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CULTURA COM ASPAS VISÕES DAS CULTURAS SOBRE AS PRÓPRIAS CULTURAS E OS CONHECIMENTOS
A HISTÓRIA DO BIOQUÍMICO
Vittorio Erspamer (19o9-99) - médico e farmacólogo italiano 1917 – Identificou a Enteramina, sendo anos mais tarde sintetizada para serotonina. Depois da Segunda Guerra, Erspamer começou a trabalhar com moluscos e rãs, conseguindo encontrar Enteramina nas glândulas salivares dos polvos e outros dois moluscos. ATENÇÃO aos efeitos de certos peptídeos encontrados nas glândulas salivares do polvo Eledone moschata (1949) e em na pele da rã Physalaemu biligonigerus (1962) – América do Sul.
"Nesse ponto de nossa pesquisa sobre peptídeos", relatou ele, "deixamos de lado os felizes acasos e começamos a fazer uma coleta sistemática de anfíbios no mundo todo com o propósito específico de investigar a ocorrência de peptídeos e outras moléculas ativas em suas peles".
RESULTADO: 500 espécies de anfíbios provenientes de diversas partes do mundo. 1962 - Peptídeos encontrados em secreções de pele de rãs também estão presentes (ou possuem análogos) em tecidos de mamíferos, especialmente no sistema gastrointestinal e no cérebro. Erspamer chamaria, em 1981, de "triângulo cérebro-intestino-pele”. Segunda metade dos anos 60, pesquisa nas rãs Phyllomedusa, gênero Pertencente à subfamília Phyllomedusinae (da família Hylidae) - Américas Central e do Sul.
A HISTÓRIA DO BIOQUÍMICO
Identificou-se a Cerulina - peptídeo da secreção da rã australiana Hyla cacrulea. A Cerulina e moléculas análogas foram ainda encontradas na pele de várias outras rãs da África do Sul e da América do Sul, além da Austrália. Em espécies Phyllomedusa identifica-se a Filocerulina (semelhante à cerulina e mais potente). 1980 - Monteccuchi e Erspamer publicaram a estrutura da Sauvagina, um peptídeo da secreção de pele da Phyllomedusa sauvagei (rã da Argentina e do Cone Sul) com efeitos antidiuréticos e redutores da pressão sanguínea. Além de 06 famílias de peptídeos, entre eles, a Dermofina - propriedades analgésicas mais potentes a da morfina. Em suma, identificou-se 23 peptídeos pertencentes a pelo menos sete famílias diferentes.
A HISTÓRIA DO BIOQUÍMICO
Phyllomedusa bicolor a espécie com mais alta concentração desses peptídeos.
A HISTÓRIA DOS ETNÓGRAFOS
1925 – Revista La Géographie: Tastevin relata o uso de kampó e descrição dos procedimentos de extração e de aplicação e efeitos da substância entre os Kaxinawa, Kulina e Kanamari - Rio Muru * Bacia do Alto Juruá. Kaxinawa atribuem a origem do kampô, bem como de muitas outras coisas preciosas, tangíveis e intangíveis, como os machados, a aydhuasca (hon), o paricá e mesmo a noite, aos Jaminawa(literalmente "gente do machado"). Jaminawa = Fornecedores de bens
>>>TENDÊNCIA INDÍGENA<<<
Atribuir bens culturais e saberes fundamentais a outros grupos
versusCultura de cada grupo resultante de apropriação/predação cultural
A HISTÓRIA DOS ETNÓGRAFOS
1955 - A segunda menção ao uso indígena do kampó, com referência aos Tikuna, grupo linguisticamente isolado no Alto Solimões - Amazonas. 1950 - José Candido de Melo Carvalho (zoólogo), em expedição, relatou uso similar da mesma rã pelos Tikuna, que a chamam de bacururu. Carvalho foi o primeiro a identificar a rã como Phyllomedusa bicolor.
1962 – Robert Carneiro (antropólogo), do Museu Americano de História Natural, faz primeira menção em língua inglesa ao uso da a perereca.
1970 - Descreve a prática como magia de caça entre os Amahuaca de língua pano do Peru. As descrições da posologia e dos efeitos coincidem todos os detalhes com as anteriores, mas não consegue identificar a rã. Amahuaca chamavam-na de kambó, nome bem próximo do nosso, kampô.
A HISTÓRIA DOS ETNÓGRAFOS
1973 - Stephen Hugh-Jones (antropólogo britânico) registrou uso da secreção entre os Barasana, mas trata-se de um uso um tanto excepcional na obtenção de penas amarelas em pássaros domesticados, processo conhecido no Brasil como tapiragem. 1986 - Peter Gorman relata sua experiência com “sapo” (termo do espanhol local designando a secreção de rã), que lhe foi administrado por índios Matses do Rio Lobo – Peru. >>vídeo<< 03 anos depois...
Gorman obteve uma amostra seca da substância
Charles Myers, curador de herpetologia do Museu Americano de História Natural
John Daly, bioquímico que trabalhava na época no Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos
Erspamer, na Itália, que o identificou como Phyllomedusa bicolor
A HISTÓRIA DOS ETNÓGRAFOS
os artigos de Daly (1992) e de Erspamer (1993) fornecem as duas primeiras provas irrefutáveis do reconhecimento científico acerca da existência de um conhecimento tradicional indígena sobre a Phyllomedusa bicolor. 1992 - CDB (CONVENÇÃO DA DIVERSIDADE BIOLÓGICA) promulga que os “recursos genéticos eram submetidos à soberania dos Estados nacionais e que conhecimentos tradicionais tinham direito a uma justa parcela dos benefícios” – CARNEIRO, 2009, p 334.
“CULTURA” VERSUS CULTURA
Imaginação Limitada: noção de "cultura" da qual o conhecimento é apenas uma das manifestações. Em outras palavras, o modo de conceber os direitos intelectuais indígenas depende de como é entendida a “cultura”. Origem do termo “cultura” & noção “qualidade de original” 1936 – Feitiçaria, oráculos e magia entre os Azande de Evans-Pritchard. Contradições: estruturas endêmicas e estruturas interétnicas.
“Advertência: a lógica interétnica não equivale à submissão à lógica externa nem à lógica do mais forte. É antes um modo de organizar a relação com estas outras lógicas. (...) as situações interétnicas não são desprovidas de estrutura. Ao contrário, elas se auto organizam cognitiva e funcionalmente” – Ibid, 356.
“CULTURA” VERSUS CULTURA
A lógica totémica e a organização das diferenças – Claude Lévi-Strauss (etnógrafo francês) “Cultura” entre aspas: unidades em um sistema interétnico Quando os praticantes da cultura, os que a produzem ao reproduzi-la, pensam a si mesmos sob ambas as categorias, sendo uma concebida em teoria (ainda que não na prática) como a totalidade da outra? – CARNEIRO, 2009, p. 356-57. Lionel Trilling escreveu em Sinceridade e autenticidade ao definir a "ideia de cultura": “um complexo unitário de pressupostos, modos de pensamento, hábitos e estilos que interagem entre si, conectados por caminhos secretos e explícitos com os arranjos práticos de uma sociedade, e que, por não aflorarem à consciência, não encontram resistência à sua influência sobre as mentes dos homens” – Ibid, p. 357.
“CULTURA” VERSUS CULTURA
Conhecimento Tradicional em Domínio Público (em francês “Domaine Public Payant”) Conhecimento Tradicional em Domínio Público versus Direito Costumeiro: CONTRADIÇÃO! 02 argumentos podem ser simultaneamente verdadeiros: I.
Existem direitos intelectuais em muitas sociedades tradicionais: isso diz respeito à cultura;
II. Existe um projeto político que considera a possibilidade de colocar o conhecimento tradicional em “Domaine Public Payant” isso diz respeito à "cultura".
REFLEXIVIDADE NA CULTURA COMO DISCURSO - COMPLETUDE X COERÊNCIA - CULTURA CONSCIENTE X CULTURA INCONSCIENTE - FETICHISMO CULTURAL - ANTROPOFAGIA X ETNOCENTRISMO
CULTURA E CONHECIMENTO - MERCADO DE PATENTES X ANTROPOFAGIA - INDIVIDUALISMO X ANTROPOFAGIA - APROPRIAÇÃO X COMPARTILHAMENTO
CULTURA E CONHECIMENTO - CADA CULTURA TEM EM SEU DISCURSO SUA DEFINIÇÃO DE CONHECIMENTO - QUANDO SE EXPANDE ESSA NOÇÃO PARA OUTRAS CULTURAS ESTIGMATIZA-AS E ESTIGMATIZA-SE, TAMBÉM, O CONHECIMENTO POR ELAS PRODUZIDO - CULTURA COM ASPAS COMO ARTIFICIO DE RESISTÊNCIA