Classic Rock - Kiss Fm

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Não deixe o rock sair de você!!! Muito mais do que simplesmente um gênero musical, o rock é um estilo de vida. É um sentimento que influenciou moda, atitude, visão de mundo e a história de várias gerações. Esse livro, feito por roqueiros apaixonados, transmite o legado de amor ao rock às próximas gerações. São décadas de história contadas pela equipe da Kiss FM – trazendo relatos pessoais, curiosidades de bastidores, polêmicas, episódios épicos e alguns até engraçados além da trajetória da rádio que é sinônimo do verdadeiro rock and roll. Ligue o som o mais alto possível, abra seu livro e comece esta viagem por onde tudo começou! Isso é rock: é disso que a gente gosta… é disso que a gente entende!

INTRODUÇÃO O que faz alguém sair por aí dedilhando o ar como se fosse uma guitarra? O que faz uma pessoa gastar todo o seu dinheiro em camisetas e usá-las diariamente, até ficarem velhas e desbotadas? O que faz um indivíduo pular por duas horas no meio de uma multidão sem se cansar? Em meados dos anos 1950, um novo ritmo musical surgiu para arrebatar os jovens do mundo todo. Dos encontros entre rapazes de jaqueta de couro e garotas de saia rodada, o rock pôde florescer, tornando-se a voz de toda uma geração. Ser um roqueiro não é apenas escutar música e colar adesivos no carro ou pôsteres nas paredes. É muito mais do que isso: é um modo de viver e, acima de tudo, uma filosofia. Ser roqueiro é deixar de lado qualquer tipo de rótulo. Existem bilhões de roqueiros no mundo. Somos maiores que qualquer religião. No entanto, um roqueiro moderno pode conhecer pouco sobre as origens do rock. Por isso, é interessante voltar um pouco no tempo para observar as circunstâncias em que esse estilo nasceu. O projeto deste livro nasceu de roqueiros apaixonados que queriam registrar a história e a evolução deste gênero até ele se tornar o que conhecemos hoje. Não foi fácil, pois a gama de materiais sobre o assunto é enorme; existem muitas histórias, casos e questões sobre as origens do rock. Com a expansão das mídias digitais, aumenta a cada dia o acervo de filmes, shows, programas de TV, livros oficiais e não oficiais, notícias, lendas urbanas e outros registros. Ao produzir este livro, procuramos fazer bom uso de todas essas fontes, uma vez que o rock nasceu de uma mistura de elementos. Não importa o subgênero de sua preferência, com certeza ele está aqui. E o registro permanecerá nestas páginas para transmitir esse legado de amor ao rock às próximas gerações. Afinal, como The Who disse na música “Long Live Rock”, por mais que digam que o rock está morto, a música sempre encontra uma maneira de se reinventar. Então, ligue o som o mais alto possível, coloque o álbum de sua banda preferida e comece esta viagem pela história do rock. Um grande abraço à Nação Roqueira! A Equipe

CAPÍTULO 1

ORIGENS

Em 1945, com o fim da Segunda Guerra Mundial, os soldados puderam retomar suas vidas normais e o mundo testemunhou um rápido aumento das taxas de natalidade. O baby boom, como foi batizado esse processo, define a geração nascida naquela época, entre 1946 e 1964. Quando se tornaram adolescentes, os primeiros baby boomers quiseram transformar o ambiente repressivo de seus lares. Naquela época, o mundo era muito diferente do que conhecemos hoje. A Guerra Fria estava a todo vapor, a bomba atômica era um risco real e o medo do comunismo motivava a caça às bruxas, conduzida pelo senador norte-americano Joseph McCarthy entre 1950 e 1956. Os Estados Unidos viviam uma fase de intenso crescimento econômico, ao mesmo tempo que os negros lutavam para acabar com a segregação racial com ajuda de figuras como Martin Luther King Jr. nas décadas de 1950 e 1960. Com o intuito de se rebelar contra os adultos, os jovens brancos daquela época passaram a ouvir rádios especializadas em rhythm & blues (R&B) − a música ouvida pelos negros que haviam migrado para grandes centros urbanos − e a adquirir discos desse estilo. Assim, a indústria musical percebeu o potencial desses consumidores brancos, que ajudaram o rock and roll. Essa música é um produto da mistura de diversos elementos, dentre eles o blues do Delta do Mississippi – principalmente os subgêneros como o boogie woogie e o jump blues, o gospel e o country. ROCK AND ROLL Um fato que a maioria das pessoas desconhece é que a expressão “rock and rolling” era originalmente utilizada para descrever o balanço dos navios, mas a partir da década de 1920 virou uma gíria usada pela comunidade negra para se referir a festejar ou a praticar sexo. Acredita-se que o termo tenha sido usado pela primeira vez em uma gravação de 1922, na música “My Man Rocks Me (With One Steady Roll)”, cantada por Trixie Smith e escrita por J. Berni Barbour. A expressão também aparece em músicas da década de 1930, como “Rock and Roll” (1934), das Boswell Sisters e “Rockin’ Rollin’ Mama”(1939), de Buddy Jones. Em 1942, a jornalista Marie Orodenker usou a expressão “rock and roll” para descrever a música “Rock Me”, de Sister Rosetta Tharpe. Em 1948, a versão de Wynonie Harris de “Good Rockin’ Tonight” (gravada originalmente por Roy Brown um ano antes), alcançou sucesso e ajudou a palavra “rock” a aparecer em várias músicas posteriores. Foi, no entanto, com Alan Freed que o termo se popularizou, a partir de 1951, sendo usado

para descrever o novo estilo musical que representava os anseios e as vontades da juventude da época. “A importância do surgimento do rock and roll nos anos 1950 foi muito além da criação de um novo ritmo musical. Tratou-se na realidade de uma verdadeira revolução cultural, que abalou profundamente a sociedade na época, promoveu grandes transformações nas décadas seguintes e continua tendo reflexos até hoje, sessenta anos depois.” – Rodrigo Branco Em 21 de dezembro de 1921, nasce Alan Freed em Windber, Pensilvânia. Aos 21 anos, ele inicia sua carreira na rádio como jornalista esportivo, mas depois passa a tocar jazz e músicas populares da época. Em 1949, o disc jockey se muda para Cleveland, Ohio, onde tinha um programa na estação de rádio WJW. Dois anos mais tarde, em 1951, Leo Mintz, dono da maior loja de discos de Cleveland, a Record Rendezvous, sugere que Freed comece a tocar na rádio as músicas de R&B que os adolescentes brancos estavam ouvindo. Assim começava a Moondog House, com Freed como o primeiro DJ branco a tocar esse tipo de música, ao mesmo tempo que acompanhava o ritmo batucando em uma lista telefônica. “Na década de 1950, o rádio começava sua missão de lançar artistas!” – Marcelo Andreassa O sucesso do programa − e do estilo musical que tocava − foi tanto que, no meio da década, Freed participou de filmes como Rock Around the Clock e Rock, Rock, Rock, além de outros. Em 1957, passou a apresentar o programa The Big Beat na rede de televisão ABC. A atração, no entanto, durou pouco e foi cancelada após o quarto episódio, depois de Frankie Lymon, do grupo Frankie Lymon & The Teenagers, ter dançado com uma garota branca da plateia. No ano seguinte, Freed foi preso no meio de um show em Boston. Durante o concerto, a polícia tentava manter o público sentado e não queria que as luzes fossem apagadas. Após ter de interromper a apresentação

várias vezes, Freed reclamou em alto e bom som: “Bom, crianças, parece que a polícia de Boston não quer que vocês se divirtam hoje”. A prisão ocorreu sob a acusão de que ele estava incitando o vandalismo. Alan Freed morreu em 1965 de cirrose por conta de seus abusos com o álcool. Se a popularização do termo é atribuída a Freed, a honra quanto ao primeiro rock and roll gravado é dividida entre, pelo menos, três canções: “Good Rockin’ Tonight” (1947), de Roy Brown; “The Fat Man” (1949), de Fats Domino; e “Rocket 88” (1951), de Jackie Brenston. No entanto, por não serem muito conhecidas hoje em dia, costuma-se considerar “Rock Around the Clock” (1954), de Bill Haley & His Comets, usada posteriormente no filme Sementes da violência (Blackboard Jungle, 1955), o marco inicial para o sucesso e consolidação do rock and roll como um novo gênero. Sementes da violência conta a história de Richard Dadier, professor na North Manual High School, uma escola onde a maioria dos alunos, liderados pelo estudante Gregory Miller, se comporta de maneira antissocial. Para conquistar os alunos, o professor se submete a alguns atos violentos, até que descobre que o provocador é outro aluno, Artie West, e o desafia para um confronto na sala de aula. O filme retrata o espírito da juventude da época, sendo o veículo ideal para propagar o trabalho de Bill Haley entre os jovens. Muitos foram os chamados pioneiros do rock. Alguns foram tão importantes que ainda são conhecidos atualmente, enquanto outros caíram no esquecimento completo. Dessa época, podemos destacar como os artistas mais famosos Little Richard (“Tutti Frutti”, 1955), Elvis (“Heartbreak Hotel”, 1956), Fats Domino (“Blueberry Hill”, 1956), Jerry Lee Lewis (“Great Balls of Fire”, 1957) e Eddie Cochran (“Summertime Blues”, 1958).

GRANDES NOMES ELVIS PRESLEY Elvis Aaron Presley nasceu em Tupelo, Mississippi, no dia 8 de janeiro de 1935. Durante a infância, se mudou com a família para Memphis e aprendeu a tocar violão em 1948. Já adulto, começa trabalhando como motorista de caminhão. Só em 1953 que Elvis vai até os estúdios da Sun Records para gravar um compacto de presente para sua mãe. Suas influências musicais eram o gospel (sua mãe fazia parte da Assembleia de Deus), o country, o pop da época e também o R&B. Ele também se tornou a principal figura do rockabilly, a mistura de rock com hillbilly (denominação do country típico dos anos 1940 e 1950). Já no início da carreira, o músico conseguiu que suas músicas fossem tocadas em programas de rádio locais, como o Red, Hot and Blue Show, do DJ Dewey Phillips. Depois que tocou “That’s AlI Right” (1954) pela primeira vez, o DJ recebeu tantas ligações de ouvintes querendo saber qual era o nome do cantor que repetiu diversas vezes a canção nas duas últimas horas de programa. Com sua popularidade aumentando, Elvis atraiu a atenção de outros produtores e da RCA, gravadora com quem assinou em 1955. No início de 1956, em 27 de janeiro, o cantor lançou seu primeiro single pelo novo selo, “Heartbreak Hotel”, alcançando o topo das paradas americanas pela primeira vez. Dois anos depois, Elvis aceitou a convocação para se juntar ao exército, encorajado por seu empresário, que enxergava aí uma oportunidade para o músico conquistar ainda mais fãs. Ele permaneceu na Alemanha de outubro de 1958 até março de 1960. Ainda que essa temporada não chegasse a somar dois anos, para o pesquisador britânico Alain Dister, depois de retomar sua carreira, Elvis até podia ainda continuar cantando baladas bonitas, mas o mito inicial estava definitivamente perdido.

Ao longo de sua carreira, o músico gravou inúmeros hits, sendo atualmente o artista que mais vendeu discos em todo o mundo, com mais de 1,5 bilhão de álbuns vendidos. Entre seus principais sucessos estão “Hound Dog”, “Don’t Be Cruel” e “Love Me Tender” (1956); “All Shook Up”, “(Let Me Be Your) Teddy Bear”, “Jailhouse Rock” (1957); “Can’t Help Falling In Love” (1961); “A Little Less Conversation” (1968); “Suspicious Minds”, “Don’t Cry Daddy” (1969); “Bridge Over Troubled Water” e “Always On My Mind” (1972). Elvis faleceu em 16 de agosto de 1977, vítima de um ataque do coração após lidar com seu divórcio e com o abuso de drogas. Foi um artista de fundamental importância para o desenvolvimento e aceitação do novo estilo musical chamado rock, e isso se verifica em diversas bandas das décadas de 1960, 1970 e 1980, que assumem terem sido diretamente infuenciadas por seu estilo, como os Beatles, Bob Dylan, Led Zeppelin, Queen, The Clash, Rolling Stones, entre muitas outras. A Sun Records foi fundada pelo disc jockey Sam Phillips em meio ao clima de rebeldia característico da década de 1950. No começo, Phillips relutava em promover artistas negros, mas por fim foi responsável pelo lançamento de músicos

como Howlin’ Wolf. As operações começaram no dia 27 de março de 1952. Com o enorme sucesso conquistado por Elvis Presley, Phillips resolveu se concentrar em roqueiros brancos, como Roy Orbinson, Jerry Lee Lewis, Johnny Cash e Carl Perkins. No entanto, a era de ouro da gravadora acabou no fim de 1955, após perder Elvis para a RCA.

Chuck Berry e sua guitarra semiacústica. CHUCK BERY A “Santíssima Trindade Negra” do início da história do rock era formada por três grandes artistas que marcaram o estilo: Fats Domino, Little Richard e Chuck Berry. Influenciado por Nat King Cole e Charlie Christian, Chuck Berry produzia com sua guitarra uma mistura de blues e country que marcou a carreira desse ex- -fotógrafo, ex-operário e ex-cabeleireiro. Berry foi apresentado pelo bluesman Muddy Waters a Leonard Chess, diretor da Chess Records, selo de blues que acabaria por se render ao rock and roll. Em 1955, aos 29 anos, ele conseguiu realizar sua primeira gravação, “Maybellene”, uma adaptação da música country “Ida Red”. O single vendeu mais de 1 milhão de cópias, sendo considerado por alguns como o primeiro rock da história. O guitarrista liderou um grupo formado pelos músicos Johnny Johnson (piano), Willie Dixon (baixo) e Jasper Thomas (bateria) e acumulou sucessos que constituem uma lista enorme. Dentre eles, estão: “Roll Over Beethoven” (1956, regravada pelos Beatles em 1963), “Johnny B. Goode” (1958), “Carol” (1958), “Sweet Little Sixteen” (1958) e “Back in the USA” (1959). O músico acabou servindo de modelo e inspiração para Keith Richards, Eric Clapton, Jeff Beck e Jimmy Page, para citar apenas alguns instrumentistas. Muitos nomes do Classic rock já gravaram uma de suas músicas ou mais. Em dezembro de 1959, Chuck Berry foi pego atravessando a divisa de dois estados em companhia de uma adolescente de catorze anos, sendo acusado de ter tido relações sexuais com a garota. Berry alegou não ter feito nada de errado com a menina, que teria mentido sobre a idade.

Em 1960, o músico foi condenado a cinco anos de prisão, pena que em 1961 seria reduzida para três anos, e dos quais cumpriu dois. Sua popularidade diminuiu após o acontecimento, mas o posterior sucesso dos Beatles e dos Rolling Stones ajudou a restaurar a imagem do músico.

Little Richard tocando em uma apresentação. Atualmente, Berry vive na cidade de Ladue, Missouri, próximo a St. Louis, e ainda se apresenta ocasionalmente. LITTLE RICHARD Um dos nomes mais conhecidos e venerados dessa época, Little Richard

esteve nas paradas de sucessos entre os anos 1955 e 1958. Seu nome verdadeiro é Richard Penniman e nasceu em 1932 no estado de Georgia. Em suas gravações do começo dos anos 1950, ele já demonstrava um estilo pouco ortodoxo. Seu produtor encorajava-o a imitar Ray Charles, mas Richard preferiu desenvolver seu próprio estilo, misturando o visual usado pelo pianista Esquerita com o da cantora gospel Mahalia Jackson. Dentre suas canções de grande sucesso estão “Long Tall Sally” (1956, regravada pelos Beatles em 1964), “Rit It Up” (1956) e “Good Golly Miss Molly” (1958, regravada pelo Creedence Clearwater Revival em 1969). Foi Little Richard também que inventou a famosa frase rítmica “Awop-bop-a-loo-bop-a-lop-bam-boom” (eternizada na canção “Tutti Frutti”, de 1955). Apesar do sucesso que fazia com o público do rock (era idolatrado pelos futuros integrantes dos Beatles e dos Rolling Stones), o músico teve uma “epifania”, segundo afirmou mais tarde, que fez com que se voltasse aos assuntos religiosos. Em 1958, formou a igreja Little Richard Evangelistic Team, e viajava pelo país pregando a fé evangélica. Ele voltou aos palcos no início da década de 1960, em apresentações onde o rock convivia com a Bíblia, como os shows registrados na Grã-Bretanha entre 1962 e 1963. “Um fato curioso é que em algumas de suas turnês nos Estados Unidos, a banda de Little Richard contava com um músico que era ninguém menos que Jimi Hendrix. O guitarrista confessou posteriormente ter inspirado muito de seu estilo e guarda-roupa em Richard.” – Evaldo Vasconcelos JERY LE LEWIS O músico recebeu a alcunha de “The Killer” (O matador) pela maneira quase selvagem como se apresentava, tocando o piano em pé e às vezes até subindo no instrumento. Suas primeiras gravações foram feitas na Sun Records. Embora já tivesse lançado singles como “Crazy Arms” (que vendeu 300 mil cópias pela Columbia Records), foi apenas no ano seguinte que ele se tornou um dos nomes de ouro da Sun, com “Whole Lotta Shakin’ Goin’ On”. Outro single de 1957 foi “Great Balls of Fire”, que vendeu mais de 5 milhões de cópias (1 milhão apenas nos primeiros dez dias após o lançamento) e foi considerada a 96ª Melhor Canção de Todos os Tempos

pela revista Rolling Stone. “Chuck Berry, Little Richard e Jerry Lee Lewis formam a Santíssima Trindade do rock.” – Marcelo Andreassa Em alguns momentos Lewis conseguiu superar Elvis em número de vendas, mas sua carreira sofreu um grande revés quando o casamento do músico com sua prima de apenas 13 anos foi descoberto. Lewis tinha 22 anos na época. O escândalo teve significativas decorrências: a turnê na Inglaterra foi cancelada após apenas três apresentações, o músico foi banido das rádios norte-americanas e o cachê de suas apresentações caiu de 10 mil para apenas 250 dólares. Seu maior sucesso na década seguinte foi lançado em 1961, um cover de “What’d I Say”, canção que Ray Charles havia gravado em 1959. Apesar de todos os dramas de sua vida pessoal, Jerry Lee Lewis ainda continua na ativa, lançando novos discos regularmente. Em 2010, lançou Mean Old Man, seu 40º álbum de estúdio. RAY CHARLES Seu nome real era Ray Charles Robinson, mas omitia o sobrenome para não ser confundido com o campeão de boxe Sugar Ray Robinson. Devido a um glaucoma, Ray começou a perder a visão aos cinco anos de idade; aos sete, já estava completamente cego. Ainda criança, na escola, aprendeu a tocar piano, onde estudava música clássica. Foi considerado o pioneiro da soul music ao fundir, na década de 1950, elementos de R&B com gospel e blues, principalmente em suas primeiras gravações para a Atlantic Records. Suas influências incluem jazz, blues, R&B e country de artistas ativos na época, como Art Tatum, Nat King Cole, Louis Jordan, Charles Brown e Louis Armstrong. Na década seguinte, Charles assinou com a ABC-Paramount Records, tornou- -se o primeiro músico afro-americano a ter controle artístico de sua produção, concedido por uma gravadora de grande porte, e ficou famoso por integrar musicalmente elementos do pop e do country. Seus problemas com drogas, que afetariam sua carreira, não o impediram de gravar canções como “I Got a Woman” (1954, gravada depois por Elvis em 1956), “This Little Girl of Mine” (1955), “Talkin’ ‘bout You”

(1958), “What’d I Say” (1959), “Hit the Road Jack” (gravado em 1960 e lançado em 1961), entre outras que o tornaram um astro reverenciado. Outros sucessos de Charles incluem baladas como “Ruby” (1960), “Georgia on My Mind” (1960) e “Unchain My Heart” (1961, também gravada por Joe Cocker em 1987). Ray Charles morreu em 10 de junho de 2004, em sua residência em Beverly Hills, na Califórnia. Faleceu por problemas no fígado. Nesse mesmo ano, ficou em décimo lugar na lista dos 100 Maiores Artistas de Todos os Tempos da revista Rolling Stone e, em 2008, ocupou o segundo lugar na lista dos “100 Maiores Cantores de Todos os Tempos” da mesma revista. BUDY HOLLY Apesar de sua curta carreira, críticos e biógrafos como Bruce Eder consideram Charles Hardin Holley, nome verdadeiro de Buddy Holly, “a força criativa mais influente do rock and roll” dos anos 1950. No início daquela década, Buddy começou a se apresentar com seu amigo Bob Montgomery, tocando músicas do estilo Bluegrass, um subgênero do country com influências do jazz. Foi apenas depois de ver um show do rei do rock, em 1955, que o músico começou a incorporar elementos de rockabilly. Antes de assinar com a Decca Records, em fevereiro de 1956, Holly abriu shows para Bill Haley & The Comets e para o próprio Elvis. Sua banda, His Crickets, gravou em 1957 sucessos como “Peggy Sue”, “That’ll Be The Day” e “Not Fade Away”. Essas canções tornaram-se ainda mais conhecidas depois de serem regravadas por outros grandes nomes da música, como John Lennon e os Rolling Stones. Em março de 1958, Holly e seu grupo fizeram uma turnê pela Inglaterra, tocando para um público de adolescentes, dentre os quais estavam Paul McCartney e Mick Jagger. Além dos Beatles e dos Rolling Stones, o trabalho de Buddy Holly influenciou também Elvis Costello, Marshall Crenshaw, Don McLean, Bob Dylan, Steve Winwood e Eric Clapton, além de bandas como The Byrds e The Turtles. Em 3 de fevereiro de 1959, uma tempestade de neve provocou o acidente aéreo que matou Buddy Holly (22 anos), com o piloto Roger Peterson e dois outros músicos: Ritchie Valens (intérprete do hit “La Bamba”, com 17 anos) e J.P. “The Big Bopper” Richardson (28 anos). Em uma entrevista, o baixista do Crickets, Waylon Jennings, afirmou que havia cedido seu lugar no avião para Holly, que, como agradecimento, disse irônico: “Espero que o seu ônibus velho congele!”. Com bom humor, Jennings teria respondido: “Bom,

espero que o seu avião velho caia”. O dia em que a música morreu, como ficou conhecido o evento que tirou a vida de três talentos do rock and roll de uma só vez, chocou músicos e uma legião de fãs. Em homenagem aos colegas, no dia seguinte Eddie Cochran gravou a canção “Three Stars”. Mas foi a música “American Pie”, lançada por Don McLean em 1971, que assumiu o encargo de contar a história aos mais jovens. Sem nomear os envolvidos, a música fala sobre o dia em que a música morreu (“The day the music died”), transmitindo o sentimento que tomou conta do país na época.

BILL HALEY William John Clifton Haley, ou Bill Haley, como ficou conhecido, nasceu em 1925 no estado norte-americano de Michigan e passou seus primeiros anos constantemente mudando com sua família para outros estados, por efeitos da Grande Depressão de 1929. Seu pai, William Albert Haley, originário de Kentucky, tocava banjo e bandolim, enquanto sua mãe, Maude Green, era inglesa e tecladista com formação em música erudita. Quando completou quinze anos, Bill saiu de casa com seu violão em busca da fama. Passou por vários tipos de provação, tocando sozinho ou acompanhado, em qualquer oportunidade que surgisse. Nessa época se apresentava bastante em parques. Depois, tornou-se diretor musical da Radio Station WPWA, na Pensilvânia, onde ficou por seis anos, para depois formar sua própria banda, a Bill Haley’s Saddlemen, que seguia o estilo country. O grupo tocou em clubes e em rádios até 1951, quando gravaram seu primeiro álbum. “Começamos como um grupo de country-western. Decidimos tentar um novo estilo, usando principalmente instrumentos de corda para obter o mesmo efeito dos metais e dos saxofones. Era uma coisa nova e diferente e, embora ninguém soubesse, já tocávamos rock and roll”, declarou Haley ao jornal O Estado de S. Paulo no início dos anos 1970. Em 1952, o grupo passou a se chamar Bill Haley with Haley’s Comets, em uma alusão ao cometa Halley. Logo depois, aconteceu a mudança definitiva

para Bill Haley & His Comets. O sucesso veio com a música “Rock Around The Clock” (1954). Estima-se que a canção tenha vendido cerca de 15 milhões de cópias somente na década de 1950.

Bill Haley em 1956. A carreira do grupo, entretanto, sofreria um retrocesso por não gravarem muitas músicas, perdendo espaço para outros músicos do

período, especialmente Little Richard e Elvis Presley. O grupo de Bill Haley se apresentou duas vezes no Brasil, em 1958 e em 1975. Segundo os jornais da época, foi bem recebido na primeira vez, mas na segunda já mostrava não ter o mesmo fôlego para se apresentar com o figurino característico dos anos 1950. Haley morreu em fevereiro de 1981 de causas naturais, em sua casa no Texas. Comentários da imprensa e de parentes apontam que ele poderia ter um tumor no cérebro naquela época, morrendo depois de infarto. Passou os últimos anos de sua vida escrevendo sua biografia e confidenciando aos amigos que pretendia voltar a se apresentar. Deixou para sua esposa e seus filhos uma cadeia de postos de gasolina e direitos autorais pela participação em quinze filmes e pela venda de milhões de discos. Em fevereiro de 2011, seu filho Bill Haley Jr. formou uma banda de tributo ao pai, chamada Bill Haley Jr. and the Comets. FATS DOMINO Antoine Dominique Domino (“Fat” significa “gordo”, uma característica de sua aparência) nasceu em 1928, em Nova Orleans, na Louisiana. Ele foi incentivado a tocar piano principalmente por seu tio, Harrison Verrett, um guitarrista de jazz. Seu pai era um violinista bem conhecido na época. O pianista chamou a atenção pela primeira vez quando sua música “The Fat Man” foi lançada em 1950 pela Imperial Records. Seu primeiro álbum, Carry on Rockin’, foi lançado em 1955 e relançado pouco tempo depois com o nome Rock and Rollin’ with Fats Domino. Misturava sucessos com músicas inéditas e logo alcançou a 17ª posição na parada de álbuns pop da Billboard. O músico participou ainda dos filmes Shake, Rattle and Roll (1956) e The Girl Can’t Help It (que no Brasil se chamou Sabes o que quero), também de 1956. Na década de 1960, trocou de gravadora e foi para a ABC-Paramount Records. Lá lançou onze singles, dos quais apenas Red Sails In The Sunset, de 1963, entraria nas paradas. Fats ainda conseguiria ficar novamente nas paradas em 1968, com uma versão de “Lady Madonna”, dos Beatles, e, em 1980, com o sucesso country “Whiskey Heaven”. Após mais participações em alguns filmes, o músico decidiu, no início daquela década, não sair mais de sua cidade natal, onde vive com a renda de suas gravações. Hoje, com mais de oitenta anos, Fats Domino é creditado pelo pesquisador Paul Friedlander como o artista com a maior quantidade de

sucessos do rock entre os precursores, com exceção de Elvis. Em 2004, a revista Rolling Stone lançou uma lista com os Artistas Mais Influentes de Todos os Tempos, e classificou Fats Domino em 25º lugar.

CAPÍTULO 2

INVASÃO BRITÂNICA

É de se pensar que, com o mercado dominado pelos sucessos de ícones como Elvis Presley, Chuck Berry e Little Richard, dificilmente os norteamericanos aceitariam uma variação estrangeira do ritmo que eles mesmos haviam criado. No entanto, no final dos anos 1950, o rock parecia ter perdido sua vitalidade inicial. Chuck Berry estava preso, Elvis prestava serviço militar na Alemanha e Little Richard havia se tornado um pastor. A carreira de Jerry Lee Lewis ia de mal a pior depois do escândalo de seu casamento, e trágicos acidentes haviam tirado a vida de astros como Buddy Holly e Eddie Cochran (morto em um acidente de carro). Esse contexto, em que o rock se encontrava em declínio em seu próprio país de origem, permitiu aos britânicos entrar no concorrido panorama cultural norte-americano, com o movimento que ficou conhecido como a primeira “Invasão Britânica” (a segunda aconteceu nos anos 1980). A educação controladora e o ambiente sexual repressivo da época prepararam o terreno para uma insurreição cultural, que se faria sentir quando os anos 1960 finalmente chegassem. Com a introdução da cultura liberal, principalmente na segunda metade dessa década, o panorama cultural começou a mudar. A sonoridade e a rebeldia do rock norte-americano tornaram-se populares entre a juventude britânica durante os anos 1950. Embora tenham ocorrido fracassadas tentativas comerciais de copiar o rock americano, essa atitude inovadora por parte de músicos do jazz deu origem a vários singles de sucesso na Billboard britânica. Vários grupos começaram a combinar os estilos de ambos os lados do Atlântico. Assim, a década de 1960 traria novos ritmos e revelaria nomes que até hoje são reverenciados. O rock, com sua energia inicial, tinha deixado uma marca no inconsciente coletivo, provocando em sua sequência o surgimento de uma série de novidades. Começou, então, a se dividir em vários subgêneros, processo que continua acontecendo até os dias de hoje. Isso faz surgir bandas e músicos bastante distintos entre si, ainda que compartilhem das mesmas origens. Há muita diferença, por exemplo, entre as músicas gravadas por Paul Anka, ídolo dos adolescentes de então, e as canções que o recém-convertido pastor Little Richard cantava, principalmente em relação ao conteúdo. “A segunda grande onda do rock and roll foi ainda mais forte e ressuscitou o estilo, que havia praticamente sido sufocado no final da década de 1950, início de 60.

Influenciados pelos pioneiros do rock americano e do blues, capitaneados por Beatles e Rolling Stones, deram ao estilo a força e proporção que o determinou como a trilha sonora do século XX.” – Rodrigo Branco MERSEY BEAT O termo foi usado pela primeira vez pelo jornalista Bill Harry em 1961, no jornal Mersey Beat, de Liverpool, na Inglaterra. Segundo Harry, o ritmo “era baseado na batida dos policiais e não na música”. O movimento também tinha pouco a ver com a geração beat literária dos anos 1950, de Jack Kerouac, autor de Pé na Estrada (On the Road), influência importante para nomes como Jim Morrison (do The Doors) e Allen Ginsberg (ídolo de Ian Astbury, do The Cult). Na verdade, a big beat music, mais tarde abreviada para beat, surgiu quando a onda inicial do rock começou a decair, no final da década de 1950. O movimento era uma alternativa para os que admiravam o R&B e o soul, uma vez que as paradas da época se encontravam dominadas por baladas melosas de artistas como Cliff Richard (apontado por muitos como o equivalente britânico de Paul Anka), que também era ator e hoje ostenta o título inglês de sir. Em setembro de 1961, a banda The Pacifics mudou seu nome para The Mersey Beats e, por fim, em fevereiro de 1962, para The Merseybeats. O grupo tocava com frequência no histórico Cavern Club (local onde muitas bandas da época se apresentavam, mas que acabaria ficando mais conhecido pelas apresentações dos Beatles). Enquanto isso, em outros cantos da Inglaterra, como Birmingham e Londres, surgiam os chamados Brum Beat e Tottenham Sound, ritmos similares ao beat, mas que usavam nomes diferentes para preservar sua independência. Na música de grupos beat, predominavam linhas de guitarra, harmonias vocais e melodias cativantes. A formação mais comum de grupos desse tipo contava com uma guitarra principal e uma base, baixo e bateria, arranjo que seria popularizado por bandas como Beatles e Gerry & The Pacemakers, entre outros. A característica mais marcante da música era a batida marcada, em 4 por 4.

ALGUMAS BANDA S MERSEY BEAT Banda

Época de atuação

The Beatles

1960 - 1970

The Big Three

1961 - 1964, 1973

The Cryin’ Shames

1965 - 1966

Lee Curtis and the All-Stars

1961 - 1967

The Dakotas

1962 - até hoje

Derry and the Seniors

1960 - 1962

The Escorts

1962 - 1966

The Fourmost

1961 - até hoje

Gerry & the Pacemakers

1959 - 1966, 1974 - até hoje

Billy J. Kramer

1963 - até hoje

The Liverbirds

1963 - 1968

The Merseybeats

1961 - até hoje

The Mindbenders

1963 - 1968

The Mojos

1963 - 1968

Rory Storm and the Hurricanes

1958 - 1972

Kingsize Taylor and the Dominoes

1958 - 1964

The Searchers

1959 - até hoje

The Swinging Blue Jeans

1962 - 2010

The Undertakers

1961 - 1965 Fonte: allmusic.com

SKIFLE A verdadeira origem dos grupos responsáveis pela Invasão Britânica está no skiffle, um tipo de música folk com influências do jazz, blues e country, que se tornou popular entre a juventude britânica branca na década de 1950. O estilo incentivou a formação de muitos grupos musicais, incluindo The Quarrymen, primeira banda dos integrantes dos Beatles. O skiffle tem sua origem em circuitos de jazz, o que viria a facilitar o acesso a esses redutos. Com seu renome, os lugares que se dedicavam a gêneros mais populares da música (o folk, para sermos mais exatos) também abriram suas portas para esse estilo. A grande incursão de pessoas ao gênero se deu em maio de 1956, quando dois praticantes australianos de luta livre abriram um café em Old Compton Street, no extremo leste de Londres. O estabelecimento ganhou o nome de The 2I’s Club e, durante as décadas de 1950 e 1960, vários músicos iniciantes frequentaram e se apresentaram no local. Um grupo que se apresentava lá e foi dos primeiros de skiffle a ganhar

notoriedade, justamente porque tinha uma sonoridade semelhante à do rock, foi o de Tommy Steele. A banda gravou a canção “Come On Let’s Go” (1958) e teve uma carreira respeitável, que durou até o surgimento da beatlemania. Steele é tido como o primeiro ídolo adolescente e roqueiro britânico de que se tem notícia, além de ter mostrado Elvis Presley ao Reino Unido. Os grupos de skiffle utilizavam objetos improvisados, como tábuas de lavar roupa e garrafas, o que conferia um ritmo peculiar a essas canções de melodias simples. Era comum ver os músicos se apresentarem com as guitarras e a bateria acompanhadas de garrafões vazios ou reco- -recos. Um exemplo clássico dessa característica é um contrabaixo improvisado que tenciona uma corda, presa em um cabo de vassoura espetado em uma caixa, chamado “Tea Chest Bass”. Era esse o baixo utilizado pela The Quarrymen. Tais instrumentos conferiam um ar de amadorismo para os grupos, mas a qualidade de áudio de algumas gravações, que conseguiram sobreviver até os dias de hoje, chega a impressionar pela variedade de sons obtidos. A lista de grupos de skiffle que sobrevivem até hoje inclui nomes no mínimo estranhos, como Johnny Duncan & the Bluegrass Boys, Bob Cort Skiffle Group, Les Hobeaux Skiffle Group e The Original Barnstormers Spasm Band, além da “rainha” do gênero, Nancy Whiskey. Além de John Lennon e Paul McCartney, dentre os nomes que mais tarde entrariam para o cenário roqueiro, estão também o guitarrista dos Yardbirds e do Led Zeppelin, Jimmy Page, e o cantor do The Who, Roger Daltrey. Outro exemplo de músico influenciado pelo skiffle é o cantor Marc Bolan, que mais tarde se tornaria líder do grupo T. Rex. Ele declarou muitas vezes que havia começado sua carreira em um dos grupos do estilo, embora já não conseguisse lembrar o nome da banda… OS BEATS ATACAM No final dos anos 1950, o skiffle já estava em decadência, embora fosse possível verificar seu legado nos muitos grupos influenciados por essa cultura surgidos em centros urbanos como Liverpool, Manchester, Birmingham e Londres. Somente em Liverpool havia cerca de 350 bandas em atividade, que tocavam em bailes, casas de show e clubes, segundo o site Mersey Beat: The Founder’s Story, de Bill Harry. Liverpool foi um local singular na formação desses grupos, pois oferecia uma combinação de espírito de solidariedade, decadência industrial e

presença de uma numerosa população de origem irlandesa. Além disso, era um elo com os Estados Unidos por meio de seu porto, de onde partiam muitos navios transatlânticos, que traziam guitarras importadas sem restrições comerciais. Após o sucesso arrasador dos Beatles na Inglaterra a partir de 1962, outros grupos de Liverpool começaram a entrar nas paradas britânicas, incluindo Gerry & The Pacemakers, The Searchers e a cantora Cilla Black. O primeiro grupo que não era de Liverpool ou gerenciado por Brian Epstein a fazer sucesso foi Freddie and the Dreamers, de Manchester, de onde também vieram os grupos Herman’s Hermits e The Hollies. Para além das fronteiras de Liverpool, verificava-se uma maior influência do blues e do R&B, por exemplo, nas bandas de Birmingham, que, em geral, se uniam às bandas beat, dentre elas The Spencer Davis Group e The Moody Blues. De outras cidades, mas também influenciadas pelo blues e que se tornaram famosas, podemos citar ainda o Animals, de Newcastle, e o Them (banda de Van Morrison), de Belfast. Já na capital londrina, os grupos que se beneficiaram do estouro do beat incluíam The Dave Clark Five (representante do Tottenham Sound) e os emergentes Rolling Stones, Kinks e Yardbirds (o embrião para o grupo que mais tarde seria o Led Zeppelin). COMEÇA A INVASÃO O termo “Invasão Britânica” foi cunhado pelo repórter televisivo norteamericano Walter Cronkite no final de 1963, em 10 de dezembro, para descrever a chegada de grupos britânicos aos Estados Unidos e o consequente nascimento da beatlemania. A aparição do grupo em fevereiro de 1964, no programa The Ed Sullivan Show, tornou os Beatles ainda mais populares naquele país. O quarteto usou humor para escapar de qualquer tipo de armadilha que os repórteres pudessem armar durante as entrevistas e tiveram sua popularidade alçada a níveis estratosféricos. A carreira de sucesso dos Beatles começou após gravarem o single Love Me Do, lançado na Inglaterra em outubro. Depois, lançaram o álbum Please Please Me, em março de 1963, que continha as duas músicas do single anterior. Os Beatles se encontraram com Elvis em 27 de agosto de 1965, e houve o que foi considerado um “silêncio constrangedor”. Uma exposição recente que ocorreu em Liverpool, chamada “Elvis and Us”, trazia um vídeo com Tony Barrow, assessor de imprensa dos Beatles, relatando que John

Lennon perguntara a Elvis o que havia acontecido com ele. O “rei” chegou a rir do comentário e pediu que levassem os violões ao quarto onde estavam. Barrow diz no vídeo que “com as palavras não tinham muito que falar, mas quando começaram a tocar, a conversa começou a fluir”. Logo os dois lados do Atlântico tinham garotas histéricas gritando por seus ídolos. Almejando esse mesmo sucesso, outros artistas seguiram os passos dos Beatles e viajaram aos Estados Unidos em busca de seu primeiro milhão de dólares. Dentre eles, dois anos após a passagem dos Beatles, estão Peter & Gordon, Animals, Manfred Mann, Petula Clark, Freddie and the Dreamers, Wayne Fontana and the Mindbenders, Herman’s Hermits, Rolling Stones, Dave Clark Five, Troggs e o cantor Donovan. Todos eles teriam uma ou mais canções no primeiro lugar das paradas norteamericanas em algum momento. Os artistas da “invasão” tinham músicas baseadas no blues, e o que predominavam eram as guitarras. Grupos como The Who, The Zombies e The Hollies influenciaram massivamente o pop e o rock norte-americano, assim como, obviamente, os Beatles, cuja fama e presença eram tamanhas que licenciaram sua imagem para inúmeros produtos, de jogos de tabuleiro a itens de higiene. Ainda que se assemelhassem em alguns pontos, como na influência exercida, havia também diferenças entre os grupos britânicos, como o suposto “conflito” entre os Beatles e os Rolling Stones. Enquanto os primeiros a princípio passavam a imagem de rapazes certinhos, o empresário dos Rolling Stones fazia a pergunta: “Você deixaria sua filha sair com um Rolling Stone?”, deixando claro que a banda de Mick Jagger era o oposto do quarteto de Liverpool. BEATLES VS. ROLLING STONES Antes de fazerem sucesso, os Beatles haviam sido recusados pela gravadora Decca (embrião do que é hoje a poderosa Universal Music), onde o grupo havia feito seu teste inicial (segundo a gravadora, os Beatles estariam fora de moda). Depois de perceberem o erro cometido, a empresa passou a ser mais ousada e decidiu contratar os Rolling Stones, oferecendo condições bem favoráveis. A banda receberia três vezes mais royalties do que um grupo novato e teria total controle artístico sobre suas gravações, além da posse das fitas originais. Tal acordo levaria o grupo a usar estúdios que não estavam ligados à Decca, como o Regent, que logo se tornou o local favorito dos Stones para gravações. Começava assim a competição entre os

dois mais famosos nomes da Invasão Britânica. Os Stones se apresentaram pela primeira vez como um grupo em 12 de julho de 1962, no Marquee Club.

Show dos Rolling Stones no Glastonbury Festival. Seu repertório incluía canções de Chuck Berry e de Bo Diddley, além de clássicos do blues. Nesse mesmo ano o baixista Bill Wyman chegou ao grupo, e em janeiro do ano seguinte foi a vez do baterista Charlie Watts se juntar a eles. O nome original da banda era ligeiramente diferente, The Rollin’Stones, e foi trocado para The Rolling Stones, pelo empresário Andrew Loog Oldham, que já havia trabalhado com os Beatles com apenas dezenove anos (ele era mais jovem que os integrantes da banda). Foi Oldham também que levou John Lennon e Paul McCartney para o estúdio, onde escreveram a música “I Wanna Be Your Man”, que se tornaria o segundo single lançado pelos Stones, em 1º de novembro de 1963. Além disso, Oldham encorajou Richards e Jagger a começarem a compor suas próprias canções e moldou a imagem de bad boys. O resultado das boas condições oferecidas pela Decca aos Stones se viu no primeiro álbum da banda, The Rolling Stones, lançado em abril de 1964, que trazia sucessos como “I Just Want to Make Love With You” e “Route 66”. Primeiro lugar nas paradas britânicas, o álbum chegou um mês depois aos Estados Unidos, com o nome The Rolling Stones – England’s Newest Hit Makers (novos fabricantes de sucessos da Inglaterra), numa clara referência aos Beatles. A versão norte-americana do álbum continha o

sucesso “Not Fade Away”, lançado originalmente como single na GrãBretanha. Mas qual era o sentido de existir uma competição entre Beatles e Rolling Stones? Fora o fato de que ambos os grupos eram sensação entre as garotas da época (similar ao efeito das boy bands algumas décadas depois), a competição entre ambos era puramente comercial. O tempo se encarregou de provar que as duas bandas tinham semelhanças hoje em dia consideradas naturais, como a adoração ao blues. Ambas adotaram o rock cru e selvagem de Little Richard e Chuck Berry. Porém, os Stones foram os primeiros a garantir, numa coletiva de imprensa, que não tinham semelhanças com os Beatles. Apesar disso, Keith Richards afirmou que os Beatles e os Rolling Stones eram amigos longe dos golpes publicitários. “Nunca houve uma rixa real entre os Beatles e os Rolling Stones. Um bom exemplo foi a participação de Mick Jagger na festa de gravação da música ‘Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band’, promovida pelos Beatles para completar o clima festivo que Paul e John queriam para a canção.” – Vany Américo O estilo de vida das duas bandas também é essencial para entender o espírito daquela época. Enquanto os Beatles eram, aparentemente, confiáveis e bonitinhos, os Stones eram os bad boys que conseguiam atrair as garotas e perverter os jovens, fazendo um som mais orientado para o R&B e valorizando a cultura negra. Mas segundo Mick Jagger, os Beatles “eram tão cínicos quanto nós, a diferença era que usavam terno”. Keith Richards afirmou que “nosso cabelo era maior, não tão lavado quanto o deles. Também não usávamos uniformes, esquecendo o paletó do terno na hora das apresentações”. Pode-se dizer que os Beatles tinham a mídia a seus pés. Pelo menos até o incidente de 1966, quando John Lennon afirmou em uma entrevista ao London Evening Standard que eles eram “mais populares que Jesus Cristo”. Resumo da história: grupos conservadores se voltaram contra a banda e promoveram queimas de discos, até do recém-lançado primeiro livro de Lennon, In His Own Write (1964). Enquanto as fogueiras eram acesas para os Beatles, os Stones iam mais longe com uma música em que o próprio Jagger se apresentava como o diabo Lúcifer.

BEATLEMANIA Muitos livros já foram escritos sobre os Beatles e seus integrantes, por isso vamos nos ater apenas a alguns aspectos da carreira do grupo no período da Invasão Britânica. Dentre eles está a chamada “beatlemania”. A beatlemania, caracterizada por níveis extremos de histeria e gritos agudos, já era bem evidente quando o grupo chegou ao Aeroporto Internacional John F. Kennedy, em Nova York, em fevereiro de 1964. Porém, a palavra se tornou mais comum depois da apresentação do quarteto de Liverpool no The Ed Sullivan Show, um programa muito popular da época, para 73 milhões de espectadores. Nos Estados Unidos a fama era evidente no número de vendas dos discos: durante os seis anos e meio entre o aparecimento do single “I Want to Hold Your Hand” na Billboard até o lançamento da versão original do álbum Let It Be, a banda ocupou o primeiro lugar das paradas norte-americanas por um total de 59 semanas e ficou no topo da lista de álbuns por 116 semanas. Em geral, calcula-se que eles tiveram um single em primeiro lugar a cada seis semanas, e um de seus álbuns em primeiro lugar a cada três semanas. Afirma-se que o termo beatlemania, usado para descrever a sensação causada pelo quarteto de Liverpool, teria sido criado por um antigo promotor musical escocês, chamado Andi Lothian, enquanto conversava com um repórter em um concerto dos Beatles, realizado em Caird Hall, em 7 de outubro de 1963. Já uma cópia do tabloide Daily Mirror afirma que o primeiro uso impresso do termo é de 15 de outubro de 1963, numa reportagem sobre o show dos Beatles em Cheltenham, realizado no dia anterior. Um século antes, usaram um termo parecido para falar da comoção dos fãs do pianista húngaro Franz Liszt: Lisztomania. A expressão de 1841 pode ter inspirado o nome dado à febre dos Beatles, que acabou ficando muito mais conhecida.

Os Beatles nos estúdios da Alpha Television. O FIM DA INVASÃO

Mas nem só de Beatles e de Rolling Stones viviam os consumidores da época. O termo “Freakbeat” era usado para definir os grupos britânicos dessa época que não fizeram sucesso com os ouvintes norte-americanos, como Pretty Things, Soft Machine e Status Quo. Uma grande quantidade de grupos britânicos acabou recebendo uma crítica do canal NBC, que afirmou que esses grupos foram aos Estados Unidos apenas para fugir dos pesados impostos britânicos (afirmação que em alguns casos, como dos Stones e do Led Zeppelin, fazia sentido). A primeira Invasão Britânica terminou em 1967, quando o aparecimento de um estilo de rock mundial e homogêneo fez com que artistas como Ravi Shankar, um músico indiano, despontassem no cenário mundial. A segunda Invasão Britânica aconteceria muitos anos depois, durante a década de 1980, quando o canal MTV apresentaria ao público nomes como The Human League, The Police, A Flock of Seagulls, Duran Duran, Billy Idol, Simple Minds, Wham!, Eurythmics, Culture Club e Paul Young. Outros, como Queen, David Bowie, Paul McCartney, Phil Collins e Elton John, tiveram sua popularidade aumentada na época. Podemos dizer que dois homens foram grandes responsáveis pelo sucesso dos Beatles: Brian Epstein e George Martin. Brian Epstein foi o empresário responsável por cuidar da imagem e do marketing da banda, assim como apresentá-los a George Martin, o que lhes rendeu um contrato e vários sucessos posteriormente. George Martin é um produtor, arranjador, compositor e maestro muito conhecido por seu trabalho com os Beatles. Ele é considerado um dos maiores produtores de todos os tempos, tendo, ao longo de sua carreira, trabalhado em um total de 23 músicas que alcançaram o primeiro lugar nas paradas americanas e 30 nas inglesas. É algumas vezes citado como “o quinto beatle” devido à sua importância no trabalho musical do grupo, apesar do próprio George Martin acreditar que esse título seria mais adequado à Neil Aspinall, seu assistente e roadie.

GRANDES NOMES

A lista de todos os grupos que participaram da “invasão” é longa, e muitos deles não são muito conhecidos atualmente. Outra boa parte, porém, hoje em dia é considerada cult, sendo tocada em rádios de classic rock pelo mundo todo. Abaixo, alguns artistas que você já deve conhecer da programação da Kiss FM. THE ANIMALS Banda formada em Newcastle durante a primeira metade dos anos 1960, com Eric Burdon nos vocais, Alan Price no teclado, Hilton Valentine na guitarra, John Steel na bateria, e Bryan “Chas” Chandler no baixo. O grupo foi para Londres em busca de fama em 1964, e ficou conhecido por seu som entremeado por influências do blues e pelo vocal agressivo de Burdon, como pode ser ouvido na interpretação mais conhecida do grupo, uma versão da canção tradicional norte-americana “The House of the Rising Sun”, assim como em outros sucessos como “We Gotta Get out of This Place”, “It’s My Life” e “Don’t Let Me Be Misunderstood”. O grupo sofreu muitas mudanças de formação e foi mal gerenciado. Rebatizados de Eric Burdon and the Animals, mudaram-se para a Califórnia, nos Estados Unidos, e alcançaram sucesso como uma banda de hard rock psicodélico, com sucessos como “San Franciscan Nights”, “When I Was Young” e “Sky Pilot”, antes de se separarem no final da década de 1960. No geral, eles tiveram dez hits entre os Top 20 na Inglaterra e no Top 100 da Billboard norte-americana. A banda se reuniu de novo com o nome Animals II, entre 1992 e 1999, e depois com o nome Animals & Friends, a partir de 2001 até os dias atuais. THE BEATLES A banda que conquistou o mundo e liderou a Invasão Britânica era formada por John Lennon (guitarra), Paul McCartney (baixo), George Harrison (guitarra) e Ringo Starr (bateria). Dentre os nomes cultuados pelos Beatles estavam, além de Little Richard e Chuck Berry, o astro do skiffle Lonnie Donegan, Carl Perkins e muitos outros. Os quatro conseguiram feitos absurdos e um sucesso que dificilmente se reproduziria em suas carreiras solo. McCartney foi o que mais alcançou sucesso sozinho e o que mais se beneficiou durante a segunda Invasão Britânica, nos anos 1980, embora o primeiro beatle a conseguir destaque em sua carreira solo tenha sido Ringo Starr, em 1970. Seu álbum Sentimental Journey ficou em

sétimo lugar nas paradas britânicas, excelente resultado para um disco sem uma música de divulgação. Harrison tinha lançado pouco antes o impressionante All Things Must Pass, enquanto Lennon teria que esperar até 1974 para conquistar seu único primeiro lugar nas paradas americanas da Billboard, com o álbum Walls and Bridges e o single Whatever Gets You Thru’ The Night, que trazia um dueto com Elton John. THE DAVE CLARK FIVE O quinteto formado em 1957 (também conhecido como DC5) era parte do Tottenham Sound, uma resposta ao estilo mersey beat. Dave Clark, o fundador, era baterista, diferenciando-se dos demais grupos, em que o líder costumava aparecer em primeiro plano, nos vocais ou na guitarra elétrica. Era a única banda da época capaz de ameaçar o sucesso comercial dos Beatles. O grupo chegou a lançar uma resposta ao filme A Hard Day’s Night, do quarteto de Liverpool, por aqui conhecido como Os Reis do IêIêIê. A produção do The Dave Clark Five se chamou Catch Us If You Can, e foi dirigida por John Boorman, que mais tarde faria filmes como Esperança e glória, Excalibur e O alfaiate do Panamá. O grupo não aderiu à onda da psicodelia que invadiu o panorama roqueiro em 1967 e se desfez em 1970. SPENCER DAVIS GROUP Formado em meados dos anos 1960, em Birmingham, por Spencer Davis (guitarra) e pelos irmãos Steve Winwood (órgão e vocais) e Muff Winwood (baixo). Dentre seus sucessos estão músicas como “Somebody Help Me”, “Keep on Running”, “I’m a Man” e “Gimme Some Lovin’”, que chegou ao segundo lugar no Reino Unido e ao sétimo nos Estados Unidos. Em 1967, Steve Winwood saiu da banda para formar o Traffic e participar do projeto Blind Faith com Eric Clapton. O Spencer Davis Group terminou em 1968. O grupo voltou a se reunir entre 1973 e 1974. Por fim, Davis começou de novo o grupo em 2006, com diferentes formações, que continuam a fazer shows atualmente. GERRY & THE PACEMAKERS Outra banda gerenciada por Brian Epstein e que contou com o aval de George Martin para gravar. Formada em Liverpool, em 1959, por Gerry Mardsen, seu irmão Fred, Les Chadwick e Arthur McMahon. Eram rivais

dos Beatles no começo da carreira e chegaram a se apresentar, em Hamburgo, na Alemanha nos mesmos lugares que o quarteto de Liverpool, tocou além de fazer o mesmo circuito em sua cidade natal. Foram os primeiros a chegar ao topo das paradas britânicas com o lançamento de seus três singles de estreia, fato que só foi superado em 1983 pela banda Frankie Goes to Hollywood. Seus sucessos incluem as canções “How Do You Do It?”, “I Like It” e “It’s Happened to Me”, além de canções como “You’ll Never Walk Alone” e “It’s Alright”. A banda acabou em 1966, mas retomou as atividades em 1974. HERMAN’S HERMITS Banda formada em Manchester em 1963, cujo nome original era Herman & the Hermits. Apesar de tocarem R&B, o empresário da banda optou por um visual mais tradicional, adotado durante a maior parte da carreira do grupo. Lançaram cinco álbuns de estúdio e participaram de quatro filmes ao todo. Emplacaram diversos sucessos nas paradas americanas e inglesas entre 1964 e 1968, embora muitas vezes usassem músicos de estúdio nas gravações, dentre eles o jovem Jimmy Page e John Paul Jones. Os dois seriam integrantes do Led Zeppelin futuramente.

Os Kinks em 1964.

THE KINKS Formada no norte de Londres em 1964 pelos irmãos Ray and Dave Davies (ambos vocalistas e guitarristas), é considerada uma das bandas mais influentes da década de 1960. Eram influenciados pelo R&B, pela música tipicamente britânica, pelo folk e pelo country. Os dois irmãos são os únicos membros originais que ainda estão na ativa. O baterista original, Mick Avory, foi substituído por Bob Henrit, do grupo Argent, em 1984. Já o baixista original, Pete Quaife, deu lugar a John Dalton em 1969, que depois foi substituído por Jim Rodford em 1978. O tecladista Nicky Hopkins, que tocaria com os Rolling Stones durante a década de 1970, acompanhou a banda durante as sessões de estúdio na década de 1960. São conhecidos pela canção “You Really Got Me”, escrita por Ray, que se tornou um sucesso internacional, liderando as paradas britânicas e entrando para o Top 10 norte-americano. Influenciaram bandas como Van Halen, The Jam, Knack e Pretenders, que fizeram covers de suas canções. Também foram citados como influência pelas bandas Blur e Oasis. O grupo acabou em 1996, mas ainda se reúne e estuda realizar novos shows. “Os Kinks eram uma banda excelente, mas o brilho dos Beatles e dos Stones era tanto que ofuscou o grupo!” – Marcelo Andreassa

THE ROLLING STONES A banda já comemorou cinquenta anos de estrada. Sua primeira formação, de 1962, contava com Mick Jagger nos vocais, Keith Richards na guitarra, Charlie Watts na bateria, Bill Wyman no baixo, Brian Jones na gaita e na segunda guitarra, e Ian Stewart no piano. Stewart logo saiu da banda por sugestão do empresário Andrew Loog Oldham, mas continuou trabalhando com o grupo. Brian Jones havia fundado a banda, mas, devido a inúmeros problemas, Jagger e Richards acabaram por tirá-lo do grupo e

assumiram a liderança. Logo depois de sair do grupo, em 1969, o ex-Stone foi encontrado morto em sua própria piscina, sendo o primeiro de uma série de artistas talentosos a integrar o famigerado Clube dos 27. Em seu lugar ficou Mick Taylor, recém-saído do grupo John Mayall and the Bluesbreakers (que já havia abrigado Eric Clapton). Ele ficou com os Stones até 1974, quando foi substituído por Ron Wood, que até hoje faz parte da banda. THE TROGGS Os criadores de sucessos como “Wild Thing” e “With a Girl Like You” fundaram a banda em 1964, com Reg Presley (vocal), Chris Britton (guitarra), Pete Staples (baixo) e Ronnie Bond (bateria). Foram gerenciados pelo mesmo empresário do Kinks, Larry Page. “Wild Thing” é até hoje a música mais conhecida do grupo, mas foi lançada originalmente como lado B em alguns países. A canção alcançou fama após ser executada em programas de TV no Reino Unido, como Thank Your Lucky Stars, e chegou ao primeiro lugar nos Estados Unidos em 1966. Depois de lançar mais alguns sucessos, como “Night of The Long Grass” e “Love All Around”, o sucesso diminuiu e a banda chegou a se separar em alguns momentos, mas até hoje tocam com o mesmo nome. É considerado um dos grupos que mais influenciou o garage punk e o punk rock. São de Andover, Hampshire, na Inglaterra. “O Clube dos 27 é um apelido dado a um grupo de artistas que morreram aos 27 anos. Depois de Brian Jones, faleceram na mesma época Jimi Hendrix, Janis Joplin e Jim Morrison. Completar 27 anos soava como uma sentença de morte. Porém, o tempo foi passando, e tudo foi se mostrando uma triste coincidência. Décadas depois, Kurt Cobain também faleceria aos 27 anos, entrando para esse infeliz clube.” – Vitão Bonesso

Os Yardbirds, pouco após Jeff Beck entrar no grupo. THE YARDBIRDS A banda que originou o Led Zeppelin foi formada nos subúrbios de Londres, no final de 1963. Teve, em momentos diferentes, três dos maiores guitarristas de todos os tempos: Eric Clapton, Jeff Beck e Jimmy Page. Clapton, que havia entrado no grupo para tocar blues, logo abandonou a banda por não concordar com o rumo comercial que ela estava tomando com a música “For Your Love”, e saiu para entrar no John Mayall & the Bluesbreakers. Depois, Eric Clapton ajudaria a formar o supergrupo Cream. Jeff Beck, que chegou a tocar com Page, destacou seu trabalho com um cover de Bo Diddley, “I’m a Man”, e com o sucesso “Shapes of Things”. Quando o grupo, então só com Page, começou a enfrentar problemas no final de 1968, o guitarrista foi o único que ficou com o encargo de cumprir datas previamente acordadas com os integrantes anteriores. Foi neste momento que ele e John Paul Jones, que já havia trabalhado com os Yardbirds em uma formação anterior, recrutaram Robert Plant, que indicou seu amigo John Bonham. Assim, formou-se o New Yardbirds, que mais tarde passaria a se chamar Led Zeppelin, a partir de 1968.

THE WHO

Esse é um grupo cuja própria história se mistura com as primeiras décadas do rock: a banda formada por Roger Daltrey (vocais), Pete Townshend (guitarra), John Entwistle (baixo) e Keith Moon (bateria) ficou conhecida durante a Invasão Britânica, contribuiu para o psicodelismo, flertou com o progressivo, se destacou no hard rock e é considerada como uma das influências do punk. Tanta variedade atraiu fãs de diferentes estilos, o que até hoje torna difícil estabelecer qualquer consenso sobre sua discografia. Formada em 1964, a banda se consagrou apenas um ano depois, com a música “My Generation”, que se tornou um dos hinos do rock e deu nome ao seu primeiro álbum, marcado por melodias mais simples, influenciadas pelo blues. Os trabalhos seguintes, A Quick One e The Who Sell Out, começaram a expandir seus experimentos: o disco A Quick One (1966) continha uma “mini-ópera” de nove minutos, enquanto The Who Sell Out (1967) era um álbum conceitual, que inseria comerciais e anúncios falsos entre as músicas, como uma transmissão de rádio.

A banda The Who nos primeiros anos de carreira. O segundo grande destaque da banda veio em seguida, com a ópera-rock Tommy, disco que influenciou grupos psicodélicos e progressivos e foi um dos destaques do festival de Woodstock em 1969. Seus álbuns seguintes, Who’s Next (1971) e Quadrophenia (a segunda ópera-rock do grupo, de 1973), destacam mais o estilo hard rock do grupo e também foram grandes sucessos. O grupo sofreu uma grande baixa em 1978, com a morte do baterista Keith Moon, apenas vinte dias após o lançamento de seu oitavo álbum, Who are You. O músico faleceu de overdose de medicamentos contra seu vício

em álcool. Kenney Jones foi contratado para substituir Moon, mas a sua ausência foi notável e, depois de dois discos, em 1982, o grupo encerrou suas atividades. Após alguns shows e reuniões, os três integrantes originais voltaram a se apresentar em 1996, mas sem lançar nenhum álbum novo. Em 2002, John Entwistle faleceu e, em 2006, Townhend e Daltrey lançaram um último disco, Endless Wire. Em outubro de 2013, a banda anunciou que encerrará suas atividades em 2015 com uma última turnê mundial que deve incluir o Brasil. Por muito tempo, muita gente confundiu o The Who com a banda canadense The Guess Who. Por conta disso, o grupo aprendeu a tocar uma das músicas mais pedidas da outra banda, ‘Shakin’ all over’. Ironicamente, o Guess Who sofria o mesmo problema, e aprendeu a tocar ‘My Generation’. – Evaldo Vasconcelos

CAPÍTULO 3

PSICODELIA E EXPANSÃO

Quando fazemos uma boa retrospectiva do panorama do rock, a impressão é como se tivesse evoluído cem anos em cem dias. Grandes acontecimentos ocorreram em poucos anos. Começou como uma reação ao sistema vigente nos Estados Unidos e recebeu uma maciça influência exterior, por meio da Invasão Britânica. Os norte-americanos, por todo seu histórico com os britânicos, com certeza não gostaram muito dessa verdadeira intromissão que vinha do outro lado do Atlântico em seu rock and roll. Vimos no capítulo anterior que os ritmos regionais de cada país foram essenciais para ajudar na transformação que aconteceria nos anos seguintes. Vamos agora tentar entender o que fez com que a primeira metade da década de 1960 fosse tão diferente da segunda. Isso é evidente até hoje: quem lançou seus trabalhos no início daquela época não manteve o mesmo estilo ou teve que se adaptar às novas tendências que surgiram no segundo momento. O mundo passava por transformações que mexeram (e muito) com as pessoas. O começo da década de 1960 foi traumático para os norteamericanos por conta das tensões entre os movimentos sociais que se espalhavam pelo país. Em agosto de 1961 começou a ser construído o Muro de Berlim, que por muito tempo foi o símbolo da repressão mundial e da divisão entre as ideologias capitalista e socialista. Em 22 de novembro de 1963, John F. Kennedy, presidente dos Estados Unidos, foi assassinado na frente de uma multidão em Dallas, no Texas, durante uma parada. Dois dias depois aconteceu a morte do assassino, quando o suspeito de ter matado o ex-presidente, Lee Harvey Oswald, foi baleado diante das câmeras de TV, fazendo com que milhares de pessoas em casa se tornassem testemunhas daquele ato. Se por um lado os Beatles eram cada vez mais pressionados para produzirem grandes sucessos, os concorrentes já não eram apenas britânicos, mas também norte- -americanos. Um grande exemplo foram os Beach Boys, banda formada em 1961 na cidade de Hawthorne, na Califórnia, e tida como uma das mais influentes da história do rock norteamericano. A aproximação entre Beach Boys e Beatles pode parecer estranha, mas a Capitol, gravadora que representava o quarteto nos Estados Unidos, também promovia os Beach Boys desde seu surgimento. O grupo havia emplacado nas paradas dezenas de canções com suas linhas vocais elaboradas e as letras de Brian Wilson. Sua popularidade era tanta que se arrastou por algumas décadas.

“Não foi apenas a Invasão Britânica que tornaria esta década a mais importante da história do rock. Nos EUA, um cara chamado Bob Dylan lançaria as sementes da música de protesto, trazendo poesia e maturidade ao rock a partir do folk. O movimento hippie, os grandes festivais, a luta pelos direitos civis e os protestos pacifistas levaram a outro patamar a revolução que havia sido o surgimento do rock and roll na década anterior, e continuaram a mudar o mundo.“ – Rodrigo Branco A competição teve um grande efeito psicológico em Brian Wilson. Após ouvir, em 1965, o sexto álbum dos Beatles, Rubber Soul, Brian concluiu que a sofisticação dos trabalhos dos ingleses era tamanha que exigiria que ele elevasse seu padrão de composição. Assim, decide se lançar na composição daquela que seria a obra-prima dos Beach Boys: o álbum Pet Sounds. Até mesmo os Beatles e os Stones pararam para ouvi-lo com atenção. Durante a década de 1960, o mercado fonográfico foi se tornando bem mais competitivo do que havia sido na década anterior. Não é à toa que os precursores do rock, como Elvis e Chuck Berry, tiveram de ser lembrados pelos novos grupos para reconquistar o público. Para as bandas que estavam no topo do sucesso, era fundamental explorar a tecnologia com o máximo de criatividade que pudessem. Aos poucos, começam a dedicar um tempo maior a acirrar cada vez mais a competição criativa, explorando recursos de estúdio e sempre buscando fontes alternativas de inspiração, para romper com o tradicional e atingir patamares nunca antes visualizados. Sob essas circunstâncias que surge o conceito de art rock, um subgênero que vai resultar no chamado rock psicodélico. Esse novo estilo teve muita influência da arte de vanguarda que estava sendo praticada em meados da década de 1960. Naquela época, artes plásticas e música eram ramos artísticos que se entrelavaçam, como mostram os exemplos de Andy Warhol (com o Velvet Underground de Lou Reed) e de Yoko Ono (com os Beatles).

Janis Joplin em 1969. O art rock começou a ganhar popularidade a partir do lançamento de Pet Sounds, embora haja outras bandas com trabalhos semelhantes: Freak Out! (julho de 1966), primeiro trabalho de Frank Zappa com o Mothers of Invention; The Piper At The Gates of Dawn (agosto de 1967), álbum de estreia do Pink Floyd, e, claro, Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (junho de 1967), dos Beatles, considerado o álbum mais influente de toda a história do rock, segundo a revista Rolling Stone. A experimentação que levou ao surgimento da psicodelia e de outros subgêneros do rock teve início em 1965. O clima de renovação e liberdade pregado pelos jovens da época tornou inevitável o envolvimento das

bandas com as drogas, vistas como um meio de aumentar a percepção e expandir a mente em busca de novas fontes de inspiração. Cansados de suas fãs que apenas gritavam, dando pouca ou nenhuma atenção ao que ocorria no palco, os Beatles decidiram dedicar mais tempo em estúdio para o experimentalismo. Foi quando George Harrison introduziu a cítara, que se fez presente depois do álbum Beatles for Sale, de 1964. “O melhor de Janis Joplin, Grace Slick, Chrissie Hynde, Joan Jett, entre outras mulheres do rock, é que elas não tinham a necessidade de levantar a bandeira feminista no rock. Mas de simplesmente fazerem parte do movimento com um olhar que só as mulheres sabem impor.” – Vany Américo Já os Beach Boys começam a realizar experimentos com seu som em agosto de 1964, com o single “When I Grow Up (to Be A Man)”, no qual um dos instrumentos utilizados é um cravo. Na época, Brian Wilson recebia influências do lendário produtor Phil Spector e de seu grupo, The Ronettes. A competição para alcançar o maior nível de sofisticação, criatividade e número de vendas entra em evidência a partir da explosão do movimento psicodélico, quando grupos como Jefferson Airplane, Pink Floyd, Moody Blues, The Who, Led Zeppelin, The Doors, The Jimi Hendrix Experience e o Big Brother and the Holding Company (de onde surgiu Janis Joplin) ganham o público e começam a dividir espaço com as bandas já consagradas no começo da década. A PSICODELIA 1967 foi um ano decisivo para a psicodelia. Além de ser o ano em que os Beatles lançaram Magical Mystery Tour, um álbum emblemático, foi quando ocorreu o aparecimento de um dos mais soturnos grupos que já existiu: The Doors, liderado por Jim Morrison, um dos poucos vocalistas que conseguiu unir o lado comercial (sua aparência de ídolo teen foi muito explorada pela mídia) com o erudito (suas letras citavam obras de escritores como Rimbaud e mitos gregos como o de Édipo). O grupo de Morrison já existia desde 1965, mas alcançou sucesso no mercado nesta época.

O termo “psicodelia” é uma junção das palavras gregas psique (alma) e delos (manifestação). A experiência psicodélica é, assim, caracterizada como manifestações mentais anteriormente desconhecidas e inesperadas, normalmente estimuladas pela manipulação sensorial ou pelo uso de substâncias, lícitas ou ilícitas, que atuam sobre o sistema nervoso. Os efeitos abrangem alucinações, mudanças de percepção, alteração de estados de consciência e psicose. O primeiro que apresentou esta definição ao público foi o psiquiatra Humphry Osmond (1917-2004), em uma reunião da Academia de Ciências de Nova York, em 1957. GRANDES FESTIVAIS Entre 16 e 18 de junho de 1967, ocorreu o de Monterey Pop Festival, na Califórnia, organizado por Lou Adler, John Phillips (do grupo The Mamas & The Papas) e Derek Taylor. Foi o evento que revelou ao mundo artistas como Jimi Hendrix, Janis Joplin e o cantor negro de soul Otis Redding. Era uma época em que os gêneros musicais não estavam tão distantes, e era comum que um festival tivesse ao mesmo tempo apresentações de grupos de rock, soul, folk, country e até funk. Nessa mesma linha, outro festival que entrou para a história foi o de Woodstock, que aconteceu entre os dias 15 e 18 de agosto de 1969, na fazenda de Max Yasgur, na cidade rural de Bethel, no estado de Nova York. Com 32 apresentações ao todo para cerca de 400 mil pessoas, nele estiveram nomes como Joan Baez, Santana, Grateful Dead, Creedence Clearwater Revival, Janis Joplin com a The Kozmic Blues Band, The Who, Jefferson Airplane, Joe Cocker, The Band, Crosby, Stills, Nash & Young, e Jimi Hendrix com sua banda Gypsy Sun & Rainbows. Várias drogas utilizadas na época se tornaram famosas, como o LSD, sigla de Lysergsäurediethylamid, palavra alemã para dietilamida do ácido lisérgico, uma das mais potentes substâncias alucinógenas conhecidas. A droga ficaria ainda mais em evidência depois de os Beatles admitirem que a tomavam, para então terem de se desdobrar para convencer os mais conservadores de que a música “Lucy In The Sky With Diamonds”, do disco

Sgt. Pepper’s falava sobre um desenho do filho mais velho de John Lennon, Julian, e que não se tratava de um anagrama para a droga. Esse contexto propicia a todos os grandes nomes do rock de então o esforço em juntar o art rock com a psicodelia, o que gerou resultados variados. Se por um lado os Beatles e os Beach Boys conseguiram produzir álbuns que são até hoje unanimemente considerados obras-primas, o mesmo não pode ser dito dos Rolling Stones. O álbum Their Satanic Majesties Request, única incursão do grupo ao mundo da psicodelia, não foi muito bem recebido pela crítica da época. O álbum foi acusado de ser uma tentativa fracassada de superar o Sgt. Pepper’s, embora muitos nem mesmo levassem em consideração o fato de Lennon e McCartney terem contribuído com os backing vocals na faixa “Sing This All Together”, dos Stones. No álbum seguinte, Beggar’s Banquet (1968), o grupo já estava de volta ao mesmo estilo de seus álbuns anteriores, para nunca mais se atrever a entrar no campo da psicodelia. GRANDES NOMES THE DOORS O grupo fundado por Jim Morrison (vocais) e Ray Manzarek (teclados) teve sua gênese quando os dois faziam curso de cinema na UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles). Morrison, decepcionado com o fato de seus colegas não terem entendido o filme que ele havia feito, desistiu do curso. Após o final das aulas, Manzarek, adepto da meditação transcendental, encontrou Morrison na praia de Venice, em Los Angeles. Lá ele teria cantado a canção “Moonlight Drive” (que apareceria no segundo álbum do grupo, Strange Days) e Manzarek se convenceu de que eram capazes de formar uma banda. Depois de tentar fazer uma demo com seus irmãos, que logo saíram da banda, Manrazek trouxe John Densmore, um baterista que conhecera no curso de meditação. Este, por sua vez, chamou o guitarrista com influência flamenca Robbie Krieger. Juntos eles foram recusados pela maioria das gravadoras onde deixaram sua demo, até que começaram a tocar num bar chamado Whisky A Go Go. Numa noite de 1966, quando Jac Holzman, da Elektra Records, foi até o bar por insistência do produtor Paul Rothchild (que mais tarde trabalharia com Janis Joplin), só ficou impressionado com o grupo depois de assistir a uma interpretação de “The End”, na qual Morrison cantaria pela primeira vez sobre o desejo de matar o pai e de

transar com a mãe. O grupo perdeu o emprego naquela noite, mas ganhou um contrato de gravação de seis álbuns na Elektra. “Jim Morrison, influenciado por Nietzsche, trouxe questões filosóficas para o rock, provando que ele podia ser mais que uma diversão adolescente. Morrison queria ir mais longe, trazendo conceitos mais profundos de amor e morte para sua música, experimentando a vida até o limite, como se fosse imortal… só se esqueceu de dizer isso para o seu próprio corpo.” – Vany Américo O estouro de “Light My Fire”, canção de Krieger, trouxe-lhes seis álbuns de ouro e destaque na mídia, encantada com a personalidade de Morrison, que se afundava cada vez mais nas drogas e principalmente no álcool, até o fatídico show de Miami, em 1969, quando ele foi acusado de expor seu órgão sexual e de se masturbar em público. Cansado da vida de astro do rock, Jim Morrison se mudou para Paris, na França, no começo de 1971, com sua namorada Pamela Courson, após a gravação do último álbum previsto em contrato, L.A. Woman. Lá morreu de ataque cardíaco aos 27 anos. A banda ainda tentou seguir carreira sem ele, mas não teve o mesmo sucesso. Nos anos 2000, houve uma tentativa de relançar a banda com o nome de The Doors of the 21st Century (The Doors do Século 21), que chegou a cogitar Ian Astbury (do The Cult) nos vocais.

The Doors em show no Hollywood Bowl.

JANIS JOPLIN Nascida em Port Arthur, Texas, Janis Lyn Joplin cresceu sob influências musicais do blues e do folk. Em 1966, depois de ter trabalhado como cantora solo, Janis se juntou à Big Brother and The Holding Company, banda formada em São Francisco por volta de 1965 e parte integrante da cena musical da Califórnia naquela época, ao lado de grupos como Grateful Dead e Jefferson Airplane. Janis foi escolhida como vocalista porque o empresário, Chet Helms, sugeriu que colocassem uma mulher. Foi com ela que gravaram o primeiro álbum, Big Brother and The Holding Company (1967), pela Mainstream Records. Com a participação no Monterey Pop Festival, as atenções se voltaram para a banda. Cheap Thrills foi lançado em 12 de agosto de 1968 e disparou para o primeiro lugar, consolidando ainda mais a carreira de Janis, que, seguindo conselhos de alguns empresários, deixou a banda, levando consigo o guitarrista Sam Andrew. Juntos eles formaram a Kozmic Blues Band e gravaram o álbum I Got Dem Ol’ Kozmic Blues Again Mama! (setembro de 1969), o primeiro álbum solo de Janis. “A vinda de Janis Joplin ao Brasil, em fevereiro de 1970, teve um único propósito: naquele tempo, não se encontrava heroína por aqui, e Janis acreditou que poderia se livrar do vício passando uma temporada no Rio de Janeiro. Ao chegar ao país causou furor, não por sua voz ou música, mas pelas várias vezes em que causou alguma pertubação: foi expulsa do Copacabana Palace depois de se atirar nua na piscina do hotel, fez topless na praia e tentou sair num desfile de uma escola de samba. Com ou sem a heroína por perto, Janis se esbaldou com outros aditivos e retornou para casa ainda pior do que quando chegou ao Rio de Janeiro.” – Vitão Bonesso

O excesso de metais nas gravações fez com que ela logo mudasse a banda, formando a Full Tilt Boogie Band, com a qual gravou Pearl (janeiro de 1971), lançado postumamente, após a cantora ser encontrada morta por overdose de heroína com álcool, em 4 de outubro de 1970, no hotel onde estava hospedada, encerrando sua carreira de maneira abrupta. JEFFERSON AIRPLANE A banda formada no verão de 1965, em São Francisco, foi uma das pioneiras da psicodelia. Inspirada em grupos como Beatles, Byrds e The Lovin’ Spoonful, e liderada pela cantora Grace Slick, a banda fazia um som folk mais enérgico, misturado com rock. Assinaram com a gravadora RCA e gravaram o primeiro álbum, Jefferson Airplane Takes Off (15 de agosto de 1966). Quando Slick entrou para o grupo, substituindo a cantora original, Signe Toly Anderson, sua voz de contralto combinou bem com a música naturalmente psicodélica feita pelo grupo, tanto que os dois primeiros sucessos do álbum Surrealistic Pillow (de fevereiro de 1967, cujo nome foi sugerido por Jerry Garcia, do Grateful Dead) são marca registrada do grupo até hoje: “White Rabbit” e “Somebody to Love”. O outro álbum, After Bathing at Baxter’s (30 de novembro de 1967) flertava com o rock ácido; já o seguinte, Crown of Creation (setembro de 1968), se mostrou um álbum transitório e mais estruturado que o anterior. Na sequência, em 1969, a banda se apresentou em Woodstock e em Altamont, o famoso concerto gratuito dos Rolling Stones, no qual um adolescente foi morto pelos Hell’s Angels que faziam a segurança do grupo. A banda ainda fez sucesso no início da década seguinte, mas divergências internas provocaram a saída de integrantes, e o grupo trocou de nome, passando a se chamar Jefferson Starship, já no final dos anos 1970 (quando não contava mais com Grace Slick, que saíra em 1978 por problemas de alcoolismo). Por fim, nos anos 1980, a banda foi rebatizada de Starship e ainda emplacou alguns sucessos como “We Build This City” e “Sara”, ambas do álbum Knee Deep in the Hoopla (setembro de 1985). JIMI HENDRIX Foi eleito nada menos que o Melhor Guitarrista de Todos os Tempos pela revista Rolling Stone. Johnny Allen Hendrix nasceu em Seattle, Washington, e teve uma infância conturbada, muito afetada pelo divórcio dos pais em

1951 e pela morte da mãe em 1958, quando tinha dezesseis anos. Um dia, enquanto recolhia sucata com o pai, Hendrix encontrou um ukulele, instrumento típico havaiano. Inspirado por seu achado, mais tarde ele compraria um violão por cinco dólares. Na companhia de seu novo instrumento, Hendrix tentou trabalhar para várias bandas até se alistar no exército, onde atuou como paraquedista. Foi dispensado quando torceu o tornozelo em um salto e foi trabalhar com Little Richard e The Everly Brothers. Depois, começou a se apresentar regularmente no Cafe Wha?, de Nova York, onde conheceu aquele que seria seu empresário e o levaria para Londres, Chas Chandler, baixista da formação original do The Animals. Já na Inglaterra, as primeiras apresentações de Hendrix chamaram a atenção de grandes nomes: Eric Clapton, Jeff Beck, Beatles, The Who e muitos outros.

O lendário guitarrista Jimi Hendrix. Formou o Jimi Hendrix Experience com Noel Redding no baixo e Mitch Mitchell na bateria, e depois de gravarem algumas músicas, como “Hey Joe” e “Purple Haze”, assinaram um contrato para lançar o primeiro álbum, Are You Experienced? (maio de 1967), considerado por muitos o melhor álbum de estreia de uma banda. Mesmo assim, apenas com a influência de

McCartney é que o grupo foi escalado para o Monterey Pop Festival, quando finalmente conseguiram ganhar destaque nos Estados Unidos. A carreira do grupo seguia progredindo, mas Hendrix tinha muitas discussões com Noel e começou a usar drogas para aguentar o ritmo acirrado de gravações e apresentações. O grupo lançou mais dois álbuns: Axis: Bold As Love (dezembro de 1967) e Electric Ladyland (outubro de 1968). Depois, ele desfez o Experience. Decidido a montar uma banda apenas com músicos negros, Hendrix se mobilizou, chamando os ex-companheiros de exército Buddy Miles (bateria e vocais) e Billy Cox (baixo), e assim formou a Band of Gypsys, que lançou um álbum com suas apresentações em 1970. Na segunda metade do mesmo ano, Hendrix enfrentou uma maratona exaustiva de shows para poder pagar as dívidas e romper o contrato com o empresário Michael Jeffery. Nesse ritmo, em uma noite o guitarrista engoliu nove pílulas para conseguir descansar. Acabou por se afogar no próprio vômito enquanto dormia. O mundo perdia assim um dos mais talentosos músicos e guitarristas do rock. FRANK ZAPPA Nenhum outro músico incorporou o espírito da psicodelia como Frank Zappa. Compositor, guitarrista, engenheiro de gravações, produtor fonográfico e diretor cinematográfico, o homem era literalmente multimídia de um jeito que deixava muitos impressionados. Numa carreira que se estendeu por mais de três décadas, compôs rock, jazz, música com orquestra e muitos outros gêneros. Sozinho e com seu grupo, Mothers of Invention, gravou mais de sessenta álbuns. Freak Out!, álbum de estreia do Mothers of Invention, combinava canções convencionais de rock com improvisos e colagens musicais realizadas em estúdios. Já em seus últimos álbuns, misturavam formatos de rock com música erudita e jazz. A exemplo de outros destaques, como o grupo Grateful Dead, Frank Zappa, que morreu em 1993, não foi um artista que produziu muitos hits. Mesmo assim, a Rolling Stone incluiu-o na sua lista de 100 Maiores Artistas de Todos os Tempos. Zappa influenciou artistas como Alice Cooper, Primus, The Tubes, Henry Cow, Trey Anastasio (Phish) e até Paul McCartney, que chamou Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band de “o Freak Out! dos Beatles”. Músicos que tocam heavy metal, como Mike Portnoy, Warren DeMartini e Steve Vai também o cultuam.

VELVET UNDERGROUND A banda era intimamente ligada aos movimentos psicodélicos e de vanguarda nova-iorquinos. Por possuir um caráter experimental, o grupo atraiu a atenção de artistas como Andy Warhol, embora tenha demorado a atingir sucesso comercial. Hoje em dia, a banda é lembrada por ter revelado o cantor, guitarrista e compositor Lou Reed. Uma das músicas mais famosas do grupo, “Venus in Furs”, teve o nome retirado de um romance sadomasoquista do escritor Leopold von SacherMasoch. A carreira deles começaria de fato em 1964. Já no ano seguinte, o artista plástico Andy Warhol se torna gerente da banda e, com seu apoio, em 1967 o Velvet Underground grava seu primeiro disco, com apenas 2 mil dólares. Suas letras falavam sobre uma Nova York doentia, em contraste com o espírito de paz e amor do Verão de 1967. Foi intitulado The Velvet Underground & Nico, depois de Warhol insistir que a cantora Nico participasse, apesar de o grupo não concordar muito com a ideia. Seu nome, no entanto, aparece separado, como para indicar que ela não era parte permanente do grupo. Este também é o álbum da famosa capa da banana, feita por Warhol. Brian Eno, da Roxy Music, definiu bem a importância do famoso álbum de estreia do grupo liderado pelo carismático Lou Reed ao afirmar: “Ainda que algumas poucas dezenas de milhares de pessoas tenham comprado os discos do Velvet Underground, cada uma delas formou uma banda”. Isso reflete o grau de influência que o grupo exerceu em músicos mais novos, incluindo Sex Pistols, The Clash, David Bowie, Radiohead, Nirvana e T. Rex. Warhol exerceu influência direta na imagem da banda e da mesma forma o grupo participava das performances do artista, como “Exploding Plastic Inevitable”, uma série de eventos multimídia em que o Velvet Underground tocava, fazendo a trilha sonora de filmes de Warhol e de outras atividades que aconteciam, como danças. O segundo álbum da banda, White Light/White Heat (1968), começa a render alguns sucessos medianos para o grupo, dentre eles as clássicas “Here She Comes Now” e “Sister Ray”. Um tempo depois, John Cale, o mentor artístico da banda, sai e Lou Reed começa a assumir seu papel no grupo. Em 1969 veio o terceiro álbum, The Velvet Underground, que trazia um som mais acústico e introspectivo, com destaques como “Candy Says”, “What Goes On” e “Beginning to See The Light”. O último trabalho com Lou

Reed foi Loaded (1970), que trouxe “Who Loves The Sun” e “Sweet Jane”. Após Reed deixar a banda, o grupo continuou por mais dois anos e chegou a lançar outro álbum, Squeeze (1973), que, entretanto, não é muito bem recebido. Lou Reed se lançou em uma bem-sucedida carreira solo e hoje é considerado o pai da música alternativa norte-americana e um dos 100 melhores guitarristas de todos os tempos, segundo a Rolling Stone. O músico faleceu em outubro de 2013. Duas décadas antes, em 1993, o Velvet Underground se reuniu para gravar apresentações que vieram a compor um álbum duplo, Live MCMXCIII, com as principais músicas da carreira da banda. THE BEACH BOYS A história da banda começa entre 1957 e 1958, quando os irmãos Brian, Carl e Dennis Wilson já ensaiavam linhas vocais, guiados pelo pai Murry, que tocava piano para o grupo. Naquela época, os irmãos ensaiavam à noite, longe do pai, que os castigava quando erravam. Quando os irmãos e o primo Mike Love conheceram o baixista Alan “Al” Jardine, que já fazia parte de uma banda, resolveram se juntar para organizar outro grupo. Em 1958, Brian ganha um gravador em seu aniversário de dezesseis anos e passa a criar harmonias vocais com Carl e sua mãe. Os ensaios progridem e, três anos depois, os Beach Boys surgem oficialmente. Antes chamados de Pendletones, Kenny & Cadets e Carl and The Passions, o grupo, já com seus componentes mais conhecidos, começa a gravar. Em 1963, Surfin’USA chega ao primeiro lugar das paradas no Canadá, ao terceiro nos Estados Unidos e ao sexto na Suíça. A canção do título foi acusada de ser um plágio de “Sweet Little Sixteen”, de Chuck Berry, com a introdução de guitarra retirada da canção “Movin’n’Groovin”, de Duane Eddy, um dos pioneiros do rock instrumental, em 1958. Com o processo judicial que se seguiu, Berry acabou recebendo crédito pela canção. Dois outros álbuns, Surfer Girl (1963) e Little Deuce Coupe (1963), marcam a liderança de Brian como produtor musical. Em 1964, o grupo lança All Summer Long, o último álbum com temática surfista e uma espécie de resposta à Invasão Britânica, de onde veio o sucesso “I Get Around”. Após o disco Pet Sounds (1966), o grupo lançou Good Vibrations (1966), um dos maiores clássicos do rock e da música psicodélica, abrindo caminho para a explosão do movimento em 1967.

Os Beach Boys em 1968. Além de sofrer de esquizofrenia, Brian já usava LSD e abusava de outras drogas na época. Esses problemas e a pressão da Capitol acabaram por abortar o trabalho seguinte, chamado Smile, que já vinha sendo gravado desde 1966. Todos os álbuns lançados a partir de Pet Sounds são considerados obrasprimas, embora o grupo tenha oscilado em alguns momentos, com a liderança alternando entre Brian e Mike por anos, levando inclusive a batalhas judiciais. Dennis Wilson morreu afogado em Los Angeles no ano de 1983, e Carl Wilson faleceu em decorrência de câncer no pulmão e no cérebro, em fevereiro de 1998. A banda ainda se apresenta com os membros remanescentes em turnês e atrai sempre muita gente, principalmente quando Brian consegue se apresentar. CREAM Eric Clapton, aclamado por muitos como um deus da guitarra, estava muito cansado do sucesso comercial de sua antiga banda, o Yardbirds. Depois de uma rápida passada pelo Bluesbreakers, de John Mayall, juntouse a outros dois talentosos músicos: o baixista Jack Bruce e o bateirista Ginger Baker. O resultado foi o primeiro power trio da história do rock: um supergrupo chamado Cream.

Supergrupo é um nome dado normalmente aos trios formados por integrantes que já possuíam carreiras de sucesso. Além do Cream, outros supergrupos famosos foram o trio ELP e a banda Crosby, Stills & Nash, que mais tarde viraram o quarteto Crosby, Stills, Nash & Young. Com a fama de “o melhor guitarrista de blues do Reino Unido”, Clapton ainda relutava em cantar. O Cream realmente começou a se formar quando Clapton conheceu Baker, que liderava uma banda chamada Graham Bond Organization (GBO), e este por sua vez o apresentou a Bruce, que tocava baixo, gaita e piano. Baker se sentia criativamente podado no GBO e estava cansado dos vícios em drogas do líder. Após ter visto uma apresentação do músico, Baker estava impressionado com Clapton, e a recíproca foi verdadeira. Assim, eles concordaram em formar o grupo, mas Clapton ainda queria Bruce nesse projeto. O que o guitarrista não sabia era que Bruce e Baker não se davam muito bem. De qualquer forma, o projeto continuou com o nome escolhido, já que os três eram considerados a “cream” entre os músicos de então na Inglaterra – mesmo sendo apenas ilustres desconhecidos nos Estados Unidos. O vocal principal era feito por Bruce, mas Clapton realizou algumas performances memoráveis em canções como “Four Until Late”, “Strange Brew” e “Crossroads”. O Cream estreou oficialmente em julho de 1966. Ganharam o respeito de ninguém menos do que Jimi Hendrix, recém-chegado a Londres e que queria uma chance para tocar. Hendrix foi apresentado por Chas Chandler, o baixista do The Animals, que na época era o empresário do guitarrista. Como muitas vezes acontece em supergrupos, ocorreu uma briga de egos. A rivalidade entre Bruce e Baker voltou com tudo e passou a incluir Clapton. Por causa dessas tensões, apenas quatro álbuns de estúdio foram gravados: Fresh Cream (1966), Disraeli Gears (1967), Wheels of Fire (1968) e Goodbye (1969). Baker ainda trabalharia com Clapton no supergrupo Blind Faith, formado em 1969, e que teve Stevie Winwood, do Traffic, como vocalista. Winwood tinha sido chamado originalmente para tentar aplacar os ânimos entre Baker e Bruce, mas, como falhou, partiram para formar um novo grupo, que gravou apenas um álbum, Blind Faith (1969), sem Jack Bruce.

GRATEFUL DEAD O nome de Jerry Garcia, vocalista e guitarrista do Grateful Dead, pode não ser tão conhecido da maioria dos leitores, mas poucas bandas tiveram o mesmo nível de popularidade no final dos anos 1960 que o grupo liderado por ele. Formado em 1965 e fazendo parte da comunidade hippie, que ficou extremamente ligada ao chamado Verão de 1967, esse grupo uniu psicodelia e outros gêneros em sua música, incluindo folk, blues, jazz, space rock e até gospel. Seu líder, Garcia, se destacou por ser um ótimo tocador de banjo, piano e guitarra. Hoje, segundo a Rolling Stone, é considerado o 46º Melhor Guitarrista de Todos os Tempos. Sua música merece o rótulo de psicodélica pelas imagens que evoca. Em seus shows eram comuns as longas improvisações, fazendo o público delirar com suas performances, nas quais os álbuns do grupo eram tocados quase inteiros. As capas dos álbuns são consideradas obras-primas da arte gráfica e são estudadas à exaustão por designers modernos que sonham em desenvolver conceitos no mesmo nível para o mercado fonográfico atual. Garcia, que se tornou o membro mais conhecido e seguido pelo público, teve uma vida atribulada, com constantes brigas com esposas e ex-esposas e frequentes reuniões com os membros restantes da banda até sua morte, em 1995, aos 53 anos, em seu quarto numa clínica de reabilitação. Causa da morte: uma mistura de problemas com drogas, apneia, problemas de peso, diabetes e resistência em largar o hábito de fumar. Seu visual diferente e a originalidade do nome chamaram tanto a atenção dos fãs que os admiradores mais fanáticos da banda ganharam o apelido de deadheads. Tamanha adoração rendeu muito para os integrantes ainda vivos da banda, que em 2007 arrecadaram mais de um milhão de dólares quando resolveram leiloar objetos que tinham pertencido ao grupo (inclusive a pia e o vaso sanitário usados por Garcia).

CAPÍTULO 4

ROCK PROGRESSIVO

Com um número cada vez maior de bandas entrando no cenário musical,

não foram apenas os grandes grupos que se sentiram numa espécie de competição para produzir mais e melhor. A cultura “paz e amor” que se difundiu pelos Estados Unidos incentivou a propagação de bandas adeptas à psicodelia, grupos que gostavam de expandir seu estado de percepção para realizar composições cada vez mais complexas. Nesse contexto, começam a aparecer os chamados “álbuns conceituais”, obras em que todas as músicas falam sobre um mesmo tema, além de muitas vezes fazerem referências umas às outras. Considerado o maior álbum da discografia dos Beatles, Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band (1967) é um dos primeiros álbuns conceituais da história do rock. Na primeira canção, que leva o mesmo nome do disco, vão sendo apresentados os integrantes da banda, pois a ideia era que cada beatle assumisse uma identidade diferente. No entanto, isso foi usado apenas na canção de abertura. Ao final, a música anuncia o cantor Billy Shears, e Ringo Starr começa a cantar a canção que um tempo depois se tornaria um marco da apresentação do cantor inglês Joe Cocker no festival de Woodstock, em 1969: “With a Little Help From My Friends”. De certa forma, o progressivo foi beneficiado também pelo surgimento das chamadas óperas-rock, discos que tratavam de um único tema, contendo um enredo, com diálogos e personagens que marcavam o desenvolvimento de uma trama. A origem de tal segmento é controversa, mas um de seus exemplos mais pioneiros é Tommy (1969), do The Who, que em 1975 se tornaria um filme com participação de Tina Turner, Eric Clapton e Elton John, além do ator Jack Nicholson. De maneira geral, o termo ópera-rock parece mesmo estar contemplado na definição dada pelo guitarrista do The Who, Pete Townshend. Ele disse que, em 1966, quando tocava uma fita de comédia para alguns amigos, uma pessoa teria comentado que a gravação, que mostrava um humorista interpretando uma canção-paródia, mais parecia com uma ópera-rock. O coprodutor do conjunto, Kit Lambert, também estava presente e observou que aquela era “uma excelente ideia”. Naquele mesmo ano, o The Who lançou o álbum A Quick One, que trazia um meddley (uma canção composta por várias partes independentes entre si) intitulado “A Quick One, While He’s Away”. Alguns anos após o lançamento, em 1970, durante as apresentações na Universidade de Leeds, na Inglaterra (mais tarde registradas no álbum Live At Leeds), Townshend chamou a faixa de uma “mini-ópera” e de “ancestral de Tommy”. A música realmente guarda características que permitem essa definição, como sua duração, que varia de, aproximadamente, oito (ao vivo) a nove minutos (na versão em

estúdio). ÓPERAS-RO CK DE DESTAQ UE: The Crazy World of Arthur Brown A banda psicodélica liderada por Arthur Brown, que anos mais tarde formaria o Kingdom Come, lançou esta óperarock em setembro de 1968, também produzida por Kit Lambert, que trabalhou com o The Who. Este álbum, que traz o mesmo nome da banda, contém uma mini-ópera com uma série de reflexões sobre a vida espiritual e o terror do inferno, antes mesmo do surgimento de bandas como Black Sabbath ou outras que explorariam o mesmo tema. Tommy A mais popular de todas as óperas-rock foi colocada originalmente no mercado em 23 de maio de 1969 e foi a primeira nesse segmento a ser lançada pelo The Who (a segunda foi Quadrophenia, de 1973). A história do garoto que flagra seu pai assassinando o amante de sua mãe, e que por isso torna-se cego, surdo e mudo conquistou todos graças às performances do vocalista do grupo, Roger Daltrey. Mais tarde, a ópera-rock foi transformada em um concerto clássico, um filme, um balé, além de diversas produções teatrais. Arthur (Or The Decline and Fall of The British Empire) Lançada pouco depois do sucesso de Tommy, em 10 de outubro de 1969, a ópera-rock do The Kinks fala de um homem que se põe a pensar em sua vida após seu filho anunciar que vai para a Austrália. O grupo não parou por aí, tendo lançado na sequência uma série de óperas-rock: Preservation: Act 1 (1973); Preservation: Act 2 (1974); Soap Opera (1975) e Schoolboys In Disgrace (1975). Todas elas tiveram produções teatrais, em que os integrantes do grupo e outros atores atuavam em teatros fechados. Jesus Christ Superstar

Enquanto grupos de rock transformavam suas músicas em óperas, o compositor Andrew Lloyd-Webber (famoso pelo musical O Fantasma da Ópera) e o letrista Tim Rice (que mais tarde escreveria as canções de Aladdin e O Rei Leão) chegaram ao mesmo efeito pelo caminho oposto e adaptaram seus estilos ao rock. O resultado foi o polêmico Jesus Christ Superstar (1970), que reconta os últimos dias de vida de Jesus, enfatizando o ponto de vista de Judas Iscariotes. Apesar das diversas acusações de blasfêmia, a ópera-rock conseguiu conquistar popularidade, virando uma peça em 1971 e um filme em 1973.

Cena da adaptação cinematográfica de Jesus Christ Supertar. A psicodelia estourou no Reino Unido no outono de 1966 e deixou uma marca indelével no mundo musical. Todo o movimento underground girava ao redor das revistas International Times e Oz. Concertos eram realizados principalmente em Londres, em clubes como o Roundhouse (que receberiam os Doors em 1968) e o UFO (um pequeno clube que, apesar de

durar pouco tempo, ajudaria a revelar o Pink Floyd). De um modo geral, podemos afirmar que o contexto psicodélico foi aproveitado por muitos músicos para que se dedicassem a algo mais complexo, com composições de temas científicos e obscuros, músicas longas, influenciadas por estilos como o jazz e a música erudita, e que contavam ainda com quebras de compasso durante sua execução. Foi só mais tarde que essas músicas foram chamadas de rock progressivo. SPACE ROCK Podemos dizer que o rock progressivo que conhecemos hoje é uma evolução do chamado space rock, uma vertente que começa explorando temas ligados à ficção científica e abusa dos teclados para criar uma atmosfera espacial. É nesse meio que aparece o Pink Floyd, banda liderada por Syd Barrett, que aplicou essas ideias no primeiro trabalho do grupo, The Piper At The Gates of Dawn (5 de agosto de 1967). No entanto, em tempos psicodélicos, as drogas cobrariam um preço alto do grupo quando o comportamento de Barrett começou a prejudicar a banda: uma vez ele sumiu por três dias. Em outra ocasião, durante uma apresentação na TV, nem ao menos fingiu tocar uma única nota no instrumento. Isso culminou mais tarde em sua substituição por David Gilmour, e a partir daí o grupo começou a enveredar pelo experimentalismo que levaria às obras- -primas The Dark Side of The Moon (1973), Wish You Were Here (1975), e The Wall (1979), todas concebidas principalmente pelo baixista Roger Waters. Outras bandas desenvolveriam experiências semelhantes, e dentre elas a mais conhecida do público de hoje é a Hawkwind, formada em 1969. Em 1972, o posto de baixista e vocalista foi assumido por Lemmy Kilmister, que posteriormente se tornaria um grande nome do heavy metal, com o Motörhead. Lemmy, entretanto, acabou sendo expulso da banda, após ser preso na fronteira dos Estados Unidos com o Canadá por posse de drogas. Foi uma perda para o grupo, que não queria publicidade negativa, mas um enorme ganho para o heavy metal, que foi presenteado com aquela que hoje é considerada uma das bandas mais barulhentas do mundo. O nome Motörhead, inclusive, veio inspirado na última música que Lemmy escreveu ainda no Hawkwind. O Hawkwind seguiu sua carreira e marcou a história do rock com diversos lançamentos, dentre eles Space Ritual (1973), um álbum ao vivo que serve como um verdadeiro documento da turnê de 1972, que teve

shows de lasers, dançarinas nuas e figurinos excêntricos para os integrantes da banda. O grupo contou ainda com a colaboração do escritor de ficção científica Michael Moorcock, que se encarregou da maior parte das letras do álbum. O space rock passou por diversas mudanças no decorrer dos anos, mas se manteve firme como gênero, a ponto de ter inspirado algumas bandas no começo da década de 1990, como Blur, Suede, The Verve e Oasis. Nessa mesma época, contudo, as bandas representantes do gênero mais antigas já tinham encerrado suas atividades ou mudado para novos estilos.

O PROGRESSIVO E O ERUDITO O rock se beneficiou muito da música erudita, clássica. Por exemplo, bandas como Electric Light Orchestra, liderada pelo britânico Jeff Lynne, possuíam músicos com formação musical mais tradicional em sua constituição, contando com instrumentos como violoncelo, violino, oboé e clarinete. Algumas das músicas do grupo são bem lembradas até hoje, como “Last Train to London” (1979) e “Twilight” (1981). Também há casos em que os grupos de progressivo se renderam à música clássica. O mais lembrado é o caso do álbum Pictures At An Exhibition (1971), do trio Emerson, Lake & Palmer (também conhecidos como ELP). O título é uma menção à peça para piano, de mesmo nome, escrita pelo militar e compositor erudito russo Modest Mussorgsky. Essa peça foi inspirada pela morte de um grande amigo de Mussorgsky, o pintor Viktor Hartmann, que morreu em 1873, com apenas 39 anos. No ano seguinte, houve uma exposição de seus quadros em uma galeria de São Petersburgo, e, depois de visitá-la, Mussorgsky resolveu escolher dez quadros e compor uma música para cada um deles.

O álbum do ELP mescla essas peças clássicas com o ritmo e o espírito característicos do rock, uma mistura que já havia sido vista em trabalhos de grupos de space rock. Pictures At An Exhibition foi lançado em novembro de 1971, a partir de uma apresentação ao vivo no nordeste da Inglaterra, no New Castle City Hall, em New Castle, no dia 26 de março. Os mecenas, ou melhor, os ricos da época, foram reconhecendo o nível de sofisticação dos músicos e resolveram financiar certos grupos. Um caso foi o Supertramp. A banda do Reino Unido, formada em 1969 por Roger Hodgson e Rick Davies, contou por algum tempo com o apoio financeiro do milionário holandês Stanley August Miesegaes. A ajuda, no entanto, cessou quando o mecenas percebeu que os primeiros trabalhos do grupo, embora recebessem boas críticas da imprensa especializada, não obtinham sucesso comercial. Apesar disso e das mudanças melódicas, visíveis principalmente a partir do terceiro álbum, Crime of The Century (1974), eles sempre compuseram músicas típicas de um grupo progressivo, como a famosa “Fool’s Overture”, encerramento do álbum Even In The Quietest Moments (1977). Até mesmo com o lançamento de um álbum concebido para o mercado norte-americano, cheio de sucessos comerciais e músicas mais curtas, como foi o caso de Breakfast In America (1979), as canções mantiveram características do progressivo, como o uso de orquestrações e letras complexas. A EVOLUÇÃO DO PROGRESSIVO O rock progressivo originou-se no Reino Unido, de onde foi exportado para França, Itália, Alemanha e outros países mais próximos. Teve seu ápice entre a segunda metade dos anos 1960 e o começo dos 1970. O estilo se beneficiou com algumas contribuições deixadas pelo space rock, como as artes de capa dos discos, que mostravam paisagens exóticas inspiradas pela ficção científica. Bons exemplos disso são os álbuns Tales From Topographic Oceans (1973) e Relayer (1974), ambos da banda Yes. Além da temática futurista, uma das principais características do progressivo é o abandono de formatos populares, de fácil assimilação, para, no lugar, realizar composições longas e complexas, também com fortes influências do jazz e da música clássica. Algumas composições nessa época são tão longas que ocupavam um lado inteiro de um Long Play (LP ou vinil, como é chamado atualmente). Essa complexidade nas composições se verifica, por exemplo, na tentativa de criar um ambiente fantástico e

surreal com o uso de efeitos sonoros ou orquestras. Esse esforço alcançou tal nível que muitos críticos consideravam os trabalhos desses grupos muito “pomposos” e “exagerados”, o que fazia com que as resenhas nem sempre vissem o estilo com bons olhos; muitos simplesmente os ignoravam. No início da década de 1970, no entanto, o progressivo começou aos poucos a chamar atenção. Em 1975, grupos que haviam começado lá nos anos 1960, como Pink Floyd e Yes, se encontravam sob os holofotes. Nessa época, também faziam sucesso Genesis (que revelaria Peter Gabriel e Phil Collins), The Moody Blues (que começou fazendo rock psicodélico na década anterior), Jethro Tull (com temática celta e um vocalista que fazia solos de flauta) e o trio ELP. Até a segunda metade da década de 1970 o gênero havia se tornado uma febre, responsável por muitas músicas nas paradas de sucessos, como “Aqualung” (1971) do Jethro Tull; “Roundabout” (1972), do Yes; e “C’est La Vie” (1977), do ELP. Esse apogeu, porém, não durou tanto, e no final da década o progressivo já se encontrava em decadência. Para alguns, a queda de popularidade ocorreu principalmente por causa da ascensão de outro subgênero, o punk rock. Os maiores álbuns progre ssivos Em 2009, a revista Classic Rock, do Reino Unido, resolveu fazer uma eleição dos cinquenta maiores álbuns de toda a história do rock progressivo. Listamos a seguir os cinco melhores colocados. 1º) Selling England By The Pound (1973) – Genesis 2º) Close to The Edge (1972) – Yes 3º) The Dark Side of The Moon (1973) – Pink Floyd 4º) The Lamb Lies Down On Broadway (1974) – Genesis 5º) Wish You Were Here (1975) – Pink Floyd E quanto aos dias de hoje? Ainda é possível dizer que uma banda faz rock progressivo ou será que se trata de um estilo que ficou no passado distante? O fato é que, do mesmo modo como ocorreu nos anos 1970, ainda não há um consenso em relação às características que fazem parte do progressivo. A mistura de vários estilos musicais, faixas longas e mudanças

de compassos em uma mesma música são alguns elementos que podem ser apontados como propriedades desse estilo, mas, ainda que se verifique isso nas bandas mais recentes, é difícil entrar em consenso quanto à sua classificação. GRANDES NOMES PINK FLOYD Formado em 1965, na cidade de Londres, por Roger Waters (baixo e vocais), Nick Mason (bateria), Richard Wright (teclado) e Syd Barrett (guitarra e vocais), o Pink Floyd conseguiu ligar as vertentes do progressivo e do psicodélico e reuni-las num único som, principalmente nos primeiros trabalhos. Suas letras eram filosóficas e seus shows marcados por uma produção impecável, que contava com telões e balões gigantescos. O grupo se tornou popular no meio underground londrino no fim da década de 1960.

O Pink Floyd em 1972. Devido a seu envolvimento com drogas, em 1968, o frontman Syd Barrett foi substituído por David Gilmour, que assumiu parte dos vocais. O baixista

Waters se torna então o principal compositor e letrista, além de ser autor do material conceitual do grupo. Após muitas experimentações, o grupo lança Meddle (1971), que continha um lado inteiro com uma só canção de quase 24 minutos, “Echoes”. O disco é considerado pela banda como o precursor de seu maior sucesso, The Dark Side of the Moon (1973), álbum que ficou entre os mais vendidos por 741 semanas (de 1973 a 1988), com uma venda estimada em 50 milhões de cópias. “The Dark Side of the Moon, obra-prima do Pink Floyd, já bateu a marca dos 50 milhões de cópias vendidas em todo o mundo. Uma lenda diz que o álbum foi feito para ser sincronizado ao filme O mágico de Oz. Os integrantes da banda negam. Mas experimente dar play no cd exatamente no momento em que o leão da MGM termina de rugir pela terceira vez na abertura do filme e você conhecerá The Dark Side of the Rainbow (como dizem alguns fãs).” – Evaldo Vasconcelos Depois de The Dark Side of the Moon, foram lançados outros sucessos como Wish You Were Here (1975), álbum dedicado a Barrett, cuja saúde mental havia piorado desde então; Animals (1977); e a ópera-rock The Wall (1979), que foi seguida de um filme de mesmo nome, sucesso no cinema em 1982, dirigido por Alan Parker. Já o álbum seguinte não contaria mais com o tecladista da banda Rick Wright, que deixou o grupo em 1979 por exigência de Waters. O então trio trabalhou no álbum The Final Cut (1983). Dois anos depois, Waters deixaria a banda para se dedicar à carreira solo, lançando mais alguns álbuns conceituais, como The Pros and Cons of Hitch Hiking (1984), antes mesmo de deixar o grupo. Algum tempo depois, Wright retornou à banda e juntamente com Gilmour e Mason lançou A Momentary Lapse of Reason (1987) e o último registro de estúdio do grupo, The Division Bell (1994). Com os membros da formação original em cantos diferentes, começou então uma longa batalha judicial entre Waters e os demais pelo uso do nome do grupo. A maioria venceu, e a justiça acabou dando ganho de causa a Gilmour e Mason. Os quatro só se reuniriam novamente em 2005 para uma apresentação no evento de caridade Live 8, que trouxe a esperança para os fãs de que a banda poderia lançar trabalhos inéditos, expectativa logo descartada por

Gilmour. Em julho do ano seguinte, Barrett morre de diabetes, e em setembro de 2008, Wright também se vai, vítima de câncer. Os remanescentes se reuniram em maio de 2011 para uma participação na The Wall Tour, realizada por Waters. JETHRO TULL Unindo música erudita, folk, jazz e art rock, o grupo liderado pelo flautista Ian Anderson foi formado em Berdfordshire, na Inglaterra, em dezembro de 1967. Passou por várias mudanças em sua constituição, mas com uma constante: Anderson manteve-se líder do grupo em todas elas. Os executivos da gravadora Chrysalis sugeriram que os vocais fossem feitos pelo guitarrista Abrahams e que a flauta de Anderson fosse eliminada. Depois de alguns singles malsucedidos, eles lançaram o álbum This Was (1968), no qual a influência do blues era nítida. Abrahams saiu do grupo pouco depois, porque discordava do rumo mais comercial que Anderson queria dar à banda. Depois de muitos testes e uma passagem muito breve do guitarrista do Black Sabbath, Tony Iommi, a guitarra ficou a cargo de Martin Barre. A banda passou por vários estilos, progressivo, folk e até eletrônico, para adaptar seu som. Dentre os álbuns da primeira fase está Stand Up (1969), que contava com uma composição de Bach executada como um jazz. O disco os colocou em pé de igualdade com bandas como Yes. Já no ano seguinte, a banda lançou Benefit (1970), com o tecladista John Evan, e, também um ano depois, Aqualung (1971). Este seria o álbum que marcaria a carreira da banda, combinando rock pesado com temas religiosos e letras sobre a vida cotidiana. Outras modificações na formação aconteceram até o álbum seguinte, Thick As A Brick (1972), disco formado por uma única canção ocupando os dois lados do vinil. Outro dos mais conceituados álbuns da banda foi Too Old to Rock and Roll, Too Young to Die! (1976), que fala sobre a vida de um roqueiro de meia-idade. O grupo continua na ativa até hoje, sempre lançando trabalhos inéditos. Anderson, com a voz debilitada por causa da idade, conta com a ajuda de um cantor assistente, que o substitui quando ele percebe que não vai conseguir atingir certas notas. YES

Talvez o grupo mais lembrado pelos fãs do progressivo, o Yes foi formado em 1968 pelo vocalista Jon Anderson e pelo baixista Chris Squire em Londres, Inglaterra. É outro grupo que sofreu com a constante mudança de formação (aproximadamente vinte formações em todos os anos de carreira), mas que ainda está na ativa, após um pequeno hiato entre 2004 e 2008. Muitos nomes famosos passaram pelo grupo, como o tecladista Rick Wakeman, conhecido pelos seus álbuns solo temáticos. O cantor Jon Anderson também fez trabalhos solo, como suas parcerias com o tecladista Vangelis (da trilha sonora dos filmes Carruagens de Fogo e Blade Runner), dos quais o mais famoso é o álbum Private Collection (1983), que traz o sucesso “Deborah”. As gravações feitas pela banda na década de 1970 são consideradas as mais clássicas de sua carreira. Algumas músicas tinham mais de vinte minutos de duração, excedendo o tempo médio dos destaques que tocavam em rádios. Eram característicos dessa época: a voz melódica de Jon Anderson, as linhas de guitarra de Steve Howe, o teclado de Rick Wakeman, as baterias de Bill Bruford e Alan White (que tocou nos discos solos de John Lennon) e o baixo de Chris Squire. As interações feitas pelo baixista com Bruford e White são consideradas até hoje as melhores do rock progressivo. Os dois primeiros álbuns, Yes (1969) e Time and A Word (1970), traziam covers de suas principais influências, como Beatles e Simon & Garfunkel. Quando Peter Banks saiu, em 1970, sendo substituído por Steve Howe, lançaram The Yes Album (1971), trazendo pela primeira vez apenas material próprio e inédito.

Yes durante turnê do aniversário de 35 anos do grupo. Depois de Wakeman entrar no grupo, os discos Fragile (1971) e Close to The Edge (1972) levaram o grupo ao Top 10 das paradas. Suas apresentações passaram então a ser os shows mais populares da época, além de se tornarem os queridinhos da crítica. Tales From Topographic Oceans (1973) trazia quatro faixas de duração média de vinte minutos, o que dividiu as opiniões e causou a saída de Wakeman, em 1974, para se dedicar à sua carreira solo. Muitos outros projetos se seguiram e o nome Yes se firmou como um dos mais importantes e duradouros do progressivo. Em 1983, o álbum 90125 (número do cátalogo do trabalho na gravadora) rendeu alguns sucessos comerciais, como “Owner of a Lonely Heart” e “Changes”, prolongando assim a fama do grupo. EMERSON, LAKE & PALMER O trio ELP era um supergrupo nos moldes do Cream de Eric Clapton na década de 1960. Os ingleses trouxeram uma sonoridade completamente diferente daquela que se ouvia no meio: o tecladista Keith Emerson vinha da banda The Nice; o guitarrista Greg Lake, do King Crimson; e o baterista Carl Palmer, de dois grupos de destaque, The Crazy World of Arthur Brown e do hoje cultuado Atomic Rooster, uma banda de rock progressivo que puxava para o hard rock. As composições do grupo contavam com elementos do jazz, do hard rock e da música clássica. Lake produziu os seis primeiros álbuns, começando pelo clássico Emerson, Lake and Palmer (1970), com o sucesso “Lucky Man”. Seguiram-se Tarkus (1971), o primeiro disco conceitual; o já citado Pictures At An Exhibition (1971); Trilogy (1972) e Brain Salad Surgery (1973), com letras de Peter Sinfield (compositor conceitual do King Crimson) e capa criada pelo artista suíço H. R. Giger. Depois de os últimos trabalhos receberem críticas negativas, o grupo entrou em um grande hiato e só retornou parcialmente na década de 1980, com o nome de Emerson, Lake & Powell, com o baterista Cozy Powell substituindo Palmer, que na época estava com outra banda, o Asia, e não podia se juntar ao grupo antigo. O trio original ainda se reúne eventualmente e chegou a lançar dois álbuns na década de 1990: Black

Moon e In the Hot Seat. GENESIS O grupo que revelou ao mundo Peter Gabriel e Phil Collins foi formado em 1967, tendo como membros fundadores Peter Gabriel, Anthony Phillips , Mike Rutherford e Tony Banks, todos estudantes da Charterhouse School, em Surrey, na Inglaterra. Na fase inicial, com Peter Gabriel nos vocais, o som era puramente progressivo, com estruturas musicais longas e elaboradas, e apresentações no mesmo estilo do que mais tarde seria considerado rock teatral. Gabriel chegou a vestir fantasias representando personagens que acompanhavam as performances no palco. Os destaques dessa primeira fase são “Supper’s Ready”, do álbum Foxtrot (1972), que tem mais de vinte minutos de duração, e o álbum The Lamb Lies Down On Broadway (1974), que aborda sonhos de Peter Gabriel em Nova York. Antes desse material, um de seus poucos sucessos comerciais da época era a canção “I Know What I Like (In Your Wardrobe)”, do álbum Selling England By The Pound (1973), que fala de um jovem que não quer crescer e fazer grandes coisas, estando contente como um jardineiro e seu cortador de grama. Na segunda fase da banda, quando Collins a assume, o grupo começa a se destacar comercialmente e a emplacar vários sucessos, diferente do espírito progressivo de outrora. O sucesso de The Lamb Lies Down On Broadway e o nascimento do filho de Peter Gabriel exerceram pressão sobre o vocalista, que deixou a banda em 1975. Dois anos depois, Gabriel grava “Solsbury Hill”, canção em que ele expressa seus sentimentos sobre a saída, no seu primeiro disco solo. Apesar dos vocais de Collins serem bem diferentes, já na época de Gabriel ele fazia alguns vocais de apoio. Dessa forma, a transição não foi tão impactante. Porém outros membros, como o guitarrista Steve Hackett, não confiaram na capacidade do novo vocalista e também deixaram o grupo. O Genesis se viu reduzido a um trio: Collins, Mike Rutherford e Tony Banks. A partir do álbum ...And Then There Were Three... (1978), os remascenentes trabalharam para levantar o nome do grupo, com Collins seguindo uma carreira solo em paralelo. Da era Collins, os destaques são os álbuns Duke (1980), Abacab (1981) e Genesis (1983), além daquele que mais trouxe sucesso para o grupo, Invisible Touch (1986). Collins obteve êxito também em sua carreira solo e, com o excesso de trabalho, decidiu se afastar do grupo. O fim começou quando contrataram o desconhecido Ray Wilson e gravaram Calling All Stations (1997), que

vendeu bem na Europa, mas não teve bons resultados nos Estados Unidos, além de ter sido criticado. KING CRIMSON A banda de onde saiu Greg Lake (do ELP) foi criada em Dorset e em Londres, cidades da Inglaterra, em 1969, pelo guitarrista Robert Fripp e o baterista Michael Giles. Seu estilo era carregado de influências de jazz, música clássica, folk e até heavy metal. Como vimos até aqui, uma característica que permeia a história das bandas de rock progressivo é a constante troca de membros e as várias formações. Com este grupo não foi diferente. Fripp já vinha de outro grupo, chamado Giles, Giles & Fripp, que teve pouca duração e não atingiu o sucesso. A eles se juntou Lake, para tocar baixo, o letrista Peter Sinfield, além do compositor Ian McDonald, para formar o King Crimson, cujo nome pode ser uma referência ao sol ou ao demônio Belzebu. Em julho de 1969 é lançado o primeiro e mais conhecido álbum do grupo, In The Court of The Crimson King, que os coloca em lugar de destaque no cenário musical. O grupo faz uma turnê pela Inglaterra e Estados Unidos, indo tocar com nomes como Iron Butterfly, Janis Joplin, Rolling Stones e Fleetwood Mac. No entanto, logo as divergências musicais começam a aparecer e McDonald e Giles saem em dezembro de 1969. Os integrantes restantes (Fripp, Sinfield e Lake) continuaram por mais um tempo. Criaram as músicas do segundo álbum, In The Wake of Poseidon (1970), mas este não teve o impacto do primeiro disco. Fripp queria fazer uma reformulação da banda, mas Lake saiu em abril para formar o ELP. O guitarrista tenta levar a banda para frente com várias mudanças na formação e fazendo um som cada vez mais pomposo. As discussões entre Fripp e Sinfield fizeram com que o letrista saísse da banda, que ficou só com o guitarrista. Enquanto ia atrás de uma dezena de convidados, Fripp trabalhou com outros nomes como Peter Gabriel e David Bowie. Apenas em 1994 o King Crimson voltaria a atuar como um sexteto fixo. Desde então, o grupo se mantém na ativa, sendo o último trabalho o álbum The Power to Believe (2003). ELECTRIC LIGHT ORCHESTRA O primeiro contato de muitos jovens, no começo dos anos 1980, com o

progressivo se deu pelo sucesso comercial do grupo de Jeff Lynne, amigo de George Harrison, que produziu o álbum Cloud Nine (1987), além de ter ajudado os Beatles remanescentes com o projeto Anthology e com o vídeo de “Free as a Bird”, de 1995. A ELO (como ficou mais conhecida) era uma das poucas bandas que, na segunda metade da década de 1980, conseguia dividir espaço com a febre das discotecas, com seu sucesso “Last Train to London”, do álbum Discovery (1979). Foi responsável ainda pela trilha sonora do filme de 1980, Xanadu, estrelado por Olivia Newton-John.

A Electric Light Orchestra em 1970. p.120 Formado em Birmingham, Inglaterra, em 1970 por Jeff Lynne (vocais e guitarra), Richard Tandy (teclados e vocais), Kelly Groucutt (baixo e vocais), Bev Bevan (bateria), Mik Kaminski (violino), Hugh McDowell (violoncelo) e Melvin Gale (violoncelo), o grupo lançou cerca de doze álbuns de estúdio no período de 1971 a 2001. Lynne tinha intenção de formar um grupo que acomodasse em suas criações rock com tons de

música erudita. Além dessas duas influências da banda, o logotipo, um disco voador com as iniciais da banda, dava um ar de space rock, o que os levou a fazer mais sucesso nos Estados Unidos do que em seu próprio país de origem. Entre 1972 e 1986 eles lançaram cerca de quarenta compactos de sucesso no Reino Unido e nos Estados Unidos, com vinte músicas no Top 20. A Billboard os referenciou como o grupo que mais teve canções nas paradas sem ter necessariamente uma que chegasse ao primeiro lugar. Apesar disso, venderam cerca de 50 milhões de discos no mundo todo, um feito impressionante para uma banda de rock progressivo. Seus principais destaques são o álbum de estreia Discovery (1979) e o futurista Time (1981). A ELO durou até 1988 e teve um breve retorno entre 2000 e 2001. Na mesma época da dissolução da banda, Lynne foi fazer parte do supergrupo The Travelling Wilburys, de George Harrison, com Bob Dylan, Roy Orbinson e Tom Petty, em 1988. Já o baterista Bev Bevan colaborou com o Black Sabbath na turnê do álbum Born Again (em um dos muitos afastamentos de Bill Ward, o baterista original), além de ter trabalhado como percursionista no álbum The Eternal Idol (1987). THE MOODY BLUES Inicialmente um grupo de R&B, o Moody Blues passou pela psicodelia e pelo progressivo ao longo de sua carreira. O grupo foi formado em Birmingham, Inglaterra, no ano de 1964. Com alterações no perfil musical, eles conseguiram se lançar no cenário do rock progressivo ainda no final dos anos 1960. Seu visual bem-comportado contrastava com os cenários das apresentações, que mostravam vários elementos psicodélicos e até astrológicos, como um enorme sol dourado que dominava o fundo do palco. Destacaram-se também pela posterior saída de Denny Laine, que se uniria a Paul McCartney e sua esposa, Linda, para formar o núcleo do que seria a banda de Paul nos anos pós-Beatles, The Wings. Além disso, foram um dos primeiros grupos a montar o próprio selo para lançar, promover e divulgar seus trabalhos, chamado Threshold Records, nome tirado de seu álbum On The Threshold of A Dream (1969). Ao longo de seus anos iniciais, emplacaram vários hits, incluindo “Ride My See-Saw” e “Nights In White Satin”. Mas foi na década de 1980 que um de seus sucessos conquistou toda uma gama nova de fãs: “Talking Out of Turn”, do álbum Long Distant Voyager (1981). Hoje o grupo continua a se apresentar como um trio, com Graeme Edge

na bateria (desde 1964), Justin Hayward na guitarra e John Lodge no baixo (ambos desde 1966). HAWKWIND A banda pioneira do space rock foi formada em Londres, Inglaterra, em 1969. Foi mais um grupo com alta rotatividade, mas cuja formação principal era composta por Dave Brock (guitarra e vocais), Nick Turner (saxofone, vocais e flauta), Mick Stattery (guitarra), John Harrison (baixo), Terry Ollis (bateria) e Dik Milk (programação eletrônica). A história da banda de onde saiu Lemmy, do Motörhead, é vasta e conturbada, cheia de episódios de brigas, disputas, desavenças e outras intrigas. Esse traço de sua trajetória, no entanto, não impediu que seu legado se firmasse – o que se verifica na influência que exerceu até mesmo em bandas como os Sex Pistols (algo raro, já que os grupos de punk geralmente odiavam sons como o progressivo e o space rock), além de outras mais recentes, como Black Flag e Ozric Tentacles, a última mais famosa no Reino Unido. O último trabalho do Hawkwind foi o álbum Blood of The Earth (2010).

CAPÍTULO 5

HARD ROCK E HEAVY METAL

Para a maioria das pessoas que não conhecem bem as diferenças entre o hard rock e o heavy metal, esses gêneros podem soar muito semelhantes. Ambos possuem o mesmo peso e estilo da bateria e dos vocais, muitas

vezes acompanhados de guitarras distorcidas. As letras de suas músicas falam de lendas mitológicas a clássicos da literatura, de críticas sociais a baladas românticas (sim, músicas lentas, quem diria). Há ainda outro ponto um tanto polêmico: o uso de imagens e temas religiosos, que muitas vezes fizeram com que as bandas, principalmente as de heavy metal, fossem classificadas como satanistas. É importante ressaltar que, no decorrer dos anos, muitos grupos e artistas se consideraram seguidores do diabo, como King Diamond, Behemoth, Marilyn Manson, dentre outros, enquanto há bandas que apenas exploram o assunto com intuito artístico, como Iron Maiden, Black Sabbath e Ghost. ALGUMAS VARIAÇÕES DE HEAVY METAL Mesmo sendo uma variação do rock, o próprio heavy metal se ramificou em outros subgêneros. Confira alguns deles abaixo: – Black metal – Cello metal – Death metal – Glam metal – Metal alternativo – Metal cristão – Metal melódico

– Metal progressivo – Metalcore – Nu metal – Power metal – Speed metal – Thrash metal

DEFINIÇÕES Com esses dados em mente, vamos adentrar esta dimensão do rock com as definições referentes ao hard rock e ao heavy metal. O hard rock tem raízes no rock de garagem e no psicodelismo, e é marcado pelo uso de um som mais pesado que o dos outros subgêneros, principalmente nos seus arranjos, que usam e abusam de seções de guitarra rítmica e de muitos riffs e solos complexos (não apenas de guitarra, mas também de outros instrumentos, até mesmo baterias). Com certeza o leitor já deve ter ouvido falar dos famosos riffs de

guitarristas como Jimmy Page (Led Zeppelin) ou Ritchie Blackmore (Deep Purple), duas bandas consideradas fundamentais para fãs de hard rock. Page e Blackmore são apenas dois nomes conhecidos por seus marcantes riffs, embora existam outros artistas que se especializaram na confecção deste recurso, como Chuck Berry (que volta e meia tem seus riffs copiados por outros artistas atuais), Brian May (do Queen), Angus Young (do AC/DC), Joe Perry (do Aerosmith), Keith Richards (dos Rolling Stones), Tony Iommi (do Black Sabbath), Dave Mustaine (do Megadeth) e Slash (exGuns N’ Roses). Em relação à sua estrutura, ao contrário do que ocorre com os grupos de rock progressivo, a formação de uma banda de hard rock não costuma sair do básico: bateria, baixo, guitarra, teclado e vocais (em geral, masculinos e bem agudos). Atualmente podemos indicar essas como sendo características do hard rock, mas no final dos anos 1960, os termos “hard rock” e “heavy metal” eram usados como sinônimos, o que causa para muitos certa confusão (até hoje se discute se o Led Zeppelin era ou não um grupo de heavy metal). Porém, com o passar do tempo, o metal começou a se separar do hard, ao produzir arranjos cada vez mais pesados, com instrumentos distorcidos e vocais guturais. Há outra diferenciação importante a ser notada: enquanto o hard rock manteve um ritmo com um certo swing, meio dançante, o metal passou a utilizar riffs mais agressivos na guitarra e batidas mais “duras”. O heavy metal, por sua vez, traz características que o posicionam mais como uma derivação do hard rock do que como um movimento independente. Oficialmente dizem que o gênero surgiu entre o fim dos anos 1960 e o começo da década seguinte. Muitos dos nomes de outros subgêneros, como Alice Cooper e Queen, chegaram a flertar com o metal em busca de sua sonoridade. Alguns exemplos são os álbuns Billion Dollar Babies, 1973, de Alice Cooper, e A Night at The Opera, de 1975, do Queen. Para quem nunca se perguntou o que exatamente é um riff, seria interessante saber do que se trata, até mesmo para entender e poder apreciar melhor a construção da estrutura de uma canção. Com certeza, mesmo aqueles que nunca tocaram um instrumento na vida, vão se lembrar, por exemplo, das notas iniciais de violão usadas em “Stairway to Heaven” ou das notas de guitarra que abrem “Smoke on The Water”. Estes são os riffs, uma progressão de acordes que se

repete constantemente numa música em looping, ou seja, tocam sem parar. Musicalmente falando, são frases compostas prioritariamente para guitarra, embora haja riffs na maioria dos outros instrumentos, como baixo e piano. “O heavy metal foi um fruto da evolução natural da música, guitarras em volumes cada vez mais altos, distorção em níveis jamais imaginados, velocidade, técnica, resultando em peso. Misturou parte da revolta e ferocidade do punk, com a complexidade musical e temática do progressivo, adicionando temas obscuros.” – Rodrigo Branco As primeiras bandas de heavy metal ganharam aos poucos as grandes plateias e uma produção tão cuidadosa quanto à de uma banda de rock teatral. Nesses primórdios do subgênero, existem alguns eventos que favoreceram seu avanço. Em 1974, o Judas Priest alcançava destaque no panorama musical mundial com o álbum Rocka Rolla, que contou com o mesmo produtor dos três primeiros álbuns do Black Sabbath, Rodger Bain. A banda aproveitou muito da influência que o blues ainda tinha na primeira geração do metal do Reino Unido para mostrar um som mais pesado e elaborado. Outra contribuição para o desenvolvimento do subgênero aconteceu quando Lemmy Kilmister e seu Motörhead entraram em campo. Recém-saído do Hawkwind, um dos monstros sagrados do space rock, o baixista montou sua própria banda e instituiu uma sonoridade bem mais agressiva e um vocal áspero que marcou não apenas o heavy metal, mas também o punk. Um destaque do som de Lemmy e companhia era o que viria a marcar o subgênero como um todo: a velocidade com que tocavam. Os instrumentos atingem velocidades tão altas que uma bateria pode passar, em algumas gravações, por uma metralhadora. Imaginem o que não dá para fazer com um teclado ou com uma guitarra… Quando a “Nova Onda do Heavy Metal Britânico” (conhecido pela sigla NWOBHM ou New Wave of British Heavy Metal), surgida entre o fim dos anos 1970 e começo da década seguinte, ganhou a Europa, foi a porta de entrada para muitas bandas hoje conhecidas e adoradas, como Motörhead, Judas Priest, Iron Maiden, e outras como Saxon, Def Leppard, Holocaust, Venom, Nighwing e Samson (onde Bruce Dickinson começou). Houve ainda

uma segunda onda, e em comparação com a primeira, podemos dizer que a principal diferença entre as duas foi a diminuição da influência do blues e a intensificação do peso dos instrumentos. Hoje em dia a classificação hard rock é mais usada para definir bandas que têm um som pesado e veloz demais para receberem o simples rótulo de rock and roll, como Primus, Red Hot Chili Peppers, Rage Against the Machine, Living Colour e Aerosmith. “Uma das variações mais importantes do heavy metal era o thrash metal (metal agressivo). Caracterizados por riffs muito rápidos e letras que manifestavam muita agressividade em seus temas, como guerra e religião, o estilo foi consolidado pelos grupos que ficaram conhecidos como os “Big Four”: Metallica, Slayer, Megadeth e Anthrax. No Brasil, o thrash metal do Sepultura ganhou reconhecimento mundial.” – Edu Fernandes

FASES O hard rock tem basicamente quatro fases bem definidas. A primeira delas, que abrange os primórdios, inclui bandas consagradas da década de 1960 como Cream, Kinks, Yardbirds, The Who, Jimi Hendrix e até mesmo os Beatles. No fim da década de 1960, o hard rock surge de fato com duas bandas principais: Led Zeppelin e Deep Purple. A primeira ainda viria banhada nas águas do Rio Mississipi, com o blues transbordando entre as faixas do álbum, enquanto a segunda trabalharia com esse blues fundido com o jazz, o erudito e a psicodelia na forma de seus três primeiros álbuns (Shades of Deep Purple, The Book of Taliesyn, ambos de 1968; e Deep Purple, de 1969), todos com Rod Evans, no vocal, e Nick Simper, no baixo – que mais tarde sairiam da banda e seriam substituídos por Ian Gillan e Roger Glover, respectivamente. Com estes dois novos membros, a entrada da banda para o subgênero se completa, e os vocais agudos de Gillan marcam In Rock, de 1970, fazendo com que a banda se torne uma das precursoras do estilo. A década de 1970 marca a segunda fase, a do desenvolvimento. Enquanto algumas das bandas da década anterior partiam para novas

experimentações sem deixar de lado os aspectos mais carregados de sua música, outros nomes começam a ir para o ritmo pesado. Assim faz o The Who, que lança o álbum Who’s Next (1971), com alguns elementos bem mais densos e que não lembram muito seus primeiros álbuns. O Led Zeppelin experimentou com o folk em Led Zeppelin III (1970), enquanto o Deep Purple abraçou de vez o hard rock com a entrada de Ian Gillan em In Rock. O ápice que os colocaria como uma banda de heavy metal (embora haja membros da banda que recusem veementemente esse rótulo) é Machine Head, de 1972, que traz “Smoke on The Water”. Também a banda escocesa Nazareth, hoje mais famosa pela balada “Love Hurts” (1975), faz escola com o sucesso de Hair of The Dog, álbum de 1975. Enquanto Alice Cooper misturava elementos do hard rock no seu rock teatral, com o álbum School’s Out, de 1972, bandas como Aerosmith, Queen e Montrose estreavam com fortes influências do subgênero. Os grupos estavam influentes a ponto do Aerosmith ser chamado de “versão norteamericana dos Rolling Stones”. O cantor Steven Tyler, por exemplo, ficou conhecido pelos trejeitos similares aos de Mick Jagger no palco. Já o Montrose, banda liderada pelo guitarrista Ronnie Montrose, revelaria o carisma e a voz de Sammy Hagar, um sucesso em sua carreira solo antes de se unir ao Van Halen, em 1985. Nessa altura percebe-se as várias tendências pelas quais o hard percorria, a ponto de bandas tão diferentes entre si pertencerem ao mesmo estilo. Na mesma época, em 1974, é lançado o primeiro disco da banda Bad Company, de Paul Rodgers (recém-saído do Free, e que mais tarde estaria em outras bandas como The Firm, com Jimmy Page), e o Queen lança o terceiro álbum, Sheer Heart Attack, que contém a faixa “Stone Cold Crazy”, tida como uma das principais influências para bandas como Metallica e Megadeth. Entre 1973 e 1974, foi a vez de o Kiss também entrar em cena, com seus primeiros três álbuns, Kiss, Hotter Than Hell e Dressed to Kill, lançados num intervalo pouco maior que um ano (entre 1974 e 1975). É, no entanto, com o álbum ao vivo Alive!, de 1975, que vem o sucesso comercial. É a primeira banda “mascarada” a ganhar espaço na grande mídia. Nessa mesma época, aparece o Rush, que também entre 1974 e 1975 lança dois álbuns, hoje clássicos, Rush e Fly By Night, claramente hard rock, antes de mudarem o rumo e direcionarem seu som mais para o progressivo com o baterista virtuoso Neil Peart. Em 1975, também entra em cena o AC/DC, com seu primeiro vocalista, Bon Scott, e o primeiro de seus álbuns mais conhecidos, High Voltage. O Aerosmith emplaca os álbuns Toys in the Attic (1975) e Rocks (1976), que influenciariam diversos grupos de hard

rock. Em 1976 também aparece o Boston com seu álbum de estreia (Boston), que foi um dos mais bem-sucedidos do gênero, bem como o Heart, das irmãs Ann e Nancy Wilson (que abriram espaço para as mulheres no estilo), com o álbum Dreamboat Annie.

Show do Deep Purple em Milão, Itália. Também no agitado ano de 1975, Ritchie Blackmore, um dos fundadores do Deep Purple, saiu do grupo para formar o Rainbow, que se tornou famoso por ser a banda do hard rock a apresentar ao mundo Ronnie James Dio, conhecido mais tarde por seu trabalho com sua própria banda solo e pela passagem como substituto de Ozzy Osbourne no Black Sabbath. Enquanto isso, o Deep Purple seguia com Tommy Bolin no lugar de Blackmore e, influenciado pelas ideias do baixista e vocalista Glenn Hughes (que entrou em 1973, substituindo Roger Glover) e do novato David Coverdale (que entrou na mesma época, substituindo Ian Gillan), o grupo flertou com o funk e o soul, deixando os fãs confusos sobre os rumos que tomariam dali em diante. Bolin gravaria apenas um álbum com o grupo antes da dissolução do Deep Purple, em 1976. Já no final da década, uma pesada baixa: o baterista do The Who, Keith Moon, morre de overdose enquanto dormia, em 1978.

Com a discoteca nos Estados Unidos e o punk em ambos os lados do Atlântico, o hard rock começou a perder o fôlego. As diferenças desse gênero com o metal tornaram-se tão evidentes que as bandas que começaram com o primeiro decidiram assumir por completo o segundo, enquanto outras insistiram no aspecto mais comercial e mantiveram o rótulo do primeiro. É nessa época de migrações que aparece e ganha fama o Van Halen, calcado no som e na habilidade do guitarrista Eddie Van Halen. Esse clima de transição e de indefinição se manifesta quando o AC/DC lança “Highway to Hell” em 1979, que causou certa confusão: a música era um misto de blues e hard rock do começo da década, o som era pesado, e a banda não aceitava a denominação de heavy metal. A virada da década marca o início da terceira fase, que já começou com duas mortes: Bon Scott faleceu em 19 de fevereiro, e John Bonham em 25 de setembro de 1980. O AC/DC voltaria à ativa com o cantor Brian Johnson, mas o Led Zeppelin acabaria. Já Ozzy Osbourne estrearia sua carreira solo, acompanhado do guitarrista talentoso e jovem Randy Rhoads. No ano seguinte, o Def Leppard lança o álbum High ‘N’ Dry, com canções como “Bringin’ on The Heartbreak”, e os norte-americanos do Mötley Crüe surgem com o glam metal ditando a tônica de seu álbum Too Fast for Love. Pouco depois, em 1982, duas bandas se destacariam: Twisted Sister e Quiet Riot, ambas formadas nas décadas anteriores, mas que então reinventaram seu visual com a adoção de maquiagem pesada e roupas extravagantes, típicas do glam. Já o Van Halen, formado no final da década anterior, firma-se de vez em 1984 lançando seu álbum mais bem sucedido até então, 1984, o último antes da saída de David Lee Roth do grupo. Um ano depois, Love At First Sting, dos alemães do Scorpions, emplaca nas paradas canções como “Still Loving You” e “Rock You Like A Hurricane”. Nesse mesmo ano, volta à ativa a formação mais hard rock do Deep Purple, com Richie Blackmore na guitarra. O grupo lança o álbum Perfect Strangers, quinto lugar no Reino Unido. Outros pontos de destaque do período coincidem com o final daquela década. Várias bandas conseguem emplacar canções nas paradas de sucessos. Um dos álbuns que possibilitou isso foi o Slippery When Wet (1986), do Bon Jovi, que vendeu cerca de 28 milhões de cópias e foi o primeiro álbum de hard rock a colocar três canções nos Top 10. O grupo sueco Europe, formado em 1978, emplacou no mesmo ano o álbum The Final Countdown, com destaque para a canção título (que colocou o álbum em oitavo lugar nos 200 mais vendidos da Billboard na época) e para a

balada “Carrie”. O Van Halen agora tinha uma nova formação, e em 1986 lançou seu primeiro álbum com o vocalista Sammy Hagar, chamado 5150. As músicas futuristas acabaram rendendo nada menos que seis singles (“Why Can’t This Be Love”, “Best of Both Worlds”, “Dreams”, “Summer Nights”, “Love Walks In” e “5150”) que chegaram ao primeiro lugar nas paradas norteamericanas. O próprio guitarrista Eddie Van Halen deixa de lado a guitarra e arrisca em composições no teclado, deixando as seis cordas para Hagar, que também canta. No ano seguinte, chega o Guns n’ Roses com Appetite for Destruction; o disco foi o primeiro lugar na lista de melhores álbuns de estreia da Loudwire. Além de ser, até hoje, o álbum de estreia de maior vendagem de qualquer artista na história – alguns levantamentos de vendas afirmam que o disco vendeu mais de 28 milhões de cópias. Embora a maioria dos grupos de hard rock tenha surgido durante as duas primeiras fases, grupos como o Guns N’ Roses mostram que as fases seguintes também tiveram seus pontos fortes: a banda liderada pelo vocalista Axl Rose foi formada apenas em 1985 e alguns de seus hits, como ‘November Rain’ e ‘You Could Be Mine’, foram lançados na década de 1990. A última gravação da banda com o guitarrista Slash, um cover de ‘Sympathy for the Devil’ (dos Rolling Stones), foi lançada em 1994, quando o Nirvana já havia acabado e o grunge começava a entrar em crise. – Edu Fernandes Outros eventos ainda marcaram o ano de 1987: o Mötley Crüe lançou “Girls, Girls, Girls” (um dos maiores sucessos da banda, alcançou o segundo lugar nas paradas norte-americanas); o Aerosmith voltou à ativa depois de dois anos sem lançar nada, com Permanent Vacation; e o Whitesnake lançou o álbum de mesmo nome, que trazia as canções “Here I Go Again” e “Is This Love?”, alcançando o segundo lugar na Billboard e oitavo nas paradas britânicas. Entre 1988 e 1989, Bon Jovi (New Jersey), Aerosmith (Pump), Van Halen (OU812) e Mötley Crüe (Dr. Feelgood) mantêm-se nas paradas. Em 1989, a banda Skid Row lança o primeiro álbum, de mesmo nome, chegando à sexta posição na Billboard.

A última fase do hard rock coincide novamente com a virada da década, tendo iniciado nos anos 1990 e perdurando até os dias de hoje. Muitas coisas já acontecem no início deste quarto momento do gênero: são lançados os dois volumes de Use Your Illusion, do Guns N’ Roses, além do álbum For Unlawful Carnal Knowledge, do Van Halen. Todos eles ganharam discos de platina e alcançaram o auge da popularidade para, logo na sequência, viverem um período de decadência, em que os excessos entraram no caminho da fama. Nesse meio tempo, também surgiu o grunge, tratando elementos do punk, do heavy metal e do hard rock em suas composições. Podemos citar famosas bandas que fundiram esses elementos e foram consideradas metal alternativo: Primus, Red Hot Chili Peppers, Rage Against the Machine, Living Colour, White Zombie, Faith No More, The Darkness e, no começo dos anos 2000, Jet, Wolfmother, White Stripes, The Answer, The Glitterati, The Datsuns e Towers of London. O HEAVY METAL Podemos identificar o começo do metal até o fim da década de 1960 e afirmar que seu surgimento foi quase simultâneo ao do hard rock. Os fãs ganharam até mesmo uma denominação própria: headbangers ou metalhead. O nome vem de headbanging, um movimento comum em shows de heavy metal, em que as pessoas balançam a cabeça no mesmo ritmo da música que é executada. Com os cabelos compridos completando o visual, a impressão é de que as cabeças balançam até colidirem. No Brasil, há outra denominação para os fãs: “metaleiros”, termo primeiramente usado por uma repórter da TV Globo durante a cobertura do primeiro Rock in Rio. Por causa de sua origem, o uso desse termo causa discórdia entre os fãs. Na primeira fase do heavy metal, a profusão de bandas era muito alta. Nomes como Black Sabbath, UFO, Blue Öyster Cult e Uriah Heep começaram a chamar a atenção entre o fim dos anos 1960 e o começo dos 1970. A segunda fase, entre o fim dos 1970 e começo dos 1980, foi marcada por uma queda de vendas (perdiam terreno para o punk e a discoteca), mas o surgimento das bandas da Nova Onda Britânica do Heavy Metal acaba melhorando esse quadro, ao abrir terreno para monstros como Judas Priest, Iron Maiden, Saxon e Def Leppard. Warrant, Poison e Cinderella, por sua vez, atingem sucesso como representantes do glam metal, enquanto outras bandas que atuavam fora do mainstream abriam espaço para os subgêneros listados no início deste capítulo.

Max Cavalera em 2009. A terceira fase foi marcada pelas fusões de estilos e abrangeu a década de 1990 e início da de 2000. Pantera, White Zombie, Slipknot, Korn, Linkin Park e System of a Down arrebanharam muitos fãs e mostraram vontade de misturar influências num caldeirão alquímico sonoro que fez muito sucesso e os consagrou. Enquanto isso, a Europa continental voltou a destacar grupos de metal mais tradicionais, como a banda finlandesa Children of Bodom, os noruegueses do Dimmu Borgir, os alemães do Blind Guardian e os suecos do HammerFall. Também fizeram sucesso Suicidal Tendencies, Dirty Rotten Imbeciles e Stormtroopers of Death. O metalcore também surgiu para unir o hardcore, que veio do punk, com o rock pesado, consagrando Killswitch Engage e Shadows Fall, bandas que chegaram nas paradas da Billboard. GRANDES NOMES DEEP PURPLE Formada em 1968 em Hettford, na Inglaterra, a banda contou com a participação de muitos músicos ao longo da carreira, tendo sido responsável também pelo início de outras bandas, como Whitesnake, Black Country Communion, Rainbow e Gillan. Cada formação teve sua característica própria. Inicialmente a banda tinha Ian Paice na bateria, Ritchie Blackmore na guitarra, Jon Lord nos teclados, Nick Simper no baixo e Rod Evans nos vocais. Com um som psicodélico, eles gravaram três álbuns, até que Blackmore, Paice e Lord resolvessem enveredar pelo caminho do hard rock. Os dois outros integrantes foram substituídos pelo vocalista Ian Gillan e pelo baixista Roger Glover em 1970. A nova formação ganhou fama e prestígio com álbuns hoje clássicos como In Rock (1970), Fireball (1971) e Machine Head (1972). No Japão gravaram Made In Japan (1972), seu álbum ao vivo de maior sucesso. Depois de Who Do We Think We Are, do ano seguinte, Gillan e Glover saem e são substituídos por David Coverdale, um vocalista estreante, e Glenn Hughes, vindo da banda Trapeze, onde tocava baixo e cantava. Os dois trazem influências de outros ritmos. Após Burn e Stormbringer (ambos de 1974), Blackmore, sempre tradicional em termos

musicais, sai do grupo e funda o Rainbow, onde irá gravar com muitos músicos diferentes e revelar o vocalista Ronnie James Dio e o baterista Cozy Powell. O Deep Purple continuou com o guitarrista Tommy Bolin e a quarta formação, já com muitos problemas interpessoais, grava Come Taste The Band (1975), antes da dissolução oficial do grupo em 1976. Em 1975, Ian Gillan forma a Ian Gillan Band, que durou até 1978, e depois funda o grupo Gillan, que termina em 1982, quando se torna, por um tempo breve, o vocalista do Black Sabbath. Em 1984 voltava o Deep Purple de Blackmore e Gillan, com o álbum Perfect Strangers, alcançando posições altas em vários países (5ª no Reino Unido, 2ª na Alemanha e na Noruega, 17ª nos Estados Unidos). Três anos depois, após The House of the Blue Light, de 1987, tensões entre Blackmore e Gillan fazem com que este último abandone novamente o grupo. Entra em seu lugar Joe Lynn Turner (que já trabalhara com Blackmore no Rainbow) e a banda grava Slaves and Masters, de 1990, considerado por muitos uma sonoridade do Rainbow feita pelo Deep Purple. O grupo volta à carga com o álbum The Battle Ranges On, substituindo os vocais de Turner gravados em algumas faixas pela voz de Gillan. As tensões entre o vocalista e o guitarrista aumentaram até o ponto de Blackmore sair de vez do grupo, em 1993, voltando brevemente com o Rainbow. Em 1997 ele se juntou à sua namorada, Candice Night, e formou um grupo de folk rock, o Blackmore’s Night, com o qual se apresenta até hoje. Como Blackmore deixou a banda no meio da turnê do álbum the Battle Rages On, Joe Satriani (hoje no Chickenfoot com Sammy Hagar) preencheu algumas datas de shows. Convidado a se juntar ao grupo, recusou e seguiu em frente, deixando a sexta formação sem nenhum registro gravado de suas performances. O problema do guitarrista se resolveu com a entrada de Steve Morse pouco tempo depois da saída de Blackmore. A sétima formação gravou dois álbuns, Purplendicular (1996) e Abandon (1998). Jon Lord saiu do grupo em 2002, dando lugar ao tecladista Don Ayrey, que trabalhou com o Rainbow e com Ozzy Osbourne, chegando assim à oitava formação, que gravou os álbuns Bananas (2003), Rapture of the Deep (2005) e Now What?! (2013).

AC/DC durante turnê do disco Black Ice.

AC/DC A banda australiana formada em Sydney, em 1973, pelos irmãos e guitarristas Angus e Malcolm Young, é uma das precursoras do hard rock e do heavy metal, embora seus membros a considerem apenas uma banda de rock. Sua carreira é marcada pelas passagem de dois vocalistas principais: Bon Scott (de 1974 até sua morte, em 1980) e Brian Johnson (que assumiu em 1980 e está na banda até hoje). A fase com Bon Scott é uma das mais conhecidas e amadas pelos fãs, devido a vários álbuns de sucesso, dentre eles T.N.T. (1975), Dirty Deeds Done Dirt Cheap (1976) e, o mais famoso da carreira do grupo, Highway to Hell (1979). Scott, que foi mais um músico a se entregar aos excessos da fama, teve um comportamento autodestrutivo. Em 19 de fevereiro de 1980, em Londres bebeu tanto que na manhã seguinte foi levado por seu amigo Alistair Kinnear a um hospital, onde ao chegar foi declarado morto. A causa: aspiração pulmonar de vômito, intoxicação por álcool e morte por desventura. A banda não parou as atividades e, no mesmo ano, lançou Back in Black (1980), o primeiro disco com Johnson. A faixa “Hells Bells” é considerada uma homenagem a Bon Scott. Outras faixas deste disco fizeram sucesso, como “You Shook Me All Night Long”, “Shoot to Thrill” e a própria “Back in Black”. Depois de mais alguns álbuns de sucesso, como For Those About to

Rock (We Salute You) (1981) e Who Made Who (1986), a banda ficou um período reavaliando a carreira, entre 2000 e 2008. Voltaram com Black Ice (2008), que foi muito bem recebido pelos fãs. LED ZEPELIN Apontada como uma das bandas que deram origem ao heavy metal, o grupo surgiu das cinzas dos Yardbirds, que, apesar do sucesso obtido na época, durou apenas cinco anos, dissolvendo-se em 1968. Na época, Jimmy Page era o guitarrista e se viu obrigado a fazer apresentações para cumprir contratos. O guitarrista conseguiu encontrar Robert Plant (vocais) e este indicou John Bonham (bateria) para o que seria inicialmente o New Yardbirds. Com a colaboração de John Paul Jones (baixo e teclados), que era um músico com experiêcia de estúdio, apresentaram-se na Escandinávia e, mais tarde, gravaram seu primeiro álbum com os registros ao vivo, com todos os custos bancados por Page. O nome foi alterado depois de Page ter recebido uma carta de Chris Dreja, ex-membro dos Yardbirds, dizendo que o nome New Yardbirds não poderia ser usado em shows futuros. A banda então começa a pensar em um novo nome para o grupo. Há um relato que afirma que o nome definitivo teria partido do baterista do The Who, Keith Moon, que queria fazer um supergrupo com Page, John Entwistle e Jeff Beck, cujo som “cairia como um balão de chumbo” (“Going down like a lead baloon”). Peter Grant, o empresário da banda de Page, sugeriu tirar a letra “A” da palavra “lead”. Já “baloon” acabou substituído por “zeppelin”. De acordo com o jornalista Keith Shadwick, o nome do grupo trouxe a perfeita combinação entre peso e leveza na cabeça de Jimmy Page, já que se trata de um “zepelim de chumbo”. Com um adiantamento de 143 mil libras da Atlantic Records, o Led Zeppelin entrou em estúdio. A banda foi uma aposta da gravadora, conhecida por seus artistas de blues, soul e jazz, e que começava a investir em artistas de rock. O primeiro show aconteceu em 25 de outubro, na Universidade de Surrey, no Reino Unido, e o primeiro álbum, Led Zeppelin (1969), logo disparou nas paradas de sucessos. Aproveitando a boa fase, o grupo se lançou na estrada e realizou uma bateria de shows nos Estados Unidos e no Reino Unido, além de lançar o segundo álbum.

O Led Zeppelin em 1973. Este foi gravado enquanto a banda estava em turnê e fez mais sucesso comercial do que o primeiro disco. Para o professor de música da Universidade de Cambridge, Steve Waksman, o álbum foi “o ponto de partida para a fase inicial do heavy metal”. Led Zeppelin III (1970) traz um estilo mais acústico. As canções foram compostas em Bron-Yr-Aur, uma casa no interior do País de Gales. O grupo começou a usar roupas cada vez mais extravagantes, a viajar em um avião apelidado de Starship e tornou-se protagonista de frequentes relatos de devassidão, com sexo e muito rock and roll. Isso não impediu que o quarto álbum (oficialmente sem nome, mas comumente chamado de Led Zeppelin IV ou ZoSo, por conta de um dos símbolos presentes na arte do disco) saísse em 1971 com três das mais conhecidas canções da história da banda: “Black Dog”, “Rock’n’Roll” e “Stairway to Heaven”. O disco também contém uma longa balada inspirada na saga literária O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien, chamada “The Battle of Evermore”. Com esse material, 37 milhões de cópias são vendidas e os integrantes do Led Zeppelin sobem à categoria de superstars. O álbum seguinte, Houses of The Holy (1973), contou com o uso de sintetizadores, e sua capa mostra crianças nuas subindo a Calçada dos

Gigantes, na Irlanda do Norte. O grupo seguia quebrando recordes de venda de ingressos e lotando concertos. Nessa época, foram gravadas as performances que mais tarde seriam usadas no filme e no álbum The Song Remains The Same (1976). Em 1974 eles lançaram seu próprio selo, o Swan Song, com um logotipo que representa Apolo, o deus da música na mitologia grega. O selo foi responsável por lançar bandas e artistas como o Bad Company, de Paul Rodgers, o Pretty Things e a cantora Maggie Bell. No ano seguinte sai Physical Graffiti (1975), o primeiro pelo novo selo. Alguns acontecimentos estranhos marcaram a fase final da história do grupo. Em agosto de 1975, durante as férias do grupo, Plant e sua esposa Maureen sofreram um acidente de carro na Grécia. O cantor sofreu uma lesão no tornozelo e Maureen ficou gravemente ferida, tendo sido salva por uma transfusão de sangue. Sem poder sair em turnê, a banda se reuniu em Malibu, na Califórnia, onde trabalharam no álbum Presence (1976). Nessa época, durante as gravações, Page começou a usar heroína. The Song Remains The Same é lançado, mas os excessos da banda começam a afetar sua carreira. Em 1977 o grupo parte para outra turnê na América do Norte. Entraram para o Guiness daquele ano como a banda que conseguiu reunir o maior público em um show de rock, juntando 76.229 espectadores no show de Pontiac Silverdome, em 30 de abril. No meio da turnê, no entanto, Plant recebe a notícia de que seu filho Karac, de apenas 5 anos de idade, havia morrido em decorrência de um vírus estomacal. O resto da turnê foi cancelado imediatamente. Em 1978, o grupo se reuniu em um estúdio na Suécia e gravou In Through The Out Door, que provocou reações mistas, mas mesmo assim ficou em primeiro lugar no Reino Unido e nos Estados Unidos. Todos os discos do grupo voltaram às paradas entre 27 de outubro e 3 de novembro de 1979. Neste mesmo ano, em 27 de julho, um show em Nuremberg, Alemanha, foi interrompido quando Bonham teve um colapso no palco e teve que ser levado às pressas para o hospital. Numa manhã em 25 de setembro do ano seguinte, Bonham foi levado pelo assistente Rex King aos ensaios no Bray Studios. Ao longo de seu trajeto pediu café da manhã, mas ingeriu quatro copos de vodca, equivalentes a dezesseis doses, acompanhados de um único pedaço de presunto, e continuou a beber até chegar ao estúdio. Quando o ensaio acabou, o grupo se retirou para descansar na casa de Page, e Bonham, que tinha adormecido, foi colocado na cama. Na tarde seguinte, John Paul Jones e o gerente de turnê Benji

Lefevre encontravam o baterista morto. Ele tinha 32 anos e morreu asfixiado pelo próprio vômito. Após rumores de que a próxima turnê aconteceria com outros bateristas, um comunicado anunciou que o Led Zeppelin chegara ao fim. Seus exintegrantes lançaram ainda vários projetos de qualidade, como o grupo Honeydrippers, formado em 1981. Plant seguiu em uma bem-sucedida carreira solo e em 2010 voltou a gravar com sua antiga banda, Band of Joy (da qual ele e Bonham faziam parte antes de se juntarem ao Led Zeppelin). O cantor também se juntou a Page em outros dois projetos: o acústico Unledded (também chamado de No Quarter), em 1994, e o álbum de músicas inéditas Walking Into Clarksville, em 1998. Page tocou em alguns shows do Black Crowes, registrados no álbum Live At the Greek (2000), gravou trilhas sonoras (Death Wish II, 1982; Scream For Help, em 1985; Lucifer Rising, 2012), além de ter realizado uma parceria com David Coverdale em 1993. John Paul Jones gravou em 2011 e 2013 com o músico de Blues Seasick Steve, e em 2009 formou um supergrupo chamado Them Crooked Vultures, com Dave Grohl (Nirvana e Foo Fighters) e Josh Homme (Queens of the Stone Age). QUEEN Formada em 1971, a banda que consagrou o vocalista Freddie Mercury (cujo nome real era Farrokh Bulsara) mudou de estilo ao longo de sua trajetória, mas sempre foi considerada um ícone do hard rock. O grupo começou a ser pensado em 1968, quando o guitarrista Brian May e o baterista Roger Taylor formaram o trio Smile, com Tim Staffell, colega de escola de Mercury. Staffell saiu em 1971 e foi substituído por Freddie, assumindo o nome artístico que o tornaria famoso e mudando o nome da banda para Queen. O grupo ficou completo com John Deacon no baixo, e manteve essa formação por boa parte de sua carreira.

Show do Queen em 1986. Em 1973 eles lançaram seu disco de estreia, Queen, que foi seguido de Queen II e Sheer Heart Attack (ambos de 1974). Apesar do sucesso relativo da canção “Killer Queen” (de Sheer Heart Attack), foi com A Night at The Opera (1975) que o grupo estourou. “Bohemian Rhapsody”, do disco em questão, vendeu milhões de cópias e fez com que o grupo saísse em turnê. Os álbuns que se seguiram, A Day at The Races (1976), News of The World (1977) e Jazz (1978) firmaram a reputação da banda como uma das maiores do hard rock. O álbum duplo Live Killers (1979) foi o primeiro disco gravado ao vivo pelo grupo e consagrou a música “Love of My Life” (de A Night at The Opera). Nessa época, durante a virada da década de 1970 para 1980, o grupo começa a expandir suas fronteiras musicais para além do hard tradicional. No álbum The Game (1980) é possível identificar influências do rockabilly, além do uso de sintetizadores. No primeiro ano da nova década, o grupo também emplaca a trilha sonora do filme Flash Gordon, e se rende ao pop e à dance music no álbum seguinte, Hot Space (1982), uma das fases

da banda mais criticadas pela imprensa especializada, embora tenha a voz de David Bowie na música “Under Pressure”. O próximo trabalho do grupo foi The Works (1984), também criticado por causa do uso excessivo de instrumentos eletrônicos. Já A Kind of Magic (1986) é considerado uma trilha sonora não oficial do filme Highlander – O guerreiro imortal, do mesmo ano, principalmente com a música “Who Wants to Live Forever?”. O nome do álbum teria sido inspirado em uma das falas do personagem imortal, e apenas três das nove músicas do disco não aparecem no filme. Este também foi o último álbum do Queen que contou com uma turnê de divulgação, devido ao diagnóstico de que o cantor Freddie Mercury era portador do vírus HIV. A banda ainda gravou The Miracle (1989) e Innuendo (1991). Havia boatos de que algo não estava bem com o vocalista, mas Mercury só admitiu a doença em 23 de novembro de 1991, morrendo apenas doze horas depois, no dia 24. Após o trágico acontecimento, o grupo ainda lançou um álbum de estúdio, Made In Heaven (1995), o último de sua carreira, que contém gravações feitas em 1991 e trechos excluídos de álbuns anteriores. Em 1997, o grupo se reuniu para gravar “No-One But You (Only The Good Die Young)”, uma homenagem a Mercury, lançada na coletânea Queen Rocks (1997) e como single. Deacon gravou o clipe da música e se aposentou. May e Taylor continuaram a se apresentar esporadicamente, e em 2004 inciaram o projeto Queen + Paul Rodgers, com Paul Rodgers (ex- integrante do Bad Company e do Free) nos vocais, e em 2008 eles lançaram o álbum The Cosmos Rock. O projeto chegou ao fim em 2009, quando Rogers partiu para uma turnê de reunião do Bad Company. Brian May, que tem doutorado em astrofísica e construiu sua própria guitarra elétrica, ainda interage com os fãs em seu site oficial e Roger Taylor trabalha em algumas canções solo. “As habilidades de Brian May vão muito além das melodias, pois além de ter doutorado em astrofísica, o guitarrista fez a sua própria guitarra: a Red Special. Desenhada por May e construída com a ajuda de seu pai, ela se tornou um dos ícones do Queen e literalmente uma marca registrada, já que instrumentos com o design da Red Special são produzidos e vendidos pela Brian May Guitars.” – Edu Fernandes

BLACK SABBATH, DIO E HEAVEN AND HELL Outro grupo com alto grau de rotatividade em suas formações, o Black Sabbath é considerado o pai do heavy metal de fato. Original de Birmingham, Inglaterra, o grupo começou as atividades em 1968, e os primeiros integrantes foram Tony Iommi (guitarra), Ozzy Osbourne (vocais), Geezer Bluter (baixo) e Bill Ward (bateria). Iommi e Ward já haviam tocado juntos numa banda chamada Mythology, formada no ano anterior. Eles recrutaram Ozzy e Geezer, que tocavam na banda Rare Breed, depois de ver o cartaz que Ozzy havia colocado em uma loja de música: “OZZY ZIG PRECISA DE UMA BANDA – Vocalista com experiência, possui um sistema de PA”. PA se refere às caixas de som “Public Address”, feitas para transmitir o som da banda para a plateia. O novo grupo iria se chamar The Polka Tulk Blues Band (nome tirado de um talco usado pela mãe de Ozzy), mas depois o nome foi encurtado para Polka Tulk e depois disso, Earth. Com esse nome gravaram algumas canções demo, como “The Rebel”, “Song for Jim” e “When I Came Down”. Em dezembro de 1968, Iommi deixou o grupo e se juntou ao Jethro Tull, cuja única apresentação gravada ocorreu no programa The Rolling Stones Rock and Roll Circus, no mesmo ano, com presenças ilustres de Mick Jagger, John Lennon, Eric Clapton e outros artistas. Voltou para sua banda em 1969, ano em que descobriu que já havia uma banda chamada Earth. Nessa época, um cinema ainda exibia o filme Black Sabbath, de 1963, que no Brasil se chamou As três máscaras do terror, pois contava três histórias do gênero. Ozzy e Butler escreveram a letra da canção “Black Sabbath” inspirados no filme e no trabalho do escritor britânico Dennis Wheatley. Butler usou a figura de um sonho em que uma figura negra aparecia ao pé de sua cama. Começava assim a carreira da sombria banda.

Membros do Black Sabbath no Grammy Awards. O primeiro álbum, Black Sabbath (1970), é hoje considerado o disco realmente pioneiro do metal, e na época alçou o grupo ao mesmo nível de bandas como Led Zeppelin e Deep Purple. O álbum seguinte, Paranoid (1971) traz faixas clássicas como “Iron Man” e “War Pigs”. Depois vieram Master of Reality (1971) e Black Sabbath Vol. 4 (1972), contendo a balada “Changes”. Sabbath Bloody Sabbath (1973) chega um pouco diferente, trazendo influência do rock progressivo e contando com uma participação de Rick Wakeman, então tecladista do Yes. Esse período marca também o agravamento do envolvimento de todos os integrantes com as drogas. Na sequência, Sabotage (1975) se aproxima mais do heavy metal do que os álbuns anteriores e o seguinte, Technical Ecstasy (1976), encerra a fase clássica da banda com um material muito diferente do punk rock que estava surgindo. A partir de então, Ozzy se afunda, passa a consumir muitas drogas e álcool e sai da banda após brigar com seus amigos. O vocalista se retira do grupo em 1978, mas volta para gravar o último álbum de sua fase, Never Say Die. Novas brigas tornam o relacionamento insustentável, o que faz com que seus companheiros decidam por desligá- -lo do grupo.

Ozzy parte para uma bem-sucedida carreira solo, apoiado por Sharon Arden, sua futura esposa. Vários álbuns assinalaram essa fase de seu trabalho, principalmente aqueles gravados com o guitarrista Randy Rhoads, que tocara anteriormente com o Quiet Riot: Blizzard of Ozz (1980) e Diary of A Madman (1981). Rhoads morreu em um acidente aéreo em 19 de março de 1982, com apenas 25 anos. Enquanto isso, o Black Sabbath vivia uma ótima fase com Ronnie James Dio nos vocais. O cantor saíra recentemente do Rainbow, grupo famoso por suas letras com elementos fantásticos e pela voz rasgada de Dio. Com ele, o Sabbath gravou apenas dois álbuns de estúdio, Heaven and Hell (1980) e Mob Rules (1981). Bill Ward havia saído da banda por conta de problemas pessoais e Vinny Appice assumiu seu lugar na gravação do disco de 1981. Em 1982 é lançado Live Evil, um registro ao vivo que provocou a primeira das muitas discussões entre Dio e os membros originais, que o acusaram de mexer na mixagem para destacar voz e bateria. Dio e Appice saem da banda e formam o grupo Dio, lançando Holy Diver (1983), sua obra-prima, e The Last In Line (1984), um dos mais conhecidos. Em 1983, Ian Gillan, ex-vocalista do Deep Purple assume os vocais e grava o álbum Born Again, seu único trabalho com o grupo. A partir da saída de Dio, o Black Sabbath passa por um período de grande instabilidade. Ian Gillan, Glenn Hughes, Tony Martin, Bev Bevan, Eric Singer, Dave Spitz, Cozy Powell e outros músicos menos conhecidos passaram pela banda. Ward e Butler também saíram e voltaram, com Butler sendo mais participativo do que Ward. Em 1992, Dio voltou com Appice para o Black Sabbath e gravou Dehumanizer. E mais uma vez saiu da banda, depois de saber que seus companheiros haviam sido chamados para tocar no show de “aposentadoria” de Ozzy. Sentindo que uma das formações clássicas do Black Sabbath iria acabar se reunindo, ele e Appice ficaram apenas um tempo em carreira solo. Ronnie ficaria com o grupo até 2004, quando lançou Master of The Moon. Tony Iommi, Geezer Butler e Ozzy Osbourne se reuniram em uma apresentação no Ozzfest, festival organizado por Ozzy. O show foi gravado e transformado no álbum Reunion (1997). Em 2006, Iommi, Butler, Appice e Dio se reuniram novamente, agora sob o nome Heaven and Hell. O álbum The Devil You Know (2009) foi o último trabalho do vocalista, que morreu em 2010 de câncer de estômago. Em 2013, os músicos do Black Sabbath se uniram novamente (sem Ward, que não concordou com os termos de contrato) e gravaram 13, atingindo o primeiro lugar nas paradas norte-americanas e britânicas

simultaneamente. Aos 8 anos gastei toda a minha mesada para comprar The Number of the Beast. O Maiden para mim significou um rito de passagem. Foi o meu bar mitzvah. –Titio Marco Antonio

IRON MAIDEN Formado em pleno Natal de 1975, um dos maiores nomes do heavy metal nasceu em Londres a partir da vontade do baixista Steve Harris, exintegrante das bandas Gypsy’s Kiss e Smiler. Harris estava cansado de ter suas composições rejeitadas pelas várias bandas das quais participava, por serem complicadas demais. Assim, resolveu criar o seu próprio grupo. O nome da banda foi inspirado em um instrumento de tortura medieval, uma caixa do tamanho de um corpo humano em que o interior possuía espinhos de ferro que entravam na carne do condenado, assim que a porta da “donzela” (maiden) fosse fechada, fazendo-o sangrar até a morte. Harris viu o instrumento no filme O Homem da Máscara de Ferro (1939), baseado na obra de Alexandre Dumas. O baixista e fundador é uma constante em todas as várias formações do Iron Maiden. O primeiro álbum, Iron Maiden (1980), foi um sucesso de público e de crítica. O grupo abriu shows para ninguém menos que o Kiss, na turnê Unmasked, e tocou com Judas Priest e UFO em outros concertos. O guitarrista Dennis Straton foi despedido logo depois da turnê com o Kiss por ser muito influenciado por George Benson e Eagles. Trocas de membros sempre foram comuns no grupo, mas isso fazia com que a sonoridade da banda variasse muito. Em 1981, sai o disco Killers, que continha alguns dos primeiros sucessos da banda, num tom meio punk. Isso chamou a atenção do produtor Martin Birch, que ficaria com o grupo pelos próximos sete álbuns. The Number of The Beast (1982) marca a estreia do ex-vocalista de um grupo chamado Samson, Bruce Dickinson, que substituiu Paul Di’Anno. O vocalista ficaria na banda até 1992, quando saiu para gravar álbuns solo. Tal atitude o beneficiou, pois acabou fazendo sucesso com Balls to Picasso (1994) e The Chemical Wedding (1998). No ano seguinte, convencido pelo empresário do Iron Maiden, Dickinson resolveu voltar para o grupo.

Enquanto Dickinson esteve fora, os vocais ficaram por conta de Blaze Bayley, ex-intregante do grupo Wolfsbane. Ele tinha um timbre um pouco mais grave que o de Dickinson, o que fez com que a banda seguisse um estilo mais sombrio para que combinasse com sua voz. Gravou apenas dois álbuns, The X Factor (1995) e Virtual XI (1998). Com a baixa aceitação do vocalista e a queda de popularidade, Bayley é afastado e Dickinson retorna. O vocalista continua no grupo, que até hoje é reconhecido e amado por fãs do metal. SEPULTURA O maior ícone do heavy metal brasileiro, de reconhecimento internacional, foi formado em 1984, na cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais, pelos irmãos Max e Igor Cavalera, cantor e baterista, respectivamente. O nome foi escolhido por Max por causa da música “Dancing In Your Grave” (Dançando na sua sepultura), do Motörhead. A carreira começou quando o grupo foi contratado pelo selo independente, Cogumelo Records, cujo dono havia assistido a um show da banda. O primeiro trabalho, gravado em apenas dois dias e lançado em 1985, foi chamado Bestial Devastation. Morbid Visions foi o lançamento do ano seguinte, que também foi o ano da chegada de Andreas Kisser para substituir o guitarrista anterior, Jairo Guedes. Em 1987, sai o primeiro álbum com Kisser na guitarra, Schizophrenia. O álbum vendeu cerca de dez mil cópias na primeira semana, dando à banda a primeira guinada rumo ao sucesso. Quem pensa que a música de Minas estacionou no Clube da Esquina, é porque nunca cruzou as montanhas sonoras, que vão além do ouro e do minério de ferro. O metal de Minas é mais pesado, e atende pelo nome de Sepultura. O mais puro rock com sotaque universal. – Vany Américo Em 1989, o grupo assinou um contrato de sete anos com a gravadora Roadrunner Records (hoje parte da Warner) e lançou seu terceiro álbum, Beneath the Remains, um dos melhores lançamentos do ano, gravado em apenas nove dias. No ano seguinte a banda conheceu Gloria Bujnowski, empresária do Sacred Reich, que passou a gerenciar também o Sepultura.

Gloria casaria com Max Cavalera em 1991, mesmo ano em que o grupo tocou no Rock in Rio para 50 mil pessoas e lançou Arise, que vendeu 160 mil cópias nas oito primeiras semanas. Novos trabalhos marcaram os anos seguintes e a popularidade do grupo cresceu tanto que, em 1994, tocaram no Monsters of Rock na Inglaterra, tornando-se a primeira banda latinoamericana a se apresentar nesse festival. A carreira do grupo parecia ir de vento em popa, mas em dezembro de 1996 Max anunciou sua saída quando descobriu que a banda pretendia demitir sua esposa do cargo de empresária. No mesmo ano, a banda lançou o disco Roots, bem-sucedido em unir metal e música brasileira. O Sepultura continua ativo com Andreas Kisser, mas sem nenhum dos irmãos Cavalera. No lugar deles estão Derick Green (vocal), Eloy Casagrande (bateria) e Paulo Xisto Pinto Jr. (baixo). Sou tão fã da banda que resolvi tatuar o nome da minha filha com as letras do Metallica. Já que as letras M, E e A fazem parte dos dois nomes – (M) aria (E)duard(a) e (ME)tallic(a). À primeira vista, parece que está escrito Metallica, mas é só se atentar mais para perceber o trocadilho. – Edu Fernandes

METALLICA Uma das principais bandas da história do heavy metal começou a se formar em 1981, quando o vocalista e guitarrista James Hetfield respondeu a um anúncio do baterista Lars Ulrich, que procurava outros músicos para tocar em conjunto. Além de fundadora oficial do Metallica, a dupla se tornaria a única constante do grupo, que passou por quatro mudanças. Os primeiros agregados ao grupo foram o guitarrista Dave Mustaine e o baixista Ron McGovney. Ambos tinham vários desentendimentos com Hetfield e Ulrich e saíram antes mesmo que o grupo pudesse lançar um álbum. McGovney, frustrado com a experiência, abandonou a música por um tempo, mas Mustaine, que havia sido demitido por seu temperamento e pelo uso de drogas, pouco tempo depois fundou o próprio grupo, que também marcaria o heavy metal: o Megadeth. O primeiro álbum do Metallica, Kill ‘em All (1983), foi lançado com os dois novos membros: o guitarrista Kirk Hammett e o baixista Cliff Burton.

Essa formação também foi responsável por mais dois álbuns: Ride the Lightning (1984) e Master of Puppets (1986).

Metallica, com a formação dos primeiros álbuns. Kirk Hammett permaneceu em todas as formações desde então, mas Burton teve um destino infeliz. No dia 27 de setembro de 1986, um acidente com o ônibus da banda matou o baixista em plena turnê pela

Europa. O integrante foi substituído por Jason Newsted, que permaneceu na banda por anos e gravou com eles quatro álbuns, incluindo Metallica (1991), mais conhecido como o “Álbum Negro”, que foi um sucesso de vendas e de crítica, marcando o aumento de popularidade do grupo com um público mais amplo. Newsted anunciou sua saída do grupo em 2001 e o Metallica lançou seu disco seguinte, St. Anger (2003), com um novo baixista: Robert Trujillo. Essa nova formação se mantém até hoje.

CAPÍTULO 6

GLAM ROCK

O termo “glam” é uma abreviação da palavra “glamour”, e se refere aos artistas que aderiram ao exagero estético do rock and roll com maquiagens, roupas, adereços de palco e até mesmo performances ousadas. O estilo, que originou o termo theater rock (ou rock teatral), também é chamado de

glitter rock, remetendo à maneira brilhante e colorida como os artistas se vestiam. No final dos anos 1960, artistas como Lou Reed, Alice Cooper, Elton John, Rod Stewart e, por um tempo, os Rolling Stones, aderiram à moda. Alice Cooper, um dos maiores símbolos do glam rock, usava maquiagem escura nos olhos para criar um ar de mistério. O clima de terror em suas apresentações beirava o caricato – durante a turnê do álbum Billion Dollar Babies (1973), o músico usou um vestido com sangue falso na virilha e encenava ter sido decapitado por uma guilhotina, entre outros truques. Ele chegava a aparecer perseguindo um dente gigante com o auxílio de uma broca igualmente grande. Outras bandas, incluindo nomes do rock progressivo, como Genesis e Pink Floyd, começaram a fazer bom uso do rock teatral. O grupo de Roger Waters preferia investir cada vez mais em parafernálias de palco – processo que culminou com as turnês dos álbuns The Dark Side of The Moon (1973) e The Wall (1979). Já o Genesis preferia as fantasias espalhafatosas de Peter Gabriel, como as asas de morcego na cabeça usadas na apresentação da música “Watcher of The Skies”, e a roupa de flor que usava para ilustrar a canção “Supper’s Ready”, dentre outros personagens criados pelo grupo. A criatividade de ambas as bandas ajudou a projetá-las ainda mais, fazendo com que conquistassem um público para além do meio progressivo e das pessoas que gostavam de músicas tecnicamente virtuosas. A esses artistas juntaram-se nomes como Slade, Suzi Quatro, Roxy Music, Queen e, claro, o camaleão David Bowie, com uma verdadeira mistura de referência: do glamour hollywoodiano dos anos 1930 ao visual dos antigos cabarés, passando pela era vitoriana e livros de ficção científica (Ziggy Stardust é o personagem mais conhecido, um roqueiro alien marciano). Também não faltavam roupas dos anos 1950 e referências ao ocultismo e às mitologias antigas. “Um dia, estava no metrô lendo Kiss and makeup, escrito por Gene Simmons, quando um garoto ao meu lado viu uma foto e perguntou se a banda era ‘do bem’ ou ‘do mal’. A pergunta, a princípio descabida, revelava a sábia inocência das crianças, já que alguns artistas de glam rock são acusados de ‘satânicos’ por causa de suas maquiagens e roupas extravagantes. Eu mostrei outras fotos do grupo, e o

garoto se encantou, dizendo: ‘este aqui parece um gato, este lembra o Batman…’. Então eu devolvi a pergunta, e desta vez ele mesmo respondeu: ‘é muito legal, eu também gosto de guitarra!’” – Vany Américo Embora os figurinos fossem absurdos, como a imensa coleção de óculos de Elton John, a aparência se configurava com uma parte importante do estilo musical em si. As origens do glam são bem mais complexas do que parecem. Ele surgiu na Inglaterra a partir do rock psicodélico. Uma de suas primeiras apresentações foi a aparição do próprio Marc Bolan no programa Top of The Pops, em março de 1971, usando roupas de cetim e gliter nos olhos. O músico, que começara sua carreira em vários projetos nos anos 60 – incluindo um em 1967 de música folk com Steve Peregrin Took – apresentou a música “Hot Love”, que seria seu segundo sucesso nas paradas e sua primeira canção a alcançar o primeiro lugar no Reino Unido. Segundo Mark Paytress, autor do livro The History of Rock, o que unia os artistas do glam rock era “uma vontade de obter fama e uma queda por introduções musicais dramáticas”. Desse ponto de vista, o rock glamouroso pode ser encarado como uma espécie de fuga do momento cultural da GrãBretanha no começo dos anos 1970. Os Beatles, que eram considerados quase deuses, haviam se separado de maneira abrupta. Como a juventude da época iria se expressar? O punk só surgiria na segunda metade da década. A popularização da androginia, então, foi uma maneira “glamourosa” de se rebelar, da mesma forma que os cabelos compridos da época da psicodelia. Segundo John Covach, professor de História do rock da Universidade de Rochester, Nova York, o visual andrógino passava a mensagem de independência e igualdade entre os sexos. Os protagonistas tinham de passar uma imagem sexual ambígua. Tanto que Freddie Mercury e Elton John só disseram em público suas orientações sexuais na década de 1980. Freddie era bissexual e Elton é assumidamente homossexual, e atualmente casado com um homem. O ELVIS DO GLITTER O cantor e compositor Paul Francis Gadd nasceu em 8 de maio de 1944,

na Inglaterra, e começou sua carreira na década de 1960, apresentando em vários clubes londrinos desde canções do começo do rock a músicas românticas. O artista foi descoberto pelo produtor de filmes Robert Hartford Davis, que financiou uma sessão de gravações na famosa Decca Records. Quando completou dezoito anos, gravou seu primeiro single, Alone in The Night, com o nome artístico Paul Raven. Um ano e um novo empresário depois, ele assinou um contrato com a Parlophone e trabalhou com ninguém menos que George Martin, que mais tarde seria o produtor dos Beatles. Foi apenas em 1970 que o cantor assumiu sua parte glam e se tornou Gary Glitter, lançando a bem-sucedida música “Rock and Roll – Parts One and Two”, uma jam de cerca de seis minutos, que ocupava os dois lados do compacto. O visual era no mínimo inusitado: Gary usava um topete enorme parecido com os que seriam adotados futuramente na new wave (como veremos no capítulo 8), ao mesmo tempo que não deixava de lembrar o penteado de Elvis Presley. As roupas usadas também se pareciam com o estilo do rei do rock, o que levou muita gente a chamar Gary de “Elvis do glitter”. Outras canções lançadas pelo músico foram “Do You Wanna Touch Me? (Oh Yeah!)”, “I’m The Leader of The Gang (I Am)” e “I Love You Love Me Love”. Gary fez muito sucesso na Grã-Bretanha, mas não tanto nos Estados Unidos. Mesmo assim, o “Elvis” do brilho participou da abertura da Copa do Mundo de 1994, nos Estados Unidos, quando executou uma versão da já clássica “The House of The Rising Sun”, cuja versão mais famosa é a do grupo The Animals, de 1964. Infelizmente, nos últimos anos, o artista tem aparecido nos jornais apenas por acusações relacionadas a abuso sexual, pornografia infantil e pedofilia. A influência do gênero começou a diminuir na segunda metade da década de 1970. O metal se beneficiou muito disso e até incorporou elementos do glam, originando bandas como Quiet Riot, W.A.S.P., Twisted Sister e Mötley Crüe. Outros grupos, como Culture Club, Bronski Beat e Frankie Goes to Hollywood, herdaram a imagem andrógina do estilo. O rock gótico, como veremos, também foi influenciado pelo glam. Há, claro, períodos em que existem certos revivals do gênero, dando surgimento a artistas como Prince, Marilyn Manson, Placebo, The Darkness, entre outros. Os remanescentes do movimento, Elton John e Rod Stewart, acabaram adaptando suas sonoridades, lançando baladas e músicas mais comportadas. Desde 2002, Stewart tem lançado uma série de álbuns chamada The Great American Songbook, regravando grandes canções

populares da história norte-americana. Já Elton John foi diagnosticado com pequenos nódulos nas cordas vocais, decorrentes da grande quantidade de maconha que fumava. Em 1986 ele se submeteu a uma cirurgia na garganta, o que provocou uma mudança em sua voz, que ficou mais grave. GRANDES NOMES DAVID BOWIE Certamente, Bowie é um dos nomes mais conhecidos do movimento glam, graças às performances com fantasias e maquiagens incomuns, características que lhe renderam o apelido de “Camaleão do rock”, por estar em constante transformação estética e musical. Batizado como David Robert Jones, Bowie nasceu em 8 de janeiro de 1947, em Londres, e hoje é considerado um dos músicos mais importantes de sua geração. Influenciado por artistas do início do rock, como Elvis, Little Richard e Fats Domino, forma sua primeira banda, Konrads, aos quinze anos, tocando em casamentos e outros eventos sociais. Frustrado com a falta de ambição de seus companheiros de banda, a abandona para formar outra, chamada King Bees. Escreve uma carta para um empresário do ramo de máquinas de lavar, John Bloom, convidando-o a fazer por ele o que Brian Epstein fizera pelos Beatles, e ganhar outro milhão. Bloom nunca respondeu, mas encaminhou a carta para Dick James, que havia fundado a Dick James Music e administrava a Northern Songs, responsável pelos direitos das músicas dos Beatles. A venda posterior de sua empresa levou a uma briga que perdura até hoje, para que os membros remanescentes do quarteto consigam reaver o direito de suas canções. Depois de lançar alguns singles sem sucesso comercial e passar por várias bandas, o artista resolveu mudar de nome, homenageando Jim Bowie, pioneiro morto na Batalha do Álamo, em 1836, nos Estados Unidos, e que ficou conhecido por usar uma enorme faca. O primeiro álbum, David Bowie (1967), não alcançou sucesso comercial com sua mistura de folk, psicodelia e pop, e por isso Bowie tentou ganhar a vida com outras atividades. Em 1969, foi gravado o filme Love You Till Tuesday, que contava com várias músicas do artista, inclusive “Space Oddity”, faixa título do segundo álbum de Bowie. A música é especialmente significativa para a época, porque foi lançada no mesmo ano em que o homem pisou na Lua, com a missão Apollo 11. O terceiro álbum, The Man Who Sold The World

(1970) marca a transição, por pressão da gravadora, para um som mais pesado. O visual não ficou de fora das transformações, e o músico começou então a adotar o aspecto andrógino que marcaria grande parte de sua carreira.

Show de David Bowie em Newport, Inglaterra. Depois seguiram-se os álbuns Hunky Dory (1971) e aquele que o consagraria de vez, com elementos de hard rock, o conceitual The Rise and Fall of Ziggy Stardust and The Spiders from Mars (1972). Neste ano, as faixas de maior sucesso seriam “Starman”, “John I’m Only Dancing” e “All The Young Dudes”, composição do artista originalmente gravada pelo grupo Mott The Hoople. Vestindo trajes cada vez mais estranhos, com o cabelo tingido de tons avermelhados e usando mais e mais maquiagem, Bowie conseguiu sucesso nos dois lados do Atlântico, principalmente depois do álbum americano Aladdin Sane (1973). Nessa época, o cantor e compositor seria também o coprodutor do álbum Transformer (1972), da carreira solo de Lou Reed, ao lado de seu guitarrista Mick Ronson.

Para a história de Ziggy Stardust, Bowie criou um personagem no palco que era um roqueiro espacial, marciano, alienígena. Após Bowie decidir abandonar a persona, assumiu uma nova figura: o Thin White Duke. Depois de um álbum de covers, Pin-Ups (1973), Bowie mudou-se para os Estados Unidos e lançou Diamond Dogs (1974), com um estilo dividido entre o funk e o soul. Viveu em Nova York e em Los Angeles. A esse álbum seguiram-se David Live no mesmo ano, que consolidou seu status de superstar, Young Americans (1975) e Station to Station (1976). Em 1976, Bowie mudou-se para a Suíça, onde se estabeleceu num chalé à beira do lago de Genebra. Apesar de já ter se envolvido com drogas, foi lá que sua dependência piorou, especialmente em cocaína. Começou então a pintar e a visitar muitas galerias de arte. No mesmo ano ele se mudou para Berlim, onde trabalhou com Brian Eno (do Roxy Music) e dividiu um apartamento com Iggy Pop. Depois disso, foi lançada a trilogia de álbuns inspirados no cenário musical da cidade alemã: Low (1977), Heroes (1977) e Lodger (1979). A década de 1980 chegou trazendo o álbum Scary Monsters (and Super Creeps), que apresentou a melódica “Ashes to Ashes”, uma continuação da letra de “Space Oddity”. Em 1981, ele gravou a faixa “Under Pressure”, com o Queen. O músico também nunca deixou de fazer atividades paralelas, como sua participação no filme alemão Eu, Christiane F. – 13 Anos, Drogada e Prostituída e na adaptação para a TV da peça Baal, do dramaturgo alemão Bertolt Brecht. Em 1983, com um visual bem mais minimalista do que nos anos anteriores, gravou Let’s Dance, um álbum bem comercial com sucessos como “Modern Love”, “China Girl” e a própria faixa-título. Outras participações cinematográficas de destaque de Bowie incluem Absolute Beginners (1986), filme não muito bem recebido pela crítica, mas que atrai a atenção dos fãs até hoje, e Labirinto, em que interpretou Jareth, o rei dos duendes. Na década de 1990, Bowie desenvolveu um novo grupo com o guitarrista Reeves Gabrels, o Tin Machine, que lançou dois álbuns de estúdio (o primeiro de 1989 e o segundo de 1991) e um ao vivo (1992) antes de chegar ao fim. Na sequência, Bowie retomou sua carreira solo e, já tendo superado o visual da década de 1970, virou-se para as influências do jazz e do soul. Gravou mais alguns álbuns (Black Tie White Noise, de 1993, e Outside, de 1995, são os principais) e compôs ainda a trilha sonora para o

jogo de computador Omikron, também disponível para o videogame Dreamcast, de 1999, em que ele e sua esposa aparecem como personagens. Seu último álbum é The Next Day (2013), considerado um dos melhores de toda a sua carreira. Bowie estava sem gravar nenhum disco desde 2003, há pelo menos dez anos, quando teve problemas de saúde. Até hoje o Camaleão do rock exerce um papel fundamental na história do gênero.

Elton John canta “Pinball Wizard”, da ópera-rock Tommy. Em 1972, David Bowie declarou para o jornal Nashua Telegraph: “Acho que o glam rock é um modo adorável de me classificar e é mais adorável ainda ser um dos líderes desse movimento”. ELTON JOHN Embora tenha trabalhado com ícones como John Lennon e The Who, ainda há aqueles que não o consideram parte da história do rock. A verdade é que o músico é dono de uma carreira tão extensa quanto a de Bowie, e sempre trabalhou em canções inspiradas pelo R&B, folk, progressivo e muitos outros estilos diferentes, fazendo uma mistura musical que o consagrou como um dos artistas mais conceituados de todos os tempos. Nascido em Londres em 1947, seu verdadeiro nome é Reginald Kenneth Dwight. Seus pais, um militar trompetista e uma enfermeira, desde cedo viram que o filho tinha interesse pelo piano que tinham em casa e logo arranjaram um professor. Com formação clássica, o novo músico passou a se interessar por rock quando sua mãe lhe apresentou o trabalho de Elvis e Little Richard. Reginald montou sua primeira banda, The Corvettes, em 1960, na qual era o tecladista. Dois anos depois formou outro grupo, que batizou de Bluesology, e lançou um single em 1965 com a canção “Come Back Baby”. Como o pianista não estava gostando dos rumos que a banda estava tomando, passou a procurar por novos grupos, chegando a ser recusado pelo King Crimson, grupo de progressivo de onde saiu Greg Lake, do ELP. Em 1967 o músico fez um teste para se tornar compositor da gravadora Liberty, mas não conseguiu o emprego, por ter criado apenas a melodia. É quando a gravadora indica a ele o jovem letrista Bernie Taupin. Foi essa parceira que motivou Reginald a mudar seu nome para Elton John, tirado de dois músicos ingleses: o britânico e saxofonista de jazz Elton Dean e o cantor de blues anglo-canadense Long John Baldry. Ambos faziam parte da Bluesology, sendo Baldry o líder. Elton lançou seu primeiro single, I’ve Been Loving You, em 1968, mas sem nenhuma repercussão. Seu primeiro álbum, Empty Sky (1969), vendeu muito pouco e só foi lançado nos Estados Unidos seis anos mais tarde. Elton parte para os Estados Unidos em busca da fama e lança o segundo álbum,

Elton John (1970), que traz sua primeira canção de sucesso, “Your Song”. O álbum desbanca All Things Must Pass, de George Harrison, que mandou parabéns ao novo cantor. John Lennon começou a se interessar pelo músico e disse em entrevistas que Elton era “a primeira novidade musical desde que os Beatles tinham surgido”. Depois de um álbum gravado numa rádio de Nova York (em 17 de novembro de 1970), que sai em 1971 com o nome 17-11-70, ele retorna à Inglatera, onde grava Tumbleweed Connection (1970). Em 1971 chegou Madman Across the Water, com canções como “Levon” e “Tiny Dancer”. O álbum seguinte, Honky Chateau (1972), apresentou “Rocket Man (I Think It’s Going to Be a Long, Long Time)”, uma das mais famosas canções do cantor, que lembrava “Space Oddity” de Bowie. Homenageou o rock dos pioneiros dos anos 1950 com o single Crocodile Rock, que garantiu o status de estrela para Elton. A partir daí, lançou nada menos que sete álbuns consecutivos que chegaram ao primeiro lugar nas paradas americanas. Em 1973 veio o álbum Don’t Shoot Me, I’m Only the Piano Player. A partir deste disco, Elton começa a usar roupas cada vez mais estravagantes e óculos enormes. Ingressos para seus shows esgotam em quarenta minutos. É o ápice de sua carreira. No ano seguinte, depois de lançar Carinou e uma coletânea de grandes sucessos, ele fica amigo de John Lennon (que não tinha conseguido conquistar nenhum primeiro lugar com as composições de sua carreira solo) e faz uma aposta: se a canção que gravassem juntos, “Whatever Gets You Through The Night” (do álbum Walls and Bridges, de Lennon) chegasse ao primeiro lugar, eles fariam uma apresentação especial no show de Elton no Madison Square Garden, em Nova York. Os dois acabaram de fato cantando a canção, além de apresentar “Lucy in the Sky With Diamonds” (que Elton havia regravado) e “I Saw Her Standing There”. Depois do show, Lennon e Yoko, até então separados, voltam a ficar juntos e Elton se torna o padrinho do filho deles, Sean. Na época do álbum seguinte, Captain Fantastic and The Brown Dirt Cowboy, participa do filme Tommy, adaptação cinematográfica da óperarock do The Who, em 1975. Foi uma época difícil, porque ele começou a consumir drogas. Em 1976, ele afirmar ser bissexual numa entrevista para a Rolling Stone. Elton também se rendeu à moda da discoteca e lançou Victim of Love (1979), seu maior fiasco comercial. Jump Up! (1982) possui a balada “Blue Eyes” e um tributo a Lennon, “Empty Garden”, que evita tocar em shows para não se lembrar demais do trágico assassinato de seu amigo. Em 1983, chegam sucessos como “I’m Still Standing” e “I Guess That’s

Why They Call It The Blues”, do álbum Too Low for Zero. No ano seguinte, casa-se com Renate Blauel, uma engenheira de som. O casamento acabou três anos depois. Em 1988, é falsamente acusado pelo tabloide britânico The Sun de cometer abuso contra menores. Em 1989, quase morre devido às drogas, mas encontra motivação num jovem de dezoito anos, vítima de AIDS. O garoto pediu para vê-lo e a amizade entre os dois rendeu uma homenagem do cantor quando ele morreu. Como resultado, Elton decide se internar para se livrar das drogas. Em 1990, lançou You Gotta Love Someone, da trilha sonora do filme Dias de Trovão. Tocou na Knebworth House, no condado de Hertford, na Inglaterra, ao lado de nomes como Pink Floyd, Tears for Fears, Eric Clapton, Dire Straits, Paul McCartney, Robert Plant e Jimmy Page, Status Quo e Phil Collins (com o Genesis). Quatro anos depois entra para o Hall da Fama do Rock and Roll e lança a trilha sonora do filme O Rei Leão, que lhe rendeu um Grammy e um Oscar em 1995. Logo depois lançou Made In England, uma espécie de nova homenagem a John Lennon. Fora da música, o artista criou a Elton John AIDS Foundation para levantar fundos para o combate à doença. T. REX Marc Bolan, ou melhor, Mark Feld, nasceu em Stoke Newington, em Londres, Inglaterra, em 30 de setembro de 1947. De pai judeu e mãe cristã, teve seu primeiro contato com o rock quando foi com sua família para Wimbledon, onde conheceu o trabalho dos pioneiros do rock, como Gene Vincent, Eddie Cochran e Chuck Berry. Com apenas nove anos, ganhou seu primeiro instrumento musical e começou uma banda de skiffle. Cinco anos depois foi expulso do colégio por demonstrar comportamento agressivo e ter cabelos compridos. Desde cedo mostrou um interesse pelo show business, tendo feito uma ponta numa série de TV britânica chamada Orlando, e depois arriscado alguns passos no mundo da moda, tornando-se um dos mais requisitados modelos masculinos, com o nome de Toby Tyler. Em 1965 deixou as passarelas de lado e se dedicou a gravar um single, The Wizard, que não teve muita repercussão, sob o nome Mark Bowland. Entrou para um grupo psicodélico chamado John’s Children, no qual compôs uma canção que ficou bem conhecida nos anos 1960, “Desdemona” (1967), um trabalho que, por causa da temática alucinógena, foi banido da BBC de Londres. Depois do fim do grupo (o John’s Children só durou dois anos), Bolan

conheceu o ator norte-americano Riggs O’ Hara e foi para Paris, onde encontrou um mago que lhe transmitiu certos conhecimentos de magia e truques com levitação. A partir daí, acelerou seu processo de criação e elaborou as canções que formariam o Tyrannosaurus Rex, uma dupla com o percussionista Steve Peregrine Took. Começaram fazendo apresentações nas ruas londrinas, que foram boas o suficiente para chamar a atenção do DJ John Peel, da BBC. A dupla gravou quatro álbuns (entre 1968 e 1970) e quatro singles, além de terem tocado num concerto de rock no Hyde Park, em 1968. A dupla se desfez após uma turnê pelos Estados Unidos, e Bolan partiu para se reinventar. Depois de um último álbum no estilo folk/psicodélico, formou o T. Rex: assim nascia a banda de rock que foi um dos símbolos do glam. Electric Warrior (1971) é o primeiro álbum e o trabalho atualmente mais conhecido do grupo, com as canções “Hot Love” e “Bang A Gong (Get It On)”, já fortemente influenciadas pela musicalidade de David Bowie. O próximo álbum, The Slider (1972), trouxe outros sucessos como “Telegram Sam”, “Metal Guru”, “Children of The Revolution” e “Solid Gold Easy Action”. Bolan começou a usar uma maquiagem carregada e a se apresentar com roupas marcadamente femininas. Em três anos o grupo emplacou onze canções no Top 10 britânico, estando quatro delas no primeiro posto. Para muitos, o álbum de 1973, Tanx, marcou o começo da decadência de Bolan. O músico estava frustrado porque não conseguia sucesso no mercado norte-americano, em grande parte devido ao fim do glam, e foi se tornando cada vez mais viciado em álcool e drogas. Acabou engordando e foi ridicularizado pela mídia inglesa. Outros álbuns desse período incluem Zinc Alloy and The Hidden Riders of Tomorrow (1974), Bolan’s Zip Gun (1975) e Futuristic Dragon (1976). Em 1977, o T. Rex foi apadrinhado pelo punk, e muitas bandas deste gênero citaram-no como influência. O último álbum, Dandy In The Underworld (1977), saiu como se fosse o prenúncio de uma nova fase. Infelizmente foi algo que nunca aconteceu: Bolan morreu num acidente de carro em 16 de setembro do mesmo ano, duas semanas antes de completar 30 anos. O carro estava sendo conduzido pela namorada do músico, Gloria Jones, que estava embriagada, e derrapou na pista, batendo de frente com uma árvore. Gloria, que é artista gospel, sobreviveu. A banda encerrou suas atividades pouco depois.

ROXY MUSIC O art rock é um subgênero que tem como principal característica o uso de música experimental e de vanguarda. Mas, além de fazer art rock, o Roxy Music também foi mais um destaque do glam. O líder, Bryan Ferry, nasceu na histórica cidade de Washington, do condado de Durham, na Inglaterra, em 26 de setembro de 1945. Entre 1970 e 1971 atuou como professor de cerâmica. No começo de 1970, fez um teste para ser o cantor do King Crimson, onde entraria no lugar de Greg Lake, que saíra para formar o trio ELP. O guitarrista Robert Fripp, líder do King Crimson, não achou a voz de Ferry adequada para sua banda, mas foi ele quem indicou o grupo que o jovem formaria depois para a gravadora EG. A Ferry se juntou Andy MacKay, que foi tocar saxofone e oboé. Era Andy quem conhecia Brian Eno da época da universidade, e ambos compartilhavam um interesse pela música eletrônica. Assim, convenceu Eno a participar do projeto como técnico de som e depois como membro do grupo. A eles juntaram-se o baterista Paul Thompson e o guitarrista Phil Manzanera. O primeiro álbum, Roxy Music, saiu em 1972, e o segundo, For Your Pleasure, no ano seguinte. Eno saiu do grupo após o primeiro ano por discussões com Ferry, esse foi só o começo de uma série de trocas de membros, que conferiu certa instabilidade à banda. Ferry, no entanto, manteve uma participação firme na criação dos álbuns e até no visual da banda, marcado pelo uso de roupas de cores fortes. O terceiro disco, Stranded (1973), e o quarto, Country Life (1974), são considerados os mais originais e consistentes álbuns de rock britânico do período. Em 1973, Ferry iniciou sua carreira solo, ainda com o Roxy Music na ativa, com o álbum These Foolish Things, cheio de covers que o influenciaram em sua carreira. De volta ao grupo, Siren (1975) trouxe o único sucesso nos Estados Unidos, a canção “Love Is the Drug”, que Ferry compôs enquanto caminhava no Hyde Park, em Londres. Na época, o cantor teve um caso com Jerry Hall, que mais tarde se casaria com Mick Jagger. Jerry chegou a participar do videoclipe de “Let’s Stick Together”, do álbum homônimo (1976) da carreira solo de Ferry. Depois desse ano, o grupo terminou temporariamente, e Ferry lançou dois álbuns com a participação de Manzanera e Thompson. Uma nova formação surgiu em 1978 para gravar o disco Manifesto (1979). Antes do álbum seguinte, Flesh and Blood (1980), mais alguns

membros saíram e a sonoridade do grupo ficou mais suave. Dois anos depois, a banda lançou aquele que seria seu último álbum, Avalon (1982). Desde então, Ferry passou a se dedicar à carreira solo, com canções como “Don’t Stop The Dance”, “The Right Stuff”, “Limbo” e “I Put a Spell On You”. KISS Uma das bandas mais comerciais da história do rock tem como principais mentores o baixista Gene Simmons e o guitarrista Paul Stanley. O Kiss foi formado em 1973 nos Estados Unidos, quando Simmons e Stanley decidiram formar uma banda comercial após o fim de seu grupo anterior, Wicked Lester. Por meio de anúncios eles encontraram o baterista Peter Criss e o guitarrista Ace Frehley (cujo nome verdadeiro é Paul Daniel Frehley). Adotando um estilo de maquiagem próprio, inspirado no teatro japonês kabuki, e um espetáculo que envolvia efeitos visuais e pirotecnia, o Kiss foi uma das primeiras bandas a aparecer no mercado com a sua verdadeira identidade mantida em segredo. Gene era o Demônio, Paul era o Filho das Estrelas (Starchild), Ace era o Homem do Espaço (Spaceman ou Space Ace) e Peter, o Homem-Gato (Catman).

O Kiss em uma coletiva de imprensa em 2014. Os primeiros álbuns lançados (Kiss e Hotter Than Hell, de 1974, e Dressed to Kill, de 1975) não trouxeram muita repercussão de imediato. Foi apenas com Alive! (1975) que finalmente ganharam destaque na mídia. Com o dinheiro, salvaram a gravadora Casablanca da falência (o único selo que os aceitara) e lançaram vários álbuns que consolidaram sua carreira como uma das bandas mais bem-sucedidas do planeta. Simmons chegou a licenciar a imagem do grupo para vários produtos, de camisinhas a histórias em quadrinhos, de caixões a camisetas, de bonecos articulados a máscaras. Em 1982, após algumas trocas de integrantes, Creatures of the Night chamou a atenção de uma nova geração de fãs com a canção “I Love It Loud”, com vocais de Gene. A maioria das canções trazia o vocal de Paul, bem mais melódico. Com Lick It Up (1983), o Kiss grava e aparece pela primeira vez em um disco sem as máscaras originais, com seus rostos limpos. Um tempo depois, Eric Carr descobre que tem um tumor no coração e

morre em 1991, aos 41 anos de idade. Ele substituiu Peter Criss. Nessa década, especificamente entre 1994 e 1996, o Kiss passa por outras trocas de integrantes, e todos assumem visuais mais simples, porém ainda calcados no glam. A fase seguinte, no entanto, faz com que o grupo volte às máscaras e à formação clássica (com Peter Criss e Ace Frehley), quando lançam Psycho Circus (1996). Em 2003 eles lançam Kiss Symphony: Alive IV, tocando com a orquestra sinfônica de Melbourne, com todos os instrumentistas mascarados. Desde então, o grupo segue na ativa, hoje com Eric Singer na bateria e Tommy Thayer na guitarra. “Ao longo das quatro décadas de existência, o Kiss se tornou uma máquina de fazer dinheiro. Não só com vendagem de discos mas também com inúmeros e inusitados produtos relacionados à banda, que vão desde um simples chaveiro até mesmo um caixão de defunto estilizado.” – Vitão Bonesso

SLADE Formada em 1969, esta banda surgiu na cidade de Wolverhampton, Inglaterra. Tornaram-se um dos grandes nomes do glam, com dezessete sucessos consecutivos no Top 20 das paradas inglesas e seis canções no primeiro lugar. O grupo foi transformado em uma banda de glam por uma jogada de marketing do empresário Chas Chandler, ex-baixista do The Animals e revelador de Jimi Hendrix. Após a morte do guitarrista, em 1970, Chandler descobriu a banda, liderada pelo guitarrista Dave Hill e o baterista Don Powell. Don, influenciado pela beatlemania, juntou-se ao cantor Johnny Howells, ao guitarrista Mickey Marson e ao baixista Cass Jones. O grupo ganhou o nome inicial de The Vendors e tocava apenas músicas de pioneiros como Buddy Holly, Eddie Cochran e Gene Vincent. Quando Hill se juntou ao grupo, o repertório sofreu uma mudança e passou a contemplar versões de músicas pouco conhecidas de nomes do blues, como Sonny Boy Williamson e Muddy Waters. Em 1964, mudam o nome para The N’ Betweens e fazem excursões nos

clubes locais. Dois anos depois saem o baixista e o guitarrista base, dando lugar a Jim Lea e ao guitarrista “berrador” Noddy Holder. O grupo então passa a ser chamado Ambrose Slade, a partir de 1969, e com esse nome assinam um contrato com a Fontana para gravar um álbum de covers. Apenas com a chegada de Chandler eles tornam-se glams. É com a canção “Get Down and Get With It”, de Little Richard, que o sucesso começa. O Slade é mais uma banda que passou por constantes mudanças em sua formação, somando pelo menos sete diferentes combinações desde seu surgimento até os dias de hoje. Embora o grupo já estivesse formado há alguns anos, o primeiro álbum, Beginnings, veio somente em 1969 (ainda com o nome de Ambrose Slade). Depois vieram Play It Loud (1970) e Slayed? (1972), este último com o sucesso “Mama Weer All Crazee Now”. Nos Estados Unidos eles só obteriam sucesso em 1975. Nesse meio tempo, mais dois álbuns foram lançados, ambos em 1974: Old New Borrowed and Blue e Slade in Flame. Na Inglaterra, excursionam com nomes como Suzi Quatro e Thin Lizzy, enquanto a briga nas paradas era contra David Bowie, Elton John e T. Rex. A popularidade do grupo, entretanto, caiu depois de 1975, uma vez que não conseguiram manter nos Estados Unidos o mesmo sucesso que tinham na Europa. Voltariam com tudo em 1980, quando foram chamados de última hora como substitutos de Ozzy Osbourne no Reading Festival de, na Inglaterra.

CAPÍTULO 7

PUNK ROCK

Surgido durante a década de 1970, o punk nasce em meio a um turbilhão de outros estilos musicais. Nos anos anteriores, subgêneros como progressivo, heavy metal, hard rock e glam rock haviam aparecido e conquistado segmentos diferentes do público. O progressivo tinha como característica um estilo de composição muito complexo, com músicos virtuoses dominando seus instrumentos. A maioria das bandas que se lançaram nele queria manter o máximo nível de sofisticação possível sem perder terreno para os concorrentes mais comerciais. Bandas como Pink Floyd e Genesis só tiveram algumas faixas tocadas no rádio, como “Money” e “I Know What I Like (In Your Wardrobe)”. Outras músicas de seus trabalhos anteriores eram consideradas elaboradas demais. Ao mesmo tempo, a psicodelia dos anos 1960 perdia terreno para o chamado hard rock, gênero que também flertava com músicas de extensa duração, muitas vezes acompanhadas por uma orquestra sinfônica, como fizeram Deep Purple, Rainbow e Led Zeppelin, para citar apenas algumas. Pensando que estas eram as características da época em que o movimento punk surgiu, alguns especialistas afirmam que se tratava de uma forma de reação ao nível de complexidade e rebuscamento do progressivo. O cenário musical ainda ficaria um pouco mais complexo com o surgimento de um ritmo que invadiu pistas de dança e se tornou a verdadeira febre dos sábados à noite: a discoteca. O fenômeno foi tão forte que chegou a fazer com que algumas bandas alterassem um pouco seus estilos para acompanhar a moda. Exemplos disso foram os Bee Gees (acreditem ou não, eles começaram fazendo música folk nos anos 1960); o Kiss, com o álbum Dinasty (1979), de onde veio “I Was Made For Loving You”; e os Rolling Stones, com o álbum Emotional Rescue (1980). Os Estados Unidos iam se rendendo à moda das casas noturnas que tocavam disco, estilo que teve origem em clubes de dança especialmente frequentados pela comunidade negra, latino-americana e LGBT em Nova York e na Filadélfia. O movimento, que mais tarde ganharia fama com Os embalos de sábado à noite (1977), o filme de Travolta, conhecido pelo nome Saturday Night Fever, se colocava contra a dominância do rock e a desvalorização que a música considerada dançante sofrera ao longo do período da contracultura. O rock, portanto, além de ter se deparado com uma forte concorrente, como a disco, encontrava-se num ponto já um tanto distante de suas origens. O britânico Alain Disteré, autor do livro The Story of Rock – Smash Hits and Superstars, afirma que, na segunda metade da década de 1970, as

experimentações e megaproduções realizadas afastaram o gênero de sua motivação inicial. Novas bandas sentiam dificuldade em concorrer com as já consagradas. Por causa disso, começou um movimento de retorno ao rock que era feito em garagens e bares. “O punk rock foi uma espécie de retorno às origens, jovens atrás de diversão, tocando como podiam, de maneira simples, direta, deixando para trás todo o refinamento pelo qual o rock havia passado em vinte anos de existência, que o tornara complexo e, muitas vezes, enfadonho. O punk trouxe de volta a indignação social e a contestação. – Rodrigo Branco”

1976 O chamado ano zero do punk rock também é considerado por muitos como a época do suspiro final do progressivo. Foi neste ano que duas bandas britânicas conclamariam os jovens a retomarem o espírio de rebeldia que deu origem ao rock nos anos 1950: Sex Pistols, a banda que consagrou Sid Vicious e John Lydon (ou Johnny Rotten, como era conhecido então) e The Clash, de Joe Strummer, com sucessos como “Rock The Casbah” (do álbum Combat Rock, 1982) e “London Calling” (do álbum de mesmo nome, de 1979). Caso você não saiba, o termo “punk” é usado na língua inglesa como adjetivo (com o significado de podre, mau ou imprestável) e como substantivo (com o significado de uma coisa sem valor). Em 1967, Frank Zappa usou essa mesma palavra para se referir aos hippies de São Francisco que frequentavam festivais como o de Woodstock. Quando a década de 1970 chegou, o crítico norte-americano da Rolling Stone, Lester Bangs, divulgou o termo “punk rock”, que ele logo associou a bandas do tipo B reunidas por Lenny Kaye, o guitarrista da cantora norte-americana Patti Smith, na coletânea dupla Nuggets: Original Artyfacts from the First Psychedelic Era, 1965 – 1968 (1972). Por muitos anos essas bandas foram a inspiração de alguns dos nomes mais conhecidos do punk rock, como os norte-americanos Todd Rundgren, multi-instrumentalista que acompanhou Ringo Starr e Meat Loaf, e Ted Nugent, cujo sucesso “Cat- -Scratch Fever” (do álbum de mesmo nome, de 1977) é um dos maiores clássicos desse

período. O primeiro registro da palavra “punk” no contexto musical surgiu em 1975, quando o jornalista Legs McNeil criou uma revista com o mesmo nome. Nela, ele fez entrevistas com os Ramones e todos os grupos que se apresentavam nos subúrbios nova- -iorquinos. McNeil ajudou no surgimento da cena. Nos Estados Unidos, a cena punk se espalhou a partir do CBGB (clube noturno cujo nome é a abreviação de Country, Bluegrass and Blues), localizado na cidade de Nova York. Nos fundos do clube escuro e estreito, bandas apresentavam sua versão de rock, bem mais agressiva do que os mais antigos. Para se ter uma ideia do quanto os primeiros punks eram radicais, eles apenas admitiam ter sido influenciados pelo Velvet Underground, a banda de Lou Reed patrocinada pelo artista plástico Andy Warhol, e por Patti Smith e a banda que a acompanhava, atualmente considerado um dos principais grupos mentores do movimento, desde o lançamento do álbum Horses (1975). A música desses primeiros grupos – que incluíam nomes como Ramones, Dead Kennedys, Blondie, Iggy Pop (que já se apresentava como um protopunk com seu grupo The Stooges) e até mesmo o grupo de rock artístico de David Byrne, o Talking Heads (chamado de art punk) – era assumidamente anticomercial e seus músicos frequentemente adotavam uma postura autodestrutiva. Ainda assim, deram forma ao punk, que, durante o curto período em que esteve no auge (entre 1976 e 1979), foi responsável pelo retorno da intensidade e do espírito de inovação do rock and roll. Logo a moda lançada pelo clube CBGB se espalhou pelos demais estados norte-americanos e chegou a lugares distantes, como Cleveland (que revelou a banda The Dead Boys) e Natick, Massachusetts, perto de Boston (The Modern Lovers). Uma curiosidade desse movimento que ia crescendo é que, da mesma maneira como as bandas da Invasão Britânica veneravam Elvis Presley e Bob Dylan, o punk respeitava ninguém menos do que aquele que ficaria conhecido como “The Boss”: Bruce Springsteen, que tem, segundo revistas como Billboard e Rolling Stone, a capacidade de se “identificar com uma geração que buscava orgulho e justiça”.

POLÊMICAS Ainda que algumas bandas nada mais fizeram do que repetir o comportamento de grupos mais antigos, como The Troggs e The Kinks, elas foram responsáveis por várias polêmicas novas. O MC5 (Motor City Five), que esteve em atividade entre 1964 e 1972 (retornando anos depois, em 2003), foi, por exemplo, uma das primeiras bandas a juntar letras que falavam sobre drogas e política a uma sonoridade agressiva. O MC5 também teve influência dos Panteras Negras, um grupo socialista formado por negros radicais que defendiam ações contra os brancos nos anos 1960. Quando o assunto é polêmica, cabe trazer a figura de Richard Hell, um compositor que andava sempre com o cabelo espetado e com alfinetes, usando camisetas curtas, rasgadas e muitas vezes com motivos desenhados à mão. O estilo nada convencional impressionou o famoso britânico Malcolm McLaren, que se tornaria conhecido por ser o empresário dos Sex Pistols. McLaren logo teve a ideia de vender esses acessórios na loja que tinha em Londres (chamada Sex) e assim lançava o visual que viria a ser adotado pela maioria dos punks do outro lado do oceano. Hell fez parte de grupos como Neon Boys, Television e The Heartbreakers, além do Richard Hell & The Voidoids. Outro grupo muito consagrado do gênero são os Ramones. O primeiro disco da banda, lançado em 1976 e batizado Ramones, tinha catorze canções e uma velocidade que assustou muita gente acostumada com a sonoridade do progressivo. Ramones saiu pela Sire Records (curiosamente o mesmo selo que lançaria Madonna anos depois) e, embora tenha recebido algumas críticas positivas, não foi um grande estouro nos Estados Unidos. Mas, quando o trabalho chegou ao Reino Unido, tornou-se um sucesso tão grande que em julho do mesmo ano o grupo já saiu em turnê fora do país. Nessa mesma época, Malcolm McLaren conhece em sua própria loja os jovens que seriam o núcleo de outra banda ícone do movimento, os Sex Pistols. Incorporando algumas ideias do som e da imagem que se tornariam características do punk rock, e cujo desenvolvimento foi ajudado em parte por sua namorada, Vivienne Westwood, o grupo fez um sucesso tão grande que serviu de influência para bandas como o The Clash e o Joy Division, que se formou depois de assistir a um show dos Sex Pistols em Manchester. 1977 Chegamos ao ano mais marcante da trajetória do punk rock. É quando

surgem várias bandas do estilo, tanto na Inglaterra como na Irlanda, além de ser a época do lançamento de álbuns hoje considerados clássicos, como o primeiro do The Clash, com o nome da banda, e o dos Sex Pistols, Never Mind The Bollocks, Here’s The Sex Pistols. O ano marcava também uma importante efeméride: a rainha Elizabeth II completava 25 anos de trono, recebendo uma série de homenagens para assinalar a data. Os Sex Pistols não quis eram ficar de fora, como deixou bem claro com o single God Save The Queen, do primeiro álbum do grupo. A letra contém frases impactantes como “Não há futuro para a Inglaterra!” e “Deus salve a rainha e seu regime fascista”. Essa era apenas uma amostra do sentimento da juventude inglesa, amargurada com o crescente desemprego no país. O grupo e sua equipe acompanharam a popularidade da canção de tal forma que, quando ela chegou oficialmente ao segundo lugar dos singles mais vendidos do Reino Unido, acharam que aquilo era uma espécie de conspiração para impedir que a música (que com certeza não devia ter agradado em nada a rainha ou sua família) atingisse o primeiro lugar. Levando em consideração as características do movimento punk, essa preocupação com as paradas de sucesso chega até a parecer irônica, mas o fato é que a música foi um grande sucesso, mesmo tendo sido oficialmente proibida pela emissora estatal BBC e outras redes de televisão.

Iggy se apresenta com os Stooges em Byron Bay, Australia.

HARDCORE, PÓS-PUNK E O POP PUNK No período entre 1978 e 1979, considerado por muitos como a fase final do punk original, começaram a aparecer algumas bandas nos Estados Unidos que levaram o movimento a outro nível. As canções eram mais rápidas e os acordes mais simples. Dentre elas podemos destacar o Dead Kennedys, o Black Flag e o Minor Threat. Já no Canadá, o destaque ficou para bandas como DOA e Subhumans, que logo começaram a ser vistas como precursoras de outro subgênero, o hardcore, originalmente um termo usado para designar militantes agressivos ou radicais. O estilo era caracterizado pela presença de guitarras extremamente distorcidas e canções muito rápidas e barulhentas com poucos minutos de duração. Todas falavam sobre críticas político-sociais e eram contra as guerras. O hardcore aparece na Europa com o Realities of War, lançado pelo Discharge em 1980, e é seguido de outras bandas que haviam aderido à nova tendência, dentre elas Disorder, Varukers, Chaos UK e Chaotic Dischord. Ainda que o movimento estivesse se desenvolvendo em ambos os lados do Atlântico, existiram diferenças entre o que houve nos Estados Unidos e no Reino Unido, e uma delas foi a questão do visual. Enquanto os norteamericanos não tinham um visual tão homogêneo, com diferenças entre Patti Smith e os Ramones, os europeus passaram a fazer o oposto, usando spikes, cortes de cabelo mais arrepiados e moicanos bem longos. Além do hardcore, há ainda alguns outros derivados do punk. O póspunk surgiu na Inglaterra em 1977. Mantém suas raízes no punk clássico, mas é muito mais experimental e complexo. É a partir dele que surge o rock alternativo da década de 1980, que se popularizou nos anos 1990. Dentre as bandas mais ligadas ao pós-- punk há nomes até hoje famosos, como Public Image Ltd. (formado por John Lydon, o cantor Johnny)Rotten dos Sex Pistols), Joy Division (que mais tarde se transformaria no New Order), The Cure, Bauhaus, Siouxsie & the Banshees (que teve como baterista Sid Vicious, também dos Sex Pistols), The Smiths, New Model Army, The Psychedelic Furs, Echo & the Bunnymen, Wall of Voodoo, Swans e Sonic Youth. O pop punk, como já sugere o nome, é a mistura de punk rock com

música pop e surgiu originalmente no final da década de 1970. No entanto, sua popularidade chegou somente entre as décadas de 1990 e 2000. Seu estilo, apesar de manter muito dos elementos do punk clássico, é combinado com o grunge de Seattle, com músicas que misturam batidas hardcore tradicionais com vocais claros e letras que falam de rebeldias adolescentes. Dentre os grupos pertencentes a este subgênero estão bandas como The Offspring, Green Day, Blink-182 e New Found Glory. GRANDES NOMES NEW YORK DOLLS O grupo formado em Nova York, em 1971, é considerado, ao mesmo tempo, uma banda de hard rock e um dos maiores representantes do início do punk, ao lado dos Stooges de Iggy Pop. Sua formação original incluía David Johansen (vocais), Johnny Thunders (guitarra), Sylvain Sylvain (guitarra), Arthur Kane (baixo) e Billy Murcia (bateria). Foi uma das primeiras bandas a adotar um visual andrógino e chamativo para atrair atenções. Seu início de trajetória foi marcado por um trágico evento: antes que lançassem seu primeiro trabalho, o baterista Billy Murcia morreu afogado numa banheira. Em seu lugar entrou o músico Jerry Nolan. The New York Dolls (1973) foi ignorado pelo público e pela crítica em meio aos inúmeros lançamentos do rock progressivo. O segundo trabalho, For Too Much Too Soon (1974), também não teve bom resultado, pois a produção não conseguiu captar o espírito da banda. Nesta época também começaram os desentendimentos entre Thunders e Johansen Também em 1974, o New York Dolls fez uma visita à loja de Malcolm McLaren, que aproveitou a ocasião para se aproximar, visando tornar-se o empresário do grupo. Sob sua assessoria, a banda mudou o visual e adotou um guardaroupa cheio de roupas vermelhas, em referência ao regime comunista. Sem resultado. Quando Thunders saiu para montar o Heartbreakers, em 1975, o grupo praticamente acabou. McLaren voltaria depois para Londres e formaria os Sex Pistols. Em 2004, a banda se reuniu novamente e está na ativa desde então. THE CLASH Formado em 1976, The Clash foi reconhecidamente um dos primeiros grupos do punk, mas isso não o impediu de ousar e experimentar outros

ritmos, dentre eles reggae, ska e rockabilly. O grupo foi fundado por Joe Strummer (guitarra e vocais), além de Mick Jones (guitarra e vocais), Paul Simonon (baixo) e Nicky “Topper” Headon (bateria). Outros membros ainda participaram da formação do grupo: no começo, o guitarrista da banda era Keith Levene, que, no entanto, abandonou o grupo depois de cinco shows (sob circunstâncias suspeitas, afirmam alguns) e se juntou ao Public Image Ltd. De início a banda ficou conhecida por sua visão e roupas revolucionárias. Seu primeiro show foi como banda de apoio de ninguém menos que os Sex Pistols. No começo, havia um sentimento de rivalidade, mas eles acabaram tocando juntos. Ao assinar com a CBS Records (hoje Sony Music), lançaram seu primeiro single (White Riot) e álbum (The Clash, 1977). Embora o sucesso em sua terra natal tivesse sido considerável, a gravadora só optou por lançálos nos Estados Unidos dois anos depois. Logo no primeiro trabalho, Strummer e Jones se destacaram como os criadores de uma atmosfera própria, apresentando, por exemplo, uma versão da música reggae “Police and Thieves”. O álbum seguinte, Give ‘em Enough Rope (1978), teve boa repercussão no Reino Unido, mas não foi lançado nos Estados Unidos. Lá a banda teria o álbum apenas em julho de 1979, numa versão revisada e editada. Na sequência, foi a vez de London Calling, um álbum duplo que hoje é considerado um dos melhores da banda. O próximo, Sandinista! (1980), foi um álbum triplo vendido pelo preço de um duplo. Os músicos continuaram suas experimentações com reggae, jazz e até hip-hop, mas as vendas caíram. Dois anos depois, chegava Combat Rock (1982), com os sucessos “Rock The Casbah” e “Should I Stay Or Should I Go?”. A carreira do grupo, entretanto, estava permeada por problemas pessoais. O baterista Topper Headon se envolvera com drogas e Terry Chimes foi chamado de volta (ele havia participado da formação original). Depois de Combat Rock, Chimes deixou o grupo novamente, por estar convencido de que não duraria muito. Foi substituído por Pete Howard. Em setembro de 1983, o guitarrista Mick Jones foi expulso por Strummer e Simonon devido a seu comportamento problemático. A banda só se apresentaria de novo em 1984, ocasião em que anunciaram um novo trabalho para breve, mas as sessões de gravação foram consideradas decepcionantes. O baterista, por exemplo, foi substituído pela batida de sintetizadores e por uma bateria eletrônica. Strummer saiu em turnê com o grupo pelo Reino Unido e tocou em alguns lugares de graça. Cut the Crap

(1985) acabou tendo vendas ínfimas e o grupo resolveu se desfazer no ano seguinte.

The Clash em 1977.

PATTI SMITH Patricia Lee Smith é uma poetisa, cantora e instrumentista norteamericana, considerada até hoje uma das mulheres mais influentes do rock. É praticamente a madrinha do movimento punk, uma vez que sua banda, Patti Smith Group, é um dos marcos do gênero. Patti nasceu em Chicago e cresceu em Nova Jersey. Largou os estudos na faculdade e em 1967 foi para Nova York, onde conheceu Robert Mapplethorpe na livraria em que trabalhava. Logo se tornaram amantes, vivendo juntos por muito tempo, antes de Robert assumir-se gay. Apesar da separação, continuaram amigos até a morte do artista, em março de 1989, vítima de AIDS. Em 1969, ela foi com a irmã para Paris e começou a fazer performances artísticas nas ruas. Quando voltou a Nova York, no começo de 1970, passou a pintar, escrever e fazer recitais. No ano seguinte atuou numa peça chamada Cowboy Mouth.

Passou a se sustentar escrevendo artigos sobre rock para a revista Creem, ao mesmo tempo que compunha canções com Allen Lanier, do Blue Öyster Cult. Em 1974, começou a fazer alguns shows com músicos que viriam a compor sua banda de apoio: Ivan Kral (guitarra), Jay Dee Daugherty (bateria) e Richard Sohl (piano). Financiada por Mapplethorpe, a banda conhecida como Patti Smith Group gravou o primeiro single, Piss Factory, no mesmo ano. O grupo assinou contrato com a Arista Records e, em 1975, saiu o álbum Horses, produzido com John Cale, do Velvet Underground. O álbum é uma mistura de rock e proto-punk (anterior a 1976), com muitas declamações de poesia. Na época foi avaliado como um dos melhores álbuns de estreia de todos os tempos. Enquanto o punk estourava na Inglaterra, o grupo de Patti fez turnês por Estados Unidos e Europa. O segundo álbum, Radio Ethiopia (1976), é considerado mais complexo que seu antecessor e ainda assim é igualmente idolatrado, principalmente as canções “Pissing In A River”, “Pumping” e “Ain’t It Strange”. Durante a turnê de divulgação, Patti caiu do palco em Tampa, na Florida, e quebrou algumas vértebras do pescoço. Enquanto esteve convalescente, fez uma reavaliação de sua vida e carreira.

Patti Smith se apresenta em Paris, França.

O grupo ainda gravou outros dois álbuns (Easter, de 1978, e Wave, de 1979). O primeiro foi o álbum de maior êxito comercial, pois trouxe o sucesso “Because The Night”, composto com Bruce Springsteen e que chegou ao 13º lugar da Billboard Hot 100. Hoje, Patti é uma ativista de causas como o combate à AIDS e continua gravando álbuns. O mais recente é Banga (2012), gravado no lendário estúdio montado por Jimi Hendrix, o Electric Lady Studios. IGY POP AND THE STOOGES Iggy Pop foi o primeiro nome pensado por Ray Manzarek para substituir Jim Morrison no The Doors. Infelizmente a empreitada não deu certo, e cada músico seguiu seu caminho. Iggy, por outro lado, ainda iria longe, vindo a se tornar um dos adorados ícones do punk rock. Seu nome na verdade é James Newell Osterberg, nascido em 21 de abril de 1947, em Michigan, nos Estados Unidos. O nome artístico surgiu do título de uma canção que tocava com sua banda de colegial, chamada de The Iguanas. Os Stooges (nome que significa algo como “os patetas”) tinham em sua formação original Ron Asheton na guitarra, Scott Asheton na bateria e Dave Alexander no baixo. Alexander foi demitido depois do lançamento do segundo trabalho, fazendo com que James Williamson assumisse a guitarra, enquanto Ron passava para o baixo. A inspiração para formar o grupo surgiu quando Iggy assistiu a um show do The Doors em 1967, na Universidade de Michigan, e se impressionou com a performance de Jim Morrison. Iggy liderou o grupo por cinco anos até sair em carreira solo. Os Stooges gravaram três álbuns: The Stooges (1969), Fun House (1970) e Raw Power (1973). Em 1977 ele fez uma parceria com o amigo David Bowie para gravar seus dois primeiros álbuns solo. The Idiot saiu em março e Lust for Life, em agosto. Dos dois, o primeiro ficou mais conhecido por trazer a versão original de “China Girl”, sucesso de Bowie do álbum Let’s Dance (1983). Mesmo sem ter alcançado grande sucesso comercial, os álbuns foram de grande influência para bandas como Sonic Youth e Ramones. O cantor prossegue em carreira solo até os dias de hoje, sendo seus últimos trabalhos o álbum Préliminaires (2009) e um álbum com covers franceses chamado Après (2012). Tocou com os Stooges em 2007, quando lançou o álbum The Weirdness. Três anos depois, numa apresentação em Los Angeles, gravou aquele que é um de seus trabalhos mais comentados

nos últimos tempos, um dueto com a viúva de John Lennon, Yoko Ono, chamado “Waiting For The D.Train” e lançado como single em formato digital, em 2013. No mesmo ano, foi lançado o disco dos Stooges, Ready to Die. MC5 O estado de Michigan, nos Estados Unidos, não apenas deu origem a Iggy Pop and the Stooges, mas também ao MC5 ou Motor City Five, formado por Rob Tyner (vocais), Fred “Sonic” Smith (guitarra), Wayne Kramer (guitarra), Pat Burrows (baixo) e Bob Gaspar (bateria). Depois de trocar algumas vezes de integrantes, a banda já experimentava novos sons como a distorção das guitarras e o uso de harmônicos. A sonoridade mais pesada chamou a atenção de John Sinclair, fundador do movimento Panteras Brancas, uma organização que apoiava o movimento negro mais radical dos Panteras Negras. A associação com esses dois grupos rapidamente posicionou a banda como simpática aos hipsters de esquerda dos Estados Unidos As apresentações do MC5 eram tão singulares que o colunista Robert Bixby chegou a descrevê-las como “uma força da natureza catastrófica que a banda mal era capaz de controlar”, segundo o jornalista Legs McNeil, autor do livro Mate-me por favor, que conta a história do punk. As letras eram cheias de palavrões – e isso quase dez anos antes do surgimento dos Sex Pistols. Eles assinaram com a Atlantic, uma gravadora de grande porte, em 1970, depois de prometer se controlar um pouco. Mas não adiantou muito: um tempo depois, Sinclair foi preso por oferecer maconha a um policial que estava de folga. Oficialmente a banda tem dois álbuns de estúdio: o hoje clássico Back In The USA (1970), com canções como “Shaking Street” e “The American Ruse”, e o álbum High Time (1971). O primeiro disco, Kick Out The Jams (1969), é ao vivo e mostra o potencial insano da banda em ação. O grupo se desfez depois de um show no Grand Ballroom, em Chicago, no réveillon de 1972. Eles voltaram a tocar entre 2003 e 2012, até a morte do baixista Michael Davis, por falência do fígado. SEX PISTOLS Segundo nome da “santíssima trindade punk” (os outros dois são The Clash e Ramones), os Sex Pistols surgiram oficialmente em 1975 e, embora

não tenha sido a primeira banda punk, destacou-se por trazer o movimento para o Reino Unido. A carreira foi curta: foram apenas dois anos e meio e somente quatro singles e um álbum de estúdio, o famoso Never Mind the Bollocks, Here’s the Sex Pistols (1977). O grupo era formado pelo vocalista Johnny Rotten (assim chamado por causa do estado de seus dentes: “rotten” significa “podre” em português), o guitarrista Steve Jones, o baterista Paul Cook e o baixista Glen Matlock, que depois daria lugar a Sid Vicious no início de 1977. Em seus shows, as controvérsias que geravam sempre chamavam a atenção do público britânico e criavam problemas para as autoridades.

Johnny Rotten, vocalista dos Sex Pistols. Reza a lenda que Lydon conseguiu seu lugar na banda depois de entrar na loja de Malcolm McLaren (que funcionava no número 430 da King’s Road, em Londres, de 1974 a 1976). Na ocasião, o vocalista usava uma camiseta que trazia estampado “I hate Pink Floyd” (Eu odeio Pink Floyd) e aceitou fazer um teste acompanhado por uma jukebox. Após o lançamento do único álbum, em 1977, a banda partiu em uma turnê cheia de problemas, com Sid Vicious cada vez mais drogado e sem condições de se apresentar. Além disso, Steve Jones e Paul Cook frequentemente se envolviam em brigas e o empresário Malcolm McLaren se mostrava mais preocupado com a realização de um filme sobre a banda do que com a própria turnê. No ano seguinte, Vicious foi preso, suspeito de ter matado a facadas sua namorada, Nancy Spungen, em um quarto de hotel em Nova York (fato que foi retratado no filme Sid & Nancy, de 1986). Após ter sua fiança paga pela gravadora, Sid não conseguiu manter-se longe dos problemas e foi preso mais uma vez, dessa vez por agressão. Morreu em decorrência de uma overdose de heroína, durante a festa que comemorava a sua saída da prisão. Apesar do lançamento do filme The Great Rock’n’Roll Swindle (1980), a banda não teve fôlego para continuar. Apenas Lydon voltaria a fazer carreira na música, com seu novo grupo, Public Image Ltd. (ou PIL), formado em 1978, logo após o fim dos Pistols. O maior sucesso do PIL, ainda tocado nas rádios, é “Rise”, do disco Album (1986). DEAD KENEDYS Formado em São Francisco, nos Estados Unidos, em 1978, o Dead Kennedys obteve grande sucesso misturando o punk inglês com a energia do hardcore. A banda teve uma carreira relativamente curta (de 1978 a 1986, embora tenha retornado em 2001 e se mantido na ativa desde então), e sua popularidade surgiu mais pelas atitudes políticas do que propriamente pela música, atacando o governo republicano e conservador do presidente americano Ronald Reagan. O líder e responsável pela maior parte das composições era Jello Biafra (vocais). A formação original ainda trazia East Bay Ray (guitarrista), Klaus Flouride (baixista) e Bruce Slesinger (baterista). Havia ainda um segundo

guitarrista, cuja identidade foi ocultada, e que era chamado somente de 6025. Depois descobriram que o instrumentista se chamava Carlos Cadona. O objetivo da banda era criar letras com críticas pesadas ao “American Way of Life” ou que atacassem políticos e entidades como a Ku Klux Klan, a polícia e as religiões. Como nenhuma gravadora queria apostar numa banda tão polêmica, Biafra montou seu próprio selo, chamado Alternative Tentacles (Tentáculos Alternativos). Sua música de maior sucesso é “California Über Alles”, do álbum Fresh Fruit for Rotting Vegetables (1980), que atacava o então governador da Califórnia, Jerry Brown. O segundo álbum saiu em 1982 e se chamou Plastic Surgery Disasters. Depois que o single Too Drunk to Fuck (1981) saiu, o grupo passou a ser combatido nos Estados Unidos e na Europa por grupos conservadores. Três anos depois, após um longo período de inatividade, lançaram o álbum Frankenchrist (1985), que trazia um encarte com gravuras de órgão sexuais. A banda foi processada por distribuição de pornografia sem autorização, o que só serviu para atrair mais fãs e promover mais o grupo. Valendo-se da primeira emenda americana, que garantia a liberdade de expressão, o grupo venceu todos os processos. O Dead Kennedys se separou depois do lançamento de Bedtime for Democracy (1986), e Biafra tornou-se produtor, lançando novas músicas com diversos artistas. Os demais integrantes processaram Biafra em 1998 pela falta de pagamento de direitos. Em 2001, o grupo esteve no Brasil sem Biafra, com o nome provisório de DK Kennedys, atitude que levou o exvocalista a se posicionar contra essas apresentações e chamá-las de “farsa”. RAMONES Talvez a melhor definição do grupo, considerado um dos mais emblemáticos da história do rock, seja esta, retirada de um artigo da revista Rolling Stone em 1983: “quatro garotos, ex-delinquentes juvenis do Queens, Nova York, uniformizados com calças jeans rasgadas e jaquetas de couro, tocando músicas de dois ou três minutos, falando sobre danos cerebrais e insanidade, como se a sua vida dependesse disto. Garantia de excelente diversão”. Enquanto muitos acham que o visual de roupas rasgadas fora criado pelos Sex Pistols, os Ramones já se vestiam assim quando tocavam no CBGB. Com músicas como “Judy Is A Punk”, os Ramones foram fundamentais na consolidação do movimento punk, interrompendo os

exageros introduzidos pelo rock progressivo e trazendo de volta a espontaneidade . O grupo foi formado em 1974, no bairro do Queens, por quatro fãs de bandas da primeira fase dos Beatles e dos Beach Boys. No começo eram três garotos nova-iorquinos que queriam recuperar a sonoridade original do rock: Jeffrey Hyman (bateria), John Cummings (guitarra) e Douglas Colvin (baixo e vocal). Assumiram os nomes artísticos de Joey Ramone, Johnny Ramone e Dee Dee Ramone, respectivamente. A origem do nome vem de um boato: reza a lenda que, quando Paul McCartney queria se hospedar num hotel nos áureos tempos dos Beatles, dava entrada com o nome falso de Phill Ramone. O quarto integrante chegou algum tempo depois. Era o baterista Tony Erdely, que passou a ser Tommy Ramone. Joey ficou nos vocais, Johnny na guitarra e Dee Dee no baixo. Sem saber tocar mais do que três acordes, assinaram com uma gravadora e lançaram o primeiro álbum, Ramones (1976), que foi muito bem aceito e se tornou um dos mais influentes do rock. Como a maioria das grandes bandas, esta também teve alguns ajustes na formação. Em 1978, Tommy saiu e em seu lugar entrou Marc Bell (Marky Ramone), que em 1983 daria lugar a Richard Beau (Richie Ramone), mas depois voltaria à banda, em 1987. Um quarto baterista, chamado Clement Bozewski, faria parte do grupo punk. A pior perda foi a saída de Dee Dee Ramone, que abandonou o grupo por “diferenças musicais”. Em seu lugar veio Christopher Ward (CJ Ramone) e Dee Dee tornou-se rapper.

Os Ramones em 1977.

O grupo teve no total vinte anos de carreira e deixou nada menos que quinze álbuns. O grande público os descobriu somente na década de 1990, e desde então seus discos passaram a vender mais do que na época em que foram lançados. Encerraram sua extensa carreira em 1995, para surpresa dos fãs, depois de lançar dois de seus melhores trabalhos: Mondo Bizarro (1992) e Acid Eaters (1993). O último show aconteceu em 6 de agosto de 1996, e contou com participações de Dee Dee Ramone, Lemmy (Mötorhead), Eddie Vedder (Pearl Jam) e músicos do Soundgarden. Três anos depois, eles se apresentaram num evento beneficente em Nova York para levantar fundos para uma instituição que cuida de crianças com leucemia. No entanto, o sonho de uma volta não durou muito: Joey faleceu em 2001, depois de lutar contra um linfoma. Em 2002, depois de serem admitidos no Hall da Fama do Rock and Roll, Dee Dee morreu por overdose de heroína, aos 50 anos de idade. Johnny morreu em 2004, depois de lutar por cinco anos contra um câncer de próstata. Marky é hoje o único remanescente da formação mais conhecida.

CAPÍTULO 8

NEW WAVE E MÚSICA GÓTICA

A new wave e a música gótica são dois estilos distintos que se tornaram populares na mesma época. Como vimos no capítulo anterior, a new wave acabou por ser tornar uma espécie de derivação do punk rock. Por incrível que pareça, as roupas rasgadas e os spikes cederam espaço aos cabelos estilo anos 1950 e às roupas coloridas, deixando ainda espaço para que a música gótica surgisse. Para o historiador musical britânico Vernon Joynson, o berço musical tanto do punk quanto da new wave foi o Reino Unido, embora os Ramones fossem dos Estados Unidos, assim como boa parte desta cena musical. Para ele, a música que simpatizava com aspectos anarquistas, como a dos Sex Pistols, era punk, enquanto a música com “experimentação, complexidade lírica ou até mesmo uma produção mais elaborada” seria new wave. Dentre aqueles que teriam definido o estilo daquela época está em destaque a banda Talking Heads. Os músicos que seguiam esta tendência tocavam acordes rápidos e incluíam linhas de teclado na composição, que mudavam constantemente de ritmo. Enquanto os Estados Unidos acompanhavam a ascensão da discoteca e o enfraquecimento do punk, alguns artistas que haviam feito sucesso no passado, como Yes e John Lennon, dentre outros, ensaiavam retornos com seus estilos modificados e renovados, de acordo com as tendências da época. A herança deixada pelo punk e pelo pós-punk, o movimento pop cada vez mais em evidência nas paradas de sucesso e a progressiva introdução de instrumentos eletrônicos não apenas promoveram o surgimento da new wave, como também fizeram com que o próprio heavy metal se rendesse às inovações tecnológicas e se transformasse. “Essa foi uma época de misturas, em parte a diversão pop com a new wave, em parte o lado sombrio do pós- -punk, ambos usando novas tecnologias, até então inéditas, dividindo espaço com o hard rock, que foi buscar elementos do passado para renovar o rock glamouroso, de espetáculo, para grandes plateias, tudo impulsionado pela força do videoclipe.” – Rodrigo Branco Um exemplo de banda que se reinventou foi o Joy Division, que começou fazendo um som gótico e, depois do suicídio do vocalista Ian Curtis, em 18

de maio de 1980, mudou de nome e estilo, tornando-se o New Order, um dos maiores nomes da new wave e do rock eletrônico. O pop da época era dominado por trabalhos de artistas solo, que traziam as influências da cultura black e do recente hip-hop, misturados com pitadas da discoteca e rock mais tradicional dos anos 1970. Michael Jackson e Madonna estavam em evidência e mostravam que uma pessoa sozinha podia fazer tanto sucesso quanto um grupo todo. A década ainda é caracterizada pela coexistência de diferentes estilos: pós-punk, dance rock, rock alternativo, ethereal wave, funk rock, pub rock, entre outros nomes estranhos. Até mesmo o ska, que surgiu na Jamaica no fim dos anos 1950, foi utilizado para classificar certas bandas da época, como The Police e Devo. Mas em toda essa mistura, definitivamente os dois estilos que mais se destacavam eram o new wave e o rock gótico. Comecemos pelo new wave. Como vimos, o termo “nova onda” era usado desde 1976 na Inglaterra para se referir ao punk, e, por algum tempo, graças ao artigo de Caroline Coon na revista Melody Maker, punk e new wave foram sinônimos e termos intercambiáveis. Enquanto isso, nos Estados Unidos, o mesmo clube CBGB, responsável pela revelação dos Ramones, apresentava cada vez mais grupos que poderiam ser classificados como “nova onda”. A gravadora Sire Records (que revelou Madonna e lançou os trabalhos de Ramones e Talking Heads) queria assinar um contrato permanente com essas bandas, mas a cena musical vigente no CBGB só se tornaria vinculada ao termo em dezembro de 1976, quando um artigo do The New York Rocker o usou pela primeira vez. No entanto, segundo o dono do CBGB, Hilly Kristal, e para o estudioso Clinton Heylin, a new wave começou após os primeiros shows da banda Television, que também fez parte da cena punk rock, em março de 1974. Outro ponto destacado na maioria dos trabalhos que retratam o período é o lançamento, em 1977, de uma coletânea chamada New Wave, com artistas como Dead Boys, Ramones, The Runaways e Talking Heads – destaque para a banda de David Byrne, que merece atenção por sua sonoridade que fez história nesse novo momento musical. O pós-punk acabou concentrando as bandas de maior tendência ao lado sombrio, como Gang of Four, Joy Division, The Cure e Siouxsie & the Banshees, enquanto grupos como Duran Duran, Japan, Ultravox, Visage, Adam and the Ants, Bow Wow Wow, Soft Cell, Spandau Ballet e Culture Club seguiam mais a new wave. Outros destaques incluem a banda de Danny Elfman, Oingo Boingo

(principalmente o álbum Dead Man’s Party, de 1985), B-52’s (Whammy!, de 1983), Depeche Mode (Music For The Masses, 1987), Duran Duran (Seven and The Ragged Tiger, de 1983), Simple Minds (Once Upon A Time, de 1985) e Tears for Fears (Songs From The Big Chair, de 1985). A new wave percorreu a década de 1980 e durou até o começo da seguinte. É por isso que, até hoje, quando se fala dos anos de 1980, pensamos em roupas espalhafatosas, visuais andróginos e cabelos exagerados. Na década de 1990, o surgimento de outros movimentos não deixou muito espaço para nenhum tipo de revival dos mais antigos do rock. Apenas na década de 2000 é que surgiram bandas por vezes apelidadas de “nova nova onda” (new new wave), como The Strokes, Interpol, Franz Ferdinand e Placebo. MÚSICA GÓTICA NO ROCK Este movimento musical surgiu no fim dos anos 1970 e englobou alguns nomes como The Cure, Joy Division, Bauhaus, entre outros. Usavam roupas pretas ou cinzas, cabelos desgrenhados, maquiagem pesada e tinham uma grande influência de bandas de rock clássico, como The Doors, Velvet Underground, a carreira solo de Lou Reed e a psicodelia apresentada por Beatles no álbum Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. Qual seria, afinal, o começo do gênero gótico? Para muitos, foi com o single Bela Lugosi’s Dead (1979), do grupo britânico Bauhaus. As roupas em tons escuros, o som soturno e por vezes abafado, e o visual com cabelos desgrenhados ganharam a atenção do público. Além disso, o estilo pode ser considerado um precursor do movimento emocore, gênero que surgiu em meados dos anos 1980 com letras bem emocionais, influenciado pelo punk hardcore, mas que ficou mais conhecido no mainstream apenas no começo da década de 2000. Nos anos 1980 era comum visitar casas de dança que haviam se rendido à estética gótica. O visual era retirado em grande parte de antigos filmes de terror, com iluminação de velas, mesas forradas com toalhas pretas e falsas teias de aranha por todos os lados. Outra referência para os góticos era o

sofrimento de heróis da literatura, principalmente o dos livros Os sofrimentos do jovem Werther (Goethe, 1774) e O morro dos ventos uivantes (de Emily Brontë, 1847). Bandas como Siouxsie and the Banshees, The Cure, Joy Division, The Mission UK e Sisters of Mercy sempre ocupavam as paradas de sucessos, com músicas soturnas que muitas vezes apresentavam temas ligados à morte. Um exemplo disso está num dos maiores sucessos de Siouxsie and the Banshees, “Cities In Dust”, do álbum Tinderbox (1986). Muitos estranharam as imagens que apareciam no clipe, sem entender que representavam a erupção do Monte Vesúvio, ocorrida em 79 d.c., e a posterior destruição de Pompeia, desastre no qual os corpos das vítimas ficaram petrificados pelas cinzas expelidas. A música ressaltava que “toda a sua cidade está em cinzas”, enquanto a figura de Siouxsie vagava como um fantasma pelo cenário de destruição.

Robert Smith durante um show em Manchester, Inglaterra, no ano de 2004. Ainda assim, para aqueles que acompanham o rock gótico e frequentaram as danceterias no auge dos anos 1980, não há banda que

represente mais a época do que o Sisters of Mercy. O grupo, liderado pelo cantor britânico Andrew Eldritch, teve uma alta rotatividade de membros e até hoje rejeita o rótulo de gótico, embora estejam em praticamente todas as listas que falam sobre os grandes grupos do período. Em 1986, a partir de seus ex-membros, surgiu outro grande nome do meio, The Mission UK (que teve que acrescentar o “UK” porque já havia uma banda de R&B chamada The Missions nos Estados Unidos). O gótico, e também o new wave, sofreriam modificações e assumiriam novas formas, principalmente no meio ligado ao heavy metal – que o digam o glam metal (1983 a 1991), ou o gothic metal (início dos anos 1990 até hoje). Entretanto, não se pode dizer que os estilos tenham terminado, pois eles continuam exercendo suas influências. Além disso, ainda é surpreendente para muitos saber exatamente quais foram as fontes desses dois subgêneros e como eles se tornaram o que são hoje. As dúvidas em relação aos estilos permeiam, inclusive, alguns estudiosos, que questionam se podemos mesmo classificar bandas como Echo and the Bunnymen, Joy Division e até mesmo The Smiths como rock gótico. Para eles, esses grupos podem fazer parte do pós-punk, por terem influências do art rock e de filosofias existencialistas. GRANDES NOMES SISTERS OF MERCY Um dos maiores símbolos do rock gótico foi formado entre 1977 e 1980 na cidade de Leeds, na Inglaterra, por Andrew Eldritch nos vocais, Gary Marx e Ben Gunn nas guitarras e Craig Adams no baixo. O grupo logo gravou um single de estreia, The Damage Done, pelo selo Merciful Release, mas sua sonoridade pesada foi apenas consolidada quando lançou o EP (Extended Play, um formato médio, entre o single e o álbum) Alice (1983), que, no entanto, não teve muita repercussão. Um segundo EP, The Reptile House, foi lançado no mesmo ano, e o sucesso então começa com a liderança da parada independente britânica. Essa foi outra banda que passou por diferentes formações, a primeira troca de integrantes ocorre com a entrada do guitarrista Wayne Hussey, com quem lançaram o EP Body and Soul (1984), antes de estrearem com o álbum First and Last and Always (1985). O trabalho, que alcançou o 14º lugar nas paradas britânicas, mesclava os estilos britânico e alemão, e fez sucesso entre os góticos com vocais que lembravam David Bowie e músicas

com uma impactante presença do baixo. No mesmo ano, Marx saiu do grupo, e Wayne e Craig formaram o The Mission UK. Hits que marcaram a carreira do novo grupo incluem “Butterfly on A Wheel” (de Carved in Sand, 1990) e “Severina” (de God’s Own Medicine, 1987), dentre outros. Paralelamente, Eldritch aguardava o resultado de uma disputa judicial pelo nome “Sisters of Mercy”. Diante dessa indefinição, lançou então o álbum Gift (1986) sob o nome de Sisterhood, com James Ray, do grupo James Ray and The Performance, que tinha um vocal parecido com o seu. Depois de resolvida a disputa pelo nome, em 1987, saiu o álbum Floodland, que alcançou o nono lugar na Inglaterra com os sucessos “This Corrosion” e “Dominion”. Três anos depois era a vez de Vision Thing (1990), o último álbum oficial da banda até agora, com a sua canção mais conhecida, “More”. Os anos 1990 já haviam chegado e o gótico não estava mais em alta. Em 1992, “Temple of Love” é relançada em single, com a participação da cantora Ofra Haza, e sai a coletânea Some Girls Wander By Mistake, que reúne todas as faixas dos primeiros EPs e singles antes de terem assinado com a gravadora Warner. Eldritch e a gravadora chegaram a brigar nos tribunais pelos lançamentos, e a questão foi parcialmente resolvida em 1997. Em 1991, com a formação que acompanhava Eldritch desde 1986, eles se apresentaram no Brasil, destacando- -se por terem mostrado mais características do heavy metal e não tanto da música gótica, sem muita presença do teclado e do baixo.

THE CURE O grupo foi formado em 1976, em Crawley, na Inglaterra, pelo guitarrista e vocalista Robert Smith, que é o único membro constante nas várias formações que a banda já teve. A figura de Smith é muito conhecida dentro e fora da história do rock. O visual de cabelos desgrenhados, pele pálida e maquiagem exagerada ao redor dos olhos era tão marcante que o roteirista e escritor Neil Gaiman se inspirou nele para criar o visual de seu personagem de história em quadrinhos Sandman. Em 2005, o vocalista ganhou a distinção do prêmio Ivor Novello por seu trabalho como compositor de renome internacional. Smith cresceu numa família de classe média e teve uma infância difícil. Aos dezessete anos formou seu primeiro grupo, The Easy Cure, juntamente

com seus amigos de infância Laurence Tolhurst e Michael Dempsey. O grupo se tornou uma espécie de terapia para o cantor, como um catalisador de suas frustrações. Seu primeiro single, Killing an Arab, foi acusado de incitar violência contra os árabes, numa época muito anterior ao 11 de setembro, inspirado no livro O estrangeiro, do escritor franco-argelino Albert Camus. A canção teve que ser incluída na primeira compilação da banda, Standing on A Beach (1986), e tanto a gravadora quanto o líder do grupo pediram para que a música não fosse tocada pelas estações de rádio. Em 2005, a banda voltou a tocar a canção, muito popular entre os fãs do grupo por sua batida cativante, mas mudou o nome para “Kissing an Arab”. Voltando no tempo, em 1979, o grupo saiu em turnê com a banda Siouxsie and the Banshees. Eles haviam perdido seu guitarrista, e Robert Smith entrou para preencher o lugar, inaugurando assim um longo período de colaboração entre as duas bandas. Entre 1983 e 1984 ele se tornou membro integral da banda de Siouxsie, participando das gravações de Hyaena (1984). Com o baixista de seu segundo grupo, Steve Severin, formou um projeto chamado The Glove e lançou o álbum Blue Sunshine (1983). Logo ele voltou a se dedicar ao The Cure, para desenvolver aqueles que são os hits mais conhecidos do grupo, que ganharam projeção com o lançamento da já citada coletânea Standing on A Beach. Depois vieram o álbum duplo Kiss Me, Kiss Me, Kiss Me (1987) e Disintegration (1989). Outros álbuns se seguiram, mas o próximo evento mais marcante foi a homenagem máxima feita pelo programa MTV Icon, em que outras bandas vieram prestar homenagem ao grupo, como Razorlight, AFI, Red Hot Chili Peppers, Audioslave, Air, Good Charlotte, The Rapture, The Killers, Marilyn Manson, Metallica, Interpol, Deftones, Blink-182 e Placebo. Ainda em atividade, o grupo continua firme com o controle de Smith. Embora tenha enfrentado certa queda de popularidade na segunda metade dos anos 1990. A chegada dos anos 2000 trouxe de volta a fama, e a banda se consolida como uma das mais influentes do rock alternativo moderno. TA LKING HEADS A banda do guitarrista e vocalista David Byrne pode ser considerada como parte do movimento new wave pelo papel que desempenhou numa época em que o gênero estava em alta. Embora não tenha adquirido o ar espalhafatoso das roupas coloridas, a banda era remanescente do rock

teatral. O grupo surgiu em 1975 e manteve-se na ativa até 1991. Byrne formou sua banda com colegas da Rhode Island School of Design, e apenas ele e o baterista Chris Frantz compunham. A clássica faixa “Psycho Killer”, por exemplo, é de autoria de Byrne. No início eles usavam o nome The Artistics, mas somente até a namorada de Chris, Tina Weymouth, que tocava baixo, se unir a eles em 1974, quando passaram a ser os Talking Heads. A primeira aparição das “cabeças falantes” ocorreu no CBGB, em junho de 1975, quando abriram o show dos Ramones. Um ano depois incluíram o guitarrista e tecladista Jerry Harrison na formação e logo conseguiram um contrato com a Sire Records, da Warner. O primeiro single, Love – Building on Fire, saiu em 1977. No mesmo ano veio o primeiro álbum, Talking Heads: 77 (1977), com claras inspirações nos sons experimentais de bandas como Velvet Underground. Daí eles seguiram numa série de lançamentos, sempre com novidades: nesta época ainda saem os singles Uh-Oh, Love Comes to Town, Psycho Killer e Pulled Up. Em 1978, veio More Songs About Buildings and Food, em colaboração com Brian Eno, do Roxy Music. Um ano depois, foi a vez de Fear of Music, que refletia o clima pós-punk. Já Remain in Light (1980) trouxe influência da world music. O grupo passou então três anos produzindo seu próximo trabalho, o álbum ao vivo The Name of This Band Is Talking Heads

David Byrne, vocalista do Talking Heads. Paralelamente, Byrne lançou dois trabalhos sozinho: My Life in The Bush with Ghosts (1981), com Brian Eno, e a trilha sonora da peça de balé The Catherine Wheel. Chris e Tina formaram o Tom Tom Club, que emplacou sucessos como “Under The Boardwalk” e “Genius of Love”, que dominaram as pistas de dança, mas, ainda que seguisse uma linha mais comercial que o Talking Heads, não teve o mesmo sucesso.

Em 1983, o Talking Heads chegou ao topo das paradas com Speaking in Tongues e a canção “Burning Down The House”. A turnê desse trabalho, chamada de Stop Making Sense, foi tema do documentário dirigido por Jonathan Demme, que em 1991 ganharia um Oscar pelo filme O silêncio dos inocentes. Na sequência vieram mais três trabalhos, Little Creatures (1985), True Stories (1986) e Naked (1998). Um detalhe: uma das faixas de True Stories inspiraria a banda formada mais tarde por Thom Yorke. Byrne, que se dedicava a outros projetos, terminou a banda em dezembro de 1991 e seguiu uma carreira solo bastante inconstante. Nomes atuais como Arcade Fire, The Killers e Clap Your Hands Say Yeah declaram ter tido influência direta do grupo. THE B-52S Não há como deixar de relacionar a new wave com o B-52s (ou B-52’s, grafia utilizada pelo grupo até 2008). O modo espalhafatoso do grupo marcou a geração que viveu o auge do estilo. Formado em Athens, Geórgia, em 1976 (a mesma cidade de onde surgiria o R.E.M.), o grupo trazia na sua formação original Kate Pierson (vocais), Cindy Wilson (vocais de apoio), Fred Schneider (vocais principais), Ricky Wilson (guitarra) e Keith Strickland (bateria). No começo, a banda tocava apenas em clubes, sendo o principal o Max’s Kansas City, onde chegaram a usar gravações de guitarra e percussão devido à falta de conhecimento musical. Também tocaram no CBGB, mais famoso por ser um antro do punk rock. Em 1979, lançaram o primeiro álbum, The B52’s, que se destacou com o sucesso “Rock Lobster”. No ano seguinte já vem Wild Planet (1980), que trouxe “Private Idaho”, faixa mais tarde retrabalhada e que seria destaque da coletânea Party Mix (1981).

O B-52s nos bastidores de um show em Albuquerque, Estados Unidos. A partir de 1982, tiveram David Byrne como produtor, porém o álbum resultante, Mesopotamia, saiu sem a irreverência do grupo. Apenas no ano seguinte, ao lançarem Whammy! (1983), eles realmente atingiriam o estrelato com o sucesso “Legal Tender”, que tendia ao eletrônico. O guitarrista Ricky Wilson faria sua última apresentação no Rock in Rio de 1985. Ele faleceu pouco depois de câncer linfático agravado pela AIDS, e sua morte afetou o lançamento do álbum seguinte, Bouncing Off The Satellites (1986). O grupo se recolheu, ressentido com o descaso da gravadora, a Warner, voltando apenas em 1989, com Cosmic Thing, que traz o sucesso “Love Shack”. A década seguinte começa sem Cindy Wilson, que sai da banda em 1992 alegando esgotamento, e mesmo desfalcados lançam Good Stuff. Ela voltaria em 1998, porém somente para apoiar o lançamento da coletânea Time Capsule. Dez anos depois, veio Funplex, que é o mais recente trabalho do grupo. Fred Schneider, o líder, há alguns anos segue em paralelo com trabalhos solo, como o conhecido Fred Schneider & the Shake Society (1984), de onde veio a faixa “Monster”, que contou com vocais de apoio de Kate Pierson.

Lançou ainda outros quatro álbuns e EPs: Just Fred (1996), The Superions (2010), Destination... Christmas! (2010) e Batbaby (2011). JOY DIVISION E NEW ORDER O Joy Division entrou para a história do rock ao enfrentar um dos primeiros casos de suicídio de um músico que chamou a atenção da mídia em geral. Formado em 1976 em Salford, Manchester, na Inglaterra, o grupo teve um começo um tanto estranho. Quando os Sex Pistols realizaram um show na cidade em junho de 1976, Bernard Sumner, Peter Hook e o amigo Terry Mason estavam lá e se sentiram motivados a montarem sua própria banda. Com Sumner na guitarra, Hook no baixo e Mason na bateria, faltava apenas um vocalista para a banda estar completa. O escolhido acabou sendo Ian Curtis, que estava com a esposa no mesmo show. Influenciados por David Bowie, Iggy Pop e The Doors, o novo grupo decidiu adotar o nome de Warsaw (Varsóvia), inspirados pela música “Warszawa” de Bowie (do álbum Low, 1977). Curtis imitava as performances de Bowie e Iggy Pop no palco. Como já havia uma banda chamada Warsaw Pakt, passaram a adotar Joy Division em 1978, nome de uma casa de prostituição que aparecia no romance The House of Dolls, de Yehiel De-Nur, lançado em 1956. Este nome também era usado para designar a área onde prisioneiras judias eram mantidas para satisfazer sexualmente os soldados nazistas. O primeiro trabalho em estúdio foi o EP An Ideal for Living (1978), ainda com forte apelo punk. Já no ano seguinte, veio o primeiro álbum da banda, Unknown Pleasures, que causou grande alvoroço entre a mídia e o público devido à sonoridade pesada. Os problemas começaram a aparecer quando, após o primeiro show em Londres, tiveram que levar Curtis para o hospital. Ele havia tido seu primeiro ataque epilético. A partir deste momento, a saúde e o casamento de Curtis foram piorando. Ainda assim, o grupo conseguiu gravar o álbum Closer (1980) e o single Love Will Tear Us Apart, dois clássicos da banda. Curtis se mataria em 18 de maio de 1980, um dia antes de uma viagem do grupo para os Estados Unidos. Ele estava com o relacionamento deteriorado com a esposa Deborah e sua filha, Natalie. Existiam suspeitas de relacionamentos extra-conjugais entre Ian Curtis e a jornalista Annik Honoré, o que agravou o quadro de depressão dele. Diante da tragédia, o lançamento de Closer foi adiado para julho. A influência do Kraftwerk aparece na banda, e foi a base para a criação do

New Order, formado por Bernard Sumner (vocais, guitarra e sintetizadores), Peter Hook (baixo e sintetizadores), Stephen Morris (bateria, bateria eletrônica e sintetizadores) e Gillian Gilbert (guitarra e sintetizadores). De ícones do gótico para ídolos dançantes, a mudança foi visível e agradou um novo público, mas não foi tão bem-vinda pelos antigos fãs do Joy Division. O nome da nova banda foi sugerido por seu empresário da época, Rob Gretton, após ter assistido a um documentário sobre a revolução no Camboja. Em junho de 1980 os remanescentes começaram a gravar, e a faixa resultante foi “Haystack”, inclusa na coletânea From Brussels with Love. O primeiro single do New Order tinha duas canções da época do Joy Division: “Ceremony”, uma das canções mais influentes do pós-punk, e “In A Lonely Place”. O primeiro álbum, Movement (1981), mostrou que, em apenas um ano, eles já estavam prontos para seguir adiante. Seus maiores sucessos viriam com os álbuns seguintes: Power Corruption and Lies (1983), Low-Life (1985) e Brotherhood (1986). Seguiram-se sucessos como “Blue Monday”, “The Perfect Kiss”, “Bizarre Love Triangle” e outras músicas. Em 2005 é lançado Waiting for The Sirens’ Call, e o trabalho mais recente se chama Lost Sirens (2013), composto de faixas gravadas durante as sessões do álbum anterior. DEVO Formado em 1972 no estado norte-americano de Ohio, o Devo foi outro grupo que ajudou a dar forma à new wave. Seus criadores eram dois estudantes da Kent State University, Gerald Casale (baixo e sintetizador) e Mark Mothersbaugh (guitarra e sintetizador), que chamaram seus irmãos Bob Casale (guitarra e teclado) e Bob Mothersbaugh (guitarra) – além de Alan Myers (bateria) – para a formação clássica. O som era caracterizado pela presença de instrumentos eletrônicos e vozes processadas em estúdio, fazendo lembrar os trabalhos do Kraftwerk, banda alemã formada em 1970. Por mais estranho que possa parecer, o sucesso surgiu devido a uma confusão na interpretação da letra da canção “Whip It”, de 1980. A música falava sobre o governo do então presidente norte-americano Jimmy Carter, mas a letra foi interpretada como uma apologia à masturbação e, assim, disparou nas paradas. Pregavam na época uma espécie de filosofia: a raça humana havia atingido seu ápice e estava começando a involuir, voltando à idade das cavernas. Seguindo esse pensamento eles fizeram nove álbuns, entre 1978 e 2010, dos quais o mais famoso é Oh, No! It’s Devo (1982), que emplacou o

sucesso “That’s Good”. Este foi um grupo marcado pela alta rotatividade dos membros. Recentemente, o grupo teve mais uma baixa com o falecimento de Bob Casale em fevereiro de 2014, mas mantém suas atividades.

O Devo em 1979.

SIOUXSIE AND THE BANSHEES Um dos nomes mais cultuados do rock gótico, a banda foi formada em Londres em 1976 e liderada pela vocalista Siouxsie Sioux, cujo nome verdadeiro é Susan Janet Ballion. Além dela, a formação inicial contava com Steve Severin no baixo, Marco Pirroni na guitarra e Sid Vicious, que se tornaria baixista dos Sex Pistols, na bateria. Siouxsie e Steve se conheceram em um show do Roxy Music em 1975, quando o glam rock estava em alta. A primeira apresentação foi no Punk Festival, em 20 de setembro de 1976, ocorrido no 100 Club, em Londres, onde

eles tocaram apenas covers como “Twist and Shout” (originalmente de Phil Medley e Bert Russell, mas que ficou mais conhecida na versão dos Beatles), “Knockin’ on Heaven’s Door” (de Bob Dylan) e uma versão de cerca de vinte minutos de “The Lord’s Prayer”, o Pai-Nosso, que acabou agradando um dos assistentes de Malcolm McLaren, empresário dos Sex Pistols, que estava na plateia, rendendo-lhes um convite para abrir um show dos Pistols. A improvisação em cima da oração durou vinte minutos. O Siouxsie e Severin tiveram vários guitarristas que ficaram pouco no grupo, mas mesmo com os problemas com os integrantes, lançaram o primeiro single, Hong Kong Garden (1978), que logo chegou ao Top 10 da parada britânica. No mesmo ano saiu The Scream, aclamado pela crítica. A banda seguiu produzindo, e em 1979 trouxe Joy Hands, que ainda possuía características do punk. Kaleidoscope, de 1980, mostra canções mais trabalhadas, e Juju (1981) alcança o sétimo lugar nas paradas britânicas. O próximo álbum chega um pouco diferente: A Kiss in The Dreamhouse (1982) apresenta uma Siouxsie que canta de maneira bem mais suave. Há, então, um período dedicado a alguns projetos paralelos (Budgie e Siouxsie, The Creatures, The Glove) e em 1984 o grupo volta para as gravações de Hyaena. O trabalho seguinte, Tinderbox (1986), traz o sucesso “Cities in Dust”, que atinge o Top 100 norte-americano. Nesse ano eles também participaram do filme Chuva de Chumbo (1986), onde aparecem cantando essa música. Em 1987, surgiu Through The Looking Glass, um álbum só de covers, como “Hall of Mirrors”, do Kraftwerk, “The Passenger”, de Iggy Pop, e “You’re Lost Little Girl”, do The Doors. Peepshow (1988), Superstition (1991) e a segunda coletânea, Twice Upon A Time (1992) marcaram experimentações com sons mais pop e dançantes, incursões que aconteceram até 1995, quando veio The Rapture, produzido pelo ex-integrante do Velvet Underground, John Cale. No ano seguinte, a banda encerrou oficialmente suas atividades, com o comunicado: “Como a indústria musical prepara-se para reviver os primeiros anos do punk, quando confundiam os oportunistas com os protagonistas e assinavam contrato com qualquer coisa, como um alfinete de fralda que pudesse cuspir, Siouxsie and The Banshees gostariam de dizer ‘Obrigado e Adeus’”. Em 2002 eles tiveram uma breve reunião e lançaram um CD e um DVD chamados The Seven Year Itch, em referência aos anos em que ficaram separados. Siouxsie, em 1994, gravou um single com Morrissey, do The Smiths, chamado Interlude, e hoje em dia segue com sua carreira solo, tendo lançado o álbum Manta Ray (2007).

CAPÍTULO 9

DO GRUNGE AO NOVO MILÊNIO

A essa altura, já se passaram mais de cinquenta anos desde o nascimento do rock and roll. Ao longo deste livro, descrevemos os vários subgêneros e os principais fatos que marcaram a evolução desse ritmo tão rico. Não importa quanto tempo passe, o rock continua a se reinventar, e sempre haverá novas formas de manifestações sonoras para encantar, chocar e surpreender. Décadas se passaram e à medida que o final do século XX foi se aproximando, uma pergunta pairava no ar: como o rock poderia se reinventar sem perder suas características essenciais, principalmente levando em conta que gêneros como o eletrônico, o pop e derivações regionais estavam atraindo um público cada vez maior? A primeira resposta a essas dúvidas surgiu com o grunge. O GRUNGE Influenciado pela atitude punk dos anos 1970 e por movimentos underground norte-americanos de meados dos anos 1980, o grunge estourou entre o final dos anos 1980 e a primeira metade da década de 1990. Tornou-se o principal subgênero desse estilo musical no final do século XX. O movimento começou nos clubes e casas noturnas da cidade portuária de Seattle, localizada no estado norte- -americano de Washington, e hoje a cidade é quase sinônimo do estilo. Alguns de seus primeiros representantes são Green River, Soundgarden e Mudhoney, mas as bandas mais famosas do grunge são, sem dúvida alguma, Nirvana, Pearl Jam e Alice In Chains. “A década de 1990 marca o retorno ao lado mais básico do rock, do grunge flertando com o punk e os anos 1970, ou o britpop bebendo na fonte dos anos 1960; momento de redescobrimento de grandes ídolos que conheceram o fundo do poço na última década. Foi também época de novas fusões, do funk ao hip-hop, passando pelo eletrônico; década do surgimento de muitos novos subgêneros do rock.” – Rodrigo Branco

O SELO SUB POP Este selo foi tão importante para a década de 1990 quanto a Sun Records foi para a de 1950. Tudo começa ainda na década anterior, quando Bruce Pavitt inicia a produção de um fanzine (chamado Subterranean Pop) sobre o que estava acontecendo de novo e interessante na cena musical independente. A partir da quarta edição do fanzine, Pavitt começou a alternar a publicação impressa com fitas que incluíam músicas de várias bandas underground. O número 5, de 1982, vendeu cerca de duas mil cópias, o que lhe rendeu um dinheiro para continuar a publicação até o número 9. Em 1986, Pavitt se mudou para Seattle e lançou o vinil da primeira coletânea da Sub Pop, a Sub Pop 100, com canções de bandas como Sonic Youth, Naked Raygun, Wipers e Scratch Acid. Green River, uma das primeiras bandas de grunge (que mais tarde daria origem ao Pearl Jam), em 1987 lançaria um EP, Dry as A Bone, por esse novo selo. A publicidade da época do lançamento dizia que o EP era um “grunge ultrassolto que destruía as morais de toda uma geração”, segundo o site oficial do selo, ainda na ativa. As atividades seguiam adiante, e a empresa de Pavitt ganhou um sócio, Jonathan Poneman. A Pavitt cabia cuidar dos artistas, enquanto Poneman lidava com a parte burocrática do negócio, com ambos concordando que o selo deveria se concentrar no estilo de “rock direto e reto” que surgia. Os dois sócios haviam estudado vários selos independentes, da Motown à SST, e chegaram à conclusão de que cada movimento do rock possuía uma base regional. Assim, decidiram investir na sonoridade de Seattle para criar a imagem da Sub Pop, o que tornou a história do selo indissociável da trajetória do movimento. O “som de Seattle” foi desenvolvido com a colaboração do produtor Jack Endino, que produziu cerca de 75 singles, EPs e álbuns para o selo, entre 1987 e 1989. Poneman queria investir 20 mil dólares para lançar aquele que seria o single de estreia do Soundgarden, Hunted Down / Nothing to Say, seguido pelo EP Screaming Life. Logo eles conseguiram recursos para lançar também o primeiro single do Mudhoney, banda formada em 1988 por alguns ex-membros fundadores do Green River. Touch Me I’m Sick / Sweet Young Thing Ain’t Sweet No More (1988) foi lançado em formato vinil de sete polegadas, com uma primeira prensagem de apenas 800 cópias. A estratégia dos sócios – poucas cópias para gerar demanda – deu tão certo que foi copiada por gravadoras maiores. Em novembro de 1988 sai Love Buzz, a estreia do Nirvana. O lado A seria

depois incluso no álbum Bleach, do mesmo ano. Diferente do que alguns pensam, a faixa título “Love Buzz” (1969) não é uma canção original de Kurt Cobain, mas uma criação da banda holandesa Shocking Blue, formada um tempo antes, em 1967. O selo ia bem, mas agora os sócios pretendiam obter publicidade internacional. Para isso convidaram o jornalista britânico Everett True, da revista Melody Maker, para ir até Seattle e escrever um artigo sobre o panorama musical local. A estratégia deu certo, e a imprensa britânica logo se apaixonou pelo Sub Pop e pelo grunge. Com o crescimento das bandas, foi natural que começasse um movimento de êxodo. Assim aconteceu com o Nirvana, que assinou com a Geffen Records. Seus álbuns posteriores, no entanto, continuaram a sair com o selo da Sub Pop (permanecendo lá até as edições mais recentes) e as vendas do álbum Nevermind (1991) ajudaram, inclusive, a manter o selo por alguns anos. Pouco tempo depois, Pavitt e Poneman começaram a discordar sobre os rumos do selo: com Poneman querendo que se tornassem maiores, para assim faturarem mais, Pavitt desmanchou a sociedade em 1996. Sem a objeção de Pavitt, Poneman abriu filiais no mundo todo e investiu pesado em novos artistas, mas não encontrou o mesmo sucesso que tivera no início, e a marca voltou a se concentrar em Seattle, onde ainda funciona divulgando novos artistas. O SUCESSO DO NIRVANA O termo “grunge” significa sujeira ou imundície. A palavra ganhou fama principalmente na era de videoclipes da MTV. A princípio, o termo se referia ao visual dos músicos, de cabelo comprido e desgrenhado, mas acabou servindo também para caracterizar o som das guitarras distorcidas, evidenciadas pelo sucesso do single Smells Like Teen Spirit (1991), do Nirvana. A canção chegou ao sexto lugar das paradas da Billboard, sendo o maior sucesso da banda, que não conseguiu repetir o feito com canções posteriores. “Mesmo vinte anos depois, a morte de Kurt Cobain ainda causa espanto. Quando assisto ao show Unplugged, é como se ele tivesse sido gravado ontem. Apesar de ser uma apresentação linda, é muito triste ver o olhar de melancolia

do Kurt.” – Rosângela Alves A febre causada pelo Nirvana com o lançamento de Nevermind (1991) deu atenção para bandas como Pearl Jam e Alice In Chains, que já existiam na época do lançamento do disco e compartilhavam do mesmo estilo. O DECLÍNIO DO GRUNGE O suicídio de Kurt Cobain, em 1994, foi um momento definitivo na crise do grunge. O aclamado líder do Nirvana era uma figura muito importante para o movimento, e o grupo se separou logo depois. Outros acontecimentos, como a morte do vocalista do Alice In Chains, Layne Staley, e problemas com as turnês do Pearl Jam na segunda metade da década de 1990, contribuíram para o afastamento do público.

Show do Pearl Jam em Nova Orleans, Estados Unidos. Outro fator apontado é o surgimento do britpop, que afastou Seattle do centro das atenções e colocou no lugar grupos do Reino Unido, com bandas como Oasis e Blur. Houve ainda uma segunda onda de grupos com estilo similar, identificada como pós-grunge, e nessa categoria podemos encontrar bandas como Candlebox, Bush e mesmo o Foo Fighters, liderado por Dave Grohl, ex-baterista do Nirvana. O BRITPOP Diante do declínio do grunge, que havia sido agravado em 1994, todas as paradas de sucesso pareciam fadadas a serem dominadas pelo pop e o techno. Alguns fãs do rock se resignaram, concentrando-se em bandas do passado, sem ligar muito para as novidades. Mas elas estavam lá, e mais uma vez vinham novamente da Inglaterra. O britpop, ou british pop, é a denominação usada para se referir às bandas inglesas de rock formadas a partir da década de 1980, tais como Blur, Radiohead, Oasis, The Verve, Muse e Placebo. Apesar de serem muitas e de não possuírem uma grande característica unificante, é possível assinalar que a maior parte das bandas de britpop é conhecida por seu estilo de rock alternativo. O Blur surgiu em 1989, durante a progressão do “som de Seattle”. Vinham de Londres, no coração do Reino Unido. Já o Oasis surgiu em 1991, ainda no auge do grunge e dos clipes da MTV, com Nevermind dominando as paradas. Os dois grupos tiveram uma rivalidade bem menos amistosa da que existia entre os Beatles e os Rolling Stones. O Radiohead é também um grupo bastante representativo, e sua trajetória é uma boa expressão do que o gênero vivenciou no período das últimas duas décadas. O primeiro álbum do grupo, Pablo Honey (1993), traz faixas com riffs de guitarra que podem ser descritos como “uma versão mais bem- -educada do grunge”, mas que não se parecem em nada com o trabalho feito pelo grupo quatro anos depois, em OK Computer (1997), ou em Kid A (2000). Nesses dois álbuns, se verifica uma presença muito menor do uso de guitarras e uma clara influência da música eletrônica.

OS ANOS 2000 Outra banda que nunca teve problemas em se reinventar é o U2. Nos três álbuns que lançou na década de 1990 − Achtung Baby (1991), Zooropa (1993) e Pop (1997) −, os irlandeses mostraram referências tiradas do rock alternativo e da música eletrônica. A fase de maior experimentação encerrou-se com a década, em All That You Can’t Leave Behind (2000), que mostra uma banda madura, que sabe explorar as novas sonoridades, mescladas com o rock que a consagrou nos anos 1980, como provam todos os singles do disco (“Beautiful Day”, “Stuck In A Moment You Can’t Get Out Of”, “Elevation” e “Walk On”).

“Cheguei aos quarenta anos sem uma única ruga em minha face. Meu entusiasmo pela vida é muito maior hoje do que há vinte anos. Estou começando a acreditar que o ‘Boss’ Bruce Springsteen tinha razão quando disse: ‘O rock retarda o envelhecimento’. Acho que o rock and roll é meu ‘botox musical’!” –Titio Marco Antonio Se o U2 fechava a década de 1990 após ter vivido o melhor de sua exploração musical, logo na virada do milênio, em 2001, estoura uma banda de jovens de Nova York com uma sonoridade que remete a ícones do rock como Lou Reed. São os Strokes entrando em cena, aclamados pela mídia e aceitos pelo público como um caminho de volta às origens. Formada em 1998, a banda lançou cinco álbuns, entre 2001 e 2013, transitando entre o rock de garagem e o indie. No decorrer de sua curta trajetória, eles já demonstraram possuir influência de grupos bem distintos como o Velvet Underground, Pearl Jam, Beatles, Ramones, entre outros. Algumas bandas mais recentes, como Arctic Monkeys e The Kooks, afirmam que os dois primeiros álbuns dos Strokes, Is This It (2001) e Room On Fire (2003), são suas principais influências. Observar o sucesso dos Strokes é um bom ponto de partida se quisermos considerar os desdobramentos do rock no novo milênio. O rock é um movimento criado pela força do desejo de mudança da juventude, e ver novas bandas irem adiante com isso, construindo uma sonoridade atual a partir de referências já consideradas clássicas é, sem dúvida, um privilégio. NOVAS CLASSIFICAÇÕES Como comentado anteriormente, a maioria das bandas que surgiriam na década de 2000 traz em suas composições uma verdadeira mistura de estilos. Além dos Strokes, outros grupos que conquistaram a mídia e ganharam espaço no apertado meio fonográfico do novo milênio foram The Vines, The Hives, Yeah Yeah Yeahs, Interpol, Libertines e o White Stripes. Ainda é cedo para afirmar quais grupos conseguirão se firmar como clássicos, mas com certeza eles já fazem parte do repertório da geração atual.

Um contexto como esse, em que a variedade de influências e a liberdade de expressão são ainda mais amplas do que algum dia já foram, propicia a formação de diversas novas classificações de subgêneros, como as que seguem: Indie rock – A designação indie surgiu a partir da palavra “independente”, em referência à maneira como essas bandas divulgavam seu trabalho. Com o decorrer do tempo, a palavra passou a ser usada para identificar as características do som que essas bandas produziam. Esssa bandas são marcadas por uma retomada do pós-punk dos anos 1980, tendo, assim, como influências grupos como Joy Division, The Cure, Blondie, entre outros. Entram aqui bandas como The Hives, Franz Ferdinand, Bloc Party, Kaiser Chiefs, She Wants Revenge e Arctic Monkeys. “Quando todo mundo apostava no fim do rock, o mesmo que já vinha sendo anunciado há décadas, eis que novas ondas de revivals surgem, garantindo novo frescor. Ainda que os mais antigos torçam o nariz, bandas como Strokes, White Stripes, The Hives, Kings of Leon, e tantas outras, foram fundamentais para a continuidade do gênero.” – Rodrigo Branco Garage rock revival – Com acordes de guitarras distorcidas, o garage rock não está distante do indie rock por compartilhar de origens e propósitos afins. Entretanto, em termos de sonoridade e referências, o som produzido não resgata características do rock dos anos 1960 a 1980. Alguns exemplos do estilo são: The Vines, The White Stripes, Billy Childish and The Buff Medways, The (International) Noise Conspiracy, Black Rebel Motorcycle Club, Yeah Yeah Yeahs, Black Keys, Interpol e Kings of Leon. Dance punk – Também chamado de disco punk, é uma espécie de rock indie com mais influências do punk. Nomes associados: The Faint, Radio 4, LCD Soundsystem, Klaxons, Shitdisco e The Rapture. Stoner rock – Com guitarras mais pesadas, é um ritmo que traz influências do psicodelismo, portanto mais setentista, com traços do blues e riffs bem marcantes. Importantes representantes são: Queens of the Stone Age,

Death From Above 1979, Wolfmother e Fu Manchu. GRANDES NOMES PEARL JAM Formada em 1990, é uma das bandas mais associadas ao movimento grunge e um símbolo de resistência do estilo até os dias atuais. Stone Gossard e Jeff Ament eram membros da Green River, uma das pioneiras do subgênero. Foi com esse grupo que eles obtiveram moderado sucesso, mas que teve seu fim em 1987. Gossard e Ament começaram a se apresentar com Andrew Wood, vocalista do Malfunkshun, e juntos formaram a Mother Love Bone, que atraiu um número cada vez maior de seguidores entre 1988 e 1989. Isso chamou também a atenção da gravadora PolyGram, que se interessou pela banda, mas só lançou Apple, o álbum de estreia do grupo, em 1990, depois da morte de Wood em decorrência de uma overdose de heroína aos 24 anos. Gossard passou a trabalhar em um material com uma sonoridade mais pesada do que vinha fazendo, e junto a Ament começou a trabalhar com o guitarrista Mike McCready. Os três ensaiaram por algum tempo e saíram em busca de um vocalista e um baterista. Entra então em cena Eddie Vedder, que ouvira a fita demo feita pelo trio. Vedder gravou os vocais de três das cinco músicas (“Alive”, “Once” e “Footsteps”) e mandou o resultado para os músicos, que o trouxeram a Seattle para um teste e, por fim, decidiram aceitá-lo como novo integrante do grupo. Nesse meio tempo, em 1990, o vocalista do Soundgarden, Chris Cornell, pediu a Ament e Gossard que o ajudassem com uma composição sua em tributo a Andrew Wood, “Say Hello 2 Heaven”, que seria lançada como single. Com McCready, Vedder e Matt Cameron (baterista do Soundgarden), organizaram o disco Temple of The Dog, que foi lançado no final daquele ano, e cuja canção mais famosa é o dueto entre Cornell e Vedder (“Hunger Strike”). Terminado o tributo, o embrião do Pearl Jam se apresentou como Mookie Blaylock (nome de um jogador de basquete) no café Off Ramp, em Seattle, em outubro de 1990. O nome foi alterado devido a problemas com direitos autorais de marca registrada, e no lugar foi escolhido Pearl Jam, que segundo Vedder é uma homenagem à geleia de peiote, um tipo de cacto alucinógeno, feita por sua avó, Pearl. Essa história, no entanto, seria desmentida pelo próprio cantor em uma entrevista à Rolling Stone, em

2006. A nova versão e oficial conta algo bem mais simples: Ament sugeriu “Pearl” e os demais completaram o nome com “Jam” depois de assistirem a um show de Neil Young com muitas jam sessions, com improvisações entre quinze e vinte minutos em média. Ten, o álbum de estreia, foi gravado no ano seguinte e obteve sucesso imediato. Na segunda metade de 1992, o álbum já tinha chegado a disco de ouro. “Alive”, “Even Flow” e “Jeremy”, os singles, mantiveram o álbum na lista dos mais vendidos da Billboard por pelo menos mais dois anos. Nessa época o grupo participou dos programas Saturday Night Live e MTV Unplugged, além de tocar no festival Lollapalooza. Também naquele ano saíram duas canções, “State of Love and Trust” e “Breath”, que entraram na trilha sonora do filme Singles, de Cameron Crowe. Depois dessa fase inicial, o grupo continuou colecionando sucessos, com os álbuns Vs. (1993), Vitalogy (1994), No Code (1996) e Yield (1998). Em 2000 saiu Binatural, o primeiro desde a volta de Matt Cameron para a banda, em 1998. O trabalho continha letras de Gossard, que ele mesmo considerou sombrias demais, o que se refletiu nas vendas: foi o primeiro álbum do grupo que não conquistou um disco de platina. No mesmo ano, saíram em uma turnê que terminou tragicamente, no festival de Roskilde, Dinamarca: nove fãs morreram pisoteados na plateia. Os organizadores do evento tentaram fazer com que a banda parasse de tocar, mas era tarde demais. O resto da turnê foi cancelado e o grupo foi responsabilizado pelo acidente, mas se livrou da acusação algum tempo depois. No ano seguinte, Vedder e McCready se juntaram a Neil Young para tocar “Long Road” no concerto beneficente America: A Tribute to Heroes, evento que ocorreu em 21 de setembro para levantar fundos para as famílias das vítimas do 11 de setembro. Logo depois, uma troca de gravadora e o lançamento do selo próprio, Monkeywrench Records (distribuído pela Universal), marcaram uma nova fase para o grupo. Uma edição especial de Ten foi lançada em 2009, com faixas extras e nova mixagem. Vedder ainda teve a oportunidade de se apresentar com os membros restantes do The Doors quando o grupo foi introduzido no Hall da Fama do Rock and Roll, em 1993. Ele também lançou dois álbuns solo, Into The Wild (2007), trilha sonora do filme Na natureza selvagem, e Ukulele Songs (2011). O Pearl Jam ainda segue ativo, e recentemente lançou seu décimo álbum, Lightning Bolt, em 2013. NIRVANA

Formado em 1987 por Kurt Cobain (vocais e guitarra) e Krist Novoselic (baixo), em Aberdeen, Washington, o Nirvana tornou-se um ícone da última década do século XX. O baterista Dave Grohl só se juntou ao grupo em 1990, permanecendo com os dois integrantes fundadores até o fim da banda, em 1994.

Kurt Cobain, líder do Nirvana. No início, Cobain e Novoselic, que se conheceram no colégio, tocavam com o baterista Aaron Burckhard. Nessa época não tinham ainda decidido como chamar a banda, e mudaram seu nome várias vezes antes de batizála da maneira como ficaria mundialmente conhecida: Nirvana. “Queria um nome que fosse bonito e agradável em vez de um nome punk vulgar e obsceno”, disse Kurt Cobain para a Rolling Stone em 1994. As primeiras demos foram gravadas em 1988, época em que os dois fundadores tiveram diversos problemas com os bateristas. No mesmo ano lançaram o single Love Buzz e o primeiro álbum, Bleach (1989). O disco fez muito sucesso um ano depois em rádios universitárias, e o grupo partiu em

sua primeira turnê pelos Estados Unidos. Embora o selo Sub Pop não tenha feito uma grande campanha de divulgação, o álbum vendeu cerca de 40 mil cópias. No ano seguinte, lançam o EP Blew, e Kim Gordon, do Sonic Youth, recomenda que o grupo assine um contrato com a DGC Records, de David Geffen. A nova gravadora esperava vender 250 mil cópias de Nevermind (1991), o mesmo número que alcançara com o álbum Goo, da banda de Kim Gordon. Mas quando “Smells Like Teen Spirit” foi lançada, viram que o material seria ainda mais popular do que tinham imaginado. Em janeiro de 1992, Nevermind alcança o primeiro lugar das paradas, superando Dangerous, de Michael Jackson, com 30 milhões de cópias vendidas. Dois meses depois, Cobain alterou a divisão dos direitos de composição do grupo, que até então eram compartilhados igualmente. Grohl e Novoselic não se opuseram ao pedido do companheiro de banda, já que realmente tinha sido ele quem escrevera a maior parte do material novo. Cobain, no entanto, quis ir além e sugeriu que o acordo incluísse também materiais antigos, evento que marcou o início dos desentendimentos na banda. O vocalista acabou com uma parcela de quase 75% dos direitos autorais, e já era possível sentir os ressentimentos. Rumores sobre uma possível separação da banda começaram a surgir. A carreira do grupo seguiu com uma apresentação memorável no Reading Festival, em 1992, e com a participação no MTV Video Music Awards, onde foram proibidos de tocar “Rape Me”. Em dezembro do mesmo ano saiu a coletânea Incesticide, trazendo gravações raras, muitas delas da época do Sub Pop. Como acabara de ser lançado mais um single, In Bloom, a DGC não promoveu o álbum da maneira como havia feito com Nevermind, o que, mesmo assim, não impediu que o material se tornasse disco de ouro em fevereiro do ano seguinte. No primeiro semestre de 1993, o Nirvana entrou em estúdio para criar In Utero, gravado e mixado em apenas duas semanas. A gravadora, entretanto, considerou o álbum “não comerciável”, e os fãs começaram a temer que a empresa pudesse comprometer a visão do grupo. Contrariando os receios da DGC, o álbum estreou em primeiro lugar na Billboard em setembro daquele ano e vendeu 4 milhões de cópias somente nos Estados Unidos. Ainda neste ano, em novembro, foi gravado o programa MTV Unplugged, que teve bastante sucesso. No começo de 1994, Cobain concorda em se internar para tratar seu vício em heroína, e por isso o restante da turnê que faziam foi cancelada. Kurt,

porém, foge da clínica e, uma semana depois, em 8 de abril de 1994, é encontrado morto ao lado de uma espingarda em sua casa, em Seattle. O grupo acabou pouco tempo depois, embora tanto Novoselic quanto Grohl tenham continuado suas carreiras. Dave Grohl formou e lançou o primeiro disco do Foo Fighters em 1995, e participa como baterista das bandas Them Crooked Vultures e Queens of the Stone Age. Novoselic fez trabalhos com Sweet 75, Eyes Adrift (com Curt Kirkwood, do Meat Puppets, e Bud Gaugh, do Sublime) e No WTO Combo (com Kim Thayil, do Soundgarden, e Jello Biafra, do Dead Kennedys). Em dezembro de 2012, os dois se apresentaram juntos num show pelas vítimas do furacão Sandy, ao lado de Paul McCartney. ALICE IN CHAINS Formada em 1987 pelo vocalista Layne Staley e pelo guitarrista Jerry Cantrell, o grupo mais reticente em se considerar grunge reúne em seu repertório elementos de heavy metal e hard rock, garantindo um resultado interessante. Os dois que viriam a ser os mentores do grupo haviam se conhecido no mesmo ano, em uma festa, e não demorou para Staley levar Cantrell para morar com ele em sua casa: “um estúdio de ensaios sujo e cheirando a urina, chamado Music Bank, localizado em um armazém”, segundo lembrou Cantrell no artigo “Alice In Chains: The Story”, do site Metromix. O baixista Mike Starr era conhecido de Jerry e já tocara em outras bandas do mesmo estilo. Com ele veio o baterista Sean Kinney. Cantrell disse à RIP Magazine, em 1993, que a intenção era apenas “formar uma banda, escrever umas canções e tocar em alguns clubes para conseguirmos cerveja e mulheres”. Mas logo a química começou a funcionar e os objetivos mudaram. No ano seguinte batizaram o grupo, tendo como inspiração uma antiga banda de Staley, chamada Alice n’ Chains. Começaram a gravar algumas demos, que mais tarde apareceriam no primeiro álbum do grupo. Apresentaram-se em bares e clubes, e tentaram gravar seu álbum de maneira independente e distribuí-lo localmente. Antes de assinarem o contrato com a Columbia Records, gravaram o EP We Die Young (1990), com as faixas “It Ain’t Like That” e “Killing Yourself”. As duas primeiras apareceriam no álbum de estreia Facelift, de 1990. Com o sucesso moderado de We Die Young, Facelift foi bem recebido pelo público, o que deu à banda a chance de excursionar com Iggy Pop no final do ano, quando apresentaram as canções “Dirt” e “Rooster” (ambas do

segundo álbum, Dirt, de 1992). O concerto lotado daquele ano, no The Moore Theatre, em Seattle, é gravado e se torna o primeiro vídeo do grupo a ser lançado, chamado Live Facelift. “Man in The Box”, o hit do álbum, mantém- -se nas paradas por 26 semanas até chegar ao Top 20, e o grupo conquista um lugar como banda de apoio de nomes como Extreme e Megadeth. Pouco depois, Facelift se tornaria disco de ouro. Após o lançamento de Dirt, a banda excursiona com Ozzy Osbourne por três meses, além de tocar no festival brasileiro Hollywood Rock, em janeiro de 1993. Depois desse agitado período, Mike Starr abandona a banda por não aguentar mais fazer turnês. O ex-baixista da banda morreu em 2011, vítima de uma overdose de remédios. Depois de sua saída, Mike Inez, exbaixista do Ozzy, entra no grupo, que vai tocar com o Screaming Trees na Europa. O sucesso e reconhecimento contemplam também o álbum Dirt, que alcança a marca dos quatro discos de platina. Em setembro de 1993, o grupo grava um EP, Jar of Flies, que saiu em 1994 e alcançou o primeiro lugar da Billboard. Depois de um tempo ausente, Staley voltou a aparecer num projeto paralelo chamado Mad Season, com Mike McCready (do Pearl Jam), Barret Martin (do Screaming Trees) e Baker Saunders (do Lamont Cranston), que resultou no álbum Above, lançado em março de 1995. No mês seguinte o Alice In Chains entra em estúdio para gravar um álbum homônimo, que trouxe uma capa polêmica, com um cachorro de três pernas, fazendo com que o álbum fosse censurado no Japão. Sem turnês de divulgação, os boatos sobre a separação do grupo começam a aparecer. Mas em maio de 1996, o grupo se apresenta no MTV Unplugged e volta aos palcos para abrir os shows do retorno do Kiss. Coletâneas de estúdio e de material ao vivo se seguiram e marcaram os mais de dez anos de carreira do grupo. É quando os problemas de Staley com as drogas começam a aparecer com mais destaque, levando muitos a temerem pelo pior. Dessa vez, os medos se confirmam e, em abril de 2002, Layne Staley é encontrado morto em sua casa, vítima de uma overdose de heroína. Cantrell gravou alguns álbuns solo, trabalhou com Ozzy Osbourne (no álbum Under Cover, de 2005) e fez participações em algumas trilhas sonoras antes de se reunir com os membros restantes do grupo, em 2005. A ocasião era um concerto beneficente no Premiere Club, em Seattle, que arrecadou fundos para as vítimas do tsunami de 2004. Para o lugar de Staley foi escolhido o ex-vocalista da banda de heavy metal Comes With The Fall, William DuVall. Eles primeiro gravaram Black Gives Way to Blue,

de 2009. Em 2013, foi lançado o novo álbum, The Devil Put Dinosaurs Here, o segundo que reúne integrantes originais do grupo com o novo vocalista. SOUNDGARDEN A primeira banda do estilo a assinar com uma grande gravadora teve sua origem em 1984, com Chris Cornell (guitarra e vocais) e Hiro Yamamoto (baixo). A eles se juntou o guitarrista Kim Thayil, que havia se mudado há pouco tempo para Seattle, com Yamamoto e Bruce Pavitt, que iniciaria o selo Sub Pop. O nome da banda surgiu depois de verem uma escultura de tubos que canalizava o vento no parque Magnuson. A escultura se chamava “The Sound Garden”. No começo, Cornell cantava e tocava bateria, mas logo o grupo conseguiu um baterista, Scott Sundquist, o que permitiu que o vocalista se concentrasse mais em sua tarefa. As primeiras gravações apareceram numa coletânea para a C/Z Records, chamada Deep Six, que trazia canções de outros grupos, como Green River, Malfunkshun e The Melvins. Sundquist era casado e tinha filhos, e por causa da família retirou-se da banda em 1986, o que possibilitou a Cornell e aos demais trazer Matt Cameron, na época com outra banda, Skin Yard. Logo os quatro começaram a trabalhar no EP Screaming Life (1987) na Sub Pop, com um single (Hunted Down, cuja cópia hoje em dia pode chegar a valer mais de cem dólares). O segundo EP, Fopp, do qual foram produzidas apenas 3 mil cópias, tinha apenas uma canção original, sendo as demais releituras e remixes. Em 1990, os dois EPs seriam relançados unificados pelo selo Sub Pop. A essa altura, a banda conquistara o interesse da gravadora A&M, mas como queria continuar no circuito alternativo, assinou com a SST para lançar o primeiro álbum, Ultramega OK. A persistência da A&M, no entanto, foi maior e o grupo cedeu, assinando o contrato no mesmo ano. Louder Than Love (de 1989, e cujo título original era Louder Than Fuck) foi o primeiro a sair pela nova gravadora. No mesmo ano, Yamamoto deixou o grupo para se dedicar à carreira acadêmica. Após dois anos, Badmotorfinger trouxe sucessos como “Outshined” e “Rusty Cage”, que renderam ao grupo o primeiro disco de platina. No final do mesmo ano, o grupo iniciou uma turnê com o Guns N’ Roses pelos Estados Unidos e Canadá. Já em 1992, Badmotorfinger foi indicado para um Grammy na categoria de Melhor Performance de Metal, e o grupo ainda participou de eventos beneficentes como o No Alternative Compilation, em prol do desenvolvimento de uma cura para a AIDS.

O próximo álbum, Superunknown, foi gravado em 1993 e lançado no ano seguinte. Foi o maior sucesso comercial do grupo, com destaques para as faixas “Black Hole Sun”, “Spoonman”, “The Day I Tried to Live”, “Fell on Black Days” e “My Wave”, todas lançadas como singles. O trabalho rendeu ainda dois Grammys em 1995 e foi indicado para melhor álbum de rock. Em 2003, a Rolling Stone o colocou na posição número 336 de sua lista dos 500 Melhores Álbuns de Todos os Tempos. Down on the Upside (1996) foi produzido pela própria banda, e embora não tivesse repetido o sucesso comercial do anterior, recebeu críticas positivas e deu origam a singles de sucesso como “Blow Up The Outside”, “Burden In My Hand” e “Pretty Noose”. Nessa época, várias tensões já existiam no grupo, a ponto de, em um show em Honolulu, no Havaí, Ben Shephers jogar o baixo para o alto após uma falha de equipamento. O fim foi anunciado em 1997 e uma coletânea dos maiores sucessos saiu no mesmo ano. A banda voltou em 2012 com King Animal, o sexto álbum, e o primeiro após uma longa pausa de dezesseis anos. Em paralelo, Cornell seguiu em sua carreira solo com Euphoria Morning (1999), seguido de mais três álbuns (Carry On, de 2007, Scream, de 2009 e Songbook, de 2011). Em 2001, juntou-se aos demais integrantes do Rage Against The Machine para formar o supergrupo Audioslave. O grupo gravou apenas três álbuns de estúdio, mas contavam com nada menos que duas grandes gravadoras por trás (Universal e Sony), e tentavam mesclar as equipes que já cuidavam da carreira do Rage Against The Machine e da carreira solo de Cornell. Já o baterista Matt Cameron tentou montar um grupo chamado Wellwater Conspiracy, com participações de Shepherd e Thayil, além de ter trabalhado por algum tempo com o Smashing Pumpkins, até ocupar o lugar de baterista no Pearl Jam, em 1998. Thayil juntou-se com o ex-vocalista do Dead Kennedys, Jello Biafra, o ex-baixista do Nirvana, Krist Novoselic, e a baterista Gina Mainwal para um concerto, com o nome de No WTO Combo, durante a conferência ministral do World Trade Organization em dezembro de 1999, entre outras colaborações de menor repercussão. Shepherd, por sua vez, tocou com Mark Lanegan e lançou o segundo álbum do Hater em 2005, além de regularmente contribuir com os álbuns do grupo de Cameron. Inclusive em 2010, quando Cornell voltou com o Soundgarden, Cameron permaneceu como baterista das duas bandas.

Show dos Strokes em Mountain View, Estados Unidos.

THE STROKES Formada em 1998, na cidade de Nova York, por Julian Casablancas (vocais), Nikolai Fraiture (baixo), Nick Valensi (guitarra solo), Fabrizio Moretti (bateria) e Albert Hammond Jr. (guitarra base e teclado), The Strokes é uma banda que alterou o rumo do rock da década de 2000. Alcançando um enorme sucesso de público e de crítica em uma época em que bandas e gravadoras estavam apenas aprendendo a lidar com a concorrência da internet, o grupo trouxe de volta a energia do rock de garagem, com influências como Velvet Underground, Guns N’ Roses, Ramones e Blondie. A estreia da banda ocorreu de maneira estrondosa com o EP The Modern Age (2001), que provocou uma disputa entre as gravadoras – todas queriam agenciar a nova banda. O grupo acabou assinando com a RCA e no

mesmo ano lançou seu primeiro disco, Is This It (2001), que foi considerado pela revista Rolling Stone o oitavo Melhor Álbum de Estreia de Todos os Tempos, além de ter ocupado o número 199 na lista dos 500 Melhores Discos de Todos os Tempos, da mesma revista. O segundo álbum, Room on Fire (2003), também foi bem recebido e teve um bom número de vendas, mas não causou tanto impacto quanto o disco de estreia. A banda então faria uma pausa de três anos até o lançamento de First Impressions of Earth (2006), seu terceiro álbum, que trouxe hits como “You Only Live Once”, “Heart in A Cage” e “Juicebox”. Em janeiro de 2009, os integrantes do grupo começaram a compor músicas para o quarto trabalho da banda. Angles foi lançado oficialmente no dia 22 de março de 2011, tendo como primeiro single Under Cover of Darkness. O disco diferencia-se dos outros álbuns da banda na sonoridade, mas manteve a fama de inovação dos Strokes. Já o mais recente, Come Down Machine (2013), veio para provar que, mesmo uma década depois do primeiro lançamento, a banda ainda tem fôlego para muitos anos de estrada. FRANZ FERDINAND A banda escocesa foi formada em 2002 e composta por Alex Kapranos (vocal e guitarra), Bob Hardy (baixo), Nick McCarthy (guitarra base, teclado e vocal de apoio) e Paul Thomson (bateria, percussão e vocal de apoio). O primeiro single do grupo foi Darts of Pleasure, lançado em 2003, e chegou ao 43º lugar nas paradas britânicas. Em janeiro do ano seguinte, o grupo gravou seu álbum de estreia, que levava o nome da banda. O single Take Me Out chegou ao terceiro lugar das paradas e o álbum alcançou a mesma colocação em fevereiro. O sucesso acompanhou também o clipe de “Take Me Out”, que fez sucesso na MTV, assim como o álbum, que chegou a alcançar a posição 32 na Billboard e a vender mais de um milhão de cópias. Foi considerada uma das grandes revelações do cenário musical em 2004, vencendo o Mercury Music Prize, importante prêmio criado em 1992, que destaca o melhor da música do Reino Unido ou da República da Irlanda.

Show do Franz Ferdinand em 2005. Em 2005, trabalharam em seu segundo álbum, You Could Have It So Much Better, com capa inspirada no retrato do artista plástico Alexander Rodchenko, de 1924. Dele saíram quatro hits: “Do You Want To”, “Walk Away”, “The Fallen” e “Eleanor Put Your Boots On”. O ano de 2009 marcou as gravações em estúdio do terceiro álbum, Tonight: Franz Ferdinand. A gravação acontecera em Glasgow, e já vinha sendo registrada durante o verão de 2007. Em janeiro saiu o primeiro single desse trabalho, Ulysses, e o álbum quando lançado chegou ao 20º lugar nos Estados Unidos, ao segundo na parada britânica, e ao nono na Billboard. O segundo single, No You Girls, foi apresentado em edição especial do tradicional programa britânico Top of the Pops. O álbum mais recente do grupo é Right Thoughts, Right Words, Right Action, lançado em 2013.

Thom Yorke, vocalista do Radiohead.

RADIOHEAD Formada em 1985 por Thom Yorke (vocais, guitarra e piano), Jonny Greenwood (guitarra), Ed O’Brien (guitarra), Colin Greenwood (baixo e sintetizador) e Phil Selway (bateria e percussão), o Radiohead é um grupo que divergiu das tendências grunges da década de 1990 e manteve o estilo alternativo nas década seguintes. O primeiro single do grupo, Creep, foi lançado em 1992, e, embora não tenha feito sucesso em um primeiro momento, a música estourou após o aparecimento do primeiro álbum de estúdio do grupo, Pablo Honey (1993), que se tornou um dos ícones da banda e da própria trajetória musical da década de 1990. Já o segundo lançamento, The Bends (1995), foi responsável pela consolidação da carreira do grupo, que conquistava críticos e fãs no Reino Unido. Até aquele momento, eles soavam entre o som sujo do Nirvana e a pegada pop de outras bandas. O sucesso mundial, no entanto, só chegaria com OK Computer, de 1997, que marca uma mudança na sonoridade da banda, com muitas experimentações sonoras e temas existencialistas. Kid A (2000) e Amnesiac (2001) são outros álbuns que trouxeram mudanças, ao incorporar elementos de jazz e música eletrônica. Essa constante capacidade de se reinventar do Radiohead foi celebrada em Hail to the Thief (2003), que mescla os vários estilos já explorados pela banda em trabalhos anteriores. Após esse lançamento, a banda rompeu com a gravadora EMI e lançou digitalmente In Rainbws (2007), o sétimo álbum de estúdio da banda. O álbum não tinha um preço fixo, e cada fã poderia baixá-lo pagando pelo disco a quantia que achasse justa – podendo, inclusive, baixá-lo de graça, de maneira oficial. O álbum seguinte, The King of Limbs (2011), foi lançando nas versões física e digital e contava com um preço fixo. “A última década viu a consolidação de nomes que surgiram na virada do milênio e pareciam ser “fogo de palha”. Bandas que antes eram novatas, “coisa de adolescentes”, agora tinham o respeito de público e crítica.

Serviram para manter a chama do rock viva, para renovar o público e trazer novos ares e esperanças, enquanto os grandes nomes do passado continuam maiores que nunca. Jamais se viu shows tão concorridos, tanto público para o rock. Se a venda de discos quase acabou anos atrás, hoje ela volta a dar sinal de vida, e nunca as novas bandas tiveram tanto espaço como agora, com a internet e as novas mídias.” – Rodrigo Branco

CAPÍTULO 10

BR 102

Já falamos do Sepultura no capítulo 5, mas o rock brasileiro vai muito além. O estilo que começou com covers de músicas americanas rapidamente evoluiu e ganhou personalidade própria, fazendo o rock brasileiro não só importante, mas também único. Possuímos uma grande variedade de artistas com amplo conhecimento técnico e talento musical, além de verdadeiros poetas, como Raul Seixas, Renato Russo e Cazuza. Assim, o rock nacional também é muito particular. Enquanto os anos 1990 lá fora foram claramente marcados pelo grunge e pelo rock alternativo, o rock nacional se ramificou de inúmeras maneiras que ainda não foram totalmente compreendidas. Por causa disso, o classic rock brasileiro ainda se concentra até o final da década de 1980. Decidimos levar isso em conta, e é a história dos grupos que se destacaram até esse período que contaremos agora. GÊNESE O auge de popularidade do rock brasileiro só aconteceria na década de 1980, quando a grande mídia se rendeu às bandas mais conhecidas, mas os primeiros passos do estilo foram dados mais de vinte anos antes, no final da década de 1950. Em 1955, a cantora de samba-canção Nora Ney gravou a canção “Rock Around The Clock”, de Bill Haley & His Comets, para a versão nacional do filme Sementes da violência. Embora a cantora nunca mais tenha gravado outra música do gênero, a canção ficou em primeiro lugar nas paradas – mesmo sem ter uma única palavra em português. A primeira canção nacional de rock surgiu em 1957. Trata-se de “Rock and roll em Copacabana”, gravada por Cauby Peixoto. No mesmo ano surgiu Betinho & Seu Conjunto, com a música “Enrolando o rock”, mas os primeiros ídolos de rock nacional foram mesmo os irmãos Tony e Celly Campello, que lançaram em 1958 Handsome Boy, single que vendeu cerca de 38 mil cópias. Tony gravou outros dois singles e um álbum em 1959, chamado apenas Tony Campello, enquanto Celly estourou no mesmo ano com Estúpido cupido (que teve cerca de 120 mil cópias vendidas). O sucesso levou a cantora a lançar sua própria boneca, registrada mais tarde na capa do álbum A bonequinha que canta, de 1960. “Em minha opinião, o rock brasileiro é tão importante quanto o feito nos EUA ou na Inglaterra. Sempre ouvi e

valorizei nossas bandas, buscando conhecer os pioneiros do estilo, muito antes do rock de Brasília e da Geração 80, dos quais também gosto muito. Mas não se pode esquecer jamais da genialidade dos Mutantes, que em plena década de 1960 fundiram do rock básico ao progressivo, com a musicalidade brasileira. O mesmo fez Raul Seixas na década seguinte, quando tivemos por aqui autênticos representantes do rock progressivo, do heavy rock e, posteriormente, do punk e do metal.” – Rodrigo Branco Os anos 1960 marcaram o surgimento de grupos como The Jet Black’s, The Jordans e The Clevers (que depois passaria a se chamar Os Incríveis), além de talentos como o cantor Ronnie Cord, que lançou os dois primeiros hinos do rock nacional: “Biquíni de Bolinha Amarelinha” (1961) e “Rua Augusta” (1963). Neste mesmo ano, Roberto Carlos emplacou os sucessos “Splish Splash” e “Parei na contramão”. No ano seguinte, o disco É proibido fumar também alcançou as paradas com a faixa-título e a música “O calhambeque”. Foi também em 1965 que a Record lançou o programa Jovem Guarda, que consagrou Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa. Os Beatles inspiraram nomes da Jovem Guarda, como Renato e seus Blue Caps, Golden Boys, Jerry Adriani, Eduardo Araújo e Ronnie Von. Curiosamente, o sucesso do rock nacional chegou a incomodar nomes da MPB como Elis Regina e Jair Rodrigues, que protestaram num evento conhecido como “Marcha contra a Guitarra Elétrica”, em 17 de julho de 1967. Pouco depois, o programa Jovem Guarda terminou com a saída de Roberto. Mesmo assim, alguns nomes mais consagrados da MPB acabaram por flertar com o rock. Quando Os Mutantes, grupo formado por Rita Lee, Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, surgiu em 1966, já era possível verificar a mistura de influências norte-americanas com a musicalidade brasileira. No ano seguinte, o lançamento de Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, oitavo álbum dos Beatles, inspirou a criação do álbum coletivo Tropicália ou Panis et Circencis, com participações de Os Mutantes, Gal Costa, Tom Zé, Torquato Neto, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Rogério Duprat, Nara Leão, entre outros. O tropicalismo foi um movimento cultural que surgiu

influenciado pelas correntes artísticas de vanguarda e da cultura pop nacional e estrangeira, e tinha como característica misturar traços da cultura brasileira com inovações estéticas radicais. Os Mutantes e outros artistas do álbum Tropicália ou Panis et Circencis se tornaram expoentes da MPB tropicalista.

DÉCADA DE 1970 – A EVOLUÇÃO DO RO CK BRASILEIRO Na década de 1970, Rita Lee iniciou sua bem-sucedida carreira com o grupo Tutti Frutti. Surge o Secos & Molhados, grupo formado por João Ricardo, Gerson Conrad e Ney Matogrosso. Em 1973, Raul Seixas lança seu primeiro grande sucesso, a música “Ouro de tolo”. Luíz Carlos Pereira de Sá, José Rodrigues Trindade, o Rodrix, e Guttemberg Nery Guarabyra Filho formavam o trio Sá, Rodrix & Guarabyra. O grupo lançou dois discos, Passado, presente & futuro (1972) e Terra (1973), antes da saída de Rodrix, em 1973. O trio era dono de um estilo muito próprio que ficou conhecido como rock rural, mesclando características do estilo norte-americano com a música caipira, elemento típico da cultura brasileira. Depois da saída de Rodrix a agora dupla passou a se chamar apenas Sá & Guarabyra, e fez sucesso até a década de 1980 com músicas como “Dona” e “Verdades e mentiras”. As duas músicas fizeram parte da trilha sonora da novela Roque Santeiro, da Rede Globo (1985), apesar de “Dona” ter sido gravada pelo grupo Roupa Nova para a ocasião. Zé Rodrix voltou a colaborar com os ex-companheiros em 2001, e o trio permaneceu na ativa até 2009. Enquanto isso, o circuito alternativo fazia sucesso na época com grupos como O Terço, Made in Brazil, Patrulha do Espaço e Casa das Máquinas.

Formada em 1968, O Terço é uma banda de classic rock que, como várias outras bandas do período, teve múltiplas formações, sendo o guitarrista Sérgio Hinds o único membro que sempre fez parte do grupo. Em 1972, o grupo começa a absorver influências do rock rural, participando do disco Nunca (1974), de Sá & Guarabyra. Em 1976, lança Casa encantada, que possui a música “Pássaro”, um cover da dupla de rock rural. Em 1977, o tecladista Flávio Venturini sai da banda para realizar um projeto com Beto Guedes, e em 1978, Sérgio Hinds sofre um acidente que o deixaria afastado dos palcos por muito tempo. Esses acontecimentos levaram ao primeiro fim da banda. Alguns ex-integrantes do grupo partiram em carreira solo, enquanto outros se juntaram para formar outra bem-sucedida banda de rock: o 14 Bis. O Terço, no entanto, voltou a se apresentar com outras formações nas décadas seguintes, mas seu retorno definitivo aconteceu em 2001. O Made in Brazil foi formado em 1967, pelos irmãos Oswaldo e Celso Vecchione, no bairro da Pompeia, em São Paulo. O grupo continua na ativa até hoje e coleciona treze álbuns e uma menção no Guinness, o livro dos records, por ser a banda em atividade com o maior número de formações no mundo: o Made in Brazil já teve mais de duzentas formações ao longo da

carreira. Na formação original, além dos irmãos Vecchione, estavam também o vocalista Cornélius Lucifer e o baterista Rolando Castello Junior. Na verdade, Rolando só participaria mesmo do disco Made in Brazil (1974). Em 1977, ele formaria o grupo Patrulha do Espaço, com Arnaldo Baptista, ex-Mutantes, Oswaldo “Kokinho” Gennari e o guitarrista John Flavin, irlandês que já havia tocado com o Secos & Molhados. O nome do grupo foi inspirado no subtítulo da música “Honky Tonky”, lançada por Arnaldo Baptista no disco Lóki? (1974), após sua saída dos Mutantes. Mas apesar de ter ajudado a batizar o grupo, a participação do músico na banda ocorreu apenas até 1978, sendo substituído por Percy Weiss. A banda então gravou o primeiro disco independente da história do rock no Brasil, que ficou conhecido como Disco Preto (1978). A Patrulha continuou a fazer sucesso durante toda a década de 1980, quando lançaram ao todo sete discos e dois singles. O grupo chegou inclusive a abrir para o Van Halen em 1983. Outra importante banda de rock brasileiro da década de 1970, a Casa das Máquinas iniciou suas atividades em 1973, fazendo um som mais próximo do hard rock. O primeiro disco, homônimo, foi lançado em 1974. Em 1976 o grupo gravou um show nos estúdios da TV Tupi. A apresentação sofreu censura e nunca foi ao ar, tudo por causa das roupas chamativas dos integrantes e dos movimentos no mínimo esquisitos do vocalista Simbas. Nesse mesmo ano, lançam o terceiro disco do grupo, Casa de Rock, com mais elementos de classic rock, e gravam um videoclipe para a faixa-título, que chegou a ser transmitido no programa Fantástico, da Rede Globo. O grupo chegou ao fim em 1978, mas voltou a se reunir quase trinta anos depois, em 2007, e está em atividade desde então fazendo apresentações pelo Brasil. A DÉCADA DE 1980 Na década de 1980 o rock brasileiro atingiu seu auge por causa da criação de casas de show como Noites Cariocas e Circo Voador, no Rio de Janeiro, e Aeroanta, em São Paulo. Os primeiros nomes a despontarem na década foram o cantor Eduardo Dusek e a banda Blitz, que marcaram o chamado “verão do rock”, em 1982. A Blitz, que foi formada no ano de 1980 no Rio de Janeiro, era composta por Evandro Mesquita nos vocais, Fernanda Abreu e Marcia Bulcão nos backing vocals, Ricado Barreto na guitarra, Antônio Pedro Fortuna no baixo, William “Billy” Forghieri nos teclados e Lobão na bateria (na

verdade, Lobão saiu da banda antes de começar a fazer sucesso, e foi substituído pelo músico Juba). O grupo ganhou fama com seu rock leve, bem-humorado e animado, que lembrava as performances do B-52s. A Blitz foi um verdadeiro fenômeno desde o lançamento de seu primeiro disco, Você não soube me amar (1982), embora tenham lançado apenas três álbuns antes do fim do grupo, em 1986. Desde então, a banda tem se reunido ocasionalmente para apresentações especiais. Depois de sair da Blitz, João Luiz Woerdenbag Filho, mais conhecido como Lobão, formou a banda Lobão e os Ronaldos e lançou o álbum Ronaldo foi pra Guerra (1984). O disco foi um sucesso, especialmente por que continha a canção “Me chama”, que se tornou um dos símbolos do rock brasileiro dos anos 1980. Mas apesar do sucesso, este foi o único álbum que Lobão gravou com uma banda em toda a sua carreira. Depois de seu lançamento ele partiu em carreira solo, lançando discos como Decadence avec Elegance (1985), O rock errou (1986) e Vida bandida (1987), este último escrito após ter passado três meses na prisão por porte de drogas. Ao todo, Lobão lançou até hoje catorze álbuns solo. Nos últimos anos, o artista começou a trabalhar com televisão, apresentando programas na primeira MTV Brasil e na rede Bandeirantes. Em 2010, Lobão escreveu uma autobiografia com auxílio do jornalista Claudio Tognolli.

Outra banda que se destacou no início da década de 1980 no Rio de

Janeiro foi o Paralamas do Sucesso. Embora os membros tenham se conhecido na infância em Brasília, a banda só alcançou os holofotes quando todos já estavam residindo no Rio de Janeiro e enviaram uma demo da música “Vital e sua moto” para a Rádio Fluminense. O segundo disco do grupo O passo do Lui (1984) trouxe clássicos como “Óculos”, “Meu erro” e “Romance ideal”. Além de estar à frente do Paralamas, Herbert Vianna também foi responsável pela escolha do nome do grupo Biquini Cavadão. Amigo dos integrantes, o guitarrista também esteve presente na gravação da demo da música “Tédio”, grande sucesso da época, crucial para o lançamento do primeiro álbum do grupo, Cidades em torrente (1986). Também não podemos esquecer do Barão Vermelho, que se tornou uma das bandas mais importantes do rock brasileiro. O início da carreira, no entanto, foi bem difícil. Em 1983 o grupo já tinha dois álbuns gravados – Barão Vermelho (1982) e Barão Vermelho 2 (1983), mas o grupo só passou a marcar presença nas rádios depois que Ney Matogrosso gravou uma versão de “Pro dia nascer feliz”. Enquanto o rock tomava conta das terras cariocas, em 1981 a cidade de São Paulo assistia à formação da banda Rádio Táxi, criada por exintegrantes da banda de apoio da cantora Rita Lee, Tutti Frutti, e também dos Secos & Molhados. A banda conquistou os jovens da época com seu pop rock e letras engraçadas e leves, que falavam principalmente de amor. O grupo continua se apresentando com outra formação até os dias de hoje, e lançaram ao todo sete discos. Entre seus principais sucessos estão as músicas “Garota dourada”, do primeiro álbum Rádio Táxi 1982, que fez parte da trilha sonora do filme Menino do Rio (1981), e “Eva”, de Rádio Táxi 1983. Também é de 1980 a banda paulista Ultraje a Rigor, que começou a se apresentar em bares fazendo covers de Beatles e de bandas de punk rock. Criada pelo vocalista e guitarrista Roger Moreira com seus amigos Leonardo Galasso (bateria), Silvio (baixo) e Edgard Scandurra (guitarrista, que também já participava da banda Ira!). Em 1983 o grupo lança o primeiro single Inútil, que teve problemas com a censura antes de ser liberado, mas o sucesso só veio mesmo com o segundo single, Eu me amo (1984). Nessa época a banda já contava com uma formação diferente da original, com Carlo Bartolini na guitarra e Maurício Defendi no baixo. O primeiro álbum do grupo, Nós vamos invadir sua praia (1985), consolidou o sucesso do grupo, sendo o primeiro álbum de rock brasileiro a ganhar disco de ouro e disco de platina, e em 2008 foi considerado pela Revista MTV

como o melhor álbum de rock nacional. O sucesso foi tanto que em 1985 a banda de Roger até participou do especial de fim de ano de Roberto Carlos, apresentando uma versão de “Ciúme” com o cantor da Jovem Guarda. O Ultraje a Rigor continuou a lançar discos nas décadas seguintes, mas sem conseguir repetir o sucesso estrondoso da década de 1980. Atualmente, Roger é o único integrante da formação original. O Ira!, a banda que Edgard Scandurra escolheu participar, também alcançou o sucesso na década de 1980, e se tornou um dos grupos mais emblemáticos do rock brasileiro. Além do guitarrista, sua formação clássica (que durou mais de vinte anos) contava também com Marcos Valadão Rodolfo, o Nasi, Ricardo Gaspa e André Jung, que havia sido demitido dos Titãs no final de 1984. O primeiro disco do grupo, batizado de Mudança de comportamento (1985), já continha clássicos como “Longe de tudo”, “Núcleo base”, composta por Scandurra em seu tempo de serviço militar, “Mudança de comportamento” e “Tolices”. Vivendo e não aprendendo (1986) trouxe mais sucessos, como “Vitrine viva”, “Envelheço na cidade”, “Pobre paulista” e “Gritos na multidão”. Em 2007, o Ira! anunciou seu fim após a saída de Nasi. O vocalista, no entanto, se reconciliou com seu irmão, o ex-empresário do grupo, e com Edgard Scandurra em meados de 2013. Ricardo Gaspa e André Jung não farão parte na nova fase da carreira do grupo. Outros grupos também participavam do cenário musical do rock da cidade de São Paulo na época. O Titãs havia sido formado em 1981 por exalunos do colégio Equipe. Em 1984, o RPM lançou o single Louras Geladas, grande sucesso que possibilitou a realização do primeiro álbum do grupo, Revoluções por minuto (1985), não sem antes ter que trocar de baterista: Charles Gavin (também ex-Ira!) foi chamado para substituir André Jung no Titãs após sua saída. De qualquer maneira, o disco foi um sucesso: oito das onze canções do álbum foram executadas nas rádios, e o disco chegou a vender um total de trezentas mil cópias. O segundo disco, Rádio pirata ao vivo (1986), vendeu 2,7 milhões, e o RPM se tornou a banda de maior vendagem da indústria fonográfica brasileira daquele momento. Enquanto isso, os Titãs haviam lançado seus primeiros três álbuns: Titãs (1984), Televisão (1985) e Cabeça Dinossauro (1986), que trazia composições mais agressivas, a influência do punk rock e faixas com críticas mordazes a diversas instituições: “Igreja”, “Polícia”, “Família”. A única canção censurada, no entanto, foi “Bichos escrotos”, que traz o verso “Vão se fuder”. No entanto, a música podia ser tocada nas rádios se o verso em questão fosse removido. Cabeça Dinossauro rendeu aos Titãs seu

primeiro disco de ouro. O álbum-crítica foi lançado durante o processo de redemocratização do Brasil. De maneira geral, podemos dizer que os grupos que estavam surgindo em São Paulo tinham mais influência do movimento punk e pós-punk do que os roqueiros cariocas. Um exemplo disso foi o festival punk O Começo do Fim do Mundo, que aconteceu em 1982, revelando nomes como Inocentes, Cólera e Ratos de Porão. Outras bandas do estilo formadas em São Paulo são o 365 e o Golpe de Estado, que iniciaram suas atividades em 1983 e 1985, respectivamente. Outro grupo que merece ser lembrado é o Velhas Virgens, a mais famosa entre as bandas independentes de rock brasileiro, com letras bemhumoradas e de teor sexual. SALVADOR, PORTO ALEGRE, BRASÍLIA Em 1980 o rock se consolidou como o estilo musical da juventude, e a prova disso é que novos grupos apareciam por todo o país, e não apenas no eixo Rio-São Paulo. Logo no início da década de 1980, surgiu em Salvador o Camisa de Vênus, liderado pelo vocalista Marcelo Nova. O grupo ficou conhecido por seu som original, mesclando rock and roll com um toque de punk, ritmos brasileiros e letras polêmicas. Alguns de seus clássicos são “Simca Chambord”, “Eu não matei Joana D’Arc” e “Bete morreu”. A grande contribuição do sul do país para esse cenário musical da época foi o Engenheiros do Hawaii, banda formada por quatro estudantes de arquitetura para se apresentarem em um evento da faculdade. Dois anos depois desse primeiro show, o grupo gravou o primeiro disco Longe demais das capitais (1986), que trazia as músicas “Todo mundo é uma ilha” e “Toda forma de poder”, que fez parte da trilha sonora de uma novela da Rede Globo naquele mesmo ano. Em Brasília, a cena era protagonizada pela Turma da Colina, um movimento criado por alguns jovens que moravam num conjunto de prédios chamado Colina. Entre eles estavam nomes que se tornariam fundamentais para o desenvolvimento do rock nacional, como Renato Russo, Fê Lemos, Philippe Seabra, André Mueller, entre outros. Da turma também faziam parte moradores de outros locais, caso de Dinho Ouro Preto e Loro Jones, que hoje integram o Capital Inicial. Tudo começou nas reuniões em que os membros da turma acendiam fogueiras, bebiam vinho e conversavam sobre literatura, cinema e bandas

da época. Os garotos que tinham mais influência dentro do grupo eram os que tocavam em alguma banda, e os novatos em geral passavam por momentos de isolamento até conseguirem se firmar. A aprovação só vinha após provarem ser cultos, conhecendo livros, músicas e filmes que o resto da galera da Colina também curtia. Ao longo dos encontros, muitas bandas foram aparecendo. Entre elas estava o Aborto Elétrico, que surgiu quando Renato Russo conheceu André Pretorius em um bar. Eles aproximaram porque ambos gostavam dos Sex Pistols. André permaneceu no grupo por pouco tempo, pois foi convocado a retornar para a África do Sul, seu país de origem, para cumprir serviços militares. Renato então ensinou o irmão de Fê Lemos, Flávio, a tocar baixo para fazer parte da banda. Embora o Aborto tenha durado apenas quatro anos, de 1978 a 1981, acabou se tornando uma das bandas mais importantes do rock brasileiro, pois dela saíram futuros membros do Legião Urbana e do Capital Inicial. Renato Russo ficou tocando em barzinhos antes de formar a banda que o consagraria em 1982, enquanto Fê Lemos e seu irmão começavam sua jornada com o Capital Inicial com uma garota chamada Heloísa nos vocais. A menina, no entanto, viria a sair da banda depois de apenas um mês, por pressão dos pais, sendo então substituída por Dinho Ouro Preto. Quando o Aborto Elétrico chegou ao fim, a Plebe Rude, fundada naquele mesmo ano por André Mueller, já dominava os palcos de rock de Brasília, com suas letras politizadas e críticas à sociedade. Essa característica ficou conhecida do grande público com o álbum O concreto já rachou (1985), que trazia a canção “Até quando esperar”. Uma curiosidade é que o disco foi produzido por Herbert Vianna, que na época já fazia sucesso com o Paralamas. HARD ROCK E HEAVY METAL Ainda na década de 1980, foi formado em Minas Gerais o grupo Sepultura, que obteve sucesso internacional com seu som pesado e letras em inglês. Outra banda brasileira que começou sua carreira nessa década fazendo letras em inglês foi a Viper, grupo formado pelo vocalista Andre Matos em 1985, e que conquistou muito sucesso no exterior, principalmente no Japão, tocando um estilo que viria a ser chamado de metal melódico. Outras bandas de metal da década foram Korzus (1983), Sarcófago (1985) e Genocídio (1985).

O vocalista Andre Matos participou de dois álbuns da Viper, Soldiers of Sunrise (1987) e Theatre of Fate (1989). Depois da saída de Matos, que queria retornar à sonoridade mais tradicional do primeiro álbum, o grupo alcançou o topo de seu sucesso internacional, principalmente no Japão. É nessa época que o Korzus começa a compor músicas em inglês, no álbum Pay for your lies (1989). O grupo tinha se tornado conhecido por “Guerreiros do metal”, que se tornou emblemática para os fãs do estilo na época. Montada pelos irmãos Andria e Ivan Busic com Eduardo Ardanuy, a banda de hard rock Dr. Sin foi formada em São Paulo, em 1991. Os músicos já tinham uma carreira musical consolidada, tendo tocado, por exemplo, com Wander Taffo, ex-membro da banda Rádio Táxi, Ultraje a Rigor e Supla. Conseguiram contrato com uma grande gravadora no ano seguinte e, em 1993, participaram do festival Hollywood Rock. Como outros grupos de metal e hard rock brasileiro, o grupo adquiriu projeção internacional, e hoje em dia é respeitado como uma das bandas nacionais mais importantes do estilo. O Krisiun iniciou sua carreira no mesmo período que o Dr. Sin, mas ao contrário do grupo anterior, a banda de Porto Alegre circulou no meio independente por alguns anos até conseguir conquistar grande sucesso. Para isso, a banda precisou se deslocar do Rio Grande do Sul para São Paulo, onde a sonoridade pesada e rápida do death metal, inspirado em ícones como Dio e Black Sabbath, agradou ao público e aos críticos. Na mesma época, Andre Matos se uniu a Rafael Bittencourt para formar o Angra, uma das principais bandas de heavy metal do Brasil. Mais tarde, Andre Matos, Ricardo Confessori e Luis Mariutti saíram do grupo e formaram o Shaman, que rapidamente conquistou fãs. Já em meados da década de 1990, podemos destacar a presença da P.U.S., que fazia um heavy metal tradicional até que o vocalista Ronany e a guitarrista Syang (que ficou mais conhecida do grande público por sua participação no programa de televisão Casa dos Artistas) viajaram para Londres. De lá, voltaram com mais influências da música eletrônica e compuseram o álbum Presets (1996). A música “Seu Verino”, deste trabalho, chega a lembrar o rock tribal realizado pelo Sepultura na mesma década. “O Dr. Sin é outro grupo brasileiro que se internacionalizou: além de lançarem seu primeiro álbum em

nove países e tocarem no Rock in Rio 2013, eles fizeram o show de abertura em uma das apresentações de Yngwie Malmsteen para o álbum Double Live. A performance do grupo agradou tanto Malmsteen que, para o lançamento japonês do Double Live, foi incluso o EP Live in Brazil, com gravações do show do Dr. Sin.” – Edu Fernandes

MUDANÇA DE RUMOS Em 1990, nosso rock perde um de seus grandes nomes: Cazuza não resistiu à AIDS, doença que levou Renato Russo pouco depois, em 1996. Sem dois de seus grandes nomes, o rock brasileiro já não tinha mais como manter o rumo que levava, e a década de 1990 foi marcada por várias mudanças. A fundação da primeira MTV Brasil (que começou em 1990 e acabou em 2013) aumentou a popularidade dos videoclipes e estimulou mais produções de grupos brasileiros. Isso deu a oportunidade para que novos grupos surgissem, muitos deles marcados pela mistura do rock com outros estilos, como MPB, forró, maracatu, ska, eletrônico e rap. A MTV também se destacou no Brasil pelas produções Acústico MTV, que desde cedo contou com artistas consagrados, como Legião Urbana, Titãs e Rita Lee, e que mais tarde também produziu discos para grupos como Capital Inicial e Ira!. Na década seguinte, mais tragédias atingiram a nossa música: Marcelo Fromer, guitarrista dos Titãs, morreu após ser atropelado por uma moto e Herbert Vianna, dos Paralamas do Sucesso, sofreu um acidente de ultraleve que o deixou paraplégico. Felizmente, os dois grupos perseveraram e ainda estão na ativa. Novas bandas brasileiras surgem a cada dia, algumas influenciadas por artistas nacionais mais antigos, outras pelos novos gêneros estrangeiros. Mas uma coisa é certa: o rock brasileiro ainda vive e continuará vivendo. BANDAS NACIONAIS DE DESTAQUE RAUL SEIXAS

Raul Seixas foi um baiano “Maluco Beleza”, nascido em Salvador no dia 28 de junho de 1945, e que se tornou uma das figuras mais importantes do rock nacional, sendo considerado por muitos como o “pai do rock brasileiro”. Ele era cantor, compositor e instrumentista (tocava guitarra, violão e contrabaixo) e começou sua carreira musical com a banda Os Panteras, que vinha fazendo certo sucesso em Salvador (e que teve algumas variações de nome ao longo do tempo). Incentivado por Jerry Adriani, Raul decide ir para o Rio de Janeiro com sua banda e, em 1968, já com outro nome, Raulzito e os Panteras, gravam seu álbum de estreia, que, infelizmente, não tem o reconhecimento esperado e fez Raul passar sérias dificuldades no Rio até tomar a decisão de retornar à sua cidade natal. De volta à Bahia conhece um diretor da CBS e, novamente com a ajuda de Jerry Adriani, consegue um cargo de produtor musical no Rio. Em seu novo cargo, Raul faz diversas parcerias e obtém ótimos resultados em seus trabalhos, produzindo muitos álbuns de diversos artistas durante esse período. Mas nem tudo eram flores, já que a ditadura militar reinava nessa época e Raul teve várias letras e músicas censuradas. Em 1972, o músico retorna aos palcos participando do Festival Internacional da Canção, e duas de suas músicas (uma interpretada por ele mesmo) tornam-se finalistas. Raul então consegue um contrato com outra gravadora, a Philips, e no mesmo ano conhece Paulo Coelho, que viria a ser um de seus maiores colaboradores e parceiros. É em 1973 que Raul começa a fazer sucesso, após lançar o disco Krig-ha Bandolo!, com músicas como “Ouro de tolo”, “Metamorfose ambulante”, “Al Capone”, entre outras. Em 1974 a ditadura põe as mãos em Raul e Paulo, após a dupla criar a Sociedade Alternativa. Raul Seixas sempre se interessou por filosofia e por temas obscuros, como os abordados pelo inglês Aleister Crowley (ídolo de diversos ícones do rock, como Ozzy Osbourne e Jimmy Page, sendo que este é o maior colecionador de obras e itens relacionados ao bruxo no mundo). A Sociedade se baseava nos ideais do Livro da lei, mas os militares acharam que eles estariam tramando algum golpe e resolveram acabar com o movimento e torturar os envolvidos. Com isso, a dupla se exila nos Estados Unidos, onde fica por um tempo. No entanto, o sucesso de Gita, álbum que haviam gravado antes do exílio, os traz de volta ao país. Em 1975 vem o hit “Tente outra vez”, do disco Novo Aeon. Raul ainda faria muitas músicas ao lado de Paulo Coelho. No começo da década de 1980 surgem hits como “Rock das aranhas” e “Aluga-se”, a princípio censurados pelo regime militar.

“Raulzito disse uma vez que ‘rock não se aprende nem se ensina’. Peço licença para discordar do ‘maluco beleza’. Rock se ensina sim! Da mesma forma como incorporamos novos alimentos ao nosso paladar no decorrer da vida, eu aprendi a apurar meus ouvidos graças à influência de amigos mais velhos. Hoje faço o mesmo com minha filha pequena – a Ágata – que dorme todas as noites em seu berço ouvindo grandes clássicos do rock em versões ‘cantiga de ninar’.” – Titio Marco Antonio Sua carreira e vida pessoal ainda enfrentariam problemas durante essa nova década, mas ninguém esperava o desfecho do dia 22 de agosto de 1989: por conta do diabetes e de problemas com álcool, Raul Seixas tem uma parada cardíaca e não sobrevive. Pelo menos o legado de sua música, com dezessete álbuns de estúdio e outros singles e gravações ao vivo, perduram até hoje, mantendo vivo o rock baião que o mestre e “maluco” criou e que ainda influencia músicos até hoje. LEGIÃO URBANA O grupo se apresentou pela primeira vez em setembro de 1982 na cidade de Patos de Minas, durante o festival Rock no Parque. Foi o único show com a primeira formação: Renato Russo (vocal e baixo), Marcelo Bonfá (bateria), Paulo Paulista (teclado) e Eduardo Paraná (guitarra), hoje conhecido como Kadu Lambach. A promotora do festival tinha contratado o Aborto Elétrico, banda anterior de Renato Russo com Fê Lemos e André Pretorius, mas o grupo havia se separado e Renato convenceu o dono da produtora a contratar sua nova banda recém- -formada. Depois do show, Paulista e Paraná deixaram o grupo e a guitarra passou para as mãos de Ico Ouro Preto (irmão de Dinho Ouro Preto, vocalista do Capital Inicial), que seria depois substituído por Dado Villa-Lobos. “Química”, do álbum Que país é este? (1987), era na verdade um dos hinos do Aborto Elétrico, e foi uma das primeiras canções a serem gravadas pelo grupo. De todas as bandas de rock brasileiras que fizeram sucesso nos anos 1980, a Legião Urbana foi a que mais conquistou fãs fiéis. Em 1983, eles fizeram um show no Circo Voador, no Rio de Janeiro, que lhes rendeu o contrato com a gravadora EMI. O primeiro álbum, Legião Urbana, foi lançado em 1985, mostrando um grupo politizado, que fazia críticas a

diversos aspectos da sociedade brasileira. O trabalho seguinte, Dois (1986), vendeu 1,2 milhão de cópias. No ano seguinte, saiu Que país é este?, com apenas duas canções compostas após o lançamento de Dois. Um de seus discos mais bem-sucedidos foi As quatro estações (1989), que teve nove músicas de trabalho e é o álbum mais vendido da carreira do grupo, com 1,7 milhão de cópias. Neste ano, Renato Rocha, que tocou nos três primeiros álbuns e chegou a gravar o baixo de algumas faixas deste trabalho, deixou o grupo por desentendimentos com os demais membros. Já em 1991, saiu V, o álbum mais melancólico da banda – Renato Russo, que havia descoberto ser portador do vírus da AIDS, estava enfrentando problemas com o alcoolismo. O trabalho seguinte, O descobrimento do Brasil (1993), marcou o início do tratamento do vocalista para se livrar da dependência química. Apesar do número grande de vendas, as músicas deste disco não foram muito tocadas pelas rádios. O último show do grupo aconteceu em janeiro de 1995, na casa noturna Reggae Night, em Santos, litoral de São Paulo. No mesmo ano, todos os trabalhos do grupo foram remasterizados no estúdio britânico Abbey Road e lançados em um box chamado Por enquanto 1984-1995, acompanhado por um pequeno livro com um texto assinado pelo antropólogo Hermano Vianna, irmão do músico Herbert Vianna. Em 1996 saiu A tempestade, o último álbum antes da morte de Renato Russo, que abordava temas como solidão, nostalgia, amor, depressão, sexualidade, doenças, entre outros. O fim da banda foi anunciado em outubro de 1996, onze dias depois da morte de Renato, que, por sua vez, se foi 21 dias depois do lançamento de A tempestade. De lá para cá, Villa-Lobos e Bonfá seguiram cuidando de suas carreiras solo. BARÃO VERMELHO Uma das bandas mais influentes do rock nacional, revelou Cazuza e Frejat para o mundo. Foi formada em 1981 na cidade do Rio de Janeiro, depois que um grupo de amigos assistiu a um show do Queen. Guto Goffi (bateria) e Maurício Barros (teclado) foram os que deram o pontapé inicial. Em outubro de 1981 os dois estudantes escolheram para a banda o nome do aviador alemão Manfred von Richthofen, um dos principais inimigos da Tríplice Entente na Primeira Guerra Mundial: o Barão Vermelho. O grupo ficou completo com Dé (baixo) e Frejat (guitarra). Os ensaios aconteciam na casa dos pais de Maurício. Sem um vocalista, Guto contatou Léo Guanabara (que mais tarde seria conhecido como Léo Jaime), mas o timbre

do vocalista foi considerado suave demais para o rock que faziam. Foi Léo quem indicou Cazuza. O primeiro álbum veio em 1982. No começo daquele ano, o grupo atraiu a atenção dos produtores Ezequiel Neves e Guto Graça Mello. Alguns shows no Rio de Janeiro e em São Paulo logo fizeram com que escrevessem outras canções para o que seria o segundo álbum, Barão Vermelho 2 (1983). Porém as rádios ainda não haviam se rendido ao talento do grupo, o que só passou a acontecer quando Ney Matogrosso gravou “Pro dia nascer feliz”. Naquela época, Cateano Veloso já reconhecia a genialidade de Cazuza e o grupo foi chamado para compor a trilha sonora do filme Bete Balanço, de Lael Rodrigues, em 1984. O terceiro disco, Maior abandonado (1984), vendeu mais de 100 mil cópias em seis meses. No ano seguinte foram convidados para participar do Rock in Rio. Cazuza queria seguir carreira solo, e era apoiado por Frejat, desde que ele não largasse o grupo. Sua saída foi conturbada e causou uma ruptura na amizade dos dois. A banda superou a perda com Frejat assumindo os vocais. Em 1986 saiu Declare guerra, com canções escritas por grandes letristas da época, como Arnaldo Antunes e Renato Russo. A banda mudou de gravadora e lançou Rock’n geral (1987), que, embora tivesse boa produção e recebesse boas críticas, não vendeu muito bem. O ano de 1988 viu a chegada do álbum Carnaval, que misturava rock pesado e letras românticas. Trouxe o sucesso “Pense e dance”, o que rendeu ao grupo a oportunidade de abrir shows do Rod Stewart no Brasil. O ano seguinte trouxe Barão ao Vivo, gravado em São Paulo. Na calada da noite (1990) mostra um lado mais acústico do grupo e a canção “O poeta está vivo”, faz alusão a Cazuza, que morrera alguns meses antes. Após se apresentarem no Rock in Rio de 2001, deram uma pausa no grupo e lançaram projetos paralelos. Em 2004, voltaram com mais um álbum, homônimo, com um rock igual ao do início da carreira. No ano seguinte gravaram o primeiro DVD, no Circo Voador, que lhes rendeu mais um disco de ouro. Em 2007 fizeram mais um show no Rio de Janeiro, antes de entrarem em novo hiato. Cazuza, por sua vez, conseguiu estabelecer sua posição como gênio em canções como “Ideologia” e “O tempo não para”. Sua discografia oficial é composta por diversos álbuns, de Exagerado (1985) até O poeta está vivo – Ao vivo no Teatro Ipanema 1987 (2005). Em nove anos de carreira, ele gravou 126 canções, sendo 78 delas inéditas, e 34 foram gravadas por outros cantores. Depois de sua morte, seus pais criaram a Sociedade Viva Cazuza, em 1990, que presta assistência a crianças com HIV.

MUTANTES A banda paulista que se tornou referência no exterior começou a carreira em 1966, com três componentes: o baixista, pianista, cantor e compositor Arnaldo Baptista, seu irmão, o guitarrista, violonista e compositor Sérgio Dias, e a cantora e compositora Rita Lee Jones. O grupo foi chamado temporariamente de The Wooden Faces e O Conjunto, até ser batizado com o nome que todos conhecemos. Era a época em que se apresentavam no programa O Pequeno Mundo de Ronnie Von, da TV Record. O grupo recebeu esse nome do próprio Ronnie Von, antes da estreia na TV, que tirou a sugestão do livro O império dos mutantes, de Stefan Wul. Em 1969 eles excursionaram pela França, onde tocaram no Mercado Internacional de Discos e Editores Musicais (Midem), na cidade de Cannes e no tradicional Olympia, em Paris. O primeiro disco, Os Mutantes (1968), os projetou como um dos grupos mais criativos da época. O segundo disco foi Mutantes (1969). Em 1970 saiu A Divina Comédia ou Ando meio desligado, considerado um marco na carreira do grupo, que abraçou de vez o rock, diminuindo as referências à Tropicália. Destaques como “Ando meio desligado” e a regravação de “Chão de estrelas” sofreram críticas pela imprensa da época. No fim daquele ano o grupo voltou à França para mais apresentações. Aproveitaram para gravar canções em inglês para atrair o público internacional, mas a gravadora Polydor (que lançara os trabalhos do grupo) desistiu do projeto, apesar de a banda já ter gravado o álbum todo. O trabalho só veio a público em 1999, com o nome Tecnicolor.

Rita Lee, em sua carreira solo após sair dos Mutantes. Em 1971, lançaram Jardim elétrico, álbum com quatro faixas gravadas em Paris. No ano seguinte, vieram com Mutantes e Seus Cometas no País dos Baurets, uma homenagem a Tim Maia, e no qual “baurets” significa “cigarros de maconha”. O trabalho marcou a transição do som do grupo rumo ao progressivo. É nele que encontramos uma das canções mais conhecidas, “Balada do louco”, de Arnaldo e Rita. Foi também o fim da colaboração de Rita, que saiu do grupo devido a diversos fatores. Rita seguiria em carreira solo, alcançando enorme sucesso nos anos 1980. Junto a seu marido, Roberto de Carvalho, lançou uma série de álbuns que, invariavelmente, emplacavam um sucesso nas paradas. Os Mutantes continuaram sem Rita. Em 1973 estrearam o show 2000 watts de som e gravaram O A e o Z, álbum progressivo onde todas as faixas eram compostas e executadas sob o efeito de LSD, o que desagradou a gravadora, que não lançou o álbum até 1992. Arnaldo já estava com problemas sérios por causa do uso de drogas. Ele deixou a banda, seguido pelo baterista Dinho e o baixista Liminha. Sergio Dias continuou no grupo, mas o reformulou por completo. A nova configuração lançou Tudo foi feito pelo sol (1974). Depois disso, muita confusão marcou o grupo. Arnaldo recusou todos os

pedidos do irmão para tocarem juntos novamente, mas se reuniu com o grupo como convidado especial uma única vez, em 1978. Depois de mais alguns desentendimentos, Sérgio pôs um fim à banda. Anos depois, em 1992, os jornais anunciaram que o grupo voltaria a tocar com sua formação clássica, mas foi apenas um convite para que se reunissem numa gravação. Sérgio tocou em alguns discos de Rita e se apresentou em seus concertos em 1992. Quando em 1999 a gravadora resolveu lançar o álbum Tecnicolor, providenciaram a arte da capa com Sean Lennon, filho de John Lennon e Yoko Ono. Em fevereiro de 2005, a revista britânica Mojo incluiu o primeiro álbum do grupo na lista dos 50 Discos Mais Experimentais de Todos os Tempos, ficando à frente de nomes como Beatles, Pink Floyd e Frank Zappa. ANGRA Um dos grupos de heavy metal brasileiro mais conhecidos internacionalmente, o Angra foi formado em 1991, mas conquistou espaço após seu primeiro álbum, Angels Cry (1993), gravado no Japão (onde ganhou disco de ouro). Esse álbum consolidou uma das formações mais conhecidas da banda: Andre Matos (vocais), Rafael Bittencourt (guitarra), Kiko Loureiro (guitarra), Ricardo Confessori (bateria) e Luis Mariutti (baixo). Com essa formação, o grupo lançou dois álbuns – Holy Land (1996) e Fireworks (1999) – e fez turnês internacionais até o ano 2000, no qual a banda sofre uma mudança drástica: Matos, Confessori e Mariutti anunciam a saída da banda e formam o seu próprio grupo, o Shaman. Diante dessas mudanças, o grupo passou por uma reformulação, com o álbum Rebirth (2001) e três novos membros: Edu Falaschi (vocais), Felipe Andreoli (baixo) e Aquiles Priester (bateria). A nova formação fez sucesso e lançou mais dois discos, incluindo Temple of Shadows (2004), que teve participação de Milton Nascimento na música “Late Redemption”. Atualmente, o grupo ainda está na ativa, com uma nova formação: Ricardo Confessori retornou ao grupo após a saída de Aquiles Priester e o vocalista italiano Fabio Lione foi convidado pelo grupo para substituir Edu Falaschi.

CAPÍTULO 11

A KISS FM

KISS FM by Tais Abreu

O RÁDIO Inicialmente, na década de 1920, o rádio no Brasil tinha como principal missão transmitir educação e cultura. Sua programação era composta de óperas, conferências e música clássica – era um veículo direcionado à elite. No início dos anos 1930, começa o processo de popularização. Neste

período, o Brasil já possuía 29 emissoras, transmitindo também textos instrutivos. Com o aumento do número de emissoras, o meio tornou-se individual e segmentado. A chegada do rádio comercial não demorou: em 1932, o governo Getúlio Vargas autorizou a publicidade na programação, que foi se modificando cada vez mais: surgiram as radionovelas, com o objetivo de criar um público fiel às emissoras, além de noticiários e programas musicais, humorísticos, esportivos, infantis, femininos etc. A popularidade desses programas atingiu seu auge nos anos 1940 – nessa época, criou-se a disputa pela audiência, que por sua vez estava aumentando e se consolidando. Na década de 1950, o rádio sofreu uma crise ao perder profissionais, artistas e anunciantes para o mais novo meio de comunicação de massa: a televisão, que colaborou para a maior propagação da indústria cultural e do incentivo ao consumismo, obtendo como resultado um faturamento crescente. A próxima grande mudança ocorreu na década de 1980, com o processo de abertura política. No governo Figueiredo, entre outras medidas de democratização, foram extintos os atos institucionais. Esses fatores favorecem as expressões culturais, principalmente as que continham críticas sociais e políticas. A KISS FM A frequência 102,1 MHz, da Kiss FM, foi adquirida em 1996 já com a intenção de criar uma emissora dedicada ao “rock estabelecido”. Já existiam outras emissoras dedicadas ao rock and roll, mas elas privilegiavam lançamentos e atendiam prioritariamente a um público mais jovem. Como o rock já tinha mais de meio século de existência, havia uma enorme variedade musical de alta qualidade e aceitação que era colocada em segundo plano por essas rádios, mas que se tornaria o principal enfoque da Kiss FM. Com essa proposta, surgia a oportunidade de criar algo diferenciado, moderno e voltado a um público adulto e qualificado. A ideia pode parecer relativamente simples, mas, na época, a maioria dos profissionais e empresários de rádio hesitava em adotar uma programação tão específica. Apesar de a segmentação ter se tornado uma tendência mundial para emissoras de rádio desde a década de 1980, no Brasil optava-se, na maioria das vezes, por programações pouco definidas, buscando números elevados

de audiência – em vez de um conteúdo mais específico – atendendo a um público com perfil e interesses convergentes. Surgiu assim o primeiro projeto brasileiro de implantação do formato “classic rock”, já consagrado em outras partes do mundo, mas inédito no Brasil até o surgimento da Kiss FM. O “classic rock” é um dos formatos líderes do rádio nos Estados Unidos, e não por acaso: ele atende em cheio ao gosto musical dos baby boomers – a primeira geração de roqueiros e, até hoje, uma das gerações mais influentes na indústria do entretenimento. Embora aqui o termo baby boomer não tenha o mesmo peso, os brasileiros nascidos na mesma época se parecem muito com a classe média dos países onde o formato “classic rock” é consolidado há mais tempo. Muitos deles cresceram ouvindo rock e era natural concluir que deviam querer mais de seu estilo favorito. “Me apaixonei pelo rock and roll quando tinha doze anos. Ainda criança, já sentindo o chamado pelos deuses do rock. Até então, eu era apenas ouvinte e apaixonado por esse estilo de música. Mas sempre acreditei que para ser um bom roqueiro precisava ir um pouco além: era necessário conhecer as origens daquilo que mexia com meus sentimentos pela música e começar a viver este mundo fantástico do rock. Meu chamado era fazer parte da maior e melhor rádio rock do mundo. No dia 2 de abril de 2002, os deuses do rock abriram para mim os portões do templo chamado Kiss FM.” – Henry do Carmo O projeto Kiss FM foi discutido e ajustado atenciosamente ao longo de cinco anos, até o momento em que se reuniram todas as condições, principalmente financeiras e técnicas, para lançá-lo por completo: aquele projeto de 1996 foi finalmente implantado em 2001, no dia 13 de julho, data em que se comemora o Dia Mundial do Rock. É claro que a rádio não seria uma mera cópia do formato adotado em emissoras “classic rock” de outros países. Foi fundamental “abrasileirar” o conceito, levando em consideração que o rock é um gênero musical popular no Brasil há muitos anos. Uma das medidas, por exemplo, foi incluir na programação músicas que fizeram mais sucesso no Brasil do que em seus

países de origem. É importante lembrar que muitos grandes momentos da história do rock internacional aconteceram durante um período em que o Brasil era um país fechado, sob um regime de exceção, e que, além disso, aquela também era uma época em que filmes, vídeos e músicas não chegavam de um país a outro com a rapidez de hoje. Tudo isso foi considerado. A Kiss FM se preocupa em resgatar material dessa época, que, muitas vezes, é novidade para o ouvinte brasileiro. Além de considerações relativas ao conteúdo musical, a Kiss FM adotou lemas estratégicos que se revelaram fundamentais para o sucesso da rádio: Mais do que vozes, cabeças: profissionais com o mesmo perfil e visão do nosso público; Pouca repetição: leque musical extremamente amplo; Conteúdo compatível: jornalismo conciso e pontual, pois o público adulto também deseja saber sobre o que ocorre no mundo; Precisão: clareza sobre o conteúdo dos programas, pois a maioria das pessoas tem pouco tempo para decifrar um programa de rádio e deseja entender rapidamente do que se trata. A Kiss FM mantém seu projeto à risca e de forma fiel e detalhada. O lançamento da rádio em julho de 2001, já adotando o termo “classic rock”, mostrou aos ouvintes de uma só vez e com total clareza o que a emissora pretendia. Foi exibida uma lista com as 500 maiores canções de rock de todos os tempos, escolhidas por ouvintes das principais rádios do gênero na Europa e América do Norte. Naquele momento, os ouvintes foram avisados de que a Kiss FM organizaria, pela primeira vez, uma lista formada pelas escolhas dos ouvintes brasileiros. Com votação via internet, a seleção ocorreu no fim de 2001 e foi ao ar como programação especial do Revéillon 2001-2002. Hoje em dia, a escolha das 500 mais da Kiss, realizada todo ano, é uma das grandes marcas da emissora. Em 2002, iniciou-se um processo de ampliação do conceito “classic rock”. Músicas e artistas que marcaram os anos 1990 passaram a fazer parte da programação, pois a Kiss acreditava que os ouvintes desejavam ouvir também músicas um pouco mais recentes. Houve também, nesse ano, a

saída de Adhemar Altieri, diretor geral e um dos idealizadores do projeto inicial, e a contratação de Evaldo Vasconcelos como diretor artístico, cargo que exerce até hoje. “Trabalho em rádio desde 1995. Trabalhei como âncora e apresentador em emissoras AM, fiz rádio popular, refinada, jornalística... Mas nunca tinha feito uma ‘rádio roqueira’. Quando surgiu o convite para trabalhar na Kiss, em 2003, me senti uma criança indo à Disney pela primeira vez: fui tomado por um entusiasmo embriagante, uma euforia quase incontrolável. Posso dizer, sem exageros, que foi a realização de um sonho: unir duas de minhas grandes paixões: o rádio e o rock.” – Titio Marco Antonio PRÊMIOS Em pouco tempo, a Kiss FM conquistou reconhecimento não apenas dos fãs de rock, mas também de várias premiações. A primeira delas foi em 2002, ano em que a rádio completou um ano de existência: o projeto de sua criação conquistou o prêmio Marketing Best. Em 2004, a rádio Kiss FM foi premiada com Leão de Ouro em Cyber Lions, importante festival internacional realizado em Cannes, que consagra as principais peças publicitárias. A agência responsável foi a Publicis Salles Norton, e a peça foi criada pela dupla Guime Davidson e Renata Florio. No mesmo ano, a rádio conquistou também o 6º prêmio GPR (Grupo de Profissionais do Rádio) de criatividade em rádio, com criação da agência Grey Worldwide Brasil. O trabalho da rádio com a internet não ficou de fora: em 2008, a Kiss FM foi premiada pelo iBest como o melhor website de rádio, por trazer novidades de interatividade com o ouvinte, como era o caso do programa Kiss.com, onde o próprio ouvinte montava sua programação. “Como radialista e um cara que respira rock and roll, meu sonho sempre foi um dia poder trabalhar na Kiss FM. Assim como o Robert Trujillo, atual baixista e fã assumido do Metallica, sou um fã trabalhando como apresentador na

emissora.” – Edu Fernandes Recentemente, em 2013, a Kiss FM ganhou dois leões de Cannes com a peça publicitária “Ozzy Osbourne, cadê você?”, criada pela Lua Propaganda. PIONEIRA EM RÁDIO DIGITAL DO BRASIL Em 2005, a Kiss FM iniciou o processo de digitalização da sua rádio, sendo a primeira FM do Brasil a transmitir no sistema digital simultaneamente com o analógico. O sistema digital de rádio possibilitará uma melhoria muito grande na qualidade de sinal, além de permitir a transmissão de programações diferenciadas na mesma frequência. A Kiss FM poderia, por exemplo, ter uma programação no 102,1 FM de São Paulo e transmitir simultaneamente outra programação na frequência 102,1b. Porém, para essa tecnologia ser plenamente implantada, é necessária a definição do governo com relação ao sistema digital de rádio no Brasil, questão que ainda é pendente. PROMOÇÕES DE PESO Além de sua programação única, a Kiss FM sempre se destacou por suas promoções diferenciadas e inovadoras. Dentre elas, em 2009, foi lançada a promoção “Fanáticos pela Kiss FM”, na qual o ouvinte mais fanático, ou seja, aquele que fizesse a maior loucura pela rádio, ganharia uma viagem com acompanhante para Buenos Aires para assistir ao show do AC/DC. Essa promoção foi inspirada na paixão dos ouvintes pela emissora, e foram enviadas tantas loucuras que foi até difícil eleger um vencedor. No fim, quem levou o prêmio foi um ouvinte que tatuou o logotipo da rádio na sua perna. Outra promoção bastante interativa, realizada no mesmo ano, foi a “Quero ser um rock star”: o ouvinte tinha que postar um vídeo de sua “air band”, ou seja, da sua banda imaginária tocando clássicos do rock com seus instrumentos imaginários. As melhores bandas ganharam instrumentos de verdade: guitarra, baixo, teclado e bateria. Outra promoção importante, realizada durante anos, foi em parceria com o Ibira Moto Point: evento organizado pela federação dos moto clubes que

ocorria todas as terças-feiras no estacionamento do Ginásio do Ibirapuera. Em 2014, a Kiss FM promove pelo 4o ano consecutivo o Motorcycle Rock Cruise, cruzeiro que reúne motociclistas e amantes do rock, em um roteiro de quatro dias pela costa nacional ao som do bom e velho rock and roll e muitas promoções da rádio. Para comemorar seu aniversário e o Dia Mundial do Rock, a Kiss FM traz os melhores shows de presente para seus ouvintes.

2008:

Nasi, TSOL, Gene Loves Jezebel, Echo &The Bunnymen

2010:

Rockshow

2011:

Marcelo Nova (Camisa de Vênus), Roger (Ultrage a Rigor), Frejat (Barão Vermelho), Nasi (Ira!) e Ronaldo e os Impedidos

2012:

tributos: Zen Garden (U2), The End (Pink Floyd) e God Save the Queen (Queen)

2013:

Big Noize, formado por Sebastian Bach (Skid Row), George Lynch (Lynch Mob), Phil Sousan (Vince Neil) e Vinnie Appice (Heaven & Hell)

IMAGENS DO ESTÚDIO A partir de 2013, a Kiss FM passou a transmitir não apenas o áudio, mas também as imagens de seu estúdio ao vivo para os internautas no seu website. Agora é possível assistir a entrevistas de artistas e a programas

como o 90 minutos (transmitido todas as segundas-feiras), e matar sua curiosidade de ver os locutores por trás do microfone. Além disso, a rádio passou a disponibilizar em seu site os podcasts e videocasts dos programas – se o ouvinte não puder acompanhar um determinado programa ao vivo, poderá assistir à gravação pelo site. AUDIÊNCIA E PÚBLICO OUVINTE No Brasil existia uma carência evidente do público roqueiro, que é um público apaixonado, fiel, determinado e exigente. Foi para este público que a Kiss FM apresentou sua proposta de programação e, ao longo dos anos, consolidou sua audiência, chegando a atingir quase 1 milhão de ouvintes por mês. Também um fenômeno nas redes sociais, atingindo mais de 600 mil fãs no Facebook e na plataforma on-line, a Kiss FM completa treze anos consolidada como uma referência no mercado de rádios no Brasil. Essa é uma conquista não só nossa, mas também de vocês, nossos ouvintes. PROGRAMAÇÃO DA KISS Evaldo Vasconcelos, diretor artístico consulte a Tabela. consulte a Tabela. consulte a Tabela. consulte a Tabela. consulte a Tabela consulte a Tabela. consulte a Tabela. PROGRAMAS QUE MARCARAM ÉPOCA Afterhours (de segunda a sexta, 19h – 20h) – Tocava uma seleção de clássicos do rock em ritmo mais suave.

Brilhantina (domingos, 18h – 20h) – Apresentava os clássicos dos anos dourados. House of Blues (domingos, 20h – 22h) – Apresentava os grandes clássicos do blues. Kiss Yourself (sábados, 15h – 15h20) – O primeiro programa feito exclusivamente pelos fãs da rádio. Made in Brazil (sábados, 12h – 13h) – Apresentava o som nacional de diferentes eras e estilos. Manhã Classic Rock (de segunda a sexta, 7h – 9h) – Os grandes clássicos do rock and roll. Siderúrgica (de segunda a sexta, 0h – 02h) – Programa dedicado ao heavy rock.

AS 102 MÚSICAS ESCOLHIDAS PELO OUVINTE Especialmente para esse livro, fizemos uma lista das 102 músicas que marcaram a história do classic rock. Para essa tarefa, contamos com a opinião mais importante de todas: a sua. Veja abaixo a lista feita pelos ouvintes da Kiss FM! Música

Banda

1

Smoke on the Water

Deep Purple

2

Back in Black

AC/DC

3

Stairway to Heaven

Led Zeppelin

4

Paranoid

Black Sabbath

5

Highway to Hell

AC/DC

6

The Number of the Beast

Iron Maiden

7

Sweet Child O’Mine

Guns N’ Roses

8

Bohemian Rhapsody

Queen

9

Iron Man

Black Sabbath

10

Kashmir

Led Zeppelin

11

War Pigs

Black Sabbath

12

Holy Diver

Dio

13

Perfect Strangers

Deep Purple

14

Fear of the Dark

Iron Maiden

15

Smells Like Teen Spirit

Nirvana

16

November Rain

Guns N’ Roses

17

Sultans of Swing

Dire Straits

18

Rock and Roll All Nite

Kiss

19

Enter Sandman

Metallica

20

Man in the Box

Alice in Chains

21

Like a Rolling Stone

Bob Dylan

22

Have You Ever Seen the Rain?

Creedence Clearwater Revival

23

Wish You Were Here

Pink Floyd

24

Heaven and Hell

Black Sabbath

25

Rock and Roll

Led Zeppelin

26

Livin’ on a Prayer

Bon Jovi

27

Wasted Years

Iron Maiden

28

Master of Puppets

Metallica

29

Another Brick in the Wall

Pink Floyd

30

Hells Bells

AC/DC

31

Heroes

David Bowie

32

One

Metallica

33

Welcome to the Jungle

Guns N’ Roses

34

Thunderstruck

AC/DC

35

Hocus Pocus

Focus

36

Comfortably Numb

Pink Floyd

37

T.N.T.

AC/DC

38

Crazy

Aerosmith

39

Satisfaction

Rolling Stones

40

You Shook Me All Night Long

Ac/Dc

41

Black Sabbath

Black Sabbath

42

Burn

Deep Purple

43

A Little Less Conversation

Elvis Presley

44

Simple Man

Lynyrd Skynyrd

45

Blitzkrieg Bop

Ramones

46

A Horse with No Name

America

47

Baba O’ Riley

The Who

48

Sweet Emotion

Aerosmith

49

School’s Out

Alice Cooper

50

It’s My Life

Bon Jovi

51

Suspicious Mind

Elvis Presley

52

Cocaine

Eric Clapton

53

Mama

Genesis

54

Aqualung

Jethro Tull

55

Detroit Rock City

Kiss

56

Even Flow

Pearl Jam

57

Jailbreak

Ac/Dc

58

Poison

Alice Cooper

59

Tears of the Dragon

Bruce Dickinson

60

Paradise City

Guns N’ Roses

61

Breaking in the Law

Judas Priest

62

We Will Rock You

Queen

63

I Don’t Want to Miss A Thing

Aerosmith

64

God Is Dead?

Black Sabbath

65

Hurricane

Bob Dylan

66

Johnny B. Goode

Chuck Berry

67

Highway Star

Deep Purple

68

Rainbow in the Dark

Dio

69

Money for Nothing

Dire Straits

70

The Final Countdown

Europe

71

Piece of My Heart

Janis Joplin

72

Hey Joe

Jimi Hendrix

73

Carry on Wayward

Kansas

74

Ace of Spades

Motörhead

75

Black

Pearl Jam

76

Jeremy

Pearl Jam

77

We Are the Champions

Queen

78

Tom Sawyer

Rush

79

Hotel California

Eagles

80

All Along the Watchtower

Jimi Hendrix

81

Mr. Crowley

Ozzy Osbourne

82

N.I.B.

Black Sabbath

83

Sabbath Bloody Sabbath

Black Sabbath

84

The Wizard

Black Sabbath

85

Knockin’ on Heaven’s Door

Bob Dylan

86

Immigrant Song

Led Zeppelin

87

Since I’ve Been Loving You

Led Zeppelin

88

Whole Lotta Love

Led Zeppelin

89

Free Bird

Lynyrd Skyrnyd

90

Crazy Train

Ozzy Osbourne

91

Hey You

Pink Floyd

92

Time

Pink Floyd

93

Under Pressure

Queen & David Bowie

94

Hey Jude

The Beatles

95

Let it be

The Beatles

96

Yesterday

The Beatles

97

Hey Stoopid

Alice Cooper

98

Heat of the Moment

Asia

99

Like a Stone

Audioslave

100

(Don’ Fear) The Reaper

Blue Öyster Cult

101

Patience

Guns N’ Roses

102

Foxy Lady

Jimi Hendrix

ORAÇÃO DO ROCK Agência Longplay

Elvis Presley que estais no céu. Muito escutado seja Bill Haley. Venha a nós o Chuck Berry. Seja feito o barulho à vontade, assim como Hendrix, Sex Pistols e Rolling Stones. Rock and roll que a cada dia nos melhora. Escutai sempre Clapton e Neil Young, assim como Pink Floyd e David Bowie, Muddy Waters e The Monkees. E não nos deixeis cair o volume do som 102,1 de estação. Mas livrai-nos do Axé. Amém! Fanáticos, uni-vos.

DE SEGUNDA A SEXTA Programa

Wake Up

Kiss Classic Rock

Horário

6h – 9h

9h – 10h

Apresentador

Característica

Vany Américo

A melhor maneira de começar o dia: as principais notícias da manhã, do trânsito, tempo, aeroportos e mercado financeiro com o melhor do rock and roll.

Vany Américo

Uma hora só de clássicos do rock sem intervalo comercial.

Kiss.com

11h – 12h

Marcelo Andreassa

Programa elaborado pelos ouvintes da Kiss FM por meio do site da rádio.

Kiss Classic Rock

13h – 14h

Marcelo Andreassa

2ª edição diária do Kiss Classic Rock.

Para inovar e enriquecer nossa grade de programação,

Clássicos do Futuro

Kiss Rock News

15h – 16h

16h – 17h

Alexandre Gomes

desenvolvemos um conteúdo focado no público jovem com as bandas e músicas que daqui a alguns anos serão os novos clássicos do rock.

Alexandre Gomes

Jornal diário com informações sobre lançamentos de álbuns, datas de turnês e curiosidades das principais bandas.

Alternativa

18h – 20h

Titio Marco Antonio

As melhores “alternativas” aos ouvintes durante a volta para a casa, além de dicas de lazer (shows, teatro, filmes e eventos em geral).

Kiss.com

23h – 0h

Rodrigo Branco

2ª edição diária do Kiss.com.

DE SEGUNDA A SÁBADO Programa

As dez da Kiss

Horário

12h – 13h

Apresentador

Característica

Marcelo Andreassa

Os dez clássicos do rock mais solicitados do dia no website da rádio.

SEGUNDAS Programa

90 minutos

Horário

20h – 21h30

Apresentador

Característica

Nasi, Titio Marco Antonio, Octávio Muniz e Marcelo Bianconi

Informações sobre futebol, entrevistas com convidados e comentários das rodadas do final de semana, tudo isso regado ao bom e velho rock and roll.

QUARTAS Programa

Kiss Club

Horário

21h – 22h

Apresentador

Característica

Rodrigo Branco

O programa apresenta as melhores bandas da noite, tocando os grandes clássicos que marcaram a história do rock!

SÁBADOS Programa

Nação Roqueira

BR 102

Rock Cine

Rock Sem Fronteiras

Horário

15h – 15h20

16h – 17h

19h – 20h

20h – 21h

Apresentador

Característica

Rosângela Alves

Os ouvintes são convidados a falar sobre um tema e escolhem uma programação para tocar durante o programa.

Rodízio de apresentadores

As melhores do rock nacional. Você ouve de Raul Seixas, Made in Brazil a Legião Urbana e Titãs.

Rodízio de apresentadores

O mundo do cinema na Kiss: trilhas sonoras, dicas e lançamentos dos melhores filmes.

Titio Marco Antonio

Um raio x do rock do mundo inteiro. Apresentamos bandas dos quatro cantos do planeta, unidas por um único gênero musical: o rock and roll. Uma viagem

sonora surpreendente para quem gosta de boas novidades.

DOMINGOS Programa

Lendas do Rock

Kiss in Concert

Backstage

Horário

15h – 16h

19h – 20h

22h – 0h

Apresentador

Característica

Walter Ricci

O programa divide com seus ouvintes as principais histórias, curiosidades e os grandes sucessos das melhores bandas de rock.

Rodrigo Branco

O programa promove a seus ouvintes momentos marcantes dos principais shows realizados no mundo do rock.

Vitão Bonesso

Tradicional programa dedicado ao heavy rock. Informações linkadas a lançamentos, exclusividades e entrevistas são o diferencial do programa, o que o torna uma referência no estilo.

TODOS OS DIAS Programa

Madrugada Classic Rock

Horário

0h – 6h

Apresentador

Característica

Edu Fernandes

Altas horas e o melhor de todos os tempos continuam com os clássicos do rock dominando a madrugada.

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