Ebook-schaeffer-allen-porto

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A L L E N

P O R T O

SCHAEFFER PEQUENOS INSIGHTS, GRANDES TRANSFORMAÇÕES

01

OS MISTÉRIOS DA PROVIDÊNCIA

UMA NOVA ORTODOXIA

03

ESGOTADO DEMAIS PARA SERVIR

DISCERNINDO OS TEMPOS

05

04

COMUNICANDO A FÉ COM FIRMEZA E GRAÇA

BATALHANDO EM TODA A VIDA

07

02

06

FRANCIS & EDITH PERGUNTAS & RESPOSTAS

08

APRESENTAÇÃO

Eu sou mentoreado por gente morta. Não tem nada de necromancia aqui: trata-se, basicamente, de acompanhar de perto, estudando a vida e os conceitos de quem veio antes de mim, e pode me ajudar a crescer. Francis Schaeffer tem sido o meu principal mentor por mais de 10 anos. Ao observar a sua vida e ler os seus livros, eu tenho sido discipulado e encorajado de mais maneiras do que conseguiria descrever por aqui. Eu tinha dificuldades no modo de apreciar e fazer apologética, eu expressava imaturidade ao lidar com pessoas com convicções diferentes das minhas, eu não tinha noção da importância da cultura para entender os tempos e caminhar no ministério, eu experimentava (e ainda tenho minhas lutas, confesso) batalhas com ansiedade e perfeccionismo. Schaeffer tem me ajudado em tudo isso, além de expandir o meu conhecimento e percepção sobre a realidade. Por ter experimentado "na pele" o impacto de Schaeffer, decidi ajudar outras pessoas a conhecê-lo. Tenho feito isso de várias formas, mas a mais recente foi a organização de um evento online – a Semana Francis Schaeffer. Por meio de grupos no whatsapp, compartilhei histórias, conceitos e insights da vida e pensamento de Schaeffer, conectando-nos com a nossa realidade. O e-book que você tem em mãos é a compilação desses insights, com alguns bônus, como o capítulo sobre Francis & Edith, e a organização das perguntas e respostas. Desejo que esse material continue a desafiá-lo e encorajá-lo para uma vida fiel a Deus no meio da cultura. Allen Porto Junho de 2019

01

Schaeffer é um cristão e líder improvável, que só se tornou assim por causa da providência de Deus. Essa mesma providência nos conduz para onde Deus quer.

Semana

Francis Schaeffer

[ESPIRITUALIDADE]

01

OS MISTÉRIOS DA PROVIDÊNCIA

Schaeffer é um cristão e líder improvável, que só se tornou assim por causa da providência de Deus. Essa mesma providência nos conduz para onde Deus quer.

"Deus se move de um modo misterioso", dizia o poema de William Cowper. Essa é uma verdade fácil de demonstrar: um garotinho venceu um gigante; o menor se tornou rei; a prostituta entrou na linhagem do Messias; a virgem teve um filho; Deus foi crucificado. Deus se move de um modo misterioso. Francis Schaeffer não tinha nada para ser o homem que se tornou. De acordo com Stephen Wellum, professor do Southern Baptist Theological Seminary, "não há, provavelmente, nenhuma figura que tenha afetado e impactado o evangelicalismo na segunda metade do século XX do mais do que Francis Schaeffer". No entanto, nada disso poderia ser previsto das suas origens. Schaeffer nasceu em um lar simples, sem grande estímulo intelectual. Seus pais valorizavam o trabalho braçal, e desejavam que ele fosse um engenheiro. Não havia apreço por filosofia, artes e cultura em geral. Schaeffer era inteligente, como testes da época demonstraram, mas ele também tinha de lidar com o transtorno de aprendizagem hoje conhecido como dislexia (na época não havia diagnóstico para isso).

03

O líder cristão que, em 1961, foi capa da revista Time com a designação de "missionário aos intelectuais", era uma criança disléxica crescendo em um lar sem grande estímulo cultural ou intelectual. Como aconteceu a mudança? Schaeffer lembra de alguns episódios significativos da infância. Um deles foi uma professora de artes na escola. Seu nome era Lidie C. Bell. Não sabemos exatamente o que a tornava tão impactante, mas ela foi uma das principais portas de entrada para Schaeffer desenvolver sensibilidade cultural. Outro episódio marcante foi uma exibição na qual Schaeffer ouviu a música Abertura 1812, de Tchaikovsky, junto a um show de luzes e canhões. Mas um episódio especialmente curioso se deu na adolescência. Até então, Schaeffer não tinha uma vida intelectual desenvolvida. Um imigrante russo chegou em sua igreja (Igreja Presbiteriana em Germantown, na Pennsylvania), e Schaeffer foi designado para ajudá-lo a aprender inglês. Como o método que o russo queria não estava funcionando, Schaeffer foi à livraria Leary's, na Filadélfia, para conseguir uma gramática ou que ajudasse. Por algum equívoco, provavelmente na hora de empacotar, Schaeffer saiu dali com um livro de filosofia grega. Schaeffer leu o livro, que o despertou para a reflexão filosófica!

04

Um pacote errado abriu as portas para Schaeffer se tornar um cristão engajado na discussão de ideias, pressupostos e cosmovisões! Aquele livro, e outros, demonstraram a Schaeffer que a filosofia tinha muitas perguntas, mas lhe faltavam respostas. Naquele período ele assumiu uma postura agnóstica, mas decidiu que teria de ler a Bíblia antes de dizer que ela não falava a verdade. Foi pela leitura direta da Bíblia que Schaeffer foi convertido ao Senhor. A sua igreja era liberal, então ele nunca tinha ouvido o evangelho claramente. Mas agora ele tinha um amor pela reflexão, uma abertura para as artes, e um coração transformado pelo evangelho. Insights: Você já parou para pensar como pessoas despretensiosas podem causar grande impacto na nossa caminhada? A professora do ensino fundamental fez grande diferença na vida de Schaeffer, e Deus colocará pessoas simples para fazer diferença na sua. Você também pode ser intencional em fazer diferença na vida de outras pessoas! Você se queixa de suas limitações ou da sua falta de oportunidades? Saiba que Deus o colocará aonde Ele deseja. Ele transformou um disléxico sem grande estímulo no "missionário aos intelectuais".

05

Deus se move de modo misterioso. Nós nunca sabemos exatamente o que Deus está fazendo, mas Ele sempre está fazendo algo por meio das situações da nossa vida. Agora mesmo Ele está agindo e direcionando a sua história.

06

Você precisa de uma verdadeira espiritualidade e de uma ortodoxia coerente.

Semana

Francis Schaeffer

[ESPIRITUALIDADE]

UMA NOVA ORTODOXIA

02

Schaeffer experimentava uma ortodoxia fragmentada e feia, incoerente com o evangelho. Até que a sua crise o levou a conhecer uma nova ortodoxia.

A vida de Schaeffer é muito rica para ser contada em detalhes nesse espaço. Ontem vimos um pouco de sua infância e adolescência, e hoje vamos dar um salto para os seus primeiros anos de ministério. Poderíamos falar de mais episódios da sua infância; falar de como ele descobriu outros cristãos fiéis fora da igreja liberal; de como ele fez a transição de uma formação técnica para os estudos em humanidades; da decepção que seus pais sentiram quando ele decidiu estudar teologia; de como conheceu Edith e com ela se casou (talvez dessa nós falemos); mas vamos aos seus primeiros anos como ministro. Quem conhece Schaeffer por meio de seus livros e filmes observa um homem culturalmente atento - versado nas mais distintas expressões, como filosofia, música, dança, pintura, etc. O modo de Schaeffer se apresentar, com cabelos longos, cavanhaque e os trajes suíços clássicos: bermuda e uma espécie de meia-calça (swiss knickers). O que não fica fácil de perceber é que Schaeffer era o exato oposto desse homem aberto para expressões culturais. Enquanto caminhava em sua formação teológica, Schaeffer se aproximou de professores e outros cristãos conservadores que possuíam um corte fundamentalista.

08

Não estou usando a palavra "fundamentalista" aqui como uma ofensa, como se faz hoje em dia. Estou descrevendo um tipo de postura específica característica das controvérsias com o modernismo teológico, que se desenvolveu em outras áreas, como a dos usos e costumes. Junto a esse grupo, Schaeffer adotou posturas bastante restritivas e agressivas. Era pecado fumar, beber e dançar. Quem expressasse pequenas discordâncias era considerado, na melhor das hipóteses, alguém imaturo e, na pior, um herege contumaz. Schaeffer participou de divisões na igreja: primeiro, ficando ao lado de J. Gresham Machen, quando este foi expulso da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos (PCUSA) – Schaeffer se uniu ao grupo que estabeleceu a Igreja Presbiteriana Ortodoxa (OPC); depois, Schaeffer participou do grupo que rompeu com a OPC e com o Seminário Teológico Westminster, fundando a Igreja Presbiteriana da Bíblia e o Seminário Teológico da Fé. Schaeffer era um homem fiel e zeloso, mas o seu trato, em muitos aspectos, era deplorável. A percepção disso só veio algum tempo depois. Schaeffer foi ordenado em 1938, pastoreou três igrejas nos Estados Unidos ao longo de 10 anos, e se mudou com a família para atuar como missionário na Europa.

09

Entre 1951 e 1952 Schaeffer experimentou uma profunda crise de fé. Ele descreve como se estivesse lidando com o "problema da realidade": faltava em sua vida, e no grupo ao qual estava associado, a realidade do cristianismo. Não havia beleza em sua caminhada, o trato com as pessoas era ruim, e o fruto disso em termos de crescimento pessoal era imperceptível. Houve vários fatores que conduziram para essa crise – um deles, a própria inclinação de Schaeffer para a depressão. Mas ali estava ele, diante de um dilema: o cristianismo é realmente verdade? Schaeffer disse a sua esposa que precisava voltar ao seu agnosticismo e questionar tudo. Então, ao longo de um período concentrado, Schaeffer se tornou um "agnóstico metodológico", tentando descobrir se o cristianismo era verdadeiro. Enquanto passava por essa crise, Edith Schaeffer orava incessantemente por ele. Ela sabia que se ele saísse dali pensando que o cristianismo não é a verdade, abandonaria tudo. Com a graça de Deus, Schaeffer redescobriu o evangelho naquele período. Em seu livro "Verdadeira espiritualidade", ele conta que finalmente, após muito tempo, voltou a fazer poesia. Suas filhas contam que alguns traços de seu caráter também foram transformados, como o desenvolvimento de um coração mais manso. Como ele viria a falar mais tarde, a redescoberta da obra completa de Cristo foi profundamente transformadora para a sua sua vida.

10

Agora ele descobria uma verdadeira espiritualidade, e uma nova ortodoxia. Esses foram alguns dos conceitos que ele desenvolveu em suas obras. Uma espiritualidade centrada na obra consumada de Cristo, que experimenta reintegração pessoal e cura substancial nos relacionamentos. A nova ortodoxia descoberta por ele era a "ortodoxia da comunidade”. Para Schaeffer, é fundamental ter a ortodoxia da doutrina, mas ela precisa vir acompanhada de uma vida comunitária coerente. Logo após esse período, Francis e Edith enviaram cartas para todas as pessoas a quem ofenderam ou foram agressivos, pedindo perdão por seu trato. E Schaeffer passou a agir de modo mais aberto em questões de usos e costumes. Agora Schaeffer tinha os seus olhos abertos para um ministério baseado na graça. Deus o estava preparando para uma guinada em sua forma de atuar. Insights O zelo sem entendimento pode ser muito trágico. Muitas vezes, em nome da ortodoxia, expressamos feiura no modo de lidar com as pessoas. Preferimos vencer debates a ganhar corações, e entramos em ciclos contínuos de divisionismo. Se desejamos ser ortodoxos, não basta a ortodoxia da doutrina; é necessário ter a ortodoxia da comunidade. Isso não significa fechar os olhos para os erros do outros, mas significa falar a verdade em amor.

11

Assim como em Francis Schaeffer, todo o nosso ministério dentro e fora da igreja só pode caminhar se estiver ancorado em uma verdadeira espiritualidade. Para entendermos o que Schaeffer fez, é necessário perceber a força espiritual direcionando o seu evangelismo e apologética: um coração que aprendeu a confiar na obra consumada de Cristo, e que experimenta a cura substancial pessoal e comunitariamente. Parte da redescoberta do evangelho implica ir até as pessoas que machucamos e pedir perdão. Corações quebrantados pela graça perceberão que há mais valor em um relacionamento restaurado do que em um orgulho intacto. Como funciona a sua ortodoxia?

12

Você é chamado a trabalhar duro e a descansar em Deus.

Semana

Francis Schaeffer

[LIDERANÇA]

03

ESGOTADO DEMAIS PARA SERVIR

Schaeffer aprendeu que o peso da transformação de pessoas é grande demais para estar sobre os nossos ombros, e que Deus usa pessoas imperfeitas na Sua obra.

Já tratamos de dois episódios e conceitos do Schaeffer relacionados ao campo da espiritualidade. Hoje vamos pensar sobre algo da liderança. Francis Schaeffer foi ordenado ao ministério em 1938, um dos primeiros alunos a se formarem no Faith Theological Seminary, e o primeiro pastor ordenado na Bible Presbyterian Church. Ele seguiu, com sua família, para pastorear a Covenant Presbyterian Church (Igreja Presbiteriana da aliança) em Grove City, Pensilvânia. À época, ela se chamava Westminster Presbyterian Church. Schaeffer pastoreou ali por três anos. Possivelmente no auge da empolgação, e também por seu perfil de “hard worker", Schaeffer trabalhou árdua e incessantemente. Aquela congregação possuía somente 18 membros naquele primeiro momento, e na inauguração do salão mais amplo, já contava com 110 pessoas. Schaeffer iniciou um importante trabalho com crianças, tendo conseguido reunir mais de 100 meninos e meninas para a Escola bíblica de férias. Ele também trabalhou junto aos adolescentes e jovens, iniciando o Miracle book club, um grupo de estudo bíblico para estudantes secundaristas. Além das demandas pastorais, Schaeffer assumia obrigações denominaciais, e atuava como moderador (presidente) do seu presbitério.

14

A carga de trabalho era tão intensa, que logo no segundo ano como pastor ordenado – 1939 –, Schaeffer foi diagnosticado com "estafa" por seu médico. Aquele colapso foi tão intenso, que o médico determinou a Schaeffer que fosse deitar sempre às 23h. Infelizmente, aquele não foi o único colapso de Schaeffer, que teve de lidar com o esgotamento em outras fases de seu ministério, e com a inclinação recorrente para a depressão. Um de seus mentores, Allan McRae, teve papel importante em encorajar Schaeffer a ser cauteoloso teologicamente, e a cuidar de sua saúde física. Ele foi fundamental para dar direcionamento ao jovem pastor. Mas por que Schaeffer experimentou tal colapso? É fácil culpar o trabalho. Trabalhar demais cansa; exagerar no trabalho causa esgotamento. Tudo isso é verdadeiro, mas se não percebermos o que está além do trabalho excessivo, dificilmente poderemos cultivar, intencionalmente, defesas adequadas contra o esgotamento em nossa caminhada. A explicação do episódio vem de Rookmaaker, que lembra de suas conversas com Schaeffer. Francis lembrava da ocasião, e falou a Rookmaaker que ele trabalhava excessivamente naquele período porque lhe faltava uma percepção mais real da soberania de Deus. Em outras palavras, Schaeffer colocou sobre os seus ombros o peso de transformar sua congregação e converter vidas. Tal

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peso insustentável demandava dele sempre mais trabalho, mais esforço, mais energia, até que ele se viu esgotado. A descoberta da verdadeira espiritualidade, alguns anos depois, permitiu que Schaeffer fosse ainda mais intencional em descansar na obra consumada de Cristo. Ele poderia servir sem ter o peso messiânico sobre si. Insights Há muitas lições sobre vida cristã e liderança aqui. Vamos resumir algumas: A primeira delas é que teologia ruim mata. Compreensões teológicas distorcidas podem sugar a nossa alegria e a nossa energia, deixando-nos em experiências constantes de ansiedade e esgotamento. Porque Schaeffer tinha uma visão errada da soberania de Deus, acabou tomando para si responsabilidades que não lhe pertenciam. Isso nos faz pensar sobre outros aspecto. Acredito que é o Paul Tripp que chama isso de “Síndrome do Espírito Santo”: nós queremos colocar sobre os nossos ombros algumas tarefas que são exclusivas de Deus. Desejamos tanto que pessoas sejam transformadas, que queremos fazer o papel do Espírito Santo na vida delas. Mas só existe um Espírito Santo. Sempre que queremos forçar a transformação de alguém, acabamos por sufocar o nosso liderado, ou esgotar as nossas energias.

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A liderança tem um peso, mas não precisa ser maior do que o devido. O nosso trabalho é ser fiel; os resultados pertencem a Deus. Essas lições não funcionam apenas para líderes no sentido estrito. Pais que querem forçar a conversão dos filhos, esposas que desejam implementar a transformação dos maridos, jovens que querem encaminhar a mudança dos amigos e muitos outros tipos de pessoas fariam bem em aprender do exemplo de Schaeffer. Devemos trabalhar duro, mas entendendo que o nosso trabalho só vai até um limite. Quem muda os corações é o Senhor. Por isso precisamos lembrar do Salmo 127 e da antiga canção “Não tenhas sobre ti”, que nos diz, na voz lírica de Deus: É meu, somente meu, todo trabalho E o teu trabalho é descansar em mim. Líderes que aprendem a descansar em Deus têm um ministério mais saudável e longo.

17

As expressões culturais revelam algo sobre as pessoas, sobre o nosso tempo, e sobre você.

Semana

Francis Schaeffer

[[ENGAJAMENTO CULTURAL]]

DISCERNINDO OS TEMPOS

04

Schaeffer nos ensina a levar a cultura a sério, tanto para entender o nosso tempo, quanto para demonstrar o senhorio de Jesus em todas as áreas da vida.

Cada fase e episódio da vida de Francis Schaeffer abre muitas possibilidades de reflexão, aprendizado e transformação da nossa própria história. Infelizmente, é impossível tratar tanta coisa nesse espaço restrito – seria necessário uma estrutura melhor para o aprofundamento –, mas cada pequeno insight já traz grande força para o nosso crescimento. Hoje veremos como Schaeffer abriu os olhos para a cultura, e como isso fez diferença em seu ministério. Talvez você lembre das descrições iniciais: Schaeffer cresceu em uma casa sem grande estímulo cultural. No entanto, algumas pessoas, como a professora de artes, Lidie C. Bell, e alguns episódios, como aquela exibição da Abertura 1812 de Tchaikovsky, foram significativos para Schaeffer olhar a cultura com outros olhos. A sua descoberta da filosofia também foi fundamental para considerar os movimentos das civilizações e expressões culturais.

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Em sua fase fundamentalista, ele se fechava para modalidades como a dança, mas mesmo nesse período já apreciava alguns aspectos de arte. Edith conta como, ainda no namoro, visitavam museus, e a primeira viagem que Schaeffer fez à Europa, em 1947, foi marcante porque ele aproveitava cada intervalo para visitar museus e admirar a arquitetura.

As filhas de Schaeffer contam como parte do seu programa em família era visitar exposições. Francis levava as crianças para observar os quadros; depois fazia perguntas sobre que peças eram as suas preferidas; e, finalmente, dava papel e lápis para as crianças desenharem a sua própria arte. Sob a influência de seu mentor, Allan McRae, Schaeffer conheceu obras como The Dawn of Civilization, de Gaston Maspero, que o deixaram impressionado sobre o modo de perceber uma civilização, considerando seus traços históricos, religiosos, culturais e políticos. Sendo aluno de Cornelius Van Til, Schaeffer também aprendeu sobre a importância dos pressupostos e da cosmovisão das pessoas no modo como lidam com a realidade. Já na Europa, Schaeffer iniciou a amizade com Hans Rookmaaker, um jovem 10 anos mais novo do que ele, cujo interesse principal e área de formação eram as artes. Finalmente, Schaeffer também começou a ter contato com vários jovens, como as garotas de um internato em uma vila próxima da sua, na Suíça, ou os amigos de sua filha Priscila, que começara os estudos na universidade de Lausanne. Esse contato demonstrou questões próprias, que refletiam padrões culturais mais amplos.

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Após a saída da crise, Schaeffer teve maior abertura para considerar a cultura e seus fenômenos. E assim passou a lidar intencionalmente com os inputs culturais a sua volta. A abordagem de Schaeffer foi profundamente inovadora. Teólogos de tradição liberal, como Paul Tillich, tinham uma visão aberta para a cultura, mas uma visão enfraquecida do evangelho. No contexto do evangelicalismo, propriamente, não havia nada semelhante ao que Schaeffer decidiu fazer: perceber as expressões culturais atentamente e interagir com elas, demonstrando como revelavam a cosmovisão das pessoas, e também formavam a visão de mundo de muitos. As palestras, livros e filmes de Schaeffer estão cheios de referências a filósofos, escritores, e artistas. Schaeffer demonstra, por meio dessas obras, o fluxo da história (no pensamento), e a condição dos homens na cultura contemporânea. Para se ter uma ideia do quão radical foi essa abordagem, quando Schaeffer foi palestrar em algumas universidades nos Estados Unidos, em 1968, passou pela universidade cristã Wheaton College. Naquele ano, a universidade vivenciava uma grande controvérsia: será que os jovens cristãos poderiam ir ao cinema assistir filmes como "Se o meu fusca falasse"? (lançado naquele ano). Schaeffer proferiu a sua palestra, que estava recheada com exemplos de filmes muito mais desafiadores, como o cinema de Ingmar Bergman e Frederico Fellini.

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Francis Schaeffer aprendeu que a cultura deve ser levada a sério, mesmo quando discordamos das expressões culturais. Elas demonstram e influenciam o modo de pensar e agir das pessoas, e são um instrumento importante para o nosso ministério. Elas também são o campo de atuação cristã, e por isso Schaeffer pôde influenciar e encorajar pessoas como o fotógrafo Sylvester Jacobs e a cantora de ópera Jane Stuart Smith, além de escrever livros como "A arte e a Bíblia" para encorajar os artistas cristãos. Insights Muitas vezes nós ficamos presos em discussões sobre aspectos da cultura, como: "posso ouvir música secular?". A pergunta tem o seu lugar, especialmente quando considera a influência de certas expressões culturais sobre quem as recebe. No entanto, em muitos casos, discussões desse tipo perdem de vista o ponto mais importante: as expressões culturais estão revelando algo sobre as pessoas do nosso tempo – e talvez até sobre nós mesmos. Por isso, precisamos de prudência e de abertura para levar a sério o que as pessoas a nossa volta têm produzido. Também muitas vezes nós temos sido moldados pelos padrões culturais sem nos dar conta. A percepção de Schaeffer nos permite, inicialmente, fazer uma autoavaliação e discernir como a nossa cosmovisão tem sido moldada pelo nosso tempo.

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Entender a cultura e a cosmovisão é fundamental para o tipo de ministério que desenvolveremos. Se queremos comunicar claramente, precisamos desse entendimento. É por isso que Schaeffer usou tanto esse elemento em sua apologética. E por falar em apologética, esse é o nosso tema de amanhã.

23

Apologética é muito mais do que vencer um debate.

Semana

Francis Schaeffer

[APOLOGÉTICA]

05

COMUNICANDO A FÉ COM FIRMEZA E GRAÇA

A apologética de Schaeffer possui traços técnicos que revelam para uma disposição final amorosa. Schaeffer e sua apologética só podem ser entendidos se visualizarmos L'Abri.

Talvez Schaeffer seja mais conhecido por sua apologética, embora ele mesmo se considerasse um "evangelista". Caso "apologética" seja um termo novo para você, ela diz respeito, em resumo, à defesa e à comunicação da fé. Schaeffer não pretendia montar um sistema de abordagem única, pois acreditava que isso era incoerente com a antropologia bíblica, que demonstra criatividade e dinâmica no modo de os seres humanos pensarem e agirem. Mesmo sem definir um sistema nesses termos, é possível identificar contornos da apologética schaefferiana. Quando seguiu para estudar no Westminster Theological Seminary, Schaeffer foi aluno de Cornelius Van Til. Como nos demonstra Colin Duriez, certamente Schaeffer foi aluno de Van Til em mais de uma disciplina, tendo um tempo razoável sob a orientação dele. Permita-me fazer uma breve explicação técnica: Cornelius Van Til é um divisor de águas na história da apologética. Até ele, o modo de se fazer a defesa da fé estava centrada em argumentos e provas que pudessem ser apresentadas em uma espécie de terreno neutro, no

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qual cristão e incrédulo se encontrariam para discutir. Mediante um bom uso de evidências, o incrédulo poderia ser persuadido. Van Til demonstrou que essa perspectiva não era coerente com a doutrina da Queda e da depravação total, e chamou a atenção para o fato de que as evidências são interpretadas segundo os pressupostos ou a cosmovisão do observador. Por causa disso, não basta apresentar evidências ou discutir fatos, é necessário confrontar os pressupostos do incrédulo, demonstrando que, se Deus não for pressuposto, nenhuma racionalidade é possível. Voltemos: Schaeffer foi educado teologicamente sob a influência da apologética reformada vantiliana (que também ficou conhecida como pressuposicionalismo). Com tal formação, Schaeffer colocou seus traços pessoais e definiu um modo de fazer apologética profundamente relevante para a segunda metade do século 20, e também para os nossos dias. A apologética schaefferiana é culturalmente sensível. Como vimos ontem, Schaeffer levava a sério as expressões culturais, então parte de sua abordagem apologética envolvia perceber cosmovisões e pressupostos revelados em tais manifestações.

26

A apologética schaefferiana é pressuposicionalista. Schaeffer nunca discute meros fatos, respondendo com meras evidências. Ele normalmente situa tudo isso em um quadro mais amplo de visões de mundo, colocando em confronto as falsas visões com a visão cristã. A apologética schaefferiana é intencionalmente incômoda. Uma das abordagens descritas por Schaeffer é chamada por ele de "tirar o teto (ou telhado) do incrédulo". Schaeffer afirma que ninguém consegue viver plenamente segundo a sua cosmovisão não cristã, então as pessoas criam telhados que escondem a realidade lá fora e dão a sensação de que está tudo bem. A tarefa do apologeta cristão, segundo Schaeffer, é tirar esse telhado, para que o não cristão possa encarar honestamente a sua situação. Schaeffer também descreve isso como levar o incrédulo às consequências lógicas do seu pensamento. A apologética schaefferiana é amorosa. O movimento descrito acima, de "tirar o telhado", pode ser muito cruel se deixa o homem no estado de desespero. Por isso, Schaeffer sempre ressaltava que esse passo deveria ser dado com muita cautela, e com uma disposição amorosa. Mais do que ganhar o debate, é importante ganhar o coração. Ao levar o homem ao desespero de sua condição, o cristão deve estar pronto para apresentar a graça redentora de Jesus. Algumas pessoas, que gostam de discussões mais abstratas, podem ficar satisfeitas com a descrição acima. Mas Schaeffer não está tão preocupado em estabelecer uma metodologia acadêmica: ele deseja alcançar pessoas reais e não cases hipotéticos.

27

É por isso que a apologética de Schaeffer não pode ser entendida sem L'Abri. Após sua crise de fé, Schaeffer começou a redirecionar o seu ministério. Em 1955, os Schaeffers se desligaram da missão na qual serviam (dirigida pelo grupo sectarista), e decidiram servir a Deus naquilo que entendiam ser um direcionamento da Providência: receber pessoas em sua casa, para demonstrar, por meio de suas vidas, a existência de Deus, e para fornecer respostas honestas a questões honestas. Ao romper com a missão, os Schaeffers perdiam a única fonte de renda que possuíam, mas decidiram depender de Deus. Eles se comprometeram a fazer as suas necessidades financeiras conhecidas apenas do Senhor, em oração, e cumpriram tal compromisso. Por isso, eles viram diversas vezes os milagres de Deus levantando recursos para o seu sustento, com o dinheiro aparecendo na última hora de um modo surpreendente. A comunidade L'Abri era o chalé dos Schaeffers, no qual os visitantes se hospedavam por uns dias, e apresentavam suas questões. Após a Segunda Guerra Mundial, a juventude européia, mas não só ela, estava em busca de muitas respostas existenciais. Schaeffer acolheu ateus, cristãos decepcionados com a igreja, homossexuais, budistas, existencialistas, hippies, e gente dos mais variados tipos, oferecendo um espaço de graça para que eles fossem ouvidos e confrontados em suas crenças.

28

Por isso, parte fundamental da apologética de Schaeffer, mas que nem sempre pode ser captada dos seus livros, é a postura de acolhimento que ele manifestava. Schaeffer literalmente os acolhia em sua casa, mas também tinha uma postura aberta no seu modo de falar com as pessoas. Schaeffer também considera a comunidade como um movimento apologético fundamental. Ele lembra de Jesus, afirmando que nós seríamos conhecidos como Seus discípulos se amássemos uns aos outros (Jo 13.35), e usa isso para dizer que o amor funciona como a apologética final. Se nós expressarmos a beleza da graça de Deus em nossos relacionamentos, atrairemos as pessoas para a mensagem que estamos comunicando. Insights Nós falamos bastante em cosmovisão e pressupostos. Talvez você precise aprofundar os conhecimentos sobre isso, mas basicamente queremos falar do modo como você percebe o mundo e responde a ele. Nessa consideração de Schaeffer, é muito importante fazermos a sondagem dos nossos valores e comportamentos: o que tem moldado a nossa visão de mundo? Estamos em uma época de muitos debates pelas redes sociais. Sem olhar nos olhos uns dos outros, somos debochados e ríspidos, preferindo humilhar o interlocutor e vencer o debate, a buscar pontos de convergência ou pelo menos um distanciamento respeitoso. A sua abordagem nos debates reflete amor?

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Acolher pessoas é um verdadeiro desafio. Ter uma postura hospitaleira, dedicando o nosso tempo e, por vezes, os nossos recursos e a nossa casa, é algo difícil. Mas, mesmo que não criemos um L'Abri como o Schaeffer, podemos manifestar pequenas aberturas para servir às pessoas, ouvindo suas questões e oferecendo respostas honestas. Nossas igrejas confirmam ou desmentem a mensagem que proclamamos. Enquanto não vivenciarmos relacionamentos legítimos de amor e graça, será difícil para as pessoas ouvirem o que afirmamos.

30

Deus chamou você para encarar algumas batalhas.

Semana

Francis Schaeffer

[ESPIRITUALIDADE]

BATALHANDO EM TODA A VIDA

06

Os desafios de Schaeffer são os nossos desafios. Deus nos dará graça nas batalhas.

Ao longo das reflexões anteriores, tentei demonstrar que a vida e o pensamento de Francis Schaeffer são fonte de desafio e encorajamento para nós. Schaeffer funciona como um mentor a quem precisamos ouvir de tempos em tempos, se desejamos ministrar com fidelidade no mundo em que vivemos. Diante desse cenário, é interessante perceber que a trajetória de Schaeffer é de muitas batalhas. Ele precisou lutar com as suas limitações cognitivas, com a sua inclinação à melancolia, com a agressividade de sua denominação eclesiástica, com a difamação de que considerava a sua abordagem "perigosa" – mesmo entre os reformados. Mas, diante de tantas batalhas, há duas que merecem o nosso destaque agora: a batalha pela causa, e a batalha pela saúde. Um dos temas mais recorrentes nas obras de Schaeffer é o senhorio de Jesus sobre a totalidade da vida. Essa foi uma das ênfases centrais, a causa mais importante pela qual Schaeffer batalhou. Reconhecer o senhorio de Jesus implica nos render diante do verdadeiro Deus. Reconhecer o senhorio de Jesus em todas as áreas da vida implica perceber e promover o

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impacto do evangelho em campos tão distintos como a espiritualidade e a política, a ecologia e as artes, a economia e o direito. Schaeffer era um evangelista. Como parte do seu evangelismo, ele escreveu sobre artes, direito, política, ecologia, psicologia, ciências, igreja e cultura. Essa batalha promoveu profundo impacto sobre a igreja. Schaeffer influenciou indivíduos que também tiveram grande relevância em diversas áreas, como Nancy Pearcey (ciência), William Edgar (Apologética), Ralph Winter (Psicologia), Os Guinness (Sociologia), Darrow Miller (Ação social e desenvolvimento), dentre tantos outros. Schaeffer conclamou a igreja a sair de sua zona de conforto e se envolver no debate público. Isso permitiu que novos ministérios surgissem, e que os cristãos fossem mais ativos em algumas discussões, como a questão do aborto fomentada a partir do caso Roe v. Wade (1973) e as questões políticas. A última batalha de Schaeffer foi contra o câncer. No fim da década de 70, enquanto participava das gravações de seus filmes, ficou evidente que Schaeffer estava perdendo muito peso. Com a devida investigação, descobriram um linfoma. Schaeffer fez o tratamento, e teve melhora significativa. Nesse intervalo, ainda pôde produzir mais, chegando a editar as suas obras completas, publicadas em 1982. No entanto, após algum tempo o câncer voltou.

33

Edith conta como teve de fazer a difícil escolha entre deixar o seu marido ligado às máquinas, ou levá-lo de volta para falecer em casa. Ela optou pela última alternativa.

Os últimos dias de Schaeffer foram marcados pela presença dos familiares, janelas abertas em casa e a sua música clássica preferida - Haendel. Schaeffer faleceu em 15 de maio de 1984, em um ambiente repleto de beleza, exatamente como havia cultivado em sua caminhada. Insights A vida de Schaeffer nos desafia a reconhecer o senhorio de Jesus em todas as áreas da vida. Esse é um sinal da verdadeira espiritualidade. Schaeffer nos encorajar a lutar o bom combate. Existem batalhas que fomos chamados a enfrentar; devemos encará-las, certos de que a graça do Senhor nos acompanhará.

34

Deus providencia beleza, força e encorajamento por meio de pessoas.

Semana

Francis Schaeffer

[RELACIONAMENTOS]

07

FRANCIS & EDITH

O relacionamento de Francis e Edith Schaeffer demonstra que Deus usa o casamento para providenciar beleza e força em nossas vidas.

Esse é um apêndice para apresentar um detalhe pouco explorado nas reflexões anteriores, mas fundamental para se entender a relevância de Francis Schaeffer. Uma de minhas teses mais básicas é a de que não é possível entender o pensamento de Francis Schaeffer adequadamente sem considerar a sua vida e o seu contexto. Os conceitos trabalhados em suas obras foram forjados em sua história e testados em L’Abri. Separados dessas realidades, tais conceitos podem ser interpretados como fórmulas acadêmicas que não refletem a realidade de como Schaeffer pensava e trabalhava. Nessa perspectiva, outra premissa é importante: não existiria "Francis Schaeffer" se não houvesse Edith Schaeffer. É isso que pretendo demonstrar a seguir. Enquanto Francis nasceu em uma família desconectada da igreja e sem estímulo intelectual, Edith era filha de missionários, experimentando a dinâmica do ministério dentro do seu lar. Francis e Edith se conheceram em uma situação interessante: Schaeffer já estava em seus estudos préministeriais, cursando-os no Hampden-Sydney College (Virginia), mas estava de férias na sua cidade. Edith havia

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se mudado para lá há pouco tempo, e estava congregando na igreja da qual Schaeffer participava. Naquela igreja haveria uma palestra para os jovens, proferida por um rapaz que havia sido membro dali, mas que agora era um unitarista. O jovem, Ed Bloom, defendeu a tese de que Jesus não é o filho de Deus, e de que a Bíblia não é a Palavra de Deus. Encerrada a palestra, Edith estava pronta para responder, quando viu que alguém foi mais rápido. Do outro lado, um rapaz se levantou e falou que ainda não tinha todas as respostas, mas que por experiência própria sabia que Jesus é o filho de Deus e que a Bíblia é a Palavra de Deus. Edith ficou curiosa e perguntou para a amiga ao lado: "quem é esse rapaz?". A amiga respondeu que era Francis, um jovem que estava se preparando para estudar teologia, e cujos pais não estavam muito satisfeitos com tal decisão. Assim que Francis sentou, Edith se levantou, e pôde oferecer uma argumentação mais embasada, utilizando noções de J. Gresham Machen que havia aprendido com seu pai e com algumas leituras. Agora foi a vez de Francis ficar curioso: "quem é essa moça?", perguntou ao amigo ao lado. O amigo respondeu que era Edith Seville, filha de missionários que havia se mudado para a cidade. Ao final da programação, Francis foi apresentado a Edith. Ele não perdeu tempo e perguntou se podia levá-la em casa. Ela falou que tinha um compromisso. Ele foi incisivo: "desmarque". Ela desmarcou, ele a levou em casa, e começaram a conversar, crescendo em interesse mútuo até firmarem o relacionamento.

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Francis e Edith se casaram logo que ele terminou os estudos pré-ministeriais, em 1935. Agora ele seguiria para o seminário teológico, e enquanto estava nessa fase de estudos, Edith contribuía com a renda familiar, trabalhando como costureira. Esse apoio de Edith foi fundamental por toda a vida deles. Edith providenciava força e ânimo, cuidando de Schaeffer em suas crises e encorajando-o para os desafios. O ministério de Schaeffer não teria o impacto que teve sem a companhia de Edith. Ambos possuíam criações bastante diferentes, mas também personalidades bem distintas. Schaeffer era mais melancólico, tendo que lutar com uma tendência à depressão ao longo de sua vida. Também tinha o temperamento explosivo e, às vezes, agia de modo grosseiro. Edith era mais sofisticada em seus modos e tinha uma energia incrível. Barry Hankins destaca tais qualidades: ela conseguia servir a uma vila inteira, recebendo e cozinhando para dezenas de hóspedes, mantendo o ritual de cereal e conversa com o marido até tarde da noite, seguindo (após a meia-noite) para trabalhar em algum de seus livros e então dormindo poucas horas, para acordar às 5h e fazer sua aeróbica em preparação para o dia. Hankins nos diz que ela viveu uma vida dinâmica com apenas 3 a 4 horas de sono por noite. É importante destacar, também, o ambiente de beleza e acolhimento que Edith criou em L’Abri. Esse ambiente era

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intencional, e plenamente articulado com o método apologético de Francis. A demonstração de amor e valorização do homem, de abertura para investigação da vida, e de percepção da beleza da vida com Jesus estavam corporificadas no L’Abri que Edith ajudou a formar. Edith escreveu praticamente a mesma quantidade de livros de Francis, e ele recomendava que as obras de ambos fossem lidas conjuntamente. Aquilo que Schaeffer trabalhava em termos de conceitos era ilustrado pelos ambientes e histórias contadas por Edith. Francis faleceu em 1984, e Edith seguiu servindo a Deus. Ela faleceu em 30 de março de 2013. Insights Em nossa cultura, o conceito de auxiliadora é visto com desdém, como se implicasse inferioridade. Ninguém poderia dizer que Edith era inferior a Schaeffer. Ela usou os seus dons para auxiliar o seu marido e foi peça fundamental para impactar a igreja no século 20. A Bíblia no ensina que "é melhor serem dois do que um", por causa do apoio que um pode dar ao outro. Francis e Edith ilustram bem o ponto. Seja no casamento ou em outros relacionamentos, nós podemos ser fonte de força e encorajamento para as pessoas, diante de seus desafios e vocações. Você tem providenciado beleza e força para outras pessoas?

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[INTERAÇÃO]

PERGUNTAS & RESPOSTAS

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Essas perguntas foram feitas nos grupos de whatsapp durante a Semana Francis Schaeffer. Fiz poucas edições, preferindo manter a linguagem e o formato coloquial do grupo.

Allen, por que a morte da razão não é um bom livro para se começar a ler Schaeffer? Qual seria a sequência para melhor entendimento? A morte da razão tem muito conteúdo condensado, de modo que é fácil se perder na argumentação. O Deus que intervém desenvolve o raciocínio de modo mais gradual e ilustrado. Na trilogia, é melhor começar pelo “Deus que intervém”. Qual o melhor livro para começar a conhecer mais do Schaeffer? Sugiro uma das três portas de entrada: 1 Para quem curte apologética: O Deus que intervém 2 Para quem curte espiritualidade: Verdadeira espiritualidade 3 Para quem curte análise cultural: Como viveremos?

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Onde encontro a história da infância e adolescência mais completa? Tem algum livro que conta mais em detalhes? Existem três formas: 1 A mais completa de todas é a autobiografia escrita por Edith Schaeffer, chamada “The tapestry”. Só tem em inglês, e em sebos virtuais. 2 Uma boa biografia é a do Colin Duriez - “Francis Schaeffer: na authentic life”. Ouvi dizer que será publicada em português, mas não sei dizer quando. 3 Eu trato desse período no meu curso online “A vida de Francis Schaeffer”. E sua ligação com o neocalvinismo, como se deu? Schaeffer não era exatamente um neocalvinista, mas teve influência de Abraham Kuyper via Cornelius Van Til, que professor de Schaeffer no seminário, e conheceu algo da filosofia reformacional via Hans Rookmaaker, seu amigo pessoal.

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Sobre cultura, tenho algumas duvidas quanto à minha prática como cristã mesmo. Moro no interior de São Paulo, e a dita maior festa junina de São Paulo é na cidade que trabalho, Votorantim. É uma festa normal, com vários shows. Uma vez estava conversando com um rapaz e eu disse que queria ir na festa, comer. Ele achou absurdo, porque não cabia a uma crente participar de forma alguma de uma festa junina...mas ao mesmo tempo ele dizia que ele tinha que ir porque estava trabalhando como segurança no local. Eu argumentei que, se na visão de Deus não seria certo um crente participar, não teria brechas do tipo "ah, mas trabalhar pode", e que ele deveria ter fé e pedir a Deus que não precisasse trabalhar lá... Enfim, não sei o que Schaeffer diria a respeito também. No início do "verdadeira espiritualidade", Schaeffer discute um pouco as noções de uma espiritualidade centrada em listas e definições do que "pode" e "não pode". Ele nos encaminha na direção de perceber que uma espiritualidade saudável está além das listas. Quem só vive na base do "não pode", tem alguns problemas. Mas quem só vive querendo quebrar "tabus" em nome da liberdade cristã, também tem problemas. Crescer em maturidade envolve o exercício da liberdade cristã em amor e prudência. Nunca é apenas uma festa ou expressão cultural: tem a ver com a nossa motivação e o desejo do nosso coração, com aquilo que estamos comunicando, com os padrões da nossa comunidade, etc.

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Allen, como levar a sério as música de estilo funk e pregar o evangelho através desse entendimento? Olá, Maikon, o funk é desafiador para nós. Não podemos meramente legitimar o funk, tratando-o como mera "expressão cultural". As expressões culturais demonstram cosmovisões, que podem ser verdadeiras ou falsas. A ideia do Schaeffer não seria começarmos a criar versões gospel do funk, mas tentar entender o que o funk fala sobre a visão de mundo das pessoas a nossa volta. E isso deixa as coisas mais claras: O funk fala sobre a distorção da sexualidade, sobre ganância (funk ostentação) e sobre uma geração hedonista. Há mais a ser considerado nisso, mas esse aspecto básico é fácil de discernir. A questão é: por que isso tudo faz tanto sucesso? O que tais pessoas estão buscando? Na apologética de Schaeffer, ele faria tais pessoas confrontarem as consequências lógicas de suas escolhas. Quais os resultados de uma vida segundo tais imagens apresentadas pelos funks? Enfim, essas são algumas possibilidades.

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Allen, estas igrejas que o Schaeffer ajudou a fundar têm ramos específicos aqui no Brasil? Ou o mais próximo disso são as da IPB? O L’Abri, com Guilherme de Carvalho , é algo pra manter esse legado com as mesmas 'bandeiras'? Depois da crise, Schaeffer foi se afastando dos grupos mais fechados. Um dos líderes daquele grupo achava que Schaeffer queria tomar o poder da denominação, e até chamou Schaeffer de comunista! Eu conto essas histórias em meu curso online “A vida de Francis Schaeffer”. Na Europa, Schaeffer ajudou a fundar a International Presbyterian Church, denominação que existe até hoje. Aqui no Brasil, em termos de teologia, a IPB é a mais próxima, mas ela não pode ser considerada uma igreja oficialmente influenciada por Schaeffer. O L’Abri Brasil certamente carrega o legado schaefferiano. Após tantos anos da morte de Schaeffer, algumas coisas mudaram, mas pela graça de Deus temos homens fiéis aqui no Brasil tentando servir à igreja.

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Allen, quais os limites devemos ter ao interagir com a cultura que nos cerca? Não apenas no sentido de apreciação e conclusões. Mas, de participação tbm dela? Quais perguntas deve ter em mente nessa interação? Alguns limites são: - Os mandamentos de Deus (Isso glorifica a Deus? Existe algum mandamentos que proíbe ou ordena o contrário disso?) - A nossa consciência (Eu me sinto culpado em participar? Vou violar minha consciência ao fazer?) - A nossa comunidade (Serei pedra de tropeço para algum irmão mais fraco na fé? A cultura da minha comunidade lida bem com isso?) Qual 'grupo' específico tem produzido conteúdo culturalmente relevante fora dos contornos eclesiásticos que valem a pena apreciarmos? Teria algum link de, digamos, escritores, poetas, atores, cientistas que lidam de modo relevante com a cultura, sem necessariamente levantar uma denominação, um linguajar religioso? Há muita coisa a indicar, mas, resumindo: Acho que vocês poderiam conhecer o The Rabbit Room (grupo de escritores cristãos), o CIVA (christian in the visual arts) e a ABC2 (cristãos na ciência).

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Ficou com vontade de conhecer mais sobre Francis Schaeffer? Conheça os recursos abaixo:

A VIDA DE FRANCIS SCHAEFFER O curso online "A vida de Francis Schaeffer" faz uma profunda investigação sobre a caminhada desse grande líder cristão, percebendo como ela pode ser transformadora para a nossa vida.

TEMAS DE FRANCIS SCHAEFFER O curso online "Temas de Francis Schaeffer" discute os principais conceitos das principais obras de Schaeffer, para nos ajudar na leitura e no entendimento das propostas dele.

Ambos os cursos estão disponíveis na Academia BJC – uma plataforma com vários cursos online a sua disposição. A Academia BJC funciona como o Netflix: com uma assinatura mensal você tem acesso a vários cursos em diversas áreas, como: desenvolvimento pessoal, espiritualidade, engajamento cultural, cosmovisão, apologética e aconselhamento. Para conhecer mais e assinar, acesse:

http://bit.ly/academiabjc

SOBRE O AUTOR:

Allen Porto é pastor presbiteriano na cidade de São José do Rio Preto. É mestre em teologia sagrada, com concentração em teologia filosófica. Tem se dedicado a estudar a vida e o pensamento de Francis Schaeffer, na academia e fora dela. Tem implementado as noções de Schaeffer em seu próprio ministério. Assumiu a missão de ajudar outras pessoas a descobrir os preciosos insights que Schaeffer pode proporcionar para uma vida cristã mais bela e saudável. Para acompanhá-lo na internet, basta segui-lo nos seus canais de publicação: Blog "A Bíblia, o Jornal e a Caneta" http://allenporto.com Podcast BJCast: http://bjcast.allenporto.com Instagram: @allenporto Facebook: @blogbjc e @allenporto Twitter: @allenporto

(BJC):

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