as crianças à recusa. Ao tcma “falar”, gostaria de acrescentar um segundo ponto de v¡5'ta que mc parccc cssencial e quc também copiei da logoterapia de FrankL Trata-se não mals' da quanüdade, mas da qualidade do que é dito. Como e o que sc conversa com cr1'ançaa"-problema? Para scr breve, de acordo com mmh'a opm1"ão, tudo podc ser dito a ela5, da maneu'a como se qws'er e d1r'etamcnte, conformc dS' palavras nos vierem à mcnte. Apenas não podemos causar um dano iatrogênica

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A tendência atuaL também cntrc os adultos, é falar dcmals' sobre determmados assuntos. Por cxcmplo, falamos lanto da paz quc, de repente, ela não é ma15' algo nalural; porém, se a naturalidade da paz estiver perdida, surge a possibmdadc de uma gucrra. Também na família fala-se tanto de separação, de abandono rccíproco, que a naturalidade da paz na família ñca mm'ada. Há problemas que se tornaramjustamente problemas pela atenção que se lhcs dá, e que somcnte através do nome que a eles atribuun'os se transformaram naqueles obstáculos m'transponívels' em nosso cammh'0. Nm'guém pode me acusar de quercr repr1m1r" ou s1l'enciar os problemas verdadenr'os, p01.s' há mals' de uma década ocupo-me da solução de problemas alheios. Porém, foi prccxsam'ente este trabalho que mc ensm'ou quc dLñ'culdades e prcocupaçõcs fazem partc dc uma vida totalmcnte normaL e constitucm muito mals' um desaño ao cspm"to humano do que um dano à saúde psíquica. A cxaccrbação dos problcmas, contudo, bloqueia sua solução; ls'to sc aph'ca tam-

bém ao rclacíonamcnto com crianç45' quc aprcscntam dklúrbios dc comportamento: qumto maxs' sc falar com clcs, ou com outras pessoas, sobre seus problem45', mm's m°tcnsivos sc tornarão.

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o caso - c praúcamcntc cnam' a idéxa' dc quc podernos cncontrar uma fuga na mone. Da mcsma forma, pals' quc conslantcmente ameaçam scus ñlhos problcmáticos dc quc serão colocados numa ms°tituição estão também dcstrumdo aos poucos a naturalidadc da cms'tênc1a' do lar para scus ñlhos, ao qual dcvcriam pcrtenccr scm prcc15'ar qucstioná~lo. É m'd15'cutívcl que há situaçõcs fam1h"ares cm quc uma m'lcmação numa ms'tituíça'o ou m'tcrnato constitui uma altcrnativa melhor do quc o laL Se estc, porém, for o caso, dcve ser mostrado como uma solução Icmporária que tem sentido para todos os envolvidos, c não como uma punição do tipo “cxpulsão de casa”. Não podemos csqueccr que o próprio lar, oomo a própria vida, constitui um valor fundmemal que nunca devc ser colocado em dúvida; c justamcme a pessoa com ms'tab1h"dadc psíguica é muito vulnerávcl com rcferência a ta15' vivências cvidentes. Sc não ezus'tc ccrtcza alguma sobre a cx15'tência, ncm quanto à sua contm'uidadc, ncm quanto à sua plem'tudc de sentido 0u quanto à sua scgurança, a espcrança dcsaparece juntamenle com sua vonlade de vivcr. Falamos a respeito do nívcl atualmente clevado de agressão entrc alunos, mas não mcncionamos que há também uma “agressão muda”, am'da mms° tcmida pelos pedagogos, do que agrcssívidade ativa. Trata-sc de cn'anças quc m°teriomentc sc desligam segundo o lcma2 “Não qucro, não mc amolem. Nada me m'teressa, não quero fazer nada.” Nenhuma recompensa ou pum'ção nclas faz efeito, nenhuma promessa as alrai, nenhuma ameaça as atmg'c, nenhum tipo de expectativa futura é capaz dc m'á~los da m'atividade. Perdeuse a espcrança e a sua espontaneidade, c Ls'to é grave.

com scus pals' quc tmh'a tido antcs. Também ncstc cxcmplo prccisa~ mos admitü que houve um dano ialrogêníco absurdo quc só trouxc sofr1m'cnto.

do pclo médico". De fato, conhecemos na psicoterapia neuroses e dcprcssões quc, conformc V1k'tor Frankl pôde demonstrar, se formaram unicamente dcvido às dcclaraçõcs 1r°rcflctidas dc conotação ncgativa dc um médico ou psicotcrapeuta quc, scm querer e sem saber, causou danos a seus pacícntes. O pior quc já ouvi neste sentido foi o relato dc uma mulhcr quc sc tornou totalmcnte ms'egura dcvído a uma declaração de seu psicanahs'ta com quem fcz um tratamento durante ma15' de quatro anos, sem, porém, obtcr qualquer melhora. O médico exph'cou-lhe a situação à sua manelr'a. Ele d15'se: “As andormh'a5 quc nascem ccdo na pnm'avera têm tcmpo para crcscer e desenvolver asas fortes até o outono, por Is'so para elas é fácü atravessar os Alpcs quando o 1n'vemo se apr0x1m'a. Aquelas andonnh'as, porém, quc nascem no ñm da pnm°avera, am'da não alcançaram um dcsenvolwm'cnto plcno quando o frio se ms'tala; também elas tentam atravessar os Alpcs, mas nas dl'turas gélidas logo perdem suas forças e acabam morrcndo.” E dep015' 0 médico acresccntou amavelmentez “Veja, a Sra. se assemclha àquelas and0rmh°as quc nasceram tarde demals'. A Sra. procurou tarde demals' mmh'a análise e não posso mals' fortalecê-la 0 suñciente para quc possa enfrcntar as exigências da vida. A Sra. nunca mais recobrará a saúde.” Podemos 1m'agm'ar os cfeitos destas palavras do médico sobre esta mulher scnsíveL quc já estava muito dcpnm1"da. Ela se trancou em sua casa, fechando as venczianas dia e noitc para não ouv1r' o gorjcio das andormh'as díante de sua janela; cla teria praticamente morrido lá dentro se uma amiga muito resoluta não a tivessc t1r'ad0 de lá para trazê-la ao meu centro de aconselhament0, onde com muito csforço e dlñ'cu1dade ncutrahz'ci o dano iatrogêni~ co. Cettamente estc foi um caso extremo, mas precxs'amos ter muito cuidado na psicología e também na pedagogia, po¡s' tals' danos podcm ocorrer de maneüa muilo suül'. Por exemplo, uma mãe à procura de orientação contou-mc dc passagem quc ela própria era a scgunda ñlha de scus pa15' c quc o pr1m'elr'o ñlho dclcs nasccu um ano antcs dela e morrcu logo cm seguida. Ela disse quc antigamente via este fato de forma p05itiva por pcnsar quc, após a perda quc seus pals' sofreram, ela fora realmente uma criança dcscjada. Quand0, porém, cla relatou o caso dc seu 1rm'ão falccido antcs dc scu nasc1m'ento ao médico da família, cste, com ar muito sérío, lcvantou a suspeita de quc ela fora apcnas um “subst.ituto” para scns paLS' e quc seus pals' dedicaram seu amor provavelmcnte não a ela, mas ao ñlho morto. Este pensamento atligiu a mulher durantc anos c, desde enta'o, delx'ou de ter 0 relacionamcnto desprcocupado e espontan^eo

Como últlm'o exemplo prcventivo goslaría dc dcscrcvcr um diálogo quc ouvi por ocasião dc uma visita médica numa clínica neurológica. O médic0-chefe perguntou a um pacicntc alcoólatta quc já cstava no hospilal há algumas scmanas como cstava sc sentm'do. Estc rcspondcu quc estava relalivamcmc bem, somcntc no últlm'0 ñm de semana, ao acordar dc manhã na sala dc cnfcrmaria, tevc um accsso de medo. TOdOS scus companhciros dc quarlo já havíam se levantado, e cle se sentira só c abandonado, ñcando cntão com medo do fuluro. O médico-chcfe virou-sc para a médica encarrcgada quc estava ao seu lado e pcrguntothc se cste acesso de mcdo poderia ainda ser um efeito do abuso de álcooL “Não", ela rcspondcu, “o pacicntc já está abstinentc há bastante tcmpo. Elc, porém, é um tipo muito 1n'stávcl...” “Ah", disse o médico, c du'igiu-sc para a próxma cama. Não sci sc o leitor perccbeu o quc ocasio~ naram cstas poucas palavras... Uma pcssoa foí rotulada por um espcciahs'ta como “tipo ms'tável” e o “ah” do médico-chefc representou o vcredicto fmaL Como um paciente nestas condições podcrá um dia recobrar sua autoconñança, como podcrá retomar sua lula corajosa contra sua mf'ehz' tendência ao alcoolismo, como 1r°á sufrentar seu futuro, diante do qual já tem medo, se tem uma auto1m°agem tão negativa? Neste ponto podemos facúm'cnte fazer a ligação com a pedagogia quc nos ensm'a quc as atitudes de cxpcctaüva c os processos dc busca de idcntidade dos jovens são dccisivos para toda sua vida, por darem düeção a ela. Quanto às atitudes de expcctativa, precisamos d1f'crenciar am'da cntre expectativas dos outros, ou seja, o quc o ambientc espera de alguém, e as expectat1'vasprópn'as, ou scja, o quc a própria pessoa espera de si. O maior perigo quanto às expectativas dos outros é quando clas são elcvadu demaxs' c excessivamcnte positivas, colocando a rcspectiva pessoa sob considerável cstrcsse e prcssão e causando-lhc mcdo, porque ela simplcsmentc não vai poder corresponder às expectativas de scus pais, professorcs, chefes, ctc., ou somente poderá fazê~lo mediantc um csforço enorme. Por outro lado, não nos cnganemos quanto ao pcñgo dc cxpectativas muito bzuxas' e negativas por partc dos outros; lambém elas colocam obstáculos ao desenvolvimcnto de uma pessoa por t1r'ar-lhe a conñança dos outros cm suas capacidadcs.

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Quanto às cxpectativas próprias, o maior pcrigo é gcralmente aquele dc quc clas scjam muito balxas', quc a rcspccliva pessoa não

sejulgue capaz ou sc avalíe muito negativamenta Pelo menos desdc Sclígman sabcmos que exístc um “desampa.ro aprcndido”, que começou na mf'an”cia, talvez por causa dc cxpectalivas baxxas' dos outros, e quc contm'ua na idadc adulta sobreludo com cxpectativas própridS' cxtrcmmente ba1xas' c ncgativas. Partmdo da expectativa dc quc não se podc mesmo fazer 15'to ou aquüo, o “desamparo aprendido” nos 1m'pede de aceitarmos uma tarefa com o resultado de que prontamente não somos capazcs dc reahú'-la quando, por algum motív0, somos obng°ados a enfrentá-la. Porém, também quanto às expectalivas próprias há o oquo cxtremo, as expectaüvas cxcessivamentc clevadas com rcspeito a si próprio, quc são 1r'realísticas c nos destroem Bem, conforme já disse, o homcm não é uma massa à qual se dá forma scm sua m'tervcnção. Não podemos cscolher as expectativas dos outros, cspecialmcnle quando sc é criança, mas as cxpectativas próprias são dm"gidas pessoalmente, e alé mcsmo as crianças têm a oportum'dadc de ajudar a dar d1r'cção a clas. Assnm,' as expectativas banxa°s dos outros podem ser compensadas através de elevadas expectativas próprias, confonne demonstrou, por exemplo, um ator conhccido pelo nomc artístico de “Conan” e que se tomou famoso por ser um herói cm'ematográñco especialmcnte musculoso c forte. Por mcu sogro, que é profcssor, tê-lo tido como aluno na escola, sci pessoalmcntc quc esle ator, qu4n'do críança, era o ma15' fraco dc sua classc, que mn'guém julgava capaz dc qualquer desempcnho físico exttaord1n'án'o, aparentemente nm'guém a não ser ele ptóprío; ele não sc dmx°ou desencorajar, empenhou-sc cm modclar a si próprio até que pudesse mostrar sucessos adeI'ávels'. Frankl fala nestes casos do “poder dcsañador do esplr'ito”, que é capaz dc supcrar c1r'cunstan^cias precárias c expectativas negativas dos 0utros. Voltando à problemática dos danos iatrogêm'cos, ou melhor, dos “danos pcdagógicos”, podcmos agora enquadrá-los no grupo das expectativas cxcessivamente negativas ou bmxas' dos outros. Declarações dos pals° ta15' como “Isto você não entende mcsmo!”, “Você nunca vai scr alguém na sua vida!”, etc., podem, como conseqüência, também rcba1xax' sensivelmentc as expcctativas próprias das crianças, se elas não conseguüem encontrar suñciente “podcr desañador” para cnfrentá-las. E justamcntc as crianças psiquicamente perturbadas, aSSIm' como os adultos psiquicamcnte ms'távc15', são extremamente suscctívexs' a estas ba1xas' expectativas exIernas.

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Tcnhamos cntão cautcla na cducação c ao lidarmos com crianças, para não confrontá-las com cxpcclativas allas ou baíxas demals', mas prm'cipalmcnte ncgativas dcmals',' na dúvida, d1r'ia scr mclhor esperar delas um pouco ma15' do quc dc mcnos. Ainda quanto às crianças com d1$'túrbios dc comporlamcmo ou cn'anças ncuróticas, devemos tcr conñança dc quc também elas possam sc transformar cm pessoas alcgres c saudávcis; esta scria a maior demonstração do nosso amor c o melhor prescntc quc podcmos lhes dar para acompanhá-las no scu cammh°o rumo à m'dcpendência. Por acaso, um dia a5515'ü a um jogo de baralhn cm grupo num lar para crianças; após cada jogo trocava-sc dc Iugar. Num dado momento, uma das cadc1r'as foi cscolhida como cadcüa mágícaz toda críança que nela scntava ganhava o jogo. E, dc fato, os ganhadorcs das jogadas segum'tes eram os rcspectivos dclenlores da cadcu'a mágica. Chegou a vcz de uma mcmn°a ba1xa' e pálida quc, ao scnlar-se na cadeüa mágica, dlss'e em voz ba1xa': “Eu sou azarada, comigo não vai dar certo!" E a menm'a pcrdeu.

No caso, tratava-sc de um jogo de azar do qual não qucro tu'ar oonclusões. Hojc sabemos, porém, que a atitudc de cxpectativa de uma pessoa tem um enorme poder mistcrioso para atra1r' justamente aquüo que foi esperado. Devcmos levar este falo em consideração ao lidarmos com crianças problemáticas dc todos os tipos. Enquan~ to elas se considerarem como pessoas dc pouca sorle, assim 0 serão. Se as ajudarmos a pcrderesta expeclativa ncgativa, a sorle começará a lhes sornr'. Não devemos psicologlzá'-las, mas normahzá'-las, tra~ tando-as como parccu'os capazcs dc se dcscnvolver, cm quc as possib1h"dades todas am'da estão em abert0, mcsmo que sua situação no momcnto seja complicada. O espírito humano ccrtamcntc tem ma15' reservas do que a nossa pedagogia possa 1m'ag1n'ar! Assm' encerro a questão sobre o “fa1ar" e d1r'ijo-mc ao últxm'o ponto dc dls'cussão, que, para surpresa dc alguns, é o “pcnsar”. Trata-sc do que os pals' pensam a respeito das dlñ'cu1dade\s de seus ñlhos e da sua própria necessídadc de enfrenlar esle fatoJÉ sabido que tudo na vida pode ser visto dc diversas manelr'as, c, de a Ordo com cada mancnr'a, tcremos s¡gmñ"cados totalmente d1f'erentes Deso tc s¡gmf1"cado, por sua vez, depcnde a chamada “ressonan“cia orgânica”, ou scja, o conscqüente estado físic0, que está inüm'amcntc relacionado com o estado psíquico. Quamo às crianças, csta maneira diversmcada de pensarjá comcça por ocasião da gestação: a mãe pode ñcar contente por causa do bebê ou ter sérías dúvídas a respcito. Com 15'to, não queremos rccnm1n"ar as gestanlcs que, por razõcs válidas, m'clm'am-se mais às dúvidas, mas ccrtamcnte, ncste

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Por 15'so, goslaria dc aconsclhar vccmcnlcmcnlc aos paà c educadorcs das chmadas criançuproblcma quc não sc dcxxc'm lcvar pcla tenlação dc conslantcmcnlc dcma'r girar scus pcnsamcntos em torno dos d1s'túrbios dc sws ülhos c crianças sob scus cuidados, cam'd0, assun', nas malh'as da hípcr-rcñcxã0; com isso, cstariam apcnas prejudicando a si próprios, lambém ñsicamcnlc, scm ajudar em nada às cr1'an(,.15". Dcvcriam cncomm a th'posição m'terna para se oricmar pclas possx'b111"dadcs dc scnüdo da situação ems'tcnte, c ls'l0 é possívcl somcnle ao lidar~sc c cstm salisfcilo com aquüo quc “ex¡s'le” e 0 quc é “b0m”. Aqui voltamos às nossas considcrações iniciais quando venñ'camos quc muitas c1r'cunstan'^cias não cslão rcalmcntc nas mãos do educad0r. Assm', hoje não há mais uma infância propriamcnle dila, ncm uma puberdadc. A m'fância foi 4f'clad\a pcla mídia quc, alravés da tela, leva para o qumto das criançus lodos os cvcnlos do mundo dos adultos, ocasionando um 1m'piedoso “csclar'ccimcmo” gcraL fazendo com quc as crianças envclhcçm muilo rapidmenta E a puberdade foi grcmdcmcntc dcsliluída dc sua função pcla “cmcm'cipação da juvcnludc” quc lransforma cm farsa uma scparação do lar paterno onde há muito tempo já não cxistiam laços, fm*ndo com quc os adolescentcs amadurcçam muilo dcvagar'. Podcríamos cilar muitos falores quc atualmcmc d1ñ'cullm o proccsso cducativo, scm quc ls't0, no entanlo, mclhorc a siluaçãoz envclhccimcnlo rápido e amadurecm'cnto lenlo, m'fância perdida c idade adulta prccocc, eletrônim como fascinação c 'udgônCi45' dc libcrdadc como prov0cação, ctc. Façamos o mclhor dcnlro dcsla siluação, scjamos modclos, mas dclcguemos gradalivamcntc a rcsponsabüidadc; a próxima geração lambém precisa assum1r' larcfas, das quais não podcmos protcgê-la, nem fazê-las por cla. Se conscguirmos mantcr na cducaçào a naluralidadc do nosso comportamento e a espontwcidadc da vida c da espcrança, sc pudermos cnconlrm um mcio~lcrm0 saudável na nossa comum'cação oral com as crianç45', se nossas cxpcclalivas cm rclação a clm não forem ncgativas dcmais, sc aceilmos os scus problemas com scr1'cdade, mas com calma, c sc conscrvarmos nossa vxkão abcrla pma o quc am'da existe de não~problemáüw', do qual' sc podc extraü

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O mesmo ns'co correm os pans' quc não conscguem accilar a deñciêncía f15'íca ou psíquica de um ñlho, lutando contra a situação ou entregando-se à tns'lcza por causa dela. É cvidente que tudo dcvcrá ser fcito para ajudar a criança da mclhor forma possích Porém, chega um detcrmmado momenlo quando é preciso 00nformar-se com as c1r'cunstan^cias, talvez porque sun'plesmente haja necessidade de tcmpo e cspera pa01'ente. Nesta siluação, o ma15' 1m'portante énão hiper-reflet1r' a problcmática para não colocar em r¡s'co lambém a própría saúde; é precns'o ñcar calmo e direcionar o pensamento para o quc ex15'te de positívo, para tüm o melhor proveito das condições prescntes. E esta constitui uma verdadeüa obra dc arte, uma notávcl reahza'ção humana, quc pode ser conscicntc c voluntariamente almcjada c concrctlza'da! Coutudo, para poder extrah 0 melhor daquüo quc ex15'te, é precns'o não só perce-

bê-lo em loda sua plem'ludc, mas lambém aprccndcr a tolalidadc das possibnlx"dadcs de scnlído íncremcs à siluação. O mclhor somcnte podc scr cscolhido a parlir dc uma vmicdadc dc auspcclos bons, assun,' neccssar1°amcnlc, pma cnconuar o mclhor, prccisamos rcconheccr 0 quc é b0m.

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caso, a gmvidez lhes scrá mais d1f°ícü lambém do ponlo dc ws'ta ñsiológíco. Quando as criwças têm uma deñciência ou apresenlam um dcsenvolvmento psíquíco m'adcquado, a maior parte dos pa1$' ñca alarmada. Ccrtamentc uma pcquena pmccla de paxs' permancce m'd1f'erentc ou rejeita o ñlho, mas csta parcela ncm consídcrarcmos aqui, pons' ncslc caso não é possível ajudá-los. A parcela aJaImada, porém, de alguma forma, assumc em pcnsmcnto uma alitudc diante da problemáüca cxrs'tcnte, c éjustamcnle cslcposicíonamento intemo quc considero tão 1m'porlantc para dctermmar o bem-estar de uma família. Na logoterapia dc Frankl freqüentementc é descrito o perigo dc um “fcnômeno dc hipcr-reflexão” quc surgc quando uma pessoa com alguma añição cnlrega-se a ela, faz seu pcnsamento g;r'ar somentc cm torno dcstc lema, ñxa-se tolalmente em scu problcma. As conscqüências são calastróñcasz todos os aspectos quc nada tém a ver com o problcma cm qucstão, mas quc podem estar m'tactos, pcrdcm seu sigmñ'cado, enqumto quc a aflição “hipcr-reñclida” assume proporções giganlescas e m°vade toda a pcrspcctíva dc vida da pcssoa. Em dccorrência, seu 515'tcma 1m'unológico é enfraquecído c aumcnta em muito a sua susceüb1h"dade a doenças. A parth de cstudos longiludm'a¡s' norle-amcrican'os reahza'dos durantc 14 anos sobre a m'cidência dc can^ccr, sabemos quc nos pr1m'cu"os anos após a pcrda de um pdr'ccu'o, seja por mone ou divórcio, o ns'co dc m'cidência de can”cer é cm'co a dcz vezes maior. Este ns'co, porém, só existe se a pessoa em questão “hiper-reflete” constantcmente a pcrda, ou seja, qumdo não conscgue se conformar com a perda, luta em pcnsamcnto conlra seu destm'o e ñca rcmoendo as causas de sua perda.

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a força para cnfrenlar os problemas, então ls'to serã suñciente; tercmos cumpn°do com nosso devcr. A ciência psicológim cmpcnhou-se com a mámm'a prec1sa"o na dcscobcrta dc crros cducaciona15'; dc fal0, não podemos negar que muílos d15'tur'bios psíquicos das cnan'ças sejam dccorrcnles dc falhas na cducação que lhes fora dada. Porem, goslaria de obscrvar no ñnal da mmh'a cxposição quc a atn'buição dc culpa atualmemc foi cle1"nada nos casos de divórcio e, analogamente, dcveria sc repcnsar e reformular aos poucos a atribuíção dc culpa nas d1f1'culdadcs da educação. Sc jovens dc 13 anos têm idade suñcícntc para m'mm"dadcs scxuaís, conformc cilado pclo Instituto dc Pesquns'as sobrc a Scxualidadc de Frankfurl como “lun1"lc normativo 1nf'crior”, e se os nossos jovcns de 18 anos quercm a sua maioridadc totaL é precm'o quc as fa1xas' etárias m'tcr¡ncdiárias tambóm assumam um pouco dc rcsponsabmdadc por suas ações, scm logo atn'bu1r' qualqucr fracasso próprio aos pals'. Por excmplo, para citar uma falha educacional qualquer, crianças pcqucnas cxccssivamcntc m1m'adas naturalmcntc não têm culpa pclo seu comportamento scm hm1"lcs, o qual gcralmcme é o resullado de tercm sido lão mnn'adas. Porém, adolesccntcs cxccssivamente m1m'ados têm a opção, em grau crcscente, de sc aproveitarem ou não desla sítuação cm que tudo recebem; e há certamcntc excmplos positívos de jovens que desm'lem volunlariamenle da sua 1m°odcração. Somcnte por ser fácü conscguu' dos pzus' d1nh'cu"o e presentes, tal atitude não é jusuñ'cável; mcsmo um ladrão quc cntra numa casa que estava com as porlas destrancadas pcrmanccc um ladrão. É uma dcsculpa fác1l' dcma15' quando os adolesccntcs exigem dos pa15' tudo que qucrem e depoxs' añrmam quc a culpa é dos próprios pa15' que os m1m'aram tanlo. Não é tão s1m'ples assm'. O adolcscentc, ao longo do scu proccsso de amadurecnm'enlo espm"tuaL podc recusar a mñ'uêncía positiva de seus cducadores, o quc prcas'amos aceítar; porém, analogamenle, ele podc rccusar também a mfl'uência ncgativa de sua cducação c livraI-se do pcso das falhas da educação que recebeu. Não há d15'túrbio psíquico do jovcm em dcsenvolwm'ento que não possa ser mfl'uenciad0 pela auto-educação do jovemjá amadurecido, a não scr que tenha bases 0rgam^'cas.

Empenhemo-nos então com conñança na tarefa cducacional; não tenhamos medo de cometer crros, mas esforcemo-nos para dar um exemplo “d1gn'o”; e conñemos o desnn'o futuro da gcraçãojovem à sua própria responsabm"dade. Ac1m'a de tudo, porém, não delx'cmos de dlzc'r “s¡m'” aos nossos ñlhos c educandos, paxa quc um dia possam novamcnle d12'cr “sxm"” aos seus pals' e educadores.

3. A mulher que trabalha: entre o estresse e a realização

Oulro dia li no jornal um lipo dc notícia muilo comumz “Cada vez majs mulhcrcs cnlrc 30 c 50 anos lcndcm a aprc~ sentar deprcssão. De acordo com obscrvaçôes dc p51'cólogos, as mulheres em queslão são gerdlmcntc casadaS', vivcm cm boas comdições cconômicas e não conscgucm enlcndcr por quc estão se sentm'do lão mal. As mulhcrcs acham quc cslão lhcs swdo fcitas exigências demals', tendem a pcnsm em exccsso c a sc recr1m'mdr" por estarem afctando marido c ñlhos com scu ulado dcprcssivo. Freqüentemcnte suxgem problcmas no casamcnlo." Gostaria dc cxaminar csla notícia mais dctalhadumcnlc, poxs' ela contém vários aspeclos quc não podemos dctxa"r passar. O que dxz,' añnal, a notícia? Muílas mulhcrcs scnlcm~sc mdl'. São “dcpressivas”. Certamcntc, ncstc caso, “dcprcssivo” não sigmñ'ca um diagnóstíco no senlido chnl"co, mas é usado dc acordo com a lcndôncia da moda quc cnquadra loda e qualqucr forma dc mddbposição sob o conccito de dcprcssão. Além d15'so, aciona~sc o almmc publicítáriozcada vezmais mulheres são deprcssivas. Mas quc mulhcrcs súo essas? São mulhcrcs como nos pals'cs cm dc.s'cnvolv1m'cmo, cujos ñlhos morrcm de fome? Ou mulhcrcs como nos paxs'es mmunistas que precxs'am lrabdlh'ar muitas horas por dia nas fábricas, até a exaustão fxs'íca? Ou mulheres como nos guclos ncgros da Améríca do Nortc, que não dls'põcm dos maxs' sun°plcs utcnsílios doméslicos c cujos maridos vivcm cm bandos pcrigosos pclas ruas'? Não é nada d15'so. São mulhercs geralmente casadas, lrabalhando ou não, vivcn-

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Para entcndcrmos esta maneüa antiquada de pensar, precls'amos lcmbrar quc o comcço da psicologia ocorreu numa época em quc houve na Europa muita dcsgraça, oprcssão c dcsemprego, e am'da duas Guerras Mundia15'. Naquela época, os psicólogos partiram logícamcntc do prm°cípío de quc o homcm deveria ser fehz' sc não precm'assc mals' passar necessidades; c como os psicólogos não se sentiam responsávels' por ckcunslan^cias cxlernas da vida, como desemprego e gucrras, concentraram scus csforços para chmm"ar, dc alguma forma, a añíção m'terna dos homens para levá-los à sua fclicidade. Esta foi uma m'tenção muito sm'cera, mas quc mf'ehzm'entc não dcu ccrto. No fundo, a felicidadc não é “ser livrc de algo”, mas “ser h'vrepara algo”, assunto quc am'da abordarcmos. De qualqucr manelr'a, durante cm'qücnta anos a psicologia tcntou seriamcnlc ehm1n"ar a aflição m'tcma do homcm. an'cu'amente, o homem deveria se libertar de todo tormento causado pela pressão dos 1m'pulsos, devendo descarregar sem maiores comph'caçõcs suas neccssidades sexuals' e agressivas. Considcrava-sc como cfeito colateral m'evitáve1 que tals' descargas de um m'divíduo só pudessem ocorrcr à custa dos outros. A máx1m'a psícológica, ruidosamcnlc dcclarada, era: “O mais 1m'portantc é quc nada sc rcpr1m'a”, c, com rcfcrência aos outros, acrcscenlava-sc cm tom mals' ba1x'o: “Isto é problcma deles”. Com ls'to surgiu aquela contradição estranha na cullura ocidental de que, em nenhum século anterior, quando amda não sc contava com a ajuda da psicologia, as famílias foram

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Com d1ñ'culdade a psicologia está aprendendo a mudax seu pensamento. Precisa recomcçax em muilos pontos. Atualmente, a psicologia está neste processo de rcnovação, para o qual cncontra a mclhor ajuda nas recomcndaçõcs de V1k'tor E. FrankL quc lambém fez a advertência de quc, para o ser humano, o mais 1m'portante não é a liberdade de algo, mas a liberdadepara algo. De acordo com Frankl, para o homem não é suñcicnte Iivrar-se de quaisqucr obn'gaçõcs, compromissos c deveres, para dep015' viver num vácuo com as necessidadcs satls'fcitas, mas é dc pmn'ordial 1m'portan^c¡a' para o

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Contm'uou, porém, a almejada liberlação dc aüiçõcs m'tcrnas. Após a dcsm1"bição dos ¡m'pulsos, veio a libcrtação da autoridadc. A nova mánm'a passou a scr “Não dar o braço a torccr”, válida 1gu'almente para adultos e cn'anças. As novas rcccitas da fclicídadc eram “defcnder-sc, un'por-sc, saber dlzc'r não". A dls'ciplm'a-1r'mã da psicologia, a pcdagogia, assumiu eslas reccilas c, conformc já d1.s'cunm'os, acabou chegando até a bcüa do caos. Neste mcio lcmpo, prosscguiu a libertação dc lodas as prcssões sociais. “F1n'almente devcmos pensar em nós mesmos”, cscrcvcu a psicologia a rcspeito dc todos os seus csforços c cncorajava o fortalccímento do cgo cm todos os seus escritos quc m'undavam o mercado. Alguém lcvanlava escrúpulos? Havia argumentos para sücnciá-los: “Os outros são os culpados pela sua m15'éria! As ofensas infügidas por mãc, paí c meio ambiente são lodas responsávelk por seus d1$'lúrbios dc comportamento!” Que bom, até a libertação da própria consciência cstava sendo consegm'da. O quc am'da estava 0bstrum'do o caminho para a fch'cídade? Nada mals'. Os bloqueios m'lernos estavam sendo ehmi'nados psícologicamentc e até as cücunslan^cias cxlcrnas começavam a mudax no fmal dos anos cm'qu"cnta com o advcnto da prospcn'dade. Os homens quc já aprenderam a buscar a saus'façã0 de seus ¡m'pulsos, estavam líberados de normu dc auloridadc e contavm com um cgo fortalecido, podiam, de rcpcnte, satisfazcr todas as suas neccssidades scm problemas: através dc bens de consumo, de parceüos sexums', de dcmonstrações dc podcr, dc rccusa dc quals'qucr emg'ências cm excesso, dc orientação cxclusiva pelos seus dcsejos... De acordo com os dogmas da psicologia, eles dcven'am estar sm'plesmcnte felicí551m'os. Inñnitamente fchzc's. E de repenle 0 castclo de cartas ruiu, p015' nunca os homens do nosso progrcssivo "an'e1r'o Mundo” esüveram tão mf'elxz'es c psiquicamentc docntes como em nossa atual “cultura narcxs'ística”6.

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É o quc observam os psicólogos, e estcs sempre foram eñcientes ao fazercm observações. O quc se aprescnta aqlú rcalmentc é a sombra dc um mal-estar amplamente d1fun'dido, quc sc man1f'esta há algumas décadas, prec¡s'amcnlc dcsde o m11'agrc econômioo cm nosso país (= a Alcmanha). Ex15'lc, porém, uma sensívcl d1f'erença entre a obscrvação e a m°terpretação de um fenômeno, e na m'terprctação os psicólogos nunca foram tão eñcientes quauto na obser~ vaça'o. Freqüentemcntc foram fcitas m'terpretações errôncas, o quc também ocorreu, conforme moslrareL na rcferida notícia de jornal cm quc a cresccnte tendência para a deprcssão das mulheres foi cxplicada com a frascz “As mulheres acham quc cstão lhes sendo feítas ex1g'ências dema15', tcndcm a pensar em cxccsso c a sc rccrim1n'ar”. Esta aflrmação não corrcsponde àvcrdade, c somentc pode ser compreendida tendo como base uma psicologia antiquada quc não tem ma15' vah'dade.

quc, pclo jeito, o homem não suporta seu próprio bcm-cstar.

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tão abaladas cm sua cssência como cm nossa época, quando dcvcríamos tcr a contribuição dos conhccimenlos múlliplos dc uma psicologia “dcsejosa de trazcr a felicidade”.

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do cm sítuuçõcs econômicas cslávcns', quc não sabcm d12'er por quc cstão se scnun'do mal. Estranho, nã0? Suulm'ente, poderíamos dxze'r

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No presentc, porém, o “podcr-ser” tornou-se um fato m'contestách não é nada espccial, ncnhuma graça, nenhuma dádiva, c às vezes é alé sentido como um “dever-ser” desagradách como se fosse um pcsado ônus. Hoje, as mulheres que não querem fazer o trabalho de casa usam para ls'so máqum'as, levm a roupa à lavanderia, compram comida pronta. As mulhcres que não quetem nabalhar fora ñcam em casa e vivem dos rend1m'entos dc seus maridos ou dc sua família, ou, se for prcc¡s'o, apelam para o auxílio-dcscmprego ou ass¡s'tência sociaL As mulheres quc não qucrem tcr trabalho com ñlhos tomam a pílula ou, se têm ñlhos não-planejados,

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Abordemos então a situação espec1ñ'ca da mulher que exerce uma aüvidadeprofíssionaL Esta situação representa algo dc novo na evolução da humanidade, pelo menos em nossa soc1'edade. Isto não sxgnf1"ca, porém, que antigamenle as mulheres não trabalhassem Ao contrário, podemos parlü do prm'cípio de quc as mulhcrcs raramente ñcavam com tcmpo livre, razão pcla qual não unh'am chances de dcdícar-se à arte e à ciência. As mulheres, com cxccssão daquelas da nobrcza, das “altas socicdadçs” de todos os tcmpos, ocupavam-se no am^bito doméstico desde o amanhecer até o anoitecer. Quase sempre sua tarefa era criar os ñlhos, geralmeme em número elevado, tarefa que precxs'avam rcaluar" sob condiçõcs tão prum"tivas e mls'erávc15' que hoje nos parecem m1m"agm'ávexs'. No meio rural, c quando o marido era artíñce, freqüentemente elas ajudavam no trabalho dcle para melhorar os rend1m'entos. Prau'camcnte trabalhavam o dia todo, mas nunca sc quc1xa'vam dc seu “estressc”, palavra quc naturalmcnte am'da não ex15'tia. Não é mmh'a m'tenção glorLE'car os tempos passados ou dcclarar fchz'cs as mulhcres daqucla época; certamente uma grande parcela delas sofña enormemente. Porém, uma vantagem elas tmh'am: não se questionavam acerca do scntido de suas ações. O scntido era evidente: tratava~se dc sobrevivcr, da sobrevivência dos ñlhos, do dormm"o das forças da natuxeza, da luta pela ahm'cntação, do ser ou não-ser. O “poder-ser” constituía senlido suñcicnlc.

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Parece que está acontecendo justameme o contrário. Ems'te, de fato, a possiblh"dade de cm'gJI'-se dcmals' das forças dc uma pessoa, mas raramente tal ocorre no caso de excelentes condíções econômicas, c, maxs' raramcnte am'da, tal falo leva à deprcssão. Geralmente uata-sc de uma certa m'saüs'fação básica com a vida, que surge a parür' dc condições dc prospcridade e acaba d1m1n"um'do a disposição de uma pessoa. Poderíamos d1zc'r quc se Lrata, na verdade, das mamf'estações dc pouca axigência espin'tual, um “ter e não sabcr para quê”, uma “e›ns'tência e não saber para quê”, a cxperíência de uma ex15'tência dissociada de objetivos mals' elevados e valores ma15' profundos. Por que as mulheres, a que se refere aquela notícia dejornaL pensam tanto, por quc sc recnm1n"am? Elas estão em busca de algo, não apenas elas, mas o homcm modemo em geraL Hoje o homem está cm busca não de objctos comprávc15' ou possibxh"dadcs para saüs'fazer suas necessidades, p01s' tudo ls'to ele já conseguiu; ele está em busca dc um honz'onte espm'°tual, que pudcssc novamcntc dar à sua vida uma oricntação e um conteúd0. Na sua evoluçã0, o homem permaneceu durante m11'ênios cm estado semi-an1mal'esc0, c os ms'tm'tos lhe d121"am o quc deveria fazcr. Duranle outros tantos m11'êm'os, 0 homcm já era um ser produzmdo

cultura, e as respectívas tradíçõcs cslabclcciam para clc o quc fazcn Hoje o homem está numa fase dc mudança cm seu dcscnvolvxm'cnlo, em quc nem ms't1n'tos, ncm tradições, o conduzcm de forma scgura; agora ele próprio prccns'a dcscobru' o quc quer famr para dar forma ao seu dcstm'o, a ora prec¡s'a scgmr' seu cammh'o com rcsponsab1h"dade própria . E ncsta larefa atualmenle fracassam mlúlas pessoas quc ñcam depr1m1"das scm razão aparenlc; as causas não são os fatores estressanles dc cnr'cunslan^cias dc sua vida, mas sua plem'tude dc sentido que está sendo questionada.

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homcm transformar sua vída em algo quc tenha scntido; ele deve cxns't1r' para algo, ser bom para algo, scr livre para algo que valha a pcna vivcr. Como tudo 15'to sc rclaciona com a situação da mulher quc trabalha? Estas considerações sãoun'portantcs por se relacionarcm com a aulocompreensão de cada pessoa, e também da mulhcr que trabalha. Enquanto as pessoas conscrvarem a idéia do homem mf'ehz,' que não consegue sans'fazcr suñcientemente seus descjos e reivm'dícaçõcs, e por lss'o preczs'a ser mf'el12,' qualquer estado de mf'elicídade será m'terpretado scgundo estcs fatores que 1m'pedem o ser-fel¡z,' aqueles fatores chamados cstxessantes, que hm1"tam 0 homem, colocam-no sob pressão, etc. Não se leva cntão cm consideração que a felicidade não é garantida 51m'plesmente pela ehm1"nação dos fatores estrcssantes, o que nossa época de prosperidade acabou freqücntemcnte dcmonstrando. Este ponto dc v1$'ta às vezes édefendido de forma tão obsthada que, mcsmo quandoclaramente prcdommam condições dc vida positivas, a1n'da aSSIm' se suspcita dc certos fatorcs cstressantes ocultos quc dever1am' ser responsávelk pela mf'elicidade, como, por excmplo, no artigo de jornal ac1m'a mcncionado, que 51m'plesmente añnna sobre aquclas mulheres depressivas em boa situação de que elas cstão sendo submctidas a exigências excessivas.

As mulheres, ao conlrário, tiveram que adaptar-sc às novas cu'cunstan^c1'as. Durante séculos dcdicaram-se totalmente à família. Praticamente não conhcciam trabalho que não fosse para a família. O scntido de seu trabalho era sua família, a qual se beneñciava com ele. E, de repente, arrastadas pela onda de emancipação psicologicamcnte fundamemada, encontram-sc diante de um trabalho proñssional que nada tem a ver com sua família, a não scr talvez quanto ao dmh'elr'o com que contribuem para a família.A551m,' a m'ovação na atividadc proñssional da mulher modcrna não é absolutamcnte o fato de sua produtiv1'dade, mas a centrahza'ção externa de scu trabalho, começando com a saída de casa da mulher, que afeta os ñlhos, e lermn'ando com a cntrada da mulher num espaço vital d1f'erente daquele que delx'ou em casa. É um espaço vítal que desconhccia desdc tempos 1m'emoriais.

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colocam-nos em m'tcrnatos ou sob os cuidados de outras pessoas. As mulhercs que não querem assumu' compromls'sos ñcam solleüas ou se divorciam, ganham seu próprio dmh'eu"o scm tcr que compart11h'á-lo com nm'guém... Não 1m'p0rta qual cstüo de vida que alguém prcferc, o scu “podcr-ser” é garantido de qualqucr maneu'a; é d1f1"c11' que anuém sucumba. Nestc campo do “ser-em-todo-caso”, a questão sobrc o motivo das ações pessoais se coloca em um nível d1f'erentc daqucle do passado. Se anügamente as atividades eram ncccssariamcntc um meio para a manutenção da cms'tência, hojc a cxistência pode scr mantída como um mcio para fazer al'go com ela c a pcrgunta não é ma15' “o que faço para vivcr?”, mas “cu vivo para fazer o quê?” Para os homens, esta m'versa'0 do qucstíonamento não vcio tão abruptamentc COmO para as mulhcrcs. Ao tercm oportunidade de optar por uma proñssão, os homcns sempre tiveram um aspecto em sua vida que ia para além da s¡m'ples manutenção da cxistência c se d1r'igia para uma taxefa objetiva. O sapateüo e o ferrcu"0 ccrtamcnte trabalhavam para sustentar a si e a sua família, mas, natuxalmentq também queriam fabricar bons sapatos ou arte~ fatos de metal útexs', 15°to é, o sentido do trabalho para elcs era mul'tiplo, estendia~sc da satisfação dc suas necessidadcss próprias e as de sua família para o mundo externo, ao qual deveriam dar forma e com o qual devcriam med1r' forças. Am'da hojc é norma geral para o homem que elc vcja cm sua proñssão mals' do que um 51m'ples ganha-pão; o trabalho devc m'teressá-lo, cle deve engajar-se nelc, devc torná-lo a sua área pessoal de atuação.

am'da não perccbcram a plcnitudc dc scnüdo cm scu Lrabnlho proñssionaL Encontram-se enmrz dots' grupos de valores, ambos cucarados com ceticismo por clas, para cuja inlcgração harmoniosa, do pomo dc vísta histórico, livcram incompmavclmcnlc mcnos tcmpo dc aprcndizang do que os homens. Mcsmo assim, csta m'tcgração é possívcl e, dc fato, pode signiñcar um cnriquccmcnto de toda a cx15'tência da mulhen Para que ísto seja possívcl, porém, é prccns'o abandonar a idéía do ctcrno cstrcssc e cnquadrar mcntalmentc a atividadc proñssional cm algo como uma cerulura dc sentido.Assm1,' chegmos novamcnlc ao prmcípio logolcrapêuúco que comcçajustamcntc naqucle ponto fraco, que conuhua m'ercntc à vida modema, apesar dc toda libertação de bloqucios psíquicos e da prospcridade que am'da cms'te: trata-se da m'constan^cia dc uma geração humana à qual nem os instm'tos, nem as tradiçõcs oferecem d1r'etnz'es, e da situação mod1ñ'cada da mulhcr, que precisa lrocar um contcúdo de scntido antiquís"simo por um novo para que não caia num vazio esp1r'itua1, apesar de toda agitação cotidiana. Quem, como eu, atua na prática ps'icotcrapêutica e frcqüen~ temente lida com mulhercs mf'elizcs, sabc que a questão do sentido é um problema central básico que grandcmcnte se sobrcpõc a qualqucr outro problcma (como exigências senüdas como exccssivas, fracassos ou outras añíçõcs) c o pcrmcia. Mulhercs em posíçõcs as mais diversas buscam oricntação, tanto mulhcres sem família ou sem proñssão, quanto mulheres com o ônus duplo de ambas, tanlo mulhercs que são somenle donas-de-casa com família, quanto mulheres que exerccm uma atividade proñssíonal e vivem sós. Será que estcs cspaços vitals' diversos levam a aútudes d1f'crcntcs perantc a vida? Infehzm'ente, precxslo rcspondcr que, no sentido negaüv0, não é o que ocorre. Quando a m'satisfaç_ão com a vida e a sensação de falta de sentido de qual'qucr atividade aparecc~m, todas são 1'gua15'; chega-se a ter até a suspeita dc que quanto melhorcs as condições de sua vida, piores as pacientes se sentem, o que já foi abordado na referida notícia de jornal.

Aqui sc mamf'esta o ponto fraco de toda a cstruluraz as mulhercs de nosso tcmpo perdcram grandcmente a sensação de plenitudc de scntido em seu trabalho doméstico, mas muitas vezes

As mulhercs sem família nem proñssão qucxx'am-se do vazio e da m'ut1h"dade de sua vida, da soh'dã0 que as tolhe e da monolonia dos dias que p45'sam. Por outro lado, as mulheres que têm famílja e proñssão que1x'am-se do tcrrível cxccsso de trabalho, de estarem divididas entrc as duas tarefas e da scnsação de nunca saüsfazcrem as cxigências de nenhuma dclas para ficmem cm paz consigo próprías. As mulheres que só trabalham na famílía alimcntm seus complexos de mf'erioridade, sentem-se colocados à partc do mund0, ñnanceüammte dcpcndentes e tolhidas no seu dcsenvolwm'cnto

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pcssoaL exploradas como Cm'derelas considcradas mg'ênuas dcmals' para rcahzar'em algo melhor. Por sua vez, as mulheres quc só têm sua aüvidadc proñssional, sem família, acrcditam ter pcrdido o mals' ¡m'p0rtantc em sua vida, gostariam de ter um parceüo c de scr mãc, e receiam que o tcto desabc sobrc suas cabcças quando à noitc chegam a abru' sua casa cscura, onde mn°guém está à cspcra delas. O Ieitor quc decida se realmcnlc é o estresse que acaba com essas pessoasl Seriam os descjos e 1m'pulsos ms'atls'feitos, quc não podcm scr vivencíados? Seriam as reflexõcs c auto-recr1m1n"ações que tor~ nam a pessoa depressiva? Seriam as c1r°cunstan^cias externas que anulam a alegria dc viver?

Não scria antes quc as quema°s dcstas mulheres mf'ehze's de~ monstrcm uma perccpção de scntido cm todas as outras posiçõcs, mas uma falta de d15'posição para rcconheccr as possibmdadcs de sentído daprópria posiça'o? Como scria sc “as mulhcrcs scm família e scm proñssão” não se lamenlassem sobre a m'ut111"dadc e a monotonia dc seus dias, enquanto que “as mulheres com família e proñssão” se alegrassem por causa da necessídadc absoluta de seu trabalho e da van'cdade de scu dia~a~dia? E, por outro lado, como seria se “as mulhcrcs com família e proñssão” não reclamassem do excesso de trabalho e de seu desassosseg0, enquanto que “as mulhercs sem família c sem proñssão” se alegrasscm por causa da atual pausa para descanso e da oportunidade para rcñexão e rcorientação? Algo semelhante é naturalmcnte válido para as outras constelações dcvida. Ao m°vés de “as mulhcres quc só vivcm para a famílla'” se sentkem como Cm'derelas desvalonza'das, “as mulheres que só trabalham fora” poderiam se orgulhar de sua m'dcpendência e capacidade dc dcscmpenho, quc lhes traña auto-añrmação e autoconñança. E ao m'vés de “as mulhercs que só excrcem atividade proñ551'onal” chorarcm por uma família m'ex¡s'tentc, “as mulhercs quc só sc dedicam à família” poderiam agradecer a felicidade de viverem um companhcms"mo e a materm'dade, que deveriam ser cuidados e prcscrvados. Todas cstas possibxh"dades dc sentido cstão à dls'posição dc nós mulheres, de acordo com nossa respectiva situação de vida, além de termos uma grandc variedade de diversas atividades secundárias adicionais quc não carecem dc um contcúdo de sentido, como possibilidade de contm'uar os estudos, hobbis, contatos com amigos, atividades na comunidade, viagens, trabalhos ams'ticos ou manuals', esportes, jogos, etc. - 15°to se estivcrmos dls'postas a pcrceber e aceitar o desaño de toda e qualquer situação concreta. Nenhuma situação na vida humana é destituída de sentido, por maxs' hm1"tada

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c desespcradora que scja. Há semprc uma alitudc cspu'1'tual diantc dela, considerada a mais adequada do ponto de v1$'ta psico-hígiênico, por apreender o mclhor possível daquela situação c colocá-lo em pr1m'elr'o plano. “O positivo cstá em nós mesmos, ou em lugar nenhum”, foi o que aprendi com mcus pacicnlcs; o posilivo não é algo que rccebcmos do mundo cxtern0, scrvído numa bandcja dc prata, é algo quc nós precismos 1r'radiar para o mundo cxterno, a partü do lugar que ocupamos na vida, para que possamos recncontrá-lo cm qualquer lugar que nossa vista alcancc. Nestc scnüdo Frankl fala dc uma noodinâmica saudávcl, cm que a palavra “nous” sigmñ'ca cspírito ou sentido, e “dm'am1"ca” expressa um mov1m'ento, um mov1m°ento do espírito humano. De acordo com a conccpção de Frankl, não podcmos nos tornar cstáticos, pcrmanecer em um estado qualquer, mcsmo que seja um estado de totdl' equ1h'1)rio m'temo, 0 qual não é mesmo possívcl alcançaL Duramc toda a vida a pessoa prccxs'a eslar sob uma certa tcnsa'o, poderíamos d126'r sob um cstresse bem dosado, sob a tcnsão entre o “scr” (o quc é) c o “dever-scr” (o quc deveria v1r' a ser); e esta tensão só pode scr d1m1"nuída pelas suas ações, pcnsamentos e reahza'ções. Uma mãe, por exemplo, quc ccrzc as mcias de scus ñlhos, conhece m'tuitivamente esta tensãoz o “ser” são as mcias rasgadas c o “dever-scr” é 0 vestuárío bem ctúdado de seus ñlhos. E ambos só podem entrar em sm'lonia sc a mãe cxecutar cste trabalho, ou talvez comprar meias novas, o que, conformc as cu'cunstan^cías, podc ser justmcado (se, por cxemplo, cla ncccssitar deste tempo para algo mais urgente do que cemr' as meias, ou scja, para um outro “dever-ser” quc eslá em tensão am'da maior em relação a um outro “ser”). De qualquer maneu'a, com a renovação das meias, a mãe extrahá uma leve sensação dc plenitudc de sua ems'tência, dccorrentc dc tcr cumprido uma cxigência do “devcrser”. Se alguém argumcntar que é justamente a constante subm15'são a quals'qucr normas do “dcver-scr” que faz o homem senür'-se tcm'velmentc coagido, cstá esquccendo dc que as coaçoc's são rcpresentadas por aquclas exigências do “dever-ser”, por partc do ambientc, quc a rcspectiva pessoa, no fundo, não aceita, com que nao' concorda. Uma coação, por cxcmplo, seria se a mãe un'puscsse à ñlha um “dever-ser” no sentido de que esta deveria cemr' logo suas próprias meias, enquanto quc, na opm1"ão da ñlha, não havería pressa porque ela a1n'da tem bastamc mcias em bom estado.

A noodm'am1^'ca não se refere a eñgências de oulras pessoas quanto ao dever-scr, exigências com quc a pessoa não se x'dcnuñ'ca. Trata-sc, no caso, de um dever-ser que se abre para o próprío eu,

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daquüo para o qual sou necessário agora, aqui e hojc, do desaño sm°gular de uma situação única, que nunca ma15' se repete. Se percebcrmos, aceitarmos c buscarmos este dever-ser nood1n'am1^'co, a recompensa talvez scja trabalho, talvez esforço, taJvez estresse, mas, acun'a dc tudo, rcahza'ção. Com relação à ativídade proñssionaL 0 que podcmos deduzü dlss'o? Provavelmente, todos d1r'ão: o dever-ser de nosso descmpenho proñssional é dclermmado em noventa por cento por cxigênaas' alhc1as'. Dc fato, é assm'. Os outros, nossos superiorcs, nos dlzc'm o que dcvcmos fazer ou, se somos nós próprios que ocupamos uma posição dc responsabxh"dadc, as prcssõcs da realidade objctiva nos m'dicam a d1r'cção a ser tomada. Assnm' mesmo, gostaria de regatear os 10% reslantcs. Toda proñssão, dc qualquer lípo, encerra sempre um espaço pcqucno e m'dctcrmm'ado, um cspaço livrc, quc só pode scr estruturado por aquele que exerce csta proñssão. Um espaço pleno dc possib11i'dades, as qua15' não se origm'am do plancjamcnto c das exígências do empregador, mas unicamente da sensib111"dade noodm'am1^'ca do emprcgado; ou, sc com'cid1r'cm cmpregador c empregado, não são originários dc um dcvcr-scr objctivo, mas de um engajamcnto m'dividual. Trata-se, s¡m'plcsmcnlc, das oportunidades práticas de encontrar reahza'ção proñssionaL

Estas possib1h"dades 111m1"'tadas ex1.S'tcm também em proñssões muito sun'plcs, quc pcrmitem pouca criat1'vidadc, conformc mostra a h15'tória de um hx'e1r'o, contada pelo bls'po Georg Moser8, para demonstrar a potencíalidade de scntido cm qualquer lugar de trabalho. O refcrído hx°eu'o recebeu há anos uma condecoração de méríto do governo por ter m'cansavelmente recolhido do hx'o bnn'quedos quebrados e tê-los consertado, peça por peça, à noite, para depms' presentear com eles crianças nccessitadas. É 1m'portante considcrar quc estc homcm podcria lcr fcito uma opção totalmcnte d1f'erente. Podcria ter sc ms'talado, mclancoh°camentc, diantc de uma garrafa de cervcja, ou da TV, entrcgando-se a idéias de autocomls'eração, pcnsandopor quc fora tão ncgligenciado pclo destm'o, poxs' estava só, sem famí1ia, c exercia uma proñssão “fedida”, scm csperança de melhorar proñssionalmcntc. Uma vida cstragada... mas 0 que fez dela na realídade? Ao desempenho de seu trabalho diário, em sí já pleno de senlído, acrcscentou uma nova d1m'cnsão de scntido, ou seja, a transformação de algo sem valor algum em algo vah'oso, prccnchendo com conteúdos seu tempo dc lazer, c 0 ato de presentear crianças neccssitadas, criando uma ponte m'terpessoal de sua solidão para outras pessoas. Nestc cxemp10, torna-se

claro o que sigmñ'ca quc “o posilívo cslá cm nós, ou cm Iugar ncnhum”. Mencionci antcriormcme quc toda atividade proñssional tcm um cspaço de apro›nm'adamcntc 10% para íniciaüvas próprias c estruturação pessoaL mcsmo quc scja apenas quanto à nossa alilude com quc m1"ciamos o nosso progrma díário. Para o 11x'cu'o, esle pequeno espaço livre sigmñ'cava que podcria ou não salvar das lalas de hx'o materials' reunhzá"vels'. Nem scmpre, porém, a passividadc constitui uma alternativa com menos scntido, p015' há situações em que dmxar' de fazer algo lerá mais senu'do, por cxcmplo, o dcsgastc físico total quando colocado a serviço dc planos ambiciosos. Uma palavra cordial para a colega de trabalho, quc esum'ularia um bom relacionamento, pode ser mais 1m'p0rtante do que lcntar conscguk elogios do chefc, quc favoreceria o m'dividualismo. A screnidade numa posição dc cheña pode orígm'ar um chm'a de lrabalho melhor do quc controles rígidos, quc produnr'iam dcsconñança. A pausa para descanso no mcio do trabalho podc scr ma15' provcilosa, cspccialmcnte para mãcs que trabalham forà e precisam estar a postos também após o trabalho, do quc subir alguns dcgraus na hícrarqu1a'. Como é d1f1"cil descrever “aqucla única ação neccssária no momento”, deñní-1a segundo critórios gerais, mas como, apesar dxs'so, é fácü dc ser descoberta por aqucle que sc orienta pclo sentido da situaça'o! ch'm de nós mulhcres que somos pcssoas que se dexxam' guiar maxs' pelo sentlm'enlo do quc pela razão, que pcnsamos orientando-nos ma15' pelas pessoas do quc pelas coisas. É possível que algo disto seja verdadeiro, embora 45' costumciras exccçõcs conñrmem a regra. Podcmos dnz°er com certcm, porém, que a psiquc da mulher reage d1f'erenlemcnlc da do homcm em alguns aspectos. Isto sigmñ'ca que, com o suxg1m'ento da atividade profissional da mulher, m'trodu21r'am-se novas perspectivas no mundo dc trabalho até cntão dctcrmm°ado pclos homens. Não mc rcñro a uma “afeminação” do trabalho em si, mas a uma maior amplitude quanto às mane1r'as dc execução no local dc trabalho. Ao mcsmo tempo, islo rcpresenta uma oportunidade gcnuína para humamzar' a rotm'a rígida dc qualqucr proñssão, numa combm'ação de um pouco de cmpatia fem1mn"a e dedicação matcrna, quc podem scr aplícadas a muitas sítuações.

Não é gratuitamcnle que há tantas mulheres lrabalhando nas áxeas pcdagógicas e assm'tenc¡'a1's, pois saber cuidar de üglém já é m'crente a elas a parür' de sua concepção biológica, cnquanto que a ñxação emsi mesmo constitui uma violação dc sua própria natureza fem1mn"a. Uma mulher não preas'a ser mãe para ser fehz°; nem

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prects'a ser esposa para encontrar a felicidade. Porém, a mulher prccxs'a cuidax de alguém, de alguma forma ela precnsa' dar, senão não podcrá rcccbcr fch'cídadc, c nem sc “auto-rcahza'r”, que não é realmcnlc o objetivo máximo das asplr'açoc's humanas. O eu não sc rcahza' num vazio. O eu constinú apenas um conccito abstrato, que concretamentc não cns'tc por si só. O quc ens'te são semprc possibilidadcs dc sentído numa reah'dadc, que é justamentc a rcalidade do scr humano, onde se forma um cu humano através da rcahza°ção ou da neglígência de tms' possíbiüdadcs. Uma mulher, de alguma forma, prec1$'a poder dar, c 15'to não tcm nada a vcr com uma “síndxome dc ajuda”, mas unicamentc com o conteúdo clementax de toda ex15'tência humana, quc, pcla sua natureza, é orientada para uma “cxistência para algo ou alguém”, no homcm talvez mals' para uma “c›us'tência para algo”, na mulher talvez mals' para uma “e)us'lênc1a' para alguém”. De qualquer mancira, porém, é fundamcntalmente uma cxxs'tência orientada para a transposição do próprio cu em d1r'eção a uma tarcfa a ser rcahza'da pelo eu. É possível que a “e)as'tência para alguém” possa ser associada à proñssão; sc não for víável m°trms'ecamentc ao trabalho, deve scr procurada pelo menos dentro daquelcs 10% dc espaço pcssoal que ex15'te exn qualqucr campo de trabalho. Também é possível que a “c›us'tência para alguém” encontrc scu ccntro dc gravidade fora do trabalho, na família. Porém, se a proñssão for pouco adcquada para uma “e›us'tência para alguém”, e se faltar a famí1ia, a “e›ns'tência para alguém” deve ser buscada no tcmpo de lazer; mas se ls'to também não ocorrer, há 0 ns'co de algo pior que a depressãoz o vazio. Uma vez tive em tratamcnto uma mulher que se divorciou de seu marido por elc ter sido alcoólatra. Ela provocou 0 aborlo de um ñlho que esperava dele. Algumas semanas após o dívórcio, o homem morreu. Ela ñcou sozmh'a, mas t1nh'a uma boa proñssão, trabalhando como bibliotecária numa grande bibüolcca. Tmh'a um bom relacionamcnto com os clientes c gostava de orícntá-los dctalhadamente. Um dia, porém, atr1'bu1r'am-lhe uma nova tarefaz deveria rccatalogar todos os livros. Para ls'so, ela foi Uansferida para uma sala separada do públjco, onde podería cfetuar o m'ventário em silêncio e sem m'terrupções. E de rcpente ela teve um colapso ncrvoso.

Aqui podcmos reconheccr claramente o vazio exts'tencíal na falta total dc qualquer “c›u'stência para alguém”. Uma ex15'tência para a ordenação de p11h'as dc numerosos h'vros não pôde prccncher

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esta lacuna. O colapso psíquico dcsta mulhcr aparcntcmcnlc foi desencadeado pela rccstruturação cm scu local dc lrabalh0; mas foi apenas desencadcado, e não causado, por cla. As causas não sc cncontravam no espaço cstenhta"'do de sua nova alividade, mas num longo processo dc negligência gradual dc possibiüdadcs dc scnu'do, cspecialmcnte nas relaçõcs 1'ntcrpcssoans'. A únim ponte pma o próx1m'o na vida desta mulher era seu contato com os clienlcs, e quando este foi m'terrompido, sua pontc desmoronou. Não me sm'to capacitada para julgar sc o divórcio rcalmcnle tmh'a sido m'evitávcl. Scm dúvida, a convivência com um alcoólatra representa um destm'o d1f'fcil, às vezes eslando bcm além das forças de uma pcssoa para suportá-lo. Mesmo assnm', também cstc deslm'o tem sua possíb1h"dade de sentido; diante do fato dc quc o homem morreu tão pouco tempo após o divórcio, e de quc podemos supor quc elc estivcsse scriamcnte docnle, não podcmos afastm a hipótase de quc a mulher t1nh'a sído, ou podeña tcr sido, um ul'um'o apoio para seu marido. Também não qucrojulgar o aborto reahza'do. Scm dúvida, de uma maneüa ou de oulra, 0 homcm não tcria conseguido assum1r' seu papel de pai, e certamenle não é fácü criar um ñlho sozmh'o. Mas csta tarefa também contém possib1h"dadcs dc scntido. Quando se m'terroga mães soltciras se se arrcpcndcram de sua materm'dade, geralmcnte d12'em que não podem ma15' 1m'agm'ar uma vida sem seu ñlho. Porém, mesmo partm'do do pnn'cípio de que ambas as dccisões da mulher tcnham sido corretas, ou m'cvilávels', levanta~se a pcrgunta sobre que conteúdos de sentido ela soube colocar em sua vida no Iugar das tarefas 1'ntcrpcssoa1s' que recusara. E venñ'ca-se que não eram muitos. Desconflava dos homens, não sentia muita añnidadc com as mulheres, não dcsenvolvcu hobbies c nos ñns dc semana dedicava-se somentc à hm'pcza da casa. A uma vida dfíicil ela prefcriu uma vida vazia, cm que a proñssão rcprcscnlava sua úníca obrigação. E isto é perígoso. Qucro associar duas advertências a cstc exemplo, duas advcr~ têncías d1r'igidas à mulher quc trabalha f0ra. A pnm'eirajá dls'cutimos, é a neccssidade dc uma “e›ns'tência para alguém” que nunca devemos perder de vista, mesmo que nos 1'dcnuñ'quemos totalmeule com o trabalho, que tcnhamos pouco tempo livre ou quc sejamos complctamentc absorvidos como força de trabalh0. É contrário à essência do ser humana, e especialmenle à essência da mulher, não ter relacionamentos mais m'timos com outras pessoas, um rclaci0namcnto dc amor no sentido maJs' amplo, em que podemos m'clu1r' os cuidados com os ñlhos, as amza'des, os m'tcresses compar-

u1h'ados, etc. A scgunda advcrtência se ms'ere na pr1m'elr'a, relacionando-sc à un11'atcmh"dade da proñssa'o. A proñssão é um conteúdo de vida 1m'portante e valioso, não devemos transformá-lo, porém, no único contcúdo de vida. Não o idolatrcm059, pozs' então ca1r'emos num vazio, ccrtamentc por ocasião da aposcntadoria; mas também um período de docnça, as fénas' e qualquer feriado podem se transformar em catástrofes. Ou 51m'plesmcntc uma mudança na vida proñssional quc altera as costumeüas condições de trabalho, como freqücntcmcnte acontccc hojc cm dia, com a m'trodução dc computadores c robôs. Para nós psicoterapeutas constitui uma VIs'ão dc horror observar o descnvolvxm'cnto dc uma gcração em que cada m'divíduo, sepaxadamcntc, estaxá um dia numa saleta, sentado diante de um vxs'or, onde estudará, se d1'vcrm'á, fará compras e trabalhará. Não teríamos absolutamente condições de atender esta avalanche de pessoas, deformadas psíquica e ñsicamentc

Logo pude observar com satls'fação como, uma vez que a mulher estava no cammh'o certo, surgüam dcla idéias c sugestões para o enrique01m'ento de sua vida, e como cla começou a explorar

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Mencione1'1m"cialmente que a ps_ícologia está atualmente começando, aos poucos, a mudar scu pensamento. Casos como o a01m"a dcscrito mostram que nem scmprc adianta desenterrar vclhas histórias. Sc tivcsse colocado no centro da tcrapia dessa mulhcr os conñítos de seu casamento e de sua gravidez, ela poderia ter desabafado em m'tcrmm'ávels' horas dc terapia, nada, porém, teria mudado cm sua situação presente. Assun,' porém, cla aprendeu que qualquer fase da vida, qualquer evolução proñssional, enñm, qualquer momento da nossa existência, tem suas oportunidadcs positivas, e que todas as oportunidades aprovcitadas c vivenciadas constitucm a plenitudc dc nossa vida.

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Talvcz o lcitor esteja m'teressado em saber como se desenvolveu 0 caso da bíbliotecáría. Como um tratamento logoterapêutico scmprc tcm como objctívo ajudar os pacientes para vcrem as possib111"dades de sentido em suas vidas c conscienhzá°~los da responsab111"dade ligada à sua libcrdade - não de, mas para algo - também neste caso partun'os conjuntamente numa viagem dc descobcrta. A qucstão era oomo a vida pessoal dcsta mulhcr pudesse ser reestruturada para contcr mals' valores, como suas capacidadcs m'tcrpessoa15' pudessem ser desenvolvidas e como podería descobnr' em sua proñssão talvez um conteúdo de sentido adicional Não foi fác11,' porém, paIa que eu deslanchasse nela uma luta espm"tual deste tipo, poxs', m1"cialmentc, a clientc recebeu da parte de seu médioo uma dosagem tão clcvada de tranqwhzan""tes, que mal podia pronunciar seu próprío nomc, e muito menos estava em condições de dls'cut1r' as possib1h"dade5 de sentido de sua vida. Tríunfou ma1s' uma vez a tesc do estrcsse, 0 qual forçosamente deveria estar por detrás de todas as cns'es nervosas, e que só poderia ser tratado mediante um repouso ma15' ou menos arnñ'cial. Somente depois que telefoneipara o médico que tratava dcla e, cm pnm'c1r'o lugar, me certlñ'quei de quc não havia suspeita dc uma psicose c, cm scgundo lugar, cxpus a ele que, no fundo da problemática, não havia um excesso de exigêncías por parte da situação presente, mas muito ma15' um vazio ems'tencial, o terreno estava livre para uma gradual redução dos psicofármacos e o início de nossos diálogos logoterapêuticos.

as várias possibxh"dadcs com alcgria mf'antil. Após pouco tcmpo, cla se amm'ou e consultou a paróqnia a que pcrtencia se pudcssc añxar um cartaz, oferecendo um curso scmanal dc literatura para leigos. Recebeu a pcmus'são, e esta foi a melhor idéia quc pudcssc tcr Lido, po¡s' cste círculo literário, que cns'tc até hojc, foi a rcsposta cxata para nossos quesu'onamentos. Ele preenchcu sua vida pcssoal, obrigando-a a preparar em casa comentários sobrc livros ou sclcçõcs dc textos; forneceu a ela a oportunidade para encontros m'terpcssoms', a partü dos quals', no presente, está se cns'tahzan'do um relacionamento muito harmonioso; e, além dls'so, dcu à sua proñssão aquele fator adicional dc scntido quc cstava faltando, pois scus bons conhcam'entos do mercado dc livros capacitam-na a fazer recomcndações às pessoas que gostam de lcr c a dcscobrü autores adcquados ao gosto dc cada um. É dcsnecessárío d12'cr quc não só a mulher se curou através desta idéia origm'almente concebida como terapêu~ tica, como também muitas outms pcssoas se bencñciaram com cla.

Por ls'so, gostaria de aconselhar as mulheres que exercem uma atividadc proñssional que não tcnham medo do estrcssc, mas quc temam a sensação dc falta de sentido de suas açõcs ou não-ações, devendo ter cuidado para não delx'ar nem aparecer tal seusação. Não troquem uma vida d1f1"c11' por uma vida vazia, p01s' in'am se arrcpender amargamente desta troca. Não elevem sua profissão à posição de um deus, ela não o é. Ao invés disso, descubram na sua proñssão todas as d1m'ensões de sentido que ela possa encerrar e vivam-nas, ass1m' terão uma recompensa adicional para seu trabalho, além do salário. E, por maxs' banal que possa soar, não se esqueçam do amor além da proñssão; além da “e›us'tência para algo” há sempre a “e›ns'tência para alguém”, que é a coroação de uma vida humana, e cspecialmentc dc uma vida fem1n'1n'a. Nem sempre vivemos em condiçõcs boas; há também momcntos sombrios, solitários, tns'tcs..., mas, mesmo ass1m', todo momcnto da nossa vida é cons~

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4. O homem que trabalha: entre o sucesso e a dedicaçáo

Os relatórios anua15' de atividades do meu ccnlro dc aconsclhamcnto, em quc também são anahs'ados os dados estatíslicos sobre os clientes, revelaram que, em média, apenas um lcrço dc 1odas as cn'anças atendidas está morando com scu paí lcgíum'o; todas as outras crianças, ou não têm paí, ou têm um pai substituto, ou [êm, como ñguras de “tios", conhecidos dc sua mãc. Considcrando que gcralmcntc as crianças são trazidas para nosso ccmro de aconsclhamento por distúrbios em seu descnvolw'mcnto, pode-sc facilmcn~ te concluu' que ao pai, e, no caso, ao pai verdadeiro,1egítzm'o, cabe um papcl muito 1m'portante na educação, quc não podc scr substituído tão facúm'cntc, como sc pcnsa muitas vczes em questões de scparação e divórcio. Os ñlhos precns'am dc mãe c pa1,' prccns'am do amor de ambos, e do rcspeito peranle ambos; c tcnho a fortc suspeita de que, cspecialmente o pm,' por ocasião da desinlegração dc sua família, não dá amor suñcicntc nem rcccbe 0 respcilo quc mereceria. Geralmenle transforma-sc então em “pai de domm°'go”, que tenta compcnsar o gradaüvo alheamento dc scus ñlhos com

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No mcu trabalho psicotcrapêutico, tcnho mais pacícnlcs mulhcres do que homens, scndo este o motivo de, alé agora, ter mc ocupado ma15' dos problcmas das mulhcrcs c mãcs. Quc os homcns, c especialmcnte os pa15', não mc levem isto a mal, Iambém suas preocupações scrão abordadas. E, atualmcntc, suas prcocupaçõcs são muito sérias, po¡s' estão cada vcz maxs' pcrdcndo scus ñlhos, por mais chocante que possa parcccn

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“Ouando teu dia-a-dia tc parecer pobrc, não o acuses; acusa a ti mesmo por não ser fortc o bastante para despertar suas riquezas.”

A._. 4.

truído também por nós, com dkecionamcnto c rcsponsabüdadc próprios. Ram'er Ma:ia R11k'e eslava certo quando escreveu a este rcspeíto o scgumtcz

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Esta pergunta colocou-me cm estado de alcrta, pons' por que alguém 1r°ia escolher a proñssão de padre, se não fosse para assum1r' uma atividade pastoral? O que, para clc, reprcsentava a proñssão dc padrc? Isto cle até conseguiu explican Elc scmprc 5e 1m'agm'ara como pastor, cm vcslcs solenes, rodeado e respeitado pclo seu rcbanho, c clc, abcnçoando-o. Ele gostava dcsta un°agcm, cu, nem tanto. Ccrtamentc descreveu um quadro idílíco dc uma cura de almas, mas, uo contcxto psicoterapêuüco, cste sigmñ'cava que cle sempre se via a sipróplia E quando, na rcalidade, celebrava a m15'sa, via novamentc a si próprio, aquela pessoa para a qual estavam voltados os olharcs de lodos os ñéls', os quals' não podiam dmxa'r de pcrceber que seu padre cstava nervoso, e que 1r'iam zombar delc,

A 4._4í_.

Um caso nolávcl de uma crisc proñssional em quc a falta dc dcdicação 1m'possib111"tou qualquer succsso foi o dc um jovem padrc que atcndi como pacicnle. O padre havia sido ordcnado há pouco tcmpo e 1m"ciado sua aLividadc numa paróquia, quando foi acometido de uma séríe de dxs'túrbíos justamcnte na hora dc celcbrar a rms'sa: seus joelhos começavam a tremer, tmh'a d1ñ'culdade para rcspnr'ar, suas mãos mov1m°entavam-sc nervosamente, começava a transpüar e mal consegma' termmar a cer1m'ôm'a. Ele foi d15°pensado de seu serviço, submetido a examcs médicos, dos quaxs' não rcsultou muita coxsa,' somente um diagnóstico de d15'tonia vegetau'va, por não tcr sido encontrado nada cspec1ñ'co. Depons' foi encammh'ado para m1m,' e o m'teressante foi quc logo no 1m"cio ele me aprcsentou uma pergunta aberta do segum'te tcorz elc tmh'a a possib1h"dadc de, dentro de alguns mescs, scr dcsignado para uma pequcna paróquia rural, mas elc não sabia se era isso que ele queria. Portanto, clc não d15'se: “Ajude-mc para que eu estcja em condições dc exerccr csla tarefa!”, mas elc perguntouz “A Senhora acha quc cu deveria aceitar csta tarefa?”

~,-›.__

4.-

' N.T. Para o alcmão, o ditado foi traduzido por “primcmo^ comer, dep015' vem a moral".

4

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Nestc pont0, gostaria dc 1ns'eru" alguns comentários básicos sobrc o tema “sucesso”, quc, conforme o sigmñ'cado da própria

palavra, precisa suceder (do lzmm' succedere = vu' após ou dcpois), acontecer, e não podc scr forçado. Succsso é um cfcilo colalcraL um “presentc adicional" pma a dcdicação. lslo sigm°ñca quc, sc uma pessoa puder se enlrcgar ao scu trabalho, lcvada pclos objclivos dcsta causa, c convencida da m'lcgridadc c 1m'porlan^cia dc sua aça'o, então talvez tcrá am'da o sucesso como complemcnto para scu trabalho. Sc, porém, alguém sc afcrrar à idóia dc oblcr succsso, quc quer alcançar de qualquer man'eu'a, 0u, por oulro lado, sc se dmxar' levar pela roun'a, enquanto seus pensamcntos estão cm outro lugar, então não estará ligado ao 45'sunlo dc seu trabalh0, cstará dls'Lraído, falta também a dcdicação ao scu lrabalho, e oom ls'lo dcsaparcccrá o “prcsentc adicional”, o succsso.

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Ncste scntido, o legislador geralmentc argumcnla que o pai tem sua proñssão, que o absorvc totalmcnlc. Com ccrteza, a proñssão representa uma área extcnsa na vida de um homem, é uma parcela de sua 1'dentidadc, mas scña errado añrmar que pnm'elr'o vcm a remuneração, depoxs' todo o resto para o qual ele ganha este dmh'elr'o. Seria tão crrado quanto o ditado primum vivere deinde philosophare, ou seja, “pr1m'e1r'o viver, dep01$° ñlosofar”*. Rcfenn'd0-sc a cstc ditado, mcu vclho professor uma vez me d15'se quando jantamosjuntos em Vicnaz “Sabe, Doutora, é cxatamente 0 conlrári0: sem moral nao' se supera afome.” O mcsmo ocorre com a vida proñssional do homem; scm tcr um scntido c uma ñnalidadc para o trabalho diário, o homem ncm conscgue suportar este trabalho; sem ter uma família para ahm'cntar, sem ñlhos para sustentar, ou sem algum outro objeLivo quc pudesse aJmejar, todo dmh'elr'o quc ganha nada vale. Por este motivo, a Lragéd1a' de pa1s' quc perdem seus ñlhos, cm nossa sociedade adcpta do divórcio, é mals' ampla do que se perccbe à pnm'e1r'a vxs'ta. Não somcnte os ñlhos pcrdem os scus paxs', c com eles uma partc essencial do modelo e relacionmento parcntal, também o local onde estes pa¡s' trabalham perdc um pouco da capacidade dcstes colaboradores, po¡s' se o “para quê” não está clar0, a energia m'vestida decresce rcpenün'amentc. Assm,' a desm'tegração de um casamento representa prejuüos para 0 mundo do trabalho, e as prcocupações fam1h"ares podem 0r1gm"ar um fracasso proñssionaL

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Com 1s'to não qucro dlzc'r que todos os órfãos de divórcios estariam em melhores condições junto a seu pai, ao m'vés da sua mãe. Também não tcnho resposta para a pergunta de como os ñlhos de um casamento fracassado pudessem scr melhor “repartidos”, p015' a pergunla em si já é uma má resposta a uma pcrgunta tolalmente d1f'erente, que surge para todos os pa15': a pergunta sobre como podcriam fazer jus a seu dcver dc pals, um dcvcr quc voluntarmm°cntc assum1r'am. Na realidade, os pals' não podem 51m'plesmente rcpartk os filhos, só podem perdê-los c, como d1$'se, o pai é ma15' comumente o perdedor.

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presenles materim5', pagando ahm'cntos para as conscqüências de ações pelas qua15° não pode mais assumJI responsabm"dade.

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O jovem padre seguiu meu conselho e dedicou-se de corpo c alma à sua nova paróquia, m'tegrando-se nela. Ele até me enviou um convite escrito para sua mls'sa m'augural e, para lhe dar csta alcgria, mls'turci-mc aos convidados. No ponto alto da m1s°sa sustentou o cáh'ce durante um período espccialmente prolongado, e acredito ter entendido o quc estava se passando nelcz ele cstava ofereccndo seus medos m'teriores diante desta “prova” ao seu Dcus, quc aparentemcnte d1gn'0u-sc a aceitá-los, poxs', conformc ñquei sabcndo maxs' tarde, não surgüam maJs' d1ñ'culdades üs'icas durante a oelebração da mlss'a. Em comparação a estc caso, recordo com prazer um outro cura de almas, que cncontrei por ocasxa"o do 4° Congresso Mundial dc Logotcrapia em São Franc15'co, c cuja capacidade dc dedicação semprc admu'el'. Seu nome é Gordon Hatcher e mcnciono m'tcncionalmente aqui scu nomc, c o de scu ñlho Merrell, para en'g1r'-lhcs um monumcnto escritoz paIa o ñlho, por sua morte prematura e 1m'erecida, e ao pai pclo testemunho que deu com a sua reação à morte do ñlh0, um testemunho quc mostra a ação cspm"tual de que uma pcssoa am'da é capaz numa hora mtúto d1ñ"cü. Logo após seu 219 am'versário, Merrell foi atropelado c morto por um motons'ta que estava sob o efeito de drogas. O pa1,' pastor em uma comunidade rchg1"osa, reahz'ou, alguns dias mals' tardc, o

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“Alguma vez o Sr. já rczou uma mnss'a pela glória dc Dcus?”, perguntei ao padre, que olhou surpreso. “Somente pela glóna' de Dcus”, conün'ue1,' “para sem'-lo”. Ind1f'erente à sua própria pcssoa quc cstará diantc d'Ele, seja ela uma pessoa que treme, que chora, que fracassa, que é objcto de zombaria... tanto faz, tudo é colocado no cálice que será ofcrtado para a glória de Deus. Alguma vez já tentou ag1r' ass¡m'?” “A Sra., como psicóloga, d12' ls'to?” perguntou o padrc adm1r'ado. “Por quc não?”, respondi. “0 Sr. mesmo terá ue produm' o soro de que premsar'á para curar seus dls'tur'bios. a dedicação à sua proñssão. O Sr. não pode se obscrvar m'tcnsívamcnte, para vcr se está fazendo tudo com perfeição, ao contrário, terá que se esquccer completamcntc e ñxar seu pensamento no conteúdo de sua função. Então o Sr. dominará sua função!”

“Meus amigos, aqui cstou eu. Estou aqu1,' porque Merrcll assm' o teria desejado. Ele semprc me chamava para dcsaños que ele sabia que eu poderia rcahzar'. Estc é o maíor desaño que ele mc propôs, c eu o aceito. Na mmh'a op1m"ão, devcria se falar e cscrcver mals' a respcito do quanto os ñlhos mñ'ucncicm seus pa15'. Embora ccrtamcnte os paxs' mfl'uenciem seus ñlhos, tenho a 1m'prcssão de quc muito pouco setemfaladosobreom'verso. MerrelL sem dúvida, tcvc uma mñ'uênc1a' Imúto forte sobre nunh'a vida e meu estüo de viver - uma mfl'uêncía positiva. Hojc quero mostrar mcu reconhecmento por esta sua mfl'uência. Meus am1g'os, aquí estou eu. Estou aqu1,' paIa que possa me lembrar dc um m'cidente quando Merrell a1n'da era muito pequeno. Na época era um memnmh"o lrr'equic.to e falante, que todos os dommg'os sentava na 1gr'eja no colo da ma'e, enquanto o pai pregava. ngu'ém sab1a' se elc perccbh as cms'as que se passavam à sua volta. Um domm'go dc manhã, porém, quando uma outra pessoa fazia a prcgação, Merrcll reg15'trou a ausência do pa1,' e gritou para que todos pudessem ouvi-lo: “Este não é meu pai.” Ele esperava que seu pai estivesse lá, não queria um substitum Também hoje não havcrá subsútuto. Não cstou aqui para me punu', ou para submcter a m1m' c a mmh'a família a uma prova de fogo; não cstou aqui para desviar mmha' atcnção da morte dc Mcrrcll ou exig1r° dc Deus uma sans'fação. Estou aqui para responder ao desaño e ao convite dc Merrell...” A segmr', Mr. Hatcher relembrou vários ep¡s'ódios da vída de seu ñlho falecido que lhe pareciam dignos de serem novamente mcncionados c dls'cutidos, c cncerrou o scrmão com um pensamcnto de que a morte dc MerrelL na sua oompreensão, fora sem sentido, porém, a vida de McrrclL não.

Estou certa de que o leitor estará tão un'pressionado quanto eu pela atitude deste pai. Prosaicamente poderíamos d12'er: o homem foi bem›sucedido como pregador. Reflitamos o que foi que nos 1m'pressionou cm suas ações. Foi a hab1h“dadc retórica de sua ›"r. -~,

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sermão Inals' amargo dc sua vida; elc próprio fcz a cncomcndação do corpo de seu ñlho e profen'u o sermão fúncbre. Aqui cslá um excerto dc seu scrmão, que foi anotado por am1g'os':

' Mr. Hatchcr pcssoalmente deu a permxssã'o para a publicaçáo do scu nomc c a do scu ñlho, bcm como para a dlvu'lgaçáo de suas palavras.

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sem dó nem piedadc, se fracassasse em sua d1gn'a funçáo. Aqui temos o ponto crítico de suatranspu'aça'o psicossomát1'ca,juntamcntc com todos os outros m°gredíentesz aquclc quc, pnman°'amente, quer ser um padre bcm-succdido, precxs'a temer ofracasso, e aqucle que só sc 1m'porta com a admüação que gostana' de obter, precxs'a temer uma sítuação ridícula.

prcgação? Ccrtamcntc quc não, embora suas palavras snm'ples fossem comoventes. Foi o que cle dls'se dc positivo a respeito de scu ñlho? Ccrtamcnte quc não, p01s' quem m"a dlze'r algo negativo a respeito de um morlo, a1n°da ma15' scndo seu próprio pai? Acredito quc foi 0 motivo que capacitou o pai a se posicionar frente à comunidade cm 1uto, naquclc dia dc dor, c fazcr sua prcgação. Estc motivo ele rcvclou muito claramente nas lmh'as acxma': “Aqui est0u... Por quê? Para aceitar o desaño de Mcrrcl”. Isto quer d12©'r que clc estava alipor amora seufílha Imbuído de um amor que a mortc não pôde destruu'. Não se 1m'portava como ele se sentia, se ele seria capaz de suportar a situação, se ele 1r'ia se engasgar nas suas próprias palavras; nada dls'so cle perccbia. Através de sua prcscnça, via somente a oportunidade de um úl[1m'o alo dc amor paIa seu ñlh0, e elc aproveitou esta oportum'dade.

que já têmz um “al'go” ou um “alguém”, para que ou para qucm foram destmados para cxcrccr o scu lrabalho da mclhor forma possíveL O sucesso só aparecc na casa daqucle quc colocm scu lrabalho a serviço de uma tarefa que vem dc fora c batc à sua porta. A pcssoa que somcntc qucr fazer br11h'ar sua Casa por dcntro, pma mclhorar seu próprio “conf0rto de morar", delxa' dc vcr quc, com 1s'to, os porlões se trancam c fazem com quc sc lome pns'ionelr'0 de si próprio.

Quando, conformc mencioneL anos ma15' tarde estivc diante dc ML Hatcher, na sala do congresso, e ouvi sua h15'tória, foi a mmh'a vez dc vcr uma oportunidade quc aproveitei. Era a oportunidade de publicar esta hls'tória na sua qum'tcssência para dar coragcm a todas as pessoas que passaram por um grande sofr1m'ento para “permanccerem ñrmes” no lugar paIa o qual foram convocadas a ñcar, por ma1$' d1fí'c11' que seja paIa elas. Se um um"co leitor se demar' levar por csta hxs°tória a permanecer ñrmc como um rochedo cm seu sofrimcnto, 1n'abalado na sua dedicação a uma tarefa a ser reahza'da, então Merrcll não morreu em vão, c Mr. Hatcher pode ter a certeza dc quc até a morte dc seu ñlho, quc para elc fora scm sentido, am'da encontrou scu sentido, em algum lugar, algum dia.

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gastar na execução concreta de seu trabalho, levando-os à típica “docnça do executivo” e ocasionando uma acentuada sobrecarga cardíaca c cu'culatón'a. Isto só poderá aoonteccr sc perdcrcm dc v1$'ta a “forma abstrata”, que deveria permaneccr ws'ívcl atrás c ac1m'a do Lrabalho, como objetivo espüitual propriamente dit0. Para outras pessoas, o trabalho é tcdioso e ms'at15'fatório, o que, porém, também só poderá ocorrer, se ele não for colocado num contexto abstrato, que envolve o trabalho concreto e lhe dá sentid0. Gottfried Kcller escrevcuz “Por aquüo quc lhe falta, o homem semprc põe na conta do destmo o dobro do que por aquüo quc rcalmente possui.” Esta añrmação se aplica cspccialmcnte aos homens que trabalham c scmprc perscguem cada vez mals' o sucesso, sem dar valor àqu1l'o

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Voltcmos ao tema da atividadc proñssionaL que, conformc moeram os d015' exemplos, não podeser dls'sociado de um valormms' elevado, que é a forma abstrata da rcahza'ção concreta de scu trabalho. Muitos homens quc trabalham têm a tendência a se des-

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Logicamcnte também em'tcm forças da vontade na concepção psicológica tradicional sobre o homem. O peculiar do conceito da “vontade de senü'do”, que dcveria romper a mônada, é o fato repetidamente abordado de quc por sentido não se entende um sentido oríentado para o eu. Trata-sc do respectivo sentido da situaça0', que contém um componente objetivo a551m11"ado subjetívamente. Ass¡m', o sentído é a lígação entre o homem e o mundo, jarnak é um “scntido para m1m'”, mas semprc um “sentido em si mcsmo”. A resposta para o qucstíonamento sobre 0 homem não é mais que ele seria “um ser em busca de feh'cidade”, ou scja, “da 4.

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Um belo exemplo de uma confrontação entre os dois modclos dc pcnsamento nos fornece Bertold Brccht na sua peça DerKaukasische Kreidekreis (“O círculo de g12' caucasiano”), na qual descrevc duas mulheres que lutam por uma mesma criança. Uma das mulheres é a mãc legíum'a, quc m'dls'cutivelmente tem d1r'eítos sobre a cn'ança, e a outra criou-a sob condiçõs d1f1"cels' e ama-a como sefosse scu própxío ñlho. Aqui podcmos 11'ustrar 0 funcionamento de uma mônada através do comportamento da mãe lcgíum'a: cla sentc quc seus dJI'eítos estão sendo m'vadídos, sua auto-est1m'a se descth"bta

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O' mesmo ocorrc com o fenômcno do amor. Dc acordo com o pensamento de Frankl, o amor é muito mals' do que a sans'fação do 1m.pulso sexual elementar ou subhm'ado. Novamcnte, entra em jogo um elemento de sentido que pertence ao mundo externo, c que é a pessoa amada. Da mesma forma que num trabalho dignamcnte humano cstá ms'erido 0 valor da obra a ser construída, um amor digno dc um homcm m'cluí o valor do parceüo amado, para cujo bem-estar sc d1r1"ge a atcnção daqucle que ama. E, novamente, ocorre que a dedicação ao outro volta-se para o próprio coração. Há, porém, situações na vida em que é d1f1"c¡l' manter, ou desfazer, uma relação m'tcrpcssoal m't1m'a, dependendo do que o sentido da situação cxigm mas, assxm' mcsmo, isto é possível, a partü de um amor genmn'o, um amor que consegue se elcvar acun'a dos própn'os m'tercsscs.

O outro modo de pensar, fundamentalmente d1f'erentc, elaborado por V1k'tor FrankL parte do prm'cípio de que o homem, na reralidadq não é uma mônada, ou seja, nenhum sns'tema fechado em sixDe acordo com FrankL o homem, ao conLrário de todos os outros seres vivos que conhecemos, possuí uma abertura para o mundo. Na sua concepção do homem, todos os potcncíals' de energia encontrados no modclo da mônada naturalmcnte não são ncgados, po¡s' comprovadamente estão presentes. Mas eles serão complementados e superados por aqucla força motivacionaL que não pode ser colocada no mesmo m'vcl das neccssidades e processos da psique, porque estendc-sc para além do eu, transcende o eu cm d1r'cção ao mundo extemo. Já sabemos que no caso cstamos falando da “vontade de sentido”¡./

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Não quero negaI que, na “concepção monádica” do homem, também haja a possib1h"dadc de relações rccíprocas com o mundo cxtcrno, p015' logicamcnte algo tcm quc ser 1n'vestido no trabalho ou num rclacionamento, po¡s°, caso contrário, não se recebcria qualqucr lucro de volta. O rclacionamento m'terpcssoal rccíproco, porém, está igualmentc sob a 1m°posiçã0 suprcma de uma máx1m°a saüs'fação dc dcsejos da rcspcctiva pessoa, como toda ação c scnsação humanas orientadas, a partü de suas ralz'es motivacionals' mals' profundaS, para o suprun'ento das própnas' nccessidades a ñm de garanur' a manutcnçáo do cth"brio m'tcrno. É uma 1m'agem do homem que parecc muito sensata e comprecnsíveL delxan'do, porém, um certo mal-cstar, ao rcsponder à antiqu15"'s¡m'a pergunta sobre o homcm com a conñssão dc que se trata de “um ser em busca de felicidade” c, no caso, “de sua própn'afch'c1'dadc”.

própria fclicidade”, mas quc seria “um scr cm busca dc sentído”, ou seja, “de sentido no mundo”. Examm'emos csta concepção ampliada do homem no cxcmplo do trabalho e do amor. Ao consídcrarmos a capacidadc humana para a autotransccndência, o “trabalhobom” é ídêntico ao “trabalho que tem sentido” e, por sua vcz, o “trabalho quc tcm sentido“ sigmñ'ca um trabalho quc cria algo que tem sentido no mundo, ou que mod1ñ'ca algo que cxxs'tc no mundo para melhor, em rcsumo, quc leva uma obra positiva à sua conclusão. Normalmcnle, um trabalho que tenha sentído causa alegría, uma alegria maior quc um trabalho que se hm1"ta a “não cx1g1r" dcmaJs'” c a “produ21r' d1nh'c¡r'o”. Há, porém, situações de vida e extremas, sob as quals' um trabalho com sentido é muito exige um csforço cxtraordm'ário, não origm'ando absolutamentc uma alegría 1m'cdíata; mas por ser consíderado ¡m'portante ou va1ioso, o trabalho é lcvado corajosamentc até 0 ñm. O critério da vantagem própria valc somente até o limite da mônada, além deste, prevalece 0 sentido da causa em si.

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permiür' um certo espaço livre. Se qms'ermos falar dc “amor”, também não podemos fazer exccções, também cle seria julgado “positivo”, sc trouxer vantagens para um cuz promm1°'dade humana, parceüos com quem se possa conversar e desabafar, aconchcgo e scgurança, satlsf'ação dos 1m'pulsos c prazcr.

e, para fazê-la voltar ao normal, cla prec15'a ms'ls'm' nos seus d1r°eitos. Dcp01s' que o ju1z' colocou a cn'ança no ccntro de um círculo de g1z,' c postou as duas mulhcrcs, respccu'vamcnte, do lado csqucrdo e d1r'e.ito do mcsm0, com as palavras dc que a mãe verdadeu'a será capaz dc puxar a criança para junto de s¡,' a mãe legítlm'a puxa a críança com todas as suas forças. A criada, no cntanto, aqucla mãc que criou csta criança, mobiliza sua capacidade dc aut0transccndc^nc1a,' e solta a criança, poxs' pensaz “antes quc a criança seja rasgada ao meio, eu desxs'to dela”. Na peça, não ñca d1fí'c1l' ao julz' decid1r' com qucm dcvc ñcar a críança... Porém, também para o observador com formação psicológica não é d1f1"cü prognosticar qual das duas mulheres, no ñnaL tcr1a' ñcado mzus' fehz' se o jmz' livessc tomado a dec15'ão dé acordo com sc a mãc lcgíum'a com sua vitória sobrc a as suas palavras rival às custas da criança, ou a cna'da com seu sacnfí'cio doloroso por amor à criança. Podcmos assum1r' tranquúam"'cnte que a segunda tcria uma sans'fação m'tcrior, mesmo que sua auto-cst1m'a tivesse d1mm"uído muilo mals' do que a de sua rivaL Embora esta hxs'tória mostre um exemplo muito extremo, ela nos permite entcndcr o que sngmñ"ca esta abertura do homem para o mundo. A mãe lcgínm'a não se abre, ela pcrmanece fechada em sí. Ela prcas'a elaborar scu trauma da perda da criança, precEa ab-rcag1r' sua agressividade contra a rival e defender seus m'teresses, cla está preocupada em restabelecer seu próprio eqmlíb'río psíquico, e, dc tão ocupada que está consigo e com seus problemas, mal perccbe o mundo ao seu redor; no fundo, ncm pcrcebe seu ñlho, embora esteja lutando por cle; mas na realídade ela não está lutando por ele, mas pela sua própn'a feh'c1'dade. Ela é o protótipo do ser em busca de feh'cidade.

A criada, porém, abre-se para o mundo. Ela também sofreu um trauma, p01s' por causa da criança dems'üu de seu namorado, c ela também sente agressiv1'dade, p01.s' a mãc que, 1n'd1f'erente, abandonou o ñlho no m1"cío, agora quer exigi-lo de volta; seu equ1h"brio psíquico está tão abalado quanto o da outra mulher, e os 1n'tcresses quc gostaria de defcnder são tão fortes quanto os da outra. Porém, apesar de seuspróprios problemas, ela é capaz depercebcr o mundo extcrno, e o que ela pcrcebe no mundo externo é uma criança m'ocente à qual será mfh"gido um sofr1m'ento. Um sofnm'cnto scm sentido. Com ¡s'to se revolta sua “vontadc de sentido” e lhc dá forças para abandonar sua mônada e dmxar' totalmentc para trás os seus problcmas. Esboça-se um sentido objetivo da situação que d12' “dcvc scr prcscrvada a saúdc da criança”. E a mulhcr se apressa por

rcahzá'-lo através da autolransccndência. Ela age como dcvcria Vagü um ser cm busca do sentido. Se concordarmos com a idéia de quc o homcm, com a ajuda de sua pcrccpção cspm"tual, é capaz de pcnctrar no ambicntc quc o cerca, e nclc pcrccber conñguraçõcs dc sentido, que não cstão cm relação d1r'cta com suas ncccssidadcs emocíonaís, podcndo cstar até cm oposição a clas, mas quc mcsmo aSSIm' conscguc scgmr', prccisamos trazcr de volta à psicologia doxs' conccitos quc haviam sido cxcluídos dela: o da Iiberdade c o da respomabz'1¡'dade. Ambos os conccitos não ex1$'tcm num sxs'tcma fechadu, p015' nclc as forças predom1n'antemcnte m'conscienles da vida m'slm'tíva c a h15'tória da aprend1m'gem determm'am os comportamenlos do presentc; c ondc houver prcdetermm'aça'o e pré-condicionamentos, não há culpa. Num s¡s'tema aberto, porém, a situação toma-sc mals' complícadaz os 1m'pulsos do mundo cxtcmo, com scus rcspeclivos alributos dc “com sentido” ou “sem scnlido”, encontram-sc com o anseío cxtls'tencial do homem por uma vida plenà de sentído e desañam forças espm"tuals' quc não estavam predetermm'adas nem podem ser con~ dicionadas previamente. São forças livrcs, pclo uso, ou não-uso, das quals' precxs°amos nos responsabúlzar". Ilustremos esta añrmação com um exemplo que tem a ver maís com o trabalho do que com o amor. Uma vcz assxs'ti a um ñlmc un'prcssionante chamado Reporter des Teufels (“Repórter do Diabo”). Estc ñlme, que supostamente se baseava num acontec1m'ento rcal, cra sobrc um opcrário de construção quc fora solerrado, c quc devcria ser rcsgatado do buraco na terra em quc ñcou preso. De acordo com pareceres de técnioos, havia doxs' cam1nh'os para libcrtá-lo: um relativamente rápido através de uma perfuração du'cta, e um outro, mals' dcmorado, através da escavação de um túneL Pela avaliação da quzmtidade de ox1g'ênio ems'tente e do estado do acidentado, chegou~sc à comclusão dc que ele poderia suporlar bem ambas as propostas de salvação, também aquela ação mals' prolongada. Mas, naturalmente, tratava-se apcnas de suposições, pois a comunicação com o sotcrrado era

O acidente atraiu muitos curiosos, c cntrc eles também um repórter conhecído por suas reportagens magníñcas. Este rcpórtcr empenhou-sc então com toda força para a construção do túncL a operação de resgatc ma15' longa, pms' assm' teria tempo suñciente para ofcreccr aos scus leitores uma hls'tória palpitante, qu_e apareceria nos joma15' durante dias seguidos. Como as numerosas pessoas, que vicram dc vários lugares para assxs't1r' ao rcsgate, am'da

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Bem, o segundo exemplo também referiu-sc a um evento relativamente fora do comum, que certamente não faz partc do nosso cotidiano. Contud0, se procurafmos à nossa volta, encontraremos na vida de qualquer pessoa comum m'um'eros dcsaños scmelhantes, embora com conseqüências menos graves. É m'tcressante observar que são geralmente fenômenos envolvendo o amor e o trabalho. Há mães que querem pressionar seus ñlhos para quc tcnham um desempenho máxmo na escola, para que clas possam mostrar-se orgulhosas de seus ñlhos; e há mães que querem dar aos seus ñlhos a melhor formação educacional possível para facxh"tarlhes 0 começo de vida. A d1f'erença sutü cstá na autotrmcendêncm das últ1m'as. Há mulheres que sc que1xam' de frigidez porque seus parce1r'os não lhes forneccm esta cxperiência máxma de prazer; e há mulhcrcs que conseguem cntregar-se carmh'osamente a seus parcelr'os, mesmo que a sexualidade não seja muito 1m'portante para elas. Novamente a d1f°erença suul' está na autotranscendência. Sc se ama uma outra pessoa de vcrdade, seja um ñlho, seja um parcelr'o, não se podc 51m'plesmcnte perseg111r' sua própria feücidade e abusar do outro, e usá-lo como meio para sua própria saüs'fação de desejos.

O mesmo valc para o trabalho. Há autores que escrevem um h'vro para ñgurar na hs'ta dos ma15' vcndidos; e há autorcs que escrevem paxa prcsentcar seus leitores. Há médicos que querem tcr uma prática médica rentáveL e há médicos que querem lutar contra a doença. Há operários trabalhando em lmh'as de montagcm por tarefa, para podercm ter um nível de vida melhor, e há outros que, com cste trabalho, ahm'entam melhor sua grande família. A d¡f'erença sut11' é outra vez a autotranscendência, que 51'gmñ'ca m'clu1r' con-

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Até este ponto há concordan^cía nos raciocm1"os, agora, porém, surgc a añrmação quc separa a concepção “nova” do ser humana da “antiga”. É a añrmação de que o homem, com base cm sua capacidade de autotranscendência, é capaz de, praticamente m'dependente de sua estab1h"dadc ou rcsns'tência psíquícas, rcspondcr

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Na conccpção do homcm dc acordo com V1kt'or FrankL todos cstcs argumcntos são apenas parcialmcnte válidos, p015' reprcsentam um úniooprato da balança: a alternan^cia entreinput eoutput na psique do repórteL No prato do outro lado da balança, está o scntido da situação, e cste scria a salvação do acidcntado. Prec1s'amos efetuar uma d1f'erenc¡a'ção muito prcms'a entre uma mfl°uência externa sobre o psiqulsm'o, como p0r exemplo a pressão social do ambiente, e a realidade de uma oonflguração objetiva de sentido, que, em prm'cípio, não mfl'uencia 0 ser human0, apenas se oferece à sua percepção espm"tual. A situação do acidentado e o sentido de sua salvação, que cstá ms'erido nela, são um'camcnte clementos do mundo externo, embora contcnham um certo caráter de conclamação; nada têm a ver com a cstab1h"dadc e resm'te^nc1'a psíquicas.

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Esta hls'tón'a nos mostra, na ñgura do repórter, uma pessoa quc reahza' um excelcnte trabalho, 0 qua], consequ"entemcnte, é coroado de succsso. Ele cscrcvc reportagens emocionantes e com 15'so ganha lucro e publicidade. Todos concordarão, porém, que, no presente caso, ele foi longe dema15', po¡s' a vida de uma pessoa estava em jogo, o que deven'a tcr tido preccdência diante dc qualqucr reportagem, por melhor que fo_ssc. A partk de uma perspectiva psicológica, podemos assum1r' doxs' pontos de v15'ta, novamente aquelc, dccorrente do modclo monádico, e aquele, quc admitc a capacidade humana para a autotranscendência. Conforme já dls'semos, no modelo monádico não cxls'tc culpa. Ncste modclo, as atitudcs do rcpórter são perfeitamente comprcensívels' como expressão de sua pcrsonah'dade. Talvcz poder-se-ia responsab1hzar" um complexo dc 1nf'crioridadc situado na lnf'an^cia e quc nccessitassc como compensação um “vôo de grandes alturas” proñssional; ou falar-seia dc um déñcit na empatia social, decorrente dc falta de aprcndizagcm durante seu dcsenvolwm°cnto. Outros responsabxhzan"'am também as condições do ambiente social, 0 qual não só apoiou o cmpreend1m'ento egms'u'co do repórtcr, como também cxcrceu considerávcl prcssão sobre ele, através de scus leitores.

espkitualmente às conñgmaço'es dc sentido percebidas no mundo extcrno, rcahzan'do-as ou dcxxan'do de reahzá'-las. Esta é a libcrdadc pcla qual o homcm preas'a responsabmzar"-se c que foi 1n'Lroduzida na psicologia por FrankL uma libcrdadc para reahzar' tarefas quc têm senüdo apesarde diversosfatores (inibidores?) de injluência. A autotransccndência também é a poss¡'b111"dadc de “podcr superar-sc a si mcsmo”, de “ag1r' para além dos h'mites da mônada”, para um mundo plcno de sentido, mesmo que este seja muitas vezcs apenas vagamentc pcrceptíveL De acordo com a deñm'ção, o órgão dos sentidos do homcm capaz de captar o respectivo sentido de uma situação é a consciênCIa', c a liberdade de obedecer àquüo quc foi pcrcebido é a responsab1h"dade. A culpa pode cntão ser descrita como o “nã0” à pergunta sobre o sentido, um “não” quc também foi pronunciado pclo nosso rcpórter no fllme citado.

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dcram lucros adicionak à cidade, p015' t1nh'am que se ahm'entar e pemoitar, concordou~se com a construção demorada do túnel e começou-se o trabalho. Quando, porém, chegou~se ñnalmente até o operário, csle cstava mort0.

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Após termos dev¡a'do clara a posição deferenciada de ambas as concepçõcs do homem, gostaria de conclmr° com dons' breves relatos de m1nh'a prática psicoterapêutica, que estão rclacionados com a concepção dc Frankl sobre o amor e otrabalho, e que possam ofereccr material para reflexão 1gu'almente ao le1g'o c ao proñssionaL O pr1m'eu"o rclato é m'tcrcssante do ponto de v¡s'ta diagnóstica Refere-se ao caso de uma fob1a' dc aranhas. Uma moça apresentava vários típos de dls'túrbios, m'clusivc gritos convulsívos e desmaios, quando em algum lugar av1$'tava uma aranha. Pela anamncse, havia uma séríe de evcntos na sua mf'an^c1a' que podcnam' ter dcsencadcado csta fob1a,' especíamente o fato de esta moça, quando cr1an'ça, ter morado num velho casarão, na zona ruraL onde havia muitas aranhas, que freqüentemcntc se escondiam até na sua cama. Além dls'so, os pals° muitas vezes a haviam punido mandando-a para a cama, mesmo durante o dia, o que scmpre a delxa'va muito mf'cllz.' Dc qualqucr mancxr'a, mals' tardc os pals' mudaram-se para uma casa hm°pa, as puniçõcs cessaram, mas o medo de aranhas permancccu e se 1n'tens¡ñ'cou de tal manelr'a, que até a üustração de uma aranha num livro ocasionava crls'cs dc ansiedade. Como, por pnn'cípio, nas mmh'as anamncscs não m'vcst1g'o somente o problema domm'ante e sua gêncse, mas também procuro

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Como representante da psicologia, não estou m'teressada nos aspcctos mora15' dcstas reflexões, mas na m'tcrpretação psicológica do homem Será que o homcm pode m'c1u1r' cm suas dcc15'ões pes~ soaxs' o bem-cstar de outras pessoas ou o scntido dc uma obra a ser rcahza'da? ngm'und Freud dlz' “não”, kat'or FrankL “s¡m'”. Um “sxm'” que, confonne já 1n'diquc1,' não rcprcsenta uma sxm'ples antí~ lcse, uma s¡m'ples ncgação do “não", mas que reprcsenta, nada mals', nada mcnos, uma nova dcñnição do homcm, do qual Viktor Frankl añrmaz “Quanto mals' ele ñcar absorvido pclo scu trabalho, quanto mals' cle se dedicar ao seu Yarceüq ma¡s' humano clc sc toma, e maxs' cle se torna ele próprio.” 0 A feh'cidadc, que para todas as outras cscolas psicológicas é o objetivo ma¡s' elevado de toda aspu'aça'o humana, não constitui objeüvo algum para V1kt'or Frankl; para ele, a fclicidadc é um produto colateral automático dc uma cms'tênc¡a° plena de sentido, uma cms'tênc¡a,° de acordo com Bernanos, que derivla1 sua satls'fação da “graça de poder csqucoer-sc dc si mcsmo”.

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ñguraçõcs dc scntido objetivas do mundo externo na sua própna' motivação.

dcscobnr' c1r'cunstan^c1as' posiüvas' ligadas ao problcma, perguntci à moça se algum dia tivera também uma cxperiência com aranhas que tivesse sido positiva, e para mmha' surprcsa a moça dnss'e que s¡m'. Uma úníca vcz na vida, a moça conseguiu apanhar com um lcnço uma pequena aranha no parapeito dajanela e am'á-la para fora, sem entrar em pam^'co, ou sa1r' correndo do quarto, ou gritar por socorro. Fiquei m'teressada cm saber por que alguém, que tmh'a lanto nojo de aranhas desdc criança, que jamals' conseguia pcgá-las na mão e que, mals' tarde, desenvolvcu uma típica fobia dc axanhas, dc rcpcnte pega uma aranha c a atüa pela janela sem maiorcs problemas. O que aconteceu então? O lcitor ccrtamentejá adiv1nh'ou que, no caso, devia havcr uma parccla de autbtranscendência cm jogo, caso contrário a mônada não teria se aberto. Uma amiga muito qucrida vcío v¡s'itá-la e csta não estava bem de saúde, tmh'a acabado de sau' do hospital c cstava muito fraca; por ls'so deitou-sc no quaxto da moça. As duas convcrsaram um pouco e depo¡s' a am1g'a adormeceu. Quando a moça sc lcvantou e foi até a jancla, lá viu uma aranha, c estava cntão diantc da opção dc fug1r' do quarto, gritando, c com 15'so acordar c assustar a am1g'a, ou retu'ar a aranha em süêncío - e ela dccidiu-sc pela segunda alternativa. A consideração pela amíga foi maior do que o poder do medo. Acredito que destc cxcmplo dcveríamos aprender algo dc útü para o diagnóstico psicológico: que o homcm não se delxa' enquadrar num esquema ñxo de comportamentos típícos; cada um dc nós também pode reag1r' de forma atípica, se para ls'to tiver um motivo mals' profundo. Por 15°so, ao fazer um diagnósüco, é peng'oso reumr' dados apenas a respeito das hg'ações negatívas que ems'tem entre o passado e o prcsente de uma pessoa, poxs° podcmos dar a un'pressão de que o presente é fatalmente dcpendente dos eventos do passado, o que s1m'plcsmcnte não é verdade. Às vezcs, basta um pouco de amor por uma outra pessoa, amor no scntido ma15' amplo, para dar ao prcscntc novos e m'espcrados m1'pulsos. 0 segundo relato brevc que julgo digno de scr mencionado aqui é m'tercssantc do ponto de v1$'ta terapêutico. Trata-se dc um caso de bu11m1"a, um apetite ms'aciável por comída. O caso tem um componcnte trágico, porquc o pacicnte era um homem 1m'possiblh"tado dc andar c prcso a uma cadeüa dc rodas, o que lhe pcrmitia pouco exercício fls'ico, que, juntamentc com sua sm'tomática e o exccsso de peso daí rcsultantq afctou negatívamente sua saúde; elc sofria tcrrivelmcntc dc má dígestã0, cólicas m'testm'als', ctc., problcmas que nem os laxantes mals' fortes resolvxam'.

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O exccsso dc pcso há muito fora diagnosticado pelos médicos como condicionado p51'quicamentc, rccorrendo-se logo à hipólcsc de uma satlsf'açã0 subsütutiva,' que caberia pcrfeitamente a um dcñcienlc f15'ico quc, afmaL prcc15'a renunciar a muitas cmsas'. Mesmo asmm,' todas as tentativas de tcrapia baseadas nesta hipótese fracassaram e, quando o homem vcio me procurar, cle quase não nnh'a mais esperança de cura. Sm'ocra.mente, também cu via poucas possib1h"dades de reduzk seu vício, mas d1r'1g1" mmh'a atenção para um outro aspccto. Sc o homem já t1nh'a que suportar o ônus de sua dcñcíência, junto com os dcsagradávels' problemas digcstivos, que lambém não seriam ehmm"ávc15' a cuno prazo, cntão deveria pclo mcnos haver uma árca parcial em sua vída que valesse a pena viver. A551m,' emprecndi com ele uma “anáhs'e ems'tencial” no exato sentido de Frank], que dcveria rcvelar os dívcrsos m'tcresses, vocações e capacidades deste homem, os qua15' talvez pudessem ser m'tensiñcados para dar contcúdo, engajamenlo e reahza'ção de scnlido à sua ex15'tência bastante monótona e hm1"tada. No decorrer das comversas analítico-c›us°tencials', revelou-se que, durante a guerra, o homcm passou vários anos num campo de pns'ionc¡r°os e, dcvido às suas amargas cxperiências pessoaJs', participava com grandc m'teressc do destm'o dos prisioneüos inocentcs em todo mundo. Ele sc 1m"tava muito com as notícias dc torturas e prisões dcsumanas e enfanza'va sempre como gostaria dc fazer algo por estas pobres pcssoas atormentadas. Não sei ma15' qucm pr1m'61r'amcntc trouxe à tona a idéia da orgamza'ção Amnesty Intemational (“Ams'tía lnternadonal”); era, porém, m'evitável que nossas conversas se d.1r'igLs'sem nesta d1r'cção. De rcpcntc, o homem pcrocbeu uma conñguração de scntido quc a ele sc oferecia; também de uma cadeüa de rodas elc poderia apoiar uma orgamza'ção como a Amnesty IntemationaL Ele começou a telefonar, a estabeleccr contatos, montou uma ñh'al da 0rgamza'ção local na sua casa, catalogava artigos e redigia cu'culares para os sócios da orgamza°ção. Em resum0, ele se tornou um podcroso voluntário daAmnesty Intemational e, após algum tempo, passou a orgamzax' e concatenar 1m'portantes mf'ormações. Algum tempo dep0is, convidei 0 homem para cont1n'uar a tcrapia, mas cle não veio por falta de tempo. Após algumas semanas, escrevi-lhe uma brcve mcnsagem, mas ele não respondeu. De alguma forma, avah'ci sua reação como positiva, po1s° sentia que a nova reahza'ção de scntido, quc de repentc enriquccia sua vida, era mais 1m'portante c mals' terapêutica do que a melhor psicotcrapia. Mesmo assm', ñquei perplexa quando, após alguns meses, o homem veio ao meu ccntro

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dc aconsclhamcnlo, sem tcr marcado hora. Ele dlss'c que, por acaso, eslava nesta região c queria mc relalar detalhadamcntc as atividadcs m'tercssantcs que cstava cxerccndo; eu, porém, mal conscguia mc conccntrar nas suas palavras, pons' 0 lcmpo todo olhava, admirada, para ele, que se tornara csbelto como nunca o unh'a v1$'to. “Como foi quc o Sr. pcrdcu scu cxccsso dc pcso?” pcrguntci cslupcfata c o homem riu. “Também não sei”, respondcu, “só sei dc uma cons'a: quando a Amnesty Intemational precisa dc m1m,' esqucço-me dc comer...” Como poderíamos m'terprclar psicologicamentc cslc caso? Poderíamos 1rr'cfletidamentc assumlr', segundo a concepção monádica, de que o paciente snm'plcsmente mudou o tipo de satisfação substitutiva, usando agora, para sc saüs'fazcr, as tarefas plenas de sentido de uma orgamza'ção mundial, para substítuk os comestívc15' de antigamentc? Talvez para compcnsação dc tudo que não tcve na mf'an^cia? Acrcdito que não faríamosjus ao homcm, ncm ao conteúdo dc sentido dc sua nova tarcfa, se declarássemos o scu cngajamcnto como cxprcssão dc uma neurosc, c a ajuda aos pns'íonc1r'os poHticos como meio para elaborar seus complcxos psíquicos. Em toda colaboração humana, por mcnor quc scja, que v¡s'a melhorar ou embelczar algo no mundo, cstá m'crente um scntido 0bjctivo, que se cstendc para muito além do nívcl subjetivo dc complcxos e compensações.

Portanto, não é vcrgonha admiür° quc um trabalho com sentido pode tornar absolutamentc dls'pensávc¡s' as nossas ofertas tcrapêuticas, po¡s' quando uma expcriência dc sentído se concrcuza', a autotranscendência é ativada a tal ponto, que a neurose não tem mms' chances. Contudo, nós psicólogos contmuaríamos scndo neccssários para, justamente, conduzü os pacientes a estas expcriênCIas' de sentido. E é cxatamente csta função que V1k'tor Frankl delcgou a seus d15'cípulos; além daquüo que é psiquicamente doente, devemos vcr o homem como “um scr em busca de sentido”, que deveria receber ajuda, não só para seus distúrbios psíquicos, mas também para sua aflição csphituaL O amor c o trabalh0, embora sejam 1m'portantes portadores emocionalsU de evcntos m'trapsíquicos, cmbora possam se orig1n'ar na vida ms'un'Liva, são oricnlados para o mundo extemo, onde a exts'tência humana quer se rcahzar' com scntido; e somcntc na medida cm que 15'to ocorre a cms'tência é realmcnte humana.

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1. A ansiedade como desafío ao espíríto humano

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Certamente, também no mundo an1m'al, o mcdo tcm esta função protetora. Imagmemos o que aoonteceria se os pássaros canoros dos bosques sc sentassem mansamente nos ombros de qualquer pcssoa que por ali passassez seriam dcpenados, cozidos, assados, colocados em gaiolas ou entregues às crianças como brm'quedos.l Nos an1m'a¡s', porém, trata-se de uma função protetora instintiva, garantida pelo seu medo m'ato. Nenhum pássaro seria lcapaz de pressentü as 1n'tenções das pcssoas que por ali passassem. iNos homens, porém, a sensação dc ansiedade geralmentc é assocíada a uma anteapação intema dc evcntos amcaçadores 1m'ag1n'áveis, que poderíam acontecer e dcvcríam7 portanto, ser evitado_s,l-,Assemelha-sc a uma sxr'ene de alarme que tem um determm'ado s'igmñ'cado e quc protcgc somente aquele que compreende este SIgm"ñcado. Da mcsma forma, um alarme de ln'cêndío somcntc protcge

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A maioria das pessoas 11g'a o conceito de “ansiedade" a algo muito negativo e desagradável; em prm'cípio, porém, a scnsação de ansiedade cstá a serviço de nossa sobrevívência. Sem ansiedade estaríamos perdidos, p015' 1rí'amos nadar numa baía mf'estada de tubarõcs, cruzaríamos tranqud"'amente uma rua com o sm'al vermelho, cscalaríamos picos elevados com sandálias nos pés, comeríamos qualqucr fruta dcsconhecida, ou nos snbmeteríamos às provas mals' sem o dcvido preparo; a nossa fantasia poderá 1m'agm'ar as respecüv'as consequ"ências. A ansiedade, porém, nos protege de 1m'prudências de todo tipo, c, a nívcl humano, ¡s'to tem a ver justamente com a fantasia de “podcr 1m'ag1n'ar” as consequ"ências.

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aqucle que rapidamentc procura fug1r' das chamas, e não aquelc que ñca sentado, reclamando detalhadamentc do seu ruído. Venñ'camos quc a ansicdadc, no seu scntido mals' pnm1"tiv0, é algo positivo, algo quc salva a vida. E, no am^bito humano, é a1n'da um ato prognóstico, quc pode c deve levar à proñlaxia, ou prevcnção, dc mf'ortúnios. Infehzm'ente, ex1$'te Vtambém o contrário, quando a ansiedade faz ocorrcr um mf'ortúnio. E ls'to sempre ocorre quando a ansiedade perde seu sentido próprio e se toma autônoma. Ncstc caso, 0 alarme de m'cêndio soa a todo moment0, sem que haja fogo, e os moradorcs da casa ñcam totalmente confusos.g



Contmuando a usar a metáfora, podemos também supor que o alarmc d15'parc sm°plcsmcnte por causa de um pouco de fumaça dc cigarro, podcndo rcsultar d15'so que alguém, que neste momento esteja passando roupa, largue o fcrro ligado para fug1r' apressadamente; então a roupa pcgaria fogo e toda a casa realmcnte se m'cendiaria. A nível psíquico, é justamente ls'to que ocorre nas neuroses de ansiedade. Elas têm sua orígcm numa ansicdadc exagerada e 1rr'eal, não raramcntc, porém, acabam causando d1$'túrbios bcmrcalísticos, que pareccmjustücar a ansiedadc or1g1n"al, cmbora scm razão. Por cxcmplo, um nadador nadando na costa scgura, que entra em pam"co c comcça a engolü água, de medo de encontrar um tubaIão, scntc uma ansicdade m'jusnñ'cada, mesmo quc ncstc proccsso morra afogado. Ou quando um pcdestre, que atravessa corretamente a rua num cruzamcnto, de tanto medo de ser atropclado por um carro, avança e recua rapidamente c, com ls'so, realmentc acaba sendo atropelado, sua ansiedade também não crajustlñ'cada, mesmo se acabar acontecendo o quc ele tcmia. Uma ansicdadc jusuñ'cada, ou seja, que tem sentido, é aquela que prcvm'c um mf°ortúnio, mas não aquela quc lcva a um mf'ortúnio. ' Os poucos exemplos ac1m'a mostram-nos que a d1f'erenciação entre ambas nem sempre é fác11'; mesmo aSSIm', é 1m'portante que se saiba scparar a ansiedadejust1f1'cada da m'just1f1'cada, po¡s' é preas'0 lidar dc forma totalmente d1f'erente com cada uma delas: sc à prun'e¡r'a precns'amos obedeccr, à outra não devemos ceder,' a primcüa preas'a ser levada a sério, a outra deve ser n°diculanza'da para m'ar-lhc qualquer scriedade. Enquanto que a pr1m'e1r'a, além de seu caráter emocional, é um ato prognósüco-proñlático da razão, a outra, além de seu cfcito patológico, é um desaño ao espm"to human0, do qual am'da falaremos. Antes de me concentrar, portanto, na mclhor manc1r'a dc lidar com ansicdadc justxñ'cada c m'justificada, gostaria dc dizer ainda algumas palavras sobrc a d1f°erenciação entrc ambas, para esclareccr quals'qucr mal-entendi-

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dos. São mal-cntendidos que foram até mesmo provocados por uma psicologna' não-amadurecida c cgocêntrica, que sc colocou como objetivo teórico ehm1n"ar totalmcnte a ansiedade, enquanto que, por outro lado, na prática causou muita ansicdadc dcsnecessária às pcssoas. É evidente quc ambos os propósitos são absurdosz ehmmar"' uma ansiedade com senüdo é tão Irr'csponsável quanto produnr' ansiedade sem sentido. Algo semelhantc acontcce com o objetivo psícológico xmúto d1fun'dido de ensm'a1' as pcssoas 1m"bidas a dlze'rem “não”. Ncstc caso, parte~sc do prm'cípio de que estas pessoas se comportam de maneüa polida, solícita e atenciosa para com todos, porque, na verdade, teriam medo e seriam m'capazes de defender seus próprios d1r°eitos. Sem dúvida, não é nada bom quando alguém, por causa de alguma m1"bição m'terna, constantemente dlz'“51m'”, quando na rca~ lidade quer dlze'r “não”. Porém, de nada adianta sc a pessoa s¡m'plesmente aprender a dlzc'r “não”. A razão é quc, para uma vida reallza'da, é prec1$'o podcr dlze'r “sun'” às tarefas quc se nos apresentam, c um “s¡m'” do fundo do coração. Como podcríamos então d1f'crcnciar quando é prccm'o dlzc'r um “s¡m'”, ou quando seria maxs' m'dicado um “não”? chetidas vezes já m'diquei o melhor critério de d1f'erenc1a'ção, o único digno da ex15'tência humana, e quc foi m'troduzido na psicolog1a' por V1kt'or Frankl; trata-se da pIenítude de sentido da questao'. Gostaria de 11'ustrar este critério através de um cxemplo. Suponhamos que, dez m1n'utos antes dc encerrar meu expediente, uma paciente, sem hora marcada, apareça no meu consultório e pedc ajuda. Suponhamos a1n°da que justamente neste dia Is'to seria muito m'convenientc para m1m,' por ter um trabalho urgcnte espcrando por m1m' em casa. De acordo com o pensamento psicológico tradícionaL dlze'r “não” c recusar a clicnte scria a evidência de uma personalidade ñrme e segura de si. Por outro lado, se dls'scsse “s¡m'” e aceitasse a pacicntc, seria a expressão de uma 1m"bição e falta de capacidade de me un'por. Isto seria realmente verdade? Será quc cu poderia sun'plesmente tomar dec15'ões de acordo com 0 que seria vantagem para m1m', de acordo com o que é agradável para mun', e isto denotaria então força m'terior? Meu mestre, V1k'tor FrankL d1r1"a quc é prec¡s'0 avaliar a plenitude de scntido da questão; concrctamente, ls'to sigmñ'caria usar os dez m1n'utos rcstantes para venñ'car o quanto seria urgente e necessário e, portanto, pleno de sentido, que a mulhcr recebessc ajuda 1m'ediatamente, ou se o atcnd1m'cnto pudesse scr transferido para amanhã ou dep015' de amanhã. Somente depons' de me certlñ'car que mmh'as horas extras tcriam sentido,

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eu poderia dlz'er um “sxm'” ou “na'o” com sentido, somente então dcmonstraria mmh'a força ou fraqueza m'terior. Se, por exemplo, a pessoa cm busca de ajuda cstiver em condiçõcs muito deplorávc15', correndo m'clusive perigo de suicídio, mcu “s¡m'” para atendê-la seria muito d1f'crente de uma sxm'ples m'capacidade para defender meus próprios d1r'eitos, seria uma ação de amor ao próx1m'o e, além dls'so, uma obrigação ética de mmh'a proñssã0. A renúncia a uma noite livrc seria enlão o reflcxo de força m'tcrior, cnquanto que a ms'ls'tência no meu tempo de folga revelaria apenas fraqueza m'terior. Por outro 1ado, também podcria ser que, com seu comportamcnto, a mulher quissessc apenas furar a lista dc cspcra, colocando-me diantc de um fato consumad0, embora suas quetxas° sc mostrassem ma15' ou menos fútels'. Ncstc caso, meu “51m'” rea1mente deveria ser um “não”, e teria sido dito a partü de uma fraqueza m'terior, enquanto que uma negação seria justlñ'cada. Do cxcmplo, podemos concluü que nem scmprc somcntc a ansíedade em sx,' ou seja, 0 próprío estado emocional, é 1m'portante, mas também o objeto da ansiedade c a finalidadc da sua superação. Estas reilexões nos ajudam a responder à pergunta sobre quando uma ansiedadc é reahs'tica. tcndo, portant0, uma função protetora, c quando uma ansiedade é 1r'realística, tendo então uma função patogênica. Quando for possível derivar algum sentido da ansiedade, seja uma admoestação, uma 1ição, um convite para umestüo de vida d1f'erente, ou sxm°plesmente uma advertência para tomar cuídado, não se trata de superar a ansiedade, mas de entcnder scu sigmñ'cado para efetuar uma correção no oomportamento. Quando, porém, nada que tcnha sentido possa surg1r' a partk da ansiedade, quando cla somcnte acarretar uma vida mals' d1f1"c¡l', uma hm1"tação da liberdadc de mowm'cnto c de dec15'ão, um ônus para as rclações m'terpcssoals', ou até um proccsso de ncuroüza'ção, a ansiedade representa um verdadeüo desaño para o espm"to humano, o qual não prccxs'a agüentá-la passivamentc, mas pode opor-se a ela.

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com razão, porque toda m'tcrvcnção cnr'úrgica tem scus ns'cos. Porém, também não podemos nos esquivar da cirurgia se ela for nccessária. Ou tememos por um membro da família que está optando por um cammh'o errad0; é uma prcocupação 1'gua1mcntejusuñ'cáveL embora gcralmentc nada podemos fazer para dctê-lo. A antecipação m'terior de eventos 1m'agináve¡s' que permile ao homem, como um ser espüitualmcnte privücgiado, olhar para seu futuro, cmbora seja apenas umfuturopossível e não 0 futuro que ñnalmcnte tomar-se-árealidade, acarreta o pressentimcnlo que tcmos dc muitos eventos negativos, os qua15' podem v1r' a aconlccer sem nossa própria m'tervenção. Aqui a qucslão sobrc o sentido sc apresenta sob uma ótica d1f'erente. Assm' mesm0, também ncstc caso, se for comprcendida corretamentc, a ansicdade contm'ua tendo uma função protetora. Pelo mcnos, ela protege contra os 1m'prcv1$'los do destm'o, contra um choque repenün'o diante de um evcnto dramático. Na ansiedade precedcnte, estc cvcnto praticamente já tcvc que scr enfrcntado, as conseqüências funestas já foram avaliadas c como que m'tegradas à própria ems'tência, a pcssoajá se oonformou um pouco com algo que a1n'da ncm aconteceu. Quando o evento acaba acontccendo na reah'dade, cspüitualmentq de alguma forma, parcce fam11i'ar, cmbora emocionalmcntc a pessoa tcnda a se rcvoltar contra clc.

Exam1n'emos 1m"cialmente a pnm'elr'a possib111"dade, para dcpo¡s' nosvoltarmos ma15'detalhadamente para a segunda, que ms'pn"a mals' cuidados.

Rcsumm'do, podcmos duc"r que, em qualquer caso, uma ansiedade reahs'tica, ou seja, adcquada à respectiva situação, tcm uma função protetora, não 1m'portando o fato de podermos, ou na'o, fazer algo contra aquüo que tememos. Se pudermos fazer alg0, é evidente que devemos fazê-lo; sc nada pudcrmos fazcr, pclo menos podcmos nos prcparar m'teriormcnte para aquüo que possa ocorrer. Se o objeto da ansiedade se tornar rcaL cstarcmos armados; caso comtrário, aceitaremos com prazer a dádiva da alegria e do alívio. Assm,' quando a ansiedade reahs'tica não puder ma15' corrig1r' nosso comportamento, poderá pelo menos am'da corrigu-' nossa atitudc, o que também tem seu sentido na vida humana. Não tcnhamos, portamo, mcdo da ansiedadc, p015', por ma15' cstranho que possa parecer, ela, por sua natureza, é um benefício para nósl

st'scmos que uma ansiedade reahs'tica é aquela que protegc. Por exemplo, se alguém, ao hm°par os vidros da janela, sentü medo de se dcbruçar cxccssivamente para fora, devcria ouvü sua voz m'terior. E quem tivcr mcdo de ñcar reprovado num exame, que trate de cstudax previamentC. Até estc ponto, tudo parece claro. E se for um mcdo rcahs'tico de algo que não cstivcr sob nosso próprio controlc? Temos mcdo de nos submetcr a uma cu'urg1'a, ccrtamcntc

A situação é d1f'erente no am^bito das ansiedades m'eal.ísticas, 1rr'acionals', exageradas eneuróticas; e, cm nossa cultura, mf'chzm'ente todos somos muito suscetívels' a tals' ansiedades. Da aranha, que cruza nosso cam1nh'o, até o extcrmínio da humam'dade, que nos amcaça no honz'onte do século v1n'te, da ansiedadc do día segum'te até as angústias exktcnciak que perpassam toda nossa vida, conhccemos todos os matlze's dc ansiedades patológicas. Embora estas

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Qual foi cnlão a reccita~patentc quc aparcce em ambos os relatos? Não há fuga, ao contrário, a qucda é produzida cm pcnsamento, e tcnta~se fazer uma competição para ver quem treme ma15'. Intemamente, som'-se de si próprío, e, de repente, a ansiedade se reduz a um m'vel reahs'tico, dcntro do qual assumc novamentc sua função protetora, c ex1g'e cautela, sem t1I'ar a pessoa de seu eqml1"brio. O método aqui empregado parece relativamente 51m'plcs, mas não é tão fácü de ser posto em prática, conforme cada um poderá constatar em si próprio. Chama-se “1n'tenção parado ” e se basela' no fato de o homem scr uma criatura paradoxaL o que nunca encontrei tão bem expresso como numa poesia de Wolfgang H11'b1g,' que dJZ': Vocês mc constrwr'am uma casa, dexx'em-me começar uma nova. Vocês colocaram cadeüas nos quaItos, façam bonecas sentar nas cadeu'as. Vocês economlzar'am d1nh'eu'o para m1m', rnas eu preñro rouban Vocês me prepararam um canunh'o, eu preñro abru' um tnlh'o no mato, ao lado do cam1nh'o. Sc vocês me dlss'ercm para 1r' sozmh'0, n'ei com vocês.

V1k'tor Frankl, cujo método da “m'tenção paradoxal” tornousc mundialmentc conhccido, usou com succsso csta lática também cm casos dc graves neuroses de ansicdade c ncuroses compulsivas, oricntando os pacicntcs para quc descjassem ansiosamente, c dc forma exagerada, aquüo que exagcradamenlc temíam; ambos os exageros se neutrahzam' rec1°procamcnte, chcgando ao ponto 0, possib1h"tando uma vida normal com uma ansicdade que tenha sentido, mas sem ansiedades que nâo tenham sentíd0. No caso, a origem dcssas ansiedadcs não faz muita d1f'erenga', c 1s'lo é muilo bom. Hojc sabemos que as várias causas - fns'icas, psíquicas, genélicas, educacionaxs' e sociaxs' - responsávexs° pelo mundo de emoçõcs c vivências do ser humano cstão m'terligadas como que num novelo m'cxtricávcl, formando uma rcde dc ações e rcaçõcs muito mals' complexas do quc haviam sído nossas idéias m1"cia15' sobre uma causaüdade lm'car no descnvolvxm'ento do homem. Jama15' scrá possível segmr' um temor 1rr'aciona1 até suas ul'tun'as raILe"s; o que é possível, porém, é 1m'pcd1r' seu crcsam'cnto através de uma obstmação saudável e fazê-lo murchar mediante um “ns'o que coloca o tcmor à dls'tan^cia”. Ê 1n'acreditável o podcr curativo do hum0r! Uma ansicdade a qual podcmos parodiarjá não é ma15' uma ansiedade, pclo mcnos ela não maJs' causará danos! O humor é um potencial espüítual do homem, que está à d¡s'posição somente dele, pons' nenhum amm'al ri. Quanto às neuroses, o humor certamente pode ser a melhor rcsposta espiritual para dores dc toda espéde, nerv0515'mos, prcocupações excessivas c a tendência para dramatlza'ção. Semprc quc o humor é

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Qual a qmn'tessência destas duas h1s'tórias? Ouv1m'os sobre duas ansicdades cxagcradasz o medo de cak na cscada com a bandeja na mão, c o mcdo de scr rcprovada num cxamc un'portante. Ambos os eventos temidos são possívexs', mas pouco provávens° ncslcs casos, p015,' espccialmcntc com uma carga dclicada, dcsccmos uma escada com extrema cautcla, c, quando estudamos bastantc, como aquela aluna excelcntc, também não somos rcprovados nos exames. Tachemos cntão ambas as ansiedades como “1rr'eahs'ücas”. Juntamcnte com esta classxñ'cação, também vamos rotulá-las automaticamente como “pcng'osas”, cspccialmente se clas sc ñxarcm como atitudcs de expectativas ncgativasz a cxpectativa de ca1r' podcrá tornar os pés tão ms'eguros, que, de fato, podcrá ocorrcr uma queda; da mesma forma, a expectativa de tcr esquccido toda a matéría por causa da añição podcrá dar aquele “branco" na mem6ria da aluna.

Embora suspeilc que Wolfgang Hübig, ao cscrcvcr csm linhas, queria sc rcfcnr' à “juvcnludc atual”, sua pocsía cxprcssa algo fundamcntal sobre o scr hummowo homcm ama a conlradição. Ama-a a tal ponlo quc sc contradü até a si própn'o, c 15'to rcprcscnla uma oportunidade terapêuu'(,a'. Sc alguém cstivcr num cstado dc ansíedade, refleür'á sobrc todos os argmmcnlos a favor dc rcalmcnle não precxs'ar senür' ansiedade, mas, a551m' mcsmo, conuhua scntm'do-a1¡,-Sc, porém, ele ñzer o contrário c descjar quc, justamcmc aquüo que tanto tcme, acontcça naquela hora, cntão elc sc lcmbrará de todos os delalhes envolvidos nesle possível aconlecimento - cle considcrará tudo aquüo ridículo. O pcnsamcnto “Entã0 lcvc um tombo bcm bonito!” 1m'cdiatamcnle acionou o cspírito de contradição da mulher com a bandeja, quc, dc rcpcnte, achou sua própna' 1m'agem do tombo muito engraçada e, a scguu', foi capaz dc superar seu mcdo exagerado com um sorrls'o. O mcsmo cfeito tcve a Erasc “Agora vamos tremer até a exaustão!” sobrc a aluna amedrontada, quc ñcou calma no momento em que deveria trcmcr.

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Para mmh'a surpresa, percebi quc a tensão da aluna se desfcz quasc que ¡m'cdiatamente, e quando depoxs' cntrou na sala de examc parccia calma c sabia rcspondcr bcm às perguntas feitas. A1n'da me lcmbro quc cla teve um “cxcclcnte”, como avaliação ñnaL

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mostrou um dcsenho quc ela fez; era uma pcqucna ñgura cncolhida no cha'o, com a cabeça apcrtada conlra os joclhos, cxprcssando abandono c dcsampar0. Atrás da ñgura aprox1m'ava-sc, voando, uma enormc ave de rapm'a, com largas asas ncgras, o bico pontudo d1r°ecionado à nuca da ñgura encolhida, como se quiscssc dcspedaçá-la no momento segum'te (veja à página 163).“Esta sou eu”, dlss'c a pacienle e mostrou a ñgura encolhida no pach “c a avc é o protótipo das m1nh'as ansiedadcs. Ela me ataca pclas costas e nada posso fazer contra ela; cla é mms' forte c mc dcstrói!”

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Aqui gostaria de ms'cr1r' o exemplo anunciado que trata de uma mulher que conscguiu enfrentar seu destmo de uma maneu'a corajosa. Desde sua 1nf'an^cia sofria dc diversas ansiedades, especialmentc o temor ante qualqucr situação nova que pudesse surg1r' e para a qual não sc scntía preparada. Uma viagcm, uma mudança na vida proñssionaL ou uma alteração no seu círquo de am1g'os, eram suñcientes para que ela “ñcassc fora de si” c, como conscqüência, não consegma' ma15' comer, ñcava desamm'ada e 1m°ag1n'ava as ma15' terrívels' ccnas quc pudessem acontecer. As suas fantasias tmh'am às vczes até um caráter absurdo. Por exemplo, após por um período dc tempo maior, atormentava-a a idéia dc ter atropelado alguém sem pcroeber; às vms ela se de1xa'va levax pela ansicdade e voltava a pcrcorrer o mesmo trccho da estrada, mas naturalmente nem havia sm'al de ac1'dentc. Vcr1ñ'camos aqui, muito claramente, como a 1nÍ1'uência pcrniciosa da expectativa ncgativa cstá associada à coação extorsiva da ansicdadez a paciente sabia muito bem que, na rcalidade, jamals' atropelaria um pedestre sem perccbê-lo, mas assm mesm0, de vez em quando, voltava para trás para dls'so se ccrnñ'car. Contudo, a segurança que esperava consegmr' com cste proced1m'enlo era traiçoelr'a, po¡s' se cedermos à ansiedadc 1rr'eahs'tica, nós nos entregamos a ela totalmente. Quanto mals' a mulher voltava para trás, parajustamcnte procurar suas supostas vít1m'as de atropelamento, mals' ms'egura ñcava quanto ao fato dc talvcz ter dcma'do de ver suas vít1m'as 1m'agm'árias na segunda vez que percorria aquele mcsmo trecho da cstrada, e maxs' forte senüa a prcssão para fazcr am'da uma tcrceüa viagem de controle. Podemos 1m'aginar facxlm'cnte que um paciente envolvido em tals' reflexõcs m'acionals' não maxs' encontra sosscgo, nem na rua, ncm cm casa, c se d11°accra com estas torturas desnecessárias que mñ1"gc a si própri0.

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coragcm para conun'uar enfrcntando as própñas ansíedades m'teriores, para não ma15' fug1r' delas, mas s¡m'plesmenlc não ma15' leválas a sério c não mals' obedeccr à sua pressão. Conheço um homcm que, por muitos anos, sofria de uma fobia de contamm'ação como csta e que hoje d.12' com orgulhoz “Por m1m,' as bactérias e vírus podem mf'ectar meu corpo todo, dc c1m'a para ba1x'o, mas na mlnh'a alma não cntram maxs'. Lá cxrs'te paz, e csta não dcxx'o t1r'ar por idéias compulsivas ridículas.” Esta não é uma declaração corajosa?

Quando esta mulher m1"ciou seu Lratamento com1g'o, contoume quejá sc submetcra aváriastcrapias e quc também teve períodos de melhora, mas, por ocasião dc qualqucr mod1f1'cação em suas c1r'cunstan^cias de vida, as ansicdades sempre se man1f'estavam novamente, e ela não sabia ma15' o que fazer contra clas. Também me

“Há algo em você que cla não vai poder destruu"', rcspondL “e ls'to é a d1m'ensão espm"tua1 presente em todo ser humano. A ave de rapm'a dc seus pesadelos poderá revolver suasw emoções, podcrá hum11h'á-la c lcvá-la a comportamcntos que você mcsma não aprova Porém, as forças csp1r'ituals' saudávc15' do seu eu são m'vu1nerávexs', e com sua ajuda poderá se posicionar acima da ave dc rapm'a c soprar na sua plumagem, dcsarranjando-a, c ela ñcará sem saber o que está lhe acontccendo! Porém,~ para ls'lo devcrá ñcar cm pé, v1r'ar-se e cncará~1a de frcntc, e não apenas ls'to, devcrá atraí~la para junto de si, com os braços abertos, c apertá~la contra seu peit0. Você vcrá que cla se transformará numa avezmh'a bem comportada e amável, que comerá das suas mãos.” A pacicntc ñcou mlúto surpresa com mmh'as palavras, mas um pnm'elr'o soms'o Um1"do ll'umm'ou seus traços.

Dcp015' cxph'quei-lhc o método da m'tenção paradoxal c nós competíamos para ver quem conscgukia fazer as írases mms' cômicas comreferência a conteúdos de ansicdade que em dado momento aparecíam A paciente tmh'a uma série de boas idéias; por exemplo, ela decidiu d12'cr as segmn'tcs palavras diante de novas situaçõcsz “Não estou ncm um pouco prcocupada em enfrentar bem a nova situação. Sou o maior fracassado dcsle mundo c quero contm'uar sê-lo. Quem sabe um dia emrarei para 0 livro de recordes de Gumn'ess!” Ou, quando se tratava da idéia patológica de ela tcr atropelado alguém sem sabê-lo, ao chcgar em casa, sentava-se tranqull"'amente numa poltrona c dxzn"a para siz “Bem, cspcro ter apanhado várias pessoas de uma vez, assm pclo menos hoje já dei m1nh'a contribuição para o problema da superpopulação.” A pacicntc naturalmentc sabia muito bcm quc cstes monólogos cheios de humor não eram para scr levados a séri0, mas eles a ajudavam a também não mals' levar a sério suas ansiedadcs absurdas; mas, amm'a de tudo, tüaram todo poder quc a ansiedade t1nh'a Lido sobre ela, po¡s' se ela desejava fracassar ou atropelar alguém, do que devaria cntão ter mcdo? Se, cntão, cla nada precxs'asse tcmer, cia também

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Um dia, quando nossa tcrapia já cstava quase chegando ao ñm, ela trouxc um novo desenho que fez. Mostrava uma pequena clcvação onde uma ñgura estava sentada numa base ñrme e sólida, como num trono. Expressava orgulho, calma, scrcnidade. A figura estava com a cabcça erguida, e nas mãos lrazia dons' pm'oéls' e uma palcta multicolorida. Ao seu lado cstavam quatro latas de tm'ta de cores vivas. Contudo, o mals' surprecndente no novo dcsenho eram as avcs, quc agora cram duas. Uma novamentc era a enorme ave de rapm'a negra, que desta vez tentava sc apromm°ar da ñgura pela frente, apontando 0 bico añado para seus pés,' e d1r'etamente à frente da ñgura cstava uma segunda ave, clara, bnlh'ante, com plumagem mullicolorida, quc parecia ter saído dela, com asas abertas, o bico levantado para o céu (vcr pág1_(›4). “Esta sou eu agora”, d15'se-mc a mulher e apontou para a ñgura sentada, “agora sei como domesücar aves de rapm'a. É prems'o apenas convidá-las gentllm'ente paIa uma sessão de cmbclezamcnto e pm'tar suas penas de corcs vivas, então elas terão uma aparência tão cômica que ñcam com vergonha e vão embora. Ulüm'amente nem têm mais tido coragem de se apromm'arem de m1m'...” e quando dls'se 1s'to, ria e chorava ao mesmo tempo c eu participci de sua alegn'a por ela ter conscguido vencer a maldição da neurose de ansicdade de forma tão heróica. Certamcnte, de vcz em quando tcrá alguma idéia 1m'buída dc uma ansiedade 1rr'eah'stica; contudo, não mals' cntrará cm pam^'co por causa dela; tüará suas ferramentas da m'tcnção paradoxal e pm'tará de cores vivas mals' algumas penas da ave, 0 que levará a ave a fug1r' apressadamente.

humilhaça'o. A ansicdadc humilha uma pcssoa, mas na vcrdadc é a própria pessoa quc sc dexxa' humühan por recusar uma liberdadc que a1n'da possui. V1k'tor Frankl assun' se cxprcssa a cstc rcspcitoz1 “Em úIUm'a anáhs'e, o comportamenlo humano não é ditado por condiçõcs que o homcm cncontra, mas por dccm'oe's que toma. Qucr saiba ou não, é elc qucm decidc, sc cnfrenta cstas condições, ou cedc a elas; cm outras palavras, clc decidc se sc delxa' determm°ar por clasL e em quc grau.” ~n

não fracassaria, ncm causaria acidentes de tranm^10 dc um tipo tão cstranho quc só mesmo podenam' ter sído pcsadelos. A551m,' a paciente não só aprendcu succssivamente a lidar com suas ansicdades; também aprendeu a lcvar uma vida com mals' liberdade e cntusms'mo, a ter menos preocupações m'útels' e a scr mals' segura dc sx,' diante de quaJs'quer mudanças no scu cotidiano.

Antes da Terapia

Ansiedades mfun'didas, compulsões, dcpressões e estados dc desespcro são dcsaños para o espm"to humano quc._ cm u1't1m'a anáhs'c, sópoderão scr rcspondidos esp1r'itua1mcnte ao cnfrcntá-los, colocando-se o homem contra cles e acima deles. Se ñzermos ls'to, conscguu'cmos uma reahza'ção grandiosa, da qual podemos nos orgulhar - orgulhar no mclhor scntido da palavra - e estc “orgulho esp1r'itual” nr'ará o poder da doença. Na realidade, mngu'ém precns'a se delxar' humllh'ar pela ansiedade, emborapense que seja obrigado a se rebmxar' díante dela. Com 15'to chcgamos à terccu'a caractens'tica quc sempre acompanha as ansiedades 1rr'acionals', que é a

A hum11h'açã0, que dcriva dc uma ansiedade m'apr0priada, reptesenta a segmn'te conclusão ñnalz “por ter medo, não sei fazcr islo ou aqu1l'o...” ou: “sou mcdroso e por 1s'so não sou capaz d¡s'so ou daqull'o”. Este, porém, é um soñsma neurótico falso, p01s' o saber e a capacidade não são mt1'uenciados pela ansicdade; o que torna a pessoa m'capaz é exclusivamente a “crença de não poder”. Certamente, há enfermídades no am^bito psíquico, especmlm'cnte aquelas dc ordem psicótica c de base cndógcna, que reduzcm consideravclmentc a capacidade de uma pessoa,' a neurosc, porém, nao' pertence a cste grupo, e muito menos a ansiedade excessiva dc certas pessoas sensívc15', quc são consider'adas como “normzus'”. Podemos sentü claustrofobia numa loja de departamemos e fugu' dc lá, mas também podcmos scntü esta mesma claustrofobia e termm'ar nossas compras, embora ccrrando os dentes. Nos do¡s'

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casos, a conta nos é aprcsentada depons': se fug1rm'os da ansiedade, ela sempre nos alcançará, p01s' é mals' veloz quc qualqucr fugitivo; se, porém, nós resns't1rm'os a ela, ganhamos a luta e sa1r'emoss dela como vencedores. Surprecndcntemente, podemos ter medo e scr corajosos ao mesmo tcmp0; também 0 mcdroso tcm a liberdade para a coragem. Talvez seja até a dcmonstração dc uma coragem maior fazcr algo com mcdo, mas fazê-lo, do que fazer o mesmo sem medo. Pode ser quc os medrosos tenham uma maior oportunidade para o heronsm'o do que os heróls'...

Clientez Meu pa1,' por exemplo. Terapculaz Exalamcnlc como elc consegue fazcr ls'lo? Clientez Ele fala comigo cm voz alla. Terapcutaz O quc acontecc quando elc faz ls'to? Clicntez Então não consígo d12°cr mzus' nada de tanto mcdo. Tcrapeuta: O sr. tcm cnlão medo dc scu pai. E estc mcdo o sr. transfcrc cntão para outras pessoas?

Clientcz Slm,' por lss'o evito quakquer contatos scmprc quc possfch Terapeutaz Provavelmentc o sr. se sente muito só. Clientc (soluçando): Não tcnho nm'guém no mundo. › Í 1

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Depois da Terapia ' Cordiais agradecimentos à paciente pela doação das fotos de seus quadros que, como eIa mesma diz, devem dar aos leitores em semelhantes situações

coragem e esperança.

Contudo, 0 fato de o medroso a1n'da tcr a liberdade para a coragcm é um reconhecun'ento recente da psicologia, que antcs de Frankl era pratícamentc desconhecida Por 15'so, até agora a psicologia fez em esforço enorme para espemñcar muito detalhadamente as possívc15' ansiedadcs patológicas dos pacicntcs, fazendo com que, assun', os pacientes se sentls'sem cada vez com menos coragem, parccendo corroborax sua própria hipótese fatahs'tica de “nã0 p0der agü de forma d1f'crente”. Exammemos o segumtc diálogo brcve entre um clicnte c seu terapcutm Clientez As pcssoas me amedrontam Terapcutaz Quc pessoas?

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Imag1n'emos o que 0 cliente possa pensar ao voltar para casa dcp01$' de um dlál'ogo terapêutico como esle. Suponho que ñcará muito Lr'ritado com o pai, que, pelo v15'to, é considerado o causador dc sua mf'eh'cidade. Além disso, creio que tcrá muita pena de si próprio por não ter contatos m'lcrpcssoals', para os qua15' não se sente capacítado por causa de sua ansiedade. Será que cste clicntc acrcditaria que, apesar de tudo, seria capaz de 1m"ciar contatos satls'fatóríos com outras pessoas, que até scn'a capaz dc falar abcrtamente com seu pai resoluto, se snm'plcsmente não cedessc à sua ansiedade 1n'lerior, mas tentasse superá-la? Reccío que ele não saberá d1$'so, mas esta é a verdade. Tantas vezes ta15' atitudes corajosas se man1f'estam em situações extremas, quando pcssoas blo~ queadas superam facnlm'ente suas 1m"biçõcs, porque dc repente a situação o exige dclas. Assm1', sugu'o estruturar o mesmo diálogo de forma d1f'crente por parte do terapeuta; por excmplo, da segum'te manekaz

Clicntez As pcssoas mc amedrontam. Terapeutaz Todas as pcssoas? Também os aborígmcs da Austrália...? Clíentez Não, não são todas as pessoas. Terapeutaz QuaJs' as pessoas que não 0 amedrontam? Clientez As crianças, por excmplo. Tcrapeutaz E por que não? Clientcz Porque não gritam comigo.

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Tcrapeutaz O fato de alguém falar muito alto com o sr. pode bloqucar sua própria d1s'posição de falar? Clientc: Snm,' é exatamente 1s'to que acontece. Terapeulaz Que pena, c sc alguém um dia lhc ñzer uma declaração dc amor em voz alta...

Cliente (r1n'do): Neste caso, acrcdito que vcnceria o bloqueiol Imagm'emos novamcnte o quc um clientc possa pcnsar ao voltar paxa casa dcp01s' de um diálogo terapêutico deste tipo. Não seria correta a suposição dc que, após cste diálogo, cle estaña ma¡s' conscientc da liberdade que am'da está à sua d15'posição, apcsar dc seus bloqueios, do que apÓs o diálogo anterior? É até possível que ele próprio comccc a se achar tolo, por se denxar' 1m"tar pela m'tensidade de uma voz, c tentc vencer sua fraqueza. Seria pclo menos um proced1m'ento com ma15' possib111"dade de sucesso do que a atribuição de culpa ao pai e a automms'craça'o.

fato dc renunciar à sua libcrdade, mas, sobretudo, no ímo dc clc não se sentk livrc para fazer aquüo que acha ter scntido. Por outro lado, o surg1m'ento de um projcto, que tenha sentido, poderá trazer dc volta a liberdadc de superar quals'qucr rcccios, c reahzar' o projclo. /Conformc m'diquei no 1ní'cio, a ansicdadc cslá a scrviço do homem, ,/ mas nunca o homem deve se tomarservo de sua ansiedade. O homcm \\ precxs'a permaneccr senhor dc si mesmo, para depoxs' dcdicar~se a

uma tarcfa plcna dc sentido; somente assm' podcrá rcahzar' suavida.

Lcmbremos cntão que, apcsar de scnhrm°os ansicdade, podemos ser corajosos. Não cstamos nos refcrm'do aqui à coragcm decorrente do desespero, mas à coragem de um ser que entende a ansiedade oomoumdesaño à sua capacidade cspm"tual, e accita cstc dcsaño.

Uma vcz atcndi umajovem, que 1m"ciou nossa conversa dlze'ndo: “Não consigo saü de casa.” Entrc 100 terapeutas, 99 dcles teriam perguntado então: “Por que não?” ou “O que a segura em casa?”, tendo como hipótese a pressão dos pa15', o ciúme dos 1rm'ãos ou algo scmelhante. Eu, porém, pensei em outra coxs'a. Peguntcí à jovem: “Se pudesse 1r' embora, para onde m"a?” E vejam, ela não tlnh'a a mm1m"a idéia sobre aonde gostaria dc 1r'. Dci-lhc então a tarcfa de reñeür' até a prónm°a sessão paxa onde, añnaL gostaria de 1r', se pudcsse sun'plcsmente delxar' a casa dos pa15' por um período mals' prolongado; também lhe assegurei que, uma vez que surgls'se um descjo oricntado para um objetivo, sua capacidade de rcahzá'-lo também sc man1f'estaria 1m'ediatamentc. Na próxml'a sessão, cla sabia para onde gostaria de 1r': nas férias queria passar duas semanas oom sua tia no campo. Redig1m'os oonjuntamente uma caxtmh'a para a tia, tclcfonei para os pals' da jovem, e quando as férias se aproximaram, preparei-me para Ihe dar coragem de ams'car o pcqucno passo para fora da casa dos pals'. Ela, porém, não aparcceu para a últIm'a sessão, po¡s' não agüentou mals' csperar, e d015' dias antes da data marcada já tmh'a ido viajar para a casa da tia...

Vemos que não foi necessáño m'vest1g'ax detalhadamcnte as ansiedadcs desta jovem. O quc, porém, foi extremamente nocessá~ rio, foi mostrar-lhe a liberdade que possuía, apesar de seus receios, e como ela pudessc un1r' csta liberdade a um objetivo que tivesse sentido. A grandc humllh'ação do homem que cle próprío se mfhg"e, no dccorrer de suas ansiedades 1rr'eahs'ticas, não con515'te apenas no

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Só exkte uma c015'a pior do quc a dor por um sofr1m'ento que nos foi causadoz é a dor de ter provocado um soEnm'ento. Fricdrich von Schmer dcsignou a culpa como o “mal maior”, e creio quc não tenha exagerado com csta añrmação, embora muitas pcssoas atual~ mente gostariam de abohr' o conceito de culpa. Porém, ls'to não é tão fác11' assnm,' pms' um mal comctido e a culpa decorrente “pesam na alma” de uma pessoa por longo tempo, às vezes até a morte. O anseio pelo perdão, e a esperança de uma rernlss'ão da culpa, também se mamf'estam em todos os mitos de redenção, como rcflexo de um anseio básioo da humam'dade. Além dls'so, a culpab1h"dade do homcm é considerada por quase todas as rcllg1"o'es como a ong'cm da dcsgraça humana, sun'bohza'da dc divcrsas manckas através da “expu]são do parals'o”.

A psicologh d15'punha de um um"oo meio para o restabclec1m'ento da condição paradls'1a'ca da m'ocência, sob a forma de um “atcstado de dependência” para o homem. Se a psicologia o declarar cientlñ'camcnte como depcndente das condições da sua vida, pode também considerar todo seu comportamento como condici~ onado, c todos os seus sentxm'entos de culpa como ncuróticos. Duvido que este seja realmentc o cammh'o para o parals'o; é muito mals' o cammh'o para a neurose. Apenas um ncurótico acredita, ou qucr acrcditar, que é condicionado pelas cu'cunstan^cxas' do ambicnte, 0 que parece lhe dar um alívio. Uma pessoa sa,' porém, jamals' acredita mss'o, p01s', bem no fundo, sabe da sua “m'condicio'nah'da-

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Eventos como estes são comun5; não podemos delxar' de ver, porém, que não há decisões forçadas quando se Lrata de pcssoas adultas c sadlas'. Ao se tomar dems'ões, há h'berdade, e se houver realmente pressões, não há mals' poss1'b1h"dadc dc tomar decxs'ões. Qualquer dec¡s'ão sempre pressupõe uma situação de escolha, e onde ex15'tem possíbxh"dades dc escolha pode ser fcita uma escolha errada, podem ser feitos crros c pode-se m'correr numa culpa. Trata-se, enta'o, da própn'a dccEão e da própria culpa. Se, por outro lado, não houvcr possibmdade de cscolha, nunca seria uma dcc¡s'ão própria, c sc ocorrer algo negativo, jamals' a culpa é da própria pessoa.

Portanto, na psicologia não prec1$'amos de hípóteses dc dapendência, mas de cn'tén'os de dzs'nn'ção para a t'dent¡ft'caça'0 de sentimentos de cupla Jus't1jí'cados e m'¡us't¡jí'cados. Na prática, ambos

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No fundo, qualqucr dec15'ão, 1n'dcpendcntemcntc de como se formou, é uma deas'ão própria, para a qual o úIUm'o “51m'” é dado pela respectiva pessoa. Às vezes, por exemplo, casaxs' divorciados que procuram orientação d1zc'm: “Nosso casamento tmh'a mcsmo que fracassar porquc foi reahza'do somcntc pela prcssão dos nossos pals'.” Não há dúvida dc quc os pa15' possam cxcrccr prcssão, mesmo em ñlhos adultos. Contndo, uma situação como csta a1n°da enccrra possib1h"dades de opção para pcssoas maduras e emandpadas. Sc a pcssoa não cstiver convcncida de que uma vida a d01s' seria adcquada, não prems'a ceder à pressão do ambientc; c, em nossa cultura, a geração de adultos jovcns de hoje, em geraL não se dmxa' mesmo m'tlm1"daI por “pals' m'tromls'sores”. Quando, porém, m'vchg'a-sç mclhor a situação, geralmentc ap_arecem outros fatores, por exem~ plo, uma casa, cuja escñtura só seria passada medíante 0 casamento; ou a rejeição social, quc prcc1s'aria ser cnfrentada, se sxm'plesmcnte passassem a viver juntos sem casar. Eles, porém, querem tudoz ñcar juntos, ter casa e aceitação soc1'al, c assun' optam pclo casamcnto. Não um casamento por amor, mas por cobíça de ter tudo, para segmr' o cammh'o mals' fác1L' para não rcccber mcnos que os outros, etc. Houve um “s¡m'” que foi dado, mas não o verdadcu'o “s¡m'” para o parccu'0; foi um “s1m'” qucstionável para vantagens próprias. E, quando depons' o casamento não dá certo, não pela m'ex15'tência do “s¡m'”, mas pcla falta de amor ao parccxr'o, a dcsm'tegração do casamcnto podc ser comodamente atribuída à pressão dos pals', que seriam os culpados dc tud0.

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2. A culpa como possibilidade para mudança de pensamento

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de”2 diante das condiçõcs que o ccrcam, sabc da sua culpab1h"dadc d1an'tc dc muitas dccàõcs quc tomou, e am'da vai tomar, no dcoorrcr da sua vida.

mf'ehzm'cntc sc mcsclam; além d1$'so, são d1f1"cels' de serem julgados objelivamente por uma pessoa de fora. Mas, ass1m' mesmo, é nccessário separá-los, da mesma forma que é 1m'p0rtantc ansiedades rcahs'ticas e u'rcahs'ticas, conforme dls'cut1m'os no capítulo antcrion Prcasam'os lidar d1f'crentemcntc com os sent1m'entos de culpa jusuñ'cados e m'jusuñ'cados. Há pessoas ms'eguras, melancólicas e com pouca aut0-est1m'a, que muitas vezes se sentem culpadas por algo pelo qual absolutamentc não têm culpa. E, por outro lado, conhcccmos um bom num'ero de pessoas que cometeram graves crros em sua vida, mas que não querem ou não podcm admitü suas falhas. Na prática chm"ca, sempre encontramos também a segum'te combm'ação: pcs~ soas quc reconheccm sua culpa por algo que ñzeram, mas quc, no mesmo ms'tante, cnumcram todas as razõcs pelas quaís não podcn'am tcr agido dc forma d1f'erente. É possívcl dcduzu' dcsta atitude que estão buscando uma conñrmação de sua m'ocência por parte do terapeuta. Por que Elo seria 1m'portantc para elas? Ccrtamenle porquc sentem profundamente uma culpa verdadcu'a, que não querem admitü nem perante si mcsmas. Ass¡m', como tcrapeutas, prec15'amos ter cuidado para não emítk 1n'discnmm"adamente estes “atcstados dc m'ocência”, que não 1r1"am rcsolvet o problcma de um delito verdadelr'o. Parece-me ma15' sensato avaliar as cücunstan^cias objetivas e eventualmentc ms'cr1r' “contrapesos” à culpa no dial'og0 lerapêutico. Se, por exemplo, um clíente dlz': “...não tratei bem a mmh'a mãe, também não sabia quc ela 1r1a" morrer tão de reâentq e que nunca mals' 1r'ía vê-la”, não rcsponderia, por cxemplo, “ lógico que o sr. não sabia d15°so, como poderia adivmh'ar que este scria o últh'o enconlro com sua mãc...”, p015' aSSIm' também não poderia apagar o fato de o clicntc “não ter tratado bem sua mãe”. Preñro de1xar' cm pé a culpa do “nã0 tê-la tratado bcm” c d1r1"a 51m'plesmentez “Sun', é uma pena que seu ul't1m'o encontro não foi agradáveL Mas certamente houve muitas ocasiões na sua vida cm que seus contatos com a mãe transcorreram de forma harmoniosa, não é ...?”

A segulr', gostaria de abordar a mancu'a dc sc lidar com os senüm'entos dc culpajusnjí'cados, que é especialmente d1f1"c¡l,' tanto na orientação de outras pessoa5, quanto na própria vida, que também não é poupada dc situações deste tipo. Quanto aos sent1m'cntos de culpa injustifícados, gostaríamos dc obscrvar quc são rclativameme fáccxs' dc serem tratados em síluação de terapia. Ou eles se orig1n'am dc um engano, ou de uma doença. No caso de um engan0, é prec15'o mostrar claramente ao paciente que a culpa só é cabível em situações ondc estão prcsentes a voluntariedadc e o conheci-

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mcnto das consequ"ênc1as' dc sua ação. Sc, numa rua mowm'cntada, uma criança m'espcradamcnlc corrcr na frcntc dc um automóvcl c o motons'ta não mals' puder frear, ele não terá culpa pelo acidcnte, por pior que cste tcnha sido. Trala-se, ncste caso, de um mf'ortúnio do destm'o, que precm'a ser accito como um sofnm'cnto m'cvitável, que tcm que ser supcrado através de uma corajosa atitude m°tema; não necessita, portanto, de um arrcpendm'ento no scntido de uma mudança de pensamento. No caso de uma doença, os senüm'entos de culpa m'jusuñ'cados devem ser tratados junto com os outros sm't0mas, de acordo com o quadro patológico.Sent1m'cntos de culpa 1rr'aciona¡s', de ordem compulsíva, se m'clucm na categoria daquelas ansiedadcs psíquicas que podem ser tratadas com sucesso através da “1n'tenção paradoxal”. Um sennm'ento de culpa 1rr'acional de ordem depressiva, por sua ve2, prems'a ser entendido com uma sensação equívocada, lcvando o pacientc a 1gn'0rar estas scnsações falsas através da “derrctlexão”.

sentlm'entos de culpa inj.ust1fí'cados

Íã í

/ surgem \

abordagcm terapêutica

de um engano l Esclarecxm'cnto do engan0, apontando seu caráter 1n'voluntán'o ou a falta de compreensão das conseqüências de suas ações.

de uma docnça l Iromzar' os senüm'cntos dc culpa oriundos de ansicdades; ignorar os senüm'entos de culpa oriundos de depressões.

Agora voltemos aos senüm'cntos dc culpajusttfí'cados, àquela voz mals' m't1ma' de toda pessoa, que nas horas ma15' sm'ceras e soütárias de auto-reflexão m'evitavelmente sc man1f'esta c busca no passado aqu11'o que não dcvcna' tcr sido delxa'do no passado. É aqucla vcrdade nua quc surgc quando desmoronam as hipóteses de dependênaa,' levantadas como proteção para dclegar a responsab1h"dade para o extcrion A úm'ca coxs'a a fazcr, ncstc caso, é a reparaçao".

Para orientar os espcciahs'tas neste senüdo, a logotcrapia 1n'vcstigou o amplo domml"o de reparações possívcxs,' c cncontrou três possib1h"dadcs dc como a culpa poderia psíquícamcnte ser

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elaborada. A pnm'c¡r'a é a reparação no' próprio objeto, a segunda, a rcparação em outro objeto, e a tercelr'a, através dc uma “mudança de pensamento”, o que praticamente equivalc a uma repaxação a “nível mora1”. Espccialmente a últ1m'a é uma idéia psicotcrapêutica m'comum, p015' ousa cntrar d1r'ctamcntc no campo da “cura rclígiosa da alma”; como, porém, poderíamos nos proib1r' de cruzax uma pontc que atravcssa um precipício? Tratcmos m1"cialmente da rcpaxação no 0bjeto, que é a ma15' ev1'dcnte. Espccialmcnte a reparaçao' no próprio objeto quc foi prejudicado é a maneüa ma15' 31m'ples e “mals' lógica” de extm'gmr' uma culpa. Por excmplo, uma pessoa tüou algo de alguém e o devolve; ou fez algum estrago e conserta-o; ou ofendeu um amigo e pede-lhe perdão. Este tipo de rcparação tem geralmente um preço adíciona.l, pons' exige uma certa humüdade ao confessar uma falta, ao pcdk perdão. Mas, em compensação, o senüm'ento de culpa desaparece totalmente. Além d15°to, dcsta reparação não resulta hum11h'ação, p015' a fraqueza, à qual se ccdeu, foi compcnsada por uma força ulterior.

de fallas 1r'remediávels', sem possib1h"dade dc rcparação d1r'ela, está muito d1mm"uída. Exammcmos por úlLIm'o o lipo de repaxação “mais 11'ógica”, que só pode ser entendida mctañsicamente, m45' quc, a mcu vcr, é extremamente preciosa: a modifzcaçâo de pensamento. A pcssoa quc se tornou culpada é responsávcl por algo sem possuü a 1ibcrda~ de para poder compensá-lo3. Ncstc caso, dcpendc de sua aütude m'terior, depcnde daquüo que ela pcnsa. Talvez a pessoa esteja m'ternada na Unidade de Tcrapia Intcnsiva de um hospítal, olha para sua vida, mas não tem ma15' tempo para fazer qualquer reparação. Talvez csleja na cela de uma prisão, e perdeu grandcmcnte sua libcrdadc de mov1m'cnto e ação. Talvez scja tão pobre ou dcñm'entc, que as possib1h"dades de fazer o bem sejam hm1"tadas. Porém, ela pode arrcpcnder-se e o arrepend1m'ento, dc alguma forma, anula a culpa. O arrepend1m'ento pcrmcia aquüo que aconleccu com o scntido dc quc, pelo menos, chcgou-sc ao reconhecimento do crro, e qualquer processo de reconheam°cnto é um proccsso de amadu~ recun'ent0.

A reparaçao' num outro objet0, a não ser aquele que foi lesado, é um pouco “ma1$' 11'ógica”. Além de ser “mals' üógica”, é também ma15' amarga, po¡s' somente se cogita desta solução quando a reparação no mesmo objeto não (mals') for possíveL Alguém cegou uma outra pessoa 1r'reversivelmente com um golpe - nunca mals' poderá restitmr'-lhe a v15'ão. Alguém seviciou uma criança que agora se tornou adulto - nunca poderá fazer desaparecer este trauma de sua mf'an^cia. Porérn, nm°guém nos 1m'pede de, em situaçõcs futuras, demonstrar cspecial consideração c atenção, de fazer prevalecer 0 bem onde antigamente 1m'peravam o ódio e o mal. Conheci uma mulher que conseguiu psiquicamente elaborar um aborto que pra~ ticara, accitando uma criança adotiva problcmática que n1n'guém queria. Sob scus cuidados, esta criança conseguiu se desenvolver bem. Esta não foi uma mancu'a barata dc aplacar o seu remorso, mas uma rcahza'ção louvável desta mulher, que deu à culpa, em que sentiu ter m'com'do, um scntido mals' profundo. Há assassmos que voluntariamentc se oferecem como cobaias para testes médícos, a ñm de retribmr' à humanidade um serviço que outrora delxar'am dc lhc prcstar, por causa de seu comportamento m'umano. Estas reparaçõcs em outros objetos exigem um alto grau de força e autodomíni0, mas têm um efeito muito saüs'fatório e curativo, não apenas por rcstituk à pcssoa a scnsação de valor próprio, mas também por aumcntar a sua scnsação dc valor da vida, a qual, cm dccorrência

“Amadurec1m'cnto” não sigmñ'ca auto-recnm1n"açõcs torturantes, de caráter masoquista. Trata-se muito mals" do reconhe~ c1m'ento do bem, que liberta a pessoa da m'ut111"dade de quercr mudar aqu1l'o, que não pode mals' ser mudado. A pessoa que “muda seu pensamento” por causa de uma culpa afasta-se um pouco do seu “eu” an'teri0r, ela não é mals' a mesma após ter mudado seu pensamento, tornou-se outra pcssoa, talvcz uma pcssoa melhor. E se esta mudança for possíveL a culpa e o sofr1m'ento dela decorrente não foram em vão, po¡s', à luz de um senüdo mais profundo, a culpa se transforma em metamorfose.

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sentlm'cntos de culpa1'ust1ñ'cados exigem reparação no mesmo objeto

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O dano será compcnsado, praticando~se voluntariamente o bem perantc a(s) vít1m'a(s).

num outro objeto

l

O dano será compensado, praticando~sc voluntariamcme o bem perante as não-v1'tun'as.

a “nívcl moral”

1

O dano pcrdc sua condíção dc náo tcr scntido, aLravés dc uma mudança dc pcnsamento, que lcva ao reconhecmento do bem.

Para 11'usr.rar que, da “tríadc trágicaz sofnm'cnto, culpa e morte” (Frankl), justamente a cupla pode marcar uma pessoa por toda sua vida, muito mals' até do que uma experiência de sofnm'ento ou um cncontro com a morte, gostaria de reproduzü um diálogo muílo comovcnte com uma paciente que atendi em meu centro de aconselhamcnto. A mulher, de aprox1m'adamente 60 anos, foi encaminhada para m1m' pelo médico da chm"ca dc uma estação termaL porque o estado psíquico dcploráveL pelo qual foi mandada para a chm"ca, não aprcsentou mclhora alguma. Desde então, tive algumas sessõcs dc terapia com e1a, mas 0 pr1m°cüo encontxo terapêutico, que gostaria dc rclatar aqui cm hnh'as gcrals', ocupou uma posiçãochave, po¡s' ncle a pacícnte conscguiu ser motivada para uma mudança cm seu pensamento. Para que se possa acompanhar 0 diálogo não só quanto ao conteúdo, mas também quanto aos scus proccd1m'cntos técnicos, farei comentários ao longo dele. D.X: Sm'to tanta ansiedade, parecc que algo está me apertando...

Iado, aofazer ts'to, havelia o perigo de estannos amb'umdo' a este fato um valor eIevado demats'; além dzs'so, como elafalou de um pnm'e1r'o casamento, deve ter havido um segundo, e então precu°amos nos pelguntar se seria bom trazer à tona tantas memórias em relaçdo ao pnm'ezro' palceim Decidi então fazer m'icíalmente um levantamento geral da vida desta mulher.

Eu: Pcnse bcm, exatamente do que tcm mcdo?

D.X: Não, pelo contrário, sempre gostei dc trabalhar (Conta a rcspeito de seus empregos).

D.X: Justamente 1s'to eu não sei. Não há motivo algum. Talvez o motivo esteja no passado... umpassado que na'o consigo suportaL Quando um paciente sofre de ansiedade, recomenda-se investigar do que ele tem medo. Se ele conseguir apontar um motivo, e se a ansiedade na'o estiver adequada ao motivo (p0r exemp10, medo de bacilos, medo de se machucar em objetos coxtantes, etc.), pode-se suspeitar de uma reaçao' neurática de ansiedade, para a qual o método da “m'tençao' paradaxal”poden'a trazer alívio. Se, porém, o paciente na'o souber de um motivo para sua ansiedade, trata-se de outra problema'tica, swpreendentemente, muitas vezes de uma problemática da consciência. Pelo menos, é algo que sempre deve ser m'vestigado mals' a fundo.

Eu: Há algo trágico no seu passado...? D.X: (1m'pctuosamente) Foi um mf'erno, um verdadeu'o mf°crno, com mcu pnm'elr'o marido. Só bebia e andava com mulheres - e depoxs' sumiu, s¡m'plesmente foi embora. Eu: Quantos anos durou o casamcnto? D.X: 14 anos.

Eu: E antes, antes de seu casamento, teve uma vida boa? D.X: Bem, mcus paJ5' ñzeram muito por m1m'. Mas nunca conhcci amor e calor humano. O casamento deles também na'o era nada bom. A551m' que term1n'ci a cscola, clcs mc mandaram para o trabalho. Mmh'a mna" mals' nova pod^c aprender um ofício, mas, quanto a m1m,' queriam que saísse decasa logo. Eu: Onde a sra. trabalhou?

D.X: Na fábrica. Dep015' na companhia de bondes, achei este trabalho m'tercssante. Eu: Então o trabalho na'o lhc dcsagradava?

Eu: Então seus pa15' talvcz na'o üvcssem tomado uma dec1sa"o tão crrada quando a mandaram trabalhar? D.X: Não, até que na'o... Ficamos sabendo, assim, que nao' só 0 casamento, como também a infância da paciente, na'0 foram épocas boas. E novamente haveria a possibilidade de fazer um trabalho íntenso de ñhvestigaçab psicológica”. Mesmo assim, nada do que aconteceu poderia ser apagado. A un'ica coisa a sermudada é a atitude dapaciente diante destes fatos. Foi 0 que tentei fazer neste ponto: tentar a mconcíliação com 0 comportamento dos pais. Eu: D. X., a sra. começou cntão a trabalhar ccd0. Também casou-se cedo?

D.X: Slm,' ccdo demals'. Mas cra o ano dc 1942, c nessa época mngu'ém sabia o que aconteceria no dia segum°te. Muitos homens mom'am na guerra; ao despedu'-se, nunca se sabia sc haveria um reencontro.

Nesteponto, poderíamos explorarintensivamente este casamento fmcassado, que certamente dezx°ou marcas na paciente. Por outro

Eu: Posso entender ls'to muito bem. Seu marido, porém, voltou da guerra. Será que as experiências da guerra o modücaram tanto?

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D.X: Certamenlc foi a551m'. De repentc, tornou-se oulra pessoa. Mas cm 1945 nasccu nosso Jorgc... (chora)

Eu: (após uma pausa) Jorgc é seu ñlho? D.X: Elc era 0 mals' velho... (chora) Até aqu1,' a paciente falou sobre situações penosas de sua vida, mas deu a impressao' depoder conviver com elas. Até a reconciliaçao' com 0 çomponamento do primeiro man'do parecia possível diante daqueles anos traumâticos da guerra. Porém, ao mencionar Jorge, deparamo-nos com uma violenta reação em0cz'anal.

Eu: Creio, d. X, que não é propnam"entc o casamento péssnn'o com seu prun'e¡r'o marido ou a mf'an^cia mf'chz' quc a añ1g'e tant0, mas há algo D.X: (sussurrando) O meu Jorge morreu aos 16 anos. Eu: Sm'to muito, d. X, esta realmente é uma dor muito grande para uma mãc! D.X: Já faz ma15' de 20 anos. Prec15°o superar esta morte; outras pessoas também oonseguem Além do sofn'ment0, a paciente também foi confrontada com uma morre muito trágica, com a morte de um de seus jílhos. Porém, como ela mesma dzz,' isto aconteceu há 20 anos atrás. Certamente, uma mae~ jamaispoderá aceitar totalmente algo assim, pois a ferida é muitoprofundm Neste caso, porém, ela não cicatnzo'u, como demonstram as Iâgn'mas. Por que nao'? Precisamos falar mais a respeito.

Eu: Algo assm' não se esquecc, d. X, mesmo que tenha acontecido há tanto tempo. Contc-mc alguma cons'a arcspcito descu ñlho, que cn°ança cra elc? D.X: (comcçou a relatar dc modo fragmentado) É justamentc ls'so! Ele era tão bom, não era como uma criança, cle não tevc mf'an^cia! Ele semprc cuidou do um'ão mcnor, praticamentc o criou; logo de manha,' já o lcvava paIa a creche, po¡s' eu era sozmh'a, mn'guém mc ajudou, precàava comcçar a trabalhar às quatro horas da madrugadq no correio, também trabalhava à tardc - naqucla época, a correspondênch am'da cra d15'tribuída duas vczcs ao dia... Mmh'a mãc não mc ajudou a cuidar do meu ñlho mals' novo, o serviço social também não ajudou, po¡s' lá me dxss'eram que, no caso de ñlhos lcgítlm'os, o pai prccns'ana' cuidar delcs, mas o pai sumiu, nem sabia ondc cle estava... Não tmh'a dmh'elr'o!

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Eu: Então a sra. tmh'a um outro ñlho, c scu marido a abandonou? D.X: Slm'. Em 1954, nasceu Marcos, e no mcsmo ano meu marido saiu dc casa e desaparcccu. Ele fazia ncgócios dcsoncstos, c a políciajá cstava atrás delc. E cntão ñquci sozinha com as duas crianças. Não sei o quc teria acontccido se não tivessc tido o Jorgc. E clc unh'a apenas 9 anos... Elc não tcvc m'fan^cia... (chora) Quando ocorrem relatos de pacientes com um canteúdo emocional tão fone, é preciso prestar atenção a certas nuanças para perceber o núcleo patogênica 0 sofrimento em si não faz a pessaa adoecer, ao contrân'o, pode até contribuirpara o fonalecimento miquico de uma pessoa. Somente se no sofrímenlo estiver contido algo quefaifeito “contra o sentido” ou “contra a consciência”, istopoderâ ter conseqüências neuronzan'tes na vida futura. Ao “atentar para as nuanças',' chamou minha atenção a sentença "Ele não teve infância”. Esta sentença se repetiu e parecia causarmais dor do que a frase “Ele morreu”.

Eu: A sra. realmente passou por uma situação muito d1f1"c1l,' meu Deus! Prec15'ava ganhar d1nh'cn"0 para suslcntar a famíha,' c seu ñlho de nove anos teve que cuidar do bebê. A sra. e seu ñlho mals' velho foram muito corajosos! D.X: (pára de chorar, seu relato torna-se ma15' coerente e até fala com um ccrto orgulho) O Jorge trocava as fraldas do bebê, dava-lhe comida, banho, sempre tmh'a paciência com ele, accitava tudo quc o lrma"o menor fazia. E o mcnor muitas vczcs cra endiabrado; uma vcz, por exemplo, elc mordeu o ümão na bamg'a da perna. Quando então falava: “Jorge, dê um tapa nele”, o Jorge só ria e d121"a: “Mamãc, elc a1n'da não cntendc.” Ele praticamente criou o 1r'mão menor e 15't0 foi uma ajuda muito grandc para mnn'. Mmh'a mãe nunca me ajudou, mas cla também morreu logo... Ma15' tardc, conscgui uma mãe de criação para 0 Marcos, já foi uma época melhor para nós. E então casci pcla segunda vez, para que os memn'os tivcssem novamente um pai; era um homem rcalmcntc muito bom, também gostava muito do Jorgc (sua voz começa a tremer).

Eu: (calmamente) O que aconteceu depms'? D.X: Aos 16 anos, meu ñlho contraiu poh'omíeh'te. Morreu dentro de três dias. Somente um anos dep01s' comcçaram a vacm'ar todas as crianças contra a pólio. Eu: Seu ñlho menor também correu per1g'o?

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D.X: Sxm,' foi na época em que ele já havia voltado a vivcr com1g'o. Elc ñcou cm quarentcna, mas não pegou a doença. Nunca me rclacionei com o mcnor tão bcm quanto com o maíor... Faltam-me os anos em que estivemos separados, quando tive que cntrcgá-lo a uma outra pcssoa que cuidassc delc...

Eu: Então pcrdcu justamentc aquele ñlho que lhe cstava ma15' próx1m'o. E 1s'to numa época em que o pior já havia passado, quando podia tcr a esperança de que v1r1"am alguns anos de fch'cidade... D.X: Exatamente. Mas nada mals' pode ser feito. Nada pode ser modücadq mn'guém pode mudar nada. Não há maJs' possibilidade de ajuda, porque o tempo não volta atrás, tudo está 1r'remediavelmente perdido! A transitoriedade do tempo4 nao~ pode tirar o sentido daquilo que aconteceu. E uma axistência sem sentido também não adquiriria sentido, se pudesse serprolongado etemamente. 0 valor de uma vida não depende da sua duração, assim como a qualidade de um jílme de viagem nao' depende de sua extensãa Se 0 filme mostrar durante duas horas o percurso do automóvel por estradas poeirentas, é um jílmepior do que aquele que dura somente meia hora, mas que mostra os aspectos mais bonitos da paisagem pela qual se passa.

Se contm'uarmos comparando o transcorrer da vida com um ñlme, podemos entendcr que avida, ou o ñlme, somente é “completo”, quando chegar ao seu ñnaL Cada ccna estará então fixada 1n'dclevclmente para sempre, e projeta-se na tela do passado, onde nada ma15' poderá ser mudado, ncm fa151ñ'cado. O que foi ncgativ0, contmuará ncgativ0, e o que foi positivo, contmuaxá deñmtivamcntc positivo.* Eu: D. X, a sra. dlz' que nada pode ser mudado. Por outro lad0, a sra. me contou tantas c015'as positivas sobre seu ñlho Jorge, como ele ajudou quando era necessário, como cuidou carinhosamente do 1rm'ãozmh'o; a sra. gostaria de mudar tudo ls'to?

' Nesta comparação, além do “arqu¡v'o” do passado, onde estão armazcnados todos os “ñlmcs" dc vidas humanas concluídas, a pcssoa religiosa pode am'da 1m'aginar o “arquiv1'sta", aquela instância que é a única a conhecar todos os “ñlmcs", nas mínimas cenas. O estado dc comciêncza' durante uma vida humana transformarse-ia cntão num cstado de ter conhccunen'to, após a morte.

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D.X: Não, 15'to não. Elc cra um anjo, que vcio à Tcrra, fez o bem e se foí... Eu: cha bem, d. X, isto também permanece, não só o fato dc sua morte! Toda sua vida e suas ações serão para sempre boas, por ma15' curta que tenha sido sua vida. A sra. acha que a extensão de uma vida humana é o aspecto mals' 1m'porlante? Scrá que não cxns'tem vidas humanas que duram muito, mas cujos conteúdos de senlido são poucos, enquanto que ouKras pcssoas consegucm prcencher sua vida com um grandc número dc boas ações, no pouco tcmpo que lhcs é conccdido? D.X: Snn,' xs'to é vcrdade. Mcu ñlho Jorge mc trouxe muitas alegrías ncsta sua vida tão curta, ele era tão sensat0, amáveL m'teligente... Eu: Mas ls'to permanccc, não é? Nlngu'ém podcrá ür'ar-lhc a alcgria que ele lhc Lrouxe; o encontro com seu anjmh'o, como a sra. dls'sc, pcrtence para semprc à sua vida, não pode ser apagado. Se hoje a sra. pensar no seu ñlho falecido, dcvcria sentü gratidão por tcr tido um ñlho assxm'...

D.X: Se a gente olhar paIa a situação dessc jeito... Uma conversa que toma este mmo ilustra na Iogoterapia a chamada “modulaça0' de atitudes”. Nao' é verdade que, conforme a paciente pensa, nada mais pode ser mudad0. Pelo menos am'da podemos mudar a atitude espm"tua1 diante de um evento ocom'do, 0 quefaz uma dzf'erença enorme do ponto de vista da higienepsíquíca. Eu: Como será que seu ñlho Jorge gostaxia que a sra. encaxasse a situaçã0? D.X: Bem, ele certamente não gostaria dc me ver aSSIm,' tão ator~ mcntada c com tanto desgosto. Suas últlm'as palavras no hospital foramz “Ajudem a mmh'a mãe!” Nunca pensou ncle próprio; quando t1nh'a algum dmh'e1rmh"o no bolso, logo comprava alguma cms'a para o mn'ão, nunca para cle mcsmo - elc não tcve mf'an^cia... (chora) Aqui novamente apareceu a sentença que já chamou minha atençao' e, de repente, percebo intuitivamente o núcleo do problema, aquilo que estápor trâs da af7içao' dapaciente: não é o sofrímentopelo que passou, pela mone do fílho; trata-se de um sentimento de culpa nunca superadol

Eu: D. X, tenho a 1m'pressão de que se tratade algo muito cspccíñco que está afhg1n"do a sra. Crcio que não seja propriamente a

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mortc trágica de seu ñlho que lhc parece tão d1f1"c¡l' de superar. Sua morte repentm'a deve ter sido um choque muito grande para a sra., prm'cipalmcnte porque foi tão m'espcrada; nos muitos anos, porém, que já se passaram, este choque deve ter d1mm"uído. Contudo, há algo que a sra. sempre repete; é a sentcnça “Ele não teve mf'an^cia”. Poder1a' ser que a sra. a1n'da hoje ñw pensando se não deveria tcr proporcionado ao mcmn'o uma mf'an^cia mals' bom'ta, se, da sua parte, não dcveria ter lhe dado maJs' alegrias, se não ex15'te alguma oportunídade que a sra. delx'0u passar e que agora jama15' poderá voltar?

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n. .» mu.:mu1~sm_wv_m

D.X: (pega nas m1nh'as ma'os, muito emocionada) É 15'so, é exata-

mcnte 1s's0, dra. Por exemplo, da escola faziam excuxsões c o Jorge era o um"co que não podia 1r° junto, p015' não tmh'amos o dmh'cu"o para a passagem de trcm. Talvcz pudcsse ter dado um jeito dc arranjar esse d1nh'e¡r'o...? Ou então, 0 professor Ihe recomendou um h'vro, com hls'tórias sobre amm'a15', a1n'da mc lembro bem, mas eu não podia comprá-lo. Mas talvez o livro ens'tls'sc numa biblioteca, para emprésüm'o? Muitas vczes voltava para casa tão cansada do trabalho, estava em pé desde as quatro horas, que não queria saber muito de suas pcqucnas preocupações e desejos (soluça).

Então era este o motivo de sua doença psíquica, tão resistente à cura. Não eram os grandes goples do destino de sua vida dfíicil que ameaçavam despedaçá-la. Eram os pequenos espaços de liberdade remanescentes, que a torturavam com a pelgunta se realmente havia aproveitado ou nao' aquele último espaço livre, que lhe restara, com responsabilidade. E, na opiniao~ dela, a resposta era “nao'”.

para criar seus dons' íilhos. Dc tudo ls'so deduzo que também seria capaz dc suportar ñrme e corajosamenlc a mortc trágica de seu ñlho ma15' velho. O que não lhe pcrmite voltar à sua tranth""dade psíquica é a questão se, cm relação ao seu ñlho, tornou-se culpada. Vamos rcfletüjunlasz o que teria acontccido se seu ñlho Jorgc tivesse sobrevivido? D.X: Ah, então mms' tarde poderia tcr lhe dado ma15' cms'as... Eu: E os seus senüm'entos dc culpa? D.X: Provavclmente não os teria tido, pms' tcria dito para m1m' mesmaz eu consegui compensar aquüo que lhe faltouna mf'an^c¡a... Defat0, para o observador de fora é questionável até que ponto os sentimentos de culpa desta pacie_nte seriam justzfcados ou não. Pela minha intuiçao~ espontânea, diria (e também disse à paciente) que a mulher linha sido muito corajosa e quase não havia mais possibilidades para ela agir dfierentemente. Contudo, existe nela este mal~estar há 20 anos, e, como ela não parece ser do tIp'o escrupu1050, sen'apossível que existisse alguma base realística. 0 aspecto trâgico é que qualquer tipo de “cup1a”perante a criança jamais podeña ser reparada. Mesmo que se tratasse de coisas z'nsignt_fi'cantes, nem estas poderão jamais ser reparadas na mesma pessoa.

Eu: Ccrto. Pcnscmos um pouco maJs': o que teria acontecido sc seu ñlho Jorge tivesse sido uma criança antipática, um arruaccu'o que ñcasse na rua ao m'vés de ajudá-la?

Eu: (após uma pausa) Seus senüm'entos de culpasão a causa dc suas ansiedades, d. X. A sra. sofre dc uma dor de consciência. Seu filho lhc ajudava aondc podia, e a sra. questiona hoje se fez o mesmo por elc, não é?

D.X: Ah, neste caso...? Bem, também teria chorado por cle, mas não teria me afligido por tanto tempo por causa dcle, não ten'a mc torlurado a551m'.

D.X: (em voz balxa') Slm'.

D.X: Talvez estes também leriam sido menores. Slm', certamente, acredito que s¡m'.

Aqui termina a fase diagnóstica da conversa; neste pont0, é preciso iniciar a fase terapêutica.

Eu: E os sent1m'entos dc culpa?

Eu: ch, d. X, encontramos o foco da sua doença. Na mmh'a op1m"ão, a sra. é uma mulher extremamente forte e corajosa. Superou bem uma mf'an^cia razoáveL trabalhou muito em sua vida, lutou para atravcssar os an'os de guerra e pósguerra. Além dls'so, na sua situação desesperada, aband0nada pelo marido c pcla mãe, am'da encontrou forças suñcientes

Eu: A sra. percebe, então, como sua dor de consciência está m'L1m°amentc h'gada à naturcza muito espccial de seu ñlho? A expe~ riência mals' bom'ta de sua vida foi jusntamente a bondade, a abnegação e a precocidadc dcsta criança. E, ao mesmo tempo, cste é 0 motivo pelo qual a sra. se sente culpadaz para usar suas próprias palavras, comparada a um “anjo”, a sra. permaneceu um ser human0.

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Agora, porém, delx'e de olhar para si própria. O que fez com que Jorgc se tornasse um jovcm tão extraordm'án'o? Não foi exalamente a situação de cns'e, que fez com que amadurccessc precocementc? Não foijuslamcnte o fato de que cra nccessá~ rio paxa sua mãc, a qual podia lhc dar tão pouco, que precisou-se dele como ajudante em tcmpos d1f1'”ccis, não foi cstc fato que fcz surg1r' o mclhor dc dcntro delc? Se pudcssc tcr lhe oferccido uma mf'an^cia scm pteocupações, será que seu ñlho teria sido a mesma pessoa? D.X: A sra. acha que ele amadureccu devido às ckcunstan^cias? Eu: Cerlamente. Amadureceu também naqueles momentos em que sua mãc estava fraca e cansada, chegava em casa cxausta, não tmh'a d1nh'e¡r'o para diversõcs. Scu caráter nobre formou-sc naquelas horas amargas e sua morte prccow evitou que algo pudesse se mod¡ñ'car nele. Não é tão 1m'portante o que alguém tem na vida, o que aproveita dela, mas rudo depende do que a pessoa serâ na vida - o ser é mals' un'portante que o terl E mesmo que seu ñlho não lenha aproveitado muito da vida, tornou-se um jovem grandioso. Sem dúvida, apaciente idealzza' umpouco seufílha Certamente eIe nao'fora um “anjopuro',” embora muitas das coisas que ela contou a seu respeitofossem realmente nota'veís. Mas a idealização em nada prejudica, porque nao' está Iigada a quaisquer expectativas em relaçao' ao fílho; ela simplesmente glonjí'ca um valor que, também sem glon'fícaça',0 é e pennanece um valor elevado. Assim, não remexo nesta idealização (pois istopoden'afaci1mente reverter em desvalon'zaça'o), masprefiro usá~la defonnapositiva, para iniciarjunto àpaciente uma “mudança terapêutica de pensamento”. D.X: Slm', ele realmentc foi extraordm'ário! Euz Talvez um pouco mals' “extraord1n'ário” do que sua mãc! Dcixe-lhe esta posição, admita que cm vários aspcctos clc foi a “parte mclhor” dos dons'; as falhas que a sra. cometeu fizeram com que ele se transformasse em herói! Pcssoalmente não acredito que a sra. tenha realmcnte falhado, cstou convicta de que fez todo o humanamcnte possível para ambos os ñlhos. Os pcquenos erros, porém, que ccrtamente a sra. também comeleu, po¡s', añnaL a sra. não é um anjo, fazem com que ele, por contraste, apareça numa luz cspecíalmcntc positiva. Ou,

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cm outras palavras, seu ñlho falccido foí tão grandioso p0rquc, entrc oquos fatorcs, a sra. sc tomou culpada pcrantc cle. D.X: Compreendo, posso me orgulhar dcle. Ele cra mclhor que seu pai e sua mãe. Não posso añrmar lss'o do meu segundo ñlho... mas a vida dcle am'da não lermm'ou. A sra. tem razão, comcti erros e meus d01$' ñlhos reagüam d1f'erentemente a elcs. Jorgc provavclmente cresccu com eles... Eu: Até mesmo nos seus últlm'os momentos elc cresceu, quando seu pensamcnto c preocupação se d1r'igu'am à sra. Scu úlum'o dcsejo foi que a sra. estivessc bem, e não que vivcssc sc torturando com dúvidas e ansiedades... Desde nosso pn'meiro encontro terapêutico, a paciente estâ em boas condições e, com base em noxsas conversas subsequ"entes, também melhorou seu relacionamento com seu outro fílho, que já tem uma família própn'a, mas que provavelmente jicou por muito tempo à sombra do 1rm'ao' mona ' 0 provérbio antigo de que devemos oferecer onres durante a vida, pois no túmuloflorescerão “inutilmente',' contém uma verdade muito profimdzg que foi aprendida não só por esta mulher, num processo doloroso, mas que todox nós devemos relembrar ocasionalmentel.

, Scr humano sigmñ'ca que sempre estamos devendo algo para nós próprios c para as outras pessoas, o que sigmñca sun'plesmente que de1xam'os passar possib1h"dades de scntido sem a roveitá-las, ou sem fazer a escolha correta no momcnto ccrto. Ê o preço que pagamos por nós, seres humanos, termos rcccbido algo que não foi dado a ncnhuma outra criatura que conhecemosz a h'berdadc da vontadlmFoi Martm' Buber quem dls'sc tão oportunamentc: A grande culpa do homem não são os pecados que comete a tentação é poderosa e sua força pequenal A grande culpa do homcm é que a cada momenlo podcrá dar a volta - mas não o faz! Gostaría dc acrescentar que a volta comcça com a mudança de pensamenta

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Para a concretlza'ção de um suícídio é preciso quc ocorram dons' cventos tcmporalmentc consccutivosz 1. a idéia da possib1h"dade dc cometer suicídio, e 2. o ato concrcto para reahzax' esta idéia. Não ocorrendo o n° 1, Is'to é, quando a pessoa não pensa em suicídio, praticamente não há pcrigo dc suicídio. Se, porém, o ato de negação da vida já foi antccipado em pensamcntos, há sempre um certo ns'co, quc, conforme as cu'cunstan^c¡'as pessoms', podc ser ma15' acentuado, ou mals' reduzido; ba51'camcnte, porém, o ns'co ems'te. Naturalmente, há muito mals' pcssoas que de vcz em quando “bnn'cam” com a idéia de suicídio, do que aquelas que rcalmente chegam à sua consumação. Graças a Deus é ass¡m'. Contudo, 1ambém o 51m'plcs “br1n'car" já tem um cfeito dcstrutivo, dc certo modo “1nortlñ'cante”, por redunr' a consciência do valor da vida, estabe~ leccndo-sc automaticamente uma sensação dc falta de scntido da ems'tência e das ações; trata-se de uma sensação que, por sua vez, faz a concretlza'ção da idéia dc suícídío paxeccr como um ato “pleno

de sentido”. Quando, portanto, se trata da questão de prcvenção de suicídios, a c16nc1a dcve tcr cm xmr'a não somentc a prcvenção da ' Este cnsaio foí origjnalmente cscrito por solícitaçáo do Mxmstérío Alcmáo para a Juvcntude, Famnja c Sau'dc, e publicado pcla Sociedadc Alemã de Prevcnçao do Suicídio.

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_ ~. n. ..-

3. Pensamentos sobre prevenção de suícídios*

W-'dosumho."'msumlfmdcwandar'da“pn\uçao'dc nkm'"" dc WWR lnfrlmncnl'c. as optm
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hexúm dramáticm ou à adoçao" dc mna dn°pm"çao° hlst'én'ca dc hm' dc mundu Akm dcsl.›.›'" mñ'uências sxm"u'* c s:x(°ío-cmnuau." há nm"da um ourm modclo quc pxic facitmcnlc dmmcadcar um stúcídim o modclo fnmüian L'm suiddio na fuúlía póc em rL°~\\\ cnormc lodm os outms fannüms c csmimmcmc s mançme dwa tn'm¡1¡'a. Um cwmlo láo tcle c chocantc jAm~aL\* sxm csqucddo por ncnhum mcmbm dn tnm'11ia.' muitas \\Y:t$ lcndo cfcilu dc pnm'cntc c mhb lmm'lc dumnte gemsñcs .-\s wzm m hl°hu\' c ncms dc ~:m'uda›._" mmpuümmcmn Iumm a vida m'tcu"a mntra a ideia scmprc mxm rcnrc dc umn “c.m'n*ag'o radical dc todas as prcmumüwsí Eüas pcsoas prm'nm otr'rccer uma rc\xL~'“¡éncia extrrmamcntc mmor' à rdéla" do suicídio do quc Nuclas em cujas nunca sc pncmHu ncm umn “›xxluçâo de pmhlemas" dc.~\“c n'po. Em cnãmlus famüiams ha até correntes dc stúddim quc mmeçm com o beHwú têm sua mntinunçào macabm com a m' e texmmm mm o sm'c1°d1'o da cnlmça mm mmL Ccrtamcntc podcríamos considemr quc m elcmcmm dccàhm dc~x;.L\~' corremns dc suiddío ~~c*'jznn dL~'*pu"5\'\cs dc carálex umdhnnlcs ou prnthpo snçacs" gnêukwm náo há dúvidm ponénp que também :\ idéia dc sm°ddio é dea dc gexmçáo cm gmnçâxx ñcando dL~";x'-m'w1 pm époms dc cmc*°\ u qua~5.' cm pnn'c1'ph',\ omnrm a qualqucr momcn~ m na vida dc qualqucr pxwm normaL A logotempia qu entre outms a›.›\*untm.i abordou cmme mcnlc os mnanm*"cs dcjhdhuk c m damvs íamgêmknx mnccm lnrsc agum cm dms prmapím pun agü pmñlaúcamcnte conlra os efcàos camsnúñus de Lm'* modclgnà a mbcn

a) chmmar”' Izmlo quamo pxxüwl o modclo ncgnüux c b) Lm°unrznr' mntm mxdclos mgañxm O modclo Famman infclmcnm nào podc scr climmada ptü scmpre ammccc de um mcmbro dn famúin limr sua próprín vida Já o modelo axxü t mubwulluml má mast tàcilmcme cvitñmL mnforme demmmm a referida mw dn imprumm Nalumlmcmc uao' ac* uma mduçâo lão drm'*'cn da líberdadc dc un'prcn&: mn a prcwnção dc sukidiuxâ Nsmña quc os mcim dc mmuni~ Ylgxúü dc mnm aboniawm Nc tcma mm mmmr ñrqüêncim quc nao' tramt*'L\rmmc“'.m 0 lema do smcídio rm rqxwt ngns smucixm e quc a litcmmm a art~c c o ciuema não uúmxmçxcm jusmmcme sm'cidas mmo hcn\'xL'* no mmm da atcngüa Por um ladxx a imprcm tem a mmb dc transnútü noddas c cultum dc mmxlmr o munda

Quamo à fannh é uma tIpa“ca axgtnncnlaçáo logolerapéutica Kmtàwnsacüaàdmpcsoassobmdcsúddxbahmcca texrñel quc ›c'n alo para cs dcmak membros da famíha.' me mm" wm depressão grave pudemm scr convendda5, dcsta mammdedcmm"'totahnzmedesuazdéxa"dcsm'ddio, comomna renímaa' wãca realm'da comúcnle e mhnzanamc°nte ao assnmn' omaWe uma n'da._ qnc Ihes pareaa° d_csurm"da dc valor, a ñm dc pnoumr~ csñlhosdaWdíáo dannn"a@'0”. E umarenun'c¡a° quc, nao' rammumitY lcm o efdo dc trazzr novamema sentido à sua n'da, a qm dc repeme._ não pareaá mas tão dcssalorm'da. Êo que qucnmasmmcmar arcspen'odapos§¡vel'elnnma"áo dc modelos nezamv'm Como._ pOIÉnL csla ptxsíhmdadt é hmlm"da, annnnzza"ção oamra cs aama' aIa'd05 modclos tem uma unpo'nan'aa' pmñlañca não menos 1m'ensa. De acardo com a conoepção logoterapêum há forçzu üprruuab"" no homcm quc podem >e° posicíonar mmn a mñwahgáo psíqm'ca, mas o_uc, por sua ve2, não sâo pelo menos não conrra a vonlade da respecxm pessoa. São aquàlas forças que praxícameme conrrolam as própnas' cmom" c detcrmm o grau dc poder que Ihcs é ooncedido. É uma nao' subordma'da ao prm'c1p'io do prazer, oomo o são as ncmaa“' emoçoes,' mã segue um prm'c¡p1"o de scnlída Se um estado psqm"co, como ansa'edadc, mst'cza ou mseguran'ça._ amad0' par modelos nsgam°=os, espmrualm"eme não for considcradocomotcndoscnn'do,apcs›oa'podcsedlslan'aax'ml'ema~ meme dw emdq cnan'do oondiçoes' para quc “na"'o preczsc' agm mdo cLla° própna'”, conforme dxz' \'íh'or FrankL que a eae respeüo fala dc mn “pod.r"= dcsañador do esp1m"o”. Evidcmemcmg preumm aqui oâmícapnos dc quc a d¡m'.n›a=-'o cspmtual" de uma pesoa cstcja realmems mLa'cta, qne ela não esteja reduzída por mwsoes" o quc dúorcenã mnsideravelmeme sua perLrpção da plcnmde dc aennd"o de mn posidonamemo cspmrual" díanle dñ reahdadcs' ¡;xsíquíca=.~ Prmmpondq porém, a em'ênaa' dc mna relaçao' amplameme normal com a rcah'dade, m modelos

v ._, N4._ _ .-_ -.

mockàporomro,háarespomabíh'dadepelamñnmaa“"sobre oamlacnz'=cpclamamp'ulaçao'dasAmasawdnhedméum _en~nnosuporque astrdadc>a1a"oan'éno'mánmo'dcqualquer uansnmao*" dc tnf'ormaçocs,' po¡s' quamo mak 'T8'rdadcs” sobre anoadadq" cazástrofeg W="'Us e suicídios farem publiadag maxs'dñados.xá=oscunúrncro,dcmodoqucasmf'ormag›cs'da nnpr-'..ma' mmca _con›emm-a"'o alcangr a verdade, neste scu empvndnmmw'o mrr°ogem"oo de mf'eczar "”aquño quc am'da cstá sadio” m "aquílo quc 3á' m docnlc”_

sma"das,jnmamemcoomsrepcramocs'pan'uwas'mm'üáws"quc produzcngpodcmscrelaboradosmptmumucdcmlmanah qucseanulammavésdcumaamwdcañadmcmrdaçaba copoamo"na wda,'aosmg¡r'oncgam'1›.F.stc""oum1smo''trág1oo'msmmeg,espoaahncue' qnando am'da cslá bascado cm prmc"p¡cs' ñlcxsóãwadcolfpm" podesclmnaradcfesamaxs'podcrmaconxralcndcnaas"endézas" suícídagoomonmbaluanedcsegmançaquencmnmhorasmak d1f1"cc¡s'dau'dapodsráscr Uansposto.Apswolc'rap1a' dntrhctcm qucoonnibuu'paraer1g1r"baluancswm0'cstccmsempaacnms,' masparalst'opreasa'dcnmaconocpço'dohomcmedomundoquc sejaposmmnformcapossm'ak›gotmp1a.'Umampçao'dc homemquepermalelíberdadeerüponsabüidadqeumamccpgb dcmundoqueacena'acnsl'enaa"dcnmlogos,emmdocaama'dc mdo,pormals'qucestcas“smsccsqmw'cdamprecmao'humana. ch, dmsc'mos amenbrmcntc qnc devenm oumbarcx mna idéza' ds suicídio assxh quc surgtr', mzs qne, por ouIro 1ado, hastrh fchzm'eme am'da nm longo mmmho' enrre a tdé“1a' e o alo. GeraL mcmesesupoe'qnc oammhdc umdaencademeamaLou sq'a._dcumdcsespcroprcscmc.lstorcalmcmeocorremmuma parüladossüddagquandqporcxemplqmnapesmprónm abandonou aoutra., mn ncgódo foi à falcnaa_“' um obyem"t› reselowsc comomanngn"'tl, clc.0 homcmesli cmao',d.¡am'edeumdcsum' ¡m'uLá\el, aem,' no enlamq perder lotalmenre sua líberdade. Amda' poderá dea'du' oomo rcspondcrá B “quesxocs' dc examc da nda""; oonnn'uam ensund"o vánas' rüpostag porquc cnnc as qucsmcs' do dcsun'o sobram °^'hnhas'vazzas'”, qnc somenle podcm scr preenchM pelapessoa'àqualapcrgumafm'dmg1”'da,;cm-nmgucm"paragmar' sua mão. (Tahez o que Im'pon.a na vida ›.'=mm' justamcme m< lmhas' preenchidas e não as pergumag quc as precerdcm da mesma forma que também num exame só coma a quahda'de das rcspom“ dadas.«?) Para mda dmmdcame arual ha,' m lodo czm aritudes saudáseà e docnlm conformc o rüpecmo prm'cípio dc uda.' Se predommar' o pnn'cípío do prazcr, qualqucr golpe do dàmo represcma um golpe cm d1r'eção ao “dcsprazer", podcndo chcaaxb até um csxado dc dcscspcro. Ao dommar' o prm'cíp10' do smtídq qualqucr golpe do destm'o represcma um dcmo para procurax o aennd0°' mak profundo da 51n1a'g'o, e respondcr gà vída de acordo cum ek, assummdo a vida com resgwn-sabí1id.:ad:z.J Combasenwaxm"'osmgulax'napácotcrapa,'oob3em“b mnualdalogotcrapxa'émndunr'aspcssoaswbnsm'paramn pensamemoon'cnladopclosenn'do, cdcspenarnclxamudts'ñr~

mcs que possam ser conñávexs' também em épocas dc aflição e cns'es. A atitude forçada de dlze'r “O prm'cipa1 é que eu esteja bem”, muíto comum nas pcssoas, e quc freqücntcmente acaba num bcco scm saída, porquc o bcm-cstar não pode scr forçado, scrá cuidadosamcnte transposto para a atitudc “O prm'cipa1 é quc cu seja bom para algo”. Após um exame ma15' detalhado, venñ'camos que todo m'divíduo pode scr bom para algo ou alguém, por mais precária que talvcz seja a situação dc vida cm quc sc encontre. Porém, no momento em que surge estc “ser-bom-para-algo”, como um clemento de sentido da própria ems'tência, já eslá respondida a pergunta “pa.ra quc vivcr?”, ou “para que contmuar a viver?”, uma pergunta que estará diametralmente oposta à m'tenção dc morrer, assnm' que sun'p1csmente cstiver respondida. (Consideremos, por excmplo, aquelas crianças que, após a tentativa de suicídio, dlzc'm “quc queriam quc alguém chorassc por elas”. São crianças que, aparentcmcntc, não achavam quc eram boas para algo ou alguém, e quc queriam, pelo menos, comprovar pelas lágnm'as de alguém que, añnaL eram boas para algo!) Agora passaremos das d1f1'culdades atuals', como molivo paIa um ato dc dcscspcro, para um outro aspccto da vida quc podç favoreccr a atratividade dc um suicídio e que é a indtf'erença total. E o vazio m'terior, a suposta falta de valor dc toda cms'tência, a scnsação dc falta de sentido da vida. Justamente aqucla 1ns'tan^cia espu'1'tual no homcm, quc mencionamos anteriormente como fator dc desaño poderoso contra mñ'uências ncgativas externas ou m'tcrnas, caractenza'-sc por uma asp1r'ação e busca dc algo que tenha scntido; e se cssa busca não tiver pelo menos algum sucesso, ocorrerá uma “frustração cms'tcncial”, descoberta e descrita por V1k'tor E. Frankl, quc cnccrra em si um gcrme de desespero am'da ma15' perigoso do quc qualquer desencadeantc trágico do destm'o. O grande perigo da “frustração cx15'tencial” não é tanto o fato de causar suicídios, mas a m'capacidade dela dccorrcnte dc contrapor algo à idéia de suicídio. Numa vida vazía e sem sentido falta o porquê de viver, e sem uma resposta para a pergunta “por quc viver?”, também não há resposta para a pcrgunta “por que não morrer?”

Na logoterapia, estabeleccu-se o diagnóstico d1f'ercncial de “ncurose noogênica”* quando há uma “frustração ems'tencial” ma~ ciça, que necessita de uma tcrap1a' especüca para afastar o ns'co de

' A palavra “noogêm'co” dcnva'-sc do vocábulo grcgo nous, que sigmñ'ca “espfrito", “sentido".

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suicídio. Os “neuróticos noogênicos” são predominanlcmcnle possoas em situações de vida descomph'cadas, tcndo mlútas vczcs bcm-cstar materiaL succsso proñssionaL dm1"gos agradáv015' c saúdc física, scm, contudo, saber quc scntido poderiam cxuaü dc ludo 1s'to. Estc fato, cmbora ms'te, corresponde exatamcnte aos lcvanlamentos estatístícos, dc acordo com os quals' aproximadamcnle 20% de todos os suicidas possuem um perñl de vida bastante posiliva Enquanto quc a prevcnção de suicídios, no caso de situações de desespero, deve oferecer solução para os problemas e conflitos, assm' como desenvolvcr atítudes quc possam scr resns'tcntes a uma situação cm que não houver mals' soluçõcs poss¡'vc1$', a prcvençâo dc suicídios, no caso de atos de m'd1f'erença, de conotação noogênica, dcve se concentrar na demonstração da pleniludc dc scntido ems'tente cm qualqucr cücunstan^cia, o que, há décadas, conslitui o ccntro dc gravidadc do trabalho logo_terapêutico. Podcmos presum1r' que esta ul't1m'a m'tervenção tem prioridadc sobre a pnm'eu"a, poxs', enquanto que situaçõcs problemáticas, numa cm'tência plcna de sentido, geralmente são resolvidas c supcradas relativamenle bcm, numa exxs'tência scm scntido, ncm mesmo pcríodos dc feh'cidadc e bem-cstar parcccm scr suñcicntes para dar à pcssoa a sensação dc tcr o d1r'eito de viver. O conoeito genéríco de toda prcvenção dc suicídios se condcnsa, assnm', na presença de uma resposta d15'ponível para toda pcssoa, a qualqucr hora, para a pergunta “para que viver?”, que, ao mesmo tempo, saus'faz a pergunta “para que morrcr?”

Na psiquiatria, conhecemos am'da um segundo campo dentro do qual é cssencm1' ajudax o paciente a encontrar uma rcsposta positíva para apcrgunta básíca davida: é o âmbito cxtenso daquelas mamf'estaçõcs patológicas que anüg'amcnte cram denommadas como “hls'téricas”. Neste caso, a pergunta será “por que rccupcrar a saúdc?”, que scria novamente 0 equivalente para a pergunta “por que não contmuar doente?” Infchzm'cnte, cms'lc muilas vezes um “motivo”, um ganho, que faz com que estes pacientes mmtcnham sua doença de modo relativamentc consciente. Muitas vezcs, o “motivo” é um dcstmatário no meio cxtcrno, do qual' o pacientc quer extorquk ocrtas rcações mediante detcrmm'ados sintomas. É do conhcc1m'ento geral que este quadro patológico pode m'tens¡ñ'car-se até chegaI a ameaças e lentativas de suicídio, qucrcndo o paciente dcmonstrar, com 15'so, ao destm'atárío o dcsastre quc este causou. Também não é novidadc quc estas tentativas funestas às vezes rcsultam em morte.

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Neste caso, não se trata de um dcsespero reaL nem de uma “frustração ems'tencial”, mas de uma delegação de culpa muito especialz é a s¡m'plcs recusa em assumir a responsabilidade própn'a. É que a pergunta “por quc recuperar a saúde?” só poderá ser rcspondida com sentido através da tecupcração plena do podcr de d15'por de si próprio, da libcrdade humana c da rcsponsabmdade própria. Contudo, a pcssoa que não considcrar csta como uma resposta atraentc, não daxá 1m'portan^cia ao fato dc se tornar um “co-formador” do próprio destm'o, p015' agrada-lhe mals' o papel de “vít1m'a” passiva do seu dest1n'o, mesmo quc para ls'so tcnha que “sacnñ'car” rcalmcntc sua vida. Como poderíamos prevcmr° estas tentativas dc suicídio “hls'téricas”? Certamcnte só será possível através dc um apclo contínuo dc qualquer dênc1a' para a responsablll"dadc, um emprcendmcnto no qual a logoterapia é a píoneña entrc as ciências humanas. Por outro lado, uma psicologia que apóia a tendênch para atribmr' a culpa aos outros, ao considerar culpados mãe, pa1,' um'ãos, professores e, por últ1m'0, a socicdade toda, pclos dls'túrbios psíquicos de um m'divíduo, nem poderia esüm'u1ar a vontade de rccupcrar a saúdc, poxs', dentro desta concepção, as emoções liberadas contra os “culpados” m'cluem a docnça, como constante pano de fundo. A reconc1h"ação com a vida não é possívcl no campo das acusações. Ou, de acordo com Sõren Kierkegaardz “Só podemos entender a vida rctrospecüvamente, viver, porém, precxs'amos prospccüvamente”. 1 Wm ¡y

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Í.

O esquema da págm'a 193 resume mals' uma vez as abordagens da logoterapia quanto à problemática do suicídio e quanto às suas medidas proñláticas. Para concluu', gostaria de abordar um tema polêmico que, quando surge, costuma cxaltar os amm^'os - é a questão sobre o direito à eutanâsia. Como gcralmcnte ocorre em assuntos palpitantcs deste tipo, cada lado tcm sua argumentação just1.ñ'cada. No entanto, como logotcrapeuta, posso acrescentar um argumento adicionaL que alé agora quasc não foi levado em considcração, que é o argumento da plenitude de sentido objetiva. Até agora, todos os prós e contras estavam centrahza'dos no próprío doentez 0 que a1n'da podería aproveitar da vida, se o prolongamento do seu sofr1m'ento seria just1ñ'cável, se não teria o du°cito a uma morte humana, etc. O homem, porém, não vive sozmh'o, não vive numa 11h'a como Robms'on Crusoé, ele é uma parte xnm'úscula dc um todo, entrc ele c o todo há uma corrente dc ações e reações, de mfl'uências rccíprocas, pclas

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quals' é co-rcsponsávcl, quando têm sua origem nclc. chamos um cxcmplo ñctício. Imagm'emos um homem tchaplégico, parahs'ado da cabcça para b_a1x'o,', e que pcdc aos scus médi|cos_ que seja “1íbcrtado”. Elc lula por c'ste seu suposto d1r'eito, alegando não ter csperança alguma dc que um dia valesse novamente a pena vivcr. Que mcnsagcm transmite este homem?

modelo íamiliar

o caminho Iogoterapêutico

influências sociais e sócio-culturais

possível eliminação de modelos negativos imunízação contra modelos negatívos

B) A EXECUÇÃO DO SUICÍDIO Á\ç

componentes "histérioos" (tendênc¡a para atribuir a culpa aos outros) o caminho logoterapêutico

situações de aflição e crise (desespero atual)

apelar para assumir responsabilidade própria

oomponentes "noogênioos" (vazio interior)

despenar atitudes positivas

demonstrar a plenitude de sentido da vida

1. Ele qucr forçar um médico a matá-lo. Scrá que ele sabe o quc 1s'to s¡'ganl'ca, o que eslá ex1gm"do deste médico, o que cstá exigm'do de uma outra pcssoa, a qual prcc15'a viver com csta realidadc por toda sua vida? Scrá que os suicidas, que resolvem morrer

na lmh°a férrea, sabem o quc cstão causando aos maqumls"tas do trem, que são obrigados a passar por c1m'a delcs? Aquela mulher, quc pulou da Torrc E1ff'cl, e acidentalmente caiu cm c1m'a dc uma tuns'ta canadensc, será que ela sabia o quc cstava fazend0? A1n'da podcríamos cntendcr quc alguém queüa voluntariamentc delxar' csta vida, mas scrá quc realmcnte qucr partü com uma culpa m'eparável? 2. O tclraplégico sabe que sua luta e eventual vitória serão divulgadas pcla 1m'prcnsa. Inúmcras pessoas lerão a rcspcito, c podemos presumu' que uma certa porccntagem entre cles também vê pouca csperança de mclhorax suas condições dc vida. Quantas pessoas ele arrastará consigo para a morte? Quantos segukão seu exemplo? Será quc ele quer mesmo h'derar tantas pessoas para cometerem um ato 1rr'ecuperável? E se para algumas dcstas pcssoas am'da houvesse espcranças...? Ele luta pelo seu d1r'eito de morrer, mas, na verdade, tüa de outras pessoas a coragem de vivcr.| Façamos agora a pergunta contráxiaz que mensagem este homcm parahs'ado poderia transm1't1r', apesar de sua gravc hm1"tação? 1. Se pudesse ser partidário da vida, cstaria dando um testemunho daquüo que o espm"to humano é capaz. Ele estaria fazendo o bem, 51m'plesmentc por ems't1r". Sua “cx1$'tência-apcsar-de-tudo” seria uma demonstração ao vivo para outras pessoas, de quc a vida am'da é possívcl sob as condições mals' d1f1"ccis, e que, portanto, é possível domm'ar a própria vida, não 1m'portando seu estado. Sem fazer nada, elc podcria transmiür' força, dar coragem, ser excmplo c m'centivo.

2. Não ex1$'te apenas uma responsabüdade pela vida em si, mas também pela mancüa como se vivc. E no modo como suportar seu sofnm'ento, 0 tetraplégico am'da teria m'úmeras possib1h"dades de se expressar, dc desenvolver sua personah'dade, de contm'uar desenvolvendo a sm°gularidadc de sua eüstêncía Conhecemos um caso verídico de um homem totalmente parahs'ado que, com um 1áp15° preso cntre os dentes, escrevia cartas, consolando pessoas dcsesperadas de sua cidadc; c cstas cartas tivcram um eoo muíto ma15' profundo junto a estas pessoas mf°ehze's do que jamals' um orientador com formação psicológica pudesse obter... Na d15'cussão sobre a eutanásia, não csqueçamos dc que cada vida humana tcm scu sentido m'condicional, e que aquele, cuja mão extmguü esta vida, também delxar'á eternamente 1r'reahza'do este senlido enooberto.

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4. Lívros com poder terapêutíco

Num dos livros didáticos, uuhza"dos nos cuxsos de segundo grau da Alemanha para o ensm'o da língua alema,' encontra-se uma cxcclente anáhs'c do “romancc modern0”, escríto por Paul K. Kurz. Exs' um exccrloz Considera-se como “romancc moderno”, quanto ao conteúdo, aquela composição em que a busca pelo sentido da vida não tcrmma ma15' com o cnconlro do sentido, cm que a possx'b¡h"dadc de cncontrar o sentido é polcmicamentc ncgada, ou então - c esta é a forma ma15' moderna -, cm que nem mais é feita a pcrgunta sobrc o sentido do todo. O romancEta “clássico” ou, cm scntído gcnérico, o romanms'ta tradicional, estava dc acordo com o mundo basicamentc desde o 1m"cio. Como resultado, havía a concordan^cia do seu herói, conñrmada no dccorrcr do romance. O romanc15'ta moderno e suas “ñguras” dcsw't1x'am desta aceitação do mundo com basc em cxperiêncms' antecipadas. Ao m'vés do “51m'” básico, suxgiu um “não” básico, 0u, pclo mcnos, um cctias'm0 fundamcntaL A vida c a accitação do mundo só parcccm ser possívcis de modo fragmcntário; onde e até quc grau isto é possível, prems'a scr m'vestigado em cada caso particular. Todas as totalidadcs dc sentído da vida de~ monstradas publicamente pela sociedade das três últ1m'as gcraçõcs - seja a da Prússia 1m'perial, do Império Austríaco, da República dc Wmmar', do Nazxs'mo, ou da atual sociedade do bem-estar - foram desmascaradas no romance moderno, ora ma15', ora menos, como rcivmdicaçõcs totalmcntc 11'usórias. A vida d1f1"c¡l' de cada m'divíduo médio não transcorre sob a cúpula dourada dc uma socicdade

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compromts°sada, e de uma crença na totah'dade. O m'divíduo se sente preso a ex1g'ências particulares, ls'oladas e muitas vezes contradilórias. Como a pcssoa poderá cuidar da sua alma, se nunca acaba de prcstar atenção a regulamentos de comporlamentos c dc trans^ito, que são úte15' somente para o momcnto scgum'te, e dc absorver fragmentos de notíc1as', que pertencem todas ao momento passado? Como poderá buscar a lotalidade, se a sua vida é composta de m'úmeras ondas de associação e 1m'pu]sos dls'sociados, de ligações e 1n'terrupço'es abruptas, de tantas pílulas de cnvenenamento c desm'toxicação momentan^cas, de tcntativas 15'oladas de libertação e fuga de um ccrco om'prcscnte, e d1r'igido anon1m°amcntc? Por ls'so, o romancc modcmo, dc mancu'a gcraL é um lamcnto sobrc a totalidadc pcrdida, uma crítica e um protcsto contra condições de vida 1m'possívels', uma profunda melancolía por causa da 1m'potência de cada m°dívíduo e da 1m'possib1h"dadc de alcançar qualquer ideal, uma reñexão 1n'tcrmm'ávcl e uma série de perguntas sobre os fragmentos mímm'os de uma verdade que possa ser vivida.

cm sua d1r'cção, na esperança de que nenhuma, por acaso, alravcsse seu coração. Estc não é um papcl apropríado paxa uma cn'atura dotada dc dons esplr'1'tuals'; sxm'plesmente não eslamos no mcio de uma porção de mtl'uências, que vêm dc todos os lados e nos aung'em, mesmo que os escritorcs modernos freqüentemcntc nos dêem esta 1m'pressão. Mctabohs'mo é troca de substância, é reccber o quc é de outro c dar o quc sc tcm, é elabom e dar forma àquüo que cxns'lc. O mesmo ocorrc por ocasião da lula espm"lual com nossa vida c com o mundo em que vivcmos. Não corrcspondc à verdadc quc quasc só ems'tcm mfl'uêncías ncgativas ao nosso redor, po¡s' além das facas também rcccbemos o pão; c não corrcspondc à realidadc dc que nós apenas somos os rcceptores das mfl'uências, p015' cada um de nós segura na mão uma faca, pronta para 0 golpe; mas também possmm'os o pão, para com ela cortá-lo e reparti-10. As mñ'uências espm"tuals' prec15'am com'cid1r' com um “snm'” pcssoal para sc tornarem eñcazes, somcntc ass¡m' a semente brotaxá, tanto no sanido positivo, quanto negativ0.

O romance modcrno é um espelho da sociedade moderna, mas este espelho reñete dc volta aquüo que recebeu; ele não só rcpresenta a socicdade moderna, como ele próprio a mfl'ucncia novamcnte. Tudo quc é cspm"tual se propaga c tem rcssonan^c1a'; também não há comum'cação m'tcrpessoa.l scm um componcnte cspm"tua1 - e o Iivro é um mcio de comunicação podcroso. Poderíamos até d1ze'r que, da mesma forma que o orgams'mo somente se mantém vivo através dc um constantc metabohsm'o, há necessidade de um metabolismo espin'tual, uma constante troca de pcnsamento entre seres pensantes, para manter a ex15'tência da vida espm"tual.

Na sua essência, um livro não é papel ou un'ta, mas substan^cia espüituaL Ele transmite uma ideologia que, cm casos extremos, pode até scr a faca ou o pã0, por scr Épcaaz de cortar um apoio espm"tual ou oferecer ahm°ento cspm"rual. que, com sua mfl'uência, at1n'gc pessoas com grande diversidade quanto à dls'posição de serem 1n11'uenciadas: há aquclas que praticamentc agarram o pu~ nhaL da mesma forma que há aquelas que quebram 0 pã0. Assun,' vale a pena refletk dc vcz cm quando sobre a responsab1h"dade que pcsa sobre as diversas etapas de uma publicaçã0. São os autores, como fontes de mfl'uência, as cditoras quc aproveitam eslas 1nfl'uências c as divulgam, os livrelr'05, como “ccntral de mediação de idéias”, e, ñnalmente, os comptadores, que ou se entregam passivamentc à mfl'uência dc idéias alhcias, ou enfrcntam esta mñ'uência através dc atividade espüituaL Um livro, para se tornm cñcazjunto a uma pcssoa, percorrc um longo cam1nh'o, desdc sau' da pcna do autor até alcançar a alma do lcitor, para ncla causar o bem ou o mal.

Isto não sigmñ°ca, porém, que a pcrsonalidade dc uma pessoa é sun'plesmente o produto dos 1m'pulsos espüítuak que a mfl'uenciam. Conformc já foi esboçado na anáhs'c acxm'a, atualmcntc temos uma forte tcndêncía para perccbcr as lnfl'uências do ambiente no scntido negativo, e considcrá-las como bode cxpiatório para tudo que fracassou na vida. Comcçando pcla poluição ambíentaL passando pela problemática do armamento, até o horror dc uma era computadonza'da, rcgls'tram-se mñ'uências que criam uma atmosfera de pam^'co; são mñ°uências às quals' o m'divíduo aparcntementc está enuegue, c que são consideradas como responsávcb pelo fato de sua vida não poder dar certo. Com esle pressuposto, atribuun'os ao homem um papel que, pcla sua essêncía, nem sería capaz de dcscmpenhat; nós o colocamos contra a parcde do dcsnn'0, como no cu'co um atkador dc facas põc sua parceu'a contra a parcde, e dexxa' a cargo dela, com o rosto 1m'passívcl, vcr as lamm^'as voarem

Sem dúvida, há livros bons ou rums'; além d15°so, é questionável até que ponto com'cídem os critérios de qualidade c vcndabllx"dadc. No am^bito psicológíco e psicoterapêutico, certamcntc a superposição é pequcna. É que todo dcsvío do comportamento normaL tudo quc é pcrvcrso, problemático c sm15"tro possui sobrc os consumidores uma atração muito forte, da qual também se aproveitm os produtores dc ñlmes poh'cia15' e de horror. Para muitas pessoas, dc algum modo, é prazeroso assxs'ür' a palpilanlcs cenas de horror, segura e confortavelmcntc ms'ta1adas em sua sala de cslar, sabendo

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muito bem quc nada d1$'so as atm'g1:'á pessoalmentc. Com ls'to não cstou m1mm"12an'do o ns'co quc os ñlmes de vídeo de má qualidade oferccem, especialmcntc aos jovens, pois hoje já cstá ma15' do que comprovada a esnm'ulação cmocional pcla brutalidadc na tela. O que gostaria de demonstrar aqui é que o anormal e oonflitivo, como conteúdo de um meio de comum'caçã0, m'clusívc o romance modern0, tem a sua m'tcnsidade de mfl'uêncía Ianto mais reduzida quanto maior for a dls'tan'cia entre aquelas situações conflilívas e a prcsente situação dc vida do consumidor. A pcssoa globalmcntc saüs'feita d61x'a-sc cativaI por um ñlme ou livro dramático, mas sem maiorcs conscqüências. Ela sentc-se Uanqüüa cm sua própria segurança, tornando~sc apenas um obscrvador m'teressado do palco do mundo. Quanlo à mídia psicológica, scu círculo dc m'tcressados é muito especmcq caraclenzan'do-se por uma porcentagem alarmantc de pcssoas que justamcnle carccem da tranth""dade e segurança próprias acxm°a mencionadas. Mlútas pessoas querem aprender a se cntender com a ajuda da psicologia, por ex15'ur' nelas algo m'compreensíveL com o qual não sabcm 1idar, por exemplo, uma fraqueza pessoaL uma m'scgurança, uma ansicdadc ou a sensação de mf'crioridadc, quc as fazem sofreL Tanto cstudantes, que optam por estudar psícologia, quanto leigos, que consomem literatura psícológíca, fazem-no a pamr' de tais moüvaçõcs eg015't1'cas. Naturalmentc, não podemos gencrahzar', po¡s' é evídentc que ems'tc também um m'teresse genum'o, especiallza'do e objetivo pela psicologia, que não se origm'a numa 1ab1h"dade psíquíca, consu'tu1n'do, porém, uma min0r1a. Naturalmente, em pnn'cípio, nada há contra o fato de uma pessoa coÉpmrar um livro sobrc psicologia por cla própria ler um problema. até um raciocuu"o muito sensato, c a exprcssão dc uma tendência para a pessoa procurar curar-se a si mesma. Sc, porém, cak nas mãos desta pessoa um livro errado, um típico “r0mance moderno" com scu lamcnto sobrc o scntido pcrdido da vida, ou um livro que, como os ñlmes anteriormentc citados, se orienta pelo anormaL pcrverso e patológico, esta pcssoa não terá um dls'tancm'mcnto m'terior suñciente para suportar sua mensagem ncgatíva c relaüv12á'-la; cla acaba sendo afetada, reconhcccndo c rcencontrando a si própria em cada lmh'a, passando dc uma dúvída à outra. Um livro deste tipo, para uma pessoa assun', não é um meío terapêutico,

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mas um fator patogêm'co adicionaL

Resumm'do, podemos nr'ar duas conclusões do que foi exposto até aqui. A pnm'elr'a é quc tudo quc é espm"tual tem uma mñ'uência recíproca e quc, a551m', os livros m'evitavelmente mfl'uenciam seus

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leítores; a segunda é quc lambém a pcrsonalidadc do lcitor lcm uma 1m'portan'cia accntuada na dccxs'ão se um livro é “acolhido” por clc c até que ponto. Quanto mais uma pcssoa estívcr íntcriormcntc num período dc transformação, numa cns'c, na busca dc sua idcntidadc ou do senlido dc sua vida, maís av¡'damenlc, em gcral, ouvírá a palavra do outro, mais mfl'uenciávcl ela sc tornará e mab o livro representará para cla um perígo ou uma oportunidadc posilivalO quc decide se o ligro a mf'ectará com descspcro, ou a imumzar'á contra o desespero , ls'to é, se será “contagíoso" no scnlído ncgativo ou positivo, não é tamo o assunto dc quc lrata seu conteúdo, mas, ac1m'a dc tudo, a concepção de homcm quc m'du'clamcnlc transmile. Muitos livros de psicologia, por exemplo, apresentam quase unícamente conexões palológicas e condiçõcs lraumatxzan°tcs na vída do homem, o que, contudo, am'da não é o pi0r. O ns'co concrcto dcslas tcscs começa somentc a parlü do momenlo cm que, categoricwcnte, o h'vro añrma que, sob tals' c1r'cunstan^ciaS' e condições ncgativas, uma pessoa prec1s'ariaforçosamente ler scu d'esenvolv1m'ento prejudicado, que rcalmente tcria motívo para a “mclancolia profunda por causa da 1m'potência dc cada m'divíduo e da 1m'poasib1h"dadc dc alcançar qualquer ideal" (Kurz). Estas tescs só produzcm desesperanças e tentam forçax o homcm naqucle papcl de parceria do at1r'ador de facas, que, na verdadc, não é um papel quc lhc cabe.

Contudo, gostaria aqui de discorrcr menos sobre a litcratura psicológica questionáveL e mais sobrc aquela que possui um ccrlo podcr tcrapêutico. Partirei do prm'cípio dc quc pcssoas psíquicamente m'stáveis, com certa propensão à neurose, eslão ma1s' abcrtas à mñ'uência psicológica do quc oulros leítores. Com isto, teriam a oportum'dadc, ao selccionarem livros apropríados a elas, dc dm uma oonlribuição m'dividua1 c pcssoal para a renovação e manutcnção dc sua saúde psíquica. Como, porém, podem d1f'crcncíar cntrc os h'vros dos quais emana ou não um podcr terapêutico? Creio quc para resolver cste problcma é suñcientc quc sc lhcs dê um csquema de du45' perguntas, quc poderão usar como pmâmctro aprox1m'ado para aprccndcr 0 tom básico dc um livro, c suas pcrspectivas quanto aos objctivos. Cada época tem suas próprias dlñ'culdades, e a época modcrna lem uma dJñ'culdade muito especíñca, quc é a 1ns'atisfação mundial que 1r'rompeu cntrc os povos civ1hza"dos, uma sensação dc vazio e falta de sentido que se alastra enlre a geraçãojovem, uma mñ'açã0 éLica, ou seja, uma constanle perda de valores, quc anteccde a mtl'ação cconômica c fmanccu'a, afctando a cstablll”dadc da cultura toda. Como um livro responde a csta dLñ'culdadc, como se posiciona

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diante das perguntas añitivas do presente? Este é o pnm'e¡r'o ponto quc dcve scr levado cm consideração no exame do efeito “terapêutico” de um livro. A enumeração de aspectos negativos não d1mm"ui o ncgativo. Causar ansiedade não cura. Não podemos fechar os olhos diante do fato de que, até um certo ponto, está semprc nas nossas mãos transformar o mal em bcm, mcsmo quc seja apenas em nosso m'tcrior. V1k'tor Frankl exprcssa 15't0 na sentença “O mundo não está são, mas cle é curávcl”. Como prun'cn"a sugcstão, gostaria de d120'r cntão que o saber da curabilidade já é uma parte da cura. Ao mesmo tcmpo, este saber reprcsenta um pouco dc respon~ sab111"dade própria, um pouco de desaño ao espm"to humano, e um pouco de comprccnsão daquüo para o qual talvcz cstejamos no mundo. Enquanto quc, nas lmh'as dc um 1ivro, encontramos a curabilidade, cle podc até rclatar desgraças, scrn apagar a esperança. Mesmo quc não faça a pessoa sc lcvantaI, pclo mcnos não lcva a pessoa a resignar. 0 podcr tcrapêutico de um livro é espccialmente m'tenso quando dcsm'te de procurar c acusar o culpado pela desgraça, c, ao m'vés dls'so, prefere dar a ênfasc pnn'cipal cm tentar novamente encontrar o scntido, também em nosso mundo atuaL apesar de todo o ceticxs'mo moderno. Ao m'vés de apontar os supostos causadorcs do caos, devem ser colocadas placas dc orientação no caos para mostrar o cam1nh'o. Por exemplo, verlñ'quei muitas vezes a 1nfl'uência negativa causada por livros dc psicologia, que atribuem os dls'túrbios psíquicos de pessoas doentes totalmente a erros educac1'ona15' e comportamcntos dos pals'. Esta litcratura não só reforça enormcmente as tensões normalmentc cx15'tentes cntrc os membros da família, mas também parahs'a qualquer 1m"ciativa própria do doentc para resolver sozmh'o suas d1f1'culdades. Também sabe-se que livros sobrc m'terpretaçã0 dos sonhos podem produzü dls'túrbios de sono, e que livros sobre “autoconhe01m'cnto” geralmente costumam m'dicar 0 cam1nh'o mals' scguro para sc °°dcsencontrar” a si mcsmo. É muíto mals' humano c mals' adcquado, do ponto de v1s'ta tcrapêutico, v15'ar a naturalidade 1r'retletida da relação famlhar" c da maneüa pessoal dc scr, m'dependentementc do quc acontcceu, pons' cicatrizes antigas não sc fecham, sc a todo momento mexemos nelas. Além d15'so, praticamente não há paJs' que não tenham feito algum sacrifício cm prol dc seus ñlhos, mesmo que uma ou outra vez tenham falhado; c o próprio eu muitas vezes já foi encontrado cspontaneamente, se o delxarm'os cm paz. Assm,' chcgamos ao segundo ponto de nosso csquema dc duas perguntas, quc é cxamm'ar se num livro sc faz rcferêncna' ao positivo, ao agradách

Já mencionci que cstamos bcm trcm'ados para a pcrccpção do ncgativo, e que o negativo, o pcrvcrso e o trágico cxcrccm uma atração cstranha. Para os ídolos da aluah'dade, o 1m'portanlc é o número dc parccüas sexuaxs', para os gângslcrcs do prcscnlc o quc conta é o númcro de mortes quc dmxam' para trás, para os best-sellem catastróñcos é 1m'prcscm'dível que revelcm o maior númcro possívcl de aLrocidadcs. Uma das origcns desta lendência modcrna é o excesso de cuidado e csforço, por parle da maioria dos cspec1'alls'tas e escritores do nosso século, para não rcpresentarcm um “mund0 são”, que não corresponderia à rcah'dadc. Até mcsmo dos livros dídáticos foí chmm"ada categoricamente qualquer referência a um “¡nundo são”, para não estar dls'farçando algo que mals' tardc pudessc se revclar como mcnos agradáveL Precxs'amos rcconhcccr quc, por detrás desta campanha contra o chamado “mundo são”, ex15°tía, em grande parte, o dcsejo genuíno de sm'cerídade, às vezes talvez até a esperança de poder despertar a humam'dade através da denunciação dos males ems'tentes, para uma conscíennza'ção e reorientaçãa Infehzm'ente, não deu certo, nem em escala grandc, nem pequena. Se colocarmos à dls'posição de uma críança exclusivamente brm'quedos quebrados, cla não se dedicará a consertá-los cuidadosamente; ao contrário, ela cntrará numa verdadeüa orgia dc destruição, po¡s' do seu ponto dc v1$'ta tudo é sem valor, tudo cstá damf1'cado, não valcndo a pena, portanto, tomar cuidado. Novamente devcmos à logotcrapia o fato de tcrmos chcgado à comprccnsão de como é 1m'portante conservar a idéia dc um “mundo são” em nossos corações e mentes. V1k'tor Frankl descreve a ems'tência humana como scndo aquela que prec15°a vibrax constantemente num arco de tensão entre ser e dever-ser, tomando-se totalmente m'umana sc o arco de tensão 1m'plod1r'. Isto sigmñca que uma ems'têncía dignamente humana pressupõe quc o cstado dc ser c o de dever-ser estejam espm"tualmentc prcscntes e que, por conscgum'tc, sejam mob1hza"das forças para que o cstado dc deverscr se transformc em scr. Voltamos aqui à conccpção noodm'a1m^'ca, a qual foí abordada na discussão dc quasc todos os temas deste livro, e que, repctidamentc, enfaüz'ou que o homcm não sc basta a si mcsmo, mas pre015'a de algopara que viver, e não apenas algo de que viver. O “para quc” corresponde ao devcr-scr, do qual tem uma idéía vaga, ao objctivo que dará sentído às suas asp1r'açõcs. E o “dc que” é o ser, sua respectiva base, a parm' da qual nascem suas asp1r'ações e ondc se locahzam' suas forças.

Fazendo um paralelo entre o que foi dito ac1m'a e o tema “mundo são", podcmos d12'er que o “mundo sã0” é 51m'plesmcnlc

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um estado de dcver-scr no pensamcnto da pessoa. 0 mundo, conforme é na realidade, é um estado dc ser. Contudo, para que o mundo, conformc cle rCalmente é, possa ser pelo menos um pouco “ma15' são”, é 1m'prescm'dívcl que ambos os cstados sejam rcprescntados no pcnsamento da humanl'dade, p015'jamals' podc-sc tcntar alcançar um objetivo, que não scja conhecido m'tcríormente. Da mcsma forma que o m'divíduo prccm'a viver num constante arco de tcnsão entrc ser c dever-ser, para expcricnciar suavida e suas ações como plenas dc sentido, a humanidade como um todo precrs'a rccncontrar o arco de tensão entre o ser e o dever-ser, para que, quando onavio cstiver à dcriva nas ondas dc um ser presente, possa d1r°ccionar a roda do leme para um dcver-scr comsentido, no futuro. Um “mundo são” é o motivo mals' pnm'ário de nossos anseios, é 51m'plcsmente o sonho humano da redenção. Se alguém tcntar elim1n'ar cste anseio, destruü este sonho, nr'ará do mundo aquüo que tem scntido, c priva a ems'tência humana de sua mls'são ma15' espccíñca. A este respcito, Hcrmann Hesse escreve: “Não faltam autotes, cujo desespero pela nossa época e cujo medo do caos são genum'os. Faltam, por6m, aquelcs cuja fé c amor scjam suñcientcs para quc eles mesmos se mantenham ac1m'a do caos”.

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VoltCmos à pcrgunta sobre o poder tcrapêutico dos livros, c espccíalmente dos h'vros de psicolog1a'. O pnm'elr'o ponto no esquema dc duas pcrguntas que recomendci foi examm'ar se 0 livro cnfaüza' a cura-bilidade de diversas afliçõcs ou problcmas, ou se se hm1"ta a descrevê-los. O scgundo ponto seria cxannn'ar se o “mundo são”, dentro e acun'a da nossa realidade, é conoebido como uma possib1h"dade, ou sc é ncgado u'om'camente. Na mmh'a op1m"ão, um livro só podc scr tcrapcuticamentc cñcaz sc abordar tanto o estado do scr, quanto o de dcvcr-ser, da vida humana; se o livro se concentrar apenas no rcspecrivo ser, causa resignação; se sc concentrar somcnte num devcr-ser desejáveL causa 11'usõcs. Apcnas a combinação de ambos csboça uma reah'dadc, que pode ser questionável em muitos aspectos, mas que vale a pena viver, m'terfenn'do-se nela através de uma m'tensa vida espm"tual; enñm, uma reaüdade à qual valc a pena dlz'er “s¡m'”. Além d15'so, o que é bom e “sa'o”, muitas vezes não é um longínquo dever-ser quc apareoc somente no honz'ontc dc nossos anscios, mas, dc divcrsas formas, jaz d1r'etamente sob nossos pés. A1n'da hojc há famílias unidas, casa15' que sc mantêm ñéls', pals' quc têm um relacíonamcnto harmonioso com seus ñlhos; há ajuda recíproca entrc vmnh"os, há bondade e altruls'mo; há até paz cntrc os homens scm precxs'ar falar sobre ls'so. Há hcróls' cm nossa época que

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agem em s¡l'êncio. Nunca, nem mesmo nos tempos ma15' amargos, o “mundo são” esteve totalmente pcrdído, c mcsmo nos diálogos terapêuticos com pacicntcs muilo pcrturbados, am'da é possívcl encontrar vestígios de árcas de vida m'tactas. Encontra-se aIgo são em toda pane e, assim, rambém em todas aspessoas - estc conhccimento, por si só, já é consolador! E não deveria havcr livro sobre psicología quc não se enquadrasse nesle lema. Arrolamos, assun', alguns critérios apropriados para acionar o poder terapêutico da leitura. A reconcú1"aça'o com o passado, a cura-bi1idade do presentc c um “mundo são” como antccipação dc um futuro dcscjávcl são os püaxes básicos dc qualqucr obra bib1ioterapêutica, ass¡m' como também são cstes os conteúdos de uma psicoterapía ccntrada no sentido. Talvcz poderíamos dlze'r que, se o romance moderno deveria ser cntendido como reñexo da cns'e do homem moderno, um livro com poder lerapêutico seria aquele que ajudar o homem modcrno a superar. sua cns'c, o quc sigmñca alcançar o sentido da sua vida... Ncste pont0, qucro mc rcferü mais uma vcz a Hermann Hcsse, que d12' em oulro trcchoz “Também o homem não-m'telectual c superñcíaL avesso ao pensamento, am°da tem aquela necessidade antiqm"'ssm'a de conhecer o sentido de sua vida, e se não mals' o encontrar, sua vida pessoal estará sob o signo dc um egoísmo cxacerbado e medo da morte exagerado.” Bem, cg015'mo c medo da mortc certamente não faltam em nossa sociedadc moderna. Gostaria dc acrcsccntar algo quanto àirradiaçãoprojilática dc livros que possam acompanhar positivamente o leitor na sua busca de sentido. Estes livros podcriam evitar muito mals' desgraças humanas antcs da cns'e, do que nós espcciahs'tas seremos capazes de curar após o mí'cio de doenças psíquicas. Não csqueçamos de que muitas pessoas em nossa sociedade cstão ms'eguras, 51m'plesmente porque se auto-observam demals', foram enfraquecidas pelo bemestar, não sabem o que fazcr com seu tempo 1ivre, e constantemente são m'undadas pelos meios de comunicação de massa com a “consciennza'ção dc problemas”. Todas cstas pcssoas ñcariam realmcntc psiquicamentc doentcs se aplicarmos nelas proccd1m'cntos terapêuIicos d1r1g1"'dos, porquc a dosagcm das terapias, oferecidas usualmcnte, scria elevada demais para clas. Assim que fosscm diagnosticadas como “pacientes”, já se tornarão “pacientes”. Junto a csta clientela, o livro certo no momenlo cerlo poder1a' fazer m11a'gres, levando estas pcssoas à conscicnüza'ção, esuhulando sua capacidadc dc aut0-ajuda c fortalccendo sua alegna° dc vivcr, lornando desneccssária a 1n'tervença'o psicotcrapêutica.

Porém, é 1m'portante lembrax que um tratamento metódico por m'dicação médiwpsicológica não pode ser substituído por um livro, no máxlm'o pode ser complementado por clc. Infehzm'cntc prec15'amos admiür' quc as opm1"õcs dos especíahs'tas quanto à m'd.icação para terapía são muito divergentes. Os melhores cspccialístaS, porém, concordam que, se uma terapia reaJmentc for necessária, cla prccm'a, sem dúvida, ser rcahza'da, mas quc uma dose excessiva de terapia não é mcnos pcng'osa do quc uma dose pequcna dcmals'. Da mesma forma quc atualmentc cstamos cada vcz mals' críticos quanto ao uso m'dls'cnmm"ado c não-controlado dc mcdicamentos farmacológicos, estamos aos poucos ñcando céticos d1an'te do uso não-controlado dc ajudas terapôuticas, especialmente nós da psicologia humams'ta. Prm'cipalmcnte a logotcrapia quc, dc modo geraL é cnquadrada na psicologia humams'ta*, há muito tempo está prevemn'do contra o dano de qualquer “uso exagcrado da terapia”, sempre enfatlzan'do o sngnlñ"cado de um bom lívro como “terapêulica prévia”. A dls'tan^cia quc separa o homem do desespero abls'mal, às vezcs, é de apenas um passo na vida, e se houver pelo menos um comm'ão pequeno sob a forma de um livro honesto e presnm'oso, ls'to scria ma1s' útü do quc se mals' tardc um pelotão de tcrapeutas precxs'ar puxar para c1m'a o homcm que despencou no abls'mo.

livros, m'dependenlemcntc de scu gêncro ou cspcciah'dadc, são amigos da alma. Da mesma forma,' porém, quc a caraclcr15'u'ca sm'gular do am1g'o verdadcüo é não abandonar o oulro na aflição, a caractcrístíca sm'gular dc todo bom livro é quc tcnha podcr lcrapêutico na aflição. Os livros b1'bh'olcrapêutioos, dc fundo psicológico, talvcz sejam cspeciahza'dos para serem não só “amígos”, mas também “ajudantes” da alma; cm caso dc neccssidadc, porém, todo amigo é um ajudante, e todo bom livro, um prescntc gcnu1n”o. Aqucle que, numa hora d1f1"c11', estendcr a mão para o gma' “livro", scmpre será beneñciado.

Poeücamente, os livros dignos de serem h'dos scmpre foram chamados dc “am1g'os”. É justamcnte assun' quc são todos os bons ' A logotcrapia sc d1f'crencía da psicologia humanisla por não rcconhecer a “auto-rcahza'ção" do homcm como o objctrvo' máx1m'o da sua cxns'téncia. De acondo com a logoterapia, a “autotranscendéncia" do homcm, ls'to é, sua dedicação a uma tarcfa quc tenha scntído, ou a um relacionamento amomso, no sentído amplo, constitui o grau ma¡s' alto dc dcscnvolvmcma Gostaria dc üustrar, atravcs' de um pcqueno epxsód'ío ocorrido num dos mcus scmm'ários um°vexsitán'os, o fato dc quc a busca dc autolranscendéncia náo exclui absolutamente a auto-rcahza'ção, ao contrán'o, a auto-reahza'ção é o corrclato automático, c não-m'tcncíonado, da autotransccndéncia. Uma das mm'has cstudantcs cra cspecialmcntc tímída para falar durante mmh'as aulas. Era meu costumc ofcreceraos alunos a oportumdadc de redígue'm pmtocolos das aulas dadas, os qua15' eram lcvados cm considcraçáo nos exames fmals', quando cntão podiam rcsponder uma qucstão a mcnos por cada pmtocolo redígida Um dia, porém, csqucci dc perguntar no m'1'cio da aula quem qucría fazcr o protocolo naquclc dia. Ncstc momcnto, a aluna ac1m'a supcrou sua timjdcz, mamf'cstou-sc c lcmbmu-me da mm'ha omxssã'o. Pmntamemc perguntci-lhe se ela nào queria fazer o pmtocolo e cla, quc d1ñ'c11m'ente tcria sc man1f'cstado voluntariamcnte, aceitou. Alguns meses mais tarde, por ocasiao do exame ñnaL ela teria sido rcprovada por causa de uma questào à qual não sabia respondcr, mas por tcr cscrito o protocolo, ela foi apmvada. ¡¡.

A autotransccndéncia dc quc foi capaz por mmh'a causa, para mc poupar dc uma omxssã'o, trouxc-lhe, no fmaL a aprovaçáo no cuxso que, sem du'vída, ncprescntou um passo no cammh'o de sua auto-reahm'ção.

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5. Dignidade humana e psícoterapia

É possível que alguns lcitorcs não'tenham percebido muito claramentc há quanto tcmpo a dignidadc humana e a psicotcrapia esüveram separadas, c que outros não estejam conscientes da 1m'portan^cia dc quc a dignidadc, através da logoterapia, foi rcm'troduzida na psícoterap1'a.* Por 1s'so, com base em dons' relatos de delitos cr1mm"osos, gostaría dc demonstrar o que realmcnte sígmñ'ca csta separação de ambas. O pnm'elr'o relato se refere a um evento ocorrido no verão passado numa das piscm'as públicas de Mum'que. Um homemjovem entrou no recm'to, andando devagar pelas áreas dcstm'adas ao banho de sol cm volta das pxs'cm'as. Estava completamente vestido, com sapatos e tudo. De repente, levantou o pé e p15'ou com toda força no rosto dc um jovem, que lhe cra totalmcnte desconhecído, e quc estava deitado na relva, em trajcs de banho, com os olhos fechados. O jovem sofreu traumatismos sérios, cntre outros, uma fratura do osso malar, quc, apcsar da cu'urg1'a un'ediata a que foi submetído, teve uma recuperação deñciente, e foi prec1s'o operá-lo novamente. Durante meses submeteu-se a tratamentos os mals' diversos, c até hoje guarda as marcas dos maus tratos quc recebeu. Num caso como este, surge naturalmentc a pergunta sobre o motivo para um ato tão cruel c scm sentido. O autor do cr1m'c foi ' A cstc mspcito, centenas de cspecx'ahs'tas, provcmcntes dc cmco connn'entes, dlsc'utiram no 49 Congrcsso Mundíal de Logotcrapía cm São Franc1sco', no ano dc 1984.

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m'terrogado mm'uciosamente a rcspeito, mas o motivo que ele forneceu produziu um mal-estar lão grande, que elc foi submctido a uma avaliação psicológica, razão pcla qual 0 homem veío ao nosso centro de aconsclhamenlo. Sua explicação cra quc, 1m'ediatamentc antes do ato, elc tivera uma bríga com a namorada, a qual o mf'ormou de que seu relacíonamenlo não u'ia durar muito. Como conseqüência, clc sentiu uma raiva tão enormc que prcc¡s'ou ab-rcagí-la de alguma forma. Era só o quc elc tmh'a a d12'er. O outro rclato quc gostaria dc reproduzu' é a rcspeito de uma ocorrência quc, no outono dc 1983, foi assunto da 1m'prensa alcmã. Um motons'ta lcvou consigo uma moça que pcd1r'a carona, molcstando-a sexualmente durante a viagem Ela reagiu, e quando o vcículo teve quc parar num semáforo, a moça abriu a porta do carro para fug1r'. Ao saltar do carro, cla tevc a mf'elicidade de ñcar presa na alça do cm'to de segurança, e caiu na rua. Alguns pedeslres, que prcsenciaram a cena, qu15'eram ajudá-la, mas o motorista rapidamente fechou a porta e, embora a moça am'da estivcsse prcsa à alça do c1n'to de segurança, o qual peadia da porta, o motorista acelerou 0 carro e partiu a toda veloc1'dadc. A moça foi arrastada por vários quüômetros c estava morta quando a polícia fmalmentc conseguiu alcançar 0 carro. Também neste caso as pessoas encontravam-se diante de um cnm'e 1gu'almente absurdo e sem sentido, c perguntavam pelo motivo. E novamente as pessoas sentüam um mal-cstar diante da rcsposta. O homem explicou que não tmh'a “tido” uma mulhcr há bastanle tcmpo, por xs'so prec15'ou urgentcmente de uma ab-reação sexuaL c quando csta não dcu ccrto ñcou com tanto mcdo quc foi levado a f11gu' com o carro. Da moça, que estava pendurada no seu carro, ele havia se esquecida

O que nos dxz'em os do¡s' rclatos, ao anahs'á-los psicolog1'camcntc? Temos doxs' homcns, dom1n'ados por emoções de grande m'tensidade, que sentem ncccssidades básicas que os 1m'pulsíonam para uma saüs°façãoz a agressão e a libido. E ambos os homens não têm qualquer 1m"bição ao procurar, e até forçar, esta satls'fação. Será quenada chama a atenção dc nós, espec1'ahs'tas, quando formulamos desta manexr'a os antccedentes de ambos os cr1mm"osos? Parece quc já conhecemos o dls'curso sobre os 1m'pulsos e necessidades, quc precm'am scr extravasados, ab-reagidos, que não podem ser repri~ midos para não causar danos ncuróticos; nós o conhecemos dos livros didáticos de psicologia! Conhecemos até um objctivo de terapia quc cons¡s'tc cm rcduzü as 1m"bições dos pacientcs; são 1m"bições quc 1m'pedem a saüs'fação de suas necessidades. Conheccmos bem as manchetes sobre líberação de cmoções, capacidade

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dc aut0-añrmação c fortalccimcnlo do cgo. Dc acordo com cslc dls'curso, os doxs' homcns cstariam alé bem ajuslados, dcvcria cntão havcr algo dc errado com suas v1'l1m'as... Scrá quc o lcítor pcrccbc o que está acontcccndo? Dcsenvolvcmos uma psicologia dc cnm1n"0sos, uma psicologia dos motívos dos cnm'cs, não só dc sua revclação, mas também dc seu perdão, mas não tcmos uma psicologia das v1't1m'as, uma psicologia par'a lidar com um sofr1m'enlo m'justlñ'cado, e muito menos sabcmos como evitá-lo. Somcntc a logolcrapia tem uma resposta ncste sentido. Todo estc d1l'cma devc-se única c exclusivamcntc a um crro que os patñarcas da psicología comctcram há muilo tcmpo, ao desligar a dimensao' espin'tua1 da dimensão psíquica na conccpção do homem, equívalcndo ao desligamento entre dígnidade humana e psicoterapia. A d1m'ensão psíquica do homem foi estudada,' m'vcstigada e analls'ada em cxccsso, resultando na concepção dc um scr regulado psicodm'amicamentc, c d1r'ecionado quase que só m'conscíentemcnte, cujo prm'cipal motívo na e_›dstência parecia c0n51$'ur' na satbfação de suas necessidades. A d1m'cnsão psíquica tornou-sc a d1m'ensão humana por excclência. Diante desta concepção do homem, não é de admkm quc a emoção de “raiva” se transformc naturalmenle cm pontapés, a emoção dc “cobiça” em molestação scxual m'espcmñ'ca, c a sensação de “ansiedade” em atos 1m'pulsivos sem rcsponsablh"dade. AñnaL as emoções prec¡s'am ser canahza'das para algum lugar. Será que haveria necessidade de um controle das emoçõcs, de um domm1"0, de uma autodls'cip11n'a? Arrcpendidos, hoje reoonheccmos que as cm0ções ens'tem, mas não podem predom1n'ar, não podem domm'ar o homem. Algo dcvc, cm ul't1m'a m'slan^cia, domm'ar as emoções, scrn

' ncccssariamentc repr1m1"-las, algo prec15'a v1g1"ar c até a dimcnsão psíquica do homem, impor hm1"les élicos à sua ms'tm'tividade; cstc algo é a dimensão espin'tua1do homem. Hoje, portanto, cstamos diante da larcfa d1f1"01l' de enquadrar novamentc a d1m'ensão espüilual na concepção psicológíca do homcm, e também de dar~lhc aqucla posição supcríor que lhc cabe, e dcve caber, para que a socicdade humana contmue cms't1n'do. Embora d1f'ícü, é uma tarefa m15°ericordiosa para com a psicoterapia, a qual, baseando-se em sua respectiva concepção do homem, geralmcntc seguc uma psicologia “não-espm"tual”, e constantemcnlc corre o perigo dc degenerar para uma terapêutica mccam^'ca “m'd1g'na". Para facmtar a comprcensão do quc acaba de scr dito, moslrarcmos um cxemplo de abordagem terapêutica de um mesmo

problema, confrontando uma terapia de grupo convencional com uma terapia logolerapêutica m'dividual. A problemática do exemplo é a raiva de uma paciente cm relação ao seu pai, que, segundo sua m'terpretação, maltratava-a quando cra criança. Pelo fato de que a geração de pa15' dcsta mulhcr adulta, dc mals' de 40 anos, am'da usava com frcqüência os castigos f15'icos na educação de seus ñlhos, cabendo ao pai o papel mals' ativo neste senlido, o problema da “raiva em relação ao pai” não é m'comum na prática psíootcrapêutica. Na scssão dc psicoterapia de grupo, cuja descrição me foi fomecida por uma mulher que participava da scssão c foi afetada pessoalmentc pelo problema, o assunto foi abordado da segmn'le manelr°a: Depom° que a pacicnte lcvantou as acusações conLra o pai, o lerapeuta explicou para a paciente que a forte repressão de suas cmoções, durante anos, seria a causa de seus dls'tur'bios psíquicos, dos qua15' só poderia livrar~sc ao reativax sua raiva m'terior c colocá-la para fora. Para ls'to, um cobcrtor foi enrolado num formato comprido e colocado no sofá, reprcsentando o pai-substituto. Depms' o terapeuta deu à paciente um bastão e dls'se-1he paIa bater no cobertor com toda força, gritando “Eu o odcio, cu o odcio!” Desta forma, suas emoções armazenadas poderiam extravasar e scu trauma psfquico estaria “elaborado” para sempre. A mulher seguiu as 1ns'truções, mas no decorrer da cena leve um choro convulsivo hls'téríco, o qual só ccssou quando um médico, que foi chamado às prcssas, lhe aplicou uma m'jcçáo, m'tcrnando-a numa clml"ca ncur0lógica por alguns dias.

A cste relato autêntico de uma sessão dc tcrapia dc grupo um tipo de sessão não m'comum« gostaria de contrapor a orientação que dei uma vez paxa uma mulhcr de meia idade que atcndi, e quc se que1xa'va de seu desgosto em relação ao pai durante toda suavida. Como logoterapeuta especiahza'da, nunca vejo a pessoa somente na sua d1m'ensão psíquica, mas também m'c1uo os aspectos csp1r'ituals' dc sua ex1$'tência nas mmh'as observaçõcs. Assun,' cxammcí o problema dc uma outra pctspcctiva do que o ac1m'a mencionado tcrapeuta de grupo. Não quc eu ncgue que a raiva, que se scnte por um pa1,' possa envenenax a vida toda de uma pessoa; só que ¡s'to acontece, não porquc uma emoção repnm1"da esteja constantementc forçmdo sua Iibcração, mas porquc com ódio no coração não sc pode viver bcm, muito mcnos morrer cm paz. O ódio é algo totalmente comrário à busca espm"tual de sentido do homem, algo que pressiona a pessoa cm d1r'eça'o à rcconcm"aça'o, e que somente podc ser “elaborado” através de um amor que perdoa.

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Pcrguntci cntão à clicntc sc alguma vcz chcgou a pcnsar cm rcconcnll"aça'o, ao quc cla rcspondcu lns'lcmcnlc quc lhc cra pralicamente impossível conduw° uma conversa séria com o pai Quando o ws'ítava, geralmcntc cle cstava diantc da tclcvisão, c quando cla começava a falar do passado e daquüo quc ems'tia entrc elcs, mandava-a calar-sc, para que ele não pcrdcssc alguma pane do ñlmc. E também depo¡s' do ñlme scmpre havía um assunto mals' atual, quc 1m'pedia uma conversa sobrc outros tcmas. Assxm', há muito tcmpo ela rcsignou cm relação ao scu pai.

Em seguida, dissc à mulhcrz “Seu pai eslá vclho, cle não mudará maLS'. O que pode mudar é sua atitudc cm relação a ele. Assxm', o diálogo entrc vocês do¡s', que nem scría muilo frutífero, não é tão 1m'portantc. O 1m'portanle scria um diálogo consigo própria, um diálogo entre scus sent1m'entos e sua consciência. Os senüm'entos rejeitam o pai, possivelmente com razão; a consciêncía, porém, advoga por um pcrdão, porquc a consciência, quando cla própna' cometc crros, depende do perdão de outras pessoas. Até estc ponto, domm'aram seus sent1m'cntos. Que tal s'e delx'assc, dc repentc, quc sua conscíência assum15'se o papcl domm'antc?” “É o uc gostaria dc fazer”, suspüou a mulhcr, “mas como fazê-lo?” “Ê muito sxm'plcs”, respondi-lhe, “da próx1m'a vez que visitar seu pai e elc estívcr na sala, cm frentc da televxs'ão, e não lhe der atenção, apromm'e-se dele c dê-lhe um beijo no rosto, scm qualquer comcntárío. Não 1m°porta o quc elc d15°ser ou ñzer, para a sra. scrá um símbolo dc rcconcxh"ação, uma rcconcú1"ação dc suas emoções com sua consciência. Um gesto de perdão perante um velh0. Através de seu gcsto, a sra. tüará de seu pai a culpa que ele tem, e se aliviará de seu próprio ódio”. A mulhcr seguíu mcu conselho e não só encontrou a paz m°terior, mas também se surpreendeu com a reação do pai que, conforme me contou ao telefonc, abraçou sua ñlha adulta, também sem comcntários.

Prec15'o confessar que anligamente era ma15' vacüante do que sou hojc ao cxigü renúncias de mcus pacicntes. Somcnlc dcpoís que compreendi que, dentro da dun'cnsão esp1r'ilual, o 1m'p0rlan'te são os valores e não a satisfação, e que os valores muitas vezes têm algo a ver com uma contenção dos descjos, enquanlo que a saüs°fação sempre está Iigada a uma reahza'ção de desejos, é quc enconlrei a coragcm dc cxigk sacr1f'ícios de meus pacicntes, se forem necessários. A este respeito, V1k'tor Frankl, em seu livro “Homo patiens”9, escrcveu a notável frascz

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Não é aquüo que guardo quc mantém seu valor, mas o que sacnñ'co, ganha em valor. e no mesmo trecho fala dc “dar sentido”, como um üpo de “renun'cía”, que prccm'a ser feita a favor de um scntido a ser rcah'zado. É verdade quc para nós, que estamos acostumados a um bem-estar cxccssivo, é extremamentc de'íc11'fazer sacrlf1"cios, mcsmo quc sejam plcnos dc senüdo, e que os valores a serem alcançados através deles scjam elevados. O hm1"ar da dor, em nossa era tecnológica, está cada vez ñcando mais ba1x'o, o que favorece os consultórios psicológicos, quc são procurados pelos problemas mais ms'igmñ'cantcs, mas quc é muito perigoso para a população cm geral, p015' uma um"ca catástrofe verdadeüa seria suñciente para ocasionar um colapso dc proporções cnormes. Isto mc lembra a observação do meu denns'ta, quc me contou quc há 40 anos a1n'da podja extra1r' dentes sem anestcsia, há 30 anos usava para isto apenas um leve resfriamento da região cxr'cundante, há 20 anos usava anestcsía local para a cxtração dos dcntes, há 10 anos usa narcóticos potcntcs para ls'to, e que hoje os pacientes gritam ai! somente ao ouv1r'em o som da broca. Conformc ele dlz', contra esta últ1m'a mamf°estação am°da não encontrou remédío... Nós logotcrapeutas não somos absolutamcnte a favor da antoñagclação, ou contra a alegria de viver, ao contrário, consíderamos patológicas tanto as torturas mñ1"gidas a si própri0, quanto a repressão sem sentido da alegria de viver. Sc a dor puder ser ah'víada, c o sofnm'ento evitado, esta scrá a pr1'oridade. O quc queremos dlz'er com o conceito de sacr1f1"cio é 0 “para quê” a quc está ligado, e somente este “para quê” dctcrmm'ará se um sacr1f1"cio tem sentido ou nãoz quanto maís elevado o valor de um 'p'ara quê',” mais profimdo é o sentido do sacnfcio a serfeíto a favor do rp'ara que^”.

Precm'o acrescentar aquüo que a psícología do cotidiano nos cnsm'a, a sabcr, que ex1$'te uma relação recíproca entrc ganhos e perdas pessoaLS' a curto e a longo prazo. Muitas vezes são somente as renun'cias a curto prazo, também chamadas dc “sacr1f1"cios”, quc possib111"tam ganhos de valores a longo prazo, que não poderiam ser conseguídos de outra forma. Por cxcmplo, a fch'c1'dade, a longo prazo, de tcr criado um ñlho, com saúdc e capacidadc de scguü sua própria vida, exige, a curto prazo, uma série de renun'cias durante

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anos, em prol do bem~cstar da críança. Dc mancu'a semelhante, o objctivo, a longo prazo, dc conclusão dc uma formação proñssionaL exigc uma séric de renúncias a curto prazo, durantc anos, a favor do estudo e trem'amcnto constantcs. Por outro lado, obscrvamos quc o oposto destas renúncias a curto prazo, que é a busca dc vantagcns c de prazer a curto prazo, muitas vezcs não só 1m'pcd1r'á os ganhos dc valores a longo prazo, como também pode acarretar problemas ms'olúvexs' a longo prazo. Quando paxs' constantemcnte negligencíam seus ñlhos, para que eles próprios possam nr'ar da vida o máxnm'o de prazer c d1'vert1m'cntos, a longo prazo, seus ñlhos podcrão lhe trazer grandes desgostos, o que ma1s' tarde poderá atormentar csscs pa1$'. Algo scmelhante podc acontecer com os jovcns quc m'tcrrompem scus estudos, em tmca dc avcnturas a curto prazo c que, a longo prazo, poderão scr punidos com desemprcgo ou ativídades proñssionab 1n'desejadas. Na psicoterapía, a d15'posição de fazcr renúncias a curto prazo, paIa certos pacíentes, é uma questão de recuperação ou m15'éria para o resto da vida. Ass1m,' não haverá solução para os alcoólatras, se não cbnseguüem dxzc'r o “s¡m'” a cuxto prazo para evitar o próxxm'o trago, ou para os neuróticos compulsivos, se não conscguu'em renunciaI, a curto prazo, aos seus comportamcntos de esquiva, os quals' lhes trariam am'da ma15' ansiedadc.

Reforçar a d15'posição ao sacr1fí'cio nas pessoas não constitui, portanto, objetivo terapêutico despropositado, contanto que o sacr1fí'cio tenha scntido. Pclo menos, é um objetivo mals' d1gn'o do homem do que aquelc de uma psicologia sem conotação cspm"tual, segundo a qual a pessoa pre015'an'a ab-reag1r' seus 1m'pulsos e agu' conforme eles, o que já causou muitos danos. O leitor que seguiu nosso raciocm1"o até aqui dcve ter concluído quc a soleira da liberdade espin'tualjâfoi lransposta. O dctermi~ nismo tradicional, próprio do psicologismo, foi superado no momento em que a noção de sacr1f'ício foi m'troduz¡dana psicologia, 0 que ocorreu através da logoterapia. Um sacr1f1"ci0 não pressupõe apenas um “para quê”, mas também um ato voluntário, a libcrdade para dccid1r'-sc por elc. É uma opção cm quc também o não-sacrifício é levado em consíderação. Num caso cm que as pessoas se encontram sob coação e prcssão, e somentc teriam uma úm'ca cscolha para ag1r', o que na rcalidadc não constiuú opção, não se pode falar dc sacnf1"cio. Pode envolvcr aflíção e sofnm'ento, mas não se trata daquela renun'cía m'terior, que foi reahza'da afavor de algum sentido.

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Portanto, um sacr1f1"cio pressupõc quc a pcssoa o faça voluntan'amcnte. O oontrário, porém, também é verdadeüoz o fato de que os homens podem fazer sacr1f1"cios, c numa basc totalmentc voluntária, para uma causa ou para outras pessoas que valham cstc sacr1fí'cio, comprova quc exns'te a liberdadc da vontadc, e quc nós homcns não somos escravos dc nossa psíque, nem cúmpliccs da “hidráulica dos ms'tm'tos” (Petcr R. Hofstactter). Tornaram-se 1n'sustcntávcm' o dxs'curso de quc somos 0br1g'ados a ag1r' dc uma certa mancxr'a, e a desculpa de quc há necessidade de ab-rcação, a551m' como as várias tcorias bascadas ncsses pressupostos, que se preocupam em anahs'ar a d1m'ensão psíquica do homem e acreditam quc, com lss'o, alcançam a “alma” do homem. Há m11'êm'os a humanidade conhccc os vários estratos da nossa ex1$'tência e, desdc então, sc prcocupa com 0 mls'tério chamado “alma”. Nem mesmo os maiores ñlósofos puderam resolver o problema “corpo-alma”, só conseguüam descrevê-lo. As d1f'erenciaçõcs ma15' comuns eramz o corpo é v15'ível, a alma é m'v15'ível; 0 corpo é materiaL a alma é 1m'atcrial. As religiões am'da acrescenta~ ram: o corpo é mortal, a alma é 1m'ortal. Quando, no começo do nosso século, a psicologia sc tomou uma ciência humana séria, sun'plcsmente transformou o conceito de alma no conceito de “psiquc”, dcclarando csta úIUm'a a sede de todas as cmoções e o dcpósito dc todas as cxperiências dc aprendlza'gem, sendo que ambos se combm'ariam para formar a base de nossos 1m°pulsos vitals'. Suxgiu então a caricatura de um homúnculo, scm vontade própria, d1n"gido pclas suas experiências mf'anns' e pelos seus 1m'pulsos, como sc fossc um fantoche. Somcntc com Frankl foi com'gida csta Lransformação m°complcta da “alma" em “psiquc”, ao complcmentar a psiquc com o clcmcnto da liberdade da vontadc c da dignidadc humana, clcmento que constitui o cspm"to humano. Consequ"cntcmente, a d1f'erencza'ção antiga entrc corpo c alma, rclacíonada à concrcção e abstração, deu lugar a um novo critério de d1f'erenciação: o critério da liberdade e do destino.

Talvez novamente um exemplo da prática cl1n1"ca possa de~ monstrar melhor o sigmñ'cado revolucionário deste novo critério de d1f'crenciação para a psicologia. Há alguns meses uma médica daChm"ca Dermatológica dc Munique pediu mmh'a colaboração quanto a uma paciente de 20 anos, que há muito tempo sofria dc um eczcma deformantc.

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CORPO

ALMA

l

diferenciação antiga

visíveL \material (ooncreção)

l

invisiveL imaterial (abstração)

ESPÍRITO diferenciação nova

l

sem

livre (Iiberdade)

liberdade (destíno)

A jovem mulher scmpre d121"a “Tcnho nojo dc m1m' mcsma”, o quc, segundo a médica, era preocupante, poxs' a moça não tmh'a família quc pudesse lhe dar apoio nesta d1ñ°culdade. Além d15'so, por causa da rcpugnan^cia que sentia de si própria, a paciente tornou-se muito ncgligente ao fazer o tratamento neccssário, não havendo possib1h"dadc de succsso se o tratamento não fosse feíto rcgularmcntc. Um psicólogo chm"co tentou m'tcrprctar a rcpugnan^cia dajovcm, refcnn'do-se a uma “bnn'cade¡r'a dc médico” na sua mf'an^cia, quando um menm'o da vmnh"ança lhc mostrou seu pênis; porém, a paciente, m'dígnada, recusou esta m'tcrpretação; de qualquer mancu'a, não deu resultado algum. Para m1m,' desde o 1m"cio, a questão não era a ong'em da repugnan^cia, p01s' algo feio c deformante pode sxm'plesmente repehr' as pessoas sensívels', e o seu eczema, de fato, era nada b0m'to. Para m1m', a questão central era como uma pessoa de 20 anos pudcsse viver com este dest1n'o, e opor-se a cle com todas as suas forças. E a551m' chcgamos à palavra-chave “deslm'o”. No nosso caso, qual era o destm'0? Ou, pcrguntando às avessasz scrá quc, dentro dcsta problemática, am'da ems'tm"a uma área de h'berdade, dentro da qual a pacicnte pudesse fazcr opções? A sua d1m'cnsão)7sica estava afetada por uma docnça, a qual era seu destm'o. A sua d1m'ensãops[quica estava afetada pela repugnan^cia, quc também era seu dcstm'o. Mas havia a d1m'cnsão espin'tual, em nada afetada, mas conclamada para se posicionar conlra a docnça e a repugnan^cia. E estc posicionamento poderia scr feilo das manekas mals' variadas, nada e nm°guém podcriam forçá-la a

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uma aliludc cspkítual espcc1fi'ca. Com 15't0, foí descoberta a área de libcrdade ex15'tente, o que precns'ava ser rcvelado à pac1'entc. A pnm'e1r'a 0015'a que aprendeu foi que a sentcnça “Tcnho nojode m1m' mesma” estava errada, porquc ex1$'tia nela um eu espu'1'tual, diante do qual a repugnan^cía não cra adcquada. A sentcnça devetia ser enlã0: “Tenho nojo do meu eczema”, o que ela aceitou. Em segundo lugar, aprendeu a rcumr' a repugnan^cia e o eczema para formar um um"co dcsaño psicofísíco que o dcsLm'o lhe aprcsenlava. Para accitar este desaño, ajudou-a um pcnsamento de V1kt'or FrankL que muitas vczcs lransmito aos pacicntes que precisam dialogar com suas próprias ansiedades e fraquezas. Eí-lo: Há algo que vocês não podem t1r'ar de m1m': mmh'a liberdade para decidk como vou reag1r' àquüo que vocês me fazem! Sempre que a desesperança, 0 ódío de si própria e a sensação de repugndn'”cia ameaçavam m'stalar-sc na pacíente, ela respondia a eles com as palavras ac1m°a e as sensações negaüvas perdiam seu domínio sobre ela. Fm'almente rcstava fortalecer sua vontade de recuperar a saúde. Mas será que a vontade pode scr trcm'ada? Esta é uma polêmica antiga, que nunca poderá scr satisfatoriamcnte resolvida, se mls'turannos a d1m'ensão csp1r'itual ou noética da ex1$'tência humana com a “subnoética". Na d1m'ensão subnoétia, é perfeitamcntc possível fazer um trem°amento da vontade, como o conhecemos na pedagogia e no trabalho com dcñcíentcs e víciados. Na d1m'ensão noética, p0rém, não é possível, ncm necessário, chm'ar a fotça de vontade, pois toda pessoa pode conñar cm sua vontade, contanlo que saiba o que quer. A vontade, sab1'damenle, pertcncc àqueles fenômenos que não podemos qucrer m'tencionalmente, mas que automaticamcnlc estão disponíveü em quantidadcs suñcientcs quando se deseja algo totalmente diferente.

Por este motivo, também não poderia ser sugerido à paciente que ela dcsejasse ter o dcsejo de recuperar a saúde. Contudo, foi feílo junlo com cla um levantamento daqu1l°o que ela, se estivesse bem dc saúde, pudesse reahzar' na sua vida algo que tivesse sentido. E hav1a' uma porção de planos para o futuro que jorravam dela, e pelos qua15' valia a pena suportar corajosamcnte a época trls'te de sua cstadia na chm"ca e os proced1m'cntos neccssáríos para o trata-

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mcnto. Um futuro pelo qual valia a pcna superw sua rcpugnância e levar até o ñm as prescrições e recomcndações médicas. Revclou-sc o “para quê” e cxigia um sacnfl"cio, numa basc voluntária,' o sacnfí'cio da dom1n'ação das emoções ncgalivas. Um sacrlTícío com que a mulher concordou sem qualqucr coação de fora. A parür' dcslc momento seu lratamento comcçou a surtir efcíto, como sc o “51m'” cspm"tual para a sua saúdc também fosse válido para o corpo c a psiquc. Dcste excmplo, podemos t1r'ar algumas conclusoe's. O psícó~ logo chm"co, de acordo com sua formação, lentou dcscobru' por que a pacicntc forçosamentc tinha que ter rcpugnan^cia de si própña c responsablhzo"u por ls'so um choque ocorrido na sua mf'an^cía. Eu, como logoterapcuta, de acordo com mmh'a formação, lcntei descobnr' até que ponlo a pacicnte seria livre para dcsañar sua rcpugnan”cia, e auibuí a cla a rcsponsabmdade pelos scus atos dentro dcsta pequcna árca dc libcrdade. O fato dc que ela “tmh'a que tcr” repugnância txr'ou-lhe a culpa pela falta de cooperação com os médicos, mas dcgradou-a a um ser 1ma'turo, cntrcgue a suas emoções. O “ser livre” exigia dela responsabüídadc c dls'posição para fazcr sacan"cios, mas dcu-lhe um status de malun'dade. Não csque~ çamos, portanto, a lição que dxs'so podcmos cxtralr': Mostrarpara um homem a sua área de Iiberdade, confomze as cimunstâncias, talvez a última que lhe resta, é um ato de dignidade humana, acima de qualquer técnica psicoterapêutical Com ls'to, gostaria de retornar ao meu ponto de partida, que é a rcm'tegração da d1m'cnsão espm"lual na d1m'ensão psíquica, na concepção dc homcm da logoterapia, e o novo cn'lén'o de d1f'erenciação daí resultante para 0 antigo problema corpo-alma, que hoje se apresenta mals' como dialética psicof15'ic0-espírito. Repetidas vczcs, em contatos com particípantcs de grupos dc estudo ou estudantes, perccbo como am'da é estranho pensar de acordo com o novo crítério, e como estc am'da tcm pouca m11'uência sobrc a nossa autocomprcensão, ao dar a elcs um cxercício escrito para saber aqu11'o que am°bum"am ao dcstm'o, ou à liberdade humana. Sob o conceito dc “dest1n'o”, são colocados dctermm'antes flsx"cos, como estado dc saúde, idade ou sexo da pessoa, além de eventualidades positivas ou negativas, ou seja, casos de sortc ou azar, e am'da fatores do mcio ambicnte sobrc os qua15' a pessoa não tcm controlc du'elo, como guerra ou paz, bem-estar ou dcscmprcgo, paxemcs agradávexs' ou desagradávels', ctc. Sob o conceito de “liberdade", geralmcutc é descñta a liberdade de mov1m'cnto de uma pessoa, sua atividade e passividade no cotidiano.

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Quando pctgunw cm scguida “E ondc scrim wlowdu as cmoçoc's?”, surgc uma longa rcflcxãq mé quc sc chcga à wnclusão dc quc 4.s' cmoçoc's pcncnwm w dcslm'0, porquc, wmo é sabído, nós nâo cswlhcmos num cmoçúm Alóm dmso", (: un'¡x›ssívcl, por cxcmplo, ordcw a algu*6m quc, dumtc os próximos 5 minulos, tcrá quc scnür 'alogru," ou 4b0'rrcc1m'cnlo, o quc dcmonmra quc as cmoçtks são cfcitos colal'er415" automahl'c05, conscicntcs ou m'w'n5cwn'lcs, dc que as mu5m, c quc náo cslão dlr'clamcntc subordinadm à vonud'c. Az cmoçoç"'s surgcm, 4as"im, wmo cfcno' do dcshn'o, o quc n40" 51gn'1ñ'ca quc náo posaa haver molivos para c141›,' quc o porlad0'r tcnha aLé sun'plcsmcnlc quc, no momcnto cm quc surgju uma dclcrmma'da cmow'0, não havh uma cmlha m'tcm'›r livrc pma quc csla cmoçaxü dcvcm" surgir ou não. Conlm"uu pcrguntmdoz “E pua undc vão 45' alitwdcs?” c novmcnlc há uma longa rcflcxáu Scrá quc 45' 4l'i1udcs são pr6-form4d45" por modclos, cxpcr1ê'nc141›"', ctc.? Mcus csludwtcs pcsm md4"dM'cntc os prós c os conan c flnaImC'nlc ncgm csLa possib¡'hda"dc. ÇL'*n4mL'~nle 4s' alüudcs do pmado ou do 4m'bicntc socnal' podem 51m'plcsmcme scr adotad45', mws elas ndoprecísam ser aceilas e adaladas. Pwa toda M alitudcs prwxxs'lcntcs, há scmprc um posiciomenlo pcswalq uma docxs"ã0 da oU'n1›cíênc1a'; mcbmo quc uma pcssoa wja cxlxcmmmc m'f1ucnc¡4"vcl pcla 0pm'm"0 dos ouuos, scmprc Lcm a opçãg dc como sc posícionw dmtc dc sua própña 1nf1'u-(,n(:m"blh''dadc1 . As au'tudcb, port4n'lo, são livrc5. Após tcrmos chcgado a csm concluso'cs, mlumo lmw uma oqua pcrguma pua dm"'u:›sa"'0, quc, dc ¡'mcd14"t0, pwccc íácü dc rcspondcr. Pergunto ao grupcx “Ounl' dr*'ca da vida humam dgr'adalhcs m4L5", a árca do dcstmo ou a da libcrdadc?" Rcspondcm un'cdhlmcnlcz “A ar'ca da libcrdadc, é clwo, pow' ncla podcmos p4m"cipcu' d45' dctc^rmm490t"-"s c dLCIbUL-""5, podcmos tomar a vída cm nosu mãos e dm"gi-la pwa ondc qumc'*rmos!" Sun', isto é vcrdadc, a hbc'rdadc wmprc auúu magncücmcnlc o homcm, é wu sonho dcsdc Adão c Eva.

Entrctan'to, cx1.5"tc um 45"pcc10 quc, por wim du"x:r, compcnsa o ponlo ncgalivo do dcstino com um ponlo posítiv0, poxs' cslá ligado à 4r'ca da libcrdade hum4n'4,' wmo um ônus do qum não podc sc hvr'ar, o 45'pccto da rexponsabilidada Aquilo quc é prcdctcrmma'do pclo deslm'o, quc não podc ser cscolhido por nós, cswpa dc nossa rcsponsabilidadc c, assim, tmbém das num fdlh'45'. Por aquilo, porém, quc é cswlhido h'vremcntc, cstruturado 1ivrcmcnte, dccídí~ do 1m'cmcnlc cm nossa vida, preas'amos rcspondcr até as últimas

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wnaoq"u"ência.s' daí dw"›rrcnlcs, pouR cbw é inogavclmcmc noua rcal'u"4'çd"'o c nom culpa. Dcslc ponlo dc wm a prcfcré'naa" pcla urlca dc libcrdadc msumc uma oulra pcrspoctivaz wrlmcnlc a libcrdadc é uma dádívag m também -(, a 'wndcn4ç40"' para a rcsponsabilidadc, c uwtmcnlc o dcsütw é uma wc-r<,4"'o, M lmbém a abwlvição da rcsponsabilidada

DESTINO

LIBERDADE (dcñnida mo 4J'go, díulc do qum podcmos dccidir Iivrcmcntc, num dclcrminado momcnto), por cxcmplo, cstruluração própnA" do ambtc'nlc rcaçoc's comcicntcs díanlc das c1r'cunstan'cna5° atos voluntüios posicionamcnlos cspüiluak (au'tudes)

(dcñnido wmo alg'o, pcnmlc o qual' não tcmos op(,4"'o, num dctcrminado momcnto), por cxcmplo, falorcs do mcio amblc'ntc cu'cun514n"0i45" positivazw c ncgalivas dctcrminwtcs físiws dclcrmíndn'tes psíquioos (emoçóes) NENHUMA RESPONSABILI DADE

RESPONSABILIDADE Através da rcinlcgração da d1m'cn5a'o cspirilual na dimcnsão psíqu1'ca,' dcnlro da conccpção dc homcm da logolcrap1a,' o homúnculo üpo fmlochc dc uma p51'colog14" ullrapmada nâo somcnlc foi dcslíluído dc suas funçoc's, ao chchI'-sc à rcdcscobcrta dc uma árca dc libcrdadc cms'tcntc pma qualqucr pcsso4,' praticwcmc cm qualqucr situação, m45' tmbém foi normdhta"'do o rclacionamcnto lotalmcntc pcrlurbado entre ética e psícología, porquc a rctomada dc uma libcrdadc pcssoal nada mzns' é do quc a rclomada da rcsponsab1h"dadc pessoal de cada um. Aqui senüm'os muito claxamcme a ligação com a rcimrodução da dígnídadc humana na psicolcrapla,' poís sc lirarmos do scr humano sua respon5'dblh"dadc, lambém lümos dclc sua d1'gnidadc, conformc dü FrankL Islo SIgmñ"ca quc uma psíwlerapia dc dcsculpdsu é uma ps¡'cotcrap1a' do avütamcmo, ou, cxprcsso dc outra forma, a condenação para a libcrdadc é a 1n'cv1t4"b1h"dadc dc podcrmos nos tornar culpados.

Por oulro lado, lambém exxs'te a absolvição da responsabüidade por causa do dcstm'o, cabendo à psicoleraph djss'olvet os scnt1m'cntos dc culpa In'jusnñ'cados para restaurax novamente a d1gm"dade. Como cxcmplo, gostana' dc mencionar o caso dc um

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homcm quc me procurou e estava cxtremamcntc cnvergonhado ao me relatar seu problema. Ele se sentia fortcmente atraído por cnan'ças, quc cxcitavam sua fantasia sexual, cspecialmcntc nas várzcas do Rio Isar em Munique, onde no verão brm'cam muitas crianças sem roupa. O mcdo dc que pudessc ceder a seus 1m'pulsos e molestar as crianças o atormenlava a tal ponto quc, durante todo o verão, não la' nadar e evitava todos os loca15' onde pudesse ñcar a sós com crianças que estivcssem brm°cando. Na reah'dade, nada jamais aconteccu neste sentido, o homem tmha' controle absoluto sobre si, mas cle se scntia culpado por causa dc seus pensamentos c descjos m'op0rrunos.

Quc d1f'ercnça observamos entre este caso e aquele do homem jovem, cujo cnm'e rclatei logo no m1"ci0 dcste capítulo, como exemplo de uma brutalidade desmesurada sob o d15'farcc de uma necessidade de ab-reação! Este homcm não era torturado por sennm'entos de culpa após ter pxs'ado no rosto de um banhls'ta que nada unh'a a vcr com clc, mas deveria sentlr' culpa, p015', apesar dc seus aborrec1m'entos prévios, não era m'telectualmente hm1"tado e,

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A logotcrapia não tem m'teresse em alribuk culpa a seus pacientes, e nem m'ar-lhes sua culpa. A logotcrapia se prcocupa com a compreensão dc nossa liberdadc e responsablll"dade, ls'to é, até que ponto somos h'vres e, portanto, rcsponsáveis, c até quc ponto somos um joglelc do nosso destm'o, e, portanto, ls'entos dc culpa. Contm'ua em abcrto a questão sobre qual alternativa nos parcce mals' snm'pática. Dependendo das cu'cunstânc1'as, a últIm'a allernativa pode até ser a mals' fácü de suportar, mcsmo quc não tcnhamos suspeitado disso. Imag1n'e o leitor quc cstcja diamc da allemativa de ser ou aquele que, andando dls'lraído na calçada, é atropelado por detrás por um carro, ou aqucle quc cstá na d1r'eção de um carro, e, num momcnto de dcscuido, atropela um pcdestrc d15'traído; não sei qual será sua preferência. Se ele for a v1't1m'a, tem o sofnm'cnto, mas pelo menos não tem culpa; 0 carro vm'do por detrás foi cntão seu destm'0. Se, no entanto, ele for o motons'ta imprudenle, não lerá dor f15'ica, mas sofrerá de uma aflição dc outro tipo, poxs' sua falha estava dentro de sua área de h'berdade. Convenhamos, é uma opção d1f'íc11'. Ela lcmbra um provérbio que d12': “A mãc dc qucm foi assassm'ado dorme, a do assassm'o, não.”

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Ncste pont0, pudc lhe m'ar toda culpa, p015' cmoções c idéías compulsivas pertenccm à área do destm'o, não são escolhídos livremente, mas 51m'plcsmentc aparccem sem quc se saiba de onde. Porlanto, o homcm não tmh'a culpa alguma por suas tendências pedofílicas e sua hiperreñcxão angustiante Iigada a clas. Ele era rcsponsávcl um'camcntc pelo cspaço entre ceder às suas tendências, ou ofcrecer-lhes resxs'tência. Dentro de sua área de liberdade, porém, scmpre escolhcu a rcsistência, tendo, portanto, agido com consciêncía dc sua rcsponsabú1"dade, o que, sem dúvida, cra uma rcahza'ção digna de louvor. Pude então d126'r-lhe o segumtez “O sr. não tcm motivo paxa se cnvcrgonhar, ao contrário, dcveria sc orgulhar de sí. O sr. é um homcm decente, nem a sua compulsão de pensamcntos dc ordcm ncurótico-sexual pode mudar ls'to. Seria apenas uma questão de como o sr. pudcsse aprcndcr a lidar am'da melhor com esta 1r'ritação provem'ente de suas cmoções. E há métodos psícoterapêuticos que 1r'ão ajudá-lo.” Eu havía pensado numa combm'ação de m'tenção paradoxal e derrcflexão, mas ambos os proced1m'entos revelaram-se desncccssários, porque o ah'vio do homcm, por causa do que lhe expliquei sobre sua decência fundamental c sua ls'ença'o de culpa, teve um cfcito de feedback tão positivo quc cle conseguíu sc dls'tancíar cada vez ma1s' dc scu problema. Ele até voltou a freqüentar as var'zeas do Río Isar; ma15' tarde rclatou-mc que, ao obscrvar crianças brm'cando, 51m'plesmentc lmh'a a consciêncía profunda e fehz' dc sua ñdelídade a si próprio.

por consegum'tc, era livre para escolhcr seus atos, mas elc, lcvianamcntc, optou por um ato negativo. A única abordagcm psicolcrapêutica possívcl ncsle caso scria aquela quc lhe mosltassc cslas conexões.

l

Tenho um motivo especial para d¡s'cuur' tão detalhadamentc este tema. Acontecc que em ccntenas dc pacientes ñz a obscrvação dc que há aqueles, cuja atcnção está d1r'1g1"da predommantemcnte para aquüo que pertcnce ao dcstm'o, enquanlo quc ex15'tem aqueles, cuja atcnção se focahza' pnm'ariamcntc na sua rcspcctiva área dc 1iberdade. Certamente há flutuações na concenlração espu'1'tual nos respcctivos oonteúdos, mas parccc quc os doxs' centros de gravídadc d1f'erentcs ex15'tem. Há pcssoas dcpress¡'vas, que sc desesperam por causa de sua depressão, e há outras quc pensam naquüo que a1n'da podem reah'zaI, apesar de sua dcpressão. As pnm'cu'as percebem seu destm'o, as outras, sua área de liberdade que o destm'o lhes delx'0u. Há pessoas que vivem constantemente no scu passado, repleto de lcmbranças dolorosas, a parür' das quais surgem as quc1xa's do prcsente. E há pessoas que buscam nas rem1m"scências dolorosas do passado a vontadc dc rcnovar c mudar o prcscnlc. As pnm'cu'as dcsgastam suas forças no confronto com o desun'o, poxs' o passado da vida de uma pcssoa, na sua 1m'ulab111"dade, pertence absolulamentc à área do desnn'o; as outras derivam forças dcste confronto com o dcsün'o,

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quc poderão scrvk até para a cstruturação dc sua área de liberdade aluaL

forma, suas possib1h"dades m'dividuais de escolha cstañam incxls'tcntcs.

Usando novamcnlc um gráñco simbólico, podcmos também classmcar as áreas do “dcst1n'o” e da “libcrdade” de acordo com as possib1h"dades nelas cns'tentes. Dcscobrkemos que na área do destino não há uma única possibmdade à nossa d15'posição, pons' nela, por deñm'ção, não há cscolhas, enquanto que na respectiva área dc 11'bcrdade, a qualquer momcnto, cm qualqucr situação dc nossa vida, há todo um céu estrelado dc p0551'b1h"dadcs disponívels', das quaxs' podçmos, e prec15'amos, escolhcr uma. Assm1' quc tcnhamos cscolhido uma dclcs, com a sua rcahza'ção, dcsaparccem subitamentc todas as outras possib1l1"dades dcsta situação, para nunca maLs' voltar. Cerlamente, surg1r°ão novas síluações com novas possibilidades, enquanto cstivermos vivos, mas o céu eerelado de um determmado momento desaparece com a concretlza'ção de uma úm'ca dc suas estrelas.

É lógíco que a árca do dcslmo c a da libcrdade pcssoal na nossa vída (c especialmcnle no diagnóslico dc dls'túrbios psíquicos!) mlútas vezes se m15'turam, mas justamcnle por 15'so é tão importantc que saibamos separar amba5' as áreas e, prm'cipalmemc, quc possamos concentrar-nos espu'1'tualmente, cada vez ma15', na área dc liberdade exns'lente. Os pacientcs que conscguem sc conccntrar nesta área de liberdade têm uma vantagem 1n1"gualável sobrc aquclcs que não o consegucm. Aquclc que m1r'a o dcstíno, olhará para o vazio, como podcmos dcduzü do gráñco anterior; vivc num mundo c1m'entado em que cle nada pode movcr ou mudan Para aquclc, porém, quc m1r'a sua área dc h'bcrdade, por menor que scja, abrcmse as possib111"dades de sua situação, m'clusivc as possibilidades de sentido desta situação. Repetidas vczcs usei o trocadllh'o dc Frankl sobre o “órgão do sentido”, para caracterizar aquelc m'strument0 de precisão no homem para perceber o “sentido scmpre prcsente” cm qualquer cu'cunstan^cía. Com base em nosso gráñco podcmos também denomm°ar a consciôncia como a capacidade do homcm para 1'dcnt1ñ'car a cstrcla mals' bnlh'ante no céu dc estrelas dc um dado momento, ou seja, dcscobnr' a opção que tcnha ma15' scnüdo,

ÁREA DA

ÁREA DO DESTINO

LIBERDADE PESSOAL X ao seleci_on_a_r-se uma DOSSIbIIIdad8, todas_ .a_s outras X X poss¡bllldades desta situação X X X x X apagam-se para X X X X x sempre \__v____/X XX X

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cada situação tem todo um "céu estrelado" de possibilidades Alguém que, por cxcmplo, acorda num domm'g0 de manha,~ tem m'úmeras possib1h"dades dc como passar esta manhã. Se, porém, decidh u' a uma exposição dc arte, snm'ultaneamente todas as outras possib1h"dades dcsta manhã delxam' de ems't1r' e nunca mals', nem em m11h'oes' de anos, terá novamente a mesma situação de escolha daqucle dommg'o de manhã que passou. Mas também sua mcolha de v¡s'ítar a exposição nunca mals' podcrá ser _anulada, p015' a parür' deste momcnto esta v1$1"ta constitui uma paxtc m'tegrantc c 1m'utável dc sua vida. Nanualmcntc, se, após lcvantar-se, essa pcssoa tivcssc desmaiad0, sua árca de liberdade estaria temporariamente fechada c o destm'o tomará a d1r'eção. Talvez alguém a leria levado ao hospitaL talvez cla contmuaria deitada no cha'o, mas, de qualquer

dentrc todas as possib1h"dades, de uma dctcrmmada árca dc liberdade.

Qual seria então a vantagem quc teriam aquelcs pacientes, que perccbem prcdomm'antemcnte sua árca dc libcrdade, sobrc os outros? A resposta é snm'plcs: trata-se da oportunidade para a saus'faça'o. Se alguém puder ter a certeza dc que, dcntro de sua área de libcrdade, fez tudo quc foi possível, cspecialmcnte tudo aquüo que tevc uma possib1h"dadc dc sentido, cntão, pma cle, tudo está bem, cle podc ñcar satxs'feito consigo próprio, m'dependentcmente de como for o seu destm'o. A sensação de “tudo está bem", añnal, nada ma15' é do que 0 reconhecxmcnto de quc “ñz tudo quc foi possíveL tudo que t1nh'a sentido”. Este rcconhecm'ento não teríamos, se somcnte v15'armos o destm'o, pois o dcstm'o nos fomcce quasc que exclusivamentc um motivo para estar ms'ahs'feito com algo.

Para ajudar mcus pacienles a cnconLrar esta cxperiência dc “tudobem”, apesar dc suas hm1"taço'cs c afliçõcs pcssoais, dcsenvolvi durantc Incu ul't1m'o grupo de tcrapia um conjunto dc cm°co cartões dc lembretcs humons'ticos, que cada participante levou para casa. Tratava-se de um grupo de acompanhamento após as terapias m'dividuals', do tipo dc um “c1r'culo de meditação logotcrapêuu'ca”, conforme expüquei detalhadamente no meu livro “Von der Tiefen-

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zur Hochcnpsychologic” (“Da psícologia profunda para a psicologia das alturas”). Era composto de participantcs que, cm geraL haviam passado por um período de doenças durantc décadas; entrc eles, havia duas mulheres quc foram mnsidcradas m'curávels' pelo hospital psíquiátríco de Haar, perlo de Munique, antes de me procurarem Todosjá passaram por uma terapia m'dividual e tmh'am alcançado uma relativa establll"dade, mas, de algumaforma, estavam diante de alguns “fragmentos” de sua vída, dexxa'dos pela doença. No grupo, convcrsamos muito sobre os pcnsamentos expressos nesle livro, e os particípantes mamf'estaram o desejo dc ter um material cscrito que, em tempos de cn'se, pudcsse lembrá-los dc procurar oricntação nas possib111"dades dc scntido dc sua cns'tência. Tivc então a idéia dos cm'co cartõcs, que sabia pertenccr a um programa pcdagógico-tcrapêutico para crianças, onde se mostraram eñcazes. Por quc não poderiam também aumh"ar os adultos, com um tcxto mod1ñ'cado? Dei então novas legendas a cstes cartões, com cm'co ursmh'os da autoria de Meichenbaum, c obtive cm'co passos dc um proccsso para lidar idealmente com problcmas da vida quc possam surg1r', sob a forma de uma lns'tória cngraçada dc ursos, quc, justamcntc pela sua mf'ant1h"dadc, tem um cfeilo du'eto sobrc nosso amm^'o, podendo fac1lm'ente produzü uma mudança terapêutim dc pcnsamento. Na pág1n'a 225 cstão representados os 5 ursmh'os, os quais ccrtamentc ficariam contcntcs sc pudcssem serv1r' a um ou outro leitor...

Examm'emos cada um dos cartõcs. A pr1m'c¡r'a pergunta éz “Qual o meu problema?” Esta não é uma pcrgunta logoterapêutíca, mas uma pergunta psícológica propriamente dita, que prec15'a ser feita sempre que a pessoa, de alguma forma, não se senür' bem psiqu1'camcnte. Toca-se, ass¡m,' na dimensão psíquica do homcm, p01$' é ela que causa a conotação emocíonal desagradávcl de uma reah'dade. Um problcma, na verdadc, é sempre um problcma emocionaL Aquüo que perturba nossos pacicntes é a tns'teza, a ansiedade, a agressão, a cobiça, a decepça'o, etc.; de qualquer forma, é a emoção quc cstá hg'ada ao fato da rcah°dade, e não o fato em 51,' que m'comoda. Se, por exemplo, alguém se divorciar e pensarz “Quc bom que me livrei delc”, então o divórcío, para esta pcssoa, não constitui problema. A situação torna-sc problemátíca, se a pessoa lamentar a ausência do outro, se não suportar a solidão, se tiver ódío do parceüo perdido, ctc. Ou se alguém pcrder o emprcgo e pensar:

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“Até que enñm posso descansar um poucol”, cntão o dcsemprego para elc também não é problcma. Novamentc, o desemprego se tornará problema, se a pessoa dcscnvolver scnüm'entos dc mf'erioridadc, medo do futuro, ctc. Isto sxgmñ"ca que a carga emocional dc umproblcma éo vcrdadcu'o problema na psicologia, levando, a551m', a psicologia tradicional a daI ao aspccto emocional do homcm uma 1m'portan^cia desproporcíonalmente grandc, ao cquipwáJo erroneamente à alma, conforme já expliquei.

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Nosso pnm'en"o ursmh°o encontra-se diantc de um sm'al de parada, que é uma barreüa emocionaL que o segura na sua vida, e cuja problemática precxs°a esclarecer. Após esse csclarcc1m'cnto, o ursmh'o do segundo cartão efetua uma mudança; poderíamos dlze'r que rcpetc a mudança quc a logoterapia m'troduzíu na psícologia. Ao lado da d1m'cnsão psíquíca, mostra a dimensao~ espírítual do homcm, quc, além de todos os sm°als' dc parada e barrcu'as cx15'tentes, semprc permitc uma certa área de 1iberdade, através dc atitudcs m'tcriores, de posicionamentos diantc das próprias emoções e da avaha'ção da rcalidade presente. “Onde esrá m1nh'a área de Iiberdade?” O pacicnte que a procura vai encontrá-la. E se tiver cncontrado sua área de h'berdade, também terá diante de si todo o céu estrelado de possib1h"dadcs, às quaxs' se refcre a pergunta do nosso ursmh'o do terceüo cartão. Agora não domm'am ma15' as emoções, a palavra agora está com a cognição, a fantasía, a riqueza de idéias, a criatividade de uma pessoa. A pessoa que m'vest1g'ar suas possib1h"dades de cscolha encontrará muito ma15' opções do que acredita, mcsmo em_situaçõcs de vida muito Porém, saber das varíadas possib111"dadcs de escolha am'da não é suñciente, ma15' uma vez a d1m'ensão cspm"tual do homem precEa man1f'estaI-se, levantar sua voz, que é a voz do “órgão do scntido”, a consciência. As emoções ou cogniçõcs facdm'ente poderiam fazer uma opção errada, uma opção contIa o scntido. As emoções escolhem de acordo com o prm'cípio de “querer atuar” cegamente, o que já mencionamos, e as cogníções escolhem de acordo com 0 pnn'cípio da máx1m'a vantagem pCSSoal possíveL são calcuhs'tas c cegas para os valores. A consciêncía, porém, é autotranscendente, faz com quc o homem possa olhar para além delc próprio, para o mundo em que vivc, para “aqu11'o quc nele seria necessário fazcr”, aqui e agora. Somentc a consciência podc dcscobrü qua1, de todas as possibilidadcs de cscolha, é a que tem ma15' sentido. Quem rcconheccu esta possib1h"dade tem apenas uma escolhaz scgmr' a consciência ou não. Nosso ursmh'o do qmn'to cartão defcndc as consequ"ências, a m'tenção dc rcahzar' aquüo que foi reconhccído. Certamcnte surgüá a pergunta se, com ls'so, o problema origm'al foi resolvido. Diantc dls°to, añrmo quc não sc tratará mals' do mesmo problema de antes. Um paciente, que seguiu 1n°teriormente 0 cammh'o dos ursmh'os, delx'ou para trás o sm'al de parada; é possível que am'da tenha uma carga cmocional pesada, mas cle conhcce scu cammh'o, e cstc cam1nh'o cstá Iivrc.

Conforme dlss'e, d15'tríbuí os cartõcs com as üustrações para os partícipantes de um dos meus grupos de terapia, talvcz até para

1n'troduz¡r' um pouco dc humor em nossas convcrsas sérias, pois a logoterapia, por motivos tcrapêuticos, gosta de apelar para o scnso dc humor das pessoas. Os particípantes unhzar"am os caxtões das maneüas ma15' diversas; alguns colocaram-nos na larelr'a, para olhálos todos os dias; outros somente ur'avam-nos da gaveta quando estavam diamc dc algum problcmaverdadexr'o. Uma scnhora dcu-os de prescnte para sua ñlha, que estava muito cstressada por se encontrar diante de scu exame ñnal de qua11f1'caçã0 como profcssora c que, com a ajuda dos ursmh'os, conseguiu mantcr a calma c satxs'fazcr uma cxigência após a outra. Dcp015' quc tcrminou este gxupo, todos os participantcs, scm cxccção, contaram-mc uma “hJs'tória de urso” pessoaL rclatando, com base nas palavras-chave dos cartões, como conseguüam sc ajudar numa situação crítica. Gostaria dc reproduzü aqui a ma15' bom'ta destas “h15'tórias de urso”, para, com isso, também voltar ao nosso tcma cc'ntral, que é a conservação da dignidade humana na psicoterapía. A participante do grupo, que me mandou esta h15'tória por carta, redigíu com suas lmh'as um documento comovcnte do “humaníssxm'o” no scr humano, diante do qual a nós, psicoterapcutas, cabe tcr respeito e admu'aça'o. Ela escrcvem

“Sofria de uma série de sm'tomas. ASSIm' que um desaparecia, aparecia o scgum'te. A sra., dra., foi a nona terapeuta quc consultei. Muitas vczes rclateí como o meu passado fora tns'te, rccebi m'terprctaçõcs e diagnósticos para aquüo que sentiaz que eu era narcisista, mf'ant11', quc meu cu-criança domm'ava. A sra. passou a trabalhar comigo de uma forma d1f'crcntc, ensm'ou-me a dar mcnos 1m'p0rtan^cia aos meus sm'tomas, transmítm'do-me coragem e amoconñança. Tornei-me muito mals' solta durante m1nh'a terapia com a sra. Porém, há algo sobrc o qual nunca falei com terapeuta nenhum, nem com a sra. Engraçado, nem cu sei por quê. É algo que me m'comoda bem lá no fundo, desde que posso pensan Recebo muito pouco amor. Não me amam. Nm'guém me ama tanto quanto gostaria c precxs'aria. Amor! Por que elc está fechado para m1m', meu Dcus, por quê? Nunca d15'se ls't0 a nm'guém, mas é m1nh'a úm'ca dor verdadelr'a, o resto é quase só sxm'ulação. Não, não é bem ass¡m'. Ou será quc s¡m'? Dcpoxs' dc tanto tempo dc lerapía, devcria me comprcender a m1m' mesma, mas fui mc tomando cada vez maís uma estranha para m1m'. Outro dia peguei novamente os cartões dos ursos. Estava sozmh'a em casa, e já era noite. Chorei quando pcguei o pnm°cu'o carta'0. Dcpons' peguei o segundo. Mmh'a ar'ca dc libcrdade... não conseguia lembrar de nada. Mas ela devc exist1r'. Tive então uma

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idéia. O quc estou csperando? Se não posso ter amor, podería ser amor. Ser amor... idéia cstranha. E totalmentc nova. Como é 15'to, quando há amor dentro de nós, quando nós o 1r'radiamos? Uma vez a sra. d¡s'sc ano sobre o ter e o serz quc 0 ter pode ser perdido, cnquanto que o ser nunca se perdc, nem mesmo naquüo que passou. Olhei para o terceüo cartão e agora sei o que a sra. quis d12'er com o *céu estrclado cheio de possíb1h"dadcs*. Dc rcpentc, suxgüam m'um'eras idéias. Eu podcria scr amável para com todas as pessoas quc encontro dian'amente, muito mais do quc fui até agora. Elas poderiam sentü amor na mmh'a presença. Mas seria ls'to possível? Pcnetrado pelo amor - que idéia! Dcp015' ñz planos e 1m'ag1n'ci muitas cotMs Como me aprox1m'arci das pessoas, sem tcr vergonha, como convidarei meus conhecidos, e como todos agradecem Mas o quarto cartão dcm'ou-me séria. Mmh'a consciência foi brutal. 'Você se 11'udc”, disse ela, 'não tem sentido querer comprar 51m'patias. Se quiser amar, dcverá fazê-lo com as pcssoas tal como elas são. Sem csperar por retribuição. Por exemplo, aquela mulher idosa do terceüo andar, que é scmpre tão pouco amáveL che flores para ela, mas aceíte sua falta de amab1h"dadc, só a551m' será capaz de amar." Acredite ou não, mas é o quc m1nh'a consciência d15'se. No dia scgmn'tc, fui à Horicultura perto do mcrcado e comprei um buquê de ñores da pnm'avera. chci-o para a mulher. Ela não díssc palavra alguma, só olhou para as flores e para m1m'. Aí senti que de agora em diantc mdo mudaxia. Não vou ma15' mc lamentar que não reccbo amor suñc1'ente. Rcalmente, o que 1m'porta não é o reccbcr. Dcntro dc m1m,' havia pouco amor, mas ts'to eu posso mudar. Cada dia mudo um pouco. O qum'to cartão está na mmh'a bolsa e me acompanha para onde for. De alguma forma, estou fchz'. Não é a felicídade com que sonth mas é uma fclicidade boa. Sxm,' agora tudo está bem.”

A carta desta SCnhora, que publiquci com sua pcrnns'são, despertou em m1m' uma suposição geraL Uma suposição que poderia levar a umatcoria sensacionaL sefôssemos segui~la. Suponhamos que realmcntc haja pessoas que sc conccntram espm"tualmcnte, com todas as suas forças, nos determmantcs do seu destm'o, e que haja outras pessoas que, predomm'antemente, v15'uahzam' sua árca de h'berdadc. Isto não sígmñ'caria que as pessoas cítadas em prlm'eiro lugar tambémfalariam mals' freqüentcmente sobre os determínantes do seu destm'o do que as outras, po¡s' cada um fala daquüo com que se ocupa seu espln"to? Isto não 1m'p1icaria no fato de que, nas anamnescs quc nós psicotcrapcutas lcvantamos, e nas quals' se baseia em grande parte nossa m'tervcnção terapêutica, apareccm fatorcs do dcstmo (com0 mñ'uências do mcio, padrão de educação

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dos pals', docnças sofridas, ctc.) com maior ou menor frcqüência, dc acordo com o pensamcnto do ch'cnte, quc pode scr orientado mals' pelo desnn'o, ou mals' pcla liberdadc? Como conscqu"êna'a, dc duas pcssoas com uma hls'tória de vida scmclhante, uma dclas contaria ao tcrapeuta quc sua mãe não lhe dcra atcnção suñciente, c quc levou um choque quando seu cão predüeto fora atropelado, 1s'to é, colocaria em pnm'elr'o plano sua condição de vílima, enquanto que o outro talvcz rclataria que sua mãe lhe dera a chancc de cscolhcr h'vrcmcnte sua proñssão, e que sempre tívera xmúto m'teresse por amm'als', ou seja, ressaltaria sua partiap'ação nos acontecxm'cmos. Poderia scr quc, durantc três quartos dc século, a psícologia aceitou como vcrdadeüas as hls'tórias de vida reconstruídas a partu' de relatos dos pacicntes, tlr'ando conclusões sobrc o cstado prcsentc do clientc, quando, na verdade, ambos, ou seja, a seleção dos eventos relatados da h15'tória de vida, assun' como o estado atual de uma pcssoa, representam única e exclusivamente o grau de sua on'entaçao' mentalpelo destino, o grau em que um paciente se sente privado da 11'bcrdade, cmbora cxistam áreas de libcrdade cms'tencials' para ele? Scrá que a docnça psíquica ou, ma15' cautclosamente, a docnça neurótica, nada mais é do que um bcco mental sem saída, uma atenção crônica d1r'ccíonada àquüo que não pode scr mudado, e uma falta de atenção àquüo que seria possívcl muda:?

Se assm' fosse, poderíamos resolver a contradição rcsultante do fato de que m'úmeros manua1s' de psicologia, no mundo todo, añrmam quc a ncurose sc dcscnvolve a partü de frustrações da pnm'c¡r'a mf'an^cia, de privações e de modelos parentajs uegativos, quando, ao mesmo tcmpo, há m11h'õcs de pcssoas, no mundo lodo, que tiveram uma mf'an^cia d1fí'c11' c sofrida, e se transformaram em adultos pcrfeitamcntc normals'. É claro que qucm não utlhza" sua liberdade de forma responsách parque nem a pcrcebe, pode fra~ cassar na sua vida adulta, da mesma forma que pode fracassar cm sua retrospectiva subjctiva com rclação ao seu passado; elc não percebc suas oportunidadcs da vida prescnte, nem aquelas de sua mf'an^cia. Elc só se lembra daquüo que o mcio ambicntc lhe causa ou causou, porque não sc identxñ'ca com um ser que, por sua vcz, pode rcspondcr àquüo quc lhe é mfh"gido dc várias mancu'as, não pcrcebc quc é um ser que pode rcspondcr livrcmcnte, dc acordo com suas próprias escolhas. Um ser quc, na verdade, cle é, apesar de tudo.

Ass¡m', gostaria de concluü que a dignidade humana é algo que, segundo acrcditamos, até 0 homem mals' pobre, mais doente e mals' 1n'út11' a1n'da possui. A psicotcrapia é algo que, conformc acrc-

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ditamos, a1n'da devcria ser possívcl para o homem mms' pobrc, mais doente e ma1s° m'únl'. Se qukermos umr' ambos, preas'amos opcrar na d1m'cnsão daquele ul'nm'o “bem” do hOmcm, que somcnte dcsaparecerá com sua morte. E cste “bem” é a Iiberdade espm"rua1 do homem.A logoterapía é a um"ca psicoterapia quc conscguiu 1n'tcgrar harmom'osamentc a libcrdade espm"tual do homem no scu csqucma méd1'co-p51'cológ1'co. Na mmh'a op1m"ão, a ela cabe, com razão, o título de uma psicoterapía digna do homem. Referências bibliográñcas 1. FRANKL, Viktor E DerMmsch vor dd Fmge nadz dcm Smn' Mucnchcn. Ed. Pipcr & Co. (p. 54). 2. FRANKL Vmor E. Da wxbedbxglc Mcmch Wicn, Dcuticke, 1949, ineorporado a: Dcr Icidazdc Mcnsclr Anrlvopologwc°hc Gmndlagcn dcr Pspthorhaupic Bem Ed. Hubcr.

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6. FRANKL, Viktor E. Algumaue fitcr ancn' lragmch'm Opmnmnus" m': Svm'-vollheüm Ed. Hcrdcr. hvm' n9 1156. CEm portuguesz Argwnauosanfavor dc um omnmo" zrdgíca. In: Darxmido à vtda.' PctrópohslSã'0 Lcopoldq VozcslSm'o-

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