Jung E O Taro[1]

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SALLIE NICHOLS, Jung e o Taro Uma jornada arquetípica LAURENS VAN DER POST

Introdução Uma das principais fontes de incompreensão da natureza e da magnitude da contribuição de Jung para a vida do nosso tempo deve-se à presunção de que o seu interesse maior se concentrava no que ele veio a chamar ''inconsciente coletivo" no homem. É verdade que ele foi o primeiro a descobrir e explorar o inconsciente coletivo e a dar-lhe uma importância e um significado realmente contemporâneos. Posteriormente não foi o mistério desse desconhecido universal na mente do homem, mas um mistério muito maior , que lhe obcecou o espírito e conduziu toda a sua investigação, a saber, o mistério da consciência e da sua relação com o grande inconsciente. Não é de admirar que fosse ele o primeiro a estabelecer a existência do maior e do mais significativo de todos os paradoxos: o inconsciente e o consciente existem num estado profundo de interdependência recíproca e o bem-estar de um é impossível sem o bem-estar do outro. Se alguma vez a conexão entre esses dois grandes estados de ser for dimi nuída ou danificada, o homem ficará doente e despojado de significação; se o fluxo entre um e outro for interrompido por muito tempo, o espírito e a vida humana na Terra serão remergulhados no caos e na velha noite. Para ele, por conseguinte, a consciência não é, como acreditam, por exemplo, os positivistas lógicos do nosso tempo, um simples es tado de mente e espírito intelectual e racional. Não é alguma coisa que dependa exclusivamente da capacidade do homem para a articulação, como sustentam algumas escolas de filosofia moderna, a ponto de afirmar que o que não puder ser articulado verbal e racionalme nte não tem sentido e não é digno de expressão. Pelo contrário, ele provou empiricamente que a consciência não é apenas um processo racional e que o homem moderno, precisamente, está doente e destituído de significação porque, por séculos desde a Renascença, perseguiu cada vez mais um desenvolvimento enviesado no pressuposto de que a

consciência e os poderes da razão são a mesmíssima coisa. E se alguém achar que isso é exagero, é só lembrar do "Penso, logo existo!" de Descartes e logo identificará a arro gância européia que ocasionou a Revolução Francesa, gerou uma prole monstruosa na Rússia Soviética e está produzindo a subversão do espírito criador do homem no que foram outror a cidadelas de significado vivo como igrejas, universidades e escolas em todo o mu ndo. Jung apresentou provas, extraídas do seu trabalho entre os chamados "loucos" e as centenas de pessoas "neuróticas" que lhe pediam uma resposta para os seus problema s, de que a maior parte das formas de insanidade e desorientação mental eram causadas p or um estreitamento da consciência e de que, quanto mais estreita e mais racionalment e focalizada fosse a consciência do homem, tanto maior seria o perigo de hostilização da s forças universais do inconsciente coletivo, a tal ponto que elas se levantariam, p or assim dizer, em rebelião e esmagariam os últimos vestígios de uma consciência penosamente adquirida pelo homem. Não, a resposta, para ele, era clara: apenas mediante um tra balho continuado para o aumento da consciência o homem encontrava o seu maior significad o e a realização dos seus valores mais altos. Ele estabeleceu, para recolocá-lo em seu parad oxo nativo, que a consciência é o sonho permanente e mais profundo do inconsciente, e qu e até onde se pode traçar a história do espírito do homem, até onde ele se desfaz do mito e da lenda, o inconsciente lutou incessantemente para lograr uma consciência cada vez m aior; uma consciência que Jung preferia chamar de "percepção". Essa "percepção" para ele, e para mim, incluía toda a sorte de formas não-racionais de percepção e conhecimento, tant o mais preciosas porque são as pontes no meio da riqueza inexaurível do significado ai nda não compreendido do inconsciente coletivo, sempre pronto para carrear reforços desti nados a expandir e fortalecer a consciência do homem, empenhado numa campanha sem fim contra as exigências da vida no aqui e agora. Esta talvez seja uma das suas mais importantes contribuições para uma nova e mais significativa compreensão da natureza da consciência: Só poderia ser renovada e amplia da, na medida em que a vida exigisse que ela fosse renovada e ampliada, pela manutenção de suas linhas não-racionais de comunicação com o inconsciente coletivo. Por esse motivo Jung dava grande valor a todos os caminhos não-racionais ao longo dos quais o home m tentara, no passado, explorar o mistério da vida e estimular o seu conhecimento co nsciente

do universo que se expandia à sua volta em novas áreas de ser e conhecer. Essa é a explicação do seu interesse, por exemplo, pela astrologia, e é também a explicação da significação do Taro. Ele reconheceu de pronto, como o fez em muitos outros jogos e tentativas primordiais de adivinhação do invisível e do futuro, que o Taro tinha sua origem e antecipação nos padrões profundos do inconsciente coletivo, com acesso a potenciais de maior percepção à disposição desses padrões. Era outra ponte não-racional sobre o aparente divisor de águas entre o inconsciente e a consciência, para carrear noite e dia o que deve ser o crescente fluxo de movimento entre a escuridão e a luz. Em sua profunda investigação do Taro e em sua iluminada exegese de seu padrão como tentativa autêntica de ampliação das possibilidades das percepções humanas, Sallie Nichols, numa forma que me é preciso descrever de maneira tão sucinta, prestou imens o serviço à psicologia analítica. O livro dela nos enriquece e ajuda a compreender as te rríveis responsabilidades que nos são impostas pela consciência. Além disso, ela fez em seu li vro alguma coisa que as pessoas que professam reconhecer a grande obra levada a cabo por Jung, tantas vezes deixam de fazer. Jung, como pessoa profundamente intuitiva, f oi compelido por sua visão demoníaca a não se demorar por muito tempo em nenhum aspecto particular de sua visão. Foram-lhe precisos tudo o que ele tinha de razão e o método d e cientista devoto que ele era, para dar-lhe a vontade de permanecer o tempo sufic iente com determinada fase do seu trabalho a fim de estabelecer-lhe empiricamente a valida de. Mas, feito isso, ela tinha, por assim dizer, de levantar acampamento e mandar a carav ana de sua mente dirigir-se ao posto seguinte da jornada interminável. O seu espírito, como não p odia deixar de ser numa época tão exposta ao perigo quanto a nossa (uma alma intuitiva exortou-o), era um espírito desesperadamente apressado. Em conseqüência disso, tudo o que fez necessita de ampliação. E Sallie Nichols, neste livro, prestou à psicologia ju nguiana e a quantos tentam servi-la, imenso serviço pelo modo com que ampliou a história e a nossa compreensão do papel de importante fonte não-racional da consciência. E o mais importante de tudo isso é que não o fez de forma árida e acadêmica, mas como um ato de conhecimento derivado de sua própria experiência do Taro e das suas luzes estranhame nte

translúcidas. Em resultado do que seu livro não apenas vive mas acelera a vida em qu antos venha a tocar. Laurens van der Post

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