Macroeconomia 3aedicao - Paul Krugman

  • Uploaded by: Daniel Gusmao
  • 0
  • 0
  • January 2021
  • PDF

This document was uploaded by user and they confirmed that they have the permission to share it. If you are author or own the copyright of this book, please report to us by using this DMCA report form. Report DMCA


Overview

Download & View Macroeconomia 3aedicao - Paul Krugman as PDF for free.

More details

  • Words: 378,069
  • Pages: 1,137
Loading documents preview...
Macroeconomia 3.ED.

Paul Krugman Robin Wells TRADUÇÃO Regina Célia Simille de Macedo Prêmio Nobel de Economia - 2008

Sumário Folha de rosto Cadastro Copyright Dedicatória Os Autores Prefácio A terceira edição: o que há de novo Vantagens deste livro

Agradecimentos Introdução—Negócios Comuns da Vida Qualquer Domingo

Capítulo 1. Princípios Básicos O que você vai aprender neste capítulo Princípios que fundamentam a escolha individual: o cerne da economia Interação: Como as economias funcionam Interações do conjunto da economia

Capítulo 2. Modelos Econômicos: Trade-Offs e Comércio

O que você vai aprender neste capítulo Modelos em Economia: alguns exemplos importantes O uso de modelos Capítulo 2 Apêndice Gráficos em Economia

Capítulo 3. Oferta e Demanda O que você vai aprender neste capítulo Oferta e demanda: um modelo de mercado competitivo A curva da demanda A curva da oferta Oferta, demanda e equilíbrio Mudanças na oferta e demanda Mercados competitivos – e outros

Capítulo 4. Controle de Preços e Cotas: Intervenção nos Mercados O que você vai aprender neste capítulo Por que os governos controlam os preços Tetos de preços Pisos de preços Controle de quantidades

Capítulo 5. Comércio Internacional O que você vai aprender neste capítulo Vantagem comparativa e comércio internacional Oferta, demanda e comércio internacional Os efeitos da proteção comercial A economia política da proteção comercial Capítulo 5 Apêndice Excedente do Produtor e do Consumidor

Capítulo 6. Macroeconomia: Quadro Geral O que você vai aprender neste capítulo A natureza da macroeconomia

O ciclo econômico Crescimento econômico de longo prazo Inflação e deflação Desequilíbrios internacionais

Capítulo 7. PIB e IPC: Monitorando a Economia O que você vai aprender neste capítulo As contas nacionais PIB Real: uma medida do produto agregado Índices de preços e nível de preços agregado

Capítulo 8. Desemprego e Inflação O que você vai aprender neste capítulo A taxa de desemprego A taxa natural de desemprego Inflação e deflação

Capítulo 9. Crescimento Econômico de Longo Prazo O que você vai aprender neste capítulo Comparando economias no tempo e no espaço As fontes de crescimento de longo prazo Por que taxas de crescimento diferem Êxito, decepção e fracasso O crescimento mundial é sustentável?

Capítulo 10. Poupança, Gasto de Investimento e Sistema Financeiro O que você vai aprender neste capítulo Combinação da poupança com gasto de investimento O sistema financeiro Flutuações financeiras Capítulo 10 Apêndice Compreensão Total do Valor Presente

Capítulo 11. Receitas e Despesas O que você vai aprender neste capítulo O multiplicador: uma introdução informal Gastos de consumo Gastos de investimento O modelo renda-despesa Capítulo 11 Apêndice Derivando o Multiplicador Algebricamente

Capítulo 12. Demanda Agregada e Oferta Agregada O que você vai aprender neste capítulo Demanda agregada Oferta agregada O modelo de demanda agregada – oferta agregada (AD-AS) Política macroeconômica

Capítulo 13. Política Fiscal O que você vai aprender neste capítulo Política fiscal: conceitos básicos Política fiscal e o multiplicador Saldo orçamentário Implicações de longo prazo da política fiscal Capítulo 13 Apêndice Os Impostos e o Multiplicador

Capítulo 14. Moeda, Bancos e o Federal Reserve O que você vai aprender neste capítulo O significado do dinheiro O papel monetário dos bancos Determinantes da oferta monetária O sistema do Federal Reserve dos Estados Unidos Evolução do sistema bancário americano

Capítulo 15. Política Monetária

O que você vai aprender neste capítulo A demanda de moeda Moeda e taxas de juros Política monetária e demanda agregada Moeda, produto e preços no longo prazo Capítulo 15 Apêndice Reconciliação dos Dois Modelos da Taxa de Juros

Capítulo 16. Inflação, Desinflação e Deflação O que você vai aprender neste capítulo Moeda e inflação Inflação moderada e desinflação Inflação e desemprego no longo prazo Deflação

Capítulo 17. Crises e Consequências O que você vai aprender neste capítulo Bancos: benefícios e perigos Crises bancárias e pânicos financeiros As consequências das crises bancárias A crise de 2008 e suas consequências Consequências na Europa Regulamentação na esteira da crise

Capítulo 18. Macroeconomia: Eventos e Ideias O que você vai aprender neste capítulo Macroeconomia clássica A grande depressão e a revolução keynesiana Desafios à análise econômica keynesiana Expectativas racionais, ciclos econômicos reais e a nova macroeconomia clássica Expectativas racionais Consenso e conflito na macroeconomia moderna

Capítulo 19. Macroeconomia de Economia Aberta O que você vai aprender neste capítulo Fluxos de capital e balanço de pagamentos O papel da taxa de câmbio Política cambial Taxas de câmbio e política macroeconômica

Glossário Soluções para as Questões “Teste seu Entendimento” Capítulo 1 Capítulo 2 Capítulo 3 Capítulo 4 Capítulo 5 Capítulo 6 Capítulo 7 Capítulo 8 Capítulo 9 Capítulo 10 Capítulo 11 Capítulo 12 Capítulo 13 Capítulo 14 Capítulo 15 Capítulo 16 Capítulo 17 Capítulo 18 Capítulo 19

Tabelas de Dados Macroeconômicos

Índice

Cadastro

Copyright Do original: Macroeconomics Tradução autorizada do idioma inglês da edição publicada por Worth Publishers Copyright © 2013, 2009, 2006 by Worth Publishers © 2015, Elsevier Editora Ltda. Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei no 9.610, de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito da editora, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravação ou quaisquer outros. Copidesque: Edna da Silva Cavalcanti Revisão: Casa Editorial BBM Editoração Eletrônica: Thomson Digital Elsevier Editora Ltda. Conhecimento sem Fronteiras Rua Sete de Setembro, 111 – 16o andar 20050-006 – Centro – Rio de Janeiro – RJ – Brasil Rua Quintana, 753 – 8o andar 04569-011 – Brooklin – São Paulo – SP – Brasil Serviço de Atendimento ao Cliente 0800-0265340 [email protected] ISBN 978-85-352-7621-3 ISBN (versão eletrônica): 978-85-352-7622-0

Nota Muito zelo e técnica foram empregados na edição desta obra. No entanto, podem ocorrer erros de digitação, impressão ou dúvida conceitual. Em qualquer das hipóteses, solicitamos a comunicação ao nosso Serviço de Atendimento ao Cliente, para que possamos esclarecer ou encaminhar a questão.

Nem a editora nem o autor assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou perdas a pessoas ou bens, originados do uso desta publicação.

Dedicatória

Em qualquer lugar, para os iniciantes que todos fomos um dia.

Os Autores Paul Krugman, que recebeu o Prêmio Nobel de Economia de 2008, é professor de Economia na Universidade de Princeton, onde leciona regularmente o curso introdutório. Formou-se na Universidade de Yale e tem PhD pelo MIT. Antes de sua posição atual, lecionou na Universidade de Yale, Stanford e MIT. Também pertenceu por um ano à equipe do Conselho de Assessores Econômicos da Presidência dos Estados Unidos, entre 1982 e 1983. Suas pesquisas estão principalmente na área de comércio internacional, sendo um dos criadores da “nova teoria do comércio”, que se concentra em retornos crescentes e concorrência imperfeita. Também trabalha com finanças internacionais, concentrando-se em crises cambiais. Em 1991, recebeu a medalha John Bates Clark da American Economic Association. Além das aulas e da pesquisa acadêmica, escreve extensivamente para o público leigo. É colunista regular do New York Times. Seus livros mais recentes, ambos best-sellers, incluem The Return of Depression Economics and the Crisis of 2008, uma história das dificuldades econômicas recentes e suas implicações para a política econômica, e The Conscience of a Liberal, um estudo da economia política da desigualdade econômica e suas relações com a polarização da política da era dourada até o presente. Seus livros anteriores, Peddling Prosperity e The Age of Diminished Expectations, tornaram-se clássicos modernos. Robin Wells foi professora e pesquisadora em Economia na Universidade de Princeton. Formou-se na Universidade de Chicago e tem PhD pela Universidade da Califórnia, em Berkeley; fez pesquisa de pós-doutorado no MIT. Lecionou na Universidade de Michigan, Universidade de Southampton (Reino Unido), Stanford e MIT. Suas aulas e pesquisa se concentram em teoria da organização e incentivos.

Prefácio Histórias são boas se as ouvimos, lemos, escrevemos ou imaginamos. Mas as histórias que lemos são boas especialmente para nós. De fato, acredito que sejam essenciais. Frank Smith

De Paul e Robin Há mais de uma década, quando começamos a escrever a primeira edição deste livro, tivemos muitas ideias simples: aspectos particulares da economia que acreditávamos que não tinham sido cobertos da maneira correta pelos livros didáticos existentes. Mas também tivemos uma grande ideia: a crença de que um livro de economia pode e deve ser construído em torno de narrativas, que nunca deve perder de vista o fato de que a economia é, no final, um conjunto de histórias sobre o que as pessoas fazem. Muitas das histórias que os economistas contam assumem a forma de modelos – para qualquer coisa, os modelos econômicos são histórias sobre como o mundo funciona. Mas acreditamos que a compreensão dos estudantes e a valorização dos modelos podem ser bastante reforçadas se eles forem apresentados, tanto quanto possível, no contexto de histórias sobre o mundo real, histórias que ilustram os conceitos econômicos e tocam nas preocupações que enfrentamos como indivíduos que vivem em um mundo moldado por forças econômicas. Essas histórias foram integradas em todas as edições, incluindo essa, que contém mais histórias do que as edições anteriores. Mais uma vez, você as encontrará na abertura dos capítulos, nas seções Economia em Ação, Para Mentes Curiosas e Comparações Globais e agora, também, nos novos Estudos de Casos. Como na edição anterior, fizemos grandes mudanças e atualizações para refletir eventos recentes – eventos que surgiram rápido em uma economia mundial conturbada e problemática, que está afetando a vida e perspectivas de estudantes em todos os lugares. A atualidade é muito importante para nós. Também expandimos a abrangência de questões empresariais, tanto porque a experiência empresarial é uma importante fonte de lições econômicas como também porque a maioria dos estudantes acabará por trabalhar no mundo dos negócios. Estamos especialmente satisfeitos com a forma como os novos estudos de casos surgiram e como aumentaram em quantidade e riqueza nossas histórias. E fizemos um grande esforço para racionalizar e simplificar em locais onde o zelo pelo acerto estava à frente do nosso compromisso de mantê-lo claro. Tivemos muita sorte com os revisores, que trabalharam muito, ajudando-nos a tornar este livro ainda melhor. E também estamos profundamente gratos a todos os usuários que nos deram feedback, dizendo o que funciona e, ainda mais importante, o que não

funciona. (Também recebemos comentários úteis daqueles que optaram em não usar o livro, explicando o motivo!) Muitas coisas mudaram desde a segunda edição deste livro. Como veremos, há uma grande quantidade de material novo, e há algumas mudanças significativas (e, esperamos, melhorias) em pedagogia. Mas tentamos manter o mesmo espírito. Este é um livro sobre economia que enfoca o estudo do que as pessoas fazem e como elas interagem, um estudo que recebe muita informação da experiência do mundo real.

A terceira edição: o que há de novo Embora a segunda edição tenha sido um sucesso retumbante, remetendo Introdução à Economia como um dos livros mais vendidos de macroeconomia, aprendemos com cada nova edição que há sempre espaço para melhoria. Assim, para a terceira edição, empreendemos uma revisão com três objetivos em mente: 1. Expandir o apelo do livro para estudantes de administração de empresas. 2. Ser o mais atual e de vanguarda em tópicos abordados e exemplos incluídos. 3. Tornar o livro mais didático e acessível Esperamos que as revisões que seguem levem a uma experiência de aprendizagem de sucesso para você.

Novos estudos de caso Agora, mais do que nunca, os estudantes que entram em uma comunidade empresarial precisam ter ampla compreensão dos princípios básicos de economia e suas aplicações para as decisões de negócios. Para atender a essa demanda, agora quase todos os capítulos são concluídos com um estudo de caso do mundo real, mostrando como os problemas econômicos discutidos no capítulo se comportam no mundo de empresários e de resultados. Os casos vão desde a falência da General Motors em 2009, símbolo da economia americana de sucesso e sua recuperação em 2010, ao exame de empresas como a Macroeconomic Advisers e o Institute of Suply Management, sem fins lucrativos, que prevê as variações no PIB, a um exame de aumento de produtividade no varejo devido a melhorias na logística global da Walmart. Também a empresa e o consumidor individual foram inseridos na macroeconomia com exemplos que ilustram o mercado de trabalho em mudança durante uma recessão (Monster.com), o papel dos vales presentes em mercados secundários (PlasticJungle.com) e o valor de “quebra” quando os consumidores individuais não pagam os vales presentes por completo. Cada caso é seguido por questões de raciocínio crítico instigando os estudantes a aplicar a economia aprendida no capítulo em situações da vida real.

Ênfase na atualidade Esta edição foi aprimorada para permanecer como o livro mais atual do mercado em conteúdo, dados e exemplos.

Capítulo novo: “Crises e consequências” Este novo capítulo fornece um panorama atualizado da crise financeira recente e os aspectos do sistema bancário que permitiram que ela acontecesse. Começando com a história do colapso do Lehman Brothers, o capítulo integra a cobertura sobre os perigos

bancários, o trade-off entre liquidez e taxa de retorno, o surgimento do “sistema bancário paralelo” e o início das corridas aos bancos durante a recessão. Também abrange: bolhas de ativos, contágio financeiro, pânico financeiro e uma análise de como a crise financeira de 2008 se encaixa em uma longa história de crises econômicas. O capítulo termina com uma discussão sobre por que as crises bancárias são tão ruins para muitos e qual é o papel do governo e da regulamentação nas crises.

Economia em ação: são contadas histórias mais ricas Tanto estudantes como instrutores sempre foram favoráveis a Macroeconomia pelas aplicações aos princípios de economia, especialmente na seção Economia em ação. Na terceira edição, revisamos ou substituímos um número significativo de seções Economia em Ação em cada capítulo para garantir que o livro permaneça atualizado e de vanguarda. Acreditamos que proporcione riqueza de conteúdo motivando o interesse de estudantes e instrutores.

Histórias de abertura Sempre tivemos muito cuidado em garantir que cada história de abertura de capítulo mostre os conceitos fundamentais de forma atraente e acessível. E, como sempre, atualizamos a maioria delas em cada edição e fornecemos outras histórias completamente novas – quase um terço foi substituído em um esforço de fazer a ponte entre os conceitos econômicos e o interesse dos estudantes no mundo ao redor deles. Como novidade, incluímos a história do Facebook e as grandes quantidades de recursos necessários para obter os servidores necessários ao seu funcionamento; a história por trás do Decreto Americano de Recuperação e Reinvestimento e as duas principais reações ao estímulo; a história da ascensão econômica da China, ultrapassando o Japão como segunda maior economia, e os meios que os economistas usam para medir tais tendências; e a história de Ben Bernanke, The Person of the Year do ano em 2009, da revista Times, e seu papel de destaque como presidente do Federal Reserve na esteira da crise financeira.

Apresentação mais didática e acessível Capítulos racionalizados Como muitas vezes menos é mais, racionalizamos a exposição em uma série de lugares onde nosso desejo de perfeição estava um pouco à frente da pedagogia. Nesta edição, os capítulos sobre política fiscal e política monetária, em particular, estão muito mais suaves.

Um novo local para abranger o valor presente Para melhorar a didática, o tema valor presente passou de outras partes do livro para o

Capítulo 10. A descrição básica é apresentada no interior do capítulo e uma análise mais detalhada do valor presente segue em um novo apêndice do capítulo. Esse novo conteúdo que foi adicionado proporcionará aos estudantes melhor compreensão de como o dinheiro valoriza ao longo do tempo e afeta decisões importantes de investimento.

Tratamento mais focado da cruz keynesiana A principal abrangência da cruz keynesiana nos capítulos sobre gasto agregado e AD/AS (demanda agregada/oferta agregada) foi mantida, mas a cobertura sobre gráficos integrados de 45 graus nos capítulos posteriores sobre política fiscal e política monetária foi cortada. Essa alteração foi feita em resposta aos instrutores que foram vocais ao pedir cobertura menos integrada da cruz keynesiana, para tornar o livro mais acessível aos estudantes. O conteúdo keynesiano continua tão importante como sempre nos capítulos. Mas o tratamento agora é mais focado e, esperamos, livre da complexidade desnecessária.

Exposição mais visual Pesquisas relatam que os estudantes leem mais on-line com textos condensados e respondem melhor às representações visuais de informações. Na terceira edição, trabalhamos arduamente para apresentar informações no formato que melhor se adequa aos estudantes. Encurtamos parágrafos para facilitar a leitura e incluímos numeração e listas com marcadores sempre que o conteúdo permitiu. Nesta edição, as novas tabelas resumidas são muito úteis. E, o mais útil, são os indicadores visuais do livro, incluindo representações dinâmicas que transformam os parágrafos do texto, numa apresentação visual mais acessível e atraente.

Vantagens deste livro Nossa abordagem básica do livro escrito permanece inalterada: ■ Capítulos intuitivos através de exemplos reais. Em cada capítulo, usamos exemplos do mundo real, histórias, aplicações e estudos de caso para ensinar conceitos e motivar o aprendizado. A melhor maneira de introduzir e consolidar conceitos é por meio de exemplos do mundo real; os estudantes se relacionam mais facilmente com eles. ■ Capítulos acessíveis e divertidos. Usamos um estilo fluido e agradável para tornar os conceitos acessíveis e, sempre que possível, tentamos usar exemplos familiares aos estudantes. ■ Apesar da fácil compreensão, o livro também prepara os estudantes para os cursos subsequentes. Não há necessidade de escolher entre duas alternativas desagradáveis: um livro que seja “fácil de ensinar ”, mas deixa grandes lacunas na compreensão dos estudantes, ou um livro que seja “difícil de ensinar ”, mas prepara os estudantes adequadamente para cursos futuros. Oferecemos o melhor dos dois mundos.

Agradecimentos Somos gratos aos seguintes revisores, participantes dos grupos focais, e a outros consultores pelas sugestões e conselhos sobre a segunda edição. Rebecca Achée Thornton, University of Houston Carlos Aguilar, El Paso Community College Terence Alexander, Iowa State University Morris Altman, University of Saskatchewan Farhad Ameen, State University of New York, Westchester Community College Christopher P. Ball, Quinnipiac University Sue Bartlett, University of South Florida Scott Beaulier, Mercer University David Bernotas, University of Georgia Marc Bilodeau, Indiana University and Purdue University, Indianapolis Kelly Blanchard, Purdue University Anne Bresnock, California State Polytechnic University Douglas M. Brown, Georgetown University Joseph Calhoun, Florida State University Douglas Campbell, University of Memphis Kevin Carlson, University of Massachusetts, Boston Andrew J. Cassey, Washington State University Shirley Cassing, University of Pittsburgh Sewin Chan, New York University Mitchell M. Charkiewicz, Central Connecticut State University Joni S. Charles, Texas State University, San Marcos Adhip Chaudhuri, Georgetown University Eric P. Chiang, Florida Atlantic University Hayley H. Chouinard, Washington State University Kenny Christianson, Binghamton University Lisa Citron, Cascadia Community College Steven L. Cobb, University of North Texas Barbara Z. Connolly, Westchester Community College Stephen Conroy, University of San Diego Thomas E. Cooper, Georgetown University Cesar Corredor, Texas A&M University and University of Texas, Tyler

Jim F. Couch, University of Northern Alabama Daniel Daly, Regis University H. Evren Damar, Pacific Lutheran University Antony Davies, Duquesne University Greg Delemeester, Marietta College Patrick Dolenc, Keene State College Christine Doyle-Burke, Framingham State College Ding Du, South Dakota State University Jerry Dunn, Southwestern Oklahoma State University Robert R. Dunn, Washington and Jefferson College Ann Eike, University of Kentucky Tisha L. N. Emerson, Baylor University Hadi Salehi Esfahani, University of Illinois William Feipel, Illinois Central College Rudy Fichtenbaum, Wright State University David W. Findlay, Colby College Mary Flannery, University of California, Santa Cruz Robert Francis, Shoreline Community College Shelby Frost, Georgia State University Frank Gallant, George Fox University Robert Gazzale, Williams College Robert Godby, University of Wyoming Michael Goode, Central Piedmont Community College Douglas E. Goodman, University of Puget Sound Marvin Gordon, University of Illinois at Chicago Kathryn Graddy, Brandeis University Alan Day Haight, State University of New York, Cortland Mehdi Haririan, Bloomsburg University Clyde A. Haulman, College of William and Mary Richard R. Hawkins, University of West Florida Mickey A. Hepner, University of Central Oklahoma Michael Hilmer, San Diego State University Tia Hilmer, San Diego State University Jane Himarios, University of Texas, Arlington Jim Holcomb, University of Texas, El Paso Don Holley, Boise State University Alexander Holmes, University of Oklahoma Julie Holzner, Los Angeles City College Robert N. Horn, James Madison University Steven Husted, University of Pittsburgh John O. Ifediora, University of Wisconsin, Platteville Hiro Ito, Portland State University Mike Javanmard, RioHondo Community College

Robert T. Jerome, James Madison University Shirley Johnson-Lans, Vassar College David Kalist, Shippensburg University Lillian Kamal, Northwestern University Roger T. Kaufman, Smith College Herb Kessel, St. Michael’s College Rehim Kilic, Georgia Institute of Technology Grace Kim, University of Michigan, Dearborn Michael Kimmitt, University of Hawaii, Manoa Robert Kling, Colorado State University Sherrie Kossoudji, University of Michigan Charles Kroncke, College of Mount Saint Joseph Reuben Kyle, Middle Tennessee State University (aposentado) Katherine Lande-Schmeiser, University of Minnesota, Twin Cities David Lehr, Longwood College Mary Jane Lenon, Providence College Mary H. Lesser, Iona College Solina Lindahl, California Polytechnic Institute, San Luis Obispo Haiyong Liu, East Carolina University Jane S. Lopus, California State University, East Bay María José Luengo-Prado, Northeastern University Rotua Lumbantobing, North Carolina State University Ed Lyell, Adams State College John Marangos, Colorado State University Ralph D. May, Southwestern Oklahoma State University Wayne McCaffery, University of Wisconsin, Madison Larry McRae, Appalachian State University Mary Ruth J. McRae, Appalachian State University Ellen E. Meade, American University Meghan Millea, Mississippi State University Norman C. Miller, Miami University (of Ohio) Khan A. Mohabbat, Northern Illinois University Myra L. Moore, University of Georgia Jay Morris, Champlain College in Burlington Akira Motomura, Stonehill College Kevin J. Murphy, Oakland University Robert Murphy, Boston College Ranganath Murthy, Bucknell University Anthony Myatt, University of New Brunswick, Canada Randy A. Nelson, Colby College Charles Newton, Houston Community College Daniel X. Nguyen, Purdue University Dmitri Nizovtsev, Washburn University

Thomas A. Odegaard, Baylor University Constantin Oglobin, Georgia Southern University Charles C. Okeke, College of Southern Nevada Una Okonkwo Osili, Indiana University and Purdue University, Indianapolis Terry Olson, Truman State University Maxwell Oteng, University of California, Davis P. Marcelo Oviedo, Iowa State University Jeff Owen, Gustavus Adolphus College James Palmieri, Simpson College Walter G. Park, American University Elliott Parker, University of Nevada, Reno Michael Perelman, California State University, Chico Nathan Perry, Utah State University Dean Peterson, Seattle University Ken Peterson, Furman University Paul Pieper, University of Illinois at Chicago Dennis L. Placone, Clemson University Michael Polcen, Northern Virginia Community College Raymond A. Polchow, Zane State College Linnea Polgreen, University of Iowa Eileen Rabach, Santa Monica College Matthew Rafferty, Quinnipiac University Jaishankar Raman, Valparaiso University Margaret Ray, Mary Washington College Helen Roberts, University of Illinois at Chicago Jeffrey Rubin, Rutgers University, New Brunswick Rose M. Rubin, University of Memphis Lynda Rush, California State Polytechnic University, Pomona Michael Ryan, Western Michigan University Sara Saderion, Houston Community College Djavad Salehi-Isfahani, Virginia Tech Elizabeth Sawyer Kelly, University of Wisconsin, Madison Jesse A. Schwartz, Kennesaw State University Chad Settle, University of Tulsa Steve Shapiro, University of North Florida Robert L. Shoffner III, Central Piedmont Community College Joseph Sicilian, University of Kansas Judy Smrha, Baker University John Solow, University of Iowa John Somers, Portland Community College Stephen Stageberg, University of Mary Washington Monty Stanford, DeVry University

Rebecca Stein, University of Pennsylvania William K. Tabb, Queens College, City University of New York (aposentado) Sarinda Taengnoi, University of Wisconsin, Oshkosh Henry Terrell, University of Maryland Michael Toma, Armstrong Atlantic State University Brian Trinque, University of Texas, Austin Boone A. Turchi, University of North Carolina, Chapel Hill Nora Underwood, University of Central Florida J. S. Uppal, State University of New York, Albany John Vahaly, University of Louisville Jose J. Vazquez-Cognet, University of Illinois, Urbana–Champaign Daniel Vazzana, Georgetown College Roger H. von Haefen, North Carolina State University Andreas Waldkirch, Colby College Christopher Waller, University of Notre Dame Gregory Wassall, Northeastern University Robert Whaples, Wake Forest University Thomas White, Assumption College Jennifer P. Wissink, Cornell University Mark Witte, Northwestern University Kristen M. Wolfe, St. Johns River Community College Larry Wolfenbarger, Macon State College Louise B. Wolitz, University of Texas, Austin Gavin Wright, Stanford University Bill Yang, Georgia Southern University Jason Zimmerman, South Dakota State University Nosso profundo e sincero agradecimento aos seguintes revisores, aplicadores de testes em sala de aula e colaboradores cujo conteúdo ajudou a dar forma a essa terceira edição. Carlos Aguilar, El Paso Community College Seemi Ahmad, Dutchess Community College Farhad Ameen, Westchester Community College Dean Baim, Pepperdine University David Barber, Quinnipiac College Janis Barry-Figuero, Fordham University at Lincoln Center Hamid Bastin, Shippensburg University Michael Bonnal, University of Tennessee, Chattanooga Milicia Bookman, Saint Joseph’s University Anne Bresnock, California State Polytechnic University, Pomona Colleen Callahan, American University Giuliana Campanelli Andreopoulos, William Patterson University

Charles Campbell, Mississippi State University Randall Campbell, Mississippi State University Joel Carton, Florida International University Andrew Cassey, Washington State University Sanjukta Chaudhuri, University of Wisconsin, Eau Claire Eric Chiang, Florida Atlantic University Abdur Chowdhury, Marquette University Chad Cotti, University of Wisconsin, Oshkosh Maria DaCosta, University of Wisconsin, Eau Claire James P. D’Angelo, University of Cincinnati Orgul Demet Ozturk, University of South Carolina Harold Elder, University of Alabama Rudy Fichenbaum, Wright State University Sherman Folland, Oakland University Amanda Freeman, Kansas State University Shelby Frost, Georgia State University Sarah Ghosh, University of Scranton Satyajit Ghosh, University of Scranton Fidel Gonzalez, Sam Houston State University Michael G. Goode, Central Piedmont Community College Alan Gummerson, Florida International University Eran Guse, West Virginia University Don Holley, Boise State University Scott Houser, Colorado School of Mines Russell A. Janis, University of Massachusetts, Amherst Jonatan Jelen, The City College of New York Miles Kimball, University of Michigan Colin Knapp, University of Florida Stephan Kroll, Colorado State University Vicky Langston, Columbus State University Richard B. Le, Cosumnes River College Yu-Feng Lee, New Mexico State University Mary Lesser, Iona College Solina Lindahl, California Polytechnic State University Volodymyr Lugovskyy, Indiana University Mark E. McBride, Miami University Michael Mogavero, University of Notre Dame Gary Murphy, Case Western Reserve University Anna Musatti, Columbia University Christopher Mushrush, Illinois State University ABM Nasir, North Carolina Central University Gerardo Nebbia, El Camino College Pattabiraman Neelakantan, East Stroudsburg University

Pamela Nickless, University of North Carolina, Asheville Nick Noble, Miami University (Ohio) Walter Park, American University Brian Peterson, Central College Michael Polcen, Northern Virginia Community College Reza Ramazani, Saint Michael’s College Ryan Ratcliff, University of San Diego Robert Rebelein, Vassar College Ken Roberts, Southwestern University Greg Rose, Sacramento City College Jeff Rubin, Rutgers University, New Brunswick Jason C. Rudbeck, University of Georgia Michael Sattinger, State University of New York, Albany Elizabeth Sawyer Kelly, University of Wisconsin, Madison Arzu Sen, West Virginia University Marcia Snyder, College of Charleston Liliana V. Stern, Auburn University Adam Stevenson, University of Michigan Eric Stuen, University of Idaho Christine Tarasevich, Del Mar College Henry S. Terrell, George Washington University Mickey Wu, Coe College Um agradecimento especial a Michael Sattinger, da State University of New York em Albany, pela avaliação cuidadosa dos capítulos da segunda edição e orientações oportunas sobre as principais alterações nesta terceira edição. Muito obrigado também a Kathryn Graddy, da Brandeis University, pelas valiosas contribuições a esta e a revisões anteriores. Um agradecimento especial também para David Barber, que nos encorajou a fazer essa edição mais visual e mais acessível aos estudantes. Como na primeira e segunda edições, confiamos em Andreas Bentz e sua análise incansável para detalhes enquanto focamos em questões maiores veiculadas nesta edição. Estamos extremamente felizes por ter encontrado Andreas. Seus esforços também foram apoiados pelos revisores de precisão Myra Moore, da University of Georgia; Nora Underwood, da University of Central Florida; Martha Olney, da University of California- Berkeley; James Watson, do Salt Lake Community College e Rod Hill, da University of New Brunswick. Agradecimentos também para as contribuições de Jose J. Vasquez-Cognet, da University of Illinois em Urbana–Champaign, e Solina Lindahl, da California Polytechnic State University, cada qual forneceu orientação especializada no programa de mídia associado ao livro didático. Devemos também agradecer a muitas pessoas no Worth Publishersfortheircontributions. ElizabethWiddicombe, presidente da Freeman and Worth, e Catherine Woods, vice- presidente sênior, que desempenharam papéis importantes no planejamento dessa revisão. Temos de agradecer a Liz pela ideia que se tornou o Estudo de Caso de cada capítulo. Charles Linsmeier, editor, supervisionou

habilmente a revisão e deu contribuições para toda a obra. Um agradecimento especial a Craig Bleyer, nosso editor original no Worth e agora diretor nacional de vendas, que colocou muito do seu esforço em tornar cada edição um sucesso. Seu instinto aguçado apareceu novamente no planejamento de revisão dessa edição. Mais uma vez, tivemos uma equipe de produção e design incrível, pessoas cujo trabalho duro, criatividade, dedicação e paciência continuam a nos surpreender. Mais uma vez, vocês se superam. Obrigado a todos: Tracey Kuehn, Lisa Kinne e Anthony Calcara por produzirem este livro; Babs Reingold e Lyndall Culbertson pelo belo desenho gráfico no interior do livro e pela capa espetacular; Karen Osborne pelo cuidado com as citações; Barbara Seixas, que mais uma vez fez milagres na etapa da manufatura, apesar das incertezas no cronograma do projeto; Cecilia Varas e Elyse Rieder pelas pesquisas de fotos; Stacey Alexandre e Edgar Bonilla por coordenar a produção de todo o material suplementar; e Maria Melis, assistente de edição. Muito obrigado a Marie McHale por criar e coordenar a impressionante coleção de mídia e suplementos que acompanham o livro. Obrigado à incrível equipe de escritores e coordenadores de suplementos que trabalharam com Marie sobre os pacotes da mídia; somos eternamente gratos por seus esforços incansáveis. Obrigado a Scott Guile, gerente de marketing, pela defesa incansável deste livro; a Steve Rigolosi e Kerri Russini pelas contribuições em desenvolvimento de mercado e a Tom Kling por seu papel crítico ao lançar este livro no departamento de vendas. Acima de tudo, um agradecimento especial a Sharon Balbos, editora executiva de cada uma de nossas edições. Muito do sucesso deste livro se deve à sua dedicação e profissionalismo. Como sempre, manteve a calma até em momentos mais árduos. Sharon, não temos certeza se merecemos uma editora tão boa quanto você, mas temos certeza que todos os envolvidos, inclusive os que adotarem o livro e seus estudantes serão beneficiados pela sua presença. Paul Krugman

Robin Wells

Introdução—Negócios Comuns da Vida

Qualquer Domingo Era uma tarde de domingo no segundo semestre de 2011 e a Rodovia 1 em Nova Jersey estava completamente lotada. Milhares de pessoas se apinhavam nos shoppings ao longo da estrada de Trenton para New Brunswick. A maioria dos compradores estava entusiasmada – e por que não? As lojas daqueles shoppings oferecem uma gama extraordinária de escolhas; pode-se comprar de tudo, desde equipamento eletrônico sofisticado a roupas de moda ou cenouras orgânicas. Provavelmente, há 100 itens distintos disponíveis ao longo desse trecho da estrada. E a maioria desses itens não são bens de luxo que só os ricos podem comprar; são produtos que milhões de americanos compram no dia a dia. A cena ao longo da Rodovia 1 nesse dia de primavera, certamente, é perfeitamente habitual – muito parecida com a cena ao longo de centenas de outros trechos de estrada, pelos Estados Unidos, nessa mesma manhã. E a disciplina Economia tem muito a ver com coisas comuns. Como o grande economista do século XIX, Alfred Marshall colocou, economia é o “estudo da humanidade nos negócios comuns da vida”. O que a economia tem a informar sobre esses “negócios comuns”? Muito. O que veremos nesse livro é que mesmo cenas familiares da vida econômica colocam algumas questões muito importantes – questões que a economia pode ajudar a responder. Entre essas questões estão: ■ Como funciona o sistema econômico? Ou seja, como ele administra a distribuição dos bens? ■ Quando e por que o sistema econômico comete erros levando as pessoas a comportamentos contraproducentes? ■ Por que há expansões e retrações na economia? Ou seja, por que às vezes a economia tem um ano não muito bom? ■ Finalmente, por que o longo prazo é mais uma história de expansões do que de retrações? Ou seja, por que os Estados Unidos junto com outras nações avançadas ficaram tão ricos ao longo do tempo? Vamos examinar essas questões e oferecer uma visualização breve do que será aprendido nesse livro.

A mão invisível A cena de Nova Jersey não teria parecido comum para um americano dos tempos coloniais; digamos, um dos patriotas que ajudou George Washington a vencer a Batalha de Trenton em 1776. Naquela época, Trenton era uma pequena aldeia e as fazendas margeavam a estrada da épica marcha noturna chefiada por Washington, de Trenton até Princeton, uma marcha que passou bem em frente do que seria no futuro o conjunto gigantesco do shopping de Quakerbridge. Imagine que você pudesse transportar um americano do período colonial para os dias de hoje (não é um roteiro de filme? Até para vários filmes). Mas o que esse viajante no

tempo acharia espantoso? Certamente o mais espantoso seria a prosperidade dos Estados Unidos moderno – o leque dos bens e serviços que as famílias comuns podem adquirir. Olhando toda essa riqueza, nosso colono transplantado do século XVIII indagaria: “Com posso ter uma parte disso?” Ou talvez perguntasse: “Como minha sociedade pode ter uma parte disso?” A resposta é que, para chegar a esse tipo de prosperidade, é necessário um sistema que funcione bem para coordenar as atividades produtivas – as atividades que criam os bens e serviços que as pessoas desejam e fazem chegar às pessoas que os querem. É esse tipo de sistema que temos em mente quando falamos da economia. E a análise econômica é a ciência social que estuda a produção, distribuição e consumo dos bens e serviços. Uma economia tem sucesso à medida que, literalmente, distribui bens. Um viajante no tempo vindo do século XVIII – ou até de 1950 – ficaria admirado com a quantidade de bens e serviços que a economia americana moderna fornece e com o número de pessoas com acesso a eles. Comparado com qualquer economia do passado e com um punhado de outros países hoje em dia, os Estados Unidos têm um padrão de vida incrivelmente elevado. Então, nossa economia deve estar fazendo alguma coisa certa e o viajante no tempo gostaria de cumprimentar o responsável. Mas, adivinhe. Não há ninguém responsável. Os Estados Unidos têm uma economia de mercado em que a produção e o consumo são o resultado de decisões descentralizadas de muitas empresas e indivíduos. Não há autoridade central dizendo às pessoas o que produzir e para onde transportar. Cada produtor individual faz o que pensa ser mais lucrativo; cada consumidor compra o que escolhe. A alternativa para uma economia de mercado é uma economia de comando, em que existe uma autoridade central tomando decisões sobre produção e consumo. Este tipo de economia foi experimentado em diversos países, notadamente na União Soviética entre 1917 e 1991. Mas não funcionou muito bem. Na União Soviética, os produtores rotineiramente não podiam produzir porque faltavam matérias-primas essenciais, ou conseguiam produzir mas não encontravam ninguém que quisesse seus produtos. Muitas vezes, os consumidores não encontravam os itens necessários – as economias de comando são famosas pelas longas filas nas lojas. Contudo, as economias de mercado são capazes de coordenar atividades extremamente complexas e garantir aos consumidores a oferta dos bens e serviços que desejam. De fato, quase sem pensar, as pessoas confiam a vida ao sistema de mercado; os moradores de qualquer cidade grande morreriam de fome em poucos dias se as ações não planejadas, mas de algum modo ordenadas, de milhares de empresas não fornecessem uma oferta constante de alimentos. Surpreendentemente, o “caos” de uma economia de mercado não planejada acaba sendo muito mais ordenado que o “planejamento” de uma economia de comando. Em 1776, em uma passagem famosa de seu livro A Riqueza das Nações, o economista escocês pioneiro Adam Smith escreveu sobre como os indivíduos, buscando o próprio interesse, muitas vezes acabam servindo ao interesse da sociedade em seu conjunto. Sobre homens de negócios cuja busca de lucro torna a nação mais rica, Smith escreveu:

“Ele procura apenas seu próprio ganho e, nisso, como em muitos outros casos, é levado por uma mão invisível a promover um fim que não estava entre suas intenções.” Desde então, os economistas usam o termo mão invisível para referir-se à maneira pela qual uma economia de mercado consegue domar o poder do interesse próprio em favor do bem da sociedade. O estudo de como os indivíduos tomam decisões e de como essas decisões interagem é denominado microeconomia. Um dos temas centrais da microeconomia é a validade da percepção de Adam Smith: os indivíduos que buscam seu interesse próprio muitas vezes promovem o interesse da sociedade como um todo. Assim, uma parte da resposta à questão do viajante no tempo – “Como a sociedade pode alcançar esse tipo de prosperidade que é considerada fato natural?” – é que sua sociedade deveria aprender a apreciar as virtudes de uma economia de mercado e o poder da mão invisível. Mas essa mão invisível não é sempre nossa amiga. Também é importante saber quando e por que a busca do interesse próprio individual pode levar a comportamentos contraproducentes.

Meu benefício, seu custo Provavelmente o viajante no tempo não iria gostar do tráfego na Rodovia 1. Na verdade, apesar de a maioria das coisas ter melhorado nos Estados Unidos ao longo do tempo, o congestionamento do tráfego ficou um pouco pior. Quando há congestionamento, cada motorista impõe um custo a todos os demais motoristas da estrada – e está atrapalhando os outros (e os outros o estão atrapalhando). Esse custo pode ser substancial: na maior parte das áreas metropolitanas, cada vez que uma pessoa dirige para o trabalho, em vez de tomar o transporte público ou trabalhar em casa, pode impor facilmente um custo de $15 ou mais aos outros motoristas. Contudo, ao decidir se pega ou não o carro, os motoristas de subúrbio não têm incentivo para levar em conta os custos que impõem aos outros. O congestionamento é um exemplo familiar e um problema maior: muitas vezes a busca do interesse próprio pelo indivíduo, em vez de promover o interesse da sociedade, realmente pode tornar a sociedade pior. Quando isso acontece, é conhecido como falha de mercado. Outros exemplos importantes de falha de mercado envolvem a poluição do ar e da água, bem como o excesso de exploração dos recursos naturais, como peixes e florestas. A boa notícia, que você aprenderá à medida que usar esse livro para estudar microeconomia, é que a análise econômica pode ser usada para diagnosticar casos de falha de mercado. E, muitas vezes, também pode ser usada para formular soluções para o problema.

Bons tempos, maus tempos A Rodovia 1 estava movimentada naquele dia de 2011. Mas se você tivesse visitado os

shoppings em 2008, a cena não seria tão animada. Isso porque a economia de Nova Jersey, junto com a dos Estados Unidos como um todo, estava deprimida em 2008: no início de 2007, as empresas começaram a demitir grande parte de trabalhadores e o emprego só começou a se recuperar em meados de 2009. Esses períodos conturbados são uma característica regular nas economias modernas. O fato é que a economia nem sempre funciona sem qualquer problema: passa por flutuações, uma série de altos e baixos. Ao chegar à meia-idade, um americano típico terá passado por três ou quatro retrações, conhecidas como recessões. (A economia dos Estados Unidos passou por sérias recessões, começando em 1973, 1981, 1990, 2001 e 2007.) Durante uma recessão severa, milhões de trabalhadores podem perder o emprego. Assim como as falhas de mercado, as recessões são um fato da vida; mas como as falhas de mercado, constituem um problema para o qual a análise econômica oferece algumas soluções. As recessões estão entre as principais preocupações do ramo da economia conhecido como macroeconomia, que se preocupa com as expansões e retrações da economia. Se você estudar macroeconomia, verá como os economistas explicam as recessões e como as políticas governamentais podem ser aplicadas para minimizar os danos causados por flutuações econômicas. Entretanto, apesar das recessões ocasionais, a história da economia dos Estados Unidos no longo prazo contém muito mais expansões do que retrações. E esse crescimento de longo prazo é o tema da nossa questão final.

Para frente e para cima No início do século XX, a maioria dos americanos vivia em condições que hoje consideraríamos de extrema pobreza. Somente 10% das casas tinham vasos sanitários com descarga, apenas 8% tinham aquecimento central, só 2% tinham eletricidade e quase ninguém tinha carro, muito menos máquina de lavar ou ar condicionado. Essas comparações são um lembrete de quanto nossa vida mudou devido ao crescimento econômico, a capacidade de crescimento da economia para produzir bens e serviços. Por que a economia cresce ao longo do tempo? E por que o crescimento econômico ocorre mais rápido em certos períodos e lugares do que em outros? Essas são questões fundamentais para a economia, pois o crescimento econômico é uma coisa boa, como os compradores da Rodovia 1 podem atestar, e a maioria de nós quer mais crescimento.

Uma máquina de descobertas Esperamos ter convencido você de que os “negócios comuns da vida” realmente são extraordinários. Se pararmos para pensar, isso pode nos levar a indagar algumas questões importantes e interessantes. Neste livro, descreveremos as respostas que os economistas têm dado a essas questões. Mas este livro, como a economia em seu conjunto, não é uma lista de respostas: é uma introdução a uma disciplina, um modo de tratar as questões que acabamos de mencionar.

Ou como Alfred Marshall, que descreveu a economia como um estudo dos “negócios comuns da vida”, colocou: “Economia... não é um corpo de verdades concretas, mas uma máquina para descobrir a verdade concreta.” Tratemos de virar a chave da ignição.

Palavras-chave Economia, p. 2 Análise econômica, p. 2 Economia de mercado, p. 2 Mão invisível, p. 2 Microeconomia, p. 2 Falha de mercado, p. 3 Recessão, p. 3 Macroeconomia, p. 3 Crescimento econômico, p. 3

C APÍ T UL O 1

Princípios Básicos O que você vai aprender neste capítulo • Um conjunto de princípios para entender a análise econômica sob o ponto de vista de como as pessoas fazem escolhas. • Um conjunto de princípios para entender como as escolhas individuais interagem. • Um conjunto de princípios para entender as interações da economia como um todo.

Terreno comum A reunião anual da American Economic Association atrai milhares de economistas, jovens e idosos, famosos e desconhecidos. Existem venda de livros, reuniões de negócios e algumas entrevistas de emprego. Mas os economistas se reúnem, sobretudo, para falar e ouvir. Durante o período de maior movimento, podem ocorrer 60 ou mais apresentações simultaneamente sobre questões que variam da crise no mercado financeiro até a decisão de quem cozinha em uma família de dois assalariados. O que essas pessoas têm em comum? Um especialista em mercado de ações provavelmente conhece muito pouco sobre a economia do trabalho doméstico e viceversa. No entanto, um economista que entra no seminário errado e acaba ouvindo as apresentações sobre algum tema desconhecido, mesmo assim vai escutar muita coisa que lhe é familiar. A razão é que toda a análise econômica baseia-se em um conjunto de princípios comuns que se aplicam a muitas questões diferentes. Alguns desses princípios envolvem escolha individual – pois a análise econômica trata, antes de tudo, das escolhas que os indivíduos fazem. Você vai poupar dinheiro para viajar ou comprar um carro? Manterá o celular antigo ou irá atualizá-lo para um novo? Essas decisões implicam fazer uma escolha entre um número limitado de opções – limitado porque ninguém pode ter tudo o que deseja. Cada questão de economia, em seu nível mais básico, envolve fazer escolhas individuais. Mas para entender como uma economia funciona, é necessário algo mais do que entender como os indivíduos realizam escolhas. Nenhum de nós é Robinson Crusoé sozinho em uma ilha. Temos que tomar decisões em um ambiente que é moldado pelas decisões dos outros. Com efeito, em uma economia moderna, mesmo as decisões mais simples que tomamos – ou seja, o que tomar no café da manhã – são formadas pelas decisões de milhares de outras pessoas, desde o produtor de banana da Costa Rica, que decide cultivar a fruta, até o fazendeiro de Iowa que produz o milho do cereal matinal. Como cada um de nós, em uma economia de mercado, depende de tantos outros – e eles, por sua vez, dependem de nós –, nossas escolhas interagem. Assim, apesar de em um nível básico, toda a economia ser uma questão de escolha individual, para entender

como uma economia de mercado funciona temos também de entender a interação econômica – como as minhas escolhas afetam as suas escolhas e vice-versa. Muitas das interações econômicas importantes podem ser entendidas analisando os mercados de bens individuais, como o mercado de milho. Mas uma economia em seu conjunto tem oscilações, e, portanto, precisamos entender as interações de toda a economia, além das interações mais limitadas que ocorrem em mercados individuais. Neste capítulo vamos analisar 12 princípios básicos de análise econômica – quatro princípios envolvendo escolha individual, cinco envolvendo o modo pelo qual as escolhas individuais interagem e outros três envolvendo as interações da economia de forma ampla.

Princípios que fundamentam a escolha individual: o cerne da economia Qualquer questão econômica, em seu nível mais básico, envolve escolha individual – as decisões de um indivíduo sobre o que fazer e o que não fazer. De fato, pode-se afirmar que não é economia, se não for uma questão de escolha. Entre em uma grande loja como a Walmart. Existem milhares de produtos diferentes disponíveis, e é pouco provável que você – ou qualquer pessoa, possa comprar tudo o que deseja. De qualquer maneira, o espaço que existe em seu quarto ou apartamento não estica. Então você irá comprar outra estante ou uma geladeira pequena? Dadas as limitações do seu orçamento e de espaço interno, é necessário escolher entre que produtos comprar e quais deixar na prateleira. O fato de esses produtos estarem na prateleira já envolve escolha – o gerente da loja escolheu colocá-los lá e os fabricantes desses produtos escolheram fabricá-los. Todas as atividades econômicas envolvem escolha individual. Na economia da escolha individual, quatro princípios econômicos estão subjacentes, como mostrado na Tabela 1-1. Vamos examinar agora, em mais detalhe, cada um desses princípios.

Tabela 1-1 Princípios da escolha individual 1. As pessoas têm que fazer escolhas, porque os recursos são escassos. 2. O custo de oportunidade de um item é o que você é obrigado a dispensar para adquiri-lo – é o seu verdadeiro custo. 3. “Quanto” é uma decisão na margem: comparação dos custos e benefícios de se fazer um pouco mais de uma atividade em vez de fazer um pouco menos. 4. As pessoas geralmente respondem a incentivos, explorando as oportunidades de melhorar a sua própria situação.

Princípio 1: É necessário fazer escolhas porque os recursos são escassos Você não pode ter sempre o que quer. Todo mundo gostaria de ter uma casa bonita em um ótimo local (e uma faxineira), um ou dois carros novos e férias frequentes em hotéis de luxo. Mas, mesmo em um país rico como os Estados Unidos, nem todas as famílias

podem ter tudo isso. Então, elas têm que escolher – ir para a Disney World ou comprar um carro melhor, contentar-se com um jardim pequeno ou aceitar um longo trajeto de ônibus para viver onde o terreno é mais barato. A limitação da renda não é o único fator que impede que as pessoas tenham tudo o querem. O tempo também tem oferta limitada: há apenas 24 horas em um dia. E como o tempo de que dispomos é limitado, escolher passar o tempo em uma atividade também significa escolher não passar o tempo em outra – ou seja, passar o tempo estudando para um exame significa renunciar a ir ao cinema naquela noite. De fato, muitas pessoas estão tão limitadas pela quantidade de horas no dia que estão dispostas a trocar tempo por dinheiro. Por exemplo, lojas de conveniência normalmente cobram preços mais altos do que um supermercado regular. Mas desempenham um papel valioso ao satisfazer a pressão de tempo dos clientes que preferem pagar mais a enfrentar um percurso maior até o supermercado. Isso nos leva ao primeiro princípio de escolha individual: As pessoas devem fazer escolhas, porque os recursos são escassos. Recurso é qualquer coisa que pode ser usada para produzir outra coisa. As listas de recursos da economia geralmente começam com terra, trabalho (o tempo dos trabalhadores), capital (maquinaria, construção e outros ativos produtivos fabricados pelo homem) e capital humano (as conquistas educacionais e habilidades dos trabalhadores). Um recurso é escasso quando não há quantidade suficiente disponível para satisfazer todos os usos que a sociedade quer fazer deles. Há muitos recursos que são escassos, incluindo os recursos naturais – que provêm do ambiente físico, como minérios, madeira e petróleo. Há também uma quantidade limitada de recursos humanos – trabalho, competência e inteligência. E em uma economia mundial em crescimento, com rápido aumento da população, até o ar e a água pura tornaram-se recursos escassos. Assim como os indivíduos precisam fazer escolhas, a escassez de recursos leva a sociedade como um todo a fazer escolhas. As escolhas da sociedade surgem como resultado de muitas escolhas individuais, o que geralmente acontece em uma economia de mercado. Por exemplo, os americanos como grupo, têm uma quantidade dada de horas por semana: quantas dessas horas irão gastar indo ao supermercado para conseguir preços mais baixos, em vez de poupar tempo ao fazer compras em lojas de conveniência perto de casa? A resposta é a soma das decisões individuais: cada um dos milhões de indivíduos na economia faz sua própria escolha sobre onde comprar, e a escolha do conjunto é a soma dessas decisões individuais. Mas, por várias razões, há algumas decisões que a sociedade presume que seria melhor que se deixasse a escolha para os indivíduos. Por exemplo, os autores deste livro vivem em uma área que até pouco tempo atrás era principalmente agrícola, mas as construções estão se expandindo rapidamente. A maioria dos moradores locais acha que a comunidade seria mais aprazível se parte do terreno ficasse sem lotear ou construir. Mas ninguém foi incentivado a manter a terra como espaço verde aberto, em vez de vendê-la a

uma incorporadora. Assim, surgiu uma tendência em muitas comunidades nos Estados Unidos de que a prefeitura compre os terrenos ainda não urbanizados para preservá-los como área verde. Veremos mais adiante por que decisões sobre como utilizar recursos escassos muitas vezes são deixadas a cargo dos indivíduos, quando, às vezes, deveriam ser tomadas em um nível mais alto, abrangendo toda a comunidade.

Princípio 2: O custo real de algo é o seu custo de oportunidade É o último semestre do curso e seus horários de aula permitem que curse apenas uma disciplina eletiva. No entanto, há duas que você gostaria de fazer: Introdução à Computação Gráfica e História do Jazz. Suponha que você decida cursar História do Jazz. Qual o custo dessa decisão? É o de não poder cursar Computação Gráfica, a segunda melhor alternativa. Os economistas chamam esse tipo de custo – do que você precisa abrir mão para obter algo que quer – de custo de oportunidade daquele item. Isso nos leva ao segundo princípio de escolha individual: O custo de oportunidade de um item – a escolha do que abrir mão para obtê-lo – é o seu verdadeiro custo. Assim, o custo de oportunidade de cursar História do Jazz é o benefício que se recebe em relação à aula de Introdução à Computação Gráfica. O conceito de custo de oportunidade é crucial para entender a escolha individual porque, no final, todos os custos são custos de oportunidade. Isso por que cada escolha feita significa renunciar a uma alternativa. Às vezes, os críticos afirmam que os economistas estão preocupados apenas com os custos e benefícios que podem ser medidos em dinheiro. Mas isso não é verdade. A análise econômica também envolve casos como esse da escolha de uma disciplina, em que não existe valor adicional para cursar uma disciplina eletiva – ou seja, não há custo monetário direto. Mesmo assim, a disciplina escolhida tem um custo de oportunidade – a outra disciplina desejável à qual você abdica, pois seu tempo limitado permite acompanhar apenas uma. Mais especificamente, o custo de oportunidade de uma escolha é o que você abdica por não escolher a próxima melhor alternativa. Você poderá pensar que o custo de oportunidade é um acréscimo – isto é, algo adicional ao custo monetário do item. Suponha que uma disciplina eletiva tenha um valor adicional de $750; agora há um custo monetário para cursar História do Jazz. O custo de oportunidade de cursar essa disciplina é algo separado do custo monetário? Bem, consideremos os dois casos. Primeiro, suponha que cursar Introdução à Computação Gráfica também custe $750. Nesse caso, teriam que ser gastos $750 independentemente da disciplina escolhida. Então, a disciplina que você abdica para cursar a aula de História do Jazz ainda seria a de Computação Gráfica – há o gasto de $750 nos dois casos.

Mas suponha que você não tenha que pagar nada pela aula de Computação Gráfica. Nesse caso, para assistir à aula de jazz você abdica do benefício da aula de Computação Gráfica e de tudo o mais que poderia comprar com $750. De qualquer forma, o custo real de assistir à aula preferida é tudo de que você teve que abrir mão para obtê-la. Ao expandir o conjunto de decisões que fundamentam cada escolha – assistir ou não a uma disciplina eletiva, terminar os cursos do período ou não, abandonar a faculdade ou não – você perceberá que, em última análise, todos os custos são custos de oportunidade. Às vezes, o dinheiro que temos para pagar por algo é um bom indicativo de seu custo de oportunidade. Mas muitas vezes não é. Um exemplo importante é como o custo em dinheiro de cursar uma faculdade é um mal indicador do custo de oportunidade. Matrícula e moradia são as principais despesas para a maioria dos estudantes, mas, mesmo se fossem de graça, cursar a faculdade ainda seria dispendioso, pois a maioria dos estudantes universitários, se não estivesse na faculdade, teria algum emprego. Ou seja, ao frequentar a faculdade, os estudantes abdicam da renda que teriam caso trabalhassem. Isso significa que o custo de oportunidade é o que se paga de matrícula, taxas, moradia, mais a renda perdida, aquela que teria sido recebida em um emprego. É fácil verificar que o custo de oportunidade de ir à faculdade é especialmente alto para as pessoas que poderiam estar ganhando muito dinheiro durante os anos em que estariam estudando. É por isso que atletas campeões, como LeBron James, e empresários, como Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, muitas vezes desistem da faculdade.

Princípio 3: “Quanto” é uma decisão na margem Algumas decisões importantes envolvem uma escolha do tipo “ou isso ou aquilo” – por exemplo, você decide fazer uma faculdade ou começar a trabalhar; você decide cursar economia ou outro curso. Mas outras decisões importantes envolvem escolhas do tipo “quanto” – por exemplo, se nesse semestre estiver cursando tanto Economia como Química, deverá decidir quanto tempo deverá dedicar a cada uma dessas matérias. Quando se trata de entender as decisões de “quanto”, a economia tem uma visão importante a oferecer: “quanto” é uma decisão na margem. Suponha que você esteja cursando Economia e Química. E suponha que também seja um estudante que se prepara para o curso de Medicina, de modo que o curso de Química é mais importante do que o de Economia. Isso significa que você deveria dedicar todo o seu tempo de estudo com Química e contar com a sorte no exame de Economia? Provavelmente não; mesmo considerando que a nota de Química é mais importante, deveria dedicar algum esforço ao estudo de Economia. Passar mais tempo estudando química envolve um benefício (uma nota esperada mais alta) e um custo (você poderia passar esse tempo fazendo outra coisa, como estudar para obter uma nota mais alta em economia). Ou seja, sua decisão envolve um trade-off, uma comparação entre custos e benefícios. Como você decide esse tipo de questão “quanto”? A resposta típica é tomar a decisão aos poucos a cada momento, decidindo como gastar a próxima hora. Digamos que os dois

exames sejam no mesmo dia e, na noite anterior, você usou o tempo para revisar as anotações dos dois cursos. Às 18 horas decide que uma boa ideia é dedicar pelo menos uma hora para cada curso. Às 20 horas decide que é melhor dedicar mais uma hora para cada curso. Às 22 horas você está ficando cansado e percebe que só tem mais uma hora de estudo antes de dormir – química ou economia? Se você também se prepara para medicina, é provável que seja química; se quer cursar um MBA, é provável que seja economia. Observe como tomou a decisão de alocar seu tempo: a cada momento, a questão é se deve ou não gastar mais uma hora com cada curso. E ao optar em passar mais uma hora estudando química, pondera os custos (renunciar a uma hora do estudo de economia ou a uma hora de sono) em comparação com os benefícios (provavelmente uma nota de química mais alta). Enquanto o benefício de estudar química por mais uma hora supera o custo, você deve optar em estudar àquela hora adicional. Decisões desse tipo – fazer um pouco mais ou um pouco menos de uma atividade, o que fazer com a hora seguinte, o dólar seguinte e assim por diante – são decisões marginais. Isso nos leva ao terceiro princípio de escolha individual: As decisões “quanto” envolvem um trade-off na margem: comparar custos e benefícios de fazer um pouco mais de uma atividade versus um pouco menos. O estudo de tais decisões é conhecido como análise marginal. Muitas das questões que enfrentamos em economia – e na vida real – envolvem análise marginal: quantos empregados devem ser contratados na minha loja? Com qual quilometragem devo trocar o óleo do carro? Qual é a taxa aceitável de efeitos colaterais adversos de um novo medicamento? A análise marginal desempenha um papel central na economia porque é a chave para decidir “quanto” fazer de algo.

Princípio 4: As pessoas geralmente respondem a incentivos, explorando oportunidades de melhorar a situação Um dia, escutando o noticiário financeiro da manhã, os autores ouviram uma dica ótima sobre como estacionar de forma barata em Nova York. Os estacionamentos na área de Wall Street cobram até $30 por dia. Mas segundo o repórter, algumas pessoas encontraram uma solução melhor: em vez de parar em um estacionamento, deixavam o carro para troca de óleo no Manhattan Jiffy Lube, cuja troca custa $19,95 – e ficava lá o dia todo! Boa história, mas infelizmente não é verdadeira – o Jiffy Lube nem existe. Mas, se existisse, certamente teria uma grande procura por troca de óleo. Por quê? Porque quando as pessoas veem uma oportunidade de melhorar a situação, normalmente aproveitam – se encontrassem uma forma de estacionar o carro o dia todo por $19,95 em vez de $30, o fariam. Nesse exemplo, os economistas argumentam que as pessoas estão respondendo a um

incentivo – uma oportunidade de usufruir de uma situação melhor. Podemos agora afirmar o nosso quarto princípio de escolha individual: As pessoas geralmente respondem a incentivos, explorando oportunidades de obter vantagens. Ao se tentar prever como as pessoas vão se comportar em uma situação econômica, uma boa aposta é que irão responder a incentivos – ou seja, explorar oportunidades para obter vantagens. Além disso, as pessoas continuarão a explorar essas oportunidades até que se esgotem completamente. Se houvesse um posto em Nova York, em que a troca de óleo fosse realmente uma maneira barata de estacionar o carro, poderíamos prever que em pouco tempo a lista de espera para troca de óleo seria de semanas, se não de meses. Na verdade, o princípio de que as pessoas exploram as oportunidades para melhorar a situação é a base de todas as previsões dos economistas sobre o comportamento individual. E se o rendimento de quem obtém MBA aumentar, enquanto o dos advogados diminuir, pode-se esperar mais estudantes nos cursos de Administração e menos na faculdade de Direito. Se o preço da gasolina subir e permanecer elevado por muito tempo, pode-se esperar que mais pessoas irão comprar carros menores com maior economia de gasolina – para obter vantagem ao dirigir carros mais econômicos com os preços mais elevados da gasolina. Um último ponto: os economistas tendem a ser céticos em relação a qualquer tentativa de mudança no comportamento das pessoas que não mudem seus incentivos. Por exemplo, um plano que peça aos industriais para reduzir a poluição voluntariamente provavelmente não será eficaz, por não alterar os incentivos dos fabricantes. Ao contrário, um plano que lhes ofereça uma recompensa financeira para reduzir a poluição é provável que funcione melhor por alterar seus incentivos.

Para mentes curiosas Pagar por notas altas? A verdadeira recompensa da aprendizagem é, evidentemente, o próprio aprendizado. No entanto, muitos estudantes entram em conflito entre a motivação para estudar e o trabalho. Os professores e os formuladores de políticas têm sido particularmente desafiados a ajudar os estudantes oriundos de meios desfavorecidos, com pouca frequência escolar, altas taxas de evasão e pontuações baixas em testes padronizados. Em um estudo entre 2007 e 2008, o economista de Harvard, Roland Fryer Jr., descobriu que o incentivo financeiro – prêmios em dinheiro – poderia melhorar o desempenho acadêmico dos alunos de escolas de áreas economicamente desfavorecidas. O fato de os incentivos financeiros oferecerem resultados, no entanto, é tanto surpreendente como previsível. Fryer realizou sua pesquisa em quatro distritos distintos de escola, empregando um conjunto de incentivos e uma medida de desempenho diferente em cada. Em Nova York,

os estudantes eram pagos de acordo com suas pontuações em testes padronizados; em Chicago, eram pagos de acordo com suas notas; em Washington, D.C., eram pagos de acordo com a assiduidade e bom comportamento, bem como pelas notas; em Dallas, no segundo ano de escolaridade, eram pagos cada vez que liam um livro. Fryer avaliou os resultados, comparando o desempenho dos estudantes que estavam no programa com outros da mesma escola que não faziam parte do programa. Em Nova York, o programa não teve nenhum efeito perceptível sobre os resultados dos testes. Em Chicago, os estudantes do programa obtiveram notas melhores e a frequência às aulas aumentou. Em Washington, o programa impulsionou os resultados normalmente mais difíceis de alcançar das crianças com problemas graves de comportamento, aumentando suas notas se assistissem a cinco meses de aula extra. Os resultados mais dramáticos ocorreram em Dallas, onde os estudantes impulsionaram significativamente os resultados dos testes de compreensão de leitura. Os resultados continuaram durante o próximo ano, após a recompensa financeira ter acabado. Então, o que explicam os vários resultados? Para motivar os estudantes com recompensas financeiras, Fryer achava que os estudantes tinham que acreditar que isso poderia ter um efeito significativo sobre a medida de desempenho. Assim, em Chicago, Washington e Dallas – onde os estudantes tiveram muito controle sobre os resultados, como notas, frequência, comportamento, bem como o número de livros lidos – o programa produziu resultados significativos. Mas como os estudantes de Nova York tinham pouca ideia de como um teste padronizado afetava a pontuação, a perspectiva de uma recompensa teve pouca influência em seu comportamento. Além disso, o momento da recompensa importa: $1 de recompensa tem mais efeito sobre o comportamento se o desempenho for medido em intervalos mais curtos e a recompensa for entregue em seguida. A experiência de Fryer revelou algumas visões críticas sobre a forma de motivar o comportamento com incentivos. A concepção dos incentivos é muito importante: a relação entre esforço e resultado, assim como a velocidade da recompensa, importa muito. Além disso, o projeto de incentivos pode depender bastante das características das pessoas que você está tentando motivar: o que motiva o estudante com uma estrutura economicamente privilegiada pode não motivar o estudante com uma estrutura economicamente desfavorecida. As percepções de Fryer ofereceram aos professores e responsáveis políticos uma nova e importante ferramenta para ajudar os estudantes desfavorecidos a serem bem-sucedidos na escola. Então, estamos prontos para fazer economia? Ainda não – porque a maioria das coisas interessantes que acontecem na economia são resultado não apenas de escolhas individuais, mas da forma pela qual as escolhas individuais interagem. Um último ponto: os economistas tendem a ser céticos em relação a qualquer tentativa de mudança no comportamento das pessoas que não mudem seus incentivos. Por exemplo, um plano que peça aos industriais para reduzir a poluição voluntariamente provavelmente não será eficaz, por não alterar os incentivos dos fabricantes. Ao contrário, um plano que lhes ofereça uma recompensa financeira para reduzir a poluição

é provável que funcione melhor por alterar seus incentivos.

Economia em ação Menino ou menina? Depende do custo Um fato sobre a China é indiscutível: é um país grande com muitas pessoas. A partir de 2009, a população da China era de 1.331.460.000. Isso mesmo: mais de um bilhão e trezentos milhões. Em 1978, o governo da China introduziu a “política do filho único” para enfrentar os desafios econômicos e demográficos apresentados pela grande população da China. A China era muito, muito pobre em 1978, e seus líderes temiam que o país não pudesse ter recursos para educar e cuidar da população crescente de forma adequada. A mulher chinesa média na década de 1970 dava à luz a mais de cinco filhos durante a sua vida. Assim, o governo restringiu a maioria dos casais, especialmente nas áreas urbanas, a uma criança, impondo penalidades para os que desafiassem o mandato. Como resultado, em 2009, o número médio de filhos por mulher na China foi de apenas 1,8. Mas a política do filho único teve uma consequência não intencional infeliz. Como a China é um país predominantemente rural e os filhos são quem realizam o trabalho manual agrícola, as famílias tinham uma forte preferência por filhos, em detrimento de filhas. Além disso, a tradição ditava que as noivas se tornariam parte das famílias de seus maridos e que os filhos deveriam tomar conta dos pais idosos. Como resultado da política do filho único, existem na China muitas “meninas indesejadas”. Algumas foram oferecidas para adoção no exterior, mas muitas delas “desapareceram” durante o primeiro ano de vida, vítimas de negligência e maus-tratos. A Índia, outro país pobre, predominantemente rural e com altas pressões demográficas, também tem um problema significativo com “meninas que desaparecem”. Em 1990, Amartya Sen, economista britânico nascido na Índia, que viria a ganhar o Prêmio Nobel em 1998, estimou a existência de 100 milhões de “mulheres desaparecidas” na Ásia. (O número exato ainda está em questão, mas é claro que Sen identificou um problema real e generalizado.) Os demógrafos observaram recentemente um turno de acontecimentos diferentes na China, a urbanização rápida. Em todos os lugares, exceto em uma das províncias com centros urbanos, o desequilíbrio de gênero entre meninos e meninas atingiu o pico em 1995 e, desde então, tem caído constantemente em direção à proporção biologicamente natural. Muitos acreditam que a origem da mudança é o forte crescimento econômico da China e o aumento da urbanização. Como as pessoas se deslocam para as cidades para aproveitar o aumento do emprego, não precisam de filhos para trabalhar nos campos. Além disso, o preço da terra em cidades chinesas está subindo rapidamente, tornando o costume dos pais de comprar um apartamento para o filho antes de casar inacessível para muitos. Por segurança, os filhos ainda são os preferidos nas áreas rurais. Mas para demonstrar a certeza de como os tempos mudaram, recentemente têm surgido sites que aconselham os casais a terem uma menina em vez de um menino.

Breve revisão ■ Todas as atividades econômicas envolvem escolha individual. ■ As pessoas precisam fazer escolhas porque os recursos são escassos. ■ O custo real de alguma coisa é o seu custo de oportunidade – do que se deve abdicar para obtê-lo. Todos os custos são custos de oportunidade. Às vezes, os custos monetários são bons indicadores dos custos de oportunidade, mas nem sempre. ■ Muitas das escolhas não são do tipo fazer algo ou não, mas o quanto fazer. A “quantidade de” escolhas preconiza um dilema marginal. O estudo das decisões marginais é conhecido como análise marginal. ■ Como as pessoas costumam explorar oportunidades de tornar sua própria situação melhor, os incentivos podem mudar o comportamento delas.

Teste seu entendimento 1-1 1. Explique como cada uma das seguintes situações ilustra um dos quatro princípios da escolha individual. a. É a terceira vez que você se dirige à mesa de sobremesas de um restaurante tipo bufê e já está se sentindo satisfeito. Embora isso possa não lhe custar nenhum valor adicional, você desiste de pegar mais uma fatia de torta com creme de coco, mas se serve de uma fatia de bolo de chocolate. b. Mesmo se houvesse mais recursos no mundo, ainda haveria escassez. c. Vários professores ministram cursos de introdução à economia. Os que são lecionados pelos professores com melhor reputação preenchem as vagas rapidamente, enquanto sobram vagas nos cursos ministrados por professores com menos reputação. d. Para decidir quantas horas por semana fazer exercícios, você compara os benefícios de saúde de uma hora a mais de exercício com o efeito em suas notas de uma hora a menos de estudo. 2. Você recebe $45.000 por ano em seu emprego atual na firma de consultoria Garotos Geniais. Você está considerando uma oferta de emprego da empresa Maníacos Cerebrais Ltda. da qual receberá $50.000 por ano. Qual dos seguintes são elementos de custo de oportunidade ao aceitar o novo emprego na empresa Maníacos Cerebrais? a. O aumento do tempo de deslocamento gasto com o novo trabalho. b. O salário de $45.000 do antigo emprego. c. O escritório mais espaçoso do novo emprego. As respostas estão no fim do livro.

Interação: Como as economias funcionam Como vimos na Introdução, uma economia é um sistema para coordenar as atividades produtivas de muitas pessoas. Em uma economia de mercado, como a que vivemos, a coordenação ocorre independente do coordenador: cada indivíduo faz suas próprias escolhas. No entanto, essas decisões estão longe de serem independentes umas das outras: as oportunidades de cada indivíduo e, portanto, suas escolhas, dependem, em grande parte, das escolhas feitas por outras pessoas. Então, para entender como uma economia de mercado se comporta, temos de examinar essa interação em que as minhas escolhas afetam as suas escolhas e vice-versa. Ao estudar a interação econômica, aprendemos rapidamente que o resultado final das escolhas individuais pode ser bem diferente da pretensão de qualquer indivíduo. Por exemplo, ao longo do século XX, os agricultores dos Estados Unidos adotaram entusiasticamente novas técnicas agrícolas e variedades de cultivo que reduziram os custos e aumentaram o rendimento. Certamente é de interesse de cada agricultor manter-se atualizado com as mais recentes técnicas de cultivo. Mas o resultado final de cada agricultor tentando aumentar a sua própria renda na verdade foi expulsar muitos agricultores dessa atividade. Como os agricultores americanos tiveram tanto sucesso em aumentar o rendimento de suas lavouras, os preços agrícolas caíram continuamente. A queda de preços reduziu a renda de muitos agricultores e o resultado é que cada vez menos agricultores consideram que a agricultura valha a pena. Ou seja, um agricultor que planta uma variedade melhor de cereal ficou em melhor situação; mas quando muitos agricultores plantam variedades melhores, o resultado pode ser o de piorar a situação dos agricultores em seu conjunto. Um agricultor que planta uma variedade nova e mais produtiva de cereal não está colhendo mais cereal. Esse agricultor afeta também o mercado de cereais através do aumento do rendimento da terra, com consequências que serão sentidas por outros agricultores, consumidores e mais além. Assim como há quatro princípios econômicos que fundamentam a escolha individual, há cinco princípios que estão na base da economia de interação. Esses cinco princípios estão resumidos na Tabela 1-2. Examinaremos agora mais de perto cada um desses princípios.

Tabela 1-2 Os princípios da interação de escolhas individuais 5. Há ganhos do comércio. 6. Como as pessoas respondem a incentivos, os mercados se movem em direção ao equilíbrio. 7. Os recursos devem ser usados de forma eficiente para alcançar os objetivos da sociedade. 8. Como em geral as pessoas costumam explorar ganhos a partir do comércio, os mercados geralmente levam à eficiência. 9. Quando os mercados não atingem a eficiência, a intervenção do governo pode melhorar o bem-estar da sociedade.

Princípio 5: Há ganhos do comércio Por que as escolhas que faço interagem com as escolhas que você faz? Uma família poderia tentar suprir todas as suas necessidades – cultivar a própria comida, costurar as próprias roupas, prover o próprio entretenimento, escrever os próprios livros de economia. Mas tentar viver dessa maneira pode ser muito difícil. A solução para um melhor padrão de vida para todos é o comércio, em que as pessoas dividem as tarefas entre si e cada uma fornece um bem ou serviço que outras pessoas desejam, em troca de bens e serviços diferentes que ela própria deseja. A razão pela qual temos uma economia, com poucos indivíduos autossuficientes, é a existência de ganhos do comércio: ao dividir as tarefas e trocar, duas pessoas (ou seis bilhões de pessoas) podem receber mais do que desejam do que se fossem autossuficientes. Isso nos leva ao quinto princípio: Há ganhos do comércio. Os ganhos do comércio surgem a partir dessa divisão de tarefas, que os economistas denominam de especialização, uma situação em que pessoas diferentes se ocupam de tarefas diferentes, especializando-se nas tarefas que realizam bem. As vantagens da especialização e os ganhos resultantes do comércio foram o ponto de partida do livro de Adam Smith de 1776, A Riqueza das Nações, que muitos consideram o início da economia como disciplina. O livro de Smith começa com a descrição de uma fábrica de alfinetes do século XVIII. Em vez de cada um dos 10 operários fabricarem um alfinete do início ao fim, cada trabalhador se especializava em uma das muitas etapas da fabricação de um alfinete: Um homem estica o arame, outro o endireita, outro o corta, outro faz a ponta, um quinto

o amassa na ponta para receber a cabeça. Fazer a cabeça exige duas ou três operações distintas... Colocá-la é uma tarefa específica, clarear os alfinetes é outra; e até embrulhar em papel é outra tarefa. Desse modo, o negócio importante de fabricar um alfinete é dividido em cerca de 18 operações distintas... Portanto, aquelas 10 pessoas podiam fabricar 48 mil ou mais alfinetes por dia. Mas se fizessem tudo separadamente, de forma independente e sem treinamento para esse tipo específico de atividade, certamente não conseguiriam produzir nem 20, talvez nem um alfinete por dia... O mesmo princípio se aplica quando observamos como as pessoas dividem as tarefas entre si e comerciam em uma economia. A economia como um todo pode produzir mais quando cada pessoa se especializa em uma tarefa e comercia com outras. O benefício da especialização é a razão pela qual uma pessoa normalmente escolhe apenas uma carreira. Para tornar-se médico são necessários muitos anos de estudo e experiência, assim como para tornar-se piloto de linha aérea comercial. Pode ser que muitos médicos tenham potencial para se tornar excelentes pilotos e vice-versa, mas é muito improvável que alguém que decida seguir as duas carreiras seja um bom piloto e bom médico tanto quanto alguém que desde o início decida se especializar em uma dessas áreas. Por isso, é uma vantagem para todos que os indivíduos se especializem nas carreiras que escolheram. Os mercados é que permitem que um médico e um piloto se especializem em suas áreas. Como existe o mercado de voos comerciais e de serviços médicos, um médico pode ter certeza de que pode encontrar um voo, assim como um piloto pode ter certeza de que pode encontrar atendimento médico. Enquanto os indivíduos sabem que podem encontrar os produtos e serviços de que necessitam no mercado, estarão dispostos a desistir da autossuficiência e a se especializar. Mas o que garante às pessoas que os mercados irão fornecer o que querem? A resposta a essa pergunta leva ao segundo princípio de como as escolhas individuais interagem (Princípio 6).

Princípio 6: Os mercados caminham para o equilíbrio Em uma tarde movimentada no supermercado, há muitas filas nos caixas. Então, um dos caixas, que estava fechado, abre. O que acontece? A primeira coisa, claro, é uma corrida para esse caixa. No entanto, depois de alguns minutos, tudo se estabiliza; os compradores terão se reorganizado de tal modo que a fila no caixa aberto terá aproximadamente o mesmo comprimento que as demais. Como sabemos disso? A partir do quarto princípio sabemos que as pessoas irão explorar as oportunidades para melhorar sua própria situação. Isso significa que as pessoas correrão para o caixa aberto recentemente para economizar tempo de espera em pé na fila. E tudo se estabilizará quando os compradores já não puderem melhorar a sua posição trocando de fila – ou seja, quando as oportunidades de ficar em melhor situação tiverem se exaurido. Pode parecer que uma história sobre filas de caixa em supermercados tenha pouco a ver com a interação das escolhas individuais, mas, na verdade, ilustra um princípio

importante. Uma situação em que os indivíduos não podem ficar em uma condição melhor fazendo algo diferente – a situação na qual todas as filas de espera têm o mesmo comprimento – é o que os economistas chamam de equilíbrio. Uma situação econômica está em equilíbrio quando nenhum indivíduo está em melhor situação se fizer algo diferente. Lembre-se da história do posto de gasolina Jiffy Lube, onde supostamente seria mais barato deixar o carro para troca de óleo do que pagar o estacionamento. Se essa oportunidade tivesse realmente existido e as pessoas ainda estiverem pagando $30 para estacionar, a situação não estaria em equilíbrio. E isso deveria ser um sinal de que a história não poderia ser verdadeira. Na realidade, as pessoas aproveitaram a oportunidade para estacionar de forma barata, assim como aproveitaram a oportunidade de poupar tempo na fila do caixa. E, ao agir assim, eliminaram a oportunidade! Ou se tornaria muito difícil conseguir uma vaga para trocar óleo ou o preço do trabalho de lubrificação teria aumentado a tal ponto que deixaria de ser uma opção atraente (a menos que você realmente precise do trabalho de lubrificação). Isso nos leva ao sexto princípio: Como as pessoas respondem a incentivos, os mercados se movem em direção ao equilíbrio. Como veremos, os mercados costumam atingir o equilíbrio por meio da variação nos preços, que sobem ou descem até não haver mais oportunidade para os indivíduos ficarem em melhor situação.

Para mentes curiosas Escolhendo o lado Por que nos Estados Unidos as pessoas dirigem do lado direito da estrada? Certamente, por causa da lei. Mas muito antes da lei, havia um equilíbrio. Antes de haver leis formais de trânsito havia “regras de estradas” informais. Eram práticas que se esperava que todos seguissem. Essas regras incluíam um entendimento de que as pessoas iriam normalmente se manter em um lado da estrada. Em alguns lugares, como na Inglaterra, a regra era manter a esquerda; em outros, como na França, era manter a direita. Por que alguns lugares escolheram a direita e outros a esquerda? Isso não está completamente claro, embora possa ter influenciado a forma do tráfego dominante. Homens a cavalo portando espadas na anca direita preferiam trafegar pelo lado esquerdo (pense em montar ou descer do cavalo e compreenderá ao razão). Por outro lado, as pessoas destras a pé, mas levando um cavalo, aparentemente preferiam ir pelo lado direito. Em qualquer um dos casos, uma vez estabelecida a regra da estrada, havia fortes incentivos para que as pessoas permanecessem do lado “usual” da estrada: quem não o fizesse ficaria colidindo com o tráfego vindo do lado oposto. Assim, uma vez estabelecida, a regra da estrada seria autoaplicável – isto é, haveria um equilíbrio. Hoje

em dia, é claro, o lado da direção é determinado por lei; alguns países até trocam os lados (a Suécia passou da esquerda para a direita, em 1967). Mas e os pedestres? Não há leis – mas existem regras informais. Nos Estados Unidos, os pedestres urbanos mantêm-se normalmente à direita. Mas caso visite um país onde as pessoas dirigem pelo lado esquerdo, fique atento: as pessoas que dirigem pela esquerda normalmente também caminham pela esquerda. Assim, quando estiver em um país estrangeiro, aja como as pessoas locais. Você não será preso se andar pela direita, mas estará em pior situação do que se aceitar o equilíbrio e caminhar pela esquerda. O conceito de equilíbrio é extremamente útil para a compreensão das interações econômicas, pois permite, por assim dizer, cortar caminho entre os detalhes, muitas vezes complexos, dessas interações. Para entender o que acontece quando uma nova fila se forma no caixa de um supermercado, não é preciso se preocupar com como os compradores se reorganizam exatamente, quem passa à frente de quem, qual foi o caixa que acabou de abrir e assim por diante. O que é necessário saber é que toda vez que houver mudança, a situação se moverá para um novo equilíbrio. O movimento dos mercados em direção ao equilíbrio nos faz depender deles para agir de forma previsível. Na verdade, podemos confiar nos mercados para nos fornecer o básico da vida. Por exemplo, as pessoas que vivem nas grandes cidades podem ter certeza de que as prateleiras dos supermercados sempre estarão totalmente abastecidas. Por quê? Porque se alguns comerciantes que distribuem alimentos não fizerem as entregas, haverá uma grande oportunidade de lucro para outro comerciante fazer – e haverá uma corrida para fornecer alimentos, assim como se fosse uma corrida para um caixa de supermercado recém-aberto. Dessa forma, o mercado assegura que os alimentos estarão sempre disponíveis para os moradores da cidade. E, voltando ao nosso quinto princípio, isso permite que os moradores da cidade sejam moradores da cidade – e se especializem em trabalhos urbanos, em vez de viverem em fazendas cultivando seus próprios alimentos. Uma economia de mercado, como vimos, permite que as pessoas alcancem ganhos a partir do comércio. Mas como sabemos se essa economia vai bem? O próximo princípio fornece um padrão para usar na avaliação do desempenho de uma economia.

Princípio 7: Os recursos devem ser usados de forma eficiente para atingir os objetivos da sociedade Suponha que você esteja participando de um curso em que a sala de aula é muito pequena para o número de alunos – muitas pessoas são obrigadas a ficar de pé ou sentarse no chão –, apesar de haver salas de aula grandes e vazias disponíveis nas proximidades. Você pensaria, corretamente, que essa não é maneira de administrar uma faculdade. Os economistas chamariam isso de uso ineficiente de recursos. Mas se um uso ineficiente de recursos é indesejável, o que significa usar recursos de forma eficiente? Talvez você imagine que o uso eficiente de recursos tem algo a ver com dinheiro, talvez, seja medido em reais e centavos. Mas, em economia, como na vida, o dinheiro é apenas um meio para outros fins.

A medida com a qual os economistas realmente se preocupam não é o dinheiro, mas a felicidade ou o bem-estar das pessoas. Para os economistas, os recursos de uma economia são utilizados de maneira eficiente quando são usados de forma a explorar completamente as oportunidades para melhorar a situação de todos. Para colocar isso de outra forma, uma economia é eficiente quando considera todas as oportunidades para melhorar a situação de um sem piorar a de outros. Em nosso exemplo em sala de aula, há uma maneira clara de melhorar a situação de todos – transferir as aulas para uma sala maior faria as pessoas da sala se sentirem melhor sem ferir ninguém na faculdade. Marcar o curso em uma sala de aula menor foi uma utilização ineficiente de recursos da faculdade, enquanto que a atribuição de uma sala de aula maior teria sido um uso eficiente dos recursos da faculdade. Quando uma economia é eficiente, está produzindo o máximo de ganhos do comércio com os recursos disponíveis. Por quê? Porque não existe maneira de reorganizar a forma de utilização dos recursos de modo a melhorar a situação de todos. Quando uma economia é eficiente, uma pessoa pode ficar em uma situação melhor, reorganizando o uso dos recursos apenas se piorarmos a situação de outra pessoa. Em nosso exemplo, se todas as salas de aula maiores já estivessem ocupadas, a faculdade estaria sendo administrada de forma eficiente: aquela turma só poderia melhorar a situação passando para uma sala de aula maior, se piorasse a situação dos que estavam em uma sala maior, transferindo-os para uma sala de aula menor. Podemos agora afirmar o nosso sétimo princípio: Os recursos devem ser usados de forma eficiente para atingir os objetivos da sociedade. Os formuladores de políticas econômicas deveriam sempre se esforçar para alcançar a eficiência econômica? Bem, nem sempre, porque a eficiência é apenas um meio de alcançar os objetivos da sociedade. Às vezes, a eficiência pode entrar em conflito com um objetivo que a sociedade considera que vale a pena alcançar. Por exemplo, na maioria das sociedades, as pessoas também se preocupam com questões de justiça ou equidade. E normalmente há um trade-off entre equidade e eficiência: políticas que promovem a equidade, muitas vezes existem ao custo da diminuição da eficiência na economia, e viceversa. Para verificar, considere o caso das vagas de estacionamento público destinadas aos deficientes ou idosos. Muitas pessoas têm dificuldade de locomoção devido à idade ou invalidez, por isso parece justo atribuir vagas de estacionamento mais próximo especificamente para o seu uso. No entanto, você deve ter observado que existe certa quantidade de ineficiência. Para ter certeza de que sempre haverá uma vaga de estacionamento disponível caso uma pessoa com deficiência necessite, normalmente há mais vagas disponíveis do que pessoas com deficiência que precisem usá-las. Como resultado, vagas desejáveis de estacionamento não são utilizadas. (E a tentação das pessoas sem deficiência de usá-las é tão grande que devem ser dissuadidas pelo receio de levar uma multa.) Então, a não ser que sejam contratados manobristas de estacionamento para alocar as vagas, há um conflito entre equidade, isto é, tornar a vida “mais justa” para

as pessoas com deficiência, e eficiência, que é certificar-se de que todas as oportunidades para melhorar a situação das pessoas tenham sido totalmente exploradas sem nunca deixar vagas de estacionamento sem ser utilizadas. Até onde os formuladores de políticas públicas devem ir para promover a equidade em relação à eficiência é uma questão difícil, que se localiza no âmago do processo político. Como tal, não é uma questão que os economistas possam responder. Contudo, o que é importante para os economistas é sempre procurar utilizar os recursos da economia de forma tão eficiente quanto possível na busca dos objetivos da sociedade, quaisquer que eles sejam.

Princípio 8: Os mercados geralmente levam à eficiência Não há nenhum departamento do governo dos Estados Unidos encarregado de garantir a eficiência econômica geral da economia de mercado – não há agentes viajando pelo país verificando se os neurocirurgiões estão arando os campos ou se os agricultores de Minnesota estão tentando cultivar laranjas. O governo não precisa forçá-los ao uso eficiente de recursos, porque, na maioria dos casos, a mão invisível realiza esse trabalho. Os incentivos embutidos em uma economia de mercado já garantem que os recursos geralmente sejam bem usados e que as oportunidades para melhorar a situação das pessoas não sejam desperdiçadas. Se uma faculdade fosse conhecida pelo hábito de aglomerar seus alunos em salas de aula pequenas deixando as salas de aula grandes vazias, em breve veria as matrículas cair, colocando o emprego de seus administradores em risco. O “mercado” para estudantes universitários iria responder de forma a induzir os administradores a gerir a faculdade de forma eficiente. Uma explicação detalhada de por que os mercados geralmente são muito bons em assegurar que os recursos sejam bem utilizados terá que esperar até que tenhamos estudado como os mercados realmente funcionam. Mas a razão mais básica é que, em uma economia de mercado, em que os indivíduos são livres para escolher o que consumir e o que produzir, normalmente é aproveitada a oportunidade de ganho mútuo – ou seja, ganhos do comércio. E se há alguma maneira de melhorar a situação de algumas pessoas, elas em geral serão capazes de aproveitar essa oportunidade. E é exatamente isso que define a eficiência: todas as oportunidades de melhorar a situação de algumas pessoas foram exploradas, sem piorar a situação de outras pessoas. Isso dá origem ao oitavo princípio: Como as pessoas exploram ganhos do comércio, os mercados em geral levam à eficiência. No entanto, como vimos na Introdução, existem exceções ao princípio de que os mercados geralmente são eficientes. Em casos de falha de mercado, a busca individual do próprio interesse fundada no mercado torna a sociedade pior – isto é, o resultado do mercado é ineficiente. E, como veremos na análise do próximo princípio, quando os mercados falham, a intervenção do governo pode ajudar. Mas exceto em instâncias de falha de mercado, a regra geral é que os mercados são uma maneira notável de organizar

a economia.

Princípio 9: Quando os mercados não alcançam a eficiência, a intervenção governamental pode melhorar o bem-estar da sociedade Lembremo-nos da natureza da falha de mercado causada pelo congestionamento de trânsito, descrito na Introdução – um morador do subúrbio dirigindo para o trabalho não tem incentivo para considerar o custo que a sua ação inflige aos outros motoristas na forma de aumento do congestionamento do tráfego. Existem várias soluções possíveis para essa situação; os exemplos incluem a cobrança de pedágios, subsídio ao custo do transporte público e tributação sobre a venda de gasolina para os motoristas particulares. Todos esses remédios funcionam mudando os incentivos dos possíveis motoristas, motivando-os a dirigir menos e usar o transporte alternativo. Mas eles também compartilham outra característica: cada um deles depende de uma intervenção do governo no mercado. Isso nos leva ao nono princípio: Quando os mercados não alcançam a eficiência, a intervenção do governo pode melhorar o bem-estar da sociedade. Ou seja, quando os mercados dão errado, uma política de governo concebida adequadamente às vezes aproxima a sociedade de um resultado eficiente ao modificar a forma como os recursos da sociedade são utilizados. Um ramo muito importante da economia é dedicado a estudar por que os mercados falham e que políticas devem ser adotadas para melhorar o bem-estar social. Vamos estudar esses problemas e suas soluções em profundidade nos capítulos posteriores, mas, aqui, apresentamos um resumo das principais formas: ■ As ações dos indivíduos têm efeitos colaterais que não são devidamente considerados pelo mercado. Um exemplo é uma ação que provoca poluição. ■ Uma das partes impede que ocorram trocas mutuamente benéficas em uma tentativa de captar para si uma parcela maior de recursos. Um exemplo é uma empresa farmacêutica que coloca o preço de uma droga mais elevado do que o custo de produzila, tornando-a inacessível para algumas pessoas que poderiam se beneficiar dela. ■ Alguns bens, por sua própria natureza, não servem para uma gestão eficiente pelos mercados. Temos como exemplo o controle de tráfego aéreo. Uma parte importante do estudo em economia é aprender a identificar não apenas quando os mercados funcionam, mas também quando não funcionam, e avaliar quais são as políticas governamentais adequadas em cada situação.

Economia em ação Restabelecimento do equilíbrio das rodovias

Em 1994, um forte terremoto atingiu a área de Los Angeles, nos Estados Unidos, causando a destruição de várias pontes e, assim, interrompendo as estradas que milhares de motoristas usavam para chegar ao trabalho. Os acontecimentos que se seguiram oferecem um exemplo particularmente claro de interdependência na tomada de decisão – nesse caso, a decisão dos moradores do subúrbio, que normalmente utilizam a estrada para chegar ao trabalho. No rescaldo do terremoto houve uma grande preocupação com o impacto no trânsito, já que os motoristas agora teriam que se somar aos que usavam outras estradas ou desviar em torno de partes bloqueadas usando as ruas da cidade. Os funcionários públicos e os programas de notícias advertiram sobre a expectativa de enormes atrasos e incentivaram os motoristas a evitar deslocamento desnecessário, reprogramando sua rotina, para dirigir antes ou depois do horário de pico, ou usar transporte público. Inesperadamente, esse aviso foi eficaz. Na verdade, tantas pessoas atenderam aos apelos que, nos primeiros dias após o terremoto, aqueles que mantiveram sua rota regular realmente acharam o trajeto para o trabalho mais rápido do que antes. É claro que essa situação não poderia durar. Como se espalhou a notícia de que o tráfego estava relativamente leve, as pessoas abandonaram os novos métodos alternativos e voltaram aos carros – e assim, o trânsito ficou cada vez pior. Dentro de poucas semanas após o terremoto, apareceram sérios congestionamentos. No entanto, após algumas semanas, a situação se estabilizou: a realidade de um trânsito pior que o usual foi suficiente para desanimar os motoristas, evitando que o pesadelo de congestionamento em toda a cidade se materializasse. Em resumo, o trânsito de Los Angeles havia se estabelecido em um novo equilíbrio, em que cada morador de subúrbio estava fazendo a melhor escolha que podia, considerando as ações das outras pessoas. Aliás, esse não foi o fim da história: o temor de que a cidade fosse estrangulada pelo trânsito levou as autoridades municipais a reparar as estradas com velocidade recorde. Dentro de apenas um ano e meio após o terremoto, todas as rodovias voltaram ao normal, prontas para o próximo terremoto.

Breve revisão ■ A maioria das situações econômicas envolve a interação de escolhas, às vezes com resultados indesejados. Em uma economia de mercado, a interação ocorre por meio do comércio entre os indivíduos. ■ Os indivíduos interagem porque existem ganhos do comércio, que surgem a partir da especialização. Em geral, os mercados movem-se em direção ao equilíbrio, porque as pessoas exploram ganhos do comércio. ■ Para atingir os objetivos da sociedade, deveria ocorrer um uso eficiente de recursos. Tanto a equidade como a eficiência pode ser desejável em uma economia. Muitas vezes há um trade-off entre equidade e eficiência. ■ Com exceção de certas exceções bem definidas, os mercados normalmente são eficientes. Quando os mercados não conseguem atingir a eficiência, a intervenção do governo pode melhorar o bem-estar da sociedade.

Teste seu entendimento 1-2 1. Explique como cada uma das seguintes situações ilustra um dos cinco princípios de interação. a. Usando o site da faculdade, qualquer estudante que deseje vender um livro usado por, pelo menos, $30 consegue vendê-lo a outro disposto a pagar $30. b. Em uma cooperativa de monitores na faculdade, os estudantes podem se organizar para oferecer aulas de assuntos que dominam (como economia) em troca de receber ajuda de um monitor em assuntos que não dominam (como filosofia). c. A prefeitura impôs uma lei que exige que bares e discotecas perto de áreas residenciais mantenham o nível de ruído abaixo de certo limite. d. Para proporcionar melhor atendimento a pacientes de baixa renda, a prefeitura decidiu fechar algumas clínicas de bairro subutilizadas e transferiu fundos para o hospital principal. e. No site da faculdade, livros de determinado título, com aproximadamente o mesmo grau de desgaste, são vendidos pelo mesmo preço. 2. Dentre as situações a seguir, qual descreve uma situação de equilíbrio? Qual não descreve? Justifique a resposta. a. Os restaurantes do outro lado da rua da cafeteria da universidade servem refeições mais saborosas e mais baratas do que as servidas na cafeteria da universidade. A maioria dos estudantes continua a comer na cafeteria. b. Atualmente você vai de metrô ao trabalho. Embora o ônibus seja mais barato, leva mais tempo. Então, você está disposto a pagar a tarifa superior do metrô, para poupar tempo. As respostas estão no fim do livro.

Interações do conjunto da economia Como mencionamos na Introdução, a economia em seu conjunto tem seus altos e baixos. Por exemplo, os negócios nos shopping centers dos Estados Unidos diminuíram em 2008, porque a economia estava em recessão. Em 2011, de alguma forma, a economia teve uma recuperação. Para compreender as recessões e recuperações, é necessário entender as interações do conjunto da economia e compreender o panorama que a economia requer entendendo os três princípios econômicos mais importantes. Esses três princípios do conjunto da economia estão resumidos na Tabela 1-3.

Tabela 1-3 Princípios das interações do conjunto da economia 10. O gasto de uma pessoa é a renda de outra. 11. A despesa global às vezes fica fora de alinhamento com a capacidade produtiva da economia. 12. As políticas governamentais podem alterar os gastos.

Princípio 10: O gasto de uma pessoa é a renda de outra pessoa Em 2006, o setor de construção de casas nos Estados Unidos iniciou um rápido declínio, pois os construtores encontravam cada vez mais dificuldade para vender. No início, o prejuízo era limitado principalmente ao setor da construção. Mas com o tempo a crise se espalhou para quase todas as partes da economia, com os gastos de consumo caindo em todos os setores. Mas por que uma queda na construção de casas significa lojas vazias nos shoppings? Afinal, os shoppings são lugares onde as famílias, e não as empresas, fazem compras. A resposta é que a redução dos gastos com a construção civil levou a rendimentos mais baixos no conjunto da economia. As pessoas que estavam empregadas tanto diretamente na construção, produzindo os bens e serviços que os construtores precisavam (como o gesso), ou na produção dos bens e serviços que os novos proprietários de casas precisavam (como mobiliário novo), perderam seus empregos ou foram forçadas a cortes salariais. E como a renda diminuiu, assim também os gastos dos consumidores. Esse exemplo ilustra o décimo princípio:

O gasto de uma pessoa é a renda de outra pessoa. Em uma economia de mercado, as pessoas ganham a vida vendendo coisas – inclusive o seu trabalho – a outras pessoas. Se algum grupo na economia decide, por qualquer motivo, gastar mais, a renda de outros grupos aumentará. Se algum grupo decide gastar menos, a renda de outros grupos cairá. Como o gasto de uma pessoa é a renda de outra, uma reação em cadeia de mudanças de comportamento nos gastos tende a ter repercussões que se propagam no conjunto da economia. Por exemplo, um corte nos gastos de investimento, como o que ocorreu em 2008, leva a uma redução da renda familiar; as famílias reagem reduzindo seus gastos de consumo, o que leva a uma nova rodada de cortes na renda, e assim por diante. Estas repercussões desempenham um papel importante na compreensão das recessões e recuperações econômicas.

Princípio 11: O gasto em seu conjunto, às vezes, fica fora de alinhamento com a capacidade produtiva da economia A macroeconomia surgiu na década de 1930, como um ramo separado da economia, quando um colapso nos gastos dos consumidores e das empresas, uma crise no setor bancário e outros fatores acarretaram uma queda nos gastos em geral. Essa queda nos gastos, por sua vez resultou em um período de desemprego muito elevado conhecido como a Grande Depressão. A lição que os economistas aprenderam com os problemas da década de 1930 é que o gasto em seu conjunto – a quantidade de bens e serviços que os consumidores e as empresas querem comprar – às vezes não corresponde à quantidade de bens e serviços que a economia é capaz de produzir. Na década de 1930, o montante de gasto ficou muito aquém do que era necessário para manter os trabalhadores americanos empregados e o resultado foi uma desaceleração econômica grave. Na verdade, os déficits nos gastos são responsáveis pela maioria das recessões, ainda que não por todas. Também é possível que a despesa agregada seja demasiado elevada. Nesse caso, a economia experimenta inflação, um aumento de preços no conjunto da economia. Esse aumento ocorre porque quando a quantidade do que as pessoas desejam comprar ultrapassa a oferta, os produtores podem elevar seus preços e ainda encontrar consumidores dispostos a comprar. A consideração dos déficits e dos excessos nos gastos nos leva ao décimo primeiro princípio: O gasto total às vezes fica desalinhado com a capacidade produtiva da economia.

Princípio 12: As políticas governamentais podem modificar os gastos O gasto total às vezes fica desalinhado com a capacidade produtiva da economia. Mas será possível fazer algo a respeito disso? Sim – o que leva ao décimo segundo e último

princípio: As políticas governamentais têm forte impacto sobre os gastos. De fato, as políticas governamentais podem afetar drasticamente os gastos. Por um lado, o próprio governo realiza despesas elevadas, desde equipamentos militares até educação – e pode optar por gastar mais ou menos. O governo também pode variar o quanto arrecada de impostos da população, o que, por sua vez, afeta o montante de renda disponível que fica para os consumidores e para as empresas gastar. E o controle do governo sobre a quantidade de moeda em circulação, ao que parece, oferece mais uma ferramenta poderosa que afeta a despesa total. Os gastos do governo, os impostos e o controle da moeda são as ferramentas de política macroeconômica. Os governos modernos utilizam esses instrumentos de política macroeconômica em um esforço para gerir o gasto total na economia, tentando manobrar entre os perigos de recessão e de inflação. Nem sempre esses esforços são bem-sucedidos – as recessões e períodos de inflação ainda ocorrem. Mas, em geral, acredita-se que os esforços agressivos para sustentar os gastos em 2008 e 2009 ajudaram a evitar que a crise financeira de 2008 se transformasse em uma depressão profunda.

Economia em ação Cuidar de bebês e recessão O site myarmyonesource.com, que oferece aconselhamento às famílias de militares, sugere que os pais participem de uma cooperativa de baby-sitters – um arranjo que é comum em muitos grupos. Em uma cooperativa desse tipo, para cuidar de crianças, certo número de pais troca serviços de baby-sitter, em vez de contratar alguém por hora como babá. Mas como é que essas organizações garantem que cada um dos membros contribui de forma justa com o serviço de babá? Como se explica no myarmyonesource.com: “Em vez de dinheiro, a maioria dessas cooperativas troca bilhetes ou pontos. Ao precisar de babá, chama um dos amigos da lista e paga com bilhetes. E obtém bilhetes tomando conta de outras crianças da cooperativa.”

Breve revisão ■ Em uma economia de mercado, o gasto de uma pessoa é a renda de outra. Como resultado, as mudanças no comportamento da despesa têm repercussões que se espalham no conjunto da economia. ■ O gasto total às vezes fica desalinhado com a capacidade da economia de produzir bens e serviços. Quando a despesa é muito baixa, o resultado é a recessão. Quando a despesa é muito alta, causa inflação. ■ Os governos modernos utilizam instrumentos de política macroeconômica para afetar o nível de despesa total em um esforço de guiar a economia entre a recessão e a

inflação. Em outras palavras, uma cooperativa para tomar conta de crianças é uma economia em miniatura onde as pessoas compram e vendem horas de serviço para tomar conta de crianças. E ainda é um tipo de economia que pode ter problemas macroeconômicos. Um artigo famoso intitulado “Monetary Theory and the Great Capitol Hill Babysitting Co-Op Crisis” (Teoria Monetária e a grande crise da cooperativa de babysitting de Capitol Hills), publicado em 1977, descreve as dificuldades de uma cooperativa para cuidar das crianças que emitiu uma quantidade insuficiente de bilhetes. Tenha em mente que, em média, as pessoas em uma dessas cooperativas querem ter uma reserva de bilhetes ou pontos guardados, para o caso de terem que sair diversas vezes antes de repor o estoque cuidando de crianças. Nesse caso, como já de início não havia uma grande quantidade de bilhetes a ser ganho, a maioria dos pais queria aumentar a sua reserva de bilhetes cuidando de crianças, mas relutava em usar seus bilhetes para sair sem as crianças. A decisão de sair de um casal é que permitia a outros pais ter a oportunidade de ganhar bilhetes, de modo que se tornou difícil obtê-los. Sabendo disso, os pais tornaram-se ainda mais relutantes em usar seus bilhetes, exceto em ocasiões especiais. Em suma, a cooperativa entrou em recessão. As recessões em uma economia mais ampla são um pouco mais complicadas que isso. Mas os problemas da cooperativa de baby-sitting de Capitol Hill demonstraram dois ou três princípios de interação na economia em seu conjunto. O gasto de uma pessoa é a renda de outra: a oportunidades de servir de babá surgia apenas na medida em que outros pais saíam. E uma economia pode sofrer com pouco gasto: quando não há gente suficiente disposta a sair, todos ficam frustrados com a falta de oportunidade para cuidar das crianças dos outros. O que dizer sobre as políticas do governo para mudar os gastos? Na verdade, a cooperativa de Capitol Hill também fez isso. No final, resolveu o problema distribuindo mais bilhetes e, com o aumento das reservas, as pessoas se dispuseram a sair mais.

Teste seu entendimento 1-3 1. Explique como cada um dos exemplos a seguir ilustra um dos três princípios de interações da economia em seu conjunto. a. A Casa Branca pediu que o Congresso aprovasse um pacote temporário de aumento de gastos e cortes de impostos no início de 2009, época em que o emprego estava imergindo e o desemprego, crescendo. b. “As companhias de petróleo estão investindo pesadamente em projetos para extrair petróleo de solo betuminoso no Canadá.” Em Edmonton, Alberta, perto dos projetos, estão sendo abertos restaurantes e outras empresas de consumo. c. Em meados de 2000, a Espanha, que passava por um boom imobiliário, tinha ao mesmo tempo a maior taxa de inflação na Europa. As respostas estão no fim do livro.

Caso empresarial Como a Priceline.com revolucionou o setor de viagens Em 2001 e 2002, o setor do turismo estava em apuros. Após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, muitas pessoas pararam de voar. À medida que a economia entrava em depressão profunda, os aviões ficavam na pista vazios e as companhias aéreas perdiam bilhões de dólares. Quando várias companhias aéreas grandes foram em espiral em direção à falência e demitiram 100 mil empregados, o Congresso aprovou um pacote de US$15 bilhões de ajuda que foi crucial na estabilização da indústria aérea. Esse também foi um momento particularmente difícil para a Priceline.com, um serviço de viagens on-line. Apenas quatro anos após a fundação, estava em perigo de desmoronar. A mudança na sorte da empresa foi dramática. Em 1999, um ano após a constituição da Priceline.com, os investidores ficaram tão impressionados com o seu potencial para revolucionar o setor de viagens que avaliaram a empresa em US$9 bilhões. Mas em 2002, os investidores mudaram para uma visão mais cética da empresa, o que fez reduzir a sua valorização em 95%, para apenas US$425 milhões. Para piorar a situação, a Priceline.com perdeu vários milhões de dólares por ano. No entanto, conseguiu sobreviver, e em 2010 foi avaliada pelos investidores em US$8,8 bilhões. Não só sobreviveu como prosperou. Então, como foi exatamente que a Priceline.com trouxe essa mudança dramática para o setor de viagens? E o que lhe permitiu sobreviver e prosperar como empresa em face das terríveis condições econômicas? O sucesso da Priceline.com reside na capacidade de prospectar oportunidades exploráveis para si e para seus clientes. A empresa entendeu que, quando um avião parte com assentos vazios ou um hotel tem camas vazias, isso tem um custo – a receita a ser obtida se o assento ou a cama tivesse sido ocupado. E, apesar de alguns turistas apreciarem a segurança da reserva dos seus voos e hotéis com bastante antecedência e fazerem questão de pagar por isso, outros se sentem satisfeitos em aguardar até o último minuto, arriscando não receber o voo ou hotel que desejam, mas desfrutando de um preço menor. Os clientes especificam o preço que estão dispostos a pagar por determinada viagem ou localização de hotel e a Priceline.com apresenta-lhes uma lista de opções de companhias aéreas e hotéis dispostos a aceitar esse preço, normalmente com o preço baixando à medida que a data da viagem se aproxima. Ao apresentar de um lado as companhias aéreas e hotéis disponíveis e de outro os viajantes dispostos a sacrificar algumas de suas preferências por um preço mais baixo, a Priceline.com melhora a situação de todos – inclusive dela própria, uma vez que cobra uma pequena comissão por cada venda que facilita. A Priceline.com também foi esperta quando viu seu mercado desafiado pelos recémchegados Expedia e Orbitz. Em resposta, começou a direcionar mais agressivamente o seu negócio para reservas de hotel e para a Europa, onde o setor de viagens on-line ainda era muito pequeno. Sua rede era particularmente valiosa no mercado de hotel europeu,

que é composto de hotéis bem menores em comparação com o mercado dos Estados Unidos, que é dominado por cadeias de hotéis em todo o país. O esforço valeu a pena, e em 2003 a Priceline.com obteve o primeiro lucro. A Priceline.com agora opera dentro de uma rede de mais de 100 mil hotéis em mais de 90 países. Até 2010, as receitas cresceram pelo menos 24% em relação a cada um dos três anos anteriores, até mesmo crescendo 34% durante a recessão de 2008. Certamente o setor de viagens nunca mais será o mesmo.

Questão para pensar 1. Explique como cada um dos 12 princípios da economia é ilustrado nessa história.

Resumo 1. Toda a análise econômica é baseada em um conjunto de princípios básicos que se aplicam a três níveis de atividade econômica. Primeiro, é preciso entender como os indivíduos fazem escolhas; segundo, é preciso entender como essas escolhas interagem; e terceiro, temos que entender como a economia funciona em seu conjunto. 2. Cada pessoa deve fazer escolhas sobre o que fazer e o que não fazer. A escolha individual é a base da economia – se não envolve escolha, não é economia. 3. A razão pela qual as escolhas são necessárias é que os recursos – qualquer coisa que possa ser usada para produzir outra coisa – são escassos. Os limites para as escolhas individuais são tempo e dinheiro; as economias são limitadas por suas fontes de recursos humanos e naturais. 4. Como você é obrigado a escolher entre alternativas limitadas, o custo real de qualquer coisa é o que você tem de abdicar para obtê-la; todos os custos são custos de oportunidade. 5. Muitas decisões econômicas envolvem questões que não são “se”, mas “quanto”: quanto gastar em algum item, quanto produzir e assim por diante. Tais decisões devem ser tomadas implicando um trade-off na margem, ou seja, comparando os custos e benefícios de fazer um pouco mais ou um pouco menos. Decisões desse tipo são chamadas de decisões marginais e o estudo delas, a análise marginal, desempenha um papel central na economia. 6. O estudo de como as pessoas devem tomar decisões também é uma boa maneira de entender o comportamento real. Normalmente, os indivíduos respondem a incentivos, explorando oportunidades para melhorar a situação. 7. O próximo nível de análise econômica é o estudo da interação – como minhas escolhas dependem de suas escolhas, e vice-versa. Quando os indivíduos interagem, o resultado final pode ser diferente do que se pretende. 8. Os indivíduos interagem porque existem ganhos do comércio: ao se envolverem no comércio de bens e serviços uns com os outros, os membros de uma economia podem melhorar a situação. Especialização – cada pessoa se especializa na tarefa em que se sobressai – é a fonte de ganhos do comércio.

9. Como normalmente as pessoas respondem a incentivos, os mercados em geral se movem em direção ao equilíbrio – uma situação em que nenhum indivíduo pode melhorar sua situação optando por uma ação diferente. 10. Uma economia é eficiente se forem aproveitadas todas as oportunidades de melhorar a situação de alguém, sem piorar a de outrem. Os recursos devem ser usados de forma tão eficiente quanto possível para alcançar os objetivos da sociedade. Mas a eficiência não é a única maneira de avaliar uma economia: equidade, ou justiça, também é desejável, e muitas vezes há um trade-off entre equidade e eficiência. 11. Os mercados geralmente levam à eficiência, com algumas exceções bem definidas. 12. Quando os mercados falham e não alcançam a eficiência, a intervenção do governo pode melhorar o bem-estar da sociedade. 13. Como em uma economia de mercado as pessoas recebem renda com a venda de coisas, inclusive do seu próprio trabalho, o gasto de uma pessoa é a renda de outra. Como resultado, mudanças no comportamento dos gastos podem se espalhar por toda a economia. 14. O gasto total na economia pode ficar desalinhado com a capacidade produtiva da economia. Gastos abaixo da capacidade produtiva da economia levam à recessão, gastos acima da capacidade produtiva da economia levam à inflação. 15. Os governos têm capacidade para afetar fortemente o gasto total, uma habilidade que usam no esforço de orientar a economia entre a recessão e a inflação.

Palavras-chave Escolha individual, p. 6 Recurso, p. 6 Escasso, p. 6 Custo de oportunidade, p. 7 Trade-off, p. 8 Decisões marginais, p. 8 Análise marginal, p. 8 Incentivo, p. 8 Interação, p. 10 Comércio, p. 11 Ganhos do comércio, p. 11 Especialização, p. 11 Equilíbrio, p. 12 Eficiente, p. 13 Equidade, p. 13

Problemas 1. Em cada uma das seguintes situações, identifique qual dos 12 princípios está funcionando.

a. Você escolhe comprar na ponta de estoque local ao invés de pagar preços mais elevados pela mesma mercadoria no shopping. b. Na viagem de férias, seu orçamento está limitado a $35 por dia. c. O diretório acadêmico tem um site em que os estudantes que estão saindo podem vender itens como livros usados, eletrodomésticos e móveis, em vez de dá-los aos colegas, como antes faziam. d. Depois que um furacão causou danos consideráveis às casas na Ilha de St. Crispin, os proprietários queriam comprar muito mais materiais de construção e contratar muito mais trabalhadores do que havia disponível na ilha. Como resultado, os preços de bens e serviços na ilha aumentaram drasticamente. e. Você compra um livro usado do seu colega de quarto. Ele usa o dinheiro para comprar músicas no iTunes. f. Você decide quantas xícaras de café vai tomar quando estuda a noite antes de uma prova, considerando o quanto mais consegue estudar com mais uma xícara, em comparação com o quanto vai ficar nervoso de tanto tomar café. g. Há um limite de espaço no laboratório que tem que ser usado pelos estudantes de química. O supervisor do laboratório agenda os estudantes com base na hora em que podem vir. h. Você percebe que pode se formar um semestre mais cedo se renunciar a um semestre de estudos no exterior. i. No centro acadêmico há um quadro de avisos em que as pessoas anunciam itens usados para venda, como bicicletas. Ajustadas pela diferença de qualidade, todas as bicicletas são vendidas por aproximadamente o mesmo preço. j. Você é melhor na realização de pesquisas de laboratório, e sua colega em escrever relatórios de pesquisa. Assim, vocês concordam que você vai fazer todos os experimentos e ela escrever todos os relatórios. k. Os governos estaduais determinam que é ilegal dirigir sem passar no exame para carteira de motorista. l. A renda líquida de impostos dos seus pais aumentou por causa de um corte de impostos aprovado pelo Congresso. Portanto o seu subsídio foi aumentado, o qual irá gastar nas férias da primavera. 2. Descreva alguns dos custos de oportunidade quando você decide fazer o seguinte. a. Cursar a faculdade em vez de aceitar um emprego. b. Assistir a um filme em vez de estudar para um exame. c. Andar de ônibus em vez de dirigir seu carro. 3. Liza precisa comprar um livro para a próxima aula de economia. O preço na livraria da faculdade é $65. Em um site custa $55 e em outro, $57. Todos os preços incluem imposto sobre vendas. A tabela a seguir indica tarifas normais do livro encomendado on-line.

Modo de transporte Standard Aéreo em 2 dias Aéreo em 1 dia

Tempo de entrega 3-7 dias 2 dias úteis 1 dia útil

Valor $3,99 $8,98 $13,98

a. Qual é o custo de oportunidade de comprar pela internet em vez de na livraria? Observe que se comprar o livro on-line, deve esperar para recebê-lo. b. Mostre a escolha relevante para esse estudante. O que determina qual dessas opções ele vai escolher? 4. Use o conceito de custo de oportunidade para explicar o seguinte. a. Mais pessoas decidem frequentar uma faculdade quando o mercado de trabalho não está bom. b. Mais pessoas escolhem fazer seus próprios consertos em casa quando a economia está crescendo pouco e os salários por hora estão baixos. c. Há mais parques no subúrbio do que no centro da cidade. d. As lojas de conveniência, que cobram preços mais elevados, atendem as pessoas ocupadas. e. Menor número de estudantes se matricula nas aulas antes das 10 horas. 5. Nos exemplos a seguir, indique como poderia usar o princípio da análise marginal para tomar uma decisão. a. Decidir quantos dias esperar antes de lavar a roupa. b. Decidir quanto tempo fazer pesquisa na biblioteca antes de escrever o trabalho solicitado no curso. c. Decidir quantos pacotes de batata frita comer. d. Decidir a quantas aulas do curso não comparecer. 6. De manhã você fez as seguintes escolhas individuais: comprou uma broinha e um café no bar local, foi para a faculdade no seu carro na hora de pico e digitou o trabalho de curso da sua colega porque você é um digitador rápido – e em troca ela vai lavar sua roupa durante um mês. Para cada uma dessas ações, descreva como suas escolhas individuais interagem com as escolhas individuais feitas por outras pessoas. As outras pessoas melhoraram ou pioraram a situação com o resultado das suas escolhas em cada caso? 7. A família Hatfield mora no lado leste do Rio Hatatoochie e a família McCoy vive no lado oeste. A alimentação de cada família consiste em frango frito e espigas de milho cozido e cada uma é autossuficiente, criando suas próprias galinhas e plantando seu próprio milho. Explique em que condições seriam verdadeiras as seguintes afirmações: a. As duas famílias ficariam em situação melhor, se os Hatfields se especializassem na criação de frangos e os McCoys se especializassem no cultivo de milho, e as duas famílias comercializassem. b. As duas famílias ficariam em situação melhor, se os McCoys se especializassem na criação de frangos e os Hatfields no cultivo de milho, e as duas famílias comercializassem. 8. Qual das seguintes situações descreve um equilíbrio? E qual não descreve? E se a situação não descreve um equilíbrio, o que seria um equilíbrio?

a. Muitas pessoas vão e vêm todos os dias do subúrbio para o centro de Pleasantville. Em consequência do congestionamento de trânsito, a viagem leva 30 minutos pela rodovia, mas apenas 15 minutos pelas ruas laterais. b. No cruzamento entre a Main e a Broadway há dois postos de gasolina. Um cobra $3 por galão de gasolina e o outro cobra $2,85. Os clientes podem obter o produto imediatamente no primeiro posto, mas devem esperar em uma longa fila no segundo. c. Cada estudante matriculado em Economia também deve assistir a uma aula de orientação semanal. Esse ano há a oferta de duas seções: A e B, no mesmo horário, em salas de aula contíguas e os instrutores são igualmente competentes. A seção A está superlotada, com pessoas sentadas no chão, e muitas vezes incapazes de ver o quadro-negro. Na seção B há muitos lugares vazios. 9. Em cada um dos seguintes casos, explique se considera a situação eficiente ou não. Se não é eficiente, por quê? Que ações tornariam a situação eficiente? a. A eletricidade está incluída no preço do aluguel do quarto. Alguns moradores deixam a luz, os computadores e os aparelhos elétricos ligados quando não estão no quarto. b. Embora a preparação tenha o mesmo custo, o restaurante da sua república regularmente fornece muitos pratos que os estudantes não gostam, como caçarola de tofu, e em menor quantidade alguns pratos que os estudantes gostam, como peru assado com molho. c. As matrículas de certa disciplina excedem as vagas disponíveis. Alguns estudantes que precisam dessa disciplina para completar o curso não conseguem vaga, enquanto outros, para os quais a disciplina é eletiva, estão conseguindo vaga. 10. Discuta as implicações de eficiência e equidade de cada uma das seguintes políticas. Como você iria equilibrar as preocupações de equidade e eficiência nessas áreas? a. O governo paga a matrícula integral para os alunos de faculdade estudarem qualquer assunto que desejem. b. Quando as pessoas perdem o emprego, o governo oferece seguro-desemprego até que encontre um novo emprego. 11. Os governos, muitas vezes, adotam determinadas políticas, a fim de promover o comportamento desejado entre os cidadãos. Para cada uma das seguintes políticas, determine qual é o incentivo e qual o comportamento que o governo deseja promover. Em cada caso, por que você acha que o governo estaria querendo modificar o comportamento das pessoas, em vez de permitir que suas ações sejam determinadas unicamente pela escolha individual? a. Foi cobrado um imposto de $5 por pacote de cigarros. b. O governo paga aos pais $100 quando o seu filho é vacinado contra sarampo. c. O governo paga os estudantes universitários para darem instrução aos filhos de famílias de baixa renda. d. O governo impõe um imposto sobre a quantidade de ar poluído emitido por uma empresa. 12. Em cada uma das situações a seguir, explique como a intervenção do governo poderia

melhorar o bem-estar da sociedade, alterando os incentivos das pessoas. Em que sentido o mercado está funcionando errado? a. A poluição provocada pelos automóveis atingiu níveis insustentáveis. b. Todo mundo em Woodville ficaria em situação melhor se as ruas da cidade fossem iluminadas. Mas nenhum morador está disposto a pagar por um poste de luz na frente de casa, pois será impossível cobrar o custo de outros moradores pelo benefício que recebem dele. 13. Em 2 de agosto de 2010, Tim Geithner, secretário do Tesouro, publicou um artigo defendendo as políticas de administração, no qual afirmou: “A recessão que começou no final de 2007 foi extraordinariamente grave. Mas as ações que foram tomadas nessa altura para estimular a economia ajudaram a deter a queda livre, evitando um colapso ainda mais profundo e colocando a economia no caminho da recuperação.” Quais os dois princípios dentre os três princípios da interação na economia em seu conjunto que estão funcionando nessa afirmação? 14. Em agosto de 2007, uma mudança acentuada no mercado imobiliário dos Estados Unidos reduziu a renda de muitos que trabalhavam no setor da construção. Um artigo no Wall Street Journal contou que provavelmente os serviços de transferência bancária internacional do Walmart iriam diminuir porque muitos trabalhadores no setor da construção civil são hispânicos e remetem regularmente, via Walmart, parte de seus salários de volta para os parentes em seus países de origem. Com essa informação, use um dos princípios da interação na economia em seu conjunto para traçar uma cadeia de ligações que explique como uma redução nos gastos de compra de residências nos Estados Unidos é suscetível de afetar o desempenho da economia mexicana. 15. Em 2005, o furacão Katrina causou destruição em massa na Costa do Golfo dos Estados Unidos. Dezenas de milhares de pessoas perderam suas casas e pertences. Mesmo os que não foram diretamente afetados pela destruição, foram afetados pelo desaparecimento de negócios e empregos. Usando um dos princípios da interação no conjunto da economia, explique como uma intervenção do governo pode ajudar nessa situação. 16. Durante a Grande Depressão, a comida apodrecia sem ser colhida ou os campos que antes eram cultivados foram abandonados. Um dos princípios da interação na economia em seu conjunto explica como isso pode ocorrer. www.worthpublishers.com/krugmanwells

C APÍ T UL O 2

Modelos Econômicos: Trade-Offs e Comércio

O que você vai aprender neste capítulo • Por que os modelos – representações simplificadas da realidade – desempenham um papel crucial na economia. • Dois modelos simples, mas importantes: a fronteira das possibilidades de produção e a vantagem comparativa. • O diagrama do fluxo circular, uma representação esquemática da economia. • A diferença entre economia positiva, que analisa a forma como a economia funciona, e a economia normativa, que tenta prescrever a política econômica. • Quando os economistas concordam e por que discordam.

De ki y hawk para dreamliner Em 15 de dezembro de 2009, o avião a jato mais recente da Boeing, o 787 Dreamliner, realizou o primeiro voo de teste de três horas. Foi um momento histórico: o Dreamliner é o resultado de uma revolução aerodinâmica – um avião supereficiente projetado para reduzir os custos operacionais das companhias aéreas e o primeiro a utilizar materiais compósitos muito leves. Para garantir que o Dreamliner fosse suficientemente leve e aerodinâmico, passou por mais de 15 mil horas de testes em túnel de vento – testes que resultaram em alterações sutis do projeto para melhorar o seu desempenho, proporcionando eficiência de 20% de combustível e 20% a menos de emissão de poluentes do que os jatos de passageiros existentes. O primeiro voo do Dreamliner foi um avanço espetacular desde a viagem inaugural do Wright Flyer em 1903, o primeiro avião a motor bem-sucedido, em Kitty Hawk, Carolina do Norte. No entanto, os engenheiros da Boeing – e todos os engenheiros aeronáuticos – têm uma enorme dívida com os inventores do Wright Flyers, Wilbur e Orville Wright. O que realmente transformou os Wrights em visionários foi a invenção do túnel de vento, um aparelho que possibilitou experimentar muitos projetos diferentes de asas e superfícies de controle. Ao realizar experimentos com um avião em miniatura, dentro de um túnel de vento do tamanho de um contêiner de navio, os Irmãos Wright adquiriram o conhecimento que tornaria possível o voo de algo mais pesado que o ar. Um avião em miniatura dentro de um caixote de madeira ou um modelo em miniatura do Dreamliner dentro de um túnel de vento transônico da Boeing com tecnologia de ponta difere de uma aeronave real em voo. Mas é um modelo muito útil de um avião pilotável – uma representação simplificada da realidade que pode ser usada para responder a questões cruciais, tais como o grau de elevação que um formato de asa irá gerar em uma determinada velocidade. Não é necessário dizer que testar um projeto de avião em um túnel de vento é mais barato e seguro do que construir uma versão em escala real, com a esperança de que voe. De modo mais geral, os modelos desempenham um papel fundamental em quase todas as pesquisas científicas – em grande medida na economia. Na verdade, pode-se dizer que a teoria econômica consiste principalmente de uma

coleção de modelos, uma série de representações simplificadas da realidade econômica que nos permite compreender uma variedade de questões econômicas. Neste capítulo analisaremos dois modelos econômicos que são muito importantes e também ilustram por que esses modelos são tão úteis. Ao final, faremos uma análise de como os economistas realmente usam os modelos no trabalho.

Modelos em Economia: alguns exemplos importantes Um modelo é qualquer representação simplificada da realidade utilizada para entender melhor as situações da vida real. Mas como podemos criar uma representação simplificada de uma situação econômica? Uma possibilidade – equivalente a um túnel de vento – é encontrar ou criar uma economia real, mas simplificada. Por exemplo, os economistas interessados no papel econômico do dinheiro estudaram um sistema de trocas que se desenvolveu nos campos de prisioneiros durante a Segunda Guerra Mundial, em que os cigarros se tornaram uma forma de pagamento universalmente aceita, mesmo entre os prisioneiros que não fumavam. Outra possibilidade é simular o funcionamento da economia em um computador. Por exemplo, quando são propostas alterações na legislação tributária, os funcionários do governo utilizam os modelos tributários – extensos programas matemáticos de computador – para avaliar como as mudanças propostas podem afetar diferentes tipos de pessoas. Os modelos são importantes porque sua simplicidade permite aos economistas se concentrarem nos efeitos de uma mudança de cada vez. Ou seja, permite manter todo o resto constante e analisar como as mudanças afetam o resultado econômico global. Assim, um pressuposto importante na construção de modelos econômicos é o pressuposto de que tudo o mais permanece constante, o que significa que todos os outros fatores relevantes permanecem inalterados. Mas nem sempre é possível encontrar ou criar uma versão em pequena escala de toda a economia, e um programa de computador apenas é tão bom quanto os dados que utiliza (os programadores têm um ditado: “lixo que entra, lixo que sai”). Para muitos propósitos, a forma mais eficaz de modelagem econômica é a construção de “experimentos mentais”: versões simplificadas, hipotéticas de situações da vida real. No Capítulo 1 ilustramos o conceito de equilíbrio com o exemplo de como os clientes em fila no supermercado se reorganizam quando abre um novo caixa. Apesar de não ter sido dito, esse é um exemplo de um modelo simples – um supermercado imaginário, em que muitos detalhes foram ignorados. (O que os clientes estavam comprando, não interessa.) Esse modelo poderia ser usado para responder a uma questão do tipo “e se”: e se outro caixa fosse aberto? Como a história do caixa de supermercado mostrou, muitas vezes é possível descrever e analisar um modelo econômico útil em linguagem comum. No entanto, como muito do que ocorre na economia envolve mudança de quantidade – no preço de um produto, no número de unidades produzidas, ou no número de trabalhadores empregados na sua produção – os economistas muitas vezes acreditam que a utilização de um pouco de matemática ajuda a esclarecer um problema. Especialmente, um exemplo numérico, uma equação simples ou principalmente um gráfico podem ser essenciais para compreender

uma concepção econômica. Seja qual for a sua forma, um bom modelo econômico pode ser uma tremenda ajuda para a compreensão. A melhor maneira de entender esse conceito é considerar alguns modelos econômicos simples, mas importantes, e analisar o que nos informam. Primeiro, vamos analisar a fronteira das possibilidades de produção, um modelo que ajuda os economistas a pensar sobre os trade-offs que cada economia enfrenta. Então, passamos à vantagem comparativa, um modelo que explica o princípio dos ganhos com o comércio – tanto o comércio entre indivíduos como entre países. Além disso, vamos examinar o diagrama do fluxo circular, uma representação esquemática que ajuda a entender como os fluxos de dinheiro, de bens e serviços são canalizados por meio da economia. Ao discutir esses modelos, fazemos uso considerável de gráficos para representar as relações matemáticas. Os gráficos desempenham um papel importante neste livro. Quem está familiarizado com o uso de gráficos não terá problemas. Quem não está, deveria passar agora ao apêndice deste capítulo, que fornece uma breve introdução ao uso de gráficos em economia.

Para mentes curiosas Modelos por dinheiro Um modelo é apenas um modelo, certo? Então, quais os danos que pode trazer? Os economistas provavelmente teriam respondido a essa pergunta de forma bastante diferente antes da crise financeira entre 2008 e 2009. A crise financeira continua a ressoar até hoje – prova da importância dos modelos econômicos. Um modelo – o qual se mostrou um modelo econômico ruim – desempenhou um papel significativo na origem da crise. “O modelo por dinheiro” teve origem na teoria financeira, o ramo da economia que procura entender quais ativos, como ações e títulos, valem a pena. Os teóricos financeiros muitas vezes são contratados (com salários muito elevados) para elaborar modelos matemáticos complexos e ajudar as empresas de investimento a decidir quais ativos comprar e vender e a que preço. A teoria financeira tornou-se cada vez mais importante à medida que Wall Street (um bairro de Nova York, onde quase todas as grandes empresas de investimento têm sede) mudou da negociação de ativos simples como ações e títulos a ativos mais complexos – com destaque, títulos garantidos por hipotecas (mortgage backed securities – MBS). Um MBS é um ativo que habilita o proprietário a um fluxo de rendimentos com base nos pagamentos dos empréstimos de habitação efetuados por milhares de pessoas. Os investidores queriam saber o risco desses ativos complexos. Ou seja, a probabilidade de um investidor perder dinheiro em um MBS. Sem entrarmos em mais detalhes, ressaltamos que estimar a probabilidade de perder dinheiro em um MBS é um problema complicado. Trata-se de calcular a probabilidade de que uma quantidade significativa de proprietários de imóveis pelo sistema hipotecário irá parar de pagar suas hipotecas. Enquanto essa probabilidade não for calculada, os

investidores não irão querer comprar um MBS. Para induzir a venda, as empresas de Wall Street precisaram fornecer aos compradores potenciais de MBS alguma estimativa de risco. Em 2000, um teórico financeiro de Wall Street anunciou que tinha resolvido o problema, empregando uma enorme abstração estatística – supondo que os atuais proprietários de casas não estavam mais propensos a parar de pagar suas hipotecas do que em décadas anteriores. A partir dessa premissa, desenvolveu-se um modelo simples para estimar o risco de comprar um MBS. Os operadores financeiros adoraram o modelo por ter aberto um mercado enorme e extremamente rentável para eles. Usando esse modelo simples, Wall Street foi capaz de criar e vender bilhões de MBS, gerando bilhões de dólares em lucro para si mesmo. Os investidores pensaram que o risco de perder dinheiro em um MBS havia sido calculado. Alguns especialistas financeiros – principalmente Darrell Duffie, professor de Finanças da Universidade de Stanford – advertiram, como espectadores, que as estimativas de risco calculado por meio daquele modelo simples estavam erradas. Darrell e outros críticos disseram que, na busca pela simplicidade, o modelo subestimou seriamente a possibilidade de que muitos proprietários de casas poderiam parar de pagar suas hipotecas ao mesmo tempo, expondo os investidores em MBS a riscos de perdas enormes. As advertências não surtiram efeito – não havia dúvida de que era porque Wall Street estava fazendo muito dinheiro. Bilhões de dólares em MBS foram vendidos a investidores, tanto dos Estados Unidos como do exterior. Entre 2008 e 2009, os problemas sobre os quais os críticos haviam alertado explodiram de forma catastrófica. Ao longo da década anterior, os preços das casas americanas subiram muito e as hipotecas estenderam-se a muitos que não puderam pagar. Como os preços das casas caíram por terra, milhões de proprietários deixaram de pagar as hipotecas. Com a elevação das perdas dos investidores em MBS, tornou-se muito claro que o modelo realmente havia subestimado os riscos. Quando os investidores e as instituições financeiras de todo o mundo perceberam a extensão de suas perdas, a economia mundial foi levada a uma parada abrupta. E, até hoje, não se recuperou totalmente.

Trade-offs: A fronteira das possibilidades de produção O primeiro princípio da economia, apresentado no Capítulo 1, expõe que os recursos são escassos e que, como resultado, qualquer economia – seja um grupo isolado de algumas dezenas de pessoas que subsistem com caça e forrageio ou os seis bilhões de pessoas que compõem a economia global do século XXI – enfrenta trade-offs. Não importa a leveza do Boeing Dreamliner, nem a eficiência da linha de montagem da Boeing. A produção do Dreamliner significa que estão sendo utilizados recursos que poderiam ter sido utilizados para produzir outra coisa. Ao examinar os trade-offs que uma economia enfrenta, os economistas costumam usar o modelo conhecido como fronteira das possibilidades de produção. A ideia subjacente a esse modelo é melhorar a compreensão dos trade-offs, ao considerar uma economia

simplificada que produz apenas dois bens. Essa simplificação nos permite mostrar graficamente o trade-off. Suponha, por um momento, que os Estados Unidos sejam uma economia de uma empresa, sendo a Boeing seu único empregador e os aviões o único produto. Haveria ainda uma escolha de que tipos de aviões produzir – digamos, Dreamliners ou jatos pequenos de poucos passageiros. A Figura 2-1 mostra uma fronteira das possibilidades de produção hipotética representando o trade-off que essa economia de empresa única iria enfrentar. A fronteira – a curva no gráfico – mostra a quantidade máxima de jatos pequenos que a Boeing pode produzir por ano, dada a quantidade de Dreamliners que ela produz por ano, e vice-versa. Ou seja, responde às questões da forma: “Qual é a quantidade máxima de jatos pequenos que a Boeing pode produzir em um ano, se também produz 9 (ou 15, ou 30) Dreamliners por ano?”

FIGURA 2-1 Fronteira de possibilidade de produção A fronteira das possibilidades de produção ilustra os trade-offs que a Boeing enfrenta na produção de Dreamliners e jatos pequenos. Mostra a quantidade máxima de um bem que pode ser produzida tendo em conta a quantidade do outro bem produzida. Aqui, a quantidade máxima de Dreamliners fabricados por ano depende da quantidade de jatos pequenos produzida nesse ano, e vice-versa. A produção viável da Boeing é mostrada na área interior ou na curva. A produção no ponto C é viável, mas não é eficiente. Os pontos A e B são viáveis e eficientes na produção, mas o ponto D não é viável.

Há uma distinção crucial entre os pontos dentro ou sobre a fronteira das possibilidades de produção (área sombreada) e fora da fronteira. Se o ponto de produção situa-se dentro ou na fronteira, como o ponto C, em que a Boeing produz 20 jatos pequenos e nove Dreamliners em um ano – é possível. Afinal, a fronteira informa que se a Boeing produz 20 jatos pequenos, também poderá produzir nesse ano um máximo de 15 jatos grandes,

por isso certamente pode construir nove Dreamliners. No entanto, o ponto de produção que se situa fora da fronteira – tal como o ponto de produção hipotético D na figura, em que a Boeing produz 40 jatos pequenos e 30 Dreamliners – não é viável. A Boeing pode produzir 40 jatos pequenos e nenhum Dreamliner – ou pode produzir 30 Dreamliners e nenhum jato pequeno, mas não pode fazer as duas coisas. Na Figura 2-1 a fronteira das possibilidades de produção intercepta o eixo horizontal em 40 jatos pequenos. Isso significa que se a Boeing dedicasse toda a sua capacidade de produção para construir jatos pequenos, poderia produzir 40 jatos pequenos por ano, e nenhum Dreamliner. A fronteira das possibilidades de produção intercepta o eixo vertical em 30 Dreamliners. Isso significa que se a Boeing dedicasse toda a sua capacidade de produção para construir Dreamliners, poderia produzir 30 Dreamliners por ano e nenhum jato pequeno. A figura também mostra trade-offs não tão extremos. Por exemplo, se os gestores da Boeing decidirem construir 20 jatos pequenos nesse ano, eles podem produzir, no máximo, 15 Dreamliners. Essa escolha de produção é ilustrada pelo ponto A. E se os gestores da Boeing decidirem produzir 28 jatos pequenos podem construir no máximo 9 Dreamliners, como mostrado pelo ponto B. Pensar em termos de fronteira das possibilidades de produção simplifica as complexidades da realidade. A economia do mundo real produz milhões de bens diferentes. Até a Boeing pode produzir mais que dois tipos de aviões diferentes. No entanto, é importante perceber que, mesmo em sua simplicidade, esse modelo despojado fornece informações importantes sobre o mundo real. Ao simplificar a realidade, a fronteira das possibilidades de produção nos ajuda a compreender alguns aspectos da economia real melhor do que compreenderíamos, sem o modelo: a eficiência, custo de oportunidade e crescimento econômico.

Eficiência Em primeiro lugar, a fronteira das possibilidades de produção é uma boa maneira de ilustrar o conceito econômico geral de eficiência. Lembrem-se do Capítulo 1, em que uma economia é eficiente se não houver perda de oportunidades – não há maneira de melhorar a situação de alguém sem piorar a situação do outro. Um elemento fundamental da eficiência é que não existem oportunidades perdidas na produção – não há maneira de produzir mais de um bem, sem produzir menos de outros. Enquanto a Boeing opera na fronteira das possibilidades de produção, sua produção é eficiente. No ponto A, 15 Dreamliners são a quantidade máxima possível, uma vez que a Boeing também se comprometeu a produzir 20 jatos pequenos; no ponto B, os 9 Dreamliners são o número máximo que pode ser construído dada a opção de produzir 28 jatos pequenos; e assim por diante. Mas vamos supor que por algum motivo a Boeing esteja operando no ponto C, construindo 20 jatos pequenos e 9 Dreamliners. Nesse caso, não seria eficiente e, por conseguinte, seria ineficiente: poderia estar produzindo mais de ambos os bens. Apesar de termos usado um exemplo das escolhas de produção de uma empresa, uma

economia de dois bens para ilustrar a eficiência e a ineficiência, esses conceitos também valem para a economia real, que contém muitas empresas e produz muitos bens. Se a economia no conjunto não pode produzir mais de um bem sem produzir menos de outro – ou seja, se estiver na fronteira das possibilidades de produção, então podemos dizer que a economia é eficiente na produção. Se, no entanto, a economia puder produzir mais de algumas coisas sem produzir menos de outras – o que normalmente significa que poderia produzir mais de tudo –, então é ineficiente na produção. Por exemplo, uma economia em que um grande número de trabalhadores involuntariamente está desempregado, certamente é ineficiente na produção. E isso é ruim, porque a economia poderia estar produzindo mais se essas pessoas estivessem empregadas. Embora a fronteira das possibilidades de produção ajude a esclarecer o que significa uma economia ser eficiente na produção, é importante entender que eficiência na produção é apenas parte do que é necessário para uma economia em seu conjunto ser eficiente. A eficiência também exige que a economia aloque seus recursos de tal modo que os consumidores fiquem tão bem quanto possível. Quando a economia faz isso, dizemos que é eficiente na alocação. Para verificar por que a eficiência na alocação é tão importante quanto a eficiência na produção, observe que os pontos A e B na Figura 2-1 representam situações em que a economia é eficiente na produção, pois em cada caso não pode produzir mais de um bem sem produzir menos do outro. Mas essas duas situações podem não ser igualmente desejáveis sob o ponto de vista da sociedade. Suponha que a sociedade prefira ter mais jatos pequenos e menos Dreamliners do que no ponto A; digo, prefere ter 28 jatos pequenos e 9 Dreamliners, o que corresponde ao ponto B. Nesse caso, o ponto A é ineficiente em alocação sob o ponto de vista da economia em seu conjunto, pois prefere que a Boeing produza no ponto B em vez de no ponto A. Esse exemplo mostra que a eficiência para a economia em seu conjunto requer tanto eficiência na produção como na alocação: para ser eficiente, uma economia deve produzir o máximo de cada bem dada a produção dos demais, e também deve produzir uma combinação dos bens que as pessoas desejem consumir. (E também deve distribuir os bens às pessoas certas: uma economia que fornece jatos pequenos para companhias aéreas internacionais e Dreamliners para companhias aéreas suburbanas que servem pequenos aeroportos rurais também é ineficiente.) No mundo real, economias de comando, tal como a antiga União Soviética, eram notórias pela ineficiência na alocação. Por exemplo, era comum que os consumidores encontrassem lojas com estoques de itens que poucas pessoas queriam, mas faltavam itens básicos, como sabonete e papel higiênico.

Custo de oportunidade A fronteira das possibilidades de produção é útil também para lembrar o ponto fundamental de que o verdadeiro custo de qualquer bem não é apenas a quantidade de dinheiro que ele custa, mas o que temos que abrir mão para obtê-lo – o custo de oportunidade. Se, por exemplo, a Boeing decidir ir do ponto A para o B, produzirá mais oito jatos pequenos, mas menos seis Dreamliners. Assim, o custo de oportunidade de

oito jatos pequenos é a renúncia de seis Dreamliners, para poder produzir mais oito jatos pequenos. Significa que cada jato pequeno tem um pequeno custo de oportunidade de 6/8 = 3/4 de um Dreamliner. Esse custo de oportunidade de um jato pequeno a mais, em termos de Dreamliners, é sempre o mesmo, não importa quantos jatos pequenos e Dreamliners sejam produzidos atualmente? No exemplo ilustrado na Figura 2-1, a resposta é sim. Se a Boeing aumentar a produção de jatos pequenos de 28 para 40, o número de Dreamliners que produz cai de 9 para 0 (zero). Então, o custo de oportunidade da Boeing por jato pequeno adicional é 9/12 = 3/4 de um Dreamliner, o mesmo que era quando a Boeing passou de 20 jatos pequenos para 28. No entanto, o fato de que nesse exemplo o custo de oportunidade de um jato pequeno adicional, em termos de Dreamliners, seja sempre o mesmo resulta de um pressuposto adotado, que se reflete no formato da curva da Figura 2-1. Especificamente, sempre que assumimos que o custo de oportunidade de uma unidade adicional de um bem não muda independentemente das proporções na produção, a fronteira das possibilidades de produção é uma linha reta. Além disso, como você já deve ter imaginado, a inclinação da linha reta que representa a fronteira das possibilidades de produção é igual ao custo de oportunidade, especificamente o custo de oportunidade de um bem medido no eixo horizontal em termos do bem medido no eixo vertical. Na Figura 2-1, a fronteira das possibilidades de produção tem uma inclinação constante de – 3/4, o que implica que a Boeing defronta um custo de oportunidade constante de um jato pequeno igual a 3/4 de um Dreamliner. (No apêndice deste capítulo há uma revisão de como a inclinação de uma reta é calculada.) Esse é o caso mais simples, mas o modelo da fronteira das possibilidades de produção também pode ser usado para examinar situações em que os custos de oportunidade variam com a composição dos produtos. A Figura 2-2 ilustra um pressuposto diferente, um caso em que a Boeing enfrenta um custo de oportunidade crescente. Aqui, quanto menor forem os jatos pequenos produzidos, mais caro será produzir mais um jato pequeno em termos de renúncia de produção de um Dreamliner. E o mesmo se aplica no sentido inverso: quanto mais a Boeing produz Dreamliners, mais caro fica produzir outro Dreamliner em termos de renunciar à produção de jatos pequenos. Por exemplo, em termos de jatos pequenos para ir da produção de 0 para 20, a Boeing tem que renunciar a produzir 5 Dreamliners. Ou seja, o custo de oportunidade desses 20 jatos pequenos é de 5 Dreamliners. Mas para aumentar para 40 a produção de jatos pequenos – ou seja, para produzir 20 jatos pequenos adicionais – deve renunciar à produção de mais 25 Dreamliners, um custo de oportunidade muito maior. Como se observa na Figura 2-2, quando os custos de oportunidade são crescentes e não constantes, a fronteira das possibilidades de produção é uma curva abaulada em vez de uma linha reta.

FIGURA 2-2 Custo de oportunidade crescente O formato abaulado da fronteira das possibilidades de produção reflete o custo de oportunidade crescente. Neste exemplo, para produzir os primeiros 20 jatos pequenos, a Boeing deve renunciar à produção de 5 Dreamliners. Mas para produzir um adicional de 20 jatos pequenos, a Boeing deve sacrificar mais 25 Dreamliners.

Embora muitas vezes seja útil trabalhar com a simples suposição de que a fronteira das possibilidades de produção seja uma linha reta, os economistas acreditam que, na realidade, os custos de oportunidade normalmente são crescentes. Quando apenas uma pequena quantidade de um bem é produzida, o custo de oportunidade de produzir esse bem é relativamente baixo porque a economia precisa usar apenas os recursos que são especialmente adequados para a sua produção. Por exemplo, se uma economia cultiva apenas uma pequena quantidade de milho, este pode ser cultivado em lugares onde o solo e o clima é perfeito para o cultivo de milho, mas não tão adequadas para o cultivo de outras culturas, como o trigo. Assim, o cultivo do milho envolve a desistência de apenas uma pequena quantidade de produção potencial de trigo. No entanto, quando a economia passa a cultivar uma quantidade grande de milho, tem de usar terra adequada para o trigo, mas nem tão boa para o milho. Como resultado, a produção adicional de milho envolverá sacrificar consideravelmente a produção de trigo. Em outras palavras, quanto mais de um bem é produzido, o custo de oportunidade aumenta porque os insumos apropriados estão esgotados e, em vez disso, é preciso usar insumos menos adaptáveis.

Crescimento econômico Ao final, a fronteira das possibilidades de produção nos ajuda a entender o que significa falar sobre crescimento econômico. Introduzimos o conceito de crescimento econômico na Introdução, definindo-o como a capacidade crescente da economia de produzir bens e serviços. Como vimos, o crescimento econômico é uma das características fundamentais da

economia real. Mas será que a economia realmente cresceu ao longo do tempo? Afinal, embora a economia dos Estados Unidos produza hoje muito mais do que produzia há um século, produz menos de outros itens – por exemplo, carruagens. Em outras palavras, a produção de muitos bens é realmente baixa. Então, como podemos afirmar com certeza que a economia cresceu em seu conjunto? A resposta está ilustrada na Figura 2-3, onde traçamos duas fronteiras das possibilidades de produção hipotéticas da economia. Nelas assumimos novamente que na economia todos trabalham para a Boeing e, consequentemente, a economia produz apenas dois bens, Dreamliner e jatos pequenos. Observe como as duas curvas estão aninhadas, uma denominada “PPF original” situada dentro da outra denominada “PPF nova”. Agora podemos observar no gráfico o que significa crescimento econômico da economia: uma expansão das possibilidades de produção da economia, isto é, a economia pode produzir mais de tudo. Por exemplo, se a economia produz inicialmente no ponto A (25 Dreamliners e 20 jatos pequenos), o crescimento econômico significa que ela poderia se mover para o ponto E (30 Dreamliners e 25 jatos pequenos). O ponto E está fora da fronteira original; assim, no modelo de fronteira das possibilidades de produção, o crescimento é mostrado por um deslocamento da fronteira para fora.

FIGURA 2-3 Crescimento econômico O crescimento econômico resulta em um deslocamento para fora da fronteira das possibilidades de produção porque as possibilidades de produção se expandiram. Agora, a economia pode produzir mais de tudo. Por exemplo, se a produção estivesse inicialmente no ponto A (25 Dreamliners e 20 jatos pequenos), o crescimento econômico significa que a economia poderia mover-se para o ponto E (30 Dreamliners e 25 jatos pequenos).

O que pode levar a fronteira das possibilidades de produção a se deslocar para fora? Há basicamente duas fontes de crescimento econômico. Uma delas é um aumento dos

fatores de produção da economia, os recursos usados para produzir bens e serviços. Os economistas geralmente usam o termo fator de produção para se referir a um recurso que é usado mas não desaparece durante a produção. Por exemplo, na fabricação de aviões tradicionais os trabalhadores usam máquinas de rebitagem para ligar chapas metálicas na construção da fuselagem do avião; os trabalhadores e as rebitadeiras são fatores de produção, mas os rebites e as chapas de metal não são. Uma vez que a fuselagem seja construída, o trabalhador e o rebitador podem ser utilizados na construção de outra fuselagem, mas a folha de metal e os rebites utilizados na construção da fuselagem não podem ser usados em outra. De modo geral, os principais fatores de produção são os recursos terra, trabalho, capital físico e humano. A terra é um recurso fornecido pela natureza, o trabalho é o conjunto dos trabalhadores da economia; o capital físico se refere a recursos criados como máquinas e edifícios e o capital humano se refere às realizações educacionais e habilidades da força de trabalho, que aumentam sua produtividade. Claro que cada um desses itens é na verdade uma categoria e não um fator único: a terra em Dakota do Norte é bem diferente de terra na Flórida. Para verificar como a adição dos fatores de produção em uma economia resulta no crescimento econômico, suponha que a Boeing constrói outro hangar de construção que lhe permite aumentar o número de aviões – jatos pequenos ou grandes, ou ambos – que pode produzir em um ano. O novo hangar de construção é um fator de produção, um recurso que a Boeing pode usar para aumentar sua produção anual. Não podemos precisar quantos aviões a mais de cada tipo a Boeing vai produzir, pois é uma decisão de gestão que vai depender, entre outros fatores, da demanda do cliente. Mas pode-se dizer que a fronteira das possibilidades de produção da Boeing deslocou-se para fora porque agora pode produzir mais jatos pequenos, sem reduzir o número de Dreamliners produzidos ou pode produzir mais Dreamliners, sem reduzir o número de jatos pequenos produzidos. Outra fonte de crescimento econômico é o progresso em tecnologia, os meios técnicos para a produção de bens e serviços. Antes do Dreamliner da Boeing ser desenvolvido, foram usados materiais compósitos em algumas partes da aeronave. Mas os engenheiros da Boeing perceberam que havia grandes vantagens adicionais na construção de um avião inteiro sem compósitos. O avião seria mais leve, mais forte e teria melhor aerodinâmica que um avião construído da forma tradicional. Teria, portanto, maior alcance, capacidade de transportar mais pessoas e utilização de menos combustível, além de ser capaz de manter uma pressão mais elevada na cabina. Assim, em um sentido real, a inovação da Boeing – um avião inteiro construído sem compósitos – foi uma forma de fazer mais com qualquer quantidade de recursos, empurrando para fora a fronteira das possibilidades de produção. Como a tecnologia do jato melhorada empurrou para fora a fronteira das possibilidades de produção, foi possível que a economia produzisse mais de tudo e não apenas jatos e viagens aéreas. Ao longo dos últimos 30 anos, os maiores avanços tecnológicos ocorreram em tecnologia da informação e não em serviços de construção ou de alimentos. No entanto, os americanos optaram em comprar casas maiores e comer

mais do que antes, pois o crescimento da economia possibilitou isso. A fronteira das possibilidades de produção é um modelo muito simplificado de uma economia. No entanto, oferece lições importantes sobre a economia real. Fornece a primeira noção clara do que seja eficiência econômica, ilustra o conceito de custo de oportunidade e esclarece sobre o que versa o crescimento econômico.

Vantagem comparativa e ganhos com o comércio Entre os 12 princípios da economia descritos no Capítulo 1 encontra-se o dos ganhos com o comércio – os ganhos mútuos que os indivíduos podem alcançar ao se especializar em coisas diferentes e negociando um com o outro. Essa segunda ilustração é de um modelo econômico especialmente útil de ganhos com o comércio – comércio baseado em vantagens comparativas. Uma das descobertas mais importantes da economia é que ocorrem ganhos com o comércio – faz sentido produzir o que se tem um talento especial e comprar de outras pessoas o que não se tem habilidade de produzir. Isso seria verdadeiro mesmo que se pudesse produzir tudo por si mesmo: mesmo que um cirurgião brilhante pudesse reparar a própria torneira pingando, provavelmente uma ideia melhor seria chamar um encanador profissional. Como podemos modelar os ganhos com o comércio? Voltemos ao exemplo do avião e imaginemos novamente que os Estados Unidos são uma economia de uma empresa onde todos trabalham para a Boeing que produz aviões. Vamos supor, porém, que os Estados Unidos têm capacidade de negociar com o Brasil – outra economia de uma única empresa onde todos trabalham para a empresa brasileira de aeronaves Embraer, que no mundo real é um produtor de sucesso de jatos pequenos de passageiros. (Ao voar de uma cidade grande dos Estados Unidos para outra, é provável que o avião seja um Boeing, mas se voar de uma cidade pequena, é muito provável que seja da Embraer.) No exemplo, os dois únicos bens produzidos são jatos grandes e pequenos. Os dois países podem produzir os dois tipos de jatos. Mas, como veremos em um instante, podem levar vantagem produzindo itens diferentes e negociando um com o outro. Para o propósito desse exemplo, vamos voltar ao caso mais simples da fronteira das possibilidades de produção em linha reta. A fronteira das possibilidades de produção dos Estados Unidos está representada pela fronteira das possibilidades de produção no painel (a) da Figura 2-4, que é semelhante à fronteira das possibilidades de produção da Figura 2-1. De acordo com esse diagrama, os Estados Unidos podem produzir 40 jatos pequenos se não produzir jatos grandes e 30 jatos grandes se não produzir jatos pequenos. Lembre-se que isso significa que a inclinação da fronteira das possibilidades de produção dos Estados Unidos é −3/4: o custo de oportunidade de um jato pequeno é 3/4 de um jato grande.

FIGURA 2-4 Possibilidade de produção de dois países Aqui, tanto os Estados Unidos como o Brasil têm um custo de oportunidade constante de jatos pequenos, ilustrado pela fronteira das possibilidades de produção em linha reta. Para os Estados Unidos, cada jato pequeno tem um custo de oportunidade de 3/4 de um jato grande. O Brasil tem um custo de oportunidade de um jato pequeno igual a 1/3 de um jato de grande.

O painel (b) da Figura 2-4 mostra as possibilidades de produção do Brasil. Como os Estados Unidos, a fronteira das possibilidades de produção do Brasil é uma linha reta, o que implica um custo de oportunidade constante de jatos pequenos em relação a jatos grandes. A fronteira das possibilidades de produção do Brasil tem uma inclinação constante de −1/3. O Brasil não pode produzir tanto quanto os Estados Unidos: pode produzir no máximo 30 jatos pequenos ou 10 jatos grandes. Mas é melhor que os Estados Unidos em relação à fabricação de jatos pequenos; ao passo que os Estados Unidos sacrificam 3/4 do jato grande por jato pequeno produzido, para o Brasil o custo de oportunidade de um jato é apenas 1/3 de um jato grande. A Tabela 2-1 resume os custos dos jatos pequenos e grandes dos dois países. Tabela 2-1 Custos de oportunidade para os Estados Unidos e para o Brasil referentes a jatos pequenos e jatos grandes

Agora, tanto os Estados Unidos como o Brasil podem optar em fabricar seus próprios jatos grandes e pequenos, sem trocar aviões e consumindo apenas o que cada um produz dentro do seu próprio país. (Um país “consome” um avião quando um residente o possui.) Vamos supor que os dois países comecem dessa maneira e realizem as escolhas de consumo mostradas na Figura 2-4: na ausência de comércio, os Estados Unidos produzem e consomem 16 jatos pequenos e 18 jatos grandes por ano, enquanto o Brasil produz e consome 6 jatos pequenos e 8 grandes por ano. Mas isso é o melhor que os dois países podem fazer? Não. Dado que os dois produtores – e, portanto, os dois países têm custos de oportunidade diferentes, os Estados Unidos e o Brasil podem chegar a um acordo para melhorar a situação.

A Tabela 2-2 mostra como o negócio funciona: os Estados Unidos se especializa na produção de jatos grandes, fabricando 30 por ano, e vende 10 para o Brasil. Enquanto que o Brasil se especializa na produção de jatos pequenos, produzindo 30 por ano e vende 20 para os Estados Unidos. O resultado é mostrado na Figura 2-5. Agora, os Estados Unidos consomem mais do que antes, tanto jatos pequenos como grandes: em vez de 16 jatos pequenos e 18 grandes, agora consome 20 jatos pequenos e 20 grandes. O Brasil também consome mais, passando de 6 jatos pequenos e 8 grandes para 10 pequenos e 10 grandes. Como mostra a Tabela 2-2, tanto os Estados Unidos como o Brasil vão obter ganhos com o comércio, consumindo mais dos dois tipos de avião do que teria conseguido sem o comércio. Tabela 2-2 Como os Estados Unidos e o Brasil ganham com o comércio

FIGURA 2-5 Vantagem comparativa e ganhos com o comércio Ao se especializar e comercializar, os Estados Unidos e o Brasil podem produzir e consumir mais tanto jatos grandes como pequenos. Os Estados Unidos se especializaram na fabricação de jatos grandes, sua vantagem comparativa, e o Brasil – que tem uma desvantagem absoluta nos dois bens, mas uma vantagem comparativa nos jatos pequenos – especializou-se na fabricação de jatos pequenos. Com o comércio, os dois países podem consumir mais dos dois bens do que poderiam sem o comércio.

Os dois países ficam em situação melhor quando cada um se especializa no que tem habilidade e comercializa. Para os Estados Unidos é uma boa ideia se especializar na

produção de jatos grandes, porque o custo de oportunidade de um jato grande é menor do que o do Brasil: 4/3 < 3. Do mesmo modo, o Brasil deve se especializar na produção de jatos pequenos porque seu custo de oportunidade de jatos pequenos é menor do que o dos Estados Unidos: 1/3 < 3/4. O que diríamos nesse caso é que os Estados Unidos têm vantagem comparativa na produção de jatos grandes e o Brasil tem vantagem comparativa na produção de jatos pequenos. Um país tem vantagem comparativa na produção de alguma coisa, se o custo de oportunidade dessa produção for menor para esse país do que para outros países. O mesmo conceito se aplica às empresas e às pessoas: uma empresa ou pessoa tem vantagem comparativa na produção de alguma coisa, se o custo de oportunidade de produção for menor do que para a outra pessoa. Um ponto de esclarecimento, antes de prosseguir. A questão é por que os Estados Unidos comercializaram 10 jatos grandes para o Brasil, em troca de 20 jatos pequenos. Por que não outro acordo, como 10 jatos grandes por 12 jatos pequenos? A resposta a essa pergunta tem duas partes. Primeiro, de fato, pode haver outras quantidades a serem comercializadas entre os Estados Unidos e o Brasil. Em segundo lugar, existem algumas transações que podemos excluir com segurança – como 10 jatos grandes por 10 pequenos. Para entender o porquê, reexamine a Tabela 2-1 e considere primeiro os Estados Unidos. Sem negociar com o Brasil, o custo de oportunidade de um jato pequeno para os Estados Unidos é 3/4 de um jato grande. Então, é claro que os Estados Unidos não irão aceitar qualquer negócio que o obrigue a desistir de mais de 3/4 de um jato grande por um pequeno. Trocar 10 jatos grandes por 12 pequenos exigiria que os Estados Unidos pagassem um custo de oportunidade de 10/12 = 5/6 de um jato grande por um pequeno. Como 5/6 > 3/4, seria uma quantidade a ser rejeitada pelos Estados Unidos. Da mesma forma, o Brasil não iria aceitar um negócio que proporcione menos de 1/3 de um jato grande por um pequeno. O ponto a ser lembrado é que os Estados Unidos e o Brasil estão dispostos a negociar somente se o “preço” do bem de cada país a ser obtido no comércio for menor do que o seu próprio custo de oportunidade da produção do bem no mercado interno. Além disso, é uma afirmação geral que se aplica sempre que duas partes – países, empresas ou pessoas – comercializam voluntariamente. Enquanto nossa história simplifica a realidade também nos ensina algumas lições muito importantes que se aplicam à economia real. Primeiro, o modelo fornece uma ilustração clara dos ganhos com o comércio: por meio da especialização e do comércio, os dois países produzem mais e consomem mais do que se fossem autossuficientes. Segundo, o modelo demonstra um ponto muito importante, que muitas vezes é esquecido nas discussões do mundo real: cada país tem uma vantagem comparativa na produção de alguma coisa. Isso também se aplica a empresas e pessoas: cada pessoa tem uma vantagem comparativa em algo, assim como cada uma tem uma desvantagem comparativa em algo. Nesse exemplo, não importa se, como provavelmente ocorre na vida real, os trabalhadores americanos são tão bons quanto ou até mesmo melhores do que os

trabalhadores brasileiros na produção de jatos pequenos. Suponha que os Estados Unidos sejam realmente melhor do que o Brasil em todos os tipos de produção de aeronaves. Nesse caso, diríamos que os Estados Unidos têm uma vantagem absoluta na produção tanto de jatos grandes como pequenos: em uma hora, um trabalhador americano pode produzir mais tanto jatos grandes como pequenos do que um trabalhador brasileiro. Existe a tentação de pensar que, nesse caso, os Estados Unidos não têm nada a ganhar na negociação com o Brasil, que é menos produtivo. Mas acabamos de ver que os Estados Unidos podem realmente se beneficiar do comércio com o Brasil porque a vantagem comparativa e não absoluta é a base para o ganho mútuo. Não importa se o Brasil utiliza mais recursos do que os Estados Unidos para fabricar um jato pequeno; o que importa para o comércio é que, para o Brasil, o custo de oportunidade de um jato pequeno é menor do que o custo de oportunidade dos Estados Unidos. Então, o Brasil, apesar de sua desvantagem absoluta, mesmo em jatos pequenos, tem uma vantagem comparativa na fabricação de jatos pequenos. Enquanto isso, os Estados Unidos, que podem usar seus recursos de forma mais produtiva na fabricação de jatos grandes, têm uma desvantagem comparativa na fabricação de jatos pequenos.

Vantagem comparativa e comércio internacional Veja a etiqueta de um bem manufaturado vendido nos Estados Unidos, e é bem provável que você irá descobrir que foi produzido em algum outro país – na China, no Japão, ou mesmo no Canadá. Por outro lado, muitas indústrias dos Estados Unidos vendem uma grande parte de sua produção no exterior. (Isso é verdadeiro particularmente para a agricultura, alta tecnologia e entretenimento.) Todo esse intercâmbio internacional de bens e serviços deve ser celebrado, ou é motivo de preocupação? Os políticos e o público muitas vezes questionam a conveniência do comércio internacional, argumentando que a nação deveria produzir os seus próprios bens, em vez de comprá-los do estrangeiro. As indústrias em todo o mundo exigem proteção contra a concorrência estrangeira: os agricultores japoneses querem manter fora o arroz americano, os metalúrgicos americanos querem manter fora a siderúrgica europeia. E essas exigências são muitas vezes apoiadas pela opinião pública. Os economistas, no entanto, têm uma visão muito positiva do comércio internacional. Por quê? Porque o analisam em termos de vantagem comparativa. Como aprendemos com o exemplo dos jatos grandes norte-americanos e dos jatos pequenos brasileiros, o comércio internacional beneficia os dois países. Cada país pode consumir mais do que se não comercializasse e se mantivesse autossuficiente. Além disso, esses ganhos mútuos não dependem de cada país ser melhor do que outros países na produção de um tipo de bem. Mesmo que um país tiver, por exemplo, maior produtividade por trabalhador em ambas as indústrias – isto é, mesmo se um país tiver uma vantagem absoluta em ambas as indústrias – o comércio ainda será vantajoso. A próxima comparação global, que explica o padrão de produção de vestuário no conjunto da economia, ilustra esse ponto.

Armadilhas Confundindo a vantagem comparativa Os estudantes e os especialistas confundem vantagem comparativa com vantagem absoluta e os políticos caem nessa armadilha o tempo todo. Por exemplo, na década de 1980, quando a economia dos Estados Unidos parecia estar ficando para trás em relação à do Japão, muitas vezes os comentaristas alertavam que se a produtividade não melhorasse, dentro em pouco não teriam vantagem comparativa em nada. O que os comentaristas queriam dizer é que os Estados Unidos não teriam mais vantagem absoluta em nada – que chegaria um momento em que os japoneses seriam melhores em tudo. (Não aconteceu dessa maneira, mas isso é outra história.) E eles tinham a ideia de que, nesse caso, não seria mais vantajoso o comércio dos Estados Unidos com o Japão. Mas, em nosso exemplo, assim como o Brasil foi capaz de ser beneficiado com o comércio com os Estados Unidos (e vice-versa), apesar do fato de os Estados Unidos serem melhores tanto na fabricação de jatos grandes como de pequenos, na vida real os países ainda podem ganhar com o comércio, mesmo sendo menos produtivos do que os países com os quais negociam.

Transações: diagrama do fluxo circular Os modelos de economia que estudamos até agora – cada um contendo apenas uma empresa – são de uma simplificação enorme. O comércio entre os Estados Unidos e o Brasil também foi bem simplificado. Assumimos que eles se envolvem apenas na mais simples das transações econômicas, o comércio de troca, em que uma parte negocia diretamente um bem ou serviço por outro bem ou serviço, sem o uso de dinheiro. Em uma economia moderna, o comércio simples de troca é raro: geralmente as pessoas trocam bens ou serviços por dinheiro – pedaços coloridos de papel sem valor intrínseco – e, em seguida, trocam essas peças de papel colorido pelos bens ou serviços que desejam. Ou seja, vendem bens ou serviços e compram de outros bens ou serviços. E ambos vendem e compram uma porção de coisas diferentes. A economia americana é uma entidade muito complexa, com mais de uma centena de milhões de trabalhadores empregados por milhões de empresas, produzindo milhões de bens e serviços diferentes. Mesmo assim, é possível aprender algo importante sobre a economia, considerando o modelo simples mostrado na Figura 2-6, o diagrama do fluxo circular. Esse diagrama representa as transações que ocorrem em uma economia com dois tipos de fluxo: o fluxo físico, como de bens, serviços, trabalho e matérias-primas em uma direção e os fluxos de dinheiro, que paga por essas coisas físicas, na direção oposta. Nesse caso, o fluxo físico é mostrado pelas setas internas, o dinheiro, pelas setas externas.

FIGURA 2-6 Diagrama do fluxo circular Esse modelo representa o fluxo de dinheiro e de bens e serviços em uma economia. No mercado de bens e serviços, os domicílios adquirem bens e serviços das empresas, gerando um fluxo de dinheiro em direção às empresas e um fluxo de bens e serviços em direção aos domicílios. O dinheiro flui de volta para os domicílios quando as empresas compram fatores de produção dos domicílios nos mercados de fatores.

Comparação global Repúblicas de pijamas Os países pobres tendem a ter baixa produtividade na fabricação de vestuário e produtividade ainda menor em outros setores (veja adiante Economia em ação), porém, mesmo assim, têm uma vantagem comparativa na produção de vestuário. Como resultado, a indústria do vestuário tende a dominar as suas economias. Um funcionário de um desses países brincou, uma vez: “Não somos uma república de bananas, somos uma república de pijamas.” A figura representa graficamente a renda per capita (a renda total do país dividida pelo total da população) em relação ao emprego industrial dedicado à produção de vestuário em vários países. O gráfico mostra a enorme relação entre o nível de renda per capita de um país e o tamanho da indústria do vestuário: os países pobres têm indústrias de vestuário em grande escala, enquanto os países ricos têm poucas. Segundo o Departamento de Comércio dos Estados Unidos, a indústria de vestuário de Bangladesh tem “baixa produtividade, baixos níveis de alfabetização, perturbações trabalhistas frequentes e tecnologia desatualizada”. No entanto, emprega a maior parte de sua força de trabalho na fabricação de vestuário, o setor que, apesar disso, tem uma

vantagem comparativa, pois a produtividade1 nas outras indústrias é ainda menor. Por outro lado, a Costa Rica tem uma “produtividade relativamente alta” na indústria do vestuário. No entanto, uma fração muito menor e declinante da força de trabalho da Costa Rica está empregada na produção de vestuário. Isso acontece porque a produtividade nas indústrias não têxteis é um pouco maior na Costa Rica do que em Bangladesh.

Fonte: Banco Mundial, Indicadores do desenvolvimento mundial; Nicita A. e M. Olarreaga. “Trade, Producion and Protection 1976-2004”, World Bank Economic Review 21, n. 1 (2007): 165-171.

Os diagramas do fluxo circular mais simples ilustram uma economia que tem apenas dois tipos de habitantes: domicílios e empresas. Um domicílio é composto de uma pessoa ou grupo de pessoas (geralmente, mas não necessariamente, uma família) que compartilha sua renda. A empresa é uma organização que produz bens e serviços para venda e emprega membros dos domicílios. Como se pode ver na Figura 2-6, existem dois tipos de mercados nessa economia simples. De um lado (aqui ao lado esquerdo), existem mercados de bens e serviços em que os domicílios compram os bens e serviços que desejam das empresas. Assim é produzido um fluxo de bens e serviços para os domicílios e um fluxo de retorno financeiro para as empresas. Do outro lado, há os mercados de fatores em que as empresas compram os recursos de que necessitam para produzir bens e serviços. Lembrem-se do início do capítulo, em que os principais fatores de produção são terra, trabalho, capital e capital humano. O mercado de fatores que a maioria das pessoas conhece melhor é o mercado de trabalho, em que os trabalhadores vendem os seus serviços. Além disso, podemos pensar que os domicílios possuem e vendem às empresas outros fatores de produção. Por exemplo, quando uma empresa adquire capital na forma de máquinas, o pagamento, em última análise, vai para os domicílios que possuem a empresa que fabrica a máquina.

Nesse caso, as transações ocorrem no mercado de capital, o mercado em que o capital é comprado e vendido. Como analisaremos mais tarde em detalhe, os mercados de fatores, no final, determinam a distribuição de renda da economia, ou como a renda gerada em uma economia é alocada entre os trabalhadores menos qualificados, os altamente qualificados e os proprietários do capital e da terra. O diagrama do fluxo circular ignora uma série de complicações do mundo real, no interesse da simplicidade. Alguns exemplos: ■ No mundo real, a distinção entre empresas e domicílios nem sempre é clara. Consideremos um pequeno negócio familiar – uma fazenda, uma loja, um pequeno hotel. É uma empresa ou um domicílio? Um quadro mais completo incluiria um boxe separado para as empresas familiares. ■ Muitas das vendas que as empresas realizam não são para os domicílios, mas para outras empresas. Por exemplo, as siderúrgicas vendem principalmente para outras empresas, como os fabricantes de automóveis, e não para os domicílios. Um panorama mais completo incluiria esses fluxos de bens, serviços e dinheiro dentro do setor empresarial. ■ A figura não mostra o governo, que no mundo real retira uma boa quantidade de dinheiro do fluxo circular, na forma de impostos, mas também injeta de volta ao fluxo uma grande quantidade de dinheiro, sob a forma de gastos. Em outras palavras, a Figura 2-6 não é, de forma alguma, um quadro completo de todos os tipos de habitantes da economia real ou de todos os fluxos de dinheiro e de itens físicos que ocorrem entre os habitantes. Apesar de sua simplicidade, o diagrama do fluxo circular ajuda a pensar sobre a economia.

Economia em ação Nação rica, nação pobre Tire a roupa – em um momento e local adequado, é claro – e olhe as etiquetas que mostram de onde vêm. Pode-se apostar que muitas delas, senão a maioria, foram fabricadas no exterior, em um país muito mais pobre – em El Salvador, Sri Lanka ou Bangladesh. Por que esses países são muito mais pobres do que os Estados Unidos? A razão imediata é que suas economias são muito menos produtivas – a partir de uma determinada quantidade de recursos, as empresas desses países não conseguem produzir tanto quanto as empresas dos Estados Unidos ou de outros países ricos. O motivo pelo qual a diferença de produtividade entre os países é tão grande é, de fato, uma questão profunda – realmente, uma das principais questões que preocupam os economistas. Mas, em qualquer caso, a diferença de produtividade é um fato. Mas se as economias desses países são muito menos produtivas do que a dos Estados Unidos, como é que produzem uma quantidade tão grande de vestuário? Por que não fazemos nós mesmos?

A resposta é “vantagem comparativa”. Provavelmente, quase toda a indústria de Bangladesh é muito menos produtiva do que a indústria correspondente nos Estados Unidos. Mas a diferença de produtividade entre países ricos e pobres varia segundo o bem; é muito grande na produção de bens sofisticados, como aviões, mas não tão grande na produção de bens mais simples como roupa. Assim, a posição de Bangladesh com respeito à produção de roupas é análoga à posição da Embraer no que diz respeito à produção de jatos pequenos: não é tão bom como a Boeing, mas é o que a Embraer faz relativamente bem. Bangladesh, embora tenha uma desvantagem absoluta em quase tudo em comparação com os Estados Unidos, tem uma vantagem comparativa na produção de vestuário. Isso significa que tanto os Estados Unidos como o Bangladesh podem consumir mais porque se especializam na produção de coisas diferentes, Bangladesh fornecendo roupas aos Estados Unidos e este fornecendo a Bangladesh bens mais sofisticados.

Teste seu entendimento 2-1 1. Verdadeiro ou falso? Justifique a resposta. a. Um aumento na quantidade de recursos disponíveis para a Boeing para usar na produção de Dreamliners e jatos pequenos não muda sua fronteira das possibilidades de produção. b. Uma mudança tecnológica que permite que a Boeing fabrique mais jatos pequenos para qualquer quantidade de Dreamliners resulta em uma mudança na sua fronteira das possibilidades de produção. c. A fronteira das possibilidades de produção é útil porque ilustra quanto de um bem uma economia é obrigada a renunciar para ter mais de outro bem, independentemente de os recursos estarem sendo utilizados de forma eficiente. 2. Na Itália, um automóvel pode ser produzido por oito trabalhadores em um dia e uma máquina de lavar roupa por três trabalhadores em um dia. Nos Estados Unidos, um automóvel pode ser produzido por seis trabalhadores em um dia e uma máquina de lavar roupa por dois trabalhadores em um dia. a. Que país tem uma vantagem absoluta na produção de automóveis? E em máquinas de lavar? b. Que país tem uma vantagem comparativa na produção de máquinas de lavar roupa? E de automóveis? c. Que padrão de especialização resulta nos maiores ganhos com o comércio entre os dois países? 3. Usando os números da Tabela 2-1, explique por que os Estados Unidos e o Brasil estão dispostos a uma troca de 10 jatos grandes por 15 jatos pequenos. 4. Use o diagrama do fluxo circular para explicar como um aumento do dinheiro gasto pelos domicílios resulta em um aumento do número de empregos na economia. Descreva com palavras o que prevê o modelo do fluxo circular. As respostas estão no fim do livro.

Breve revisão ■ A maioria dos modelos econômicos é de “experimentos mentais” ou representações simplificadas da realidade baseadas na suposição de que tudo o mais permanece constante. ■ O modelo da fronteira das possibilidades de produção ilustra os conceitos de eficiência, custo de oportunidade e crescimento econômico. ■ Cada pessoa e cada país tem uma vantagem comparativa em alguma coisa, dando origem a ganhos com o comércio. A vantagem comparativa é muitas vezes confundida com vantagem absoluta. ■ Nas economias mais simples as pessoas realizam escambo ou troca direta, em vez de negociar com dinheiro. O diagrama do fluxo circular é um modelo que ilustra transações dentro da economia como os fluxos de bens e serviços, os fatores de produção e o dinheiro entre domicílios e empresas. Essas transações ocorrem nos mercados de bens e serviços e no mercado de fatores. Em última análise, os mercados de fatores determinam a distribuição de renda da economia.

O uso de modelos Vimos que a economia é principalmente uma questão de criar modelos que se baseiam em um conjunto de princípios básicos e algumas hipóteses mais específicas que permitem que o modelador aplique esses princípios em uma situação particular. Mas o que os economistas fazem realmente com seus modelos?

Economia positiva versus economia normativa Imagine que você seja um assessor econômico do governador do seu estado. Que tipos de perguntas o governador pode solicitar que responda? Eis aqui três perguntas possíveis: 1. Qual será a receita dos pedágios nas rodovias do estado no próximo ano? 2. Qual será a receita se o pedágio aumentar de $1 para $1,50? 3. O pedágio deve subir, tendo em conta que reduzirá o trânsito e a poluição do ar perto da estrada, mas isto trará dificuldade financeira para os usuários frequentes? Há uma grande diferença entre as duas primeiras questões e a terceira. As duas primeiras são questões sobre fatos. Será verificado se a previsão do total de pedágio a ser arrecadado está certa ou errada quando a cobrança de pedágio realmente tiver ocorrido. A estimativa do impacto de uma mudança no preço do pedágio é um pouco mais difícil de verificar – a receita depende de outros fatores além do preço do pedágio. E é possível que seja difícil separar as causas de qualquer mudança na receita. Ainda assim, em princípio, só existe uma resposta correta. Mas a questão sobre se o pedágio deve ou não ser aumentado pode ter mais de uma resposta “correta” – duas pessoas podem concordar sobre os efeitos de um pedágio mais alto, porém podem discordar sobre se o aumento do preço do pedágio é uma boa ideia. Por exemplo, alguém que mora perto da rodovia, mas não transita nela, irá se preocupar muito com barulho e poluição, mas não com o custo de usar a rodovia. Já um usuário regular, que não vive perto da rodovia, será o oposto. Esse exemplo destaca uma distinção fundamental entre duas funções desempenhadas pela análise econômica. A análise que tenta responder a questões sobre a maneira como o mundo funciona, que tem as respostas definitivamente certas ou erradas, é conhecida como economia positiva. Por outro lado, a análise que envolve informar como o mundo deveria funcionar é conhecida como economia normativa. A economia positiva trata de descrição e a normativa, de prescrição. A economia positiva ocupa a maior parte do tempo e do esforço dos economistas. E os modelos desempenham um papel fundamental em quase toda a economia positiva. Mas, como mencionado anteriormente, o governo dos Estados Unidos utiliza um modelo de computador para avaliar propostas de mudança na política tributária nacional e muitos governos estaduais têm modelos semelhantes para avaliar os efeitos de sua própria política tributária. É importante observar que existe uma diferença sutil, mas relevante, entre a primeira e

a segunda questão que imaginamos que pudessem ser perguntadas pelo governador. A primeira questão pede um prognóstico da receita do próximo ano – uma previsão. A segunda questão é do tipo “se, então”, questionando como a receita mudaria se a lei tributária fosse alterada. Muitas vezes, os dois tipos de perguntas são realizadas aos economistas, mas os modelos são especialmente úteis para responder perguntas “se, então”. As respostas a tais questões muitas vezes servem de guia para políticas públicas, mas ainda assim são previsões e não prescrições. Ou seja, informam o que acontecerá se uma política se modifica, mas não informam se o resultado é bom ou não. Suponha que o seu modelo econômico informe que o aumento do pedágio nas rodovias, proposto pelo governador, vai elevar o valor das propriedades nas comunidades próximas à rodovia, mas prejudicar as pessoas que precisam usar a rodovia para chegar ao trabalho. Isso torna a proposta de aumento do pedágio uma boa ou má ideia? Depende de quem seja questionado. Como vimos, quem estiver preocupado com as comunidades próximas à rodovia vai apoiar o aumento, mas alguém que esteja mais preocupado com o bem-estar dos motoristas que têm que chegar ao trabalho, vai analisar de outra forma. Isso é um juízo de valor e não uma questão de análise econômica. Ainda assim, os economistas muitas vezes se envolvem em economia normativa e dão conselhos de política. Como podem fazer isso se não têm a resposta “certa”? Uma resposta é que os economistas também são cidadãos e todos nós temos nossas opiniões. Mas a análise econômica pode ser utilizada para mostrar que algumas políticas são nitidamente melhores que as outras, independentemente da opinião de quem quer que seja. Suponha que as políticas A e B atinjam o mesmo objetivo, mas a política A deixa todos em melhor situação do que a política B – ou pelo menos torna melhor a situação de alguns sem piorar a dos outros. Então A é certamente mais eficiente que B. Não é um juízo de valor: trata de como alcançar melhor um objetivo e não o próprio objetivo. Por exemplo, foram utilizadas duas políticas diferentes para ajudar famílias de baixa renda a conseguir moradia: tabelamento de aluguéis, que limita o que os locatários podem cobrar, e subsídios para o aluguel, que proporcionam às famílias uma quantia adicional para pagar o aluguel. Quase todos os economistas concordam que os subsídios são uma política mais eficiente. E, assim, a grande maioria dos economistas, independentemente da preferência política, favorece mais os subsídios do que o controle do aluguel. Quando as políticas podem ser classificadas dessa forma, então os economistas geralmente concordam. Mas não é segredo que às vezes eles discordam.

Quando e por que os economistas discordam Os economistas têm a reputação de discutir uns com os outros. De onde vem essa reputação, ela é justificada? Uma das respostas é que a cobertura da mídia tende a exagerar sobre as diferenças reais de opinião entre os economistas. Quando todos concordam a respeito de uma

questão – por exemplo, a proposição de que o controle do aluguel leva à escassez de habitação – a tendência dos repórteres é concluir que essa não é uma história digna de cobertura, fazendo esse consenso profissional ficar fora da reportagem. Mas quando há uma questão em que os economistas proeminentes tomam lados opostos – por exemplo, se o corte de impostos nesse momento ajudaria a economia – é uma notícia que vale a pena informar. Então, ouve-se muito mais sobre as áreas de desacordo entre os economistas do que sobre as amplas áreas de concordância. Além disso, vale a pena lembrar que a economia, inevitavelmente, muitas vezes está amarrada à política. Em uma série de questões, há grupos poderosos de interesse econômico que sabem as opiniões que querem ouvir. Assim, eles têm um incentivo de descobrir e promover os economistas que professem essas opiniões, fornecendo, com o seu apoio, proeminência e visibilidade fora de proporção entre os colegas. Mas ainda que a aparência de desacordo entre os economistas seja maior que a realidade, continua sendo verdade que os economistas muitas vezes discordam sobre coisas importantes. Por exemplo, alguns economistas respeitados afirmam veementemente que o governo dos Estados Unidos deveria substituir o imposto de renda por um imposto sobre o valor agregado (um imposto nacional sobre as vendas, principal fonte de receita do governo em muitos países europeus). Outros economistas, igualmente respeitados, discordam. Por que essa diferença de opinião? Uma fonte importante de diferença são os valores: como em qualquer grupo de indivíduos diversificado, pessoas razoáveis podem divergir. Em comparação com o imposto de renda, um imposto sobre valor agregado normalmente tende a recair mais de forma mais pesada sobre as pessoas com renda modesta. Assim, um economista que por si só aprecie mais uma sociedade com mais igualdade social e de renda tenderá a se opor ao imposto sobre valor agregado. Um economista com valores diferentes é menos propenso a se opor. Uma segunda fonte importante de divergência surge da construção de modelos econômicos. Como os economistas baseiam suas conclusões em modelos, que são representações simplificadas da realidade, dois economistas podem legitimamente discordar sobre quais simplificações são apropriadas e, portanto, chegar a conclusões diferentes. Suponha que o governo dos Estados Unidos esteja considerando a introdução de um imposto sobre o valor agregado. O economista A pode basear-se em um modelo que se concentre sobre os custos administrativos do sistema tributário – isto é, o custo de monitorar, processar documentos, arrecadar imposto, e assim por diante. Esse economista poderá, então, apontar para os bens conhecidos altos custos de administrar um imposto sobre o valor agregado e argumentar contra essa mudança. Mas o economista B poderá pensar que a maneira correta de abordar a questão é ignorar os custos administrativos e se concentrar em como a lei proposta irá modificar o comportamento da poupança. Esse economista poderá apontar para estudos que sugerem que o imposto sobre o valor agregado promova maior economia de consumo, um resultado desejável. Como os dois economistas usaram modelos diferentes, ou seja, adotaram hipóteses

simplificadoras, chegaram a conclusões diferentes. E, assim, os dois economistas podem se situar em lados diferentes da questão. Na maioria dos casos, essas disputas ao final são resolvidas pelo acúmulo de evidências mostrando quais dentre os vários modelos propostos pelos economistas aderem melhor aos fatos. No entanto, em economia, como em qualquer ciência, pode levar um longo tempo para que a pesquisa resolva disputas importantes. Em alguns casos, décadas. E uma vez que a economia está sempre mudando, de forma que torna os modelos antigos inválidos ou levanta novas questões políticas, há sempre novas questões sobre as quais os economistas discordam. Os formuladores de políticas têm, então, que decidir em quais economistas acreditar. O ponto importante é que a análise econômica é um método, não um conjunto de conclusões.

Para mentes curiosas Quando os economistas concordam “Quando dois economistas se juntam há três opiniões diferentes”, diz uma piada sobre economistas. Mas será que eles realmente discordam tanto assim? Não, de acordo com uma pesquisa entre os membros da Associação Americana de Economia, publicada na edição de maio 1992 na American Economic Review. Os autores perguntaram aos participantes se concordavam ou discordavam de uma série de proposições sobre economia e o que encontraram foi um alto nível de consenso entre os economistas em muitas delas. As proposições estavam no topo, com mais de 90% de concordância entre os economistas: “Tarifas e cotas de importação geralmente reduzem o bem-estar econômico geral” e “Um teto para aluguéis reduz a quantidade e a qualidade da habitação disponível”. O que é notável nessas duas proposições é que muitos dos que não são economistas discordam delas: tarifas e cotas de importação para impedir a entrada de produtos estrangeiros produzidos têm o apoio de muitos eleitores e as propostas para acabar com o controle de aluguel em cidades como Nova York e San Francisco encontraram ferrenha oposição política. Então, esse estereótipo de que os economistas divergem é apenas um mito? Não totalmente: os economistas discordam bastante em algumas questões, especialmente em macroeconomia. Mas há uma ampla área de concordância.

Economia em ação Economistas, além da torre de marfim Muitos economistas se ocupam principalmente de ensino e pesquisa. Mas uma boa quantidade deles tem uma participação mais direta nos eventos. Conforme descrito no início deste capítulo (em Para mentes curiosas, “Modelos por dinheiro”), a teoria financeira, um ramo específico da economia, desempenha um papel

importante em Wall Street – nem sempre com bons resultados. Mas os preços dos ativos não são de forma alguma a única função útil que os economistas desempenham no mundo dos negócios. As empresas precisam de previsões da demanda futura de seus produtos, previsões dos preços futuros das matérias- primas, avaliações de suas necessidades financeiras futuras, entre outras, e para todos esses fins, a análise econômica é essencial. Alguns dos economistas empregados no mundo dos negócios trabalham diretamente para as instituições que precisam de seus conselhos. As principais empresas financeiras, como a Goldman Sachs e a Morgan Stanley, em particular, mantêm grupos econômicos altamente qualificados, que produzem análises das forças e eventos suscetíveis de afetar os mercados financeiros. Outros economistas são colaboradores de empresas de consultoria, como a Macro Advisers, que vende análise e aconselhamento para uma ampla gama de outras empresas. Por último, mas não menos importante, os economistas participam extensivamente do governo. De acordo com o Bureau of Labor Statistics, as agências governamentais empregam cerca de metade dos economistas profissionais nos Estados Unidos. Isso não deveria surpreender: uma das funções mais importantes do governo é fazer política econômica. E em quase toda a decisão política do governo deve-se considerar os efeitos econômicos. Assim, os governos em todo o mundo empregam economistas em uma variedade de funções. No governo dos Estados Unidos, o Conselho de Assessores Econômicos desempenha um papel fundamental, cuja única finalidade é assessorar o presidente em assuntos econômicos. Ao contrário da maioria dos funcionários públicos, a maioria dos economistas do Conselho não se constitui em funcionários de longa data; em vez disso, são principalmente professores universitários em licença por um ou dois anos. Muitos dos economistas mais conhecidos do país serviram no Conselho de Assessores Econômicos em algum momento de suas carreiras. Os economistas também desempenham um papel importante em outras partes do governo americano, desde o Ministério do Comércio até o Ministério do Trabalho. Eles dominam o quadro de pessoal da Reserva Federal, uma agência do governo que controla a oferta de moeda da economia, bem como supervisiona os bancos. E desempenham um papel especialmente importante em duas organizações internacionais com sede em Washington, DC: o Fundo Monetário Internacional, que presta consultoria e empréstimos a países com dificuldades econômicas, e o Banco Mundial, que presta consultoria e empréstimos para promover o desenvolvimento econômico de longo prazo. No passado, não era assim tão fácil controlar o que todos esses economistas que trabalham com assuntos práticos estavam fazendo. Atualmente, no entanto, há uma linha muito animada de discussão sobre as perspectivas econômicas e políticas, em sites que vão desde a home page do Fundo Monetário Internacional (www.imf.org), aos sites orientados a negócios como o economy.com ou blogs de economistas individuais, como o de Mark Thoma (economistsview.typepad.com) ou, também, o nosso próprio blog, que está entre os 100 melhores da Technorati, em krugman.blogs.nytimes.com.

Teste seu entendimento 2-2 1. Qual das seguintes afirmações é positiva? Qual é normativa? a. A sociedade precisa tomar medidas para evitar que as pessoas tenham um comportamento pessoal perigoso. b. As pessoas que têm comportamento pessoal perigoso impõem custos mais altos para a sociedade devido aos custos médicos mais elevados. 2. Verdadeiro ou falso? Justifique a resposta. a. A opção política A e a opção política B tentam alcançar o mesmo objetivo social. No entanto, a A resulta no uso menos eficiente de recursos do que a B. Por isso, os economistas são mais propensos a concordar com a escolha da política B. b. Quando dois economistas discordam sobre a conveniência de uma política, geralmente é porque um deles cometeu um erro. c. Os formuladores de políticas públicas sempre podem aplicar análise econômica para decidir que objetivos a sociedade deveria tentar alcançar. As respostas estão no fim do livro.

Breve revisão ■ Economia positiva – o foco da maioria da pesquisa econômica – é a análise da forma como o mundo funciona, em que as respostas são claramente certas ou erradas e, muitas vezes, incluem fazer previsões. Mas, na economia normativa, que faz prescrições sobre como as coisas deveriam ser, muitas vezes não há respostas certas ou erradas, apenas juízos de valor. ■ Os economistas discordam – embora nem tanto como preconiza a lenda – por duas razões principais. Primeiro, podem discordar sobre quais simplificações adotar em um modelo. Segundo, os economistas podem discordar – como qualquer pessoa – sobre valores.

Caso empresarial A eficiência, o custo de oportunidade e a lógica da produção enxuta na Boeing No verão e no outono de 2010, ao preparar a produção do Boeing 767, os trabalhadores estavam reorganizando os equipamentos na fábrica de montagem final da Boeing em Everett, Washington. No entanto foi um processo difícil e demorado, por causa dos itens dos “equipamentos” – os equipamentos de montagem da Boeing pesam aproximadamente 200 toneladas cada. Mas foi uma parte necessária na criação de um sistema de fabricação baseado em “produção enxuta”, também chamado de produção “just-in-time”. A produção enxuta, lançada pela Toyota Motors do Japão, é baseada na prática de as peças chegarem ao chão de fábrica, logo que necessário para a produção. Isso reduz a quantidade de peças da Boeing mantidas em estoque, bem como a

quantidade necessária à produção no chão de fábrica – reduziu em 40% a metragem quadrada requerida para a produção do 767. A Boeing adotou o processo de produção enxuta em 1999 na fabricação do 737, o avião comercial mais popular. Em 2005, depois de um refinamento constante, a Boeing conseguiu uma redução de 50% no tempo que leva para produzir um avião e uma redução de quase 60% no estoque de peças. Uma característica importante é a linha de montagem que fica em movimento contínuo, movimentando os produtos de um grupo de montagem para o próximo em um ritmo constante e eliminando a necessidade de os trabalhadores perambularem pelo chão de fábrica de uma tarefa para outra, ou em busca de ferramentas e peças. A técnica de produção enxuta da Toyota foi amplamente adotada entre todas as técnicas de fabricação e revolucionou a fabricação em todo o mundo. Em termos simples, a produção enxuta é focada na organização e na comunicação. Os trabalhadores e as peças são organizados de forma a garantir um fluxo de trabalho suave e consistente que minimiza o desperdício de esforço e materiais. A produção enxuta também foi projetada para ser altamente sensível às mudanças no mix desejado de produtos – por exemplo, alterar rapidamente para produzir mais sedans e menos minivans de acordo com as mudanças nas demandas dos clientes. O método de produção enxuta da Toyota foi tão bem- sucedido que transformou a indústria automobilística mundial e ameaçou severamente a dominação dos fabricantes americanos. Até os anos 1980, os “Três Grandes” – Chrysler, Ford e General Motors – dominavam a indústria automobilística americana, não havia praticamente nenhum carro de fabricação estrangeira vendido nos Estados Unidos. Contudo, na década de 1980, os carros da Toyota se tornaram cada vez mais populares nos Estados Unidos, devido à sua alta qualidade e preço relativamente baixo – tão populares que os Três Grandes convenceram o governo dos Estados Unidos a protegê-los, restringindo a venda de automóveis japoneses no país. Ao longo do tempo a Toyota respondeu com a construção de fábricas de montagem nos Estados Unidos, trazendo consigo as técnicas de produção enxuta, que, em seguida, se espalharam por toda a linha de fabricação americana. O crescimento da Toyota continuou e, em 2008, ultrapassou a General Motors, considerada a maior montadora do mundo.

Questões para pensar 1. Qual é o custo de oportunidade associado em ter um trabalhador perambulando pelo chão de fábrica, de uma tarefa para outra, ou em busca de ferramentas e peças? 2. Explique como a produção enxuta melhora a eficiência da alocação na economia. 3. Antes de inovar com o processo de produção enxuta, o Japão vendia principalmente eletroeletrônicos para os Estados Unidos. Como as inovações advindas da produção enxuta mudaram a vantagem comparativa do Japão vis-à-vis com os Estados Unidos? 4. Preveja como a mudança no local de produção da Toyota, do Japão para os Estados Unidos, foi passível de alterar o padrão de vantagem comparativa na fabricação de automóveis entre os dois países.

Resumo 1. Quase toda a economia é baseada em modelos, que são “experimentos mentais”, ou versões simplificadas da realidade, e muitas vezes usam ferramentas matemáticas, como gráficos. Uma suposição importante em modelos econômicos é o pressuposto de tudo o mais constante, que permite analisar o efeito de uma mudança em um fator, mantendo todos os outros fatores relevantes inalterados. 2. Um modelo econômico importante é a fronteira das possibilidades de produção. Ele ilustra o custo de oportunidade (mostrando qual a quantidade produzida a menos de um produto quando é produzida maior quantidade de outro), eficiência (uma economia é eficiente na produção quando produz na fronteira das possibilidades de produção e eficiente na alocação se produz o mix de produtos e serviços que as pessoas querem consumir) e crescimento econômico (um deslocamento da fronteira das possibilidades de produção para fora). Há duas fontes básicas de crescimento: um aumento dos fatores de produção – recursos como terra, trabalho, capital, e capital humano, insumos que não desaparecem no processo produtivo – e progresso da tecnologia. 3. Outro modelo importante é o da vantagem comparativa, que explica a fonte dos ganhos com o comércio entre indivíduos e países. Todos têm uma vantagem comparativa em algo, algum bem ou serviço em que a pessoa tem um custo de oportunidade menor do que todos os outros. Mas, muitas vezes, é confundida com vantagem absoluta, a capacidade de produzir determinado bem ou serviço melhor do que ninguém. Essa confusão leva alguns a concluírem erroneamente que não há ganho com o comércio entre as pessoas ou países. 4. Na mais simples das economias, as pessoas fazem escambo – trocam bens e serviços umas com as outras – em vez de trocá-los por dinheiro, como em uma economia moderna. O diagrama do fluxo circular representa as transações dentro da economia como os fluxos de bens, serviços e renda entre domicílios e empresas. Essas operações ocorrem no mercado de bens, serviços e no mercado de fatores, mercados dos fatores de produção – terra, trabalho, capital e capital humano. É preciso entender como os gastos, produção, emprego, renda e crescimento se relacionam em uma economia. Em última análise, os mercados de fatores determinam a distribuição de renda da economia, como a renda total é alocada entre os donos dos fatores de produção. 5. Os economistas usam modelos econômicos tanto para a economia positiva, que descreve como a economia funciona, quanto para a economia normativa, que prescreve como a economia deveria funcionar. A economia positiva muitas vezes envolve fazer previsões. Os economistas podem determinar as respostas corretas para questões positivas, mas normalmente não para questões normativas, que envolvem julgamento de valor. As exceções ocorrem quando políticas destinadas a alcançar determinado objetivo podem ser claramente hierarquizadas em termos de eficiência. 6. Há duas razões principais pelas quais os economistas discordam. Primeiro, podem discordar sobre quais simplificações devem ser feitas no modelo. Em segundo lugar, os economistas, como qualquer pessoa, podem discordar sobre valores.

Palavras-chave Modelo, p. 22 Pressuposto de que tudo o mais permanece constante, p. 22 Fronteira das possibilidades de produção, p. 23 Fatores de produção, p. 27 Tecnologia, p. 27 Vantagem comparativa, p. 29 Vantagem absoluta, p. 30 Comércio de troca, p. 31 Diagrama do fluxo circular, p. 31 Domicílio, p. 31 Empresa, p. 31 Mercados de bens e serviços, p. 31 Mercados de fatores, p. 32 Distribuição de renda, p. 32 Economia positiva, p. 34 Economia normativa, p. 34 Previsão, p. 34

Problemas 1. Dois setores muito importantes nas Ilhas Bermudas são a pesca e o turismo. De acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura e do Departamento de Estatística das Ilhas Bermudas, no ano de 2009, os 306 pescadores registrados nas Bermudas pescaram 387 toneladas de peixes. E as 2.719 pessoas empregadas nos hotéis produziram 554.400 estadias em hotéis (medido pelo número de chegada de visitantes). Suponha que esse ponto de produção seja eficiente na produção. Considere também que o custo de oportunidade de uma tonelada adicional de peixes é de 2.000 estadias em hotéis e que esse custo de oportunidade é constante (o custo de oportunidade não muda). a. Se todos os 306 pescadores registrados fossem empregados pelos hotéis (além das 2.719 pessoas que já trabalham nos hotéis), quantas estadias de hotéis as Ilhas Bermudas poderiam produzir? b. Se todos os 2.719 funcionários do hotel se tornassem pescadores (além dos 306 pescadores que já trabalham na indústria da pesca), quantas toneladas de peixe as Ilhas Bermudas poderiam produzir? c. Desenhe uma fronteira das possibilidades de produção para as Ilhas Bermudas, com os peixes no eixo horizontal e as estadias no eixo vertical, e denomine o ponto de produção real das Ilhas Bermudas para o ano de 2009. 2. Atlantis é uma pequena ilha isolada no Atlântico Sul. Seus habitantes cultivam batatas e pescam. A tabela a seguir mostra o produto anual máximo de combinações de batata e peixe que pode ser produzido. Obviamente, dado seus recursos e tecnologia

limitados, se usarem mais recursos para a produção de batata, haverá menos recursos disponíveis para a pesca. Opções de produto máximo anual A B C D E F

Quantidade de batatas (kg) 1.000 800 600 400 200 0

Quantidade de peixe (kg) 0 300 500 600 650 675

a. Desenhe a fronteira das possibilidades de produção com a batata no eixo horizontal e o peixe no eixo vertical. Ilustre essas opções, mostrando os pontos A – F. b. Atlantis pode produzir 500 kg de peixe e 800 kg de batatas? Explique. Onde estaria esse ponto em relação à fronteira das possibilidades de produção? c. Qual é o custo de oportunidade de aumentar a produção anual de batatas de 600 para 800 kg? d. Qual é o custo de oportunidade de aumentar a produção anual de batatas de 200 para 400 kg? e. Explique por que as respostas das partes c e d não são as mesmas. O que isso implica em relação à inclinação da fronteira das possibilidades de produção? 3. De acordo com dados do Departamento Nacional de Estatística Agrícola do Ministério da Agricultura dos Estados Unidos, em 2004 foram usados 124 milhões de acres de terra nos Estados Unidos para o cultivo de trigo ou milho. Desses 124 milhões de acres, os agricultores usaram 50 milhões para obter 2.158 bilhões de sacas de trigo e 74 milhões de acres de terra para obter 11.807 bilhões de sacas de milho. Suponha que os cultivos de trigo e milho dos Estados Unidos sejam eficazes na produção. Nesse ponto de produção, o custo de oportunidade de produzir uma saca de trigo adicional é de 1,7 saca de milho a menos. No entanto, os agricultores têm custos de oportunidade crescentes, de modo que as sacas adicionais de trigo têm um custo de oportunidade maior do que 1,7 saca de milho. Para cada um dos três pontos de produção seguintes, decida se o ponto de produção é (i) viável e eficiente em produção, (ii), é viável mas não eficiente em produção, (iii) inviável, ou (iv) não fica claro se é ou não é viável. a. Os agricultores usam 40 milhões de acres de terra para produzir 1,8 bilhão de sacas de trigo, e usam 60 milhões de acres para produzir 9 bilhões de sacas de milho. Os 24 milhões de aces restantes são deixados sem cultivo. b. Do seu ponto de produção original, os agricultores transferem 40 milhões de acres de terra de produção de milho para a de trigo. Agora produzem 3.158 bilhões de sacas de trigo e 10.107 sacas de milho. c. Os agricultores reduzem a produção de trigo para 2 bilhões de sacas e aumentam a produção de milho para 12.044 sacas de milho. Ao longo da fronteira das possibilidades de produção, o custo de oportunidade de passar de 11.807 bilhões de sacas de milho para 12.044 sacas de milho é de 0,666 saca de trigo por uma saca de milho.

4. Na Antiga Roma eram produzidos apenas dois bens, espaguete e almôndegas. Há duas tribos em Roma, os Tivoli e os Frivoli. Sem ajuda, os Tivoli podem produzir 30 kg de espaguete e nenhuma almôndega, ou 50 kg de almôndegas e nenhum espaguete ou, então, qualquer combinação entre eles. Os Frivoli, por si só, podem produzir 40 kg de espaguete e nenhuma almôndega, ou 30 kg de almôndegas e nenhum espaguete, ou qualquer combinação entre eles. a. Suponha que todas as fronteiras das possibilidades de fronteiras de produção sejam linhas retas. Desenhe um diagrama mostrando a fronteira das possibilidades de produção mensal para os Tivoli e outra para os Frivoli. Mostre como foram calculadas. b. Qual tribo tem vantagem comparativa na produção de espaguete? Na produção de almôndega? No ano 100 d.C. os Frivoli descobriram uma nova técnica para fazer almôndegas que dobra a quantidade de almôndegas que eles podem produzir por mês. c. Desenhe as novas fronteiras de possibilidades de produção mensal para os Frivoli. d. Após a inovação, qual tribo agora tem vantagem absoluta na produção de almôndegas? Na produção de espaguete? Quem tem a vantagem comparativa na produção de almôndega? E na produção de espaguete? 5. De acordo com o Censo de julho de 2006, os Estados Unidos exportaram para a China aviões no valor de $1 bilhão e importaram da China aviões no valor de apenas $19 mil. Durante o mesmo mês, no entanto, os Estados Unidos importaram da China $83 milhões em calças e jeans masculinos, mas exportaram para a China calças e jeans masculinos no valor de apenas $8 mil. Usando o que você aprendeu sobre como o comércio é determinado pela vantagem comparativa, responda às perguntas seguintes. a. Que país tem vantagem comparativa na produção de aviões? E na produção de calças e jeans? b. Você pode determinar que um país tenha vantagem absoluta na produção de aviões? E na produção de calças e jeans? 6. Pedro Pundit, um repórter de economia, afirma que a União Europeia (UE) está aumentando sua produtividade muito rapidamente em todos os setores. Alega que esse avanço de produtividade é tão rápido que a produção da União Europeia nessas indústrias em breve vai superar a dos Estados Unidos e, como resultado, já não será vantajoso para os Estados Unidos comerciar com a União Europeia. a. Pedro Pundit está correto ou não? Se não está, qual é a fonte do seu erro? b. Se a União Europeia e os Estados Unidos mantiverem o comércio, o que caracterizará os bens que a União Europeia vai exportar para os Estados Unidos e os bens que os Estados Unidos vão exportar para a União Europeia? 7. Você é responsável em distribuir seus colegas de universidade entre os times de beisebol e de basquete. Já está nos quatro últimos colegas, dois deles têm que ser alocados no beisebol e dois no basquete. A tabela a seguir fornece a média de sucesso de cada um deles nos lances de beisebol e de cesta no basquete.

Nome Kelley Jackie Curt Gerry

Média de acerto no beisebol 70% 50% 10% 80%

Média de cestas no basquete livre 60% 50% 30% 70%

a. Explique como usaria o conceito de vantagem comparativa para alocar os jogadores. Comece por calcular o custo de oportunidade dos lances à cesta, no basquete, em termos dos lances de beisebol. b. Por que é provável que outros jogadores de basquete vão ficar tristes com esse arranjo, mas outros jogadores de beisebol vão ficar satisfeitos? No entanto, por que um economista diria que essa é uma maneira eficiente de alocar os jogadores nas equipes esportivas da universidade? 8. Os habitantes da economia fictícia de Atlantis usam o dinheiro na forma de conchas. Desenhe um diagrama do fluxo circular mostrando domicílios e empresas. As empresas produzem batata e peixe, e os domicílios compram batata e peixe. Os domicílios também fornecem terra e trabalho para as empresas. Identifique em que parte do fluxo de conchas ou de itens físicos (bens e serviços ou recursos) ocorrerá cada um dos impactos seguintes. Descreva como esse impacto se espalhará ao redor do círculo. a. Um ciclone devastador inunda a área plantada de batata. b. A temporada de pesca é produtiva e a quantidade de peixes pescados é muito grande. c. Os habitantes de Atlantis descobrem Shakira e passam vários dias por mês em festivais de dança. 9. Um economista pode dizer que as faculdades e universidades “produzem” educação usando como insumo estudantes e professores de universidade. De acordo com essa linha de raciocínio, a educação é, então, “consumida” pelos domicílios. Construa um diagrama do fluxo circular para representar o setor da economia dedicado à educação universitária: as faculdades e universidades representam as empresas e os domicílios tanto consomem educação quanto fornecem professores e estudantes para as universidades. Quais são os mercados relevantes nesse diagrama? O que será comprado e vendido em cada direção? O que aconteceria no diagrama se o governo decidisse subsidiar 50% da taxa de matrícula de todos os estudantes universitários? 10. Sua colega de quarto na universidade ouve música alta na maioria das vezes e você prefere paz e tranquilidade. Você sugere que ela compre alguns fones de ouvido. Ela responde que, embora fique feliz em usar fones de ouvido, no momento prefere gastar o dinheiro em outras coisas que têm maior prioridade. Você discute essa situação com um amigo que está estudando economia. A seguir, a conversa: Ele: Quanto custa um fone de ouvido? Você: $15. Ele: Que valor você dá a ter mais tranquilidade no resto do semestre? Você: $30. Ele: Então, é eficiente que você compre os fones de ouvido e os dê à sua colega de quarto. Você

ganha mais do que perde, o benefício supera o custo. Você deveria fazer isso. Você: Mas não é justo que eu pague pelos fones de ouvido quando não sou o único a fazer barulho.

a. Que parte dessa conversa contém afirmações positivas e que parte contém afirmações normativas? b. Construa uma argumentação que apoie o seu ponto de vista de que é a sua colega de quarto quem deveria mudar os hábitos dela. Da mesma forma, construa uma argumentação para o ponto de vista da sua colega de quarto, de que é você quem deveria comprar os fones de ouvido. Se a política do dormitório da universidade é dar pleno direito aos residentes de ouvir música quando queiram, qual é o argumento que é mais provável que ganhe? Se o seu dormitório na universidade tem uma regra que diz que a pessoa deve parar de tocar música sempre que um companheiro reclame, qual é o argumento que é mais provável que ganhe? 11. Um representante da indústria americana de vestuário recentemente fez a seguinte declaração: “Os trabalhadores na Ásia muitas vezes trabalham em condições desumanas, ganhando apenas alguns centavos por hora. Os trabalhadores americanos são mais produtivos e, por isso, ganham salários mais altos. Para preservar a dignidade do trabalhador americano, o governo deveria aprovar uma legislação que proíbe a importação de vestuários de países asiáticos e baixos salários.” a. Que parte dessa citação é de afirmações de economia positiva? Que partes são afirmações normativas? b. A política que está sendo defendida está de acordo com as afirmações anteriores sobre salários e produtividade dos trabalhadores americanos e asiáticos? c. Uma política assim melhoria a situação de alguns americanos sem tornar pior a de outros? Ou seja, essa política seria eficiente do ponto de vista do conjunto dos americanos? d. Os trabalhadores asiáticos que recebem salários baixos se beneficiariam ou seriam prejudicados por tal política? 12. As afirmações seguintes são verdadeiras ou falsas? Explique suas respostas. a. “Quando as pessoas são obrigadas a pagar impostos mais altos sobre o seu salário, ocorre uma redução de incentivo ao trabalho” é uma afirmação positiva. b. “Deveríamos reduzir impostos para incentivar mais o trabalho” é uma afirmação positiva. c. A análise econômica nem sempre pode ser usada para decidir inteiramente o que a sociedade deveria fazer. d. “O sistema de educação pública desse país gera maiores benefícios para a sociedade do que o custo de funcionamento desse sistema” é uma afirmação normativa. e. Todas as divergências entre os economistas são geradas pela mídia. 13. Avalie a seguinte afirmação: “É mais fácil construir um modelo econômico, que reflete com precisão os eventos que já ocorreram, do que construir um modelo econômico para prever eventos futuros.” Isso é verdade ou não? Por quê? O que isso implica em

relação às dificuldades de construir bons modelos econômicos? 14. Os economistas que trabalham para o governo são frequentemente chamados a fazer recomendações políticas. Por que você acha que é importante para o público poder diferenciar entre as afirmações positivas e as normativas nessas recomendações? 15. O prefeito do município de Gotham, preocupado, nesse inverno, com uma possível epidemia devastadora de gripe, pediu a um economista aconselhamento sobre uma série de questões. Determine se essas questões exigem avaliações positivas ou normativas do conselheiro econômico. a. Quanta vacina é preciso ter em estoque no município até o final de novembro? b. Se for oferecido pagar 10% a mais por dose às empresas farmacêuticas, elas fornecerão doses adicionais? c. Se houver escassez de vacinas no município, quem deverá ser vacinado primeiro, os idosos ou os bem jovens? (Suponha que uma pessoa de um grupo tenha uma probabilidade igual de morrer de gripe que uma pessoa do outro grupo.) d. Se o município cobrar $25 por dose, quantas pessoas vão pagar? e. Se o município cobrar $25 por dose, poderá lucrar $10 em cada vacina. Esse dinheiro poderá pagar a vacinação das pessoas pobres. O município deve implementar tal esquema? 16. Avalie a seguinte afirmação: “Se os economistas tivessem dados suficientes, poderiam resolver todas as questões de política econômica de modo a maximizar o bem- estar social. Não haveria necessidade de debates políticos acirrados, por exemplo, a se o governo deveria fornecer assistência médica gratuita para todos.”

Capítulo 2 Apêndice Gráficos em Economia Percebendo o quadro geral Tanto ao ler sobre economia no Wall Street Journal como em um livro, haverá muitos gráficos. Imagens visuais podem facilitar a compreensão de descrições verbais, informações numéricas, ou conceitos. Em economia, os gráficos são usados para facilitar a compreensão. Para o completo entendimento das ideias e informações que estão sendo discutidas, é preciso estar familiarizado com a forma de interpretar esses recursos visuais. Este apêndice explica como os gráficos são construídos e interpretados e como são usados em economia.

Gráficos, variáveis e modelos econômicos Uma das razões para frequentar a faculdade é que um diploma universitário dá acesso a empregos mais bem remunerados. Um diploma adicional, como MBAs ou cursos de Direito, aumenta ainda mais os rendimentos. Se tivéssemos que ler um artigo sobre a relação entre escolaridade e renda, provavelmente veríamos um gráfico mostrando os níveis de renda para trabalhadores com diferentes níveis de educação. E esse gráfico retrataria a ideia de que, em geral, mais educação acarreta aumento de renda. Esse gráfico, como a maioria dos mostrados em economia, descreveria a relação entre duas variáveis econômicas. Uma variável é uma quantidade que pode assumir mais de um valor, tal como o número de anos de estudo de uma pessoa, o preço de uma lata de refrigerante ou a renda de uma família. Como você viu neste capítulo, a análise econômica baseia- se fortemente em modelos, descrições simplificadas de situações reais. A maioria dos modelos econômicos descreve a relação entre duas variáveis, simplificadas, mantendo constantes outras variáveis que podem afetar essa relação. Por exemplo, um modelo econômico pode descrever a relação entre o preço de uma lata de refrigerante e o número de latas de refrigerante que os consumidores irão comprar, supondo que tudo o mais que afeta as compras de refrigerante dos consumidores permaneça constante. Esse tipo de modelo pode ser descrito matematicamente ou verbalmente, mas a ilustração dessa relação por meio de um gráfico torna mais fácil sua compreensão. Em seguida, mostraremos como os gráficos que representam modelos econômicos são construídos e interpretados.

Como os gráficos funcionam A maioria dos gráficos em economia se baseia na representação de pares de variáveis como pontos em um plano quadriculado, com eixos perpendiculares entre si que mostram os valores das duas variáveis, ajudando a visualizar a relação entre elas. Assim, o primeiro passo para compreender o uso de tais gráficos é verificar como esse sistema funciona.

Gráficos de duas variáveis A Figura 2A-1 mostra um gráfico típico de duas variáveis. Ela ilustra os dados da tabela anexa sobre a temperatura externa e a quantidade de refrigerantes que um vendedor típico pode esperar vender no estádio durante o jogo. A primeira coluna mostra os valores da temperatura externa (a primeira variável) e a segunda coluna mostra o número de latas de refrigerante vendidas (a segunda variável). Cinco combinações de pares das duas variáveis são mostradas, cada uma indicada de A até E, na terceira coluna.

FIGURA 2A-1 Representação de ponto em um gráfico de duas variáveis Os dados da tabela foram representados onde a temperatura externa (a variável independente) é medida no eixo horizontal e o número de refrigerantes vendidos (variável dependente) é medido no eixo vertical. Cada uma das cinco combinações de temperatura e refrigerantes vendidos é representada por um ponto: A, B, C, D e E. Cada ponto no gráfico é identificado por um par de valores. Por exemplo, o ponto C corresponde ao par (40, 30) – uma temperatura externa de 40°F (o valor da variável x) e 30 refrigerantes vendidos (o valor da variável y).

Agora vamos voltar a representar graficamente os dados nessa tabela. Em qualquer gráfico de duas variáveis, uma variável é denominada de x e a outra de y. Aqui, a temperatura externa é a variável x e a quantidade de refrigerantes vendidos é a variável y. A linha sólida horizontal no gráfico é denominada eixo horizontal ou eixo dos x – e os valores da variável x – a temperatura externa – são medidos sobre ele. Da mesma forma, a linha vertical sólida no gráfico é denominada eixo vertical ou eixo dos y, e os valores da variável y – o número de latas de refrigerante vendidas – é medido sobre ela. Na origem, o ponto onde os dois eixos se encontram, cada variável é igual a zero. À medida que se move para a direita a partir da origem, ao longo do eixo dos x, os valores da variável x são positivos e crescentes. À medida que se move para cima a partir da origem, ao longo do eixo dos y, os valores da variável y são positivos e crescentes. É possível representar cada um dos cinco pontos de A até E nesse gráfico usando um par de números – os valores que a variável x e y assumem em determinado ponto. Na Figura 2A-1, no ponto C, a variável x assume o valor de 40 e a variável y o valor de 30. O ponto C é representado traçando-se uma linha vertical no ponto 40 do eixo x e uma linha

horizontal no ponto 30 do eixo y. Escrevemos o ponto C como (40, 30). Escrevemos a origem como (0, 0). Ao olhar para os pontos A e B na Figura 2A-1, observa-se que quando uma das variáveis para demarcar um ponto tem um valor zero, o ponto estará sobre um dos eixos. Se o valor de x for zero, o ponto estará sobre o eixo vertical, como o ponto A. Se o valor de y for zero, o ponto estará sobre o eixo horizontal, como o ponto B. A maioria dos gráficos que retratam relações entre duas variáveis econômicas representa uma relação causal, uma relação em que o valor assumido por uma variável influencia diretamente ou determina o valor que toma a outra variável. Em uma relação causal, a variável determinante é chamada de variável independente, a variável que é determinada por ela é chamada de variável dependente. Em nosso exemplo de venda de refrigerante, a temperatura externa é a variável independente. Ela influencia diretamente o número de latas de refrigerantes vendidas, nesse caso, a variável dependente. Por convenção, coloca-se a variável independente no eixo horizontal e a variável dependente no eixo vertical. A Figura 2A-1 é construída de acordo com essa convenção; a variável independente (temperatura externa) está no eixo horizontal e a variável dependente (refrigerante vendido) está no eixo vertical. Uma exceção importante nessa convenção é a dos gráficos que mostram a relação econômica entre o preço de um produto e sua quantidade: embora o preço seja geralmente a variável independente que determina a quantidade, é sempre medido no eixo vertical.

Curvas em um gráfico O painel (a) na Figura 2A-2 repete algumas das informações da Figura 2A-1, com uma linha passando pelos pontos B, C, D e E. Tal linha em um gráfico é denominada curva, independentemente de a linha ser uma reta ou uma curva. Se a curva que mostra a relação entre duas variáveis é uma linha reta ou linear, as variáveis têm uma relação linear. Quando a curva é uma linha que não é reta, ou não linear, as variáveis têm uma relação não linear.

FIGURA 2A-2 Desenhando curvas A curva do painel (a) ilustra a relação entre duas variáveis, temperatura externa e latas de refrigerantes vendidas. As duas variáveis têm uma relação linear positiva: positiva, porque a curva tem uma inclinação para cima, e linear, porque é uma linha reta. Isso implica que um aumento de x (temperatura externa) leva a um aumento de y (refrigerante vendido). A curva no painel (b) também é uma linha reta, mas se inclina para baixo. As duas variáveis aqui, temperatura externa e quantidade de bebida quente vendida, têm uma relação linear negativa: um aumento de x (temperatura externa) acarreta redução de y (quantidade de bebida quente vendida). A curva no painel (a) tem um intercepto horizontal no ponto B, onde toca o eixo horizontal. A curva no painel (b) tem um intercepto vertical no ponto J, onde toca o eixo vertical, e um intercepto no ponto M, onde toca o eixo horizontal.

Um ponto sobre uma curva indica o valor da variável y para um valor específico da variável x. Por exemplo, o ponto D indica que, à temperatura de 60° Fahrenheit, um vendedor pode esperar vender 50 latas de refrigerante. O formato e a orientação da curva revelam a natureza geral da relação entre as duas variáveis. A inclinação ascendente da curva no painel (a) da Figura 2A-2 significa que os vendedores podem esperar vender mais refrigerantes com as temperaturas externas mais elevadas. Quando duas variáveis se relacionam dessa forma, isto é, quando um aumento em uma variável é associado a um aumento em outra variável, diz-se que as variáveis têm uma relação positiva. Isso é ilustrado por uma curva que se inclina para cima, da esquerda para a direita. Como essa curva também é linear, a relação entre temperatura externa e o número de latas de refrigerante vendidas ilustrada pela curva do painel (a) da Figura 2A2 é uma relação linear positiva. Quando um aumento em uma variável é associado a uma diminuição em outra variável, as duas variáveis têm uma relação negativa. Isso é ilustrado por uma curva que se inclina para baixo, da esquerda para a direita, tal como a curva no painel (b) da Figura 2A-2. Como essa curva também é linear, a relação que representa é uma relação linear negativa. Duas variáveis que podem ter uma relação assim são a temperatura externa e a quantidade de bebida quente que um vendedor pode esperar vender em um estádio. Por um momento, voltemos à curva no painel (a) da Figura 2A-2. Pode-se notar que ela toca o eixo horizontal no ponto B. Esse ponto, conhecido como intercepto horizontal, mostra o valor da variável x quando o valor da variável y é zero. No painel (b) da Figura 2A-2, a curva toca o eixo vertical no ponto J. Esse ponto, chamado de intercepto vertical, indica o valor da variável y quando o valor da variável x é zero.

Um conceito fundamental: a inclinação da curva A inclinação de uma curva é a medida de sua ingremidade e indica o grau de sensibilidade da variável y em relação a uma variação na variável x. No exemplo da temperatura externa e das latas de refrigerante que um vendedor pode esperar vender, a inclinação da curva indica a quantidade a mais de latas de refrigerante que o vendedor pode esperar vender a cada aumento de 1 grau na temperatura. Interpretado dessa forma, a inclinação fornece informações que fazem sentido. Mesmo sem números para x e y, é possível chegar a conclusões importantes sobre a relação entre as duas variáveis examinando o grau de inclinação em vários pontos da curva.

Inclinação de uma curva linear Ao longo de uma curva linear a inclinação é medida pela divisão entre a “distância vertical” entre dois pontos na curva pela “distância horizontal” entre os mesmos dois pontos. A distância vertical é o quanto y varia e a distância horizontal é o quanto x varia. Eis a fórmula:

Na fórmula geral, o símbolo Δ (a letra grega maiúscula delta) significa “variação em”. Quando uma variável aumenta, a variação nessa variável é positiva, e quando uma variável diminui, a variação nessa variável é negativa. A inclinação de uma curva é positiva quando a distância vertical (a variação na variável y) tem o mesmo sinal que a distância horizontal (a variação na variável x). Isso porque, quando dois números têm o mesmo sinal, a relação entre eles é positiva. A curva no painel (a) da Figura 2A-2 tem uma inclinação positiva: ao longo da curva, tanto a variável y como a variável x aumentam. A inclinação de uma curva é negativa quando a distância vertical percorrida e a distância horizontal têm sinais diferentes. Isso porque, quando dois números têm sinais diferentes, a proporção entre eles é negativa. A curva no painel (b) da Figura 2A-2 tem uma inclinação negativa: ao longo da curva, um aumento da variável x está associado a uma diminuição na variável y. A Figura 2A-3 ilustra a forma de cálculo da inclinação de uma curva linear. Vamos nos concentrar primeiro no painel (a). Do ponto A ao B, o valor da variável y varia de 25 para 20 e o valor da variável x varia de 10 para 20. Assim, a inclinação da reta entre esses dois pontos é:

FIGURA 2A-3 Cálculo da inclinação Os painéis (a) e (b) mostram duas curvas lineares. Entre os pontos A e B na curva do painel (a), a variação em y (distância percorrida na vertical) é – 5 e a variação em y (distância percorrida na horizontal) é 10. Assim, a inclinação de A a B é , onde o sinal negativo indica que a curva se inclina para baixo. No painel (b), a curva tem uma inclinação de A para B de . A inclinação de C para D é . A inclinação é positiva, indicando que a curva inclina para cima, da esquerda para a direita. Além do mais, a inclinação entre A e B é a mesma que a inclinação entre C e D, tornando-a uma curva linear. A inclinação de uma curva linear é constante. É a mesma, independente de onde seja medida ao longo da curva.

Como uma reta é igualmente íngreme em todos os pontos, a inclinação de uma reta é a mesma em todos os pontos. Em outras palavras, uma reta tem uma inclinação constante. Pode-se verificar isso calculando a inclinação da curva linear entre os pontos A e B e entre os pontos C e D no painel (b) da Figura 2A-3.

Entre A e B

Entre C e D Curvas horizontais e verticais e suas inclinações Quando a curva é horizontal, o valor de y ao longo da curva nunca varia, é constante. Em qualquer ponto da curva, a variação de y é zero. Zero dividido por qualquer número é igual a zero. Assim, independentemente do valor da variação em x, a inclinação de uma curva horizontal é sempre zero. Se a curva é vertical, o valor de x ao longo da curva não varia – é constante. Em todos os pontos, ao longo da curva, a variação em x é zero. Isso significa que a inclinação de uma curva vertical é uma razão com zero no denominador. Uma razão com zero no denominador é igual ao infinito, isto é, um número infinitamente elevado. Assim, a

inclinação de uma curva vertical é igual ao infinito. Uma curva vertical ou horizontal tem uma implicação especial: significa que as variáveis x e y não estão relacionadas. Duas variáveis não estão relacionadas quando a variação em uma delas (variável independente) não tem efeito sobre a outra (variável dependente). Ou, dito de outra maneira, duas variáveis não são relacionadas quando a variável dependente é constante, não importa o valor da variável independente. Se, como é habitual, a variável y for a dependente, a curva é horizontal. Se for a variável x, a curva é vertical.

A inclinação de uma curva não linear Uma curva não linear é aquela em que a inclinação muda à medida que se move ao longo dela. Os painéis (a), (b), (c) e (d) da Figura 2A-4 mostram várias curvas não lineares. Os painéis (a) e (b) mostram curvas não lineares, cujas inclinações variam ao se mover ao longo delas, mas essas inclinações permanecem sempre positivas. Apesar de as duas curvas se inclinarem para cima, a curva no painel (a) fica mais íngreme quando se vai da esquerda para a direita, em contraste com a curva no painel (b), que fica mais achatada. Diz-se que uma curva inclinada para cima e que se torna mais íngreme, como no painel (a), tem uma inclinação crescente positiva. Da curva que é inclinada para cima, mas fica mais achatada, como no painel (b), que tem uma inclinação decrescente positiva.

FIGURA 2A-4 Curvas não lineares No painel (a) a inclinação da curva de A a B é e de C a D é .A inclinação é positiva e crescente; a curva torna-se mais íngreme à medida que se move para a direita. No painel (b), a inclinação da curva de A a B é

e de C a D é

A inclinação é positiva e decrescente; torna-se mais suave à medida que se move para a direita. No painel (c) a inclinação de A a B é

e de C a D

. A inclinação é negativa e crescente; a curva torna-se mais íngreme quando se move para a direita. E no painel (d) a inclinação de A a B é

e de C a D é

. A inclinação é negativa e decrescente, torna-se mais suave ao mover-se para a direita. Em cada caso, a inclinação foi calculada usando o método de cálculo pela secante – isto é, traçando uma linha reta conectando dois pontos ao longo da curva. A inclinação média entre os pontos é a inclinação da linha reta entre esses dois pontos.

Ao se calcular a inclinação ao longo dessas curvas não lineares, obtemos valores diferentes de inclinação em diferentes pontos. A maneira como a inclinação varia ao longo da curva determina o formato da curva. Por exemplo, no painel (a) da Figura 2A-4, a inclinação da curva é um número positivo que aumenta constantemente à medida que se move da esquerda para a direita, enquanto que no painel (b) a inclinação é um número positivo que diminui constantemente.

As inclinações das curvas nos painéis (c) e (d) são números negativos. Com frequência os economistas preferem expressar um número negativo por seu valor absoluto, que é o valor do número negativo sem o sinal de menos. Em geral, indica-se o valor absoluto de um número por duas barras paralelas em torno do número; por exemplo, o valor absoluto de −4 se escreve como | −4 | = 4. No painel (c), o valor absoluto da inclinação aumenta continuamente à medida que se move da esquerda para a direita. Portanto, a curva tem uma inclinação crescente negativa. E, no painel (d), o valor absoluto da inclinação da curva diminui continuamente ao longo da curva. Assim, essa curva tem uma inclinação decrescente negativa.

Cálculo da inclinação ao longo de uma curva não linear Acabamos de ver que, ao longo de uma curva não linear, o valor da inclinação depende do ponto em que se está nessa curva. Assim, como se calcula a inclinação de uma curva não linear? Iremos nos concentrar em dois métodos: o método do arco e o método de ponto. Método do arco para calcular a inclinação O arco de uma curva é uma parte ou segmento dessa curva. Por exemplo, o painel (a) da Figura 2A-4 mostra um arco que é o segmento da curva entre os pontos A e B. Para calcular a inclinação ao longo de uma curva não linear, usando o método de arco, traça-se uma linha reta entre os dois pontos das extremidades do arco. A inclinação dessa linha reta é uma medida da inclinação média da curva entre esses dois pontos. Pode-se verificar a partir do painel (a) da Figura 2A-4, que a linha reta traçada entre os pontos A e B aumenta de 6 para 10 ao longo do eixo dos x (de modo que Δx = 4) e de 10 para 20 ao longo do eixo dos y (de modo que Δy = 10). Portanto, a inclinação da linha reta ligando os pontos A e B é:

Isto significa que a inclinação média da curva entre os pontos A e B é 2,5. Agora, considere o arco na mesma curva entre os pontos C e D. Uma linha reta traçada através desses dois pontos cresce ao longo do eixo x de 11 para12 (Δx = 1), à medida que aumenta ao longo do eixo y de 25 para 40 (Δy = 15). Assim, a inclinação média entre os pontos C e D é:

Portanto, a inclinação média entre os pontos C e D é maior que a inclinação média entre os pontos A e B. Esses cálculos confirmam o que já observamos – que essa curva

que se inclina para cima fica mais íngreme ao se mover da esquerda para a direita e, portanto, tem uma inclinação crescente positiva.

Método de cálculo da tangente no ponto Esse método calcula a inclinação de uma curva não linear em um ponto específico nessa curva. A Figura 2A-5 ilustra como se calcula a inclinação no ponto B na curva. Primeiro, traçamos uma linha reta que apenas toca a curva no ponto B. Essa linha denomina-se tangente: o fato de apenas tocar a curva no ponto B e não tocar a curva em qualquer outro ponto da curva significa que a reta é tangente à curva no ponto B. A inclinação dessa tangente é igual à inclinação da curva não linear no ponto B.

FIGURA 2A-5 Cálculo da inclinação pelo método do ponto Aqui foi traçada uma tangente, uma reta que apenas toca a curva no ponto B. A inclinação dessa reta é igual à inclinação da curva no ponto B. A inclinação da tangente, medida de A a C, é

Pode-se observar na Figura 2A-5 como a inclinação da tangente foi calculada: do ponto A até o ponto C, a variação de y é 15 e a variação de x é 5, gerando uma inclinação de:

Por meio do método do ponto, a inclinação da curva no ponto B é igual a 3.

Uma questão que surge naturalmente nesse momento é como determinar o método a utilizar no calcular da inclinação de uma curva não linear – o método do arco (pela secante) ou do ponto (pela tangente). A resposta depende da própria curva e dos dados usados para construí-la. Usa-se o método do arco quando não há informação suficiente para traçar uma curva contínua. Por exemplo, suponha que no painel (a) da Figura 2A-4 haja apenas os dados representados pelos pontos A, C e D, e não haja os dados representados pelo ponto B, ou qualquer outro ponto no resto da curva. Nesse caso é claro que não se pode usar o método do ponto para calcular a inclinação no ponto B. Deve-se usar o método do arco para obter uma aproximação da inclinação da curva nessa área, traçando uma linha reta entre os pontos A e C. Mas se houver dados suficientes para traçar uma curva contínua como mostrado no painel (a) da Figura 2A-4, então se pode utilizar o método da tangente para calcular a inclinação no ponto B e em todos os outros pontos ao longo da curva.

Pontos máximo e mínimo A inclinação de uma curva não linear pode mudar de positiva para negativa ou vice-versa. Quando a inclinação de uma curva muda de positiva para negativa, cria o que é denominado de ponto máximo da curva. Quando a inclinação de uma curva muda de negativa para positiva, cria um ponto mínimo. O painel (a) da Figura 2A-6 ilustra uma curva em que a inclinação muda de positiva para negativa quando se move da esquerda para a direita. Quando x está entre 0 e 50, a inclinação da curva é positiva. Quando x é igual a 50, a curva atinge o seu ponto mais alto – o maior valor de y ao longo da curva. Esse ponto é denominado de máximo da curva. Quando x for superior a 50, a inclinação se torna negativa e a curva passa a se mover para baixo. Muitas das curvas importantes em economia, tal como a curva que representa a forma como o lucro de uma empresa varia à medida que ela produz mais, tem o formato de um morro.

FIGURA 2A-6 Pontos máximo e mínimo O painel (a) mostra uma curva com um ponto máximo, o ponto em que a inclinação muda de positiva para negativa. O painel (b) mostra uma curva com um ponto mínimo, o ponto em que a inclinação muda de negativa para positiva.

Por outro lado, a curva mostrada no painel (b) da Figura 2A-6 é em forma de U: tem uma inclinação que muda de negativa para positiva. Em x igual a 50, a curva atinge o seu ponto mais baixo – o menor valor de y ao longo da curva. Esse ponto é denominado de mínimo da curva. Em economia, várias curvas importantes, tal como a que representa como os custos por unidade de algumas empresas variam à medida que a produção aumenta, são em forma de U, como essa.

Cálculo da área acima ou abaixo da curva Às vezes, é útil poder medir a área abaixo ou acima de uma curva. Haverá um caso assim em um capítulo próximo. Para simplificar, iremos apenas calcular a área abaixo ou acima de uma curva linear. Qual o tamanho da área sombreada abaixo da curva linear no painel (a) da Figura 2A7? Primeiro observe que essa área tem a forma de um triângulo retângulo. Um triângulo retângulo é o que tem dois lados formando entre eles um ângulo reto. Denominaremos um desses lados de altura e o outro lado de base do triângulo. Para nosso propósito, não importa a qual dos dois lados nos referimos como base e a qual nos referimos como a altura. Calcular a área de um triângulo retângulo é simples: multiplicar a altura do triângulo pela base do triângulo e dividir o resultado por 2. A altura do triângulo do painel (a) da Figura 2A-7 é 10 − 4 = 6. E a base do triângulo é 3 − 0 = 3. Assim, a área desse triângulo é

FIGURA 2A-7 Cálculo da área abaixo e acima de uma curva linear A área acima ou abaixo de uma curva linear forma um triângulo retângulo. A área de um triângulo retângulo é calculada multiplicando-se a altura pela base do triângulo e dividindo-se o resultado por 2. No painel (a) a área sombreada do triângulo é triângulo é

. No painel (b), a área sombreada do .

Como calcular a área sombreada acima da curva linear no painel (b) da Figura 2A-7? Podemos usar a mesma fórmula para calcular a área desse triângulo retângulo. A altura do triângulo é 8 − 2 = 6. E a base do triângulo é 4 − 0 = 4. Assim, a área desse triângulo é

Gráficos que retratam informação numérica Os gráficos podem também ser utilizados como um meio prático de resumir e apresentar dados sem assumir qualquer relação causal subjacente. Os gráficos que mostram informações numéricas são chamados de gráficos numéricos. Aqui iremos considerar quatro tipos de gráficos numéricos: gráficos de séries temporais, diagramas de dispersão, gráficos de pizza e gráficos de barras. Esses são amplamente usados para representar dados empíricos reais sobre variáveis econômicas diferentes, pois muitas vezes ajudam os economistas e formuladores de políticas a identificar padrões ou tendências na economia. Mas, como veremos, é preciso cuidado para não interpretá-los de forma enganosa ou tirar conclusões injustificadas. Ou seja, é preciso estar ciente tanto da utilidade quanto das limitações dos gráficos numéricos.

Tipos de gráficos numéricos É provável que você já tenha visto gráficos em jornais que mostram o que aconteceu ao longo do tempo com variáveis econômicas, tais como a taxa de desemprego ou o valor das ações. Um gráfico de série temporal tem datas sucessivas no eixo horizontal e os valores

de uma variável que ocorreu nessas datas no eixo vertical. Por exemplo, a Figura 2A-8 mostra o produto interno bruto (PIB) real per capita – uma medida aproximada do padrão de vida de um país – nos Estados Unidos de 1947 até o final de 2010. A linha que liga os pontos que correspondem ao PIB real per capita para cada trimestre do ano civil durante esses anos fornece uma ideia clara da tendência geral do padrão de vida ao longo desses anos.

FIGURA 2A-8 Gráficos de séries temporais Gráficos de séries temporais mostram datas sucessivas no eixo dos x e valores de uma variável no eixo dos y. Esse gráfico de série temporal mostra o verdadeiro produto interno bruto per capita, uma medida do padrão de vida de um país, nos Estados Unidos, de 1947 até o final de 2010. Fonte: Bureau of Economic Analysis.

A Figura 2A-9 é um exemplo de um tipo diferente de gráfico numérico. Representa a informação de uma amostra sobre o padrão de vida de 184 países, novamente medido pelo PIB per capita e a quantidade de emissões de carbono per capita, uma medida de poluição ambiental. Aqui, cada ponto indica o padrão de vida de um residente médio e as emissões anuais de carbono de determinado país. Os pontos situados no canto superior direito do gráfico, que mostram combinações de um alto padrão de vida com emissões elevadas de carbono, representam países economicamente mais avançados, como os Estados Unidos. (No topo do gráfico, o país com maior nível de emissão de carbono é o Qatar.) Os pontos que se situam na parte inferior esquerda do gráfico mostram combinações de um baixo padrão de vida com baixas emissões de carbono e representam os países menos avançados economicamente, como Afeganistão e Serra Leoa. O padrão de pontos indica que há uma relação positiva entre o padrão de vida e as emissões de carbono per capita: em geral, as pessoas geram mais poluição em países com padrão de vida alto. Esse tipo de gráfico é denominado de diagrama de dispersão, em que cada ponto corresponde a uma observação real da variável x com a variável y. Nos diagramas

de dispersão, uma curva normalmente é ajustada na dispersão de pontos, ou seja, é traçada uma curva que se aproxima ao máximo da relação geral entre as variáveis. Como você pode ver, a linha ajustada na Figura 2A-9 é ascendente, indicando uma relação positiva subjacente entre as duas variáveis. Os diagramas de dispersão são usados para mostrar como se pode inferir uma relação geral a partir de um conjunto de dados.

FIGURA 2A-9 Diagrama de dispersão Em um diagrama de dispersão, cada ponto representa os valores correspondentes das variáveis x e y para determinada observação. Aqui, cada ponto indica o PIB per capita e a quantidade de emissão de carbono per capita de determinado país para uma amostra de 184 países. A curva ajustada com inclinação para cima é a melhor aproximação da relação geral entre as duas variáveis. Fonte: Banco Mundial.

Um gráfico de pizza mostra a participação de uma quantidade total que é explicada por vários componentes expressos normalmente em porcentagem. Por exemplo, a Figura 2A10 é um gráfico de pizza que mostra o nível educacional dos trabalhadores que receberam em 2009 o salário mínimo oficial ou menos. Como se pode ver, a maioria dos trabalhadores com remuneração igual ou inferior ao salário mínimo não tinha diploma universitário. Apenas 8% dos trabalhadores com remuneração igual ou inferior ao salário mínimo tinham grau de bacharel ou superior.

FIGURA 2A-10 Gráfico de pizza Um gráfico de pizza mostra as porcentagens de um montante total que pode ser atribuído a vários componentes. Este gráfico de pizza mostra a porcentagem de trabalhadores com determinado nível de ensino, cujo salário é igual ou inferior ao salário mínimo federal em 2009. Fonte: Bureau of Labor Statistics.

Os gráficos de barras usam barras de diferentes alturas ou comprimentos para indicar os valores de uma variável. No gráfico de barras da Figura 2A-11, as barras indicam a variação percentual do número de trabalhadores desempregados nos Estados Unidos de 2009 a 2010, de trabalhadores brancos, negros ou afro-americanos e asiáticos. Os valores exatos da variável que está sendo medida podem ser escritos ao final da barra como nessa figura. Por exemplo, nos Estados Unidos o número de trabalhadores desempregados negros ou afro-americanos aumentou 9,4% entre 2009 e 2010. Mas mesmo sem os valores precisos, a comparação das alturas ou comprimentos das barras pode oferecer indicações úteis sobre as magnitudes relativas dos diversos valores da variável.

FIGURA 2A-11 Gráfico de barras Um gráfico de barras mede uma variável usando barras com alturas ou comprimentos diversos. Esse gráfico de barras mostra o aumento percentual no número de trabalhadores desempregados entre 2009 e 2010, separado por brancos, negros ou afro-americanos e asiáticos. Fonte: Bureau of Labor Statistics.

Problemas na interpretação de gráficos numéricos Embora no início deste apêndice enfatizou-se que os gráficos são imagens visuais que facilitam a compreensão de ideias ou informações, podem ser construídos (intencionalmente ou não) de modo enganoso e levar a conclusões imprecisas. Esta seção levanta algumas questões que devem ser consideradas ao interpretar gráficos. Características da construção Antes de tirar conclusões sobre as implicações de um gráfico numérico, é necessário prestar atenção à escala ou ao tamanho dos incrementos, mostrado nos eixos. Pequenos incrementos tendem a exagerar visualmente as variações nas variáveis, enquanto que os incrementos grandes tendem a diminuí-las. Assim, a escala utilizada na construção de um gráfico pode influenciar a interpretação do significado das mudanças que ele ilustra, talvez de forma injustificada. Tomemos como exemplo a Figura 2A-12, que mostra o PIB real per capita dos Estados Unidos de 1981 a 1982 usando incrementos de $500. Pode-se observar que o PIB real per capita caiu de $26.208 para $25.189. Com certeza uma diminuição, mas ela é tão grande quanto a escala escolhida para o eixo vertical faz parecer? Se examinar novamente a Figura 2A-8, que mostra o PIB real per capita nos Estados Unidos de 1947 ao final de 2010, pode-se observar que essa seria uma conclusão equivocada. A Figura 2A-8 inclui os mesmos dados mostrados na Figura 2A-12, mas foi construída em uma escala com incrementos de $10 mil em vez de $500. Nela, pode-se observar que a queda do PIB real per capita de 1981 a1982 foi, de fato, relativamente insignificante. Na verdade, a história do PIB real per capita – uma medida da qualidade de vida – nos Estados Unidos é mais

uma história de altos do que de baixos. Essa comparação mostra que, se você não tiver cuidado de levar em consideração a escolha da escala para interpretar um gráfico, poderá chegar a conclusões muito diferentes e possivelmente equivocadas.

FIGURA 2A-12 Interpretando gráficos: o efeito da escala Alguns dos mesmos dados para os anos 1981 e 1982, usados na Figura 2A-8, estão aqui representados, exceto que estão sendo mostrados com incrementos de $500, em vez de com incrementos de $10 mil. Como resultado dessa mudança de escala, nessa figura as variações no padrão de vida aparentam ser muito maiores em comparação com a Figura 2A-8. Fonte: Bureau of Labor Statistics.

Em relação à escolha da escala há a utilização do truncamento na construção de um gráfico. Um eixo é truncado quando uma parte da abrangência é omitida. Isso é indicado com duas barras (/ /) no eixo, perto da origem. É possível verificar que o eixo vertical da Figura 2A-12 foi truncado – algo na escala de valores de 0 a $25 mil foi omitido e / / aparece no eixo. O truncamento economiza espaço na apresentação de um gráfico e permite que pequenos incrementos sejam usados para construí-lo. Como resultado, as variações na variável representadas em um gráfico truncado parecem maiores em comparação com um gráfico que não tenha sido truncado e que utiliza incrementos maiores. É necessário também prestar muita atenção no que o gráfico está ilustrando exatamente. Por exemplo, na Figura 2A-11, é preciso reconhecer que estão sendo mostradas variações percentuais no número de desempregados e não mudanças em números absolutos. A taxa de desemprego dos trabalhadores negros ou afro-americanos aumentou em uma porcentagem mais elevada, de 9,4% nesse exemplo. Se confundirmos variações numéricas com percentuais, iremos concluir erroneamente que a maior parte dos trabalhadores desempregados recentemente era de negros ou afro-americanos. Mas, na verdade, a interpretação correta da Figura 2A-11 mostra que o maior número de trabalhadores recém-desempregados era de brancos: o número total de trabalhadores

desempregados brancos cresceu para 268 mil trabalhadores, que é maior do que o aumento do número de trabalhadores desempregados negros ou afro-americanos, que nesse exemplo é de 246 mil. Embora tenha havido um maior aumento percentual no número de trabalhadores desempregados negros ou afro-americanos em 2009, o número destes trabalhadores desempregados nos Estados Unidos foi menor do que o de brancos, levando a um número menor de trabalhadores negros ou afro-americanos recémdesempregados em relação aos trabalhadores brancos. Variáveis omitidas A partir de um diagrama de dispersão que mostra duas variáveis que se deslocam de forma positiva ou negativa em relação à outra, é fácil concluir que há uma relação causal. Mas as relações entre duas variáveis nem sempre são diretamente de causa e efeito. Muito possivelmente, uma relação observada entre duas variáveis se deva ao efeito não observado de uma terceira variável sobre cada uma dessas outras duas variáveis. Uma variável não observada que, pela sua influência sobre outras variáveis, cria uma aparência errônea de uma relação causal direta entre essas variáveis é denominada de variável omitida. Por exemplo, na Nova Inglaterra, uma maior quantidade de neve que caia durante uma semana normalmente fará as pessoas comprarem mais pás para retirar a neve. Também fará as pessoas comprarem mais fluido descongelante. Mas se a influência da neve for omitida e representarmos o número de pás vendidas em relação ao número de garrafas de fluido descongelante vendidas, teremos um diagrama de dispersão mostrando a tendência para cima no padrão de pontos, indicando uma relação positiva entre pás e fluido descongelante vendidos. No entanto, atribuir uma relação causal entre essas duas variáveis é um equivoco; mais pás vendidas não causa a venda de mais fluido descongelante ou vice-versa. Eles se movem em conjunto por serem influenciados por uma terceira variável, determinante, a queda de neve na semana, que nesse caso é a variável omitida. Então, antes de assumir que um padrão em um diagrama de dispersão implica uma relação de causa e efeito, é importante considerar se o padrão não é na verdade o resultado de uma variável omitida. Em resumo: correlação não é causação. Causalidade reversa Mesmo tendo certeza que não há nenhuma variável omitida e que existe uma relação causal entre duas variáveis apresentadas em um gráfico numérico, deve-se também tomar cuidado para não cometer o erro de causalidade reversa – chegar a uma conclusão errada sobre qual é a variável dependente e qual a independente, invertendo o verdadeiro sentido da causalidade entre as duas variáveis. Por exemplo, imagine um diagrama de dispersão mostrando as notas médias de 20 de seus colegas de turma em um eixo e o número de horas que cada um deles ficou estudando em outro. A linha ajustada entre os pontos provavelmente terá uma inclinação positiva, demonstrando uma relação positiva entre a nota e a quantidade de horas de estudo. Podemos inferir razoavelmente que horas de estudo é a variável independente e nota é a variável dependente. Mas é possível cometer o erro da causalidade reversa: inferir que uma nota alta faz o estudante estudar mais, ao passo que uma nota baixa o faz estudar menos.

A importância de compreender como os gráficos podem enganar ou ser interpretados de forma incorreta não é uma preocupação puramente acadêmica. As decisões políticas e empresariais e os argumentos políticos muitas vezes são baseados na interpretação dos tipos de gráficos numéricos que acabamos de discutir. Problemas de aspectos de construção enganosos, variáveis omitidas e causalidade reversa podem levar a consequências muito importantes e indesejáveis.

Problemas 1. Analise os quatro gráficos adiante. Considere as afirmações seguintes e indique qual gráfico corresponde a cada afirmação. Que variável aparecerá no eixo horizontal e no vertical? Em cada uma dessas afirmações a inclinação é positiva, negativa, zero ou infinita?

a. Se o preço da entrada de cinema subir, menos pessoas irão ao cinema. b. Trabalhadores mais experientes geralmente têm renda mais elevada do que os menos experientes. c. Seja qual for a temperatura externa, os americanos consomem a mesma quantidade de cachorro-quente por dia. d. Os consumidores compram mais iogurte congelado quando o preço do sorvete sobe. e. As pesquisas não encontram relação entre a quantidade de livros de dieta adquiridos e o número de quilos perdidos na média das pessoas que fazem dieta. f. Independentemente do preço, os americanos compram a mesma quantidade de sal. 2. Durante a administração Reagan, o economista Arthur Laffer argumentou em favor da

redução do imposto de renda, a fim de aumentar a receita tributária. Como a maioria dos economistas, ele acreditava que se a taxa de impostos estivesse acima de um determinado nível, a receita tributária cairia, pois impostos elevados desencorajam algumas pessoas de trabalhar, e definitivamente não trabalhariam se após o pagamento dos impostos não sobrasse renda. Essa relação entre taxa de impostos e receita tributária é resumida graficamente no que é amplamente conhecido como curva de Laffer. Trace a curva de Laffer supondo que tenha o formato de uma curva não linear. As questões a seguir ajudarão na construção do gráfico. a. Qual é a variável independente? Qual é a variável dependente? Em que eixo, portanto, a taxa de imposto de renda é medida? Em que eixo a receita tributária é medida? b. Qual seria a receita tributária se a taxa de imposto de renda fosse de 0%? c. A taxa máxima possível de imposto de renda é 100%. Qual seria a receita tributária a uma taxa de imposto de renda de 100%? d. Há estimativas que mostram agora que o ponto máximo da curva de Laffer ocorre (aproximadamente) a uma taxa de imposto de 80%. Para as taxas de imposto inferiores a 80%, como você descreveria a relação entre a taxa de imposto e a receita tributária? E como essa relação se refletiria na inclinação? Para as taxas de imposto superiores a 80%, como você descreveria a relação entre taxa de impostos e a receita tributária e como essa relação se refletiria na inclinação? 3. Nas figuras anexas, os números nos eixos foram perdidos. Tudo o que se sabe é que as unidades indicadas no eixo vertical são as mesmas que as unidades no eixo horizontal. a. No painel (a), qual é a inclinação da reta? Mostre que a inclinação é constante ao longo da reta. b. No painel (b), qual é a inclinação da reta? Mostre que a inclinação é constante ao longo da reta. 4. Responda a cada uma das seguintes perguntas desenhando um diagrama esquematizado. a. Ao medir pelo método de ponto a inclinação de uma curva em três pontos cada vez mais à direita ao longo do eixo horizontal, a inclinação da curva muda de −0,3 para −0,8, para −2,5. Desenhe um diagrama esquemático dessa curva. Como você descreveria as relações ilustradas no diagrama? b. Ao medir pelo método de ponto a inclinação de uma curva em cinco pontos cada vez mais à direita ao longo do eixo horizontal, a inclinação da curva muda de 1,5 para 0,5, para 0, para −0,5 e para −1,5. Trace um diagrama esquemático dessa curva. Ela tem um máximo ou um mínimo? 5. Para cada um dos diagramas anexos, calcule a área do triângulo retângulo sombreado.

6. A base de um triângulo retângulo é 10 e sua área é 20. Qual é a altura desse triângulo? 7. A tabela a seguir mostra a relação entre horas de trabalho por semana de cada trabalhador e seu salário por hora. Fora o fato de receberem salário por hora diferente e trabalharem quantidade de horas diferente, esses cinco trabalhadores são idênticos. Quantidade de trabalho (horas por semana) Athena 30 Boris 35 Curt 37 Diego 36 Emily 32 Nome

Salário (por hora) $ 15 30 45 60 75

a. Qual é a variável independente? Qual é a dependente? b. Desenhe um diagrama de dispersão ilustrando essa relação. Ajuste uma curva (não linear) que ligue os pontos. Coloque o salário por hora no eixo vertical. c. À medida que o salário aumenta de $15 para $30 como o número de horas trabalhadas responde de acordo com a relação aqui descrita? Qual é a inclinação média da curva entre os pontos de Athena e de Boris usando o método de arco? d. À medida que o salário aumenta de $60 para $75, como o número de horas trabalhadas responde de acordo com a relação aqui descrita? Qual é a inclinação média da curva entre os pontos de Diego e Emily usando o método de arco?

8. Há estudos mostrando uma relação entre a taxa anual de crescimento de um país e sua taxa anual de aumento da poluição atmosférica. Acredita-se que uma maior taxa de crescimento econômico permite que os residentes de um país possuam mais carros e viajem mais, liberando, assim, mais poluentes no ar. a. Qual é a variável independente? Qual é a variável dependente? b. Suponha que em um país chamado Sulândia, quando a taxa de crescimento econômico caiu de 3% para 1,5%, a taxa anual de aumento da poluição do ar caiu de 6% para 5%. Usando o método do arco, qual é a inclinação média de uma curva não linear entre esses pontos? c. Agora, suponha que quando a taxa anual de crescimento econômico passou de 3,5% para 4,5%, a taxa anual de aumento da poluição do ar passou de 5,5% para 7,5%. Utilizando o método do arco, qual é a inclinação média de uma curva não linear entre esses dois pontos? d. Como você descreveria a relação entre essas duas variáveis? 9. Uma companhia de seguros descobriu que a gravidade do dano à propriedade em caso de incêndio está relacionada positivamente com o número de bombeiros que chegam ao local. a. Desenhe um diagrama que ilustre essa descoberta, com o número de bombeiros no eixo horizontal e os danos à propriedade no eixo vertical. O que esse diagrama nos informa? Suponha que se inverta o que está sendo medido nos dois eixos. Qual então é o argumento? b. A fim de reduzir o pagamento de indenização aos segurados, a companhia de seguros deveria solicitar à prefeitura o envio de menor número de bombeiros para qualquer incêndio? 10. A tabela a seguir mostra o salário anual e o imposto de renda devido por cinco indivíduos. Fora o fato de receberem salários diferentes e deverem valores diferentes de imposto de renda, esses cinco indivíduos são idênticos. Nome Susan Eduardo John Camila Peter

Salário anual $22.000 63.000 3.000 94.000 37.000

Imposto de renda anual $3.304 14.317 454 23.927 7.020

a. Se você quisesse traçar esses pontos em um gráfico, usando o método do arco, qual seria a inclinação média da curva entre os pontos para o salário e o imposto de Eduardo e Camila? Como você interpretaria esse valor de inclinação? b. Usando o método do arco, qual seria a inclinação média da curva entre os pontos para o salário e o imposto de John e Susan? Como você interpretaria esse valor de inclinação? c. O que acontece com a inclinação quando o salário aumenta? O que essa relação

implica sobre como o nível de imposto de renda afeta o incentivo de uma pessoa de ganhar um salário maior?

C APÍ T UL O 3

Oferta e Demanda

O que você vai aprender neste capítulo • O que é um mercado competitivo e como é descrito pelo modelo de oferta e demanda. • O que é a curva da demanda e a curva da oferta. • A diferença entre movimentos ao longo de uma curva e deslocamento da curva. • Como as curvas da oferta e demanda determinam o preço e quantidade de equilíbrio de um mercado. • Em caso de escassez ou excedente, como o preço se move de volta ao equilíbrio.

Jeans indigo blue Se você comprou jeans em 2011, deve ter ficado chocado com o preço. Talvez não: modas mudam e possivelmente tenha imaginado estar pagando o preço para estar na moda. Mas você não está – está pagando pelo algodão. Jeans são feitas de denim, que é um determinado tecido de algodão, e no final de 2010, quando os fabricantes de jeans estavam comprando estoque de material para o próximo ano, os preços do algodão mais do que triplicaram do nível que era há dois anos antes. Em dezembro de 2010, o preço de 1 libra de algodão havia atingido uma alta que só iria atingir em 140 anos, o maior preço do algodão desde que os registros começaram, em 1870. E por que o preço do algodão estava tão alto? De um lado, estava surgindo demanda por vestuário de todos os tipos. Entre 2008 e 2009, como o mundo lutou contra os efeitos da crise financeira, os consumidores nervosos cortaram as compras de vestuário. Mas, em 2010, quando o pior tinha aparentemente acabado, os compradores estavam de volta com todo vigor. Do lado da oferta, eventos climáticos severos abateram a produção mundial de algodão. Mais notavelmente, Paquistão, o quarto maior produtor de algodão do mundo, foi atingido por inundações devastadoras que colocaram um quinto do país dentro da água e a lavoura de algodão ficou praticamente destruída. Temendo que os consumidores tivessem limitado a tolerância para grandes aumentos de preço de roupas de algodão, os fabricantes de vestuário começaram a tentar encontrar alguma forma de reduzir os custos sem ofender o senso de moda dos consumidores. Adotaram mudanças como botões menores, revestimentos mais baratos, e – sim – poliéster, duvidando que os consumidores estivessem dispostos a pagar mais por produtos de algodão. Na verdade, alguns especialistas do mercado de algodão alertaram que os altíssimos preços do algodão entre 2010 e 2011 poderiam conduzir a uma permanente mudança de gostos, com os consumidores querendo usar cada vez mais sintéticos mesmo quando os preços do algodão caíssem. Ao mesmo tempo, essa não foi totalmente uma má notícia para as pessoas ligadas ao comércio de algodão. Nos Estados Unidos, os produtores de algodão não foram atingidos pelo mau tempo e estavam tirando vantagem dos preços mais altos. Os agricultores americanos responderam aos altíssimos preços do algodão com um aumento acentuado da área de plantio da cultura. Contudo, nada disso foi suficiente,

para produzir efeito imediato nos preços. Espere um pouco: exatamente como as inundações no Paquistão se transformaram em preços mais altos de jeans e mais poliéster nas camisetas? Essa é uma questão de oferta e demanda – mas o que isso significa? Muitas pessoas usam “oferta e demanda” como uma espécie de slogan que quer dizer “as leis do mercado em funcionamento”. Entretanto, para os economistas, o conceito de oferta e demanda tem um significado preciso: é um modelo de como o mercado se comporta que é extremamente útil para a compreensão de muitos – mas não de todos – os mercados. Neste capítulo, apresentamos as peças que compõem o modelo de oferta e demanda, juntamos as peças e mostramos como esse modelo pode ser usado para entender como funcionam muitos mercados, mas não todos.

Oferta e demanda: um modelo de mercado competitivo Os vendedores e os compradores de algodão constituem um mercado – um grupo de produtores e consumidores que trocam um bem ou serviço por pagamento. Neste capítulo, vamos nos concentrar em um determinado tipo de mercado conhecido como mercado competitivo. Grosso modo, um mercado competitivo é aquele em que há muitos compradores e vendedores de um mesmo bem ou serviço. Mais precisamente, o elemento fundamental de um mercado competitivo é que nenhuma ação de qualquer indivíduo tem efeito significativo sobre o preço pelo qual o bem ou serviço é vendido. É importante entender, no entanto, que isso não é uma descrição precisa de cada mercado. Por exemplo, não é uma descrição exata do mercado de bebidas do tipo cola. Isso porque no mercado dessas bebidas, a Coca-Cola e a Pepsi contam com uma proporção tão grande nas vendas totais que são capazes de influenciar o preço pelo qual essas bebidas são compradas e vendidas. Mas é uma descrição precisa do mercado de algodão. O mercado mundial de algodão é tão grande que até mesmo um fabricante de jeans tão grande como a Levi Strauss & Co. é responsável por apenas uma pequena fração das transações, tornando-se incapaz de influenciar o preço pelo qual o algodão é comprado e vendido. É um pouco difícil de explicar por que os mercados competitivos são diferentes de outros mercados sem verificar primeiro como funciona um mercado competitivo. Então, vamos adiar o assunto – voltaremos a essa questão no final desse capítulo. Por enquanto, vamos apenas afirmar que é mais fácil modelar mercados competitivos do que outros mercados. Ao prestar um exame, sempre é uma boa estratégia começar respondendo às questões mais fáceis. Neste livro vamos fazer a mesma coisa. Então, vamos começar pelos mercados competitivos. Quando um mercado é competitivo, seu comportamento é bem descrito pelo modelo de oferta e demanda. Como muitos mercados são competitivos, o modelo de oferta e demanda realmente é muito útil. Há cinco elementos essenciais nesse modelo: ■ A curva da demanda. ■ A curva da oferta. ■ O conjunto de fatores que faz a curva da demanda se deslocar e o conjunto de fatores que faz a curva da oferta se deslocar. ■ O equilíbrio de mercado, que inclui o preço de equilíbrio e a quantidade de equilíbrio. ■ A forma como o equilíbrio de mercado varia quando a curva da oferta ou demanda se desloca. Para entender o modelo de oferta e demanda, vamos examinar cada um desses elementos.

A curva da demanda Quantas libras de algodão, na forma de calças jeans, os consumidores ao redor do mundo querem comprar em determinado ano? A princípio, você pode imaginar que possamos responder a essa pergunta verificando o número total de calças de jeans compradas ao redor do mundo a cada dia, multiplicar esse número pela quantidade de algodão necessária para fazer uma calça jeans, e depois multiplicar por 365. Mas isso não é suficiente para responder a essa questão, porque quantos jeans – em outras palavras, quantas libras de algodão – os consumidores desejam comprar depende do preço de um quilo de algodão. Quando o preço do algodão sobe, como aconteceu em 2010, algumas pessoas respondem ao aumento do preço de roupas de algodão comprando menos ou, talvez, trocando completamente por peças de vestuário elaboradas com outros materiais, tais como materiais sintéticos ou de linho. Em geral, a quantidade de roupas de algodão, ou de qualquer bem ou serviço que as pessoas desejam comprar, depende do preço. Quanto maior o preço, menos as pessoas querem adquirir desse bem ou serviço; de forma alternativa, quanto menor o preço, mais elas querem comprar. Portanto, a resposta à questão “Quantas libras de algodão os consumidores querem comprar?” depende do preço de 1 libra de algodão. E se ainda não souber qual será esse preço, pode começar fazendo uma tabela de quantas libras de algodão as pessoas gostariam de comprar a preços diferentes. Essa tabela é conhecida como tabela da demanda. Isso, por sua vez, pode ser usado para desenhar uma curva da demanda, que é um dos elementos fundamentais do modelo de oferta e demanda.

A tabela e a curva da demanda A tabela da demanda mostra quanto de um bem ou serviço os consumidores vão querer comprar a preços diferentes. À direita da Figura 3-1, mostramos uma tabela da demanda hipotética para o algodão. É hipotética porque não utiliza dados reais da demanda mundial de algodão e assume que todo o algodão tem a mesma qualidade.

FIGURA 3-1 A tabela e a curva da demanda A tabela da demanda de algodão produz a curva da demanda correspondente, que mostra o quanto de um bem ou serviço os consumidores desejam comprar com qualquer preço determinado. A curva da demanda e a tabela da demanda refletem a lei da demanda: à medida que o preço sobe, a quantidade demandada cai. Da mesma forma, uma queda no preço aumenta a quantidade demandada. Como resultado, a curva da demanda tem inclinação para baixo.

De acordo com a tabela, se 1 libra de algodão custar $1, os consumidores em todo o mundo irão querer comprar 10 bilhões de libras de algodão ao longo de um ano. Se o preço for $1,25, vão querer comprar apenas 8,9 bilhões de libras; se for de apenas $0,75, irão querer comprar 11,5 bilhões de libras e assim por diante. Quanto maior o preço, menor a quantidade de libras de algodão que os consumidores estarão dispostos a comprar. Assim, à medida que o preço aumenta, a quantidade demandada de algodão – a quantidade real que os consumidores estão dispostos a comprar a determinado preço – cai. A Figura 3-1 é uma representação visual da informação na tabela. (Revise a discussão sobre gráficos em economia no apêndice do Capítulo 2, se necessário.) O eixo vertical mostra o preço de 1 libra de algodão e o horizontal mostra a quantidade de algodão em libras. Cada ponto no gráfico corresponde a uma das entradas na tabela. A curva que une esses pontos é a curva da demanda. A curva da demanda é uma representação gráfica da tabela da demanda, outra forma de mostrar a relação entre quantidade demandada e preço.

Comparação global Pague mais, abasteça menos Para uma ilustração do mundo real da lei da demanda, observe como o consumo de gasolina varia de acordo com o preço que o consumidor paga no posto. Devido aos impostos elevados, a gasolina e o diesel, na maioria dos países europeus, custa mais que

o dobro do que nos Estados Unidos. De acordo com a lei da demanda, isso deveria levar os europeus a comprarem menos gasolina do que os americanos – e de fato isso acontece. Como se vê na figura, os europeus consomem por pessoa menos da metade do que os americanos, principalmente porque dirigem carros menores e fazem menor quilometragem. O preço não é o único fator que afeta o consumo de combustível, mas provavelmente é a principal causa da diferença do consumo por pessoa entre europeus e americanos.

Fonte: U.S. Energy Information Administration, 2009.

Observe que a curva da demanda mostrada na Figura 3-1 tem inclinação para baixo. Isso reflete a proposição geral de que um preço mais elevado reduz a quantidade demandada. Por exemplo, fabricantes de calças jeans sabem que irão vender menos peças, quando o preço de uma peça de jeans for maior, refletindo um preço de $2 por 1 libra de algodão, em comparação com a quantidade que irão vender, quando o preço da peça for mais baixo, refletindo o preço de apenas $1 por quilo de algodão. Da mesma forma, alguém que compra um par de jeans de algodão quando o preço está relativamente baixo vai mudar para sintético ou de linho, quando o preço do algodão para fabricar o jeans estiver relativamente elevado. Assim, no mundo real, as curvas de demanda quase sempre têm inclinação para baixo. (As exceções são tão raras que, na prática, podemos ignorá-las.) Geralmente, é tão confiável a proposição de que um preço mais elevado de um bem, quando tudo o mais é mantido constante, leva as pessoas a procurar uma quantidade menor de tal bem, que os economistas estão dispostos a chamá-la de “lei”, a lei da demanda.

Deslocamentos da curva da demanda Embora o preço do algodão estivesse bem mais alto em 2010 do que em 2007, o total de consumo mundial de algodão foi maior em 2010. Como podemos conciliar esse fato com a lei da demanda, que prega que um preço mais elevado reduz a quantidade demandada, quando tudo o mais se mantém constante? A resposta está na frase fundamental: tudo o mais é mantido constante. Nesse caso, tudo o mais não foi mantido constante: o mundo mudou entre 2007 e 2010, de forma que aumentou a quantidade demandada de algodão a qualquer preço dado. Para começar, a população do mundo, e, portanto, o número de consumidores potenciais de algodão, aumentou. Além disso, a popularidade crescente de roupa de brim, bem como os rendimentos mais elevados em países como a China, permitiu que as pessoas comprassem mais roupas do que antes, resulta em aumento na quantidade demandada de algodão a qualquer preço. A Figura 3-2 ilustra esse fenômeno usando a tabela e a curva da demanda por algodão. (Tal como antes, os números da Figura 3-2 são hipotéticos.)

FIGURA 3-2 Aumento da demanda Um aumento na população é um fator que gera um aumento na demanda – um aumento na quantidade demandada a qualquer preço dado. Isso é representado por duas tabelas de demanda – uma que mostra a demanda em 2007, antes do aumento da população, a outra que mostra a demanda em 2010, após o aumento da população – e das curvas de demanda correspondentes. O aumento da demanda desloca a curva da demanda para a direita.

A tabela da Figura 3-2 mostra duas tabelas da demanda. A primeira é a tabela da demanda para 2007, a mesma mostrada na Figura 3-1. A segunda é a tabela da demanda para 2010, que difere da tabela da demanda de 2007, em razão de fatores como população maior e aumento da popularidade de roupas de brim, que acarretaram aumento na quantidade de algodão demandado a qualquer preço. Assim, para cada preço, a tabela de 2010 mostra uma quantidade maior demandada do que em 2007. Por exemplo, a quantidade de consumidores de algodão que queriam comprar ao preço de $1 por libra aumentou de 10 para 12 bilhões de libras por ano, a quantidade demandada a $1,25 por libra passou de 8,9 para 10,7 bilhões, e assim por diante.

O exemplo esclarece que as mudanças ocorridas entre 2007 e 2010 geraram uma nova tabela da demanda, em que a quantidade demandada é maior, a qualquer preço dado, que na tabela da demanda original. As duas curvas da Figura 3-2 mostram essa informação graficamente. Como se observa, a tabela da demanda de 2010 corresponde a uma nova curva, D2, à direita da curva da demanda de 2007, D1. Esse deslocamento da curva da demanda mostra a mudança na quantidade demandada a qualquer preço, representando a mudança da posição da curva da demanda original D1, para a nova posição em D2. É fundamental fazer a distinção entre os deslocamentos da curva da demanda e os movimentos ao longo da curva da demanda, mudanças na quantidade demandada de um bem proveniente de uma alteração no preço do bem. A Figura 3-3 ilustra essa diferença.

FIGURA 3-3 Movimento ao longo da curva da demanda versus deslocamento da curva da demanda O aumento na quantidade demandada quando se passa do ponto A para o ponto B reflete um movimento ao longo da curva da demanda: é o resultado de uma queda no preço do bem. O aumento na quantidade demandada quando se passa do ponto A para o ponto C reflete um deslocamento da curva da demanda: é o resultado de um aumento na quantidade demandada a qualquer preço.

O movimento do ponto A ao ponto B é um movimento ao longo da curva da demanda: a quantidade demandada aumenta devido à queda no preço à medida que nos movemos para baixo em D1. Aqui, uma queda no preço do algodão de $1,50 para $1 por libra gera

um aumento na quantidade demandada de £8,1 bilhões para £10 bilhões por ano. Mas a quantidade demandada também pode subir quando o preço permanece inalterado, se houver um aumento na demanda – um deslocamento para a direita da curva da demanda. Essa situação está ilustrada na Figura 3-3 pelo deslocamento da curva da demanda de D1 para D2. Mantendo o preço constante em $1,50 a libra, a quantidade demandada aumenta de 8,1 bilhões no ponto A em D1 para 9,7 bilhões no ponto C em D2. Quando os economistas dizem que “a demanda por X aumentou” ou “a demanda por Y diminuiu”, querem dizer que a curva da demanda para X ou Y se deslocou – não que a quantidade demandada aumentou ou diminui em consequência de uma variação no preço.

Armadilhas Demanda versus quantidade demandada Quando os economistas dizem “um aumento na demanda”, significa um deslocamento para a direita na curva da demanda, e quando dizem “uma redução na demanda”, significa um deslocamento para a esquerda na curva da demanda, isto é, quando estão sendo cuidadosos. Em linguagem comum, a maioria das pessoas, incluindo economistas profissionais, usa a palavra demanda de forma coloquial. Por exemplo, um economista talvez diga “a demanda por viagens aéreas dobrou nos últimos 15 anos, em parte por causa da queda nos preços” quando realmente quer dizer que a quantidade demandada dobrou. Pode-se aceitar algum desleixo no uso dos termos na conversa comum. Mas na análise econômica, é importante fazer a distinção entre mudanças na quantidade demandada, que envolvem movimento ao longo de uma curva da demanda e os deslocamentos ao longo da curva da demanda. (Veja a Figura 3-3 como ilustração.) Às vezes os estudantes acabam escrevendo algo como: “Se a demanda aumenta, o preço aumenta, mas isso leva a uma queda na demanda, o que empurra o preço para baixo.. .” e, em seguida, ficam girando em torno disso. Se for feita uma distinção clara entre mudanças na demanda, o que significa deslocamento na curva da demanda, e mudança na quantidade demandada, uma série de confusão será evitada.

Entendendo os deslocamentos da curva da demanda A Figura 3-4 ilustra as duas formas básicas como as curvas da demanda podem se deslocar. Quando os economistas falam sobre um “aumento da demanda”, referem-se a um deslocamento para a direita da curva de demanda: a qualquer preço, os consumidores demandam maior quantidade de bens ou serviços do que antes. Isso é demonstrado pelo deslocamento para a direita da curva da demanda original de D1 para D2. E quando os economistas falam de uma “queda na demanda”, referem-se a um deslocamento para a esquerda da curva da demanda: a qualquer preço, os consumidores demandam menor

quantidade de bens ou serviços que antes. Isso é demonstrado pelo deslocamento para a esquerda da curva da demanda original de D1 para D3.

FIGURA 3-4 Deslocamentos da curva da demanda Qualquer evento que aumente a demanda desloca a curva da demanda para a direita, refletindo um aumento na quantidade demandada a qualquer preço. Qualquer evento que diminua a demanda desloca a curva da demanda para a esquerda, refletindo uma queda na quantidade demandada a qualquer preço.

O que fez a curva da demanda por algodão se deslocar? Já mencionamos duas razões: mudança na população e mudança na popularidade das roupas de brim. Pensando bem, podemos imagnar outras coisas que possivelmente deslocariam a curva da demanda do algodão. Por exemplo, suponha que o preço do poliéster aumente. Isso vai induzir as pessoas que, antes, compravam roupas de poliéster a comprar roupas de algodão, aumentando a demanda por algodão. Os economistas acreditam que existem cinco fatores principais que deslocam a curva da demanda por um bem ou serviço: ■ Mudança nos preços de bens ou serviços relacionados. ■ Mudança na renda. ■ Mudança nos gostos. ■ Mudança nas expectativas. ■ Mudança no número de consumidores. Embora essa não seja uma lista exaustiva, contém os cinco fatores mais importantes que podem deslocar as curvas da demanda. Assim, quando afirmamos que a quantidade de um bem ou serviço demandado cai quando o preço aumenta, tudo o mais mantido constante, estamos de fato afirmando que os fatores que deslocam a demanda

permanecem inalterados. Vamos agora explorar com mais detalhes como esses fatores deslocam a curva da demanda.

Mudanças nos preços de bens ou serviços relacionados Embora não haja nada igual a uma confortável calça jeans, por alguma razão a calça de sarja – geralmente feita com mistura de poliéster – não é uma alternativa ruim. A calça de sarja é o que os economistas chamam de um substituto para o jeans. Um bem é substituto quando o aumento no preço de um dos bens (jeans) torna os consumidores mais dispostos a comprar o outro bem (calça de sarja). Substitutos são os bens que geralmente têm uma função semelhante: café e chá, bolos e rosquinhas, viagens de trem e aéreas. Um aumento no preço do bem alternativo induz alguns consumidores a comprar o bem original, deslocando a demanda do bem original para a direita. Mas às vezes um aumento no preço de um bem torna os consumidores menos dispostos a comprar outro bem. Esses bens são conhecidos como complementares. Geralmente são bens que em certo sentido são consumidos juntos: computadores e software, cappuccinos e cookies, carros e gasolina. Como os consumidores procuram consumir um bem e seu complemento em conjunto, uma mudança no preço de um dos bens irá afetar a demanda por seu complemento. Em particular, quando o preço de um bem aumenta, a demanda pelo seu complemento diminui, deslocando a curva da demanda do complemento para a esquerda. Assim, por exemplo, quando o preço da gasolina subiu entre 2007 e 2008, a demanda por carros beberrões de gasolina caiu.

Mudanças na renda Quando as pessoas têm mais dinheiro, normalmente são mais propensas a comprar um bem a qualquer preço. Por exemplo, se a renda famíliar aumenta, é provável que a família faça aquela viagem de verão para a Disneylândia aguardada há muito tempo e, consequentemente, também é mais provável que compre passagens aéreas. Então, um aumento na renda do consumidor fará as curvas da demanda se deslocarem para a direita para a maioria dos bens. Por que dizemos “a maioria dos bens” e não “todos os bens”? A maioria dos bens é bens normais e a demanda por eles aumenta quando a renda do consumidor aumenta. No entanto, a demanda por alguns produtos cai quando a renda sobe. Os bens para os quais a demanda cai quando a renda sobe são conhecidos como bens inferiores. Normalmente, um bem inferior é aquele considerado menos desejável do que as alternativas mais caras, como tomar um ônibus em vez de um táxi. Quando as pessoas podem se dar ao luxo, param de comprar um bem inferior e mudam para o bem preferido, uma alternativa mais cara. Assim, quando um bem é inferior, um aumento na renda desloca a curva da demanda para a esquerda. E não é surpresa que uma queda na renda desloque a curva da demanda para a direita. Um exemplo da distinção entre bens normal e inferior com muito destaque nos jornais de economia é a diferença entre os chamados restaurantes informais, como Applebee’s

ou Olive Graden e as cadeias de fast-food como McDonald’s e KFC. Quando a renda dos americanos sobe, eles tendem a sair mais para jantar em restaurantes informais em vez de frequentar as cadeias de fast-food – em certa medida, as pessoas vão menos ao McDonald’s quando podem dar-se ao luxo de ir jantar em um lugar melhor. Assim, os restaurantes informais são bens normais, ao passo que o fast-food parece ser um bem inferior.

Mudança nos gostos Por que as pessoas querem o que querem? Felizmente, não precisamos responder a essa pergunta, só precisamos reconhecer que as pessoas têm certas preferências ou gostos que determinam o que escolhem para consumir e que esses gostos podem mudar. Normalmente os economistas agrupam as variações na demanda devido a modismos, crenças, mudanças culturais, e assim por diante, sob o título de evolução dos gostos ou preferências. Por exemplo, antigamente os homens usavam chapéus. Até por volta da Segunda Guerra Mundial, um homem respeitável não estaria bem vestido se não estivesse com um chapéu decente junto com o seu terno. Mas os soldados que voltaram da guerra adotaram um estilo mais informal, talvez em decorrência dos rigores da guerra. E o Presidente Eisenhower, que havia sido comandante supremo das forças aliadas antes de se tornar presidente, muitas vezes andava sem chapéu. Após a Segunda Guerra Mundial, ficou claro que a curva da demanda por chapéus havia se deslocado para a esquerda, refletindo a diminuição da demanda por chapéus. Os economistas têm relativamente pouco a dizer sobre as forças que influenciam os gostos dos consumidores. (Embora os comerciantes e publicitários tenham muito a dizer sobre elas!) No entanto, uma alteração nos gostos tem um impacto previsível sobre a demanda. Quando os gostos mudam em favor de um bem, mais pessoas querem comprálo a qualquer preço, assim a curva da demanda se desloca para a direita. Quando os gostos mudam contra um bem, poucas pessoas desejam comprá-lo a qualquer preço, por isso a curva da demanda se desloca para a esquerda.

Mudanças nas expectativas Quando os consumidores têm alguma escolha sobre quando realizar uma compra, a demanda corrente de um bem muitas vezes é afetada por expectativas sobre o seu preço futuro. Por exemplo, os consumidores sabidos costumam esperar as liquidações – ou seja, compram os presentes de Natal do próximo ano durante as liquidações pósnatalinas do ano corrente. Nesse caso, expectativas de queda de preço no futuro levam a uma diminuição na demanda atual. Por outro lado, expectativas de aumento de preços no futuro tendem a aumentar a demanda atual. Por exemplo, como os preços do algodão começaram a subir em 2010, muitos moinhos têxteis começaram a comprar mais algodão e armazenar em antecipação a mais aumentos de preços. As expectativas de mudanças na renda futura também podem levar a mudanças na

demanda: se alguém espera que a renda aumente no futuro, normalmente pede emprestado hoje e aumenta a demanda por determinados bens; e se espera que ela caia no futuro, é provável que poupe e reduza a demanda por alguns bens.

Mudança no número de consumidores Como vimos, uma das razões para a demanda crescente de algodão entre 2007 e 2010 foi o crescimento mundial da população. Em consequência do crescimento da população, a demanda total de algodão teria aumentado ainda que a demanda de cada consumidor individual de roupas de algodão tivesse ficado inalterada. Vamos introduzir um novo conceito: a curva da demanda individual, que mostra a relação entre a quantidade demandada e o preço para um consumidor individual. Por exemplo, suponha que Darla seja uma consumidora de jeans, suponha também que todos os jeans sejam iguais e, portanto, vendidos pelo mesmo preço. O painel (a) da Figura 3-5 mostra a quantidade de jeans que ela vai comprar por ano, a determinado preço. Então DDarla é curva da demanda individual de Darla.

FIGURA 3-5 Curvas da demanda individual e curva da demanda de mercado Darla e Dino são os dois únicos consumidores de jeans no mercado. O painel (a) mostra a curva da demanda individual de Darla: o número de pares de calças jeans que irá comprar por ano a um determinado preço. O painel (b) mostra a curva da demanda individual de Dino. Dado que Darla e Dino são os dois únicos consumidores, o painel (c) mostra a curva da demanda de mercado, que fornece a quantidade de calças jeans demandada por todos os consumidores a qualquer preço. A curva de demanda de mercado é a soma horizontal das curvas de demanda individual de todos os consumidores. Nesse caso, a qualquer preço dado, a quantidade demandada pelo mercado é a soma das quantidades demandadas por Darla e Dino.

A curva da demanda de mercado mostra como a quantidade demandada conjunta de todos os consumidores depende do preço de mercado desse bem. (Na maioria das vezes, quando os economistas referem-se à curva da demanda, referem-se à curva da demanda de mercado.) A curva da demanda de mercado é a soma horizontal das curvas de demanda individuais de todos os consumidores nesse mercado. Para saber o que significa soma horizontal, suponha, por um momento, que haja apenas dois consumidores de jeans, Darla e Dino. A curva da demanda individual de Dino, DDino , é mostrada no painel (b). O

painel (c) mostra a curva da demanda de mercado. A qualquer preço, a quantidade demandada pelo mercado é a soma das quantidades demandadas por Darla e Dino. Por exemplo, a um preço de $2 por jeans, Darla compra três calças por ano e Dino duas. Assim, a quantidade demandada pelo mercado é de cinco pares por ano. É óbvio que a quantidade demandada pelo mercado a qualquer preço é maior com a presença de Dino do que se Darla fosse o único consumidor. A quantidade demandada a qualquer preço seria ainda maior se fosse acrescentado um terceiro consumidor, em seguida, um quarto, e assim por diante. Então, o aumento no número de consumidores conduz a um aumento na demanda. Para rever os fatores que deslocam a demanda, consulte a Tabela 3-1.

Economia em ação Derrotando o trânsito Todas as grandes cidades têm problemas de trânsito e muitas autoridades locais tentam desencorajar o tráfego de veículos no centro congestionado da cidade. Se pensarmos que o percurso de automóvel até o centro da cidade é um bem que as pessoas consomem, podemos usar a análise econômica da demanda para examinar as políticas contra o trânsito. Uma estratégia comum é reduzir a demanda por viagens de automóveis, diminuindo o preço dos substitutos. Muitas áreas metropolitanas subsidiam serviços de ônibus e de transporte ferroviário, esperando levar as pessoas a deixar os carros em casa. Uma alternativa é aumentar o preço dos complementos: várias das principais cidades dos Estados Unidos impõem altos impostos sobre o estacionamento comercial em garagens e prazos curtos nos parquímetros, tanto para aumentar a receita como para desencorajar as pessoas de dirigir na cidade. Algumas grandes cidades – incluindo Cingapura, Londres, Oslo, Estocolmo e Milão – se dispuseram a adotar uma abordagem direta e politicamente controversa: reduzir o congestionamento, elevando o preço de dirigir. Sob “preço e congestionamento” (ou “taxa de congestionamento” no Reino Unido), é imposta uma taxa sobre os veículos que entram no centro da cidade durante o horário comercial. Os motoristas compram passes, que são debitados eletronicamente à medida que dirigem por estações de monitoramento. O cumprimento é monitorado por câmeras automáticas que fotografam as placas. Atualmente, Moscou está pensando em um esquema de taxa de congestionamento para enfrentar os piores engarrafamentos das grandes cidades, com 40% dos motoristas relatando engarrafamentos superiores a três horas. O custo diário atual de dirigir em Londres vai de £9 a £12 (cerca de $13 a $19). E os motoristas que não pagam e são apanhados pagam uma multa de £120 (cerca de $192) para cada transgressão. Não é surpresa que os estudos demonstraram que após a aplicação do preço do congestionamento, o tráfego, de fato, diminuiu. Na década de 1990, Londres tinha um dos piores tráfegos da Europa. A introdução da taxa de congestionamento em 2003

reduziu imediatamente o tráfego no centro da cidade de Londres aproximadamente 15%, com 21% de queda no tráfego total entre 2002 e 2006. E aumentou o uso de substitutos, como o transporte público, bicicletas, motos e carona. Nos Estados Unidos, o Departamento de Transportes dos Estados Unidos aplicaram programas pilotos em cinco locais para estudar o pedágio urbano. Alguns especialistas em transporte sugeriram a utilização de preços de congestionamento variáveis, com o aumento dos preços durante os horários de pico. Assim, embora o pedágio urbano possa ser controverso, parece estar ganhando aceitação lentamente.

Breve revisão ■ O modelo de oferta e demanda é um modelo de um mercado competitivo, no qual existem muitos compradores e vendedores de um mesmo bem ou serviço. ■ A tabela da demanda mostra como a quantidade demandada muda quando o preço varia. A curva da demanda ilustra essa relação. ■ A lei da demanda afirma que um preço mais elevado reduz a quantidade demandada. Assim, as curvas da demanda normalmente têm inclinação para baixo. ■ Um aumento na demanda leva a um deslocamento para a direita da curva da demanda: a quantidade demandada aumenta a qualquer preço dado. Uma diminuição na demanda leva a um deslocamento para a esquerda: a quantidade demandada cai a qualquer preço dado. Uma variação nos preços resulta em uma variação na quantidade demandada e em um movimento ao longo da curva da demanda. ■ Os cinco principais fatores que podem deslocar a curva da demanda são (1) mudança no preço de um bem relacionado, como um bem substituto ou um complementar, (2) renda, (3) gostos, (4) expectativas e (5) número de consumidores. ■ A curva da demanda de mercado é a soma horizontal das curvas de demanda individual de todos os consumidores do mercado.

Teste seu entendimento 3-1 1. Explique se cada um dos eventos seguintes representa (i) um deslocamento da curva da demanda ou (ii) um movimento ao longo da curva da demanda. a. O proprietário de uma loja descobre que os clientes estão dispostos a pagar mais por guarda-chuvas em dias de chuva. b. Quando XYZ Telecom, uma prestadora de serviços de telefonia de longa distância, ofereceu tarifas reduzidas nos fins de semana, o volume de chamadas aumentou acentuadamente no final da semana. c. As pessoas compram mais rosas na semana do Dia dos Namorados, embora os preços estejam mais altos do que em qualquer outro tempo durante o ano. d. O forte aumento do preço da gasolina leva muitas passoas a formar grupos em que uma pessoa dá carona, para reduzir a compra de gasolina. As respostas estão no fim do livro.

Tabela 3-1 Fatores que deslocam a demanda

A curva da oferta Algumas partes do mundo são especialmente adequadas à cultura do algodão, e os Estados Unidos é uma dessas. Mas, mesmo nos Estados Unidos, há terras mais adequadas ao cultivo do algodão que outras. A opção dos agricultores americanos de restringir o cultivo do algodão apenas aos locais ideais ou expandir às terras menos produtivas depende do preço que esperam obter pelo algodão. Além disso, existem muitas outras áreas no mundo onde o algodão pode ser cultivado, tais como Paquistão, Brasil, Turquia e China. A decisão dos agricultores de cultivar algodão nesses lugares depende, novamente, do preço. Portanto, assim como a quantidade de algodão que os consumidores desejam comprar depende do preço a ser pago, a quantidade que os produtores estão dispostos a produzir e vender – a quantidade ofertada – depende do preço oferecido a eles.

A tabela e a curva da oferta A tabela da Figura 3-6 mostra como a quantidade de algodão disponibilizado varia com o preço – ou seja, mostra uma tabela da oferta hipotética do algodão.

FIGURA 3-6 A tabela da oferta e a curva da oferta Os pontos da tabela de oferta de algodão foram representados para obter a curva da oferta, que mostra quanto de um bem os produtores estão dispostos a vender a qualquer preço. A curva e a tabela da oferta refletem o fato de que as curvas da oferta geralmente se inclinam para cima: a quantidade ofertada aumenta quando o preço sobe.

A tabela da oferta funciona da mesma forma que a tabela da demanda apresentada na Figura 3-1: nesse caso, a tabela mostra o número de libras que os produtores de algodão

estão dispostos a vender a preços diferentes. Ao preço de $0,50 a libra, os agricultores desejam vender apenas 8 bilhões de libras de algodão por ano. Por $0,75 a libra, estão dispostos a vender 9,1 bilhões de libras. A $1, desejam vender 10 bilhões de libras, e assim por diante. Da mesma forma que uma tabela da demanda pode ser representada graficamente pela curva da demanda, uma tabela da oferta também pode ser representada por uma curva da oferta, como mostrado na Figura 3-6. Cada ponto da curva representa uma entrada da tabela. Suponha que o preço do algodão sobe de $1 para $1,25. Podemos ver que a quantidade de algodão que os agricultores estão dispostos a vender sobe de 10 bilhões para 10,7 bilhões de libras. Essa é uma situação normal para uma curva da oferta, refletindo a proposição de que preços mais elevados conduzem a uma quantidade ofertada maior. Assim como as curvas da demanda normalmente são inclinadas para baixo, as curvas da oferta normalmente são inclinadas para cima: quanto maior o preço oferecido, os produtores estarão dispostos a vender mais de qualquer bem ou serviço.

Deslocamentos da curva da oferta Até recentemente, o algodão manteve-se relativamente barato ao longo das últimas décadas. Uma das razões é que a quantidade de terra cultivada do algodão expandiu mais de 35% de 1945 a 2007. No entanto, o principal fator responsável do barateamento do algodão foi o avanço na tecnologia de produção, com a produção por acre mais do que quadruplicada de 1945 a 2007. A Figura 3-7 ilustra esses eventos em termos de tabela e curva da oferta de algodão.

FIGURA 3-7 Um aumento na oferta A adoção de melhor tecnologia para o cultivo do algodão gerou um aumento da oferta – um aumento na quantidade ofertada a qualquer preço. Esse evento é representado pelas duas tabelas de oferta – uma mostra a oferta antes da adoção da nova tecnologia, a outra mostra a aferta após a adoção da nova tecnologia – e as curvas de oferta correspondentes. O aumento da oferta desloca a curva de oferta para a direita.

A tabela da Figura 3-7 mostra duas tabelas de oferta. A tabela de antes da melhoria de tecnologia da cultura do algodão é a mesma da Figura 3-6. A segunda mostra a oferta de algodão após a entrada de melhores tecnologias. Assim como uma mudança nas tabelas de demanda ocasiona um deslocamento da curva da demanda, uma mudança nas tabelas de oferta acarreta um deslocamento da curva da oferta – uma mudança da quantidade ofertada a qualquer preço. Isso é mostrado na Figura 3-7 pelo deslocamento da curva da oferta antes da adoção de novas tecnologias de cultivo de algodão S1, para a nova posição após a adoção de novas tecnologias de cultivo de algodão, S2. Observe que S2 situa-se à direita de S1, um reflexo do fato de que a quantidade ofertada aumenta a qualquer preço. Como na análise da demanda, é fundamental fazer a distinção entre tais deslocamentos da curva da oferta e movimentos ao longo da curva da oferta – mudanças na quantidade ofertada provenientes de alteração no preço. Podemos ver essa diferença na Figura 3-8. O movimento do ponto A para o ponto B é um movimento ao longo da curva da oferta: a quantidade ofertada sobe ao longo de S1 em razão de um aumento no preço. Um aumento no preço de $1 para $1,50 ocasiona um aumento na quantidade ofertada de 10 bilhões para 11,2 bilhões de libras de algodão. Mas a quantidade ofertada também pode aumentar quando o preço não é alterado, se houver um aumento na oferta – há um deslocamento da curva da oferta para a direita. Isso é demonstrado pelo deslocamento para a direita da curva da oferta de S1 para S2. Mantendo o preço constante em $1, a quantidade ofertada sobe de 10 bilhões de libras no ponto A em S1 para 12 bilhões de libras no ponto C em S2.

FIGURA 3-8 Movimento ao longo da curva da oferta versus deslocamento da curva da oferta O aumento na quantidade ofertada quando se passa do ponto A ao ponto B reflete um movimento ao longo da curva da oferta: é o resultado de um aumento no preço do bem. O aumento na quantidade ofertada quando se passa do ponto A ao C reflete um deslocamento da curva da oferta: é o resultado de um aumento na quantidade ofertada a qualquer preço dado.

Entendendo os deslocamentos da curva da oferta A Figura 3-9 ilustra as duas formas básicas de deslocamento da curva da oferta. Quando os economistas falam sobre um “aumento da oferta”, referem-se a um deslocamento para a direita da curva da oferta: a qualquer preço, os produtores ofertarão maior quantidade do bem que antes. Isso é mostrado na Figura 3-9 pelo deslocamento para a direita da curva da oferta original de S1 para S2. E quando os economistas falam sobre uma “diminuição na oferta”, referem-se a um deslocamento para a esquerda da curva da oferta: os produtores ofertarão uma menor quantidade do bem que antes a qualquer preço. Isso é representado pelo deslocamento para a esquerda de S1 para S3.

FIGURA 3-9 Deslocamentos da curva da oferta Qualquer evento que aumente a oferta desloca a curva da oferta para a direita, refletindo um aumento na quantidade ofertada a qualquer preço. Qualquer evento que diminua a oferta desloca a curva da oferta para a esquerda, refletindo uma queda na quantidade ofertada a qualquer preço.

Os economistas acreditam que os deslocamentos da curva da oferta de um bem ou serviço resultam principalmente de cinco fatores (apesar de, como no caso da demanda, existirem outras causas possíveis): ■ Mudança nos preços dos insumos. ■ Mudança nos preços dos bens ou serviços relacionados. ■ Mudança na tecnologia. ■ Mudança nas expectativas. ■ Mudança na quantidade de produtores.

Mudança nos preços dos insumos Para produzir um produto são necessários insumos. Por exemplo, para fazer sorvete de baunilha, é necessário favas de baunilha, creme, açúcar, e assim por diante. Um insumo é qualquer bem ou serviço utilizado para produzir outro bem ou serviço. Insumos, como os produtos, têm preços. E o aumento no preço de um insumo torna a produção do bem final mais cara para aqueles que produzem e vendem. Assim, os produtores estarão menos dispostos a fornecer o bem final a qualquer preço e a curva da oferta se deslocará para a esquerda. Por exemplo, o combustível é um custo importante para as companhias aéreas. Quando o preço do petróleo subiu entre 2007 e 2008, as companhias aéreas começaram a cortar as programações de voo e algumas abandonaram o negócio. Da mesma forma, a queda no preço de um insumo faz a produção do bem final ficar menos onerosa para os vendedores. Eles se dispõem a fornecer o bem a qualquer preço e a curva

da oferta se desloca para a direita.

Mudanças nos preços dos bens ou serviços relacionados Um único produtor muitas vezes produz uma mistura de bens e não um único produto. Por exemplo, uma refinaria produz gasolina do petróleo bruto, mas também produz óleo combustível para aquecimento e outros produtos da mesma matéria-prima. Quando um produtor vende vários produtos, a quantidade de quaisquer dos produtos que se dispõe a fornecer a qualquer preço depende do preço de outros produtos produzidos em conjunto. Esse efeito pode ocorrer em qualquer direção. Uma refinaria produzirá menos gasolina a qualquer preço, quando o óleo combustível para aquecimento aumentar de preço, deslocando a curva da oferta da gasolina para a esquerda. Mas irá fornecer mais gasolina a qualquer preço, quando o óleo combustível para aquecimento cair, deslocando a curva da oferta da gasolina para a direita. Isso significa que a gasolina e outros derivados do petróleo são substitutos na produção das refinarias. Por outro lado, em razão da natureza do processo produtivo, outros bens podem ser complementares na produção. Por exemplo, os produtores de petróleo – que perfuram poços – muitas vezes verificam que os poços de petróleo também produzem gás natural como subproduto da extração do óleo. Quanto maior o preço pelo qual uma empresa de petróleo possa vender o gás natural, tanto mais poços irá explorar e mais petróleo irá vender a qualquer preço. Como resultado, o gás natural é um complemento na produção de petróleo.

Mudanças na tecnologia Quando os economistas falam sobre “tecnologia”, não significa necessariamente tecnologia de ponta – referem-se a todos os métodos que as pessoas podem usar para transformar insumos em bens e serviços úteis. Nesse sentido, toda a sequência complexa de atividades que transformam o algodão do Paquistão em uma calça jeans pendurada no armário é tecnologia. Melhorias em tecnologia permitem que os produtores de gás usem menos insumos para produzir o mesmo produto. Quando uma tecnologia melhor fica disponível, reduzindo o custo de produção, a oferta aumenta e a curva da oferta se desloca para a direita. Como já mencionamos, a melhoria na tecnologia permitiu que os agricultores mais que quadruplicasse a produção de algodão por hectare plantado ao longo das últimas décadas. A melhora na tecnologia foi a principal razão, até recentemente, de o algodão se manter relativamente barato, mesmo com o crescimento da demanda mundial.

Mudanças nas expectativas Assim como mudanças nas expectativas podem deslocar a curva da demanda, também

podem deslocar a curva da oferta. Quando os produtores têm alguma opção sobre quando colocar à venda o produto, a mudança no preço esperado do produto no futuro pode levá-los a fornecer mais ou menos do bem hoje. Por exemplo, considere o fato de que a gasolina e outros derivados do petróleo muitas vezes são armazenados por períodos significativos nas refinarias antes de serem vendidos ao consumidor. Na verdade, estoques, normalmente, fazem parte da estratégia de negócio dos produtores. Sabendo que a demanda por gasolina é mais alta no verão, as refinarias normalmente estocam parte da gasolina produzida durante a primavera para vender no verão. Do mesmo modo, sabendo que a demanda por óleo para aquecimento sobe no inverno, normalmente estocam parte da produção de óleo para aquecimento para vender no inverno. Em cada caso, há uma decisão a ser assumida entre vender o produto agora e guardá-lo para vender posteriormente. A escolha do produtor depende da comparação entre o preço atual e o preço esperado no futuro. Esse exemplo ilustra como a mudança na expectativa pode alterar a oferta: a expectativa de aumento de preço de um bem ou serviço no futuro reduz a oferta atual, um deslocamento para a esquerda da curva da oferta. Mas a expectativa de queda no preço de um bem no futuro aumenta a oferta atual, um deslocamento para a direita da curva da oferta.

Mudança no número de produtores Assim como a variação no número de consumidores afeta a curva da demanda, a variação no número de produtores também afeta a curva da oferta. Vamos analisar a curva da oferta individual, examinando o painel (a) na Figura 3-10. A curva da oferta indivídual mostra a relação entre a quantidade ofertada e o preço de um produtor indivídual. Por exemplo, suponha que o sr. Silva seja um agricultor brasileiro que produz aldodão e que o painel (a) da Figura 3-10 mostre quantas libras de algodão ele irá fornecer por ano a qualquer preço. Então SSilva é a sua curva da oferta individual.

FIGURA 3-10 A Curva da oferta individual e a curva da oferta de mercado O painel (a) mostra a curva da oferta individual para o sr. Silva, SSilva, a quantidade de algodão que irá vender a qualquer preço. O painel (b) mostra a curva da oferta individual do sr. Liu, SLiu. O painel (c) mostra a curva da oferta de mercado com a quantidade de algodão ofertada por todos os produtores a um preço determinado. A curva da oferta de mercado é a soma horizontal das curvas de oferta individuais de todos os produtores.

A curva da oferta de mercado mostra como a quantidade total da oferta combinada de todos os produtores individuais no mercado depende do preço de mercado do bem. Assim como a curva da demanda de mercado é a soma horizontal das curvas de demanda individuais, a curva da oferta de mercado é a soma horizontal das curvas de oferta individuais de todos os produtores. Suponha, por um momento, que haja apenas dois produtores de algodão, o sr. Silva e o sr. Liu, um agricultor chinês. A curva da oferta individual do sr. Liu é mostrada no painel (b). O painel (c) mostra a curva da oferta de mercado. A quantidade ofertada para o mercado é a soma das quantidades fornecidas pelo sr. Silva e pelo sr. Liu a qualquer preço. Por exemplo, ao preço de $2 por libra, o sr. Silva fornece 3.000 libras de algodão por ano e o sr. Liu, 2.000 libras por ano, perfazendo 5.000 libras a quantidade ofertada para o mercado. É óbvio que a quantidade ofertada para o mercado a qualquer preço é maior com o sr. Liu presente do que seria se o sr. Silva fosse o único fornecedor. A quantidade ofertada a um determinado preço será ainda maior se adicionarmos um terceiro produtor, então, um quarto, e assim por diante. Assim, um aumento no número de produtores leva a um aumento na oferta e a um deslocamento da curva da oferta para a direita. Para uma análise dos fatores que deslocam a oferta, consulte a Tabela 3-2.

Economia em ação Só animais pequenos e de luxo Durante os anos 1970, a televisão britânica apresentava um show popular intitulado All Creatures Great and Small (Todas as criatuaras grandes e pequenas). Narrava o cotidiano real de James Herriot, um veterinário que trabalhava no campo e cuidava de vacas, porcos, ovelhas, cavalos e, ocasionalmente, também algum animal doméstico de estimação, muitas vezes em condições difíceis, na Inglaterra rural, durante os anos de 1930. O show deixava claro que, naquele tempo, o veterinário local era um membro

crítico nas comunidades agrícolas, salvando animais valiosos e ajudando os camponeses a sobreviver financeiramente. E também deixava claro que o sr. Herriot considerava que o trabalho de toda a vida tinha valhido a pena. Mas isso era naquela época, agora é diferente. De acordo com um artigo recente do New York Times, os Estados Unidos passaram por uma redução severa no número de veterinários agrícolas ao longo das últimas duas décadas. A origem do problema é a concorrência. Como aumentou o número de famílias com animais de estimação e também a renda dos seus donos, a demanda por médicos veterinários aumentou acentuadamente. Como resultado, os veterinários estão se afastando do negócio de cuidar de animais de fazenda para o negócio mais lucrativo de cuidar de animais de estimação. Como uma veterinária contou, ela iniciou a carreira cuidando de animais de fazenda, mas depois mudou de opinião: “Uma cesariana em uma vaca custa $50 e em uma chihuahua, $300. É o dinheiro. Odeio dizer, mas é isso.” Como podemos traduzir isso em curvas da oferta e demanda? Serviços veterinários para fazendas e serviços veterinários para animais de estimação são como gasolina e óleo combustível: são bens relacionados que são substitutos na produção. Um veterinário normalmente se especializa em um ou outro tipo de prática, e, muitas vezes, essa decisão vai depender do preço corrente do serviço. O crescimento da população de animais de estimação dos Estados Unidos, combinado com a crescente disposição dos donos amorosos de gastar no cuidado com seus companheiros tem impulsionado o preço dos serviços veterinários para animais. Como resultado, cada vez menos veterinários têm dedicado sua prática aos animais na fazenda. Assim, a curva de oferta de veterinários nas fazendas se deslocou para a esquerda – menos veterinários nas fazendas estão oferecendo seus serviços a qualquer preço. No final, os agricultores entenderam que esssa era uma questão financeira; havia menos veterinários, porque não estavam dispostos a pagar mais. Como disse um fazendeiro, que recentemente perdeu uma vaca valiosa devido à falta de um veterinário: “Quando não há nada que se possa fazer, o remédio é aceitar como um gasto do negócio. Você acostuma. Se tem animais vivos, mais cedo ou mais tarde terá animais mortos.” (Embora se deva notar que essse fazendeiro poderia ter optado em pagar mais por um veterinário, que então teria salvado a sua vaca.)

Breve revisão ■ A tabela de oferta mostra como a quantidade ofertada depende do preço. A curva da oferta ilustra essa relação. ■ Curvas de oferta normalmente têm inclinação para cima: a um preço mais elevado, os produtores estão dispostos a oferecer maior quantidade de um bem ou serviço. ■ A variação no preço resulta em um movimento ao longo da curva da oferta e uma mudança na quantidade ofertada. ■ Aumentos ou diminuições na oferta levam ao deslocamento da curva da oferta. Um aumento na oferta é um deslocamento para a direita: a quantidade ofertada aumenta a qualquer preço dado. Uma redução na oferta é um deslocamento para a esquerda: a

quantidade ofertada cai a qualquer preço. ■ Os cinco principais fatores que podem deslocar a curva da oferta são mudanças: (1) no preço dos insumos, (2) no preço dos bens e serviços relacionados, (3) em tecnologia (4), nas expectativas e (5) no número de produtores. ■ A curva da oferta de mercado é a soma horizontal das curvas de oferta individual de todos os produtores do mercado.

Teste seu entendimento 3-2 1. Explique se cada um dos eventos seguintes representa (i) um deslocamento da curva da oferta ou (ii) um movimento ao longo da curva da oferta. a. Mais proprietários colocaram casas à venda durante um boom imobiliário que fez o preço das casas subir. b. Muitos produtores de morangos abrem estandes temporários na estrada durante a época de colheita, apesar de os preços geralmente estarem baixos nesse momento. c. Imediatamente após o início do ano escolar, as cadeias de lanchonetes precisam aumentar os salários, que representa o preço do trabalho, para atrair empregados. d. Muitos trabalhadores da construção civil se mudam temporariamente para áreas atingidas por furacões, atraídos por salários mais altos. e. Desde que novas tecnologias tornaram possível a construção de grandes navios de cruzeiro (cuja manutenção por passageiro é menor), as linhas de cruzeiros do Caribe passaram a oferecer mais cabines do que antes a preços mais baixos. As respostas estão no fim do livro.

Tabela 3-2 Fatores que deslocam a oferta

Oferta, demanda e equilíbrio Cobrimos os três elementos essenciais do modelo de oferta e demanda: a curva da demanda, a curva da oferta e o conjunto de fatores que deslocam cada curva. O próximo passo será reunir esses elementos para mostrar que podem ser usados para prever o preço efetivo de compra e venda de um bem, assim como a quantidade real transacionada. O que determina o preço pelo qual um bem ou serviço é comprado e vendido? O que determina a quantidade transacionada de um bem ou serviço? No Capítulo 1 aprendemos o princípio geral de que os mercados se movem em direção ao equilíbrio, uma situação em que nenhum indivíduo ficaria em condição melhor caso decidisse por uma ação diferente. No caso de um mercado competitivo, temos que ser mais específicos: um mercado competitivo está em equilíbrio quando o preço passou para um nível em que a quantidade demandada de um bem é igual à quantidade ofertada desse bem. A esse preço, nenhum vendedor individual poderia melhorar a situação oferecendo vender uma quantidade maior ou menor do bem e nenhum comprador individual poderia melhorar sua situação propondo comprar uma quantidade maior ou menor do bem. Em outras palavras, no equilíbrio de mercado, o preço moveu para um nível que corresponde exatamente à quantidade demandada pelos consumidores com a quantidade ofertada pelos vendedores.

Armadilhas Comprado e vendido? Falamos sobre o preço pelo qual um bem ou serviço é comprado e também vendido, tal como se os dois fossem a mesma coisa. Mas não devemos fazer uma distinção entre o preço recebido pelo vendedor e o pago pelos compradores? Em princípio, sim; mas é conveniente sacrificar um pouco de realismo em prol do interesse da simplicidade – deixando de lado a diferença entre o preço recebido pelos vendedores e o pago pelos compradores. Na realidade, muitas vezes há um intermediário – alguém que faz compradores e vendedores se encontrarem. O intermediário compra dos fornecedores, em seguida vende aos consumidores com um adicional de preço – por exemplo, os comerciantes de algodão que compram dos produtores de algodão e vendem para as fábricas têxteis – que transformam o algodão em roupas para nós. Os agricultores geralmente recebem menos do que as fábricas têxteis, que, eventualmente, compram seus fardos de algodão. Não há mistério: a diferença é como os comerciantes de algodão ou qualquer outro intermediário ganha a vida. Contudo, em muitos mercados, a diferença entre o preço de compra e de venda é muito pequena. Portanto, não é tão irreal pensar no preço pago pelos compradores como sendo o mesmo que o recebido pelos vendedores. E é isso que vamos analisar neste capítulo.

O preço que corresponde à quantidade ofertada e à quantidade demandada é o preço de equilíbrio; a quantidade comprada e vendida a esse preço é a quantidade de equilíbrio. O preço de equilíbrio é conhecido também como o preço que “ajusta o mercado”, garantindo que cada comprador disposto a pagar esse preço encontre um vendedor disposto a vender a esse preço, e vice-versa. Então, como encontramos o preço e a quantidade de equilíbrio?

Encontrando o preço e a quantidade de equilíbrio A maneira mais fácil de determinar o preço e a quantidade de equilíbrio em um mercado é colocar a curva da oferta e a curva da demanda no mesmo diagrama. Como a curva da oferta mostra a quantidade ofertada a qualquer preço e a curva da demanda mostra a quantidade demandada a qualquer preço, o preço em que as duas curvas se cruzam é o preço de equilíbrio: o preço ao qual a quantidade ofertada é igual à quantidade demandada. A Figura 3-11 combina a curva da demanda da Figura 3-1 e a curva da oferta da Figura 3-6. E a interseção no ponto E é o equilíbrio desse mercado; $1 é o preço de equilíbrio e 10 bilhões de libras é a quantidade de equilíbrio.

FIGURA 3-11 Equilíbrio de mercado O equilíbrio de mercado ocorre no ponto E, onde a curva da oferta e a curva da demanda se cruzam. Em equilíbrio, a quantidade demandada é igual à quantidade ofertada. Nesse mercado, o preço de equilíbrio é $1 por libra e a quantidade de equilíbrio é de 10 bilhões de libras por ano.

Queremos confirmar que o ponto E se ajusta à definição de equilíbrio. Ao preço de $1 por libra, os produtores de algodão estão dispostos a vender 10 bilhões de libras por ano e os consumidores de algodão querem comprar 10 bilhões de libras por ano. Então, ao preço de $1 a libra, a quantidade ofertada de algodão é igual à quantidade demandada. Observe que a qualquer outro preço o mercado não se ajustaria: nem todo o comprador seria capaz de encontrar um vendedor disposto, ou vice-versa. Mais especificamente, se o preço fosse mais de $1, a quantidade ofertada excederia a quantidade demandada; se o preço fosse inferior a $1, a quantidade demandada excederia a quantidade ofertada. O modelo de oferta e demanda, portanto, prevê que dadas as curvas da demanda e da oferta mostradas na Figura 3-11, 10 bilhões de libras de algodão iriam mudar de mãos a um preço de $1 por libra. Mas como poderemos ter certeza de que o mercado chegará ao preço de equilíbrio? Começamos por responder a três perguntas simples: 1. Por que todas as vendas e compras em um mercado ocorrem ao mesmo preço? 2. Por que o preço de mercado cai se estiver acima do preço de equilíbrio? 3. Por que o preço de mercado sobe se estiver abaixo do preço de equilíbrio?

Por que todas as vendas e compras em um mercado ocorrem ao mesmo preço? Existem alguns mercados onde o mesmo bem pode ser vendido a vários preços, dependendo de quem está vendendo ou de quem está comprando. Por exemplo, já aconteceu de você comprar uma lembrança em uma “loja para turistas” e, depois, ver o mesmo item à venda em outro lugar (às vezes até mesmo na loja ao lado) por um preço mais baixo? Como os turistas não sabem quais as lojas que oferecem as melhores ofertas e não têm tempo para comparações, os vendedores em áreas turísticas podem cobrar preços diferentes pelo mesmo bem. Mas em qualquer mercado em que tanto compradores como vendedores estiverem presentes por algum tempo, as vendas e as compras tendem a convergir para um preço geralmente uniforme, de modo que podemos falar com segurança sobre o preço de mercado. É fácil perceber o motivo. Suponha que um vendedor tenha pedido a um comprador potencial um preço visivelmente acima do que o comprador sabia que outras pessoas estavam pagando. É claro que o comprador ficaria em situação melhor se fosse comprar em outro lugar – a menos que o vendedor estivesse disposto a oferecer um negócio melhor. Por outro lado, um vendedor não estaria disposto a vender um bem por menos do que o montante que sabia que a maioria dos compradores estava pagando; ele estaria em melhor situação se esperasse por um cliente razoável. Então, em qualquer mercado bem estabelecido, todos os vendedores e todos os compradores pagam aproximadamente o mesmo preço. Isso é o que chamamos de preço de mercado.

Por que o preço de mercado cai se está acima do preço de equilíbrio?

Suponhamos que as curvas da oferta e demanda sejam as da Figura 3-11, mas que o preço de mercado esteja acima do nível de equilíbrio de $1. Digamos que esteja em $1,50. Essa situação é ilustrada na Figura 3-12. Por que o preço não pode ficar nesse patamar?

FIGURA 3-12 Preço acima do seu nível de equilíbrio cria excedente O preço de mercado de $1,50 está acima do preço de equilíbrio de $1. Isso cria um excedente: a um preço de $1,50, os produtores desejariam vender 11,2 bilhões de libras, mas os consumidores estão dispostos a comprar apenas 8,1 bilhões de libras, de modo que há um excedente de 3,1 bilhões de libras. Esse excedente irá empurrar o preço para baixo até que ele atinja o preço de equilíbrio de $1.

Como mostra a figura, ao preço de $1,50 haveria mais libras de algodão disponíveis do que os consumidores desejariam comprar: 11,2 bilhões de libras contra 8,1 bilhões de libras. A diferença de 3,1 bilhões de libras é o excedente – também conhecido como excedente de oferta – de algodão a $1,50. Esse excedente significa que alguns produtores de algodão estão frustrados: ao preço atual, não conseguem encontrar consumidores que desejem comprar seu algodão. O excedente oferece um incentivo aos vendedores supostamente frustrados a oferecer a um preço mais baixo a fim de atrair negócios de outros vendedores e incentivar mais consumidores a comprar. O resultado desse corte no preço será o de empurrar o preço prevalecente para baixo até que alcance o preço de equilíbrio. Portanto, o preço de um bem cairá sempre que houver excedente – ou seja, sempre que o preço de mercado estiver acima do nível de equilíbrio.

Por que o preço de mercado aumenta se está abaixo do preço de equilíbrio? Agora, suponha que o preço esteja abaixo do nível de equilíbrio, digamos, a $0,75 por libra, como mostrado na Figura 3-13. Nesse caso, a quantidade demandada de 11,5 bilhões de libras ultrapassa a quantidade ofertada de 9,1 bilhões de libras, o que implica que há compradores que não conseguem encontrar algodão: há escassez também conhecida como demanda em excesso, de 2,4 bilhões de libras.

FIGURA 3-13 Preço abaixo do nível de equilíbrio cria escassez O preço de mercado de $0,75 está abaixo do preço de equilíbrio de $1. Isso cria escassez: os consumidores querem comprar 11,5 bilhões de libras, mas apenas 9,1 bilhões de libras está à venda, assim há uma escassez de 2,4 bilhões de libras. Essa escassez irá empurrar o preço para cima até que atinja o preço de equilíbrio de $1. Price of cotton (per pound) = Preço do algodão (por libra) = Quantidade de algodão (bilhões de libras)

Se há escassez, há compradores potenciais frustrados que querem comprar algodão, mas não conseguem encontrar vendedores dispostos a vender ao preço atual. Nessa situação, ou os compradores vão oferecer mais do que o preço prevalecente ou os vendedores irão perceber que podem cobrar preços mais elevados. De qualquer maneira, o resultado é elevar o preço vigente. Esse tipo de leilão de preços acontece sempre que há escassez – e haverá escassez sempre que o preço estiver abaixo do nível de equilíbrio. Assim, o preço de mercado sempre irá subir se estiver abaixo do nível de equilíbrio.

O uso do equilíbrio para descrever os mercados Vimos agora que o mercado tende a ter um preço único, o preço de equilíbrio. Assim, se o preço de mercado estiver acima do nível de equilíbrio, o excedente que se segue fará compradores e vendedores tomarem medidas que reduzam o preço. E se o preço de mercado estiver abaixo do nível de equilíbrio, a escassez resultante fará compradores e vendedores tomarem medidas que aumentem o preço. Assim, o preço de mercado sempre se move em direção ao preço de equilíbrio, o preço pelo qual não há excedente nem escassez.

Economia em ação O preço do ingresso O equilíbrio de mercado, conforme a teoria, é bastante igualitário, pois o preço de equilíbrio se aplica a todos. Ou seja, todos os compradores pagam o mesmo preço – o preço de equilíbrio – e todos os vendedores recebem esse mesmo preço. Mas isso é realista? O mercado de ingressos para concertos é um exemplo que parece contradizer a teoria – há um preço de bilheteria e outro (normalmente muito mais elevado) para o mesmo evento em sites, onde as pessoas que já têm ingressos revende-os, como StubHub.com ou eBay. Por exemplo, compare o preço de bilheteria de um concerto recente de Drake em Miami, Florida, com o preço na StubHub.com para assentos no mesmo local: $88,50 contra $155. Ainda que possa parecer intrigante, não há contradição, se levarmos em conta os custos de oportunidade e os gostos. Para megaeventos, a compra de ingressos na bilheteria significa espera em longas filas. Os compradores de ingressos que usam revendedores da Internet decidiram que o custo de oportunidade do seu tempo é muito alto para ser gasto em filas de espera. E nos grandes eventos em que há tanto vendas online como em bilheteria pelo mesmo preço, as primeiras acabam em minutos. Nesse caso, algumas pessoas que querem ir ao concerto, mas perderam a oportunidade de comprar on-line a preços mais baratos, estão dispostas a pagar um preço mais elevado aos revendedores da Internet. E não é só isso – ao passar pelo site StubHub.com, pode-se comprovar que o mercado realmente se move para o equilíbrio. Você irá notar que os preços cobrados pelos diferentes vendedores para assentos próximos uns dos outros também são muito próximos: $184,99 a $185 para assentos na plateia central do concerto de Drake. Como o modelo de mercado competitivo prevê, unidades do mesmo bem acabam por ser vendidas pelo mesmo preço. E os preços se movem em resposta à demanda e à oferta. De acordo com um artigo no New York Times, ingressos no StubHub.com podem ser vendidos por menos do que o valor nominal para eventos de pouca repercussão, mas os preços podem chegar às alturas para eventos de alta popularidade (o artigo cita um preço de $3.530 para um concerto da Madonna). Até o executivo principal do

StubHub.com diz que seu site é “a personificação da economia da oferta e demanda”. Assim, a teoria dos mercados competitivos não é apenas especulação. Se quiser experimentar, tente comprar bilhetes para um concerto.

Breve revisão ■ O preço em um mercado competitivo move-se para o preço de equilíbrio, ou preço que ajusta o mercado, em que a quantidade ofertada é igual à quantidade demandada. Essa representa a quantidade de equilíbrio. ■ Todas as compras e vendas em um mercado ocorrem ao mesmo preço. Se estiver acima do nível de equilíbrio, há um excedente que impulsiona o preço para baixo. Se estiver abaixo do nível de equilíbrio, há escassez que impulsiona o preço para cima.

Teste seu entendimento 3-3 1. Nos três casos seguintes, o mercado inicialmente está em equilíbrio. Explique as mudanças na oferta e demanda que resultam de cada evento. Após cada evento descrito a seguir, haverá excedente ou escassez ao preço de equilíbrio original? Como resultado, o que acontecerá com o preço de equilíbrio? a. 2009 foi um ano muito bom para os produtores de vinho da Califórnia, que tiveram uma colheita recorde. b. Depois de um furacão, os hotéis da Florida verificam que muitas pessoas cancelam as férias, deixando-os com quartos vazios. c. Depois de uma forte nevasca, muitas pessoas querem comprar removedor de neve de segunda mão na loja de ferragens local. As respostas estão no fim do livro.

Mudanças na oferta e demanda Em 2010, a inundação no Paquistão foi uma surpresa, ao contrário do consequente aumento no preço do algodão. Repentinamente, houve uma queda na oferta: a quantidade de algodão disponível a qualquer preço caiu. Como previsto, uma queda na oferta elevou o preço de equilíbrio. A inundação no Paquistão é um exemplo de um evento que deslocou a curva da oferta de um bem sem ter muito efeito sobre a curva da demanda. Há muitos desses eventos. Também há eventos que deslocam a curva da demanda sem deslocar a curva da oferta. Por exemplo, um relatório médico que informe que o chocolate faz bem à saúde aumenta a demanda por chocolate, mas não afeta a oferta. Ou seja, muitas vezes há eventos que deslocam a curva da oferta ou da demanda, mas não as duas. Por isso convém analisar o que acontece em cada caso. Vimos que quando a curva se desloca, o preço e a quantidade de equilíbrio mudam. Iremos agora nos concentrar na análise de como o deslocamento de uma curva altera o preço e a quantidade de equilíbrio.

O que acontece quando a curva da demanda se desloca Algodão e poliéster são substitutos: se o preço do poliéster sobe, a demanda por algodão aumenta e se o preço do poliéster diminui, a demanda por algodão diminui. Mas como o preço do poliéster afeta o equilíbrio do mercado do algodão? A Figura 3-14 mostra o efeito de um aumento no preço do poliéster no mercado de algodão. O aumento de preço do poliéster aumenta a demanda por algodão. O ponto E1 mostra o equilíbrio que corresponde à curva da demanda original, com P1 o preço de equilíbrio e Q1 a quantidade de equilíbrio comprada e vendida.

FIGURA 3-14 Equilíbrio e deslocamentos da curva da demanda O equilíbrio original no mercado de algodão está em E1, na interseção da curva da oferta com a curva da demanda original, D1. Um aumento no preço do poliéster, um substituto, desloca a curva da demanda para a direita para D2. A escassez existe no preço original, P1, fazendo tanto o preço como a quantidade ofertada aumentarem, um movimento ao longo da curva da oferta. Um novo equilíbrio é atingido em E2, com um maior preço de equilíbrio, P2 e uma maior quantidade de equilíbrio, Q2. Quando a demanda por um bem ou serviço aumenta, o preço e a quantidade de equilíbrio do bem ou serviço aumentam.

Um aumento na demanda é indicado por um deslocamento da curva da demanda para a direita de D1 para D2. Ao preço original P1, esse mercado não está mais em equilíbrio: ocorre escassez porque a quantidade demandada excede a ofertada. Então, o preço do algodão aumenta e gera um aumento na quantidade ofertada, um movimento ascendente ao longo da curva da oferta. Um novo equilíbrio é estabelecido no ponto E2, com um preço equilíbrio mais elevado, P2, e uma quantidade de equilíbrio mais elevada, Q2. Essa sequência de eventos reflete um princípio geral: quando a demanda por um bem ou serviço aumenta, o preço e a quantidade de equilíbrio do bem ou serviço também aumenta. E o que aconteceria no caso inverso, uma queda no preço do poliéster? Uma queda no preço do poliéster reduz a demanda de algodão, deslocando a curva da demanda para a esquerda. Ao preço original, ocorre um excedente, pois a quantidade ofertada excede a demandada. O preço cai e leva a uma redução da quantidade ofertada, resultando em um preço e uma quantidade de equilíbrio mais baixo. Isso ilustra outro princípio geral: quando a demanda de um bem ou serviço cai, o preço e a quantidade de equilíbrio caem. Para resumir como um mercado responde a uma mudança na demanda: um aumento na demanda leva a um aumento tando no preço como na quantidade de equilíbrio. A redução na demanda ocasiona uma queda, tanto no preço como na quantidade de equilíbrio.

O que acontece quando a curva da oferta se desloca No mundo real, é um pouco mais fácil prever mudanças na oferta do que na demanda. Os fatores físicos que afetam a oferta, como o clima ou a disponibilidade de insumos, são mais fáceis de captar do que os gostos inconstantes que afetam a demanda. Ainda assim, tanto na oferta como na demanda, o que melhor podemos prever são os efeitos dos deslocamentos da curva da oferta. Como mencionamos na história introdutória deste capítulo, as inundações devastadoras no Paquistão reduziram drasticamente a oferta de algodão em 2010. A Figura 3-15 mostra como esse deslocamento afetou o equilíbrio do mercado. O equilíbrio original está em E1, o ponto de interseção entre a curva de oferta original, S1 e a curva de demanda com o preço de equilíbrio P1 e a quantidade de equilíbrio Q1. Como resultado do mau tempo, a oferta cai e S1 se desloca para a esquerda para S2. Ao preço original P1, existe uma escassez de algodão e o mercado já não está em equilíbrio. A escassez provoca um aumento no preço e uma queda na quantidade demandada, um movimento ascendente ao longo da curva da demanda. O novo ponto de equilíbrio está em E2 com um preço de equilíbrio P2 e uma quantidade de equilíbrio Q2. No novo equilíbrio, E2, o preço é maior e a quantidade de equilíbrio, menor do que antes. Pode-se definir como um princípio geral: quando a oferta de um bem ou serviço diminui, o preço de equilíbrio do bem ou serviço sobe e a quantidade de equilíbrio do bem ou serviço diminui.

FIGURA 3-15 Equilíbrio e deslocamentos da curva da oferta O equilíbrio original no mercado de algodão está em E1. O mau tempo nas áreas de cultivo de algodão provoca uma queda na oferta de algodão e desloca a curva da oferta para a esquerda de S1 para S2. Um novo equilíbrio é estabelecido em E2, com um preço de equilíbrio maior, P2 e uma quantidade de equilíbrio menor, Q2.

O que acontece com o mercado quando a oferta aumenta? Um aumento da oferta provoca um deslocamento da curva da oferta para a direita. Ao preço original, agora há um excedente. Como resultado, o preço de equilíbrio cai e a quantidade demandada aumenta. Isso descreve o que aconteceu no mercado do algodão à medida que a nova tecnologia aumentou a produtividade do algodão. Podemos formular um princípio geral: quando a oferta de um bem ou serviço aumenta, o preço de equilíbrio cai e a quantidade de equilíbrio do bem ou serviço aumenta. Para resumir como o mercado responde a uma mudança na oferta: um aumento na oferta causa uma queda no preço de equilíbrio e a um aumento na quantidade de equilíbrio. Uma redução na oferta provoca um aumento no preço de equilíbrio e a uma queda na quantidade de equilíbrio.

Armadilhas Que curva é essa, afinal? Quando o preço de um bem ou serviço varia, em geral, podemos dizer que isso reflete uma mudança na oferta ou demanda. Mas é fácil ficar confuso sobre qual delas será. Uma dica útil é a direção da mudança na quantidade. Se a quantidade vendida muda na mesma direção que o preço – por exemplo, se tanto o preço como a quantidade sobe – isso sugere que foi a curva da demanda que se deslocou. Se o preço e a quantidade se

movem em direção oposta, é provável que seja um deslocamento da curva da oferta.

Deslocamentos simultâneos das curvas da oferta e da demanda Finalmente, às vezes acontece de os eventos deslocarem tanto a curva da demanda como da oferta ao mesmo tempo. Isso não é incomum. Na vida real, as curvas da oferta e da demanda de muitos bens e serviços normalmente se deslocam com frequência, pois o ambiente econômico muda continuamente. A Figura 3-16 ilustra dois exemplos de deslocamentos simultâneos. Nos dois painéis há um aumento da demanda – ou seja, um deslocamento para a direita da curva da demanda, de D1 para D2 – digamos, por exemplo, que represente um aumento na demanda de algodão, devido à mudança nos gostos. Observe que o deslocamento para a direita no painel (a) é maior do que o do painel (b): podemos supor que o painel (a) represente um ano em que mais pessoas do que de hábito escolheram comprar jeans e camisetas de algodão e o painel (b) represente um ano normal. Os dois painéis também mostram uma diminuição na oferta – isto é, um deslocamento para a esquerda da curva da oferta de S1 para S2. Além disso, observe também que o deslocamento para a esquerda no painel (b) é relativamente maior do que o do painel (a): pode-se supor que o painel (b) represente o efeito do mau tempo no Paquistão em particular e o painel (a) represente o efeito da ocorrência de um evento climático muito menos severo.

FIGURA 3-16 Deslocamentos simultâneos das curvas da demanda e da oferta No painel (a), há um deslocamento simultâneo da curva da demanda para a direita e da curva da oferta para esquerda. Aqui, o aumento na demanda é relativamente maior do que a queda na oferta, de modo que sobe tanto o preço de equilíbrio como a quantidade de equilíbrio. No painel (b) há também um deslocamento simultâneo da curva da demanda para a direita e da curva da oferta para a esquerda. Aqui, a queda na oferta é relativamente maior do que o aumento na demanda, de modo que o preço de equilíbrio sobe e a quantidade de equilíbrio cai.

Nos dois casos, o preço de equilíbrio sobe de P1 para P2, à medida que o equilíbrio

move-se de E1 para E2. Mas o que acontece com a quantidade de equilíbrio, a quantidade de algodão comprada e vendida? No painel (a) o aumento na demanda é grande em relação à redução na oferta e, como resultado, a quantidade de equilíbrio sobe. No painel (b), a redução na oferta é grande em relação ao aumento na demanda e, como resultado, a quantidade de equilíbrio cai. Ou seja, quando a demanda aumenta e a oferta cai, a quantidade comprada e vendida de fato pode baixar ou subir, dependendo do quanto se deslocaram as curvas da oferta e da demanda. Em geral, quando demanda e oferta se deslocam em sentidos opostos, não se pode prever qual o resultado final sobre a quantidade comprada e vendida. O que podemos dizer é que a curva que se desloca de forma desproporcional em relação à outra terá um efeito desproporcionadamente maior sobre a quantidade comprada e vendida. Dito isso, podemos fazer a seguinte previsão sobre o resultado quando as curvas de oferta e demanda se deslocam em direções opostas: ■ Quando a demanda aumenta e a oferta diminui, o preço de equilíbrio aumenta, mas a mudança na quantidade de equilíbrio é ambígua. ■ Quando a demanda diminui e a oferta aumenta, o preço de equilíbrio cai, mas a mudança na quantidade de equilíbrio é ambígua. Mas suponha que as curvas da oferta e demanda se desloquem na mesma direção. Antes de 2010, foi esse o caso no mercado global de algodão, onde tanto a oferta como a demanda aumentaram ao longo da última década. Podemos prever seguramente variações de preço e de quantidade?

Para mentes curiosas Agruras na passarela Provavelmente você não se preocupa muito com os desfiles e as agruras das modelos na indústria da moda. Na verdade, a maioria delas não leva uma vida de glamour, com exceção do caso de poucas de muita sorte, hoje, a vida de modelo de moda pode ser muito difícil e pouco lucrativa. E tudo por causa da oferta e da demanda. Considere o caso de Bianca Gomez, uma menina esbelta de 18 anos de idade, de Los Angeles, olhos verdes, cabelos cor de mel, pele impecável, cuja experiência foi detalhada em um artigo do Wall Street Journal. Bianca começou a trabalhar como modelo ainda no último ano do ensino médio, ganhando cerca de $30.000. Tendo atraído a atenção de alguns bons estilistas de Nova York, ela se mudou para lá após a formatura, com a esperança de conseguir emprego nas principais casas de moda e oportunidade de fotos para as principais revistas de moda. Mas, uma vez em Nova York, Bianca entrou no mercado global das modelos. E não foi nada agradável. Devido à facilidade de transmissão de fotos pela Internet e o custo relativamente baixo das viagens internacionais, os principais centros de moda, como Nova York e Milão, na Itália, hoje em dia estão inundados de belas jovens vindas de todo o mundo, ansiosas em vencer como modelo. Embora as da Rússia, do Leste Europeu e do Brasil sejam particularmente numerosas, há algumas que vêm de lugares como

Cazaquistão e Moçambique. Como disse um estilista: “Há tantas modelos agora.. .. são milhares todos os anos.” Voltando ao nosso (menos glamoroso) modelo econômico de oferta e demanda, o afluxo das aspirantes a modelo de moda, vindas de todo o mundo, pode ser representado por um deslocamento para a direita da curva da oferta no mercado de modelos de moda, o que, por si só, tende a baixar o preço pago às modelos. E essa não é a única mudança no mercado. Infelizmente para Bianca e outras como ela, os gostos de muitos dos que contratam modelos também mudou. Nos últimos anos, as revistas de moda começaram a dar preferência a mostrar celebridades como Angelina Jolie em suas páginas em vez de modelos anônimas, acreditando que os leitores se liguem melhor em um rosto familiar. Isso equivale a um deslocamento para a esquerda da curva da demanda para modelos, o que de novo reduziu o preço de equilíbrio pago a elas. Isto foi comprovado com a experiência de Bianca. Depois de pagar o aluguel, transporte, todas as despesas para ser modelo e 20% de seus rendimentos para sua agência de modelos (que faz a sua publicidade para clientes potenciais e agenda seu trabalho), Bianca descobriu que mal sobrava alguma coisa. Às vezes, teve até que avançar na poupança do tempo de escola. Para economizar dinheiro, comia macarrão e cachorroquente. Ia aos testes, muitas vezes, quatro ou cinco por dia, de metrô. Como relatou o Wall Street Journal, Bianca estava pensando seriamente em abandonar a carreira de modelo por completo. Nessa situação, a mudança na quantidade comprada e vendida pode ser prevista, mas a mudança de preço é ambígua. Os dois resultados possíveis quando as curvas da oferta e demanda se deslocam no mesmo sentido (que você deve verificar por si mesmo) são os seguintes: ■ Quando tanto a demanda como a oferta aumenta, a quantidade de equilíbrio sobe, mas a mudança no preço de equilíbrio é ambígua. ■ Quando tanto a demanda como a oferta diminuem, a quantidade de equilíbrio cai, mas a mudança no preço de equilíbrio é ambígua.

Economia em ação O aumento no preço do arroz em 2008 Em abril de 2008, o preço do arroz exportado para a Tailândia – uma referência mundial do preço do arroz comercializado nos mercados internacionais passou de $360 por tonelada, no início de 2008, para $950 por tonelada. Em poucas horas, o preço do arroz nas principais bolsas de comércio de arroz ao redor do mundo estava quebrando recordes. Os fatores por trás do aumento no preço do arroz eram tanto relacionados com a demanda como com a oferta: a renda crescente na China e na Índia, tradicionalmente grandes consumidores de arroz, a seca na Austrália e a infestação de pragas no Vietnã. Mas foi o armazenamento pelos agricultores, a compra devido ao pânico dos consumidores e a proibição de exportação pela Índia, um dos maiores exportadores de

arroz, que explicou a expansão sem precedentes do aumento de preço. Em grande parte da Ásia os governos são os maiores compradores de arroz. Compram arroz dos produtores, que são pagos pelo preço fixado pelo governo, e, em seguida, vendem para os pobres a preços subsidiados (preços mais baixos do que o preço de equilíbrio de mercado). No passado, o preço fixado pelo governo era melhor do que qualquer preço que os agricultores pudessem obter no mercado privado. Agora, até mesmo os agricultores nas zonas rurais da Ásia têm acesso à Internet e podem acompanhar as cotações nas bolsas de valores globais de arroz. E como os preços do arroz subiram em resposta às mudanças na oferta e na demanda, os agricultores começaram a ficar insatisfeitos com o preço do governo e, então, armazenaram arroz acreditando poder obter preços mais elevados. Essa crença se concretizou, uma vez que a reserva deslocou a curva da oferta para a esquerda e aumentou o preço do arroz ainda mais. Ao mesmo tempo, a Índia, um dos maiores produtores de arroz, suspendeu as exportações de arroz, para proteger os consumidores domésticos, causando ainda outro dslocamento da curva da oferta para a esquerda e empurrando o preço do arroz ainda mais alto. Tal como mostrado na Figura 3-17, os efeitos ainda se espalharam para os Estados Unidos, que ainda não tinham sofrido queda na produção de arroz. Os consumidores de arroz americanos ficaram alarmados quando os grandes varejistas limitaram o volume de compras dos consumidores em resposta à turbulência no mercado mundial de arroz.

FIGURA 3-17 Elevação do preço do arroz nos Estados Unidos, 2003-2011 Fonte: U.S. Bureau of Labor Statistics.

Temerosos de pagar preços ainda mais elevados no futuro, o pânico se estabeleceu.

Como uma mulher que estava comprando 14 libras de arroz disse: “Nem sequer comemos muito arroz. Mas li algo no jornal e decidi comprar.” Em San Francisco, alguns mercados asiáticos relataram corrida para o arroz. E, como era de se esperar, isso levou a preços ainda mais altos, à medida que as compras desencadeadas pelo pânico deslocaram a curva da demanda para a direita, alimentando mais o frenesi de compra. Como um proprietário de mercado disse: “As pessoas estão com medo. Dizemos: ainda não há escassez, mas aqui está uma loucura.”

Breve revisão ■ Mudanças no preço e na quantidade de equilíbrio em um mercado resultam de deslocamentos da curva da oferta, da curva de demanda ou de ambas. ■ Um aumento na demanda aumenta tanto o preço de equilíbrio quanto a quantidade de equilíbrio. Uma queda na demanda pressiona para baixo tanto o preço de equilíbrio como a quantidade de equilíbrio. ■ Um aumento na oferta pressiona o preço de equilíbrio para baixo, mas aumenta a quantidade de equilíbrio. Uma queda na oferta eleva o preço de equilíbrio, mas reduz a quantidade de equilíbrio. ■ Muitas vezes as flutuações nos mercados envolvem um deslocamento simultâneo das curvas da oferta e demanda. Quando elas se deslocam no mesmo sentido, a mudança na quantidade de equilíbrio é previsível, mas a mudança no preço de equilíbrio não é. Quando se movem no sentido oposto, a mudança no preço de equilíbrio é previsível, mas a quantidade de equilíbrio não é. Quando ocorre deslocamento simultâneo da curva da demanda e da oferta, a curva que desloca uma distância maior tem efeito mais forte sobre a mudança no preço e na quantidade de equilíbrio.

Teste seu entendimento 3-4 1. Em cada um dos exemplos seguintes, determine (i) o mercado em questão, (ii) se ocorreu um deslocamento da demanda ou da oferta, a direção e o que provocou e (iii) o efeito do deslocamento sobre o preço de equilíbrio e a quantidade de equilíbrio. a. Quando na década de 1990, nos Estados Unidos, o preço da gasolina caiu, mais pessoas compraram carros grandes. b. À medida que a inovação tecnológica reduziu o custo de reciclar papel usado, este tem sido usado com mais frequência. c. À medida que a TV a cabo oferece mais filmes mais baratos, os cinemas locais têm mais lugares vazios. 2. Quando um chipe de computador novo, mais rápido, é introduzido, a demanda por computadores que usam o chip mais velho e mais lento diminui. Ao mesmo tempo, os fabricantes de computadores aumentam a produção de computadores que contêm os chips antigos, para se livrar dos estoques de chips antigos. Trace dois diagramas do mercado de computadores com os chipes mais antigos: a. um em que a quantidade de equilíbrio cai, em resposta a esses eventos e

b. um em que a quantidade de equilíbrio aumenta. O que acontece com o preço de equilíbrio em cada diagrama? As respostas estão no fim do livro.

Mercados competitivos – e outros No início deste capítulo definimos um mercado competitivo e explicamos a estrutura da oferta e da demanda em um modelo com mercados competitivos. Mas havíamos adiado a questão de saber por que é importante saber se um mercado é ou não competitivo. Agora, que vimos como funciona o modelo de oferta e demanda, podemos oferecer alguma explicação. Para entender por que os mercados competitivos são diferentes de outros mercados, compare os problemas enfrentados por dois indivíduos: um produtor de trigo, que deve decidir se deve cultivar mais trigo, e o presidente de uma grande empresa de alumínio – digo Alcoa – que deve decidir se vai produzir mais alumínio. Para o produtor de trigo, a questão é se o trigo produzido a mais pode ser vendido por um preço alto o suficiente para justificar esse custo extra de produção. O fazendeiro não precisa se preocupar se a produção de mais trigo vai afetar o preço do trigo que já estava planejando cultivar. Isso porque o mercado de trigo é competitivo. Existem milhares de produtores de trigo e a decisão de um fazendeiro não tem qualquer impacto sobre o preço de mercado. Para o executivo da Alcoa a questão não é assim tão simples porque o mercado de alumínio não é competitivo. Há apenas alguns poucos grandes participantes, incluindo a Alcoa, e cada um deles está ciente de que suas ações têm um impacto notável sobre o preço de mercado. Isso torna muito mais complexas as decisões que os produtores têm de tomar. A Alcoa não pode decidir se irá ou não produzir mais alumínio perguntando se o produto adicional será vendido por mais do que o custo de fabricação. A empresa também tem que perguntar se produzir mais alumínio vai reduzir o preço de mercado e o lucro, isto é, o ganho líquido de produzir e vender o produto. Quando o mercado é competitivo, as pessoas podem basear as decisões em análises menos complicadas do que as utilizadas nos mercados menos competitivos. Isso, por sua vez, significa que é mais fácil para os economistas construir um modelo de um mercado competitivo do que de um mercado não competitivo. Mas não significa que a análise econômica não tenha nada a dizer sobre mercados não competitivos. Pelo contrário, os economistas podem oferecer percepções muito importantes sobre o funcionamento de outros tipos de mercado. Mas elas exigem outros modelos, que trataremos mais adiante neste texto.

Caso empresarial Chicago Board of Trade Em todo o mundo, as mercadorias são compradas e vendidas como “trocas”, em mercados organizados em um local específico, onde compradores e vendedores se encontram para negociar. Mas nem sempre foi assim. A primeira bolsa de mercadorias foi a Chicago Board of Trade, fundada em 1848. Na

época, os Estados Unidos já era um grande produtor de trigo. E St. Louis, não Chicago, era a principal cidade do Oeste americano e a localização dominante para o comércio de trigo. Mas o mercado de trigo de St. Louis sofreu por uma falha grave: não havia mercado central, nenhum local específico onde as pessoas se reunissem para comprar e vender trigo. Em vez disso, os vendedores vendiam os grãos de vários armazéns ou de sacos de grãos empilhados no dique do rio. Os compradores vagavam pela cidade, buscando o melhor preço. Contudo, em Chicago, os vendedores tiveram uma ideia melhor. A Chicago Board of Trade, uma associação dos principais comerciantes de grãos da cidade, criou um método muito mais eficiente para a negociação do trigo. Lá, os comerciantes se reuniam em um só lugar – a “área de operações da bolsa (pit)” – onde faziam ofertas de venda e aceitavam ofertas de compra. O centro de comércio garantia que esses contratos seriam cumpridos, eliminando a necessidade de o trigo estar no local fisicamente quando o negócio fosse acordado. Com esse sistema, os compradores podiam encontrar vendedores muito rapidamente e vice-versa, reduzindo o custo dos negócios. Também assegurava que todos pudessem ver o último preço, fazendo o preço subir ou cair rapidamente em resposta às condições de mercado. Por exemplo, a notícia de mau tempo, em uma área de cultivo de trigo, há centenas de quilômetros de distância, faria o preço na bolsa de Chicago subir em questão de minutos. A Chicago Board of Trade acabou se tornando o centro de comércio de trigo e de muitas outras mercadorias agrícola mais importante do mundo, posição que mantém até hoje. E a ascensão da bolsa também ajudou a ascensão de Chicago. A cidade, como Carl Sandburg colocou em seu famoso poema, “Chicago”, tornou-se: Chacinadora de porcos para o mundo, fabricante de máquinas, ensiladora de trigo, tu que brincas com as ferrovias e transportas os produtos do país: tumultuosa, grosseira, sempre aos gritos, ó cidade das costas largas. Em 1890, Chicago tinha mais de um milhão de habitantes, perdendo apenas para Nova York e estava muito distante de St. Louis. Descobriu que comerciar era, de fato, um bom negócio.

Questões para pensar 1. Mencionamos neste capítulo como os preços podem variar em uma loja para turistas. Qual mercado, St. Louis ou Chicago, era mais provável de se comportar como uma loja para turistas? Explique. 2. Qual era a vantagem para os compradores de comprar o trigo na área de operações de

Chicago, em vez de em St. Louis? Qual era a vantagem para os vendedores? 3. Baseado no que você aprendeu com esse caso, explique por que o eBay é como a área de operações de Chicago. Por que tem tido tanto sucesso como um mercado de artigos de segunda mão em comparação com um mercado composto de vários mercados de pulgas e de negociantes?

Resumo 1. O modelo de oferta e demanda ilustra como funciona um mercado competitivo, o que tem muitos compradores e vendedores; nenhum deles pode influenciar o preço de mercado. 2. A tabela da demanda mostra a quantidade demandada a cada preço e é representada graficamente pela curva da demanda. A lei da demanda diz que as curvas da demanda se inclinam para baixo; ou seja, um preço mais alto de um bem ou serviço leva as pessoas a procurarem uma quantidade menor, tudo o mais mantido constante. 3. Um movimento ao longo da curva da demanda ocorre quando o preço muda e ocasiona uma alteração na quantidade demandada. Quando os economistas falam de aumento ou queda na demanda, referem-se a deslocamentos na curva da demanda – uma mudança na quantidade demandada a qualquer preço dado. Um aumento na demanda provoca um deslocamento da curva da demanda para a direita. Uma redução na demanda causa um deslocamento da curva da demanda para a esquerda. 4. Há cinco fatores principais que deslocam a curva da demanda: ■ Mudança nos preços dos bens ou serviços relacionados, como substitutos ou complementos. ■ Mudança na renda: quando a renda sobe, a demanda por bens normais aumenta e a demanda por bens inferiores diminui. ■ Mudança nos gostos. ■ Mudança nas expectativas. ■ Mudança no número de consumidores. 5. A curva da demanda de mercado de um bem ou serviço é a soma horizontal das curvas de demanda individual de todos os consumidores do mercado. 6. A tabela da oferta mostra a quantidade ofertada a cada preço e é representada graficamente por uma curva de oferta. As curvas de oferta geralmente têm inclinação para cima. 7. Um movimento ao longo da curva da oferta ocorre quando o preço muda e provoca uma mudança na quantidade ofertada. Quando os economistas falam em aumento ou diminuição da oferta, referem-se a deslocamentos da curva da oferta – uma mudança na quantidade ofertada a qualquer preço. Um aumento na oferta provoca um deslocamento da curva da oferta para a direita. Uma redução na oferta provoca um deslocamento para a esquerda. 8. Há cinco fatores principais que deslocam a curva da oferta: ■ Mudança no preço do insumo. ■ Mudança no preço dos bens e serviços relacionados.

■ Mudança na tecnologia. ■ Mudança nas expectativas. ■ Mudança no número de produtores. 9. A curva da oferta de mercado de um bem ou serviço é a soma horizontal das curvas de oferta individuais de todos os produtores nesse mercado. 10. O modelo de oferta e demanda baseia-se no princípio de que o preço em um mercado se move em direção ao preço de equilíbrio, ou preço que ajusta o mercado – o preço pelo qual a quantidade demandada é igual à quantidade ofertada. Essa quantidade representa a quantidade de equilíbrio. Quando o preço está acima do preço que ajusta o mercado, há um excedente que empurra os preços para baixo. Quando o preço está abaixo do preço que ajusta o mercado, há uma escassez que pressiona os preços para cima. 11. Um aumento na demanda aumenta tanto o preço de equilíbrio quanto a quantidade de equilíbrio. Uma diminuição na demanda tem o efeito oposto. Um aumento na oferta reduz o preço de equilíbrio e aumenta a quantidade de equilíbrio; uma diminuição na oferta tem o efeito oposto. 12. Pode ocorrer simultâneamente deslocamentos da curva da demanda e da oferta. Quando elas se deslocam em direções opostas, a mudança no preço de equilíbrio é previsível, mas a mudança na quantidade de equilíbrio não é. Quando elas se deslocam na mesma direção, a mudança na quantidade de equilíbrio é previsível, mas a mudança no preço de equilíbrio não é. Em geral, a curva que desloca uma distância maior tem um efeito maior nas mudanças sobre o preço e a quantidade de equilíbrio.

Palavras-chave Mercado competitivo, p. 56 Modelo de oferta e demanda, p. 56 Tabela da demanda, p. 57 Quantidade demandada, p. 57 Curva da demanda, p. 57 Lei da demanda, p. 58 Deslocamento da curva da demanda, p. 58 Movimentos ao longo da curva da demanda, p. 58 Substituto, p. 61 Complementares, p. 61 Bens normais, p. 61 Bens inferiores, p. 61 Curva da demanda individual, p. 62 Quantidade ofertada, p. 65 Tabela da oferta, p. 65 Curva da oferta, p. 66 Deslocamento da curva da oferta, p. 66 Movimento ao longo da curva da oferta, p. 66

Insumo, p. 68 Curva da oferta individual, p. 69 Preço de equilíbrio, p. 72 Quantidade de equilíbrio, p. 72 Preço que “ajusta o mercado”, p. 72 Excedente, p. 74 Escassez, p. 74

Problemas 1. Uma pesquisa indicou que o sabor de sorvete preferido dos americanos é o de chocolate. Para cada um dos itens seguintes, indique os efeitos possíveis sobre a demanda e/ou oferta, bem como sobre o preço e a quantidade de equilíbrio do sorvete de chocolate. a. Uma seca severa no Centro-Oeste fez os pecuaristas reduzirem em um terço o número de animais produtores de leite em seus rebanhos. Esses pecuaristas fornecem o creme utilizado na fabricação do sorvete de chocolate. b. Um novo relatório da Associação Médica Americana revelou que o chocolate, de fato, faz bem à saúde. c. A descoberta de baunilha sintética mais barata reduziu o preço do sorvete de baunilha. d. Uma nova tecnologia para misturar e congelar sorvete reduziu o custo de fabricação de sorvete de chocolate. 2. Em um diagrama de oferta e demanda, trace um deslocamento da curva da demanda por hambúrgueres da sua cidade, em consequência dos eventos relacionados a seguir. Em cada caso, mostre o efeito sobre o preço e a quantidade de equilíbrio. a. O preço dos tacos aumentou. b. Todos os vendedores de hambúrgueres aumentaram o preço das fritas. c. A renda caiu na cidade. Suponha que o hambúrguer seja um bem normal para a maioria das pessoas. d. A renda caiu na cidade. Suponha que o hambúrguer seja um bem inferior para a maioria das pessoas. e. A carrocinha de cachorro-quente reduziu o preço dos cachorros-quentes. 3. O mercado de muitos bens muda de forma previsível de acordo com a época do ano, em resposta a eventos como feriados, férias, mudanças sazonais na produção e assim por diante. Usando oferta e demanda, explique a mudança de preço em cada um dos seguintes casos. Observe que a oferta e a demanda podem se deslocar simultaneamente. a. O preço da lagosta costuma cair durante o pico do verão, safra da lagosta, apesar de as pessoas gostarem de comer lagosta durante o verão mais do que em qualquer outra época do ano. b. O preço de uma árvore de Natal é mais baixo após o Natal do que antes, mas são vendidas menos árvores.

c. O preço de uma passagem de ida e volta para Paris, pela Air France, caiu mais que $200, após o fim das férias escolares em setembro. Isso acontece apesar de a piora no clima aumentar o custo de operação dos voos para Paris, e assim a Air France reduziu o número de voos para Paris a qualquer preço. 4. Em um diagrama mosre o efeito sobre a curva da demanda, a curva da oferta, o preço de equilíbrio e a quantidade de equilíbrio em cada um dos eventos seguintes. a. O mercado de jornais na cidade. Caso 1: os salários dos jornalistas sobem. Caso 2: há eventos de grande sensação na cidade que são noticiados nos jornais. b. O mercado de camisetas de algodão para um clube popular. Caso 1: o clube ganhou o campeonato. Caso 2: o preço do algodão aumentou. c. O mercado de pãezinhos. Caso 1: as pessoas perceberam que o pãozinho engorda. Caso 2: as pessoas têm menos tempo para preparar o café da manha. d. O mercado do livro de economia do Krugman e Wells Caso 1: seu professor torna-o leitura obrigatória para todos os estudantes. Caso 2: o custo de impressão de livros didáticos reduziu em decorrência do uso de papel sintético. 5. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos informou que, em 2004, cada pessoa nos Estados Unidos consumiu uma média de 37 galões de refrigerantes (fora os light) a um preço médio de $2 por litro. Suponha que, ao preço de $1,50 por galão, cada consumidor individual consumiria 50 galões de refrigerante. A população dos Estados Unidos em 2004 era de 294 milhões. A partir dessa informação sobre a tabela de demanda individual, calcule a tabela de demanda de mercado de refrigerantes para os preços de $1,50 e $2 por galão. 6. Suponha-se que a tabela da oferta de lagosta no Maine seja a seguinte: Preço da lagosta (por libra) Quantidade de lagosta ofertada (em libras) $25 800 20 700 15 600 10 500 5 400

Suponha que as lagostas do Maine possam ser vendidas apenas nos Estados Unidos. A tabela da demanda nos Estados Unidos para lagostas do Maine é a seguinte:

Preço da lagosta (por libra) Quantidade de lagosta demandada (em libras) $25 200 20 400 15 600 10 800 5 1.000

a. Trace a curva da demanda e a curva da oferta para lagostas do Maine. Qual é o preço e a quantidade de equilíbrio para lagostas? Agora, suponha que as lagostas do Maine possam ser vendidas na França. A tabela da demanda francesa para lagostas do Maine é a seguinte:

Preço da lagosta (por libra) Quantidade de lagosta demandada (em libras) $25 100 20 300 15 500 10 700 5 900

b. Agora que os consumidores franceses também podem comprar, qual é a tabela da demanda de lagostas do Maine? Trace um diagrama da oferta e da demanda que ilustre o novo preço e a quantidade de equilíbrio para lagostas. O que acontecerá com o preço pelo qual os pescadores podem vender lagosta? O que acontecerá com o preço pago pelos consumidores norte-americanos? O que acontecerá com a quantidade consumida pelos consumidores norte-americanos? 7. Encontre os erros de raciocínio nas seguintes afirmações, com especial atenção para a distinção entre deslocamentos da e movimentos ao longo das curvas da oferta e da demanda. Trace um diagrama para ilustrar o que realmente acontece em cada situação. a. “Uma inovação tecnológica que reduz o custo de produção de um bem, a princípio, parece trazer uma queda no preço desse bem para o consumidor. Mas uma queda no preço aumentará a demanda pelo bem e uma demanda mais elevada irá fazer o preço subir novamente. Não é certo, portanto, que uma inovação irá realmente reduzir o preço no final.” b. “Um estudo que mostra que comer um dente de alho por dia ajuda a prevenir doenças cardíacas leva muitos consumidores a procurar por mais alho. Esse aumento na demanda resulta em aumento no preço do alho. Os consumidores, vendo que o preço do alho subiu, reduzem a demanda por alho. Isso faz a demanda por alho cair, bem como o seu preço. Portanto, o efeito final do estudo sobre o preço do alho é incerto.” 8. A tabela a seguir mostra a tabela da demanda de um bem normal.

Preço $23 21 19 17

Quantidade demandada 70 90 110 130

a. Você acha que o aumento na quantidade demandada (por exemplo, de 90 para 110 na tabela) quando o preço cai (de $ 21 para $19) é devido a um aumento na renda dos consumidores? Explique claramente (e brevemente) por que sim ou por que não. b. Agora, suponha que se trate de um bem inferior. Será que essa tabela da demanda poderia ser válida para um bem inferior? c. Por fim, suponha que você não saiba se o bem é normal ou inferior. Formule um experimento que permita determinar se é um ou outro. Explique. 9. De acordo com o New York Times (18 de novembro de 2006), o número de fabricantes de automóveis na China está aumentando rapidamente. O jornal informa que “a China hoje tem mais marcas de carro do que os Estados Unidos... mas enquanto as vendas de carros subiram 38% nos três primeiros trimestres desse ano, as montadoras têm aumentado a produção ainda mais rapidamente, causando uma concorrência feroz e uma erosão lenta nos preços”. Ao mesmo tempo, a renda dos consumidores chineses aumentou. Suponha que carro seja um bem normal. Use um diagrama de curvas da oferta e demanda dos carros na China para explicar o que aconteceu no mercado de automóveis chinês. 10. Aaron Hank é uma estrela do time de baseball em Bay City. Está perto de bater o recorde de jogadas da estação e se espera que esse recorde seja batido no próximo jogo. Como resultado, os ingressos para o próximo jogo da equipe estão vendendo como água. Mas hoje foi anunciado que, devido a uma lesão no joelho, Aaron não vai poder participar do próximo jogo. Suponha que aqueles que têm ingressos para a temporada possam revendê-los se quiserem. Use diagramas de oferta e demanda para explicar o seguinte. a. Mostre o caso em que esse anúncio resulta em preço e quantidade de equilíbrio mais baixo do que antes do anúncio. b. Mostre o caso em que esse anúncio resulta em preço de equilíbrio mais baixo e quantidade de equilíbrio mais alta que antes do anúncio. c. Qual a explicação para ocorrer o caso a ou o caso b? d. Suponha que um cambista soube secretamente, antes do jogo, que Aaron Hank não iria jogar no próximo jogo. Que ações você acha que tomaria? 11. Na revista Rolling Stone, vários fãs e estrelas do rock, inclusive Pearl Jam, lamentavam o preço alto dos ingressos para os concertos. Um dos astros argumentou: “Não vale $75 me ver tocar. Ninguém deveria ter que pagar tanto para ir a um concerto.” Suponha que os ingressos para ver esse astro tenham se esgotado a um preço médio de $75. a. Como você avalia o argumento de que o preço dos ingressos está muito alto? b. Suponha que, em razão dos protestos desse astro, o preço dos ingressos seja reduzido para $50. Em que sentido esse preço é baixo demais? Trace um diagrama usando as curvas de oferta e demanda para apoiar seu argumento.

c. Suponha que Pearl Jam realmente queira diminuir o preço dos ingrssos. Como a banda controla o fornecimento dos seus serviços, o que você recomendaria que eles fizessem? Explique usando um diagrama de oferta e demanda. d. Suponha que o último CD da banda tenha sido um fracasso total. Você acha que ainda precisariam se preocupar com ingressos muito caros? Por quê? Trace um diagrama de oferta e demanda para apoiar sua argumentação. e. Suponha que o grupo anunciou que essa será sua últimá série de apresentações. Qual será o efeito provável desse anúncio na demanda e no preço dos bilhetes ? Ilustre com um diagrama de oferta e demanda. 12. Os números a seguir representam as tabelas da demanda e da oferta anuais de picapes nos Estados Unidos. Preços da picape $20.000 25.000 30.000 35.000 40.000

Quantidade de picapes demandada (milhões) 20 18 16 14 12

Quantidade de picapes ofertada (milhões) 14 15 16 17 18

a. Trace as curvas de oferta e demanda, utilizando essa tabela. Indique o preço e a quantidade de equilíbrio no diagrama. b. Suponha que se descobriu que os pneus usados nas picapes têm defeito. O que você espera que aconteça no mercado de picapes? Mostre isso no diagrama. c. Suponha que o Departamento de Transporte dos Estados Unidos imponha regulamentações onerosas aos fabricantes que os levem a reduzir a oferta em um terço a qualquer preço. Calcule e construa a nova tabela de oferta e indique o novo preço e quantidade de equilíbrio. 13. Depois de vários anos de declínio, o mercado de guitarras acústicas artesanal está voltando. Essas guitarras geralmente são feitas em pequenas oficinas que empregam poucos especialistas altamente qualificados. Avalie o impacto sobre o preço e a quantidade de equilíbrio das guitarras acústicas artesanais, como resultado dos seguintes eventos. Nas respostas, indique qual ou quais curva(s) se desloca(m) e em que direção. a. Os ambientalistas conseguiram proibir a utilização do jacarandá brasileiro nos Estados Unidos, forçando os fabricantes de guitarras a procurar alternativas mais caras. b. Um produtor externo fez uma reengenharia do processo de fabricação das guitarras e inundou o mercado com guitarras idênticas. c. A música de guitarras acústicas artesanais voltou à moda à medida que o público cansou de heavy metal e rock alternativo. d. O país entrou em uma profunda recessão e a renda do americano médio caiu bruscamente. 14. Torcendo a demanda: desenhe e explique a relação da demanda em cada uma das seguintes afirmações.

a. Eu nunca compraria um CD da Britney Spears! Não quero nem de graça. b. Costumo comprar um pouco mais de café quando o preço cai. Quando o preço cair para $2 por libra, comprarei todo o estoque do supermercado. c. Gasto mais com suco de laranja, mesmo quando o preço sobe. (Será que isso significa que estou violando a lei da demanda?) d. Em consequência do aumento da matrícula, a maioria dos estudantes de uma faculdade fica com menos renda disponível. Quase todos fazem as refeições com mais frequência no refeitório da escola e menos nos restaurantes, embora o preço no refeitório também tenha subido. (Aqui é preciso desenhar tanto as curvas da demanda como da oferta para as refeições no refeitório.) 15. Será que Shakespeare era um dramaturgo em dificuldades na Londres do século XVI? À medida que o preço que recebia para escrever uma peça de teatro aumentava, dispunha-se a escrever mais peças. Nas situações seguintes, use um diagrama para ilustrar como cada evento afeta o preço e a quantidade de equilíbrio no mercado de peças de Shakespeare. a. O dramaturgo Christopher Marlowe, principal rival de Shakespeare, foi morto em uma briga de bar. b. A peste bubônica, uma doença infecciosa mortal, irrompeu em Londres. c. Para comemorar a derrota da Armada Espanhola, a Rainha Elizabeth declarou várias semanas de festividades, implicando na encomenda de novas peças de teatro. 16. Na pequena cidade de Middling a taxa de natalidade dobrou subitamente. Após três anos, a taxa de natalidade voltou ao normal. Use um diagrama para ilustrar o efeito desse evento sobre o seguinte. a. O mercado de uma hora de serviços de babá em Middling hoje. b. O mercado de uma hora de serviço de babá dentro de 14 anos, após a taxa de natalidade ter voltado ao normal, e quando as crianças que nasceram hoje tiverem idade suficiente para trabalhar como babá. c. O mercado de uma hora de serviços de babá dentro de 30 anos, quando as crianças que nasceram hoje provavelmente estarão tendo seus próprios bebês. 17. Use um diagrama para ilustrar como cada um dos eventos seguintes afetou o preço e a quantidade de equilíbrio de pizza. a. O preço do queijo mussarela subiu. b. Foi amplamente divulgado o risco dos hambúrgueres para a saúde. c. O preço do molho de tomate caiu. d. A renda dos consumidores aumentou e a pizza é um bem inferior. e. Os consumidores esperam que o preço da pizza diminua na próxima semana. 18. Embora tenha sido um artista prolífico, Pablo Picasso pintou apenas mil telas durante o “período azul”. Picasso está morto e todas as obras do período azul estão em exibição em museus e galerias privadas na Europa e nos Estados Unidos. a. Trace uma curva da oferta das obras do período azul de Picasso. Por que essa curva de oferta é diferente das outras? b. Dada a curva da oferta do item a, o preço de uma obra de Picasso do período azul será inteiramente dependente de qual fator ou fatores? Trace um diagrama

mostrando como é determinado o preço de equilíbrio de tal obra. c. Suponha que colecionadores de arte ricos decidam que é essencial adquirir para suas coleções as obras de Picasso do período azul. Mostre que impacto isso tem sobre o mercado dessas pinturas. 19. Desenhe as curvas apropriadas em cada um dos seguintes casos. São semelhantes ou não às curvas vistas até agora? Explique. a. A demanda de cirurgia de ponte de safena, uma vez que o governo paga o custo total para qualquer paciente. b. A demanda de cirurgia plástica eletiva, uma vez que cada paciente paga o custo total. c. A oferta de pinturas de Rembrandt. www.worthpublishers.com/krugmanwells

C APÍ T UL O 4

Controle de Preços e Cotas: Intervenção nos Mercados

O que você vai aprender neste capítulo • O significado de controles de preços e controle de quantidade, dois tipos de intervenção governamental nos mercados. • Como os controles de preço e quantidade criam problemas e tornam o mercado ineficiente. • Por que os efeitos colaterais previsíveis da intervenção nos mercados muitas vezes levam os economistas a serem céticos em relação a sua utilidade. • Quem ganha e quem perde com as intervenções no mercado e por que são usadas, apesar de seus problemas bem conhecidos.

Cidade grande, ideias nem tanto Nova York é um lugar onde se pode encontrar tudo, ou seja, quase tudo, menos um táxi quando se precisa de um ou um apartamento decente por um aluguel que se possa pagar. Talvez você pense que a escassez de táxis e apartamentos em Nova York seja o preço inevitável de viver em uma cidade grande. No entanto, em grande parte, é o produto de políticas de governo – especificamente, de políticas governamentais que, de uma forma ou de outra, tentaram prevalecer sobre as forças da oferta e demanda do mercado. No Capítulo 3 aprendemos o princípio de que o mercado se move para o equilíbrio – que o preço de mercado aumenta ou diminui até o nível em que a quantidade de um bem que as pessoas estão dispostas a oferecer é igual à quantidade que outras pessoas demandam. Mas, às vezes, os governos tentam desafiar esse princípio. Sempre que um governo tenta ditar um preço ou uma quantidade, diferentes do preço ou da quantidade de equilíbrio, o mercado bate de volta de forma previsível. E a nossa capacidade de prever o que vai acontecer quando os governos tentam desafiar a oferta e a demanda mostra a força e a utilidade da própria análise da oferta e demanda. A escassez de apartamentos e táxis em Nova York são exemplos particulares que ilustram o que acontece quando a lógica do mercado é afrontada. A escassez habitacional em Nova York é o resultado do controle de aluguel, uma lei que impede os locadores de aumentar os aluguéis exceto quando recebem permissão específica. O controle do aluguel foi introduzido durante a Segunda Guerra Mundial para proteger os interesses dos inquilinos e ainda continua em vigor. Muitas outras cidades americanas tiveram controle de aluguel em um momento ou outro, e com as exceções notáveis de Nova York e San Francisco, esses controles foram largamente eliminados. Da mesma forma, a oferta limitada de táxis em Nova York é o resultado de um sistema de licenciamento introduzido na década de 1930. As licenças de táxi em Nova York são conhecidas como “medalhões” e apenas táxis com medalhões estão autorizados a pegar passageiros. Embora esse sistema tenha sido originalmente destinado a proteger os interesses tanto de motoristas como de clientes, gerou falta de táxis na cidade. O número de medalhões

permaneceu fixo durante quase 60 anos, sem aumento significativo até 2004. Neste capítulo começamos analisando o que acontece quando os governos tentam controlar os preços em um mercado competitivo, mantendo o preço de mercado abaixo do seu nível de equilíbrio, um teto de preço, tal como o controle de aluguel ou acima dele, um piso de preço, como o salário mínimo pago aos trabalhadores em muitos países. Em seguida, voltaremos a esquemas como os medalhões de táxi que tentam ditar a quantidade de um bem comprado e vendido.

Por que os governos controlam os preços Aprendemos no Capítulo 3 que o mercado se move para o equilíbrio – ou seja, os preços de mercados se movem até o nível em que a quantidade ofertada é igual à quantidade demandada. Mas esse preço de equilíbrio não agrada necessariamente a compradores e vendedores. Afinal de contas, os compradores sempre gostariam de pagar menos, se pudessem, e, muitas vezes, têm argumentação moral ou política forte em favor de pagar preços mais baixos. Por exemplo, o que acontece se o equilíbrio entre a oferta e a demanda de apartamentos em uma cidade grande leva a aluguéis que uma pessoa, um trabalhador médio, não pode pagar? Nesse caso, o governo pode muito bem se sentir sob pressão e impor limites sobre os aluguéis que os locadores podem cobrar. Contudo, os vendedores sempre gostariam de obter mais dinheiro pelo que vendem, e às vezes têm argumentos morais ou políticos fortes defendendo que deveriam receber preços mais elevados. Por exemplo, considere o mercado de trabalho: o preço do tempo de um trabalhador é o salário. E se o equilíbrio entre a oferta e a demanda de trabalhadores menos qualificados leva a salários abaixo do nível da pobreza? Nesse caso, o governo será pressionado a obrigar os empregadores a não pagar salários inferiores a um mínimo especificado. Em outras palavras, muitas vezes há uma forte pressão política para que os governos intervenham nos mercados. E interesses poderosos podem convencer de que uma intervenção no mercado favorecendo-os é “justa”. Quando um governo intervém para regular os preços, dizemos que impõe controle de preços. Esses controles normalmente tomam a forma de um limite superior, um teto de preços, ou um limite inferior, um piso de preços. Infelizmente, não é tão fácil dizer ao mercado o que fazer. Como veremos agora, quando um governo tenta legislar preços – seja legislar para baixo, impondo um teto de preço, ou para cima, impondo um piso de preço – há certos efeitos secundários previsíveis e desagradáveis. Podemos trabalhar com um pressuposto importante neste capítulo: os mercados em questão são eficientes antes da imposição do controle de preços. Mas, às vezes, pode se tornar ineficiente, por exemplo, um mercado dominado por um monopolista, um único vendedor que tem o poder de influenciar o preço de mercado. Quando os mercados são ineficientes, os controles de preços não causam problemas necessariamente e, em potencial, podem mover o mercado para mais perto da eficiência. Na prática, porém, controles de preços são muitas vezes impostos em mercados eficientes, como o de apartamentos de Nova York. A análise deste capítulo se aplica a muitas situações importantes do mundo real.

Tetos de preços Fora o controle de aluguéis, não há muitos tetos de preços nos Estados Unidos hoje em dia. Mas houve um tempo em que eram comuns. Geralmente, tetos de preços são impostos durante as crises – guerras, quebras de safra, desastres naturais, porque esses eventos, muitas vezes, acarretam aumentos de preços repentinos que prejudicam muitas pessoas e proporcionam ganhos elevados a alguns poucos felizardos. O governo dos Estados Unidos impôs tetos a muitos preços durante a Segunda Guerra Mundial: a guerra aumentou significativamente a demanda por matérias-primas, como alumínio e aço, e o controle de preços impedia que as pessoas com acesso a essas matérias-primas tivessem lucros enormes. O controle do preço do petróleo foi imposto em 1973, quando parecia que um embargo, por parte dos países árabes exportadores de petróleo, geraria enormes lucros para as companhias petrolíferas americanas. Em 2001, foram impostos controles de preços no mercado atacadista de eletricidade da Califórnia, quando a escassez estava criando grandes lucros para algumas companhias geradoras de energia, mas ocasionando um grande aumento na conta de energia elétrica dos consumidores. O controle de aluguel em Nova York é, acredite ou não, um legado da Segunda Guerra Mundial: foi imposto porque a produção militar produziu um boom econômico, que aumentou a demanda por apartamentos em um momento em que a mão de obra e as matérias-primas que poderiam ser usadas para construí-los estavam, em vez disso, sendo usadas para ganhar a guerra. Embora a maioria dos controles de preços tenha sido eliminada logo após o fim da guerra, os limites para o aluguel em Nova York foram mantidos e gradualmente estendidos aos edifícios que, anteriormente, não estavam cobertos, resultando em algumas situações muito estranhas. É possível alugar um apartamento de um quarto em Manhattan rapidamente – se você for capaz e estiver disposto a pagar milhares de dólares por mês e viver em uma área menor do que o desejável. No entanto, algumas pessoas pagam apenas uma pequena fração disso em apartamentos semelhantes, e outras pagam apenas um pouco mais por apartamentos maiores em localizações melhores. Contudo, além de proporcionar bons negócios para alguns locatários, quais são as consequências mais amplas do sistema de controle de aluguéis de Nova York? Para responder a essa pergunta, voltamos ao modelo que desenvolvemos no Capítulo 3: o modelo da oferta e demanda.

Modelo de um teto de preços Para ver o que pode dar errado quando um governo impõe um teto de preços em um mercado competitivo, considere a Figura 4-1, que mostra um modelo simplificado do mercado de apartamentos de Nova York. Por uma questão de simplicidade, vamos imaginar que todos os apartamentos são exatamente iguais e que seriam alugados pelo mesmo preço em um mercado não regulamentado. As tabelas da demanda e da oferta são mostradas na figura ao lado direito, as curvas da oferta e da demanda estão à

esquerda. A quantidade de apartamentos está no eixo horizontal e o aluguel mensal por apartamento, no eixo vertical. Pode-se observar que em um mercado não regulamentado o equilíbrio se daria no ponto E: dois milhões de apartamentos seriam alugados por $ 1.000 por mês.

FIGURA 4-1 O mercado de apartamentos na ausência de controle de preços Sem a intervenção do governo, o mercado de apartamentos atinge o equilíbrio no ponto E com um aluguel de mercado de $1.000 por mês e 2 milhões de apartamentos alugados.

Agora, suponha que o governo tenha imposto um teto de preços, o que limita o aluguel abaixo do preço de equilíbrio – digamos, não mais que $800. A Figura 4-2 mostra o efeito do teto de preços, representado pela linha em $800. Com o limite do aluguel em $800, os locadores têm menos incentivos de oferecer apartamentos, assim, não estarão dispostos a fornecer tantos apartamentos quanto ao nível de equilíbrio de $1.000. Irão escolher o ponto A na curva da oferta, oferecendo apenas 1,8 milhão de apartamentos para alugar, 200 mil a menos do que no mercado não regulamentado. Ao mesmo tempo, mais pessoas irão querer alugar apartamentos ao preço de $800 do que ao preço de equilíbrio de $1.000; como mostrado no ponto B da curva da demanda, a um aluguel mensal de $800, a quantidade de apartamentos demandados sobe para 2,2 milhões, 200 mil a mais que no mercado não regulamentado e 400.000 mais do que estão realmente disponíveis ao preço de $800. Então, agora, há uma escassez persistente de imóveis para locação: por esse preço, há mais 400 mil pessoas que querem alugar do que as que conseguem encontrar apartamentos.

FIGURA 4-2 Efeitos de um teto de preços A linha horizontal escura representa o teto de preços imposto pelo governo para os aluguéis de $800 por mês. Esse teto reduz a quantidade de apartamentos ofertados a 1,8 milhão, ponto A, e aumenta a quantidade demandada para 2,2 milhões, ponto B. Isso cria uma escassez persistente de 400.000 unidades: 400.000 pessoas que querem apartamentos ao preço de $800, mas não conseguem encontrá-los.

Tetos de preços sempre causam escassez? Não. Se um teto de preço for fixado acima do preço de equilíbrio, não terá qualquer efeito. Suponha que o aluguel de equilíbrio seja $1.000 por mês e que a prefeitura estabeleça um teto de $1.200. Quem se importa? Nesse caso, o teto de preço não será observado – não restringirá realmente o comportamento de mercado – e não terá nenhum efeito.

Como um teto de preço provoca ineficiência A escassez habitacional mostrada na Figura 4-2 não é apenas irritante: como qualquer escassez induzida pelo controle de preços, pode ser seriamente prejudicial, pois resulta em ineficiência. Em outras palavras, existe ganho do comércio que não irá se realizar. O controle de aluguel, como todos os tetos de preços, gera ineficiência de pelo menos quatro maneiras distintas. Reduz a quantidade de apartamentos alugados abaixo do nível de eficiência; normalmente ocasiona uma má alocação de apartamentos entre pretensos locatários; leva à perda de tempo e esforço à medida que as pessoas procuram por apartamentos e leva os locadores a manter os apartamentos em más condições e sem manutenção. Além de ineficiência, o controle de preços incentiva comportamento ilegal quando as pessoas tentam burlar os controles.

Quantidade baixa em relação à eficiência Como o teto de preços reduz o preço de um bem, também reduz a quantidade que os vendedores estão dispostos a oferecer. Os compradores não podem comprar mais unidades de um bem que os vendedores estão dispostos a vender; um teto de preços reduz a quantidade de um bem comprado e vendido abaixo da quantidade de equilíbrio de mercado. Como o controle de aluguel reduz o número de apartamentos oferecidos, também reduz o número de apartamentos alugados. A baixa quantidade vendida é ineficiente em consequência das oportunidades perdidas: o teto de preços evita que ocorram transações mutuamente benéficas, operações que poderiam beneficiar tanto compradores como vendedores. A Figura 4-3 mostra a quantidade de apartamentos ofertados com controle de aluguel ineficiente baixa.

FIGURA 4-3 Um teto de preço causa quantidade baixa e ineficiente Um teto de preço reduz a quantidade ofertada abaixo da quantidade de equilíbrio de mercado. Como os compradores não podem comprar mais unidades de um bem que os vendedores estão dispostos a vender, um teto de preço reduz a quantidade de um bem comprado e vendido.

Alocação ineficiente entre consumidores

O controle de aluguel não resulta apenas em menor quantidade de apartamentos disponíveis. Também pode acarretar má alocação das unidades disponíveis: pessoas que precisam muito encontrar um apartamento podem não encontrá-lo, mas alguns apartamentos podem estar ocupados por pessoas com muito menos urgência. No caso mostrado na Figura 4-2, 2,2 milhões de pessoas gostariam de alugar um apartamento por $800 por mês, mas apenas 1,8 milhão de apartamentos está disponível. Dos 2,2 milhões que estão procurando um apartamento, alguns querem muito alugar e estão dispostos a pagar um preço alto para obtê-lo. Outros têm uma necessidade menos urgente e só se dispõem a pagar um preço baixo, talvez porque tenham moradia alternativa. Uma alocação eficiente de apartamentos reflete essas diferenças: as pessoas que realmente querem um apartamento conseguem e as que não estão tão interessadas não conseguem. Em uma distribuição ineficiente de apartamentos, ocorre o oposto: algumas pessoas que não estão especialmente ansiosas para encontrar um apartamento encontram, enquanto que outras com grande urgência não encontram. Como, geralmente quando há controle de aluguéis, as pessoas encontram apartamentos por sorte ou contatos pessoais, isso geralmente resulta em uma alocação ineficiente entre os consumidores dos poucos apartamentos disponíveis. Para perceber a ineficiência envolvida, considere a situação dos Lee, uma família com crianças pequenas que não têm moradia alternativa e estaria disposta a pagar até $1.500 por um apartamento, mas não consegue encontrar. Considere também George, um aposentado que vive a maior parte do ano na Flórida e ainda tem um contrato de aluguel em Nova York, para onde se mudou há 40 anos. George paga $800 por mês por esse apartamento, mas se o aluguel fosse ainda um pouco mais – digamos, US$850 – ele iria desistir e ficar com seus filhos quando estivesse em Nova York. Essa alocação de apartamentos – George tem e a família Lee, não – representa uma oportunidade perdida: há uma maneira de melhorar a situação da família Lee e de George, sem custo adicional. Os Lee ficariam felizes de pagar a George, digamos, US$1.200 por mês para sublocar o apartamento, que ele ficaria feliz em aceitar uma vez que o apartamento não vale mais do que US$849 por mês para ele. George prefere o dinheiro que os Lee podem oferecer e os Lee preferem o apartamento em vez do dinheiro. Assim, ambos melhorariam de situação com essa transação – e não haveria prejuízo para ninguém. Geralmente, se as pessoas que realmente querem apartamentos pudessem alugar os dos que têm menos interesse em viver lá, tanto quem consegue um apartamento como aqueles que trocam a sua ocupação por dinheiro ficariam em melhor situação. No entanto, a sublocação é ilegal pelo controle de aluguéis porque pode ocorrer a preços acima do teto. O fato de que a sublocação seja ilegal não significa que não aconteça. Na verdade, descobrir sublocação ilegal é um grande negócio para os detetives particulares de Nova York. Um artigo do The New York Times descreveu como os detetives particulares usam câmeras ocultas e outros truques para provar que os inquilinos legais dos apartamentos com controle de preços vivem realmente nos subúrbios, ou até mesmo em outros estados, e sublocam os apartamentos em duas ou até três vezes o teto de controle. Essa sublocação é um tipo de atividade ilegal, que vamos discutir em breve. Por ora, basta

observar que os proprietários e as agências legais ativamente desencorajam a prática da sublocação ilegal. Como resultado, o problema de alocação ineficiente dos apartamentos permanece.

Desperdício de recursos Outra razão pela qual o preço de teto causa ineficiência é que leva ao desperdício de recursos: as pessoas gastam dinheiro, esforço e tempo para lidar com a escassez causada pelo teto de preço. Em 1979, o controle de preços dos Estados Unidos sobre a gasolina ocasionou a escassez que forçou milhões de americanos a passar horas nas filas de espera dos postos de gasolina toda a semana. O custo de oportunidade do tempo gasto nas filas de gasolina – os salários não ganhos, o tempo de lazer não usufruído – constituem recursos desperdiçados sob o ponto de vista dos consumidores e da economia como um todo. Em decorrência do controle de aluguel, os Lees vão gastar todo o tempo livre, durante vários meses, à procura de um apartamento, um tempo que prefeririam passar trabalhando ou em atividades familiares. Ou seja, há um custo de oportunidade na prolongada busca de um apartamento pela família Lee – o lazer ou a renda à qual tiveram que renunciar. Se o mercado de apartamentos funcionasse livremente, os Lee iriam encontrar rapidamente um apartamento ao aluguel de equilíbrio de $1.000 e teriam tempo para ganhar mais dinheiro ou para se divertir, um resultado que melhoraria a situação deles sem piorar a dos outros. Mais uma vez, o controle de aluguéis provoca perda de oportunidades.

Baixa qualidade por ineficiência Ainda, outra maneira de o teto de preço gerar ineficiência é fazendo com que os bens sejam de baixa qualidade por ineficiência. Isso significa que os vendedores oferecem produtos de baixa qualidade a um preço baixo, mesmo que os compradores prefiram ter maior qualidade a um preço mais elevado. Consideremos mais uma vez o controle de aluguel. Os locadores não têm incentivo em oferecer melhores condições porque não podem aumentar os aluguéis para cobrir os custos de manutenção, mas conseguem inquilinos com facilidade. Em muitos casos, os inquilinos estariam dispostos a pagar mais por melhorias do que custaria ao proprietário realizá-las – por exemplo, a atualização de um sistema elétrico antiquado que não pode suportar aparelhos de ar condicionado ou computadores com segurança. Mas qualquer pagamento adicional dessas melhorias seria considerado legalmente um aumento de aluguel, o que é proibido. De fato, apartamentos com auguel controlado são notoriamente mal conservados, raramente pintados, sujeitos a problemas elétricos e hidráulicos frequentes, às vezes até perigosos de morar. Como disse um antigo administrador de prédios de Nova York: “Nos apartamentos não regulamentados fazíamos a maioria das coisas que os inquilinos solicitavam. Mas nas unidades de aluguel controlado, fazíamos exclusivamente o que a lei exigia.... tínhamos um incentivo perverso

de tornar os inquilinos infelizes.” Toda essa situação é uma oportunidade perdida – alguns inquilinos ficariam felizes em pagar por melhores condições, e os locadores ficariam felizes em proporcioná-las em troca de pagamento. Mas essa troca ocorreria apenas se o mercado pudesse operar livremente.

Mercado negro Isso nos leva a um último aspecto do teto de preços: o incentivo que fornece para atividades ilegais, especificamente o surgimento de mercados negros. Já descrevemos um tipo de atividade de mercado negro – a sublocação pelos inquilinos. Mas não para por aí. Existe claramente uma tentação de um locador de dizer a um inquilino em potencial: “Olha, você pode ter o lugar se escorregar um extra de algumas centenas em dinheiro a cada mês” – e de o inquilino concordar se for uma daquelas pessoas que estariam dispostas a pagar muito mais do que o aluguel máximo legal. O que há de errado com o mercado negro? Em geral, desobedecer qualquer lei é ruim, pois incentiva o desrespeito à lei em geral. Pior ainda, nesse caso, a atividade ilegal agrava a posição daqueles que são honestos. Se os Lees são escrupulosos em manter a lei de controle de aluguel, mas outras pessoas – que estão precisando menos de um apartamento do que os Lee – estão dispostas a subornar os locadores, os Lee podem nunca encontrar um apartamento.

Então, por que existe teto de preços? Vimos três resultados comuns do teto de preços: ■ Escassez persistente do bem. ■ Ineficiência decorrente dessa escassez persistente na forma de baixa quantidade transacionada por ineficiência, alocação ineficiente do bem entre os consumidores, desperdício de recursos na busca pelo bem e baixa qualidade por ineficiência do bem colocado à venda. ■ Surgimento de atividade ilegal no mercado negro. Dadas essas consequências desagradáveis, por que por vezes os governos ainda impõem tetos de preços? Por que o controle de aluguel, em particular, persiste em Nova York? Uma resposta é que, embora o teto de preços possa ter efeitos adversos, beneficia algumas pessoas. Na prática, as regras de controle de aluguel em Nova York – que são mais complexas do que o nosso modelo simples – fere a maioria dos moradores, mas a uma pequena minoria de inquilinos oferece moradia mais barata do que teriam em um mercado não regulamentado. E aqueles que se beneficiam do controle normalmente são mais organizados e influentes do que os prejudicados.

Para mentes curiosas

Controle de aluguel ao estilo de Mumbai Até onde você iria para manter um apartamento com aluguel controlado? Alguns inquilinos da cidade de Mumbai, na Índia, foram mesmo muito longe. De acordo com um artigo do Wall Street Journal, em maio de 2006, três pessoas foram mortas quando desabaram quatro andares de um prédio de apartamentos de aluguel controlado em Mumbai. Apesar da exigência por parte da prefeitura de que os inquilinos desocupassem o prédio condenado, 58 inquilinos se recusaram a sair. Ficaram mesmo depois do corte de energia elétrica e da água, depois de terem sido retirados de seus apartamentos. E continuaram depois que a polícia tentou esvaziar o prédio. Acamparam na varanda do edifício, prometendo não desistir. Nem todos esses inquilinos eram desesperadamente pobres e sem outras opções. Um dos inquilinos com aluguel controlado era proprietário de uma próspera empresa têxtil, pagava um total de $8,50 por mês por um espaçoso apartamento de dois quartos. (Apartamentos de luxo em Mumbai podem ter aluguel de milhares de dólares por mês.) Apesar de estar do outro lado do mundo, a dinâmica de controle de aluguel de Mumbai é parecida com a de Nova York (embora Mumbai tenha tido uma experiência muito mais extrema). O controle de aluguel de Mumbai começou em 1947, para tratar uma grave escassez de moradia causada por uma avalanche de refugiados oriundos dos conflitos entre hindus e muçulmanos. A intenção era de ser uma medida temporária, mas foi tão popular politicamente que foi prorrogada 20 vezes e hoje se aplica a cerca de 60% dos edifícios do centro da cidade. Os inquilinos passam os apartamentos a seus herdeiros ou vendem o direito de ocupação a outros inquilinos. Apesar de o preço dos imóveis de Mumbai ter subido mais de 60% entre 2007 e 2010, os locadores em edifícios controlados sofreram financeiramente pelo resultado do abandono e deterioramento de belos edifícios do centro da cidade, apesar de a metade dos 12 milhões de habitantes da cidade viver em favelas por causa da falta de construção de novas moradias. Além disso, quando o teto de preços vigora por longo tempo, os compradores podem não ter ideia do que aconteceria sem ele. Em nosso exemplo anterior, o aluguel em um mercado não controlado (Figura 4-1) seria apenas 25% maior do que em um mercado controlado (Figura 4-2): $ 1.000 em vez de $800. Mas como os inquilinos vão saber? Na verdade, podem ter ouvido falar sobre as transações no mercado negro a preços muito mais altos – os Lee ou outra família pagando a George $1.200 ou mais – e não perceberiam que esses preços do mercado negro são muito mais elevados do que o preço que prevaleceria em um mercado totalmente sem controle. A última resposta é que os funcionários do governo muitas vezes não entendem a análise da oferta e demanda! É um grande erro supor que as políticas econômicas no mundo real são sempre sensatas ou bem-informadas.

Economia em ação

Controle da fome e do preço na Venezuela Algo estava podre na Venezuela – especificamente, 30.000 toneladas de alimentos em decomposição em Puerto Cabello, em junho de 2010. A descoberta foi particularmente embaraçosa para o Presidente Hugo Chávez, que governava a Venezuela desde 1998. Era um presidente populista que rotineiramente denunciava a elite econômica do país e perseguia políticas promissoras favorecendo as classes pobres e trabalhadoras. Entre essas políticas estava o controle de preços dos alimentos básicos, que ocasionou a escassez iniciada em 2003 e que se tornou grave em 2006. A política governamental generosa acarretou aumento de gastos por parte dos consumidores e nítida elevação no preço dos bens que não estavam sujeitos ao controle de preços ou que eram comprados no mercado negro. O resultado foi um grande aumento na demanda por bens de preço controlado. Mas uma queda acentuada no valor da moeda da Venezuela causou uma queda na importação de alimentos estrangeiros, e o resultado foram prateleiras vazias na seção de alimentos dos supermercados do país. Como a escassez persistiu e a inflação dos preços dos alimentos piorou (nos primeiros cinco meses de 2010, os preços de alimentos e bebidas aumentou 21%), Chávez declarou a “guerra econômica” no setor privado, criticando-o – por “enriquecimento e contrabando”. O governo desapropriou fazendas, fabricantes de alimentos e supermercados, criando no seu lugar as estatais, que eram corruptas e ineficientes – foi a empresa de distribuição de alimentos do governo, PDVAL, que deixou dezenas de milhares de toneladas de alimentos apodrecer nos portos venezuelanos. A produção de alimentos também caiu e a Venezuela teve então que importar 70% da sua alimentação. Não era surpresa que as prateleiras dos supermercados administrados pelo governo estavam bem mais vazias do que as que ainda estavam em mãos privadas. A escassez de alimentos foi tão grave que diminuiu consideravelmente a popularidade de Chávez entre os venezuelanos da classe trabalhadora e suspendeu seus planos de desapropriação. Como um velho ditado venezuelano, “Amor com fome não dura”.

Breve revisão ■ Controles de preços assumem a forma de preços máximos legais – teto de preços – ou de preços mínimos legais – piso de preços. ■ Um teto de preço abaixo do preço de equilíbrio beneficia os compradores que conseguem comprar, mas provoca efeitos adversos previsíveis, como escassez persistente que leva a quatro tipos de ineficiência: quantidade baixa pelo critério da eficiência, alocação ineficiente entre consumidores, recursos desperdiçados e baixa qualidade por ineficiência. ■ Teto de preços também leva a mercados negros quando os compradores e vendedores tentam fugir dos controles de preços.

Teste seu entendimento 4-1

1. Em dias de jogo, proprietários perto do estádio da Universidade de Middletown costumavam alugar vagas de estacionamento em suas calçadas para os fãs a uma taxa de $11. O novo decreto municipal definiu a taxa de estacionamento em $7. Use o gráfico da oferta e demanda a seguir para explicar como cada um corresponde a um conceito de teto de preços.

a. Alguns proprietários agora pensam que não vale a pena alugar o espaço. b. Alguns fãs, que vinham de carona para economizar, agora vêm sozinhos. c. Alguns fãs não conseguem encontrar estacionamento e vão embora sem ver o jogo. Explique como cada um dos seguintes efeitos adversos surge do teto de preços. d. Alguns fãs agora chegam várias horas mais cedo para encontrar estacionamento. e. Amigos dos donos das casas próximas ao estádio assistem aos jogos regularmente, mesmo não sendo entusiastas. Mas alguns fãs entusiastas desistiram por causa da situação do estacionamento. f. Alguns proprietários alugam espaços para estacionar por mais de $7, mas fingem que os que estacionam são amigos ou familiares. 2. Verdadeiro ou falso? Justifique a resposta. Um teto de preço abaixo do preço de equilíbrio de um mercado de outro modo eficiente faz o seguinte: a. Aumenta a quantidade ofertada. b. Piora a situação de algumas pessoas que querem consumir o bem. c. Piora a situação de todos os produtores. As respostas estão no fim do livro.

Pisos de preços Algumas vezes o governo intervém para pressionar os preços de mercado para cima em vez de para baixo. Os pisos de preços foram amplamente estabelecidos para produtos agrícolas, como trigo e leite, como forma de garantir renda aos agricultores. Historicamente, também houve pisos de preços para serviços como transporte rodoviário e aéreo, embora tenham sido eliminados pelo governo dos Estados Unidos na década de 1970. Quem já trabalhou em um restaurante fast-food nos Estados Unidos provavelmente já encontrou um piso de preço: os governos dos Estados Unidos e de outros países mantêm um limite inferior para o salário por hora de trabalho de um trabalhador, ou seja, um piso sobre o preço do trabalho – chamado de salário mínimo. Assim como o teto de preços, o piso de preços é destinado a ajudar algumas pessoas, mas gera efeitos colaterais previsíveis e indesejáveis. A Figura 4-4 mostra curvas da demanda e da oferta hipotéticas para manteiga. Sem interferência, o mercado se moveria para o equilíbrio no ponto E, com 10 milhões de libras de manteiga comprada e vendida a um preço de $1 por libra.

FIGURA 4-4 O mercado da manteiga na ausência de controles governamentais Sem a intervenção do governo, o mercado da manteiga atinge o equilíbrio a um preço de $1 por libra, com 10 milhões de libras de manteiga comprada e vendida.

Agora, suponha que o governo, para ajudar os produtores de leite, imponha um piso para o preço da manteiga de $1,20 por libra. Os efeitos aparecem na Figura 4-5, onde a reta em $1,20 representa o piso. Ao preço de $1,20 por libra, os vendedores querem vender 12 milhões de libras (ponto B na curva da oferta), mas os consumidores só querem comprar 9 milhões de libras (ponto A na curva da demanda). Assim, o piso de preço leva a um excedente persistente de 3 milhões de libras de manteiga.

FIGURA 4-5 Efeitos de um piso de preços A linha preta horizontal representa o piso de preço imposto pelo governo de $1,20 por quilo de manteiga. A quantidade demandada de mantiga cai para 9 milhões de libras e a quantidade ofertada aumenta 12 milhões de libras, gerando um excedente persistente de 3 milhões de libras de manteiga.

Será que um piso de preços sempre resulta em um excedente indesejado? Não. Tal como no caso de um teto de preços, o piso pode não ser cumprido – ou seja, pode ser irrelevante. Se o preço de equilíbrio da manteiga é $1 por libra, mas o piso é estabelecido em $0,80, não tem efeito. Mas suponha que um piso de preço seja cumprido: o que acontece com o excedente indesejado? A resposta depende da política do governo. No caso dos pisos de preços agrícolas, o governo compra o excedente indesejado. Por isso, em algumas épocas, o governo dos Estados Unidos teve que estocar milhares de toneladas de manteiga, queijo e outros produtos agrícolas. (A Comissão Europeia, que administra pisos de preços em vários países europeus, já se viu dona de uma montanha manteiga, de peso igual ao de toda a população da Áustria.) O governo então tem que encontrar uma maneira de dispor desses bens indesejados. Alguns países pagam aos exportadores para vender os produtos no exterior, procedimento padrão da União Europeia. Os Estados Unidos doam alimentos excedentes às escolas, que usam os produtos na merenda escolar. Em alguns casos, os governos têm realmente que destruir a produção excedente. Para evitar o problema de lidar com o excedente indesejado, o governo dos Estados Unidos normalmente paga aos agricultores para não produzir os produtos.

Quando o governo não está preparado para comprar o excedente indesejado, um piso de preço significa que vendedores potenciais não conseguem encontrar compradores. Isso é o que acontece quando há um piso para o preço do salário pago, o salário mínimo: quando o salário mínimo está acima do salário de equilíbrio, algumas pessoas dispostas a trabalhar – isto é, vender trabalho – não conseguem encontrar compradores – ou seja, empregadores dispostos a lhes dar emprego.

Como um preço mínimo provoca ineficiência O excedente persistente que resulta de um piso de preços gera oportunidades perdidas – ineficiências – que se assemelham àquelas criadas pela escassez que resulta de um teto de preço. Inclui-se a quantidade baixa pelo critério da eficiência, a alocação ineficiente das vendas entre vendedores, desperdício de recursos, alta qualidade segundo o critério da eficiência e a tentação de burlar a lei vendendo abaixo do preço legal.

Quantidade baixa por ineficiência Como um piso de preço aumenta o preço de um bem para os consumidores, reduz a quantidade demandada desse bem; como os vendedores não podem vender mais do que os compradores estão dispostos a comprar, um piso de preço reduz a quantidade dos bens comprados e vendidos abaixo da quantidade de equilíbrio do mercado. Observe que esse é o mesmo efeito de um teto de preço. Talvez você imagine que um piso de preço e um teto de preço tenham efeitos opostos, mas ambos têm o efeito de reduzir a quantidade de um bem comprado e vendido (veja a seção Armadilhas). Como no caso de um teto de preço, a baixa quantidade vendida é uma ineficiência em consequência das oportunidades perdidas: pisos de preços evitam que transações mutuamente benéficas ocorram, operações que iriam beneficiar tanto compradores como vendedores. A Figura 4-6 mostra a ineficiência da baixa quantidade de manteiga vendida com um piso de preço sobre o preço da manteiga.

FIGURA 4-6 Um piso de preço causa quantidade baixa por ineficiência Um piso de preço reduz a quantidade demandada abaixo da quantidade de equilíbrio do mercado. Como os vendedores não podem vender mais unidades de um bem do que os compradores estão dispostos a comprar, pisos de preços reduzem a quantidade de um bem comprado e vendido.

Alocação ineficiente de vendas entre vendedores Como um teto de preço, um piso de preço pode acarretar alocação ineficiente – mas, nesse caso, alocação ineficiente de vendas entre vendedores, em vez de alocação ineficiente para consumidores.

Armadilhas Tetos, pisos e quantidades Um teto de preço empurra o preço de um bem para baixo. Um piso de preço empurra o preço de um bem para cima. Assim, é fácil supor que os efeitos de um piso de preço são o oposto dos efeitos de um teto de preço. Em especial, se um teto de preço reduz a quantidade comprada e vendida de um bem, um piso de preço não aumentaria a quantidade? Não, isso não acontece. Na verdade, tanto o piso como o teto reduz a quantidade

comprada e vendida. Por quê? Quando a quantidade ofertada de um bem não é igual à quantidade demandada, a quantidade real vendida é determinada pelo “lado curto” do mercado – qualquer quantidade será menor. Se os vendedores não quiserem vender tanto quanto os compradores quiserem comprar, são os vendedores que determinam a quantidade real vendida, porque os compradores não podem forçar os vendedores que não estão dispostos a vender. Se os compradores não quiserem comprar tanto quanto os vendedores querem vender, são os compradores que determinam a quantidade real vendida, porque os vendedores não podem forçar os compradores que não estão dispostos a comprar. Um episódio do filme belga Rosetta, uma história de ficção bastante realista, ilustra bem o problema da alocação ineficiente das oportunidades de venda. Como muitos países europeus, a Bélgica tem um salário mínimo elevado e os empregos para os jovens são escassos. Em certo momento, Rosetta, uma jovem ansiosa por trabalhar, perde o emprego em uma barraca de comida, pois o proprietário da barraca a substitui pelo filho, um trabalhador sem vontade para o trabalho. Rosetta estaria disposta a trabalhar por menos dinheiro, e com o dinheiro economizado o dono da barraca poderia dar uma mesada ao filho e deixá-lo fazer outra coisa. Mas contratar Rosetta por menos que o salário mínimo seria ilegal.

Desperdício de recursos Assim como um teto de preço, um piso de preço gera ineficiência por desperdiçar recursos. Os exemplos mais evidentes envolvem compras governamentais de excedentes indesejáveis de produtos agrícolas devido ao piso de preço. O excedente de produção algumas vezes é destruído, o que é puro desperdício; em outros casos, o produto armazenado fica “fora de condição”, como dizem eufemisticamente os funcionários, e tem que ser jogado fora. Pisos de preços também provocam desperdício de tempo e esforço. Considere o salário mínimo. Trabalhadores potenciais que passam muitas horas à procura de emprego ou esperando na fila na esperança de conseguir emprego, no caso do piso de preço, desempenham o mesmo papel que o das famílias infelizes em busca de apartamentos, no caso do teto de preço.

Alta qualidade segundo o critério de eficiência Mais uma vez, assim como os tetos de preços, os pisos de preços levam à ineficiência na qualidade dos bens produzidos. Vimos que quando há um teto de preço, há uma oferta de produtos que são de qualidade ineficientemente de baixa: os compradores preferem produtos de qualidade mais alta e estariam dispostos a pagar por eles, mas os vendedores se recusam a melhorar a qualidade de seus produtos porque o teto de preço impede que sejam compensados por isso. Essa mesma lógica se aplica aos pisos de preços, mas de forma

inversa: os fornecedores oferecem bens de alta qualidade por ineficiência. Como assim? A qualidade não é uma coisa boa? Sim, mas apenas se valer o custo. Suponha que os produtores gastem muito para fabricar produtos de altíssima qualidade, mas que essa qualidade não interesse aos consumidores, que preferem receber o dinheiro gasto com essa qualidade na forma de um preço mais baixo. Isso representa uma oportunidade perdida: vendedores e compradores poderiam fazer um negócio mutuamente benéfico em que os compradores obteriam bens de menor qualidade por um preço muito mais baixo. Um bom exemplo de ineficiência da qualidade excessiva vem desde os tempos em que as passagens aéreas internacionais tinham um preço muito elevado fixado por um tratado internacional. Proibidas de competir por clientes oferecendo preços mais baixos, em vez disso, as companhias aéreas ofereciam serviços caros, como refeições generosas, que, em grande parte, ninguém comia. Em certo momento, os reguladores tentaram restringir essa prática estabelecendo um padrão máximo de serviços, por exemplo, que o lanche não podia ter mais que um sanduíche. A seguir, uma companhia aérea introduziu o que chamou de “sanduíche escandinavo”, algo tão impressionante que forçou a convocação de uma nova conferência para definir o “sanduíche”. Tudo isso era um desperdício, especialmente considerando que os passageiros queriam realmente menos comida e tarifas aéreas mais baixas. Desde a desregulamentação das companhias aéreas dos Estados Unidos, na década de 1970, os passageiros americanos experimentaram considerável queda nos preços dos bilhetes aéreos acompanhada por uma diminuição na qualidade do serviço de bordo – assentos menores, comida de qualidade inferior, e assim por diante. Todo mundo reclama do serviço – mas agradece as tarifas mais baixas. A quantidade de pessoas voando em companhias aéreas nos Estados Unidos cresceu vertiginosamente desde a desregulamentação.

Atividade ilegal Por fim, assim como o teto de preços, o piso de preços oferece incentivos para a atividade ilegal. Por exemplo, em países onde o salário mínimo está muito acima do salário de equilíbrio, trabalhadores desesperados por emprego, por vezes, concordam em trabalhar sem registro em carteira com empregadores que escondem esse emprego do governo – ou subornam os fiscais. Essa prática, conhecida na Europa como “trabalho negro”, é comum especialmente nos países do Sul da Europa, como Itália e Espanha (veja adiante Economia em ação).

Então, por que existe piso de preços? Em suma, um piso de preços cria vários efeitos colaterais negativos: ■ Excedente persistente do bem. ■ Ineficiência decorrente do excedente persistente na forma de quantidade ineficientemente baixa (perda por peso morto), alocação ineficiente das vendas entre

vendedores, desperdício de recursos e qualidade ineficientemente alta do bem ofertado. ■ Tentação de se envolver em atividades ilegais, principalmente suborno e corrupção de funcionários públicos. Então, por que os governos impõem pisos de preços, quando existem tantos efeitos colaterais negativos? As razões são as mesmas ao impor um teto de preços. Os funcionários do governo muitas vezes ignoram as advertências sobre as consequências dos pisos de preços, seja por que acreditam que o mercado em questão não está bem descrito pelo modelo de oferta e demanda, ou, com mais frequência, por que não entendem o modelo. Acima de tudo, assim como o teto de preços muitas vezes é imposto porque beneficia alguns compradores influentes, o piso de preços também muitas vezes é imposto por beneficiar alguns vendedores influentes.

Economia em ação “Mercado negro de trabalho” no sul da europa O exemplo mais conhecido de piso de preço é o salário mínimo. Contudo, a maioria dos economistas acredita que o salário mínimo tenha relativamente pouco impacto sobre o mercado de trabalho nos Estados Unidos, principalmente por que o piso é baixo. Em 1964, o salário mínimo nos Estados Unidos era de 53% do salário médio de um operário da linha de produção, e em 2010, apesar de vários aumentos, caiu para aproximadamente 44%. No entanto, a situação é diferente em muitos países europeus, onde o salário mínimo estabelecido é muito mais elevado do que nos Estados Unidos. Isso acontece apesar de os trabalhadores europeus serem um pouco menos produtivos do que os homólogos americanos, o que significa que o salário de equilíbrio na Europa – o salário que ajustaria o mercado de trabalho – provavelmente é mais baixo na Europa do que nos Estados Unidos. Além disso, os países europeus muitas vezes obrigam os empregadores a pagar pelos benefícios do trabalhador, como seguro-saúde e aposentadoria, que são mais amplos e, desse modo, mais caros que os benefícios americanos. Esses benefícios, fixados em lei, tornam o custo real de contratação de um trabalhador europeu consideravelmente mais alto do que o salário de fato recebido pelo trabalhador.

Comparação global Confira os baixos salários americanos! Como mostra o gráfico, o salário mínimo nos Estados Unidos realmente é muito baixo em comparação com o de outros países ricos. Como o salário mínimo é fixado em moeda nacional – o salário mínimo britânico é definido em libras, o da França em euros, e assim por diante – a comparação depende da taxa de câmbio de um dia determinado. Em 15 de abril de 2011, a Austrália tinha um salário mínimo duas vezes maior que o dos Estados

Unidos, com a França, o Canadá e a Irlanda não muito atrás. Você pode observar um efeito dessa diferença na fila do caixa do supermercado. Nos Estados Unidos, geralmente há alguém para empacotar as compras para você – alguém que normalmente recebe o salário mínimo ou um pouco mais. Na Europa, onde é mais caro contratar alguém para empacotar compras, você mesmo tem que fazer o trabalho.

*O salário mínimo no Canadá varia, segundo as províncias, de C$8,00 a C$11,00. Fonte: National Employment Rights Authority (Irlanda); Ministère du Travail, de l’Emploi et de la Santé (França); Fair Work Australia (Austrália); Department for Business, Innovation and Skills (Grã-Bretanha); Human Resources and Skills Development Canada (Canadá); Department of Labor (Estados Unidos); Federal Reserve Bank de St. Louis (taxas de câmbio em 15 de abril de 2011).

O resultado é que, na Europa, o piso de preço do salário definitivamente é algo que precisa ser cumprido: o salário mínimo é bem superior àquele que igualaria a quantidade de trabalho ofertada pelos trabalhadores à quantidade de trabalho demandada pelos empregadores. O excedente persistente que resulta desse piso de preços aparece na forma de desemprego elevado, milhões de trabalhadores, especialmente jovens, em busca de emprego, mas não encontram. No entanto, em países onde a fiscalização do cumprimento das leis trabalhistas é fraca, há um segundo resultado totalmente previsível: fraude generalizada à lei. Tanto na Itália como na Espanha, acredita-se que haja centenas de milhares, senão milhões de trabalhadores que são empregados por empresas que pagam menos do que o salário mínimo legal, ou não oferecem os benefícios de saúde e aposentadoria, ou ambos. Em muitos os casos, os empregos não são registrados: os economistas espanhóis estimam que cerca de um terço de desempregados do país esteja na verdade trabalhalhando no mercado negro – exercendo trabalho não registrado. Na verdade, os espanhóis que esperam nas filas para receber seus cheques de seguro-desemprego queixam-se das longas filas que os impedem de voltar logo para o trabalho!

Os empregadores desses países também encontraram maneiras legais de contornar o piso salarial. Por exemplo, as leis trabalhistas da Itália se aplicam apenas às empresas com 15 ou mais trabalhadores. Isso oferece uma grande vantagem de custo às pequenas empresas italianas, de modo que muitas permanecem pequenas para evitar o pagamento de salários e benefícios. E com certeza, em algumas indústrias italianas, há uma proliferação surpreendente de pequenas empresas. Por exemplo, uma das indústrias italianas mais bem sucedidas é a de fabricação de tecidos de lã de alta qualidade, que se concentra na região de Prato. A empresa têxtil média nessa região emprega apenas quatro trabalhadores!

Breve revisão ■ O piso de preço mais conhecido é o salário mínimo. Os impostos também comumente são pisos de preços para bens agrícolas. ■ Um piso de preço acima do preço de equilíbrio beneficia os vendedores de sucesso, mas provoca efeitos adversos previsíveis, como um excedente persistente, que leva a quatro tipos de ineficiência: baixa quantidade segundo o critério de eficiência, alocação ineficiente de vendas entre vendedores, desperdício de recursos e alta qualidade segundo o critério de eficiência. ■ Pisos de preços incentivam a atividade ilegal, como os trabalhadores que trabalham sem carteira assinada, muitas vezes levando à corrupção oficial.

Teste seu entendimento 4-2 1. A Assembleia Legislativa do Estado aprova um piso de preço para a gasolina de PF por galão. Avalie as seguintes afirmações e ilustre a resposta usando o gráfico fornecido. a. Os defensores da lei afirmam que ela aumentará a renda dos proprietários de postos de gasolina. Os opositores afirmam que isso irá prejudicar, porque irão perder clientes. b. Os defensores alegam que os consumidores serão beneficiados porque os postos de gasolina irão oferecer um serviço melhor. Os opositores afirmam que os consumidores serão prejudicados porque preferem comprar gasolina a preços mais baratos. c. Os defensores alegam que estão ajudando os proprietários de postos de gasolina, sem prejudicar ninguém. Os opositores afirmam que os consumidores estão sendo prejudicados e serão obrigados a fazer coisas como comprar gasolina em outro estado ou no mercado negro.

As respostas estão no fim do livro.

Controle de quantidades Nos anos 1930, a prefeitura de Nova York instituiu um sistema de concessão de licenças para táxis: apenas táxis com um “medalhão” podiam pegar passageiros. Como esse sistema pretendia garantir a qualidade, os proprietários de medalhão deveriam manter certos padrões, incluindo segurança e limpeza. Foi emitido um total de 11.787 medalhões, com os taxistas pagando $10 por medalhão. Em 1995, havia apenas 11.787 táxis licenciados em Nova York, embora nesse meiotempo a cidade tenha se tornado a capital financeira do mundo, um lugar onde centenas de milhares de pessoas estão, a cada dia, com mais pressa e tentam pegar um táxi. (Em 1995, foram emitidos mais 400 medalhões e, após várias rodadas adicionais, em 2009 passaram a 13.128 medalhões.) O resultado dessa restrição no número de táxis é que os medalhões se tornaram muito valiosos na cidade de Nova York: quem quiser operar um táxi em Nova York terá que fazer um leasing do medalhão de alguém ou comprar um pelo preço de algumas centenas de milhares de dólares. Acontece que essa história não é única; outras cidades introduziram sistemas semelhantes na década de 1930 e, como em Nova York, emitiram poucas licenças desde então. Em San Francisco e Boston, assim como em Nova York, medalhões de táxi se comerciam a cifras de seis dígitos. Um sistema de medalhão para táxis é uma forma de controle de quantidade, ou cota, pela qual o governo regula a quantidade de um bem que pode ser comprado e vendido e não o preço da transação. O valor total do bem que pode ser transacionado quando há controle da quantidade é chamado de limite de cota. Normalmente, o governo limita a quantidade em um mercado por meio da emissão de licenças; apenas as pessoas com licença podem fornecer o bem legalmente. Um sistema de medalhão para táxi é apenas uma licença. A prefeitura de Nova York limita o número de corridas de táxi que podem ser vendidas limitando o número de táxis apenas aos que possuem medalhões. Há muitos outros casos de controle de quantidade, variando do limite da quantidade de moeda estrangeira (por exemplo, libras esterlinas ou pesos mexicanos), que as pessoas podem comprar, até a quantidade de moluscos que os barcos de New Jersey podem pescar. Observe, a propósito, que embora exista controle de preços em ambos os lados do equilíbrio – pisos e tetos de preços – no mundo real, o controle de quantidade sempre define um limite sobre quantidade superior, e não inferior. Afinal, ninguém pode ser forçado a comprar ou vender mais do que quer! Algumas tentativas de controle de quantidade se realizam por boas razões econômicas, outras por más razões. Em muitos casos, como veremos, controles de quantidade introduzidos para resolver um problema temporário tornam-se, mais tarde, politicamente difíceis de remover porque os beneficiados não querem mais abrir mão deles, mesmo que as razões para a sua existência tenham desaparecido. Mas quaisquer que sejam as razões para tais controles, eles têm certas consequências previsíveis e, geralmente, indesejáveis.

Anatomia dos controles de quantidade Para entender por que um medalhão de táxi vale tanto em Nova York, consideremos uma versão simplificada do mercado de corridas de táxi, como mostrado na Figura 4-7. Assim como na análise do controle de aluguel assumimos que todos os apartamentos são iguais, suponhamos agora que todas as corridas de táxi são iguais – ignorando as complicações do mundo real, onde algumas corridas são mais longas, e são mais caras que outras. No lado direito da figura aparecem as tabelas de oferta e demanda. O equilíbrio – indicado pelo ponto E na figura e pelas entradas sombreadas na tabela – é uma tarifa de $5 por corrida, com zero milhões de corridas por ano. (Veremos a seguir por que o equilíbrio é apresentado dessa forma.)

FIGURA 4-7 O mercado de corridas de táxi na ausência de controles governamentais Sem a intervenção do governo, o mercado atinge o equilíbrio com 10 milhões de corridas por ano a uma tarifa de $5 por corrida.

O sistema de medalhões de Nova York limita o número de táxis, mas cada motorista de táxi pode oferecer tantas corridas quanto aguente. (Agora você sabe por que os taxistas de NovaYork são tão agressivos!) Contudo, para simplificar a análise, vamos supor que um sistema de medalhão limite o número de corridas de táxi que legalmente podem ser feitas a 8 milhões por ano. Até agora derivamos a curva da demanda, respondendo às questões da forma seguinte: “Quantas corridas de táxi os passageiros vão querer fazer ao preço de $5 por corrida?” Mas é possível reverter a questão e, em vez disso, perguntar: “A que preço os consumidores vão querer fazer 10 milhões de corridas por ano?” O preço pelo qual os consumidores querem comprar uma determinada quantidade – nesse caso, 10 milhões de corridas a $5 por corrida – é o preço de demanda dessa quantidade. Você pode ver a partir da tabela da demanda na Figura 4-7 que o preço de demanda de seis milhões de corridas é de $7 por corrida, o preço de demanda de sete milhões de corridas é de $6,50 por corrida, e assim por diante. Da mesma forma, a curva da oferta representa a resposta às questões da forma: “Quantas corridas de táxi os taxistas ofereceriam a um preço de $5 cada uma?” Mas

também é possível inverter essa questão: “A que preço quem oferece o serviço estará disposto a suprir 10 milhões de corridas por ano?” O preço pelo qual o fornecedor está disposto a suprir determinada quantidade – nesse caso, 10 milhões de corridas a $5 por corrida – é o preço de oferta dessa quantidade. Podemos ver da tabela de oferta da Figura 4-7 que o preço de oferta de 6 milhões de corridas é de $3 por corrida, o preço de oferta de 7 milhões de corridas é de $3,50 por corrida, e assim por diante. Agora estamos prontos para analisar uma cota. Assumimos que a prefeitura da cidade limita a quantidade de corridas de táxi em 8 milhões por ano. Medalhões, que têm o direito de fornecer certo número de corridas de táxi por ano, são disponibilizados para pessoas selecionadas, de tal forma que um total de 8 milhões de corridas será oferecido. Os donos de medalhões podem dirigir seus próprios táxis ou alugar o medalhão a outros por uma tarifa. A Figura 4-8 mostra o mercado resultante para corridas de táxi, com a linha preta vertical em 8 milhões de corridas por ano representando o limite de cota. Como a quantidade de corridas é limitada em 8 milhões, os consumidores devem estar no ponto A da curva de demanda, que corresponde à entrada sombreada na tabela da demanda: o preço de demanda de 8 milhões de corridas é de $6 por corrida. Enquanto isso, os taxistas devem estar no ponto B da curva da oferta, que corresponde à entrada sombreada na tabela da oferta: o preço de 8 milhões de corridas é de $4 por corrida.

FIGURA 4-8 Efeito de uma cota no mercado para corridas de táxi A tabela mostra o preço de demanda e de oferta correspondente a cada quantidade: o preço pelo qual essa quantidade seria demandada e ofertada, respectivamente. A prefeitura impôs uma cota de 8 milhões de corridas com a venda de licenças para apenas 8 milhões de corridas, representada pela linha preta vertical. O preço pago pelos consumidores subiu para $6 por corrida, o preço de demanda de 8 milhões de corridas, mostrado no ponto A. O preço de oferta de 8 milhões de corridas é de apenas $4 por corrida, mostrado no ponto B. A diferença entre esses dois preços é a renda da cota por corrida, o resultado obtido pelo proprietário de uma licença. A renda da cota introduz uma cunha entre o preço de demanda e o de oferta e a cota desestimula transações mutuamente benéficas.

Mas como o preço recebido pelos taxistas é $4, quando o preço pago pelos clientes é $6? A resposta é que, além do mercado de corridas de táxi, há também um mercado de medalhões. Os detentores de medalhão nem sempre querem dirigir seus táxis: podem

estar doentes ou em férias. Aqueles que não querem dirigir seus próprios táxis vendem o direito de usar o medalhão para outra pessoa. Então, aqui, precisamos considerar dois conjuntos de transações e também dois preços: (1) as transações das corridas de táxi e o preço ao qual essas corridas ocorrem, e (2) as transações com medalhões e o preço ao qual ocorrem. Acontece que como estamos analisando dois mercados, os preços de $4 e $6 estão corretos. Para verificar como tudo isso funciona, considere dois taxistas imaginários de Nova York, Sunil e Harriet. Sunil tem um medalhão, mas não pode usá-lo porque está se recuperando de uma torção severa no pulso. Então ele está analisando a possibilidade de alugar seu medalhão para alguém. Harriet não tem um medalhão, mas gostaria de alugar um. Além disso, a qualquer momento, haverá muitas outras pessoas como Harriet que gostariam de alugar um medalhão. Suponha que Sunil concorde em alugar seu medalhão para Harriet. Para simplificar, suponha que qualquer motorista pode dar apenas uma corrida por dia e que Sunil está alugando seu medalhão para Harriet por um dia. Com qual preço de aluguel entrarão em acordo? Para responder a essa questão, precisamos analisar as transações sob o ponto de vista de ambos os motoristas. Uma vez que ela tem o medalhão, Harriet sabe que se tiver o medalhão poderá ganhar $6 por dia, o preço de demanda de uma corrida, havendo a cota. Ela está disposta a alugar o medalhão se receber pelo menos $4 por dia, o preço de oferta, havendo a cota. Então, Sunil não pode exigir um aluguel de mais de $2 por dia, a diferença entre $6 e $4. E se Harriet oferecer a Sunil menos que $2 – digamos, $1,50 – outros motoristas ansiosos estarão dispostos a oferecer-lhe mais, até $2. Assim, para obter o medalhão, Harriet deve oferecer a Sunil pelo menos $2. Como o aluguel pode ser maior que $2 e não pode ser menor que $2, deve ser exatamente $2. Não é por acaso que $2 seja exatamente a diferença entre $6, o preço de demanda de 8 milhões de corridas, e $4, o preço de oferta de 8 milhões de corridas. Em todos os casos em que a oferta de um bem é legalmente restrita, há uma cunha entre o preço de demanda da quantidade transacionada e o preço de oferta da quantidade transacionada. Essa cunha, ilustrada pela seta dupla na Figura 4-8, tem um nome especial: renda da cota. É a renda que vai para o dono da licença pela posse de um bem valioso, a licença. No caso de Sunil e Harriet, a renda da cota de $2 vai para Sunil porque ele possui a licença e os $4 restantes do preço total da corrida de $6 vai para Harriet. Assim, a Figura 4-8 ilustra também a renda da cota no mercado de táxis de Nova York. A cota limita a quantidade de corridas a 8 milhões por ano, uma quantidade em que o preço de demanda de $6 excede o preço de oferta de $4. A cunha entre esses dois preços, $2, é a renda da cota que resulta das restrições sobre a quantidade de corridas de táxi desse mercado. Mas espere um pouco. E se Sunil não aluga seu medalhão? Se ele mesmo o usa? Isso não quer dizer que ele obterá o preço de $6? Realmente não. Mesmo se Sunil não alugar o medalhão, poderia tê-lo alugado, o que significa que o medalhão tem um custo de oportunidade de $2: se Sunil decide usar o medalhão e conduzir o seu próprio táxi em vez de alugar para Harriet, $2 representa o custo de oportunidade de não alugar o medalhão. Ou seja, a renda de cota de $2 é agora a renda de aluguel que ele renuncia ao dirigir o seu

próprio táxi. Com efeito, Sunil está em dois negócios – o negócio de taxista e o de alugar o medalhão. Recebe $4 por corrida dirigindo o seu táxi e $2 por corrida alugando seu medalhão. Não faz nenhuma diferença que, nesse caso específico, tenha alugado seu medalhão a si mesmo! Assim, independentemente de o medalhão ser usado pelo próprio dono ou alugado, é um ativo valioso. E isso está representado no preço corrente de um medalhão de táxi em Nova York: em outubro de 2011, era cerca de $429 mil. De acordo com Simon Greenbaum, uma corretora de Nova York de medalhões de táxi, um proprietário de medalhão que aluga para um motorista pode esperar ganhar cerca de $2.500 por mês, ou uma taxa de retorno de 3% – uma taxa atrativa em comparação com outros investimentos. A propósito, observe que essas cotas – assim como tetos e pisos de preços – nem sempre têm um efeito real. Se a cota fosse fixada em 12 milhões de corridas – ou seja, acima da quantidade de equilíbrio em um mercado não regulamentado – não teria efeito, pois não precisaria ser cumprida.

Custos do controle de quantidade Assim como o controle de preços, controles de quantidade também podem ter alguns efeitos colaterais previsíveis e indesejáveis. O primeiro é o problema familiar de ineficiência em razão das oportunidades perdidas: controles de quantidade evitam que transações mutuamente benéficas ocorram, transações que beneficiariam tanto compradores como vendedores. Analisando a Figura 4-8, pode-se observar que, começando a partir do limite de cota de 8 milhões de corridas, os nova-iorquinos estariam dispostos a pagar pelo menos $5,50 por corrida para um adicional de um milhão de corridas e que os taxistas estariam dispostos a fornecer essas corridas, desde que recebessem pelo menos $4,50 por corrida. Essas corridas teriam ocorrido se não houvesse o limite de cota. O mesmo se aplica ao próximo milhão de corridas: os nova-iorquinos estariam dispostos a pagar pelo menos $5 por corrida quando a quantidade de corridas aumentasse de 9 para 10 milhões e os taxistas estariam dispostos a suprir essas corridas desde que obtivessem pelo menos $5 por corrida. Mais uma vez, essas corridas teriam ocorrido sem o limite de cota. Apenas quando o mercado atingisse a quantidade de equilíbrio do livre mercado de 10 milhões de corridas é que não haveria mais “corridas de oportunidade perdida” – o limite de cota de 8 milhões de corridas causou 2 milhões de “corridas de oportunidade perdida”. Geralmente, enquanto a demanda de preço de determinada quantidade excede o preço de oferta, há uma oportunidade perdida. Um comprador estaria disposto a comprar um bem por um preço que o vendedor estaria disposto a aceitar, mas essa transação não ocorre por ser proibida pela cota. E como existem transações que as pessoas gostariam de fazer, mas não são permitidas, os controles de quantidade geram incentivos para evadir ou até mesmo ferir a lei. A

indústria de táxis de Nova York novamente fornece exemplos claros. A regulamentação dos táxis se aplica apenas aos motoristas que são parados pelos passageiros na rua. Serviços de motorista que transportam passageiros, com os quais foi antecipadamente combinado, não precisam de medalhão. Como resultado, esses carros alugados fornecem a maior parte do serviço que poderia ser prestado pelos táxis, como em outras cidades. Além disso, há um número substancial de táxis sem licença que desafia a lei pegando passageiros sem ter medalhão. Como esses táxis são ilegais, os motoristas não passam por nenhuma fiscalização e geram uma parcela desproporcionalmente grande de acidentes de trânsito em Nova York. Na verdade, em 2004 as dificuldades causadas pelo número limitado de táxis em Nova York levou os lideres da cidade a autorizar um aumento no número de táxis licenciados. Em uma série de vendas, a cidade vendeu 900 novos medalhões, resultando no total de 13.128 medalhões – um movimento que certamente animou os passageiros de Nova York. Mas aqueles que já possuíam medalhões ficaram menos felizes com o aumento, pois entenderam que 900 novos táxis iriam reduzir ou eliminar a escassez de táxis. Como resultado, os taxistas anteciparam uma queda em suas receitas, porque já não teriam sempre a certeza de encontrar clientes dispostos. E, por sua vez, o valor do medalhão iria cair. Então, para agradar os proprietários de medalhão, a prefeitura também elevou as tarifas de táxi: 25% em 2004 e, de novo, um percentual menor em 2006. Embora agora seja mais fácil encontrar um táxi, uma corrida custa mais e esse aumento de preço diminuiu um pouco a alegria recém-sentida dos nova-iorquinos. Em suma, os controles de quantidade normalmente criam os seguintes efeitos indesejáveis: ■ Ineficiências, ou oportunidades perdidas, na forma de transações mutuamente benéficas que não ocorrem. ■ Incentivos a atividades ilegais.

Economia em ação Os moluscos de New Jersey Esqueça as refinarias ao longo da avenida principal ou os reality shows, uma indústria que New Jersey realmente domina é a pesca de moluscos. Em 2009, o Garden State fornecia 39% de mariscos do país, que são usados para fazer ensopado de vôngoles, e 71% de amêijoa branca (surf clams), geralmente fritos. Contudo, na década de 1980, devido ao excesso de pesca os moluscos de New Jersey estavam ameaçados de extinção. Para salvar o recurso, o governo dos Estados Unidos introduziu uma cota de molusco, que estabelece um limite global sobre a quantidade de toneladas de moluscos que pode ser pescada e atribui licenças aos proprietários de barcos de pesca com base na quantidade histórica de pesca. Observe, a propósito, que esse é um exemplo de cota que, provavelmente, é justificado por considerações mais amplas, econômicas e ambientais, ao contrário das cotas de táxis de Nova York, que há muito perdeu qualquer razão econômica. Ainda assim, qualquer

que seja sua razão de ser, a cota de moluscos de New Jersey funciona da mesma maneira que qualquer outra cota. Uma vez estabelecido o sistema de cotas, muitos proprietários de barco pararam de pescar moluscos. Perceberam que em vez de operar um barco em tempo parcial, era mais rentável vender ou alugar as licenças a outro dono de barco, que, então, teria licenças suficientes para operar um barco em tempo integral. Hoje, existem cerca de 50 barcos de pesca colhendo moluscos em New Jersey. A licença necessária para operar um deles vale mais do que o próprio barco.

Breve revisão ■ Controles de quantidade ou cotas são limites impostos pelo governo sobre a quantidade que um bem pode ser comprado ou vendido. A quantidade permitida para venda é o limite de cota. O governo emite uma licença – o direito de vender determinada quantidade de um bem sujeito à cota. ■ Quando o limite da cota é menor do que a quantidade de equilíbrio em um mercado não regulamentado, o preço de demanda é maior do que o preço de oferta – há uma cunha entre eles no limite de cota. ■ Essa cunha é a renda da cota, os resultados que o titular da licença obtém pela propriedade do direito de vender o bem – seja realmente com o fornecimento do bem ou alugando a licença para outra pessoa. O preço de mercado de uma licença é igual à renda da cota. ■ Assim como controles de preços, controles de quantidade criam ineficiência e incentivam a atividade ilegal.

Teste seu entendimento 4-3 1. Suponha que a oferta e demanda de corridas de táxi é dada pela Figura 4-7, mas a cota é fixada em 6 milhões de corridas em vez de 8 milhões. Encontre o seguinte e indique na Figura 4-7. a. O preço de uma corrida. b. A renda da cota. c. Suponha que o limite da cota em corridas de táxi tenha aumentado para 9 milhões. O que acontece com a renda da cota? 2. Suponha que o limite da cota seja de 8 milhões de corridas. Suponha ainda que a demanda diminui devido a um declínio no turismo. Qual é o menor deslocamento paralelo da demanda para a esquerda que teria como resultado que a cota não mais teria efeito no mercado? Ilustre a resposta usando a Figura 4-7. As respostas estão no fim do livro.

Caso empresarial Medallion Financial: indo no caminho certo

Voltemos a 1937, antes da cidade de Nova York congelar o número de medalhões de táxi, quando o avô imigrante de Andrew Murstein comprou seu primeiro medalhão por $10. Com o tempo, o avô acumulou 500 medalhões, que alugou para outros motoristas. Esses 500 medalhões de táxi tornaram-se a base para a Medallion Financial: a empresa que acabaria por pertencer a Andrew, presidente atual. Com um valor de mercado de $200 milhões no final de 2011, a Medallion Financial mudou sua principal linha de negócios de aluguel de medalhões para financiamento da compra de novos medalhões, emprestando dinheiro para aqueles que querem comprar um medalhão, mas não têm o montante considerável de dinheiro necessário para fazê-lo. Murstein acredita que está ajudando pessoas que, como seu avô, imigrante polonês, querem comprar um pedaço do sonho americano. Andrew Murstein observa cuidadosamente o valor de um medalhão de táxi na cidade de Nova York – quanto mais custa, há mais demanda de empréstimos para a Medallion Financial e mais juros a empresa recebe sobre os empréstimos. Um empréstimo pela Medallion Financial é garantido pelo próprio valor do medalhão. Se o tomador do empréstimo não for capaz de pagá-lo, a Medallion Financial toma posse do medalhão e revende-o para compensar o custo da inadimplência. A partir de 2011, o valor de um medalhão aumentou mais rapidamente do que as ações, petróleo e ouro. Ao longo da décadas de 1990 até o outono de 2011, o valor de um medalhão aumentou 440% comparado com apenas 255% do índice das ações. Mas o preço do medalhão pode variar drasticamente, ameaçando o lucro. Durante os períodos de economia muito forte, como entre 1999 e 2001, o preço dos medalhões de táxi de Nova York cairam à medida que os motoristas encontravam empregos em outros setores. Quando a economia de Nova York despencou, no rescaldo do 11 de setembro, o preço do medalhão caiu para $180.000, o menor nível em 12 anos. Em 2004, os proprietários de medalhão estavam preocupados com a iminente venda pela New York City Taxi and Limousine Comission de um adicional de 900 medalhões. Como comentou na época Peter Hernandez, um taxista preocupado de Nova York que financiou seu medalhão com um empréstimo da Medallion Financial: “Se colocarem novos táxis na indústria, o medalhão será desvalorizado. E também minha renda diária.” No entanto, Murstein sempre foi otimista que os medalhões iriam manter o seu valor. Acreditava que um aumento da tarifa de 25% iria compensar uma eventual perda de valor causada pela venda de novos medalhões. Além disso, mais medalhões significariam mais empréstimos para a sua empresa. A partir de 2011, o otimismo de Murstein tinha sido justificado. Em consequência da crise financeira entre 2007 e 2009, muitas empresas de Nova York cortaram os serviços de limousine que normalmente forneciam aos seus empregados, forçando-os a tomar táxis. Como resultado, em outubro de 2011 o preço de um medalhão subiu para impressionantes $694.000. E os investidores perceberam o valor da linha de negócios de Medallion Financial: a partir de novembro de 2010 a novembro de 2011, as ações da Medallion Financial subiram 44%.

Questões para pensar

1. Como a Medallion Financial se beneficiou da restrição sobre o número de medalhões de táxi em Nova York? 2. Qual seria o efeito sobre a Medallion Financial se as empresas de Nova York retomassem a utilização generalizada dos serviços de limusine para seus empregados? Qual é a motivação econômica que faz as empresas oferecerem esse privilégio aos seus empregados? (Observe que é muito difícil e caro ter um carro pessoal, em Nova York.) 3. Preveja o efeito sobre os negócios da Medallion Financial se a cidade de Nova York eliminasse as restrições sobre o número de táxis.

Resumo 1. Mesmo quando um mercado é eficiente, os governos muitas vezes intervêm em busca de maior justiça ou para agradar a um grupo de interesse poderoso. As intervenções podem assumir a forma de controle de preços ou controle de quantidade; ambos geram efeitos colaterais previsíveis e indesejáveis que consistem de várias formas de ineficiência e atividade ilegal. 2. Um teto de preço, um preço máximo de mercado abaixo do preço de equilíbrio, beneficia os compradores de sucesso, mas cria escassez persistente. Como o preço é mantido abaixo do preço de equilíbrio, a quantidade demandada é aumentada e a quantidade ofertada é diminuída em comparação com a quantidade de equilíbrio. Isso leva a problemas previsíveis: ineficiências, alocação ineficiente entre consumidores, desperdício de recursos e baixa qualidade pelo critério da eficiência. Além disso, incentiva a atividade ilegal, com as pessoas recorrendo ao mercado negro para obter o bem. Em decorrência desses problemas, tetos de preço, em geral, perderam prestígio como ferramenta de política econômica. Mas alguns governos continuam a impô-los, seja porque não entendem seus efeitos ou porque os tetos de preço beneficiam algum grupo influente. 3. Um piso de preço, um preço mínimo de mercado acima do preço de equilíbrio, beneficia os vendedores de sucesso, mas cria um excedente persistente. Como o preço é mantido acima do preço de equilíbrio, a quantidade demandada cai e a quantidade ofertada aumenta em comparação com a quantidade de equilíbrio. Isso ocasiona problemas previsíveis: ineficiências, alocação ineficiente das vendas entre vendedores, desperdício de recursos e alta qualidade pelo critério da eficiência. Além disso, incentiva a atividade ilegal e o mercado negro. O tipo mais conhecido de piso de preço é o salário mínimo, mas pisos de preços também são comumente aplicados aos produtos agrícolas. 4. Controles de quantidade, ou cotas, limitam a quantidade de um bem que pode ser comprada ou vendida. A quantidade permitida para venda é o limite de cota. Os governos emitem licenças aos indivíduos, o direito de vender determinada quantidade do bem. O proprietário da licença recebe a renda da cota, rendimento que decorre do direito de vender o bem. Essa renda é igual à diferença entre o preço de demanda no limite da cota, o que os consumidores estão dispostos a pagar pela quantidade, e o preço de oferta no limite da cota, o que os fornecedores estão dispostos a aceitar por

aquela quantidade. Os economistas dizem que uma cota introduz uma cunha entre o preço de demanda e o preço de oferta; essa cunha é igual à renda da cota. Controles de quantidade geram ineficiências na forma de transações mutuamente benéficas que não ocorrem além de incentivar a atividade ilegal.

Palavras-chave Controle de preços, p. 88 Teto de preço, p. 88 Piso de preço, p. 88 Alocação ineficiente entre os consumidores, p. 91 Desperdício de recursos, p. 91 Baixa qualidade pelo critério de eficiência, p. 91 Mercados negros, p. 92 Salário mínimo, p. 94 Alocação ineficiente das vendas entre vendedores, p. 104 Alta qualidade por ineficiência, p. 97 Controle de quantidade, p. 99 Cota, p. 99 Limite da cota, p. 99 Licenças, p. 99 Preço de demanda, p. 100 Preço de oferta, p. 100 Cunha, p. 101 Renda da cota, p. 102

Problemas 1. Suponha que se decidiu abolir o controle sobre preços de aluguel em Nova York e que agora vai prevalecer o mercado de aluguéis. Suponha que todas as unidades para locação sejam idênticas e, portanto, são ofertadas ao mesmo preço de aluguel. Para resolver a situação dos moradores que não podem pagar o aluguel de mercado, será pago um complemento de renda a todas as famílias de baixa renda igual à diferença entre o antigo aluguel controlado e o novo aluguel de mercado. a. Use um gráfico para mostrar o efeito da eliminação do controle de aluguel sobre o mercado de aluguéis. O que irá acontecer com a qualidade e a quantidade de imóveis ofertados para locação? b. Use um segundo gráfico para mostrar o efeito da política de suplementação de renda sobre o mercado. Que efeito tem sobre o aluguel de mercado e sobre a quantidade de imóveis oferecidos para locação em comparação com a resposta do item a? c. Os inquilinos estão em melhor ou pior situação como resultado dessas políticas? E os locatários ficam em melhor ou pior situação?

d. Do ponto de vista político, para ajudar as pessoas de baixa renda a pagar pela moradia, porque você acha que as cidades têm estado mais propensas a recorrer ao controle de aluguel em vez de usar uma política de suplementação de renda? 2. Para agradar os eleitores, o prefeito de Gotham decidiu baixar o preço das corridas de táxi. Suponha, para simplificar, que todas as corridas de táxi tenham a mesma distância e, portanto, custam o mesmo valor. A seguir estão as tabelas de oferta e demanda de corridas de táxi correspondentes.

a. Suponha que não haja restrições sobre o número de corridas de táxi que podem ser oferecidas (não existe sistema de medalhões). Encontre o preço e a quantidade de equilíbrio. b. Suponha que o prefeito estabeleça um teto de preço de $5,50. Qual a magnitude da falta de corridas? Ilustre, por meio de um gráfico, quem perde e quem se beneficia com essa política? c. Suponha que o mercado de ações sofra uma enorme queda e as pessoas em Gotham fiquem mais pobres. Isso reduz a quantidade de corridas de táxi demandadas em 6 milhões de corridas por ano a qualquer preço. Qual efeito a nova política do prefeito terá agora? Ilustre com um gráfico. d. Suponha que o mercado de ações se recupere e a demanda por corridas de táxi volte ao normal (isto é, retorne à tabela de demanda que foi dada). O prefeito agora decide agradar os motoristas de táxi. Anuncia uma política em que serão concedidas licenças de taxi aos taxistas existentes; o número de licenças é restrito, de tal forma que podem ser feitas apenas 10 milhões de corridas por ano. Ilustre o efeito dessa política no mercado e indique o preço resultante e a quantidade transacionada. Qual é a renda da cota por corrida? 3. No final do século XVIII, o preço do pão em Nova York era controlado, prefixado a um preço acima do preço de mercado. a. Desenhe um gráfico mostrando o efeito dessa política. Essa política funcionou como teto de preço ou piso de preço?

b. Que tipos de ineficiências poderiam surgir quando o preço controlado do pão estava acima do preço de mercado? Explique em detalhes. Um ano durante esse período, a colheita de trigo foi fraca e provocou um deslocamento para a esquerda na oferta do pão e, portanto, um aumento no preço de mercado. As padarias de Nova York descobriram que o preço controlado do pão estava abaixo do preço de mercado. c. Desenhe um gráfico mostrando o efeito do controle de preços no mercado de pão durante o período de um ano. A política funcionou como um teto de preço ou um piso de preço? d. Que tipos de ineficiências você acha que ocorreu durante esse período? Explique em detalhes. 4. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) administra o piso de preço para a manteiga, a Farm Bill de 2008 fixou em $1,05 por libra. A esse preço, de acordo com os dados do USDA, a quantidade de manteiga ofertada em 2010 era de 1,7 bilhão de libras e a quantidade demandada, de 1,6 bilhão de libras. Para suportar o preço da manteiga no piso de preço, o USDA tinha que comprar 100 milhões de libras de manteiga. O gráfico a seguir mostra as curvas de oferta e de demanda ilustrando o mercado de manteiga.

a. Na ausência de um piso de preço, quanto é o excedente do consumidor criado? Quanto é o excedente do produtor? Qual é o excedente total? b. Com o piso de preço de $1,05 por libra de manteiga, os consumidores compram 1,6 milhão de libras de manteiga. Quanto é o excedente do consumidor criado agora? c. Com o piso de preço de $1,05 por libra de manteiga, os produtores vendem 1,7 bilhão de libras de manteiga (tanto para os consumidores como para o USDA). Quanto é o

excedente do produtor criado agora? d. Quanto o USDA gasta na compra do excedente de manteiga? e. É necessário uma arrecadação de impostos para que o USDA possa comprar o excedente de manteiga. Como consequência, o excedente total (produtor e consumidor) é reduzido pelo montante que o USDA gasta na compra do excedente de manteiga. Usando suas respostas para as partes b-d, quanto é o excedente total quando há um piso de preço? Como isso se compara com o excedente total sem preço mínimo do item a? 5. A tabela a seguir mostra a demanda hipotética e a tabela da oferta de leite por ano. O governo dos Estados Unidos decide que a renda dos produtores de leite deve ser mantida em um nível que permita a uma família tradicional sobreviver em uma fazenda de gado leiteiro. Por isso, estabelece um piso de preço de $1 por garrafa, comprando o leite excedente, até que o preço de mercado chegue a $1 por garrafa.

a. Qual o excedente de leite que será produzido como resultado dessa política? b. Qual será o custo dessa política para o governo? c. Uma vez que o leite é uma importante fonte de proteína e cálcio, o governo decide fornecer o leite excedente que adquire para as escolas de ensino fundamental, ao preço de apenas $0,60 por garrafa. Suponha que as escolas irão comprar qualquer quantidade de leite disponível a esse preço. Mas os pais agora reduziram a compra de leite a qualquer preço a 50 milhões de garrafas por ano, pois sabem que os filhos estão recebendo leite na escola. Qual será o custo do programa de leite para o governo agora? d. Explique como ineficiências na forma de alocação ineficiente para os vendedores e desperdício de recursos surgem a partir dessa política. 6. Os governos europeus tendem a fazer maior uso de controles de preços do que o governo dos Estados Unidos. Por exemplo, o governo francês estabelece salários mínimos iniciais para quem tenha completado o le bac francês, um certificado equivalente a um diploma de ensino médio nos Estados Unidos. A tabela de demanda para novas contratações com o le bac e a tabela de oferta de jovens com essas credenciais procurando emprego estão na tabela a seguir. O preço é dado em euros, moeda utilizada na França, e corresponde ao salário anual.

Salário (por ano) $45.000 40.000 35.000 30.000 25.000

Quantidade demandada (novas ofertas de emprego) 200.000 220.000 250.000 290.000 370.000

Quantidade ofertada (número de pessoas procurando emprego) 325.000 320.000 310.000 290.000 200.000

a. Na ausência de interferência do governo, qual é o salário de equilíbrio e o número de recém-graduados contratados por ano? Ilustre com um gráfico. Haverá alguém à procura de emprego ao salário de equilíbrio e que seja incapaz de encontrar um, ou seja, haverá alguém em desemprego involuntário? b. Suponha que o governo francês estabeleça um salário mínimo anual de €35.000. Existe alguma situação de desemprego involuntário com esse salário? Se sim, quanto? Ilustre com um gráfico. E se o salário mínimo for fixado em €40.000? Também ilustre com um gráfico. c. Dada a resposta do item b e as informações da tabela, qual é a relação entre nível de desemprego involuntário e nível de salário mínimo? Quem se beneficia com essa política? Quem perde? Qual é a oportunidade perdida aqui? 7. Até recentemente, o número padrão de horas de trabalho por semana em empregos de tempo integral na França era de 39 horas, como nos Estados Unidos. Mas, em resposta à agitação social com os altos níveis de desemprego involuntário, o governo francês instituiu a semana de trabalho de 35 horas – um trabalhador não poderia trabalhar mais que 35 horas por semana, mesmo que tanto o trabalhador como o empregador desejassem. A motivação por trás dessa política é a ideia de que se os empregados atuais trabalharem menos horas, os empregadores serão obrigados a contratar novos trabalhadores. Suponha que seja dispendioso para os empregadores treinar novos trabalhadores. Os empresários franceses se opuseram fortemente a essa política e ameaçaram transferir as operações para países vizinhos que não tivessem tais restrições de emprego. Você pode explicar essa atitude? Dê um exemplo, tanto de ineficiência como de atividade ilegal que é provável que surja a partir dessa política. 8. Durante os últimos 70 anos, o governo dos Estados Unidos tem usado preços de apoio para ajudar a manter a renda dos fazendeiros americanos. Para implementar esse apoio de preços, às vezes o governo usa pisos de preços, que são mantidos pela compra do excedente agrícola. Em outras ocasiões, usa metas de preços, política pela qual o governo fornece ao fazendeiro um montante igual à diferença entre o preço de mercado e a meta de preço para cada unidade vendida. Considere o mercado de milho ilustrado no gráfico.

a. Se o governo estabelece um piso de preço de $5 por saca, quantas sacas de milho são produzidas? Quantas são adquiridas pelos consumidores? Pelo governo? Quanto o programa custa para o governo? Qual é a receita dos produtores de milho? b. Suponha que o governo estabeleça uma meta de $5 por saca para qualquer quantidade ofertada até o limite de 1.000 sacas. Quantas sacas de milho serão compradas pelos consumidores e a que preço? Pelo governo? Quanto o programa custa para o governo? Qual o montante de receita dos fazendeiros com milho? c. Qual desses programas (itens a e b) custa mais aos consumidores de milho? Qual o programa que custa mais ao governo? Explique. d. Uma dessas políticas é menos ineficiente que a outra? Explique. 9. A costa norte do Atlântico já esteve repleta de peixes. Mas, por causa da pesca industrial excessiva, os estoques de peixes estão em perigo de se esgotarem. Em 1991, o Serviço Nacional de Pesca Marinha do governo dos Estados Unidos implementou uma cota para permitir que os estoques de peixe se recuperassem. A cota limita a sete milhões de libras a quantidade de peixe-espada que pode ser pescada por ano pela totalidade dos barcos pesqueiros licenciados. Assim que a frota pesqueira atinge o limite de pesca, essa fica proibida pelo resto do ano. Seguem as tabelas hipotéticas de demanda e de oferta de peixe-espada pescado nos Estados Unidos por ano.

a. Use um gráfico para mostrar o efeito da cota no mercado de peixe-espada em 1991.

b. Como os pescadores vão mudar a forma de pescar, em resposta a essa política? 10. No Maine, é preciso ter uma licença para pescar lagostas comercialmente. Essas licenças são emitidas anualmente. O estado de Maine está preocupado com o desaparecimento das lagostas na sua costa. O departamento de pesca do estado decidiu colocar uma cota anual de 80.000 libras para lagostas pescadas em águas do Maine. Também decidiu dar licenças esse ano apenas aos pescadores que já tinham licenças no ano anterior. O gráfico a seguir mostra as curvas de demanda e oferta de lagostas do Maine.

a. Na ausência de restrições do governo, qual é o preço e a quantidade de equilíbrio? b. Qual é o preço de demanda pelo qual os consumidores desejam adquirir 80.000 libras de lagosta? c. Qual é o preço de oferta pelo qual os pescadores estarão dispostos a oferecer 80.000 libras de lagostas? d. Qual é a renda da cota por libra de lagosta quando 80.000 são vendidas? e. Explique uma transação que beneficie tanto o comprador como o vendedor, mas é impedida pela restrição de cota. 11. O gráfico a seguir mostra os dados do U.S. Bureau of Labor Statistics sobre o preço médio de um bilhete aéreo nos Estados Unidos de 1975 até 1985, ajustado para eliminar o efeito da inflação (o aumento geral nos preços de todos os bens ao longo do tempo). O ato de desregulamentação do transporte de passageiros aéreos dos Estados Unidos de 1978 retirou o preço mínimo das tarifas e também permitiu às companhias maior flexibilidade para oferecer novas rotas.

a. Observando os dados dos preços de passagens aéreas no gráfico, você acha que o piso de preço que existia antes de 1978 tinha que ser necessariamente cumprido ou não? Ou seja, você acha que estava fixado acima ou abaixo do preço de equilíbrio? Desenhe um gráfico de oferta e demanda, mostrando onde o piso de preço que existia antes de 1978 estava em relação ao preço de equilíbrio. b. A maioria dos economistas concorda que o preço da passagem aérea média por milha percorrida realmente caiu depois da desregulamentação do transporte de passageiros aéreos dos Estados Unidos. Como você pode conciliar essa visão com o que vê no gráfico? www.worthpublishers.com/krugmanwells

C APÍ T UL O 5

Comércio Internacional

O que você vai aprender neste capítulo • Como a vantagem comparativa resulta em um comércio internacional mutuamente benéfico. • As fontes de vantagem comparativa internacional. • Quem ganha e quem perde com o comércio internacional e por que os ganhos excedem as perdas. • Como tarifas e cotas de importação causam ineficiência e reduzem o excedente total. • Por que os governos frequentemente se comprometem com o protecionismo comercial e como os acordos internacionais contrabalançam isso.

Peças de carro e sucção de empregos Pare em uma loja de carros e a probabilidade é que a maioria dos carros à venda foi produzida nos Estados Unidos. Mesmo que sejam da Nissan, da Honda ou da Volkswagen, a maioria dos carros vendidos no país foi fabricada aqui por três grandes empresas automobilísticas dos Estados Unidos ou por subsidiárias de empresas estrangeiras. Os carros são montados em “Auto Alley”, um corredor norte-sul, definido aproximadamente como o espaço entre a Interstate 65, que vai de Chicago a Mobile, e a Interstate 75, que vai de Detroit ao oeste da Flórida. Apesar de o carro que você está vendo ter sido fabricado nos Estados Unidos, uma parte significativa do que está dentro dele provavelmente foi fabricada em outro lugar, muito provavelmente no México. Desde a década de 1980, a produção automobilística dos Estados Unidos depende cada vez mais das fábricas do México para a produção de autopeças que requerem trabalho intensivo, tais como assentos, produtos que usam uma quantidade relativamente elevada de mão de obra na produção. Ao longo dos anos, as mudanças na política econômica têm contribuído enormemente para o surgimento de grandes importações americanas de autopeças do México. Até os anos 1980, o México tinha um sistema de proteção do comércio – impostos e regulamentações que limitavam as importações – que mantinha de fora os bens manufaturados americanos e incentivavam a indústria mexicana a se concentrar em vender para os consumidores mexicanos, em vez de para um mercado mais amplo. Contudo, em 1985, o governo mexicano começou a desmantelar grande parte da proteção comercial aumentando o comércio com os Estados Unidos. Um novo impulso veio em 1993 quando Estados Unidos, México e Canadá assinaram um acordo de livre comércio (North America Free Trade Agreement – NAFTA), que eliminou a maioria dos impostos sobre o comércio entre os três países e previu garantias de que o investimento de negócios no México estaria protegido de mudanças arbitrárias na política do governo. O NAFTA foi profundamente controverso quando entrou em vigor: os trabalhadores mexicanos recebiam somente cerca de 10% do que os trabalhadores homólogos americanos e muitos se preocupavam no sentido de que os empregos nos Estados Unidos seriam perdidos pela concorrência de baixos salários. De forma muito marcante,

Ross Perot, candidato a presidente dos Estados Unidos em 1992, advertiu que haveria um “som gigante de sucção (de empregos)”, à medida que a fabricação dos Estados Unidos estava se movendo para a fronteira do lado sul. E apesar de ter acontecido predições apocalípticas sobre o impacto do NAFTA, permanece controverso até hoje. A maioria dos economistas discorda dos que viam o NAFTA como uma ameaça à economia dos Estados Unidos. No Capítulo 2 vimos como o comércio internacional pode levar a ganhos mútuos de comércio. Os economistas, em sua maior parte, acreditam que a mesma lógica se aplica ao NAFTA, que o tratado tornará tanto os Estados Unidos como o México mais ricos. Mas tornar uma nação mais rica como um todo não é a mesma coisa que melhorar o bem-estar de todos aqueles que vivem no país, e há razões para acreditar que o NAFTA prejudica alguns cidadãos americanos. Até agora, analisamos a economia como se fosse autossuficiente, como se produzisse todos os bens e serviços que consome, e vice-versa. Certamente, isso é verdadeiro para a economia mundial como um todo. Mas não é verdade para um país, individualmente. Partindo da pressuposição de que a autossuficiência tenha sido muito mais precisa há 50 anos, quando os Estados Unidos exportavam apenas uma pequena fração do que produziam e importavam apenas uma pequena fração do que consumiam. Desde então, no entanto, tanto as importações como as exportações dos Estados Unidos cresceram muito mais rápido que a economia dos Estados Unidos em seu conjunto. Além disso, em comparação com os Estados Unidos, outros países se dedicam muito mais ao comércio internacional em relação ao tamanho de suas economias. Para ter uma ideia completa de como as economias nacionais funcionam, devemos entender o comércio internacional. Este capítulo analisa a economia do comércio internacional. Começamos a partir do modelo de vantagem comparativa, que, como vimos no Capítulo 2, explica por que existe ganho com o comércio internacional. Vamos recapitular brevemente esse modelo aqui e, em seguida, estender nosso estudo para abordar questões mais profundas sobre o comércio internacional, tal como por que algumas pessoas podem ser prejudicadas pelo comércio internacional, enquanto o país, como um todo, ganha. Na conclusão deste capítulo, vamos analisar os efeitos das políticas que os países usam para limitar as importações ou promover as exportações, bem como a forma como os governos trabalham juntos para superar os obstáculos ao comércio.

Vantagem comparativa e comércio internacional Os Estados Unidos compram autopeças – e muitos outros bens e serviços – de outros países. Ao mesmo tempo, vendem muitos outros bens e serviços para outros países. Bens e serviços adquiridos do exterior são as importações; bens e serviços vendidos para o exterior são as exportações. Como ilustrado na história de abertura, importações e exportações têm assumido um papel cada vez mais importante na economia dos Estados Unidos onde, ao longo dos últimos 50 anos, tanto as importações como as exportações cresceram mais rápido do que a economia americana. O painel (a) da Figura 5-1 mostra como os valores das importações e exportações dos Estados Unidos cresceram em porcentagem do produto interno bruto (PIB). O painel (b) mostra as importações e exportações como porcentagem do PIB, para uma série de países. Mostra que o comércio exterior é muito mais importante para muitos outros países do que para os Estados Unidos. (O Japão é exceção.)

FIGURA 5-1 Importância crescente do comércio internacional O painel (a) ilustra o fato de que, nos últimos 50 anos, os Estados Unidos exportaram uma parcela crescente de seu PIB para outros países e importaram uma parcela crescente do que consomem. O painel (b) mostra que o comércio internacional é muito mais importante para outros países do que é para os Estados Unidos, com exceção do Japão. Fonte: Bureau of Economic Analysis [painel (a)] e World Trade Organization [painel (b)].

O comércio exterior não é o único modo como os países interagem economicamente. No mundo moderno, os investidores de um país costumam investir fundos em outra nação, muitas empresas são multinacionais, com subsidiárias que operam em vários países; e um número crescente de pessoas trabalha fora do seu país de origem. O crescimento de todas essas formas de vínculo econômico entre os países é muitas vezes chamado de globalização. Neste capítulo, no entanto, vamos nos concentrar principalmente no comércio internacional. Para entender por que o comércio internacional ocorre e por que os

economistas acreditam que é benéfico para a economia, vamos primeiro rever o conceito de vantagem comparativa.

Possibilidades de produção e vantagem comparativa – revisitado Para produzir autopeças, qualquer país deve usar os recursos – terra, trabalho, capital, e assim por diante – que poderiam ter sido usados para produzir outros bens. O potencial de produção de outros bens aos quais o país deve renunciar para produzir uma peça de automóvel é o custo de oportunidade dessa peça. Em alguns casos, é fácil observar por que o custo de oportunidade de produção de um bem é especialmente baixo em determinado país. Considere, por exemplo, o camarão – atualmente, vem muito camarão de fazendas de frutos do mar do Vietnã e da Tailândia. É muito mais fácil produzir camarão no Vietnã, onde o clima é quase ideal e há abundância de terra costeira própria adequada para a piscicultura, do que nos Estados Unidos. Por outro lado, outros bens não são produzidos com a mesma facilidade no Vietnã como nos Estados Unidos. Por exemplo, o Vietnã não tem a base de trabalhadores qualificados e know-how tecnológico que tornam os Estados Unidos tão bons na produção de bens de alta tecnologia. Assim, o custo de oportunidade de uma tonelada de camarão, em termos de outros bens, como aeronaves, é muito menor no Vietnã do que nos Estados Unidos. Em outros casos, as questões são um pouco menos óbvias. É tão fácil produzir autopeças nos Estados Unidos como no México e os trabalhadores mexicanos de autopeças são, quando muito, menos eficientes do que suas contrapartes americanas. Mas os trabalhadores mexicanos são muito menos produtivos do que os trabalhadores dos Estados Unidos em outras áreas, tais como aeronaves e produção química. Isso significa que desviar um trabalhador mexicano para a produção de autopeças reduz menos a produção de outros bens do que desviar um trabalhador americano para a produção de autopeças. Ou seja, o custo de oportunidade de produção de autopeças no México é menor do que nos Estados Unidos. Assim, dizemos que o México tem uma vantagem comparativa na produção de autopeças. Vamos repetir a definição de vantagem comparativa do Capítulo 2: um país tem vantagem comparativa na produção de um bem ou serviço quando o custo de oportunidade de produzir o bem ou serviço é menor nesse país do que em outros países. A Figura 5-2 fornece um exemplo numérico hipotético de vantagem comparativa no comércio internacional. Suponhamos que apenas dois bens sejam produzidos e consumidos, autopeças e aviões, e que haja apenas dois países no mundo, Estados Unidos e México. (Na vida real, autopeças não valem muito sem carrocerias, mas deixemos de lado essa questão.) A figura mostra a fronteira das possibilidades de produção hipotéticas para os Estados Unidos e para o México.

FIGURA 5-2 Vantagem comparativa e fronteira das possibilidades de produção O custo de oportunidade de um pacote de autopeças em termos de aviões é de dois: para cada pacote adicional de autopeças, deve-se renunciar a dois aviões. O custo de oportunidade mexicano de um pacote de autopeças em termos de aviões é ½: para cada pacote adicional de autopeças, deve-se renunciar apenas a ½ de um avião. Consequentemente, os Estados Unidos têm uma vantagem comparativa na produção de aviões e o México tem uma vantagem comparativa na produção de autopeças. Em autarquia, cada país é obrigado a consumir apenas o que produz: 1.000 aviões e 500 pacotes de autopeças nos Estados Unidos, 500 aviões e 1.000 pacotes de autopeças no México.

Como no Capítulo 2, simplificamos o modelo, supondo que a possibilidade das fronteiras de produção seja uma linha reta, como mostrado na Figura 2-1, em vez de ter o formato mais realista, abaulado para fora, mostrado na Figura 2-2. O formato em linha reta implica que o custo de oportunidade de uma peça de automóvel em termos de aviões em cada país é constante, não dependendo de quantas unidades do bem cada país produz. A análise do comércio internacional sob o pressuposto de que os custos de oportunidade são constantes e que, portanto, as fronteiras das possibilidades de produção são linhas retas é conhecido como modelo ricardiano de comércio internacional, em homenagem ao economista inglês David Ricardo, que introduziu essa análise no início do século XIX. Na Figura 5-2 agrupamos autopeças em pacotes de 10 mil, assim, por exemplo, um país que produz 500 pacotes de autopeças está produzindo 5 milhões de autopeças individuais. Pode ser observado na figura que os Estados Unidos podem produzir 2.000 aviões se não produzir nenhuma autopeça, ou 1.000 pacotes de autopeças se não produzir aviões. Assim, a inclinação da fronteira das possibilidades de produção dos Estados Unidos, ou PPF, é −2.000/1.000 = − 2. Ou seja, para produzir um pacote adicional de autopeças, os Estados Unidos devem renunciar à produção de dois aviões. Da mesma forma, o México pode produzir 1.000 aviões, se não produzir autopeças ou 2.000 pacotes de autopeças se não produzir aviões. Assim, a inclinação da PPF do México é − 1.000/2.000 = −1/2. Ou seja, para produzir um pacote adicional de autopeças, o México deve renunciar à produção de ½ avião. Os economistas usam o termo autarquia para se referir a uma situação em que um país não negocia com outros países. Supusemos que em autarquia os Estados Unidos decidiram produzir e consumir 500 pacotes de autopeças e 1.000 aviões. Supusemos também que em autarquia o México produziu 1.000 pacotes de autopeças e 500 aviões. Os trade-offs que os dois países enfrentam quando não comerciam estão resumidos na Tabela 5-1. Como você pode ver, os Estados Unidos têm uma vantagem comparativa na

produção de aviões porque têm um custo de oportunidade menor em termos de autopeças do que o México: a produção de um avião custa aos Estados Unidos apenas ½ de um conjunto de autopeças, enquanto custa ao México dois pacotes de autopeças. Do mesmo modo, o México tem uma vantagem comparativa na produção de autopeças: um pacote custa apenas ½ de um avião, enquanto que para os Estados Unidos custam dois aviões. Tabela 5-1 Custos de oportunidade de autopeças e aviões no México e nos Estados Unidos Custo de oportunidade dos Estados Unidos Custo de oportunidade do México 1 pacote de autopeças >2 aviões >½ avião 1 avião <½ pac ote de autopeç as <2 pac otes de autopeç as

Como vimos no Capítulo 2, cada país pode se sair melhor se envolvendo em comércio do que se não o fizesse. Um país pode fazer isso se especializando na produção do bem que tem vantagem comparativa e exportando esse bem e importando o bem em que tem desvantagem comparativa. Vamos ver como isso funciona.

Os ganhos do comércio internacional A Figura 5-3 ilustra como os dois países ganham com a especialização e com o comércio, mostrando um rearranjo hipotético de produção e consumo que permite a cada país consumir mais de ambos os bens. De novo, o painel (a) representa os Estados Unidos e o painel (b) representa o México. Em cada painel indicamos novamente a produção e o consumo em autarquia assumido na Figura 5-2. Contudo, uma vez que o comércio tornase possível, tudo muda. Com o comércio, cada país pode passar a produzir apenas o bem que tem uma vantagem comparativa – aviões para os Estados Unidos e autopeças para o México. Como agora a produção mundial dos dois bens é maior do que em autarquia, o comércio torna possível que cada país consuma mais dos dois bens.

FIGURA 5-3 Ganhos do comércio internacional O comércio aumenta a produção mundial de ambos os bens, permitindo aos dois países consumir mais. Aqui, resultante do comércio, cada país se especializa na sua produção: os Estados Unidos se concentram na produção de aviões e o México se concentra na produção de autopeças. A produção mundial total dos dois bens aumenta, o que significa que para os dois países é possível consumir mais desses bens.

A Tabela 5-2 soma as mudanças resultantes do comércio e mostra por que os dois países podem ganhar. A parte esquerda da tabela mostra a situação de autarquia, antes do comércio, em que cada país produz os bens que consome. A parte direita da tabela mostra o que acontece como resultado do comércio. Depois do comércio, os Estados Unidos se especializa na produção de aviões, produzindo 2.000 aviões e nenhuma autopeça; o México se especializa na produção de autopeças, produzindo 2.000 pacotes de autopeças e nenhum avião. Tabela 5-2 Como os Estados Unidos e o México ganham com o comércio

O resultado é um aumento na produção mundial total de ambos os bens. Como você pode ver na coluna da Tabela 5-2, na extrema direita, mostrando o consumo com comércio, os Estados Unidos são capazes de consumir tanto mais aviões como mais autopeças que antes, apesar de já não produzirem autopeças, pois podem importar autopeças do México. O México também pode consumir mais dos dois bens, mesmo que já não produza mais aviões, porque pode importar aviões dos Estados Unidos. O fundamento para esse ganho mútuo é o fato de que o comércio liberta os dois países da autossuficiência – da necessidade de produzir as mesmas combinações de bens que consomem. Como cada país pode se concentrar na produção do bem em que tem vantagem comparativa, a produção mundial total aumenta, tornando possível um padrão

de vida melhor em ambas as nações. Agora, nesse exemplo, assumimos os pacotes de consumo pós-comércio dos dois países. Na verdade, as escolhas de consumo de um país refletem tanto as preferências dos seus moradores como os preços relativos – os preços de um bem em termos do outro nos mercados internacionais. Embora não tenhamos dado explicitamente o preço dos aviões em termos de autopeças, esse preço está implícito em nosso exemplo: o México vende aos Estados Unidos 750 pacotes de autopeças que os Estados Unidos utilizam em troca dos 750 aviões que o México utiliza. Então, um pacote de autopeças é trocado por um avião. No nosso exemplo isso nos diz que no mercado mundial o preço de um avião é igual ao preço de um pacote com 10 mil autopeças. Um requisito que o preço relativo deve satisfazer é que nenhum país pague um preço relativo maior do que o custo de oportunidade de obter o bem em autarquia. Ou seja, os Estados Unidos não vão pagar mais do que dois aviões para cada pacote de 10 mil autopeças do México e o México não vai pagar mais do que dois pacotes de 10 mil autopeças para cada avião dos Estados Unidos. Uma vez que esse requisito seja satisfeito, o preço relativo real no comércio internacional é determinado pela oferta e demanda – e na próxima seção, vamos nos voltar para a oferta e demanda no comércio internacional. No entanto, antes vamos analisar mais profundamente a natureza dos ganhos do comércio.

Vantagem comparativa versus vantagem absoluta É fácil aceitar a ideia de que o Vietnã e a Tailândia têm uma vantagem comparativa na produção de camarão: têm um clima tropical mais adequado à piscicultura do que o dos Estados Unidos (mesmo na costa do Golfo) e bastante área costeira que pode ser usada. Assim, os Estados Unidos importa camarão do Vietnã e da Tailândia. Contudo, em outros casos, é difícil entender por que os Estados Unidos importam determinados bens do exterior. As importações americanas de autopeças do México são um caso em questão. Não há nada acerca do clima ou dos recursos do México que o torne especial na fabricação de autopeças. Na verdade, é quase certo que se leve menos horas de trabalho para produzir um assento ou um feixe de cabos nos Estados Unidos do que no México. Isto é, a produtividade dos trabalhadores mexicanos de autopeças é menor do que os homólogos americanos. Mas o que determina a vantagem comparativa não é a quantidade de recursos utilizados para produzir um bem, mas o custo de oportunidade desse bem – aqui, a quantidade de outros bens renunciados para produzir um assento de carro. E o custo de oportunidade de autopeças é menor no México do que nos Estados Unidos. Eis como funciona: os trabalhadores mexicanos têm baixa produtividade em comparação com os trabalhadores dos Estados Unidos na indústria de autopeças. Mas os trabalhadores mexicanos têm ainda menor produtividade em comparação com os trabalhadores dos Estados Unidos em outras indústrias. Como a produtividade do trabalho mexicano em outras indústrias que não a de autopeças é relativamente baixa, a produção de um feixe de cabos no México, apesar de empregar mais trabalho, não

necessita renunciar à produção de grandes quantidades de outros bens. Nos Estados Unidos, o oposto é verdadeiro: a alta produtividade em outras indústrias (como bens de alta tecnologia) significa que produzir um assento de carro, nos Estados Unidos, mesmo que não requeira tanto trabalho, exige sacrificar lotes de outros bens. Assim, o custo de oportunidade de produzir autopeças é menor no México do que nos Estados Unidos. Apesar da baixa produtividade do trabalho, o México tem vantagem comparativa na produção de muitas autopeças, embora os Estados Unidos tenham vantagem absoluta. A vantagem comparativa do México em autopeças é refletida nos mercados globais pelos salários pagos aos trabalhadores mexicanos. Isso porque os salários de um país, em geral, refletem a produtividade do trabalho. Em países onde o trabalho é altamente produtivo em muitas indústrias, os empregadores se dispõem a pagar altos salários para atrair trabalhadores, e assim a competição entre os empregadores ocasiona um índice alto de salários. Em países onde o trabalho é menos produtivo, a concorrência por trabalhadores é menos intensa e os salários são proporcionalmente menores. Como mostra a comparação global a seguir, há de fato uma forte relação entre os níveis gerais de índices de produtividade e de salários em todo o mundo. Como em geral o México tem baixa produtividade, tem um índice de salário relativamente baixo. Por sua vez, os baixos salários dão ao México uma vantagem de custo na produção de bens, onde a produtividade é apenas moderadamente baixa, como em autopeças. Em decorrência, é mais barato produzir essas peças no México que nos Estados Unidos. O tipo de comércio que ocorre em economias com baixos salários e baixa produtividade como o México, e altos salários e alta produtividade como os Estados Unidos, dá origem a dois equívocos comuns. Um deles, a falácia do trabalho pobre, é a crença de que quando um país com altos salários importa bens produzidos por trabalhadores que recebem salários baixos, deve prejudicar o padrão de vida dos trabalhadores do país importador. O outro, a falácia do trabalho explorado, é a crença de que o comércio deve ser ruim para os trabalhadores nos países exportadores pobres, porque esses trabalhadores recebem salários muito baixos para os nossos padrões. Ambas as falácias não percebem a natureza dos ganhos do comércio: é vantajoso para ambos os países quando o país mais pobre e com salários mais baixos exporta bens em que tem vantagem comparativa, mesmo que a vantagem de custo desses bens dependa de salários baixos. Ou seja, os dois países conseguem atingir um padrão de vida mais elevado através do comércio. É particularmente importante entender que a compra de um bem feito por alguém que recebe um salário muito mais baixo do que a maioria dos trabalhadores americanos não implica, necessariamente, que você esteja tirando vantagem dessa pessoa. Depende das alternativas. Como os trabalhadores nos países pobres têm baixa produtividade em todos os setores, são oferecidos salários baixos tanto pela produção de bens exportados para os Estados Unidos ou bens vendidos no mercado local. Um trabalho que pode parecer terrível para os padrões dos países ricos pode ser um avanço para alguém em um país pobre.

Comparação global Produtividade e salários ao redor do mundo É verdade que o argumento do trabalho pobre e o argumento de trabalho explorado são falácias? Sim, é verdade. A verdadeira explicação para os baixos salários nos países pobres é a baixa produtividade geral. O gráfico mostra estimativas de produtividade do trabalho medidas pelo valor da produção (PIB) por trabalhador e os salários medidos pela remuneração mensal do trabalhador médio em diversos países em 2009. Tanto a produtividade como os salários são expressos como percentuais da produtividade e dos salários nos Estados Unidos; por exemplo, a produtividade e salários no Japão foram de 79% e 91%, respectivamente, do nível dos Estados Unidos. Pode-se observar a forte relação positiva entre salários e produtividade. A relação não é perfeita. Por exemplo, a Alemanha tem salários mais altos do que se espera pela sua produtividade. Mas comparações simples de salários dão uma sensação enganosa dos custos do trabalho em países pobres: a vantagem do salário baixo geralmente é compensada pela produtividade baixa.

Fonte: Bureau of Labor Statistics, Fundo Monetário Internacional.

O comércio internacional que depende das exportações produzidas por pessoal com baixos salários pode, contudo, elevar o padrão de vida desse país. Isso é especialmente verdade para as nações com salários muito baixos. Por exemplo, Bangladesh e países

semelhantes estariam mais pobres do que são – seus cidadãos poderiam até estar passando fome – se não pudessem exportar produtos, como roupas com base em seus salários baixos.

Fontes de vantagem comparativa O comércio internacional é impulsionado pela vantagem comparativa. Mas de onde ela vem? Os economistas que estudam o comércio internacional encontraram três fontes principais de vantagem comparativa: diferenças internacionais de clima, diferenças internacionais na disponibilidade de fatores e diferenças internacionais em tecnologia.

Diferenças de clima Um dos principais motivos para que o custo de oportunidade da produção do camarão no Vietnã e na Tailândia seja menor do que nos Estados Unidos é que o camarão precisa de água quente, o que o Vietnã tem muito e os Estados Unidos não têm. Em geral, as diferenças de clima desempenham um papel significativo no comércio internacional. Países tropicais exportam produtos tropicais como café, açúcar, banana e camarão. Países de zonas temperadas exportam cultivos como trigo e milho. Algum comércio é ainda movido pela diferença de estações entre o Hemisfério Norte e o Hemisfério Sul: fornecimento de inverno de uvas chilenas e maçãs da Nova Zelândia tornaram-se comuns em supermercados americanos e europeus.

Diferenças na disponibilidade de fatores O Canadá é um exportador importante para os Estados Unidos de produtos florestais, madeira e derivados, como papel e celulose. Essas exportações não refletem alguma habilidade especial dos canadenses. O que o Canadá tem é uma vantagem comparativa em produtos florestais, porque suas áreas de floresta são muito maiores em comparação com o tamanho da sua força de trabalho em comparação com a razão florestas/força de trabalho dos Estados Unidos. Floresta, como trabalho e capital, é um fator de produção: um insumo usado para produzir bens e serviços. (Lembre-se do Capítulo 2, que os fatores de produção são terra, trabalho, capital e capital humano.) Em razão da história e da geografia, a combinação de fatores de produção disponíveis difere entre os países, fornecendo uma fonte importante de vantagem comparativa. A relação entre vantagem comparativa e disponibilidade de fatores é encontrada em um modelo influente do comércio internacional, o modelo de Heckscher-Ohlin, desenvolvido por dois economistas suecos na primeira metade do século XX. Dois conceitos fundamentais nesse modelo são abundância do fator e intensidade do fator. Abundância do fator refere-se à magnitude da oferta do fator de um país em relação à oferta de outros fatores. Intensidade do fator refere-se ao fato de que os produtores utilizam diferentes proporções de fatores de produção na produção de bens diferentes.

Por exemplo, refinarias de petróleo usam muito mais capital por trabalhador que fábricas de vestuário. Os economistas usam o termo intensidade de fator para descrever essa diferença entre os bens: as refinarias de petróleo são intensivas em capital porque tendem a usar uma alta proporção de capital para trabalho, mas a produção de assentos para carros é intensiva em trabalho porque tende a usar uma alta proporção de trabalho em relação ao capital. De acordo com o modelo Heckscher-Ohlin, o país que tem uma fonte abundante de um fator de produção terá uma vantagem comparativa em bens cuja produção seja intensiva nesse fator. Assim, um país que tem abundância relativa de capital vai ter uma vantagem comparativa nas indústrias intensivas em capital, como refinarias de petróleo, mas um país que tem abundância de mão de obra terá uma vantagem comparativa em indústrias intensivas em trabalho como a produção de assentos para carros. A intuição básica por trás desse resultado é simples e se baseia no custo de oportunidade. O custo de oportunidade de determinado fator – o valor que esse fator geraria em usos alternativos – é baixo para o país que tenha relativa abundância desse fator. Em relação aos Estados Unidos, o México tem uma abundância de trabalhadores pouco qualificados. Como resultado, o custo de oportunidade da produção de bens intensivos em trabalho de baixa qualificação é menor no México do que nos Estados Unidos. O exemplo mais drástico da validade do modelo Heckscher- Ohlin é o comércio mundial de vestuário. A produção de vestuário é uma atividade intensiva em trabalho: não usa muito capital físico, nem exige muito capital humano na forma de trabalhadores altamente qualificados. Então é de se esperar que países com mão de obra abundante, como China e Bangladesh, tenham uma vantagem comparativa na produção de vestuário. E realmente têm. O fato de que boa parte do comércio internacional resulta de diferenças na disponibilidade de fatores ajuda a explicar ainda outro fato: a especialização internacional da produção muitas vezes é incompleta. Ou seja, um país muitas vezes mantém alguma produção doméstica de um bem que importa. Um bom exemplo disso é o petróleo nos Estados Unidos. A Arábia Saudita exporta petróleo para os Estados Unidos porque tem uma oferta abundante de petróleo em relação aos seus outros fatores de produção. Os Estados Unidos exportam equipamentos médicos para a Arábia Saudita porque têm uma oferta abundante de expertise em tecnologia médica em relação aos seus outros fatores de produção. Mas os Estados Unidos também produzem um pouco de petróleo no mercado doméstico, pois o tamanho de suas reservas domésticas no Texas e no Alasca faz com que tenham uma vantagem econômica para fazê-lo. Na próxima seção, em nossa análise da oferta e da demanda, vamos considerar que a especialização incompleta de um país seja a norma. Devemos ressaltar, contudo, que o fato de que os países têm especialização incompleta não muda de modo algum a conclusão de que ocorrem ganhos do comércio.

Diferenças de tecnologia

Nas décadas de 1970 e 1980, o Japão tornou-se, de longe, o maior exportador do mundo de automóveis, vendendo grande quantidade para os Estados Unidos e para o resto do mundo. A vantagem comparativa do Japão em automóveis não foi resultado do clima. Também não pode ser facilmente atribuída às diferenças na disponibilidade de fatores: fora a escassez de terra, a combinação de fatores disponíveis no Japão é bastante semelhante à de outros países avançados. Em vez disso, como discutimos no estudo de caso do Capítulo 2 sobre a produção enxuta da Toyota e da Boeing, a vantagem comparativa em automóveis do Japão baseou-se em técnicas de produção superiores desenvolvidas por seus fabricantes, que permitiram que produzissem mais carros com uma determinada quantidade de trabalho e capital do que seus homólogos americanos ou europeus.

Para mentes curiosas Retornos de escala crescentes e comércio internacional A maioria das análises do comércio internacional se concentra em como as diferenças entre os países – diferenças de clima, de disponibilidade de fatores e de tecnologia – determinam a vantagem comparativa nacional. No entanto, os economistas também assinalam outro motivo para o comércio internacional: o papel dos retornos de escala crescentes. A produção de um bem se caracteriza por retornos de escala crescentes quando a produtividade do trabalho e de outros recursos utilizados na produção aumenta com a quantidade do produto. Por exemplo, em uma indústria caracterizada por retornos de escala crescentes, um aumento de 10% da produção pode requerer apenas 8% a mais de trabalho e 9% a mais de matérias-primas. Exemplos de indústrias com retornos de escala crescentes incluem a indústria automobilística, o refino de petróleo e a produção de aviões a jato; todos requerem grandes investimentos de capital. Retornos de escala crescentes (por vezes também chamados de economias de escala) podem dar origem ao monopólio, situação em que uma indústria é composta por apenas um produtor, porque oferecem às grandes empresas vantagens de custo sobre as pequenas. Mas retornos de escala crescentes também podem dar origem ao comércio internacional. A lógica é a seguinte: se a produção de um bem se caracteriza por retornos de escala crescentes, faz sentido concentrar a produção em apenas alguns locais, de modo que cada local tenha um elevado nível de produção. Mas isso também significa que o bem é produzido em poucos países que o exporta para outros países. Um exemplo comumente citado é o da indústria automobilística americana: embora tanto os Estados Unidos como o Canadá produzam carros e seus componentes, cada modelo ou componente específico tende a ser produzido em apenas um dos dois países e exportado para o outro. Retornos de escala crescentes, provavelmente, desempenham um grande papel no comércio de bens manufaturados entre países avançados, o que corresponde a aproximadamente 25% do valor total do comércio mundial.

A vantagem comparativa do Japão em automóveis foi um caso de vantagem comparativa causada por diferenças em tecnologia – técnicas usadas na produção. As causas das diferenças em tecnologia são um tanto misteriosas. Às vezes, parecem ser baseadas no conhecimento acumulado através da experiência – por exemplo, a vantagem comparativa da Suíça em relógios reflete uma longa tradição de relojoaria. Por vezes, é o resultado de um conjunto de inovações que por algum razão ocorrem em um país, mas não em outros. Contudo, a vantagem tecnológica muitas vezes é transitória. Como também discutimos no estudo de caso do Capítulo 2, por meio da adoção da produção enxuta, os fabricantes de automóveis americanos já fecharam grande parte da lacuna de produtividade com os concorrentes japoneses. Além disso, a indústria aeronáutica da Europa fechou uma lacuna semelhante com a indústria aeronáutica dos Estados Unidos. No entanto, em um determinado ponto no tempo, as diferenças de tecnologia são uma importante fonte de vantagem comparativa.

Economia em ação Trabalho qualificado e vantagem comparativa Em 1953, os trabalhadores americanos estavam nitidamente mais bem equipados com máquinas do que os trabalhadores de outros países. A maioria dos economistas, nessa época, achava que a vantagem comparativa dos Estados Unidos estava em bens com elevada intensidade de capital. Mas Wassily Leontief fez uma descoberta surpreendente: a vantagem comparativa americana não era exatamente em bens intensivos de capital. Na verdade, os bens que os Estados Unidos exportavam eram ligeiramente menos intensivos em capital do que os bens que o país importava. Essa descoberta veio a ser conhecida como o paradoxo de Leontief, e levou a esforços sustentados para entender o padrão de comércio internacional dos Estados Unidos. A principal resolução desse paradoxo, ao que parece, depende da definição do capital. As exportações dos Estados Unidos não são intensivas em capital físico – máquinas e construções. Em vez disso, são intensivas em competências – isto é, são intensivas em capital humano. As indústrias exportadoras dos Estados Unidos usam uma proporção substancialmente maior de trabalhadores altamente qualificados do que é encontrado nas indústrias que competem com as importações. Por exemplo, um dos setores que mais exportam nos Estados Unidos é o da aeronáutica. A indústria aeronáutica emprega grande número de engenheiros e outras pessoas graduadas em relação ao número de trabalhadores manuais. Da mesma forma, os Estados Unidos importam muito vestuário, que na maioria das vezes é produzido por trabalhadores com pouca educação formal. Em geral, os países com força de trabalho altamente qualificado tendem a exportar bens intensivos em competência técnica, enquanto que os países com força de trabalho menos qualificado tendem a exportar bens que não exigem mão de obra altamente qualificada. A Figura 5-4 ilustra esse ponto ao comparar os bens que os Estados Unidos importam da Alemanha, um país com força de trabalho altamente qualificada, com os bens que os Estados Unidos importam de Bangladesh, onde cerca da metade da

população adulta ainda é analfabeta. Em cada país as indústrias são classificadas, primeiro, de acordo com a intensidade de mão de obra qualificada. Em seguida, para cada indústria, calculamos a proporção de exportações para os Estados Unidos. Isso nos permite representar, para cada país, várias indústrias de acordo com a sua intensidade de qualificação dos trabalhadores e sua parte de exportações para os Estados Unidos.

FIGURA 5-4 Educação, intensidade de qualificação e comércio Fonte: John Romalis. “Factor Proportions and the Structure of Commodity Trade”, American Economic Review 94, n. 1 (2004): 67–97.

Na Figura 5-4, o eixo horizontal mostra uma medida da intensidade de qualificação do trabalho para diferentes indústrias e os eixos verticais mostram a participação das importações dos Estados Unidos vindas de cada indústria na Alemanha (à esquerda) e de Bangladesh à direita. Como se pode ver, as exportações de cada país para os Estados Unidos refletem o seu nível de qualificação de mão de obra. A curva representando a Alemanha se inclina para cima: quanto maior a intensidade de qualificação de uma indústria, maior a proporção de exportações para os Estados Unidos. Por outro lado, a curva que representa Bangladesh se inclina para baixo: quanto menos intensiva em qualificação para o trabalho for uma indústria de Bangladesh, tanto maior será sua parcela de exportações para os Estados Unidos.

Breve revisão ■ Importações e exportações representam uma parcela crescente da economia dos Estados idos e da economia de muitos outros países. ■ O crescimento do comércio internacional e de outras interligações internacionais é conhecido como globalização. ■ O comércio internacional é movido por vantagens comparativas. O modelo ricardiano de comércio internacional mostra que o comércio entre dois países torna a situação dos dois países melhor do que seria em autarquia, ou seja, existe ganho do comércio internacional.

■ As principais fontes de vantagem comparativa são as diferenças internacionais no clima, disponibilidade de fatores e tecnologia. ■ O modelo Heckscher-Ohlin mostra como as vantagens comparativas podem surgir de diferenças na disponibilidade de fatores: os bens diferem na intensidade dos fatores e os países tendem a exportar bens que são intensivos nos fatores que têm em abundância.

Teste seu entendimento 5-1 1. Nos Estados Unidos, o custo de oportunidade de uma tonelada de milho é de 50 bicicletas. Na China, o custo de oportunidade de uma bicicleta é de 0,01 tonelada de milho. a. Determine o padrão de vantagem comparativa. b. Em autarquia, os Estados Unidos podem produzir 200.000 bicicletas, se não produzir milho. A China pode produzir 3.000 toneladas de milho se não produzir bicicletas. Trace a fronteira das possibilidades de produção de cada país, supondo que o custo de oportunidade seja constante, com toneladas de milho no eixo vertical e bicicletas no eixo horizontal. c. Havendo comércio, cada país especializa sua produção. Os Estados Unidos consomem 1.000 toneladas de milho e utilizam 200.000 bicicletas. A China consome 3.000 toneladas de milho e utilizam 100.000 bicicletas. Indique os pontos de produção e consumo nos gráficos e os utilize para explicar os ganhos do comércio. 2. Explique os seguintes padrões de comércio usando o modelo Heckscher-Ohlin. a. A França exporta vinho para os Estados Unidos e os Estados Unidos exportam filmes para a França. b. O Brasil exporta sapatos para os Estados Unidos e os Estados Unidos exportam maquinaria para a produção de sapatos para o Brasil. As respostas estão no fim do livro.

Oferta, demanda e comércio internacional Modelos simples de vantagem comparativa são úteis para a compreensão das causas fundamentais do comércio internacional. No entanto, para analisar os efeitos do comércio internacional em mais detalhes e compreender as políticas comerciais, convém voltar ao modelo de oferta e demanda. Começaremos analisando os efeitos das importações sobre os produtores e consumidores domésticos para, em seguida, passar para os efeitos das exportações.

Efeitos das importações A Figura 5-5 mostra o mercado dos Estados Unidos de assentos para carros, ignorando por um momento o comércio internacional. Introduz alguns conceitos novos: a curva da demanda doméstica, a curva da oferta doméstica e o preço doméstico ou de autarquia.

FIGURA 5-5 Excedente do consumidor e do produtor em autarquia Na ausência de comércio, o preço doméstico é PA, o preço de autarquia ao qual a curva da oferta doméstica e a curva da demanda doméstica se cruzam. A quantidade produzida e consumida internamente é QA. O excedente do consumidor é representado pela área sombreada superior e o excedente do produtor é representado pela área sombreada inferior.

A curva da demanda doméstica mostra como a quantidade demandada de um bem pelos moradores de um país depende do seu preço. Por que “doméstica”? Porque pessoas que vivem em outros países também podem demandar o bem. Uma vez introduzido o

comércio internacional, é preciso distinguir entre a compra de um bem por parte dos consumidores domésticos e a compra por consumidores estrangeiros. Assim, a curva da demanda doméstica reflete apenas a demanda dos moradores desse país. Da mesma forma, a curva da oferta doméstica mostra como a quantidade de um bem ofertada pelos produtores dentro de um país depende do preço desse bem. Uma vez introduzido o comércio internacional, é preciso distinguir entre a oferta de produtores domésticos e estrangeiros, ou seja, a oferta do exterior. Em autarquia, sem o comércio internacional de assentos para carros, o equilíbrio nesse mercado seria determinado pela interseção entre as curvas da demanda doméstica e da oferta doméstica, o ponto A. O preço de equilíbrio de assentos para carros seriam PA e a quantidade de equilíbrio de assentos para carros produzidos e consumidos seria QA. Como sempre, tanto os consumidores como os produtores ganhariam com a existência de um mercado doméstico. Os economistas referem-se ao ganho líquido que os compradores recebem da compra de um bem como excedente do consumidor. Da mesma forma, o excedente do produtor é o ganho líquido dos vendedores ao vender um bem. Excedente total é a soma dos excedentes do consumidor e do produtor. No final deste capítulo, no apêndice, analisaremos esses três conceitos em detalhes. Em autarquia, o excedente do consumidor é igual à área sombreada do triângulo superior na Figura 5-5. O excedente do produtor é igual à área do triângulo inferior e o excedente total é igual à soma desses dois triângulos sombreados. Agora vamos imaginar que esse mercado se abra para importações. Para isso, devemos fazer uma suposição sobre a oferta de importações. A hipótese mais simples, que adotaremos aqui, é que pode ser comprado a um preço fixo quantidades ilimitadas de assentos para carros no exterior, conhecido como preço internacional de assentos para carros. A Figura 5-6 mostra uma situação em que o preço internacional de um assento para carro, PW , é mais baixo do que o preço de um assento para carro que prevaleceria no mercado doméstico em autarquia, PA.

FIGURA 5-6 Mercado doméstico com importações Aqui, o preço mundial de autopeças, PW, está abaixo do preço de autarquia, PA. Quando a economia está aberta ao comércio internacional, as importações penetram no mercado doméstico e o preço doméstico cai do preço de autarquia, PA, para o preço internacional, PW. À medida que o preço cai, a quantidade demandada doméstica aumenta de QA para QD e a quantidade ofertada doméstica cai de QA para QS. A diferença entre quantidade demandada doméstica e quantidade ofertada doméstica em PW, a quantidade QD − QS, é preenchida por importações.

Dado que o preço internacional é inferior ao preço doméstico de assentos para carros, é lucrativo para os importadores comprar esses assentos no exterior e revendê-los no mercado doméstico. Os assentos importados aumentam a oferta de assentos para carros no mercado doméstico, reduzindo seu preço. Os assentos para carros continuarão a ser importados até que o preço doméstico caia para o nível igual ao preço internacional. O resultado é mostrado na Figura 5-6. Por causa das importações, o preço doméstico de um assento cai de PA para PW . A quantidade de assentos para carros demandada pelos consumidores domésticos sobe de QA para QD e a quantidade ofertada pelos produtores domésticos cai de QA para QS. A diferença entre quantidade doméstica demandada e quantidade doméstica ofertada, QD − QS, é coberta por importações. Passemos agora aos efeitos das importações sobre o excedente do consumidor e o excedente do produtor. Como as importações de assentos para carros levam a uma queda no preço doméstico, o excedente do consumidor aumenta e o excedente do produtor cai. A Figura 5-7 mostra como isso funciona. Marcamos quatro áreas: W, X, Y e Z. O excedente do consumidor em autarquia que identificamos na Figura 5-5 corresponde a W e o excedente do produtor em autarquia corresponde à soma de X e Y. A queda no preço doméstico até o nível do preço internacional leva a um aumento no excedente do

consumidor; aumenta em X e Z, por isso o excedente do consumidor agora é igual à soma de W, X e Z. Ao mesmo tempo, os produtores perdem a área X em excedente, por isso o excedente do produtor agora é igual apenas a Y.

FIGURA 5-7 Efeitos das importações sobre o excendente Quando o preço doméstico cai para PW, em virtude do comércio internacional, os consumidores obtêm excedente adicional (área X + Z) e os produtores perdem excedente (área X). Como o ganho dos consumidores supera as perdas dos produtores, há um aumento no excedente total na economia como um todo (área Z).

A tabela da Figura 5-7 resume as mudanças nos excedentes do consumidor e do produtor quando o mercado de assentos para carros se abre para importações. Os consumidores ganham excedente igual à área X + Z. Os produtores perdem excedente igual à área X. Assim, a soma dos excedentes do produtor e do consumidor – o excedente total gerado no mercado de assentos para automóveis – aumenta pela área Z. Como resultado do comércio, os consumidores ganham e os produtores perdem, mas o ganho dos consumidores excede a perda dos produtores. Esse é um resultado importante. Acabamos de mostrar que a abertura de mercado às importações leva a um ganho líquido no excedente total, que era de se esperar, dada a proposição de que existem ganhos com o comércio internacional. No entanto, também aprendemos que, embora o país como um todo ganhe, alguns grupos – nesse caso, os produtores domésticos de autopeças – perdem como resultado do comércio internacional. Como veremos em breve, o fato de o comércio internacional normalmente criar perdedores e ganhadores é crucial para a compreensão da política das políticas comerciais. Passaremos agora ao caso em que um país exporta um bem.

Efeitos das exportações A Figura 5-8 mostra os efeitos sobre um país quando ele exporta um bem, nesse caso, aviões. Nesse exemplo, vamos supor que uma quantidade ilimitada de aviões possa ser

vendida no exterior a determinado preço internacional, PW , que é maior do que o preço que prevaleceria no mercado doméstico em autarquia, PA.

FIGURA 5-8 Mercado doméstico com exportações Aqui, o preço do mercado internacional, PW, é mais alto que o preço de autarquia, PA. Quando a economia é aberta ao comércio internacional, uma parte da oferta doméstica é exportada. O preço doméstico sobe em relação ao preço de autarquia, PA, para o preço internacional, PW. Como o preço aumenta, a quantidade demandada cai de QA para QD e a quantidade doméstica ofertada sobe de QA para QS. A parcela da produção doméstica que não é consumida internamente, QS − QD, é exportada.

O preço internacional mais alto torna rentável para os exportadores comprar aviões no mercado doméstico e vendê-los no exterior. As compras de aviões domésticos pressionam para cima o preço doméstico até que ele fica igual ao preço internacional. Em decorrência, a quantidade demandada pelos consumidores domésticos cai de QA para QD e a quantidade ofertada pelos produtores domésticos sobe de QA para QS . Essa diferença entre a produção doméstica e o consumo coméstico, QS − QD, é exportada. Assim como as importações, as exportações trazem um ganho geral no excedente total do país exportador, mas também criam perdedores e vencedores. A Figura 5-9 mostra o efeito da exportação de aviões sobre os excedentes do produtor e do consumidor. Na ausência de comércio, o preço de cada avião seria PA. Na ausência de comércio, o excedente do consumidor é a soma das áreas W e X, e o excedente do produtor é a área Y. Como resultado do comércio, o preço sobe de PA para PW , o excedente do consumidor cai para W e o excedente do produtor sobe para Y + X + Z. Assim, os produtores ganham X +

Z, os consumidores perdem X, e, como mostrado na tabela que acompanha a figura, a economia no conjunto ganha um excedente total, no montante de Z.

FIGURA 5-9 Efeitos das exportações sobre o excedente Quando o preço doméstico sobe para PW, em virtude do comércio, os produtores ganham excedente adicional (áreas de X + Z), mas os consumidores perdem excedente (área X). Como o ganho dos produtores supera a perda dos consumidores, há um aumento no excedente total na economia como um todo (área Z).

Aprendemos, então, que as importações de determinado bem prejudicam os produtores domésticos desse bem, mas ajudam os consumidores domésticos, enquanto as exportações de determinado bem prejudicam os consumidores domésticos, mas ajudam os produtores domésticos desse bem. Em cada caso, os ganhos são maiores do que as perdas.

Comércio internacional e salários Até agora, nos concentramos nos efeitos do comércio internacional sobre produtores e consumidores em um determinado setor. Para muitas finalidades essa é uma abordagem útil. No entanto, produtores e consumidores não são as únicas partes da sociedade afetadas pelo comércio – os proprietários dos fatores de produção também são. Em particular, os proprietários de trabalho, terra e capital que são empregados na produção de bens que são exportados, ou bens que competem com bens importados, podem ser profundamente afetados pelo comércio. Além disso, os efeitos do comércio não se limitam apenas aos setores que exportam ou competem com as importações, pois os fatores de produção muitas vezes podem se mover de uma indústria para a outra. Então, agora, voltamos a nossa atenção para os efeitos de longo prazo do comércio internacional sobre a distribuição de renda – como a renda total de um país é distribuída entre vários fatores de produção. Para começar a análise, considere a situação de Maria, uma contadora na empresa Autopeças do Centro-Oeste, Inc. Se a economia estiver aberta para a importação de autopeças do México, a indústria doméstica de autopeças irá contrair e contratar menos

contadores. Mas a contabilidade é uma profissão com oportunidades de emprego em muitos setores, e é bem provável que Maria encontre um emprego melhor na indústria aeronáutica, que se expande como resultado do comércio internacional. Por isso, pode não ser apropriado pensar nela como uma produtora de autopeças que foi prejudicada pela concorrência de autopeças importadas. Ao contrário, devemos pensar nela como contadora que foi afetada pela importação de autopeças apenas na medida em que tais importações alterem os salários dos contabilistas na economia como um todo. O salário dos contadores é um preço de fator – o preço que os empregadores têm que pagar pelos serviços de um fator de produção. Uma questão importante sobre o comércio internacional é como ele afeta os preços dos fatores – não apenas os fatores de produção estritamente definidos como contadores, mas fatores como capital, trabalho não qualificado e mão de obra com formação universitária. No início deste capítulo, descrevemos o modelo Heckscher- Ohlin de comércio, que afirma que a vantagem comparativa é determinada pela dotação de fatores de um país. Esse modelo também sugere como o comércio internacional afeta os preços dos fatores em um país: em comparação com autarquia, o comércio internacional tende a elevar o preço dos fatores que estão abundantemente disponíveis e reduz o preço dos fatores que são escassos. Não vamos analisar isso em detalhe, mas a ideia é simples. Os preços dos fatores de produção, assim como os preços dos bens e serviços, são determinados pela oferta e demanda. Se o comércio internacional aumenta a demanda de um fator de produção, o preço desse fator aumenta; se o comércio internacional reduz a demanda de um fator de produção, o preço desse fator diminui. Agora imagine que as indústrias de um país sejam de dois tipos: indústrias exportadoras, que produzem bens e serviços vendidos no exterior, e indústrias que competem com importações, que produzem bens e serviços que também são importados do exterior. Em comparação com autarquia, o comércio internacional leva a uma produção maior nas indústrias exportadoras e menor nas indústrias que competem com importações. Isso indiretamente aumenta a demanda dos fatores usados pelas indústrias exportadoras e diminui a demanda pelos fatores usados pelas indústrias que competem com importações. Além disso, o modelo Heckscher-Ohlin diz que um país tende a exportar bens intensivos em seus fatores abundantes e importar bens intensivos em seus fatores escassos. Assim, o comércio internacional tende a aumentar a demanda de fatores que são abundantes em dado país, em comparação com outros países, e tende a diminuir a demanda de fatores que são escassos nesse país, em comparação com outros países. Como resultado, o preço dos fatores abundantes tende a subir e os preços dos fatores escassos tende a cair à medida que o comércio internacional cresce. Em outras palavras, o comércio internacional tende a redistribuir a renda em favor dos fatores abundantes de um país e contra os fatores menos abundantes. No final da seção anterior, em Economia em ação, vimos como as exportações dos Estados Unidos tendem a ser intensivas em capital humano e as importações dos Estados Unidos tendem a ser intensivas em mão de obra não qualificada. Isso sugere que o efeito

do comércio internacional sobre os mercados de fatores dos Estados Unidos seja elevar o nível de salário dos trabalhadores altamente qualificados e reduzir o nível de salário dos trabalhadores menos qualificados. Esse efeito tem sido fonte de grande preocupação nos últimos anos. A desigualdade de salário – o hiato entre os salários dos que são muito bem pagos e os trabalhadores com baixa remuneração – aumentou substancialmente ao longo dos últimos 30 anos. Alguns economistas acreditam que o crescimento do comércio internacional é um fator importante dessa tendência. Se o comércio internacional tem efeitos previstos pelo modelo Heckscher-Ohlin, o seu crescimento aumenta os salários dos trabalhadores americanos altamente qualificados, que já têm salários relativamente altos, e reduz os salários dos menos qualificados, que já têm salários relativamente baixos. Mas esteja ciente de outro fenômeno: o comércio reduz a desigualdade de renda entre países à medida que os países pobres melhoram seu padrão de vida por meio da exportação para os países ricos. Qual a importância desses efeitos? Em alguns momentos históricos, o impacto do comércio internacional sobre os preços dos fatores tem sido muito grande. Como explicaremos no exemplo de Economia em Ação, a seguir, a abertura do comércio transatlântico no final do século XIX, teve um grande impacto negativo sobre a renda da terra na Europa, prejudicando os donos de terras, mas favorecendo os trabalhadores e donos de capital. Os efeitos do comércio sobre os salários dos Estados Unidos geraram controvérsia considerável nos últimos anos. A maioria dos economistas que estudou o assunto concorda que o crescimento das importações de bens intensivos em trabalho proveniente das economias de industrialização recente, em troca das exportações de bens de alta tecnologia, ajudou a causar uma diferença salarial maior entre os trabalhadores altamente qualificados e os menos qualificados no país. No entanto, a maioria dos economistas acredita que essa é apenas uma entre várias forças que explicam o crescimento da desigualdade salarial.

Economia em ação Comércio, salários e preços da terra no século XIX Por volta de 1870, houve um crescimento explosivo do comércio internacional de produtos agrícolas, em grande parte, com base na máquina a vapor. Navios a vapor podiam atravessar o oceano de modo muito mais rápido e confiável do que navios a vela. Até cerca de 1860, os navios a vapor tinham custos mais altos do que os navios a vela, mas depois seus preços baixaram rapidamente. Ao mesmo tempo, a locomotiva a vapor tornou possível trazer grãos e outros produtos a granel de maneira mais barata do interior para os portos. O resultado foi que os países com terra abundante, como Estados Unidos, Canadá, Argentina e Austrália, começaram a enviar grandes quantidades de produtos agrícolas para os países da Europa densamente povoados e com escassez de terra.

Essa abertura do comércio internacional levou ao aumento de preços dos produtos agrícolas, como o trigo, nos países exportadores e a um declínio nos preços nos países importadores. Notavelmente, a diferença entre os preços do trigo no Meio-Oeste dos Estados Unidos e da Inglaterra submergiu. A mudança nos preços agrícolas criou tanto ganhadores como perdedores nos dois lados do Atlântico, à medida que os preços dos fatores se ajustaram. Na Inglaterra, o preço da terra caiu à metade em comparação com o salário médio; os donos de terra viram seu poder de compra baixar drasticamente, mas os trabalhadores se beneficiaram com alimentos mais baratos. Nos Estados Unidos, aconteceu o inverso: o preço da terra dobrou em comparação com os salários. Os donos de terra se deram muito bem, mas os trabalhadores viram o poder de compra de seus salários prejudicados pelo aumento do preço dos alimentos.

Breve revisão ■ A interseção da curva da demanda doméstica com a curva da oferta doméstica determina o preço doméstico de um bem. Quando o mercado se abre para o comércio internacional, o preço doméstico é levado a se igualar ao preço internacional. ■ Se o preço internacional é inferior ao preço de autarquia, o comércio resulta em importação e o preço doméstico cai até o nível do preço internacional. Ocorrem ganhos gerais do comércio internacional, porque o ganho no excedente do consumidor excede a perda do excedente do produtor. ■ Se o preço internacional é superior ao preço de autarquia, o comércio leva à exportação e o preço doméstico aumenta até o nível do preço internacional. Ocorrem ganhos gerais do comércio internacional porque o ganho do excedente do produtor supera a perda do excedente do consumidor. ■ O comércio leva a uma expansão das indústrias de exportação, o que aumenta a demanda pelos fatores abundantes do país, e contrai as indústrias que competem com importações, diminuindo a demanda por seus fatores escassos.

Teste seu entendimento 5-2 1. Em consequência de uma greve de caminhoneiros, o comércio de alimentos entre os Estados Unidos e o México foi interrompido. Em autarquia, o preço das uvas mexicanas é menor do que as uvas americanas. Usando um gráfico para a curva da demanda doméstica e da oferta doméstica dos Estados Unidos para uvas, explique o efeito desses eventos sobre o seguinte. a. Excendente do consumidor de uvas nos Estados Unidos b. Excendente do produtor de uvas nos Estados Unidos c. Excedente total nos Estados Unidos 2. Que efeito isso terá sobre os produtores de uva mexicanos? Sobre os catadores de uva mexicanos? Sobre os consumidores de uva mexicanos? Sobre os catadores de uva dos Estados Unidos?

As respostas estão no fim do livro.

Os efeitos da proteção comercial Desde que David Ricardo apresentou o princípio da vantagem comparativa no início do século XIX, a maioria dos economistas defende o livre comércio. Ou seja, argumentam que políticas governamentais não deveriam tentar reduzir ou aumentar o nível das exportações e importações que ocorrem naturalmente como resultado da oferta e da demanda. Apesar dos argumentos dos economistas em favor do livre comércio, muitos governos usam impostos e outras restrições para limitar as importações. Com menos frequência, os governos oferecem subsídios para incentivar as exportações. A política para limitar as importações, geralmente com o objetivo de proteger os produtores domésticos das indústrias que competem com importações contra a concorrência externa, é conhecida como proteção comercial ou apenas proteção. Vamos analisar as duas políticas protecionistas mais comuns, tarifas e cotas de importação e, em seguida, verificar as razões pelas quais os governos seguem essas políticas.

Os efeitos de uma tarifa Uma tarifa é uma forma de imposto seletivo que incide apenas sobre as vendas de bens importados. Por exemplo, o governo dos Estados Unidos pode determinar que alguém trazendo assentos para carros deva pagar uma tarifa de $100 por unidade. No passado, as tarifas eram uma fonte importante de receita do governo, pois eram relativamente fáceis de arrecadar. Mas no mundo moderno, as tarifas geralmente se destinam a desencorajar as importações e proteger os produtores domésticos que competem com as importações e não como fonte de receita governo. A tarifa aumenta tanto o preço recebido pelos produtores domésticos como o preço pago pelos consumidores domésticos. Suponha, por exemplo, que os Estados Unidos importem assentos para carros, que custam $200 no mercado internacional. Como vimos anteriormente, sob o livre comércio, o preço doméstico também seria de $200. Mas se uma tarifa de $100 por unidade for imposta, o preço doméstico se eleva para $300, porque não será lucrativo importar assentos para carros a menos que o preço no mercado doméstico seja alto o suficiente para compensar os importadores pelo custo de pagar a tarifa. A Figura 5-10 ilustra o efeito de uma tarifa sobre a importação de assentos para carros. Como antes, supomos que PW seja o preço internacional de um assento para carro. Antes de a tarifa ser imposta, as importações baixaram o preço doméstico até PW , de modo que a produção doméstica antes da tarifa era QS, o consumo doméstico antes da tarifa era QD e as importações antes da tarifa, QD − QS.

FIGURA 5-10 O efeito de uma tarifa Uma tarifa eleva o preço doméstico do bem de PW para PT. A quantidade demandada doméstica cai de QD para QDT e a quantidade doméstica ofertada aumenta de QS para QST. Como resultado, as importações – que eram QD − QS antes de a tarifa ter sido imposta – caem para QDT −QST após a imposição da tarifa.

Agora, suponha que o governo imponha uma tarifa para todos os assentos para carros importados. Como consequência, não é mais rentável importar assentos para carros a menos que o preço doméstico recebido pelo importador seja maior ou igual ao preço internacional acrescido da tarifa. Então, o preço doméstico sobe para a PT, que é igual ao preço internacional, PW , mais a tarifa. A produção doméstica sobe para QST, o consumo doméstico cai para QDT e as importações caem QDT − QST. A tarifa, então, eleva os preços domésticos, acarretando aumento da produção doméstica e redução do consumo doméstico em comparação com a situação anterior de livre comércio. A Figura 5-11 mostra os efeitos sobre o excedente. Existem três efeitos: 1. O preço doméstico mais elevado aumenta o excedente do produtor, um ganho igual à área A. 2. O preço doméstico mais elevado reduz o excedente do consumidor, uma redução igual à soma das áreas A, B, C, e D. 3. A tarifa gera receita para o governo. Quanta receita? O governo arrecada a tarifa – que, lembre-se, é igual à diferença entre PT e PW em cada uma das unidades importadas QDT − QST. Assim, a receita total é (PT − PW ) × (QDT − QST). Isso é igual à área C.

FIGURA 5-11 Uma tarifa reduz o excedente total Quando o preço doméstico sobe como resultado de uma tarifa, os produtores ganham excedente adicional (área A), o governo ganha receita (área C) e os consumidores perdem excedente (áreas A +B + C + D). Como as perdas para os consumidores superam os ganhos dos produtores e do governo, a economia como um todo perde excedente (áreas B + D).

Os efeitos da tarifa sobre o bem-estar estão resumidos na tabela da Figura 5-11. Os produtores ganham, os consumidores perdem e o governo ganha. Mas as perdas dos consumidores são maiores do que a soma dos ganhos dos produtores e do governo, ocasionando uma redução líquida do excedente total igual à área B + D. Um imposto seletivo cria ineficiência ou perda de peso morto, pois faz as transações mutuamente benéficas deixarem de ocorrer. O mesmo se aplica a uma tarifa, em que a perda por peso morto para a sociedade é igual à perda no excedente total representado pelas áreas B + D. As tarifas geram perdas por peso morto, porque criam ineficiências de duas maneiras: 1. Algumas transações mutuamente benéficas deixam de ocorrer: alguns consumidores que estão dispostos a pagar mais do que o preço internacional, PW , não compram o bem, mesmo que PW seja o verdadeiro custo de uma unidade do bem para a economia. O custo dessa ineficiência é representado na Figura 5-11 pela área D. 2. Recursos da economia são desperdiçados com produção ineficiente: alguns produtores, cujo custo excede PW , produzem o bem, mesmo podendo comprar uma unidade adicional do bem no exterior por PW . O custo dessa ineficiência é representado na Figura 5-11 pela área B.

Efeitos da cota de importação Uma cota de importação, outra forma de proteção comercial, é um limite legal sobre a quantidade de um bem que pode ser importado. Por exemplo, uma cota de importação dos Estados Unidos sobre assentos para carros mexicanos pode limitar a quantidade importada por ano a 500.000 unidades. Cotas de importação, em geral, são administradas por intermédio de licenças: emite-se uma quantidade de licenças, cada uma dando ao

detentor o direito de importar uma quantidade limitada de bens a cada ano. Uma cota de vendas tem o mesmo efeito que um imposto seletivo, com uma diferença: o dinheiro que de outra forma passaria para o governo como receita tributária gerada pelo imposto seletivo torna-se renda para os detentores de licenças de cota – também conhecido como renda da cota. (A “renda da cota” foi definida no Capítulo 4.) Da mesma forma, uma cota de importação tem o mesmo efeito de uma tarifa, com uma diferença: o dinheiro que de outro modo seria receita do governo torna-se renda da cota para os detentores da licença. Analise de novo a Figura 5-11. Uma cota de importação que limita as importações QDT − QST vai aumentar o preço doméstico de autopeças pelo mesmo valor da tarifa considerada anteriormente. Ou seja, vai aumentar o preço doméstico de PW para PT. No entanto, a área C agora vai representar a renda da cota, em vez de a receita do governo. Quem recebe licença de importação e por isso obtém renda de cotas? No caso da proteção de importação dos Estados Unidos, a resposta pode surpreendê-lo: as licenças mais importantes de importação – principalmente para vestuário, em menor medida para o açúcar – são concedidas a governos estrangeiros. Como as renda das cotas para a maior parte das cotas de importação dos Estados Unidos vão para os estrangeiros, o custo de tais cotas para a nação é maior do que a de uma tarifa comparável (uma tarifa que leve ao mesmo nível de importação). Na Figura 511 a perda líquida para os Estados Unidos de tal cota de importação é igual às áreas B + C + D, a diferença entre as perdas do consumidor e os ganhos do produtor.

Economia em ação Proteção comercial nos Estados Unidos Hoje em dia, os Estados Unidos geralmente adotam uma política de livre comércio, ao menos em comparação com outros países e também em comparação com a sua própria história. A maioria das importações não está sujeita a nenhuma tarifa ou está sujeita a uma tarifa baixa. Então, quais são as exceções principais dessa regra? A maioria da proteção restante envolve produtos agrícolas. No topo da lista está o etanol, que é produzido principalmente do milho nos Estados Unidos e é usado como ingrediente do combustível. A maioria do etanol importado está sujeita a uma tarifa muito alta, mas alguns países estão autorizados a vender uma quantidade limitada de etanol para os Estados Unidos, a preços elevados, sem pagar a tarifa. Os produtos lácteos também recebem substancial proteção de importação, mais uma vez, através de uma combinação de tarifas e cotas. Até poucos anos atrás, outra área fortemente protegida da concorrência das importações era a de vestuário e têxteis, graças a um elaborado sistema de cotas de importação. No entanto, esse sistema foi extinto em 2005, como parte de um acordo comercial alcançado uma década antes. Algumas importações de vestuário ainda estão sujeitas a tarifas relativamente altas, mas a proteção da indústria do vestuário é apenas

uma sombra do que costumava ser. O que é mais importante conhecer sobre a proteção comercial atual dos Estados Unidos é a sua limitação, e como impõe pouco custo à economia. A cada dois anos a Comissão de Comércio Internacional dos Estados Unidos, uma agência governamental produz estimativas do impacto das “restrições de comércio significativas” sobre o bemestar americano. Como mostra a Figura 5-12, ao longo das últimas duas décadas, tanto os níveis médios de tarifas como de restrições do custo do comércio como percentual da renda nacional, que para início de conversa não era tão grande assim, caiu bruscamente.

FIGURA 5-12 Tabela de tarifas e de ganhos de bem-estar estimados entre 1993 e 2011 Fonte: U.S. International Trade Commission (2011). “The Economic Effects of Significant U.S. Import Restraints”.

Breve Revisão ■ A maioria dos economistas defende o livre comércio, embora muitos governos se dediquem à proteção comercial de indústrias que competem com importações. As duas políticas protecionistas mais comuns são tarifas e cotas de importação. Em casos raros, os governos subsidiam as indústrias exportadoras. ■ A tarifa é um imposto sobre importações. Eleva o preço doméstico acima do preço internacional, levando a uma queda no comércio e no consumo doméstico e a um aumento na produção doméstica. Os produtores domésticos e o governo ganham, mas o consumidor doméstico perde mais do que compensa esse ganho, acarretando perda por peso morto. ■ Uma cota de importação é um limite quantitativo legal sobre importações. Seu efeito é semelhante ao de uma tarifa, exceto que as receitas – as rendas das cotas – vão para os detentores das licenças, não para o governo.

Teste seu entendimento 5-3 1. Suponha que o preço internacional da manteiga seja de $0,50 por libra e que o preço doméstico em autarquia seja de $1 por libra. Use um gráfico semelhante ao da Figura 5-10 para mostrar o seguinte. a. No caso de livre comércio, os produtores domésticos de manteiga querem que o governo imponha uma tarifa não inferior a $0,50 por libra. b. O que acontece se for imposta uma tarifa superior a $0,50 por libra? 2. Suponha que o governo imponha uma cota de importação de manteiga, em vez de uma tarifa. Que limite de cota geraria a mesma quantidade de importações que uma tarifa de $0,50 por libra? As respostas estão no fim do livro.

A economia política da proteção comercial Vimos que o comércio internacional produz benefícios mútuos aos países que se dedicam a isso. Vimos também que tarifas e cotas de importação, embora ainda que resultem em ganhadores e perdedores, reduzem o excedente total. Contudo, muitos países continuam a impor tarifas e cotas de importação e a adotar outras medidas protecionistas. Para entender por que ocorre a proteção comercial analisaremos, primeiro, algumas justificativas comuns da proteção. Em seguida, vamos examinar a política da proteção comercial. Finalmente, um aspecto importante da proteção comercial no mundo de hoje: tarifas e cotas de importação estão sujeitas a negociações internacionais e são fiscalizadas por organizações internacionais.

Argumentos em favor da proteção comercial Defensores de tarifas e cotas de importação oferecem uma variedade de argumentos. Três argumentos comuns são segurança nacional, criação de empregos e o argumento da indústria nascente. O argumento da segurança nacional é baseado na proposição de que fontes externas de bens estão sujeitas à interrupção em tempos de conflito internacional e, portanto, um país deveria proteger os produtores domésticos de bens essenciais, com o objetivo de ser autossuficiente nesses bens. Na década de 1960, os Estados Unidos – que haviam começado a importar petróleo porque suas reservas domésticas estavam baixas – tinham uma cota de importação de petróleo, justificada por motivos de segurança nacional. Algumas pessoas têm argumentado que os Estados Unidos devem voltar a ter uma política que desencoraje a importação de petróleo, principalmente do Oriente Médio. O argumento da criação de emprego aponta que novos postos de trabalho seriam criados nas indústrias que competem com importações, como resultado da proteção comercial. Os economistas argumentam que esses empregos são compensados pela perda de emprego em outras áreas, como as indústrias que usam insumos importados e que agora enfrentam custos de produção mais elevados. Mas quem não é economista nem sempre é persuadido por esse argumento. Finalmente, o argumento da indústria nascente, muitas vezes apresentado em países de industrialização recente, sustenta que novas indústrias requerem um período temporário de proteção comercial para se estabelecerem. Por exemplo, na década de 1950, muitos países na América Latina estabeleceram tarifas e cotas de importação sobre bens manufaturados, em um esforço para mudar seu papel tradicional de exportadores de matérias-primas para um novo status de países industrializados. Em teoria, o argumento da indústria nascente pode ser persuasivo, especialmente em indústrias de alta tecnologia, que aumentam o nível geral de qualificação de mão de obra no país. A realidade, porém, é mais complicada: na maioria das vezes, indústrias politicamente influentes ganham proteção. Além disso, os governos tendem a ser precários em prever as melhores tecnologias emergentes. Finalmente, muitas vezes é

muito difícil desacostumar uma indústria da proteção, quando deveria estar suficientemente madura para não precisar mais dela.

A política da proteção comercial Na realidade, boa parte da proteção comercial tem pouco a ver com os argumentos que acabamos de descrever. Em vez disso, reflete a influência política dos produtores que competem com importações. Vimos que uma tarifa ou cota de importação ocasiona ganhos para os produtores que competem com importações e perdas para os consumidores. Os produtores, no entanto, geralmente têm muito mais influência sobre as decisões de política comercial. Os produtores que competem com as importações de determinado bem, em geral, são um grupo menor e mais coeso do que os consumidores desse bem. Um exemplo é a proteção comercial do açúcar: os Estados Unidos têm uma cota de importação sobre o açúcar que, em média, acarreta um preço doméstico cerca de duas vezes o preço internacional. É difícil fornecer quaisquer argumentos econômicos racionais em favor dessa cota. No entanto, os consumidores raramente se queixam da cota, pois não sabem que ela existe: como nenhum consumidor individual compra grandes quantidades de açúcar, o custo da cota é de apenas alguns dólares por família a cada ano, e não chega a atrair a atenção. Mas há uns poucos milhares de agricultores que cultivam açúcar nos Estados Unidos. São bem conscientes do benefício que recebem da cota e tratam de fazer seus representantes no Congresso também terem consciência de seu interesse nesse assunto. Dadas essas realidades políticas, pode parecer surpreendente que o comércio seja tão livre como é. Por exemplo, os Estados Unidos têm tarifas baixas e suas cotas de importação estão principalmente limitadas a roupas e a alguns produtos agrícolas. Seria bom dizer que a razão principal da proteção comercial é tão limitada que os economistas convenceram os governos das virtudes do livre comércio. Uma razão mais importante, entretanto, é o papel dos acordos comerciais internacionais.

Acordos comerciais internacionais e a Organização Mundial do Comércio Quando um país se engaja em proteção comercial, prejudica dois grupos. Já enfatizamos o efeito adverso sobre os consumidores domésticos, mas também prejudica as indústrias de exportação no exterior. Isso significa que os países se preocupam com as políticas comerciais uns dos outros: a indústria madeireira canadense, por exemplo, tem um forte interesse em manter baixas as tarifas americanas sobre produtos florestais. Como os países se preocupam com as políticas comerciais uns dos outros, participam de acordos de comércio internacional: tratados em que um país se compromete a adotar menos proteção comercial contra as exportações de outro país, em troca de uma promessa do outro país fazer o mesmo para suas exportações. A maior parte do comércio internacional hoje é governada por tais acordos.

Alguns acordos de comércio internacional envolvem apenas dois ou um pequeno grupo de países. Estados Unidos, Canadá e México estão unidos pelo Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA). Esse acordo, assinado em 1993, acabou por eliminar todas as barreiras comerciais entre esses três países. Na Europa, 27 países fazem parte de um acordo mais abrangente, a União Europeia ou EU. No NAFTA, os paísesmembros definem suas próprias tarifas contra importações de países que não são membros. A UE, no entanto, é uma união aduaneira: as tarifas são estabelecidas no mesmo nível sobre os bens de fora da UE que entram nos seus países-membros. Há também acordos comerciais globais que cobrem a maior parte do mundo. Tais acordos globais são supervisionados pela Organização Mundial do Comércio, ou OMC, uma organização internacional composta por países- membros, que desempenha dois papéis. Primeiro, oferece o marco para as negociações extremamente complexas envolvidas em um acordo de comércio internacional importante (o texto completo do último grande acordo, aprovado em 1994, foi de 24.000 páginas). Em segundo lugar, a OMC resolve disputas entre os membros. Essas disputas surgem normalmente quando um país alega que a política de outro país viola acordos anteriores. Atualmente, a OMC tem 151 países-membros, que representam a maior parte do comércio internacional. Eis dois exemplos que ilustram o papel da OMC. Primeiro, em 1999, a OMC julgou que as restrições da União Europeia à importação de bananas, que discriminam a favor dos produtores nas antigas colônias europeias e contra os produtores da América Central, violam as regras de comércio internacional. Os Estados Unidos tomaram partido a favor dos países da América Central e a disputa ameaçou tornar-se uma fonte importante de conflito entre a União Europeia e os Estados Unidos. Atualmente, a Europa está em processo de revisão do seu sistema. Em 2009, a União Europeia concordou em reduzir as tarifas sobre os produtores de bananas da América Central em 35% pelos próximos sete anos e, em troca, os Estados Unidos e os países da América Central abandonaram o processo, acabando com a “guerra da banana”. Um exemplo mais recente é a disputa entre os Estados Unidos e o Brasil sobre os subsídios americanos aos seus produtores de algodão. Esses subsídios, no valor de $3 a $4 bilhões por ano, são ilegais segundo as regras da OMC. O Brasil argumenta que esses subsídios reduzem artificialmente o preço do algodão americano no mercado mundial e prejudicam os produtores de algodão brasileiros. Em 2005, a OMC decidiu contra os Estados Unidos e em favor do Brasil, e os Estados Unidos responderam cortando alguns subsídios à exportação de algodão. No entanto, em 2007, a OMC julgou que os Estados Unidos não tinham feito o suficiente para cumprir integralmente as regras, como eliminar empréstimos do governo aos produtores de algodão. Por sua vez, em 2010, após a ameaça do Brasil de impor tarifas de importação sobre os bens manufaturados dos Estados Unidos, os dois lados entraram em acordo para a solução da disputa do algodão. Aliás, Vietnã e Tailândia são membros da OMC. Os Estados Unidos têm imposto e tirado tarifas sobre as importações de camarão procedentes desses países. A razão pela qual isso é possível é que as regras da OMC permitem proteção comercial em determinadas circunstâncias. Uma circunstância é aquela em que a concorrência estrangeira é “injusta”, sob determinados critérios técnicos. A proteção comercial

também é permitida como medida temporária, quando um súbito aumento de importações ameaça perturbar a indústria nacional. A resposta às exportações de pneus chineses, descrita em Para mentes curiosas, a seguir, é um exemplo recente importante. Às vezes, com grande exagero, a OMC é descrita como um governo internacional. Na verdade, ela não tem exército, nem polícia e nenhum direto para fazer cumprir acordos. O grão de verdade que existe nessa descrição é que, quando um país decide tornar-se membro da OMC, concorda em aceitar os julgamentos da organização e esses julgamentos se aplicam não apenas às tarifas e cotas de importação, mas também às políticas domésticas que a organização considera proteção comercial disfarçada sob algum outro nome. Assim, ao entrar na OMC, todo país abdica um pouco de sua soberania.

Para mentes curiosas Pneus sob pressão Em setembro de 2009, o governo dos Estados Unidos impôs tarifas exorbitantes sobre as importações de pneus da China. As tarifas foram impostas por três anos: 35% no primeiro ano, 30% no segundo e 25% no terceiro. As tarifas foram uma resposta às queixas dos sindicatos sobre os efeitos do aumento das exportações chinesas de pneus: entre 2004 e 2008, as importações de pneus da China pelos Estados Unidos passaram de 15 milhões para 46 milhões e os grupos de trabalho advertiram que isso estava custando empregos americanos. Os sindicatos queriam uma cota de importação, mas obter a tarifa seria uma vitória política para o trabalho organizado. Mas a tarifa não seria uma violação das regras da OMC? Não, disse a administração Obama. Quando a China aderiu à OMC em 2001, concordou com o que é conhecido, no jargão da política comercial, como um “mecanismo de salvaguarda”: foi concedido aos países importadores o direito de impor limites temporários às exportações chinesas, no caso de um surto de importação. Apesar desse acordo, o governo da China protestou contra a ação dos Estados Unidos e apelou à OMC para regulamentar a tarifa ilegal. Mas, em dezembro de 2010, a OMC ficou do lado dos Estados Unidos, pois considerou que a administração Obama estava dentro de seus direitos. Você não deve ser muito cético sobre o fracasso da conquista do livre comércio completo no caso dos pneus. Negociações comerciais mundiais sempre foram baseadas no princípio de que metade de um pão é melhor que nada, que é melhor ter um acordo que permita às indústrias politicamente sensíveis manter alguma proteção do que insistir na pureza do livre comércio. Apesar de ações como a tarifa de pneus, o comércio internacional é, em geral, extremamente livre, e em muitos aspectos mais livre do que jamais foi há alguns anos.

Novos desafios para a globalização

A marcha progressiva da globalização ao longo do século passado geralmente é considerada um grande sucesso político e econômico. Os economistas e formuladores de políticas têm visto o crescimento do comércio internacional, em particular, como uma coisa boa. Seríamos negligentes, no entanto, se deixássemos de reconhecer que muitas pessoas estão tendo dúvidas sobre a globalização. Em grande medida, essas dúvidas refletem duas preocupações partilhadas por muitos economistas: preocupação sobre os efeitos da globalização na desigualdade e preocupação que novos desenvolvimentos, em especial o crescimento da terceirização ou subcontratação de serviços para fornecedores fora do país (offshore outsourcing), estejam aumentando a insegurança econômica.

Globalização e desigualdade Já mencionamos as implicações do comércio internacional para os preços dos fatores de produção, como salários: quando países ricos como os Estados Unidos exportam produtos intensivos em conhecimento especializado, como aviões, enquanto importam produtos intensivos em trabalho não qualificado, como roupas, podem esperar uma ampliação de diferenciais de salários entre os trabalhadores domésticos mais e menos educados. Trinta anos atrás, isso não era uma preocupação significativa, porque a maior parte dos bens que os países ricos importavam dos mais pobres eram matérias-primas ou bens cuja vantagem comparativa dependia do clima. Hoje, no entanto, são importados muitos produtos manufaturados de países relativamente pobres, sendo o efeito sobre a distribuição de renda muito maior. O comércio com a China, em particular, é fonte de preocupação entre grupos trabalhistas que tentam manter os níveis salariais nos países ricos. Embora a China tenha experimentado um crescimento econômico espetacular desde as reformas econômicas que começaram no final de 1970, continua sendo um país pobre e de salários baixos: estima-se que os salários na manufatura chinesa sejam de apenas 4 % dos salários dos Estados Unidos. Enquanto isso, as importações provenientes da China subiram. Em 1983, menos de 1% das importações americanas vinha da China; em 2010, a cifra era de mais de 19%. Não há muita dúvida de que as importações crescentes provenientes da China exerçam ao menos alguma pressão descendente sobre os salários dos trabalhadores americanos menos escolarizados.

Outsourcing Os bens manufaturados intensivos em trabalho predominam nas exportações chinesas para os Estados Unidos. No entanto, alguns trabalhadores americanos se defrrontaram recentemente com uma nova forma de competição internacional. O chamado outsourcing (terceirização), em que uma empresa contrata outra para realizar alguma tarefa, como, por exemplo, cuidar da estrutura de informática da companhia, é uma prática antiga. Porém, até recentemente, essa terceirização era normalmente doméstica, com uma empresa contratando outra dentro da mesma cidade ou país. Agora, a telecomunicação moderna cada vez mais torna possível se envolver em

offshore outsourcing, em que as empresas contratam pessoas de outros países para executar várias tarefas. O exemplo clássico são os call centers: quem atende ao telefone ao ligar para um número de atendimento ao cliente de uma empresa pode muito bem estar na Índia, que assumiu a liderança na captação desse tipo de serviço terceirizado. Offshore outsourcing também se espalhou para áreas como de projeto de software e até mesmo de cuidados de saúde: o radiologista que examina sua radiografia bem como a pessoa que dá suporte de informática pode estar em outro continente. Embora a terceirização internacional (offshore outsource) tenha sido um choque para alguns trabalhadores americanos, tais como os programadores cujos empregos foram terceirizados para a Índia, ainda é relativamente pequena em comparação com o comércio mais tradicional. Alguns economistas alertam, no entanto, que milhões ou até dezenas de milhões de trabalhadores que nunca pensaram que poderiam enfrentar a concorrência externa por empregos podem ter surpresas desagradáveis no futuro não muito distante. As preocupações com a distribuição de renda e outsourcing, como já dissemos, são compartilhadas por muitos economistas. Mas há, também, uma oposição bastante espalhada à globalização em geral, especialmente entre estudantes universitários. Em 1999, uma tentativa de iniciar uma grande rodada de negociações comerciais falhou em parte porque a reunião da OMC, em Seattle, foi interrompida por manifestantes antiglobalização. No entanto, a razão mais importante do fracasso foram desentendimentos entre os países representados. Outra rodada de negociações, iniciada em 2001, em Doha, no Catar, e por isso é conhecida como “Ronda de Doha para o Desenvolvimento”, foi encerrada em 2008, principalmente por causa de divergências sobre as regras comerciais agrícolas. O que motiva o movimento antiglobalização? Até certo ponto, é a falácia do trabalho: é fácil ficar indignado com o baixo salário recebido pela pessoa que confeccionou a sua camisa. Mas é mais difícil reconhecer o quanto estaria pior a situação dessa pessoa se lhe fosse negada a oportunidade de vender bens no mercado dos países ricos. Mas também é verdade que o movimento representa uma reação contra defensores da globalização que exageram na promessa de benefícios. Foi prometido aos países da América Latina, em particular, que a redução das tarifas aduaneiras produziria um grande avanço econômico, mas os resultados decepcionaram. Alguns grupos, como os agricultores pobres que enfrentam a nova competição dos alimentos importados, ficaram em situação pior. Será que esses novos desafios à globalização minam o argumento de que o comércio internacional é uma coisa boa? A grande maioria dos economistas argumentaria que os ganhos com a redução da proteção comercial ainda superam as perdas. No entanto, tornou-se mais importante do que antes assegurar que os ganhos com o comércio internacional sejam amplamente difundidos. E a política de comércio internacional está se tornando cada vez mais difícil, à medida que o comécio se expande.

Economia em ação

Reforçando as exportações Em dezembro de 2010, os negociadores dos Estados Unidos e da Coreia do Sul chegaram a um acordo final sobre a negociação de livre comércio que eliminaria muitas das tarifas e outras restrições ao comércio entre as duas nações. A negociação também envolveu mudanças em uma série de regulamentações de negócios que se esperava tornasse mais fácil a operação entre as empresas americanas e da Coreia do Sul. Esse foi, literalmente, um negócio bem amplo: a economia da Coreia do Sul é comparável em tamanho à do México, de modo que esse foi o acordo de livre comércio mais importante de que os Estados Unidos tomaram parte desde a NAFTA. O que tornou esse acordo possível? Estimativas da Comissão de Comércio Internacional dos Estados Unidos constataram que o negócio iria aumentar a renda média americana, embora modestamente: a comissão apresentou os ganhos em torno de um décimo de um por cento. Não é algo negativo quando se considera o fato de que a Coreia do Sul, apesar de ser uma economia relativamente grande, é apenas o sétimo parceiro comercial mais importante dos Estados Unidos. No entanto, esses ganhos globais desempenharam um papel ínfimo na política do negócio, que dependia das perdas e ganhos de círculos eleitorais americanos. Alguma oposição ao negócio veio do trabalho, especialmente de trabalhadores da indústria automobilística, que temiam que a eliminação da tarifa de 8% dos Estados Unidos sobre as importações de automóveis coreanos levaria à perda de emprego. Mas havia também grupos de interesse nos Estados Unidos que queriam muito o negócio, principalmente a indústria da carne: coreanos são grandes comedores de carne, mas o acesso a esse mercado americano foi limitado por uma tarifa coreana de 38%. E a administração Obama definitivamente queria o acordo, em parte por motivos não relacionados à economia: a Coreia do Sul é um importante aliado dos Estados Unidos, e as tensões militares com a Coreia do Norte estavam aumentando gradualmente até mesmo quando as negociações estavam sendo finalizadas. Assim, um acordo comercial era visto, em parte, como um símbolo de cooperação entre os Estados Unidos e a Coreia do Sul. Mesmo os sindicatos não estavam em oposição como se imaginava; a imposição de tarifas sobre pneus chineses, descrita em Para mentes curiosas, foi vista como uma demonstração de que se estava preparado para defender os interesses trabalhistas. Também ajudou o fato de que a Coreia do Sul – ao contrário do México, quando o NAFTA foi assinado – é ao mesmo tempo um país de salários bastante altos e não se localiza na fronteira com os Estados Unidos, o que significa menos preocupação com deslocamentos maciços de fabricação. No final, o equilíbrio de interesses era bastante favorável para tornar o negócio politicamente possível. Dito isso, no momento da redação, o Congresso dos Estados Unidos ainda teve de aprovar o negócio.

Breve revisão ■ As três justificativas principais para proteção comercial são segurança nacional, criação de emprego e protecção de indústrias nascentes.

■ Apesar das perdas por peso morto, com frequência se impõe a proteção contra importação porque grupos que representam indústrias que competem com importações são menores e mais influentes do que os grupos de consumidores. ■ Para promover a liberalização do comércio, os países negociam acordos de comércio internacional. Alguns acordos são apenas entre um pequeno número de países, como o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) e a União Europeia (UE). A Organização Mundial do Comércio (OMC) visa negociar acordos comerciais globais e arbitrar disputas comerciais entre os membros. ■ A resistência à globalização surgiu em resposta ao aumento das importações de países relativamente pobres e à terceirização externa (outsourcing offshore) de muitos postos de trabalho que se consideravam seguros da concorrência estrangeira.

Teste seu entendimento 5-4 1. Em 2002, os Estados Unidos impuseram tarifas sobre as importações de aço, um insumo de grande número e variedade de indústrias nos Estados Unidos. Explique por que o lobby político para eliminar essas tarifas tem mais possibilidade de ser eficaz do que o lobby político para eliminar tarifas sobre bens de consumo, tais como açúcar e vestuário. 2. Ao longo dos anos, a OMC se viu cada vez mais envolvida na resolução de disputas comerciais que envolvem não apenas tarifas ou restrições de cotas, mas também restrições com base na qualidade, saúde e considerações ambientais. Por que você acha que isso ocorreu? Que método você adotaria, como funcionário da OMC, para decidir se qualidade, saúde e restrições ambientais violam ou não um acordo de livre comércio? As respostas estão no fim do livro.

Caso empresarial Li & Fung: de Guangzhou para você Uma boa aposta é que ao ler esse caso você esteja usando algo fabicado na Ásia. E se estiver, também outra boa aposta é que a empresa de Hong Kong Li & Fung esteja envolvida na obtenção desse vestuário, projetando, produzindo e enviando para a sua loja local. Da Levi’s ao Walmart, Li & Fung é um canal fundamental de fábricas ao redor do mundo até o shopping mais próximo de você. A empresa foi fundada em 1906 em Guangzhou, China. Segundo o presidente da companhia, Victor Fung, o “valor agregado do seu avô” era que ele falava inglês, permitindo que servisse de intérprete em negócios entre chineses e estrangeiros. Quando o Partido Comunista de Mao tomou o controle da China continental, a empresa mudou-se para Hong Kong. Lá, como a economia de mercado de Hong Kong decolou durante os anos de 1960 e 1970, Li & Fung cresceu como exportador, unindo os fabricantes de Hong Kong e os compradores estrangeiros.

No entanto, a transformação real da empresa chegou quando as economias asiáticas cresceram e mudaram. O rápido crescimento de Hong Kong ocasionou um aumento de salários, tornando Li & Fung uma empresa sem concorrência em vestuário, seu principal negócio. Assim, a empresa reinventou a si mesmo: em vez de se tornar uma simples intermediária, tornou-se “administradora de cadeia de suprimentos”. Não apenas alocava produção de um bem a um fabricante, como também subdividia a produção, alocava a produção dos insumos e, em seguida, destinava a montagem final do bem entre seus 12.000 fornecedores ao redor do mundo. Às vezes, a produção era realizada em economias sofisticadas, como a de Hong Kong ou até mesmo no Japão, onde os salários são altos, como também a qualidade e a produtividade; outras vezes era realizada em locais menos avançados, como a China continental ou a Tailândia, onde o trabalho é menos produtivo, mas mais barato. Por exemplo, suponha que você possua uma cadeia de varejo nos Estados Unidos e deseje vender roupa de jeans desbotada. Em vez de apenas organizar a produção do jeans, Li & Fung irá trabalhar com você na concepção, fornecendo- lhe a mais recente informação sobre produção e estilo e que materiais e cores estão na moda. Após a conclusão do projeto, Li & Fung providenciará a criação de um protótipo, encontrará a maneira mais econômica de fabricação, em seguida emitirá um pedido em seu nome. Através da Li & Fung, o fio pode ser fabricado na Coreia e tingido em Taiwan, e o jeans costurado na Tailândia ou na China continental. E como a produção está ocorrendo em tantos locais, Li & Fung fornece logística de transporte, bem como controle de qualidade. Li & Fung tem tido um enorme sucesso. Em 2010, a empresa tinha um valor de mercado de cerca de $23,3 bilhões com um volume de negócios de mais de $15 bilhões, com escritórios e centros de distribuição em mais de 40 países. Ano após ano, regularmente, duplica ou triplica o lucro.

Questões para pensar 1. Por que você acha que era lucrativo para Li & Fung ir além da intermediação das exportações para tornar-se um administrador de cadeia de suprimentos, quebrando o processo de produção e abastecendo os insumos de diversos fornecedores em muitos países? 2. Que princípio você considera que está por trás das decisões de Li & Fung de como alocar a produção de insumos de um bem e sua montagem final entre os vários países? 3. Por que você acha que um varejista prefere ter a organização internacional da produção de Li & Fung de suas calças jeans ao invés de comprá-las diretamente do fabricante de jeans na China? 4. Qual é a fonte de sucesso de Li & Fung? Baseia-se em capital humano, na propriedade de um recurso natural, ou em posse de capital?

Resumo 1. O comércio internacional tem importância crescente para os Estados Unidos e também

para a maioria de outros países. O comércio internacional, assim como o comércio entre os indivíduos, surge da vantagem comparativa: o custo de oportunidade de produzir uma unidade adicional de um bem é menor em alguns países do que em outros. Bens e serviços adquiridos do exterior são importações; os que são vendidos no exterior são exportações. O comércio exterior, assim como outras ligações econômicas entre os países, vem crescendo rapidamente, um fenômeno que é chamado de globalização. 2. O modelo ricardiano de comércio internacional supõe que os custos de oportunidade são constantes. Isso mostra que existe ganho do comércio: dois países melhoram de situação com o comércio, em comparação com a autarquia. 3. Na prática, a vantagem comparativa reflete as diferenças entre os países quanto ao clima, dotação de fatores e tecnologia. O modelo Heckscher-Ohlin mostra como as diferenças na dotação de fatores determinam a vantagem comparativa: os bens diferem em intensidade de fator e os países tendem a exportar os bens que são intensivos nos fatores que possuem em abundância. 4. A curva de demanda doméstica e a curva de oferta doméstica determinam o preço de um bem em autarquia. Quando o comércio internacional ocorre, o preço doméstico é levado a se igualar com o preço internacional, o preço pelo qual o bem pode ser comprado e vendido no exterior. 5. Se o preço internacional for inferior ao preço de autarquia, um bem é importado. Isso causa um aumento no excedente do consumidor, a uma queda no excedente do produtor e a um ganho no excedente total. Se o preço internacional estiver acima do preço autarquia, um bem é exportado. Isso leva a um aumento no excedente do produtor, a uma queda no excedente do consumidor e a um ganho no excedente total. 6. O comércio internacional leva à expansão das indústrias exportadoras e a uma contração das indústrias que competem com importações. Isso aumenta a demanda doméstica de fatores de produção abundantes e reduz a demanda de fatores escassos, afetando os preços dos fatores, como salários. 7. A maioria dos economistas defende o livre comércio, mas na prática muitos governos realizam proteção comercial. Duas formas mais comuns de proteção são tarifas e cotas. Em raras ocasiões, a indústrias de exportação é subsidiada. 8. Uma tarifa é um imposto sobre importações. Aumenta o preço doméstico acima do preço internacional, prejudicando os consumidores, beneficiando os produtores domésticos e gerando receita governamental. Como resultado, o excedente total diminui. Uma cota de importação é um limite legal para a quantidade de um bem que pode ser importada. Tem os mesmos efeitos de uma tarifa, exceto que a receita não vai para o governo, mas para quem recebe licenças de importação. 9. Apesar de vários argumentos populares em favor da proteção comercial, na prática, a principal razão da proteção é provavelmente política: as indústrias que competem com importações são bem organizadas e bem informadas sobre o que ganham com a proteção comercial, enquanto que os consumidores não têm consciência dos custos que pagam. Ainda assim, o comércio dos Estados Unidos é bastante livre, principalmente por causa do papel dos acordos de comércio internacional, em que os países

concordam em reduzir a proteção comercial referente às exportações um do outro. O Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) e da União Europeia (UE) abrange um pequeno número de países. Por outro lado, a Organização Internacional do Comércio (OMC) abrange um número muito maior de países, representando o grosso do comércio internacional. Supervisiona as negociações comerciais e resoluções de litígios entre seus membros. 10. Nos últimos anos, muitas questões têm sido levantadas sobre os efeitos da globalização. Uma questão é o aumento da desigualdade de renda devido ao aumento das importações de países relativamente pobres nos últimos 20 anos. Outra preocupação é o aumento da terceirização externa (offshore outsourcing), muitos postos de trabalho que antes eram considerados estar a salvo da concorrência estrangeira, foram levados para o exterior.

Palavras -chave Importações, p. 110 Exportações, p. 110 Globalização, p. 111 Modelo ricardiano de comércio internacional, p. 111 Autarquia, p. 112 Intensidade de fator, p. 116 Modelo Heckscher-Ohlin, p. 116 Curva da demanda doméstica, p. 119 Curva da oferta doméstica, p. 119 Preço internacional, p. 119 Indústrias exportadoras, p. 123 Indústrias que competem com importações, p. 123 Livre comércio, p. 124 Proteção comercial, p. 125 Proteção, p. 125 Tarifa, p. 125 Cota de importação, p. 126 Acordos de comércio internacional, p. 129 Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), p. 129 União Europeia (UE), p. 129 Organização Mundial do Comércio (OMC), p. 129 Terceirização externa (Offshore outsourcing), p. 131

Problemas 1. Suponha que a Arábia Saudita e os Estados Unidos se defrontem com possibilidades de produção de petróleo e automóveis, como na tabela a seguir.

a. Qual é o custo de oportunidade de produzir um carro na Arábia Saudita? E nos Estados Unidos? Qual é o custo de oportunidade de produzir um barril de petróleo na Arábia Saudita? E nos Estados Unidos? b. Que país tem vantagem comparativa na produção de petróleo? E na produção de carros? c. Suponha que em autarquia, a Arábia Saudita produza 200 milhões de barris de petróleo e 3 milhões de carros; e os Estados Unidos produzam 300 milhões de barris de petróleo e 2,5 milhões de carros. Sem comércio, a Arábia Saudita pode produzir mais petróleo e também mais carros? Sem comércio, os Estados Unidos podem produzir mais petróleo e também mais carros? 2. As possibilidades de produção para os Estados Unidos e para a Arábia Saudita são dadas no Problema 1. Suponha agora que cada país se especialize no bem que tem vantagem comparativa e que os dois países comerciem. Suponha também que, para cada país, o valor das importações deva ser igual ao valor das exportações. a. Qual é a quantidade total de petróleo produzido? Qual é a quantidade total de carros produzidos? b. É possível para a Arábia Saudita consumir 400 milhões de barris de petróleo e 5 milhões de carros e para os Estados Unidos consumir 400 milhões de barris de petróleo e 5 milhões de carros? c. Suponha que, de fato, a Arábia Saudita consuma 300 milhões de barris de petróleo e 4 milhões de carros e os Estados Unidos consumam 500 milhões de barris de petróleo e 6 milhões de carros. Quantos barris de petróleo os Estados Unidos importam? Quantos carros os Estados Unidos exportam? Suponha que um carro custe $10.000 no mercado internacional. Quanto, então, custa um barril de petróleo no mercado internacional? 3. Tanto o Canadá como os Estados Unidos produzem madeira e CDs com custo de oportunidade constante. Os Estados Unidos podem produzir 10 toneladas de madeira e nenhum CD ou 1.000 CDs e nenhuma madeira, ou qualquer combinação entre eles. O Canadá pode produzir 8 toneladas de madeira e nenhum CD ou 400 CDs e nenhuma madeira, ou qualquer combinação entre eles. a. Trace a fronteira das possibilidades de produção dos Estados Unidos e do Canadá em dois gráficos separados, com CDs no eixo horizontal e madeira no eixo vertical. b. Em autarquia, se os Estados Unidos desejam consumir 500 CDs, qual é o máximo de madeira que podem consumir? Marque esse ponto como A no gráfico. Da mesma forma, se o Canadá deseja consumir uma tonelada de madeira, quantos CDs pode consumir em autarquia? Marque esse ponto como C no gráfico. c. Que país tem vantagem absoluta na produção de madeira?

d. Que país tem vantagem comparativa na produção de madeira? Suponha que cada país se especialize no bem em que tenha vantagem comparativa, e que eles não comerciem. e. Quantos CDs os Estados Unidos produzem? Quanta madeira o Canadá produz? f. É possível que os Estados Unidos consumam 500 CDs e sete toneladas de madeira? Marque esse ponto como B no gráfico. É possível para o Canadá, ao mesmo tempo, consumir 500 CDs e uma tonelada de madeira? Marque esse ponto como D no gráfico. 4. Para cada uma das seguintes relações comerciais, explique a origem provável da vantagem comparativa para cada um dos países exportadores. a. Os Estados Unidos exportam software para a Venezuela e a Venezuela exporta petróleo para os Estados Unidos. b. Os Estados Unidos exportam aviões para a China e esta exporta vestuário para os Estados Unidos. c. Os Estados Unidos exportam trigo para a Colômbia e esta exporta café para os Estados Unidos. 5. O Escritório Central do Censo dos Estados Unidos (U.S. Census Bureau) mantém estatísticas sobre as importações e exportações dos Estados Unidos em seu site. Os passos seguintes farão você acessar as estatísticas de comércio exterior. Use-as para responder às perguntas a seguir. i. Acesse www.census.gov. ii. Sob o título “Business &Industry”, selecione “Foreign Trade”. iii. No topo da página, selecione “Data”. iv. Em seguida, selecione “Country/Product Trade”. v. Sob o título “North American Industry Classification System (NAICS)-Based”, selecione “NAICS web application”. vi. No menu suspenso “3-digit and 6-digit NAICS by country”, selecione a categoria do produto que você está interessado e clique em “Go”. vii. No menu suspenso “Select 6-digit NAICS”, selecione o bem ou serviço que você está interessado e clique em “Go”. viii. Nos menus suspensos que permitem que você selecione mês e ano, selecione “December ” e “2010” e clique em “Go”. ix. O lado direito da tabela agora mostrará as estatísticas de importação e exportação para todo o ano de 2010. Para as perguntas a seguir relativas às importações dos Estados Unidos, use a coluna “Consumption Imports, Customs Value Basis”. a. Procure os dados de importação de chapéus e bonés (“hats and caps”) dos Estados Unidos: no passo (vi) selecione “(315) Apparel & Accessories” e no passo (vii), selecione “(315991) Hats and Caps”. De que país importamos a maioria de chapéus e bonés? Qual das três fontes de vantagem comparativa (clima, dotação de fatores e tecnologia) é responsável pela vantagem comparativa do país na produção de chapéus e bonés? b. Procure os dados de importação de uvas americanas : no passo (vi), selecione “(111) Agricultural Products” e no passo (vii), selecione “(111332) Grapes”. De que país

importamos a maioria das uvas? Qual das três fontes de vantagem comparativa (clima, dotação de fatores e tecnologia) é responsável pela vantagem comparativa do país na produção de uvas? c. Procure os dados de importação de maquinaria para a indústria de alimentos pelos Estados Unidos: no passo (vi), selecione “(333) Machinery, Except Electrical” e no passo (vii), selecione “(333294) Food Product Machinery”. De que país importamos a maioria da maquinaria para a indústria de alimentos? Qual das três fontes de vantagem comparativa (clima, dotação de fatores e tecnologia) é responsável pela vantagem comparativa do país na produção de maquinaria para a indústria de alimentos? 6. Compare os dados da importação americana de chapéus e bonés da China em 2010 que você obteve no Problema 5, com os mesmos dados para o ano 2000. Repita os passos listados no Problema 5, mas no passo (viii) escolha “December ” e “2000”. a. O que aconteceu com o valor das importações americanas de chapéus e bonés da China entre 2000 e 2010? b. Que previsão faz o modelo Heckscher-Ohlin sobre os salários recebidos pelo trabalho na China? 7. A produção de sapatos é intensiva em trabalho e a de satélites é intensiva em capital. Os Estados Unidos têm capital abundante. A China tem mão de obra abundante. De acordo com o modelo Heckscher-Ohlin, qual bem a China vai exportar? Qual bem os Estados Unidos irão exportar? O que acontecerá com o preço do trabalho (o salário) e com o preço do capital nos Estados Unidos? 8. Antes que o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) eliminasse gradualmente as tarifas de importação de bens, o preço de autarquia dos tomates no México estava abaixo do preço internacional e, nos Estados Unidos, estava acima do preço internacional. Da mesma forma, o preço de autarquia de aves no México estava acima do preço internacional e, nos Estados Unidos, estava abaixo do preço internacional. Trace gráficos com curvas de oferta e de demanda para cada país e para cada um dos dois bens. Como resultado do NAFTA, os Estados Unidos agora importam tomate do México e exportam aves para o México. Como você imagina que os grupos seguintes são afetados? a. Os consumidores de tomate do México e dos Estados Unidos. Ilustre no gráfico o efeito sobre o excedente do consumidor. b. Os produtores de tomate do México e dos Estados Unidos. Ilustre no gráfico o efeito sobre o excedente do produtor. c. Trabalhadores mexicanos e americanos do setor de tomate. d. Consumidores mexicanos e americanos de aves. Ilustre no gráfico o efeito sobre o excedente do consumidor. e. Produtores mexicanos e americanos de aves. Ilustre no gráfico o efeito sobre o excedente do produtor. f. Trabalhadores mexicanos e americanos da indústria de aves. 9. A seguir estão as tabelas de demanda e oferta doméstica dos Estados Unidos para aviões a jato comerciais. Suponha que o preço internacional de um avião a jato

comercial seja de $100 milhões. Preço do jato (milhões) $120 110 100 90 80 70 60 50 40

Quantidade demandada de jatos 100 150 200 250 300 350 400 450 500

Quantidade ofertada de jatos 1.000 900 800 700 600 500 400 300 200

a. Em autarquia, quantos aviões a jato comerciais que os Estados Unidos produzem e a que preço são comprados e vendidos? b. Com o comércio, qual será o preço dos aviões a jato comerciais? Será que os Estados Unidos irão importar ou exportar aviões? Quantos? 10. A seguir estão as tabelas de demanda doméstica e de oferta doméstica de laranjas dos Estados Unidos. Suponha que o preço internacional de laranjas seja de $0,30 por laranja. Preço da laranja $1,00 0,90 0,80 0,70 0,60 0,50 0,40 0,30 0,20

Quantidade demandada de laranjas (milhares) 2 4 6 8 10 12 14 16 18

Quantidade ofertada de laranjas (milhares) 11 10 9 8 7 6 5 4 3

a. Trace as curvas de oferta e de demanda doméstica dos Estados Unidos. b. Com o livre comércio, quantas laranjas os Estados Unidos vão importar ou exportar? Suponha que o governo dos Estados Unidos imponha uma tarifa de importação de $0,20 por laranja. c. Quantas laranjas os Estados vão importar ou exportar após a introdução da tarifa? d. Indique com sombreado no gráfico o ganho ou a perda para a economia como um todo a partir da introdução dessa tarifa. 11. As tabelas de demanda doméstica e de oferta doméstica de laranjas dos Estados Unidos foram dadas no Problema 10. Suponha que o preço internacional de laranjas seja de $ 0,30 por laranja. Os Estados Unidos introduzem uma cota de importação de 3.000 laranjas e deixam a renda da cota para os exportadores de laranja estrangeiros. a. Trace a demanda doméstica e as curvas de oferta. b. Qual será o preço doméstico de laranjas após a introdução da cota? c. Qual é o valor de renda da cota que os exportadores estrangeiros de laranjas recebem?

12. O gráfico a seguir ilustra a curva de demanda doméstica e a curva de oferta doméstica de carne bovina dos Estados Unidos. O preço internacional da carne bovina é PW . Os Estados Unidos atualmente aplicam uma tarifa de importação para a carne, por isso o preço da carne é PT. O Congresso decide eliminar a tarifa. Em termos das áreas marcadas no gráfico, responda às seguintes perguntas.

a. Qual é o ganho/perda no excedente do consumidor? b. Qual é o ganho/perda no excedente do produtor? c. Qual é o ganho/perda do governo? d. Qual é o ganho/perda para a economia como um todo? 13. À medida que os Estados Unidos se abriram para o comércio, perderam muitos de seus empregos industriais de baixa qualificação, mas ganharam postos em indústrias de alta qualificação, como a indústria de software. Explique se, de modo geral, os Estados Unidos tiveram uma melhora em virtude do comércio. 14. Os Estados Unidos são altamente protetores de sua indústria agrícola, impondo tarifas de importação e, às vezes, cotas para a importação de produtos agrícolas. Este capítulo apresentou três argumentos a favor da proteção do comércio. Para cada argumento, discuta se ele pode ser uma justificativa válida para a proteção da agricultura dos Estados Unidos. 15. Nas negociações da Organização Internacional do Comércio (OMC), quando um país se compromete a reduzir uma barreira comercial (tarifa ou cota), normalmente se refere a isso como uma concessão a outros países. Você considera essa terminologia adequada? 16. Produtores em indústrias que competem com importações muitas vezes argumentam da seguinte forma: “Outros países têm vantagem na produção de certos bens apenas porque são pagos salários mais baixos aos trabalhadores do exterior. Na verdade, os

trabalhadores americanos são muito mais produtivos que os estrangeiros. Então, as indústrias que competem com importações precisam ser protegidas.” Esse argumento é válido? Justifique a resposta. www.worthpublishers.com/krugmanwells

Capítulo 5 Apêndice Excedente do Produtor e do Consumidor No corpo deste capítulo, foram utilizados os conceitos de excedente do consumidor e do produtor para analisar como o bem-estar dos consumidores e produtores é afetado pelo comércio e pelas tarifas. Os conceitos de excedente do consumidor e do produtor são extremamente úteis para analisar uma grande variedade de questões econômicas. Permite-nos calcular o grau de benefício que os produtores e consumidores recebem a partir da existência de um mercado. Também nos permite calcular quanto o bem-estar dos consumidores e produtores é afetado por mudanças nos preços de mercado. Tais cálculos desempenham um papel crucial na avaliação de muitas políticas econômicas e são especialmente úteis para a compreensão dos efeitos do comércio. Tudo o que é preciso para calcular o excedente do consumidor são as curvas de demanda e de oferta de um bem. Ou seja, o modelo de oferta e demanda não é apenas um modelo de como um mercado competitivo funciona – é também um modelo de quanto consumidores e produtores ganham em participar do mercado. Nosso ponto de partida é o mercado de livros usados, um grande negócio em termos de dólares e centavos, aproximadamente $3 bilhões em 2009. O mais importante é que é útil para o desenvolvimento dos conceitos de excedente do produtor e do consumidor.

O excedente do consumidor e a curva de demanda Analisemos o mercado de livros usados, começando com os compradores. O pontochave, como veremos em seguida, é que a curva da demanda é derivada de gostos ou preferências – e essas mesmas preferências também determinam o quanto se ganha com a oportunidade de comprar livros usados.

Disposição de pagar e a curva da demanda Um livro usado não é tão bom quanto um livro novo – vai estar desgastado e pode estar manchado de café, pode ter destaques e pode não estar completamente atualizado. O quanto isso incomoda você, depende das suas preferências. Alguns compradores potenciais preferem comprar o livro usado, mesmo que seja apenas um pouco mais barato do que um novo; outros comprariam o livro usado somente se fosse consideravelmente mais barato. Vamos definir a disposição de pagar de um comprador potencial como o preço máximo que seria pago pelo bem, nesse caso, um livro usado. Uma pessoa não iria comprar o livro, se custasse mais do que esse valor, mas estaria disposto a fazê-lo se custasse menos. Se o preço for apenas igual à disposição do indivíduo de pagar, ele ficará indiferente entre comprar e não comprar. A Tabela 5A-1 mostra cinco compradores potenciais de um livro usado cujo novo custa $100, listados em ordem de disposição a pagar. Em um extremo está Aleisha, que deseja

comprar o livro usado, mesmo se o preço for tão alto quanto $59. Brad está menos disposto a ter um livro usado e vai comprar apenas se o preço for $45 ou menos. Claudia está disposta a pagar apenas $35; Darren, apenas $25. E Edwina, que realmente não gosta da ideia de um livro usado, vai comprar se não custar mais do que $10. Tabela 5A-1 Excedente do Consumidor, se o preço do livro usado = $30

Quantos dos cinco estudantes realmente irão comprar o livro usado? Depende do preço. Se o preço do livro for $55, somente Aleisha irá comprar, se o preço for $40, Aleisha e Brad podem comprar, e assim por diante. Assim, as informações na tabela sobre a disposição de pagar também definem a tabela da demanda por livros usados.

Disposição de pagar e excedente do consumidor Suponha que a livraria do campus ofereceu livros usados a um preço de $30. Nesse caso, Aleisha, Brad e Claudia irão comprar os livros. Será que eles irão ganhar com suas compras e, em caso afirmativo, quanto? A resposta, também mostrada na Tabela 5A-1, é que cada estudante que compra um livro consegue um ganho líquido, mas o valor do ganho difere entre os estudantes. Aleisha estaria disposta a pagar $59, portanto seu ganho líquido é de $59 −$30 = $29. Brad estaria disposto a pagar $45, assim, seu ganho líquido é de $45 −$30 = $15. Claudia estaria disposta a pagar $35, assim, seu ganho líquido é de $35 −$30 = $5. Darren e Edwina, no entanto, não estão dispostos a comprar um livro usado ao preço de $30, então, nem ganham nem perdem. O ganho líquido que um comprador atinge na compra de um bem é chamado de excedente do consumidor individual do comprador. O que podemos aprender com esse exemplo é que sempre que um comprador paga um preço menor do que está disposto a pagar, o comprador atinge algum excedente do consumidor individual. A soma dos excedentes dos consumidores individuais alcançada por todos os compradores de um bem é conhecida como excedente do consumidor total alcançado no mercado. Na Tabela 5A-1, o excedente do consumidor total é a soma dos excedentes dos consumidores individuais obtidos por Aleisha, Brad e Claudia: $29 +$15 +$5 = $49. Muitas vezes os economistas usam o termo excedente do consumidor para se referir tanto ao excedente individual como do consumidor total. Vamos seguir essa prática; estará sempre claro no contexto se estamos nos referindo ao excedente do consumidor

alcançado pelo indivíduo ou por todos os compradores. O excedente do consumidor total pode ser representado graficamente. Como vimos no Capítulo 3, podemos usar a tabela da demanda para derivar a curva de demanda do mercado mostrada na Figura 5A-1. Como estamos considerando apenas um pequeno número de consumidores, essa curva não se parece com as curvas de demanda suaves do Capítulo 3, onde os mercados continham centenas de milhares de consumidores. Em vez disso, essa curva de demanda está intensificada, com a alternância de segmentos horizontais e verticais. Cada segmento horizontal – cada degrau – corresponde à disposição de pagar de um comprador potencial. Cada degrau dessa curva da demanda abrange um livro e representa um consumidor. Por exemplo, a altura do degrau de Aleisha é de $59, sua disposição de pagar. Esse degrau constitui o topo do retângulo, com $30 – o preço que ela realmente paga por um livro – formando a base. A área do retângulo de Aleisha, ($59 − $ 30) ×1 = $29, é o seu excedente do consumidor ao comprar um livro de $30. Assim, o excedente do consumidor individual que Aleisha ganha é a área do retângulo azul-escuro mostrado na Figura 5A-1.

FIGURA 5A-1 Excedente do consumidor no mercado de livros usados Ao preço de $30, Aleisha, Brad e Claudia compram o livro, mas Darren e Edwina não. Aleisha, Brad e Claudia obtêm excedentes do consumidor igual à diferença entre a sua disposição de pagar e o preço, ilustrado pelas áreas dos retângulos sombreados. Darren e Edwina estão dispostos a pagar menos de $30, então eles não estão dispostos a comprar um livro nesse mercado; eles recebem zero de excedente do consumidor. O excedente do consumidor total é dado por toda a área sombreada – a soma dos excedentes do consumidor individual de Aleisha, Brad e Claudia – igual a $ 29 +$15 + $5 = $49.

Além de Aleisha, Brad e Claudia também irão comprar o livro quando o preço for $30. Como Aleisha, eles também irão se beneficiar de suas compras, embora não tanto, porque cada um tem uma disposição de pagar menor. A Figura 5A-1 também mostra o excedente do consumidor ganho por Brad e Claudia. Repetindo, pode ser medido pelas áreas dos retângulos adequados. Como Darren e Edwina não estão dispostos a comprar livros pelo preço de $30, não recebem o excedente do consumidor. O excedente do consumidor total alcançado nesse mercado é apenas a soma dos

excedentes do consumidor individual recebidos por Aleisha, Brad e Claudia. Então, o excedente do consumidor total é igual à área combinada dos três retângulos – a área total sombreada na Figura 5A-1. Outra maneira de dizer isso é que o excedente do consumidor total é igual à área abaixo da curva da demanda, mas acima do preço. Isso ilustra o seguinte princípio geral: o excedente do consumidor total gerado pelas compras a determinado preço é igual à área abaixo da curva da demanda, mas acima desse preço. O mesmo princípio se aplica independentemente do número de consumidores. Para grandes mercados, como o mercado de autopeças que foi discutido neste capítulo, essa representação gráfica do excedente do consumidor torna-se extremamente útil. Considere, por exemplo, as vendas de iPads para milhões de compradores potenciais. Cada comprador potencial tem um preço máximo que estará disposto a pagar. Com tantos compradores potenciais, a curva da demanda será suave, como mostrado na Figura 5A-2.

FIGURA 5A-2 Excedente do consumidor A curva da demanda para iPads é suave porque há muitos compradores potenciais. Ao preço de $500, um milhão de iPads serão demandados. O excedente do consumidor a esse preço é igual à área sombreada: a área abaixo da curva de demanda, mas acima do preço. Esse é o ganho líquido total gerado para os consumidores ao comprar e consumir iPads quando o preço é $500.

Suponhamos que ao preço de $500, um total de um milhão de iPads será comprado. Quanto os consumidores ganharão por ser capazes de comprar esse milhão de iPads? Poderíamos responder a essa questão por meio do cálculo do excedente do consumidor de cada comprador individual e, em seguida, adicionar esses números até chegar ao total. Mas é muito mais fácil apenas examinar a Figura 5A-2 e considerar o fato de que o excedente do consumidor total é igual à área sombreada. Como no nosso exemplo original, o excedente do consumidor é igual à área abaixo da curva da demanda, mas acima do preço. (Para relembrar como calcular a área de um triângulo retângulo reveja o apêndice do Capítulo 2.)

Excedente do produtor e curva da oferta

Assim como alguns compradores de um bem estariam dispostos a pagar mais por uma compra do que o preço que realmente pagam, alguns vendedores de um bem também estariam dispostos a vendê-lo por menos do que o preço que realmente recebem. Então, assim como há consumidores que recebem o excedente do consumidor por comprar em um mercado, há produtores que recebem o excedente do produtor por vender em um mercado.

Custo e excedente do produtor Considere um grupo de estudantes que são vendedores potenciais de livros usados. Como eles têm preferências diferentes, os vários vendedores potenciais diferem no preço que estão dispostos a vender seus livros. A Tabela 5A-2 mostra os preços aos quais vários estudantes estão dispostos a vender. Andrew está disposto a vender o livro se conseguir obter pelo menos $5; Betty não vai vender por menos que $15; Carlos, a menos que possa obter $25; Donna, a menos que possa obter $35; Engelbert, a menos que possa obter $45. Tabela 5A-2 Excedente do produtor se o preço do livro usado = $30

O preço mais baixo pelo qual um vendedor potencial está disposto a vender tem um nome especial em economia: custo do vendedor. Assim, o custo de Andrew é de $5, o de Betty é $15 e assim por diante. Usar o termo custo, que as pessoas normalmente associam com o custo monetário da produção de um bem, pode soar um pouco estranho quando aplicado aos vendedores de livros usados. Os estudantes não têm que fabricar os livros, então não custa nada ao estudante que vende um livro usado tornar esse livro disponível para venda, não é? Sim, custa. Um estudante que vende um livro, mais tarde não vai tê-lo, como parte de sua coleção pessoal. Então, há um custo de oportunidade na venda de um livro, mesmo que o proprietário tenha concluído o curso para o qual o livro era exigido. E lembre-se que um dos princípios básicos da economia é que a verdadeira medida do custo de fazer alguma coisa sempre é o seu custo de oportunidade. Ou seja, o custo real de alguma coisa é o que você deve renunciar para obtê-la. Por isso, falar sobre o preço mínimo ao qual alguém irá vender um bem como sendo o “custo” de vender esse bem, mesmo sem gastar dinheiro na confecção desse bem,

constitui bom senso econômico. Claro que, na maioria dos mercados do mundo real, os vendedores também são aqueles que produzem o bem e, portanto, gastam dinheiro para disponibilizá-lo para venda. Nesse caso, o custo de tornar o bem disponível para venda inclui os custos monetários, mas também pode incluir outros custos de oportunidade. Voltando ao exemplo, suponha que Andrew venda o livro por $30. É evidente que ele ganhou nessa transação: ele estaria disposto a vender por apenas $5, assim, ganhou $25. Esse ganho líquido, a diferença entre o preço que ele realmente obtém e seu custo – o preço mínimo pelo qual ele estaria disposto a vender – é conhecido como excedente do produtor individual. Como no caso do excedente do consumidor, podemos acrescentar o excedente do produtor individual dos vendedores para calcular o excedente do produtor total, o ganho líquido total de todos os vendedores no mercado. Os economistas usam o termo excedente do produtor para se referir tanto ao excedente do produtor total como individual. A Tabela 5A-2 mostra o ganho líquido para cada um dos estudantes que iriam vender um livro usado ao preço de $30: $25 para Andrew, $15 para Betty e $5 para Carlos. O excedente do produtor total é $ 25 + $15 + $5 = $45. Tal como acontece com o excedente do consumidor, o excedente do produtor ganho por aqueles que vendem livros pode ser representado graficamente. Da mesma forma que a curva da demanda é derivada da disposição de pagar de consumidores diferentes, a curva da oferta é derivada do custo de produtores diferentes. A curva em forma de escada na Figura 5A-3 mostra a curva da oferta implícita no custo mostrado na Tabela 5A-2. Cada degrau da curva de oferta abrange um livro e representa um vendedor. A altura do degrau de Andrew é $5, seu custo. Isso forma a base do retângulo, com $30, o preço que ele realmente recebe pelo livro, formando o topo. A área desse retângulo, ($30 − $5) ×1 = $25, é o excedente do produtor. Assim, o excedente do produtor que Andrew obtém com a venda do livro é a área do retângulo vermelho escuro mostrado na figura.

FIGURA 5A-3 Excedente do produtor no mercado de livros usados Ao preço de $30, Andrew, Betty e Carlos vendem um livro, mas Donna e Engelbert não. Andrew, Betty e Carlos obtêm excedentes do produtor individual igual à diferença entre o preço e o seu custo, aqui ilustrado pelos retângulos sombreados. Donna e Engelbert têm um custo que é maior que o preço de $30, portanto não estão dispostos a vender o livro e assim recebem zero do excedente do produtor. O excedente do produtor total é dado pela área sombreada total, a soma dos excedentes do produtor individual de Andrew, Betty e Carlos, o equivalente a $25 + $15 + $5 = $45.

Vamos supor que a livraria do campus está disposta a comprar todas as cópias usadas desse livro que os estudantes estão dispostos a vender ao preço de $30. Então, além de Andrew, Betty e Carlos também vão vender seus livros. Também vão ser beneficiados com suas vendas, embora não tanto quanto Andrew, por ter custos mais elevados. Andrew, como vimos, obtém $25. Betty obtém uma quantia menor: como seu custo é $15, ganha apenas $15. Carlos ganha menos, apenas $5. Mais uma vez, assim como com o excedente do consumidor, temos uma regra geral para determinar o excedente do produtor total da venda de um bem: o excedente do produtor total da venda de um bem a um dado preço é a área acima da curva da oferta, mas abaixo do preço. Essa regra se aplica aos dois exemplos, como mostrado na Figura 5A-3, onde há um número pequeno de produtores e uma curva de oferta representada por um degrau sombreado e, para exemplos mais realistas, onde há muitos produtores e a curva da oferta é suave. Considere, por exemplo, a oferta de trigo. A Figura 5A-4 mostra como o excedente do produtor depende do preço por saca. Suponha que, como mostrado na figura, o preço seja de $5 por saca e os fazendeiros ofertem um milhão de sacas. Qual é o benefício para os agricultores da venda do trigo ao preço de $5? O excedente do produtor é igual à área sombreada na figura – a área acima da curva da oferta, mas abaixo do preço de $5 por saca.

FIGURA 5A-4 Excedente do produtor Eis aqui a curva da oferta de trigo. Ao preço de $5 por saca, os fazendeiros ofertam um milhão de sacas. O excedente do produtor a esse preço é igual à área sombreada: a área acima da curva de oferta, mas abaixo do preço. Esse é o ganho total dos produtores – fazendeiros, nesse caso, ao ofertar seu produto quando o preço é $5.

Ganhos do comércio Vamos voltar ao mercado de livros usados, mas considere agora um mercado muito maior – digamos, em uma grande universidade estadual. Há muitos compradores e vendedores potenciais, assim, o mercado é competitivo. Vamos listar os novos estudantes compradores potenciais de livro em ordem de disposição de pagar, de modo que o estudante que está entrando com a maior disposição de pagar será o comprador potencial número 1, o estudante com a seguinte disposição maior de pagar será o número 2, e assim por diante. Então, podemos usar a sua disposição de pagar para derivar uma curva de demanda como a da Figura 5A-5. Da mesma forma, podemos listar os estudantes que estão saindo, que são vendedores potenciais de livros, por ordem do seu custo, começando com o estudante com o custo mais baixo, em seguida, o estudante com o próximo custo mais baixo, e assim por diante, para obter uma curva de oferta, como a mostrada na mesma figura.

FIGURA 5A-5 Excedente total No mercado de livros usados, o preço de equilíbrio é $30 e a quantidade de equilíbrio são 1.000 livros. O excedente do consumidor é dado pela área sombreada superior, a área abaixo da curva da demanda, mas acima do preço. O excedente do produtor é dado pela área sombreada inferior, a área acima da curva da oferta, mas abaixo do preço. A soma das áreas sombreadas é o excedente total, o benefício total para a sociedade da produção e do consumo do bem.

Como traçado pelas curvas, o mercado atinge o equilíbrio a um preço de $30 por livro e 1.000 livros são comprados e vendidos a esse preço. Os dois triângulos sombreados mostram o excedente do consumidor (área sombreada superior) e o excedente do produtor (área sombreada inferior) gerado por esse mercado. A soma do excedente do consumidor e do produtor é conhecida como excedente total gerado no mercado. O que realmente surpreende sobre esse quadro é que os consumidores e os produtores ganham – isto é, tanto os consumidores como os produtores ficam em melhor situação porque há mercado para esse bem. Mas isso não é nenhuma surpresa – ilustra outro princípio fundamental da economia: existem ganhos do comércio. Esses ganhos do comércio são a razão pela qual todos ficam em situação melhor ao participar de uma economia de mercado do que se cada indivíduo tentasse ser autossuficiente.

Problemas 1. Determine a quantidade do excedente do consumidor gerado em cada uma das seguintes situações. a. Leon vai à loja de roupas para comprar uma nova camiseta, pela qual está disposto a pagar até $10. Escolhe uma e gosta, com preço de $10 exatamente. Quando está pagando descobre que a camiseta tinha um desconto de 50%. b. Alberto vai até a loja de CD na esperança de encontrar um exemplar usado do Nirvana’s Greatest Hits que custe até $10. A loja tem uma cópia com o preço de $10, o qual ele compra. c. Depois de jogar futebol, Stacey está disposto a pagar $2 por uma garrafa de água mineral. A 7-Eleven vende água mineral por $2,25 a garrafa, ele se recusa a comprar.

2. Determine a quantidade do excedente do produtor gerada em cada uma das seguintes situações. a. Gordon anuncia seus antigos trens elétricos Lionel no eBay. Ele estabelece um preço mínimo aceitável, conhecido como preço de reserva, de $75. Após cinco dias de licitação, o lance final mais alto é exatamente $75. Ele aceita a oferta. b. So-Hee anuncia seu carro para venda na seção de carros usados do jornal dos estudantes por $2.000, mas ela está disposta a vender o carro por qualquer preço maior que $1.500. A melhor oferta que recebe é de $1.200, à qual recusa. c. Sanjay gosta tanto do seu trabalho que estaria disposto a trabalhar de graça. Entretanto, seu salário anual é de $80.000. 3. Você é o gerente do Mundo Divertido, um parque de diversões pequeno. O gráfico a seguir mostra a curva da demanda de um cliente típico do Mundo Divertido.

a. Suponha que o preço de cada brinquedo seja $5. A esse preço, quanto de excedente do consumidor um consumidor individual obtém? (Lembre-se que a área de um triângulo retângulo é ½ × a altura do triângulo × a base do triângulo.) b. Suponha que a Mundo Divertido considere cobrar uma taxa de entrada, mesmo mantendo o preço de cada brinquedo em $5. Qual é a taxa máxima de entrada que poderia cobrar? (Suponha que todos os clientes potenciais tenham dinheiro suficiente para pagar a taxa.) c. Suponha que a Mundo Divertido baixou o preço de cada brinquedo para zero. Quanto de excedente do consumidor que um consumidor individual irá obter? Qual é a taxa máxima de entrada que poderia cobrar? 4. O gráfico a seguir ilustra a curva de oferta individual de um motorista de táxi (suponha que cada corrida de táxi tenha a mesma distância).

a. Suponha que uma cidade estabeleça o preço das corridas de táxi a $4 por corrida e, com $4, o motorista de táxi consegue fazer tantas corridas de táxi quanto queira. Qual é o excedente do produtor desse taxista? (Lembre-se que a área de um triângulo retângulo é ½ × a altura do triângulo × a base do triângulo.) b. Suponha que a cidade mantém o preço de uma corrida de táxi fixado em $4, mas decide cobrar dos taxistas uma “taxa de licenciamento”. Qual é a taxa máxima de licenciamento que é possível que a cidade obtenha desse taxista ? c. Suponha que a cidade permitiu que o preço das corridas de táxi aumentasse para $8 por corrida. Suponha também que, a esse preço, o taxista possa fazer tantas corridas quantas deseje. Quanto de excedente do produtor um taxista individual iria obter agora? Qual a taxa máxima de licenciamento que a cidade poderia cobrar desse taxista? www.worthpublishers.com/krugmanwells

C APÍ T UL O 6

Macroeconomia: Quadro Geral

O que você vai aprender neste capítulo • O que torna a macroecomia diferente da microeconomia. • O que é o ciclo econômico (ou ciclos econômicos) e por que os formuladores de políticas procuram diminuir a severidade dos ciclos econômicos. • Como o crescimento econômico de longo prazo determina o padrão de vida de um país. • O significado de inflação e deflação e por que se prefere a estabilidade de preços. • A importância da macroeconomia de economia aberta e como as economias interagem por meio de déficits comerciais e superávits comerciais.

Hoovervilles Durante a Grande Depressão, Hoovervilles se espalharam por todos os Estados Unidos, em homenagem ao Presidente Herbert Hoover que pouco entendia de economia. Hoje muitas pessoas gostam de caminhar, andar de bicicleta e a cavalo no Central Park de Nova York. Mas, em 1932, também havia muitas pessoas que moravam lá: o Central Park continha uma das “Hoovervilles” – favelas – que se espalharam pelos Estados Unidos, como resultado de uma crise econômica catastrófica que começou em 1929, deixando milhões de trabalhadores sem trabalho, reduzidos a permanecer na fila para retirar alimentos ou vendendo maçãs nas esquinas. A economia dos Estados Unidos encenou uma recuperação parcial no início de 1933, mas o desemprego manteve-se alto durante a década de 1930. O período inteiro veio a ser conhecido como a Grande Depressão. Por que Hoovervilles? Esse nome insultuoso veio de Herbert Hoover, que foi eleito presidente em 1928 – e que perdeu a reeleição porque muitos americanos o culparam pela Depressão. Hoover começou sua carreira como engenheiro e, até tornar-se presidente, tinha uma reputação de gestor altamente competente. Mas quando a Depressão surgiu, nem ele nem seus conselheiros econômicos tinham a menor ideia do que fazer. A falta de noção de Hoover não era acidente. Na época da Grande Depressão, a microeconomia, que está preocupada com as decisões de consumo e de produção dos consumidores e produtores individuais e com a alocação de recursos escassos entre as indústrias, já era um ramo bem desenvolvido da economia. Mas a macroeconomia, que se concentra no comportamento da economia como um todo, ainda estava na infância. O que aconteceu entre 1929 e 1933, e em menor escala, em muitas outras ocasiões (mais recentemente, entre 2007 e 2009), foi um golpe para a economia como um todo. Em determinado momento, há sempre algumas indústrias demitindo trabalhadores. Por exemplo, o número de lojas de discos independentes nos Estados Unidos caiu quase 30% entre 2003 e 2007, na medida em que os consumidores optaram por aquisições on-line. Mas os trabalhadores que perderam seus empregos nas lojas de discos tinham uma boa chance de encontrar outro emprego em outro setor, porque outras indústrias estavam se expandindo enquanto as lojas de discos fechavam as portas.

A macroeconomia mostrou o seu valor como um ramo da economia durante a Grande Depressão. Os economistas perceberam que precisavam entender a natureza da catástrofe que havia engolido os Estados Unidos e grande parte do resto do mundo, para poder se desembaraçar, bem como aprender como evitar tais catástrofes no futuro. Desde esse dia, o esforço para entender depressões econômicas e encontrar maneiras de evitá-las é o cerne da macroeconomia. Com o tempo, no entanto, a macroeconomia ampliou seu alcance abrangendo uma série de outros assuntos, como o crescimento econômico de longo prazo, a inflação e a macroeconomia de economia aberta. Este capítulo oferece uma visão geral da macroeconomia. Começaremos com uma descrição geral da diferença entre macroeconomia e microeconomia, em seguida descreveremos brevemente algumas das principais preocupações desse campo da economia.

A natureza da macroeconomia O que torna a macroeconomia diferente da microeconomia? O aspecto que a distingue da macroeconomia é que se concentra no comportamento da economia como um todo.

Questões macroeconômicas A Tabela 6-1 enumera algumas questões típicas que envolvem a análise econômica. A versão microeconômica da questão é exibida à esquerda e, em paralelo, é exibida à direita uma questão macroeconômica semelhante. Ao comparar as questões, podemos começar a ter uma noção da diferença entre micro e macroeconomia. Tabela 6-1 Questões microeconômicas versus macroeconômicas Questões microeconômicas Devo fazer uma fac uldade de Administraç ão de empresas ou c omeç ar a trabalhar? O que determina o salário oferec ido pelo Citibank para Cherie Camajo, que ac aba de rec eber um MBA? O que determina o c usto para uma universidade ou fac uldade de oferec er um novo c urso? Quais polític as do governo devem ser adotadas para fac ilitar o ac esso à fac uldade dos estudantes de baixa renda? O que determina se o Citibank deve abrir um novo esc ritório em Xangai?

Questões macroeconômicas Quantas pessoas estão empregadas na ec onomia em seu c onjunto este ano? O que determina o nível geral de salário pago aos trabalhadores em determinado ano? O que determina o nível geral de preç os na ec onomia em seu c onjunto? Quais polític as do governo devem ser adotadas para promover o emprego e o c resc imento da ec onomia em seu c onjunto? O que determina o c omérc io global de bens, serviç os e ativos financ eiros entre os Estados Unidos e o resto do mundo?

Como essas questões ilustram, a microeconomia se concentra em como as pessoas e as empresas tomam decisões e suas consequências. Por exemplo, podemos usar a microeconomia para determinar quanto custaria a uma universidade ou faculdade oferecer um curso novo, incluindo salário dos instrutores, custo dos materiais didáticos, e assim por diante. A escola pode, então, decidir se deve ou não oferecer o curso ao comparar custos e benefícios. Por outro lado, a macroeconomia examina o comportamento geral da economia – como as ações de todos os indivíduos e empresas na economia interagem para produzir um nível específico de desempenho da economia em seu conjunto. Por exemplo, a macroeconomia se preocupa com o nível geral de preços da economia e de quanto mais alto ou mais baixo os preços estão em comparação com o ano anterior, em lugar de se preocupar com o preço de um bem ou serviço específico. Talvez você considere que as questões macroeconômicas possam ser respondidas somando as respostas microeconômicas. Por exemplo, o modelo de oferta e demanda que introduzimos no Capítulo 3 explica que o preço de equilíbrio de um bem ou serviço individual é determinado em um mercado competitivo. Então, é certo pensar que aplicando a análise da oferta e demanda para todos os bens e serviços da economia e, em seguida, somando os resultados, entende-se o nível geral de preços da economia em seu conjunto. Mas isso não dá certo: embora conceitos básicos como oferta e demanda sejam tão

essenciais na macroeconomia quanto na microeconomia, responder a questões macroeconômicas requer um conjunto adicional de instrumentos e um quadro de referência ampliado.

Macroeconomia: O todo é maior que a soma das partes Se, às vezes, você dirige em uma rodovia, sabe provavelmente o que é um engarrafamento por causa de “pescoço espichado” e por que é tão irritante. Alguém para no acostamento por um pequeno problema, como trocar um pneu furado, e em breve ocorre um engarrafamento à medida que os motoristas desaceleram para dar uma olhada. O que é tão desagradável é que o tamanho do engarrafamento não tem proporção com a importância do evento que o causou. Como alguns motoristas pisam no freio, para esticar o pescoço e dar uma espiada, os motoristas atrás deles também têm de pisar nos freios, e os próximos têm que fazer o mesmo, e assim por diante. O acúmulo de todas as freadas eventualmente ocasiona um longo engarrafamento que desperdiça o tempo de todo mundo, pois cada motorista tem que desacelerar um pouco mais do que o motorista da frente. Em outras palavras, a reação de cada pessoa acarreta uma reação exagerada da pessoa seguinte. Compreender um engarrafamento por causa de “pescoço espichado” oferece algumas dicas sobre uma forma muito importante de por que a macroeconomia é diferente da microeconomia: muitos milhares ou milhões de ações individuais se acumulam para produzir um resultado que não é apenas a soma das ações individuais. Considere, por exemplo, o que os macroeconomistas denominam de paradoxo da poupança: quando as famílias e empresas ficam preocupadas com a possibilidade de dificuldades econômicas, elas se preparam cortando gastos. Essa redução nos gastos deprime a economia à medida que os consumidores gastam menos e as empresas reagem demitindo trabalhadores. Como resultado, as famílias e as empresas podem acabar em situação pior do que se não tivessem tentado agir de forma responsável, reduzindo seus gastos. Isso é um paradoxo, porque um comportamento aparentemente virtuoso – preparar-se para tempos difíceis – acaba prejudicando a todos. E, nessa história, há outro lado da moeda: quando as famílias e as empresas estão otimistas sobre o futuro e gastam mais. Isso estimula a economia, levando as empresas a contratar mais trabalhadores, o que, por sua vez, expande novamente a economia. Um comportamento aparentemente perdulário leva a uma melhoria de situação para todos. Ou considere o que acontece quando algo faz a quantidade de moeda em circulação na economia aumentar. Um indivíduo com mais dinheiro na mão é mais rico. Mas se todos têm mais dinheiro na mão, o efeito de longo prazo é o de impulsionar para cima o nível geral de preços, trazendo o poder de compra da quantia total de moeda em circulação de volta para onde estava antes. O fundamento para a compreensão da macroeconomia é que o efeito combinado das decisões individuais pode ter resultados que são muito diferentes do que cada indivíduo pretendia e que, por vezes, são perversos. O comportamento da macroeconomia é, de fato, maior do que a soma das ações e dos resultados de mercado individuais.

Macroeconomia: Teoria e política Muito mais que os microeconomistas, os macroeconomistas estão preocupados com questões de política, sobre o que o governo pode fazer para tornar o desempenho macroeconômico melhor. Esse foco em política foi moldado fortemente pela história, em particular pela Grande Depressão da década de 1930. Antes de 1930, os economistas tendiam a considerar que a economia tinha autorregulação: acreditavam que problemas como o desemprego seriam corrigidos pela mão invisível e que as tentativas do governo de melhorar o desempenho da economia, na melhor das hipóteses, seriam ineficazes e, provavelmente, até piorariam a situação. A Grande Depressão mudou tudo isso. A simples escala da catástrofe, que deixou um quarto da força de trabalho dos Estados Unidos sem emprego e ameaçou a estabilidade política de muitos países – acredita-se que a Depressão tenha sido um fator importante na ocupação nazista da Alemanha – criou demanda para ação. Também resultou em um grande esforço por parte dos economistas para entender as recessões econômicas e encontrar maneiras de evitá-las. Em 1936, o economista britânico John Maynard Keynes publicou A Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda, um livro que transformou a macroeconomia. De acordo com a economia keynesiana, uma economia deprimida é o resultado de gastos inadequados. Além disso, Keynes argumentava que a intervenção governamental poderia ajudar uma economia deprimida por meio da política monetária e da política fiscal. A política monetária usa mudanças na quantidade de moeda para alterar as taxas de juros que, por sua vez, afetam o nível geral de gastos. A política fiscal usa mudanças nos impostos e gastos do governo para influenciar o gasto em seu conjunto. Em geral, Keynes estabeleceu a ideia de que a gestão da economia é uma responsabilidade do governo. As ideias keynesianas continuam a ter influência forte na teoria econômica e nas políticas públicas: em 2008 e 2009, o Congresso, a Casa Branca e a Reserva Federal (uma agência quase governamental que administra a política monetária dos Estados Unidos) tomaram medidas para conter uma crise econômica que estava claramente dentro do espírito keynesiano, como descrito a seguir em Economia em ação.

Economia em ação Rechaçando a depressão Em 2008, a economia mundial sofreu uma grave crise financeira que lembrou muito os primeiros dias da Grande Depressão. Grandes bancos vacilaram à beira de um colapso, o comércio mundial afundou. Na primavera de 2009, os historiadores econômicos Barry Eichengreen e Kevin O’Rourke, revisando os dados disponíveis, destacaram que “de forma global estamos rastreando ou até fazendo pior do que na Grande Depressão”. Mas no final, o pior não passou. A Figura 6-1 mostra uma das medidas de atividade econômica de Eichengreen e O’Rourke, produção industrial mundial, durante a Grande Depressão e durante a “Grande Recessão”, termos agora amplamente usados para a

derrocada que se seguiu à crise financeira de 2008. Durante o primeiro ano, as duas crises foram realmente comparáveis. Mas dessa vez, felizmente, a produção mundial se nivelou e deu meia volta. Por quê?

FIGURA 6-1 Medidas da atividade econômica e da produção industrial mundial durante a Grande Depressão e a Grande Recessão Fonte: Barry Eichengreen and Kevin O'Rourke (2009), “A Tale of Two Depressions”. © VoxEU.org; CPB Netherlands Bureau for Economic Policy Analysis World Trade Monitor.

Pelo menos parte da resposta é que os formuladores de políticas responderam de forma muito diferente. Durante a Grande Depressão, argumentou-se amplamente que a crise deveria seguir seu curso. Qualquer tentativa de mitigar a catástrofe em curso, declarou Joseph Schumpeter, economista de Harvard, nascido na Áustria, agora famoso por seu trabalho em inovação – “deixaria o trabalho sobre depressão inacabado”. No início dos anos 1930, algumas autoridades monetárias dos países realmente elevaram as taxas de juros em face da recessão, enquanto os governos cortavam os gastos e aumentavam os impostos – ações que, como veremos nos capítulos posteriores, aprofundaram a recessão. Por outro lado, no rescaldo da crise de 2008, as taxas de juros foram cortadas e uma quantidade de países, inclusive os Estados Unidos, usou aumento temporário nos gastos e reduções de impostos em uma tentativa de sustentar os gastos. Os governos também tentaram reforçar seus bancos com empréstimos, ajudas e garantias. No mínimo, muitas dessas medidas eram controversas. Mas a maioria dos economistas acredita que, ao responder ativamente à Grande Recessão – e ao fazer isso usando o conhecimento adquirido com o estudo da macroeconomia – os governos ajudaram a evitar uma catástrofe econômica global.

Breve revisão ■ O foco da microeconomia é a tomada de decisão por pessoas e empresas e as consequências das decisões tomadas. É o comportamento da economia em seu conjunto. ■ O efeito combinado das ações individuais podem ter consequências não previstas e

acarretar resultados macroeconômicos piores ou melhores para todos. ■ Antes dos anos 1930, os economistas tendiam a considerar a economia autorregulada. Após a Grande Depressão, a análise econômica keynesiana forneceu a justificativa para a intervenção governamental por meio da política monetária e da política fiscal para ajudar uma economia deprimida.

Teste seu entendimento 6-1 1. Quais das seguintes questões envolvem microeconomia e quais envolvem macroeconomia? Em cada caso, explique a resposta. a. Por que os consumidores mudaram para carros menores em 2008? b. Por que o total dos gastos de consumo desacelerou em 2008? c. Por que o padrão de vida melhorou rapidamente na primeira geração após a Segunda Guerra Mundial do que na segunda? d. Por que os salários iniciais dos estudantes diplomados em geologia aumentou consideravelmente nos últimos tempos? e. O que determina a escolha entre o transporte ferroviário e rodoviário? f. Por que o salmão ficou mais barato nos últimos 20 anos? g. Por que a inflação caiu na década de 1990? 2. Em 2008, os problemas no setor financeiro causaram uma escassez de crédito em todo o país: os compradores de imóveis não conseguiam crédito hipotecário, os estudantes não conseguiam créditos estudantis, os consumidores não conseguiam crédito para comprar carro, e assim por diante. a. Explique como o desaparecimento do crédito pode provocar efeitos combinados para toda a economia e resultar em crise econômica. b. Se você acredita que a economia se autorregula, que ação recomendaria aos formuladores de políticas? c. Se você acredita na análise econômica keynesiana, que ação recomendaria aos formuladores de políticas? As respostas estão no fim do livro.

O ciclo econômico A Grande Depressão foi, de longe, a pior crise econômica na história dos Estados Unidos. Mas apesar de a economia ter conseguido evitar a catástrofe nos últimos 75 anos, experimentou muitos altos e baixos. É verdade que os altos têm sido consistentemente maiores do que os baixos: um gráfico de qualquer dos agregados usados para controlar a economia dos Estados Unidos mostra uma forte tendência de crescimento ao longo do tempo. Por exemplo, o painel (a) da Figura 6-2 mostra o emprego total nos Estados Unidos do setor privado (o número total de postos de trabalho oferecidos pelas empresas privadas), medido no eixo vertical esquerdo, com os dados de 1988 a 2011 determinados pela linha roxa. O gráfico também mostra o índice de produção industrial (a medida da produção total das fábricas dos Estados Unidos), medido no eixo vertical direito, com os dados efetivos de 1988 a 2011 determinados pela linha vermelha. Tanto o emprego do setor privado como a produção industrial eram muito mais altos no fim desse período do que no início e, na maioria dos anos, as duas medidas subiram.

FIGURA 6-2 Crescimento, interrompido, 1988-2011 O painel (a) mostra dois números econômicos importantes, o índice de produção industrial e o emprego total no setor privado. As duas cifras subiram substancialmente entre 1988 e 2011, mas não de forma constante. Em vez disso, ambos sofreram três descensos associados a recessões, indicados pelas áreas sombreadas na figura. O painel (b) enfatiza esses descensos, mostrando a taxa anual de variação na produção industrial e no emprego, isto é, o aumento percentual em relação ao ano anterior. São claros os declínios simultâneos das duas cifras durante as três recessões. Fonte: Federal Reserve Bank de St. Louis.

Mas não subiram de forma constante. Como se vê na figura, houve três períodos – início dos anos 1990, início dos anos 2000 e, novamente, iniciando no final de 2007 – quando tanto o emprego como a produção industrial tropeçaram. O painel (b) enfatiza esses tropeços, mostrando a taxa de variação do emprego e da produção industrial de cada ano em relação ao ano anterior. Por exemplo, a variação percentual no emprego em dezembro de 2007 foi de 0,7%, porque o emprego em dezembro de 2007 era 0,7% mais alto do que havia sido em dezembro de 2006. Os três grandes períodos de crise destacam-

se claramente. Além do mais, um exame detalhado dos dados deixa claro que, em cada período, o tropeço não se limitou apenas a algumas indústrias, mas quase todos os setores da economia dos Estados Unidos reduziram a produção e o número de pessoas empregadas. Em outras palavras, a marcha para frente da economia não é contínua e suave. E o ritmo desigual do progresso da economia, seus altos e baixos, é uma das principais preocupações da macroeconomia.

Gráfico dos ciclos econômicos A Figura 6-3 mostra uma representação estilizada da forma como a economia evolui ao longo do tempo. O eixo vertical mostra o emprego ou um indicador de quanto a economia está produzindo, tal como a produção industrial ou o produto interno bruto (PIB real), uma medida do produto total da economia que vamos estudar no próximo capítulo. Como os dados da Figura 6-2 sugerem, essas duas medidas tendem a se mover juntas. Seu movimento comum é o ponto de partida para um grande tema da macroeconomia: alternâncias da economia entre descensos e ascensos de curto prazo.

FIGURA 6-3 O ciclo econômico Essa é uma imagem estilizada do ciclo econômico. O eixo vertical mede o emprego ou a produção total na economia. Períodos em que essas duas variáveis se movem para baixo são recessões; períodos em que se movem para cima são expansões. O ponto em que a economia passa a encolher é um pico do ciclo econômico; o ponto em que volta a se expandir é o ponto mais baixo do ciclo econômico.

Um descenso de base ampla, em que a produção e o emprego caem em muitas indústrias, é chamada de recessão (por vezes referido como contração). As recessões, conforme oficialmente declaradas pelo Escritório Nacional de Pesquisa Econômica, ou NBER (veja a seguir Para mentes curiosas), estão indicadas pelas áreas sombreadas da Figura 6-2. Quando a economia não está em recessão, quando a maioria dos dados quantitativos da economia está seguindo a tendência ascendente normal, diz-se que a

economia está em expansão (ou em recuperação). A alternância entre recessões e expansões é conhecida como ciclo econômico. O momento no tempo em que a economia passa de expansão para recessão é conhecido como pico do ciclo econômico, o ponto em que a economia passa da recessão para a expansão é conhecido como ponto mais baixo do ciclo econômico. O ciclo econômico é uma característica permanente da economia. A Tabela 6-2 mostra a lista oficial dos picos e pontos mais baixos do ciclo econômico. Como se observa, houve recessões e expansões, nos últimos 155 anos. Sempre que há uma expansão prolongada, como houve na década de 1960 e novamente nos anos 1990, publicam-se livros e artigos proclamando o fim do ciclo econômico. Tais proclamações sempre se mostram erradas: o ciclo sempre retorna. Mas por que isso importa? Tabela 6-2 A história do ciclo econômico P icos do ciclo econômico Não há dados anteriores Junho 1857 Outubro 1860 Abril 1865 Junho 1869 Outubro 1873 Març o 1882 Març o 1887 Julho 1890 Janeiro 1893 Dezembro 1895 Junho 1899 S etembro 1902 Maio 1907 Janeiro 1910 Janeiro 1913 Agosto 1918 Janeiro 1920 Maio 1923 Outubro 1926 Agosto 1929 Maio 1937 Fevereiro 1945 Novembro 1948 Julho 1953 Agosto 1957 Abril 1960 Dezembro 1969 Novembro 1973 Janeiro 1980 Julho 1981 Julho 1990 Març o 2001 Dezembro 2007

P ontos mais baixos do ciclo Dezembro 1854 Dezembro 1858 Junho 1861 Dezembro 1867 Dezembro 1870 Març o 1879 Maio 1885 Abril 1888 Maio 1891 Junho 1894 Junho 1897 Dezembro 1900 Agosto 1904 Junho 1908 Janeiro 1912 Dezembro 1914 Març o 1919 Julho 1921 Julho 1924 Novembro 1927 Març o 1933 Junho 1938 Outubro 1945 Outubro 1949 Maio 1954 Abril 1958 Fevereiro 1961 Novembro 1970 Març o 1975 Julho 1980 Novembro 1982 Març o 1991 Novembro 2001 Junho 2009

Fonte: National Bureau of Economic Research.

A dor da recessão Poucas pessoas se queixam do ciclo econômico quando a economia está em expansão. Recessões, no entanto, causam um grande incômodo. O efeito mais importante da recessão é a capacidade dos trabalhadores de encontrar e

manter empregos. O indicador das condições do mercado de trabalho mais utilizado é a taxa de desemprego. No Capítulo 7 vamos explicar como essa taxa é calculada, mas por ora é suficiente dizer que uma taxa de desemprego elevada informa que os empregos são escassos e uma taxa de desemprego baixa nos diz que os empregos são fáceis de encontrar. A Figura 6-4 mostra a taxa de desemprego entre 1988 e 2011. Como se observa, essa taxa nos Estados Unidos aumentou durante e após cada recessão, mas finalmente caiu durante os períodos de expansão. A taxa de desemprego crescente de 2008 foi um sinal que uma nova recessão poderia estar a caminho, o que posteriormente foi confirmado pelo NBER que havia começado em dezembro de 2007.

FIGURA 6-4 Taxa de desemprego dos Estados Unidos, 1988-2011 A taxa de desemprego, uma medida do desemprego, aumenta acentuadamente durante as recessões e normalmente cai durante as expansões. Fonte: Bureau of Labor Statistics.

Como as recessões levam muitas pessoas a perder seus empregos e também torna difícil encontrar um novo, prejudicam o padrão de vida de muitas famílias. Recessões normalmente são associadas com um aumento do número de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, um aumento no número de pessoas que perdem suas casas por não poder arcar com os pagamentos da hipoteca e uma queda no percentual de americanos com cobertura de seguro saúde.

Para mentes curiosas Definindo recessões e expansões Alguns leitores podem estar se perguntando sobre como exatamente são definidas as

recessões e expansões. A resposta é que não existe uma definição exata! Em muitos países, os economistas adotam a regra de que uma recessão é um período de, pelo menos, dois trimestres consecutivos durante o qual a produção total da economia encolhe. A exigência de dois trimestres consecutivos destina-se a evitar que se classifiquem, como recessões, breves soluços no desempenho da economia, sem significado duradouro. Às vezes, porém, essa definição parece muito rigorosa. Por exemplo, uma economia que tem três meses de declínio acentuado na produção e, em seguida, três meses de crescimento ligeiramente positivo, em seguida, mais três meses de rápido declínio, certamente deveria ser classificada como tendo sofrido uma recessão de nove meses. Nos Estados Unidos, tentamos evitar esses erros de classificação, atribuindo a tarefa de determinar quando uma recessão começa e quando termina a um painel independente de peritos do NBER, o Escritório Nacional de Pesquisa Econômica. Esse painel analisa uma variedade de indicadores econômicos, com atenção especial para emprego e produção. Mas, em última análise, o painel realiza um julgamento. Às vezes, esse julgamento é controverso. De fato, permanece até hoje uma controvérsia sobre a recessão de 2001. De acordo com a NBER, a recessão começou em março de 2001 e terminou em novembro de 2001, quando a produção começou a aumentar. Mas alguns críticos argumentam, no entanto, que, na realidade, a recessão começou vários meses antes, quando a produção industrial começou a cair. Outros críticos argumentam que a recessão realmente não acabou em 2001, porque o emprego continuou a cair e o mercado de trabalho permaneceu fraco por mais um ano e meio. Contudo, não se deve pensar que os trabalhadores sejam o único grupo que sofre durante uma recessão. As recessões também são ruins para as empresas: assim como o emprego e os salários, os lucros também sofrem em períodos de recessão, com muitas empresas pequenas enfraquecendo e melhorando durante as expansões. Computando tudo, portanto, as recessões são ruins para quase todos. Será que há algo que pode ser feito para reduzir sua frequência e gravidade?

Domando o ciclo econômico A macroeconomia moderna em grande parte surgiu como resposta à pior recessão da história, o descenso de 43 meses, que começou em 1929 e continuou até 1933, abrindo o caminho para a Grande Depressão. Os estragos produzidos pela recessão de 1929-1933 impulsionaram os economistas a buscarem tanto entendimento quanto soluções: queriam saber como essas coisas podem acontecer e como evitá-las. Como explicado anteriormente neste capítulo, a obra de John Maynard Keynes, publicada durante a Grande Depressão, sugeriu que a política monetária e a fiscal podiam ser usadas para mitigar os efeitos das recessões, e até hoje os governos recorrem a políticas keynesianas quando ocorre uma recessão. Trabalhos posteriores, notadamente o de outro grande macroeconomista, Milton Friedman, levaram a um consenso de que é importante conter os booms, bem como combater as desacelerações. Assim, os formuladores de políticas da era moderna tentam “suavizar ” os ciclos econômicos. Não

foram completamente bem-sucedidos, o que a Figura 6-2 deixa claro. Mas acredita-se amplamente que a política guiada pela análise macroeconômica ajudou a tornar a economia mais estável.

Comparação global Ciclos de negócios internacionais A figura mostra a taxa anual de crescimento na produção industrial – a variação percentual desde o mesmo mês do ano anterior – para três economias de 1991 a 2011: Estados Unidos, Japão e Zona do Euro, o grupo de países europeus que adotaram o euro como moeda comum. Outras economias têm ciclos econômicos semelhantes aos dos Estados Unidos? A resposta, que está clara na figura, é sim. Além disso, os ciclos econômicos nas diferentes economias são, muitas vezes, embora nem sempre, sincronizados. A recessão dos Estados Unidos de 2001 foi acompanhada por recessões, tanto na Zona do Euro como no Japão. A Grande Recessão entre 2007 e 2009 foi uma crise grave em todo o mundo, não apenas nos Estados Unidos. Mas nem todos os ciclos econômicos são fenômenos internacionais. O Japão sofreu uma recessão bastante grave em 1998, e os Estados Unidos e as economias europeias continuaram a se expandir.

Fontes: OCDE e Eurostat.

Embora o ciclo econômico seja uma das principais preocupações da macroeconomia e

historicamente tenha desempenhado um papel crucial em impulsionar o desenvolvimento desse campo, os macroeconomistas também estão preocupados com outras questões. A seguir passaremos à questão do crescimento de longo prazo.

Economia em ação Comparando recessões A alternância entre recessões e expansões parece ser uma característica permanente da vida econômica. No entanto, nem todos os ciclos econômicos nascem iguais. Em particular, algumas recessões foram muito piores do que outras. Vamos comparar as duas recessões mais recentes: a recessão de 2001 e a Grande Recessão entre 2007 e 2009. Essas recessões tiveram duração diferente: a primeira durou apenas oito meses. A segunda durou mais do que o dobro da primeira. Mas o mais importante, no entanto, é que elas diferiram muito em profundidade. Na Figura 6-5 comparamos a profundidade das recessões, verificando o que aconteceu com a produção industrial ao longo dos meses após o início da recessão. Em cada caso, a produção é medida como uma porcentagem do seu nível no início da recessão. Assim, a linha para a recessão entre 2007 e 2009 mostra que a produção industrial chegou a cair para menos de 50% do seu nível inicial.

FIGURA 6-5 Duas recessões Fonte: Federal Reserve Bank de St. Louis.

Com certeza, a recessão entre 2007 e 2009 afetou a economia com muito mais intensidade do que a recessão de 2001. Com efeito, comparando com muitas recessões, a crise de 2001 foi muito suave. Certamente isso não foi consolo para os milhões de trabalhadores americanos que

perderam seus empregos, mesmo nessa recessão suave.

Breve revisão ■ O ciclo econômico, a alternância entre recessões e expansões de curto prazo, é uma das principais preocupações da macroeconomia moderna. ■ O ponto em que a expansão muda para a recessão é o pico do ciclo econômico. O ponto em que a recessão muda para a expansão é o ponto mais baixo do ciclo econômico.

Teste seu entendimento 6-2 1. Por que falamos sobre ciclos econômicos para a economia como um todo, ao invés de apenas dos altos e baixos de determinados setores? 2. Descreva quem se prejudica em uma recessão e como. As respostas estão no fim do livro.

Crescimento econômico de longo prazo Em 1955, os americanos estavam encantados com a prosperidade da nação. A economia estava em expansão, os bens de consumo que haviam sido racionados durante a Segunda Guerra Mundial estavam disponíveis para todos comprarem e a maioria da população acreditava, com razão, estar em melhor situação do que os cidadãos de qualquer outra nação, passado ou presente. No entanto, pelos padrões de hoje, os americanos eram muito pobres em 1955. A Figura 6-6 mostra a porcentagem dos domicílios equipados com uma variedade de eletrodomésticos em 1905, 1955 e 2005: em 1955, apenas 37% dos domicílios tinham máquina de lavar roupa e quase ninguém tinha ar condicionado. E se voltarmos mais meio século, até 1905, verificamos que a vida de muitos americanos era surpreendentemente primitiva pelos padrões de hoje.

FIGURA 6-6 Os frutos do crescimento de longo prazo nos Estados Unidos Os americanos tornaram-se capazes de ter muito mais bens materiais ao longo do tempo graças ao crescimento econômico de longo prazo. Fonte: W. Michael Cox e Richard Alm. “How Are We Doing?”, The American (Julho/Agosto de 2008). http://www.american.com/archive/2008/july-august-magazine-contents/how-are-wedoing.

Por que a grande maioria dos americanos hoje é capaz de desfrutar de conveniências que muitos deles não tinham em 1955? A resposta é o crescimento econômico de longo prazo, o aumento sustentado na quantidade de bens e serviços que a economia produz. A Figura 6-7 mostra o crescimento desde 1900, o PIB real per capita, uma medida do produto total da economia por pessoa. A severa recessão entre 1929 e 1933 se destaca, mas os ciclos econômicos entre a Segunda Guerra Mundial e 2007 são quase invisíveis, ofuscados pela forte tendência ascendente.

FIGURA 6-7 Crescimento ao longo do tempo No longo prazo, o crescimento do PIB real per capita tem diminuído os altos e baixos dos ciclos econômicos. Exceto a recessão que deu início à Grande Depressão, as recessões foram quase invisíveis até 2007. Fontes: Angus Maddison, Statistics on World Population, GDP, and Per Capita GDP, 1–2008AD, http://www.ggdc.net/MADDISON/oriindex.htm. Bureau of Economic Analysis.

Parte do aumento de longo prazo na produção se deve ao fato de que temos uma população e uma força de trabalho em crescimento. Mas a produção total da economia aumentou muito mais do que a população. Em média, a economia dos Estados Unidos produziu em 2010 cerca de $42.000 por pessoa em bens e serviços, cerca de duas vezes mais que em 1971, cerca de três vezes mais do que produziu em 1951, quase oito vezes mais do que produziu em 1900. O crescimento econômico de longo prazo é fundamental para muitas das questões econômicas mais prementes de hoje. Respostas para questões importantes de política econômica, como a capacidade do país arcar com os custos futuros de programas governamentais, como a Previdência Social e o Medicare, dependem em parte da rapidez de crescimento da economia dos Estados Unidos ao longo das próximas décadas. De modo mais amplo, a sensação do público de que o país está progredindo depende fundamentalmente de alcançar sucesso no crescimento de longo prazo. Quando o crescimento desacelera, como aconteceu na década de 1970, pode contribuir para criar um clima de pessimismo nacional. Em especial, o crescimento per capita de longo prazo – uma tendência de crescimento sustentado do produto por pessoa – é a chave para salários mais altos e melhoria do padrão de vida. Uma das principais preocupações da macroeconomia – e tema do Capítulo 9 – é tentar entender as forças por trás do crescimento de longo prazo.

Para mentes curiosas Quando começou o crescimento de longo prazo? Hoje, os Estados Unidos são muito mais ricos do que eram em 1955; e em 1955 eram muito mais ricos do que haviam sido em 1905. Mas como comparar 1855 com 1805? Ou

com 1755? Até que distância vai o crescimento econômico de longo prazo? A resposta é que esse crescimento de longo prazo é um fenômeno relativamente moderno. A economia americana já estava crescendo constantemente em meados do século XIX com as ferrovias. Mas se recuarmos até antes de 1800, observamos uma economia mundial que cresceu muito lentamente pelos padrões de hoje. Além disso, a população crescia quase tão rápido quanto a economia, de modo que havia pouco aumento do produto por pessoa. De acordo com o historiador econômico Angus Madison, de 1000 até 1800, a economia mundial cresceu menos que 0,2% ao ano, com a população crescendo mais ou menos o mesmo. Essa estagnação econômica significa que o padrão de vida não mudava. Por exemplo, a informação sobre preços e salários de fontes como os registros dos mosteiros indica que os trabalhadores na Inglaterra do século XVIII não viviam significativamente melhor do que cinco séculos antes. E pode-se apostar que não viviam em uma situação melhor do que os camponeses egípcios na época dos faraós. No entanto, o crescimento econômico de longo prazo aumentou significativamente desde 1800. Nos últimos 50 anos mais ou menos, o PIB real per capita cresceu aproximadamente 3,5% ao ano. O crescimento de longo prazo é uma preocupação ainda mais urgente em países pobres e menos desenvolvidos. Nesses países, que gostariam de alcançar um padrão de vida mais alto, a questão de saber como acelerar o crescimento de longo prazo é a preocupação central da política econômica. Como veremos, os macroeconomistas não usam os mesmos modelos para pensar sobre o crescimento de longo prazo que usam para pensar sobre os ciclos econômicos. Convém ter sempre em mente os dois modelos, porque o que é bom para o longo prazo pode ser ruim para o curto prazo, e vice-versa. Por exemplo, já mencionamos o paradoxo da poupança: uma tentativa dos domicílios de aumentar a poupança pode causar recessão. Mas um nível mais alto de poupança, como será visto no Capítulo 10, desempenha um papel crucial no fomento do crescimento econômico de longo prazo.

Economia em ação Um conto de dois países Muitos países tiveram crescimento de longo prazo, mas nem todos se saíram igualmente bem. Um dos contrastes mais informativos é o que se dá entre Canadá e Argentina, dois países que, no início do século XX, pareciam estar em boa posição econômica. Do ponto de vista de hoje, é surpreendente saber que o Canadá e a Argentina eram bastante semelhantes antes da Primeira Guerra Mundial. Ambos eram grandes exportadores de produtos agrícolas, atraíam grande número de imigrantes europeus, também atraiam grande montante de investimento europeu, especialmente nas ferrovias que abriram o interior agrícola. Os historiadores econômicos acreditam que o nível médio de renda per capita era aproximadamente o mesmo nos dois países até os anos 1930.

Contudo, após a Segunda Guerra Mundial, a economia da Argentina teve um desempenho medíocre, em grande parte em razão de instabilidade política e políticas macroeconômicas erradas. (A Argentina passou por vários períodos de inflação extremamente elevada, durante os quais o custo de vida aumentou.) Enquanto isso, o Canadá teve um progresso constante. Graças ao Canadá ter conseguido um crescimento sustentado de longo prazo desde 1930, enquanto a Argentina não conseguiu, ele tem hoje um padrão de vida quase tão elevado como o dos Estados Unidos, e é cerca de três vezes maior que o da Argentina.

Breve revisão ■ Como a economia dos Estados Unidos alcançou crescimento econômico de longo prazo, os americanos vivem muito melhor do que há meio século. ■ Crescimento econômico de longo prazo é crucial para muitas preocupações econômicas, como um padrão de vida mais elevado ou o financiamento de programas de governo. É especialmente importante para os países mais pobres.

Teste seu entendimento 6-3 1. Muitos países pobres têm altas taxas de crescimento populacional. O que isso implica para o crescimento de longo prazo do produto agregado que esses países devem atingir a fim de gerar um padrão de vida mais alto por pessoa? 2. A Argentina tinha o mesmo nível de riqueza que o Canadá e agora é muito mais pobre. Isso significa que a Argentina é mais pobre do que era no passado? Explique. As respostas estão no fim do livro.

Inflação e deflação Em janeiro de 1980, o trabalhador médio dos Estados Unidos recebia $6,57 por hora. Em junho de 2011, o ganho médio por hora desse trabalhador tinha aumentado para $19,41 por hora. Vivas ao progresso econômico! Mas espere. Os salários pagos aos trabalhadores americanos eram muito mais altos em 2011, mas eles também enfrentavam um custo de vida muito mais elevado. No início de 1980, uma dúzia de ovos custava apenas $0,88; em junho de 2011, tinha subido para $1,68. O preço de um pão branco foi de $0,50 para $1,49. E o preço de um galão de gasolina subiu de apenas $1,11 para $3,75. A Figura 6-8 compara o percentual de aumento na remuneração por hora entre 1980 e 2011 com o aumento de preço de alguns itens comuns: o salário do trabalhador médio melhorou em relação a a alguns itens, mas piorou em relação a outros. No geral, o aumento do custo de vida anulou muitos, se não todos os ganhos salariais do trabalhador típico entre 1980 e 2011. Em outras palavras, levando em conta a inflação, o padrão de vida do trabalhador típico dos Estados Unidos ficou estagnado desde 1980 até o presente.

FIGURA 6-8 O aumento dos preços Entre 1980 e 2011, a remuneração por hora dos trabalhadores americanos aumentou 195%. Mas os preços de praticamente todos os bens comprados pelos trabalhadores também aumentou, alguns mais, outros menos. No geral, o aumento do custo de vida cancelou a maior parte do aumento do salário médio do trabalhador nos Estados Unidos. Fonte: Bureau of Labor Statistics.

A questão é que, entre 1980 e 2011, a economia sofreu uma inflação substancial: um aumento no nível geral de preços. Compreender as causas da inflação e de seu oposto, a deflação – uma queda no nível geral de preços – é outra preocupação da macroeconomia.

Causas da inflação e da deflação

Você pode pensar que a variação no nível geral de preços é apenas questão de oferta e demanda. Por exemplo, o preço mais elevado da gasolina reflete o aumento do preço do petróleo, e o preço mais elevado do petróleo reflete fatores como o esgotamento dos principais campos de petrolíferos, a demanda crescente da China e de outras economias emergentes, à medida que mais pessoas ficam ricas o suficiente para comprar carros, e assim por diante. Não podemos apenas somar o que acontece em cada um desses mercados para descobrir o que acontece com o nível geral de preços? A resposta é não, não podemos. A oferta e a demanda podem explicar apenas por que certo bem ou serviço particular se torna mais caro em relação a outros bens e serviços. Não pode explicar, por exemplo, por que o preço do frango aumentou ao longo do tempo, apesar do fato de a produção de frango ter se tornado mais eficiente (melhor não saber como) e que o frango se tornou substancialmente mais barato em comparação com outros bens. O que faz o nível geral de preços aumentar ou diminuir? Como vimos no Capítulo 8, no curto prazo, os movimentos da inflação estão intimamente relacionados com o ciclo econômico. Quando a economia está deprimida e é difícil achar emprego, a inflação tende a cair; quando a economia está crescendo, a inflação tende a subir. Por exemplo, os preços da maioria dos bens e serviços caíram drasticamente durante a terrível recessão entre 1929 e 1933. No longo prazo, por outro lado, o nível geral de preços é determinado principalmente por mudanças na oferta de moeda, a quantidade total de ativos que podem ser imediatamente utilizados para fazer compras. Como veremos no Capítulo 16, a hiperinflação, em que os preços sobem porcentagens de mil por cento, invariavelmente ocorre quando os governos imprimem dinheiro para pagar grande parte de suas contas.

Os danos da inflação e da deflação Tanto a inflação quanto a deflação podem significar um problema para a economia. Aqui estão dois exemplos: a inflação desencoraja as pessoas de manter moeda sonante, porque o dinheiro vai perdendo valor ao longo do tempo se o nível geral de preços estiver subindo. Ou seja, diminui a quantidade de bens e serviços que se pode comprar com uma determinada quantia em dinheiro. Em casos extremos, as pessoas param inteiramente de manter dinheiro e passam a fazer troca direta ou escambo. A deflação pode causar o problema inverso. Se o nível de preços estiver caindo, o dinheiro em espécie ganha valor ao longo do tempo. Em outras palavras, aumenta a quantidade de bens e serviços que se pode comprar com determinada quantidade de dinheiro. Então, guardar dinheiro se torna mais vantajoso do que investir em novas fábricas e outros ativos produtivos. Isso pode aprofundar a recessão. Vamos descrever outros custos da inflação e da deflação nos Capítulos 8 e 16. Por enquanto, vamos observar apenas que, em geral, os economistas consideram a estabilidade de preço – em que o nível geral de preços está variando, se estiver, apenas lentamente – como um objetivo desejável. A estabilidade de preços é um objetivo que parecia fora de alcance na maior parte do período pós-Segunda Guerra Mundial, mas

para a satisfação da maioria dos macroeconomistas foi alcançado na década de 1990.

Economia em ação Medindo a inflação pelo hambúrguer O McDonald’s original foi inaugurado em 1954. Oferecia serviço rápido – foi, de fato, o restaurante fast-food original. E também era muito barato: hambúrguer com fritas custava apenas $0,15, $0,25. Em 2010, o hambúrguer em um McDonald’s típico custa seis vezes mais, cerca de $0,90. Será que o McDonald’s perdeu o contato com suas raízes de fast-food? O hambúrguer se transformou em comida de luxo? Não, na verdade um hambúrguer em comparação com outros bens de consumo, hoje é um negócio melhor do que era em 1954. O preço do hambúrguer era seis vezes mais alto em 2010, do que era em 1954. Mas o índice de preços ao consumidor, a medida do custo de vida mais amplamente usada, foi de 8,2 vezes mais alta em 2010, do que em 1954.

Breve revisão ■ Hoje, US$1 não compra o que comprava em 1971, porque os preços da maioria dos bens subiram. Esse aumento no nível geral de preços anulou a maior parte do aumento salarial, senão todo, recebido pelo trabalhador americano típico ao longo dos últimos 30 anos. ■ Uma das áreas de estudo da macroeconomia é a variação no nível geral de preços. Como tanto a inflação como a deflação podem causar problemas para a economia, normalmente os economistas defendem a manutenção da estabilidade de preços.

Teste seu entendimento 6-4 1. Nas afirmações a seguir, verifique o que parece inflação, o que parece deflação, e quais são ambíguos? a. O preço da gasolina subiu 10%, o dos alimentos caiu 20% e o preço da maioria dos serviços subiu até 1% a 2%. b. O preço da gasolina dobrou, o dos alimentos subiu 50% e a maioria dos serviços parece ter subido 5% ou 10%. c. O preço da gasolina não mudou, o preço dos alimentos caiu muito e os serviços ficaram mais baratos, também. As respostas estão no fim do livro.

Desequilíbrios internacionais Os Estados Unidos são uma economia aberta: uma economia que comercializa bens e serviços com outros países. Houve épocas em que o comércio esteve de certa forma equilibrado, quando os Estados Unidos vendiam ao resto do mundo tanto quanto compravam. Mas atualmente não estamos numa dessas épocas. Em 2010, os Estados Unidos tinham um déficit comercial elevado, isto é, o valor dos bens e serviços que os residentes dos Estados Unidos compraram do resto do mundo era muito maior do que o valor dos bens e serviços que os produtores americanos vendiam aos clientes no exterior. Enquanto isso, alguns outros países estavam vendendo muito mais aos estrangeiros do que compravam deles. A Figura 6-9 mostra as exportações e importações de bens para várias economias importantes em 2010. Como se vê, os Estados Unidos importaram muito mais do que exportaram, mas a Alemanha, a China e a Arábia Saudita fizeram o contrário: mantiveram um superávit comercial. Um país tem superávit comercial quando o valor dos bens e serviços que compra do resto do mundo é menor do que o valor dos bens e serviços que vende para o exterior. Mas o déficit comercial americano seria um sinal de que algo estava errado com a economia, que os Estados Unidos não eram capazes de produzir os bens que as pessoas de outros países queriam comprar?

FIGURA 6-9 Desequilíbrio comercial Em 2010, os bens e serviços que os Estados Unidos compravam de outros países valiam consideravelmente mais do que os bens e serviços vendidos para o exterior. A Alemanha, a China e a Arábia Saudita estavam em posição inversa. Déficits e superávits comerciais refletem as forças macroeconômicas, especialmente as diferenças na poupança e nos gastos de investimento. Fonte: Organização Mundial do Comércio.

Não é bem assim. Déficits comerciais e seu oposto, superávits comerciais, são fenômenos macroeconômicos. Resultam de situações em que o todo é diferente da soma de suas partes. Talvez você imagine que países com trabalhadores altamente produtivos ou bens e serviços amplamente desejados mantêm um superávit comercial, enquanto que países com trabalhadores pouco produtivos ou bens e serviços de má qualidade mantêm déficits. Mas a realidade é que não há uma relação simples entre o sucesso de uma economia e se ela mantém superávits ou déficits comerciais. A análise microeconômica nos diz por que os países comerciam, mas não por que eles têm superávits ou déficits. No Capítulo 2, aprendemos que o comércio internacional é o resultado da vantagem comparativa: os países exportam bens em que são competentes para produzir e importam bens que não se saem tão bem para produzir. É por isso que os Estados Unidos exportam trigo e importam café. Mas algo importante que o conceito de vantagem comparativa não explica é por que o valor das importações de um país é, por vezes, muito maior do que o valor de suas exportações, ou vice-versa. O que determina então se um país tem superávit ou déficit comercial? No Capítulo 19 veremos a surpreendente resposta: os determinantes do equilíbrio global entre exportações e importações se pautam nas decisões sobre poupança e gastos de investimento – investimento em bens como maquinaria e fábricas que, por sua vez, são usados para produzir bens e serviços para os consumidores. Países com elevado investimento em relação à poupança mantêm déficits comerciais; países com baixo gasto de investimento em relação à poupança mantêm superávits comerciais.

Economia em ação Equilíbrio das nações bálticas A União Soviética, que outrora só perdia poder para os Estados Unidos, dividiu-se em 15 países independentes em 1991. Muitos desses países tinham dificuldade em encontrar um novo lugar no mundo, tanto política quanto economicamente. No entanto, as três pequenas nações da Estônia, Letônia e Lituânia, muitas vezes chamadas de “nações bálticas”, porque todas têm costas no Mar Báltico – foram rápidas tanto para estabelecer instituições democráticas como para se mover para economias de mercado, construindo fortes laços com as economias democráticas de mercado da Europa Ocidental. O que isso significou para o comércio internacional delas? A Figura 6-10 mostra os saldos em conta-corrente dos três países – uma ampla definição de seus balanços comerciais – de 2000 até 2010. Como se vê, nos meados daquela década os três países começaram a ter déficits consideráveis (equivalente em cada caso a mais de 10% do valor total dos bens e serviços por elas produzidos). Depois de 2008, repentinamente todas as três mudaram para superávit.

FIGURA 6-10 Balança de transações correntes das nações bálticas, 2000-2010 Fonte: Fundo Monetário Internacional.

Isso significa que essas economias estavam se saindo mal em 2005 ou 2006 e melhoraram rapidamente no final da década? Na verdade, foi o oposto. Durante o período de 2000 a 2007, os mercados financeiros foram extremamente otimistas sobre as perspectivas econômicas das nações bálticas e despejaram dinheiro nos países, permitindo-lhes participar com altas taxas de gastos de investimento e, analogamente, manter grandes déficits comerciais. Quando o mundo mergulhou na crise financeira, essa entrada de recursos secou, obrigando as nações bálticas a mover para superávit comercial. A adaptação foi difícil para os três países, os quais viram as taxas de desemprego subir para os níveis da era da Depressão.

Breve revisão ■ Vantagens comparativas explicam por que uma economia aberta exporta alguns bens e serviços e importa outros, mas não consegue explicar por que um país importa mais do que exporta, ou vice-versa. ■ Déficits comerciais e superávits comerciais são fenômenos macroeconômicos determinados por decisões sobre as despesas de investimento e poupança.

Teste seu entendimento 6-5 1. Qual das declarações seguintes reflete vantagem comparativa e quais refletem forças macroeconômicas? a. Graças à descoberta de extensas áreas de areia betuminosa em Alberta, Canadá, a província se tornou exportadora de petróleo e importadora de bens manufaturados. b. Assim como muitos bens de consumo, o iPod da Apple é montado na China, embora muitos de seus componentes sejam fabricados em outros países.

c. Desde 2002, a Alemanha tem tido enormes superávits comerciais, exportando muito mais do que importa. d. Os Estados Unidos, que tinham uma balança comercial mais ou menos equilibrada no início dos anos 1990, passou a ter grandes déficits comerciais no final da década, quando começou o boom da tecnologia. As respostas estão no fim do livro.

Caso empresarial O que é bom para os Estados Unidos é bom para a General Motors Em 1° de junho de 2009, a General Motors entrou com pedido de falência. Foi um acontecimento triste para uma empresa que outrora tinha sido o próprio símbolo do sucesso econômico dos Estados Unidos – tanto que, em 1953, o CEO da empresa declarou que os interesses da empresa e os da nação eram idênticos: “Durante anos imaginei que o que era bom para o país era bom para a General Motors, e vice-versa.” A falência em 2009 não significou o encerramento da GM, a empresa conseguiu continuar operando graças a quase $50 bilhões de ajuda federal. Em troca dessa ajuda, o governo recebeu ações da empresa reestruturada. A intenção do governo era vender as ações mais tarde, uma vez que a empresa fosse rentável novamente. Mas por que os funcionários do governo acreditavam que a GM tinha uma razoável possibilidade de retornar à lucratividade? O caso baseou-se em observação e previsão. A observação era que os problemas da GM não eram únicos. Esteja certo que a empresa tinha sido mal administrada e precisava tanto fabricar carros melhores como reduzir custos. Mas todas as montadoras dos Estados Unidos estavam em apuros: a venda de carros em geral tinha caído e, além disso, a produção industrial global também. A associação das vendas fracas com a queda geral na produção industrial se ajustava ao padrão histórico. A Figura 6-11 mostra as vendas e a produção industrial de automóveis dos Estados Unidos como um percentual da capacidade; os dois grupos muitas vezes, embora nem sempre, movimentam-se juntos.

FIGURA 6-11 Venda de veículos nos Estados Unidos e produção industrial total, 1976-2011 Fonte: Federal Reserve Bank de St. Louis.

A previsão era de que tanto a produção industrial como as vendas iriam logo se recuperar e melhorar o resultado final da GM. E realmente isso aconteceu: como a economia se recuperou, a General Motors também se recuperou, retornou à lucratividade em 2010. No final de 2010, o governo já podia começar a vender suas ações, e as expectativas eram de que os contribuintes de impostos acabariam por obter o máximo do dinheiro de volta. Nesse caso, pelo menos, a antiga ideia ainda se aplica: o que foi bom para os Estados Unidos realmente foi bom para a General Motors, e vice-versa.

Questões para Pensar 1. Por que a produção industrial global e as vendas de automóveis tendem a se mover juntas? 2. Por que em junho de 2009 era razoável prever que as vendas de automóveis iriam melhorar no futuro próximo? 3. Por que a administração Obama foi especialmente feliz em intervir para salvar a GM em junho de 2009, em vez de, digamos, seis meses antes?

Resumo 1. A macroeconomia é o estudo do comportamento da economia como um todo, que pode ser diferente da soma de suas partes. A macroeconomia difere da microeconomia no tipo de questões que tenta responder. A macroeconomia tem também um forte foco em política: a análise econômica keynesiana, que surgiu durante a Grande Depressão, defende o uso da política monetária e da política fiscal para combater recessões econômicas. Antes da Grande Depressão, a economia era considerada autorregulada. 2. Uma das principais preocupações da macroeconomia é o ciclo econômico, a alternância

de curto prazo entre recessões, períodos de queda do emprego e do produto, e expansões, períodos de aumento do emprego e do produto. O ponto em que a expansão passa a recessão é o pico do ciclo econômico. O ponto em que a recessão passa a expansão é o ponto mais baixo do ciclo econômico. 3. Outra área fundamental do estudo da macroeconomia é o crescimento econômico de longo prazo, a tendência de crescimento sustentado do produto da economia ao longo do tempo. O crescimento econômico de longo prazo é a força por trás da melhoria de longo prazo no padrão de vida e é importante para o financiamento de alguns programas econômicos. É especialmente importante para os países mais pobres. 4. Quando os preços da maioria dos bens e serviços estão aumentando, de modo que o nível geral de preços está subindo, a economia tem inflação. Quando o nível geral de preços está caindo, a economia tem deflação. No curto prazo, a inflação e a deflação estão intimamente relacionadas com o ciclo econômico. No longo prazo, os preços tendem a refletir mudanças na quantidade agregada de moeda. Dado que a inflação e a deflação podem causar problemas, os economistas e formuladores de políticas em geral apontam para a estabilidade de preços. 5. Embora a vantagem comparativa explique por que uma economia aberta exporta algumas coisas e importa outras, a análise macroeconômica é necessária para explicar por que os países mantêm superávits comerciais ou déficits comerciais. Os determinantes do balanço geral entre exportações e importações estão nas decisões sobre poupança e gastos de investimento.

Palavras–chave Economia autorregulada, p. 145 Economia keynesiana, p. 145 Política monetária, p. 145 Política fiscal, p. 145 Recessão, p. 148 Expansão, p. 148 Ciclo econômico, p. 148 Pico do ciclo econômico, p. 148 Ponto mais baixo do ciclo econômico, p. 148 Crescimento econômico de longo prazo, p. 152 Inflação, p. 153 Deflação, p. 154 Estabilidade de preços, p. 154 Economia aberta, p. 155 Déficit comercial, p. 155 Superávit comercial, p. 156

Problemas

1. Quais das questões seguintes são relevantes para o estudo da macroeconomia e quais são relevantes para o estudo da microeconomia? a. Como as gorjetas da Srta. Martin irá mudar quando fechar uma grande fábrica perto do restaurante onde ela trabalha? b. O que acontecerá com os gastos dos consumidores, quando a economia entrar em crise? c. Como o preço da laranja será alterado quando a geada prejudicar os laranjais da Flórida? d. Como irão mudar os salários de uma fábrica, quando sua força de trabalho se sindicalizar? e. O que acontecerá com as exportações dos Estados Unidos se o dólar se tornar mais barato em relação a outras moedas? f. Qual é a relação entre a taxa de desemprego e a taxa de inflação de um país? 2. Quando uma pessoa poupa mais, a riqueza da pessoa é maior, o que significa que poderá consumir mais no futuro. Mas quando todo mundo poupa mais, a renda de todo mundo cai, o que significa que todos consomem menos hoje. Explique essa aparente contradição. 3. Antes da Grande Depressão, a sabedoria convencional entre os economistas e formuladores de políticas era de que a economia é, em grande parte, autorregulada. a. Essa visão era consistente ou inconsistente com a economia keynesiana? Explique. b. Que efeito teve a Grande Depressão sobre a sabedoria convencional? c. Compare a reação dos formuladores de políticas durante a recessão entre 2007 e 2009 com as ações dos formuladores de políticas durante a Grande Depressão. Qual teria sido o resultado provável da recessão entre 2007 e 2009 se os formuladores de políticas tivessem agido da mesma forma que os formuladores de políticas durante a Grande Depressão? 4. Como os economistas nos Estados Unidos determinam quando uma recessão começa e quando termina? Como outros países determinam se uma recessão está ocorrendo? 5. O Departamento do Trabalho dos Estados Unidos disponibiliza estatísticas de emprego e remunerações usadas por muitos economistas como indicadores-chave para avaliar a saúde da economia. A Figura 6-4 é um gráfico dos dados históricos da taxa de desemprego mensal. Como se observa, os números eram altos durante a recessão nos anos 1990, em 2001 e entre 2007 e 2009. a. Localize os dados mais recentes da taxa de desemprego dos Estados Unidos. (Dica: Vá ao site www.bls.gov, do Bureau of Labor Statistics, e localize a versão mais recente do Employment Situation.) b. Compare os números atuais com as recessões do início dos anos 1990, 2001 e entre 2007 e 2009, bem como com os períodos de crescimento econômico relativamente elevado pouco antes da recessão. Os números atuais indicam uma tendência de recessão? 6. A figura a seguir mostra a taxa de crescimento anual de emprego no Reino Unido e no Japão de 1991 a 2010. (A taxa de crescimento anual é a variação percentual do emprego em cada ano em relação ao ano anterior

a. Comente o ciclo econômico dessas duas economias. São similares ou não? b. Use essa figura e a figura na Comparação Global dos ciclos econômicos internacionais deste capítulo para comparar os ciclos econômicos de cada uma dessas duas economias com a dos Estados Unidos e a da Zona do Euro. 7. a. Quais são as três medidas da economia que tendem a se mover juntas durante o ciclo econômico? Como se movem na fase ascendente? E na descendente? b. Na economia, quem é prejudicado durante a recessão? Como? c. Como Milton Friedman mudou o consenso que havia se desenvolvido no rescaldo da Grande Depressão de como a economia deveria ser gerida? Qual é o objetivo atual dos formuladores de políticas na gestão da economia? 8. Por que consideramos que a expansão no ciclo econômico é diferente do crescimento econômico de longo prazo? Por que nos preocupamos com a taxa de crescimento de longo prazo do PIB real em relação à taxa de crescimento da população? 9. Em 1798, foi publicado Ensaios sobre os Princípios da População, de Thomas Malthus. Ele escreveu: “A população, quando não controlada, aumenta em taxa geométrica. A subsistência aumenta apenas em taxa aritmética... Isso implica um forte controle da população funcionando constantemente em virtude da dificuldade de subsistência.” Malthus estava dizendo que o crescimento da população é limitado pela quantidade de alimentos disponíveis. As pessoas viveriam em nível de subsistência para sempre. Por que a descrição de Malthus não se aplica ao mundo depois de 1800? 10. As mensalidades das faculdades americanas aumentaram significativamente nas últimas décadas. Desde o ano letivo de 1979-1980 para o ano letivo de 2009-2010, a matrícula, dormitório e manutenção paga por estudantes de graduação de período integral passou de $2.327 para $15.041 em instituições públicas e de $5.013 para $35.061 em instituições privadas. É uma taxa de aumento anual médio de 6,4% em instituições

públicas e 6,7% em instituições privadas. Durante o mesmo período, a renda pessoal média líquida de impostos subiu de $7.956 para $35.088 por ano, representando uma taxa média anual de crescimento da renda pessoal de 5,0%. Esses aumentos das mensalidades tornaram mais difícil para o estudante médio conseguir pagar a faculdade? 11. Todo ano, The Economist publica dados sobre o preço do Big Mac em diferentes países e as taxas de câmbio. A tabela a seguir mostra alguns dados usados para o índice de 2007 e 2011. Use essas informações para responder às seguintes questões. a. Onde era mais barato comprar um Big Mac em dólares americanos em 2007? b. Onde era mais barato comprar um Big Mac em dólares americanos em 2011? c. Usando o aumento do preço do Big Mac em moeda local em cada país para medir a variação percentual no nível geral de preços de 2007 a 2011, que país sofreu a maior inflação? Alguma dessas nações teve deflação?

12. A figura a seguir ilustra o déficit comercial dos Estados Unidos desde 1987. Os Estados Unidos de forma consistente e, em geral, importaram cada vez mais bens do que exportaram. Um dos países com o qual os Estados Unidos mantêm déficit comercial é a China. Qual das seguintes afirmações é uma explicação válida para esse fato? Explique.

a. Muitos produtos, como televisores, que antes eram fabricados nos Estados Unidos

agora são fabricados na China. b. O salário do trabalhador chinês médio é muito menor do que o salário do trabalhador médio nos Estados Unidos. c. Os gastos de investimento nos Estados Unidos são altos em relação ao seu nível de poupança. www.worthpublishers.com/krugmanwells

C APÍ T UL O 7

PIB e IPC: Monitorando a Economia

O que você vai aprender neste capítulo • Como os economistas usam medidas agregadas para monitorar o desempenho da economia. • O que é produto interno bruto, ou PIB, e as três formas de calculá-lo. • A diferença entre PIB real e PIB nominal e por que o PIB real é a medida adequada da verdadeira atividade econômica. • O que é um índice de preços e como ele é usado para calcular a taxa de inflação.

O novo número 2 “A China suplanta o Japão como a segunda maior economia.” Essa foi a manchete do New York Times em 15 de agosto de 2010. Citando dados econômicos que sugeriam que a economia do Japão estava enfraquecendo, enquanto que a da China rugia à frente, o artigo previa – corretamente, como se constatou – que 2010 marcaria o primeiro ano em que a economia chinesa em expansão, finalmente, ultrapassaria o Japão, classificando-se em segundo lugar em relação aos Estados Unidos no cenário econômico mundial. “O marco”, escreveu o Times, “embora previsto há algum tempo, é a evidência ainda mais marcante que a ascensão da China é real e que o restante do mundo terá que considerar uma nova superpotência econômica”. Mas espere um pouco – o que significa dizer que a economia da China é maior do que a do Japão? As duas economias produzem, afinal, combinações de bens muito diferentes. Apesar de seu rápido avanço, a China ainda é um país bastante pobre, cuja maior força está na produção de tecnologia relativamente baixa. O Japão, pelo contrário, é um país de muito mais alta tecnologia, e domina a produção mundial de alguns bens sofisticados, como sensores eletrônicos para automóveis. É por isso que o terremoto de 2011 no nordeste do Japão, que colocou muitas fábricas fora de ação, causou grandes transtornos de produção para fábricas de automóveis em todo o mundo. Como se pode comparar o tamanho das duas economias quando não estão produzindo os mesmos itens? A resposta é que comparações entre economias nacionais são baseadas no valor da sua produção. Quando o noticiário declarou que a economia da China tinha ultrapassado a do Japão, queria dizer que o produto interno bruto da China, ou PIB – uma medida do valor total dos bens e serviços produzidos havia superado o PIB do Japão. O PIB é uma das medidas mais importantes usadas para monitorar a macroeconomia – isto é, para quantificar movimentos no nível global de produção e preços. Medidas como o PIB e índices de preços desempenham um papel importante na formulação de políticas econômicas, uma vez que os formuladores de políticas precisam saber o que está acontecendo, e anedotas substituem os dados concretos. Também são importantes para decisões comerciais – de tal forma que, como o estudo de caso do final do capítulo ilustra, corporações e outros atores estão dispostos a pagar pela leitura inicial de quais medidas oficiais econômicas são prováveis de encontrar.

Neste capítulo vamos explicar como os macroeconomistas medem aspectos fundamentais da economia. Primeiro exploraremos as maneiras de medir a produção total e a renda total da economia. Em seguida, voltaremos para o problema de como medir o nível de preços e a variação dos preços na economia.

As contas nacionais Quase todos os países calculam um conjunto de números conhecidos como contas de renda e produto nacionais. De fato, a exatidão das contas de um país é um indicador extremamente confiável de seu estado de desenvolvimento econômico – em geral, quanto mais confiável as contas, mais avançado economicamente é o país. Quando as agências econômicas internacionais procuram ajudar um país menos desenvolvido, normalmente enviam uma equipe de especialistas para auditar e melhorar as contas do país. Nos Estados Unidos, esses números são calculados pelo Bureau of Economic Analysis, uma divisão governamental que faz parte do que naquele país é equivalente ao Ministério do Comércio. As contas de renda e produto nacionais, geralmente chamadas de contas nacionais, controlam os gastos dos consumidores, as vendas dos produtores, os gastos do investimento privado, as compras governamentais e uma variedade de outros fluxos de dinheiro entre os diversos setores da economia. Vejamos como funciona.

Diagrama do fluxo circular revisitado e expandido Para entender os princípios subjacentes às contas nacionais, ajuda fazer a análise da Figura 7-1, um diagrama de fluxo circular revisto e expandido semelhante ao que apresentamos no Capítulo 2. Lembre-se que na Figura 2-7 mostramos o fluxo de dinheiro, bens e serviços e dos fatores de produção na economia. Aqui vamos nos restringir aos fluxos de dinheiro, mas acrescentar elementos adicionais que nos permitem mostrar os principais conceitos em que se baseiam as contas nacionais. Como em nossa versão original do diagrama do fluxo circular, o princípio subjacente é que o fluxo de dinheiro que entra em cada mercado ou setor é igual ao fluxo de dinheiro que sai desse mercado ou setor.

FIGURA 7-1 Diagrama de fluxo circular expandido: fluxos de dinheiro por meio da economia Um fluxo circular de fundos liga os quatro setores da economia – famílias, empresas, governo e resto do mundo – por meio de três tipos de mercados: mercados de fatores, mercados de bens e serviços e mercados financeiros. Os fundos fluem das empresas para as famílias, na forma de salários, lucros, juros e aluguéis por intermédio dos mercados de fatores. Depois de pagar impostos ao governo e receber transferências do governo, a família aloca a renda restante – ou seja, a renda disponível – entre poupança privada e gastos de consumo. Por meio dos mercados financeiros, a poupança privada e os fundos do restante do mundo são canalizados para o gasto de investimento pelas empresas, tomadas de empréstimos pelo governo, tomada e concessão de crédito de estrangeiros e transações de estrangeiros em ações. Por sua vez, os fundos fluem do governo e das famílias para as empresas, para pagar pela compra de bens e serviços. Finalmente, as exportações para o resto do mundo geram um fluxo de fundos que entra na economia e as importações resultam em um fluxo de fundos que sai da economia. Quando somamos os gastos de consumo com bens e serviços, os gastos de investimento das empresas, as compras governamentais de bens e serviços e as exportações e, em seguida, subtraímos o valor das importações, o fluxo total de fundos representado por esse cálculo é o gasto total com bens e serviços produzidos nos Estados Unidos. Do mesmo modo, é o valor de todos os bens e serviços produzidos nos Estados Unidos, isto é, o produto interno bruto da economia.

A Figura 2-7 mostrou um mundo simplificado contendo apenas dois tipos de “habitantes”, famílias (ou domicílios) e empresas. E ilustrou o fluxo circular de dinheiro entre famílias e empresas que permanecem visíveis na Figura 7-1. Nos mercados de bens e serviços, as famílias têm gastos de consumo, comprando bens e serviços das empresas domésticas e das empresas do resto do mundo. As famílias também possuem fatores de produção, como trabalho, terra, capital físico, capital humano e capital financeiro. Vendem o uso desses fatores de produção para as empresas, recebendo salários, lucros, pagamentos de juros e aluguéis. As empresas compram e pagam às famílias pelo uso desses fatores de produção nos mercados de fatores. A maioria das famílias deriva a maior parte de sua renda de salários auferidos com a venda de trabalho e de capital humano. Mas as famílias obtêm renda adicional pela propriedade indireta de capital físico usado pelas empresas, principalmente sob a forma de ações, que são participações

na propriedade de uma empresa, e sob a forma de bônus, títulos da dívida que pagam juros. Assim, a renda que as famílias recebem nos mercados de fatores inclui lucros distribuídos aos acionistas conhecidos como dividendos e os pagamentos de juros sobre os bônus dos detentores de bônus. Finalmente, as famílias recebem aluguéis em troca de permitir que as empresas usem a terra ou as instalações que possuem. Assim, as famílias recebem renda na forma de salários, lucros, pagamentos de juros e aluguéis através do mercado de fatores. Em nosso diagrama de fluxo circular original simplificado, as famílias gastavam em bens e serviços toda a renda que recebiam por meio do mercado de fatores. No entanto, a Figura 7-1 ilustra um diagrama mais complicado e mais realista. Ali observamos duas razões pelas quais, de fato, os bens e serviços não absorvem toda a renda das famílias. Primeiro, as famílias não conseguem reter toda a renda que recebem nos mercados de fatores. Pagam parte da sua renda ao governo na forma de impostos, como o imposto sobre a renda e impostos sobre vendas. Além disso, algumas famílias recebem transferências governamentais, pagamentos aos indivíduos por parte do governo em troca de não ser fornecido nenhum bem ou serviço, como benefícios da Previdência Social ou pagamentos de seguro-desemprego. A renda total das famílias depois de pagar impostos e receber transferências governamentais é a renda disponível. Em segundo lugar, as famílias normalmente não gastam toda a renda disponível em bens e serviços. Em vez disso, uma parcela da renda normalmente é reservada como poupança privada, que vai para os mercados financeiros, onde indivíduos, bancos e outras instituições compram e vendem ações e títulos, bem como fazem empréstimos. Como mostra a Figura 7-1, os mercados financeiros também recebem fundos do restante do mundo e fornecem fundos ao governo, às empresas e ao resto do mundo. Antes de prosseguir, podemos usar a caixa que representa as famílias para ilustrar uma característica geral importante do diagrama de fluxo circular: a soma total dos fluxos de dinheiro que sai de cada caixa é igual à soma total dos fluxos de dinheiro que entra nessa caixa. É uma questão de contabilidade: o que entra deve sair. Assim, por exemplo, o fluxo total de dinheiro das famílias – a soma dos impostos pagos, os gastos dos consumidores e a poupança privada – devem ser iguais ao fluxo total de dinheiro que entra para as famílias – a soma dos salários, pagamentos de lucros, aluguéis e transferências do governo. Examinemos agora outros tipos de habitantes que adicionamos no diagrama de fluxo circular, inclusive os governos federal, estadual e municipal e o restante do mundo. O governo devolve às famílias, na forma de transferências governamentais, parte do dinheiro que arrecada em impostos. No entanto, o governo usa grande parte de sua receita tributária, além de recursos adicionais obtidos nos mercados financeiros pela tomada de empréstimos por parte do governo, para comprar bens e serviços. As compras governamentais de bens e serviços, o total das compras dos governos federal, estadual e municipal, incluem tudo, desde o gasto militar em munição até o gasto da escola pública local com giz, apagador e salários dos professores. O resto do mundo participa da economia americana de três maneiras. 1. Alguns bens e serviços produzidos nos Estados Unidos são vendidos aos residentes de

outros países. Por exemplo, mais da metade da colheita anual de trigo e algodão dos Estados Unidos é vendida no exterior. Bens e serviços vendidos a outros países são conhecidos como exportações. Vendas de exportações acarretam um fluxo de fundos do restante do mundo para os Estados Unidos para pagar por elas. 2. Alguns bens e serviços adquiridos por residentes dos Estados Unidos são produzidos no exterior. Por exemplo, muitos bens de consumo agora são fabricados na China. Bens e serviços adquiridos de residentes de outros países são conhecidos como importações. Compras de importação ocasionam um fluxo de fundos para fora dos Estados Unidos para pagar por elas. 3. Os estrangeiros podem participar nos mercados financeiros dos Estados Unidos, fazendo transações. Empréstimos estrangeiros – empréstimos concedidos por estrangeiros a parceiros dos Estados Unidos e compra pelos estrangeiros de ações de empresas americanas – gera um fluxo de recursos para dentro dos Estados Unidos a partir do restante do mundo. Por outro lado, empréstimo ao exterior – empréstimos tomados por estrangeiros de parceiros nos Estados Unidos e compras de ações por americanos de empresas estrangeiras – resulta em um fluxo de fundos para fora dos Estados Unidos, para o restante do mundo. Finalmente, vamos voltar aos mercados de bens e serviços. No Capítulo 2, foram abordadas apenas as compras de bens e serviços pelas famílias. Vemos agora que existem outros tipos de gastos com bens e serviços, incluindo compras governamentais, gastos de investimento pelas empresas, importações e exportações. Observe que as empresas também compram bens e serviços em nossa economia expandida. Por exemplo, uma empresa automobilística que está construindo uma nova fábrica comprará bens de investimento – maquinário como prensas e robôs de soldagem que são usados para produzir bens e serviços para os consumidores – de empresas que fabricam esses itens. Também acumulará um estoque de carros finalizados em preparação para a entrega aos distribuidores. Inventários, então, são estoques de bens e matérias-primas que as empresas mantêm para facilitar as operações. As contas nacionais incluem esses gastos de investimento – gastos com capital físico produtivo, tal como maquinário e construções, e mudanças nos estoques – como parte do gasto total em bens e serviços. A questão é o motivo pelo qual as mudanças nos estoques são incluídas em gastos de investimento – afinal, carros acabados não são usados para fabricar mais carros. As mudanças nos estoques de bens acabados são incluídas como gastos de investimento, porque, como as máquinas, mudam a capacidade de uma empresa de fazer vendas futuras. Assim, o gasto com o aumento dos estoques é uma forma de gasto de investimento para a empresa. Da mesma forma, a redução dos estoques é considerada uma queda nos gastos de investimentos, pois acarreta redução das vendas futuras. Também é importante entender que os gastos de investimento incluem gastos com a construção de qualquer estrutura, independente de se tratar de uma fábrica de montagem ou uma casa nova. Por que incluir construção de casas? Porque, como uma fábrica, uma nova casa produz um fluxo futuro de serviços – serviços residenciais para os seus ocupantes.

Suponha que somemos o gasto no consumo de bens e serviços, o gasto de investimento, as compras governamentais de bens e serviços e o valor das exportações e, em seguida, subtraímos o valor das importações. Isso nos dá uma medida do valor global de mercado dos bens e serviços que a economia produz. Essa medida tem um nome: produto interno bruto do país. Mas antes de definir formalmente o produto interno bruto, ou PIB, temos de examinar uma distinção importante entre os grupos de bens e serviços: a diferença entre bens e serviços finais e bens e serviços intermediários.

Produto interno bruto A compra de um carro novo de um revendedor por um consumidor é um exemplo de venda de bens e serviços finais: bens e serviços vendidos ao usuário final. Mas quando um fabricante de automóveis compra aço de uma usina siderúrgica ou vidro de uma vidraçaria, temos um exemplo de aquisição de bens e serviços intermediários: bens e serviços que são insumos para a produção de bens e serviços finais. No caso de bens e serviços intermediários, o comprador, outra empresa – não é o usuário final. O produto interno bruto, ou PIB, é o valor total de todos os bens e serviços finais produzidos na economia durante um determinado período, geralmente um ano. Em 2010, o PIB dos Estados Unidos foi de $14.527 bilhões, ou cerca de $46.844 por pessoa. Se você for um economista tentando elaborar as contas nacionais de um país, uma maneira de calcular o PIB é calculá-lo diretamente: pesquisar as empresas e somar o valor total de sua produção de bens e serviços finais. Na próxima seção, vamos explicar em detalhes por que os bens intermediários, e alguns outros tipos de bens, não são incluídos no cálculo do PIB. Mas somar o valor total dos bens e serviços finais produzidos não é a única forma de calcular o PIB. Há outra maneira, com base no gasto total dos bens e serviços finais. Como o PIB é igual ao valor total dos bens e serviços finais produzidos na economia, também deve ser igual ao fluxo de fundos recebidos por empresas das vendas de bens e serviços no mercado. Se examinarmos novamente o diagrama de fluxo circular na Figura 7-1, vamos notar que a flecha que vai do mercado de bens e serviços para as empresas é de fato denominada “produto interno bruto”. De acordo com a regra básica de contabilidade, o fluxo de fundos que sai de qualquer caixa é igual ao fluxo que entra nessa caixa; assim, o fluxo de fundos que sai do mercado de bens e serviços em direção às empresas é igual ao fluxo de fundos total que entra nos mercados de bens e serviços de outros setores. E como se observa na Figura 7-1, o fluxo de fundos total que entra nos mercados de bens e serviços é o gasto agregado em bens e serviços finais produzidos no país – a soma do gasto do consumidor, do gasto de investimento, das compras governamentais de bens e serviços e das exportações menos importações. Assim, uma segunda forma de calcular o PIB é somar o gasto agregado em bens e serviços finais produzidos internamente na economia. E há ainda uma terceira forma de calcular o PIB, com base na renda total obtida na economia. As empresas e os fatores de produção que elas empregam são de propriedade das famílias. Assim, no final, as empresas devem pagar o que recebem para as famílias. O fluxo das empresas para os mercados de fatores é a renda dos fatores paga pelas

empresas às famílias na forma de salários, lucros, juros e aluguéis. Mais uma vez, pelas regras contábeis, o fluxo de renda de fatores das empresas para as famílias deve ser igual ao fluxo de dinheiro em direção às empresas vindo dos mercados de bens e serviços. E esse último valor, como sabemos, é o valor total da produção na economia, o PIB. Por que o PIB é igual ao valor total da renda dos fatores pagos pelas empresas às famílias na economia? Porque cada venda na economia deve reverter a favor de alguém como renda – como salário, lucro, juro ou renda. Então, uma terceira forma de calcular o PIB é a soma do total das rendas dos fatores recebidos pelas famílias e pagas pelas empresas na economia.

Cálculo do PIB Acabamos de explicar que há, de fato, três métodos para calcular o PIB: 1. Somando-se o valor total de todos os bens e serviços finais produzidos. 2. Somando-se os gastos de todos os bens e serviços produzidos internamente. 3. Somando-se a renda dos fatores totais auferidos pelas famílias das empresas na economia. Os estatísticos do governo usam os três métodos. Para ilustrar como esses três métodos funcionam, vamos considerar uma economia hipotética, mostrada na Figura 7-2. Essa economia é composta por três empresas – American Motors, que produz um carro por ano; American Steel, que produz aço para fabricar o carro, e American Ore, que explora a mina de minério de ferro que é usado no aço. Assim, o PIB é $21.500, o valor de um carro por ano que a economia produz. Vejamos como esses três métodos de cálculo do PIB diferentes produzem o mesmo resultado.

FIGURA 7-2 Cálculo do PIB Nessa economia hipotética que consiste de três empresas, o PIB pode ser calculado de três maneiras diferentes: 1) Como valor da produção de bens e serviços finais, pela soma do valor agregado de cada empresa. 2) Como gasto agregado de bens e serviços finais produzidos internamente. 3) Como renda dos fatores recebidos pelas famílias das empresas na economia.

Medindo o PIB como o valor da produção de bens e serviços finais O primeiro método de cálculo do PIB é somar o valor de todos os bens e serviços finais produzidos na economia, um cálculo que exclui o valor dos bens e serviços intermediários. Por que os bens e serviços intermediários são excluídos? Afinal, não representam uma parcela grande e valiosa da economia? Para entender por que apenas os bens e serviços finais são incluídos no PIB, analisemos a economia simplificada descrita na Figura 7-2. Devemos medir o PIB dessa economia, somando as vendas totais do produtor de minério de ferro, do produtor do aço e do produtor do automóvel? Se fizermos isso, estaremos de fato contando o valor do aço duas vezes: uma quando é vendido pela usina siderúrgica para a fábrica de automóveis, e novamente quando a carroceria é vendida ao consumidor como um carro acabado. E estaremos contando o valor do minério de ferro três vezes: uma quando é extraído e vendido à usina siderúrgica, uma segunda vez, quando é transformado em aço e vendido ao produtor de automóveis, e uma terceira vez, quando o aço é transformado em veículo e vendido ao consumidor final. Assim, contar o valor total de cada venda do produtor faria os mesmos itens serem contados várias vezes, inflando artificialmente o cálculo do PIB. Por exemplo, na Figura 72, o valor total de todas as vendas, intermediárias e finais, é $34.700: $21.500 da venda do

carro, mais $9.000 da venda do aço, mais $ 4.200 da venda de minério de ferro. No entanto, sabemos que o PIB é apenas $21.500. A forma de evitar a dupla contagem é incluir apenas o valor agregado de cada produtor no cálculo do PIB: a diferença entre o valor de suas vendas e o valor dos bens e serviços intermediários que adquire de outras empresas. Ou seja, em cada fase do processo de produção, subtrai-se o custo dos insumos – bens intermediários. Nesse caso, o valor agregado do produtor do automóvel é o valor em dólar dos carros que fabrica, menos o custo do aço que compra, ou US$12.500. O valor agregado do produtor de aço é o valor em dólar do aço que produz menos o custo do minério que compra, ou $4.800. Apenas o produtor de minério de ferro, que se supõe que não compra quaisquer insumos, tem um valor agregado igual à venda total, US$4.200. A soma do valor agregado dos três produtores é US$21.500, igual ao PIB.

Medindo o PIB como gasto em bens e serviços finais produzidos internamente Outra maneira de calcular o PIB é somar o gasto agregado de bens e serviços finais produzidos internamente. Ou seja, o PIB pode ser medido pelo fluxo de fundos em direção às empresas. Como o método que calcula o PIB pelo valor da produção doméstica de bens e serviços finais, essa medida deve ser realizada de forma a evitar a dupla contagem. Em termos do nosso exemplo do aço e do automóvel, não queremos contar tanto o gasto do consumidor no automóvel (representado na Figura 7-2 por $12.500, o preço de venda do automóvel) e o gasto do produtor do automóvel em aço (representado na Figura 7-2 por $9.000, o preço do valor do aço para fabricar o automóvel). Se contássemos os dois, estaríamos contando o aço incorporado ao automóvel duas vezes. Resolvemos esse problema, contando apenas o valor das vendas aos compradores finais, como consumidores, empresas que compram bens de investimento, o governo ou compradores estrangeiros. Em outras palavras, a fim de evitar a dupla contagem dos gastos, omitimos as vendas de insumos de uma empresa para outra ao calcular o PIB, usando dados de gasto. Pode-se observar na Figura 7-2 que o gasto agregado de bens e serviços finais – o carro acabado – é $21.500.

Para mentes curiosas Nossas vidas imputadas Um antigo ditado diz que quando uma pessoa casa com sua cozinheira, o PIB cai. E é verdade: quando alguém presta serviços em troca de pagamento, tais serviços são considerados parte do PIB. Porém, os serviços que os membros da família oferecem uns aos outros não entram no PIB. Alguns economistas produziram medidas alternativas que tentam “imputar ” um valor ao trabalho doméstico, ou seja, atribuir uma estimativa de qual teria sido o valor de mercado desse serviço se tivesse sido pago. Mas a medidapadrão do PIB não contém essa imputação.

O cálculo do PIB, no entanto, inclui uma imputação para o valor da “habitação ocupada pelo proprietário”. Ou seja, se você compra a casa que antes estava alugando, o PIB não diminui. É verdade que como você não precisa mais pagar aluguel ao locador, ele não vende mais o serviço a você – o uso da casa ou do apartamento. Mas os estatísticos fazem uma estimativa do que você teria pagado caso tivesse alugado o imóvel em que mora, seja apartamento ou casa. Para efeito de estatística, é como se estivesse alugando sua casa de si mesmo. Se pensar bem, isso faz sentido. Em países em que a maioria das pessoas possui a própria casa, como nos Estados Unidos, o prazer derivado das casas é uma parte importante do padrão de vida. Assim, para que o cálculo do PIB seja exato, deve considerar o valor da casa ocupada pelo proprietário bem como o valor do aluguel. Como já salientado, as contas nacionais incluem, sim, os gastos de investimento das empresas como parte do gasto final. Ou seja, a compra de aço de uma fábrica de automóveis para fabricar um carro não é considerada parte do gasto final, mas a compra de novas máquinas para a fábrica é considerada parte do gasto final. Qual é a diferença? O aço é um insumo que desaparece, é gasto na produção; o maquinário vai durar por muitos anos. Uma vez que as compras de bens de capital que vão durar por um tempo considerável não estão diretamente ligados à produção corrente, as contas nacionais consideram essas compras uma forma de venda final. Nos próximos capítulos, vamos fazer uso da proposição de que o PIB é igual ao gasto agregado dos compradores finais de bens e serviços produzidos internamente. Vamos também desenvolver modelos de como cada grupo de compradores finais decide quanto gastar. Com isso em mente, vamos agora examinar os tipos de gasto que compõem o PIB. Examine novamente os mercados de bens e serviços da Figura 7-1 e irá verificar que um dos componentes das vendas das empresas é o gasto do consumidor. Vamos denotar os gastos do consumidor com a letra C. A Figura 7-1 mostra também três outros componentes de vendas: vendas de bens de investimento para outras empresas, ou gastos de investimento, que vamos denotar com I; compras de bens e serviços pelo governo, que vamos denotar com G, e as vendas para os estrangeiros – isto é, as exportações – que vamos denotar com X. Na realidade, nem todos esses gastos finais se destinam a bens e serviços produzidos internamente. Devemos considerar os gastos com importações, que vamos denotar com IM. A renda gasta com importações é a renda não gasta em bens e serviços domésticos, que é a renda que “vazou” pelas fronteiras nacionais. Então, para medir precisamente o valor da produção doméstica usando dados de gasto, devemos subtrair os gastos com importações para chegar ao gasto com bens e serviços produzidos internamente. Ao reunir isso tudo se chega à seguinte equação que decompõe o PIB em quatro fontes de gasto agregado:

(7-1)

Veremos inúmeras vezes a Equação 7-1 nos capítulos posteriores.

Armadilhas PIB: O que entra e o que fica de fora É fácil confundir o que é e o que não é incluído no PIB. Então, vamos dar uma parada por um momento e nos certificar de que a distinção ficou clara. Provavelmente, a maior fonte de confusão é a diferença entre gastos de investimento e gastos com bens e serviços intermediários. Gastos de investimento, ou seja, gastos em capital físico produtivo (inclusive a construção de estruturas residenciais e comerciais) e variações nos estoques são incluídos no PIB. Mas os gastos com bens e serviços intermediários não são. Por que a diferença? Lembre-se que no Capítulo 2 mostramos a distinção entre recursos que se esgotam (desaparecem) e aqueles que não se esgotam (não desaparecem) na produção. Um insumo, como o aço, é gasto, desaparece na produção. Máquina de estampagem metálica, um bem de investimento, não se esgota, irá durar muitos anos, e será usado repetidamente na fabricação de muitos carros. Como os gastos em capital físico produtivo – bens de investimento – e a construção de estruturas não estão diretamente ligados à produção corrente, os economistas consideram que estes são gastos em bens finais. Os gastos com variação nos estoques, considerados parte dos gastos de investimento, estão igualmente incluídos no PIB. Por quê? Porque, do mesmo modo que uma máquina, o estoque adicional é um investimento em vendas futuras. E quando algum bem é retirado do estoque para venda, seu valor é subtraído do valor dos estoques e, portanto, do PIB. Bens usados não são incluídos no PIB porque, como os insumos, incluí-los resultaria em contagem dupla: uma vez quando vendido como novo e novamente quando vendido como usado. Finalmente, ativos financeiros, como ações e bônus, não são incluídos no PIB porque não representam produção ou venda de bens e serviços finais. Em vez disso, um bônus representa uma promessa de pagar com juros e uma ação representa uma prova de participação na propriedade. E, por motivos óbvios, bens e serviços produzidos no exterior não são incluídos no cálculo do PIB. Aqui está um resumo do que incluir e não incluir no PIB: Incluído ■ Bens e serviços finais produzidos internamente, incluindo bens de capital, novas construções de edifícios e mudanças nos estoques. Não incluído ■ Bens e serviços intermediários. ■ Insumos. ■ Bens usados. ■ Ativos financeiros, como ações e bônus. ■ Bens e serviços produzidos no exterior.

Medindo o PIB como renda de fatores ganhos de empresas na economia A última forma de calcular o PIB é somar todas as rendas ganhas pelos fatores de produção provenientes das empresas na economia, os salários auferidos pelo trabalho, os juros pagos para aqueles que emprestam suas poupanças para as empresas e para o governo, o aluguel recebido pelos que arrendam suas terras ou edifícios às empresas, e os lucros recebidos pelos acionistas, os donos do capital físico das empresas. Essa é uma medida válida, porque o dinheiro que as empresas ganham com a venda de bens e serviços tem de ir para algum lugar; o que não é pago como salário, juros ou aluguel, é o lucro. Em última análise, uma parte do lucro é paga aos acionistas na forma de dividendos. A Figura 7-2 mostra como esse cálculo funciona em nossa economia simplificada. A coluna sombreada na extrema direita mostra o total dos salários, juros e aluguéis pagos por todas essas empresas, bem como o lucro total. A soma disso tudo resulta na renda total dos fatores de $21.500, de novo, igual ao PIB. Não vamos enfatizar a renda de fatores tanto quanto os outros dois métodos de cálculo do PIB. É importante ter em mente, porém, que todo o dinheiro gasto em bens e serviços produzidos internamente gera renda de fatores para as famílias – ou seja, há realmente um fluxo circular.

Os componentes do PIB Agora que sabemos como o PIB é calculado a princípio, vamos ver como isso parece na prática. A Figura 7-3 mostra os dois primeiros métodos de cálculo do PIB lado a lado. A altura de cada barra acima do eixo horizontal representa o PIB da economia dos Estados Unidos em 2010: $14.527 bilhões. Cada barra é dividida para mostrar a repartição desse total em termos de onde o valor foi agregado e como foi gasto.

FIGURA 7-3 PIB dos Estados Unidos em 2010: dois métodos de cálculo do PIB As duas barras mostram duas maneiras equivalentes de calcular o PIB. A altura de cada barra acima do eixo horizontal representa $14.527, o PIB dos Estados Unidos em 2010. A barra da esquerda mostra a decomposição do PIB, de acordo com o valor agregado por cada setor da economia: governo, famílias e empresas. A barra da direita mostra a decomposição do PIB de acordo com quatro tipos de gasto agregado: C + I + G + X – IM. A barra à direita tem um comprimento total de $14.527 bilhões + $517 bilhões. Os $517 bilhões mostrados como a área que se estende abaixo do eixo horizontal é o total de gasto absorvido pelas exportações líquidas, que foram negativas em 2010. (Os números não conferem devido ao arredondamento.) Fonte: Bureau of Economic Analysis.

Na Figura 7-3, na barra à esquerda, vemos os componentes do PIB pelo valor agregado de acordo com os setores, o primeiro método de cálculo do PIB. Dos $14.527 bilhões, $10.879 bilhões consistem do valor agregado pelas empresas. Outros $1.809 bilhões consistem de valor agregado pelo governo, na forma de atividade militar, educação e outros serviços governamentais. Finalmente, $1.838 bilhões compuseram o valor agregado por parte das famílias e instituições; grande parte disso foram os serviços imputados pelas residências ocupadas pelos proprietários, descritos em Para mentes curiosas, “Nossas vidas imputadas”.

Para mentes curiosas Bruto o quê? Ocasionalmente podem-se ver referências não ao produto interno bruto, mas ao produto

nacional bruto, ou PNB. É apenas outro nome para a mesma coisa? Não é bem assim. Se você olhar cuidadosamente para a Figura 7-1, irá perceber que há uma possibilidade que está faltando na figura. De acordo com a figura, toda a renda de fatores vai para as famílias. Mas o que acontece quando são pagos lucros para os estrangeiros que possuem ações da General Motors ou da Microsoft? E onde se encaixam os lucros auferidos por empresas americanas que operam no exterior? Para responder a essas perguntas, foi criada uma medida alternativa, o PNB. O PNB é definido como renda total dos fatores recebida pelos residentes de um país. Exclui a renda dos fatores auferidos por estrangeiros, como os lucros pagos a investidores estrangeiros que possuem ações americanas e pagamentos aos estrangeiros que fazem trabalhos temporários nos Estados Unidos. E inclui a renda dos fatores auferida pelos americanos no exterior, como os lucros das operações europeias da IBM que vão para acionistas americanos da IBM e os salários dos consultores americanos que trabalham temporariamente no exterior. Nos primórdios da contabilidade nacional os economistas usavam normalmente o PNB em lugar do PIB como medida do tamanho da economia, embora as medidas em geral fossem muito próximas uma da outra. Foi mudado para PIB, principalmente porque é considerado um indicador melhor de movimentos de curto prazo na produção e porque os dados sobre fluxos internacionais de renda de fatores são considerados pouco confiáveis. Na prática, não faz muita diferença qual medida é usada em grandes economias como a dos Estados Unidos, em que os fluxos líquidos de rendas de fatores a outros países são relativamente pequenos. Em 2010, o PNB dos Estados Unidos era aproximadamente 1,3% maior do que o PIB, principalmente por causa do lucro de empresas americanas no exterior. No entanto, para países menores suscetíveis de ser hospedeiros de grande quantidade de empresas estrangeiras, o PIB e o PNB podem divergir significantemente. Por exemplo, grande parte das indústrias da Irlanda é de propriedade de corporações americanas, cujo lucro deve ser deduzido do PNB da Irlanda. Além disso, a Irlanda tornou-se hospedeira de muitos trabalhadores temporários das regiões mais pobres da Europa, cujos salários também devem ser deduzidos do PNB da Irlanda. Como resultado, em 2010 o PNB da Irlanda foi de apenas 82% do seu PIB. A barra à direita na Figura 7-3 corresponde ao segundo método do cálculo do PIB, mostrando a decomposição por quatro tipos de gasto agregado. O comprimento total da barra da direita é maior do que o da barra à esquerda, uma diferença de $517 bilhões (que, como você pode ver, é o montante pelo qual a barra à direita se estende abaixo do eixo horizontal). Isso porque o comprimento total da barra à direita representa o gasto total da economia, gastos com bens e serviços finais tanto produzidos domesticamente como externamente. Dentro da barra, o gasto de consumo (C), que é de 70,5% do PIB, domina o quadro. Mas uma parte desse gasto foi absorvida por bens e serviços produzidos no exterior. Em 2010, as exportações líquidas, ou seja, a diferença entre o valor das exportações e das importações (X -IM na Equação 7-1) foram negativas; os Estados Unidos foram um importador líquido de bens e serviços estrangeiros. O valor de

X - IM em 2010 foi - 517 bilhões, ou - 3,6% do PIB. Assim, uma parte da barra à direita se estende abaixo do eixo horizontal em 517 bilhões para representar o montante do gasto total que foi absorvido pelas importações líquidas e, portanto, não acarretou um PIB americano mais alto. O gasto de investimento (I) constituiu 12,4% do PIB; compras governamentais de bens e serviços (G) constituíram 20,7% do PIB.

O que o PIB informa Agora que já vimos as várias maneiras de cálculo do produto interno bruto, a questão é: O que a medição do PIB nos informa? O uso mais importante do PIB é como medida do tamanho da economia, proporcionando uma escala para medir o desempenho econômico de outros anos ou para comparar o desempenho econômico com outros países. Por exemplo, suponha que queiram comparar as economias de vários países. Uma abordagem natural é compará-las pelos seus PIBs. Em 2010, como vimos, o PIB dos Estados Unidos foi de $14.527 bilhões; o do Japão foi de $5.459 bilhões e o PIB combinado dos 27 países que compõem a União Europeia foi de $16.263 bilhões. Essa comparação nos diz que o Japão, apesar de ter a segunda maior economia do mundo, tem um peso econômico muito menor do que o dos Estados Unidos. Em conjunto, a Europa é igual ou superior aos Estados Unidos. Ainda assim, é preciso ter cuidado ao usar os números do PIB, especialmente ao fazer comparações ao longo do tempo. Isso porque parte do aumento no valor do PIB ao longo do tempo representa aumentos nos preços dos bens e serviços, em vez de aumento no produto. Por exemplo, o PIB dos Estados Unidos foi $7.415 bilhões em 1995 e aproximadamente dobrou para $14.527 bilhões em 2010. Mas a economia dos Estados Unidos não chegou a dobrar de tamanho durante esse período. Para medir as mudanças reais no produto agregado, precisamos de uma versão modificada do PIB, ajustada às variações de preços, conhecido como PIB real. A seguir, veremos como o PIB real é calculado.

Economia em ação Criação das contas nacionais As contas nacionais, como a macroeconomia moderna, devem a sua criação à Grande Depressão. Quando a economia mergulhou em depressão, funcionários governamentais viram sua capacidade de resposta prejudicada, não só pela falta de teorias econômicas adequadas, mas também pela falta de informação adequada. Tudo o que tinham eram estatísticas esparsas: tonelagem de transporte ferroviário, preços de ações e índices incompletos de produção industrial. Podiam apenas adivinhar o que estava acontecendo com a economia como um todo. Em resposta a essa percepção de falta de informação, o Ministério do Comércio dos Estados Unidos encarregou Simon Kuznets, um jovem economista nascido na Rússia, de desenvolver um conjunto de contas da renda nacional. (Kuznets mais tarde ganhou o

Prêmio Nobel de Economia por seu trabalho.) A primeira versão dessas contas foi apresentada ao Congresso em 1937 e em um relatório de pesquisa intitulado Renda Nacional, 1929-1935. As estimativas iniciais de Kuznets não chegaram a ser equivalentes ao conjunto completo de contas, porque se concentravam na renda, não na produção. O impulso para completar as contas nacionais veio durante a Segunda Guerra Mundial, quando os formuladores de política tinham uma necessidade ainda maior de medidas abrangentes do desempenho da economia. O governo federal americano começou a publicar estimativas do produto interno bruto e do produto nacional bruto em 1942. Em janeiro de 2000, na publicação Survey of Current Business, o Ministério do Comércio publicou um artigo intitulado “PIB: uma das grandes invenções do século XX”. Isso pode parecer um pouco exagerado, mas as contas nacionais, inventadas nos Estados Unidos, tornaram-se uma ferramenta de análise econômica e formulação de políticas em todo o mundo.

Breve revisão ■ As contas de produto e renda nacionais de um país ou contas nacionais monitoram os fluxos de dinheiro entre os setores econômicos. ■ As famílias recebem renda de fatores na forma de salários, lucro pela propriedade de ações, juros pagos sobre bônus e aluguel. Recebem também transferências do governo. ■ As famílias alocam a renda disponível entre gastos de consumo e poupança privada – fundos privados que fluem para os mercados financeiros e financiam gastos de investimento e qualquer tomada de empréstimo do governo. ■ As compras governamentais de bens e serviços são os gastos totais dos governos federal, estadual e municipal em bens e serviços. ■ Exportações ocasionam um fluxo de fundos para dentro do país. Importações resultam em um fluxo de fundos para fora do país. ■ O produto interno bruto, ou PIB, pode ser calculado de três maneiras diferentes: somando o valor agregado por todas as empresas; somando todos os gastos em bens e serviços finais produzidos internamente, um montante igual ao gasto agregado; ou somando todas as rendas de fatores pagos pelas empresas. Bens e serviços intermediários não são incluídos no cálculo do PIB. A variação nos estoques e as exportações líquidas são.

Teste seu entendimento 7-1 1. Explique por que os três métodos de cálculo do PIB produzem o mesmo valor. 2. Quais são os vários setores para os quais as empresas realizam vendas? Quais são as várias maneiras pelas quais as famílias estão vinculadas a outros setores da economia? 3. Considere a Figura 7-2 e suponha que você tenha achado equivocadamente que o valor agregado total foi de $30.500, a soma do preço de venda de um carro e do valor do aço do carro. Qual item você estaria contando duas vezes?

As respostas estão no fim do livro.

PIB Real: uma medida do produto agregado Na história do início deste capítulo descrevemos como a China ultrapassou o Japão como segunda maior economia do mundo em 2010. Na época, a economia do Japão estava enfraquecida: durante o segundo trimestre de 2010, a produção diminuiu a uma taxa anual de 6,3%. Estranhamente, no entanto, o PIB cresceu. Na verdade, o PIB do Japão medido em iene, moeda nacional, subiu a uma taxa anual de 4,8% durante o trimestre. Como isso foi possível? A resposta é que o Japão estava tendo inflação na época. Como resultado, o valor do PIB do Japão em iene subiu, embora a produção tenha realmente diminuído. A moral dessa história é que o número do PIB comumente citado é uma estatística interessante e útil, que fornece uma boa maneira de comparar o tamanho de diferentes economias, mas não é uma boa medida do crescimento da economia ao longo do tempo. O PIB pode crescer porque a economia cresce, mas também pode crescer por causa da inflação. Mesmo se a produção de uma economia não variar, o PIB vai subir, se os preços dos bens e serviços que a economia produz aumentarem. Da mesma forma, o PIB pode cair porque a economia está produzindo menos ou porque os preços caíram. Para calcular com precisão o crescimento da economia, é necessário calcular o produto agregado: a quantidade total de bens e serviços finais que a economia produz. O cálculo utilizado para essa finalidade é conhecido como PIB real. O monitoramento do PIB real, ao longo do tempo, evita o problema da variação nos preços distorcer o valor da variação na produção de bens e serviços ao longo do tempo. Vejamos primeiro como o PIB real é calculado, em seguida, o que isso significa.

Calculando o PIB real Para entender como o PIB real é calculado, imagine uma economia na qual apenas dois bens, maçãs e laranjas, são produzidos e ambos os bens são vendidos apenas para consumidores finais. Os produtos e preços dessas duas frutas por dois anos consecutivos são apresentados na Tabela 7-1. Tabela 7-1 Cálculo do PIB e do PIB real em uma economia simples Quantidade de maç ãs (bilhões) Preç o da maç ã Quantidade de laranjas (bilhões) Preç o da laranja PIB (bilhões de dólares) PIB real (bilhões de dólares do ano 1)

Ano 1 2.000 $0,25 1.000 $0,50 $1.000 $1.000

Ano 2 2.200 $0,30 1.200 $0,70 $1.500 $1.150

Primeiramente, o que podemos dizer sobre esses dados é que o valor das vendas aumentou do ano 1 para o ano 2. No primeiro ano, o valor total das vendas foi de (2.000 bilhões × $0,25) + (1.000 bilhão × $0,50) = $1.000 bilhão; no segundo, foi (2.200 bilhões ×

$0,30) + (1.200 bilhão × $0,70) = $1.500 bilhão, que é 50% maior. Mas também fica claro da tabela que esse aumento do valor em dólar do PIB superestima o crescimento real da economia. Embora as quantidades de maçãs e laranjas tenham aumentado, os preços das maçãs e laranjas também aumentaram. Assim, parte do aumento de 50% no valor em dólar do PIB do ano 1 para o ano 2 reflete preços mais altos e não maior produção. Para calcular o verdadeiro aumento no produto agregado total produzido, temos que fazer a seguinte pergunta: quanto do PIB teria aumentado se os preços não tivessem variado? Para responder a essa questão, precisamos encontrar o valor da produção no ano 2, expresso em dólares do ano 1. No ano 1, o preço das maçãs foi de $0,25 cada, e o preço das laranjas, $0,50 cada. Assim, o produto do ano 2 aos preços do ano 1 (2.200 bilhões × $0,25) + (1.200 bilhão × $0,50) =1.150 bilhão. O produto do ano 1 a preços do ano 1 foi $1 bilhão. Assim, neste exemplo, o PIB medido em preços do ano 1 aumentou 15%, de $1.000 bilhão para $1.150 bilhão. Podemos agora definir o PIB real: é o valor total dos bens e serviços finais produzidos na economia durante um ano, calculado como se os preços tivessem permanecido constantes ao nível de determinado ano-base. Os números do PIB real sempre vêm acompanhados da informação sobre qual é o ano-base. Números do PIB que não foram ajustados por mudanças nos preços são calculados usando os preços do ano em que o produto foi produzido. Os economistas denominam essa medida de PIB nominal, PIB a preços correntes. Se tivéssemos usado o PIB nominal para medir a verdadeira variação do produto do ano 1 para o ano 2 em nosso exemplo de maçãs e laranjas, teríamos superestimado o verdadeiro crescimento do produto: teríamos dito que o crescimento foi de 50%, quando na verdade foi de apenas 15%. Ao comparar o produto em dois anos por meio de um conjunto comum de preços – os preços do ano 1, nesse exemplo – somos capazes de nos concentrar exclusivamente em variações na quantidade do produto, eliminando a influência da variação nos preços. A Tabela 7-2 mostra a versão na vida real do nosso exemplo de maçãs e laranjas. A segunda coluna mostra o PIB nominal dos Estados Unidos em 1995, 2005 e 2010. A terceira coluna mostra o PIB real para cada ano em dólares de 2005. Em 2005 os dois números foram os mesmos. Mas o PIB real em 1995, expresso em dólares de 2005, foi mais alto do que o PIB nominal em 1995, refletindo o fato de que os preços, em geral, foram mais elevados em 2005 do que em 1995. Entretanto, o PIB real em 2010, expresso em dólares de 2005, foi mais baixo do que o PIB nominal em 2010 porque os preços em 2005 foram mais baixos que em 2010. Tabela 7-2 PIB nominal versus real em 1995, 2005 e 2010 P IB nominal (bilhões de dólares correntes) 1995 $7.415 2005 12.623 2010 14.527

P IB real (bilhões de dólares de 2005) $9.086 12.623 13.088

Você deve ter notado que há uma forma alternativa para o cálculo do PIB real, usando os dados da Tabela 7-1. Por que não usar os preços do ano 2 em vez de os preços do ano 1

como preços do ano-base? Esse procedimento parece igualmente válido. De acordo com esse cálculo, o PIB real no ano 1 aos preços do ano 2 é (2.000 bilhões × $0,30) + (1.000 bilhão × $0,70) = $1.300 bilhão, o PIB real no ano 2 aos preços do ano 2 é $1.500 bilhão, o mesmo que o PIB nominal no ano 2. Então, usando os preços do ano 2 como ano-base, o crescimento do PIB real é igual a ($1.500 bilhão – $1.300 bilhão)/ $1.300 = 0,154 ou 15,4%. Um pouco maior do que a cifra que obtivemos no cálculo anterior, em que os preços do ano 1 foram os preços do ano-base. Nesse cálculo, descobrimos que o PIB real aumentou 15%. Nenhuma das respostas, 15,4% ou 15%, é mais “correta” que a outra. Na realidade, os economistas do governo, que prepararam as contas nacionais dos Estados Unidos, adotaram um método conhecido como encadeamento, para medir a variação do PIB real, que usa a média entre a taxa de crescimento do PIB calculada com um ano-base anterior e a taxa de crescimento calculada usando um ano-base posterior. Como resultado, as estatísticas americanas do PIB real são sempre expressas em dólares encadeados.

O que o PIB real não mede O PIB nominal ou real é uma medida do produto agregado de um país. Tudo o mais mantido constante, um país com uma população maior terá um PIB mais alto, porque há mais pessoas trabalhando. Portanto, se queremos comparar o PIB entre os países, mas queremos eliminar o efeito da diferença no tamanho da população, usamos a medida do PIB per capita – PIB dividido pelo tamanho da população, equivalente à média do PIB por pessoa. O PIB real per capita pode ser uma medida útil em algumas circunstâncias, tal como na comparação da produtividade do trabalho entre os países. No entanto, apesar do fato de ser uma medida aproximada do produto médio real por pessoa, o PIB real per capita tem limitações conhecidas como medida do padrão de vida de um país. De vez em quando os economistas são acusados de acreditar que o crescimento do PIB real per capita é a única coisa que importa – ou seja, pensam que o aumento do PIB real per capita seja um objetivo por si só. Na verdade, os economistas raramente cometem esse erro, a ideia de que os economistas se preocupam apenas com o PIB real per capita é uma espécie de lenda urbana. Mais adiante iremos esclarecer o motivo pelo qual o PIB real per capita não é uma medida suficiente do bem-estar humano do país e por que o crescimento do PIB real per capita não é um objetivo político adequado em si. Uma maneira de pensar nessa questão é dizer que um aumento do PIB real per capita significa uma expansão da fronteira das possibilidades de produção da economia. Se a economia aumentou sua capacidade produtiva, há mais coisas que a sociedade pode alcançar. Mas saber se a sociedade realmente faz bom uso desse potencial expandido para melhorar a qualidade de vida é outra questão. Em outras palavras, a sua renda pode estar maior esse ano do que no ano passado, mas usar ou não essa renda mais elevada para melhorar a qualidade de vida depende da escolha individual.

Comparação global O PIB e o sentido da vida “Já fui rica e já fui pobre”, disse a atriz Mae West em declaração que ficou famosa. “Acreditem em mim, ser rica é melhor.” Mas o mesmo se aplica aos países? Essa figura mostra dois dados para uma série de países: o quanto são ricos, medido pelo PIB per capita, e o quanto as pessoas valorizam o bem-estar. O bem-estar foi medido por uma pesquisa do Gallup, que pediu que as pessoas avaliassem a vida no momento atual e as expectativas para os próximos cinco anos. O gráfico mostra o percentual de pessoas que avaliaram o bem-estar como “próspero”. A figura parece informar três coisas: 1. Ser rico é melhor. Os países mais ricos têm em média melhor bem-estar do que os países pobres. 2. Dinheiro importa menos à medida que se fica mais rico. O ganho de satisfação com a vida quando se vai de um PIB per capita de $5.000 para um de $20.000 é maior do que quando se vai de um PIB per capita de $20.000 para um de $35.000. 3. Dinheiro não é tudo. Os israelenses, embora ricos pelos padrões mundiais, são mais pobres que os americanos, mas parecem mais satisfeitos com a vida. O Japão é mais rico do que a maioria dos países, mas, em geral, muito mais infeliz. Esses resultados são consistentes com a observação de que a um PIB per capita elevado torna mais fácil conseguir um bom nível de vida, mas os países não têm o mesmo sucesso em tirar vantagem dessa possibilidade.

Então, vamos dizer outra vez: o PIB real per capita é uma medida do produto agregado médio por pessoa da economia – e, por isso, do que ela pode fazer. Isso não é um objetivo suficiente por si porque não trata de como o país usa o produto para influir sobre o padrão de vida. Um país com PIB elevado tem condições de ser saudável, bem educado,

e, em geral, ter uma boa qualidade de vida. Mas a correspondência entre PIB e qualidade de vida não é de um para um.

Economia em ação Milagre na Venezuela? A Venezuela, uma nação sul-americana, tem uma característica que pode surpreender: em anos recentes teve um dos PIBs nominais que mais cresceram no mundo. Entre 2000 e 2010, o PIB nominal venezuelano cresceu em média 29% ao ano – muito mais rápido do que o PIB nominal nos Estados Unidos ou mesmo de economias com desenvolvimento acelerado como a China. Será que a Venezuela está experimentando um novo milagre? Não. Está apenas tendo uma inflação excepcionalmente elevada. A Figura 7-4 mostra o PIB nominal e real da Venezuela de 2000 a 2010, com o PIB real medido a preços de 1997. O PIB real cresceu no período, mas a uma taxa anal de apenas 3%. Cerca de duas vezes a taxa de crescimento dos Estados Unidos ao longo do mesmo período, mas muito aquém do crescimento da China de 10%.

FIGURA 7-4 PIB real versus nominal na Venezuela Fonte: Banco Central de Venezuela.

Breve revisão

■ Para determinar o crescimento real do produto agregado, calculamos o PIB real usando preços de determinado ano- base. Por outro lado, o PIB nominal é o valor do produto agregado calculado a preços atuais. As estatísticas dos Estados Unidos do PIB real são sempre expressas em dólares em cadeia. ■ O PIB real per capita é uma medida do produto agregado médio total por pessoa. Mas não é uma medida suficiente do bem-estar humano, nem é uma meta apropriada por si só, porque não reflete aspectos importantes da qualidade de vida dentro da economia.

Teste seu entendimento 7-2 1. Suponha que haja apenas dois bens na economia, fritas e anéis de cebola. Em 2011, foram vendidas 1.000.000 porções de fritas a $0,40 cada e 800.000 porções de anéis de cebola a $0,60 cada. De 2011 a 2012, o preço das fritas subiu 25% e as porções vendidas caíram 10%; o preço dos anéis de cebola caiu 15% e as porções vendidas aumentaram 5%. a. Calcule o PIB nominal em 2011 e 2012. Calcule o PIB real em 2012 com preços de 2011. b. Por que uma avaliação do crescimento pelo PIB nominal é equivocada? 2. De 2005 a 2010, o preço do equipamento eletrônico caiu drasticamente e o preço da habitação aumentou dramaticamente. Qual a implicação disso para decidir se deve usar 2005 ou 2010 como ano-base para o cálculo do PIB real de 2012? As respostas estão no fim do livro.

Índices de preços e nível de preços agregado Na primavera e no verão de 2011, os americanos levaram um susto na bomba de gasolina: o preço do galão regular de gasolina subiu de uma média de $1,61 no final de dezembro de 2008 para próximo de $4. Muitos outros preços também subiram. Alguns preços, porém, estavam caindo: alguns alimentos, como ovos, estavam baixando de uma alta ocorrida a partir do final de 2010, e praticamente qualquer coisa que se relacionasse com eletrônicos também estava ficando mais barato. No entanto, praticamente todos sentiram que o custo de vida em geral estava aumentando. Mas qual a rapidez? Certamente, havia a necessidade de um único número resumindo o que estava acontecendo com os preços ao consumidor. Assim como os macroeconomistas consideraram útil ter um único número representando o nível geral do produto, também acharam útil ter um único número representando o nível geral de preços: o nível de preços agregado. No entanto, há uma enorme variedade de bens e serviços que são produzidos e consumidos em uma economia. Como podemos resumir os preços de todos esses bens e serviços em um único número? A resposta está no conceito de índice de preço, um exemplo que pode ser mais bem entendido com um exemplo.

Cestas básicas e índices de preços Suponha que uma geada na Flórida destrua a maior parte da colheita de frutas cítricas. Como resultado, o preço da laranja sobe de $0,20 para $0,40 cada, o preço da toranja aumenta de $0,60 para $1,00 e o preço do limão sobe de $0,25 para $0,45. Qual foi o aumento de preço das frutas cítricas? Uma maneira de responder a essa pergunta é indicar três números – as variações nos preços das laranjas, toranjas e limões. Mas esse é um método muito complicado. Em vez de ter que recitar três números em um esforço de controlar as variações nos preços das frutas cítricas, era preferível ter algum tipo de medida global da variação de preço médio. Para medir a variação do preço médio dos bens e serviços de consumo, os economistas monitoram as variações no custo de um pacote de consumo típico – a cesta básica de bens e serviços adquirida antes da variação do preço. Um pacote de consumo hipotético, usado para medir variação no nível geral de preços, é conhecido como cesta básica. Suponha que antes da geada um consumidor típico tenha comprado 200 laranjas, 50 toranjas e 100 limões ao longo do ano, a cesta básica desse exemplo. A Tabela 7-3 mostra o custo antes e depois da geada dessa cesta básica. Antes da geada, custava $95; após a geada, a mesma cesta de bens custa $175. Como $175/$95 = 1,842, a cesta básica após a geada custa 1,842 vezes o custo da cesta antes da geada, um aumento de 84,2%. Nesse exemplo, o preço médio das frutas cítricas aumentou 84,2 % desde o anobase, como resultado da geada, onde o ano-base é o ano inicial usado na medição da variação do preço.

Tabela 7-3 Cálculo do custo da cesta básica Preç o da laranja Preç o da toranja Preç o do limão Custo da c esta básic a (200 laranjas, 50 toranjas, 100 limões)

Antes da geada $0,20 0,60 0,25 (200 × $0,20) + (50 × $0,60) + (100 × $0,25) = $95,00

Depois da geada $0,40 1,00 0,45 (200 × $0,40) + (50 × $1,00) + (100 × $0,45) = $175,00

Os economistas usam o mesmo método para medir variações no nível geral de preços: monitoram as mudanças no custo de aquisição de uma determinada cesta básica. Além disso, fazem outras simplificações, para evitar a necessidade de monitorar a informação de que a cesta básica custa, por exemplo, $95 em determinados anos. Normalizam a medida do nível agregado de preços, o que significa definir o custo da cesta básica igual a 100 no ano-base escolhido. Ao trabalhar com uma cesta básica e um ano-base, e após a normalização, obtemos o que é conhecido como índice de preço, uma medida normalizada do nível geral de preços. Sempre é citado junto com o ano em que o nível de preços agregado está sendo medido e o ano-base. O índice de preços pode ser calculado com a fórmula seguinte:

(7-2)

Em nosso exemplo, a cesta básica de frutas cítricas custava $95 no ano-base, um ano antes da geada. Assim, com a Equação 7-2 definimos o índice de preços de frutas cítricas como (custo da cesta básica no ano em curso/$95) × 100, gerando um índice de 100 para o período antes da geada e 184,2 após a geada. Você deve observar que o índice de preços do ano-base sempre resulta em um índice de preços igual a 100. Isso porque o índice de preços no ano-base é igual a: (custo da cesta básica no ano-base/custo da cesta básica no ano-base) ×100 = 100. Assim, o índice de preços deixa claro que o preço médio da fruta cítrica aumentou 84,2% como consequência da geada. Devido à sua simplicidade e apelo intuitivo, o método que acabamos de descrever é usado para calcular uma variedade de índices de preços para monitorar as variações do preço médio entre uma variedade de grupos diferentes de bens e serviços. Por exemplo, o índice de preços ao consumidor, que vamos discutir em breve, é a medida mais usada do nível de preço agregado, o nível geral de preço de bens e serviços de consumo final na economia. Índices de preços também são a base para medir a inflação. A taxa de inflação é a variação percentual anual no índice de preços oficial. A taxa de inflação do ano 1 para o ano 2 é calculada pela seguinte fórmula, onde assumimos que os anos 1 e 2 são anos consecutivos.

(7-3)

Normalmente, um novo relatório que cita a “taxa de inflação” refere-se à variação percentual anual no índice de preços do consumidor.

Índice de preços ao consumidor A medida de preços mais usada nos Estados Unidos é o índice de preços ao consumidor (muitas vezes referida apenas como IPC), que se destina a mostrar como o custo de todas as compras de uma família tipicamente urbana muda ao longo do tempo. É calculado por meio do levantamento de preços de mercado de uma cesta básica que é constituída para representar o consumo de uma família típica de quatro pessoas vivendo em uma cidade americana. O período base para esse índice atualmente é 1982-1984; isto é, o índice é calculado de tal modo que a média dos preços ao consumidor em 1982-1984 seja igual 100. A cesta básica de mercado usado para calcular o IPC é muito mais complexa do que a cesta básica das três frutas que descrevemos anteriormente. Na verdade, para o cálculo do IPC, o Bureau of Labor Statistics envia seus funcionários para pesquisar em supermercados, postos de gasolina, lojas de ferragens, e assim por diante, em cerca de 23.000 pontos de venda em 87 cidades. Todo mês ele tabula 80.000 preços, de tudo, desde alface até um check-up médico. A Figura 7-5 mostra o peso das categorias maiores no índice de preços ao consumidor em dezembro de 2010. Por exemplo, os combustíveis, principalmente a gasolina, responsável por 5% do IPC em dezembro de 2010. Assim, quando o preço da gasolina subiu 150 %, passando de $1,61 o galão no fim de 2008 para $3,96 o galão em maio de 2011, o efeito foi aumentar a IPC aproximadamente 1,5 vez 5% – ou seja, em torno de 7,5%.

FIGURA 7-5 Composição do índice de preços ao consumidor em 2010 Esse gráfico mostra a participação percentual dos principais tipos de gastos do IPC como os de dezembro de 2010. Moradia, alimentação, transporte e combustível compõem aproximadamente 73% da cesta básica do IPC. (Os números não somam 100% em decorrência do arredondamento.) Fonte: Bureau of Labor Statistics.

A Figura 7-6 mostra como IPC mudou desde que a medição começou, em 1913. Desde 1940, o IPC tem aumentado de forma constante, embora seus aumentos anuais percentuais nos últimos anos tenham sido muito menores do que os da década de 1970 e início de 1980. Usa-se uma escala logarítmica para que as variações percentuais iguais no IPC tenham a mesma inclinação.

FIGURA 7-6 IPC, 1913-2011 Desde 1940, o IPC tem aumentado de forma constante nos Estados Unidos. Mas os aumentos percentuais anuais nos últimos anos têm sido bem menores do que os da década de 1970 e início de 1980. (O eixo vertical é medido em escala logarítmica, de modo que as mudanças percentuais iguais ao IPC têm a mesma inclinação.) Fonte: Bureau of Labor Statistics.

Os Estados Unidos não são o único país que calcula o índice de preços ao consumidor. Na verdade, quase todos os países têm um. Como se pode esperar, as cestas básicas que compõem esses índices diferem bastante de país para país. Nos países pobres, onde as pessoas gastam uma proporção elevada da renda apenas para se alimentar, os alimentos compõem uma grande parte do índice de preços. Entre os países de alta renda, as diferenças nos padrões de consumo levam a diferenças nos índices de preços: o índice de preços japonês coloca um peso maior no peixe cru e um peso menor na carne e o índice de preços francês coloca um peso maior no vinho.

Outras medidas de preços Há duas outras medidas de preços que também são amplamente usadas para monitorar as variações de preços em toda a economia. Uma delas é o índice de preços ao produtor (IPP, que costumava ser conhecido como índice de preços por atacado). Como o próprio nome sugere, o índice de preços ao produtor mede o custo de uma cesta típica de bens e serviços – contendo matérias-primas, como aço, eletricidade, carvão, e assim por diante – comprada pelos produtores. Como os produtores de commodities são relativamente rápidos em aumentar os preços quando percebem uma mudança na demanda geral de seus bens, o IPP, muitas vezes, responde a pressões inflacionistas ou deflacionistas mais rapidamente do que o IPC. Por isso, muitas vezes o IPP é considerado um “sinal de alerta” de mudanças na taxa de inflação. A outra medida de preços amplamente usada é o deflator do PIB, que não é exatamente um índice de preços, ainda que tenha a mesma finalidade. Lembre-se como distinguimos

entre o PIB nominal (PIB a preços correntes) e PIB real (PIB calculado usando os preços de um ano-base). O deflator do PIB para determinado ano é igual a 100 vezes a proporção entre o PIB nominal para esse ano e o PIB real para esse ano. Uma vez que o PIB real é expresso em dólares de 2005, o deflator do PIB para 2005 é igual a 100. Se o PIB nominal dobra, mas o PIB real não muda, o deflator do PIB indica que o nível de preços agregado dobrou. Talvez o ponto mais importante sobre as diferentes taxas de inflação geradas por essas três medidas de preços seja que elas geralmente se movem em conjunto (embora o índice de preços ao produtor tenda a flutuar mais do que qualquer uma das outras duas medidas). A Figura 7-7 mostra as variações anuais percentuais nos três índices desde 1930. Por todas as três medidas, a economia dos Estados Unidos experimentou deflação durante os primeiros anos da Grande Depressão, inflação durante a Segunda Guerra Mundial, inflação acelerada durante os anos 1970 e um retorno à estabilidade relativa dos preços na década de 1990. Observe no gráfico, a propósito, os altos e baixos dramáticos dos preços ao produtor entre 2000 e 2010; isso reflete grandes oscilações nos preços de energia e de alimentos, que desempenham um papel muito maior no IPP do que no IPC ou no deflator do PIB.

FIGURA 7-7 O IPC, o IPP e o deflator do PIB Como o gráfico mostra, as três medidas diferentes da inflação, o IPP (mais escura), o IPC (mais clara) e o deflator do PIB (em preto), geralmente se movem em conjunto. Cada um revelou uma aceleração drástica da inflação durante os anos 1970 e um retorno à estabilidade relativa de preços na década de 1990. Fontes: Bureau of Labor Statistics e Bureau of Economic Analysis.

Economia em ação Indexação pelo IPC

Embora o PIB seja um número muito importante para a formulação da política econômica, as estatísticas oficiais do PIB não têm efeito direto sobre a vida das pessoas. O IPC, ao contrário, tem um impacto direto e imediato sobre milhões de pessoas. A razão é que muitos pagamentos estão vinculados, ou “indexados”, ao IPC – o valor pago aumenta ou diminui quando o IPC sobe ou desce. A prática de indexar pagamentos ao índice de preços ao consumidor remonta de longe, desde os primórdios dos Estados Unidos como nação. Em 1780 a Assembleia Legislativa do Estado de Massachusetts reconheceu que o pagamento de seus soldados que lutaram contra os ingleses precisava ser aumentado por causa da inflação que havia ocorrido durante a Guerra Revolucionária. O Legislativo adotou uma fórmula que tornou o soldo dos militares proporcional ao custo de uma cesta básica, composta de 5 sacos de milho, de libras de carne, 10 libras de lã de ovelha e 16 libras de couro para sola de sapato. Hoje, 54 milhões de pessoas, a maioria delas idosa ou deficiente, recebem pagamentos da Previdência Social, um programa nacional de aposentadoria que responde por quase um quarto do total atual de gastos federais – mais que o orçamento de defesa. O montante do pagamento da Previdência Social de uma pessoa é determinado por uma fórmula que reflete seus pagamentos anteriores no sistema, bem como outros fatores. Além disso, todos os pagamentos da Previdência Social são ajustados todos os anos para compensar qualquer aumento nos preços ao consumidor em relação ao ano anterior. O IPC é usado para calcular a estimativa oficial da taxa de inflação usada para ajustar anualmente esses pagamentos. Assim, cada ponto percentual adicionado à estimativa oficial da taxa de inflação aumenta de 1% no montante dos cheques recebidos por dezenas de milhões de indivíduos. Outros pagamentos do governo também são indexados pelo IPC. Além disso, os escalões do imposto de renda, as faixas de níveis de renda que determinam o percentual de imposto de renda do contribuinte, também são indexados ao IPC. (Um indivíduo em uma faixa de renda mais elevada paga um imposto de renda maior, pois o sistema é progressivo.) A indexação também se estende ao setor privado, onde muitos contratos privados, incluindo alguns acordos salariais, contêm cláusulas relativas ao custo de vida que ajustam os pagamentos na proporção das variações no IPC. Como o IPC desempenha um papel tão importante e direto na vida das pessoas, é uma cifra politicamente sensível. O Bureau of Labor Statistics, que nos Estados Unidos é o órgão encarregado de calcular o IPC, toma muito cuidado na coleta e interpretação das informações de preços e consumo. Usa um método complexo, em que se pesquisa as famílias para determinar o que compram e onde compram, e uma amostra cuidadosamente selecionada de lojas é monitorada para se obter os preços representativos.

Breve revisão ■ A variação no nível do preço agregado é mensurada pelo custo de aquisição de determinada cesta básica em anos diferentes. Um índice de preços para determinado

ano é o custo da cesta básica naquele ano normalizada de tal modo que esse índice seja igual a 100 no ano-base selecionado. ■ A taxa de inflação é calculada como variação percentual no índice de preços. O índice de preços mais utilizado é o índice de preços ao consumidor ou IPC, que monitora o custo de uma cesta de bens e serviços de consumo. O índice de preços ao produtor, ou IPP, faz o mesmo para bens e serviços usados como insumo nas empresas. O deflator do PIB mede o nível do preço agregado como a proporção do PIB nominal para o real vezes 100. Essas três medidas normalmente se comportam de forma bastante semelhante.

Teste seu entendimento 7-3 1. Considere a Tabela 7-3, mas suponha que a cesta básica seja composta por 100 laranjas, 50 toranjas e 200 limões. Como isso muda os índices de preços antes e após a geada? Explique. Generalize sua explicação de como a composição da cesta básica afeta o índice de preços. 2. Para cada um dos seguintes eventos, como um economista que usou uma cesta básica 10 anos atrás criaria um viés ao medir a variação no custo de vida de hoje? a. Uma família típica possui mais carros do que há uma década. Durante esse tempo, o preço médio de um carro aumentou mais do que o preço médio de outros bens. b. Há dez anos, praticamente nenhum domicílio tinha acesso à Internet de banda larga. Agora, muitas famílias têm esse acesso e o preço tem caído regularmente a cada ano. 3. O índice de preços ao consumidor nos Estados Unidos (período base 1982-1984) foi 214.537 em 2009 e 218.056 em 2010. Calcule a taxa de inflação de 2009 a 2010. As respostas estão no fim do livro.

Caso empresarial Conseguindo números antes da publicação do PIB O PIB importa. Investidores e líderes empresariais estão sempre ansiosos para obter os últimos números. Quando o Bureau of Economic Analysis libera a primeira estimativa do PIB de cada trimestre, normalmente no 27° ou 28° dia do mês após o término do trimestre, invariavelmente essa é uma grande notícia. Na verdade, muitas empresas e outros participantes da economia ficam tão ansiosos para saber o que está acontecendo em relação ao PIB que nem querem esperar o cálculo oficial. Assim, uma quantidade de entidades produz números que podem ser usados para prever o que o número oficial do PIB vai informar. Vamos falar sobre duas dessas organizações, a empresa de consultoria em economia Macroeconomic Advisers e o Institute of Supply Management sem fins lucrativos. A Macroeconomic Advisers tem uma abordagem direta: produz seu próprio cálculo do PIB com base em dados brutos do governo dos Estados Unidos. Mas enquanto o Bureau

of Economic Analysis calcula o PIB apenas com base trimestral, a Macroeconomic Advisers produz cálculos mensais. Isso significa que os clientes podem, por exemplo, analisar as estimativas de janeiro e fevereiro e ter um bom palpite sobre qual vai ser o PIB do primeiro trimestre, que também inclui março. Os cálculos mensais são obtidos analisando uma série de medidas mensais que monitoram as compras, tal como vendas de carros e caminhões, construção de novas habitações e exportações. O Institute for Supply Management (ISM) tem uma abordagem muito diferente. Baseia-se em pesquisas mensais de gerenciamentos de compras – ou seja, executivos responsáveis pela compra de suprimentos – a quem basicamente se questiona se as suas empresas estão aumentando ou reduzindo a produção. (Dizemos “basicamente” porque o ISM faz uma longa lista de perguntas.) As respostas às perguntas são liberadas na forma de índices que mostram o percentual de empresas que estão em expansão. Obviamente, esses índices não informam diretamente o que está acontecendo em relação ao PIB. Mas, historicamente, os índices do ISM têm estado fortemente relacionados com a taxa de crescimento do PIB, e essa relação histórica pode ser usada para traduzir os dados do ISM como “alerta precoce” do cálculo do PIB. Então, se você não pode esperar pelos números do PIB trimestralmente, não está sozinho. O setor privado tem respondido à demanda, e você pode obter os dados corrigidos todos os meses.

Questões para pensar 1. Por que as empresas se importam tanto com o PIB, que até ficam ansiosas em obter cálculos antecipados? 2. Como os métodos da Macroeconomic Advisers e do Institute of Supply Manegement se encaixam nas três formas diferentes de cálculo do PIB? 3. Se as empresas privadas estão produzindo cálculos do PIB, por que precisamos do Bureau of Economic Analysis?

Resumo 1. Os economistas monitoram os fluxos de dinheiro entre setores com as contas de produto e renda nacionais ou contas nacionais. As famílias obtêm renda através dos mercados de fatores, proveniente de salários, juros de bônus e lucros recebidos pelos proprietários de ações e pela renda da terra. Além disso, recebem transferências do governo. A renda disponível, o total da renda familiar menos impostos mais as transferências governamentais, é alocada entre gasto de consumo (C) e poupança privada. Através dos mercados financeiros, a poupança privada e os empréstimos concedidos por estrangeiros são canalizados para gastos de investimento (I), para a tomada de empréstimos do governo, e para a tomada de empréstimos por estrangeiros. As compras governamentais de bens e serviços (G) são pagas através das receitas fiscais e por qualquer tomada de empréstimo pelo governo. Exportações (X) geram um fluxo de fundos para dentro do país proveniente do resto do mundo.

Importações (IM) geram um fluxo de fundos para o resto do mundo. Os estrangeiros também podem comprar ações e bônus nos mercados financeiros do país. 2. O produto interno bruto, ou PIB, mede o valor de todos os bens e serviços finais produzidos na economia. Não inclui o valor dos bens e serviços intermediários, mas inclui estoques e exportações líquidas (X − IM). Pode ser calculado de três formas: somando o valor agregado por todos os produtores; somando todos os gastos em bens e serviços finais produzidos internamente, o que leva à equação do PIB = C + I + G + X − IM, também conhecida como gasto agregado; ou somando todas as rendas pagas por empresas nacionais aos fatores de produção. Esses três métodos são equivalentes porque, na economia como um todo, a renda total paga pelas empresas nacionais aos fatores de produção deve ser igual ao gasto total em bens e serviços finais produzidos internamente. 3. PIB real é o valor dos bens e serviços finais produzidos, calculado usando os preços de um ano-base selecionado. Exceto no ano-base, o PIB real não é o mesmo que o PIB nominal, o produto agregado que se calcula com base nos preços correntes. A análise da taxa de crescimento do produto agregado deve usar o PIB real, pois assim se elimina qualquer variação no valor do produto agregado devido unicamente à variação do preço. O PIB real per capita é uma medida do produto agregado médio total por pessoa, mas, por si só, não é uma meta adequada de política pública. As estatísticas americanas do PIB real são sempre expressas em dólares encadeados. 4. Para medir o nível do preço agregado, os economistas calculam o custo de comprar uma cesta básica. Um índice de preços é a razão entre o custo corrente dessa cesta básica e o custo em um ano-base selecionado, multiplicado por 100. 5. A taxa de inflação é a variação percentual anual de um índice de preços, geralmente com base no índice de preços ao consumidor, ou IPC, a medida mais comum do nível de preços agregado. Um índice semelhante para bens e serviços adquiridos pelas empresas é o índice de preços ao produtor, ou IPP. Por fim, os economistas também usam o deflator do PIB, que mede o nível de preços através do cálculo da razão entre o PIB nominal e o PIB real multiplicado por 100.

Palavras-chave Contas de renda e produto nacional (contas nacionais), p. 158 Gastos de consumo, p. 158 Ações, p. 159 Bônus, p. 159 Transferências governamentais, p. 159 Renda disponível, p. 159 Poupança privada, p. 159 Mercados financeiros, p. 159 Tomada de empréstimos do governo, p. 159 Compras governamentais de bens e serviços, p. 159 Exportações, p. 159

Importações, p. 160 Inventários, p. 160 Gastos de investimento, p. 160 Venda de bens e serviços finais, p. 160 Bens e serviços intermediários, p. 160 Produto interno bruto (PIB), p. 160 Gasto agregado, p. 161 Valor agregado, p. 162 Exportações líquidas, p. 165 Produto agregado, p. 166 PIB real, p. 167 PIB nominal, p. 167 Dólares encadeados, p. 168 PIB per capita, p. 168 Nível de preços agregado, p. 170 Cesta básica, p. 170 Índice de preço, p. 170 Taxa de inflação, p. 171 Índice de preços ao consumidor (IPC), p. 171 Índice de preços ao produtor (IPP), p. 172 Deflator do PIB, p. 172

Problemas 1. A seguir é apresentado um diagrama do fluxo circular simplificado para a economia de Micronia. (Observe que não há nenhum investimento em Micronia.) a. Qual é o valor do PIB em Micronia? b. Qual é o valor das exportações líquidas? c. Qual é o valor da renda disponível? d. O fluxo total de dinheiro saindo dos domicílios – a soma dos impostos pagos e dos gastos de consumo – é igual ao fluxo total de dinheiro nos domicílios? e. Como o governo de Micronia financia as compras de bens e serviços?

2. A seguir é mostrado um diagrama de fluxo circular mais complexo para a economia de Micronia. (Observe que Micronia tem mercados de investimento e financeiro.) a. Qual é o valor do PIB em Micronia? b. Qual é o valor das exportações líquidas? c. Qual é o valor da renda disponível? d. Será que o fluxo total de dinheiro saindo dos domicílios – a soma dos impostos pagos, os gastos dos consumidores e a poupança privada – é igual ao fluxo de dinheiro total que entra nos domicílios?

3. Os componentes do PIB na tabela a seguir foram produzidos pelo Bureau of Economic Analysis.

a. Calcule os gastos de consumo de 2010. b. Calcule os gastos de investimento privado de 2010. c. Calcule as exportações líquidas de 2010. d. Calcule as compras de bens e serviços e os gastos de investimento do governo de 2010. e. Calcule o produto interno bruto de 2010. f. Calcule os gastos de consumo em serviços como percentual dos gastos de consumo total. g. Calcule as exportações de 2010 como percentual das importações. h. Calcule as compras governamentais destinadas à defesa nacional de 2010 como percentual das compras de bens e serviços do governo federal. 4. A pequena economia de Pizzania produz três bens (pão, queijo e pizza), cada bem produzido por uma empresa separada. As empresas de pão e queijo produzem todos os insumos que necessitam para fazer pão e queijo. A empresa de pizza usa pão e queijo de outras empresas para fazer as pizzas. Todas as três empresas empregam trabalho para ajudar a produzir os bens. A diferença entre o valor dos bens vendidos e a soma dos custos do trabalho e dos insumos é o lucro da empresa. A tabela a seguir

resume as atividades das três empresas, quando o total do pão e do queijo produzido é vendido para a empresa de pizza como insumo na produção de pizzas.

a. Calcule o PIB como valor agregado na produção. b. Calcule o PIB como gasto em bens e serviços finais. c. Calcule o PIB como renda de fatores. 5. Na economia de Pizzania (do Problema 4), o pão e o queijo produzidos são vendidos tanto para a empresa de pizza como insumo na produção de pizza quanto aos consumidores como bens finais. A tabela a seguir resume as atividades das três empresas.

a. Calcule o PIB como valor agregado na produção. b. Calcule o PIB como gasto em bens e serviços finais. c. Calcule o PIB como renda de fatores. 6. Qual das seguintes transações seria incluída no PIB dos Estados Unidos? a. A Coca-Cola constrói um novo local de engarrafamento nos Estados Unidos. b. A Delta Airlines vende um de seus aviões para a Korean Air. c. A senhora Moneybags compra ações da Disney. d. Um produtor de vinhos da Califórnia produz uma garrafa de Chardonnay e a vende a um cliente em Montreal, no Canadá. e. Um americano compra um frasco de perfume francês em Paris. f. Uma editora produz muitas cópias de um novo livro. Os livros não são vendidos nesse ano, de modo que a editora adiciona os livros excedentes aos estoques. 7. A economia de Britannica produz três bens: computadores, DVDs e pizza. A tabela a seguir mostra os preços e a produção dos três bens para os anos de 2010, 2011 e 2012.

a. Qual é a variação percentual na produção de cada um dos bens de 2010 para 2011 e de 2011 para 2012? b. Qual é a variação percentual nos preços de cada um dos bens de 2010 para 2011 e de 2011 para 2012? c. Calcule o PIB nominal em Britannica para cada um dos três anos. Qual é a variação percentual do PIB nominal de 2010 para 2011 e de 2011 para 2012? d. Calcule o PIB real em Britannica usando preços de 2010 para cada um dos três anos. Qual é a variação percentual do PIB real de 2010 para 2011 e de 2011 para 2012? 8. A tabela a seguir mostra os dados do PIB nominal (em bilhões de dólares), do PIB real (em bilhões de dólares de 2005) e a população (em milhares) dos Estados Unidos em 1960, 1970, 1980, 1990, 2000 e 2010. O nível de preços dos Estados Unidos subiu de forma consistente ao longo do período entre 1960 e 2010.

a. Por que o PIB real é maior do que o PIB nominal para todos os anos até 2000 e menor em 2010? b. Calcule a variação percentual do PIB real de 1960 a1970, de 1970 a1980, de 1980 a 1990, de 1990 a 2000 e de 2000 a 2010. Que período teve a taxa de crescimento mais alta? c. Calcule o PIB real per capita para cada um dos anos da tabela. d. Calcule a variação percentual do PIB real per capita de 1960 a 1970, de 1970 a 1980, de 1980 a 1990, de 1990 a 2000 e de 2000 a 2010. Que período teve a taxa de crescimento mais alta? e. Como a variação percentual no PIB real se compara com a variação no PIB real per capita? Qual é maior? Esse tipo de relação é esperada? 9. A faculdade de Eastland está preocupada com o aumento do preço dos livros que os estudantes têm que comprar. Para identificar melhor o aumento no preço dos livros, o

reitor solicitou a indicação do estudante mais brilhante do departamento de economia, para criar um índice de preços de livros. O estudante médio adquire três livros de inglês, dois de matemática e quatro de economia por ano. Os preços desses livros estão indicados na tabela a seguir.

a. Qual foi a variação percentual no preço do livro de inglês entre 2010 e 2012? b. Qual foi a variação percentual no preço do livro de matemática entre 2010 e 2012? c. Qual foi a variação percentual no preço do livro de economia entre 2010 e 2012? d. Usando 2010 como ano-base, crie um índice de preços para esses livros para todos os anos. e. Qual é a variação percentual no índice de preços de 2010 a 2012? 10. O índice de preços ao consumidor, ou IPC, mede o custo de vida para o consumidor médio multiplicando o preço de cada categoria de gasto (moradia, alimentação, e assim por diante) por uma medida da importância desse gasto na cesta básica do consumidor médio e depois somando todas essas categorias. No entanto, usando dados do índice de preços ao consumidor, podemos ver que as variações no custo de vida para diferentes tipos de consumidores podem mudar bastante. Vamos comparar o custo de vida de uma pessoa aposentada hipotética e de um estudante universitário hipotético. Vamos supor que a cesta de uma pessoa aposentada seja composta da seguinte forma: 10% de moradia, 15% de alimentação, 5% de transporte, 60% de assistência médica, 0% de educação e 10% de recreação. A cesta do universitário é composta da seguinte forma: 5% de moradia, 15% de alimentação, 20% de transporte, 0% de cuidados médicos, 40% de educação e 20% de lazer. A tabela a seguir mostra o IPC de julho de 2011 para cada uma das categorias relevantes. IPC julho 2011 Habitação 220,2 Alimentos 228,3 Transporte 216,2 Assistência médica 400,3 Educação 206,2 Recreação 113,5

Calcule o IPC geral para a pessoa aposentada e para o universitário, multiplicando o

IPC de cada categoria pelo peso relativo dessa categoria para o indivíduo e depois somando as categorias. O IPC geral para todos os itens, em julho de 2011, foi 225,9. Como o cálculo do IPC para a aposentada e para o universitário se compara com o IPC geral? 11. Todo mês, o Bureau of Labor Statistics divulga o resumo do índice de preço ao consumidor do mês anterior. Acesse a home page do Bureau of Labor Statistics em www.bls.gov. Coloque o cursor sobre “Economic Releases” e, depois, no menu suspenso que aparece, clique em “Major Economic Indicators”. Uma vez na página “Major Economic Indicators”, clique em “Consumer Price Index”. Use os números “not seasonally adjusted”. Nessa página, sob o título “Table of Contents”, clique em “Consumer Price Index Summary”. Qual foi o IPC do mês anterior? Como variou em relação ao mês anterior? Como o IPC é comparado com o do mesmo mês do ano anterior?

12. A tabela a seguir fornece o PIB real anual (em bilhões de dólares de 2005) e o PIB nominal (em bilhões de dólares) para os Estados Unidos. a) Calcule o deflator do PIB para cada ano. b) Use o deflator do PIB para calcular a taxa de inflação para todos os anos, exceto 2006. 13. A tabela a seguir contém dois índices de preços para os anos de 2008, 2009 e 2010: o deflator do PIB e o IPC. Para cada índice de preços, calcule a taxa de inflação de 2008 para 2009 e de 2009 para 2010. Ano 2008 2009 2010

Deflator do PIB 108.582 109.729 110.992

IPC 215.303 214.537 218.056

14. O custo da educação universitária nos Estados Unidos está aumentando a uma taxa mais rápida do que a inflação. A tabela a seguir mostra o custo médio da educação universitária nos Estados Unidos durante o ano letivo que começou em 2009 e para o ano letivo que começou em 2010 para as faculdades pública e privada. Suponha que os custos listados na tabela sejam os únicos custos experimentados pelos vários estudantes universitários em um ano. a. Calcule o custo de vida para um estudante universitário médio em cada categoria entre 2009 e 2010. b. Calcule uma taxa de inflação para cada tipo de estudante universitário entre 2009 e 2010.

www.worthpublishers.com/krugmanwells

C APÍ T UL O 8

Desemprego e Inflação

O que você vai aprender neste capítulo • Como o desemprego é medido e como a taxa de desemprego é calculada. • A importância da taxa de desemprego para a economia. • A relação entre a taxa de desemprego e o crescimento econômico. • Os fatores que determinam a taxa natural de desemprego. • Os custos econômicos da inflação. • Como a inflação e a deflação criam ganhadores e perdedores • Por que os responsáveis pela política econômica tentam manter estável a taxa de inflação.

Um dilema muito inglês O Banco da Inglaterra é uma instituição venerável – tão venerável que faz o Federal Reserve, o seu homólogo americano, parecer um jovem emergente. O Old Lady of Threadneedle Street, como o banco é conhecido, tem gerido oferta de dinheiro da GrãBretanha por três séculos – injetando oferta de moeda, quando a economia precisa de um impulso, colocando o pé no freio quando a inflação se aproxima. Mas no início de 2011, não estava claro o que o banco deveria fazer. A inflação britânica estava crescendo: em fevereiro de 2011, os preços ao consumidor estavam 4,4% mais altos do que no ano anterior, uma taxa de crescimento muito acima do nível de conforto do banco. Ao mesmo tempo, a economia britânica ainda estava sofrendo os efeitos colaterais de uma severa recessão e desemprego, que especialmente entre os jovens era preocupantemente alto. Assim, o banco deveria se preocupar em combater a inflação ou deveria se tentar reduzir o desemprego? As opiniões estavam fortemente divididas. O banco enfrentava “um verdadeiro problema de credibilidade”, declarou Patrick Minford, professor da Universidade de Cardiff, que recomendou ao banco combater a inflação, elevando as taxas de juros. O aumento da inflação refletia fatores temporários e logo reverteria o curso, respondeu Adam Posen, membro do Comitê de Política do Banco, que argumentou que qualquer aperto arriscaria colocar a Grã- Bretanha em uma recessão prolongada. Não importa quem estivesse certo, a disputa destacou as principais preocupações da política macroeconômica. Desemprego e inflação são os dois grandes males da macroeconomia. Assim, os dois principais objetivos da política macroeconômica são o baixo nível de desemprego e a estabilidade de preços, usualmente definido como taxa de inflação baixa, mas positiva. Infelizmente, por vezes, esses objetivos parecem estar em conflito uns com os outros: com frequência, os economistas alertam que as políticas destinadas a combater o desemprego correm o risco de aumentar a inflação; inversamente, as políticas destinadas a derrubar a inflação podem aumentar o desemprego. A natureza do trade-off entre baixo desemprego e baixa inflação, juntamente com o dilema da política que cria, é um tema reservado para capítulos posteriores. Este capítulo

fornece uma visão geral dos fatos básicos sobre desemprego e inflação: como são medidos, como afetam os consumidores e as empresas, e como mudam ao longo do tempo.

A taxa de desemprego A Grã-Bretanha tinha uma taxa de desemprego de 7,7% no início de 2011, em comparação com apenas 5,7% em 2008. Isso era ruim. Mas a taxa de desemprego nos Estados Unidos era ainda pior. A Figura 8-1 mostra a taxa de desemprego nos Estados Unidos de 1948 a meados de 2011: como se observa, o desemprego aumentou durante o período de recessão entre 2007 e 2009 e caiu apenas modestamente em 2011. O que o aumento da taxa de desemprego significa, e por que é um fator tão significativo na vida das pessoas? Para entender por que os formuladores de política econômica prestam tanta atenção ao emprego e ao desemprego, precisamos entender como este é definido e medido.

FIGURA 8-1 Taxa de desemprego nos Estados Unidos, 1948-2011 A taxa de desemprego tem flutuado amplamente ao longo do tempo. Sempre se eleva durante as recessões, como mostrado pelas barras sombreadas. Geralmente, mas nem sempre, cai durante os períodos de expansão econômica. Fontes: Bureau of Labor Statistics e National Bureau of Economic Research.

Definição e medida da taxa de desemprego É fácil definir emprego: você está empregado, somente se tem um emprego. Emprego é o número total de pessoas empregadas atualmente, em tempo integral ou parcial. Desemprego, no entanto, é um conceito muito mais sutil. Só porque uma pessoa não está trabalhando, não significa que consideramos essa pessoa desempregada. Por exemplo, em janeiro de 2012, havia 35,8 milhões de aposentados nos Estados Unidos recebendo cheques da Previdência Social. A maioria deles, provavelmente, estava feliz por não estar mais trabalhando, por isso não consideramos desempregado alguém que se

acomodou em uma confortável e merecida aposentadoria. Havia também 8,6 milhões de trabalhadores americanos com deficiência, recebendo benefícios da Previdência porque eram incapazes de trabalhar. Mais uma vez, embora não estivessem trabalhando, normalmente não seriam considerados desempregados. O U.S. Census Bureau, a agência federal encarregada de coletar dados sobre desemprego, considera desempregado aqueles que estão “sem emprego, à procura de emprego, e disponíveis para o trabalho”. Aposentados não contam, porque não estão procurando emprego; as pessoas com deficiência não contam, porque não estão disponíveis para o trabalho. Mais especificamente, um indivíduo é considerado desempregado se não tem um emprego atualmente e se esteve em busca de emprego durante as últimas quatro semanas. Assim, o desemprego é medido como o número total de pessoas que estão ativamente à procura de trabalho, mas não estão empregados atualmente. A força de trabalho de um país é a soma do emprego e do desemprego – isto é, a soma dos que estão trabalhando com os que atualmente estão à procura de trabalho. A taxa de participação na força de trabalho, definida como a proporção da população em idade de trabalhar que está na força de trabalho, é calculada da seguinte forma:

(8-1)

A taxa de desemprego, definida como a porcentagem do total de pessoas na força de trabalho que estão desempregadas, é calculada da seguinte maneira:

(8-2) Para calcular os números que entram no cálculo da taxa de desemprego, o U.S. Census Bureau realiza uma pesquisa mensal chamada Pesquisa Corrente da População, através de entrevistas, a uma amostra aleatória de 60 mil famílias americanas. O questionário indaga se as pessoas estão empregadas atualmente. Se não estão, pergunta se estiveram em busca de emprego nas últimas quatro semanas. Os resultados são então ampliados, usando estimativas da população total, para calcular o número total de empregados e desempregados americanos.

A importância da taxa de desemprego

Em geral, a taxa de desemprego é um bom indicador da facilidade ou da dificuldade de encontrar emprego, de acordo com as condições correntes da economia. Quando a taxa de desemprego é baixa, quase todas as pessoas que estão à procura de emprego conseguem encontrar. Em 2000, quando a taxa média de desemprego era de 4%, os empregos eram tão abundantes que os empregadores falavam de um “teste do espelho” para conseguir emprego: se você estivesse respirando (e, portanto, a sua respiração iria embaçar o espelho), encontraria emprego. Por outro lado, em 2010, com a taxa de desemprego acima de 9% durante todo o ano, era muito difícil encontrar emprego. Na verdade, havia quase cinco vezes o número de pessoas em busca de emprego em relação às vagas. Embora a taxa de desemprego seja um bom indicador das condições atuais do mercado de trabalho, não deve ser tomada literalmente como porcentagem das pessoas que querem trabalhar, mas não conseguem emprego. Isso porque, em alguns aspectos, a taxa de desemprego exagera a dificuldade que as pessoas têm de encontrar emprego. Mas em outros aspectos, o oposto é verdadeiro – taxas baixas de desemprego podem esconder uma frustração profunda em relação à falta de oportunidades de emprego.

Como a taxa de desemprego pode superestimar o verdadeiro nível de desemprego É normal que quem esteja à procura de emprego demore pelo menos algumas semanas para encontrar um emprego adequado. No entanto, um trabalhador que está bastante confiante de encontrar um emprego, mas ainda não aceitou uma oferta, é contado como desempregado. Como consequência, a taxa de desemprego nunca cai para zero, mesmo em tempos de expansão econômica, quando os empregos são abundantes. Mesmo no mercado de trabalho flutuante em 2000, quando era fácil encontrar emprego, a taxa de desemprego ainda era de 4%. Mais adiante, neste capítulo, vamos discutir com maior profundidade as razões pelas quais o desemprego medido persiste mesmo quando os empregos são abundantes.

Como a taxa de desemprego pode subestimar o verdadeiro nível de desemprego Frequentemente, pessoas que gostariam de trabalhar, mas não estão trabalhando, são contadas como desempregadas. Em especial, um indivíduo que, por enquanto, tenha desistido de procurar emprego, porque não há empregos disponíveis – digamos, um metalúrgico demitido em uma zona siderúrgica em profundo declínio – não é contado como desempregado porque não esteve em busca de emprego nas quatro semanas anteriores. As pessoas que querem trabalhar, mas que responderam no questionário oficial que não estão atualmente à procura porque veem poucas perspectivas de encontrar emprego, dada a situação do mercado de trabalho, são chamadas trabalhadores desencorajados. Por não contar os trabalhadores desencorajados, a taxa de

desemprego medida pode subestimar a porcentagem das pessoas que querem trabalhar, mas não conseguem encontrar emprego. Trabalhadores desencorajados fazem parte de um grande grupo de trabalhadores que estão marginalmente ligados à força de trabalho. Há pessoas que informam que gostariam de ter um emprego e que procuraram emprego no passado recente, mas que no momento não estão à procura. Essas, também, não são incluídas no cálculo da taxa de desemprego. Finalmente, outra categoria de trabalhadores frustrados com a capacidade de encontrar emprego, mas que não são contados como desempregados, são os subempregados: trabalhadores que gostariam de encontrar emprego em tempo integral, mas que atualmente estão trabalhando em tempo parcial “por motivos econômicos” – isto é, porque não conseguem encontrar emprego em tempo integral. Esses também não são incluídos na contagem da taxa de desemprego. O Bureau of Labor Statistics é a agência federal que calcula a taxa oficial de desemprego. Também calcula “medidas de subutilização do trabalho” mais amplas, que incluem três categorias de trabalhadores frustrados. A Figura 8-2 mostra o que acontece com a taxa de desemprego medida quando se contam os trabalhadores desencorajados, trabalhadores marginalmente ligados à força de trabalho e os subempregados. A medida mais ampla do desemprego e do subemprego, conhecida como U-6, é a soma dessas três medidas mais os desempregados. É substancialmente mais elevada do que a taxa que normalmente aparece na mídia. Mas a U-6 e a taxa de desemprego, essencialmente, se movem em paralelo, de modo que as variações na taxa de desemprego continuam a ser um bom guia sobre o que está acontecendo no mercado global de trabalho, incluindo os trabalhadores frustrados.

FIGURA 8-2 Medidas alternativas do desemprego, 1994-2011 O número do desemprego que geralmente é citado na mídia conta alguém como desempregado somente se esteve em busca de emprego durante as últimas quatro semanas. Medidas mais amplas também contam os trabalhadores desencorajados, os trabalhadores marginalmente ligados à força de trabalho e os subempregados. Essas medidas mais abrangentes mostram uma taxa mais alta de desemprego, mas se movem em paralelo com a medida padrão. Fonte: Bureau of Labor Statistics.

Finalmente, é importante perceber que a taxa de desemprego varia consideravelmente entre grupos demográficos. Tudo o mais mantido constante, geralmente é mais fácil de os trabalhadores mais experientes e entre 25 e 54 anos de idade encontrar emprego. Para os trabalhadores mais jovens, bem como para os trabalhadores que se aproximam da aposentadoria, é mais difícil encontrar emprego. A Figura 8-3 mostra as taxas de desemprego nos Estados Unidos para diferentes grupos demográficos em dezembro de 2007, quando a taxa geral de desemprego de 5,0% era baixa em termos históricos. Como se pode ver, neste momento a taxa de desemprego para os trabalhadores afro-americanos era muito superior à média nacional; a taxa de desemprego para adolescentes brancos (entre 16 e 19 de idade) era quase três vezes a média nacional e a taxa de desemprego de 33,1%, dos adolescentes afro-americanos, era mais de seis vezes a média nacional. (Tenha em mente que um adolescente não é considerado desempregado, mesmo se não estiver trabalhando, a menos que o adolescente esteja à procura de emprego, mas não consiga encontrá-lo.) Assim, mesmo num momento em que a taxa de desemprego geral esteja relativamente baixa, alguns grupos têm dificuldade em encontrar emprego.

FIGURA 8-3 Taxa de desemprego de grupos distintos, 2007 A taxa de desemprego varia muito entre grupos demográficos diversos. Por exemplo, embora a taxa geral de desemprego em dezembro de 2007 fosse de 5,0%, a taxa de desemprego entre os adolescentes afro-americanos era de 33,1%. Por conseguinte, mesmo durante períodos de baixa taxa de desemprego, o desemprego continua a ser um problema sério para alguns grupos. Fonte: Bureau of Labor Statistics.

Portanto, devemos interpretar a taxa de desemprego como um indicador das condições gerais do mercado de trabalho, e não como um valor exato, medida literal da porcentagem de pessoas que não conseguem encontrar emprego. Ainda assim, a taxa de desemprego é um indicador muito bom: seus altos e baixos refletem de perto variações econômicas que têm um impacto significativo na vida das pessoas. Passemos agora às causas dessas flutuações.

Crescimento e desemprego Comparada com a Figura 8-1, a Figura 8-4 mostra a taxa de desemprego dos Estados Unidos em um período mais curto, os 33 anos de 1978 a 2011. As barras sombreadas representam períodos de recessão. Como se vê, em cada recessão, sem exceção, a taxa de desemprego subiu. A severa recessão entre 2007 e 2009, assim como a anterior entre 1981 e 1982, resultou em um enorme aumento do desemprego.

FIGURA 8-4 Desemprego e recessões, 1978-2011 Essa figura mostra a taxa de desemprego das últimas três décadas, com as barras sombreadas indicando as recessões. É claro que o desemprego sempre aumenta durante as recessões e normalmente cai durante as expansões. Mas tanto no início dos anos 1990 como no início dos anos 2000, o desemprego continuou a aumentar durante algum tempo depois de o fim da recessão haver sido declarado. Fontes: Bureau of Labor Statistics e National Bureau of Economic Research.

Do mesmo modo, durante os períodos de expansão econômica, a taxa de desemprego geralmente cai. A longa expansão econômica da década de 1990 trouxe a taxa de desemprego abaixo de 4% e a expansão de meados da década de 2000 trouxe a taxa para 4,7%. No entanto, é importante reconhecer que expansões econômicas não são sempre períodos de queda do desemprego. Observem na Figura 8-4 os períodos imediatamente subsequentes das duas recessões recentes, entre 1990 e 1991 e 2001. Em cada caso, a taxa de desemprego continuou a aumentar por mais de um ano após a recessão ter terminado oficialmente. A explicação, em ambos os casos, é que, embora a economia estivesse crescendo, o ritmo não era rápido o suficiente para reduzir a taxa de desemprego. A Figura 8-5 é um diagrama de dispersão mostrando dados dos Estados Unidos para o período de 1949 a 2010. O eixo horizontal mede a taxa de crescimento anual do PIB real – a porcentagem em que o PIB real de cada ano variou em comparação com o PIB real do ano anterior. (Observe que houve nove anos em que o crescimento foi negativo, ou seja, o PIB encolheu.) O eixo vertical mede a variação da taxa de desemprego em relação ao ano anterior em pontos percentuais. Cada ponto representa a taxa de crescimento observada do PIB real e a variação da taxa de desemprego de determinado ano. Por exemplo, em 2000, a taxa média de desemprego caiu para 4,0% de 4,2 % em 1999, mostrado como um valor de −0,2 ao longo do eixo vertical para o ano 2000. No mesmo período, o PIB real cresceu 3,7%. Esse é o valor mostrado no eixo horizontal para o ano 2000.

FIGURA 8-5 Crescimento e variações no desemprego, 1949-2010 Cada ponto mostra a taxa de crescimento da economia e a variação na taxa de desemprego para um ano específico entre 1949 e 2010. Por exemplo, em 2000, a economia cresceu 3,7% e a taxa de desemprego caiu 0,2 ponto percentual, de 4,2% para 4,0%. Em geral, a taxa de desemprego caiu quando a taxa de crescimento foi acima da média de 3,25% ao ano e aumentou quando o crescimento foi abaixo da média. O desemprego sempre subiu quando o PIB real caiu. Fontes: Bureau of Labor Statistics e Bureau of Economic Analysis.

A tendência de queda do diagrama de dispersão na Figura 8-5 deixa claro que geralmente há uma forte relação negativa entre o crescimento da economia e a taxa de desemprego. Anos de elevado crescimento do PIB real também foram anos em que a taxa de desemprego caiu, e anos de crescimento baixo ou negativo do PIB real foram anos em que a taxa de desemprego subiu. A linha vertical mais clara na Figura 8-5, no valor de 3,25%, indica a taxa média de crescimento do PIB real no período entre 1949 e 2010. Os pontos situados à direita da linha vertical são anos de crescimento acima da média. Nesses anos, o valor no eixo vertical geralmente é negativo, significando queda na taxa de desemprego. Ou seja, anos de crescimento acima da média normalmente foram anos em que a taxa de desemprego estava caindo. Por outro lado, pontos situados à esquerda da linha verde vertical foram anos de crescimento abaixo da média. Nesses anos, o valor no eixo vertical geralmente é positivo, o que significa crescimento da taxa de desemprego. Ou seja, anos de crescimento abaixo da média geralmente foram anos em que a taxa de desemprego aumentou. O período em que o PIB real está crescendo, mas abaixo da média, e o desemprego está aumentando é chamado de recuperação sem criação de emprego ou “recessão de crescimento”. Desde 1990, houve três recessões, todas seguidas de recuperação sem criação de emprego. Mas as verdadeiras recessões, períodos de queda do PIB real, são especialmente dolorosas para os trabalhadores. Como ilustrado pelos pontos à esquerda da linha vertical mais escura na Figura 8-5 (representando os anos em que a taxa de crescimento do PIB real foi negativa), a queda do PIB real sempre está associada com um aumento da taxa de desemprego, causando grandes dificuldades para as famílias.

Economia em ação Fracasso no lançamento Em março de 2010, quando a situação de trabalho dos Estados Unidos estava pior, a Harvard Law Record publicou uma breve nota intitulada “Estudantes de direito desempregados vão trabalhar por $160K mais benefícios”. Em um tom de zombaria, o autor admitiu ter se graduado pela Harvard Law School no ano anterior, sem ter sequer uma oferta de emprego. A nota perguntava: “A marca no currículo é tão ruim que supera o H vermelho?” A resposta, certamente, foi que o problema não era o currículo – era a economia. Períodos de desemprego elevado são especialmente difíceis para os recém-formados, que geralmente têm dificuldade em obter qualquer tipo de trabalho em tempo integral. Qual era o grau de dificuldade em março de 2010, no período em que a nota foi escrita? Os pesquisadores da San Francisco Fed analisaram a experiência profissional de nível universitário, com idades entre 21 e 23, e seus resultados estão na Figura 8-6.

FIGURA 8-6 Taxa de desemprego para recém-graduados universitários, 1995-2010 Fontes: Federal Reserve Bank de San Francisco, 2010 e Bureau of Labor Statistics.

Embora a taxa de desemprego geral para graduados universitários com 25 anos ou mais, mesmo no seu auge, era de apenas 5%, o desemprego entre os recém-graduados com idades entre 21 e 23 atingiu o pico em 2010, com 10,7%. E muitos daqueles que estavam empregados estavam em empregos apenas de tempo parcial. Em dezembro de 2007, no início da recessão de 2007-2009, 83% dos recém-graduados com idade inferior a 24 anos que ainda não estavam mais na escola estavam empregados em tempo integral. Em dezembro de 2009, esse número caiu para apenas 72%. Muitos graduados da faculdade estavam com dificuldade de iniciar a vida profissional.

Um ano mais tarde, a situação estava começando a melhorar, mas vagarosamente: em dezembro de 2010, 74% dos recém-graduados tinham empregos de tempo integral. O mercado de trabalho dos Estados Unidos tem um longo caminho a percorrer antes de ser capaz de oferecer aos graduados universitários – e aos jovens em geral – o tipo de oportunidade que merecem.

Breve revisão ■ A força de trabalho, igual ao emprego mais o desemprego, não inclui trabalhadores desencorajados. As estatísticas do trabalho tampouco contêm dados sobre subemprego. A taxa de participação na força de trabalho é a porcentagem da população com 16 anos ou mais que está no mercado de trabalho. ■ A taxa de desemprego é um indicador da situação do mercado de trabalho, não é uma medida exata da porcentagem de trabalhadores que não conseguem emprego. Ela pode superestimar o verdadeiro nível de desemprego porque os trabalhadores muitas vezes passam algum tempo em busca de um emprego, mesmo quando há grande oferta de emprego. Mas também pode subestimar o verdadeiro nível de desemprego, porque exclui os trabalhadores desencorajados, os marginalmente ligados à força de trabalho e os subempregados. ■ Há uma relação negativa forte entre o crescimento do PIB real e as variações na taxa de desemprego. Quando o crescimento está acima da média, a taxa de desemprego geralmente cai. Quando o crescimento está abaixo da média, a taxa de desemprego geralmente aumenta – um período chamado de recuperação sem criação de emprego que normalmente segue uma recessão profunda.

Teste seu entendimento 8-1 1. Suponha que o advento de sites de emprego permite que os candidatos a emprego encontrem emprego mais rapidamente. Que efeito isso terá sobre a taxa de desemprego ao longo do tempo? Suponha também que esses sites de emprego incentivem aqueles que tinham desistido de procurar emprego a começar de novo. Que efeito isso terá sobre a taxa de desemprego? 2. Em qual dos casos seguintes um trabalhador é contado como desempregado? Explique. a. Rosa, uma trabalhadora mais velha, foi demitida e desistiu de procurar emprego há meses. b. Anthony, um professor de ensino fundamental que não está trabalhando durante os três meses de férias de verão. c. Grace, uma bancária que foi demitida de um banco e atualmente está procurando uma nova posição. d. Sérgio, um músico de formação clássica, que só consegue trabalho para tocar em festas locais. e. Natasha, uma estudante universitária que voltou para a faculdade porque os empregos estavam escassos.

3. Dentre as seguintes afirmações, quais são consistentes com a relação observada entre o crescimento do PIB real e as variações na taxa de desemprego? Quais não são? a. O aumento da taxa de desemprego acompanha a queda do PIB real. b. Uma recuperação excepcionalmente forte dos negócios está associada com uma porcentagem maior da força de trabalho sendo empregada. c. Um crescimento negativo do PIB real está associado à queda na taxa de desemprego. As respostas estão no fim do livro.

A taxa natural de desemprego O crescimento econômico rápido tende a reduzir a taxa de desemprego. Mas até onde a taxa de desemprego pode cair? Talvez você esteja tentado a responder a zero, mas isso não é viável. Ao longo do último meio século, a taxa de desemprego nacional nunca desceu abaixo de 2,9%. Como pode haver tanto desemprego quando tantas empresas têm tanta dificuldade em encontrar trabalhadores? Para responder a essa questão, precisamos examinar a natureza dos mercados de trabalho e por que eles normalmente levam a uma medida de desemprego substancial, mesmo quando há empregos abundantes. Nosso ponto de partida é a observação de que, mesmo no melhor dos tempos, trabalhos são constantemente criados e destruídos.

Criação e destruição do emprego Mesmo durante os bons tempos, a maioria dos americanos conhecia alguém que tivesse perdido o emprego. Em julho de 2007, a taxa de desemprego dos Estados Unidos era de apenas 4,7%, relativamente baixa para os padrões históricos. No entanto, nesse mês havia 4,5 milhões de “separações do emprego” – rescisões de emprego que ocorreram por demissão ou saída voluntária. Há muitas razões para tais perdas de emprego. Uma delas é a mudança estrutural na economia: há ascensão e queda das indústrias à medida que surgem novas tecnologias e os gostos dos consumidores mudam. Por exemplo, o emprego na indústria de alta tecnologia, como telecomunicações, cresceu muito na década de 1990, mas caiu fortemente após 2000. No entanto, a mudança estrutural também pode resultar na criação de novos empregos: desde 2000, o número de empregos no setor de saúde dos Estados Unidos subiu muito à medida que novas tecnologias médicas e o envelhecimento da população aumentou a demanda por cuidados médicos. Empresas individuais também destroem empregos por má qualidade de gestão ou má sorte. Por exemplo, em 2005, a General Motors anunciou planos para eliminar 30 mil empregos depois de vários anos de vendas fracas, embora empresas japonesas, como a Toyota, anunciavam planos de abrir novas fábricas na América do Norte para atender à crescente demanda por seus carros. Criação e destruição contínua de empregos são características das economias modernas, tornando inevitável uma quantidade natural de desemprego. Dentro desse montante que ocorre naturalmente, existem dois tipos de desemprego – friccional e estrutural.

Desemprego friccional Quando um trabalhador perde o emprego involuntariamente, em razão da destruição do emprego, muitas vezes não aceita o primeiro emprego novo oferecido. Por exemplo,

suponha que uma programadora altamente qualificada, demitida porque uma linha de produto da sua empresa de software não teve sucesso, vê um anúncio procurando secretária on-line. Ela poderia responder e conseguir o emprego, mas seria uma tolice. Em vez disso, ela deve dedicar seu tempo a procurar um emprego que leve em conta suas qualificações e pague em conformidade. Além disso, trabalhadores individuais estão constantemente deixando o emprego voluntariamente, geralmente por motivos pessoais, como mudança na família, insatisfação e melhores perspectivas em outro lugar. Os economistas dizem que os trabalhadores que passam muito tempo à procura de emprego estão dedicados à busca de emprego. Se todos os trabalhadores e todos os empregos fossem idênticos, não haveria necessidade da busca de emprego, e se as informações sobre empregos e trabalhadores fossem perfeitas a busca de emprego seria muito rápida. Na prática, no entanto, é normal que um trabalhador que perde o emprego, ou um jovem trabalhador que procura seu primeiro emprego, gaste pelo menos algumas semanas pesquisando. Desemprego friccional é o desemprego em decorrência do tempo que os trabalhadores gastam em busca de emprego. Certa quantidade de desemprego friccional é inevitável em razão do constante processo de mudança econômica. Assim, mesmo em 2007, um ano com taxa de desemprego baixa, havia 62 milhões de “separações do emprego”, em que os trabalhadores deixaram ou perderam seus empregos. O emprego total cresceu porque essas separações foram mais do que compensadas por mais de 63 milhões de contratações. Inevitavelmente, alguns desses trabalhadores, que deixaram ou perderam seus empregos, passaram pelo menos algum tempo desempregado, assim como os novos trabalhadores que estão entrando na força de trabalho. A Figura 8-7 mostra a média dos fluxos mensais de 2007 dos trabalhadores entre três estados: empregados, desempregados e fora da força de trabalho. A figura sugere o nível de agitação que está ocorrendo constantemente no mercado de trabalho; uma consequência inevitável dessa agitação é um número significativo de trabalhadores que ainda não encontraram seu próximo trabalho – isto é, desemprego friccional.

FIGURA 8-7 Fluxo do mercado de trabalho em um mês médio em 2007 Mesmo em 2007, um ano de baixo desemprego, um grande número de trabalhadores ficava empregado e desempregado todos os meses. Em média, a cada mês, em 2007, 1,781 milhão de desempregados foram empregados e 1,929 milhão de empregados ficaram desempregados. Fonte: Bureau of Labor Statistics.

Uma quantidade limitada de desemprego friccional é relativamente inofensiva e pode até ser uma coisa boa. A economia é mais produtiva se os trabalhadores gastam algum tempo para encontrar empregos adequados à sua qualificação e os trabalhadores desempregados, por um breve período enquanto buscam o emprego certo, não experimentam grandes dificuldades. Na verdade, quando a taxa de desemprego é baixa, os períodos de desemprego tendem a ser muito curtos, sugerindo que a maior parte do desemprego é friccional. A Figura 8-8 mostra a composição do desemprego nos Estados Unidos em 2007, quando a taxa de desemprego era de apenas 4,6%. Trinta e seis por cento dos desempregados estavam assim há menos de cinco semanas, e apenas 33% estavam desempregados há 15 semanas ou mais. Apenas um em cada seis trabalhadores desempregados eram considerados “desempregados de longa duração” – desempregados há 27 semanas ou mais.

FIGURA 8-8 Distribuição dos desempregados por duração do desemprego, 2007 Em anos em que a taxa de desemprego é baixa, a maioria dos trabalhadores desempregados fica sem emprego apenas durante curtos períodos. Em 2007, um ano de baixo desemprego, 36% dos desempregados estava sem emprego há menos cinco semanas e 67% há pelo menos 15 semanas. A brevidade do período de desemprego para a maioria dos trabalhadores em 2007 sugere que maior parte do desemprego era friccional. Fonte: Bureau of Labor Statistics.

No entanto, em períodos de aumento do desemprego, os trabalhadores tendem a ficar desempregados por longos períodos de tempo, sugerindo que uma parcela menor de desemprego é friccional. Em 2010, a fração dos trabalhadores considerados “desempregados de longo prazo” havia saltado para 43%.

Desemprego estrutural Existe desemprego friccional mesmo quando o número de pessoas que procuram emprego é igual ao número de empregos ofertados – isto é, a existência de desemprego friccional não significa que há excedente de mão de obra. Porém, às vezes, há um excesso persistente de candidatos a emprego em um mercado de trabalho em particular, mesmo quando a economia está no pico do ciclo econômico. Pode haver mais trabalhadores com uma qualificação especial em relação aos empregos disponíveis usando essa qualificação, ou pode haver mais trabalhadores em determinada região geográfica do que há empregos disponíveis nessa região. O desemprego estrutural é aquele que resulta de uma quantidade maior de pessoas procurando emprego em um mercado de trabalho em particular do que há vagas disponíveis ao salário atual. O modelo de oferta e demanda nos diz que o preço de um bem, serviço ou fator de produção tende a se mover em direção ao equilíbrio que iguala a quantidade ofertada com a quantidade demandada. Em geral, isso é igualmente verdade nos mercados de trabalho. A Figura 8-9 mostra um mercado de trabalho típico. A curva da demanda de trabalho indica que, quando o preço do trabalho, ou seja, o salário, aumenta, os empregadores demandam menos trabalho. A curva da oferta de trabalho indica que quando o preço do trabalho aumenta mais trabalhadores estão dispostos a oferecer trabalho à taxa de salário vigente. Essas duas forças coincidem para levar a um nível de salário de equilíbrio para

qualquer tipo de trabalho em um local particular. Essa taxa de salário de equilíbrio é apresentada como WE.

FIGURA 8-9 Efeito do salário mínimo sobre o mercado de trabalho Quando o governo estabelece um salário mínimo, W F, que excede o equilíbrio da taxa de salário nesse mercado, W E, o número de trabalhadores, QS, que gostaria de trabalhar pelo salário mínimo é maior do que o número de trabalhadores, QD, demandados àquele nível de salário. Esse excedente de trabalho é considerado desemprego estrutural.

Mesmo com a taxa de salário de equilíbrio WE, ainda haverá algum desemprego friccional. Isso porque sempre haverá alguns trabalhadores envolvidos na busca de emprego, mesmo quando o número de empregos disponíveis for igual ao número de trabalhadores procurando emprego. Mas não haveria nenhum desemprego estrutural nesse mercado de trabalho. O desemprego estrutural ocorre quando o nível de salário é, por alguma razão, persistentemente superior a WE. Vários fatores podem acarretar um nível de salário que exceda WE, sendo os mais importantes o salário mínimo, sindicatos, salários de eficiência, efeitos colaterais de políticas públicas e desajustes entre empregados e empregadores.

Salários mínimos Um salário mínimo é um piso do governo sobre o preço do trabalho. Nos Estados Unidos, o salário mínimo nacional no início de 2012 era de $7,25 por hora. Para muitos trabalhadores americanos, o salário mínimo é irrelevante, pois o salário de equilíbrio de

mercado está bem acima desse piso. Mas, para os trabalhadores menos qualificados, o salário mínimo tem que ser cumprido – afeta os salários que as pessoas de fato recebem e pode levar ao desemprego estrutural em mercados específicos. Outros países ricos têm salários mínimos superiores, por exemplo, em 2012 o salário mínimo francês era de €9,22 por hora, ou cerca de $11,90. Nesses países, o salário mínimo tem que ser cumprido para uma gama maior de trabalhadores. A Figura 8-9 mostra essa situação. Nesse mercado há um piso legal para os salários, WF, que está acima do salário de equilíbrio, WE. Isso ocasiona um excedente persistente no mercado de trabalho: a quantidade de trabalho ofertada, QS, é maior do que a quantidade demandada, QD. Em outras palavras, mais pessoas querem trabalhar do que as que conseguem encontrar emprego por salário mínimo, resultando um desemprego estrutural. Tendo em conta que os salários mínimos – ou seja, salários mínimos legalmente obrigatórios – geralmente causam desemprego estrutural, questiona-se por que os governos os impõem. A justificativa é a de ajudar a garantir que as pessoas que trabalham possam obter uma renda suficiente para pagar pelo menos um estilo de vida minimamente confortável. No entanto, isso pode ter um custo, pois pode eliminar a oportunidade de alguns trabalhadores dispostos a trabalhar por salários mais baixos. Como ilustrado na Figura 8-9, não só existem mais vendedores de trabalho do que compradores, mas também há menos pessoas trabalhando por um salário mínimo (QD) do que haveria sem o salário mínimo (QE). Embora os economistas concordem amplamente que um salário mínimo elevado tenha o efeito de redução de emprego mostrado na Figura 8-9, há algum questionamento sobre se essa é uma boa descrição de como o salário mínimo nos Estados Unidos realmente funciona. O salário mínimo nos Estados Unidos é muito baixo em comparação com o de outros países ricos. Por três décadas, desde os anos 1970 até meados dos anos 2000, o salário mínimo americano era tão baixo que não equivalia a uma obrigação para a grande maioria dos trabalhadores. Além disso, alguns pesquisadores produziram evidência de que aumentos no salário mínimo realmente levam a emprego mais alto, quando, como aconteceu uma vez nos Estados Unidos, o salário mínimo é baixo em comparação com os salários médios. Eles argumentam que as empresas que empregam trabalhadores pouco qualificados, por vezes, restringem sua contratação, a fim de manter os salários baixos, e que, portanto, o salário mínimo às vezes pode ser aumentado sem qualquer perda na quantidade de empregos. A maioria dos economistas, no entanto, concorda que um salário mínimo suficientemente elevado leva ao desemprego estrutural.

Sindicatos Ações de sindicatos podem ter efeito similar ao do salário mínimo, resultando em desemprego estrutural. Pela negociação coletiva em favor de todos os trabalhadores de uma empresa, os sindicatos muitas vezes conseguem salários mais altos para os

empregadores do que de outro modo os trabalhadores conseguiriam caso negociassem individualmente. Esse processo, conhecido como negociação coletiva, se destina a fazer a balança do poder de barganha pesar mais para o lado dos trabalhadores do que para o lado dos empregadores. Os sindicatos exercem o poder de barganha ameaçando as empresas com greves, a recusa coletiva de trabalhar. A ameaça de greve pode ter consequências graves para as empresas. Nesses casos, os trabalhadores que agem coletivamente podem exercer mais poder do que se agissem individualmente. Os empregadores têm agido para combater o poder de barganha dos sindicatos com ameaças e aplicando bloqueios – períodos em que os trabalhadores sindicalizados são dispensados e se tornam desempregados – enquanto se contrata trabalhadores substitutos. Quando os trabalhadores têm maior poder de negociação, tendem a exigir e receber salários mais altos. Os sindicatos também negociam sobre benefícios, tais como seguro saúde e aposentadoria, que podem ser considerados adicionais de salário. Na verdade, os economistas que estudaram o efeito dos sindicatos sobre os salários verificaram que os trabalhadores sindicalizados ganham salários e benefícios mais generosos do que os trabalhadores não sindicalizados com qualificações semelhantes. O resultado desses salários aumentados é o mesmo que o do salário mínimo: os sindicatos empurram o salário dos trabalhadores para cima do salário de equilíbrio. Consequentemente, há mais pessoas dispostas a trabalhar com o salário que está sendo pago do que empregos disponíveis com esse salário. Tal como o salário mínimo que as empresas são obrigadas a cumprir, isso causa desemprego estrutural. Nos Estados Unidos, no entanto, em razão do baixo nível de sindicalização, a quantidade de desemprego gerado por demandas sindicais provavelmente é muito pequena.

Salários de eficiência Ações por parte das empresas também podem contribuir para o desemprego estrutural. As empresas podem optar por pagar salários de eficiência – salário estabelecidos acima do salário de equilíbrio como incentivo para um melhor desempenho. Os empregadores podem achar necessário usar esse incentivo por várias razões. Por exemplo, os empregadores muitas vezes têm dificuldade em observar diretamente o quanto um funcionário se esforça. Eles podem, no entanto, estimular um esforço maior, pagando salários acima do mercado: os empregados que recebem esses salários mais altos são mais propensos a trabalhar duro para garantir que não sejam demitidos, o que os faria perder seus salários. Quando muitas empresas pagam salários de eficiência, o resultado é um conjunto de trabalhadores que querem emprego, mas não consegue encontrá-los. Assim, o uso de salários de eficiência por parte das empresas leva ao desemprego estrutural.

Efeitos colaterais de políticas públicas Além disso, políticas públicas destinadas a ajudar os trabalhadores que perdem seus

empregos podem ocasionar desemprego estrutural, como efeito colateral não intencional. Países economicamente mais avançados proporcionam vantagens aos trabalhadores demitidos, como forma de mantê-los até que encontrem um novo emprego. Nos Estados Unidos, esses benefícios normalmente substituem apenas uma pequena fração da renda do trabalhador e expiram após 26 semanas. (Em alguns casos, isso se estendeu a 99 semanas, durante o período de desemprego elevado entre 2009 e 2011.) Em outros países, particularmente na Europa, os benefícios são mais generosos e duram mais. A desvantagem dessa generosidade é que reduz o incentivo do trabalhador de encontrar rapidamente um novo emprego. Subsídios de desemprego generosos, em alguns países europeus, muitas vezes são tidos como uma das causas da “euro esclerose”, a persistência do desemprego em nível elevado que aflige uma série de economias europeias.

Desencontros entre empregados e empregadores Leva tempo para que os trabalhadores e as empresas se adaptem às mudanças na economia. O resultado pode ser uma incompatibilidade entre o que os empregados têm a oferecer e o que os empregadores estão procurando. A ausência de qualificação adequada é uma forma; por exemplo, no rescaldo da crise imobiliária de 2009, havia mais trabalhadores da construção civil à procura de emprego do que havia empregos disponíveis. Outra forma é a geográfica como em Michigan, que teve um excedente prolongado de trabalhadores após o declínio da indústria automobilística. Até que a incompatibilidade fosse resolvida por meio de uma queda bastante grande dos salários dos trabalhadores excedentários que induz ao treinamento ou recolocação, houve desemprego estrutural.

Comparação global Desemprego natural em torno da ocde A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é uma associação de países relativamente ricos, principalmente na Europa e na América do Norte, mas incluindo também o Japão, a Coreia, a Nova Zelândia e a Austrália. Entre outras atividades, a OCDE reúne dados sobre as taxas de desemprego dos paísesmembros. A figura mostra a taxa média de desemprego, que é uma estimativa grosseira da taxa natural de desemprego, para membros selecionados da OCDE, no período entre 2000 e 2010. A barra mais escura no meio mostra a média de todos os países. A taxa natural de desemprego dos Estados Unidos parece estar um pouco abaixo da média; a de muitos países europeus (inclusive as principais economias, Alemanha, Itália e França) está acima da média. Muitos economistas acham que as taxas de desemprego da Europa, que são persistentemente altas, resultam de políticas do governo, como salários mínimos altos e subsídios generosos de desemprego, que desencoraja a oferecer empregos e desencoraja os trabalhadores a aceitar empregos, acarretando taxas altas de

desemprego estrutural. Talvez por causa do seu nome, as pessoas costumam imaginar que a taxa natural de desemprego seja uma constante que não muda ao longo do tempo e não pode ser afetada por políticas públicas. Nenhuma das duas proposições é verdadeira. Queremos salientar dois fatos: a taxa natural de desemprego varia ao longo do tempo e pode ser influenciada pela política pública.

A taxa natural de desemprego Como algum desemprego friccional é inevitável e como muitas economias também sofrem com o desemprego estrutural, certa quantidade de desemprego é normal, ou “natural”. O desemprego real flutua em torno desse nível normal. A taxa natural de desemprego é a taxa de desemprego normal, em torno da qual a taxa de desemprego real flutua. É a taxa que surge dos efeitos do desemprego friccional somado ao estrutural. Desemprego cíclico é o desvio da taxa real de desemprego da taxa natural; ou seja, é a diferença entre as taxas real e natural de desemprego. Como o nome sugere, desemprego cíclico é a quota de desemprego que surge da desaceleração do ciclo econômico. Veremos no Capítulo 16 que a taxa natural de desemprego da economia é uma variável política crítica porque o governo não pode manter a taxa de desemprego persistentemente abaixo da taxa natural, sem ocasionar inflação acelerada. Podemos resumir as relações entre os vários tipos de desemprego como segue:

(8-3)

(8-4)

Variações na taxa natural de desemprego Tanto os economistas do setor privado como as agências governamentais precisam de estimativas da taxa natural de desemprego para projeções e análises de políticas públicas. Quase todas essas estimativas mostram que a taxa natural dos Estados Unidos sobe e desce ao longo do tempo. Por exemplo, a Comissão de Orçamento do Congresso, a agência independente que conduz o orçamento e as análises econômicas para o Congresso, acredita que a taxa de desemprego natural dos Estados Unidos foi de 5,3% em 1950, subiu para 6,3% no final da década de 1970, mas hoje caiu para 5,2%. Os países europeus experimentaram oscilações ainda maiores em suas taxas naturais de desemprego. O que faz a taxa natural de desemprego variar? Os fatores mais importantes são mudanças nas características da força de trabalho, mudanças nas instituições do mercado de trabalho e mudanças nas políticas governamentais. Analisemos brevemente cada um desses fatores.

Mudanças nas características da força de trabalho Em 2007 a taxa de desemprego global nos Estados Unidos foi de 4,6%. Trabalhadores jovens, no entanto, tinham taxas de desemprego muito mais elevadas: 15,7% para os adolescentes e 8,2% para os trabalhadores com idade entre 20 e 24 anos. Trabalhadores com idade entre 25 e 54 anos tinham taxa de desemprego de apenas 3,7%. Em geral, as taxas de desemprego tendem a ser mais baixas para trabalhadores com experiência do que para os inexperientes. Como os trabalhadores experientes tendem a permanecer mais tempo em determinado emprego do que os inexperientes, eles têm menor desemprego friccional. Além disso, como os trabalhadores mais velhos são mais propensos do que os jovens a ter família para sustentar, têm maior incentivo para encontrar e manter um emprego. Uma das razões para a taxa natural de desemprego ter aumentado durante a década de 1970 foi a grande elevação no número de novos trabalhadores – crianças nascidas durante a grande expansão de natalidade após a Segunda Guerra Mundial entraram na força de trabalho, assim como uma porcentagem crescente de mulheres casadas. Como mostra a Figura 8-10, tanto a porcentagem da força de trabalho com menos de 25 anos como a porcentagem de mulheres na força de trabalho cresceu rapidamente durante os anos 1970. Até o final da década de 1990, porém, a participação das mulheres na força de trabalho se estabilizou e a porcentagem de trabalhadores com menos de 25 caiu drasticamente.

FIGURA 8-10 Mudança na força de trabalho dos Estados Unidos, 1948-2011 Na década de 1970 a porcentagem da força de trabalho composta por mulheres subiu rapidamente, assim como a porcentagem de menores de 25 anos. Essas variações refletiram a entrada de um grande número de mulheres na força de trabalho remunerada pela primeira vez e o fato de que os nascidos após a Segunda Guerra Mundial estavam em idade de trabalhar. Provavelmente, o motivo pelo qual a taxa natural de desemprego subiu é que esses trabalhadores eram relativamente inexperientes. Hoje, a força de trabalho tem muito mais experiência, uma das possíveis razões de a taxa natural ter caído desde 1970. Fonte: Bureau of Labor Statistics.

Como resultado, hoje a força de trabalho como um todo é mais experiente do que era na década de 1970, uma razão provável que a taxa natural de desemprego hoje seja menor do que na década de 1970.

Mudanças nas instituições do mercado de trabalho Como dissemos anteriormente, a negociação de salários pelos sindicatos acima do nível de equilíbrio de mercado pode ser uma fonte de desemprego estrutural. Alguns economistas acreditam que sindicatos fortes sejam uma das razões para a alta taxa natural de desemprego na Europa, discutida em Comparações globais. Nos Estados Unidos, a queda acentuada no número de membros dos sindicados depois de 1980 pode ter sido uma das razões da queda da taxa natural de desemprego entre os anos 1970 e 1990. Outras mudanças institucionais também podem estar influindo. Por exemplo, alguns economistas acreditam que as agências de emprego temporário, que têm proliferado nos últimos anos, reduziram o desemprego friccional, ajudando a combinar trabalhadores com empregadores. Além disso, conforme discutido no estudo de caso no final do capítulo, sites como o Monster.com também podem ter reduzido o desemprego friccional. A mudança tecnológica, juntamente com as instituições do mercado de trabalho, também pode afetar a taxa natural de desemprego. A mudança tecnológica tende a aumentar a demanda por trabalhadores qualificados que estão familiarizados com a

tecnologia relevante e reduzir a demanda por trabalhadores não qualificados. A teoria econômica prevê que os salários devem aumentar para os trabalhadores qualificados e diminuir para os trabalhadores não qualificados. Mas se o salário dos trabalhadores não qualificados não pode diminuir – digamos, em consequência da obrigação do cumprimento do salário mínimo –, irá resultar em aumento do desemprego estrutural e, portanto, uma taxa natural de desemprego mais elevada.

Mudanças nas políticas governamentais Um salário mínimo alto pode causar desemprego estrutural. Subsídios de desemprego generosos podem aumentar tanto o desemprego estrutural como o friccional. Assim, as políticas governamentais destinadas a ajudar os trabalhadores podem ter o efeito colateral indesejável de aumentar a taxa natural de desemprego. Contudo, algumas políticas governamentais podem reduzir a taxa natural. Dois exemplos são o treinamento profissional e subsídios ao emprego. Os programas de treinamento profissional devem proporcionar qualificação aos trabalhadores desempregados que amplie a gama de trabalhos que possam executar. Subsídios ao emprego são pagamentos, quer para trabalhadores ou para empregadores que fornecem incentivo financeiro para aceitar ou oferecer empregos.

Economia em ação Desemprego estrutural no leste da Alemanha Em um dos eventos mais dramáticos da história mundial, um levante popular espontâneo em 1989 derrubou a ditadura comunista na Alemanha Oriental. Os cidadãos rapidamente derrubaram o muro que dividiu Berlim, e em curto espaço de tempo as Alemanhas Ocidental e Oriental se tornaram uma nação democrática. E aí começaram os problemas. Após da reunificação, o emprego na Alemanha Oriental caiu drasticamente e a taxa de desemprego disparou. Essa taxa elevada de desemprego persiste: apesar de receber ajuda maciça do governo federal alemão, a economia da antiga Alemanha Oriental manteve-se persistentemente deprimida, com uma taxa de desemprego de mais de 16% em 2008. Outras partes da antiga Europa Oriental tiveram desempenho muito melhor. Por exemplo, a República Checa, que muitas vezes era citada, junto com a Alemanha Oriental, como uma economia comunista relativamente bem-sucedida, tinha taxa de desemprego de apenas 5,5% em julho de 2007. O que deu errado na Alemanha Oriental? A resposta é que, sem que ninguém tenha culpa, a Alemanha Oriental se viu vítima de grave desemprego estrutural. Quando a Alemanha foi unificada, tornou-se claro que os trabalhadores na Alemanha Oriental eram muito menos produtivos do que seus primos do oeste. No entanto, os sindicatos inicialmente exigiram e receberam nível salarial igual ao da Alemanha Ocidental. Esses salários têm declinado mas apenas lentamente, pois os trabalhadores da Alemanha Oriental não querem ser tratados como inferiores aos seus

colegas da Alemanha Ocidental. Enquanto isso, a produtividade na antiga Alemanha Oriental tem se mantido bem abaixo dos níveis da Alemanha Ocidental, em parte por causa de décadas de investimentos equivocados sob a ditadura. O resultado tem sido a persistência de grande descompasso entre o número de trabalhadores demandados e o número de pessoas que procuram emprego e um desemprego estrutural persistentemente elevado na antiga Alemanha Oriental.

Breve revisão ■ O desemprego friccional ocorre porque os trabalhadores desempregados se envolvem na busca de emprego, tornando inevitável certa quantidade de desemprego. ■ Uma variedade de fatores – salário mínimo, sindicatos, salários de eficiência e efeitos colaterais de políticas públicas, tais como subsídios de desemprego e desencontros entre empregados e empregadores, leva ao desemprego estrutural. ■ O desemprego friccional mais o estrutural é igual ao desemprego natural, gerando uma taxa natural de desemprego. Por outro lado, o desemprego cíclico muda com o ciclo econômico. O desemprego real é a soma do desemprego natural e do desemprego cíclico. ■ A taxa natural de desemprego pode mudar com o tempo, devido a mudanças nas características da força de trabalho e das instituições. Acredita-se que as políticas públicas destinadas a ajudar os trabalhadores são uma das razões para a alta taxa natural de desemprego na Europa.

Teste seu entendimento 8-2 1. Explique o seguinte. a. O desemprego friccional é maior quando o ritmo do avanço tecnológico se acelera. b. O desemprego estrutural é maior quando o ritmo do avanço tecnológico acelera. c. O desemprego friccional é responsável por uma parcela maior do desemprego total quando a taxa de desemprego é baixa. 2. Por que a negociação coletiva tem o mesmo efeito geral sobre o desemprego que um salário mínimo? Ilustre com um gráfico. 3. Suponha que, no pico do ciclo econômico, os Estados Unidos aumentou drasticamente os benefícios para os trabalhadores desempregados. Explique o que vai acontecer com a taxa natural de desemprego. As respostas estão no fim do livro.

Inflação e deflação Como mencionado na história no início deste capítulo, no início de 2011 os oficiais britânicos estavam preocupados com duas coisas: a taxa de desemprego e a inflação estavam altas. Houve um debate feroz sobre qual preocupação deveria ter prioridade. Por que devemos nos preocupar com a inflação? Por que os formuladores de política econômica ficam ansiosos quando observam que o índice de inflação está subindo? A resposta é que a inflação pode impor custos sobre a economia – mas não da maneira que a maioria das pessoas acredita.

O nível de preços não importa... A principal queixa contra a inflação, o aumento no nível de preços, é que ela torna todos mais pobres – afinal, determinada quantia de dinheiro compra menos. Mas a inflação não torna todos mais pobres. Para saber o porquê, imagine o que aconteceria se os Estados Unidos fizessem o que outros países fizeram ao longo do tempo – substituir o dólar por uma nova moeda. Um exemplo recente desse tipo de conversão de moeda aconteceu em 2002, quando a França, assim como vários outros países europeus, substituíram a moeda nacional, o franco, por uma nova moeda pan-europeia, o euro. As pessoas entregaram suas moedas e notas de francos, e receberam notas e moedas de euro em troca, a uma taxa de câmbio de exatamente 6,55957 francos por euro. Ao mesmo tempo, todos os contratos foram reformulados em euros a essa mesma taxa. Por exemplo, um cidadão francês que tivesse uma dívida hipotecária de 500 mil francos, passaria a ter uma dívida de 500.000/6,55957 = 76.224,51 euros. Se um contrato de trabalho especificasse que o contratado receberia 100 francos por hora, o contrato passaria a especificar um salário de 100/6.55957 = 5,2449 euros por hora, e assim por diante. Podemos imaginar a mesma coisa nos Estados Unidos, substituindo o dólar por um “novo dólar ” a uma taxa de, digamos, sete para um. Se você devesse US$140 mil pela compra da casa, tornar-se-ia uma dívida de US$20 mil “novos”. Se você tivesse um salário de US$14 por hora, passaria a US$2 “novos” por hora, e assim por diante. Isso levaria o nível geral de preços dos Estados Unidos de volta ao nível que era em 1962, quando John F. Kennedy era presidente. E então o resultado seria que todos estariam mais ricos, já que os preços seriam apenas um sétimo do que eram? Claro que não. Os preços seriam mais baixos, como também os salários e os rendimentos em geral. Se você corta o salário de um trabalhador para um sétimo do seu valor anterior, e também corta todos os preços para um sétimo do seu valor anterior, o salário real do trabalhador – o salário dividido pelo nível de preços – não muda. De fato, trazer o nível geral de preços de volta ao nível que tinha durante a administração Kennedy não teria nenhum efeito sobre o poder de compra geral, pois isso reduziria a renda exatamente tanto quanto reduziria os preços. Por outro lado, o aumento dos preços que realmente ocorreu desde o início da década

de 1960 não tornou os Estados Unidos mais pobres porque também aumentou a renda na mesma proporção: a renda real – renda dividida pelo nível de preços – não foi afetada pelo aumento nos preços globais. A moral dessa história é que o nível de preços não importa: os Estados Unidos não seriam mais ricos do que são agora se o nível geral de preços ainda fosse tão baixo como em 1961; por outro lado, o aumento dos preços ao longo dos últimos 50 anos não tornou os americanos mais pobres.

...Mas a taxa de variação dos preços importa A conclusão de que o nível de preços não importa parece implicar que a taxa de inflação também não importa. Mas isso não é verdade. Para saber o motivo é fundamental distinguir entre o nível de preços e a taxa de inflação: o aumento percentual no nível de preços geral por ano. Lembre-se do Capítulo 7, em que a taxa de inflação é definida da forma seguinte:

A Figura 8-11 destaca a diferença entre o nível de preços e a taxa de inflação nos Estados Unidos ao longo da última metade do século, com o nível de preços medido ao longo do eixo vertical à esquerda e a taxa de inflação medida ao longo do eixo vertical à direita. Na década de 2000, o nível geral de preços nos Estados Unidos foi muito maior do que tinha sido em 1960 – mas isso como vimos não importa. A taxa de inflação na década de 2000, no entanto, foi muito menor do que na década de 1970 – e isso, quase com certeza, tornou a economia mais rica do que teria sido se a alta inflação continuasse.

FIGURA 8-11 Nível de preços versus taxa de inflação, 1960-2011 Com exceção de 2009, ao longo de meio século passado, o índice de preços ao consumidor tem aumentado continuamente. Mas a taxa de inflação – a taxa à qual os preços ao consumidor estão subindo – teve altos e baixos. E em 2009, a taxa de inflação brevemente tornou-se negativa, um fenômeno chamado deflação. Fonte: Bureau of Labor Statistics.

Os economistas acreditam que taxas de inflação elevadas impõem custos econômicos significativos. O mais importante desses custos são os custos de sola de sapato, os custos de menu e os custos da unidade de conta. Vamos discutir um de cada vez.

Custos de sola de sapato As pessoas mantêm moeda – dinheiro na carteira e na conta-corrente com a possibilidade de emitir cheques – por conveniência, para realizar operações. No entanto, uma taxa de inflação alta desencoraja as pessoas a manter dinheiro porque o poder de compra do dinheiro na carteira e o dos fundos na conta bancária vai se deteriorando constantemente à medida que o nível geral de preços sobe. Isso leva as pessoas a procurar maneiras de reduzir a quantidade de dinheiro que possuem, muitas vezes, a um custo econômico considerável. Em Economia em ação descrevemos como os israelenses passavam um tempo enorme no banco durante os períodos em que Israel era afligido por altas taxas de inflação entre 1984 e 1985. Durante a mais famosa de todas as inflações, a hiperinflação alemã entre 1921 e 1923, os comerciantes empregavam maratonistas para levar o dinheiro ao banco várias vezes ao dia para convertê-lo em algo que pudesse manter o valor, como uma moeda estrangeira estável. Em cada caso, em um esforço para evitar que o poder de compra do

dinheiro evaporasse, as pessoas usavam recursos valiosos, como o tempo dos cidadãos israelenses e o trabalho daqueles corredores alemães, que poderiam ter sido usados de forma produtiva em outras coisas. Durante a hiperinflação alemã, a quantidade de transações bancárias que estavam ocorrendo fez o número de funcionários em bancos alemães quase quadruplicar, de 100 mil em 1913 para 375 mil em 1923. Mais recentemente, o Brasil passou por uma hiperinflação durante o início da década de 1990. Durante esse episódio, o setor bancário brasileiro cresceu tanto que era responsável por 15% do PIB, mais do que o dobro do tamanho do setor financeiro nos Estados Unidos, medido como porcentagem do PIB. O grande aumento no setor bancário brasileiro, necessário para lidar com as consequências da inflação, representou uma perda de recursos reais para a sociedade. Os maiores custos das transações causadas pela inflação são conhecidos como custos de sola de sapato, em alusão ao desgaste causado pelas andanças de um lado para outro em um esforço de manter o dinheiro. Os custos de sola de sapato são substanciais em economias com inflação muito alta, como pode atestar qualquer pessoa que tenha vivido em tal economia, digamos, com inflação de 100% ou mais ao ano. No entanto, a maioria das estimativas sugere que os custos de sola de sapato causados pela inflação que ocorre nos Estados Unidos – que em tempos de paz nunca esteve acima de 15% ao ano – são muito pequenos.

Custos de menu Em uma economia moderna, a maioria das coisas que compramos têm preços afixados. Há um preço afixado para cada item nas gôndolas dos supermercados, um preço impresso na parte de trás de um livro, um preço listado para cada prato no cardápio de um restaurante. Alterar um preço afixado tem um custo real, chamado de custo de menu. Por exemplo, para alterar os preços em um supermercado é preciso mandar os funcionários percorrerem a loja para mudar o preço afixado debaixo de cada item. É claro que em época de inflação, as empresas são obrigadas a alterar os preços mais vezes do que fariam se o nível de preços agregado fosse mais ou menos estável. Isso significa custos mais elevados para a economia como um todo. Em tempos de inflação muito elevada, os custos de menu podem ser substanciais. Durante a hiperinflação brasileira da década de 1990, por exemplo, os que trabalhavam em supermercados sabidamente gastavam metade do tempo substituindo etiquetas de preço antigas por novas. Quando a inflação é alta, os comerciantes podem decidir parar de listar os preços em termos de moeda local e usar uma unidade artificial – com efeito, medindo os preços em relação uns aos outros ou a uma moeda mais estável, como o dólar dos Estados Unidos. Foi exatamente o que o mercado imobiliário israelense começou a fazer em meados da década de 1980: os preços de imóveis eram cotados em dólares americanos, embora o pagamento fosse feito em shekels israelenses. E isso também aconteceu no Zimbábue, quando, em maio de 2008, os cálculos oficiais da inflação chegaram a 1.694.000 %. Até 2009, o governo suspendeu o dólar zimbabuano, permitindo que os zimbabuenses comprassem e vendessem bens usando moedas

estrangeiras. Custos de menu também estão presentes em economias de inflação baixa, mas não são graves. Em economias de inflação baixa, as empresas podem atualizar os preços apenas esporadicamente, e não diariamente, ou até mais frequentemente, como é o caso em economias de alta inflação ou hiperinflação. Além disso, com os avanços tecnológicos, os custos de menu estão se tornando cada vez menos importantes, já que os preços podem ser alterados eletronicamente e cada vez menos comerciantes colam etiquetas de preço nas mercadorias.

Custos de unidade de conta Na Idade Média, muitas vezes os contratos eram especificados “em espécie”: por exemplo, um inquilino podia ser obrigado a fornecer ao dono da terra certo número de animais por ano (a expressão em espécie, na verdade, vem de uma palavra antiga para gado). Talvez isso fizesse sentido na época, mas seria uma forma estranha de fazer negócios hoje em dia. Em vez disso, os contratos são especificados em termos monetários: um locatário deve certo número de dólares por mês, uma empresa que emite um bônus promete pagar ao cotista o valor do dólar do bônus na data de vencimento, e assim por diante. Também, a tendência é fazer os cálculos econômicos em dinheiro: uma família planejando seu orçamento, ou uma pequena empresa tentando avaliar como vai indo, todos fazem cálculos da quantidade de dinheiro que entra e sai. Esse papel da moeda como base para contratos e cálculos é chamado de papel de unidade de conta do dinheiro. É um aspecto importante da economia moderna. No entanto, é um papel que pode ser degradado pela inflação, que faz o poder de compra da moeda mudar ao longo do tempo; US$1 no próximo ano vale menos do que US$1 este ano. O efeito, muitos economistas argumentam, é reduzir a qualidade das decisões econômicas: a economia como um todo faz uso menos eficiente de recursos, devido à incerteza causada pela variação na unidade de conta, o dólar, o real ou outra moeda. Os custos de unidade de conta da inflação são custos decorrentes da forma como a inflação torna a moeda uma unidade de medida menos confiável. Custos de unidade de conta podem ser particularmente importantes no sistema tributário porque a inflação pode distorcer as medidas de renda sobre a qual os impostos são cobrados. Eis um exemplo: suponha que a taxa de inflação seja de 10%, de modo que o nível geral de preços aumenta 10% ao ano. Suponha que a empresa compre um ativo, como um pedaço de terra, por $100.000, e venda um ano depois por $110.000. Em um sentido fundamental, a empresa não teve lucro com o negócio: em termos reais, não recebeu pelo terreno mais do que pagou por ele. Mas a lei tributária dos Estados Unidos diria que a empresa teve um ganho de capital de $10.000, e terá que pagar impostos sobre esse ganho fantasma. Durante os anos da década de 1970, quando os Estados Unidos tinham uma inflação relativamente alta, os efeitos distorcidos da inflação sobre o sistema tributário eram um problema sério. Algumas empresas foram desencorajadas de fazer gastos de investimento produtivo, porque se viram pagando impostos sobre ganhos fantasmas.

Enquanto isso, alguns investimentos improdutivos tornavam-se atraentes porque resultavam em perdas fantasmas que reduziam o pagamento de impostos. Quando a inflação e as taxas de impostos caíram na década de 1980, esses problemas tornaram-se bem menos importantes.

Ganhadores e perdedores com a inflação Como acabamos de ver, uma taxa de inflação alta impõe custos gerais à economia. Além disso, a inflação também pode produzir ganhadores e perdedores dentro da economia. A principal razão pela qual a inflação, por vezes, ajuda a algumas pessoas, enquanto prejudica outras, é que as transações econômicas muitas vezes envolvem contratos que se estendem ao longo de um período, como empréstimos, e esses contratos normalmente são especificados em termos nominais – ou seja, por exemplo, em dólares. No caso de um empréstimo, o tomador do empréstimo recebe certa quantidade de fundos no início e o contrato do empréstimo especifica a taxa de juros do empréstimo e quando deve ser quitado. A taxa de juros é o retorno que um credor recebe para permitir aos tomadores de empréstimo o uso de suas poupanças por um ano, calculado como porcentagem do montante emprestado. Mas o que essa amortização em dólares vale em termos reais, isto é, em termos de poder de compra, depende muito da taxa de inflação ao longo dos anos de duração do empréstimo. Os economistas resumem o efeito da inflação sobre os tomadores de empréstimo e credores distinguindo entre taxa de juros nominal e taxa de juros real. A taxa de juros nominal é a taxa de juros em termos de dólares (ou outra moeda), por exemplo, a taxa de juros sobre um empréstimo para pagar os estudos. A taxa de juros real é a taxa de juros nominal menos a taxa de inflação. Por exemplo, se o empréstimo foi feito a uma taxa de juros de 8%, mas a taxa de inflação é de 5%, a taxa de juros real é de 8% − 5% = 3%. Quando o tomador do empréstimo e o credor fazem um contrato de empréstimo, este normalmente é redigido em termos de uma moeda – isto é, a taxa de juros que especifica é uma taxa de juros nominal. (E nos próximos capítulos, quando nos referirmos à taxa de juros queremos dizer taxa de juros nominal, salvo indicação em contrário.) Mas cada uma das partes tem uma expectativa sobre a taxa de inflação futura e, portanto, uma expectativa sobre a taxa real de juros sobre o empréstimo. Se a inflação efetiva for mais alta do que o esperado, os tomadores de empréstimo ganharam à custa dos credores: o tomador de empréstimo pagará com fundos que têm valor real inferior ao que se esperava. Por outro lado, se a taxa de inflação for mais baixa do que o esperado, os credores irão ganhar à custa dos tomadores de empréstimo: os tomadores de empréstimo deverão pagar o empréstimo com recursos que têm valor real maior do que se esperava. Historicamente, o fato de a inflação criar ganhadores e perdedores, algumas vezes foi uma importante fonte de controvérsia política. Em 1896, William Jennings Bryan galvanizou a convenção presidencial do partido democrata com um discurso em que declarou: “Não se deve crucificar a humanidade em uma cruz de ouro.” O que estava realmente exigindo era uma política inflacionária. Na época, o dólar americano tinha

valor fixo em termos de ouro. Bryan queria abandonar o padrão-ouro e fazer o governo americano imprimir mais moeda, o que elevaria o nível de preços. Ele queria inflação para ajudar os agricultores, muitos dos quais estavam muito endividados. Nos Estados Unidos moderno, as hipotecas residenciais são a fonte mais importante de ganhos e perdas com a inflação. Os americanos que assumiram hipotecas no início de 1970 rapidamente viram seus pagamentos reais reduzidos por causa da inflação mais elevada do que o esperado: em 1983, o poder aquisitivo de US$1 era de apenas 45% do que havia sido em 1973. Aqueles que assumiram hipotecas no início de 1990 não tiveram tanta sorte, porque a taxa de inflação caiu para níveis mais baixos do que o esperado nos anos seguintes: em 2003, o poder de compra de US$1 era de 78% do que havia sido em 1993. Contudo, como os ganhos de uns e as perdas de outros resultam da inflação ser mais alta ou mais baixa do que o esperado, surge outro problema: a incerteza sobre a inflação futura desencoraja as pessoas a entrar em qualquer tipo de contrato de longo prazo. Esse é um custo adicional da inflação alta, pois taxas elevadas de inflação normalmente são imprevisíveis. Em países com inflação alta e incerta, empréstimos de longo prazo são raros, o que em muitos casos dificulta os investimentos de longo prazo. Um último ponto: deflação inesperada – uma queda no nível de preços que chega como surpresa – também cria ganhadores e perdedores. Entre 1929 e 1933, quando a economia dos Estados Unidos mergulhou na Grande Depressão, o índice de preços ao consumidor caiu 35%. Isso significou que os devedores, inclusive muitos fazendeiros e proprietários, tiveram um forte aumento no valor real de suas dívidas, o que acarretou falência generalizada e ajudou a criar uma crise bancária, quando os credores perceberam que seus clientes não tinham capacidade de pagar seus empréstimos. E como pode se depreender da Figura 8-11, a deflação ocorreu novamente em 2009, quando a taxa de inflação caiu para –2% na vala de uma recessão profunda. Como na Grande Depressão (mas em menor escala), a deflação inesperada de 2009 impôs custos pesados aos devedores. Vamos discutir os efeitos da deflação em mais detalhes no Capítulo 16.

Inflação é fácil, desinflação é difícil Não há muita evidência de que um aumento da taxa de inflação de 2% para 5% causaria um grande dano à economia. Ainda assim, os formuladores de política econômica em geral atuam com determinação para trazer a inflação de volta para baixo quando ela começa a passar de 2% ou 3%. Por quê? Porque a experiência mostra que reduzir a taxa de inflação – um processo conhecido como desinflação – é muito difícil e dispendioso quando uma taxa de inflação mais alta chega a se estabelecer na economia. A Figura 8-12 mostra o que aconteceu durante dois episódios principais de desinflação nos Estados Unidos, em meados dos anos 1970 e no início de 1980. O eixo horizontal mostra a taxa de desemprego. O eixo vertical mostra a inflação de “base” em relação ao ano anterior, uma medida que exclui os preços dos alimentos e da energia voláteis e é amplamente considerado uma medida melhor da inflação subjacente do que os preços gerais de consumo. Cada marcador representa a taxa de inflação e a taxa de desemprego

de um mês. Em cada episódio, o desemprego e a inflação seguiram uma espécie de espiral no sentido horário, com a inflação alta caindo gradualmente em face de um período prolongado de desemprego muito elevado.

FIGURA 8-12 O custo da desinflação Houve dois grandes períodos de desinflação na história moderna dos Estados Unidos, em meados da década de 1970 e no início de 1980. Essa figura mostra o monitoramento da taxa de desemprego e da taxa da inflação de “base”, excluindo alimentos e energia, durante esses dois episódios. Em cada caso, baixar a inflação requereu um aumento temporário, mas muito grande, da taxa de desemprego, demonstrando o elevado custo da desinflação. Fonte: Bureau of Labor Statistics

De acordo com muitos economistas, esses períodos de desemprego elevado, que deprimem a economia temporariamente, são necessários para reduzir a inflação quando se torna profundamente enraizada na economia. A melhor maneira de evitar que a economia tenha que passar por um aperto para reduzir a inflação, no entanto, é tentar evitar que ela tenha um problema inflacionário sério. Assim, os formuladores de política econômica respondem com força aos sinais de aceleração da inflação como forma de medicina preventiva para a economia.

Economia em ação A experiência de Israel com a inflação Muitas vezes é difícil ver claramente os custos da inflação porque problemas sérios de inflação frequentemente estão associados a outros problemas que perturbam a vida econômica, notadamente guerra ou instabilidade política (ou ambos). No entanto, em meados de 1980, Israel experimentou uma inflação “pura”: não havia guerra, o governo

era estável e havia ordem nas ruas. No entanto, uma série de erros de política econômica levou a uma inflação muito elevada, com os preços muitas vezes subindo mais que 10% ao mês. À medida que isso aconteceu, um dos autores deste livro passou um mês visitando a Universidade de Tel Aviv, no auge da inflação, para poder fazer um relato de primeira mão de seus efeitos. Primeiro, os custos de sola de sapato da inflação foram substanciais. Na época, os israelenses passavam muito tempo em filas de banco, depositando e tirando dinheiro de contas que pudessem pagar juros suficientes para compensar a inflação. As pessoas saíam com bem pouco dinheiro na carteira, tinham que ir ao banco sempre que precisavam fazer um pagamento maior em dinheiro. Os bancos reagiram abrindo muitas agências, o que é dispendioso. Segundo, ainda que os custos de menu não fossem tão visíveis para um visitante, o que se podia ver eram os esforços das empresas para minimizá-los. Por exemplo, os menus dos restaurantes muitas vezes vinham sem preço. Em vez disso, para descobrir o preço do prato, listavam-se números que tinham que ser multiplicados por outro número, marcados a giz num quadro-negro e que mudavam todo dia. Finalmente, era difícil tomar decisões, porque os preços mudavam muito e com frequência. Uma experiência comum era sair de uma loja porque os preços estavam 25% mais altos do que na loja em que se costumava ir, apenas para depois descobrir que os preços ali também tinham aumentado 25%.

Breve revisão ■ O salário real e a renda real não são afetados pelo nível de preços. ■ A inflação, tanto quanto o desemprego, é uma grande preocupação dos formuladores de política, tanto que, no passado, aceitaram o desemprego elevado, como preço para reduzir a inflação. ■ Enquanto o nível geral de preços é irrelevante, as taxas de inflação elevadas impõem custos reais sobre a economia: os custos de sola de sapato, custos de menu e custos unidade de conta. ■ A taxa de juros é o retorno que um credor recebe pelo uso de seus fundos por um ano. A taxa de juros real é igual à taxa de juros nominal menos a taxa de inflação. Como resultado, a inflação inesperadamente elevada ajuda os tomadores de empréstimos e prejudica os credores. Com a inflação alta e incerta, as pessoas, muitas vezes, evitam investimentos de longo prazo. ■ A desinflação é muito cara, então, a princípio, os formuladores de política tentam evitar situações de inflação alta.

Teste seu entendimento 8-3 1. O uso generalizado da tecnologia revolucionou o setor bancário, tornando muito mais fácil para os clientes acessar e gerenciar seus ativos. Isso significa que os custos de sola

de sapato da inflação são mais altos ou mais baixos do que costumavam ser? 2. A maioria das pessoas nos Estados Unidos se acostumou a taxas de inflação modestas de cerca de 2% a 3%. Quem ganharia e quem perderia se a inflação chegasse a parar inesperadamente nos próximos 15 ou 20 anos? As respostas estão no fim do livro.

Caso empresarial Repercussão da crise para a Monster Os anos 1990 foram uma época famosa pelo entusiasmo nos negócios, uma década em que foram criadas numerosas empresas baseadas na Internet, que em seguida venderam suas ações a preços incrivelmente altos e, no final, foram à falência. Algumas das dotcoms, no entanto, acabaram por ter modelos de negócios viáveis e suportaram. Entre elas está o Monster.com, uma empresa de busca de emprego que, juntamente com seus concorrentes, ajudou a substituir os anúncios tradicionais de busca em jornais por anúncios on-line. A Monster Worldwide (atual denominação da empresa) e seus concorrentes vendem serviços para empregadores que procuram empregados e empregados que procuram emprego. Os empregadores colocam anúncios de emprego, que os candidatos possam responder; além de responder a esses anúncios, os candidatos a emprego podem pagar por serviços premium, como elaboração de currículo e priorização na apresentação do currículo. A importância crescente de anúncios de emprego on-line foi considerada em 2007, quando The Conference Board, um grupo empresarial que há muito tempo monitora a economia através da produção de um índice de classificados on-line, acrescentou esse índice. Como mostra a Figura 8-13, uma imersão nos classificados de empregos on-line anunciou oficialmente o aumento do desemprego entre 2008 e 2009. Quando os anúncios on-line começaram a se recuperar, o desemprego se estabilizou e começou um lento declínio.

FIGURA 8-13 Imersão em anúncios de busca de emprego on-line anuncia aumento do desemprego, 2008-2009 Fontes: The Conference Board e Bureau of Labor Statistics.

No final de 1990, quando a economia dos Estados Unidos estava experimentando invulgarmente um desemprego baixo, alguns economistas sugeriram que a Monster Worldwide e outros serviços de emprego da Internet podiam ser parcialmente responsáveis, tornando mais fácil para os trabalhadores conseguir novos empregos sem um período intermediário prolongado de desemprego. Portanto, a evidência desse efeito é inconclusiva. Talvez você tenha imaginado que foi bom para a Monster a recessão entre 2007 e 2009, em que muitos trabalhadores demitidos estavam procurando desesperadamente por novos empregos. E de fato a empresa aumentou o negócio com os candidatos que queriam postar seus currículos. Mas a empresa faz muito mais dinheiro com anúncios de emprego dos empregadores, e esses estavam em forte baixa durante a crise, prejudicando o resultado final da Monster. No final de 2010, a economia parecia estar a caminho da recuperação, assim como a Monster, com uma ressalva: em 2010, os anúncios de emprego on-line, que foram vanguarda na década anterior, estavam perdendo terreno para o Twitter e para as redes sociais.

Questões para pensar 1. Use os fluxos mostrados na Figura 8-7 para explicar o papel potencial dos anúncios de emprego on-line na economia. 2. À luz da nossa discussão sobre os determinantes da taxa de desemprego, como se pode melhorar a correspondência entre candidatos de emprego e empregadores através de anúncios de emprego on-line? 3. O que se pode sugerir sobre o fato de a Monster não estar comercialmente bem durante o surto de desemprego entre 2008 e 2009 sobre a natureza dessa oscilação?

Resumo 1. A inflação e o desemprego são os males gêmeos da macroeconomia e a principal

preocupação da política macroeconômica. 2. Emprego é o número de pessoas empregadas, desemprego é o número de pessoas desempregadas e à procura de emprego ativamente. A soma é igual à força de trabalho e taxa de participação da força de trabalho é a porcentagem da população com mais de 16 anos que está na força de trabalho. 3. A taxa de desemprego, a porcentagem da força de trabalho que está desempregada e ativamente procurando emprego, tanto pode superestimar como subestimar o verdadeiro nível de desemprego. Pode superestimar porque conta como desempregados aqueles que continuam procurando emprego, apesar de haverem recebido uma oferta de emprego. Pode subestimar porque ignora os trabalhadores frustrados, como os trabalhadores desencorajados, trabalhadores marginalmente ligados à força de trabalho e subempregados. Além disso, a taxa de desemprego varia muito entre os diferentes grupos da população. Normalmente é mais elevada para os trabalhadores mais jovens e para os trabalhadores perto da idade da aposentadoria do que para os trabalhadores na plenitude dos anos de trabalho. 4. A taxa de desemprego é afetada pelo ciclo econômico. A taxa de desemprego geralmente cai quando a taxa de crescimento do PIB real está acima da média e geralmente sobe quando a taxa de crescimento real do PIB está abaixo da média. A recuperação sem criação de emprego, período em que o PIB real cresce, mas o desemprego aumenta, muitas vezes segue as recessões. 5. A criação e a destruição de empregos, bem como as demissões voluntárias, levam à busca de emprego e ao desemprego friccional. Além disso, uma variedade de fatores – tais como salário mínimo, sindicatos, salários de eficiência, políticas públicas destinadas a ajudar trabalhadores demitidos e incompatibilidade entre empregados e empregadores – resulta em uma situação em que há excedente de mão de obra ao nível de salário de mercado, criando desemprego estrutural. Como resultado, a taxa natural de desemprego, a soma do emprego estrutural e friccional, é bem superior a zero, mesmo quando os empregos são abundantes. 6. A taxa de desemprego real é igual à taxa de desemprego natural, a proporção de desemprego que é independente do ciclo econômico, além do desemprego cíclico, a parte do desemprego que depende de flutuações do ciclo econômico. 7. A taxa natural de desemprego varia ao longo do tempo, em grande parte em resposta a mudanças nas características da força de trabalho, nas instituições do mercado de trabalho e nas políticas de governo. 8. Como muitos supõem, a inflação não torna todos mais pobres em razão do aumento do nível de preços. Isso porque salários e rendas se ajustam para levar em conta a elevação do nível de preços, deixando salários reais e rendas reais sem ser afetados. No entanto, a alta taxa de inflação impõe custos gerais à economia: custos de sola de sapato, custos de menu e custos de unidade de conta. 9. A inflação pode produzir ganhadores e perdedores na economia, porque os contratos de longo prazo em geral são redigidos em termos de dólares (ou outra moeda). A taxa de juros especificada em um empréstimo normalmente é uma taxa de juros nominal que difere da taxa de juros real em consequência da inflação. A taxa de inflação mais

elevada do que o esperado é bom para os tomadores de empréstimo e ruim para os credores. A taxa de inflação mais baixa do que o esperado é bom para os credores e ruim para os tomadores de empréstimo. 10. Muitos acreditam que as políticas que deprimem a economia e produzem elevadas taxas de desemprego são necessárias para reduzir a inflação embutida. Como a desinflação é muito cara, os formuladores de política econômica tentam evitar, em primeiro lugar, que a inflação se torne excessiva.

Palavras-chave Emprego, p. 186 Desemprego, p. 186 Força de trabalho, p. 186 Taxa de participação na força de trabalho, p. 186 Taxa de desemprego, p. 186 Trabalhadores desencorajados, p. 187 Trabalhadores marginalmente ligados à força de trabalho, p. 187 Subempregados, p. 187 Recuperação sem criação de emprego, p. 190 Busca de emprego, p. 192 Desemprego friccional, p. 192 Desemprego estrutural, p. 193 Salários de eficiência, p. 195 Taxa natural de desemprego, p. 196 Desemprego cíclico, p. 196 Salário real, p. 199 Renda real, p. 199 Custo de sola de sapato, p. 200 Custo de menu, p. 201 Custo de unidade de conta, p. 202 Taxa de juros, p. 202 Taxa de juros nominal, p. 202 Taxa de juros real, p. 202 Desinflação, p. 202

Problemas 1. A cada mês, geralmente na primeira sexta-feira do mês, o Bureau of Labor Statistics divulga o Resumo da Situação de Emprego (Employment Situation Summary) para o mês anterior. Acesse o site www.bls.gov para baixar o relatório mais recente. (Na home page do Bureau of Labor Statistics, no topo da página, selecione a aba “Subject Areas”, encontre “Unemployment” e selecione “National Unemployment Rate”. Você vai encontrar Employment Situation Summary em “New Releases”, ao lado esquerdo da

página.) Como a taxa de desemprego se compara com a do mês anterior? Como a taxa de desemprego se compara com a do ano anterior? 2. Em geral, como as mudanças da taxa de desemprego variam de acordo com as mudanças no PIB real? Após vários trimestres de recessão severa, explique por que se observa um declínio na taxa oficial de desemprego. Explique por que podemos contar com um aumento na taxa de desemprego oficial após vários trimestres de forte expansão. 3. Em cada uma das seguintes situações, que tipo de desemprego Melanie está enfrentando? a. Depois de completar um projeto de programação complexo, Melanie foi demitida. Suas perspectivas de um novo emprego que exija habilidades semelhantes são boas, e ela se registrou em um serviço de recolocação para programadores. Ela rejeitou ofertas de emprego com baixa remuneração. b. Quando Melanie e seus colegas se recusaram a aceitar cortes salariais, o empregador terceirizou a tarefa de programação com trabalhadores de outro país. Esse fenômeno está ocorrendo em todo o setor de programação. c. Em decorrência da crise atual, Melanie foi demitida de seu trabalho de programação. Seu empregador se comprometeu a recontratá-la quando os negócios melhorarem. 4. Parte da informação divulgada no Employment Situation Summary refere-se ao período em que os indivíduos ficam desempregados. Acesse www.bls.gov para encontrar o último relatório. Use a mesma técnica que no Problema 1 para encontrar o Employment Situation Summary. Perto do fim do Employment Situation, clique na Tabela A-12, com o título “Unemployed persons by duration of unemployment”. Use as cifras ajustadas por sazonalidade para responder às perguntas seguintes. a. Quantos trabalhadores estavam desempregados a menos de cinco semanas? Qual a porcentagem de todos os trabalhadores desempregados que esses trabalhadores representam? Como comparar esses números com os dados do mês anterior? b. Quantos trabalhadores estavam desempregados há 27 semanas ou mais? Qual a porcentagem de todos os trabalhadores desempregados que esses trabalhadores representam? Como comparar esses números com os dados do mês anterior? c. Quanto tempo o trabalhador médio fica desempregado (duração média, em semanas)? Como comparar esses números com os dados do mês anterior? d. Comparando o último mês para o qual existem dados disponíveis com o mês anterior, o problema de desemprego de longo prazo melhorou ou piorou? 5. Há apenas um mercado de trabalho em Profunctia. Todos os trabalhadores têm a mesma qualificação e todas as empresas contratam trabalhadores com essa qualificação. Use o gráfico abaixo, que mostra a oferta e a demanda de trabalho, para responder às seguintes questões. Ilustre cada resposta com um gráfico.

a. Qual é o salário de equilíbrio em Profunctia? A esse salário, qual o nível de emprego, o tamanho da força de trabalho e a taxa de desemprego? b. Se o governo de Profunctia estabelece um salário mínimo de $12, qual será o nível de emprego, o tamanho da força de trabalho e a taxa de desemprego? c. Se os sindicatos negociam com as empresas em Profunctia e definem um nível salarial de $14, qual será o nível de emprego, o tamanho da força de trabalho e a taxa de desemprego? d. Quando a preocupação de manter trabalhadores e encorajar o trabalho de alta qualidade leva as empresas a estabelecer um nível de salário de $16, qual será o nível de emprego, o tamanho da força de trabalho e a taxa de desemprego? 6. A força de trabalho de um país é a soma do número de trabalhadores empregados e desempregados. A tabela a seguir fornece dados sobre o tamanho da força de trabalho e o número de trabalhadores desempregados em regiões diferentes dos Estados Unidos.

Fonte: Bureau of Labor Statistics.

a. Calcule o número de trabalhadores empregados em cada uma das regiões em maio de 2010 e em maio de 2011. Use a resposta para calcular a variação no número total de trabalhadores empregados entre maio de 2010 e maio de 2011.

b. Para cada região, calcule o crescimento da força de trabalho de maio de 2010 a maio de 2011. c. Calcule as taxas de desemprego nas diferentes regiões do país, em maio de 2010 e em maio de 2011. d. O que se pode inferir sobre a queda da taxa de desemprego ao longo desse período? Foi causada por um ganho líquido no número de empregos ou por uma queda acentuada no número de pessoas buscando emprego? 7. Em que caso é mais provável a existência de salário de eficiência? Por quê? a. Jane e seu patrão trabalham como uma equipe vendendo sorvete. b. Jane vende sorvete, sem qualquer supervisão direta do patrão. c. Jane fala coreano e vende sorvete em um bairro em que o coreano é o idioma principal. É difícil encontrar outro trabalhador que fale coreano. 8. Como as mudanças seguintes irão afetar a taxa natural de desemprego? a. O governo reduz o tempo durante o qual o trabalhador desempregado pode receber subsídio de desemprego. b. Mais adolescentes se concentram em seus estudos e não procuram emprego depois da faculdade. c. Com maior acesso à Internet, tanto empregadores quanto empregados usam a Internet para oferecer e buscar emprego. d. A participação em sindicatos diminui. 9. Com sua tradição de empregos vitalícios para a maioria dos cidadãos, o Japão já teve uma taxa de desemprego muito menor que a dos Estados Unidos. Ente 1960 e 1995, a taxa de desemprego no Japão ultrapassou os 3% apenas uma vez. No entanto, desde a queda no mercado de ações em 1989 e o baixo crescimento econômico na década de 1990, o sistema de empregos vitalícios se esfacelou e o desemprego subiu para mais de 5% em 2003. a. Explique o efeito provável do colapso do sistema de emprego vitalício no Japão sobre a taxa natural de desemprego japonesa. b. Como o gráfico a seguir mostra, a taxa de crescimento do PIB real no Japão recuperou-se a partir de 2001 e antes da crise econômica global entre 2007 e 2009. Explique o efeito provável desse aumento no crescimento do PIB real sobre a taxa de desemprego. A causa provável dessa mudança na taxa de desemprego durante esse período é uma mudança na taxa natural de desemprego ou uma mudança na taxa de desemprego cíclico?

Fonte: OCDE.

10. Nos exemplos a seguir, a inflação está gerando ganhadores e perdedores, sem nenhum custo líquido para a economia ou a inflação está impondo um custo líquido para a economia? Se um custo líquido estiver sendo imposto, que tipo de custo está envolvido? a. Quando se espera que a inflação seja alta, os trabalhadores são pagos com mais frequência e vão mais vezes ao banco. b. Lanwei é reembolsado pela sua empresa pelas despesas de viagens relacionadas ao trabalho. Às vezes, porém, a empresa leva um longo tempo para reembolsá-la. Então, quando a inflação é alta, ela fica menos disposta a viajar a trabalho. c. Hector Homeowner tem uma hipoteca com taxa de juros nominal fixa de 6% contratada há cinco anos. Ao longo dos anos, a taxa de inflação subiu inesperadamente até o nível atual de 7%. d. Em resposta à inesperada alta da inflação, o gerente da Cozy Cottages de Cape Cod deve reimprimir e reenviar folhetos coloridos caros corrigindo o preço do aluguel dessa temporada. 11. O gráfico a seguir mostra a taxa de juros de crédito imobiliário e a inflação durante 1995-2010 na economia de Albernia. Quando o crédito imobiliário teria sido especialmente atraente e por quê?

12. A tabela a seguir fornece a taxa de inflação no ano 2000 e a taxa média de inflação entre 2001 e 2010 em sete países diferentes. País Brasil China França Indonésia Japão Turquia Estados Unidos

Taxa de inflação em 2000 7,06 0,4 1,83 3,77 -0,78 55,03 3,37

Taxa média de inflação entre 2001 e 2010 6,70 2,16 1,86 8,55 −0,25 18,51 2,40

Fonte: FMI.

a. Dada a relação esperada entre a inflação média e os custos de menu, classifique os países em ordem descendente de custos de menu usando a inflação média ao longo do período entre 2001 e 2010. b. Classifique os países em ordem de taxas de inflação que mais favorece os devedores de empréstimo de dez anos de prazo, contratados em 2000. Suponha que os empréstimos tenham sido contratados com a expectativa de que a taxa de inflação entre 2001 e 2010 seria a mesma que em 2000. c. Tomadores de empréstimos que tomaram um empréstimo de dez anos no Japão, em geral ganharam ou perderam em relação aos credores? Explique. 13. O gráfico a seguir mostra a taxa de inflação no Reino Unido de 1980 a 2010.

Fonte: FMI

a. Entre 1980 e 1985, os formuladores de política econômica do Reino Unido trabalharam para reduzir a taxa de inflação. O que você diria que aconteceu com o desemprego entre 1980 e 1985? b. Os formuladores de política no Reino Unido atuam firmemente quando a taxa de inflação se eleva acima da meta de 2%. Por que seria prejudicial se a inflação aumentasse de 3,4% (o nível em 2010) para, digamos, um nível de 5%? www.worthpublishers.com/krugmanwells

C APÍ T UL O 9

Crescimento Econômico de Longo Prazo

O que você vai aprender neste capítulo • Por que o crescimento econômico de longo prazo é medido como o aumento do PIB real per capita. Como essa medida mudou ao longo do tempo e como varia entre os países. • Por que a produtividade é a chave para o crescimento econômico de longo prazo e como ela é impulsionada pelo capital físico, capital humano e progresso tecnológico. • Os fatores que explicam por que as taxas de crescimento de longo prazo diferem entre países. • Como o crescimento varia entre várias regiões importantes do mundo e por que a hipótese de convergência se aplica a países economicamente avançados. • A questão da sustentabilidade e o desafio ao crescimento colocado pela escassez de recursos naturais e a degradação ambiental.

Contos de alturas A China está crescendo – e os chineses também. De acordo com estatísticas oficiais, as crianças na China estão quase 2,5 polegadas mais altas do que eram há 30 anos. O cidadão chinês médio ainda é muito mais baixo do que o americano médio, mas pelo ritmo de crescimento atual, essa diferença pode desaparecer em poucas gerações. Se isso acontecer, a China vai seguir os passos do Japão. Os americanos mais velhos tendem a pensar nos japoneses como sendo baixos, mas hoje os jovens japoneses são, em média, mais altos 5 polegadas do que eram em 1900, o que os torna quase tão altos quanto os homólogos americanos (e, em média, mais altos do que os dois autores deste livro). Não há mistério sobre por que os japoneses ficaram mais altos – é porque ficaram mais ricos. No início do século XX, o Japão era um país relativamente pobre e muitas famílias não podiam se dar ao luxo de dar a seus filhos uma alimentação adequada. Como resultado, eles se tornavam adultos baixos. No entanto, desde a Segunda Guerra Mundial, o Japão tornou-se uma potência econômica e, como resultado, a comida é abundante e os jovens adultos são muito mais altos do que antes. O mesmo fenômeno está acontecendo agora na China. Embora ainda seja um país relativamente pobre, a China tem passado por grandes progressos econômicos ao longo dos últimos 30 anos. Sua história recente é provavelmente o exemplo mais radical de crescimento econômico de longo prazo – aumento sustentado do produto per capita. No entanto, apesar do impressionante desempenho, a China ainda está tentando alcançar os países economicamente avançados, como os Estados Unidos e o Japão. Ainda é um país relativamente pobre, porque essas outras nações começaram o próprio processo de crescimento econômico de longo prazo há muitas décadas, e, no caso dos Estados Unidos e dos países europeus, há mais de um século. Muitos economistas explicam que o crescimento econômico de longo prazo – por que acontece e como alcançá-lo – é a questão mais importante na análise macroeconômica. Neste capítulo, apresentaremos alguns fatos sobre o crescimento de longo prazo.

Observe os fatores que os economistas acreditam que determinam o ritmo em que o crescimento de longo prazo ocorre. Analise como as políticas governamentais podem ajudar ou atrapalhar o crescimento e como podem tratar de questões sobre a sustentabilidade ambiental do crescimento de longo prazo.

Comparando economias no tempo e no espaço Antes de analisarmos as fontes de crescimento econômico de longo prazo, convém ter uma ideia do quanto a economia dos Estados Unidos cresceu ao longo do tempo e qual o tamanho do hiato que há entre os países ricos como os Estados Unidos e os países que ainda têm que alcançar um crescimento comparável. Então, analisemos os números.

PIB real per capita A estatística fundamental usada para monitorar o crescimento econômico é o PIB real per capita – ou seja, o PIB real dividido pelo tamanho da população. Concentramo-nos no PIB porque, como vimos no Capítulo 7, o PIB mede o valor total da produção de bens e serviços finais de uma economia, bem como a renda auferida nessa economia em determinado ano. Usamos o PIB real porque queremos separar as variações na quantidade de bens e serviços dos efeitos de um aumento no nível de preços. Concentramo-nos no PIB real per capita porque queremos isolar o efeito das mudanças na população. Por exemplo, tudo o mais mantido constante, um aumento na população reduz o padrão de vida para a pessoa média – haverá agora mais pessoas para partilhar determinado valor do PIB real. Um aumento do PIB real que corresponda ao aumento da população deixa o padrão de vida médio inalterado. Embora também tenhamos aprendido no Capítulo 7 que o crescimento do PIB real per capita não deva ser um objetivo de política em si, serve como uma medida resumo útil do progresso econômico do país ao longo do tempo. A Figura 9-1 mostra o PIB real per capita dos Estados Unidos, da Índia e da China, medido em dólares de 1990, de 1900 a 2010. (Falaremos sobre a Índia e a China em seguida.) O eixo vertical é traçado em escala logarítmica para que as variações percentuais iguais no PIB real per capita entre os diversos países apareçam com o mesmo tamanho no gráfico.

FIGURA 9-1 Crescimento econômico dos Estados Unidos, da Índia e da China durante o século XX O PIB real per capita de 1900 a 2010, medido em dólares de 1990, é mostrado para os Estados Unidos, a Índia e a China. As variações percentuais iguais do PIB real per capita são traçadas do mesmo tamanho. Como mostra as inclinações mais íngremes das linhas que representam a China e a Índia, desde 1980 esses dois países tiveram uma taxa de crescimento muito mais acelerada que os Estados Unidos. Em 2000, a China alcançou o padrão de vida atingido pelos Estados Unidos em 1900. Em 2010, a Índia ainda era mais pobre do que os Estados Unidos em 1900. (Quebra nos dados da China entre 1940 e 1950 em decorrência da guerra.) Fontes: Angus Maddison, Statistics on World Population, GDP, and Per Capita GDP, 1–2008AD, http://www.ggdc.net/maddison e Fundo Monetário Internacional.

Para apresentar uma noção de quanto cresceu a economia dos Estados Unidos durante o século passado, a Tabela 9-1 mostra o PIB real per capita em anos selecionados, expresso de duas maneiras: como porcentagem do nível de 1900 e como porcentagem do nível de 2010. Em 1920, a economia dos Estados Unidos já produzia por pessoa 136% do que produzia em 1900. Em 2010, produzia por pessoa 758% do que produzia em 1900, um aumento de mais de sete vezes. Alternativamente, em 1900, a economia dos Estados Unidos produziu apenas 13% a mais por pessoa do que em 2010. Tabela 9-1 PIB real per capita dos Estados Unidos Ano 1900 1920 1940 1980 2000 2010

P orcentagem do P IB real per capita de 1900 P orcentagem do P IB real per capita de 2010 100% 13% 136 18 171 23 454 60 696 92 758 100

Fontes: Angus Maddison, Statistics on World Population, GDP, and Per Capita GDP, 1–2008AD, http://www.ggdc.net/maddison e Bureau of Economic Analysis.

A renda da família típica normalmente cresce mais ou menos em proporção à renda per capita. Por exemplo, um aumento de 1% no PIB real per capita corresponde, em geral, a um aumento de 1% na renda da família mediana ou típica família – uma família no centro de distribuição de renda. Em 2010, a família mediana dos Estados Unidos tinha renda anual de cerca de $50.000. Como a Tabela 9-1 informa que o PIB real per capita em 1900 era de apenas 13% do nível de 2010, uma família típica em 1900 provavelmente tinha poder de compra de apenas 13% maior que o poder de compra de uma família típica em 2010. Isso corresponde a aproximadamente US$6.100 (em dólares de hoje), representando um padrão de vida que hoje consideraríamos de pobreza extrema. A família típica americana atual, que fosse transportada para os Estados Unidos de 1900, iria passar por muita privação. Contudo, existem muitas pessoas em todo o mundo que têm um padrão de vida igual ou mais baixo do que o que os Estados Unidos tinham no início do século XX. Essa é a mensagem sobre a China e a Índia na Figura 9-1: apesar do drástico crescimento econômico da China nas últimas três décadas e da aceleração menos drástica do crescimento econômico da Índia, a China apenas recentemente ultrapassou o padrão de vida que os Estados Unidos tinham no início do século XX, enquanto que a Índia ainda é mais pobre do que os Estados Unidos eram naquela época. E grande parte do mundo de hoje é mais pobre do que a China ou a Índia. Pode-se ter uma noção da pobreza de grande parte do mundo analisando a Figura 9-2, um mapa no qual os países são classificados de acordo com seus níveis de PIB per capita de 2010, em dólares. Como se pode ver, há rendas muito baixas em grande parte do mundo. De modo geral, os países da Europa e da América do Norte, bem como alguns no Pacífico, têm renda elevada. O resto do mundo, que contém a maior parte da população, é dominado por países com PIB menor que $3.976 per capita – e algumas vezes ainda menor. Na verdade, hoje, cerca de 50% da população do mundo vive em países com padrão de vida mais baixo do que os Estados Unidos tinham há um século.

FIGURA 9-2 Rendas pelo mundo, 2010 Embora os países da Europa e da América do Norte – juntamente com algumas nações no Pacífico – tenham rendas altas, a maior parte do mundo ainda é muito pobre. Hoje, cerca de 50% da população mundial vive em países com padrão de vida mais baixo do que os Estados Unidos tinham há um século. Fonte: Fundo Monetário Internacional.

Armadilhas Variação de nível versus taxa de variação Ao estudar o crescimento econômico, é de vital importância compreender a diferença entre uma variação de nível e uma taxa de variação. Quando dizemos que o PIB real “cresceu”, queremos dizer que o PIB real aumentou. Por exemplo, podemos dizer que o PIB real dos Estados Unidos cresceu $385 bilhões em 2010. Se soubéssemos o nível do PIB real dos Estados Unidos em 2009, também poderíamos representar o montante de crescimento de 2010 em termos de uma taxa de variação. Por exemplo, se o PIB real dos Estados Unidos em 2009 foi de $12.703 bilhões, em seguida, o PIB real dos Estados Unidos em 2010 foi de $12.703 bilhões + $385 bilhões = $13.088 bilhões. Podemos calcular a taxa de variação, ou a taxa de crescimento do PIB real dos Estados Unidos durante 2010, como: (($13.088 bilhões − $12.703 bilhões)/ $12.703 bilhões) × 100 = ($385bilhões/ $12.703 bilhões) × 100 = 3,03%. Afirmações sobre crescimento econômico durante um período de anos, quase sempre se referem a variações na taxa de crescimento. Muitas vezes, ao falar sobre crescimento ou taxas de crescimento, os economistas usam expressões que parecem misturar os dois conceitos e, por isso, pode causar malentendidos. Por exemplo, quando dizemos que o “crescimento americano diminuiu durante a década de 1970”, estamos realmente dizendo que a taxa de crescimento do PIB real dos Estados Unidos foi menor em 1970 em comparação com 1960. Quando dizemos que “o crescimento acelerou no início de 1990”, estamos dizendo que a taxa de crescimento aumentou ano após ano, no início de 1990 – por exemplo, passando de 3%

para 3,5% e depois para 4%.

Taxas de crescimento Como os Estados Unidos conseguiram produzir mais de sete vezes por pessoa em 2010 do que em 1900? Um pouco de cada vez. Normalmente, o crescimento econômico de longo prazo é um processo gradual em que o PIB real per capita cresce, no máximo, uma pequena porcentagem ao ano. De 1900 a 2010, o PIB real per capita nos Estados Unidos aumentou em média 1,9% ao ano. Para se ter uma ideia da relação entre a taxa de crescimento anual do PIB real per capita e a variação de longo prazo no PIB real per capita, convém ter em mente a regra dos 70, uma fórmula matemática que nos diz quanto tempo leva para que o PIB real per capita, ou qualquer outra variável que cresce gradualmente ao longo do tempo, dobre. A resposta aproximada é:

(9-1)

(Observe que a regra dos 70 só pode ser aplicada a uma taxa de crescimento positiva.) Portanto, se o PIB real per capita cresce 1% ao ano, dobra em 70 anos. Crescendo 2% ao ano, levará apenas 35 anos para dobrar. Na verdade, o PIB real per capita dos Estados Unidos cresceu em média 1,9% ao ano ao longo do século XX. Aplicar a regra dos 70 a essas informações implica que deveria ter levado 37 anos para o PIB real per capita dobrar; teria levado 111 anos – três períodos de 37 anos – para o PIB real per capita dos Estados Unidos dobrar três vezes. Ou seja, a regra dos 70 implica que, ao longo de 111 anos, o PIB real per capita dos Estados Unidos deveria ter crescido por um fator de 2 × 2 × 2 = 8. E isso é uma boa aproximação da realidade. Entre 1899 e 2010 – um período de 111 anos – o PIB real per capita cresceu cerca de oito vezes. A Figura 9-3 mostra a taxa média anual de crescimento do PIB real per capita para países selecionados entre 1980 e 2010. Alguns países mostram histórias notáveis de sucesso: por exemplo, a China, embora ainda seja um país pobre, tem feito progressos espetaculares. A Índia, apesar de não se equiparar ao desempenho da China, também teve um crescimento impressionante, como veremos a seguir em Economia em ação.

FIGURA 9-3 Comparação de taxas de crescimento recentes Veja no gráfico a taxa de crescimento médio anual do PIB real per capita de 1980 a 2010 de alguns países selecionados. A China e, em menor medida, a Índia e a Irlanda alcançaram um crescimento impressionante. Os Estados Unidos e a França tiveram crescimento moderado. Apesar de já ter sido considerado um país avançado economicamente, a Argentina teve um crescimento mais lento. Outros ainda, como o Zimbábue, retrocederam. *As informações sobre o Zimbábue referem-se à taxa de crescimento média anual entre 2000 e 2010, em razão da limitação dos dados. Fonte: Fundo Monetário Internacional.

Alguns países, no entanto, tiveram crescimento muito decepcionante. A Argentina já foi considerada uma nação rica. No início do século XX, estava na mesma liga que os Estados Unidos e o Canadá. Mas, desde então, ficou muito atrás das economias mais dinâmicas. Outras nações, como o Zimbábue, retrocederam. O que explica essas diferenças nas taxas de crescimento? Para responder a essa questão, precisamos examinar as fontes de crescimento econômico de longo prazo.

Economia em ação A índia deslancha A Índia conseguiu a independência da Grã-Bretanha em 1947, tornando-se a democracia mais populosa do mundo, título que mantém até hoje. No entanto, por mais de três décadas após a independência, essa história política feliz foi parcialmente ofuscada pela decepção econômica. Apesar de planos de desenvolvimento econômico ambiciosos, o desempenho da Índia sempre foi muito lento. Em 1980, o PIB real per capita da Índia era apenas 50% mais alto do que havia sido em 1947. A diferença entre o padrão de vida da Índia e de países ricos, como os Estados Unidos, continuou crescendo, em vez de diminuir. Desde então, no entanto, o desemprenho da Índia tem sido melhor. Como mostra a Figura 9-3, o PIB real per capita cresceu a uma taxa média de 4,2% ao ano, mais do que triplicando entre 1980 e 2010. A Índia agora tem uma grande e crescente classe média.

Os filhos bem alimentados dessa classe média são bem mais altos que seus pais. O que deu certo na Índia depois de 1980? Muitos economistas apontam para as reformas políticas. Durante décadas após a independência, a Índia tinha uma economia rigidamente controlada e altamente regulada. Hoje, a situação é muito diferente: uma série de reformas abriu a economia ao comércio internacional e liberou a concorrência interna. No entanto, alguns economistas argumentam que essa pode não ser a história principal, pois as grandes reformas políticas não foram adotadas até 1991, mas mesmo assim o crescimento acelerou por volta de 1980. Independentemente da explicação, a ascensão econômica da Índia transformou-a em uma nova potência econômica e permitiu a centenas de milhões de pessoas terem uma vida muito melhor, melhor do que seus avós poderiam ter sonhado. A grande questão agora é saber se esse crescimento pode continuar. Os céticos argumentam que há gargalos importantes na economia indiana que podem restringir o crescimento futuro. Apontam, em particular, para o nível baixo de educação de grande parte da população da Índia e para a infraestrutura inadequada – ou seja, a má qualidade e capacidade limitada das estradas do país, ferrovias, fontes de alimentação, e assim por diante. Mas a economia da Índia tem desafiado os céticos durante várias décadas e a esperança é que possa continuar fazendo isso.

Breve revisão ■ O crescimento econômico é medido por meio do PIB real per capita. ■ Nos Estados Unidos, o PIB real per capita aumentou mais de sete vezes desde 1900, resultando em um grande aumento no padrão de vida. ■ Muitos países têm um PIB real per capita muito inferior ao dos Estados Unidos. Mais da metade da população do mundo tem padrão de vida pior do que existia nos Estados Unidos no início de 1900. ■ O crescimento de longo prazo do PIB real per capita resulta do crescimento gradual. A Regra dos 70 nos diz quantos anos, a uma determinada taxa anual de crescimento, são necessários para dobrar o PIB real per capita. ■ As taxas de crescimento do PIB real per capita diferem substancialmente entre as nações.

Teste seu entendimento 9-1 1. Por que os economistas utilizam o PIB real per capita para medir o progresso econômico, em vez de alguma outra medida, como o PIB nominal per capita ou o PIB real? 2. Aplique a regra de 70 aos dados da Figura 9-3 para determinar quanto tempo vai levar cada um dos países listados (exceto o Zimbábue) para dobrar o PIB real per capita. O PIB real per capita da Índia ultrapassará o dos Estados Unidos no futuro, caso as taxas de crescimento permaneçam como mostrado na Figura 9-3? Por que sim ou por que não?

3. Embora a China e a Índia tenham atualmente taxas de crescimento muito superiores à taxa de crescimento dos Estados Unidos, o domicílio típico chinês ou indiano é muito mais pobre do que o domicílio típico americano. Explique por que. As respostas estão no fim do livro.

As fontes de crescimento de longo prazo O crescimento econômico de longo prazo depende quase inteiramente de um ingrediente: produtividade crescente. No entanto, há vários fatores que afetam o crescimento da produtividade. Analisemos primeiro por que a produtividade é um ingrediente fundamental e, em seguida, vamos examinar o que a afeta.

A importância crucial da produtividade O crescimento econômico sustentado ocorre só quando a quantidade de produto produzida pelo trabalhador médio aumenta constantemente. O termo produtividade do trabalho, ou apenas produtividade, refere-se tanto ao produto por trabalhador como em alguns casos, ao produto por hora. (O número de horas trabalhadas por um trabalhador médio, em certa medida, difere entre os países, embora esse não seja um fator importante da diferença de padrão de vida, digamos, entre a Índia e os Estados Unidos.) Neste livro vamos nos concentrar no produto por trabalhador. Para a economia como um todo, produtividade – produto por trabalhador – é apenas o PIB real dividido pelo número de pessoas que trabalham. Talvez você pergunte por que dizemos que o aumento da produtividade é a única fonte de crescimento de longo prazo. Não é possível que uma economia aumente o PIB real per capita, colocando uma maior parcela da população para trabalhar? A resposta é sim, mas... Por curtos períodos, uma economia pode ter uma explosão de crescimento do produto per capita, colocando uma porcentagem maior da população para trabalhar. Isso aconteceu nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, quando milhões de mulheres, que antes só trabalhavam em casa, entraram no mercado de trabalho remunerado. A porcentagem de adultos empregados civis fora de casa passou de 50% em 1941 para 58% em 1944 e, na Figura 9-1, pode-se observar a explosão no PIB real per capita durante esses anos. Contudo, no longo prazo, a taxa de crescimento do emprego nunca é muito diferente da taxa de crescimento da população. Ao longo do século XX, por exemplo, a população dos Estados Unidos aumentou em média 1,3% ao ano e o emprego aumentou 1,5 % ao ano. O PIB real per capita aumentou 1,9 % ao ano dos quais, 1,7%, ou seja, quase 90% do total, resultou do aumento da produtividade. Em geral, o PIB real total pode crescer por causa do aumento da população, mas qualquer grande aumento do PIB real per capita deve ser resultante do aumento do produto por trabalhador. Isto é, deve ser em razão de uma maior produtividade. Assim, o aumento da produtividade é a chave para o crescimento econômico de longo prazo. Mas o que acarreta uma produtividade maior?

Explicando o aumento da produtividade Há três razões principais pelas quais o trabalhador médio nos Estados Unidos produz

hoje muito mais do que sua contraparte há um século. Primeiro, o trabalhador moderno tem muito mais capital físico, como máquinas e espaço de escritório, para trabalhar. Segundo, o trabalhador moderno é mais bem educado e, assim, possui muito mais capital humano. Finalmente, as empresas modernas têm a vantagem de acúmulo de avanços técnicos de um século que refletem uma grande quantidade de progresso tecnológico. Analisemos cada um desses fatores, por vez.

Aumento do capital físico Os economistas definem o capital físico como recursos manufaturados, tais como edifícios e máquinas. O capital físico torna os trabalhadores mais produtivos. Por exemplo, um trabalhador operando uma escavadora pode abrir muito mais área de canais por dia do que um que tenha apenas uma pá. Hoje, o trabalhador médio do setor privado dos Estados Unidos é apoiado por mais de $150.000 de valor em capital físico – muito mais do que um trabalhador americano médio tinha há 100 anos e muito mais do que hoje o trabalhador médio tem na maioria dos outros países.

Aumento do capital humano Não basta que um trabalhador tenha bom equipamento, também precisa saber o que fazer com ele. O capital humano refere-se à melhoria no trabalho criada pela educação e conhecimento incorporado à força de trabalho. O capital humano nos Estados Unidos aumentou drasticamente ao longo do século passado. Um século atrás, embora a maioria dos americanos soubesse ler e escrever, poucos tinham uma educação mais ampla. Em 1910, apenas 13,5% daqueles com mais de 25 anos tinham completado o ensino médio e apenas 3% tinham diploma universitário de quatro anos. Em 2010, essas porcentagens eram de 87% e 30%, respectivamente. Seria impossível fazer funcionar a economia de hoje com uma população com nível de educação tão baixo como há um século. A análise baseada na contabilidade do crescimento, descrita posteriormente neste capítulo, sugere que a educação – e seu efeito sobre a produtividade – é um determinante ainda mais importante do crescimento que o aumento do capital físico.

Progresso tecnológico Provavelmente, o motor mais importante do crescimento da produtividade é o progresso tecnológico, amplamente definido como avanço nos meios técnicos para a produção de bens e serviços. Mais adiante veremos como os economistas medem o impacto da tecnologia sobre o crescimento. Os trabalhadores de hoje são capazes de produzir mais do que os do passado, mesmo com a mesma quantidade de capital físico e humano, porque a tecnologia avançou ao longo do tempo. É importante perceber que o progresso tecnológico que importa para a

economia não precisa ser brilhante ou depender de ciência de ponta. Os historiadores notaram que o crescimento econômico no passado foi impulsionado não só pelas grandes invenções, como as estradas de ferro ou o chipe semicondutor, mas também por milhares de inovações modestas, como o saco de papel com fundo dobrável, uma patente de 1870, que tornou muito mais fácil empacotar mantimentos e muitos outros bens, e o Post-it® (bloquinho de papel aderente), lançado em 1981, que teve benefícios surpreendentemente grandes para a produtividade do escritório. Os especialistas atribuem grande parte da produtividade que ocorreu nos Estados Unidos no final do século XX, a novas tecnologias adotadas pelas empresas de varejo, como o Walmart, e não a empresas de alta tecnologia.

Determinantes do crescimento: a função de produção agregada A produtividade é maior, com tudo o mais mantido constante, quando os trabalhadores estão equipados com mais capital físico, mais capital humano, melhor tecnologia, ou qualquer combinação dos três. Mas é possível colocar cifras nesses efeitos? Para fazer isso, os economistas usam estimativas da função de produção agregada, que mostra como a produtividade depende das quantidades de capital físico e humano por trabalhador, bem como do estado da tecnologia. Em geral, todos os três fatores tendem a aumentar ao longo do tempo, à medida que os trabalhadores são equipados com mais máquinas, recebem mais educação e são beneficiados por avanços tecnológicos. A função de produção agregada permite aos economistas separar os efeitos desses três fatores sobre a produtividade geral. Um exemplo de função de produção agregada aplicada a dados reais vem de um estudo comparativo entre o crescimento econômico chinês e indiano pelos economistas Barry Bosworth e Susan Collins, da Brookings Institution. Eles usaram a seguinte função de produção agregada:

onde T representa uma estimativa do nível de tecnologia e eles assumiram que cada ano de educação aumente o capital humano em 7%. Usando essa função, tentaram explicar por que a China cresceu mais rápido que a Índia, entre 1978 e 2004. Cerca de metade da diferença, segundo eles, deveu-se aos níveis mais elevados de gastos de investimento da China, que elevou o nível de capital físico por trabalhador mais rapidamente do que na Índia. A outra metade foi devido ao progresso tecnológico chinês mais rápido. Ao analisar o crescimento econômico histórico, os economistas descobriram um fato crucial sobre a função de produção global estimada: apresenta retornos decrescentes ao

capital físico. Ou seja, quando a quantidade de capital humano por trabalhador e o estado da tecnologia são mantidos fixos, cada aumento sucessivo na quantidade de capital físico por trabalhador leva a um aumento menor na produtividade. A Figura 9-4 e tabela à direita fornecem um exemplo hipotético de como o nível de capital físico por trabalhador pode afetar o nível do PIB real por trabalhador, mantendo o capital humano por trabalhador e o estado da tecnologia constante. Nesse exemplo, a quantidade de capital físico é medida em dólares.

FIGURA 9-4 Capital físico e produtividade A função de produção agregada mostra como, neste caso, mantidos constantes o capital humano por trabalhador e a tecnologia, a produtividade aumenta à medida que o capital físico por trabalhador aumenta. Com tudo o mais mantido constante, uma maior quantidade de capital físico por trabalhador resulta em aumentar o PIB real por trabalhador, mas está sujeito a retornos decrescentes: cada adição sucessiva de capital físico por trabalhador produz um aumento menor na produtividade. A partir da origem, zero, um aumento de $20.000 no capital físico por trabalhador acarreta um aumento no PIB real por trabalhador de $30.000, indicado pelo ponto A. A partir do ponto A, um aumento a mais de $20.000 no capital físico por trabalhador causa um aumento do PIB real por trabalhador, mas de apenas de $20.000, indicado pelo ponto B. Finalmente, um terceiro aumento de $20.000 no capital físico por trabalhador ocasiona um aumento de apenas $10.000 no PIB real por trabalhador, indicado pelo ponto C.

Para verificar por que a relação entre capital físico por trabalhador e produtividade apresenta retornos decrescentes, pense em como os equipamentos agrícolas afetam a produtividade dos trabalhadores agrícolas. Um pouco de equipamento faz uma grande diferença: um trabalhador equipado com um trator pode fazer muito mais do que um trabalhador que não tenha um trator. E um trabalhador que usa equipamento mais caro, tudo o mais mantido constante, será mais produtivo: um trabalhador com um trator de $40 mil, normalmente, será capaz de cultivar mais terras, em determinado tempo, que um trabalhador com um trator de $20 mil, porque a máquina mais cara será mais poderosa, desempenhará mais funções, ou ambos. Mas será que um trabalhador com um trator de $40.000, mantidos constantes o capital humano e a tecnologia, terá o dobro de produtividade de um trabalhador com um trator de $20 mil? Provavelmente não: há uma enorme diferença entre não ter um trator e ter um trator mesmo sendo mais barato. Há muito menos diferença entre ter um trator

barato e ter um trator melhor. E é certo que um trabalhador com um trator de $200.000 não vai ser 10 vezes mais produtivo: um trator não pode ser melhorado tanto. Porque o mesmo é verdade para outros tipos de equipamentos, a função de produção agregada mostra retornos decrescentes ao capital físico. Retornos decrescentes ao capital físico implicam uma relação entre capital físico por trabalhador e produto por trabalhador, como mostra a Figura 9-4. Como a curva da produtividade do capital físico e a tabela a seguir ilustra, mais capital físico por trabalhador leva a mais produto por trabalhador. Mas cada incremento de $20.000 no capital físico por trabalhador contribui menos para a produtividade. Como se depreende da tabela, há uma grande recompensa para os primeiros $20.000 de capital físico: o PIB real por trabalhador aumenta em $30.000. O segundo acréscimo de $20.000 de capital físico também aumenta a produtividade, mas não tanto: o PIB real por trabalhador sobe apenas $20.000. O terceiro acréscimo de $20.000 de capital físico eleva o PIB real por trabalhador apenas em $10.000. Ao comparar os pontos ao longo da curva, pode-se observar que à medida que aumenta o capital físico por trabalhador, o produto por trabalhador também aumenta – mas a uma taxa decrescente. Vai da origem zero ao ponto A. Um aumento de $20.000 em capital físico por trabalhador acarreta um aumento de $30.000 no PIB real por trabalhador. Vai do ponto A ao ponto B. Um segundo aumento de $20.000 no capital físico por trabalhador leva a um aumento de apenas $20.000 no PIB real por trabalhador. E do ponto B ao ponto C, um aumento de $20.000 no capital físico por trabalhador aumenta o PIB real por trabalhador em apenas $10.000. É importante perceber que o retorno decrescente ao capital físico é um fenômeno do tipo “tudo o mais mantido constante”: montantes adicionais de capital físico são menos produtivos quando montantes de capital humano por trabalhador e tecnologia são mantidos fixos. Os retornos decrescentes podem desaparecer aumentando a quantidade de capital humano por trabalhador ou melhorando a tecnologia, ou ambos, ao mesmo tempo em que é aumentado o montante de capital físico por trabalhador.

Armadilhas Pode ser decrescente... mas ainda é positivo É importante entender o que significa e o que não significa retornos decrescentes ao capital físico. Como já explicamos, é uma explicação do tipo “tudo o mais mantido constante”: mantendo a quantidade de capital humano por trabalhador e a tecnologia fixos, cada aumento sucessivo na quantidade de capital físico por trabalhador resulta em um menor crescimento do PIB real por trabalhador. Mas isso não significa que o PIB real por trabalhador finalmente caia à medida que seja adicionado mais e mais capital físico. O aumento do PIB real por trabalhador fica cada vez menor, embora permaneça igual ou superior a zero. Assim, um aumento no capital físico por trabalhador nunca vai reduzir a produtividade. Mas, devido aos retornos decrescentes, em algum momento, aumentar a quantidade de capital físico por trabalhador já não produz um retorno econômico: em algum momento, o aumento do produto é tão pequeno que não vale a pena incorrer no

custo do capital físico adicional. Por exemplo, um trabalhador com um trator de $40 mil, que também foi treinado em técnicas de cultivo avançadas, pode, de fato, ser mais que o dobro produtivo que um trabalhador com um trator de apenas $20.000 e sem capital humano adicional. Mas retornos decrescentes a qualquer insumo – seja capital físico, capital humano ou número de trabalhadores – é uma característica geral da produção. Os cálculos sugerem que, na prática, um aumento de 1% na quantidade de capital físico por trabalhador aumenta o produto por trabalhador em apenas um terço de 1%, ou 0,33%. Na verdade, todos os fatores contribuem para uma maior elevação da produtividade durante o curso do crescimento econômico: o capital físico e o capital humano por trabalhador aumentam como também os avanços em tecnologia. Para separar os efeitos desses fatores, os economistas usam a contabilidade do crescimento que calcula a contribuição de cada fator importante na função de produção agregada para o crescimento econômico. Por exemplo, suponha que as afirmações seguintes sejam verdadeiras: ■ O montante de capital físico por trabalhador cresce 3% ao ano. ■ De acordo com estimativas da função de produção agregada, cada aumento de 1% no capital físico por trabalhador, mantendo constante o capital humano e a tecnologia, aumenta o produto por trabalhador em um terço de 1%, ou 0,33%. Nesse caso, poderíamos estimar que o crescimento do capital físico por trabalhador é responsável por 3% × 0,33 = 1 ponto percentual do crescimento da produtividade por ano. Um procedimento semelhante, mas mais complexo, é usado para estimar os efeitos do crescimento do capital humano. O procedimento é mais complexo porque não há medidas simples em dólar da quantidade de capital humano. A contabilidade do crescimento nos permite calcular o efeito de mais capital físico e humano sobre o crescimento econômico. Mas como estimar os efeitos do progresso tecnológico? Estimando o que sobra depois de levar em conta os efeitos do capital físico e humano. Por exemplo, imaginemos que não houve aumento do capital humano por trabalhador, de modo que podemos nos concentrar em variações no capital físico e em tecnologia. Na Figura 9-5, a curva de baixo mostra a mesma relação hipotética entre o capital físico por trabalhador e o produto por trabalhador mostrado na Figura 9-4. Vamos supor que essa era a relação, dada a tecnologia disponível em 1940. A curva superior também mostra a relação entre capital físico por trabalhador e produtividade, mas dessa vez, dada a tecnologia disponível em 2010. (Escolhemos um deslocamento de 70 anos que nos permite usar a regra dos 70.) A curva de 2010 está deslocada para cima em relação à curva de 1940 porque as tecnologias que se desenvolveram ao longo dos 70 anos anteriores tornaram possível produzir, com determinada quantidade de capital físico por trabalhador, mais produto do que era possível com a tecnologia disponível em 1940. (Observe que as duas curvas são medidas em dólares constantes.)

FIGURA 9-5 Progresso tecnológico e aumento de produtividade O progresso tecnológico eleva a produtividade em determinado nível do capital físico por trabalhador e, portanto, desloca a função de produção agregada para cima. Aqui mantemos fixo o capital humano por trabalhador. Assumimos que a curva inferior (a mesma da Figura 9-4) reflete a tecnologia em 1940 e a curva superior reflete a tecnologia em 2010. Mantendo constantes a tecnologia e o capital humano, a triplicação do capital físico por trabalhador de $20.000 para $60.000 acarreta uma duplicação do PIB real por trabalhador, de $30.000 para $60.000. Isso é mostrado pelo movimento do ponto A para o ponto C, refletindo uma elevação de cerca de 1% ao ano no PIB real por trabalhador. Na realidade, o progresso tecnológico aumentou a produtividade em um determinado nível de capital físico – mostrado aqui pelo deslocamento para cima da curva – e o aumento real do PIB real por trabalhador é mostrado pelo movimento do ponto A para o ponto D. O PIB real por trabalhador cresceu 2% ao ano, levando a uma quadruplicação durante o período. O adicional de 1% no crescimento do PIB real por trabalhador é decorrente da maior produtividade total do fator.

Vamos supor que, entre 1940 e 2010, o montante de capital físico por trabalhador passou de $20.000 para $60.000. Se esse aumento de capital físico por trabalho tivesse ocorrido sem qualquer progresso tecnológico, a economia teria se movido de A para C: o produto por trabalhador teria aumentado, mas somente de $30.000 para $60.000, ou 1% ao ano (o uso da regra dos 70 informa que a taxa de crescimento de 1% em 70 anos duplica o produto). Na verdade, porém, a economia moveu de A para D: o produto aumentou de $30.000 para $120.000, ou 2% ao ano. Houve um aumento tanto no capital físico por trabalhador como em progresso tecnológico, que deslocou a função de produção agregada. Nesse caso, 50% do aumento anual de 2% da produtividade – isto é, 1% do crescimento da produtividade anual – é devido à maior produtividade total dos fatores, a quantidade

de produto que pode ser produzido com determinada quantidade de fatores de produção. Assim, quando aumenta a produtividade total do fator, a economia pode produzir mais produto com a mesma quantidade de capital físico, capital humano e trabalho. A maioria das estimativas acha que aumentos na produtividade total dos fatores são fundamentais para o crescimento econômico de um país. Acreditamos que, de fato, aumentos observados na produtividade total dos fatores medem os efeitos econômicos do progresso tecnológico. Tudo isso implica que a mudança tecnológica é crucial para o crescimento econômico. O Bureau of Labor Statistics calcula a taxa de crescimento tanto da produtividade do trabalho como da produtividade total dos fatores para o setor não agrícola dos Estados Unidos. De acordo com os cálculos do Bureau, durante o período entre 1948 e 2010 a produtividade americana do trabalho aumentou 2,3% ao ano. Apenas 49% desse aumento explica-se por aumentos do capital físico e humano por trabalhador. O resto é explicado pela elevação da produtividade total dos fatores – isto é, pelo progresso tecnológico.

E o papel dos recursos naturais? Até agora, em nossa análise, não mencionamos os recursos naturais, que certamente têm um efeito sobre a produtividade. Tudo o mais mantido constante, países que têm recursos naturais valiosos em abundância, tais como terras férteis ou jazidas minerais ricas, têm o PIB real per capita maior do que os países menos afortunados. O exemplo moderno mais óbvio é o Oriente Médio, onde enormes depósitos de petróleo tornaram alguns países com baixa densidade populacional ricos. Por exemplo, o Kuwait tem aproximadamente o mesmo nível do PIB real per capita que a Alemanha, mas a riqueza do Kuwait é baseada em petróleo e não em manufaturas que são a fonte do produto por trabalhador elevado da Alemanha. Acontece que, muitas vezes, tudo o mais não é mantido constante. No mundo moderno, os recursos naturais são um determinante de produtividade muito menos importante do que o capital humano ou físico para a grande maioria dos países. Por exemplo, alguns países com PIB real per capita, como o Japão, têm recursos naturais escassos. Alguns países ricos em recursos naturais, como a Nigéria (que tem jazidas de petróleo consideráveis), são muito pobres. Historicamente, os recursos naturais desempenharam um papel muito mais importante na determinação da produtividade. No século XIX, os países com PIB real per capita mais elevado eram os que tinham terras férteis e depósitos minerais em abundância: Estados Unidos, Canadá, Argentina e Austrália. Como consequência, os recursos naturais receberam muita atenção no desenvolvimento do pensamento econômico. Em um livro famoso publicado em 1798, Ensaio sobre o Princípio da População, o economista inglês Thomas Malthus tomou como base a quantidade fixa de terra no mundo para uma previsão pessimista sobre a produtividade futura. Enquanto a população crescesse, ressaltava ele, a quantidade de terra por trabalhador cairia. E isso, tudo o mais mantido constante, faria a produtividade cair.

Seu ponto de vista, na verdade, era que as melhorias na tecnologia ou aumentos de capital físico causariam apenas melhorias temporárias de produtividade, porque seria sempre compensada pela pressão de uma população crescente e de mais trabalhadores por terra disponível. No longo prazo, concluiu ele, a grande maioria das pessoas estava condenada a viver no limite da subsistência. Só então a taxa de mortalidade seria alta o suficiente e a taxa de natalidade seria baixa o suficiente para impedir que o rápido crescimento populacional superasse o crescimento da produtividade. Não foi isso que aconteceu, embora muitos historiadores acreditem que a previsão de Malthus, sobre a queda ou estagnação da produtividade, tenha sido válida para grande parte da história humana. A pressão populacional provavelmente impediu grandes aumentos de produtividade até o século XVIII. Mas desde que Malthus escreveu seu livro, qualquer efeito negativo sobre a produtividade do crescimento da população tem sido amplamente compensado por outros fatores positivos – avanços de tecnologia, aumento do capital humano e físico e abertura de enormes quantidades de terras cultiváveis no Novo Mundo. No entanto, a verdade é que vivemos em um planeta finito, com suprimentos limitados de recursos, como o petróleo, e a limitação da capacidade para absorver danos ambientais permanece. Abordaremos as preocupações que essas limitações representam para o crescimento econômico na seção final deste capítulo.

Economia em ação O paradoxo da tecnologia da informação Do início dos anos 1970 até meados dos anos 1990, os Estados Unidos passaram por um período de baixo crescimento da produtividade total de fatores. A Figura 9-6 mostra o cálculo do Bureau of Labor Statistics do crescimento da produtividade total anual dos fatores, na média, para cada período de 10 anos entre 1948 e 2010. Como se pode ver, houve grande queda na taxa de crescimento da produtividade total dos fatores no início da década de 1970. Como a elevada produtividade total dos fatores desempenha um papel fundamental no crescimento de longo prazo, o crescimento global da economia também foi decepcionante, levando a um sentimento generalizado de que o progresso econômico havia paralisado.

FIGURA 9-6 Desaceleração e recuperação do crescimento da produtividade nos Estados Unidos Fonte: Bureau of Labor Statistics.

Muitos economistas ficaram intrigados com a desaceleração da taxa de crescimento da produtividade total dos fatores nos Estados Unidos, depois de 1973, já que, em outros aspectos, parecia ser uma época de rápido progresso tecnológico. A moderna tecnologia da informação realmente começou com o desenvolvimento do primeiro microprocessador, um computador de um chipe em 1971. Nos 25 anos que se seguiram, uma série de invenções que pareciam revolucionárias tornaram-se equipamentos-padrão no mundo dos negócios: máquinas de fax, computadores, telefones celulares e correio eletrônico. No entanto, a taxa de crescimento da produtividade total dos fatores permaneceu estagnada. Em uma observação que ficou famosa, o professor de economia do MIT e Prêmio Nobel, Robert Solow, um dos pioneiros da análise do crescimento econômico, declarou que a revolução da tecnologia da informação podia ser observada em toda parte, exceto nas estatísticas econômicas. Por que a tecnologia da informação não trouxe grandes recompensas? Paul David, professor de história econômica da Universidade de Stanford, ofereceu uma teoria e uma previsão. Ressaltou que 100 anos antes, outro milagre de tecnologia, a energia elétrica, tinha se espalhado pela economia, também com muito pouco impacto sobre o crescimento da produtividade, no início. O motivo, segundo ele, é que uma nova tecnologia não fornece todo o seu potencial se você a usa à moda antiga. Por exemplo, uma fábrica tradicional, por volta de 1900, era um edifício de vários andares, com máquinas bem juntas uma da outra e projetada para usar a energia de um motor a vapor instalado no porão. Esse projeto tinha problemas: era difícil a locomoção de pessoas e materiais dessa forma. No entanto, os proprietários que eletrificaram suas fábricas inicialmente mantiveram essa disposição de vários andares, um layout bem apertado. Somente quando se passou para as fábricas de um só pavimento, com máquinas espalhadas, aproveitou-se a flexibilidade da energia elétrica, a mais famosa

delas, a linha de montagem de automóveis de Henry Ford – assim a produtividade decolou. David sugeriu que o mesmo fenômeno estava acontecendo com a tecnologia de informação. A produtividade, segundo previu, iria decolar quando as pessoas realmente mudassem a maneira de fazer negócios para aproveitar a nova tecnologia, tal como substituindo cartas e telefonemas por correio eletrônico. Com certeza, o crescimento da produtividade acelerou drasticamente na segunda metade da década de 1990 quando empresas como o Walmart descobriram o uso eficaz da tecnologia da informação.

Breve revisão ■ A melhora do padrão de vida no longo prazo surge quase que inteiramente do crescimento da produtividade do trabalho, muitas vezes chamada apenas produtividade. ■ O aumento do capital físico resulta em uma fonte de produtividade mais alta, mas está sujeito a retornos decrescentes ao capital físico. ■ O capital humano e o progresso tecnológico também são fontes de aumento da produtividade. ■ A função de produção agregada é usada para estimar as fontes de aumento da produtividade. A contabilidade do crescimento mostra que o aumento da produtividade total do fator, interpretada como efeito do progresso tecnológico, é fundamental para o crescimento econômico de longo prazo. ■ Os recursos naturais hoje são menos importantes do que o capital físico e humano como fonte de crescimento da produtividade na maioria das economias.

Teste seu entendimento 9-2 1. Explique o efeito de cada um dos seguintes eventos sobre a taxa de crescimento da produtividade. a. A quantidade de capital físico e humano por trabalhador se mantém inalterada, mas há progresso tecnológico significativo. b. A quantidade de capital físico por trabalhador aumenta a um ritmo constante, mas o nível de capital humano por trabalhador e tecnologia mantém-se inalterado. 2. O produto na economia de Erewhon cresceu 3% ao ano nos últimos 30 anos. A força do trabalho cresceu 1% ao ano e a quantidade de capital físico cresceu 4% ao ano. O nível de escolaridade média não mudou. Segundo as estimativas dos economistas, cada 1% de aumento no capital físico por trabalhador, tudo o mais mantido constante, aumenta a produtividade em 0,3%. (Dica: variação % em (X/Y) = variação % em X – variação % em Y.) a. Com que rapidez a produtividade de Erewhon aumentou? b. Com que rapidez o capital físico por trabalhador aumentou? c. Quanto o crescimento do capital físico por trabalhador contribuiu para o crescimento da produtividade? Qual é essa porcentagem de crescimento da

produtividade? d. Quanto o progresso tecnológico contribuiu para o crescimento da produtividade? Qual é essa porcentagem de crescimento da produtividade? 3. Multinomics é uma empresa de grande porte com muitos escritórios em todo o país. Acaba de adotar um novo sistema informático que vai afetar praticamente todas as funções realizadas dentro da empresa. Por que possivelmente vai demorar algum tempo antes que a produtividade dos empregados melhore com o novo sistema? Por que pode haver uma redução temporária na produtividade dos empregados? As respostas estão no fim do livro.

Por que taxas de crescimento diferem Em 1820, de acordo com estimativas do historiador econômico Angus Maddison, o México tinha um PIB per capita um pouco maior do que o do Japão. Hoje, o Japão tem um PIB real per capita superior ao da maioria dos países europeus e o México é um país pobre, embora longe de estar entre os mais pobres. Qual a diferença? No longo prazo, o PIB real per capita cresceu 1,9% ao ano no Japão, mas apenas 1,3% no México. Como o exemplo ilustra, mesmo pequenas diferenças nas taxas de crescimento têm grandes consequências no longo prazo. Então, por que as taxas de crescimento diferem entre países e entre determinados períodos?

Explicação das diferenças nas taxas de crescimento Como é de se esperar, economias com crescimento rápido geralmente são as que adicionam o capital físico, aumentam o capital humano ou apresentam rápido progresso tecnológico. Histórias econômicas de sucesso marcantes, como o Japão dos anos 1950 e 1960, ou a China de hoje, em geral são países que fazem as três coisas juntas: adicionam capital físico rapidamente por meio de poupança elevada e gastos de investimento, melhoraram o nível educacional e têm rápido progresso tecnológico. As evidências também apontam para a importância das políticas governamentais, direitos de propriedade, estabilidade política e boa governança na promoção das fontes de crescimento.

Poupança e gastos de investimento Uma das razões da diferença das taxas de crescimento entre países é que alguns países estão aumentando o estoque de capital físico muito mais rapidamente do que outros, por meio de altas taxas de gastos de investimento. Na década de 1960, o Japão era a economia que mais crescia e também gastava em bens de investimento uma parcela muito maior do PIB do que outras grandes economias. Hoje, a China é a economia que mais cresce e, do mesmo modo, gasta grande parte do seu PIB em bens de investimento. Em 2010, o gasto de investimento na China foi de 38% do PIB, em comparação com apenas 16% nos Estados Unidos. De onde vem o dinheiro para esses gastos de investimentos elevados? Da poupança. No próximo capítulo, analisaremos como os mercados financeiros canalizam a poupança para gastos de investimento. Por enquanto, o ponto essencial é que o gasto de investimento tem que ser pago com a poupança das famílias nacionais ou com a poupança de famílias estrangeiras, ou seja, com entrada de capital estrangeiro. O capital estrangeiro desempenhou um papel importante no crescimento econômico de longo prazo de alguns países, incluindo os Estados Unidos, que se apoiou fortemente em fundos estrangeiros durante o início da industrialização. Entretanto, na maior parte dos casos, países que investem grande parte do seu PIB são capazes de fazê-lo por ter

uma grande poupança interna. Na verdade, a China, em 2010, poupou uma porcentagem ainda maior do PIB do que investiu internamente. A poupança extra foi investida no exterior, principalmente nos Estados Unidos. Uma das razões para as diferenças nas taxas de crescimento, então, é que os países agregam montantes diferentes aos estoques de capital físico, porque têm diferentes taxas de poupança e de gastos de investimento.

Educação Assim como os países diferem substancialmente na rapidez com que expandem seu capital físico, há grande diferença na taxa e expansão do capital humano por meio da educação. Um caso em questão é a comparação entre a Argentina e a China. Em ambos os países o nível educacional médio aumentou de forma constante ao longo do tempo, mas aumentou muito mais rápido na China. A Figura 9-7 mostra a média de anos de educação de adultos na China, que destacamos como um exemplo espetacular de crescimento no longo prazo, e na Argentina, um país cujo crescimento tem sido decepcionante. Comparada com a China, há 60 anos, a Argentina tinha uma população muito mais educada, enquanto muitos chineses ainda eram analfabetos. Hoje, o nível de escolaridade média na China ainda é ligeiramente inferior ao da Argentina – principalmente porque ainda há muitos idosos que nunca receberam educação básica. Em termos de ensino secundário e superior, a China ultrapassou a outrora rica Argentina.

FIGURA 9-7 Os estudantes na China estão se recuperando Tanto na China como na Argentina, o nível médio educacional – medido pelo número de anos que o adulto médio com 25 anos ou mais passa na escola – tem aumentado ao longo do tempo. Embora a China ainda esteja atrasada em relação à Argentina, está se aproximando – e o sucesso da China na adição de capital humano é a chave do crescimento espetacular no longo prazo. Fonte: Robert Barro and Jong-Wha Lee. “A New Data Set of Educational Attainment in the World, 1950– 2010”, NBER Working Paper n. 15902 (April 2010).

Pesquisa e Desenvolvimento O avanço da tecnologia é uma força fundamental por trás do crescimento econômico. O que impulsiona o progresso tecnológico? Os avanços científicos tornam possíveis as novas tecnologias. Para tomar o exemplo mais espetacular no mundo de hoje, o chipe semicondutor – que é a base de toda a tecnologia da informação moderna – não poderia ter sido desenvolvido sem a teoria da mecânica quântica da física. Mas a ciência por si só não é suficiente: o conhecimento científico deve ser traduzido em produtos e processos úteis. E isso muitas vezes requer dedicação de grande quantidade de recursos para pesquisa e desenvolvimento, ou P&D, gastos para criar novas tecnologias e colocá-las em prática. Embora alguns recursos para pesquisa e desenvolvimento venham da parte do governo, a maioria dos recursos para P&D vem do setor privado, como discutido mais adiante. Os Estados Unidos tornaram-se a principal economia do mundo, em grande parte porque as empresas americanas estiveram entre as primeiras a tornar a pesquisa e o desenvolvimento, de modo sistemático, uma parte de suas operações. Veja em Para mentes curiosas, a seguir, como Thomas Edison criou o primeiro laboratório de pesquisa industrial moderno.

Para mentes curiosas

A invenção de P&D Thomas Edison é mais conhecido como o inventor da lâmpada elétrica e do fonógrafo. Mas a sua maior invenção pode surpreendê-lo: inventou pesquisa e desenvolvimento. Antes da época de Edison, houve muitos inventores. Alguns deles trabalhavam em equipe. Mas em 1875, Edison criou algo novo: o laboratório em Menlo Park, New Jersey. Empregava 25 pessoas em tempo integral para gerar novos produtos e processos para as empresas. Em outras palavras, não tinha a intenção de ir atrás de uma ideia específica e depois explorá-la. Ele criou uma organização cujo propósito era criar novas ideias, ano após ano. O laboratório de Edison em Menlo Park agora é um museu. “Para citar apenas alguns dos produtos que foram desenvolvidos em Menlo Park”, informa o site do museu, “podemos mencionar os seguintes: o bocal de carbono para o telefone, o fonógrafo, a lâmpada incandescente e o sistema de distribuição de energia elétrica, o trem elétrico, a separação de minérios, o efeito da lâmpada de Edison, experimentos iniciais em comunicação sem fio, o telégrafo sem fio e melhorias na transmissão telegráfica”. Pode-se dizer que antes do laboratório de Edison, a tecnologia mais ou menos acontecia: as pessoas tinham ideias, mas as empresas não planejam tornar o progresso tecnológico contínuo. Agora, operações de P&D, com frequência em equipes maiores do que a equipe original de Edison, são uma prática-padrão no mundo empresarial. O desenvolvimento de novas tecnologias é uma coisa, a aplicação é outra. Houve sempre diferenças notáveis no ritmo em que os diversos países se aproveitam das novas tecnologias. Como apresentado na seção Comparação global, neste capítulo, o impulso do crescimento da produtividade nos Estados Unidos, a partir de 1995, à medida que as empresas aprenderam a fazer uso da tecnologia da informação, pelo menos inicialmente, não foi igual ao da Europa.

O papel do governo na promoção do crescimento econômico Os governos podem desempenhar um papel importante na promoção – ou bloqueio – das três fontes de crescimento econômico de longo prazo: capital físico, capital humano e progresso tecnológico. Podem ainda afetar diretamente o crescimento por meio de subsídios aos fatores que promovem o crescimento, ou criando um ambiente que promova ou impeça o crescimento.

Políticas do governo As políticas governamentais podem aumentar a taxa de crescimento da economia através de quatro canais principais. 1 Subsídios do governo para a infraestrutura

Os governos desempenham um papel importante direto na construção de infraestrutura: estradas, linhas de energia, portos, redes de informação e outros projetos com capital físico de larga escala que fornecem a base para a atividade econômica. Apesar de algumas empresas privadas gerarem alguma infraestrutura, a maioria é fornecida pelo governo ou exige uma grande dose de regulação e apoio do governo. A Irlanda é citada, com frequência, como um exemplo da importância da promoção de infraestrutura pelo governo. Depois que o governo investiu em uma excelente infraestrutura de telecomunicações na década de 1980, a Irlanda tornou-se um local privilegiado para as empresas de alta tecnologia do exterior e sua economia decolou na década de 1990.

Comparação global A velha europa e a nova tecnologia Os Estados Unidos experimentaram uma explosão de crescimento de produtividade a partir de 1995, provavelmente porque as empresas, finalmente, compreenderam como usar a tecnologia de informação moderna de forma efetiva. Como veremos no estudo de caso no final deste capítulo, a aceleração do progresso tecnológico foi especialmente dramática na distribuição – ou seja, no negócio de fornecer bens para os consumidores. Mas o resto do mundo teve uma experiência de decolagem semelhante? A resposta é: nem todos. A figura mostra cinco anos de taxa média de crescimento da produtividade do trabalho nos Estados Unidos e em quatro economias grandes do Oeste Europeu – França, Alemanha, Itália e Reino Unido – de 1970 a 2009. A Europa alcançou consistentemente maior crescimento da produtividade do que os Estados Unidos. Mas nos anos que se seguiram, o crescimento europeu caiu, enquanto o crescimento dos Estados Unidos subiu por uma década. Em meados da década de 2000, a taxa de crescimento da produtividade dos Estados Unidos tinha voltado aos níveis de antes do surgimento da tecnologia da informação. Há uma grande controvérsia sobre por que grande parte da Europa não compartilhou desse ímpeto de produtividade e se isso logo também alcançaria os Estados Unidos. Alguns economistas argumentam que os altos níveis de regulação governamental tornaram difícil para as empresas europeias reorganizar-se para tirar proveito da nova tecnologia. O que está claro é que, pelo menos por uma década, a Europa ficou para trás.

Fonte: Bureau of Labor Statistics.

Infraestrutura deficiente, como a rede de energia que muitas vezes falha e corta a eletricidade, é um grande obstáculo para o crescimento econômico em muitos países. Para fornecer infraestrutura adequada, uma economia não deve apenas ser capaz de conseguir pagá-la, mas também deve ter disciplina política para mantê-la. Talvez a infraestrutura mais importante seja algo que, em um país avançado, raramente se considera: medidas básicas de saúde pública na forma de abastecimento de água potável e controle de doenças. Como veremos na próxima seção, a infraestrutura precária é um dos principais obstáculos para o crescimento econômico nos países pobres, especialmente os da África. 2 Subsídios do governo para a educação Em oposição ao capital físico, que é criado principalmente por gastos de investimento privado, muito do capital humano de uma economia é resultado de gastos do governo com educação. O governo paga para a grande maioria do ensino primário e secundário. E paga por uma parte significativa da educação superior: 75% dos estudantes frequentam faculdades e universidades públicas e o governo subsidia significativamente a pesquisa realizada em faculdades e universidades privadas. Como resultado, a diferença da taxa de adição de capital humano pelos países reflete em grande parte a política do governo. Como vimos na Figura 9-7, os níveis educacionais na China estão aumentando muito mais rapidamente do que na Argentina. Isso não é porque a China é mais rica do que a Argentina. Até recentemente, era, em média, mais pobre do que a Argentina. Em vez disso, reflete o fato de que o governo chinês tornou a educação da população alta prioridade.

3 Subsídios do governo para P&D O progresso tecnológico, em grande parte, resulta da iniciativa privada. Mas nos países mais avançados, as agências do governo também realizam importante P&D. Na próxima seção Economia em ação, descreveremos o crescimento agrícola do Brasil, que foi possível graças a pesquisadores do governo que fizeram descobertas que expandiram a quantidade de terra arável bem como o desenvolvimento de novas variedades de plantas que florescem no clima do Brasil. 4 A manutenção de um sistema financeiro em bom funcionamento Os governos desempenham um papel indireto importante para possibilitar taxas altas de gasto de investimento privado. Tanto o montante da poupança como a capacidade de uma economia de dirigir a poupança para gastos de investimento produtivo dependem das instituições da economia, em especial do sistema financeiro. Um sistema financeiro particularmente bem regulado e em bom funcionamento é muito importante para o crescimento econômico, pois na maioria dos países é a principal forma pela qual as poupanças são canalizadas para os gastos de investimento. Se os cidadãos de um país confiam nos bancos, irão colocar as economias em depósitos bancários, que os bancos irão emprestar aos seus clientes empresariais. Mas se as pessoas não confiam neles, vão acumular ouro ou moeda estrangeira, mantendo as economias em cofres ou debaixo do colchão, onde não podem ser transformadas em gastos de investimento produtivo. Como discutiremos mais tarde, um sistema financeiro que funcione bem requer regulamentação governamental adequada para garantir aos depositantes que seus fundos estarão protegidos de perdas.

Proteção dos direitos de propriedade Direitos de propriedade são direitos dos proprietários de itens valiosos para aliená-los como quiserem. Um subconjunto, direitos de propriedade intelectual, são os direitos de um inovador de obter os frutos de sua inovação. O estado de direito da propriedade, em geral, e do direito da propriedade intelectual, em particular, é um fator importante para explicar as diferenças nas taxas de crescimento entre as economias. Por quê? Porque ninguém se incomodaria de gastar esforço e recursos para inovar, se alguém pudesse se apropriar dessa inovação e capturar as recompensas. Assim, para que a inovação floresça, os direitos de propriedade intelectual devem receber proteção. Às vezes, consegue-se isso através da natureza da inovação: talvez seja muito difícil ou dispendioso copiar. Mas, em geral, o governo tem que proteger os direitos de propriedade intelectual. Uma patente é um monopólio temporário criado pelo governo e concedido ao inovador pelo uso e venda da inovação. É um monopólio temporário e não permanente, porque, embora seja do interesse da sociedade dar incentivo ao inovador para inventar, também é do interesse da sociedade eventualmente incentivar a competição.

Para mentes curiosas A nova teoria do crescimento Até os anos 1990, os modelos econômicos de progresso tecnológico supunham que era um mistério o que resultava em inovação – desconhecido e imprevisível. Nas palavras dos economistas, as fontes de progresso tecnológico eram exógenas – e estavam fora dos modelos de economia. Assumiam que “simplesmente acontecia”. Então, em uma série de documentos influentes escritos nas décadas de 1980 e 1990, Paul Romer fundou o que hoje chamamos de “a Nova Teoria do Crescimento”. No modelo de Romer, o progresso tecnológico era explicável porque, na verdade, era endógeno – resultado das variáveis e incentivos econômicos. E como era endógeno, podiam ser adotadas políticas para promover o seu crescimento. A qualquer momento, uma economia tem um estoque de capital de conhecimento – o conhecimento acumulado gerado por investimentos passados em pesquisa e desenvolvimento, educação e melhorias de habilidades, bem como o conhecimento adquirido de outras economias. E esse estoque de capital de conhecimento está espalhado por toda a economia, por isso todas as empresas se beneficiam dele. De acordo com a Nova Teoria do Crescimento, um estoque de capital de conhecimento crescente cria a base para o progresso tecnológico, como inovação, partilhado por empresas de toda a economia, e torna possível mais inovação. Por exemplo, a tecnologia de toque de tela – desenvolvida na década de 1970 e 1980 – tornou-se a base para desenvolvimentos posteriores, como smart-phones e tablets. No entanto, como Romer indicou, há uma questão grave nessa história: devido ao conhecimento ser compartilhado com toda a economia, pode ser muito difícil para uma empresa inovadora captar os frutos de sua inovação enquanto outros exploram a inovação para seu próprio interesse. Assim, na Nova Teoria do Crescimento, a proteção do governo dos direitos de propriedade intelectual é fundamental para promover o progresso tecnológico. Além disso, os governos, as instituições e as empresas podem aumentar o progresso tecnológico, subsidiando investimentos em educação e pesquisa e desenvolvimento, que, por sua vez, podem aumentar o estoque de capital de conhecimento. Ao fornecer um modelo melhor da origem do progresso tecnológico, a Nova Teoria do Crescimento deixa claro a importância das políticas de governo, instituições e empresas em promovê-lo.

Estabilidade política e boa governança Não há muito sentido em investir em um negócio se houver tumultos suscetíveis de destruí-lo ou poupar dinheiro se houver alguém com ligações políticas que possa roubálo. A estabilidade política e a boa governança (incluindo a proteção dos direitos de propriedade) são ingredientes essenciais na promoção do crescimento econômico de longo prazo.

O crescimento econômico de longo prazo em economias de sucesso, como a dos Estados Unidos, tem sido possível porque há boas leis, instituições que aplicam essas leis e um sistema político estável que mantém essas instituições. A lei deve dizer que a propriedade é realmente sua, para que ninguém possa tirá-la. Os policiais e os tribunais devem ser honestos para que não possam ser subornados para ignorar a lei. E o sistema político deve ser estável, de modo que as leis não mudem ao capricho de alguém. Os americanos tomam essas precondições como dadas e naturais, mas estão longe de estar garantidos. Fora as rupturas causadas pela guerra ou pela revolução, muitos países verificam que o crescimento econômico sofre em razão da corrupção entre funcionários públicos, que deveriam estar fazendo a lei ser cumprida. Por exemplo, até 1991, o governo da Índia impunha muitas restrições burocráticas às empresas, que muitas vezes tinham que subornar funcionários do governo para obter aprovação até mesmo para atividades de rotina – como se fosse um imposto sobre a atividade do negócio. Os economistas argumentam que a redução desse peso da corrupção é uma das razões pelas quais o crescimento da Índia tem sido muito mais rápido nos últimos anos. Mesmo quando os governos não são corruptos, a intervenção governamental excessiva pode ser um freio para o crescimento econômico. Quando grande parte da economia é apoiada por subsídios do governo, protegida de importações, sujeita a monopolização desnecessária, ou de outra forma isolada da competição, a produtividade tende a sofrer devido à falta de incentivos. Como veremos na próxima seção, a intervenção governamental excessiva é uma explicação, muitas vezes citada, para o crescimento lento da América Latina.

Economia em ação Brasil, celeiro do mundo? Uma piada brasileira meio irônica diz que “o Brasil é o país do futuro e sempre será”. O país que tem a quinta população do mundo tem sido considerado, muitas vezes, uma possível potência econômica importante, mas nunca cumpriu a promessa. Nos últimos anos, no entanto, a economia do Brasil deu mostras de melhora, especialmente na agricultura. Esse sucesso depende da exploração de um recurso natural, as terras da savana tropical conhecidas como cerrado. Mas um quarto de século atrás, essa terra era considerada inadequada para a agricultura. Isso foi mudado pela combinação de três fatores: progresso tecnológico devido à pesquisa e desenvolvimento, melhoria da política econômica e maior capital físico. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Embrapa, uma agência do governo, desenvolveu as tecnologias cruciais. Mostrou que a adição de cal e fósforo tornava as terras do cerrado produtivas, e desenvolveu raças de gado e variedades de soja adaptadas ao clima. (Atualmente estão fazendo pesquisas com o trigo.) Além disso, até os anos 1980, a política comercial do Brasil desencorajava as exportações, assim como uma taxa de câmbio sobrevalorizada fazia os bens do país ficarem mais caros para os estrangeiros. Após a reforma econômica, tornou-se muito mais rentável investir na

agricultura brasileira e as empresas começaram a colocar em operação a maquinaria agrícola, construções e outras formas de capital físico necessário para explorar a terra. O que ainda limita o crescimento do Brasil? Infraestrutura. De acordo com uma reportagem do New York Times, os agricultores brasileiros estão “preocupados com a falta de estradas, ferrovias e vias fluviais confiáveis, o que aumenta o custo de fazer negócios”. Reconhecendo isso, o governo brasileiro está investindo em infraestrutura, e a agricultura brasileira continua a se expandir. O país já ultrapassou os Estados Unidos como maior exportador de carne bovina do mundo, e não está muito longe em relação à soja.

Breve revisão ■ Os países diferem muito nas taxas de crescimento do PIB real per capita devido a diferenças no ritmo que acumulam capital físico e humano, bem como nas diferenças de progresso tecnológico. A principal causa das diferenças nas taxas de crescimento são as diferenças nas taxas de poupança interna e nos gastos de investimento, bem como as diferenças nos níveis de educação e pesquisa e desenvolvimento, ou P&D. Em grande parte, P&D impulsiona o progresso tecnológico. ■ As ações do governo podem promover ou prejudicar as fontes de crescimento de longo prazo. ■ As políticas governamentais que promovem o crescimento diretamente são os subsídios para infraestrutura, especialmente infraestrutura de saúde pública, para educação, para P&D e a manutenção de um sistema financeiro que funcione bem. ■ Os governos melhoraram o ambiente para o crescimento protegendo os direitos de propriedade (especialmente direitos de propriedade intelectual, por meio de patentes), proporcionando estabilidade política e através de uma boa governança. A má governança inclui corrupção e intervenção excessiva do governo.

Teste seu entendimento 9-3 1. Explique a relação entre a taxa de crescimento de um país, o gasto de investimento como porcentagem do PIB e a poupança doméstica. 2. Os centros universitários de pesquisa em biotecnologia nos Estados Unidos têm relações mais estreitas com as empresas privadas de biotecnologia do que seus homólogos europeus. Que efeito isso pode ter sobre o ritmo de criação e desenvolvimento de novos medicamentos nos Estados Unidos em comparação com a Europa? 3. Durante a década de 1990, na antiga URSS, muitas propriedades foram apreendidas e controladas por quem estava no poder. Como isso pode ter afetado a taxa de crescimento do país? Explique. As respostas estão no fim do livro.

Êxito, decepção e fracasso Como vimos, as taxas de crescimento econômico de longo prazo diferem bastante em todo o mundo. Observamos três regiões do mundo que mostram experiências bastante diferentes de crescimento econômico nas últimas décadas. A Figura 9-8 apresenta a tendência do PIB real per capita desde 1960, em dólares de 2000, para três países: Argentina, Nigéria e Coreia do Sul. (Como na Figura 9-1, o eixo vertical é traçado em escala logarítmica.) Escolhemos esses países porque cada um deles é um exemplo particularmente notável do que aconteceu na sua região. O crescimento surpreendente da Coreia do Sul é parte de um amplo “milagre econômico” da Ásia Oriental. O lento progresso da Argentina, interrompido por reveses repetidos, é mais ou menos típico do crescimento decepcionante que tem caracterizado a América Latina. E a história infeliz da Nigéria, até muito recentemente – com pouco crescimento do PIB real até depois de 2000 – foi uma experiência compartilhada por muitos países africanos, infelizmente.

FIGURA 9-8 Êxito e decepção Eis aqui o PIB real per capita de1960 a 2010, em dólares de 2000, para a Argentina, Coreia do Sul e Nigéria, em escala logarítmica. A Coreia do Sul e alguns outros países do Leste Asiático têm tido sucesso em alcançar crescimento econômico. A Argentina, como grande parte da América Latina, teve vários contratempos que reduziram o ritmo de crescimento. O padrão de vida da Nigéria, em 2010, era apenas um pouco superior ao de 1960, uma experiência compartilhada por muitos países africanos. Nem a Argentina nem a Nigéria apresentaram muito crescimento ao longo de um período de 50 anos, embora ambos países tenham apresentado crescimento significativamente maior nos últimos anos. Fonte: Banco Mundial.

O milagre do Leste Asiático Em 1960, a Coreia do Sul era um país muito pobre. De fato, em 1960, seu PIB real per capita era mais baixo que o da Índia hoje. Mas como se vê na Figura 9-8, a partir do início da década de 1960 a Coreia do Sul começou uma ascensão econômica extremamente rápida: o PIB real per capita cresceu mais de 7% ao ano por mais de 30 anos. Hoje, a Coreia do Sul, embora ainda um pouco mais pobre que a Europa e os Estados Unidos, é muito parecida com um país avançado economicamente. O crescimento econômico da Coreia do Sul não tem precedente na história: o país levou apenas 35 anos para atingir um crescimento que levou séculos em outros lugares. No entanto, a Coreia do Sul é apenas parte de um fenômeno mais amplo, muitas vezes referido como milagre econômico do Leste Asiático. Elevadas taxas de crescimento apareceram primeiro na Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong e Cingapura, mas depois se espalharam por toda a região, principalmente para a China. Desde 1975, essa região aumentou o PIB real per capita em 6% ao ano, mais de três vezes a taxa histórica de crescimento dos Estados Unidos. Como os países asiáticos conseguiram taxas de crescimento tão elevadas? A resposta é que todas as fontes de crescimento da produtividade têm funcionado a todo vapor. Taxas de poupança altas, a porcentagem do PIB que é poupada nacionalmente em um ano determinado, permitiram aos países aumentarem significativamente o montante de capital físico por trabalhador. Ensino básico de qualidade tem permitido uma melhoria rápida no capital humano. E esses países experimentaram progresso tecnológico substancial. Por que outras economias não alcançaram esse tipo de crescimento no passado? A maioria dos analistas econômicos acha que o surto de crescimento do Leste Asiático foi possível por causa do seu atraso relativo. Ou seja, no momento em que essas economias começaram a se integrar no mundo moderno, puderam se beneficiar da adoção dos progressos tecnológicos que tinham sido gerados em países tecnologicamente avançados, como os Estados Unidos. Em 1900, os Estados Unidos não poderia ter passado rapidamente para um nível moderno de produtividade porque grande parte da tecnologia que alimenta a economia moderna, de aviões a jato a computadores, ainda não tinha sido inventada. Em 1970, a Coreia do Sul provavelmente ainda tinha produtividade do trabalho mais baixa do que os Estados Unidos tinham em 1900, mas pôde melhorar a produtividade rapidamente através da adoção da tecnologia que havia sido desenvolvida nos Estados Unidos, na Europa e no Japão ao longo do século XX. Além disso, promoveu um enorme investimento em capital humano através da escolaridade generalizada. A experiência do Leste Asiático demonstra que o crescimento econômico pode ser especialmente rápido nos países que estão tentando alcançar outros países com PIB per capita mais alto. Nessa base, muitos economistas sugeriram um princípio geral conhecido como hipótese de convergência, que diz que a diferença no PIB real per capita entre países tende a diminuir ao longo do tempo, porque os países que começam com um PIB real per capita mais baixo tendem a ter taxas de crescimento mais elevadas.

Analisaremos a evidência sobre a hipótese da convergência em Economia em ação, mais adiante. Mas mesmo antes de chegar a essa evidência, pode-se concluir desde já que começar com um PIB real per capita relativamente baixo não é garantia de crescimento rápido, como demonstram tanto os exemplos da América Latina como da África.

Decepção na América Latina Em 1900, a América Latina não era considerada uma região economicamente atrasada. Recursos naturais, tanto minerais como terras cultiváveis, eram abundantes. Alguns países, notadamente a Argentina, atraíram milhões de imigrantes da Europa, em busca de uma vida melhor. Medidas do PIB real per capita na Argentina, no Uruguai e no sul do Brasil eram comparáveis com as de países economicamente avançados. Contudo, desde 1920, o crescimento da América Latina tem sido decepcionante. Como mostra a Figura 9-8, no caso da Argentina, permaneceu decepcionante por muitas décadas, até 2000, quando finalmente começou a crescer. O fato de a Coreia do Sul hoje ser muito mais rica do que a Argentina parecia inconcebível há poucas gerações. Por que a América Latina estagnou? Comparações com as histórias de sucesso do Leste Asiático sugerem vários fatores. As taxas de poupança e os gastos de investimento da América Latina têm sido muito menores do que no Leste Asiático, em parte como resultado da política do governo irresponsável que corroeu a poupança com inflação alta, falências bancárias e outras perturbações. Educação – especialmente educação básica ampla – foi subestimada: mesmo os países latino-americanos ricos em recursos naturais, muitas vezes não conseguem canalizar essa riqueza para os sistemas educacionais. E a instabilidade política, acarretando econômicas irresponsáveis, teve seu custo. Na década de 1980, muitos economistas concluíram que a América Latina sofria de excessiva intervenção governamental nos mercados. Recomendaram a abertura das economias à importação, a venda de empresas do governo, e, em geral, eliminação dos obstáculos à iniciativa individual. A esperança era que isso iria produzir um surto econômico do tipo do Leste Asiático. Porém, até agora, apenas uma nação latinoamericana, o Chile, de fato alcançou um rápido crescimento sustentado. Conseguir um milagre econômico, agora, é mais difícil do que parecia. Apesar disso, nos últimos anos, o Brasil e a Argentina têm visto as taxas de crescimento aumentarem significativamente à medida que exportam grande quantidade de commodities para os países avançados e em rápido desenvolvimento como a China.

Problemas e promessas da África A África ao sul do Saara abriga cerca de 780 milhões de pessoas, mais de duas vezes e meia a população dos Estados Unidos. Em média, os africanos são muito pobres, não chegam nem de perto ao padrão de vida dos Estados Unidos de 100 ou mesmo 200 anos atrás. E o progresso econômico tem sido lento e desigual, como sugere o exemplo da Nigéria, o país mais populoso da região. Na verdade, o PIB real per capita médio na África

subsaariana caiu 13% de 1980 a 1994, embora tenha se recuperado desde então. A consequência desse desempenho fraco de crescimento tem sido a pobreza intensa e contínua. Essa é uma história muito triste. O que explica isso? Há vários fatores que provavelmente são cruciais. Talvez o primeiro e o mais importante seja a instabilidade política. Desde 1975, grandes extensões da África têm sofrido guerras civis devastadoras (muitas vezes com potências estrangeiras apoiando lados rivais), que têm dizimado milhões de pessoas, tornando impossível os gastos de investimento produtivo. A ameaça de guerra e a anarquia geral também inibiram outras precondições importantes para o crescimento, como a educação e a provisão da infraestrutura necessária. Os direitos de propriedade também são um grande problema. A falta de garantia jurídica significa que os proprietários estão frequentemente sujeitos à extorsão por causa da corrupção do governo, tornando-os avessos a possuir propriedade ou melhorá-la. Isso é especialmente prejudicial quando o país é muito pobre. Embora muitos economistas vejam a instabilidade política e a corrupção do governo como as principais causas do subdesenvolvimento na África, há quem, notadamente Jeffrey Sachs, da Universidade de Columbia, e as Nações Unidas, acreditem no oposto. Argumentam que a África é politicamente instável porque é pobre. E a pobreza da África decorre de condições geográficas extremamente desfavoráveis – a maior parte do continente não tem litoral, é quente, infestada de doenças tropicais e amaldiçoada pelo solo pobre. Sachs, junto com os economistas da Organização Mundial da Saúde, destacou a importância dos problemas de saúde na África. Nos países pobres, a produtividade dos trabalhadores muitas vezes é severamente prejudicada por desnutrição e doenças. Em particular, doenças tropicais como a malária só podem ser controladas com uma infraestrutura de saúde pública eficaz, algo que falta em grande parte da África. No momento em que escrevemos este livro, os economistas estão estudando certas regiões da África para determinar se pequenas quantidades de ajuda concedida diretamente aos residentes com o propósito de aumentar o rendimento das culturas, reduzir a malária e aumentar a frequência escolar pode produzir ganhos de autossustentação dos padrões de vida. Embora o exemplo dos países africanos represente um aviso de que o crescimento econômico de longo prazo não pode ser dado como garantido, existem alguns sinais de esperança. Como observamos na Figura 9-8, o PIB per capita da Nigéria, depois de décadas de estagnação, começou a crescer a partir de 2000, alcançando uma taxa de crescimento do PIB real per capita de 5,5% em 2010. O mesmo se deu nas economias da África subsaariana como um todo. Em 2011, as taxas de crescimento do PIB real per capita foram em média aproximadamente 5,5% entre os países da África subsaariana. O aumento dos preços das exportações é parte da razão do sucesso recente, mas há um crescente otimismo entre os especialistas em desenvolvimento de que um período de paz relativa e melhora do governo está inaugurando uma nova era para as economias africanas.

Economia em ação As economias estão convergindo? Nos anos 1950, grande parte da Europa parecia antiquada e atrasada a um visitante americano e o Japão parecia muito pobre. Hoje em dia, quem visita Paris ou Tóquio vê cidades que parecem quase tão rica quanto Nova York. Embora o PIB real per capita ainda seja um pouco maior nos Estados Unidos, as diferenças de padrão de vida entre Estados Unidos, Europa e Japão são relativamente pequenas. Muitos economistas argumentam que essa convergência nos padrões de vida é normal. A hipótese da convergência diz que países relativamente pobres devem ter taxas de crescimento do PIB real per capita mais elevadas do que os países relativamente ricos. E se analisarmos os países que hoje são relativamente abastados, a hipótese da convergência parece ser verdade. O painel (a) da Figura 9-9 mostra os dados para um número de economias ricas atualmente, em dólares de 1990. No eixo horizontal está o PIB real per capita em 1955. No eixo vertical está a taxa de crescimento média anual do PIB real per capita entre 1955 e 2008. Há claramente uma relação negativa, como pode ser visto pela linha determinada pelos pontos. Os Estados Unidos eram o país mais rico nesse grupo em 1955 e tiveram a menor taxa de crescimento. O Japão e a Espanha eram os países mais pobres em 1955 e tiveram a taxa de crescimento mais rápida. Esses dados sugerem que a hipótese de convergência é verdadeira.

FIGURA 9-9 As economias convergem? Fonte: Angus Maddison. Statistics on World Population, GDP, and Per Capita GDP, 1–2008AD, http://www.ggdc.net/maddison.

Mas os economistas que analisaram dados semelhantes perceberam que esses resultados dependem dos países selecionados. Se analisarmos economias de sucesso que hoje têm alto padrão de vida, vemos que o PIB real per capita convergiu. Mas, analisando o mundo como um todo, incluindo os países que permanecem pobres, há pouca evidência de convergência. O painel (b) da Figura 9-9 ilustra esse ponto usando dados de regiões, em vez de países individuais (exceto os Estados Unidos). Em 1955, o leste da Ásia e a África eram regiões muito pobres. Nos 53 anos seguintes, a economia da região do Leste Asiático cresceu rapidamente, como a hipótese de convergência previa, mas a

economia regional africana cresceu muito lentamente. Em 1955, a Europa Ocidental tinha PIB real per capita substancialmente maior do que a América Latina. Mas, ao contrário da hipótese da convergência, a economia regional da Europa Ocidental cresceu mais rapidamente nos 53 anos seguintes, ampliando o hiato entre essas regiões. Isso significa que a hipótese da convergência está completamente errada? Não: os economistas ainda acreditam que países com PIB real per capita relativamente baixo tendem a ter taxas de crescimento mais elevadas que países com PIB real per capita relativamente elevado, tudo o mais mantido constante. Mas outros fatores – educação, infraestrutura, estado de direito e assim por diante – muitas vezes não são iguais. Estudos estatísticos mostram que quando se faz ajustes para levar em conta as diferenças nesses outros fatores, os países pobres tendem a ter taxas de crescimento mais elevadas. Esse resultado é conhecido como convergência condicional. No entanto, como outros fatores divergem, não há tendência clara de convergência na economia mundial em seu conjunto. A Europa Ocidental, a América do Norte e partes da Ásia estão se tornando mais similares no que se refere ao PIB real per capita, mas o hiato entre essas regiões e o resto do mundo está crescendo.

Breve revisão ■ O crescimento espetacular do leste da Ásia foi gerado por taxas de poupança e gastos de investimento elevados com ênfase na educação e adoção de avanços tecnológicos oriundos de outros países. ■ Educação deficiente, instabilidade política e políticas governamentais irresponsáveis são os principais fatores do baixo crescimento da América Latina. ■ Na África ao sul do Saara, grave instabilidade, guerra e pouca infraestrutura, particularmente a que afeta a saúde pública, resultaram em falha catastrófica de crescimento. Mas o desempenho econômico nos últimos anos tem sido muito melhor do que nos anos anteriores. ■ A hipótese da convergência parece ser verdadeira apenas quando outros fatores que afetam o crescimento econômico – tais como educação, infraestrutura, direitos de propriedade, e assim por diante – são mantidos iguais.

Teste seu entendimento 9-4 1. Alguns economistas acreditam que as altas taxas de crescimento da produtividade alcançadas por muitas economias asiáticas não podem ser sustentadas. Por que eles podem estar certos? O que teria que acontecer para eles estarem errados? 2. Considere a Figura 9-9, painel (b). Com base nos dados lá apresentados, que regiões apoiam a hipótese da convergência? Quais não apoiam? Explique. 3. Alguns economistas acham que a melhor maneira de ajudar os países africanos é mediante o fornecimento de mais recursos de infraestrutura básica pelos países mais ricos. Outros acham que essa política não terá efeito no longo prazo, a menos que os países africanos tenham os meios financeiros e políticos para manter essa

infraestrutura. Que políticas você sugere? As respostas estão no fim do livro.

O crescimento mundial é sustentável? Antes, neste capítulo, descrevemos a opinião de Thomas Malthus, economista do início do século XIX, que advertiu que a pressão do crescimento populacional tenderia a limitar o padrão de vida. Malthus estava certo sobre o passado: por aproximadamente 58 séculos, desde os primórdios da civilização até o nosso próprio tempo, a oferta limitada de terra efetivamente impediu qualquer grande elevação da renda real per capita. Desde então, porém, o progresso tecnológico e a acumulação rápida de capital físico e humano permitiu ao mundo desafiar o pessimismo malthusiano. Mas vai ser sempre assim? Alguns céticos expressaram dúvidas sobre se o crescimento econômico sustentável de longo prazo é possível – se pode continuar em face da oferta limitada de recursos naturais e do impacto do crescimento sobre o meio ambiente.

Recursos naturais e crescimento, revisitados Em 1972 um grupo de cientistas chamado Clube de Roma teve grande visibilidade com um livro intitulado Os limites do crescimento, que argumentava que o crescimento econômico de longo prazo não era sustentável em razão da oferta limitada de recursos não renováveis, como petróleo e gás natural. Essa preocupação “neo-malthusiana”, a princípio, parecia ser validada por um forte aumento nos preços dos recursos em 1970; em seguida, pareceu bobagem, quando os preços dos recursos caíram acentuadamente na década de 1980. Depois de 2005, porém, os preços dos recursos subiram de novo acentuadamente, resultando em reaparecimento da preocupação com a limitação dos recursos para o crescimento. A Figura 9-10 mostra o preço real do petróleo – o preço do petróleo ajustado pela inflação no resto da economia. A ascensão, queda e ascensão da preocupação sobre o crescimento baseado no limite de recursos acompanhou, de certa forma, a ascensão, queda e ascensão dos preços do petróleo mostrados na figura.

FIGURA 9-10 O preço real do petróleo de 1949 a 2010 O preço real dos recursos naturais, como o petróleo, aumentaram acentuadamente nos anos 1970, da mesma forma como caíram na década de 1980. Desde 2005, no entanto, os preços reais dos recursos naturais dispararam. Fonte: Energy Information Administration.

Os pontos de vista diferentes sobre o impacto dos recursos naturais limitados sobre o crescimento econômico de longo prazo tornaram-se respostas para três perguntas: ■ Qual o tamanho da oferta dos recursos naturais fundamentais? ■ Qual será a eficácia da tecnologia na busca de alternativas para os recursos naturais? ■ O crescimento econômico de longo prazo pode continuar em face da escassez de recursos? Cabe, principalmente, aos geólogos responder à primeira questão. Infelizmente, há grande divergência entre os especialistas, especialmente quanto à perspectiva futura da produção de petróleo. Alguns analistas acreditam que haja reservas suficientes inexploradas para que a produção mundial de petróleo possa continuar aumentando por décadas. Outros, incluindo um número de executivos das companhias de petróleo, acreditam que a dificuldade crescente de encontrar novos campos de petróleo ocasionará a produção de petróleo a um platô – ou seja, deixará de aumentar e, eventualmente, iniciará um declínio gradual – em um futuro bastante próximo. Alguns analistas acreditam que já chegamos nesse platô. A resposta à segunda questão sobre as alternativas para os recursos naturais terá de vir dos engenheiros. Não há dúvida de que existem muitas alternativas para o esgotamento dos recursos naturais, e algumas já estão sendo exploradas. Por exemplo, petróleo “não convencional” extraído de areais betuminosos no Canadá já está dando uma contribuição significativa à oferta mundial de petróleo e a eletricidade gerada por turbinas eólicas está se tornando um grande negócio rapidamente. A terceira questão, se as economias podem continuar a crescer em face da escassez de

recursos, é uma questão principalmente para os economistas. E a maioria (mas não todos) dos economistas está otimista: acreditam que a economia moderna pode encontrar maneiras de contornar os limites sobre a oferta de recursos naturais. Uma das razões para esse otimismo é o fato de que a escassez de recursos causa alta de preços dos recursos. Esses preços elevados, por sua vez, fornecem incentivos vigorosos para conservar os recursos escassos e encontrar alternativas. Por exemplo, após o forte aumento dos preços do petróleo na década de 1970, os consumidores americanos passaram a usar carros menores e mais eficientes e a indústria dos Estados Unidos intensificou esforços em reduzir a conta de energia. O resultado é mostrado na Figura 9-11, que compara as taxas de crescimento do PIB real per capita dos Estados Unidos e o consumo de petróleo antes e depois da crise de energia de 1970. Nos Estados Unidos, antes de 1973, parecia haver uma relação mais ou menos de um para um entre crescimento econômico e consumo de petróleo. Mas depois de 1973, a economia dos Estados Unidos continuou a apresentar crescimento do PIB real per capita, mesmo reduzindo, substancialmente, o consumo de petróleo. Esse movimento em direção à conservação parou depois de 1990, quando o preço baixo real do petróleo incentivou os consumidores a voltarem aos carros grandes e veículos utilitários. Mas um forte aumento nos preços do petróleo entre 2005 e 2008 e novamente em 2010, renovou a tendência a economizar petróleo.

FIGURA 9-11 Consumo de petróleo e crescimento ao longo do tempo dos Estados Unidos Até 1973, o preço real do petróleo era relativamente baixo e havia uma relação de um para um, aproximadamente, entre crescimento econômico e consumo de petróleo. Os esforços para economizar petróleo aumentaram acentuadamente após o aumento no preço em meados dos anos 1970. No entanto, a economia dos Estados Unidos cresceu, mesmo cortando o consumo de petróleo. Fontes: Energy Information Administration e Bureau of Economic Analysis.

Dada essa resposta aos preços, os economistas em geral tendem a ver a escassez de recursos como um problema que as economias modernas conseguem lidar

razoavelmente bem, e assim não chega a ser um limite fundamental para o crescimento econômico de longo prazo. As questões ambientais, no entanto, representam um problema mais difícil, pois lidar com elas requer uma ação política efetiva.

Crescimento econômico e meio ambiente O crescimento econômico, tudo o mais mantido constante, tende a aumentar o impacto humano sobre o meio ambiente. Por exemplo, o crescimento econômico espetacular da China também trouxe um aumento espetacular de poluição do ar nas cidades daquele país. Porém, é importante perceber que tudo o mais não é necessariamente igual: os países podem e devem tomar medidas para proteger o meio ambiente. Na verdade, a qualidade do ar e da água hoje, nos países avançados, geralmente é muito melhor do que há algumas décadas. O famoso fog londrino – na verdade, uma forma de poluição do ar, que matou 4.000 pessoas durante um episódio de duas semanas, em 1952 – não existe mais, graças a regulações que praticamente eliminaram o aquecimento a carvão. O igualmente famoso smog de Los Angeles, embora não esteja extinto, é muito menos grave do que na década de 1960 e início de 1970, mais uma vez, graças a leis e regulamentos contra a poluição. Apesar dessas histórias de sucesso ambientais do passado, existe hoje uma preocupação generalizada sobre o impacto ambiental do crescimento econômico contínuo, refletindo uma mudança na escala do problema. Histórias ambientais de sucesso envolveram principalmente lidar com impactos locais do crescimento econômico, tais como o efeito da qualidade do ar na bacia de Los Angeles pelo fato da posse de veículos generalizada ali existente. Hoje, porém, estamos confrontados com questões ambientais globais – os impactos adversos sobre o meio ambiente da Terra como um todo pelo crescimento econômico mundial. O maior desses problemas envolve o impacto do consumo de combustíveis fósseis sobre o clima do mundo. A queima de carvão e petróleo lança dióxido de carbono na atmosfera. Existe amplo consenso científico de que o aumento dos níveis de dióxido de carbono e outros gases causam um efeito estufa na Terra, captando mais da energia solar e aumentando a temperatura global do planeta. E o aumento das temperaturas pode impor custos humanos e econômicos elevados: o aumento do nível do mar pode inundar áreas costeiras; mudanças climáticas podem prejudicar a agricultura, especialmente em países pobres, e assim por diante. O problema da mudança climática está claramente relacionado com o crescimento econômico. A Figura 9-12 mostra as emissões de dióxido de carbono dos Estados Unidos, da Europa e da China desde 1980. Historicamente, os países ricos têm sido responsáveis pela maior parte dessas emissões, pois consomem muito mais energia por pessoa do que os países pobres. À medida que a China e outras economias emergentes cresceram, passaram a consumir muito mais energia e emitir muito mais dióxido de carbono.

FIGURA 9-12 Mudança climática e crescimento As emissões de gases de efeito estufa estão relacionadas com o crescimento. Como mostrado aqui pelos Estados Unidos e pela Europa, os países ricos têm sido historicamente responsáveis por grande parte das emissões de gases de efeito estufa por causa de suas economias mais ricas e de crescimento mais rápido. À medida que a China e outras economias emergentes cresceram, começaram a emitir muito mais dióxido de carbono. Fonte: Energy Information Administration.

É possível continuar o crescimento econômico de longo prazo e ao mesmo tempo reduzir as emissões de gases de efeito estufa? Segundo a maioria dos economistas que estudaram o assunto a resposta é sim. É possível reduzir as emissões de gases de efeito estufa de diversas formas, que vão desde o uso de fontes de energia que não dependem de combustíveis fósseis, como a eólica, solar e nuclear, até medidas preventivas, como o sequestro de carbono (captação do dióxido de carbono de usinas elétricas e armazenamento), e coisas mais simples, como a concepção de edifícios que sejam mais fáceis de aquecer no inverno e refrescar no verão. Tais medidas impõem custos para a economia, mas as melhores estimativas disponíveis sugerem que mesmo uma grande redução nas emissões de gases de efeito estufa nas próximas décadas diminuiria apenas modestamente o ritmo de crescimento de longo prazo do PIB real per capita. O problema é como fazer tudo isso acontecer. Ao contrário da escassez de recursos, problemas ambientais não fornecem automaticamente incentivo à mudança de comportamento. A poluição é um exemplo de externalidade negativa, um custo que indivíduos ou empresas impõem a outros sem ter de oferecer uma compensação. Na ausência de intervenção do governo, indivíduos e empresas não têm incentivo para reduzir as externalidades negativas, motivo pelo qual foi necessária uma regulamentação para reduzir a poluição do ar nas cidades americanas. E, como afirmou Nicholas Stern, autor de um relatório influente sobre mudança climática, as emissões de gases de efeito estufa são “a mãe de todas as externalidades”. Portanto, há um amplo consenso entre os economistas – embora alguns discordem – de que é necessária ação governamental para tratar da mudança climática. Há também

amplo consenso de que tal ação deve tomar a forma de incentivos baseados no mercado, quer sob a forma de imposto sobre o dióxido de carbono – imposto por unidade emitida de CO2 – ou um sistema de limitação de emissões e de comércio de licenças de emissão, em que se estabelece um limite para a quantidade total de emissões e os produtores precisem comprar licenças para emitir gases de efeito estufa. Há, no entanto, muita divergência sobre o grau de ação necessário, refletindo incerteza sobre os custos e benefícios e incerteza científica sobre o ritmo e extensão da mudança climática. Existem também vários aspectos do problema da mudança climática que o tornam mais difícil de tratar do que, por exemplo, a poluição atmosférica em Los Angeles. Um deles é a visão de longo prazo. O impacto das emissões de gases de efeito estufa sobre o clima é bem gradual: o dióxido de carbono lançado na atmosfera hoje só terá efeito no clima daqui a várias gerações. Como resultado, há o problema político de persuadir os eleitores a aceitar um incômodo hoje em troca de ganhos que só irão beneficiar seus filhos, netos e até bisnetos. Há também um problema difícil de distribuição internacional da carga. Como mostra a Figura 9-12, as economias ricas de hoje foram, historicamente, responsáveis pela maioria das emissões, mas as economias emergentes, como a China, são responsáveis pela maior parte do aumento recente das emissões. Inevitavelmente, os países ricos relutam em pagar o preço de reduzir as emissões apenas para ter seus esforços frustrados pelas emissões crescentes dos novos atores. Por outro lado, países como a China, que ainda são relativamente pobres, consideram injusto ser obrigados a arcar com o ônus de proteger um ambiente ameaçado pelas ações passadas das nações ricas. A moral dessa história é que é possível reconciliar o crescimento econômico de longo prazo com a proteção ambiental. A principal questão é como chegar a um consenso político em torno das políticas necessárias.

Economia em ação O custo da proteção climática Nos últimos anos, uma série de projetos de lei foi introduzida no Congresso dos Estados Unidos, alguns com patrocínio bipartidário, apelando por esforços ambiciosos de longo prazo para reduzir as emissões de gases de efeito estufa nos Estados Unidos. Por exemplo, um projeto dos senadores Joseph Lieberman e John McCain propõe um sistema de limitação de emissões e de comércio de licenças de emissão para reduzir gradualmente as emissões ao longo do tempo, eventualmente – até 2050 – reduzindo 60% abaixo do nível de 1990. Outro projeto, patrocinado pelos senadores Barbara Boxer e Bernie Sanders, pedia uma redução de 80% até 2050. A implementação de tais propostas, ou outras como essa, acabaria com o crescimento econômico de longo prazo? Não, ao menos segundo um estudo abrangente preparado por uma equipe do MIT, que constatou que a redução das emissões imporia custos significativos, mas não avassaladores. Usando um modelo elaborado da interação entre a política ambiental e a economia, o grupo do MIT estimou que o projeto Lieberman-

McCain reduziria o PIB real per capita em 2050 em 1,11% e a proposta mais rigorosa de Sanders-Boxer reduziria o PIB real per capita em 1,79%. Podem parecer cifras altas – equivaleria hoje entre $200 bilhões e $250 bilhões –, mas dificilmente afetaria a taxa de crescimento de longo prazo da economia. Lembre-se que, no longo prazo, a economia dos Estados Unidos tem crescido em média quase 2% ao ano. Se as estimativas da equipe do MIT estiverem corretas, mesmo uma política forte para evitar a mudança climática seria, na verdade, o sacrifício de crescimento de menos de um ano, durante as próximas quatro décadas.

Breve revisão ■ Há grande discordância sobre se é possível ter crescimento econômico de longo prazo sustentável. No entanto, os economistas geralmente acreditam que as economias modernas podem encontrar formas de aliviar os limites do aumento da escassez de recursos naturais, por meio da velocidade da resposta que promova a preservação e a criação de alternativas. ■ Superar os limites de crescimento originados da degradação ambiental é mais difícil porque requer a intervenção governamental efetiva. Limitar as emissões de gases de efeito estufa exige apenas uma redução modesta da taxa de crescimento. ■ Existe amplo consenso de que a ação governamental para enfrentar a mudança climática e a emissão de gases de efeito estufa deve se dar na forma de incentivos baseados no mercado, como um imposto sobre CO2 ou um sistema de limitação de emissões e de comércio de licenças de emissão. Os países ricos e pobres deverão também chegar a um acordo sobre como compartilhar o custo das reduções de emissões.

Teste seu entendimento 9-5 1. Normalmente, os economistas estão mais preocupados com os limites ao crescimento imposto pela degradação ambiental ou imposto pela escassez de recursos? Explique, lembrando-se do papel das externalidades negativas. 2. Qual é a relação entre emissões de gases de efeito estufa e crescimento? Qual é o efeito esperado da redução de emissões sobre o crescimento? Por que há um contencioso na distribuição dos custos de reduzir as emissões de gases de efeito estufa? As respostas estão no fim do livro.

Caso empresarial Expansão do setor de distribuição Depois de 20 anos de lentidão, no fim da década de 1990, a produtividade dos Estados Unidos acelerou o crescimento de forma acentuada. Começou a crescer a um ritmo muito mais rápido do que previamente. O que causou essa aceleração? Foi o surgimento

da Internet? Não, de acordo com analistas da McKinsey, a famosa empresa de consultoria de negócios, que consideraram que uma grande fonte de melhoria da produtividade a partir de 1995 teve origem no aumento do produto por trabalhador no varejo – as lojas estavam vendendo muito mais mercadorias por trabalhador. Outros analistas concordaram. A Figura 9-13 mostra o resultado de uma análise do crescimento da produtividade total dos fatores na França, na Alemanha e nos Estados Unidos, entre 1995 e 2004, a década do aumento da produtividade nos Estados Unidos. Como se pode ver, os Estados Unidos se saíram consideravelmente melhor do que qualquer país europeu. O motivo do aumento foi o crescimento muito rápido da produtividade do setor de distribuição, ou seja, o comércio no atacado e varejo.

FIGURA 9-13 Crescimento da produtividade dos Estados Unidos e da Europa Fonte: Bart Van Ark, “Productivity, Sources of Growth and Potential Output in the Euro Area and the United States”, Intereconomics 45, n. 1 (2010). Brussels: Center for European Policy Studies.

Por que houve aumento de produtividade no varejo nos Estados Unidos? “A razão pode ser explicada em apenas duas sílabas: Walmart”, observou a McKinsey. O Walmart é famoso no mundo dos negócios pelo seu foco de sucesso na área sem glamour, mas crucial da logística: fazendo as coisas acontecerem onde e quando necessário. Por exemplo, foi uma das primeiras empresas a utilizar computadores para rastrear estoque, a usar leitores de código de barras, a estabelecer ligações eletrônicas diretas com fornecedores, e assim por diante. Essas práticas proporcionaram uma enorme vantagem sobre os concorrentes, resultando em lucros elevados e rápida expansão. Outras empresas, observando o sucesso do Walmart, emularam suas práticas de negócios, espalhando os ganhos de produtividade pela economia como um todo. Há duas lições do “efeito Walmart”, como McKinsey denomina. Uma delas é que a forma como uma tecnologia é aplicada faz toda a diferença: no mundo do varejo, todos conhecem computadores, mas o Walmart descobriu o que fazer com eles. A outra é que muito do crescimento econômico vem de melhorias do dia a dia, em vez de novas tecnologias chamativas.

Questões para pensar 1. Descrevemos neste capítulo diversas fontes de crescimento da produtividade. Qual dessas fontes corresponde ao “efeito Walmart”? 2. Como a nossa descrição sobre o papel do Walmart condiz com a Nova Teoria do Crescimento? 3. Como a história do Walmart se relaciona com o “paradoxo da tecnologia da informação”?

Resumo 1. O crescimento é medido como variação do PIB real per capita, a fim de eliminar os efeitos das variações no nível de preços e no tamanho da população. Os níveis do PIB real per capita variam muito ao redor do mundo: mais da metade da população mundial vive em países que são ainda muito mais pobres do que os Estados Unidos era em 1900. Ao longo do século XX, o PIB real per capita dos Estados Unidos aumentou mais de cinco vezes. 2. As taxas de crescimento do PIB real per capita também variam muito. De acordo com a regra dos 70, o número de anos necessários para que o PIB real per capita dobre é igual a 70 dividido pela taxa de crescimento anual do PIB real per capita. 3. A chave para o crescimento econômico de longo prazo é aumentar a produtividade do trabalho, ou apenas produtividade, que é o produto por trabalhador. Aumentos de produtividade surgem do aumento do capital físico e do capital humano por trabalhador, bem como do progresso tecnológico. A função de produção agregada mostra como o PIB real por trabalhador depende desses três fatores. Tudo o mais mantido constante, há retornos decrescentes ao capital físico: mantendo o capital humano por trabalhador e a tecnologia fixos, cada adição sucessiva ao capital físico por trabalhador produz aumentos menores na produtividade do que o anterior. Da mesma forma, mais capital físico por trabalhador resulta em um aumento da produtividade menor, mas ainda positivo. A contabilidade do crescimento, que estima a contribuição de cada fator para o crescimento econômico de um país, mostrou que a elevação da produtividade total do fator, a quantidade de produto que resulta de determinada quantidade de fatores de produção, é fundamental para o crescimento no longo prazo. Geralmente é interpretado como efeito do progresso tecnológico. Ao contrário de épocas anteriores, na maioria dos países os recursos naturais são uma fonte menos significativa de crescimento da produtividade. 4. As grandes diferenças nas taxas de crescimento entre os países se deve em boa parte à diferença na taxa de acumulação de capital físico e humano, bem como à diferença no progresso tecnológico. Embora possa haver entrada de poupança externa proveniente de ajuda do exterior, um fator primordial é a diferença nas taxas de poupança doméstica e gastos de investimento, uma vez que a maioria dos países que têm alto gasto de investimento em capital físico o financia através de poupança interna. O progresso tecnológico é em grande parte resultado de pesquisa e desenvolvimento, ou

P&D. 5. Os governos podem ajudar ou atrapalhar o crescimento. As políticas de governo que diretamente ajudam o crescimento são a criação de infraestrutura, em especial de saúde pública, subsídios para a educação, subsídios para P&D e a manutenção de um sistema financeiro que funcione bem canalizando a poupança para gastos de investimento, educação e P&D. Os governos podem melhorar o ambiente para o crescimento, protegendo os direitos de propriedade intelectual (especialmente direitos de propriedade intelectual através de patentes), mantendo-se politicamente estável e fornecendo boa governança. A má governança inclui corrupção e intervenção governamental excessiva. 6. A economia mundial apresenta exemplos de sucesso e de fracasso no esforço de alcançar o crescimento econômico de longo prazo. As economias do Leste Asiático acertaram muito e alcançaram taxas de crescimento altas. As taxas baixas de crescimento das economias da América Latina e da África, ao longo de muitos anos, levaram os economistas a acreditar que a hipótese da convergência, a alegação de que as diferenças no PIB real per capita entre os países se estreita ao longo do tempo, condiz com os dados somente quando os fatores que afetam o crescimento, tais como educação, infraestrutura e as políticas governamentais e instituições favoráveis, são mantidas iguais entre os países. Nos últimos anos, houve um aumento no crescimento entre alguns países da África subsaariana e da América Latina, em grande parte em decorrência da expansão das exportações de commodities. 7. Os economistas, em geral, acreditam que a degradação ambiental represente um desafio maior que a escassez de recursos naturais quando se trata de saber se o crescimento econômico de longo prazo é sustentável. Para tratar da degradação ambiental é necessária intervenção governamental eficaz, mas o problema da escassez de recursos naturais com frequência é tratado pela reação do preço de mercado. 8. A emissão de gases de efeito estufa está ligada claramente ao crescimento, e para limitá-la, alguma redução no crescimento se faz necessário. No entanto, as melhores estimativas disponíveis sugerem que uma grande redução nas emissões exigirá apenas modesta redução na taxa de crescimento. 9. Existe amplo consenso no sentido de que a ação governamental para lidar com a mudança climática e com os gases de efeito estufa deveria vir na forma de incentivos baseados no mercado, como o imposto sobre o carbono ou um sistema de limitação de emissões e de comércio de licenças de emissão. Exigirá, também, que países ricos e pobres cheguem a um acordo sobre como distribuir os custos da redução de emissões de poluentes.

Palavras-chave Regra dos 70, p. 212 Produtividade do trabalho, p. 214 Produtividade, p. 214 Capital físico, p. 214

Capital humano, p. 214 Progresso tecnológico, p. 215 Função de produção agregada, p. 215 Retornos decrescentes ao capital físico, p. 215 Contabilidade do crescimento, p. 217 Produtividade total dos fatores, p. 217 Pesquisa e desenvolvimento (P&D), p. 221 Infraestrutura, p. 223 Hipótese da convergência, p. 227 Crescimento econômico sustentável de longo prazo, p. 230

Problemas 1. A tabela a seguir mostra dados da Penn World Table, versão 7.0, do PIB real per capita, em dólares de 2005, para Argentina, Gana, Coreia do Sul e Estados Unidos, para 1960, 1970, 1980, 1990, 2000 e 2009.

a. Complete a tabela, expressando o PIB real per capita de cada ano como porcentagem do seu nível em 1960 e 2009. b. Como o crescimento do padrão de vida entre 1960 e 2009 se compara entre essas quatro nações? O que pode explicar essas diferenças? 2. A tabela a seguir mostra a taxa de crescimento média anual do PIB real per capita para Argentina, Gana e Coreia do Sul usando dados da Penn World Table, versão 6.2, para as últimas décadas.

a. Para cada década e para cada país, use a regra dos 70, sempre que possível, e calcule

quanto tempo levaria para que o PIB real per capita do país dobrasse. b. Suponha que a taxa de crescimento média anual que cada país alcançou no período entre 1990 e 2000 continue indefinidamente no futuro. A partir de 2000, use a regra dos 70 para calcular, sempre que possível, o ano em que o país terá dobrado o PIB real per capita. 3. A tabela a seguir fornece estatísticas aproximadas sobre os níveis de renda per capita e de taxas de crescimento de regiões definidas segundo seu nível de renda. De acordo com a regra dos 70, a partir de 2010, os países com alta renda deverão dobrar o PIB per capita em aproximadamente 78 anos, em 2088. Nesta questão, considere que as taxas de crescimento de cada região fiquem constantes na média do período entre 2000 e 2010. Região Países de renda alta Países de renda média Países de renda baixa

PIB per capita (2010) $38.293 3.980 507

Taxa de crescimento médio anual do PIB real per capita (2000–2010) 0,9% 4,8 3,0

Fonte: Banco Mundial.

a. Calcule a razão entre o PIB per capita em 2010 do seguinte: i. Países de renda média sobre países de renda alta. ii. Países de renda baixa sobre países de renda alta. iii. Países de renda baixa sobre países de renda média. b. Calcule quantos anos levará aos países de renda baixa e de renda média para dobrar o PIB per capita. c. Calcule o PIB per capita de cada uma das regiões em 2088. (Dica: Quantas vezes dobra o PIB per capita em 78 anos, o número de anos entre 2010 e 2088?) d. Repita a parte a com o PIB per capita projetado para 2088. e. Compare as respostas das partes a e d. Comente sobre a variação da desigualdade econômica entre as regiões. 4. Você foi contratado como consultor econômico dos países de Albernia e Brittania. A relação atual de cada país entre capital físico por trabalhador e produto por trabalhador é dada pela curva denominada “Produtividade1” no gráfico. Albernia está no ponto A e Brittania está no ponto B.

a. Na relação descrita pela curva produtividade1, que fatores são mantidos fixos? Esses países experimentam retornos decrescentes ao capital físico por trabalhador? b. Supondo que a quantidade de capital humano por trabalhador e a tecnologia sejam mantidas fixas em cada país, é possível recomendar uma política que resulte em duplicação do PIB real per capita em Albernia? c. Como mudaria a recomendação da política se a quantidade de capital humano por trabalhador pudesse ser mudada? Suponha que um aumento no capital humano dobre o produto por trabalhador quando o capital físico por trabalhador é igual a $10.000. Trace uma curva no gráfico que represente essa política para Albernia. 5. O país Androde está usando o Método 1 para sua função de produção. Por acaso, os cientistas descobrem uma tecnologia que irá melhorar a produtividade de Androde. Esse avanço tecnológico está refletido em outra função de produção, o Método 2. A tabela a seguir mostra combinações de capital físico por trabalhador e do produto por trabalhador para os dois métodos, assumindo que o capital humano por trabalhador seja fixo.

a. Usando os dados da tabela, trace as duas funções de produção em um gráfico. A quantidade atual de capital físico por trabalhador em Androde é 100. Marque esse ponto como A. b. A partir do ponto A, ao longo de um período de 70 anos, o montante de capital físico por trabalhador em Androde sobe para 400. Supondo que Androde ainda use o Método 1, identifique o ponto resultante de produção B. Usando a regra dos 70, calcule em quanto por cento cresceu o produto por trabalhador. c. Suponha agora que, a partir do ponto A, ao longo dos mesmos 70 anos, a quantidade de capital físico por trabalhador de Androde aumentou para 400, mas que nesse período Androde tenha mudado para o Método 2. Indique o ponto resultante C no gráfico. Usando a regra dos 70, calcule em quantos por cento cresceu anualmente o produto por trabalhador nessa nova situação. d. À medida que a economia de Androde se move do ponto A para o ponto C, que parte do crescimento da produtividade anual é devida ao aumento da produtividade total dos fatores? 6. O Bureau of Labor Statistics divulga regularmente o relatório de “Produtividade e Custos” do mês anterior. Acesse www.bls.gov e busque o relatório mais recente. (No site do Bureau of Labor Statistics, na guia “Subject Areas”, selecione o link “Labor Productivity & Costs”; então, a partir do título “LPC New releases”, encontre o relatório “Productivity and Costs” mais recente.) Quais foram as variações percentuais de produtividade das empresas agrícolas e não agrícolas no trimestre anterior? Como a variação percentual na produtividade do trimestre se compara aos dados do trimestre anterior? 7. Que papel o capital físico, o capital humano, a tecnologia e os recursos naturais desempenham influenciando o crescimento econômico de longo prazo do produto agregado per capita? 8. Como as políticas e instituições dos Estados Unidos influenciaram o crescimento econômico de longo prazo do país? 9. Ao longo dos próximos 100 anos, espera-se que o PIB real per capita em Groland deva crescer a uma taxa média anual de 2,0%. Em Sloland, no entanto, espera-se que o

crescimento seja um pouco mais lento, a uma taxa de crescimento média anual de 1,5%. Se os dois países têm hoje um PIB real per capita de $20.000, quanto o PIB real per capita deles irá diferir em 100 anos? [Dica: Um país que hoje tem um PIB real de $x, cresce a y% ao ano, vai conseguir um PIB real de $x × (1 + (y/100))z em z anos. Assumimos que 0 ≤ y < 10.] 10. A tabela a seguir mostra os dados da Penn World Table, versão 7.0, para o PIB real per capita ($2.005) da França, Japão, Reino Unido e Estados Unidos em 1950 e 2009. Complete a tabela. Esses países convergiram economicamente?

11. A tabela a seguir mostra dados da Penn World Table, versão 7.0, do PIB real per capita (dólares de 2005) da Argentina, Gana, Coreia do Sul e Estados Unidos em 1960 e 2009. Complete a tabela. Esses países convergiram economicamente?

12. Por que você esperaria que o PIB real per capita da Califórnia e da Pensilvânia apresentassem convergência, mas não o da Califórnia e da Baixa Califórnia, um estado mexicano perto da fronteira com os Estados Unidos? Que mudanças permitiriam uma convergência entre a Califórnia e a Baixa Califórnia? 13. De acordo com o Oil & Gas Journal, as reservas de petróleo comprovadas existentes no mundo em 2009 eram de 1.342 bilhões de barris. Nesse ano, o Energy Information Administration dos Estados Unidos informou que a produção diária de petróleo no mundo era de 72,26 milhões de barris. a. Nesse ritmo, quanto tempo vão durar as reservas de petróleo comprovadas? Discuta o ponto de vista malthusiano no contexto do número calculado. b. Para realizar os cálculos do item a, o que você supôs sobre a quantidade total de reservas de petróleo ao longo do tempo? Sobre os preços do petróleo ao longo do tempo? Esses pressupostos são consistentes com a visão malthusiana sobre limites de recursos? c. Discuta como as forças do mercado podem afetar a quantidade de tempo que as reservas comprovadas de petróleo irão durar, supondo que não haverá novas descobertas e que a curva da demanda de petróleo permanece inalterada. 14. A tabela a seguir mostra a taxa de crescimento anual para os anos de 2000 a 2009 em emissões de dióxido de carbono (CO2) per capita e a taxa de crescimento anual do PIB real per capita nos países selecionados.

a. Classifique os países segundo o aumento das emissões de CO2, do mais alto para o mais baixo. Quais os cinco países que mais aumentaram as emissões? Quais os cinco países que menos aumentaram? b. Agora classifique os países em termos do crescimento do PIB real per capita, do mais alto para o mais baixo. Quais são os cinco países que têm taxas de crescimento mais altas? Quais são os cinco países que têm taxas de crescimento mais baixas? c. A partir dos resultados você concluiria que as emissões de CO2 estão relacionadas ao crescimento do produto per capita? d. Crescimentos acelerados conduzem necessariamente a altas emissões de CO2? www.worthpublishers.com/krugmanwells

C APÍ T UL O 10

Poupança, Gasto de Investimento e Sistema Financeiro

O que você vai aprender neste capítulo • A relação entre poupança e gasto de investimento. • Aspectos do mercado de fundos para empréstimos que mostra como os poupadores se combinam com os tomadores de empréstimos. • O propósito dos cinco principais tipos de ativos financeiros: ações, títulos, empréstimos, imóveis e depósitos bancários. • Como os intermediários financeiros ajudam os investidores a conseguir diversificação. • Algumas visões alternativas do que determina o preço dos ativos e por que as flutuações do mercado de ativos pode ser uma fonte de instabilidade macroeconômica.

Fundos para o facebook “O Facebook está à caça de mais dinheiro” – foi a manchete de uma edição de 2009 da Business Week ao relatar que o site de rede social estava tentando contrair empréstimo da ordem de $100 milhões. Por que uma empresa tão bem-sucedida como o Facebook precisa pedir dinheiro emprestado? Todo mundo conhece o Facebook. Fundada em 2004, acabou por se tornar indubitavelmente a maior história de sucesso empresarial do século XXI – de longe. Atualmente, cerca de 40% dos americanos relatam possuir página no Facebook. Como o Facebook cresceu tanto em tão pouco tempo? Em grande parte, é claro, a resposta é que a empresa teve uma boa ideia. Páginas da web personalizadas que fornecem informações aos amigos era algo que muitas pessoas realmente desejavam. Da mesma forma, uma vez que os anunciantes queriam ter acesso aos leitores dessas páginas, o Facebook conseguiu ganhar dinheiro vendendo espaço publicitário. Mas ter uma boa ideia não é suficiente para construir um negócio. Os empresários precisam de fundos: deve- se gastar dinheiro para ganhar dinheiro. Embora pareça que empresas como o Facebook existam apenas no mundo virtual do ciberespaço, livre dos encargos mundanos de estabelecimentos de tijolo e argamassa, a verdade é que o funcionamento do negócio requer muito hardware real e caro. Assim como o Google, Yahoo! e outros gigantes da internet, o Facebook mantém enormes “áreas de servidores”, um conjunto de computadores ligados que rastreiam e processam todas as informações necessárias para proporcionar a experiência do usuário. Então, onde o Facebook obtém dinheiro para equipar essas áreas de servidores? Algum vem de investidores que adquiriram ações do negócio, mas muito dele foi tomado emprestado. Na mesma medida que o Facebook cresceu, também aumentou o montante que pede emprestado. A capacidade do Facebook de levantar grandes somas de dinheiro para financiar seu crescimento é tão notável quanto o produto da empresa. Com efeito, um cara jovem, com uma ideia brilhante, foi capaz de colocar as mãos sobre centenas de milhões de dólares para construir seu negócio. É uma história incrível.

No entanto, esse tipo de coisa é comum nas economias modernas. O crescimento de longo prazo que analisamos no capítulo anterior depende fundamentalmente de um conjunto de mercados e instituições, conhecidas coletivamente como sistema financeiro, que canaliza os fundos dos poupadores em gasto de investimento produtivo. Sem esse sistema, empresas como o Facebook não seriam capazes de adquirir a maior parte do capital físico, que é uma importante fonte de crescimento da produtividade. E os poupadores seriam obrigados a aceitar um retorno menor sobre seus fundos. Historicamente, os sistemas financeiros canalizaram fundos para projetos de gastos de investimento, tais como ferrovias e fábricas. Hoje, os sistemas financeiros canalizam fundos para novas fontes de crescimento, tais como tecnologia verde, mídia social e investimentos em capital humano. Sem um sistema financeiro que funcione bem, os países sofrem atraso no crescimento econômico. Neste capítulo, começamos por nos concentrar sobre a economia como um todo. Vamos examinar a relação entre poupança e gasto de investimento. Em seguida, perseguindo essa relação, analisaremos o sistema financeiro, o meio pelo qual a poupança é transformada em gasto de investimento. Veremos como o sistema financeiro funciona por meio da criação de ativos, mercados e instituições que aumentam o bemestar de ambos os poupadores (aqueles com recursos para investir) e os tomadores de empréstimos (aqueles com projetos de gastos de investimento para financiar). Ao final, vamos examinar o comportamento dos mercados financeiros e por que muitas vezes resistem às tentativas de explicação dos economistas.

Combinação da poupança com gasto de investimento Vimos no capítulo anterior que dois dos ingredientes essenciais para o crescimento econômico são o aumento nos níveis de capital humano e capital físico da economia. O capital humano, em grande parte, é fornecido pelo governo por intermédio da educação pública. (Em países com um grande setor de ensino particular, como os Estados Unidos, a educação particular pós-secundária também é uma fonte importante de capital humano.) Mas o capital físico, exceto a infraestrutura, é criado principalmente pelo investimento privado – isto é, gasto pelas empresas e não pelo governo. Quem paga os gastos de investimento privado? Em alguns casos, são as pessoas ou empresas que realmente fazem esses gastos – por exemplo, uma família que é dona de um negócio pode usar a própria poupança para comprar equipamento ou um prédio novo. Uma empresa pode reinvestir parte do seu lucro para construir uma nova fábrica. Na economia moderna, no entanto, indivíduos e empresas que criam capital físico, muitas vezes o fazem com o dinheiro de outras pessoas – dinheiro que tomam emprestado ou levantam ao vender ações. Para entender como os gastos de investimento são financiados, primeiro, é preciso analisar o relacionamento entre poupança e gastos de investimento na economia como um todo. Em seguida examinar como a poupança é alocada entre os projetos de investimento.

A identidade poupança-gasto de investimento O ponto mais básico a ser entendido sobre poupança e gasto de investimento é que eles são sempre iguais. Essa não é uma teoria, é um fato contábil denominado identidade poupança-gasto de investimento. Para verificar por que a identidade poupança-gasto de investimento deve ser verdadeira, vamos examinar novamente a contabilidade da renda nacional que aprendemos no Capítulo 7. Lembre-se que o PIB é igual ao gasto total em bens e serviços finais produzidos domesticamente e que podemos escrever a seguinte equação (que é a mesma que a Equação 7-1):

(10-1) onde C é o gasto dos consumidores, que é o gasto de investimento, G é a compra de bens e serviços por parte do governo, X é o valor das exportações para outros países e IM é o gasto em importações de outros países.

Armadilhas

Investimento versus gasto de investimento Quando os macroeconomistas usam o termo gasto de investimento, quase sempre querem dizer “gasto com capital físico novo”. Pode parecer confuso, porque na vida cotidiana, muitas vezes, diz-se que alguém que compra ações ou um edifício existente está “investindo”. O ponto importante a ter em mente é que apenas o gasto que contribui para o estoque de capital físico da economia é “gasto de investimento”. Por outro lado, o ato de comprar um ativo, como ações, bônus ou imóveis existentes, é “fazer um investimento”.

A identidade poupança-gasto de investimento em uma economia fechada Em uma economia fechada, não há exportações ou importações. Então X = 0 e IM = 0, o que torna a Equação 10-1 mais simples. Como vimos no Capítulo 7, a renda total dessa economia simplificada seria, por definição, igual ao gasto total. Por quê? Lembre-se de um dos princípios básicos da economia citado no Capítulo 1, que o gasto de uma pessoa é a renda de outra pessoa: a única maneira de as pessoas obterem renda é com a venda de alguma coisa para alguém, e todo o dinheiro gasto na economia gera renda para alguém. Isso é representado pela Equação 10-2: à esquerda, o PIB representa o lucro total obtido na economia, e à direita, C + I + G representa o gasto total na economia:

(10-2)

Agora, o que pode ser feito com a renda? Pode ser gasta em consumo – gasto de consumo (C), além de compras de bens e serviços pelo governo (G) – ou poupada (S). Por isso, deve ser verdade que:

(10-3)

onde S é a poupança. Entretanto, como informa a Equação 10-2, o gasto total é composto de qualquer gasto de consumo (C + G) ou gasto de investimento (I):

(10-4)

Colocando as Equações 10-3 e 10-4 juntas, temos:

(10-5)

Subtraindo o gasto de consumo (C + G) dos dois lados, obtemos:

(10-6)

Portanto, como dissemos, um fato básico contábil é que a poupança é igual ao gasto de investimento para a economia como um todo. Agora, vamos examinar a poupança mais de perto. As famílias não são a única parte que pode poupar em uma economia. Em um determinado ano, o governo também pode poupar caso arrecade mais receita fiscal do que gaste. Quando isso ocorre, a diferença é chamada de superávit orçamentário e equivale a uma economia por parte do governo. Se, de outro modo, o gasto do governo excede a receita fiscal, há um déficit orçamentário – superávit orçamentário negativo. Nesse caso, o que costumamos dizer é que o governo está com “despoupança”: gastando mais do que as receitas fiscais, o governo está envolvido no oposto da poupança. Vamos definir o termo saldo orçamentário para nos referir a ambos os casos, com o entendimento de que o saldo orçamentário pode ser positivo (superávit orçamentário) ou negativo (déficit orçamentário). O saldo orçamentário é definido como:

(10-7) onde T é o valor das receitas de impostos e TR é o valor das transferências governamentais. O saldo orçamentário é equivalente à poupança do governo – se for positiva, o governo está poupando, se for negativa, o governo está despoupando. Para

resumir, a poupança nacional, que acabamos de chamar de poupança, é igual à soma do saldo orçamentário e da poupança privada, onde a poupança privada é a renda disponível (renda após impostos) menos o consumo. É dada por:

(10-8) Então as Equações 10-6 e 10-8 informam que, em uma economia fechada, a identidade poupança-gasto de investimento tem a seguinte forma:

(10-9)

Identidade poupança-gasto de investimento em uma economia aberta Uma economia aberta é uma economia em que os bens e o dinheiro podem fluir para dentro e para fora do país. Isso muda a identidade poupança-gasto de investimento, porque a poupança não precisa ser gasta em projetos de gastos de investimento no mesmo país em que as economias são geradas. Isso porque a poupança das pessoas que vivem em qualquer país pode ser usada para financiar gastos de investimento que ocorrem em outros países. Assim, qualquer país pode receber entrada de fundos – poupança externa que financia os gastos de investimento no país. Qualquer país também pode gerar saídas de fundos – poupança doméstica que financia gasto de investimento em outros países. O efeito líquido de entradas e saídas de fundos internacionais sobre o total da poupança disponível para os gastos de investimento em qualquer país é conhecido como entrada líquida de capital no país, igual à entrada total de fundos estrangeiros menos a saída total de fundos nacionais para outros países. Como o saldo orçamentário, a entrada líquida de capital pode ser negativa – ou seja, mais capital pode sair do que entrar no país. Nos últimos anos, os Estados Unidos sofreram uma consistente entrada líquida de capital positiva do estrangeiro, que consideraram essa uma economia atraente para investir suas poupanças. Em 2010, por exemplo, o fluxo de capital líquido para os Estados Unidos foi de $471 bilhões. É importante observar que, de uma perspectiva nacional, US$1 (ou outra moeda) gerado pela poupança nacional e US$1 gerado pela entrada de capital não são equivalentes. Sim, ambos podem financiar o mesmo dólar gasto em investimento. Mas US$1 tomado emprestado de um poupador, eventualmente, tem que ser pago de volta com juros; US$1 que vem da poupança nacional é pago de volta com juros a alguém

dentro do país, seja do setor privado ou do governo. Mas US$1 proveniente de entrada de capital deve ser pago de volta com juros ao estrangeiro. Assim, US$1 de gasto de investimento financiado por uma entrada de capital tem um custo nacional – o juro que, eventualmente, será pago a um estrangeiro em vez do dólar de gasto de investimento financiado pela poupança nacional. O fato de que a entrada líquida de capital representa os fundos tomados emprestados de estrangeiros é um aspecto importante da identidade poupança-gasto de investimento em uma economia aberta. Considere um indivíduo que gasta mais do que a sua renda; essa pessoa deve tomar a diferença emprestada de outros. Da mesma forma, um país que gasta mais em importações do que ganha com exportações deve tomar a diferença emprestada dos estrangeiros. E essa diferença, o montante de fundos emprestado dos estrangeiros, é a entrada líquida de capital do país. Como explicaremos detalhadamente no Capítulo 19, isso significa que a entrada líquida de capital no país é igual à diferença entre importações e exportações:

(10-10)

Reorganizando a Equação 10-1, obtemos:

(10-11) Usando as Equações 10-3 e 10-9, sabemos que PIB − C − G é igual à poupança nacional, de modo que:

(10-12)

Assim, a aplicação da identidade poupança-gasto de investimento para uma economia aberta a entradas e saídas de capital significa que o gasto de investimento é igual à poupança, onde a poupança é igual à poupança nacional, mais a entrada líquida de capital. Ou seja, em uma economia com entrada líquida de capital positivo, algum gasto de investimento é financiado com a poupança dos estrangeiros. E em uma economia com entrada líquida de capital negativo (ou seja, há mais capital saindo do que entrando),

uma parte da poupança nacional está fornecendo os fundos para gasto de investimento em outros países. Nos Estados Unidos, em 2010, os gastos de investimento totalizaram $2.300 bilhões. A poupança privada totalizou $3.119 bilhões, compensada por um déficit orçamentário de $1.299 bilhões e complementada por uma entrada líquida de capital de $471 bilhões. Observe que esses números não chegam a somar, pois o conjunto de dados não é perfeito, há uma “discrepância estatística” de $ 9 bilhões. Mas sabemos que isso é um erro nos dados, não na teoria, porque a identidade poupança-gastos de investimento na realidade deve ser válida. É importante notar também que 2010 não foi um ano normal. Como salientamos em capítulos anteriores, em 2008 a economia dos Estados Unidos (junto com as economias de muitas outras nações) foi atingida por uma grave crise financeira. Essa crise levou esses países a uma queda nos gastos de investimento e grandes déficits orçamentários do governo, efeitos que continuaram até o momento da escrita deste livro. Em grande parte do restante deste capítulo nos concentraremos nos dados de 2007, o último ano antes da crise, porque fornece uma imagem muito melhor do que a poupança e o investimento se assemelham em tempos normais.

Armadilhas Os diferentes tipos de capital É importante compreender bem os três tipos diferentes de capital: capital físico, capital humano e capital financeiro (como explicado no capítulo anterior): 1. O capital físico consiste de recursos manufaturados, tais como edifícios e máquinas. 2. O capital humano é a melhoria na força de trabalho gerada por educação e conhecimento. 3. O capital financeiro são os fundos de poupança que estão disponíveis para gastos de investimento. Um país que tem saldo positivo na entrada de capital está recebendo fundos do exterior que podem ser usados para gastos de investimento. A Figura 10-1 mostra como era essa identidade para duas das maiores economias do mundo, Estados Unidos e Japão. Para tornar mais fácil a comparação dessas duas economias, medimos a poupança e os gastos de investimento como porcentagem do PIB. Em cada painel as barras laranja à esquerda mostram os gastos de investimento total e as barras multicoloridas à direita mostram os componentes da poupança. Os gastos de investimento dos Estados Unidos foram de 18,8% do PIB, financiados por uma combinação de poupança privada (15,7% do PIB) e entrada líquida de capital positivo ou entrada de capital (5,2% do PIB) e, em parte, compensada por um déficit orçamentário do governo (−1,6% do PIB). (Esses números somam mais de 18,8%, devido à discrepância estatística.) Os gastos de investimento japonês foram mais elevados como porcentagem do PIB, em 23,8%. Foram financiados por um nível mais alto de poupança privada como porcentagem do PIB (32,1%) e compensados tanto por uma entrada líquida negativa de capital ou saída de capital (–4,9% do PIB) como por um déficit orçamentário (–3,4% do

PIB).

FIGURA 10-1 Identidade poupança-gasto de investimento em economias abertas: Estados Unidos e Japão, 2007 Os gastos de investimento dos Estados Unidos em 2007 (igual a 18,8% do PIB) foram financiados por uma combinação de poupança privada (15,7% do PIB) e entradas de capital (5,2% do PIB), com uma contrapartida parcial no déficit orçamentário (−1,6% do PIB). Os gastos de investimento japonês em 2007 foram superiores como porcentagem do PIB (23,8%). Foram financiados por um nível mais elevado de poupança privada como porcentagem do PIB (32,1%), compensado por uma saída de capital (− 4,9% do PIB) e por um déficit orçamentário relativamente elevado (− 3,4% do PIB). Fontes: Bureau of Economic Analysis e OCDE.

A poupança da economia financia seus gastos de investimento. Mas como os fundos disponíveis para gasto de investimento são alocados entre os vários projetos? Ou seja, o que determina quais projetos devem ser financiados (como os servidores do Facebook) e quais não devem (como o computador tablet Courier da Microsoft, um conceito inovador que o gigante de software decidiu não perseguir)? Veremos mais adiante que os fundos são alocados em projetos de investimento, usando um método familiar: pelo mercado, via oferta e demanda.

Comparação global A baixa poupança americana A figura acima mostra a poupança nacional como porcentagem do PIB para sete economias ricas em 2007. (Mais uma vez, o foco é 2007 por ter sido o último ano antes da crise.) Os Estados Unidos tinham a taxa de poupança mais baixa, embora a economia da Grã-Bretanha tenha sido apenas ligeiramente superior. Nesse sentido, 2007 não foi fora do comum. Desde os anos 1980, os Estados Unidos têm tido poupança nacional baixa em comparação com outros países ricos. A principal fonte dessas diferenças internacionais na poupança nacional deve-se mais à poupança privada baixa do que a grandes déficits do governo dos Estados Unidos. Por que os americanos poupam tão pouco? A resposta imediata é que os economistas

não têm certeza, mas há uma série de teorias. Uma é que os consumidores americanos têm acesso mais fácil ao crédito. Por exemplo, os credores japoneses exigiam tradicionalmente uma parcela inicial bastante alta de quem comprava uma casa; mas, até a recente crise imobiliária, os americanos podiam comprar imóveis com pequeno pagamento inicial e até sem pagamento. Argumenta-se também que o sistema de Previdência dos Estados Unidos, ao garantir renda para a aposentadoria, reduz o incentivo à poupança privada. Em qualquer caso, os Estados Unidos têm sido capazes de manter elevados níveis de gasto de investimento apesar da baixa taxa de poupança, pois recebe grandes fluxos de capital líquidos positivos. Nota: Os dados do FMI diferem ligeiramente de outras fontes de dados.

Fonte: Fundo Monetário Internacional.

Para mentes curiosas Quem executa a contabilidade? A identidade poupança-gasto de investimento é um fato da contabilidade. Por definição, a poupança é igual ao gasto de investimento para a economia em seu conjunto. Mas quem aplica a aritmética? Por exemplo, o que acontece se a quantidade que as empresas querem investir em equipamento for menor que a quantidade que as empresas querem poupar? A resposta imediata é que o gasto de investimento desejado e o real nem sempre são iguais. Suponha que de repente as famílias decidam poupar mais, gastando menos – digamos, adiando a compra de carros novos. O efeito imediato será que bens não vendidos se acumulam – nesse caso, na forma de carros nas concessionárias. E esse aumento de estoque conta como gasto de investimento, embora não intencional. Assim, a identidade poupança-gasto de investimento ainda se mantém, porque as concessionárias acabam fazendo mais gasto de investimento do que pretendiam. Da

mesma forma, se de repente as famílias decidem poupar menos e gastar mais, os estoques vão diminuir e isso será contado como gasto de investimento negativo. Um exemplo real ocorreu em 2001. Poupança e gasto de investimento, medidos a uma taxa anual, caíram $126 bilhões entre o segundo e o quarto trimestres de 2001. Mas do lado do gasto de investimento, $71 bilhões dessa queda tomou a forma de gasto de investimento negativo em estoque. Em especial, os vendedores de carros venderam muitos dos veículos que estavam guardados em seus estacionamentos. Certamente as empresas respondem às mudanças em seus estoques alterando a produção. A redução de estoque no final de 2001 preparou o terreno para o impulso na produção no início de 2002. Examinaremos o papel especial dos estoques nas flutuações econômicas no Capítulo 11.

O mercado de fundos para empréstimos Para uma economia em seu conjunto, a poupança é sempre igual ao gasto de investimento. Em uma economia fechada, a poupança é igual à poupança nacional. Em uma economia aberta, a poupança é igual à poupança nacional mais entrada de capital. Contudo, em determinado momento, os poupadores, as pessoas com fundos para emprestar, geralmente não são as mesmas que os tomadores de empréstimos, as pessoas que querem tomar empréstimo para financiar o gasto de investimento. Como os poupadores e os tomadores de empréstimo se aproximam? Poupadores e tomadores de empréstimos são emparelhados uns aos outros de forma semelhante aos produtores e consumidores: por meio do mercado regido pela oferta e demanda. Na Figura 7-1, no diagrama de fluxo circular expandido, observa-se que os mercados financeiros canalizam a poupança das famílias para as empresas que querem tomar emprestado para comprar equipamento de capital. Agora é hora de dar uma olhada em como funcionam os mercados financeiros. Para fazer isso, vamos considerar uma versão um pouco simplificada da realidade. Como observamos no Capítulo 7, há grande número de mercados financeiros diferentes no sistema financeiro, tal como o mercado de bônus e o mercado de ações. No entanto, os economistas costumam trabalhar com um modelo simplificado em que se supõe que exista apenas um mercado que reúne aqueles que querem emprestar dinheiro (poupadores) e aqueles que querem tomar emprestado (empresas com projetos de gasto de investimento). Esse mercado hipotético é conhecido como mercado de fundos para empréstimos ou mercado de crédito. O preço que é determinado no mercado de crédito é a taxa de juros, indicada por r. Como observamos no Capítulo 8, em geral, os mercados especificam uma taxa de juros nominal. Assim, embora denominemos de r “a taxa de juros”, é com o entendimento que r é um taxa de juro nominal – uma taxa de juros que não é ajustada pela inflação. Deve-se notar que, na realidade, há muitos tipos diferentes de taxas de juros, pois há muitos tipos diferentes de empréstimos – de curto prazo, de longo prazo, para empresas, para o governo, e assim por diante. Para simplificar, vamos ignorar essas diferenças e assumir que existe apenas um tipo de empréstimo.

Sim, agora estamos prontos para analisar como a poupança e o investimento se combinam.

A demanda de fundos para empréstimo A Figura 10-2 ilustra uma curva de demanda hipotética de fundos para empréstimos, D, que se inclina para baixo. No eixo horizontal é mostrada a quantidade de fundos para empréstimos demandada. No eixo vertical é mostrada a taxa de juros, que é o “preço” do empréstimo. Mas por que a curva da demanda de crédito se inclina para baixo?

FIGURA 10-2 A demanda de crédito A curva da demanda de fundos para empréstimos tem inclinação para baixo: quanto mais baixa a taxa de juros, maior a quantidade de empréstimos demandada. Aqui, a redução da taxa de juros de 12% para 4% aumenta a demanda de crédito de $50 bilhões para $450 bilhões.

Para responder a essa questão, considere o que uma empresa está fazendo quando se envolve em gasto de investimentos – digamos, comprando novos equipamentos. Gasto de investimento significa colocar o dinheiro agora, esperando que esse esforço resulte em lucros maiores em algum momento no futuro. Na verdade, porém, a promessa de US$1 de cinco ou dez anos a partir de agora vale menos do que US$1 real agora. Assim, vale a pena fazer um investimento apenas se gerar um retorno futuro que seja maior do que o custo monetário de fazer o investimento hoje. Quanto maior? Para responder a isso, precisamos levar em conta o valor presente do retorno futuro que a empresa espera obter. Examinaremos o conceito de valor presente a seguir na seção Para mentes curiosas. Então, no apêndice deste capítulo, vamos mostrar como o conceito de valor presente

pode ser aplicado a dólares obtidos multiplicado por anos no futuro. Nos cálculos do valor presente, usamos a taxa de juros para determinar como o valor de US$1 no futuro se compara ao valor de US$1 hoje. Mas o fato é que o dólar futuro vale menos do que o dólar hoje, e vale ainda menos quando a taxa de juros for maior. A conclusão baseada no cálculo do valor presente é simples. A taxa de juros mede o custo de oportunidade dos gastos de investimento que resulta em um retorno futuro: em vez de gastar dinheiro em um projeto de gasto de investimento, uma empresa pode colocar o dinheiro no banco e ganhar juros sobre ele. E quanto maior a taxa de juros, mais atraente passa a ser colocar dinheiro no banco em vez de investir em um projeto de gasto de investimento. Em outras palavras, quanto maior a taxa de juros, maior o custo de oportunidade do gasto de investimento. E quanto maior o custo de oportunidade do gasto de investimento, menor o número de projetos de gasto de investimento que as empresas desejam realizar e, portanto, menor é a quantidade de fundos para empréstimo demandado. É esse insight (discutido em Para mentes curiosas) que explica por que a curva da demanda de fundos para empréstimos tem inclinação negativa.

Para mentes curiosas Uso do valor presente O entendimento do conceito de valor presente mostra por que a curva da demanda por fundos para empréstimo se inclina para baixo. Uma maneira simples de compreender a essência do valor presente é considerar um exemplo que ilustre a diferença de valor entre ter uma quantia em dinheiro hoje e ter a mesma quantia de dinheiro daqui a um ano. Suponha que exatamente um ano a partir de hoje você vai se formar, e quer recompensar a si mesmo fazendo uma viagem que irá custar $1.000. Para ter $1.000 daqui a um ano, quanto você precisa ter hoje? Não é $1.000, e o motivo tem a ver com a taxa de juros. Vamos chamar a quantidade que você precisa hoje de X. Usaremos r para representar a taxa de juros que você recebe sobre os fundos depositados no banco. Se você colocar X no banco hoje e receber uma taxa de juros de r sobre ele, então, após um ano, o banco irá pagar X × (1 + r). Se o que o banco vai pagar daqui a um ano é igual a $1.000, então a quantidade que você precisa hoje é

Ao aplicar um pouco de álgebra básica descobrirá que

Observe que o valor de X depende da taxa de juros r, que é sempre maior do que zero.

Esse fato implica que X é sempre menor que $1.000. Por exemplo, se r = 5% (isto é, r = 0,05), então X = $952,38. Em outras palavras, ter $ 952,38 hoje é equivalente a ter $1.000 daqui a um ano, quando a taxa de juro for 5%. Ou seja, $952,38 é o valor de $1.000 hoje, dada uma taxa de juros de 5%. Agora podemos definir o valor presente de X: é a quantidade de dinheiro necessária hoje para receber X no futuro, dada uma taxa de juros. Nesse exemplo numérico, $952,38 é o valor presente de $1.000 recebido daqui a um ano dada uma taxa de juros de 5%. O conceito de valor presente também se aplica às decisões tomadas pelas empresas. Pense em uma empresa que possui dois projetos potenciais de investimento em mente, cada um dos quais vai render $1.000 daqui a um ano. No entanto, cada projeto tem um custo inicial – digamos, um requer que a empresa tome emprestado $900 agora e outro requer que a empresa tome emprestado $950. De qual desses projetos, se houver, vale a pena que se tome dinheiro emprestado para financiar e realizar? A resposta depende da taxa de juros, que determina o valor presente de $1.000 daqui a um ano. Se a taxa de juros for de 10%, o valor presente de $1.000 daqui a um ano é de $909. Assim, apenas o primeiro projeto, que tem um custo inicial de menos de $909, é rentável. Com uma taxa de juros de 10%, o retorno sobre qualquer projeto que custe mais de $909 é inferior ao montante que a empresa teve que pagar pelo empréstimo e, portanto, não é rentável. Porém, se a taxa de juros for de apenas 5%, o valor presente de $1.000 sobe para $952. A essa taxa de juros, os dois projetos são rentáveis porque $952 excede o custo inicial dos dois projetos. Assim, a empresa vai tomar mais emprestado e se envolver em mais gasto de investimento, quando a taxa de juros for mais baixa. Enquanto isso, cálculos semelhantes serão realizados em outras empresas. Assim, uma taxa de juros mais baixa vai levar a gastos de investimento maiores na economia como um todo: a curva de demanda de fundos para empréstimos se inclina para baixo. Quando as empresas se envolvem em gasto de investimento, gastam dinheiro agora, em troca de uma recompensa esperada no futuro. Assim, para avaliar se determinado projeto de gasto de investimento vale a pena, uma empresa deve comparar o valor presente do pagamento futuro com o custo atual desse projeto. Se o valor presente do pagamento futuro for maior do que o custo atual, o projeto é rentável e vale a pena investir. Se a taxa de juros cai, então o valor presente de qualquer projeto se eleva e, assim, mais projetos se tornam interessantes. Se a taxa de juros sobe, então o valor presente de qualquer projeto cai, e poucos projetos se tornam interessantes. Assim, o gasto total de investimento, e, portanto, a demanda de fundos para empréstimos para financiar esse gasto, tem relacionamento negativo com a taxa de juros. Assim, a curva da demanda de fundos para empréstimos se inclina para baixo. Isso se observa na Figura 102. Quando a taxa de juros caiu de 12% para 4%, a quantidade de fundos para empréstimo demandada subiu de $150 bilhões (ponto A) para $450 bilhões (ponto B).

A oferta de fundos para empréstimo A Figura 10-3 mostra uma curva de oferta hipotética de fundos para empréstimo, S. Mais

uma vez, a taxa de juros desempenha o mesmo papel que o preço desempenha na análise da demanda e oferta normal. Mas por que essa curva se inclina para cima?

FIGURA 10-3 Oferta de fundos para empréstimo A curva da oferta de fundos para empréstimo tem inclinação positiva: quanto maior a taxa de juros, maior será a quantidade de fundos para empréstimo ofertada. Aqui, com o aumento da taxa de 4% para 12% aumenta a quantidade de fundos para empréstimo ofertada de $150 bilhões para $450 bilhões.

A resposta é que os fundos para empréstimo são ofertados pelos poupadores, e esses incorrem em um custo de oportunidade ao emprestarem para uma empresa: em vez disso os fundos poderiam ser gastos em consumo – digamos, férias agradáveis. Para determinado poupador se tornar um credor que disponibilize fundos para os tomadores de empréstimos, depende da taxa de juros recebida em troca. Ao poupar dinheiro hoje e receber juros sobre ele, você será recompensado com um consumo maior no futuro, quando o empréstimo que fez for pago com juros. Por isso, é uma boa hipótese que mais pessoas estejam dispostas a abrir mão do consumo atual e disponibilizar um empréstimo para um tomador, quando a taxa de juros estiver mais alta. Como resultado, a curva da oferta hipotética de fundos para empréstimo tem inclinação positiva. Na Figura 10-3, os credores irão fornecer $150 bilhões para o mercado de crédito a uma taxa de juros de 4 % (ponto X); se a taxa de juros subir para 12%, a quantidade de fundos para empréstimo ofertada subirá para $450 bilhões (ponto Y).

Taxa de juros de equilíbrio A taxa de juros de equilíbrio é a taxa de juros em que a quantidade de fundos para empréstimo ofertada é igual à quantidade de fundos para empréstimo demandada. Como se observa na Figura 10-4, a taxa de juros de equilíbrio, r*, e a quantidade total de empréstimos, Q*, são determinadas pela interseção das curvas de oferta e demanda no

ponto E. Aqui, a taxa de juros de equilíbrio é de 8% à qual $300 bilhões são emprestados e também tomados emprestado. Nesse equilíbrio, apenas os projetos de gasto de investimento que são rentáveis se a taxa de juros for de 8% ou mais serão financiados. Os projetos que não serão realizados, a menos que sejam rentáveis apenas quando a taxa de juros caia abaixo de 8%, não são financiados. Do mesmo modo, apenas os credores que estão dispostos a aceitar uma taxa de juros de 8% ou menos têm suas ofertas de empréstimo aceitas; os que exigem uma taxa de juros mais alta que 8% não têm as ofertas de empréstimo aceitas.

FIGURA 10-4 Equilíbrio no mercado de crédito À taxa de juros de equilíbrio, a quantidade de fundos para empréstimo ofertada é igual à quantidade demandada. Aqui, a taxa de juros de equilíbrio é de 8%, com $300 bilhões de fundos emprestados e tomados como empréstimo. Os credores que exigem uma taxa de juros de 8% ou mais baixa têm suas ofertas de empréstimos aceitas; aqueles que exigem uma taxa de juros mais alta, não. Projetos rentáveis à taxa de 8% ou mais alta são financiados; aqueles que são rentáveis apenas quando a taxa de juros cai abaixo de 8%, não são.

A Figura 10-4 mostra como o mercado de fundos para empréstimo combina a poupança desejada com o gasto de investimento desejado: em equilíbrio, a quantidade de fundos que os poupadores querem emprestar é igual à quantidade de fundos que as empresas querem tomar emprestado. A figura também mostra que essa combinação é eficiente, em dois sentidos. Primeiro, os investimentos certos acontecem: os projetos de gasto de investimento que realmente são financiados têm retornos mais altos (em termos de valor presente) do que os que não são financiados. Segundo, as pessoas certas realizam a poupança e o empréstimo: os poupadores que realmente emprestam fundos estão dispostos a

emprestar por taxas de juros mais baixas do que os que não o fazem. A percepção de que o mercado de fundos para empréstimo leva a um uso eficiente da poupança, embora elaborado a partir de um modelo muito simplificado, tem implicações importantes para a vida real. Como veremos em breve, é a razão pela qual um sistema financeiro que funcione bem aumenta a taxa de crescimento econômico de longo prazo da economia. Antes de chegarmos lá, vamos observar como o mercado de fundos para empréstimo responde aos deslocamentos da oferta e demanda. Como no modelo-padrão de oferta e demanda, onde as variações nos preços de equilíbrio mudam em resposta aos deslocamentos das curvas da oferta e demanda, aqui, a taxa de juros de equilíbrio varia quando há deslocamento da curva de demanda ou da curva da oferta de fundos para empréstimo, ou ambos.

Deslocamentos na demanda de fundos para empréstimo De início analisemos as causas e efeitos das variações na demanda. Os fatores que podem causar um deslocamento da curva de demanda de fundos para empréstimo incluem o seguinte: 1. Mudanças na percepção sobre a oportunidade de negócios. Uma mudança na percepção sobre o retorno de gastos de investimento pode aumentar ou reduzir a quantidade desejada de gastos a qualquer taxa de juros dada. Por exemplo, durante a década de 1990, houve grande entusiasmo sobre as possibilidades de negócios criadas pela Internet, que apenas começara a ser usada amplamente. Como resultado, as empresas correram para comprar equipamentos de informática, estender cabos de fibra ótica no solo, e assim por diante. Isso deslocou a demanda de fundos para empréstimo para a direita. Em 2001, o fracasso de muitas das empresas pontocom levou à desilusão com o investimento relacionado com tecnologia, o que deslocou a demanda de fundos para empréstimo de volta para a esquerda. 2. Mudanças no endividamento do governo. Os governos têm déficit orçamentário, quando, em um determinado ano, gasta mais do que recebe. Os governos que possuem déficits orçamentários são uma fonte importante de demanda de fundos para empréstimo. Como resultado, variações no déficit orçamentário do governo podem deslocar a curva de demanda de fundos para empréstimo. Por exemplo, entre 2000 e 2003, o governo dos Estados Unidos passou de um superávit para um déficit orçamentário. O governo deixou de ser um poupador líquido e fornecedor de fundos para empréstimo no mercado para ser um tomador de empréstimo, ao pedir emprestado fundos ao mercado. Em 2000, o endividamento federal líquido era menos de $189 bilhões, pois o governo federal estava pagando parte da sua dívida preexistente. Mas em 2003, o endividamento federal líquido era de mais de $416 bilhões, pois o governo teve que tomar emprestado grandes somas para pagar suas contas. Essa mudança na posição do orçamento federal teve o efeito, tudo o mais mantido constante, de deslocar a curva de demanda de fundos para empréstimo para a direita. A Figura 10-5 mostra o efeito de um aumento na demanda de fundos para empréstimo.

S é a oferta de fundos para empréstimo e D1 é a curva de demanda inicial. A taxa de juros de equilíbrio inicial é r1. Um aumento na demanda de fundos para empréstimo significa que a quantidade demandada de fundos aumenta para qualquer nível dado da taxa de juros, de modo que a curva de demanda se desloca para a direita para D2. Como consequência, a taxa de equilíbrio sobe para r2.

FIGURA 10-5 Aumento na demanda de fundos para empréstimo Se a quantidade de recursos demandados pelos tomadores de empréstimos sobe a qualquer taxa de juros dada, a demanda de fundos para empréstimo se desloca para a direita, de D1 para D2. Assim, a taxa de equilíbrio sobe de r1 para r2.

O fato de que um aumento na demanda de fundos para empréstimo, tudo o mais mantido constante, leva a um aumento na taxa de juros tem uma implicação especialmente importante: informa que persistentes déficits orçamentários do governo são motivos de preocupação, pois um aumento no déficit do governo desloca a curva da demanda de fundos para empréstimo para a direita, levando a uma taxa de juros mais elevada. Se a taxa de juros sobe, as empresas cortam seus gastos de investimento. Então, tudo o mais mantido constante, um aumento no déficit do governo tende a reduzir os gastos gerais de investimento. Os economistas denominam esse efeito negativo do déficit orçamentário do governo sobre o investimento de crowding out ou deslocamento do investimento privado. A preocupação com o crowding out é um dos principais motivos de apreensão com o aumento ou com a persistência de déficits orçamentários. No entanto, é importante acrescentar aqui uma qualificação: crowding out não pode ocorrer se a economia estiver em depressão. Quando a economia está operando muito abaixo do pleno emprego, os gastos do governo podem levar a rendas mais elevadas; e

essas rendas mais elevadas levam a um aumento da poupança a qualquer taxa de juros dada. Maior poupança permite ao governo tomar emprestado sem elevar as taxas de juros. Muitos economistas acreditam, por exemplo, que os grandes déficits orçamentários ocorridos nos Estados Unidos entre 2008 e 2012 (momento da escrita), em face de uma economia em depressão, causaram pouco ou nenhum crowding out.

Deslocamentos da demanda de fundos para empréstimo Como a demanda de fundos para empréstimo, a oferta de fundos para empréstimo pode se deslocar. Entre os fatores que podem fazer a oferta de fundos para empréstimo se deslocar estão os seguintes: 1. Variações no comportamento da poupança privada. Uma série de fatores pode fazer o nível de poupança privada mudar a qualquer taxa de juros dada. Por exemplo, entre 2000 e 2006 o aumento no preço dos imóveis nos Estados Unidos fez muitos proprietários de casas se sentirem ricos, predispondo-se a gastar mais e poupar menos. Isso teve o efeito de deslocar a curva de oferta de fundos de empréstimo para a esquerda. 2. Variações na entrada de capital. A entrada de capital para dentro e para fora do país pode mudar conforme a percepção de mudança dos investidores no país. Por exemplo, a Grécia teve amplas entradas líquidas de capital após a criação do euro, a moeda comum da Europa, em 1999, porque os investidores acreditavam que a adoção do euro como moeda pela Grécia tinha tornado o país um lugar seguro para colocar seus fundos. Até 2009, no entanto, preocupações com a solvência do governo grego (e a descoberta que ele tinha subestimado sua dívida) levou a um colapso na confiança do investidor, e a entrada líquida de fundos secou. O efeito da diminuição da entrada de capital foi o deslocamento da curva de oferta no mercado grego de fundos para empréstimo para a esquerda. 3. Como já vimos, os Estados Unidos receberam grandes fluxos de capital nos últimos anos, sendo que grande parte do dinheiro veio da China e do Oriente Médio. Essa entrada ajudou a alimentar um grande aumento dos gastos de investimento em imóveis residenciais – em novas construções de casas – de 2003 a 2006. Como resultado do estouro da bolha imobiliária dos Estados Unidos em 2008 e da recessão profunda subsequente, essas entradas começaram a desacelerar em 2008. A Figura 10-6 mostra o efeito de um aumento na oferta de fundos para empréstimo. D é a demanda de fundos para empréstimo e S1 é a curva de oferta inicial. A taxa de juros de equilíbrio inicial é r1. Um aumento na oferta de fundos para empréstimo significa que a quantidade de fundos ofertada sobe a qualquer taxa de juros dada, então a curva de oferta se desloca para a direita, para S2. Em consequência, a taxa de equilíbrio cai para r2.

FIGURA 10-6 Aumento na oferta de fundos para empréstimo Se a quantidade de fundos ofertada pelos credores sobe a qualquer taxa de juros dada, a oferta de fundos para empréstimo se desloca para a direita, de S1 para S2. Em consequência, a taxa de equilíbrio cai de r1 para r2.

Inflação e taxas de juros Qualquer coisa que desloque a demanda ou a oferta de fundos para empréstimo desloca a taxa de juros. Historicamente, grandes variações nas taxas de juros têm sido impulsionadas por vários fatores, inclusive mudança na política do governo e inovações tecnológicas, que criaram novas oportunidades de investimento. No entanto, sem dúvida, o fator mais importante que afeta as taxas de juros ao longo do tempo – a razão, por exemplo, de as taxas de juros hoje serem muito mais baixas do que eram no final de 1970 e início dos anos 1980 – é a mudança nas expectativas sobre a inflação futura, que desloca tanto a oferta como a demanda de fundos para empréstimo. Para entender o efeito da inflação futura esperada sobre as taxas de juro, lembre-se da discussão no Capítulo 8, do modo como a inflação cria ganhadores e perdedores – por exemplo, a maneira pela qual a elevação da inflação dos Estados Unidos nos anos 1970 e 1980 reduziu o valor real dos empréstimos hipotecários, o que foi bom para os proprietários, mas ruim para os bancos. No Capítulo 8, aprendemos que os economistas resumem o efeito da inflação sobre os devedores e credores, distinguindo entre a taxa de juros nominal e a taxa de juros real, onde a diferença é a seguinte:

O verdadeiro custo de tomar emprestado é a taxa de juros real, não a nominal. Para ver por que, suponha que uma empresa tome emprestado $10.000 por um ano a uma taxa de juros nominal de 10%. No final do ano, tem de pagar $11.000 de volta, o montante emprestado mais o juro. Mas suponha que, ao longo do ano, o nível médio de preços aumente 10%, de modo que a taxa de juro real é zero. Então, o reembolso de $11.000 tem o mesmo poder de compra que o empréstimo original de $10.000. Em termos reais, o devedor recebeu um empréstimo a juros zero. Da mesma forma, a verdadeira remuneração do crédito é a taxa de juros real, não a nominal. Suponha que um banco empreste $10.000 por um ano à taxa de juros nominal de 10%. No final do ano, o banco recebe $11.000 da liquidação do crédito. Mas se o nível médio de preços subiu 10% ao ano, o poder de compra do dinheiro que o banco recebeu de volta não é meramente o mesmo do dinheiro que emprestou. Em termos reais, o banco fez um empréstimo a juros zero. Agora podemos adicionar um detalhe importante à nossa análise do mercado de crédito. As Figuras 10-5 e 10-6 são desenhadas com o eixo vertical medindo a taxa de juros nominal para determinada taxa de inflação futura esperada. Por que usamos a taxa de juros nominal e não a taxa de juros real? Porque, no mundo real, nem o credor nem o devedor sabe qual será a taxa de inflação futura. Os contratos de empréstimo, portanto, especificam uma taxa de juros nominal, em vez de uma taxa de juros real. No entanto, como estamos mantendo a taxa de inflação futura nas Figuras 10-5 e 10-6, variações na taxa de juros nominal também levam a variações na taxa de juros real. As expectativas de credores e devedores sobre as taxas de inflação futura normalmente se baseiam em experiência recente. No final de 1970, após uma década de inflação alta, os devedores e credores esperavam que a inflação futura fosse alta. Ao final de 1990, após uma década de inflação relativamente baixa, os devedores e credores esperavam que a inflação futura fosse baixa. E a variação da expectativa sobre a inflação futura teve forte efeito sobre a taxa de juros nominal, o que em grande parte explica por que as taxas de juros nominais foram muito mais baixas nos primórdios do século XXI do que no início de 1980. Vejamos como variações na taxa de inflação futura esperada se refletem no modelo de fundos para empréstimo. Na Figura 10-7, as curvas S0 e D0 mostram a oferta e a demanda de fundos para empréstimo, dada uma taxa de inflação esperada de 0%. Nesse caso, o equilíbrio está em E0 e a taxa de juros nominal de equilíbrio é de 4%. Visto que a taxa de inflação esperada é de 0%, a taxa real de juros de equilíbrio esperada ao longo do período de contratação do empréstimo também é de 4%.

FIGURA 10-7 O efeito Fisher D0 e S0 são as curvas da demanda e da oferta de fundos para empréstimo quando a taxa de inflação esperada é de 0%. A uma taxa de inflação esperada de 0 %, a taxa de juros nominal de equilíbrio é de 4%. Um aumento na inflação esperada empurra tanto a curva da demanda como a da oferta para cima em 1 ponto percentual para cada ponto percentual de aumento na inflação futura esperada. D10 e S10 são as curvas da oferta e da demanda de fundos para empréstimo quando a taxa de inflação futura esperada é de 10%. O aumento de 10 pontos percentuais na inflação futura eleva a taxa de juros nominal de equilíbrio para 14%. A taxa de juros real esperada permanece em 4%, e a quantidade de equilíbrio de fundos para empréstimo também permanece inalterada.

Agora, suponha que a taxa de inflação esperada aumente para 10%. A curva de demanda de fundos para empréstimo se desloca para cima, para D10: agora, os tomadores de empréstimos estão dispostos a emprestar a uma taxa de juros nominal de 14%, o mesmo montante que previamente estavam dispostos a emprestar a uma taxa de 4%. Isso porque, com uma taxa de inflação de 10%, uma taxa de juros nominal de 14% corresponde a uma taxa de juros real de 4%. Da mesma forma, a curva da oferta de fundos para empréstimo se desloca para cima, para S10: os credores exigem uma taxa de juros nominal de 14%, para persuadi-los a emprestar tanto quanto estariam dispostos a emprestar previamente a 4 %. O novo equilíbrio é em E10: o resultado de uma taxa de inflação futura esperada de 10% é que a taxa de juro nominal de equilíbrio sobe de 4% para 14%. Essa situação pode ser resumida como princípio geral, conhecido como efeito Fisher (devido ao economista americano Irving Fisher, que o propôs em 1930): A taxa de juros real esperada não é afetada por variações na expectativa futura de inflação. De acordo com o efeito Fisher, um aumento na expectativa de inflação futura eleva a taxa de juros nominal, em que cada ponto percentual de inflação futura esperada eleva a taxa de juros nominal em 1 ponto percentual. O ponto central é que tanto credores como devedores baseiam suas decisões sobre a taxa de juros real esperada. Assim, uma variação na taxa esperada de inflação não afeta a quantidade de equilíbrio de fundos para empréstimo ou a taxa de juros real esperada; afeta apenas a taxa de juros nominal de equilíbrio.

Economia em ação Cinquenta anos de taxas de juros nos Estados Unidos Na última metade do século XX ocorreram movimentos importantes nas taxas de juros dos Estados Unidos. Esses movimentos mostram claramente como tanto a variação na inflação futura como a variação no retorno esperado do gasto de investimento movimenta as taxas de juros. O painel (a) da Figura 10-8 ilustra o primeiro efeito. Mostra a taxa média de juros sobre os bônus emitidos pelo governo dos Estados Unidos – especificamente, bônus que o governo se compromete a pagar o valor integral depois de 10 anos, de 1960 a meados de 2011, juntamente com a taxa de inflação de preços ao consumidor em relação ao mesmo período. Como se vê, o grande panorama das taxas de juros é como elas subiram na década de 1970, antes de voltar a cair nos anos 1980. Não é difícil ver por que isso aconteceu: a inflação subiu durante a década de 1970, levando a expectativas generalizadas de que a inflação alta iria continuar. E, como vimos, a inflação esperada aumenta a taxa de juros de equilíbrio. Quando a inflação baixou na década de 1980, a expectativa de inflação futura também diminuiu e isso também trouxe as taxas de juros para baixo.

FIGURA 10-8 Variação na taxa de juros dos Estados Unidos ao longo do tempo

O painel (b) ilustra o segundo efeito: variações no retorno esperado sobre gastos de investimento e taxas de juros, oferecendo um close das taxas de juros entre 2002 e 2011. Observe o aumento das taxas de juros durante os anos médios da última década, seguido por uma queda acentuada. Sabemos de outras evidências (como pesquisas de opinião entre investidores) que a inflação esperada não mudou muito nesses anos. O que aconteceu, ao contrário, foi o boom e o estouro da bolha do setor imobiliário: as taxas de juros subiram à medida que a demanda por habitação disparou, deslocando a curva da demanda de fundos para empréstimo para a direita; em seguida, caiu à medida que o boom desabou, deslocando a curva da demanda de fundos para empréstimo de volta para a esquerda.

Ao longo de todo esse processo, a poupança total foi igual ao gasto de investimento total e a ascensão e queda da taxa de juros desempenharam papel fundamental na adequação de credores e devedores.

Breve revisão ■ A identidade poupança-gasto de investimento é um fato contábil: a poupança é igual ao gasto de investimento para a economia como um todo. ■ O governo é uma fonte de poupança quando tem um saldo orçamentário positivo, um superávit orçamentário. É uma fonte de despoupança quando incorre em déficit orçamentário. ■ A poupança é igual à poupança nacional mais a entrada de capital, que pode ser positiva ou negativa. ■ Quando custos ou benefícios chegam em momentos diferentes, deve-se levar em conta a complicação criada pelo tempo. Consegue-se isso transformando o valor do dólar realizado no futuro para o seu valor presente. ■ O mercado de fundos para empréstimo emparelha os poupadores aos tomadores de empréstimos. Em equilíbrio, somente projetos de gasto de investimento com retorno esperado maior ou igual à taxa de juros de equilíbrio são financiados. ■ Como o governo concorre com o setor privado no mercado de fundos para empréstimo, um déficit orçamentário pode deslocar o gasto de investimento privado, provocando o que é conhecido como crowding out. No entanto, o crowding out é pouco provável quando a economia está em recessão. ■ Expectativa de inflação futura mais elevada aumenta a taxa de juros nominal, pelo efeito Fisher, deixando a taxa real de juros inalterada.

Teste seu entendimento 10-1 1. Use um gráfico do mercado de fundos para empréstimo para ilustrar o efeito dos seguintes eventos sobre a taxa de juros de equilíbrio e sobre o gasto de investimento. a. Uma economia é aberta aos movimentos internacionais de capital e ocorre uma entrada de capital. b. Aposentados geralmente poupam menos do que as pessoas que trabalham com qualquer taxa de juros. A proporção de aposentados na população está subindo. 2. Explique o que está errado com a seguinte afirmação: “Poupança e gasto de investimento não podem ser iguais na economia como um todo, porque quando a taxa de juros sobe, as famílias vão querer economizar mais dinheiro do que as empresas vão querer investir.” 3. Suponha que a inflação esperada aumente de 3% para 6%. a. Como a taxa real de juros será afetada por essa variação? b. Como a taxa nominal de juros será afetada por essa variação? c. O que vai acontecer com a quantidade de equilíbrio de fundos para empréstimo? As respostas estão no fim do livro.

O sistema financeiro Um sistema financeiro com bom funcionamento reuniu fundos de investidores e as ideias de nerds brilhantes, tornando a ascensão do Facebook possível. Mas seria equivocado pensar que isso é um fenômeno exclusivamente moderno. Os mercados financeiros levantaram fundos que foram usados para desenvolver o mercado colonial na Índia, a construção de canais em toda a Europa, e o financiamento das guerras napoleônicas, nos séculos XVIII e XIX. As entradas de capital financiaram o desenvolvimento econômico inicial dos Estados Unidos, financiamento de gasto de investimento em mineração, ferrovias e canais. Na verdade, muitas das principais características dos mercados financeiros e ativos foram bem compreendidas na Europa e nos Estados Unidos desde o século XVIII. Essas características não são menos relevantes hoje. Então, vamos começar a entender o que exatamente é negociado nos mercados financeiros. Os mercados financeiros são o lugar onde as famílias investem a poupança corrente e a acumulada, ou riqueza, por meio da compra de ativos financeiros. Um ativo financeiro é um título que dá direito ao comprador desse papel a uma renda futura paga pelo vendedor. Por exemplo, quando um poupador empresta fundos a uma empresa, o empréstimo é um ativo financeiro vendido pela empresa, que dá ao credor (o comprador do ativo financeiro) direito a uma renda futura da empresa. A família também pode investir sua poupança corrente ou riqueza através da compra de um ativo físico, um objeto tangível, que pode ser usado para gerar renda futura, como uma casa ou equipamento preexistente. Isso dá ao proprietário o direito de dispor do objeto como deseje (por exemplo, alugá-lo ou vendê-lo). Lembre-se que a compra de um ativo financeiro ou físico normalmente chama-se investimento. Então, se você compra um equipamento que já existe – digamos um avião usado – está investindo em um ativo físico. Por outro lado, se gasta os fundos que contribuem para o estoque de capital físico da economia – digamos, comprando um avião que acaba de ser fabricado – está fazendo um gasto de investimento. (Veja em Armadilhas, Investimento versus gasto de investimento, no início deste capítulo.) Digamos que você receba um empréstimo do banco local para comprar um carro novo, e portanto, nesse caso, você e o banco estão criando um ativo financeiro: o empréstimo. Um empréstimo é um tipo importante de ativo financeiro no mundo real, cuja propriedade é do credor, nesse caso, o banco local. Ao criar esse empréstimo, você e o banco também criam um passivo, a exigência de pagamento de renda no futuro. Assim, embora o empréstimo seja um ativo financeiro do ponto de vista do banco, é um passivo do seu ponto de vista: a exigência de pagamento do empréstimo, incluindo os juros. Além do empréstimo, existem outros três tipos importantes de ativos financeiros: ações, bônus e depósitos bancários. Como um ativo financeiro é um direito a uma renda futura que alguém tem que pagar, também é um passivo de outra pessoa. Logo, iremos explicar em detalhes quem carrega o passivo para cada tipo de ativo financeiro. Esses quatro tipos de ativos financeiros – empréstimos, ações, bônus e depósitos

bancários – existem porque a economia desenvolveu um conjunto de mercados especializados, como o mercado de ações e o mercado de bônus, bem como instituições especializadas, como os bancos, que facilitam o fluxo de fundos dos credores para os devedores. No Capítulo 7, no contexto do diagrama de fluxo circular, foram definidos os mercados e instituições financeiras que compõem o sistema financeiro. Um sistema financeiro que funcione bem é um ingrediente fundamental para alcançar o crescimento de longo prazo, pois incentiva mais poupança e mais gasto de investimento. Além disso, garante que a poupança e o gasto de investimento sejam realizados de forma eficiente. Para entender como isso ocorre, primeiro precisamos saber quais tarefas que o sistema financeiro precisa realizar. Então, podemos ver como essas tarefas são cumpridas.

Três tarefas do sistema financeiro A análise anterior do mercado de fundos para empréstimo ignorou três problemas importantes que os credores e devedores enfrentam: custos de transação, risco e desejo de liquidez. As três tarefas do sistema financeiro consistem em reduzir esses problemas de maneira eficiente no que se refere a custos. Fazendo isso, a eficiência dos mercados financeiros é aumentada: aumenta a probabilidade de que os credores e devedores tenham trocas mutuamente benéficas – trocas que tornem a sociedade como um todo mais rica. Vamos voltar agora a examinar como os ativos financeiros são projetados e como as instituições são desenvolvidas para lidar com esses problemas.

Tarefa 1: Redução dos custos de transação Custos de transação são as despesas de realmente montar e executar um negócio. Por exemplo, arranjar um empréstimo exige tempo e dinheiro negociando os termos do acordo, a verificação da capacidade de pagamento do tomador do empréstimo, a elaboração e redação de documentos legais, e assim por diante. Suponha que uma grande empresa decida que quer levantar $1 bilhão para gasto de investimento. Nenhum indivíduo estaria disposto a emprestar tanto assim. E negociar empréstimos individuais de milhares de pessoas diferentes, cada um disposto a emprestar uma quantia modesta, implicaria custos elevados porque cada transação individual incorreria em custo. Os custos totais seriam tão elevados que provavelmente o negócio todo não seria rentável para a empresa. Felizmente, isso não é necessário: quando grandes empresas querem tomar dinheiro emprestado, vão ao banco ou vendem bônus no mercado de bônus. Obter um empréstimo de um banco evita custos de transação elevados, pois envolve apenas um tomador de empréstimo e um credor. Explicaremos a seguir como os bônus funcionam. Por enquanto, é suficiente saber que a principal razão da existência de um mercado de bônus é permitir às empresas tomar emprestado grandes somas de dinheiro, sem incorrer em custos de transação elevados.

Tarefa 2: Redução de risco

Um segundo problema que os devedores e credores do mundo real enfrentam é o risco financeiro, a incerteza sobre resultados futuros que envolvem perdas ou ganhos financeiros. O risco financeiro, ou, simplesmente, risco, é um problema, porque o futuro é incerto, com potencial tanto para perdas como para ganhos. Por exemplo, possuir e dirigir um carro implica o risco financeiro de um acidente de carro. A maioria das pessoas considera possíveis perdas e ganhos de forma assimétrica: a experiência de perda de bem-estar por perder determinada quantidade de dinheiro é considerada maior do que o ganho de bem-estar por receber a mesma quantidade de dinheiro. Considera-se que uma pessoa que é mais sensível à perda do que ao ganho do mesmo montante de dinheiro tem aversão ao risco. A maioria das pessoas é avessa ao risco, embora em graus diferentes. Por exemplo, as pessoas ricas, normalmente, são menos avessas ao risco do que os que não são tão ricos. Um sistema financeiro que funcione bem ajuda as pessoas a reduzir sua exposição ao risco, que é o que as pessoas avessas ao risco desejariam fazer. Suponha que a proprietária de uma empresa espera ter um lucro maior se comprar bens de capital adicional, mas não está completamente certa de que isso vai realmente acontecer. Poderia pagar pelo equipamento com suas economias ou vendendo sua casa. Mas, se o lucro for significativamente menor do que o esperado, perderá suas economias, ou sua casa, ou ambos. Ou seja, estaria se expondo a uma série de riscos devido à incerteza sobre o desempenho da empresa. (É por isso que os empresários, que normalmente têm uma parcela significativa da própria riqueza pessoal amarrada aos negócios, geralmente são pessoas mais tolerantes ao risco do que a média.) Assim, por ser avessa ao risco, essa empresária quer partilhar o risco de aquisição de novos equipamentos de capital com alguém, mesmo que isso requeira partilhar algum lucro se tudo correr bem. Como pode fazer isso? Com a venda de ações da empresa para outras pessoas e usando o dinheiro que recebe da venda das ações, ao invés de usar o dinheiro da venda de seus próprios ativos, para financiar a compra do equipamento. Ao vender ações de sua empresa, reduz as perdas pessoais. Se o lucro for menor do que o esperado não terá perdido seus outros ativos. Mas se as coisas correrem bem, os acionistas ganharão uma parte do lucro como retorno sobre o investimento. Ao vender ações de sua empresa, a proprietária conseguiu diversificação: foi capaz de investir em várias coisas de forma a reduzir o risco total. Manteve o investimento na conta bancária, um ativo financeiro; a propriedade da casa, um ativo físico; e na propriedade da parte não vendida da empresa, um ativo financeiro. Esses investimentos tendem a ter embutido algum risco próprio; por exemplo, o banco pode ir à falência ou a casa pode desaparecer em um incêndio (embora nos Estados Unidos moderno, é provável que esses riscos estejam parcialmente protegidos pelo seguro). Mas, mesmo na ausência de seguro, é melhor manter os investimentos nesses ativos diferentes, porque seus riscos diversos são eventos desvinculados, ou independentes. Isso significa, por exemplo, que não seja mais provável que a casa queime quando a empresa vai mal ou que não há maior probabilidade de o banco falir caso a casa sofra um incêndio. Dito de outra forma, se um ativo tem desempenho precário, é muito provável que seus outros ativos não serão afetados e, como resultado, seu risco total de perda fica reduzido. Mas se ela

tivesse investido toda a sua riqueza na empresa, teria a perspectiva de perder tudo se o desempenho da empresa fosse ruim. Ao diversificar – investindo em vários ativos com riscos desvinculados ou independentes, a empresária reduziu o risco de perda total. O desejo das pessoas de reduzir o risco total diversificando é a razão pela qual temos ações e um mercado de ações. Na próxima seção, sobre os tipos de ativos financeiros, explicaremos como certas características do mercado de ações aumentam a capacidade das pessoas de gerenciar e reduzir o risco.

Tarefa 3: Proporcionar liquidez A terceira e última tarefa do sistema financeiro é proporcionar liquidez aos investidores, uma preocupação que – como o risco – surge porque o futuro é incerto. Suponha que, tendo feito um empréstimo, um credor de repente se vê na necessidade de dinheiro – digamos, para atender a uma emergência médica. Infelizmente, se esse empréstimo foi feito para uma empresa que o usou para a compra de novos equipamentos, a empresa poderá não pagar o empréstimo no curto prazo para satisfazer a necessidade do credor de recuperar o dinheiro. Sabendo de antemão que existe o risco de necessitar obter o dinheiro de volta antes do prazo estabelecido do empréstimo, o credor pode ter relutância em empatar o dinheiro ao emprestar a uma empresa. Um ativo é líquido se puder ser convertido em dinheiro rapidamente e com perda de valor relativamente pequena; é ilíquido, se não puder. Como veremos, ações e bônus são respostas parciais para o problema da liquidez. Os bancos são mais uma forma de as pessoas manterem ativos líquidos e ainda financiar projetos de gastos de investimento ilíquidos. Para ajudar os credores e devedores a fazer trocas mutuamente benéficas, a economia precisa de formas de reduzir os custos de transação, que reduzam e gerenciem o risco por meio da diversificação, e forneçam liquidez. Como realizar essas tarefas?

Tipos de ativos financeiros Na economia moderna, existem quatro tipos principais de ativos financeiros: empréstimos, bônus, ações e depósitos bancários. Além disso, a inovação financeira permitiu a criação de vasta gama de títulos lastreados por empréstimos. Cada um tem um propósito um pouco diferente. Vamos examinar os empréstimos, bônus, ações e títulos lastreados por empréstimos, reservando a análise de depósitos bancários para a próxima seção.

Empréstimos Um empréstimo é um acordo de crédito entre um credor individual e um devedor individual. A maioria das pessoas vê os empréstimos sob a forma de empréstimo estudantil ou bancário para financiar a compra de um carro ou de uma casa. E pequenas empresas geralmente usam empréstimos bancários para comprar novos equipamentos. A vantagem dos empréstimos é que determinado empréstimo geralmente é adaptado

às necessidades do tomador do empréstimo. Antes de uma pequena empresa obter um empréstimo geralmente deve discutir seus planos empresariais, seus lucros, e assim por diante, com o credor. Isso resulta em um crédito que atende às necessidades e capacidade de pagamento do devedor. A desvantagem dos empréstimos é que conceder um empréstimo a um indivíduo ou a uma empresa normalmente envolve uma série de custos de transação, tais como o custo de negociação dos termos do crédito, investigar o histórico do devedor e a capacidade de pagamento, e assim por diante. Para minimizar esses custos, os grandes devedores, como as grandes corporações e os governos, muitas vezes têm uma abordagem mais simples: vendem (ou emitem) bônus.

Bônus Como aprendemos no Capítulo 7, bônus é um título emitido pelo tomador de empréstimo. Normalmente, o vendedor do título promete pagar uma quantia fixa de juros a cada ano e amortizar o principal – o valor de face indicado no bônus – ao proprietário do bônus em uma data determinada. Assim, bônus é um ativo financeiro do ponto de vista do seu proprietário e um passivo do ponto de vista do emissor do bônus. O emissor do bônus vende certa quantidade de bônus com determinada taxa de juros e determinada data de vencimento para quem esteja disposto a comprá-los, um processo que evita a negociação custosa dos termos de um empréstimo com muitos credores individuais. Os compradores de bônus podem adquirir informação gratuita sobre a qualidade do emissor do título, como o histórico de crédito fornecido pelas agências de avaliação de risco, em vez de a despesa de investigação ser realizada por eles. Uma preocupação particular dos investidores é a possibilidade do default, o risco de que o emissor do bônus não consiga fazer os pagamentos conforme o especificado no contrato. Uma vez que o risco de um bônus de default foi avaliado, pode ser vendido no mercado de títulos como um produto padronizado – um produto com prazos e qualidade claramente definidos. Em geral, os bônus com maior risco de inadimplência devem pagar uma taxa de juros mais alta para atrair investidores. Outra vantagem importante dos bônus é que são fáceis de revender. Isso oferece liquidez aos compradores de bônus. De fato, muitas vezes, um bônus passa por muitas mãos antes do prazo de vencimento. Ao contrário, os empréstimos são muito mais difíceis de revender porque não são padronizados: diferem em tamanho, qualidade, termos, e assim por diante. Isso os torna muito menos líquidos que os bônus.

Títulos financeiros lastreados por empréstimos Títulos financeiros lastreados por empréstimos são ativos criados por agrupamento de empréstimos individuais e venda de ações na forma de um pool (um processo chamado de securitização), que se tornou extremamente popular nas últimas duas décadas. O exemplo mais conhecido de securitização são os títulos lastreados por empréstimos

hipotecários nos Estados Unidos, em que milhares de hipotecas individuais são agrupadas e “empacotadas” na forma de títulos vendidos aos investidores. Mas a securitização também tem sido amplamente aplicada a empréstimos estudantis, empréstimos de cartões de crédito e empréstimos para financiamento de automóveis. Esses títulos de crédito lastreados são negociados nos mercados financeiros, assim como os bônus, e são os preferidos pelos investidores porque fornecem maior diversificação e liquidez do que os empréstimos individuais. No entanto, com tantos empréstimos “empacotados” juntos, pode ser difícil avaliar a verdadeira qualidade do ativo. Essa dificuldade veio a alarmar os investidores durante a crise financeira de 2008, quando o estouro da bolha imobiliária nos Estados Unidos levou a uma inadimplência generalizada nos empréstimos hipotecários e a grandes perdas para os portadores de títulos financeiros “supostamente seguros” lastreados naqueles empréstimos hipotecários, foram perdas que se espalharam por todo o sistema financeiro.

Ações Como aprendemos no Capítulo 7, uma ação é uma participação na propriedade de uma empresa. Uma participação acionária é um ativo financeiro do ponto de vista do dono das ações e um passivo do ponto de vista da companhia. Nem todas as empresas vendem participações acionárias. Empresas “privadas mantidas fechadas” são de propriedade de um indivíduo ou de alguns parceiros, que conseguem manter todo o lucro da empresa. A maioria das grandes empresas, no entanto, vende ações. Por exemplo, a Microsoft tem cerca de 11 bilhões de ações no mercado. Ao comprar 1 dessas ações, tem-se direito a 1 sobre 11 bilhões do lucro da empresa, bem como 1 voto entre os 11 bilhões de votos nas decisões da empresa. Por que a Microsoft, historicamente uma empresa muito rentável, permite a compra de participação de sua propriedade? Por que Bill Gates e Paul Allen, os dois fundadores da Microsoft, não mantêm a posse completa da propriedade e vendem bônus para suprir sua necessidade de gasto de investimento? A razão, como acabamos de verificar, é o risco: poucos indivíduos têm tolerância suficiente para enfrentar o risco envolvido em ser o único proprietário de uma grande empresa. Reduzir o risco que os empresários enfrentam, no entanto, não é a única maneira pela qual a existência de ações melhora o bem-estar da sociedade: também melhora o bemestar do investidor que compra ações. Os acionistas podem desfrutar dos retornos mais elevados ao longo do tempo que, em geral, as ações oferecem em comparação com os bônus. Durante o século XX, as ações normalmente rendiam cerca de 7% após o ajuste para descontar a inflação, enquanto os bônus rendiam apenas cerca de 2%. Mas, como as empresas de investimento advertem, “desempenho passado não é garantia de desempenho futuro”. E há uma desvantagem: possuir ações de determinada empresa é mais arriscado do que possuir bônus emitido pela mesma empresa. Por quê? Grosseiramente falando, o bônus é uma promessa, enquanto que uma ação é uma esperança: por lei, a empresa deve pagar o que deve aos seus credores antes de distribuir qualquer lucro para seus acionistas. E se a empresa falhar (ou seja, não for capaz de

pagar suas obrigações de juros e declarar falência), seus ativos físicos e financeiros vão para os proprietários de bônus – seus credores –, enquanto os acionistas geralmente não recebem nada. Assim, embora uma ação geralmente proporcione um retorno maior para o investidor do que um bônus, também carrega um risco mais elevado. Mas o sistema financeiro tem buscado formas de ajudar os investidores, bem como os empresários, simultaneamente, a gerir riscos e desfrutar de retornos um pouco mais elevados. Isso se faz por meio dos serviços de instituições conhecidas como intermediários financeiros.

Intermediários financeiros Intermediário financeiro é uma instituição que transforma os fundos recebidos de muitos indivíduos em ativos financeiros. Os tipos mais importantes de intermediários financeiros são os fundos mútuos, fundos de pensão, companhias de seguro de vida e bancos. Cerca de três quartos dos ativos financeiros americanos próprios são mantidos por meio desses intermediários e não diretamente.

Fundos mútuos Como já explicado, possuir ações de uma empresa implica aceitar riscos em troca de um retorno potencial mais alto. Mas não é nenhuma surpresa que os investidores em ações podem reduzir o risco total diversificando. Ao possuir uma carteira diversificada de ações, um grupo de ações cujos riscos não são relacionados ou se compensam uns com os outros, em vez de concentrar o investimento em ações de uma única empresa ou grupo de empresas coligadas, os investidores podem reduzir o risco. Além disso, os assessores financeiros, cientes de que a maioria das pessoas é avessa ao risco, quase sempre aconselham seus clientes a diversificar não só a carteira de ações, mas o total da riqueza, mantendo outros ativos, além de ações, como bônus, imóveis, e depósitos à vista. (E, além disso, a contratação de seguro para perdas acidentais!) No entanto, para indivíduos que não têm grandes somas para investir – digamos $1 milhão ou mais –, construir uma carteira diversificada de ações pode incorrer em custos altos de transação (principalmente comissões pagas a corretores), pois têm que comprar algumas ações de muitas empresas. Felizmente para esses investidores, os fundos mútuos resolvem o problema de conseguir diversificação sem custos de transação muito altos. Um fundo mútuo é um intermediário financeiro que cria uma carteira de ações, comprando e mantendo ações de empresas, e, em seguida, revende uma participação na carteira de ações para investidores individuais. Ao comprar essa participação no fundo, investidores com quantia relativamente pequena de dinheiro para investir indiretamente podem ter uma carteira diversificada, obtendo, a um determinado nível de risco, um retorno melhor do que poderiam conseguir de outro modo. A Tabela 10-1 mostra um exemplo de fundo mútuo diversificado, o Vanguard 500 Index Fund. Mostra a porcentagem do dinheiro dos investidores na carteira do fundo mútuo aplicada em ações das maiores companhias.

Tabela 10-1 Vanguard 500 Index Fund Investors, porcentagens, Top Holdings (junho de 2011) Empresa P orcentagem dos ativos de fundos mútuos investidos nas empresas Exxon Mobil Corp 3,3% Apple Inc . 2,6 International Business Mac hines Corp 1,7 Chevron Corp 1,7 General Elec tric Co. 1,7 Mic rosoft 1,6 AT & T Inc . 1,5 Johnson & Johnson 1,5 Proc ter & Gamble Co. 1,5 Pfizer Inc . 1,4

Fonte: The Vanguard Group.

Muitos fundos mútuos também fazem pesquisa de mercado sobre as companhias nas quais investem. Isso é importante, pois existem milhares de companhias americanas emitindo ações (para não mencionar as empresas estrangeiras), cada uma delas diferente em termos de lucratividade, pagamento de dividendos, e assim por diante. Seria extremamente demorado e caro para um investidor individual fazer essa pesquisa de forma adequada até mesmo em relação a um número pequeno de empresas. Os fundos mútuos economizam custos de transação, fazendo essa pesquisa para seus clientes. O setor de fundos de mútuos representa grande parte da economia moderna americana e não apenas do sistema financeiro dos Estados Unidos. No total, os fundos mútuos dos Estados Unidos tinham ativos de $10,1 trilhões no final de 2011. Em dezembro de 2011, a maior empresa de fundos mútuos era a The Vanguard Group, que gerenciava $1,7 trilhão em fundos. Devemos mencionar, a propósito, que os fundos mútuos cobram taxas de administração por seus serviços. Essas taxas são muito baixas nos fundos mútuos que possuem uma carteira diversificada de ações, sem tentar escolher vencedores. Mas as taxas cobradas pelos fundos de investimento que afirmam ter conhecimento especializado para investir seu dinheiro podem ser bastante elevadas.

Fundos de pensão e companhias de seguro de vida Além dos fundos mútuos, muitos americanos têm participação em fundos de pensão, instituições sem fins lucrativos que coletam as poupanças de seus membros e investem esses fundos em uma ampla variedade de ativos, proporcionando aos seus membros renda quando se aposentam. Embora os fundos de pensão estejam sujeitos a algumas regras especiais e recebam tratamento tributário especial, funcionam como fundos mútuos. Investem em uma gama de ativos financeiros, permitindo que seus membros alcancem mais diversificação e realizam pesquisa de mercado com custo menor do que seria conseguido individualmente. No final de 2011, os fundos de pensão nos Estados Unidos tinham ativos superiores a $10 trilhões. Os americanos também têm participação substancial em apólices de companhias de seguro de vida, que garantem o pagamento aos beneficiários do segurado (normalmente, a família), quando o segurado falece. Ao permitir que os segurados protejam seus

beneficiários de dificuldades financeiras decorrentes da sua morte, as companhias de seguros de vida também melhoram o bem-estar, reduzindo o risco.

Bancos Lembre-se do problema de liquidez: tudo o mais mantido constante, as pessoas preferem ativos que possam ser facilmente convertidos em dinheiro. Bônus e ações são muito mais líquidos do que ativos físicos ou empréstimos. Mas o custo da transação de vender bônus ou ações para enfrentar um gasto súbito pode ser grande. Além disso, para muitas empresas de porte pequeno ou médio, o custo de emissão de bônus e ações é muito grande, dada a quantidade pequena de dinheiro que procuram levantar. Um banco é uma instituição que ajuda a resolver o conflito entre a necessidade de liquidez do credor e a necessidade financeira do tomador do empréstimo que não quer usar o mercado de ações ou de bônus. Um banco funciona primeiro aceitando fundos dos depositantes: quando alguém põe dinheiro em uma conta bancária, essencialmente se transforma em credor ao emprestar seu dinheiro ao banco. Em troca, essa pessoa recebe um crédito de um depósito bancário – um direito sobre o banco, que é obrigado a devolver o dinheiro se e quando a pessoa demandar. Assim, um depósito bancário é um ativo financeiro de propriedade do depositante e um passivo para o banco que o detém. O banco, no entanto, mantém apenas uma fração dos depósitos dos seus clientes na forma de dinheiro vivo. A maioria dos depósitos é emprestada às empresas, aos compradores de casas e outros tomadores de empréstimo. Esses empréstimos são acompanhados de um compromisso de longo prazo do banco com os tomadores de empréstimos: desde que o devedor faça seus pagamentos no prazo, o empréstimo não pode ser cancelado pelo banco e convertido em dinheiro. Assim, o banco permite que aqueles que desejam tomar emprestado por determinado período façam uso dos fundos dos que desejam emprestar, mas ao mesmo tempo querem manter a capacidade de obter o dinheiro de volta sempre que solicitem. Mais formalmente, um banco é um intermediário financeiro que fornece ativos financeiros líquidos na forma de depósitos a credores e usa os fundos destes para financiar as necessidades de gastos de investimentos ilíquidos dos tomadores de empréstimo. Em essência, um banco se dedica a uma espécie de dissonância: empresta por longo período, mas ao mesmo tempo, se sujeita à condição de que seus depositantes possam exigir seus fundos de volta a qualquer momento. Como consegue fazer isso? O banco conta com o fato de que, em média, apenas uma pequena fração de seus depositantes vai querer todo o dinheiro ao mesmo tempo. Em um determinado dia, algumas pessoas farão saques e outros irão fazer novos depósitos; grosso modo, uma coisa compensa a outra. Assim, o banco precisa manter apenas uma quantia limitada de dinheiro à vista para satisfazer os seus depositantes. Além disso, se um banco se torna financeiramente incapaz de pagar seus depositantes, os depósitos bancários individuais nos Estados Unidos ficam garantidos até o limite de $250.000 pelo Federal Deposit Insurance Corporation, ou FDIC, uma agência federal. Isso reduz o risco para um

depositante de realizar um depósito bancário e, por sua vez, reduz o incentivo de retirar os fundos, caso surja preocupação sobre a situação financeira do banco. Assim, em condições normais, os bancos precisam manter apenas uma fração do dinheiro dos seus depositantes. Ao conciliar a necessidade dos poupadores de ter ativos líquidos com a necessidade dos tomadores de empréstimo de obter financiamento de longo prazo, os bancos desempenham um papel econômico fundamental. Como explica a seção Economia em ação, a seguir, a criação de um sistema bancário que funcione bem foi um ponto fundamental no sucesso econômico da Coreia do Sul.

Economia em ação Os bancos e o milagre da Coreia do Sul A Coreia do Sul é uma das grandes histórias de sucesso do crescimento econômico. No início de 1960, era uma nação muito pobre. Em seguida, alcançou taxas de crescimento espetacularmente altas. Os bancos sul-coreanos têm muito a ver com isso. No início de 1960, o sistema bancário da Coreia do Sul era uma bagunça. As taxas de juros sobre depósitos eram muito baixas por regulamentação do governo em um momento em que o país passava por inflação alta. Assim, os poupadores não tinham interesse em poupar, colocar dinheiro no banco, com medo que boa parte do seu poder de compra fosse corroído pelo aumento dos preços. Em vez disso, eles se engajaram no consumo corrente, gastando o dinheiro em bens e serviços ou usando a riqueza para comprar ativos físicos, como imóveis e ouro. E, como os poupadores se recusavam a fazer depósitos bancários, as empresas tinham muita dificuldade em pedir dinheiro emprestado para financiar gastos de investimento. Em 1965, o governo sul-coreano reformou os bancos do país e aumentou as taxas de juros para um nível que era atraente para os poupadores. Ao longo dos cinco anos seguintes, o valor dos depósitos bancários aumentou sete vezes e a taxa de poupança nacional, a porcentagem do PIB dedicada à poupança nacional, mais do que dobrou. A recuperação do sistema bancário tornou possível que as empresas sul-coreanas expandissem muito seus investimentos, elemento fundamental no salto de crescimento do país. Há muitos outros fatores além dos bancos que explicam o sucesso da Coreia do Sul, mas a experiência do país mostra como é importante um bom sistema financeiro para o crescimento econômico.

Breve revisão ■ As famílias podem investir a poupança corrente ou riqueza adquirindo tanto ativos financeiros como ativos físicos. Um ativo financeiro é um passivo do vendedor. ■ Um sistema financeiro que funcione bem reduz os custos de transação, o risco financeiro, permitindo diversificação, e fornece ativos líquidos, que os investidores

preferem a ativos ilíquidos. ■ Os quatro principais tipos de ativos financeiros são empréstimos, bônus, ações e depósitos bancários. Uma inovação recente são os títulos financeiros lastreados por empréstimos, que são mais líquidos e mais diversificados do que os empréstimos individuais. Bônus com risco elevado de default normalmente deve pagar uma taxa de juros mais elevada. ■ Os tipos mais importantes de intermediários financeiros são os fundos mútuos, fundos de pensão, companhias de seguros de vida e bancos. ■ Um banco aceita depósitos bancários, o que o obriga a devolver o dinheiro dos depositantes quando solicitado, e empresta esses fundos aos tomadores de empréstimos por longo prazo.

Teste seu entendimento 10-2 1. Classifique os ativos seguintes em termos de (i) nível do custo da transação, (ii) nível de risco, (iii) nível de liquidez. a. Um depósito bancário com taxa de juros garantida. b. Participação em um fundo mútuo altamente diversificado, que pode ser vendido rapidamente. c. Participação em um negócio familiar que só poderá ser vendido se encontrar compradores e se todos os membros da família concordarem com a venda. 2. Que relação se deve esperar entre o nível de desenvolvimento do sistema financeiro de um país e o nível de desenvolvimento econômico? Explique em termos de poupança e de gastos de investimento do país. As respostas estão no fim do livro.

Flutuações financeiras Aprendemos que o sistema financeiro é uma parte essencial da economia. Seria difícil alcançar crescimento econômico de longo prazo sem bolsas de valores, mercados de bônus e bancos. No entanto, a notícia não é totalmente boa: às vezes o sistema financeiro não funciona bem e, em vez disso, é uma fonte de instabilidade no curto prazo. Na verdade, as consequências financeiras de uma queda acentuada nos preços da habitação se tornaram um grande problema para os formuladores de política econômica a partir do verão de 2007. No outono de 2008, estava claro que a economia dos Estados Unidos estava enfrentando uma crise severa à medida que se ajustava à enorme queda do valor das residências. E em 2012, no momento da escrita deste livro, a economia estava apenas se recuperando lentamente de uma recessão grave. Poderíamos facilmente escrever um livro inteiro sobre as flutuações do mercado de ativos. Na verdade, muitas pessoas já o fizeram. Aqui, vamos discutir brevemente as causas das flutuações dos preços dos ativos.

A demanda por ações Uma vez que uma empresa emite ações para investidores, essas podem ser revendidas para outros investidores no mercado de ações. E nos dias de hoje, graças à TV a cabo e à internet, pode-se facilmente passar o dia assistindo às flutuações do mercado de ações – o movimento para cima e para baixo dos preços das ações individuais, bem como de índices compostos de ações, como o Dow Jones Industrial Average. Essas flutuações refletem variações na oferta e demanda por parte dos investidores. Mas o que faz a oferta e a demanda de ações se deslocarem? Lembre-se que ações são ativos financeiros: são participações na propriedade de uma empresa. Ao contrário de um bem ou serviço, cujo valor para o seu proprietário decorre do consumo, o valor de um ativo vem da capacidade de gerar um maior consumo futuro de bens ou serviços. Um ativo financeiro permite um maior consumo futuro de duas maneiras. Primeiro muitos ativos financeiros proporcionam renda regular para seus proprietários na forma de juros ou dividendos. Mas muitas empresas não pagam dividendos; em vez disso, retêm o lucro para financiar o gasto de investimento futuro. Os investidores compram ações que não pagam dividendos na crença de que vão lucrar com a venda das ações no futuro, que é a segunda forma de gerar renda futura mais alta. Mesmo no caso de bônus ou ações que pagam dividendos, os investidores não vão querer comprar um ativo que acreditam que no futuro será vendido por menos do que hoje, pois um ativo assim reduziria sua riqueza quando fosse vendido.

Para mentes curiosas E agora, Dow Jones?

As notícias financeiras muitas vezes começam com a reportagem sobre o mercado acionário do dia, como medidas das variações do Dow Jones Industrial Average, do S&P 500 e do Nasdaq. O que são esses números e o que informam? Os três são índices do mercado de ações. Tal como o índice de preços ao consumidor, são números construídos como resumo dos preços médios – nesse caso, preços das ações. O Dow, criado pela empresa de análise financeira Dow Jones, é um índice de preços de ações de 30 grandes empresas, como Microsoft, Walmart e General Electric. O S&P 500 é um índice de 500 empresas, criado pela Standard and Poor ’s, outra empresa financeira. O NASDAQ é compilado pela National Association of Securities Dealers, que comercializa ações de companhias novas menores, como a companhia de rádio por satélite Sirius XM Radio ou a fabricante de computadores Dell. Como esses grupos contêm diferentes grupos de ações, monitoram coisas diferentes. Como o Dow contém apenas 30 das maiores empresas, tende a refletir “a velha economia”, os poderosos tradicionais do mundo dos negócios como a Exxon Mobil. O NASDAQ é fortemente influenciado por ações de empresas de tecnologia. O S&P 500, uma medida mais ampla, tem uma posição intermediária. Por que esses índices são importantes? Porque o movimento de um índice dá aos investidores uma visão rápida, instantânea, de como as ações de determinados setores da economia estão se comportando. Como explicaremos adiante, o preço de uma ação em determinado ponto no tempo embute as expectativas dos investidores sobre as perspectivas futuras. Por implicação, um índice composto de ações provenientes de empresas de determinado setor incorpora expectativas dos investidores sobre as perspectivas futuras desse setor da economia. Assim, um dia em que a NASDAQ sobe, mas o DOW desce, implica que, nesse dia, as perspectivas são mais brilhantes para o setor de alta tecnologia do que para o setor da velha economia. O movimento dos índices reflete o fato de que os investidores estão atuando em suas crenças ao vender ações na DOW e comprar ações na NASDAQ. Portanto, o valor de um ativo financeiro hoje depende da crença dos investidores sobre o valor ou preço futuro do ativo. Se se acreditar que irá valer mais no futuro, haverá mais demanda do ativo hoje a qualquer preço. Consequentemente, o preço de equilíbrio atual do ativo hoje irá aumentar. Por outro lado, se os investidores acreditam que o ativo irá valer menos no futuro, haverá menos demanda hoje a qualquer preço e, portanto, o preço de equilíbrio de hoje do ativo vai cair. Os preços das ações variam de acordo com as variações nas expectativas dos investidores sobre o preço futuro das ações. Suponha que ocorra um evento que leve a um aumento no preço futuro esperado das ações de uma empresa – digamos, por exemplo, que a Apple anuncie que prevê rentabilidade maior do que a esperada devido às vendas torrenciais da última versão do iPad. A demanda por ações da Apple irá aumentar. Ao mesmo tempo, os detentores de ações estarão menos dispostos a oferecer suas ações no mercado a qualquer preço, levando a uma redução na oferta de ações. E, como sabemos, um aumento de demanda ou redução de oferta (ou ambos) leva ao aumento de preço. Alternativamente, suponha que ocorra um evento que leve a uma queda no preço futuro esperado das ações de uma

empresa – digamos, a Home Depot anuncia que espera menor rentabilidade, por causa da queda na venda de imóveis residenciais que diminuiu a procura de melhorias e reformas residenciais. A demanda por ações da Home Depot irá diminuir. Ao mesmo tempo, a oferta irá aumentar, pois os atuais acionistas estarão mais dispostos a oferecer ações da Home Depot no mercado. Ambas as mudanças levam a uma queda no preço das ações. Assim, os preços das ações são determinados pela oferta e demanda de ações que, por sua vez, dependem da expectativa dos investidores sobre o preço futuro das ações. Os preços das ações também são afetados por variações na atratividade de ativos substitutos, como bônus. Como vimos no início, a demanda de determinado bem diminui quando a compra de um bem substituto se torna mais atraente – digamos, devido a uma queda no preço. A mesma lição vale para ações: quando a compra de bônus se torna mais atraente devido a um aumento na taxa de juros, os preços das ações caem. E quando a compra de bônus se torna menos atraente devido a uma queda na taxa de juros, os preços das ações sobem.

A demanda por outros ativos Tudo o que dissemos até agora sobre ações se aplica também a outros ativos, inclusive ativos físicos. Considere a demanda por imóveis comerciais – edifícios de escritório, shopping centers e outras estruturas que oferecem espaço para atividades comerciais. Um investidor que compra um edifício comercial faz isso por duas razões. Primeiro, porque o espaço no edifício pode ser alugado, o proprietário do edifício recebe uma renda na forma de aluguéis. Segundo, o investidor pode esperar que o edifício aumente de valor, o que significa que poderá ser vendido por um preço superior em alguma data futura. Como no caso das ações, a demanda por imóveis comerciais também depende da atratividade de ativos alternativos, especialmente bônus. Quando as taxas de juro sobem, a demanda por imóveis comerciais diminui; quando as taxas de juros caem, a demanda por imóveis comerciais aumenta. A maioria dos americanos não possui imóveis comerciais. Apenas metade da população é proprietária de ações, mesmo indiretamente, por meio de fundos mútuos, e para a maioria dessas pessoas o valor é bem inferior a $50.000. No entanto, no final de 2011, aproximadamente 66% das famílias americanas possuíam outro tipo de ativo: a casa própria. O que determina o preço da habitação? Você pode duvidar que os preços dos imóveis residenciais possam ser analisados da mesma forma que os preços das ações ou o preço dos imóveis comerciais. Afinal de contas, as ações pagam dividendos, e os imóveis comerciais proporcionam renda de aluguel, mas quando uma família vive em sua própria casa, o dinheiro não muda de mãos. Em termos econômicos, no entanto, isso não importa muito. Em grande medida, a vantagem de possuir a casa própria é o fato de não precisar pagar aluguel para outra pessoa – ou, em outras palavras, é como se estivesse pagando aluguel para si mesmo. Na verdade, o governo dos Estados Unidos inclui na estimativa do PIB o “aluguel implícito”

– uma estimativa do montante em aluguéis que os proprietários, na verdade, pagam a si mesmo. A quantidade de pessoas que está disposta a pagar por uma casa depende, em parte, do aluguel implícito que esperam receber por aquela casa. A demanda por imóveis residenciais, como a demanda por outros ativos, também depende do que as pessoas esperam que aconteça com os preços futuros: elas estão dispostas a pagar mais por uma casa, quando acreditam que poderão vendê-la por um preço mais elevado em algum momento no futuro. Finalmente, a demanda de residências depende da taxa de juros: a elevação da taxa de juros aumenta o custo de um empréstimo hipotecário e leva a uma redução na demanda de imóveis residenciais. Uma queda na taxa de juros reduz o custo do crédito imobiliário e provoca um aumento na demanda de residências. Então, o preço de todos os ativos é determinado por um conjunto de fatores semelhantes. Mas ainda não respondemos totalmente a questão do que determina o preço dos ativos, porque não explicamos o que determina a expectativa dos investidores sobre o preço dos ativos no futuro.

Expectativa do preço dos ativos Existem duas visões principais conflitantes sobre como a expectativa do preço dos ativos é determinada. Um ponto de vista, que vem da análise econômica tradicional, enfatiza as razões racionais pelas quais as expectativas devem mudar. A outra, amplamente difundida pelos participantes do mercado e também apoiada por alguns economistas, enfatiza a irracionalidade dos participantes do mercado.

A hipótese dos mercados eficientes Suponha que você esteja tentando avaliar quanto valem de fato as ações da Home Depot. Para fazê-lo, você deve analisar os fundamentos, os determinantes subjacentes dos lucros futuros da empresa. Isso inclui fatores como a mudança nos hábitos de compra do público americano e as perspectivas de reforma das residências. Você também teria de comparar os rendimentos que poderia esperar da Home Depot com os retornos prováveis de outros ativos financeiros, como bônus. De acordo com uma das visões sobre o preço dos ativos, o valor que você encontraria depois de um estudo cuidadoso desse tipo acabaria sendo, de fato, o preço pelo qual as ações da Home Depot já estão sendo vendidas no mercado. Por quê? Porque toda a informação disponível para o público sobre os fundamentos da Home Depot já está incorporada no preço da ação. Qualquer diferença entre o preço de mercado e o valor sugerido por uma análise cuidadosa dos fundamentos subjacentes indicaria uma oportunidade de lucro para os investidores inteligentes, que, em seguida, venderiam as ações da Home Depot se o preço parecesse exagerado e comprariam se o preço parecesse subvalorizado. A hipótese dos mercados eficientes é a forma geral desse ponto de vista; significa que o preço dos ativos sempre incorpora toda informação disponível publicamente. Uma implicação da hipótese dos mercados eficientes é que, em qualquer

momento no tempo, os preços das ações do tempo são justos: refletem toda a informação disponível atualmente sobre os fundamentos. Então, não são superestimados nem subestimados. Uma implicação da hipótese dos mercados eficientes é que os preços das ações e outros ativos mudariam apenas em resposta a novas informações sobre os fundamentos subjacentes. Uma vez que uma nova informação é imprevisível, pois se fosse previsível não seria uma nova informação – os movimentos nos preços de ativos também são imprevisíveis. Como resultado, por exemplo, o movimento dos preços das ações seguirá um passeio aleatório – termo geral para o movimento ao longo do tempo de uma variável imprevisível.

Para mentes curiosas Comportamento das finanças As pessoas muitas vezes fazem escolhas irracionais – algumas vezes previsivelmente irracionais – que as deixam economicamente em situação pior do que se tivessem escolhido alternativas. As pessoas também têm o hábito de repetir as mesmas decisões – cometendo erros. Esse tipo de comportamento é o tema de economia do comportamento, que inclui o subcampo que está crescendo rapidamente das finanças comportamentais, o estudo de como os investidores nos mercados financeiros, muitas vezes, fazem escolhas previsivelmente irracionais. Como a maioria das pessoas, os investidores partem da racionalidade de modo sistemático. Em particular, são propensos ao excesso de confiança, como ter uma fé equivocada de que são capazes de detectar uma ação ganhadora; a aversão à perda, não estando disposto a vender um ativo inútil e aceitar a perda; e uma mentalidade de rebanho, comprando um ativo quando o preço já foi impulsionado para o alto e vendendo-o quando o preço já foi impulsionado para baixo. Esse comportamento irracional levanta uma questão importante: como os investidores que são racionais podem fazer um monte de dinheiro à custa desses investidores que não são – por exemplo, pela compra de ações de uma empresa se medos irracionais as tornam mais baratas? A resposta para essa questão por vezes é sim e por vezes, não. Alguns investidores profissionais tiveram enormes lucros apostando contra movimentos irracionais no mercado (comprando quando é irracional vender e vendendo quando é racional comprar). Por exemplo, o gestor bilionário do fundo hedge, John Paulson, ganhou $4 bilhões apostando contra as hipotecas subprime durante a bolha imobiliária dos Estados Unidos entre 2007 e 2008 porque entendeu que os ativos financeiros que continham hipotecas subprime estavam sendo vendidos a preços inflacionados. Mas, às vezes, até mesmo um investidor racional pode não lucrar com a irracionalidade do mercado. Por exemplo, um agente financeiro tem que obedecer as ordens dos clientes para comprar ou vender, mesmo quando essas ações são irracionais. Da mesma forma, pode ser muito mais seguro para agentes financeiros seguir o

rebanho: se fizerem isso e seus investimentos forem mal, têm a desculpa-padrão de que ninguém previu um problema. Mas se forem contra o rebanho e seus investimentos forem para o sul, estarão suscetíveis de ser demitidos por fazerem escolhas erradas. Assim, os investidores racionais podem até agravar os movimentos irracionais nos mercados financeiros. Alguns observadores de tendências históricas colocam a hipótese de que os mercados financeiros alternam entre períodos de complacência e esquecimento, que criam bolhas quando os investidores irracionalmente acreditam que os preços só podem aumentar, seguido por uma crise, que por sua vez leva os investidores a evitar os mercados financeiros totalmente e torna os preços dos ativos irracionalmente baratos. Certamente, os eventos da década passada, com a enorme bolha imobiliária seguida de extrema turbulência nos mercados financeiros, forneceram aos pesquisadores da área de finanças comportamental muito material para trabalhar. A hipótese dos mercados eficientes desempenha um papel importante na compreensão de como os mercados financeiros funcionam. A maioria dos profissionais de investimento e muitos economistas, no entanto, consideram essa hipótese simplista. Os investidores, dizem eles, não são assim tão racionais.

Mercados irracionais? Muitas pessoas que realmente operam nos mercados, tais como investidores individuais e agentes financeiros profissionais, são céticas em relação à hipótese dos mercados eficientes. Acreditam que os mercados muitas vezes se comportam de forma irracional e que os investidores inteligentes podem ter sucesso “operando no mercado no momento certo”: comprando ações quando o preço está subestimado e vendendo quando o preço está superestimado. Embora os economistas geralmente sejam céticos sobre alegações de que existem maneiras garantidas de ganhar no mercado, muitos também têm desafiado a hipótese dos mercados eficientes. Contudo, é importante entender que encontrar exemplos particulares, onde o mercado funcionou errado, não refuta a hipótese dos mercados eficientes. Se o preço da ação da Home cai de $40 para $10 por causa de uma mudança brusca nos padrões de compra, isso não significa que o mercado era ineficiente precificando originalmente o estoque a $40. O fato de que padrões de compra estavam prestes a mudar não era uma informação publicamente disponível, e por isso não estava incorporado ao preço anterior das ações. Sérios desafios à hipótese dos mercados eficientes colocaram o foco na evidência de mau comportamento sistemático dos preços de mercado ou então na evidência de que os investidores individuais não se comportam da forma como a teoria sugere. Por exemplo, alguns economistas acreditam ter encontrado fortes indícios de que os preços das ações oscilam mais do que pode ser explicado pelas notícias sobre fundamentos. Outros acreditam ter fortes indícios de que os investidores individuais se comportam de maneira irracional sistematicamente. Por exemplo, as pessoas parecem esperar que uma ação que

subiu no passado vai continuar a subir, apesar da informação da hipótese dos mercados eficientes que não há razão para esperar por isso. O mesmo parece ser verdade para outros ativos, especialmente habitação: a grande bolha imobiliária, descrita em Economia em ação a seguir nessa seção, surgiu, sobretudo, porque os compradores de casas assumiram que os preços dos imóveis continuariam subindo no futuro.

Os preços dos ativos e a macroeconomia Como os macroeconomistas e formuladores de políticas deveriam lidar com o fato de que os preços dos ativos oscilam muito e que essas flutuações podem ter efeitos econômicos importantes? Essa questão tornou-se um dos principais problemas enfrentados pela política macroeconômica. De um lado, os formuladores de políticas relutam em assumir que o mercado está errado – que o preço dos ativos é muito alto ou muito baixo. Em parte, isso reflete a hipótese dos mercados eficientes, que diz que qualquer informação que esteja disponível publicamente já estará contabilizada no preço dos ativos. De modo mais geral, é difícil defender o argumento de que funcionários do governo são melhores em julgar quais são os preços adequados do que os investidores privados que estão colocando seu próprio dinheiro em jogo. Por outro lado, os últimos 15 anos foram marcados não por uma, mas por duas enormes bolhas de ativos, e cada uma causou grandes problemas macroeconômicos quando estourou. No final dos anos 1990 os preços das ações de tecnologia, incluindo, mas não limitado a empresas pontocom da internet subiram a uma altura difícil de justificar. Quando a bolha estourou, essas ações perderam, em média, dois terços do seu valor em um curto espaço de tempo, ajudando a causar a recessão de 2001 e um período de elevado desemprego. Alguns anos mais tarde houve uma grande bolha nos preços dos imóveis residenciais. O colapso dessa bolha em 2008 desencadeou uma grave crise financeira seguida por uma profunda recessão que ainda durava quando este livro foi para a gráfica. Esses acontecimentos levaram a um intenso debate entre os economistas sobre se os formuladores de políticas deveriam tentar furar as bolhas de ativos antes que se tornassem muito grandes. Vamos descrever esse debate no Capítulo 17.

Economia em ação A grande bolha imobiliária americana Entre 2000 e 2006, houve um grande aumento no preço dos imóveis residenciais nos Estados Unidos. Até o verão de 2006, os preços desses imóveis eram superiores ao dobro do que haviam sido em janeiro de 2000 em uma série de grandes áreas metropolitanas dos Estados Unidos, incluindo Los Angeles, São Diego, San Francisco, Washington, Miami, Las Vegas e Nova York. Em 2004, quando o aumento dos preços dos imóveis acelerou, vários economistas (incluindo os autores deste livro) argumentaram que esse aumento de preço era excessivo – que era uma bolha, um aumento no preço dos ativos

impulsionado por expectativas irreais sobre preços futuros. Certamente era verdade que o preço dos imóveis subia muito mais do que o custo de alugar um lugar comparável para viver. O painel (a) da Figura 10-9 compara um índice muito usado de preços da habitação dos Estados Unidos com o índice do custo de aluguel do governo dos Estados Unidos, ambos apresentados como índice em janeiro de 2000 = 100. Os preços das casas subiram, apesar de o aluguel ter crescido apenas gradualmente.

FIGURA 10-9 A grande bolha imobiliária americana Fontes: Painel (a): Standard and Poor’s e Bureau of Labor Statistics. Painel (b): Federal Reserve Bank de St. Louis.

No entanto, houve também muitos economistas que acharam que o aumento de preços era plenamente justificado. Em especial, chamaram a atenção para o fato de que as taxas de juros eram excepcionalmente baixas nos anos de rápido aumento de preços, e argumentaram que taxas de juros baixas, combinadas com outros fatores, como o aumento da população, explicavam o aumento de preços. Alan Greenspan, presidente do Fed, admitiu em 2005 que talvez houvesse alguma “espuma” no mercado, mas negou que houvesse uma bolha nacional. Infelizmente, os céticos estavam certos. O próprio Greenspan viria a admitir mais tarde que, de fato, acontecera uma enorme bolha nacional. Em 2006, quando os preços dos imóveis residenciais começaram a se estabilizar, tornou-se evidente que muitos compradores detinham expectativas irreais sobre os preços futuros. Como os preços dos imóveis começaram a cair, as expectativas de futuros aumentos nos preços das casas também foram revistas, precipitando um colapso repentino e dramático dos preços. E com os preços dos imóveis caindo, a demanda por habitação caiu drasticamente, como ilustrado pelo painel (b) da Figura 10-9. A implosão no setor residencial, por sua vez, criou inúmeras dificuldades econômicas, incluindo pressão severa sobre o sistema bancário, que examinaremos no Capítulo 14.

Breve revisão ■ Flutuações no mercado financeiro podem ser fonte de instabilidade macroeconômica de curto prazo.

■ Os preços dos ativos são movidos pela oferta e demanda, como também o grau de atração dos ativos como bônus que competem com as ações. A oferta e a demanda também refletem expectativas sobre preços futuros dos ativos. Uma visão dessas expectativas é a hipótese dos mercados eficientes, que leva à ideia de que os preços das ações seguem um passeio aleatório. ■ Participantes do mercado e alguns economistas questionam a hipótese dos mercados eficientes. Na prática, os formuladores de políticas não assumem que possam ganhar do mercado em esperteza, tampouco supõem que os mercados sempre se comportam racionalmente.

Teste seu entendimento 10-3 1. Qual é o efeito provável de cada um dos seguintes eventos sobre o preço das ações de uma empresa? Explique as respostas. a. Uma empresa anuncia que, embora os lucros estejam baixos esse ano, descobriu uma nova linha de negócios que irá gerar lucros elevados no próximo ano. b. Uma empresa anuncia que, embora os lucros estejam altos esse ano, serão inferiores ao que se havia anunciado anteriormente. c. Outras empresas do mesmo setor anunciam que as vendas estão inesperadamente baixas este ano. d. Uma empresa anuncia que está a caminho de cumprir sua meta de lucro previsto anteriormente. 2. Avalie a seguinte afirmação: “Embora muitos investidores possam ser irracionais, é pouco provável que com o tempo eles vão se comportar irracionalmente exatamente da mesma forma – como sempre comprar ações um dia depois que o índice Dow subiu 1%.” As respostas estão no fim do livro.

Resumo 1. O investimento em capital físico é necessário para o crescimento econômico de longo prazo. Assim, para que a economia cresça, é preciso canalizar a poupança para gasto de investimento. 2. De acordo com a identidade poupança-gasto de investimento, poupança e gasto de investimento são sempre iguais para a economia como um todo. O governo é uma fonte de poupança quando tem saldo orçamentário positivo, também conhecido como superávit orçamentário; é uma fonte de despoupança quando apresenta saldo orçamentário negativo, também conhecido como o déficit orçamentário. Em uma economia fechada, a poupança é igual à poupança nacional, a soma da poupança privada mais o saldo orçamentário. Em uma economia aberta, a poupança é igual à poupança nacional, mais a entrada de capital oriunda da poupança externa. Quando ocorre uma entrada de capital negativa, alguma parcela da poupança nacional está financiando gastos de investimento em outros países.

3. O mercado de fundos para empréstimo hipotético mostra como empréstimos de poupadores são alocados entre os tomadores de empréstimos com projetos de gastos de investimento. Ao mostrar como ganhos do comércio entre credores e devedores são maximizados, o mercado de fundos para empréstimo mostra por que um sistema financeiro que funcione bem leva a um maior crescimento econômico no longo prazo. Déficits orçamentários crescentes ou persistentes do governo podem levar ao crowding out: maiores taxas de juro e gastos de investimento reduzidos. Mudanças na percepção das oportunidades de negócios e na tomada de empréstimo pelo governo deslocam a curva de demanda de fundos para empréstimos; mudanças na poupança privada e na entrada líquida de capital deslocam a curva de oferta. 4. Para avaliar um projeto no qual o retorno, X, é realizado no futuro, X deve ser transformado em valor presente, usando a taxa de juros, r. O valor presente de $1 a ser recebido daqui a um ano é $1/(1 + r), a quantidade de dinheiro que se deve emprestar hoje para ter $1 daqui a um ano. O valor presente de determinado projeto eleva à medida que a taxa de juros cai e cai com o aumento da taxa de juros. Isso nos diz que a curva da demanda de fundos para empréstimo é inclinada negativamente. 5. Como nem credores nem devedores podem conhecer a taxa de inflação futura, os empréstimos especificam uma taxa nominal de juros, em vez de uma taxa real de juros. Para determinada inflação esperada no futuro, os deslocamentos nas curvas de demanda e de oferta resultam em mudanças na taxa de juros real subjacente, levando a mudanças na taxa de juros nominal. De acordo com o efeito Fisher, um aumento na inflação esperada para o futuro eleva a taxa nominal de juros de um para um, de modo que a taxa real de juros permanece inalterada. 6. As famílias investem as economias correntes ou riqueza – suas poupanças acumuladas – comprando ativos. Os ativos existem sob a forma de ativo financeiro, um título que dá direitos ao comprador a uma renda futura paga pelo vendedor do título, ou um ativo físico, um objeto tangível que pode gerar renda futura. Um ativo financeiro também é um passivo do ponto de vista do seu vendedor. Existem quatro tipos principais de ativos financeiros: empréstimos, bônus, ações e depósitos bancários. Cada um deles tem uma finalidade diferente ao lidar com as três tarefas fundamentais de um sistema financeiro: reduzir custos de transação – o custo de fazer um negócio; reduzir o risco financeiro – incerteza sobre resultados futuros que envolvem ganhos e perdas financeiras; e fornecer ativos líquidos – ativos que podem ser rapidamente convertidos em dinheiro sem grande perda de valor (em oposição a ativos ilíquidos, que não podem ser convertidos facilmente). 7. Apesar de muitos tomadores de empréstimos pequenos e médios usarem empréstimos bancários para financiar o gasto de investimento, as empresas maiores normalmente emitem bônus. Bônus com alto risco de default, normalmente pagam juros mais elevados. Os donos de empresas reduzem o risco com a venda de ações. Embora as ações costumem gerar um retorno maior do que os bônus, os investidores normalmente preferem reduzir o risco diversificando, ao possuir ampla gama de ativos cujos retornos são baseados em eventos não relacionados ou independentes. A maioria das pessoas tem aversão ao risco, considerando a perda de dada quantidade de

dinheiro como prejuízo significativo. Títulos financeiros lastreados por empréstimos, uma inovação recente, são ativos criados formando um pool de empréstimos individuais e vendendo participação nesse pool aos investidores. Por serem mais diversificados e mais líquidos do que os empréstimos individuais, os bônus são preferidos pelos investidores. No entanto, pode ser difícil avaliar sua qualidade. 8. Intermediários funanceiros – instituições como fundos mútuos, fundos de pensão, companhias de seguro de vida e bancos – são componentes críticos do sistema financeiro. Fundos mútuos e de pensão permitem aos pequenos investidores diversificar, e as empresas de seguro de vida reduzem o risco. 9. Um banco permite às pessoas manter depósitos bancários líquidos que são usados para financiar empréstimos ilíquidos. Os bancos podem se dedicar a esse descompasso porque, em média, apenas uma pequena fração dos depositantes retira seus fundos em qualquer momento no tempo. Um setor bancário que funcione bem é um ingrediente fundamental para o crescimento econômico de longo prazo. 10. Flutuações no mercado de ativos podem ser uma fonte de instabilidade macroeconômica de curto prazo. Os preços dos ativos são determinados pela oferta e demanda, bem como pelo grau de atração dos ativos concorrentes, como os bônus: quando a taxa de juros sobe, os preços das ações e de ativos físicos como imóveis geralmente caem, e vice-versa. As expectativas impulsionam a oferta e a demanda de ativos: expectativas de preços futuros mais elevados empurram os preços atuais dos ativos para cima e expectativas de preços futuros mais baixos pressionam os preços atuais para baixo. Uma visão da origem das expectativas é a hipótese dos mercados eficientes, que afirma que os preços dos ativos incorporam toda a informação disponível publicamente. Isso implica que as flutuações são inerentemente imprevisíveis, seguindo um passeio aleatório. 11. Muitos participantes do mercado e economistas acreditam que, com base em evidência real, os mercados financeiros não são tão racionais quanto reivindica a hipótese de mercados eficientes. Essa evidência inclui o fato de que as flutuações dos preços das ações são fortes demais para que se expliquem apenas pelos fundamentos. Os formuladores de políticas pressupõem que nem sempre os mercados se comportam racionalmente, nem que eles conseguem ser mais espertos que os mercados.

Palavras-chave Identidade poupança-gasto de investimento, p. 240 Superávit orçamentário, p. 241 Déficit orçamentário, p. 241 Saldo orçamentário, p. 241 Poupança nacional, p. 241 Entrada líquida de capital, p. 241 Mercado de fundos para empréstimo, p. 244 Valor presente, p. 245 Crowding out, p. 248

Efeito Fisher, p. 251 Riqueza, p. 252 Ativo financeiro, p. 252 Ativo físico, p. 252 Passivo, p. 252 Custos de transação, p. 253 Risco financeiro, p. 253 Diversificação 292, p. 254 Líquido, p. 254 Ilíquido, p. 254 Empréstimo, p. 254 Default, p. 255 Títulos financeiros lastreados por empréstimo, p. 255 Intermediário financeiro, p. 256 Fundo mútuo, p. 256 Fundo de pensão, p. 256 Companhia de seguros de vida, p. 257 Depósito bancário, p. 257 Banco, p. 257 Hipótese dos mercados eficientes, p. 260 Passeio aleatório, p. 260

Problemas 1. Dada a informação seguinte sobre a economia fechada de Brittania, qual é o nível de gasto de investimento e de poupança privada e qual é o saldo orçamentário? Qual é a relação entre os três? A poupança nacional é igual ao gasto de investimento? Não há transferências do governo. PIB = $1.000 milhão T = $50 milhões C = $850 milhões G = $100 milhões

2. Dadas as informações seguintes sobre economia aberta de Regalia, qual é o nível de gasto de investimento e de poupança privada e qual é o saldo orçamentário e a entrada líquida de capital? Qual é a relação entre os quatro? Não há transferências do governo. (Dica: Entrada líquida de capital = valor das importações (IM), menos valor das exportações (X).) PIB = $1.000 milhão G = $100 milhões C = $850 milhões X = $100 milhões T = $50 milhões IM = $125 milhões

3. A tabela a seguir mostra a porcentagem do PIB que corresponde à poupança privada, ao gasto de investimento e à entrada líquida de capital nas economias de Capsland e Marsalia. Capsland está atualmente tendo uma entrada líquida de capital e Marsalia,

uma saída líquida de capital. Qual é o saldo orçamentário (como porcentagem do PIB) nos dois países? Capsland e Marsalia estão tendo déficit ou superávit orçamentário? Capsland Gasto de investimento como porcentagem do PIB 20% Poupança privada como porcentagem do PIB 10 Entrada líquida de capital como porcentagem do PIB 5

Marsalia 20 % 25 –2

4. Suponha que a economia seja aberta à entrada de capital e, portanto, a entrada de capital seja igual a importações (IM), menos exportações (X). Responda a cada uma das seguintes questões. a. X = $125 milhões IM = $80 milhões Saldo orçamentário = – $200 milhões I = $350 milhões Calcule a poupança privada. b. X = $85 milhões IM = $135 milhões Saldo orçamentário = $100 milhões Poupança privada = $250 milhões Calcule I. c. X = $60 milhões IM = $95 milhões Poupança privada = $325 milhões I = $300 milhões Calcule o saldo orçamentário d. Poupança privada = $325 milhões I = $400 milhões Saldo orçamentário = $10 milhões Calcule IM – X. 5. A tabela a seguir, retirada das Contas Nacionais de Renda e Poupança dos Estados Unidos, mostra vários componentes do PIB em 2009 e 2010, em bilhões de dólares.

a. Complete a tabela preenchendo os números em falta. b. Para cada ano, calcule impostos (após transferências) como porcentagem do PIB. c. Para cada ano, calcule a poupança nacional e privada. 6. Use o mercado de fundos para empréstimo mostrado no gráfico a seguir para explicar o que acontece com a poupança privada, o gasto de investimento privado e a taxa de juros, se cada um dos seguintes eventos ocorrer. Suponha que não há entradas nem saídas de capital. a. O governo reduz o tamanho do seu déficit a zero.

b. A qualquer taxa de juros dada, os consumidores decidem poupar mais. Suponha que o saldo orçamentário seja zero. c. A qualquer taxa de juros dada, as empresas tornam- se muito otimistas sobre a rentabilidade futura do gasto de investimento. Suponha que o saldo orçamentário seja zero.

7. O governo tem um saldo orçamentário igual a zero quando decide aumentar o gasto com educação em $200 bilhões e financiar os gastos com a venda de bônus. O gráfico a seguir mostra o mercado de fundos para empréstimo antes de o governo vender bônus. Suponha que não haja entrada e saída de capital. Como a taxa de juros de equilíbrio e a quantidade de equilíbrio de fundos para empréstimo irão variar? Ocorre algum crowding out (deslocamento de investimento privado pelo governo) no mercado?

8. Em 2010, o Congresso americano estimou que o custo de aumentar a presença dos Estados Unidos no Afeganistão em 30 mil soldados era de aproximadamente $36 bilhões. Como o governo dos Estados Unidos estava tendo um déficit orçamentário no momento, suponha que o aumento no número de soldados foi financiado por empréstimos do governo, o que aumenta a demanda por fundos para empréstimo sem afetar a oferta. Essa questão considera o efeito provável desse gasto do governo sobre a taxa de juros. a. Trace as curvas normais da demanda (D1) e da oferta (S1) de fundos para empréstimo, sem levar em conta o aumento significativo no nível das tropas. Indique o eixo vertical como “taxa de juros” e o eixo horizontal como “Quantidade de fundos para empréstimo”. Indique o ponto de equilíbrio (E1) e a taxa de juros de equilíbrio (r1). b. Considere agora um novo gráfico com o custo do aumento de nível das tropas incluído na análise. Desloque a curva de demanda na direção apropriada. Indique o novo ponto de equilíbrio (E2) e a nova taxa de juros de equilíbrio (r2). c. Como a taxa de juros de equilíbrio varia em resposta ao gasto do governo pelo aumento das tropas? Explique. 9. Explique por que o equilíbrio no mercado de fundos para empréstimo maximiza a eficiência. 10. Como você responderia a um amigo que afirma que o governo deveria eliminar todas as compras financiadas por empréstimos porque tal tomada de empréstimos desloca o gasto de investimento privado, isto é, causa crowding out? 11. Boris Borrower e Lynn Lender concordam que Lynn vai emprestar a Boris $10.000 e que Boris devolverá os $10.000, com juros em um ano. Eles concordam com uma taxa de juro nominal de 8%, que reflete uma taxa de juro real de 3% sobre o empréstimo e uma taxa de inflação esperada partilhada de 5% ao longo do próximo ano.

a. Se a taxa de inflação for realmente 4% no próximo ano, como essa taxa mais baixa do que o esperado afetará Boris e Lynn? Quem se sairá melhor? b. Se a taxa de inflação real for de 7% no próximo ano, como afetará Boris e Lynn? Quem se sairá melhor? 12. Usando o gráfico a seguir, explique o que acontecerá com o mercado de fundos para empréstimo, quando ocorrer uma queda de 2 pontos percentuais na taxa de inflação esperada. Como a variação na taxa de inflação esperada afetará a quantidade de equilíbrio de fundos para empréstimo?

13. O gráfico a seguir mostra dados da taxa de juros de bônus do governo de 10 anos na Zona do Euro e a taxa de inflação na Zona do Euro de 1991 até meados de 2011, conforme relatado pelo Banco Central Europeu. Como você descreve a relação entre as duas variáveis? Como esse padrão se compara com o dos Estados Unidos da Figura 108?

14. Cada um dos itens seguintes é um exemplo de gasto de investimento, de investimento em ativos financeiros ou investimento em ativos físicos? a. Rupert Moneybucks compra 100 ações já existentes da Coca-Cola. b. Rhonda Moviestar gasta $10 milhões para comprar uma mansão construída na década de 1970. c. Ronald Basketballstar gasta $10 milhões para construir uma nova mansão com vista para o Oceano Pacífico. d. Rawlings constrói uma nova fábrica de luvas de beisebol. e. A Rússia compra $100 milhões em bônus do governo dos Estados Unidos. 15. Explique como um sistema financeiro que funcione bem aumenta a poupança e o gasto de investimento, mantendo fixos o equilíbrio orçamentário e quaisquer fluxos de capital. 16. Quais são os tipos importantes de intermediários financeiros na economia dos Estados Unidos? Quais são os principais ativos desses intermediários, e como eles facilitam o gasto de investimento e a poupança? 17. Explique o efeito de cada um dos eventos seguintes sobre o preço atual das ações de uma empresa, tudo o mais mantido constante. a. A taxa de juros dos bônus cai. b. Várias empresas do mesmo setor anunciam vendas surpreendentemente mais elevadas. c. Uma mudança na legislação tributária aprovada no ano passado reduz o lucro desse ano. d. A empresa inesperadamente anuncia que, devido a um erro de contabilidade, precisa alterar a declaração contábil do ano passado e reduzir o lucro declarado em $5 milhões. Anuncia também que essa mudança não tem implicações para os lucros futuros. 18. Sallie Mae é uma agência quase governamental que empacota empréstimos estudantis individuais em pools de crédito e vende participações nesses pools a

investidores como Sallie Mae. a. Como esse processo é denominado? Que efeito isso terá sobre os investidores em relação às situações em que eles só podiam comprar e vender os recebíveis dos empréstimos estudantis individuais? b. Que efeito você acha que as ações da Sallie Mae terão sobre a capacidade dos estudantes de obter empréstimo? c. Suponha que ocorra uma recessão muito grave e, com isso, muitos estudantes universitários não conseguem emprego e deixam de pagar os empréstimos estudantis. Que efeito isso terá sobre os bônus da Sallie Mae? Por que é provável que os investidores acreditem que os bônus da Sallie Mae sejam mais arriscados do que era esperado? Qual será o efeito sobre a disponibilidade de empréstimos estudantis? www.worthpublishers.com/krugmanwells

Capítulo 10 Apêndice Compreensão Total do Valor Presente Neste capítulo, mostramos que o recebimento de $1.000 daqui a 1 ano vale menos que $1.000 recebido hoje pelo cálculo do valor presente de $1.000 recebido daqui a 1 ano, dado uma taxa de juros de 5%. O conceito de valor presente pode ser aplicado de forma mais geral para calcular o valor atual do custo, bem como os benefícios que virão no futuro. O ponto fundamental a ter em mente é que quando as empresas se envolvem em gasto de investimento, estão realizando projetos que envolvam um custo agora, em troca de benefícios no futuro. Quanto menor a taxa de juros, mais os projetos vão valer a pena, e, portanto, mais as empresas vão gastar em investimentos.

Como calcular o valor presente de projetos de 1 ano Lembre-se que o símbolo r representa a taxa de juros, como porcentagem ou decimal (isto é, r = 5% = 0,05). Em vez de trabalhar com unidades de $1.000, vamos calcular o valor presente para o caso mais simples, unidades de $1. Se você emprestar X, ao final de 1 ano receberá:

(10A-1) A partir da Equação 10A-1, podemos calcular quanto você teria que emprestar hoje para receber $1 daqui a 1 ano. Para isso definimos a Equação 10A-1 igual a $1 e calculamos X:

(10A-2) Ao calcular X, dividindo os dois lados da Equação 10A-2 por (1 + r) resulta:

(10A-3) Como explicamos neste capítulo, X é o valor presente de $1 dada uma taxa de juros de r: é o montante de dinheiro que você precisaria hoje, para gerar determinado montante de dinheiro daqui a 1 ano, dada a taxa de juros r. Como r é maior do que zero, X é inferior a $1; $1 que será resgatado no futuro é menor que $1 hoje. Lembre-se também que, à medida que a taxa de juros sobe, o valor presente de US$1 a ser resgatado no futuro cai. Por exemplo, o valor presente de $1 quando r = 0,10 é $ 1/(1 +

0,10) = $1/1,10 = $0,91 e o valor presente de $1 quando r = 0,02 é $1/ (1 + 0,02) = $1/1, 02 = $0,98.

Como calcular o valor presente de projetos plurianuais Representemos o valor de $1 a ser recebido daqui a 2 anos como X2anos . Se você emprestar X2anos hoje por 2 anos, receberá:

(10A-4) Que então é reinvestido para receber :

(10A-5) A partir da Equação 10A-5, pode-se calcular quanto teria que ser emprestado hoje para receber $1 daqui a 2 anos:

(10A-6) 2

Para resolver X2anos , divida os dois lados da Equação 10A-5 por (1 + r) para se chegar a:

(10A-7) Por exemplo, se r = 0,10, então X2anos = $1/(1,10)2 = $1/1,21 = $0,83. A Equação 10A-7 aponta o caminho para a expressão geral do valor presente, onde $1 é pago depois de N anos.

(10A-8) Em outras palavras, o valor presente de $1 a ser recebido em N anos a partir de agora é igual a $1/(1 + r)N.

Como calcular o valor presente de projetos com receitas e custos

Suponha que você deva escolher um de três projetos para empreender. O projeto A fornece um retorno imediato de $100. O projeto B custa $10 agora e paga $115 por ano a partir de agora. O projeto C fornece um retorno imediato de $119, mas requer que você pague $20 por ano a partir de agora. Vamos supor que r = 0,10. Para se comparar esses três projetos devem-se avaliar os custos e a renda esperada ou realizada em momentos diferentes. Certamente é aqui que o conceito de valor presente é extremamente útil: ao usar o valor presente para converter qualquer dólar realizado no futuro em valor de hoje, pode-se fatorar diferenças no tempo. Uma vez eliminadas essas diferenças, pode-se comparar os três projetos pelo cálculo do valor presente líquido de cada um. O valor presente das receitas correntes e futuras menos o valor presente dos custos presentes e futuros. O melhor projeto a realizar é aquele com o maior valor presente líquido. A Tabela 10A-1 mostra como calcular o valor presente líquido de cada um dos três projetos. A segunda e a terceira colunas mostram quantos dólares são realizados e quando. Os custos são indicados por um sinal de menos. A quarta coluna mostra as equações usadas para converter os fluxos de dólares para o valor presente e a quinta coluna mostra o montante real do valor presente líquido total de cada um dos três projetos. Tabela 10A-1 Valor presente líquido de três projetos hipotéticos

Por exemplo, para calcular o valor presente líquido do projeto B, é necessário calcular o valor presente de $115 a ser recebido daqui a 1 ano. O valor presente de $1 a ser recebido daqui a 1 ano é $1/(1 + r). Assim, o valor presente de $115 a ser recebido daqui a 1 ano é 115 × $1/ (1 + r) = $115/(1 + r). O valor presente líquido do projeto B é o valor presente das receitas atuais e futuras menos o valor presente dos custos atuais e futuros: –$10 = $115/(1 + r). Pode-se ver imediatamente a partir da quinta coluna, que, a uma taxa de juros de 10%, o projeto C é o melhor deles. Ele tem o maior valor presente líquido, $100,82, que é maior do que o valor presente líquido do projeto A ($100) e muito maior do que o valor presente líquido do projeto B ($94,55). Esse exemplo mostra a importância do conceito de valor presente. Se não conseguíssemos usar os cálculos de valor presente e em vez disso apenas adicionássemos as receitas e custos, teríamos sido levados a acreditar que o projeto B seria o melhor e o C seria o pior.

Problemas 1. Suponha que a via principal de uma grande cidade, que também é uma rodovia interestadual, seja totalmente fechada ao tráfego por 2 anos, a partir de janeiro de 2012 até dezembro de 2013, para a reconstrução, a um custo de $535 milhões. Se a empresa de construção decidir manter a estrada aberta para o tráfego durante a construção, o projeto de reconstrução da estrada levará muito mais tempo e será mais caro. Suponha que a construção levará 4 anos, se a rodovia for mantida aberta, a um custo total de $800 milhões. O departamento de transportes do estado teve que tomar a decisão em 2011, 1 ano antes do início da construção (para que o primeiro pagamento fosse dali a 1 ano). Assim, o departamento de transporte tinha as opções seguintes: (I) Fechar a rodovia durante a construção, a um custo anual de $267,5 milhões por ano para dois anos. (II) Manter a estrada aberta durante a construção, a um custo anual de $200 milhões por ano, durante quatro anos.

a. Suponha que a taxa de juros seja de 10%. Calcule o valor presente dos custos incorridos em cada plano. Qual plano de reconstrução é mais barato? b. Agora, suponha que a taxa de juros seja de 80%. Calcule o valor presente dos custos incorridos em cada plano. Qual plano de reconstrução agora é mais barato? 2. Você ganhou na loteria estadual. Há duas maneiras pelas quais poderá receber o prêmio. Pode ter $1 milhão em dinheiro agora, ou $1,2 milhão que será pago da seguinte forma: $300.000 agora, $300.000 em 1 ano, $300.000 em 2 anos e $300.000 em 3 anos. A taxa de juros é de 20%. Como você prefere receber o seu prêmio? 3. A empresa farmacêutica Pfizer está considerando a possibilidade de investir no desenvolvimento de uma nova droga contra o câncer. O desenvolvimento vai exigir um investimento inicial de $10 milhões hoje, e daqui a 1 ano a droga irá gerar lucro anual de $4 milhões para 3 anos. a. Se a taxa de juros for de 12%, a Pfizer deve investir no desenvolvimento da nova droga? Por que sim ou por que não? b. Se a taxa de juros for de 8%, a Pfizer deve investir no desenvolvimento da nova droga? Por que sim ou por que não?

C APÍ T UL O 11

Receitas e Despesas

O que você vai aprender neste capítulo • A natureza do multiplicador, que mostra como as mudanças iniciais nos gastos levam às mudanças subsequentes. • O significado da função consumo agregada, que mostra como a renda disponível atual afeta os gastos de consumo. • Como a renda e a riqueza agregada esperadas no futuro afetam o consumo. • Os determinantes dos gastos de investimento e a distinção entre gasto de investimento planejado e investimento em estoques não planejados. • Como o processo de ajuste de estoques movimenta a economia para um novo equilíbrio depois de um choque de demanda. • Por que o gasto de investimento é considerado um dos principais indicadores do estado futuro da economia.

Boom e quebra De 2003 a 2005, Fort Myers, na Flórida, era uma cidade em expansão. Os empregos eram abundantes: a taxa de desemprego na área metropolitana de Fort Myers-Cape Coral era inferior a 3%. Os shoppings estavam cheios e abriam novas lojas em todos os lugares. Mas, o boom estourou. Os empregos tornaram-se escassos e, em meados de 2010, a taxa de desemprego estava acima de 13%. As lojas tinham poucos clientes e muitas estavam fechando. No entanto, um novo negócio estava florescendo. À medida que a economia local afundava, corretores imobiliários começaram a oferecer “excursões de leilões judiciais”: visitas a casas que haviam sido tomadas pelos bancos depois que os proprietários foram incapazes de pagar as prestações das hipotecas, e estavam disponíveis a preços de pechincha. O que aconteceu? Fort Myers cresceu de 2003 a 2005 por causa de um surto de construção de casas, alimentado em parte por especuladores que compraram casas não para morar, mas para revender a preços muito elevados. A construção de casas criou empregos para trabalhadores da construção civil, eletricistas, coladores de telhas, corretores imobiliários e outros. Por sua vez, todos esses trabalhadores gastavam dinheiro no local, criando empregos para garçons, jardineiros, limpadores de piscina, profissionais de vendas, e outros. Esses trabalhadores também gastavam dinheiro localmente, criando mais expansão, e assim por diante. O boom se transformou em colapso quando a construção residencial, de repente, parou virtualmente. Descobriu-se que a especulação se alimentava de si mesma: as pessoas estavam comprando casas como investimento e, em seguida, vendendo-as a outras pessoas que também estavam comprando casas como investimento e os preços tinham subido a níveis muito além do que as pessoas que realmente queriam uma casa para morar estavam dispostas a pagar. Finalmente aconteceu um “momento Wile E. Coyote” – assim denominado em homenagem ao personagem de desenho animado que tinha o hábito de correr além da borda de um precipício sem despencar e que só caía

quando olhava para baixo e percebia que nada o estava apoiando. Em 2005, as pessoas olharam para baixo e de repente perceberam que os preços das casas tinham perdido contato com a realidade. E ao perceberem, o mercado imobiliário entrou em colapso. Em seguida, a economia local entrou em colapso, pois o processo que havia criado o boom anteriormente operava no sentido inverso. Os empregos criados pela construção de casas acabaram, levando a uma queda no gasto local, à perda de outros empregos locais, a novas quedas nos gastos, e assim por diante. Em pequena escala, o boom e o colapso de Fort Myers ilustram a forma como os booms e colapsos acontecem para a economia como um todo. O ciclo de negócios muitas vezes é impulsionado por altos e baixos em gastos de investimento – gasto de investimento residencial (como a construção de casas) ou investimento não residencial (como a construção de escritórios, fábricas e shoppings). Mudanças nos gastos de investimento, por sua vez, indiretamente levam a mudanças nos gastos de consumo, que ampliam – ou como os economistas costumam dizer, multiplicam – o efeito das mudanças nos gastos de investimento na economia como um todo. Neste capítulo estudaremos como esse processo funciona, mostrando como a análise do multiplicador nos ajuda a compreender o ciclo econômico. Como primeiro passo, introduziremos o conceito de multiplicador informalmente.

O multiplicador: uma introdução informal A história do boom e do colapso em Fort Myers envolve uma espécie de reação em cadeia em que um aumento ou queda inicial no gasto agregado leva a uma variação na renda que leva a outras variações no gasto agregado, e assim por diante. Examinemos a reação em cadeia mais de perto, dessa vez pensando nos efeitos das variações nos gastos agregados da economia como um todo. Para essa análise, teremos quatro hipóteses simplificadoras que terão de ser reconsideradas em capítulos posteriores. 1. Iremos supor que os produtores estejam dispostos a fornecer produto adicional a um preço fixo. Ou seja, se os consumidores ou empresas que compram bens de investimento decidem gastar um adicional de $1 bilhão, isso se traduzirá na produção do valor de $1 bilhão em bens e serviços adicionais, sem aumentar o nível geral de preços. Como resultado, variações no gasto agregado se traduzem em variações no produto agregado, como medido pelo PIB real. Como veremos no próximo capítulo, no curto prazo essa hipótese não é muito realista, mas precisa mudar quando pensamos sobre os efeitos de longo prazo de variações na demanda. 2. Consideraremos a taxa de juros como dada. 3. Iremos supor que não há gasto do governo nem impostos. 4. Iremos supor que as exportações e importações são zero. Dadas estas hipóteses simplificadoras, vejamos o que acontece se houver uma mudança no gasto de investimento. Especificamente, imaginemos que por algum motivo as construtoras de imóveis residenciais decidam gastar $100 bilhões no próximo ano. O efeito direto desse aumento no gasto de investimento será aumentar a renda e o valor do produto agregado no mesmo valor. Isso porque cada dólar gasto na construção de casas é traduzido em US$1 de renda para os operários da construção, fornecedores de materiais, eletricistas, e assim por diante. Se o processo parasse aí, o aumento no gasto de investimento imobiliário aumentaria a renda total em exatamente $100 bilhões. Mas o processo não para por aí. O aumento no produto agregado leva a um aumento na renda disponível que flui para as famílias, na forma de lucros e salários. O aumento na renda disponível das famílias leva a um aumento no gasto de consumo, o que, por sua vez, induz as empresas a aumentar o produto novamente. Isso gera um novo aumento na renda disponível, que leva a mais uma rodada nos gastos de consumo, e assim por diante. Portanto, há várias rodadas de aumentos do produto agregado. Qual será o tamanho do efeito total sobre o produto agregado, se somarmos o efeito de todas essas rodadas de aumentos de gasto? Para responder a essa questão, precisamos introduzir o conceito de propensão marginal a consumir, ou PMC: o aumento no gasto de consumo, quando a renda disponível aumenta em $1. Quando o gasto de consumo varia devido a um aumento ou queda na renda disponível, a PMC é a variação no gasto de consumo dividido pela variação na renda disponível:

(11-1) onde o símbolo Δ(delta) significa “variação em”. Por exemplo, se o gasto de consumo sobe $ 6 bilhões quando a renda disponível aumenta em $10 bilhões, a propensão marginal a consumir, PMC, é $6 bilhões /$10 bilhões = 0,6. Como os consumidores normalmente gastam uma parte, mas não tudo, de US$1 adicional da renda disponível, a PMC é um número entre 0 e 1. A renda adicional disponível que os consumidores não gastam é poupada, a propensão marginal a poupar, ou PMP, é a fração de US$1 adicional de renda disponível, que é poupada. A PMP é igual a 1 – PMC. Como supomos que não há impostos e comércio exterior, cada aumento de $1 no gasto agregado aumenta tanto o PIB real como a renda disponível em $1. Assim, o aumento de $100 bilhões no gasto de investimento inicialmente eleva o PIB real em $100 bilhões. Isso leva a uma segunda rodada de aumento nos gastos de consumo, que aumenta o PIB real em mais uma PMC × $100 bilhões. É seguido por uma terceira rodada de aumento no gasto de consumo de PMC × PMC × $100 bilhões, e assim por diante. Depois de um número infinito de rodadas, o efeito total sobre o PIB real é: Aumento no gasto de investimento + segunda rodada de aumento no gasto de c onsumo + terc eira rodada de aumento no gasto de c onsumo + quarta rodada de aumento no gasto de c onsumo • • •

= $100 bilhões = PMC × $100 bilhões = PMC 2× $100 bilhões = PMC 3× $100 bilhões • • •

Aumento total do PIB real = (1 + PMC + PMC2 + PMC3 +...) × $100 bilhões Assim, o aumento inicial de $100 bilhões no gasto de investimento desencadeia uma reação em cadeia na economia. O resultado líquido dessa reação em cadeia é que um aumento de $100 bilhões em gasto de investimento leva a uma variação no PIB real, que é um múltiplo do tamanho da variação inicial no gasto. Qual o tamanho desse múltiplo? É um fato matemático que uma série infinita da forma 1 + x + x2 + x3 +.. ., onde x está entre 0 e 1, é igual a 1/(1 – x). Assim, o efeito total de um aumento de $100 bilhões no gasto de investimento, levando em conta todos os aumentos subsequentes de gasto de consumo (e supondo que não haja impostos nem comércio exterior), é dado por:

(11-2) Consideramos um exemplo numérico em que PMC = 0,6: cada $1 adicional de renda disponível provoca um aumento de $0,60 no gasto de consumo. Nesse caso, um aumento de $100 bilhões no gasto de investimento eleva o PIB real em $100 bilhões na primeira

rodada. A segunda rodada de aumento no gasto de consumo aumenta o PIB real em mais 0,6 × $100 bilhões, ou $60 bilhões. A terceira rodada de aumento no gasto de consumo eleva o PIB real em 0,6 × $60 bilhões, ou $36 bilhões. A Tabela 11-1 mostra as etapas sucessivas de aumento, onde “...” significa que o processo continua um número infinito de vezes. No fim, o PIB real aumenta em US$250 bilhões em consequência de um aumento inicial de US$100 bilhões em gasto de investimento:

Tabela 11-1 Rodadas de aumentos do PIB real quando PMC = 0,6 Primeira rodada S egunda rodada Terc eira rodada Quarta rodada ... Rodada final

Aumento do P IB real (bilhões) $100 60 36 21,6 ... 0

Aumento total do P IB real (bilhões) $100 160 196 217,6 ... 250

Observe que embora haja um número infinito de rodadas de expansão do PIB real, o aumento total do PIB real é limitado a $250 bilhões. A razão é que, em cada estágio, uma parte da renda disponível “vaza”, porque é poupada. O quanto de $1 adicional de renda disponível é poupado depende da PMP, propensão marginal a poupar. Descrevemos o efeito de uma variação no gasto de investimento, mas a mesma análise pode ser aplicada a qualquer outra variação no gasto agregado. O importante é distinguir entre a variação inicial no gasto agregado, antes que o PIB real suba e a variação adicional no gasto agregado causada pela variação no PIB real, à medida que a reação em cadeia se desenrola. Por exemplo, suponha que um boom nos preços das casas faça os consumidores se sentirem mais ricos e, em consequência, ficarem dispostos a gastar mais em determinado nível de renda disponível. Isso leva a um aumento inicial do gasto de consumo, antes que o PIB real suba. Mas também leva à segunda rodada e a rodadas subsequentes de gastos de consumo mais altos à medida que o PIB real cresce. Um aumento ou queda inicial no gasto agregado a um determinado nível do PIB real é denominado de variação autônoma no gasto agregado. É autônoma, o que significa “autogovernada”, porque é a causa e não o resultado da reação em cadeia que acabamos de descrever. Formalmente, o multiplicador é a razão entre a variação total no PIB real causada por uma variação autônoma no gasto agregado e o tamanho daquela variação autônoma. Se indicarmos a variação autônoma no gasto agregado como ΔAAS e a variação no PIB real como ΔY, então o multiplicador é igual a ΔY/ ΔAAS. E já vimos como encontrar o valor do multiplicador. Supondo que não haja impostos nem comércio exterior, a variação no PIB real causada por uma variação autônoma no gasto é:

(11-3) Assim, o multiplicador é:

(11-4) Observe que o tamanho do multiplicador depende da PMC. Se a propensão marginal a consumir é alta, o multiplicador também é. Isso é verdadeiro porque o tamanho da PMC determina o tamanho de cada rodada de expansão, comparada à rodada anterior. Dito de outra forma, quanto mais alta a PMC, menos renda disponível “vaza” para a poupança em cada rodada de expansão. Nos próximos capítulos usaremos o conceito do multiplicador para analisar o efeito da política fiscal e monetária. Veremos também que a fórmula para o multiplicador muda quando introduzimos várias complicações, incluindo impostos e comércio exterior. Antes, porém, precisamos analisar mais profundamente o que determina os gastos de consumo.

Economia em ação O multiplicador e a grande depressão O conceito do multiplicador foi originalmente concebido por economistas ao tentar entender o maior desastre econômico da história, o colapso do produto e do emprego entre 1929 e1933, que deu início à Grande Depressão. A maioria dos economistas acredita que a recessão de 1929 a 1933 foi impulsionada por um colapso nos gastos de investimento. Mas à medida que a economia encolhia os gastos de consumo também caíam acentuadamente, multiplicando o efeito sobre o PIB real. A Tabela 11-2 mostra o que aconteceu com os gastos de investimento, os gastos de consumo e o PIB real durante aqueles quatro anos terríveis. Todos os dados são em dólares de 2005. O que vemos é que o gasto de investimento implodiu, com queda de mais de 80%. Mas o gasto de consumo também caiu drasticamente e realmente foi responsável pela maior parte de queda do PIB real. (A queda total no PIB real foi maior que a queda combinada dos gastos de consumo e de investimento, principalmente por causa de questões técnicas contábeis.)

Tabela 11-2 Gastos de investimento, gastos de consumo, e PIB real na Grande Depressão (bilhões de dólares de 2005)

Fonte: Bureau of Economic Analysis.

Os números na Tabela 11-2 sugerem que, na época da Grande Depressão, o multiplicador era aproximadamente 3. As estimativas mais atuais colocam o tamanho do multiplicador consideravelmente mais abaixo – mas há uma razão para essa variação. Em 1929, o governo dos Estados Unidos era muito pequeno para os padrões modernos: os impostos eram baixos e os principais programas de governo, como Previdência Social e Medicare (assistência médica dos idosos) ainda não existiam. Na moderna economia americana, os impostos são muito mais elevados e, assim, também os gastos do governo. Por que isso importa? Porque os impostos e alguns programas governamentais funcionam como estabilizadores, reduzindo o tamanho do multiplicador. O apêndice do Capítulo 13 explica como os impostos modificam o multiplicador.

Breve revisão ■ Uma variação no gasto de investimento decorrente de uma mudança de expectativas inicia uma reação em cadeia em que a variação inicial no PIB real leva a variações nos gastos de consumo, levando a variações subsequentes no PIB real, e assim por diante. A variação total no produto agregado é um múltiplo da variação inicial no gasto de investimento. ■ Qualquer variação autônoma no gasto agregado, uma variação que não foi causada por uma variação no PIB real, gera a mesma reação em cadeia. O tamanho total na variação no PIB real depende do tamanho do multiplicador. Supondo que não haja impostos nem comércio exterior, o multiplicador é igual a 1/(1 – PMC), onde PMC é a propensão marginal a consumir. A variação total no PIB real, – Y, é igual a 1/(1 – PMC) – AAS.

Teste seu entendimento 11-1 1. Explique por que um declínio nos gastos de investimento causado por uma mudança nas expectativas econômicas também leva a uma queda nos gastos de consumo.

2. Qual é o multiplicador se a propensão marginal a consumir for 0,5? E se a PMC for 0,8? 3. Como porcentagem do PIB, a poupança é uma parcela da economia maior em Scania do que em Amerigo. Que país é provável que tenha o maior multiplicador? Explique. As respostas estão no fim do livro.

Gastos de consumo Você deve gastar indo ao restaurante ou economizar fazendo as refeições em casa? Você deve comprar um carro novo e, nesse caso, um modelo de que preço? Você deve reformar o banheiro ou deixar como está por mais um ano? No mundo real, as famílias constantemente se confrontam com tais escolhas, não apenas sobre a composição do consumo, mas também sobre quanto gastar no total. Essas escolhas, por sua vez, têm um efeito poderoso sobre a economia: os gastos de consumo normalmente correspondem a dois terços do gasto total em bens e serviços finais. Em particular, como acabamos de ver, a decisão sobre quanto gastar de US$1 adicional de renda – a propensão marginal a consumir – determina o tamanho do multiplicador, que determina o efeito final sobre a economia das variações nos gastos autônomos. Mas o que determina o quanto os consumidores gastam?

Renda disponível e gastos de consumo correntes O fator mais importante que afeta o consumo de uma família é a renda disponível corrente – após o pagamento dos impostos e do recebimento das transferências governamentais. Observa-se que, na vida cotidiana, as pessoas com renda disponível mais alta, em média, dirigem carros mais caros, moram em casas mais caras e gastam mais em refeições e roupas do que as pessoas com renda disponível inferior. E a relação entre renda disponível e gasto corrente está clara nos dados. O Bureau of Labor Statistics (BLS) coleta dados anuais sobre a renda e o gasto familiar. As famílias são agrupadas segundo o nível de renda antes do pagamento dos impostos, e é também registrada a renda para cada grupo depois do pagamento dos impostos. Como as cifras de renda incluem as transferências do governo, o que o BLS classifica como renda após os impostos de uma família é equivalente à sua renda disponível corrente. A Figura 11-1 é um diagrama de dispersão que ilustra a relação entre a renda disponível corrente das famílias e o gasto de consumo das famílias americanas por grupo de renda em 2009. Por exemplo, o ponto A mostra que em 2009 uma parcela da população tinha renda disponível corrente média de $45.199 e gasto médio de $41.150. O padrão dos pontos inclina para cima, da esquerda para a direita, deixando claro que as famílias com renda disponível corrente mais elevada apresentaram maior consumo.

FIGURA 11-1 Renda disponível corrente e gasto de consumo das famílias americanas em 2009 Para cada grupo de renda familiar, foi representada a renda disponível corrente versus o gasto médio do consumidor em 2009. Por exemplo, o grupo de renda média, com renda anual de $35.598 a $57.294, é representado pelo ponto A, indicando uma renda familiar média disponível corrente de $45.199 e um gasto médio de consumo familiar de $41.150. Os dados mostram claramente uma relação positiva entre a renda disponível corrente e os gastos de consumo: as famílias com renda disponível corrente mais elevada têm maior consumo. Fonte: Bureau of Labor Statistics.

Convém representar a relação entre a renda disponível corrente de cada uma das famílias e o gasto de consumo com uma equação. A função consumo é uma equação que mostra como o gasto de consumo de uma família em particular varia com a renda disponível corrente da família. A versão mais simples da função consumo é uma equação linear:

(11-5) onde as letras minúsculas indicam variáveis medidas para uma família específica. Nessa equação, c é o gasto de consumo da família individual e yd é a renda disponível da família individual. Lembre-se que PMC, a propensão marginal a consumir, é o montante em que o gasto de consumo aumenta se a renda disponível corrente aumentar $1. Finalmente, a é um termo constante – gasto de consumo autônomo da família individual, a quantidade de gasto que uma família faria se tivesse renda disponível zero. Suponha que a seja maior que zero, pois uma família com renda disponível zero tem a possibilidade de financiar algum consumo tomando emprestado ou usando a poupança. Observe, a propósito, que estamos usando y para a renda. Essa é uma prática comum em macroeconomia, embora a renda não seja escrita com y nem em inglês. O motivo é que I ficou reservado para gasto de investimento. Lembre-se que expressamos a PMC como a proporção de uma variação no gasto de

consumo e uma variação na renda disponível corrente. Reescrevemos essa equação para uma família individual, como a Equação 11-6:

(11-6) Ao multiplicar os dois lados da Equação 11-6 por Δyd, obtemos:

(11-7) A Equação 11-7 nos informa que quando yd sobe $1, c sobe PMC × $1. A Figura 11-2 mostra como a Equação 11-5 é representada em um gráfico, colocando yd no eixo horizontal e c no eixo vertical. O gasto de consumo familiar autônomo individual, a é o valor de c, quando yd é zero – é o intercepto vertical da função consumo, cf. PMC é a inclinação da linha medida como o acréscimo vertical sobre o horizontal. Se a renda disponível corrente aumentar em Δyd, o gasto de consumo familiar, c, aumentará em Δc. Como PMC é definido como Δc/Δyd, a inclinação da função consumo é:

(11-8)

FIGURA 11-2 Função consumo A função consumo relaciona a renda disponível corrente da família ao seu gasto de consumo. O intercepto vertical, a, é o gasto de consumo autônomo da família individual: o montante do gasto de consumo de uma família caso a renda disponível corrente seja zero. A inclinação da linha da função consumo, cf, é a propensão marginal a consumir, ou PMC: de cada $1 adicional de renda disponível corrente, é gasto PMC × $1.

Na verdade, os dados reais nunca se ajustam perfeitamente à Equação 11-5, mas o ajuste pode ser muito bom. A Figura 11-3 mostra os dados da Figura 11-1, novamente, junto a uma linha traçada para se ajustar o mais perfeitamente possível aos dados. De acordo com os dados sobre gasto de consumo das famílias e renda disponível corrente, a melhor estimativa de a é $17.594 e da PMC é 0,518. Assim, a função consumo ajustado aos dados é:

FIGURA 11-3 Função consumo ajustada aos dados Os dados da FIGURA 11-1 são reproduzidos aqui, junto com uma linha traçada para ajustar os dados o mais estreitamente possível. Para as famílias americanas, em 2009, a melhor estimativa do gasto de consumo autônomo da família média, a, é $17.594 e a melhor estimativa da PMC é 0,518, ou aproximadamente 0,52. Fonte: Bureau of Labor Statistics.

Ou seja, os dados sugerem uma propensão marginal a consumir de aproximadamente 0,52. Isso implica que a propensão marginal a poupar (PMP) – o montante de $1 adicional de renda disponível que é poupada – é aproximadamente 0,48 e o multiplicador é aproximadamente 1/0,48 = 2,08. É importante perceber que a Figura 11-3 mostra uma relação microeconômica entre a renda disponível corrente das famílias individuais e seus gastos em bens e serviços. No entanto, os macroeconomistas supõem que uma relação semelhante vale para a economia em seu conjunto: que há uma relação, chamada função consumo agregado, entre a renda disponível corrente agregada e o consumo agregado. Vamos partir do princípio que tenha a mesma forma que a função consumo ao nível de cada família:

(11-9) Aqui, C é o gasto de consumo agregado (simplesmente denominado “gasto de consumo”); YD é a renda disponível corrente agregada (simplesmente denominada “renda disponível”), e A é o gasto de consumo autônomo agregado, o montante de gasto de consumo quando YD é igual a zero. Essa é a relação representada na Figura 11-4 por CF, análoga à cf da Figura 11-3.

FIGURA 11-4 Deslocamento da função consumo agregado O painel (a) ilustra o efeito de um aumento na renda agregada disponível esperada no futuro. Os consumidores gastarão mais em qualquer nível determinado de renda disponível corrente, YD. Como resultado, a função consumo agregado inicial CF1, com o gasto de consumo agregado autônomo A1, desloca para cima para uma nova posição em CF2 com gasto de consumo agregado autônomo A2. Um aumento na riqueza agregada também deslocará a função consumo agregada para cima. O painel (b), em contrapartida, ilustra o efeito de uma redução na renda agregada disponível futura esperada. Os consumidores gastarão menos em cada nível determinado de renda agregada disponível corrente, YD. Consequentemente, a função consumo agregado inicial CF1, com gasto de consumo agregado autônomo A1, desloca-se para baixo, para uma nova posição em CF2 com gasto de consumo autônomo agregado A2. Uma redução na riqueza agregada terá o mesmo efeito.

Deslocamento da função consumo agregado A função consumo agregado mostra a relação entre a renda disponível e o gasto de consumo para a economia em seu conjunto, tudo o mais mantido constante. Quando algo muda que não seja a renda disponível, a função consumo agregado se desloca. Há duas causas principais para o deslocamento da função consumo agregado: mudança na renda disponível esperada no futuro e mudança na riqueza agregada.

Variação na renda disponível esperada no futuro Suponha que logo após a formatura, em maio, você consiga um emprego realmente bom e bem remunerado, mas para iniciar apenas depois de setembro. Portanto, a renda disponível ainda não aumentou. Mesmo assim, é provável que você vá começar a gastar mais em bens e serviços finais de imediato, talvez comprando roupas de trabalho melhores do que tinha planejado inicialmente, porque sabe que uma renda mais alta está por vir. Por outro lado, suponha que você tenha um bom emprego, mas é informado de que a empresa está pensando em reduzir o quadro, o que aumenta a possibilidade de você perder o emprego e ter que aceitar outro com remuneração menor, em outro lugar. Mesmo que a renda disponível ainda não tenha caído, possivelmente, você cortará despesas, mesmo estando empregado, para economizar para tempos difíceis. Esses dois exemplos mostram como as expectativas sobre a renda disponível no futuro

podem afetar os gastos de consumo. Os dois painéis da Figura 11-4, que representam a renda disponível em relação ao gasto de consumo, mostram como variações na renda disponível esperada no futuro afetam a função consumo agregado. Em ambos os painéis, CF1 é a função consumo agregado inicial. O painel (a) mostra o efeito de uma boa notícia: a informação que leva os consumidores a esperar uma renda disponível mais alta no futuro. Os consumidores agora gastarão mais a qualquer nível de renda disponível corrente determinada, YD, o que corresponde a um aumento em A, o gasto de consumo autônomo agregado, de A1 para A2. O efeito é deslocar a função consumo agregado para cima, de CF1 para CF2. O painel (b) mostra o efeito de uma má notícia: a informação que leva os consumidores a esperar uma renda disponível mais baixa no futuro do que era antes. Os consumidores agora gastarão menos a qualquer nível de renda disponível corrente determinada, YD, que corresponde a uma queda em A de A1 para A2. O efeito é deslocar a função consumo agregado para baixo, de CF1 para CF2. Em um livro famoso de 1956, A Theory of the Consumption Function, Milton Friedman mostrou que considerar o efeito da renda esperada no futuro explica um fato de outra forma intrigante sobre o comportamento do consumidor. Ao analisarmos o gasto de consumo em um ano determinado, descobrimos que as pessoas com renda corrente elevada poupam uma fração maior da renda do que aqueles com renda corrente mais baixa. (Isso é evidente a partir dos dados da Figura 11-3: as pessoas que pertencem ao grupo de renda mais alta gastam consideravelmente menos do que a sua renda e aqueles do grupo de renda mais baixa gastam mais do que sua renda.) Você pode pensar que isso implica que a taxa de poupança global vai aumentar à medida que a economia cresce e a renda média corrente sobe. No entanto, na verdade, isso não tem acontecido. Friedman assinalou que, quando observamos as rendas individuais em determinado ano, existem diferenças sistemáticas entre renda corrente e renda esperada no futuro que criam uma relação positiva entre renda corrente e taxa de poupança. De um lado, as pessoas de baixa renda corrente podem excepcionalmente, estar passando por um ano ruim. Por exemplo, podem ser trabalhadores que foram demitidos, mas que provavelmente vão encontrar um novo emprego. São pessoas cuja renda esperada no futuro é maior do que a renda corrente, por isso faz sentido que tenham poupança baixa ou mesmo negativa. Por outro lado, pessoas com renda corrente elevada em determinado ano, muitas vezes podem estar passando por um ano excepcionalmente bom. Por exemplo, podem ter investimentos que deram bons resultados. São pessoas cuja renda esperada no futuro é mais baixa que a renda corrente, por isso faz sentido para elas poupar a maior parte do ganho excepcional. Ao contrário, quando a economia cresce, a renda corrente e a esperada no futuro crescem juntas. Renda corrente mais elevada tende a levar a poupança mais elevada hoje, mas renda esperada no futuro mais elevada tende a levar a poupança mais baixa hoje. Como resultado, há uma relação mais fraca entre renda corrente e taxa de poupança. Friedman argumentou que os gastos de consumo, em última instância, dependem principalmente da renda que as pessoas esperam ter no longo prazo, em vez de a renda corrente. Esse argumento é conhecido como hipótese da renda permanente.

Variações na riqueza agregada Imagine duas pessoas, Maria e Marcos, ambos esperam ganhar $30.000 este ano. Suponha, no entanto, que eles têm histórias diferentes. Maria tem trabalhado constantemente nos últimos 10 anos, tem casa própria e $200.000 no banco. Marcos tem a mesma idade que Maria, mas tem tido empregos instáveis, não conseguiu comprar uma casa e tem pouca poupança. Nesse caso, Maria tem algo que Marcos não tem: riqueza. Mesmo que os dois tenham a mesma renda disponível, tudo o mais mantido constante, é de se esperar que Maria vá gastar mais em consumo do que Marcos. Ou seja, a riqueza tem um efeito sobre os gastos de consumo. O efeito da riqueza sobre o gasto é enfatizado por um modelo econômico influente de como os consumidores fazem escolhas entre gasto e poupança denominado de hipótese do ciclo de vida. Segundo essa hipótese, os consumidores planejam os gastos ao longo da vida e não apenas em resposta à renda disponível corrente. Como resultado, as pessoas tentam suavizar o consumo durante a vida – poupam parte da renda disponível corrente durante os anos de pico de ganho (que normalmente ocorre quando o trabalhador tem entre 40 e 50 anos) e durante a aposentadoria vivem da riqueza acumulada durante o tempo em que trabalharam. Não vamos entrar em detalhe sobre essa hipótese, mas assinalar que implica um papel importante para a riqueza na determinação dos gastos de consumo. Por exemplo, um casal de meia-idade que já acumulou bastante riqueza, já pagou o empréstimo para a compra da casa e possui muitas ações e bônus, tudo o mais mantido constante, gastará mais em bens e serviços do que um casal com a mesma renda disponível que ainda precisa poupar para a aposentadoria. Como a riqueza afeta os gastos de consumo das famílias, variações na riqueza na economia como um todo podem deslocar a função consumo agregado. Um aumento na riqueza agregada – digamos, por causa de uma alta na Bolsa de Valores – aumenta o intercepto vertical A, o gasto de consumo autônomo agregado. Esse, por sua vez, desloca a função consumo agregado para cima, da mesma forma que um aumento esperado na renda disponível esperada no futuro. Uma queda da riqueza agregada – digamos, devido a uma queda no preço dos imóveis, como o que ocorreu em 2008 – reduz A e desloca a função consumo agregado para baixo.

Economia em ação Primeiras falhas famosas de previsão A Grande Depressão criou a macroeconomia moderna. Também deu origem ao moderno campo da econometria, ou seja, o uso de técnicas estatísticas para ajustar modelos econômicos a dados empíricos. A função consumo agregado foi uma das primeiras coisas estudadas pelos econometristas. E, com certeza, rapidamente experimentaram uma das primeiras grandes falhas de previsão econômica: os gastos de consumo após a Segunda Guerra Mundial foram muito maiores do que as estimativas da função consumo agregado com base em dados anteriores à guerra teriam previsto.

A Figura 11-5 conta essa história. O painel (a) mostra dados agregados de renda disponível e gastos de consumo de 1929 a 1941, medidos em bilhões de dólares de 2005. A função consumo linear simples, CF1, parece ajustar-se aos dados muito bem. E muitos economistas pensaram que essa relação continuaria a manter-se no futuro. Mas o painel (b) mostra o que realmente aconteceu em anos posteriores. Os pontos no círculo à esquerda são os dados da Grande Depressão mostrados no painel (a). Os pontos no círculo à direita são dados entre 1946 e 1960. (Dados de 1942 a 1945 não estão incluídos porque o racionamento durante a Segunda Guerra Mundial impediu os consumidores de gastar normalmente.) A linha sólida na figura, CF1, é a função consumo ajustada aos dados de 1929 a 1941. Como se pode ver, os gastos de consumo após a Segunda Guerra Mundial foram muito mais altos do que a relação dos anos de depressão teria previsto. Por exemplo, em 1960, os gastos de consumo foram de 13,5% mais alto do que o nível previsto por CF1.

FIGURA 11-5 Variações na função consumo agregado ao longo do tempo Fonte: Bureau of Economic Analysis.

Por que foi tão enganosa a extrapolação da relação anterior? A resposta é que a partir de 1946 em diante, tanto a renda disponível esperada no futuro como a riqueza agregada estavam aumentando constantemente. Os consumidores tornaram-se cada vez mais confiantes de que a Grande Depressão não voltaria a acontecer e que a expansão econômica posterior à Segunda Guerra Mundial iria continuar. Ao mesmo tempo, a riqueza estava aumentando constantemente. Como indicado pelas linhas tracejadas no painel (b), CF2 e CF3, os aumentos na renda disponível esperada no futuro e a riqueza agregada deslocaram a função consumo agregado várias vezes para cima. Em macroeconomia, falha – seja de política econômica ou de previsão econômica – muitas vezes leva ao progresso intelectual. As falhas embaraçosas das estimativas iniciais da função consumo agregado para prever os gastos de consumo após a Segunda Guerra Mundial levaram a um progresso importante em nosso entendimento do comportamento do consumidor.

Breve revisão ■ A função consumo mostra a relação entre a renda disponível corrente de uma família individual e o gasto de consumo. ■ A função consumo agregado mostra a relação entre renda disponível e gasto de consumo em toda a economia. Pode-se deslocar em razão das variações na renda disponível esperada no futuro e das variações na riqueza agregada.

Teste seu entendimento 11-2 1. Suponha que a economia seja composta de três pessoas: Angelina, Felícia e Marina. A tabela mostra como o gasto de consumo varia conforme a renda disponível corrente aumenta em $10.000. a. Derive cada função consumo individual, onde a PMC é calculada para uma variação de $10.000 na renda disponível corrente. b. Derive a função consumo agregado.

2. Suponha que os problemas no mercado de capitais tornem impossível que os consumidores tomem emprestado ou poupem para uso futuro. Qual a implicação disso para os efeitos da renda disponível esperada no futuro sobre os gastos de consumo? As respostas estão no fim do livro.

Gastos de investimento Embora os gastos de consumo sejam muito maiores do que os gastos de investimento, altas e baixas nos gastos de investimento tendem a alimentar o ciclo econômico. Na verdade, a maioria das recessões se originou de uma queda nos gastos de investimento. A Figura 11-6 ilustra esse ponto, mostra a variação percentual anual dos gastos de investimento e dos gastos de consumo nos Estados Unidos, medidos em termos reais, durante seis recessões entre 1973 e 2009. Como se pode ver, as variações nos gastos de investimento são muito mais drásticas do que as no gasto de consumo. Além disso, devido ao processo do multiplicador, os economistas acreditam que o declínio nos gastos de consumo geralmente é o resultado de um processo que começa com uma queda nos gastos de investimento. Logo, analisaremos com mais detalhes como uma queda nos gastos de investimento gera uma queda nos gastos de consumo por meio do processo do multiplicador.

FIGURA 11-6 Flutuações nos gastos de investimento e de consumo As barras ilustram a variação percentual anual nos gastos de investimento e de consumo durante as seis últimas recessões. Como mostra o comprimento das barras, a variação nos gastos de investimento foi muito maior em termos percentuais do que no gasto de consumo. Esse padrão levou os economistas a acreditarem que as recessões normalmente se originam de uma queda nos gastos de investimento

Contudo, antes de fazer isso, vamos analisar os fatores que determinam os gastos de investimento, que são um pouco diferentes daquelas que determinam os gastos de consumo. Os mais importantes são a taxa de juros e o PIB real esperado no futuro. Também vamos revisitar um fato que já observamos em Para mentes curiosas no Capítulo 10: o nível de gastos de investimento que as empresas, na verdade, algumas vezes

realizam, não é o mesmo que o gasto de investimento planejado, o gasto de investimento que as empresas pretendem realizar durante um determinado período. Gastos de investimento planejado dependem de três fatores principais: taxa de juros, nível do PIB real esperado no futuro e nível atual da capacidade de produção. Primeiro, vamos analisar o efeito da taxa de juros.

Taxa de juros e gasto de investimento As taxas de juros têm efeito mais evidente sobre uma forma de gasto de investimento particular: o gasto com construção residencial – ou seja, residências novas. A razão é simples: os construtores só constroem casas que acham que podem vender, e a compra de casas se torna mais acessível – e assim mais propensa à venda – quando a taxa de juros é baixa. Considere uma família, compradora, em potencial, de uma casa, que precisa tomar emprestado $150.000 para comprá-la. A uma taxa de 7,5% de juros, um crédito hipotecário de 30 anos vai significar pagamentos de $1.048 por mês. A uma taxa de 5,5%, esses pagamentos seriam de apenas $851 por mês, tornando as casas mais acessíveis. Conforme descrito na próxima seção Economia em ação, a taxa de juros realmente caiu de aproximadamente 7,5% para 5,5% entre o final dos anos 1990 e 2003, impulsionando o grande boom imobiliário descrito na história de abertura deste capítulo. A taxa de juros também afeta outras formas de gastos de investimento. Empresas com projetos de gasto de investimento só prosseguem com o projeto se tiverem a expectativa de uma taxa de retorno mais alta que o custo dos fundos que teriam que tomar emprestado para financiar o projeto. Como vimos no Capítulo 10, se a taxa de juros subir, menos projetos passarão no teste e, como resultado, o gasto de investimento será menor. Você pode pensar que o trade-off que uma empresa enfrenta é diferente se puder financiar o projeto de investimento com os lucros do passado, em vez de contrair empréstimo. Lucros do passado usados para financiar gastos de investimento são chamados de lucros retidos. Mas mesmo que uma empresa pague pelo gasto de investimento usando os lucros retidos, o trade-off que tem que fazer ao decidir se deve ou não financiar um projeto permanece o mesmo, pois tem de levar em conta o custo de oportunidade dos fundos. Por exemplo, em vez de comprar um novo equipamento, a empresa poderia emprestar os fundos e receber juros. O juro a que ela renuncia é o custo de oportunidade de usar os lucros retidos para financiar um projeto de investimento. Assim, o trade-off que uma empresa enfrenta ao comparar a taxa de retorno de um projeto com a taxa de juros do mercado não muda quando ela usa os lucros retidos ao invés de os fundos tomados emprestados, o que significa que, independentemente de a empresa financiar os gastos de investimento por meio de empréstimo ou por meio do lucro retido, um aumento na taxa de juros de mercado torna menos rentável qualquer projeto de investimento. Por outro lado, uma queda na taxa de juros faz alguns projetos de investimento, que não eram lucrativos antes, se tornarem lucrativos agora à taxa de juro mais baixa. Assim, alguns projetos que antes não eram financiados, agora o serão. Então, o gasto de investimento planejado – gastos em projetos de investimento que as empresas decidem voluntariamente realizar ou não – tem relação negativa com a taxa de

juros. Tudo o mais mantido constante, taxas de juros mais altas levam a um nível menor de gasto de investimento planejado.

PIB real esperado no futuro, capacidade de produção e gasto de investimento Suponha que uma empresa tenha capacidade suficiente para continuar a produzir a quantidade que está vendendo, mas não espera que as vendas aumentem no futuro. Assim, ela fará gastos de investimentos apenas para substituir equipamentos e estruturas que se desgastam ou que se tornam obsoletas por causa de novas tecnologias. Mas se, em vez disso, a empresa espera que as vendas cresçam rapidamente no futuro, irá considerar que a capacidade produtiva existente é insuficiente para atender à necessidade de produção futura. Assim, a empresa vai realizar gastos de investimento para atender essas necessidades. Isso implica que, tudo o mais mantido constante, as empresas realizam maiores gastos de investimento quando esperam um crescimento nas vendas. Agora, suponha que a empresa tenha atualmente muito mais capacidade do que o necessário para atender às necessidades correntes de produção. Mesmo que espere que as vendas cresçam, não terá de realizar gastos de investimento por um tempo, até que o crescimento das vendas alcance o excesso de capacidade. Isso ilustra o fato de que, tudo o mais mantido constante, o nível da capacidade produtiva corrente tem efeito negativo sobre os gastos de investimento: quanto maior a capacidade corrente, menor será o gasto de investimento. Se reunirmos os efeitos sobre os gastos de investimento provenientes do crescimento esperado de vendas futuras e o tamanho da capacidade de produção corrente, podemos ver uma situação em que podemos estar razoavelmente seguros de que as empresas irão realizar altos níveis de gastos de investimento: quando esperam que as vendas cresçam rapidamente. Nesse caso, mesmo o excesso da capacidade de produção em breve será usada, levando as empresas a retomar os gastos de investimento. Mas o que seria um indicador de níveis elevados de vendas esperadas no futuro? É uma taxa alta de crescimento esperado do PIB real no futuro. Uma taxa mais elevada de crescimento esperado do PIB real no futuro resulta em um nível mais elevado de gasto de investimento planejado. Enquanto uma taxa mais baixa de crescimento esperado do PIB real no futuro leva a um nível mais baixo de gasto de investimento planejado. Essa relação é resumida na proposição conhecida como princípio do acelerador. Como explicaremos na próxima seção em Economia em ação, em 2006, quando as expectativas de crescimento futuro do PIB real eram negativas, o gasto de investimento planejado – e, em particular, o gasto de investimento residencial – submergiu, acelerando o deslizamento da economia para a recessão. Geralmente, os efeitos do princípio do acelerador desempenham um papel importante nas retrações dos gastos de investimento ou períodos de gastos de investimento baixos.

Estoques e gasto de investimento não planejado A maioria das empresas mantém estoques, uma quantidade de bens mantidos para satisfazer as vendas futuras. As empresas mantêm estoques para que possam satisfazer rapidamente os compradores – um consumidor pode comprar um item imediatamente, em vez de esperar que esse seja fabricado. Além disso, as empresas muitas vezes mantêm estoques de insumos para ter certeza de ter uma oferta constante de materiais necessários e peças de reposição. No final do segundo trimestre de 2011, o valor total dos estoques na economia dos Estados Unidos era calculado em $2,3 trilhões, pouco mais de 15% do PIB. Como explicamos no Capítulo 7, uma empresa que aumenta os estoques está realizando uma forma de gasto de investimento. Suponha, por exemplo, que a indústria automobilística dos Estados Unidos produza 800 mil carros por mês, mas venda apenas 700 mil. Os 100 mil carros restantes são adicionados ao estoque das companhias automobilísticas ou concessionárias, prontos para ser vendidos no futuro. Investimento em estoque é o valor da variação no total dos estoques mantidos na economia durante um determinado período. Ao contrário de outras formas de gastos de investimento, o investimento em estoque pode realmente ser negativo. Se, por exemplo, a indústria automobilística reduz seus estoques ao longo do mês, dizemos que teve um investimento negativo em estoque. Para entender o investimento em estoque, pense em um gerente fazendo o estoque da seção de bens enlatados de um supermercado. O gerente tenta manter a loja totalmente abastecida para que os clientes possam quase sempre encontrar o que estão procurando. Mas o gerente não quer manter as prateleiras excessivamente abastecidas porque o espaço da prateleira é limitado e os produtos podem estragar. Considerações semelhantes se aplicam a muitas empresas e, normalmente, as leva a gerenciar os estoques com cuidado. No entanto, as vendas flutuam. E como as empresas nem sempre podem prever as vendas com precisão, muitas vezes se encontram mantendo mais ou menos estoques do que pretendiam. Essas oscilações inesperadas nos estoques devido às variações não previstas nas vendas são chamadas de investimento em estoque não planejado. Representam os gastos de investimento, positivo ou negativo, ocorrido, mas não planejado. Assim, em qualquer período, o gasto de investimento efetivo é igual ao gasto de investimento planejado, mais o investimento em estoques não planejados. Se designarmos o investimento em estoque não planejado como IUnplan e o gasto de investimento planejado como IPlan, sendo I os gastos de investimento efetivo, então a relação entre os três pode ser representada como:

(11-10) Para verificar como o investimento em estoque não planejado pode ocorrer, vamos continuar a nos concentrar no exemplo da indústria automobilística e fazer as seguintes

suposições. Primeiro, que a indústria deva determinar todo o mês, antecipadamente, o volume de produção, antes de saber qual será o volume efetivo de venda. Segundo, que ela preveja vender 800 mil carros no próximo mês e que não planeje aumentar nem diminuir os estoques existentes. Nesse caso, produzirá 800 mil carros para corresponder às vendas previstas. Agora imagine que, no mês seguinte, as vendas sejam menores do que o esperado, apenas 700 mil carros. Como resultado, o valor de 100 mil carros será adicionado ao gasto de investimento, como investimento em estoque não planejado. Certamente, a indústria automobilística, ao final, se ajustará a essa desaceleração nas vendas e ao investimento em estoques não planejados resultante. É provável que reduza o volume de produção no próximo mês, para reduzir os estoques. Na verdade, os economistas que estudam as variáveis macroeconômicas na tentativa de determinar o caminho futuro da economia prestam atenção às variações nos níveis de estoque. Estoques crescentes geralmente indicam investimento em estoque não planejado positivo e uma desaceleração da economia, na medida em que as vendas são menores do que o previsto. Queda nos estoques, normalmente, indica investimento em estoque não planejado negativo e economia em crescimento, na medida em que as vendas são maiores do que o previsto. Na próxima seção, vamos ver como os ajustes na produção em resposta às flutuações nas vendas e nos estoques garantem que o valor dos bens e serviços finais, atualmente produzidos, seja igual à compra desejada desses bens e serviços finais.

Economia em ação Taxas de juros e o boom imobiliário dos Estados Unidos O boom imobiliário na área metropolitana de Fort Myers, descrito no início deste capítulo, era parte de um boom imobiliário mais amplo no país como um todo. Não há muita dúvida de que esse boom imobiliário foi causado, em primeira instância, por taxas de juros baixas. A Figura 11-7 mostra a taxa de juros sobre empréstimos hipotecários de 30 anos – a maneira tradicional de tomar dinheiro emprestado para comprar uma casa – e o número inicial de construções de casas, o número de casas cuja construção é iniciada por mês, a partir de 1995 até meados de 2011, nos Estados Unidos. O painel (a), que mostra a taxa de juros do crédito hipotecário, dá uma ideia do quanto os juros caíram. Na segunda metade da década de 1990, as taxas de juros das hipotecas em geral oscilavam entre 7% e 8%. Em 2003, caíram para níveis entre 5% e 6%. Essas taxas mais baixas, em grande parte, eram resultado da política do Federal Reserve: o Fed cortou as taxas de juros em resposta à recessão de 2001 e continuou cortando em 2003 com a preocupação de que a recuperação da economia estava muito fraca para gerar crescimento de emprego sustentável.

FIGURA 11-7 Taxas de juros e o boom imobiliário dos Estados Unidos Fonte: Federal Reserve Bank de St. Louis.

A taxa de juros baixa levou a um grande aumento nos gastos de investimento residencial, refletido em uma onda de início de construção residencial, mostrado no painel (b). Esse aumento dos gastos de investimento levou a uma expansão econômica geral, tanto pelos efeitos diretos como por meio do processo do multiplicador. Infelizmente, o boom imobiliário, ao final, era muito bom para ser verdade. Em 2006, ficou claro que o mercado imobiliário dos Estados Unidos estava passando por uma bolha: as pessoas estavam comprando casas com base em expectativas irreais sobre o aumento de preços futuro. Quando a bolha estourou, a construção – e a economia dos Estados Unidos – levou uma queda. A queda foi tão grave que, mesmo quando o Fed cortou as taxas para próximo de zero, e, consequentemente, as taxas de crédito hipotecário caíram para abaixo de 5% a partir de 2009, os inícios de construção residencial apenas se estabilizaram. Em 2011, ainda não tinham se recuperado.

Breve revisão ■ O gasto de investimento planejado se relaciona negativamente com a taxa de juros e positivamente com o PIB real esperado no futuro. De acordo com o princípio do acelerador, há uma relação positiva entre gasto de investimento planejado e taxa de crescimento do PIB real esperado no futuro. ■ As empresas mantêm estoques para vender no futuro. O investimento em estoque, uma forma de gasto de investimento, pode ser positivo ou negativo. ■ Quando as vendas reais são menores ou maiores do que o esperado, caracteriza-se investimento em estoque não planejado. O gasto de investimento efetivo é igual ao gasto de investimento planejado mais o investimento em estoque não planejado.

Teste seu entendimento 11-3 1. Para cada evento, explique se o gasto de investimento planejado e o gasto em estoques não planejados irão mudar e em que direção. a. Um aumento inesperado no gasto de consumo. b. Uma alta acentuada no custo dos empréstimos para a atividade econômica. c. Um aumento acentuado na taxa de crescimento do PIB real.

d. Uma queda inesperada nas vendas. 2. Historicamente, o gasto de investimento tem sofrido oscilações ascendentes e descendentes mais extremas do que o gasto de consumo. Por que isso é assim? (Dica: considere a propensão marginal a consumir e o princípio do acelerador.) 3. O gasto de consumo foi fraco no final de 2007 e os economistas estavam preocupados com o excesso de estoques – um alto nível de investimento em estoques não planejados em toda a economia – que dificultaria a recuperação da economia em um breve espaço de tempo. Explique por que um excedente de estoques, do mesmo modo que a existência de um excesso de capacidade de produção, pode deprimir a atividade econômica. As respostas estão no fim do livro.

O modelo renda-despesa No início deste capítulo, descrevemos como as mudanças autônomas nos gastos – como a queda nos gastos de investimento quando acontece o estouro de uma bolha imobiliária – levam a um processo de várias etapas por intermédio da ação do multiplicador amplificando o efeito da variações sobre o PIB real. Nesta seção, vamos examinar esse processo de múltiplas etapas mais de perto. Veremos que as diversas rodadas de variação no PIB real são realizadas por meio da variação na quantidade de produto produzido pelas empresas – variações ocorridas em resposta a mudanças nos estoques. Entenderemos, então, por que os estoques desempenham um papel central nos modelos macroeconômicos da economia no curto prazo, bem como por que os economistas prestam particular atenção no comportamento dos estoques das empresas quando tentam entender a situação do provável futuro da economia. Antes de começar, vamos recapitular rapidamente os pressupostos subjacentes ao processo do multiplicador. 1. Variações no gasto total levam a variações no produto agregado. Suponhamos que os produtores estejam dispostos a fornecer um produto adicional em um nível de preço fixo. Como resultado, variações nos gastos se traduzem em variações no produto, em vez de movimento no nível geral de preços para cima ou para baixo. Um nível de preço agregado fixo também implica que não há diferença entre o PIB nominal e PIB real. Assim, podemos usar os dois termos como sinônimos neste capítulo. 2. A taxa de juros é fixa. Vamos considerar que a taxa de juros é predeterminada e não é afetada pelos fatores que analisamos nesse modelo. Como no caso do nível de preços agregado, o que realmente estamos fazendo é deixar os determinantes da taxa de juros de fora do modelo. Como veremos, mesmo assim, o modelo ainda pode ser usado para estudar os efeitos de uma variação na taxa de juros. 3. Impostos, transferências e compras governamentais são todos iguais a zero. 4. Exportações e importações são iguais a zero. Em todos os capítulos subsequentes, vamos abandonar a suposição de que o nível de preço agregado é fixo. O apêndice do Capítulo 13 aborda como os impostos afetam o processo do multiplicador. No Capítulo 15, explicaremos como a taxa de juros é determinada e o comércio exterior voltará a fazer parte do quadro no Capítulo 19.

Gasto agregado planejado e PIB real Em uma economia sem governo e sem comércio exterior, existem apenas duas fontes de gasto agregado: gasto de consumo, C, e gasto de investimento, I. E como estamos supondo que não há impostos nem transferências, a renda disponível agregada é igual ao PIB (que é igual ao PIB real, uma vez que o nível de preço agregado é fixo): em última análise, o valor total das vendas finais de bens e serviços reverte para as famílias como renda. Assim, nessa economia, altamente simplificada, existem duas equações básicas de contabilidade da renda nacional:

(11-11) (11-12) Como vimos no início deste capítulo, a função consumo agregado mostra a relação entre a renda disponível e os gastos de consumo. Vamos continuar a supor que a função consumo agregado tenha a mesma forma da Equação 11-9:

(11-13) Em nosso modelo simplificado, assumiremos também que o gasto de investimento planejado, IPlan, seja fixo. Antes de completar o modelo é necessário mais um conceito: gasto agregado planejado, a quantidade total de gasto planejado na economia. Ao contrário das empresas, as famílias não têm ações não intencionais como investimento em estoque não planejado. Assim, o gasto agregado planejado é igual à soma do gasto de consumo e do gasto de investimento planejado. Indicaremos o gasto agregado planejado por AEPlan, então:

(11-14) O nível de gasto agregado planejado em determinado ano depende do nível do PIB real naquele ano. Para entender por que, analisemos o exemplo específico mostrado na Tabela 11-3. Suponhamos que a função consumo agregado seja:

(11-15)

Tabela 11-3

PIB real, YD, C, IPlan e AEPlan são todos medidos em bilhões de dólares, supondo que o nível de investimento planejado, IPlan, esteja fixado em $500 bilhões por ano. A primeira coluna mostra os níveis possíveis do PIB real. A segunda coluna mostra a renda disponível, YD, que é igual ao PIB real em nosso modelo simplificado. A terceira coluna mostra o gasto de consumo, C, igual a $300 bilhões, mais 0,6 vezes a renda disponível, YD. A quarta coluna mostra o gasto de investimento planejado, IPlan, que estamos supondo que seja $500 bilhões, independentemente do nível do PIB real. Finalmente, a última coluna mostra o gasto agregado planejado, AEPlan, a soma dos gastos de consumo agregado, C, e dos gastos de investimento planejado, IPlan. (Para simplificar a notação, vamos supor, a partir de agora, que todas as variáveis da Tabela 11-3 sejam medidas em bilhões de dólares por ano.) Como se pode ver, um nível mais elevado do PIB real leva a um nível mais elevado de renda disponível: cada 500 de aumento do PIB real aumenta YD em 500, que por sua vez aumenta o consumo em 500 × 0,6 = 300 e AEPlan em 300. A Figura 11-8 ilustra a informação da Tabela 11-3 em um gráfico. O PIB real é medido no eixo horizontal. CF é a função consumo agregado. E mostra como o gasto de consumo

depende do PIB real. AEPlan, a linha de gasto agregado planejado, corresponde à função consumo agregado deslocada para cima em 500 (o montante de IPlan). Mostra como o gasto agregado planejado depende do PIB real. Ambas as linhas têm uma inclinação de 0,6, igual à PMC, a propensão marginal a consumir.

FIGURA 11-8 Função consumo agregado e gasto agregado planejado A linha mais baixa, CF, é a função consumo agregado construída a partir dos dados da Tabela 11-3. A linha superior, AEPlan, é o gasto agregado planejado, também construída a partir dos dados da Tabela 11-3. O montante do gasto de investimento planejado, IPlan, é equivalente à função consumo agregado deslocada para cima em $500 bilhões.

Mas esse não é o fim da história. A Tabela 11-3 revela que o PIB real é igual ao gasto agregado planejado, AEPlan, somente quando o nível do PIB real é igual a 2.000. O PIB real não é igual AEPlan em qualquer outro nível. Isso é possível? Não aprendemos no Capítulo 7, com o diagrama de fluxo circular, que o gasto total em bens e serviços finais na economia é igual ao valor total da produção de bens e serviços finais? A resposta é que por breves períodos, o gasto agregado planejado pode diferir do PIB real por causa do papel do gasto agregado não planejado – IUnplan, investimento em estoque não planejado. Mas, como veremos na próxima seção, a economia se move ao longo do tempo para uma situação em que não há investimento em estoque não planejado, uma situação chamada de equilíbrio de renda-despesa. E quando a economia está em equilíbrio de renda-despesa, o gasto agregado planejado em bens e serviços finais é igual ao produto agregado.

Equilíbrio de renda-despesa Para todos, exceto um valor do PIB real mostrado na Tabela 11-3, o PIB real é maior ou

menor do que AEPlan, a soma dos gastos de consumo e dos gastos de investimento planejado. Por exemplo, quando o PIB real é 1.000, o gasto de consumo, C, é 900 e o gasto de investimento planejado é 500, tornando o gasto agregado planejado 1.400. Isso é 400 a mais que o nível correspondente do PIB real. Agora considere o que acontece quando o PIB real é 2.500: o gasto de consumo, C, é 1.800 e o gasto de investimento planejado é 500, tornando o gasto agregado planejado apenas 2.300, 200 a menos do que o PIB real. Como já foi explicado, o gasto agregado planejado pode ser diferente do PIB real apenas se houver investimento em estoque não planejado, IUnplan, na economia. Vejamos a Tabela 11-4, que inclui os números para o PIB real e para o gasto agregado planejado da Tabela 11-3. Inclui também os níveis de investimento em estoque não planejado, IUnplan, que cada combinação de PIB real e gasto agregado planejado implicam. Por exemplo, quando o PIB real é 2.500, o gasto agregado planejado é apenas 2.300. Esse excedente de 200 do PIB real sobre AEPlan deve consistir de investimento de estoques não planejados positivo. Isto só pode acontecer se as empresas tiverem superestimado as vendas e produzido muito, levando a adições indesejáveis aos estoques. Mais genericamente, qualquer nível do PIB real excedente a 2.000 corresponde a uma situação em que as empresas estão produzindo mais que o consumo e outras empresas querem comprar, criando um aumento indesejável nos estoques.

Tabela 11-4

Por outro lado, um nível de PIB real abaixo de 2.000 implica que o gasto agregado planejado é maior que o PIB real. Por exemplo, quando o PIB real é 1.000, o gasto agregado planejado é muito maior, 1400. Os 400 excedentes do AEPlan sobre o PIB real correspondem ao investimento de estoques não planejados negativo igual a – 400. Mais genericamente, qualquer nível do PIB real abaixo de 2.000 implica que as empresas têm vendas subestimadas, levando a um nível negativo de investimento em estoques não planejados na economia. Juntando as Equações 11-10, 11-11, e 11-14, podemos resumir as relações gerais entre o PIB real, o gasto agregado planejado e o investimento em estoques não planejados da seguinte forma:

(11-16)

Assim, sempre que o PIB real excede AEPlan, IUnplan é positivo; sempre que o PIB real for menor que AEPlan, IUnplan é negativo. Mas as empresas vão agir para corrigir seus erros. Estamos supondo que elas não mudam os preços, mas podem ajustar os produtos. Mais especificamente, reduzem a produção se passarem por um aumento inesperado nos estoques ou aumentem a produção, se sofrerem uma queda inesperada nos estoques. E essas respostas irão, no final, eliminar as variações inesperadas nos estoques e mover a economia para um ponto em que o PIB real seja igual ao gasto agregado planejado. Ficando com o nosso exemplo, se o PIB real for 1.000, o investimento em estoques não planejados negativo vai levar as empresas a aumentar a produção, resultando em um aumento no PIB real. Na verdade, isso vai acontecer sempre que o PIB real for inferior a 2.000 – isto é, sempre que o PIB real for menor do que o gasto agregado planejado. Por outro lado, se o PIB real for 2.500, o investimento em estoques não planejado positivo levará as empresas a reduzir a produção, resultando em queda do PIB real. Isso vai acontecer sempre que o PIB real for maior do que o gasto agregado planejado. A única situação em que as empresas não terão um incentivo para mudar o produto no próximo período é quando o produto agregado, medido pelo PIB real, for igual ao gasto agregado planejado no período atual, um resultado conhecido como equilíbrio de rendadespesa. Na Tabela 11-4, o equilíbrio de renda-despesa é alcançado quando o PIB real é 2.000, o único nível do PIB real em que o investimento em estoque não planejado é zero. A partir de agora, vamos denotar por Y* o nível de PIB real em que ocorre o equilíbrio de renda-despesa e chamá-lo de PIB de equilíbrio de renda-despesa. A Figura 11-9 ilustra o conceito de equilíbrio de renda- despesa graficamente. O PIB real está no eixo horizontal e o gasto agregado planejado, AEPlan, está no eixo vertical. Existem duas linhas na figura. A linha sólida é o gasto agregado planejado. Ela mostra como AEPlan, igual a C + IPlan, depende do PIB real, que tem uma inclinação de 0,6, igual à propensão marginal a consumir, PMC, e o intercepto vertical é igual a A + IPlan (300 + 500 = 800). A linha pontilhada, que passa pela origem com uma inclinação de 1 (muitas vezes denominada linha de 45 graus), mostra todos os pontos possíveis em que o gasto agregado planejado é igual ao PIB real. Essa linha permite identificar facilmente o ponto de equilíbrio de renda-despesa, que deve situar-se tanto sobre a linha de 45 graus como sobre a linha de gasto agregado planejado. Assim, o ponto de equilíbrio de rendadespesa está em E, onde as duas linhas se cruzam. E o PIB de equilíbrio de rendadespesa, Y*, é 2.000, o mesmo resultado derivado na Tabela 11-4.

FIGURA 11-9 Equilíbrio de renda-despesa O equilíbrio de renda-despesa ocorre em E, o ponto onde a linha de gasto agregado planejado, AEPlan, cruza a linha de 45 graus. Em E, a economia produz um PIB real de $2.000 bilhões por ano, o único ponto em que o PIB real é igual ao gasto agregado planejado, AEPlan, e o investimento em estoques não planejados, IUnplan, é zero. Esse é o nível de equilíbrio de renda-despesa do PIB, Y*. Em qualquer nível do PIB real inferior a Y*, AEPlan ultrapassa o PIB real. Como resultado, o investimento em estoques não planejados, IUnplan, é negativo e as empresas respondem aumentando a produção. Em qualquer nível do PIB real superior a Y*, o PIB real excede AEPlan. O gasto em estoques não planejados, IPlan, é positivo e as empresas respondem reduzindo a produção.

Agora considere o que acontece quando a economia não está em equilíbrio de rendadespesa. Pode-se observar na Figura 11-9 que sempre que o PIB real é inferior a Y*, a linha de gasto agregado planejado encontra-se acima da linha de 45 graus e AEPlan ultrapassa o PIB real. Nessa situação, IUnplan é negativo: como mostrado na figura, com um PIB real de 1.000, o IUnplan é – 400. Como consequência, o PIB real subirá. Por outro lado, sempre que o PIB real estiver acima de Y*, a linha de gasto agregado planejado estará abaixo da linha de 45 graus. Aqui, IUnplan é positivo: como mostrado, com um PIB real de 2.500, IUnplan é 200. A acumulação não antecipada de estoques leva a uma queda no PIB real. O tipo de gráfico mostrado na Figura 11-9, que identifica o equilíbrio de renda-despesa como o ponto em que a linha de gasto agregado planejado cruza a linha de 45 graus, tem um lugar especial na história do pensamento econômico. Conhecido como cruz keynesiana, foi desenvolvido por Paul Samuelson, um dos maiores economistas do

século XX (e Prêmio Nobel), para explicar as ideias de John Maynard Keynes, o fundador da macroeconomia como a conhecemos hoje.

O processo do multiplicador e o ajuste de estoques Acabamos de conhecer uma característica muito importante da macroeconomia: quando o gasto planejado das famílias e empresas não é igual ao produto agregado corrente das empresas, essa diferença é mostrada como variação nos estoques. A resposta das empresas a essa variação nos estoques, ao longo do tempo, move o PIB real até o ponto em que o PIB real e o gasto agregado planejado se igualam. É por isso que, como mencionamos anteriormente, a variação nos estoques é considerada um dos principais indicadores da atividade econômica futura. Agora que entendemos como o PIB real se move para alcançar o equilíbrio de rendadespesa para determinado nível de gasto agregado planejado, passemos para a análise do que acontece quando há um deslocamento na linha do gasto agregado planejado. Como a economia passa do ponto inicial de equilíbrio de renda-despesa para um novo ponto de equilíbrio de renda-despesa? E quais são as possíveis fontes de variação no gasto agregado planejado? Em nosso modelo simples, existem apenas duas fontes possíveis de variação na linha do gasto agregado planejado: uma variação no gasto de investimento planejado, IPlan, ou um deslocamento da função consumo agregado, CF. Por exemplo, uma variação em IPlan pode ocorrer devido a uma variação na taxa de juro. (Lembre-se que estamos supondo que a taxa de juros é fixada por fatores que estão fora do modelo. Mas, ainda assim, podemos perguntar o que acontece quando a taxa de juros varia.) Um deslocamento da função consumo agregado (isto é, uma variação no intercepto vertical, A) pode ocorrer devido a uma variação na riqueza agregada – digamos, devido a um aumento no preço dos imóveis residenciais. Quando a linha de gasto agregado planejado se desloca – quando há uma variação no nível de gasto agregado planejado a qualquer dado nível de PIB real – há uma mudança autônoma no gasto agregado planejado. Lembre-se do início deste capítulo, em que uma mudança autônoma no gasto agregado planejado é uma mudança no nível desejado de gastos por parte das empresas, das famílias e do governo, em qualquer nível do PIB real (embora, por enquanto, tenhamos deixado o governo fora dessa análise). Como uma mudança autônoma no gasto agregado planejado afeta o PIB real no equilíbrio de renda-despesa? A Tabela 11-5 e a Figura 11-10 partem do mesmo exemplo numérico que usamos na Tabela 11-4 e Figura 11-9. Igualmente mostram o efeito de um aumento autônomo no gasto agregado planejado de 400 – o que acontece quando o gasto agregado planejado é 400 mais alto a cada nível determinado do PIB real. Primeiro, analise a Tabela 11-5. Antes do aumento autônomo no gasto agregado planejado, o nível do PIB real pelo qual o gasto agregado planejado é igual ao PIB real, Y*, é 2.000. Após a mudança autônoma, Y* aumentou para 3.000. O mesmo resultado é visível na Figura 11-10. O equilíbrio de rendadespesa inicial está em E1, onde Y*2 é 2.000. O aumento autônomo no gasto agregado planejado desloca para cima a linha de gasto agregado planejado, levando a um novo

equilíbrio de renda-despesa em E2, onde Y*2 é 3.000. Tabela 11-5

FIGURA 11-10 O multiplicador Esta figura ilustra a variação em Y* causada por um aumento autônomo no gasto agregado planejado. A economia está inicialmente em equilíbrio no ponto E1 com PIB de equilíbrio de rendadespesa, Y*1, igual a 2.000. Um aumento autônomo em AEPlan de 400 desloca a linha de gasto agregado planejado para cima em 400. A economia não está mais em equilíbrio de renda-despesa: o PIB real é igual a 2.000, mas AEPlan agora é 2.400, representado pelo ponto X. A distância vertical entre as duas linhas de gasto agregado planejado, igual a 400, representa IUnplan = − 400, o investimento em estoques negativo que a economia agora experimenta. As empresas respondem pelo aumento da produção, e, ao final, a economia atinge um novo nível de equilíbrio de rendadespesa em E2 com um nível mais alto do PIB de equilíbrio de renda-despesa, Y*2, igual a 3.000.

O fato de o aumento no PIB de equilíbrio de renda-despesa, de 2.000 para 3.000, ser muito maior do que o aumento autônomo no gasto agregado, que foi de apenas 400, tem uma explicação familiar: o processo do multiplicador. No exemplo específico que acabamos de descrever, um aumento autônomo no gasto agregado planejado de 400 leva a um aumento em Y* de 2.000 para 3.000, um aumento de 1.000. Assim, o multiplicador neste exemplo é 1.000 /400 = 2,5. Podemos examinar em detalhes os fundamentos do processo do multiplicador em várias etapas, analisando atentamente a Figura 11-10. Primeiro, a partir de E1, o aumento autônomo no gasto agregado planejado leva a uma diferença entre gasto agregado planejado e PIB real. Isso está representado pela distância vertical entre X, em 2.400, e E1, em 2.000. Essa diferença ilustra uma queda não planejada no investimento de estoque: IUnplan = – 400. As empresas respondem com aumento de produção, levando a um aumento do PIB real de Y*1. O aumento no PIB real se traduz em aumento da renda disponível, YD. Essa é a primeira etapa da reação em cadeia. Mas não para por aí – o aumento em YD leva a um aumento no gasto de consumo, C, que desencadeia uma segunda rodada de aumento no PIB real. Esse, por sua vez, leva a um aumento adicional da renda disponível e dos gastos de consumo, e assim por diante. E esse processo poderia ser jogado no

sentido inverso: uma queda autônoma no gasto agregado levaria a uma reação em cadeia de reduções no PIB real e nos gastos de consumo. Esses resultados podem ser resumidos em uma equação, onde ΔAAEPlan representa a mudança autônoma em AEPlan e ΔY* =Y*2 − Y*1, a variação posterior do PIB de equilíbrio de renda-despesa:

(11-17) Lembrando que o multiplicador, , é maior que 1, a Equação 11-17 informa que a variação no PIB de equilíbrio de renda-despesa, ΔY*, é varias vezes maior do que a mudança autônoma no gasto agregado planejado, ΔAAEPlan. Também ajuda a lembrar de um ponto importante: como a propensão marginal a consumir é menor que 1, cada aumento na renda disponível e cada aumento correspondente no gasto de consumo é menor que na rodada anterior. Isso porque, em cada rodada, parte do aumento da renda disponível vaza e se transforma em poupança. Como resultado, embora o PIB real cresça em cada rodada, o aumento no PIB real diminui de uma rodada para outra. Em algum momento, o aumento no PIB real é insignificante e a economia converge para um novo PIB de equilíbrio de renda-despesa em Y*2.

O paradoxo da poupança Você deve lembrar que no Capítulo 6 mencionamos o paradoxo da poupança para ilustrar o fato de que em macroeconomia o resultado de muitas ações individuais pode gerar um resultado que seja diferente e pior do que a simples soma das ações individuais. No paradoxo da poupança, as famílias e as empresas cortam gastos, em antecipação de tempos econômicos difíceis no futuro. Essas ações deprimem a economia, deixando as famílias e as empresas em situação pior do que se não tivessem agido virtuosamente ao se preparar para os tempos difíceis. Denomina-se paradoxo porque o que normalmente seria “bom” (poupar para resguardar a família em tempos difíceis) acaba sendo “ruim” (porque pode deixar todos em situação pior). Usando o multiplicador, pode-se observar agora exatamente como esse cenário se desenrola. Suponha que haja uma queda nos gastos de consumo ou nos gastos de investimento, ou em ambos, como a queda nos gastos de investimento em construção residencial que antecederam a recessão de 2007 a 2009. Isso provoca uma queda no PIB de equilíbrio de renda-despesa várias vezes maior do que a queda original nos gastos. A queda no PIB real deixa consumidores e produtores em situação pior do que estariam se não tivessem cortado os gastos. Por outro lado, o comportamento perdulário é recompensado: se consumidores e produtores aumentam os gastos, o processo multiplicador decorrente torna o aumento do PIB de equilíbrio de renda-despesa várias

vezes maior do que o aumento do gasto original. Assim, o gasto perdulário faz os consumidores e produtores ficarem em situação melhor do que se tivessem sido gastadores cautelosos. É importante deixar claro que estabelecer que o multiplicador é igual a depende da pressuposição simplificadora de que não há impostos nem transferências, de modo que a renda disponível seja igual ao PIB real. No apêndice do Capítulo 13, veremos os impostos de volta à situação, o que torna a expressão para o multiplicador mais complexa e o próprio multiplicador, menor. Mas o princípio geral que acabamos de aprender permanece válido – uma mudança autônoma no gasto agregado planejado leva a uma variação no PIB de equilíbrio de renda-despesa, tanto diretamente quanto por meio de uma mudança induzida nos gastos de consumo. Como observamos no início deste capítulo, a queda no gasto de investimento planejado geralmente constitui a principal causa das recessões, porque historicamente têm sido a fonte mais comum de redução autônoma no gasto agregado. A tendência ao deslocamento ascendente da função consumo ao longo do tempo, apontada anteriormente em Economia em ação, “Primeiras falhas famosas de previsão”, significa que a mudança autônoma, tanto no gasto de investimento planejado como no gasto de consumo, desempenha um papel importante nas expansões. Mas, independentemente da fonte, existem efeitos do multiplicador na economia que aumentam o tamanho da variação inicial no gasto agregado.

Economia em ação Estoques e o fim de uma recessão Um exemplo muito claro do papel dos estoques no processo do multiplicador ocorreu no final de 2001, quando a recessão daquele ano chegou ao fim. A força motriz por trás da recessão foi a queda nos gastos de investimento empresarial. Foram necessários vários anos antes que os gastos de investimento voltassem com toda a força na forma de um boom imobiliário. Ainda assim, a economia começou a se recuperar no final de 2001, em grande parte devido ao aumento nos gastos de consumo, especialmente de bens duráveis como automóveis. Inicialmente, esse aumento nos gastos de consumo pegou de surpresa a indústria manufatureira. A Figura 11-11 mostra variações no PIB real, gastos de consumo e estoques reais em cada trimestre de 2001 e de 2002. Observe o aumento nos gastos de consumo no quarto trimestre de 2001. Não levou a um crescimento acentuado do PIB porque foi compensado por uma queda nos estoques. Mas, no primeiro trimestre de 2002, os produtores aumentaram muito a produção, levando a um salto no PIB real.

FIGURA 11-11 Estoques e o fim de uma recessão Fonte: Bureau of Economic Analysis.

Breve revisão ■ A economia está em equilíbrio de renda-despesa quando o gasto agregado planejado é igual ao PIB real. ■ Em qualquer nível de produto superior ao PIB de equilíbrio de renda-despesa, o PIB real excede o gasto agregado planejado e os estoques aumentam. Em qualquer nível de produto menor, o PIB real está aquém do gasto agregado planejado e os estoques baixam. ■ Depois de uma mudança autônoma no gasto agregado planejado, a economia se move para um novo equilíbrio de renda-despesa por intermédio de um processo de ajuste de estoques, como ilustrado pela cruz keynesiana. Por causa do efeito do multiplicador, a variação no PIB de equilíbrio de renda-despesa é um múltiplo da mudança autônoma na gasto agregado.

Teste seu entendimento 11-4 1. Embora os economistas acreditem que as recessões normalmente começam com uma retração no gasto de investimento, também acreditam que finalmente o gasto de consumo se retrai durante a recessão. Explique por quê. 2. a. Use um gráfico semelhante ao da Figura 11-10 para mostrar o que acontece quando há uma queda autônoma no gasto agregado planejado. Descreva como a economia se ajusta a um novo equilíbrio de renda-despesa. b. Suponha que Y* seja originalmente de $500 bilhões e que a redução autônoma no gasto agregado planejado seja de $300 milhões (0,3 bilhão) e que a PMC = 0,5. Calcule Y * depois dessa mudança. As respostas estão no fim do livro.

Caso empresarial Superação da crise em Muskegon Muskegon, Michigan, não é Fort Myers. Ao contrário da cidade da Flórida, cujo boom e

queda descrevemos na história de abertura deste capítulo, Muskegon não teve um boom imobiliário, em meados da década de 2000. E também não foi muito afetada pela crise imobiliária. Como os imóveis não representam grande parte da economia local, a bolha imobiliária que estourou no final de 2007 não conseguiu arrastar a economia para baixo. Então, você poderia imaginar que a área empresarial de Muskegon estava um pouco isolada da crise nacional resultante. Na verdade, porém, as empresas de Muskegon foram duramente atingidas pela recessão. Por exemplo, a Eagle Alloy – uma empresa de manufatura, que vende seus produtos para uma ampla variedade de indústrias, mas não especialmente para os setores de habitação ou construção – viu as vendas caírem 50% durante o pior da recessão, entre 2007 e 2009. E não foram apenas os fabricantes que vendiam ao mercado nacional que foram atingidos. Também as fábricas na área metropolitana entre Muskegon-Norton Shores demitiram trabalhadores e a taxa de desemprego local aumentou de cerca de 6% em 2001 para mais de 15% durante 2010; as empresas locais que dependiam do salários desses trabalhadores também foram atingidas; o emprego nas empresas de varejo caiu cerca de 8% no curso da recessão. Essa história, no entanto, teve um final um pouco feliz. À medida que a economia dos Estados Unidos como um todo começou a se recuperar, o mesmo aconteceu com Eagle Alloy e outras empresas manufatureiras da área de Muskegon. Durante a recessão, Eagle cortou a força de trabalho de 430 para 200, mas em maio de 2011, a força de trabalho estava de volta em 400 e a empresa estava planejando contratar mais 150 trabalhadores. No final de 2011, o presidente da Eagle Alloy, Mark Fazakerley, previu um aumento de 25% nas vendas, e declarou: “Vai ser um bom ano para a economia manufatureira.” Na área metropolitana de Muskegon-Norton Shores, até o final de 2011, a taxa de desemprego local havia voltado para 9%. E à medida que a manufatura se recuperava para o mercado nacional, as empresas de venda local também se recuperavam; a remodelação do centro da cidade de Muskegon, estagnada durante a recessão, retomou em 2011.

Questões para pensar 1. Por que a crise nacional que começou no setor imobiliário afetou empresas como a Eagle Alloy, que não vende muito para a indústria da construção? 2. Por que os problemas dos fabricantes de Muskegon se espalharam para outros setores, como o varejo? 3. Como essa história sobre Muskegon ajuda a explicar como uma crise no setor imobiliário – uma parte relativamente pequena da economia dos Estados Unidos – pode produzir uma recessão nacional tão profunda?

Resumo 1. Uma mudança autônoma no gasto agregado leva a uma reação em cadeia na qual a mudança total no PIB real é igual ao multiplicador vezes a mudança inicial no gasto

agregado. O tamanho do multiplicador, 1/(1 − PMC), depende da propensão marginal a consumir, PMC, a fração de US$1 adicional de renda disponível gasta em consumo. Quanto maior for a PMC, maior o multiplicador e maior a variação do PIB real para qualquer variação autônoma determinada no gasto agregado. A propensão marginal a poupar, PMP, é igual a 1 − PMC. 2. A função consumo mostra como o gasto de consumo de uma família individual é determinado pela renda disponível corrente. A função consumo agregado mostra essa relação para o conjunto da economia. De acordo com a hipótese do ciclo de vida, as famílias tendem a distribuir o consumo ao longo da vida. Como resultado, a função consumo agregado se desloca em resposta a mudanças na renda disponível esperada no futuro e mudanças na riqueza agregada. 3. O gasto de investimento planejado depende negativamente da taxa de juros e da capacidade de produção existente; e depende positivamente do PIB real esperado no futuro. O princípio do acelerador diz que o gasto de investimento é muito influenciado pela taxa de crescimento esperado do PIB real. 4. As empresas mantêm estoques de bens, de modo que possam satisfazer a demanda do consumidor rapidamente. O investimento em estoques é positivo quando as empresas adicionam aos seus estoques e negativo quando reduzem. Muitas vezes, porém, as variações dos estoques não são decisões deliberadas, mas o resultado de previsões erradas quanto à venda. O resultado é o investimento em estoque não planejado, que pode ser positivo ou negativo. O gasto de investimento efetivo é a soma do gasto de investimento planejado e do investimento em estoque não planejado. 5. No equilíbrio de renda-despesa, o gasto agregado planejado, que em um modelo simplificado, sem governo e sem comércio exterior, é a soma dos gastos de consumo mais os gastos de investimento planejado, é igual ao PIB real. No PIB de equilíbrio de renda- despesa, ou Y*, o investimento em estoque não planejado é zero. Quando o gasto agregado é maior que Y*, o investimento em estoques não planejados é negativo; há uma redução não antecipada nos estoques e as empresas passam a aumentar a produção. Quando o gasto agregado planejado é inferior a Y*, o investimento em estoques não planejados é positivo; há um aumento não antecipado nos estoques e as empresas passam a reduzir a produção. A cruz keynesiana mostra como a economia se autoajusta para chegar ao equilíbrio de renda-despesa por meio do ajuste no estoque. 6. Depois de uma mudança autônoma no gasto agregado planejado, o processo de ajuste dos estoques move a economia para um novo equilíbrio de renda-despesa. A variação no PIB de equilíbrio de renda-despesa decorrente de uma mudança autônoma no gasto agregado planejado é igual a (1/(1 − PMC)) × ΔAAEPlan.

Palavras-chave Propensão marginal a consumir (PMC), p. 270 Propensão marginal a poupar (PMP), p. 270 Mudança autônoma no gasto agregado, p. 271 Multiplicador, p. 271

Função consumo, p. 273 Função consumo agregado, p. 274 Gasto de investimento planejado, p. 279 Princípio do acelerador, p. 280 Estoques, p. 280 Investimento em estoques, p. 280 Investimento em estoques não planejados, p. 280 Gasto de investimento efetivo, p. 280 Gasto agregado planejado, p. 283 Equilíbrio de renda-despesa, p. 285 PIB de equilíbrio de renda-despesa, p. 290 Cruz keynesiana, p. 290

Problemas 1. Devido ao aumento na riqueza dos consumidores, ocorre um aumento autônomo de $40 bilhões nos gastos de consumo nas economias de Westlandia e Eastlandia. Supondo que o nível de preço agregado seja constante, a taxa de juros seja fixa nos dois países e não haja impostos nem comércio exterior, preencha as tabelas a seguir para mostrar as várias rodadas de aumento de gastos que irão ocorrer nas duas economias, se a propensão marginal a consumir for 0,5 em Westlandia e 0,75 em Eastlandia. O que os resultados indicam sobre a relação entre o tamanho da propensão marginal a consumir e o multiplicador?

Eastlandia Rodadas Variação incremental no PIB 1 ΔC = $40 bilhões 2 PMC ×ΔC = ? 3 PMC × PMC × ΔC = ? 4 PMC ×PMC ×PMC ×ΔC = ? … … Variação total no PIB (1/(1 - PMC)) × ΔC = ?

Variação total no PIB ? ? ? ? …

2. Supondo que o nível de preço agregado seja constante, a taxa de juros seja fixa e que não haja impostos nem comércio exterior, qual será a variação no PIB se ocorrerem os eventos seguintes? a. Há um aumento autônomo nos gastos de consumo de $25 bilhões; a propensão marginal a consumir é 2/3. b. As empresas reduzem os gastos de investimento em $40 bilhões; a propensão marginal a consumir é 0,8. c. O governo aumenta as compras de equipamento militar em $ 60 bilhões; a propensão marginal a consumir é 0,6. 3. Os economistas observaram os únicos cinco moradores de uma economia muito pequena e estimaram os gastos de consumo de cada um, a vários níveis de renda disponível corrente. A tabela a seguir mostra os gastos de consumo de cada morador em três níveis de renda.

a. Qual é a função consumo de cada morador? Qual é a propensão marginal a consumir de cada morador? b. Qual é a função consumo agregado da economia? Qual é a propensão marginal a consumir da economia? 4. De 2003 a 2008, Eastlandia passou por grandes flutuações tanto no gasto de consumo agregado como na renda disponível, mas a riqueza, a taxa de juros e a renda disponível esperada no futuro não se alteraram. A tabela a seguir mostra o nível de gastos de consumo agregado e de renda disponível em milhões de dólares para cada um desses anos. Use essa informação para responder às questões seguintes.

Ano 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Renda disponível (milhões de dólares) $100 350 300 400 375 500

Gasto de consumo (milhões de dólares) $180 380 340 420 400 500

a. Represente a função consumo agregado para Eastlandia. b. Qual é a propensão marginal a consumir? Qual é a propensão marginal a poupar? c. Qual é a função consumo agregado? 5. O Bureau of Economic Analysis informou que, em termos reais, o gasto de consumo total aumentou $35,4 bilhões em outubro de 2010. a. Se a propensão marginal a consumir é 0,52, quanto o PIB irá variar em resposta? b. Se não houver outras mudanças no gasto autônomo, além do aumento nos gastos de consumo do item a e o investimento em estoques não planejados, IUnplan, diminuir em $50 bilhões, qual será a variação no PIB real? c. Ao final de setembro de 2010 o PIB era $13.139,5 bilhões. Se o PIB aumentasse o montante calculado no item b, qual seria o aumento percentual no PIB? 6. No início dos anos 2000, o índice Case-Shiller U.S. Home Price Index, uma medida dos preços médios da habitação, elevou-se continuamente até atingir o pico em março de 2006. De março de 2006 a maio de 2009, o índice perdeu 32% do valor. Enquanto isso, o mercado de ações teve altos e baixos semelhantes. De março de 2003 a outubro de 2007, o S&P 500, um índice que mede o preço de mercado das ações, quase dobrou, de 800,73 para uma alta de 1.565,15. Desse momento até março de 2009, o índice caiu quase 60%, para um mínimo de 676,53. Como você acha que o movimento do preço dos imóveis influenciou o crescimento do PIB real durante a primeira metade da década, adicionando a preocupação com a manutenção dos gastos de consumo, após o colapso do mercado imobiliário, que começou em 2006? Em que medida os movimentos no mercado de ações prejudicam ou ajudam os gastos de consumo? 7. Como o gasto de investimento planejado irá variar à medida que ocorrem os seguintes eventos? a. A taxa de juros cai, como resultado da política do Federal Reserve. b. A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos decreta que as empresas devem atualizar ou substituir as máquinas, para reduzir as emissões de dióxido de enxofre. c. A geração dos nascidos logo após a Segunda Guerra Mundial começa a se aposentar em grande número e a reduzir a poupança, resultando em taxas de juros mais altas. 8. Explique como cada uma das seguintes ações vão afetar o nível de gasto de investimento planejado e investimento em estoque não planejado. Suponha que a economia esteja em equilíbrio de renda-despesa inicialmente. a. O Federal Reserve eleva a taxa de juros. b. Há um aumento na taxa de crescimento esperado do PIB real. c. Uma afluência considerável de capital estrangeiro para o país reduz a taxa de juros.

9. a. A tabela a seguir mostra o produto interno bruto (PIB), a renda disponível (YD), os gastos de consumo (C) e o gasto de investimento planejado (IPlan) em uma economia. Suponha que não haja nenhum setor do governo ou estrangeiro nessa economia. Complete a tabela, calculando o gasto agregado planejado (AEPlan) e o investimento em estoque não planejado (IUnplan).

b. Qual é a função consumo agregado? c. Qual é Y*, o PIB de equilíbrio de renda-despesa? d. Qual é o valor do multiplicador? e. Se o gasto de investimento planejado cair para $200 bilhões, qual será o novo Y*? f. Se o gasto de consumo autônomo subir para $200 bilhões, qual será o novo Y*? 10. Em uma economia sem governo e sem setor externo, o gasto de consumo autônomo é de $ 250 bilhões, o gasto de investimento planejado é de $350 bilhões e a propensão marginal a consumir é 2/3. a. Trace um gráfico da função consumo agregado e do gasto agregado planejado. b. Qual é o investimento em estoque não planejado, quando o PIB real é igual a $600

bilhões? c. Quanto é Y*, o PIB de equilíbrio de renda-despesa? d. Qual é o valor do multiplicador? e. Se o gasto de investimento planejado aumentar para $450 bilhões, qual será o novo Y*? 11. Uma economia tem uma propensão marginal a consumir de 0,5 e Y*, o PIB de equilíbrio de renda-despesa, equivale a $500 bilhões. Dado um aumento autônomo no investimento planejado de $10 bilhões, mostre as rodadas de aumento nos gastos ocorridas, preenchendo a tabela a seguir. As primeira e segunda linhas já estão preenchidas. Na primeira linha, o aumento no gasto de investimento planejado de $10 bilhões eleva o PIB real e YD em $10 bilhões, levando a um aumento no gasto de consumo de $5 bilhões (PMC × variação na renda disponível) na linha 2, elevando o PIB real e YD em mais $5 bilhões.

a. Qual é a variação total no PIB real após as 10 rodadas? Qual é o valor do multiplicador? Com base na fórmula do multiplicador, qual deverá ser a variação total em Y*? Como as respostas se comparam à primeira e à terceira questão? b. Refaça a tabela a partir da 2a rodada, supondo que a propensão marginal a consumir seja 0,75. Qual é a variação total no PIB real após 10 rodadas? Qual é o valor do multiplicador? À medida que a propensão marginal a consumir aumenta, o que acontece com o valor do multiplicador? 12. Embora os Estados Unidos seja uma das nações mais ricas do mundo, também é o maior país devedor do mundo. Muitas vezes ouvimos que o problema é a taxa de poupança baixa da nação. Suponha que os formuladores de política econômica tentem

corrigir isso, incentivando uma poupança maior na economia. Que efeito terá essa tentativa sobre o PIB real se tiver êxito? 13. A economia dos Estados Unidos desacelerou significativamente no início de 2008, e os formuladores de política econômica estavam extremamente preocupados com o crescimento. Para estimular a economia, o Congresso aprovou vários pacotes de incentivo (o Economic Stimilus Act e o American Recovery and Reinvestment Act de 2009) que, combinados, iriam liberar cerca de $700 bilhões em gastos do governo. Suponha, como argumentação, que essa despesa estava na forma de pagamentos feitos diretamente aos consumidores. O objetivo era estimular a ecomonia por meio do aumento da renda disponível dos consumidores americanos. a. Calcule a variação inicial no gasto de consumo agregado como consequência dessa medida de política econômica, se a propensão marginal a consumir (PMC) nos Estados Unidos for de 0,5. Em seguida, calcule a variação resultante no PIB real decorrente de $700 bilhões em pagamentos. b. Ilustre o efeito sobre o PIB real desenhando um gráfico que represente o equilíbrio de renda-despesa. Denomine o eixo vertical de “Gasto agregado planejado, AEPlan”, e o eixo horizontal de “PIB real”. Trace duas curvas de gasto agregado planejado (AEPlan1 e AEPlan2) e uma linha de 45 graus para mostrar o efeito de uma variação autônoma de política sobre o equilíbrio. www.worthpublishers.com/krugmanwells

Capítulo 11 Apêndice Derivando o Multiplicador Algebricamente Este apêndice mostra como derivar o multiplicador algebricamente. Primeiro, lembre-se que neste capítulo o gasto agregado planejado, AEPlan, é a soma do gasto de consumo, C, que é determinado pela função consumo e do gasto de investimento planejado, IPlan. Isto é, AEPlan = C + IPlan. Reescrevendo essa equação para expressar todos os termos por completo, obtém-se:

(11A-1) Como, nesse modelo, não há impostos nem transferências do governo, a renda disponível é igual ao PIB, de modo que a Equação 11A-1 se torna:

(11A-2) O PIB de equilíbrio de renda-despesa, Y*, é igual ao gasto agregado planejado:

(11A-3) em equilíbrio de renda-despesa. Apenas mais duas etapas. Subtraia PMC × Y* dos dois lados da Equação 11 A-3:

(11A-4) Ao final, divida os dois lados por (1 − PMC):

(11A-5) A Equação 11A-5 nos informa que $1 de gasto autônomo no gasto agregado planejado – uma mudança em A ou em IPlan – provoca uma mudança de $1/(1 − PMC) no PIB de equilíbrio de renda-despesa, Y*. O multiplicador no nosso modelo simplificado é,

portanto:

(11A-6) Problemas 1. Em uma economia sem compras governamentais, transferências ou impostos e sem importações ou exportações, o gasto de consumo agregado autônomo é $500 bilhões, o gasto de investimento planejado é $250 bilhões e a propensão marginal a consumir é 0,5. a. Escreva a expressão para o gasto agregado planejado como na Equação 11A-1. b. Derive Y* algebricamente. c. Qual é o valor do multiplicador? d. Como Y* irá variar se o gasto de consumo autônomo cair para $450 bilhões? 2. Complete a tabela a seguir por meio do cálculo do valor do multiplicador e identifique a variação em Y* devido à variação no gasto autônomo. Como o valor do multiplicador varia com a propensão marginal a consumir?

C APÍ T UL O 12

Demanda Agregada e Oferta Agregada

O que você vai aprender neste capítulo • Como a curva da demanda agregada ilustra a relação entre o nível de preços agregado e a quantidade de produto agregado demandado na economia. • Como a curva da oferta agregada ilustra a relação entre o nível de preços agregado e a quantidade de produto agregado ofertado na economia. • Por que a curva da oferta agregada é diferente no curto prazo, em comparação com o longo prazo. • Como o modelo demanda agregada-oferta agregada (modelo AD-AS) é usado para analisar as flutuações econômicas. • Como a política monetária e a política fiscal podem estabilizar a economia.

Choques que atingem o sistema Às vezes não é nada fácil ser Ben. Em 2008, Ben Bernanke, um renomado ex-professor de Economia da Universidade de Princeton, era presidente do Federal Reserve – a instituição que define a política monetária, além de regular o setor financeiro dos Estados Unidos. O trabalho do Federal Reserve é ajudar a economia a evitar os males gêmeos de alta inflação e alto desemprego. Normalmente faz isso, grosso modo, injetando moeda na economia para combater o desemprego ou retirando moeda da economia para combater a inflação. Quando a economia dos Estados Unidos entrou em recessão, em 2001, o Fed injetou moeda no sistema rapidamente. Foi uma escolha fácil: o desemprego estava subindo e a inflação era baixa e estava caindo. De fato, durante a maior parte de 2002, o Fed estava realmente preocupado com a possibilidade de deflação. Durante boa parte de 2008, no entanto, Bernanke enfrentou um problema muito mais difícil. Na verdade, enfrentou o problema que as pessoas em sua posição mais temem: uma combinação de inflação em nível inaceitavelmente elevado e desemprego em ascensão, situação muitas vezes denominada de estagflação. A estagflação foi o flagelo da década de 1970: as duas recessões profundas, de 1973 a 1975 e de 1979 a 1982, foram acompanhadas de forte inflação. E no primeiro semestre de 2008, a ameaça de estagflação parecia estar de volta. Por que as dificuldades econômicas do início de 2008 parecem tão diferentes das de 2001? Porque tinham uma causa diferente. A lição da estagflação da década de 1970 foi que as recessões podem ter causas diferentes e que a resposta da política econômica adequada depende da causa. Muitas recessões, desde a Grande Depressão entre 1929 e 1933, até a recessão muito mais suave de 2001, foram causadas por uma queda no investimento e nos gastos de consumo. Nessas recessões, a inflação elevada não constitui uma ameaça. Na verdade, a depressão entre 1929 e 1933 foi acompanhada de uma forte queda no nível de preços agregado. E como a inflação não é um problema nessas recessões, os formuladores de política econômica sabem o que têm a fazer: injetar moeda no sistema para combater o aumento do desemprego.

No entanto, as recessões de 1970 foram em grande parte causadas por eventos no Oriente Médio, que levaram a cortes drásticos na produção mundial de petróleo e ao aumento dos preços do petróleo e de outros combustíveis. Não por acaso, o aumento dos preços do petróleo também contribuiu para as dificuldades econômicas do início de 2008. Nos dois períodos, os altos preços da energia levaram a uma combinação de desemprego e inflação alta. Também criaram um dilema: o Fed deveria combater a desaceleração da economia injetando moeda na economia ou deveria combater a inflação, enxugando moeda da economia? É interessante notar, a propósito, que em 2011 o Fed enfrentou alguns dos mesmos problemas de 2008, como o aumento dos preços do petróleo e dos alimentos, que levou ao aumento da inflação, apesar das elevadas taxas de desemprego. Em 2011, no entanto, o Fed tinha quase certeza de que a demanda foi o problema principal. No Capítulo 11, desenvolvemos o modelo de renda-despesa, cujo foco está nos determinantes do gasto agregado. Esse modelo é extremamente útil para a compreensão de eventos como a recessão de 2001 e a recuperação subsequente. No entanto, o modelo de renda-despesa toma o nível de preços como dado, e, portanto, é muito menos útil para a compreensão do problema que os formuladores de política econômica enfrentaram em 2008. Neste capítulo, desenvolveremos um modelo que vai além do modelo renda-despesa e mostra como distinguir entre diferentes tipos de flutuações de curto prazo – choques de demanda, como a Grande Depressão e a recessão de 2001, e choques de oferta, como os da década de 1970 e 2008. Para desenvolver esse modelo, vamos proceder em três etapas. Primeiro, vamos desenvolver o conceito de demanda agregada. Então vamos voltar ao conceito paralelo de oferta agregada. Por fim, vamos reuni-los no modelo AD-AS (demanda agregada-oferta agregada).

Demanda agregada A grande maioria dos economistas concorda que a Grande Depressão foi o resultado de um enorme choque de demanda negativo. O que isso significa? No Capítulo 3, explicamos que quando os economistas falam de queda na demanda de um bem ou serviço específico estão se referindo a um deslocamento para a esquerda da curva da demanda. Da mesma forma, quando os economistas falam de um choque de demanda negativo para a economia como um todo, estão se referindo a um deslocamento para a esquerda da curva de demanda agregada, a curva que mostra a relação entre o nível de preços agregado e a quantidade de produto agregado demandado pela famílias, empresas, pelo governo e pelo restante do mundo. A Figura 12-1 mostra como poderia ter sido a aparência da curva da demanda agregada em 1933, no final da recessão entre 1929 e 1933. O eixo horizontal mostra a quantidade total de bens e serviços nacionais demandados, medidos em dólares de 2005. Usamos o PIB real como medida do produto agregado e, muitas vezes, usaremos esses dois termos indistintamente. O eixo vertical mostra o nível de preços agregado, medido pelo deflator do PIB. Com essas duas variáveis nos eixos, podemos traçar a curva, AD, mostrando o quanto de produto agregado teria sido demandado a qualquer nível de preços agregado. Como AD pretende ilustrar a demanda agregada em 1933, o ponto na curva corresponde a dados reais de 1933, quando o nível de preços agregado era de 7,9 e a quantidade total de bens e serviços finais nacionais adquirida internamente era de US$716 bilhões, em dólares de 2005.

FIGURA 12-1 A curva da demanda agregada A curva da demanda agregada mostra a relação entre o nível de preços agregado e a quantidade de produto agregado demandada. A curva tem inclinação para baixo devido ao efeito riqueza de uma variação no nível de preço de agregado e o efeito da taxa de juros de uma variação no nível de preços agregado. Em correspondência aos dados reais de 1933, aqui, a quantidade total de bens e serviços demandada ao nível de preços agregado de 7,9 é $716 bilhões, em dólares de 2005. De acordo com a curva hipotética, no entanto, se o nível de preço agregado tivesse sido de apenas 4,2, a quantidade de produto agregado demandada teria aumentado para $1.000 bilhão.

Como traçada na Figura 12-1, a curva da demanda agregada tem inclinação para baixo, o que indica uma relação negativa entre o nível de preços agregado e a quantidade de produto agregado demandada. Um nível de preços agregado mais elevado, tudo o mais mantido constante, reduz a quantidade de produto agregado demandada. Um nível de preços agregado mais baixo, tudo o mais mantido constante, aumenta a quantidade de produto agregado demandada. De acordo com a Figura 12-1, se o nível de preços em 1933 tivesse sido 4,2 em vez de 7,9, a quantidade total de bens e serviços finais domésticos demandada teria sido de US$1.000 bilhão, em dólares de 2005, em vez de US$716 bilhões. A primeira questão fundamental sobre a curva da demanda agregada é: por que a curva tem inclinação para baixo?

Por que a curva da demanda agregada tem inclinação para baixo? Na Figura 12-1, a curva AD é descendente. Por quê? Lembre-se da equação básica de contabilidade da renda nacional:

(12-1)

onde C é o gasto de consumo, I, o gasto de investimento, G, as compras de bens e serviços do governo, X, a exportação para outros países, e IM, as importações. Se medirmos essas variáveis em dólares constantes – isto é, a preços de um ano- base, então, C + I + G + X − IM é a quantidade produzida internamente de bens e serviços finais demandada durante determinado período. G é decidido pelo governo, mas as outras variáveis são decisões do setor privado. Para entender por que a curva de demanda agregada tem inclinação para baixo, precisamos entender por que um aumento no nível de preços agregado reduz C, I e X − IM. Você pode pensar que a inclinação para baixo da curva da demanda agregada é uma consequência natural da lei da demanda que definimos no Capítulo 3. Ou seja, como a curva da demanda para qualquer bem tem inclinação para baixo, não é natural que a curva da demanda do produto agregado também tenha? No entanto, isso é um paralelo enganoso. A curva da demanda para todos os bens individuais mostra como a quantidade demandada depende do preço daquele bem, mantidos os preços de outros bens e serviços constantes. A principal razão pela qual a quantidade demandada de um bem cai quando o preço desse bem aumenta – isto é, a quantidade demandada de um bem cai à medida que se move para cima ao longo da curva da demanda – é que as pessoas transferem o consumo para outros bens e serviços. Mas quando consideramos os movimentos para cima ou para baixo ao longo da curva da demanda agregada, estamos considerando uma variação simultânea nos preços de todos os bens e serviços finais. Além disso, as variações na composição dos bens e serviços nos gastos de consumo não são relevantes para a curva de demanda agregada: se os consumidores decidem comprar menos roupas e mais carros, isso não significa necessariamente que muda a quantidade total de bens e serviços finais demandados. Por que, então, um aumento no nível de preços agregado leva a uma queda na quantidade demandada de todos os bens e serviços finais produzidos no país? Há duas razões principais: o efeito riqueza e o efeito taxa de juros de uma variação no nível de preços agregado.

O efeito riqueza Um aumento no nível de preços agregado, tudo o mais mantido constante, reduz o poder de compra de muitos ativos. Considere, por exemplo, alguém que tenha $5.000 em uma conta bancária. Se o nível de preços agregado aumenta 25%, o que custava $5.000 agora custa $6.250, e não será mais acessível. E o que custava $4.000 agora custa $5.000, de modo que $5.000 na conta bancária agora iria comprar apenas o que $4.000 teria comprado anteriormente. Com a perda do poder de compra, o titular dessa conta bancária, provavelmente, reduzirá os planos de consumo. Milhões de outras pessoas reagiriam da mesma forma, levando a uma queda nos gastos de bens e serviços finais, porque um aumento no nível de preços agregado reduz o poder de compra da conta bancária de cada um. Do mesmo modo, uma queda no nível de preços agregado aumenta o poder de compra dos ativos dos consumidores e leva a uma maior demanda de consumo. O efeito riqueza de uma variação no nível de preços agregado é o efeito sobre os gastos de

consumo decorrentes do efeito de uma variação no nível de preços agregado sobre o poder de compra dos ativos dos consumidores. Devido ao efeito riqueza, o gasto de consumo, C, cai quando o nível de preços agregado sobe, levando a uma curva de demanda agregada descendente.

Efeito da taxa de juros Os economistas usam o termo moeda em seu sentido mais restrito para se referir ao dinheiro e depósitos bancários que as pessoas podem movimentar mediante o uso de cheques. As pessoas e as empresas mantêm dinheiro porque isso reduz o custo e a inconveniência de fazer transações. Um aumento no nível de preços agregado, tudo o mais mantido constante, reduz o poder de compra de determinada quantidade de dinheiro mantido. Para adquirir a mesma cesta de bens e serviços de antes, as pessoas e as empresas precisam agora manter mais dinheiro. Assim, em resposta a um aumento no nível de preços agregado, o público tenta aumentar a quantidade de dinheiro que mantém por meio de empréstimos ou com a venda de outros ativos, como bônus. Isso reduz os fundos disponíveis para emprestar a outros tomadores de empréstimo e tem o efeito de pressionar para cima a taxa de juros. No Capítulo 10, aprendemos que um aumento na taxa de juros reduz os gastos de investimento, porque torna mais alto o custo dos empréstimos. Isso também reduz os gastos de consumo à medida que as famílias poupam maior parcela da renda disponível. Assim, um aumento no nível de preços agregado deprime os gastos de investimento, I, e os gastos de consumo, C, por meio do efeito sobre o poder de compra da quantidade de dinheiro mantido, um efeito conhecido como efeito da taxa de juros devido a uma variação no nível de preços agregado. Isso também leva a uma curva de demanda agregada descendente. Há muito mais a dizer sobre dinheiro e taxas de juros no Capítulo 15, que discorre sobre política monetária. Veremos também, no Capítulo 19, que abrange macroeconomia de economia aberta, que uma taxa de juros, indiretamente, tende a reduzir as exportações (X) e aumentar as importações (IM). Por enquanto, o ponto importante é que a curva da demanda agregada é inclinada para baixo tanto devido ao efeito riqueza como ao efeito da taxa de juros resultante de uma variação no nível de preços agregado.

A curva de demanda agregada e o modelo renda-despesa No capítulo anterior, introduzimos o modelo renda-despesa, que mostra como a economia encontra um equilíbrio de renda-despesa. Agora, introduzimos a curva de demanda agregada, que relaciona a demanda geral de bens e serviços com o nível geral de preços. Como esses conceitos se encaixam? Lembre-se que um dos pressupostos do modelo de renda-despesa é que o nível de preços agregado é fixo. Vamos agora deixar de lado essa suposição. Mesmo assim, podemos usar o modelo de renda-despesa, para indagar qual seria a despesa agregada a qualquer nível de preços agregado dado, que é precisamente o que mostra a curva da

demanda agregada. Assim, a curva AD realmente é derivada do modelo de rendadespesa. Os economistas costumam dizer que o modelo de renda-despesa está “embutido” no modelo AD-AS. A Figura 12-2 mostra, mais uma vez, como o equilíbrio de renda-despesa é determinado. O PIB real está no eixo horizontal; o gasto agregado real planejado está no eixo vertical. Tudo o mais mantido constante, o gasto agregado planejado, que é igual ao gasto de consumo mais o gasto de investimento planejado, sobe com o PIB real. Isso é ilustrado pelas linhas com inclinação ascendente AEPlan1 e AEPlan2. Como vimos no Capítulo 11, o equilíbrio de renda-despesa é o ponto onde a linha que representa o gasto agregado planejado cruza a linha de 45 graus. Por exemplo, se AEPlan1 é a relação entre o PIB real e o gasto agregado planejado, então o equilíbrio de renda-despesa está no ponto E1, correspondente a um nível de PIB real igual a Y1.

FIGURA 12-2 Como as variações no nível de preços agregado afetam o equilíbrio de rendadespesa O equilíbrio de renda-despesa ocorre no ponto onde a curva AEPlan, que mostra o gasto agregado real planejado, cruza a linha de 45 graus. Uma queda no nível de preços agregado faz a curva AEPlan se deslocar de AEPlan1 para AEPlan2, levando a um aumento no PIB de equilíbrio de rendadespesa de Y1 para Y2.

No entanto, acabamos de ver que variações no nível de preços agregado alteram o nível de gasto agregado planejado em qualquer nível do PIB real. Isso significa que, quando o nível de preços agregado muda, a curva AEPlan se desloca. Por exemplo, suponha que o

nível de preços agregado caia. Como resultado, tanto do efeito riqueza como do efeito da taxa de juros, a queda no nível de preços agregado leva a um gasto agregado planejado mais alto em qualquer nível do PIB real. Assim, a curva de AEPlan irá se deslocar para cima, como ilustrado na Figura 12-2 pelo deslocamento de AEPlan1 para AEPlan2. O aumento na despesa agregada planejada leva ao processo do multiplicador que move o equilíbrio de renda-despesa de ponto E1 para o ponto E2, elevando o PIB real de Y1 para Y2. A Figura 12-3 mostra como esse resultado pode ser usado para derivar a curva da demanda agregada. Na Figura 12-3, é mostrada uma queda no nível de preços agregado de P1 para P2. Vimos na Figura 12-2 que uma queda no nível de preços agregado levaria a um deslocamento para cima da curva de AEPlan e a um aumento consequente no PIB real. Pode-se observar esse mesmo resultado na Figura 12-3, como um movimento ao longo da curva AD: como o nível de preços agregado cai, o PIB real aumenta de Y1 para Y2.

FIGURA 12-3 O modelo de renda-despesa e a curva de demanda agregada Na Figura 12-2, vimos como uma queda no nível de preços agregado desloca a curva de gasto agregado planejado para cima, levando a um aumento no PIB real. Aqui, mostramos esse mesmo resultado como um movimento ao longo da curva de demanda agregada. Se o nível de preços agregado cai de P1 para P2, o PIB real aumenta de Y1 para Y2. A curva AD é, portanto, inclinada para baixo.

Assim, a curva da demanda agregada não substitui o modelo de renda-despesa. Em vez disso, é uma maneira de resumir o que o modelo informa sobre os efeitos da variação no nível de preços agregado. Na prática, os economistas costumam usar o modelo de renda-despesa para analisar as

flutuações econômicas de curto prazo, embora, a rigor, devesse ser visto como componente de um modelo mais completo. No curto prazo, em particular, geralmente é considerado uma simplificação razoável.

Deslocamentos da curva de demanda agregada No Capítulo 3, quando se introduziu a análise da oferta e da demanda no mercado de um bem individual, foi destacada a importância da distinção entre o movimento ao longo da curva de demanda e o deslocamento da curva de demanda. A mesma distinção se aplica à curva da demanda agregada. A Figura 12-1 mostra um movimento ao longo da curva da demanda agregada, uma variação na quantidade agregada de bens e serviços demandados à medida que o nível de preços agregado varia. Mas também pode haver deslocamentos da curva da demanda agregada, variações na quantidade de bens e serviços demandados em qualquer nível de preço, como mostrado na Figura 12-4.

FIGURA 12-4 Deslocamentos da curva da demanda agregada O painel (a) mostra o efeito dos eventos que aumentam a quantidade de produto agregado demandada em qualquer nível de preços agregado dado, como melhorias nos negócios e expectativas do consumidor ou aumento dos gastos do governo. Essas mudanças deslocam a curva da demanda agregada para a direita, de AD1 para AD2. O painel (b) mostra o efeito de eventos que diminuem a quantidade de produto agregado demandada em qualquer nível de preços agregados dado, como queda na riqueza causada por declínio no mercado de ações. Isso desloca a curva da demanda agregada para a esquerda de AD1 para AD2.

Quando falamos de aumento na demanda agregada, significa um deslocamento da curva da demanda agregada para a direita, como mostrado no painel (a) pelo deslocamento de AD1 para AD2. Um deslocamento para a direita ocorre quando aumenta a quantidade de produto agregado demandada a qualquer nível de preços agregado dado. A diminuição na demanda agregada significa que a curva AD se desloca para a esquerda, como no painel (b). Um deslocamento para a esquerda implica que a quantidade de produto agregado demandada cai a qualquer nível de preços agregado dado. Uma série de fatores pode deslocar a curva da demanda agregada. Entre os mais importantes estão variações nas expectativas, na riqueza e no tamanho do estoque

existente de capital físico. Além disso, tanto a política fiscal como a monetária pode deslocar a curva da demanda agregada. Todos os cinco fatores põem em movimento o processo do multiplicador. Ao causar um aumento ou queda inicial no PIB real, mudam a renda disponível, o que leva a mudanças adicionais no gasto agregado, o que leva a mudanças subsequentes no PIB real, e assim por diante. Para uma visão geral dos fatores que deslocam a curva de demanda agregada, consulte a Tabela 12-1. Tabela 12-1 Fatores que deslocam a demanda agregada

Mudanças nas expectativas Como explicamos no Capítulo 11, tanto o gasto de consumo como o gasto de investimento planejado dependem, em parte, das expectativas das pessoas sobre o futuro. Os consumidores não baseiam os gastos apenas sobre a renda que têm no momento, mas também sobre a renda que esperam ter no futuro. As empresas baseiam

os gastos de investimento planejado não só nas condições atuais, mas também sobre as vendas que esperam fazer no futuro. Como resultado, as variações nas expectativas podem empurrar os gastos de consumo e os gastos de investimento planejado para cima ou para baixo. Se os consumidores e as empresas se tornam mais otimistas, o gasto agregado se eleva; ao se tornarem mais pessimistas, o gasto agregado cai. Na verdade, a previsão econômica de curto prazo presta muita atenção às pesquisas sobre o sentimento dos consumidores e empresários. Em particular, quem se dedica a fazer previsões observa o Índice de Confiança do Consumidor, uma medida mensal calculada pelo Conference Board, e o índice dos sentimentos do consumidor de Michigan, uma medida similar, calculada pela Universidade de Michigan.

Variação na riqueza Os gastos de consumo dependem em parte do valor dos ativos das famílias. Quando o valor real desses ativos aumenta, o poder de compra que incorpora também aumenta, levando a um aumento no gasto agregado. Por exemplo, na década de 1990, houve um aumento significativo no mercado de ações, que deslocou a demanda agregada. E quando o valor real dos ativos das famílias cai – por exemplo, por causa de um colapso no mercado de ações – o poder de compra diminui e a demanda agregada também cai. O colapso da bolsa em 1929 foi um fator significativo condutor para a Grande Depressão. Da mesma forma, um declínio acentuado nos valores imobiliários foi um importante fator de depressão dos gastos de consumo durante a recessão entre 2007 e 2009.

Armadilhas Variações na riqueza: movimento ao longo da curva da demanda agregada versus deslocamento Na última seção, explicamos que uma das razões pelas quais a curva da demanda agregada AD é descendente é devido ao efeito riqueza de uma variação no nível de preços agregado: um nível de preços agregado mais alto reduz o poder de compra dos ativos das famílias e leva a uma queda nos gastos de consumo, C. Mas, nesta seção, acabamos de explicar que variações na riqueza levam a um deslocamento da curva AD. Essas duas explicações não são contraditórias? Qual está certa – variações na riqueza movimenta a economia ao longo da curva AD ou desloca a curva AD? A resposta é ambas: depende da fonte da variação na riqueza. Um movimento ao longo da curva AD ocorre quando uma variação no nível de preços agregado muda o poder de compra da riqueza existente dos consumidores (o valor real dos ativos). Esse é o efeito riqueza de uma variação no nível de preços agregado – uma variação no nível de preços agregado global é a fonte de variação na riqueza. Por exemplo, uma queda no nível de preços agregado aumenta o poder de compra dos ativos dos consumidores e leva a um movimento descendente ao longo da curva AD. Em contrapartida, uma variação na riqueza independente de uma variação no nível de preços agregado desloca a curva de AD. Por

exemplo, um aumento no mercado de ações ou um aumento no valor dos imóveis leva a um aumento no valor real dos ativos dos consumidores a qualquer nível de preços agregado dado. Nesse caso, a fonte de variação na riqueza é uma variação nos valores dos ativos, sem qualquer variação no nível de preços agregado, isto é, uma variação no valor dos ativos, mantidos constantes os preços de todos os bens e serviços finais.

Tamanho do estoque existente de capital físico As empresas se envolvem em gastos de investimento planejado para adicionar ao estoque de capital físico. O incentivo para gastar depende, em parte, de quanto capital físico já tenham: quanto mais têm, menos sentem necessidade de acrescentar, tudo o mais mantido constante. O mesmo se aplica a outros tipos de gasto de investimento – por exemplo, se muitas casas foram construídas nos últimos anos, isso diminui a demanda por novas casas e, como resultado, haverá também uma tendência a reduzir os gastos de investimento residencial. Na verdade, isso é em parte a razão da profunda desaceleração no gasto de investimento residencial, que começou em 2006. O boom imobiliário dos anos anteriores havia criado um excesso de oferta de casas: na primavera de 2009, o estoque de casas não vendidas no mercado era equivalente a mais de 14 meses de vendas, e os preços das casas novas haviam caído mais de 25% do preço de pico. Isso deu à indústria de construção pouco incentivo para construir mais casas.

Políticas governamentais e demanda agregada Uma das percepções essenciais da análise macroeconomia é que o governo pode ter uma influência poderosa sobre a demanda agregada e que, em algumas circunstâncias, essa influência pode ser usada para melhorar o desempenho econômico. As duas principais formas pelas quais o governo pode influenciar a curva da demanda agregada é por meio da política fiscal e da política monetária. Discutiremos brevemente a sua influência sobre a demanda agregada, deixando a discussão mais detalhada para os próximos capítulos.

Política fiscal Como vimos no Capítulo 6, a política fiscal é o uso do gasto do governo – compras do governo de bens e serviços finais e transferências do governo – ou política fiscal para estabilizar a economia. Na prática, os governos costumam responder às recessões, aumentando os gastos, cortando impostos, ou ambos. Geralmente respondem à inflação, reduzindo os gastos ou aumentando impostos. O efeito das compras do governo de bens e serviços finais, G, sobre a curva da demanda agregada é direto, pois as próprias compras governamentais são um componente da demanda agregada. Assim, um aumento das compras do governo desloca a curva da demanda agregada para a direita e reduz o deslocamento para a esquerda. O exemplo mais dramático da história de como o aumento das compras

governamentais afetaram a demanda agregada foi o efeito dos gastos do governo em tempo de guerra durante a Segunda Guerra Mundial. Por causa da guerra, as compras federais dos Estados Unidos cresceram 400%. Esse aumento nas compras geralmente é creditado à Grande Depressão. Na década de 1990 o Japão usou grandes projetos de obras públicas – tais como a construção de estradas, pontes e barragens financiada pelo governo – em um esforço de aumentar a demanda agregada em face de uma economia em declínio. Da mesma forma, em 2009, os Estados Unidos começaram a gastar mais que $100 bilhões em projetos de infraestrutura, tais como melhoria de estradas, pontes, transportes públicos, e muito mais, para estimular os gastos em geral. Por outro lado, variações nas taxas tributárias ou transferências governamentais influenciam a economia indiretamente por meio do sobre a renda disponível. Uma taxa tributária mais baixa significa que os consumidores conseguem manter mais do que ganham, aumentando a renda disponível. Um aumento nas transferências do governo também aumenta a renda disponível dos consumidores. Nos dois casos, aumenta o gasto de consumo e desloca a curva da demanda agregada para a direita. Uma taxa tributária mais elevada ou uma redução nas transferências reduz o montante de renda disponível recebida pelos consumidores. Reduz os gastos de consumo e desloca a curva da demanda agregada para a esquerda.

Política monetária Iniciamos este capítulo falando dos problemas enfrentados pelo Fed, que controla a política monetária – o uso de variação na quantidade de moeda ou na taxa de juros para estabilizar a economia. Acabamos de discutir como um aumento no nível de preços agregado, ao reduzir o poder de compra dos ativos mantidos em dinheiro, provoca um aumento na taxa de juros. Isso, por sua vez, reduz tanto os gastos de investimento como de consumo. Mas o que acontece quando a quantidade de dinheiro nas mãos das famílias e das empresas varia? Nas economias modernas, a quantidade de dinheiro em circulação é determinada pelas decisões de um banco central criado pelo governo. Como veremos no Capítulo 14, o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, é uma instituição especial que não é exatamente parte do governo nem uma instituição privada. Quando o Banco Central aumenta a quantidade de moeda em circulação, as famílias e as empresas têm mais dinheiro. Dinheiro que estão dispostos a emprestar. O efeito é pressionar a taxa de juros para baixo em um determinado nível de preços agregado, levando a um aumento nos gastos de investimento e de consumo. Ou seja, o aumento da quantidade de moeda desloca a curva da demanda agregada para a direita. Reduzir a quantidade de dinheiro tem o efeito oposto: as famílias e empresas têm menos dinheiro do que antes, o que as leva a tomar mais emprestado e a emprestar menos. Isso aumenta a taxa de juros, reduz os gastos de investimento e de consumo e desloca a curva da demanda agregada para a esquerda.

Economia em ação Movimento ao longo da curva da demanda agregada, 19791980 Muitas vezes, ao analisar os dados, é difícil distinguir entre variação nos gastos que representam movimentos ao longo da curva da demanda agregada e deslocamentos da curva da demanda agregada. Uma exceção significativa, no entanto, é a que aconteceu logo após a crise do petróleo de 1979, que mencionamos na história de abertura deste capítulo. Diante de um aumento acentuado no nível de preços agregado – a taxa de inflação de preços ao consumidor atingiu 14,8% em março de 1980 – o Federal Reserve insistiu em uma política de aumento da quantidade de dinheiro lentamente. O nível de preços agregado estava aumentando vertiginosamente, mas a quantidade de dinheiro em circulação na economia estava crescendo lentamente. O resultado líquido foi a queda do poder de compra da quantidade de dinheiro em circulação. Isso levou a um aumento na demanda por empréstimos e a um forte aumento nas taxas de juros. A taxa básica que é a taxa de juros que os bancos cobram de seus melhores clientes, subiu acima de 20%. As taxas de juros elevadas, por sua vez, levaram à queda tanto dos gastos do consumo como de investimento: em 1980, as compras de bens de consumo duráveis, como automóveis, caíram 5,3% e o gasto de investimento real caiu 8,9%. Em outras palavras, entre 1979 e 1980 a economia respondeu exatamente como seria de se esperar se estivesse se movendo ao longo da curva da demanda agregada da direita para a esquerda: devido ao efeito riqueza e ao efeito taxa de juros de uma variação no nível de preços agregado, a quantidade de produto agregado demandado caiu à medida que o nível de preços agregado subiu. Certamente, isso não explica por que o nível de preços agregado subiu. Mas, como veremos na seção “O modelo AD-AS”, a resposta a essa questão está no comportamento da curva da oferta agregada de curto prazo.

Breve revisão ■ A curva da demanda agregada tem inclinação para baixo devido ao efeito riqueza de uma variação no nível de preços agregado e ao efeito taxa de juros de uma variação no nível de preços agregado. ■ A curva da demanda agregada mostra como o PIB de equilíbrio de renda-despesa varia quando o nível de preços agregado varia. ■ Variações nos gastos de consumo devido a variações na riqueza e nas expectativas sobre o futuro deslocam a curva da demanda agregada. Variações nos gastos de investimento causadas por mudanças nas expectativas e no tamanho do estoque existente de capital físico também deslocam a curva da demanda agregada. ■ A política fiscal afeta a demanda agregada diretamente por meio das compras governamentais e indiretamente por intermédio da variação nos impostos ou nas transferências governamentais. A política monetária afeta a demanda agregada

indiretamente por meio da variação na taxa de juros.

Teste seu entendimento 12-1 1. Determine o efeito de cada um dos seguintes eventos sobre a demanda agregada. Explique se representa um movimento ao longo da curva da demanda agregada (para cima ou para baixo) ou um deslocamento da curva (para a esquerda ou para a direita). a. Aumento na taxa de juros causado por uma mudança na política monetária. b. Queda no valor real do dinheiro na economia devido à elevação no nível de preços agregado. c. Expectativa de um mercado de trabalho fraco no próximo ano. d. Queda na taxa tributária. e. Elevação do valor real dos ativos na economia devido a um nível de preços agregado mais baixo. f. Elevação do valor real dos ativos na economia devido a um aumento no valor dos imóveis. As respostas estão no fim do livro.

Oferta agregada Entre 1929 e 1933, houve uma queda acentuada na demanda agregada – uma redução na quantidade de bens e serviços demandados a qualquer nível de preços. Uma das consequências do declínio da demanda na economia foi uma queda nos preços da maioria dos bens e serviços. Em 1933, o deflator do PIB (um dos índices de preços que definimos no Capítulo 7) estava 26% abaixo do nível de 1929 e outros índices sofreram queda semelhante. Uma segunda consequência foi uma queda na produção da maioria dos bens e serviços: em 1933, o PIB real estava 27% abaixo do nível de 1929. Uma terceira consequência, intimamente ligada à queda no PIB real, foi um aumento na taxa de desemprego, de 3% para 25%. A associação entre queda do PIB real e queda nos preços não foi um acidente. Entre 1929 e 1933, a economia dos Estados Unidos estava se deslocando para baixo na curva da oferta agregada, o que mostra a relação entre o nível de preços agregado da economia (o nível geral de preços de bens e serviços finais na economia) e a quantidade total de bens e serviços finais ou produto agregado, que os produtores estão dispostos a ofertar. (Lembre-se que usamos o PIB real para medir o produto agregado. Então, muitas vezes, usaremos os dois termos como sinônimos.) Mais especificamente, entre 1929 e 1933, a economia dos Estados Unidos se moveu para baixo na sua curva de oferta agregada de curto prazo.

A curva de oferta agregada de curto prazo O período de 1929 a 1933 demonstrou que existe uma relação positiva de curto prazo entre o nível de preços agregado e a quantidade de produto agregado ofertado. Ou seja, um aumento no nível de preços agregado está associado a um aumento na quantidade de produto agregado ofertada, tudo o mais mantido constante. E uma queda no nível de preços agregado está associada a uma queda na quantidade de produto agregado ofertada, tudo o mais mantido constante. Para entender por que existe essa relação positiva, considere a questão mais básica que um produtor enfrenta: produzir uma unidade de produto é lucrativo ou não? Vamos definir o lucro por unidade:

(12-2)

Assim, a resposta à questão depende se o preço que o produtor recebe por uma unidade de produto é maior ou menor do que o custo de produção dessa unidade de produto. Em qualquer momento no tempo, muitos dos custos que os produtores enfrentam são fixos por unidade de produto, e não podem ser mudados por um período

prolongado. Normalmente, a maior fonte de falta de flexibilidade no custo de produção são os salários pagos aos trabalhadores. Salários aqui se referem a todas as formas de compensação dos trabalhadores, tais como serviços de saúde pagos pelo empregador e benefícios de aposentadoria, além do salário. Os salários são normalmente um custo de produção inflexível, pois o valor em dinheiro de qualquer salário pago, chamado salário nominal, muitas vezes é determinado por contratos que foram assinados há algum tempo. E mesmo quando não há contratos formais, muitas vezes há acordos informais entre os gestores e os trabalhadores, fazendo as empresas relutarem em mudar os salários em resposta às condições econômicas. Por exemplo, as empresas geralmente não reduzem os salários em tempos de situação econômica difícil, a menos que a recessão seja particularmente longa e severa, por medo de gerar ressentimento entre os trabalhadores. Do mesmo modo, normalmente não aumentam os salários quando a situação econômica está melhor, a não ser que corram o risco de perder os empregados para os concorrentes, pois não querem encorajar os trabalhadores a demandar rotineiramente salários mais altos. Em decorrência tanto de acordos formais como informais, a economia se caracteriza por ter salários rígidos: os salários nominais demoram a cair, mesmo em face do elevado desemprego, e demoram a subir, mesmo em face da escassez de mão de obra. No entanto, é importante observar que os salários nominais não podem ser rígidos para sempre: em última instância, contratos formais e acordos informais são renegociados para levar em conta variações nas circunstâncias econômicas. Como, no final desta seção, a seção Armadilhas explica, o tempo necessário para os salários nominais tornarem-se flexíveis é um componente integral daquilo que distingue o curto prazo do longo prazo. Para entender como o fato de muitos custos serem fixos em termos nominais dá origem a uma curva de oferta agregada de curto prazo que tem inclinação para cima, convém observar que os preços se estabelecem de forma diferente em diferentes tipos de mercados. Em mercados perfeitamente competitivos, os produtores tomam os preços como dado; em mercados imperfeitamente competitivos, os produtores têm alguma capacidade de escolher os preços que cobram. Em ambos os tipos de mercados, há uma relação positiva de curto prazo entre preço e produto, mas por motivos um pouco diferentes. Comecemos com o comportamento dos produtores em mercados perfeitamente competitivos. Lembre-se que eles tomam os preços como dado. Imagine que, por algum motivo, o nível de preços agregado caia, o que significa que o preço recebido pelo produtor típico de um bem ou serviço final cai. Como muitos dos custos de produção são fixos no curto prazo, o custo de produção de uma unidade do produto não cai na mesma proporção que a queda no preço do produto. Assim, o lucro por unidade do produto cai, levando os produtores perfeitamente competitivos a reduzir a quantidade ofertada no curto prazo. Por outro lado, suponha que, por alguma razão, o nível de preços agregado suba. Como resultado, o produtor típico recebe um preço mais elevado pelo bem ou serviço final. Mais uma vez, muitos dos custos de produção são fixos no curto prazo, por isso o custo por unidade de produção não aumenta na mesma proporção que o aumento no preço de uma unidade. E uma vez que o produtor no mercado perfeitamente competitivo toma o

preço como dado, o lucro por unidade de produto sobe e o produto aumenta. Agora, considere um produtor em competição imperfeita que é capaz de fixar seu próprio preço. Se houver um aumento na demanda do seu produto, consegue vender mais a qualquer preço. Dada a forte demanda por seus produtos, provavelmente vai optar em aumentar os preços, bem como a produção, como forma de aumentar o lucro por unidade de produto. De fato, os analistas da indústria muitas vezes comentam sobre as variações no “poder de precificação” de uma indústria: quando a demanda é forte, as empresas com poder de precificação são capazes de aumentar os preços – e o fazem. Por outro lado, se houver uma queda na demanda, as empresas normalmente irão tentar limitar a queda nas vendas, reduzindo os preços. Tanto a resposta das empresas em setores perfeitamente competitivos como a das empresas em setores de competição imperfeita levam a uma relação positivamente inclinada entre produto agregado e nível de preços agregado. A relação positiva entre o nível de preços agregado e a quantidade de produto agregado que os produtores estão dispostos a ofertar durante o período em que muitos dos custos de produção, especialmente os salários nominais, podem ser tomados como fixos, é ilustrada pela curva da oferta agregada de curto prazo. A relação positiva entre o nível de preços agregado e o produto agregado de curto prazo faz a curva da oferta agregada de curto prazo ter inclinação ascendente. A Figura 12-5 mostra uma curva de oferta agregada de curto prazo hipotética, SRAS, que corresponde aos dados reais dos Estados Unidos para 1929 e 1933. No eixo horizontal está o produto agregado (ou, o que é equivalente, o PIB real), a quantidade total de bens e serviços finais ofertada na economia, medida em dólares de 2005. No eixo vertical está o nível de preços agregado, medido pelo deflator do PIB, com o valor para o ano de 2005 igual a 100. Em 1929, o nível de preços agregado foi de 10,6 e o PIB real foi $976 bilhões. Em 1933, o nível de preços agregado foi de 7,9 e o PIB real foi de apenas $716 bilhões. O movimento para baixo ao longo da curva SRAS corresponde à deflação e à queda no produto agregado experimentado ao longo desses anos.

FIGURA 12-5 Curva da oferta agregada de curto prazo A curva da oferta agregada de curto prazo mostra a relação entre o nível de preços agregado e a quantidade de produto agregado ofertada no curto prazo, o período em que muitos dos custos de produção, como salários nominais, são fixos. Tem inclinação para cima porque um nível de preços agregado mais alto leva a um maior lucro por unidade de produto e a um maior produto agregado com salários nominais fixos. Aqui mostramos os números correspondentes à Grande Depressão, entre 1929 e 1933: quando ocorreu deflação e o nível de preços agregado caiu de 10,6 (em 1929) para 7,9 (em 1933), as empresas responderam reduzindo a quantidade de produto agregado ofertado de $976 bilhões para $716 bilhões, medido em dólares de 2005.

Para mentes curiosas O que de fato é flexível e o que de fato é rígido? A maioria dos macroeconomistas concorda que o panorama básico mostrado na Figura 12-5 está correto: há, tudo o mais mantido constante, uma relação de curto prazo positiva entre o nível de preços agregado e o produto agregado. Mas muitos argumentam que os detalhes são um pouco mais complicados. Até agora, ressaltamos a diferença de comportamento entre o nível de preços agregado e os salários nominais. Ou seja, dissemos que o nível de preços agregado é flexível, mas os salários nominais são rígidos no curto prazo. Embora essa suposição seja uma boa maneira de explicar por que a curva da oferta agregada de curto prazo tem inclinação para cima, os dados empíricos sobre salários e preços não dão apoio integral a uma distinção nítida entre preços flexíveis de bens e serviços finais e salários nominais rígidos. De um lado, alguns salários nominais são, de fato, flexíveis, mesmo no curto prazo, porque alguns trabalhadores não estão protegidos por contratos ou acordos informais com seus empregadores. Uma vez que alguns salários nominais são rígidos, mas outros são flexíveis, observamos que o salário nominal médio, ou seja, o salário calculado como

média de todos os trabalhadores na economia, cai quando há um aumento acentuado de desemprego. Por exemplo, os salários nominais caíram substancialmente nos primeiros anos da Grande Depressão. Por outro lado, alguns preços de bens e serviços finais são mais rígidos do que flexíveis. Por exemplo, algumas empresas, em especial os fabricantes de produtos de luxo ou de grife, relutam em reduzir os preços, mesmo quando a demanda cai. Em vez disso, preferem cortar a produção, mesmo que seu lucro por unidade não tenha diminuído. Como já observamos, essas complicações não mudam o panorama básico. Quando o nível de preços agregado cai, alguns produtores reduzem a produção porque os salários nominais que pagam são rígidos. E alguns produtores não cortam os preços em face de uma queda no nível de preços agregado, preferindo reduzir a produção. Em ambos os casos, a relação positiva entre o nível de preços agregado e o produto agregado é mantida. Então, no final, a curva da oferta agregada de curto prazo continua com inclinação para cima.

Deslocamentos da curva de oferta agregada de curto prazo A Figura 12-5 mostra um movimento ao longo da curva de oferta agregada de curto prazo, quando houve queda do nível de preços agregado e do produto agregado entre 1929 e 1933. Mas também pode haver deslocamentos da curva de oferta agregada de curto prazo, conforme mostrado na Figura 12-6. O painel (a) mostra uma redução na oferta agregada de curto prazo – um deslocamento para a esquerda da curva de oferta agregada de curto prazo. A oferta agregada diminui quando os produtores reduzem a quantidade de produto agregado que estão dispostos a ofertar a qualquer nível de preços agregado. O painel (b) mostra um aumento na oferta agregada de curto prazo – um deslocamento para a direita da curva da oferta agregada de curto prazo. A oferta agregada aumenta quando os produtores aumentam a quantidade do produto agregado que estão dispostos a ofertar a qualquer nível de preços agregado.

FIGURA 12-6 Deslocamentos da curva de oferta agregada de curto prazo O painel (a) mostra uma diminuição na oferta agregada de curto prazo: a curva da oferta agregada de curto prazo se desloca para a esquerda de SRAS1 para SRAS2 e a quantidade do produto agregado ofertado a qualquer nível de preços agregado cai. O painel (b) mostra um aumento na oferta agregada de curto prazo: a curva da oferta agregada de curto prazo se desloca para a direita de SRAS1 para SRAS2 e a quantidade do produto agregado ofertado a qualquer nível de preços agregado aumenta.

Para entender por que a curva da oferta agregada de curto prazo pode se deslocar é importante lembrar que os produtores tomam decisões de produção com base no lucro por unidade de produto. A curva da oferta agregada de curto prazo ilustra a relação entre o nível de preços agregado e o produto agregado: como parte do custo de produção é fixo no curto prazo, uma variação no nível de preços agregado leva a uma variação no lucro dos produtores por unidade de produto e, por sua vez, a uma variação no produto agregado. Mas há outros fatores além do nível de preços agregado que podem afetar o lucro por unidade e, por sua vez, o produto agregado. São variações nesses outros fatores que deslocam a curva da oferta agregada de curto prazo. Para ter uma ideia, suponha que ocorra algo que aumente os custos de produção, digamos, um aumento no preço do petróleo. A qualquer preço do produto dado, o produtor agora tem um lucro menor por unidade de produto. Como resultado, os produtores reduzem a quantidade ofertada a um determinado nível de preços agregado e a curva de oferta agregada de curto prazo se desloca para a esquerda. Se, ao contrário, acontece algo que reduz os custos de produção – digamos, uma queda no salário nominal –, o produtor agora recebe um lucro maior por unidade de produto a qualquer preço do produto dado. Isso leva os produtores a aumentar a quantidade de produto agregado ofertada a qualquer nível de preços agregado dado e a curva da oferta agregada de curto prazo se desloca para a direita. Agora, vamos discutir alguns dos fatores importantes que afetam o lucro por unidade dos produtores e, por isso, podem levar a deslocamentos da curva da oferta agregada de curto prazo.

Variações nos preços das commodities Na história de abertura deste capítulo, descrevemos como um aumento no preço do petróleo causou problemas para a economia dos Estados Unidos em 1970, no início de 2008 e, novamente, em 2011. O petróleo é uma commodity, um insumo padronizado

comprado e vendido em grande volume. Um aumento no preço de uma commodity – o petróleo – elevou os custos de produção em toda a economia e reduziu a quantidade do produto agregado ofertado a qualquer nível de preços agregado, deslocando a curva da oferta agregada de curto prazo para a esquerda. Por outro lado, uma queda nos preços das commodities reduz os custos de produção, levando a um aumento na quantidade ofertada a qualquer nível de preços agregado determinado e a um deslocamento para a direita da curva da oferta agregada de curto prazo. Por que a influência dos preços das commodities e insumos em geral não é já captada pela curva da oferta agregada de curto prazo? Porque as commodities – ao contrário, por exemplo, dos refrigerantes – não são bens finais, seus preços não estão incluídos no cálculo do nível de preços agregado. Além disso, as commodities representam um custo de produção significativo para a maioria dos fornecedores, assim como os salários nominais. Assim, as variações nos preços das commodities têm grande impacto sobre os custos de produção. Ao contrário dos bens que não são commodities, os preços das commodities, às vezes, podem variar drasticamente devido a choques de oferta específicos do setor – tais como as guerras no Oriente Médio ou a crescente demanda chinesa, que deixa menos petróleo para os Estados Unidos.

Variações dos salários nominais Em qualquer momento no tempo, os salários em dinheiro de muitos trabalhadores são fixos porque são estabelecidos por contratos ou acordos informais elaborados no passado. Contudo, os salários nominais podem variar, desde que passe tempo suficiente para que os contratos e os acordos informais sejam renegociados. Suponha, por exemplo, que haja um aumento geral em toda a economia no custo do seguro médico de saúde pago pelos empregadores como parte dos salários dos empregados. Do ponto de vista do empregador, isto equivale a um aumento dos salários nominais, pois é um aumento da remuneração paga pelo empregador. Portanto, esse aumento dos salários nominais aumenta os custos de produção e desloca a curva da oferta agregada de curto prazo para a esquerda. Por outro lado, suponha que haja uma queda para toda a economia no custo de tais seguros. Isso equivale a uma queda dos salários nominais, do ponto de vista do empregador. Reduz os custos de produção e desloca a curva da oferta agregada de curto prazo para a direita. Um fato histórico importante é que, durante a década de 1970, o aumento no preço do petróleo teve o efeito indireto de aumentar também os salários nominais. Esse efeito “por tabela” ocorreu porque muitos contratos salariais incluíam subsídios de custo de vida que automaticamente elevava o salário nominal, quando os preços de consumo aumentavam. Por meio desse canal, o salto no preço do petróleo – que levou a um aumento geral nos preços ao consumidor –, em última análise, causou um aumento nos salários nominais. Assim, a economia, no final, passou por dois deslocamentos para a esquerda da curva da oferta agregada: o primeiro gerado pelo aumento inicial do preço do petróleo e o segundo gerado pelo aumento induzido dos salários nominais. O efeito negativo do aumento no preço do petróleo sobre a economia foi muito ampliado pelos

subsídios do custo de vida em contratos salariais. Hoje, os subsídios do custo de vida em contratos salariais são raros.

Variações na produtividade Um aumento na produtividade significa que um trabalhador pode produzir mais unidades de produto com a mesma quantidade de insumos. Por exemplo, a introdução do leitor de código de barras no comércio varejista aumentou consideravelmente a capacidade de um único trabalhador de abastecer, registrar e reabastecer as prateleiras. Em consequência, o custo da loja de “produzir ” uma unidade monetária de venda caiu e o lucro aumentou. E, do mesmo modo, a quantidade ofertada aumentou. (Pense no Walmart e no aumento do número de lojas como um aumento na oferta agregada.) Assim, um aumento na produtividade, qualquer que seja a fonte, aumenta o lucro dos produtores e desloca a curva da oferta agregada de curto prazo para a direita. Por outro lado, uma queda na produtividade – digamos, devido a novos regulamentos que obriguem os trabalhadores a passar mais tempo preenchendo formulários – reduz o número de unidades de produto que o trabalhador pode produzir com a mesma quantidade de insumos. Consequentemente, o custo por unidade de produto aumenta, o lucro e a quantidade ofertada caem. Isso desloca a curva da oferta agregada de curto prazo para a esquerda. A Tabela 12-2 apresenta um resumo dos fatores que deslocam a curva da oferta agregada de curto prazo. Tabela 12-2 Fatores que deslocam a oferta agregada

A curva de oferta agregada de longo prazo Acabamos de ver que, no curto prazo, uma queda no nível de preços agregado leva a um declínio na quantidade de produto agregado ofertada porque os salários nominais são rígidos no curto prazo. Mas, como mencionamos anteriormente, contratos e acordos informais são renegociados no longo prazo. Assim, no longo prazo, os salários nominais – assim como o nível de preços agregado – são flexíveis e não rígidos. Esse fato altera significativamente a relação entre o nível de preços agregado e a oferta agregada de longo prazo. Na verdade, no longo prazo, o nível de preços agregado não tem nenhum efeito sobre a quantidade do produto agregado ofertado. Para ver por que, realizemos uma experiência imaginária. Imaginemos poder usar uma varinha mágica – ou talvez um leitor de código de barras mágico – e cortar todos os preços da economia pela metade ao mesmo tempo. Por “todos os preços”, queremos dizer os preços de todos os insumos, incluindo salários nominais, assim como os preços dos bens e serviços finais. O que aconteceria com o produto agregado, dado que o nível de preços agregado foi reduzido pela metade e os preços dos insumos, incluindo salários nominais, foram reduzidos pela metade? A resposta é: nada. Considere novamente a Equação 12-2: cada produtor receberia um preço mais baixo por seu produto, mas os custos cairiam na mesma proporção. Como resultado, cada unidade de produto cuja produção fosse rentável antes da mudança de preços, ainda continuaria rentável após a mudança nos preços. Assim, reduzir à metade todos os preços da economia não tem nenhum efeito sobre o produto agregado da economia. Em outras palavras, variações no nível de preços agregado agora não têm nenhum efeito sobre a quantidade de produto agregado ofertada. Na realidade, é claro, ninguém pode mudar todos os preços na mesma proporção ao mesmo tempo. Mas agora vamos considerar o longo prazo, o período durante o qual todos os preços são totalmente flexíveis. No longo prazo, a inflação ou a deflação têm o mesmo efeito que alguém mudar todos os preços na mesma proporção. Em consequência, a variação no nível de preços agregado não altera a quantidade de produto agregado ofertada no longo prazo. Isso porque as variações no nível de preços agregado, no longo prazo, serão acompanhadas por variações proporcionais iguais em todos os preços dos insumos, incluindo salários nominais. A curva da oferta agregada de longo prazo, ilustrada na Figura 12-7 pela curva LRAS, mostra a relação entre o nível de preços agregado e a quantidade de produto agregado ofertada que existiria se todos os preços, inclusive salários nominais, fossem totalmente flexíveis. A curva da oferta agregada de longo prazo é vertical porque as variações no nível de preços agregado não têm nenhum efeito no produto no longo prazo. Em um nível de preços agregado de 15,0, a quantidade de produto agregado ofertada é $800 bilhões, em dólares de 2005. Se o nível de preços agregado cair 50%, para 7,5, a quantidade de produto agregado ofertada se mantém inalterada no longo prazo em $800 bilhões, em dólares de 2005.

FIGURA 12-7 Curva da oferta agregada de longo prazo A curva da oferta agregada de longo prazo mostra a quantidade de produto agregado fornecida quando todos os preços, inclusive salários nominais, são flexíveis. É vertical no produto potencial, YP, porque no longo prazo uma variação no nível de preços agregado não tem nenhum efeito sobre a quantidade de produto agregado ofertada.

É importante compreender não apenas que a curva LRAS é vertical, mas também que sua posição ao longo do eixo horizontal representa uma medida significativa. O intercepto horizontal na Figura 12-7, onde LRAS toca o eixo horizontal ($800 bilhões, em dólares de 2005), é o produto potencial da economia, YP: o nível do PIB real que a economia iria produzir se todos os preços, inclusive os salários nominais, fossem totalmente flexíveis. Na realidade, o nível do PIB real quase sempre está acima ou abaixo do produto potencial. Mais adiante, neste capítulo, veremos o motivo, quando discutirmos o modelo AD-AS. Ainda assim, o produto potencial da economia é um número importante, pois define a tendência em torno da qual o PIB real efetivo flutua de ano para ano. Nos Estados Unidos, o escritório de orçamento do congresso, ou CBO (Congressional Budget Office), calcula o produto potencial anual com a finalidade de analisar o orçamento federal. Na Figura 12-8, a estimativa do CBO para o produto potencial americano de 1990 a 2011 está representada pela linha clara e os valores do PIB real dos Estados Unidos, em relação ao mesmo período, estão representados pela linha escura. Os anos sombreados em lilás, no eixo horizontal, correspondem aos períodos em que o PIB real ficou aquém do produto potencial; os anos com retícula escura correspondem a períodos em que o PIB real excedeu o produto potencial.

FIGURA 12-8 Produto real e potencial dos Estados Unidos de 1990 a 2011 Esta figura mostra o desempenho do produto efetivo e potencial nos Estados Unidos de 1990 a 2011. A linha clara mostra os cálculos do produto potencial dos Estados Unidos, produzido pelo CBO, o escritório de orçamento do Congresso americano. A linha escura mostra o PIB real. Os anos sombreadas claras representam os períodos em que o PIB real efetivo caiu abaixo do produto potencial. E os anos sombreados escuros representam os períodos em que o PIB real efetivo excedeu o produto potencial. Como apresentado, ocorreram deficiências significativas nas recessões da década de 1990 e depois dos anos 2000. O PIB real efetivo estava significativamente acima do produto potencial no boom da década de 1990, e um enorme déficit ocorreu após a recessão entre 2007 e 2009. Fontes: Congressional Budget Office e Bureau of Economic Analysis.

Como se pode ver, o produto potencial dos Estados Unidos aumentou de forma constante ao longo do tempo – o que implica uma série de deslocamentos para a direita da curva LRAS. O que causou esses deslocamentos para a direita? A resposta está nos fatores relacionados ao crescimento de longo prazo, que discutimos no Capítulo 9, tais como aumentos de capital físico e capital humano, bem como o progresso tecnológico. No longo prazo, à medida que o tamanho da força de trabalho e da produtividade do trabalho aumenta, o nível do PIB real que a economia é capaz de produzir também aumenta. Na verdade, uma maneira de pensar sobre o crescimento econômico de longo prazo é considerá-lo o crescimento do produto potencial da economia. Geralmente pensamos a curva de oferta agregada de longo prazo como se deslocando para a direita ao longo do tempo, à medida que a economia experimenta crescimento de longo prazo.

Do curto ao longo prazo Como se depreende da Figura 12-8, a economia normalmente produz mais ou menos do que o produto potencial: o produto agregado efetivo estava abaixo do produto potencial no início dos anos 1990, acima do produto potencial no final de 1990, abaixo do produto potencial na maior parte da década de 2000 e significativamente abaixo do produto potencial após a recessão de 2007 a 2009. Assim, a economia normalmente está na curva da oferta agregada de curto prazo – não na sua curva da oferta agregada de longo prazo. Então, por que a curva de longo prazo é relevante? Será que a economia se move constantemente do curto prazo para o longo prazo? E se assim for, como isso ocorre? O primeiro passo para responder a essas questões é entender que a economia está

sempre em um dos dois únicos estados em relação às curvas da oferta agregada de curto prazo e de longo prazo. Pode estar em ambas as curvas simultaneamente se estiver no ponto onde as curvas se cruzam (como se vê na Figura 12-8, nos poucos anos em que o produto agregado efetivo e o produto potencial mais ou menos coincidem) ou pode estar na curva da oferta agregada de curto prazo, mas não na curva da oferta agregada de longo prazo (como nos anos em que o produto agregado efetivo e o produto potencial não coincidem). Mas isso não é o fim da história. Se a economia está na curva da oferta agregada de curto prazo, mas não na curva de longo prazo, a curva da oferta agregada de curto prazo se deslocará ao longo do tempo até que a economia esteja em um ponto onde as duas curvas se cruzam – um ponto em que o produto agregado efetivo é igual ao produto potencial. A Figura 12-9 ilustra como esse processo funciona. Em ambos os painéis, LRAS é a curva da oferta agregada de longo prazo, SRAS1 é a curva da oferta agregada de curto prazo inicial e o nível de preços agregado está em P1. No painel (a), a economia começa no ponto de produção inicial, A1, que corresponde à quantidade do produto agregado ofertada, Y1, que é mais alta que o produto potencial, YP. Produzir um nível de produto agregado (como Y1) mais alto que o produto potencial (YP) só é possível porque os salários nominais ainda não estão totalmente ajustados para cima. Até que ocorra esse ajuste para cima dos salários nominais, os produtores ganham lucros elevados e produzem um nível de produto elevado. Mas um nível de produto agregado superior ao produto potencial significa baixo nível de desemprego. Como os empregos são abundantes e os trabalhadores escassos, os salários nominais vão subir ao longo do tempo, deslocando gradualmente a curva da oferta agregada de curto prazo para a esquerda. Eventualmente, chegará a uma nova posição, em SRAS2. (Mais adiante neste capítulo, mostraremos onde a curva de oferta agregada de curto prazo vai parar. Como veremos, também depende da curva da demanda agregada.)

FIGURA 12-9 Do curto ao longo prazo No painel (a), a curva da oferta agregada de curto prazo inicial é SRAS1. Ao nível de preços agregado, P1, a quantidade de produto agregado ofertada, Y1, excede o produto potencial, YP. Ao final, a taxa de desemprego baixa vai causar aumento nos salários nominais, levando a um deslocamento para a esquerda da curva da oferta agregada de curto prazo, de SRAS1 para SRAS2. No painel (b), acontece o inverso: ao nível de preços agregado, P1, a quantidade de produto agregado ofertada é menor do que o produto potencial. A taxa de desemprego alta leva, por fim, a uma queda nos salários nominais ao longo do tempo e a um deslocamento para a direita da curva da oferta agregada de curto prazo.

No painel (b), o ponto inicial de produção, A1, corresponde a um nível de produto agregado, Y1, mais baixo que o produto potencial, YP. Produzir um nível de produto agregado (como Y1) mais baixo que o produto potencial (YP) só é possível porque os salários nominais ainda não estão totalmente ajustados para baixo. Até que esse ajuste ocorra, os produtores terão lucros baixos (ou negativos) e produzirão um nível baixo de produto. Um nível de produto agregado mais baixo que o produto potencial significa taxa de desemprego alta. Como os trabalhadores são muitos e os empregos são escassos, os salários nominais vão cair ao longo do tempo, deslocando a curva da oferta agregada de curto prazo, gradualmente, para a direita. Por fim, estará em uma nova posição, em SRAS2.

Armadilhas Já chegamos lá? O que realmente significa longo prazo O termo longo prazo é usado em dois contextos diferentes. Em um capítulo anterior, focamos no crescimento econômico de longo prazo: crescimento que ocorre ao longo de décadas. Neste capítulo, introduzimos a curva de oferta agregada de longo prazo, que representa o produto potencial da economia: o nível de produto agregado que a economia produziria se todos os preços, inclusive os salários nominais, fossem totalmente flexíveis. Pode parecer que estamos usando o mesmo termo, longo prazo, para dois conceitos diferentes. Mas não estamos: esses dois conceitos são realmente a mesma coisa. Como a economia sempre tende a voltar para o produto potencial no longo prazo, o produto agregado efetivo flutua em torno do produto potencial, raramente ficando muito

longe dele. Em decorrência, a taxa de crescimento da economia por longos períodos – digamos décadas – fica muito próxima da taxa de crescimento do produto potencial. E o crescimento do produto potencial é determinado pelos fatores que analisamos no Capítulo 9. Então isso significa que o “longo prazo” do crescimento de longo prazo e o “longo prazo” da curva da oferta agregada de longo prazo coincidem. Veremos adiante que esses deslocamentos da curva da oferta agregada de curto prazo devolverão a economia ao produto potencial de longo prazo.

Economia em ação Preços e produto durante a grande depressão A Figura 12-10 mostra os movimentos efetivos do nível de preços agregado, medido pelo deflator do PIB e o PIB real de 1929 a 1942. Como se pode ver, o produto agregado e o nível de preços agregado caíram juntos de 1929 a 1933 e subiram juntos de 1933 a 1937. Isso é o que esperaríamos ver se a economia estivesse se movendo para baixo ao longo da curva de oferta agregada de curto prazo de 1929 para 1933 e se movendo para cima (com breve reversão entre1937 e 1938).

FIGURA 12-10 Preços e produto durante a Grande Depressão

Mas, mesmo em 1942, o nível de preços agregado ainda era mais baixo do que era em 1929, mas o PIB real era muito mais alto. O que aconteceu?

A resposta é que a curva da oferta agregada de curto prazo se deslocou para a direita ao longo do tempo. Esse deslocamento, em parte, reflete o aumento da produtividade, um deslocamento para a direita da curva da oferta agregada de longo prazo subjacente. Mas como a economia dos Estados Unidos estava produzindo abaixo do produto potencial e tinha taxa de desemprego alta, durante esse período, o deslocamento para a direita da curva da oferta agregada de curto prazo também refletiu o processo de ajuste mostrado no painel (b) da Figura 12-9. Assim, o movimento do produto agregado de 1929 a 1942 refletiu os dois movimentos ao longo prazo e deslocamentos da curva da oferta agregada de curto prazo.

Breve revisão ■ A curva da oferta agregada ilustra a relação entre o nível de preços agregado e a quantidade de produto agregado ofertada. ■ A curva da oferta agregada de curto prazo é inclinada para cima: um nível de preços agregado mais elevado leva a um nível de produto agregado mais alto, uma vez que os salários nominais são rígidos. ■ Variações nos preços das commodities, salários nominais e produtividade deslocam a curva da oferta agregada de curto prazo. ■ No longo prazo, todos os preços são flexíveis, e variações no nível de preços agregado não têm efeito no produto agregado. A curva de oferta agregada de longo prazo é vertical ao nível de produto potencial. ■ Se o produto agregado efetivo excede o produto potencial, os salários nominais, por fim, aumentam e a curva da oferta agregada de curto prazo se desloca para a esquerda. Se o produto potencial excede o produto agregado efetivo, os salários nominais, por fim, caem e a curva da oferta agregada de curto prazo se desloca para a direita.

Teste seu entendimento 12-2 1. Determine o efeito sobre a oferta agregada de curto prazo de cada um dos seguintes eventos. Explique se representa um movimento ao longo da curva SRAS ou um deslocamento da curva SRAS. a. Um aumento no índice de preços ao consumidor (IPC) leva os produtores a aumentarem o produto. b. Uma queda no preço do petróleo leva os produtores a aumentarem o produto. c. Um aumento determinado por lei nos benefícios de aposentadoria pagos aos trabalhadores leva os produtores a reduzirem o produto. 2. Suponha que a economia esteja inicialmente no seu produto potencial e a quantidade de produto agregado ofertada aumente. Que informações seriam necessárias para determinar se isso se deveu a um movimento ao longo da curva SRAS ou a um deslocamento da curva LRSA? As respostas estão no fim do livro.

O modelo de demanda agregada – oferta agregada (AD-AS) De 1929 a 1933, a economia dos Estados Unidos se moveu para baixo ao longo da curva da oferta agregada de curto prazo, à medida que o nível de preços agregado caiu. Em contrapartida, de 1979 a 1980, a economia dos Estados Unidos se moveu para cima da curva da demanda agregada à medida que o nível de preços agregado subiu. Em cada um dos casos, a causa do movimento ao longo da curva foi o deslocamento de outra curva. Entre 1929 e 1933, houve um deslocamento para a esquerda da curva da demanda agregada – uma grande queda nos gastos de consumo. Entre 1979 e 1980, houve um deslocamento para a esquerda da curva da oferta agregada de curto prazo – uma queda dramática na oferta agregada de curto prazo causada pelo choque do preço do petróleo. Então, para entender o comportamento da economia, devemos colocar a curva da oferta agregada e a curva da demanda agregada juntas. O resultado é o modelo AD-AS, o modelo básico usado para entender as flutuações econômicas.

Equilíbrio macroeconômico de curto prazo Iniciaremos nossa análise com foco no curto prazo. A Figura 12-11 mostra a curva da oferta agregada e a curva da oferta agregada de curto prazo no mesmo gráfico. O ponto em que as curvas AD e SRAS se cruzam, ESR, é o equilíbrio macroeconômico de curto prazo: o ponto em que a quantidade do produto agregado ofertada é igual à quantidade demandada pelas famílias, empresas, governo e resto do mundo. O nível de preços agregado em ESR, PE, é o nível de preços agregado de equilíbrio de curto prazo. O nível de produção agregado em ESR, YE, é o produto agregado de equilíbrio de curto prazo.

FIGURA 12-11 O modelo AD-AS O modelo AD-AS combina a curva da oferta agregada e a curva da oferta agregada de curto prazo. Seu ponto de intersecção, ESR, é o ponto de equilíbrio macroeconômico de curto prazo, em que a quantidade de produto agregado demandada é igual à quantidade de produto agregado ofertada. PE é o nível de preços agregado de equilíbrio de curto prazo, e YE, é o nível de produto agregado de equilíbrio de curto prazo.

No modelo de oferta e demanda do Capítulo 3, vimos que a escassez de qualquer bem individual faz o preço de mercado subir, mas um excedente do bem faz o preço de mercado cair. Essas forças garantem que o mercado atinja o equilíbrio. A mesma lógica se aplica ao equilíbrio macroeconômico de curto prazo. Se o nível de preços agregado estiver acima do nível de equilíbrio, a quantidade do produto agregado ofertada excede a quantidade do produto agregado demandada. Isso leva a uma queda no nível de preços agregado e pressiona em direção ao nível de equilíbrio. Se o nível de preços agregado estiver abaixo do nível de equilíbrio, a quantidade de produto agregado ofertada é inferior à quantidade de produto agregado demandada. Isso leva a um aumento no nível de preços agregado, mais uma vez, pressionando-o em direção ao nível de equilíbrio. Na discussão que se segue, vamos supor que a economia esteja sempre em equilíbrio macroeconômico de curto prazo. Também vamos fazer outra simplificação importante baseada na observação de que, na realidade, há uma tendência de alta de longo prazo, tanto no produto agregado como no nível de preços agregado. Vamos supor que uma queda em qualquer dessas variáveis realmente signifique uma queda em relação à tendência de longo prazo. Por exemplo, se o nível de preços agregado normalmente sobe 4% ao ano, um ano em que o nível de preços agregado aumente apenas 3% contaria, para o nosso propósito, como um declínio de 1%. Na verdade, desde a Grande Depressão, houve bem poucos anos em que o nível de preços agregado de qualquer grande nação realmente baixou – o período de deflação do Japão desde 1995 é uma das poucas exceções. No Capítulo 16, iremos explicar a razão. No entanto, houve muitos casos em que o nível de preços agregado caiu em relação à

tendência de longo prazo. O produto agregado de equilíbrio de curto prazo e o nível de preços agregado de equilíbrio de curto prazo pode mudar devido aos deslocamentos da curva AD ou da curva SRAS. Vamos analisar cada caso em separado.

Deslocamentos da demanda agregada: efeitos de curto prazo Um evento que desloca a curva da oferta agregada, tal como uma variação nas expectativas ou riqueza, o efeito do tamanho do estoque de capital físico existente, ou o uso de política fiscal ou monetária, é conhecido como choque de demanda. A Grande Depressão foi causada por um choque de demanda negativo, o colapso da riqueza e da confiança dos empresários e consumidores que se seguiu ao colapso da bolsa de 1929 e da crise bancária de 1930 a 1931. A Depressão terminou com um choque de demanda positivo – um enorme aumento nas compras do governo durante a Segunda Guerra Mundial. Em 2008, a economia dos Estados Unidos experimentou outro choque de demanda negativo significativo quando o mercado imobiliário passou do boom ao colapso, levando os consumidores e as empresas a reduzir os gastos. A Figura 12-12 mostra os efeitos de curto prazo dos choques de demanda positivo e negativo. Um choque de demanda negativo desloca a curva da oferta agregada, AD, para a esquerda, de AD1 para AD2, como mostrado no painel (a). A economia se move para baixo ao longo da curva SRAS de E1 a E2, levando tanto a um produto agregado de equilíbrio de curto prazo mais baixo como a um equilíbrio de nível de preços agregado de curto prazo mais baixo. Um choque de demanda positivo desloca a curva da oferta agregada, AD, para a direita, como mostrado no painel (b). Aqui, a economia se move ao longo da curva SRAS, de E1 para E2. Isso leva a um produto agregado de equilíbrio de curto prazo mais alto e a um nível de preços agregado de equilíbrio de curto prazo mais alto. Choques de demanda fazem o produto agregado e o nível de preços agregado se moverem na mesma direção.

FIGURA 12-12 Choques de demanda Um choque de demanda desloca a curva da oferta agregada, movendo o nível de preços agregado e o produto agregado na mesma direção. No painel (a), um choque de demanda negativo desloca a curva da oferta agregada para a esquerda de AD1 para AD2, reduzindo o nível de preços agregado de P1 para P2 e o produto agregado de Y1 para Y2. No painel (b), um choque de demanda positivo desloca a curva da oferta agregada para a direita, aumentando o nível de preços agregado de P1 para P2 e o produto agregado de Y1 para Y2.

Deslocamentos da curva SRAS Um evento que desloca a curva da oferta agregada de curto prazo, SRAS, como uma variação nos preços das commodities, salários nominais ou na produtividade, é conhecido como choque de oferta. Um choque de oferta negativo aumenta os custos de produção e reduz a quantidade que os produtores estão dispostos a ofertar a qualquer nível de preços agregado, levando a um deslocamento para a esquerda da curva da oferta agregada de curto prazo. A economia dos Estados Unidos experimentou um severo choque de oferta negativa após as interrupções do abastecimento mundial de petróleo entre 1973 e 1979. Por outro lado, um choque de oferta positivo reduz os custos de produção e aumenta a quantidade ofertada em qualquer nível de preços agregado, levando a um deslocamento para a direita da curva da oferta agregada de curto prazo. Os Estados Unidos experimentaram um choque de oferta positivo entre 1995 e 2000, quando o aumento do uso da Internet e de outras tecnologias da informação causou aumento de produtividade repentino. Os efeitos de um choque de oferta negativo são mostrados no painel (a) da Figura 1213. O equilíbrio inicial situa-se em E1, com nível de preços agregado P1 e produto agregado Y1. A interrupção no fornecimento de petróleo fez a curva da oferta agregada de curto prazo se deslocar para a esquerda, de SRAS1 para SRAS2. Em decorrência, o produto agregado caiu e o nível de preços agregado subiu, um movimento ascendente ao longo da curva AD. No novo equilíbrio, E2, o nível de preços agregado de equilíbrio de curto prazo, P2, é mais alto e o nível de produto agregado de equilíbrio de curto prazo, Y2, é mais baixo que antes.

FIGURA 12-13 Choques de oferta Um choque de oferta desloca a curva da oferta agregada de curto prazo, movendo o nível de preços agregado e o produto agregado em direções opostas. O painel (a) mostra um choque de oferta negativo, que desloca a curva da oferta agregada de curto prazo para a esquerda e causa estagflação – produto agregado mais baixo e nível de preços agregado mais alto. Aqui, a curva da oferta agregada de curto prazo se desloca de SRAS1 para SRAS2 e a economia se move de E1 para E2. O nível de preços agregado sobe de P1 para P2 e o produto agregado cai de Y1 para Y2. O painel (b) mostra um choque de oferta positivo que desloca a curva da oferta agregada de curto prazo para a direita, gerando um produto agregado mais alto e um nível de preços agregado mais baixo. A curva da oferta agregada de curto prazo se desloca de SRAS1 para SRAS2 e a economia se move de E1 para E2. O nível de preços agregado cai de P1 para P2 e o produto agregado sobe de Y1 para Y2.

A combinação de inflação com queda no produto agregado mostrado no painel (a) tem um nome especial: estagflação, derivado de “estagnação mais inflação”. A situação de uma economia que passa por estagflação é muito desagradável: a queda do produto agregado leva a um aumento do desemprego e as pessoas sentem o poder de compra encolher devido ao aumento dos preços. A estagflação da década de 1970 levou a um clima de pessimismo nacional. Além disso, como veremos adiante, representa um dilema para os formuladores de política econômica. Um choque de oferta positivo, mostrado no painel (b), tem efeito exatamente oposto. Um deslocamento para a direita da curva SRAS de SRAS1 para SRAS2 resulta em um aumento do produto agregado e a uma queda no nível de preços agregado, um movimento descendente ao longo da curva AD. Os choques de oferta favoráveis, no final da década de 1990, levaram a uma combinação de pleno emprego e inflação em declínio. Ou seja, o nível de preços agregado caiu em comparação com a tendência de longo prazo. Essa combinação produziu, por um tempo, uma grande onda de otimismo nacional.

Comparação global Choques de oferta do século XXI O preço do petróleo e de outras matérias-primas tem estado muito instável nos últimos anos, com a alta dos preços entre 2007 e 2008, a queda dos preços entre 2008 e 2009, e outra oscilação que teve início no segundo semestre de 2010. As razões dessas flutuações são um tanto controversas, mas as implicações macroeconômicas são claras: a maior

parte do mundo ficou sujeita a uma série de choques de oferta. Houve um choque negativo entre 2007 e 2008, um choque positivo entre 2008 e 2009 e outro choque negativo entre 2010 e 2011. A figura ao lado apresenta o efeito desses choques, mostra a taxa de inflação, medida como variação percentual dos preços de consumo sobre o ano anterior em três grandes economias. As políticas econômicas têm sido bastante diferentes nos Estados Unidos, na Alemanha (que compartilha uma moeda com muitos outros países europeus) e na China. No entanto, nos três países, a inflação subiu acentuadamente entre 2007 e 2008, caiu dramaticamente depois disso e subiu acentuadamente de novo em 2011.

Fonte: Federal Reserve Bank de St. Louis.

A característica distintiva dos choques de oferta, tanto negativo como positivo, é que, diferentemente dos choques de demanda, fazem o nível de preços agregado e o produto agregado se moverem em direções opostas. Há outro contraste importante entre choques de oferta e de demanda. Como vimos, a política monetária e fiscal permite ao governo deslocar a curva da oferta agregada, AD, o que significa que os governos estão em posição de criar os tipos de choques mostrados na Figura 12-12. É muito mais difícil para os governos deslocar a curva AS. Há boas razões políticas para deslocar a curva AD? Voltaremos a essa questão em breve. Antes, porém, analisaremos a diferença entre o equilíbrio macroeconômico de curto prazo e de longo prazo.

Equilíbrio macroeconômico de longo prazo A Figura 12-14 combina a curva da oferta agregada com as curvas de oferta agregada de curto prazo e de longo prazo. A curva da oferta agregada, AD, cruza a curva da oferta

agregada de curto prazo, SRAS, em ELR. Aqui, supomos que houve tempo suficiente para que a economia estivesse também na curva da oferta agregada de longo prazo, LRAS. Em decorrência, ELR está na interseção das três curvas SRAS, LRAS e AD. Assim, o produto agregado de equilíbrio de curto prazo é igual ao produto potencial, YP. Tal situação, em que o ponto de equilíbrio macroeconômico de curto prazo está sobre a curva da oferta agregada de longo prazo, é conhecida como equilíbrio macroeconômico de longo prazo.

FIGURA 12-14 Equilíbrio macroeconômico de longo prazo Aqui, o ponto de equilíbrio macroeconômico de curto prazo também se situa sobre a curva da oferta agregada de longo prazo, LRAS. Em decorrência, o produto agregado de equilíbrio de curto prazo é igual ao produto potencial, YP. A economia está em equilíbrio macroeconômico de longo prazo em ELR.

Para verificar o significado do equilíbrio macroeconômico de longo prazo, consideremos o que acontece quando um choque de demanda afasta a economia do equilíbrio macroeconômico de longo prazo. Na Figura 12-15, assumimos que a curva da oferta agregada inicial seja AD1 e que a curva da oferta agregada de curto prazo inicial seja SRAS1. Assim, o equilíbrio macroeconômico inicial é E1, que está sobre a curva da oferta agregada de longo prazo, LRAS. A economia, então, começa de um ponto de equilíbrio macroeconômico de curto prazo e de longo prazo e o produto agregado de equilíbrio de curto prazo é igual ao produto potencial em Y1.

FIGURA 12-15 Efeitos de um choque de demanda negativo de curto prazo versus de longo prazo No longo prazo, a economia exibe autocorreção: choques de demanda têm apenas efeitos de curto prazo sobre o produto agregado. A partir de E1, um choque de demanda negativo desloca AD1 para a esquerda até AD2. No curto prazo a economia se move para E2 e surge um hiato de recessão característico: o nível de preços agregado declina de P1 para P2, o produto agregado declina de Y1 para Y2 e o desemprego aumenta. Mas, no longo prazo, os salários nominais caem em resposta à elevada taxa de desemprego em Y2 e SRAS1 se desloca para a direita, para SRAS2. O produto agregado aumenta de Y2 para Y1, e o nível de preços agregado declina novamente, de P2 para P3. O equilíbrio macroeconômico de longo prazo, por fim, é restaurado em E3.

Agora, suponha que, por algum motivo – como um súbito agravamento das expectativas das empresas e dos consumidores – a demanda agregada cai e a curva da demanda agregada se desloca para a esquerda para AD2. Isso resulta em um nível de preços agregado de equilíbrio mais baixo em P2 e em um nível de produto agregado de equilíbrio mais baixo em Y2, à medida que a economia se estabelece no curto prazo em E2. O efeito de curto prazo de uma queda na demanda agregada é o que a economia dos Estados Unidos passou entre 1929 e 1933: uma queda no nível de preços agregados e no produto agregado. O produto agregado nesse novo equilíbrio de curto prazo, E2, está abaixo do produto potencial. Quando isso acontece, a economia enfrenta um hiato de recessão. Um hiato de recessão causa grande desconforto, porque corresponde a uma alta taxa de desemprego. O grande hiato de recessão que se abriu nos Estados Unidos em 1933 causou agitação social e política intensa. E o hiato de recessão devastador que se abriu na Alemanha, ao mesmo tempo, desempenhou um papel importante para a ascensão de Hitler ao poder. Mas esse não é o final da história. Diante do alto índice de desemprego, os salários nominais, finalmente, caem, assim como quaisquer outros preços rígidos, levando os

produtores a aumentar a produção. Como consequência, um hiato de recessão faz a curva da oferta agregada de curto prazo gradualmente se deslocar para a direita ao longo do tempo. Esse processo continua até que SRAS1 atinja a nova posição em SRAS2, trazendo a economia para o equilíbrio em E3, onde AD2, SRAS2 e LRAS se cruzam. Em E3, a economia está de volta ao equilíbrio macroeconômico de longo prazo. Retornou ao produto potencial Y1, mas a um nível de preços agregado mais baixo, P3, refletindo uma queda de longo prazo no nível de preços agregado. No final, a economia apresenta autocorreção no longo prazo. E se, em vez disso, ocorrer um aumento na demanda agregada? Os resultados são mostrados na Figura 12-16, onde novamente supomos que a curva da demanda inicial seja AD1 e a curva da oferta agregada de curto prazo inicial seja SRAS1, de modo que o equilíbrio macroeconômico inicial, em E1, está sobre a curva da oferta agregada de longo prazo, LRAS. Inicialmente, então, a economia está em equilíbrio macroeconômico de longo prazo.

FIGURA 12-16 Efeitos de um choque de demanda positivo de curto prazo versus de longo prazo A partir de E1, um choque de demanda positivo desloca AD1 para a direita até AD2 e a economia se move para E2, no curto prazo. Isso resulta em um hiato inflacionário à medida que o produto agregado aumenta de Y1 para Y2, o nível de preços agregado sobe de P1 para P2 e a taxa de desemprego cai para um nível baixo. No longo prazo, SRAS1 se desloca para a esquerda, para SRAS2, à medida que os salários nominais aumentam em resposta ao baixo desemprego em Y2. O produto agregado cai, retornando para Y1, e o nível de preços agregado sobe novamente para P3 e a economia se autocorrige, à medida que volta para o equilíbrio macroeconômico de longo prazo em E3.

Agora, suponha que a demanda agregada aumente e a curva AD se desloque para a direita para AD2. Isso resulta em um nível de preços agregado mais alto, em P2, e em um nível de produto agregado mais alto, em Y2, à medida que a economia se ajusta em E2 no curto prazo. O produto agregado nesse novo equilíbrio de curto prazo está acima do produto potencial e o desemprego é baixo, para produzir esse nível de produto agregado mais alto. Quando isso acontece, a economia experimenta um hiato inflacionário. Como no caso do hiato de recessão, isso não encerra a história. Diante da taxa de desemprego baixa, os salários nominais aumentam, assim como os outros preços rígidos. Um hiato inflacionário faz a curva da oferta agregada de curto prazo se deslocar gradualmente para a esquerda à medida que os produtores reduzem o produto em face do aumento dos salários nominais. Esse processo continua até que SRAS1 atinja a nova posição em SRAS2, trazendo a economia para o equilíbrio em E3, onde AD2, SRAS2 e LRAS se cruzam. Em E3, a economia retorna ao equilíbrio macroeconômico de longo prazo. Está de volta ao produto potencial, mas a um nível de preço mais elevado, P3, refletindo um aumento de longo prazo no nível de preços agregado. Mais uma vez, a economia apresenta autocorreção no longo prazo. Para resumir a análise de como a economia responde ao hiato de recessão e ao hiato inflacionário, podemos concentrar a atenção no hiato de produto, a diferença percentual entre o produto agregado efetivo e o produto potencial. O hiato de produto é calculado da seguinte forma:

(12-3) Para mentes curiosas Onde está a deflação? O modelo AD-AS informa que um choque de demanda negativo ou um choque de oferta positivo deve levar a uma queda no nível de preços agregado, ou seja, à deflação. No entanto, desde 1949, uma queda real no nível de preços agregado tem sido uma ocorrência rara nos Estados Unidos. Da mesma forma, a maioria dos outros países teve pouca ou nenhuma experiência com deflação. O Japão, que sofreu uma deflação leve e sustentada no final de 1990 e no início da década seguinte, é a grande (e muito discutida) exceção. O que aconteceu com a deflação? A resposta básica é que, desde a Segunda Guerra Mundial, as flutuações econômicas têm ocorrido em torno de uma tendência inflacionária de longo prazo. Antes da guerra, era comum que os preços caíssem durante as recessões, mas desde então os choques de demanda negativos têm se refletido em um declínio na taxa de inflação, em vez de em uma queda real nos preços. Por exemplo, a taxa de inflação medida pelos preços ao

consumidor caiu mais de 3% nos Estados Unidos, no início da recessão de 2001, para 1,1% um ano mais tarde, mas nunca foi abaixo de zero. Tudo isso mudou durante a recessão entre 2007 e 2009. O choque de demanda negativo que se seguiu à crise financeira de 2008 foi tão grave que, para a maior parte de 2009, os preços ao consumidor nos Estados Unidos caíram de fato. Mas o período deflacionário não durou muito tempo: A partir de 2010, os preços voltaram a subir, a uma taxa entre 1% e 4% ao ano. Nossa análise informa que o hiato de produto sempre tende a zero. Se houver um hiato de recessão, de modo que o hiato de produto seja negativo, os salários nominais, por fim, cairão, movendo a economia de volta ao produto potencial e trazendo o hiato de produto de volta a zero. Se houver um hiato inflacionário, de modo que o hiato de produto seja positivo, os salários nominais, por fim, subirão, movendo a economia de volta ao produto potencial e trazendo o hiato de produto novamente a zero. Assim, no longo prazo, a economia apresenta autocorreção: choques de demanda agregada afetam o produto agregado de curto prazo, mas não o de longo prazo.

Economia em ação Choques de oferta versus choques de demanda na prática Com que frequência os choques de oferta e os choques de demanda, respectivamente, causam recessões? O veredito da maioria, embora não de todos os macroeconomistas, é que as recessões são causadas principalmente por choques de demanda. Mas quando ocorre um choque de oferta negativo, a recessão resultante tende a ser particularmente severa. Vamos ser mais específicos. Oficialmente, houve 12 recessões nos Estados Unidos desde a Segunda Guerra Mundial. No entanto, duas delas, de 1979 a 1980 e de 1981 a 1982, muitas vezes são tratadas como uma única recessão com “dois mergulhos”, reduzindo o número total para 11. Dessas 11 recessões, apenas duas – a recessão de 1973 a 1975 e a recessão dos dois mergulhos de 1979 a 1982 – mostrou a combinação singular de queda no produto agregado e aumento no nível de preços que chamamos de estagflação. Em cada caso, a causa do choque de oferta foi a turbulência política no Oriente Médio – a guerra árabe-israelense de 1973 e a revolução iraniana de 1979, que interrompeu a oferta mundial de petróleo e elevou o preço do petróleo para as nuvens. Na verdade, os economistas às vezes se referem às duas recessões como “OPEP I” e “OPEP II”, conforme a sigla da Organização dos Países Exportadores de Petróleo, o cartel mundial de petróleo. Uma terceira recessão, que começou em 2007 e durou até 2009, foi pelo menos parcialmente exacerbada, se não pelo menos parcialmente causada por um pico no preço do petróleo. Assim, 8 das 11 recessões do pós-guerra foram puramente o resultado de choques de demanda, não de choques de oferta. As poucas recessões provocadas por choque de oferta, no entanto, foram as piores, quando medidas pela taxa de desemprego. A Figura

12-17 mostra a taxa de desemprego dos Estados Unidos desde 1948, com as datas da guerra árabe-israelense de 1973 e da revolução iraniana de 1979 marcadas no gráfico. Algumas dessas taxas de desemprego, mais altas desde a Segunda Guerra Mundial, vieram após esses grandes choques de oferta negativos.

FIGURA 12-17 Choques de oferta negativos são relativamente raros, mas severos Fonte: Bureau of Labor Statistics.

Há uma razão para que as consequências de um choque de oferta sejam particularmente graves para a economia: a política macroeconômica tem muito mais dificuldade de lidar com choques de oferta do que com choques de demanda. Na verdade, a razão pela qual o Fed, o banco central americano, estava enfrentando uma situação difícil em 2008, como descrito na história de abertura deste capítulo, é que no início de 2008 a economia dos Estados Unidos estava em uma recessão parcialmente causada por um choque de oferta (embora também estivesse enfrentando um choque de demanda). Em breve veremos por que os choques de oferta apresentam tal problema.

Breve revisão ■ O modelo AD-AS é usado para estudar as flutuações econômicas. ■ O equilíbrio macroeconômico de curto prazo ocorre na intersecção das curvas de oferta agregada e demanda agregada de curto prazo. Isso determina o nível de preços agregado de equilíbrio de curto prazo e o nível de produto agregado de equilíbrio de curto prazo. ■ Um choque de demanda, um deslocamento da curva AD, faz o nível de preços agregado e o produto agregado se movimentarem na mesma direção. Um choque de oferta, um

deslocamento da curva de SRAS, faz com que se movam em sentido oposto. Estagflação é a consequência de um choque de oferta negativo. ■ A queda nos salários nominais ocorre em resposta a um hiato de recessão. O aumento dos salários nominais ocorre em resposta a um hiato inflacionário. Ambos movem a economia para o equilíbrio macroeconômico de longo prazo, onde as curvas AD, SRAS e LRAS se cruzam. ■ O hiato de produto sempre tende a zero, porque a economia se autocorrige no longo prazo.

Teste seu entendimento 12-3 1. Descreva os efeitos de curto prazo de cada um dos choques seguintes sobre o nível de preços agregado e sobre o produto agregado. a. O governo aumenta consideravelmente o salário mínimo, elevando o salário de muitos trabalhadores. b. Empresas de energia solar lançam um programa importante de gastos de investimento. c. O Congresso aumenta impostos e corta gastos. d. O clima desfavorável destrói culturas ao redor do mundo. 2. A elevação da produtividade aumenta o produto potencial, mas alguns temem que a demanda de produto adicional seja insuficiente até mesmo no longo prazo. Como você responderia? As respostas estão no fim do livro.

Política macroeconômica Acabamos de ver que a economia é autocorretiva no longo prazo: finalmente tende a voltar ao produto potencial. A maioria dos macroeconomistas acredita, no entanto, que o processo de autocorreção leve normalmente dez anos ou mais. Em particular, se o produto agregado está abaixo do produto potencial, a economia pode sofrer um período prolongado de produto agregado deprimido e desemprego elevado antes de retornar ao normal. Essa crença é a base de uma das mais famosas citações em economia: a declaração de John Maynard Keynes, “no longo prazo estaremos todos mortos”. Explicaremos o contexto em que ele fez essa observação no quadro a seguir Para mentes curiosas. Os economistas costumam interpretar Keynes como tendo recomendado que os governos não esperem que a economia se autocorrija. Em vez disso, muitos economistas, mas nem todos, argumentam que o governo deve usar a política monetária e fiscal para retornar a economia ao produto potencial, na sequência de um deslocamento da curva da oferta agregada. Essa é a justificativa para uma política de estabilização ativa, que é o uso da política governamental para reduzir a severidade das recessões e controlar expansões excessivamente rápidas.

Para mentes curiosas Keynes e o longo prazo O economista britânico Sir John Maynard Keynes (1883-1946), provavelmente mais que qualquer outro economista, criou o moderno campo da macroeconomia. Analisaremos o seu papel e as controvérsias que ainda giram em torno de alguns aspectos do seu pensamento em capítulos posteriores sobre eventos e ideias macroeconômicas. Mas, por enquanto, vamos analisar apenas a sua citação mais famosa. Em 1923, Keynes publicou Um tratado sobre a reforma monetária, um pequeno livro sobre os problemas econômicos da Europa após a Primeira Guerra Mundial. Ali, criticou a tendência de muitos de seus colegas de se concentrar em como as coisas funcionam no longo prazo – como no equilíbrio macroeconômico de longo prazo que acabamos de analisar – enquanto ignoram os eventos, muitas vezes muito dolorosos e possivelmente desastrosos, que podem acontecer ao longo do caminho. Aqui está uma versão mais completa da citação: Esse longo prazo é um guia enganoso para assuntos correntes. No longo prazo estaremos todos mortos. Os economistas se propõem a uma tarefa muito fácil e inútil demais se, em épocas tempestuosas, só conseguem dizer que quando há muito a tempestade tiver passado, o mar estará tranquilo novamente. A política de estabilização pode melhorar o desempenho da economia? Se

reexaminarmos a Figura 12-8, a resposta certamente parece ser sim. Ao aplicar uma política de estabilização ativa, a economia dos Estados Unidos voltou ao produto potencial em 1996, depois de aproximadamente cinco anos de hiato de recessão. Da mesma forma, em 2001, também retornou ao produto potencial, após um hiato inflacionário de cerca de quatro anos. Esses períodos são bem mais curtos que a década, ou mais, que os economistas acreditam que seria necessário para que a economia se autocorrija, na ausência de uma política de estabilização ativa. No entanto, como veremos adiante, a capacidade de melhorar o desempenho da economia nem sempre é garantida. Depende dos tipos de choques que a economia enfrenta.

Política e choques de demanda Imagine que a economia sofra um choque de demanda negativo, como o apresentado na Figura 12-15. Como discutimos neste capítulo, as políticas monetária e fiscal deslocam a curva da oferta agregada. Se os formuladores de política econômica reagirem rapidamente à queda na demanda agregada, podem usar política monetária ou fiscal para deslocar a curva da oferta agregada de volta para a direita. E se a política fosse capaz de antecipar perfeitamente os deslocamentos da curva da oferta agregada, poderia interromper todo o processo mostrado na Figura 12-15. Em vez de passar por um período de produto agregado baixo e queda de preços, o governo poderia controlar a economia de tal modo que ficasse em E1. Por que poderia ser desejável uma política que interrompesse o ajuste apresentado na Figura 12-15 e mantivesse a economia em seu equilíbrio original? Por duas razões. Primeiro, uma queda temporária do produto agregado, que acontecesse sem intervenção política, seria ruim, especialmente porque seria associada a uma taxa de desemprego elevada. Segundo, como explicamos no Capítulo 8, a estabilidade de preços geralmente é considerada um objetivo desejável. Então, prevenir uma deflação – uma queda no nível de preços agregado – é uma coisa boa. Será que isso significa que os formuladores de política econômica devem sempre agir para compensar as quedas na demanda agregada? Não necessariamente. Como veremos em capítulos posteriores, algumas medidas de política econômica para aumentar a demanda agregada, especialmente aquelas que aumentam o déficit orçamentário, podem ter custos de longo prazo em termos de baixo crescimento de longo prazo. Além disso, os formuladores de política econômica no mundo real não são perfeitamente informados, e os efeitos de suas políticas não são perfeitamente previsíveis. Isso cria o risco de que uma política de estabilização traga mais danos do que benefícios; isto é, a tentativa de estabilizar a economia pode acabar criando mais instabilidade. Vamos descrever o antigo debate sobre a política macroeconômica no Capítulo 18. Apesar dessas qualificações, a maioria dos economistas acredita que haja bons argumentos para usar a política macroeconômica para compensar grandes choques negativos na curva da oferta agregada, AD. Os formuladores de política econômica deveriam também tentar compensar choques positivos na demanda agregada? Isso não parecer óbvio. Afinal, mesmo que a inflação

possa ser algo ruim, não é fato que mais produto e menos desemprego é uma coisa boa? Não necessariamente. A maioria dos economistas atualmente acredita que qualquer ganho de curto prazo decorrente de um hiato inflacionário deverá ser pago mais tarde. Assim, atualmente, os formuladores de política econômica geralmente tentam compensar choques de demanda tanto positivos como negativos. Por motivos que explicaremos no Capítulo 15, as tentativas de eliminar hiatos de recessão e hiatos inflacionários geralmente se apoiam mais em política monetária do que em política fiscal. Em 2007 e 2008, o Federal Reserve cortou drasticamente a taxa de juros em uma tentativa de evitar um hiato de recessão crescente. No início da década, quando a economia dos Estados Unidos parecia caminhar para um hiato inflacionário, elevou as taxas de juros para gerar o efeito oposto. Mas como a política macroeconômica deve responder aos choques de oferta?

Respondendo aos choques de oferta Agora completamos a história que iniciamos neste capítulo. E podemos explicar por que as pessoas na posição de Ben Bernanke têm pavor de estagflação. No painel (a) da Figura 12-13, mostramos os efeitos de um choque de oferta negativo: no curto prazo, tal choque leva a um produto agregado mais baixo, mas a um nível de preços agregado mais elevado. Como vimos, os formuladores de política econômica podem responder a um choque de demanda negativo, usando a política monetária e fiscal para retornar a demanda agregada ao seu nível original. Mas o que eles podem ou devem fazer em relação a um choque de oferta negativo? Diferentemente do que ocorre com a curva da oferta agregada, não existem políticas fáceis para deslocar a curva da oferta agregada de curto prazo. Ou seja, não existe uma política do governo que possa afetar facilmente a lucratividade dos produtores e, assim, compensar os deslocamentos da curva da oferta agregada de curto prazo. Portanto, a reação de política econômica a um choque de oferta negativo não pode ter o objetivo de apenas empurrar a curva que se deslocou de volta à sua posição original. Mesmo que se considere o uso de política monetária ou fiscal para deslocar a curva da oferta agregada em resposta a um choque de oferta, a resposta correta não é óbvia. Duas coisas ruins estão acontecendo simultaneamente: uma queda no produto agregado, levando a um aumento do desemprego, e um aumento no nível de preços agregado. Qualquer política que desloque a curva da oferta agregada ajuda na solução de um problema somente criando outro pior. Se o governo atua para aumentar a demanda agregada e limitar o aumento do desemprego, reduz o declínio do produto, mas causa ainda mais inflação. Se age para reduzir a demanda agregada, controla a inflação, mas provoca um novo aumento do desemprego. É um trade-off sem solução. No final, os Estados Unidos e outros países economicamente avançados, que sofreram choques de oferta nos anos 1970, por fim escolheram estabilizar os preços, mesmo à custa do aumento do desemprego. Mas um formulador de política econômica da década de 1970, ou do início de 2008, teve que enfrentar escolhas ainda mais difíceis do que as habituais.

Economia em ação A política de estabilização estabiliza? Descrevemos a fundamentação teórica para a política de estabilização, como forma de responder a choques de demanda. Mas será que a política de estabilização realmente estabiliza a economia? Uma maneira de responder a esta questão é analisar os dados históricos de longo prazo. Antes da Segunda Guerra Mundial, o governo dos Estados Unidos realmente não possuía uma política de estabilização, principalmente porque a macroeconomia, como a conhecemos hoje, não existia, e não havia um consenso sobre o que fazer. Desde a Segunda Guerra Mundial, e especialmente a partir de 1960, a política de estabilização ativa, na prática, tornou-se padrão. Então, eis a questão: a economia realmente se tornou mais estável desde que os governos começaram a tentar estabilizá-la? A resposta é um sim qualificado. É qualificado por duas razões. Uma é que os dados de antes da Segunda Guerra Mundial são menos confiáveis do que os dados modernos. A outra é que a recessão severa e prolongada, que começou em 2007, abalou a confiança na eficácia da política governamental. Ainda assim, não parece ter havido uma redução no tamanho das flutuações. A Figura 12-18 mostra o número de desempregados como porcentagem da força de trabalho não agrícola desde 1890. (O foco está nos trabalhadores não agrícolas, porque os agricultores, embora muitas vezes tenham dificuldades econômicas, raramente são registrados como desempregados.) Mesmo ignorando o enorme aumento do desemprego durante a Grande Depressão, o desemprego parece ter variado muito mais antes da Segunda Guerra Mundial do que depois dela. Também vale a pena notar que os picos de desemprego do pós-guerra, em 1975 e 1982, e, como descrito anteriormente, em certa medida, em 2010, correspondem a grandes choques de oferta – o tipo de choque para o qual a política de estabilização não tem uma boa resposta.

FIGURA 12-18 A política de estabilização estabiliza? Fontes: Christina Romer, “Spurious Volatility in Historical Unemployment Data”. Journal of Political Economy 94, n. 1 (1986): 1–37 (anos 1890–1928); Bureau of Labor Statistics (anos 1929–2011).

É possível que a maior estabilidade da economia reflita mais a boa sorte do que a boa política. Mas, a julgar pela aparência, a política de estabilização de fato estabiliza.

Breve revisão ■ Política de estabilização é o uso de política fiscal ou monetária para compensar choques de demanda. No entanto, pode haver inconvenientes. Tais políticas podem levar a um aumento de longo prazo no déficit orçamentário e a um crescimento de longo prazo mais baixo por causa do crowding out (deslocamento dos gastos de investimento privados pelo governo). E, devido a previsões incorretas, uma política equivocada pode aumentar a instabilidade econômica. ■ Choques de oferta negativos representam um dilema político, pois combater uma recessão no produto agregado piora a inflação e combater a inflação piora a recessão.

Teste seu entendimento 12-4 1. Suponha que alguém diga: “Usar a política monetária ou fiscal para estimular a economia é contraproducente – obtém-se uma breve alta, mas, então, vem a dor da inflação.” a. Explique o que isso significa em termos do modelo de demanda agregada e oferta agregada, AD-AS. b. Esse é um argumento válido contra a política de estabilização? Por que sim ou por que não? 2. Em 2008, na esteira do colapso da bolha imobiliária e de um forte aumento no preço

das commodities, em especial do petróleo, houve discordância interna no Fed, o banco central americano, sobre como reagir, com alguns defendendo uma redução nas taxas de juro e outros argumentando que isso provocaria alta da inflação. Explique o raciocínio por trás de cada um desses pontos de vista, em termos do modelo AD-AS. As respostas estão no fim do livro.

Caso empesarial Unidas na dor A indústria aérea é notoriamente “cíclica”. Ou seja, ao invés de ter lucros durante todo o ciclo econômico, tende a mergulhar em perdas durante as recessões, só recuperando a rentabilidade algum tempo depois de iniciada a recuperação. Isso se deve principalmente às companhias aéreas terem grandes custos fixos que permanecem elevados mesmo se houver queda na venda de bilhetes. O custo operacional de um voo de uma cidade para outra é praticamente o mesmo se o voo estiver lotado ou dois terços vazio, então quando, por qualquer motivo, há uma queda nos negócios, mesmo as rotas altamente lucrativas tornam-se rapidamente deficitárias. É verdade que as companhias aéreas podem, em certa medida, adaptar-se a um declínio nos negócios mudando para aviões menores, consolidando voos, e assim por diante, mas esse processo leva tempo e ainda tende a deixar os custos por passageiro mais elevadas do que antes. Mas algumas recessões são piores para as companhias aéreas do que para outras empresas, pois os custos operacionais sobem mesmo que a demanda caia. Foi esse o caso no início de 2008. Na primavera do mesmo ano, a assim chamada Grande Recessão entre 2007 e 2009, ainda estava em seu estágio inicial, com o desemprego apenas começando a subir. As companhias aéreas ainda estavam, como publicou um artigo no Los Angeles Times, em um “mar de tinta vermelha”. O artigo destacava o caso da United Airlines, que mergulhou, de repente, em grandes perdas e estava planejando grandes demissões. Por que a United estava com tantos problemas? As viagens de negócios começaram a abrandar, mas, naquele momento, viagens de lazer, como voos para a Disney World, ainda estavam se mantendo. O que estava prejudicando a United e as companhias irmãs era o custo do combustível, que subiu no final de 2007 e início de 2008. Os preços dos combustíveis voltaram a cair no final de 2008. Mas, nessa altura, a United estava passando por uma forte queda nas vendas de bilhetes. A companhia aérea finalmente voltou à lucratividade em 2010, que também foi o ano em que decidiu uma fusão com a Continental. Mas no início de 2011 os preços dos combustíveis subiram novamente, colocando as companhias aéreas mais uma vez em uma posição difícil.

Questões para pensar 1. Como os problemas da United, no início de 2008, se relacionam com a nossa análise das causas da recessão?

2. Ben Bernanke teve que fazer uma escolha entre combater dois males no início de 2008. Como essa escolha afetaria a United em comparação com uma empresa produtora de um serviço sem insumos de matérias-primas caros, como seguro saúde? 3. No início de 2008, as viagens de negócios estavam começando a abrandar, mas as viagens de lazer ainda estavam se mantendo. Dada a situação geral da economia, o que você espera que tivesse acontecido com as viagens de lazer à medida que a economia se movia para uma recessão profunda?

Resumo 1. A curva da demanda agregada mostra a relação entre o nível de preços agregado e a quantidade de produto agregado demandada. 2. A curva da demanda agregada tem inclinação para baixo por duas razões. A primeira é o efeito riqueza de uma variação no nível de preços agregado – um nível de preços agregado mais elevado reduz o poder de compra do dinheiro das famílias e reduz os gastos de consumo. O segundo é o efeito da taxa de juros de uma variação no nível de preços agregado – um nível de preços agregado mais alto reduz o poder de compra do dinheiro que tem as famílias e as empresas, levando a um aumento na taxa de juros e a uma queda nos gastos de investimento e de consumo. 3. A curva da demanda agregada se desloca devido à variação nas expectativas, variação na riqueza que não é devida à variação no nível de preços agregado e o efeito do tamanho do estoque existente de capital físico. Os formuladores de política econômica podem usar a política fiscal e monetária para deslocar a curva da demanda agregada. 4. A curva da oferta agregada mostra a relação entre nível de preços agregado e a quantidade de produto agregado ofertada. 5. A curva da oferta agregada de curto prazo é inclinada para cima porque os salários nominais são rígidos no curto prazo: um nível de preços agregado mais alto leva a um maior lucro por unidade de produto e a um aumento do produto agregado no curto prazo. 6. Variações nos preços das commodities, nos salários nominais e na produtividade levam a variações no lucro dos produtores e deslocam a curva da oferta agregada de curto prazo. 7. No longo prazo, todos os preços, inclusive os salários nominais, são flexíveis e a economia produz em seu produto potencial. Se o produto agregado efetivo excede o produto potencial, os salários nominais acabam por aumentar em resposta à baixa taxa de desemprego e o produto agregado cai. Se o produto potencial excede o produto agregado efetivo, os salários nominais acabam por cair em resposta à elevada taxa de desemprego e o produto agregado aumenta. Assim, a curva da oferta agregada de longo prazo é vertical no produto potencial. 8. Na modelo AD-AS, a interseção da curva da oferta agregada de curto prazo e a curva da demanda agregada é o ponto de equilíbrio macroeconômico de curto prazo. Determina o nível de preços agregado de equilíbrio de curto prazo e o nível de produto agregado de equilíbrio de curto prazo.

9. Flutuações econômicas ocorrem devido a um deslocamento da curva da oferta agregada (choque de demanda) ou da curva da oferta agregada de curto prazo (choque de oferta). Um choque de demanda faz o nível de preços agregado e o produto agregado se moverem na mesma direção à medida que a economia se move ao longo da curva da oferta agregada de curto prazo. Um choque de oferta faz com que se movam em direção oposta à medida que a economia se move ao longo da curva da oferta agregada. Uma ocorrência particularmente desagradável é a estagflação – inflação e queda do produto agregado – causada por um choque de oferta negativo. 10. Choques de demanda têm apenas efeito de curto prazo sobre o produto agregado porque a economia é autocorretiva no longo prazo. Em um hiato de recessão, uma eventual queda nos salários nominais movimenta a economia para o equilíbrio macroeconômico de longo prazo, onde o produto agregado é igual ao produto potencial. Em um hiato inflacionário, um eventual aumento dos salários nominais movimenta a economia para o equilíbrio macroeconômico de longo prazo. Podemos usar o hiato de produto, a diferença percentual entre o produto agregado efetivo e o produto potencial para resumir como a economia responde a um hiato de recessão e a um hiato inflacionário. Como a economia tende a se autocorrigir no longo prazo, o hiato de produto sempre tende a zero. 11. O alto custo – em termos de desemprego – de um hiato de recessão e as consequências adversas futuras de um hiato inflacionário levam muitos economistas a defender uma política de estabilização ativa: usar a política fiscal ou monetária para compensar choques de demanda. Pode haver desvantagens, no entanto, uma vez que tais políticas podem contribuir para um aumento de longo prazo no déficit orçamentário e para o crowding out (deslocamento do investimento privado pelo governo), levando a um menor crescimento no longo prazo. Além disso, previsões erradas podem aumentar a instabilidade econômica. 12. Choques de oferta negativos representam um dilema de política econômica: a política que neutraliza a queda no produto agregado, aumentando a demanda agregada, levará a uma inflação mais alta, mas a política que combate a inflação, reduzindo a demanda agregada, vai aprofundar a crise de produto.

Palavras-chave Curva da demanda agregada, p. 304 Efeito riqueza de uma variação no nível de preços agregado, p. 297 Efeito da taxa de juros de uma variação no nível de preços agregado, p. 298 Curva da oferta agregada, p. 304 Salários nominais, p. 304 Salários rígidos, p. 304 Curva da oferta agregada de curto prazo, p. 305 Curva da oferta agregada de longo prazo, p. 308 Produto potencial, p. 310 Modelo AD-AS, p. 313

Equilíbrio macroeconômico de curto prazo, p. 313 Nível de preços agregado de equilíbrio de curto prazo, p. 314 Produto agregado de equilíbrio de curto prazo, p. 314 Choque de demanda, p. 314 Choque de oferta, p. 315 Estagflação, p. 315 Equilíbrio macroeconômico de longo prazo, p. 316 Hiato de recessão, p. 316 Hiato inflacionário, p. 318 Hiato de produto, p. 319 Autocorreção, p. 319 Política de estabilização, p. 320

Problemas 1. Uma queda no valor do dólar em relação a outras moedas torna os bens e serviços finais americanos mais baratos para os estrangeiros, embora o nível de preços agregado nos Estados Unidos permaneça o mesmo. Em consequência, os estrangeiros demandam mais produto agregado. Seu colega de estudo diz que isso representa um movimento para baixo na curva da demanda agregada porque os estrangeiros estão demandando mais, em resposta a um preço inferior. Você, no entanto, insiste que isso representa um deslocamento da curva da oferta agregada para a direita. Quem está certo? Explique. 2. Seu colega de estudo está confuso com a inclinação para cima da curva da oferta agregada de curto prazo e com o formato vertical da curva da oferta agregada de longo prazo. Como você explica isso? 3. Suponha que em Wageland todos os trabalhadores assinem contratos salariais anuais no dia 1° de janeiro. Não importa o que aconteça com os preços dos bens e serviços finais durante o ano, todos os trabalhadores ganham o salário especificado no seu contrato anual. Este ano, os preços dos bens e serviços finais caíram inesperadamente após os contratos terem sido assinados. Responda às questões seguintes usando um gráfico e suponha que a economia comece no seu produto potencial. a. No curto prazo, como a quantidade de produto agregado ofertada responde à queda de preços? b. O que acontecerá quando as empresas e os trabalhadores renegociarem os salários? 4. Em cada um dos casos seguintes, no curto prazo, determine se os eventos causam um deslocamento da curva ou um movimento ao longo da curva. Determine qual curva está envolvida e a direção da mudança. a. Em consequência de um aumento no valor do dólar em relação a outras moedas, os produtores americanos passaram a pagar menos em termos de dólar por aço estrangeiro, uma das principais commodities usadas na produção. b. Um aumento na quantidade de moeda pelo Federal Reserve aumenta a quantidade de dinheiro que as pessoas querem emprestar, reduzindo as taxas de juros.

c. Uma atividade sindical mais intensa leva a salários nominais mais altos. d. A queda no nível de preços agregado aumenta o poder de compra do dinheiro em poder das famílias e empresas. Como resultado, eles tomam emprestado menos e emprestam mais. 5. No diagrama a seguir, a economia está no ponto A. Suponha que o nível de preços agregado sobe de P1 para P2. Como a oferta agregada se ajustará ao aumento no nível de preços agregado no curto prazo e no longo prazo?

6. Suponha que todas as famílias mantenham toda a riqueza em ativos que sobem de valor automaticamente quando o nível de preços agregado aumenta (um exemplo disso seria um “bônus indexado pela inflação” – um bônus cuja taxa de juros, entre outras coisas, varia exatamente na mesma medida que a taxa de inflação). O que acontece com o efeito riqueza de uma variação no nível de preços agregado como resultado dessa alocação de ativos? O que acontece com a inclinação da curva da oferta agregada? Continuará ainda para baixo? Explique. 7. Suponha que a economia esteja atualmente no produto potencial. Suponha também que você seja um formulador de política econômica e que um estudante de economia lhe peça para classificar, se possível, os tipos de choques do mais preferido ao menos preferido: choque de demanda positivo, choque de demanda negativo, choque de oferta positivo, choque de oferta negativo. Como você os classificaria e por quê? 8. Explique se as seguintes políticas governamentais afetam a curva da demanda agregada ou a curva da oferta agregada de curto prazo e como. a. O governo reduz o salário mínimo nominal. b. O governo aumenta os pagamentos da Assistência Temporária para as Famílias Carentes (TANF), transferências do governo para famílias com crianças dependentes. c. Para reduzir o déficit orçamentário, o governo anuncia que as famílias vão pagar impostos muito mais elevados a partir do próximo ano. d. O governo reduz os gastos militares. 9. Em Wageland, todos os trabalhadores assinam contratos salariais anuais em 1° de janeiro. No final de janeiro, um novo sistema operacional para os computadores é introduzido, aumentando muito a produtividade do trabalho. Explique como Wageland

vai passar de um equilíbrio macroeconômico de curto prazo para outro. Ilustre com um gráfico. 10. O Conference Board dos Estados Unidos divulga o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) de cada mês com base em uma pesquisa por amostra de domicílios que abrange 5.000 domicílios representativos. O índice é usado por muitos economistas para controlar o estado da economia. Um comunicado do Conference Board à imprensa, em 28 de junho de 2011, informou: “O Índice de Confiança do Consumidor do Conference Board, que tinha caído em maio, voltou a cair em junho. O índice agora está em 58,5 (1985 = 100), abaixo dos 61,7 de maio.” a. Como economista, essa notícia é animadora para o crescimento econômico? b. Explique a resposta do item a, com a ajuda do modelo AD-AS. Desenhe um gráfico típico mostrando dois pontos de equilíbrio (E1) e (E2). Denomine o eixo vertical “Nível de preços agregado” e o eixo horizontal, “PIB real”. Suponha que todos os outros fatores macroeconômicos principais permaneçam inalterados. c. Como o governo deve reagir a essa notícia? Quais são algumas das medidas de política econômica que o governo poderia usar para ajudar a neutralizar o efeito da queda da confiança do consumidor? 11. Houve dois grandes choques na economia dos Estados Unidos em 2007, levando a uma severa recessão de 2007 a 2009. Um choque estava relacionado aos preços do petróleo, o outro à queda no mercado imobiliário. Essa questão analisa o efeito desses dois choques no PIB usando o modelo AD-AS. a. Trace as curvas usuais de demanda agregada e de oferta agregada de curto prazo. Indique o ponto de equilíbrio E1, a quantidade de equilíbrio Y1 e o preço de equilíbrio P1. b. Dados extraídos do Departamento de Energia indicam que o preço médio do petróleo cru aumentou no mundo de $54,63 por barril, no dia 5 de janeiro de 2007, para $92,93, em 28 de dezembro de 2007. Um aumento nos preços do petróleo irá causar um choque de demanda ou um choque de oferta? Refaça o gráfico do item a para ilustrar o efeito desse choque, deslocando a curva apropriada. c. O Índice de Preços dos Imóveis Residenciais, publicado nos Estados Unidos pelo Office of the Federal Housing Enterprise Oversight, calcula que os preços das residências tenha caído em média 3,0% nos 12 meses, entre janeiro de 2007 e janeiro de 2008. A queda nos preços das residências irá causar um choque de oferta ou um choque de demanda? Refaça o gráfico do item b para ilustrar o efeito desse choque, deslocando a curva adequada. Denomine o novo ponto de equilíbrio de E3, a quantidade de equilíbrio de Y3 e o preço de equilíbrio de P3. d. Compare os pontos de equilíbrio E1 e E3, no gráfico, no item c. Qual foi o efeito dos dois choques no PIB real e no nível de preços agregado (aumento, redução ou indeterminado)? 12. Usando as curvas de demanda agregada, de oferta agregada de curto prazo, de oferta agregada de longo prazo, explique o processo pelo qual cada um dos seguintes eventos econômicos moverá a economia de um equilíbrio macroeconômico de longo prazo para

outro. Ilustre com gráficos. Em cada caso, quais são os efeitos de curto prazo e de longo prazo sobre o nível de preços agregado e sobre o produto agregado? a. Há uma diminuição na riqueza das famílias, devido a uma queda no mercado de ações. b. O governo reduz impostos, deixando as famílias com mais renda disponível, sem redução correspondente nas compras governamentais. 13. Usando as curvas de demanda agregada, de oferta agregada de curto prazo e de oferta agregada de longo prazo, explique o processo pelo qual cada uma das seguintes políticas governamentais moverá a economia de um equilíbrio macroeconômico de longo prazo para outro. Ilustre com gráficos. Em cada caso, quais são os efeitos de curto prazo e de longo prazo sobre o nível de preços agregado e sobre o produto agregado? a. Aumento dos impostos sobre as famílias. b. Aumento na quantidade de dinheiro. c. Aumento nos gastos do governo. 14. A economia está em equilíbrio macroeconômico de curto prazo no ponto E1 do gráfico. Com base no gráfico, responda às questões seguintes.

a. A economia está enfrentando um hiato inflacionário ou um hiato de recessão? b. Que políticas o governo pode implementar para trazer a economia de volta ao equilíbrio macroeconômico de longo prazo? Ilustre com um gráfico. c. Se o governo não interferisse para fechar o hiato, a economia voltaria ao equilíbrio macroeconômico de longo prazo? Explique e ilustre com um gráfico. d. Quais são as vantagens e desvantagens de o governo implementar políticas para fechar o hiato? 15. No gráfico a seguir, a economia está em equilíbrio macroeconômico de longo prazo no ponto E1, quando um choque do petróleo desloca a curva da oferta agregada de curto prazo para SRAS2. Com base no gráfico, responda às questões seguintes.

a. Como o nível de preços agregado e o produto agregado variam no curto prazo como resultado do choque do petróleo? Como esse fenômeno é conhecido? b. Que política fiscal ou monetária o governo pode usar para enfrentar os efeitos de um choque de oferta negativo? Use um gráfico que mostre o efeito das políticas escolhidas para enfrentar a variação do PIB real. Use outro gráfico para mostrar o efeito das políticas escolhidas para enfrentar a variação no nível de preços agregado. c. Por que os choques de oferta apresentam um dilema para os formuladores de política econômica? 16. O final dos anos 1990 nos Estados Unidos foi caracterizado pelo crescimento econômico substancial com baixa inflação, isto é, o PIB real aumentou com pouco, ou nenhum, aumento do nível de preços agregado. Explique essa experiência usando as curvas da demanda agregada e da oferta agregada. www.worthpublishers.com/krugmanwells

C APÍ T UL O 13

Política Fiscal

O que você vai aprender neste capítulo • O que é a política fiscal e por que é uma ferramenta importante na gestão das flutuações econômicas. • Que políticas constituem a política fiscal expansionista e quais constituem a política fiscal contracionista. • Por que a política fiscal tem um efeito multiplicador e como esse efeito é influenciado pelos estabilizadores automáticos. • Por que os governos calculam o saldo orçamentário ajustado ciclicamente. • Por que uma dívida pública elevada pode ser motivo de preocupação. • Por que o passivo implícito do governo também é motivo de preocupação.

Deve-se estimular ou não? Em 17 de fevereiro de 2009, o Presidente Obama assinou o American Recovery and Reinvestment Act (Decreto Americano de Recuperação e Reinvestimento), um pacote de gastos, auxílio e cortes de impostos de $787 bilhões destinados a ajudar a economia americana em crise a reverter uma recessão severa que começou em dezembro de 2007. Uma semana antes, quando o projeto de lei se aproximava da aprovação final no Congresso, Obama elogiou a medida: “Tem o tamanho certo; o âmbito correto. De um modo geral, tem as prioridades desejáveis para criar empregos que irão alavancar a economia e transformá-la para o século XXI.” Havia quem não tivesse tanta certeza. Alguns argumentaram que o governo deveria cortar gastos e não aumentá-los, num momento em que as famílias americanas estavam sofrendo. “É hora de o governo apertar o cinto e mostrar ao povo que conseguiremos”, disse John Boehner, líder dos republicanos na Câmara dos Representantes. Alguns analistas econômicos alertaram que o projeto de lei de estímulo, como o decreto de recuperação comumente era chamado, elevaria as taxas de juros e aumentaria o peso da dívida nacional. Outros tinham queixa oposta – que o estímulo era muito pequeno em comparação com os problemas da economia. Por exemplo, Joseph Stiglitz, ganhador do Prêmio Nobel de Economia de 2001, argumentou sobre o estimulo: “Antes de tudo, deveria ser bastante evidente que não é o suficiente a partir do que acabei de dizer: está tentando compensar a deficiência na demanda agregada, mas é muito pouco.” Nem a passagem do tempo irá resolver esses conflitos. É verdade que algumas previsões provaram ser falsas. De um lado, a esperança de Obama de que o decreto iria “alavancar ” a economia ficou aquém: embora a recessão tenha terminado oficialmente em junho de 2009, o desemprego manteve-se elevado até 2011 e parte de 2012, época em que o ciclo do estímulo já havia terminado. Por outro lado, a taxa de juros em ascensão prevista pelos oponentes do estímulo não se materializou, pois os custos de empréstimo dos Estados Unidos se mantiveram em níveis historicamente baixos. Mas o efeito líquido do estímulo permaneceu controverso, com os adversários argumentando que não tinha

conseguido ajudar a economia e os defensores argumentando que tudo teria sido muito pior sem o decreto. Seja qual for o veredito – e essa é uma questão que os economistas e historiadores provavelmente irão arguir pelas próximas décadas – o Decreto de Recuperação de 2009 foi um exemplo clássico de política fiscal, o uso de gastos do governo e de impostos para gerenciar a demanda agregada. Neste capítulo veremos como a política fiscal se encaixa nos modelos de flutuação econômica que estudamos nos Capítulos 11 e 12. Também veremos por que os déficits orçamentários e a dívida pública podem ser um problema e como as preocupações de curto e longo prazo podem puxar a política fiscal em várias direções.

Política fiscal: conceitos básicos Comecemos pelo óbvio: os governos modernos, em países economicamente avançados, gastam grande quantidade de dinheiro e coletam grande quantidade de impostos. A Figura 13-1 mostra o gasto público e as receitas fiscais como porcentagem do PIB para uma seleção de países de alta renda em 2007. (Concentramo-nos em 2007, ao invés de em um ano mais recente, porque foi um ano em grande parte “normal”. Os números dos anos seguintes foram muito afetados pela crise financeira de 2008 e suas consequências.) Como se vê, o setor público da Suécia é relativamente grande, representando mais da metade da economia sueca. O governo dos Estados Unidos tem um papel menor na economia do que o governo do Canadá e da maioria dos países europeus. Mas ainda exerce um poder considerável, com o governo desempenhando um papel importante na economia dos Estados Unidos. Em decorrência, variações no orçamento federal – variações no gasto do governo ou na tributação, podem ter grande impacto na economia americana.

FIGURA 13-1 Gasto público e receita tributária de alguns países de renda alta em 2007 Concentramo-nos em 2007, porque foi um ano “normal” e não um ano de crise econômica profunda. O gasto do governo e a receita tributária são representados como porcentagem do PIB. A Suécia tem um setor de governo particularmente grande, representando mais de metade do seu PIB. O setor de governo dos Estados Unidos, embora considerável, é menor do que o do Canadá e da maioria dos países europeus. Fonte: OCDE.

Para analisar esses efeitos, começaremos mostrando como impostos e gastos públicos afetam o fluxo de renda da economia. Então, poderemos ver como a variação nos gastos públicos e na política fiscal afetam a demanda agregada.

Imposto, compra de bens e serviços, transferências governamentais e empréstimos Na Figura 7-1, mostramos o fluxo circular de renda e os gastos na economia em seu conjunto. Um dos setores representados nessa figura é o governo. Os fundos fluem para dentro do governo na forma de impostos e tomada de empréstimos pelo governo. Os fundos fluem para fora na forma de compras governamentais de bens e serviços e transferências do governo às famílias. Que tipos de impostos os americanos pagam e para onde vai o dinheiro? A Figura 13-2 mostra a composição da receita tributária dos Estados Unidos em 2007. Impostos, é claro, são pagamentos exigidos pelo governo. Nos Estados Unidos, os impostos são arrecadados em nível nacional pelo governo federal; em nível estadual por cada governo estadual e em nível local pela municipalidade e outras entidades de governo locais. Em nível federal, os impostos que geram a maior receita são o imposto de renda sobre pessoa física e jurídica e os impostos para a previdência social, a serem explicados adiante. Nos níveis estadual e local, o quadro é mais complexo: esses governos se apoiam em uma combinação de impostos sobre vendas, sobre a propriedade, sobre renda e taxas de vários tipos. No geral, os impostos sobre a renda pessoal e os lucros das empresas representaram 48% da receita total do governo em 2007; os impostos para a previdência social representaram 25%; e uma variedade de outros impostos, coletados principalmente em níveis estadual e municipal, correspondeu ao restante.

FIGURA 13-2 Fontes de receitas fiscais nos Estados Unidos, 2007 Imposto de renda sobre pessoa física, impostos sobre o lucro das empresas e impostos para a previdência social constituem a maioria da receita tributária do governo. O restante é uma mistura de impostos sobre propriedade, sobre vendas e outras fontes de receita. Fonte: Bureau of Economic Analysis.

A Figura 13-3 mostra a composição do gasto público total dos Estados Unidos em 2007, que assume duas formas amplas. Uma das formas é a compra de bens e serviços. Isso inclui tudo, desde munição para o Exército até salários dos professores das escolas

públicas (que são tratados nas contas nacionais como provedores de um serviço – educação). Os grandes itens aqui são defesa nacional e educação. A grande categoria denominada “Outros bens e serviços” consiste principalmente de gastos dos estados e municípios em uma variedade de serviços, desde policiamento e bombeiros até a construção de estradas e sua manutenção.

FIGURA 13-3 Gasto público nos Estados Unidos, 2007 Os dois tipos de gasto do governo são compras de bens e serviços e transferências governamentais. Os grandes itens de compra do governo são a defesa nacional e a educação. Os grandes itens de transferências do governo são a Previdência Social e os programas de saúde Medicare e Medicaid. (Os números não somam 100% devido ao arredondamento.) Fonte: Bureau of Economic Analysis.

A outra forma de gasto público são as transferências governamentais, que são pagamentos por parte do governo às famílias em troca dos quais não é oferecido nenhum bem ou serviço. Nos Estados Unidos moderno, bem como no Canadá e na Europa, as transferências do governo representam uma proporção muito grande do orçamento. A maior parte do gasto público em pagamentos de transferência nos Estados Unidos corresponde a três grandes programas: ■ Previdência Social, que proporciona renda garantida aos mais velhos, aos deficientes e aos cônjuges sobreviventes de crianças dependentes de beneficiários falecidos ou aposentados. ■ Medicare, que cobre grande parte do custo dos cuidados de saúde para os americanos com mais de 65 anos. ■ Medicaid, que cobre grande parte do custo de serviços de saúde para os americanos de baixa renda. O termo previdência social é usado para descrever programas governamentais que se destinam a proteger as famílias contra dificuldades econômicas. Incluem a Previdência Social e os dois grandes programas de saúde (Medicare e Medicaid), bem como programas menores, como seguro-desemprego e vale-refeição. Nos Estados Unidos, os

programas de previdência social são, em grande parte, pagos por meio de um imposto vinculado específico, que incide sobre os salários – o imposto de previdência social mencionado anteriormente. Mas como a política fiscal e de gastos do governo afeta a economia? A resposta é que a tributação e os gastos do governo têm um forte efeito sobre o gasto agregado total da economia.

Orçamento público e gasto total Recordemos a equação básica da contabilidade da renda nacional:

(13-1) O lado esquerdo da equação é o PIB, o valor de todos os bens e serviços finais produzidos na economia. O lado direito é o gasto agregado, o gasto total em bens e serviços finais produzidos na economia. É a soma dos gastos de consumo (C), dos gastos de investimento (I), das compras governamentais de bens e serviços (G), e do valor das exportações (X) menos o valor das importações (IM). Inclui todas as fontes de demanda agregada. O governo controla diretamente uma das variáveis do lado direito da Equação 13-1: compras governamentais de bens e serviços (G). Mas esse não é o único efeito da política fiscal sobre o gasto agregado na economia. Por meio de variações nos impostos e nas transferências, o governo também influencia o gasto de consumo (C) e, em alguns casos, os gastos de investimento (I). Para ver porque o orçamento afeta os gastos de consumo, lembre-se que a renda disponível, ou seja, a renda total que as famílias têm disponível para gastar, é igual à receita total que recebem em salários, dividendos, juros e aluguéis, menos impostos, mais transferências governamentais. Assim, um aumento de impostos ou uma redução nas transferências governamentais reduz a renda disponível. E uma queda na renda disponível, tudo o mais mantido constante, leva a uma queda nos gastos de consumo. Por outro lado, tanto uma diminuição de impostos como um aumento nas transferências do governo aumenta a renda disponível. E um aumento da renda disponível, tudo o mais mantido constante, leva a um aumento nos gastos de consumo. A capacidade do governo de afetar os gastos de investimento é uma história mais complexa, que não vamos discutir em detalhes. O ponto importante é que o governo tributa lucro e uma variação na regra sobre o quanto uma empresa deve pagar, pode aumentar ou reduzir o incentivo para gastar em bens de investimento. Como o próprio governo é uma fonte de gasto na economia, e como os impostos e transferências podem afetar os gastos dos consumidores e das empresas, o governo pode usar variações nos impostos ou nos gastos governamentais para deslocar a curva da demanda agregada. E, como vimos no Capítulo 12, às vezes há boas razões para deslocar a curva da demanda agregada. No início de 2009, como explicou a história de abertura

deste capítulo, a administração Obama acreditava que era crucial que o decreto do governo dos Estados Unidos aumentasse a demanda agregada – ou seja, deslocasse a curva da demanda agregada para a direita de onde, de outra forma, estaria. O pacote de estímulo de 2009 foi um exemplo clássico de política fiscal: o uso de impostos, transferências ou compras governamentais de bens e serviços para estabilizar a economia deslocando a curva da demanda agregada.

Política fiscal expansionista e contracionista Por que o governo queria deslocar a curva da demanda agregada? Talvez para fechar um hiato de recessão, criado quando o produto agregado cai abaixo do produto potencial, ou um hiato inflacionário, criado quando o produto agregado excede o produto potencial. A Figura 13-4 mostra o caso de uma economia que se defronta com um hiato de recessão. SRAS é a curva da oferta agregada de curto prazo, LRAS é a curva da oferta agregada de longo prazo e AD1 é a curva da demanda agregada inicial. No equilíbrio macroeconômico de curto prazo inicial, E1, o produto agregado é Y1, abaixo do produto potencial, YP. O que o governo queria fazer é aumentar a demanda agregada, deslocando a curva da demanda agregada para a direita, até AD2. Isto aumentaria o produto agregado, tornando-o igual a produto potencial. A política fiscal que aumenta a demanda agregada, denominada política fiscal expansionista, normalmente toma uma das três formas: ■ Um aumento nas compras governamentais de bens e serviços. ■ Um corte de impostos. ■ Um aumento nas transferências governamentais.

FIGURA 13-4 Política fiscal expansionista pode fechar um hiato de recessão A economia está em equilíbrio econômico de curto prazo em E1, onde a curva de demanda agregada, AD1, intercepta a curva SRAS. No entanto, não é um equilíbrio macroeconômico de longo prazo. Em E1, há um hiato de recessão de YP − Y1. Uma política fiscal expansionista – aumento das compras governamentais de bens e serviços, redução de impostos ou aumento das transferências governamentais – desloca a curva da demanda agregada para a direita. Pode fechar o hiato de recessão deslocando AD1 para AD2, movendo a economia para um novo equilíbrio macroeconômico de curto prazo, E2, que também é um equilíbrio macroeconômico de longo prazo.

O Decreto Americano de Recuperação e Reinvestimento, ou, simplesmente, Decreto de Recuperação, foi uma combinação de todos os três: aumento direto no gasto federal e auxílio aos governos estaduais para ajudá-los a manter os gastos, corte de impostos para a maioria das famílias e aumento da ajuda aos desempregados. A Figura 13-5 mostra o caso oposto – uma economia enfrentando um hiato inflacionário. Novamente, SRAS é a curva de oferta agregada de curto prazo, LRAS é a curva da oferta agregada de longo prazo, e AD1 é a curva da demanda agregada inicial. No equilíbrio inicial, E1, o produto agregado é Y1, acima do produto potencial, YP. Como explicaremos nos capítulos posteriores, os formuladores de política econômica costumam tentar debelar a inflação, eliminando os hiatos inflacionários. Para eliminar o hiato inflacionário mostrado na Figura 13-5, a política fiscal deve reduzir a demanda agregada e deslocar a curva da demanda agregada para a esquerda, para AD2. Isso reduz o produto agregado e o torna igual ao produto potencial. A política fiscal que reduz a demanda agregada, chamada política fiscal contracionista, é o oposto da política fiscal expansionista. É implementada de três formas possíveis: 1. Redução nas compras governamentais de bens e serviços. 2. Aumento de impostos. 3. Redução das transferências governamentais

FIGURA 13-5 Política fiscal contracionista pode fechar um hiato inflacionário A economia está em equilíbrio macroeconômico de curto prazo em E1, onde a curva da demanda agregada, AD1, intercepta a curva SRAS. Mas não está em equilíbrio macroeconômico de longo prazo. Em E1, existe um hiato inflacionário de Y1 − YP. Uma política fiscal contracionista – redução das compras governamentais de bens e serviços, aumento de impostos ou redução das transferências governamentais – desloca a curva da demanda agregada para a esquerda. Fecha o hiato inflacionário deslocando AD1 para AD2, movendo a economia para um novo equilíbrio macroeconômico de curto prazo, E2, que também é um equilíbrio macroeconômico de longo prazo.

Um exemplo clássico de política fiscal contracionista ocorreu em 1968, quando os formuladores de política econômica dos Estados Unidos estavam preocupados com o aumento da inflação. O Presidente Lyndon Johnson impôs um adicional de 10% temporário sobre o imposto de renda tributável – o imposto de renda de todas as pessoas aumentou 10%. Também tentou reduzir a escala de compras governamentais de bens e serviços, que haviam crescido drasticamente por causa dos custos da Guerra do Vietnã.

A política fiscal expansionista pode de fato funcionar? Na prática, o uso da política fiscal – em particular, o uso da política fiscal expansionista em face de um hiato de recessão – muitas vezes é controverso. Examinaremos em detalhe as origens dessas controvérsias no Capítulo 17. Mas, por ora, resumiremos rapidamente os principais pontos de debate sobre a política fiscal expansionista, para que possamos entender quando as críticas são, ou não, justificadas. De modo geral, existem três argumentos contra o uso da política fiscal expansionista. ■ Gastos do governo sempre deslocam o gasto privado. ■ Empréstimos do governo sempre deslocam os gastos de investimento privado. ■ Déficits orçamentários do governo levam à redução do gasto privado. A primeira dessas alegações a princípio está errada, entretanto, desempenhou um papel proeminente nos debates públicos. A segunda é válida apenas em algumas circunstâncias. A terceira, ainda que levante algumas questões importantes, não é uma boa razão para acreditar que a política fiscal expansionista não funcione.

Alegação 1: “Gastos do governo sempre deslocam o gasto privado” Há quem afirme que a política fiscal expansionista nunca poderá aumentar o gasto agregado e, portanto, nunca poderá aumentar a renda agregada, por certas razões: “Cada dólar gasto pelo governo é US$1 tirado do setor privado: assim, qualquer aumento no gasto do governo deve ser compensado por uma queda igual do consumo privado.” Em outras palavras, cada dólar gasto pelo governo crowds out, ou seja, desloca US$1 do gasto privado. Então, o que há de errado com esse ponto de vista? A resposta é que a afirmação está errada porque assume que os recursos da economia estão sempre bem empregados e, como resultado, a renda agregada obtida na economia é sempre um montante fixo – mas isso não é verdade. Em particular, quando a economia está passando por um hiato de recessão, há recursos não empregados na economia e na produção e, portanto, a renda está abaixo do nível potencial. A política fiscal expansionista, durante esses períodos, coloca recursos não empregados para funcionar e gera gastos e renda mais elevados. Portanto, o argumento de que a política fiscal expansionista sempre desloca o gasto privado, a princípio, está errado.

Alegação 2: “Empréstimos do governo sempre deslocam os gastos de investimento privado” No Capítulo 10, discutimos a possibilidade de os empréstimos do governo usarem os fundos que de outra forma teriam sido usados pelos gastos de investimento privado, isto é, o deslocamento dos gastos de investimento privado. Qual a validade desse argumento? A resposta é “depende”. Especificamente, depende de a economia estar deprimida ou não. Se não estiver deprimida, então o aumento da dívida pública, ao aumentar a demanda de fundos para empréstimo, pode elevar as taxas de juros e deslocar (crowd out) os gastos de investimento privado. No entanto, e se a economia estiver deprimida? Nesse caso, o deslocamento é muito menos provável. Quando a economia estiver muito abaixo do pleno emprego, a expansão fiscal vai levar a rendas mais elevadas, que por sua vez levarão ao aumento da poupança a qualquer taxa de juros dada. Esse conjunto maior de poupança permite ao governo tomar emprestado, sem aumentar as taxas de juros. O Decreto de Recuperação de 2009 foi esse caso em questão: apesar do alto nível da dívida pública, a taxa de juros dos Estados Unidos ficou perto de mínimos históricos.

Alegação 3: “Déficits orçamentários do governo levam à redução do gasto privado” Tudo o mais mantido constante, a política fiscal expansionista leva a um maior déficit orçamentário e a mais dívida pública. E um aumento da dívida acabará por exigir que o governo aumente os impostos para pagar a dívida. Assim, de acordo com o terceiro argumento contra a política fiscal expansionista, os consumidores, antecipando que

deverão pagar mais impostos no futuro para saldar a dívida do governo de hoje, irão cortar seus gastos de hoje, para poupar dinheiro. Esse argumento, dito pela primeira vez pelo economista David Ricardo no século XIX, é conhecido como equivalência ricardiana. É um argumento sempre usado para inferir que a política fiscal expansionista não terá nenhum efeito sobre a economia, porque os consumidores de visão irão desfazer qualquer tentativa de expansão do governo. (E, nesse sentido, também irão desfazer qualquer política fiscal contracionista.) Na realidade, porém, é duvidoso que os consumidores se comportem com tal previsão e disciplina orçamentária. A maioria das pessoas, quando tem dinheiro extra (gerado pela expansão fiscal), vai gastar pelo menos parte dele. Assim, mesmo a política fiscal que toma a forma de cortes de impostos temporários ou transferências de dinheiro para os consumidores, provavelmente terá efeito expansionista. Além disso, é possível mostrar que, mesmo com a equivalência ricardiana, um aumento temporário nos gastos do governo, que envolva compras diretas de bens e serviços – tal como um programa de construção de estradas – ainda vai levar a um aumento no total nos gastos no curto prazo. Isso porque, mesmo que os consumidores cortem os gastos correntes, em antecipação a impostos mais elevados no futuro, a redução dos gastos ocorrerá durante um período prolongado, à medida que os consumidores economizarem ao longo do tempo para pagar a conta de impostos no futuro. Enquanto isso, os gastos do governo adicionais estarão concentrados no futuro próximo, enquanto a economia precise deles. Assim, embora os efeitos enfatizados pela equivalência ricardiana possam reduzir o impacto da expansão fiscal, a alegação de que torna a expansão fiscal completamente ineficaz não é consistente nem com a forma como os consumidores de fato se comportam nem é uma razão para acreditar que o aumento nos gastos do governo não tenha efeito. Então, no final, não é um argumento válido contra a política fiscal expansionista. Em resumo, até que ponto deve-se esperar que a política fiscal expansionista funcione depende das circunstâncias. Quando a economia tem um hiato de recessão – como tinha quando o Decreto de Recuperação de 2009 foi aprovado – a economia nos diz que esse é exatamente o tipo de situação em que a política fiscal expansionista ajuda a economia. No entanto, quando a economia já está no pleno emprego, a política fiscal expansionista é uma política errada e vai levar a um deslocamento, uma economia superaquecida, e à inflação mais elevada.

Nota de advertência: defasagens na política fiscal Observando as Figuras 13-4 e 13-5, pode parecer óbvio que o governo deva usar ativamente a política fiscal – sempre adotando uma política fiscal expansionista, quando a economia enfrenta um hiato de recessão, e sempre adotando uma política fiscal contracionista, quando a economia enfrenta um hiato inflacionário. Mas muitos economistas alertam contra uma política de estabilização extremamente ativa, argumentando que um governo que se esforça demais para estabilizar a economia, seja pela política fiscal ou monetária – pode acabar tornando a economia menos estável.

Vamos deixar a discussão das advertências relacionadas com a política monetária para o Capítulo 15. No caso de política fiscal, uma das principais razões para cautela é que há defasagens de tempo importantes entre o momento em que a política é decidida e quando é implementada. Para compreender a natureza dessas defasagens, imagine o que tem que acontecer antes que o governo possa aumentar os gastos para combater um hiato de recessão. Primeiro, o governo tem que perceber que o hiato de recessão existe: dados econômicos levam tempo para serem coletados e analisados, e as recessões muitas vezes são reconhecidas apenas alguns meses depois de terem começado. Segundo, o governo tem que elaborar um plano de gastos, que pode levar meses, particularmente se os políticos levarem tempo debatendo como o dinheiro deve ser gasto, além de o plano ter que ser aprovado pela legislação. Finalmente, é preciso tempo para gastar dinheiro. Por exemplo, um projeto de construção de estrada começa com atividades como levantamento e mapeamento, que não envolvem grandes somas. Pode passar algum tempo antes de os gastos significativos começarem a ser requeridos. Devido a essas defasagens, uma tentativa de aumentar os gastos públicos para combater um hiato de recessão pode demorar tanto tempo para ser implementada que a economia pode até já ter se recuperado por conta própria. Na verdade, o hiato de recessão pode ter se transformado em um hiato inflacionário no momento em que a política fiscal tiver efeito. Nesse caso, a política fiscal vai piorar a situação, em vez de melhorar. Isso não significa que a política fiscal nunca deva ser usada ativamente. No início de 2009 havia uma boa razão para acreditar que a crise enfrentada pela economia dos Estados Unidos seria tanto longa quanto profunda e que um estímulo fiscal, projetado para chegar dentro de dois anos, quase que certamente iria impulsionar a demanda agregada na direção certa. Na verdade, como veremos mais adiante neste capítulo, o estímulo de 2009, sem dúvida, desapareceu muito cedo, deixando a economia ainda profundamente deprimida. Mas o problema das defasagens torna o uso efetivo da política fiscal e monetária mais difícil do que se possa imaginar a partir de uma análise simples como a que acabamos de apresentar.

Economia em ação O que havia no decreto de recuperação? Como acabamos de ver, o estímulo fiscal pode assumir três formas: aumento das compras de bens e serviços do governo, aumento dos pagamentos de transferência e cortes de impostos. Então, que forma tomou o Decreto de Recuperação? A resposta é um pouco complicada. A Figura 13-6 mostra a composição do impacto no orçamento do Decreto de Recuperação, uma medida que acrescenta o valor do dólar dos cortes de impostos, pagamentos de transferências e gastos governamentais. Aqui, os números foram divididos em quatro categorias, e não três. “Infraestrutura e outros gastos” significa gastos em estradas, pontes e escolas, bem como infraestrutura “não tradicional”, como

pesquisa e desenvolvimento, que se enquadram nas compras do governo de bens e serviços. “Os cortes de impostos” são autoexplicativos. “Pagamentos de transferência para as pessoas” na maioria das vezes toma a forma de benefícios expandidos aos desempregados. Mas uma quarta categoria, “transferência para os governos estaduais e municipais”, leva quase um terço dos fundos. Por que essa quarta categoria?

FIGURA 13-6 Decreto americano de recuperação e reinvestimento de 2009 (bilhões de dólares)

Porque os Estados Unidos têm vários níveis de governo. Os autores vivem em Princeton Township, que tem seu próprio orçamento, que é parte de Mercer County, que tem seu próprio orçamento, que faz parte do estado de New Jersey, que tem seu próprio orçamento, que faz parte dos Estados Unidos. Um dos efeitos da recessão foi uma queda acentuada na receita nos níveis estadual e municipal, que por sua vez forçou esses níveis inferiores de governo a cortar gastos. A ajuda federal – transferências para governos estaduais e municipais – pretendia mitigar esses cortes de gastos. Talvez o aspecto mais surpreendente do Decreto de Recuperação foi que os gastos federais eram muito pouco envolvidos diretamente com bens e serviços. A maior parte do programa envolvia fornecer dinheiro a outras pessoas, de uma forma ou de outra, na esperança de que gastassem.

Breve revisão ■ Os principais canais de política fiscal são impostos e gastos governamentais. O gasto público toma a forma de compras de bens e serviços, bem como de transferências. ■ Nos Estados Unidos, a maioria das transferências governamentais se faz por conta de programas de seguro social, programas destinados a aliviar as dificuldades econômicas – principalmente Previdência Social, Medicare e Medicaid. ■ O governo controla G diretamente e influencia C e I por meio de impostos e

transferências. ■ Uma política fiscal expansionista é implementada por intermédio do aumento de gastos do governo, corte de impostos ou aumento de transferências governamentais. Uma política fiscal contracionista é implementada por uma redução de gastos do governo, aumento de impostos ou redução de transferências governamentais. ■ Argumentos contra a eficácia da política fiscal expansionista baseados no deslocamento do investimento privado (crowding out) são válidos apenas quando a economia está em pleno emprego. O argumento de que a política fiscal expansionista não vai funcionar por causa da equivalência ricardiana – que os consumidores vão cortar os gastos hoje para compensar o aumento de impostos esperado no futuro –, na prática, parece falso. O que claramente é verdadeiro é que as defasagens temporais podem reduzir a eficácia da política fiscal e, potencialmente, torná-la contraproducente.

Teste seu entendimento 13-1 1. Em cada um dos seguintes casos, determine se a política é uma política fiscal expansionista ou contracionista. a. Várias bases militares em todo o país, que juntas empregavam dezenas de milhares de pessoas, foram fechadas. b. Houve aumento no número de semanas que uma pessoa desempregada é elegível para o subsídio de desemprego. c. Houve aumento no imposto federal sobre a gasolina. 2. Explique por que os programas de emergência a desastres, que desembolsam rapidamente fundos para vítimas de desastres naturais, como furacões, inundações e quebras de safra catastróficas, estabilizarão a economia de forma mais eficaz do que a assistência que tem que ser aprovada em lei. 3. A afirmação seguinte é verdadeira ou falsa? Explique. “Quando o governo se expande, o setor privado encolhe; quando o governo encolhe, o setor privado se expande.” As respostas estão no fim do livro.

Política fiscal e o multiplicador Uma política fiscal expansionista, como o pacote de estímulo de 2009 dos Estados Unidos, empurra a curva da demanda agregada para a direita. Uma política fiscal contracionista, como a sobretaxa de imposto de Lyndon Johnson, empurra a curva da demanda agregada para a esquerda. Para os formuladores de política econômica, no entanto, saber a direção do deslocamento não é suficiente: precisam saber quanto determinada política vai deslocar a curva da demanda agregada. Para obter esse cálculo, usam o conceito do multiplicador, que aprendemos no Capítulo 11.

Efeito multiplicador de um aumento das compras governamentais de bens e serviços Suponha que um governo decida gastar $50 bilhões na construção de pontes e estradas. As compras governamentais de bens e serviços aumentarão diretamente o gasto total em bens e serviços finais em $50 bilhões. Mas, como aprendemos no Capítulo 11, haverá também um efeito indireto: as compras governamentais darão início a uma reação em cadeia em toda a economia. As empresas que produzem bens e serviços adquiridos pelo governo terão receitas que fluirão para as famílias sob a forma de salários, lucros, juros e aluguéis. Esse aumento na renda disponível levará a um aumento nos gastos de consumo e esse aumento, por sua vez, induzirá as empresas a aumentar o produto, levando a um novo aumento na renda disponível, o que dará início a uma nova rodada de aumento dos gastos de consumo, e assim por diante. Como se sabe, o multiplicador é a razão entre a variação do PIB real causada por uma variação autônoma no gasto agregado do tamanho dessa variação autônoma. Um aumento nas compras governamentais de bens e serviços é um excelente exemplo de um aumento autônomo do gasto agregado. No Capítulo 11 consideramos um caso simples em que não há impostos nem comércio internacional, de modo que qualquer variação no PIB vai inteiramente para as famílias. Adotamos também o pressuposto de que o nível de preços agregado é fixo, de modo que qualquer aumento do PIB nominal é também um aumento no PIB real e que a taxa de juros é fixa. Nesse caso, o multiplicador é 1/ (1 − PMC). Lembre-se que PMC é a propensão marginal a consumir, a fração de US$1 adicional na renda disponível que é gasto. Por exemplo, se a propensão marginal a consumir for 0,5, o multiplicador será 1/ (1 − 0,5) = 1/0,5 = 2. Dado um multiplicador de 2, um aumento de $50 bilhões nas compras governamentais de bens e serviços aumentará o PIB real em $100 bilhões. Desses $100 bilhões, $50 bilhões é o efeito inicial do aumento em G e os restantes $50 bilhões é o efeito posterior decorrente do aumento nos gastos de consumo. O que acontecerá se as compras governamentais de bens e serviços, em vez disto, forem reduzidas? A matemática é exatamente a mesma, exceto que há um sinal de menos

na frente: se as compras governamentais de bens e serviços caírem em $50 bilhões e a propensão marginal a consumir for 0,5, o PIB real diminuirá em $100 bilhões.

Efeitos multiplicadores das variações nas transferências e impostos do governo A política fiscal expansionista ou contracionista não precisa tomar a forma de variação nas compras governamentais de bens e serviços. O governo também pode alterar pagamentos de transferência ou impostos. Em geral, no entanto, uma variação nas transferências governamentais ou nos impostos desloca a curva de demanda agregada menos do que uma variação de mesmo tamanho nas compras governamentais, resultando em um efeito menor sobre o PIB real. Para ver o porquê, imagine que em vez de gastar $50 bilhões na construção de pontes, o governo distribua $50 bilhões na forma de transferências governamentais. Nesse caso, não existe qualquer efeito direto sobre a demanda agregada, como houve com as compras governamentais de bens e serviços. O PIB real aumenta apenas porque as famílias gastam uma parte desses $50 bilhões, mas provavelmente não vão gastar o total. A Tabela 13-1 mostra uma comparação hipotética entre duas políticas fiscais expansionistas supondo uma PMC igual a 0,5 e um multiplicador igual a 2: uma em que o governo compra diretamente $50 bilhões em bens e serviços, e outra em que, em vez disso, o governo faz pagamentos de transferências, distribuindo um total de $50 bilhões em cheques para os consumidores. Em cada caso, há uma primeira rodada de efeito sobre o PIB real, seja de compras pelo governo ou de compras pelos consumidores que receberam os cheques, seguida de uma série de rodadas adicionais à medida que o PIB real crescente eleva a renda disponível. Tabela 13-1 Efeitos hipotéticos de uma política fiscal com multiplicador de 2 Efeito sobre o P IB real $50 bilhões de aumento nas compras governamentais de bens e serviços $50 bilhões de aumento nas transferências governamentais Primeira rodada $50 bilhões $25 bilhões S egunda rodada $25 bilhões $12,5 bilhões Terc eira rodada $12,5 bilhões $6,25 bilhões ... ... ... Efeito eventual $100 bilhões $50 bilhões

No entanto, o efeito da primeira rodada do programa de transferência é menor; como partimos da suposição de que a PMC é 0,5, apenas $25 bilhões, a metade dos $50 bilhões, será gasta, e os outros $25 bilhões serão poupados. E, em decorrência, todas as outras rendas também serão menores. No fim, os pagamentos de transferência aumentarão o PIB real em apenas $50 bilhões. Em comparação, um aumento de $50 bilhões nas compras governamentais produz um aumento de $100 bilhões no PIB real. Em geral, quando a política fiscal expansionista assume a forma de um aumento dos pagamentos de transferência, o PIB real pode aumentar em mais, ou menos, do que o gasto inicial do governo – ou seja, o multiplicador pode ser mais ou menos que 1,

dependendo do tamanho da PMC. Na Tabela 13-1, com uma PMC igual a 0,5, o multiplicador é exatamente 1: o aumento de $50 bilhões em pagamentos de transferência aumenta o PIB real em $50 bilhões. Se a PMC for inferior a 0,5, de modo que seja gasta uma parcela menor da transferência inicial, nessa transferência o multiplicador será menor que 1. Se for gasta uma parcela maior, o multiplicador será maior do que 1. Um corte de impostos tem efeito similar ao efeito de uma transferência. Aumenta a renda disponível, levando a uma série de aumentos nos gastos de consumo. Mas o efeito global é menor do que o de um aumento de mesmo tamanho nas compras governamentais de bens e serviços: o aumento autônomo no gasto agregado é menor porque as famílias poupam parte do montante do corte de impostos. Devemos observar também que os impostos produzem uma complicação adicional – normalmente alteram o tamanho do multiplicador. Isso porque, no mundo real, os governos raramente estabelecem impostos lump-sum, em que o montante de imposto de uma família é fixo, independetemente da sua renda. Com impostos lump-sum não há mudança no multiplicador. Em vez disso, a grande maioria da receita tributária é arrecadada por meio de impostos que não são lump-sum, e assim, a receita tributária depende do nível do PIB real. Como discutiremos em breve, e analisaremos em detalhe no apêndice deste capítulo, impostos que dependem do PIB real reduzem o tamanho do multiplicador. Na prática, os economistas muitas vezes argumentam que o tamanho do multiplicador determina quem entre a população deverá ter cortes de impostos ou aumento nas transferências governamentais. Por exemplo, compare os efeitos de um aumento no subsídio de desemprego com um corte de impostos sobre os lucros distribuídos aos acionistas como dividendos. Pesquisas sobre consumo sugerem que o trabalhador médio desempregado gastará, em média, uma proporção maior de sua renda disponível do que o faria, em média, alguém que receba renda a partir de dividendos. Ou seja, pessoas desempregadas tendem a ter uma PMC mais alta do que as pessoas que possuem uma grande quantidade de ações, pois estas últimas tendem a ser mais ricas e poupar uma proporção maior de qualquer aumento da renda disponível. Se isso for verdade, $1 gasto para pagar seguro-desemprego aumenta a demanda agregada mais do que $1 de corte de impostos sobre dividendos.

Como os impostos afetam o multiplicador Quando introduzimos a análise do multiplicador no Capítulo 11, simplificamos o assunto assumindo que um aumento de $1 no PIB real aumenta a renda disponível em $1. Na verdade, porém, os impostos cobrados pelo governo captam parte do aumento do PIB real que ocorre em cada rodada do processo do multiplicador, uma vez que a maioria dos impostos depende positivamente no PIB real. Em decorrência, a renda disponível aumenta menos que $1, quando são incluídos impostos no modelo. O aumento da receita tributária do governo quando o PIB real aumenta não é o resultado de uma decisão deliberada ou ação por parte do governo. É uma consequência da forma de formulação da legislação tributária, que faz a maioria das fontes de receita

pública aumentar automaticamente quando o PIB real aumenta. Por exemplo, a arrecadação do imposto de renda aumenta quando o PIB real aumenta, pois o montante que cada indivíduo tem que pagar em impostos depende positivamente da sua renda, e a renda tributável das famílias aumenta quando o PIB real aumenta. Receitas fiscais sobre vendas aumentam quando o PIB real aumenta porque as pessoas com maior renda gastam mais em bens e serviços. E a receita de imposto sobre lucros das empresas aumenta quando o PIB real aumenta porque os lucros aumentam quando a economia se expande. O efeito desses aumentos automáticos de receita tributária é reduzir o tamanho do multiplicador. Lembre-se que o multiplicador é o resultado de uma reação em cadeia em que um PIB real maior leva a uma renda disponível mais alta, o que leva a um gasto de consumo maior, o que leva a um subsequente aumento no PIB real. O fato de que o governo recolhe parte de qualquer aumento do PIB real significa que, em cada etapa desse processo, o aumento no gasto de consumo é menor do que teria sido se os impostos não fizessem parte do quadro. O resultado é a redução do multiplicador. O apêndice deste capítulo mostra como derivar o multiplicador quando se leva em conta impostos que dependem positivamente do PIB real. Muitos macroeconomistas acreditam que seja bom que na vida real os impostos reduzam o multiplicador. No Capítulo 12, argumentamos que a maioria das recessões, mas não todas, resulta de choques de demanda negativos. O mesmo mecanismo que causa o aumento da receita tributária quando a economia se expande causa uma diminuição da receita tributária quando a economia se contrai. Como a receita fiscal diminui quando o PIB real diminui, os efeitos desses choques de demanda negativos são menores do que seriam se não houvesse impostos. A redução da receita tributária reduz o efeito adverso de uma queda inicial de demanda agregada. A diminuição automática da receita tributária do governo gerada pela queda do PIB real – causada por uma diminuição na quantidade de impostos que as famílias pagam – age como uma política fiscal expansionista automática implementada em face de uma recessão. Da mesma forma, quando a economia se expande, o governo se vê automaticamente perseguindo uma política fiscal contracionista – um aumento de impostos. Os gastos do governo e regras de tributação que tornam a política fiscal automaticamente expansionista quando a economia se contrai e automaticamente contracionista quando a economia se expande, sem necessidade de qualquer ação deliberada dos formuladores de política econômica, são chamados de estabilizadores automáticos. As regras que regem a arrecadação de impostos não são os únicos estabilizadores automáticos, embora sejam os mais importantes. Alguns tipos de transferências governamentais também desempenham papel estabilizador. Por exemplo, mais pessoas recebem seguro-desemprego quando a economia está deprimida do que quando está crescendo. O mesmo se aplica à assistência médica e vale-refeição. Então, os pagamentos de transferência tendem a aumentar quando a economia está se contraindo e a cair quando a economia está se expandindo. Do mesmo modo que as variações na receita tributária, essas variações automáticas nas transferências tendem a reduzir o tamanho do

multiplicador, porque a variação total na renda disponível, que resulta de determinado aumento ou queda no PIB real, será menor. Como no caso da receita tributária do governo, muitos macroeconomistas acreditam que é bom que as transferências governamentais reduzam o multiplicador. Políticas fiscais expansionistas e contracionistas que resultam dos estabilizadores automáticos são consideradas amplamente úteis para a estabilização macroeconômica porque amenizam os extremos do ciclo econômico. Mas o que dizer da política fiscal que não é resultante de estabilizadores automáticos? Política fiscal discricionária é a política fiscal, que é o resultado direto de ações deliberadas pelos formuladores de política econômica e não de ajustes automáticos. Por exemplo, durante a recessão, o governo pode aprovar uma lei que reduza impostos e aumente os gastos do governo, a fim de estimular a economia. Em geral, os economistas tendem a apoiar o uso da política fiscal discricionária apenas em circunstâncias especiais, como uma recessão especialmente grave. Vamos explicar por que e descrever os debates entre os macroeconomistas sobre o papel apropriado da política fiscal, no Capítulo 18.

Economia em ação Multiplicadores e o estímulo de Obama O decreto americano de recuperação e reinvestimento, também conhecido como estímulo de Obama, foi o maior exemplo de expansão fiscal discricionária da história dos Estados Unidos. O estímulo total foi de $787 bilhões, embora nem tudo tenha sido gasto de uma vez: apenas cerca da metade, ou $400 bilhões do estímulo, chegou em 2010, o ano do impacto de pico. Mesmo assim, foi bastante – aproximadamente 2,7% do PIB. Mas foi o suficiente? Desde o início, houve dúvidas. A primeira descrição do estímulo planejado e dos efeitos esperados chegou no início de janeiro de 2009, de dois dos principais economistas da nova administração – Christina Romer, que iria dirigir o Conselho de Assessoria Econômica, e Jared Bernstein, que serviria como vice-presidente e economista principal. Romer e Bernstein eram explícitos sobre os multiplicadores adotados: com base em modelos desenvolvidos no Federal Reserve, o Banco Central Americano, e em outros lugares, assumiram um multiplicador de 1,57 para os gastos do governo e um multiplicador de 0,99 para os cortes de impostos. Essas premissas produziram um multiplicador geral para o estímulo de quase 1,4, implicando que o estímulo, em seu pico em 2010, adicionaria aproximadamente 3,7% ao PIB real. Estimaram, também, que reduziria o desemprego em aproximadamente 1,8 pontos percentuais em relação ao que, de outro modo, seria. Mas eis o problema: a crise que o estímulo de Obama estava tentando atacar foi provocada por uma crise financeira maior – e essas crises tendem a produzir depressões profundas, prolongadas. Pouco antes de Romer e Bernstein lançarem sua análise, outra equipe de economistas – Carmen Reinhart, da Universidade de Maryland, e Kenneth Rogoff, de Harvard – circularam um artigo intitulado “The Aftermath of Financial Crises”, baseado em episódios históricos. Reinhart e Rogoff descobriram que as grandes

crises são acompanhadas, em média, por aumento de 7 pontos percentuais na taxa de desemprego e que leva anos antes que o desemprego caia para níveis relativamente normais. Em comparação com os problemas da economia, o estímulo de Obama era pequeno realmente: cortou apenas 1,8 pontos da taxa de desemprego em 2010 e depois desapareceu rapidamente. E, dado o seu tamanho pequeno em relação ao problema, o fracasso do estímulo em evitar um desemprego persistentemente elevado não foi surpresa.

Breve revisão ■ O montante pelo qual variações nas compras governamentais elevam o PIB real é determinado pelo multiplicador. ■ Variações nos impostos e transferências governamentais também movimentam o PIB real, mais bem menos do que as mesmas variações originadas de compras governamentais. ■ Os impostos reduzem o tamanho do multiplicador a não ser que sejam impostos lumpsum, ou seja, somas fixas cobradas de uma só vez. ■ Impostos e algumas transferências governamentais funcionam como estabilizadores automáticos à medida que as receitas tributárias respondem positivamente às variações no PIB real e algumas transferências governamentais respondem negativamente às variações no PIB real. Muitos economistas acreditam que é bom reduzir o tamanho do multiplicador. Por outro lado, o uso da política fiscal discricionária é mais controverso.

Teste seu entendimento 13-2 1. Explique por que um aumento de $500 milhões nas compras governamentais de bens e serviços irá gerar um aumento maior no PIB real do que um aumento de $500 milhões nas transferências do governo. 2. Explique por que uma redução de $500 milhões nas compras governamentais de bens e serviços irá gerar uma queda maior no PIB real do que uma redução de $500 milhões nas transferências do governo. 3. Em Boldovia não há seguro-desemprego, existe apenas um sistema tributário que usa impostos lump-sum, impostos fixos que não dependem da renda do contribuinte. O país vizinho, Moldóvia, tem subsídios generosos para desempregados e um sistema de tributação em que os moradores pagam uma porcentagem sobre a renda. Que país vai experimentar maior variação do PIB real em resposta a choques de demanda, positivo e negativo? Explique. As respostas estão no fim do livro.

Saldo orçamentário As manchetes sobre o orçamento do governo tendem a se concentrar em apenas um ponto: se o governo está tendo superávit ou déficit e, em cada caso, de quanto. Em geral, as pessoas acham que os superávits são favoráveis: quando o governo federal dos Estados Unidos gerou um superávit recorde em 2000, muitas pessoas consideraram isso motivo de comemoração. Por outro lado, as pessoas pensam que os déficits são desfavoráveis: quando o governo federal dos Estados Unidos teve déficits recordes em 2009 e 2010, muitas pessoas consideraram isso motivo de preocupação. Como superávits e déficits se encaixam na análise da política fiscal? É verdade que déficits jamais serão favoráveis e superávits jamais serão desfavoráveis? Para responder a essas questões, examinemos as causas e as consequências dos superávits e déficits.

O saldo orçamentário como medida de política fiscal O que entendemos por superávits e déficits? O saldo orçamentário que definimos no Capítulo 10 é a diferença entre a renda do governo, na forma de arrecadação de impostos, e seus gastos, tanto em bens e serviços como em transferências governamentais, em determinado ano. Isto é, o saldo orçamentário – poupança do governo – é definido pela Equação 13-2 (que é a mesma que a Equação 10-1):

(13-2) onde T é o valor da receita tributária, G são compras governamentais de bens e serviços e TR é o valor das transferências governamentais. Como vimos no Capítulo 10, um superávit orçamentário é um saldo orçamentário positivo e um déficit orçamentário é um saldo orçamentário negativo. Tudo o mais mantido constante, políticas fiscais expansionistas – aumento das compras governamentais de bens e serviços, transferências governamentais mais altas ou impostos mais baixos – reduzem o saldo orçamentário naquele ano. Ou seja, políticas fiscais expansionistas tornam o superávit orçamentário menor ou o déficit orçamentário maior. Por outro lado, políticas fiscais contracionistas – redução das compras governamentais de bens e serviços, transferências governamentais menores ou impostos mais elevados, aumentam o saldo orçamentário naquele ano, tornando o superávit orçamentário maior ou o déficit orçamentário menor. Pode-se imaginar que isso significa que variações no saldo orçamentário servem para medir a política fiscal. Na verdade, os economistas costumam fazer exatamente isso: usam as variações no saldo orçamentário como forma de saber superficialmente se a política fiscal corrente é expansionista ou contracionista. Mas tenha sempre em mente duas razões pelas quais essa abordagem superficial às vezes é enganadora: 1. Duas mudanças diferentes na política fiscal podem ter efeito igual sobre o saldo

orçamentário, mas podem ter efeitos bastante diversos sobre a economia. Como já vimos, a variação nas compras do governo de bens e serviços tem efeito maior sobre o PIB real do que as mesmas variações nos impostos e transferências governamentais. 2. Muitas vezes, variações no saldo orçamentário são elas mesmas resultado, não a causa, de flutuações na economia. Para entender o segundo ponto, precisamos examinar os efeitos do ciclo econômico sobre o orçamento.

O ciclo econômico e o saldo orçamentário ajustado ciclicamente Historicamente, tem havido uma relação forte entre o saldo orçamentário do governo federal e o ciclo econômico. O orçamento tende a ficar deficitário quando a economia passa por uma recessão, mas os déficits tendem a se tornar menores ou até mesmo se transformar em superávit quando a economia está em expansão. A Figura 13-7 mostra o déficit orçamentário federal como porcentagem do PIB de 1970 a 2011. As áreas sombreadas indicam recessões; as demais áreas indicam expansões. Como se vê, o déficit orçamentário federal aumentou na época de cada recessão e, geralmente, declinou durante as expansões. Na verdade, nos estágios finais da longa expansão de 1991 a 2000, o déficit tornou-se negativo, isto é, o déficit orçamentário tornou-se um superávit orçamentário.

FIGURA 13-7 Déficit orçamentário federal e ciclo econômico dos Estados Unidos, 1970-2011 O déficit orçamentário em porcentagem do PIB tende a subir durante as recessões (indicado por áreas sombreadas) e cair durante as expansões. Fontes: Bureau of Economic Analysis e National Bureau of Economic Research.

A relação entre o ciclo econômico e o saldo orçamentário fica ainda mais clara se compararmos o déficit orçamentário em porcentagem do PIB, com a taxa de desemprego, como fazemos na Figura 13-8. O déficit orçamentário quase sempre aumenta quando a

taxa de desemprego aumenta e cai quando a taxa de desemprego cai.

FIGURA 13-8 Déficit orçamentário federal e taxa de desemprego dos Estados Unidos Há uma relação estreita entre saldo orçamentário e ciclo econômico: uma recessão move o saldo orçamentário em direção ao déficit, mas uma expansão o move em direção ao superávit. Aqui, a taxa de desemprego serve como um indicador do ciclo econômico, e devemos esperar uma taxa de desemprego mais elevada associada a um déficit orçamentário mais elevado. A figura confirma isso: os déficits orçamentários em porcentagem do PIB se movem em paralelo à taxa de desemprego. Fontes: Bureau of Economic Analysis e Bureau of Labor Statistics.

Essa relação entre ciclo econômico e saldo orçamentário prova que os formuladores de política econômica empreendem política fiscal discricionária, usando política fiscal expansionista durante as recessões, e política fiscal contracionista durante expansões? Não necessariamente. Em grande medida, a relação da Figura 13-8 reflete o funcionamento dos estabilizadores automáticos. Como aprendemos na discussão sobre os estabilizadores automáticos, a receita tributária do governo tende a aumentar e algumas transferências governamentais, como o pagamento de seguro-desemprego, tendem a cair quando a economia se expande. Por outro lado, a receita tributária do governo tende a cair e algumas transferências do governo tendem a subir quando a economia se contrai. Assim, o orçamento tende a se mover em direção ao superávit durante as expansões e em direção ao déficit durante as recessões, mesmo sem qualquer ação deliberada por parte dos formuladores de política econômica. Ao avaliar a política orçamentária, muitas vezes convém separar movimentos no orçamento devido ao ciclo econômico de movimentos devido a variações na política fiscal discricionária. A primeira é afetada pelos estabilizadores automáticos e a última por variações deliberadas nas compras governamentais, transferências governamentais ou impostos. É importante perceber que os efeitos do ciclo econômico sobre o saldo orçamentário são temporários: os dois hiatos de recessão (em que o PIB real está abaixo do produto potencial) e inflacionário (em que o PIB real está acima do produto potencial) tendem a ser eliminados no longo prazo. Dessa forma, descontar esses efeitos sobre o saldo orçamentário permite avaliar melhor se as políticas tributária e de gastos do governo são sustentáveis no longo prazo. Em outras palavras, a política fiscal do governo

gera receita suficiente para financiar seus gastos no longo prazo? Como veremos adiante, essa é uma questão fundamentalmente mais importante do que se o governo tem um superávit ou um déficit no orçamento do ano corrente. Para separar o efeito do ciclo econômico dos efeitos de outros fatores, muitos governos produzem uma estimativa do que seria o saldo orçamentário se não houvesse hiato de recessão nem inflacionário. O saldo orçamentário ciclicamente ajustado é uma estimativa do que seria o saldo orçamentário se o PIB real fosse exatamente igual ao produto potencial. Leva em conta a receita tributária extra que o governo arrecadaria e as transferências que pouparia se um hiato de recessão fosse eliminado, ou as receitas que o governo perderia e as transferências extras que teria que fazer se um hiato inflacionário fosse eliminado. A Figura 13-9 mostra o déficit orçamentário efetivo e a estimativa do déficit orçamentário ajustado ciclicamente da Comissão de Orçamento do Congresso (Congressional Budget Office), em porcentagem do PIB, de 1970 a 2010. Como se vê, o déficit orçamentário ajustado ciclicamente não flutua tanto quanto o déficit orçamentário efetivo. Em particular, os grandes déficits efetivos, como os de 1975, 1983 e 2009, geralmente são causados em parte por uma economia deprimida.

FIGURA 13-9 Déficit orçamentário efetivo versus déficit orçamentário ciclicamente ajustado O déficit orçamentário ciclicamente ajustado é uma estimativa do que seria o déficit orçamentário se a economia estivesse em seu produto potencial. Flutua menos do que o déficit orçamentário efetivo, porque anos de déficit orçamentário elevado também tendem a ser anos em que a economia tem hiato de recessão elevado. Fontes: Congressional Budget Office e Bureau of Economic Analysis.

O orçamento deve ser equilibrado? Como veremos na próxima seção, déficits orçamentários persistentes podem causar problemas tanto para o governo como para a economia. No entanto, os políticos são sempre tentados a manter déficits porque isso lhes permite atender aos eleitores,

cortando impostos sem cortar gastos ou aumentando gastos sem aumentar impostos. Por causa disso, há tentativas ocasionais dos formuladores de política econômica de forçar a disciplina fiscal por meio da introdução de legislação – até mesmo emenda constitucional – proibindo o governo de manter déficits orçamentários. Normalmente isso é formulado como uma exigência de que o orçamento seja “equilibrado” – ou seja, que as receitas sejam pelo menos iguais aos gastos em cada ano fiscal. Exigir um orçamento equilibrado em cada ano é uma boa ideia? A maioria dos economistas não pensa assim. Acreditam que o governo só deve equilibrar o orçamento, em média – isto é, deve ser permitido que incorram em déficits em anos ruins, compensados por superávits em anos bons. Não acreditam que o governo deva ser forçado a ter um orçamento equilibrado todos os anos, pois isso solaparia o papel dos impostos e das transferências como estabilizadores automáticos. Como vimos no início deste capítulo, a tendência de a receita tributária cair e de as transferências aumentarem quando a economia se contrai ajuda a limitar a gravidade das recessões. Mas receita em queda e aumento nas transferências geradas por uma desaceleração da economia levam o orçamento rumo a um déficit. Ao ser restringido por uma regra de equilíbrio orçamentário, o governo teria que responder a esse déficit com políticas fiscais contracionistas, que tendem a aprofundar a recessão. No entanto, os formuladores de política econômica, preocupados com déficits excessivos, por vezes sentem que as regras rígidas proibindo – ou pelo menos fixando um limite superior nos – déficits são necessárias. Como explicado em Economia em ação, a seguir, a Europa teve inúmeras dificuldades em reconciliar regras para impor responsabilidade fiscal com os desafios da política fiscal de curto prazo.

Economia em ação Busca de uma regra fiscal pela Europa Em 1999, um grupo de nações europeias deu um passo importante ao adotar uma moeda comum, o euro, para substituir as moedas nacionais diversas, tais como o franco francês, o marco alemão e a lira italiana. Junto com a introdução do euro, veio a criação do Banco Central Europeu, que define a política monetária para toda a região. Como parte do acordo de criação da nova moeda, os governos dos países-membros assinaram o “pacto de estabilidade” europeu. Esse acordo exige que cada governo mantenha seu déficit orçamentário – o déficit efetivo, não um número ajustado ciclicamente, abaixo de 3% do PIB do país, ou então é obrigado a pagar multa. O pacto era destinado a evitar gastos deficitários irresponsáveis decorrentes de pressão política que poderia eventualmente enfraquecer a nova moeda. O pacto de estabilidade, no entanto, teve um aspecto negativo: em princípio, forçava os países a cortar gastos e/ou aumentar impostos sempre que uma crise econômica empurrasse seus déficits acima do nível crítico. Isso viria a tornar a política fiscal uma força que agravava as recessões, em vez de combatê-las. No entanto, a aplicação do pacto de estabilidade provou ser impossível: as nações

europeias, incluindo a França e mesmo a Alemanha, com sua reputação de probidade fiscal, ignoraram a regra durante a recessão de 2001 e suas consequências. Em 2011, os europeus tentaram novamente, desta vez contra o cenário de uma crise de dívida severa. Na esteira da crise financeira de 2008, Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália, todos perderam a confiança dos investidores, que estavam preocupados com a sua capacidade e/ou disposição de pagar toda a sua dívida – e os esforços desses países em reduzir seus déficits parecia empurrar a Europa de volta à recessão. Contudo, o retorno ao velho pacto de estabilidade não parecia fazer sentido. Entre outras coisas, ficou claro que as regras do pacto de estabilidade em relação ao tamanho dos déficits orçamentários não teria feito muito para evitar a crise – em 2007, todos os devedores-problema, com exceção da Grécia, mantiveram déficits abaixo de 3% do PIB, e a Irlanda e a Espanha, realmente, tiveram superávits. Assim, o acordo alcançado em dezembro de 2011 foi enquadrado em termos do saldo orçamentário “estrutural”, mais ou menos correspondente ao saldo orçamentário ajustado ciclicamente, tal como definido no texto. De acordo com a nova regra, o saldo orçamentário estrutural de cada país deve estar próximo de zero, com déficits que não devem exceder a 0,5% do PIB. Essa parecia ser uma regra muito melhor que o antigo pacto de estabilidade. No entanto, ainda permaneceram grandes problemas. Um deles foi a questão do grau de confiabilidade nos cálculos dos saldos orçamentários estruturais. Além disso, a nova regra parecia proibir qualquer uso de política fiscal discricionária, sob quaisquer circunstâncias. Essa era uma medida inteligente? Antes de dar tapinhas nas costas em relação à superioridade de suas próprias regras fiscais, os americanos devem observar que os Estados Unidos têm sua própria versão do pacto de estabilidade europeu originalmente falho. O orçamento do governo federal atua como um estabilizador automático, mas 49 dos 50 estados são obrigados, por suas constituições estaduais, a equilibrar os orçamentos todos os anos. Quando a recessão chegou em 2008, a maioria dos estados foi obrigada – adivinhe a quê? – a reduzir os gastos e aumentar os impostos em face de uma recessão, exatamente o procedimento incorreto do ponto de vista macroeconômico.

Breve revisão ■ O déficit orçamentário tende a aumentar durante as recessões e a cair durante as expansões. Isso reflete o efeito do ciclo econômico no saldo orçamentário. ■ O saldo orçamentário ajustado ciclicamente é uma estimativa do que o saldo orçamentário seria se a economia estivesse no produto potencial. Varia menos do que o déficit orçamentário real. ■ A maioria dos economistas acredita que os governos deveriam incorrer em déficits orçamentários em anos economicamente desfavoráveis e em superávits orçamentários em anos economicamente favoráveis. A regra que requer orçamento equilibrado prejudica o funcionamento dos estabilizadores automáticos.

Teste seu entendimento 13-3 1. Por que o saldo orçamentário ajustado ciclicamente é uma medida melhor de saber se as políticas do governo são sustentáveis no longo prazo do que o saldo orçamentário efetivo? 2. Explique por que os estados obrigados a equilibrar seu orçamento provavelmente sofrerão flutuações econômicas mais graves do que os estados que não mantêm essa exigência. As respostas estão no fim do livro.

Implicações de longo prazo da política fiscal Em 2009, o governo da Grécia incorreu em uma ciranda financeira. Como a maioria dos outros governos da Europa (e, também, o governo dos Estados Unidos), o governo grego estava incorrendo em um grande déficit orçamentário, o que significava que precisava tomar emprestado mais fundos, tanto para cobrir suas despesas como para pagar os empréstimos já existentes, à medida que iam vencendo. Mas os governos, como as empresas ou os indivíduos, só podem tomar emprestado se os credores acreditarem que há uma boa chance de receber o valor de volta. Em 2009, a maioria dos investidores, por ter perdido a confiança no futuro financeiro da Grécia, já não estava disposta a emprestar para o governo grego. Os poucos que estavam exigiam uma taxa de juros muito alta para compensar o risco de perda. A Figura 13-10 compara as taxas de juros dos bônus de 10 anos emitidos pelos governos da Grécia e da Alemanha. No início de 2007, a Grécia podia tomar emprestado quase à mesma taxa que a Alemanha, pois era amplamente considerado um devedor muito seguro. Até o final de 2011, no entanto, a Grécia estava tendo que pagar uma taxa de juros cerca de 10 vezes a taxa de juros paga pela Alemanha.

FIGURA 13-10 Taxas de juros de longo prazo gregas e alemãs Nos idos de 2008, o governo da Grécia poderia emprestar a taxas de juros ligeiramente mais elevadas do que as da Alemanha, amplamente considerada um devedor muito seguro. Mas no início de 2009, quando se tornou claro que tanto a dívida grega quanto os déficits gregos eram maiores do que previamente relatado, os investidores perderam a confiança, levando os custos dos empréstimos gregos à estratosfera. Fonte: Banco Central Europeu.

Por que a Grécia estava passando por esses problemas? Em grande parte porque os investidores tinham ficado profundamente preocupados com o nível da dívida (em parte porque se tornou claro que o governo grego tinha usado contabilidade criativa para esconder o quanto de dívida já havia contraído). A dívida pública é, afinal, uma promessa de fazer pagamentos futuros aos credores. Em 2009 parecia provável que o governo grego já havia prometido mais do que poderia pagar. O resultado foi que a Grécia tornou-se incapaz de contrair mais empréstimos de credores privados. Recebia empréstimos de emergência de outros países europeus e do Fundo Monetário Internacional, mas esses empréstimos vinham com o requisito de que o governo grego fizesse pesados cortes de gastos, o que causou estragos na economia, impôs graves dificuldades econômicas aos gregos e resultou em enorme agitação social. Nenhuma discussão sobre política fiscal é completa se não levar em conta as implicações de longo prazo dos superávits e déficits orçamentários do governo, especialmente as implicações com a dívida pública. Passaremos agora às implicações de longo prazo.

Déficits, superávits e dívida Quando uma família gasta mais do que ganha, durante o ano, tem que levantar os fundos extras necessários com a venda de ativos ou por empréstimos. E se a família tomar empréstimos todos os anos, vai acabar com muitas dívidas. O mesmo vale para os governos. Com poucas exceções, os governos não arrecadam grandes somas com a venda de ativos, tais como as terras dos parques nacionais. Em vez disso, quando o governo gasta mais do que os impostos que arrecada – quando incorre em um déficit orçamentário – quase sempre toma emprestado os recursos extras. E governos que incorrem em déficits orçamentários persistentes acabam por contrair dívidas substanciais. Para interpretar os números que se seguem, é necessário conhecer uma característica pouco peculiar da contabilidade do governo federal dos Estados Unidos. Por motivos históricos, o governo americano não faz os registros contábeis no ano do calendário. Em vez disso, os totais do orçamento se fazem de acordo com o ano fiscal, que vai de 1° de outubro a 30 de setembro e recebe o nome do ano-calendário em que termina. Por exemplo, o ano fiscal de 2010 começou em 1° de outubro de 2009 e terminou em 30 de setembro de 2010. Ao final do ano fiscal de 2011, o governo federal dos Estados Unidos tinha uma dívida total igual a $14,8 trilhões. No entanto, parte dessa dívida é representada por regras contábeis especiais, especificando que o governo federal como um todo deve fundos a determinados programas governamentais, especialmente para a Previdência Social. Vamos explicar essas regras adiante. Por enquanto, porém, vamos nos concentrar na dívida pública: a dívida do governo nas mãos de indivíduos e instituições fora do governo. No final do ano fiscal de 2011, a dívida pública do governo federal era de “apenas” $10,1 trilhões, ou 68% do PIB. Se incluirmos as dívidas dos governos estaduais e municipais, o total da dívida pública no final do ano fiscal de 2011 era maior do que no

final do ano fiscal de 2010, porque o governo federal incorreu em déficit orçamentário durante o ano fiscal de 2011. Um governo que incorre em déficits orçamentários persistentes irá experimentar um aumento no nível da dívida pública. Por que isso é um problema?

Problemas decorrentes do aumento da dívida do governo Há duas razões para preocupação quando um governo incorre em déficits orçamentários persistentes. Descrevemos uma das razões no Capítulo 10: quando a economia está em pleno emprego e o governo toma emprestado fundos nos mercados financeiros, está competindo com empresas que planejam tomar emprestado fundos para financiar gastos de investimento. Em decorrência, a tomada de empréstimo pelo governo pode deslocar o gasto de investimento privado, aumentando as taxas de juros e reduzindo a taxa de crescimento de longo prazo da economia. Mas há uma segunda razão: déficits de hoje, ao aumentar a dívida do governo, colocam pressão financeira sobre os orçamentos futuros. O impacto dos déficits correntes sobre os orçamentos futuros é direto. Como os indivíduos, o governo precisa pagar suas contas, incluindo pagamentos de juros sobre a dívida acumulada. Quando o governo está profundamente endividado, esses pagamentos de juros podem ser substanciais. No ano fiscal de 2011, o governo federal dos Estados Unidos pagou 1,8% do PIB, $266 bilhões em juros da dívida. O governo da Itália, mais pesadamente endividado, pagou juros de 4,7% do seu PIB em 2011. Tudo o mais mantido constante, um governo que paga grande soma de juros deve arrecadar mais receita de impostos ou gastar menos, caso contrário terá que tomar ainda mais emprestado para cobrir a diferença. Mas um governo que toma emprestado para pagar juros sobre a dívida vai se afundar ainda mais em dívida. Esse processo pode, finalmente, pressionar o governo a tal ponto que os credores questionem a sua capacidade de pagamento. É o mesmo que um consumidor que estourou todos os cartões de crédito e descobre que os credores não estão dispostos a conceder mais empréstimos. O resultado podem ser defaults do governo sobre sua dívida – ele deixa de pagar o que deve. O default geralmente é seguido por turbulência financeira e econômica profunda.

Armadilhas Déficits versus dívida Um erro comum, que acontece o tempo todo na imprensa, é confundir déficit com dívida. Vamos analisar a diferença. Déficit é a diferença entre a quantidade de dinheiro que o governo gasta e a quantidade que arrecada em impostos em determinado período, geralmente, mas nem sempre, um ano. As cifras de déficits sempre vêm com a informação do período ao qual elas se referem, como em “o déficit orçamentário dos Estados Unidos no ano fiscal de 2011 foi de $1,3 trilhões”.

Dívida é a soma em dinheiro que um governo deve em determinado momento. Os números da dívida geralmente vêm junto com uma data específica, como em “a dívida pública dos Estados Unidos no final do ano fiscal de 2011 era de 10,1 trilhões”. Os déficits e a dívida estão ligados, porque a dívida pública cresce quando o governo incorre em déficit. Mas não são a mesma coisa e, até mesmo, podem contar histórias diferentes. Por exemplo, a Itália, que se encontrava com problemas de débito em 2011, teve um déficit relativamente pequeno pelos padrões históricos, mas tinha uma dívida muito elevada, legado de políticas passadas.

Comparação global A forma da dívida americana Como a dívida pública dos Estados Unidos é comparada internacionalmente? Em termos de dólares, somos o número um – mas isso não é muito informativo, uma vez que a economia dos Estados Unidos e também a base tributária do governo são muito maiores do que as de qualquer outra nação. Uma comparação mais informativa é a proporção da dívida pública em relação ao PIB. A figura mostra a dívida pública líquida de uma série de países ricos como porcentagem do PIB no final de 2011. A dívida pública líquida é a dívida do governo menos quaisquer ativos que o governo possa ter – um ajuste que pode fazer uma grande diferença. O que você vê aqui é que os Estados Unidos estão mais ou menos no meio deles. Não é surpresa que a Grécia lidera a lista, e a maioria dos outros países com dívida líquida alta são nações europeias que têm ocupado as manchetes com seus problemas de dívida. Curiosamente, no entanto, o Japão também está no topo da lista por ter realizado enorme gasto público para sustentar a economia na década de 1990. Os investidores, no entanto, ainda consideram o Japão um governo confiável, assim, seus custos de empréstimos permanecem baixos, apesar da elevada dívida líquida. Diferentemente de outros países, a Noruega tem uma dívida pública líquida negativa grande. O que acontece na Noruega? Em uma palavra, petróleo. A Noruega é o terceiro maior exportador de petróleo do mundo, graças a grandes depósitos no Mar do Norte. Em vez de gastar as receitas de petróleo imediatamente, o governo da Noruega as têm usado para construir um fundo de investimento para as necessidades futuras seguindo a liderança dos produtores tradicionais de petróleo, como a Arábia Saudita. Em decorrência, a Noruega tem um enorme estoque de ativos governamentais, em vez da grande dívida pública.

Fonte: Fundo Monetário Internacional.

Os americanos não estão acostumados com a ideia de inadimplência do governo, mas essas coisas acontecem. Na década de 1990, na Argentina, um país em desenvolvimento com renda relativamente alta foi amplamente elogiado por sua política econômica – e pôde tomar emprestado grandes somas de credores estrangeiros. Em 2001, no entanto, os pagamentos de juros da Argentina haviam chegado a uma espiral fora de controle e o país parou de pagar as somas que devia. No final, chegou a um acordo com a maioria dos credores, acordo sob o qual pagou menos de um terço do valor originalmente devido. No final de 2011, os investidores estavam colocando uma probabilidade bastante elevada do tipo de default argentino em vários países europeus – principalmente Grécia, Irlanda e Portugal – e estavam seriamente preocupado com a Itália e a Espanha. Cada um foi forçado a pagar altas taxas de juros sobre a dívida devido a credores nervosos, agravando o risco de default. O default cria tumulto nos mercados financeiros de um país e abala a confiança do público no governo e na economia. O calote da dívida da Argentina foi acompanhado de uma crise no sistema bancário do país e de uma recessão muito grave. Mesmo que um governo altamente endividado consiga evitar o default, uma dívida pesada normalmente obriga a cortar gastos ou aumentar impostos, medidas politicamente impopulares, que também podem prejudicar a economia. Em alguns casos, medidas de “austeridade” destinadas a tranquilizar os credores no sentido de que o governo realmente poderia pagar, acabaram deprimindo a economia tanto que a confiança dos credores continuou a cair – um processo que vamos observar mais de perto na seção Economia em ação, adiante neste capítulo. Há quem pergunte se um governo que tem dificuldade de tomar emprestado não poderia apenas imprimir dinheiro para pagar suas contas. Sim, poderia, se tiver a sua própria moeda (o que os países europeus com problemas não têm). Mas a impressão de dinheiro para pagar as contas do governo pode levar a outro problema: inflação. Na

verdade, problemas orçamentários são a principal causa de inflação grave, como veremos no Capítulo 16. O ponto agora é que os governos não querem se encontrar em uma posição onde a escolha é entre o calote da dívida e inflar essas dívidas mediante a impressão de dinheiro. As preocupações acerca dos efeitos de longo prazo dos déficits não devem descartar o uso da política fiscal expansionista para estimular a economia quando ela está em depressão. No entanto, essas preocupações significam que o governo deve tentar compensar os déficits orçamentários em anos difíceis com superávits orçamentários em anos favoráveis. Em outras palavras, os governos devem ter um orçamento aproximadamente equilibrado ao longo do tempo. Será que eles têm conseguido isso?

Déficits e dívida na prática A Figura 13-11 mostra como o déficit orçamentário do governo federal e sua dívida evoluíram nos Estados Unidos de 1940 a 2011. O painel (a) mostra o déficit federal como porcentagem do PIB. Como se vê, o governo federal incorreu em enormes déficits durante a Segunda Guerra Mundial. Teve superávits durante um breve período após a guerra, mas normalmente tem incorrido em déficits desde então, especialmente depois de 1980. Isso parece inconsistente com a recomendação de que os governos deveriam compensar os déficits dos tempos difíceis com os superávits dos tempos favoráveis.

FIGURA 13-11 Déficits e dívida pública dos Estados Unidos O painel (a) mostra o déficit orçamentário federal dos Estados Unidos como porcentagem do PIB de 1940 a 2011. O governo dos Estados Unidos incorreu em enormes déficits durante a Segunda Guerra Mundial e tem tido déficits menores desde então. O painel (b) mostra a razão dívida/PIB dos Estados Unidos. Comparando-se os painéis (a) e (b), pode-se ver que, em muitos anos, a razão dívida/PIB tem diminuído, apesar dos déficits orçamentários. Esse paradoxo aparentemente reflete o fato de que a razão dívida/PIB pode cair, mesmo que a dívida esteja subindo, desde que o PIB cresça mais rápido que a dívida. Fonte: Office of Management and Business.

No entanto, o painel (b) da Figura 13-11 mostra que durante a maior parte do período, os déficits não levaram a uma dívida descontrolada. Para avaliar a capacidade dos governos de pagar suas dívidas, usamos a razão dívida/ PIB, a dívida do governo como

porcentagem do PIB. Usamos essa medida, em vez de apenas analisar o tamanho da dívida, porque o PIB, que mede o tamanho da economia como um todo, é um bom indicador do potencial de arrecadação de impostos do governo. Se a dívida do governo cresce mais lentamente que o PIB, o ônus de pagar essa dívida de fato está caindo em comparação com a receita tributária potencial do governo. O que observamos no painel (b) é que, embora a dívida federal tenha crescido em quase todos os anos, a razão dívida/PIB caiu por 30 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial. Isso mostra que a razão dívida/PIB pode cair, mesmo quando a dívida está aumentando, desde que o PIB cresça mais rápido do que a dívida. A seção Para Mentes Curiosas, que se concentra sobre a grande dívida que o governo dos Estados Unidos acumulou durante a Segunda Guerra Mundial, explica como o crescimento e a inflação por vezes, permitem que um governo incorra em déficits orçamentários persistentes, não obstante tenha uma razão dívida/PIB em declínio.

Passivos implícitos Ao observar a Figura 13-11, pode-se ter a tentação de concluir que até a crise de 2008, o orçamento federal dos Estados Unidos estava em boa forma: a volta dos déficits orçamentários depois de 2001 levou a um pequeno aumento da razão dívida/PIB, mas essa proporção ainda é baixa em comparação com a experiência histórica do país com outros países ricos. Na verdade, porém, os especialistas em questões orçamentárias de longo prazo consideram que a situação dos Estados Unidos (e de outros países, como Japão e Itália) é alarmante. O motivo é o problema dos passivos implícitos. Passivos implícitos são promessas de gastos feitas pelo governo que são efetivamente as mesmas que uma dívida, apesar do fato de não estarem incluídas nas estatísticas habituais da dívida. Os maiores passivos implícitos do governo dos Estados Unidos decorrem de dois programas de transferência que beneficiam principalmente americanos idosos: a Previdência Social e a Medicare. O terceiro maior passivo implícito, o Medicaid, beneficia famílias de baixa renda. Em cada um desses casos, o governo se comprometeu a fazer pagamentos de transferência a beneficiários atuais e futuros. Então, esses programas representam uma dívida futura que precisa ser honrada, mesmo que essa dívida presentemente não apareça nas estatísticas usuais. Juntos, esses três programas representam atualmente cerca de 40% dos gastos federais. Os passivos implícitos criados por esses programas de transferência preocupam os especialistas em assuntos fiscais. A Figura 13-12 mostra por quê. Mostra o gasto corrente com Previdência Social, Medicare e Medicaid e CHIP (um programa que oferece cobertura de saúde às crianças sem seguro) como porcentagem do PIB, de 2000 a 2010, junto com as projeções da Comissão de Orçamento do Congresso para esses gastos continuamente até 2085. De acordo com essas projeções, o gasto com a Previdência Social vai aumentar substancialmente nas próximas décadas e os gastos com os três programas de saúde vão subir de forma alarmante. Por quê?

FIGURA 13-12 Demandas futuras sobre o orçamento federal Esta figura mostra as projeções da Comissão de Orçamento do Congresso dos gastos em programas de previdência social como proporção do PIB. Em parte devido ao envelhecimento da população, mas principalmente devido à alta dos custos com saúde, esses programas implicam gastos cada vez maiores ao longo do tempo, representando dificuldades para o orçamento federal. Fonte: Congressional Budget Office.

No caso da Previdência Social, a resposta é demografia. A Previdência Social é um sistema de benefícios definidos: os trabalhadores empregados atuais pagam impostos sobre o salário que constituem fundos que beneficiam os aposentados atuais. Assim, a relação entre o número de aposentados recebendo benefícios com o número de trabalhadores que pagam para a Previdência Social tem um grande impacto sobre as finanças do sistema. Houve um grande aumento na taxa de natalidade dos Estados Unidos entre 1946 e 1964, anos que são chamados comumente de geração baby boom. A maioria dos bebês nascidos nessa época, atualmente estão em idade de trabalhar – o que significa que estão pagando impostos, e não recebendo os benefícios da aposentadoria. Mas alguns estão começando a se aposentar, e à medida que se aposentarem vão parar de receber renda tributável e começar a receber os benefícios. Em decorrência, a proporção de aposentados que recebem benefícios em relação aos trabalhadores que pagam para o sistema de Previdência Social vai subir. Em 2010 havia 34 aposentados recebendo benefícios para cada 100 trabalhadores que pagam para o sistema. Em 2030, de acordo com a Administração da Previdência Social, esse número subirá para 46, em 2050, vai subir para 48, e em 2080, esse número será 51. Então, à medida que a geração baby boom começar a se aposentar, o pagamento dos benefícios vai continuar subindo em relação ao tamanho da economia.

Para mentes curiosas O que aconteceu com a dívida da Segunda Guerra Mundial? Como se pode ver na Figura 13-11, o governo dos Estados Unidos pagou pela Segunda Guerra Mundial tomando empréstimos em grande escala. Ao final da guerra, a dívida pública era de mais de 100% do PIB e com muitas pessoas preocupadas em como isso

poderia um dia ser pago. A verdade é que nunca foi pago. Em 1946, a dívida pública era $242 bilhões; esse número caiu ligeiramente nos anos seguintes, à medida que os Estados Unidos tiveram superávits orçamentários no pós-guerra, mas o orçamento do governo voltou a incorrer em déficit orçamentário em 1950 com o início da Guerra da Coreia. Em 1962, a dívida havia voltado ao nível de $248 bilhões. Mas nessa altura ninguém mais estava preocupado com a saúde fiscal do governo dos Estados Unidos, porque a razão dívida/PIB havia caído para menos da metade. O motivo? Crescimento econômico vigoroso junto com inflação leve levou a um rápido aumento do PIB. Essa experiência é uma lição clara do fato peculiar de que os governos modernos podem incorrer em déficits para sempre, contanto que não sejam muito elevados. Ainda assim, um governo que incorre em déficits persistentes grandes terá uma razão dívida/PIB crescente quando a dívida aumentar mais rápido que o PIB. No rescaldo da crise financeira de 2008, o governo dos Estados Unidos começou a incorrer em déficits muito maiores do que qualquer um desde a Segunda Guerra Mundial, e a razão dívida/PIB começou a subir acentuadamente. Aumentos semelhante na razão dívida/PIB puderam ser observados em diversos outros países em 2008. Os economistas e os formuladores de política econômica concordaram que isso não era uma tendência sustentável, que os governos precisariam ter de volta os gastos e receitas alinhados. Mas o momento de trazer os gastos alinhados com a receita foi fonte de grande desentendimento. Alguns argumentavam em favor do aperto fiscal de imediato; outros que esse aperto deveria ser adiado até que as principais economias se recuperassem da crise. O envelhecimento da geração baby boom, por si só, representa apenas um problema fiscal de tamanho moderado no longo prazo. O aumento projetado nos gastos com os programas Medicare e Medicaid é uma preocupação muito mais grave. A principal história por trás das projeções mais altas com gastos de Medicare e Medicaid é a tendência de longo prazo de os gastos com assistência à saúde aumentarem mais rapidamente do que os gastos em geral, tanto nos casos da assistência médica financiada pelo governo como nos pagos privadamente. Em certa medida, os passivos implícitos do governo dos Estados Unidos já estão refletidos nas estatísticas da dívida. Mencionamos anteriormente que o governo tinha uma dívida total de $14, 8 trilhões no final do ano fiscal de 2011, mas que só 10,1 trilhões desse total eram devidos ao público. A principal explicação dessa discrepância é que tanto a Previdência Social como parte do Medicare (o programa de seguro hospitalar) são financiados por impostos vinculados: seus gastos são pagos por impostos especiais sobre os salários. Às vezes, esses impostos geram mais receita do que o necessário para pagar os benefícios atuais. Em particular, desde meados dos anos 1980, o sistema de Previdência Social dos Estados Unidos tem arrecadado mais receita do que o necessário atualmente, para se preparar para a aposentadoria da geração baby boom. Esse excedente no sistema de Previdência Social tem sido usado para acumular um fundo vinculado de

Previdência Social, que era 2,9 trilhões no final do ano fiscal de 2011. O dinheiro do fundo da Previdência é mantido na forma de bônus do governo dos Estados Unidos, que estão incluídos nos $14,8 trilhões da dívida total. Pode-se dizer que é engraçado a contagem de bônus do fundo da Previdência Social como parte da dívida do governo. Afinal, esses bônus são devidos por uma parte do governo (o governo fora do sistema de Previdência Social) para outra parte do governo (o próprio sistema de Previdência Social). Mas a dívida corresponde a um passivo real, ainda que implícito: a promessa do governo de pagar os benefícios de aposentadoria no futuro. Assim, muitos economistas argumentam que a dívida bruta de $14,8 trilhões, a soma da dívida pública e da dívida do governo em Previdência Social e outros fundos vinculados, é uma indicação mais rigorosa da saúde fiscal do governo do que a quantidade menor devida apenas ao público.

Economia em ação Dilemas de austeridade Suponha que a economia de um país atinja uma fase difícil e os credores se preocupem no sentido de que, se o governo, já profundamente endividado, será capaz de pagar seus empréstimos. Em decorrência, os credores cortaram empréstimos ainda mais. O que o governo deve fazer? A prescrição usual tem sido austeridade fiscal: corte de gastos do governo e aumento de impostos, tanto para reduzir a necessidade de pedir mais fundos emprestado como para demonstrar aos credores a capacidade e determinação de fazer o que é necessário para honrar as dívidas. Mas além de ser doloroso e politicamente impopular, a austeridade fiscal funciona realmente para livrar um país de uma crise de confiança de crédito? Tanto a economia como a história indicam que a resposta provável é não. Austeridade fiscal significa política fiscal contracionista. E sabemos, da análise anterior, que, se uma economia já está deprimida, a política fiscal contracionista vai deprimi-la ainda mais. Além disso, as experiências da Argentina e da Irlanda mostram que a piora da situação de uma economia, decorrente de austeridade, pode prejudicar ainda mais a confiança do credor, que ela deveria apoiar. A Argentina apresenta uma imagem clara da dinâmica. No início da década de 1990, a Argentina era um dos países favoritos dos credores estrangeiros e, assim, tomava emprestado livremente. Mas as dívidas se acumularam, e no final da década de 2000, quando a economia atingiu uma crise, os credores começaram a ficar preocupados. De 1997 a 2001, a Argentina tentou tranquilizar os credores no sentido de que era digna de crédito, elevando repetidamente os impostos e cortando os gastos do governo. Mas cada rodada de austeridade enfraqueceu tanto a economia que o governo não foi capaz de equilibrar o orçamento. Finalmente, enfrentando enormes protestos populares, o governo entrou em colapso e pediu moratória das dívidas. Desde 2009, a Irlanda passou por uma experiência semelhante, embora as origens dos problemas tenham sido diferentes. Até 2008, o governo da Irlanda publicou um

orçamento mais ou menos equilibrado. Mas, durante a década de 2000, a economia irlandesa tinha uma enorme bolha estadual, alimentada pelo excesso de empréstimos bancários para os construtores imobiliários. Quando a bolha estourou, os bancos irlandeses tiveram perdas maciças. Para sustentá-los, o governo irlandês garantiu as perdas bancárias, tornando os contribuintes irlandeses responsáveis pelo pagamento das dívidas bancárias. Mas, como se vê, as dívidas eram tão grandes que a própria solvência do governo entrou em questão e a taxa de juros atrelada ao empréstimo subiu abruptamente. Esse resultado pode ser visto na Figura 13-13, que mostra como a taxa de juros se propagou entre os bônus do governo irlandês e os bônus do governo alemão (que são considerados muito seguros). Deu um salto no final de 2008 e início de 2009.

FIGURA 13-13 Taxas de juros sobre os bônus irlandeses e alemães Fonte: Banco Central Europeu.

Em uma tentativa de recuperar a confiança do credor, a Irlanda impôs severa austeridade, mesmo com a economia já tendo entrado em recessão. Por exemplo, o governo adotou uma política de redução de sua força de trabalho em 25 mil; calculado como porcentagem da população, isso era equivalente a uma perda de 2,5 milhões de vagas nos Estados Unidos. Em meados de 2010, a política de austeridade irlandesa parecia estar funcionando, à medida que as taxas sobre os títulos irlandeses se estabilizaram e até caíram um pouco entre 2009 e 2010. Mas em 2011, tudo se desfez à medida que o tamanho das perdas dos bancos continuou a crescer rapidamente e tornou-se claro que as políticas de austeridade estavam empurrando a economia para uma recessão mais profunda. No final de 2010, o PIB irlandês foi 12% menor do que tinha sido no final de 2007. Os pontos fracos da economia irlandesa estavam deprimindo as receitas provenientes de impostos,

desfazendo muito do efeito direto da austeridade. Simultaneamente, a queda do PIB contribuiu para um aumento da razão dívida/PIB. No momento em que este livro estava sendo escrito, as autoridades irlandesas ainda estavam esperando recuperar a confiança dos credores por meio de medidas de austeridade ainda mais duras, embora as perspectivas não parecessem animadoras. Então, por que os credores advogam, e os países endividados adotam, tais medidas de austeridade autodestrutivas? Porque cometem o erro de pensar que uma economia é como uma casa: se a família apenas cortar gastos, acreditam que pode pagar as contas do cartão de crédito. Mas, como sabemos, uma economia não é como uma família; em vez disso, os gastos de uma pessoa constituem a renda de outra pessoa. Assim, as medidas de austeridade que reduzem os gastos acabam por reduzir a renda, tornando ainda menos provável que o país possa pagar suas dívidas.

Breve revisão ■ Déficits orçamentários persistentes levam ao aumento da dívida pública. ■ Dívida pública crescente pode levar a um default do governo. Em casos menos extremos, pode deslocar os gastos de investimento (crowding out), reduzindo o crescimento de longo prazo. Isso sugere que os déficits orçamentários em anos fiscais desfavoráveis devem ser compensados por superávits orçamentários em anos fiscais favoráveis. ■ Um indicador de saúde fiscal amplamente usado é a razão dívida/PIB. Um país com PIB crescente pode ter uma razão dívida/PIB estável ou em queda mesmo que incorra em déficits orçamentários se o PIB estiver crescendo mais rápido do que a dívida. ■ Além da dívida oficial, os governos modernos têm passivos implícitos. O governo dos Estados Unidos tem elevados passivos implícitos na forma de Previdência Social e dos sistemas de assistência médica, Medicare e Medicaid.

Teste seu entendimento 13-4 1. Explique como cada um dos eventos seguintes afetaria a dívida pública ou os passivos implícitos do governo dos Estados Unidos, tudo o mais mantido constante. A dívida pública ou os passivos implícitos seriam maiores ou menores? a. Taxa de crescimento mais alta do PIB real. b. Aposentados com vida mais longa. c. Diminuição da receita tributária. d. Tomada de empréstimos pelo governo para pagar juros da dívida pública corrente. 2. Suponha que a economia esteja em recessão e que a dívida pública corrente seja bastante alta. Explique o trade-off entre objetivos de curto prazo versus objetivos de longo prazo que os formuladores de política econômica enfrentam ao decidir se devem ou não se envolver em gastos que aumentem o déficit. 3. Explique como uma política de austeridade fiscal pode tornar mais provável que o governo não consiga pagar as dívidas.

As respostas estão no fim do livro.

Caso empresarial Financiando incentivos Nos velhos tempos, quando poucos americanos tinham carro, muito mais pessoas viviam em áreas rurais e puxavam água de poços, os defensores da expansão fiscal utilizavam diversas metáforas. Em vez de falar, como o Presidente Barack Obama fez, de dar à economia um “empurrão”, falavam em “preparar a bomba”. Veja, muitas vezes era necessário acrescentar água às bombas manuais antiquadas antes de fazê-las funcionar; da mesma forma, as pessoas diriam, é necessário adicionar fundos para a economia antes que ela volte a produzir emprego e renda. No caso do estímulo de Obama, fazer as coisas funcionarem era mais do que uma metáfora: alguns dos beneficiários mais evidentes foram empresas que fabricavam. .. bombas. O decreto de recuperação alocou $7 bilhões para projetos de água potável e de águas residuais, criando uma série de novas oportunidades para as empresas do ramo de movimentação de água. Um caso em questão foi a Garney Construction, empresa baseada em Kansas-City, especializada em projetos de água e esgoto, cujo slogan é “Invista em água”. No verão de 2009, Garney venceu contratos para trabalhar em nove projetos relacionados com água e esgoto, que estavam sendo financiados no todo ou em parte pelo decreto de recuperação. Nenhum desses projetos de infraestrutura foi concebido como forma de gastar mais dinheiro. Eram todos projetos que os governos estadual ou municipal, no final, estavam planejando realizar. “Imagino que a maioria desses projetos estava em uma prateleira, esperando financiamento”, disse o presidente da Garney a um jornal de economia local. Embora o estímulo tenha sido bom para a Garney, não foi exatamente um jorro financeiro. Em 2007, os Estados Unidos gastaram $100 bilhões em abastecimento de água e infraestrutura de águas residuais; os $7 bilhões extras foram provenientes do estímulo, nem tudo veio em um ano, em comparação, representava basicamente uma gota no balde. Na verdade, Garney disse que apenas cerca de 10% do negócio vinha do dinheiro do estímulo. E apesar do estímulo, a empresa tinha menos negócios do que há dois anos. Ainda assim, ficou claro que a Garney e outras empresas do ramo de infraestrutura de água estavam recebendo algum benefício do decreto de recuperação.

Questões para pensar 1. Alguns opositores da expansão fiscal a acusaram de consistir de projetos de trabalho de pouco valor social. O que a história de Garney informa sobre esse ponto de vista? 2. Com base nesse caso, você diria que o gasto do governo estava competindo com o do setor privado por recursos escassos?

3. Se projetos de água ou esgoto é algo que eventualmente se quer empreender, realizálos no meio de uma recessão é um momento favorável ou desfavorável? Por quê?

Resumo 1. O governo desempenha um papel significativo na economia, recolhendo grande parcela do PIB em impostos e gastando uma grande parcela, tanto na aquisição de bens e serviços como fazendo pagamento de transferência, em grande parte para a Previdência Social. Política fiscal é o uso de impostos, transferências do governo ou compras do governo de bens e serviços para deslocar a curva de demanda agregada. 2. Compras governamentais de bens e serviços afetam diretamente a demanda agregada. Variações nos impostos e transferências governamentais afetam a demanda agregada indiretamente, modificando a renda disponível das famílias. A política fiscal expansionista desloca a curva da demanda agregada para a direita; a política fiscal contracionista desloca a curva da demanda agregada para a esquerda. 3. Apenas quando a economia está no pleno emprego há potencial para deslocamento (crowding out) do gasto privado e do gasto de investimento privado pela política fiscal expansionista. O argumento de que a política fiscal expansionista não funciona devido à equivalência ricardiana – que os consumidores vão cortar os gastos hoje para compensar o imposto esperado no futuro –, na prática, parece falso. O que é realmente verdade é que a política fiscal muito ativa pode tornar a economia menos estável devido a defasagens de tempo na formulação e implementação de políticas. 4. A política fiscal tem um efeito multiplicador sobre a economia, cuja dimensão depende do tipo de política fiscal. Exceto no caso de impostos de soma fixa independente da renda (lump-sum), os impostos reduzem o tamanho do multiplicador. A política fiscal expansionista leva a um aumento do PIB real enquanto que a política fiscal contracionista leva a uma redução do PIB real. Como parte de qualquer variação nos impostos ou transferências é absorvida pela poupança na primeira rodada de gastos, as variações nas compras governamentais de bens e serviços têm um efeito mais poderoso sobre a economia do que as variações de mesmo tamanho em impostos ou transferências. 5. As regras que regem os impostos, com exceção de impostos de soma fixa independente da renda (lump-sum) – e algumas transferências funcionam como estabilizadores automáticos, reduzindo o tamanho do multiplicador e reduzindo automaticamente o tamanho das flutuações no ciclo econômico. Por outro lado, a política fiscal discricionária surge de ações deliberadas por formuladores de política econômica, em vez de se originar no ciclo econômico. 6. Algumas das flutuações no saldo orçamentário são devidas aos efeitos do ciclo econômico. A fim de separar os efeitos do ciclo econômico dos efeitos da política fiscal discricionária, os governos estimam o saldo orçamentário ajustado ciclicamente, uma estimativa do saldo orçamentário se a economia estivesse em produção potencial. 7. A contabilidade do orçamento do governo dos Estados Unidos é calculada com base no ano fiscal. Déficits orçamentários persistentes têm consequências de longo prazo

porque levam a um aumento da dívida pública. Isso pode ser um problema, por duas razões. A dívida pública pode deslocar o gasto de investimento, o que reduz o crescimento econômico de longo prazo. E em casos extremos, o aumento da dívida pode levar o governo a um default, resultando em turbulência econômica e financeira. 8. Uma medida de saúde fiscal amplamente usada é a razão dívida/PIB. Esse número pode permanecer estável ou cair, mesmo em face dos déficits orçamentários moderados, se o PIB crescer ao longo do tempo. No entanto, a razão dívida/PIB estável pode dar uma falsa impressão de que tudo está bem porque os governos modernos têm muitas vezes grandes passivos implícitos. Os maiores passivos implícitos do governo dos Estados Unidos vêm da Previdência Social, Medicare e Medicaid, cujos custos estão aumentando devido ao envelhecimento da população e aumento dos custos médicos.

Palavras-chave Previdência Social, p. 329 Política fiscal expansionista, p. 331 Política fiscal contracionista, p. 331 Impostos de soma fixa pagos de uma vez (lump-sum), p. 350 Estabilizadores automáticos, p. 336 Política fiscal discricionária, p. 337 Saldo orçamentário ciclicamente ajustado, p. 340 Ano fiscal, p. 343 Dívida Pública, p. 343 Razão dívida/PIB, p. 345 Passivos implícitos, p. 346

Problemas 1. O gráfico a seguir mostra a situação macroeconômica corrente da economia de Albernia. Você foi contratado como consultor para ajudar a economia a chegar ao produto potencial, YP. a. Albernia está enfrentando um hiato de recessão ou de inflação?

b. Que tipo de política fiscal – expansionista ou contracionista – levaria a economia de Albernia ao produto potencial, YP? Dê alguns exemplos de tais políticas. c. Ilustre com um gráfico a situação macroeconômica de Albernia depois da implementação da política fiscal com sucesso. 2. O gráfico a seguir mostra a situação macroeconômica corrente da economia de Brittania; o PIB real é Y1 e o nível de preços agregado é P1. Você foi contratado como consultor para levar a economia para o produto potencial, YP.

a. Brittania está enfrentando um hiato de recessão ou de inflação? b. Que tipo de política fiscal – expansionista ou contracionista – levaria a economia de Brittania ao produto potencial, YP? Dê alguns exemplos de tais políticas. c. Ilustre com um gráfico a situação macroeconômica de Brittania após a implementação da política fiscal com sucesso. d. A quantidade de dinheiro na economia declina e a taxa de juros aumenta. 3. Uma economia está em equilíbrio macroeconômico de longo prazo quando ocorrem os choques de demanda agregada listados a seguir. Que tipo de hiato – inflacionária ou de

recessão – a economia irá enfrentar após o choque e que tipo de política fiscal ajudaria a economia a voltar ao produto potencial? Como a política fiscal recomendada deslocaria a curva da demanda agregada? a. Um boom no mercado de ações aumenta o valor das ações mantidas pelas famílias. b. As empresas passaram a acreditar que é provável que ocorra recessão no futuro próximo. c. Antecipando a possibilidade de guerra, o governo aumenta as compras de equipamento militar. d. A quantidade de moeda na economia declina e a taxa de juros sobe. 4. Durante uma entrevista em 2008, o ministro das Finanças alemão, Peer Steinbrueck, disse: “Temos que tomar cuidado que, na Europa e além dela, não surja nada que seja combinação de queda econômica [crescimento] e taxa alta de inflação – algo que os especialistas chamam de estagflação.” Tal situação pode ser representada pelo movimento da curva da oferta agregada de curto prazo de sua posição original, SRAS1, para sua nova posição, SRAS2, com o novo equilíbrio no ponto E1, conforme a figura a seguir. Nessa questão tentamos entender por que é especialmente difícil combater a estagflação usando política fiscal.

a. Qual seria a resposta adequada de política fiscal nessa situação, se a preocupação principal do governo fosse manter o crescimento econômico? Usando o gráfico, ilustre o efeito dessa política sobre o ponto de equilíbrio e o nível de preços agregado. b. Qual seria a resposta adequada de política fiscal nessa situação, se a preocupação principal do governo fosse manter a estabilidade de preços? Usando o gráfico, ilustre o efeito dessa política sobre o ponto de equilíbrio e o nível de preços agregado. 5. Completando a tabela a seguir, para uma economia com uma propensão marginal a consumir (PMC) de 0,6, mostre por que uma redução de $10 bilhões nas compras de

bens e serviços pelo governo terá um efeito maior sobre o PIB real do que uma redução de $10 bilhões em transferências do governo. A primeira e a segunda linhas da tabela estão preenchidas: ao lado esquerdo da tabela, na primeira linha, a redução de $10 bilhões em compras governamentais diminui o PIB real e a renda disponível, YD, em $10 bilhões, levando a uma redução no gasto de consumo de $6 bilhões (PMC × variação na renda disponível) na segunda linha. No entanto, no lado direito da tabela, a redução de $10 bilhões em transferências não tem efeito sobre o PIB real na primeira rodada, mas diminui YD em $10 bilhões, resultando em uma diminuição no gasto de consumo de $6 bilhões na segunda rodada.

a. Quando as compras governamentais diminuem em $10 bilhões, qual é a soma das variações no PIB real após 10 rodadas? b. Quando o governo reduz as transferências em $10 bilhões, qual é a soma das variações no PIB real após 10 rodadas? c. Usando a fórmula do multiplicador para variações nas compras governamentais e para variações nas transferências, calcule a variação total no PIB real devido à redução de $10 bilhões nas compras governamentais e de $10 bilhões nas transferências. O que explica a diferença? (Dica: o multiplicador das compras governamentais de bens e serviços é 1/ (1 − PMC) Mas como cada mudança de $1 de variação nas transferências do governo só leva a uma variação inicial no PIB real de PMC × $1, o multiplicador para transferências do governo é PMC/ (1 − PMC).) 6. Em cada um dos casos seguintes, existe um hiato de recessão ou inflacionário. Suponha que a curva da oferta agregada seja horizontal, de modo que a variação do PIB real decorrente de um deslocamento da curva da demanda agregada seja igual ao tamanho do deslocamento da curva. Calcule tanto a variação nas compras governamentais de bens e serviços como as variações nas transferências governamentais necessárias para fechar o hiato. a. PIB real igual a $100 bilhões, produto potencial igual a $160 bilhões e propensão marginal a consumir de 0,75. b. PIB real igual a $250 bilhões, produto potencial igual a $200 bilhões e propensão marginal a consumir de 0,5.

c. PIB real igual a $180 bilhões, produto potencial igual a $100 bilhões e propensão marginal a consumir de 0,8. 7. A maioria dos macroeconomistas acredita que seja bom que os impostos funcionem como estabilizadores automáticos e reduzam o tamanho do multiplicador. No entanto, um multiplicador menor significa que tem que ser maior a variação nas compras governamentais de bens e serviços, nas transferências ou nos impostos necessários para fechar o hiato inflacionário ou de recessão. Como se explica essa aparente inconsistência? 8. A tabela a seguir mostra como a propensão marginal a consumir em uma economia em particular se relaciona com o nível de renda do consumidor. Faixa de renda $0 - $20.000 $20.001 - $40.000 $40.001 - $60.000 $60.001 - $80.000 Acima de $80.000

Propensão marginal a consumir 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5

a. Suponha que o governo se empenhe em aumentar a quantidade de compras de bens e serviços. Para cada grupo de renda da tabela, qual é o valor do multiplicador – isto é, qual é o melhor retorno de cada dólar que o governo gasta em compras governamentais de bens e serviços em cada grupo de renda? b. Se o governo precisa fechar um hiato de recessão ou de inflação, em qual grupo deve visar principalmente sua política fiscal de mudança nas compras governamentais de bens e serviços? 9. O superávit orçamentário do governo em Macroland aumentou de forma consistente ao longo dos últimos cinco anos. Dois formuladores de política econômica discordam sobre as causas. Um deles argumenta que um superávit orçamentário indica que a economia está em crescimento; o outro argumenta que isso mostra que o governo está usando política fiscal contracionista. É possível determinar qual dos dois está correto? Se não for, por que não? 10. A Figura 13-9 mostra o déficit orçamentário efetivo e o déficit orçamentário ciclicamente ajustado em porcentagem do PIB real dos Estados Unidos de 1970 a 2010. Supondo que o produto potencial não se modificou, use esse número para determinar em qual dos anos de 1990 a 2009, o governo usou política fiscal expansionista e em qual dos anos usou política fiscal contracionista. 11. Você é assessor econômico de uma candidata a um cargo público. Ela lhe pede um resumo das consequências econômicas de uma regra de orçamento equilibrado para o governo federal e também pede sua recomendação sobre se deve ou não apoiar tal regra. Como você responderia? 12. Em 2012, os formuladores de política econômica de Eastlandia projetaram uma razão dívida/PIB e uma razão déficit público/PIB para a economia nos próximos 10 anos sob

diferentes cenários de crescimento do déficit público. O PIB real é atualmente de $1 bilhão por ano e se espera que cresça 3% ao ano; a dívida pública era de $300 bilhões no início do ano, o déficit era de $30 bilhões em 2012.

a. Complete a tabela para mostrar a razão dívida/PIB e a razão déficit/PIB para a economia supondo que o déficit orçamentário do governo permaneça constante em $30 bilhões nos próximos 10 anos. (Lembre-se que a dívida do governo crescerá pelo déficit do ano anterior.) b. Refaça a tabela para mostrar a razão dívida/PIB e a razão déficit/PIB para a economia supondo que o déficit orçamentário do governo cresça 3% ao ano nos próximos 10 anos. c. Refaça a tabela novamente para mostrar a razão dívida/PIB e a razão déficit/PIB para a economia supondo que o déficit orçamentário do governo cresça 20% ao ano durante os próximos 10 anos. d. O que acontece com a razão dívida/PIB e com a razão déficit/PIB para a economia ao longo do tempo nos três cenários diferentes? 13. Seu colega argumenta que a distinção entre déficit orçamentário do governo e dívida é similar à distinção entre a poupança de um consumidor e sua riqueza. Também argumenta que, se o déficit orçamentário for elevado, necessariamente haverá dívida elevada. Em que medida seu colega está correto ou errado? 14. Em que caso, dentre os seguintes, o tamanho da dívida pública e o tamanho do déficit orçamentário indicam problemas potenciais para a economia? a. A dívida do governo é relativamente baixa, mas o governo está incorrendo em déficit orçamentário elevado em virtude da construção de uma rede ferroviária de alta velocidade para ligar as principais cidades do país. b. A dívida do governo é relativamente alta devido a uma guerra que terminou recentemente e foi financiada por déficits, mas o governo atualmente está incorrendo apenas em um pequeno déficit orçamentário. c. A dívida do governo é relativamente baixa, mas ele está incorrendo em déficit orçamentário para financiar os pagamentos de juros da dívida. 15. Como as situações a seguir afetaram ou afetariam a dívida pública corrente e os

passivos implícitos do governo dos Estados Unidos? a. Em 2003, o Congresso aprovou e o Presidente Bush sancionou a Lei de Modernização do Medicare, que concede benefício de pagamento de remédios prescrito aos idosos e pessoas com deficiência. Alguns dos benefícios sob essa lei entraram em vigor imediatamente, mas outros só começarão a vigorar dentro de algum tempo. b. A idade mínima para aposentadoria dando direito aos benefícios da Previdência Social foi aumentada para 70 anos para quem se aposentar no futuro. c. Os benefícios da Previdência Social para os futuros aposentados são limitados às pessoas de baixa renda. d. Como o custo de assistência médica está aumentando mais rapidamente do que a taxa de inflação, o aumento anual nos benefícios da Previdência Social são aumentados com base no aumento anual dos custos de assistência médica, em vez de com base na taxa de inflação. 16. Ao contrário das famílias, os governos muitas vezes conseguem manter dívidas elevadas. Por exemplo, em 2011, a dívida total do governo dos Estados Unidos chegou a $14,8 trilhões, aproximadamente 102,7 % do PIB. Na época, de acordo com o Tesouro americano, a taxa média de juros paga pelo governo sobre a dívida era de 2,2%. Contudo, incorrer em déficits elevados torna-se difícil quando a dívida pública pendente é muito grande. a. Calcule o custo em dólares da taxa de juros anual sobre a dívida pública total do governo assumindo a taxa de juros e da dívida pública acima mencionada. b. Se o governo opera com um orçamento equilibrado antes de se considerar o pagamento dos juros, a que taxa deve crescer o PIB para que a razão dívida/PIB permaneça inalterada? c. Calcule o aumento total da dívida nacional se o governo incorrer em um déficit de $600 bilhões em 2012. d. A que taxa o PIB teria que crescer para que a razão dívida/PIB permaneça inalterada quando o déficit em 2012 for de $600 bilhões? e. Por que que a razão dívida/PIB é a melhor medida da dívida de um país, em vez de o valor em dólares da dívida? Por que é importante que o governo mantenha esse número sob controle? www.worthpublishers.com/krugmanwells

Capítulo 13 Apêndice Os Impostos e o Multiplicador Neste capítulo, descrevemos como os impostos que dependem positivamente do PIB real reduzem o tamanho do multiplicador e atuam como estabilizadores automáticos da economia. Vejamos um pouco mais de perto como isso funciona matematicamente. Especificamente, suponha que o governo “capture” uma fração t de qualquer aumento do PIB real na forma de impostos, onde t, a taxa de impostos, é uma fração entre 0 e 1. Vamos repetir o exercício desenvolvido no Capítulo 11, onde consideramos os efeitos de um aumento de $100 bilhões nos gastos de investimento. A mesma análise vale para qualquer aumento autônomo no gasto agregado, em particular, inclusive para aumentos nas compras governamentais de bens e serviços. O aumento de $100 bilhões nos gastos de investimento inicialmente elevou o PIB real em $100 bilhões (primeira rodada). Na ausência de impostos, a renda disponível aumentaria em $100 bilhões. No entanto, dado que uma parte do aumento no PIB real é arrecadada na forma de impostos, a renda disponível aumenta em apenas (1 − t) × $100 bilhões. O aumento da segunda rodada no gasto de consumo é igual à propensão marginal a consumir (PMC) multiplicada pelo aumento da renda disponível: (PMC × (1 − t)) × $100 bilhões. Isso leva à terceira rodada de aumento no gasto de consumo (PMC × (1 − t)) × (PMC × (1 − t)) × $100 bilhões, e assim por diante. Assim, o efeito total sobre o PIB real é Aumento no gasto de investimento = $100 bilhões + 2 a rodada de aumento no gasto de c onsumo = ( PMC × (1 − t)) × $100 bilhões + 3 a rodada de aumento no gasto de c onsumo = ( PMC × (1 − t)) 2 × $100 bilhões + 4 a rodada de aumento no gasto de c onsumo = ( PMC × (1 − t)) 3 × $100 bilhões • • • • • •

Como assinalamos no Capítulo 11, uma série infinita da forma 1 + x + x2 ..., com 0 < x < 1 é igual a 1/ (1 − x). Neste exemplo, x = (PMC × (1 − t)). Assim, o efeito total de um aumento de $100 bilhões em gastos de investimento, levando em conta todos os aumentos subsequentes nos gastos de consumo, é elevar o PIB real em:

Quando calculamos o multiplicador supondo não haver o efeito dos impostos, verificamos que era 1/ (1 − PMC). Mas quando supomos que uma fração t de qualquer variação no PIB real é arrecadada na forma de impostos, o multiplicador passa a ser:

Isso sempre significa um número menor que 1/ (1 −PMC), e seu tamanho diminui à medida que t cresce. Suponha, por exemplo, que PMC = 0,6. Na ausência de impostos, isso significa que um multiplicador de 1/ (1 − 0,6) = 1/0,4 = 2,5. Mas agora vamos supor que t = 1/3, ou seja, que 1/3 de todo o aumento do PIB real seja arrecadado pelo governo. Então, o multiplicador é:

Problemas 1. Uma economia tem propensão marginal a consumir de 0,6, o PIB real equivale a $500 bilhões, e o governo arrecada 20% do PIB em impostos. Se as compras governamentais aumentam $10 bilhões, mostre as rodadas de aumento de gastos que vão ocorrer completando a tabela a seguir. As primeira e segunda linhas foram preenchidas. Na primeira linha, o aumento das compras governamentais de $10 bilhões eleva o PIB real em $10 bilhões, os impostos aumentam $2 bilhões, e YD aumenta $8 bilhões; na segunda linha, o aumento de $8 bilhões em YD aumenta os gastos de consumo em $4,80 bilhões (PMC × variação na renda disponível).

a. Qual é a variação total no PIB real após 10 rodadas? Qual é o valor do multiplicador? Que variação pode-se esperar no PIB real com base na fórmula do multiplicador? Como as duas respostas se comparam? b. Refaça a tabela supondo que a propensão marginal a consumir é 0,75 e que o governo arrecade 10% do aumento do PIB real em impostos. Qual é a variação total no PIB real após 10 rodadas? Qual é o valor do multiplicador? Como as duas respostas se comparam? 2. Calcule a variação nas compras governamentais de bens e serviços necessária para fechar um hiato de recessão ou de inflação nos seguintes casos. Suponha que a curva de oferta agregada de curto prazo seja horizontal, de modo que a variação no PIB real decorrente de um deslocamento da curva de demanda agregada seja igual ao tamanho do deslocamento da curva. a. O PIB real é $100 bilhões, o produto potencial é $160 bilhões, o governo arrecada 20% de qualquer variação no PIB real na forma de impostos e a propensão marginal a consumir é 0,75. b. O PIB real é US$250 bilhões, o produto potencial é US$200 bilhões, o governo arrecada 10% de qualquer variação do PIB real na forma de impostos e a propensão marginal a consumir é 0,5. c. O PIB real é $180 bilhões, o produto potencial é $100 bilhões, o governo arrecada 25% de qualquer variação do PIB real na forma de impostos e a propensão marginal a consumir é 0,8. www.worthpublishers.com/krugmanwells

C APÍ T UL O 14

Moeda, Bancos e o Federal Reserve

O que você vai aprender neste capítulo • Os vários papéis desempenhados pela moeda e as muitas formas que ela toma na economia. • Como as ações dos bancos privados e do Federal Reserve determinam a oferta monetária. • Como o Federal Reserve usa as operações de mercado aberto para modificar a base monetária.

Dinheiro Esquisito Em 2 de outubro de 2004, agentes do FBI e do Serviço Secreto dos Estados Unidos apreenderam um contêiner que tinha acabado de chegar a Newark, Nova Jersey, em um navio vindo da China. Dentro do contêiner, embaixo de caixas de papelão contendo brinquedos de plástico, encontraram o que estavam procurando: mais de $300.000 em notas falsas de $100. Dois meses depois, foi interceptado outro navio com $3 milhões em notas falsas. O governo e oficiais de justiça começaram a alegar em público que essas notas – falsificações de alta qualidade que eram muito difíceis de ser diferenciadas das verdadeiras – haviam sido produzidas pelo governo da Coreia do Norte. O engraçado é que esses pedaços de papel com decoração elaborada tinham pouco ou nenhum valor intrínseco. Na verdade, uma nota de $100 impressa em tinta azul ou laranja, literalmente, não vale nem o papel em que foi impressa. Mas se a tinta nesse pedaço de papel decorado for de um tom exato de verde, as pessoas pensarão que é dinheiro e irão aceitá-la como pagamento de bens e serviços reais. Por quê? Porque acreditam, corretamente, que poderão fazer a mesma coisa: trocar esse pedaço de papel verde por bens e serviços reais. Na verdade, eis um enigma: se uma nota de $100 falsa impressa na Coreia do Norte entra nos Estados Unidos, e ninguém percebe que é falsa, quem sai prejudicado? Aceitar uma nota falsa de $100 não é como comprar um carro que depois não funcione ou uma refeição intragável; contanto que não se descubra que é falsa, passará de mão em mão como uma nota de $100 verdadeira. A resposta para o enigma, como vamos aprender mais adiante neste capítulo, é que as verdadeiras vítimas das notas falsas vindas da Coreia do Norte são os contribuintes americanos, porque o dinheiro falso reduz a receita disponível para pagar as operações do governo dos Estados Unidos. Assim, o Serviço Secreto diligentemente monitora a integridade da moeda nos Estados Unidos, investigando imediatamente qualquer relato de dólares falsificados. Os esforços do Serviço Secreto atestam o fato de que o dinheiro não é um bem ou serviço comum. Desempenha um papel único na economia como um canal essencial que liga as diversas partes da economia moderna. Neste capítulo, vamos analisar o papel que o dinheiro desempenha e, em seguida, examinar como um sistema monetário moderno funciona e as instituições que o sustentam e o regulamentam. Esse tópico é importante por si só e também essencial como base para a compreensão da política monetária, que

examinaremos no próximo capítulo.

O significado do dinheiro Nas conversas do dia a dia, as pessoas costumam usar a palavra dinheiro no sentido de “riqueza”. Se alguém perguntar: “Quanto dinheiro tem Bill Gates?”, a resposta será algo como: “Sei lá! Talvez uns $50 bilhões ou mais, mas quem está contando?” Ou seja, a cifra inclui o valor das ações, bônus, imóveis e outros ativos que possui. Mas a definição de dinheiro dos economistas não inclui todas as formas de riqueza. As notas e moedas na carteira são dinheiro; outras formas de riqueza, como carros, casas e ações – não são dinheiro. De acordo com os economistas, o que distingue dinheiro de outras formas de riqueza?

O que é dinheiro? A moeda é definida em termos do que ela faz: moeda é qualquer ativo que pode ser usado facilmente para comprar bens e serviços. No Capítulo 10, definimos um ativo como líquido quando ele pode ser facilmente convertido em dinheiro. Moeda consiste do próprio dinheiro vivo, que é líquido, por definição, bem como de outros ativos que são altamente líquidos. Pode-se notar a diferença entre moeda e outros ativos ao nos questionar como pagamos a conta do supermercado. O caixa aceitará a conta em dólares em troca de leite e pizza congelada – mas não vai aceitar certificado de ações ou uma coleção de cartões antigos de beisebol. Se quiser converter certificados de ações ou cartões antigos de beisebol em compras, deve vendê-los antes – trocá-los por moeda – e então usar o dinheiro para comprar mantimentos no supermercado. É claro que muitas lojas permitem que você assine um cheque da sua conta bancária como pagamento pelo bem (ou pague com cartão de débito ligado à sua conta bancária). Isso transforma a conta bancária em dinheiro mesmo sem antes tê-la convertido em dinheiro? Sim. Moeda em circulação – moeda real nas mãos do público – é considerada dinheiro. Assim também os depósitos em conta-corrente – contas-correntes em que as pessoas podem emitir cheques. Então, moeda e depósitos em conta-corrente são os únicos ativos que podem ser considerados dinheiro? Depende. Como veremos mais adiante, há duas definições amplamente utilizadas de oferta monetária, o valor total dos ativos financeiros da economia que são considerados moeda. A definição mais restrita considera apenas os ativos mais líquidos como moeda: moeda em circulação, cheques de viagem e depósitos em conta-corrente. A definição mais ampla inclui essas três categorias, além de outros ativos que são “quase” passíveis de serem pagos contra cheques, como depósitos de poupança que podem ser transferidos para a conta-corrente com um telefonema ou um clique do mouse. Ambas as definições de oferta monetária, no entanto, fazem distinção entre ativos que podem ser facilmente usados para adquirir bens e serviços e os que não podem. A moeda desempenha um papel crucial na geração de ganhos do comércio porque torna

possível as trocas indiretas. Pense no que acontece quando um cirurgião cardíaco compra uma geladeira nova. O cirurgião tem serviços valiosos a oferecer – cirurgias cardíacas. O proprietário da loja tem bens valiosos a oferecer – refrigeradores e outros aparelhos domésticos. Seria extremamente difícil para ambas as partes se, em vez de usar dinheiro, tivessem que trocar diretamente os bens e serviços que vendem. Em um sistema de escambo, um cirurgião cardíaco e um proprietário de loja de eletrodomésticos poderiam comerciar somente se o proprietário da loja necessitasse de cirurgia cardíaca e se o cirurgião precisasse de uma geladeira nova. Isso é conhecido como o problema de encontrar a “dupla coincidência de necessidades”: em um sistema de escambo, as duas partes só podem comerciar quando cada uma quer o que a outra tem a oferecer. O dinheiro resolve esse problema: as pessoas podem trocar por dinheiro aquilo que tem a oferecer e oferecer dinheiro por aquilo que querem. Porque a capacidade de realizar transações com dinheiro em vez de depender do escambo torna mais fácil obter ganhos do comércio, a existência de moeda aumenta o bem-estar, embora não produza nada diretamente. Como Adam Smith sugeriu, o dinheiro “pode muito bem ser comparado com uma estrada que, embora faça circular e transporte para o mercado todo o feno e cereal do país, por si só não produz uma única pilha de qualquer um deles”. Vamos examinar mais de perto os papéis que o dinheiro desempenha na economia.

Papéis da moeda O dinheiro desempenha três papéis principais em qualquer economia moderna: é um meio de troca, reserva de valor e unidade de conta.

1 Meio de troca Nosso exemplo do cirurgião cardíaco/geladeira nova ilustra o papel da moeda como meio de troca – um ativo que as pessoas usam para o comércio de bens e serviços e não para o consumo. As pessoas não podem comer notas de dinheiro, em vez disso, usam notas de dólar para o comércio de bens comestíveis e os serviços que os acompanham. Em tempos normais, a moeda oficial de determinado país, o dólar nos Estados Unidos, o peso no México, e assim por diante, é também um meio de troca em praticamente todas as transações no país. No entanto, durante épocas econômicas difíceis, outros bens ou ativos, muitas vezes, desempenham esse papel. Por exemplo, durante crises econômicas as pessoas costumam recorrer a moedas de outros países como meio de troca: o dólar americano tem desempenhado esse papel em países latino-americanos com problemas, assim como o euro em países do Leste Europeu com problemas. Em um exemplo famoso, o cigarro funcionou como meio de troca nos campos de prisioneiros de guerra na Segunda Guerra Mundial: até mesmo os não fumantes trocavam bens e serviços por cigarros, porque esses, por sua vez, podiam ser facilmente trocados por outros itens. Durante a hiperinflação alemã de 1923, bens como ovos e pedaços de carvão tornaram-se

meios de troca por breves momentos.

2 Reserva de valor Para atuar como um meio de troca, a moeda também deve ter reserva de valor – um meio de manter o poder de compra ao longo do tempo. Para verificar por que isso é necessário, imagine tentar operar uma economia em que as casquinhas de sorvete são o meio de troca. Tal economia minguaria rapidamente, pois derreteria por completo: seu meio de troca rapidamente se transformaria em uma poça pegajosa antes que se pudesse usá-la para comprar outra coisa. (Como veremos no Capítulo 16, um dos problemas causados por inflação elevada é que, na verdade, “derrete” o valor do dinheiro.) Claro, o dinheiro de maneira alguma é a única reserva de valor. Qualquer ativo que mantenha o poder de compra ao longo do tempo é uma reserva de valor. Assim, o papel da reserva de valor é uma característica necessária, mas não exclusiva da moeda.

3 Unidade de conta Finalmente, o dinheiro normalmente serve como unidade de conta – medida comumente aceita que as pessoas usam para estabelecer preços e fazer cálculos econômicos. Para entender a importância desse papel, considere um fato histórico: durante a Idade Média, os camponeses normalmente eram obrigados a fornecer bens e trabalho ao senhor feudal em vez de dinheiro. Um camponês, por exemplo, podia ser obrigado a trabalhar na terra do senhor feudal um dia por semana e entregar um quinto da colheita. Hoje, aluguéis, assim como outros preços, quase sempre são especificados em termos de dinheiro. Isso torna tudo mais claro: imagine como seria duro decidir qual apartamento alugar se os proprietários seguissem a prática medieval. Suponha, por exemplo, que o Sr. Smith diga que aluga o apartamento se você limpar sua casa duas vezes por semana e trouxer meio quilo de bife todos os dias, enquanto que a Sra. Jones pede que você limpe a casa dela apenas uma vez por semana, mas quer dois quilos de frango por dia. Quem está oferecendo a melhor proposta? É difícil dizer. Se, em vez disso, Smith pede $600 por mês e Jones pede $700, a comparação é fácil. Em outras palavras, sem uma medida comumente aceita, é mais difícil determinar os termos de uma transação, tornando muito mais difícil fazer transações e obter ganhos do comércio.

Tipos de moeda De uma forma ou de outra, o dinheiro tem sido usado por milhares de anos. Na maior parte desse tempo, as pessoas usaram moeda mercadoria: o meio de troca era um bem, normalmente ouro ou prata, que tinha valor intrínseco em outros usos. Esses usos alternativos davam à moeda mercadoria um valor independente do seu papel como meio de troca. Por exemplo, os cigarros que serviram de dinheiro nos campos de prisioneiros da Segunda Guerra Mundial também eram valiosos porque muitos prisioneiros fumavam. O ouro era valioso porque era usado em joias e ornamentação, além do fato de

ser cunhado em moedas.

Comparação global As grandes moedas Os americanos tendem a considerar o dólar a principal moeda do mundo – e ela se mantém como a moeda mais suscetível de ser aceita como pagamento em todo o globo. Mas também há outras moedas importantes. Uma medida simples da importância de uma moeda é o valor da quantidade dessa moeda em circulação. Esta figura mostra o valor, em bilhões de dólares, da quantidade das quatro principais moedas em circulação no final de 2010. O dólar, ao que parece, é apenas a número 2, atrás do euro. A proeminência do euro não é assim surpreendente, uma vez que o conjunto das economias dos países que usam o euro, a Zona do Euro, é quase tão grande quanto a economia dos Estados Unidos. E apesar do fato de que sua economia seja muito menor, o Japão vem logo atrás dos Estados Unidos, em grande parte porque os japoneses fazem muito mais uso de moeda em vez de cheques e cartões de crédito do que os europeus ou americanos. E a China, com sua economia em rápido crescimento, está chegando perto.

Fontes: Federal Reserve Bank de St. Louis; Banco Central Europeu; Banco do Japão e Banco Popular da China.

Em 1776, o ano em que os Estados Unidos declararam a independência e Adam Smith publicou A Riqueza das Nações, já se espalhara o uso do papel-moeda, além de moedas de ouro ou prata. No entanto, ao contrário das notas modernas de dólar, as notas eram emitidas por bancos privados, que prometiam trocar essas notas por moedas de ouro ou de prata quando solicitado. Assim, o papel-moeda que inicialmente substituiu a moeda mercadoria era uma moeda garantida por mercadoria, um meio de troca sem valor intrínseco, cujo valor, em última instância, era garantido por uma promessa de que sempre poderia ser convertido em bens valiosos quando isso fosse solicitado.

A grande vantagem do dinheiro garantido por ouro e prata em comparação com a simples moeda mercadoria, como as moedas de ouro e prata, é que empata menos recursos valiosos. Embora o banco emissor das notas ainda precisasse manter certa quantidade de ouro e prata, tinha que manter apenas o suficiente para honrar os pedidos de resgate de suas notas. E podia contar com o fato de que, em um dia normal, apenas uma fração de suas notas de papel seriam resgatadas. Assim, o banco precisava manter apenas uma porção do valor total das suas notas em circulação na forma de ouro e prata em seus cofres. Podia emprestar o ouro e a prata restantes para aqueles que desejavam usá-los. Isso permitia à sociedade usar esse ouro e prata para outros fins, e tudo sem perda da capacidade de obter ganhos do comércio. Em um trecho famoso de A Riqueza das Nações, Adam Smith descreveu o papel-moeda como uma “ferrovia pelo ar ”. Smith estava fazendo uma analogia entre moeda e uma estrada imaginária que não precisou absorver terra valiosa abaixo dela. Uma estrada de verdade fornece um serviço útil, mas a um custo: a terra que poderia ter sido usada para o cultivo e foi pavimentada. Se a estrada pudesse ser construída pelo ar, não destruiria a terra útil. Como Adam Smith entendeu, quando os bancos substituíram ouro e prata por notas de papel, conseguiram um feito semelhante: reduziram a quantidade de recursos reais usados pela sociedade para proporcionar as funções da moeda. Nessa altura, pode-se perguntar: por que ainda usar ouro e prata no sistema monetário? Na verdade, o sistema monetário contemporâneo vai ainda mais longe do que o sistema que Smith admirou, tendo eliminado qualquer papel do ouro e da prata. Uma cédula de dólar não é moeda mercadoria, nem sequer é garantida por mercadoria. Em vez disso, seu valor decorre inteiramente do fato de que em geral é aceita como meio de pagamento, um papel que, em última instância, é decretado pelo governo dos Estados Unidos. O dinheiro, cujo valor deriva inteiramente do seu status oficial como meio de troca, é conhecido como moeda fiat, pois existe por fiat do governo, termo antigo para uma política declarada por um governante. A moeda fiat tem duas grandes vantagens em relação à moeda garantida por mercadoria. Primeiro, é ainda mais uma “ferrovia pelo ar ”: não empata quaisquer recursos reais, exceto o papel em que é impressa. Segundo, a oferta monetária pode ser administrada em função das necessidades da economia, em vez de ser determinada pela quantidade de ouro e prata que os garimpeiros consigam extrair. No entanto, a moeda fiat apresenta alguns riscos. Na história de abertura deste capítulo, descrevemos um desses riscos – a falsificação. Falsificadores usurpam um privilégio do governo dos Estados Unidos, que é o único que tem direito legal de imprimir notas de dólar. E o benefício que os falsificadores obtêm ao trocar notas falsas por bens e serviços de verdade se dá à custa do governo federal dos Estados Unidos, que abrange uma parte pequena, mas não trivial, de suas despesas emitindo moeda nova para atender à crescente demanda por moeda. O maior risco é que os governos que podem criar moeda sempre que queiram fiquem tentados a abusar desse privilégio. No Capítulo 16 vamos aprender como os governos, por vezes, confiam demais em imprimir moeda para pagar suas contas, levando a uma inflação elevada. Neste capítulo, no entanto, vamos manter o foco sobre a questão do que

é a moeda e como é gerida.

Medindo a oferta de moeda O Federal Reserve (o Banco Central Americano que abordaremos em breve) calcula o tamanho de dois agregados monetários, medida geral da oferta monetária, que difere na forma como o dinheiro é definido estritamente. Os dois agregados são conhecidos, de modo meio obscuro, como M1 e M2. (Existia um terceiro agregado monetário chamado M3, mas em 2006 o Federal Reserve concluiu que sua medição não era mais útil.)

Armadilhas O que não faz parte da oferta monetária Ativos financeiros como ações e bônus fazem parte da oferta monetária? Não, qualquer que seja a definição, pois não são suficientemente líquidos. M1, grosso modo, consiste de ativos que podem ser usados para fazer compras na mercearia da esquina: dinheiro, cheques de viagem e depósitos em conta-corrente (que funcionam desde que a mercearia aceite cheques ou cartões de débito). M2 é mais amplo, inclui itens como contas de poupança que podem facilmente ser convertidos em M1. Normalmente, por exemplo, pode-se transferir fundos da poupança para as contascorrente com um clique de mouse na internet ou uso do serviço de bankfone automatizado. Por outro lado, para converter ações ou bônus em dinheiro é preciso vendê-los, algo que normalmente leva algum tempo e também envolve o pagamento de uma taxa à corretora. Isso torna esses ativos muito menos líquidos do que os depósitos bancários. Assim, ações e bônus, ao contrário dos depósitos bancários, não são considerados moeda. M1, a definição mais estrita, inclui apenas moeda em circulação (ou dinheiro vivo), cheques de viagem e depósitos bancários em conta-corrente. M2 acrescenta vários outros tipos de ativos, muitas vezes referidos como quase-moeda – ativos financeiros que não são diretamente utilizáveis como meio de troca, mas podem ser facilmente convertidos em dinheiro ou depósitos bancários, como contas de poupança. Exemplo disso são os depósitos a prazo, como CDBs de valor pequeno, contra os quais não é possível emitir cheques, mas que podem ser retirados a qualquer momento antes de sua data de vencimento, pagando-se uma penalidade. Como moeda e depósitos em conta-corrente podem ser usados diretamente como um meio de troca, M1 é a medida mais líquida da moeda. A Figura 14-1 mostra a composição de M1 e M2 nos Estados Unidos, em setembro de 2011, em bilhões de dólares. M1 foi avaliado em $ 2.136,9 bilhões, com pouco menos da metade computado como moeda em circulação, quase todo o restante computado como depósitos bancários em conta-corrente, e uma pequena fatia representada por cheques de

viagem. Por sua vez, M1 representou 22% de M2, avaliado em $9.603,6 bilhões. M2 consiste de M1 além de outros tipos de ativos: dois tipos de depósitos bancários, conhecidos como depósitos de poupança e depósitos a prazo, ambos não permitem emissão de cheques, além das contas de mercado monetário, que são fundos mútuos que investem apenas em ativos líquidos e têm estreita semelhança com depósitos bancários. Enquanto dinheiro (moeda em circulação) não paga juros, as formas de quase-moeda pagam taxas de juros mais altas do que quaisquer taxas oferecidas por depósitos bancários contra os quais se possa emitir cheques.

FIGURA 14-1 Agregados monetários, setembro 2011 O Federal Reserve usa duas definições de oferta monetária, M1 e M2. Como mostra o painel (a), mais da metade de M1 consiste de moeda em circulação, sendo que a maior parte do restante é de depósitos em conta-corrente. M2, como mostra o painel (b), tem uma definição muito mais ampla: inclui M1 além de uma gama de outros depósitos e depósito como ativos, sendo quase cinco vezes maior. Fonte: Federal Reserve Bank de St. Louis.

Para mentes curiosas E onde está todo o dinheiro? Leitores atentos podem estar um pouco assustados com uma das cifras da oferta monetária: quase $1.000 bilhão de moeda em circulação. Isso perfaz $3.000 em dinheiro para cada homem, mulher e criança nos Estados Unidos. Quantas pessoas você conhece que carregam $3.000 na carteira? Não são muitas. Então, onde está todo esse dinheiro? Parte da resposta é que não está nas carteiras dos indivíduos – está nas caixas registradoras. Tanto empresas como indivíduos precisam manter dinheiro vivo. Os economistas também acreditam que dinheiro vivo desempenha um papel importante nas transações que as pessoas querem manter escondidas. Pequenas

empresas e empregados por conta própria, por vezes, preferem ser pagos em dinheiro, de modo que possam esconder a renda da Receita Federal. Além disso, traficantes de drogas e outros criminosos, obviamente, não querem registros bancários de suas transações. De fato, alguns analistas tentaram inferir a quantidade de atividade ilegal na economia a partir do montante total de moeda mantido em poder do público. Mas a razão mais importante dessa enorme quantidade de moeda em circulação é o uso de dólares pelos estrangeiros. O Federal Reserve estima que 60% da moeda dos Estados Unidos são realmente mantidos fora dos Estados Unidos, em grande parte nos países cuja moeda nacional inspira tão pouca confiança que o dólar americano se tornou um meio de troca amplamente aceito.

Economia em ação A história do dólar Cédulas de dólar são pura moeda fiat: não têm valor intrínseco e não são garantidas por nada que o tenha. Mas a moeda americana não foi sempre assim. Nos primórdios da colonização europeia, as colônias que se tornariam os Estados Unidos usavam moeda mercadoria, em parte composta de moedas de ouro e de prata cunhadas na Europa. Mas essas moedas eram escassas, nesse lado do Atlântico, de modo que os colonos usavam uma variedade de outras formas de moeda mercadoria. Por exemplo, os colonos da Virginia usavam tabaco como moeda e os colonos no nordeste usavam “wampum”, um tipo de concha fechada. Mais tarde, na história americana, o papel-moeda garantido por mercadoria passou a ser usado amplamente. Mas não era o papel-moeda como conhecemos hoje, emitido pelo governo e com a assinatura do secretário do Tesouro. Antes da Guerra Civil, o governo dos Estados Unidos não emitia nenhum papel-moeda. Em vez disso, cédulas de dólar eram emitidas por bancos privados, que prometiam que essas cédulas poderiam ser trocadas por moedas de prata quando solicitado. Essas promessas nem sempre eram credíveis porque, algumas vezes, os bancos falhavam, deixando os titulares de suas contas com pedaços de papel sem valor. É compreensível que as pessoas relutavam em aceitar moeda de bancos sob suspeita de estar em apuros financeiros. Nesse sistema privado de moeda, alguns dólares eram menos valiosos do que outros. Um legado curioso daquele tempo eram as cédulas emitidas pelo Banco dos Cidadãos da Louisiana, com sede em Nova Orleans, que se tornaram as mais usadas nos estados do sul. Essas cédulas eram impressas em inglês de um lado e em francês do outro. (Na época, muitas pessoas em Nova Orleans, originalmente uma colônia da França, falavam francês.) Assim, a cédula de $10 dizia ten de um lado e do outro dix, palavras inglesa e francesa para “dez”, respectivamente. Essas notas de $10 tornaram-se conhecidas como “dixies”, provavelmente a origem do apelido do Sul dos Estados Unidos. O governo dos Estados Unidos começou a emitir papel-moeda oficial, chamado “verdinhas”, durante a Guerra Civil, como forma de ajudar a pagar a guerra. No inicio, esse papel-moeda não tinha valor fixo em termos de mercadoria. Depois de 1873, o

governo dos Estados Unidos passou a garantir o valor de US$1 em termos de ouro, efetivamente transformando dólares em moeda garantida por mercadoria. Em 1933, quando o Presidente Franklin D. Roosevelt rompeu a ligação entre o dólar e o ouro, o seu próprio chefe do orçamento federal, que temia que o público perdesse a confiança no dólar, se esse não fosse garantido por ouro, declarou preocupado: “Isso será o fim da civilização ocidental”. Não foi. A ligação entre o dólar e o ouro foi restaurada poucos anos mais tarde e, depois, foi rompida de novo em agosto de 1971. Apesar das advertências catastróficas, o dólar dos Estados Unidos ainda é a moeda mais utilizada no mundo. (Agora é a segunda mais utilizada, depois do euro.)

Breve Revisão ■ Moeda é qualquer ativo que pode ser facilmente usado para comprar bens e serviços. Moeda em circulação e depósitos em conta-corrente são considerados parte da oferta monetária. ■ A moeda desempenha três papéis: meio de troca, reserva de valor e unidade de conta. ■ Historicamente, primeiro a moeda tomou a forma de moeda mercadoria, depois de moeda garantida por mercadoria. Hoje o dólar é pura moeda fiat. ■ A oferta monetária é medida por dois agregados monetários: M1 e M2. M1 consiste da moeda em circulação, os depósitos bancários em conta-corrente e cheques de viagem. M2 é composto de M1 mais vários tipos de quase-moeda.

Teste seu entendimento 14-1 1. Suponha que você possua um vale-brinde, válido para certos produtos nas lojas participantes. Esse certificado de troca de vale-brinde é moeda? Por quê? 2. Embora a maioria das contas bancárias pague juros, os depositantes podem obter taxa de juros mais alta comprando um certificado de depósito bancário ou CDB. A diferença entre CDB e conta-corrente é que o depositante paga uma penalidade se resgatar o dinheiro antes que o CDB vença – um período de meses ou mesmo de anos. CDBs de pequeno valor são contados em M2, mas não em M1. Explique por que não fazem parte de M1. 3. Explique por que um sistema de moeda garantida por mercadoria usa recursos de forma mais eficiente do que um sistema de moeda mercadoria. As respostas estão no fim do livro.

O papel monetário dos bancos Mais da metade de M1, a definição mais restrita da oferta monetária, consiste de moeda em circulação, cédulas de $1, cédulas de $5, e assim por diante. É óbvio de onde vem a moeda: é impressa pelo Tesouro. Mas o restante de M1 é constituído de depósitos bancários, e depósitos bancários constituem a maior parte de M2, definição mais ampla da oferta monetária. Por qualquer uma das medidas, então, os depósitos bancários são um componente importante da oferta monetária. Isso nos leva ao próximo tópico: o papel monetários dos bancos.

O que os bancos fazem Como vimos no Capítulo 10, banco é um intermediário financeiro que usa ativos líquidos na forma de depósitos bancários para financiar os investimentos ilíquidos dos tomadores de empréstimos. Os bancos podem criar liquidez, porque não é necessário para um banco manter todos os fundos depositados na forma de ativos de alta liquidez. Exceto no caso de uma corrida aos bancos – tema que veremos adiante – nem todos os depositantes de um banco vão querer retirar seus fundos ao mesmo tempo. Assim, um banco pode oferecer aos seus depositantes ativos líquidos e ainda investir grande parte dos fundos dos depositantes em ativos ilíquidos, tais como empréstimos hipotecários e financiamento às empresas. No entanto, os bancos não podem emprestar todos os fundos nele depositados, pois têm que atender a qualquer depositante que queira retirar seus fundos. A fim de atender a essas demandas, os bancos mantêm quantidades substanciais de ativos líquidos na mão. No moderno sistema bancário dos Estados Unidos, esses ativos têm a forma de moeda no cofre ou depósitos mantidos na conta do banco junto ao Fed. Estes últimos, como veremos em breve, podem ser convertidos em moeda mais ou menos instantaneamente. Os depósitos em moeda nos cofres dos bancos e os depósitos no Fed são chamados de reservas bancárias. Como as reservas bancárias são mantidas pelos bancos e pelo Fed, e não em poder do público, não fazem parte da moeda em circulação. Para compreender o papel dos bancos na determinação da oferta monetária, comecemos com a introdução de uma ferramenta simples para analisar a situação financeira de um banco: a conta T. A conta T de uma empresa resume sua posição financeira, mostrando, em uma única tabela, os ativos e passivos da empresa, com ativos à esquerda e passivos à direita. A Figura 14-2 mostra uma conta T de uma empresa hipotética que não é um banco – Samantha’s Smoothies. De acordo com a Figura 14-2, Samantha’s Smoothies é dona de um edifício no valor de $30.000 e tem $15.000 em equipamentos para produzir seu produto. São ativos, de modo que estão do lado esquerdo da tabela. Para financiar a abertura, a empresa tomou emprestado $20.000 de um banco local. Isso é um passivo, de modo que o empréstimo está do lado direito da tabela. Ao examinar a conta T, pode-se ver imediatamente o quanto Samantha’s Smoothies possui e o quanto deve. Esse tipo de

planilha financeira é chamada de conta T, por causa do formato da linha que divide a tabela.

FIGURA 14-2 Conta T de Samantha’s Smoothies Uma conta T resume a situação financeira de uma empresa. Seus ativos, que neste caso consistem de um edifício e algumas máquinas para fabricação, estão ao lado esquerdo. Seu passivo, que consiste do dinheiro que deve a um banco local, está ao lado direito.

Samantha’s Smoothies é um negócio não bancário comum. Agora vamos examinar a conta T de um banco hipotético, First Street Bank, que é o repositório de $1 milhão em depósitos bancários. A Figura 14-3 mostra a posição financeira do First Street Bank. Os empréstimos que o First Street Bank concedeu estão ao lado esquerdo porque são ativos: representam fundos que se espera que os que tomaram emprestado do banco paguem. Neste exemplo simplificado, os únicos outros ativos do banco são as reservas que, como já sabemos, podem tomar a forma de dinheiro no cofre do banco ou depósitos no Fed. No lado direito, está o passivo do banco, que, neste exemplo, consiste apenas dos depósitos feitos pelos clientes. São passivos porque representam fundos que, em última instância, terão de ser devolvidos aos depositantes.

FIGURA 14-3 Ativos e passivos do First Street Bank Os ativos do First Street Bank consistem de $1.200.000 em empréstimos e $100.000 em reservas. Seu passivo consiste de $1.000.000 em depósitos – dinheiro que o banco deve às pessoas que depositaram fundos no First Street Bank.

A propósito, observe que, neste exemplo, os ativos do First Street Bank são maiores que os passivos. É assim que se supõe que deva ser! De fato, como veremos adiante, os bancos são obrigados por lei a manter uma porcentagem específica de ativos maiores que passivos. Neste exemplo, o First Street Bank mantém reservas equivalentes a 10% dos depósitos bancários dos clientes. A fração dos depósitos que um banco mantém como reserva é o coeficiente de reserva. No sistema americano moderno, o Fed – que, entre outras coisas, regulamenta os bancos que operam nos Estados Unidos – define um coeficiente mínimo

de reserva que os bancos são obrigados a manter. Para entender por que os bancos são regulamentados, consideremos um problema que os bancos podem enfrentar: a corrida aos bancos.

O problema da corrida aos bancos Um banco pode emprestar a maior parte dos fundos depositados em seu cuidado, pois, em tempos normais, apenas uma pequena fração de seus depositantes vai querer retirar seus fundos em determinado dia. Mas o que aconteceria se, por algum motivo, todos ou pelo menos grande parte dos clientes de fato tentarem retirar todos os seus fundos em um curto espaço de tempo, como dois dias? Se parte significativa dos depositantes quiserem o dinheiro de volta, ao mesmo tempo, o banco não será capaz de levantar dinheiro suficiente para atender a essas demandas. A razão é que os bancos convertem a maioria dos fundos dos depositantes em empréstimos concedidos a tomadores de empréstimo; é como os bancos obtêm receitas – por meio da cobrança de juros sobre empréstimos. Empréstimos bancários, no entanto, são ilíquidos: não podem ser facilmente convertidos em moeda no curto prazo. Para saber por que, imagine que o First Street Bank tenha emprestado $100.000 para o Drive-A-Peach Used Cars, um revendedor local de carros usados. Para levantar dinheiro para atender às demandas de saques, o First Street Bank pode vender seu título de crédito com o Drive-A-Peach para outra pessoa, outro banco ou um investidor individual. Mas se o First Street Bank tentar vender o título de crédito rapidamente, os compradores potenciais ficarão preocupados: vão suspeitar que o banco deseja vender o título de crédito porque há algo de errado e o empréstimo pode não ser pago. Como resultado, o First Street Bank só consegue vender o título de crédito rapidamente se o oferecer com desconto – digamos, um desconto de 40%, para um preço de venda de $60.000. O resultado é que se um número significativo de clientes do First Street Bank, repentinamente, decidir retirar seus fundos, qualquer esforço do banco para levantar o dinheiro necessário rapidamente o obrigará a vender seus ativos muito barato. Inevitavelmente, isso levará a uma falência bancária: o banco não será capaz de pagar seus depositantes na íntegra. O que pode dar início a todo esse processo? Ou seja, o que pode levar os depositantes do First Street Bank a correrem para retirar o dinheiro? Uma resposta plausível seria a difusão de que o banco está com problemas financeiros. Mesmo que os clientes não tenham certeza se o boato é verdade, pela própria segurança podem querer retirar o dinheiro enquanto ainda é tempo. E a coisa fica ainda pior: um depositante que pensa que os outros depositantes vão entrar em pânico e tenta retirar seu dinheiro vai perceber que isso pode levar à “quebrar o banco”. Então, se junta aos demais na corrida. Em outras palavras, o medo de que o banco esteja em dificuldade financeira pode se tornar uma profecia autorrealizada: os depositantes que acreditam que os outros vão correr para a saída também correm para a saída. A corrida ao banco é um fenômeno pelo qual muitos depositantes tentam retirar seus

fundos devido ao temor de quebra do banco. Além disso, a corrida ao banco não é ruim apenas para o banco em questão e seus clientes. Historicamente, muitas vezes tem provado ser contagiosa: a corrida a um banco leva à perda de confiança em outros bancos, provocando outras corridas aos bancos. A próxima seção, Economia em ação, descreve um caso real de tal contágio, a onda de corrida aos bancos que varreu os Estados Unidos no início dos anos 1930. Em resposta a essa experiência e a experiências semelhantes de outros países, os Estados Unidos e a maioria dos outros governos modernos estabeleceram um sistema de regulação bancária para proteger os depositantes e prevenir a maioria das corridas bancárias. No Capítulo 17, descreveremos novamente a corrida aos bancos com uma análise mais profunda das crises financeiras e suas consequências.

Regulação bancária Nos Estados Unidos é preciso se preocupar com a perda de dinheiro devido a uma corrida aos bancos? Não. Após a crise bancária da década de 1930, os Estados Unidos e a maioria de outros países colocaram em prática um sistema projetado para proteger os depositantes e a economia como um todo contra corridas aos bancos. Esse sistema tem quatro características principais: seguro de depósito, capital obrigatório, reservas compulsórias, e, além disso, os bancos têm acesso ao guichê de redesconto, uma fonte de dinheiro quando é necessário.

1 Seguro de depósito Quase todos os bancos nos Estados Unidos anunciam que são “membros da FDIC” – Federal Deposit Insurance Corporation. Como vimos no Capítulo 10, a FDIC oferece seguro de depósito, uma garantia pelo governo federal de que os depositantes serão pagos mesmo que o banco quebre, até um montante máximo por conta individual. A FDIC garante atualmente os primeiros $250.000 por depositante, por banco segurado. É importante perceber que o seguro de depósito não protege apenas os depositantes se o banco realmente falir. O seguro também elimina a principal razão da corrida aos bancos: uma vez que os depositantes saibam que os fundos estão seguros, mesmo se o banco falir, não têm nenhum motivo para se apressar a retirá-los por causa de um boato de que o banco está em apuros.

2 Capital obrigatório O seguro de depósito, embora proteja o sistema bancário contra corridas aos bancos, cria um problema bem conhecido de incentivos perversos. Como os depositantes estão protegidos contra perdas, não têm incentivo para monitorar a saúde financeira do banco, permitindo que atividades arriscadas do banco passem despercebidas. Ao mesmo tempo, os donos dos bancos têm incentivo para se envolver em investimentos excessivamente arriscados, como, por exemplo, conceder empréstimos questionáveis a juros elevados.

Isso porque, se tudo vai bem, os proprietários têm lucro, se as coisas vão mal, o governo cobre as perdas por intermédio do seguro de depósito. Para reduzir o incentivo à tomada excessiva de riscos, os reguladores exigem que os proprietários dos bancos detenham ativos substancialmente mais elevados que o valor dos depósitos. Dessa forma, os bancos terão ativos maiores que seus depósitos, mesmo que haja inadimplência em alguns de seus empréstimos, e as perdas incorridas serão deduzidas dos ativos do banco e não do governo. O excedente dos ativos de um banco em relação aos seus depósitos bancários e outros passivos é denominado capital próprio do banco. No exemplo, o First Street Bank tem um capital de $300.000, equivalente a $300.000/ ($1.200.000 + $100.000) = 23% do valor total de seus ativos. Na prática, o capital dos bancos é necessário para corresponder, pelo menos, a 7% do valor de seus ativos.

3 Reservas compulsórias Outro regulamento usado para reduzir o risco da corrida aos bancos é a reserva compulsória, regras estabelecidas pelo Fed que especificam o coeficiente de reserva mínima dos bancos. Por exemplo, nos Estados Unidos, o coeficiente de reserva mínima é de 10% sobre os depósitos bancários.

4 Guichê ou janela de redesconto Uma proteção final contra a corrida aos bancos é o fato de que o Fed, que discutiremos mais a fundo mais adiante neste capítulo, fica a postos para emprestar dinheiro aos bancos em apuros, um arranjo conhecido como guichê de redesconto. A capacidade de tomar empréstimos significa que um banco pode evitar ser forçado a vender seus ativos a preços de venda relâmpago, a fim de satisfazer às exigências de uma corrida repentina de clientes que demandam dinheiro. Em vez disso, pode recorrer ao Fed e tomar emprestado os fundos necessários para pagar os depositantes.

Economia em ação É um sistema bancário maravilhoso Próximo da época do Natal, é certo que pelo menos um canal de televisão mostre o filme de 1946, A felicidade não se compra, com Jimmy Stewart, no papel de George Bailey, um banqueiro de uma cidade pequena cuja vida é salva por um anjo. A principal cena do filme é uma corrida ao banco de Bailey, quando os depositantes temerosos correm para sacar seus fundos. Quando o filme foi feito, essas cenas ainda estavam fracas na memória dos americanos. Houve uma onda de corrida aos bancos no final de 1930, uma segunda onda, na primavera de 1931, e uma terceira onda no início de 1933. No fim, mais de um terço dos bancos do país haviam ido à falência. Para colocar fim ao pânico, em 6 de março de 1933, o recém-empossado presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt,

declarou um “feriado bancário” nacional, fechando todos os bancos nacionais por uma semana para dar tempo aos reguladores bancários de fechar os bancos doentes e passar um certificado dos bancos com saúde financeira. Desde então, existe uma regulação que protege os Estados Unidos e outros países ricos contra a maioria das corridas bancárias. De fato, aquela cena do filme já tinha quase passado de moda quando ele foi feito. Mas a última década assistiu a várias ondas de corrida aos bancos em países em desenvolvimento. Por exemplo, a corrida aos bancos desempenhou um papel em uma crise econômica que assolou o Sudeste Asiático entre 1997 e 1998 e na crise econômica severa da Argentina, que começou no final de 2001. E como explicado no Capítulo 17, um “pânico”, com forte semelhança com uma onda de corrida aos bancos, varreu os mercados financeiros mundiais em 2008. Repare que dissemos “a maioria das corridas aos bancos”. Há alguns limites sobre o seguro de depósito; em particular, nos Estados Unidos, atualmente apenas os primeiros $250.000 de fundos de uma conta bancária individual estão cobertos. Como resultado, ainda pode haver corrida a um banco que pareça estar em dificuldade. Na verdade, foi exatamente isso que aconteceu com IndyMac em julho de 2008, um credor com sede em Pasadena, que havia contraído grande quantidade de empréstimos imobiliários duvidosos. À medida que foram levantadas dúvidas sobre a saúde financeira do IndyMac, os clientes começaram a retirar os fundos, obrigando os reguladores federais a intervir e fechar o banco. Na Grã-Bretanha o limite de seguro de depósito é muito mais baixo, e expôs o banco Northern Rock a uma corrida bancária clássica no mesmo ano. Ao contrário da corrida aos bancos da década de 1930, no entanto, a maioria dos clientes, tanto do IndyMac como do Northern Rock, obtiveram todos os fundos de volta – e o pânico dos clientes desses dois bancos não se espalhou para outras instituições.

Breve revisão ■ Usa-se uma conta T para analisar a situação financeira de um banco. Os bancos mantêm reservas bancárias em moeda nos cofres e no banco central. O coeficiente de reserva é a razão entre as reservas e os depósitos bancários mantidos pelos clientes. ■ Como os empréstimos concedidos pelos bancos são ilíquidos, mas um banco é obrigado a devolver os fundos dos depositantes sob demanda, a corrida aos bancos é um problema em potencial. Embora tenham ocorrido em escala maciça na década de 1930, foram praticamente eliminadas dos Estados Unidos por meio da regulação bancária na forma de seguro de depósito, capital obrigatório, reserva compulsória, bem como pela disponibilidade do guichê de redesconto.

Teste seu entendimento 14-2 1. Suponha que você seja cliente do First Street Bank. E ouviu um rumor de que o banco sofreu sérios prejuízos em seus empréstimos. Cada depositante sabe que o boato é falso, mas cada um acha que os outros depositantes vão acreditar no boato. Por que, na ausência de seguro de depósito, isso poderia levar a uma corrida aos bancos? Como o

seguro de depósito muda essa situação? 2. Um vigarista teve uma grande ideia: abrir um banco sem investir qualquer capital e emprestar todos os depósitos a juros elevados para incorporadoras de imóveis. Se o mercado imobiliário entrar em alta, os empréstimos serão amortizados e ele terá lucros elevados. Se o mercado imobiliário entrar em baixa, os empréstimos não serão pagos e o banco sofrerá perdas – mas não perderá a própria riqueza. Como a regulação bancária moderna pode frustrar esse esquema? As respostas estão no fim do livro.

Determinantes da oferta monetária Se os bancos não existissem, não haveria depósitos contra os quais se emitir cheques e, assim, a quantidade de moeda em circulação seria igual à oferta monetária. Nesse caso, a oferta monetária seria determinada diretamente por quem controla a cunhagem e as impressoras do governo. Mas os bancos existem, e afetam a oferta de moeda de duas maneiras. Primeiro, retiram alguma moeda de circulação: cédulas de dólar paradas nos cofres dos bancos, ao contrário das que estão nas carteiras das pessoas, não fazem parte da oferta monetária. Segundo, e muito mais importante, os bancos criam moeda ao aceitar depósitos e conceder empréstimos – ou seja, tornam a oferta de moeda maior do que apenas o valor da moeda em circulação. Nosso próximo tema é a forma como os bancos criam moeda e o que determina o montante de moeda que criam.

Como os bancos criam moeda Para ver como os bancos criam moeda, vamos analisar o que acontece quando alguém decide depositar dinheiro em um banco. Consideremos o exemplo de Silas, um poupador, que mantém o dinheiro embaixo do colchão. Suponha que Silas perceba que seria mais seguro, bem como mais conveniente, depositar esse dinheiro no banco e usar o cartão de débito quando fizesse compras. Suponha que ele deposite $1.000 em uma conta-corrente no First Street Bank. Que efeito a ação de Silas terá sobre a oferta monetária? O painel (a) da Figura 14-4 mostra o efeito inicial do seu depósito. O banco credita $1.000 em sua conta, de modo que os depósitos em conta-corrente aumentam em $1.000. Enquanto isso, o dinheiro trazido por Silas vai para o cofre, elevando as reservas do banco também em $1.000.

FIGURA 14-4 Efeito sobre a oferta monetária de transformar dinheiro vivo em depósito bancário no First Street Bank Quando Silas deposita $1.000 (que estava debaixo do colchão) em uma conta-corrente, inicialmente não há efeito sobre a oferta monetária: a moeda em circulação cai em $1.000, mas os depósitos em conta-corrente sobem em $1.000. As entradas correspondentes na conta T do banco, no painel (a), mostram que, inicialmente, os depósitos aumentam em $1.000 e as reservas do banco aumentam em $1.000. Na segunda etapa, painel (b), o banco mantém 10% do depósito de Silas ($100) como reserva e empresta o resto ($900) para Maya. Como resultado, as reservas caem $900 e os empréstimos aumentam $900. Seu passivo, incluindo o depósito de $1.000 de Silas, mantém-se inalterado. A oferta monetária, a soma de depósitos bancários em conta-corrente e moeda em circulação, aumentou $900. São os $900 que estão agora nas mãos de Maya.

Essa transação inicial não tem efeito sobre a oferta monetária. A moeda em circulação cai em $1.000, os depósitos bancários em conta-corrente, que também são parte da oferta monetária, sobem na mesma proporção. Mas isso não é o fim da história porque o First Street Bank agora pode emprestar parte do depósito de Silas. Suponha que mantenha 10% do depósito de Silas – $100 – em reservas e empreste o restante em dinheiro para a vizinha de Silas, Maya. O efeito dessa segunda fase é mostrado no painel (b). Os depósitos do First Street permanecem inalteradas, e também o valor de seus ativos. Mas a composição dos ativos muda: ao fazer o empréstimo, reduz as reservas em $900, de modo que fica apenas $100 maior do que era antes de Silas fazer o depósito. No lugar da redução de $900 nas reservas, o banco adquiriu um “direito de recebimento futuro”, os $900 em moeda emprestado a Maya. Então, ao colocar os $900 de Silas de volta em circulação emprestando-o a Maya, o First Street Bank, de fato, aumentou a oferta monetária. Ou seja, a soma de moeda em circulação e depósitos em conta-corrente aumentou $900 em comparação com o que era quando o dinheiro de Silas ainda estava debaixo do colchão. Embora Silas ainda seja proprietário de $1.000, agora sob a forma de depósito em conta-corrente, Maya tem ao seu dispor $900 em moeda referente ao empréstimo. E isso pode não ser o fim da história. Suponha que Maya use o dinheiro para comprar uma televisão e um DVD na loja Acme Mercadorias. O que Anne Acme, a dona da loja, fará com esse dinheiro? Se ficar com ele na mão, a oferta monetária não aumenta. Mas suponha que deposite os $900 em conta-corrente em outro banco – digamos, o Second Street Bank. Esse banco, por sua vez, vai manter apenas uma parte desse depósito em reserva, emprestando o resto e criando ainda mais moeda. Suponha que o Second Street Bank, como o First Street Bank, mantenha 10% de qualquer depósito bancário como reserva e empreste o resto. Então, vai aumentar $90 em reservas e emprestar $810 do depósito de Anne, aumentando ainda mais a oferta monetária. A Tabela 14-1 mostra o processo de criação de moeda que descrevemos até agora. No início, a oferta monetária consiste apenas dos $1.000 de Silas. Depois que ele deposita o dinheiro em conta-corrente e o banco concede um empréstimo, a oferta monetária aumenta para $1.900. Depois do segundo depósito e da segunda concessão de empréstimo, a oferta monetária aumenta para $2.710. E o processo, é claro, continua. (Apesar de ter considerado o caso em que Silas coloca seu dinheiro em um depósito em conta-corrente, o resultado seria o mesmo se colocasse o dinheiro em qualquer tipo de conta de quase-moeda.) Tabela 14-1 Como os bancos criam moeda

Esse processo de criação de moeda pode soar familiar. No Capítulo 11 descrevemos o processo do multiplicador: um aumento inicial no PIB real leva a um aumento nos gastos de consumo, o que leva a um novo aumento no PIB real, que leva a um novo aumento nos gastos de consumo, e assim por diante. O que temos aqui é outro tipo de multiplicador – o multiplicador da moeda. A seguir, vamos aprender o que determina o tamanho desse multiplicador.

Reservas, depósitos bancários e o multiplicador da moeda Ao rastrear o efeito do depósito de Silas na Tabela 14-1, supomos que os fundos que um banco empresta acabam sempre sendo depositados no mesmo ou em outro banco – assim os fundos desembolsados como empréstimos voltam ao sistema bancário, mesmo que não seja para o próprio banco financiador. Na realidade, alguns desses fundos emprestados podem ser mantidos na carteira dos tomadores de empréstimo e não depositados em um banco, o que significa que parte do montante emprestado “vaza” para fora do sistema bancário. Tais fugas reduzem o tamanho do multiplicador da moeda, assim como a fuga da renda efetiva em poupança reduz o tamanho do multiplicador do PIB real. (Porém, tenha em mente que o “vazamento” aqui vem do fato de que os tomadores de empréstimo mantêm uma parte de seus fundos em moeda corrente, e não do fato de que os consumidores poupam parte da renda.) Mas vamos deixar de lado essa complicação por um momento e considerar como a oferta monetária seria determinada em um sistema monetário apenas como “depósitos em conta-corrente”, onde os fundos são sempre depositados em contas bancárias e nada é mantido como dinheiro no bolso. Ou seja, no nosso sistema monetário de depósitos em conta-corrente, todos os fundos que são tomados emprestados são imediatamente depositados em uma conta-corrente contra a qual podemos emitir cheques. Vamos supor que os bancos estejam sujeitos a uma regra que obrigue a um coeficiente mínimo de reserva de 10% e que todos os bancos emprestem o total das reservas excedentes, as reservas acima do montante necessário para satisfazer o coeficiente de reserva mínima. Agora, suponha que, por algum motivo, um banco de repente se encontra com $1.000 em reservas excedentes. O que acontece? A resposta é que o banco vai emprestar esses $1.000, que vai acabar como depósito bancário em conta-corrente em algum lugar do sistema bancário, lançando um processo do multiplicador de moeda muito parecido com o processo mostrado na Tabela 14-1. Na primeira etapa, o banco empresta a reserva excedente de $1.000, que se torna depósito bancário em conta-corrente em algum lugar. O banco que recebe o depósito de $1.000 mantém 10%, ou $100, como reserva e empresta os restantes 90%, ou $900, que por sua vez se torna um depósito bancário em conta-corrente em algum lugar. O banco recebe esse depósito de $900 novamente, fica com 10%, ou seja, $90 como reserva e empresta os restantes $810. O banco que recebe esses $810 mantém $81 em reserva e empresta os restantes $729, e assim por diante. Como resultado desse processo, o aumento total dos depósitos bancários em conta-corrente é igual a uma soma que se

parece com:

Usaremos o símbolo rr para o coeficiente de reserva. De modo mais geral, o aumento total em depósitos bancários em conta-corrente que é gerado quando um banco empresta $1.000 de reservas excedentes é:

(14-1)

Como vimos no Capítulo 11, uma série infinita desse formato pode ser simplificada para:

(14-2) Dado um coeficiente de reserva de 10%, ou 0,1, um aumento de $1.000 em reservas de excedentes irá aumentar o valor total dos depósitos bancários em conta-corrente em $ 1.000/0,1 = $10.000. De fato, em um sistema monetário que tenha apenas depósitos em conta-corrente, o valor total dos depósitos bancários em conta-corrente será igual ao valor das reservas bancárias dividido pelo coeficiente de reserva. Ou, dito de forma diferente, se o coeficiente de reserva for 10%, cada $1 de reserva mantido por um banco serve de base para $1/rr = $ 1/0,1 = $10 de depósitos bancários em conta-corrente.

O multiplicador da moeda na realidade Na realidade, a determinação da oferta monetária é mais complicada do que sugere esse modelo simples porque depende não só da relação entre reservas e depósitos bancários, mas também da fração da oferta monetária que os indivíduos decidem manter sob a forma de moeda. Na verdade, já vimos isso no exemplo do Silas ao depositar o dinheiro que estava debaixo do colchão: quando optou em manter um depósito bancário em contacorrente em vez de dinheiro vivo, colocou em marcha um aumento na oferta monetária. Para definir o multiplicador da moeda na prática, é importante reconhecer que as

autoridades monetárias controlam a soma das reservas bancárias e da moeda em circulação, denominada base monetária, mas não controlam a alocação dessa soma entre reservas bancárias e moedas em circulação. Consideremos mais uma vez Silas e seu depósito: ao tirar dinheiro debaixo do colchão e depositá-lo em um banco, reduziu a quantidade de moeda em circulação, mas aumentou as reservas bancárias por um montante igual, deixando inalterada a base monetária. A base monetária, que é a quantidade que as autoridades monetárias controlam, é a soma da moeda em circulação e das reservas mantidas pelos bancos. A base monetária é diferente da oferta monetária, por duas razões. Primeiro, as reservas bancárias, que fazem parte da base monetária, não são consideradas parte da oferta monetária. Uma cédula de $1 na carteira de alguém é considerada moeda porque está disponível para o indivíduo gastar. Mas uma cédula de $1 mantida como reserva bancária no cofre de um banco ou depósito no Fed não é considerada parte da oferta monetária porque não está disponível para gasto. Segundo, depósitos em conta-corrente fazem parte da oferta monetária porque estão disponíveis para gasto, não fazem parte da base monetária. A Figura 14-5 mostra esquematicamente os dois conceitos. O círculo à esquerda representa a base monetária, composta de reservas bancárias, além de moeda em circulação.

FIGURA 14-5 Base monetária e oferta monetária A base monetária é igual às reservas bancárias mais moeda em circulação. É diferente da oferta monetária, que consiste principalmente de depósitos em conta-corrente ou que são quase-moeda mais moeda em circulação. Cada dólar de reserva bancária suporta vários dólares de depósito bancário, tornando a oferta monetária maior que a base monetária.

O círculo à direita na Figura 14-5 representa a oferta monetária, que consiste principalmente de moeda em circulação mais depósitos em conta-corrente ou depósitos de quase-moeda. Como a figura indica, a moeda em circulação tanto faz parte da base monetária quanto da oferta monetária. Mas as reservas bancárias não fazem parte da

oferta monetária e os depósitos em conta-corrente ou em contas de quase-moeda não fazem parte da base monetária. Na prática, a maior parte da base monetária é de fato constituída de moeda em circulação, que também corresponde a cerca da metade da oferta monetária. Agora podemos definir formalmente o multiplicador da moeda: é a razão entre a oferta monetária e a base monetária. Em tempos normais, o multiplicador da moeda nos Estados Unidos, usando M1 como medida da moeda, tem oscilado entre 3,1 e 1,5. Durante a recessão de 2007 a 2009, caiu para aproximadamente 0,7. Mesmo em tempos normais, é bem menor que 1/0,1 = 10, o multiplicador da moeda em um sistema que tenha apenas depósitos em conta-corrente com um coeficiente de reserva de 10% (o coeficiente mínimo requerido para a maioria dos depósitos em conta-corrente nos Estados Unidos). A razão pela qual o multiplicador da moeda é tão pequeno vem do fato de que as pessoas mantêm quantidade significativa de dinheiro vivo, e US$1 de moeda em circulação, ao contrário de US$1 em reservas, não suporta múltiplos dólares da oferta monetária. Na verdade, a moeda em circulação normalmente responde por mais de 90% da base monetária. No entanto, em janeiro de 2012, a moeda em circulação era de $1.069 bilhões, em comparação com a base monetária de $2.659 bilhões – apenas cerca de 40%. O que aconteceu? Observe que antes dissemos “em tempos normais”. Como explicaremos mais adiante neste capítulo, e mais longamente no Capítulo 17, uma situação muito anormal se desenvolveu depois que o Lehman Brothers, uma instituição financeira fundamental, foi à falência em setembro de 2008. Os bancos, vendo poucas oportunidades de empréstimos seguros e rentáveis, começaram a colocar grandes somas no Fed, na forma de depósitos – depósitos que contaram como parte da base monetária. Como resultado, a moeda em circulação em janeiro de 2012 constituía apenas 40% da base monetária e, em 2011, a base de monetária era realmente maior do que M1, com o multiplicador monetário, portanto, menor que 1.

Economia em ação O multiplicador encolhendo a moeda No exemplo hipotético usado para ilustrar como os bancos criam moeda, descrevemos como o poupador Silas decide levar o dinheiro que estava debaixo do colchão e transformá-lo em um depósito em conta-corrente. Isso levou a um aumento da oferta monetária, na medida em que os bancos se envolveram em rodadas sucessivas de empréstimos com base nos fundos de Silas. A seguir depreende-se que se algo acontecer que faça Silas voltar aos velhos hábitos, colocar o dinheiro novamente debaixo do colchão, o resultado será menos empréstimos e, em última análise, um declínio na oferta de moeda. Foi exatamente o que aconteceu em decorrência das corridas bancárias do início dos anos 1930. A Tabela 14-2 mostra o que aconteceu entre 1929 e 1933, como as falências bancárias abalaram a confiança do público no sistema bancário. A segunda coluna mostra a

quantidade de moeda mantida pelo público. Aumentou acentuadamente, à medida que muitos americanos concluíram que o dinheiro debaixo do colchão talvez fosse mais seguro do que o dinheiro no banco. A terceira coluna mostra o valor dos depósitos em conta-corrente. Caíram drasticamente pelo efeito do processo do multiplicador que acabamos de analisar, quando os indivíduos sacaram dinheiro dos bancos. Os empréstimos também caíram porque os bancos que sobreviveram à corrida aos bancos aumentaram suas reservas excedentes, para prevenir-se em caso de novas corridas. A quarta coluna mostra o valor de M1, o primeiro dos agregados monetários anteriormente descritos. Ele caiu acentuadamente porque a redução total dos depósitos em contacorrente ou depósitos em quase-moeda foi muito maior do que o aumento da moeda em circulação. Tabela 14-2 Efeito da corrida aos bancos, 1929-1933

Fonte: U.S. Census Bureau (1975), Historical Statistics of the United States.

Breve revisão ■ Os bancos criam moeda ao conceder empréstimos de reservas de excedentes, gerando um efeito multiplicador sobre a oferta monetária. ■ Em um sistema que tenha apenas depósitos em conta-corrente, a oferta monetária será igual às reservas bancárias divididas pelo coeficiente de reserva. No entanto, na realidade, o público mantém alguns fundos em moeda, em vez de em depósitos em conta-corrente, o que reduz o tamanho do multiplicador. ■ A base monetária, igual às reservas bancárias mais a moeda em circulação, sobrepõe-se, mas não é igual à oferta monetária. O multiplicador da moeda é igual à oferta de moeda dividida pela base monetária.

Teste seu entendimento 14-3 1. Suponha que o total das reservas seja igual a $200 e o total dos depósitos em contacorrente seja igual a $1.000. Suponha também que o público não mantenha qualquer moeda. Agora suponha que o coeficiente de reserva caia de 20% para 10%. Descreva como isso leva a uma expansão dos depósitos bancários.

2. Tome o exemplo de Silas depositando seus $1.000 em dinheiro no First Street Bank e suponha que o coeficiente de reserva compulsória seja 10%. Mas, agora, suponha que cada vez que uma pessoa obtém um empréstimo bancário, mantém o empréstimo na forma de dinheiro vivo. Descreva a expansão resultante da oferta monetária. As respostas estão no fim do livro.

O sistema do Federal Reserve dos Estados Unidos Quem é responsável em garantir que os bancos mantenham reservas suficientes? Quem decide o tamanho da base monetária? A resposta, nos Estados Unidos, é uma instituição conhecida como Federal Reserve (Fed). O Fed é um banco central – uma instituição que regula e supervisiona o sistema bancário e controla a base monetária. Outros bancos centrais incluem o Banco da Inglaterra, o Banco do Japão e o Banco Central Europeu, ou BCE. O BCE atua como banco central comum para 17 países europeus: Áustria, Bélgica, Chipre, Estônia, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Malta, Holanda, Portugal, Eslováquia, Eslovênia e Espanha. O mais antigo banco central do mundo, aliás, é o da Suécia, Sveriges Rijksbank, que concede o Prêmio Nobel de economia.

A estrutura do Fed O estatuto jurídico do Fed, que foi criado em 1913, é incomum: não faz parte exatamente do governo dos Estados Unidos, mas também não é realmente uma instituição privada. Estritamente falando, o sistema do Federal Reserve é composto por duas partes: a diretoria (Board of Governors) e 12 bancos regionais do Federal Reserve. A diretoria, que supervisiona todo o sistema a partir de seus escritórios em Washington, DC, é constituída como uma agência do governo: seus sete membros são nomeados pelo presidente e precisam ser aprovados pelo Senado. No entanto, são nomeados para mandatos de 14 anos, para protegê-los de pressões políticas ao conduzir a política monetária. (O motivo de esse ser um problema potencial ficará claro no Capítulo 16, ao discutirmos a inflação.) Embora o presidente seja nomeado em base mais frequente, a cada quatro anos, é tradicional que seja reconduzido, servindo a mandatos muito mais longos. Por exemplo, William McChesney Martin foi presidente do Fed de 1951 até 1970. Alan Greenspan, nomeado em 1987, serviu como presidente até 2006. Os 12 bancos do Federal Reserve dos Estados Unidos servem cada um a uma região do país, oferecendo diversos serviços bancários e de supervisão. Uma de suas funções, por exemplo, é auditar os livros dos bancos do setor privado para garantir a sua saúde financeira. Cada banco regional é gerido por uma diretoria escolhida pela comunidade local de banqueiros e empresários. O Federal Reserve Bank de Nova York desempenha uma função especial: realiza operações de mercado aberto, geralmente o principal instrumento de política monetária. A Figura 14-6 mostra os 12 distritos do Federal Reserve e a cidade em que cada regional do Federal Reserve Bank está localizado.

FIGURA 14-6 O sistema do Federal Reserve nos Estados Unidos O sistema do Federal Reserve consiste da diretoria em Washington, DC, mais 12 bancos regionais do Federal Reserve. Esse mapa mostra cada um dos 12 distritos do Federal Reserve. Fonte: Board of Governors of the Federal Reserve System.

As decisões de política monetária são tomadas pelo Comitê Federal de Mercado Aberto, que consiste da diretoria do Fed mais cinco dos presidentes dos bancos regionais. O presidente do Federal Reserve Bank de Nova York é membro permanente do comitê e os outros quatro membros são escolhidos dentre os 11 outros presidentes dos bancos regionais. O presidente da diretoria, normalmente, também é presidente do Comitê Federal de Mercado Aberto. O efeito dessa estrutura complexa é a criação de uma instituição que, em última instância, presta conta aos eleitores, pois a diretoria é escolhida pelo Presidente da República e confirmada pelo Senado, os quais são eleitos. Mas os diretores são nomeados por prazos longos, o que, junto com o caráter indireto do processo de nomeação, em grande parte permite protegê-los de pressões políticas de curto prazo.

O que o Fed faz: reservas compulsórias e taxa de redesconto O Fed tem à disposição três instrumentos principais de política monetária: as reservas compulsórias, a taxa de redesconto, e, o mais importante, operações de mercado aberto. Na discussão sobre corrida aos bancos, observamos que o Fed define um coeficiente mínimo de reservas compulsórias, atualmente igual a 10% dos depósitos em contacorrente. Os bancos que não conseguem manter pelo menos o coeficiente de reserva obrigatória, em média, de um período de duas semanas, são multados. O que um banco faz quando se dá conta de que dispõe de reservas insuficientes para atender à exigência de reserva do Fed? Normalmente, toma emprestado as reservas

excedentes de outros bancos por meio do mercado interbancário, um mercado financeiro que permite aos bancos que não têm as reservas mínimas necessárias tomar emprestado de bancos que têm reservas em excesso (geralmente no overnight). A taxa de juros nesse mercado é determinado pela oferta e demanda – mas a oferta e demanda de reservas bancárias são ambas fortemente afetados pelas ações do Federal Reserve. Como veremos no próximo capítulo, a taxa de juros do mercado interbancário, que é determinada no mercado de crédito interbancário, desempenha um papel fundamental na política monetária moderna. Alternativamente, os bancos que precisam de reservas podem tomar emprestado do próprio Fed por intermédio do guichê (ou da janela) de redesconto. A taxa de redesconto é a taxa de juros que o Fed cobra por esses empréstimos. Normalmente, a taxa de redesconto está fixada em 1 ponto percentual acima da taxa de juros do mercado interbancário, a fim de desencorajar os bancos a recorrer ao Fed quando precisam de reservas. Porém, a partir do último trimestre de 2007, o Fed reduziu o spread entre a taxa de juros do mercado interbancário e a taxa de redesconto, como parte da sua resposta à crise financeira, descrita no próximo Economia em ação. Em decorrência, no primeiro semestre de 2008, a taxa de redesconto foi de apenas 0,25 ponto percentual acima da taxa do mercado interbancário. E em janeiro de 2012, a taxa de redesconto era ainda de apenas 0,65 ponto percentual acima da taxa de juros do mercado interbancário. Para alterar a oferta monetária, o Fed pode mudar a exigência de reserva mínima, a taxa de redesconto, ou ambos. Se o Fed reduz o coeficiente de reserva compulsória, os bancos emprestarão uma porcentagem maior de seus depósitos, levando à maior quantidade de empréstimos e a um aumento da oferta monetária por meio do multiplicador da moeda. Alternativamente, se o Fed aumentar a exigência de reserva mínima, os bancos serão obrigados a reduzir os empréstimos, reduzindo a oferta monetária por intermédio do multiplicador da moeda. Se o Fed reduzir o spread (diferencial) entre a taxa de redesconto e a taxa de juros do mercado interbancário, o custo que os bancos terão em uma situação de reservas insuficientes irá diminuir. A reação dos bancos será aumentar os empréstimos e, assim, a oferta monetária aumentará por meio do multiplicador da moeda. Se o Fed aumentar o spread entre a taxa de redesconto e a taxa de juros do mercado interbancário, os empréstimos bancários irão diminuir – e assim também a oferta monetária por meio do multiplicador da moeda. No entanto, na prática corrente, o Fed não costuma mudar o coeficiente de reserva compulsória para gerenciar ativamente a oferta monetária. A última mudança significativa no coeficiente de reserva foi em 1992. Normalmente o Fed tampouco usa a taxa de redesconto ou, ainda, como já mencionado anteriormente, houve um aumento temporário na concessão de empréstimos por intermédio do guichê de redesconto a partir de 2007, em resposta à crise financeira. Normalmente, a política monetária normal é realizada quase que exclusivamente com o uso do terceiro instrumento de política do Fed: operações de mercado aberto.

Operações de mercado aberto

Tal como os bancos que supervisiona, o Fed tem ativos e passivos. Os ativos do Fed normalmente consistem de títulos da dívida emitidos pelo governo dos Estados Unidos, principalmente bônus do governo de curto prazo com prazo de vencimento inferior a um ano, conhecidas como Letras do Tesouro dos Estados Unidos. Lembre-se, o Fed não é exatamente parte do governo dos Estados Unidos, de modo que as Letras do Tesouro dos Estados Unidos detidos pelo Fed são um passivo do governo, mas um ativo do Fed. Os passivos do Fed consistem de moeda em circulação e das reservas bancárias. A Figura 147 resume os ativos e os passivos normais do Fed, na forma de uma conta T.

FIGURA 14-7 Ativos e passivos do Federal Reserve O Federal Reserve mantém seus ativos principalmente em bônus do governo de curto prazo denominado Letras do Tesouro dos Estados Unidos. Seus passivos são a base monetária – moeda em circulação mais reservas bancárias.

Em uma operação de mercado aberto, o Fed compra ou vende uma parte dos títulos do Tesouro americano, normalmente por meio de uma transação com os bancos comerciais – bancos que fazem principalmente empréstimos às empresas em vez de à habitação. O Fed nunca compra títulos do Tesouro americano diretamente do governo federal. Há uma boa razão para isso: quando o banco central compra títulos de dívida pública diretamente do governo, de fato estará imprimindo dinheiro para financiar o déficit orçamentário do governo. Como veremos mais adiante neste livro, esse tem sido historicamente um caminho que leva a níveis desastrosamente altos de inflação. Os dois painéis da Figura 14-8 mostram as mudanças na posição financeira tanto do Fed como dos bancos comerciais que resultam de operações de mercado aberto. Quando o Fed compra Letras do Tesouro americano de um banco comercial, paga creditando na conta de reserva do banco um montante igual ao valor das Letras do Tesouro. Isso está ilustrado no painel (a): o Fed compra de $100 milhões de Letras do Tesouro de bancos comerciais, que aumenta a base monetária em $100 milhões, pois aumenta as reservas bancárias em $100 milhões. Quando o Fed vende as Letras do Tesouro para os bancos comerciais, debita as contas dos bancos, reduzindo suas reservas. Isso é mostrado no painel (b), onde o Fed vende $100 milhões em Letras do Tesouro. Aqui, as reservas dos bancos e a base monetária diminuem.

FIGURA 14-8 Operações de mercado aberto pelo Federal Reserve No painel (a), o Fed aumenta a base monetária mediante a compra de Letras do Tesouro dos Estados Unidos dos bancos comerciais privados em uma operação de mercado aberto. Aqui, a compra de $100 milhões de Letras do Tesouro pelo Fed é paga por meio de um acréscimo de $100 milhões às reservas dos bancos privados, gerando um aumento de $100 milhões na base monetária. Isso levará, em última instância, a um aumento na oferta monetária por meio do multiplicador da moeda, à medida que os bancos emprestam parte dessas novas reservas. No painel (b), o Fed reduz a base monetária pela venda de Letras do Tesouro dos Estados Unidos aos bancos comerciais privados em uma operação de venda de mercado aberto. Aqui, uma venda de $100 milhões de Letras do Tesouro dos Estados Unidos leva a uma redução de $100 milhões nas reservas bancárias privadas, resultando em uma queda de $100 milhões na base monetária. Isso levará, em última instância, a uma queda na oferta monetária por meio do multiplicador da moeda à medida que os bancos reduzem seus empréstimos em resposta à queda das reservas.

Você pode estar se perguntando onde o Fed obtém fundos para comprar Letras do Tesouro dos Estados Unidos dos bancos. A resposta é que ele cria esses fundos usando a caneta, ou, nos dias de hoje, um clique do mouse, que credita as contas dos bancos com reservas extra. (O Fed imprime moeda para pagar por Letras do Tesouro só quando os bancos querem reservas adicionais na forma de moeda.) Lembre-se que o dólar moderno é uma moeda fiat que não é baseada em nada. Assim, o Fed pode criar base monetária adicional a seu critério.

Para mentes curiosas Quem recebe os juros dos ativos do Fed? Como vimos, o Fed possui grande quantidade de ativos – Letras do Tesouro – que comprou dos bancos comerciais em troca da base monetária na forma de créditos nas contas de reservas dos bancos. Esses ativos pagam juros. No entanto, os passivos do Fed são constituídos principalmente da base monetária, passivos sobre os quais o Fed normalmente não paga juros. Assim, o Fed é, de fato, uma instituição que tem o privilégio de tomar emprestado fundos a uma taxa de juros zero, emprestando-os a uma taxa de juros positiva. Isso soa como um negócio muito rentável. Quem fica com os lucros? A resposta é, você fica, ou melhor, os contribuintes americanos. O Fed mantém parte dos juros que recebe para financiar suas operações, mas entrega a maior parte ao Tesouro dos Estados Unidos. Por exemplo, em 2010, o sistema do Federal Reserve recebeu $79.301 bilhões em juros de renda (a maior parte em juros sobre participações

em Letras do Tesouro e títulos garantidos por crédito hipotecário patrocinado pelo governo), dos quais $79.268 milhões foi devolvido ao Tesouro. Podemos agora concluir a história da abertura do capítulo – o impacto das notas de $100 forjadas, supostamente impressas na Coreia do Norte. Quando uma nota falsa de $100 entra em circulação, tem o mesmo efeito de uma nota de $100 verdadeira impressa pelo governo dos Estados Unidos. Ou seja, desde que ninguém descubra a falsificação, a nota falsa serve, para todos os efeitos práticos, como parte da base monetária. Enquanto isso, o Fed decide sobre o tamanho da base monetária com base em considerações econômicas – em particular, o Fed não deixa que a base monetária se amplie demais porque isso pode provocar inflação. Assim, cada nota falsa de $100 que entra em circulação, basicamente, significa que o Fed imprime uma nota verdadeira de $100 a menos. Mas quando o Fed imprime uma nota de $100 legalmente, obtém Letras do Tesouro em troca e a taxa de juros sobre essas letras ajuda a pagar os gastos do governo dos Estados Unidos. Assim, uma nota falsa de $100 reduz a quantidade de Letras do Tesouro que o Fed pode adquirir e, assim, reduz os pagamentos de juros ao Fed e ao Tesouro dos Estados Unidos. Então são os contribuintes que arcam com o custo real da falsificação. Os economistas costumam dizer, vagamente, que o Fed controla a oferta monetária – depósitos em conta-corrente mais moeda em circulação. Na verdade, ele controla apenas a base monetária – reservas bancárias mais moeda em circulação. Mas, ao aumentar ou reduzir a base monetária, o Fed pode exercer uma influência poderosa, tanto na oferta monetária como sobre as taxas de juros. Essa influência é a base da política monetária, o assunto do próximo capítulo. O aumento ou diminuição das reservas bancárias causado por uma operação de mercado aberto não afeta diretamente a oferta monetária. Em vez disso, põe em movimento o multiplicador da moeda. Após o aumento de $100 milhões em reservas mostrado no painel (a) da Figura 14-8, os bancos comerciais emprestariam as reservas excedentes, imediatamente, aumentando a oferta monetária em $100 milhões. Alguns desses empréstimos serão depositados novamente no sistema bancário, aumentando de novo as reservas e permitindo uma nova rodada de empréstimos, e assim por diante, levando a um aumento na oferta de dinheiro. Uma operação de venda no mercado aberto tem o efeito inverso: as reservas bancárias caem, tornando necessário que os bancos reduzam os empréstimos, levando a uma queda na oferta monetária.

O Banco Central Europeu Como observamos anteriormente, o Fed é apenas um entre vários bancos centrais ao redor do mundo, e é muito mais novo do que o Sveriges Rijksbank, o Banco Central da Suécia e o Banco Central da Inglaterra. Em geral, outros bancos centrais operam praticamente da mesma maneira que o Fed. Isso é especialmente verdadeiro em relação ao outro único banco central que rivaliza com o Fed, em termos de importância para a economia mundial: o Banco Central Europeu.

O Banco Central Europeu, conhecido como o BCE, foi criado em janeiro de 1999, quando 11 países europeus abandonaram as suas moedas nacionais e adotaram o euro como moeda comum, colocando a política monetária conjunta nas mãos do BCE. (Outros seis países aderiram desde 1999.) O BCE tornou-se instantaneamente uma instituição extremamente importante: embora nenhuma nação europeia tenha uma economia que seja próxima da economia dos Estados Unidos, o conjunto das economias da Zona do Euro, o grupo de países que adotou o euro como moeda, têm aproximadamente o mesmo tamanho que a economia dos Estados Unidos. Como consequência, o BCE e o Fed são os dois gigantes do mundo monetário. Tal como o Fed, o BCE tem um status especial: não é uma instituição privada, mas também não é exatamente uma agência do governo. Na verdade, não pode ser um órgão do governo, porque não há um governo pan-europeu! Felizmente para os americanos perplexos, há forte analogia entre o Banco Central Europeu e o sistema do Federal Reserve dos Estados Unidos. Antes de tudo, o BCE, localizado na cidade alemã de Frankfurt, realmente não é a contraparte de todo o sistema do Federal Reserve: é equivalente à diretoria do Fed em Washington. O que seria a contraparte europeia dos bancos regionais do Federal Reserve são os bancos centrais nacionais da Europa: o Banco da França, o Banco da Itália, e assim por diante. Até 1999, cada um desses bancos nacionais era o equivalente ao Fed. Por exemplo, o Banco da França controlava a base monetária francesa. Hoje, esses bancos centrais nacionais, como os bancos regionais do Fed, prestam vários serviços financeiros aos bancos e empresas locais e realizam operações de mercado aberto, mas as decisões de política monetária passaram para a alçada do BCE. Ainda assim, os vários bancos centrais nacionais da Europa não são instituições pequenas no total, juntos empregam mais de 50 mil pessoas. Em dezembro de 2010, o BCE tinha apenas 1.607 funcionários. Na Zona do Euro, cada país escolhe os dirigentes do seu próprio banco central nacional. O BCE é dirigido por um conselho executivo que é a contraparte da diretoria do Fed. Seus membros são escolhidos com o consentimento unânime dos governos da Zona do Euro. A contraparte do FOMC, o comitê de mercado aberto do Fed, é o conselho diretor do BCE. Assim como o FOMC é composto pela diretoria do Fed, além de um grupo rotativo de presidentes de bancos regionais do Fed, o conselho diretor do BCE é composto pelo conselho executivo do BCE mais um grupo rotativo de presidentes de bancos centrais nacionais. Como o Fed, o BCE, finalmente, está respondendo perante os eleitores, mas, dada a fragmentação das forças políticas através das fronteiras nacionais, parece estar ainda mais isolado do que o Fed de pressões políticas de curto prazo.

Economia em ação O balanço do Fed, normal e anormal A Figura 14-7 mostrou uma versão simplificada do balanço do Fed. Aqui, o passivo

consistia inteiramente da base monetária e seus ativos consistiam inteiramente das Letras do Tesouro. Essa é uma simplificação, pois as operações do Fed são mais complicadas na realidade e seu balanço contém uma série de itens adicionais. Mas, em tempos normais, a Figura 14-7 é uma aproximação razoável: a base monetária normalmente constitui 90% dos passivos do Fed, e 90% dos seus ativos estão sob a forma de créditos sobre o Tesouro dos Estados Unidos (como em Letras do Tesouro). Mas no final de 2007, tornou-se dolorosamente claro que não estávamos mais em tempos normais. A origem da crise foi o estouro de uma enorme bolha imobiliária, descrito no Capítulo 10, que levou a grandes perdas para as instituições financeiras que tinham realizado empréstimos hipotecários ou mantido ativos relacionados com hipotecas. Isto levou a uma perda generalizada de confiança no sistema financeiro. Como descreveremos em mais detalhes na próxima seção, não só os bancos de captação de depósitos normais estavam com problemas, mas também as instituições financeiras não depositárias – instituições financeiras que não aceitam depósitos de clientes. Como têm passivos que podem ser resgatados por clientes, enfrentaram enormes perdas com o colapso da bolha imobiliária, e como mantêm ativos ilíquidos, isso causou pânico nessas “instituições não bancárias”. Em poucas horas o sistema financeiro estava congelado à medida que as instituições financeiras experimentavam o que, essencialmente, era corrida aos bancos. Por exemplo, em 2008, muitos investidores ficaram preocupados com a saúde do Bear Stearns, uma instituição financeira não depositária de Wall Street que se dedicava a negócios financeiros complexos, compra e venda de ativos financeiros com fundos tomados emprestados. Quando a confiança na Bear Stearns se esvaiu, a empresa ficou incapaz de levantar os fundos de que precisava para cumprir sua parte nesse arranjos e entrou rapidamente em uma espiral rumo ao colapso. O Fed entrou em ação para conter o que estava se tornando um colapso em todo o setor financeiro. Expandiu enormemente o guichê de redesconto – concedendo enormes empréstimos aos bancos que aceitam depósitos, bem como às instituições financeiras não depositárias, como as de Wall Street. Isso deu às instituições financeiras a liquidez que o mercado financeiro estava negando. E como essas empresas aproveitaram a capacidade dos empréstimos baratos do Fed, ofereceram como garantia os ativos que possuíam – uma variada coleção de empréstimos imobiliários, empréstimos comerciais, e assim por diante. Examinando a Figura 14-9, vemos que a partir de meados de 2008, o Fed reduziu drasticamente a detenção de títulos tradicionais, como Letras do Tesouro, pois os empréstimos às instituições financeiras dispararam. Os “empréstimos às instituições financeiras” referem-se ao guichê de redesconto, mas também aos empréstimos que o Fed fez diretamente a empresas como a Bear Stearns. A “liquidez dos mercados de crédito principais” abrange as compras de ativos pelo Fed como títulos corporativos, necessárias para manter sem aumento a taxa de juros sobre os empréstimos às empresas. Finalmente, a dívida de Fannie Mae e Freddie Mac, as agências de hipoteca imobiliária patrocinadas pelo governo, o Fed também foi obrigado a comprar, a fim de evitar o colapso do mercado hipotecário.

FIGURA 14-9 Ativos do Federal Reserve Fonte: Federal Reserve Bank de Cleveland.

À medida que a crise diminuiu no final de 2009, o Fed não retornou às participações nos ativos tradicionais. Em vez disso, passou aos títulos do Tesouro de longo prazo e aumentou as compras de dívida de agências federais. Todo o episódio era muito incomum – um grande afastamento da forma como o Fed normalmente conduz os negócios, mas que considerou necessário para evitar o colapso financeiro e econômico. Foi também uma ilustração gráfica do fato de que o Fed faz muito mais do que apenas determinar o tamanho da base monetária.

Breve revisão ■ O Federal Reserve é o banco central americano, que supervisiona os bancos e faz política monetária. ■ O Fed define o coeficiente da reserva compulsória. Os bancos emprestam e tomam emprestado reservas no mercado interbancário. A taxa de juros determinada nesse mercado é a taxa de juros do mercado interbancário. Os bancos também podem solicitar empréstimo do Fed à taxa de redesconto. ■ Embora o Fed possa mudar a exigência de reserva ou a taxa de redesconto, na prática, a política monetária é conduzida com o uso de operações de mercado aberto. ■ Uma compra no mercado aberto de Letras do Tesouro aumenta a base monetária e, portanto, a oferta monetária. Uma venda no mercado aberto reduz a base monetária e a oferta monetária.

Teste seu entendimento 14-4 1. Suponha que todo o dinheiro emprestado por um banco seja depositado de volta no sistema bancário como depósito em conta-corrente e que o coeficiente de reserva seja 10%. Verifique o efeito de uma operação de $100 milhões do Fed, de compra de Letras

do Tesouro no mercado aberto, sobre o valor dos depósitos em conta-corrente. Qual o valor do multiplicador da moeda? As respostas estão no fim do livro.

Evolução do sistema bancário americano Até esse ponto, descrevemos o sistema bancário dos Estados Unidos e como ele funciona. Para entender plenamente esse sistema, no entanto, é útil entender como e por que ele foi criado – uma história que está intimamente ligada com a história de como e quando as coisas deram errado. Em relação aos elementos fundamentais do século XXI, o sistema bancário dos Estados Unidos não foi criado do nada: esforços para mudar os regulamentos que regem o sistema bancário e do Federal Reserve, que começou em 2008, impulsionaram a reforma financeira para a frente. Essa reforma promete continuar reformulando o sistema financeiro em anos futuros.

A crise bancária americana no início do século XX A criação do sistema do Fed em 1913 marcou o início da era moderna do sistema bancário americano. De 1864 até 1913, o setor bancário dos Estados Unidos era dominado por um sistema de bancos nacionais regulamentados pelo governo federal. Somente eles eram autorizados a emitir moeda e as notas da moeda emitida eram impressas pelo governo federal com tamanho e desenho uniformes. Quanta moeda um banco nacional poderia emitir dependia do tamanho do seu capital. Embora esse sistema representasse uma melhoria em relação ao período anterior, em que os bancos emitiam suas próprias notas, sem uniformidade e praticamente sem regulação, o regime bancário nacional continuou passando por inúmeras quebras bancárias e graves crises financeiras, pelo menos uma e às vezes duas por década. O principal problema que afligia o sistema é que a oferta monetária não respondia de forma suficientemente rápida: era difícil movimentar moeda por todo o país de modo a responder rapidamente às mudanças econômicas locais. (Em particular, muitas vezes ocorriam disputas entre os bancos de Nova York e os bancos rurais em relação à quantidade adequada de moeda.) Rumores de que um banco tinha moeda insuficiente para satisfazer as demandas de retirada de dinheiro levava rapidamente a uma corrida aos bancos. Uma corrida aos bancos, contagiava, desencadeando corridas em outros bancos próximos, semeando o pânico generalizado e a devastação na economia local. Em resposta, em algumas localidades os banqueiros reuniam seus recursos em um pool, criando uma espécie de câmara de compensação de pagamentos, que em conjunto garantiam os passivos de seus membros no caso de pânico, e alguns governos estaduais começaram a oferecer seguro de depósito para seus bancos. No entanto, o pânico de 1907 não teve a mesma causa do das crises anteriores. Na verdade, a causa foi estranhamente similar às raízes da crise de 2008. O centro do pânico de 1907 foi a cidade de Nova York, mas as consequências devastaram todo o país, levando a uma profunda recessão de quatro anos. A crise teve origem em instituições de Nova York conhecidas como trustes, instituições semelhantes a bancos, do tipo que aceita depósitos, mas que originalmente eram destinadas a gerenciar apenas heranças e propriedades de clientes ricos. Como se

supunha que esses trustes deveriam se envolver apenas em atividades de baixo risco, eram menos regulados, tinham exigência de reservas compulsórias mais baixa e reservas em caixa mais baixas do que os bancos nacionais. No entanto, quando a economia americana teve uma rápida expansão durante a primeira década do século XX, os trustes começaram a especular no mercado imobiliário e no mercado de ações, áreas proibidas para os bancos nacionais. Menos regulados que os bancos nacionais, os trustes tinham condições de pagar retornos mais elevados aos seus depositantes. No entanto, tomaram carona na reputação de solidez dos bancos nacionais e os depositantes os consideravam igualmente seguros. Como resultado, cresceram rapidamente: em 1907, o total dos ativos dos trustes da cidade de Nova York tinha o mesmo tamanho que o dos bancos nacionais. Enquanto isso, eles se recusavam a participar da Câmara de Compensação Bancária de Nova York, um consórcio de bancos nacionais da cidade de Nova York que garantia reciprocamente a solidez desses bancos. Isso teria exigido que os trustes mantivessem reservas em moeda mais elevadas, reduzindo seus lucros. O pânico de 1907 começou com a quebra do Knickerbocker Trust, um grande truste da cidade de Nova York que foi à falência quando sofreu perdas enormes em operações no mercado acionário que deram errado. Rapidamente, outros trustes de Nova York ficaram sob pressão e os depositantes, assustados, formavam longas filas para retirar seus fundos. A Câmara de Compensação Bancária de Nova York recusou-se a intervir e emprestar aos trustes, e até mesmo os trustes saudáveis foram atropelados. Em dois dias, uma dúzia dos trustes mais importantes tinha ido abaixo. Os mercados de crédito congelaram, e o mercado de ações caiu drasticamente à medida que os corretores não conseguiam crédito para financiar suas operações e a confiança empresarial evaporou. Felizmente, o homem mais rico de Nova York, o banqueiro J.P. Morgan, rapidamente interveio para conter o pânico. Compreendendo que a crise estava se espalhando e que logo afundaria também instituições saudáveis, tanto trustes como bancos, ele trabalhou com outros banqueiros, homens ricos como John D. Rockefeller e o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, para reforçar as reservas dos bancos e trustes para que pudessem enfrentar a onda de retiradas. Uma vez que as pessoas tinham certeza de que poderiam retirar o dinheiro, o pânico cessou. Embora o próprio pânico tenha durado pouco mais de uma semana, junto ao colapso do mercado acionário, dizimou a economia. Seguiu-se uma recessão de quatro anos, que levou a uma queda de 11% na produção e a um aumento na taxa de desemprego de 3% para 8%.

Respondendo às crises bancárias: a criação do sistema do Federal Reserve A preocupação com a frequência das crises bancárias e com o papel sem precedentes de J.P. Morgan em salvar o sistema financeiro levou o governo federal a iniciar uma reforma do sistema bancário. Em 1913, o sistema bancário nacional foi eliminado e foi criado o sistema do Federal Reserve como forma de obrigar todas os instituições de captação de depósitos a manter reservas adequadas e a abrir suas contas à fiscalização por parte dos

reguladores. O pânico de 1907 convenceu muitos de que havia chegado a hora de haver controle centralizado das reservas bancárias. Além disso, foi concedido ao Fed o direito exclusivo de emitir moeda, a fim de tornar a oferta monetária suficientemente flexível para corresponder às condições econômicas em todo o país. Embora o novo regime padronizasse e centralizasse a manutenção das reservas bancárias, não eliminou o potencial para corrida aos bancos, já que as reservas dos bancos continuavam ainda a ser inferiores ao valor total de seus depósitos. O potencial para mais corrida aos bancos se tornou realidade durante a Grande Depressão. A queda dos preços das commodities prejudicou os agricultores americanos em particular, precipitando uma série de corridas aos bancos em 1930, 1931 e 1933. Cada uma delas começou em bancos do centro-oeste e depois se espalhou por todo o país. Após a quebra de um grande banco em 1930, as autoridades federais perceberam que os efeitos na economia como um todo obrigaram a uma intervenção mais vigorosa. Em 1932, foi estabelecida a Corporação Financeira para Reconstrução (RFC), à qual foi dada autoridade para concessão de empréstimos aos bancos, a fim de estabilizar o setor bancário. Além disso, foi aprovada a Lei Glass-Steagall de 1932, que criou o seguro de depósito federal e aumentou a capacidade dos bancos de tomar emprestado do Fed. Um empréstimo do Fed a um banco importante de Chicago parece ter impelido a uma grande crise bancária em 1932. No entanto, as feras ainda não tinham sido domadas. Os bancos temiam solicitar empréstimos à RFC, porque ao fazê-lo, sinalizavam fraqueza ao público. Durante as catastróficas corridas aos bancos de 1933, o novo presidente, Franklin Delano Roosevelt, foi empossado. Declarou imediatamente um “feriado bancário”, fechando todos os bancos até que os reguladores pudessem ter uma ideia melhor do problema. Em março de 1933, foram adotadas medidas de emergência que davam à RFC poderes extraordinários para estabilizar e reestruturar o setor bancário, fornecendo capital aos bancos, quer por meio de empréstimos ou pela compra direta de ações dos bancos. Com a nova regulamentação, os reguladores fecharam os bancos não viáveis e capitalizaram os viáveis, ao permitir que a RFC comprasse ações preferenciais dos bancos (ações que davam ao governo dos Estados Unidos mais direitos do que os acionistas regulares) e expandiram muito a capacidade dos bancos de contrair empréstimos do Fed. Em 1933, a RFC já havia investido mais de $16,2 bilhões (em dólares de 2010) em capital nos bancos, correspondendo a um terço do capital total de todos os bancos dos Estados Unidos naquela época – e comprando ações em quase metade de todos os bancos. Durante esse período, a RFC emprestou mais de $32,4 bilhões (em dólares de 2010) para os bancos. Os historiadores econômicos concordam que as crises bancárias do início de 1930 exacerbaram a gravidade da Grande Depressão, tornando a política monetária ineficaz à medida que o setor bancário quebrou e a moeda, retirada dos bancos e escondida debaixo do colchão, reduziu a oferta monetária. Embora as ações poderosas da RFC estabilizassem o setor bancário, era necessário uma nova legislação para prevenir futuras crises bancárias. A Lei Glass-Steagall de 1933 separou os bancos em duas categorias: bancos comerciais, que aceitavam depósitos e eram cobertos por seguro de depósito, e bancos de investimento, que se dedicavam a

criar e negociar ativos financeiros, como ações e bônus corporativos, mas não eram cobertas por seguro de depósito, pois suas atividades eram consideradas mais arriscadas. A chamada regulação Q impedia os bancos comerciais de pagarem juros sobre as contas-correntes, pois se acreditava que isso iria promover uma concorrência pouco saudável entre os bancos. Além disso, os bancos de investimento tinham uma regulação muito mais leve do que os bancos comerciais. No entanto, a medida mais importante para a prevenção de corrida aos bancos foi a adoção do seguro de depósito federal (com um limite inicial de $2.500 por depósito). Essas medidas foram claramente bem-sucedidas e os Estados Unidos teve um longo período de estabilidade financeira e bancária. À medida que a lembrança dos maus tempos se atenuava, os regulamentos bancários da época da Depressão foram sendo revogados. Em 1980, o regulamento Q foi eliminado; em 1999, a Lei Glass-Steagall já estava tão enfraquecida que oferecer serviços como o comércio de ativos financeiros já não estava mais fora do âmbito dos bancos comerciais.

A crise das instituições de poupança e empréstimo dos anos 1980 Junto aos bancos, o setor bancário também incluía instituições de poupança e empréstimo (também chamadas de S&Ls – Saving & Loans – ou associações de poupança), instituições destinadas a aceitar poupança e transformá-las em empréstimos hipotecários de longo prazo para quem deseja comprar moradia. Essas instituições de poupança e empréstimo eram cobertas pelo seguro de depósito federal e, por segurança, fortemente reguladas. No entanto, houve dificuldade na década de 1970, quando a inflação elevada levou os poupadores a retirar os fundos das instituições de poupança e empréstimo, que pagavam juros baixos, e a colocá-los em contas de mercado monetário, mais bem remuneradas. Além disso, a taxa de inflação elevada corroía seriamente o valor dos ativos das instituições de poupança e empréstimo, as hipotecas de longo prazo que mantinham em suas contas. A fim de melhorar a posição competitiva das instituições de poupança e empréstimo em comparação com os bancos, o Congresso facilitou a regulamentação para permitir que essas instituições realizassem investimentos muito mais arriscados, além das hipotecas de imóveis residenciais de longo prazo. No entanto, a nova liberdade não veio junto com maior supervisão, deixando as instituições de poupança e empréstimo com menos fiscalização que os bancos. Não foi surpresa que durante o boom imobiliário dos anos 1970 e 1980 as instituições de poupança e empréstimo terem se envolvido na concessão de crédito imobiliário excessivamente arriscado. Além disso, ocorria corrupção à medida que alguns executivos das instituições de poupança e empréstimo usavam suas instituições como caixa econômica particular. Infelizmente, durante o final dos anos 1970 e início de 1980, a interferência política do Congresso manteve abertas instituições de poupança e empréstimo insolventes, quando um banco em uma situação comparável teria sido rapidamente fechado pelos reguladores bancários. Até o início da década de 1980, grande número de instituições de

poupança e empréstimo haviam falido. Como as contas eram cobertas pelo seguro de depósito federal, os passivos das instituições de poupança e empréstimo falidas eram agora passivos do governo federal e os depositantes tinham que ser pagos com receita tributária. A partir de 1986 até 1995, o governo federal fechou mais de 1.000 instituições de poupança e empréstimo falidas, custando aos contribuintes dos Estados Unidos mais de $124 bilhões. Em um caso clássico de fechar a porteira do estábulo depois que o cavalo escapou, em 1989, o Congresso americano estabeleceu ampla fiscalização das atividades das instituições de poupança e empréstimo. Também concedeu poder a Fannie Mae e Freddie Mac para assumir a maior parte dos empréstimos hipotecários residenciais que anteriormente eram realizados pelas instituições de poupança e empréstimo. Fannie Mae e Freddie Mac são agências quase governamentais criadas durante a Grande Depressão para que mais famílias de renda baixa e média pudessem se tornar proprietárias de suas moradias. Calcula-se que a crise das instituições de poupança e empréstimo contribuiu para uma forte desaceleração dos setores financeiro e mobiliário, levando à recessão do início dos anos 1990.

De volta para o futuro: a crise financeira de 2008 A crise financeira de 2008 teve as mesmas características de crises anteriores. Como o pânico de 1907 e a crise das instituições de poupança e empréstimo, envolveu instituições que não eram reguladas tão estritamente quanto os bancos que captavam depósitos, bem como o excesso de especulação. Como as crises da década de 1930, envolveu um governo americano relutante em tomar medidas agressivas até que a escala da devastação se tornou clara. Além disso, ao final dos anos 1990, os avanços em tecnologia e inovação financeira criaram ainda outra fraqueza sistêmica que desempenhou papel central em 2008. A história do Long-Term Capital Management (LTCM) destaca bem esse problema.

Long-Term Capital Management (Mis) ou LTCM Criado em 1994, o LTCM era um fundo de hedge, uma associação de investimento privado aberto apenas a pessoas e instituições ricas. Os fundos de hedge praticamente não são regulamentados, o que permite fazer investimentos muito mais arriscados do que os fundos de investimento abertos ao investidor médio. Usando grande quantidade de alavancagem – isto é, dinheiro tomado emprestado – para aumentar seus retornos, o LTCM usou modelos sofisticados de computador para ganhar dinheiro tirando proveito de pequenas diferenças nos preços dos ativos nos mercados financeiros internacionais para comprar a um preço mais baixo e vender a um preço mais elevado. Em um ano, o LTCM teve retornos de até 40%. O LTCM também estava fortemente envolvido em derivativos, instrumentos financeiros complexos que são construídos – derivados – a partir de obrigações de ativos financeiros mais básicos. Os derivativos são instrumentos de investimento populares porque são mais baratos de comerciar do que os ativos financeiros de base e podem ser

construídos para atender às necessidades específicas de compradores e vendedores. No entanto, sua complexidade pode tornar extremamente difícil a estimativa do seu valor. O fundo LTCM acreditava que seus modelos computadorizados permitiam avaliar com precisão os riscos das grandes apostas que estavam empreendendo com derivativos e usando dinheiro emprestado. No entanto, os modelos computadorizados do LTCM não haviam incluído em seu projeto uma série de crises financeiras na Ásia e na Rússia durante 1997 e 1998. Devido às enormes quantias de dinheiro de credores, o LTCM havia se tornado um jogador tão grande nos mercados financeiros globais que a tentativa de venda de seus ativos deprimia os preços do que estava tentando vender. À medida que os mercados caíram em todo o mundo e os investidores do LTCM, tomados de pânico, exigiram o retorno de seus fundos, os prejuízos do LTCM cresciam enquanto tentava vender ativos para satisfazer àquelas demandas. Rapidamente as operações entraram em colapso por não conseguir mais tomar dinheiro emprestado e outras partes interessadas se recusarem a negociar com o fundo. Os mercados financeiros ao redor do mundo congelaram em pânico. O Fed percebeu que permitir a venda dos ativos do LTCM a preços de pânico representava um risco grave para todo o sistema financeiro mediante o efeito de balanço: à medida que as vendas de ativos pelo LTCM deprimiam os preços dos ativos ao redor do mundo, outras empresas veriam o valor de seus balanços cair à medida que os ativos mantidos nesses balanços perdiam valor. Além disso, a queda dos preços dos ativos significava que o valor dos ativos mantidos pelos devedores em seus balanços cairia abaixo de um limiar crítico, levando a um default sobre os termos de seus contratos de crédito e forçando os credores a reclamar seus créditos. Isso, por sua vez, levaria a mais vendas de ativos à medida que os tomadores de empréstimo tentassem levantar dinheiro para pagar os empréstimos, mais defaults de crédito, e pedido de mais empréstimos, criando um círculo vicioso de desalavancagem. O Federal Reserve Bank de Nova York arranjou um resgate de $3.625 bilhões do fundo LTCM em 1998, em que outras instituições privadas aceitaram participação nos ativos e obrigações do LTCM, liquidando-as de forma ordenada e, finalmente, gerando um pequeno lucro. A ação rápida do Federal Reserve Bank de Nova York impediu que o fundo LTCM deflagrasse um contágio, mas praticamente todos os que investiram no LTCM perderam o dinheiro.

Os empréstimos subprime e a bolha imobiliária Após a crise do fundo LTCM, os mercados financeiros dos Estados Unidos se estabilizaram. Permaneceram mais ou menos estáveis, mesmo quando os preços das ações caíram acentuadamente de 2000 a 2002 e a economia americana entrou em recessão. No entanto, durante a recuperação, depois da crise de 2001, foram plantadas as sementes de uma nova crise financeira. A história começa com taxas de juros baixas: em 2003, as taxas de juros dos Estados Unidos tinham chegado a níveis historicamente baixos, em parte por causa da política do Fed e em parte devido à entrada de grandes fluxos de capital de outros países,

especialmente da China. Essas taxas de juros baixas ajudaram a provocar um boom na construção residencial que, por sua vez, levou a economia americana a sair da recessão. No entanto, à medida que a construção residencial crescia com muita rapidez, as instituições financeiras começaram a assumir riscos crescentes – riscos que não foram bem compreendidos. Tradicionalmente, as pessoas só podem obter dinheiro emprestado para compra de casa quando podem comprovar que têm renda suficiente para pagar as prestações do crédito hipotecário. O crédito hipotecário a pessoas que não satisfaziam os critérios usuais de empréstimos, chamados empréstimos subprime, constituía apenas uma pequena parte do crédito total. Mas durante o boom do mercado imobiliário entre 2003 e 2006, os empréstimos subprime começaram a parecer aposta de pouco risco. Uma vez que os preços dos imóveis residenciais continuavam a subir, os devedores que não conseguissem pagar as prestações da hipoteca, se necessário, podiam liquidá-las com a venda de suas casas. Em consequência, os empréstimos subprime explodiram. Quem estava concedendo esses empréstimos subprime? Na maior parte, não eram os bancos tradicionais, emprestando o dinheiro dos depositantes. Mas a maioria dos empréstimos era realizada por “originadores de empréstimos”, que vendiam as hipotecas rapidamente a outros investidores. Essas vendas eram possíveis graças a um processo conhecido como securitização: as instituições financeiras reuniam os empréstimos em pools e vendiam participação na renda desses pools. Essas participações ou ações eram consideradas investimentos relativamente seguros, uma vez que se considerava improvável que um grande número de compradores de imóveis deixasse de pagar as prestações ao mesmo tempo. Mas foi exatamente o que aconteceu. O boom imobiliário era uma bolha, e quando os preços dos imóveis começaram a cair, no final de 2006, muitos tomadores de empréstimo subprime tornaram-se incapazes tanto de pagar as prestações da hipoteca quanto de vender suas casas por um montante suficiente para liquidá-la. Como resultado, os investidores em títulos lastreados em hipotecas subprime começaram a ter grandes perdas. Muitos dos ativos lastreados em hipotecas pertenciam a instituições financeiras, inclusive bancos e outras instituições desempenhando funções semelhantes aos bancos. Assim como os trustes, que desempenharam um papel fundamental no pânico de 1907, essas instituições “não bancárias” eram menos regulamentadas que os bancos comerciais, o que lhes permitia oferecer retornos mais elevados para os investidores, deixando-os extremamente vulneráveis em uma crise. Por sua vez, as perdas relacionadas com hipotecas levaram à perda de confiança no sistema financeiro. A Figura 14-10 mostra uma medida dessa perda de confiança: o spread TED, que é a diferença entre a taxa de juros sobre empréstimos de três meses que os bancos cobram uns aos outros e a taxa de juros que o governo federal paga sobre bônus de três meses. Uma vez que os bônus do governo são considerados extremamente seguros, o spread TED mostra o quanto de risco os bancos acham que estão assumindo ao emprestar uns aos outros. Normalmente, o spread é a quarta parte de um ponto percentual, mas subiu em agosto de 2007 e subiu para um número sem precedentes de 4,58 pontos percentuais em outubro de 2008, antes de voltar a níveis mais normais, em meados de 2009.

FIGURA 14-10 O spread TED O spread TED é a diferença entre a taxa de juros pela qual os bancos emprestam uns aos outros e a taxa de juros sobre a dívida pública dos Estados Unidos. É amplamente usado como medida de estresse financeiro. O spread TED subiu como resultado da crise financeira de 2007 a 2008. Fontes: British Banker’s Association e Federal Reserve Bank de St. Louis.

Crise e resposta O colapso de confiança no sistema financeiro, combinado com as grandes perdas sofridas por empresas financeiras, levou a um ciclo grave de desalavancagem e a uma crise de crédito para a economia como um todo. As empresas tinham dificuldade em obter crédito até mesmo para operações de curto prazo. As pessoas se viram sem possibilidade de fazer empréstimos para habitação e os limites do cartão de crédito foram reduzidos. No geral, o efeito econômico negativo da crise financeira tinha uma semelhança distinta e preocupante com os efeitos da crise bancária de 1930, que ajudaram a causar a Grande Depressão. Os formuladores de política econômica notaram a semelhança e tentaram evitar uma repetição. A partir de agosto de 2007, o Fed se envolveu em uma série de esforços para fornecer moeda ao sistema financeiro, emprestando fundos a uma ampla gama de instituições e comprando títulos da dívida do setor privado. O Fed e o Tesouro americano também interfeririam para salvar empresas individuais que eram consideradas demasiado importantes para falir, como o banco de investimentos Bear Stearns e a seguradora AIG. No entanto, em setembro de 2008, os formuladores de politica econômica decidiram que podiam permitir a quebra de um grande banco de investimento, o Lehman Brothers. Rapidamente lamentaram essa decisão. Poucos dias depois da quebra do Lehman, o pânico generalizado tomou conta dos mercados financeiros, como ilustra o último aumento do spread TED mostrado na Figura 14-10. Em resposta à intensificação da crise, o governo dos Estados Unidos interveio ainda em apoio ao sistema financeiro, quando o

Tesouro dos Estados Unidos começou a “injetar ” capital nos bancos. Na prática, isso significa que o governo dos Estados Unidos fornecia moeda viva aos bancos em troca de ações – com efeito, nacionalizando parcialmente o sistema financeiro. No outono americano de 2010, o sistema financeiro parecia estar estabilizado, e as grandes instituições tinham pagado a maior parte do dinheiro que o governo federal havia injetado durante a crise. Esperava-se que os contribuintes acabassem perdendo muito pouco ou nenhum dinheiro. No entanto, a recuperação dos bancos não foi acompanhada de uma recuperação bem-sucedida de toda a economia: apesar de a recessão que começou em dezembro de 2007 e terminou oficialmente em junho de 2009, o desemprego manteve-se muito alto. O Fed respondeu a essa situação problemática com novas formas de operações de mercado aberto. As operações de mercado aberto convencionais se limitam à dívida pública de curto prazo, mas o Fed acredita que isso não era mais suficiente. Forneceu liquidez maciça com a concessão de empréstimos por meio do guichê de redesconto, bem como com a compra de grandes quantidades de outros ativos, principalmente da dívida pública de longo prazo e da dívida de Fannie Mae e Freddie Mac, as agências patrocinadas pelo governo que apoiavam o empréstimo imobiliário. Isso explica o aumento nos ativos do Fed após setembro 2008, visível na Figura 14-9. Como em crises anteriores, a crise de 2008 levou a mudanças na regulamentação bancária, notadamente o projeto de reforma de regulamentação financeira de DoddFrank aprovado em 2010. Descrevemos isso a seguir em Economia em Ação.

Economia em ação Regulamentação após a crise de 2008 Em julho de 2010, o Presidente Barack Obama assinou a lei Wall Street Reform e Consumer Protection – conhecida em geral como Dodd-Frank, seus patrocinadores no Senado e na Câmara, respectivamente. Foi a maior reforma financeira aprovada desde a década de 1930 – não é surpreendente, dado que o país tinha acabado de passar pela pior crise financeira desde a década de 1930. Como mudou a regulamentação? Na maior parte, deixou a regulamentação da captação tradicional de depósitos dos bancos mais ou menos como era. A principal mudança com a qual os bancos se defrontaram foi a criação de uma nova agência, o Bureau of Consumer Financial Protection, cuja missão era proteger os tomadores de empréstimo de ser explorados com ofertas financeiras aparentemente atraentes que eles não entendiam. As principais mudanças ocorreram na regulamentação de instituições financeiras não bancárias – instituições que, como a queda do Lehman Brothers mostrou, podem desencadear crises bancárias. A nova lei proporcionou a uma comissão especial do governo, a Financial Stability Oversight Council (Conselho de Supervisão da Estabilidade Financeira), o direito de designar certas instituições como “sistemicamente importantes”, mesmo que não fossem bancos ordinários de captação de depósitos. Essas instituições sistemicamente importantes seriam submetidas à regulamentação como se

fossem bancos, incluindo requisito de capital relativamente alto e os limites sobre os tipos de riscos que poderia tomar. Além disso, o governo federal iria adquirir “autoridade de resolução”, o que significa o direito de apreender instituições com problemas financeiros, da mesma forma que rotineiramente ocorre com os bancos em dificuldade. Além disso, a lei estabeleceu novas regras para a negociação de derivativos, os instrumentos financeiros complexos que afundaram o fundo LTCM e desempenharam um papel importante na crise de 2008: a maioria dos derivados passariam a ter que ser comprados e vendidos nas bolsas, onde todos poderiam observar seus preços e o volume de transações. A ideia era tornar os riscos assumidos pelas instituições financeiras mais transparentes. No geral, a lei Dodd-Frank é provavelmente mais bem vista como uma tentativa de estender o espírito da regulamentação bancária antiga para o sistema financeiro mais complexo do século XXI. Será que terá sucesso em evitar crises bancárias no futuro? Fique atento.

Breve revisão ■ O sistema do Federal Reserve foi criado em resposta ao pânico de 1907. ■ A corrida aos bancos generalizada no início da década de 1930 resultou em maior regulação bancária e na criação do seguro de depósito federal. Os bancos foram separados em duas categorias: comerciais (cobertos pelo seguro de depósito) e de investimento (não cobertos). ■ Na crise das instituições de poupança e empréstimo (as S&Ls) dos anos 1970 e 1980, como essas instituições eram regulamentadas de forma insuficiente, incorreram em prejuízos enormes devido à especulação arriscada. ■ Em meados da década de 1990, o fundo de hedge LTCM usou grandes quantias de alavancagem para especular nos mercados globais, incorreu em perdas maciças e quebrou. Ao vender ativos para cobrir as perdas, causou efeito de balanço às empresas ao redor do mundo. Para evitar um círculo vicioso de desalavancagem, o Fed de Nova York coordenou o setor privado para um resgate. ■ Em meados da década de 2000, os empréstimos subprime se espalharam por todo o sistema financeiro via securitização, levando a uma crise financeira. O Fed respondeu injetando moeda nas instituições financeiras e comprando dívida privada. ■ Em 2010, a lei Dodd-Frank revisou a regulamentação financeira, na tentativa de evitar uma repetição da crise de 2008.

Teste seu entendimento 14-5 1. Quais são as semelhanças entre o pânico de 1907, a crise das instituições de poupança e empréstimo e a crise de 2008? 2. Por que a criação do Federal Reserve não conseguiu impedir a corrida aos bancos na Grande Depressão? Que medidas parou a corrida aos bancos?

3. Descreva o efeito de balanço. Descreva o círculo vicioso de desalavancagem. Por que é necessário que o governo intervenha para interromper um círculo vicioso de desalavancagem? As respostas estão no fim do livro.

Caso empresarial O presente perfeito: dinheiro vivo ou vale-presente? É sempre bom quando alguém mostra gratidão dando um presente. Ao longo dos últimos anos, cada vez mais pessoas têm mostrado apreço, dando vale-presentes que são cartões de plásticos pré-pagos emitidos por um varejista que pode ser trocado por mercadorias. O único item mais vendido para mais de 80% dos 100 maiores varejistas americanos, diga-se GiftCardUSA.com, é o vale-presente. O que poderia ser mais simples e útil, que se possa imaginar, do que permitir que o destinatário escolha o que deseja? E um vale-presente não é mais pessoal do que dinheiro ou um cheque em um envelope? (E também possuem imagens bonitas.) No entanto, vários sites agora estão tendo lucro com o fato de que os beneficiários de vale-presente muitas vezes estão dispostos a vendê-los com um desconto – às vezes com um desconto bastante considerável – para transformá-los em dólares e centavos frios e impessoais. A PlasticJungle.com é um desses sites. No momento da escrita deste livro, ela se ofereceu para pagar em dinheiro a um vendedor de um vale-presente da Whole Foods o equivalente a 90% do valor de face do cartão (por exemplo, o vendedor de um valepresente com o valor de $100 receberia $90 em dinheiro). Mas ele oferece em dinheiro o equivalente a apenas 70% do valor de face do cartão da Gap. A PlasticJungle.com obtém lucro revendendo o cartão com um desconto sobre o que foi pago; por exemplo, compra um cartão da Gap por 70% do seu valor de face e, em seguida, revende-o por 88% do valor de face. Muitos consumidores podem estar dispostos a vendê-lo com um desconto considerável para transformar o vale-presente em dinheiro, mas os varejistas estão ansiosos em promover o uso do vale-presente como dinheiro. De acordo com a GiftCardUSA.com, de 5% a 15% dos vales-presentes nunca são resgatados. Esse dinheiro não resgatado reverte para o varejista, tornando os vales-presentes uma linha muito lucrativa de negócio. Em 2009, o Grupo Tower, uma empresa de consultoria financeira, colocou o valor de “quebra”, o montante de vales-presentes que revertem para o varejista, em vez de para o detentor do cartão, em cerca de $5 bilhões. Como ocorre a quebra? As pessoas perdem cartões. Ou gastam apenas $47 de um cartão de $50, imaginando que não vale a pena o esforço de voltar à loja para gastar esses últimos $3. Além disso, os varejistas impõem taxas sobre o uso do cartão ou fazem os cartões ficarem sujeitos a uma data de validade que os clientes esquecem. E se um varejista sai do negócio, o valor de quaisquer vales-presentes pendentes desaparece com ele.

Além da quebra, os varejistas se beneficiam quando os clientes têm a intenção de usar o valor do vale presente, mas acham que é muito difícil usar exatamente o valor do cartão; em vez disso, gastam mais do que o valor de face do cartão, por vezes, gastando até mais do que fariam na ausência do vale presente. Os vales presentes são tão benéficos para os varejistas que aqueles que usavam valesdesconto para recompensar a fidelidade dos clientes em grande parte mudaram para a distribuição de vales-presentes. Como observou um comentarista ao explicar por que os varejistas preferem vales-presentes em vez de vales-desconto, “ninguém deixa de gastar dinheiro”. No entanto, o futuro pode não ser tão rentável para os emissores de cartões de valepresente: durante os tempos econômicos difíceis de 2009 a 2010, os analistas do setor descobriram que uma porcentagem crescente de vales-presentes estavam sendo completamente gastos pelos seus detentores. Em 2010, o valor de quebra caiu pela metade ($2,5 bilhões) em comparação com o ano anterior.

Questões para pensar 1. Por que os detentores de vales-presentes estão dispostos a vendê-los por uma quantia em dinheiro menor que o valor de face? 2. Por que os vales-presentes para varejistas como o Walmart, Home Depot e Whole Foods são vendidos com um desconto menor do que os varejistas como a Gap e o Aeropostale? 3. Use a resposta da Questão 2 para explicar por que dinheiro nunca é “vendido” com desconto. 4. Explique por que os varejistas preferem premiar os clientes fiéis com vales-presentes, em vez de com vales-desconto. 5. Uma legislação recente restringiu a capacidade dos varejistas de impor taxas e datas de expiração nos vales-presentes e determinou uma maior divulgação de seus termos. Por que você acha que o Congresso aprovou essa legislação?

Resumo 1. Moeda é qualquer ativo que pode ser facilmente usado para comprar bens e serviços. Moeda em circulação e depósitos em conta-corrente são considerados parte da oferta monetária. A moeda desempenha três papéis: é um meio de troca usado em transações, reserva de valor que mantém o poder de compra ao longo do tempo e unidade de conta em que os preços são informados. 2. Ao longo do tempo, a moeda mercadoria, que consiste em bens que possuem valor além do seu papel como dinheiro, como moedas de ouro e prata, foi substituída pela moeda garantida por mercadoria, como o papel-moeda respaldado pelo ouro. Hoje, o dólar é pura moeda fiat, cujo valor deriva unicamente da sua função oficial. 3. O Federal Reserve calcula duas medidas da oferta monetária. M1 é o agregado monetário mais restrito, contendo apenas moeda em circulação, cheques de viagem e

depósitos em conta-corrente. M2 inclui uma ampla gama de ativos chamados de quasemoeda, principalmente outras formas de depósitos bancários, que podem ser facilmente convertidos em depósitos bancários em conta-corrente. 4. Os bancos permitem aos depositantes acesso imediato aos seus fundos, mas também emprestam a maior parte dos fundos depositados aos seus cuidados. Para atender às demandas de saques em moeda, mantêm reservas bancárias compostas tanto de moeda mantida em seus cofres como depósitos no Banco Central. O coeficiente de reserva é a razão entre as reservas bancárias e os depósitos bancários. A conta T resume a posição financeira de um banco, com empréstimos e reservas contados como ativos e depósitos contados como passivos. 5. Os bancos às vezes passaram pela corrida aos bancos, principalmente no início da década de 1930. Para evitar esse perigo, os depositantes agora são protegidos pelo seguro de depósito. Os donos dos bancos têm de cumprir as exigências de capital que reduzem o incentivo de fazer empréstimos excessivamente arriscados com os fundos dos depositantes e precisam manter um mínimo de reserva compulsória. 6. Quando moeda é depositada em um banco, ela inicia o processo do multiplicador no qual os bancos emprestam as reservas excedentes, levando a um aumento da oferta monetária, por isso criam moeda. Se o total da oferta monetária consistisse de depósito em conta-corrente, a oferta monetária seria igual ao valor das reservas dividido pelo coeficiente de reserva. Na realidade, grande parte da base monetária consiste de moeda em circulação e o multiplicador da moeda é a razão entre a oferta monetária e a base monetária. 7. A base monetária é controlada pelo Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos. O Fed regulamenta os bancos e estabelece o coeficiente de reserva mínima. Para atender a essa exigência, os bancos emprestam e tomam emprestado reservas no mercado interbancário à taxa de juros do mercado interbancário. Por meio do guichê de redesconto, os bancos também podem tomar emprestado do banco central à taxa de redesconto. 8. As operações de mercado aberto pelo Fed são o seu principal instrumento de política monetária: o Fed pode aumentar ou reduzir a base monetária pela compra de Letras do Tesouro dos bancos ou vendendo aos bancos Letras do Tesouro. 9. Em resposta ao pânico de 1907, foi criado o Fed para centralizar a manutenção das reservas, fiscalizar a contabilidade dos bancos e fazer a oferta monetária responder de forma adequada a mudanças nas condições econômicas. 10. A Grande Depressão gerou corrida aos bancos generalizada no início dos anos 1930, agravando-a e prolongando-a. Foi criado o seguro de depósito e o governo recapitalizou os bancos, concedendo-lhes empréstimos e pela compra de ações dos bancos. Em 1933, os bancos foram separados em duas categorias: bancos comerciais (cobertos pelo seguro de depósito) e bancos de investimento (não cobertos). A confiança pública no seguro de depósito finalmente acabou com as corridas bancárias da Grande Depressão. 11. A crise das instituições de poupança e empréstimo (as S&Ls) da década de 1980 surgiu porque essas instituições eram insuficientemente regulamentadas e se envolveram em especulação excessivamente arriscada e em enormes prejuízos. Na

quebra das instituições de poupança e empréstimo os depositantes foram compensados com dinheiro dos contribuintes vindo de impostos, pois estava coberto pelo seguro de depósito. A crise causou perdas severas nos setores financeiros e imobiliário, resultando na recessão do início de 1990. 12. Em meados da década de 1990, o fundo de hedge LTCM usou grandes quantias de alavancagem para especular nos mercados financeiros globais, incorrendo em perdas maciças, e entrou em colapso. LTCM era um fundo tão grande que, ao vender ativos para cobrir suas perdas, causou efeitos de balanço em empresas ao redor do mundo, levando à perspectiva de um círculo vicioso de desalavancagem. Como resultado, os mercados de crédito globais congelaram. O Fed de Nova York coordenou o setor privado para um resgate do fundo de LTCM e reanimou o mercado de crédito global. 13. Os empréstimos subprime durante a bolha imobiliária dos Estados Unidos, em meados da década de 2000, espalharam-se pelo sistema financeiro por meio da securitização. Quando a bolha estourou, perdas maciças por parte dos bancos e instituições financeiras não bancárias levaram ao colapso generalizado do sistema financeiro. Para evitar outra Grande Depressão, o Fed e o Tesouro dos Estados Unidos expandiram empréstimos aos bancos e às instituições financeiras não bancárias, fornecendo capital mediante a compra de ações dos bancos e comprando dívida privada. Como grande parte da crise foi originada em instituições bancárias não tradicionais, a crise de 2008 indicou a necessidade de uma rede de segurança e uma regulamentação mais ampla do setor financeiro. O projeto de lei Dodd-Frank de 2010, a maior reforma financeira desde a década de 1930, é uma tentativa de evitar outra crise.

Palavras-chave Moeda, p. 358 Moeda em circulação, p. 358 Depósitos em conta-corrente, p. 358 Oferta monetária, p. 358 Meio de troca, p. 358 Reserva de valor, p. 359 Unidade de conta, p. 359 Moeda mercadoria, p. 359 Moeda garantida por mercadoria, p. 360 Moeda fiat, p. 360 Agregado monetário, p. 360 Quase-moeda, p. 361 Reservas bancárias, p. 363 Conta T, p. 363 Coeficiente de reserva, p. 364 Corrida aos bancos, p. 364 Seguro de depósito, p. 364 Reserva compulsória, p. 365

Guichê de redesconto, p. 365 Reservas excedentes, p. 368 Base monetária, p. 368 Multiplicador da moeda, p. 370 Banco Central, p. 370 Mercado interbancário, p. 371 Taxa de juros do mercado interbancário, p. 371 Taxa de redesconto, p. 371 Operação de mercado aberto, p. 372 Banco comercial, p. 377 Banco de investimento, p. 377 Instituições de poupança e empréstimo (S&Ls), p. 378 Alavancagem, p. 378 Efeito de balanço, p. 379 Círculo vicioso de desalavancagem, p. 379 Empréstimos subprime, p. 379 Securitização, p. 379

Problemas 1. Para cada uma das operações seguintes, qual é o efeito inicial (aumento ou diminuição) sobre M1? E sobre M2? a. Você vende algumas ações e coloca o dinheiro recebido na conta de poupança. b. Você vende algumas ações e coloca o dinheiro recebido na conta-corrente. c. Você transfere o dinheiro da conta de poupança para a conta-corrente. d. Você descobre $0,25 sob o tapete do carro e deposita na conta-corrente. e. Você descobre $0,25 sob o tapete do carro e deposita na conta de poupança. 2. Existem três tipos de moeda: moeda mercadoria, moeda baseada em mercadoria e moeda fiat. Que tipo de moeda é usada em cada uma das seguintes situações? a. Garrafas de rum eram usadas para pagar bens na Austrália colonial. b. O sal era usado em muitos países europeus como meio de troca. c. Por um breve período, a Alemanha usou papel-moeda (o “Rye Mark”), que podia ser trocado por certa quantidade de centeio, um tipo de grão. d. A cidade de Ithaca, no estado de Nova York, imprime sua própria moeda, a Ithaca HOURS, que pode ser usada para a compra de bens e serviços locais. 3. A tabela a seguir mostra os componentes de M1 e M2 em bilhões de dólares para o mês de dezembro, de 2000 a 2010, publicados no Relatório Econômico do presidente de 2011. Complete a tabela calculando M1, M2, a moeda em circulação como porcentagem de M1 e a moeda em circulação como porcentagem de M2. Que tendências ou padrões você observa nessas variáveis monetárias: M1, M2, moeda em circulação como porcentagem de M1 e moeda em circulação como porcentagem de M2? O que poderia explicar essas tendências? 4. Indique se cada um dos itens seguintes faz parte de M1, M2 ou de nenhum deles:

a. $95 de vale-refeição da universidade. b. $0,55 de troco no porta-luvas do carro. c. $1.663 na conta de poupança. d. $459 na conta-corrente. e. 100 ações no valor de $4.000. f. Uma linha de crédito de $1.000 com cartão de crédito em uma loja de departamentos. 5. Tracy Williams deposita $500 que estava na gaveta de meias em uma conta-corrente no banco local. a. Como o depósito inicialmente muda a conta T do banco local? Como muda a oferta monetária? b. Se o banco mantém um coeficiente de reserva de 10%, como reagirá ao novo depósito? c. Se cada vez que o banco faz um empréstimo, esse empréstimo resulta em um novo depósito em conta-corrente em um banco igual ao montante do empréstimo, em quanto irá se expandir a oferta monetária da economia no total em resposta ao depósito inicial em moeda de $500 de Tracy? d. Se cada vez que o banco faz um empréstimo, isso resulta em um novo depósito em conta-corrente em outro banco igual ao montante do empréstimo e o banco mantém um coeficiente de reserva de 5%, em quanto irá se expandir a oferta monetária em resposta ao depósito inicial em moeda de $500 de Tracy? 6. Ryan Cozzens retira $400 de sua conta-corrente no banco local e fica com ele na carteira. a. Como esse saque muda a conta T do banco local e a oferta monetária? b. Se o banco mantém um coeficiente de reserva de 10%, como reagirá ao saque? Suponha que o banco responda às reservas insuficientes reduzindo o montante de depósitos que mantém até que o nível de suas reservas satisfaça a exigência do coeficiente mínimo de reserva. O banco reduz seus depósitos cancelando alguns dos empréstimos, obrigando os devedores a liquidar seus débitos, usando moeda de seus depósitos em conta-corrente (no mesmo banco) para fazer o reembolso. c. Se cada vez que o banco reduz os empréstimos, os depósitos em conta-corrente caem o montante da redução do empréstimo, quanto irá contrair a oferta monetária na economia em resposta à retirada de $400 de Ryan? d. Se cada vez que o banco diminui os empréstimos, os depósitos em conta-corrente caem o montante do empréstimo e o banco mantém um coeficiente de reserva de 20%, quanto irá contrair a oferta monetária na economia em resposta à retirada de $400 de Ryan? 7. O governo de Eastlandia usa medidas de agregados monetários semelhantes ao usado nos Estados Unidos, e o Banco Central de Eastlandia impõe um coeficiente de reserva compulsória de 10%. Com base na informação a seguinte, responda às questões a seguir. Depósitos bancários no banco central = $200 milhões Moeda em poder do público = $150 milhões Moeda nos cofres dos bancos = $100 milhões

Depósitos em conta-corrente = $500 milhões Cheques de viagem = $10 milhões

a. Quanto é M1? b. Quanto é a base monetária?

Fonte: 2011 Economic Report of the President.

c. Os bancos comerciais estão mantendo reservas excedentes? d. Os bancos comerciais podem aumentar os depósitos em conta-corrente? Se sim, em quanto podem aumentar? 8. Em Westlandia, o público mantém 50% de M1 em forma de moeda e o coeficiente de reserva compulsória é 20%. Estime em quanto a oferta monetária irá aumentar em resposta a um novo depósito em dinheiro de $500, completando a tabela a seguir. (Dica: A primeira linha mostra que o banco precisa manter $100 em reserva mínima compulsória – 20% do depósito de $500 –, sobrando $400 em reservas excedentes que podem ser emprestadas. No entanto, como o público deseja manter 50% do empréstimo em moeda, apenas $400 × 0,5 = $200 do empréstimo serão depositados na segunda rodada do empréstimo concedido na primeira rodada.) Como sua resposta se compara com uma economia em que o montante total de empréstimo é depositado no sistema bancário e o público não mantém nenhuma parte do empréstimo em moeda? O que isso implica sobre a relação entre o desejo do público de manter moeda e o multiplicador da moeda?

9. O que vai acontecer com a oferta monetária sob as seguintes circunstâncias em um

sistema de depósitos em conta-corrente? a. O coeficiente de reserva compulsória é 25%, e um depositante retira $700 depositado em conta-corrente. b. O coeficiente de reserva compulsória é 5%, e um depositante retira $700 depositado em conta-corrente. c. O coeficiente de reserva compulsória é 20%, e um cliente deposita $750 na contacorrente. d. O coeficiente de reserva compulsória é 10%, e um cliente deposita $600 na contacorrente. 10. Embora o Fed não use variações na reserva compulsória para administrar a oferta monetária, o banco central dos Albernia usa. Os bancos comerciais de Albernia têm $100 milhões em reservas e $1 milhão de depósitos em conta-corrente; o coeficiente de reserva compulsória inicial é 10%. Os bancos comerciais seguem uma política de não manter reservas excedentes. O público não mantém moeda, apenas depósitos em conta-corrente no sistema bancário. a. Como será a variação da oferta monetária se o coeficiente de reserva compulsória cair para 5%? b. Como será a variação da oferta monetária se o coeficiente de reserva compulsória cair para 25%? 11. Usando a Figura 14-6, descubra o distrito do Fed em que você vive. Acesse http://www.federalreserve.gov/bios/pres.htm e clique em seu distrito para identificar o presidente do Fed do seu distrito. Acesse http://www.federalreserve.gov/fomc/ e determine se o presidente do banco regional do Federal Reserve em seu distrito é atualmente um membro votante do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC). 12. Mostre as variações na conta T do Fed e dos bancos comerciais quando o Fed compra $50 milhões em Letras do Tesouro. Se o público mantém uma quantidade fixa em moeda (de modo que todos os empréstimos criam um montante igual de depósitos no sistema bancário), o coeficiente de reserva mínima é 10%, e os bancos não mantêm reservas excedentes. Qual será a variação nos depósitos dos bancos comerciais? Qual será a variação da oferta monetária? Mostre as variações finais na conta T dos bancos comerciais, quando a oferta monetária varia esse mesmo montante. 13. Mostre a variação na conta T do Fed e dos bancos comerciais, quando o Fed vende $30 milhões em Letras do Tesouro. Se o público mantém uma quantidade fixa em moeda (de modo que todos os empréstimos criam um montante igual de depósitos no sistema bancário) e o coeficiente de reserva mínima é 5%, qual será a variação dos depósitos nos bancos comerciais? Qual será a variação da oferta monetária? Mostre as variações finais na conta T dos bancos comerciais, quando a oferta monetária varia esse mesmo montante. 14. O serviço de pesquisa do Congresso estima que pelo menos $45 milhões de notas falsas de $100 produzidas pelo governo da Coreia do Norte estão em circulação. a. Por que os contribuintes americanos perdem por causa da falsificação da Coreia do Norte? b. Em agosto de 2011, a taxa de juros de uma Letra do Tesouro dos Estados Unidos era

de 0,11%. A uma taxa de juros de 0,11%, quanto os contribuintes americanos perdem por ano se forem emitidos $45 milhões em notas falsas? 15. Como mostrado na Figura 14-9, a parcela dos ativos do Fed composta de Letras do Tesouro dos Estados Unidos diminuiu desde 2007. Acesse www.federalreserve.gov. Em “Select Statiscal Releases”, clique em “All Statiscal Releases”. Sob o título “Money Stock and Reserve Balances”, clique em “Factors Affecting Reserve Balances”. Clique na data da versão atual. a. Em “Statement of Condition of Each Federal Reserve Bank”, procure a coluna “Total”. Qual é o valor exibido ao lado de “Total assets”? Qual é o valor exibido próximo de “U.S. Treasury Securities”? Qual a porcentagem do total de ativos do Fed que atualmente são compostos por Letras do Tesouro? b. Os ativos do Fed consistem principalmente de Letras do Tesouro dos Estados Unidos, como era o caso em janeiro de 2007, no início do gráfico da Figura 14-9, ou o Fed ainda possui um grande número de outros ativos, como possuía em meados de 2011, no final do gráfico da Figura 14-9? 16. A figura mostra o início de novas construções residenciais nos Estados Unidos, em milhares de unidades por mês, entre janeiro de 1980 e agosto de 2011. O gráfico mostra grande queda no início de novas construções residenciais entre 1984 e 1991 e entre 2006 e 2009. O início de novas construções residenciais está relacionado com a disponibilidade de crédito hipotecário. a. O que causou a queda do início de novas construções residenciais no período entre 1984 e 1991? b. O que causou a queda do início de novas construções residenciais no período entre 2006 e 2009? c. Como uma melhor regulamentação das instituições financeiras impediria esses dois eventos?

www.worthpublishers.com/krugmanwells

C APÍ T UL O 15

Política Monetária

O que você vai aprender neste capítulo • O que é a curva da demanda de moeda. • Por que o modelo de preferência pela liquidez determina a taxa de juros no curto prazo. • Como o Fed implementa a política monetária ao mover a taxa de juros para afetar o produto agregado. • Por que a política monetária é o principal instrumento para estabilizar a economia. • Como o comportamento do Fed se compara com o de outros bancos centrais. • Por que os economistas acreditam na neutralidade monetária – que a política monetária só afeta o nível de preços e não o produto agregado no longo prazo.

Personalidade do ano “Um homem calvo com barba cinza e olhos cansados está sentado em seu escritório superdimensionado em Washington, falando sobre economia. Não tem uma presença dominante. Não é um orador fascinante. Não tem nada do carisma afetado que atrai olhares ou ouvidos tão comum entre os homens com escritórios de grande porte em Washington. Seus argumentos não são partidários ou ideológicos. São metódicos, baseados em dados e na mais recente literatura acadêmica. Quando não sabe alguma coisa, não faz bazófia ou blefa. Ele é professoral, o que faz sentido, porque a maior parte da sua carreira foi como professor.” Assim começou o perfil de Ben Bernanke, na revista Time, a quem a revista denominou Personalidade do Ano de 2009. Quem é esse homem bem- educado e por que ele importa tanto? A resposta é que Bernanke é o presidente da diretoria do Fed – o corpo que controla a política monetária. As pessoas às vezes dizem que Bernanke decide a quantidade de impressão de moeda. Isso não é bem verdade: por um lado, o Fed não imprime dinheiro literalmente e, além disso, as decisões monetárias são realmente tomadas por uma comissão e não por um único homem. Mas, como vimos no Capítulo 14, o Federal Reserve pode usar as operações de mercado aberto e outras ações, como mudanças na exigência de reserva, para alterar a oferta de moeda – e Ben Bernanke tem mais influência sobre essas ações do que qualquer outra pessoa nos Estados Unidos. E essas ações são muito importantes. Cerca de metade das recessões que assolaram os Estados Unidos desde a Segunda Guerra Mundial pode ser atribuída, pelo menos em parte, às decisões do Fed de apertar a política para combater a inflação. Em uma série de outros casos, o Fed desempenhou um papel fundamental na luta contra crises e em promover a recuperação. A crise financeira de 2008 colocou o Fed no centro do palco. A resposta agressiva de Bernanke contra a crise, que, como vimos no Capítulo 14, incluiu uma triplicação da base monetária, inspirou tanto louvor (incluindo sua designação como Personalidade do Ano) como condenação. Neste capítulo aprenderemos como a política monetária funciona – como as ações por parte do Fed podem ter um efeito poderoso sobre a economia. Começaremos

examinando a demanda de moeda por parte das famílias e empresas. Então, veremos como a capacidade do Fed de alterar a oferta de moeda permite que mova as taxas de juros no curto prazo e, assim, afete o PIB real. Analisaremos a política monetária dos Estados Unidos na prática e iremos compará-la com a política monetária de outros bancos centrais. Concluiremos, examinando os efeitos de longo prazo da política monetária.

A demanda de moeda No Capítulo 14 aprendemos sobre os vários tipos de agregados monetários: M1, a definição mais usada para a oferta de moeda, consiste de moeda em circulação (dinheiro), além de depósitos em conta-corrente, mais cheques de viagem; e M2, uma definição mais ampla da oferta monetária, consiste de M1 mais depósitos que podem ser facilmente transferidos para conta-corrente. Aprendemos também por que as pessoas mantêm moeda – para facilitar a compra de bens e serviços. Agora vamos mais fundo, ao examinar o que determina a quantidade de moeda que os indivíduos e as empresas desejam manter a qualquer tempo.

O custo de oportunidade de manter moeda A maior parte das decisões econômicas envolve trade-offs à margem. Ou seja, os indivíduos decidem o quanto de um bem consumir ao determinar se o benefício que ganham ao consumir um pouco mais de qualquer bem vale o custo. O mesmo processo de decisão é usado ao decidir quanto manter de moeda. As pessoas e as empresas acham útil manter parte de seus ativos sob a forma de moeda, por causa da conveniência que o dinheiro proporciona: pode ser usado para fazer compras diretamente enquanto que outros ativos não podem. Mas há um preço a ser pago por essa conveniência: o dinheiro normalmente tem uma taxa de retorno menor do que os ativos não monetários. Como exemplo de como a conveniência faz valer a pena incorrer em algum custo de oportunidade, considere o fato de que mesmo hoje – com a prevalência dos cartões de crédito, cartões de débito e caixas eletrônicos – as pessoas continuam a manter dinheiro na carteira, em vez de deixá-lo em uma conta que rende juros. Fazem isso porque não querem ir a um caixa eletrônico retirar dinheiro cada vez que desejam pagar o almoço em algum lugar que não aceita cartão de crédito ou que não aceita cartão para quantias pequenas, devido às taxas cobradas pelo processamento do pagamento com cartão. Em outras palavras, a conveniência de manter algum dinheiro na carteira vale mais do que os juros que essas pessoas teriam ao manter esse dinheiro no banco. Mesmo a manutenção do dinheiro em conta-corrente envolve um trade-off entre a conveniência e o recebimento de algum valor com juros. Isso porque é possível obter juros mais altos colocando o dinheiro em algum outro ativo que não seja a contacorrente. Por exemplo, muitos bancos oferecem certificados de depósito bancário, os CDBs, que pagam taxas de juros mais altas que contas bancárias comuns. Mas CDBs também cobram penalidade se os fundos forem retirados antes de um prazo determinado, digamos, antes de seis meses. Um indivíduo que mantém fundos em contacorrente está renunciando aos juros que obteria se os fundos estivessem em CDBs em troca da comodidade de ter dinheiro disponível quando necessário. Então, dar sentido à demanda de moeda é compreender como as pessoas e as empresas equilibram o benefício de manter dinheiro – que proporciona conveniência,

mas não juros – versus o benefício de manter ativos não monetários geradores de juros – que proporcionam juros, mas não conveniência. E esse trade-off é afetado pela taxa de juros. (Como antes, quando dizemos taxa de juros é com o entendimento de que nos referimos à taxa de juros nominal – ou seja, não é ajustada pela inflação.) Em seguida, vamos examinar como esse trade- off mudou drasticamente a partir de junho de 2007 a junho 2008, quando houve uma grande queda nas taxas de juros. A Tabela 15-1 ilustra o custo de oportunidade de manter dinheiro em um mês específico, junho de 2007. A primeira linha mostra a taxa de juros de um CDB de um mês, isto é, a taxa de juros que as pessoas obteriam se estivessem dispostas a imobilizar seus fundos por um mês. Em junho de 2007, um CDB de um mês rendia 5,3% nos Estados Unidos. A segunda linha mostra a taxa de juros sobre os depósitos em conta- corrente remunerados (especificamente, aquelas que nos Estados Unidos estão incluídas em M2, menos os depósitos de curto prazo). Os fundos dessas contas eram mais acessíveis do que os CDBs, mas o preço dessa conveniência era uma taxa de juros muito mais baixa, apenas 2,3%. Finalmente, a última linha mostra a taxa de juros sobre moeda corrente – dinheiro vivo na carteira – que certamente era zero. Tabela 15-1 Taxas de juros selecionadas, junho de 2007 CDB de um mês 5,3% Depósito em c onta-c orrente remunerado 2,3% Dinheiro vivo 0

Fonte: Federal Reserve Bank de St. Louis.

A Tabela 15-1 ilustra o custo de oportunidade de manter moeda em um momento no tempo, mas esse custo muda quando o nível geral das taxas de juros muda. Especificamente, quando o nível geral das taxas de juros cai, o custo de oportunidade de manter moeda também cai. A Tabela 15-2 ilustra esse ponto, mostrando como uma seleção de taxas de juros mudou entre junho de 2007 e junho de 2008, período em que o Fed estava cortando as taxas de juros em um esforço (sem sucesso) de combater a recessão que se agravava rapidamente. A comparação entre as taxas de juros entre junho de 2007 e junho de 2008 ilustra o que acontece quando o custo de oportunidade de manter a moeda cai bruscamente. Entre junho de 2007 e junho de 2008, a taxa de juros interbancária, que é a taxa que o Fed controla mais diretamente, caiu 3,25 pontos percentuais. A taxa de juros dos CDBs de um mês caiu quase na mesma proporção, 2,8 pontos percentuais. Essas taxas de juros são taxas de juros de curto prazo – de ativos financeiros resgatáveis, ou com maturidade dentro do prazo de um ano.

Tabela 15-2 Taxas de juros e custo de oportunidade de manter moeda Taxa de juros do merc ado interbanc ário Certific ados de depósito banc ário de um mês (CDBs) Depósitos em c onta-c orrente remunerada Dinheiro vivo CDBs menos taxa de juros de depósitos em conta-corrente remunerada (ponto percentual) CDBs menos moeda (ponto percentual)

Junho 2007 5,25% 5,30% 2,30% 0 3,00 5,30

Junho 2008 2,00% 2,50% 1,24% 0 1,26 2,50

Fonte: Federal Reserve Bank de St. Louis.

Como as taxas de juros de curto prazo caíram entre junho de 2007 e junho de 2008, a taxa de juros sobre a moeda não caiu na mesma proporção. A taxa de juros sobre a moeda, certamente, permaneceu zero. A taxa de juros sobre depósitos caiu, mas muito menos que as taxas de juros de curto prazo. Como a comparação das duas colunas da Tabela 15-2 ilustra, o custo de oportunidade de manter moeda caiu. As duas últimas linhas da Tabela 15-2 resumem essa comparação: fornecem as diferenças entre as taxas de juros sobre os depósitos e sobre a moeda e a taxa de juros sobre CDBs. Essas diferenças – o custo de oportunidade de manter moeda ao invés de ativos que geram juros – diminuiu drasticamente entre junho de 2007 e junho de 2008. Isso reflete um resultado geral: quanto mais alta a taxa de juros de curto prazo, maior o custo de oportunidade de manter moeda; quanto mais baixa a taxa de juros de curto prazo, menor o custo de oportunidade de manter moeda. O fato de a taxa de juros do mercado interbancário da Tabela 15-2 e a taxa de juros sobre CDBs de um mês ter caído quase a mesma porcentagem não é acidental: todas as taxas de juros de curto prazo tendem a se mover juntas, com raras exceções. A razão pela qual as taxas de juros de curto prazo tendem a se mover juntas é que os CDBs e outros ativos de curto prazo (como as Letras do Tesouro de um e três meses) estão de fato competindo pelo mesmo negócio. Qualquer ativo de curto prazo que ofereça uma taxa de juros menor do que a média será vendido por investidores que irão movimentar a riqueza em um ativo com maior rendimento no curto prazo. A venda do ativo, por sua vez, obriga a taxa de juros a subir, porque os investidores devem ser recompensados com uma taxa mais elevada, a fim de induzi-los a comprá-la. Por outro lado, os investidores vão mover sua riqueza em qualquer ativo financeiro de curto prazo que ofereça uma taxa de juros acima da média. A compra do ativo impulsiona a taxa de juros para baixo quando os vendedores perceberem que podem diminuir a taxa de retorno sobre o ativo e ainda encontrar compradores. Assim, as taxas de juros sobre ativos financeiros de curto prazo tendem a ser mais ou menos as mesmas, porque nenhum ativo irá sempre oferecer uma taxa de juros acima da média ou uma mais baixa que a média. A Tabela 15-2 contém apenas taxas de juros de curto prazo. Em um determinado momento, as taxas de juros de longo prazo – taxas de juros sobre ativos financeiros com maturidade ou vencimento dentro de alguns anos no futuro – podem ser diferentes das taxas de juros de curto prazo. A diferença entre taxas de juros de curto prazo e de longo prazo é por vezes importante do ponto de vista prático. Além disso, são as taxas de curto

prazo, em vez de as taxas de juros de longo prazo, que afetam a demanda de moeda, porque a decisão de manter moeda envolve um trade-off entre a conveniência de manter dinheiro vivo versus a vantagem de manter ativos cuja maturidade é de curto prazo, de um ano ou menos. No momento, no entanto, vamos ignorar a distinção entre as taxas de juros de curto e longo prazo e assumir que só haja uma taxa de juros.

A curva da demanda de moeda Como o nível geral das taxas de juros afeta o custo de oportunidade de manter moeda, a quantidade de dinheiro que os indivíduos e as empresas desejam manter, tudo o mais mantido constante, tem uma relação negativa relacionada à taxa de juros. Na Figura 15-1, o eixo horizontal mostra a quantidade demandada de moeda e o eixo vertical mostra a taxa de juros, r, que se pode imaginar como uma taxa de juros representativa de curto prazo, como a taxa de juros de CDBs de um mês. (Como discutimos no Capítulo 10, é a taxa de juros nominal, e não a taxa de juros real, que influencia as decisões das pessoas sobre a alocação de dinheiro. Assim, r na Figura 15-1 e todos os números subsequentes referem-se à taxa de juros nominal.)

FIGURA 15-1 Curva da demanda de moeda A curva da demanda de moeda ilustra a relação entre a taxa de juros e a quantidade de moeda demandada. Tem inclinação para baixo: uma taxa de juros mais alta leva a um custo de oportunidade mais alto de manter moeda e reduz a quantidade de moeda demandada. Do mesmo modo, uma taxa de juros mais baixa reduz o custo de oportunidade de manter moeda e aumenta a quantidade de moeda demandada.

A relação entre a taxa de juros e a quantidade de moeda demandada pelo público é

ilustrada pela curva da demanda de moeda, MD, na Figura 15-1. A curva de demanda de moeda tem inclinação para baixo porque, tudo o mais mantido constante, uma taxa de juros mais alta aumenta o custo de oportunidade de manter moeda, levando o público a reduzir a quantidade de moeda que demanda. Por exemplo, se a taxa de juros é muito baixa – digamos, 1% –, a taxa de juros sacrificada ao manter moeda é relativamente pequena. Consequentemente, os indivíduos e as empresas tendem a manter relativamente grandes quantidades de moeda para evitar o custo e o incômodo de converter outros ativos em moeda ao fazer compras. Por outro lado, se a taxa de juros é relativamente alta – digamos 15%, nível alcançado nos Estados Unidos no início de 1980, o custo de oportunidade de manter moeda é alto. As pessoas reagirão mantendo apenas pequenas quantias em dinheiro vivo e depósitos, convertendo ativos em moeda apenas quando necessário. Alguém pode perguntar por que traçamos a curva da demanda de moeda com a taxa de juros – ao contrário das taxas de retorno sobre outros ativos, como ações ou imóveis – no eixo vertical. A resposta é que, para a maioria das pessoas, a questão relevante ao decidir quanto dinheiro manter é saber se devem colocar os fundos na forma de outros ativos que podem ser transformados rapidamente e facilmente em dinheiro. Ações não se encaixam nessa definição, pois há taxas de corretagem significativas quando se vende ações (por isso aconselha-se aos investidores do mercado de ações a não comprar e vender muitas vezes). Vender imóveis não se encaixa na definição porque a venda de imóveis envolve taxas ainda maiores e também pode levar um longo tempo. Assim, a comparação relevante é com os ativos que estão “perto” de ser moeda – ativos bastante líquidos, como CDBs. E, como já vimos, as taxas de juros de todos esses ativos normalmente se movimentam em conjunto.

Deslocamentos da curva da demanda de moeda Uma série de outros fatores além da taxa de juros afeta a demanda de moeda. Quando um desses fatores muda, a curva da demanda de moeda se desloca. A Figura 15-2 mostra os deslocamentos da curva da demanda de moeda: um aumento na demanda de moeda corresponde a um deslocamento para a direita da curva MD, aumentando a quantidade de moeda a qualquer nível dado da taxa de juros; uma redução na demanda de moeda corresponde a um deslocamento para a esquerda da curva MD, reduzindo a quantidade de moeda demandada a qualquer nível dado da taxa de juros. Os fatores mais importantes que causam o deslocamento da curva da demanda de moeda são mudanças no nível de preços agregado, no PIB real, nos mercados de crédito e de tecnologia bancária e nas instituições.

FIGURA 15-2 Aumento e diminuição na demanda de moeda A curva da demanda de moeda desloca quando fatores não relacionados com a taxa de juros, que afetam a demanda de moeda, mudam. Um aumento na demanda de moeda desloca a curva da demanda de moeda para a direita, de MD1 para MD2, e a quantidade de moeda demandada sobe a qualquer taxa de juros dada. A diminuição na demanda de moeda desloca a curva da demanda de moeda para a esquerda, de MD1 para MD3 e a quantidade de moeda demandada cai a qualquer taxa de juros dada.

Mudanças no nível de preços agregado Os americanos mantêm muito mais dinheiro na carteira e fundos nas contas-correntes hoje do que na década de 1950. Uma razão é que precisam fazer isso se quiserem comprar qualquer coisa: quase tudo custa mais hoje do que no tempo em que se podia comprar um hambúrguer com fritas e bebida no Mcdonalds por $0,45 e um galão de gasolina por $0,29. Então, tudo o mais mantido constante, preços mais altos aumentam a demanda de moeda (um deslocamento para a direita da curva MD), e preços mais baixos diminuem a demanda de moeda (deslocamento para a esquerda da curva MD). Na verdade, podemos ser mais específicos que isso: tudo o mais mantido constante, a demanda de moeda é proporcional ao nível de preços. Ou seja, se o nível de preços agregado aumenta 20%, a quantidade de moeda demandada a qualquer taxa de juros, como r1 na Figura 15-2, também aumenta 20% – o deslocamento de M1 para M2. Por quê? Porque se o preço de tudo sobe 20%, é preciso 20% mais moeda para comprar a mesma cesta de bens e serviços. E se o nível de preços agregado cai 20%, a qualquer taxa de juros dada a quantidade de moeda demandada cai 20%, como se mostra pelo deslocamento de M1 para M3 à taxa de juros r1. Como veremos mais adiante, o fato de a demanda de moeda ser proporcional ao nível de preços tem implicações importantes para os efeitos de longo

prazo da política monetária.

Mudanças no PIB real As empresas e as famílias mantêm moeda como forma de facilitar as compras de bens e serviços. Quanto maior a quantidade de bens e serviços que compram, tanto maior a quantidade de moeda que desejam manter a qualquer taxa de juros dada. Assim, um aumento real do PIB – a quantidade total de bens e serviços produzidos e vendidos na economia – desloca a curva da demanda de moeda para a direita. Uma queda no PIB real desloca a curva da demanda de moeda para a esquerda.

Mudanças nos mercados de crédito e na tecnologia bancária Os cartões de crédito estão em toda parte na vida americana de hoje, mas não foi sempre assim. O primeiro cartão de crédito que permitiu aos clientes manter um saldo mês a mês (chamado de “saldo rotativo”) foi emitido em 1959. Antes disso, as pessoas tinham que pagar pelas compras em dinheiro ou pagar o seu saldo a cada mês. A invenção dos cartões de crédito de saldo rotativo permitiu que as pessoas mantivessem menos dinheiro para financiar suas compras e diminuiu a demanda de moeda. Além disso, as mudanças na tecnologia bancária que tornaram os cartões de crédito amplamente disponíveis e aceitos ampliaram o efeito, tornando mais fácil para as pessoas fazer compras sem ter que converter fundos de seus ativos que rendem juros, reduzindo ainda mais a demanda de moeda.

Mudanças nas instituições Mudanças nas instituições podem aumentar ou diminuir a demanda de moeda. Por exemplo, até que a Regulação Q fosse revogada em 1980, os bancos americanos não eram autorizados a oferecer juros sobre contas-correntes. Assim, os juros que se perdiam ao manter fundos na conta-corrente, em vez de aplicá-los em ativos que rendessem juros, tornavam muito alto o custo de oportunidade de manter fundos em conta-corrente. Quando uma mudança na regulação bancária permitiu que os bancos pagassem juros sobre os depósitos em conta-corrente, a demanda de moeda aumentou e deslocou a curva da demanda de moeda para a direita.

Economia em ação Yen por dinheiro Segundo afirmam os especialistas financeiros, o Japão ainda é uma “sociedade em que se paga com dinheiro vivo”. Os visitantes dos Estados Unidos ou da Europa ficam surpreendidos ao ver como os japoneses usam pouco os cartões de crédito e quanto de

dinheiro carregam nas carteiras. No entanto, o Japão é um país avançado tanto economicamente como tecnologicamente e, de acordo com algumas medidas, está à frente dos Estados Unidos em matéria de telecomunicações e tecnologia da informação. Então, por que os cidadãos dessa economia poderosa ainda fazem compras da forma como os americanos e os europeus faziam a uma geração atrás? A resposta ilumina os fatores que afetam a demanda de moeda. Uma razão pela qual os japoneses usam tanto dinheiro vivo é que as suas instituições nunca passaram a se apoiar fortemente nos cartões de plástico. Por razões complexas, o setor de varejo no Japão ainda é dominado por pequenas lojas familiares, que relutam em investir em tecnologia de cartão de crédito. Os bancos no Japão também têm atuado lentamente em exigir tecnologia das transações. Os turistas, muitas vezes, se surpreendem ao descobrir que os caixas eletrônicos fecham cedo, no início da noite, em vez de permanecer abertos durante a noite toda. Mas há outra razão pela qual os japoneses mantêm tanta moeda na carteira: há pouco custo de oportunidade ao fazê-lo. As taxas de juros de curto prazo no Japão são inferiores a 1% desde meados da década de 1990. Também ajuda o fato de que a taxa de criminalidade japonesa é muito baixa, por isso é improvável ter sua carteira cheia de dinheiro roubada. Então por que não levar dinheiro na carteira?

Breve revisão ■ A moeda oferece uma taxa de retorno menor do que outros ativos financeiros. Normalmente comparamos a taxa de retorno da moeda com as taxas de juros de curto prazo e não com as de longo prazo. ■ Manter moeda proporciona liquidez, mas incorre em um custo de oportunidade que aumenta com a taxa de juros, levando a uma inclinação para baixo da curva da demanda de moeda. ■ Mudanças no nível de preços agregado, no PIB real, nos mercados de crédito e de tecnologia bancária e nas instituições deslocam a curva da demanda de moeda. Um aumento na demanda de moeda desloca a curva da demanda de moeda para a direita, uma diminuição na demanda de moeda desloca a curva da demanda de moeda para a esquerda.

Teste seu entendimento 15-1 1. Explique como cada uma das seguintes situações afeta a quantidade de moeda demandada. A mudança causa um movimento ao longo da curva da demanda de moeda ou um deslocamento da curva da demanda de moeda? a. A taxa de juros de curto prazo aumenta de 5% para 30%. b. Todos os preços caem 10%. c. A nova tecnologia sem fio automaticamente cobra dos cartões de crédito as compras de supermercado, eliminando a necessidade de parar na caixa registradora. d. A fim de evitar o pagamento de um aumento acentuado de impostos, os moradores

de Laguria transferiram os ativos para contas bancárias no exterior. Essas contas são mais difíceis de as autoridades fiscais rastrearem, mas também mais difíceis de os proprietários administrarem e converter fundos em dinheiro. 2. Em qual das seguintes situações irá aumentar o custo de oportunidade de manter dinheiro vivo? E em qual diminuirá? Ou ficará igual? Explique. a. Os comerciantes cobram uma taxa de 1% sobre as transações com cartões de débito/crédito para compras inferiores a $50. b. Para atrair mais depósitos, os bancos elevam os juros pagos sobre CDBs de seis meses. c. É a temporada de compras natalinas e os varejistas reduziram temporariamente os preços para níveis inesperadamente baixos. d. O custo dos alimentos aumenta significativamente. As respostas estão no fim do livro.

Moeda e taxas de juros O Comitê Federal de Mercado Aberto do Fed decidiu hoje reduzir a meta para a taxa do mercado interbancário de 75 pontos base para 2,25%. Informação recente indica que as perspectivas de atividade econômica enfraqueceram ainda mais. O crescimento dos gastos do consumo desacelerou e o mercado de trabalho desaqueceu. Os mercados financeiros continuam pressionados e o aperto nas condições de crédito e o aprofundamento da contração no mercado de imóveis residenciais provavelmente vão prejudicar o crescimento econômico nos próximos trimestres. Assim reza o início de um comunicado de imprensa do Fed emitido em 18 de março de 2008. (Um ponto base equivale a 0,01 ponto percentual, portanto, o comunicado diz que o Fed reduziu a meta de 3% para 2,25%.) Aprendemos o que é a taxa de juros do mercado interbancário no Capítulo 14: é a taxa pela qual os bancos emprestam fundos entre si para atender o coeficiente de reserva exigido. Como o comunicado informa, em cada uma de suas oito reuniões no ano, um grupo chamado Comitê Federal de Mercado Aberto, FOMC, define uma meta para a taxa do mercado interbancário. Depois cabe aos funcionários do Fed conseguir alcançar esta meta. Isso é feito na mesa de mercado aberto do Federal Reserve Bank de Nova York, que compra e vende Letras do Tesouro para alcançar a meta. Como já vimos, outras taxas de juros de curto prazo, como as taxas sobre CDBs, acompanham a taxa do mercado interbancário. Assim, quando o Fed reduziu sua meta para a taxa de mercado interbancário de 3% para 2,25%, em março de 2008, muitas outras taxas de juros de curto prazo também caíram cerca de três quartos de um ponto percentual. Como o Fed opera para alcançar a taxa de juros do mercado interbancário? E mais precisamente, como o Fed consegue afetar as taxas de juros?

Taxa de juros de equilíbrio Lembre-se que, por simplicidade, estamos supondo que existe apenas uma taxa de juros paga sobre os ativos financeiros não monetários, tanto no curto prazo como no longo prazo. Para entender como a taxa de juros é determinada, considere a Figura 15-3, que ilustra o modelo da taxa de juros segundo a preferência pela liquidez. Esse modelo diz que a taxa de juros é determinada pela oferta e demanda de moeda no mercado de moeda. A Figura 15-3 combina a curva de demanda de moeda, MD, com a curva de oferta de moeda, MS, que mostra como a quantidade de moeda ofertada pelo Fed varia de acordo com a taxa de juros.

FIGURA 15-3 Equilíbrio no mercado de moeda A curva da oferta de moeda, MS, é vertical à oferta de moeda escolhida pelo Fed, . O mercado de moeda está em equilíbrio à taxa de juros rE: a quantidade de moeda demandada pelo público é igual a

, a quantidade de moeda ofertada. Em um ponto, tal como L, a taxa de juros, rL, está abaixo de

rE e a quantidade de moeda demandada correspondente, M L, excede a oferta de moeda, . Em uma tentativa de transferir a riqueza de ativos financeiros não monetários que rendem juros e aumentar a moeda mantida por eles, os investidores pressionam a taxa de juros para cima até rE. Em um ponto, como H, a taxa de juros rH está acima de rE e a quantidade correspondente de moeda demandada, M H, é inferior à oferta de moeda . Na tentativa de transferir a riqueza mantida em moeda para ativos financeiros não monetários que rendem juros, os investidores pressionam a taxa de juros para baixo até rE.

No Capítulo 14 aprendemos como o Fed pode aumentar ou diminuir a oferta de moeda: geralmente faz isso por meio de operações de mercado aberto, comprando ou vendendo Letras do Tesouro, mas também pode emprestar por meio do guichê de redesconto ou mudar o nível exigido de reserva compulsória. Vamos assumir por simplicidade que o Fed, usando um ou mais desses métodos, escolhe o nível da oferta de moeda que acredita que irá atingir a meta da taxa de juros. Então, a curva da oferta de moeda é uma linha vertical, MS, na Figura 15-3, com um intercepto horizontal correspondente à oferta de moeda escolhida pelo Fed, , levando a uma taxa de juros de equilíbrio rE. Para entender por que rE é a taxa de juros de equilíbrio, considere o que acontece quando o mercado de moeda está em um ponto como L, onde a taxa de juros, rL, está abaixo de rE. Em rL, o público quer manter a quantidade de moeda ML, uma quantidade

maior do que a oferta de moeda efetiva, . Isso significa que no ponto L, o público quer transferir parte da riqueza em ativos que rendem juros, como CDBs, para moeda. Isso tem duas implicações. Uma é que a quantidade de moeda demandada é maior do que a quantidade de moeda ofertada. A outra é a que a quantidade demandada de ativos financeiros não monetários que rendem juros é menor do que a quantidade ofertada. Portanto, aqueles que estão tentando vender ativos não monetários que rendem juros vão descobrir que precisam oferecer uma taxa de juros mais alta para atrair compradores. Em consequência, a taxa de juros será pressionada para cima a partir de rL até que a quantidade de moeda que o público deseja manter se torne igual à quantidade disponível, . Ou seja, a taxa de juros vai subir até que seja igual a rE. Agora, considere o que acontece se o mercado de moeda está no ponto H na Figura 153, onde a taxa de juros é rH acima de rE. Nesse caso, a quantidade de moeda demandada, MH, é inferior à quantidade de moeda ofertada, . Do mesmo modo, a quantidade demanda de ativos financeiros não monetários que rendem juros é maior que a quantidade ofertada. Aqueles que estão tentando vender ativos financeiros não monetários que rendem juros vão verificar que podem oferecer uma taxa de juros menor e ainda assim encontrar compradores. Isso leva a uma queda na taxa de juros partindo de rH. Cairá até que o público queira manter a quantidade de moeda que está realmente disponível, . Mais uma vez, a taxa de juro vai acabar sendo rE.

Dois modelos de taxas de juros? Você deve ter notado que essa é a segunda vez que se discute a determinação da taxa de juros. No Capítulo 10, estudamos o modelo de taxa de juros de fundos para empréstimos. De acordo com esse modelo, a taxa de juros é determinada pelo processo que iguala a oferta de fundos para empréstimo com a demanda de fundos pelos tomadores de empréstimo no mercado de crédito. Mas aqui descrevemos um modelo que aparentemente é diferente, no qual a taxa de juros é determinada pela equalização da oferta e da demanda de moeda no mercado monetário. Qual desses modelos está correto? A resposta é ambos. No apêndice deste capítulo, explicamos como esses modelos são compatíveis um com o outro. Por ora, vamos deixar de lado o modelo de fundos para empréstimo e nos concentrar no modelo da taxa de juros segundo a preferência pela liquidez. A percepção mais importante desse modelo é que nos mostra como a política monetária funciona – medidas tomadas pelo Fed e outros bancos centrais.

Política monetária e a taxa de juros Vamos examinar como o Fed pode usar variações na oferta monetária para mudar a taxa de juros. A Figura 15-4 mostra o que acontece quando o Fed aumenta a oferta de moeda de para . Originalmente a economia está em equilíbrio em E1, com uma taxa de juros r1 e oferta monetária

. Um aumento na oferta monetária pelo Fed para

desloca a curva da oferta monetária para a direita, de MS1 para MS2 e leva a uma queda na taxa de juros de equilíbrio para r2. Por quê? Porque r2 é a única taxa de juros à qual o público está disposto a manter a quantidade de moeda de fato ofertada,

.

FIGURA 15-4 O efeito de um aumento na oferta de moeda sobre a taxa de juros O Fed pode baixar a taxa de juros, aumentando a oferta de moeda. Aqui, a taxa de equilíbrio cai de r1 a r2, em resposta a um aumento na oferta de moeda de para . Para induzir as pessoas a manter uma quantidade maior de moeda, a taxa de juros tem que cair de r1 para r2.

Assim, um aumento na oferta de moeda leva a uma queda na taxa de juros. Da mesma forma, uma redução na oferta de moeda leva a um aumento na taxa de juros. Ao ajustar a oferta de moeda, para cima ou para baixo, o Fed pode definir a taxa de juros. Na prática, em cada uma das reuniões, o Comitê Federal de Mercado Aberto do Fed decide a taxa de juros que deve prevalecer nas próximas seis semanas, até a próxima reunião. O Fed define uma meta para a taxa de juros do mercado interbancário, o nível desejado da taxa de mercado interbancário. Essa meta é então implementada pela Mesa de Mercado Aberto do Federal Reserve Bank de Nova York, que ajusta o oferta de moeda por meio da compra e venda de Letras do Tesouro até que a taxa de juros efetiva do mercado interbancário seja igual à meta da taxa de juros. Os outros instrumentos de política monetária, empréstimos por meio do guichê de redesconto e alterações na exigência de reserva, não são usados em base regular (embora o Fed tenha usado empréstimos por meio do guichê de redesconto em seus esforços para combater a crise financeira de 2008). A Figura 15-5 ilustra como isso funciona. Em ambos os painéis, rT é a meta de taxa de juros do mercado interbancário. No painel (a), a curva de oferta de moeda inicial é MS1

com uma oferta de moeda M1 e a taxa de juros de equilíbrio, r1, está acima da meta da taxa de juros. Para baixar a taxa de juros de rT, o Fed faz uma compra de Letras do Tesouro no mercado aberto. Como vimos no Capítulo 14, uma compra de Letras do Tesouro no mercado aberto leva a um aumento na oferta de moeda por meio do multiplicador de moeda. Isso está ilustrado no painel (a) pelo deslocamento para a direita da curva de oferta de moeda de MS1 para MS2 e um aumento na oferta de moeda . Isso leva a taxa de juros de equilíbrio para baixo da meta, rT.

FIGURA 15-5 Determinação da taxa de juros do mercado interbancário O Fed estabelece uma meta para a taxa de juros do mercado interbancário e usa operações do mercado aberto para chegar a essa meta. Em ambos os painéis, a taxa que é a meta é rT. No painel (a) a taxa de juros de equilíbrio inicial, r1, está acima da meta. O Fed aumenta a oferta de moeda realizando uma compra de Letras do Tesouro no mercado aberto, deslocando a curva da oferta de moeda para a direita, de MS1 para MS2, e pressionando a taxa de juros para baixo até rT. No painel (b) a taxa de juros de equilíbrio inicial, r1, está abaixo da meta. O Fed reduz a oferta de moeda, fazendo uma operação de venda de Letras do Tesouro no mercado aberto, deslocando a curva da oferta de moeda para a esquerda, de MS1 para MS2, pressionando a taxa de juros para cima até rT.

Armadilhas Meta versus mercado Ao longo dos anos, o Fed tem mudado a forma de fazer política monetária. No final dos anos 1970 e início dos anos 1980, estabeleceu um nível de meta para a oferta de moeda e alterou a base monetária para alcançar esta meta. No âmbito desse procedimento operacional, a taxa de juros do mercado interbancário flutuou livremente. Hoje, o Fed usa procedimento inverso, estabelecendo uma meta para a taxa de juros do mercado interbancário e permitindo que a oferta de moeda flutue à medida que persegue a meta. Um erro comum é imaginar que essas mudanças na forma como o Fed opera alteram o modo de funcionamento do mercado monetário. Isto é, algumas vezes ouve-se dizer que a taxa de juros não mais reflete a oferta e demanda de moeda, porque o Fed fixa a taxa de juros.

Na verdade, o mercado de moeda funciona da mesma maneira de sempre: a taxa de juros é determinada pela oferta e demanda de moeda. A única diferença é que agora o Fed ajusta a oferta de moeda para atingir a meta de taxa de juros. É importante não confundir uma mudança no procedimento operacional do Fed com uma mudança na forma como a economia funciona. O painel (b) mostra o caso oposto. Mais uma vez, a curva inicial de oferta de moeda é MS1 com oferta de moeda . Mas dessa vez a taxa de juros de equilíbrio, r1, está abaixo da meta da taxa de juros do mercado interbancário, rT. Nesse caso, o Fed vai fazer uma venda de Letras do Tesouro no mercado aberto, levando a uma queda na oferta de moeda para por meio do multiplicador da moeda. A curva de oferta de moeda se desloca para a esquerda de MS1 para MS2, levando a taxa de juros de equilíbrio até a meta da taxa de juros do mercado interbancário, rT.

Taxas de juros de longo prazo No início deste capítulo, mencionamos que a taxa de juros de longo prazo – taxas sobre bônus ou empréstimos com maturidade de vários anos – não se move necessariamente em conjunto com a taxa de juros de curto prazo. Como isso é possível e o que isso informa sobre política monetária? Considere o caso de Millie, que já decidiu aplicar $10.000 em bônus do governo dos Estados Unidos para os próximos dois anos. No entanto, ainda não decidiu se coloca o dinheiro em bônus de um ano, a uma taxa de juros de 4%, ou em bônus de dois anos, a uma taxa de juros de 5%. Se comprar o título de um ano, então, em um ano, receberá os $10.000 que pagou pelo título (o principal), acrescido dos juros auferidos. Se comprar o título de dois anos, vai ter que esperar até o final do segundo ano para receber o principal e os juros. Você pode pensar que os bônus de dois anos certamente são um negócio melhor – mas podem não ser. Suponha que Millie espera que a taxa de juros sobre os bônus de um ano subam acentuadamente no próximo ano. Se, neste ano, colocar os fundos em bônus de um ano, poderá reinvestir o dinheiro a uma taxa muito maior no próximo ano. E isso pode lhe dar uma taxa de retorno de dois anos maior do que se tivesse colocado hoje em bônus de dois anos. Por exemplo, se a taxa de juros sobre os bônus de um ano sobe 4% este ano e 8% no próximo ano, colocar os fundos em bônus de um ano hoje e no outro bônus de um ano daqui a um ano vai fornecer uma taxa anual de retorno, ao longo dos próximos dois anos, de cerca de 6%, melhor do que a taxa de 5% em bônus de dois anos. As mesmas considerações se aplicam a todos os investidores que decidem entre bônus de curto e longo prazo. Se se espera que a taxa de juros de curto prazo suba, os investidores podem comprar bônus de curto prazo, mesmo que os bônus de longo prazo comprados hoje ofereçam uma taxa de juros mais alta hoje. Se se espera que as taxas de juros de curto prazo caiam, os investidores podem comprar bônus de longo prazo, mesmo que os bônus de curto prazo comprados hoje ofereçam uma taxa de juros mais

alta hoje. Como esse exemplo sugere, as taxas de juros de longo prazo refletem em grande parte a expectativa média do mercado sobre o que irá acontecer com as taxas de curto prazo no futuro. Quando as taxas de juros de longo prazo estão mais altas que as taxas de curto prazo, como estavam em 2010, o mercado está sinalizando que espera que as taxas de juros de curto prazo aumentem no futuro. No entanto, isso não é a história toda: o risco também é um fator. Voltemos ao exemplo de Millie, que estava decidindo se compraria bônus de um ano ou de dois anos. Suponha que há alguma chance de que irá precisar do dinheiro do investimento depois de apenas um ano – digamos, devido a uma emergência médica. Se ela comprar bônus de dois anos, terá que vender esses bônus para atender à despesa inesperada. Mas que preço conseguirá por esses bônus? Depende do que tenha acontecido com as taxas de juros no resto da economia. Como vimos no Capítulo 10, os preços dos bônus e das taxas de juros se movem em direções opostas: se os juros sobem, os preços dos bônus caem, e viceversa. Isso significa que Millie enfrentará risco extra ao comprar bônus de dois anos, em vez de um ano, porque se daqui a um ano os preços dos bônus caírem e ela tiver que vender os bônus, para levantar dinheiro, vai perder dinheiro com os bônus. Devido a esse fator de risco, as taxas de juros de longo prazo são, em média, mais altas que as taxas de curto prazo, a fim de compensar as compras de bônus de longo prazo pelo alto risco que trazem (embora essa relação seja inversa quando as taxas de curto prazo são anormalmente elevadas). Como veremos mais adiante neste capítulo, o fato de que as taxas de longo prazo não necessariamente movem-se em conjunto com as taxas de curto prazo, às vezes, é uma consideração importante para a política monetária.

Economia em ação O Fed inverte curso Começamos essa seção com o anúncio do Fed de 18 de março de 2008, que estava cortando a meta da taxa de juros. Essa ação específica fazia parte de uma história maior: a dramática mudança de rumo da política do Fed, que começou em setembro de 2007. A Figura 15-6 mostra duas taxas de juros a partir do início de 2004 até meados de 2011: a meta da taxa do mercado interbancário, decidida pelo Comitê Federal de Mercado Aberto, e a taxa efetiva, ou real, de mercado. Como se pode verificar, o Fed elevou a meta da taxa em uma série de etapas a partir do final de 2004 até meados de 2006. Fez isso para desviar a possibilidade de um superaquecimento da economia e aumento da inflação (mais sobre esse assunto, adiante, neste capítulo). Mas o Fed mudou drasticamente o rumo a partir de setembro de 2007, à medida que a queda nos preços da habitação desencadeou uma crise financeira crescente e, finalmente, uma recessão severa. E em dezembro de 2008, o Fed decidiu permitir que a taxa do mercado interbancário se movesse dentro de uma faixa meta entre 0% e 0,25%. De 2009 a meados

de 2011, a taxa de mercado interbancário do Fed foi mantida próxima a zero, em resposta a uma economia muito fraca e alta taxa de desemprego.

FIGURA 15-6 O Fed muda o rumo Fonte: Federal Reserve Bank de St. Louis.

A Figura 15-6 também mostra que o Fed nem sempre atinge a meta. Houve vários dias, especialmente em 2008, em que a taxa interbancária efetiva esteve significativamente acima ou abaixo da meta. Mas esses episódios não duraram muito e, em geral, o Fed conseguiu o que queria, pelo menos no que se refere às taxas de juros de curto prazo.

Breve revisão ■ De acordo com o modelo da taxa de juros segundo a preferência pela liquidez, a taxa de juros de equilíbrio é determinada pela curva da demanda de moeda e pela curva da oferta de moeda. ■ O Fed pode alterar a taxa de juros por meio de operações de mercado aberto que deslocam a curva da oferta de moeda. Na prática, o Fed define uma meta para a taxa de juros do mercado interbancário e usa as operações de mercado aberto para atingir essa meta. ■ A taxa de juros de longo prazo reflete as expectativas sobre o que vai acontecer com a taxa de juros de curto prazo no futuro. Devido ao risco, as taxas de juros de longo prazo tendem a ser mais altas que a taxa de juros de curto prazo.

Teste seu entendimento 15-2 1. Suponha que haja um aumento na demanda de moeda para qualquer taxa de juros. Usando um gráfico, mostre que efeito isso terá sobre a taxa de juros de equilíbrio para uma dada oferta de moeda. 2. Suponha agora que o Fed adote uma política de metas para a taxa de juros do mercado.

O que o Fed fará, em uma situação como a descrita na Questão 1, para manter sem alteração a taxa de juros do mercado interbancário? Ilustre com um gráfico. 3. Frannie deve decidir se compra um bônus de um ano hoje e outro daqui a um ano, ou se compra um bônus de dois anos hoje. Em qual das seguintes situações ela ficará em melhor condição se tomar a primeira decisão? E a segunda? a. Este ano, os juros sobre um bônus de um ano é de 4%; no próximo ano, será de 10%. A taxa de juros sobre um bônus de dois anos é de 5%. b. Esse ano, a taxa de juros sobre um bônus de um ano é de 4%, no próximo ano, será de 1%. A taxa de juros sobre um bônus de dois anos, é de 3%. As respostas estão no fim do livro.

Política monetária e demanda agregada No Capítulo 13, vimos como a política fiscal pode ser usada para estabilizar a economia. Agora veremos como a política monetária – variações na oferta monetária e na taxa de juros – pode desempenhar o mesmo papel.

Política monetária expansionista e contracionista No Capítulo 12 aprendemos que a política monetária desloca a curva da demanda agregada. Agora podemos explicar como isso funciona: pelo efeito da política monetária sobre a taxa de juros. A Figura 15-7 ilustra o processo. De início, suponha que o Fed quer reduzir as taxas de juros, de modo a ampliar a oferta de moeda. Como você pode ver na parte superior da figura, uma taxa de juros mais baixa, por sua vez, leva, tudo o mais mantido constante, a um gasto de investimento mais alto. Isso, por sua vez, leva a um aumento do gasto de consumo, por meio do processo do multiplicador, e a um aumento no produto agregado demandado. No final, a quantidade total de bens e serviços demandada a qualquer nível de preços agregado sobe quando a quantidade de moeda aumenta e a curva AD se desloca para a direita. A política monetária que aumenta a demanda por bens e serviços é conhecida como política monetária expansionista.

FIGURA 15-7 Política monetária expansionista e contracionista A parte superior mostra o que acontece quando o Fed adota uma política monetária expansionista e aumenta a oferta monetária. As taxas de juros caem, levando a um aumento do gasto de investimento, o que aumenta a renda, o que, por sua vez, aumenta o gasto de consumo e desloca a curva AD para a direita. A parte inferior mostra o que acontece quando o Fed adota uma política monetária contracionista e reduz a oferta monetária. As taxas de juros sobem, levando à redução do gasto de investimento e a uma redução na renda. Isso reduz os gastos de consumo e a curva AD se desloca para a esquerda.

Suponha, por outro lado, que o Fed queira aumentar a taxa de juros, de modo a contrair a oferta monetária. Pode-se ver esse processo ilustrado na porção inferior do gráfico. A contração da oferta monetária leva a uma taxa de juros mais alta. A taxa de juros mais alta leva a um gasto de investimento mais baixo e, então, a um gasto de

consumo mais baixo e, então, a uma queda no produto agregado demandado. Assim, a quantidade total de bens e serviços demandada cai quando a oferta monetária é reduzida e a curva AD se desloca para a esquerda. A política monetária que diminui a demanda por bens e serviços é chamada de política monetária contracionista.

Política monetária na prática Como o Fed decide se usa política monetária expansionista ou contracionista? E como decide o quanto é suficiente? No Capítulo 6 aprendemos que os formuladores de política econômica tentam combater recessões, bem como tentam garantir estabilidade de preços: inflação baixa (embora em geral não zero). A política monetária atual reflete uma combinação desses objetivos. Em geral, o Fed e outros bancos centrais tendem a se envolver em política monetária expansionista, quando o PIB real efetivo está abaixo do produto potencial. O painel (a) da Figura 15-8 mostra o hiato de produto dos Estados Unidos, que definimos no Capítulo 12 como a diferença percentual entre o PIB real efetivo e o produto potencial, versus a taxa de juros do mercado interbancário, desde 1985. (Lembre-se que o hiato de produto é positivo quando o PIB real efetivo excede o produto potencial.) Como se vê, o Fed tendeu a elevar a taxa de juros quando o hiato de produto estava subindo, ou seja, quando a economia estava desenvolvendo um hiato inflacionário – e reduziu a taxa de juros, quando o hiato de produto estava caindo.

FIGURA 15-8 Monitorando a política monetária usando o hiato de produto e a inflação O painel (a) mostra que a taxa de juros do mercado interbancário geralmente sobe quando o hiato de produto é positivo, isto é, quando o PIB real efetivo está acima do produto potencial, e cai quando o hiato de produto é negativo. O painel (b) ilustra que a taxa de juros interbancária tende a ser alta quando a inflação é alta e baixa quando a inflação é baixa. Fontes: Bureau of Labor Statistics; Congressional Budget Office e Federal Reserve Bank de St. Louis.

A grande exceção foi no final dos anos 1990, quando o Fed deixou as taxas estáveis por vários anos, mesmo quando a economia desenvolveu um hiato de produto positivo (que foi junto com uma taxa de desemprego baixa). Uma das razões pela qual o Fed estava disposto a manter as taxas de juros baixas no final de 1990 era que a inflação estava baixa.

O painel (b) da Figura 15-8 compara a taxa de inflação, medida como taxa de variação dos preços ao consumidor, excluindo alimentos e energia, com a taxa de juros do mercado interbancário. Pode se ver como a inflação baixa durante meados dos anos 1990 e início e final dos anos 2000 ajudou a incentivar uma política monetária pouco rigorosa no final de 1990, entre 2002 e 2003 e novamente a partir de 2008.

Método da regra de Taylor de definição da política monetária Em 1993, o economista de Stanford, John Taylor, sugeriu que a política monetária deve seguir uma regra simples que leva em conta as preocupações tanto do ciclo econômico quanto da inflação. Também sugeriu que a política monetária atual, muitas vezes, parece, como se o Fed estivesse, de fato, mais ou menos seguindo a regra proposta. A regra de Taylor para política monetária é uma regra para a fixação das taxas de juros que levam em conta a taxa de inflação e o hiato de produto, ou, em alguns casos, a taxa de desemprego. Um exemplo muito citado da regra de Taylor é uma relação entre a política do Fed, inflação e desemprego estimado pelos economistas do Fed de San Francisco. Esses economistas descobriram que, entre 1988 e 2008, o comportamento do Fed podia ser resumido pela seguinte regra de Taylor:

onde a taxa de inflação foi medida pela variação sobre o ano anterior nos preços ao consumidor excluindo alimentos e energia, e o hiato de desemprego foi a diferença entre a taxa de desemprego efetiva e a estimativa do Congressional Budget Office (Gabinete de Orçamento do Congresso) da taxa natural de desemprego. A Figura 15-9 compara a taxa de juros do mercado interbancário prevista pela regra com a taxa de juros do mercado interbancário de 1985 ao início de 2011. Como se pode ver, as decisões do Fed foram bastante próximas das previstas por essa regra de Taylor, em particular a partir de 1988 até o final de 2008. Mais adiante falaremos sobre o que aconteceu depois de 2008.

FIGURA 15-9 A regra de Taylor e a taxa de juros do mercado interbancário A linha preta mostra a taxa de juros do mercado interbancário prevista pela versão da regra de Taylor do Fed de San Francisco, que relaciona a taxa de juros com a taxa de inflação e a taxa de desemprego. A linha verde mostra a taxa de juros do mercado interbancário efetivo. A taxa real andou bem perto da taxa prevista até o final de 2008. Depois disso, no entanto, a regra de Taylor pedia taxas de juros negativas, que não são possíveis. Fontes: Bureau of Labor Statistics; Congressional Budget Office; Federal Reserve Bank de St. Louis e Glenn D. Rudebusch, “The Fed’s Monetary Policy Response to the Current Crisis”, FRBSF Economic Letter #2009-17 (22 de maio de 2009).

Meta de inflação Até janeiro de 2012, o Fed não se comprometeu explicitamente em atingir uma taxa de inflação particular. No entanto, em janeiro de 2012, Bernanke anunciou que o Fed definiria sua política para manter uma taxa de inflação de cerca de 2% ao ano. Com essa declaração, o Fed se juntou a um número de outros bancos centrais, que têm metas explícitas de inflação. Então, em vez de usar a regra de Taylor para definir a política monetária, anunciaram a taxa de inflação que desejavam atingir – a meta de inflação – e estabeleceram a política numa tentativa de atingir essa meta. Esse método de definição da política monetária, chamado de meta de inflação, envolve o anúncio do banco central sobre a taxa de inflação que está tentando alcançar e o uso dessa política em uma tentativa de atingir seu objetivo. O banco central da Nova Zelândia, que foi o primeiro país a adotar meta de inflação, especificou um intervalo para a meta de 1% a 3%. Outros bancos centrais se comprometem a atingir um número específico. Por exemplo, o Banco da Inglaterra se comprometeu a manter a inflação em 2%. Na prática, não parece haver muita diferença entre essas versões: os bancos centrais, com um intervalo de meta de inflação, parecem apontar para o meio desse intervalo, e os bancos centrais com uma meta fixa tendem a dar a si próprio espaço de manobra considerável. Uma diferença importante entre a meta de inflação e o método da regra de Taylor é que as metas de inflação são voltadas para o futuro, e não para o passado. Ou seja, o método

da regra de Taylor ajusta a política monetária em resposta à inflação passada, mas as metas de inflação se baseiam na previsão da inflação futura.

Comparação global Metas de inflação Essa figura mostra as metas das taxas de inflação de seis bancos centrais que adotaram a meta de inflação. O banco central da Nova Zelândia introduziu a meta de inflação em 1990. Hoje em dia tem uma meta de inflação que se situa entre 1% e 3%. Os bancos centrais do Canadá e da Suécia têm a mesma meta, mas também especificam 2% como meta precisa. Os bancos centrais da Grã-Bretanha e da Noruega têm metas específicas de inflação, 2% e 2,5%, respectivamente. Ninguém expõe quanto estão dispostos a desviar da meta. Desde 2012, o Fed dos Estados Unidos também coloca 2% como meta de inflação. Na prática, essas diferenças de pormenores não parecem levar a nenhuma diferença significativa nos resultados. A Nova Zelândia aponta para o meio do seu intervalo, uma inflação de 2%, a Grã-Bretanha, Noruega e Estados Unidos deixam espaço de manobra considerável em torno de suas metas de taxas de inflação.

Os defensores das metas de inflação argumentam que elas apresentam duas vantagens sobre a regra de Taylor: transparência e prestação de contas. Primeiro, a incerteza econômica se reduz porque o plano do banco central é transparente: o público conhece o objetivo de um banco central com meta de inflação. Segundo, o sucesso do banco central pode ser julgado por verificação de quanto a taxa de inflação efetiva acompanhou a meta, tornando os banqueiros centrais responsáveis.

Os críticos de metas de inflação argumentam que são muito restritivas, porque há momentos em que outras preocupações – como a estabilidade do sistema financeiro – deveriam ser mais prioritárias do que atingir qualquer taxa de inflação em particular. De fato, no final de 2007 e início de 2008, o Fed cortou as taxas de juros muito mais do que teria ditado uma regra de Taylor ou um sistema de metas de inflação, pois temia que a turbulência do mercado financeiro levasse a uma grande recessão. (Na verdade, isso aconteceu.) Muitos macroeconomistas americanos fizeram afirmações positivas sobre a política de meta de inflação, incluindo Ben Bernanke, o atual presidente do Fed. E, em janeiro de 2012, o Fed declarou que o que ele quer dizer com “estabilidade de preços” é a busca de 2% de inflação, apesar de não haver comprometimento explícito sobre quando essa taxa de inflação seria alcançada.

O problema do limite inferior zero Como mostra a Figura 15-9, a regra de Taylor com base na inflação e na taxa de desemprego fez um bom trabalho de previsão da política do Fed de 1988 a 2008. Depois disso, no entanto, as coisas não deram certo por uma razão simples: com elevado desemprego e baixa inflação, a mesma regra de Taylor designou uma taxa de juros menor que zero, o que não é possível. Por que uma taxa de juros negativa não é possível? Porque as pessoas sempre têm a alternativa de manter moeda, que oferece uma taxa de juros zero. Ninguém jamais iria comprar um bônus que rendesse uma taxa de juros menor que zero, porque manter moeda seria uma alternativa melhor. O fato de que a taxa de juros não pode ser abaixo de zero – denominado limite inferior a zero das taxas de juros – fixa limites para o poder da política monetária. Em 2009 e 2010, a inflação foi baixa e a economia estava operando muito abaixo de seu potencial, de modo que o Fed queria aumentar a demanda agregada. No entanto, a maneira normal de fazer isso – compras no mercado aberto da dívida pública de curto prazo para ampliar a oferta de moeda – não tinha espaço para operar porque as taxas de juros de curto prazo já estavam em ou perto de zero. Em novembro de 2010, o Fed começou uma tentativa de contornar esse problema, que atendia pelo nome um tanto obscuro de “flexibilização quantitativa”. Em vez de comprar apenas dívida pública de curto prazo, começou a comprar dívida pública de longo prazo – bônus de cinco ou seis anos, em vez de Letras do Tesouro de três meses. Como já indicado, a taxa de juros de longo prazo não segue exatamente a taxa de curto prazo. Na época em que o Fed começou esse programa, as taxas de curto prazo estavam próximas a zero, mas as taxas de bônus de longo prazo situavam-se entre 2% e 3%. O Fed esperava que a compra direta desses bônus de longo prazo reduzisse as taxas de juros sobre a dívida de longo prazo, exercendo um efeito expansionista sobre a economia. Essa política pode ter dado algum impulso à economia em 2011, mas a partir do início de 2012 a recuperação ficou dolorosamente lenta.

Economia em ação O Fed consegue o que quer Qual é a evidência de que o Fed pode realmente causar uma contração ou expansão econômica? Talvez você pense que encontrar essa evidência seja apenas uma questão de olhar para o que acontece com a economia quando as taxas de juros sobem ou descem. Mas há um grande problema com essa abordagem: o Fed normalmente muda a taxa de juros na tentativa de domar o ciclo econômico, aumentando a taxa de juros quando a economia está em expansão e reduzindo a taxa de juros quando a economia está desacelerando. Assim, nos dados reais, muitas vezes parece que taxas de juros baixas andam em conjunto com uma economia fraca e taxas de juros altas andam em conjunto com uma economia forte. Em um famoso artigo de 1994 intitulado “Monetary Policy Matters” (Política monetária importa), os macroeconomistas Christina Romer e David Romer solucionaram esse problema, concentrando-se em episódios em que a política monetária não era uma reação ao ciclo econômico. Mais especificamente, tomaram as atas do FOMC, Comitê de Mercado Aberto do Fed, e outras fontes para identificar episódios “em que o Fed de fato tentou criar uma recessão para reduzir a inflação”. Como veremos no Capítulo 16, em vez de apenas usar a política monetária como ferramenta de estabilização macroeconômica, algumas vezes ela é usada para eliminar a inflação embutida – inflação que as pessoas acreditam que irá persistir no futuro. Nesse caso, o Fed precisa criar um hiato de recessão, e não apenas eliminar um hiato inflacionário – pressionando a inflação embutida para fora da economia. A Figura 15-10 mostra a taxa de desemprego entre 1952 e 1984 (linha mais clara) e também identifica cinco datas em que, de acordo com Romer e Romer, o Fed decidiu que queria uma recessão (linhas pretas verticais). Em quatro dos cinco casos, a decisão de contrair a economia foi seguida, depois de breve defasagem, de um aumento na taxa de desemprego. Em média, Romer e Romer verificaram que a taxa de desemprego aumenta 2 pontos percentuais depois que o Fed decide que a taxa de desemprego deve aumentar.

FIGURA 15-10 Quando o Fed quer uma recessão Fontes: Bureau of Labor Statistics e Christina D. Romer e David H. Romer, “Monetary Policies Matters”, Journal of Monetary Economics 34 (Agosto de 1994): 75-88.

Ou seja, o Fed consegue o que quer.

Breve revisão ■ O Fed pode usar política monetária expansionista para aumentar a demanda agregada e política monetária contracionista para reduzir a demanda agregada. O Fed e outros bancos centrais, geralmente, tentam domar o ciclo econômico, enquanto mantêm a taxa de inflação baixa, mas positiva. ■ A regra de Taylor para a política monetária enuncia que a meta da taxa de juros do mercado interbancário aumenta quando há inflação alta e um hiato de produto positivo ou taxa de desemprego muito baixa e cai quando há inflação baixa ou negativa e um hiato de produto negativo ou taxa de desemprego alta. ■ Em contrapartida, alguns bancos centrais definem a política monetária por meio de metas de inflação, uma regra de política monetária que olha para diante, em vez de usar a regra de Taylor, que é uma regra de política monetária que olha para trás. Apesar de a política das metas de inflação ter a vantagem da transparência e obrigatoriedade de prestação de contas, alguns a consideram muito restritiva. Até 2008, o Fed seguiu uma regra de Taylor vagamente definida. Começando no início de 2012, começou atribuindo uma meta de inflação de 2% ao ano. ■ Há um limite inferior zero para a taxa de juros – não podem cair abaixo de zero – o que limita o poder da política monetária. ■ Como está sujeita a menos defasagens que a política fiscal, a política monetária é o principal instrumento para a estabilização macroeconômica.

Teste seu entendimento 15-3 1. Suponha que a economia esteja atualmente sofrendo um hiato de produto e o Fed use

política monetária expansionista para fechar esse hiato. Descreva o efeito de curto prazo dessa política sobre o seguinte. a. A curva de oferta de moeda. b. A taxa de juros de equilíbrio. c. O gasto de investimento. d. O gasto de consumo. e. O produto agregado. 2. Na definição da política monetária, que o Banco Central – o que opera de acordo com a regra de Taylor ou o que opera por metas de inflação – é mais suscetível de responder diretamente a uma crise financeira? Explique. As respostas estão no fim do livro.

Moeda, produto e preços no longo prazo Devido a seu efeito expansionista e contracionista, a política monetária é geralmente o instrumento político preferido para ajudar a estabilizar a economia. No entanto, nem todas as ações do banco central são produtivas. Em especial, como veremos no próximo capítulo, os bancos centrais algumas vezes imprimem moeda não para combater um hiato de recessão, mas para ajudar o governo a pagar suas contas, uma ação que normalmente desestabiliza a economia. O que acontece quando uma mudança na oferta de moeda afasta a economia do equilíbrio de longo prazo em vez de aproximá-la? Aprendemos, no Capítulo 12, que a economia se corrige automaticamente no longo prazo: um choque de demanda tem efeito apenas temporário sobre o produto agregado. Se o choque de demanda é o resultado de uma mudança na oferta de moeda, podemos fazer uma afirmação ainda mais forte: no longo prazo, mudanças na quantidade de moeda afetam o nível de preços agregado, mas não mudam o produto agregado real ou a taxa de juros. Para ver por que, analisemos o que acontece se o Banco Central aumentar permanentemente a oferta de moeda.

Efeitos de curto e longo prazo de um aumento na oferta monetária Para analisar os efeitos de longo prazo da política monetária, é útil imaginar o Banco Central escolhendo uma meta para a oferta de moeda e não para a taxa de juros. Ao avaliar os efeitos de um aumento na oferta de moeda, voltamos à análise dos efeitos de longo prazo de um aumento na demanda agregada que foi introduzida no Capítulo 12. A Figura 15-11 mostra os efeitos de curto prazo e de longo prazo de um aumento na oferta de moeda, quando a economia começa no produto potencial, Y1. A curva da oferta agregada de curto prazo inicial é SRAS1, a curva da oferta agregada de longo prazo é LRAS e a curva da demanda agregada inicial é AD1. O equilíbrio inicial da economia está em E1, um ponto que é tanto de equilíbrio macroeconômico de curto prazo como de longo prazo, pois está sobre a curva de oferta agregada de curto e longo prazo. O PIB real está no produto potencial, Y1.

FIGURA 15-11 Os efeitos de curto prazo e de longo prazo de um aumento na oferta de moeda Quando a economia já está no produto potencial, um aumento na oferta de moeda gera um efeito de curto prazo positivo, mas nenhum efeito de longo prazo, sobre o PIB real. Aqui, a economia começa em E1, um ponto de equilíbrio macroeconômico de curto prazo e de longo prazo. Um aumento na oferta de moeda desloca a curva AD para a direita e a economia se move para um novo equilíbrio macroeconômico de curto prazo em E2 e um novo PIB real Y2. Mas E2 não é um equilíbrio de longo prazo: Y2 excede o produto potencial, Y1, levando a um aumento nos salários nominais ao longo do tempo. No longo prazo, o aumento nos salários nominais desloca a curva da oferta agregada de curto prazo para a esquerda, para uma nova posição em SRAS2. A economia chega a um novo equilíbrio macroeconômico de curto prazo e de longo prazo em E3 sobre a curva LRAS e o produto cai de volta ao produto potencial, Y1. Quando a economia já está no produto potencial, o único efeito de longo prazo de um aumento na oferta de moeda é um aumento no nível de preços agregado de P1 para P3.

Agora, suponha que haja um aumento na oferta de moeda. Tudo o mais mantido constante, um aumento na oferta de moeda reduz a taxa de juros, o que aumenta os gastos de investimento, o que leva a um novo aumento nos gastos de consumo, e assim por diante. Assim, um aumento na oferta de moeda aumenta a quantidade de bens e serviços demandados, deslocando a curva AD para a direita, para AD2. No curto prazo, a economia se movimenta para um novo equilíbrio macroeconômico de curto prazo em E2. O nível de preços sobe de P1 para P2 e o PIB real aumenta de Y1 para Y2. Ou seja, tanto o nível de preços agregado como o produto agregado aumenta no curto prazo. Mas o produto agregado, Y2, está acima do produto potencial. Como resultado, os salários nominais aumentarão ao longo do tempo, fazendo a curva de oferta agregada de curto prazo se deslocar para a esquerda. Esse processo somente se detém quando a curva SRAS chega em SRAS2 e a economia termina no ponto E3, um ponto de equilíbrio macroeconômico tanto de curto prazo como de longo prazo. O efeito de longo prazo de

um aumento na oferta monetária, então, é que o nível de preços agregado aumentou de P1 para P3, mas o produto agregado está de volta ao produto potencial, Y1. No longo prazo, uma expansão monetária eleva o nível de preços agregado, mas não tem efeito sobre o PIB real. Não vamos descrever os efeitos de uma contração monetária em detalhes, mas a mesma lógica se aplica. No curto prazo, uma queda na oferta de moeda leva a uma queda no produto agregado, à medida que a economia se move para baixo na curva de oferta agregada de curto prazo. No longo prazo, entretanto, a contração monetária reduz apenas o nível de preços agregado e o PIB real retorna ao produto potencial.

Neutralidade monetária Quanto uma mudança na oferta de moeda altera o nível de preços agregado no longo prazo? A resposta é que uma mudança na oferta de moeda leva a uma variação proporcional igual ao nível de preço global no longo prazo. Por exemplo, se a oferta de moeda cai 25%, o nível de preços agregado cai 25% no longo prazo; se a oferta de moeda aumenta 50%, o nível de preços agregado sobe 50% no longo prazo. Como sabemos isso? Imagine o seguinte: suponha que todos os preços da economia – preços dos bens e serviços finais e também os preços dos fatores, como o salário nominal – dobrem. E suponha que a oferta de moeda dobre ao mesmo tempo. Que diferença isso tem para a economia em termos reais? A resposta é: nenhuma. Todas as variáveis reais da economia – como o PIB real e o valor real da oferta monetária (a quantidade de bens e serviços que pode comprar) – mantêm-se inalteradas. Portanto, não há razão para que alguém se comporte de forma diferente. Podemos expressar esse argumento em sentido inverso: se a economia começa em equilíbrio macroeconômico de longo prazo e a oferta de moeda nominal muda, o restabelecimento do equilíbrio macroeconômico de longo prazo exige a restauração de todos os valores reais de seus valores originais. Isso inclui a restauração de todos os valores reais da oferta de moeda aos seus valores originais. Assim, se a oferta de moeda cai 25%, o nível de preços agregado deve cair 25%. Se a oferta de moeda aumenta 50%, o nível de preço deve subir 50%, e assim por diante. Essa análise demonstra o conceito conhecido como neutralidade monetária, de que mudanças na oferta monetária não têm efeito real sobre a economia. No longo prazo, o único efeito de um aumento na oferta de moeda é aumentar o nível de preços agregado em igual porcentagem. Os economistas argumentam que a moeda é neutra no longo prazo. Esse é um bom momento para recordar o dito de John Maynard Keynes: “No longo prazo estaremos mortos.” No longo prazo, as mudanças na oferta de moeda não têm qualquer efeito sobre o PIB real, taxa de juros, ou qualquer outra coisa, exceto o nível de preços. Mas seria insensato concluir que o banco central é irrelevante. A política monetária tem efeitos reais poderosos sobre a economia no curto prazo, muitas vezes fazendo a diferença entre recessão e expansão. E isso é o que importa para o bem-estar social.

Mudanças na oferta de moeda e a taxa de juros no longo prazo No curto prazo, um aumento na oferta de moeda leva a uma queda na taxa de juros e uma redução na oferta de moeda leva a um aumento na taxa de juros. No longo prazo, no entanto, variações na oferta de moeda não afetam a taxa de juros. A Figura 15-12 mostra por quê. Mostra a curva da oferta de moeda e a curva da demanda de moeda, antes e após o Fed aumentar a oferta de moeda. Suponhamos que a economia esteja inicialmente em E1, em equilíbrio macroeconômico de longo prazo no produto potencial e com oferta de moeda . A taxa de juros de equilíbrio inicial, determinada pela interseção da curva de demanda de moeda MD1 e da curva de oferta de moeda MS1, é r1.

FIGURA 15-12 Determinação da taxa de juros de longo prazo No curto prazo, um aumento na oferta de moeda de para pressiona a taxa de juros para baixo de r1 pra r2 e a economia se move para E2, um equilíbrio de curto prazo. Contudo, no longo prazo, o nível de preços agregado aumenta em proporção ao aumento da oferta de moeda, levando a um aumento na demanda de moeda, a qualquer taxa de juros dada na proporção do aumento do nível de preços agregado, como mostrado pelo deslocamento de MD1 para MD2. O resultado é que a quantidade de moeda demandada a qualquer taxa de juros dada sobe na mesma proporção que a quantidade de moeda ofertada. A economia se move para o equilíbrio de longo prazo em E3 e a taxa de juros volta para r1.

Agora, suponha que a oferta de moeda aumente de para . No curto prazo, a economia se move de E1 para E2 e a taxa de juros cai de r1 para r2. Com o tempo, no

entanto, o nível de preços agregado aumenta, e isso aumenta a demanda de moeda, deslocando a curva da demanda de moeda para a direita de MD1 para MD2. A economia se move para um novo equilíbrio de longo prazo em E3 e a taxa de juros aumenta para seu nível original em r1. E, no final, a taxa de juros de equilíbrio de longo prazo é a taxa de juros original, r1. Sabemos isso por duas razões. Primeiro, devido à neutralidade monetária, o nível de preços agregado aumenta na mesma proporção que a oferta de moeda no longo prazo. Assim, se a oferta de moeda aumenta, digamos, em 50%, o nível de preços também aumenta 50%. Segundo, a demanda de moeda, tudo o mais mantido constante, é proporcional ao nível de preços agregado. Assim, um aumento de 50% na oferta de moeda aumenta o nível de preços agregado em 50%, o que aumenta a quantidade de moeda demandada a qualquer taxa de juros dada em 50%. Como resultado, a quantidade de moeda demandada à taxa de juros inicial, r1, sobe exatamente tanto quanto a oferta de moeda – de modo que r1 ainda é a taxa de juros de equilíbrio. No longo prazo, então, variações na oferta de moeda não afetam a taxa de juros.

Economia em ação Evidência internacional de neutralidade monetária Hoje em dia, a política monetária dos países ricos é bastante semelhante. Cada uma das principais nações (ou, no caso do euro, a Zona do Euro) tem um Banco Central protegido da pressão política. Todos esses bancos centrais tentam manter o nível de preços agregado praticamente estável, o que geralmente significa inflação de no máximo 2% a 3% ao ano. Mas se analisarmos um período mais longo e um grupo maior de países, veremos grandes diferenças no crescimento da oferta de moeda. Entre 1970 e o presente, a oferta de moeda aumentou apenas uma pequena porcentagem por ano em alguns países como a Suíça e os Estados Unidos, mas aumentou muito mais rapidamente em alguns países mais pobres, como a África do Sul. Essas diferenças nos permitem verificar se é realmente verdade que aumentos na oferta de moeda levam, no longo prazo, a aumentos percentuais iguais no nível de preços agregado. A Figura 15-13 mostra os aumentos percentuais anuais na oferta de moeda e no nível de preços agregado – ou seja, a taxa média de inflação – para uma amostra de países no período entre 1970 e 2010, sendo que cada ponto representa um país. Se a relação entre aumento da oferta de moeda e mudança no nível de preços agregado fosse perfeita, os pontos estariam precisamente sobre a linha de 45 graus. Na verdade, a relação não é exata, pois há outros fatores além da moeda que afetam o nível de preços agregado. Mas o diagrama de dispersão mostra que os pontos estão bem próximos da linha de 45 graus, mostrando uma relação mais ou menos proporcional entre moeda e nível de preços agregado. Isto é, os dados apoiam o conceito de neutralidade monetária no longo prazo.

FIGURA 15-13 Relacionamento de longo prazo entre moeda e inflação Fonte: OCDE.

Breve revisão ■ De acordo com o conceito de neutralidade monetária, mudanças na oferta de moeda não afetam o PIB real, apenas o nível de preços agregado. Os economistas acreditam que a moeda é neutra no longo prazo. ■ No longo prazo, a taxa de juros de equilíbrio da economia não é afetada por variações na oferta de moeda.

Teste seu entendimento 15-4 1. Suponha que o Banco Central aumente a quantidade de moeda em 25%, embora a economia esteja inicialmente em equilíbrio macroeconômico de curto prazo e de longo prazo. Descreva os efeitos no curto prazo e longo prazo do seguinte (fornecendo números sempre que possível): a. Produto agregado. b. Nível de preços agregado. c. Taxa de juros. 2. Por que a política monetária afeta a economia no curto prazo, mas não no longo prazo? As respostas estão no fim do livro.

Caso empresarial PIMCO aposta em dinheiro barato A Pacific Investment Management Company, geralmente conhecida como PIMCO, é uma das maiores empresas de investimento do mundo. Entre outras coisas, opera o PIMCO Total Return, o maior fundo mútuo do mundo. Bill Gross, que lidera a PIMCO, é lendário por sua habilidade de prever as tendências nos mercados financeiros, especialmente

mercados de títulos, onde a PIMCO faz muitos de seus investimentos. No outono de 2009, Gross decidiu colocar mais dos ativos da Pimco em Letras do governo dos Estados Unidos de longo prazo. Isso correspondeu a uma aposta que as taxas de juros de longo prazo iriam cair. Essa aposta era especialmente interessante porque era o oposto da aposta que muitos outros investidores estavam fazendo. Por exemplo, em novembro de 2009 o banco de investimentos Morgan Stanley disse aos clientes para esperar um aumento acentuado das taxas de juros de longo prazo. O que estava por trás da aposta da PIMCO? Gross explicou o pensamento da empresa em um comentário em setembro de 2009. Sugeriu que o desemprego era provável que ficasse alto e a inflação baixa. “As taxas de política global”, afirmou – que significava a taxa de juros do mercado interbancário e seus equivalentes na Europa e em outros lugares – “permanecerão baixas por longos períodos de tempo”. A visão da PIMCO estava em nítido contraste com a de outros investidores: Morgan Stanley esperava que as taxas de longo prazo subissem em parte porque esperava que o Fed elevasse a taxa de juros do mercado interbancário em 2010. Quem estava certo? A PIMCO, principalmente. Como a Figura 15-14 ilustra, a taxa de juros do mercado interbancário ficou próximo de zero, e as taxas de juros de longo prazo caíram durante boa parte de 2010, embora tenham subido muito pouco no final do ano à medida que os investidores se tornaram um pouco mais otimistas sobre a recuperação econômica. Morgan Stanley, que tinha apostado no aumento das taxas, realmente se desculpou com os investidores pelo erro.

FIGURA 15-14 Taxa de juros do mercado interbancário e taxa de juros de longo prazo, 20092011 Fonte: Federal Reserve Bank de St. Louis.

Contudo, a previsão de Bill Gross foi muito menos precisa em 2011. Antecipando uma economia significativamente mais forte dos Estados Unidos em meados de 2011, que resultaria em inflação, Gross apostou pesadamente contra títulos do governo americano no início daquele ano. Mas, desta vez, estava errado, pois o fraco crescimento continuou.

No final do verão de 2011, Gross percebeu seu erro quando os títulos dos Estados Unidos subiram em valor e o valor dos seus fundos afundou. Ele admitiu para o Wall Street Journal que tinha “perdido o sono” com sua aposta, e a chamou de “erro”.

Questões para pensar 1. Por que a visão da PIMCO, de que o desemprego iria ficar alto e a inflação baixa, levou a uma previsão de que as taxas de juros de referência permaneceriam baixas por um longo período? 2. Por que taxas de referência baixas sugerem taxas de juros de longo prazo baixas? 3. O que pode ter feito as taxas de juros de longo prazo subirem no final de 2010, apesar de a taxa de juros do mercado interbancário ainda ser zero?

Resumo 1. A curva da demanda de moeda surge de um trade-off entre o custo de oportunidade de manter moeda e a liquidez que a moeda oferece. O custo de oportunidade de manter moeda depende da taxa de juros de curto prazo e não da taxa de juros de longo prazo. Mudanças no nível de preços agregado, no PIB real, na tecnologia e nas instituições deslocam a curva da demanda de moeda. 2. De acordo com o modelo da taxa de juros segundo a preferência pela liquidez, a taxa de juros é determinada no mercado monetário pela curva da demanda de moeda e pela curva da oferta de moeda. O banco central pode mudar a taxa de juros no curto prazo, deslocando a curva da oferta de moeda. Na prática, o Fed usa operações de mercado aberto para alcançar uma meta de taxa de juros do mercado interbancário, taxas que em geral são acompanhas pelas outras taxas de juros. Embora as taxas de juros de longo prazo necessariamente não se movimentem em conjunto com as taxas de juros de curto prazo, refletem expectativas sobre o que vai acontecer com as taxas de curto prazo no futuro. 3. A política monetária expansionista reduz a taxa de juros, aumentando a oferta de moeda. Isso aumenta os gastos de investimento e de consumo, que por sua vez aumenta a demanda agregada e o PIB real no curto prazo. A política monetária contracionista aumenta a taxa de juros, reduzindo a oferta de moeda. Isso reduz os gastos de investimento e os gastos de consumo, que por sua vez reduz a demanda agregada e o PIB real no curto prazo. 4. O Fed e outros bancos centrais tentam estabilizar a economia, limitando as flutuações do produto efetivo em torno do produto potencial, ao mesmo tempo mantendo a inflação positiva, mas baixa. De acordo com uma regra de Taylor para a política monetária, a meta da taxa de juros do mercado interbancário aumenta quando há inflação alta ou um hiato de produto positivo ou taxa de desemprego muito baixa. Cai quando há inflação baixa ou negativa e um hiato do produto negativo ou alta taxa de desemprego. Alguns bancos centrais (incluindo o Fed a partir de janeiro de 2012) se envolveram em meta de inflação, que é uma regra de política voltada para o futuro,

enquanto que o método da regra de Taylor é uma regra de política voltada para o passado. Como a política monetária está sujeita a defasagens de implementação menores do que as da política fiscal, é o instrumento de política econômica preferencial para estabilizar a economia. Como as taxas de juros não podem cair abaixo de zero – o limite inferior zero das taxas de juros –, o poder da política monetária é limitado. 5. No longo prazo, variações na oferta monetária afetam o nível de preços agregado, mas não o PIB real ou a taxa de juros. Os dados mostram que o conceito de neutralidade monetária se mantém: variações na oferta monetária não têm efeito real sobre a economia no longo prazo.

Palavras-chave Taxa de juros de curto prazo, p. 389 Taxa de juros de longo prazo, p. 389 Curva da demanda de moeda, p. 392 Modelo da taxa de juros segunda a preferência pela liquidez, p. 393 Curva da oferta de moeda, p. 393 Meta da taxa de juros do mercado interbancário, p. 394 Política monetária expansionista, p. 398 Política monetária contracionista, p. 398 Regra de Taylor para a política monetária, p. 399 Metas de inflação, p. 400 Limite inferior zero das taxas de juros, p. 401 Neutralidade monetária, p. 404

Problemas 1. Acesse a página do FOMC do site do Federal Reserve Board (http://www.federalreserve.gov/FOMC/) para encontrar o comunicado divulgado após a reunião mais recente do FOMC. (Clique em “Meeting calendars and Information” e depois clique no comunicado mais recente listado no calendário.) a. Qual é a meta da taxa de juros do mercado interbancário? b. A meta da taxa de juros do mercado interbancário difere da meta da taxa de juros do mercado interbancário do comunicado anterior do FOMC? Se sim, de quanto difere? c. O comunicado faz comentários sobre as condições macroeconômicas atuais dos Estados Unidos? Como descreve a economia dos Estados Unidos? 2. Como os eventos seguintes irão afetar a demanda de moeda? Em cada caso, especifique se há um deslocamento da curva da demanda ou um movimento ao longo da curva da demanda e sua direção. a. Há uma queda na taxa de juros de 12% para 10%. b. Chega o dia de Ação de Graças e, com ele, o início da temporada de compras natalinas.

c. O McDonald e outros restaurantes de fast-food começam a aceitar cartões de crédito. d. O Fed se envolve em uma compra no mercado aberto de Letras do Tesouro dos Estados Unidos. 3. a. Acesse www.treasurydirect.gov. Em “Individuals”, acesse “Lears about Treasury Bills, Notes, Bonds, and TIPS”. Clique em “Treasure Bills”. Em “at a glance” clique em “rates in recente auctions”. Qual é a taxa de investimento para as Letras do Tesouro de 26 semanas emitidas mais recentemente? b. Acesse o site do seu banco favorito. Qual é a taxa de juros para CDBs de seis meses? c. Por que as taxas dos CDBs de seis meses são mais elevadas do que as Letras do Tesouro de 26 semanas? 4. Acesse: www.treasurydirect.gov. “Learn about Treasury Bills, Notes, Bonds, and TIPS”. Clique em “Treasury notes”. Em “at a glance”, clique em “rates in recent auctions”. Use o resultado da lista de Recent Note, Bond, and TIPS Auction Results para responder às questões seguintes. a. Quais são as taxas de juros sobre as notas de 2 anos e de 10 anos? b. Como as taxas de juros sobre as notas de 2 anos e de 10 anos se relacionam entre si? Por que a taxa de juros sobre a nota de 10 anos é maior (ou menor) do que a taxa de juros sobre a nota de 2 anos? 5. Uma economia se defronta com um hiato de recessão mostrado no gráfico a seguir. Para eliminar o hiato, o Banco Central deveria usar política monetária expansionista ou contracionista? Como irá variar a taxa de juros, o gasto de investimento, o gasto de consumo, o PIB real e o nível de preços agregado, à medida que a política monetária fecha o hiato de recessão?

6. Uma economia se defronta com um hiato de inflação mostrado no gráfico a seguir. Para eliminar o hiato, o Banco Central deveria usar a política monetária expansionista ou contracionista? Como irá variar a taxa de juros, o gasto de investimento, o gasto de consumo, o PIB real e o nível de preços agregado, à medida que a política monetária fecha o hiato inflacionário?

7. Na economia de Eastlandia, o mercado monetário está inicialmente em equilíbrio quando a economia começa a deslizar para uma recessão. a. Usando o gráfico a seguir, explique o que vai acontecer com a taxa de juros se o Banco Central de Eastlandia mantiver a oferta de moeda constante em

.

b. Se, em vez disto, o Banco Central está decidido a manter a meta da taxa de juros em r1, como deverá reagir se a economia rumar para uma recessão? 8. Suponha que o mercado monetário em Westlandia está inicialmente em equilíbrio e que o Banco Central decide diminuir a oferta de moeda. a. Usando um gráfico como o do Problema 7, explique o que vai acontecer com a taxa de juros no curto prazo. b. O que vai acontecer com a taxa de juros no longo prazo? 9. Uma economia está em equilíbrio macroeconômico de longo prazo com uma taxa de desemprego de 5%, quando o governo aprova uma lei exigindo que o banco central use política monetária para reduzir a taxa de desemprego para 3% e mantê-la lá. Como o banco central pode atingir esse objetivo no curto prazo? O que acontecerá no longo

prazo? Ilustre com um gráfico. 10. De acordo com o site do Banco Central Europeu, o tratado que institui a Comunidade Europeia “deixa claro que assegurar a estabilidade de preços é a contribuição mais importante que a política monetária pode dar para alcançar um ambiente econômico favorável e um nível elevado de emprego”. Se a estabilidade de preços é o único objetivo da política monetária, explique como a política monetária será conduzida durante as recessões. Analise tanto o caso de recessão resultante de um choque de demanda quanto o caso de recessão resultado de um choque de oferta. 11. A eficácia da política monetária depende da facilidade com que mudanças na oferta monetária alteram a taxa de juros. Ao mudar a taxa de juros, a política monetária afeta gastos de investimento e a curva de demanda agregada. As economias da Albernia e Brittania têm curvas de demanda monetária bem diferentes, como mostrado no gráfico a seguir. Em qual economia as mudanças na oferta monetária serão mais eficazes como instrumento de política? Por quê?

12. Durante a Grande Depressão, empresários nos Estados Unidos estavam muito pessimistas sobre o futuro do crescimento econômico e relutantes em aumentar os gastos de investimento, mesmo quando a taxa de juros caía. Como isso limitava o potencial para a política monetária em ajudar a aliviar a depressão? 13. Por causa da desaceleração econômica associada à recessão entre 2007 e 2009, o Comitê Federal de Mercado Aberto do Fed, entre 18 de setembro de 2007 e 16 de dezembro de 2008, reduziu a taxa de juros do mercado interbancário em uma série de etapas de uma alta de 5,25% a uma taxa entre zero e 0,25%. A ideia era dar um impulso à economia, aumentando a demanda agregada. a. Use o modelo de preferência pela liquidez para explicar como o Comitê Federal de Mercado Aberto reduz a taxa de juros no curto prazo. Trace um gráfico apropriado que ilustre o mecanismo. Indique “Taxa de juros” no eixo vertical e “Quantidade de moeda” no eixo horizontal. O gráfico deve mostrar duas taxas de juros, r1 e r2. b. Explique por que a redução da taxa de juros faz a demanda agregada aumentar no curto prazo. c. Suponha que em 2013 a economia esteja no produto potencial, mas que isso, de alguma forma, seja negligenciado pelo Fed, que continua sua expansão monetária. Demonstre o efeito dessa medida política sobre a curva AD. Use a curva LRAS para mostrar que o efeito dessa medida política sobre a curva AD, tudo o mais mantido constante, faz o nível de preços agregado subir no longo prazo. Denomine o eixo vertical de “Nível de preços agregado” e o eixo horizontal de “PIB real”. www.worthpublishers.com/krugmanwells

Capítulo 15 Apêndice Reconciliação dos Dois Modelos da Taxa de Juros No modelo da taxa de juros segundo a preferência pela liquidez, desenvolvido no Capítulo 15, a quantidade de moeda demandada é igual à quantidade de moeda ofertada à taxa de juros de equilíbrio. No entanto, no modelo da taxa de juros de fundos para empréstimo, desenvolvido no Capítulo 10, a taxa de juros de equilíbrio corresponde à quantidade de fundos para empréstimo ofertado pelos poupadores com a quantidade de fundos para empréstimo demandada por gastos de investimento. Esses dois modelos da taxa de juros podem ser reconciliados? Sim, podem. Vamos fazer isso em duas etapas, com foco primeiro no curto prazo e, em seguida, no longo prazo.

A taxa de juros de curto prazo Como analisamos no Capítulo 15, uma queda na taxa de juros leva a um aumento nos gastos de investimento, I, que tende a levar a um aumento tanto no PIB real como no gasto de consumo, C. Contudo, o aumento no PIB real não leva apenas a um aumento nos gastos de consumo. Leva também a um aumento na poupança: a cada rodada do processo do multiplicador, parte do aumento na renda disponível é poupada. Em quanto aumenta a poupança? No Capítulo 10 abordamos a identidade poupança-gasto de investimento: a poupança total na economia é sempre igual ao gasto de investimento. Isso nos diz que, quando uma queda na taxa de juros leva a um gasto de investimento mais alto, o aumento resultante no PIB real gera exatamente à quantidade adicional de poupança suficiente para atender o aumento no gasto de investimento. Colocando de outra forma, depois de uma queda na taxa de juros, a quantidade de poupança ofertada aumenta exatamente o suficiente para igualar a quantidade de poupança demandada. Entender essa relação é a chave para reconciliar os dois modelos da taxa de juros. A Figura 15A-1 ilustra como os dois modelos de taxa de juros se reconciliam no curto prazo. O painel (a) representa o modelo da taxa de juros segundo a preferência pela liquidez onde MS1 e MD1 são as curvas da demanda e da oferta iniciais, e r1, a taxa de juros de equilíbrio inicial, iguala a quantidade de moeda ofertada com a quantidade de moeda demandada no mercado monetário. O painel (b) representa o modelo da taxa de juros segundo os fundos para empréstimo. S1 é a curva da oferta inicial de fundos para empréstimo, D é a curva da demanda de fundos para empréstimo, e r1, a taxa de juros de equilíbrio inicial, equaliza a quantidade de fundos para empréstimo ofertado com a quantidade de fundos para empréstimo demandada no mercado de fundos para empréstimo.

FIGURA 15A-1 A determinação da taxa de juros de curto prazo O painel (a) mostra o modelo da taxa de juros segundo a preferência pela liquidez: a taxa de juros de equilíbrio iguala a oferta de moeda e a quantidade de moeda demandada. No curto prazo, a taxa de juros é determinada no mercado de moeda, em que um aumento da oferta de moeda, de para , pressiona a taxa de juros de equilíbrio para baixo, de r1 para r2. O painel (b) mostra o modelo da taxa de juros de fundos para empréstimo. A queda da taxa de juros no mercado de moeda leva, por meio do efeito do multiplicador, a um aumento no PIB real e, na poupança, leva a um deslocamento para a direita da curva da oferta de fundos para empréstimo, de S1 para S2, e a uma queda na taxa de juros, de r1 para r2. Como resultado, a nova taxa de juros de equilíbrio no mercado de fundos para empréstimo coincide com a nova taxa de juros de equilíbrio no mercado monetário, em r2.

Na Figura 15A-1 tanto o mercado monetário como o mercado de fundos para empréstimo estão inicialmente em equilíbrio em E1 com a mesma taxa de juros, r1. Talvez você imagine que isso só acontece por acaso, mas na verdade é sempre verdade. Para saber o porquê, considere o que acontece no painel (a), o mercado monetário, quando o Fed aumenta a oferta de moeda de para , pressionando a curva de oferta de moeda para a direita, para MS2, reduzindo a taxa de juros de equilíbrio de mercado para r2, e movendo a economia para um equilíbrio de curto prazo em E2. O que acontece no painel (b), o mercado de fundos para empréstimo? No curto prazo, a queda na taxa de juros, devido ao aumento da oferta de moeda, leva a um aumento do PIB real, o que gera um aumento na poupança por meio do processo do multiplicador. Esse aumento da poupança desloca a curva da oferta de fundos para empréstimo para a direita, de S1 para S2, movendo o equilíbrio no mercado de fundos para empréstimo de E1 para E2 e reduzindo a taxa de juros de equilíbrio no mercado de fundos para empréstimo. Uma vez que o aumento da poupança deve corresponder exatamente ao aumento no gasto de investimento, a taxa de equilíbrio no mercado de fundos para empréstimo deve cair para r2, a mesma que a nova taxa de juros de equilíbrio no mercado monetário. Então, no curto prazo, a oferta e a demanda de moeda determinam a taxa de juros e o mercado de fundos para empréstimo segue a liderança do mercado monetário até que a taxa de juros de equilíbrio no mercado de fundos para empréstimo seja a mesma que a taxa de juros de equilíbrio no mercado monetário. Observe o uso da expressão “no curto prazo”. As mudanças na demanda agregada afetam o produto agregado apenas no curto prazo. No longo prazo, o produto agregado é igual ao produto potencial. Portanto, o relato sobre como uma queda na taxa de juros leva

a um aumento no produto agregado, que leva ao aumento da poupança, aplica-se apenas no curto prazo. No longo prazo, como veremos a seguir, a determinação da taxa de juros é bem diferente, pois os papéis dos dois mercados se invertem. No longo prazo, o mercado de fundos para empréstimo determina a taxa de juros de equilíbrio e é o mercado de moeda que acompanha a tendência do mercado de fundos para empréstimo.

A taxa de juros de longo prazo No curto prazo, um aumento na oferta de moeda leva a uma queda na taxa de juros e uma redução na oferta de moeda leva a um aumento na taxa de juros. No longo prazo, no entanto, mudanças na oferta monetária não afetam a taxa de juros. A Figura 15A-2 mostra por quê. Como na Figura 15A-1, o painel (a) mostra o modelo da taxa de juros segundo a preferência pela liquidez e o painel (b) mostra a oferta e a demanda de fundos para empréstimo. Suponhamos que em ambos os painéis a economia esteja inicialmente em E1, em equilíbrio macroeconômico de longo prazo no produto potencial, com a oferta de moeda igual a . A curva da demanda por fundos para empréstimo é D, e a curva da oferta inicial de fundos para empréstimo é S1. A taxa de juros de equilíbrio inicial em ambos os mercados é r1.

FIGURA 15A-2 Determinação da taxa de juros de longo prazo O painel (a) mostra o ajuste do modelo da taxa de juros segundo a preferência pela liquidez a um aumento na oferta de moeda de para . O painel (b) mostra o aumento correspondente no modelo da taxa de juros segundo os fundos para empréstimo. Ambos os painéis começam em E1, um equilíbrio macroeconômico de longo prazo do produto potencial, e com a taxa de juros, r1. Como discutimos na Figura 15A-1, o aumento da oferta de moeda reduz a taxa de juros de r1 para r2, aumenta o PIB real e a poupança no curto prazo. Isso é mostrado nos painéis (a) e (b), com o movimento de E1 para E2. No longo prazo, contudo, o aumento na oferta de moeda aumenta os salários e outros preços nominais. Isso desloca a curva da demanda de moeda no painel (a) de MD1 para MD2, levando a um aumento na taxa de juros de r2 para r1 à medida que a economia se move de E2 para E3. O aumento na taxa de juros provoca uma queda no PIB real e uma queda na poupança, deslocando a curva da oferta de fundos para empréstimo S2 de volta para S1, movendo o mercado de fundos para empréstimo de E2 de volta a E1. No longo prazo, a taxa de juros de equilíbrio é determinada pela junção da oferta e demanda de fundos para empréstimo que surgem quando o PIB real se iguala ao produto potencial.

Agora, suponha que a oferta de moeda suba de para . Como na Figura 15A-1, inicialmente isso reduz a taxa de juros para r2. De acordo com a neutralidade da moeda no longo prazo, o nível de preços agregado sobe na mesma proporção que o aumento da oferta de moeda. E também sabemos que um aumento no nível de preços agregado aumenta a demanda de moeda na mesma proporção. Assim, no longo prazo, a curva da demanda de moeda se desloca para MD2 à medida que a demanda de moeda responde a preços mais elevados, e move a taxa de juros de equilíbrio de volta ao nível original, r1. O painel (b) da Figura 15A-2 mostra o que acontece no mercado de fundos para empréstimo. Como antes, um aumento na oferta de moeda leva a um aumento de curto prazo no PIB real, e isso desloca a oferta de fundos para empréstimo para a direita de S1, para S2. No longo prazo, no entanto, o PIB real cai de volta para o nível original, à medida que os salários e outros preços nominais sobem. Como resultado, a oferta de fundos para empréstimo, S, que inicialmente tinha se deslocado de S1 para S2, retorna para S1. Então, no longo prazo, mudanças na oferta de moeda não afetam a taxa de juros. Assim, o que determina a taxa de juros no longo prazo – r1 na Figura 15A-2? A resposta é a oferta e a demanda de fundos para empréstimo. Mais especificamente, no longo prazo, a taxa de juros de equilíbrio corresponde à oferta e demanda de fundos para empréstimo que surge no produto potencial.

Problemas 1. Usando uma figura semelhante à Figura 15A-1, explique como o mercado de moeda e o mercado de fundos para empréstimo reagem a uma redução na oferta de moeda no curto prazo. 2. Compare os efeitos de curto prazo de um aumento na oferta de moeda sobre a taxa de juros com os efeitos de longo prazo de um aumento na oferta de moeda sobre a taxa de juros. Qual é o mercado que determina a taxa de juros no curto prazo? E qual é o mercado que a determina no longo prazo? Quais as implicações da sua resposta para a eficácia da política monetária em influenciar o PIB real no curto prazo e no longo prazo? www.worthpublishers.com/krugmanwells

C APÍ T UL O 16

Inflação, Desinflação e Deflação

O que você vai aprender neste capítulo • Por que o esforço de arrecadar um imposto de inflação ao imprimir dinheiro pode levar a altas taxas de inflação e à hiperinflação. • O que é a curva de Phillips e como ela descreve o trade-off de curto prazo entre inflação e desemprego. • Por que não há trade-off de longo prazo entre inflação e desemprego. • Por que políticas expansionistas são limitadas pelos efeitos sobre a inflação esperada. • Por que até mesmo níveis moderados de inflação são difíceis de eliminar. • Por que a deflação é um problema para a política econômica e leva os formuladores de política econômica a preferir uma taxa de inflação baixa, mas positiva. • Por que a taxa de juros nominal não pode chegar abaixo da fronteira zero e o perigo representado por uma armadilha de liquidez.

Carregando uma mala de dinheiro sem valor Em 2008, a nação africana do Zimbábue atingiu uma distinção nada invejável: uma das maiores taxas de inflação já registrada, chegando a cerca de 500 bilhões por cento. Embora o governo viesse imprimindo continuamente denominações cada vez mais altas do dólar do Zimbábue – por exemplo, em maio de 2008, introduziu a nota de meio bilhão de dólares, ainda assim era necessária uma enorme quantidade de moeda para pagar pelas necessidades mais básicas: uma pilha de moedas do Zimbábue no valor de US$100 pesava cerca de 40 libras (cerca de 20 quilos). A moeda do Zimbábue valia tão pouco que algumas pessoas, ao retirar dinheiro dos bancos, vinham com malas, para ter o suficiente para pagar as despesas comuns. No final, o dólar do Zimbábue perdeu todo o valor – literalmente. Em outubro de 2008, a moeda mais ou menos desapareceu de circulação, substituída pelo dólar americano e pelo rand sul-africano. A experiência do Zimbábue foi chocante, mas não sem precedentes. Em 1994, a taxa de inflação da Armênia atingiu 27.000%. Em 1991, a inflação da Nicarágua passou de 60.000%. E mesmo a inflação do Zimbábue foi modesta comparada com o exemplo mais famoso da história da inflação extrema, que teve lugar na Alemanha entre 1922 e 1923. Perto do fim da hiperinflação alemã, os preços estavam aumentando 16% ao dia, que significava um aumento de cerca de 500 bilhões por cento ao longo de cinco meses. As pessoas tornaram-se tão relutantes em manter dinheiro em papel, que perdia valor por hora, que começaram a circular como moeda ovos e pedaços de carvão. As empresas alemãs pagavam os trabalhadores várias vezes por dia para que pudessem gastar seus ganhos antes que perdesse valor (fornecendo um significado novo ao termo salário por hora). Segundo a lenda da época, os homens sentados em um bar pediam duas cervejas de uma só vez, com medo de que o preço de uma cerveja subisse antes que pudessem pedir a segunda rodada! Os Estados Unidos nunca passaram por esse tipo de inflação. A pior inflação que houve nos tempos modernos ocorreu no final da década de 1970, quando os preços ao

consumidor estavam subindo à taxa anual de 13%. No entanto, inflação a esse nível preocupava profundamente a população americana, e as políticas adotadas pelo Fed para reduzir a inflação nos Estados Unidos a níveis aceitáveis trouxe a mais profunda recessão desde a Grande Depressão. O que causa a alta da inflação e a baixa da inflação? Neste capítulo, vamos examinar as razões subjacentes da inflação. Veremos que as causas subjacentes da inflação muito elevada, como a do Zimbábue, são muito diferentes das causas de uma inflação mais moderada. Analisaremos também por que a desinflação, uma redução da taxa de inflação, muitas vezes é muito difícil. Finalmente, discutiremos os problemas especiais associados a um nível de preços em queda, ou deflação.

Moeda e inflação Como veremos mais adiante neste capítulo, níveis moderados de inflação, como o experimentado pelos Estados Unidos, mesmo a inflação de dois dígitos da década de 1970, podem ter causas complexas. Mas a inflação muito elevada está sempre associada a um rápido aumento na oferta de moeda. Para entender por que, precisamos revisitar o efeito das variações na oferta de moeda sobre o nível geral de preços. Então, passaremos às razões pelas quais os governos algumas vezes aumentam a oferta de moeda muito rapidamente.

O modelo clássico de moeda e de preços No Capítulo 15, aprendemos que, no curto prazo, um aumento na oferta de moeda aumenta o PIB real ao reduzir a taxa de juros e estimular os gastos de investimento e os gastos de consumo. No entanto, no longo prazo, à medida que os salários nominais e outros preços rígidos aumentam, o PIB real cai de volta ao nível original. Assim, no longo prazo, um aumento na oferta de moeda não muda o PIB real. Em vez disso, tudo o mais mantido constante, leva a um aumento percentual igual no nível geral de preços, isto é, os preços de todos os bens e serviços na economia, incluindo salários nominais e os preços dos bens intermediários, aumentam no mesmo percentual que a oferta de moeda. E quando aumenta o nível geral de preços, o nível de preços agregado – os preços de todos os bens e serviços finais – também sobe. Como resultado, uma variação na oferta de moeda nominal, M, leva, no longo prazo, a um aumento no nível geral de preços agregado que deixa a quantidade de moeda real, M/P, no nível inicial. Por conseguinte, não há efeito de longo prazo sobre a demanda agregada ou sobre o PIB real. Por exemplo, quando a Turquia cortou seis zeros de sua moeda, a lira turca, em janeiro de 2005, o PIB real da Turquia não foi alterado. A única coisa que mudou foi o número de zeros nos preços: em vez de algo custar 2 milhões de liras, passou a custar duas liras. Repetindo, isso é o que acontece no longo prazo. Contudo, ao analisar grandes mudanças no nível de preços agregado, muitas vezes os macroeconomistas consideram útil ignorar a distinção entre o curto e o longo prazo. Em vez disso, trabalham com um modelo simplificado em que o efeito de uma variação na oferta de moeda sobre o nível de preços agregado se dá instantaneamente, em vez de ocorrer no transcorrer de um longo período. Talvez essa hipótese cause preocupação, uma vez que em capítulos anteriores enfatizou-se a diferença entre o curto e o longo prazo. No entanto, por motivos que explicaremos adiante, essa é uma suposição razoável a ser adotada no caso de uma inflação elevada. O modelo simplificado em que a quantidade de moeda em termos reais, M/P, está sempre no nível de equilíbrio de longo prazo é conhecido como modelo clássico do nível de preços, porque era usado comumente pelos economistas “clássicos”, que escreveram antes do trabalho de John Maynard Keynes. Para entender o modelo clássico e por que ele é útil nesse contexto de inflação alta, vamos revisitar o modelo AD-AS, de demanda

agregada e oferta agregada, e o que ele informa sobre os efeitos de um aumento na oferta de moeda. (Salvo indicação em contrário, estaremos sempre nos referindo a variações na oferta de moeda nominal.) A Figura 16-1 revê os efeitos de um aumento na oferta de moeda de acordo com o modelo AD-AS. A economia começa em E1, um ponto de equilíbrio macroeconômico de curto prazo e de longo prazo. Encontra-se na interseção da curva de demanda agregada, AD1, e da curva da oferta agregada de curto prazo, SRAS1. Encontra-se também sobre a curva de oferta agregada de longo prazo, LRAS. Em E1, o nível de preços agregado de equilíbrio é P1.

FIGURA 16-1 O modelo clássico de nível de preços A partir de E1, um aumento na oferta de moeda desloca a curva da demanda agregada para a direita, como mostrado pelo movimento de AD1 para AD2. Agora há um novo equilíbrio macroeconômico de curto prazo em E2 com um nível de preços mais alto em P2. No longo prazo, os salários nominais se ajustarão para cima e pressionarão a curva SRAS para a esquerda até SRAS2. O aumento percentual total no nível de preços de P1 para P3 é igual ao aumento percentual na oferta de moeda. No modelo clássico do nível de preços ignoramos o período de transição e imaginamos que o nível de preços sobe para P3 de imediato. Essa é uma boa aproximação em condições de alta inflação.

Suponha agora que haja um aumento na oferta de moeda. Essa é uma política monetária expansionista que desloca a curva da demanda agregada para a direita, até AD2, e move a economia para um novo equilíbrio macroeconômico de curto prazo em E2. Ao longo do tempo, no entanto, os salários nominais se ajustarão para cima, em resposta ao aumento no nível de preços agregado, e a curva SRAS se deslocará para a esquerda, para SRAS2. O novo equilíbrio macroeconômico de longo prazo está em E3 e o PIB real retorna ao seu nível inicial.

Como vimos no Capítulo 15, o aumento de longo prazo no nível de preços agregado de P1 para P3 é proporcional ao aumento na oferta de moeda. Por conseguinte, variações na oferta de moeda no longo prazo não têm efeito sobre a quantidade de moeda em termos reais, M/P, ou sobre o PIB real. No longo prazo, como aprendemos, a moeda é neutra. O modelo clássico do nível de preços ignora o movimento de curto prazo de E1 para E2, supondo que a economia se mova diretamente de um equilíbrio de longo prazo para outro equilíbrio de longo prazo. Em outras palavras, o modelo supõe que a economia se move diretamente de E1 para E3 e que o PIB real nunca muda em resposta a uma mudança na oferta de moeda. Com efeito, no modelo clássico, os efeitos das mudanças na oferta de moeda são analisados como se tanto as curvas de oferta agregada de curto como de longo prazo fossem verticais. Na realidade, essa é uma suposição pobre e não adequada aos períodos de baixa inflação. Quando uma taxa de inflação é baixa, pode demorar um pouco para que os trabalhadores e as empresas reajam a uma expansão monetária, elevando os salários e os preços. Nesse cenário, alguns salários nominais e os preços de alguns bens são rígidos no curto prazo. Como resultado, no caso de inflação baixa há uma curva SRAS positivamente inclinada, e as variações na oferta de moeda podem de fato mudar o PIB real no curto prazo. Mas e o que acontece com os períodos de alta inflação? Diante da inflação elevada, os economistas observaram que a rigidez de curto prazo dos salários e dos preços nominais tende a desaparecer. Trabalhadores e empresas, com maior sensibilidade à inflação, aumentam os salários e os preços rapidamente em resposta a variações na oferta monetária. Isso implica que quando a inflação é alta, há um ajuste mais rápido de salários e preços de bens intermediários do que ocorre no caso de inflação baixa. Assim, a curva da oferta agregada de curto prazo se desloca para a esquerda mais rapidamente e há um retorno mais rápido ao equilíbrio de longo prazo sob a inflação alta. Em consequência, o modelo clássico do nível de preços tem maior possibilidade de ser uma boa aproximação da realidade para economias que sofrem persistentemente de inflação elevada. A consequência desse ajuste rápido de todos os preços na economia é que, em países com inflação persistentemente elevada, variações na oferta de moeda são rapidamente traduzidas em variações na taxa de inflação. Vejamos novamente o Zimbábue. A Figura 16-2 mostra a taxa anual de crescimento da oferta de moeda e a taxa anual de variação nos preços ao consumidor de 2003 a abril de 2008. Como se pode ver, saltos de crescimento da taxa de oferta de moeda coincidiram de perto com saltos aproximadamente iguais na taxa de inflação. Observe que para atender esses percentuais muito grandes de aumento – vários milhares por cento – traçamos o eixo vertical na figura, usando uma escala logarítmica, que nos permite traçar variações percentuais equalizadas.

FIGURA 16-2 Crescimento da oferta monetária e inflação no Zimbábue Essa figura, em escala logarítmica, mostra a taxa anual de variação da oferta monetária e do nível de preços no Zimbábue de 2003 a abril de 2008. Os saltos na oferta monetária se refletiram rapidamente em saltos no nível de preços. Fonte: Fundo Monetário Internacional.

O que leva um país a aumentar tanto a oferta de moeda a ponto de provocar uma taxa de inflação na casa percentual dos milhões, ou de até bilhões?

A taxa de inflação As economias modernas usam moeda fiat – pedaços de papel sem valor intrínseco, mas aceitas como meio de troca. Nos Estados Unidos e na maioria dos outros países ricos, a decisão sobre quantos pedaços de papel devem ser impressos está nas mãos de um banco central com certo grau de independência do processo político. No entanto, essa independência sempre pode ser abolida se os políticos decidirem assumir o controle da política monetária. Então, o que vai evitar que um governo pague alguns dos seus gastos, não por meio do aumento de impostos ou da tomada de empréstimos, mas apenas imprimindo dinheiro? Nada. Na verdade, os governos, incluindo o governo dos Estados Unidos, fazem isso o tempo todo. Como o governo dos Estados Unidos pode fazer isso, uma vez que é o Fed que emite moeda e não o Tesouro dos Estados Unidos? A resposta é que o Tesouro e o Fed trabalham em conjunto. O Tesouro emite dívida para financiar as compras do governo de bens e serviços, e o Fed monetiza a dívida criando moeda e comprando a dívida de volta do público por meio de operações de mercado aberto de compra de Letras do Tesouro. Com efeito, o governo dos Estados Unidos pode obter receita por meio da impressão de moeda. Por exemplo, em agosto de 2007, a base monetária dos Estados Unidos –constituída de reservas bancárias mais moeda em circulação – era $600 bilhões maior do que tinha sido um ano antes. Isso ocorreu porque, ao longo desse ano, o Fed havia emitido $20 bilhões em moeda ou seu equivalente eletrônico e colocado em circulação por meio de operações de mercado aberto. Dizendo de outra forma, o Fed criou moeda do ar e a usou para

comprar títulos públicos do setor privado. É verdade que o governo dos Estados Unidos paga juros sobre a dívida devida pelo Fed, mas por lei ele transfere os pagamentos de juros que recebe sobre a dívida pública de volta para o Tesouro, mantendo apenas o suficiente para financiar as próprias operações. Com efeito, na ocasião, as medidas do Fed permitiram ao governo quitar $600 bilhões de dívida pública apenas imprimindo dinheiro. Uma forma alternativa de considerar isso é dizer que o direito de imprimir moeda é em si uma fonte de receita. Os economistas referem-se à receita gerada pelo direito do governo de imprimir moeda como senhoriagem, termo arcaico que remonta à Idade Média. Refere-se ao direito de cunhar ouro e prata em moeda e cobrar uma comissão ao fazê-lo, que os lordes medievais, os “senhores” na França, reservavam para si mesmos. A senhoriagem normalmente representa apenas uma pequena fração (menos de 1%) do orçamento do governo dos Estados Unidos. Além disso, preocupações com a senhoriagem não têm qualquer influência sobre as decisões do Fed sobre quanta moeda imprimir; o Fed está preocupado com inflação e desemprego, não com receita. Mas isso nem sempre foi assim, mesmo nos Estados Unidos: os dois lados usaram senhoriagem para ajudar a cobrir os déficits orçamentários durante a Guerra Civil. E houve muitas ocasiões na história em que os governos usaram impressoras como fonte crucial de receita. De acordo com o cenário habitual, o governo tem elevado o déficit orçamentário – e falta competência ou sabedoria política para eliminar esse déficit aumentando impostos ou cortando gastos. Além disso, o governo não pode contrair empréstimos para cobrir a diferença, pois os credores potenciais não vão conceder empréstimos, dado o temor de que a fraqueza do governo continue, tornando-o incapaz de pagar as dívidas. Em tal situação, o governo acaba imprimindo moeda para cobrir o déficit orçamentário. Mas, ao imprimir moeda para pagar suas contas, o governo aumenta a quantidade de moeda em circulação. E, como acabamos de ver, o aumento na oferta de moeda, mais cedo ou mais tarde se traduz em aumento de igual montante no nível de preços agregado. Então, imprimir dinheiro para cobrir o déficit orçamentário leva à inflação. Quem acaba pagando pelos bens e serviços que o governo compra com o dinheiro que acaba de imprimir? As pessoas que atualmente mantêm dinheiro. Pagam porque a inflação corrói o poder de compra da moeda que mantêm. Em outras palavras, o governo impõe um imposto inflacionário, a redução no valor da moeda em poder do público, imprimindo moeda para cobrir o déficit orçamentário e criar inflação. Convém analisar o que representa esse imposto. Se a taxa de inflação é 5%, daqui a um ano $1 vai comprar bens e serviços no valor de apenas $0,95 de hoje. Assim, uma taxa de inflação de 5% em vigor impõe uma alíquota de 5% sobre o valor de todo o dinheiro em poder do público. Mas qual o motivo pelo qual qualquer governo pressionaria a taxa de inflação a taxas percentuais de centenas ou de milhares? Passemos à lógica da hiperinflação.

A lógica da hiperinflação

A inflação impõe um imposto sobre as pessoas que mantêm moeda. E, como a maioria dos impostos, leva as pessoas a mudarem de comportamento. Em particular, quando a inflação é alta, as pessoas evitam manter dinheiro e em vez disso procuram manter bens reais, bem como substituir moeda por ativos que rendam juros. Na introdução deste capítulo, descrevemos como durante a hiperinflação alemã as pessoas começaram a usar ovos ou pedaços de carvão como meio de troca. Fizeram isso porque os pedaços de carvão mantinham seu valor real ao longo do tempo, mas o dinheiro não. De fato, durante o pico da hiperinflação alemã, as pessoas costumavam queimar papel-moeda, que tinha menos valor que madeira. Além disso, as pessoas não reduzem a moeda nominal que mantêm – reduzem a moeda real, cortando o montante de moeda que possuem que realmente tem menos poder de compra que o montante de moeda que manteriam se a inflação fosse baixa. Fazem isso usando dinheiro para comprar bens duráveis ao longo do tempo ou bens que mantêm valor como o ouro. Por quê? Porque quanto mais quantidade de moeda real tiver nas mãos, maior a quantidade real de fundos que o governo extrai delas por meio do imposto inflacionário. Estamos agora preparados para compreender como os países podem chegar a situações de inflação extrema. A inflação elevada surge quando o governo tem que imprimir grande quantidade de moeda, impondo um imposto inflacionário elevado, para cobrir déficits orçamentários elevados. Agora, a senhoriagem coletada pelo governo durante um período curto, digamos, de um mês, é igual à mudança na oferta de moeda durante esse período. Vamos usar M para representar a oferta de moeda e o símbolo Δ para indicar “variação mensal em”. Então:

(16-1) O valor em moeda da senhoriagem, no entanto, não é muito informativo por si só. Afinal, o ponto essencial da inflação é que determinada quantidade de moeda compra cada vez menos ao longo do tempo. Portanto, é mais útil considerar a senhoriagem real, a receita criada por imprimir moeda dividida pelo nível de preços, P:

(16-2) A Equação 16-2 pode ser reescrita dividindo e multiplicando pelo nível corrente da oferta de moeda, M, o que resulta em:

(16-3)

ou

Mas como acabamos de explicar, em face da inflação elevada, o público reduz a quantidade real de moeda que mantém, de modo que o termo da direita na Equação 16-3, M/P, fica menor. Suponha que o governo tenha de imprimir moeda em quantidade suficiente para pagar uma determinada quantidade de bens e serviços – isto é, precisa coletar uma determinada quantidade real de senhoriagem. Então, como a oferta de moeda real, M/P, diminui à medida que as pessoas mantêm quantidades menores de moeda real, o governo tem que responder acelerando a taxa de crescimento da oferta monetária, . Isso levará a uma taxa ainda maior de inflação. E as pessoas vão reagir a essa nova taxa de inflação, reduzindo ainda mais a quantidade de moeda real mantida, M/P, mais uma vez. À medida que o processo reforça a si mesmo, pode facilmente sair do controle. Embora a quantidade de senhoriagem real que o governo deve arrecadar para pagar pelo déficit não mude, a taxa de inflação que o governo precisa impor para arrecadar esse montante sobe. Assim, o governo é obrigado a aumentar a oferta de moeda mais rapidamente, levando a uma taxa ainda maior de inflação, e assim por diante. Eis aqui uma analogia: imagine uma prefeitura que tente levantar muito dinheiro com uma taxa especial sobre corridas de táxi. A taxa aumentará o custo das corridas de táxi e isso fará as pessoas adotarem os substitutivos facilmente disponíveis, como andar a pé ou de ônibus. À medida que o uso de táxis diminui, o governo descobre que a receita da taxa sobre as corridas de táxi também diminui e tem que cobrar uma taxa ainda mais alta para arrecadar a mesma quantia que antes. É possível imaginar o círculo vicioso originado: o governo impõe taxas sobre corridas de táxi, o que leva ao menor uso de táxis, que faz o governo elevar a taxa sobre as corridas de táxi, o que leva ao menor uso de táxis, e assim por diante. Troque as corridas de táxi pela oferta monetária e a taxa de inflação pelo aumento das taxas sobre as corridas de táxis, e temos a história da hiperinflação. Desenvolve-se uma competição entre a impressora de dinheiro do governo e a população: a impressora solta dinheiro em um ritmo cada vez mais rápido, tentando compensar o fato de que a população está reduzindo a quantidade de moeda real que mantém. Em algum momento, a taxa de inflação explode e se transforma em hiperinflação, e as pessoas passam a não querer manter moeda alguma (e recorrem ao comércio com ovos e pedaços de carvão). O governo é, então, forçado a abandonar o uso do imposto inflacionário e desligar as máquinas de impressão.

Economia em ação

Inflação no Zimbábue Como observamos na introdução deste capítulo, o Zimbábue é um exemplo recente de um país que enfrentou inflação muito elevada. A Figura 16-2 mostrou que saltos na oferta de moeda no Zimbábue foram acompanhados quase que simultaneamente por saltos na taxa de inflação. Mas apenas examinar as taxas de variação não permite perceber, de verdade, o quanto os preços subiram no país. A Figura 16-3 mostra o índice de preços ao consumidor no Zimbábue de janeiro de 2000 a julho de 2008, com o nível de janeiro de 2000 igual a 100. Como na Figura 16-2, usamos escala logarítmica. Ao longo de pouco mais de oito anos, os preços ao consumidor subiram cerca de 80 trilhões por cento.

FIGURA 16-3 Preços ao consumidor no Zimbábue, 2000-2008 Fonte: Fundo Monetário Internacional.

Por que o governo do Zimbábue adotou políticas que levaram à inflação galopante? A razão se resume à instabilidade política, que por sua vez tem suas raízes na história do Zimbábue. Até os anos 1970, o Zimbábue tinha sido governado por uma pequena minoria branca; mesmo após a mudança para um governo da maioria, muitas das fazendas do país permaneceram nas mãos dos brancos. Finalmente, Robert Mugabe, presidente do Zimbábue, tentou solidificar sua posição, tomando as fazendas e as entregando a pessoas que o apoiavam. Mas como essa tomada interrompeu a produção, o resultado foi enfraquecer a economia do país e sua base tributária. Tornou-se impossível para o governo do país equilibrar o orçamento, seja aumentando impostos ou cortando gastos. Ao mesmo tempo, a instabilidade do regime deixou o Zimbábue incapaz de tomar dinheiro emprestado nos mercados mundiais. Como muitos outros antes dele, o governo do Zimbábue recorreu à impressora do governo para cobrir a diferença, levando à inflação maciça.

Breve revisão ■ O modelo clássico de nível de preços não faz distinção entre o curto e o longo prazo. Explica como o aumento na oferta de moeda alimenta diretamente a inflação. É uma boa descrição da realidade apenas para países com inflação persistentemente alta ou hiperinflação. ■ Os governos, por vezes, imprimem dinheiro para cobrir o déficit orçamentário. A perda consequente do valor da moeda é denominada imposto inflacionário. ■ Uma taxa alta de inflação faz as pessoas reduzirem a quantidade de dinheiro real que mantêm, levando à impressão de mais dinheiro e à inflação mais elevada, a fim de arrecadar o imposto inflacionário. Isso pode causar uma espiral que se autorreforça e se transforma em hiperinflação.

Teste seu entendimento 16-1 1. Suponha que haja um aumento repentino e elevado na oferta de moeda em uma economia que anteriormente tinha inflação baixa. Como consequência, o produto agregado se expandiu no curto prazo. O que isso informa sobre situações em que se aplica o modelo clássico do nível de preços? 2. Suponha que todos os salários e preços em uma economia sejam indexados pela inflação – ou seja, salários e preços são ajustados automaticamente para incorporar os números da inflação mais recentes. Pode ainda haver uma taxa de inflação? As respostas estão no fim do livro.

Inflação moderada e desinflação Os governos de países ricos e politicamente estáveis, como os Estados Unidos e a GrãBretanha, não se veem forçados a imprimir moeda para pagar suas contas. No entanto, ao longo dos últimos 40 anos, ambos os países, junto com várias outras nações, experimentaram episódios desconfortáveis de inflação. Nos Estados Unidos, a taxa de inflação atingiu um pico de 13% no início da década de 1980. Na Grã-Bretanha, a taxa de inflação atingiu 26% em 1975. Por que os formuladores de política econômica permitem que isso aconteça? A resposta, em resumo, é que, no curto prazo, políticas que produzem um boom na economia também tendem a aumentar a inflação e políticas que reduzam a inflação tendem a deprimir a economia. Isso cria tanto tentação como dilema para os governos. Primeiro, imagine que você seja um político que terá que enfrentar eleições em um ano ou dois, e suponha que a inflação seja relativamente baixa no momento. Você pode muito bem ser tentado a perseguir políticas expansionistas que irão empurrar a taxa de desemprego para baixo, como forma de agradar os eleitores, mesmo que os assessores econômicos tenham advertido que isso acabará por levar a uma inflação mais elevada. Você pode também ser tentado a mudar a assessoria econômica, encontrando quem diga para não se preocupar: em política, assim como na vida comum, um desejo muitas vezes prevalece sobre a análise realista. Por outro lado, imagine-se como um político em uma economia que esteja sofrendo de inflação elevada. Seus assessores econômicos provavelmente lhe dirão que a única maneira de conter a inflação é pressionar a economia para uma desaceleração, que levará temporariamente ao aumento do desemprego. Você está disposto a pagar esse preço? Talvez não. Essa assimetria política – políticas inflacionárias, muitas vezes produzem ganhos políticos de curto prazo, mas políticas para reduzir a inflação carregam custos políticos de curto prazo – explica como países sem necessidade de impor um imposto de inflação, por vezes, acabam com sérios problemas de inflação. Por exemplo, a inflação de 26% da Grã-Bretanha em grande parte resultou de decisões do governo britânico de, em 1971, perseguir uma política fiscal e monetária altamente expansionista. Os políticos desprezaram advertências de que essas políticas seriam inflacionárias e foram extremamente relutantes em reverter o curso, mesmo quando ficou claro que as advertências estavam corretas. Mas por que as políticas expansionistas levam à inflação? Para responder a essa questão é preciso primeiro examinar a relação entre produto e desemprego.

O hiato de produto e a taxa de desemprego No Capítulo 12 introduzimos o conceito de produto potencial, o nível de PIB real que a economia produziria se todos os preços tivessem totalmente ajustados. O produto potencial normalmente cresce constantemente ao longo do tempo, refletindo o

crescimento de longo prazo. No entanto, como aprendemos com o modelo de oferta agregada-demanda agregada, o produto agregado efetivo oscila em torno do produto potencial no curto prazo: um hiato de recessão surge quando o produto agregado efetivo é menor que o produto potencial; um hiato de inflação surge quando o produto agregado efetivo excede o produto potencial. Lembre-se do Capítulo 12, em que a diferença percentual corrente entre o nível do PIB real e do produto potencial é chamado de hiato de produto. Um hiato de produto positivo ou negativo ocorre quando uma economia está produzindo mais ou menos do que seria “esperado” porque os preços ainda não se ajustaram. E os salários, como aprendemos, são os preços no mercado de trabalho. Enquanto isso, aprendemos no Capítulo 8 que a taxa de desemprego é composta de desemprego cíclico e desemprego natural, a parcela da taxa de desemprego não afetada pelo ciclo econômico. Portanto, há uma relação entre a taxa de desemprego e o hiato de produto. Essa relação é definida por duas regras: 1. Quando o produto agregado real é igual ao produto potencial, a taxa de desemprego real é igual à taxa de desemprego natural. 2. Quando o hiato de produto é positivo (um hiato inflacionário), a taxa de desemprego está abaixo da taxa natural. Quando o hiato de produto é negativo (um hiato de recessão), a taxa de desemprego está acima da taxa natural. Em outras palavras, flutuações do produto agregado em torno da tendência de longo prazo do produto potencial correspondem a flutuações da taxa de desemprego ao redor da taxa natural. Isso faz sentido. Quando a economia está produzindo menos do que o produto potencial – quando o hiato de produto é negativo – não está fazendo uso pleno dos recursos produtivos. Entre os recursos que não são totalmente utilizados está o trabalho, o recurso mais importante da economia. Assim, é de se esperar que um hiato de produto negativo esteja associado com desemprego excepcionalmente alto. Por outro lado, quando a economia está produzindo mais do que o produto potencial, está usando recursos temporariamente a uma taxa superior à normal. Com um hiato de produto positivo, é de se esperar um desemprego menor do que o normal. A Figura 16-4 confirma essa regra. O painel (a) mostra as taxas de desemprego efetiva e natural, conforme a estimativa do Congressional Budget Office (CBO), o escritório de orçamento do Congresso americano. O painel (b) mostra duas séries. Uma delas é o desemprego cíclico: a diferença entre a taxa de desemprego efetiva e a estimativa da taxa natural de desemprego do CBO, medido à esquerda. A outra é a estimativa do hiato de produto do CBO, medida à direita. Para tornar a relação mais clara, a série do hiato de produto é invertida – mostrada de cabeça para baixo –, de modo que a linha desça quando o produto efetivo sobe acima do produto potencial e suba quando o produto efetivo cai abaixo do produto potencial. Como se pode ver, as duas séries se movem em conjunto e muito próximas, mostrando a forte relação entre o hiato de produto e o desemprego cíclico. Anos de alto desemprego cíclico, como 1982, 1992, ou 2009, também foram anos de hiato de produto fortemente negativo. Anos de baixo desemprego cíclico,

como o final dos anos 1960 ou 2000, também foram anos de hiato de produto fortemente positivo.

FIGURA 16-4 Desemprego cíclico e hiato de produto O painel (a) mostra a taxa de desemprego efetiva dos Estados Unidos de 1949 a meados de 2011, juntamente com a estimativa da taxa natural de desemprego do escritório de orçamento do Congresso americano (CBO). A taxa efetiva oscila em torno da taxa natural, muitas vezes por longos períodos. O painel (b) mostra o desemprego cíclico – a diferença entre a taxa de desemprego efetiva e a natural e o hiato de produto, também estimado pelo CBO. A taxa de desemprego é medida no eixo vertical esquerdo e o hiato é medido em uma escala invertida sobre o eixo vertical à direita. Em uma escala invertida, move-se na mesma direção que a taxa de desemprego: quando o hiato de produto é positivo, a taxa de desemprego efetiva está abaixo da taxa natural. Quando o hiato de produto é negativo, a taxa de desemprego efetiva está acima da taxa natural. As duas séries se movem em conjunto e muito próximas, mostrando a forte relação entre o hiato de produto e o desemprego cíclico. Fontes: Congressional Budget Office (CBO); Bureau of Labor Statistics e Bureau of Economic Analysis.

Para mentes curiosas A lei de Okun Embora o desemprego cíclico e o hiato de produto se movam em conjunto, o desemprego cíclico parece mover-se menos do que o hiato de produto. Por exemplo, o hiato de produto atingiu – 8% em 1982, mas o desemprego cíclico atingiu apenas 4%. Essa observação é a base de uma relação importante originalmente descoberta por Arthur Okun, principal assessor econômico de John F. Kennedy. As estimativas modernas da lei de Okun – a relação negativa entre o hiato de produto e a taxa de desemprego – normalmente verificam que um aumento no hiato de produto de 1 ponto percentual reduz a taxa de desemprego em cerca de 0,5 ponto percentual. Por exemplo, suponha que a taxa natural de desemprego seja de 5,2% e que a economia esteja produzindo apenas 98% do produto potencial. Nesse caso, o hiato do produto é − 2%, e a lei de Okun prevê uma taxa de desemprego de 5,2% − 0,5 × (− 2%) = 6,2%. O fato de que um aumento de 1% no produto reduz a taxa de desemprego em apenas metade de 1% pode parecer desconcertante: seria possível esperar uma relação de um para um entre o hiato de produto e o desemprego. Um aumento de 1% no produto agregado não exige um aumento de 1% no emprego? E isso não deveria reduzir 1% na taxa de desemprego? A resposta é não: há várias razões bem conhecidas para que a relação não seja de um para um. As empresas costumam atender a mudanças na demanda, em parte, modificando o número de horas trabalhadas dos empregados existentes. Por exemplo, uma empresa que experimenta um aumento súbito na demanda por seus produtos pode resolver a situação pedindo (ou exigindo) que os funcionários trabalhem mais horas, em vez de contratar mais funcionários. Por outro lado, uma empresa que vê queda nas vendas, muitas vezes, reduz as horas dos empregados, em vez de demiti-los. Esse comportamento amortece o efeito das flutuações do produto sobre o número de trabalhadores empregados. Além disso, o número de trabalhadores em busca de emprego é afetado pela disponibilidade de postos de trabalho. Suponha que o número de empregos caia em um milhão. Muitas vezes o desemprego medido vai aumentar em menos de um milhão porque alguns trabalhadores desempregados se tornam desencorajados e desistem de procurar emprego. (Lembre-se do Capítulo 8, em que os trabalhadores só são contados como desempregados quando estão em busca de emprego ativamente.) Por outro lado, se a economia criar um milhão de empregos, algumas pessoas que não estavam ativamente à procura de trabalho vão começar a fazê-lo. Como resultado, o desemprego medido cairá em menos de um milhão. Finalmente, a taxa de crescimento da produtividade do trabalho geralmente se acelera nos períodos de boom e desacelera ou até mesmo se torna negativa nos períodos de desaceleração econômica. As razões desse fenômeno são objeto de controvérsia entre os economistas. A consequência, no entanto, é que os efeitos de altos e baixos sobre a taxa

de desemprego são amortecidos.

A curva de Phillips de curto prazo Acabamos de ver que políticas expansionistas levam a uma taxa de desemprego mais baixa. Nosso próximo passo na compreensão das tentações e dilemas enfrentados pelos governos é mostrar que há um trade-off de curto prazo entre desemprego e inflação – desemprego mais baixo tende a levar a uma inflação mais elevada, e vice- versa. O conceito fundamental é o da curva de Phillips. A origem desse conceito encontra-se em um artigo famoso de 1958, de autoria de um economista nascido na Nova Zelândia. Examinando dados históricos da Grã-Bretanha, ele descobriu que quando a taxa de desemprego era alta, o salário tendia a cair, e quando a taxa de desemprego era baixa, o salário tendia a aumentar. Usando dados da GrãBretanha, nos Estados Unidos, e em outros lugares, outros economistas logo descobriram uma relação aparente semelhante entre a taxa de desemprego e a taxa de inflação – ou seja, a taxa de variação do nível de preços agregado. Por exemplo, a Figura 16-5 mostra a taxa de desemprego dos Estados Unidos e a taxa de inflação de preços ao consumidor em cada ano subsequente, de 1955 a 1968, com cada ponto representando os dados de um ano.

FIGURA 16-5 Desemprego e inflação, 1955-1968 Cada ponto mostra a taxa de desemprego média dos Estados Unidos de um ano e o aumento percentual no índice de preços ao consumidor ao longo do ano subsequente. Dados como esse estão por trás do conceito inicial da curva de Phillips. Fonte: Bureau of Labor Statistics.

Examinando as evidências como as da Figura 16-5, muitos economistas concluíram que existe uma relação de curto prazo negativa entre a taxa de desemprego e a taxa de inflação, que é a chamada curva de Phillips de curto prazo, ou SRPC. (Logo explicaremos

a diferença entre a curva de Phillips de curto prazo e de longo prazo.) A Figura 16-6 mostra uma curva de Phillips de curto prazo hipotética.

FIGURA 16-6 A curva de Phillips de curto prazo A curva de Phillips de curto prazo, SRPC, inclina para baixo, porque a relação entre a taxa de desemprego e a taxa de inflação é negativa.

FIGURA 16-7 Modelo AD-AS e a curva de Phillips de curto prazo A curva de Phillips de curto prazo está intimamente relacionada com a curva de oferta agregada de curto prazo. No painel (a), a economia está inicialmente em equilíbrio em E1, com o nível de preços agregado em 100 e o produto agregado em $10 trilhões, que presumimos ser o produto potencial. Agora, considere duas possibilidades. Se a curva da demanda agregada permanecer em AD1, há um hiato de produto de zero e 0% de inflação. Se a curva de demanda agregada se deslocar para AD2, há um hiato de 4% reduzindo o desemprego para 4% e a inflação é de 2%. Supondo que a taxa natural de desemprego seja de 6%, as implicações para o desemprego e a inflação são da forma seguinte, mostradas no painel (b): se a demanda agregada não aumenta, há 6% de desemprego e 0% de inflação. Se a demanda agregada aumenta, há 4% de desemprego e 2% de inflação.

As primeiras estimativas da curva de Phillips de curto prazo para os Estados Unidos eram muito simples: mostravam a relação negativa entre a taxa de desemprego e a taxa de inflação, sem levar em conta outras variáveis. Durante os anos 1950 e 1960, essa abordagem simples pareceu, por um tempo, ser adequada. E essa relação simples está

clara nos dados da Figura 16-5. Mesmo naquela época, no entanto, alguns economistas argumentaram que uma curva de Phillips de curto prazo mais precisa teria que incluir outros fatores. No Capítulo 12, discutimos o efeito dos choques de oferta, como um aumento brusco nos preços do petróleo, que desloca a curva de oferta agregada de curto prazo. Esses choques também deslocam a curva de Phillips de curto prazo: o salto nos preços do petróleo foi um fator importante da inflação da década de 1970 e também desempenhou um papel importante na aceleração da inflação entre 2007 e 2008. Em geral, um choque de oferta negativo desloca a curva de Phillips de curto prazo SRPC para cima à medida que a taxa de inflação aumenta para cada nível da taxa de desemprego, e um choque de oferta positivo deslocaa para baixo à medida que a taxa de inflação diminui para cada nível da taxa de desemprego. Ambos os resultados são mostrados na Figura 16-8.

Para mentes curiosas A curva da oferta agregada e a curva de Phillips de curto prazo Em capítulos anteriores, fizemos uso extensivo do modelo AD-AS (demanda agregadaoferta agregada), em que a curva da oferta agregada de curto prazo – a relação entre o PIB real e o nível de preços agregado desempenha um papel central. Agora, introduzimos o conceito da curva de Phillips de curto prazo, uma relação entre a taxa de desemprego e a taxa de inflação. Como esses dois conceitos combinam entre si? Pode-se obter uma resposta parcial a essa questão, analisando o painel (a) da Figura 16-7, que mostra como mudanças no nível de preços agregado e no hiato de produto dependem de mudanças na demanda agregada. Suponha que no ano um a curva da demanda agregada seja AD1, a curva da oferta agregada de longo prazo seja LRAS e a curva da oferta agregada de curto prazo seja SRAS. O equilíbrio macroeconômico inicial está em E1, onde o nível de preços é 100 e o PIB real são $10 trilhões. Observe que em E1, o PIB real é igual ao produto potencial, de modo que o hiato de produto é zero. Considere agora dois caminhos possíveis para a economia no próximo ano. Um deles é que a demanda agregada permaneça inalterada e que a economia fique em E1. O outro é que a demanda agregada se desloque para a direita para AD2 e a economia se mova para E2. Em E2, o PIB real são $10,4 trilhões, $0,4 trilhões a mais do que o produto potencial – um hiato de produto de 4%. Enquanto isso, em E2 o nível de preços agregado é 102 – um aumento de 2%. Então, o painel (a) nos informa que, neste exemplo, um hiato de produto zero está associado com inflação zero e um hiato de 4% está associada com inflação de 2%. O painel (b) mostra o que isso implica para a relação entre desemprego e inflação. Suponha que a taxa natural de desemprego seja de 6% e que um aumento de 1 ponto percentual no hiato de produto provoca uma queda de 0,5 ponto percentual na taxa de desemprego pela lei de Okun, descrito anteriormente em Para mentes curiosas. Nesse

exemplo, os dois casos mostrados no painel (a) – demanda agregada inalterada ou subindo – correspondem a dois pontos no painel (b). Em E1, a taxa de desemprego é de 6% e a taxa de inflação é 0%. Em E2, a taxa de desemprego é de 4%, porque um hiato de produto de 4% reduz a taxa de desemprego em 4% × 0,5 = 2% abaixo da taxa natural de 6% – e a taxa de inflação é de 2%. Portanto, há uma relação negativa entre desemprego e inflação. Isso quer dizer, então, que a curva de oferta agregada de curto prazo informa exatamente a mesma coisa que a curva de Phillips de curto prazo? Não é bem assim. A curva de oferta agregada de curto prazo parece indicar uma relação entre a variação na taxa de desemprego e a taxa de inflação, mas a curva de Phillips de curto prazo mostra uma relação entre o nível da taxa de desemprego e a taxa de inflação. Conciliar essas visões completamente vai além do escopo deste livro. O ponto importante é que a curva de Phillips de curto prazo é um conceito que está intimamente relacionado, embora não seja idêntico ao da curva da oferta agregada de curto prazo.

FIGURA 16-8 A curva de Phillips de curto prazo e os choques de oferta Um choque de oferta negativo desloca SRPC para cima e um choque de oferta positivo desloca SRPC para baixo.

Mas choques de oferta não são os únicos fatores que podem mudar a taxa de inflação. No início de 1960, os americanos tinham pouca experiência com inflação, pois as taxas de inflação tinham sido baixas durante décadas. Mas no final dos anos 1960, após a inflação estar aumentando constantemente durante alguns anos, passaram a esperar a inflação futura. Em 1968, dois economistas – Milton Friedman, da Universidade de Chicago, e Edmund Phelps, da Universidade de Columbia –, independentemente, apresentaram uma hipótese crucial: que as expectativas sobre a inflação futura afetam diretamente a taxa de inflação presente. Hoje a maioria dos economistas aceita que a taxa de inflação esperada – a taxa de inflação que os empregadores e os trabalhadores esperam no futuro próximo – é o fator mais importante, além da taxa de desemprego, que afeta a inflação.

Expectativas de inflação e a curva de Phillips de curto prazo A taxa de inflação esperada é a taxa de inflação que empregadores e trabalhadores esperam em um futuro próximo. Uma das descobertas fundamentais da macroeconomia moderna é que a taxa de inflação esperada afeta o trade-off de curto prazo entre desemprego e inflação e desloca a curva de Phillips de curto prazo. Por que variações na inflação esperada afetam a curva de Phillips de curto prazo? Coloque-se na posição de um trabalhador ou empregador prestes a assinar um contrato fixando os salários dos trabalhadores para o próximo ano. Por uma série de razões, o nível salarial do acordo será mais alto se todos esperam inflação mais alta (incluindo salários em ascensão) do que se todos esperam que os preços permaneçam estáveis. Os trabalhadores vão querer um salário que leve em conta quedas futuras no poder de compra do seu rendimento. Também vão querer um salário que não fique atrás dos salários de outros trabalhadores. E o empregador estará mais disposto a concordar com o aumento de salário agora, se prevê que a contratação de trabalhadores, mais tarde, será ainda mais onerosa. Além disso, o aumento dos preços tornará mais fácil para o empregador pagar salários mais altos, pois o produto do empregador estará sendo vendido por um valor mais alto. Por essas razões, um aumento na inflação esperada desloca a curva de Phillips de curto prazo para cima: a taxa de inflação efetiva a qualquer taxa de desemprego dada é mais alta quando a taxa de inflação esperada é mais alta. Na verdade, os macroeconomistas acreditam que a relação entre variações na inflação esperada e variações na inflação efetiva seja de um para um. Ou seja, quando a taxa de inflação esperada aumenta, a taxa de inflação efetiva, a qualquer taxa de desemprego dada, aumenta na mesma proporção. Quando a taxa de inflação esperada cai, a taxa de inflação efetiva, a qualquer nível de desemprego dado, cai na mesma proporção. A Figura 16-9 mostra como a taxa de inflação esperada afeta a curva de Phillips de curto prazo. Primeiro, suponha que a taxa de inflação esperada seja 0%. SRPC0 é a curva de Phillips de curto prazo quando o público espera inflação de 0%. De acordo com SRPC0, a taxa de inflação efetiva será de 0% se a taxa de desemprego for 6%; será de 2%, se a taxa de desemprego for 4%.

FIGURA 16-9 Inflação esperada e a curva de Phillips de curto prazo Um aumento na inflação esperada desloca a curva de Phillips de curto prazo para cima. SRPC0 é a curva de Phillips de curto prazo, com taxa de inflação esperada de 0%; SRPC2 é a curva de Phillips de curto prazo com taxa de inflação esperada de 2%. Cada ponto percentual adicional de inflação esperada aumenta a taxa de inflação efetiva, a qualquer taxa de desemprego dada, em 1 ponto percentual.

De forma alternativa, suponha que a taxa de inflação esperada seja 2%. Nesse caso, os empregadores e os trabalhadores vão incorporar essa expectativa nos salários e preços: a qualquer taxa de desemprego dada, a taxa de inflação efetiva será 2 pontos percentuais mais alta do que seria se as pessoas esperassem inflação de 0%. SRPC2, que mostra a curva de Phillips, quando a inflação esperada é de 2%, é SRPC0 deslocada para cima em 2 pontos percentuais em cada nível de desemprego. De acordo com SRPC2, a taxa de inflação efetiva será 2%, se a taxa de desemprego for 6%; será de 4 %, se a taxa de desemprego for 4%. O que determina a taxa de inflação esperada? Em geral, as pessoas baseiam as expectativas sobre inflação na experiência. Se a taxa de inflação ficou em torno de 0% nos últimos anos, as pessoas vão esperar que ela continue em torno de 0% no futuro próximo. Mas se a taxa de inflação tem sido em média em torno de 5%, as pessoas vão esperar que a inflação se situe em torno de 5% no futuro próximo. Uma vez que a inflação esperada é uma parte importante da discussão moderna sobre a curva de Phillips de curto prazo, por que isso não estava na formulação original da curva de Phillips? A resposta está na história. Lembre-se sobre o que dissemos sobre o início da década de 1960: naquela época, as pessoas estavam acostumadas a taxas de inflação baixas e seria razoável esperar que as taxas de inflação futuras também fossem baixas. Somente depois de 1965 a inflação persistente tornou-se um fato da vida. Então, foi somente nessa época que se tornou claro que a inflação esperada teria um papel importante na fixação dos preços.

Economia em ação

Dos preocupantes anos 1970 aos tranquilos anos 1990 A Figura 16-5 mostrou que a experiência americana nos anos 1950 e 1960 apoiou a crença na existência de uma curva de Phillips de curto prazo para a economia dos Estados Unidos com um trade-off de curto prazo entre desemprego e inflação. Contudo, depois de 1969, essa relação aparentemente se desmantelou. A Figura 16-10 traça a sequência de desemprego nos Estados Unidos e as taxas de inflação de 1961 a 1990. Como se pode ver, o traçado se parece mais com um fio de linha emaranhado do que com uma curva suave.

FIGURA 16-10 Desemprego e inflação, 1961-1990 Fonte: Bureau of Labor Statistics.

Durante grande parte da década de 1970 e início de 1980, a economia sofreu de uma combinação de taxas de desemprego acima da média, com taxas de inflação sem precedentes na história americana moderna. Essas condições passaram a ser conhecidas como estagflação – para estagnação combinada com inflação alta. No final de 1990, por outro lado, a economia estava passando por uma combinação feliz de desemprego baixo e inflação baixa. O que explica esses acontecimentos? Parte da resposta pode ser atribuída a uma série de choques de oferta negativos que a economia dos Estados Unidos sofreu durante a década de 1970. O preço do petróleo, em particular, subiu muito à medida que guerras e revoluções no Oriente Médio levaram a uma redução na oferta de petróleo e à medida que os países exportadores de petróleo deliberadamente reduziram a produção para elevar os preços. Para agravar os choques do preço do petróleo, houve também uma desaceleração no crescimento da produtividade do trabalho. Esses fatores deslocaram a curva de Phillips de curto prazo para cima. Durante os anos 1990, por outro lado, os choques de oferta foram positivos. Os preços do petróleo e de outras matérias-primas em geral estavam caindo e o crescimento da produtividade acelerou. Como resultado, a curva de Phillips de curto prazo se deslocou para baixo. Igualmente importante, contudo, foi o papel da inflação esperada. Como mencionado

anteriormente neste capítulo, a inflação acelerou durante os anos 1960. Durante a década de 1970 o público passou a esperar inflação elevada, e isso também deslocou a curva de Phillips de curto prazo. Foi necessário um esforço sustentado e caro na década de 1980 para pressionar a inflação de volta para baixo. O resultado, porém, foi que a expectativa de inflação passou a ser muito baixa no fim de 1990, permitindo que a inflação efetiva fosse reduzida, mesmo com taxas de desemprego baixas.

Breve revisão ■ A lei de Okun descreve a relação entre o hiato de produto e o desemprego cíclico. ■ A curva de Phillips de curto prazo ilustra a relação negativa entre desemprego e inflação. ■ Um choque de oferta negativo desloca a curva de Phillips de curto prazo para cima, mas um choque de oferta positivo a desloca para baixo. ■ Um aumento na taxa de inflação esperada pressiona a curva de Phillips de curto prazo para cima: cada ponto percentual adicional de inflação esperada aumenta em 1 ponto percentual a taxa de inflação efetiva para qualquer nível de desemprego. ■ Na década de 1970, uma série de choques de oferta negativos e uma desaceleração no crescimento da produtividade do trabalho levaram à estagflação e a um deslocamento para cima da curva de Phillips de curto prazo.

Teste seu entendimento 16-2 1. Explique como a curva de Phillips de curto prazo ilustra a relação negativa entre desemprego cíclico e a taxa de inflação efetiva para um dado nível da taxa de inflação esperada. 2. Em que direção se move a curva de Phillips de curto prazo em resposta a uma queda no preço das commodities? E a um aumento no preço das commodities? Explique. As respostas estão no fim do livro.

Inflação e desemprego no longo prazo A curva de Phillips de curto prazo diz que em determinado ponto no tempo, há um tradeoff entre desemprego e inflação. De acordo com esse ponto de vista, os formuladores de política econômica têm uma escolha: podem optar em aceitar o preço da inflação alta, a fim de alcançar baixo desemprego. De fato, durante a década de 1960 muitos economistas acreditavam que esse trade-off representava de fato uma escolha real. No entanto, esse ponto de vista foi muito alterado pelo reconhecimento posterior de que a inflação esperada afeta a curva de Phillips de curto prazo. No curto prazo, as expectativas muitas vezes divergem da realidade. No longo prazo, no entanto, qualquer taxa de inflação consistente será refletida nas expectativas. Se a inflação for sempre elevada, como era na década de 1970, as pessoas vão esperar que seja cada vez mais alta. Se a inflação for consistentemente baixa, como tem sido nos últimos anos, isso também passará a fazer parte da expectativa. Então o que acontece com o trade-off entre inflação e desemprego no longo prazo, quando a inflação efetiva é incorporada às expectativas? A maioria dos macroeconomistas acredita que, de fato, não há trade-off no longo prazo. Ou seja, não é possível alcançar desemprego mais baixo no longo prazo ao aceitar uma inflação mais elevada. Para ver por que, é necessário introduzir outro conceito: a curva de Phillips de longo prazo.

A curva de Phillips de longo prazo A Figura 16-11 reproduz as duas curvas de Phillips de curto prazo a partir da Figura 16-9, SRPC0 e SRPC2. Ela também acrescenta mais uma curva de Phillips de curto prazo, SRPC4, representando uma taxa de inflação esperada de 4%. Em um momento, explicaremos a significância da curva de Phillips de longo prazo vertical, LRPC.

FIGURA 16-11 A NAIRU e a curva de Phillips de longo prazo SRPC0 é a curva de Phillips de curto prazo quando a taxa de inflação esperada é 0%. Com uma taxa de desemprego de 4%, a economia está no ponto A, com uma taxa de inflação efetiva de 2%. A taxa de inflação mais elevada será incorporada às expectativas e o SRPC se deslocará para cima até SRPC2. Se os formuladores de política econômica agirem para manter a taxa de desemprego em 4%, a economia estará em B e a taxa de inflação irá aumentar para 4%. As expectativas inflacionárias serão novamente revistas para cima e SRPC se deslocará para SRPC4. Com uma taxa de desemprego de 4%, a economia estará em C e a taxa de inflação irá aumentar para 6%. Aqui, uma taxa de desemprego de 6% é a NAIRU, ou taxa de desemprego que não acelera a inflação. Desde que o desemprego seja o da NAIRU, a taxa de inflação efetiva corresponderá às expectativas e permanecerá estável. Uma taxa de desemprego abaixo de 6% implica uma inflação cada vez mais acelerada. A curva de Phillips de longo prazo, LRPC, que passa através de E0, E2 e E4, é vertical: no longo prazo não há trade-off entre desemprego e inflação.

Suponha que a economia, no passado, teve uma taxa de inflação de 0%. Nesse caso, a atual curva de Phillips de curto prazo será SRPC0, refletindo uma taxa de inflação esperada de 0%. Se a taxa de desemprego for de 6%, a taxa de inflação real será 0%. Também suponha que os formuladores de política econômica decidam trocar desemprego mais baixo por inflação mais alta. Eles usam a política monetária, política fiscal, ou ambas, para pressionar a taxa de desemprego para baixo até 4%. Isso coloca a economia no ponto A em SRPC0, levando a uma taxa de inflação efetiva de 2%. Com o tempo, o público passará a esperar uma taxa de inflação de 2%. Esse aumento nas expectativas inflacionárias deslocará a curva de Phillips de curto prazo para cima, para SRPC2. Agora, quando a taxa de desemprego é de 6%, a taxa de inflação efetiva será 2%. Diante dessa nova curva de Phillips de curto prazo, as políticas adotadas para manter a taxa de desemprego em 4% levarão a uma taxa de inflação efetiva de 4% – ponto B em SRPC2 – ao invés de no ponto A com uma taxa de inflação efetiva de 2%. No fim, a taxa de inflação efetiva de 4% é incorporada às expectativas de inflação futura e a curva de Phillips de curto prazo se desloca de novo para cima para SRPC4. A manutenção da taxa de desemprego de 4% agora exige aceitar uma taxa de inflação efetiva de 6%, ponto C em SRPC4, e assim por diante. Em resumo, uma tentativa

persistente de trocar desemprego mais baixo por inflação mais alta leva à aceleração da inflação ao longo do tempo. Para evitar a aceleração da inflação ao longo do tempo, a taxa de desemprego deve ser alta o suficiente para que a taxa de inflação efetiva corresponda à taxa de inflação esperada. Essa é a situação em E0 sobre SRPC0: quando a taxa de inflação esperada é 0% e a taxa de desemprego é 6%, a taxa de inflação efetiva é 0%. É também a situação em E2 sobre SRPC2: quando a taxa de inflação esperada é 2% e a taxa de desemprego é 6%, a taxa de inflação efetiva é 2%. E é a situação em E4 sobre SRPC4: quando a taxa de inflação esperada é 4% e a taxa de desemprego é 6%, a taxa de inflação efetiva é 4%. Como aprenderemos no Capítulo 18, essa relação entre aceleração da inflação e taxa de desemprego é conhecida como hipótese da taxa natural. A taxa de desemprego à qual a inflação não varia ao longo do tempo – 6% na Figura 1611 – é conhecida como a taxa de desemprego que mantém estável a inflação, ou NAIRU abreviado. Manter a taxa de desemprego abaixo da NAIRU leva a inflação cada vez mais acelerada e não pode ser mantida. A maioria dos macroeconomistas acredita que há uma NAIRU e que não haja trade-off de longo prazo entre desemprego e inflação. Podemos agora explicar o significado da linha vertical LRPC. É a curva de Phillips de longo prazo, a relação entre desemprego e inflação no longo prazo, depois que as expectativas de inflação tiveram tempo de se ajustar à experiência. É vertical, porque qualquer taxa de desemprego abaixo da NAIRU leva a uma inflação cada vez mais acelerada. Em outras palavras, a curva de Phillips de longo prazo mostra que há limites para políticas expansionistas porque uma taxa de desemprego abaixo da NAIRU não pode ser mantida no longo prazo. Além disso, há um ponto ainda não enfatizado: qualquer taxa de desemprego acima da NAIRU leva à desaceleração da inflação.

A taxa natural de desemprego – revisitada Lembre-se do conceito de taxa natural de desemprego, a parcela da taxa de desemprego não afetada pelas oscilações do ciclo econômico. Agora introduzimos o conceito da NAIRU. Como esses dois conceitos se relacionam entre si? A resposta é que a NAIRU é outro nome para a taxa natural. O nível de desemprego que a economia “precisa”, a fim de evitar acelerar a inflação, é igual à taxa natural de desemprego. Na verdade, os economistas estimam a taxa natural de desemprego, buscando evidências sobre a NAIRU a partir do comportamento da taxa de inflação e da taxa de desemprego ao longo do ciclo econômico. Por exemplo, a forma como os principais países europeus descobriram, para seu espanto, que as suas taxas naturais de desemprego eram 9% ou mais foi por meio de uma experiência desagradável. No final dos anos 1980 e no final de 1990, a inflação europeia começou a acelerar à medida que as taxas de desemprego da Europa, que tinham estado acima de 9%, começaram a cair, aproximando-se de 8%. Na Figura 16-4 citamos estimativas da taxa natural de desemprego dos Estados Unidos feitas pelo CBO, o escritório do Congresso americano para orçamento. O CBO tem um

modelo que prevê mudanças na taxa de inflação com base no desvio da taxa de desemprego efetiva em relação à taxa natural. Diante dos dados sobre o desemprego efetivo e a inflação, esse modelo pode ser usado para deduzir estimativas da taxa natural, e é daí que vêm os números do CBO. Em abril de 2012, a estimativa do CBO da taxa natural dos Estados Unidos era de 5,5%.

Os custos da desinflação Por meio da experiência, os formuladores de política econômica descobriram que pressionar a inflação para baixo é uma tarefa muito mais difícil do que aumentá-la. A razão é que uma vez que o público espera uma inflação contínua, trazê-la para baixo é doloroso. Uma tentativa persistente de manter a taxa de desemprego abaixo da taxa natural leva a uma aceleração da inflação, que se incorpora às expectativas. Para reduzir as expectativas inflacionárias, os formuladores de política econômica precisam executar o processo em sentido inverso, a adoção de políticas contracionistas que mantêm a taxa de desemprego acima da taxa natural por um período prolongado. O processo de reduzir a inflação que se incorporou às expectativas é conhecido como desinflação. A desinflação pode ser muito cara. Como documenta a seção Economia em ação seguinte, o processo de retrocesso da inflação elevada do início da década de 1980 nos Estados Unidos parece ter custado o equivalente a cerca de 18% do PIB real de um ano, o equivalente a aproximadamente $2,6 trilhões de hoje. A justificativa para pagar esse custo é que ele leva a um ganho permanente. Embora a economia não recupere as perdas de produtividade de curto prazo causadas pela desinflação, já não sofre de outros custos associados com a inflação persistentemente elevada. Na verdade, os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e outros países ricos que experimentaram inflação na década de 1970 finalmente decidiram que o benefício de reduzir a inflação valeu o sofrimento requerido – a grande redução no PIB real no curto prazo.

Comparação global Desinflação no mundo todo A grande desinflação da década de 1980 não foi exclusiva dos Estados Unidos. Vários outros países avançados também experimentaram inflação elevada na década de 1970 e, depois, trouxeram a inflação para baixo durante a década de 1980, ao custo de uma severa recessão. Esta figura mostra a taxa anual de inflação na Grã-Bretanha, na Itália e nos Estados Unidos de 1970 a 2010. As três nações tiveram taxas de inflação altas na esteira dos dois choques do petróleo de 1973 e 1979, sendo a inflação dos Estados Unidos a menos grave das três. As três nações suportaram recessões severas para reduzir a inflação. Desde os anos 1980, a inflação tem permanecido baixa e estável em todas as nações ricas.

Fonte: OCDE.

Alguns economistas argumentam que os custos da desinflação podem ser reduzidos se os formuladores de política econômica declararem explicitamente sua determinação de reduzir a inflação. Uma política de desinflação claramente anunciada, credível, afirmam, pode reduzir a expectativa de inflação futura e assim deslocar a curva de Phillips de curto prazo para baixo. Alguns economistas acreditam que a determinação clara do Fed de combater a inflação na década de 1970 era credível o suficiente para que os custos da desinflação, por maiores que fossem, eram mais baixos do que de outro modo teriam sido.

Economia em ação A grande desinflação dos anos 1980 Como já mencionamos várias vezes neste capítulo, os Estados Unidos terminaram os anos 1970 com inflação elevada, ao menos segundo seus próprios padrões históricos em tempo de paz: 13% em 1980. Parte dessa inflação foi o resultado de eventos que aconteceram de uma só vez, especialmente a crise mundial do petróleo. Mas a expectativa de inflação futura de 10% ou mais por ano parecia estar firmemente enraizada na economia. No entanto, em meados da década de 1980, a inflação estava em torno de 4% ao ano. O painel (a) da Figura 16-12 mostra a taxa de variação anual no “núcleo” do índice de preços ao consumidor (IPC) – também chamada de taxa do núcleo de inflação. Esse índice, que exclui os preços de energia e dos alimentos, é amplamente considerado um indicador melhor das tendências de inflação subjacente do que o IPC cheio (ou completo). Por essa medida, a inflação caiu de 12% no final da década de 1970 para 4% em meados dos anos 1980.

FIGURA 16-12 A grande desinflação Fontes: Bureau of Labor Statistics e Congressional Budget Office.

Como essa desinflação foi alcançada? A um grande custo. No final de 1979, o Fed impôs políticas monetárias fortemente contracionistas, que levou a economia à pior recessão desde a Grande Depressão. O painel (b) mostra as estimativas do CBO do Congresso americano para o hiato de produto dos Estados Unidos de 1979 a 1989: em 1982, o produto efetivo estava 7% abaixo do produto potencial, correspondente a uma taxa de desemprego de mais de 9%. O produto agregado só voltou ao nível do produto potencial em 1987. A análise da curva de Phillips informa que um aumento temporário do desemprego, como o dos anos 1980, é necessário para quebrar o ciclo de expectativa inflacionária. Uma vez que as expectativas de inflação são reduzidas, a economia pode voltar para a taxa natural de desemprego a uma taxa de inflação mais baixa. E foi isso que aconteceu. Mas o custo foi enorme. Se somarmos o hiato de produto de 1980 a 1987, veremos que a economia sacrificou aproximadamente 18% do produto médio anual no período. Se tivéssemos que fazer a mesma coisa hoje, isso significaria abrir mão de aproximadamente 2,6 trilhões em bens e serviços.

Breve revisão ■ Políticas que mantêm a taxa de desemprego abaixo da NAIRU, que não aceleram a inflação, levarão à aceleração da inflação à medida que as expectativas inflacionárias se ajustarem a níveis mais elevados de inflação efetiva. A NAIRU é igual à taxa natural de desemprego. ■ A curva de Phillips de longo prazo é vertical e mostra que uma taxa de desemprego abaixo da NAIRU não pode ser mantida no longo prazo. Em consequência, há limites para políticas expansionistas. ■ A desinflação impõe custos altos – desemprego e perda de produto – em uma economia. Os governos adotam essa política para evitar custos de inflação persistentemente elevados.

Teste seu entendimento 16-3 1. Por que não há trade-off de longo prazo entre desemprego e inflação?

2. Os economistas britânicos acreditam que a taxa natural de desemprego no país subiu acentuadamente, durante a década de 1970, de cerca de 3% até 10%. Durante esse período, a Inglaterra experimentou forte aceleração da inflação, que por um tempo ficou acima de 20%. Como esses fatos podem estar relacionados? 3. Por que a desinflação é tão onerosa para a economia? Existem maneiras de reduzir esses custos? As respostas estão no fim do livro.

Deflação Antes da Segunda Guerra Mundial, a deflação – uma queda no nível de preços agregado – era quase tão comum quanto a inflação. De fato, o índice de preços ao consumidor dos Estados Unidos na véspera da Segunda Guerra Mundial era 30% mais baixo do que havia sido em 1920. Após a Segunda Guerra Mundial, a inflação tornou-se a norma em todos os países. Mas na década de 1990, a deflação reapareceu no Japão e foi difícil de reverter. A preocupação com a deflação potencial desempenhou um papel crucial na política monetária dos Estados Unidos no início de 2000 e, novamente, no rescaldo da crise financeira de 2008. Por que a deflação é um problema? E por que é difícil de ser eliminada?

Deflação de dívida A deflação, como a inflação, produz tanto ganhadores como perdedores, mas em direção oposta. Devido a um nível de preços declinante, US$1 (ou qualquer outra moeda) no futuro tem um valor real superior a US$1 hoje. Assim, os credores, aos quais se deve dinheiro, ganham na deflação, porque o valor real dos pagamentos dos tomadores de empréstimo aumenta. Os devedores perdem porque a carga real da dívida aumenta. Em uma análise famosa no início da Grande Depressão, Irving Fisher (que primeiro analisou o efeito Fisher da inflação esperada sobre as taxas de juros, descrito no Capítulo 10) afirmou que os efeitos da deflação sobre os devedores e credores podem agravar uma crise econômica. A deflação, na verdade, retira recursos reais dos devedores e os redistribui aos credores. Fisher argumentou que os devedores que perdem com a deflação, normalmente, têm pouca moeda em seu poder e são forçados a cortar os gastos drasticamente quando a carga da dívida aumenta. Os credores, no entanto, não são suscetíveis de aumentar os gastos fortemente quando o valor do empréstimo a eles devido aumenta. O efeito global, segundo Fisher, é que a deflação reduz a demanda agregada, aprofundando a recessão econômica, que, em um círculo vicioso, pode levar a mais deflação. O efeito da deflação na redução da demanda agregada, conhecido como deflação de dívida, provavelmente desempenhou um papel significativo na Grande Depressão.

Efeitos da deflação esperada Assim como a inflação esperada, a deflação esperada afeta a taxa de juros nominal. Analise novamente a Figura 10-7 que mostra como a inflação esperada afeta a taxa de juros de equilíbrio. Na Figura 10-7, a taxa de juros nominal de equilíbrio é 4% se a taxa de inflação esperada for 0%. É claro que se a inflação esperada for −3% – se o público espera uma deflação de 3% ao ano – a taxa de juros nominal de equilíbrio será 1%. Mas o que aconteceria se a taxa de inflação esperada fosse −5%? A taxa de juros nominal cairia −1% e assim os credores estariam pagando aos tomadores de empréstimo

1% da dívida deles? Não. Ninguém empresta dinheiro a uma taxa de juros nominal negativa, porque estariam em situação melhor, apenas mantendo moeda. Isso ilustra o que os economistas chamam de fronteira zero da taxa de juros nominal: ela não pode chegar abaixo de zero. Essa fronteira zero pode limitar a eficácia da política monetária. Suponha que a economia esteja deprimida, com o produto abaixo do produto potencial e a taxa de desemprego acima da taxa natural. Normalmente, o banco central pode responder cortando a taxa de juros de modo a aumentar a demanda agregada. Se a taxa de juros nominal já é zero, no entanto, o banco central não pode reduzi-la ainda mais. Os bancos se recusam a emprestar e os consumidores e as empresas se recusam a gastar, pois com uma taxa de inflação negativa e uma taxa de juros nominal de 0%, manter moeda produz um retorno real positivo: com a queda dos preços, determinada quantidade de moeda compra mais ao longo do tempo. Qualquer aumento subsequente na base monetária será mantido nos cofres dos bancos ou como moeda pelas pessoas ou empresas, sem ser gasta. Uma situação em que a política monetária convencional para combater uma crise – cortando as taxas de juros – não pode ser usada, pois a taxa de juros nominal não pode cair abaixo de zero, é conhecida como armadilha de liquidez. A armadilha de liquidez pode ocorrer sempre que houver uma forte redução na demanda de fundos para empréstimo – que foi exatamente o que aconteceu durante a Grande Depressão. A Figura 16-13 mostra a taxa de juros sobre a dívida do governo dos Estados Unidos de curto prazo de 1920 a dezembro de 2011. Como se vê, a partir de 1933 até que a Segunda Guerra Mundial trouxesse uma recuperação econômica completa, a economia dos Estados Unidos estava perto da fronteira zero da taxa de juros ou encostada nela. Após a Segunda Guerra Mundial, quando a inflação se tornou norma em todo o mundo, a fronteira zero em grande parte desapareceu como um problema, pois o público passou a esperar inflação, em vez de deflação.

FIGURA 16-13 Fronteira zero na história dos Estados Unidos Esta figura mostra as taxas de juros de curto prazo dos Estados Unidos, especificamente a taxa de juros sobre Letras do Tesouro de três meses, de 1920 a 2011. Como se vê na área sombreada à esquerda, em grande parte da década de 1930, a taxa de juros esteve muito perto de zero, deixando pouco espaço para uma política monetária expansionista. Após a Segunda Guerra Mundial, a inflação persistente manteve a taxa de juros em geral bem acima de zero. No entanto, no final de 2008, na esteira do estouro da bolha imobiliária e da crise financeira que se seguiu, a taxa de juros sobre Letras do Tesouro de três meses voltou a ser praticamente zero. Fonte: Federal Reserve Bank de St. Louis.

No entanto, a história recente da economia japonesa, mostrada na Figura 16-14, fornece uma ilustração moderna do problema da deflação e da armadilha de liquidez. O Japão experimentou um enorme crescimento nos preços tanto das ações como dos imóveis no final de 1980 e, em seguida, viu as duas bolhas estourarem. O resultado foi um período prolongado de estagnação econômica, a chamada Década Perdida, que gradualmente reduziu a taxa de inflação e levou à deflação persistente. Em um esforço para combater a fraqueza da economia, o Banco do Japão – o Banco Central japonês – cortou repetidamente a taxa de juros. No final chegou a uma política de taxa de juros zero (às vezes chamada ZIRP, para Zero Interest Rate Policy). A taxa que no Japão equivale à taxa de juros do mercado interbancário foi literalmente fixada igual a zero. Como a economia continuava deprimida, teria sido desejável cortar ainda mais a taxa de juros. Mas isso não era possível: o Japão estava encostado na fronteira zero.

FIGURA 16-14 A década perdida do Japão A crise econômica prolongada no Japão levou à deflação a partir do final da década de 1990 em diante. O Banco do Japão respondeu cortando a taxa de juros, mas, no final, estava na fronteira zero. Fonte: OCDE.

No rescaldo da crise financeira de 2008, o Fed também se encontrava diante da fronteira zero, com a taxa de juros sobre a dívida de curto prazo do governo dos Estados Unidos praticamente a zero. Como será discutido a seguir em Economia em ação, isso o fez temer cair em um tipo de armadilha como a do Japão e estimulou o Fed a tomar algumas medidas não convencionais.

Economia em ação O MEDO DA DEFLAÇÃO EM 2010 Desde a crise financeira de 2008, os formuladores de política econômica dos Estados Unidos têm se preocupado com a possibilidade da “Japonização” – isto é, têm a preocupação que, como o Japão desde os anos 1990, os Estados Unidos possam ficar presos em uma armadilha de deflação. Na verdade, Ben Bernanke, presidente do Fed, estudou o Japão intensivamente antes de ir para o Fed e tem procurado fazer melhor do que os japoneses fizeram. Os temores de deflação foram particularmente intensos no verão e início do outono de 2010. A Figura 16-15 mostra o porquê ao monitorar dois números que o Fed observa com cuidado ao fazer política. Um desses números é a taxa do “núcleo” de inflação sobre o ano passado – o aumento percentual na medida de preços ao consumidor (deflator dos gastos de consumo pessoal), que exclui os preços de alimentos e energia. O Fed normalmente considera essa taxa do núcleo de inflação o melhor guia para a inflação subjacente e tenta mantê-la em torno de 2%. O outro número é a medida da inflação esperada derivada do cálculo da diferença entre a taxa de juros sobre os bônus ordinários do governo e a taxa sobre os bônus do governo, cujo rendimento é protegido

contra a inflação.

FIGURA 16-15 Inflação esperada versus real em 2010 Fonte: Bureau of Economic Analysis e Federal Reserve Bank de St. Louis.

Como se pode ver, até o final do verão americano de 2010, tanto a inflação real como a esperada estavam deslizando para níveis bem abaixo da meta de 2% do Fed. As autoridades do Fed estavam preocupadas, e entraram em ação. Em agosto de 2010, Ben Bernanke fez um discurso na reunião anual do Fed em Jackson Hole, Wyoming, sinalizando que iria tomar medidas especiais para evitar a ameaça deflacionária. E, em novembro, o Fed, que normalmente só compra dívida pública de curto prazo, iniciou um programa de compra de bônus de longo prazo, na esperança de que isso iria dar um impulso à economia. A Figura 16-15 mostra que o discurso de Bernanke e a ação do Fed levaram a uma grande mudança de expectativa, com a diminuição do receio dos investidores. A inflação real também acelerou significativamente. O que não estava claro, no entanto, era se o Fed tinha conseguido mais do que um alívio temporário. Um ano depois do grande discurso de Bernanke, a inflação esperada foi cedendo novamente e o temor da deflação estava em ascensão novamente.

Caso empresarial Fábricas de dinheiro As pessoas às vezes falam sobre empresas lucrativas como se fosse uma “fábrica de dinheiro”. Bem, a empresa britânica De La Rue realmente faz isso. Em 1930, a impressora de itens, De La Rue, que imprimia itens como selos postais, expandiu-se para o negócio de impressão de dinheiro, produzindo notas para o então governo da China.

Hoje produz as moedas de cerca de 150 países. Os negócios da De La Rue receberam alguma atenção inesperada em 2011, quando Muammar Gaddafi, o ditador que governou a Líbia desde 1969, estava lutando para reprimir uma revolta popular feroz. Para financiar seus esforços, ele se virou para a senhoriagem, ordenando a impressão de cerca de $1,5 bilhão de dinares líbios. Mas as notas líbias não eram impressas na Líbia; eram impressas na Grã-Bretanha em uma das instalações da De La Rue. O governo britânico, inimigo do regime de Gaddafi, confiscou as novas notas antes de serem enviadas para a Líbia, recusando-se a soltá-las até que Gaddafi fosse derrubado. Por que tantos países se voltam para as empresas privadas, como a De La Rue e sua principal rival, a empresa alemã Giesecke e Devrient, para imprimir moedas? Uma resposta breve é que imprimir dinheiro não é tão fácil quanto parece: a produção de notas de alta qualidade, que são difíceis de falsificar, requer equipamento altamente especializado e perícia. Países ricos e grandes como os Estados Unidos podem facilmente se dar ao luxo de fazer isso por si mesmo: a moeda dos Estados Unidos é impressa pelo Bureau of Engraving and Printing, uma divisão do Departamento do Tesouro. Mas países menores e mais pobres fazem melhor ao deixar isso a cargo de especialistas como a De La Rue, que pode incluir recursos de alta tecnologia, como fios de segurança e holografia para combater os falsificadores. Na verdade, a De La Rue teve seus próprios problemas com controle de qualidade: um escândalo eclodiu em 2010, quando se descobriu que uma de suas fábricas vinha produzindo papel de segurança com defeito e que os funcionários tinham encoberto o problema. No entanto, muitos países, certamente, irão continuar contando com empresas privadas especializadas para a produção de sua moeda.

Breve revisão ■ A deflação inesperada ajuda os credores e prejudica os devedores. Isso pode levar à deflação de dívida, que tem um efeito contracionista sobre a demanda agregada. ■ A deflação torna provável que a taxa de juros acabe batendo na fronteira zero. Quando isso acontece, a economia está em uma armadilha de liquidez e a política monetária é ineficaz.

Teste seu entendimento 16-4 1. Por que ninguém empresta dinheiro a uma taxa de juros nominal negativa? Como isso pode causar problema para a política monetária? As respostas estão no fim do livro.

Questões para pensar 1. Como um governo pode obter renda imprimindo dinheiro quando de fato esse dinheiro é impresso por outrem? 2. Por que, exatamente, Gaddafi recorreu à impressão no início de 2011?

3. Havia riscos para a economia da Líbia em liberar os dinares para o novo governo?

Resumo 1. Ao analisar a inflação alta, os economistas usam o modelo clássico do nível de preços, que define que mudanças na oferta de dinheiro levam a mudanças proporcionais no nível de preços agregado, mesmo no curto prazo. 2. Os governos, por vezes, imprimem moeda para financiar déficits orçamentários. Quando o fazem, impõem um imposto inflacionário, gerando receita fiscal igual à taxa de inflação multiplicada pela oferta monetária, para os que mantêm dinheiro. A receita do imposto de inflação real, a taxa de inflação multiplicada pela oferta de moeda real, é o valor real dos recursos captados pelo governo. A fim de evitar o pagamento do imposto inflacionário, as pessoas reduzem a quantidade de moeda que mantêm e forçam o governo a aumentar a inflação para captar o mesmo montante de receita do imposto inflacionário. Em alguns casos, isso leva a um círculo vicioso de diminuição da oferta de moeda real e aumenta a taxa de inflação, levando à hiperinflação e a uma crise fiscal. 3. O hiato de produto é a diferença percentual entre o nível efetivo do PIB real e o produto potencial. Um hiato de produto positivo está associado com o desemprego mais baixo que o normal; um hiato de produto negativo está associado com o desemprego mais elevado do que o normal. A relação entre o hiato de produto e o desemprego cíclico é descrita pela lei de Okun. 4. Os países que não precisam imprimir moeda para cobrir os déficits do governo ainda podem chegar a uma situação de inflação moderada, seja por oportunismo político ou por acreditar que isso é o melhor. 5. Em determinado momento, existe uma relação negativa entre desemprego e inflação conhecida como curva de Phillips de curto prazo. Essa curva se desloca devido a variações na taxa de inflação esperada. A curva de Phillips de longo prazo, que mostra a relação entre desemprego e inflação quando as expectativas já tiveram tempo de se adaptar, é vertical. Ela define a taxa de desemprego que mantém a inflação estável, ou NAIRU, que é igual à taxa natural de desemprego. Estagflação, uma combinação tanto de desemprego como de inflação elevada, reflete um deslocamento para cima da curva de Phillips de curto prazo. 6. Quando a inflação se incorpora às expectativas, reduzi-la novamente pode ser difícil porque a desinflação pode ser muito onerosa, exigindo sacrifício de grande quantidade de produto agregado e impondo um nível elevado de desemprego. No entanto, os formuladores de política econômica nos Estados Unidos e em outros países ricos estavam dispostos a pagar esse preço para derrubar a inflação elevada da década de 1970. 7. A deflação gera vários problemas. Pode levar à deflação de dívida, em que o aumento da carga real da dívida pendente intensifica uma crise econômica. Além disso, as taxas de juros ficam mais propensas a bater na fronteira zero em uma economia que passa por deflação. Quando isso acontece, a economia entra em uma armadilha de liquidez,

tornando a política monetária convencional ineficaz.

Palavras-chave Modelo clássico do nível de preços, p. 416 Taxa de inflação, p. 427 Lei de Okun, p. 427 Curva de Phillips de curto prazo, p. 427 Taxa de desemprego que mantém a inflação estável (NAIRU), p. 428 Curva de Phillips de longo prazo, p. 428 Desinflação, p. 429 Deflação de dívida, p. 431 Fronteira zero, p. 431 Armadilha da liquidez, p. 431

Problemas 1. Na economia de Scottopia, os formuladores de política econômica querem reduzir a taxa de desemprego e aumentar o PIB real usando política monetária. Por meio do gráfico seguinte, mostre por que essa política acabará por resultar em um nível de preços agregado mais alto, mas sem variação no PIB real.

2. Nos exemplos a seguir, o modelo clássico do nível de preços é relevante? a. Há muito desemprego na economia e não há histórico de inflação. b. A economia acaba de passar por cinco anos de hiperinflação. c. Embora a economia, três anos atrás, tenha experimentado inflação na faixa de 10% a 20%, os preços recentemente têm estado estáveis e a taxa de desemprego ficou próxima da taxa natural de desemprego. 3. O Fed divulga regularmente dados sobre a base monetária dos Estados Unidos. É possível acessar esses dados em vários sites, incluindo o do Federal Reserve Bank of St. Louis. Acesse http://research.stlouisfed.org/fred2/ e clique em “Money, Banking, &

Finances”, depois em “Monetary data”, depois em “Monetary Base” e depois em “Board of Governors Monetary Base, Adjusted for Changes in Reserve Requirements” para o relatório mais recente. Em seguida, clique em “View Data”. a. Os dois últimos números da coluna mostram os níveis da base monetária no ano passado. Quanto variou? b. Como isso ajuda no esforço do governo de financiar o déficit? c. Por que é importante para o Banco Central ser independente da parte do governo responsável por gastos? 4. Responda às seguintes perguntas sobre o imposto de inflação (real), assumindo que o nível de preços começa em um. a. Maria Moneybags mantém $1.000 na gaveta de meias por ano. Ao longo do ano a taxa de inflação é 10%. Qual é o imposto de inflação real pago por Maria nesse ano? b. Maria continua a manter a $1.000 na gaveta no segundo ano. Qual é o valor real desses $1.000 no início do segundo ano? Ao longo desse ano, a taxa de inflação é novamente 10%. Qual é o imposto inflacionário real pago por Maria no segundo ano? c. Pelo terceiro ano, Maria mantém $1.000 na gaveta. Qual é o valor real desses $1.000 no início do terceiro ano? Durante o ano, a taxa de inflação é mais uma vez 10%. Qual é o imposto inflacionário real, pago por Maria no terceiro ano? d. Após três anos, qual é o imposto inflacionário real cumulativo? e. Refaça os itens de a a d, com uma taxa de inflação de 25%. Por que a hiperinflação é um problema tão grave? 5. A taxa de inflação é frequentemente considerada fonte de receita governamental significativa em países em desenvolvimento, onde o sistema de arrecadação de tributos e o de declaração de impostos não está aperfeiçoado e onde a evasão fiscal pode ser elevada. a. Use os números da tabela a seguir para calcular o imposto inflacionário dos Estados Unidos e da Índia (Rp são rúpias).

Fontes: Bureau of Economic Analysis; Federal Reserve Bank de St. Louis; Controller General of Accounts (Índia); Reserve Bank of India e Fundo Monetário Internacional.

b. Qual o tamanho do imposto inflacionário nos dois países, quando calculado como porcentagem da receita total do governo? 6. Preocupado com o congestionamento do mercado de crédito porque a tomada de empréstimo pelo governo está deslocando os gastos de investimento privado, um candidato a presidente dos Estados Unidos afirma que deveria imprimir moeda para cobrir o déficit público. Quais as vantagens e desvantagens de um plano desses? 7. O diagrama de dispersão a seguir mostra a relação entre a taxa de desemprego e o hiato de produto nos Estados Unidos de 1990 a 2004. Trace uma linha reta através da dispersão de pontos na figura. Suponha que essa linha represente a lei de Okun: Taxa de desemprego = b − (m × hiato de produto), onde b é o intercepto vertical e −m é a

inclinação

Qual é a taxa de desemprego quando o produto agregado é igual ao produto potencial? Qual seria a taxa de desemprego se o hiato de produto fosse 2%? E se o hiato de produto fosse −3%? O que esses resultados informam sobre o coeficiente m na lei de Okun? 8. Depois de experimentar uma recessão nos últimos dois anos, os moradores de Albernia esperavam uma diminuição na taxa de desemprego. No entanto, após seis meses de crescimento econômico forte e positivo, a taxa de desemprego caiu apenas ligeiramente do nível que era no fim da recessão. Como se pode explicar por que a taxa de desemprego não caiu tanto, embora a economia estivesse experimentando um forte crescimento econômico? 9. Devido a diferenças históricas, os países muitas vezes diferem na rapidez com que uma mudança na inflação real é incorporada a uma mudança na inflação esperada. Em um país como o Japão, em que a memória recente é de inflação muito baixa, vai demorar mais tempo para que uma mudança na taxa de inflação real seja refletida em uma mudança correspondente na taxa de inflação esperada. Por outro lado, em um país como o Zimbábue, que recentemente teve inflação muito alta, uma variação na taxa de inflação real é refletida imediatamente em uma mudança correspondente na taxa de inflação esperada. O que isso implica sobre as curvas de Phillips de curto prazo e de longo prazo nesses dois tipos de países? O que isso implica sobre a eficácia da política monetária e fiscal para reduzir a taxa de desemprego? 10. a. Acesse www.bls.gov. Clique no link “Subject Areas”; à esquerda, sob “Inflation & Prices”, clique no link “Consumer Price Index”. Desça até a seção “CPI Tables”, encontre o link “Consumer Price Index Detailed Report, Tables Annual Averages 2009 (PDF)”. Qual o valor da variação percentual do IPC (CPI) de 2008 a 2009? b. Agora acesse www.treasury.gov e clique em “Resource Center ”. Depois, clique em “Data and Charts Center ”. Então clique em “Interest Rate Statistics”, seguido por

“TextView”. Na janela de rolagem, selecione “Daily Treasury Bill Rates” e “2009”. Examine os dados em “4 Weeks Bank Discount”. Qual é o máximo? E o mínimo? Depois faça o mesmo para 2007. Como os dados de 2009 e 2007 se comparam? Como você relacionaria isso com a resposta do item (a)? A partir dos dados das taxas de juros sobre as Letras do Tesouro, o que você poderia inferir sobre o nível da taxa de inflação em 2007 em relação a 2009? (É possível verificar a resposta, voltando ao site www.bls.gov para encontrar a variação percentual do IPC de 2006 a 2007.) c. Como você caracterizaria a mudança na economia dos Estados Unidos de 2007 a 2009? 11. A tabela a seguir fornece dados dos Estados Unidos sobre as taxas médias anuais de desemprego e inflação. Use os números para construir um diagrama de dispersão semelhante ao da Figura 16-5. Discuta por que, no curto prazo, a taxa de desemprego sobe quando a inflação cai. Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Taxa de desemprego 4,0% 4,7 5,8 6,0 5,5 5,1 4,6 4,6 5,8 9,3 9,6

Taxa de inflação 3,4% 2,8 1,6 2,3 2,7 3,4 3,2 2,9 3,8 −0,4 1,6

Fonte: Bureau of Labor Statistics.

12. A economia de Brittania vem sofrendo inflação alta com taxa de desemprego igual à taxa natural. Os formuladores de política econômica gostariam de provocar desinflação na economia com o menor custo possível. Suponha que o estado da economia não seja resultante de um choque de oferta negativo. Como eles podem tentar minimizar o custo de desemprego da desinflação? É possível que não haja custo de desinflação? 13. Quem são os ganhadores e os perdedores quando uma empresa empresta $100.000 em crédito hipotecário à família Miller para comprar uma casa no valor de $105 mil e durante o primeiro ano os preços caem inesperadamente 10%? O que você imagina que acontecerá se a deflação continuar nos próximos anos? Como a deflação continuada afetará os tomadores de empréstimos e credores na economia em seu conjunto? www.worthpublishers.com/krugmanwells

C APÍ T UL O 17

Crises e Consequências

O que você vai aprender neste capítulo • Como o sistema de bancos depositários e de bancos paralelos (shadow banks) diferem. • Por que, apesar das diferenças, os dois tipos de bancos estão sujeitos à corrida aos bancos. • O que acontece durante os pânicos financeiros e as crises bancárias. • Por que os efeitos do pânico e das crises na economia são graves e de longa duração. • Como brechas regulatórias e a ascensão do sistema bancário paralelo levaram à crise financeira de 2008. • Como o novo quadro regulamentar visa evitar uma nova crise.

De dono de mercearia a causador de pânico EM 1844 HENRY LEHMAN, um imigrante alemão, abriu uma loja de secos e molhados em Montgomery, Alabama. Com o tempo, Lehman e seus irmãos, que o seguiram para os Estados Unidos, ramificaram a atividade de comércio de roupas em uma variedade de atividades financeiras. Em 1850, o Lehman Brothers estava estabelecido em Wall Street. Em 2008, graças à sua habilidade em negociar ativos financeiros, o Lehman Brothers era um dos maiores bancos de investimento do país. Diferentemente dos bancos comerciais, os bancos de investimento comerciam ativos financeiros e não aceitam depósitos de clientes. Em setembro de 2008, a sorte do Lehman acabou. A empresa havia investido pesadamente em hipotecas subprime – empréstimos para compradores de casas com pouca renda e muito poucos recursos para satisfazer as condições da (também chamado “prime”) hipoteca. Em meados do ano de 2008, enquanto a queda repentina do mercado imobiliário dos Estados Unidos se intensificava e os investimentos relacionados a hipotecas subprime perdiam muito valor, o Lehman foi duramente atingido. O Lehman tinha emprestado pesadamente no mercado de crédito de curto prazo – com frequência usando empréstimos no overnight, que devem ser pagos no dia comercial seguinte – para financiar as operações em curso e as negociações. Como os boatos começaram a se espalhar sobre o grau de exposição do Lehman no mercado imobiliário, as fontes de crédito secaram. Em 15 de setembro de 2008, a empresa declarou falência, a maior falência até hoje nos Estados Unidos. Os acontecimentos seguintes chocaram o mundo. Quando o Lehman caiu, desencadeou uma cadeia de eventos que chegou perto de derrubar todo o sistema financeiro mundial. Como o Lehman tinha ocultado a gravidade da vulnerabilidade, sua falência veio como uma surpresa desagradável. Por meio de securitização (conceito que definimos no Capítulo 14), as instituições financeiras em todo o mundo estavam expostas a empréstimos imobiliários, que foram se deteriorando rapidamente em termos de valor à medida que subiam as taxas de inadimplência desses empréstimos. Os mercados de crédito congelaram porque aqueles que tinham recursos para emprestar decidiram que seria melhor mantê-los do que emprestá-los, arriscando a

perdê-los para um tomador de empréstimos que poderia vir abaixo como o Lehman. Em todo o mundo, os tomadores de empréstimos foram atingidos por uma crise de crédito global: ou perderam o acesso ao crédito ou se viram obrigados a pagar taxas de juros mais elevadas. As ações despencaram, e em algumas semanas a Dow caiu mais de 3.000 pontos. As consequências não foram apenas limitadas aos mercados financeiros. A economia dos Estados Unidos já estava em recessão quando o Lehman caiu, mas o ritmo do declínio acelerou drasticamente nos meses que se seguiram. Nessa época, início de 2010, o emprego nos Estados Unidos chegou ao fundo do poço: mais de oito milhões de empregos foram perdidos. A Europa e o Japão também estavam sofrendo as piores recessões desde os anos 1930 e o comércio mundial despencou ainda mais rápido do que no primeiro ano da Grande Depressão. Tudo isso veio como um grande choque, porque poucas pessoas imaginavam que tais eventos seriam possíveis nos Estados Unidos do século XXI. No entanto, os economistas que conheciam a história rapidamente identificaram o que viam: uma versão moderna de um pânico financeiro, uma interrupção súbita e generalizada dos mercados financeiros. Pânicos financeiros eram uma característica regular do sistema financeiro dos Estados Unidos antes da Segunda Guerra Mundial. Como discutimos no Capítulo 14, o pânico financeiro que atingiu os Estados Unidos em 2008 compartilhou muitas características do Pânico de 1907, cuja devastação levou à criação do Sistema de Reserva Federal. Pânicos financeiros quase sempre incluem crise bancária, em que uma parte significativa do setor bancário deixa de funcionar. Em reflexão, o pânico após o colapso do Lehman não foi o único, até mesmo no mundo moderno. O fracasso do Long-Term Capital Management (LTCM) em 1998 também precipitou um pânico financeiro: os mercados financeiros globais congelaram até que o Fed montou um resgate e coordenou uma redução gradual das operações da empresa. Como o Fed resolveu a crise da LTCM rapidamente, sua queda não resultou em um golpe para a economia em geral. Pânicos financeiros e as crises bancárias acontecem com bastante frequência, às vezes com efeitos desastrosos sobre produto e emprego. A crise bancária do Chile de 1981 foi seguida de um declínio de 19% no PIB real per capita e de uma recessão que durou até a maior parte da década seguinte. A crise bancária da Finlândia em 1990 foi seguida por um aumento da taxa de desemprego de 3,2% para 16,3%. A crise bancária do Japão da década de 1990 levou a mais de uma década de estagnação econômica. Neste capítulo, vamos examinar as causas e consequências das crises bancárias e dos pânicos financeiros, cuja discussão foi ampliada no Capítulo 14. Começaremos examinando o que torna os bancos vulneráveis a uma crise e como isso pode se transformar em um pânico financeiro alarmante. Então, vamos nos voltar para a história dessas crises e suas consequências, explorando por que elas são tão destrutivas para a economia. Finalmente, analisaremos como os governos têm tentado limitar os riscos das crises financeiras.

Bancos: benefícios e perigos Como aprendemos em capítulos anteriores, os bancos desempenham um papel essencial em qualquer economia moderna. No Capítulo 14, definimos os bancos comerciais e de poupança e empréstimos como intermediários financeiros que fornecem ativos financeiros líquidos sob a forma de depósitos para os poupadores e usa os fundos para financiar as necessidades de gastos de investimentos ilíquidos dos tomadores de empréstimos. Bancos que aceitam depósitos desempenham as importantes funções de proporcionar liquidez aos poupadores e influenciar diretamente o nível de oferta de moeda. Lehman Brothers, no entanto, não era um banco de captação de depósitos. Era um banco de investimento (também definido no Capítulo 14) – no ramo de comércio especulativo para o seu próprio lucro e proveito de seus investidores. No entanto, o Lehman começou a ter problemas, da mesma forma que um banco de captação de depósitos: passou por uma perda de confiança e por algo muito parecido com uma corrida ao banco – fenômeno em que muitos dos depositantes de um banco tentam retirar seus fundos devido ao temor de falência do banco. Lehman era parte de uma categoria maior de instituições chamada de shadow banking ou sistema bancário paralelo. Shadow banking, termo cunhado pelo economista Paul McCulley, do gigante de fundos especializados em bônus, a Pimco, é composto de uma grande variedade de tipos de empresas financeiras: bancos de investimento como o Lehman, fundos de hedge, como o Long-Term Capital Management (LTCM), e fundos de mercado monetário. (Como explicaremos em detalhes mais adiante, shadow ou “paralelo” refere-se ao fato de que, antes da crise de 2008, essas instituições financeiras não eram nem de perto assistidas ou efetivamente regulamentadas.) Como os bancos de captação de depósitos, os bancos paralelos são vulneráveis à corrida aos bancos porque executam a mesma tarefa econômica: transformação dos prazos de vencimento (maturity transformation), a transformação do passivo de curto prazo em ativos de longo prazo. A partir de agora, vamos usar o termo bancos depositários para os bancos que aceitam depósitos (bancos comerciais e de poupança e empréstimos) para melhor distingui-los dos bancos paralelos (bancos de investimento, fundos de hedge e fundos do mercado monetário), que não aceitam depósitos.

O trade-off entre taxa de retorno e liquidez Imagine viver em um mundo sem bancos. Além disso, imagine que você guardou uma soma substancial de dinheiro que não planeja gastar em breve. O que você poderá fazer com esses fundos? Uma resposta é que você pode guardar o dinheiro – digamos, colocá-lo debaixo do colchão ou em um cofre. O dinheiro estaria sempre lá se você precisasse, mas apenas estaria lá, sem rendimento de juros. Alternativamente, você poderia emprestar o dinheiro, por exemplo, para uma empresa

em crescimento. Isso teria a grande vantagem de colocar o dinheiro para trabalhar, tanto para você, já que o empréstimo pagaria juros, quanto para a economia, uma vez que os fundos ajudariam a pagar os gastos de investimento. Haveria, no entanto, uma desvantagem potencial: se você precisasse do dinheiro antes que o empréstimo fosse pago, talvez não conseguisse recuperá-lo. É verdade que pedimos para supor que não havia planos de gastar o dinheiro em breve. Mas muitas vezes é impossível prever quando você vai querer ou precisar fazer desembolsos de caixa, por exemplo, seu carro pode quebrar ou podem lhe oferecer uma oportunidade entusiasmante de estudar no exterior. Agora, um empréstimo é um ativo, e há maneiras de converter ativos em dinheiro. Por exemplo, você pode tentar vender o empréstimo para outra pessoa. Mas isto pode ser difícil, especialmente se precisar de dinheiro no curto prazo. Assim, em um mundo sem bancos, é melhor ter algum dinheiro na mão quando uma necessidade financeira inesperada surgir. Em outras palavras, sem bancos, os poupadores enfrentam um trade-off para decidir quanto emprestar e quanto manter de fundos: um trade-off entre a liquidez, a capacidade de transformar ativos em dinheiro no curto prazo e a taxa de retorno, na forma de juros ou outros pagamentos recebidos sobre ativos. Sem bancos, as pessoas iriam fazer esse trade-off, mantendo uma grande fração da riqueza ociosa em cofres em vez de ajudar a pagar os gastos de investimento produtivo. No entanto, o sistema bancário mudou isso ao permitir às pessoas acesso imediato aos fundos, mesmo quando esses fundos estão sendo usados para proporcionar empréstimos para fins produtivos.

O propósito do sistema bancário O sistema bancário, tal como o conhecemos, surgiu de um lugar surpreendente: originalmente era um negócio paralelo de ourives medievais. Pela natureza dos negócios, os ourives precisavam de cofres para armazenar o ouro. Com o tempo, perceberam que também poderiam oferecer serviços de custódia para os clientes, porque uma pessoa rica poderia preferir deixar o estoque de ouro e prata com um ourives, em vez de mantê-lo em casa, onde os ladrões poderiam roubá-lo. Quem depositava ouro e prata com um ourives recebia um recibo que poderia ser trocado por esses metais preciosos a qualquer momento. E aconteceu uma coisa engraçada: as pessoas começaram a pagar as compras sem trocar os recibos de ouro e, então, pagando com o ouro, mas entregando o recibo do metal precioso para o vendedor. Assim, nasceu uma forma primitiva de papel-moeda. Enquanto isso, os ourives perceberam outra coisa: apesar de serem obrigados a devolver os metais preciosos ao cliente sob demanda, realmente não precisavam manter todo o metal precioso nas instalações. Afinal de contas, era improvável que todos os clientes iriam querer retirar o ouro e prata no mesmo dia, especialmente se estivessem usando recibos como meio de pagamento. Assim, um ourives, com segurança, poderia colocar parte da riqueza dos clientes para trabalhar, emprestando- a para outras empresas, mantendo apenas o suficiente na mão para pagar os poucos clientes que poderiam demandar os metais preciosos no curto prazo – além de algumas reservas

adicionais em caso de demanda excepcional. E assim nasceu o sistema bancário. De uma forma mais abstrata, os bancos depositários hoje fazem a mesma coisa que os ourives empreendedores aprenderam a fazer: aceitam a poupança dos indivíduos, prometendo devolvê-la sob demanda, mas colocam a maior parte desses fundos para trabalhar, aproveitando o fato de que nem todo mundo vai querer acessar os recursos, ao mesmo tempo. A conta bancária típica permite retirar todos os fundos, quando quiser – mas o banco realmente não mantém o dinheiro de todo mundo no cofre ou até mesmo em uma forma que possa ser transformada rapidamente em dinheiro. Em vez disso, o banco empresta a maior parte dos fundos colocados ao seu cuidado, mantendo reservas limitadas para satisfazer os saques diários. E como os depósitos podem ser colocados em uso, os bancos não cobram (ou cobram muito pouco) pelo privilégio de manter a poupança do cliente segura. Dependendo do tipo de conta que se possua, pode até receber juros sobre os depósitos. De modo mais geral, o que os bancos depositários fazem é tomar emprestado dos depositantes no curto prazo (que podem demandar o reembolso a qualquer momento) e emprestar a outros no longo prazo (que não podem ser obrigados a pagar até a data final do empréstimo). Isso é o que os economistas chamam de transformação do prazo de vencimento: converter passivos de curto prazo (depósitos, nesse caso) em ativos de longo prazo (empréstimos bancários, que rendem juros). Os bancos paralelos, como o Lehman Brothers, também se envolvem na transformação do prazo de vencimento, mas o fazem de uma forma que não implique a tomada de depósitos. Em vez de tomar depósitos, o Lehman toma fundos emprestados nos mercados de crédito de curto prazo e, em seguida, investe esses fundos em projetos especulativos de longo prazo. Na verdade, um banco paralelo é qualquer instituição financeira que não aceite depósitos, mas se envolva na transformação do prazo de vencimento – tomando emprestado no curto prazo e emprestando ou investindo no longo prazo. E assim como os depositantes bancários se beneficiam da liquidez e do maior retorno que o banco oferece comparativamente a manter dinheiro em casa, os credores dos bancos paralelos como o Lehman se beneficiam da liquidez (os empréstimos devem ser reembolsados rapidamente, muitas vezes no overnight) e do retorno mais elevado em comparação com outras formas de investimento de fundos. Uma geração atrás, os bancos depositários eram responsáveis pela maior parte do serviço bancário. Depois de 1980, no entanto, houve um aumento constante do sistema bancário paralelo. Os bancos paralelos tornaram-se muito populares por não estarem sujeitos a regulamentos, tais como requisitos de capital e exigência de reserva, impostos aos bancos depositários. Assim, como os trustes não regulamentados que desencadearam o Pânico de 1907, os bancos paralelos podem oferecer aos clientes uma taxa de retorno mais elevada sobre os fundos. A partir de julho de 2007, geralmente considerado o início da crise financeira que atingiu o auge quando o Lehman quebrou em setembro de 2008, o sistema bancário paralelo dos Estados Unidos era aproximadamente 1,5 vezes maior, em termos de dólares, do que o setor bancário formal de captação de depósitos. Como dissemos no Capítulo 14, nem sempre tudo é simples no setor bancário. Lá

aprendemos por que os bancos depositários podem estar sujeitos à corrida aos bancos. Como os casos do Lehman e do LTCM tão espetacularmente ilustram, a mesma vulnerabilidade atinge o sistema bancário paralelo. Em seguida, mostraremos por quê.

Sistema bancário paralelo e o ressurgimento da corrida aos bancos Como um banco depositário mantém em mãos apenas uma pequena fração dos fundos de seus depositantes, uma corrida ao banco normalmente resulta em uma falência bancária: o banco é incapaz de satisfazer à demanda de dinheiro dos depositantes e fecha as portas. Ameaçadoramente, as corridas bancárias podem ser profecias autorrealizáveis: apesar de um banco estar em boa situação financeira, se os depositantes acreditarem que ele está com problemas e tentarem retirar dinheiro, a crença acaba condenando o banco. Para evitar tais ocorrências, após a década de 1930 os Estados Unidos (e a maioria de outros países) aprovaram uma regulamentação bancária ampla na forma de auditorias regulares pelo Fed, seguro de depósito, exigência de capital, reserva compulsória e suprimentos que permitem aos bancos em dificuldades emprestar a partir do guichê de redesconto do Fed. No entanto, os bancos paralelos não recebem depósitos. Então, como podem ficar vulneráveis à corrida aos bancos? A razão é que um banco paralelo, como um banco depositário, se envolve na transformação do prazo de vencimento: toma emprestado no curto prazo e empresta ou investe no longo prazo. Se os credores de um banco paralelo decidirem de repente que ele não é mais seguro para emprestar dinheiro, o banco paralelo não pode mais financiar suas operações. A menos que possa vender seus ativos imediatamente para levantar dinheiro, rapidamente irá a falência. Foi exatamente o que aconteceu com o Lehman. O Lehman tomava fundos emprestados no mercado de crédito no overnight (também conhecido como mercado repo), fundos a serem pagos no dia útil seguinte, para financiar suas operações comerciais. Então o Lehman estava por um triz: todos os dias deveria convencer os credores que era um lugar seguro para colocar os fundos. Mas, um dia, essa habilidade não funcionou mais. O mesmo fenômeno aconteceu com o LTCM: o fundo de hedge foi extremamente alavancado (ou seja, tinha tomado emprestado grandes quantias de dinheiro) – como o Lehman, para financiar as operações comerciais. Um dia, o crédito secou, nesse caso, porque os credores perceberam que tinham perdido grandes quantias de dinheiro durante a crise financeira asiática e russa de 1997 a 1998. Corridas bancárias são destrutivas para todos os associados com um banco: acionistas, credores, depositantes e clientes de empréstimo e seus funcionários. Mas uma corrida aos bancos que se espalha como contágio é extremamente destrutiva, faz os depositantes de outros bancos também perderem a fé, levando a uma sequência em cascata de falências bancárias e a uma crise bancária. Isso é o que aconteceu nos Estados Unidos durante o início dos anos 1930, quando os americanos, em geral, correram para retirar os depósitos bancários – o valor total dos depósitos bancários caiu 35% – e passaram a manter moeda em casa. Até 2008, não havia mais acontecido nos Estados Unidos. Nosso

próximo tema é explorar como e porque as corridas bancárias reapareceram.

Economia em ação O dia em que as luzes do Lehman se apagaram Na sexta-feira, 12 de setembro de 2008, uma reunião de emergência foi realizada na sede do Fed de Nova York em Wall Street. O secretário de Tesouro da administração Bush, Hank Paulson, demissionário, e o então chefe do Fed de Nova York, Tim Geithner (mais tarde, secretário do Tesouro da administração Obama), a estava presidindo juntamente com os presidentes dos maiores bancos de investimento do país. O Lehman Brothers estava implodindo rapidamente e Paulson convocou a reunião, na esperança de pressionar os banqueiros de investimento a um acordo que iria, como no caso do resgate do LTCM descrito no Capítulo 14, evitar uma falência confusa. Desde a venda forçada, do quase falido banco de investimento Bear Stearns, seis meses antes, para um banco saudável, o Lehman tinha ficado sob pressão crescente. Como o Bear Stearns, o Lehman investiu fortemente em hipotecas subprime e outros ativos ligados ao setor imobiliário. E quando o Bear Stearns quebrou, quando os credores começaram a reclamar os empréstimos e houve a recusa de outros de emprestar, muitos se questionaram se o Lehman seria o próximo a quebrar. Em julho de 2008, o Lehman reportou um prejuízo de $2,8 bilhões no segundo trimestre de 2008 (de abril a junho), precipitando uma queda de 54% no preço das ações. Como o preço da ação caiu, as fontes de crédito do Lehman começaram a secar e as operações comerciais também secaram. O CEO do Lehman, Richard Fuld, começou uma busca desesperada por um banco saudável para comprar ações do Lehman e prover o financiamento desesperadamente necessário. No início de setembro de 2008, a perda do Lehman do terceiro trimestre subiu para $3,9 bilhões. Em 9 de setembro, JP Morgan Chase, um banco de investimento muito mais saudável que tinha sido uma fonte importante de financiamento para os negócios do Lehman, exigiu $5 bilhões em dinheiro como garantia extra ou iria congelar as contas do Lehman e cortar seu crédito. Incapaz de disponibilizar o dinheiro, o Lehman oscilou à beira da falência. Na reunião de 12 de setembro, o secretário de Tesouro, Paulson, pediu aos banqueiros de investimento para montar um pacote para comprar os ativos podres do Lehman. Mas temendo pela própria sobrevivência em um mercado extremamente turbulento, os banqueiros recusaram-se, a menos que Paulson lhes desse uma garantia do governo sobre o valor dos ativos do Lehman. O Tesouro tornou a venda do Bear Stearns possível, organizando um enorme empréstimo do Fed de Nova York para seu comprador. Desta vez, diante de uma reação do Congresso sobre “salvamento de banqueiros irresponsáveis”, Paulson se recusou a fornecer ajuda do governo. E na madrugada de segunda-feira, 15 de setembro de 2008, o Lehman quebrou, declarando a falência mais cara da história. No entanto, como Fuld já havia advertido Paulson, a falência do Lehman desencadearia fúrias. Naquele mesmo dia, o mercado de ações dos Estados Unidos caiu

504 pontos, provocando um aumento nos custos dos empréstimos bancários e uma corrida aos mercado monetário de fundos e às instituições financeiras em todo o mundo. Na terça-feira, Paulson concordou com um socorro de $85 bilhões de outra grande corporação, o American Internacional Group, na época a maior seguradora do mundo. Antes que os mercados se estabilizassem meses depois, o governo dos Estados Unidos injetou $250 bilhões de capital para reforçar os principais bancos americanos. Se Paulson cometeu ou não um erro catastrófico por não agir para salvar o Lehman é uma questão suscetível de debate para os próximos anos.

Breve revisão ■ Há um trade-off entre liquidez e rendimento. Sem bancos, as pessoas iriam fazer esse trade-off mantendo uma grande fração da riqueza em dinheiro ociosa. ■ Os bancos permitem aos poupadores fazer uma escolha melhor sobre o trade-off liquidez-rendimento, por se envolverem em transformação de prazo de vencimento. Os poupadores podem ter acesso imediato aos fundos, bem como receber juros sobre os fundos. ■ Desde 1980, houve um aumento constante no sistema bancário paralelo por causa dos bancos paralelos ou shadow banks – instituições financeiras não depositárias que se dedicam à transformação do prazo de vencimento – que, por não serem regulamentados, permitem o pagamento de taxa de retorno mais elevada para os poupadores. No momento da falência do Lehman, o setor de bancos paralelos era aproximadamente 1,5 vezes maior do que o setor bancário depositário. ■ Como tanto os bancos paralelos como os bancos de depositários se envolvem na transformação do prazo de vencimento, também são suscetíveis à corrida aos bancos. Os bancos paralelos dependem de tomar emprestado no curto prazo para operar. Quando os credores de curto prazo não emprestam para um banco paralelo, essa recusa faz o banco entrar em falência.

Teste seu entendimento 17-1 1. Qual dos seguintes são exemplos de transformações do prazo de vencimento? Quais estão sujeitos ao fenômeno de corrida aos bancos em que o medo da falência se torna uma profecia autorrealizável? Explique. a. Você vende bilhetes para um sorteio em que cada portador do bilhete tem a chance de ganhar um jackpot de $10.000. b. Dana toma emprestado do cartão de crédito para pagar as despesas de subsistência, enquanto participa de um curso de um ano para atualizar as habilidades de trabalho. Sem um emprego com melhor remuneração, ela não será capaz de pagar o saldo acumulado do cartão de crédito. c. Uma parceria de investimento investe em edifícios de escritórios. Os parceiros investem os próprios fundos e podem resgatá-los apenas com a venda da participação na parceria para outra pessoa.

d. O banco de poupança da união estudantil local oferece contas-correntes para os estudantes e investe esses recursos em empréstimos estudantis. As respostas estão no fim do livro.

Crises bancárias e pânicos financeiros Falências bancárias são comuns: mesmo em um bom ano, vários bancos americanos normalmente quebram por um motivo ou outro. E os bancos paralelos às vezes também quebram. As crises bancárias – em comparação, episódios em que uma grande parte de bancos depositários ou bancos paralelos vão à falência ou correm risco de falir, são relativamente raros. No entanto, acontecem, muitas vezes com graves efeitos negativos sobre a economia em geral. O que faz muitas dessas instituições entrarem em apuros ao mesmo tempo? Vamos analisar a lógica das crises bancárias e, em seguida, revisar algumas experiências históricas.

A lógica das crises bancárias Quando muitos bancos – instituições financeiras depositárias ou paralelas – entram em apuros ao mesmo tempo, existem duas explicações possíveis. Primeiro, muitos deles podem ter cometido erros semelhantes, muitas vezes devido a uma bolha de ativos. Segundo, pode ter havido contágio financeiro, em que o problema de uma instituição se espalha e cria problema para as outras.

Erros compartilhados Na prática, as crises bancárias em geral devem sua origem a muitos bancos cometerem o mesmo erro de investir em uma bolha de ativos. Em uma bolha de ativos, o preço de algum tipo de ativo, tal como habitação, é pressionado para um nível excessivamente elevado de expectativa dos investidores de ganhos elevados. Por um tempo, essas bolhas podem se alimentar de si mesmas. Um bom exemplo é a crise de poupança e empréstimo dos anos 1980, quando houve um grande boom na construção de imóveis comerciais, especialmente edifícios de escritórios. Muitos bancos estenderam grandes empréstimos para as incorporadoras, acreditando que o boom iria continuar indefinidamente. No final dos anos 1980, tornou-se claro que as incorporadoras tinham se empolgado, construindo muito mais espaço para escritório do que o país precisava. Incapaz de alugar o espaço ou forçadas a reduzir a renda, um número de incorporadoras tornou-se inadimplente – e o resultado foi uma onda de falências bancárias. Fenômeno semelhante ocorreu entre 2002 e 2006, quando o rápido aumento de preços da habitação levou muitas pessoas a tomar emprestado pesadamente para comprar uma casa, na crença de que os preços continuariam subindo. Esse processo se acelerou à medida que mais compradores correram para o mercado pressionando para cima os preços da habitação ainda mais rápido. No final, o mercado fica sem novos compradores e a bolha estoura. Nesse ponto o preço dos ativos cai; em algumas partes dos Estados Unidos, os preços da habitação caíram pela metade entre 2006 e 2009. Isso, por sua vez, mina a confiança nas instituições financeiras que estão expostas a perdas devido à queda nos preços dos ativos. Essa perda de confiança, se for suficientemente grave, pode pôr

em marcha um espiral vicioso descendente em toda a economia, marcando um contágio financeiro.

Contágio financeiro Em crises bancárias especialmente graves, uma espiral descendente de contágio financeiro ocorre entre os bancos de depósito ou paralelos: a falência de cada instituição piora o temor dos depositantes ou credores e aumenta as chances de que outro banco vá à falência. Como já mencionado anteriormente, uma causa subjacente de contágio surge a partir da lógica da corrida aos bancos. No caso dos bancos depositários, quando um banco vai à falência, os depositantes tendem a ficar nervosos. Da mesma forma, no caso dos bancos paralelos, quando um vai à falência, os credores no mercado de crédito de curto prazo ficam ansiosos para emprestar para os outros. Grande parte do setor de bancos paralelos não é regulamentada, ficando especialmente propensa ao contágio proveniente de temores e rumores. Há também um segundo canal de contágio: os mercados de ativos e um círculo vicioso de desalavancagem, um fenômeno que aprendemos no Capítulo 14. Quando uma instituição financeira está sob pressão para reduzir a dívida e levantar dinheiro, tenta vender ativos. Para vender ativos rapidamente, porém, muitas vezes tem que vendê-los com grande desconto. O contágio vem do fato de que outras instituições financeiras possuem ativos similares, cujos preços entram em declínio como resultado da “venda relâmpago”. Essa queda nos preços dos ativos fere também posições financeiras de outras instituições financeiras, levando os credores a parar de emprestar. Isso força o efeito de arrasto de mais instituições financeiras a vender ativos, reforçando a espiral descendente do preço dos ativos. Esse tipo de espiral descendente ficou claramente evidente nos meses imediatamente posteriores à queda do Lehman: preços de uma grande variedade de ativos mantidos por instituições financeiras, desde bônus corporativos até pools de empréstimos a estudantes, caíram quando todo mundo tentou vender ativos e levantar dinheiro. Mais tarde, quando a intensidade da crise amainou, muitos desses ativos viram pelo menos uma recuperação parcial dos preços. Combine uma bolha de ativo com um sistema bancário paralelo enorme não regulamentado e um círculo vicioso de desalavancagem e é fácil verificar como ficou a economia dos Estados Unidos em 2008, em um pânico financeiro total – uma interrupção súbita e generalizada do mercado financeiro que aconteceu quando as pessoas de repente perderam fé na liquidez das instituições financeiras e mercados. Um pânico financeiro quase sempre envolve uma crise bancária, quer no setor bancário depositário ou no setor bancário paralelo, ou ambos. Como os bancos fornecem grande parte da liquidez necessária para o comércio de ativos financeiros, como ações e bônus, crises bancárias graves quase sempre levam a interrupções no mercados de ações e de bônus. A interrupção desses mercados, juntamente com uma corrida desenfreada para vender ativos e levantar dinheiro, levam a um círculo vicioso de desalavancagem. À medida que o pânico se desenrola, os

poupadores e investidores passam a acreditar que o lugar mais seguro para o dinheiro é embaixo do colchão e a acumulação de dinheiro aprofunda ainda mais a angústia. Então o que a história nos informa sobre crises bancárias e pânicos financeiros?

Crises bancárias históricas: a era do pânico Entre a Guerra Civil e a Grande Depressão, os Estados Unidos tinham um sistema bancário famoso por ser propenso a crises. Mesmo assim, os bancos foram regulamentados: a maioria dos bancos era conduzida como “bancos nacionais”, regulamentados pelo governo federal e sujeitos a regras envolvendo reservas e capital, do tipo descrito a seguir. No entanto, não havia um sistema de garantias para os depositantes. Como resultado, as corridas bancárias eram comuns e as crises bancárias, também conhecidas na época como pânico, eram bastante frequentes. A Tabela 17-1 mostra as datas dessas crises bancárias em todo o país e o número de bancos que foram à falência em cada episódio. Observe que a tabela está dividida em duas partes. A primeira é dedicada à “era bancária nacional”, que precedeu a criação do Federal Reserve, em 1913 – que deveria ter posto um fim a essas crises. Não aconteceu. A segunda parte é dedicada às ondas épicas de falências bancárias que ocorreram na década de 1930. Tabela 17-1 Número de falências bancárias: era dos bancos nacionais e da Grande Depressão

*Subestima a escala da crise 1907, porque não leva em conta o papel dos trustes.

Os eventos que acenderam cada um desses pânicos foram diferentes. No século XIX, houve um ciclo de expansão e retração na construção de estradas de ferro um pouco semelhante ao ciclo de expansão e recessão na construção de escritórios durante a década de 1980. Como as companhias imobiliárias modernas, as companhias ferroviárias do século XIX dependiam fortemente de empréstimo de fundos para financiar os projetos de investimento. E tanto ferrovias, como edifícios de escritórios, levam muito tempo para ser construídos. Isso significa que houve episódios repetidos de excesso de construção: ferrovias concorrentes investiriam em expansão, apenas para descobrir que, coletivamente, tinham colocado mais trilhos do que a demanda por transporte ferroviário pedia. Quando o excesso de construção se tornou aparente, seguiram-se falências de

empresas, default de dívida e uma crise bancária global. O pânico de 1873 começou quando Jay Cooke & Co., uma empresa financeira com grande participação no setor ferroviário, faliu. O pânico de 1893 começou com a falência da Philadelphia and Reading Railroad, que tinha se expandido além do limite. Como veremos mais adiante neste capítulo, os grandes pânicos financeiros dos séculos XIX e do início do século XX foram seguidos por crises econômicas graves. No entanto, as crises bancárias do início de 1930 fizeram as crises anteriores parecerem menores. Em quatro ondas sucessivas de corrida aos banco, de 1930 a 1932, cerca de 40% dos bancos nos Estados Unidos foi à falência. No final, Franklin Delano Roosevelt declarou um fechamento temporário de todos os bancos – o chamado “feriado bancário” – para colocar fim a esse círculo vicioso. Enquanto isso, a economia despencava, com o PIB real diminuindo em um terço e também uma queda acentuada de preços. Ainda há controvérsia considerável sobre a crise bancária de 1930. Em parte, essa controvérsia é sobre causa e efeito: a crise bancária causou uma crise econômica mais ampla, ou vice-versa? (Não há dúvida de que a causalidade correu nas duas direções, mas a magnitude desses efeitos permanece controversa.) Há também controvérsia sobre até que ponto a crise bancária poderia ter sido evitada. Milton Friedman e Anna Schwartz, no famoso estudo Monetary History of the United States, defenderam que o Federal Reserve poderia e deveria ter evitado a crise bancária – e que, se assim fosse, mesmo a Grande Depressão também poderia ter sido evitada. No entanto, essa visão tem sido contestada por outros economistas. Nos Estados Unidos, a experiência da década de 1930 levou a reformas bancárias que impediram a repetição da crise por mais de 70 anos. No entanto, fora dos Estados Unidos, houve grande quantidade de outras grandes crises bancárias.

Crises bancárias modernas em todo o mundo Em todo o mundo, as crises bancárias são eventos relativamente frequentes. No entanto, a forma como ocorrem difere de acordo com o quadro institucional específico do setor bancário. De acordo com uma análise de 2008 pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), nada menos que 127 crises bancárias ocorreram em todo o mundo entre 1970 e 2007. A maioria delas em países pequenos e pobres com falta das salvaguardas regulamentares que são encontradas nos países avançados. Nos países mais pobres, os bancos geralmente têm os mesmos tipos de problemas: capital insuficiente, contabilidade malfeita, muitos empréstimos e, muitas vezes, corrupção. Mas nos países avançados os bancos também podem cometer os mesmos erros – por exemplo, houve a crise de poupança e empréstimo nos Estados Unidos durante a década de 1980 (descrita no Capítulo 14). Nos países mais avançados, as crises bancárias quase sempre ocorrem como consequência de uma bolha de ativos – normalmente no mercado imobiliário. Entre 1985 e 1995, três países avançados – Finlândia, Suécia e Japão – passaram por crises bancárias devido ao estouro de uma bolha imobiliária. Nos três países, os bancos emprestaram pesadamente, formando uma bolha imobiliária que os empréstimos ajudaram a inflar. A

Figura 17-1 mostra os preços dos imóveis, ajustados pela inflação, na Finlândia, na Suécia e no Japão, de 1985 a 1995. Como se vê, em cada país, uma forte ascensão foi seguida de uma queda drástica, levando muitos tomadores de empréstimos ao default em seus empréstimos imobiliários, pressionando grandes partes do sistema bancário de cada país à insolvência.

FIGURA 17-1 Preços reais da habitação em três crises bancárias Durante o período de 1985 a 1995, Finlândia, Suécia e Japão passaram por uma crise bancária devido a uma bolha imobiliária. Aqui você pode ver como os preços reais da habitação (preços da habitação ajustados pela inflação) em cada país aumentaram acentuadamente e, em seguida, caiu drasticamente. A queda acentuada nos preços da habitação pressionou parte significativa do setor bancário de cada país à insolvência. Fontes: Bank of Finland; Statistics Sweden; Japan Real Estate Institute; Bank for international Settlements e OECD.

Nos Estados Unidos, a queda do Lehman, em setembro de 2008, precipitou uma crise bancária no setor bancário paralelo, incluindo o contágio financeiro bem como o pânico financeiro, mas em grande parte não afetou o setor bancário depositário. Como discutimos na história de abertura, a crise financeira de 2008 foi devastadora devido à securitização que havia distribuído empréstimos hipotecários subprime em todo o setor bancário paralelo, tanto nos Estados Unidos como no exterior. No momento em que este livro estava sendo escrito, o mercado de securitização ainda não havia se recuperado e o setor bancário paralelo era uma sombra do passado. Desde 2008, os investidores redescobriram os benefícios da regulação e o setor bancário depositário cresceu à custa do setor bancário paralelo. Na próxima seção, veremos como os problemas no setor bancário rapidamente se traduzem em problemas para a economia em geral.

Economia em ação

Erin vai à falência Durante grande parte da década de 1990 e 2000, a Irlanda foi celebrada como uma história de sucesso econômico: o “tigre celta” estava crescendo a um ritmo que o restante da Europa só podia invejar. Mas o milagre chegou a um fim abrupto em 2008, quando a Irlanda viu-se enfrentando uma enorme crise bancária. Como as crises bancárias anteriores na Finlândia, na Suécia e no Japão, a crise na Irlanda surgiu de excesso de otimismo sobre o setor imobiliário. Os preços da habitação irlandesa começaram a subir na década de 1990, em parte, resultante do forte crescimento da economia. No entanto, as incorporadoras começaram apostando em preços sempre crescentes e os bancos irlandeses estavam muito dispostos a emprestar a essas incorporadoras grandes quantidades de dinheiro para apoiar suas especulações. O preço da habitação triplicou entre 1997 e 2007, a construção de casas quadruplicou no mesmo período e o crédito total oferecido pelos bancos cresceu muito mais rápido do que em qualquer outro país europeu. Para levantar dinheiro para a farra de empréstimos, os bancos irlandeses complementaram os fundos dos depositantes com grande quantia de financiamento “por atacado” – empréstimos no curto prazo de outros bancos e de investidores privados. Em 2007, o boom imobiliário entrou em colapso. Os preços das casas começaram a cair e as vendas de casas desmoronaram. Muitos dos empréstimos que os bancos tinham feito durante o boom entrou em default. Agora, as chamadas casas fantasmas – conjuntos habitacionais completos novos desocupados e casas em ruínas – pontilham a paisagem. Em 2008, os problemas dos bancos irlandeses ameaçaram se transformar em uma espécie de corrida aos bancos – não pelos depositantes, mas pelos credores que forneceram aos bancos o financiamento de curto prazo por meio do mercado de empréstimos interbancário por atacado. Para estabilizar a situação, o governo irlandês entrou em cena, garantindo o reembolso de toda a dívida bancária. Isso criou um novo problema porque colocou os contribuintes irlandeses em dificuldade pelas perdas bancárias enormes. Até ser atingida pela crise, a Irlanda parecia estar em boa forma fiscal, com dívida pública relativamente baixa e um superávit orçamentário. A crise bancária, no entanto, levantou sérias dúvidas sobre a solvência do governo irlandês – se ele tinha os recursos necessários para cumprir suas obrigações – e forçou o governo a pagar taxas de juros elevadas sobre os fundos que levantava nos mercados internacionais. Como a maioria das crises bancárias, essa também levou a Irlanda a uma recessão severa. A taxa de desemprego, que era de menos de 5% antes da crise, foi para mais de 14,8% em janeiro de 2012 – e ainda estava subindo no momento em que este livro está sendo escrito.

Breve revisão ■ Apesar de falências de bancos individuais serem comuns, uma crise bancária é um evento raro que normalmente prejudica severamente a economia.

■ A crise bancária pode ocorrer porque bancos depositários ou de investimento investem em uma bolha de ativos ou por meio do contágio financeiro, desencadeado por corrida aos bancos ou por um círculo vicioso de desalavancagem. O sistema bancário paralelo (shadow banking), grande parte não regulamentado, é especialmente vulnerável ao contágio. ■ Em 2008, uma bolha de ativos combinada com um setor bancário paralelo enorme e um círculo vicioso de desalavancagem criou um pânico financeiro e uma crise bancária, à medida que os poupadores cortavam gastos e os investidores acumulavam fundos, enviando a economia para um declínio íngreme. ■ Entre a Guerra Civil e a Grande Depressão, os Estados Unidos passaram por inúmeras crises bancárias e pânicos financeiros, todos seguidos de recessão econômica grave. As reformas bancárias dos anos 1930 impediram outra crise bancária até 2008. ■ As crises bancárias ocorrem geralmente em países pequenos e pobres, embora também tenha havido crises bancárias nos países avançados. A queda do Lehman causou uma crise bancária e um pânico financeiro no setor bancário paralelo, levando os investidores a voltar para o setor bancário depositário.

Teste seu entendimento 17-2 1. Em relação à Economia em Ação “Erin vai à falência”, identifique o seguinte: a. A bolha de ativos. b. O canal de contágio financeiro. 2. Mais uma vez em relação à “Erin vai à falência”, por que você acha que o governo irlandês tentou estabilizar a situação, garantindo as dívidas dos bancos? Por que isso é uma política questionável? As respostas estão no fim do livro.

As consequências das crises bancárias Se as crises bancárias afetassem apenas os bancos não seriam uma preocupação tão grave. Na verdade, as crises bancárias quase sempre são associadas com recessões e crises bancárias graves são associadas com as piores recessões econômicas. Além disso, a história mostra que as recessões causadas em parte pelas crises bancárias infligem dano econômico sustentado, com as economias levando anos para se recuperar.

Crises bancárias, recessões e recuperação Uma crise bancária grave é aquela em que grande parte do sistema bancário vai à falência ou sofre uma grande perda de confiança e deve ser socorrida pelo governo. Tais crises, quase que invariavelmente, levam a profundas recessões, que geralmente são seguidas por recuperações lentas. A Figura 17-2 ilustra esse fenômeno monitorando o desemprego na esteira de duas crises bancárias amplamente separadas no espaço e no tempo: o pânico de 1893 nos Estados Unidos e a crise bancária sueca de 1991. Na figura, t representa o ano da crise: 1893 nos Estados Unidos, 1991 na Suécia. Como mostra a figura, essas crises em continentes diferentes, com quase um século de diferença, produziram resultados igualmente devastadores: o desemprego subiu e desceu lentamente e de forma irregular, e assim, mesmo cinco anos após a crise, o número de desempregados ainda era elevado em relação ao padrão pré-crise.

FIGURA 17-2 Taxas de desemprego antes e depois de uma crise bancária Esta figura acompanha o desemprego na esteira de duas crises bancárias: o pânico de 1893 nos Estados Unidos e a crise bancária sueca de 1991. t representa o ano da crise – 1893 nos Estados Unidos, 1991 na Suécia. t − 2 é a data dois anos antes de ser atingida pela crise ; t + 5 é a data cinco anos após. Em ambos os casos, a economia passou por crise severa após a crise bancária: o desemprego subiu e desceu lentamente e de forma irregular. Em ambos os casos, cinco anos após a crise, a taxa de desemprego mantinha-se elevada em relação aos níveis pré-crise. Fontes: Christina D. Romer, “Spurious Volatility in Historical Unemployment Data”, Journal of Political Economy 94, n. 1 (1986): 1–37 e Eurostat.

Esses exemplos históricos são típicos. A Figura 17-3, tomada a partir de um estudo amplamente citado pelos economistas Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff, compara o desempenho do emprego, na esteira de uma série de crises bancárias graves. As barras à esquerda mostram o aumento da taxa de desemprego durante e após a crise; as barras à direita mostram o tempo que levou antes de o desemprego começar a cair. Os números são chocantes: em média, crises bancárias graves foram seguidas por um aumento de 7 pontos percentuais na taxa de desemprego e, em muitos casos, levou quatro anos ou mais antes que a taxa de desemprego começasse a cair, sem pensar no retorno ao nível de antes da crise.

FIGURA 17-3 Episódios de crises bancárias e desemprego Os economistas Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff compararam o desempenho do emprego em vários países, na sequência de uma série de crises bancárias graves. Para cada país, a barra da esquerda mostra o aumento da taxa de desemprego durante e após a crise e a barra à direita mostra quanto tempo levou para o desemprego começar a cair. Em média, as crises bancárias graves foram seguidas por um aumento de 7 pontos percentuais na taxa de desemprego, e, em muitos casos, levou quatro anos ou mais antes de o desemprego começar a cair, sem pensar no retorno aos níveis de antes da crise. Fonte: Carmen M. Reinhart and Kenneth S. Rogoff, “The Aftermath of Financial Crises”, American Economic Review 99, n. 2 (2009): 466–472.

Por que as recessões após as crises bancárias são tão ruins? Não é difícil entender por que as crises bancárias normalmente levam a recessões. Há três razões principais: a crise de crédito decorrente da redução da disponibilidade de crédito, a aflição financeira causada por um excesso de dívida e a perda da eficácia da política monetária. 1. Crise de crédito. A interrupção do sistema bancário geralmente leva a uma redução na disponibilidade de crédito, chamada crise de crédito, em que os tomadores de empréstimo potenciais não conseguem obter crédito ou têm que pagar taxas de juros elevadas. Incapazes de tomar emprestado ou não querendo pagar juros altos, as empresas e os consumidores reduzem gastos, pressionando a economia para recessão. 2. Excesso de dívida. A crise bancária normalmente pressiona para baixo os preços de muitos ativos por intermédio de um círculo vicioso de desalavancagem, como os tomadores de empréstimo em dificuldade que ao tentarem vender ativos para levantar dinheiro, empurram para baixo os preços dos ativos, causando ainda mais dificuldades financeiras. Como já vimos, a desalavancagem é um fator na propagação da crise, diminuindo o valor dos ativos que os bancos mantêm nos balanços e, assim, minando a

solvência. Isso também cria problemas para outros personagens na economia. Para dar um exemplo muito familiar a partir de eventos recentes, a queda dos preços da habitação pode deixar os consumidores substancialmente mais pobres, especialmente porque ainda estão presos à dívida incorrida pela compra da casa. Uma crise bancária, então, tende a deixar os consumidores e as empresas com excesso de dívida: dívida alta, mas ativos diminuídos. Assim como a crise de crédito, isso também leva a uma queda nos gastos e a uma recessão à medida que os consumidores e empresas fazem cortes, a fim de reduzir a dívida e reconstruir os ativos. 3. Perda de eficácia da política monetária. Uma característica fundamental das recessões após a crise bancária é que, quando ocorrem, a política monetária – principal instrumento dos formuladores de política econômica para combater choques de demanda negativos causados por uma queda nos gastos de consumo e de investimento – perde muito da eficácia. A ineficácia da política monetária torna as recessões, após as crises bancárias, especialmente graves e de longa duração. Como vimos no Capítulo 14, o Fed normalmente responde a uma recessão: envolve-se em operações de mercado aberto, comprando dívida pública de curto prazo dos bancos. Isso deixa os bancos com excesso de reserva, que emprestam, levando à queda nas taxas de juros e causando uma expansão econômica por meio do aumento dos gastos de consumo e de investimento. Em condições normais, essa resposta política é altamente eficaz. No entanto, no rescaldo de uma crise bancária, todo o processo tende a quebrar. Os bancos, temendo uma corrida dos depositantes ou a perda de confiança dos credores, tendem a manter o excesso de reserva, em vez de emprestá-las. Enquanto isso, as empresas e os consumidores, em dificuldades financeiras devido à queda nos preços dos ativos, podem não estar dispostos a emprestar mesmo se as taxas de juros caírem. Como resultado, mesmo taxas de juros muito baixas podem não ser suficiente para pressionar a economia de volta ao pleno emprego. No Capítulo 16, descrevemos o problema de a economia cair em uma armadilha de liquidez quando até mesmo a pressão da taxa de juros de curto prazo para zero não é suficiente. Na verdade, todos os episódios históricos em que a fronteira zero das taxas de juros tornou-se importante restrição à política – os anos 1930, o Japão na década de 1990, e uma série de países a partir de 2008 – ocorreram após uma grande crise bancária. A incapacidade dos instrumentos usuais de política monetária de compensar a devastação macroeconômica causada por crises bancárias é a principal razão dessas crises de produzir profundas e prolongadas recessões. A solução óbvia é procurar por outros instrumentos de política. Na verdade, os governos costumam tomar uma série de medidas especiais quando os bancos estão em crise.

A intervenção dos governos Antes da Grande Depressão, os formuladores de política, muitas vezes, adotavam uma atitude de laissez-faire em relação às crises bancárias, permitindo que os bancos fossem à falência, na crença de que se deve permitir que as forças de mercado funcionassem.

Desde a catástrofe dos anos 1930, no entanto, quase todos os formuladores de política econômica acreditam que é necessário tomar medidas para conter os prejuízos das falências bancárias. Em geral, os bancos centrais e os governos tomam três tipos principais de ação, em um esforço para limitar as consequências das crises bancárias: 1. Agem como emprestador de última instância. 2. Oferecem garantias aos depositantes e outros com direitos sobre os bancos. 3. Em uma crise extrema, o Banco Central irá intervir e fornecer financiamento aos mercados de crédito privados.

1 Emprestador de última instância Um emprestador de última instância é uma instituição, geralmente o Banco Central do país, que fornece fundos para as instituições financeiras, quando são incapazes de tomar emprestado nos mercados de crédito privados. Em especial, o Banco Central pode fornecer dinheiro para um banco que está enfrentando uma corrida de depositantes, mas é fundamentalmente solvente, tornando desnecessário que o banco realize venda relâmpago dos ativos para levantar dinheiro. Isso funciona como uma tábua de salvação, com o intuito de evitar que a perda de confiança na solvência do banco se transforme em uma profecia autorrealizável. Será que o Fed agiu como emprestador de última instância na crise financeira de 2008? Sem dúvida, muito. A Figura 17-4 mostra a tomada de empréstimos pelos bancos do Fed entre 2005 e 2010: os bancos comerciais tomavam emprestado do Banco Central quantidades insignificantes antes da crise, mas esses empréstimos aumentaram para $700 bilhões nos meses após o fracasso do Lehman. Para ter uma noção da amplitude dos empréstimos, observe que o total de reservas bancárias antes da crise era menos de $50 bilhões – quando esses empréstimos equivaliam a 14 vezes as reservas iniciais dos bancos.

FIGURA 17-4 Total de empréstimos de instituições depositárias do Fed Embora os bancos comerciais tomassem emprestado do Fed quantias insignificantes, antes da crise em 2008, nos meses após o colapso do Lehman, os empréstimos aumentaram para $700 bilhões – uma quantia 14 vezes maior que o total das reservas bancárias antes da crise. Fonte: Federal Reserve Bank de St. Louis.

2 Garantias do governo Há limites, porém, de quanto um emprestador de última instância pode realizar: ele não pode restaurar a confiança em um banco se houver boa razão para acreditar que o banco é insolvente. Se o público acredita que os ativos do banco não valem o suficiente para cobrir as dívidas, mesmo que não tenha que vender os ativos no curto prazo, um emprestador de última instância não vai ajudar muito. E nas grandes crises bancárias, muitas vezes, há boas razões para acreditar que muitos bancos estão realmente em falência. Nesses casos, os governos muitas vezes intervêm para garantir os passivos dos bancos. Em 2007, uma corrida ao banco atingiu o banco britânico Northern Rock, cessando somente quando o governo britânico interveio e garantiu todos os depósitos no banco, independentemente do montante. O governo da Irlanda, no final, interveio para garantir não apenas o reembolso dos depósitos de todos os bancos do país, mas todas as dívidas bancárias. A Suécia fez a mesma coisa depois da crise bancária de 1991. Quando os governos assumem o risco dos bancos, muitas vezes exigem um quid pro quo – ou seja, normalmente se apropriam dos bancos que estão resgatando. Northern Rock foi estatizado em 2008. A Suécia estatizou uma parte significativa do sistema bancário em 1992. Nos Estados Unidos, o Federal Deposit Insurance Corporation rotineiramente apreende os bancos que não estão mais solventes; apreendeu 140 bancos em 2009. A Irlanda, no entanto, optou por não tomar nenhum dos bancos cujas dívidas foram garantidas pelos contribuintes. Essas aquisições governamentais são quase sempre temporárias. Em geral, os governos

modernos desejam salvar os bancos, e não executá-los. Então eles “reprivatizam” os bancos estatizados, vendendo-os para compradores privados, logo que veem essa possibilidade.

3 Provedor de financiamento direto Como aprendemos no Capítulo 14, durante o auge da crise financeira de 2008, o Fed expandiu as operações além das medidas habituais de operações de mercado aberto e empréstimos a bancos depositários. Também começou a emprestar aos bancos paralelos (shadow banks) e comprar papel comercial – bônus de curto prazo emitidos por empresas privadas – assim como a compra da dívida da Fannie Mae e Freddie Mac, as agências de hipoteca imobiliária patrocinada pelo governo. Dessa forma, o Fed forneceu crédito para manter a economia à tona quando os mercados de crédito privado tinham secado.

Economia em ação Os bancos e a grande depressão De acordo com a cronologia oficial do ciclo econômico, os Estados Unidos entraram em recessão em agosto de 1929, dois meses antes da famosa quebra do mercado de ações. Embora a quebra certamente tenha piorado a crise, até o final de 1930, ainda parecia ser uma recessão mais ou menos comum. Em seguida, as falências de bancos começaram. A maioria dos economistas acredita que a crise bancária tornou-se bastante grave, mas não uma recessão catastrófica na Grande Depressão. Como a crise bancária prejudicou a economia em geral? Em grande parte, criando uma crise de crédito, em que as empresas, em particular, não podiam tomar emprestado ou se viram forçadas a pagar taxas de juros muito mais elevadas. A Figura 17-5 mostra um indicador dessa crise de crédito: a diferença entre as taxas de juros – conhecida como spread – em que empresas com crédito bom, mas não amplo, podiam tomar emprestado ao custo de financiamento do governo federal.

FIGURA 17-5 A crise bancária de 1930 e a crise de crédito Fonte: Federal Reserve Bank de St. Louis.

Os bônus corporativos Baa são aqueles que a Moody’s, agência de classificação de crédito, considera “obrigações de grau médio” – dívidas de empresas que devem ser capazes de pagar, mas não são totalmente confiáveis. (“Baa” refere-se à classificação específica atribuída aos bônus dessas empresas.) Até a crise bancária, os tomadores de empréstimo Baa emprestavam a taxas de juros apenas cerca de 2 pontos percentuais a mais do que as taxas de juros de empréstimo do governo e esse spread permaneceu baixo até meados de 1931. Em seguida, subiu, chegando a mais de 7 pontos percentuais em 1932. Tenha em mente que esse é apenas um indicador da crise do crédito: muitos pretensos tomadores de empréstimo foram completamente excluídos. Um fato marcante sobre a crise bancária de 1930 é que o Federal Reserve, embora tivesse a capacidade legal para agir como emprestador de última instância, na maioria das vezes não conseguiu fazê-lo. Nada se compara ao aumento da dívida bancária do Fed, que teve lugar entre 2007e 2009. Na verdade, a dívida bancária do Fed durante a crise bancária dos anos 1930 estava em níveis inferiores aos alcançados entre 1928 e 1929. Entretanto, nem o Fed, nem o governo dos Estados Unidos fizeram algo para salvar os bancos falidos até 1933. Então, o início dos anos 1930 oferece um exemplo claro de uma crise bancária que os formuladores de política econômica de certa forma permitiram que tomasse seu curso. Não é uma experiência que se deseje repetir.

Breve revisão ■ As crises bancárias quase sempre resultam em recessão, com crises bancárias graves associadas com as piores recessões econômicas. Historicamente, crises bancárias graves resultaram, em média, em um aumento de 7 pontos percentuais na taxa de desemprego. ■ As recessões causadas por crises bancárias são especialmente graves porque envolvem crise de crédito, círculo vicioso de desalavancagem juntamente com excesso de dívida, levando famílias e empresas a cortar gastos, aprofundando a recessão.

■ Recessões induzidas por crises bancárias são graves e prolongadas porque tornam a política monetária ineficaz: mesmo que o Banco Central possa reduzir as taxas de juros, as famílias e empresas em situação financeira crítica podem não estar dispostas a tomar emprestado e gastar. ■ Os bancos centrais e os governos usam dois tipos principais de política para limitar os danos de uma crise bancária: atuando como emprestador de última instância e oferecendo garantia de que os passivos bancários serão reembolsados. No rescaldo de um salvamento bancário, às vezes os governos estatizam o banco e depois o privatizam novamente. Em uma crise extrema, o Banco Central fornece financiamento direto aos mercados de crédito privado.

Teste seu entendimento 17-3 1. Explique por que, a partir do final de 2010, o Federal Reserve foi capaz de evitar que a crise de 2008 se transformasse em outra Grande Depressão, mas não foi capaz de reduzir significativamente o aumento do desemprego ocorrido. 2. Explique por que, no rescaldo de uma crise bancária severa, a taxa de juros muito baixa – mesmo tão baixa quanto 0% – pode ser incapaz de mover a economia de volta ao pleno emprego. As respostas estão no fim do livro.

A crise de 2008 e suas consequências Como acabamos de ver, as crises bancárias normalmente são seguidas de grandes problemas econômicos. Como o rescaldo da crise financeira de 2008 se compara com essa experiência histórica? A resposta, infelizmente, é que provou ser um guia eficiente: novamente os danos econômicos da crise financeira provaram ser grandes e prolongados. E até hoje o rescaldo da crise continua a balançar a economia mundial, após a queda, em 2008, do Lehman.

Crise grave, recuperação lenta A Figura 17-6 mostra o PIB real dos Estados Unidos e da União Europeia, as duas maiores economias do mundo, durante a crise e no rescaldo, com o trimestre do pico pré- crise – o último trimestre de 2007 para o dólar dos Estados Unidos, o primeiro trimestre de 2008, para o euro – fixado em 100. O que se vê é que ambas as economias sofreram crises severas, encolhendo mais de 5%, seguidas de recuperação relativamente lenta. No início de 2012, a Europa ainda não tinha recuperado o nível de produto de antes da crise e os Estados Unidos estavam um pouco acima do pico anterior.

FIGURA 17-6 Crise e recuperação nos Estados Unidos e na União Europeia No rescaldo da crise financeira de 2008, o produto agregado na União Europeia e nos Estados Unidos caiu drasticamente. O PIB real, mostrado aqui como um índice em que cada pico trimestral da economia pré-crise foi definido como 100, diminuiu mais que 5%. Ao final de 2011, o PIB real nos Estados Unidos apenas mal tinha voltado aos níveis pré-crise e o produto agregado na União Europeia ainda não tinha atingido o pico pré-crise. Fontes: Bureau of Economic Analysis e Eurostat.

A grave recessão e a lenta recuperação eram más notícias para os trabalhadores, uma

vez que um mercado de trabalho saudável depende de uma economia que cresce rápido o suficiente para acomodar o aumento da força de trabalho e uma produtividade crescente. A Figura 17-7 mostra dois indicadores de desemprego nos Estados Unidos – a taxa de desemprego geral e a porcentagem de desempregados fora do trabalho por 27 semanas ou mais. As duas medidas dispararam durante a crise e se mantiveram elevadas anos mais tarde, indicando um mercado de trabalho em que era muito difícil encontrar emprego.

FIGURA 17-7 Desemprego no rescaldo da crise de 2008 Depois de 2008, a taxa de desemprego aumentou de forma dramática e manteve-se elevada. O desemprego de longa duração, medido pela porcentagem de desempregados fora do trabalho por 27 semanas ou mais, aumentou nesse período. Até 2011, quase metade de todos os trabalhadores desempregados eram desempregados de longa duração. Fonte: Bureau of Labor Statistics.

Esse resultado, triste dizer, era o que devia se esperar, dada a gravidade do choque financeiro inicial e a histórica experiência com esses choques. Na verdade, a experiência com desemprego nos Estados Unidos era quase exatamente igual à média do desempenho das economias passadas que haviam sofrido grandes perturbações bancárias. Os Estados Unidos, observou Kenneth Rogoff (cujo trabalho citamos anteriormente), estava passando por uma “crise financeira grave comum”.

Consequências na Europa Um fator importante que atormentava as esperanças de recuperação era o surgimento de dificuldades especiais em várias nações europeias – dificuldades que repetidamente levantaram o espectro de uma segunda crise financeira. A crise de 2008 foi causada por problemas com a dívida privada, principalmente empréstimos à habitação, que então desencadearam uma crise de confiança nos bancos. Em 2011 e 2012, os temores de uma segunda crise se concentraram sobre a dívida pública, especificamente as dívidas públicas dos países do Sul da Europa juntamente com a Irlanda. Os problemas da Europa surgiram pela primeira vez na Grécia, um país com longa história de irresponsabilidade fiscal. No final de 2009, foi revelado que o governo grego anterior tinha subestimado o tamanho do déficit orçamentário e o montante da dívida do governo, o que levou os credores a recusar novos empréstimos para a Grécia. Outros países europeus providenciaram empréstimos de emergência ao governo grego em troca de cortes orçamentários agressivos. Mas esses cortes no orçamento deprimiram a economia grega, e até o final de 2011 houve uma concordância geral de que a Grécia não podia pagar as dívidas na totalidade. Por si só, esse foi provavelmente um choque tratável para a economia europeia, pois a Grécia participa com menos de 3% do PIB europeu. Infelizmente, a lentidão dos funcionários europeus em enfrentar os problemas da Grécia e os efeitos dos duros cortes orçamentários na economia grega deixaram os investidores assustados. Em meados do segundo semestre de 2011, a crise se espalhou para além das fronteiras gregas, atingindo duas grandes economias europeias: Espanha e Itália. A Figura 17-8 mostra uma medida de pressão sobre a Itália e a Espanha, durante as crises de 2008 e 2011: a diferença entre as taxas de juros dos títulos de 10 anos emitidos pelos governos dos dois países e as taxas de juros sobre a dívida alemã, que a maioria das pessoas considera um investimento seguro. Como os três países usam a mesma moeda, o euro, essas taxas deveriam ser as mesmas se a dívida do governo italiano e espanhol fosse considerada tão segura quanto a dívida do governo alemão. O aumento de spreads, portanto, indica uma crescente percepção de risco.

FIGURA 17-8 Spread de juros contra bônus alemães de 10 anos Um indicador da percepção dos investidores do risco de default do governo é o spread de juros sobre os bônus do governo entre esse país e um país que é visto como um investimento seguro. O spread das taxas de juros sobre bônus do governo de 10 anos da Itália e da Espanha, medido contra a taxa de juros dos bônus alemães, aumentou à medida que subiu o risco de default da Espanha e da Itália. Fonte: Eurostat.

Os problemas fiscais da Espanha eram principalmente consequências da crise de 2008. Antes dessa crise, a Espanha parecia estar em muito boa condição fiscal, com baixo endividamento e um superávit orçamentário. No entanto, a Espanha, como a Irlanda, tinham uma enorme bolha imobiliária, entre 2000 e 2007. Quando a bolha estourou, a economia espanhola entrou em profunda depressão, deprimindo as receitas fiscais e causando grandes déficits orçamentários. Ao mesmo tempo, havia preocupações de que o governo espanhol pudesse eventualmente ter que gastar grandes quantias para salvar os bancos. Como resultado, os investidores começaram a se preocupar com a solvência do governo espanhol e com um possível default, elevando as taxas de juros. O caso da Itália foi um pouco diferente. A Itália há muito tempo tem nível da dívida pública elevado em porcentagem do PIB, mas não tem incorrido em grandes déficits nos últimos anos. No primeiro semestre de 2010, sua posição fiscal parecia bastante estável. Nesse ponto, no entanto, os investidores começaram a ter dúvidas sobre a solvência do governo italiano, em parte porque, no rescaldo da crise de 2008, a economia italiana estava crescendo muito lentamente – temia-se que muito lentamente para gerar receita fiscal suficiente para reembolsar a dívida pública. Essas dúvidas conduziram as taxas de juros sobre a dívida pública italiana, e essa, por sua vez, criou um círculo vicioso: o pagamento de juros mais altos causado pelo temor da solvência do governo italiano piorou a situação fiscal da Itália ainda mais e a empurrou para mais perto da borda. No momento da escrita, a Grécia tinha declarado default sobre os bônus do governo, o desemprego juvenil espanhol era superior a 50% e não estava claro o quanto iria piorar a situação europeia. Mas as dificuldades da Europa reforçaram o sentimento de que os danos da crise financeira de 2008 de algum modo haviam acabado.

O debate estímulo-austeridade A persistência das dificuldades econômicas após a crise financeira de 2008 levou a debates ferozes sobre respostas políticas adequadas. Em termos gerais, os economistas e formuladores de política econômica estavam divididos sobre se a situação exigia medidas fiscais de estímulo – medidas fiscais expansionistas, como mais gastos do governo e possivelmente cortes de impostos para promover os gastos e reduzir o desemprego – ou “austeridade”, medidas fiscais contracionistas tais como cortes de gastos e possíveis aumentos de impostos, para reduzir os déficits orçamentários. Os defensores de mais estímulo apontaram para a continuidade do desempenho fraco das principais economias, argumentando que a combinação de desemprego elevado e inflação relativamente baixa apontava claramente para a necessidade de políticas expansionistas. E uma vez que a política monetária era limitada pela fronteira zero sobre as taxas de juros, os defensores de estímulo defendiam a política fiscal expansionista para preencher o hiato. Os defensores da austeridade tinham uma visão muito diferente. Fortemente influenciados pelos problemas de solvência da Grécia, Irlanda, Espanha e Itália, argumentavam que a origem comum de todos os problemas eram altos níveis de déficits orçamentários e dívidas. Em sua opinião, países como os Estados Unidos, que continuavam a incorrer em grandes déficits públicos por vários anos após a crise de 2008, estavam em risco de sofrer uma perda similar de confiança dos investidores na capacidade de pagar suas dívidas. Além disso, os defensores da austeridade alegavam que os cortes nos gastos do governo realmente não seriam contracionistas, porque iriam melhorar a confiança do investidor e manter baixas as taxas de juros sobre a dívida pública. Cada lado do debate argumentava que a experiência recente refutava as alegações do outro lado. Os defensores da austeridade argumentavam que a persistência de taxas de desemprego elevadas, apesar dos programas de estímulo fiscal adotados pelos Estados Unidos e outras grandes economias em 2009, mostrava que o estímulo não funciona. Os defensores do estímulo argumentavam que esses programas eram inadequados em tamanho, apontando que muitos economistas haviam advertido sobre a inadequação desde o início. Os defensores do estímulo argumentavam que as advertências sobre os perigos de déficits eram exageradas, porque, longe de aumentar, os custos de empréstimos do Japão, dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha – países que, ao contrário dos problemáticos devedores europeus, ainda tinham as próprias moedas com a flexibilidade que isso implica – haviam caído níveis recordes. E rejeitaram o argumento de que a elevação da confiança pelo corte de gastos era principalmente fictícia. No momento em que este livro está sendo escrito, nenhum dos lados estava dando muito terreno. Claramente, nenhuma resolução do debate dependia de desenvolvimentos econômicos futuros e de como esses seriam interpretados.

A lição da recessão crise pós-crise

Quase todas as grandes economias tiveram grande dificuldade em lidar com as consequências da crise financeira de 2008 – taxa de desemprego elevada, crescimento baixo e, para alguns, preocupações de solvência e taxas de juros elevadas sobre a dívida pública. Então, é certo que a melhor maneira de evitar os terríveis problemas que surgem após a crise financeira, em primeiro lugar, é não ter uma crise. Como isso pode ser feito? Em parte, por intermédio da melhor regulamentação das instituições financeiras. Voltamonos a seguir para as tentativas de reforma regulatória.

Economia em ação Austeridade britânica Uma eleição, em maio 2010, levou a uma mudança de poder na Grã-Bretanha, com o governo do Partido Trabalhista substituído por uma coalizão dominada pelo Partido Conservador, sob um novo primeiro-ministro, David Cameron. O novo governo estava firmemente comprometido com o lado da austeridade de um grande debate político póscrise. E, em conformidade, isso mudou a política. Ao contrário da Grécia ou da Irlanda, a Grã-Bretanha não estava sob qualquer pressão imediata para reduzir o déficit orçamentário. Como o governo dos Estados Unidos, o governo britânico ainda era capaz de tomar emprestado a juros baixos apesar do grande déficit. E a economia britânica estava, ainda que por pouco, mais deprimida do que a dos Estados Unidos, com poucos sinais de recuperação. Contudo, o governo Cameron acredita que os cortes envolvendo preempção nos gastos públicos combinado com alguns aumentos de impostos eram necessários para preservar a confiança dos investidores e também esses cortes poderiam impulsionar a economia, melhorando a confiança. Como essas políticas foram realizadas? No início de 2012, o experimento de austeridade tinha rendido resultados decepcionantes. O crescimento da economia britânica era fraco – de fato, consideravelmente mais fraco do que o dos Estados Unidos, embora o desempenho dos Estados Unidos tenha sido medíocre. E como mostra a Figura 17-9, o aumento de confiança esperado dos empresários que as medidas de austeridade deveriam gerar não tinha conseguido se concretizar.

FIGURA 17-9 Confiança empresarial na Grã-Bretanha Fonte: Grant Thornton, UK Business Confidence Monitor.

Breve revisão ■ Os prejuízos econômicos da crise financeira de 2008 foram grandes e prolongados. As consequências da crise continuam a abalar a economia mundial. ■ As duas maiores economias do mundo, Estados Unidos e União Europeia, sofreram crises severas, encolhendo mais de 5%, seguidas de recuperação relativamente lenta. A recessão severa e a recuperação lenta eram notícias ruins para os trabalhadores. ■ A persistência de dificuldades econômicas depois da crise financeira de 2008 levou vários países europeus a preocupações graves de solvência. Um debate feroz irrompeu sobre se o estímulo fiscal ou a austeridade fiscal era a prescrição política correta.

Teste seu entendimento 17-4 1. No final de novembro de 2011, o governo da França anunciou que estava reduzindo a previsão de crescimento econômico para 2012. Também estava reduzindo a estimativa de receita fiscal para 2012, pois uma economia mais fraca significaria receitas fiscais menores. Para compensar o efeito da menor receita sobre o déficit orçamentário, o governo também anunciou um novo pacote de aumento de impostos e corte de gastos. Que lado do debate estímulo- austeridade a França tomou?

Regulamentação na esteira da crise No final de 2009, as intervenções por parte dos governos e dos bancos centrais ao redor do mundo restauraram a calma dos mercados financeiros. No entanto, havia sido causado enorme dano na economia global. Em grande parte do mundo desenvolvido, os países passaram pelas depressões mais profundas desde os anos 1930. E toda a indicação era de que o padrão típico de recuperação lenta após a crise financeira seria repetido, com o desemprego mantendo-se elevado nos anos vindouros. A crise bancária de 2008 demonstrou, muito claramente, que a regulamentação financeira é um processo contínuo – as regulamentações podem e devem mudar ao longo do tempo para se manter em dia com um mundo em mudança. O que tornou o setor bancário paralelo vulnerável a crises e pânicos foi a dependência de empréstimos de muito curto prazo (chamados repo), a falta de regulamentação e estar fora do sistema de emprestador de última instância. Então, que tipo de mudança que a crise mais recente está trazendo? Uma coisa que ficou muito clara na crise de 2008 foi que o âmbito tradicional da regulamentação bancária era muito restrito. A regulamentação apenas das instituições depositárias era claramente insuficiente em um mundo em que uma grande parte do sistema bancário, bem entendido, é empreendida pelo setor bancário paralelo. No rescaldo da crise, então, ficou clara a necessidade de uma reformulação da regulamentação financeira. E em 2010, o Congresso dos Estados Unidos aprovou uma lei que representava um esforço para responder aos eventos dos anos precedentes. Como a maior parte da legislação, o Wall Street Reform and Consumer Protection Act – muitas vezes referido como lei Dodd-Frank – é complexo nos detalhes. Mas contém quatro elementos principais: 1. Defesa do consumidor. 2. Regulamentação de derivativos. 3. Regulamentação do sistema bancário paralelo (shadow banks). 4. Autoridade de resolução sobre as instituições financeiras não bancárias que enfrentam falência.

1 Defesa do consumidor Um fator da crise financeira foi o fato de que muitos tomadores de empréstimo aceitaram ofertas que não compreendiam, tais como hipotecas que eram fáceis de pagar nos dois primeiros anos, mas, no futuro, os pagamentos ficavam acentuadamente mais elevados. Em um esforço para limitar abusos futuros, a nova lei criou uma agência especial, o Bureau de Proteção Financeira do Consumidor, dedicado a policiar as práticas do setor financeiro e proteger os tomadores de empréstimo.

2 Regulamentação de derivativos Outro fator da crise foi a proliferação de derivativos, instrumentos financeiros complexos

que deveriam ajudar o risco de spread, mas sem dúvida o escondia. Sob a nova lei, a maioria dos derivativos devem ser comprados e vendidos em mercados abertos e transparentes, na esperança de limitar a extensão em que os jogadores financeiros possam assumir riscos invisíveis.

3 Regulamentação do sistema bancário paralelo (shadow banks) Um elemento fundamental na crise financeira, como vimos, foi o surgimento de instituições que não se enquadram na definição convencional de um banco, mas desempenham o papel dos bancos e criaram o risco de uma crise bancária. Como a regulamentação pode ser estendida para essas instituições? Dodd-Frank não oferece uma nova definição explícita do que significa ser um banco. Em vez disso, oferece uma espécie de versão financeira do “você o identificará ao vê-lo”. Especificamente, oferece um coletivo especial designando as instituições financeiras como “sistemicamente importantes”, o que significa que suas atividades têm o potencial de criar uma crise bancária. Tais instituições ficarão sujeitas à regulamentação do capital, dos investimentos, e assim por diante, como um banco.

4 Autoridade de resolução Os acontecimentos de 2008 deixaram claro que os governos muitas vezes têm a necessidade de garantir ampla gama de dívidas de instituições financeiras em crise, não apenas de depósitos. No entanto, como isso pode ser feito sem criar problemas enormes de incentivos, motivando as instituições financeiras a empreender comportamentos de risco em excesso, sabendo que ao ficar em apuros serão socorridas pelo governo? Parte da resposta é capacitar o governo a assumir o controle das instituições financeiras que exijam resgate, à maneira que já é feita com a falência dos bancos comerciais e instituições de poupança. Esse novo poder, conhecido como autoridade de resolução, deve ser visto como a solução de um problema que pareceu agudo no início de 2009, quando várias instituições financeiras grandes ficaram à beira do abismo. No entanto, não ficou claro se Washington tinha autoridade legal para orquestrar um resgate que seria justo para os contribuintes. Tudo isso agora é lei nos Estados Unidos, mas duas coisas permanecem obscuras. (1) Como esses regulamentos serão trabalhados no sistema financeiro internacional? Outros países irão adotar política semelhante? Se fizerem isso, como os conflitos entre as diferentes políticas nacionais serão resolvidos? (2) Será que esses regulamentos irão solucionar a questão? A regulamentação bancária após os anos 1930 produziu décadas de estabilidade, mas será que isso vai acontecer novamente? Ou será que o novo sistema irá falhar frente a um teste real? Ninguém conhece as respostas a essas perguntas. Resta esperar para ver.

Economia em ação Bent cai abaixo de us$1 Em 1970, um inovador financeiro chamado Bruce Bent introduziu um novo conceito de finanças americanas: fundo mútuo do mercado monetário. A maioria dos fundos mútuos oferece uma forma para os pequenos investidores comprarem ações: quando você compra uma ação em um fundo mútuo como o Fidelity ou Vanguard, indiretamente estará adquirindo uma mistura diversificada de ações. Bent, no entanto, criou um fundo de investimento que investe somente em ativos de curto prazo, como Letras do Tesouro e de papel comercial emitido por empresas altamente cotadas, que carregam risco baixo de default. A ideia era dar às pessoas um lugar seguro para colocar o dinheiro, mas que oferecesse uma taxa de juros mais alta que um depósito bancário. Muitas pessoas finalmente começaram a ver seus investimentos em fundos do mercado monetário como contas bancárias, mas em situação melhor. Mas o dinheiro colocado em fundos do mercado monetário era diferente do dinheiro depositado em um banco em uma dimensão importante: os fundos do mercado monetário não eram garantidos pelo governo federal. E em 16 de setembro de 2008, um dia após a queda do Lehman Brothers, soube-se que um grande fundo do mercado monetário tinha perdido muito dinheiro colocado no Lehman, a tal ponto que tinha “caído abaixo do dólar ”, isto é, já não tinha ativos suficientes para saldar todas as pessoas que tinham colocado dinheiro à sua disposição. Como resultado, o fundo teve que suspender as retiradas; na verdade, um “banco” que de repente fechou as portas. E qual fundo estava nessa situação? Reserve Primary Fund, controlado por ninguém menos que Bruce Bent. Os clientes do fundo mútuo do mercado monetário, em pânico, retiraram centenas de bilhões de dólares dos fundos do mercado monetário em um período de dois dias. O governo federal amainou o pânico, instituindo um regime de seguro temporário para os fundos do mercado monetário, dando-lhes o mesmo status de proteção que os depósitos bancários. Mas o pânico do mercado de fundos foi uma lição objetiva da medida em que a inovação financeira tinha minado a rede de segurança bancária tradicional.

Breve revisão ■ Quando o pânico surgiu após a queda do Lehman Brothers, os governos e os bancos centrais ao redor do mundo entraram em cena para combater a crise e acalmar os mercados. A maioria das economias passou pela pior recessão desde os anos de 1930. ■ Em 2010, o Congresso aprovou o projeto de lei Dodd-Frank para sanar as omissões regulamentares expostas pela crise entre 2007 e 2009. Criou o Bureau de Proteção Financeira do Consumidor para proteger os tomadores de empréstimo e os consumidores, implementou uma regulamentação mais rígida dos derivativos, ampliou o alcance da regulamentação para o setor bancário paralelo e capacitou o

governo a assumir o controle de qualquer instituição financeira que exija resgate.

Teste seu entendimento 17-5 1. Por que o uso de empréstimo de curto prazo e estar fora do sistema de emprestador de última instância tornam os bancos paralelos vulneráveis a eventos similares à corrida aos bancos? 2. Como você acha que a crise de 2008 teria sido atenuada se não houvesse o setor bancário paralelo, existindo apenas o setor bancário depositário formal? 3. Descreva o problema de incentivo enfrentado pelo governo dos Estados Unidos em resposta à crise entre 2007 e 2009 em relação ao setor bancário paralelo. Como o projeto de lei Dodd-Frank tenta lidar com esses problemas de incentivo? As respostas estão no fim do livro.

Resumo 1. Sem os bancos, as pessoas iriam fazer o trade-off entre liquidez e taxa de retorno, mantendo grande fração da riqueza em dinheiro ocioso. Os bancos se envolvem em transformação do prazo de vencimento, transformando passivos de curto prazo em ativos de longo prazo. Os bancos melhoram o bem-estar dos poupadores, permitindo acesso imediato aos seus fundos, bem como pagando juros sobre os fundos. 2. O sistema bancário paralelo cresceu muito desde 1980. Em grande parte sem regulamentação, podendo pagar uma taxa de retorno maior que os bancos depositários aos poupadores. Como os bancos de depósito, o sistema bancário paralelo se envolve em transformação do prazo de vencimento, dependendo de empréstimos de curto prazo para operar e investir em ativos de longo prazo. Portanto, o sistema bancário paralelo também pode estar sujeito à corrida aos bancos. 3. Embora crises bancárias sejam raras, normalmente infligem danos severos à economia. Há duas fontes principais: erros compartilhados, como investimento em bolha de ativos e contágio financeiro. O contágio é transmitido por meio da corrida aos bancos ou por meio de um círculo vicioso de desalavancagem. Quando não regulamentado, o sistema bancário paralelo é especialmente vulnerável ao contágio. Em 2008, um pânico financeiro atingiu os Estados Unidos, decorrente da combinação de uma bolha de ativos, um setor bancário paralelo enorme e um círculo vicioso de desalavancagem. 4. Os Estados Unidos sofreram inúmeras crises bancárias e pânicos financeiros, cada um deles seguido de uma recessão grave. A crise da década de 1930 estimulou a reforma bancária que impediu outra crise até 2008. As crises bancárias ocorrem com frequência em todo o mundo, principalmente em países pequenos e pobres. No passado recente, no entanto, muitos países avançados tiveram crises bancárias impulsionadas por bolhas imobiliárias. 5. Crises bancárias graves quase sempre levam a recessões profundas e longas, com o desemprego permanecendo elevado por vários anos após o início da crise. Há três razões principais pelas quais as crises bancárias são prejudiciais para a economia:

resultam em uma crise de crédito, o círculo vicioso de desalavancagem leva a um excesso de dívida e a política monetária se torna ineficaz à medida que a economia entra em uma armadilha de liquidez. Como resultado, as famílias e as empresas ficam incapazes ou não se dispõem a gastar, aprofundando a recessão. 6. Ao contrário da Grande Depressão, agora os governos entraram em cena para tentar limitar os prejuízos da crise bancária, agindo como credores de última instância e garantindo os passivos dos bancos. Às vezes, mas nem sempre, os governos estatizam os bancos e depois os reprivatizam. Em uma crise extrema, o Banco Central pode financiar diretamente as transações comerciais. 7. O prejuízo econômico da crise financeira de 2008 foi grande e prolongado. As duas maiores economias do mundo, os Estados Unidos e a União Europeia, passaram por recessões severas, encolhendo mais que 5%, seguidas de recuperações relativamente lentas. A persistência das dificuldades econômicas depois de 2008 levou a debates ferozes sobre respostas políticas adequadas entre os economistas e os formuladores de política econômica que pediam mais estímulo fiscal – mais gasto do governo e possível corte de impostos para promover gastos e reduzir o desemprego – e os que favoreciam a austeridade – cortes nos gastos e possível aumento de impostos para reduzir o déficit orçamentário. 8. O sistema regulatório bancário colocado em prática durante os anos 1930 desgastou-se devido ao aumento do sistema bancário paralelo. A dependência de financiamento de curto prazo (repo), a falta de regulamentação e o fato de estar fora do sistema emprestador de última instância tornou o setor bancário paralelo vulnerável ao pânico bancário. 9. A crise de 2008 começou à medida que o setor bancário paralelo passava por grandes perdas quando a bolha imobiliária estourou. Apesar do fato de que os governos e os bancos centrais de todo o mundo entraram em cena para combater a crise e a recessão, os países mais avançados passaram pela pior recessão desde os anos 1930. O desemprego persistentemente elevado deve perdurar por muitos anos. 10. No rescaldo da crise, o Congresso dos Estados Unidos aprovou a lei Dodd-Frank, na esperança de evitar uma repetição da crise. Os principais elementos da nova reforma são uma defesa do consumidor mais forte, maior regulamentação dos derivativos, regulamentação do sistema bancário paralelo e autoridade de resolução para uma variedade de instituições financeiras. Ainda temos que ver se essas mudanças serão suficientes e também se serão adotadas por outros países.

Palavras-chave Transformação do prazo de vencimento, p. 439 Sistema bancário paralelo, p. 440 Crise bancária, p. 441 Bolha de ativos, p. 442 Contágio financeiro, p. 442 Pânico financeiro, p. 442

Crise de crédito, p. 446 Excesso de dívida, p. 446 Emprestador de última instância, p. 448

Problemas 1. Qual dos seguintes exemplos representa excesso de dívida? Que exemplos são suscetíveis de conduzir a uma redução de gastos? Explique. a. Seu tio inaugura um restaurante tomando emprestado para financiar o investimento. O restaurante vai à falência, e ele fecha as portas, mas ainda tem que pagar a dívida. b. Seus pais tomam um empréstimo para comprar uma casa. Seu pai é transferido para uma nova cidade e, agora, os parentes devem vender a casa. O valor da casa subiu durante o tempo que a família vivia lá. c. Os pais da sua amiga tomam um empréstimo para comprar um apartamento enquanto ela está na faculdade. Enquanto isso, o mercado imobiliário despenca. No momento que sua amiga se forma, o apartamento vale muito menos que o valor do empréstimo. d. Você terminou a faculdade com uma licenciatura em um campo com boas perspectivas de trabalho e com $25.000 em empréstimo estudantil que deverá ser pago. 2. Qual dos seguintes não é exemplo de um círculo vicioso de desalavancagem? Explique. a. A universidade decide vender vários edifícios comerciais no centro da cidade, para modernizar os prédios no campus. b. A empresa decide vender uma coleção de arte grande e valiosa porque os outros preços de ativos do balanço caíram abaixo do nível crítico, forçando os credores a reclamar os empréstimos à empresa devido a uma disposição escrita no contrato de empréstimo original. c. A empresa decide emitir mais ações a fim de pagar voluntariamente parte da dívida. d. Um banco do sistema paralelo (shadow bank) deve vender as participações em bônus corporativos, porque a queda dos preços dos ativos levou a um default nos termos dos empréstimos com alguns credores. 3. Na figura a seguir, mostrando o Case-Shiller U.S. Home Price Index de 2000 a 2010, o preço da habitação atingiu o pico antes ou após a crise financeira dos Estados Unidos? Justifique a resposta.

Fonte: Robert J. Shiller, Irrational Exub erance, 2nd ed. (Princeton, NJ: Princeton University Press 2005); data retrieved from http://www.econ.yale.edu/∼shiller/data.htm.

4. A Figura 17-2 monitora a taxa de desemprego nos anos antes e após o pânico de 1893 nos Estados Unidos e a crise bancária de 1991, na Suécia. a. Na Figura 17-2, quantos anos após o pânico de 1893 o desemprego nos Estados Unidos atingiu o pico? b. Na Figura 17-2, quantos anos após a crise bancária de 1991 o desemprego atingiu o pico na Suécia? 5. Entre 2007 e 2009, o Fed, atuando como emprestador de última instância, entrou em cena para fornecer fundos quando os mercados privados não eram capazes de fazê-lo. O Fed também tomou muitos bancos. Em 2007, apreendeu três bancos; em 2008, apreendeu 25 bancos; e em 2009, apreendeu 140 bancos. Acesse www.fdic.gov; em “Bank Closing Information”, clique em “Complete Failed Bank List”. Então, conte o número de bancos que o Fed apreendeu até o momento nesse ano. As falências bancárias diminuíram desde a crise de 2008? 6. Durante a crise financeira em outubro de 2008, o governo federal podia tomar emprestado a uma taxa de 2,73% (o rendimento de títulos do Tesouro de cinco anos). Durante outubro de 2008, porém, os tomadores de empréstimo Baa (tomadores corporativos classificados pela Moody’s como não sendo completamente confiáveis) tiveram que pagar 8,88%. a. Qual foi a diferença dos custos de empréstimos entre esses tomadores corporativos e o governo federal? b. Acesse research.stlouisfed.org/fred2/categories/22. Clique no link “Treasury constant maturity” e encontre a taxa de juros mais recente em bônus do Tesouro americano de 10 anos. Em seguida, clique no link “Corporate bonds” para encontrar a taxa dos bônus corporativos Baa. Qual é a diferença atual de custos de empréstimo entre esses tomadores corporativos e o governo federal?

c. Essa diferença nos custos de empréstimos aumentou ou diminuiu desde o auge da crise financeira, em outubro de 2008? Por quê? 7. Acesse www.federalreserve.gov e clique na aba “Banking Information & Regulation”. Então, selecione os links “Banking Data” seguido por “Large Commercial Banks”. Uma vez lá, escolha a versão mais recente dos dados trimestrais. a. Que banco tem os maiores ativos consolidados ? b. Que banco tem os maiores ativos domésticos ? c. Qual o percentual do PIB dos Estados Unidos de ativos domésticos do banco listado na parte b? (Dica: Você pode encontrar o PIB dos Estados Unidos em http://research.stlouisfed.org/fred2/series/GDP?cid =106 usando os links “Gross Domestic Product (GDP)” e então “Current-dollar and ‘real’ GDP”.) 8. Acesse www.fdic.gov e clique na aba “Industry Analysis” e então no link “Research & Analysis”. Sob “Historical Perspectives”, selecione “The First Fifty Years: A History of the FDIC 1933–1983”. Abra o Chapter 3, “Establishment of the FDIC”, e role até a seção intitulada “The Banking Crisis of 1933” e até a seção intitulada “Federal Deposit Insurance Legislation”. Leia a seção e, em seguida, responda às questões seguintes. a. O Presidente Roosevelt foi empossado em 4 de março de 1933. Qual foi um de seus primeiros atos oficiais, em resposta à crise bancária? b. Quantos bancos suspenderam as operações em 1933? c. Quem foi o principal proponente do seguro de depósito federal no Congresso? d. Quanta cobertura forneceu o fundo temporário para seguro de depósitos federal? 9. O Escritório de Contabilidade do Governo dos Estados Unidos (U.S. Government Accountability Office - GAO) realiza pesquisas para apoiar a tomada de decisão do Congresso. Após a crise do Long-Term Capital Management (LTCM), o GAO produziu um resumo dos acontecimentos da crise localizado em http://www.gao.gov/products/GGD-00-3. Leia o resumo e, em seguida, responda às seguintes questões. a. Quanto de capital o LTCM perdeu em 1998? b. Por que o GAO concluiu que o LTCM era capaz de estabelecer posições de negociação alavancadas de um tamanho que representava risco sistêmico para o sistema bancário ? c. Qual foi a recomendação do presidente do grupo de trabalho em relação à Securities and Exchange Commission (SEC) e em relação à Commodity Futures Trading Commission (CFTC)? www.worthpublishers.com/krugmanwells

C APÍ T UL O 18

Macroeconomia: Eventos e Ideias

O que você vai aprender neste capítulo • Por que a macroeconomia clássica não era adequada aos problemas impostos pela Grande Depressão. • Como Keynes e a experiência da Grande Depressão legitimaram o ativismo da política macroeconômica. • O que é o monetarismo e por que os monetaristas afirmam que há limite para o uso da política monetária discricionária. • Como os desafios levaram a uma revisão da economia keynesiana e ao surgimento da nova macroeconomia clássica. • Por que o consenso da Grande Moderação foi desafiado pela crise financeira de 2008, levando a debates acirrados entre os economistas sobre o melhor uso da política fiscal e monetária durante tempos de desafios econômicos.

Uma história de duas recessões Em novembro de 2002 o Fed realizou uma conferência especial para homenagear Milton Friedman pela ocasião do seu 90° aniversário. Entre os que prestaram homenagens estava Ben Bernanke, que recentemente tinha se mudado para o Fed da Universidade de Princeton e mais tarde se tornaria o presidente do Fed. Em sua homenagem, Bernanke pesquisou contribuições intelectuais de Friedman, com particular destaque para o argumento apresentado por Friedman e sua colaboradora Anna Schwartz de que a Grande Depressão da década de 1930 poderia ter sido evitada apenas se o Fed tivesse feito seu trabalho adequadamente. No final do discurso, Bernanke se dirigiu diretamente a Friedman e Schwartz, que estavam presentes na conferência: “Vou terminar o meu discurso abusando um pouco do meu status de representante oficial do Fed. Gostaria de dizer a Milton e Anna: em relação à Grande Depressão, vocês estão certos, nós o fizemos. Lamentamos muito. Mas, graças a vocês, não faremos novamente.” Hoje, no rescaldo de uma crise financeira devastadora que continua a infligir índices de desemprego elevados, essas palavras soam um pouco ocas. Evitar crises econômicas graves, descobriu- se, não é tão fácil como Friedman, Schwartz e Bernanke acreditavam. No entanto, por pior que tenha sido a crise de 2008 e suas consequências, foi menos devastadora que a Grande Depressão. É razoável argumentar que parte da razão é que a macroeconomia evoluiu em 78 anos, de 1930 a 2008. Como consequência, os formuladores de política econômica conheciam mais sobre as causas da depressão e como combatê-las do que durante a Grande Depressão. Neste capítulo vamos traçar o desenvolvimento das ideias macroeconômicas ao longo dos últimos 80 anos. Como veremos, esse desenvolvimento foi influenciado fortemente por eventos econômicos, desde a Grande Depressão da década de 1930, com a estagflação da década de 1970, e o período surpreendente de estabilidade econômica alcançado entre 1985 e 2007. E, como veremos também, o processo continua, enquanto as

dificuldades econômicas desde 2008 têm estimulado muitos macroeconomistas a repensar o que pensavam que sabiam.

Macroeconomia clássica Ao que consta, o termo macroeconomia foi criado em 1933, pelo economista norueguês Ragnar Frisch. A data, durante o pior ano da Grande Depressão, não foi por acaso. Mas, antes disso, já havia economistas analisando o que hoje consideramos questões macroeconômicas – o comportamento do nível de preços agregado e do produto agregado.

Moeda e nível de preços No Capítulo 16, descrevemos o modelo clássico do nível de preços. De acordo com esse modelo, os preços são flexíveis, tornando a curva da oferta agregada vertical, mesmo no curto prazo. Nesse modelo, um aumento na oferta de moeda leva, tudo o mais mantido constante, a um aumento proporcional no nível de preços agregado, sem efeito sobre o produto agregado. Como resultado, aumentos na oferta de moeda levam à inflação, e isso é tudo. Antes da década de 1930, o modelo clássico do nível de preços dominava o pensamento econômico sobre os efeitos da política monetária. Será que os economistas clássicos realmente acreditavam que mudanças na oferta de moeda afetavam apenas os preços agregados, sem qualquer efeito sobre o produto agregado? Provavelmente, não. Os historiadores do pensamento econômico argumentam que, antes de 1930, a maioria dos economistas estava ciente de que mudanças na oferta de moeda afetam o produto agregado, bem como o nível de preços no curto prazo – ou, para usar termos modernos, estavam cientes de que a curva da oferta agregada de curto prazo tem inclinação para cima. Mas consideravam esses efeitos de curto prazo pouco importantes, enfatizando o longo prazo. Foi essa atitude que levou John Maynard Keynes a ironizar o foco no longo prazo, dizendo que já “estaremos todos mortos”.

O ciclo econômico Certamente os economistas clássicos também sabiam que a economia não crescia sem problemas. O economista americano Wesley Mitchell foi pioneiro no estudo quantitativo dos ciclos econômicos. Em 1920, fundou o National Bureau of Economic Research, uma organização independente, sem fins lucrativos, que até hoje tem o papel oficial de declarar o início das recessões e expansões. Graças ao trabalho de Mitchell, a mensuração dos ciclos econômicos estava bastante avançada em 1930. Mas não havia nenhuma teoria amplamente aceita dos ciclos econômicos. Na ausência de uma teoria clara, surgiram conflitos entre os formuladores de política econômica sobre como responder a uma recessão. Alguns economistas favoreciam as políticas monetária e fiscal expansionistas para combater a recessão. Outros acreditavam que essas políticas agravariam a crise ou apenas adiariam o inevitável. Por exemplo, em 1934, o economista da Universidade de Harvard, Joseph Schumpeter, hoje famoso pelo reconhecimento precoce da importância da mudança tecnológica, alertou que qualquer

tentativa de aliviar a Grande Depressão com política monetária expansionista “levaria, no final, a um colapso pior do que aquele que se estava tentando remediar ”. Quando a Grande Depressão atingiu o país, a política econômica estava paralisada por essa falta de consenso. Em muitos casos, os economistas acreditam, agora, que a política moveu-se na direção errada. A necessidade, no entanto, foi mãe das invenções. Como explicaremos a seguir, a Grande Depressão ofereceu um forte incentivo para que os economistas desenvolvessem teorias que pudessem servir de guia para a política econômica – e os economistas responderam.

Economia em ação Quando começou o ciclo de negócios? A cronologia oficial dos ciclos econômicos passados nos Estados Unidos, mantida pelo National Bureau of Economic Research, remonta apenas a 1854. Há duas razões para isso. Uma é que, quanto mais se volta atrás no tempo, menos dados econômicos estão disponíveis. A outra é que os ciclos econômicos, no sentido moderno, talvez não tenham ocorrido nos Estados Unidos de antes de 1854. Na primeira metade do século XIX, os Estados Unidos eram predominantemente uma economia rural, agrícola. A Figura 18-1 mostra estimativas das variações percentuais do PIB proveniente da agricultura, da manufatura e da mineração ao longo do período entre 1840 e 1900. A figura mostra que a agricultura era mais importante que a manufatura em 1840 e que a manufatura não ultrapassou a agricultura em importância econômica até a década de 1880.

FIGURA 18-1 Mudança no caráter da economia no século XIX Fonte: Robert E. Gallman, “Economic Growth and Structural Change in the Long Nineteenth Century”, em Stanley L. Engerman and Robert E. Gallman, eds., The Camb ridge Economic History of the United States, vol. II: The Long Nineteenth Century (Cambridge, UK: Cambridge University Press, 2000).

Por que isso importa? Flutuações no produto agregado em economias agrícolas são muito diferentes do ciclo econômico que conhecemos hoje. Isso porque os preços dos produtos agrícolas tendem a ser altamente flexíveis. Em decorrência, a curva da oferta agregada de curto prazo de uma economia essencialmente agrícola provavelmente esteja perto da vertical, e assim choques de demanda não causam flutuações no produto. Em vez disso, as flutuações na agricultura são determinadas principalmente pelo clima, tornando os deslocamentos da curva da oferta agregada de curto prazo a principal fonte de flutuações. Por outro lado, os ciclos econômicos modernos, em grande parte, são resultantes de deslocamentos da curva da demanda agregada. O ciclo econômico moderno, provavelmente, teve origem na Grã-Bretanha – lar da Revolução Industrial, que em 1820, em grande medida, já era uma sociedade industrial e urbana. A recessão britânica entre1846 e 1847 teve um aspecto particularmente moderno: seguiu-se a um ataque de excesso de otimismo em que as empresas investiram pesadamente em uma excitante tecnologia nova – as estradas de ferro –, percebendo depois que haviam exagerado.

Breve revisão ■ Os macroeconomistas clássicos focavam nos efeitos de longo prazo da política monetária sobre o nível de preços agregado, ignorando os efeitos de curto prazo sobre o produto agregado. ■ Na época da Grande Depressão, a mensuração dos ciclos econômicos estava bastante avançada, mas não havia uma teoria amplamente aceita explicando por que aconteciam.

Teste seu entendimento 18-1 1. Quando Ben Bernanke, em seu tributo a Milton Friedman, disse “No que diz respeito à Grande Depressão... nós o fizemos”, estava se referindo ao fato de que, na época, o Fed não perseguiu uma política monetária expansionista. Por que um economista clássico imaginaria que essa ação pelo Fed não teria feito diferença na amplitude ou profundidade da Grande Depressão? As respostas estão no fim do livro.

A grande depressão e a revolução keynesiana A Grande Depressão demonstrou, de uma vez por todas, que os economistas não podem ignorar tranquilamente o curto prazo. O prejuízo econômico não foi apenas grave; ameaçou desestabilizar sociedades e sistemas políticos. Em particular, a queda econômica ajudou Adolf Hitler a subir ao poder na Alemanha. O mundo inteiro queria saber como esse desastre econômico podia estar acontecendo e o que podia ser feito. Mas como não havia uma teoria amplamente aceita do ciclo econômico, os economistas deram conselhos conflitantes e, conforme hoje se acredita, muitas vezes prejudiciais. Alguns acreditavam que somente uma grande mudança no sistema econômico – tal como o governo assumir grande parte da indústria privada e substituir os mercados com uma economia de comando – poderia acabar com a recessão. Outros argumentaram que recessões eram naturais – até mesmo benéficas – e que nada deveria ser feito. No entanto, alguns economistas argumentavam que a crise podia e deveria ser curada, sem abrir mão da ideia básica de uma economia de mercado. Em 1930, o economista britânico John Maynard Keynes comparou os problemas da economia americana e britânica com um carro com um motor de partida defeituoso. Para fazer a economia andar, segundo ele, era necessário apenas um reparo modesto e não uma revisão completa. Uma boa metáfora. Mas qual era a natureza do problema?

A teoria de Keynes Em 1936, Keynes apresentou sua análise da Grande Depressão, a explicação do que havia de errado com o motor de partida da economia, em um livro intitulado Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. Em 1946, o grande economista americano Paul Samuelson escreveu: “É um livro mal escrito, mal organizado... momentos de grande percepção e intuição se mostram em meio a uma álgebra monótona... achamos que sua análise é óbvia e, ao mesmo tempo, nova. Em resumo, é uma obra de um gênio.” A Teoria Geral não é uma leitura fácil, mas junto com A riqueza das mações, de Adam Smith, é um dos livros de economia mais influentes que já foi escrito. Como a descrição de Samuelson sugere, o livro de Keynes é um grande ensopado de ideias. A economia keynesiana se baseia principalmente em duas inovações. Primeiro, Keynes enfatizou os efeitos do curto prazo dos deslocamentos na demanda agregada sobre o produto agregado, em vez da determinação do longo prazo do nível de preços agregado. Como sugere a famosa frase de Keynes de que no longo prazo estaremos todos mortos, até seu livro aparecer a maioria dos economistas tratava a macroeconomia de curto prazo como uma questão menor. Keynes concentrou a atenção dos economistas em situações em que a curva da oferta agregada de curto prazo tem inclinação para cima e em que os deslocamentos da curva da demanda agregada afetam o produto agregado e o desemprego, bem como os preços agregados.

A Figura 18-2 ilustra a diferença entre a macroeconomia keynesiana e a clássica. Ambos os painéis da figura mostram a curva da oferta agregada de curto prazo, SRAS. Em ambos a pressuposição é que, por algum motivo, a curva da demanda agregada se desloca para a esquerda, de AD1 para AD2 – suponhamos que seja em resposta a uma queda de preços no mercado de ações que leva as famílias a reduzir os gastos de consumo.

FIGURA 18-2 Macroeconomia clássica versus keynesiana Uma diferença importante entre a economia clássica e a keynesiana envolve a curva da oferta agregada de curto prazo. O painel (a) mostra a visão clássica: a curva SRAS é vertical, de modo que os deslocamentos na demanda agregada afetam o nível de preços agregado, mas não o produto agregado. O painel (b) mostra a visão keynesiana: no curto prazo, a curva SRAS tem inclinação para cima, de modo que os deslocamentos na demanda agregada afetam o produto agregado, bem como os preços agregados.

O painel (a) mostra a visão clássica: a curva da oferta agregada de curto prazo é vertical. O declínio da demanda agregada leva a uma queda no nível de preços agregado, de P1 para P2, mas nenhuma mudança no produto agregado. O painel (b) mostra a visão keynesiana: a curva da oferta agregada de curto prazo se inclina para cima, de modo que o declínio na demanda agregada leva tanto a uma queda no nível de preços agregado, de P1 para P2, como a uma queda no produto agregado, de Y1 para Y2. Como já explicamos, muitos macroeconomistas clássicos teriam concordado que o painel (b) é uma história precisa do curto prazo – mas consideravam o curto prazo sem importância. Keynes discordava. [Para ficar claro, não há qualquer gráfico que se pareça com o painel (b) da Figura 18-2 na Teoria Geral de Keynes. Mas a discussão de Keynes da oferta agregada, traduzida em terminologia moderna, implica claramente uma curva SRAS com inclinação para cima.] Os economistas clássicos enfatizavam o papel da variação na oferta de moeda no deslocamento da curva da demanda agregada, dando pouca atenção a outros fatores. A segunda inovação de Keynes foi o argumento de que outros fatores, sobretudo mudanças nos “espíritos animais” – que hoje em dia geralmente chamamos pelo termo mais neutro de confiança empresarial – são os principais responsáveis pelos ciclos econômicos. Antes de Keynes, os economistas argumentavam com frequência que um declínio na confiança empresarial não teria nenhum efeito sobre o nível de preços agregado ou produto agregado, desde que a oferta de moeda permanecesse constante. Keynes ofereceu um

quadro muito diferente. A economia keynesiana penetrou profundamente na consciência do público, na medida em que muitas pessoas que nunca tinham ouvido falar de Keynes, ou que já tinham, mas pensavam não concordar com a sua teoria, usavam as ideias keynesianas o tempo todo. Por exemplo, suponha que um comentarista econômico diga algo como: “Por causa da queda na confiança dos empresários, os gastos de investimento caíram, causando recessão.” Saiba o comentarista ou não, essa afirmação é pura economia keynesiana.

Para mentes curiosas A política de Keynes O termo economia keynesiana algumas vezes é usado como sinônimo de economia de esquerda: há autores que parecem acreditar que, como Keynes ofereceu justificativa para alguns tipos de ativismo do governo, era um esquerdista de algum matiz, talvez até mesmo um socialista. Mas a verdade é mais complicada. Como explicamos no texto, as ideias keynesianas foram efetivamente aceitas por uma ampla gama do espectro político. Em 2004, o presidente dos Estados Unidos era conservador, assim como seu principal economista, N. Gregory Mankiw. Mas Mankiw é também o editor de uma coleção de textos intitulado Nova Economia keynesiana. E o próprio Keynes não era socialista e tampouco esquerdista. Na época em que a Teoria Geral foi publicada, muitos intelectuais na Grã-Bretanha acreditavam que a Grande Depressão representava a crise final do sistema econômico capitalista e que somente a tomada da indústria pelo governo poderia salvar a economia. Keynes, ao contrário, argumentava que tudo o que o sistema precisava era de um pequeno arranjo técnico. Nesse sentido, suas ideias eram pré-capitalistas e politicamente conservadoras. A verdade é que a ascensão da economia keynesiana em 1940, 1950 e 1960 ocorreu junto com uma expansão geral do papel do governo na economia e os que favoreciam um papel maior do governo tendiam a ser keynesianos entusiastas. Por outro lado, a volta do pêndulo em favor da política de livre mercado nos anos 1970 e 1980 veio acompanhada de uma série de desafios às ideias keynesianas, que descreveremos mais adiante neste capítulo. Mas é perfeitamente possível ter preferências políticas conservadoras, respeitando a contribuição de Keynes e, igualmente possível, ser liberal e crítico das ideias de Keynes. O próprio Keynes, de certa forma, previu que suas ideias se tornariam parte do que “todo mundo sabe”. Em outra passagem famosa, esta no final da Teoria Geral, escreveu: “Os homens práticos, que acreditam ser isentos de qualquer influência intelectual, geralmente são escravos de algum economista defunto.”

Política de combate às recessões

A principal consequência prática da obra de Keynes foi a legitimação do ativismo da política macroeconômica – o uso da política monetária e fiscal para suavizar o ciclo econômico. O ativismo da política macroeconômica não era algo completamente novo. Antes de Keynes, muitos economistas haviam defendido o uso da expansão monetária para combater crises econômicas, embora alguns fossem ferozmente contra. Alguns economistas ainda argumentavam que déficits orçamentários temporários eram uma coisa boa em tempos de recessão, embora outros discordassem fortemente. Na prática, durante a década de 1930 muitos governos seguiram políticas que hoje chamaríamos de keynesianas. Nos Estados Unidos, a administração de Franklin Roosevelt, em um esforço para criar empregos, envolveu-se em gastos que geraram um déficit modesto. Mas esses esforços foram feitos sem muita convicção. De fato, em 1937, Roosevelt cedeu ao conselho de economistas não keynesianos que insistiram para que equilibrasse o orçamento e aumentasse as taxas de juros, embora a economia ainda estivesse deprimida. O resultado foi uma recessão renovada. Após a Segunda Guerra Mundial, as ideias keynesianas foram amplamente aceitas pelos economistas americanos. Havia, porém, uma série de desafios para essas ideias, que levou a uma mudança considerável de visão, mesmo entre aqueles economistas que continuavam a acreditar que Keynes tinha razão sobre as causas da recessão. Na próxima seção, aprenderemos sobre os desafios e as escolas, a nova economia clássica e a nova economia keynesiana, que surgiram.

Economia em ação O fim da grande depressão Seria uma boa história se as ideias de Keynes tivessem levado a uma mudança da política econômica que tivesse conseguido acabar com a Grande Depressão. Infelizmente, não foi isso que aconteceu. Ainda assim, a forma como a Grande Depressão terminou acabou convencendo os economistas de que Keynes estava certo. A mensagem básica que muitos dos jovens economistas que adotaram as ideias de Keynes nos anos 1930 extraíram do seu trabalho foi que a recuperação econômica requer expansão fiscal agressiva – gastos deficitários em larga escala para criar empregos. E foi isso que no fim conseguiram, mas não porque os políticos foram persuadidos. Em vez disso o que aconteceu foi uma grande e dispendiosa guerra, a Segunda Guerra Mundial. A Figura 18-3 mostra a taxa de desemprego nos Estados Unidos e o déficit orçamentário federal como proporção do PIB entre 1930 e 1947. Como se vê, os gastos deficitários durante a década de 1930 tiveram uma escala modesta. Em 1940, à medida que o risco da guerra aumentava, os Estados Unidos começaram uma grande escalada militar, movendo o orçamento para um déficit profundo. Após o ataque a Pearl Harbor em 7 de dezembro de 1941, o país começou a ter gastos deficitários em uma escala enorme: no ano fiscal de 1943, que começou em julho de 1942, o déficit era de 30% do PIB. Hoje isso seria equivalente a um déficit de $4,3 trilhões.

FIGURA 18-3 Política fiscal e o fim da Grande Depressão Fonte: Censo dos Estados Unidos.

E a economia se recuperou. A Segunda Guerra Mundial não foi concebida como uma política fiscal keynesiana, mas demonstrou que a política fiscal expansionista pode, de fato, criar empregos no curto prazo.

Breve revisão ■ As principais inovações da economia keynesiana são a ênfase no curto prazo, em que a curva da oferta agregada de curto prazo, SRAS, tem inclinação para cima em vez de vertical e a crença de que a mudança na confiança empresarial desloca a curva AD e, assim, gera os ciclos econômicos. ■ A economia keynesiana forneceu a justificativa para o ativismo da política macroeconômica. ■ As ideias keynesianas são amplamente usadas até mesmo por pessoas que nunca ouviram falar em Keynes ou pensam discordar dele.

Teste seu entendimento 18-2 1. Em um comunicado da imprensa, no início de 2012, a Federação Nacional das Empresas Independentes, que calcula o Índice de Otimismo de Pequenas Empresas (Small Business Optimism Index), afirmou: “O Índice de Otimismo de Pequenas Empresas subiu apenas 0,1 ponto em janeiro... Historicamente, o otimismo permanece em níveis de recessão. Enquanto os proprietários de pequenos negócios pareciam menos pessimistas sobre o panorama das condições de negócios e sobre o crescimento real das vendas, esse otimismo não se materializou na contratação ou aumentou os planos de estoques.” Será que essa afirmação parece familiar para um economista keynesiano? Que conclusão um economista keynesiano teria tirado da necessidade de política pública? As respostas estão no fim do livro.

Desafios à análise econômica keynesiana As ideias de Keynes mudaram fundamentalmente a forma como os economistas pensam sobre os ciclos econômicos. No entanto, não ficaram inquestionáveis. Nas décadas que se seguiram à publicação da Teoria Geral, a economia keynesiana enfrentou uma série de desafios. Como resultado, o consenso dos macroeconomistas retrocedeu um pouco da versão de forte keynesianismo que prevaleceu na década de 1950. Em particular, os economistas se tornaram muito mais conscientes dos limites do ativismo da política macroeconômica.

A volta da política monetária A Teoria Geral de Keynes sugeriu que a política monetária não seria muito efetiva em condições de depressão econômica. Muitos macroeconomistas modernos concordam: no Capítulo 16 introduzimos o conceito de armadilha de liquidez, uma situação em que a política monetária é ineficaz porque a taxa de juros bate na fronteira zero. Na década de 1930, quando Keynes escreveu, as taxas de juros estavam, de fato, muito próximas a 0%. (O termo armadilha de liquidez foi introduzido pela primeira vez pelo economista britânico John Hicks em um artigo de 1937, “Mr. Keynes and The Classics: A Suggested Interpretation”, que resumia as ideias de Keynes.) Mas mesmo quando a era da taxa de juros quase zero chegou ao fim após a Segunda Guerra Mundial, muitos economistas continuaram a enfatizar a política fiscal e minimizar a utilidade da política monetária. Finalmente, no entanto, os macroeconomistas reavaliaram a importância da política monetária. Um marco importante dessa reavaliação foi a publicação, em 1963, de Uma História Monetária dos Estados Unidos, 1867-1960, de Milton Friedman, da Universidade de Chicago, e Anna Schwartz, do National Bureau of Economic Research. Friedman e Schwartz mostraram que os ciclos econômicos estavam associados historicamente com flutuações na oferta de moeda. Em particular, a oferta de moeda caiu drasticamente durante o início da Grande Depressão. Friedman e Schwartz convenceram muitos economistas, mas nem todos, de que a Grande Depressão poderia ter sido evitada se o Fed tivesse agido para prevenir a contração monetária. Eles persuadiram a maioria dos economistas de que a política monetária deveria desempenhar um papel fundamental na gestão da economia. A volta do interesse pela política monetária foi importante porque sugeriu que o ônus de administrar a economia poderia ser retirado da política fiscal – o que significa que a gestão econômica podia, em grande medida, ser retirada das mãos dos políticos. A política fiscal, que envolve uma mudança nas alíquotas de impostos ou gastos do governo, necessariamente envolve escolhas políticas. Se o governo tenta estimular a economia por meio da redução de impostos, precisa decidir quais impostos cortar. Ao tentar estimular a economia por meio do gasto público, deve decidir em que gastar o dinheiro. Comparativamente, a política monetária não envolve tais escolhas: quando o Banco

Central corta a taxa de juros para combater a recessão, corta a taxa de juros de todos ao mesmo tempo. Assim, a macroeconomia se torna uma questão mais técnica e menos política ao deixar de se apoiar na política fiscal para se basear na política monetária. De fato, como vimos no Capítulo 14, a política monetária na maioria das economias importantes é definida por um banco central independente que está isolado do processo político.

Monetarismo Após a publicação de Uma História Monetária dos Estados Unidos, Milton Friedman liderou um movimento que buscava eliminar o ativismo da política macroeconômica, mantendo a importância da política monetária. O monetarismo afirma que o PIB crescerá regularmente, se a oferta monetária crescer regularmente. A prescrição de política econômica dos monetaristas era de que o Banco Central deveria ter como meta uma taxa de crescimento constante da oferta monetária, tal como 3% ao ano, e manter essa meta independente de quaisquer flutuações na economia. É importante perceber que o monetarismo manteve muitas ideias keynesianas. Como Keynes, Friedman afirmou que o curto prazo é importante e que mudanças de curto prazo na demanda agregada afetam o produto agregado, bem como os preços agregados. Como Keynes, argumentou que a política deveria ter sido muito mais expansionista durante a Grande Depressão. Contudo, os monetaristas argumentaram que a maioria dos esforços dos formuladores de política econômica para suavizar o ciclo econômico, na verdade, pioram a situação. No Capítulo 13 discutimos as razões pelas quais os macroeconomistas são céticos quanto à utilidade da política fiscal discricionária – variações nas alíquotas de impostos ou nos gastos do governo, ou ambos, em resposta ao estado da economia. Como explicamos, a percepção do governo sobre a economia, muitas vezes, é defasada em relação à realidade, e ainda há mais defasagens ao variar a política fiscal e seus efeitos sobre a economia. Em decorrência, políticas fiscais discricionárias destinadas a combater a recessão, com frequência acabam alimentando uma bolha, e vice-versa. De acordo com os monetaristas, a política monetária discricionária, variações na taxa de juros ou na oferta de moeda pelo Banco Central a fim de estabilizar a economia, enfrenta o mesmo problema de defasagem que a política fiscal, mas em menor grau. Friedman também argumentou que, se o Banco Central seguisse seu conselho e se recusasse a modificar a oferta monetária em resposta a flutuações na economia, a política fiscal seria muito menos eficaz do que os keynesianos acreditavam. No Capítulo 10 analisamos o fenômeno do crowding out, em que os déficits públicos elevam as taxas de juros e levam a uma redução no gasto de investimento. Friedman e outros salientaram que se a oferta de moeda for mantida fixa enquanto o governo desenvolve uma política fiscal expansionista, o crowding out – o deslocamento dos gastos de investimento privado pelos gastos governamentais – irá ocorrer e limitará o efeito da expansão fiscal sobre a demanda agregada. A Figura 18-4 ilustra esse argumento. O painel (a) mostra o produto agregado e o nível

de preços agregado. AD1 é a curva da demanda agregada inicial e SRAS é a curva da oferta agregada de curto prazo. No equilíbrio inicial, E1, o nível de produto agregado é Y1 e o nível de preços agregado é P1. O painel (b) mostra o mercado monetário. MS é a curva da oferta de moeda e MD1 é a curva da demanda de moeda inicial, então a taxa de juros inicial é r1.

FIGURA 18-4 Política fiscal com oferta de moeda fixa No painel (a) uma política fiscal expansionista desloca a curva AD para a direita, elevando tanto o nível de preços agregado como o produto agregado. No entanto, isso leva a um aumento na demanda por moeda. Se a oferta de moeda for mantida fixa, como no painel (b), o aumento na demanda de moeda faz subir a taxa de juros, reduzindo os gastos de investimento e anulando parte da expansão fiscal. Assim, o deslocamento da curva AD é menor do que teria sido de outra maneira: a política fiscal se torna menos efetiva quando a oferta de moeda é mantida fixa.

Agora, suponha que o governo aumente as compras de bens e serviços. Sabemos que isso vai deslocar a curva AD para a direita, conforme ilustrado pelo deslocamento de AD1 para AD2, e que o produto agregado aumentará, de Y1 para Y2, e o nível de preços agregado irá subir, de P1 para P2. Tanto o aumento do produto agregado como o aumento do nível de preços agregado, no entanto, aumentarão a demanda de moeda, deslocando a curva da demanda de moeda para a direita da MD1 para MD2. Isso eleva a taxa de juros de equilíbrio para r2. O ponto frisado por Friedman é que esse aumento na taxa de juros reduz os gastos de investimento, compensando parcialmente o aumento inicial nos gastos do governo. Como resultado, o deslocamento para a direita da curva AD é menor do que a análise do multiplicador indicada no Capítulo 13. E Friedman argumentou que, com a oferta de moeda constante, o multiplicador é tão pequeno que não há muito sentido em usar política fiscal, mesmo em uma economia deprimida. Mas Friedman também não defendeu uma política monetária ativista. Argumentou que esses mesmos problemas de defasagem temporal que limitam a capacidade da política fiscal discricionária de estabilizar a economia também se aplicam à política monetária discricionária. A solução de Friedman era colocar a política monetária no “piloto automático”. O Banco Central, segundo ele, deve seguir uma regra de política monetária, uma fórmula que determine suas ações e deixe relativamente pouco critério. Durante os anos 1960 e 1970, a maioria dos monetaristas era a favor de uma regra de

política monetária de crescimento lento e constante na oferta de moeda. Subjacente a esse ponto de vista está o conceito de velocidade da moeda, a razão entre o PIB nominal e a quantidade de moeda. Velocidade é uma medida do número de vezes que, em média, uma nota de US$1 na economia é trocada entre compradores e vendedores (por exemplo, dou uma gorjeta de US$1 à garçonete da Starbucks, que a usa para comprar o almoço, e assim por diante). Esse conceito deu origem à equação da velocidade da moeda:

(18-1) onde M é a oferta de moeda, V é a velocidade, P é o nível de preços agregado e Y é o PIB real. Os monetaristas acreditavam, com considerável justificativa histórica, que a velocidade da moeda ficava estável no curto prazo e variava muito lentamente no longo prazo. Em decorrência, segundo eles, o crescimento constante da oferta de moeda pelo Banco Central garantiria o crescimento constante dos gastos e, portanto, do PIB. O monetarismo influenciou fortemente a política monetária real no final de 1970 e início de 1980. Contudo, tornou-se claro, rapidamente, que o crescimento contínuo da oferta de moeda não garantia o crescimento constante da economia: a velocidade da moeda não era estável o suficiente para que essa regra simples de política funcionasse. A Figura 18-5 mostra como os eventos, no final, minaram a visão dos monetaristas. A figura mostra a velocidade da moeda, medida pela razão entre o PIB nominal e M1, de 1960 até o final de 2011. Como se vê, até 1980 a velocidade da moeda seguiu uma tendência bastante suave, aparentemente previsível. No entanto, depois que o Fed começou a adotar ideias monetaristas, no final de 1970 e início de 1980, a velocidade da moeda começou a se alterar de forma errática – provavelmente devido às inovações do mercado financeiro.

FIGURA 18-5 A velocidade da moeda De 1960 a 1980, a velocidade da moeda era estável, levando os monetaristas a acreditar que o crescimento constante da oferta da moeda levaria a uma economia estável. Depois de 1980, entretanto, a velocidade começou a se movimentar erraticamente, prejudicando o monetarismo tradicional. Em decorrência, o monetarismo tradicional caiu em desuso. Fonte: Federal Reserve Bank de St. Louis.

É difícil de encontrar entre os macroeconomistas de hoje os monetaristas tradicionais – aqueles que acreditam que o PIB vai crescer regularmente se a oferta de moeda crescer regularmente. No entanto, como veremos mais adiante neste capítulo, a preocupação que originalmente motivou os monetaristas – alguns, mas nem todos – de que muita política monetária discricionária pode realmente desestabilizar a economia – tornou-se amplamente aceita.

A inflação e a taxa natural de desemprego Ao mesmo tempo em que os monetaristas estavam desafiando a visão keynesiana de como a política macroeconômica deveria ser conduzida, outros monetaristas – alguns, mas nem todos – estavam enfatizando os limites que os ativistas de política macroeconômica poderiam alcançar. Nas décadas 1940 e 1950, muitos economistas keynesianos acreditavam que a política fiscal expansionista poderia ser usada para atingir o pleno emprego em base permanente. Na década de 1960, no entanto, muitos economistas perceberam que as políticas expansionistas podiam causar problemas com a inflação, mas ainda acreditavam que os formuladores de política econômica podiam trocar um desemprego baixo por uma inflação mais elevada, mesmo no longo prazo. Em 1968, no entanto, Milton Friedman e Edmund Phelps, da Universidade de Columbia, trabalhando de forma independente, propuseram o conceito de taxa natural de desemprego, que discutimos no Capítulo 8. No Capítulo 16, mostramos que a taxa

natural de desemprego é também a taxa de desemprego que mantém a inflação estável, ou NAIRU. De acordo com a hipótese da taxa natural, como a inflação é incorporada às expectativas, para evitar a aceleração da inflação ao longo do tempo, a taxa de desemprego deve ser alta o suficiente para que a taxa de inflação efetiva seja igual à taxa de inflação esperada. As tentativas de manter a taxa de desemprego abaixo da taxa natural farão a taxa de inflação esperada exceder a taxa de inflação efetiva, além de gerar uma taxa de inflação sempre crescente. A hipótese da taxa natural limita o papel do ativista de política macroeconômica em relação às teorias anteriores. Como o governo não pode manter o desemprego abaixo da taxa natural, sua tarefa não é manter o desemprego baixo, mas mantê-lo estável – para evitar grandes flutuações no desemprego em qualquer direção. A hipótese de Friedman-Phelps faz uma previsão forte: que o trade-off aparente entre desemprego e inflação não sobrevive a um longo período de aumento de preços. Uma vez que a inflação se incorporar à expectativa da população, continuará mesmo em face da taxa de desemprego elevada. Com certeza, isso foi exatamente o que aconteceu na década de 1970. Essa predição precisa foi um dos triunfos da análise macroeconômica e convenceu a grande maioria dos economistas de que a hipótese da taxa natural estava correta. Ao contrário do monetarismo tradicional, que diminuía em influência à medida que mais evidência se acumulava, a hipótese da taxa natural tornou-se quase universalmente aceita entre os macroeconomistas. (Alguns macroeconomistas acreditam que com taxas de inflação muito baixas ou negativas a hipótese não funciona.)

O ciclo político-econômico Um desafio final à análise econômica keynesiana tem o foco não sobre a validade da análise econômica, mas sobre as consequências políticas. Numerosos economistas e cientistas políticos chamaram a atenção para o fato de que o ativismo da política macroeconômica se presta à manipulação política. Existe evidência estatística de que os resultados eleitorais tendem a ser determinados pelo estado da economia nos meses próximos à eleição. Nos Estados Unidos, quando a economia está crescendo rapidamente e a taxa de desemprego esteve em queda nos últimos seis meses ou mais antes da eleição, o partido no poder tende a ser reeleito, mesmo se a economia teve desempenho fraco nos últimos três anos. Isso cria uma tentação óbvia de abusar do ativismo da política macroeconômica: jogue moeda na economia em um ano eleitoral, e pague o preço de inflação mais elevada e/ou aumento do desemprego mais tarde. O resultado pode ser uma instabilidade desnecessária na economia, um ciclo político- econômico causado pelo uso da política macroeconômica para servir a fins políticos. Um exemplo bastante citado é a combinação de política fiscal e monetária expansionista que levou ao rápido crescimento da economia dos Estados Unidos pouco antes da eleição de 1972 e uma forte aceleração da inflação após a eleição. Kenneth Rogoff, um macroeconomista altamente respeitado que atuou como economista-chefe do Fundo Monetário Internacional, proclamou Richard Nixon, o presidente na época, “o

maior herói de todos os tempos dos ciclos político-econômicos”. Como vimos no Capítulo 14, uma forma de evitar o ciclo político-econômico é colocar a política monetária nas mãos de um banco central independente, isolado da pressão política. O ciclo político-econômico é também uma razão para limitar o uso da política fiscal discricionária, exceto em circunstâncias extremas.

Economia em ação O flerte do Fed com o monetarismo No final dos anos 1970 e início dos anos 1980 o Fed flertou com o monetarismo. Na maior parte de sua existência anterior, o Fed teve uma meta de taxa de juros, ajustando essa meta com base no estado da economia. No final dos anos 1970, porém, o Fed adotou uma regra de política monetária e começou a anunciar como metas intervalos de limites de variação para várias medidas de oferta monetária. Também parou de estabelecer uma meta para as taxas de juros. A maioria das pessoas interpretou essas mudanças como um forte movimento em direção ao monetarismo. Em 1982, no entanto, o Fed virou as costas para o monetarismo. Desde 1982, o Fed tem prosseguido uma política monetária discricionária, que tem levado a grandes oscilações na oferta de moeda. No final da década de 1980, o Fed voltou a conduzir a política monetária, estabelecendo níveis de metas para a taxa de juros. Por que o Fed flertou com o monetarismo e, em seguida, o abandonou? A tendência ao monetarismo em grande parte refletiu os eventos dos anos 1970, quando um forte aumento da taxa de inflação rompeu o trade-off aparente entre inflação e desemprego e desacelerou o keynesianismo tradicional. A precisão da previsão de Friedman de um agravamento no trade-off entre inflação e desemprego aumentou seu prestígio e o de seus seguidores. Em consequência, os formuladores de política econômica adotaram as propostas de Friedman. O afastamento do monetarismo também refletiu eventos: como vimos na Figura 18-5, a velocidade da moeda, que tinha seguido uma tendência suave antes de 1980, tornou-se errática depois de 1980. Isso fez o monetarismo deixar de parecer uma boa ideia.

Breve revisão ■ O keynesianismo, no início, menosprezou a eficácia da política monetária em comparação com a política fiscal. Mas, mais tarde, os macroeconomistas perceberam que a política monetária é eficaz, exceto no caso de uma armadilha de liquidez. ■ De acordo com o monetarismo, a política monetária discricionária faz mais mal do que bem, e uma simples regra de política monetária é a melhor forma de estabilizar a economia. Os monetaristas acreditam que a velocidade da moeda é estável e, portanto, o crescimento constante da oferta de moeda leva a um crescimento constante do PIB. Essa doutrina foi popular por um tempo, mas recuou em influência. ■ A hipótese da taxa natural, hoje amplamente aceita, coloca limites precisos sobre o que

a política macroeconômica pode alcançar. ■ Preocupações sobre o ciclo político-econômico sugerem que o Banco Central deve ser independente e que a política fiscal discricionária deve ser evitada, exceto em circunstâncias extremas, como em uma armadilha de liquidez.

Teste seu entendimento 18-3 1. Considere a Figura 18-5. a. De acordo com a equação da velocidade, se o Fed tivesse seguido uma política monetarista de taxa constante de crescimento da oferta de moeda o que teria acontecido com o produto a partir de 2008? b. Na verdade, o Fed acelerou a taxa de crescimento em M1, começando rapidamente em 2008, em parte, para neutralizar um grande aumento de desemprego. Um monetarista teria concordado com essa política? Que limites existem, de acordo com o ponto de vista monetarista, para alterar a taxa de desemprego? 2. Quais são os limites do ativismo da política macroeconômica? As respostas estão no fim do livro.

Expectativas racionais, ciclos econômicos reais e a nova macroeconomia clássica Como vimos, uma diferença fundamental entre a economia clássica e a economia keynesiana é que os economistas clássicos acreditavam que a curva da oferta agregada de curto prazo é vertical, enquanto a economia keynesiana afirma que a curva da oferta agregada se inclina para cima no curto prazo. Como resultado da curva da demanda inclinada para cima, Keynes argumentou que os choques de demanda – deslocamentos da curva da demanda agregada – podem causar flutuações no produto agregado. Os questionamentos para a economia keynesiana que surgiram nas décadas de 1950 e 1960, ou seja, a renovada ênfase na política monetária e na hipótese da taxa natural, não foram fundamentados nas ideias da economia clássica. Em outras palavras, os desafiadores ainda aceitavam que um aumento na demanda agregada leva a um aumento no produto agregado no curto prazo e que uma diminuição na demanda agregada leva a uma queda no produto agregado no curto prazo. Em vez disso, argumentaram que a medicina política – o ativista da política macroeconômica – pioraria a doença – as flutuações econômicas. No entanto, nos anos 1970 e 1980, alguns economistas desenvolveram uma abordagem do ciclo econômico conhecida como nova macroeconomia clássica, que reviveu a visão clássica de que os deslocamentos da curva de demanda agregada afetam apenas o nível de preços agregado, não o produto agregado. A nova abordagem evoluiu em duas etapas. Primeiro alguns economistas desafiaram os argumentos tradicionais sobre a inclinação da curva da oferta agregada de curto prazo com base no conceito de expectativas racionais. Segundo, alguns economistas sugeriram que mudanças na produtividade causam flutuações econômicas, uma visão conhecida como teoria do ciclo econômico real.

Expectativas racionais Na década de 1970 um conceito conhecido como expectativas racionais teve um forte impacto sobre a macroeconomia. Expectativas racionais, teoria introduzida originalmente por John Muth, em 1961, é a visão de que os indivíduos e as empresas tomam decisões de forma otimizada, usando toda a informação disponível. Por exemplo, trabalhadores e empregadores em negociação sobre contratos salariais de longo prazo precisam estimar a taxa de inflação que esperam que vá ocorrer ao longo da vida do contrato. A teoria das expectativas racionais diz que, ao fazer estimativas de inflação futura, não se verifica apenas as taxas passadas de inflação, como também se leva em conta a informação disponível sobre política monetária e fiscal. Suponha que os preços não subiram no último ano, mas que as políticas monetária e fiscal anunciadas pelos formuladores de política econômica deixam claro para os analistas econômicos que haverá inflação substancial nos próximos anos. De acordo com as expectativas racionais, os contratos salariais de longo prazo serão ajustados hoje para refletir essa inflação futura, mesmo que os preços não tenham subido no passado. A adoção de expectativas racionais pode alterar significativamente a crença dos formuladores de política econômica sobre a eficácia da política do governo. De acordo com a versão original da hipótese da taxa natural, uma tentativa do governo de negociar a inflação mais alta para reduzir o desemprego funcionaria no curto prazo, mas acabaria por falhar, porque seria uma inflação mais elevada desenvolvida sobre expectativas. De acordo com as expectativas racionais, devemos remover a palavra eventualmente, substituindo-a por imediatamente: se é claro que o governo tem a intenção de negociar uma inflação mais elevada para diminuir o desemprego, o público vai entender isso, e a inflação esperada subirá imediatamente. Assim, quando sujeita a expectativas racionais, a intervenção do governo falha no curto e no longo prazo. Em 1970, Robert Lucas, da Universidade de Chicago, em uma série de trabalhos que tiveram grande influência, usou a lógica das expectativas racionais para argumentar que a política monetária só pode alterar o nível do produto e o desemprego se vier como surpresa para o público. Caso contrário, as tentativas de diminuir o desemprego resultarão em preços mais elevados. De acordo com o modelo de expectativas racionais de Lucas da economia, no final, a política monetária não é útil na estabilização da economia. Em 1995, Lucas ganhou o Prêmio Nobel em Economia por esse trabalho, que continua a ser amplamente admirado. No entanto, muitos – talvez a maioria – dos macroeconomistas, especialmente os que aconselharam os formuladores de política econômica, agora acreditam que suas conclusões foram exageradas. O Fed certamente pensa que pode desempenhar um papel importante na estabilização econômica. Por que, na visão de muitos macroeconomistas, o modelo macroeconômico das expectativas racionais de Lucas não descreve com precisão a forma como a economia se comporta? A nova economia keynesiana, um conjunto de ideias que se tornaram influentes na década de 1990, fornece uma explicação. Argumenta que as imperfeições do mercado interagem para tornar rígidos, temporariamente, muitos preços na economia.

Por exemplo, um dos argumentos da nova economia keynesiana assinala que os monopolistas não precisam ser muito cuidadosos na fixação de preços exatamente “corretos”: se estabelecerem preços altos demais perdem algumas vendas, mas obtêm lucros maiores em cada venda; se estabelecerem preços baixos demais reduzem o lucro por venda, mas vendem mais. Em decorrência, mesmo pequenos custos para moldar preços pode levar a uma rigidez de preços substancial e fazer a economia como um todo se comportar de forma keynesiana. Com o tempo, as ideias dos novos keynesianos combinadas com a experiência real reduziram a influência prática do conceito de expectativas racionais. No entanto, a ideia de expectativas racionais serviu como advertência útil para os macroeconomistas que se tornaram excessivamente otimistas sobre a capacidade de gerir a economia.

Ciclos econômicos reais No Capítulo 9 introduzimos o conceito de produtividade total dos fatores, a quantidade de produto que pode ser gerada com um determinado nível de insumos de fatores. A produtividade total do fator cresce ao longo do tempo, mas esse crescimento não é regular. Na década de 1980 vários economistas argumentaram que a desaceleração do crescimento da produtividade – que atribuíam a pausas no progresso tecnológico – é a principal causa das recessões. A teoria do ciclo econômico real afirma que flutuações na taxa de crescimento da produtividade total dos fatores causam o ciclo econômico. Ao acreditar que a curva da oferta agregada seja vertical, os teóricos do ciclo econômico real atribuem a origem dos ciclos econômicos a deslocamentos da curva da oferta agregada: uma recessão ocorre quando uma desaceleração no crescimento da produtividade desloca a curva da oferta agregada para a esquerda, e uma recuperação ocorre quando uma retomada no crescimento da produtividade desloca a curva da oferta agregada para a direita. Nos primeiros tempos da teoria do ciclo econômico real, os proponentes dessa teoria negavam que mudanças na demanda agregada – e, igualmente, o ativismo da política macroeconômica – têm qualquer efeito sobre o produto agregado. Essa teoria foi fortemente influente, como demonstra o fato de que dois fundadores da teoria do ciclo econômico real, Finn Kydland, da Carnegie Mellon University, e Edward Prescott, do Federal Reserve Bank of Minneapolis, ganharam o Prêmio Nobel de 2004, em Economia. O status atual da teoria do ciclo econômico real, no entanto, é um pouco semelhante ao da teoria das expectativas racionais. É amplamente reconhecido que a teoria deu uma contribuição valiosa para a compreensão da economia e serve como advertência útil contra muita ênfase sobre a demanda agregada. Mas muitos dos teóricos dos ciclos econômicos reais reconhecem agora que seus modelos precisam de uma curva da oferta agregada com inclinação para cima para poder se ajustar aos dados – e que isso oferece à demanda agregada um papel potencial na determinação do produto agregado. E, como vimos, os formuladores de política econômica acreditam fortemente que a política da demanda agregada tem um papel importante a desempenhar no combate às recessões.

Para mentes curiosas Economia pelo lado da oferta Durante a década de 1970 um grupo de escritores de economia começou propondo uma visão de política econômica que veio a ser conhecida como “economia do lado da oferta”. O núcleo dessa visão era a crença de que a redução de impostos e, assim, o aumento dos incentivos para trabalhar e investir, tem um efeito poderoso positivo sobre a taxa de crescimento do produto potencial. Os partidários da economia pelo lado da oferta instaram o governo a cortar impostos sem se preocupar em combinar cortes de gastos: o crescimento econômico, argumentaram, compensaria quaisquer efeitos negativos dos déficits orçamentários. Alguns partidários ainda argumentaram que um corte nas taxas de impostos teria um efeito tão milagroso sobre o crescimento econômico que a receita tributária – o montante total de impostos que os contribuintes pagariam ao governo – de fato iria aumentar. Isto é, alguns dos partidários dessa teoria argumentaram que os Estados Unidos estavam do lado errado da curva de Laffer, uma relação hipotética entre taxas de impostos e receita tributária total, que tem inclinação para cima quando as taxas de impostos são baixas, mas que passa a ter inclinação para baixo quando as taxas de impostos são muito elevadas. Na década de 1970, a economia pelo lado da oferta foi entusiasticamente apoiada pelos editores do Wall Street Journal e outras figuras da mídia, e tornou-se popular entre os políticos. Em 1980, Ronald Reagan tornou a economia pelo lado da oferta base da campanha presidencial. Como a “teoria pelo lado da oferta” enfatiza a oferta em vez da demanda, e como seus próprios partidários são duramente críticos da economia keynesiana, pode parecer que ela faça parte da discussão sobre a nova economia clássica. Mas, ao contrário das expectativas racionais e da teoria do ciclo econômico real, em geral, não é levada a sério pelos pesquisadores econômicos. A principal razão para deixá-la de lado foi a falta de evidência. Quase todo economista concorda que cortes de impostos aumentam os incentivos ao trabalho e ao investimento. Mas tentativas de estimar os efeitos desses incentivos indicam que, aos níveis de impostos correntes nos Estados Unidos, os efeitos positivos dos incentivos estão longe de oferecer apoio às alegações feitas pelos partidários da economia pelo lado da oferta. Em particular, essa doutrina implica que grandes cortes de impostos, como os implementados por Ronald Reagan no início de 1980, deveriam ter aumentado o produto potencial. No entanto, as estimativas de produto potencial pelo Escritório de Orçamento do Congresso dos Estados Unidos e por outras entidades não mostraram sinais de aceleração no crescimento após os cortes de impostos de Reagan.

Economia em ação A produtividade total dos fatores e o ciclo econômico

A teoria do ciclo econômico real argumenta que flutuações na taxa de crescimento de produtividade total dos fatores são a principal causa dos ciclos econômicos. Embora muitos macroeconomistas discordem dessa afirmação, a teoria chamou a atenção para o fato de que há uma correlação forte entre a taxa de crescimento total da produtividade dos fatores e o ciclo econômico. A Figura 18-6 mostra a taxa anual de crescimento da produtividade de fatores estimada pelo Bureau of Labor Statistics. As áreas sombreadas representam recessões. Claramente, as recessões tendem a ser períodos em que o crescimento da produtividade total dos fatores desacelera acentuadamente ou até mesmo torna-se negativo. E os teóricos do ciclo econômico real merecem muito crédito por chamar a atenção dos economistas para esse fato.

FIGURA 18-6 Produtividade total dos fatores e o ciclo econômico

No entanto, há divergências sobre como interpretar essa correlação. Quando surgiu a teoria do ciclo econômico real, seus defensores argumentaram que as flutuações de produtividade são inteiramente o resultado do fato de que o progresso tecnológico é desigual. Entretanto, os críticos notaram que em recessões realmente graves, como a de 1974 a 1975 ou no início dos anos 1980, a produtividade total dos fatores na verdade diminui. Se os teóricos do ciclo econômico real estivessem corretos, a tecnologia realmente teria regredido durante esses períodos, algo difícil de acreditar. Então, o que explicaria esses períodos de declínio da produtividade total dos fatores durante as recessões? Alguns economistas argumentam que é resultado, não uma causa, das crises econômicas. Um exemplo pode ser útil. Suponha que meçamos a produtividade da agência de Correios local pelo número de unidade de correspondências manipuladas, dividido pelo número de funcionários dos Correios. Uma vez que os Correios não demitem trabalhadores quando há pouca correspondência, os dias de queda na quantidade de correspondências são dias em que os funcionários

ficam especialmente improdutivos. Em outras palavras, a queda nos negócios causa o declínio aparente da produtividade, e não o contrário. Agora é amplamente aceito que alguma correlação entre a produtividade total dos fatores e o ciclo econômico é o resultado do efeito do ciclo econômico sobre a produtividade, e não o contrário. Mas a direção principal da causalidade é tema de pesquisa contínua.

Breve revisão ■ De acordo com a nova macroeconomia clássica, no final, a curva da oferta agregada de curto prazo deve ser vertical. Ela desenvolveu duas vertentes: teoria das expectativas racionais e teoria do ciclo econômico real. ■ As expectativas racionais sugerem que as pessoas levam em conta todas as informações. O modelo das expectativas racionais da economia afirma que apenas mudanças inesperadas na política monetária afetam o produto agregado e o emprego; as mudanças esperadas alteram apenas o nível de preços. ■ A nova economia keynesiana argumenta que devido às imperfeições de mercado que criam rigidez de preços, a curva da oferta agregada tem inclinação para cima; portanto, variações na demanda agregada afetam o produto agregado e o emprego. ■ A teoria do ciclo econômico real argumenta que as flutuações na taxa de crescimento da produtividade causam o ciclo econômico. ■ As ideias e eventos do novo keynesianismo diminuíram a aceitação do modelo das expectativas racionais, enquanto que a teoria do ciclo econômico real foi enfraquecida por sua implicação de que a tecnologia retrocede durante as recessões profundas. Hoje em dia acredita-se que a curva da oferta agregada tem inclinação para cima.

Teste seu entendimento 18-4 1. No final de 2008, quando se tornou claro que os Estados Unidos estavam passando por uma recessão, o Fed reduziu a meta da taxa dos fundos federais próximo de zero como parte de uma orientação maior da política monetária agressivamente expansionista (incluindo o que o Fed chamou de “flexibilização quantitativa”). A maioria dos observadores concordou que a expansão monetária agressiva do Fed ajudou a reduzir a duração e a gravidade da recessão entre 2007 e 2009. a. O que os teóricos das expectativas racionais diriam sobre essa conclusão? b. O que os teóricos dos ciclo econômico real diriam? As respostas estão no fim do livro.

Consenso e conflito na macroeconomia moderna A década de 1970 e a primeira metade da década de 1980 foi um período turbulento para a economia dos Estados Unidos (como também para outras grandes economias). Houve uma recessão severa entre 1974 e 1975, em seguida, duas recessões consecutivas de 1979 a 1982 remetendo a taxa de desemprego a quase 11%. Ao mesmo tempo, a taxa de inflação subiu para dois dígitos – e, em seguida, caiu. Como vimos, esses eventos deixaram uma forte marca no pensamento macroeconômico. Pelo ano de 1985, no entanto, a economia se aquietou. A recessão de 1990 a 1991 foi muito mais suave do que a recessão entre 1974 e 1975 ou a recessão dupla entre 1979 e 1982 e a taxa de inflação em geral ficou abaixo de 4%. O período de calma relativa na economia de 1985 a 2007 veio a ser conhecido como a Grande Moderação. E a calma na economia em grande medida foi marcada por uma calma semelhante na discussão da política macroeconômica. Na verdade, parecia que emergiu um consenso amplo sobre várias questões macroeconômicas. A Grande Moderação, infelizmente, foi seguida pela Grande Recessão, a crise grave e persistente que se seguiu à crise financeira de 2008. Falaremos adiante sobre as disputas políticas causadas pela Grande Recessão. Antes, porém, vamos examinar o consenso aparente que emergiu durante a Grande Moderação, que chamamos de consenso da Grande Moderação. Combina a crença na política monetária como o principal instrumento de estabilização, com o ceticismo em relação ao uso da política fiscal e um reconhecimento das limitações políticas impostas pela taxa natural de desemprego e pelo ciclo político-econômico. Para entender de onde veio e o que ainda permanece em disputa, vamos verificar como os macroeconomistas mudaram suas respostas às cinco questões fundamentais sobre a política macroeconômica. As cinco questões e as diversas respostas dadas pelas escolas de macroeconomia ao longo de décadas estão resumidas na Tabela 18-1. (Na tabela, a nova economia clássica foi incluída no conceito mais amplo de economia clássica e a nova economia keynesiana foi incluída no conceito mais amplo de consenso da Grande Moderação.) Observe que a macroeconomia clássica disse não a cada questão: basicamente, os macroeconomistas clássicos não pensam que a política macroeconômica possa realizar muito. Mas vejamos as questões uma a uma. Tabela 18-1 Cinco questões fundamentais sobre a política macroeconômica

Questão 1: A política monetária expansionista ajuda a

combater recessões? Como vimos, os macroeconomistas clássicos geralmente acreditam que a política monetária expansionista foi ineficaz ou mesmo prejudicial no combate à recessão. Nos primeiros anos da economia keynesiana, os macroeconomistas não eram contra a expansão monetária durante as recessões, mas tendiam a acreditar que sua eficácia era duvidosa. Milton Friedman e seus seguidores convenceram os economistas de que a política monetária, no final de contas, é eficaz. Quase todos os macroeconomistas concordam hoje que a política monetária pode ser usada para deslocar a curva da demanda agregada e reduzir a instabilidade econômica. A visão clássica de que mudanças na oferta monetária afetam apenas os preços agregados, e não o produto agregado, tem poucos adeptos hoje em dia. A tese defendida pelos primeiros economistas keynesianos – que mudanças na oferta monetária têm pouco efeito –, igualmente, tem poucos apoiantes. Hoje em dia, em geral, é aceito que a política monetária é ineficaz somente no caso de uma armadilha de liquidez.

Questão 2: A política fiscal expansionista é eficaz no combate às recessões? A macroeconomia clássica era ainda mais oposta, se é que assim se pode dizer, à expansão fiscal do que à expansão monetária. Os economistas keynesianos, por outro lado, deram à política fiscal um papel central no combate à recessão. Os monetaristas argumentaram que a política fiscal é ineficaz enquanto a oferta monetária for mantida constante. Mas essa opinião radical tornou-se relativamente rara. A maioria dos macroeconomistas concorda agora que a política fiscal, assim como a política monetária, pode deslocar a curva da demanda agregada. A maioria dos macroeconomistas também concorda que o governo não deve tentar equilibrar o orçamento, sem levar em consideração o estado da economia: concordam que o papel do orçamento como estabilizador automático ajuda a manter a economia em equilíbrio.

Questão 3: A política monetária e/ou fiscal pode reduzir o desemprego no longo prazo? A macroeconomia clássica não acreditava que o governo podia fazer qualquer coisa sobre o desemprego. Alguns economistas keynesianos passaram para o extremo oposto, argumentando que políticas expansionistas podiam ser usadas para atingir uma taxa de desemprego permanentemente baixa, talvez à custa de alguma inflação. Os monetaristas acreditavam que o desemprego não podia ser mantido abaixo da taxa natural. Quase todos os macroeconomistas aceitam hoje a hipótese da taxa natural de desemprego. Essa hipótese os leva a aceitar limites precisos para o que a política monetária e fiscal pode atingir. Uma política monetária e fiscal eficaz, segundo a maioria dos macroeconomistas, pode limitar o tamanho das flutuações da taxa efetiva de desemprego real em torno da taxa natural, mas não pode ser usada para manter o

desemprego abaixo da taxa natural.

Questão 4: A política fiscal deve ser usada de forma discricionária? Como já vimos, as opiniões sobre a eficácia da política fiscal tiveram idas e vindas, desde a rejeição pelos macroeconomistas clássicos, passando por uma visão positiva pelos economistas keynesianos e, de volta, a uma visão negativa pelos monetaristas. Hoje a maioria dos macroeconomistas acredita que cortes de impostos e o aumento de gastos são pelo menos um pouco eficaz no aumento da demanda agregada. No entanto, muitos dos macroeconomistas, mas nem todos, acreditam que a política fiscal discricionária em geral é contraproducente, pelos motivos discutidos no Capítulo 13: as defasagens no ajuste da política fiscal significam que, muitas vezes, as políticas destinadas a combater uma recessão acabam intensificando um boom. Em decorrência, o consenso macroeconômico dá à política monetária o papel principal na estabilização econômica. Alguns economistas, mas nem todos, acreditam que a política fiscal deve ser trazida de volta em circunstâncias especiais, em particular quando a taxa de juros não for zero ou estiver próxima da fronteira zero e a economia esteja em armadilha de liquidez. Como veremos adiante, o próprio papel da política fiscal tornouse um grande ponto de discórdia depois de 2008.

Questão 5: A política monetária deve ser usada de forma discricionária? A macroeconomia clássica não achava que a política monetária deveria ser usada para combater recessões; os economistas keynesianos não se opuseram a uma política monetária discricionária, mas eram céticos quanto à sua eficácia. Os monetaristas argumentaram que a política monetária discricionária estava fazendo mais mal do que bem. Onde nos encontramos hoje? Essa continua a ser uma área em disputa. Hoje, sob o consenso da Grande Moderação, a maioria dos macroeconomistas concorda nesses três pontos: ■ A política monetária deve desempenhar o papel principal na política de estabilização. ■ O Banco Central deve ser independente, protegido de pressões políticas, a fim de evitar o ciclo político-econômico. ■ A política fiscal discricionária deve ser usada com moderação, tanto por causa de defasagens de política como por causa dos riscos de um ciclo político-econômico. No entanto, a Grande Moderação terminou em eventos que colocaram questões difíceis – questões que se espalharam enquanto este livro estava indo para a gráfica. Vamos agora examinar o que aconteceu e por que o debate foi tão feroz.

Crise e consequência A Grande Recessão quebrou qualquer senso entre os macroeconomistas de ter entrado

em uma era de acordo permanente sobre questões políticas fundamentais. Contudo, dada a natureza da crise, isso não foi surpresa. Por quê? Porque a gravidade da crise, sem dúvida, tornou inadequadas as políticas que pareciam funcionar durante a Grande Moderação. Durante o consenso da Grande Moderação, havia ampla unanimidade de que o trabalho de estabilização da economia era mais bem realizado tendo o Fed e seus contrapartes no exterior elevando ou diminuindo a taxa de juros à medida que a situação econômica justificasse. Mas o que deve ser feito se a economia estiver profundamente deprimida e as taxas de juros que o Fed normalmente controla já estiverem próximas a zero e não puderem ser mais diminuídas (ou seja, quando a economia estiver em armadilha de liquidez)? Alguns economistas pregam o uso agressivo da política fiscal discricionária e/ou políticas monetárias não convencionais que possam alcançar resultados, apesar da fronteira zero. Outros se opõem fortemente a essas medidas, argumentando que seriam ineficazes ou que iriam produzir efeitos colaterais indesejáveis.

O debate sobre a política fiscal Em 2009, uma série de governos, incluindo o dos Estados Unidos, respondeu com política fiscal expansionista, ou “estímulo”, geralmente tomando a forma de uma mistura de medidas de gastos e cortes de impostos temporários. No entanto, desde o início, esses esforços foram altamente controversos. Os partidários do estímulo fiscal ofereceram três argumentos principais para romper com a presunção normal contra a política fiscal discricionária: 1. Argumentaram que a expansão fiscal discricionária era necessária porque o instrumento usual para estabilizar a economia, a política monetária, não poderia mais ser usada, agora que a taxa de juros estava próxima a zero. 2. Argumentaram que uma preocupação normal, sobre a política fiscal expansionista – que os gastos deficitários elevariam as taxas de juros, deslocando o gasto de investimento privado (crowding out) – era pouco provável que seria um problema em uma economia deprimida. Novamente, isso porque as taxas de juros estavam próximas a zero e, provavelmente, lá ficariam enquanto a economia estivesse deprimida. 3. Finalmente, argumentaram que outra preocupação sobre a política fiscal discricionária – que podia levar um longo tempo em processo – era uma preocupação menor do que a habitual, dada a probabilidade de que a economia estaria deprimida por um período prolongado. Esses argumentos em geral prevaleceram no início de 2009. No entanto, os opositores do estímulo fiscal levantaram duas objeções principais: 1. Argumentaram que as famílias e as empresas veriam qualquer aumento nos gastos do governo como um sinal de que a carga tributária era suscetível de aumento no futuro, levando a uma queda do gasto privado que iria desfazer qualquer efeito positivo. (Esse é o argumento da equivalência ricardiana do Capítulo 13.) 2. Alertaram também que os programas de gastos podem minar a fé dos investidores na

capacidade do governo de pagar as dívidas, levando a um aumento das taxas de juros de longo prazo apesar da política monetária frouxa. De fato, em 2010, vários economistas estavam discutindo que a melhor maneira de impulsionar a economia era realmente cortar os gastos do governo, e argumentavam que isso iria aumentar a confiança do setor privado e levar a um aumento do produto e do emprego. Essa noção, muitas vezes referida como doutrina de “austeridade expansionista”, foi especialmente popular na Europa, onde era apoiada por funcionários do Banco Central Europeu e se tornou a política oficial do governo Cameron na GrãBretanha, que tomou posse no segundo semestre de 2010. Poderíamos ter esperado que os eventos resolvessem essa disputa. No momento em que este livro foi para a gráfica, no entanto, o debate ainda estava no auge. Os críticos do estímulo fiscal apontavam que o estímulo nos Estados Unidos não conseguiu proporcionar uma queda convincente no desemprego; no entanto, os defensores do estímulo avisaram desde o início que era provável que isso acontecesse porque o estímulo era muito pequeno comparado com a profundidade da crise. Enquanto isso, os programas de austeridade na Grã-Bretanha e em outros países também não conseguiram proporcionar uma recuperação econômica e, de fato, pareciam aprofundar a crise. No entanto, os que apoiavam esses programas argumentavam que eram necessários, para evitar um colapso de confiança em potencial. Uma coisa que ficou clara, no entanto, foi que os que tinham previsto uma subida acentuada da taxa de juros nos Estados Unidos, devido a déficits orçamentários, levando ao crowding out convencional, estavam errados: no fim do segundo semestre de 2011, as taxas de longo prazo americanas bateram recordes de baixa apesar da continuidade de grandes déficits.

O debate sobre a política monetária Como vimos no Capítulo 16, um banco central que quer aumentar a demanda agregada normalmente faz isso por intermédio da compra da dívida pública de curto prazo, pressionando para baixo a taxa de juros de curto prazo e fazendo os gastos aumentarem. No entanto, em meados do segundo semestre de 2008, essa forma convencional de política monetária já tinha atingido seu limite, pois as taxas de juros relevantes estavam próximas de zero. A questão tornou-se então se havia outras coisas que o Fed e outros bancos centrais poderiam fazer. Entre 2008 e 2009 e novamente em meados do segundo semestre de 2010, o Fed perseguiu uma dessas alternativas, conhecida como “flexibilização quantitativa” (quantitative easing), envolvendo a compra de outros ativos que não a dívida do governo de curto prazo, concretamente dívida de longo prazo, cuja taxa de juros ainda estava significativamente acima de zero. Por exemplo, em novembro de 2010, o Fed começou a comprar $600 bilhões da dívida dos Estados Unidos de longo prazo em um programa em geral chamado “QE2” (quantitative easing 2). A ideia era reduzir as taxas de juros de longo prazo, o que, sem dúvida, importam mais para os gastos privados do que as taxas de curto prazo. Em setembro de 2011, o Fed anunciou outro programa, dessa vez

envolvendo a venda de ativos de curto prazo com taxas de juros já próximas de zero e compra de ativos de longo prazo. A política de flexibilização quantitativa era controversa, enfrentando críticas tanto dos que acreditavam que o Fed estava fazendo muito e dos que acreditavam que ele estava fazendo pouco. Aqueles que acreditavam que o Fed estava fazendo muito estavam preocupados com a possível inflação futura; argumentavam que o Fed iria encontrar dificuldade em reverter as medidas não convencionais, à medida que a economia se recuperasse, e que o resultado final seria uma política monetária muito expansionista. Os críticos, do outro lado, argumentavam que provavelmente as ações do Fed seriam ineficazes: sugeriam que as taxas de juros de longo prazo refletiam principalmente as expectativas sobre as taxas futuras de curto prazo e que até mesmo grandes compras de bônus de longo prazo pelo Fed teriam pouco impacto. Muitos daqueles que solicitavam ao Fed por uma política ainda mais ativa defendiam um aumento oficial na meta de inflação do Fed. Lembre-se dos Capítulos 8 e 10, da distinção entre a taxa nominal de juros, que é o número normalmente citado, e a taxa real de juros – a taxa nominal menos a inflação esperada – que é o que deve importar para as decisões de investimento. Os defensores de uma meta de inflação mais alta argumentavam que com a promessa de aumentar mais os preços, digamos, nos próximos 10 anos, com uma taxa média anual de 3% ou 4%, o Fed poderia pressionar a taxa de juros real para baixo, embora a taxa nominal estivesse acima contra a fronteira inferior zero. Essas propostas, no entanto, levaram a disputas ferozes. Alguns economistas apontavam que o Fed tinha lutado arduamente para conduzir as expectativas de inflação para baixo e argumentavam que a mudança de curso minaria a credibilidade conquistada a duras penas. Outros argumentavam que, dado o enorme prejuízo econômico e humano devido à elevada taxa de desemprego, era hora de medidas extraordinárias, não podendo mais ser dada prioridade ao combate à inflação. No momento em que este livro estava sendo escrito, essas disputas ainda eram profundas e parecia improvável que um novo consenso sobre a política macroeconômica surgisse em breve a qualquer momento.

Economia em ação Um modelo irlandês? Ao longo do curso de 2010 e 2011, travou-se um debate intenso, entre os economistas e formuladores de política econômica, sobre se os países que sofrem grandes déficits orçamentários devem agir rapidamente para reduzir esses déficits no caso de também estarem sofrendo com desemprego elevado. Muitos economistas argumentaram que os cortes de gastos e/ou aumento de impostos devem ser adiados até que as economias tenham se recuperado. Contudo, como explicado no texto, outros argumentam que a ação rápida sobre déficits realmente ajudaria a economia, mesmo no curto prazo, melhorando a confiança – a alegação que veio a ser conhecida como “austeridade expansionista”.

Como essa disputa pode ser resolvida? Os pesquisadores voltaram a atenção aos episódios históricos, em particular, aos casos em que as nações conseguiram combinar forte redução do déficit orçamentário com forte crescimento econômico. Um caso em particular tornou-se um grande campo de batalha intelectual: a Irlanda na segunda metade da década de 1980. O painel (a) da Figura 18-7 mostra por que a experiência da Irlanda chamou a atenção. Ele compara o déficit orçamentário da Irlanda ajustado ciclicamente como porcentagem do PIB com sua taxa de crescimento. Entre 1986 e 1989, a Irlanda reduziu drasticamente os déficits subjacentes com uma combinação de cortes de gastos e aumentos de impostos, acelerando o crescimento econômico rapidamente. Alguns observadores sugeriram que as nações que estivessem enfrentando grandes déficits no rescaldo da crise financeira de 2008 deveriam procurar imitar essa experiência.

FIGURA 18-7 Indicadores econômicos da Irlanda Fonte: Fundo Monetário Internacional. Roberto Perotti, “The ‘Austerity Myth’: Gain Without Pain?”, NBER Working Paper 17571 (2011).

Um olhar mais atento, no entanto, sugeriu que a situação da Irlanda na década de 1980 era muito diferente da situação que as economias ocidentais estavam enfrentando entre 2010 e 2011. O painel (b) da Figura 18-7 mostra dois outros indicadores econômicos da Irlanda de 1986 a 1990: as taxas de juros de curto prazo e o crescimento das exportações. A Irlanda entrou em austeridade fiscal, com taxas de juros elevadas, que caíram drasticamente entre 1986 e 1988, à medida que os investidores ganharam mais confiança em sua solvência (tendo aumentado subsequentemente). Ao mesmo tempo, a Irlanda teve um grande boom de exportação, em parte devido ao rápido crescimento econômico na vizinha Grã-Bretanha. Os dois fatores ajudaram a compensar os efeitos contracionistas da redução de gastos e impostos mais altos. O ponto é que esses fatores de “amortecimento” não estariam disponíveis se, por exemplo, os Estados Unidos tivessem cortado os gastos. As taxas de juros de curto prazo estavam perto de zero e não poderiam cair ainda mais, e os Estados Unidos não tinham vizinhos em expansão para exportar. Até o final de 2011, um estudo cuidadoso de registro histórico convenceu a maioria dos economistas que estuda a questão que espera que a austeridade expansionista esteja provavelmente equivocada. No entanto, o debate sobre o que os Estados Unidos e outras economias em dificuldades deveriam fazer, na verdade, prosseguiu.

Breve revisão ■ A Grande Moderação, o período de calmaria econômica relativa, entre 1985 e 2007, produziu o consenso da Grande Moderação. ■ De acordo com o consenso da Grande Moderação: a política monetária deve ser o principal instrumento de estabilização; para evitar um ciclo político-econômico, o Banco Central deve ser independente e a política fiscal não deve ser usada, exceto, possivelmente, em circunstâncias excepcionais, como uma armadilha de liquidez; e a taxa natural de desemprego limita a proporção de ativismo político que pode reduzir a taxa de desemprego. ■ O consenso da Grande Moderação foi severamente desafiado pela Grande Recessão. A política fiscal ativa foi revivida, dada a ineficácia da política monetária no meio de uma armadilha de liquidez. Ferozmente debatido, o estímulo fiscal nos Estados Unidos não conseguiu proporcionar uma queda significativa do desemprego. Os críticos citaram isso como evidência de que a política fiscal não funciona, enquanto os apoiantes responderam que o tamanho do estímulo foi muito pequeno. No entanto, o crowding out não se materializou como os críticos tinham avisado que aconteceria. ■ A política monetária também foi profundamente controversa na esteira da Grande Recessão, à medida que o Fed perseguia a “flexibilização quantitativa” e outras políticas não convencionais. Os críticos afirmaram que o Fed estava fazendo muito e muito pouco, enquanto outros defendiam a adoção de uma meta de inflação mais alta para pressionar a taxa real de juros para baixo.

Teste seu entendimento 18-5 1. Por que a Grande Recessão levou ao declínio do consenso da Grande Moderação? Dados os eventos, por que seria previsível que um novo consenso não surgiria? As respostas estão no fim do livro.

Resumo 1. A macroeconomia clássica considerava que a política monetária afeta apenas o nível de preços agregado, não o produto agregado, e que o curto prazo é pouco importante. Na década de 1930, a mensuração dos ciclos econômicos era um tema bem estabelecido, mas não havia uma teoria amplamente aceita dos ciclos econômicos. 2. A economia keynesiana atribuiu o ciclo econômico aos deslocamentos da curva da demanda agregada, que muitas vezes resultam de mudanças na confiança empresarial. A economia keynesiana também ofereceu uma justificativa favorecendo o ativismo da política macroeconômica. 3. Nas décadas que se seguiram à obra de Keynes, os economistas passaram a concordar que a política monetária, bem como a política fiscal, é eficaz em determinadas condições. O monetarismo, uma doutrina que defendia uma regra de política monetária em contraposição à política monetária discricionária e que argumentou, baseada na crença de que a velocidade da moeda é estável, que o PIB cresceria

regularmente se a oferta de moeda crescesse regularmente, teve influência por um tempo, mas acabou por ser rejeitada por muitos macroeconomistas. 4. A hipótese da taxa natural tornou-se quase que universalmente aceita, limitando o papel da política macroeconômica a manter a estabilidade da economia, em vez de buscar uma taxa de desemprego permanentemente mais baixa. Temores de um ciclo político-econômico levaram a um consenso de que a política monetária deveria ser protegida dos políticos. 5. Expectativas racionais afirmam que os indivíduos e as empresas tomam decisões usando todas as informações disponíveis. De acordo com o modelo de expectativas racionais da economia, apenas mudanças inesperadas na política monetária afetam o produto agregado e o emprego; mudanças esperadas afetam apenas o nível de preços. A teoria do ciclo econômico real afirma que mudanças na taxa de crescimento da produtividade total dos fatores são a causa principal dos ciclos econômicos. As duas versões da nova macroeconomia clássica receberam atenção e respeito amplos, mas os formuladores de política econômica e muitos economistas não aceitaram a conclusão de que a política monetária e fiscal são ineficazes em alterar o produto agregado. 6. A nova economia keynesiana afirma que imperfeições de mercado podem levar à rigidez de preços, de modo que as mudanças na demanda agregada afetam o produto agregado, afinal. 7. A Grande Moderação, de 1985 a 2007, gerou o consenso da Grande Moderação: a crença na política monetária como principal instrumento de estabilização; ceticismo em relação à utilização da política fiscal, exceto, possivelmente, em circunstâncias excepcionais, como na armadilha de liquidez, e reconhecimento dos limites políticos impostos pela taxa natural de desemprego e pelo ciclo político-econômico. Mas o consenso da Grande Moderação foi desafiado pelos acontecimentos pós-crise de 2008, à medida que a política monetária perdia eficácia em meio a uma armadilha de liquidez. Como resultado, muitos defenderam o uso da política fiscal para enfrentar a recessão profunda. 8. Em 2009, alguns países, incluindo os Estados Unidos, usaram estímulo fiscal para apoiar as economias profundamente deprimidas em face de uma armadilha de liquidez. O uso da política fiscal permaneceu altamente controverso. Nos Estados Unidos, não conseguiu reduzir significativamente o desemprego, com críticos citando isso como prova da sua ineficácia geral, enquanto os apoiantes argumentavam que o tamanho do estímulo era muito pequeno. No entanto, o crowding out previsto pelos críticos não ocorreu. 9. A política monetária também foi muito debatida na esteira da Grande Recessão, enquanto o Fed perseguia a “flexibilização quantitativa” e outras políticas monetárias não convencionais para enfrentar a armadilha de liquidez. Os críticos afirmavam que o Fed estava fazendo muito e iria sacrificar sua credibilidade duramente conquistada como combatente da inflação. Outros se contrapunham, dizendo que o Fed estava fazendo muito pouco; outros ainda afirmavam que as ações do Fed tinham pouco impacto. Alguns propuseram que o Fed adotasse uma meta de inflação mais alta para pressionar a taxa real de juros para baixo.

Palavras-chave Economia keynesiana, p. 462 Ativismo político macroeconômico, p. 463 Monetarismo, p. 464 Política monetária discricionária, p. 465 Regra de política monetária, p. 466 Velocidade da moeda, p. 466 Hipótese de taxa natural, p. 467 Ciclo político-econômico, p. 468 Nova macroeconomia clássica, p. 468 Expectativas racionais, p. 468 Modelo de expectativas racionais, p. 469 Nova economia keynesiana, p. 469 Teoria do ciclo econômico real, p. 469 Grande Moderação, p. 471 Consenso da Grande Moderação, p. 472

Problemas 1. Desde o colapso da bolsa de Tóquio, em 1989, a economia japonesa tem tido pouco crescimento econômico e alguma deflação. A tabela a seguir, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mostra alguns dados macroeconômicos fundamentais para o Japão em 1991 (um ano “normal”) e para 19952003. a. A partir desses dados, determine que tipo de política os formuladores de política econômica do Japão adotaram naquele momento para promover o crescimento. b. Podemos considerar com segurança que uma taxa de juros de curto prazo inferior a 0,1% seja efetivamente uma taxa de juros de 0%. Como se chama essa situação? O que ela implica para a eficácia da política monetária? E da política fiscal?

2. O National Bureau of Economic Research (NBER) mantém a cronologia oficial dos ciclos econômicos passados dos Estados Unidos. Acesse seu site em http://www.nber.org/cycles/cyclesmain.html para responder às seguintes questões.

a. Quantos ciclos econômicos ocorreram desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945? b. Qual foi a duração média do ciclo econômico quando medido a partir do fim de uma expansão (o pico) até o fim da expansão seguinte? Ou seja, qual foi a duração média dos ciclos econômicos no período entre 1945 e 2001? c. Quando foi e o que dizia o último anúncio do Comitê de Determinação do Ciclo Econômico do NBER? 3. O fim da rivalidade militar dos Estados Unidos, a União Soviética, em 1989, permitiu que os Estados Unidos reduzissem significativamente os gastos com defesa nos anos subsequentes. Usando os dados da tabela seguinte, a partir do Relatório Econômico do Presidente, trace uma réplica da Figura 18-3 para o período entre 1990 e 2000. Dado o forte crescimento econômico dos Estados Unidos durante a década de 1990, por que um keynesiano veria a redução nos gastos de defesa durante a década de 1990 como uma coisa boa? Ano 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

Déficit orçamentário (percentual do PIB) 3,9% 4,5 4,7 3,9 2,9 2,2 1,4 0,3 −0,8 −1,4 −2,4

Taxa de desemprego 5,6% 6,8 7,5 6,9 6,1 5,6 5,4 4,9 4,5 4,2 4,0

4. No mundo moderno, os bancos centrais são livres para aumentar ou diminuir a oferta de moeda como bem entenderem. No entanto, algumas pessoas remetem aos “bons e velhos tempos” do padrão-ouro. Sob o padrão-ouro, a oferta de moeda poderia expandir apenas quando a quantidade de ouro disponível aumentasse. a. Sob o padrão-ouro, se a velocidade da moeda fosse estável quando a economia estivesse expandindo, o que teria que acontecer para manter os preços estáveis? b. Por que os macroeconomistas modernos consideram o padrão-ouro uma ideia ruim? 5. Os monetaristas acreditaram durante algum tempo que a velocidade da moeda fosse estável dentro de um país. No entanto, com a inovação financeira, a velocidade começou a mudar de forma errática depois de 1980. Como é de se esperar, a velocidade da moeda varia entre os países, dependendo da sofisticação do sistema financeiro – a velocidade da moeda tende a ser maior em países com sistemas financeiros desenvolvidos. A tabela a seguir fornece informações da oferta de moeda e do PIB em 2005 para seis países.

Fonte: Datastream.

a. Calcule a velocidade da moeda para cada um dos países. A tabela a seguir mostra o PIB per capita em cada um desses países, em 2005, em dólares americanos. País Egito Coreia do Sul Tailândia Estados Unidos Quênia Índia

PIB nominal per capita (dólares americanos) $1.270 16.444 2.707 41.886 572 710

Fonte: FMI.

b. Classifique os países em ordem descendente de renda per capita e velocidade da moeda. São os países ricos ou pobres que veem sua moeda “trocar de mão” mais vezes por ano? Espera-se que os países mais ricos tenham sistemas financeiros mais sofisticados? 6. O capítulo explica que Kenneth Rogoff proclamou Richard Nixon “o maior herói de todos os tempos dos ciclos político- econômicos”. Usando a tabela a seguir, do Relatório Econômico do Presidente, explique por que Nixon pode ter merecido esse título. (Nota: Nixon tomou posse em janeiro de 1969 e foi reeleito em novembro de 1972. Renunciou em agosto de 1974.)

7. A economia de Albernia está enfrentando um hiato de recessão e o líder da nação reuniu cinco dos seus melhores economistas representando as visões da macroeconomia: clássica, keynesiana, monetarista, ciclo econômico real e consenso da Grande Moderação. Explique que políticas cada economista recomendaria e por quê. 8. Qual das seguintes recomendações de política são consistentes com as visões da macroeconomia: clássica, keynesiana, monetarista e/ou consenso da Grande Moderação? a. Desde que o crescimento do PIB de longo prazo seja 2%, a oferta de moeda deve crescer 2%.

b. Reduzir os gastos do governo, a fim de reduzir a pressão inflacionária. c. Aumentar a oferta de moeda a fim de aliviar um hiato de recessão. d. Sempre manter o orçamento público equilibrado. e. Reduzir o déficit orçamentário como porcentagem do PIB, diante de um hiato de recessão. 9. Usando um gráfico semelhante ao da Figura 18-4, mostre como um monetarista pode argumentar que uma política fiscal contracionista não leva necessariamente a uma queda no PIB real, dada uma oferta de moeda fixa. Explique. www.worthpublishers.com/krugmanwells

C APÍ T UL O 19

Macroeconomia de Economia Aberta

O que você vai aprender neste capítulo • O significado e a mensuração do balanço de pagamentos. • Os determinantes dos fluxos de capital internacional. • O papel do mercado de câmbio e da taxa de câmbio. • A importância da taxa de câmbio real e seu papel na conta-corrente. • Considerações que levam os países a escolher regimes de taxa de câmbio diferentes, como taxas de câmbio fixas e taxas de câmbio flutuantes. • Por que considerações de economia aberta afetam a política macroeconômica com regime de taxa de câmbio flutuante.

A suíça não quer o seu dinheiro Colocar dinheiro em um banco suíço com a baixa taxa de juros que o banco oferece, não torna ninguém rico. Recentemente, na verdade, os bancos suíços pagaram juros negativos sobre depósitos, cobrando dos clientes o serviço de manter seus fundos. Mas, por gerações, contas em bancos suíços eram vistas como uma forma de ficar rico, um lugar seguro para armazenar riqueza. Nos anos conturbados que se seguiram à crise financeira de 2008, a reputação suíça de segurança tornou-se especialmente importante. Os investidores europeus, em particular, colocaram dinheiro na Suíça. E a Suíça odiava isso – o resultado da entrada de fundos estrangeiros era um salto no valor do franco suíço, causando estrago nas exportações suíças. No início de 2008, um franco suíço era negociado por cerca de €0,6. Em meados de 2011, o franco suíço era negociado por cerca de €0,9. Isso significava que as exportações suíças, tudo o mais mantido constante, tiveram um aumento de 50% nos custos de trabalho em relação aos concorrentes em outros lugares da Europa. Graças à reputação de qualidade, a Suíça tem sido extraordinariamente bem-sucedida ao longo dos anos com a venda de bens para o mercado mundial, apesar dos custos trabalhistas elevados. Porém, ninguém espere uma pechincha com relógios ou chocolate suíço. E isso levou o assunto ao ponto em questão. Então, o que podia ser feito? A partir do início de 2009, o Banco Nacional Suíço, o equivalente ao Fed, começou a vender francos no mercado de câmbio, em uma tentativa de manter o valor do franco. Em troca desses francos, recebeu outras moedas, principalmente dólares e euros, que acrescentou às suas reservas. Estamos falando de uma grande quantidade de venda: por um período de dois anos e meio, o banco acrescentou $180 bilhões às suas reservas cambiais, que eram de cerca de um terço do PIB da Suíça – o equivalente de os Estados Unidos venderem US$5 trilhões. No entanto, isso não foi suficiente para impedir a subida do franco. Em setembro de 2011, como o franco parecia caminhar para um valor de um euro ou mais, o Banco Nacional da Suíça anunciou que faria o que fosse preciso – venda de uma quantidade ilimitada de francos – para manter o franco abaixo de um máximo de €0,833 por franco (isto é, 1,2 francos por euro, que era a meta anunciada). Esse anúncio, finalmente,

pareceu parar a ascensão do franco, pelo menos no início. O que os esforços extraordinários do Banco Nacional Suíço ilustram é a importância de uma dimensão da macroeconomia que não havíamos enfatizado até agora – o fato de que as economias nacionais modernas são economias abertas que comerciam bens, serviços e ativos com o resto do mundo. A macroeconomia de economia aberta é um ramo da macroeconomia que lida com as relações entre as economias nacionais. Neste capítulo vamos aprender sobre algumas das questões fundamentais da macroeconomia de economia aberta: os determinantes do balanço de pagamentos de um país, os fatores que afetam a taxa de câmbio, as diferentes formas de política de taxa de câmbio adotadas por vários países e a relação entre taxas de câmbio e política macroeconômica.

Fluxos de capital e balanço de pagamentos Em 2010, as pessoas que viviam nos Estados Unidos venderam cerca de $3,5 trilhões de itens para pessoas que viviam em outros países e compraram cerca de $3,5 trilhões de itens em troca. Que tipo de itens? Todos os tipos. Os moradores dos Estados Unidos (incluindo as empresas que operam nos Estados Unidos) venderam aviões, bônus, trigo e muitos outros itens para moradores de outros países. Os moradores dos Estados Unidos compraram carros, ações, petróleo e muitos outros itens de moradores de outros países. Como podemos monitorar essas transações? No Capítulo 7 aprendemos que os economistas monitoram a economia doméstica usando as contas de renda e produto nacional. Os economistas acompanham as transações internacionais usando um conjunto de números diferentes, mas relacionados, o balanço de pagamentos.

Contas do balanço de pagamentos As contas do balanço de pagamentos de um país são um resumo das transações do país com outros países. Para entender a ideia básica por trás das contas do balanço de pagamentos, vamos considerar um exemplo em pequena escala: não um país, mas uma pequena unidade agrícola familiar. Imaginemos que saibamos como o último ano foi financeiramente para a família Costa, que possui uma pequena fazenda com plantação de alcachofra, na Califórnia: ■ Ganharam $100.000 com a venda de alcachofras. ■ Gastaram $70.000 com a administração da fazenda, incluindo a aquisição de novas máquinas agrícolas bem como $40.000 com a compra de alimentos, pagamento de serviços públicos, substituição do carro velho e assim por diante. ■ Receberam $500 de juros sobre a conta bancária, mas pagaram $10.000 de juros do crédito hipotecário. ■ Tomaram um novo empréstimo de $25.000 para ajudar a pagar por melhorias na fazenda, mas não gastaram todo o dinheiro imediatamente. Depositaram o restante no banco. Como poderíamos resumir o ano da família Costa? Uma maneira seria com a aplicação da Tabela 19-1, que mostra as origens do dinheiro entrando e saindo, descrito com alguns títulos grandes. A primeira linha da Tabela 19-1 mostra as vendas e as compras de bens e serviços: venda de alcachofras, compra de mantimentos, óleo combustível, o carro novo e assim por diante. A segunda linha mostra o pagamento de juros: os juros que os Costa receberam da conta bancária e os juros que pagaram sobre a hipoteca. A terceira linha mostra o dinheiro que entrou de novos empréstimos contra o dinheiro depositado no banco.

Tabela 19-1 Ano financeiro da família Costa

Em cada linha são mostrados os ingressos líquidos de dinheiro de cada tipo de transação. Assim, a liquidez da primeira linha é −$10.000, porque os Costa gastaram $10.000 a mais do que ganharam. A liquidez da segunda linha é −$9.500, a diferença entre os juros que os Costa receberam na conta bancária e os juros que pagaram sobre a hipoteca. A liquidez da terceira linha é $19.500: houve uma entrada de $25.000 com o novo empréstimo, mas apenas $5.500 desse montante foi colocado no banco. A última linha mostra a soma de dinheiro vindo de todas as fontes e a soma de todo o dinheiro usado. Esses montantes são iguais, por definição: todo dólar tem uma fonte, e cada dólar recebido tem um uso qualquer. (E se os Costa escondessem dinheiro debaixo do colchão? Isso seria contado como outro “uso” de dinheiro.) As contas do balanço de pagamentos de um país resumem as transações com o mundo, com uma tabela que é basicamente semelhante à maneira como acabamos de resumir o ano financeiro dos Costa. A Tabela 19-2 mostra uma versão simplificada das contas do balanço de pagamentos dos Estados Unidos em 2010. Onde as contas da família Costa mostram as fontes e usos do dinheiro, as contas do balanço de pagamentos mostram pagamentos recebidos de estrangeiros – com efeito, fontes de dinheiro para os Estados Unidos como um todo – e os pagamentos feitos aos estrangeiros. Tabela 19-2 Balanço de pagamentos dos Estados Unidos em 2010 (bilhões de dólares)

Fonte: Bureau of Economic Analysis.

A primeira linha da Tabela 19-2 mostra os pagamentos decorrentes das vendas e compras de bens e serviços. Por exemplo, o valor das exportações de trigo dos Estados Unidos e a remuneração que os estrangeiros pagam a empresas de consultoria dos Estados Unidos aparecem na segunda coluna; o valor das importações de petróleo dos

Estados Unidos e a remuneração que as empresas americanas pagam aos call centers indianos – as pessoas que frequentemente respondem às chamadas dos serviços de atendimento ao consumidor dos americanos pelo 1-800 – aparece na terceira coluna. A segunda linha apresenta a renda de fator – a renda que os países pagam pelo uso dos fatores de produção de propriedade de moradores de outros países. Principalmente, rendimentos de investimento: juros pagos sobre empréstimos do exterior, lucros de empresas de propriedade de estrangeiros e assim por diante. Por exemplo, os lucros auferidos pela Disneylândia de Paris, que é de propriedade da companhia americana Walt Disney Company, aparecem na segunda coluna; os lucros auferidos pelas operações das empresas automotivas japonesas nos Estados Unidos aparecem na terceira coluna. Essa categoria também inclui alguns rendimentos do trabalho. Por exemplo, o salário de um engenheiro americano que trabalha temporariamente em um canteiro de obras em Dubai é computado na segunda coluna. A terceira linha apresenta as transferências internacionais – fundos enviados por moradores de um país para moradores de outro país. O elemento principal aqui são remessas que os imigrantes, como os milhões de trabalhadores mexicanos empregados nos Estados Unidos, enviam para as famílias no país de origem. Observe que a Tabela 192 mostra apenas o valor líquido das transferências. Isso porque o governo dos Estados Unidos só fornece uma estimativa do valor liquido e não uma repartição entre pagamentos feitos aos estrangeiros e pagamentos recebidos de estrangeiros. As próximas duas linhas da Tabela 19-2 mostram os pagamentos decorrentes das compras e vendas de ativos, discriminados por quem vende e quem compra. A linha 4 mostra operações que envolvem governos ou agências governamentais, principalmente bancos centrais. Como veremos mais adiante, em 2010 a maior parte das vendas dos Estados Unidos nessa categoria envolveu a acumulação de reservas em moeda estrangeira pelo banco central da China e de países exportadores de petróleo. A linha 5 mostra as vendas e compras privadas de ativos. Por exemplo, a compra em 2010 da Ford Motor Company da marca Volvo pela empresa chinesa Greely Automobile iria aparecer na segunda coluna da linha 5; as compras de ações europeias por investidores americanos aparecem na terceira coluna. Ao organizar a Tabela 19-2, separamos as linhas 1, 2 e 3 em um grupo e as linhas 4 e 5 em outro. Isso reflete uma diferença fundamental na forma como esses dois grupos de transações afetam o futuro. Quando um morador dos Estados Unidos vende um bem como trigo a um estrangeiro, a transação é encerrada. Mas um ativo financeiro, como um bônus, é diferente. Lembrese, um bônus é uma promessa de pagar juros e o principal no futuro. Assim, quando um morador dos Estados Unidos vende um bônus a um estrangeiro, essa venda cria um passivo: o morador dos Estados Unidos terá de pagar juros e amortizar o principal no futuro. As contas do balanço de pagamentos distinguem entre as operações que não criam passivos e as que criam. As transações que não criam passivos são consideradas parte do balanço de pagamentos em conta-corrente, muitas vezes chamado conta-corrente: o balanço de pagamentos de bens e serviços, mais o resultado líquido dos pagamentos de

transferências internacionais e a renda de fator. O saldo da linha 1 da Tabela 19-2, −$500, corresponde à parte mais importante da conta-corrente: o balanço de pagamentos de bens e serviços, a diferença entre o valor das exportações e o valor das importações durante determinado período. Aliás, quem lê as notícias sobre a economia terá visto referência a mais outra medida, a balança comercial de mercadorias, por vezes chamada de balança comercial, que representa a diferença entre as exportações e as importações de um país, mas apenas de bens, sem incluir serviços. Os economistas, por vezes, concentram a atenção na balança comercial, embora ela seja uma medida incompleta, porque os dados sobre o comércio internacional de serviços não são tão precisos quanto os dados sobre o comércio de bens físicos e, também, demoram mais para ficar prontos. A conta-corrente, como vimos, consiste de transações internacionais que não criam passivos. As transações que envolvem compra ou venda de ativos, e, portanto, criam passivos futuros, são consideradas parte do balanço de pagamentos em conta financeira, ou conta financeira. (Até poucos anos atrás, os economistas ainda se referiam à conta financeira como conta de capital. Usaremos o termo moderno, mas é possível encontrar o termo mais antigo.) Então, qual é o resultado final disso tudo? As linhas sombreadas da Tabela 19-2 mostram as linhas finais: a conta- corrente total e a conta financeira dos Estados Unidos em 2010. Como se vê, em 2010 os Estados Unidos tiveram déficit em conta-corrente: o montante pago a estrangeiros por conta de bens, serviços, fatores e transferências foi maior do que o montante recebido. Ao mesmo tempo, tiveram um superávit na conta financeira: o valor dos ativos que venderam a estrangeiros foi maior que o valor dos ativos que adquiriram de estrangeiros. Nos dados oficiais dos Estados Unidos de 2010, o déficit em conta-corrente e o superávit na conta financeira não se compensaram mutuamente: em 2010 o superávit na conta financeira foi $216 bilhões a menos que o déficit em conta- corrente. Mas esse é apenas um erro estatístico que reflete a imperfeição dos dados oficiais. (Essa discrepância de $216 bilhões provavelmente refletiu as compras externas de ativos dos Estados Unidos que os dados oficiais, de alguma forma, deixaram passar.) Na verdade, uma regra básica de contabilidade do balanço de pagamentos é que a conta-corrente e a conta financeira devem ter soma zero:

(19-1) ou

Por que a Equação 19-1 tem que ser verdadeira? Já vimos a explicação básica na Tabela 19-1, que apresentou as contas da família Costa: no total, as fontes de dinheiro devem ser

igual aos usos do dinheiro. O mesmo se aplica às contas do balanço de pagamentos. A Figura 19-1, uma variante do diagrama do fluxo circular que foi útil na discussão da macroeconomia doméstica, pode ajudar a visualizar como toda essa soma funciona. Em vez de mostrar o fluxo da moeda dentro da economia nacional, a Figura 19-1 mostra o fluxo da moeda entre economias nacionais.

FIGURA 19-1 Balanço de pagamentos As setas externas representam pagamentos que são registrados na conta-corrente. As setas internas representam pagamentos que são registrados na conta financeira. Dado que o fluxo total que entra nos Estados Unidos deve ser igual ao fluxo total que sai dos Estados Unidos, a soma da conta-corrente e da conta financeira é zero.

A moeda entra nos Estados Unidos proveniente do restante do mundo como pagamento pelas exportações de bens e serviços dos Estados Unidos, como pagamento pelo uso de fatores de produção de propriedade dos Estados Unidos e como pagamentos de transferências. Esses fluxos (indicados pela externa inferior) são os componentes positivos da conta- corrente dos Estados Unidos. Também entra moeda nos Estados Unidos proveniente de estrangeiros que compram ativos dos Estados Unidos (como indicado pela seta interna inferior), o componente positivo da conta financeira dos Estados Unidos.

Para mentes curiosas PIB, PNB e conta-corrente Ao discutirmos a contabilidade de renda nacional no Capítulo 7, foi derivada a equação básica que relaciona o PIB com os componentes da despesa:

onde X e IM são as exportações e importações, respectivamente, de bens e serviços. Mas, como aprendemos, o balanço de pagamentos de bens e serviços é apenas um dos componentes do balanço em conta-corrente. Por que a equação da renda nacional não usa a conta-corrente como um todo? A resposta é que o produto interno bruto, Y, é o valor dos bens e serviços produzidos no país. Assim não inclui a renda de fator internacional e as transferências internacionais, duas fontes de renda que estão incluídas no cálculo do balanço de contacorrente. Os lucros da Ford Motors U.K. não estão incluídos no PIB dos Estados Unidos e os fundos de imigrantes latino-americanos enviados para as famílias não estão subtraídos do PIB. Não deveríamos ter uma medida mais ampla que incluísse essas fontes de renda? Na verdade, o produto nacional bruto – PNB – inclui a renda de fator internacional. As estimativas do PNB dos Estados Unidos diferem ligeiramente das estimativas do PIB, pois o PNB acrescenta itens como ganhos de empresas americanas no exterior e subtrai itens como pagamentos de juros sobre bônus de propriedade dos moradores da China e do Japão. Não há, no entanto, qualquer medida calculada regularmente que inclua transferências. Por que os economistas utilizam o PIB, em vez de uma medida mais ampla? Duas razões. Primeiro, o propósito original das contas nacionais era monitorar a produção, e não a renda. Segundo, os dados sobre renda de fator internacional e pagamentos de transferência geralmente são considerados pouco confiáveis. Então, se você está tentando acompanhar os movimentos da economia, faz sentido focar no PIB, que não depende desses dados pouco confiáveis. Ao mesmo tempo, a moeda flui dos Estados Unidos para o restante do mundo como pagamento das importações de bens e serviços feitas pelos Estados Unidos, como pagamento pelo uso de fatores de produção de propriedade de estrangeiros e como pagamentos de transferência. Esses fluxos, indicados pela seta externa superior, são os componentes negativos do balanço de pagamentos dos Estados Unidos em contacorrente. A moeda também flui para fora dos Estados Unidos para a compra de ativos no exterior, como mostra a seta interna superior, o componente negativo do balanço de pagamentos dos Estados Unidos na conta financeira. Como em todos os diagramas de fluxo circular, o fluxo que entra em uma caixa e o que sai de uma caixa são iguais. Isso significa que a soma das setas interna e externa que entram nos Estados Unidos é igual à soma das setas internas e externas que saem dos Estados Unidos. Isto é,

(19-2)

A Equação 19-2 pode ser rearranjada da seguinte forma:

(19-3)

A Equação 19-3 é equivalente à Equação 19-1: a conta- corrente mais a conta financeira – ambas iguais a registros positivos menos registros negativos – são iguais a zero. Mas o que determina a conta-corrente e a conta financeira?

Modelando a conta financeira A conta financeira de um país mede as vendas líquidas de ativos a estrangeiros. Há, no entanto, outra maneira de pensar sobre a conta financeira: mede a entrada de capital, de poupança externa que está disponível para financiar gastos de investimento domésticos. O que determina essas entradas de capital? Parte dessa explicação terá que esperar um pouco, porque alguns fluxos de capital internacional são realizados por governos e bancos centrais, que às vezes agem de modo muito diferente dos investidores privados. Mas podemos ter uma visão das motivações dos fluxos de capital que são o resultado de decisões privadas usando o modelo de fundos para empréstimo desenvolvido no Capítulo 10. Ao usar esse modelo, fizemos duas simplificações importantes: ■ Simplificamos a realidade dos fluxos de capital internacional, supondo que todos os fluxos têm a forma de empréstimos. Na realidade, fluxos de capital ocorrem de muitas formas, incluindo compra de participações acionárias de empresas estrangeiras e de imóveis no exterior, bem como investimentos diretos estrangeiros, em que as empresas constroem fábricas ou adquirem outros ativos produtivos no exterior. ■ Também ignoramos os efeitos das variações esperadas na taxa de câmbio, o valor relativo das diferentes moedas nacionais. Analisaremos a determinação das taxas de câmbio no final do capítulo. A Figura 19-2 recapitula o modelo de fundos para empréstimo para uma economia fechada. O equilíbrio corresponde ao ponto E, a uma taxa de juros de 4%, onde a oferta da curva de fundos para empréstimos, S, intercepta a demanda da curva de fundos para empréstimos, D. Mas se os fluxos de capital internacional forem possíveis, esse diagrama

mudará e E pode já não ser o equilíbrio. Podemos analisar as causas e efeitos dos fluxos de capital internacional usando a Figura 19-3, que coloca os diagramas de mercado de fundos para empréstimos de dois países lado a lado.

FIGURA 19-2 Modelo de fundos para empréstimos – revisitado De acordo com o modelo da taxa de juros de fundos para empréstimo, a taxa de juros de equilíbrio é determinada pela interseção entre a curva da oferta de fundos para fundos para empréstimo, S, e a curva da demanda de fundos para empréstimo, D. No ponto E, a taxa de juros de equilíbrio é 4%.

FIGURA 19-3 Mercado de fundos para empréstimo em um mundo de dois países Aqui mostramos dois países, Estados Unidos e Grã-Bretanha, cada um com seu próprio mercado de fundos para empréstimo. A taxa de juros de equilíbrio é 6% nos Estados Unidos e apenas 2% na Grã-Bretanha. Isso cria um incentivo para um fluxo de capital da Grã-Bretanha para os Estados Unidos.

Comparação global

Grandes superávits Como vimos, geralmente os Estados Unidos têm um grande déficit em conta-corrente. De fato, os Estados Unidos lideram o mundo em déficit em conta-corrente. Outros países têm déficits maiores como proporção do PIB, mas têm economias muito menores, de modo que o déficit dos Estados Unidos é muito maior em termos absolutos. No entanto, para o mundo em seu conjunto, os déficits por parte de alguns países devem ser combinados com os superávits por parte de outros países. Então, quem são os países com superávits que compensam os déficits dos Estados Unidos, e o que fazer se não tiverem nada em comum? A figura ao lado mostra o superávit médio em conta-corrente dos seis países que incorreram os maiores superávits ao longo da década de 2001 a 2010. Não se surpreenda ao verificar que a China encabeça a lista. Como explicaremos adiante neste capítulo, o superávit da China é grande, em grande parte, devido à sua política de manter moeda fraca em relação às outras moedas. Mas e o que acontece com os outros? O Japão e a Alemanha incorreram em superávits em conta-corrente praticamente pelas mesmas razões: são países ricos com taxas de poupança elevadas, proporcionando a eles mesmos muito dinheiro para investir. Uma vez que parte desse dinheiro vai para o exterior, o resultado é que incorrem em déficits na conta financeira e superávits em conta-corrente. Os outros três países são grandes exportadores de petróleo. (Não se pode pensar na Rússia e na Noruega como “petro-economias”, mas a Rússia obtém cerca de dois terços da receita de exportação do petróleo e a Noruega possui grandes campos de petróleo no Mar do Norte.) Esses países estão deliberadamente acumulando ativos no exterior para ajudá-los a sustentar seus gastos quando o petróleo acabar. Ao todo, os países superavitários são um grupo diverso. Se sua visão do mundo é a dos déficits americanos contra os excedentes chineses, está perdendo uma grande parte da história.

Fonte: Fundo Monetário Internacional.

A Figura 19-3 ilustra um mundo composto de apenas dois países, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha. O painel (a) mostra o mercado de fundos para empréstimos nos Estados Unidos, onde, na ausência de fluxos de capital internacional, o equilíbrio está no ponto EUS com taxa de juros de 6%. O painel (b) mostra o mercado de fundos para empréstimos na Grã- Bretanha, onde o equilíbrio, na ausência de fluxos de capital internacional, está no ponto EB com taxa de juros de 2%. A taxa de juros efetiva dos Estados Unidos permanecerá em 6% e a da Grã-Bretanha em 2%? Não, se for fácil para os moradores da Grã-Bretanha fazerem empréstimos aos americanos. Nesse caso, os credores britânicos, atraídos pelas taxas de juros americanas elevadas, enviarão uma parte dos fundos para empréstimos para os Estados Unidos. Essa entrada de capital vai aumentar a quantidade de fundos para empréstimo a ser ofertada aos tomadores de empréstimo americanos, pressionando a taxa de juros dos Estados Unidos para baixo. Ao mesmo tempo, vai reduzir a quantidade de fundos para empréstimo ofertada aos tomadores de empréstimo britânicos, pressionando a taxa de juros da Grã Bretanha para cima. Assim, os fluxos de capital internacional vão reduzir o diferencial entre as taxas de juros americanas e britânicas. Vamos supor, ainda, que os credores britânicos considerem que emprestar a um americano seja tão bom quanto emprestar a qualquer um de seus compatriotas e que os americanos consideram que contratar uma dívida de um credor britânico tenha o mesmo custo que uma dívida de um credor americano. Nesse caso, o fluxo de fundos da GrãBretanha para os Estados Unidos continuará até que a diferença entre suas taxas de juros seja eliminada. Em outras palavras, quando os moradores dos dois países acreditam que o ativo estrangeiro é tão bom quanto um ativo doméstico e que um passivo estrangeiro seja tão bom quanto um passivo doméstico, o fluxo de capital internacional iguala as taxas de juros nos dois países. A Figura 19-4 mostra o equilíbrio internacional nos mercados de fundos para empréstimo, onde a taxa de juros de equilíbrio é 4%, tanto nos Estados Unidos como na Grã- Bretanha. Com essa taxa de juros, a quantidade de fundos para empréstimos demandada pelos tomadores de empréstimo americanos excede a quantidade de fundos para empréstimos ofertada por credores dos Estados Unidos. Esse hiato é preenchido com fundos “importados” – a entrada de capital da Grã-Bretanha. Ao mesmo tempo, a quantidade de fundos para empréstimo ofertada por credores britânicos é maior do que a quantidade de fundos para empréstimos demandada por tomadores de empréstimo da Grã-Bretanha. Esse excesso é “exportado”, na forma de saída de capital para os Estados Unidos. E os dois mercados estão em equilíbrio a uma taxa de juros comum, de 4% – a essa taxa de juros, a quantidade total de empréstimos demandada pelos tomadores de empréstimos nos dois mercados é igual à quantidade total de empréstimos ofertada pelos credores entre os dois mercados.

FIGURA 19-4 Fluxos de capital internacional em um mundo de dois países Os credores britânicos emprestam aos tomadores de empréstimo nos Estados Unidos, levando à equalização da taxa de juros em 4% nos dois países. A essa taxa, o endividamento dos americanos supera os créditos concedidos pelos americanos: a diferença está representada pela entrada de capital nos Estados Unidos. Enquanto isso, os créditos britânicos superam o endividamento dos britânicos: o excedente é uma saída de capital da Grã-Bretanha.

Em resumo, os fluxos internacionais de capital são como fluxos internacionais de bens e serviços. O capital se move dos lugares onde seria barato, na ausência de fluxos de capital internacional, para lugares onde seria caro, na ausência de tais fluxos.

Determinantes subjacentes de fluxos de capital internacional A versão de economia aberta do modelo de fundos para empréstimos nos ajuda a entender os fluxos de capital internacional em termos de oferta e demanda de fundos. Mas o que fundamenta as diferenças entre os países na oferta e demanda de fundos? Por que, na ausência de fluxos de capital internacional, as taxas de juros iriam diferir em nível internacional, criando um incentivo para os fluxos de capital internacional? As diferenças internacionais na demanda de fundos refletem diferenças subjacentes de oportunidade de investimento. Em particular, um país com uma economia em rápido crescimento, tudo o mais mantido constante, tende a oferecer mais oportunidades de investimento que um país com uma economia em crescimento lento. Assim, uma economia em rápido crescimento normalmente – embora nem sempre – tem maior demanda de capital e oferece maiores retornos para os investidores do que uma economia em crescimento lento. Como resultado, o capital tende a fluir de economias de crescimento lento para economias de crescimento rápido. O exemplo clássico, descrito na próxima seção Economia em ação, é o fluxo de capital da Grã-Bretanha para os Estados Unidos, entre outros países, entre 1870 e 1914. Durante essa época, a economia dos Estados Unidos estava crescendo rapidamente à medida que a população aumentava e se espalhava para o oeste e à medida que a nação se industrializava. Isso criou uma demanda de gastos de investimento em ferrovias, fábricas, e assim por diante. Enquanto isso, a Grã-Bretanha tinha um crescimento da população mais lento, já estava industrializada e já tinha uma rede de ferrovias que

cobria o país. Isso deixou a Grã- Bretanha com poupança de sobra, boa parte da qual foi emprestada aos Estados Unidos e a outras economias do Novo Mundo. Diferenças internacionais na oferta de fundos refletem diferenças nas popanças entre os países. Isso pode ser o resultado de diferenças na taxa de poupança privada, que varia amplamente entre países. Por exemplo, em 2010 a poupança privada era 28,5 % do PIB no Japão, mas apenas 19,2% do PIB nos Estados Unidos. Também podem refletir diferenças na poupança por parte dos governos. Em particular, os déficits públicos que reduzem a poupança nacional, em geral, podem levar a entradas de capital.

Fluxos de capital nos dois sentidos O modelo de fundos para empréstimo nos ajuda a compreender o sentido dos fluxos de capital líquidos – o excedente de fluxos para dentro de um país em relação às saídas, ou vice-versa. A direção dos fluxos líquidos, tudo o mais mantido constante, é determinada por diferenças nas taxas de juros entre os países. Como vimos na Tabela 19-2, no entanto, os fluxos brutos ocorrem nos dois sentidos: por exemplo, os Estados Unidos tanto vendem ativos a estrangeiros como compram ativos de estrangeiros. Por que o capital se move em ambas as direções?

Para mentes curiosas Um excedente global de poupança? Nos primeiros anos do século XXI, os Estados Unidos passaram a apresentar um déficit enorme em conta-corrente, o que significa que se tornaram o destinatário de enormes entradas de capital do restante do mundo (especialmente da China e de outros países da Ásia e do Oriente Médio). Por que isso aconteceu? Em um discurso de grande repercussão no início de 2005, Ben Bernanke – que naquela época já fazia parte da diretoria do Fed e que logo se tornaria o presidente – apresentou uma hipótese: os Estados Unidos não eram responsáveis por isso. A “principal causa do déficit em conta-corrente dos Estados Unidos” declarou ele, encontra-se “fora da fronteira do país”. Especificamente, argumentou que fatores especiais haviam criado um “excedente global de poupança” (global savings glut, ou excesso de liquidez internacional) que havia pressionado as taxas de juros para baixo em todo o mundo e, assim, levara a um excesso de gasto de investimento em relação à poupança nos Estados Unidos. O que causou esse excesso de poupança global? De acordo com Bernanke, a principal causa foi uma série de crises financeiras, que começou na Tailândia, em 1997; refletiu em grande parte da Ásia e, em seguida, atingiu a Rússia em 1998, o Brasil em 1999 e a Argentina em 2002. O temor e a devastação econômica que se seguiram levaram a uma queda nos gastos de investimento e a um aumento na poupança em diversos países relativamente pobres. Em decorrência, vários desses países, que anteriormente tinham sido os destinatários de entrada de capital proveniente de países avançados como os

Estados Unidos, começaram a apresentar grandes saídas de capital. Na maior parte, esse capital fluiu para os Estados Unidos, talvez porque “a profundidade e sofisticação dos mercados financeiros do país” o tornaram um destino atraente. Quando Bernanke fez seu discurso, foi considerado tranquilizador: basicamente, argumentou que os Estados Unidos estavam reagindo de forma sensata à disponibilidade de dinheiro barato nos mercados financeiros mundiais. Mais tarde, porém, ficaria claro que o dinheiro barato do exterior ajudou a alimentar uma bolha imobiliária, que causou danos financeiros e econômicos amplos quando estourou. A resposta a essa questão é que, no mundo real, em oposição ao modelo simples que acabamos de aprender, existem outros motivos para os fluxos de capital internacional, além da busca de uma taxa de juros mais alta. Normalmente, os investidores individuais procuram diversificar contra o risco comprando ações em diversos países. As ações na Europa podem ter bom resultado quando as ações nos Estados Unidos têm resultado ruim, ou vice-versa, e assim os investidores na Europa tentam reduzir o risco por meio da compra de algumas ações nos Estados Unidos, assim como os investidores nos Estados Unidos tentam reduzir o risco comprando algumas ações europeias. O resultado é um fluxo de capital em ambas as direções. Enquanto isso, as empresas muitas vezes se envolvem em investimento internacional como parte da estratégia de negócios – por exemplo, empresas de automóveis podem achar que podem competir melhor no mercado nacional se ali fizerem parte da montagem dos carros. Esses tipos de investimentos empresariais também podem levar a fluxos de capital nos dois sentidos, como, por exemplo, os fabricantes de automóveis europeus constroem fábricas nos Estados Unidos, assim como as empresas de informática dos Estados Unidos abrem instalações na Europa. Finalmente, alguns países, incluindo os Estados Unidos, são centros bancários internacionais: pessoas de todo o mundo colocam dinheiro nas instituições financeiras americanas, que, em seguida, investem muitos desses fundos no exterior. O resultado desses fluxos nos dois sentidos é que as economias modernas são tipicamente devedoras (países que devem dinheiro para o resto do mundo) e credoras (países para os quais o resto do mundo deve dinheiro). Devido a anos de fluxos de capital nos dois sentidos, no final de 2010 os Estados Unidos acumularam ativos no exterior no valor de $20,3 trilhões e os estrangeiros acumularam ativos nos Estados Unidos no valor de $22,8 trilhões.

Economia em ação Os anos dourados do fluxo de capital Ouve-se com frequência que a tecnologia encolhe o mundo. Aviões a jato reduziram a distância entre a maioria das cidades do mundo a poucas horas; a telecomunicação moderna transmite informação instantaneamente ao redor do mundo. Então você deve

imaginar que os fluxos de capital internacional agora devem ser maiores do que nunca. Mas se os fluxos de capital forem medidos como proporção da poupança e do investimento mundial, isso não é verdade. Os anos dourados dos fluxos de capital, de fato, precederam a Primeira Guerra Mundial, entre 1870 e 1914. Esses fluxos de capital saíram principalmente de países europeus, especialmente da Grã-Bretanha, para o que eram então conhecidas como “zonas de colonização recente”, países que estavam atraindo grande número de imigrantes europeus. Entre os grandes receptores de fluxos de capital estavam: Austrália, Argentina, Canadá e Estados Unidos. Os grandes fluxos de capital refletiam diferenças nas oportunidades de investimento. Grã-Bretanha, uma economia industrial madura, com recursos naturais limitados e uma população que crescia lentamente, oferecia oportunidades relativamente limitadas para novos investimentos. As zonas de colonização recente, com o rápido crescimento das populações e recursos naturais abundantes, ofereciam aos investidores retorno maior e atraíam fluxos de capital. As estimativas sugerem que durante esse período a GrãBretanha enviou cerca de 40% da poupança para o exterior, em grande parte para financiar ferrovias e outros projetos de grande porte. Nenhum país em tempos modernos alcançou esse recorde. Por que não conseguimos alcançar os fluxos de capital de nossos tataravôs? Os economistas não têm certeza absoluta, mas apontam duas causas: restrições à migração e riscos políticos. Durante os anos dourados dos fluxos de capital, os movimentos de capital eram complementares aos movimentos populacionais: os grandes receptores do capital vindo da Europa eram também os lugares para os quais migrava grande quantidade de europeus. Esses movimentos populacionais em grande escala foram possíveis antes da Primeira Guerra Mundial, porque havia poucas restrições legais à imigração. Por outro lado, no mundo de hoje, a migração é limitada por extensas barreiras legais, como qualquer pessoa que considere uma mudança para os Estados Unidos ou para a Europa pode contar. Outro fator que mudou foi o risco político. Os governos modernos muitas vezes limitam o investimento estrangeiro porque temem que ele diminua a autonomia nacional. E devido a interesses políticos ou de segurança, os governos às vezes desapropriam propriedades estrangeiras, um risco que desencoraja os investidores de enviar mais do que uma parcela relativamente modesta de sua riqueza para o exterior. No século XIX, tais ações eram raras, em parte porque alguns dos principais destinos de investimentos ainda eram as colônias europeias e em parte porque naquela época os governos tinham o hábito de enviar tropas e navios de marinha de guerra para impor os direitos de seus investidores.

Breve revisão ■ As contas do balanço de pagamentos que monitoram as transações internacionais de um país são compostas do balanço de pagamentos em conta-corrente ou da contacorrente, acrescido do balanço de pagamentos na conta financeira, ou conta financeira.

O componente mais importante da conta-corrente é o balanço de pagamentos de bens e serviços, que inclui o balanço do comércio de mercadorias ou balança comercial. ■ Como as fontes de pagamentos devem ser iguais aos usos de pagamentos, a contacorrente mais a conta financeira somam zero. ■ O capital tende a igualar as taxas de juros entre os países. Os países podem ter fluxos de capital nos dois sentidos porque há outros fatores, além das taxas de juros, que afetam as decisões dos investidores. ■ Os fluxos de capital refletem as diferenças internacionais no comportamento da poupança e nas oportunidades de investimento que levam a diferenças nas taxas de juros entre os países.

Teste seu entendimento 19-1 1. Qual é a conta do balanço de pagamentos que é afetada pelo evento seguinte? a. A Boeing, uma empresa sediada nos Estados Unidos, vende um avião que acabou de ser construído para a China. b. Investidores chineses compram ações da Boeing de americanos. c. Uma empresa chinesa compra um avião usado da American Airlines e o embarca para a China. d. Um investidor chinês, que possui propriedade nos Estados Unidos, compra um jato corporativo, que manterá nos Estados Unidos para que possa viajar por aquele país. 2. Que efeito você supõe que teve o colapso da bolha imobiliária dos Estados Unidos e a consequente recessão sobre os fluxos de capital internacional para os Estados Unidos? As respostas estão no fim do livro.

O papel da taxa de câmbio Acabamos de ver como as diferenças entre a oferta de fundos para empréstimo originária da poupança e a demanda de fundos para empréstimo que se destina a gastos de investimento levam a fluxos de capital internacional. Vimos também que o balanço de pagamentos em conta-corrente de um país, mais o balanço de pagamentos na conta financeira, tem soma igual a zero: um país que recebe entrada líquida de capital deve incorrer em um déficit em conta-corrente que equipare aquela entrada, e um país que gera uma saída líquida de capital deve incorrer em um superávit em conta-corrente correspondente. O comportamento da conta financeira – refletindo entradas e saídas de capital – é descrito melhor pelo equilíbrio no mercado internacional de fundos para empréstimo. Ao mesmo tempo, o balanço de pagamentos de bens e serviços, o principal componente da conta-corrente, é determinado por decisões nos mercados internacionais de bens e serviços. Assim, dado que a conta financeira reflete o movimento de capital e a contacorrente reflete o movimento de bens e serviços, o que garante que o balanço de pagamentos realmente se equilibre? Ou seja, o que garante que as duas contas realmente compensem uma à outra? Não é surpresa que o preço é o que faz essas duas contas se equilibrarem. Especificamente, esse preço é a taxa de câmbio, que é determinada no mercado de câmbio.

Entendendo as taxas de câmbio Em geral, bens, serviços e ativos produzidos em um país devem ser pagos em moeda corrente do país. Os produtos americanos devem ser pagos em dólares, os produtos europeus devem ser pagos em euros e os produtos japoneses devem ser pagos em ienes. Ocasionalmente, os vendedores aceitam pagamento em moeda estrangeira, mas então trocam a moeda por moeda doméstica. Transações internacionais, então, requerem um mercado – o mercado de câmbio – em que as moedas podem ser trocadas umas pelas outras. Esse mercado determina as taxas de câmbio, os preços pelos quais as moedas são comerciadas. (O mercado de câmbio, de fato, não é localizado em qualquer ponto geográfico. Pelo contrário, é um mercado eletrônico global que os comerciantes de todo o mundo usam para comprar e vender moedas.) A Tabela 19-3 mostra as cotações das três moedas mais importantes do mundo às 18h55min, em 24 de setembro de 2011. Cada número mostra o preço da moeda da “linha” em termos da moeda da “coluna”. Por exemplo, naquele momento, US$1era trocado por €0,7412, de modo que era preciso entregar €0,7412 para comprar US$1. Da mesma forma, era necessário US$1,3492 para comprar €1. Esses dois números refletem a mesma taxa de câmbio entre o euro e o dólar dos Estados Unidos: 1/1,3492 = 0,7412.

Tabela 19-3 Taxas de câmbio, 24 de setembro de 2011, 18h55min

Há duas maneiras de escrever qualquer taxa de câmbio determinada. Nesse caso, havia €0,7412 para US$1 e US$1,3492 para € 1. Qual é a maneira correta de escrever isso? A resposta é que não existe uma regra fixa. Na maioria dos países, as pessoas tendem a expressar a taxa de câmbio como o preço de US$1 na moeda doméstica. No entanto, essa regra não é universal e a cotação entre o dólar americano e o euro comumente é citada em ambos os sentidos. O importante é ter certeza de saber qual deles se está usando! Veja as armadilhas que seguem. Ao discutir o movimento das taxas de câmbio, os economistas usam termos especializados para evitar confusão. Quando uma moeda se torna mais valiosa em termos de outras moedas, os economistas dizem que essa moeda aprecia. Quando uma moeda se torna menos valiosa em termos de outras moedas, ela deprecia. Suponha, por exemplo, que o valor de €1 passou de US$1 para US$1,25, o que significa que o valor US$1 passou de €1 para €0,80 (pois 1/1,25 = 0,80). Nesse caso, diríamos que o euro teve apreciação e o dólar teve depreciação. Os movimentos nas taxas de câmbio, tudo o mais mantido constante, afetam os preços relativos dos bens, serviços e ativos em diferentes países. Suponha, por exemplo, que o preço de uma diária de hotel americano seja US$100 e o preço de um quarto de hotel francês seja €100. Se a taxa de câmbio for €1 = U$$1, essas diárias de hotel têm o mesmo preço. Se a taxa de câmbio for €1,25 = $1, a diária do hotel francês é 20% mais barata do que a americana. Se a taxa de câmbio for €0,80 = U$$1, a diária de hotel francesa é 25% mais cara que a americana. Mas o que determina as taxas de câmbio? Oferta e demanda no mercado de câmbio.

Armadilhas Para que lado subiu? Suponha que alguém diga: “A taxa de câmbio dos Estados Unidos subiu.” O que essa pessoa quis dizer? Não está claro. Às vezes, a taxa de câmbio é medida como o preço de US$1 em termos de uma moeda estrangeira, algumas vezes como o preço de uma moeda estrangeira em termos de dólares. Portanto, a afirmação pode significar tanto que o dólar apreciou como depreciou!

Deve-se ter muito cuidado ao usar estatísticas publicadas. A maioria dos países, fora os Estados Unidos, informa as taxas de câmbio em termos do preço de US$1 na moeda nacional. Por exemplo, funcionários do governo mexicano dirão que a taxa de câmbio é 10, ou seja, 10 pesos por dólar. Mas a Grã-Bretanha, por motivos históricos, geralmente informa a taxa de câmbio de maneira contrária. Em 24 de setembro de 2011, US$1 valia £0,64620 e £1 valia US$1,5475. Na maioria das vezes, esse número é dado como uma taxa de câmbio de 1,5475. Na verdade, em algumas ocasiões, os economistas profissionais e consultores se confundem, trocando a direção em que a libra está se movendo! De qualquer forma, os americanos geralmente seguem o exemplo de outros países: costumamos dizer que a taxa de câmbio em relação ao México é 10 pesos por dólar, mas que a taxa de câmbio em relação à Grã-Bretanha é US$1,55 por libra. Mas essa regra não é confiável; as taxas de câmbio em relação ao euro frequentemente são citadas nos dois sentidos. Por isso é sempre importante verificar antes de usar dados de taxa de câmbio: de que lado a taxa de câmbio está sendo medida?

O equilíbrio da taxa de câmbio Para simplificar, imagine que há apenas duas moedas no mundo: dólar e euro. Os europeus que desejam comprar bens, serviços e ativos americanos vêm ao mercado de câmbio para trocar euros por dólares dos Estados Unidos. Ou seja, os europeus demandam dólares americanos no mercado de câmbio e, correspondentemente, ofertam euros para esse mercado. Os americanos que desejam comprar bens, serviços e ativos europeus vêm ao mercado de câmbio para trocar dólares americanos por euros. Ou seja, os americanos ofertam dólares americanos para o mercado de câmbio e, correspondentemente, demandam euros do mercado. (Transferências internacionais e pagamentos de renda de fator também entram no mercado de câmbio, mas para tornar a explicação mais simples, vamos ignorá-los.) A Figura 19-5 mostra como funciona o mercado de câmbio. A quantidade de dólares demandados e ofertados a qualquer taxa de câmbio euro-dólar é mostrada no eixo horizontal, e a taxa de câmbio euro-dólar é mostrada no eixo vertical. A taxa de câmbio desempenha o mesmo papel que o preço de um bem ou serviço no gráfico comum de oferta e demanda.

FIGURA 19-5 O mercado de câmbio estrangeiro O mercado de câmbio combina a demanda de moeda pelos estrangeiros que querem comprar bens, serviços e ativos domésticos com a oferta de moeda dos moradores no país que querem comprar bens, serviços e ativos estrangeiros. Aqui, o equilíbrio no mercado de dólares está no ponto E, correspondendo a uma taxa de câmbio de equilíbrio de €0,74 por US$1.

A figura mostra duas curvas, a curva da demanda de dólares e a curva da oferta de dólares. A chave para compreender as inclinações dessas curvas é que o nível da taxa de câmbio afeta exportações e importações. Quando a moeda de um país aprecia (torna-se mais valiosa), as exportações caem e as importações sobem. Quando a moeda de um país deprecia (torna-se menos valiosa), as exportações sobem e as importações caem. Para entender por que a curva de demanda de dólares tem inclinação para baixo, lembre-se que a taxa de câmbio, tudo o mais mantido constante, determina os preços dos bens, serviços e ativos americanos em relação aos bens, serviços e ativos europeus. Se o dólar sobe em relação ao euro (o dólar sofre apreciação), os produtos americanos se tornam mais caros que os europeus para os europeus. Assim, os europeus compram menos dos Estados Unidos e adquirem menos dólares no mercado de câmbio: a quantidade de dólares demandada cai à medida que a quantidade de euros necessários para comprar US$1 aumenta. Se o dólar cai em relação ao euro (o dólar se deprecia), os produtos americanos se tornam relativamente mais baratos para os europeus. Os europeus responderão comprando mais nos Estados Unidos e adquirindo mais dólares no mercado de câmbio: a quantidade de dólares demandada aumenta à medida que cai a quantidade de euros necessários para comprar US$1. Um argumento similar explica por que a curva de oferta de dólares na Figura 19-5 tem inclinação para cima: quanto mais euros são necessários para comprar US$1, tanto mais dólares os americanos irão ofertar. Mais uma vez, o motivo é o efeito da taxa de câmbio sobre os preços relativos. Se o dólar aumenta em relação ao euro, os produtos europeus ficam mais baratos para os americanos, que vão demandar mais deles. Isso exige que os americanos convertam mais dólares em euros. A taxa de câmbio de equilíbrio é a taxa de câmbio em que a quantidade de dólares

demandada no mercado de câmbio é igual à quantidade de dólares ofertada. Na Figura 19-5, o equilíbrio está no ponto E, e a taxa de câmbio de equilíbrio é 0,74. Ou seja, a taxa de câmbio de €0,74 por US$1, a quantidade de dólares ofertada para o mercado de câmbio é igual à quantidade de dólares demandada. Para entender o significado da taxa de câmbio de equilíbrio, é útil acompanhar um exemplo numérico de como parece o equilíbrio no mercado de câmbio. Um exemplo hipotético é apresentado na Tabela 19-4. A primeira linha mostra a compra de dólares pelos europeus, seja para comprar bens e serviços ou ativos americanos. A segunda linha mostra a venda de dólares pelos americanos, seja para comprar bens e serviços europeus ou para comprar ativos europeus. À taxa de câmbio de equilíbrio, a quantidade total de dólares que os europeus querem comprar é igual à quantidade total de dólares que os americanos querem vender. Tabela 19-4 Equilíbrio hipotético no mercado de câmbio

Lembre-se que as contas do balanço de pagamentos dividem as transações internacionais em dois tipos. As compras e vendas de bens e serviços são registradas na conta-corrente. (Mais uma vez, estamos deixando de fora transferências e renda de fator para simplificar.) As compras e vendas de ativos são registradas na conta financeira. Portanto, à taxa de câmbio de equilíbrio, temos a situação mostrada na Tabela 19-4: a soma do balanço de pagamentos em conta-corrente com o balanço de pagamentos na conta financeira é zero. Agora, vamos considerar brevemente como um deslocamento da demanda de dólares afeta o equilíbrio no mercado de câmbio. Suponhamos que por algum motivo, os fluxos de capital da Europa para os Estados Unidos aumentem – digamos, devido a uma mudança na preferência dos investidores europeus. Os efeitos são mostrados na Figura 19-6. A demanda de dólares no mercado de câmbio aumenta à medida que os investidores europeus convertem euros em dólares para financiar os novos investimentos nos Estados Unidos. Isso é mostrado por um deslocamento da curva de demanda de D1 para D2. Em decorrência, o dólar se aprecia frente ao euro: a quantidade de euros por dólar à taxa de câmbio de equilíbrio aumenta de XR1 para XR2.

FIGURA 19-6 Aumento na demanda de dólares dos Estados Unidos Um aumento na demanda de dólares dos Estados Unidos pode resultar de uma mudança nas preferências dos investidores europeus. A curva da demanda de dólares se desloca de D1 para D2. Portanto, a quantidade de euros por dólares de equilíbrio aumenta – o dólar se aprecia frente ao euro. Como resultado, o balanço de pagamentos em conta-corrente cai à medida que o balanço de pagamentos na conta financeira sobe.

Quais são as consequências desse aumento do fluxo de capital para o balanço de pagamentos? A quantidade total de dólares ofertados para o mercado de câmbio ainda deve ser igual à quantidade total de dólares demandado. Assim, o aumento do fluxo de capital para os Estados Unidos – um aumento no balanço de pagamentos na conta financeira – deve ser acompanhado por uma diminuição no balanço de pagamentos em conta-corrente. O que faz o balanço de pagamentos em conta-corrente diminuir? A apreciação do dólar dos Estados Unidos. Um aumento na quantidade de euros por dólar leva os americanos a comprar mais bens e serviços europeus e os europeus a comprar menos bens e serviços americanos. A Tabela 19-5 mostra um exemplo hipotético de como isso funciona. Os europeus estão comprando mais ativos dos Estados Unidos, aumentando o balanço de pagamentos na conta financeira de 0,5 para 1,0. Isso é compensado por uma redução nas compras europeias de bens e serviços dos Estados Unidos e em um aumento nas compras americanas de bens e serviços da Europa, ambos resultantes da apreciação do dólar. Assim, qualquer alteração no balanço de pagamentos na conta financeira dos Estados Unidos gera uma reação igual e oposta no balanço de pagamentos em conta-corrente. Movimentos na taxa de câmbio garantem que mudanças na conta financeira e na conta-corrente se compensam mutuamente.

Tabela 19-5 Exemplo hipotético dos efeitos do aumento da entrada de capital

Vamos acompanhar esse processo brevemente em sentido inverso. Suponhamos que haja uma redução nos fluxos de capital da Europa para os Estados Unidos, mais uma vez devido a uma mudança nas preferências dos investidores europeus. A demanda de dólares no mercado de câmbio diminui e o dólar se deprecia: a quantidade de euros por dólar à taxa de câmbio de equilíbrio cai. Isso leva os americanos a comprar menos produtos europeus e os europeus a comprar mais produtos americanos. Em última análise, isso gera um aumento no balanço de pagamentos em conta-corrente dos Estados Unidos. Assim, uma queda no fluxo de capital para os Estados Unidos leva a um dólar mais fraco, que por sua vez gera um aumento nas exportações líquidas dos Estados Unidos.

A inflação e a taxa de câmbio real Em 1993, US$1 era trocado, em média, por 3,1 pesos mexicanos. Em 2011, o peso havia caído em relação ao dólar quase 75%, com a taxa de câmbio média em 2011 de 12,4 pesos por dólar. Os produtos mexicanos também se tornaram muito mais baratos em relação aos produtos americanos durante esse período de 18 anos? O preço dos produtos mexicanos expressos em dólares também caiu quase 75%? A resposta é não, porque o México teve uma inflação muito mais elevada que os Estados Unidos durante esse período. Na verdade, o preço relativo entre os produtos americanos e mexicanos pouco mudou entre 1993 e 2011, embora a taxa de câmbio tenha mudado muito. Para levar em conta os efeitos das diferenças nas taxas de inflação, os economistas calculam a taxa de câmbio real, a taxa de câmbio ajustada pelas diferenças internacionais no nível de preços agregado. Suponha que a taxa de câmbio que estamos examinando é a quantidade de pesos mexicanos por dólar dos Estados Unidos. Seja PEUA e PMe x índices do nível de preços agregado nos Estados Unidos e no México, respectivamente. Então, a taxa de câmbio real entre o peso mexicano e o dólar dos Estados Unidos é definida por:

(19-4)

Para distingui-la da taxa de câmbio real, a taxa de câmbio não ajustada ao nível de preços agregado às vezes é chamada de taxa de câmbio nominal.

Para entender o significado da diferença entre as taxas de câmbio real e nominal, vamos considerar o seguinte exemplo. Suponhamos que o peso mexicano se deprecie frente ao dólar dos Estados Unidos, com a taxa de câmbio passando de 10 pesos por dólar para 15 pesos por dólar, uma variação de 50%. Mas suponhamos também que, ao mesmo tempo, o preço de tudo no México, medido em pesos, aumente 50%, de modo que o índice de preços mexicano sobe de 100 para150. Ao mesmo tempo, vamos supor que não haja variação de preços nos Estados Unidos, de modo que o índice de preços dos Estados Unidos permanece em 100. Então, a taxa de câmbio real inicial é a seguinte:

Depois que o peso se depreciou e os mexicanos aumentaram o nível de preços, a taxa de câmbio real é a seguinte:

Neste exemplo, o peso depreciou substancialmente em relação ao dólar dos Estados Unidos, mas a taxa de câmbio real entre o peso e o dólar não mudou nada. E como a taxa de câmbio real peso-dólar não mudou, a depreciação nominal do peso em relação ao dólar não terá impacto sobre a quantidade de bens e serviços exportada do México para os Estados Unidos nem sobre a quantidade de bens e serviços importada pelo México dos Estados Unidos. Para ver por que, considere novamente o exemplo da diária de hotel. Suponha que a diária de hotel custe inicialmente 1.000 pesos por noite, que é $100 a uma taxa de câmbio de 10 pesos por dólar. Depois que tanto os preços mexicanos quanto a quantidade de pesos por dólar aumentaram 50%, o custo da diária de hotel será 1.500 pesos por noite – mas 1.500 pesos divididos por 15 pesos por dólar é $100, de modo que a diária do hotel mexicano continua custando $100. Em decorrência, um turista americano considerando uma viagem ao México não tem nenhuma razão para mudar os planos. O mesmo é verdade para todos os bens e serviços que entram no comércio: a contacorrente responde apenas por variações na taxa de câmbio real, não na taxa de câmbio nominal. Os produtos de um país se tornam mais baratos para os estrangeiros apenas quando a moeda do país se deprecia em termos reais, e esses produtos se tornam mais caros para os estrangeiros somente quando a moeda se aprecia em termos reais. Como consequência, os economistas que analisam os movimentos nas exportações e importações de bens e serviços concentram-se sobre a taxa de câmbio real, e não sobre a taxa de câmbio nominal. A Figura 19-7 ilustra o quanto é importante a distinção entre taxas de câmbio nominal e

real. A linha indicada por “taxa de câmbio nominal” mostra a quantidade de pesos necessários para comprar US$1 dos Estados Unidos de novembro de 1993 a dezembro de 2011. Como se vê, o peso depreciou acentuadamente durante esse período. Mas a linha denominada “taxa de câmbio real” mostra a taxa de câmbio real: foi calculada usando a Equação 19-4, com índices de preços, tanto para o México como para os Estados Unidos, fixados em 1993 = 100. Em termos reais, o peso depreciou entre 1994 e 1995, mas não tanto quanto a depreciação nominal. Até o final de 2011, a taxa de câmbio real peso-dólar estava quase de volta onde tudo começou.

FIGURA 19-7 Taxas de câmbio nominal versus real, 1993-2011 Entre novembro de 1993 e dezembro de 2011, o preço de US$1 em pesos mexicanos aumentou acentuadamente. Mas como o México teve uma inflação mais elevada que os Estados Unidos, a taxa de câmbio real, que mede o preço relativo dos bens e serviços mexicanos, acabou mais ou menos onde começou. Fonte: Federal Reserve Bank de St. Louis.

Paridade do poder de compra Um instrumento útil para analisar as taxas de câmbio, estreitamente relacionado ao conceito de taxa de câmbio real, é conhecido como paridade do poder de compra. A paridade do poder de compra entre moedas de dois países é a taxa de câmbio nominal sob a qual determinada cesta de bens e serviços custaria o mesmo montante em cada país. Suponha, por exemplo, que uma cesta de bens e serviços que custa $100 nos Estados Unidos custa 1.000 pesos no México. Então, a paridade do poder de compra é de 10 pesos por dólar: a essa taxa de câmbio, 1.000 pesos = $100, assim, a cesta básica custa o mesmo valor nos dois países. Cálculos de paridades do poder de compra normalmente são feitos estimando o custo de compra de uma cesta de mercado ampla, contendo muitos bens e serviços – tudo, desde automóveis e mantimentos até habitação e chamadas telefônicas. Mas, como a seção Para mentes curiosas a seguir informa, uma vez por ano a revista The Economist publica uma lista de paridades de poder de compra com base no custo de compra da

cesta de mercado que contém apenas um item – um Big Mac do McDonald’s.

Para mentes curiosas Burgernomia Há vários anos, o semanário britânico The Economist vem produzindo uma comparação anual do custo, em diferentes países, de um item de consumo específico que é possível encontrar em todo o mundo, um Big Mac do McDonald’s. A revista verifica o preço de um Big Mac em moeda local, em seguida, calcula dois números: o preço de um Big Mac em dólares usando a taxa de câmbio vigente e a taxa de câmbio sob a qual o preço de um Big Mac seria igual ao preço dos Estados Unidos. Se a paridade do poder de compra for válida para Big Macs, o preço do dólar de um Big Mac seria o mesmo em todos os lugares. Se a paridade do poder de compra for uma boa teoria para o longo prazo, a taxa de câmbio sob a qual o preço do Big Mac corresponde ao preço dos Estados Unidos deve oferecer algum orientação sobre até onde vai a taxa de câmbio no final. A Tabela 19-6 mostra as estimativas do semanário Economist para países selecionados a partir de 28 de julho de 2011, classificados em ordem crescente de preço de um Big Mac em dólar. Os países com os Big Macs mais baratos e, portanto, por essa medida com as moedas mais desvalorizadas, são a Índia e a China, ambos países em desenvolvimento. Mas nem todos os países em desenvolvimento têm Big Macs com preço baixo: o preço de um Big Mac no Brasil, convertido em dólares, é consideravelmente mais elevado do que nos Estados Unidos. Isso reflete uma forte apreciação do real, a moeda do Brasil, nos últimos anos, à medida que o país se tornou favorito dos investidores internacionais. E no topo da lista, com o Big Mac cerca de 75% mais caro que nos Estados Unidos, está a Suíça – o país que, como descrito na história de introdução do capítulo, tomou medidas extraordinárias no final de 2011, em um esforço para depreciar sua moeda.

Tabela 19-6 Paridade do poder de compra e preço de um Big Mac

As taxas de câmbio nominais quase sempre diferem da paridade do poder de compra. Algumas dessas diferenças são sistemáticas: em geral, os níveis de preços agregados são mais baixos nos países pobres do que nos países ricos porque os serviços tendem a ser mais baratos nos países pobres. Mas mesmo entre países que têm, aproximadamente, o mesmo nível de desenvolvimento econômico, as taxas de câmbio nominais variam consideravelmente de paridade do poder de compra. A Figura 19-8 mostra a taxa de câmbio nominal entre o dólar canadense e o dólar americano, medida como quantidade de dólares canadenses por dólares americanos, de 1990 a 2011, junto com uma estimativa da taxa de câmbio de paridade do poder de compra entre os Estados Unidos e o Canadá, no mesmo período. A paridade do poder de compra não mudou muito ao longo de todo o período, porque os Estados Unidos e o Canadá tiveram aproximadamente a mesma taxa de inflação. Mas, no início do período, a taxa de câmbio nominal estava abaixo da paridade do poder de compra, portanto, uma cesta de mercado era mais cara no Canadá que nos Estados Unidos. Em 2002, a taxa de câmbio nominal estava muito acima da paridade do poder de compra, de modo que uma cesta de mercado era muito mais barata no Canadá que nos Estados Unidos.

FIGURA 19-8 Paridade do poder de compra versus taxa de câmbio nominal, 1990-2011 A paridade do poder de compra entre os Estados Unidos e o Canadá – a taxa de câmbio sob a qual uma cesta de bens e serviços custa o mesmo montante nos dois países – mudou muito pouco ao longo do período considerado, ficando perto de C$1,20 por US$1. Mas a taxa de câmbio nominal variou amplamente.

Porém, no longo prazo, a paridade do poder de compra é muito útil na previsão de variações reais nas taxas de câmbio nominal. Em particular, as taxas de câmbio nominal entre países com níveis semelhantes de desenvolvimento econômico tendem a flutuar em torno de níveis que levam a custos semelhantes de uma cesta de mercado determinada. De fato, em julho de 2005, a taxa de câmbio nominal entre os Estados Unidos e o Canadá era de C$1,22 por US$1 – mais ou menos a mesma que a paridade do poder de compra. E até 2011, o custo de vida foi mais uma vez superior no Canadá em relação aos Estados Unidos.

Economia em ação O baixo custo americano A taxa de câmbio importa para as decisões empresariais? E como. Considere o que os fabricantes de automóveis europeus estavam fazendo em 2008. Um relatório da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, resumiu a situação da seguinte forma: Enquanto as montadoras de carros de luxo alemães BMW e Mercedes mantêm fábricas na América do Sul desde a década de 1990, a BMW pretende expandir o setor manufatureiro dos Estados Unidos na Carolina do Sul em 50% durante os próximos cinco anos. A Volvo da Suécia está em negociações para a construção de uma fábrica no Novo México. Os analistas da montadora italiana Fiat determinaram que é necessário construir uma fábrica americana para lucrar com o próximo relançamento do modelo Alfa Romeo. Tennessee recentemente fechou um acordo com a Volkswagen para a construção de uma fábrica de $1 bilhão, oferecendo $577 milhões em incentivos. Por que as montadoras de automóveis europeias estão interessadas em ir para os Estados Unidos? Até certo ponto, porque tiveram oferta de incentivos especiais, como no caso da Volkswagen no Tennessee. Mas o fator importante é a taxa de câmbio. No início

da década de 2000, €1 valia, em média, menos que US$1. Em meados de 2008, a taxa de câmbio era de aproximadamente €1 = $1,50. Essa mudança na taxa de câmbio tornou substancialmente mais barato para os fabricantes de automóveis europeus produzir nos Estados Unidos do que em casa, especialmente quando os carros se destinam ao mercado americano. A indústria automobilística não foi a única indústria dos Estados Unidos a se beneficiar do dólar fraco. As exportações americanas aumentaram muito em todos os itens depois de 2006, enquanto o crescimento das importações desacelerou. A Figura 19-9 mostra uma medida do desempenho comercial dos Estados Unidos, a exportação líquida real de bens e serviços: exportações menos importações, ambas medidas em dólares de 2005. Como se vê, esse equilíbrio, depois de um longo declínio, moveu-se bruscamente para cima em 2006. Houve uma modesta reversão entre 2009 e 2010, à medida que a recuperação da economia da recessão entre 2007 e 2009 atraiu mais importações, mas um grande estreitamento do hiato comercial ainda permaneceu.

FIGURA 19-9 Taxa de exportação dos Estados Unidos, 1995 - 2011

Breve revisão ■ As moedas são negociadas no mercado de câmbio, que determina as taxas de câmbio. ■ As taxas de câmbio podem ser medidas de duas formas. Para evitar confusão, os economistas dizem que uma moeda se aprecia ou deprecia. A taxa de câmbio de equilíbrio corresponde à oferta e demanda de moedas no mercado de câmbio. ■ Para levar em conta as diferenças nos níveis de preços nacionais, os economistas calculam a taxa de câmbio real. A conta-corrente responde apenas a mudanças da taxa de câmbio real, não da taxa de câmbio nominal. ■ A paridade do poder de compra é a taxa de câmbio nominal que iguala os preços de uma cesta de mercado nos dois países. Enquanto a taxa de câmbio nominal quase

sempre difere da paridade do poder de compra, este é um bom indicador da variação real na taxa de câmbio nominal.

Teste seu entendimento 19-2 1. O México descobre grandes reservas de petróleo e começa a exportar petróleo para os Estados Unidos. Descreva como isso afetaria o seguinte. a. A taxa de câmbio peso-dólar nominal. b. As exportações mexicanas de outros bens e serviços. c. As importações mexicanas de bens e serviços. 2. Uma cesta de bens e serviços que custa $100 nos Estados Unidos custa 800 pesos no México e a taxa de câmbio nominal atual é de 10 pesos por dólar. Ao longo dos próximos cinco anos, o custo dessa cesta de mercado aumenta para $120 nos Estados Unidos e para 1.200 pesos no México, apesar de a taxa de câmbio nominal permanecer em 10 pesos por dólar. Calcule o seguinte. a. A taxa de câmbio real agora e daqui a cinco anos, supondo que o índice de preços de hoje em ambos os países seja 100. b. A paridade do poder de compra hoje e daqui a cinco anos. As respostas estão no fim do livro.

Política cambial A taxa de câmbio nominal, assim como outros preços, é determinada pela oferta e demanda. Ao contrário do preço do trigo ou do petróleo, no entanto, a taxa de câmbio é o preço da moeda de um país (em termos da moeda de outro país). A moeda não é um bem ou serviço produzido pelo setor privado, é um ativo cuja quantidade é determinada pela política do governo. Como resultado, os governos têm muito mais poder para influenciar as taxas de câmbio nominais do que para influenciar os preços normais. A taxa de câmbio nominal é um preço muito importante para muitos países: a taxa de câmbio determina o preço das importações e exportações. Nas economias em que as exportações e importações são uma proporção elevada do PIB, movimentos na taxa de câmbio podem ter efeitos importantes sobre o produto agregado e sobre o nível de preços agregado. O que os governos fazem com o seu poder de influenciar esse preço é importante? A resposta é: depende. Em momentos e em lugares diferentes, os governos têm adotado uma variedade de regimes cambiais. Vamos discorrer sobre esses regimes, como são aplicadas e como os governos escolhem um regime. (A partir de agora, adotaremos a convenção de que estamos nos referindo à taxa de câmbio nominal, ao nos referirmos à taxa de câmbio.)

Regimes da taxa de câmbio Um regime de taxa de câmbio é uma política governamental de regras em relação à taxa de câmbio. Existem dois tipos principais de regimes de taxa de câmbio. Um país tem uma taxa de câmbio fixa, quando o governo mantém a taxa de câmbio em relação a alguma outra moeda em uma meta específica ou perto dela. Por exemplo, o governo de Hong Kong tem uma política oficial de manter a taxa de câmbio de HK$7,80 por US$1. Ao contrário, um país tem uma taxa de câmbio flutuante quando o governo permite que as forças de mercado determinem a taxa de câmbio. Essa é a política seguida pela GrãBretanha, pelo Canadá e pelos Estados Unidos. Taxas de câmbio fixas e taxas de câmbio flutuantes não são as únicas possibilidades. Em vários momentos, os países adotam políticas de compromisso que se situam em algum ponto entre as taxas de câmbio fixas e flutuantes. Incluem taxas de câmbio que são fixas em um determinado momento, mas são ajustadas, com frequência, taxas de câmbio que não são fixas, mas são “administradas” pelo governo para evitar grandes oscilações e as taxas de câmbio que flutuam dentro de certas “bandas cambiais” e são impedidas de sair daquelas bandas. Neste livro, no entanto, vamos nos concentrar nos dois principais regimes de taxa de câmbio. A questão imediata sobre a taxa de câmbio fixa é como é possível que os governos fixem a taxa de câmbio quando esta é determinada pela oferta e demanda.

Como uma taxa de câmbio pode ser mantida fixa? Para entender como é possível que um país fixe a taxa de câmbio, vamos considerar um país hipotético, Genovia, que por alguma razão decidiu fixar o valor de sua moeda, o geno, em US$1,50. O problema óbvio é que $1,50 pode não ser a taxa de câmbio de equilíbrio no mercado de câmbio: a taxa de equilíbrio pode ser mais alta ou mais baixa do que a meta cambial. A Figura 19-10 mostra o mercado de câmbio para genos, com as quantidades de genos ofertadas e demandadas no eixo horizontal e a taxa de câmbio do geno, medida em dólares por geno, no eixo vertical. O painel (a) mostra o caso em que a taxa de equilíbrio do geno está abaixo da meta da taxa de câmbio. O painel (b) mostra o caso em que a taxa de equilíbrio do geno está acima da meta da taxa de câmbio.

FIGURA 19-10 Intervenção no mercado cambial Nos dois painéis, o país imaginário de Genovia está tentando manter a taxa de câmbio do geno, fixado em $1,50 por geno. No painel (a), a taxa de câmbio de equilíbrio está abaixo de $1,50, levando a um excedente de genos no mercado de câmbio. Para impedir o geno de cair abaixo de $1,50, o governo de Genovia tem que comprar genos e vender dólares. No painel (b), a taxa de câmbio de equilíbrio está acima de $1,50, levando a uma escassez de genos no mercado de câmbio. Para impedir que o geno suba acima de $1,50, o governo de Genovia tem que vender genos e comprar dólares.

Consideremos primeiro o caso em que o valor de equilíbrio do geno está abaixo da meta da taxa de câmbio. Como mostra o painel (a), com a meta da taxa de câmbio de US$1,50 por geno, há um excedente de genos no mercado de câmbio, que normalmente pressionaria o valor do geno para baixo. Como o governo de Genovia apoia o valor do geno para manter a taxa de câmbio onde ele quer? Há três respostas possíveis e todas são usadas pelos governos em algum momento. Uma maneira pela qual o governo de Genovia pode apoiar o geno é “enxugar ” o excedente de genos comprando sua própria moeda no mercado cambial. As compras ou vendas governamentais no mercado cambial são chamados intervenção no mercado cambial. Para comprar genos no mercado de câmbio, certamente o governo de Genovia tem que ter dólares para trocar por genos. Na verdade, a maioria dos países mantém reservas cambiais, estoques de moeda estrangeira (geralmente dólares ou euros) que podem ser usadas para comprar sua própria moeda para apoiar seu preço.

Mencionamos anteriormente neste capítulo que uma parte importante do fluxo de capitais internacionais é o resultado de compras e vendas de ativos estrangeiros por parte dos governos e bancos centrais. Agora vimos por que os governos vendem ativos estrangeiros: estão apoiando sua moeda por meio da intervenção no mercado de câmbio. Como veremos em seguida, governos que mantêm o valor baixo da moeda por meio de intervenções no mercado de câmbio precisam comprar ativos no exterior. Antes, porém, vamos considerar outras maneiras como os governos fixam as taxas de câmbio. Uma segunda maneira de o governo de Genovia apoiar o geno é tentar deslocar as curvas de oferta e demanda do geno no mercado de câmbio. Os governos, em geral, fazem isso alterando a política monetária. Por exemplo, para apoiar o geno, o banco central de Genovia pode elevar a taxa de juros de Genovia. Isso irá aumentar o fluxo de capital para Genovia, aumentando a demanda de genos, ao mesmo tempo em que reduz a saída de capital de Genovia, reduzindo a oferta de genos. Então, tudo o mais mantido constante, um aumento na taxa de juros de um país aumentará o valor da sua moeda. Terceiro, o governo de Genovia pode apoiar o geno reduzindo a oferta de genos no mercado de câmbio. Pode fazer isso exigindo que os moradores do país que queiram comprar moeda estrangeira obtenham uma licença, fornecendo essas licenças apenas para as pessoas que realizem transações aprovadas pelo governo (como a compra de bens importados que o governo de Genovia julgue essenciais). Sistemas de licenciamento que limitam o direito dos indivíduos de comprar moeda estrangeira são chamados de controles cambiais. Tudo o mais mantido constante, os controles cambiais aumentam o valor da moeda de um país. Até agora discutimos a situação em que o governo está tentando evitar uma depreciação do geno. Suponhamos que, em vez disso, a situação seja a que aparece no painel (b) da Figura 19-10, em que o valor de equilíbrio do geno é superior à meta da taxa de câmbio de $1,50 por geno e existe uma escassez de genos. Para manter a meta da taxa de câmbio, o governo de Genovia pode aplicar as mesmas três opções básicas no sentido inverso. Pode intervir no mercado de câmbio estrangeiro, nesse caso, com a venda de genos e aquisição de dólares, que pode adicionar às reservas cambiais. Pode reduzir as taxas de juros para aumentar a oferta de genos e reduzir a demanda. Ou pode impor controles cambiais que limitem a capacidade dos estrangeiros de comprar genos. Todas essas ações, tudo o mais mantido constante, vão reduzir o valor do geno. Como dissemos, as três técnicas têm sido usadas para gerenciar as taxas de câmbio fixas. Mas ainda não dissemos se a fixação da taxa de câmbio é uma boa ideia. Na verdade, a escolha do regime de taxa de câmbio representa um dilema para os formuladores de política econômica, porque tanto taxas de câmbio fixas como flutuantes apresentam vantagens e desvantagens.

O dilema do regime cambial Poucas questões de macroeconomia produzem tanta discussão quanto a de decidir se um país deve adotar a taxa de câmbio fixa ou flutuante. A razão de tanta controvérsia é que os dois lados podem ter razão.

Para entender o argumento em favor do câmbio fixo, considere por um momento como é fácil fazer negócios atravessando as fronteiras dos estados dentro dos Estados Unidos. Há uma série de fatores que tornam o comércio interestadual mais fácil, mas um deles é a ausência de qualquer incerteza sobre o valor da moeda: US$1 é US$1, tanto em Nova York como em Los Angeles. Por outro lado, US$1 não é US$1 nas transações entre Nova York e Toronto. A taxa de câmbio entre o dólar canadense e o dólar dos Estados Unidos flutua, e às vezes consideravelmente. Se uma empresa dos Estados Unidos promete pagar uma empresa canadense certo montante em dólares daqui a um ano, o valor dessa promessa em moeda canadense pode variar em 10% ou mais. Essa incerteza tem um efeito desestimulador no comércio entre os dois países. Assim, um benefício de uma taxa de câmbio fixa é a certeza sobre o valor futuro da moeda. Há também, em alguns casos, benefício adicional na adoção de uma taxa de câmbio fixa: ao se comprometer com uma taxa fixa, o país também está se comprometendo a não se envolver em políticas inflacionárias. Por exemplo, em 1991, a Argentina, que tem uma longa história de políticas irresponsáveis que levaram à inflação severa, adotou uma taxa de câmbio fixa de US$1 por peso argentino em uma tentativa de comprometer-se com políticas não inflacionárias no futuro. (O regime de câmbio fixo da Argentina caiu desastrosamente no final de 2001. Mas isso é outra história.) O ponto é que existe algum valor econômico em ter uma taxa de câmbio estável. De fato, como explica a seguir a seção Para mentes curiosas, os benefícios supostos de taxas de câmbio estáveis motivaram o sistema internacional de taxas de câmbio fixas criado após a Segunda Guerra Mundial. Foi também um dos principais motivos para a criação do euro. No entanto, há também custos para a fixação da taxa de câmbio. Para estabilizar a taxa de câmbio por meio de intervenções no mercado cambial, um país deve manter grandes quantidades de moeda estrangeira à mão – geralmente um investimento de retorno baixo. Além disso, até mesmo grandes reservas podem se esgotar rapidamente quando há grande saída de capital do país. Se um país escolhe estabilizar a taxa de câmbio ajustando a política monetária, em vez de usar a intervenção no mercado de câmbio, precisa desviar a política monetária de outras metas, nomeadamente a estabilização da economia e a gestão da taxa de inflação. Finalmente, controles cambiais, como cotas e tarifas de importação, distorcem os incentivos à importação e exportação de bens e serviços. Podem também criar custos substanciais em termos de burocracia e de corrupção. Portanto, há um dilema. Um país deve deixar sua moeda flutuar, o que deixa a política monetária disponível para a estabilização macroeconômica, mas cria incerteza para as empresas? Ou deve fixar a taxa de câmbio, o que elimina a incerteza, mas significa abdicar da política monetária e adotar controles de câmbio, ou ambos? Países diferentes chegaram a conclusões diferentes em momentos diferentes. A maioria dos países europeus, com exceção da Grã-Bretanha, há muito acreditavam que as taxas de câmbio entre as principais economias europeias, que fazem a maior parte do comércio internacional uma com a outra, deviam ser fixas. Mas o Canadá parece feliz com uma taxa

de câmbio flutuante com os Estados Unidos, apesar de os Estados Unidos serem responsáveis pela maior parte do comércio com o Canadá. Felizmente, não temos de resolver esse dilema. No restante do capítulo, vamos considerar os regimes cambiais como dados e indagar como eles afetam a política macroeconômica.

Para mentes curiosas De Bretton Woods ao euro Em 1944, quando a Segunda Guerra Mundial ainda estava no auge, representantes dos países aliados se reuniram em Bretton Woods, New Hampshire, para estabelecer um sistema monetário internacional para o pós-guerra com taxas de câmbio fixas entre as principais moedas. O sistema foi bem sucedido no início, mas sofreu um colapso em 1971. Após um intervalo confuso, durante o qual os formuladores de política econômica tentaram, sem sucesso, estabelecer um novo sistema de taxas de câmbio fixas, em 1973 a maioria dos países economicamente avançados havia adotado taxas de câmbio flutuantes. No entanto, na Europa, muitos dos formuladores de política econômica estavam descontentes com as taxas de câmbio flutuantes, que acreditavam que criasse muita incerteza para os negócios. Do fim dos anos 1970 em diante tentaram várias vezes criar um sistema de taxas de câmbio mais ou menos fixas na Europa, culminando em um arranjo conhecido como mecanismo de taxa de câmbio. (O mecanismo de taxas de câmbio era, estritamente falando, um sistema de “bandas cambiais” – as taxas de câmbio europeias eram livres para se mover dentro de uma banda estreita, mas não fora dela.) E, em 1991, concordaram em dar o último passo em direção às taxas de câmbio fixas: uma moeda europeia comum, o euro. Para surpresa de muitos analistas, eles conseguiram: hoje a maior parte da Europa abandonou a moeda nacional em favor do euro. A Figura 19-11 ilustra a história de um regime europeu de taxa de câmbio. Mostra a taxa de câmbio entre o franco francês e o marco alemão, medida como francos por marcos, a partir de 1971 até a substituição pelo euro. A taxa de câmbio oscilou bastante no início. Os “platôs” que se podem observar nos dados – períodos em que a taxa de câmbio oscilou apenas modestamente, são períodos em que estavam em processo tentativas de restaurar as taxas de câmbio fixas. O mecanismo de taxa de câmbio, depois de alguns falsos inícios, entrou em vigor em 1987, estabilizando a taxa de câmbio em 3,4 francos por marcos. (As oscilações do início de 1990 refletiram duas crises monetárias – episódios em que as expectativas generalizadas de desvalorizações iminentes levaram a grandes fluxos de capital, mas temporários.)

FIGURA 19-11 O caminho para o euro A taxa de câmbio entre o franco francês e o marco alemão narra a história da longa marcha da Europa rumo a uma moeda comum. As nações europeias fizeram várias tentativas de fixar as taxas de câmbio nas décadas de 1970 e 1980. As duas primeiras tentativas falharam, mas a partir de 1987, em sua maioria, tiveram êxito. A taxa de câmbio foi “congelada” na década de 1990, e no final de 2001 o franco e o marco foram substituídos pelo euro. Fonte: Federal Reserve Bank de St. Louis.

Em 1999, a taxa de câmbio foi “congelada” – não foram permitidas mais flutuações à medida que os países se preparavam para mudar de franco e marco para o euro. No final de 2001, o franco e o marco deixaram de existir. A transição para o euro não ocorreu sem custos. Os países que adotaram o euro sacrificaram alguns instrumentos de política importantes: já não podiam adaptar a política monetária a circunstâncias econômicas específicas e não podiam mais reduzir os custos em relação a outros países europeus, deixando as moedas depreciarem. No momento em que a edição americana deste livro foi para a gráfica, a Zona do Euro estava sob grave estresse, com várias nações – incluindo a Grécia, Espanha e Itália, três grandes economias – enfrentando o ceticismo generalizado sobre a capacidade de fazer os ajustes econômicos necessários sem deixar de pagar as dívidas e abandonar o euro.

Economia em ação A China fixa o iuane Nos primeiros anos do século XXI, a China forneceu um exemplo notável de quanto esforço os países às vezes fazem para manter a taxa de câmbio fixa. Vejamos os antecedentes: o sucesso espetacular da China como exportador levou a um superávit em

conta-corrente crescente. Ao mesmo tempo, investidores privados não chineses tornaram-se cada vez mais ansiosos para transferir fundos para a China, para investir na sua economia doméstica em crescimento. Esses fluxos de capital foram um pouco limitados por controles cambiais, mas continuaram a entrar de qualquer maneira. Em virtude do superávit em conta-corrente e da entrada de capital privado, a China viu-se na posição descrita pelo painel (b) da Figura 19-10: no nível de meta da taxa de câmbio, a demanda de iuane excedia a oferta. No entanto, o governo chinês estava determinado a manter a taxa de câmbio fixada em um valor abaixo do nível de equilíbrio. Embora a China tenha permitido uma pequena valorização do iuane em 2005, no momento da redação deste livro, em 2011, muitos economistas estimaram o nível da subvalorização do iuane entre 15% e 25%. Para manter a taxa fixa, a China teve de se envolver em intervenção no mercado cambial em larga escala, vendendo iuanes, comprando moedas de outros países (principalmente o dólar americano) no mercado de câmbio, e adicionando-os às reservas. Em 2010, a China adicionou $450 bilhões às reservas cambiais e em meados de 2011, as reservas aumentaram para $3,2 trilhões. Para ter uma noção da grandeza de valor, em 2010, o PIB da China era de aproximadamente $5,9 trilhões. Isso significa que em 2010 a China comprou o equivalente a cerca de 7,5% do PIB em dólares e outras moedas, tornando as reservas acumuladas equivalentes a mais da metade do PIB. Isso é como se o governo dos Estados Unidos tivesse comprado o equivalente a $1 trilhão em ienes e euros em um único ano e continuasse comprando ienes e euros mesmo se já estivesse sentado em uma pilha de moeda estrangeira no valor de $8 trilhões. Não é surpresa que a política cambial da China levou a alguns atritos com os parceiros comerciais que sentem que o efeito foi de subsidiar as exportações chinesas.

Breve revisão ■ Os países escolhem regimes cambiais diferentes. Os dois regimes principais são as taxas de câmbio fixas e as taxas de câmbio flutuantes. ■ As taxas de câmbio podem ser fixadas por meio da intervenção no mercado de câmbio, usando reservas cambiais. Os países também podem usar política doméstica para mudar a oferta e a demanda no mercado de câmbio (geralmente política monetária) ou podem impor controles cambiais. ■ A escolha de um regime de taxa de câmbio representa um dilema: taxas de câmbio estáveis são boas para os negócios. Mas a manutenção de grandes reservas cambiais é onerosa; usar política interna para fixar a taxa de câmbio torna difícil perseguir outros objetivos e os controles cambiais distorcem os incentivos.

Teste seu entendimento 19-3 1. Desenhe um diagrama semelhante ao da Figura 19-10, representando a situação cambial da China, quando ela manteve a taxa de câmbio fixa. (Dica: expresse a taxa de câmbio em dólares por iuane.) Em seguida, mostre com um gráfico como cada uma das

seguintes mudanças de política pode eliminar o desequilíbrio no mercado. a. Uma apreciação do iuane. b. Colocação de restrições a estrangeiros que queiram investir na China. c. Remoção de restrições aos chineses que queiram investir no exterior. d. A imposição de impostos sobre as exportações chinesas, tais como remessas de roupas, que estão causando uma reação política nos países importadores. As respostas estão no fim do livro.

Taxas de câmbio e política macroeconômica Quando o euro foi criado em 1999, houve comemorações em todas as nações da Europa – com algumas exceções notáveis. Alguns países optaram em não adotar a nova moeda. O mais importante deles foi a Grã-Bretanha, mas outros países europeus, como a Suécia, também decidiram que o euro não era para eles. Por que a Grã-Bretanha disse não? Em parte por orgulho nacional: se a Grã-Bretanha abdicasse da libra esterlina, também teria que abandonar uma moeda que leva a efígie da rainha. Mas também existiam preocupações econômicas sérias quanto a abdicar da libra em favor do euro. Os economistas britânicos favoráveis à adoção do euro argumentaram que se a Grã-Bretanha usasse a mesma moeda que seus vizinhos, o comércio internacional do país se expandiria e sua economia se tornaria mais produtiva. Mas outros economistas apontaram que a adoção do euro retiraria a capacidade da GrãBretanha de ter uma política monetária independente e poderia levar a problemas macroeconômicos. Como essa discussão sugere, o fato de que as economias modernas são abertas ao comércio internacional e aos fluxos de capital adiciona um novo nível de complexidade à nossa análise da política macroeconômica. Vejamos três questões de política levantada pela macroeconomia de economia aberta.

1 Desvalorização e valorização das taxas de câmbio fixas Historicamente, taxas de câmbio fixas não têm compromissos permanentes. Às vezes, os países com taxa de câmbio fixa mudam para uma taxa flutuante, como fez a Argentina em 2001. Em outros casos, mantêm a taxa fixa, mas alteram a meta da taxa de câmbio. Tais ajustes de meta eram comuns durante a era de Bretton Woods descrita na seção anterior Para mentes curiosas. Por exemplo, em 1967 a Grã-Bretanha mudou a taxa de câmbio da libra em relação ao dólar dos Estados Unidos de $2,80 por £1 para $2,40 por £1. Um exemplo mais atual é a Argentina, que manteve uma taxa de câmbio fixa em relação ao dólar de 1991 a 2001, mas mudou para taxa de câmbio flutuante, no final de 2001. Uma redução do valor de uma moeda que está definida em regime de taxa de câmbio fixa é chamada de desvalorização. Como já aprendemos, uma depreciação é um movimento descendente em uma moeda. A desvalorização é uma depreciação devido a uma revisão de meta de uma taxa de câmbio fixa. O aumento no valor de uma moeda estabelecida em regime de taxa de câmbio fixa é chamado de valorização. Uma desvalorização, assim como uma depreciação, torna os bens domésticos mais baratos em termos da moeda estrangeira, o que leva a exportações mais altas. Ao mesmo tempo, torna os bens estrangeiros mais caros em termos da moeda doméstica, o que reduz as importações. O efeito é aumentar o balanço de pagamentos em conta-corrente. Da mesma forma, uma valorização torna os bens domésticos mais caros em termos de moeda estrangeira, o que reduz as exportações e torna os bens estrangeiros mais baratos em termos de moeda doméstica, o que aumenta as importações. Assim, uma valorização

reduz o balanço de pagamentos em conta-corrente. Desvalorizações e valorizações servem a dois propósitos quando o regime é de taxa de câmbio fixa. Em primeiro lugar, podem ser usadas para eliminar a escassez ou excesso de moeda estrangeira no mercado. Por exemplo, em 2010, alguns economistas e políticos estavam instando a China a valorizar o iuane porque acreditavam que a política de taxa de câmbio da China ajudou injustamente as exportações chinesas. Segundo, a desvalorização e a valorização podem ser usadas como instrumentos de política macroeconômica. Uma desvalorização, pelo aumento das exportações e redução das importações, aumenta a demanda agregada. Assim, uma desvalorização pode ser usada para reduzir ou eliminar o hiato de recessão. A valorização tem o efeito oposto, reduzindo a demanda agregada. Assim, a valorização pode ser usada para reduzir ou eliminar um hiato inflacionário.

2 Política monetária com taxa de câmbio flutuante Em um regime de taxa de câmbio flutuante, o banco central do país mantém a capacidade de adotar uma política monetária independente: pode aumentar a demanda agregada, cortando taxas de juros, ou diminuir a demanda agregada, aumentando as taxa de juros. Mas a taxa de câmbio acrescenta outra dimensão aos efeitos da política monetária. Para ver o porquê, voltemos ao país hipotético de Genovia para indagar o que acontece quando o banco central corta a taxa de juros. Assim como em uma economia fechada, uma taxa de juros mais baixa leva a gastos de investimento e de consumo mais altos. Mas o declínio na taxa de juros também afeta o mercado de câmbio. Os estrangeiros têm menos incentivos para transferir fundos para Genovia, porque irão receber uma taxa de juros mais baixa sobre os empréstimos. Em decorrência, têm menos necessidade de trocar dólares por genos, e assim a demanda de genos cai. Ao mesmo tempo, as pessoas de Genocia têm mais incentivo para movimentar fundos para o exterior porque, como a taxa de juros sobre empréstimos no país caiu, os investimentos fora do país são mais atraentes. Como resultado, precisam trocar mais genos por dólares, assim a oferta de genos aumenta. A Figura 19-12 mostra o efeito de uma redução da taxa de juros sobre o mercado de câmbio. A curva da demanda por genos se desloca para a esquerda, a partir de D1 para D2, e a curva da oferta se desloca para a direita, de S1 para S2. A taxa de câmbio de equilíbrio, medida em dólares americanos por genos, cai de XR1 para XR2. Ou seja, uma redução na taxa de juros de Genovia desvaloriza o geno.

FIGURA 19-12 Política monetária e a taxa de câmbio Aqui iremos mostrar o que acontece no mercado de câmbio se Genovia cortar a taxa de juros. Os moradores de Genovia têm um incentivo reduzido para manter os fundos em casa, então investem mais no exterior. Como resultado, a oferta de genos se desloca para a direita, de S1 para S2. Enquanto isso, os estrangeiros têm menos incentivo para colocar fundos em Genovia, então a demanda por genos se desloca para a esquerda, a partir de D1 para D2. O geno se deprecia: a taxa de câmbio de equilíbrio cai de XR1 para XR2.

A depreciação do geno, por sua vez, afeta a demanda agregada. Já vimos que uma desvalorização – a depreciação resultante de uma variação em uma taxa de câmbio fixa – aumenta as exportações e reduz as importações, aumentando assim a demanda agregada. A depreciação que resulta de um corte da taxa de juros tem o mesmo efeito: aumenta as exportações e reduz as importações, aumentando a demanda agregada. Em outras palavras, a política monetária com taxas flutuantes tem efeitos além daqueles que descrevemos ao examinar economias fechadas. Em uma economia fechada, uma redução na taxa de juros leva a um aumento na demanda agregada, pois leva a mais gastos de investimento e de consumo. Em uma economia aberta, com uma taxa de câmbio flutuante, a redução na taxa de juros, além de levar a um aumento nos gastos de investimento e de consumo, leva também a um aumenta da demanda agregada de outra maneira: propicia a depreciação da moeda, o que aumenta as exportações e reduz as importações e aumenta ainda mais a demanda agregada.

3 Ciclos de negócios internacionais Até este ponto, discutimos macroeconomia, mesmo em uma economia aberta, como se todos os choques de demanda se originassem da economia doméstica. Na realidade, porém, as economias às vezes enfrentam choques provenientes do exterior. Por exemplo, as recessões nos Estados Unidos, historicamente, levaram a recessões no México. O ponto fundamental é que as mudanças na demanda agregada afetam a demanda por bens e serviços produzidos no exterior, bem como no país: tudo o mais mantido constante, a recessão leva a uma queda nas importações e uma expansão leva a um aumento nas importações. E as importações de um país são as exportações de outro país.

Essa ligação entre demanda agregada em diferentes economias nacionais é uma das razões pelas quais os ciclos econômicos em diferentes países, às vezes, mas nem sempre, parecem estar sincronizados. O principal exemplo é a Grande Depressão, que afetou países ao redor do mundo. No entanto, a amplitude dessa ligação depende do regime da taxa de câmbio. Para ver por que, imaginemos o que acontece se uma recessão no exterior reduz a demanda das exportações provenientes de Genovia. A redução da demanda externa por bens e serviços de Genovia é também uma redução na demanda de genos no mercado de câmbio. Caso a Genovia tenha uma taxa de câmbio fixa, responde a esse declínio com intervenção no mercado cambial. Mas se a Genovia tiver uma taxa de câmbio flutuante, o geno se deprecia. Como os bens e serviços de Genovia se tornam mais baratos para os estrangeiros quando a demanda por exportações cai, a quantidade de bens e serviços exportados não cai tanto quanto cairia sob uma taxa fixa. Ao mesmo tempo, a queda no geno torna as importações mais caras para os moradores de Genovia, levando a uma queda nas importações. Ambos os efeitos limitam o declínio na demanda agregada de Genovia comparado com o que teria sido sob uma taxa de câmbio fixa. Uma das virtudes de uma taxa de câmbio flutuante, de acordo com os defensores de tais taxas, é que ajudam a isolar os países de recessões provenientes do estrangeiro. Essa teoria parecia muito boa no início de 2000: a Grã-Bretanha, com uma taxa de câmbio flutuante, conseguiu ficar de fora de uma recessão que afetou o resto da Europa, e o Canadá, que também tem taxa flutuante, sofreu uma recessão menos grave do que os Estados Unidos. Em 2008, no entanto, a crise financeira que começou nos Estados Unidos levou a uma recessão em praticamente todos os países. Nesse caso, parece que as relações internacionais entre os mercados financeiros eram muito mais fortes do que qualquer blindagem de distúrbios externos proporcionados por taxas de câmbio flutuantes.

Economia em ação A alegria de uma libra desvalorizada Anteriormente, neste capítulo, mencionamos o mecanismo de taxa de câmbio, o sistema europeu de taxa de câmbio fixa que abriu caminho para a criação do euro, em 1999. A Grã-Bretanha aderiu a esse sistema em 1990, mas se retirou em 1992. A história da saída da Grã-Bretanha do mecanismo de taxa de câmbio é um exemplo clássico de política macroeconômica em economia aberta. Inicialmente, a Grã-Bretanha fixou a taxa de câmbio pelas duas razões descritas anteriormente neste capítulo: os líderes britânicos acreditavam que uma taxa de câmbio fixa ajudaria a promover o comércio internacional e também esperavam que ajudasse a combater a inflação. Mas em 1992 a Grã-Bretanha estava sofrendo com taxas de desemprego elevadas: a taxa de desemprego em setembro de 1992 estava acima de 10%. E como o país tinha uma taxa de câmbio fixa, não havia o que o governo fazer. Em particular, o governo não foi capaz de reduzir a taxa de juros por estar usando taxas de

juros altas para ajudar a suportar o valor da libra. Em meados de 1992, os investidores começaram a especular contra a libra – vender libra na expectativa de que a moeda caísse de valor. À medida que diminuía as reservas de moeda estrangeira, essa especulação forçou a inserção da mão do governo britânico. Em 16 de setembro 1992, a Grã-Bretanha abandonou a taxa de câmbio fixa. A libra caiu imediatamente 20% em relação ao marco alemão, a moeda europeia mais importante naquele momento. A princípio, a desvalorização da libra prejudicou muito o prestígio do governo britânico. Mas o Chanceler do Tesouro – o equivalente ao Secretário de Tesouro dos Estados Unidos, alegou estar feliz com isso. “Minha esposa nunca me ouviu cantar no chuveiro antes”, disse aos repórteres. Havia várias razões para sua alegria. Uma delas é que o governo britânico já não seria mais obrigado a se envolver em intervenções em larga escala no mercado cambial para apoiar o valor da libra. Outra é que a desvalorização aumenta a demanda agregada, de modo que a queda da libra ajudaria a reduzir o desemprego britânico. Finalmente, dado que a Grã-Bretanha não mais tinha uma taxa de câmbio fixa, era livre para perseguir uma política monetária expansionista para combater a desaceleração econômica. De fato, os acontecimentos deixaram claro que a alegria do chanceler foi bem fundamentada. O desemprego britânico caiu nos dois anos seguintes, embora a taxa de desemprego aumentasse na França e na Alemanha. No entanto, uma pessoa que não fez parte da melhoria do panorama de emprego foi o próprio chanceler. Logo após a observação sobre cantar no chuveiro, foi demitido.

Breve revisão ■ Os países podem alterar as taxas fixas de câmbio. Desvalorização ou valorização podem ajudar a reduzir os excedentes ou a escassez no mercado de câmbio e aumentar ou reduzir a demanda agregada. ■ Em uma economia aberta, com uma taxa de câmbio flutuante, as taxas de juros também afetam a taxa de câmbio e, portanto, a política monetária afeta a demanda agregada por meio dos efeitos da taxa de câmbio sobre as importações e exportações. ■ Como as importações de um país são as exportações de outro país, os ciclos econômicos às vezes são sincronizados entre os países. No entanto, taxas de câmbio flutuantes podem reduzir esse elo.

Teste seu entendimento 19-4 1. Analise os dados da Figura 19-11. Onde se percebe desvalorizações e valorizações do franco em relação ao marco? 2. No final da década de 1980, os economistas canadenses argumentaram que a política de taxa de juros elevada do Banco do Canadá não estava apenas causando desemprego elevado – também estava tornando difícil para os fabricantes canadenses competir com os Estados Unidos. Explique esta queixa, usando nossa análise de como a política

monetária funciona sob as taxas de câmbio flutuantes. As respostas estão no fim do livro.

Caso empresarial Guerra de escavadeiras Visite um canteiro de obras em qualquer lugar do mundo e a probabilidade é de que o equipamento de terraplanagem – tratores, caminhões basculantes, escavadeiras, motoniveladoras, raspadores e assim por diante – seja fabricado por uma de duas empresas, a Caterpillar nos Estados Unidos ou a Komatsu no Japão. A Caterpillar e a Komatsu dependem fortemente de exportações, ao invés de vender apenas nos mercados domésticos, e têm sido concorrentes ferozes por três décadas, ora a primeira empresa ora a outra em posição vulnerável. Se você pedir aos líderes das empresas para explicarem o curso dessa luta competitiva oscilante, eles irão contar uma história de culturas corporativas e decisões de gestão. A Caterpillar entrou na década de 1980 cheia de complacência, graças ao seu domínio de longa data da indústria de terraplanagem, apenas para enfrentar um choque da Komatsu, que quase a levou para o abismo. Então a Caterpillar reformulou suas práticas de gestão, recuperando a superioridade na década de 1990, enquanto que a Komatsu encontrava-se em risco de falência, até que uma gestão revigorada estabilizou a empresa novamente. Mas essa é a história toda? Não exatamente. As decisões de gestão, sem dúvida, foram cruciais para ambas as empresas, como foram também os movimentos na taxa de câmbio. A Figura 19-13 mostra a taxa de câmbio real entre os Estados Unidos e o Japão, usando os preços ao consumidor, de 1980 a 2011. A figura imediatamente sugere uma razão pela qual a Caterpillar foi capaz de se recuperar do choque de competição na década de 1980: uma forte valorização do iene japonês a partir de 1985. E a capacidade da Komatsu de sobreviver após o ressurgimento da Caterpillar certamente teve a ajuda da queda do iene depois de 1995 e especialmente depois de 2000.

FIGURA 19-13 Comparando taxas de câmbio reais, 1980-2011 Fonte: Federal Reserve Bank de St. Louis.

No momento em que este livro estava sendo escrito, as duas empresas parecem ter se estabelecido em posições relativamente estáveis, sendo a Caterpillar a maior empresa, mas a Komatsu também está bem, graças em parte ao rápido crescimento na demanda da China. Mas os executivos japoneses da Komatsu (e de outras empresas) estavam preocupados com os efeitos do iene que estava em ascensão novamente.

Questões para pensar 1. Por que a taxa de câmbio iene-dólar importa tanto para a prosperidade da Caterpillar e da Komatsu? 2. Por que a figura apresenta a taxa de câmbio real, em vez da nominal? Você acha que isso faz uma diferença importante para a história? 3. Em 2011, os formuladores de política japoneses estavam discutindo possíveis vendas de ienes no mercado de câmbio. Como isso afetaria a rivalidade Caterpillar/Komatsu?

Resumo 1. As contas do balanço de pagamentos de um país resumem suas transações com o resto do mundo. O balanço de pagamentos em conta-corrente, ou conta-corrente, inclui o balanço de pagamentos de bens e serviços, juntamente com os balanços de renda de fator e de transferências. A balança comercial de mercadorias, ou balança comercial, é um componente frequentemente citado do balanço de pagamentos de bens e serviços. O balanço de pagamentos na conta financeira, ou conta financeira, mede os fluxos de capital. Por definição, o balanço de pagamentos em conta-corrente mais o balanço de pagamentos na conta financeira totalizam zero. 2. Os fluxos de capital respondem por diferenças internacionais na taxa de juros e outras taxas de retorno. Podem ser proveitosamente analisados usando uma versão internacional do modelo de fundos para empréstimos, que mostra como um país, onde

a taxa de juros seria baixa na ausência de fluxos de capital, envia fundos para um país onde a taxa de juros seria elevada na ausência de fluxos de capitais. Os determinantes subjacentes dos fluxos de capital são as diferenças internacionais na poupança e oportunidade de gastos de investimento. 3. As transações com moedas se realizam no mercado de câmbio. Os preços pelos quais as moedas são transacionadas são as taxas de câmbio. Quando a moeda de um país ganha valor em relação às demais moedas, aprecia; quando perde valor, deprecia. A taxa de câmbio de equilíbrio iguala a quantidade demandada e ofertada dessa moeda no mercado de câmbio. 4. Para corrigir as diferenças internacionais nas taxas de inflação, os economistas calculam a taxa de câmbio real, que multiplica a taxa de câmbio entre as moedas de dois países pela razão entre o nível de preços desses países. A conta-corrente responde apenas a mudanças na taxa de câmbio real, não na taxa de câmbio nominal. A paridade do poder de compra é a taxa de câmbio que torna o custo de uma cesta de bens e serviços igual em dois países. Enquanto a paridade do poder de compra e a taxa de câmbio nominal quase sempre diferem, a paridade do poder de compra é um bom indicador de variações reais na taxa de câmbio nominal. 5. Os países adotam regimes cambiais diferentes, regras que regem a política de taxa de câmbio. Os principais tipos de regime são taxas de câmbio fixas, quando o governo toma medidas para manter a taxa de câmbio em uma meta prefixada, e taxas de câmbio flutuantes, quando a taxa de câmbio é livre para flutuar. Os países podem fixar as taxas de câmbio usando intervenção no mercado de câmbio, que exige a manutenção de reservas cambiais que possam ser usadas para comprar qualquer excedente de moeda. Alternativamente, podem mudar a política econômica doméstica, especialmente a política monetária, para deslocar as curvas de demanda e de oferta no mercado de câmbio. Finalmente, podem usar controles cambiais. 6. A política cambial representa um dilema: há vantagem em ter taxas de câmbio estáveis, mas as políticas usadas para fixar a taxa de câmbio têm custos. A intervenção no mercado de câmbio requer reservas elevadas e os controles de câmbio distorcem os incentivos. Se a política monetária é usada para ajudar a corrigir a taxa de câmbio, deixa de estar disponível para fins de política nacional. 7. Taxas de câmbio fixas nem sempre são permanentes: países com taxa de câmbio fixa por vezes se envolvem em desvalorização, redução na meta de valor da moeda, ou valorização, aumento na meta de valor da moeda. Além de ajudar a eliminar um excedente de moeda doméstica no mercado de câmbio, a desvalorização aumenta a demanda agregada. Da mesma forma, a valorização reduz a escassez de moeda doméstica e reduz a demanda agregada. 8. No regime de taxas de câmbio flutuantes, a política monetária expansionista funciona em parte por intermédio da taxa de câmbio: a redução nas taxas de juros domésticas leva a uma depreciação e, com isso, aumento das exportações e diminuição das importações, o que aumenta a demanda agregada. A política monetária contracionista tem o efeito inverso. 9. O fato de que as importações de um país são as exportações de outro país cria uma

ligação entre o ciclo econômico em diferentes países. Contudo, as taxas de câmbio flutuantes podem reduzir a força desse elo.

Palavras-chave Contas do balanço de pagamentos, p. 482 Balanço de pagamentos em conta- corrente (conta-corrente), p. 483 Balanço de pagamentos de bens e serviços, p. 484 Balança comercial de mercadoria (balança comercial), p. 484 Balanço de pagamentos na conta financeira (conta financeira), p. 490 Mercado de câmbio, p. 491 Taxas de câmbio, p. 491 Apreciação, p. 491 Depreciação, p. 491 Taxa de câmbio de equilíbrio, p. 492 Taxa de câmbio real, p. 494 Paridade do poder de compra, p. 495 Regime de taxa de câmbio, p. 498 Taxa de câmbio fixa, p. 498 Taxa de câmbio flutuante, p. 498 Intervenção no mercado de câmbio, p. 502 Reservas cambiais, p. 502 Controles cambiais, p. 502 Desvalorização 570, p. 503 Valorização, p. 503

Problemas 1. Como as seguintes transações seriam classificadas nas contas de balanço de pagamentos dos Estados Unidos? Seriam inseridas na conta-corrente (como um pagamento recebido ou feito para um estrangeiro) ou na conta financeira (como a venda ou a compra de um ativo de um estrangeiro)? Como irá variar o balanço de pagamentos em conta-corrente e na conta financeira? a. Um importador francês compra uma caixa de vinho da Califórnia por $500. b. Uma americana que trabalha para uma empresa francesa deposita o cheque de pagamento do salário, emitido para cobrança em um banco de Paris, em sua conta em um banco de San Francisco. c. Um americano compra um bônus de uma empresa japonesa por $10.000. d. Uma instituição de caridade dos Estados Unidos envia $100.000 para a África para ajudar os moradores locais a comprar comida depois de uma colheita ruim. 2. O gráfico a seguir mostra os ativos do resto do mundo nos Estados Unidos e os ativos dos Estados Unidos no resto do mundo, ambos como porcentagem do PIB do resto do mundo. Como se vê no gráfico, ambos quintuplicaram de 1980 a 2010.

Fontes: FMI e Bureau of Economic Analysis.

a. O fato de os ativos dos Estados Unidos no restante do mundo terem aumentado como porcentagem do PIB do resto do mundo, significa que os Estados Unidos, ao longo do período, experimentaram saídas líquidas de capital? b. O gráfico indica que as economias eram ligadas mais fortemente em 2010 do que em 1980? 3. Na economia de Scottopia, em 2010, as exportações totalizaram $400 bilhões em bens e $300 bilhões em serviços, as importações totalizaram $500 bilhões em bens e $350 bilhões em serviços e o restante do mundo comprou $250 bilhões dos ativos de Scottopia. Qual foi o resultado da balança comercial de Scottopia? Qual foi o balanço de pagamentos em conta-corrente de Scottopia? Qual foi o balanço de pagamentos na conta financeira? Qual foi o valor das compras de ativos de Scottopia do resto do mundo? 4. Na economia de Popania, em 2010, as compras totais de ativos do restante do mundo realizadas por Popania totalizaram $300 bilhões, as compras de ativos de Popania pelo restante do mundo totalizaram $400 bilhões e Popania exportou um total de bens e serviços de $350 bilhões. Em 2010, qual foi o resultado do balanço de pagamentos na conta financeira de Popania? Qual foi o balanço de pagamentos em conta-corrente? Qual foi o valor das importações? 5. Suponha que Northlandia e Southlandia sejam os dois únicos países do mundo que comerciam, que os dois países tenham um balanço de pagamentos em conta- corrente e na conta financeira igual a zero, e que cada nação considera que os ativos da outra são idênticos aos seus próprios ativos. Usando os gráficos a seguir, explique como a demanda e a oferta de fundos para empréstimo, a taxa de juros e o balanço de pagamentos em conta-corrente e na conta financeira vão mudar em cada país, se os

fluxos de capital internacional forem possíveis.

6. Com base nas taxas de câmbio para os primeiros dias comerciais de 2011 e 2012 apresentados na tabela a seguir, o dólar dos Estados Unidos apreciou ou depreciou durante 2011? O movimento no valor do dólar dos Estados Unidos tornou os bens e serviços americanos mais ou menos atraentes para os estrangeiros? 3 de janeiro de 2011 US$1,55 compram 1 libra esterlina 29,08 dólares de Taiwan compram US$1 US$0,99 compram 1 dólar canadense 81,56 ienes compram US$1 US$1,34 compra 1 euro 0,93 franco suíço compram US$1

3 de janeiro de 2012 US$1,57 compram 1 libra esterlina $30,28 dólares de Taiwan compram US$1 US$1,01 compram 1 dólar canadense 76,67 ienes compram US$1 US$1,31 compram 1 euro 0,93 franco suíço compram US$1

7. Acesse http://fx.sauder.ubc.ca. Usando a tabela denominada “The Most Recent CrossRates of Major Currencies”, determine se a libra esterlina (GBP), o dólar canadense (CAD), o iene japonês (JPY), o euro (EUR) e o franco suíço (CHF) apreciaram ou depreciaram em relação ao dólar americano (USD) desde 3 de janeiro de 2012. As taxas de câmbio em 3 de janeiro de 2012 estão listadas na tabela do Problema 6. 8. Suponha que os Estados Unidos e o Japão são os dois únicos países comerciais do mundo. O que acontecerá com o valor do dólar americano, se o seguinte ocorrer, tudo o mais mantido constante?

a. O Japão relaxa algumas de suas restrições à importação. b. Os Estados Unidos impõem algumas tarifas de importação de produtos japoneses. c. As taxas de juros dos Estados Unidos aumentam drasticamente. d. Um relatório indica que os carros japoneses duram muito mais tempo do que se havia imaginado, especialmente em comparação com os carros americanos. 9. De 1° de janeiro de 2001 a junho de 2003, a taxa de juros do mercado interbancário dos Estados Unidos caiu de 6,5% para 1%. Durante o mesmo período, a taxa de juros equivalente do Banco Central Europeu reduziu de 5,75% para 3%. a. Considerando a variação da taxa de juros do período e usando o modelo de fundos para empréstimo, você esperaria que os fundos fluíssem dos Estados Unidos para a Europa e da Europa para os Estados Unidos durante esse período? b. O gráfico a seguir mostra a taxa de câmbio entre o euro e o dólar americano de 1° de janeiro de 2008 a setembro de 2008. O movimento da taxa de câmbio entre janeiro de 2001 e junho de 2003 é consistente com o movimento dos fundos previsto no item (a) da questão?

Fonte: Federal Reserve Bank de St. Louis.

10. Em cada um dos cenários seguintes, suponha que dois países sejam os únicos que comerciam no mundo. Dada a inflação e a variação na taxa de câmbio nominal, os bens de qual país se tornam mais atraentes? a. Inflação de 10% nos Estados Unidos e 5% no Japão; taxa de câmbio dólar-iene permanece a mesma. b. Inflação de 3% nos Estados Unidos e 8% no México, dólar americano cai de 12,50 para 10,25 pesos mexicanos. c. A inflação de 5% nos Estados Unidos e 3% na Zona do Euro; o euro cai de $1,30 para

$1,20. d. Inflação de 8% nos Estados Unidos e 4% no Canadá; o dólar canadense sobe de US$0,60 para US$0,75. 11. A partir de uma posição de equilíbrio no mercado de câmbio em um regime de taxa de câmbio fixa, como um governo deve reagir a um aumento na demanda de bens e serviços do país pelo restante do mundo para manter o valor da taxa de câmbio fixa? 12. Suponha que o banco central de Albernia fixou o valor da moeda, o bern, em relação ao dólar americano (à taxa de US$1,50 por 1 bern) e se comprometeu a manter essa taxa de câmbio. Inicialmente, o mercado de câmbio para o bern está em equilíbrio, tal como mostrado no gráfico a seguir. No entanto, tanto albernianos como americanos começam a acreditar que existe um grande risco de manter ativos em Albernia. Como resultado, não estão dispostos a manter ativos em Albernia a menos que recebam uma taxa de retorno mais elevada do que ganham com ativos americanos. Como isso afetaria o gráfico? Se o banco central de Albernia tentar manter a taxa de câmbio fixa com política monetária, como isso afetará a economia de Albernia?

13. Seu colega de estudo pergunta: “Se os bancos centrais perdem a capacidade de usar política monetária discricionária com um sistema de taxas de câmbio fixas, por que os países concordariam em ter um sistema de taxa de câmbio fixa?” Como você responderia? www.worthpublishers.com/krugmanwells

Glossário Expressões em itálico que aparecem em definições são termos-chave definidos em outras partes deste glossário.

A ação participação na propriedade de uma empresa detida pelo acionista. Acordo de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA) acordo de comércio entre os Estados Unidos, Canadá e México. acordos internacionais de comércio tratados pelos quais os países concordam em reduzir a proteção comercial entre si. agregado monetário medida geral da oferta de moeda. Os agregados monetários mais comuns nos Estados Unidos são M1, que inclui moeda em circulação, cheques de viagem e depósitos em conta-corrente, e M2, que inclui M1 mais quase moeda. alavancagem grau em que uma instituição financeira está financiando seus investimentos com fundos que tomou emprestado. alocação ineficiente de vendas entre vendedores forma de ineficiência em que os vendedores que estariam dispostos a vender um bem por um preço mais baixo nem sempre são os que realmente conseguem vendê-lo, muitas vezes como resultado de um piso de preços. alocação ineficiente entre consumidores forma de ineficiência em que os consumidores que querem muito um bem e estão dispostos a pagar um preço alto por ele não conseguem obtê- lo e aqueles que não estão muito interessados e estão dispostos a pagar apenas um preço baixo conseguem, muitas vezes como resultado de um teto de preços. alta qualidade pelo critério da eficiência forma de ineficiência em que os vendedores oferecem produtos de alta qualidade a um preço elevado, embora os compradores prefiram menos qualidade a um preço inferior, muitas vezes como resultado de um piso de preços. análise marginal estudo das decisões marginais.

ano fiscal período usado para fechar a contabilidade do governo, que em alguns países é diferente do ano calendário. Nos Estados Unidos vai de 1° de outubro a 30 de setembro. Os anos fiscais recebem o nome do ano calendário em que terminam. apreciação aumento do valor de uma moeda em termos de outras moedas. armadilha de liquidez situação em que a política monetária é ineficaz porque a taxa de juros nominal atingiu a fronteira zero. ativismo em política macroeconômica uso de política monetária e política fiscal para suavizar o ciclo econômico. ativo financeiro título que dá ao comprador o direito a uma renda futura a ser paga pelo vendedor. Empréstimos, ações, bônus e depósitos bancários são tipos de ativos financeiros. ativo físico um direito sobre um objeto tangível que pode ser usado para gerar renda futura. autarquia situação em que um país não pode comerciar com outros países. autocorreção descreve uma economia em que choques de demanda agregada afetam o produto agregado no curto prazo, mas não no longo prazo.

B baixa do ciclo econômico ponto em que a economia passa da recessão para a expansão. baixa qualidade pelo critério da eficiência forma de ineficiência em que os vendedores oferecem produtos de baixa qualidade a um preço baixo, embora os compradores prefiram qualidade superior a um preço alto, muitas vezes como resultado de um teto de preços. balança comercial (balança do comércio de mercadorias) diferença entre as exportações e as importações apenas de bens de um país – não incluindo serviços. balança comercial (balança do comércio de mercadorias) diferença entre exportações e importações de bens de um país – não incluindo serviços. balanço de pagamentos de bens e serviços diferença entre o valor das exportações e o valor das importações durante determinado período. balanço de pagamentos em conta financeira (conta financeira) transações internacionais que envolvem venda ou compra de ativos e, portanto, cria obrigações futuras. balanço de pagamentos em conta- corrente (conta-corrente) transações que não geram passivos; o balanço de pagamentos de bens e serviços, mais os pagamentos de

transferência líquida internacional e renda de fatores de um país. balanço de pagamentos sumário das transações de um país com outros países, incluindo dois elementos principais: o balanço de pagamentos em conta-corrente e o balanço de pagamentos na conta financeira. banco central instituição que supervisiona e regula o sistema bancário e controla a base monetária. banco comercial banco que aceita depósitos e é coberto por seguro de depósito. banco de investimento banco que comercia ativos financeiros e não é coberto pelo seguro de depósitos. banco intermediário financeiro que proporciona ativos líquidos na forma de depósitos bancários aos credores e usa esses recursos para financiar investimentos ilíquidos ou as necessidades de gastos de investimentos dos tomadores de empréstimos. banco paralelo instituição financeira que não contempla depósitos bancários mas também se envolve na transformação do prazo de vencimento. base monetária soma da moeda em circulação e das reservas bancárias. bem inferior bem cuja demanda cai quando a renda aumenta. bem normal bem cuja demanda aumenta quando a renda aumenta – caso “normal”. bens de serviços intermediários bens e serviços comprados de uma empresa por outra, que são insumos para a produção de bens e serviços finais. bens e serviços finais bens e serviços vendidos ao usuário final. bolha de ativo preço de um ativo empurrado para um nível excessivamente elevado, devido à expectativa de ganho de preço adicional. bônus documento legal emitido com base em um empréstimo e que promete pagar ao seu detentor a soma emprestada com juros. busca de emprego quando os trabalhadores gastam tempo à procura de emprego.

C capital físico recursos manufaturados, tais como edifícios e máquinas. capital humano, melhoria no trabalho gerado pela educação e conhecimento incorporado à força de trabalho. causalidade reversa erro cometido quando a verdadeira direção entre duas variáveis é

invertida e a variável independente e a variável dependente são identificadas incorretamente. cesta básica cesta de consumo hipotético das compras dos consumidores de bens e serviços, usada para medir variações no nível geral de preços. choque de demanda evento que desloca a curva da demanda agregada. Um choque de demanda positivo está associado a uma demanda maior pelo produto agregado, a qualquer nível de preços e desloca a curva para a direita. Um choque de demanda negativo está associado à demanda mais baixa pelo produto agregado a qualquer nível de preços e desloca a curva para a esquerda. choque de oferta qualquer evento que desloca a curva de oferta agregada de curto prazo. Um choque de oferta negativo aumenta os custos de produção e reduz a quantidade ofertada a qualquer nível de preços agregado, deslocando a curva para a esquerda. Um choque de oferta positivo reduz os custos de produção e aumenta a quantidade ofertada a qualquer nível de preços agregado, deslocando a curva para a direita. ciclo econômico alternância de curto prazo entre crises econômicas, conhecidas como recessões e recuperações econômicas, conhecidas como expansões. ciclo econômico político ciclo econômico que resulta do uso que os políticos fazem da política macroeconômica para servir a fins políticos. circulo vicioso de desalavancagem descreve a sequência de eventos que ocorre quando a venda de ativos de uma empresa para cobrir perdas produz efeito negativo no balanço de outras empresas e força os credores a pedir o resgate dos empréstimos feitos, forçando a venda de mais ativos e causando novas quedas nos preços dos ativos. comércio de troca troca direta de bens ou serviços por outros bens ou serviços sem o uso de dinheiro. comércio prática em uma economia de mercado em que os indivíduos fornecem bens e serviços e recebem bens e serviços em troca. companhia de seguros de vida intermediário financeiro que vende apólices que garantem um pagamento ao beneficiário indicado pelo detentor da apólice, quando este morrer. complementos pares de mercadorias para as quais um aumento no preço de um bem leva a uma diminuição da demanda do outro bem. compras governamentais de bens e serviços total das compras dos governos federal, estadual e municipal de bens e serviços. consenso da Grande Moderação crença na política monetária como a principal ferramenta de estabilização combinada com o ceticismo em relação ao uso da política fiscal e um reconhecimento das limitações políticas impostas pela taxa natural de desemprego e

pelo ciclo econômico político. conta financeira (balanço de pagamentos em conta financeira) transações internacionais que envolvem a venda e a compra de ativos e, portanto, geram obrigações futuras. conta T ferramenta simples que resume a posição financeira de uma empresa, ao mostrar em uma única tabela os ativos e passivos, com ativos à esquerda e passivos à direita. contabilidade do crescimento estimativa da contribuição dada ao crescimento econômico por cada um dos principais fatores (capital físico e humano, trabalho e tecnologia) na função de produção agregada. conta-corrente (balanço de pagamentos em conta-corrente) transações que não geram passivos; o balanço de pagamentos de bens e serviços mais pagamentos líquidos de transferências internacionais e renda de fatores. contágio financeiro espiral viciosa descendente entre instituições financeiras depositárias ou instituições financeiras paralelas: a falência de um banco agrava os temores e aumenta a probabilidade de que outro banco venha a falir. contas de renda e produto nacional método para contabilizar e monitorar os gastos de consumo, as vendas dos produtores, os gastos de investimento das empresas, as compras governamentais e uma variedade de outros fluxos de moeda entre os diversos setores da economia, também conhecido como contas nacionais. controle cambial sistema de licenciamento que limita o direito dos indivíduos a comprar moeda estrangeira. controle de preços restrições legais sobre o nível superior ou inferior que o preço de mercado pode atingir. controle de quantidade limite superior, fixado pelo governo, sobre a quantidade de algum bem que pode ser comprado ou vendido; também chamado de cota. corrida ao banco fenômeno em que muitos dos depositantes do banco tentam retirar seus fundos devido ao temor de falência do banco. cota de importação limite legal sobre a quantidade de um bem que pode ser importada. cota limite superior, definido pelo governo, sobre a quantidade de um bem que pode ser comprado ou vendido, também conhecido como controle de quantidade. credor de última instância uma instituição, geralmente o banco central do país, que fornece fundos às instituições financeiras que são incapazes de tomar emprestado dos mercados de crédito privados.

crescimento econômico a capacidade de crescimento da economia para produzir bens e serviços. crescimento econômico de longo prazo aumento sustentado da quantidade de bens e serviços que a economia produz. crescimento econômico sustentável de longo prazo crescimento de longo prazo que pode continuar em face da oferta limitada de recursos naturais e do impacto do crescimento sobre o meio ambiente. crise bancária episódio em que grande parte das instituições financeiras formais ou paralelas quebra ou corre o risco de quebrar. crise de crédito redução da disponibilidade de crédito em que os tomadores de empréstimo potenciais não conseguem obter crédito ou têm que pagar altas taxas de juros. cruz keynesiana diagrama que identifica o equilíbrio de renda-despesa como o ponto onde a linha do gasto agregado planejado cruza a linha de 45 graus. cunha diferença entre o preço de demanda e o preço de oferta da quantidade transacionada de um bem quando a oferta do bem é legalmente restringida. Muitas vezes é criada por um controle de quantidade ou cota. curva da demanda agregada representação gráfica de uma relação entre o nível de preços agregado e a quantidade de produto agregado demandada pelas famílias, empresas, governo e resto do mundo. A curva da demanda agregada tem inclinação negativa devido ao efeito riqueza de uma variação no nível de preços agregado e ao efeito taxa de juros de uma variação no nível de preços agregado. curva da demanda de moeda representação gráfica da relação negativa entre a taxa de juros e a quantidade de moeda demandada. A curva da demanda de moeda tem inclinação para baixo porque, tudo o mais mantido constante, uma taxa de juros mais alta aumenta o custo de oportunidade de manter moeda. curva da demanda doméstica curva da demanda que mostra como a quantidade de um bem demandada pelos consumidores domésticos depende do preço desse bem. curva da demanda individual representação gráfica da relação entre quantidade demandada e preço para um consumidor individual. curva da demanda representação gráfica da tabela de demanda, que mostra a relação entre a quantidade demandada e o preço. curva da oferta agregada a representação gráfica que mostra a relação entre o nível de preços agregado e a quantidade total de produto agregado ofertado.

curva da oferta agregada de curto prazo representação gráfica da relação entre o nível de preços agregado e a quantidade de produto agregado ofertada que existe no curto prazo, o período em que muitos custos de produção, especialmente salários nominais, podem ser considerados fixos. A curva da oferta agregada de curto prazo tem uma inclinação positiva, porque um aumento no nível de preços agregado leva a um aumento nos lucros e, portanto, no produto, quando os custos de produção são fixos. curva da oferta agregada de longo prazo representação gráfica da relação entre o nível de preços agregado e a quantidade ofertada do produto agregado quando todos os preços, inclusive salários nominais, são totalmente flexíveis. A curva da oferta agregada de longo prazo é vertical porque o nível de preços agregado não tem efeito sobre o produto agregado no longo prazo. No longo prazo, o produto agregado é determinado pelo produto potencial da economia. curva da oferta doméstica curva da oferta que mostra como a quantidade de um bem ofertada pelos produtores domésticos depende do preço desse bem. curva da oferta individual representação gráfica da relação entre quantidade ofertada e preço para um produtor individual. curva da oferta representação gráfica de uma tabela de oferta que mostra a relação entre a quantidade ofertada de um bem ou serviço e o preço. curva de oferta de moeda representação gráfica da relação entre a quantidade de moeda ofertada pelo banco central e a taxa de juros. curva de Phillips de curto prazo representação gráfica de uma relação negativa de curto prazo entre a taxa de desemprego e a taxa de inflação. curva de Phillips de longo prazo representação gráfica da relação entre desemprego e inflação no longo prazo, depois que as expectativas de inflação tiveram tempo para se ajustar à experiência. curva linha em um gráfico, que pode ser curva ou reta, retratando uma relação entre duas variáveis. curva não linear curva em que a inclinação não é a mesma entre cada par de pontos. custo (de um vendedor potencial) o menor preço pelo qual um vendedor está disposto a vender um bem. custo de menu custo real de modificar preços listados. custo de oportunidade custo real de um item: do que você deve desistir para obtê-lo. custo de sola de sapato (de inflação) aumento do custo de transações causado pela inflação.

custos de transação despesas de negociação e execução de um acordo. custos de unidade de conta (da inflação) custos decorrentes da forma como a inflação torna a moeda menos confiável como unidade de medida.

D decisão marginal decisão tomada à “margem” de uma atividade para fazer um pouco mais ou um pouco menos dessa atividade. default um risco de que o emissor de um bônus deixe de fazer os pagamentos especificados pelo contrato. déficit comercial quando o valor dos bens e serviços comprados por estrangeiros é maior do que o valor dos bens e serviços vendidos a eles. déficit orçamentário diferença entre receita fiscal e gastos do governo, quando o governo gasta mais que a receita fiscal; a “despoupança” do governo na forma de um déficit orçamentário é uma contribuição negativa à poupança nacional. deflação da dívida redução da demanda agregada decorrente do aumento no peso efetivo da dívida pendente causada pela deflação. Ocorre porque os tomadores de empréstimo, cuja dívida real aumenta como resultado da deflação, ficam propensos a cortar os gastos drasticamente, e os credores, cujos ativos reais agora são mais valiosos, ficam menos propensos a aumentar os gastos. deflação nível de preços agregado em queda. Deflator do PIB medida de preço para um ano determinado igual a 100 vezes a relação entre o PIB nominal e o PIB real no mesmo ano. depósito bancário direito em relação a um banco que o obriga a entregar o dinheiro ao depositante quando este o solicita. depósitos bancários em conta- corrente contas no banco contra as quais as pessoas podem emitir cheques. depreciação queda no valor de uma moeda em termos de outras moedas. desemprego cíclico diferença entre a taxa de desemprego efetiva e a taxa de desemprego natural, devido às crises no ciclo econômico. desemprego estrutural desemprego que ocorre quando há mais pessoas procurando emprego no mercado de trabalho do que há vagas disponíveis ao nível de salário atual, mesmo quando a economia está no auge do ciclo econômico.

desemprego friccional desemprego relacionado ao tempo gasto na busca de emprego. desemprego número total de pessoas que estão ativamente em busca de trabalho, mas não estão atualmente empregados. desinflação processo de reduzir a inflação que se incorporou às expectativas. deslocamento da curva da demanda variação na quantidade demandada de qualquer preço dado, representada graficamente pelo deslocamento da curva da demanda original para uma nova posição, descrita por uma nova curva de demanda. deslocamento da curva da oferta variação na quantidade ofertada de um bem ou serviço a qualquer preço dado, representado graficamente pela variação da curva de oferta original para uma nova posição, indicada por uma nova curva de oferta. deslocamento do investimento privado ou crowding out efeito negativo dos déficits orçamentários sobre o investimento privado que ocorre porque o endividamento do governo pressiona para cima as taxas de juros. despesa agregada é o fluxo total de fundos que entra no mercado de bens e serviços finais produzidos no país; a soma de gasto de consumo, gasto de investimento, compras governamentais de bens e serviços e exportações menos importações. desvalorização redução do valor de uma moeda que foi estabelecida no âmbito de um regime de taxa de câmbio fixo. diagrama de dispersão gráfico que apresenta pontos que correspondem a observações reais das variáveis x e y; normalmente, uma curva é ajustada aos pontos dispersos para indicar a tendência dos dados. diagrama de fluxo circular diagrama que representa as transações em uma economia mediante dois tipos de fluxos em torno de um círculo: o fluxo das coisas físicas, como bens ou trabalho, em uma direção, e um fluxo de dinheiro para pagar por essas coisas físicas na direção oposta. disposição para pagar preço máximo que um consumidor está disposto a pagar por um bem. distribuição de renda maneira pela qual a renda total é dividida entre os proprietários dos vários fatores de produção. diversificação investimentos em diversos ativos diferentes com risco não relacionado ou independente, de modo que as perdas possíveis são eventos independentes. dívida elevada dívida alta com ativos escassos, resultante de um círculo vicioso de desalavancagem.

dívida pública dívida pública detida por indivíduos e instituições de fora do governo. dólares encadeados método de cálculo do PIB real que divide a diferença entre a taxa de crescimento calculada usando o ano-base anterior e a taxa de crescimento calculada usando o ano- base subsequente.

E economia (análise econômica) ciência social que estuda a produção, distribuição e consumo de bens e serviços. economia aberta economia que comercia bens e serviços com outros países. economia autorregulada economia em que problemas como o desemprego são resolvidos sem a intervenção do governo, por meio da ação da mão invisível, e na qual tentativas do governo de melhorar o desempenho da economia seriam ineficazes, na melhor das hipóteses, e provavelmente até contraproducentes. economia de mercado economia em que decisões sobre produção e consumo são realizadas por produtores e consumidores individuais. economia keynesiana escola de pensamento que surgiu das obras de John Maynard Keynes; de acordo com a análise econômica keynesiana, uma economia deprimida é o resultado de gastos inadequados e, nesse caso, a intervenção do governo pode ajudar por meio da política monetária e da política fiscal. economia normativa ramo da análise econômica que faz prescrições sobre a forma como a economia deve funcionar. economia positiva ramo da análise econômica que descreve a forma como a economia funciona de verdade. economia sistema de coordenação das atividades produtivas da sociedade. efeito de balanço redução no patrimônio líquido de uma empresa devido a uma queda no preço dos ativos. efeito Fisher princípio segundo o qual o aumento na inflação esperada no futuro eleva a taxa de juros nominal, deixando a taxa de juros real esperada inalterada. efeito riqueza da variação no nível de preços agregado efeito sobre o gasto de consumo causado pela variação no poder de compra dos ativos dos consumidores quando o nível de preços agregado varia. Um aumento no nível de preços agregado diminui o poder de compra dos ativos dos consumidores ativos, assim, os consumidores diminuem o consumo; uma queda no nível de preços agregado aumenta o poder de compra dos ativos dos consumidores, assim os consumidores aumentam o consumo.

efeito taxa de juros de uma variação no nível de preços agregado efeito sobre os gastos de consumo e gastos de investimento causado por uma variação no poder de compra da moeda mantida pelos consumidores quando o nível de preços agregado varia. Um aumento (queda) no nível de preços agregado diminui (aumenta) o poder de compra da moeda mantida pelos consumidores. Em resposta, os consumidores tentam aumentar (diminuir) a quantidade de moeda que mantêm, o que impulsiona as taxas de juros para cima (para baixo), diminuindo (aumentando) o consumo e o investimento. eficiente descrição de um mercado ou economia que aproveita todas as oportunidades de melhorar a situação de algumas pessoas sem piorar a de outras. eixo dos x linha horizontal dos números em um gráfico, ao longo do qual são medidos os valores da variável x, também denominado eixo horizontal. eixo dos y linha vertical dos números em um gráfico, ao longo da qual são medidos os valores da variável y, também denominado eixo vertical. eixo horizontal linha horizontal de números de um gráfico ao longo do qual os valores da variável x são medidos, também chamado de eixo dos x. eixo vertical a linha vertical de números em um gráfico, ao longo da qual são medidos os valores da variável y; também referida como o eixo dos y. emprego número total de pessoas empregadas com remuneração atualmente na economia em tempo integral ou parcial. empresa organização que produz bens e serviços para venda. empréstimo acordo entre um credor e um tomador de empréstimo individuais. Os empréstimos são normalmente estruturados de acordo com as necessidades do tomador individual e sua capacidade de pagamento, mas têm custos de transação relativamente elevados. empréstimo subprime (empréstimos de alto riso) empréstimos para a compra de imóveis residenciais concedidos a pessoas que não preenchem os critérios habituais para a concessão de empréstimos. endividamento do governo montante total dos fundos que os governos federal, estadual e municipal tomam emprestado nos mercados financeiros para comprar bens e serviços. entrada líquida de capital entrada total de fundos em um país menos a saída de fundos do país. equidade justiça, todos recebem a parcela justa. Como as pessoas podem discordar sobre o que é “justo”, esse não é um conceito tão bem definido como eficiência.

equilíbrio de renda-despesa situação em que o produto agregado, medido pelo PIB real, é igual ao gasto agregado planejado e as empresas não têm incentivo para mudar o produto. equilíbrio do nível de preços agregado de curto prazo nível de preços agregado no equilíbrio macroeconômico de curto prazo. equilíbrio do PIB de renda-despesa nível do PIB real em que o PIB real é igual ao gasto agregado planejado. equilíbrio do produto agregado de curto prazo quantidade de produto agregado produzido no equilíbrio macroeconômico de curto prazo. equilíbrio macroeconômico de curto prazo ponto em que a quantidade de produto agregado ofertada é igual à quantidade demandada. equilíbrio macroeconômico de longo prazo ponto em que o equilíbrio macroeconômico de curto prazo está na curva da oferta agregada de longo prazo; assim, o equilíbrio do produto agregado de curto prazo é igual ao produto potencial. equilíbrio situação econômica em que nenhum indivíduo estaria em melhor situação fazendo algo diferente. escassez insuficiência de um bem ou serviço que ocorre quando a quantidade demandada excede a quantidade ofertada; a escassez ocorre quando o preço está abaixo do preço de equilíbrio. escasso em oferta limitada, um recurso é escasso quando a quantidade disponível não dá para satisfazer todos os usos que a sociedade quer fazer dele. escolha individual decisão de um indivíduo sobre o que fazer que envolva, necessariamente, uma decisão do que não fazer. especialização situação em que cada pessoa se especializa na tarefa em que apresenta bom desempenho. estabilidade de preços situação em que o custo de vida em geral está variando lentamente ou não está variando. estabilizadores automáticos gastos do governo e regras fiscais que tornam a política fiscal automaticamente expansionista quando a economia está se contraindo e automaticamente contracionista quando a economia está se expandindo, sem exigir qualquer ação deliberada pelos formuladores de política econômica. Os impostos que dependem da renda disponível são o exemplo mais importante de estabilizadores automáticos. estagflação combinação da inflação e queda do produto agregado.

estoques estoques de bens e matérias-primas mantidos para facilitar as operações de negócios. excedente do consumidor individual ganho líquido de um comprador individual pela compra de um bem, igual à diferença entre a disposição de pagar do comprador e o preço pago. excedente do consumidor termo usado frequentemente para se referir tanto ao excedente do consumidor individual quanto ao excedente do consumidor total. excedente do produtor individual ganho líquido de um vendedor individual com a venda de um bem, igual à diferença entre o preço recebido e o custo do vendedor. excedente do produtor termo frequentemente usado para se referir tanto ao excedente do produtor individual como ao excedente do produtor total. excedente excesso de um bem ou serviço, quando a quantidade ofertada é maior que a quantidade demandada; excedentes ocorrem quando o preço cobrado está acima do preço de equilíbrio. excedente total do consumidor soma dos excedentes do consumidor individual de todos os compradores de um bem em um mercado. excedente total do produtor soma dos excedentes dos produtores individuais de todos os vendedores de um bem em um mercado. excedente total ganho líquido total para consumidores e produtores por comerciarem em um mercado; a soma do excedente do consumidor e do excedente do produtor. expansão período em que o produto e o emprego estão subindo; a maioria das cifras econômicas segue sua tendência ascendente normal; também chamada de recuperação. expectativas racionais teoria da formação de expectativas que afirma que os indivíduos e as empresas tomam decisões ótimas, usando toda a informação disponível. exportações bens e serviços vendidos para outros países. exportações líquidas diferença entre o valor das exportações e o valor das importações. Um valor positivo das exportações líquidas indica que o país é um exportador líquido de bens e serviços; um valor negativo indica que o país é um importador líquido de bens e serviços.

F falha de mercado ocorre quando um mercado não consegue ser eficiente.

família pessoa ou grupo de pessoas que compartilham a renda. fatores de produção recursos usados para a produção de bens e serviços. Trabalho e capital são exemplos de fatores. força de trabalho soma do emprego e do desemprego; isto é, o número de pessoas que estão atualmente trabalhando mais o número de pessoas que estão atualmente em busca de emprego. fronteira de possibilidades de produção modelo que ilustra os trade-offs enfrentados por uma economia que produz apenas dois bens. Mostra a quantidade máxima de um bem que pode ser produzida para qualquer quantidade produzida do outro. fronteira zero limite inferior igual a zero sobre a taxa de juros nominal. função consumo agregado relação entre a renda disponível corrente agregada e o gasto de consumo agregado para a economia como um todo. função consumo equação que mostra como o gasto de consumo de uma família individual varia de acordo com a renda disponível corrente da família. função de produção agregada função hipotética que descreve como a produtividade (PIB real por trabalhador) depende das quantidades de capital físico por trabalhador e capital humano por trabalhador, bem como do estado da tecnologia. fundo de pensões tipo de fundo mútuo que mantém ativos a fim de proporcionar renda de aposentadoria aos seus membros. fundo mútuo intermediário financeiro, que cria uma carteira de ações ao comprar e manter ações de empresas e, em seguida, revende as ações dessa carteira para investidores individuais.

G ganhos do comércio ganhos alcançados pela divisão de tarefas e pelo comércio. Por meio da troca cada parceiro pode obter mais do que se tentasse ser autossuficiente. garantia de depósito garantia de que os depositantes de um banco serão pagos mesmo que o banco chegue ao ponto de não ter fundos para pagar, até um montante máximo por conta. gasto agregado planejado valor total do gasto planejado na economia; inclui gasto de consumo e gasto de investimento planejado. gasto de consumo gasto das famílias em bens e serviços produzidos por empresas domésticas e estrangeiras.

gasto de investimento efetivo soma do gasto de investimento planejado e do investimento em estoques não planejado. gasto de investimento gastos em capital físico produtivo – como máquinas e construção de estruturas – bem como em mudanças nos estoques. gasto de investimento planejado gasto de investimento que as empresas pretendem realizar durante determinado período. O gasto de investimento planejado pode diferir do gasto de investimento que de fato ocorre devido ao investimento não planejado em estoque. globalização fenômeno dos vínculos do crescimento econômicos entre países. gráfico de barras gráfico que usa barras com alturas ou comprimentos diversos para mostrar os tamanhos comparativos de diferentes observações de uma variável. gráfico de pizza gráfico circular que mostra como algum total é dividido entre seus componentes, normalmente expresso em percentuais. gráfico de séries temporais gráfico de duas variáveis que tem datas no eixo horizontal e valores de uma variável que ocorreu naquelas datas no eixo vertical. Grande Moderação período de 1985 a 2007, quando a economia dos Estados Unidos passou por pequenas flutuações e inflação baixa.

H hiato de produto diferença percentual entre o produto agregado efetivo e o produto potencial. hiato de recessão existe quando o produto agregado está abaixo do produto potencial. hiato inflacionário existe quando o produto agregado está acima do produto potencial. hipótese da taxa natural como a inflação está incorporada às expectativas, para evitar a aceleração da inflação ao longo do tempo, a taxa de desemprego deve ser alta o suficiente para que a taxa de inflação real seja igual à taxa de inflação esperada. hipótese de convergência princípio da teoria do crescimento econômico que sustenta que as diferenças internacionais do PIB real per capita tendem a diminuir ao longo do tempo porque os países com renda per capita baixa tendem a ter taxas de crescimento mais elevadas. hipótese dos mercados eficientes princípio da determinação do preço dos ativos pelo qual esses preços incorporam toda a informação disponível para o público. Essa hipótese implica que os preços das ações são imprevisíveis, ou seguem um passeio

aleatório, uma vez que as mudanças só ocorreriam em resposta a informações novas sobre fundamentos da economia.

I identidade poupança-gasto de investimento fato contábil que afirma que a poupança e os gastos de investimento são sempre iguais para a economia como um todo. ilíquido descreve um ativo que não pode ser convertido em dinheiro rapidamente com pouca perda de valor. importações bens e serviços adquiridos de outros países. imposto inflacionário redução do valor da moeda em poder do público causada pela inflação. imposto lump-sum impostos que não dependem da renda do contribuinte. incentivo recompensa oferecida às pessoas que mudam de comportamento. inclinação medida da ingremidade de uma linha ou curva. A inclinação de uma linha é medida pela variação da variável y entre dois pontos sobre a linha dividido pela variação na variável x entre esses mesmos pontos. índice de preços ao consumidor (IPC) medida de preços; calculada por meio do levantamento de preços de mercado de uma cesta básica que pretende representar o consumo de uma família típica urbana. O IPC é a medida de preços mais usada comumente. índice de preços ao produtor (IPP) medida do custo de uma cesta típica de bens e serviços adquirida pelos produtores. Dado que os preços dos insumos e commodities respondem rapidamente a variações na demanda, o índice de preços ao produtor frequentemente é considerado um indicador antecedente da variação na taxa de inflação. índice de preços uma medida do custo de aquisição de determinada cesta básica em determinado ano, no qual o custo é normalizado de tal modo que seja igual a 100 no ano-base selecionado; medida do nível geral de preços. indústrias exportadoras indústrias que produzem bens ou serviços que são vendidos no exterior. indústrias que competem com importação indústrias que produzem bens ou serviços que também são importados. inflação aumento no nível geral de preços.

infraestrutura capital físico, tal como estradas, rede elétrica, portos, redes de informação e outras partes da economia que fornecem a base para a atividade econômica. insumo bem ou serviço usado para produzir outro bem ou serviço. intensidade de fator diferença na proporção entre fatores usados para produzir um bem em várias indústrias. Por exemplo, o refino do petróleo é intensivo em capital, em comparação com a produção de assentos para carros, porque as refinarias de petróleo usam uma proporção maior de capital para o trabalho que os produtores de assentos para carros. interação (de escolhas) minhas escolhas afetam as suas e vice-versa; uma característica da maioria das situações econômicas. Os resultados dessa interação são muitas vezes bem diferentes do que os indivíduos pretendem. intercepto horizontal ponto em que a curva atinge o eixo horizontal que indica o valor da variável x quando o valor da variável y é zero. intercepto vertical ponto em que a curva atinge o eixo vertical, mostra o valor da variável y quando o valor da variável x é zero. intermediário financeiro instituição, tal como um fundo mútuo, fundo de pensão, companhia de seguros de vida ou banco, que transforma os fundos que reúne de muitos indivíduos em ativos financeiros. intervenção no mercado cambial compra ou venda de moeda pelo governo no mercado de câmbio. investimento em estoque valor da variação no total dos estoques mantidos na economia durante determinado período. Ao contrário de outros tipos de gasto de investimento, o investimento em estoques pode ser negativo, quando os estoques diminuem. investimento em estoques não planejados variação não planejada nos estoques que ocorre quando as vendas reais são menores ou maiores do que as empresas esperavam.

J janela de redesconto proteção contra corrida ao banco em que o banco central fica a postos para emprestar dinheiro aos bancos em apuros.

L lei da demanda o princípio de que o preço mais alto cobrado por um bem ou serviço, tudo o mais mantido constante, leva as pessoas a demandarem menor quantidade de

um bem ou serviço. lei de Okun relação negativa entre o hiato de produto e a taxa de desemprego, segundo a qual cada ponto percentual adicional de um hiato de produto reduz a taxa de desemprego em cerca de 0,5 ponto percentual. licença direito conferido pelo governo ou por um proprietário de fornecer um bem. limite da quota quantidade total de um bem sob uma cota ou quantidade de controle que pode ser legalmente comercializado. limite inferior zero sobre as taxas de juros afirmação do fato de que as taxas de juros não podem cair abaixo de zero. líquido descreve um ativo que pode ser rapidamente convertido em dinheiro com perda relativamente pequena de valor. livre comércio comércio que não é regulamentado por tarifas governamentais ou outras barreiras artificiais, os níveis de exportações e importações ocorrem naturalmente, como resultado da oferta e da demanda.

M macroeconomia ramo da análise econômica que se preocupa com todos os altos e baixos da economia. mão invisível expressão usada por Adam Smith para se referir à forma como a busca dos interesses próprios dos indivíduos pode levar a bons resultados para a sociedade em seu conjunto, sem que seja esta a intenção dos indivíduos. máximo ponto mais alto de uma curva não linear, em que a inclinação muda de positiva para negativa. meio de troca ativos que os indivíduos adquirem com a finalidade de trocá- los por bens e serviços e não para seu próprio consumo. mercado competitivo mercado em que há muitos compradores e vendedores do mesmo bem ou serviço e nenhum deles consegue influenciar o preço pelo qual o bem ou serviço é vendido. mercado de câmbio mercado em que as moedas podem ser trocadas umas pelas outras. mercado de fundos federais mercado financeiro que permite aos bancos com escassez de reserva contrair empréstimos dos bancos com excesso de reserva. mercado de fundos para empréstimo mercado hipotético que reúne aqueles que querem emprestar dinheiro (poupadores) e os que querem tomar emprestado (empresas com

projetos de gastos de investimento). mercado financeiro mercado bancário, mercado de ações e bônus que canaliza a poupança privada e empréstimos do exterior para os gastos de investimento, endividamento do governo e empréstimos do exterior. mercado negro mercado em que bens ou serviços são comprados e vendidos ilegalmente, porque é completamente ilegal vendê-los, pois os preços cobrados são legalmente proibidos por haver sido fixado um teto de preços. mercados de bens e serviços mercados em que as empresas vendem os bens e serviços que produzem para as famílias. mercados de fatores mercados em que as empresas compram os recursos que precisam para a produção de bens e serviços. meta da taxa dos fundos federais nível desejado do Federal Reserve para a taxa dos fundos federais. O Federal Reserve ajusta a oferta de moeda por meio da compra e venda de Letras do Tesouro até que a taxa real seja igual à taxa desejada. meta de inflação abordagem de política monetária que exige que o banco central tente manter a taxa de inflação perto de uma meta predeterminada. microeconomia ramo da análise econômica que estuda como as pessoas tomam decisões e como essas decisões interagem. mínimo ponto mais baixo em uma curva não linear na qual a inclinação muda de negativa para positiva. modelo AD-AS modelo básico usado para entender as flutuações do produto agregado e o nível de preços agregado. Usa a curva da oferta agregada e a curva da demanda agregada em conjunto para analisar o comportamento da economia em resposta a choques ou à política do governo. modelo clássico do nível de preços modelo financeiro simplificado do nível de preços em que a quantidade real do dinheiro, M/P, sempre está no seu nível de equilíbrio de longo prazo. Esse modelo ignora a distinção entre o curto e o longo prazo, mas é útil para analisar o caso de inflação alta. modelo de expectativas racionais modelo da economia em que as mudanças esperadas na política monetária não têm efeito sobre o desemprego e o produto; afetam apenas o nível de preços. modelo de oferta e demanda modelo de comportamento de um mercado competitivo. modelo de taxa de juros segundo a preferência pela liquidez modelo do mercado de moeda em que a taxa de juros é determinada pela oferta e demanda de moeda.

modelo Heckscher-Ohlin modelo de comércio internacional em que um país tem uma vantagem comparativa em um bem cuja produção é intensiva nos fatores que estão disponíveis em abundância no país. modelo representação simplificada de uma situação real que é usada para melhor compreender as situações reais. modelo ricardiano de comércio internacional modelo que analisa o comércio internacional sob o pressuposto de que os custos de oportunidade são constantes. moeda em circulação dinheiro vivo em poder do público. moeda fiat meio de troca que deriva seu valor inteiramente da sua condição oficial de meio de pagamento. moeda garantida por mercadoria meio de troca que não tem valor intrínseco, mas é garantido por uma promessa de que pode ser convertido em bens de valor conforme solicitado. moeda mercadoria meio de troca que é um bem, normalmente ouro ou prata, que tem valor intrínseco em outros usos. moeda qualquer ativo que pode ser facilmente usado para comprar bens e serviços. monetarismo teoria do ciclo econômico associada originalmente a Milton Friedman, que afirma que o PIB crescerá constantemente se a oferta de moeda crescer constantemente. movimento ao longo da curva da demanda variação na quantidade demandada de um bem que resulta da variação do preço desse bem. movimento ao longo da curva da oferta variação na quantidade ofertada de um bem que resulta da variação do preço desse bem. multiplicador monetário relação entre a oferta de moeda e a base monetária. multiplicador razão de uma variação total no PIB real causada por uma mudança autônoma no gasto agregado em relação ao tamanho dessa mudança autônoma.

N neutralidade monetária conceito que a variação da oferta monetária não tem efeito real sobre a economia no longo prazo e resulta apenas de uma variação proporcional no nível de preços. nível de preços agregado número único que representa o nível geral de preços de bens e serviços finais na economia.

nova macroeconomia clássica abordagem do ciclo econômico que retorna à visão clássica de que deslocamentos na curva de demanda agregada afetam apenas o nível de preços agregado e não o produto agregado. novo modelo keynesiano teoria que argumenta que as imperfeições do mercado podem levar à rigidez de preços para a economia como um todo.

O oferta monetária valor total dos ativos financeiros na economia que são considerados moeda. operação de mercado aberto compra ou venda de títulos públicos pelo banco central do país, normalmente por meio de transações com um banco comercial. Organização Mundial do Comércio (OMC) organização internacional de paísesmembros que supervisiona acordos comerciais internacionais e regras sobre disputas entre países sobre esses acordos. origem ponto em que os eixos de duas variáveis se encontram em um gráfico.

P pânico financeiro interrupção súbita e generalizada do mercado financeiro, que ocorre quando as pessoas de repente perdem a fé na liquidez das instituições e mercado financeiros. paridade do poder de compra (entre moedas de dois países) taxa de câmbio nominal sob a qual determinada cesta de bens e serviços custaria o mesmo montante em qualquer país. passeio aleatório movimento de uma variável imprevisível ao longo do tempo. passivo obrigação de pagamento de renda no futuro. passivos implícitos promessas de gasto feitas pelos governos que são como uma dívida, embora não sejam incluídas nas estatísticas habituais da dívida. Nos Estados Unidos, o maior passivo implícito surge da Previdência Social e Medicare, que promete pagamentos de transferência aos aposentados atuais e futuros (Previdência Social) e aos idosos (Medicare). pesquisa e desenvolvimento (P&D) gasto para criar novas tecnologias e prepará-las para uso prático. PIB nominal valor de todos os bens e serviços finais produzidos na economia durante um

ano determinado, calculado em relação aos preços correntes do ano de produção do produto. PIB per capita PIB dividido pelo tamanho da população, equivalente à média do PIB por pessoa. PIB real valor total de todos os bens e serviços finais produzidos na economia durante determinado ano, calculado usando os preços de um ano-base selecionado. pico do ciclo econômico momento em que a economia passa da expansão para a recessão. piso de preços preço mínimo que os compradores são obrigados a pagar por um bem ou serviço. Uma forma de controle de preços. política de estabilização uso da política do governo para reduzir a severidade das recessões e para conter expansões excessivamente rápidas. Existem duas ferramentas principais de política de estabilização: política monetária e política fiscal. política fiscal contracionista política fiscal que reduz a demanda agregada diminuindo as compras governamentais, aumentando impostos ou reduzindo transferências. política fiscal discricionária política fiscal que é o resultado direto de ações deliberadas por formuladores de política econômica, em vez de regras preestabelecidas. política fiscal expansionista política fiscal que aumenta a demanda agregada expandindo as compras governamentais, reduzindo os impostos ou aumentando as transferências. política fiscal mudanças nos gastos do governo e impostos com o intuito de afetar os gastos gerais. política monetária contracionista política monetária que, por meio da elevação da taxa de juros, reduz a demanda agregada e, portanto, o produto. política monetária discricionária ações de política monetária, quer sejam mudanças nas taxas de juros ou na oferta de moeda, empreendidas pelo banco central com base na sua avaliação do estado da economia. política monetária expansionista política monetária que, por meio da redução da taxa de juros, aumenta a demanda agregada e, portanto, o produto. política monetária implica variação na quantidade de moeda em circulação designada a alterar as taxas de juros e afetar o nível do gasto total. políticas protecionistas políticas que limitam as importações; também conhecido como proteção. poupança e empréstimo (instituições de) bancos de depósito dos Estados Unidos, geralmente especializados em crédito para compra de habitação.

poupança nacional soma da poupança privada e do saldo do orçamento do governo; montante total de poupança gerada na economia. poupança privada renda disponível menos gasto de consumo; renda disponível que não é gasta em consumo, mas entra nos mercados financeiros. preço de demanda preço de determinada quantidade pelo qual os consumidores irão demandar essa quantidade. preço de equilíbrio preço pelo qual o mercado está em equilíbrio, isto é, a quantidade demandada de um bem ou serviço é igual à quantidade ofertada, também conhecido como preço de ajuste do mercado. preço de oferta preço de determinada quantidade pela qual os produtores ofertariam aquela quantidade. preço de teto preço máximo que os vendedores estão autorizados a cobrar por um bem ou serviço. Uma forma de controle de preços. preço mundial preço pelo qual um bem pode ser comprado ou vendido no exterior. preço que ajusta o mercado preço pelo qual o mercado está em equilíbrio, isto é, a quantidade demandada de um bem ou serviço é igual à quantidade ofertada; também conhecido como preço de equilíbrio. pressuposto de tudo o mais constante no desenvolvimento de um modelo, o pressuposto de que todos os fatores relevantes, exceto aquele que está sendo examinado, permanecem inalterados (também se usa com a denominação de pressuposto ceteris paribus). previsão predição simples do futuro. princípio do acelerador proposição de que uma taxa de crescimento mais elevada do PIB real resulta em um nível mais elevado de gasto de investimento planejado e uma taxa de crescimento mais baixa do PIB real leva a um gasto de investimento planejado mais baixo. produtividade do trabalho produto por trabalhador; também conhecido como produtividade. O aumento da produtividade do trabalho é a única fonte de crescimento econômico de longo prazo. produtividade produto por trabalhador. Forma abreviada do termo produtividade do trabalho. produtividade total do fator quantidade de produto que pode ser produzida com determinada quantidade de insumos dos fatores.

produto agregado quantidade total de bens e serviços finais que a economia produz durante determinado período de tempo, usualmente um ano. O PIB real é a medida numérica do produto agregado usado normalmente pelos economistas. produto interno bruto (PIB) valor total de todos os bens e serviços finais produzidos na economia durante determinado período, geralmente um ano. produto potencial nível do PIB real que a economia produziria se todos os preços, incluindo os salários nominais, fossem totalmente flexíveis. progresso tecnológico avanço nos meios técnicos de produção de bens e serviços. propensão marginal a consumir (PMC) aumento nos gastos de consumo quando a renda disponível aumenta em uma unidade monetária. Como os consumidores normalmente gastam uma parte, mas não toda a renda disponível, a propensão marginal a consumir se situa entre 0 e 1. propensão marginal a poupar (PMP) fração de uma unidade adicional de renda disponível que é poupada; a propensão marginal a poupar é 1 menos a propensão marginal a consumir. proteção política que limita as importações. Termo alternativo para proteção comercial.

Q quantidade de equilíbrio quantidade de um bem ou serviço comprado e vendido ao preço de equilíbrio (ou preço de ajuste do mercado). quantidade demandada quantidade real de um bem ou serviço que os consumidores estão dispostos a comprar a um preço específico. quantidade ofertada quantidade real de um bem ou serviço que os produtores estão dispostos a vender a um preço específico. quase moeda ativo financeiro que não pode ser usado diretamente como meio de troca, mas que pode ser facilmente convertido em dinheiro vivo ou depósitos em contacorrente.

R recessão desaceleração da economia. recuperação sem oferta de empregos período em que a taxa de crescimento do PIB é positiva, mas a taxa de desemprego continua a subir.

recurso qualquer coisa como terra, trabalho e capital, que possa ser usada para produzir outra coisa. Inclui recursos naturais (do ambiente físico) e recursos humanos (trabalho, habilidade, inteligência). recursos desperdiçados forma de ineficiência na qual os consumidores gastam dinheiro, esforço e tempo para lidar com a escassez causada pelo teto de preços. regime cambial regra que rege a política econômica em relação à taxa de câmbio. regra de política monetária fórmula que determina as ações do banco central. regra de Taylor para política monetária regra que estabelece a taxa dos fundos federais de acordo com o nível da taxa de inflação e com o hiato de produto ou a taxa de desemprego. regra dos 70 fórmula matemática que afirma que o tempo que leva o PIB real per capita, ou qualquer outra variável que cresce gradualmente ao longo do tempo é de aproximadamente 70 dividido pela taxa de crescimento anual da variável. relação causal relação entre duas variáveis em que o valor que uma variável assume influencia ou determina diretamente o valor que a outra variável assume. relação dívida/PIB dívida pública em porcentagem do PIB, frequentemente usada como medida da capacidade do governo de pagar suas dívidas. relação linear relação entre duas variáveis em que a inclinação é constante e, portanto, está representada no gráfico por uma curva que é uma linha reta. relação não linear relação entre duas variáveis em que a inclinação não é constante e, portanto, está representada em um gráfico por uma curva que não é uma linha reta. relação negativa relação entre duas variáveis em que o aumento no valor de uma das variáveis está associado a uma diminuição no valor da outra variável. É ilustrado por uma curva que se inclina para baixo, da esquerda para a direita. relação positiva relação entre duas variáveis em que o aumento no valor de uma variável está associado com o aumento no valor da outra variável. É ilustrado por uma curva que se inclina para cima, da esquerda para a direita. renda de cota diferença entre o preço de demanda e o preço de oferta no limite da cota; essa diferença, o ganho obtido pelo titular da cota, é igual ao preço de mercado da licença quando esta é negociada no mercado. renda disponível renda mais transferências governamentais menos impostos; o montante total de renda disponível das famílias para gastar em consumo e poupança. renda real renda dividida pelo nível de preços.

reserva (percentual) fração dos depósitos bancários que um banco mantém como reserva. Nos Estados Unidos, o índice mínimo de reserva exigido é definido pelo Federal Reserve. reserva de valor ativo que representa um meio de manter o poder de compra ao longo do tempo. reservas bancárias moeda mantida pelos bancos em seus cofres mais depósitos no banco central. reservas cambiais estoque de moeda estrangeira que o governo pode usar para comprar a própria moeda no mercado cambial. reservas compulsórias regras do banco central que determinam o índice mínimo de reserva para os bancos. Para depósitos em conta-corrente nos Estados Unidos, a reserva mínima obrigatória é fixada em 10%. reservas excedentes reservas bancárias acima das reservas exigidas por lei ou regulamento. retornos decrescentes do capital físico em uma função de produção agregada quando mantidos fixos a quantidade de capital humano por trabalhador e o estado da tecnologia, cada aumento adicional na quantidade de capital físico por trabalhador leva a um aumento menor na produtividade. riqueza (de uma família) o valor da poupança acumulada. risco financeiro incerteza sobre os resultados futuros que envolvem perdas ou ganhos financeiros.

S salário mínimo piso legal do nível de salário. Salário é o preço do mercado de trabalho. salário nominal o valor em moeda do país de qualquer salário pago. salário real taxa de salário dividido pelo nível de preços. salários de eficiência salários que os empregadores estabelecem acima do salário de equilíbrio como incentivo aos trabalhadores para proporcionar desempenho melhor. salários rígidos salários nominais que demoram a cair, mesmo em face de elevado desemprego, e demoram a subir, mesmo em face de escassez de mão de obra. saldo orçamentário ajustado ciclicamente estimativa do que o saldo orçamentário seria se o PIB real fosse exatamente igual ao produto potencial.

saldo orçamentário diferença entre receita fiscal e gasto do governo. Um saldo positivo é denominado superávit orçamentário, um saldo negativo é denominado déficit orçamentário. securitização formação de um pool de empréstimos e hipotecas por instituição financeira, que então vende ações desse pool a outros investidores. seguridade social programas do governo como Previdência Social, assistência medida, seguro-desemprego e vale-refeição, destinados a proteger as famílias contra as dificuldades econômicas. subemprego número de pessoas que trabalham em tempo parcial porque não conseguem encontrar um emprego de tempo integral. substitutos dois bens para os quais um aumento no preço de um dos bens conduz a um aumento na procura do outro bem. superávit comercial quando o valor dos bens e serviços comprados de estrangeiros é menor que o valor dos bens e serviços vendidos a eles. superávit orçamentário diferença entre receita fiscal e gastos do governo, quando a receita fiscal excede os gastos do governo; a poupança do governo na forma de um superávit orçamentário é uma contribuição positiva à poupança nacional.

T tabela de demanda lista ou tabela mostrando a quantidade de um bem ou serviço que os consumidores estariam dispostos a comprar a preços diferentes. tabela de oferta lista ou tabela que mostra quanto de um bem ou serviço os produtores ofertarão a preços diferentes. tangente linha reta que só toca uma curva não linear em um ponto particular, a inclinação da tangente é igual à inclinação da curva não linear nesse ponto. tarifa imposto cobrado sobre importações. taxa de câmbio de equilíbrio taxa de câmbio sob a qual a quantidade demandada de uma moeda no mercado de câmbio é igual à quantidade ofertada. taxa de câmbio fixa regime cambial em que o governo mantém o valor da taxa de câmbio em relação a alguma outra moeda em certa meta ou perto dela. taxa de câmbio flutuante regime cambial em que o governo deixa as forças de mercado determinar a taxa de câmbio.

taxa de câmbio preço de comercialização de uma moeda determinado pelo mercado de câmbio. taxa de câmbio real taxa de câmbio ajustada pelas diferenças internacionais nos níveis de preços agregados. taxa de desemprego percentual do número total de pessoas na força de trabalho que estão desempregadas, calculado como desemprego / (desemprego + emprego). taxa de desemprego que mantém a inflação estável (NAIRU) taxa de desemprego em que, tudo o mais mantido constante, a inflação não muda ao longo do tempo. taxa de inflação variação percentual anual no índice de preços – normalmente o índice de preços ao consumidor. A taxa de inflação é positiva quando o nível de preços agregado está subindo (inflação) e negativa quando o nível de preços agregado está caindo (deflação). taxa de juros de curto prazo taxa de juros sobre ativos financeiros que vencem em menos de um ano. taxa de juros de longo prazo taxa de juros sobre os ativos financeiros que vencem daqui a um número de anos no futuro. taxa de juros nominal taxa de juros em termos da moeda do país. taxa de juros preço cobrado pelos credores aos devedores pelo uso da suas poupanças por um ano, calculado como porcentagem sobre o total do empréstimo tomado. taxa de juros real taxa de juros nominal menos taxa de inflação. taxa de participação na força de trabalho porcentagem da população com mais de 16 anos que está na força de trabalho. taxa de redesconto a taxa de juros que o banco central cobra sobre empréstimos a bancos que precisam completar as reservas compulsórias. taxa dos fundos federais taxa de juros sob a qual os fundos são tomados emprestados e emprestados no mercado de fundos federal. taxa natural de desemprego taxa de desemprego normal em torno da qual a taxa de desemprego real flutua; taxa de desemprego que surge a partir dos efeitos do desemprego friccional e estrutural. tecnologia meio técnico para a produção de bens e serviços. teoria do ciclo econômico real teoria dos ciclos econômicos que afirma que flutuações na taxa de crescimento da produtividade total dos fatores são a causa do ciclo de econômico.

terceirização externa (offshore outsourcing) prática das empresas de contratar pessoas de outro país para executar várias tarefas. títulos lastreados por empréstimos ativos criados pela formação de um pool de empréstimos individuais e pela venda de ações desse pool. trabalhadores desencorajados pessoas com capacidade de trabalho que declaram aos pesquisadores do governo que atualmente não estão em busca de emprego, porque veem pouca perspectiva de encontrar um, dado o estado do mercado de trabalho. trabalhadores marginalmente ligados à força de trabalho pessoas que não estão trabalhando, dizem que gostariam de ter um emprego, buscaram por um no passado recente, mas atualmente não estão procurando. trade-off comparação de custos e benefícios de se fazer alguma coisa. transferências governamentais pagamentos pelo governo a indivíduos que não fornecem bens ou serviços em troca. transformação do prazo de vencimento conversão do passivo de curto prazo em ativo de longo prazo. truncada cortada; em um eixo truncado, alguma parte do âmbito dos valores é omitida, geralmente, para economizar espaço.

U União Europeia (UE) união aduaneira entre 27 países europeus. unidade de conta uma medida usada para definir preços e fazer cálculos econômicos.

V valor absoluto valor de um número sem levar em conta o sinal positivo ou negativo. valor agregado (de um produtor) valor das vendas de um produtor menos o valor das suas compras de bens e serviços intermediários. valor presente (de X) a quantidade de dinheiro necessária hoje para receber X em uma data futura, dada uma taxa de juros. valorização aumento no valor de uma moeda que está definido sob o regime de taxa de câmbio fixo. vantagem absoluta Vantagem conferida a um indivíduo ou país em uma atividade se o

indivíduo ou país puder realizá-la melhor do que os outros. Um país com vantagem absoluta pode produzir mais produto por trabalhador do que outros países. vantagem comparativa vantagem obtida por um indivíduo ou país na produção de um bem ou serviço a um custo de oportunidade mais baixo do que o de outros produtores. variação autônoma no gasto agregado aumento ou queda inicial no gasto agregado a um determinado nível do PIB real. variável dependente variável determinada em uma relação causal. variável independente variável determinante em um relacionamento causal. variável omitida variável não observada que, por meio da sua influência sobre outras variáveis, cria a aparência errônea de uma relação causal direta entre essas variáveis. variável quantidade que pode assumir mais de um valor. velocidade da moeda proporção entre o PIB nominal e a oferta de moeda.

Soluções para as Questões “Teste seu Entendimento” Esta seção oferece sugestões de respostas para questões “Teste seu entendimento” de cada capítulo.

Capítulo 1 Teste seu entendimento 1-1 1. a. Isso ilustra o conceito de custo de oportunidade. Dado que há um máximo para o que uma pessoa pode comer em uma única refeição, comer uma fatia adicional de bolo de chocolate implica abrir mão de comer outra coisa, como uma fatia de torta de creme de coco. b. Isso ilustra o conceito de que os recursos são escassos. Mesmo que houvesse mais recursos no mundo, a quantidade total desses recursos seria limitada. Em consequência, ainda assim haveria escassez. Para que não houvesse escassez, teria que haver quantidades ilimitadas de tudo (incluindo tempo ilimitado na vida humana), o que certamente é impossível. c. Isso ilustra o conceito que as pessoas costumam explorar as oportunidades de melhorar sua situação. Os estudantes procuram melhorar a situação se matriculando para receber orientação com os assistentes de ensino de melhor qualidade e evitando aqueles com reputação de não serem bons professores. Também ilustra o conceito de que os recursos são escassos. Se houvesse espaço ilimitado nas aulas dos bons assistentes de ensino, elas iriam lotar. d. Isso ilustra o conceito de análise marginal. Sua decisão sobre a alocação de tempo é uma decisão “quanto”: quanto tempo de exercício versus quanto tempo de estudo. A decisão é tomada comparando-se o benefício de uma hora adicional de exercício físico com seu custo, o efeito sobre as notas de uma hora a menos de estudo. 2. a. Sim. O aumento do tempo gasto em viagem é um custo que você irá incorrer se aceitar o novo emprego. Esse tempo adicional gasto em viagem – ou, o equivalente, o benefício que se obtém em se gastar esse tempo fazendo outra coisa, é um custo de oportunidade do novo emprego. b. Sim. Uma das vantagens do novo emprego é que você estará rcebendo $50.000. Mas se aceitar o novo emprego terá de desistir do emprego atual, ou seja, deixará de receber o salário atual de $45.000. Então, $45.000 é um custo de oportunidade de aceitar o novo emprego. c. Não. Um escritório mais espaçoso é um benefício adicioneal do seu novo emprego e não envolve renúncia a alguma outra coisa. Portanto, não é um custo de oportunidade.

Teste seu entendimento 1-2 1. a. Isso ilustra o conceito de que os mercados geralmente levam à eficiência. Qualquer vendedor que queira vender um livro por pelo menos $30, de fato, vende a alguém

disposto a comprar um livro por $30. O resultado é que não existe maneira de mudar a forma como os livros usados são distribuídos entre compradores e vendedores de uma maneira que melhore a situação de uma pessoa sem piorar a de outra. b. Isso ilustra o conceito de que existem ganhos do comércio. Os estudantes intercambiam o serviço de monitor com base nas diferentes competências acadêmicas. c. Isso ilustra o conceito de que quando os mercados não alcançam eficiência, a intervenção do governo pode melhorar o bem-estar da sociedade. Nesse caso, o mercado, por si, permitirá que bares e discotecas imponham um custo a seus vizinhos, na forma de música alta, custo que bares e discotecas não têm incentivo para levar em conta. Esse é um resultado ineficaz porque a sociedade em seu conjunto pode melhorar de situação se bares e discotecas forem obrigados a reduzir o ruído. d. Isso ilustra o conceito de que os recursos devem ser usados da forma mais eficiente possível para alcançar os objetivos da sociedade. Ao fechar clínicas de bairro e transferir fundos para o hospital central, melhor assistência médica pode ser oferecida a um custo menor. e. Isso ilustra o conceito de que os mercados se movem em direção ao equilíbrio. Aqui, dado que os livros com a mesma quantidade de desgaste são vendidos aproximadamente pelo mesmo preço, nenhum comprador ou vendedor pode melhorar a situação fazendo uma transação diferente da que levou a cabo. Isso significa que o mercado de livros usados se moveu para o equilíbrio. 2. a. Isso não descreve uma situação de equilíbrio. Muitos estudantes desejariam mudar de comportamento e passar a comer no restaurante. Portanto, a situação descrita não é de equilíbrio. Um equilíbrio será estabelecido quando a situação dos estudantes for igualmente boa comendo no restaurante ou na cafeteria da faculdade – o que aconteceria se, por exemplo, os preços dos restaurantes fossem mais altos do que o da cafeteria. b. Essa é uma situação de equilíbrio. Ao mudar de comportamento usando o ônibus, você não estaria em situação melhor. Portanto, não tem incentivo para mudar de comportamento.

Teste seu entendimento 1-3 1. a. Isso ilustra o princípio de que políticas governamentais podem mudar os gastos. O corte de impostos aumentaria a renda pós-impostos das pessoas, levando a maior gasto de consumo. b. Isso ilustra o princípio de que o gasto de uma pessoa é a renda de outra pessoa. Quando as empresas de petróleo aumentam seu gasto com trabalho com a contratação de mais trabalhadores ou pagando salários mais altos aos trabalhadores que já estão na empresa, a renda desses trabalhadores aumenta. Por sua vez, esses

trabalhadores aumentam os gastos de consumo, que se transforma em renda de restaurantes e de outras empresas de consumo. c. Isso ilustra o princípio de que o gasto total, às vezes, fica fora de sintonia com a capacidade produtiva da economia. Nesse caso, o gasto de habitação foi muito alto em relação à capacidade da economia de criar novas moradias. Isso primeiro levou ao aumento de preços das moradias e, então, ao aumento geral de preços, ou à inflação.

Capítulo 2 Teste seu entendimento 2-1 1. a. Falso. Um aumento nos recursos disponíveis da Boeing para usar na produção de Dreamliners e pequenos jatos muda a fronteira das possibilidades de produção, deslocando-a para fora. Isso ocorre porque agora a Boeing pode produzir mais jatinhos e Dreamliners do que antes. Na figura a seguir, a linha chamada “PPF original da Boeing” representa a fronteira das possibilidades de produção original da Boeing e a linha chamada “nova PPF da Boeing” representa a nova fronteira das possibilidades de produção que resulta de um aumento de recursos disponíveis para a Boeing.

b. Verdadeiro. A mudança tecnológica que permite que a Boeing construa mais jatos pequenos para qualquer quantidade de Dreamliners resulta em uma mudança na fronteira das possibilidades de produção. Isso está ilustrado na figura a seguir: a nova fronteira das possibilidades de produção está representada pela linha chamada “nova PPF da Boeing” e a fronteira de produção original está representada pela linha chamada “PPF original da Boeing”. Desde que a quantidade máxima de Dreamliners que a Boeing pode construir é a mesma que antes, a nova fronteira das possibilidades de produção intercepta o eixo vertical no mesmo ponto que a fronteira original. Mas, uma vez que a quantidade máxima possível de pequenos jatos agora é maior do que antes, a nova fronteira cruza o eixo horizontal à direita da fronteira original.

c. Falso. A fronteira das possibilidades de produção ilustra quanto de um bem uma economia deve renunciar para obter mais de outro bem apenas quando os recursos são usados de forma eficiente na produção. Se uma economia está produzindo de forma ineficiente – isto é, no interior da fronteira – não há necessidade de sacrificar uma unidade de um bem, a fim de obter uma unidade de outro bem. Em vez disso, ao se tornar mais eficiente, essa economia pode ter mais de ambos os bens. 2. a. Os Estados Unidos têm uma vantagem absoluta na produção de automóveis, porque são necessários menos americanos (6) para produzir um carro em um dia que italianos (8). Os Estados Unidos também têm uma vantagem absoluta na produção de máquinas de lavar roupa, porque são necessários menos americanos (2) para produzir uma máquina de lavar em um dia do que italianos (3). b. Na Itália, o custo de oportunidade de uma máquina de lavar roupa em termos de automóveis é 3/8: 3/8 de um carro pode ser produzido com o mesmo número de trabalhadores e no mesmo tempo que leva para produzir uma máquina de lavar. Nos Estados Unidos, o custo de oportunidade de uma máquina de lavar roupa em termos de automóveis é 2/6 = 1/3: 1/3 de um carro pode ser produzido com o mesmo número de trabalhadores e no mesmo tempo que leva para produzir uma máquina de lavar roupa. Como 1/3 < 3/8, os Estados Unidos têm uma vantagem comparativa na produção de máquina de lavar roupa: para produzir uma máquina de lavar roupa, é necessário sacrificar somente 1/3 de um carro nos Estados Unidos, mas 3/8 de um carro na Itália. Isso significa que a Itália tem uma vantagem comparativa em automóveis. Isso pode ser verificado da maneira seguinte: o custo de oportunidade de um automóvel em termos de uma máquina de lavar na Itália é 8/3 = 2 2/3: 2 2/3 de máquinas de lavar roupa podem ser produzidas com o mesmo número de trabalhadores e no tempo que leva para produzir um carro na Itália. E o custo de oportunidade de um automóvel em termos de uma máquina de lavar roupa nos Estados Unidos é de 6/2 = 3: 3 máquinas de lavar roupa podem ser produzidas com o mesmo número de trabalhadores e no tempo que leva para produzir um carro nos Estados Unidos. Desde que 2 2/3 < 3, a Itália tem uma vantagem comparativa na

produção de automóveis. c. Os maiores ganhos são obtidos quando cada país se especializa na produção do bem para o qual tem vantagem comparativa. Portanto, os Estados Unidos deveriam se especializar em máquinas de lavar roupa e a Itália, em automóveis. 3. Em uma troca de 10 jatos grandes dos Estados Unidos por 15 jatos pequenos brasileiros, o Brasil abre mão de menos jatos grandes do que abriria ao construir esses jatos por si mesmo. Sem troca, o Brasil abre mão de três jatos pequenos para cada jato grande que produz. Com troca, o Brasil abre mão de apenas 1,5 jatos pequenos para cada jato grande dos Estados Unidos. Da mesma forma, os Estados Unidos abrem mão de menos jatos pequenos do que abriria se os tivesse fabricando. Sem troca, os Estados Unidos abre mão de 3/4 de um jato grande para cada jato pequeno. Com troca, os Estados Unidos abrem mão de apenas 2/3 de um jato grande para cada jato pequeno do Brasil. 4. Um aumento no montante de dinheiro gasto pelas famílias resulta em um aumento no fluxo de bens para as famílias. Esse, por sua vez, gera um aumento na demanda por fatores de produção por parte das empresas. Assim, há um aumento no número de empregos na economia.

Teste seu entendimento 2-2 1. a. Essa é uma afirmação normativa, pois determina o que deve ser feito. Além disso, pode não haver nenhuma resposta “correta”. Ou seja, as pessoas deveriam ser impedidas de todo o comportamento pessoal perigoso se elas gostam desse comportamento – como saltar de paraquedas? Sua resposta vai depender do ponto de vista. b. Essa é uma afirmação positiva, porque descreve um fato. 2. a. Verdadeiro. Os economistas muitas vezes têm juízos de valor diferentes sobre a conveniência de um objetivo social específico. Mas, apesar dessas diferenças, tendem a concordar que a sociedade, quando decide perseguir determinado objetivo social, deve adotar a política mais eficiente para alcançar esse objetivo. Por isso os economistas provavelmente concordariam em adotar a escolha política B. b. Falso. Os desacordos entre economistas são mais propensos a surgir porque baseiam suas conclusões em modelos diferentes ou porque têm juízo de valor diferente sobre a conveniência da política. c. Falso. Decidir quais as metas que uma sociedade deve procurar alcançar é uma questão de juízo de valor, não uma questão de análise econômica.

Capítulo 3 Teste seu entendimento 3-1 1. a. A quantidade de guarda-chuvas demandada é mais alta a qualquer preço dado em dia chuvoso do que em um dia seco. Esse é um deslocamento para a direita da curva da demanda, pois a qualquer preço dado a quantidade demandada aumenta. Isso implica que qualquer quantidade específica pode agora ser vendida a um preço mais elevado. b. A quantidade demandada de telefonemas de fim de semana aumenta em resposta à redução de preços. Isso é um movimento ao longo da curva da demanda por chamadas de fim de semana. c. A demanda de rosas aumenta na semana do Dia dos namorados. Esse é um deslocamento para a direita da curva da demanda. d. A quantidade demandada de gasolina cai em resposta a um aumento do preço. Esse é um movimento ao longo curva da demanda

Teste seu entendimento 3-2 1. a. A quantidade de casas ofertadas aumenta como resultado de um aumento nos preços. Esse é um movimento ao longo da curva da demanda. b. A quantidade de morangos ofertada é maior a qualquer preço. Esse é um deslocamento da curva da oferta para a direita. c. A quantidade de trabalho ofertada é mais baixa a qualquer salário dado. Esse é um deslocamento para a esquerda da curva da oferta, comparada com a curva da oferta durante as férias escolares. Assim, a fim de atrair trabalhadores, as cadeias de fastfood precisam oferecer salários mais altos. d. A quantidade de trabalho ofertada sobe em resposta ao aumento de salários. Esse é um movimento ao longo da curva da oferta. e. A quantidade de cabines ofertada é mais alta a qualquer preço. Esse é um deslocamento para a direita da curva da oferta.

Teste seu entendimento 3-3 1. a. A curva da oferta se desloca para a direita. Ao preço de equilíbrio original do ano anterior, a quantidade de uvas ofertada excede a quantidade demandada. Esse é um caso de excedente. O preço das uvas vai cair. b. A curva da demanda se desloca para a esquerda. Ao preço de equilíbrio original, a quantidade de quartos de hotel ofertada excede a quantidade demandada. Esse é um

caso de excedente. As diárias de hotel vão cair. c. A curva da demanda de removedores de neve de segunda mão se desloca para a direita. Ao preço de equilíbrio original, a quantidade de removedores de neve demandada excede a quantidade ofertada. Esse é um caso de escassez. O preço de equilíbrio dos removedores de neve vai aumentar.

Teste seu entendimento 3-4 1. a. O mercado de carros grandes: esse é um deslocamento para a direita na demanda, causado pela redução no preço de um complemento, a gasolina. Em consequência do deslocamento, o preço de equilíbrio dos carros maiores aumentará e a quantidade de equilíbrio dos carros maiores comprados e vendidos também aumentará. b. O mercado de papel novo feito de estoques reciclados: esse é um deslocamento para a direita na oferta, devido a uma inovação tecnológica. Em consequência desse deslocamento, o preço de equilíbrio do papel novo feito de reciclado vai cair e a quantidade de equilíbrio comprada e vendida aumentará. c. O mercado de filmes em um cinema local: esse é um deslocamento para a esquerda na demanda, causado por uma queda no preço de um substituto, os filmes pagos na televisão. Em consequência desse deslocamento, o preço de equilíbrio dos ingressos de cinema cairá e o número de equilíbrio de pessoas que vão ao cinema também cairá. 2. Após o anúncio do novo chip, a curva da demanda de computadores que usam o chip antigo se deslocará para a esquerda, à medida que a demanda cai e a curva da oferta para esses computadores se desloca para a direita à medida que a oferta aumenta. a. Se a demanda diminui relativamente mais do que a oferta aumenta, a quantidade de equilíbrio cai, como se vê a seguir:

b. Se a oferta aumenta relativamente mais do que a demanda diminui, então a

quantidade de equilíbrio aumenta, como mostrado aqui:

Em ambos os casos, o preço de equilíbrio cai.

Capítulo 4 Teste seu entendimento 4-1 1. a. Menos proprietários estão dispostos a alugar as calçadas porque o teto de preço reduziu o pagamento que recebem. Esse é um exemplo de redução de preço que conduz a uma redução na quantidade ofertada. O gráfico apresenta uma redução na quantidade de 400 lugares de estacionamento pelo movimento do ponto E para o ponto A ao longo da curva da oferta.

b. A quantidade demandada aumenta em 400 vagas à medida que o preço diminui. A um preço mais baixo, mais fãs querem ir de carro e alugar uma vaga de estacionamento. O gráfico apresenta isso pelo movimento do ponto E para o ponto B ao longo da curva de demanda. c. Sob um teto de preço, a quantidade demandada excede a quantidade ofertada, como resultado, surge escassez. Nesse caso, haverá uma escassez de 800 vagas de estacionamento. Isso é mostrado pela distância horizontal entre os pontos A e B. d. Tetos de preços resultam em desperdício de recursos. O tempo adicional que os fãs gastam para garantir uma vaga de estacionamento é tempo perdido. e. Tetos de preços levam à alocação ineficiente de um bem – aqui, as vagas de estacionamento – para os consumidores. f. Tetos de preços levam a mercados negros. 2. a. Falso. Ao baixar o preço que os produtores recebem, um teto de preço leva a uma diminuição na quantidade ofertada. b. Verdadeiro. Um teto de preço leva a uma menor quantidade ofertada do que em um mercado não regulamentado, eficiente. Em consequência, algumas pessoas que estariam dispostas a pagar o preço de mercado e assim teriam conseguido o bem em um mercado não regulamentado, são incapazes de obtê-la com a imposição de um

teto de preço. c. Verdadeiro. Os produtores que ainda vendem o produto, agora recebem menos por ele e, portanto, estão em situação pior. Outros produtores deixarão de achar que vale a pena vender o produto, e assim também ficarão em situação pior.

Teste seu entendimento 4-2 1. a. Alguns proprietários de postos de gasolina serão beneficiados com a obtenção de um preço mais elevado. QF indica as vendas feitas por esses proprietários. Mas alguns vão perder; existem aqueles que realizam vendas a preços de equilíbrio de mercado PE, mas não realizam vendas ao preço regulado PF. Essas vendas perdidas são indicadas no gráfico pela queda na quantidade demandada ao longo da curva da demanda, do ponto E ao ponto A. b. Aqueles que compram gasolina a um preço mais elevado PF provavelmente irão receber um serviço melhor. Um exemplo de qualidade alta pelo critério da eficiência causado por piso de preço quando os proprietários de postos de gasolina competem por qualidade e não por preço. Mas os adversários estão corretos ao afirmar que os consumidores geralmente ficarão em pior situação – aqueles que compram em PF ficariam felizes em comprar em PE, e muitos que estão dispostos a comprar a um preço entre PE e PF agora não estão mais dispostos a comprar. Isso é indicado no gráfico pela queda na quantidade demandada ao longo da curva da demanda, do ponto E para o ponto A. a. Os defensores estão errados porque os consumidores e alguns proprietários de postos de gasolina são prejudicados pelo piso de preço. Cada piso de preço cria “oportunidades perdidas” – transações desejáveis entre consumidores e proprietários de postos que não acontecem. Além disso, a ineficiência de recursos perdidos surge à medida que os consumidores gastam tempo e dinheiro dirigindo para outros estados. O piso de preço também tenta as pessoas a se envolver em atividade no mercado negro. Com o piso de preço, apenas as unidades QF são vendidas. Mas, a preços entre PE e PF, há motoristas que, cumulativamente, querem comprar mais em QF e proprietários que estão dispostos a vender para eles, uma situação suscetível de conduzir à atividade ilegal.

Teste seu entendimento 4-3 1. a. O preço de uma corrida é $7 desde que a quantidade demandada a esse preço seja 6 milhões: $7 é o preço de demanda de 6 milhões de corridas. Essa é representada pelo ponto A na figura a seguir.

b. Aos 6 milhões de corridas, o preço de oferta é $3 por corrida, representado pelo ponto B na figura. A cunha entre o preço de demanda de $7 por corrida e o preço de oferta de $3 por corrida é a renda da cota por corrida, $4. Isso é representado na figura do item a pela distância vertical entre os pontos A e B. c. Aos 9 milhões de corridas, o preço de demanda é $5,50 por corrida, indicado pelo ponto C na figura a seguir e o preço de oferta é $4,50 por corrida, indicado pelo ponto D. A renda da cota é a diferença entre o preço de demanda e o preço de oferta: $1.

2. A figura a seguir mostra uma diminuição na demanda de 4 milhões de corridas, representada por um deslocamento para a esquerda da curva da demanda de D1 para D2: a qualquer preço dado, a quantidade demandada cai em 4 milhões de corridas. (Por exemplo, ao preço de $5, a quantidade demandada cai de 10 milhões para 6 milhões de corridas por ano.) Isso elimina o efeito de um limite de cota de 8 milhões de corridas. No ponto E2, o novo equilíbrio de mercado, a quantidade de equilíbrio é igual ao limite da cota. Em decorrência, a cota não tem efeito sobre o mercado.

Capítulo 5 Teste seu entendimento 5-1 1. a. Para determinar a vantagem comparativa, é preciso comparar os custos de oportunidade dos dois países com determinado bem. Tome-se o custo de oportunidade de uma tonelada de milho em termos de bicicletas. Na China, o custo de oportunidade de uma bicicleta é 0,01 toneladas de milho; assim, o custo de oportunidade de uma tonelada de milho é 1/0,01 bicicletas = 100 bicicletas. Os Estados Unidos têm uma vantagem comparativa em milho, pois o custo de oportunidade em termos de bicicletas é 50, um número menor. Do mesmo modo, nos Estados Unidos o custo de oportunidade de uma bicicleta em termos de milho é de 1/50 toneladas de milho = 0,02 tonelada de milho. Isso é superior a 0,01, o custo de oportunidade de uma bicicleta chinesa em termos de milho, e implica que a China tem uma vantagem comparativa em bicicletas. b. Dado que os Estados Unidos podem produzir 200.000 bicicletas caso não produzam milho, podem produzir 200 mil bicicletas × 0,02 toneladas de milho / bicicleta = 4.000 toneladas de milho quando nenhuma bicicleta é produzida. Do mesmo modo, se a China pode produzir 3.000 toneladas de milho quando nenhuma bicicleta é produzida, pode produzir 3.000 toneladas de milho × 100 bicicletas /toneladas de milho = 300 mil bicicletas quando nenhum milho é produzido. Esses pontos determinam o intercepto vertical e horizontal na fronteira das possibilidades de produção dos Estados Unidos e da China, como mostrado no gráfico a seguir.

c. O gráfico mostra os pontos de produção e consumo dos dois países. Cada país melhora nitidamente a situação com o comércio internacional, pois cada um agora consome um pacote de dois bens que se encontra fora da sua fronteira das possibilidades de produção, indicando que cada um desses pacotes seria inatingível em autarquia. 2. a. De acordo com o modelo Heckscher-Ohlin, esse padrão de comércio ocorre porque os Estados Unidos têm uma disponibilidade relativamente maior de fatores de produção, como capital humano e capital físico, que são adequados para a produção de cinema, mas a França tem uma disponibilidade relativamente maior de fatores de produção adequados para fazer vinho, como vinhedos e o capital humano dos viticultores. b. De acordo com o modelo de Heckscher-Ohlin, esse padrão de comércio ocorre porque os Estados Unidos têm uma disponibilidade de fatores de produção relativamente maior, como capital humano e físico, que são adequados para fabricar maquinaria, mas o Brasil tem uma disponibilidade relativamente maior de fatores de produção adequados para fabricar sapatos, como mão de obra e couro.

Teste seu entendimento 5-2

1. No gráfico a seguir, PA é o preço das uvas nos Estados Unidos em autarquia e PW é o preço internacional de uvas havendo comércio internacional. Com o comércio, os consumidores americanos pagam por uvas o preço PW e consomem a quantidade QD; os produtores de uvas nos Estados Unidos produzem a quantidade QS, e a diferença QD − QS representa a importação de uvas mexicanas. Como consequência da greve dos caminhoneiros, as importações são interrompidas, o preço pago pelo consumidor americano sobe para o preço de autarquia, PA, e o consumo nos Estados Unidos cai para a quantidade de autarquia, QA.

a. Antes da greve, os consumidores americanos gozavam de um excedente de consumidor igual à área W + X + Z. Após a greve, o excedente do consumidor encolhe para a área W. Assim, os consumidores pioram a situação, perdendo o excedente do consumidor representado pela área X + Z. b. Antes da greve, os produtores americanos tinham um excedente do produtor igual à área Y. Após a greve, o excedente do produtor aumentou para a área Y + X. Assim, os produtores americanos melhoraram a situação, ganhando o excedente do produtor representado pela área X. c. O excedente total dos Estados Unidos cai em decorrência da greve, em uma quantia representada pela área Z, a perda no excedente do consumidor que não passa a ser excedente do produtor. 2. Os produtores de uva mexicanos pioram a situação porque perdem vendas de uvas exportadas para os Estados Unidos, e os catadores de uva mexicanos ficam em situação pior porque perdem os salários que estavam associados às vendas perdidas. A demanda menor por uva mexicana causada pela greve implica que o preço pago pelo consumidor mexicano por uva diminui, tornando sua situação melhor. Os catadores de uva dos Estados Unidos estão em melhor situação porque seus salários aumentam como resultado do aumento de QA − QS na venda de uvas dos Estados Unidos.

Teste seu entendimento 5-3 1. a. Se a tarifa é $0,50, o preço pago pelos consumidores domésticos por 1 libra de manteiga importada é $0,50 + $0,50 = $1,00, o mesmo preço de 1 libra de manteiga doméstica. A manteiga importada não terá mais uma vantagem de preço sobre a manteiga doméstica, as importações serão suspensas e os produtores domésticos vão captar todas as vendas possíveis aos consumidores domésticos, vendendo a quantidade QA na figura a seguir. Mas se a tarifa for menor que $0,50 – digamos, apenas $0,25, o preço pago pelos consumidores domésticos por 1 libra de manteiga importada é $0,50 + $0,25 = $0,75, que é $0,25 mais barato que 1 libra de manteiga doméstica. Os produtores de manteiga americana ganharão vendas na quantidade Q2 − Q1, em consequência da tarifa de $0,25. Mas isso é menos do que a quantia que teriam ganhado com uma tarifa de $0,50, QA − Q1.

b. Contanto que a tarifa seja de pelo menos $0,50, aumentá-la não terá qualquer efeito. A uma tarifa de $0,50, todas as importações são de fato bloqueadas. 2. Todas as importações estão de fato bloqueadas com uma tarifa de $0,50. Então, essa tarifa corresponde a uma cota de importação zero.

Teste seu entendimento 5-4 1. Há bem menos empresas que usam aço como insumo do que há consumidores que compram açúcar ou roupa. Por isso, será mais fácil para aquelas empresas se comunicarem e coordenar entre si para fazer pressão contra tarifas do que será para os consumidores. Além disso, cada empresa percebe que o custo de uma tarifa sobre o aço é muito pesada para seus lucros, mas um consumidor individual desconhece ou percebe uma perda pequena por causa de tarifas sobre o açúcar ou a roupa. As tarifas foram de fato suspensas no final de 2003. 2. Frequentemente, os países são tentados a proteger as indústrias nacionais, alegando que uma importação representa um perigo de qualidade, de saúde ou ambiental para o consumidor doméstico. Um funcionário da OMC deveria examinar se os produtores

nacionais estão sujeitos ao mesmo rigor na aplicação de regulamentos de qualidade, saúde e ambiental que os produtores estrangeiros. Se o tratamento for o mesmo, é mais provável que os regulamentos tenham finalidade legítima e não a de proteção comercial. Se não for, então o mais provável é que os regulamentos sejam medidas de proteção comercial.

Capítulo 6 Teste seu entendimento 6-1 1. a. Essa é uma questão microeconômica, pois aborda decisões tomadas pelos consumidores sobre um determinado produto. b. Essa é uma questão macroeconômica, pois aborda os gastos de consumo no conjunto da economia. c. Essa é uma questão macroeconômica, pois aborda mudanças no conjunto da economia. d. Essa é uma questão microeconômica, pois aborda mudanças em um determinado mercado, nesse caso, o mercado para geólogos. e. Essa é uma questão microeconômica, pois aborda escolhas feitas por consumidores e produtores sobre qual meio de transporte utilizar. f. Essa é uma questão microeconômica, pois aborda mudanças em determinado mercado. g. Essa é uma questão macroeconômica, pois aborda mudanças em uma medida do nível geral de preços da economia. 2. a. Quando as pessoas não podem obter financiamento para suas compras, ficam sem capacidade de gastar dinheiro. Isso vai enfraquecer a economia e, quando outros veem que a economia está enfraquecendo, também reduzem os gastos para poupar para os maus momentos futuros. Em consequência, a redução do crédito irá desencadear um efeito cumulativo por toda a economia à medida que as pessoas cortam gastos, tornando a economia pior, levando a mais cortes de gastos, e assim por diante. b. Se você acredita que a economia se autorregula, então defenderia que não se deve fazer nada em resposta à recessão. c. Se você acredita em economia keynesiana, defenderia que os formuladores de política econômica adotem política monetária e fiscal para estimular os gastos na economia.

Teste seu entendimento 6-2 1. Falamos de ciclos econômicos para a economia como um todo, pois recessões e expansões não ficam contidas em alguns setores – refletem declínios e ascensões da economia como um todo. Nos declínios, quase todos os setores da economia reduzem o produto e o número de pessoas empregadas. Além disso, os ciclos econômicos são um fenômeno internacional, às vezes se movendo em sincronia áspera entre os países. 2. As recessões causam bastante prejuízo para a sociedade. Fazem com que grande número de trabalhadores perca o emprego e torna difícil encontrar novos empregos. As

recessões prejudicam o padrão de vida de muitas famílias e normalmente são associadas com um aumento no número de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, um aumento no número de pessoas que perdem suas casas porque não conseguem pagar a prestação da hipoteca, uma queda na quantidade de pessoas com seguro-saúde. As recessões também reduzem os lucros das empresas.

Teste seu entendimento 6-3 1. Países com taxas elevadas de crescimento da população terão de manter taxas de crescimento do produto agregado mais elevadas do que países com taxa de crescimento da população baixa, se quiserem alcançar uma melhoria do padrão de vida por pessoa, pois o produto agregado terá que ser dividido entre um número maior de pessoas. 2. Não, a Argentina não é mais pobre do que era no passado. Tanto a Argentina quanto o Canadá tiveram crescimento de longo prazo. No entanto, após a Segunda Guerra Mundial, a Argentina não teve tanto progresso quanto o Canadá, talvez por causa da instabilidade política e de políticas macroeconômicas erradas. A economia do Canadá cresceu muito mais rápido do que a Argentina. Embora o Canadá seja hoje cerca de três vezes mais rico que a Argentina, esta teve crescimento econômico de longo prazo.

Teste seu entendimento 6-4 1. a. Como alguns preços subiram, mas outros preços caíram, pode ter havido inflação geral ou deflação. A resposta é ambígua. b. Como todos os preços subiram de forma significativa, parece ter havido inflação. c. Como a maioria dos preços caiu e outros não mudaram, parece ter havido deflação.

Teste seu entendimento 6-5 1. a. Essa situação reflete a vantagem comparativa. A vantagem comparativa do Canadá resulta da descoberta de petróleo: agora o Canadá tem petróleo abundante. b. Essa situação reflete vantagem comparativa. A vantagem comparativa da China resulta da abundância de mão de obra; a China é boa em atividades intensivas em trabalho, como montagem. c. Essa situação reflete forças macroeconômicas. A Alemanha tem obtido um superávit comercial enorme por causa de decisões subjacentes em relação à poupança e ao gasto de investimento, com a poupança excedendo o gasto de investimento. d. Essa situação reflete forças macroeconômicas. Os Estados Unidos conseguiram começar a incorrer em grande déficit comercial porque o boom de tecnologia tornou os Estados Unidos um lugar atraente para investir e os gastos de investimento superaram a poupança do país.

Capítulo 7 Teste seu entendimento 7-1 1. Vamos começar por considerar a relação entre o valor agregado total de todos os bens e serviços finais produzidos internamente e serviços e gasto agregado em bens e serviços finais produzidos internamente. Essas duas quantidades são iguais porque cada bem e serviço final produzido na economia é comprado por alguém ou adicionado aos estoques. E a adição aos estoques é contabilizada como gasto das empresas. Em seguida, vamos considerar a relação entre gasto agregado em bens e serviços produzidos internamente e renda de fator total. Essas duas quantidades são iguais porque todo o gasto que é encaminhado para a empresa para pagar as compras de bens e serviços finais produzidos internamente é a receita das empresas. Essas receitas precisam ser pagas pelas empresas pelos seus fatores de produção na forma de salários, lucros, juros e renda. Tomado em conjunto, isso significa que todos os três métodos de cálculo do PIB são equivalentes. 2. As empresas vendem a outras empresas, às famílias, ao governo e ao resto do mundo. As famílias se relacionam com as empresas por intermédio da venda de fatores de produção às empresas, por meio de compras de bens e serviços finais pelas empresas e também de empréstimos de fundos às empresas nos mercados financeiros. As famílias se relacionam com o governo por meio do pagamento de impostos, recebimento de transferências e empréstimos de fundos para o governo por intermédio dos mercados financeiros. Finalmente, as famílias se ligam ao resto do mundo pelas compras de importações e transações com estrangeiros nos mercados financeiros. 3. Você estaria contando o valor do aço duas vezes – uma vez quando foi vendido pela American Steel para a American Motors e outra vez como parte do carro vendido pela American Motors.

Teste seu entendimento 7-2 1. a. Em 2011, o PIB nominal foi de (1.000.000 × $0,40) + (800.000× $0,60) = $400.000 + $480.000 = $880.000. Um aumento de 25% no preço da batata frita de 2011 para 2012 significa que o preço da batata frita em 2012 era 1,25 × $0,40 = $0,50. Uma queda de 10% no número de porções significa que 1.000.000 ×0,9 = 900.000 porções foram vendidas em 2012. Em consequência, o valor total de vendas de batatas fritas em 2012 foi 900.000 × $0,50 = $450.000. Uma queda de 15% no preço dos anéis de cebola de 2011 a 2012 significa que o preço dos anéis de cebola de 2012 foram 0,85 × $0,60 = $0,51. Um aumento de 5% nas porções vendidas significa que 800.000 × 1,05 = 840.000 porções foram vendidas em 2012. Em consequência, o valor total de vendas de anéis de cebola em 2012 foi de 840.000 × $0,51 = $428.400. O PIB nominal em 2012 foi de $450.000 + $428.400 = $878.400. Para determinar o PIB real em 2012, temos de calcular o valor das vendas em 2012 com preços de 2011: (900.000 de batatas fritas × $0,40) +

(840.000 anéis de cebola × $0,60) = $360.000 + $504.000 = $864.000. b. Uma comparação entre o PIB nominal em 2011 com o PIB nominal em 2012 mostra uma queda de (($880.000 − $878.400) / $880.000) × 100 = 0,18%. Mas uma comparação usando o PIB real mostra uma queda de (($880.000 − $864.000) / $880.000) × 100 = 1,8%. Ou seja, um cálculo com base no PIB real mostra uma queda 10 vezes maior (1,8%) do que um cálculo com base no PIB nominal (0,18%). Nesse caso, o cálculo com base no PIB nominal subestima a verdadeira magnitude da mudança. 2. Um índice de preços com base nos preços de 2005 irá conter preços relativamente altos de aparelhos eletrônicos e preços relativamente baixos de habitação em relação ao índice de preços com base nos preços de 2010. Isso significa que um índice de preços com base em 2005 usado para calcular o PIB real em 2012 superestima o valor da produção de eletrônicos na economia, enquanto um índice de preços com base em 2010 inflará o valor da construção residencial na economia.

Teste seu entendimento 7-3 1. Essa cesta básica custava antes da geada, (100 × $0.20) + (50 × $0,60) + (200 × $0,25) = $20 + $30 + $50 = $100. A mesma cesta básica, após a geada, custa (100 × $0,40) + (50 × $1,00) + (200 × $0,45) = $40 + $50 + $90 = $180. Assim, o índice de preços é ($100/$100) × 100 = 100 antes da geada e ($180/$100) × 100 = 180 após a geada, o que implica um aumento do índice de preços de 80%. Esse aumento é menor do que os 84,2% de aumento calculado no texto. A razão dessa diferença é que uma nova cesta básica de 100 laranjas, 50 toranjas e 200 limões contêm proporcionalmente mais dos itens que sofreram aumentos de preços relativamente mais baixos (os limões, cujo preço aumentou em 80%) e proporcionalmente menos dos itens que sofreram aumentos de preços relativamente maiores (as laranjas, cujo preço aumentou 100%). Isso mostra que um índice de preços pode ser muito sensível à composição da cesta básica. Se a cesta básica contém uma grande quantidade de bens cujos preços aumentaram mais rápido que os preços dos outros bens, levará a uma estimativa mais elevada do aumento no nível de preços. Se contiver uma proporção elevada de bens cujos preços aumentaram de forma mais lenta do que o preço dos demais, levará a uma estimativa mais baixa do aumento no nível de preços. 2. a. Uma cesta básica escolhida há 10 anos conterá menos carros do que no presente. Dado que o preço médio de um carro aumentou mais rapidamente do que os preços médios de outros bens, essa cesta vai subestimar o verdadeiro aumento no nível de preços, porque conterá uma quantidade relativamente menor de carros. b. Uma cesta básica determinada há 10 anos não conterá acesso à Internet de banda larga. Portanto, não pode refletir a queda nos preços de acesso à Internet nos últimos anos. Em consequência, superestima o verdadeiro aumento no custo de vida. 3. Utilizando a Equação 7-3, a taxa de inflação de 2009 a 2010 é ((218,056 – 214.537) / 214.537) × 100 = 1,6%.

Capítulo 8 Teste seu entendimento 8-1 1. O advento de sites que permitem aos candidatos a emprego encontrarem emprego mais rapidamente reduz a taxa de desemprego ao longo do tempo. No entanto, se esses sites induzem trabalhadores desencorajados a começar de novo a buscar um emprego ativamente, levarão a um aumento na taxa de desemprego ao longo do tempo. 2. a. Rosa não é contada como desempregada, porque não está em busca de emprego ativamente, mas é contada como trabalhador desencorajado em medidas mais amplas de subutilização do trabalho. b. Anthony não é contado como desempregado; é considerado empregado, pois tem um emprego. c. Grace está desempregada; não está trabalhando e está em busca de emprego ativamente. d. Sergio não está desempregado, mas subempregado; está trabalhando em tempo parcial por razões econômicas. É contado em medidas mais amplas de subutilização do trabalho. e. Natasha não está desempregada, mas marginalmente ligada à força de trabalho. Ela é contada em medidas mais amplas de subutilização do trabalho. 3. As partes A e B são consistentes com a relação ilustrada na Figura 8-5 entre crescimento do PIB real acima e abaixo da média e a taxa de desemprego: durante os anos de crescimento econômico acima da média, a taxa de desemprego cai e durante os anos de crescimento abaixo da média, a taxa de desemprego aumenta. No entanto, a parte c não é consistente: implica que a recessão está associada a uma queda na taxa de desemprego, o que está correto.

Teste seu entendimento 8-2 1. a. Quando o ritmo do avanço tecnológico se acelera, haverá taxas mais elevadas de criação e destruição de emprego, à medida que indústrias antigas desaparecem e surgem novas. Em consequência, o desemprego friccional será mais alto, pois os trabalhadores deixarão as indústrias em declínio em busca de emprego nos setores em expansão. b. Quando o ritmo do avanço tecnológico se acelera, haverá maior discrepância entre trabalhadores qualificados e as qualificações que os empregadores estão buscando, o que leva ao aumento do desemprego estrutural. c. Quando a taxa de desemprego é baixa, o desemprego friccional representa uma parcela elevada do desemprego total, pois outras fontes de desemprego terão diminuído. Assim, a parcela que representa o desemprego friccional aumenta.

2. Um salário mínimo obrigatório representa um piso de preço abaixo do qual os salários não podem cair. Em consequência, os salários efetivos não podem se mover rumo ao equilíbrio. Assim, um salário mínimo faz a quantidade ofertada de trabalho exceder a quantidade demandada de trabalho. Como esse excedente de trabalho reflete trabalhadores desempregados, isso afeta a taxa de desemprego. Negociações coletivas têm efeito semelhante – os sindicatos têm a capacidade de aumentar o salário acima do nível de equilíbrio a um nível como WU no diagrama a seguir. Isso funciona como um salário mínimo, fazendo o número dos que buscam emprego ser maior do que o número de trabalhadores que as empresas estão dispostas a contratar. A negociação coletiva faz a taxa de desemprego ser maior do que poderia como mostrado no gráfico.

3. Um aumento na assistência ao desempregado no pico do ciclo econômico reduz o custo de estar desempregado para o indivíduo, levando-o a gastar mais tempo na busca de um novo emprego. Assim, a taxa natural de desemprego aumenta.

Teste seu entendimento 8-3 1. Os custos de sola de sapato, associados à inflação, serão mais baixos porque agora é menos oneroso para os indivíduos administrar os ativos para economizar a quantidade de dinheiro vivo que mantêm. Essa redução no custo de conversão de ativos não monetários em moeda viva se traduz em custos de sola de sapato mais baixos. 2. Se a inflação parasse completamente nos próximos 15 ou 20 anos, a taxa de inflação seria zero, o que, naturalmente, é menos do que a taxa de inflação esperada de 2% a 3%. Como a taxa de juros real é a taxa de juros nominal menos a taxa de inflação, a taxa de juros real sobre um empréstimo seria superior ao esperado e os credores ganhariam à custa dos devedores. Os devedores teriam que amortizar os empréstimos com fundos que têm um valor real superior ao esperado.

Capítulo 9 Teste seu entendimento 9-1 1. O progresso econômico melhora o padrão de vida do morador médio de um país. Um aumento no PIB real não reflete com precisão um aumento do padrão de vida de um morador médio porque não leva em conta o crescimento do número de moradores. Se, por exemplo, o PIB real aumenta 10%, mas a população aumenta 20%, o padrão de vida do morador médio cai: depois da mudança, o morador médio tem apenas (110 /120) × 100 = 91,6% da renda real que tinha antes da mudança. Da mesma forma, um aumento no PIB nominal per capita não reflete com precisão um aumento no padrão de vida, pois não leva em conta mudanças nos preços. Por exemplo, um aumento de 5% no PIB nominal per capita gerada por um aumento de 5% nos preços implica que não houve mudança no padrão de vida. O PIB real per capita é a única medida que leva em conta tanto mudanças na população como nos preços. 2. Usando a regra dos 70, o tempo necessário para a China dobrar o PIB real per capita é (70/8,9) = 8 anos; para a Índia, (70/4,2) = 17 anos ; para a Irlanda, (70/3,1) = 23 anos, para os Estados Unidos, (70/1,7) = 41 anos; para a França, (70/l,3) = 54 anos e para a Argentina (70/1,2) = 58 anos. Como a regra dos 70 só pode ser aplicada a uma taxa de crescimento positiva, não pode ser aplicada ao Zimbábue, que tem taxa de crescimento negativa. Se a Índia continuar tendo uma taxa de crescimento do PIB real per capita superior à dos Estados Unidos, então o PIB real per capita da Índia acabará por superar o dos Estados Unidos. 3. Os Estados Unidos começaram a crescer rapidamente há mais de um século, mas a China e a Índia apenas recentemente começaram a crescer rapidamente. Em consequência, o padrão de vida da família típica chinesa ou indiana ainda não alcançou o padrão de vida da família típica americana.

Teste seu entendimento 9-2 1. a. Progresso tecnológico significativo resultará em aumento na taxa de crescimento da produtividade, mesmo que o capital físico e o capital humano por trabalhador permaneçam inalterados. b. A taxa de crescimento da produtividade cairá, mas permanecerá positiva, devido aos retornos decrescentes ao capital físico. 2. a. Se o produto cresceu 3% ao ano e a força de trabalho cresceu 1% ao ano, então a produtividade – o produto por pessoa – cresceu cerca de 3% − 1% = 2% ao ano. b. Se o capital físico cresceu aproximadamente 4% ao ano e a força de trabalho cresceu 1% ao ano, o capital físico por pessoa cresceu cerca de 4% − 1% = 3% ao ano. c. De acordo com as estimativas, cada aumento de 1% no capital físico, tudo o mais

mantido constante, aumenta a produtividade em 0,3%. Assim, se o capital físico por trabalhador aumentou 3% ao ano, o aumento da produtividade que pode ser atribuído ao aumento do capital físico por trabalhador é 0,3 × 3% = 0,9%. Como porcentagem total do crescimento da produtividade, isto fica 0,9% / 2% × 100 % = 45%. d. Se o resto do crescimento da produtividade se deve ao progresso tecnológico, esse contribuiu com 2% − 0,9% = 1,1% para o crescimento da produtividade. Como porcentagem total do crescimento da produtividade, isto fica 1,1% / 2% × 100% = 55%. 3. Será necessário algum tempo para que os trabalhadores aprendam a usar o novo sistema de computação e ajustem suas rotinas. Como muitas vezes há contratempos no aprendizado de um novo sistema, como apagar arquivos acidentalmente, a produtividade da Multinomics poderá diminuir por um período de tempo.

Teste seu entendimento 9-3 1. Um país que tem poupança interna elevada é capaz de alcançar taxa de gasto de investimento elevada como porcentagem do PIB. Esse, por sua vez, permite que o país tenha taxa elevada de crescimento. 2. É provável que os Estados Unidos tenham uma aceleração na criação e desenvolvimento de novos medicamentos, porque relações mais estreitas entre empresas privadas e centros de pesquisa acadêmica levarão a um trabalho mais focado diretamente na produção de novas drogas do que em pesquisa pura. 3. É provável que esses eventos resultem em queda na taxa de crescimento do país, pois a falta de direito de propriedade vai dissuadir as pessoas a fazerem investimento em capacidade produtiva.

Teste seu entendimento 9-4 1. A versão condicional da hipótese da convergência diz que os países crescem mais rápido, tudo o mais mantido constante, quando começam a partir de um PIB per capita relativamente baixo. A partir disso, pode-se inferir que crescem mais lentamente, tudo o mais mantido constante, quando o PIB real per capita é relativamente mais alto. Isso aponta no sentido do crescimento asiático futuro mais baixo. No entanto, pode ser que tudo o mais não fique constante: se as economias asiáticas continuarem a investir em capital humano, se a taxa de poupança continuar sendo elevada, se os governos investirem em infraestrutura, e assim por diante, o crescimento pode continuar em ritmo acelerado. 2. As regiões da Ásia Oriental, Europa Ocidental e Estados Unidos apoiam a hipótese da convergência porque uma comparação entre eles mostra que a taxa de crescimento do PIB real per capita cai à medida que o PIB real per capita aumenta. A Europa Oriental, a Ásia Ocidental, a América Latina e a África não suportam a hipótese, porque todos eles têm o PIB real per capita muito mais baixo do que o dos Estados Unidos, mas têm

aproximadamente a mesma taxa de crescimento (Ásia Ocidental e Europa Oriental) ou uma taxa de crescimento mais baixa (África e América Latina). 3. A evidência sugere que os dois conjuntos de fatores são importantes: uma infraestrutura melhor é importante para o crescimento assim como a estabilidade política e financeira. As políticas devem tentar se reportar a ambas as áreas.

Teste seu entendimento 9-5 1. Normalmente, os economistas estão mais preocupados com a degradação ambiental do que com a escassez de recursos. A razão é que nas economias modernas, as reações dos preços tendem a aliviar os limites impostos pela escassez de recursos através da conservação e do desenvolvimento de alternativas. No entanto, como a degradação ambiental envolve uma externalidade negativa – um custo imposto aos demais por indivíduos ou empresas sobre os outros sem a necessidade de compensação – é necessária a intervenção efetiva do governo para lidar com ela. Em consequência, os economistas estão mais preocupados com os limites ao crescimento imposto pela degradação do meio ambiente, pois uma resposta do mercado seria inadequada. 2. O crescimento aumenta as emissões dos gases de efeito estufa. As melhores estimativas disponíveis indicam que uma grande redução nas emissões resultará apenas em modesta redução no crescimento. O encargo internacional de partilhar a redução de emissões de gases de efeito estufa é controverso porque os países ricos são relutantes em pagar o custo de reduzir as emissões vendo que países emergentes como a China aumentam as emissões rapidamente. Mas a maior parte do acúmulo atual de gases é devido às ações do passado dos países ricos. Os países mais pobres, como a China, relutam igualmente em sacrificar seu crescimento para pagar as ações passadas dos países ricos.

Capítulo 10 Teste seu entendimento 10-1 1. a. Como existe uma entrada líquida de capital na economia, a oferta de fundos para empréstimo aumenta. Isso é ilustrado pelo deslocamento da curva da oferta de S1 para S2 no diagrama a seguir. À medida que o equilíbrio se desloca de E1 para E2, a taxa de juros de equilíbrio cai de r1 para r2, e a quantidade de equilíbrio de fundos para empréstimo aumenta de Q1 para Q2.

b. A poupança cai devido à maior quantidade de pessoas aposentadas e a oferta de fundos para empréstimo diminui. Isso é ilustrado pelo deslocamento para a esquerda da curva da oferta de S1 para S2 no gráfico. O equilíbrio se desloca de E1 para E2, a taxa de juros de equilíbrio aumenta de r1 para r2 e a quantidade de equilíbrio de fundos para empréstimo cai de Q1 para Q2.

2. Sabemos do mercado de fundos para empréstimo que, quando a taxa de juros sobe, as famílias querem poupar mais e consumir menos. Mas, ao mesmo tempo, um aumento na taxa de juros reduz o número de projetos de gastos de investimento com retorno pelo menos igual à taxa de juros. A afirmação de que “as famílias querem poupar mais dinheiro do que as empresas querem investir ” não pode representar um equilíbrio no mercado de fundos para empréstimo porque diz que a quantidade de fundos para empréstimo ofertado excede a quantidade de fundos para empréstimo demandada. Quando isso ocorre, a taxa de juros deve cair até tornar a quantidade de fundos para empréstimo ofertada igual à quantidade de fundos para empréstimo demandada. 3. a. A taxa de juros real não vai mudar. De acordo com o efeito Fisher, um aumento na inflação esperada pressiona para cima a taxa de juros nominal, deixando a taxa de juros real inalterada. b. A taxa de juros nominal subirá 3%. Cada ponto percentual adicional de inflação pressiona para cima a taxa nominal de juros em 1 ponto percentual. c. Como já vimos, desde que seja esperada, a inflação não afeta a quantidade de equilíbrio de fundos para empréstimo. Tanto a curva da oferta quanto a da demanda de fundos para empréstimo são pressionadas para cima, deixando inalterada a quantidade de equilíbrio dos fundos para empréstimo.

Teste seu entendimento 10-2 1. Os custos de transação para (a) um depósito bancário e (b) uma participação em um fundo mútuo são aproximadamente iguais, pois cada um normalmente pode ser realizado por meio de um telefonema, pela internet ou indo a uma agência bancária. Os custos de transação são mais altos para (c), a participação em uma empresa familiar, pois encontrar um comprador para essa participação consome tempo e recursos. O nível de risco é mais baixo para (a) um depósito bancário, uma vez que esses depósitos são segurados pelo Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC) até $250.000; um pouco

mais alto para (b) uma parcela de um fundo mútuo, uma vez que, apesar da diversificação, ainda há risco associado com a detenção de fundos mútuos; e mais alto para (c) uma participação em uma empresa familiar, uma vez que esse investimento não é diversificado. O nível de liquidez é o mais alto para (a) um depósito bancário, uma vez que as retiradas normalmente podem ser feitas imediatamente; um pouco menor para (b) uma participação em um fundo mútuo, uma vez que pode levar alguns dias entre vender as ações e processar o pagamento; e mais baixo para (c) uma participação em uma empresa familiar, uma vez que ela só pode ser vendida com acordo unânime dos outros membros e levará algum tempo até que seja encontrado um comprador. 2. O desenvolvimento econômico e o crescimento são resultantes de, entre outros fatores, gastos de investimento em capital físico. Como o gasto de investimento é igual à poupança, quanto maior o montante poupado, tanto maior o investimento e tanto mais alta será a taxa de crescimento e desenvolvimento econômico. Assim, a existência de instituições que facilitem a poupança, ajudará o crescimento e o desenvolvimento econômico do país. Em consequência, um país com um sistema financeiro que proporcione custos de transação baixos, oportunidade de diversificação de risco e alta liquidez para os poupadores vai ter um crescimento e desenvolvimento econômico mais rápido que um país que não tenha.

Teste seu entendimento 10-3 1. a. O preço das ações hoje reflete a expectativa do mercado sobre os preços das ações no futuro e, de acordo com a hipótese dos mercados eficientes, os preços das ações sempre levam em conta toda a informação disponível. O fato de que os lucros deste ano são baixos não é informação nova, por isso já está embutido no preço da ação. No entanto, quando se torna conhecido que os lucros da empresa serão elevados no próximo ano, o preço da ação aumenta hoje, refletindo essa nova informação. b. As expectativas dos investidores sobre lucros elevados já estavam incorporadas ao preço da ação. Como os lucros são mais baixos que o esperado, as expectativas do mercado sobre o preço futuro das ações da empresa serão revistas para baixo. Essa nova informação reduzirá o preço da ação. c. Quando outras empresas do mesmo setor anunciam que as vendas estão inesperadamente baixas este ano, os investidores tendem a concluir que as vendas também serão inesperadamente baixas para essa empresa. Em consequência, os investidores vão reduzir as estimativas de lucro futuro e do preço futuro das ações. Essa nova informação resultará em um preço mais baixo da ação hoje. d. Esse anúncio não terá efeito sobre o preço das ações da empresa ou o aumentará apenas ligeiramente. Não acrescenta nova informação, além de remover alguma incerteza sobre se a previsão de lucros estava correta. Portanto, o resultado é que não haverá mudança no preço da ação ou apenas uma pequena elevação. 2. A hipótese dos mercados eficientes afirma que toda a informação disponível é imediatamente levada em conta no preço das ações. Então, se os investidores compraram

ações de forma consistente depois que o índice Dow subiu 1%, um investidor inteligente venderia nesse dia porque a demanda e, portanto, o preço das ações seriam elevados. Se fosse possível obter lucro dessa forma, muitos investidores estariam vendendo, e já não seria verdade que os investidores sempre compram ações um dia depois de um aumento de 1% no índice Dow Jones.

Capítulo 11 Teste seu entendimento 11-1 1. Uma queda nos gastos de investimento, assim como um aumento, tem efeito multiplicador sobre o PIB real; a única diferença é que nesse caso o PIB real cai em vez de subir. A queda em I leva a uma queda inicial no PIB real, que leva a uma queda na renda disponível, que leva a menor gasto de consumo, que leva a outra queda no PIB real, e assim por diante. Assim, os gastos de consumo diminuem como resultado indireto da queda nos gastos de investimento. 2. Quando a PMC é 0,5, o multiplicador é 1/(1 − 0,5) = 1/0,5 = 2. Quando a PMC é 0,8, o multiplicador é igual a 1/(1 − 0,8) = 1/0,2 = 5. 3. Quanto maior a proporção do PIB que é poupada em vez de ser gasta, menor a PMC. A renda disponível que vai para a poupança é como um “vazamento” no sistema, reduzindo a quantia dos gastos que alimentam uma expansão subsequente. Por isso, é provável que Amerigo tenha o multiplicador maior.

Teste seu entendimento 11-2 1. a. Os gastos de consumo de Angelina são $8.000. Quando sua renda disponível corrente aumenta para $10.000, seu gasto de consumo aumenta em $12.000 − $8.000 = $4.000. Assim a PMC é $4.000/$10.000 = 0,4 × yd e a função consumo é c = $8.000 + 0,4 × yd. O gasto de consumo autônomo de Felícia é $6.500. Quando a renda disponível corrente aumenta $10.000, o gasto de consumo aumenta $14.500 − $6.500 = $8.000. Então, sua PMC é $8.000/$10.000 = 0,8 e sua função consumo é c = $6.500 + 0,8 × yd. O gasto de consumo autônomo de Marina é $7.250. Quando a renda disponível corrente aumenta $10.000, o gasto de consumo aumenta $14.250 − $7.250 = $7.000. Então sua PMC é $7.000/$10.000 = 0,7 e a função consumo é c = $7.250 + 0,7 × yd. b. O gasto de consumo autônomo agregado nessa economia é de $8.000 + $6.500 + $7.250 = $21.750. Um aumento de $30.000 na renda disponível (3 × $10.000) leva a um aumento no gasto de consumo de $4.000 + $8.000 + $7.000 = $19.000. Assim, a PMC de toda a economia é $19.000/$30.000 = 0,63 e a função consumo agregado é C = $21.750 + 0,63 × YD. 2. Se você espera que sua renda disponível caia no futuro, gostaria de poupar uma parte da renda disponível hoje como apoio para o futuro. Mas não pode fazer isso se não puder poupar. Se você espera que a sua renda disponível futura vá aumentar, gostaria de gastar hoje uma parte da renda disponível de amanhã. Mas você não pode fazer isso se não puder tomar emprestado. Se você não pode nem poupar nem tomar emprestado, sua renda disponível esperada no futuro não terá nenhum efeito sobre o gasto de consumo de hoje. Na verdade, a PMC tem que ser sempre igual a 1: você precisa consumir toda a renda disponível corrente hoje e não tem possibilidade de dar maior estabilidade ao

consumo de longo tempo.

Teste seu entendimento 11-3 1. a. Um aumento inesperado no gasto de consumo irá resultar em uma redução nos estoques, à medida que os produtores vendem itens dos estoques para satisfazer esse aumento na demanda de curto prazo. Esse é um investimento em estoques não planejado negativo: reduz o valor dos estoques dos produtores. b. Um aumento no custo do crédito é equivalente a um aumento na taxa de juros: menos projetos de gastos de investimento são agora lucrativos para os produtores, sejam eles financiados por meio da tomada de empréstimos ou de lucros retidos. Em consequência, os produtores vão reduzir a quantidade de gasto de investimento planejado. c. Um salto na taxa de crescimento real do PIB leva a um nível mais alto de gasto de investimento planejado pelos produtores, de acordo com o princípio do acelerador, à medida que eles aumentam a capacidade produtiva para atender à demanda mais alta. d. Com a queda nas vendas, como os produtores vendem menos, os estoques aumentam. Isso leva a um investimento em estoques não planejados positivo. 2. Como a propensão marginal a consumir é menor que 1, porque os consumidores normalmente gastam uma parte, mas não o total de US$1 adicional de renda disponível, os gastos de consumo não respondem totalmente às flutuações na renda disponível corrente. Esse comportamento reduz o efeito de flutuações na economia sobre os gastos de consumo. Por outro lado, segundo o princípio do acelerador, o gasto de investimento está diretamente relacionado com a taxa de crescimento futuro esperado do PIB. Em consequência, o gasto de investimento vai ampliar as flutuações na economia: uma taxa mais alta de crescimento futuro esperado do PIB real levará a um gasto de investimento planejado mais elevado; uma taxa de crescimento futuro esperado do PIB real mais baixa levará a um gasto de investimento planejado mais baixo. 3. Quando o gasto de consumo é lento, as empresas com excesso de capacidade de produção vão cortar gastos de investimento planejado, pois julgam que a capacidade existente é suficiente para atender às vendas futuras esperadas. Da mesma forma, quando o gasto de consumo é lento e as empresas têm uma grande quantidade de investimento em estoques não planejados, é provável que reduzam a produção, por achar que os estoques existentes são suficientes para as vendas futuras esperadas. Então, um excesso de estoque tende a deprimir a atividade econômica quando as empresas cortam os gastos em investimento planejado e o produto.

Teste seu entendimento 11-4 1. Uma redução no gasto de investimento planejado leva a uma queda no PIB real em resposta a um aumento não antecipado de estoques. A queda no PIB real se traduzirá em

queda na renda disponível das famílias e as famílias responderão por meio da redução dos gastos de consumo. A queda nos gastos de consumo leva os produtores a reduzir ainda mais o produto, reduzindo ainda mais a renda disponível e levando a reduções adicionais no gasto de consumo. Assim, embora a recessão se origine no gasto de investimento, irá causar redução nos gastos de consumo. 2. a. Depois de uma queda autônoma no gasto agregado planejado, a economia já não está em equilíbrio: o PIB real é maior que o gasto agregado planejado. A figura a seguir mostra essa queda autônoma no gasto agregado planejado pelo deslocamento da curva de gasto agregado de AE1 para AE2. A diferença entre os dois resulta em investimento não planejado em estoques: ocorre aumento inesperado nos estoques. As empresas responderão reduzindo a produção. Isso no fim levará a economia a um novo equilíbrio. Na figura a seguir, isso é ilustrado pelo movimento do equilíbrio renda-despesa inicial em E1 para o novo equilíbrio renda-despesa em E2. À medida que a economia se move para o novo equilíbrio, o PIB real cai do nível de equilíbrio renda-despesa inicial em Y*1 para seu novo nível mais baixo Y*2.

b. Sabemos que a mudança no PIB de equilíbrio renda-despesa é dada pela Equação 1117: ΔY* = Multiplicador × ΔAAEPlan. Aqui, o multiplicador = 1/(1− 0,5) = 1/0,5 = 2. Assim, $300 milhões de redução autônoma no gasto agregado planejado levará a 2 × $300 milhões = $600 milhões ($0,6 bilhões) de queda no PIB de equilíbrio PIB de renda- despesa. O novo Y* será $500 − 0,6 bilhões dólar = $499,4 bilhões.

Capítulo 12 Teste seu entendimento 12-1 1. a. Esse é um deslocamento da curva da demanda agregada. Uma redução na quantidade de moeda aumenta a taxa de juros, pois as pessoas agora querem tomar mais dinheiro emprestado e emprestar menos. Uma taxa de juros mais alta reduz os gastos de investimento e de consumo, a qualquer nível de preços agregado. Assim, a curva da demanda agregada se desloca para a esquerda. b. Esse é um movimento para cima ao longo da curva da demanda agregada. À medida que o nível de preços agregado sobe, o valor real da moeda que se mantém em mãos diminui. Esse é o efeito da taxa de juros de uma mudança no nível de preços agregado: à medida que o valor da moeda cai, as pessoas querem manter mais moeda. Fazem isso tomando mais empréstimos e emprestando menos. Isso leva a um aumento na taxa de juros e a uma redução nos gastos de consumo e de investimento. Por isso, é um movimento ao longo da curva da demanda agregada. c. Esse é um deslocamento da curva da demanda agregada. Expectativas de uma piora no mercado de trabalho e, assim, de menor renda média disponível, reduz os gastos de consumo das pessoas hoje, a qualquer nível de preços agregado. Assim, a curva da demanda agregada se desloca para a esquerda. d. Esse é um deslocamento da curva da demanda agregada. Uma queda na alíquota de imposto aumenta a renda disponível das pessoas. A qualquer nível de preços agregado, agora o gasto de consumo é maior. Assim, a curva da demanda agregada se desloca para a direita. e. Esse é um movimento para baixo ao longo da curva da demanda agregada. À medida que cai o nível de preços agregado, o valor real dos ativos aumenta. Esse é o efeito riqueza de uma mudança no nível de preços agregado: à medida que o valor dos ativos aumenta, as pessoas aumentam seus planos de consumo. Isso leva a maior gasto de consumo. Por isso, há um movimento ao longo da curva da demanda agregada. f. Esse é um deslocamento da curva da demanda agregada. Um aumento no valor real dos ativos na economia devido a uma alta no valor dos imóveis eleva os gastos de consumo a qualquer nível de preços agregado. Assim, a curva da demanda agregada se desloca para a direita.

Teste seu entendimento 12-2 1. a. Isso representa um movimento ao longo da curva da oferta de curto prazo SRAS, pois o IPC – como o deflator do PIB – é uma medida do nível de preços agregado, o nível de preços geral de bens e serviços finais na economia.

b. Isso representa um deslocamento da curva SRAS porque o petróleo é uma commodity. A curva SRAS se deslocará para a direita porque os custos de produção agora são mais baixos, levando a uma quantidade mais alta de produto agregado a qualquer nível de preços agregado dado. c. Isso representa um deslocamento da curva de SRAS, pois envolve uma mudança nos salários nominais. Um aumento nos benefícios legais para os trabalhadores é equivalente a um aumento nos salários nominais. Como resultado, a curva SRAS (curva de oferta de curto prazo) se deslocará para a esquerda porque os custos de produção aumentaram, levando a uma quantidade de produto mais baixa a qualquer nível de preços agregado dado. 2. Você teria que saber o que aconteceu com o nível de preços agregado. Se o aumento da quantidade ofertada do produto agregado foi devido a um movimento ao longo da curva da oferta de curto prazo, SRAS, o nível de preços agregado teria aumentado ao mesmo tempo em que aumentou a quantidade ofertada do produto agregado. Se o aumento na quantidade ofertada do produto agregado foi devido a um deslocamento para a direita da curva da oferta de curto prazo, SRAS, o nível de preços agregado talvez não aumente. Alternativamente, você pode fazer a determinação observando o que aconteceu com o produto agregado de longo prazo. Se ele voltou ao nível inicial no longo prazo, então o aumento temporário no produto agregado deveu-se a um movimento ao longo da curva da oferta de curto prazo, SRAS. Se ficou em seu nível mais alto no longo prazo, o aumento no produto agregado foi devido a um deslocamento para a direita da curva de oferta de curto prazo, SRAS.

Teste seu entendimento 12-3 1. a. Um aumento no salário mínimo eleva o salário nominal e, como resultado, desloca a curva da oferta agregada de curto prazo para a esquerda. Como resultado desse choque de oferta negativo, o nível de preços agregado aumenta e o produto agregado cai. b. O aumento do gasto de investimento desloca a curva da demanda agregada para a direita. Como resultado desse choque de demanda positivo, tanto o nível de preços agregado como o produto agregado aumentam. c. Um aumento nos impostos e uma redução nos gastos do governo são choques de demanda negativos, deslocando a curva da demanda agregada para a esquerda. Em consequência, tanto o nível de preços agregado como o produto agregado caem. d. Esse é um choque de oferta negativo, deslocando a curva da oferta agregada de curto prazo para a esquerda. Como resultado, o nível de preços agregado aumenta e o produto agregado cai. 2. Como o aumento da produtividade aumenta o produto potencial, a curva da oferta agregada de longo prazo se desloca para a direita. Se, no curto prazo, existe agora um hiato de recessão (o produto agregado é menor do que o produto potencial), os salários nominais vão cair, deslocando a curva da oferta agregada de curto prazo para a direita.

Isso leva a uma queda no nível de preços agregado e a um aumento no produto agregado. À medida que os preços caem, movemos ao longo da curva da demanda agregada, devido aos efeitos riqueza e ao efeito taxa de juros de uma mudança no nível de preços agregado. No final, à medida que o equilíbrio macroeconômico de longo prazo é restabelecido, o produto agregado aumenta para se tornar igual ao produto potencial.

Teste seu entendimento 12-4 1. a. Uma economia tem excesso de estímulo quando há um hiato de inflação. Isso ocorre quando é implementada uma política monetária ou fiscal expansionista com a economia de fato em equilíbrio macroeconômico de longo prazo. Isso desloca a curva da demanda agregada para a direita no curto prazo, aumentando o nível de preços agregado e o produto agregado e criando um hiato de inflação. No fim, os salários nominais aumentam e deslocam a curva da oferta agregada de curto prazo para a esquerda e o produto agregado volta ao nível de produto potencial. Esse é o cenário que o orador tem em mente. b. Não, esse não é um argumento válido. Quando a economia não está atualmente em equilíbrio macroeconômico de longo prazo, uma política monetária ou fiscal expansionista não conduz ao resultado descrito no item a. Suponha que um choque de demanda negativo tenha deslocado a curva da demanda agregada para a esquerda, resultando em um hiato de recessão. Uma política monetária ou fiscal expansionista pode deslocar a curva da demanda agregada de volta para sua posição original no equilíbrio macroeconômico de longo prazo. Dessa forma, a queda de curto prazo no produto agregado e a deflação causada pelo choque de demanda negativo original pode ser evitado. Assim, se usada em resposta a um choque de demanda, a política fiscal ou monetária é um instrumento efetivo de política. 2. Aqueles que no Fed defendiam a redução da taxa de juros estavam focados no estímulo à demanda agregada, a fim de neutralizar o choque de demanda negativo causado pelo estouro da bolha imobiliária. Baixar a taxa de juros resultará em deslocamento para a direita da curva da demanda agregada, aumentando o produto agregado, mas aumentando o nível de preços agregado. Aqueles no Fed que estavam a favor de manter a taxa de juros constante se concentraram no fato de que combater a recessão de demanda agregada diante de um choque de oferta negativo podia resultar em aumento da inflação. Manter a taxa de juros constante depende da capacidade de autocorreção da economia no longo prazo, com o nível de preços agregado e o produto agregado retornando apenas gradualmente aos níveis de antes do choque de oferta negativo.

Capítulo 13 Teste seu entendimento 13-1 1. a. Essa é uma política fiscal contracionista, porque é uma redução nas compras governamentais de bens e serviços. b. Essa é uma política fiscal expansionista, pois é um aumento nas transferências governamentais que irão aumentar a renda disponível. c. Essa é uma política fiscal contracionista, pois é um aumento de impostos que reduzirá a renda disponível. 2. Ajuda federal de emergência por desastres que é desembolsada rapidamente é mais eficaz do que ajuda por meio da legislação, porque há pouca defasagem de tempo entre o momento do desastre e o recebimento da ajuda pelas vítimas. Então, estabilizará a economia depois de um desastre. Em contrapartida, a ajuda que tem que ser aprovada em lei tenderá a ter uma defasagem de tempo até ser desembolsada, levando a uma desestabilização da economia. 3. Essa afirmação implica que a política fiscal expansionista irá resultar no crowding out do setor privado, e que o oposto, a política fiscal contracionista, levará o setor privado a crescer. Se essa afirmação é verdadeira, ou não, depende se a economia está em pleno emprego; apenas então devemos esperar que a política fiscal expansionista leve ao crowding out. Se, em vez disto, a economia tiver um hiato de recessão, então devemos esperar que o crescimento do setor privado junto com a expansão fiscal, e a contração junto com uma contração fiscal.

Teste seu entendimento 13-2 1. Um aumento de $500 milhões nas compras governamentais de bens e serviços aumenta diretamente o gasto agregado em $500 milhões, o que, em seguida, põe o multiplicador em movimento. Aumentará o PIB real em $500 milhões × 1/(1 − PMC). Um aumento de $500 milhões em transferências governamentais aumenta o gasto agregado apenas na medida em que leva a um aumento nos gastos de consumo. O gasto de consumo aumenta por PMC × $1 para cada $1 de aumento na renda disponível, onde a PMC é inferior a 1. Assim, um aumento de $500 milhões nas transferências governamentais vai provocar um aumento no PIB real somente em PMC × $500 milhões de aumento nas compras governamentais de bens e serviços. Aumentará o PIB real em $500 milhões × PMC/(1 − PMC). 2. Essa é a mesma questão do Problema 1, mas em sentido inverso. Se as compras de bens e serviços do governo caírem $500 milhões, a queda inicial no gasto agregado será de $500 milhões. Se houver redução de $500 milhões nas transferências do governo, a queda inicial no gasto agregado será PMC × $500 milhões, que é menos que $500 milhões. 3. Boldovia terá uma variação maior no PIB real do que Moldovia porque Moldovia tem

estabilizadores automáticos enquanto Boldovia não tem. Em Moldovia o efeito das recessões será atenuado por benefícios de seguro- desemprego que sustentará a renda dos moradores, enquanto o efeito de um boom será atenuado porque a arrecadação de impostos aumenta. Em contrapartida, a renda em Boldovia não será sustentada durante a recessão porque não há seguro-desemprego. Além disso, como Boldovia tem impostos de soma fixa, os booms não serão atenuados pelo aumento da receita tributária.

Teste seu entendimento 13-3 1. O saldo orçamentário efetivo leva em conta os efeitos do ciclo econômico sobre o déficit orçamentário. Durante hiatos de recessão, incorpora o efeito de receitas tributárias mais baixas e transferências mais elevadas sobre o balanço orçamentário; durante hiatos de inflação, incorpora o efeito de receitas tributárias mais altas e redução das transferências. Em contrapartida, o balanço orçamentário ajustado ciclicamente desconta os efeitos do ciclo econômico e assume que o PIB real está no nível do produto potencial. Como, no longo prazo, o PIB real tende ao produto potencial, o balanço orçamentário ajustado ciclicamente é uma medida melhor da sustentabilidade de longo prazo das políticas do governo. 2. Em recessões, o PIB real cai. Isso implica que a renda dos consumidores, os gastos dos consumidores e o lucro dos produtores também caem. Assim, nas recessões, a receita tributária dos estados (que depende em grande parte da renda dos consumidores, dos gastos dos consumidores e dos lucros dos produtores) diminui. Para equilibrar o orçamento, os estados têm de cortar gastos ou aumentar impostos. Mas isso implica em aprofundar a recessão. Sem a exigência de orçamento equilibrado, os estados podem usar política fiscal expansionista durante uma recessão para atenuar a queda do PIB real.

Teste seu entendimento 13-4 1. a. Uma taxa de crescimento mais alta do PIB real implica que a receita tributária vai aumentar. Se o gasto do governo continua constante e o governo tem um superávit no orçamento, o tamanho da dívida pública será menor do que de outro modo teria sido. b. Se os aposentados vivem mais, a idade média da população aumenta. Como resultado, o passivo implícito do governo aumenta porque os gastos com programas de assistência aos americanos idosos, como a Previdência Social e o Medicare, vão aumentar. c. Uma redução na receita tributária, sem redução correspondente no gasto do governo, levará a um aumento da dívida pública. d. A dívida pública aumentará como resultado da tomada de empréstimo do governo para pagar juros da dívida pública corrente. 2. A fim de estimular a economia no curto prazo, o governo pode usar política fiscal para aumentar o PIB real. Isso leva à tomada de empréstimos pelo governo, aumentando

ainda mais o tamanho da dívida pública e levando a consequências indesejáveis: em casos extremos, o governo pode ser obrigado ao default da dívida. Mesmo em casos menos extremos, uma dívida pública elevada é indesejável porque a tomada de empréstimo pelo governo leva ao crowding out, o congestionamento do mercado de crédito e deslocamento do crédito necessário para os gastos de investimento privado. Isso reduz a quantidade de gastos de investimento reduzindo o crescimento de longo prazo da economia. 3. A austeridade fiscal é a mesma que uma política fiscal contracionista. Reduz o gasto do governo, que por sua vez reduz a renda e as receitas tributárias. Com menos receitas tributárias, o governo é menos capaz de pagar as dívidas. Além disso, uma economia em queda faz os credores terem menos confiança que um governo seja capaz de pagar suas dívidas e o leva a aumentar a taxa de juros sobre a dívida. Taxas de juros mais altas sobre a dívida tornam ainda menos provável que o governo possa pagar.

Capítulo 14 Teste seu entendimento 14-4 1. A característica que define a moeda é a liquidez: a facilidade com que ela pode ser usada para comprar bens e serviços. Apesar de um vale-brinde poder ser usado facilmente para comprar um conjunto definido de bens e serviços (os bens e serviços disponíveis na loja que emite o vale), não pode ser usado para comprar quaisquer outros bens ou serviços. Um vale-brinde, portanto, não é moeda, uma vez que não pode ser facilmente usado para comprar todos os bens e serviços. 2. Mais uma vez, a característica importante da moeda é a liquidez: a facilidade com que pode ser usada para comprar bens e serviços. M1, a definição mais estreita da oferta monetária, contém apenas moeda em circulação, cheques de viagem e depósitos bancários em conta-corrente. Contra certificados de depósito bancário não se pode emitir cheques – e eles não podem ser transformados em depósitos em conta-corrente sem incorrer em custo porque há uma multa para a retirada antes do prazo. Isso os torna menos líquido do que os ativos incluídos em M1. 3. A moeda garantida por mercadoria usa recursos de forma mais eficiente que a simples moeda mercadoria, como moedas de ouro e de prata, porque a moeda garantida por mercadoria imobiliza menor quantidade de recursos valiosos. Embora o banco tenha que manter à mão alguma quantidade dessa mercadoria – em geral ouro ou prata –, precisa manter apenas o suficiente para atender ao pedidos de resgate. Pode, então, emprestar o ouro e a prata restantes, o que permite à sociedade usar esses recursos para outros fins, sem perda da capacidade de obter ganhos do comércio.

Teste seu entendimento 14-2 1. Embora saiba que o boato sobre o banco não é verdadeiro, você fica preocupado se souber que outros depositantes sacaram dinheiro do banco. E sabe que se determinado número de depositantes sacar dinheiro, o banco irá à falência. Nesse caso, é racional para você retirar o dinheiro antes de o banco ir à falência. Todos os depositantes vão pensar assim, mesmo que todos saibam que o boato é falso, continua sendo racional retirar o dinheiro, levando a uma corrida ao banco. O seguro de depósito leva os depositantes a se preocupar menos com a possibilidade de uma corrida ao banco. Mesmo se um banco for à falência, o FDIC vai pagar cada depositante até $250.000 por conta. Isso vai tornar você muito menos propenso a sacar o dinheiro em resposta ao boato. Desde que outros depositantes pensem o mesmo, não haverá corrida ao banco. 2. Os aspectos da regulamentação bancária moderna que evitam esse esquema são exigências de capital e exigências de reservas. A exigência de capital significa que um banco tem que ter certo montante de capital – a diferença entre seus ativos (empréstimos mais reservas) e seus passivos (depósitos). Assim, o vigarista não poderia abrir o banco sem colocar nada do seu próprio capital porque o banco é obrigado a ter certa quantidade de

capital, ou seja, precisa ter mais ativos (empréstimos mais reservas) do que depósitos. Assim, o vigarista teria o risco de perder sua própria riqueza se os empréstimos concedidos por ele se tornassem inadimplentes.

Teste seu entendimento 14-3 1. Como os bancos precisam manter reservas de apenas $100 em vez de $200, os bancos agora emprestam mais $100 de suas reservas. Quem empresta $100 vai depositá-lo em um banco, que por sua vez o emprestará na proporção de $100 × (1 − rr) = $100 × 0,9 = $90. Quem toma emprestado $90 vai depositá-lo em um banco, que irá emprestar $90 × 0,9 = $81, e assim por diante. Em geral, os depósitos aumentarão em $100/0,1 = $1.000. 2. Silas coloca $1.000 no banco, dos quais o banco vai emprestar $1.000 × (1 − rr) = $1,000 × 0,9 = $900. Qualquer um que tome emprestado $900 manterá $450 em dinheiro e depositará $450 no banco. O banco emprestará $450 × 0,9 = $405. Qualquer um que tome emprestado $405 manterá $202,50 em moeda e depositará $202,50 no banco. O banco emprestará $202,50 × 0,9 = $182,25, e assim por diante. No geral, isso levará a um aumento nos depósitos de $1.000 + $450 + $202,50 +... Mas isso reduz a quantidade de moeda em circulação: o montante de moeda foi reduzido pelos $1.000, que Silas colocou no banco. Isso é compensado, mas não totalmente, pela quantidade de moeda mantida por cada pessoa que toma um empréstimo. A quantidade de moeda em circulação, portanto, muda em −$1.000 + $450 + $202,50 +... Assim, a oferta de moeda aumenta pela soma dos aumentos nos depósitos e da mudança de moeda em circulação, que é $1.000 − $1.000 + $450 + $450 + $202,50 + $202,50 +... e assim por diante.

Teste seu entendimento 14-4 1. Uma compra no mercado aberto de $100 milhões pelo Fed aumenta as reservas bancárias em $100 milhões à medida que o Fed credita suas contas com reservas adicionais. Em outras palavras, essa compra no mercado aberto aumenta a base monetária (moeda em circulação mais reservas bancárias) em $100 milhões. Bancos emprestam esses $100 milhões adicionais. Quem toma emprestado coloca o dinheiro de volta no sistema bancário, na forma de depósitos. Desses depósitos, os bancos emprestam $100 milhões × (1 − rr) = $100 milhões × 0,9 = $90 milhões. Quem toma esse dinheiro emprestado vai depositá-lo de volta no sistema bancário. E os bancos emprestam $90 milhões × 0,9 = $81 milhões, e assim por diante. Em consequência, os depósitos bancários aumentam em $100 milhões + $90 milhões + $81 milhões +... $100milhões / rr = $100 milhões/0,1 = $1.000 milhão = $1 bilhão. Como nesse exemplo simplificado, todo o dinheiro emprestado é depositado de volta no sistema bancário, não há aumento de moeda em circulação, de modo que o aumento nos depósitos bancários é igual ao aumento na oferta de moeda. Em outras palavras, a oferta de moeda aumenta em $1 bilhão. Isso é mais do que o aumento na base monetária por um fator de 10: nesse modelo simplificado, em que os depósitos são o único componente da oferta de moeda e em que os bancos não mantêm reservas excedentes, o multiplicador da moeda é 1/rr = 10.

Teste seu entendimento 14-5 1. O Pânico de 1907, a crise das instituições de poupança e empréstimo e a crise de 2008, implicaram perdas das instituições financeiras que eram menos regulamentadas que os bancos. Nas crises de 1907 e 2008, houve uma perda de confiança generalizada no setor financeiro e o colapso dos mercados de crédito. Como a crise de 1907 e a crise das instituições de poupança e empréstimo, a crise de 2008 exerceu um poderoso efeito negativo sobre a economia. 2. A criação do Fed não conseguiu evitar corridas aos bancos, pois não erradicou o temor dos depositantes que um colapso bancário o fizessem perder seu dinheiro. As corridas aos bancos finalmente pararam quando foi estabelecido o seguro federal de depósito bancário e o público entendeu que seus depósitos estavam protegidos. 3. O efeito sobre o balanço ocorre quando as vendas de ativos causam uma queda nos preços dos ativos, que, então, reduz o valor do patrimônio líquido de outras empresas quando cai o valor dos ativos em seus balanços. No círculo vicioso de desalavancagem, o efeito sobre o balanço das empresas obriga os credores a pedir imediata liquidação de empréstimos, forçando as empresas a vender ativos para pagar os empréstimos, levando a mais venda de ativos e mais queda de preços. Como o círculo vicioso da desalavancagem ocorre sem distinção de empresas e nenhuma empresa sozinha consegue pará-lo, é necessário a intervenção do governo para detê-lo.

Capítulo 15 Teste seu entendimento 15-1 1. a. Ao aumentar o custo de oportunidade de manter moeda, uma taxa de juros elevada reduz a quantidade de moeda demandada. Esse é um movimento para cima e para a esquerda ao longo da curva da demanda por moeda. b. Uma queda de 10% nos preços reduz a quantidade de moeda demandada a qualquer taxa de juros dada, deslocando a curva da demanda de moeda para a esquerda. c. Essa mudança tecnológica reduz a quantidade de moeda demandada a qualquer taxa de juros dada. Por isso, desloca a curva da demanda de moeda para a esquerda. d. Isso irá aumentar a demanda de moeda a qualquer taxa de juros dada. Com mais dos ativos da economia em contas bancárias no exterior com difícil acesso, as pessoas vão querer manter mais moeda para financiar as compras. 2. a. Uma taxa de administração de 1% sobre as transações de cartão de débito/crédito para compras inferiores a $50 reduz o custo de oportunidade de manter moeda porque os consumidores economizarão pagando com moeda. b. Um aumento na taxa de juros de CDBs de seis meses aumenta o custo de oportunidade de manter moeda porque manter moeda implica abdicar do juro mais alto sendo pago. c. Isso reduz o custo de oportunidade de manter moeda porque agora pode ser usado para financiar compras a preços muito baixos, compensando o proprietário pela renúncia de qualquer juro por manter moeda. d. Como boa parte das compras de alimentos são feitas em dinheiro, um aumento significativo no custo dos alimentos reduz o custo de oportunidade de manter moeda.

Teste seu entendimento 15-2 1. No gráfico a seguir, o aumento na demanda de moeda é mostrado como um deslocamento para a direita da curva de demanda de moeda, a partir de MD1 para MD2. Isso aumenta a taxa de juros de equilíbrio de r1 para r2.

2. Para evitar que a taxa de juros suba, o Fed tem que fazer uma compra de Letras do Tesouro no mercado aberto, deslocando a curva da oferta de moeda para a direita. Isso é mostrado no gráfico como um movimento de MS1 para MS2. 3. a. Frannie fica em situação melhor ao comprar bônus de um ano hoje porque isso lhe permite obter taxa de juros maior daqui a um ano. b. Frannie fica em situação melhor ao comprar bônus de dois anos hoje porque lhe proporciona uma taxa de juros mais elevada no segundo ano do que se comprasse dois bônus de um ano.

Teste seu entendimento 15-3 1. a. A curva da oferta de moeda se desloca para a direita.

b. A taxa de juros de equilíbrio cai. c. O gasto de investimento aumenta, devido à queda na taxa de juros. d. O gasto de consumo aumenta, devido ao processo do multiplicador. e. O produto agregado aumenta por causa do deslocamento para a direita da curva da demanda agregada. 2. O Banco Central que usa a regra de Taylor é suscetível de responder mais diretamente a uma crise financeira do que aquele que usa meta de inflação, porque com a regra de Taylor o Banco Central não tem que definir política para atender a uma meta de inflação pré-especificada.

Teste seu entendimento 15-4 1. a. O produto agregado aumenta no curto prazo, em seguida, cai de volta para o produto potencial no longo prazo. b. O nível de preços agregado aumenta no curto prazo, mas em menos de 25%. Continua a subir no longo prazo, num total de 25%. c. A taxa de juros cai no curto prazo, em seguida, sobe de volta ao nível original no longo prazo. 2. No curto prazo, uma mudança na taxa de juros altera a economia, pois afeta o gasto de investimento que, por sua vez, afeta a demanda agregada e o PIB real pelo processo do multiplicador. No entanto, no longo prazo, variações nos gastos de consumo e de investimento acabarão por resultar em variações nos salários nominais e nos preços de outros fatores de produção. Por exemplo, uma política monetária expansionista, eventualmente, causará um aumento nos preços dos fatores; uma política contracionista acabará por causar uma queda nos preços dos fatores. Em resposta, a curva da oferta agregada de curto prazo se deslocará para levar a economia de volta ao equilíbrio de longo prazo. Assim, no longo prazo, a política monetária não tem efeito sobre a economia.

Capítulo 16 Teste seu entendimento 16-1 1. É mais provável que a taxa de inflação reflita rapidamente as alterações na oferta da moeda quando a economia teve um longo período de inflação elevada. Isso porque um período prolongado de inflação elevada sensibiliza trabalhadores e empresas a aumentar os salários nominais e os preços dos bens intermediários quando o nível de preços agregado sobe. Em consequência, haverá pouco ou nenhum aumento no produto real no curto prazo depois de um aumento na oferta de moeda e, este, será refletido em um aumento percentual de igual porte nos preços. Em uma economia onde as pessoas não estão sensibilizadas à inflação alta por ter tido inflação baixa no passado, um aumento na oferta de moeda levará a um aumento no produto real no curto prazo. Isso ilustra o fato de que o modelo clássico do nível de preços melhor se aplica às economias com inflação persistentemente elevada, e não àquelas com pouco ou nenhum histórico de inflação alta, embora possam estar tendo inflação alta atualmente. 2. Sim, ainda pode haver um imposto inflacionário, porque ele incide sobre as pessoas que mantêm moeda. Desde que as pessoas mantenham moeda, independentemente de os preços serem ou não indexados, o governo consegue usar a senhoriagem para captar recursos reais do público.

Teste seu entendimento 16-2 1. Quando o PIB real é igual ao produto potencial, o desemprego cíclico é zero e a taxa de desemprego é igual à taxa natural. Isso é dado pelo ponto E1 na Figura 16-7. Assumindo uma taxa de inflação esperada de 0%, isso também corresponde a uma taxa de desemprego de 6% na curva SRPC0 na Figura 16-9. Qualquer taxa de desemprego superior a 6%, ou inferior a 6%, representa desemprego cíclico. Um aumento na demanda agregada leva a uma queda na taxa de desemprego abaixo da taxa natural (desemprego cíclico negativo) e a um aumento na taxa de inflação. Isso é mostrado pelo movimento de E1 para E2 na Figura 16-7 e é um movimento ascendente ao longo da curva de Phillips de curto prazo. Uma queda na demanda agregada leva a um aumento na taxa de desemprego para mais que a taxa natural (desemprego cíclico positivo) e a uma queda na taxa de inflação. Isso é representado por um movimento para baixo ao longo da curva de Phillips de curto prazo desde o ponto E1. Assim, para uma dada taxa de inflação esperada, a curva de Phillips de curto prazo ilustra a relação entre desemprego cíclico e a taxa de inflação real. 2. Uma queda no preço das mercadorias leva a um choque de oferta positivo, que reduz o nível de preços agregado e a inflação. Em consequência, qualquer nível de desemprego dado pode ser mantido com uma taxa de inflação agora mais baixa, o que significa que a curva de Phillips de curto prazo se deslocou para baixo. Por outro lado, um aumento no preço das mercadorias leva a um choque de oferta negativo, que eleva o nível de preços

agregado e aumenta a inflação. Qualquer nível de desemprego dado só pode ser mantido com taxa de inflação mais alta, o que significa que a curva de Phillips de curto prazo se deslocou para cima.

Teste seu entendimento 16-3 1. Não há trade-off de longo prazo entre a inflação e o desemprego, pois uma vez ajustadas as expectativas de inflação, os salários também se ajustarão, retornando a taxa de emprego e a taxa de desemprego aos seus níveis de equilíbrio (naturais). Isso implica que, uma vez que as expectativas de inflação se ajustam totalmente a qualquer nível de inflação efetiva, a taxa de desemprego voltará à NAIRU, a taxa de desemprego que mantém constante a taxa de inflação. Isso implica que a curva de Phillips de longo prazo é vertical. 2. Existem duas explicações possíveis para isso. Primeiro, os choques de oferta negativos (por exemplo, um aumento no preço do petróleo) causariam um aumento no desemprego e um aumento na inflação. Segundo, é possível que os formuladores de política econômica britânicos tentassem ter como meta uma taxa de desemprego abaixo da taxa natural de desemprego. Qualquer tentativa de manter o desemprego abaixo da taxa natural vai resultar em aumento da inflação. 3. A desinflação é algo oneroso porque para reduzir a taxa de inflação, o produto agregado no curto prazo normalmente tem que cair até abaixo do produto potencial. Isso, por sua vez, resulta em aumento na taxa de desemprego para além da taxa natural. Em geral, observaríamos uma redução no PIB real. Para começar, os custos da desinflação podem ser reduzidos, não permitindo que a inflação aumente. Em segundo lugar, os custos de qualquer desinflação são mais baixos quando o banco central tem credibilidade e anuncia com antecedência sua política para reduzir a inflação. Nessa situação, o ajuste à política de desinflação é mais rápido, resultando em perda menor de produto agregado.

Teste seu entendimento 16-4 1. Se a taxa de juros nominal é negativa, um indivíduo fica em situação melhor apenas mantendo moeda que tem uma taxa de retorno nominal de zero. Se as opções que o indivíduo tem são emprestar e receber uma taxa de juros nominal negativa ou manter moeda e receber uma taxa de juro nominal zero, o indivíduo manterá a moeda. Esse cenário cria a possibilidade de uma armadilha de liquidez, em que a política monetária é ineficaz porque a taxa nominal de juros não pode cair abaixo de zero. Quando a taxa nominal de juros chega a zero, os aumentos subsequentes na oferta de moeda farão as empresas e os indivíduos apenas manterem como dinheiro vivo a moeda nacional.

Capítulo 17 Teste seu entendimento 17-1 1. a. Esse não é um exemplo de transformação do prazo de vencimento porque passivos de curto prazo não estão sendo transformados em ativos de longo prazo. Portanto, não está sujeito a corrida aos bancos. b. Esse é um exemplo de transformação do prazo de vencimento: Dana incorre em um passivo de curto prazo, a dívida do cartão de crédito, para financiar a aquisição de um ativo de longo prazo, melhores habilidades de trabalho. Isso pode resultar em um fenômeno de corrida ao banco se o credor do cartão de crédito ficar temeroso sobre sua capacidade de reembolsar o empréstimo e parar de emprestar dinheiro a ela. Se isso acontecer, ela não será capaz de terminar o curso e, como resultado, não será capaz de obter o trabalho melhor que lhe permitirá pagar o empréstimo do cartão de crédito. c. Esse não é um exemplo de transformação do prazo de vencimento porque não existem passivos de curto prazo. A parceria em si não tem obrigação de reembolsar um parceiro de investimento e por isso não tem passivos, nem de curto prazo, nem de longo prazo. d. Esse é um exemplo de transformação do prazo de vencimento: as contas-correntes são passivos de curto prazo do banco de poupança da união estudantil e os empréstimos estudantis são ativos de longo prazo.

Teste seu entendimento 17-2 1. a. A bolha de ativos ocorreu no mercado imobiliário irlandês. b. O canal de contágio financeiro foram os empréstimos de curto prazo que fizeram os bancos irlandeses dependerem do mercado de empréstimos interbancários. Quando os credores começaram a se preocupar com a solidez dos bancos irlandeses, recusaram-se a emprestar mais dinheiro, levando a um tipo de corrida aos bancos, colocando os bancos irlandeses em grande risco de falência. 2. Como a corrida aos bancos começou pelos temores entre os credores dos bancos irlandeses, o governo irlandês procurou eliminar esses medos, garantindo aos credores o reembolso na íntegra. Contudo, foi uma estratégia questionável, pois colocou os contribuintes de impostos irlandeses em situação de perda potencialmente grande, tão grande que ameaçou a solvência do governo irlandês.

Teste seu entendimento 17-3 1. O Fed foi capaz de evitar uma repetição da Grande Depressão, porque, ao contrário da

década de 1930, atuou como credor de última instância para estabilizar o setor bancário e interromper o contágio. Mas foi incapaz de reduzir significativamente o aumento do desemprego, porque os Estados Unidos passaram por uma crise de crédito e por um círculo vicioso de desalavancagem, deixando a política monetária relativamente ineficaz. 2. No rescaldo de uma crise bancária severa, as empresas e as famílias têm dívida elevada e ativos reduzidos. Cortam gastos para tentar reduzir a dívida. Então, não estão dispostas a tomar emprestado, independentemente de quão baixo seja a taxa de juros.

Teste seu entendimento 17-4 1. De acordo com a macroeconomia padrão, um governo deve adotar políticas expansionistas para aumentar a demanda agregada para enfrentar uma crise econômica. A França, no entanto, fez exatamente o contrário, respondendo a uma economia mais fraca com uma política fiscal contracionista que tornaria a economia ainda mais fraca. Isso mostra que o governo francês adotou a visão de austeridade, acreditando que era mais importante tentar assegurar mercados de solvabilidade do que apoiar a economia.

Teste seu entendimento 17-5 1. Porque os bancos paralelos, como o Lehman, contavam com empréstimos de curto prazo para financiar as operações. Os temores sobre sua solidez poderiam levar os credores a cortar imediatamente o crédito, forçando-o a entrar em falência. Sem filiação ao sistema de credores de última instância, os bancos paralelos como o Lehman não podiam tomar emprestado do Fed para compensar os empréstimos de curto prazo que haviam perdido. 2. Se existisse apenas o setor bancário depositário formal, vários fatores teriam atenuado a potência e o alcance de uma crise bancária. Primeiro não teria havido financiamento repo; os únicos passivos de curto prazo seriam os depósitos de clientes, e esses, em grande parte, teriam sido cobertos por seguro de depósito. Segundo, as necessidades de capital teriam reduzido a disposição dos bancos de assumir riscos excessivos, como manter hipotecas subprime. Além disso, a supervisão direta do Fed teria impedido tanta concentração de risco no setor bancário. Finalmente, os bancos depositários estão dentro do sistema de credores de última instância; em consequência, têm outra camada de proteção contra o medo dos depositantes e de outros credores de eles não conseguirem cumprir as obrigações. Todos esses fatores teriam reduzido a potência e o alcance da crise bancária. 3. Porque o setor bancário paralelo tornou-se uma parte tão importante da economia dos Estados Unidos, a crise de 2008 deixou claro que, no caso de uma nova crise, o governo acharia necessário garantir uma ampla gama de dívidas de instituições financeiras, tanto do setor bancário paralelo como de depósitos. Isso criou um problema de incentivo porque iria induzir os bancos paralelos a tomar mais risco, sabendo que o governo iria socorrê-los no caso de um colapso. Para contrabalançar, o projeto de lei Dodd-Frank forneceu ao governo o poder de regular os bancos paralelos “sistemicamente

importantes” (aqueles que possam requerer socorro), a fim de reduzir seu risco. Também forneceu ao governo o poder de tomar o controle dos bancos paralelos em processo de falência de forma justa para os contribuintes e não deixar que os proprietários de bancos enriqueçam injustamente.

Capítulo 18 Teste seu entendimento 18-1 1. Um economista clássico diria que, embora a política monetária expansionista tivesse, provavelmente, algum efeito no curto prazo, o curto prazo não é importante. Em vez disso, iria salientar o longo prazo, alegando que a política monetária expansionista resultaria apenas em aumento no nível de preços agregado sem afetar o produto agregado.

Teste seu entendimento 18-2 1. A afirmação pareceria muito familiar para um economista keynesiano. De acordo com Keynes, a confiança empresarial (que chamou de “espírito animal”) é responsável principalmente pelas recessões. Se a confiança empresarial for baixa, um economista keynesiano pensaria nisso como um caso de ativismo da política macroeconômica: que o governo deveria usar a política monetária e fiscal expansionista para ajudar a economia se recuperar.

Teste seu entendimento 18-3 1. a. De acordo com a equação da velocidade, M × V = P × Y, onde M é a oferta de moeda, V a velocidade da moeda, P o nível de preços agregado e Y o PIB real. Se o Fed tivesse seguido uma regra de política monetária de crescimento constante da oferta monetária, o colapso na velocidade da moeda que começou em 2008, visível na Figura 18-5, teria resultado em um declínio dramático no produto agregado. b. Embora os monetaristas em geral acreditem que a política monetária não é apenas eficaz, mas, de fato, mais eficaz do que a política fiscal, geralmente não favorecem o ativismo da política macroeconômica. Em vez disso, os monetaristas defendem regras de política monetária, tais como uma taxa de crescimento da oferta de moeda baixa, mas constante. Além disso, a hipótese da taxa natural afirma que, embora a política monetária possa ser eficaz para ajudar o retorno do desemprego à taxa natural, não pode reduzir permanentemente o desemprego abaixo da taxa natural. 2. A política fiscal é limitada pela defasagem de tempo em reconhecer os problemas econômicos, formar uma resposta, passar a legislação e implementar políticas. A política monetária também é limitada por defasagem de tempo, mas essas defasagens não são tão graves como as da política fiscal, porque o Fed tende a agir mais rapidamente do que o Congresso. As tentativas de reduzir o desemprego abaixo da taxa natural, tanto por intermédio de política fiscal como monetária, são limitadas por previsões da hipótese da taxa natural de que essas tentativas vão resultar na aceleração da inflação. Além disso, tanto a política fiscal como a monetária são limitadas por preocupações sobre o ciclo

político-econômico: a sua utilização para satisfazer fins políticos e terminar desestabilizando a economia.

Teste seu entendimento 18-4 1. a. Teóricos das expectativas racionais argumentariam que apenas mudanças inesperadas na oferta de moeda teriam qualquer efeito de curto prazo sobre a atividade econômica. Também argumentariam que mudanças esperadas na oferta de moeda afetariam apenas o nível de preços agregado, sem nenhum efeito de curto prazo sobre o produto agregado. Então, esses teóricos dariam crédito ao Fed por limitar a gravidade da recessão entre 2007 e 2009 apenas se a política monetária do Fed tivesse sido mais agressiva do que os indivíduos esperavam durante esse período. b. Os teóricos do ciclo econômico real argumentariam que a política do Fed não teve efeito em terminar a recessão entre 2007 e 2009, porque acreditam que flutuações no produto agregado são causadas em grande parte por mudanças na produtividade total dos fatores.

Teste seu entendimento 18-5 1. A armadilha de liquidez provocada pela Grande Recessão diminuiu enormemente o consenso da Grande Moderação, que considerava a política monetária o principal instrumento de política mas que estava sendo em grande parte ineficaz. Os desentendimentos contínuos sobre a política fiscal foram sendo trazidos à tona à medida que a política fiscal era usada pelos formuladores de política econômica para apoiar as economias profundamente deprimidas. É pouco provável o surgimento de um novo consenso tão cedo, uma vez que os resultados das diversas políticas não têm sido muito claros ou são decepcionantes: o estímulo fiscal não foi capaz de reduzir o desemprego substancialmente (embora alguns digam que o estímulo foi muito pequeno); a política monetária convencional não funcionou; e a política monetária não convencional do Fed pareceu ter pouco efeito relativo.

Capítulo 19 Teste seu entendimento 19-1 1. a. A venda de novos aviões para a China representa a exportação de um bem para a China e, por isso, afeta a conta- corrente. b. A venda de ações da Boeing para investidores chineses é uma venda de ativos dos Estados Unidos e, por isso, entra na conta financeira. c. Mesmo que o avião já exista, quando é enviado para a China é uma exportação de um bem dos Estados Unidos. Assim, a venda do avião entra na conta-corrente. d. Como o avião permanece nos Estados Unidos, o investidor chinês está comprando um ativo dos Estados Unidos. Portanto, isso é idêntico à resposta do item b: a venda do jato entra na conta financeira. 2. O colapso da bolha imobiliária dos Estados Unidos e a recessão que se seguiu levaram a uma queda dramática nas taxas de juros nos Estados Unidos por causa da economia profundamente deprimida. Consequentemente, os fluxos de capital para os Estados Unidos secaram.

Teste seu entendimento 19-2 1. a. O aumento da compra de petróleo mexicano leva os indivíduos (e as empresas) nos Estados Unidos a aumentar a demanda por peso. Para adquirir pesos, as pessoas aumentarão a oferta de dólares americanos no mercado de moeda estrangeira, provocando um deslocamento para a direita da curva de oferta de dólares americanos. Isso causará uma queda no preço do dólar (a quantidade de pesos por dólar cairá). O resultado é que o peso apreciou e o dólar dos Estados Unidos depreciou. b. Essa apreciação do peso significa que serão necessários mais dólares americanos para obter a mesma quantidade de pesos mexicanos. Se assumirmos que o nível de preços (medido em pesos mexicanos) de outros bens e serviços mexicanos não muda, outros bens e serviços mexicanos se tornam mais caros para as famílias e empresas americanas. O custo em dólar de outros bens e serviços mexicanos aumentará à medida que o peso apreciar. Então as exportações mexicanas de produtos e outros serviços que não seja petróleo diminuirão. c. Bens e serviços dos Estados Unidos se tornam mais baratos em termos de pesos, de modo que as importações mexicanas de bens e serviços vão aumentar. 2. a. A taxa de câmbio real é

Hoje, o nível de preços agregado nos dois países é igual a 100. A taxa de câmbio real é 10 × (100/100) = 10. O nível de preços agregado em cinco anos nos Estados Unidos será 100 × (120 /100) = 120 e no México será 100 × (1.200/800) = 150. A taxa de câmbio real em cinco anos, supondo que a taxa de câmbio nominal não mude, será de 10 × (120/150) = 8. b. Hoje, uma cesta de bens e serviços que custa $100, custa 800 pesos, de modo que a paridade do poder de compra é de 8 pesos por dólar dos Estados Unidos. Em cinco anos, uma cesta que custa $120 vai custar 1.200 pesos, de modo que a paridade do poder de compra será de 10 pesos por dólar dos Estados Unidos.

Teste seu entendimento 19-3 1. O gráfico a seguir mostra a oferta e a demanda de iuanes, com o preço dos iuanes em dólar dos Estados Unidos no eixo vertical. Em 2005, antes da valorização do iuane, a taxa de câmbio estava fixa em 8,28 iuanes por dólar ou, de forma equivalente, 0,121 dólar por iuane ($0,121). Na meta da taxa de câmbio de 0,121 dólar, a quantidade demandada de iuanes excede a quantidade ofertada de iuanes, criando a escassez ilustrada no gráfico. Sem qualquer intervenção do governo chinês, o preço do iuane em dólares deveria ser pressionado para cima, causando uma apreciação do iuane. O governo chinês, no entanto, interveio para impedir essa valorização.

a. Se fosse permitido à taxa de câmbio mudar livremente, a taxa de câmbio em dólares se moveria em direção a uma taxa de câmbio de equilíbrio (indicada por XR* no gráfico a seguir). Isso ocorreria como resultado da escassez, quando compradores de iuanes pressionariam para cima seu preço em dólares. À medida que a taxa de câmbio aumenta, a quantidade demandada de iuanes diminuiria e a quantidade

ofertada de iuanes aumentaria. Se a taxa de câmbio aumentasse para XR*, o desequilíbrio seria inteiramente eliminado.

b. Criar restrições aos estrangeiros que queiram investir na China reduziria a demanda de iuanes, levando a curva da demanda a se deslocar de D1 para algo como D2, no gráfico a seguir. Isso reduziria a escassez de iuanes. Se a demanda caísse para D3, o desequilíbrio seria completamente eliminado.

c. Remover restrições para os chineses que desejam investir no exterior levaria a um aumento na oferta de iuanes e a um deslocamento para a direita na curva da oferta. Esse aumento na oferta também levaria a uma redução no tamanho da escassez. Se, por exemplo, a oferta aumentasse de S1 para S2, o desequilíbrio seria eliminado completamente no gráfico a seguir.

d. A imposição de um imposto sobre exportações (bens chineses vendidos aos estrangeiros) elevaria o preço desses bens e diminuiria a quantidade de bens chineses comprados. Isso também diminuiria a demanda por iuanes. A análise gráfica aqui é praticamente idêntica à que se encontra na figura que acompanha o item b.

Teste seu entendimento 19-4 1. As desvalorizações e valorizações provavelmente ocorreram naqueles períodos em que houve uma mudança súbita na taxa de câmbio do franco-marco: 1974, 1976, início de 1980, 1986 e 1993-1994. 2. A elevada taxa de juros canadense provavelmente teria causado um aumento na entrada de capital para o Canadá. Para obter esses ativos (que renderam taxas de juros relativamente altas), no Canadá, os investidores primeiro teriam que obter dólares canadenses. O aumento na demanda de dólares canadenses levaria a uma apreciação. Essa apreciação da moeda canadense teria aumentado o preço dos bens canadenses para estrangeiros (medido em termos de moeda estrangeira). Isso teria tornado mais difícil para as empresas canadenses competir em outros mercados.

Tabelas de Dados Macroeconômicos Tabela I Dados macroeconômicos para os estados unidos 1929-20101

1Dados

em bilhões de dólares correntes, exceto quando explicitado de outro modo. De 1929 a 1965 apenas datas selecionadas. A partir de 1965, dados anuais. 2Até

1947 inclui trabalhadores de 14 anos de idade ou mais; a partir de 1948, inclusive, inclui trabalhadores de 16 anos de idade ou mais. Fonte: Bureau of Economic Analysis, Bureau of Labor Statistics, Federal Reserve Bank of St, Louis.

Tabela II Dados macroeconômicos para países selecionados pib (bilhões de dólares dos Estados Unidos)

Fonte: Fundo Monetário Internacional, World Economic Outlook Database, outubro de 2010, 2010 foi estimado com valores de 13/04/2011.

Tabela III Dados macroeconômicos para países selecionados pib por pessoa (dólares dos Estados Unidos)

Fonte: Fundo Monetário Internacional, World Economic Outlook Database, outubro de 2010, 2010 foi estimado com valores de 13/04/2011.

Índice Nota: Palavras-chave aparecem em negrito. A A Riqueza das Nações (Smith), 11, 360, 461 A Teoria Geral do Emprego, Juro e Moeda (Keynes), 145, 461–464 A Theory of the Consumption Function (Friedman), 276 A Tract on Monetary Reform (Keynes), 321 abundância de fatores, 115 ações, 163, 255–256 demanda de, flutuações financeiras e, 258–259 índices de mercado, 258 acordos de comércio internacional, 129 África crescimento econômico, desapontamento com o, 227–228 taxas de inflação, 415 afro-americanos, taxa de desemprego dos, 51–52, 187–189 agregado monetário, 360 alavancagem, 379 Alcoa, 80 Alemanha importações dos EUA da, 118 inflação, 415 preço da gasolina na, 58 produtividade, salários e, 114 superávits, 486

taxas de poupança, 244 Alemanha Oriental, desemprego estrutural em, 198–199 All Creatures Great and Small (televisão), 69 alocação, eficiência em, 24 alocação, ineficiente para os consumidores, 91 controle de aluguel e, 91 de vendas entre vendedores, 97 alocação ineficiente de vendas entre vendedores, 97 alocação ineficiente para consumidores, 91 alta qualidade pelo critério da eficiência teto de preços e, 97 aluguel implícito, 260 América Latina, crescimento econômico, desapontamento com o, 227 American Economic Association, 5 análise econômica, 2 análise marginal, 8 anos fiscais, 342–343 Apple, 259 aprecia, 491 Arábia Saudita exportação de petróleo e, 116 superávits, 486 área, abaixo ou acima da curva, cálculo, 47–48 Argentina austeridade fiscal, 348 capital humano, 221–222 crescimento econômico de longo prazo, 153 PIB real per capita, 226 argumento da indústria nascente para proteção comercial, 129 argumento de segurança nacional para proteção comercial, 128

argumento para criação de trabalho para proteção comercial, 128 armadilha de liquidez, 431–432, 464 Armênia, inflação, 415 atividade ilegal, piso de preços e, 97 ativismo da política macroeconômica, 463 ativo físico, 252 ativos financeiros, 252 ações, 255–256 bônus, 255 empréstimos, 254 títulos lastreados por empréstimos, 255 austeridade expansionista, 474 austeridade fiscal, 348–349 Austrália, salário mínimo na, 97 autarquia, 112 automóvel (eis) comércio internacional de, 116–117 manufatura, taxa de câmbio e, 496–498 autoridade de resolução, 455–455 aversão à perda, 261 B baixa qualidade pelo critério da eficiência piso de preços e, 95 teto de preços e, 90–91 balança comercial, 484 balanço comercial de mercadoria, 484 balanНo de pagamento em conta-corrente, 484 balanço de pagamento na conta financeira, 484 balanço de pagamentos de bens e serviços, 484 Báltico, comércio internacional e, 156-157

banco central, 370 Banco Central Europeu, 370, 374 Banco da Inglaterra, 185 Banco Nacional Suíço, 481 bancos, 257, 362–364 capital dos bancos, 365 corridas aos bancos, 364–365, 369 depósitos, reservas, multiplicador da moeda e, 367–368 moeda, criação da, 366–367 papel monetário dos, 362–365 regulamentação, 364–365 bancos comerciais, 378 bancos de investimento, 378 Bangladesh fabricação de vestuário em, 31, 33 importações dos EUA de, 118 barter, 31 base monetária, 368 Bear Stearns, 440 Bélgica, salário mínimo na, 97 bens, compras de, 328–330 bens e serviços intermediários, 164 bens e serviços finais, 164 bens inferiores, 61 bens normais, 61 Bent, Bruce, 455 Bernanke, Ben, 295, 387, 432, 459, 489 Bernstein, Jared, 338 BLS, See Bureau of Labor Statistics Boehner, John, 327

Boeing, 21, 23, 37 bolha de ativos, 441 bônus, 163, 255 Bosworth, Barry, 215 Boxer, Barbara, 233 Brasil crescimento econômico, agricultura e, 225–226 fazendeiros de algodão, acordos de comércio internacional e, 129 Bryan, William Jennings, 202 Bureau of Consumer Financial Protection, 381 Bureau of Labor Statistics (BLS), 273 busca de emprego, 192 C camarão, importação dos EUA de, 113 Cameron, David, 453 Canadá crescimento econômico de longo prazo, 153 preço da gasolina no, 58 produtividade, salários e, 114 salário mínimo no, 97 taxas de poupança, 244 capital, 117 conta, 484 exigências, 364–365 financeiro, 241 físico, 117, 214–219, 300 humano, 117, 214–218, 221–222, 241 capital financeiro, 241 capital físico, 117 crescimento de longo prazo e, 214–219

deslocamentos da curva da demanda agregada e, 300 capital humano, 241 competência, vantagem comparativa e, 117 crescimento econômico de longo prazo e, 214–218 diferenças nas taxas de crescimento, 221–222 carteira diversificada, 256 Caterpillar, 505 causalidade reversa, 52 cesta básica, índices de preços e, 174–175 Chávez, Hugo, 93 Chicago Board of Trade, 81 Children’s Health Insurance Program (CHIP), 346 China capital humano, 221–222 crescimento econômico de longo prazo, 209 exportações de pneus para os EUA, tarifas e, 130 exportações para os EUA e, 130 PIB real per capita, 210 política do filho único, 9–10 produto interno bruto, 161 superávits, 486 taxa de câmbio fixa, 501 CHIP, See Children’s Health Insurance Program choque de demanda, 314–315 choque de oferta vs, 319 negativo, efeitos de curto prazo versus longo prazo, 317 política em face do, 321 positivo, efeitos de curto prazo versus longo prazo, 319 choques de oferta, 315–316 curva de Phillips de curto prazo e, 423–425

respondendo aos, 322 versus choque de demanda vs, 319 ciclo econômico, 146–147 domando, 149 gráfico do, 147–148 internacional, 149, 504 macroeconomia clássica, 460 origem do, 460–461 produtividade total de fatores e, 470 recessão, 148–150 saldo orçamentário ajustado ciclicamente, 338–340 ciclo político-econômico, 467 Cingapura, congestionamento de tráfego e, 63 círculo vicioso de desalavancagem, 379 climático proteção, custo da, 233 vantagem comparativa e, 115 variação, crescimento e, 231–233 Coca-Cola, mercado competitivo e, 56 coeficiente de reserva, 364 COLAs Ver subsídios ao custo de vida Collins, Susan, 215 comércio, 11 comércio internacional efeitos da exportação e, 121–122 efeitos da importação e, 119–121 retornos de escala crescentes, 117 salários e, 123–124 vantagem comparativa e, See vantagem comparativa companhias de seguro de vida, 257

comparações globais choques de oferta do século XXI, 316 de produção de vestuário, 31 de produtividade, salários e, 114 débito e, 343 desinflação, 429 Europa, nova tecnologia e, 223 metas de inflação, 401 rendas, 211 salário mínimo, 97 superávits, 486 tecnologia, produtividade e, 223 valor da moeda e, 358 competência, vantagem comparativa e, 117–118 complementos, 61 na produção, 68 preço de, deslocamentos da curva da demanda e, 61 preço de, deslocamentos da curva da oferta e, 68 compra de bens e serviços pelo governo, 164 compradores finais, 166 confiança empresarial, 462 congestionamento de trânsito em Los Angeles, 14 políticas contra o trânsito, 63 Conselho de Assessores Econômicos, 36 Consenso da Grande Moderação, 471, 473 consumidor (es) alocação ineficiente para, 91 excedente, See excedente do consumidor mudança no número de, deslocamentos da curva da demanda e, 62–63

proteção, 455 gasto Ver excedente do gasto de consumo conta do balanço de pagamentos, 482–485 conta financeira, 484 modelando a, 485–488 conta T, 363 conta-corrente, 484–485 PIB, PNB e, 484 superávits, 486 contabilidade do crescimento, 217 contágio financeiro, 442 contas de produto, 162 contas nacionais, 162 criação de, 170 diagrama de fluxo circular, 163–164 produto interno bruto, 164–170 controle de aluguel em Bombaim, 92 em Nova York, 87, 88 controles cambiais, 499 controles de preço Ver também tetos de preço; pisos de preço razões para, 88 controles de quantidade, 99 anatomia de, 99–102 custos do, 102 sobre moluscos, 103 convergência condicional, 229 convergência econômica, 228–229 cooperativa de baby-sitters, 16–17 cooperativa de babysitting de Capitol Hill, 17

Coreia do Sul acordo de livre comércio com os EUA, 131–132 bancos e, 257 taxa do crescimento econômico de longo prazo, 226–227 corrida ao banco, 364–365, 369 Costa Rica, produção de vestuário na, 31 cota, 99 cotas de importação, 126–127 credor de última instância, 448 crescimento econômico, 4 ambiente e, 231–233 educação e, 221–222, 224 explicando diferenças de, 221–223 fronteira das possibilidades de produção e, 26–27 papel do governo no, 223–225 pesquisa e desenvolvimento e, 221–223 poupança e gasto de investimento e, 221 taxas, 212 crescimento econômico ambiental e, 231–233 crescimento econômico de longo prazo, 150–153, 209 Coreia do Sul, 226–227 fonte de, 214–220 função produção agregada, 215–218 governo, papel do, 223–225 PIB real per capita, 210–212 produtividade, explicando o crescimento da, 214–215 produtividade, importância da, 214 recursos naturais, 218–219 taxas de crescimento, 212 crescimento econômico sustentável de longo prazo

ambiental e, 231–233 recursos naturais e, 230–231 crise bancária, 441 consequências da, 445–449 governos entram em cena, 448–449 histórico, 442–443 lógica da, 441–442 moderno, ao redor do mundo, 443–444 recessões e, 445–448 crise de crédito, 437, 446 crise de poupança e empréstimo, anos 1980, 378–379 crise financeira de 2008 consequências na Europa, 452–453 crise e resposta, 380 debate estímulo-austeridade, 453 empréstimo subprime e bolha imobiliária, 380 lição de recessão pós-crise, 453 long-term capital management (Mis) ou LTCM, 379–380 recuperação, 450–452 regulamentação após, 381, 453–455 sistema bancário, 379–381, 450–453 crowding out, 248 cruz keynesiana, 286 cunha, 102 curva da demanda, 56–57 deslocamentos da, 58–63 disposição de pagar, 137–138 doméstico, 119 excedente do consumidor e, 137–139 individual, 62

mercado, 62 tabela da demanda e, 57–58 curva da demanda agregada, 296 deslocamentos da, 299–300 deslocamentos da, efeitos de curto prazo, 314–315 em 1979–1980, 302–304 inclinação para baixo da, 297–298 modelo de renda-despesa e, 298–299 políticas governamentais e, 300–302 curva da demanda de mercado, 62 curva da demanda de moeda, 389 aumentos e diminuições, 390 deslocamentos de, 390–391 curva da demanda doméstica, 119 curva da demanda individual, 62 curva da oferta, 65 deslocamentos de, 66–69 individual, 68–69 mercado, 69 tabela da oferta e, 65–66 curva da oferta agregada, 304 curto prazo, See curva da oferta agregada de curto prazo curva de Phillips de curto prazo e, 424 curva da oferta agregada de curto prazo, 304–305 deslocamentos da, 306–308, 315–316 para o longo prazo, 310–312 preços da commodity, variação nos, e, 307 produtividade, variação na, e, 308 salários nominais, variação nos, e, 307–308 curva da oferta agregada de longo prazo, 308–310

do curto prazo para, 310–312 curva da oferta da moeda, 392 curva da oferta de mercado, 69 curva da oferta doméstica, 119 curva da oferta individual, 68–69 curva de Laffer, 469 curva de Phillips, 423 curva de Phillips de curto prazo, 423–425 choque de oferta e, 423–425 curva da oferta agregada e, 424 modelo AD–AS e, 424 taxa de inflação esperada e, 425–426 curva de Phillips de longo prazo, 427–428 curvas, 42 cálculo da área abaixo ou acima, 47–48 horizontal, 44–45 linear, inclinação de, 43–44 não linear, 45–46 pontos máximo e mínimo, 47 vertical, 44–45 curvas horizontais, inclinação das, 44–45 curvas não lineares, inclinação de, 45 curvas verticais, inclinação de, 44–45 custo(s) de controles de quantidade, 102 excedente do produtor e, 139–141 menu, 200–201 oportunidade, 102, 140, 388–389 sola de sapato, 200 transações, 253

unidade de conta, 201 custo de menu, 201 custo de oportunidade, 7 de manter moeda, 388–389 de vender livros usados, 140 fronteira das possibilidades de produção e, 25–26 medalhões de táxis, 102 custo de oportunidade constante, 25 custo de oportunidade crescente, 25–26 custos de sola de sapato, 200 custos de transação, 253 custos de unidade de conta, 201 D David, Paul, 220 De La Rue, 434 débito, 342–343 débito público, 343 da Segunda Guerra Mundial, 346 déficits e, na prática, 345–346 problemas c om, 343–345 decisões marginais, 8 Decreto Americano de Recuperação e Reinvestimento, 327, 331, 333–334, 337–337, 349 default, 255 déficit comercial, 155 déficit orçamentário déficit orçamentário ciclicamente ajustado vs., 340 definição, 241 déficit orçamentário federal dos Estados Unidos ciclo econômico e, 339 taxa de desemprego e, 339

déficits superávit, débito e, 342–343 versus débito, 343 deflação, 153–154 causas da, 154 danos da, 154 deflação de débito, 431 esperada, efeitos da, 431–432 medo de 2010, 432 modelo AD-AS, 318 nível de preços, 199 taxa de variação de preços, 199–201 deflação de débito, 431 deflator do PIB, 176 Dell, 258 demanda de bens inferiores, 61 de bens normais, 61 excesso, 74 lei da, 58 versus quantidade demandada, 60 depósito bancário, 257 depósitos bancários à vista, 358 deprecia, 491 desemprego crescimento e, 189–190 criação de emprego, 191–192 crise financeira de 2008, rescaldo, 450 crises bancárias e, 446–447 definindo e medindo, 186–187

destruição de emprego, 191–192 estrutural, 193–196 friccional, 192–193 inflação e, 423, 426–429, 466–467 medidas alternativas de, 187 política fiscal e, 472 política monetária e, 472 taxa natural de, 196–198, 466–467 desemprego cíclico, 196 desemprego estrutural, 193 na Alemanha Oriental, 198–199 salários de eficiência, 195 salários mínimos e, 194–195 sindicatos e, 195 desemprego friccional, 192–193 desequilíbrios internacionais, 155–157 desinflação, 202 1980s, 429–430 comparações globais da, 429 custos da, 428–429 moderado, 419–426 deslocamentos da curva da demanda, 58 expectativas e, 61–62 número de consumidores e, 62–63 preços de bens e serviços relacionados, 61 renda e, 61 versus movimentos ao longo da curva, 58 deslocamentos da curva da oferta, 66–67 expectativas e, 68 número de produtores e, 68–69

preços de bens ou serviços relacionados e, 68 preços dos insumos e, 68 versus movimentos ao longo da curva, 66 desvalorização, de taxas de câmbio fixas, 503 diagrama de dispersão, 49 diagrama de fluxo circular, 31–33, 163–164 direitos de propriedade, proteção dos, 224 direitos de propriedade intelectual, proteção dos, 224 diretoria, 370–371 disponibilidade de fatores, vantagem comparativa e, 115–116 disposição de pagar curva da demanda e, 137–138 excedente do consumidor e, 138–139 distribuição de renda, 32 diversificação, 254 dividendos, 163 Dodd-Frank, 381, 455 dólar, história do, 362 dólares encadeados, 171 domicílios, 31 Dow Jones Industrial Average, 258 E Eagle Alloy, 289 econometria, 277 economia, 2 economia aberta, 155 economia autorregulada, 145 economia de autocorreção, 319 economia de comando, 2, 25 economia do comportamento, 261

economia keynesiana, 145–145, 461–463 desafios da, 464–467 Grande Depressão e, 461–464 política fiscal discricionária, 472 política fiscal expansionista, recessões e, 472 política fiscal, desemprego no longo prazo e, 472 política monetária discricionária, 473 política monetária expansionista, recessões e, 471–472 política monetária, desemprego no longo prazo e, 472 versus macroeconomia clássica, 461–462 economia normativa, 33–34 economia pelo lado da oferta, 469 economia positiva, 33–34 economias de mercado, 2 economistas desacordos entre, 34–35 no governo, 35–36 Edison, Thomas, 222 educação diferenças nas taxas de crescimento econômico e, 221–222 subsídios do governo ao, crescimento econômico e, 224 efeito e balanço, 379 efeito Fisher, 251 efeito riqueza da variação no nível de preços agregado, 297 “efeito Walmart”, 234 eficiência, 13–14 fronteira das possibilidades de produção e, 24–25 na alocação, 24 Eichengreen, Barry, 145 eixo dos x, 42

eixo dos y, 42 eixo horizontal, 42 eixo truncado, 51 eixo vertical, 42 emprego, 186 emprego estrutural desencontros entre empregados e empregadores, 195–196 efeitos colaterais da política do governo, 195 empresas, 31 empréstimo, 254 empréstimo subprime, 380 empréstimos, 254 enchentes no Paquistão, mudanças na oferta e demanda e, 75 Ensaio sobre o Princípio da População (Malthus), 219 entrada líquida de capital, 241 entradas de capital, 485, 486 equidade, 13 equilíbrio, 11–12 equilíbrio de renda- despesa, 283–286 curva da demanda agregada e, 298–299 equilíbrio macroeconômico de curto prazo, 313–314 equilíbrio macroeconômico de longo prazo, 316–319 equivalência ricardiana, 332, 474 era do banco nacional, 442–443 escassez, 74 escolha individual, 5, 6 custo de oportunidade e, 7 escassez de recurso e, 6–7 incentivos e, 8–9 trade-offs e, 7–8

Escritório Nacional de Pesquisa Econômica (National Bureau of Economic Research NBER), 149, 460 Espanha preço da gasolina em, 58 rescaldo da crise financeira de 2008, 452 especialização, 11 estabilidade de preços, 154 estabilização política, 321, 322 estabilizadores automáticos, 337 Estados Unidos bolha imobiliária, 262–263 consumo de petróleo e crescimento ao longo do tempo, 231 débito e, 343 desinflação, 429 estagflação, anos 1970–1990, 426 fabricação de vestuário nos, 33 força de trabalho, mudança da, 197 identidade poupança-gasto de investimento, 242 importação de camarão dos, 113 impostos, 328–329 inflação, 415 PIB real per capita, 210–211 poupança nacional, 244 preço da gasolina nos, 58 preço do arroz em, 79 produtividade, salários e, 114 proteção comercial, 127–128 salário mínimo da, 97 taxa de desemprego, 186 taxa de juros, 251 estagflação, 295, 315, 426

estímulo de Obama, See Decreto Americano de Recuperação e Reinvestimento estoques, 164, 280 ajuste, processo do multiplicador e, 286–287 final da recessão e, 288 gasto de investimento não planejado e, 280–281 euro, 501 euro esclerose, 195 Europa crise financeira de 2008 rescaldos, 452–453 débito e, 343 regra fiscal e, 340–342 tecnologia, produtividade e, 223 excedente, 73–74 comparação global, 486 déficits, débito e, 342–343 excedente de oferta, 73 excedente do consumidor, 138 curva da demanda e, 137–139 disposição de pagar, 138–139 ganhos do comércio, 141–142 excedente do consumidor individual, 138 excedente do produtor, 140 curva da oferta e, 139–141 custo e, 139–141 ganhos do comércio, 141–142 excedente do produtor individual, 140 excedente global de poupança, 489 excedente total, 141 excedente total do consumidor, 138 excedente total do produtor, 140

excesso de confiança, 261 excesso de demanda, 74 excesso de dívida, 446 excesso de estoques, 282 exigência de reserva, 365 expansões, 147–149 expectativas, variações nas deslocamentos da curva da demanda agregada e, 299–300 deslocamentos da curva da demanda e, 61–62 deslocamentos da curva da oferta e, 68 expectativas racionais, 469 exportação(ões), 164 definição, 110 efeitos da, 121–122 exportações líquidas, 169 externalidade negativa, 233 F Facebook, 239 falácia do trabalho explorado, 114 falácia do trabalho pobre, 114 falha de mercado, 3, 14 Fannie Mae, 378 fast-food, como medida de inflação, 155 fatores de produção, 27, 115, 123 Fazakerley, Mark, 289 FDIC, See Federal Deposit Insurance Corporation Federal Deposit Insurance Corporation (FDIC), 257, 449 finanças comportamentais, 261 Financial Stability Oversight Council, 381 flexibilização quantitativa, 474–475

flutuações financeiras demanda de ações, 258–259 demanda por outros ativos, 259–260 expectativa do preço dos ativos, 260–262 preço dos ativos, macroeconomia e, 262 fluxo de capital anos dourados do, 489–490 conta do balanço de pagamentos, 482–485 dois sentidos, 489 internacional, determinantes subjacentes do, 488–489 modelando a conta financeira, 485–488 FMI, See Fundo Monetário Internacional força de trabalho, 187 mudança na composição nos EUA, 197 mudança nas características da, 197–198 França conversão da moeda, 2002, 199 preço da gasolina em, 58 salário mínimo na, 97 taxas de poupança, 244 Freddie Mac, 378 Friedman, Milton, 149, 276, 425, 443, 459, 464 Frisch, Ragnar, 460 fronteira das possibilidades de produção, 22–24 crescimento econômico, 26–27 custo de oportunidade, 25–26 eficiência, 24–25 Fryer, Roland, Jr, 9 Fuld, Richard, 440 função consumo, 274–275

função consumo agregado definição, 276 deslocamentos na, 276–278 função produção agregada, 215–218 Fundo Monetário Internacional (FMI), 36, 443 fundo mútuo do mercado monetário, 455 Fundo vinculado da Previdência Social, 347 fundos de pensão, 257 fundos mútuos, 256–257, 455 G Gaddafi, Muammar, 434 ganhos do comércio, 11 comércio internacional e, 112–113 excedente do consumidor e, 141–142 excedente do produtor e, 141–142 vantagem comparativa e, 27–30 Garney Construction, 349 gasolina, preços e consumo da, 58 gasto renda e, 15 total, política macroeconômica e, 16 gasto agregado, 164 gasto agregado planejado, 282 função consumo agregado e, 283 PIB real e, 282–283 gasto de consumo, 163 deslocamento da função consumo agregado, 276–277 renda disponível corrente e, 273–276 gasto de consumo autônomo, 272 gasto de investimento, 164, 278–279

não planejados, estoques e, 280–281 PIB real esperado no futuro, capacidade de produção e, 279 retrações, 279 taxa de juros e, 279–279 versus investimento, 240 gasto de investimento planejado, 279 gastos de investimento corrente, 280 Geithner, Tim, 440 General Motors, 157 GiftCardUSA, 382 globalização, 110, 130–131 Gomez, Bianca, 78 gostos, mudanças nos, deslocamentos da curva da demanda e, 61 governo direitos de propriedade, proteção dos, 224 economistas em, 35–36 estabilidade política e boa governança, 224–225 intervenção, 14 orçamento, gasto total e, 330 política macroeconômica e, 16 políticas, 223–224 Grã-Bretanha austeridade, pós-crise de 2008, 453 ciclo econômico, origem do, 461 desinflação, 429 libra (moeda), desvalorização da, 504–505 salário mínimo na, 97 gráfico de pizza, 49 gráfico de series temporais, 49 gráficos

barra, 49 cálculo da área abaixo ou acima da curva, 47–48 curvas sobre, 42–43 diagrama de dispersão, 49 duas variáveis, 41–42 gráficos de pizza, 49 inclinação da curva, 43–47 numéricos, 49–52 séries temporais, 49 graficos de barras, 49 gráficos de duas variáveis, 41–42 gráficos numéricos, 49 interpretando, 49–52 tipos de, 49–49 Grande Depressão, 16, 443 bancos e, 449–450 fim da, 463–464 inflação e, 202 macroeconomia e, 143, 145 multiplicador e, 272–273 preços e produto durante, 312–313 revolução keynesiana e, 461–464 Grande Moderação, 471 Grande Recessão 2007–2009, 323, 471 Grécia débito e, 343 implicações de longo prazo da política fiscal e, 342 rescaldo da crise financeira de 2008, 452 Greenspan, Alan, 263, 370 greve, 195

Gross, Bill, 406 guichê de redesconto, 365 H Herriot, James, 69 hiato de produto hiatos inflacionários e de recessão, resposta da economia a, 318 taxa de desemprego e, 421–422 hiato de recessão, 316–318 política fiscal expansionista e, 331 hiato inflacionário, 318 política fiscal contracionista e, 331 hiperinflação, 154, 418–419 hipótese da taxa natural, 467 hipótese de convergência, 227 hipótese do ciclo de vida, 277 hipótese dos mercados eficientes, 260–261 História Monetária dos Estados Unidos (Friedman, Schwartz), 443, 464 Home Depot, 259, 260 Hoover, Herbert, 143 Hoovervilles, 143 I identidade poupança-gasto de investimento, 240 na economia fechada, 240–241 na economia aberta, 241–242 ilíquido, 254 importação(ões) definição, 110 diagrama de fluxo circular, 164 efeitos das, 119–121

imposto inflacionário, 418 imposto sobre o valor agregado (VAT), 34–35 imposto(s), 328–329 inflação, 418 multiplicador, efeitos sobre o, 336–337, 354 impostos vinculados, 347 incentivos, 8 incentivos financeiros, desempenho do estudante e, 9 inclinação, 43 de curva linear, 43–44 de curva não linear, 45–46 método de cálculo da tangente no ponto, 46 método de cálculo do arco, 45–46 vertical, 44–45 inclinação constante, 25 Índia crescimento econômico, 212 PIB real per capita, 210 terceirização externa (offshore outsourcing) e, 131 índice de preços ao consumidor (IPC), 175–177 índice de preços ao produtor (IPP), 176 índice de preços por atacado, 176 índices de preços, cesta básica e, 174–175 indústria aérea recessões e, 323 revolução da, 17 indústria da banana, acordos de comércio internacional e, 129 indústrias de exportação, 123 indústrias que competem com importações, 123 ineficiência

piso de preços e, 95–97 teto de preços e, 90–92 inflação, 153–154 causas da, 154 danos da, 154 desemprego e, 423, 426–429 esperada, 425–426 fast-food como medida de, 155 ganhadores e perdedores, 201–202 imposto, 418 moderada, 419–426 moeda e, 416–419 nível de preços, 199 taxa de variação de preços, 199–201 taxas de juros e, 249–251 inflação, 16 infraestrutura, 223–224 instituição financeira paralela, 438, 440, 455 instituições, mudanças na, demanda por moeda e, 392 Institute for Supply Management (ISM), 178 insumos, 68 mudanças nos preços de, deslocamentos da curva da oferta e, 68 intensidade de fator, 115–116 interação, 10–11 da economia como um todo, 15–17 eficiência e, 13–14 equilíbrio e, 11–12 ganhos do comércio e, 11 intervenção governamental e, 14 recursos, uso eficiente de, 13

interação da economia de forma ampla gasto global, capacidade produtiva e, 15–16 gasto, rendas e, 15 política do governo, gasto e, 16 intercepto horizontal, 43 intercepto vertical, 43 intermediários financeiros bancos, 257 companhias de seguro de vida, 257 fundos de pensão, 257 fundos mútuos, 256–257 intervenção no mercado cambial, 499 intervenção no mercado de câmbio, 499–500 investimento em estoques, 280 investimento em estoques não planejados, 280 investimentos estrangeiros diretos, 485 IPC, See índice de preços ao consumidor IPP, See índice de preços ao produtor Irlanda austeridade fiscal, 348–349 crise bancária, 445 déficit orçamentário e, 475–476 salário mínimo na, 97 ISM, See Institute for Supply Management Israel, inflação e, 203 It’s a Wonderful Life (filme), 365 Itália desinflação, 429 preço da gasolina em, 58 rescaldo da crise financeira de 2008, 453

taxas de poupança, 244 J J. P. Morgan Chase, 440 James, LeBron, 7 Japão crescimento econômico de longo prazo, 209 débito e, 343 deflação e, 432 exportações de automóveis, 116 identidade poupança-gasto de investimento, 242 preço da gasolina no, 58 produtividade, salários e, 114 produto interno bruto, 161 sociedade em que se paga em dinheiro vivo e, 392 superávits, 486 taxas de poupança, 244 Jay Cooke and Co, 443 Jiffy Lube, 8 K Keynes, John Maynard, 145, 321, 461–464 Komatsu, 505 Kuznets, Simon, 170 L Lehman, Henry, 437 Lehman Brothers, 437–438, 440–441 lei da demanda, 58 lei de Okun, 422 lei Wall Street Reform e Consumer Protection de 2010, 381

Leontief, Wassily, 117 Leste Asiático, taxa de crescimento econômico de longo prazo, 226–227 Levi Strauss & Co., mercado competitivo e, 56 Li & Fung, 132 libra (moeda), desvalorização da, 504–505 licenças, 99 licenças de táxi em Nova York, 99 Lieberman, Joseph, 233 limite inferior zero da taxa de juros, 401 limite zero, 431–432 limites de cota, 99 líquido, 254 livre comércio, 124 livros, usados, Mercado de, 138 logística, 234 long-term capital (mis)management, 379–380 Long-Term Capital Management (LTCM), 438 LTCM, See Long-Term Capital Management Lucas, Robert, 469 lucro, 80 M macroeconomia, 4, 15–16, 143–144 ciclo econômico, 146–150, 460–461 clássica, 460–461, 471–473 crescimento econômico de longo prazo, 150–153 deflação, 153–154 desequilíbrios internacionais, 155–157 economia aberta, See macroeconomia de economia aberta Grande Depressão, revolução keynesiana e, 461–464 inflação, 153–155

moderno, consenso e conflito em, 471–475 moeda e nível de preços, 460 novos clássicos, See nova macroeconomia clássica o todo é maior que a soma das partes, 144–145 preços dos ativos e, 262 teoria e política, 145 macroeconomia de economia aberta, 481 contas do balanço de pagamentos, 482–485 fluxo de capital internacional, determinantes do, 488–489 fluxos de capital nos dois sentidos, 489 fluxos de capital, anos dourados do, 489–490 modelando a conta financeira, 485–488 paridade do poder de compra, 495–496 regimes de taxa de câmbio, 499, 500–501 taxa de câmbio de equilíbrio, 491–494 taxa de câmbio real, inflação e, 494–495 taxa de câmbio, fixação, 499–500 taxas de câmbio, 490–491 taxas de câmbio, política macroeconômica e, 501–505 Macroeconomic Advisers, 178 Maddison, Angus, 153, 220 Malthus, Thomas, 219 Mankiw, N. Gregory, 462 mão invisível, 2–3 Marshall, Alfred, 4 Martin, William McChesney, 370 máximo, da curva, 47 McCain, John, 233 McCulley, Paul, 438 “mecanismo de salvaguarda”, 130

Medallion Financial, 103 Medicaid, 346–347 Medicare, 346–347 meio de troca, 358 mentalidade de rebanho, 261 mercado de fundos para empréstimos, 244 demanda de, 244–246 deslocamentos da demanda, 247–248 deslocamentos da oferta, 248–249 fluxos de capital, 485–488 inflação e taxas de juros, 249–251 oferta de fundos para empréstimo, 246 taxa de juros de equilíbrio, 246–247 mercado de ingressos para concerto, 74 mercado de taxa de câmbio, 490–491 mercado de trabalho, 32 mudanças nas instituições, 198 mercado do alumínio, 80 mercado imobiliário bolha, nos EUA, 262–263, 380 Fort Myers, Flórida, do boom à quebra, 269 taxa de juros, boom imobiliário dos EUA e, 281–282 mercado interbancário, 371t mercado repo, p, 440 mercado(s) competitivo(s), 56, 74–75, 80 de bens e serviços, 31–32 de fator, 32, 62 financeiro, 163 fundos para empréstimo, See mercado de fundos para empréstimo

negro(s), 92 mercados competitivos, 56, 74–75, 80 mercados de bens e serviços, 31–32 mercados de crédito, variações no, 392 mercados de fatores, 32 mercados financeiros, 163 mercados negros, 92 Merkel, Angela, 341 meta da taxa de juros interbancária, 394 meta de inflação, 400–401 método do arco para cálculo de inclinação, 45–46 método dos pontos para cálculo da inclinação, 46 México ganhos do comércio, 112–113 produção de autopeças e, 113–114 produtividade, salários e, 114 microeconomia, 3, 143 mínimo, da curva, 47 Mitchell, Wesley, 460 modelo AD–AS curva de Phillips de curto prazo, 424 curva SRAS, deslocamentos da, 315–316 deslocamentos da demanda agregada, efeitos de curto prazo, 314–315 equilíbrio macroeconômico de curto prazo, 313–314 equilíbrio macroeconômico de longo prazo, 316–319 modelo clássico do nível de preços, 416–418, 460 modelo de expectativas racionais, 469 modelo de fundos para empréstimo (da taxa de juros), 394 modelo de oferta e demanda curva da demanda, 56–63

elementos de, 56 mercados competitivos e, 56, 80 mudanças na oferta e demanda e, 75–78 modelo de preferência pela liquidez da taxa de juros, 392 modelo Heckscher-Ohlin, 115–116 modelo renda-despesa, 282–282 curva da demanda agregada e, 298–299 equilíbrio de renda-despesa, 283–286 gasto agregado planejado, PIB real e, 282–283 processo do multiplicador, ajuste de estoques e, 286–287 modelo ricardiano de comércio internacional, 111 modelos, 22–23 aplicações empresariais dos, 23 desacordos entre economistas e, 34–35 economia positiva versus normativa, 33–34 fluxo circular, 22, 31–33 fronteira das possibilidades de produção, 23–27 vantagens comparativas como, 27–30 modelos de moda, mercado global de, 78 moeda, 358 como os bancos criam, 366–367 criação da, 366–367 custo de oportunidade de manter, 388–389 demanda por, 388–391 falsa, 357 fiat, 360 garantida por mercadoria, 359 história do dólar, 362 inflação e, 416–419 medindo a oferta de, 360–361

mercadoria, 359 modelo clássico de, 416–418 papel da, 358–359 taxa de juros e, 392–397 tipos de, 359–360 valor da moeda, comparação g lobal do, 358 velocidade da, 465–466 moeda em circulação, 358 moeda fiat, 360 moeda garantida por mercadoria, 359 moeda mercadoria, 359 monetarismo, 464–466 consenso e conflito em, 471 Federal Reserve e, 467 “Monetary Policy Matters” (Romer, Romer), 402 Monster Worldwide, 204 Morgan Stanley, 406 movimentos ao longo da curva da demanda, 58 movimentos ao longo da curva da oferta, 66 mudança autônoma no gasto agregado, 272 mudança na tecnologia bancária, 392 multiplicador, 270–272 ajuste de estoques e, 286–287 compras governamentais de bens e serviços, aumento das, 334–335 derivação algébrica de, 293 estímulo de Obama e, 337 Grande Depressão e, 272–273 impostos e, 336–337, 354 política fiscal e, 334–337 reservas, depósitos bancários e, 367–368

transferências governamentais, impostos, variações nas, 335–336 multiplicador de moeda, 368–369 Muth, John, 469 N NAFTA, See North American Free Trade Agreement NAIRU See nonaccelerating inflation rate of desemprego NASDAQ, 258 National Association of Securities Dealers, 258 NBER, See National Bureau of Economic Research negociação coletiva, 195 neutralidade monetária definição, 404 evidência internacional de, 406 New York Federal Reserve Bank, 440 Nicarágua, inflação em, 415 Nigéria, PIB real per capita, 226 nível de preço agregado, 174 índices de preços e, 174–177 variações no, 390 nível de preços, inflação e deflação, 199 nível de preços agregado de equilíbrio de curto prazo, 313 North American Free Trade Agreement (NAFTA), 109, 129 Northern Rock Bank, 449 Norway débito e, 343 produtividade, salários e, 114 superávits, 486 nova economia keynesiana, 469 Nova Economia Keynesiana (Mankiw), 462

nova macroeconomia clássica, 467–469 ciclo econômico real, 469–470 expectativas racionais, 469 Nova Teoria do Crescimento, 224 Nova York controle de aluguel, 87, 88 licenças de táxi em, 99 O O’Rourke, Kevin, 145 Obama, Barack, 327, 381 OECD Ver Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico oferta excesso, 73 dos veterinários, 69–70 oferta monetária, 154, 358 aumento na, efeitos de curto prazo de, 403–404 aumento na, efeitos de longo prazo de, 403–404 como os bancos criam moeda, 366–367 determinação da, 366–370 medida, 360–361 multiplicador da moeda e, 368–369 reservas, depósitos bancários, multiplicador da moeda e, 367–368 taxa de juros e, 394 variações na, taxa de juros e, no longo prazo, 406 operações de mercado aberto, 370, 372–374 Organização Mundial do Comércio (OMC), 129 Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 196 origem, 42

P P&D, 221–222 Pacific Investment Management Company (PIMCO), 406, 438 Pânico de 1873, 443 Pânico de 1893, 443 Pânico de 1907, 376 pânico financeiro, 442 paradoxo da poupança, 145, 287 paradoxo da tecnologia da informação, 219–220 paradoxo de Leontief, 117 paridade do poder de compra, 495–496 o preço do Big Mac, 495 versus taxa de câmbio nominal, 496 passeio aleatório, 261 passivo, 252 passivos implícitos, 346–348 patentes, 224 Paulson, Hank, 440–441 Pepsi, mercado competitivo e, 56 pesquisa e desenvolvimento, 221–222 petróleo consumo e crescimento ao longo do tempo nos EUA, 231 preço real do, 230 Phelps, Edmund, 425, 467 PIB de equilíbrio de renda-despesa, 285 PIB nominal, 171 PIB per capita, 171–172 PIB real per capita, 210–212 PIB, See produto interno bruto pico do ciclo econômico, 147–148

PIMCO, See Pacific Investment Management Company piso de preços, 88 ineficiência causada pelo, 95–97 merenda escolar e, 95 razões para, 97 salários mínimos como, 97 PlasticJungle.com, 382 PMC, See propensão marginal a consumir PMP, See propensão marginal a poupar PNB, See produto nacional bruto pneus, tarifas sobre, 130 política fiscal, 145, 327–328 compras de bens e serviços, 328–329 contracionista, 330–331 curva da demanda agregada e, 300–302 debate sobre, 473–474 débito público, 343–346 defasagens na, 332–333 desemprego e, 472 discricionária, 337, 472–473 expansionista, 330–332, 472 implicações de longo prazo, 342–349 impostos, 328–329 multiplicador e, 334–337 orçamento do governo, gasto total e, 330 passivo implícito, 346–348 saldo orçamentário, See saldo orçamentário tomar emprestado, 328–329 transferências governamentais, 328–329 política do filho único, 9–10

política fiscal contracionista, 330–331 política fiscal discricionária, 337, 472–474 política fiscal expansionista, 330–331 eficácia da, 331–332 hiato de recessão e, 331 recessões e, 472 política macroeconômica, 16, 320–321 choques de demanda, 321 choques de oferta, 322 política monetária, 145 a volta da, 464 contracionista, 398–399 curva da demanda agregada e, 302, 398–401 debate sobre, 474–475 demanda por moeda, 388–391 desemprego e, 472 discricionária, 464, 473 expansionista, 398–399, 471–472 moeda e taxa de juros, 392–398 moeda, produto e preços no longo prazo, 402–406 na prática, 399 regra de Taylor de, 399–400 sob taxas de câmbio flutuantes, 503–504 taxa de juros e, 394–396 política monetária contracionista, 398–399 política monetária discricionária, 464, 473 política monetária expansionista, 398–399, 471–472 ponto mais baixo do ciclo econômico, 147–148 poupança e empréstimo (associações de poupança), 378 poupança nacional, 241

poupança privada, 163 preço de demanda, 100 preço de equilíbrio, 72–73 abaixo do preço de mercado, sobe, 74 acima do preço de mercado, cai, 73–74 preço de mercado abaixo do preço de equilíbrio, sobe, 74 acima do preço de equilíbrio, cai, 73–74 preço de oferta, 100 preço internacional, 119–120 preço que ajusta o mercado, 72 preço(s) ajuste o mercado, 72 ativos, macroeconomia e, 262 commodity, deslocamentos da curva da oferta agregada no curto prazo, 307 de complementos, deslocamentos da curva da demanda e, 61 de fatores, 123 de insumos, variações em, deslocamentos da curva da oferta e, 68 de substitutos, deslocamentos da curva da oferta e, 68 de substitutos, deslocamentos da curva da demanda e, 61 demanda, 100 dos complementos, deslocamentos da curva da oferta e, 68 estabilidade, 154 índices, cesta básica e, 174–175 modelo clássico do nível de preço, 416–418 mundial, 119–120 nível de, inflação e deflação e, 199 oferta, 100 taxa de variação da, inflação e deflação e, 199–201 preços agrícolas, comércio internacional e, 124

preços das commodities, curva da oferta agregada de curto prazo e, 307 preços de fatores, comércio internacional e, 123–124 preços dos ativos, macroeconomia e, 262 preços relativos, 113 pressuposto de tudo o mais constante, 22 Previdência Social, 346–348 previsões, 34 Priceline.com, 17 princípio do acelerador, 279 produção complementos na, 68 eficiência na, 24–25 enxuta, 37 substitutos, 68 produção enxuta, 37 produtividade capital físico e, 216 crescimento de, 214–215, 218 curva da oferta agregada de curto prazo, 308 importância da, 214 produtividade do trabalho, 214 produtividade total do fator, 218 abrandamento da, nos EUA, 219 ciclo econômico e, 470 produto agregado, 170–173 produto agregado de equilíbrio de curto prazo, 313 produto interno bruto (PIB), 161, 164 calculando, 165–169 conta-corrente e, 484 predizendo, 178

produto interno bruto real (PIB real), 148, 170 calculando, 171 esperado no futuro, capacidade de produção, gasto de investimento e, 279 limitações de medida, 171–172 sentido da vida e, 172 variação nos níveis versus taxa de variação, 212 variações em, 390 produto nacional bruto (PNB) conta-corrente e, 484 definição, 169 produto potencial, 310 produtores, mudanças no número de, deslocamentos da curva da oferta e, 68–69 progresso tecnológico, 214–215 projeto do avião, 21 propensão marginal a consumir (PMC), 270–272 propensão marginal a poupar (PMP), 270–271 proteção comercial acordos de comércio internacional e, 129 argumentos de, 128–129 cotas de importação como, 126–127 negociações de comércio global e, 130–131 nos Estados Unidos, 127–128 Organização Mundial do Comércio, 129 política de, 129 tarifas como, 124–126 terceirização e, 130–131 proteção do consumidor, 455 Q qualidade alta por ineficiência, teto de preços e, 97

baixa por ineficiência, piso de preços e, 95 baixa por ineficiência, teto de preços e, 90–91 quantidade controle, custo de, 102 equilíbrio, 72–73 quantidade de equilíbrio, 72–73 quantidade demandada, 57 quantidade ofertada, 65 quase-moeda, 360 R razão dívida-PIB, 345–346 Reagan, Ronald, 469 recém-formados, taxa de desemprego e, 190–191 recessões, 3–4, 148–150 crises bancárias, 446–448 crises bancárias, recuperação e, 445–446 desemprego e, 189 fim de, estoques e, 288 Muskegon, Michigan, 289 política de combate, 463 recursos, 6 escassez de, 6–7 recursos desperdiçados, 91, 96 recursos escassos, 6 recursos naturais crescimento de longo prazo e, 218–219 crescimento de longo prazo sustentável e, 230–231 regimes de taxa de câmbio, 499, 500–501 regra d política monetária, 465 regra de Taylor de política monetária, 399–400

regra dos, 70, 212 regras da estrada, 12 regulamentação de derivativos, 455 Reinhart, Carmen, 447 Reino Unido preço da gasolina no, 58 produtividade, salários e, 114 taxas de poupança, 244 relação causal, 42 relação negativa, 43 relações lineares, 42 relações não lineares, 42 relações positivas, 43 relógios, produção suíça de, 117 renda comparação global, 211 gasto e, 15 mudanças na, deslocamentos da curva da demanda e, 61 renda da cota, 102 renda de fator, 483 renda disponível, 163 gasto de consumo e, 272–276 variações no futuro esperado, 276 renda nacional, 162 e contas de produto, 162 renda real, 199 reserva de valor, 358–359 reservas bancárias, 363 reservas excedentes, 367 Reserve Primary Fund, 455

reta tangente, 46 retornos de escala crescentes, comércio internacional e, 117 retornos decrescentes ao capital físico, 215–217 Ricardo, David, 111 riqueza, 252 agregada, variações na, 276–277 deslocamentos na curva de demanda agregada e, 300 risco financeiro, 253–254 Rockefeller, John D, 377 Rogoff, Kenneth, 447, 451, 467 Romer, Christina, 338, 402 Romer, David, 402 ronda de Desenvolvimento de Doha, 131 Roosevelt, Franklin D, 443, 463 Rússia, superávits, 486 S S&P, 500, 258 salário mínimo, 94–95 comparação global do, 97 desemprego estrutural e, 194–195 na Europa, 97 salário(s) comércio internacional e, 123–124 como preços de fatores, 123 salários de eficiência, 195 salários nominais, curva de oferta agregada de curto prazo e, 306–308 saldo orçamentário, 241 ajustado ciclicamente, ciclo econômico e, 338–340 como medida de política fiscal, 338 importância do balanço, 341

saldo orçamentário ajustado ciclicamente, 338–340 Samuelson, Paul, 461 Sanders, Bernie, 233 “sanduíche escandinavo”, 97 Sarkozy, Nicholas, 341 Schumpeter, Joseph, 145, 460 Schwartz, Anna, 443, 459, 464 securitização, 380 seguro de depósito, 364 seguro social, 328–329 senhoriagem, 418 serviços, compra de, 328–330 sindicatos, desemprego estrutural e, 195 Sirius XM Radio, 258 sistema bancário criação do Federal Reserve, 377–378 crise de poupança e empréstimo dos anos 1980, 378–379 crise financeira de 2008, 379–381, 450–453 crise, início do século XX, 376–377 crises históricas, 442–443 crises modernas, 443–444 crises, consequências do, 445–449 crises, lógica de, 441–442 propósito de, 439–440 regulamentação, na esteira da crise, 453–455 taxa de retorno e liquidez, 439 sistema bancário dos Estados Unidos, evolução do criação do Federal Reserve, 377–378 crise de poupança e empréstimo dos anos 1980, 378–379 crise financeira de 2008, 379–381

crise, início do século XX, 376–377 Sistema do Federal Reserve, 370 ativos, interesse em, 374 balanço, 376 Banco Central Europeu, 374 contrações da economia, expansões, 401–402 criação de, 377–378 estrutura do, 370–371 exigência de reserva e taxa de desconto, 371–372 meta da taxa de juros interbancária, 397–398 monetarismo, 467 operações de mercado aberto, 372–374 sistema financeiro, 252 custos de transação, redução dos, 253 intermediários financeiros, 256–257 liquidez, 254 risco financeiro, redução do, 253–254 tarefas de, 252–254 tipos de ativos financeiros, 254–256 Smith, Adam, 2–3, 11, 360, 461 sociedade em que se paga com dinheiro vivo, Japão e, 392 Solow, Robert, 219 soma horizontal, 62 spread TED, 380 Sri Lanka, produção de vestuário no, 33 Standard and Poor ’s, 258 subemprego, 187 subsídios do custo de vida, 177 substitutos, 61 na produção, 68

preço de, deslocamentos da curva da demanda, 61 preço de, deslocamentos da curva da oferta e, 68 Suíça contas bancárias, 481 produção de relógios, 117 superávit comercial, 155 superávit orçamentário, 241 T tabela da demanda, 57 tabela da oferta, 65 Tailândia exportação de camarão da, 113 exportações de arroz da, 79 Taiwan, produtividade, salários e, 114 Target, 6 taxa básica, 304 taxa de câmbio, 490–491 equilíbrio, 491–494 paridade do poder de compra, 495–496 política macroeconômica e, 501–505 real, inflação e, 494 taxa de câmbio de equilíbrio, 491–494 taxa de câmbio flutuante, 499 ciclos econômicos internacionais e, 504 política monetária sob, 503–504 taxa de câmbio nominal versus paridade do poder de compra, 496 versus taxa de câmbio real, 495 taxa de câmbio real, 494 inflação e, 494–495

versus taxa de câmbio nominal, 495 taxa de desconto, 372 taxa de desemprego, 148–149, 186–187 crescimento e desemprego, 189–190 crise bancária e, 445–446 de grupos diferentes, 189 definindo e medindo o desemprego, 186–187 hiato de produto e, 421–422 importância de, 187–189 recém-formados e, 190–191 subestimar o verdadeiro nível de desemprego e, 187–189 superestimar o nível verdadeiro de desemprego e, 187 taxa de desemprego que mantém estável a inflação (NAIRU), 427–428 taxa de inflação, 175 taxa de juro real, 202, 475 taxa de juros, efeito da variação no nível de preços agregado, 298 taxa de juros de curto prazo, 389 taxa de juros de equilíbrio, 246–247, 392–394 taxa de juros de longo prazo, 389, 396–397 taxa de juros do mercado interbancário, 371, 396 taxa de juros nominal, 202, 475 taxa de mudança (de emprego e produção industrial), 146 taxa de participação na força de trabalho, 187 taxa do núcleo da inflação, 430 taxa natural de desemprego, 196–198 taxas de câmbio fixas, 499 desvalorização de, 503 valorização de, 503 taxas de juros, 202 boom imobiliário dos EUA, 281–282

curto prazo, 389 custo de oportunidade de manter moeda e, 389 EUA, na metade do século passado, 251 inflação e, 249–251 longo prazo, 389, 396–397 moeda e, 392–398 política monetária e, 394–396 variações na, oferta monetária e, no longo prazo, 404–406 Taylor, John, 399 tecnologia, 27 crescimento da produtividade e, 218 mudança na, deslocamentos na curva da oferta e, 68 produtividade e, comparação global, 223 vantagem comparativa e, 116–117 teoria do ciclo econômico real, 469–470 teoria financeira, 23 terceirização, externa, 131 terceirização externa (offshore outsourcing), 131 teto de preços, 88 ineficiência causada por, 90–92 modelo de, 88–90 na Venezuela, 93 razões para, 92–93 The Economist, 495 The Vanguard Group, 257 títulos garantidos por hipotecas (MBSs), 23 títulos lastreados por empréstimos, 255 tomada de empréstimo pelo governo, 164 tomar emprestado, 328–330 Toyota, 37

trabalhadores desencorajados, 187 trabalhadores marginalmente ligados à força de trabalho, 187 trade-off(s), 7–8 transferências governamentais, 163, 328–330 transferências internacionais, 483 transformação do prazo de vencimento, 440 túneis de vento, 21 U UE, See União Europeia União Europeia (UE), 129 União Soviética, antiga, 2 ineficiência na alocação de, 25 unidade de conta, 359 United Airlines, 323 V vale presente, 382 valor absoluto, 45 valor agregado, 166 valor presente, 245 projetos com receitas e custos, cálculo de, 268 projetos de um ano, cálculo de, 267 projetos plurianuais, cálculo de, 267–268 valorização, de taxas de câmbio fixas, 503 vantagem absoluta, 30 versus vantagem comparativa, 113–115 vantagem comparativa autarquia, 112 comércio internacional e, 30, 110–118 competências e, 117–118

fontes de, 115–117 ganhos do comércio e, 27–30, 112–113 modelo ricardiano de comércio internacional e, 111 nações ricas e pobres e, 33 possibilidades de produção e, 111–112 versus vantagem absoluta, 30, 113–115 variação de preços de bens e serviços relacionados, deslocamentos da curva da demanda e, 61 de bens e serviços relacionados, deslocamentos da curva da oferta e, 68 variável y, 41–42 variável (eis), 41 dependente, 42 independente, 42 omitida, 52 variável dependente, 42 variável independente, 42 variável x, 41–42 velocidade da moeda, 465–466 Venezuela controle da fome e do preço, 93 produto interno bruto, 173 vestuário, vantagem comparativa em, 31, 33 veterinários, oferta de, 69–70 Vietnã, importação de camarão do, 113 W Walmart, 6 Washington, George, 2 Works Progress Administration (WPA), 337 WPA, See Works Progress Administration Wright, Orville, 21

Wright, Wilbur, 21 Z Zimbábue, inflação, 415, 417–418, 419

Related Documents

Krugman,p.
January 2021 16
Macroeconomia Froyen
January 2021 1
Macroeconomia-bcrp
February 2021 1

More Documents from "uaigijon"