Pe. Leonel Franca - Livro Dos Salmos

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OBRAS COMPLETAS DO P.e LEONEL FRANCA S.J. XI

O

L I V R O DOS SALMOS TRADUÇÃO

AGIR

OBRAS

COMPLETAS

DO

Pf LEONEL FRANCA S. J.

RO D OS XI

LIV

SALMOS om os cânticos do B reviário Rom ano

c

Versão portuguesa pelo P. LEONEL FRANCA, S. J. feita sobre a originais

nov a tradução latina

acompanhada

de

notas

dos textos exegéticas

pelos Professores do Pontifício Instituto Bíblico 2 . a E D IÇ Ã O

R IO DE JAN EIRO

«<óivrarfa

AGIR SJito r& 1953

Copyright de

ARTES GRÁFICAS INDÚSTRIAS REUNIDAS S. A. (AGIR)

ITERUM IMPRIMI POTEST P. Josephus da Frota Gentil, S.J. Flum. Januario, 21 Novembris 1952 Ex commissione Emm. Card. Archiepiscopi

L iv r a r io

AGI R. E

/ / / ô ra

Rio de Janeiro --------- Rua México, 98-B --------- Caixa Postal 3291 São Paulo - Rua Bráulio Gomes, 12S, loja 2 — Caixa Postal 0040 Belo Horizonte — Avenida Afonso Pena, 919 — Caixa Postal 733 ENDERÊÇO TELEGRÁFICO "AOIRSA"

P r e f á c io Empreendida por vontade do Santo Padre Pio X I I , sai agora a nova tmdução latina dos Salmos, jeita dos textos originais e acompanhada de notas críticas e exegéticas. Não foi intenção nossa publicar um co­ mentário que esclarecesse, sob todos os aspectos, os versos sagrados. Dessct tareja já se desempenharam, a primor, muitos e grandes interpre­ tes^antigos e modernos. Alimentamos até a esperança de que, sacerdo­ tes e clérigos, auxiliados pelo nosso trabalho, alcançado o sentido lite­ ral dos Salmos, lancem mão destas obras de maior tomo para com mais profundeza lhes penetrar a natureza e a doutrina. Duplo joi o objetivo que tivemos em mira nesse trabalho. Antes de tudo, aos que nos perguntarem as regras e normas seguidas nesta no­ va tradução, principalmente acerca da restituição critica do texto, pro­ curamos responder plenamente na Introdução. Em segundo lugar, aos sacerdotes e clérigos que na recitação do Ofício divino se servirem desta nova tradução, visamos oferecer todos os elementos necessários a uma compreensão justa do texto sagrado. M ui­ tas e graves dificuldades havia, oriundas, no sentir unânime, da pró­ pria língua e natureza da Vulgata; estas julgamos afastadas na tra­ dução pres nte. Outras, porém, há, que embaraçam a inteligência do texto mero e não podem ser removidas por nenhuma tradução. Os Salmos foram compostos em épocas muito remotas. Vida e região, costumes e cultura eram de muito diferentes dos nossos. As regras e leis da arte poética oriental, a que obedecem, distanciam-se não pouco das a que esta­ mos habituados. Fácil, é de ver, portanto, que, em muitos lugares, para a plena e perfeita compreensão do sentido da palavra divina, indispensá­ vel se torna uma explicação. Foi o que nos induziu não só a antepor a cmãa Salmo o seu argumento dividido em partes, senão ainda a acrescentar-lke breves notas exegéticas que explicassem as expressões menos ób­ vias e as frases mais difíceis. Onde pareceu conveniente, demos as ra­ zões deêtas notas, esclarecendo por que preferimos este ou aquele texto, ou traduzimos desta ou daquela forma e propondo também, ou pelo menos indimndo, outras traduções.

6 — Prefácio Para uso dos sacerdotes ou clérigos que recitam o Ojício divino, compendiamos sumariamente na Introdução os conhecimentos necessários ou convenientes, relativos à natureza, origem e história do Salmõs. Nes­ ta exposição abstivemo-nos, de caso pensado, de qualquer controvérsia. Nem indicamos bibliograjias por se encontrarem, copiosas# nos livros de uIntrodução Omitimos outrossim um ponto de capital importância na interpreta­ ção dos Salmos: a exposiçãô de sua doutrina religiosa e moral. Pa­ rece-nos ser esta a jinalidade precípua das aulas de exegese. Desemba­ raçadas agora das inumeráveis dificuldades, criadas pela Vulgata, pode­ rão doravante os professores aplicar-se integralmente, na explicação dos Salmos, a pôr em relevo, quanto se refere “ principalmente à sua teologia” e possa “ incrementar a verdade da doutrina e a solidez da piedade” (Eneicl. “ Divino afflante Spiritu” ). A idêntico resultado deverão chegar os sa­ cerdotes e clérigos com a meditação freqüente e até quotidiana dos Sal­ mos: “ peneirar sempre mais profundamente os segredos” (ib.) da Palavra de Deus a fim de alimentar a própria alma de santos pensamentos e propó­ sitos, e abrir aos fiéis, que lhe são ou hão-de ser confiados, os tesouros dos Salmos. Quem quer que se familiarize com este livro, verá sem esforço quan­ to, na sua preparação, meditamos e utilizamos o trabalho indefesso de sadia exegese dos Salmos acumulado pelos séculos até aos nossos dias. Não era tarefa 7iossa iniciar novas investigações mas resumir as antigas e as modernas, acolher, reconhecido, quanto nelas havia de útil e acertado e pô-lo ao alcance de todos. Não é mister que digamos explicitamente o muito que devemos a quan­ tos, nestes últimos decênios, vinham insistindo para que, na recitação do Divino Ojício, se introduzisse uma nova tradução dos Salmos. Das suas justas e sábias sugestões, muitas, como ê fácil de ver, foram apro­ veitadas; as outras, podem estar certos, que foram levadas em considera­ ção e examinadas com cuidado. Só nos resta agora pedir a Deus que deste penoso trabalho se co­ lham os frutos copiosos que dele espera a Igreja e deseja o Augusto Pon­ tífice, a cujo zelo e amor dos sacerdotes se deve esta obra, por sua vontãde iniciada e pela sua paternal benevolência levada a termo. Roma, na festa de Cristo Rei, 29 de Outubro de 1944*

Os

Editores

CARTA APOSTÓLICA MOTU PROPRIO

Acerca do uso da nova tradução latina dos Salmos na recitação do Ofício Divino

PIO P a p a X II Entre as orações quotidianas, com que os sacerdotes adoram a majestade e a bondade de Deus e atendem às necessidades próprias, da Igreja e do mundo, ocupam lugar previlegiado os hinos, compostos por inspiração do Espírito divino, pelo santo profeta David e por ou­ tros autores sagrado®, e desde os primeiros tempos, utilizados sempre pela Igreja, a exemplo do divino Redentor e dos Apóstolos, na celebra­ ção dos santos ofícios. Estes Salmos, recebeu-os a Igreja latina dos fiéis de língua grega, traduzidos do grego para o latim quase ao pé da letra, corrigidos e melhorados, aqui e ali, no decurso dos séculos, sobretudo por S. Jerónimo, Doutor Máximo nas Escrituras Sagradas. Com estas correções, porém não se eliminaram de todo os conhecidos erros da tradução grega. Obscurecia-se assim o sentido e o vigor do texto original e impedia-se fossem os Salmos fàcilmente compreendidos por todos. E sabido que o próprio S. Jerónimo não se animara a oferecer aos seus concidadãos de língua a antiga tradução latina “ cor­ rigida com toda a diligência” Aplicou-se com maior esforço a tra­ duzir os Salmos “ juxta hebraicam veritatem” .1 Esta nova tradução do Santo Doutor não penetrou no uso da Igreja. Prevaleceu, aos poucos, uma edição algum tanto melhorada da antiga versão latina, conhecida com o nome de Saltério Galicano. E o nosso predecessor Pio V, houve por bem adoptá-la no Breviário Romano e prescrevê-la assim ao uso quase universal. 1. S. Hieronymi Pr aefatio in Librum Psalmorum juxta hebraicam veritatem; Pl, X X V III, 1125(1185) e sgs.

8 — - Cart» Apóstolica

Com o tempo, tornaram-se cada vez mais visíveis os erros e obscurí-* dades desta tradução latina. Não chegou a suprimi-los Jerónimo, preocupado unicamente com dar um texto latino mais em harmonia com os melhores códices gregos. Para isso contribuíram, em nossos dias, o conhecimento mais perfeito das línguas antigas, principalmente da hebraica, o progresso da exegese, a investigação mais profunda** das regras da métrica e do ritmo das línguas orientais e a determinação mais clara das normas da chamada crítica textual. As numerosas traduções dos Salmos, feitas em línguas modernas sobre os textos originais e publicadas em várias nações, com aprovação da Igreja, concorreram também para revelar nos Salmos, quais se encontram na sua expressão primitiva, exímia clareza, elegância poética e pro­ fundidade de doutrina. Não é, pois, de maravilhar que muitos sacerdotes, desejosos de re­ zar as suas Horas com piedade e inteligência, aspirassem a uma nova tra­ dução latina dos Salmos, que lhes manifestasse com mais exatidão, o sentido inspirado pelo Espírito Santo, lhes exprimisse com mais perfei­ ção os piedosos sentimentos do Salmista e lhes reproduzisse com mais fi­ delidade o estilo e o vigor das expressões nativas. Este desejo, manifestaram-no mais de uma vez homens de saber e prudência em obras de doutrina e em artigos de revista. A Nós o exprimiram numerosos sacerdotes, bispos e cardeaes. A nossa reverência ks Divinas Escri­ turas levou-nos sempre a empregar todos os esforços a fim de que os fiéis possam penetrar-lhes sempre mais, o sentido inspirado pelo Espí­ rito Santo e expresso pelo escritor sagrado. Ainda há pouco, tivemos ensejo de o expôr na nossa Encíclita Divino Afflante Spiritu. Pesamos, no caso, as dificuldades da empresa. Não desconhe­ cemos nem a ligação íntima entre a Vulgata e os Escritos dos Santos Padres e os comentários dos Doutores nem a sua veneranda autoridade sancionada pelo uso de tantos séculos. Apesar disto, houvemos por bem atender a esses piedosos desejos e ordenamos que se preparasse uma nova tradução latina dos Salmos que seguisse de perto e com fi­ delidade os textos originais e, ao mesmo tempo, levasse em consideração a Vulgata e as outras traduções antigas, de acordo com as normas da crítica. Bem sabemos que o próprio texto hebraico não chegou até nós sem falhas e obscuridades. É mister confrontá-lo com outros textos antigos para se lhe encontrar o sentido exato e genuíno. ainda assim, por vezes,, o emprego de todos os subsídios da crítica e da filologia não logra determinar, com toda a certeza, a significação das palavras. A investigações futuras ficam reservadas mais amplos esclarecimentos.

E

—- 9

Carta Apostolica -

Não cate dúvida, porém, que, hoje em dia, com auxílio da ciên­ cia moderna, já é possível fazer uma tradução capaz de exprimir o sen­ tido e o vigor dos Salmos, com tanta clareza, que os sacerdotes, na reci­ tação do Ofício Divino, percebam fàcilmente o que o Espírito Santo exprimiu pelos lábios do Salmista e, assim, se movam e excitem viva­ mente à verdadeira e sincera piedade. À todos os que devem recitar as Horas quodidianas oferecemos, com afeto paternal, esta nova tradução por Nós desejada e agora, com todo o cuidado e diligência, levada a termo pelos professores do Nosso Pontifício Instituto Bíblico. Bem considerado tudo e madu­ ramente deliberado, de motu proprio concedemos que, uma vez adap­ tada ao Saltério do Breviário Romano e publicada pela tipografia Yaticana, possam utilizá-la na recitação pública e particular do Santo Ofício. Esperemos que a nossa solicitude pastoral e a caridade paterna para com os homens e mulheres consagrados a Deus, contribuam para que, da recitação do Divino Ofício possam todos, no futuro, haurir mais luz, consolação e graça. Assim iluminados e movidos, nesses tempos difíceis que atravessa a Igreja, sentir-se-ão mais dispostos a imitar os preclaros exemplos de santidade que tanto brilham nos Salmos. Servirão ainda para nutrir e afervorar os sentimentos de amor de Deus, de fortaleza invicta e de piedosa compunção que, pela sua leitura, excita em nós o Espírito Santo. Tudo o que decretamos e estatuímos nestas Letras, escritas de motu proprio, seja ratificado e confirmado, não obstante qualquer cousa em contrário ainda que digna de menção especialíssima. Dada em Roma, em S. Pedro no dia 15 de Março de 1945, sétimo do nosso Pontificado. PIO

P apa

X II

Introdução I OS SALMOS E O SALTÊRIO Nenhuma outra religião da antiguidade nos legou, como a de Israel, uma coleção de poemas sagrados tão rica e de tão rara beleza. Além de preciosos documentos antigos, estes versos ainda hoje vivem e atuam na Igreja. Nem digto se maravilha quem considere não serem eles apenas fruto da inteligência humana mas da inspiração do Espírito Santo. A esta origem divina devem eles principalmente a fórça e o segredo de elevar a alma a Deus, despertar nela piedosos e santos afetos, ajudá-la a dar graças a Deus nos momentos felizes e infundir-lhe consolação e coragem na adversidade. Inestimáv el dom de Deus são estes poemas sagrados do Antigo Testamento, reunidos quasg todos no Livro dos Salmos. Aos ministros sagrados que os reci­ tam no Ofício Divino, lembram eles, cada dia, não só a majestade infinita de Deus, a sua justiça incorruptível e a sua imensa bondade, senão ainda a própria fr'aqueza e indigência. São ainda fórmulas de oração, de rara eficácia, para impetrar o auxílio divino. 1.

Gênero e argumento dos Salmos

Nestes últimos decênios muito se tem escrito e discutido sobre a variedade de gêneros dos Salmos. Numerosas são as classificações propostas pelos autores, nem todas fundadas em razões sólidas que lhes justifiquem a aceitação. São tão variados os assuntos neles tra­ tados que se não podem ajustar a normas muito rígidas nem aferir ou apreciar pela literatura de outros povos. Tentaremos apresentar aqui os gêneros de cada Salmo principalmente pelo seu assunto. Ainda assim, nem deste modo, se pode oferecer uma divisão justa de todos a) O assunto mais comum oferecem aos Salmos as misérias da vida humana. Misérias de cada indivíduo, em primeiro lugar: o Salmista piedoso, oprimido pela dor, pela enfermidade, pela velhice, polas ca-

12 ----- INTRODUÇÃO

lamidades, pelas perseguições dos inimigos, recorre a Deus, expõe lhe as suas angústias e pede-Lhe que o livre dos seus sofrimentos (assim 3. 4, 5. 7. 9. 10. 11. 12. 13. 16. 17. 24. 25. 27. 29. 30 34 38. 40. 52. 53. 54. 55. 58. 63. 68. 69. 70. 85. 87. 89. 108. 114. 115. 119. 120. 130. 139-141). 1 E como são tantas e tão variadas as adversidades que deram ensejo à composição dos Salmos, pode dizer-se que não há, quase, sofrimento que neles não encontre uma oração apropriada. Â prece ajunta-se quase sempre a expressão da alma agradecida. Âs vezes o Salmo, composto para implorar socorro numa necessidade urgente, promete ações de graças no futuro; outras, o Salmista piedoso, tendo já alcançado o benefício, relembra, reconhecido, os males de que o livrou o favor de Deus e as expressões com que impetrara o auxílio divino. Semelhantes a estes, ainda que em menor número, são os Salmos em que se lamentam as calamidades de todo o povo e se implora de Deus a salvação (43. 59. 73. 78. 79. 82. 84. 107. 122. 124. 125. 143) ou se lhe rendem graças por uma vitória obtida por uma liber­ tação ou outros benefícios (47. 64. 117. 123. 128. 136). Neste grupo podem filiar-se os Salmos em que se fazem preces pelo rei (19.20.60). Neste gênero, os Salmos mais nobres são os que deploram a mi­ séria moral, ou o pecado, pedindo perdão e invocando misericórdia. Entre eles incluem-se, os, por excelência, chamados Salmos “ peniten­ ciais” (6. 31. 37. 50. 101. 129. 142). b) Muitos Salmos são hinos de louvor a Deus: celebram-Lhe a majestade, a sabedoria, o poder admirável na criação e conservação do mundo, a providência no governo dos povos, a justiça e eqüi­ dade no julgar e, de modo geral, a misericórdia e bondade para com os homens (8. 18. 28. 32. 65. 74. 75. 80. 90. 91. 93. 94. 99. 102. 103. 110. 112. 116. 126. 133. 134. 137. 138. 144. 145. 146. 147. 148. 149. 150). Muitas vezes, descreve o Salmista o desejo ardente que o leva a Deus (62), ou ao templo em que Deus habita (41. 42. 83) ou à cidade santa de Jerusalém (121) cujo esplendor encarece com grandes elogios (45). Os ídolos, adorados pelos gentios, são objeto de desprezo e abominação (113B. 134). Também celebram a misericórdia, a fidelidade e o poder de Deus os Salmos que tratam da promessa messiânica, feita a David (88.

1. Os Salmos enumeram-se aqui como na Vulgata. Do modo de enume­ rá-los no texto massorético ver abaixo pag. 13.

IN TRODUÇÃO —

JS

131), do próprio Messias (2. 15. 21. 44. 71. 109) ou de seu reino universal (46. 66. 86. 92. 95-98). c) Menos numerosos são os Salmos didáticos ou sapienciais que ensinam as normas da vida honesta (14. 23. 81. 100. 118), o des­ tino dos bons e dos maus, nesta e na outra vida (36. 48. 51. 57. 72), a excelência da vida morigerada sobre os sacrifícios rituais (39. 49), a grande felicidade dos que observam a lei de Deus (1. 22. 26. 33. 35. 61. 111. 127. 132). d) Da história do povo de Israel tratam finalmente alguns Salmos, não tanto para narrar simplesmente os fatos, quanto para mostrar o poder vitorioso de Deus (67. 76. 113A), a sua bondade e graça (135) e também os pecados e castigos de um povo ingrato (77. 104. 106). Como se vê, grande é a variedade de argumentos dos Salmos. Os que os recitam com piedade e meditam com atenção, poderão neles haurir, nas diferentes contingências da vida, uma doutrina apro­ priada de Deus e dos homens, preceitos úteis para bem viver e agir, consolo e alívio para a alma.

2.

O Livro dos Salmos

a) A maior parte dos poemas sagrados do Antigo Testamento, alguns séculos a. C. foram reunidos num livro que os hebreus cha­ maram de sêpher tehülím (Livro dos Louvores), os gregos e latinos de “ Livro dos Salmos” (xpaX/xós, em hebreu mizmôr, poema que deve ser cantado com instrumentos de corda) ou ainda (na versão alexan­ drina, códice alexandrino) de Saltério (palavra que pròpriamento significa instrumento de salmodiar). Tanto no texto massorético, quanto na versão grega dos L X X e na Vulgata, o Livro dos Salmos contém 150 Salmos (o Salmo 151 “ ideo,gráfico” é apócrifo). b) A numeração dos Salmos, porém, não é a mesma no texto massorético e no grego (latino). Os gregos dividiram em dois, algunn Salmos que os hebreus conservaram unidos num só; emquanf.o a Ver­ são dos LXX reuniu num só outros que para os hebreus se desdobram em dois. A diversidade da numeração aparece no quadro seguinte: Vc rsí.,

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14—

INTRODUÇÃO

c) O Saltério de 150 Salmos divide-se hoje em 5 livros; I, 1 -4 0 ; II, 4 1 -7 1 ; III, 7 2 -8 8 ; IV, 8 9 - 105; V, 106- 150). Os livros são separados uns dos outros por uma doxologia “ Bendito seja o Senhor.... Amen” , que se segue ao último Salma de cada livro. Esta divisão que, parece, já existia no tempo do Cronista (cf, I Paral. 16, 36; Ps. 105, 48), não é primitiva. Existiam a princípio, algumas coleções menores dos Salmos de um mesmo autor ou do mes­ mo gênero. Com o correr do tempo foram-se reunindo umas às outras. Assim no livro I encontra-se uma coleção de Salmos atribuídos a Da­ vid (3-40), item no livro II (50 - 64). No livro II encontra-se ainda a coleção chamada dos filhos de Coré. O livro III coméça co®}. a colecção atribuída a Asaph (72 - 82). No livro V os Salmos graduais constituem uma coleção especial (119-133). Quem escreveu no li­ vro II (71, 20) que “ terminavam as orações de David” parece nãó haver tido conhecimento dos livros III-V onde ainda se encontram 18 Salmos davídicos. Mais. As coleções dos filhos de Coré, de Asaph, com uma segunda davídica (II: 50 - 64), agruparam-se numa coleção mais ampla, na qual, contra o uso dos outros Salmos, em lugar do nome sagrado de Jahweh se emprega o nome de Elohim (Salmos “ jahvísticos” e “ elohísticos” ). Por isto, no Salmo 13 encontra-se o nome de Jahweh, mas na sua repetição (Ps. 52) substitui-se pelo de-Elohim. Mesma diversidade nos Salmos 39, 1 4 -1 8 e 69. A divisão em 5 livros parece imitar a divisão do Pentateuco. 3.

Título dos Salmos

Quase todos os Salmos têm um título que lhe indica o autor ou a natureza, ou o modo de cantar, ou o uso litiírgico ou o acontecimento histórico que lhe deu origem. a) O Autor é indicado em muitos Salmos com a preposição 1(“ lamed do autor” ), por ex. l‘ Dãwid (em 73 Salmos). b) A natureza ou índole do Salmo é expressa pelos títulos mizmôr ( = poema que deve ser cantado com instrumentos de corda) Sir (cân­ tico). Qual o significado dos títulos rnaskil, rniktãrn siggãyon, os próprios antigos já o ignoravam. c) Outros títulos precisam a maneira (ou melodia) com que deve ser cantado o Salmo. Esta, maneira é indicada, algumas vezes, pela designação do instrumento músico que acompanhava o canto, (por ex. com instrumentos de corda), outras, pela própria modulação musi­ cal. (O sentido porém destes títulos é bastante obscuro e nem todos concordam em explicá-los. Quase sempre precede a preposição al

INTRODUÇÃO —

(=

15

“ a maneira de” , “ conforme a melodia” , “ segundo” ) seguida, ao

íj u e parece, das primeiras palavras do canto, a cuja modulação se devia

ajustar o Salmo. Assim, por ex. no Salmo 44, 68 sõsannim'. “ lírios... nos Salmos 56 - 78 7 4 / al-tashet: “ não destruas” . Muitos Salmos (55) têm no título larnnassea h (os L X X , eíaréXol, a Vulgata in finem) i.sto é, “ ao que dirige” , “ ao maestro do coro” (cf. I par. 15, 21); a palavra parece designar os Salmos que se deviam cantar na liturgia sob a di­ reção do maestro. d) Ao uso litúrgico dos Salmos referem-se ainda poucos títulos mais. No Salmo 21 “ no dia de sábado” ; nos Salmos 37.69 “ para lem­ brança” , título a indicar, provavelmente, que estes Salmos se deviam cantar no oferecimento do sacrifício chamado’ askãrâ(h), como no Sálmo 90 o título FtôdâÇh) (“ nos louvores” ) parece indicar o sacrifício de ação de graças. à festa da dedicação do templo destinava-se o Salmo 29. A este grupo refere-se ainda, ao que parece, o título sir harnma alôt, “ Cântico dos degraus” . e) Em 13 Salmos indica o título a ocasião em que foram compos­ tos. São todos Salmos davídicos e os seus títulos são tomados quase literalmente dos livros de Samuel. A autoridade destes títulos, quando concorde3 no texto hebraico, na versão alexandrina e nas outras versões antigas, baseia-se na sua própria antiguidade, tão remota que os próprios tradutores gregos já os não compreendiam. Parecem atestar uma antiga tradição ju­ daica, digna de crédito, salvo onde em contrário militam graves razões. Acrescem ainda argumentos internos valiosos, principalmente quando os títulos indicam o autor. Assim, a análise dos Salmos atribuídos a David, revela semelhanças de argumento e de expressão, ainda quando se encontram em coleções diferentes. Com razão, portanto, a Pon­ tifícia Comissão Bíblica (em sua resposta de 1 de Maio de 1910, Enchir. Bibl. n. 341 s) defende a autoridade e antiguidade dos títulos, ainda que se não possa provar, tenham sido redigidos pelos autores dos Sal­ mos, ou acrescentados por escritores inspirados. 4.

Autores dos Salmos

Nos primeiros tempos da Igreja, muitos atribuíam a David a autoria de todos os Salmos. Opinião insustentável à vista dos argu­ mentos internos e externos. Já o Concilio de Trento no decreto das Escrituras canônicas, de 8 de Abril de 1546 rejeitou a expressão “ os 150 Salmos de David” , proposta por alguns, dando à coleção o nome de “ Saltério davídico dos 150 Salmos” (Énch. Bibl. n. 43; cf. Canc.

16

— IN TR O D U Ç Ã O

V,

Trid., ed. Goerres, t. p, 52). David é assim apresentado como o principal, não como único autor dos Salmos, De fato, com a expres­ são le Dawid, são intitulados 73 Salmos no texto massorético (84 nos L X X , 85 na Vulgata). E ainda que a partícula V possa indicar outras relações admite-se comumente e com razão, que aqui é empregada para designar o autor. No Novo Testamento a David são atribuídos expressamente os Salmos 2, .15, 31, 68, .109. Também a tradição jadaica considera a David como autor dos Salmos. Que David fosse excelente poeta mostram-no os versos por ele compostos após a morte de Saul e de Jônatas (2 Sam. I, 1 9-27) e de Abner (2 Samuel, 3, 33 sgs). Amos (6,5) chama-o “ inventor de instrumentos músicos” . Os livros sagrados posteriores referem que ele regulou os ofícios dos cantores e músicos no culto público (Cf. I Par. 23 ,5; 25, 1 - 7 ; Eccl. 47, 10 sg (8 sg). Não é, portanto, pru­ dente negar, tenha sido David o autor principal dos hinos do Saltério (cf. a resposta da Pont. Comm. Bibl. de 1 de Maio de 1910, Ench. Bibl. n. 343). b) Além de David, há dois outros nomes, antepostos aos Salmos com o “ Ie” de autor: os filhos de Coré e Asaph. As palavras “ dos filhos de Coré” indicam que a coleção (41, 43 - 48, 83, 84, 86, 87) é de vá­ rios autores da mesma família ou descendência de Coré (da qual se fala em Num. 26, 11, 58; I Par. 6, 37). O mesmo, parece, deve dizer-se de Asaph a quem se atribuem 12 Salmos (49, 72-82). Asaph foi cantor em tempos de rei David (I Par. 6, 39; 15, 17). Os Salmos, porém, que levam o seu nome, referem-se a épocas muito diversas e não po­ dem ter um só autor, mas sim uma família cujos membros os tenham composto em tempos diferentes. Há ainda um Salmo atribuído a Salomão (71), um a Moisés (89), um a cada um dos Ezraitas Heman (89) e Ethan (88). Sobre Heman cf. 1 Par. 6, 33; 15, 17; sobre Ethan cf. 1 Par. 6, 44; 15, 17. c) Quem compôs os Salmos (50 no texto massorético) que no tí­ tulo não trazem nome algum de autor, não nos é possível dizer. Apenas pelo argumento e pelo estilo, pode algumas vezes determinar-se apro­ ximadamente a época de seu aparecimento. Muitos intérpretes, principalmente acatólicos, só por motivos de crítica interna, atribuem com facilidade muitos Salmos aos séculos posteriores ao exílio e até à época macabeiana, A inspiração nada opõe a que se admitam Sal­ mos desta época; mas as razões históricas aduzidas não são convin­ centes. Por isto, o decreto da Comissão Bíblica (1. c. n. 346), com ra­ zão nega que se possam atribuir muitos Salmos ao tempo dos Maca-

INTRODUÇÃO — 17

beus. As vezes permitem argumentos lingüísticos determinar apro­ ximadamente a época em que foi composto um Salmo. Mas o argu­ mento deve ser usado com cautela. Os Salmos posteriores imitam, de quando em quando, o estilo dos mais antigos. 5.

Textos e versões dos Salmos

a) O texto hebraico dos Salmos é, hoje, o que nos transmitiram os massoretas (séc. VI e V II da era cristã). Nos séculos que decorreram entre a época de sua composição e o tempo dos massoretas, é certo que esse texto passou por muitas alterações. Provam-no entre outros indícios, os Salmos que nos foram transmitidos duas vezes (Ps. 17 = 2 Sam. 22; 13=52; 39, 1 4 - 18 = 69; 56, 8 -1 2 + 5 9 , 7 - 1 4 = 107). Mos­ tram, porém, os argumentos internos e externos que substancialmente foi ele bem conservado. Neste sentido depõem, desde os últimos séculos antes de Cristo, as traduções feitas do texto hebraico. A mais antiga entre elas é a grega alexandrina, também chamada dos L X X , que remonta à metade do século II, a. C. O texto hebraico por ela utilizado é bem mais antigo que o massorético; dele não diferem muito as consoantes e, quando diferem, nem sempre é para melhor. O exa­ me crítico das diferenças entre estes dois textos permite-nos, não ra­ ro, recuperar o texto hebraico primitivo. A o mesmo resultado con­ tribuem às vezes as traduções gregas posteriores de Aquila, Symmacho e Theodotion. Os seus fragmentos recolheu-os F . F i e l d , Origenis Hexaplorum quae supersunt (1871-75). Entre as outras traduções oriundas de um texto hebraico anterior ao massorético, cumpre ressaltar a siríaca, conhecida com o nome de peshiUo. Divergem os autores sobre a sua data de origem. Uns atribuem-na ao século II da nossa era, outros fazem-na remontar ao século I antes de Cristo. Todos, porém, admitem a sua derivação de um texto hebraico ainda sem vogais, não muito diferente, porém do massorético quanto às consoantes. Muitas lições, principalmente nos profetas e nos Salmos, são comuns ao tradutor siro e aos L X X , contra o texto massorético. Provém também do texto hebraico a versão aramaica, chamada Targurn que traz não poucas lições, e, fre­ qüentemente boas, diversas do texto massorético. A este grupo per­ tence ainda o Saltério segundo os hebreus, trabalho de S. Jerónimo, por volta do ano 391 p. C. O texto hebraico de que deriva é semelhante ao massorético, mas por vezes dele diverge como também do texto que tiveram presente os tradutores gregos.

18 — -INTRODUÇÃO

Esta breve exposição mostra-nos os numerosos subsídios de que hoje dispomos para a restituição, mais ou menos provável, de um texto hebraico anterior ao massorético. Se com ele não remontamos à primeira origem dos Salmos, atingimos, pelo menos, a sua forma cor­ rente nos meados do século II antes de Cristo.

b) Entre as traduções, ocupa lugar de primeira importância a grega alexandrina, não só como acabamos de ver pelos subsídios, que, nos subministra para a restituição crítica do texto hebreu, senao ainda pela autoridade que teve na Igreja antiga, ainda entre os La­ tinos que se serviram de versões dela derivadas. Mais de lamentar por esta razão, é que o seu autor não tivesse do hebreu ciência sufi­ ciente para dar do texto sagrado uma tradução clara e fiel. Esta imperícia manifesta-se com freqüência. A versão, principalmente do tempos do verbo, não passa de imitação servil dos hebreus. As pala­ vras hebraicas freqüentemente as interpreta através do aramaico que lhe era mais familiar. Dos passos difíceis e obscuros sai-se medi­ ante conjecturas em vez de um exame atento do texto. Além disto, a expressão original, muitas vezes concreta e antropomórfica, foi segundo as exigências do tempo, muito atenuada, tirando assim ao texto sagrado muito do seu vigor e clareza. Estes defeitos, que tanto escurecem a perfeita inteligência dos Salmos, passaram para a Antiga versão latina (Vetus latina), feita servilmente sobre a grega, sem levar em conta o original hebreu. S. Jerónimo tentou eliminar estas incorreções. Aqui e ali fez os con­ frontos necessários, principalmente no Saltério, conhecido com o nome de Gallicano. O trabalho foi feito entre 386 e 396 na 5.a coluna das Hexaplas de Orígenes. Com estes retoques, porém, não removeu nem quis remover o Santo Doutor as falhas originais, que dependiam das deficiências mesmo da versão grega. O Saltério Gallicano foi pouco a pouco introduzido na liturgia. Pio V, com a sua reforma c|o Breviário Romano, prescreveu-o para quase toda a Igreja latina. Não admira, pois, que nele se encontrem ainda hoje quase todag as dificuldades e obscuridades provenientes de um tradutor grego que conhecia mal 0 hebreu e as regras da exegese. Só uma nova tradução do texto original poderia eliminá-las.

II

A NOVA VERSÃO L A T IN A

1.

Constituição crítica do texto

Vontade do Santo Padre era que a nova tradução fosse feita sobre os textos originais. Urgia, pois, fixar criticamente estes tex­ tos, sobretudo os hebraicos dos Salmos e dos Cânticos. A crítica textual atingiu hoje “ uma estabilidade e segurança de princípios que a transformaram num instrumento de primeiro valor para dar uma, edição mais correta e exata da palavra divina” . 1 A tarefa não oferecia, portanto, dificuldades insuperáveis. A facilitá-la ainda mais aí estão, já publicadas por outros, as edições críticas do Antigo Testamento e nomeadamente dos Salmos, bem como das principais versões antigas (L X X , Saltério de S. Jerónimo segundo os hebreus, e, em parte, o Targum). Certo é que este trabalho crítico não nos oferece um texto de muito anterior ao século II antes de Cristo. Mas, ainda assim, remonta muito além do massorético. Por outro lado, quanto se pode conjecturar pelas descobertas arqueológicas realizadas até hoje, não podemos alimentar grandes esperanças de encontrar, no futuro, textos mais antigos, principalmente hebreus. Na correção crítica do texto hebraico, nem todos, como é sabido, seguem as mesmas normas. Uns, tomados de grande reverência ao texto massorético, julgam que quase nada se deve emendar. Ou­ tros, estribados nas versões, principalmente na grega alexandrina, vão mais longe na correção do texto. Outros ainda, levados por ar­ gumentos de ordem métrica, como dizem, ou de outra natureza, entre­ gam-se a conjecturas. Optamos por uma solução média. Ao texto hcbreu massorético atribuímos um valor fundamental, mas apoiados na versão grega, na siríaca e outras antigas, muitas vezes nos afasta­ mos da lição massorética. As razões que a isto nos levaram, expli1.

Lit. onc. Divino ajftante Spiritu. Act. Ap. Sed. X X X V (1943), p. 308.

20



INTRODUÇÃO

camo-las nas notas críticas apostas à tradução.2 Aqui e ali, em pou­ cos textos e dos mais embaraçosos, lançamos mão da crítica “ conjec­ tural” , e, ainda assim, não a capricho ou simplesmente para tomar mais fácil um texto difícil, mas apoiados ora em critérios paleográficos (como mudança de pontos-vogais acrescentados em idade pos­ terior, troca de consoantes que se assemelham na escrita ou na leitura, divisão diferente das letras formando outros vocábulos, omissão de letras por haplografia, ou duplicação errônea das mesmas por di-tografia, e outros semelhantes) ora nas leis mais certas da poesia hebraica, em particular nas do paralelismo, tendo sempre em v ista o sentido e o contexto da passagem. De outras conjecturas, propostas mais em nome de teorias métricas ou individuais ou de ousadias engenhosas, abstivemo-nos de todo. Quanto à divisão dos versos e das sentenças devidas não aos au­ tores mas aos massoretas, nem sempre conservamos a do texto hebraico. Um simples confronto o evidencia ainda que nem sempre o advirtamos expressamente. Com estes princípios pareceu-nos ter atingido um texto, que, de um lado se apoia no sufrágio dos antigos testemunhos, do outro, muito se aproxima das próprias palavras do autor sagrado ainda que nem sempre as reproduza. É o que reclama uma tradução latina adap­ tada à recitação do Ofício Divino. Nesta árdua tarefa de crítica textual confessamo-nos gratos a quantos, com os seus trabalhos, nos prestaram os seus prestimosos serviços. Consultamos de modo especial a abundância de lições va­ riantes. com que Franc. Buhl na terceira edição da Bíblia hebraica de Rodolfo Kittel e Paulo Kahle, enriqueceu o texto dos Salmos. 2.

Linguagem e estilo da nova tradução

Entre as dificuldades que muito embaraçam a inteligência dos Salmos no Saltério Galicano, não é das menores a que se relaciona com a índole da linguagem. O uso dos tempos do verbo que não se adapta às regras do latim, os “ semitismos” , resultantes de uma tra­ dução servil, como, por ex. a repetição do pronome nas proposições relativas (“ beata gens cujus est Dominus Deus ejus” , Ps. 32, 12), a preposição “ in” em vez do ablativo instrumental (“ egit dolum in lingua sua” , Ps. 14, 3), a particula si empregada nos juramentos (si introibunt in requiem meam” , Ps. 94, 11), as preposições a ou ex nas 2. Pelas razões que indicaremos adiante omitimos na tradução portuguesa estas notas relativas ao aparato crítico do texto (L.F.).

INTRODUÇÃO —

21

comparações (“ mirabilis facta est scientia tua ex me” , Ps. 138, 6; “ A vooibiiH !W|uarum multarum mirabiles.. . ” , Ps. 92, 4); o emprego de vocábulos inteiramente novos ou com outro significado num latim mollior (v. g. Hubsannare = irridere; abusio ==contemptus; assumptio = — protectio; confiteri= laudare, celebrare, gratias agere); o pronome lominino em lugar do neutro (“ unam p e tii... hanc requiram” , Ps. 2Ü, 4.): todos estes e outros defeitos análogos obscurecem o senti­ do de muitos textos e suscitam dificuldades para os que os recitam. N a nova tradução — é mister que o digamos ? — todos estas deficiências foram cuidadosamente evitadas. D o texto hebreu cri­ ticamente emendado demos uma versão latina em linguagem chã e nccHsível, mais próxima da latinidade dos bons tempos do que da deca­ dência dos séculos posteriores. De modo algum, porém, quisemos romper com a tradição veneranda do latim eclesiástico, constituída principalmente pelos livros da Sagrada Escritura que S. Jerónimo verteu com mais cuidado. Por isso, conservamos as palavras da Vulguta onde quer que exprimiam com fidelidade o pensamento do texto hebreu e à conservação não se opunha nenhuma razão de ritmo. Quan­ do não era possível conservá-las, dentre os vocábulos que se ofereciam para exprimir o sentido, escolhemos quase sempre os que se encontram nos outros livros sagrados do Antigo e do N ovo Testamento. Espe­ ramos assim ter conseguido que o latim desta tradução não se distan­ cie muito do que se encontra habitualmente na sagrada liturgia e ao mesmo tempo obedeça às regras e normas seguidas pelos escritores latinos dos melhores tempos. Por este mesmo motivo, ainda que não se encontrem nos autores antigos, ou, por eles sejam empregadas com outro sentido, conserva­ mos, de caso pensado, as palavras que designam coisas próprias à religião cristã, ou israelítica (como, por ex. salvare, Salvator, dilectio, psallere [cantare] alicui, confidere [sperare] in aliquo [aliquem]). Con­ servaram-se também os chamados semitismos ou hebraísmos, que ocor­ rem com freqüência nos Salmos e se compreendem sem maior dificul­ dade, como, por ex., “ ambulare” (coram Deo), “ cornu salutis” , “ Deus justitiae” , “ lumem vultus” , “ euntes ibant” , “ via” ( = modus vivendi), “ semen” ( = posteritas). Nem tampouco nos pareceu bem subs­ tituir por expressões mais simples certas locuções hebraicas derivadas das condições religiosas, da vida e dos costumes dos antigos hebreus (como, por ex., Deus, “ minha Rocha” ; “ insipiência” = pecado; “ tous ros de Basan” ; “ filhos dos homens” ). São elas que dão aos Salmoa o seu aspecto próprio e característico que os diferencia da poesia do-

22



I

N TR O D U Ç Ã O

romanos e dos gregos ou dos povos modernos. Não acabamos conosco também de traduzir cm lat im, como faz a Vulgata, os nomes próprios hebraicos (v. g., Meriba, Massa, Mosoch, Misar). Se daí surgirem para os leitores algumas dificuldades, serão resolvidas sem grande es­ forço nas aulas de exegese, como nesta edição do Livro dos Salmos já se explicam, ainda que mui resumidamente, nas “ notas exegéticas” . 3.

Estrutura poética e ritmo.

a) Para entender e saborear os poemas sagrados, de capital impor­ tância é a conservação da forma poética. Dispusemos, por isto, a nossa tradução por incisos, cio acordo com o chamado paralelismo dos membros, que, na opinião de todos, constitui a primeira e a mais certa das leis da poesia hebraica. Outras questões relativas ao ritmo e ao metro sobre as quais divergem os doutos, pareceu-nos melhor omiti-las pelas razões expostas acima. b) Consagramos também especial atenção a ressaltar tudo o mais que revela a índole poética dos Salmos, como a estrutura alfabética (Ps. 9. 24. 33. 36. 11. 111. 118. 144) as anáforas (v. gr. Ps. 12, 2. 3) e epíforas (Ps. 117, 10-12 ), os estribilhos ou versos intercalares (Ps. 41. 42. 45. 55. 56. 58. 61. 66. 79. 98. 106. 143). c) Quase todos os Salmos apresentam-se também divididos em partes, ou, se quiserem, em estrofes. Esta divisão, porém, não se apoia em nenhuma das teorias propostas por alguns autores modernos para demonstrar a existência, na poesia hebraica, de certas artes estróficas, não raro, bem complicadas. As estrofes distinguimo-las prin­ cipalmente pelo sentido e pelo argumento, a não ser em alguns Salmos nos quais acrescem também alguns índices externos, como os estri­ bilhos, os acrósticos nos Salmos Alfabéticos, a diversidade das pessoas que falam. Esta divisão em estrofes muito contribui para a com­ preensão da estrutura e do alcance do poema. Não nos pareceu, por isto, tempo perdido, consagrar-lhe maior atenção, ainda que reconhe­ çamos de bom grado a possibilidade de outras divisões, sobretudo nos casos em que a interpretação não é, de todo ponto, segura. d) Destinando-se esta nova tradução à recitação do Ofício Divino preocupamo-nos, também, como era de razão, com certo ritmo, a exem­ plo da Antiga latina e da Vulgata.

SOBRE

A

TRADUÇÃO

PORTUGUESA

N ada há que acrescentar à introdução que acaba de ser lida. Os leitores que a percorreram já terão feito uma idéia das difi­ culdades que oferece uma versão moderna dos Salmos. Hinos religio­ sos escritos há quase 3000 anos, numa língua sem nenhuma afinidade com a nossa, por autores formados num ambiente cultural de todo cm todo diferente do que boje nos envolve, que pensavam, imagina­ vam1e sentiam como orientais de outras eras, não podem ser trasla­ dados para os idiomas vivos de nossos dias sem pôr a cada instante o tradutor em face de opções delicadas. Poderia ele apoderar-se do pensamento original do autor e revesti-lo de expressões e imagens a que se acha afeito o leitor contemporâneo. A tradução ganharia ('in iiuidez e espontaneidade, em facilidade e clareza, mas perderia o sabor das coisas antigas e substituiria o vigor forte da forma pri­ mitiva pela modernidade incolor de uma paráfrase diluída. N o caso presente, a intangibilidade de livro inspirado exige ainda, por títulos mais altos, um respeito religioso ao texto original. Impunha-se, por­ tanto, ainda com sacrifício de uma elegância fácil, uma fidelidade que acompanhasse muito de perto as expressões primitivas, lhes con­ servasse o gosto arcaico, lhes respeitasse a ousadia das figuras orientais. Foi o caminho que nos esforçamos por seguir, nesta que, se não erramos, é a primeira tradução portuguesa dos Salmos, feita, não so­ bre a Vulgata, mas sobre o texto hebraico criticamente reconstituído, como ficou acima explicado. Atingimos, porém, este texto não direta­ mente, mas através da nova versão latina levada a termo pelos professores do Pontifício Instituto Bíblico, por vontade expressa do Santo Padre. Por este motivo, onde ainda os críticos divergem sobre a lição mais provável, adotamos sistemàticamente a escolhida por essa versão, que será em breve a adotada para a recitação do Ofí­ cio Divino. Dela nos separamos, apenas uma ou outra vez na divi­ são dos versos ou incisos de versos. Omitimos na edição portuguesa o aparato crítico simplificado que acompanha a edição romana. Os exegetas que dele se poderiam utilizar com proveito, preferom servir-so imediatamente da tradução liitinu.

24 -----INTRODUÇÃO

Procuramos também que a tradução portuguesa reproduzisse quanto possível o ritmo da poesia hebraic?, feito principalmente da cadência do pensamento, segundo as leis do paralelismo oriental. Somos os primeiros a reconhecer as dificuldades e imperfeições dessa tentativa. Espontâneamente a ela nos não teríamos abalançado. Um dia, porém, fomos surpreendidos por uma carta de D. Hugo Bressane de Araújo, Bispo de Guaxupé, acompanhando as Resoluções do 1.® Congresso de Ação Católica da sua Diocese. A 5.a destas resoluções estava redigida nestes termos: “ Intensificar o estudo da Sagrada Escritura, nas normas do “ Divino Afflante Spiritu” . Tendo sido os Salmos a oração dos santos do Antigo Testamento; tendo recebido a consagração infinita pelas últimas palavras de Cristo Senhor Nosso, na Cruz; sendo a oração da Igreja no Ofício Divino; pedir ao padre Leonel Franca a tradução em português de todo o livro dos Salmos, para uso dos fiéis, segundo a belíssima nova versão latina de que falam as letras apostólicas “ In cotidianis precibus” de Pio X I I , com data de 25 de Março de 1945” . Como furtar-nos a uma solicitação formulada com tal insistência ? Obedecemos. Atenuada assim a consciência de nossa responsabili­ dade, foi-nos mais fácil levar a termo a árdua tarefa. Por nossa conta ficam os seus muitos defeitos. Merecimento, se algum há, é todo do generoso e apostólico Prelado, inspirador da iniciativa. P.

L eonel F ranca,

S. J.

S A LT É R I O

LIVRO

( S a l m o s

SALMO

I

1 -4 0 )

1

FELICIDADE DOS JUSTOS E DESGRAÇA DOS ÍMPIOS

O Salmo descreve “ dois caminhos” e seus paradeiros: I — caminho dos justos (1-3); II — caminho dos ítoj>íos(4--6). O Salmo ê anônimo.

I

1. Ditoso o homem que não se deixa levar Pelo conselho dos ímpios. Nem envereda pelo caminho dos pecadores, Ou toma assento na companhia dos soberbos; 2. Mas se compraz na lei do Senhor, E a medita dia e noite. U. í! como a árvore Plantada à beira das águas correntes, Que, em tempo próprio, dá o seu fruto, I'] cujas folhas não murcham. Tudo que ele fizer, há-de medrar.

11

4. Nilo assim os ímpios, não assim; Mas aorSo como a palha que o vento leva. 6 . Por

íhno

Nem

nfto provulecerão os ímpios no juízo, oh p e c u d o r c n n a assembléia dos justos.

2 8 -----Ps. 1, 6; 2, 1-9

6. O Senhor vela pelo caminho dos justos; O caminho dos ímpios dará em perdição. 1 — caminho dos pecadores', “ caminho” , heBrafsmo freqüente para designar o modo de viver e agir.

S A L M O

2

0 MESSIAS, REI DE SIÃO E DE TODA A TERRA

Salmo messiânico. 1 — Revolta dos povos contra Deus e o Messias (1-3); II — Resposta de Deus (4—6); II I — O Messias anuncia a sua designação como rei do universo (7-9); IV — Advertência do Salmista aos reis da terra para que se submetam (10- 12)

I

1. Por que tumultuam as nações, E vãos conselhos meditam os povos ? 2. Erguem-se os reis da terra, E conspiram os príncipes, Contra o Senhor e o seu Cristo. 3. “ Quebremos as suas algemas E sacudamos de nós as suas cadeias!”

II

4. O que habita nos céus sorri, Deles zomba o Senhor. 5. A seu tempo há de falar-lhes na sua cólera, E aterrorizá-los-á no seu furor: 6. “ Eu constituí o meu rei Sobre Sião, a minha montanha santa” .

III

7. Promulgarei o decreto do Senhor: Disse-me o Senhor: “ Tu és meu Filho, Hoje eu te gerei. 8. Pede-me e dar-te-ei, como herança, as nações, E como domínio, os confins da terra. * 9. Hás de governá-las com cetro de ferro, E pulveriaá-las como um vaso de barro.”

Ps. 2, 10-11; 3, 2-9 —

IV

29

10. Entendei, agora, ó reis, Instruí-v os os que governais a terra. 11. Servi ao Senhor com temor e exultai na sua presença; Com tremor prestai-lhe os vossos obséquios, Para que se não irrite e não venhais a perecer no vosso caminho, Quando prontamente se inflamar a sua cólera: Felizes todos os que a Ele recorrem.

2 — Cristo, em hebreu, Messias, “ ungido” ; ungiam-se os reis (Ide. 9, 8 Sam. 9, 16; 16, 12 s) e os sumos sacerdotes (Lev. 8, 12; Num. 3, 3).

S A L M O

3

OR A ÇÃO DA CONFIANÇA NAS PERSEGUIÇÕES

I — O Salmista cercado de inimigos implora o auxílio de Deus (2-4); II — com a meditação desperta a confiança (5-7); III — cheio de confiança, ora (8-9).

1.

I

Salmo de Davi d, quando fugia de seu filho Absalão.

2. Senhor, como são numerosos os que me perseguem! Muitos contra mim se insurgem; 3. Muitos são os que de mim dizem: “ Não há salvação para ele, em seu Deus” . 4. Mas Vós, Senhor, sois o meu escudo, A minha glória; Vós me levantais a cabeça.

II

5. Com a minha voz clamei ao Senhor, E Ele ouviu-me de sua montanha santa. 6. Deitei-me e adormeci; Despertei, porque me sustenta o Senhor. 7. Não temerei a multidão de povo, Que de todos os lados me cerca.

III

8. Erguei-Vos, Senhor! Salvai-me, Deus meu! Feristes no rosto a todos os meus inimigos. Quebrastes os dentes dos pecadores. 9. No Senhor, a salvação! Sobre o vosso povo, a vossa bênção!

30

_

P*. 4, 2-9

S A L M O

4

ORAÇÃO DO JTJSTO QUE CONFIA ENTRE PECADORES INCRÉDULOS

I — O Salmista invoca o auxílio de Deus (2); II — exorta os adversários a que não 'pequem (3-6); III — reafirma a sua confiança em Deus contra os que não confiam (7-9). Por causa dos vv. 5-9, recita-se este Salmo como oração da noite nas completas de Domingo.

1.

I

II

A o Mestre de canto.

Para instrumentos de corda.

Salmo de David.

2. Quando vos invoco, respondei-me, ó Deus justo, Que me aliviais nas minhas angústias; Compadecei-vos de mim e ouvi a minha oração. 3. Até quando, ó poderosos, sereis duros de coração? Por que amais a vaidade e buscais a mentira? 4. Sabei que o Senhor exalta o seu santo; Ouve-me o Senhor quando o invoco. 5. Tremei de temor e não pequeis, Refleti nos vossos corações, Nos vossos leitos e calai. 6. Oferecei sacrifícios justos, E confiai no Senhor.

III

7. Dizem muitos: “ Quem nos mostrará a felicidade?” Fazei, Senhor, que, sobre nós, se levante a luz da vossa face! 8. Inundastes o meu coração de mais alegria, D a que têm outros na fartura do trigo e do vinho. 9. Apenas me deito adormeço em paz, Porque Vós, Senhor, só Vós, M e fazeis descansar com segurança.

3 — “ duros de c o r a ç ã o em hebreu, o coração é órgão dos afectos, e, mais freqüentemente, dos pensamentos. “ Duros de coração” são os que dificilmente se dispõem a admitir a v erdade (inteligência) e a praticar o bem (vontade). 4 — exalta, isto é, honra. Outros, conservada a palavra pãlâ(h) do texto massorético, vertem; o Senhor escolheu para si um santo (isto é, um servo piedoso, devoto). 8 — Compara a sua alegria à que traz uma messe abundante.

Ps. 5, 2-10 —

SALMO

31

5

ORAÇÃO DA MANHÃ DO JUSTO CERCADO DE INIMIGOS

I II III IV V

1.

I

— — — — —

0 Satmista, pela manhã, invoca a Deus (2-4); Que aborrece os pecadores (5-7); Que Deus ajude ao que ora (8-9); castigue os ímpios (10-11); proteja e alegre os justos (12-13).

Ao Mestre de canto.

Para flautas.

Salmo de David.

2. Dai ouvidos, Senhor, às minhas palavras, Atendei aos meus gemidos, 3. Prestai atenção à minha voz que clama, Rei meu e Deus meu! 4. Senhor, imploro-Vos; Pela manhã, ouvis a minha voz, Pela manhã, apresento-V os a minha súplica e espero.

II

5. Não sois um Deus que se compraz no mal, Convosco não pode morar o perverso, 6. Nem ante os vossos olhos permanecem os ímpios, Aborreceis todos os que perpetram o crime. 7. Perdeis quantos proferem mentira. O sanguinário e o fraudulento, abomina-os o Senhor.

III

8. Mas eu, pela vossa grande misericórdia, Terei acesso à vossa casa, Prostrar-me-ei no vosso santo templo, Cheio, Senhor, da reverência que vos é devida. 9. Por causa dos meus inimigos, Senhor, Guiai-me na vossa justiça, Aplanai diante de mim o vosso caminho.

IV

10. Nos seus lábios não há sinceridade;

Todo malícia é o seu coração; A sua garganta, um sepulcro aberto; A sua língua, acariciadora.

32

-

Ps. 5, 11-13; 6, 2-5

11. Castigai-os, Senhor, Malogrem os seus desígnios; Por causa da multidão de seus crimes, rejeitai-os; Porque contra Vós se rebelaram. V

12. Alegrem-se, porém, os que em Vós confiam; Para sempre exultem. Protegei-os, e rejubilarão em Vós Os que amam o vosso nomè. 13. Vós, Senhor, abençoais o justo; E, como um escudo, Envolvê-lo-eis na vossa benevolência. 4 — e espero: isto é, espero ser atendido. 9 — aplanai o vosso caminho, para que nele possa andar com facilidade 10 — sepulcro aberto, do qual exala o mau cheiro e a corrupção.

S A L M O

6

ORAÇÃO DE UM PECADOR CASTIGADO POR DEUS

I II III IV

— Aflito, o Salmista invoca a misericórdia de Deus (2-4); —• implora a libertação da morte (5-6); — descreve o extremo de sua miséria (7-8); — certo de ser ouvido, repele de si os inimigos (9-11). Este é o primeiro dos Salmos penitenciais.

1. Ao mestre de canto. — Para instrumento de corda — Uma oitava (abaixo) — Salmo de David

I

2. Senhor, não me repreendais na v ossa cólera, Nem me castigueis no vosso furor. 3. Compadecei-Vos de mim, Senhor, porque me falecem as forças, Sarai-me, Senhor, porque estremecem os meus ossos, 4. E muito perturbada está a minha alma; E Vós, Senhor, até quando?

II

5. Voltai, Senhor, livrai á minha alma, Salvai-me por vossa misericórdia.

Ps. 6, 6.11; 7, 2-4 —

33

6. Na morte, não há quem se lembre de Vós; No Scheol, quem entoa os vossos louvores? III

7. Estou esgotado à força de gemer; Todas as noites rego de pranto o meu leito, E inundo, eom lágrimas o lugar de meu descanso. 8. De tristeza escurecem os meus olhos, E envelhecem por causa de todos os meus inimigos.

IV

9. Apartai-vos de mim, obreiros de iniqüidade, Porque ouviu o Senhor a voz do meu pranto, 10. Ouviu o Senhor a minha súplica, Acolheu o Senhor os meus rogos. 11. Confundidos e aterrados serão todos os meus inimigos; Retirem-se apressados e cobertos de pejo. 6 — A r e v e la çã o a in d a n ã o en sin ara q u a l a sorte d o s d efu n tos p ara os o s qu ais o céu ain d a e sta v a fe c h a d o ; os m o rto s n ã o p o d e m exercer c u lto p ú b lic o .

S A L M O

7

A PELO DE UM C A LU N IA D O AO JU ÍZO DE DEUS

Oprimido de calúnias, o Salmista implora auxílio contra os caluniadores (2 -3 ); atesta a sua inocência (4 -6 ); — invoca o justo juizo de Deus, juiz dos povos (7 -1 0 ); — conjessa a sua confiança em Deus, juiz justo (1 1 -1 4 ); — descreve o castigo do inimigo e a libertação própria (1 5 -1 8 ).

I —

II — III IV V

1.

L a m e n ta ç ã o qu e D a v id ca n to u ao S en h or, p or cau sa d e C hu s, o b e n ja m in ita .

I

2. A Vós recorro, Senhor e Deus meu: Salvai-me de quantos me perseguem e livrai-me; 3. Para que nenhum arrebate, como um leão, a minha alma, E a dilacere sem que ninguém a possa salvar.

II

4. Senhor, meu Deus, se fiz o que se me assaca, Se nas minhas mãos há injustiça,

3 4 ----- Ps.

7, 5-18

5. Se fiz mal a quem estava em paz comigo, Eu que salvei os que me atacavam sem razão, 6. Persiga o inimigo a minha alma e dela se apodere, Calque na terra a minha vida, E no pó arraste a minha glória. III

7. Levantai-Vos, Senhor, na vossa cólera, Erguei-Vos contra o furor dos que me oprimem, Elevai-Vos em meu favor no juízo que intimastes. 8. Em torno de Vós disponha-se a assembléia das nações E acima dela, nas alturas colocai o vosso trono. 9. Juiz dos povos é o Senhor: Fazei-me justiça, segundo o meu direito, E segundo a inocência que há em mim. 10. Cesse a malícia dos malvados e confirmai o justo, Vós, Deus de eqüidade, que esquadrinhais os cora­ ções e os rins.

IV

V

11. O escudo que me protege é Deus, Salvador dos homens de coração reto. 12. Deus, justo juiz, Todos os dias comina as suas ameaças. 13. Se não so converterem, afiará o gládio, Entesará o arco e o assestará. 14. Para eles ajustará as flechas mortíferas E as setas ardentes. 15. Eis, (o ímpio) concebe a iniqüidade, prenhe está de malícia E dá à luz a fraude. 10. Abre um fosso e o aprofunda, Mas cai no abismo por ele cavado. 17. Sobre a própria cabeça recairá a sua intriga, E sobre a própria fronte se voltará a sua violência. 18. Eu, porém, renderei graças ao Senhor pela sua justiça, E cantarei o nome do Senhor, o Altíssimo.

1 — Não so sabe ao certo quem fosse Chus e de que se trata; talvez alg servo de Saul que caluniasse David, junto ao rei. 5 — salvei os que me atacavam. Cf. 1 Sam. 24, 11, 26, 9. 13 - 14 —■■As antigas versões explicam estes versículos de Deus que pune os seus adversários impenitentes; outros os interpretam do próprio adversário que se prepara para matar. 13 — Se não se converterem, literalmente “ se não se converter” pecador ou ímpio qualquer, logo os pecadores ou ímpios em geral.

Ps. 8, 2-10 ----- 35

S A L M O

8

MAJESTADE DE DEUS E DIGN IDADE DO HOMEM

O Salmista I — compara a majestade de Deus com a pequenez natural do homem (2-5); I I — opõe-lhe a glória e poder a que Deus elevou o homem (6-9). versículo 10 repete o começo (v. 2).

I

1.

Ao Mestre de Canto. Salmo de David.

2.

Senhor, Senhor nosso quão admirável Em toda terra é o vosso nome 1 Elevastes sobre os céus a vossa majestade!

0

Segundo a melodia do cântico “ Os lagares. . . ”

3. Pelos lábios das crianças e dos infantes Preparastes o louvor contra os vossos adversários, Para reduzir ao silêncio os inimigos e os rebeldes. 4. Quando contemplo os céus, lavor de vossos dedos, A lua e as estrelas que criastes: 5. Que é o homem para dele vos lembrardes ? Ou o filho do homem para dele cuidardes ? II

6. Vós o fizestes pouco inferior aos anjos; De honra e de glória o coroastes; 7. Destes-lhe poder sobre as obras de vossas mãos; Todas as cousas lhe submetestes aos pés. 8. Ovelhas e bois, todos juntos, E ainda os animais do campo, 9. x\s aves do céu e os peixes do mar; Tudo que se move pelos caminhos das águas. 10. Senhor, Senhor nosso} quão admirável Em toda terra é o vosso nome!

1 — Segundo a melodia do cânticos em hebreu, al; parece indicar a prime palavra de um canto conhecido (“ Lagares” ) em cuja modulação devia cantar-se o Salmo. O mesmo dá-se em outros Salmos. 2 — segundo o texto massorético: dos céus” ; outros apresentam outras conjecturas.

“ Vós, colocai vossa majestade aci

36 —

Ps. 9, 2-4

6 — Anjos: ou Deus, como diz a versão de S. Jerônimo; trata-se de Deus ou dos espíritos (anjos) que constituem a corte de Deus. S. Paulo (Hebr. 2, 6-9) aplica o texto a Cristo-Homem no qual se verifica de forma eminente. 7 — Todas as cousas lhe submetestes aos pés: na I Cor., 15, 27 aplicam-se a Cristo estas palavras.

SALMO

9

(hebr. 9 e 10) No texto hebraico divide-se este Salmo em dois: vv 1-21; ZS-S9. Em javor da unidade do Salmo milita a ordem aljabética dos versos, em parte, porém, alterada {faltam, pelo menos, daleth e samèkh) por causa do mau estado de conservação do texto. A divisão em dois Salmos tem por si a diversidade bem acentuada do assunto da pri­ meira e da segunda parte. Como nos outros Salmos aljabéticos, não é rigorosamente lógica a ordem das idéias,

A . (9, 1-21); hebr. 9) A ção d e g r a ç a s p e la v it ó r ia s o b r e os pagã os

Depois da introdução I — na qual já se faz alusão à derrota dos inimigos (2-4), o Salmista II — descreve o julgamento dos pagãos (5-7); III — propõe a Deus como juiz e protetor dos oprimidos (8-12); IV — convida à alegria pelo auxílio alcançado (12, 13). Nos versí­ culos 14-21 o Salmista quase que repete os mesmos argumentos', V — implora auxilio contra 03 inimigos (14-15); VI ■ — descreve-lhes o desbarato (16-17); V II — e ainda uma vez roga a Deus que julgue e castigue os pagãos (18-21).

1.

aleph

I

Ao Mestre do canto. Salmo de David.

Segundo a melodia do Canto “ mút lãbben’ ’.

2. De todo o meu coração cantarei, Senhor, os vossos louvores, Narrarei todas as vossas maravilhas. 3. Quero alegrar-me e exultar em Vós, Quero cantar vosso nome, ó Altíssimo,

beth

4. Porque recuaram os meus inimigos Fraquejaram e pereceram ante a vossa face.

Ps, 9, 5-18 —

37

5. Defendestes meu direito e minha causa, Como justo juiz, tomastes assento no vosso trono. 6. Repreendestes as nações, destruístes o ímpio, Apagastes para sempre o seu nome.

ghimel

7. Estão exterminados os inimigos em ruína irreparável, Destruístes as suas cidades; pereceu-lhes a me­ mória. 8. Mas o Senhor permanece eternamente na sua sede, Para o julgamento ergue o seu trono.

II

9. Com justiça julgará o mundo, Com eqüidade sentenciará os povos. 0. E o Senhor será um refúgio para o oprimido, Um refúgio oportuno nas horas angustiosas.



.1. Em vós confiarão os que conhecem vosso nome, Porque não desamparais, Senhor, os que Vos procuram. zain

IV

2. Entoai louvores ao Senhor que habita em Sião, Proclamai entre os povos os seus portentos. 13. Porque o que vinga o sangue deles se lembrou, E não esqueceu o brado dos aflitos.

heth

V

L4. Apiedai-vos de mim, Senhor, Vede a aflição a que me reduziram os meus ini­ migos, Vós que me retirais das portas da morte. 5. Para que possa publicar todos os vossos louvores Nas portas da filha de Sião, E regozijar-me do vosso socorro.

teth

VI

3. Caíram as nações no fosso que excavaram, Na armadilha que esconderam enredaram-se-lhes os pés. L7. Manifestou-se o Senhor e executou o julgamento; Na obra de suas mãos ficou enleado o pecador.

jod

V II

18. Voltem os ímpios ao Scheol, Todas as nações, que olvidaram a Deus.

38 — Ps. 9, 19-28

19. O pobre não será sempre esquecido, Nem perecerá para sempre a esperança dos aflitos.

kaph

20. Erguei-vos, Senhor; não triunfe 0- homem; Na vossa presença sejam julgados os gentios 21. Espalhai, Senhor, entre elas, o terror; Saibam as nações que são homens. B (9 , 2 2 -3 9 ); hebr.

10)

C o n t r a os o pr esso re s.

não se trata de inimigos externos mas de opressores, ricos, ■injustos. Contra eles o Salmista

perversos e

I — queixa-se de que Deus o não ajuda (1, 2 ); I I — descreve (3 -1 1 )

a impiedade (3,4), a temeridade (5 ,6), os de­ sígnios perversos (7), as insídias e violências (8 -1 0 ), a cegueira (11) dos inimigos; I I I —- implora confiadamente o auxílio de Deus que é justo e tudo sabe (1 2 -1 5 ); por último, I V — seguro do socorro de Deus,

celebra a vitória (1 6 -1 8 ) Como o texto hebraico está múito alterado, nem sempre é certa a tradução.

lamed

I

1. Por que, vos apartais, Senhor, para tão longe E vos escondeis nas horas de angústia? 2. Quando se ensoberbece o ímpio, o pobre sofre vexame, E é ilaqueado nas intrigas, por ele urdidas ?

rnern

II

3. O pecador gloria-se de seus maus desejos, E o cubiçoso blasfema e despreza o Senhor.

nun

4. N o seu orgulho diz o ímpio: “ Não há-de punir; Deus não existe” : tal é todo o seu pensamento.

samech

5. Prósperos são sempre os seus caminhos; De sua alma bem longe distam os vossos juízos; Seus adversários, despreza-os todos.

ain phê

6. N o seu coração diz: “ Nada me há-de abalar! Para sempre estou a coberto da desgraça” . 7. De maledicência, de fraude e dolo está cheia a sba boca, Na sua língua, a malícia e a perversidade.

Ps. 9, 29-39; 10 ----- 59

sadé

8. Na vizinhança dos pov oados põe-se de emboscada, Em lugares escusos estrangula o inocente; Seus ollios espreitam o infeliz. 9. Arma ciladas nos esconderijos, como o leão na sua caverna; Arma ciladas para colher o pobre, Colhe-o e, na sua rede, o enleia. 10. Inclina-se, deita-se por terra, E, ante a sua violência, caem os infelizes. 11. No seu coração, diz: “ Deus esqueceu! Voltou o rosto e nada vê” .

qoph III

12. Erguei-vos, Senhor Deus, alçai a vossa mão! Não olvideis os pobres! 13. Por que razão a Deus despreza o ímpio, E diz no seu coração: “ não há-de punir” ?

resch

14. Mas Vós vedes: na dor e na aflição fixais o vosso olhar, Para tomá-las em vossas mãos. A Vós se entrega o pobre, D o órfão sois o protetor!

schin

15. Esmagai o braço do pecador è do malvado; Castigareis a sua perversidade; e ela desaparecerá. IV

thau

16. O Senhor é rei para os séculos dos séculos; Da terra foram exterminadas as nações. 17. Ouvistes, Senhor, o desejo dos aflitos, Confortastes o seu coração, e lhes prestastes ouvido, 18. Para tutelardes o direito do órfão e do oprimida, A fim de que o homem, tirado da terra, cesse de inspirar terror, SALMO

10 (11)

C O N F IA N Ç A IN A B A L Á V E L EM DEUS

O Salmo manifesta a imperturbável confiançp, do Salmista em Deus. sentam-se como que duas cenas :

Apre­

I — Gs inimigos armam insídias ao Salmista; os amigos persua­

dem-lhe a fuga porque os fundamentos da ordem periclitam (1 - 3 ) ;

4 0 — P í. 10, 1-6; 11, 2-3 II — Deus, que mora no seu templo celeste, tudo vê, castigará seve­ ramente os inimigos e os fustos verão a sua face.

1. Ao mostro de canto.

I

D e David.

No Senhor procuro refúgio. Como dizeis à minha alma: “ Foge para a montanha como um pássaro! 2. Aqui estão os maus que retesam o arco, Embebem a flecha na corda, Para setear, às escuras, os retos de coração. 3. Quando se subvertem os fundamentos, Que poderá fazer o ju sto?”

II

4. O Senhor habita no seu templo santo; O Senhor nos céus tem o seu trono. Tem os olhos abertos, Suas pálpebras perscrutam os filhos dos homens. 5. O Senhor sonda o justo e o ímpio; O fautor de violência, sua alma o execra. 6. Sobre os maus fará chover brasas e enxofre; Um vento de procela será a parte que lhes toca. Justo é o Senhor e tem amor à justiça; Os homens retos contemplarão a sua face. S A L M O 11 (12) C ON TRA INIMIGOS FALSOS E SOBERBOS

I II III IV



Queixa-se o Salmista da duplicidade (2, 3);

— implora auxílio contra os inimigos (4, 5); — promete a intervenção de Deus (6, 7); — e conjia (8-9).

1. Ao Mestre de canto. Uma oitava abaixo. Salmo de David. I

2. Socorro, Senhor! vão minguando os varões piedosos; Já não há fidelidade entre os filhos dos homens. 3. Todos mentem a seu próximo; Falam com lábios aduladores e coração refalsado .

Ps. 11, 4-9; 12 *2-----

41

4. Extirpe o Senhor os lábios que adulam, E a língua que fala com arrogância, 5. E os que dizem: “ Pela nossa língua somos fortes! Por nós estão os nossos lábios; quem é o nosso senhor ?” II

G. “ Por causa da opressão dos desvalidos e do gemido dos pobres, Levantar-me-ei agora, declara o Senhor: Levarei a segurança aos que por ela suspiram5’ .

III

7. As palavras do Senhor são palavras sinceras, Prata acendrada no erisol, pura de ganga, sete vezes refinada.

IV

8. Sim, Senhor, Vós nos guardareis, Preservar-nos-eis para sempre desta geração. 9. Ao redor passeiam os ímpios, Enquanto se exaltam os homens ignóbeis. 6 — por ela suspiram : o t e x to é d u v id o s o ; o u tro s v e rte m :

tra o q u a l se e n fu r e c e m ” ,

“ A q u ele c o n ­

A v e rsã o a lexan drin a p arece ter lid o u m a fo r m a d o

v e r b o yãpha’ (p ro v à v e lm e n te ’ophíat) :

“ brilharei e m seu fa v o r (a u x ílio)” .

7 — puro de ganga: assim S. J e r ó n im o ; o heb reu bayãlíl lã’ãres é de sen tid o in c e r to (’ãlíl, ta lv e z sig n ifiq u e “ v a s o para fu n d ir m e ta is” , “'forn a lh a ” ; ta lv e z: “ na fo rn a lh a (fu n d id o ) p a ra qu e o m e ta l se separe d a g a n g a ” .

O u tros, em lu g ar de

Wãres, co n je ctu r a m hârús (ou ro). 9

— V e rsã o m u ito in certa .

P a re ce qu e este é o s e n tid o : enquant-o

ím p io s a n d a m c o m arrog â n cia , ab re-se ca m in h o p ara os h om en s de sen tim en tos b a ix o s e ig n óbeis.

S A L M O 12 (13) LAMENTAÇÃO DO JUSTO QUE CONFIA EM DEUS O p rim id o p e lo s ím p ios, o I —

S alm ista

lamenta-se quatro vezes do esquecimento de Deus “ até quando ? ” ) implorando a sua intervenção (2— 4a);

I I — e pede confiantemente a Deus que o socorra (4 b— 6).

1. A o M e str e de ca n to .

I

S a lm o de D a v id .

2. Até quando, Senhor, de todo vos esquecereis de mim? Até quando me escondereis o vosso rosto ?

42 —

Ps. 12, 3-6; 13, 1-4

3. Até quando aninharei a dor na rainha alma, E, cada dia, a tristeza em meu coração ? Até quando contra mim se erguerá o meu inimigo ? 4. Volvei os olhos, atendei-me, Senhor Deus meu! II

Iluminai os meus olhos para que não caiam no sono da morte, 5. Para que não diga o meu inimigo: “ venci-o” ; Para que se não regozijem os meus adversários, se eu vacilar: 6. Eu que confiei na vossa misericórdia. Exulte o meu coração pelo vosso amparo; Pelo benefício que me prestou, entoe ao Senhor um canto. S A L M O 13 (14) CORRUPÇÃO GERAL E SEU CASTIGO

0 Salmista I — deplora a corrupção que chega a negar a Deus mas não pode fugir aos seus olhos (1— 3); II — prediz aos ímpios a punição divina (4— 6); III — e pede para o seu povo melhor, sorte (7).

1. Ao Mestre de canto.

I

D e David.

Diz o insensato no seu coração: “ Não há Deus” . Corromperam-se e perpetraram abominações; Já não há quem pratique o bem. 2. D o céu inclina o Senhor o seu olhar Sobre os filhos dos homens, Para ver se há quem tenha prudência E busque a Deus. 3. Desgarraram todos à uma e perverteram-se; Não há quem faça o bem, Não há um só!

II

4. Não se emendarão todos estes obreiros de iniqüidade, Que devoram o meu povo como devoram um pSo ? Não invocaram o Senhor,

Ps. 13, 5-7; 14, 1-3

--- 43

5. Hão-de tremer de pavor, Porque Deus está com a raça justa. 6. Quereis confundir os desígnios dos desvalidos: Mas o Senhor é o seu refúgio. III

7. Oxalá de Sião venha a salvação de Israel! Quando mudar o Senhor a sorte de seu povo, Exultará Jacob, Alegrar-se-á Israel.

Este Salmo é quase idêntico ao Salmo 52 (53) que se encontra em forma eloh.stica no II livro dos Salmos. Em alguns códices da versão dos L X X e na Vulgata depois do v. 3 se inserem os versos que, sob a forma geral “ como está escrito” , se lêm na Ep. aos Romanos 3, 13-18, extraídos de vários Salmos, de Isaías e dos Provérbios. Estes v ersos faltam no Salmo 52 e não pertencem ao Salmo 13. 1-3 — Que desgarraram todos é hipérbole poética. 1 — Negam a Deus com os factos (cf. Tit. 1, 16) não com as palavras ou com um juízo mental explícito. 4b — como devoram um pão: esta versão não é de todo certa “ Devora o povó” quem o explora em benefício próprio.

SALMO

14

(15)

QUEM tí DIGNO DE C O M P A R E C E R N A P R ESE N Ç A DO S E N H O R ?

0 Salmo, talvez dividido em muitos coros, procede em forma dialogada-. I — formula-se a pergunta (v. 1); II — o resposta enumera dez condições (2-56), das quais a primeira i a vida imaculada e a prática da “justiça" (isto é, a observância de toda a lei divina) (2o); as outras são os deveres para com o próximo (26-56); promete-se o prêmio: "não vacilará” , isto é, será sempre feliz (5c).

1. Salmo de David,

I

II

Senhor quem há-de morar no vosso tabernáculo, Quem há-de residir na vossa montanha sagrada? 2. O que vive na inocência e pratica a justiça, E diz a verdade no seu coração, 3, E não calunia nas suas palavras. O que não faz mal ao próximo, E não atira ultrajes ao seu vizinho.

‘1'1 ------ Ps.

14, 4- 6;

15, 1-4

4. O que tem por desprezível o malvado, Mas honra os que temem o Senhor. O que não retrata o juramento ainda quando o pre­ judique, 5. O que não empresta com usura, Nem recebe dons para oprimir o inocente. 6.

Quem assim proceder Não vacilará jamais. SALMO

15 (10)

DEUS, BO N DADE SUPREMA, PRINCÍPIO DE RESSURREIÇÃO E DE VIDA ETERNA

0 Salmista I — depois de detestar a idolatria dos seus contemporâneos, protesta a sua fidelidade a Deus, sumo e único bem e aos “ santos” , isto é, aos que prestam a Deus o culto de piedade (1-6); II — como agora sente sempre a Deus presente, assim tem certeza que, após a morte, não será sujeito à corrupção, mas partici­ pará da ressurreição e felicidade eterna — S. Pedro (Act. 2, 25—32) e S. Paulo (Act. 13, 35-37) afirmando que a predição não se verificou em David, autor do Salmo, interpretam o v. 10 da res­ surreição de Cristo. Trata-se pois. de um salmo messiânico, não só tipicamente, mas diretamente, de acordo com o contexto, de tal forma que todo Salmo, no seu sentido próprio e primário se deva entender de Cristo, e, sd em sentido limitado e por parti­ cipação, se possa aplicar a David. Ver o Decreto da Pontifícia Comissão Bíblica de 1 de julho de 19SS (Acta Apostolieae Sedis, 25 (1933) 344; Bíblica 14 (1933) 408-432.

1. M iktam.

I

D e David.

Guardai-me, Senhor, que em Vós busquei refúgio, 2. Digo a Deus: “ Sois meu Senhor; Só em Vós está a minha felicidade” . 3. Para com os santos que vivem na sua terra, Quão admirável é todo o meu afeto! 4. Multiplicam seus sofrimentos Os que seguem deuses extranhos. N il o f u r ei lib n ç fc H c o m o s a n g u e d e s u a s o f e r e n d a s ,

Nem meus lábioH pronunciar/lo

hoiih

n om cH ,

45

Ps. 15, 5 1 1 ; 16 —

5. O S*enhor é a porção de minha herança e de meu cálice: Vós sois o que conservais o meu quinhão. 6. O cordel mediu para mim um lugar aprazível; Bela a herança que me coube! TI

7. Bendigo o Senhor porque me aconselhou, Porque ainda, durante a noite, me adverte o coração. 8. Tenho sempre o Senhor na minha presença; Porque está à minha direita, não vacilarei. 9. Alegra-se, por isto, o meu coração e exulta a minha alma, Até o meu corpo descansa seguro. 10. Não abandonareis a minha alma no Scheol, Nem permitireis que o vosso santo veja a corrupção. 11. Mostrar-me-eis a senda da vida, Plenitude de alegrias na vossa presença, As delícias eternas à vossa direita.

2b — A v u lg a ta tra du z bonorum meorum non eges, su p o n d o p ro v a v e lm e n te a liçã o a tu a l d o te x to m assorético, e n ten d id o, p o ré m , m en os acerta da m en te* 3 — O v e rso é d ifícil; a tra d u çã o d a d a firm a-se n u m a d iv isã o d as letras d iversa d o te x to m assorético.

O u tros o

in te rp re ta m

d iversa m en te.



S an tos,

aqui e n os o u tro s salm os sã o os h om en s d e d ica d o s a D eu s, p iedosos, qu e lhe p restam cu lto.

4 — seguem, hebr. mãhar: “ o b te r a esposa, o fe re cen d o o d o te ” e daí, fig u rad am en te: p rocu rar o fa v o r de alguém , venerar alguém . 6 —

cordel,

isto é, d o agrim en sor qu e distribu i as

terras.

7 — o co ra çã o , literalm ente urim ” , p a la v ra qu e designa a p arte in tern a d o c o rp o , m e ta fò rica m e n te : os sen tim en tos íntim os. 10 —

Não abayidonarâs a minha alma no Scheol, sàhat, p a la v ra qu e sig n ifica n ão só

— Corrupção, hebr.

raiz sú ah), sen ão ain da lugar.

(C f.

Bíblica,

“ c o rr u p ç ã o ” , (na v ersão d o s L X X

c o m o sua presa etern a. “ c o v a ” , “ se p u lc r o ”

(d a

Sia
14 (1933) 418 sgs.).

SALMO

16 (17)

O JUSTO IN O C E N TE IM PLO R A O A U X ÍL IO DE DEUS C O N T R A INIM IGOS PR EPOTEN TES

O Salmista

I — atesta a inocência de sua vida apelando para o juízo de Deus II



omniciente (1— 5); pede o auxilio de Deus contra os inimigos

(6— 9a );

4 6 ----- Ps. 16, 1-12 III — descobre as suas agressões (96— 12); IV —■ ainda uma vez implora o juízo de Deus sobre os -inimigos que “ têm o inundo por quinhão” e afirma a sua confiança de ver a face de Deus (13— 15).

1. Oração de David.

I

Ouvi, Senhor, minha causa justa, Atendei o meu brado de súplica, Prestai ouvidos à minha prece, Saída de lábios que não simulam. 2. De vossa face venha o meu julgamento; Vêem os vossos olhos o que é direito. 3. Se sondardes o meu coração, se de noite o visitardes, Se me provardes no crisol, nenhum crime encontrareis em mim. (4). Não cometeu transgressão a minha boca, (4) como cos­ tumam os homens; Segundo as palavras dos vossos lábios, Guardei os caminhos da lei. 5. Firmes nas vossas veredas permaneceram os meus passos; Nem titubearam os meus pés.

II

6. Eu vos invoco, Senhor, porque me atendeis, Inclinai para mim os vossos ouvidos, escutai a minha palavra. 7. Mostrai a vossa admirável bondade, Vós que salvais dos inimigos os que recorrem à vossa direita. 8. Guardai-me como a pupila dos olhos, Escondei-me, à sombra de vossas asas, 9. Dos ímpios que me perseguem.

III

Furiosos, rodeam-me os inimigos; 10. Fecham o coração endurecido, Falam com lábios arrogantes. 11. Cercam-me agora seus passos, Fitam-me seus olhos para prostrar-me- por terra, 12. Como o leão ávido da presa, Ou o leãozinho encolhido de emboscada no seu escon­ derijo.

Ps. 16j 13-15; 1 7 ----- 4 7

IV

13. Erguei-vos, Senhor; ide ao seu encontro; prostrai-o, Com a vossa espada, livrai do ímpio a minha alma, 14. Com a vossa mão, Senhor, dos homens, Destes homens que têm o mundo por quinhão; Cujo ventre encheis com os vossos tesouros; Os seus filhos estão fartos, E deixam o que lhes sobeja aos seus pequeninos. 15. Mas eu, na justiça, contemplarei a vossa face, Ao despertar, saeiar-me-ei de vossa presença. 4b — ca m in h os d a lei: pãrís.

C o m p a ra r co m o a cá d ico parsu —' ‘m a n d a ­

m e n to ” de D e u s o u d o rei e o árabe fard (jaridah) = “ m a n d a m en to d iv in o ” . — coração endurecido, literalm en te gordo, p a la v ra qu e sig n ifica c o

10

ç ã o insensível e e n d u re cid o . 14 — Por quinhão. . terra ” .

literalm en te “ cu jo qu inhão, n a v id a deles,

é

d e sta

O te x to p a rece m u ito alterad o; m as é ce rto qu e nele se descrev e u m m o d o

d e p roced e r “ m u n d a n o ”

e “ m a te ria l” .

15 — O S alm ista e x p rim e a esperança de v e r a D eu s, d epois de d espertar, is to é, d o son o d a m orte.

(V er P s. 75

[7 6 ], 6; D a n . 12, 2). Id é ia sem elhan te n o

S a lm o 15 (16).

SALMO

17 (18)

A Ç Ã O DE GRAÇAS DO R E I D A V I D , PELA SUA SALV A Ç Ã O E P E LA V IT O R IA

O argumento do Salmo é exposto em duas partes. Na primeira (A — 2— 31), celebra-se de modo geral a intervenção de Deus. Depois da introdução I — na qual o Salmista enaltece a Deus como seu protector (2— 4 ); I I — refere os perigos em que se encontrou (5— 7); I I I — descreve depois , poéticamente, a modo de teofania (8— 16) como

Deus o livrou do perigo (17— 20); e, por fim , I V — mostra que Deus o salvou por causa da integridade de sua vida,

porquanto Deus protege o$ justos e humilha os soberbos (21— 3 1 ). Na segunda parte, (B: 3 2 -5 1 ) retoma-se o mesmo argumento mas descrevendo singularmente os benefícios recebidos de Deus, a saber: I — Deus ensinou-lhe a combater (3 2— 35); I I — assistiu-lhe no combate com o seu poder (36— 39); I I I — pôs em fuga os inimigos (4 0— 43); I V — constituiu-o rei também de outros povos (44— 46).

No epílogo compendia todos os benefícios de Deus e dâ-lhe graças (4 7— 51 ). — O mesmo sahno%com pequena variedade de lições, encontra-se em 2 Sam. 22 (num

e noutro lugar é idêntico o número de versos).

4 3 ----- Fs. 17, 2-15

] . Ao Mestre de canto. D o servo do Senhor, D avid, que disse ao Senhor as palavras deste cântico quando o Senhor o livrou do poder de todos os seus inimigos e das mãos de Saul.

2. Disse pois: Amo-vos, Senhor, minha força, 3. Senhor, minha rocha, minha cidadela, meu libertador,. Deus, meu rochedo, onde me refugio, Meu escudo, força de minha salvação, meu baluarte!. 4. Invocarei o Senhor, digno de ser louvado, E serei salvo de meus inimigos. II

5. Envolveram-me as vagas da morte, E aterraram-me as torrentes do mal, 0.

Enlaçaram-me as cadeias do Scheol, Prenderam-me as redes da morte.

7. Na minha tribulação invoquei o Senhor, E para Deus lancei o meu brado; E do seu templo escutou a minha voz, E aos seus ouvidos chegaram os meus clamores. III

8. Abalou-se e tremeu a terra, Vacilaram as bases das montanhas, Estremeceram: porque ele ardia de cólera. 9. Das suas narinas subia fumaça, E da sua boca, fogo devorador; E carvões em brasa, por ele a&esos. 10. Inclinou os céus e desceu, Sob os seus pés, uma nuvem sombria. 11. Levado por um querubim, voava E pairava nas asas dos ventos. 12. Envolveu-se num véu de trevas E cobriu-se de águas tenebrosas e de nuvens carre­ gadas. 13. Ante o fulgor da sua face Inflamaram-se os carvões em brasa. 14. E dos céus trovejou o Senhor. E elevou a sua voz o Altíssimo. 15. Despediu as suas setas e os dispersou, Multiplicou os seus raios o os profligou.

Ps. 17, 16-32 —

49

16. E apareceu o leito dos mares, E descobriram-se os fundamentos da terra Ante as ameaças do Senhor, E ante o sopro do vento de sua cólera. 17.

D o alto estendeu a sua mão, tomou-me, Arrancou-me das muitas águas.

18. Livrou-me de um inimigo poderoso, E dos que me odiavam e eram mais fortes que eu. 19. Assaltaram-me no dia de minha desgraça, Mas o Senhor foi meu apoio, 20. Tirou-me e pôs-me ao largo, Salvou-me porque me tem amor. IV

21. Recompensou-me o Senhor segundo a minha justiça Retribuiu-me segundo a pureza de minhas mãos. 22. Porque guardei os caminhos do Senhor, Nem, pecando, me afastei do meu Deus. 2:5. Ante os meus olhos tive todos os seus mandamentos, E de mim não afastei os seus preceitos. 21. Conservei-me sem mancha na sua presença, E guardei-me da iniqüidade. 25. E retribuiu-me o Senhor segundo a minha justiça, e segundo a pureza de minhas mãos ante os seus olhos. 20. Para com o piedoso, piedoso vos mostrais, Com o homem reto, procedeis retamente, 27. Com o sincero sereis sincero E com o astuto, prudente. 2.H. Salvais o povo humilde, E abateis os olhares altaneiros, 29. Vós, Senhor, fazeis resplandecer minha lâmpada; Iluminais, meu Deus, as minhas trevas. ;t(). (iraças a Vós, afronto batalhões armados, («raças ao meu Deus transponho as muralhas. :il . Perfeitos são os caminhos de Deus; Pelo crisol passa a palavra do Senhor; 10 escudo para todos os que nele confiam. II .'(2. Quem é dcms fora do Senhor? 10 quem é roclm l'ora do nosso Doim?

5 0 ------Ps. 17, 33-49

33. Deus que me revestiu de força, E fez perfeito o meu caminho, 34. E aos meus pés deu agilidade como aos pés da corça, E me consolidou firme nas alturas, 35. Adestrou minhas mãos para a peleja, E meus braços para retesar o arco de bronze. II

36. Vós me destes o vosso broquel que protege, E vossa destra me sustentou, E grande me fez vossa solicitude. 37. Ante meus passos abristes larga a estrada, E não vacilaram os meus pés. 38. Perseguia os meus inimigos e os .alcançava, E não voltava antes de os haver exterminado; 39.

III

Esmaguei-os e não se puderam reerguer, Ante os meus pés baquearam.

40. De força para o combate, me revestistes, E diante de mim curvastes os meus adversários. 41. Precipitastes na fuga os meus inimigos, E dispersastes os que me odiavam. 42. Clamaram — mas ninguém lhes veio em socorro; Ao Senhor — e não os ouviu.

IV

43.

Triturei-os como o pó que o vento leva, Calquei-os como o lodo das ruas.

44.

Das discórdias do povo me livrastes, E me pusestes à frente das nações. Serviu-me um povo que não conhecia;

45. Apenas ouviu falar de mim prestou-me obediência. Lisonjeiaram-me os estrangeiros, 46. Empalideceram e, espavoridos, saíram de suas fortalezas. C 47. Viva o Senhor! bendita seja a minha rocha! Louvado seja Deus, meu Salvador! 48.

Deus que me vingou E a mim submeteu os povos.

49. Vós me livrástes dos meus inimigos E me elevastes acima dos meus adversários, E me arrancastes das mãos do homem de v iolência.

Fs. 17, 50-51; 18, 2 —

51

50. Por isto eu vos celebrarei, Senhor, entre as nações* E entoarei um hino ao vosso nome. 51. A Vós, que destes grandes vitórias ao vosso rei, E usastes de misericórdia com o vosso ungido, David e sua posteridade pelos séculos afora. 3 — minha rocha, meu rochedo, m e tá fo ra freq ü en tem en te em p reg a no Á . T. p ara d esign ar a D e u s, c o m o nosso a p o io firm e. (Cfr. p o r ex. P s. 18 (19), 15; Deut. 32, 4, 15, 18, 31). 7 — Do seu templo a q u i se refere à m o ra d a celeste d e D e u s . 8 - 1 6 — D e sc r e v e -se m a g n ifica m e n te a in te rv e n çã o d e D e u s c o m m etá ­ foras tiradas d o te rr e m o to (8— 16), d a te m p e sta d e (9— 15). V e r d escrições sem elhan » tes Ps. 28 (29); 96 (97), 2— 6; J u d ie . 5, 4 ; H a b , 3, etc. 11

“ sede

sobre

os

34 Hab. 3, 19).

— Querubim : os querubins le v a m o t ro n o de D e u s q u e p o r isto se ch a m querubins” (Ps. 79 (80), 2 ; 98 (99), 1 e tc. — nas alturas: c o lo c o u -o e m lugar a lto e seg u ro; C fr. P s. 60 (61)

44 — Foram vencidos os in im ig os in te rn o s e extern os. 45



Lisonjearam: c o n tra a v o n ta d e e co a g id o s d ecla ra ra m -se su jeitos.

51



vosso ungido, is to

é,

D a v id , rei.

SALMO

18 (19)

GLÓRIA DE DEUS C R IA D O R E LE GISLADOR

O Salmo consta de duas partes, entre si ligadas pela idéia de Deus, autor de todas as coisas, da natureza como da lei moral e religiosa. A . Á primeira parte (2— 7) introduz o mundo a cantar a glória de Deus: I — o firmamento e o céu estrelado proclamam a altas vozês a gló­

ria de Deus

(2— 5),

II — principalmente o sol no seu curso quotidiano (6— 7).

B. A segunda parte (8— 15) canta a Deus legisladorf I

cuja lei ét de todo ponto, perfeita (8— 11);

II — e a quem o Salmista deseja servir com a perfeita observância dos preceitos (12— 15).

1 . Á o M e stre d e C a n to .

S a lm o d e D a v id ,

A

I

2. Cantam os céus a glória de Deus, E proclama o firmamento a obra de suas mãos.

52 —

Ps. 18, 3-14

3. O dia ao dia repete a mensagem, E a noite a transmite à noite. 4. Não é uma linguagem, nem são palavras, Cujo som se não percebe; 5. Por toda a terra ressoam os seus ecos, E até os confins do mundo, os seus acentos. II

6. Aí colocou para o sol a sua tenda; E este, como o esposo que sai de süa câmara nupcial, Exulta, como um herói, para percorrer o seu caminho. 7. Parte de uma extremidade dos céus, E na outra extremidade termina o seu curso: E ao seu ardor nada se furta.

B. I

8. Perfeita, a lei do Senhor, Q ue conforta a alma; Verídico o testemunho do Senhor, Que dá sabedoria ao simples. 9. Retos os Que Puro, o Que

preceitos do Senhor, alegram os corações, mandamento do Senhor, ilumina os olhos,

10. Santo o temor do Senhor, Que para sempre permanece; Verdadeiros os julgamentos do Senhor, Todos igualmente justos. 11. Mais desejáveis que o ouro Que muito ouro refinado. Mais doces que o tnel, Que corre dos favos. II

12. Ainda que neles atente o vosso servo, E em guardá-los se esmere, 13. Quem há que advirta todas as faltas? Das que me são desconhecidas, purificai-me. 14. Da soberba, outrossim, preservai o vosso servo, Para que o não domine. Serei então inocente e puro De falta grave.

Ps. 18, 15; 19, 2 -6 ----- 53

15. Acolhei as palavras de meus lábios, E a meditação de meu coração, Na vossa presença, Senhor, Minha Rocha e meu Redentor. 4 - 5 — A voz dos céus não é fraca nem difícil de ouvir-se, todo o universo. Ver acomodação aos pregadores do Evangelho em

m as p e n e tra R o m . 10,8. moral e religiosa;

10 — temor do Senhor: toda a observância da lei talvez se deva ler Hmrat, “ palavra” (Cfr. Ps. 118 (119), 11 e outros).

i

1 2 -1 3 — Também o homem piedoso, que se esforça por observar a le , muitas vjzes, sem advertir, a transgride; o Salmista pede que seja purificado des­ tas faltas que lhe são desconhecidas, ab occultis. 14 — soberba: zcãim, “ soberbos” , “ protervos” ou, substituindo creto pelo abstrato, “ soberba” , “ protérvia” . (Cfr. J o ü o n , Gramm. 136. g).

hebr.,

SALMO

19

(20)

ORAÇÃ O PELO RE I, ANTES DE UMA BATALHA

X a primeira parte I — ao partir o rei para guerra deseja o povo que Deus o ajude (2— 6); em seguida, II — O Salmista manifesta a sua firme confiança que Deus, de quem depende a vitória, há-de assistir ao rei com o seu poder (7— 9); no epílogo (10) repete o povo as preces.

1 . Ao Mestre de Canto.

I

Salmo de David,

2. Ouça-te o Senhor no dia da aflição, Proteja-te o nome do Deus de Jacob. 3 . D o seu santuário envie-te socorro, E de Sião te ampare. 4. Lembre-se de todas as tuas oblações, E com boa sombra acolha o teu holocausto. 5. Conceda-te o que te deseja o coração, E realize todos os teus desígnios. 0. Possamos regozijar-nos de tua vitória, E em nome do nosso Deus, hastear os pendOes; Cumpra o Senhor todos os teus votos!

o

c

5 4 ----- Fs. 19, 7-10; 20, 2-10

II

7. Já sei que o Senhor deu a vitória ao seu ungido, E o ouviu do céu, seu santuário, Com a força de sua destra vitoriosa. 8. Estes são fortes nos carros, aqueles, nos cavalos, Nós, no nome do Senhor, nosso Deus. 9. Eles fraquearam e sucumbiram Nós permanecemos de pé e resistimos. 10. Senhor, ao rei dai a vitória; Ouvi-nos, quando vos invocamos. SALMO

20

(21)

AÇÃO DE GRAÇAS E PRECES PELO REI

I —* O povo agradece a Deus por haver concedido ao rei auxilio, jorça, vida e alegria (2— 8); II — em seguida, dirigindo-se ao próprio rei, augura-lhe completa vitória dos inimigos (9— 14).

1. Ao Mestre de Canto.

I

Salmo de David.

2. Senhor, alegra-se o rei de vossa proteção poderosa; E como exulta com o vosso socorro ! 3. Satisfizestes o desejo de seu coração, E não rejeitastes a súplica de seus lábios. 4. Vós o prevenistes com bênçãos escolhidas, Cingistes a sua fronte com uma coroa de ouro puro. 5. Pediu-Vos vida; e lhe prolongastes os dias Pelos séculos afora. 6. Graças ao vosso auxílio, grande é a sua glória; De majestade e esplendor o revestistes. 7. Para sempre o tornastes objeto de bênçãos, E o enchestes de alegria na vossa presença. 8. N o Senhor pôs o rei a sua confiança; Pela bondade do Altíssimo não vacilará.

II

9. Caia a tua mão sobre todos os teus inimigós; Alcance a tua direita quantos te odeiam. 10. A tirá-los-ás como numa fornalha acesa, Quando mostrares o teu rosto,

Ps. 20, 11-14; 21, 2

— 55

Na sua cólera aniquile-os o Senhor. E os devore o fogo. 11. Da terra extermina a sua raça, E dentre os filhos dos homens a sua descendência. 12. Se contra ti tramarem o mal E urdirem intrigas, não hão-de prevalecer. 13. Precipitá-los-ás em fuga, Desferindo-lhes no rosto o teu arco. 14. Erguei-vos, Senhor, na vossa força ! Queremos cantar e celebrar o vosso poder ! 5b — prolongastes. . expressão hiperbólica, como na fórmula de sau­ dação: “ rei, vivei para sempre!” (Cfr. 3 Reg. I, 31; Neh. 2, 3). 136 tra o seu rosto” .

— literalmente “ com as cordas do teu arco apontarás [as setas] co

SALMO

21

(22)

PAIXÃO DO MESSIAS E SEU FRUTO

Ao morrer na Cruz, Cristo aplicou a si este salmo (M t. 27, 46) e a própria descrição da paixão e da salvação por ela obtida mostra que só em Cristo se verificaram plenamente as palavras do Salmo, como, em consenso unânime, ensina a tradição católica. Na primeira parte (A) descreve o Salmo a paixão do Messias (2— 22): I — dores da alma (2— 12): queixa-se de ter sido abandonado por Deus, esperança e auxílio dos maiores (2— 6), e de sofrer os opróbrios e escârneos dos homens (7— 11); por isto} de novo, invoca o auxilio do Senhor (12); II — dores do corpo: tormentos, sede, languidez da morte, perfura­ ção das mãos, expoliação das vestes (13— 19); conclui, ainda uma vez, implorando o auxílio divino (20— 22). Na segunda parte (B ) descreve-se o fruto da paixão (23— 32): I — o povo de Israel dá graças a Deus e o louva pela redenção con­ cedida (23— 27); todos os povos adorarão o verdadeiro Deus (28— 30); o próprio Messias viverá e proclamará a glória de Deus (31— 32).

1. Ao Mestra de Canto.

Salmo de David.

A I

2. Meu Deus, meu Deus, porque me desamparastes ? Longe estais de minhas súplicas, do meu grito de socorro.

56

----- Ps. 21, 3-18

3. Meu Deus, clamo entre dia, e não me respondeis, De noite, e não me ouvis, 4. E Vós morais no santuário, Glória de Israel. 5. Em Vós esperaram os nossos pais, Esperaram e os libertástes. 6. A Vós bradaram e foram salvos, Em Vós confiaram e não foram confundidos. 7. Mas eu sou um verme da terra, não homem, O opróbrio dos homens e rebotalho da plebe. 8. Todos os que me vêem zombam de mim, Descerram os lábios e menéiam a cabeça: 9. “ Confiou no Senhor: livre-o; Que o salve, se lhe tem amor” . 10. E fostes Vós que me tirastes das entranhas maternas, Que me colocastes com segurança nos peitos de minha mãe. 11. Nos vossos braços .atiraram-me desde o nascimento, D o seio de minha mãe sois o meu Deus. 12

II

Não vos afasteis de mim, porque estou atribulado; Ficai perto, porque não há quem me ajude.

13. Cercam-me os novilhos numerosos, Rodeiam-me touros de Basan. 14. Contra mim abrem as suas fauces, Como leão que devora e ruge. 15. Estou como a água derramada; Desconjuntados estão todos os meus ossos. Meu coração é como a cera, Que se derrete nas minhas entranhas. 16. Secou-se-me a garganta, como barro cozido, Ao paladar pegou-se-me a língua; E me deitastes no pó da morte. 17. De todos os lados, mil cães me cercam, E sitiou-me um bando de celerados. Transpassaram-me as mãos e os pés 18. Posso contar todos os meus ossos. Eles contemplam-me e tripudiam

Ps.

21j

19-31 ----- 57

19. Repartem entre si minhas vestiduras, E sorteiam minha túnica. 20. Mas Vós, Senhor, não vos afasteis; i^uxílio meu, apressai-vos em socorrer-me. 21. Livrai da espada a minha alma, E das garras do cão a minha vida; 22. Salvai-me das fauees do leão, E das pontas dos búfalos este desvalido. B I

23. A meus irmãos anunciarei vosso nome, Louvar-vos-ei no meio da assembléia. 24. “ Vós que temeis o Senhor, louvái-o; Celebrai-o, todos vós, filhos de Jacob, Reverenciai-o, todos vós, descendentes

de

Israel.

25. Ele não desprezou nem desdenhou o sofrimento do infeliz, Nem dele desviou a sua face, Mas o ouviu quando lhe implorou socorro.” 26. Graças a Vós, ressoará meu louvor na grande assembléia. Cumprirei os meus votos na presença dos que Vos temem, 27. Comerão os humildes e serão saciados, Louvarão o Senhor os que o buscam: “ Vivam para sempre os vossos corações” . II

28. D o Senhor há-de lembrar-se e a Ele se há-de converter Toda a extensão da terra; E ante a sua face se prostrarão Todas as famílias das nações. 29. Ao Senhor, a realeza; Ele é o dominador dos povos. 30. A Ele só hão-de adorar quantos dormem na terra, Diante d ’Ele se hão-de inclinar quantos descem no pó.

III 31.

Para Ele viverá a minha alma, Servi-lo-á a minha descendência, Falará do Senhor à geração vindoura, E anunciará a sua justiça ao povo que há-de nascer: “ Esta é a obra que fez o Senhor” .

8 — “ meneiam a cabeça” , em sinal de ludibrio e desprezo. 13 — touros de Basan: Basan era uma região muito fértil, rica de pasta­ gens, célebre pelos seus touros vigorosos (Cfr. D t. 32, 14; Ez. 39, 18; Am. 4, 1).

58 —

Ps. 22, 1-6

15 — como a água. .

o seu corpo quase se dissolve.

17 — transpassaram. A versão dos L X X , de Aquila, a peshitto, e a de S. Jerónimo leram a forma verbal da 3.* pessoa do plural, da qual a melhor e mais antiga tradução é a que deram os L X X Sipvtav (Vulg. “ foderunt” ). A lição hebraica hã ‘art (como leão) não é provável. Cf. os comentários. 216 — a minha vida: literalmente “ minha única” , i. ê, vida, alma (Cf. Salmo 34 (35) 17). 3 0 -3 1 —•O texto hebraico está alterado; a tradução acima supõe o texto das versões.

SALMO

22

(23)

O SENHOR, PASTOR E HOSPITALEIRO

I — O Senhor apascenta-me, oferecendo alimento e bebida, prote­ gendo, defendendo, dirigindo (1— 4); II — O Senhor prepara-me uma mesa abundante e recebe-me em sua casa.

1. Salmo de David.

I 2. 3.

Deus é meu pastor; nada me falta; Leva-me a descansar em pastagens verdej antes, Conduz-me às águas que refrescam; Refocila minha alma, Guia-me pelas sendas direitas, Para (honra) de seu nome.

4. Ainda que caminhe por um vale tenebroso, X ão temerei mal algum, porque estais comigo. Vosso cajado e vosso báculo São meu conforto. II

5. Preparais para mim uma mesa, Â vista de meus adversários. Ungis com óleo a minha cabeça; Transborda a minha taça. 6. Acompanhar-me-ão a felicidade e a graça, Todos os dias da minha vida. E na casa do Senhor habitarei Por dilatados dias.

1 — N o Antigo e N ovo Testamento é muito freqüente a imagem de D que apascenta o seu povo. O próprio Cristo chamou-se o bom pastor (Joa. 10, 11— 18).

Ps. 23, 1-9

— 59

2 — vosso cajado e vosso báculo: com um, defende o pastor o rebanh com outro o dirige. (Cf. Verbum Domini, I (1921) 23s). 56 — os adversários contemplam invejosos mas não podem fazer mal.

S A L M O 23 (24) INGRESSO SOLENE DO SENHOR NO SANTUÁRIO

I — Quem entra ê o Criador e Senhor do mundo (1—2); II — dos que se lhe aproximam exige-se a inocência da vida (3— 6); cf. Sal. 14 (15); III — ingresso solene do Senhor dos exércitos (7— 10). Este Salmo, compô-lo talvez David quando a arca foi, pela primeira vez, levada ao monte Sião (2 Sam. 6). O Salmo é recitado por vários coros.

1. Salmo de David.

I

A Deus pertence a terra e tudo o que nela se contém, O mundo e quantos o habitam. 2. Foi Ele quem a fundou sobre os mares, E sobre os rios a consolidou.

II

3. Quem há-de subir na montanha do Senhor? Quem há-de permanecer na sua morada santa? 4. O que tem as mãos inocentes e o coração puro, O que não inclina os seus desejos à vaidade, Nem jura para enganar o seu próximo. 5. Este alcançará a bênção do Senhor E a recompensa de Deus, seu Salvador. 6. Esta é a raça dos que o procuram, Dos que procuram a face do Deus de Jacob.

III

7. Dilatai, ó portas, os vossos batentes, E, vós, portais antigos, .ampliai-vos, Para que entre o rei da glória. 8. “ Quem é este rei da glória?” “ O Senhor, forte e poderoso, O Senhor, poderoso nas batalhas” . 9. Dilatai, ó portas, os vossos batentes,

E, v ós, portais antigos, ampliai-vos, Para que entre o rei da glória.

60

___ Ps. 28, 10; 24, 1-7

10. “ Quem é este Rei da glória?” “ O Senhor dos exércitos, Este é o Rei da glória” . 7 - 1 0 — As portas não são bastante altas para que nelas possa passar Deus, grande; por isto devem elevar as suas “ cabeças” , padieiras, ou batentes; mais, as próprias portas como que devem crescer para o alto. portais antigos, provàvelmente os da cidadela dos Jebuseus.

S A L M O 24 (25) SÚPLICAS DE PERDÃO E LIBERTAÇÃO DE TODAS AS ANGÚSTIAS

0 Salmo é alfabético e não apresenta um nexo lógico de idéias mais estreito. O Salmista começa (1— 7) e conclui (16— 22), orando a Deus, A parte central (8— 15) encerra uma meditação sobre a bondade de Deus para com os justos. O Salmista implora de Deus o perdão dos pecados (7, 11, 18), a vida pautada pelos preceitos divinos (4, 5; cf. 8— 10, 12); a libertação das angústias (17, 18, 20), a proteção dos inimigos (2, 19; cf. 15).

1. D e David.

aleph beth

1

A Vós a minha alma elevo, (2) Senhor e Deus meu. A Vós me entrego: não seja eu confundido! Nem de mim se alegrem os meus inimigos!

ghimel

3. Não, dos que em Vós esperam, nenhum será confundido; Confundidos serão os que, sem causa, quebram a fidelidade.

daleth

4. M ostrai-me, Senhor, os vossos caminhos, E ensinai-me as vossas veredas.



5. Conduzi-me na vossa verdade e instruí-me, Porque sois Deus, meu Salvador, E em Vós espero sempre.

vav

zain

6. Lembrai-vos, Senhor, das vossas misericórdias E das vossas bondades, que são eternas.

heth

7. Não vos recordeis de meus pecados da juventude nem de minhas transgressões; Segundo a vossa clemência, recordai-vos de mim, Por causa da vossa bondade, Senhor.

Ps. 24, 8-22 —

fet/i

61

8. Bom e reto é o Senhor; Por isto, aos pecadores ensina o caminho.

II

9. Dirige os humildes na justiça, E lhes ensina a sua vereda.

yod caph

10. Benevolência e fidelidade são todas as vias do Senhor, Para os que lhe observam a aliança e os preceitos.

lamed

11. Por causa, do vosso nome, Senhor, Perdoai o meu pecado, que é grande.

mem

12. Quem é o homem que teme o Senhor? Ele há-de ensinar-lhe o caminho que deve escolher.

nun

13. Feliz viverá sua alma, E sua posteridade possuirá a terra.

samech

14. Aos que o temem, concede o Senhor sua intimidade, E manifesta-lhes a sua aliança.

ain

15. Meus olhos, sempre fitos no Senhor, Porque Ele há-de tirar do laço os meus pés.

phe

16. Olhai-me e apiedai-vos de mim, Que me vejo só e desvalido.

sadé

17. Aliviai as angústias de meu coração, E livrai-me de minhas aflições.

qoph

18. Vede a minha miséria e o meu sofrimento, E apagai todos os meus pecados.

resch

19. Atentai nos meus inimigos: são muitos, E com ódio violento me odeiam.

schin

20. Guardai a minha alma e livrai-me; Não seja confundido eu que em Vós me refugiei.

tau

21. Protejam-me a inocência e a probidade, Porque em Vós ponho minha esperança, Senhor. 22. O Deus, livrai Israel De todas as suas tribulações. 18 — Aqui provàvelmente se deve colocar uma palavra que comece por

qoph (por ex. qasaêr “ abreviai” ). 22 — O último verso começa por pe (cf. v. 16), como no Salmo 33 (34); tainbriin no Salino 30 (37) dqpois do verbo que principia por taw, outro (v. 40).

acreseonta-so

62 _ rs. 25, 1-12 S A L M O 25 (26) UM INOCENTE FALSAMENTE ACUSADO INVOCA O JU Í ZO DE DEUS

O Salmista I — invoca, como fuiz, a Deus, testemunha de sua inocência (1— 2); II — manifesta a sua vida (3—-8): fidelidade a Deus, fuga do mal, zelo do culto divino; III — pede que não seja condenado com os maus e promete ação de graças pública (9— 12). Antes de oferecer o sacrifício eucarístico, o sacerdote recita os w 6— 12.

1. D e David.

I

Fazei-me justiça, Senhor, porque andei na minha inocência, E, confiando no Senhor, não vacilei. 2. Examinai-me, Senhor, e provai-me, Sondai os meus rins e o meu coração.

II

3. Ante os meus olhos está a vossa benevolência, E, na vossa verdade, guio os meus passos. 4. Não tomo assento com os mentirosos, Nem me associo aos hipócritas. 5. Detesto a companhia dos malfeitores, E entre os ímpios não me assento. 6. Na inocência lavo minhas mãos, E dou a volta, Senhor, do vosso altar, 7.

Para anunciar de público os vossos louvores, E narrar todas as vossas maravilhas.

8. Amo, Senhor, a morada de vossa casa, E o tabernáculo onde reside a vossa glória. III

9. Não leveis a minha alma com a dos pecadores, Nem a minha vida com a dos sanguinários. 10. Que trazem nas mãos o crime, E a direita pejada de subornos. 11. Eu ando na minha inocência, Salvai-me e sede-me propício. 12. N o caminho plano conservam-se meus pés; Na assembléia bendirei o Senhor.

Ps. 26, 1-5 —

63

S A L M O 26 (27) CONFIANÇA INTRÉPIDA EM DEUS

Na primeira parte (A:

I — II —

1— 6)

o Salmista

afirma a sua invencível confiança èm Deus, defesa de sua vi­ da (1— 3); sabe que, no templo do Senhor, onde se une a Deus, está seguro contra os inimigos (4— 6).

Na segunda parte

(B: 7—:14)

I — suplica a Deus que o não abandone (7—-10); I I —■mas o conduza pelo caminho direito, livre das insídias dos ini­ migos (11— 12); crendo firmemente excita-se à confiança (13— 14). 1. D e D avid. A I

Deus é minha luz e minha salvação; A quem temerei? Deus é o baluarte de minha vida; De quem terei m edo? 2. Quando contra mim se precipitam os malvados, Para devorar as minhas carnes, São eles, os meus adversários e meus inimigos, Que vacilam e baqueiam. 3. Contra mim acampe um exército, Não temerá o meu coração. Trave-se contra mim uma guerra, Terei ainda confiança.

II

4. Só uma coisa peço ao Senhor; Esta ardentemente a solicito: Morar na casa de Deus Todos os dias da minha vida, Para fruir as delícias do Senhor, E contemplar o seu templo. 5. Ele me esconderá no seu tabernáculo. Nos dias da adversidade, Ele me ocultará no esconderijo de sua tenda, E me elevará num rochedo.

64 — ps. 26, 6-14

6. A minha cabeça então se erguerá Acima dos inimigos que me rodeiam; No seu tabernáculo oferecerei sacrifícios de regozijo, Entoarei cantos e salmos ao Senhor. B I

7. Escutai, Senhor, a voz de meus clamores, Apiedai-vos de mim e ouvi-me. 8. A Vós fala o meu coração; a Vós procura a minha face. A vossa eu a procuro, Senhor. 9. Não me escondais a vossa face Nem rejeiteis, irado, o vosso servo. Sois o meu apoio, não me rejeiteis, Nem me desampareis, Deus, salvador meu!. 10. Se me abandonarem meu pai e. minha mãe, Acolher-me-á o Senhor.

II

11. Mostrai-me, Senhor, o vosso caminho, E conduzi-me por uma vereda plana, Por causa dos que me estão à espreita. 12. Não me entregueis à mercê de meus inimigos; Contra mim se elevaram testemunhas mentirosas E que só respiram violência. 13. Creio que ainda hei-de -experimentar a bondade do Senhor Na terra dos vivos. 14. Espera no Senhor! Sê forte! Coração firme! E espera no Senhor!

2 — para devorar as minhas carnes: para me arruinar de todo (cfr. 13 (14), 4; Mich 3,3).

Salmo

8 — vossa face: vosso favor, vossa benevolência. 11 — vereda plana, isto é, segura (cfr.

Salmo 25 (26), 12).

13 — Segundo o texto massorétice: Oh, se não confiasse que havia de v a Deus na terra dos viventes. .. é uma aposiopese; deveria acrescentar-se: “ então estaria perdido” . na terra dos vivos: isto é, antes de morrer espero que hei-de expe­ rimentar a graça e o favor de Deus.

Ps. 27; 1-&---- 65

S A L M O 27 (28) SÚPLICA E AÇÃO DE GRAÇA

O Salmista

I — II — II I —

pede a Deus que o proteja contra inimigos malvados e ímpios

(1-5);, certo de ser atendido, dá graças pela libertação alcançada intercede pela salvação do rei e'do povo (8—9).

(6—7);

1. D e David.

I

A Vós, Senhor, meu brado elevo; Rocha minha, não sejais surdo às minhas vozes, Não suceda, se me não ouvirdes, me assemelhe Aos que descem à sepultura. 2. Escutai a voz de minhas súplicas, Quando vos imploro, Quando levanto as minhas mãos Para o vosso santuário. 3. Não me arrasteis com os malvados, E com os operários de iniqüidade, Que falam de paz com o próximo, Mas reservam a malícia no coração,. 4. Retribuí-lhes segundo as suas obras, E segundo a malignidade de suas ações, Segundo a obra de suas mãos recompensai-os, E dai-lhes o que merecem. 5. Porcfue não atendem às ações do Senhor, E às obras de suas mãos, Ele os abata e não os alevante.

II

(3. Bendito o Senhor que ouviu A voz de minha súplica. 7. O Senhor, minha força e meu broquel! Nele confiou o meu coração, Fui socorrido e meu coração exulta, E o enaltecerei no meu canto.

III

8. O Senhor é a força de seu povo, O baluarte de salvação do seu ungido.

66 —

Ps. 27, 9; 28, MO

9. Salvai o vosso pov o, E abençoai a vossa herança; Sede o seu pastor e conduzi-o para sempre. SALMO

28

(29)

MAJESTADE DE DEUS NO DESENCADEAR DE UMA P ROCELA

I —■Convite ao louvor de Deus (1— 2); — Descrição da 'protela que, na voz poderosa

II

II I —

do Senhor, (trovão) sacode o mar, os cedros do Líbano, o Hermon, o deserto de Cades, as árvores e as florestas (3— 9); O Senhor, rei eterno, abençoa o seu povo (10— 11).

3. Salm o de D avid. I

Rendei ao Senhor, filhos de Deus, Rendei ao Senhor glória e poder! 2. Rendei ao Senhor a glória de seu nome, Adorai ao Senhor em sagrados ornamentos.

II

3. Sobre as águas ressoa a voz do Senhor! Trovejou o Deus de majestade: Atroa o Senhor sobre as muitas águas! 4. Voz do Senhor, que poder! Voz do Senhor, que magnificência! 5. A voz do Senhor espedaça os cedros, O Senhor espedaça os cedros do Líbano, 6. Faz saltar o Líbano, como um bezerro! E o Sarion, como um novilho de búfalo! 7. A voz do Senhor despede chamas de fogo, 8. A voz do Senhor abala o deserto. O Senhor abala o deserto de Cades. 9. A voz do Senhor contorce os carvalhos E devasta as brenhas; E no seu templo aclamam todos: Glória!

III

10. Acima do dilúvio alça o Senhor seu trono, E o alçará o Senhor, como rei sempiterno.

Ps. 28, 11; 29, 2-7 ------ 67

11. Ao seu povo dê o Senhor o poder! Ao seu povo abençoe o Senhor com o benefício da paz! 1. filhos de Deus: p rovàvelm ente os anjos (cf. P s. 88 (89), 7; Jo b , 38, 7); n a opinião de outros, os m em bros do povo ele ito ou os sacerdotes (cf. P s. 81 (82), 6); 6 8 9



Sarion:



deserto de Cades

nom e fenício do H erm on (cf. D t. 3, 9); ao sul d a P alest ina (cf. Núm . 13); — E nq u an to ruge n a te rra a procela, no céu todos louvam a D eus. SALMO

29 (30)

AÇÃO DE GRAÇAS PELA LIBERTAÇÃO DA MORTE

Depois de um breve proêmio (2), o Salmista A : agradece a Deus por haver sido salvo da morte: após uma breve calamidade, uma graça duradoura (3— 6). B : narra o que lhe sucedeu: I — pecou conjiando temeràriamente (7— 8); II — orou humildemente (9— 11); III — agradece a saúde obtida (12— 13).

1. Salm o de D avid. C ântico p ara a dedicação do tem plo. 2. Exalto-vos, Senhor, porque me livrastes, E não permitistes se alegrassem à minha custa os

meus inimigos. A

3. Senhor, meu Deus, A Vós clamei e me sarastes; 4. D o Scheol, Senhor, tirastes a minha alma; E me salvastes dos que descem à sepultura. 5. Cantai ao Senhor, os que lhe sois fiéis, Dai graças ao seu santo nome. 6. Porque, um instante, dura a sua cólera, A vida inteira, a sua benevolência. Pela tarde, o pranto, De manhã, a alegria. B

7. Mas na minha segurança eu dizia: “ Não vacilarei nunca” .

68 ■— Ps. 29, 8-13; 30

8. Senhor, na bênevolencia, Destes-me honra e poder; Quando escondestes a vossa face, Senti-me perturbado. II

9. A Vós, Senhor, elevo meu clamor, E a misericórdia de Deus imploro: 10. “ Que vos aproveita o meu sangue, A minha descida à sepultura? Por ventura há-de o pó louvar-vos? Ou enaltecer a vossa fidelidade?” 11. Ouvi, Senhor, e compadecei-vos de mim, Vinde, Senhor, em meu socorro.

III

12. Convertestes em alegre dança as minhas lamentações, Rasgastes o meu cilício e me cingistes de alegria. 13. Para que minha alma vos cante E não se cale. Senhor, meu Deus, Direi, para sempre, os vossos louvores. 4 — O Salmista estava a pique de morrer. 10 — Cf.

Ps.

6, 6; Is.

38, 18.

12 — ciVtcio, saccum, hebr. saq, vestido de luto e de penitência (ef. 34 (35), 13).

SALMO

Ps.

30 (31)

STÍPLICA E AÇÃO DE GRAÇAS DE UM AFLITO

I — Premido por insédias e angústias, com grande confiança in­ voca o Salmista a Deus (2— 7), que já o salvou em outras oca­ siões (8— 9); II — agora, quando oprimido por excessivas angústias, motejado pelos inimigos, esquecido pelos amigos, se vê ameaçado de morte (10—-14), cheio de confiança, entrega a Deus a sua sorte (15— 19); III — «, certo já de ser atendido, celebra a bondade de Deus (20— 23) e exorta todos os fiéis ao amor de Deus e à fortaleza d’alma (24 — 25). As palavras do v. 6 foram proferidas por Çristo na Cruz; o salmo todo desrrcve bem a paixão do Senhor e a sua confiança filial no Pai.

Psi. 30, 214 — 69 Ao Mestre de Canto.

I

Salmo de D avid.

2. Em Vós, Senhor, procuro abrigo; Não seja eu jamais confundido! Livrai-me na vossa justiça! 3. Inclinai os vossos ouvidos à minha voz, Apressai-vos em meu socorro. Sede-me uma rocha protetora, Cidadela forte que me salve. 4. Sim, minha rocha e minha cidadela sois Vós. Para honra do vosso nome, conduzi-me e guiai-me. 5. Livrar-me-eis dos laços escondidos que me urdiram, Porque sois minha defesa. 6. Nas vossas mãos encomendo o meu espírito; Resgatar-me-eis, Senhor, Deus da verdade. 7. Detestais os que adoram ídolos vãos; Mas eu, é no Senhor que ponho a minha esperança. 8. Pela vossa bondade quero exultar e alegrar-me, Porque vistes a minha miséria, E ajudastes a minha alma atribulada. 9. Não me entregastes nas mãos de meu inimigo, Mas ante meus pés abristes caminho largo.

II

10. Apiedai-vos de mim, Senhor, que estou angustiado. De tristeza consomem-se os meus olhos, Minha alma e meu corpo. 11.

Na dor fina-se a minha vida; E em gemidos, os meus anos. Esmoreceu na aflição o meu vigor, E definham os meus ossos.

12. Para todos os meus adversários Tornei-me objeto de opróbrio, De ludibrio para os meus vizinhos, E para os meus conhecidos, de terror. Os que me vêem na rua, fogem de mim. 13. Cai no olvido dos corações, como um morto; Sou como um vaso partido. 14. Ouvi o sibilar das multidões: Por toda a parte o terror! Conspirando contra mim, Trumam arrancar-me a vida.

70 ---- Ps. 30, 15-25

15. Mas eu em Vós, Senhor, confio; Digo: sois Vós o meu Deus! 16. Nas vossas mãos, o meu destino; Livrai-me do poder de inimigos e perseguidores. 17. A o vosso servo mostrai sereno o vosso semblante, Salvai-me na vossa clemência. 18. Não seja confundido, Senhor, quando vos invoco; Confundidos sejam os ímpios E, im silêncio, precipitados no Scheol. 19.

III

Emudeçam os lábios mentirosos, Que dizem insolências contra o justo, Com soberba e desdém.

20. Como é grande a vossa bondade, Senhor, Que reservastes aos que vos temem. Com o auxiliais os que em Vós buscam asilo, Na presença dos homens. 21. Com a proteção do vosso rosto Vós os cobris Contra as maquinações dos potentados; N a v ossa tenda os escondeis Das línguas maldizentes. 22. Bendito o Senhor que para comigo manifestou A sua maravilhosa bondade na cidade forte! 23. N o meu temor eu dizia: “ Fui rejeitado da vossa presença” . Mas Vós ouvistes a voz dos meu rogos, Quando a Vós bradava. 24. Amai ao Senhor, todos os seus servos! Aos que são fiéis conserva o Senhor. Aos que se portam com soberba Dá-lhes com usura o preço merecido. 25. Sede fortes e de coração valoroso, Todos os que esperais no Senhor. 9 — caminho largo: das angústias me livrastes (cf.

Ps.

17 (18), 20).

10 — meu corpo, literalmente: “ meu ventre” , “ minhas entranhas” . 14 — por toda a parte o terror: encontra-se também em Jer. 6, 20, 3. 10; 46, 5; 49, 29. Muitos outros pontos desta descrição assemelham-se às descrições de Jeremias.

Ps. 31, 1-8 —

SALMO

31

71

(32)

FELICIDADE DE QUEM O BTEVE O PERDÃO DO PECADO

Ê o segundo Salmo penitencial. 0 Salmista, depois do proimio; I — no qual descreve a felicidade de quem obtém o perdão do pecado

(1—2); II — expõe o que ele experimentou: calando os pecados sofreu tor­ turas, confessando-os recebeu a remissão (3— 5) e adverte as almas piedosas que nas suas angústias recorram a Deus (6— 7); II I — o próprio Deus adverte os homens que não sefam indóceis, como os animais sem razão (8—9); IV — no epílogo, ensina o Salmista que a fonte da alegria ê a espe­ rança em Deus (10— 11). Este Salmo foi muito familiar a S. Agostinho.

1. D e David, Maákil.

I

Feliz aquele cuja falta foi perdoada, E cujo pecado foi coberto. 2. Feliz aquele a quem o Senhor não argúi de culpa E em cujo espírito não há dolo,

II

3. Enquanto me calei, mirráram os meus ossos, Entre constantes gemidos. 4. É que, dia e noite, sobre mim pesava a vossa mão, Definhava o meu vigor como nos ardores do verão. 5. Manifestei-vos o meu pecado, Não escondi a minha culpa; Disse: “ Confesso ao Senhor as minhas faltas” . E Vós perdoastes a culpa de meu pecado. 6. Por isso, a Vós recorrerá todo homem piedoso, N o tempo da necessidade. Quando transbordarem as muitas águas, Não o atingirão.

7. Vós sois o meu asilo, das angústias me preservareis, E me envolvereis na alegria da libertação. III

8, Eu te instruirei, indicar-te-ei o caminho a séguír; Serei teu conselheiro, fitando em ti os meus olhos.

72 -----Ps. 31. 9-11; 32, 1-6

9. Não sejas como o cavalo e o mulo, sem entendimento; Se com o freio e a brida lhes não domas a fogosidade, A ti não se chegam. IV

10. Muitos são os sofrimentos do ímpio; Mas quem espera no Senhor, sua graça o envolve. 11. Regozijai-vos no Senhor e alegrai-vos, ó justos; Exultai, os que sois retos de coração.

8b — serei teu conselheiro. . .. literalmente: “ darei conselho com o meu olho [fixo] em ti” .

[sem objeto]

9 — o jogosidade: o hebreu ’édí, cfr. o árabe ‘àdw, “ corrida” aplica antes de tudo ao cavalo. Outros dão outras interpretações. O texto parece al­ terado.

SALMO

32 (33)

CÂNTICO DE LOUVOR AO PODER E k PROVIDÊNCIA DE DEUS

No proêmio I — convida o Salmista a louvar a Deus poderoso, fusto e bom (1— 5)» II — que criou a terra com a sua palavra (6— 7); III — governa os povos (8— 12); IV — tudo prevê com a sua ciência (13— 15); V —■ com o seu poder dá a vitória e a salvação (16— 19); VI — A'o epílogo, adverte que tenhamos confiança em Deus (20— 22)' O Salmo não tem tíiulo.

I

1. Justos, exultai no Senhor! Aos retos de coração fica bem louvá-lo. 2. Celebrai o Senhor na citara, Entoai-lhe hinos na harpa de dez cordas. 3. Cantai-lhe um cântico novo, Uni, com arte, em seu louvor, instrumentos e vozes. 4. E reta a palavra do Senhor, E segundo a verdade são todas as suas obras. 5. Tem amor à justiça e ao direito; Da bondade do Senhor está cheia a terra.

II

fl. Pela palavra do Senhor foram feitos os céus, K pelo sopro de sua boca todo o «eu exército.

Ps. 32, 7-22 — 73

7. Ajunta, como em odre, as águas do mar, E em reservatório encerra as ondas. III

8. Tema ao Senhor toda a terra, E o reverenciem todos os habitantes do universo. 9. Ele disse e as coisas foram feitas, Ele ordenou e elas existiram. 10. O Senhor desfaz os projetos das nações, E frustra os desígnios dos povos. 11. O conselho do Senhor permanece eternamente, Os desígnios cio seu coração vão de uma geração a outra. .12. Feliz a nação que tem por Deus ao Senhor; O povo que Ele escolheu para a sua herança.

IV

13. Dos céus olha o Senhor: Vê todos os filhos dos homens. 14. D o lugar de sua morada observa Todos os moradores da terra. 15. Ele que plasmou o coração de todos, É atenta a todas as suas obras.

V

16.

Não vence o rei pela multidão de seus exércitos; Nem se salva o guerreiro pelo vigor de sua força.

17. Não é penhor de vitória o cavalo, E, com toda a sua robustez, não salva do perigo. 18.

Os olhos do Senhor descansam nos que o temem, Nos que esperam a sua bondade,

19. A fim de livrar-lhes a alma da morte, E nutri-los no tempo da fome. VI

20. Nossa alma espera no Senhor: É o nosso socorro e o nosso escudo. 21. Nele alegra-se o nosso coração; N o seu nome santo confiamos. 22. Venha sobre nós, Senhor, a vossa misericórdia, Como em Vós pomos a nossa esperança.

3 — cAnlico novo, talvez por algum novo grande benefício de Deus pnriioom inainuar os vv. 10, 16, 1-7 (cfr. Is. 42, 10; Ps. 95 (96), 1 etc.).

74 —

Ps. 33, 2-12

SALMO

33 (34)

T E M O R D E DEUS E SUA RE C O M PE N SA

O Salmo é alfabético (mas falta a letra vav), e menos rigoroso è o nexo das idéias. Ainda assim podem distinguir-se três partes: I — o Salmista convida ao louvor de Deus (2— 4); II — parece aludir (5, 7, 8, 11) a um grande perigo de que foi salvo e daí conclui que se deve ter confiança em Deus, bom (5— 11); III — na úUima parte, mostra como o prêmio do temor de Deus e da observância dos seus preceitos ê a felicidade e a vida longa (12— 23).

1.

aleph

I

D e David, quando simulou de alienado na presença de Abimelech, e, despedido por ele, partiu.

2. Ao Senhor quero bendizer em todo o tempo, Sempre em meus lábios o seu louvor.

beth

3.

ghitnel

4.

daleíh II

5. Procurei o Senhor e Ele atendeu-me; Livrou-me de todos os meus temores. 6. Levantai, a Ele o vosso olhar para vos consolardes, E não se cubrir de pejo o vosso rosto.



No Senhor glorie-se a minha alma; Ouçam-no os humildes e alegrem-se. Celebrai comigo a magnificência de Deus, Junto exaltemos o seu nome.

zain.

7. Este pobre clamou e o Senhor o ouviu, E o livrou de todas as suas angústias.

heth

8. Acampa o Anjo do Senhor Ao redor dos que o temem e os salva.

teih yoã

9. Gostai e vede como é bom o Senhor; Ditoso o homem que nele busca refúgio. 10. Temei o Senhor, vós, seus santos, Porque nada faltará aos que o temem.

kaph

11. Podem os potentados sofrer fome e miséria, Mas nada faltará aos que buscam o Senhor.

larnd

12. Vinde, filhos, ouvi-me; Eu vos ensinarei o temor de Deus.

Ps. 33, 1323; 34 —

75

mem

13. Quem é que ama a vida, E deseja longos dias para gozar da felicidade?

nwn

14. Guarda do mal a tua língua, E das palavras enganosas, os t eus lábios. 15. Aparta-te do mal e faze o bem, Procura a paz e empenha-te em alcançá-la. 16. Para os justos inclinam-se os olhos do Senhor, E os seus ouvidos, para as suas orações. 17. Desvia-se a face do Senhor dos que praticam o mal, Para da terra apagar-lhes a memória. 18. Bradaram os justos e os escutou o Senhor. E os livrou de todas as suas angústias, 19. Perto está o Senhor dos que têm o coração contrito, E salva os ânimos abatidos. 20. São muitas as aflições do justo; Mas de todas os salva o Senhor. 21. Guarda todos os seus ossos, E nem um só deles será quebrado.

samech

ain phed irnde qoph

resch schin ihau

22. Ao ímpio mata-lhe a maldade, E os que odeiam o justo serão castigados. 23 . R esgata o Senhor as almas dos seus servos, E n ão serão punidos os que nele se refugiam.

1 — A inscrição alude ao I Sam. 21, 11— 16, por engano do copis rei é chamado Abimelech em vez de Àchis. D e outra form a-náo tem razão o Salmo daquele fato. 7 — Este ‘pobre, isto é, eu, pobre que sou.

SALMO

34 (35)

A P E L O P A R A D EU S C O N T R A P E R S E G U ID O R E S IN JU STO S E IN G R A T O S

O Salmista I — invoca o auxilio de DeUs, para confundir os inimigos (1— 6); II — descreve, com imagens variadas, a perseguição que contra ele foi movida (7— 12): armam-lhe redes, acusam-no injustamente-, II I — queixa-se principalmente da ingratidão dos perseguidores (13— 16); IV — implora, còm mais insistência, o auxílio divino (17 --28 ): que Deus não se mostre demasiado paciente (17-—21); nao emudeça e mmo que durma (22—25); que por fim o console a ele e a todos oh bons (20—28).

76 —

Ps. 34, 1.-14

1.

I

D e David.

Combatei, Senhor, os que me combatem, Impugnai os que me impugnam. 2. Embraçai o escudo e o broquel E erguei-vos em meu socorro. 3. Brandi a lança e cortai o passo aos meus perseguidores; Dizei a minha alma: “ Eu. sou a tua salvação” . 4. Cubram-se de confusão e de rubor Os que tramam contra a minha vida. Recuem e envergonhem-se Os que meditam minha desgraça. 5. Sejam como a palha ao sopro do vento, Quando os impelir o Anjo do Senhor. 6. Seja tenebrosa e escorregadia a sua estrada, Quando os perseguir o Anjo do Senhor.

II

7. Foi sem causa que contra mim armaram as suas redes; Sem causa, para que eu perecesse, cavaram uma fossa. 8. Sobre eles caia de improviso a ruína, Prenda-os a rede que me armaram, Caiam na fossa que abriram. 9. E minha alma exultará no Senhor, E alegrar-se-á do seu auxílio. 10. Dirão todas as minhas forças: “ Senhor, quem é semelhante a Vós, Que livrais o desvalido das mãos do mais forte, E o necessitado e o pobre dos que o despojam ?” 11. Levantaram-se testemunhas violentas: Interrogaram-me de cousas de que não tenho consci­ ência. 12. Pagaram-me o bem com o mal: Desolação para a minha alma.

III

13. Sim, quando eles estavam enfermos, Eu vestia-me de çilício, Extenuava-me à força de jejum, Orava no interior de mim mesmo. 14. Andava triste, como sè se tratara de um amigo, de um irmão; VtwKiiva aflito, como no luto de üa mãe.

Ps. 34, 15-28 — 77

15. Mas agora na minha adversidade, triunfaram e congre­ garam-se, Congregaram-se contra mim, golpeando-me, sem eu saber por que; Dilaceraram-me sem trégua. 16. Tentaram-me; insultaram-me com escárnios, E contra mim rangeram os dentes. IV

17. Até quando, Senhor, contemplareis impassível? Livrai a minha alma dos seus rugidos, Dos leões, a minha vida. 18. Eu vos darei graças na grande assembléia, Glorificar-vos-ei na multidão do povo. 19. Não triunfem de mim meus inimigos gratuitos, Não pisquem os olhos os que me odeiam sem causa. 20. Não é de paz que falam; Contra a gente tranqüila do lugar Maquinam perfídias. 21 . Contra mim escancaram as bocas, E clamam: “ Eia! Eia! vimo-lo com os nossos olhos!” 22. Vós o vistes, Senhor! Não Vos fiqueis em silêncio, Senhor, não Vos aparteis de mim! 23. Acordai, Senhor, despertai para me fazer justiça, Meu Deus e meu Senhor, em defesa de minha causa! 24. Julgai-me segundo à vossa justiça, Senhor; Meu Deus, que não se regozigem à minha custa! 25. Não pensem em seus corações-: “ Ah! estamos satisfeitos!” Não digam: “ Nós o devoramos!” 26. Sejam confundidos todos juntos e ruborizem Os que se alegram de minha desgraça. De pejo e ignomínia cubram-se Os que contra mim se levantam. 27. Exultem e rejubilem os amigos de meu direito, E digam sempre: “ Glória ao Senhor Que deseja a salvação de seu servo” . 28. E a minha língua enaltecerá a vossa justiça E o vosso louvor para todo o sempre.

2 — escudo c o broquek como os romanos também os judeus tinham brequei (rnãgên), redondo o menor, e o escudo (sinnâ \h\ ), maior e mais forte.

78 -----Ps. 35, 2-8 13 — cilício: em hebreu saq, veste de luto e penitência (cf. Ps. 29 (30). 12 ■— orava no interior de mim mesmo: à letra: “ as minhas preces tavam ao meio seio” ; é duvidoso o sentido; talvez se trate de uma inclinação tão grande, na oração, que as palavras como que voltam ao peito. 17 — a minha vida: literalmente: “ a minha única” ; cf. Ps. 21 (22), 21. 21 — Ha! eia/: exclamação irrisória dos que se alegram do êxito obtido. 25 — estamos satisfeitos: niphes também significa “ apetite” , “ desejo” .

SALMO

35 (36)

DA M A L ÍC IA DO HOM EM E D A P R O V ID Ê N C IA DE DEUS

O Salmo opõe I — a grande maldade do homem que, esquecido da vingança divina, não recua diante de nenhum pecado (2— 5), e II — a providência de Deus, fonte de toda segurança, alegria, vida e luz (6— 10); III — a este Deus pede o Salmista graça e proteção contra os ímpios (1 1 -1 3 ).

1.

I

Ao Mestre de Canto.

D e David, servo do Senhor

2. Ao coração do ímpio fala a iniqüidade; Ante os seus olhos não há temor de Deus. 3. De si para si lisonjeia-se Que não será descoberta nem detestada a sua culpa. 4. Injustiça e fraude são as palavras de sua boca, Renunciou à sabedoria e à prática do bem. 5 . No leito medita a iniqüidade, Trilha caminho que não é bom, E não abomina o mal.

II

6. Aos céus, Senhor, eleva-se a vossa tílemência, Ãs nuvens, a v ossa fidelidade. 7. A vossa justiça á como as montanhas de Deus, Os vossos juízos, como o mar profundo: Socorreis, Senhor, os homens e os animais. 8. Como é preciosa, ó Deus, .a vossa bondade: Ã sombra das vossas asas abrigam-se os filhos dos homens.

Ps. 35, 9-13; 36, 1-3 —

79

9. Fartara-se da abundância da vossa casa, E na torrente de vossas delícias lhes apagareis a sede. 10. Em Vós está a fonte da vida, E na vossa luz veremos a luz. III

11. Continuai a vossa benevolência aos que v os conhecem, E a vossa justiça aos retos de coração. 12. Não me calque o pé do soberbo, Nem me obrigue a fugir a mão do ímpio. 13. Ei-los, tombaram os obreiros de iniqüidade, Foram abatidos e já não podem erguer-se.

2 — Assim como o Senhor fala aos profetas, assim se introduz aqui a a iniqüidade, o pecado, como que personificado (cfr. Rom., 7, 23) a dar oráculo ao coração do ímpio. 3 — Verso bastante obscuro. Parece que se trata não de Deus, mas do pecador. Ê este que “ se lisonjeia aos próprios olhos no que se refere ao desco­ brimento e detestação de sua culpa” , isto é, espera (falsamente) que o pecado não seja [por Deus] descoberto e punido.

SALMO

36

(37)

A SORTE DOS BONS E DOS MAUS

Este Salmo responde ao “ problema da retribuição” -, o Salmista vê que se perturbani os bons com a prosperidade e a medrança dos níaus (v. 1). Resolve-o dizendo que dura pouco esta prosperidade e bem cedo lhe su­ cederá a pena merecida pelos seus pecados (v. 2). A solução é repetida por todo o Salmo ou mostrando que são punidos os maus (9, 10, 12— 15, 16, 20, 21 sg. 28, 35 sg. 38), ou descrevendo os justos como felizes e prós­ peros (5, 7, 9— 11, 16 seg. 18 seg. 21 sg. 23— 28, 23— 28, 29— 34, 37, 39 ■sg. Sobre esta solução cf. Institutiones biblieae, vol. II, lib. I I I , 2.» ed. (1935),, w. 1-43.

1.

aleph

D e David.

Não te irrites por causa do3 maus, Nem tenhas inveja aos que cometem iniqüidade; 2. Bem cedo hão-de secar como o feno, E como a erva verde hão-de murchar.

beth

3. Espera no Senhor e pratica o bem, Para habitares na terra e gozares de .Segurança.

80 — ■rs. 36, 4-20

g h im d

4. Põe tuas delícias no Senhor, Ele atenderá aos desejos de teu coração. 5. Entrega ao Senhor o teu destino, Confia nclè; e ele agirá. 6. Ele fará que se eleve a tua justiça, como a luz, E o direito de tua causa como o sol do meio dia.

daleth

7. Vive calmo no Senhor e nele espora. Não te indignes com o que prospera nos seus caminhos, Com o que urde suas intrigas.



8. Reprime a ira e amaina- o furor. Não te exasperes para não procederes mal. 9. Serão exterminados os maus; Possuirão a terra os que esperam no Senhor,

vau

eain

cheth

teth

yod

caph

10. Ainda um pouco e não será o ímpio; Procura o seu lugar; não o encontras. 11. Mas os mansos possuirão a terra, E gozarão de uma paz perfeita. 12. Contra o justo conspira o ímpio, Contra ele range os dentes. 13. E dele ri o Senhor. Porque vê chegar o seu dia. 14. Desembainham os ímpios a espada e entezam o arco Para abater o desvalido e o pobre, Para trucidar os que trilham o caminho reto. 15. Mas a sua espada lhes há-de traspassar o próprio coração, E se partirão os seus arcos. 1(5. Mais vale o pouco do justo. Que as muitas riquezas dos ímpios; 17. Porque dos ímpios serão quebrados os braços, Mas aos justos sustentará o Senhor. 18. Vela o Senhor pela vida dos homens de bem, E durará sempre a sua herança. 19. Nos dias da desgraça não serão confundidos, No tempo da fome serãò saciados. 20. Perecerão ós ímpios, Murcharão os inimigos do Senhor, como a gloria dos prados. Esvuecerão como a fumaça.

Ps. 36, 21-38 lamed

---- 81

21. Pede emprestado o ímpio e não restitui, O justo é compassivo e dá do seu. 22. Aqueles a quem (Deus) abençoa possuirão a terra, A quem amaldiçoa, serão destruídos.

mem

nun

23. O Senhor firma os passos do homem, E se compraz nos seus caminhos. 24. Se cair, não fica prostrado, Porque o Senhor o sustenta pelas mãos. 25. Jovem fui e já sou velho, E não vi o justo desamparado, Nem os seus filhos a mendigar o pão. 26. É sempre compassivo e empresta; E abençoada é sua posteridade.

samech

27. Aparta-te do mal e faze o bem, E permanecerás para sempre. 28. Ama o Senhor a justiça, E não desampara os seus fiéis. 29. Serão destruídos os perversos, E extirpada, a descendência dos ímpios.

phé

30. A boca do justo fala sabedoria, E a sua língua proclama justiça. 31. No seu coração está a lei de seu Deus, E não titubeiam os seus passos.

tsadé

32. Espreita o ímpio ao justo, E procura como há-de dar-lhe a morte. 33. Não o deixará nas suas mãos o Senhor, Nem o condenará quando for julgado.

qòph

resch

schin

34. Confia no Senhor e segue o seu caminho; Ele te elevará à posse da terra; Assistirás alegre à exterminação dos

ímpios.

35. Vi o ímpio arrogante, A expandir-se como um cedro frondoso. 36. Passei e já não era; Procurei-o e já se não encontrou. 37. Observa o homem de bem e atenta no justo: Porque terá posteridade o homem de paz. 38. Mas os pecadores perecerão todos; E desaparecerá a descendência dos ímpios.

— Ps. 36, 39-40; 37, 2-7

82

thaw

39. D o Senhor vem a salvação dos justos; Ele é o seu refúgio nos dias da tribulação. 40. Ajuda-os o Senhor e os livra; Livra-os dos ímpios e os salva, Porque nele puseram sua confiança.

3 — habitares na terra, (cfr. v. 9, 11, 22, 29, 34; M t. 5, 5). SALMO

a saber,

n a te rra d a prom issão com os seus b

37 (38)

ORAÇÃO DE UM PECADOR AFLITO

I —

O Salmista, confessando que sofre pelos seus pecados, implora a misericórdia de Deus (2— 5);

II —

descreve a própria miséria (6— 13); doença grave e repugnante (6— 9), abandono dos amigos e perseguição dos inimigos (10—

III — IV —

13);

silencioso, só em Deus confia

(14— 17);

confessando de novo a culpa, implora com insistência o auxílio de Deus (18— 23). — É o terceiro dos Salmos penitenciais.

1. Salm o de D av id . E m m em ór ia. I

2. Não me repreendais, Senhor, na vossa cólera, Nem me castigueis no vosso furor. 3. Atingiram-me as vossas flechas, E sobre mim carregou a vossa mão. 4. Não há parte sã na minha carne, Por causa da vossa indignação; Nada de intacto nos meus ossos, Por causa de meu pecado. 5. Acima de minha cabeça elevam-se as minhas, iniqüidades, Como fardo pesado me oprimem.

II

6. Infectas e purulentas são as minhas chagas; Efeito de minha loucura. 7. Abatido estou e em extremo recurvado, Todo o dia acabrunhado de tristeza.

Ps. 37, 8-23 —

83

8. Dor ardente devora-me os rins, E não há parte alguma sã na minha carne. 9. Definho, sinto-me sobremaneira alquebrado; Arranca-me rugidos o frêmito de meu coração. 10. Na vossa presença, Senhor, estão todos os meus desejos, Não vos são ocultos os meus suspiros. 11. Palpita o meu coração, desamparam-me as forças, E abandona-me a própria luz de i.ieus olhos. 12. Afastam-se de minha chaga meus amigos e companheiros, E meus parentes conservam-se à distância. 13. Armam-me ciladas os que tramam contra a minha vida, Ameaçam desgraças os que procuram minha ruína, E todos os dias urdem perfídias. III

14. E eu, como um surdo, nada ouço, Sou como um mudo que não abre a boca, 15. Estou como um homem que não ouve, E, nos lábios, não tem o que replicar. 16. Porque em Vós, Senhor, deposito minha confiança. Vós me atendereis, Senhor e Deus meu. 17. Eu digo: “ não triunfem de mim; Não se elevem contra mim, arrogantes, quando res­ valam os meus pés” .

IV

18. Estou a pique de cair, E diante de mim está sempre a minha dor. 19. Confesso a minha iniqüidade; E estou inquieto pelo meu pecado. 20. São poderosos os que, sem causa, me atacam, E muitos são os que, sem motivo, me odeiam, 21. Pagam-me o mal pelo benefício, E hostilizam-me porque quero o bem. 22. Não me desampareis, Senhor, Não vos afasteis de mim, Deus meu! 23. Apressai-vos em meu socorro, Senhor, salvação minha!

1 — Em memória ou, como confissão. Segundo o u t ros “p a ra o (h.), sacrifício (de fa rinha, incenso e óleo; cf. Lev. 2, 2. 9. 16). 6 —• loucura, no A ntigo T estam ento, o m esm o que pecado. 6— 13 6-13 — E sta descrição d a doença e d a solidão evoca as descrições d as doriw do .lob.

’azk

84

-----Ps. 38, 2-» SALMO

38

(39)

LAMENTAÇÃO E SÚPLICAS DE UM DOENTE GRAVE

O Salmista gravemente enfermo,

I — quis sofrer calado as suas dores para não dar ao ímpio emej•

de blasfemar, mas não pode sofrear as emoções d’alma, (2— 4)“ I I -— queixa-se da brevidade da vida (5— 7); I I I —• mas espera de Deus o perdão e a cura do mal (8— 9); IV — por isso ora com insistência para que Deus lhe perdoe e conserve a vida (10— 14).

1. Ao M estre de C anto, Id ithu n. Salm o de D avid. I

2. Sim, resolvi guardar os meus caminhos Para não pecar com a língua. Porei um freio na minha boca, Enquanto adiante de mim está o ímpio. 3. Emudeci no silêncio, privado de todo bem. Mas recrudesceu a minha dor. 4. Incandesceu-me o coração no peito; Com a reflexão, acendeu-se o fogo: E falou minha língua.

II

5. Fazei-me conhecer, Senhor, o meu fim, E qual o número de meus dias, Para que eu saiba como sou efêmero. 6. De poucos palmos, foram os dias que me destes; Diante de Vós, nada é minha vida: Sim, puro sopro, eis todo o homem que vive na terra! 7. Passa o homem como uma sombra; Vaidade, toda a sua agitação; Acümula tesouros e não sabe para quem os ajunta.

III

8. E que posso agora esperar, Senhor? Em Vós está a minha confiança. 9. Li/rai-me de todas as minhas iniqüidades, E não me façais opróbrio do insensato.

P«. S8, 10-14; 39 IT

— 85

10. Eu me fiz mudo e não abri a minha boca, Porque íostes Vós que fizestes. 11. Afastai de mim os vossos flagelos: Sob o vigor de vossa mão, sucumbo. 12. Punindo a culpa, corrigis o homem; Destruis, como a tinha, o que lhe é mais precioso. Sim, puro sopro, todo homem. 13. Ouvi minha oração, Senhor, Escutai os meus brados, Âs minhas lágrimas, não sejctis insensível. Diante de Vós sou um adventício, Um peregrino, como foram todos os meus pais. 14. Desviai de mim o vosso olhar, deixai-me que respire, Antes que eu parta e cesse de existir!

2 — guardarei os meus caminhos, isto é, obse rvarei com fidelidade 03 prece itos divinos. 3 — privado de todo bem, no hebreu “ [ Longe] do bem ” , isto é , p riv ad o d a felicidade. O u t ros in te rp retam diversam ente. 4 — N ão pode co n ter as p alavras. 6 — de poucos palmos, isto 6, m u ito c u rta m e fizeste a vida. sopro E clesiástico q u e fa la do m esm o m odo (v. g. 1, 2. 3. 13. 14; 2, 22; 6, 2). 13 — T rata-se d e p eq u e n a dem ora que D eu s lhe conceda depois d a en­ ferm idade. 14 — e cesse de existir, a saber, n a te rra . D a v id a fu tu ra n ão fala, mas não a nega, com o não a negou J o b (cf. 3, 13— 19) ain d a q ue se queixasse do m esm o m odo (v. g. 10, 20— 22). SALMO

39

(40)

AÇÃO DE GRAÇAS E PEDIDO DE NOVO AUXÍLIO

A . O Sahnista I — no proêmio (2 — 4) celebra o auxílio recebido de Deus; II — medita sobre os muitos e grandes benefícios que Deus lhe fez

(5. 6);

III — ajirma que o verdadeiro agradecimento consiste na obediência aos mandamentos de Deus (7— 9) e no zelo em proclamar os seus benefícios (10. 11). li. Passa então a implorar auxilio em uma nova aflição (1 2 — 18): 1

tItwçravi' o » md/is
(1 2.

13);

86 —

Ps. 59, 2-10

II —

-pede socorro para que sefam confundidos os ímpios e se alegrem os bons

(14—18). — Esta última parte ê o mesma que a do Salmo 69 (70). O Salmo 89 (40) é messiânico (cf. w . 7—9), e, diretamente, segundo muitos autoret, principalmente antigos.

1. Ao Mestre de Canto. Salmo de David. I

2. No Senhor coloquei toda a minha esperança; Inclinòu-se para mim, E ouviu os meus gritos. 3. Retirou-me da fossa fatal, E do lodo do atoleiro, Assentou os meus pés no rochedo, E firmou os meus passos. 4. E pôs nos meus lábios um cântico novo, Um hino a nosso Deus; Veem muitos e são tomados de respeito, E confiam no Senhor.

II

5. Feliz o homem que pôs no Senhor a sua confiança, E não segue os adoradores dos ídolos, Nem os que se inclinam à mentira. 6. Multiplicastes, Senhor e Deus meu, os vossos prodígios, E nos desígnios em nosso favor ninguém Vos iguala. Se eu os quisera narrar e proclamar, Número não haveria que bastasse.

III

7. Não quisestes as vítimas e as oferendas; Mas me abristes os ouvidos. Não pedistes holocausto nem hóstia pelo pecado. 8. Então eu disse “ Aqui venho; No volume do livro, de mim está escrito: 9. Fazer a vossa vontade, meu Deus, é meu prazer, No fundo de meu coração está a vossa lei” . 10. Na grande assembléia proclamei a justiça; Não cerrei os meus lábios; Bom o sabeis, Senhor.

Ps. 39, 11-18 —

87

11. Não conservei escondida no meu coração a vossa justiça; Proclamei a vossa fidelidade e vosso auxílio salvador. Não ocultei a vossa bondade e a vossa verdade à grande assembléia. B I

12. Não afasteis de mim, Senhor, as vossas misericórdias; Protejam-me sempre a vossa clemência e a vossa verdade. 13. Cercaram-me desgraças sem conto, Senhorearam-me as minhas iniqüidades E me tolheram a vista; São mais numerosas que os cabelos de minha cabeça; Desfaleceu-me o ânimo.

II

14. Comprazei-Vos, Senhor, em livrar-me; Apressai-Vos, Senhor, em socorrer-me. 15. Cubram-se todos de confusão e de pejo Os que procuram tirar-me a vida. Recuem e corem de pudor Os que se comprazem na minha desgraça. 16. Espantem-se com a sua vergonha Os que me dizem: “ Oh! Oh!” 17. Exultem e rejubilem em Vós Todos os que Vos procuram. E digam sempre: “ Glória ao Senhor!” Os que desejam vosso auxílio. 18. Eu, porém, sou desvalido e pobre, Mas por mim vela o Senhor. Sois meu protector e libertador. Não tardeis, meu Deus.

5 — adoradores de ídolos: a palav ra hebraica rehãbim é de sentido incorto; outros v ertem “arrogantes”, “soberbos”. 6 — desígnios: a providência e o cuidado benigno e piedoso do nrts. 7 _ 9 — g Paulo (Hebr. 10, 5-9) põe estas palavras nos lábios do Cristo ao entrar no mundo, citando-as como então se lia na versão dos LXX. 8 — no volume do livro, isto é, nos livros sagrados do Antigo Tuotninonto,

8 8 ----- Ps. 4», 2-18

SALMO

40 (41)

CONFIANÇA E SÚPLICA DE UM DOENTE

I — O Salmista, enfermo, lembra-se que o misericordioso obtêm misericórdia e daí tira confiança (2-4); II — nenhuma esperança nos homens: os inimigos esperam com avi­ dez e desejam a sua morte e alé um amigo phrjidamente o per­ segue (5—10); III — por isso, só a Deus pede a saúde e a vitória dos inimigos (11-13). — O v. 14 é uma doxologia que -põe fecho ao primeiro livro dos Salmos,

1

I

. Ao Mestre de Canto. Salmo de David.

2. Feliz o que cuida do desvalido e do pobre; N o dia do infortúnio salvá-lo-á o Senhor. 3. O Senhor o guardará e lhe conservará a vida, E o fará feliz na terra. E o não entregará à discrição de seus inimigos. 4. No leito do sofrimento lhe assistirá o Senhor. E na sua doença tirar-lhe-á todo o mal.

II

5. Eu digo: Compadecei-vos de mim, Senhor. Curai-me, porque contra Vós pequei. 6. Amaldiçoam-me os meus inimigos: “ quando há-de morrer? quando há-de estinguir-se o seu nom e?” 7. O que me vem visitar diz coisas vãs; Seu coração faz provisão de maledicências, E, ao sair, as profere. 8. Contra mim murmuram juntos todos os que me odeiam, Contra mim imaginam desgraças: 9. “ Uma peste maligna o assaltou” E “ o que se deitou não há-de levantar” . 10. Até um amigo em quem confiava, Que partilhava o meu pão, Levantou contra mim o calcanhar.

P«. 40, 11-14 —

III

89

11. Vós, porém, Senhor, apiedai-vos de mim, levantai-me. E lhes darei o que merecem. 12. Nisto conhecerei que me sois favorável, Se não se gozarem de mim os meus inimigos. 13. Sim, incólume haveis de conservar-me, E me poreis sempre na vossa presença. ***

14. Bendito o Senhor, Deus de Israel, Dos séculos e para os séculos! Assim seja! Assim seja!

tífice.

3 — Este verso em forma optativa é usado na oração pelo Sumo Pon­

4 —- literalmente no hebreu: “na sua doença revolverás todo o seu lei­ to”. O texto é menos claro, talvez alterado; misãkab provavelmente quer dizer “acamar”, isto é, a própr ia “enfermidade” que Deus “converte”, a saber, em saúde. 7-9 — Descreve-se com viveza a compaixão simulada dos adversários. 10 — Estas palavras, aplicou-as o Senhor : Jo. 13. 18 (cf. 17, 12; 1, 16) a Judas Iscariotes. No sentido literal referem-na muitos a Aquitofel, pér­ fido conselheiro de David (2 Sam. 15, 12). Ele seria, pois, o tipo de Judas, como David é o tipo de Cristo.

LIVRO

( S almos 41-71 SALMOS

II

[42-72])

41 e 42 (42 e 43)

NOSTALGIA DA CASA DE DEUS

Que estes dois Salmos se devam considerar antes como duas partes de um mesmo Salmo demonstram-no tanto o argumento quanto a forma (cf. ■principalmente a repetição 41, 6. 12; 42, 5) e ainda a ausência de inscrição do Salmo 42. I — O Salmista, levita, desterrado pelas maquinações de malvados (cf. 42. 1) e desejoso de voltar ao templo, lembra-se com sau­ dade das alegres solenidades e desperta a esperança (2-6). II — oprimido pela dor, motejado pelos inimigos por sua confiança em Deus, ora noite e dia (7-12); III — pede insistentemente a Deus que o defenda e o reconduza ao templo para que aí de novo o possa louvar (42, 1-5). Com muita propriedade o Salmo 42 é rezado pelo sacerdote que, do triste exílio deste mundo, passa a oferecer o divino sacrifício.

1. Ao Mestre de Canto.

Maskil.

SALMO I

D os filhos de Coré.

41

(42)

2. Como suspira a corça pelos veios cTágua, Assim por Vós, oh Deus, suspira minha alma. 3. Tem sede a minha alma de Deus, do Deus vivo; Quando irei ver a face de Deus ? 4. Dia e noite foram as lágrimas o meu alimento, Enquanto me dizem todos os dias: “ Teu Deus, onde está?” 5. Lembro-me — e dentro de mim se me expande a alma — Como ia no meio das turbas,

9 2 ----- Ts. 41, 6-12; 42, 1-2

E as precedia levando-as à Casa de Deus, Entre gritos de alegria e de louvor De uma multidão em festa. 6. Por que te abates, alma minha, E tumultuas dentro de mim ? Espera em Deus: porque hei-de louvá-lo ainda, A Ele, salvação de minha face e meu Deus. II

7. Dentro de mim esmorece minha alma: Quando me lembro de Vós, Das terras do Jordão e do Hermon, D o monte Misar. 8. Um abismo por outro abismo chama, N o fragor das vossas cataratas; Sobre mim passaram Todas as ondas e marulhos. 9. Durante o dia conceda-me Deus a sua graça, A noite, entoarei um canto, Uma oração ao Deus de minha vida. 10. Digo a Deus: Meu rochedo, por que me esqueceis? Por que ando eu triste, sob a opressão do inimigo ? 11. Quebram-se-me os ossos, Quando me insultam os contrários, Quando me repetem cada dia: “ Teu Deus, onde está?” 12. Por que te abates, alma minha, E tumultuas dentro de mim ? Espera em Deus: porque hei-de louvá-lo ainda A Ele, salvação de minha face e meu Deus. SALMO

III

42

(43)

1. Fazei-me justiça, oh Deus, E defendei minha causa Contra um povo sem piedade; Livrai-me do homem pérfido e perverso. 2. Sois meu Deus, e meu baluarte: Por que me repelis ? Por que ando eu triste sob a opressão do inimigo?

Ps. 42, 3-5; 43, 2 —

93

3. Enviai a vossa luz e a vossa verdade: Elas hão-de guiar-me. Hão-de conduzir-me à vossa montanha santa, Aos vossos tabernáculos. 4. E me aproximarei do altar de Deus, De Deus que é minha alegria e meu regozijo. E na citara cantarei os vossos louvores, Deus, Deus meu! 5. Por que te abates, alma minha E tumultuas dentro de mim ? Espera em D eus? porque hei-de louva-lo ainda, A ele, salvação de minha face e meu Deus.

5 — Dentro de mim se me expande a alma: triste medito comigo (cf. 61 (62) 9; 1 Sam. 1, 15). 7 — O Salmista encontra-se nas fontes do Jordão, aos pés do monte Hermon. O nome de monte Misãr parece que ainda se conserva na moderna Zâ‘ ôra (h), 3 kms ao Sul de Bânyâs. Cf. BALMAN, em Pal-Iahrbuch, 1909, 101 sgs. 8 — As cataratas do Jordão que nasce naquelas regiões, evocam na me­ mória do Salmista as ondas dos infortúnios que o oprimem. 11 — Quebram-se-me os ossos: ao pé da letra: “na fratura de meus o zombam de mim”. SALMO

43 (44)

O POVO OUTRORA PROTEGIDO POR DEUS E AGORA

REPUDIADO INVOCA

O SEU AUXÍLIO

O povo de Israel I — lembra os tempos felizes em que Deus o guiou e livrou dos ini­ migos

II III

(2-9);

— compara com as tristezas do tempo atual em que, repelido por Deus, vencido pelos inimigos, vendido como escravo, é para todos objeto de escárnio

(10-17);

— queixa-se de que tudo isto houvesse acontecido apesar de se ha­ ver conservado fiel a Deus, antes, por causa de Deus

IV —

implora, por isso, com insistência o auxílio divino

1. Ao Mestre de canto. Dos filhos de Coré. Maskíl I

2. Com os nossos ouvidos, Senhor, ouvimos; Contaram os nossos pais

(18—23); (24—27).

94 — Ps. 45, 5-18

As obras que fizestes em seus dias, Dias de antanho. 3. Com as vossas mãos extirpastes nações para implantá-los; Abatestes as gentes para acrescê-los. 4. Não foi com a sua espada que conquistaram essa terra, Nem com o seu braço que venceram; Foi a vossa dextra, foi o vosso braço, Foi o esplendor da vossa face, porque os amastes. 5. Sois o meu rei e o meu Deus, O autor das vitórias de Jacob. 6. Por Vós repelimos os nossos inimigos, E, em vosso nome, esmagamos nossos opressores. 7. Não foi no meu arco que pus confiança, Nem me fez vencedor a minha espada. 8. Vós nos salvastes dos nossos contrários E confundistes os que nos odiavam. 9. Em Deus todos os dias nos gloriávamos, E vosso nome celebrávamos sempre. II

10. Agora, porém, nos repelis e confundis E já não sais Senhor, à frente de nossos exércitos. 11. Fazei-nos voltar as costas aos nossos inimigos; E carregam-se de despojos os que nos odeiam. 12. Vós nos entregastes como ovelhas para o talho, E nos dispersastes entre as nações. 13. Vendestes o vosso povo por um nada, E não enriquecestes com a sua venda. 14. Vós nos fizestes opróbrio de nossos vizinhos, Escárnio e ludibrio para os que estão ao redor de nós. 15. Vós nos tornastes objeto de irrisão das gentes, E, diante de nós, os povos meneiam a cabeça. 16. Aos meus olhos presente está sempre a minha ignomínia, E a confusão vela-me a face, 17. Ante os gritos de insulto e zombaria, Ã vista do inimigo e do que respira vingança.

III

18. E sobreveio-nos tudo sem que Vos tenhamos esquecido, Nem sido infiéis à vossa aliança.

Ps. 43, 19-27; 4 4 — 9 5 19. Não tornou atrás o nosso coração, Nem se desviaram os nossos passos dos vossos ca­ minhos, 20. Quando nos esmagastes no lugar da aflição, E nos envolvestes de trevas. 21. Se houvéramos olvidado o nome do nosso Deus, E estendido as mãos a um deus estranho, 22. Não o teria Deus percebido, Ele que penetra os segredos dos corações? 23. Mas é por vossa causa que todos os dias nos estrangulam E nos tratam como ovelhas de talho. IV

24. Acordai! Por que dormis, Senhor? Despertai! Não nos repilais para sempre* 25. Por que escondeis a vossa face ? E esqueceis a nossa miséria e a nossa opressão ? 26. Prostrada até o pó está a nossa alma, E colado ao solo o nosso ventre. 27. Levantai-Vos para socorrer-nos, E resgatai-nos pela vossa bondade!

1 8 -2 3 — não indicam necessariamente o tempo podem entender-se ou do tempo de Ezequias (cf. 4 Reg. 18, 13. ou das calamidades que se seguiram à morte do rei Josias (4 ainda das perseguições movidas contra os judeus no tempo

SALMO

dos macabeus mas 22-27; 19, 4.14-19) Reg. 23, 25-30) ou dos persas.

44 (45)

EPITALÂMIO REAL

Após o próbgo I — em que se dedica ao rei o poema solene (2), o Salmista II — fala ao rei (3— 10): celebra a sua beleza (3. 4), fortaleza (5. 6), justiça (7. 8), riqueza e magnificência (9. 10); em seguida III — fala à rainha (11— 16): adverte-a que se dê toda ao reit do qual lhe há-de advir honra (11— 13): descreve sua entrada magní­ ficaesplendidam ente vestida e cercada de donzelas (14— 16), No epílogo IV — prediz ao rei prole numerosa e glória imortal (17—18). Da epístola aos Hebr. 1, 8. 9 e de toda a tradição cristãf assim como da irar dição hebraica (Targum) sabe-se que o rei é o Messias; a rainha portanto a sua esposa, a Igreja (cf. Eph. 5, 25—27). Na descrição do rei e da

96



Ps. 44, 2-14

rainha talvez tenha o Salmista diante dos olhos as núpcias de algum rei com a filha de um rei estrangeiro celebradas em seu tempo com es­ plendor.

1. Ao Mestre do Cântico. Seguindo a melodia. “ Os lír io s ...” . D os filhos de Coré. Maskil. Canto de amor.

I

II

2. Rompe do meu coração um discurso solene: E a um rei que digo o meu poema; A minha língua é o estilo de um escriba veloz. 3. És mais formoso que os filhos dos homens, Paira nos teus lábios a graça; Sim! Deus abençoou-te para sempre. 4. Cinge, herói, a espada ao flanco, Reveste tua majestade e teu esplendor. 5. Sobe em teu carro, avante, em prol da verdade e da justiça; E te ensine façanhas a tua destra.

.

6 Penetrantes são as tuas flechas; a ti se submetem os povos. Esmorecerão os inimigos do rei. 7. Subsiste para os séculos, ó Deus, o teu trono; Cetro de eqüidade, o cetro real.

8 . Tens amor à justiça e detestas a iniqüidade Por isto te ungiu o Senhor, teu Deus, Com o óleo de alegria, de preferência a teus compa­ nheiros. 9. Aroma de mirra, de aloés e de cássia exalam tuas v estiduras; E dos palácios de marfim te alegra o som das liras.

10. Saem-te ao encontro as filhas do rei, Â tua direita assiste a rainha, ornada de ouro de Ofir. III

11. Ouve, filha; vê, escuta com atenção: Esquece o teu povo e a casa de teu pai. 12. De tua beleza se encantará o rei; Ele é teu Senhor, inclina-te diante dele. 13. Com os seus presentes vem os de Tiro; Procuram o teu favor os próceres do povo. 14. Toda formosura, entra a filha do rei, Recamadas de ouro são as suas vestes,

Ps. 44, 15-18; 45

— 97

15. Em roupagens multicores apresenta-se ao rei; Eim seguida te são levadas as donzelas, suas compa­ nheiras. 16. Levadas entre alegrias e regozijos, Ingressam no palácio real. IV

17. O lugar de teus pais tomarão teus filhos, Tu os estabelecerás príncipes sobre toda a terra. 18. De geração em geração lembrarei teu nome. E pelos séculos afora celebrar-te-ão os povos.

7 — Teu trono 6 deus: o rei é chamado deus, não no sentido em que os orientais chamavam deuses aos reis. No A. T. chamam-se Elohim também os .prín­ cipes e juizes como lugar-tenentes de Deus (cf. Ps. 81 (82) 1 sg.). Escrevendo, porém, assim sob o influxo da inspiração, deve crer-se que o Salmista quis indi­ car a divindade do Messias. 8 — de preferência a teus companheiros, isto é, aos outros reis. 9 — literalmente: “ a mirra, o aloés e a cássia (são) todos as tuas vestes.” 10 — saem-te ao encontro: passa aqui o autor a descrever o ingresso da rainha com as donzelas que a acompanham. O texto massorético: “ entre as tuas coisas preciosas estão as filhas dos reis” .

Ojir: região situada na orla marítima da Arábia ou na Ãfrica Ori­ ental, donde as naus de Salomão e Hiran traziam ouro (cf. 3 Reg. 9, 28; 10, 11, 22; Job 22, 24 etc.). 13 — os de Tiro: bat-sôr, “ filha de Tiro” como bat-Syyân — filha (po de Jerusalém. Os magnatas tírios representam aqui os povos estrangeiros. procuram o teu favor: à letra: “ tomam benévola, alegre a tua face” . (Cf. Job 11, 19). 16 — literalmente “ toda formosa a filha do rei (avança) para o interior (do palácio)” . 17 — O Salmista dirigc-se ao rei, não mais à rainha. 18 — A versão alexandrina do códice alexandrino e vaticano lô yazktrâ: “ lembrarão” , “ anunciarão” , lição que mal se justifica. Permanecerá a glória do rei nos filhos e neste canto do Salmista.

SALMO

45 (46)

DEUS NOSSO REFÚGIO E NOSSA FORÇA

I — Deus está conosco; nada tememos (2— 4); II — Deus está na cidade santa; nenhum assalto a poderá expugnar (5 - 8 ) ; III — Deus excelso põe termo ás guerras (9— 12. O Salino parece ter sido composto quando Jerusalém foi libertwla do assé­ dio de Scnnacherib (4 Reg. 18— 19).

9 8 ----- Ps. 45, 2-12; 46

1. Ao Mestre de cântico. D os filhos de Coré. d’ ‘ ‘As virgens.. Cântico.

I

Segundo a melodia

2. Deus é nosso refúgio e nossa força; Nas tribulações nosso socorro certo. 3. Por isso, r)ão tememos enquanto estremece a terra, E no seio do oceano se abismam os móntes. 4. Tumultuem e marulhem as vagas, Abalem-se os montes na sua fúria: Conosco está o Senhor dos exércitos; Nosso baluarte ê o Dcus de Jacob.

II

5. Os braços de um rio alegram a cidade de Deus, O santuário onde habita o Altíssimo. 6. Deus está em seu centro; ela é inabalável; Ao raiar da aurora vem Deus em seu socorro. 7. Agitam-se os povos; vacilam os reinos; Fez ouvir a sua voz; tremeu a terra. 8. Conosco está o Senhor dos exércitos Nosso baluarte é o Deus de Jacob.

III

9. Vinde contemplar as obras do Senhor, Os prodígios que operou na terra. 10. Pôs termo aos combates até a extremidade do mundo. Partiu os arcos, quebrou as lanças, consumiu no fogo os escudos. 1 1 . Cessai; reconhecei que Eu sou Deus, Senhor das nações, Senhor do universo. 1 2 . Connosco está o Senhor dos exércitos;

Nosso baluarte é o Deus de Jacob. 4 — Estribilho como os vv. 8 o 12. 5 — Braços de wn rio: cf. Gen. 2, 10— 14, do rio do paraíso. 6 *— Ao raiar da aurora: talvez aluda o Salmista à carnificina dos assírios feita durante a noite (cf. 4 Reg. 19. 35 = .Is. 37, 36).

SALMO

46

(47)

DEUS, REI VITORIOSO, SOBE AO TRONO

I — Deus, o grande rei, submeteu ao seu poder todas as nações

( 2-5 );

Ps. 46, 2-11; 4 7

---- 99

II — alcançada a vitória sobe ao seu trono, no céu (6-7); I II — e reina agora sobre todas as nações, todos os príncipes e poten­ tados da terra (8— 10). O Salmista trata da última vitória e da instituição do reino universal messiânico, Israel é os gentios constituirão um s6 reino do Messias.

1. Ao Mestre de cântico.

I

Salmo dos filhos de Coré.

2. Povos todos, batei palmas, Aclamai a Deus com vozes de alegria; 3. Excelso e tremendo é o Senhor, O grande Rei de toda a terra. 4. Ao nosso jugo submeteu os povos, Sob os nossos pés colocou as nações. 5. Para nós escolheu a nossa herança, A glória de Jacob, a quem Ele amou.

II

6. Subiu Deus entre as aclamações, O Senhor, ao som da trombeta. 7. Cantai salmos ao nosso Deus, cantai; Cantai salmos ao nosso Rei, cantai.

III

8. Deus é rei de toda a terra, Entoai-lhe um hino. 9. Deus reina sobre todas as nações, Está Deus sentado no seu trono santo. 10. Reuniram-se os príncipes dos povos Ao povo do Deus de Abraão. 11. A Deus pertencem os potentados da terra: Ele é soberanamente grande ! 10 — Os gentios e o povo de Abraão já constituem um só povo ( c f r Jo.

10, 16).

SALMO A GLÓRIA DE DEUS QUE

SE

47

MANIFESTA

(48) NA

LIBERTAÇÃO

DA

CIDADE

SANTA

Libertada Jesusalém, por tnanifesla intervenção divina, do assalto dos reis confederados (cf. vu. 5-7), o Salmista

1 0 0 -----Ps. 47, 2-12

I — celebra a Deus que protegeu com o seu poder a sua cidade santa (2— 4); II — descreve com vivas cores o assalto, a perturbação e a fuga dos reis inimigos (5—8); III — introduz os peregrinos que vão ao templo, louvando a Deus, pela libertação alcançada (9— 12); IV — comida-os a percorrer a cidade conservada incólume e narrar aos pósteros o milagre divino (13— 15).

1. Cântico.

I

Salmo.

D os filhos de Coré.

2. Grande é o Senhor e digno de todos os louvores, Na cidade do nosso Deus. (3). O seu monte sagrado3 eleva-se magnífico, Alegria de toda a terra. O monte Sião, nos confins do Aquilão, É a cidade do grande Rei. 4. Nas suas cidadelas, Deus Manifesta-se como um baluarte seguro.

II

5. Eis que se confederaram os reis, E juntos irromperam 6. Mal, porém, viram, espantaram-se Perturbaram-se, fugiram. 7. Aí deles se apoderou um tremor, Uma convulsão como de mulher em parto, 8. Como quando o vento do Oriente Despedaça as naus de Tharsis.

III

9. Como ouvimos dizer, assim o vimos Na cidade do Senhor dos exércitos, Na cidade do nosso Deus! Para sempre Deus a consolida. 10. Relembramos, ó Deus, a vossa misericórdia N o vosso templo. 11. Como o vosso nome, ó Deus, assim o vosso louvor Chega aos confins da terra; A vossa destra está cheia de justiça. 12. Alegre-se a montanha de Sião. Exultem as cidades de Judá Por causa de vossos juízos.

Ps. 47, 13-15; 48, 2 ----- 101

IV

13. Percorrei Sião, dai-lhe a volta, Contai-lhe as torres; 14. Contemplai-lhe os baluartes, Examinai-lhe as cidadelas 15. Para dizerdes às gerações vindouras: Como Deus é grande, O nosso Deus sempre e para sempre: Ele ha de ser nosso guia.

3 — Nos confins do Aquilão, a cidade do grande Rei: são expressões t madas ao modo de falar dos assírios: julgavam eles que “ nos confins do Aquilão” estava “ o monte dos deuses” ; o rei deles chamava-se “ grande rei” . O Salmista, porém, afirma que o verdadeiro “ monte de Deus” é o monte Sião, e o verdadeiro “ grande rei” é o Senhor Deus de Israel.

5 — reis: quais fossem estes reis confederados, não se sabe. Pensa alguns que fosse Sennacherib com os reis a ele sujeitos (cf. 2 Par. 32, 21), outros que fossem os reis de Aram e Israel que haviam partido em guerra contra Achaz (2 Reg. 16, 5; Is. 7, 1-9), outros ainda os reis limítrofes que se uniram contra Josaphat (2 Par. 20).

8 — as naus de Tharsis são as grandes naus que viajavam para Ta tessos na Espanha e outras terras ultramarinas, mas que não resistiam ao vento oriental violento e nefasto.

S A L M O 48 (49) O ENIGMA DA PROSPERIDADE DOS MAUS

Como o 36 (37), também este Salmo sapienciat versa a questão da prospeperidade dos maus. Depois do proêmio em que convida todos aouvi-lo (2— 5), o Salmista responde I — que todos, ainda os mais ricos, deverão morrer e deixar os seus tesouros (6— 12); II — que, no inferno será para sempre triste a sorte dos ímpios enquanto os bons serão levados por Deus e com Ele hão-de reinar (14— 20). A s duas partes terminam com um estribilho (13— 21) em que se afirma quanto é caduca a prosperidade humana. O texto hebraico deste Salmo está muito mal conservado.

1. Ao Mestre de cântico.

Salmo dos filhos de Coré.

2. Escutai, povos todos da terra; Prestai ouvidos, habitantes todos do mundo,

102 -----Vs. 48, 3-18

3. Filhos do povo e potentados, Todos igualmente, ricos e pobres! 4. Palavras de sabedoria dirão os meus lábios, Pensamentos sensatos me dita o coração. 5. Vou inclinar o meu ouvido a um provérbio, E explicar, ao som da lira, o meu enigma. I

6. Por que hei-de eu temer nos dias do infortúnio, Quando me cerca a perversidade dos pérfidos inimigos, 7. Dos que confiam nos seus haveres, E se gloriam na abundância de suas riquezas? 8. Ninguém poderá livrar a si mesmo, Nem pagar a Deus o valor de seu resgate: 9. Porque muito caro é o preço de sua vida; Ser-lhe-á sempre impossível Que viva eternamente E não conheça a morte. 11. Verá morrerem os sábios, Perecerem também os insensatos e os néscios, E deixarem a estranhos as suas riquezas. 12. O sepulcro será para sempre sua morada, A sua morada através das gerações, Ainda que as regiões inteiras houvessem dado o pró­ prio nome. 13. O homem não dura na opulência. Assemelha-se aos animais que perecem.

II

14. Esta, a sorte dos que confiam em si mesmos, Este, o fim dos que se comprazem na sua fortuna. 15. Serão colocados no Scheol como um rebanho; A morte é seu pastor e os justos os dominam. Bem cedo se lhes deforma o semblante; O Scheol será a sua morada. 16. Mas do Scheol livrará Deus a minha alma, Tomando-me consigo. 17. Não temas quando se enriquece um homem, E avultam os bens de sua casa. 18. Porque, em morrendo, nada levará consigo, Com ele não descerão suas riquezas.

Ps. 48, 19-20; 49, 1-3 ----- 103

19. Ainda que, durante a vida se tenha lisonjeado: "Hão-de louvar-te pelos bens que granjeaste” 19. Não deixará de ir à morada de seus pais, Que nunca mais verão a luz. 20. O homem que vive na opulência e não reflete. Assemelha-se aos animais que perecem. 5 — provérbio: em hebreu rnãSãl: provavelmente este vocábulo designa o estribilho dos vv. 13— 21.

14 — no sua fortuna, literalmente “ no seu rosto” ; mas pe(h) sign também “ quinhão” (Dt. 21, 17, Zac. 13, 8). Aliás este verso, muito obscuro, é susceptível de várias interpretações. 16 — Tomando-me consigo: mesma expressão aplica-se a Ilenoch (Gen. 5, 24) e a Elias (4 Reg. 2, 9— 10) levados aos céus e a David recebido na corte de Saul (1 Sam. 18, 2). Deus tomará consigo os justos. 19 que em si confia.

— se tenha Usonjeado (benedixit sibi); cf.

Luc.

12, 19 sobre o

SALMO 49 (50) DO VERDADEIRO CULTO DIVINO

Como os projetas, opõe-se o Salmista a um culto puramente jormalista que não se alie à fiel observância da lei divina. No Proêmio I — introduz a Deus que aparece para um juízo solene (1— 6); I I — Deus fala ao povo, ensinando-lhe que não precisa de sacrifícios, mas exige o louvor, o cumprimento dos votos (isto é, a ação de graça), e petição do auxílio divino (7— 15); III — Dirige-se em seguida ao pecador repreendendo-o por confessar com os lábios a lei divina, mas transgredi-la com as obras (16—

21); IV — Por fim resume tudo: Deus guer louvor e obediência; sem Úto o homem se perderá (22— 23).

1. Salmo d’Asaph.

I

Falou o Senhor Deus e convocou a terra, D o Levante ao Poente. 2. De Sião, fúlgida de beleza, resplandece o Senhor: 3. Chega o nosso Deus e não se calará. Adiante, fogo devorador o precede, Ao redor esbravece a tempestade.

J04----Ps. 49, 4-20 4. D o alto convoca os céus e a terra Para julgar o seu povo: 5. “ Reuni os meus fiéis, Que, no sacrifício, selaram comigo a aliança” . 6. E os céus proclamam a sua justiça Porque é o próprio Deus que vai julgar. II

7. Escutai, povo meu, que vou falar; Israel, testificarei contra ti: Deus, o teu Deus ^ou Eu. 8. Não te repreendo pelos teus sacrifícios, Na minha presença estão sempre os teus holocaustos; 9. Não tomarei o novilho de tua casa, Nem o cabrito de teus rebanhos; 10. A mim pertencem todas as feras das brenhas, Os animais das montanhas aos milhares. 11. Conheço todas as aves do céu, E sei tudo o que se move nos campos. 12. Se tivera fome não iria dizer-te: Meu é o universo e quanto nele se encerra. 13. Irei comer, porventura, a carne dos touros Ou beber o sangue dos cabritos? 14. Oferece a Deus um sacrifício de louvor, E cumpre os votos feitos ao Altíssimo. 15. Invoca-me na hora da tribulação. Eu te libertarei e tu me glorificarás.”

III

16. Ao pecador, porém, Deus diz: “ Por que falas tu dos meus mandamentos E tens na boca a minha aliança? 17. Tu que detestas a disciplina, E postergas minhas palavras? 18. Se vês um ladrão, corres com ele, E aos adúlteros te associas. 19. Abandonas tua boca à maldade, E tua língua trama fraudes. 20. Senlas para falar contra teu irmão, difamas o filho de tua mãe.

Ps. 49, 21-23; 50, 3-8 ----- 105

21. Eis o que fizeste; e Eu hei-de calar-me ? Imaginas que serei semelhante a ti? Censurar-te-ei e manifestarei tudo aos teus olhos. 22. Atentai, vós que esqueceis a Deus, Não suceda, vos arrebate e não haja quem vos livre. 23. Honra-me o que oferece sacrifício de louvor: Ao que trilha o caminho reto. Mostrarei a salvação de Deus” .

23 — trilha o caminho reto: à letra: “ Aquele que [retamente] p [faz] o seu caminho” , isto é, o seu modo de proceder e não aquele que só o professa com os lábios. Não se deveria ler talvez tam-dèrek: “ o de vida íntegra” ?

SALMO 50 (51) CONFISSÃO, PROMESSA E SÚPLICAS DE UM PECADOR PENITENTE

Depois de implorar no proêmio (4), perdão dos pecados ,(3— 5), o Salmista, no corpo do Salmo (B ) I — conjessa que pecou, antes nasceu no pecado, e que esta confissão deve ser jeita com sinceridade (5— 8); II — roga para ser recebido em graça (9— 11); III — pede a Deus espírito bom e perseverante (12— 14); IV — alega as razões que devem levar Deus ao perdão: o seu zelo de converter os outros, o sacrifício de uma alma contrita (15— 19). C: Acrescenta-se uma breve oração para que Jerusalém seja reedificada e restaurado o culto (20— 21) — Este Salmo que exprime com perfei­ ção os sentimentos do pecador penitente é o 4.° dos penitenciais.

1. A o Mestre de cântico. Salmo de David, 2. quando veio ter com ele o profeta Natan, depois do pecado com Bethsabee.

A 3. Piedade de mim, Senhor ! segundo a vossa Clemência. E segundo a vossa grande misericórdia apagai a minha iniqüidade . 4. Lavai-me inteiramente de minha culpa, E purificai-me de meu pecado. 5. Reconheço a minha maldade, E diante de mim está sempre o meu pecado. (j. Só contra Vós pequei, O que é mal aos vossos olhos, fiz,

106 —

Ps. 50, 7-22

Para que sejais justificado na vossa sentença, E irrepreensível no vosso julgamento. 7. Sim, nasci na iniqüidade, E no pecado me concebeu minha mãe. 8. Sim, na sinceridade de coração Vos comprazeis, E no íntimo dalma me ensinais a sabedoria. II

9. Aspergi-me com o hissope e serei purificado; Lavai-me e ficarei mais alvo que a neve. 10. Anunciai-me gozo e alegria. Exultem os ossos que triturastes. 11. Apartai a vossa face de meus pecados. E extingui todas as minhas culpas.

III

12. Criai em mim, ó Deus, um coração puro, E renovai em mim uma boa vontade inabalável, 13. Não me expulseis da vossa presença, Nem me retireis o vosso espírito de santidade. 14. Restituí-me a alegria da salvação, E sustentai-me com uma vontade generosa.

IV

15. Ensinarei aos maus os vossos caminhos, E voltarão a Vós os pecadores. 16. Livrai-me do castigo do sangue vertido, ó Deus, Deus e Salvador meu ! E minha língua exaltará a vossa justiça. 17. Abri, Senhor, os meus lábios, E minha boca proclamará os vossos louvores. 18. Não vos comprazeis nos sacrifícios; E se oferecesse um holocausto não o aceitaríeis. 19. Meu sacrifício, ó Deus, é uma alma arrependida; Ao coração contrito e humilhado, Senhor, não desprezareis. C 20. Na vossa bondade derramai sobre Sião os vossos benefícios; Reedificai os muros de Jerusalém. 22. Aceitareis então os sacrifícios legítimos, As obkfções e os holocaustos;

Ps. 51, 3-7 —

107

Os novilhos serão imolados Sobre os vossos altares. 6 — Só contra Vós pequei: a natureza própria do pecado é ser ofensa de Deus; as outras são circunstâncias secundárias.

7 — A inclinação ao pecado é inerente ao homem pela sua própria ori­ gem. Com razão, vê a tradição católica indicada aqui a doutrina do pecado ori­ ginal. 9 — hissope: com os ramos de hissope enfeixados e embebidos no san da vítima aspergia-se a cousa ou pessoa, objeto de expiação (Êx. 12, 22; Lev. 4 -7 ). 16 — do sangue vertido: parece que tem diante dos olhos a morte de U (2 Sam. 11, 6— 17; 12, 9). 18 — Não se prescreviam nem se usavam sacrifícios expiatórios homicídio e adultério; estes crimes puniam-se com pena de morte que não se podia aplicar a David, rei. 22 — Estes dois últimos versos provàvelmente foram acrescentados Salmo, durante o exílio, para uso litúrgico.

SALMO 51 (52) CONTRA UM CALUNIADOR PREP O TENTE

I — Descreve-se a malícia do inimigo prepotente e intrigante (3— 6); II — Prediz-se-lhe a pena da perdição perpétua (7); III — Alegrar-se-ão os justos e darão graças a Deus (8— 11).

1. Ao Mestre de canto. Maskil. D e David, quando Doeg, idumeu, veio anunciar a Saul que David tinha entrado na casa de Abimelech.

I

3. Por que te glorias na maldade, Herói de infâmia? (4). A meditar malefícios estás todo o tempo; Navalha afiada é tua língua, forjador de intrigas. 5. Ao bem preferes o mal, Ao falar justo, a mentira. 6. Em todos os discursos malignos te comprazes, Língua pérfida!

II

7. Por isto Deus te há-de destruir, Há-de remover-te para sempre;

308 ----- Ps. 51, 8-11; 52, 2

Arrancar-te-á da tua tenda E te extirpará da terra dos vivos. III

8. Hão-de ver os justos e temer; Rir-se-ão de ti: 9. “ Aí está o homem que não tomou A Deus por seu protetor, Mas na abundância das riquezas pôs a sua confiança, E fez-se forte nos seus crimes” . 10. Eu, porém, sou como a oliveira verdejante, Na casa de Deus; Confio na misericórdia divina, Agora e sempre. 11. Louvar-Vos-ei a toda a hora Porque assim o fizestes; Glorificarei o vosso nome — porque é bom — Na presença de vossos fiéis. I — Cf.

Sam. 21, 8; 22, 9 sgs.

3 — herói de infâmia: hised =» “ ignomínia” , “ infâmia” (Lev. 20, 17). Outros: “ tu te mostras forte contra o piedoso” = titgabbêr él-hãsid (ver a versão siríaca peshitto). 4 — navalha aguda, que corta fundo e inesperadamente. II — porque fizestes: a saber, punisteo o caluniador iníquo.

S A L M O 52 (53) COBRÜPÇÃO GERAL E SEU CASTIGO

Este Salmo é quase idêntico ao Salmo 13 (14) (vê-lo); a diferença principal encontra-se no v. 6 que talvez traia da dispersão do exército de Sennacherib (4 Reg. 19, 35 s. ). Os Israelitas ímpios que não temiam a Deus, temeram os Assírios que não eram para temidos.

1. A o Mestre de Cântico. D e David.

I

Conforme a melodia de “ Mâhâlat” .

2. Diz o insensato no seu coração: “ Não há Deus” . Corromperam-se e perpetraram abominações; Já não há quem pratique o bem,

Maskíl.

Ps. 52, 3-7; 53, 3-5 - — 1-09

3. Do céu inclina o Senhor o seu olhar Sobre os filhos dos homens, Para ver se há quem tenha prudência E busque a Deus. 4. Desgarraram todos a uma e perverteram-se; Não há quem faça o bem, Não há um só! II

5. Não se emendarão estes obreiros de iniqüidade, Que devoram o meu povo como quem come um pão ? 6. Deixaram-se invadir do temor, Onde não havia que temer, Porque Deus dispersou os ossos dos que te assediavam; Foram confundidos porque Deus os repeliu.

III

7. Oxalá de Sião venha a salvação de Israel! Quando mudar o Senhor a sorte de seu povo, Exultará Jacob, Alegrar-se-á Israel. SALMO

53 (54)

APELO A O SOCORRO DIVIN O C O N TR A OS PERSEGUIDORES

I — O Salmista implora auxilio contra os inimigos que lhe tramam contra a vida (3—5); II — certo de ser atendido promete a Deus sacrijícios e ações de gra­ ças (6— 9).

1 . Ao Mestre de cântico. Para instrumentos de corda. David. 2 . Quando os zifeus vieram dizer a S a u l: entre nós, escondido” .

I

3

Maskll. De “ David está,

Senhor, por vosso nome, salvai-me, Por vosso poder, fazei-me justiça.

4. Escutai, Senhor, minha oração, Dai ouvidos às palavras de minha boca. 5. Contra mim levantaram-se os orgulhosos, E contra minha vida tramam inimigos violentos; Não tem a Deus diante dos olhos.

110 ---- Ps. 53, 6-9; 54, 2-5

II

0. Eis que Deus vem em meu auxílio, Deus sustenta a minha alma. 7. Sobre os meus adversários fazei recair os males; Na vossa fidelidade, aniquilai-os. 8. A Vós oferecerei sacrifícios espontâneos, Glorificarei o vosso nome, Senhor, porque é bom. 9. Salvou-me de todas as tribulações; E meus olhos viram a confusão de meus inimigos. 2 — cf. I Sam. 23, 19 seg.; 26, 1.

3 — Por vosso nome: hebraísmo freqüento; “ nome” = a essência de Deus manifestada pelo seu poder; em nome = pelo poder que mc é conhecido.

SALMO

54 (55)

CONTKA OS INIMIGOS E CONTRA UM AMIGO TRAIDOR

O Salmista

I II III

— descreve com viveza o seu temor e angústia petos assaltos dos inimigos e o seu desejo de encontrar um lugar seguro contra a procela (2— 9); — queixa-se das discussões e opressões que perturbam a cidade e principalmente da perjidia de um amigo (10— 15); — desejando a ruína dos inimigos e a libertação própria, excita-se à plena confiança em Deus (16— 24).

O Salmo é excelente pelos sentimentos e viveza da descrição; o texto porém, nem sempre está bem conservado.

1. Ao Mestre de cântico. Dnvid.

I

Para instrumento de cordas.

2. Prestai ouvidos, Senhor, à minha oração, Não vos furteis às minhas súplicas. .t

Iwiitai-m e e atendei-me ;

Aflitii-mo a angústia, ( l . ) ( 'Oiiturbam-ine os gritos do inimigo, K os clamores do pecador. Sobre mim ín/.em pesar ;i desgraça, I1! fiirioNo* me atacam. 0. T roiiHMnu no peito o coração, Mnllelu-mn o pavor da morte.

M aákil.

De

Ps. 54, 6-20 ----- 111

Assaltara-me temores e tremores, E de mim o horror se apodera. 7. E eu digo: oh! tivera eu asas como a pomba, E voaria e procuraria üm pouso; 8. Oh! fugiria para bem longe, E ficaria no deserto. 9. Apressar-me-ia em buscar um asilo Contra o vendaval e a procela. II

10. Dispersai-os, Senhor, dividi-lhes as línguas; Por que não vejo senão violência e discórdia na cidade. 11. Dia e noite elas rondam nas suas muralhas; E dentro dos muros campeia a opressão e a iniqüidade; 12. No seu seio domina a astúcia, E das suas praças não saem a injustiça e a fraude. 13. Se quem me ultrajara fôra meu inimigo, Suportaria de certo; Se contra mim se levantara o que me odeia, Dele me esconderia. 14. Mas eras tu, companheiro meu, Meu amigo e confidente, 15. Com quem vivia em doce intimidade; Juntos andávamos na casa de Deus nas reuniões festivas.

III

16. Colha-os de improviso a morte, Desçam vivos ao Scheol. Porque nas suas moradas, no meio deles, está a per­ versidade. 17. Eu bradarei a Deus, E me há-de salvar o Senhor. 18. Pela tarde, pela manhã, ao meio dia, Soltarei as minhas lamentações e os meus gemido»; Ele ouvirá a minha voz. 19. Libertará em paz a minha alma Dos que me acossam: São muitos contra mim. 20. Deus há-de ouvir e humilhá-los, Ele que reina eternamente;

112

----- Ps. 54, 21-24; 55

Porquanto não há neles mudança, E não temem a Deus. 21. Estende cada qual as mãos contra os que estão em paz com ele, E viola a sua aliança. 22. Mais doce que o creme é o seu semblante, Mas no seu coração está a guerra. Mais untuosas que o óleo parecem suas palavras. E são espadas desembainhadas. 23. Confia ao Senhor os teus cuidados, E Ele te sustentará: Não permitirá sempre que vacile o justo. 24. E Vós, Senhor, precipitai-os Nos abismos da morte. Os homens de sangue e de astúcia Não chegarão à metade de seus dias. Mas eu ponho em Vós, Senhor, a minha confiança. 10 — dividi-lhes as línguas: ponde entre eles a discórdia (cf. Gên.

11,

6—9). 1 0 -1 2 — Entendem alguns estes versos da sedição de Absalão e das dissensões que dela se originaram (2 Sam. 15); o que se segue re­ fere-se a Aquitofel (2 Sam. 16, 15— 23). 15 — nas reuniões jestivas: reges, “'multidão comovida” ; parece signi­ ficar as procissões solenes ao templo. O sentido portanto é este: éramos muito unidos tanto na vida particular quanto na religiosa. 21 cf. vv. 13— 15; a perfídia do amigo parece contristá-lo mais que as insídias dos inimigos. 22 — No seu coração está a guerra: à letra: “ e a guerra (combate) [é] o seu coração” . 24 — não chegarão à metade de seus dias: não atingirão a plenitude da idade, terão morte prematura (cf. Ps. 101 (102) 25; Is. 38, 10; Jer. 17, 11).

SAL M O

55 (56)

CONFIANÇA EM DEUS DE UM OPRIMIDO

Cercado de inimigos por todos os lados, põe o Salmista toda a sua conjiança em Deus e a manijesta com o estribilho dos w. 5 e 11 s. I — Ê calcado pelos inimigos mas não teme (2— 4); II — combatido por eles, pede a Deus que se lembre de sua vida árdua e o ajude (6— 10); III — libertado, cunvpre os votos de ação de graças (13— 14).

Ps. 55, 2-14----- 1I S

1. Ao

Mestre de canto. Conforme a melodia de ‘ ‘ Y&naVêlem, réhôqím” D e David. Miktãm. Quando os filisteus o prenderam em Gath.

2. Piedade de mim, ó Deus, que me calcam aos pés; A cada hora me acossam e oprimem. 3. Aos pés me pisam sempre os meus inimigos, Porque são muitos os que me combatem. (4). Altíssimo, 4quando de mim se apodera o temor, Ponho em Vós a minha confiança. 5. Em Deus, de quem proclamo a promessa, Em Deus ponho a minha confiança e nada temo; Que me poderá fazer um mortal ? II

6. Todo o dia de mim murmuram, Para me perder, contra mim maquinam. 7. Conjuram, tramam insídias, Observam-me os passos, para tirar-me a vida. 8. Dai-lhes o justo castigo de sua perversidade; Na vossa cólera, ó Deus, prostrai os povos. 9. Contastes os passos de meu exílio; No vosso odre recolhestes as minhas lágrimas: Não estão elas escritas no vosso livro? 0. Voltarão as costas os meus inimigos; Todas as vezes que eu Vos invocar: Bem sei que Deus está por mim. 1. Em Deus de quem proclamo a promessa, 2. Em Deus ponho a minha confiança e nada temo;

Que me poderá fazer um mortal ? III

3

Os votos que fiz, ó Deus, devo cumpri-los; E Vos oferecerei os sacrifícios de ação de graça,

1•1. Porque da morte me livrastes a vida, E da queda, os meus pés, Para que eu ande na presença de Deus, Na luz dos vivos. 1

em Ih.

Cf. 1 Sam. 12, 11— 16.

4 — Altíssimo'. müTÕm, "excelso” , "altíssimo” a Deus também se aplica 57, 15, c no Ps. 91 (92) 9.

1 1 4 ----- Ts. 56, 2-7 6 — à letra: “ com assiduidade molestam as minhas coisas” . 9 — do meu exílio: literalmente “ conheceis a minha vida do fugitivo, errante” . — no vosso odrei. Deus rocolhe com diligência todas as minhas lágrimas. não estão elas escritas. o texto 6 dúbio, parece que se trata de conservar a memória de todos os sofrimentos (ou lágrimas).



14 ■ — na luz dos vivos, isto é, nesta vida, salvo da morte.

Cf. Ps. 114

(116), 9.

SALMO

56 (57)

C O N F IA N ÇA NO M EIO DAS PERSEGUIÇÕES

Pelo estribilho dos vv. 6 e 12 o Salmo divide-se em duas partes; na primeira: I



II



O Salmista cheio de confiança invoca o auxilio de Deus contra os inimigos que de todos os lados o investem na segunda

(2—5); —11).

certo da libertação excita-se à ação de graças (7



Os versos 8 12, com ligeiras alterações, constituem a primeira parte do Salmo 107 (108).

1. Ao Mestre de canto. Conforme a melodia de “ Não destruas” . David. Miktam. Quando fugiu de Saul para a caverna.

I

2. Piedade de mim, ó Deus, piedade; F.m Vós se refugia minha alma. Â sombra de vossa asas procuro um abrigo, At é que passe a calamidade. 3. A Deus, Altíssimo, sobe o meu grito, A Deus que tanto bem me faz. 4. Envie do céu o auxílio que me salve, Cubra de confusão os que me perseguem; Envie o Senhor sua bondade e sua fidelidade. 5. Estou deitado no meio de leões, Ávidos de devorar os filhos das homens. Lanças e flechas são os seus dentes, Espada afiada, a sua língua. 6. Elevai-Vos, Senhor, acima dos céus; Em toda o terra esplenda a vossa glórial

II

7. Ante os meus passos, uma rede armaram: Deprimiram a minha alma;

De

P*. 56, 8-12; S7, j

8.

9. 10. 11.



115

Diante de mim, cavaram uma fossa: Nela caíram. F irme está o meu coração, ó Deus F irme está o meu coração; Entoarei cantos e salmos. Desperta, alma minha; despertai, lira e citara! Quero acordar a aurora. Entre os povos, Senhor, cantarei os vossos louvores, Entre as nações Vos entoarei salmos. Porque aos céus se eleva a vossa misericórdia, E às nuvens, a vossa fidelidade

12. Elevai-Vos, Senhor, acima dos céus; Em ioda a terra esplenda a vossa glórial

1 — Cf. 1 S am . 22, 1— 5 d a cav ern a A d ullam , 1 S am . 24 d a cav e d o E ngaddi. 8 — jirme: depois d e ligeir o tem or, d e no vo confirm a a su a conf ia n ç a e a té se çnehe de alegria. 9 — alma minha, hebr. kebôdt, cf. o árab e kab(i)d, p a rte in terio r de u m a c oisa, p o rta n to = “ as m i n h as e n tra n h as” , “ tu d o q u e h á d e n tro d e m im ’ . — Quero acordar a aurora: isto é, levantar-m e-ei tã o cedo, q u e p com o m eu canto, d e sp e rta r a au ro ra, p a ra que tam b é m ela louve a D eus. SALMO

57 (58)

IN V E C T I VAS C O N T R A JUÍZES INJUSTOS

O Salmista, I — investe com veemência, como tantas vezes o fazem os profetas, contra os juizes injustos, que não sâ não se portam como repre­ sentantes de Deus, mas parece que lhes ê inata a injustiça (2— 6);

II — Contra eles invoca a justiça divina, descrita com imagens vari­ adas, para que entendam os homens que a vida piedosa e honesta terá o prêmio que lhe ê devido (7— 12).

1. Ao M estre dc cântico. C onform e a m elod ia “ N ão d e stru as” . D e D avfd. M ik tam . I

2. F azeis verdadeiramente justiça, 6 potentados? Julgais com retidão, ó filhos dos homens ?

116----Ps. 57, 3-12 3. Não, nos vossos corações tramais a iniqüidade, E vossas mãos distribuem na terra a injustiça. 4. D o colo materno já se perverteram os ímpios, E do seio que os gerou já desgarraram os mentirosos. 5. Semelhante ao das serpentes é o seu veneno, Ao veneno da víbora surda que fecha os ouvidos, 6. Para não ouvir a voz dos encantadores, D o mágico que encanta com arte. II

7. ó Deus, quebrai-lhes os dentes na boca; Parti-lhes, Senhor, os queixais de leões. 8. Desapareçam como água que corre; Embotem-se suas flechas, se as dispararem. 9. Passem como a lesma que se arrasta diluindo-se, Como o feto abortivo de uma mulher, o qual não viu o sol. 10. Antes que as vossas marmitas sintam a chama do espinho, Enquanto está verde, que o turbilhão o arrebate. 11. Alegrar-se-á o justo quando vir o castigo; Banhará os pés no sangue do malvado. 12. E dirão os homens: sim, há uma recompensa para o justo. Sim, há um Deus, que julga na terra. O texto do Salmo, bastante alterado, nem sempre pode ser reintegrado com certeza.

2 — “ êlím” : como no Salmo 81 (82) 1—6 os juizes e magistrados s chamados “ deuses” , porque na terra representam a Deus. Cf. loh. 10, 34 8. 5 - 6 — O coração deles está como envenenado e não querem ouvir con­ selhos nem censuras. 86 — O texto parece alterado. Omitimos as várias conjecturas propos­ tas e traduzimos o texto massorético mas, com a versão siríaca Pcshitto e o Targum, lemos hissã (y) w e tomamos yidrõk em sentido coletivo. 10 — O texto provàvelmente corrupto é de inteligência difícil. A me­ táfora da marmita e dos espinhos é tomada da vida dos pastores que aquecem as suas marmitas acendendo espinhos; antes que os espinhos entrem a arder e sejam “sentidos” pela marmita, arrebata-os o vento forte. Trata-se portanto de um castigo repentino dos maus juizes. 11 — banhará os pés: metáfora tomada da guerra; o soldado, para obter a vitória, passa pelo sangue de mortos e feridos (cf. Ps. 67 (68), 24).

Ps. 58, 2-10

SALMO

58

- ‘-•117

(59)

CONTRA INIMIGOS SALTEADORES E SANGUINÁRIOS

O Salmo consta de duas partes (I 2— 11a; I I 116— 18), terminadas ambas com dois longos cstribilhos (7— 11a; 15— 18), que diferem, "porém, na sua parte média. Na primeira parle, I — o Salmista descreve os embustes dos inimigos e implora o au­ xílio divino (2— 6); no estribühò estes inimigos são compara­ dos a cães vagabundos em busca de comida. Na segunda parte II — o Salmista roga com mais insistência a Deus que os disperse (116— 14).

1. Ao Mestre de canto. Conforme a melodia “ não destruas” . D e D avid. Miktãm. Quando Saul mandou que lhe guardassem a easa para o m atar.

I

2. Livrai-me, meu Deus, de meus inimigos, Guardai-me dos que contra mim se insurgem. 3. Protegei-me dos obreiros de iniqüidade, Dos homens de sangue salvai-me. -t. Urdem insídias contra minha vida, Contra mim conspiram os poderosos. Não há em mim, Senhor, crime nem pecado. 5. Sem culpa minha, acorrem e investem. Despertai, vinde a mim e vêde. 6. Sois o Senhor dos exércitos, o Deus de Israel. Frguei-Vos para castigar todas as gentes, Não tenhais compaixão de quantos são traidores. 7. Voltam peta tarde; uivam corno cãés. Dão volta â cidade; 8. Blasonam à boca cheia; nos seus lábios, o insulto: “ Quem nos ouve?” 9. Mas Vós, Senhor, Vós rides deles; Zombais de todas as gentes. 10. Força minha, para Vós levanto o meu olhar. Sois meu Deus, meu baluarte.

118 ----- Ps. 58; 11-18

11. Deus meu, misericórdia minha. II

Venha Deus em meu socorro, Faça que me alegre de meus inimigos. 12. Exterminai-os, ó Deus, para que não escandalizem meu povo, Conturbai-os, abatei-os com o vosso poder, Deus, nosso escudo. 13. Pecado de sua boca é cada palavra de seus lábios; Sejam colhidos pela sua própria arrogância, Pelas maldições e mentiras que proferem. 14. Destruí-os, Senhor, na vossa cólera, destruí-os para que mais não sejam. Para que se saiba que reina Deus em Jacob E até às extremidades da terra. 15. Voltam pela tarde; uivam como cães. Dão volta à cidade;

16. Vagueiam aqui e ali à cata de alimento , E se não se fartam, entram a rosnar. 17. Mas eu cantarei a vossa força, E, desde o raiar do dia, me regozijarei da vossa bondade. Fostes para mim um abrigo, Um refúgio no dia da tribulação. 18. Força minha, a Vós entoarei meu hino. Sois meu Deus, meu baluarte.

Deus meu, misericórdia minha! 1 — Cf. 1 Sam. 19, 11— 18; da expressão "todas as gentes” 9) é lícito conjecturar que o Salmo foi adaptado, em época posterior, ao uso litúrgico. Algumas passagens são bastante obscuras. 7— 15 — Procuram a rapina como os cães que vagueiam livremente pelas cidades orientais e, principalmente pela tarde, invadem as ruas à cata de alimento. 12 —- O texto massorético diz: “ não lhes tireis a vida, para que o não esqueça o meu povo” ou . .não o esqueçam os meus povos” (?), sentido difícil e em contradição com o v. 14. 13 — Tudo o que proferem os seus lábios é pecado.

(vv

Ps. 59, 3-11----- 119

SALMO

59 (60)

LAMENTAÇÃO, CONFIANÇA. E SÚPLICA DEPOIS DE UMA DERROTA DO POVO

O Salmista I — descreve uma dej-rota -penosa do povo e implora aurílio para novo combate (3— 7); II — lembra as promessas divinas de sujeitar aos israelitas todos os povos vizinhos (8— 10); III — para isto, implora valioso auxílio (11— 14). Os w. 7— 14 constituem a segunda parte do Salmo 107 (108).

1. Ao Mestre de cântico. Conforme a melodia d’ “ O lírio da lei” . M iktãm. D e David. A ensinar. 2. Quando lutava contra Aram de Naharaim e contra Aram de Soba, e quando Joab, voltando atrás, derrotou a Edon no vale do Sal (12.000 homens).

I

II

III

3. ó Deus, Vós nos rejeitastes; rompestes as nossas fileiras; Estais irado: restaurai-nos. 4. Fizestes tremer a terra e a entreabristes; Reparai-lhe as brechas, porque vacila. 5. Ao vosso povo impusestes dura prova; Destes-nos a beber vinho que embriaga. 6. Aos que Vos temem destes um estandarte, Para que fugissem à vista do arco; 7. Para que sejam preservados os vossos amigos, Ajudai-nos com a vossa destra e ouvi-nos. 8. Deus disse no seu santuário: “ Exultarei de alegria; partilharei Sichem E medirei o vale de Succoth. 9. A mim pertence Galaad, Manassés é meu, Efraim é o elmo de minha cabeça, Judá, o meu cetro. 10. Moab, a bacia em que me lavo; Sobre Edom atirarei minhas sandálias, E da Filistia soltarei o meu grito de triunfo” . 11. Quem mo introduzirá na cidade fortificada? Quem me levará a Edom?

120 ----- Ps. 59, 12-14; 60, 2-4

12. Quem senão Vós, ó Deus, que nos haveis desamparado, E já não sais à frente dos nossos exércitos ? 13. Socorrei-me contra o opressor, Porque vão é o socorro dos homens. 14. Com Deus faremos proezas; Ele aniquilará os nossos inimigos. 1— 2 — Cf. 2 Sam. 8, 3— 8; 10, 6— 19; 1 Par. 183. sobre as guerras de David contra os Arameus; 1 Par. 18, 12 s. sobre a guerra contra os edomitas. 3 — rompestes as nossas fileiras: à letra “ partiates-nos” , i. é, fizestes

que os inimigos rompessem as nossas fileiras. 5 — vinho que embriaga, em hebreu “ vinho da vertigem” , de modo q titubeássemos como ébrios. 8 do Jordão.

— o vale de Succoth: além do Jordão perto da foz do rio Iaboc, no v

— EJraim, a maior das tribos, é para o Senhor como o elmo de cabeça, enquanto Juda é o cetro, isto 6, a sede do seu reino: Cf. Gên; 49, 10. 10 — bacia em que me lavo: desincumbir-se-á dos trabalhos da servidão. — atirarei as minhas sandálias, em sinal de posse. O calçado, em muitos povos antigos, era símbolo do direito de propriedade. 11 — na cidade jortijicada: trata-se provàvelmente da cidade de Bosra (Gên. 36, 33; Is. 34s 6; Am. 1, 12 etc.), capital do reino do Edom, muito for­ tificada e de dificílimo acusso.

SALMO

60 (61)

SÚPLICA DO REI NO EXÍLIO

I — Exilado, o rei David (2 Sam. 15— 19) pede a Deus lhe con­ ceda volfar à cidade santa e à cidadela de Sião (2— 5); I I — atendidos os seu3 rogos, deseja para si uma vida longa e a graça de Deus (6—-9).

1. Ao Mestre de canto.

I

Para instrumentos de corda.

De David.

2. Ouvi, ó Deus, a minha súplica, Atendei aos meus rogos. 3. Dos confins da terra a Vós clamo, No abatimento do meu coração. Elevai-me sobre um rochedo, dai-me descanso. 4. Porque sois meu refúgio, Torre forte contra o inimigo.

Ps. 60, 5-9; 61, 2-4 —

121

5 . Quem me dera morar sempre na vossa tenda, Abrigar-me à sombra de vossas asas! II

6. Ouvistes, ó Deus, a minha oração; E me destes a herança dos que temem o vosso nome. 7. Acrescentai dias aos dias do rei, Durem os seus anos como muitas gerações; 8. Reine para sempre diante de Deus; Enviai a bondade e a fidelidade para o guardarem. 9. Assim celebrarei sempre o vosso nome, E, dia a dia, cumprirei os meus votos.

3 — dos conjins da terra quase sempre significa uma região muito l gínqua; nos lábios de David é uma expressão hiperbólica. 7 — O próprio rei pede para si uma vida longa (cf.

Ps.

20 (21). 5)

S A L M O 61 (62) DEUS, NOSSA ÚNICA ESPERANÇA

O argumento do Salmo repete-se quase com as mesmas palavras no prvnr dpio da primeira e da segunda estrofe: só Deus é minha esperança, não vacilarei nunca. Na primeira parte, I — o Salmista opõe a esta conjiança as vãs tentativas dos seus ini­ migos de o aniquilarem com a violência ou o engano (4— 6); II — mostra, em seguida, porque se deve colocar em Deus toda o esperança (8—9); III — ensina, por jim, que nada valem a glória e o poder dos homens e que só em Deus há poder e justiça.

1. Ao Mestre de canto. David.

I

Conforme a melodia de Iduthum.

2, Só em Deus descansa a minha alma. Dele me vem o socorro. 3. Só Ele é meu rochedo e minha salvação. Mexi baluarte: não vacilarei nunca.

4. Até quando arremetereis contra um homem, E juntos todos o abateis, Como uma parede desaprumada, Ou uma muralha que desaba?

Salmo de

122

Ps. 61, 5-12

------------

5. Sim, meditam precipitar-me de minha dignidade; Comprazem-se na mentira; Bendizem-me com a boca, Amaldiçoam-me com o coração. II

6. Só em Deus descansa, alma minha; Dele vem minha espera?iça 7. Só Ele é meu rochedo, minha salvação, Meu baluarte; não vacilarei nunca. 8. Em Deus está meu socorro e minha glória, A pedra de minha força, meu refúgio estão em Deus. 9. Nele sempre, ó povo, ponde a vossa confiança. Diante dele expandi vossos corações. Para nós, Deus é um refúgio!

III

10. Não passam de um sopro os filhos do vulgo, E de uma mentira os filhos dos grandes. Na concha de uma balança sobem, Mais leves que um sopro, todos juntos. 11. Não ponhais vossa confiança na opressão, E em vão não vos glorieis na rapina; Se os haveres crescem Não lhes apegueis o coração. 12. Deus falou uma cousa; estas duas eu ouvi: “ A Deus o poder, E a Vós, Senhor, a bondade; A cada um dareis segundo as suas obras” .

1 — O Salmo convém perfeitamente ao rei D avid que manifesta os s sentimentos durante a revolta de seu filho Absalão. 6— 7 — Repete as mesmas palavras que nos vv 2— 3, mas aqui fala própria alma.

à

10 — filhos do vulgo (benê(y)’ãdãm) : os humildes, filhos do povo; filhos dos grandes (b nê(y)’ís)'. os nobres, os magnatas (cf. Ps. 48 (49) 3). Todos estes reunidos e postos na balança não valem um sopro.

12 — uma. . .duas, isto é, duas cousas (enfàticamente) ouvi e reten Deste modo de falar servem-se os semitas para exprimir com mais veemência o número mais alto dentre dois ou mais que se alegam. Cf. Am: 1, 3; Pfov. 6, 19; 30, 18, 18, 21. — a cada um dareis, cf. Rom. 2, 6— 11.

Ps. 62, 2-10 —

SALMO

123

62 (63)

DESEJO DE DEUS, NOSSA VIDA E SALVAÇÃO

I — Como a terra seca deseja a chuva, assim o Salmista tem sede de Deus, de vê-lo no santuário e de conhecer o seu poder e bon­ dade (2—4); II — Deus é todo o seu bem, dele se lembra dia e noite; a Ele adere com toda a alma (5— 9); III — os inimigos perecerão miseràvelmente, mas o rei e os seus servos jiéis hão-de alegrar-se (10— 12). Cf. Ps. 41, 42 (42, 43).

1. Salmo de David, quando estava no deserto de Juda.

I — 2. Deus, sois o meu Deus, Desde o raiar da aurora a Vós procuro: De Vós tem sede a minha alma, Por Vós desfalece a minha carne, Como a terra árida, esgotada e sém água. 3. Assim Vos contemplo no lugar santo, Para ver o vosso poder e a vossa glória. 4. Porque melhor que a vida é a vossa graça; Meus lábios hão-de louvar-Vos. II

5. Assim eu Vos hei-de bendizer na minha vida: Em vosso nome elevarei as minhas mãos. 6. Como de manjar pingue e suculento, Há-de fartar-se minha alma, E com a alegria nos lábios, Há-de louvar-Vos a minha boca. 7. Quando, no leito, de Vós me lembro, Nas vigílias em Vós medito. 8. Sois o meu socorro; Regozijo-me à sombra de vossas asas: 9. A Vós está unida a minha alma, Sustenta-me a vossa destra.

III

10. Mas os que intentam tirar-me a vida, Despenhar-se-ão nas profundezas da terra.

124

----- Ps. 62, 11-12; 63, 2-7 11. Passarão pelos fios da espada, Pasto serão dos chacais. 12. O rei, porém, alegrar-se-á em Deus, Glorificados serão os que por Ele juram, Porque será fechada a boca dos mentirosos.

I — Cf. 1 Sam. 23— 26. Como no v. 12 se faz menção do rei aplica-se o Salmo mais convenientemente a David desterrado pela revolta do seu filho Absalão (2 Sam. 23— 30). 6 — A alma do Salmista, unida a Deus, parece achar-se em lauto ban­ quete que a sacia completamente. II — Pasto serão dos chacais, isto é, sem sepultura serão devorados pelas feras.

12 — os que por ele juram, isto é, por Deus (cf. 12o); jurar por Deu é um ato de culto pelo qual se conhece a sua autoridade suprema (cf. Dt. 6, 13).

SALMO

63 (64)

JUÍZO DE DEUS SOBRE INIM IGOS PÉRFIDOS

I — 0 Salmista invoca o auxílio de Deus contra os mentirosos que conspiram contra os fiéis (2— 7); II — anuncia-lhes a morte como advertência para todos e alegria para os fiéis (8— 1 1 ).

1. Ao Mestre de canto.

I

Salmo de David.

2. Ouvi, Senhor, a minha voz quando me lamento; Contra o inimigo que me atemoriza escudai a minha vida, 3. Protegei-me da conspiração dos maus, Do tumulto dos malfeitores, 4. Que afiam, como espada, as suas línguas, E desferem, como flechas, as suas palavras venenosas 5. Para atirá-las, nas trevas, contra o inocente, E feri-lo, de improviso, a seu salvo. 6. Obstinam-se no seu perverso desígnio, Conspiram para armar, às ocultas, os seus laços; Dizem: “ Quem nos verá?” 7. Planejam crimes e ocultam os seus planos; É um abismo o pensamento e o coração do homem.

Ps. 63, 8-11; 64, 2-5 ---- 125 II

8. Mas Deus desfere contra eles as suas flechas; Ei-los, de repente, feridos. 9. A própria língua prepara-lhes a desgraça: Meneiam a cabeça os que os vêem. 10. E os homens são tomados de temor, Proclamam a obra de Deus E compreendem o que Ele fez. 11. Alegra-se o justo no Senhor e nele confia; E são glorificados todos os corações retos.

7 — O verso fi bastante obscuro; dá-se aqui a versão do texto mas rético que exprime a astúcia refinada de que se servem nas suas maquinações. 8— 9 — Quanto mais astutos são os seus desígnios, tanto mais próxima será a sua ruína. 9 — meneiam a cabeça: em sinal de espanto e de desprezo (cf. (22), 8; 43 (44), 15: 108 (109, 25).

SALMO

64 (65)

SOLENE AÇÃO DE GRAÇAS PELOS BENEF Í CIOS DIVINOS

I — Ação de graças pelo perdão dos pecados e pela admissão ao templo com todos os seus bens e graças (2— 5); •II — Louvor de Deus, Criador e Senhor da natureza, e guia da his­ tória (6— 9); III —- Ação de graça a Deus pela jertilidade da terra produzida por Deus com a abundância das chuvas, e pela messe copiosa (10— 14).

1. Ao Mestre de canto.

I

Salmo de David.

Cântico.

2. A Vós, ó Deus, é devido o louvor, em Sião, 3. E diante de Vós, que escutais as orações, cumpram-se os votos. A Vós acorrem todos os homens 4. Por causa de suas iniqüidades. Oprimem-nos os nossos delitos: Vós no-los perdoais. 5. Feliz daquele que escolheis e chamais a Vós: Habita nos vossos átrios. Seremos saciados dos bens de vossa casa, Da santidade do vosso templo.

Ps,

1 2 6 ----- Ps. 64, 6-14

II

III

6. Com prodígios Vós nos oUvis, na vossa justiça, Deus, salvador nosso, Esperança dos confins da terra E dos mares longínquos; 7. Vós que, com a vossa forççi, firmais as montanhas, Cingido de poder; 8. Vós que aplacais o furor dos mares, O rumor das suas vagas e o tumultuar das nações. 9. Temem os habitantes de remotas terras Ante os vossos portentos; E encheis de júbilo Os confins do Oriente e do Ocidente. 10. Visitastes a terra e a regastes, A mancheias a enriquecestes. Encheram-se de águas as fontes divinas, Preparastes o seu trigo. Eis como o preparastes: 11. Irrigastes os seus sulcos, Nivelastes as suas glebas Amolecestes com as chuvas, Abençoastes o seu germinar. 12. Coroastes o ano com os vossos benefícios; Por onde passais brota a fartura. 13. Embebem-se as pastagens do deserto, E de alegria cingem-se as colinas. 14. De rebanhos revestem-se os prados, De espigas cobrem-se os vales: Elevam-se gritos, modulam-se cantos.

3— 4 — A divisão dos versos no tex to m assorético é m enos acertad a. O v. 3 a deve un i r-se ao v. 2, o v. 4 a ao v. 3, com o n a ve rsã o acim a a d o tad a . — acorrem por causa das suas iniqüidade»: ou “ trazem a causa d pecados” (*= aquilo que se refere ao pecado). 6 — esperança dos confins da terra: aqui e no verso 9, note-se o un ive salism o. 10 — as fontes divinas, isto é, a ch u v a q u e provém dos receptáculos cefestes. 12 — Por onde passais: apresenta-se D e u s a percorrer a te rra em s c arro régio, distrib u in d o benefícios.

Ps. 65, 2-10 —

SALMO

127

65 ('66')

HINO NUM SACRIF Í CIO DE AÇÃO DE GRAÇAS

O Salino celebra a Deus, que dirige a história do seu povo. Depois do proêmio em que se convida toda a terra a louvar a Deus (1— 4) o povo I — lembra-se do benejício da libertação do Egito e dos auxílios com que Deus, apesar de provar os seus severamente, sempre o socorreu nas suas calamidades (5— 12); II — cumpre os votos por um perigo recente de que joi salvo, oferece holocaustos e louva a Deus que ouviu benignamente as suas súplicas (13—20).

1. Ao Mestre de canto.

Cântico.

Salmo.

2. Aclamai a Deus, toda a terra: Cantai a glória de seu nome, Celebrai com magnificência os seus louvores. 3. Dizei a Deus: quão portentosas são as vossas obras! Pela grandeza de vossa potência hão-de lisonjear-Vos os vossos inimigos. 4. Diante de Vós se prostre toda a terra. Entoe-Vos os seus cantos Cantos ao vosso nome. I

5. Vinde contemplar as obras de Deus: Fez maravilhas entre os filhos dos homens! 6. Converteu o mar em terra firme; Atravessaram o rio a pé enxuto: Alegremo-nos nEle! 7. Pelo seu poder domina eternamente, Seus olhos observam as nações: Para que se não elevem os rebeldes. 8. Bendizei, ó povos, ao nosso Deus, Celebrai os seus louvores. 9. Foi Ele que conservou a vida da nossa alma, E não permitiu resvalassem os nossos pés. 10. Vós nos provastes, Senhor, Pelo fogo nos acrisolastes como se acrisola a prata.

1 2 8 ----- Ps. 65, 11-19; 66

11. Deixastes que caíssemos no lâço; Carregastes as nossas costas com um fardo pesado. 12. Ao jugo dos homens nos submetestes; Passamos pelo fogo e pela água: Mas nos trouxestes ao lugar de descanso. II

13. Entrarei na vossa casa com holocaustos; Cumprirei os votos, 14

Que pronunciaram os meus lábios, Que prometeu a minha boca no dia da aflição.

15. Oferecerei em holocaustos pingues ovelhas, Com o fumo odorante dos carneiros; Imolar-Vos-ei bois com cabritos. 16. Vinde ouvir e eu vos contarei, A vós todos que temeis a Deus, Quão grandes coisas fez por minha alma. 17. Com os meus lábios O invoquei, Louvei-O com a minha língua. 18. Se no meu coração houvera intentado a iniqüidade, Não me teria ouvido o Senhor. 19. Mas ouviu-me Deus, Atendeu às vozes de minha súplica. Bendito Deus que não rejeitou a minha oração, Nem de mim retirou a sua bondade. 1 — toda a terra: note-se aqui, como nos vv. 4, 8, o universalismo. 3 45; 80 (81), 16).

— hão-de lisonjear-Vos: a contragosto Vos louvam (cf. Ps. 17 (18

SALMO

66 (67)

IMPLORA-SE A BÊNÇÃO PAKA ANUNCIAR A FÉ AOS GENTIOS jEste

Sahno, que talvez se cantava em ação de graças pela colheita, foi logo elevado a mais alta significação, à missão confiada ao povo de Israel de levar a todas as nações a bênção messiânica (cf. Gêrt. 12, 2— 3). Este ponto i indicado no estribilho dos vv. 4—6. O povo portanto, I — pede graça para bem desempenhar o múnus de pregar a salvação aos gentios (2— 3); em seguida, II — convida as nações a se regozijarem pela justiça do governo divino (5); por última, III — pede a Deus, que abençoou a colheita,, queira outrossim aben­ çoar o seu povo no desempenho daquela missão mais sublime.

Ps. 66, 2-8; 67 —

129

1. Ao Mestre de cântico — Para instrumentos de corda. Salmo. Cântico. I

2. Tenha Deus piedade de nós e nos abençoe, E sereno nos mostre o seu rosto, 3. Para que na terra se conheçam seus caminhos, E em toda as nações a sua salvação. 4. Que Vos louvem os povos, ó Deus, Que todos os povos Vos louvem.

II

5. Alegrem-se e exultem as nações, Porque governais os povos com justiça, E dirigis as nações na terra. 6. Que Vos louvem os povos, ó Deus, Que todos os povos Vos louvem.

III

7. Deu a terra os seus frutos: Abençoou-nos Deus, nosso Deus. 8. Abençoe-nos Deus, E o temam até os confins da terra! 2 — Com estas palavras enuncia-se a bênção do sacerdote ao povo (Num.

6, 22—27). 8 — Talvez depois do v. 8 se deve acrescentar o estribilho dos w . 4— 6SALMO ITINERÁRIO TRIU N FAL

DE

67 (68)

DEUS DESDE O EGITO ATÉ

O MONTE

SIÃO

Deste Salmo, um dos mais difíceis de todo o SaUério, foram dadas várias interpretações. Preferível parece a que nele vê um poema triunfal que descreve o itinerário do Senhor, presente na Arca da Aliança, desde o Egito até o Monte Sião Provàvelmente cantava-se este Salmo nas procissões solenes que costumavam acompanhar a Arca. I — rompe o Salmo com as palavras com que se dava o sinal de partida da Arca (Num. 10, 35); diante de Deus, presente na Arca fujam os inimigos, alegrem-se os justos (2— 4); II — descreve-se a passagem de Deus pelo deserto (cf. w. 5— 8); o que passa é pai, defensor e libertador de seu povo (5— 7); III — o mesmo Deus manifestou o seu poder no Monte Sinai, e pro­ videnciou com bondade o alimento, a bebida, a terra fértil para o seu povo (8— 11)'

130 ----- Ps. 67, 2-10

I V — faz-se rápida alusão às tuias travadas na ocupação da terra de Canãa (12— 15). V

— escolhe-se o Monte Sião para morada do Senhor (16— 19);

V I — mencúmam-se as outras guerras em que Deus salvou o seu povo (20—24); V II — Descreve-se a procissão em que, acompanhada pelas tribos, ê levada a Arca ao Monte Sião (25— 28); V III — pede-se a Deus, que habita no santuário, sejam, vencidos os inimi­ gos e paguem tributos as nações estranhas (20—32); I X — por jim, convidamrse todas as nações a celebrar o poder do Deus de Israel (33— 36).

1. Ao Mestre de canto.

I

D e David.

Salmo.

Cântico.

2. Levanta-se Deus; dispersam-se os seus inimigos, E diante dele fogem os que lhe têm ódio. 3. Dispersam-se como se dispersa a fumaça. Como ao fogo se derrete a cera, Assim, à vista de Deus, perecem os pecadores. 4. Mas os justos, na presença de Deus, regozijam-se e exultam, E gozam com alegria.

II

5. Celebrai a Deus, cantai um salmo a seu nome, Aplainai os caminhos ao que avança pelo deserto; Senhor é o seu nome, Exultai na sua presença. 6. Pai dos órfãos e defensor das viúvas, Deus habita no seu santuário. 7. Aos abandonados prepara Deus uma casa, Leva os cativos à felicidade. Só os rebeldes ficam no deserto ardente.

I II

8. Quando saístes, ó Deus, à frente de vosso povo, Quando avançastes pelo deserto, 9. Abalou-se a terra; desfizeram-se os céus, Na presença de Deus tremeu o Sinai, Na presença de Deus, do Deus de Irsael. 10. Para a vossa herança mandastes, ó Deus, chuva abundante, E quando esgotada, a restaurastes.

Ps. 67, 11-25 ----- 1SI

11. Morou a vossa grei neste país Que, na vossa bondade, ó Deus, preparastes para o pobre. IV

12. O Senhor profere uma palavra; É grande o número dos mensageiros da vitória: 13. “ Fogem, fogem os reis dos exércitos; Os moradores das casas repartem os despojos. 14. Enquanto dormíeis no aprisco dos rebanhos Fulgiam de prata as asas da pomba E do brilhar do ouro as suas penas. 15. Enquanto o Onipotente dispersava os reis, Caíam flocos de neve no Selmon!” 16. Montanha sublime, a montanha de Basan, JVlontanha de altos cimos, a montanha de Basan, 17. Por que olhais com inveja, montanhas sublimes, A Montanha que Deus escolheu para morada ? Sim, nela habitara para sempre o Senhor. 18. São milhares e milhares os carros de Deus: Do Sinai vem o Senhor no seu santuário. 19. Ascendestes nas alturas, levastes os cativos, Recebestes os homens como presentes, Ainda aqueles que recusavam habitar com o Senhor Deus.

VI

20. Bendito seja o Senhor, dia após dia; Leva o nosso fardo, Ele, o Deus que nos salva! 21. O nosso Deus é um Deus libertador, Da morte nos livra o Senhor Deus. 22. Sim, Deus parte a cabeça de seus inimigos, O crânio cabeludo do que persiste nas suas iniqüidades. 23. Havia dito o Senhor: “ De Basan os farei voltar, Fá-los-ei voltar das profundezas do mar, 24. Para que banhes no sangue os teus pés E as línguas dos teus cães tenham o seu quinhão dos inimigos” .

VII

25. Vêem a vossa entrada, ó Deus, A entrada do meu Deus e do meu rei no seu santuário:

1 3 2 ----- Ps. 67, 26-36

26. Na frente os cantores, no couce os músicos, No meio, as donzelas tocando tamborins. 27. “ Nas reuniões festivas bendizei ao Senhor. Bendizei ao Senhor, filhos de Israel.” 28. Aí está Benjamin, o mais novo, que marcha na frente, Os príncipes de Judá com as suas tropas Os príncipes de Zabulon, os príncipes de Nephtali. V III

29. Manifestai, ó Deus, o vosso poder, Confirmai, ó Dêus, o que por nós tendes feito. 30. Por causa do vosso templo que domina em Jerusalém Os reis vos oferecerão presentes! 31. Reprimi a fera do canavial, A tropa dos touros com os novilhos dos povos. Prostrem-se com barras de prata: Dispersai os povos que se comprazem na guerra. 32. Venham os poderosos do Egito, Para Deus estenda a Etiópia as suas mãos.

IX

33. Reinos da terra, cantai a Deus, Celebrai ao Senhor, 34. Que é levado pelos Céus, pelos céus antigos! Eis que Ele faz ouvir a sua voz, voz poderosa: 35. “ Reconhecei o poder de Deus!” Sobre Israel resplandeceu a sua majestade, E nas nuvens a sua potência. 36. De seu santuário é temível Deus, o Deus de Israel; Ê Ele que ao seu povo dá força e vigor: Bendito Deus! O texto do Salmo acha-se muito alterado. Não é possível dar sempre uma interpretação segura. Há breves referências a fatos históricos que nos são pouco conhecidos. 5 — aptanai os caminhos: Cf. Is. 40, 3 sgs.

6 — O que de modo geral aqui se afirma pode também aplicar-se ao cuidado e providência de Deus em relação ao seu povo que tornava do Egito. 7 — rebeldes: os israelitas que no deserto não obedeceram ao Senhor; Cf. Num. 16. 8 — quando saístes à frente do vosso povo; em forma de coluna de fogo e de nuvem (Ex. 13, 21 sgs.; Num. 14, 14). 9 — Cf. E x. 19, 16— 19; descrição semelhante em Ide. 5, 4 sgs.

Ps. 67-68 ----- 133

10— 11 — Trata-se aqui do maná e das codornizes ou da providência de Deus em preparar para o seu povo a terra de Canaã. 12— 15 — Combates contra os reis que disputam aos israelitas a posse da terra de Canaã. 12 — profere uma palavra: do Senhor depende a vitória; a sua palavra decide o combate. 13 — os moradores das casas, em hebraico newat— bayit; nãwâ(h), “ habi­ tação” , no sentido coletivo = “ moradores” (cf. J o u o n , Oram,, hebr. 1340); segundo outros, n ‘wat deriva de nãwe{h) (Ier. 6, 2) = nâ,'we(h) “ ameno” , “ belo” ; “ a belezade casa” = a mulher. Os soldados, de volta do combate, trazem abundantes despojos que se repartem em casa. 14 — Este verso, muito obscuro, tem recebido muitas interpretações. Parece que se trata das tribos que não se empenharam no combate (dormíeis) ocu­ padas em apascentar os rebanhos (cf. Ide. 5, 15— 17) enquanto Israel vencedor (pomba) cf . Ps. 73 [74], 19) refulgia de ouro e prata {irados aos inimigos ou lutava com armas refulgentes. Outros vêem na pomba a Arca revestida de ouro. 15 — caíam flocos de neve: os soldados inimigos caíam numerosos como flocos de neve. Outros dão outras interpretações. 16 — no Selmon; parece tratar-se dos altos montes da Auranitis que Ptolomeu (Oeogr. 5, 15, 8) chama Asalmanon (lição variante por Alsadamos) (cf. v. 16). 17 — com inveja: Deus não escolheu a estas montanhas sublimes para a sua morada, mas a montanha de Sião. 18— 19 — Após a vitória, a Arca da Aliança que acompanhou os guer­ reiros, é levada, juntamente com os prisioneiros, à montanha de Sião. 18 — milhares e milhares', literalmente: “ milhares de repetição” , isto é, milhares repetidos, muitos. 19 — que recusavam habitar: talvez o salmista tenha em vista os jebuseus que não quiseram submeter-se ao rei D avid (2 Sam. 5, 6— 8; 1 Par. 11, 5). 22 — crânio cabeludo: isto é, inimigos terríveis pela barbaridade feroz o pelo aspecto truculento. 23 — De Basan, isto é, dos altos montes em oposição às profundezas do mar. 24 — banhes os teus pés: cf. Ps. 57 (58), 11. — os cães tenham o seu quinhão, como aconteceu na morte de Jezabol (cf. 4 Reg. 9, 36). 31 — o /era do canavial: o Egito, cujo símbolo é o crocodilo (Ez. 29, 3) escondido nos canaviais do Nilo (cf. v. 32). — a tropa dos touros com os novilhos dos povos: a tropa dos fortes, dos chefes, com os povos que os seguem como novilhos; cf. Ier. 46, 200.

SALMO

68 (69)

w iiA g à O DE UM JUSTO EM E X T R E M A A F L IÇ Ã O P E L A CA U SA D E DEUS

I — O Salmista descreve sua aflição com várias metáforas que lhe encarecem a intensidade (2— 5);

1 3 4 ----- Ps. 68, 2-7 II — sojre esta perseguição, não só injustamente, mas porque foi jiel a Deus (6— 13); III — por isto, pede a Deus que o livre da angústia (14— 22); IV — para os perseguidores injustos impreca o justo castigo (23—29); V — promete louvores e ações de graças (30— 33). Segue-se a apli­ cação aos israelitas exilados em Babilônia que esperam res­ tauração da cidade de Jerusalém e do reino de Judá (34— 37).

a

Aro Novo Testamento muitas vezes aplica-se este Salmo a Cristo: Jo. 2, 17 (o zelo de vossa casa, v 10), Jo. 15, 25 (odiaram-me gratuitamente, v. 5); Rom. 15, 3 (impropérios dos que insultavam ■= v. 10); Mal. 27, 34 (vinho misturado com jel = v. 22a), Mat. 27, 48 e paralelos (embe­ bem a esponja no vinagre = v. 22b). Act. 1, 16— 20 sorte do trai­ dor Judas — v. 26). Em consenso unânime Padres e exegetas consideram messiânico o salmo, e grande diretamente messiânico (v. infra ao v. <S).

(da os Santos os a maioria afirma-o

1 . A o Mestre de canto.

I

Conforme a melodia de “ os lfri os” .

D e D a v id.

2. Salvai-me, ó Deus, Porque me subiram as águas até o colo. 3. Estou imerso num abismo de lodo, Onde não há firmar pé; Entrei no pego profundo E me submergem as ondas. 4. Cansado estou de clamar, Enrouqueceu a minha garganta; Finaram-se-me os olhos Enquanto espero o meu Deus. 5. São mais numerosos que os cabelos de minha cabeça Os que, sem razão, me têm ódio. São mais fortes que os meus ossos Os que injustamente são meus inimigos. O que não roubei, devo porventura restituir?

II

6. Conheceis, ó Deus, a minha insipiência, E não te são ocultos os meus delitos. 7. Não sejam confundidos por minha causa, os que em Vós esperam, Senhor, Deus dos exércitos. Nem por minha causa se cubram de pejo Os que Vos buscam, Deus de Israel.

Ps. 68, 8-21------ 135

8. Por Vós sofro opróbrios, E a confusão me vela o rosto. 9. A meus irmãos tornei-me estranho, E forasteiro aos filhos de minha mãe. 10. Devorou-me o zelo de vossa casa, E sobre mim recaíram os ultrajes dos que Vos afron­ tavam. 11. Com jejuns afligi a minha alma; E foi para mim uma ocasião de insultos. 12. Vesti-me de um cilício, E fui objeto de seus sarcasmos. 13. Murmuram contra mim os que se assentam à porta, E escarnecem-me os que bebem vinho. III

14. Mas eu a Vós, Senhor, dirijo a minha oração No tempo favorável, ó Deus. Ouvi-me na vossa imensa bondade, Na vossa fidelidade em socorrer. 15. Tirai-me do lodo para que não fique submergido, Livrai-me dos que me têm ódio, E das águas profundas. 16. Para que me não afoguem as ondas. Nem me devore o abismo, Nem sobre mim se feche a boca do poço. 17. Escutai-me, Senhor, porque compassiva é a vossa bondade; Voltai-Vos para mim na vossa imensa misericórdia. 18. Não aparteis do vosso servo a vossa face; Estou atribulado; dai-Vos pressa em ouvir-me. 19. Aproximai-Vos de minha alma; resgatai-a; Por causa de meus inimigos, livrai-me. 20. Conheceis meu opróbrio, minha confusão e minha igno­ mínia, Ã vossa vista estão todos os que me afligem, 21. O opróbrio partiu-me o coração, E desfaleci; Esperei quem de mim se compadecesse, E ninguém houve; Quem me consolasse, E não encontrei.

1 3 6 ----- Ps. 68, 22-37

22. No meu alimento puseram fel, Na minha sede deram-me a beber vinagre. IV

23. Que a sua mesa lhes seja para, eles uma armadilha, E para os amigos um laço. 21. Obscureçam-se-lhes os olhos para que não vejam, E sempre lhes vacile o dorso. 25. Derramai sobre eles a vossa indignação, E os alcance o fogo de vossa cólera. 26. Sejam desoladas as suas casas. E nas suas tendas não haja quem habite. 27. Porque perseguiram aquele a quem golpeastes, E agravaram a dor, daquele a quem feristes. 28. Deixai E 29. Sejam E

V

que ajuntem iniqüidade sobre iniqüidade, não cheguem a participar da vossa justiça. riscados do livro dos vivos, não se inscrevam os seus nomes entre os justos.

30. Quanto a mim, que me vejo na pobreza e na dor, Proteger-me-á, ó Deus, o vosso socorro. 31. Em cânticos louvarei o nome de Deus, E o glorificarei com minhas ações de graças. 32. E isto a Deus será mais grato que um touro Ou um novilho já com pontas e unhas. 33. Vede, humildes, e alegrai-vos; Vós que buscais a Deus, reviva o vosso coração. 34. Que aos pobres ouve o Senhor, E aos seus cativos não despreza. 35. Louvem-no os céus e a terra, Os mares e tudo o que neles se move. 36. Sim, Deus salvará Sião, E reedificará as cidades de Judá: Aí hão-de morar e as possuirão os seus servos. 37. A descendência deles há-de recebê-las em herança, E os que lhe amam o nome nelas terão sua morada.

5 — O que não roubei devo porventura restituir: expressão usada t alvez como provérbio para afirmar a própria inocência. 6 — O Salmista parece que cometeu pecados, negando os de que lhe acusam os inimigos. Evidentemente, isto não se pode aplicar a Cristo. Por esta

Ps. 68; 69, 2-6 —

137

rftzão os que defendem a interpretação diretamente messiânica, por “ insipiência” e “ delitos” entendem os pecados que Cristo, inocente, tomou sobre si. 12 — cilício: veste de luto (cf. Ps. 29 (39) 12; 34 (35) 13). 22 — fel, em hebreu r ô '“, planta que destila um suco amargo e venenoso. 23— 28 — Como Job e Jeremias, o Salmista impreca para os seus inimi­ gos o castigo que, por justos juízos de Deus, se devem aos ímpios, segundo a norma de retribuição (lei de talião) que vigorava no Antigo Testamento (cf. v. 27). 23 — mesa, trata-se da mesa dos orientais que não passava de uma es­ teira estendida em terra, onde fàcilmente se podia tropeçar. 24 — vacile o dorso: isto é, desfaleça o corpo. 27 — O Salmista confessa que Deus o aflige mas não diz que é por causa de seus pecados, como vão repetindo seus acusadores. 28 — Permiti que, endurecidos vão acrescentando pecados sobre peca­ dos, como outrora Faraó (cf. Ex. 7, 3 etc.).

SALMO

69 (70)

PETIÇÃO DO AUX Í LIO DIVINO

Com. poucas aUerações é este Salmo idêntico ao 39 (40) 14— 18, do qual pa­ rece que foi separado como perfeita invocação do auxílio divino.

1.. Ao Mestre de cântico.

D e David.

Para lembrança.

2. Comprazei-Vos, Senhor, em livrar-me; Apressai-Vos, Senhor, em socorrer-me. 3. Cubram-se de confusão e de pejo Os que procuram tirar-me a vida. Recuem e corem de pudor Os que se comprazem na minha desgraça. 4. Afastem-se cobertos de vergonha Os que me dizem: “ oh! oh!” 5. Exultem e rejubilem em Vós Todos os que Vos procuram; E digam sempre: “ Glória ao Senhor” , Os que desejam vosso auxílio. 6. Eu, porém, sou desvalido e pobre, Socorrei-me, ó Deus. Sois meu protetor e libertador: Não tardeis, Senhor!

138---- Ps. 70, 1-10

SALMO “ não

70 (71)

M E DESAM PAREIS N A v e l h i c e ”

O autor anônimo deste Salmo é um varão piedoso já entrado em anos (w. 9— 18) e perseguido (w. 4, 10, 11, 24). O Salino que te apropria de muitas expressões de outros Salmos repete muitas vezes as mesmas idéias. I — O piedoso ancião que desde a injância joi sempre protegido por Deus, sempre nele confiou e o louvou sempre, implora-lhe o auxilio nas calamidades que o oprimem (1— 8); II — descreve os desígnios perversos dos inimigos e pede socorro va­ lioso a Deus, a quem sempre será grato (9—16); III — relembra o auxílio de Deus jd experimentado em muitas outras dijiculdades da vida e roga-Lhe que também o ajude na velhice, prometendo louvores a Deus por este benefício (17— 24).

I

1. Em Vós, Senhor, procuro refúgio, Para que nunca eu seja confundido; 2. Na vossa justiça livrai-me e defendei-me; Inclinai a mim os vossos ouvidos e salvai-me. 3. Sede para mim um rochedo inexpugnável, Uma cidadela forte que me defenda: Que meu rochedo e minha cidadela sois. Vós. 4. Arrancai-me, meu Deus, das mãos do malvado, Dos punhos do ímpio e do opressor: 5. Sois, ó meu Deus, a minha esperança, A minha confiança, Senhor, desde a mocidade. 6. Em Vós me apoiei desde que vim ao mundo; Desde o seio materno me amparastes: Em Vós esperei sempre. 7. Para muitos tenho sido como um portento; Porque fostes para mim um protetor poderoso. 8. Meus lábios estiveram cheios de vossos louvores, E de vossa glória, todos os dias.

II

9. Não me desampareis na minha velhice; E, quando me declinarem as forças, não me abandoneis. 10. Falam de mim os meus inimigos, Observam-me e contra mim conspiram,

Ps. 70, 11-23 —

139

11. Dizendo: “ Deus o abandonou; Persegui-o e prendei-o, Porque não há quem no-lo tire das mãos.” 12. Não Vos afasteis de mim, ó Deus, Dai-Vos pressa, meu Deus,-em socorrer-me. 13. Confundidos sejam e pereçam Os que me atentam contra a vida; Cubram-se de vergonha e de pudor Os que procuram minha desgraça. 14. Eu, porém, hei-de esperar sempre, E a todos os vossos louvores acrescentar louvores. 15. Minha boca anunciará a vossa justiça, E, todo o dia, os vossos auxílios, Porque não lhes conheço limites. 16. Contarei as obras poderosas de Deus, E proclamarei, Senhor, a vossa justiça, só a vossa. III

17. Vós me haveis instruído, ó Deus. desde a minha juventnde, E até agora proclamo as vossas maravilhas. 18. E até à velhice e aos cabelos brancos Não me desampareis, ó Deus, Até que à geração presente anuncie a força de vosso braço, E às vindouras todas, o vosso poder, 19. E a vossa justiça que se eleva, ó Deus, até aos céus, Nas grandes cousas que fizestes: Quem semelhante a Vós, ó Deus? 20. Sobre mim impusestes tribulações, Muitas e penosas; E de novo me trazeis à vida E dos abismos da terra de novo me elevais. 21. Aumentai a minha dignidade, E ainda uma vez consolai-me. 22. Eu também, ó Deus, celebrarei no alaúde a vossa fidelidade, E Vos cantarei na citara, Santo de Israel. 23. A alegria estará em meus lábios, quando Vos cantar; E na minha alma que resgatastes.

140 — Ps. 70, 24; 71, 2

24. Minha língua também dirá, cada dia, a vossa justiça, Porque foram confundidos e envergonhados Os que buscavam a minha desgraça. I — No texto massorético o Salmo não tem título; a versão alexandrina (códice Vaticano) e a Vulgata atribuem-no a David. 6 — me amparastes, em hebreu gôzí, palavra de significação incerta (cf. Z o r e ll , Lex hebr. na palavra gãzâ(h)); S. Jerónimo: “ protetor” . 7 — portento: porque, aflito por tantas calamidades na vida (v. 20), sempre auxiliado por Deus.

foi

II — Desta vez esperam os adversários que não será salvo. 14 — literalmente “ acrescentarei a todo louvor vosso” , isto é, sempre Vos hei-de louvar. 15 — limites: em hebreú shephãrôt, hapaxlegomenon, que parece signi­ ficar "numeração” . São incontáveis os auxílios de Deus ao Salmista. 21 — Aumentai a minha dignidade: aliviando-me da aflição em que me acho. 22 — O Santo de Israel; assim se chama Deus (com muita freqüência em Isaías) para acentuar ao mesmo tempo a sua santidade e o vínculo especial com que a Ele se acha ligado o povo de Israel.

S A L M O 71 (72) O R E IN O DO MESSIAS

Segundo a tradição judaica e cristã, este Salmo trata do Messias e do seu reino. E como a este reino se atribui uma duração perpétua (5— 7) e uma extensão universal (8— 11, 17), o Salmo é diretamente mes­ siânico; o Salmista porém, ao descrever a natureza do reino messiânico, parece ter tido diante dos olhos as condições do reino de Salomão. O reino do Messias é celebrado I II III IV V

— — — — —

como justo e benéfico (1— 4); eterno (5— 7); universal (8— 11); benigno para os humildes e ajlitos (12— 14); próspero e glorioso para sempre (15— 17).

1. D e Salomão.

I

Dai, ó D eus, ao rei a vossa e qüidade, E ao filho do rei a vossa justiça, 2. Para que governe com justiça o vosso povo, E com eqüidade os vossos pequeninos.

Ps. 71, 3-17 -----i 4 i

3. Para o povo tragam as montanhas a paz, E as colinas, a justiça. 4. Ele protegerá os hum ildes do povo, Salvará os filhos dos pobres E esmagará os opressores. II

5. Ele viverá tanto quanto o sol, E quanto a lua, através das gerações. 6. Descerá como a chuva sobre a relva, Como os aguaceiros que irrigam a terra. 7. Florescerá em seus dias a justiça, E uma paz profunda até que cesse de existir a lua.

III

8. E dominará de um a outro mar, E desde o rio até aos confins da terra. 9. Diante dele se curvarão os seus inimigos, E morderão o pó os seus adversários. 10. Os reis de Tarsis e das ilhas lhe oferecerão presentes; E lhe trarão seus dons os reis da Arábia e de Sabá; 11. Hão-de adorá-lo todos os reis, E servi-lo todos os povos.

IV

12. Ele há-de livrar o pobre que o invoca, E o miserável que não tem defensor. 13. Terá compaixão do fraco e do indigente, E salvará a vida dos desvalidos. 14. Há-de livrá-los da injustiça e da opressão, E aos seus olhos será precioso o seu sangue.

V

15. Por isso viverá; hão-de oferecer-lhe o ouro da Arábia; Por ele hão-de orar sempre; E bendizê-lo sem cessar. 16. Haverá na terra fartura de trigo; Nos cimos das montanhas Hão-de sussurrar as messes como no Líbano. E florescerão os habitantes das cidades, como a erva dos campos. 17. Para sempre será bendito o seu nome; E se perpet uará enquanto brilhar o sol,

142 —

Ps. 71, 18-19

E nele serão benditas todas as raças da terra; Todas as nações hão-de proclamá-lo feliz. * * *

18. Bendito o Senhor Deus de Israel, Só ele opera maravilhas; 19. Bendito o seu nome glorioso através dos séculos, De sua glória se encha toda a terra. Assim seja! Assim seja!

1 — O título não é criticamente certo; fa lta em 5 manuscritos; 3 out unem este Salmo com o precedente; a versão siríaca peshitto e alguns manuscritos gregos atribuem-no a David. Os L X X e a V u lg ata interpretam o título “ para Salomão” . — ao r e i ... ao filho do rei: o próprio M essias é rei e descendente de estirpe real. O Salmista deseja-lhe q u e julg ue (mispãt) de acordo com a rectidão e excela pelos dotes do governo (sedãgâ(h)). 3 — tragam as montanhas__ as colinas, isto é, toda a região habitada pelo seu povo. 5— 7 — A duração eterna do reino é comparada à do sol e da lua, isto é, à duração do mundo. 8 — do mar, a saber, ocidental (Mediterrâneo) ao mar, a saber, orient'.'. (talvez o golfo pérsico), do rio (Eufrates) aos confins da terra (ilhas e terras do ex­ tremo Ocidente), portanto por toda a terra. 9 — inimigos: o texto massorético lê siyytm (Vulgata, Etlopes), pala­ vra que, em outros passos, é empregada para designar os animais do deserto; é du­ v idoso que se possa aplicar a homens. O paralelismo inculca a lição sãrtm (ou sãrã(y)w). — morderão o pó: expressão semítica que significa plena submissão (cf. Gen. 3, 14; Mich. 7, 17). 10 — Tarsis: çf. Ps. 47 (48), 8; ilhas: as ilhas e costas do Mediterrâneo; reis da Arábia (em hebraico sebã, na Arábia) e Sàba (hebr. s bâ’, provavelmente nas costas ocidentais do golfo arábico), regiões ricas em ouro. 14 — o seu sangue = a sua vida: não permitirá a efusão de sangue ino­ cente (cf. Ps. 115 (116), 15). 15 — hão-de ojerecer-lhe, em hebreu no singular, mas em sentido inde­ terminado (= e m francês “ on donnera” ). — hão-de orar: para o êxito feliz do seu reinado. 16 — É a predição da fartura de trigo (ver nos profetas as descrições da fertilidade da terra, v. g. Am. 9, 13; Joel 3, 18) e da multidão dos homens (se 0 texto não está alterado). 18— 19 — D oxologia que põe fecho ao segundo livro dos Salmos e nãoportnnco ao Salmo. Cf. Ps. 40 (41), 14. Acrescentam-se estas palavras: “ Terminam M proco» di’ David, filho de Jesse” ; a maior parte dos Salmos deste livro II é a tribuídft • Divvid (Pss. 50—69 (51— 70)).

LIVRO

III

Salmos 72—88 (73—80) SALMO

72 (73)

O ENIGM A DA F E LIC ID A D E DOS MAUS E SUA SOLUÇÃO

Como os Salmos 36 (37) e 48 (49) trata este Salmo, dos mais belos, do pro­ blema de conciliar a prosperidade e felicidade do ímpio com a justiça de Deus. A resposta aqui ê mais perfeita e mais profunda do que nos Salmos anteriores: não é nesta terra que se decide o nosso destino, há outra vida em que perecerão os ímpios e gozarão de Deus os bons. No proêmio (1— 3) o Salmista confessa que se perturbou a sua fé na bondade de Deus, à vista da felicidade dos ímpios. Depois, 1 — descreve a sorte dos ímpios (4— 12): a sua felicidade e soiberla (4— 9), a sua autoridade funesta sobre o povo (10— 12); H — narra as suas lutas interiores e os esforços baldados de encon­ trar com as próprias forças a solução que emfim lhe veio do “ santo de Deus” , isto é, dos desígnios secretos de Deus, conhe­ cidos por luz divina (13— 17); III — mostra a sorte e o paradeiro dos maus que não passam de “ ficção” , aparência vã; insensato é quem o não entende (18—22); IV — Deus, pelo contrário, chama a si o justo, dirige-o com sabedoria, acolhe-o na glória em que ele próprio, único e sumo Bem, será o seu quinhão para toda a eternidade (23— 28).

1. Salmo de Asaph.

Quão bom é Deus para o homem reto, O Senhor, para os corações puros! 2. A mim, porém, por pouco me resvalaram os pés, Por um triz me escorregaram 03 passos, 3. Ao ter inveja dos ímpios, E ao observar a prosperidade dos pecadores. 4. Para eles não há sofrimento; Sadio e nédio é o seu corpo.

144 —

Ps. 72, 5-21

5. Da miséria dos mortais não partilham, Nem, como os outros homens, são castigados. 6. Por isto cinge-os a soberba como um colar, E envolve-os a violência como uma túnica. 7. Do coração endurecido mana-lhes a iniqüidade, E jorram-lhes vãos os pensamentos. 8. Zombam e falam com malignidade, E, arrogantes, ameaçam opressão. 9. Contra os céus dirigem a sua boca, E pela terra v ai discorrendo a sua língua. 10. Por isto para eles se volta o meu povo, E bebe a água a largos sorvos. 11. E diz: “ Como saberia Deus? “ Teria disto conhecimento o Altíssimo ?” 12. Vêde: estes são os pecadores, E, sempre tranqüilos, aumentam a sua fort una. II

13. Foi então debalde que conservei puro o meu coração, E na inocência lavei as minhas mãos? 14. Em todo o t empo tenho sido provado, E de cada dia é o meu castigo. 15. Se pensasse: V ou falar como eles, Teria atraiçoado a raça de vossos filhos. 16. Pus-me a refletir para conhecer estas cousas, E aos meus olhos pareceram de grande dificuldade, 17. Até que entrei nos segredos de Deus E atentei no fim dos maus.

III

18. Sim, Vós os colocais em estradas escorregadias, E os despenhais na ruína. 19. Como num momento se finaram, Desapareceram, consumidos por uma catástrofe! 20. São, Senhor, como um sonho ao despertar: Acordando, lhe desprezais a imagem. 21. Quando se me exacerbava a alma, E me pungia o coração,

Ps. 72, 22-28 —

145

22. Era um insensato que não compreendia, Era como um jumento diante de Vós. IV 23. Mas estarei sempre convosco. Pela mão direita Vós me tomastes; 24. Guiar-me-eis com o vosso conselho, E, por fim, me recebereis na glória. 25. Para mim, fora de Vós, quem há nos céus? E, se estou convosco, nada, na terra, me agrada. 26. Desfalece a minha carne e o meu coração, A rocha de meu coração e a minha herança será Deus para sempre! 27. Perecerão os que de Vós se apartam; Exterminais todos os que Vos quebram a fé. 28. Mas para mim, viver unido a Deus é minha felicidade. Pôr no Senhor Deus o meu refúgio. Narrarei todas as vossas obras Nas portas da filha de Sião.

1 — para o homem reto. .. Deus: O texto massorético e as vers pondo as mesmas consoantes, lêem “ Israel” , mas sem fundamento. Este Salmo sapiencial trata do homem de modo geral. 7 — A soberba e a violência são as suas vestes e adornos. 10 — O texto massorético parece falseado: nossa interpretação apóia-se nas versões antigas. 11 — E diz: a saber; o homem do povo, seduzido pelos poderosos. 15 — O Salmista deseja permanecer fiel à tradição dos piedoso3 filhos de Deus.

17 — segredos de Deus (sonda Dei): não pode significar o templo, m os conselhos divinos que são como o santuário íntimo de Deus. Deus, portanto, o iluminou sobre os seus desígnios.

20 — Acordando, isto ê, para julgar; aos olhos de Deus não passam uma imagem, aparência vã que se despreza e não se tem em conta. A forma bã'tr, sincopada está em lugar de bekã'ir (cf. J ouon, Gram. hebr. 54b; Ges.— K autzch, Hebr. Gram. 28 53b). 24 — na glória (no estado de glória ou na visão de Deus) por }im (he 'ahar, no fim, após esta vida) me recebereis (hebr. tíqqãhênt; cf. Ps. 48 (49), 16). í;. portanto, a afirmação de uma felicidade eterna na outra vida. 25—26 — Em comparação deste sumo bem, ünicamente desejável, niidn hAo todos os bens terrenos; a única felicidade 6 viver “ unido a Deus” (28).

146 —

Ps. 73, 1-11

SALMO LAM ENTAÇÃO

E

OE A Ç Ã O

A

73 (74)

PROPÓSITO

DA

PR O FAN AÇÃO

DO

TEMPLO

Incendiado o templo petos Caldeus (a. 587), o Salmista I — descreve vivamente as devastações e profanações do templo le­ vadas a efeito pelos inimigos e pede a Deus que se compadeça de seu povo (1— 11); II — meditando piedosamente tudo quanlo fez Deus ao livrar o seu povo do Egito e ao criar magrúficamenie o mundo (12— 17) pede com mais ardor o auxílio de Deus, de cuja causa se traia (18— 23).

1. Máskíl.

I

D c Asaph.

Por que razão, ó Deus, nos rejeitastes para sempre, Chameja a vossa cólera contra as ovelhas de vosso pasto ? 2. Recordai-Vos da comunidade que fundastes outrora, Da tribo que resgatastes para ser possessão vossa, Do monte Sião, onde colocastes a vossa morada. 3. Dirigi os vossos passos para estas ruínas irreparáveis: Tudo, no santuário, devastou o inimigo. 4. No lugar de vossas reuniões rugiram os vossos adversários, E como troféus hastearam os seus estandartes. 5. Assemelharam-se aos que brandem o machado No espesso da floresta, 6. E despedaçaram-lhe também as portas Com achas e martelos. 7. Atearam fogo ao vosso santuário, Profanaram em terra o tabernáculo do vosso nome. 8. Disseram em seu coração: “ Destruamo-los todos, juntos. Incendiai todos os santuários de Deus na terra V 9. Já não vemos nossos milagres; já não há profeta; Nem, entre nós, quem saiba até quando. 10. Até quando, ó Deus, nos afrontará o inimigo ? Blasfemará sempre o adversário o vosso nome ? 11. Por que retirais a vossa mão, E conservais no seio a vossa destra ?

Ps. 73, 12-23 — 147 II

12. Mas Deus é meu rei desde os tempos antigos, Ele que, no meio do mundo, levou a termo tantas libertações. 13. Com o vosso poder fendestes o mar, Esmagastes, entre as ondas, a cabeça dos dragões. 14. Quebrastes as cabeças de Leviathan, E o destes como pasto aos monstros marinhos. 15. Fizestes jorrar as fontes e as torrentes, E secastes rios eaudalosos. 16. A Vós pertence o dia; a Vós, a noite; O sol e a lua, Vós os criastes. 17. Fixastes todos os confins da terra; O verão e o inverno, Vós os fizestes. 18. Reccrdai-Vos disto; insulta-Vos o inimigo, Senhor, E um povo insensato amaldiçoou o vosso nome. 19. Não entregueis ao abutre a vida da vossa rola: Não esqueçais para sempre a vida dos vossos desvalidos. 20 . Atentai na vossa aliança, Porque de violência estão cheios os esconderijos da terra e do campo. 21. Não volte confuso o oprimido: Louvem o vosso nome o aflito e o indigente. 22. Erguei-Vos, ó Deus; defendei a vossa causa; Lembrai-Vos do ultraje que, todos os dias, Vos atira o insensato. 23

Não olvideis os clamores de vossos adversários: Sobe continuamente o tumulto dos que, contra Vós, se insurgem.

1 — para sempre (cf. vv. 3, 9, 10, 19, 23): esta expressão mostra que se passou muito tempo desde a destruição do templo. Por isto também já se pode dizer que na Palestina “ não há profeta” . Jeremias e Ezequiel foram levados e provàvelmente já morreram. Não há razão de situar o Salmo no tempo dos Macabeus. 5 — O texto hebraico é bastante obscuro. Trata-se da destruição vio­ lenta do ten pio. 6 — portas: segundo os L X X e Symacho. culpida ou burilada” , (cf. 3 R e g . 6, 29).

O

hebreu pittúa

h,

“ obra es­

9 — milagres: (signa) feitos outrora por Deus no povo; profeta, cf. nota ao v. 1.

1 * 8 ----- P„. 73; 74, 2-9 11 — conservais no seio a destra, tranqüila e inativa. 13— 15 — Trata-se do Êxodo: os dragões e Leviatan são os egípcios mortos no mar Vermelho; jontes e torrentes: cf. Ex. 17, 1— 7; Num. 20, 1— 13; rios caudalosos: o Jordão (cf. Jos. 3, sg.).

19 — ao abutre: aos inimigos ferozes; de vossa rola, do povo de Isra (cf. Ps. 67 (68), 14).

SALMO

74 (75)

O SENHOR Ê JUSTO JU IZ DOS POVOS

No -principia (u.2) e no jim (10— 11) o Salmista (o povo) louva a Deus e celebra as suas obras maravilhosas; nos w. 3—9 jala o próprio Deus, anuncia que há-de julgar em tempo por Ele estabelecido ( o. 3), que só Ele é juiz (4—8a) e julga segundo o merecimento de cada um (8b— 9).

1. Ao Mestre de canto. de Asaph.

I

II

Conforme a melodia “ Não destruas” .

Salmo

Cântico.

2. Nós Vos louvamos, Senhor, nós Vos louvamos, Glorificamos o vosso nome e anunciamos as vossas maravilhas. 3. “ No tempo determinado, Julgarei segundo a justiça. 4. Vacilem embora a terra e todos os seus habitantes: Eu lhe firmei as colunas. 5. Aos arrogantes digo: “ Não sejais arrogantes” . E aos ímpios: “ Não levanteis a cabeça” . 6. Não alceis contra o Altíssimo a vossa fronte Contra Deus não faleis com insolência. 7. Não é do Oriente nem do Ocidente, Nem do deserto, nem das montanhas: 8. Deus é quem exerce o julgamento, A um abate, a outro exalça. 9. Nas mãos do Senhor está uma taça De vinho espumante e aromatizado; Dela dá a beber; hão-de esgotá-la até às fezes. Itfto-rlc sorvê-la todos os ímpios da terra.

Ps. 74, 10-11; 75, 2-5 —

III

149

10. Eu, porém, de alegria hei-de exultar, para sempre, Hei-de cantar um hino ao Deus de Jacob. 11. Abaterei toda a força dos ‘mpios; E exaltado será o poder do justo. 6 — contra Deus, literalmente “ contra o R ochedo” .

7 — Enumeram-se os quatro pontos cardiais; da 9 montanhas: da região montanhosa do Norte (da Galiléia e da Síria). É uma figura de aposiopese; su­ bentenda-se: “ vem o julgamento” .

9 — uma taça cheia de poção amarga é muitas vezes símbolo da cól divina (cf. ís. 51, 17; Ier. 25, 15— 17). 11 poder e da força.

— o poder =■ os chifres: na Sagrada Escritura o chifre é símbolo (cf. v. g. Ps. 88 (89), 18; 111 (112), 3; 148, 14).

SALMO

75 (76)

ODE T R IU N F A L , APÓS UMA GRAN DE V IT Ó R IA

Este Salmn parece haver sido composto após uma grande derrota infligida por Deus a um inimigo poderoso. Trata-se com muita probabilidade da retirada repentina do rei Sennacherib (cf. Ps. 45 (46); 47 (48); 4 Beg. 19). O Salmista I — descreve sicmàriamente o jato (2— 4); em seguida, II — narra como, graças ao poderoso auxilio de Deus, os inimigos, tomados de pavor, debandaram (5— 7); III — mostra que a Deus, juiz justo e poderoso, se deve a vitória (8-10); IV — convida os povos vizinhos a honrar o Deus terrivel de Israel, e a oferecer-lhe sacrifícios e votos.

1. Ao Mestre de canto. Cântico.

I

Para instrumentos de corda.

2. Deus manifestou-se em Judá, Em Israel grande é o seu nome. 3. Em Salém está o seu tabernáculo, E em Sião a sua morada. 4. Aí Ele quebrou os raios dos arcos, Os escudos, as espadas e as armas.

II

5. Esplendente de luz, poderoso, viestes Das montanhas eternas.

Salmo de Asaph

150 ---- Ps. 75, 6-13; 76

6. F oram despojados os guerreiros de coração forte; Jazem a dormir o seu sono, Desfaleceram as mãos de todos estes valorosos. 7. Ante a vossa ameaça, ó Deus de Jacob, Imobilizaram-se carros e cavalos. I II

8. Terrível sois; quem pode resistir  veemência de vossa cólera? 9. Do alto dos céus proclamastes a sentença: Tremeu a terra e calou-se, 10. Quando se levantou Deus para julgar, E salvar os oprimidos da terra.

IV

11. Edom, colérico, há-de glorificar-Vos, E os supérstites de Emath Vos hão-de festejar. 12. Fazei votos ao Senhor, vosso Deus, e cumpri-os; Tod os os vizinhos tragam oferendas ao Terrível, 13. Que abate o orgulho dos príncipes E aterroriza os reis da terra.

3 — Salém. — Jerusalém (cf. Gen. 14, 18; Hehr. 7, 1—2). 4 — raios doa arcos: expressão poética para indicar as setas; armas, em hebreu mühãinâ(h), “ guerra” , poèticamente também “ armas bélicas” (cf. Is. 3, 25; 21, 15; 22, 2; Os. 1, 7). 5 — das montanhas eternas: é a lição dos L X X : a palavra hebraica tèreph (** presa) parece ter-se insinuado por engano em vez de oá, que significa tanto eternidade quanto presa (cf. Gen. 49, 27; Is. 33, 23). As montanhas eternas pa­ recem referir-se às montanhas de Jerusalém (cf. Ps. 23 (24), 7: “ portas eternas” ); Deus aparece como vindo do templo (cf. v. 3).

7 — Basta a ameaça divina para que soldados, e cavalos carros seja imobilizados. 11 — Edom o colérico. . . os supérstites de Emath: o texto massoréti lê: “ o furor do homem ('ãdãm) . . . o resto da ira (hêmõt)” palavras que mal se podem explicar. A versão proposta conserva as consoantes e muda s<5 as vogais. Edom e Emath, regiões fronteiras ao Sul e ao Norte da Terra Santa são convidadas a reconhecer o Senhor (cf. v. 12).

SALMO

76 (77)

L A M E N TA Ç ÃO E CONSOLO DO POVO A FLIT O

Este Salmo teve sua origem em tempo de alguma grave e diuturna calamidade, provàvelmente durante o exílio de Babilônia.

Ps. 76, 2 -1 4 ----- 151

0 Salmista I — entrega-se continuamente à oração e meditação mas não encon­ tra nenhum consolo, vendo que se mudou a Providência de Deus em relação ao seu povo (2— 13); mas II — reanima-se ao refletir sobre a santidade e o poder de Deus, ma­ nifestado principalmente ria libertação do Egito e nos milagres operados na passagem do Mar Vermelho (14— 21).

1. Ao Mestre de canto.

I

Conforme a melodia Idithun.

Salmo de A sa p k .

2. Eleva-se minha voz a Deus e clamo. Eleva-se minha voz a Deus para que

me atenda.

3. No dia da amargura procuro o Senhor. Estendi as minhas mãos, durante a noite, sem cansar. Recusa minha alma toda a sorte de consolação . 4. Lembro-me de Deus e entro a gemer; Reflito, e desfalece-me o ânimo.

5. Conservais abertos os meus olhos; E na minha perturbação não posso falar. 6. Repasso na mente os dias de outrora, 7. Lembro-me dos anos antigos: Durante a noite, considero no meu coração, Medito e minha alma indaga: 8. “ Por ventura nos rejeitará Deus para sempre; E não há-de tornar a ser-nos propício ? 9. Esgotou-se para sempre a sua bondade, E já não valerão as suas promessas para as gerações vindouras ? 10. Esqueceu-se talvez Deus de sua clemência, E retirou-nos, na sua cólera, a sua misericórdia?” 11. E eu digo: “ Sim, e aqui está a minha dor; Mudou-se a destra do Altíssimo” . 12. Trago à memória as obras do Senhor, Sim, lembro-me dos vossos prodígios de outrora. 13. E pondero todas as vossas ações, E penso nas vossas façanhas. II

14. Santos, ó Deus, são os vossos caminhos: Haverá Deus tão grande como é o nosso ?

152 ----- l ‘s. 76, 15-21; 77

15. Sois o Deus quo operais maravilhas, E, entre os povos, manifestais a vossa potência. 16. Com o vosso braço resgatastes o vosso povo, Os filhos de Jacob e de José. 17. Viram-Vos as ondas, ó Deus, As ondas Vos viram e tremeram, Fremiram os abismos. 18. Verteram as suas águas as nuvens, Os bulcões desfecharam as suas vozes, E voaram as vossas flechas. 19. Na borrasca ribombou o vosso trovão, Iluminaram os relâmpagos a redondeza do mundo, Abalou-se e estremeceu a terra. 20. Através do mar rasgou-se o vosso caminho, E, por entre muitas águas, a vossa estrada, Sem que aparecessem os vosso vestígios. 21. Conduzistes, como um rebanho, o vosso povo Pelas mãos de Moisés e Arão.

5 — Conscrvasles abertos: à letra: “ tomastes as pálpebras de meus olho para que se não pudessem cerrar com o sono. 14 — Santos. . . são os vossos caminhos: vosso modo de agir, vossa Pro­ vidência foram sempre e são ainria agora santos, isto é, em harmonia com a vossa santidade infinita.

16 — os filhos de Jacob que emigraram para o Egito, e os de José que nasceram (cf. Gen. 46, 26s.). 17— 20 — Descreve-se a intervenção de Deus na passagem do M ar Ver­ melho como uma magnífica teofania (cf. Ps. 17 (18). 11— 16; Ex. 15; Ilab. 3, 8, 10, 11, 15). A aparição de Deus é acompanhada de grandes perturbações da natureza. 20. sem que aparececem os vossos vestígios: a aparição do poder de Deus era invisível aos olhos humanos, mas certíssima. Assim também agora Ele guia o seu povo de modo invisível.

S A L M O 77 (78) B E N E FÍC IO S DE DEUS; IN G R A TID ÃO DO POVO DE ISRAEL

Como os Salmos 104 (105)— 106 (107), também este desenrola a história do povo de Israet para dela deduzir advertências salutares. Pertence, pois, ao gênero histórico-didático e o próprio Salmista o afirma expli­ citamente no proêmio (1—8). A seguir rememora, em 6 partes, os grandes benefícios de Deus e a ingratidão do povo:

Ps. 77, 1 -8 -----153 I — Deus opera milagres no Egito e no Mar Vermelho, assiste o povo com a coluna de jumo e de Jogo, e lhe jaz jorrar água do rochedo (9— 16); II — como o povo descontente ainda murmurasse vianda-lhe o maná e as codornizes, mas castiga-lhe severamente a cobiça (17— 31); III — o povo, havendo experimentado a misericórdia de Deus, não muda e continua a pecar (32—39); IV — o Salmista relembra os milagres operados no Egito, a viagem pelo deserto, e o novo beneficio pelo qual lhe joi concedida posse da terra de Canaã (40— 55); V — mas em Canaã peca o pmo contra Deus, adorando imagens e ído­ los e ê punido com a derrota que lhe injligem osjilisteus (56— 64); VI — por fim. Deus, ainda que lhes conceda vitória dos inimigos, re­ prova o santuário erigido na cidade de Silo, rejeita a tribo de Efraim, escolhe a tribo de Juda e o Monte Sião e consagra rei a David (65— 72).

1. Maákil de Asaph.

Escuta os meus ensinamentos, povo meu; Prestai ouvidos às palavras de minha boca. 2. Abrirei meu lábios para dizer sentenças, E anunciarei enigmas dos tempos antigos. 3. O que ouvimos e aprendemos, O que nos referiram nossos pais, 4. Não havemos de ocultar aos seus filhos; Contaremos à geração futura Os louvores do Senhor e o seu poder E os prodígios que operou. 5. Ele estabeleceu uma regra em Jacob, E fixou uma lei em I srael, Que mandou a nossos pais Transmitissem a seüs filhos, 6. A fim de que a conhecesse a nova geração, E os filhos, que dela nascessem, se levantassem E por sua vez a ensinassem a seus filhos. 7. E assim pusessem em Deus a sua confiança, E não esquecessem os benefícios de Deus, Mas obseryassem os seus mandamentos; 8. E não viessem a ser, como os seus pais, Uma geração rebelde e contumaz,

1 5 4 — Ps. 77, 9-23 Geração de coração inconstante E de espírito infiel a Deus. I

9. Os filhos de Efraim, destros em manejar o arco, Voltaram as costas no dia do combate. 10. Não guardaram a aliança de Deus, Não quiseram andar na sua lei; 11. Esqueceram as suas façanhas E os prodígios que lhes mostrara. 12. Na presença de seus pais obrara maravilhas Em terras do Egipto e nos campos de Tanis. 13. Dividiu o mar para abrir-lhes passagem, Aprumou as águas como um dique. 14. Com uma nuvem guiou-os durante o dia, E toda a noite com um resplendor de fogo. 15. Fendeu os rochedos no deserto, E deu-lhes a beber como em ondas abundantes. 16. Da pedra fez jorrar caudais de água Que correram como rios.

II

17

Mas contra Ele continuaram a pecar, A ofender o Altíssimo no deserto.

18. E tentaram a Deus nos seus corações, Pedindo-lhes iguarias a seu gosto. 19. E falaram contra Deus, dizendo: “ Porventura poderá Deus aparelhar-nos Uma mesa no deserto? 20. Sem dúvida, feriu a pedra, Manaram as águas, Fluíram as torrentes. Mas poderá acaso dar-nos também pão, E preparar carne para o seu p ov o?” 21. Ouviu o Senhor e ficou irritado; Inflamou-se o fogo contra Jacob E ferveu a cólera contra Israel, 22. Porque não tiveram fé em Deus Nem confiaram no seu socorro. 23. Mas, no alto, deu às nuvens as suas ordens, E abriu as portas do Céu.

Ps. 77, 24-40 24. E, para alimentá-los fez chover sobre eles o maná E deu-lhes pão do céu. 25. O homem comeu o trigo dos fortes: Enviou-lhes manjares à saciedade, 26. Desencadeou no céu o vento do Oriente, E com o seu poder fez soprar o vento sul, 27. E sobre eles fez chover carnes como poeira E voláteis como areia do mar. 28. E caíram nos seus acampamentos Ao redor de suas tendas. 29. E comeram e fartaram-se plenamente, E lhes cumpriu os desejos. 30. Não haviam satisfeito este apetite, Estava-lhes ainda na boca o alimento, 31. Quando, contra eles, se acendeu a cólera de Deus: Semeou a morte entre os mais robustos, E prostrou os jovens de Israel. III

32. E, apesar de t udo, pecaram ainda, Não tiveram fé nos seus prodígios. 33. Dissipou-lhes então os dias como um sopro, E, com morte repentina, lhes acabou os anos. 34. Quando os fazia morrer, procuravam-no, Convertidos tornavam a fouscar a Deus. 35. Lembravam-se que Deus era o seu rochedo, E Deus altíssimo o seu Redentor. 36. Mas O enganavam com suas palavras, Mentiam-lhe com a sua língua. 37. Não era com Ele sincero o seu coração, Nem guardavam com fidelidade sua aliança. 38. Mas Ele, misericordioso, perdoava-lhes o pecado E não os exterminava; Muitas vezes reteve a sua cólera E não acendeu contra eles todo o seu furor. 39. Lembrou-se que eram carne, Um sopro que vai e não volta!

IV 40. Quantas vezes o provocaram no deserto E o afligiram no ermo!



155

J 5 6 -----

Ps. 77, 41-57 41. Não cessaram de tentar a Deus E irritar o Santo de Israel. 42 Não se lembraram de seu poder, No dia em que os resgatou do tirano, 43. Quando operou seus milagres no Egito, E seus prodígios no campo de Tanis; 44. E converteu em sangue os seus rios. E as suas águas para que se não bebessem. 45. Enviou contra eles o moscardo que os devorasse E as rãs que os infest assem. 46. Abandonou ao pulgão as suas colheit as E ao gafanhoto o fruto de seu t rabalho. 47. E destruiu com a saraiva as suas vinhas, E os seus sicômoros com a geada; 48. Exterminou com o granizo os seus armentos, E com oe raios abrasou os seus rebanhos. 49. Desfechou contra eles o esto de sua cólera, A indignação, o furor e a tributação: Uma legião de ministros da desgraça.

50. Deu livre curso à sua ira: Não os salvou da morte, Entregou à peste os seus animais. 51. Feriu de morte a todos os primogênitos no Egito, As primícias da virilidade nas tendas de Cham. 52. Elevou o seu povo, como ovelhas, E os guiou como um rebanho, pelo deserto, 53. Dirigiu-os com segurança sem que temessem, Enquanto o mar sepultava os seus inimigos. 54. Conduziu-os até a sua terra santa, As montanhas que a sua destra conquistou; 55. Expulsou diante deles as nações, Distribuiu-as por sorte como quinhão de sua herança E deu suas tendas por morada às tribos de Israel. V

56. Mas ainda tentaram e exasperaram ao Deus Altíssimo, E não cumpriram os seus preceitos. 57. Transviaram e foram rebeldes, como os seus pais, Desencaminharam como um arco infiel.

Ps. 77, 58-72 —

157

58. Provocaram-lhe a cólera nas suas alturas, E picaram-lhe os zelos com os seus ídolos. 59. Ouviu Deus e indignou-se, E teve para Israel grande aversão. 60. E desdenhou o tabernáculo de Silo, A morada onde residira, entre os homens. 61. Entregou ao cativeiro o seu poder E sua glória nas mãos do inimigo. 62. Abandonou à espada o seu povo, E mdignou-se contra a sua herança. 63. Seus jovens, devorou-os o fogo, Suas donzelas não ouviram canto nupcial. 64. Seus sacerdotes pereceram pelo gládio, E suas viúvas não entoaram lamentações VI

65. E despertou o Senhor como homem adormecido, Como guerreiro subjugado pelo vinho. 66. E feriu pelas costas os~seus inimigos, Infligindo-lhes infâmia eterna. 67. E rejeitou o tabernácúlo de José, E repudiou a tribo de Efraim. 68. Mas escolheu a tribo de Judá A montanha de Sião, objeto de seu amor, 69. E construiu o seu santuário, alto como o céu, Estável como a terra que firmou para os séculos, 70. E escolheu a David seu servo, E o tirou de seus apriscos. 71. Chamou-o do cuidado das ovelhas e suas crias, Para ser o pastor de Jacob, seu povo, E de Israel, sua herança. 72. E os governou com coração reto, E os dirigiu com mão prudente.

2 ema didático.

— sentenças: em hebreu mãlã1, semelhança, sentença proverbial,

9 — filhos de EJraim: Efraim foi a tribo mais numerosa e mais poten mas pouco fiel a Deus, Apesar de serem bons sagitários capitularam no combate. Este verso parece indicar metaíòricamente, o que o v. 10 diz com palavras próprias.

1 5 8 ------Ps. 77; 78 12 capital do reino.

— Tanis, cidade do Egito inferior, no delta do Nilo, naquele tem

21 — ferveu: 'ãlâ(h), cf. o árabe ghata{y) “ferveu” (v. g. a panela no fogo carne na panela); aqui se emprega da ira de Deus que se inflama (cf. também v. 3)

25 — trigo dos fortes (àbbtrlm): é como lê a versão de S. Jerônimo; S 1G, 20, os L X X e a Vulgata lêem “ pão dos anjos” ; no Salmo 102 (103) 20, os anjos são chamados "fortes” . O maná é chamado “ pão dos anjos” , porque vem do céu, morada dos anjos (por isto, também "pão do céu” , cf. Jo. 6, 32, 50). 27 ■ — como poeira. . . como a areia: hipérbole poética para significar grande abundância. Cf. Num. 11, 31— 34. 44— 51 — Enumeram-se as pragas do Egito, mas cm ordem um tanto diversa do Ex. 7— 12. Cf. também Sap. 16— 18. 49 — legião (misWiat, emissão, legião enviada) de ministros da desgraça, chamam-se, por personificação, as tribulações. 51 — primlcias da virilidade, literalmente “ princípio da faculdade gene­ rativa” (cf. Gcn. 49, 3 de Ruben). 55 • — dislribuiu-a.s (as nações, isto é, as suas terras) aos israelitas como quinhão de sua herança. 60 — Silo: cf. 1 Sam., 1—4; Ier. 7, 12— 14; 26, 6— 9). 61 — ao cativeiro, dos filisteus (cf. 1 Sam. 4— 6). poder. . . glória, isto é, a arca da aliança. 63 — não ouviram canto nupcial, à letra “ não foram louvadas” , com o carme nupcial: cf. o hebreu moderno hillúlâQi), “ núpcias” . 65 — adormecido. . . subjugado pelo vinho: metáforas a indicar com vigor como Deus que antes parecia descurar o seu povo, saiu de novo em sua defesa. 67— 68 — A Arca já não voltou para Silo, situada na tribo do Efraim, mas o seu santuário se fixou no Monte Sião, na tribo de Judá. 69 — como o céu: hipérbole para encarecer a altura do templo. 71 — do cuidado das ovelhas (prenhadas): literalmente “ de após (as ove­ lhas) que dão leite” , do cuidado dos rebanhos.

S A L M O 78 (79) L A M E N T A Ç Ã O SOBRE AS RU ÍN AS DE JERU SALÉM

O Salmista I — descreve a devastação de Jerusalém e do templo, a matança dos virtuosos, os insultos dos povos vizinhos contra Israel (1— 4): II — implora o castigo para os inimigos e o perdão para ó povo (5— 8); III — mostra que a pr&pria glória do nome de Deus exige que socor­ ra o povo (9— 10); IV — roga com mais insistência o auxílio de Deus e promete eternas ações de graças (11— 13).

Ps. 78, 1-10



159

Parece que o Salmista tem diante dos olhos a destruição de Jerusalém por Sennacherib no ano de 587; os w. 2 e 3, alegados no I Machab. 7, 17 são ai chamados “ palavra que está escrita” .

1. Salmo de Asaph.

I

Ó Deus, invadiram as nações a vossa herança, Profanaram o vosso templo santo, Reduziram Jerusalém a um montão de ruínas. 2. Expuseram os cadáveres de vossos servos, Como pasto, às aves do céu, As carnes de vossos fiéis Âs feras da terra. 3. Derramaram o seu sangue como água Ao redor de Jerusalém, E não havia quem lhes desse sepultura. 4. Chegamos a ser objeto de desprezo Para os nossos vizinhos, De escárnio e zombaria Para os que nos cercam.

II

5-. Até quando, Senhor ? Será eterna a vossa cólera ? Arderá como fogo o vosso zelo? 6. Descarregai a vossa ira sobre as nações Que Vos não conhecem, E sobre os reinos que o vosso nome Não invocam. 7. Eles devoraram a Jacob, E devastaram a sua morada. 8. Não Vos recordeis contra nós Dos crimes dè nossos maiores; Antecipem-se em nosso favor as vossas misericórdias, Porque estamos reduzidos a miséria extrema.

III

9. Assisti-nos, ó Deus e Salvador nosso, Pela glória de vosso nome, Livrai-nos e perdoai-nos os pecados Por amor de vosso nome, 10. Para que se não diga entre os gentios: “ Onde está o seu D eus?”

160 -----Ps. 78, 11-13; 79

Diante de nossos olhos, Apareça entre as nações A vingança do sangue de vossos servos, Que foi derramado. IV

11. Chegue até Vós O gemido dos cativos, Pelo poder de vosso braço poupai Os condenados à morte. 12. E caiam, sete tantos, no seio de nossos vizinhos, As injúrias com que Vos ultrajaram, Senhor. 13. E nós, vosso povo, ovelhas confiadas à vossa guarda^ Havemos de celebrar-Vos para sempre; De geração em geração Proclamaremos os vossos louvores. 2—3 — Os cadáveres jazem sem sepultura.

4 — para os nossos vizinhos: sobretudo Moabitas, Amonitas e Edomitas que foram sempre infensos aos israelitas.

10 — Os povos vizinhos consideram a destruição de Jerusalém e a ruín do povo de Israel como uma derrota do próprio Deus Jahweh.

12 — no seio de: no seio dos vestidos conservam-se as cousas que cad qual levava consigo (cf. Ps. 73 (74), 1 1 ; 88 (89), 51).

S A L M 0 79 (80) “ RESTAURAI A VOSSA VINHA DEVASTADA” !

Em tempo de uma grande calamidade para o reino do norte, o Salmista

I — implora para as tribos do Setentrião o auxilio de Deus, pas­ tor de Israel e guia de José (2.3); II — descreve, a cores vivas, a diuturna calamidade do povo (5— 7 ); III — recorda a Deus os cuidados que dispensou a Israelt sua vinha (9— 12); IV — depois de descrever o estado deplorável em que ora se encontra esta vinha) implora a proteção de Deus (13— 16); V — pede a derrota dos inimigos e a restauração de Israel e promete para o juturo a fidelidade do povo (17— 19). Três vezes repete-se o estribilho do, vv. 4, 8, 20, com insistência cada vez maior (Deus. . . dos exércitos. . . Senhor Deus dos exércitos).

P». 79, 2-15 ----- 161

1 . Ao Mestre de canto.

Conforme a melodia “ O lírio da lei” .

Salmo

de Asaph.

I

2. Vós, que sois pastor de Israel,

E conduzis a José, como um rebanho, atendei. 3. Vós que assentais sobre os Querubins, aparecei com es­ plendor Aos olhos de Efraim, de Benjamim e de Manassés. Despertai o vosso poder, E vinde salvar-nos. 4. Restaurai-nos, ó Deus, Mostrai-nos o vosso rosto propicio, E seremos salvos.

II

5. Deus dos exércitos, até quando estareis irritado Contra o vosso povo que ora? 6. Destes-lhe a comer o pão das lágrimas, E a beber copioso pranto. 7. Para os nossos vizinhos nos fizestes objeto de contendas, E de nós zombam os nossos inimigos. 8. Restaurai-nos, ó Deus dos exércitos, Mostrai-nos o vosso rosto propicio, E seremos salvos.

II I

9. Arrancastes uma vinha do Egipto, Expulsastes as nações para plantá-la. 10. Vós lhe preparastes o terreno; Prendeu raízes e encheu a terra. 11. Com sua sombra cobriram-se os montes, E, com os seus pâmpanos, os cedros de Deus. 12. Até ao mar estendeu as suas vides, E até ao rio, os seus sarmentos.

IV

13. Por que destruistes os seus muros

Para que a vindimem todos os transeuntes? 14. E a devaste o javali das selvas,

E nela pastem os animais do campo? 15. Voltai, ó Senhor dos exércitos, Olhai do céu e vede e visitai esta vinha.

162

— Ps. 79, 16-20; 80 16. Protegei o que plantou a vossa destra, E o sarmento que para Vós fortalecestes.

V

17. Os que lhe atearam fogo e a mutilaram Pereçam ante a ameaça de vosso semblante. 18. Pouse a vossa mão sobre o homem de vossa direita Sobre o filho do homem que para Vós fortalecestes. 19. E não mais nos apartaremos de Vós; Restituir-nos-eis a vida e glorificaremos o vosso nome. 20. Restaurai-nos, ó Senhor, Deus dos exércitos. Mostrai-nos o vosso rosto propicio E seremos salvos. 2 — pastor de Israel: cf. Ps. 22 (23); 73 (74), 1; 77 (78), 52; 78 (79), 13. 3 — Efraim, Benjamin, Manassés são descendentes de R aquel.

6 — copioso, em hebreu sãlis, palavra que parece significar um recipi­ ente que é a terça parte de uma medida maior; o sentido é que Deus deu ao povo uma “ grande medida” de lágrimas (a Vulgata “ in mensura” ). 7 — objelo de contendas: os vizinhos disputam a presa tomada a Israel.

& — vinha: cf. Gen. 49, 22, onde José é comparado com uma vinha xuriante. A alegoria da vinha ou da videira é muito comum (cf. Is. 5, 1— 7; 27, 2— 5: Ier. 2, 21; Mat. 21, 3 3 - 43). 11 — os cedros de Deus, isto é, tão antigos, altos e frondosos como próprio Deus os houvera plantado (cf. Ps. 35 (36) 7, (montanhas de Deus) e provàvelmente (Num. 24, 6). 17 — O texto hebraico é muito obscuro; a correção proposta que muda apenas as vogais oferece um sentido mais fácil. 18 — o homem de vossa direita, isto é, Israel que Deus plantou com a sua direita (cf. v. 16); aqui já se abandona a metáfora.

SALMO

80 (81 )

H IN O E A D V E R T Ê N C IA NUM A SOLEN IDADE FESTIVA

Este Salmo, que parece haver sido cantado na liturgia de uma soleniâBHe festiva (a festa de Páscoa, ou, como julgam, quase todos, a dos Tabernáculos), consta de duas partes bem distintas: A — a primeira é um hino litúrgico em que se convida o povo a celebrar piedosamente uma festa instituída por Deus (2— 6b); B — a segunda é uma advertência profética em que se introduz a falar o próprio Deus (6c— 17), que

Ps. 80, 2 1 3 -----

163

I — lembra a libertação do Egito, a legislação do Sinai e, sobretudo, a lei que prescreve a sua adoração como Deus único (7— 11); II — depois de queixar-se de lhe não haver o povo obedecido, de novo promete aos que obedecerem a proteção contra os inimigos e bênçãos copiosas (12— 17).

1. Ao Mestre de canto.

Conforme a melodia “ Oa lagares..

A 2. Regozijai-vos em honra de Deus, nossa força, Aclamai ao Deus de Jacob. 3. Entoai a salmodia e tocai os tímbales, A citara harmoniosa e a lira. 4. Tocai a trombeta na neomênia, Na lua cheia, dia da nossa festa. 5. É uma instituição de Israel, TTma prescrição do Deus de Jacob. 6. Como lei, Ele o impôs a José Ao marchar contra as terras do Egito. B Ouvi uma linguagem que me era desconhecida: I

7. “ Descarreguei de fardos os seus ombros; E suas mãos já não levam alcofas. 8. A mim clamaste na tribulação e te libertei; Da nuvem que trovejava te respondi, Provei-te nas águas de Meriba. 9. Ouve, povo meu, quero advertir-te: Oxalá me escutes, Israel! 10. Não haverá em ti deus de outro povo, Nem te prostrarás ante deus extranho. 11. Eu sou o Senhor, teu Deus, Que te tirei das terras do Egito: Abre a tua boca e Eu a encherei.

II

12. Mas não ouviu o meu povo a minha voz E não me atendeu Israel. 13. Abandonei-os, por isso, à dureza de seu coração: Sigam os seus caprichos.

De Asaph.

164

-----Ps. 80, 14-17; 81-1 14. Oh! se quisera ouvir-me o meu povo, Se seguira Israel os meus caminhos, 15. Num instante abateria os seus inimigos, E descarregaria minha mão contra os seus perse­ guidores. 16. Os que odeiam ao Senhor o lisonjeariam, E teriam para sempre fixado o seu destino. 17. Mas a ele o nutriria com a flor de trigo, E com o mel do rochedo o fartaria” .

4 — a neomênia, ou lua nova celebrava-se com sacrifícios especiais (Num. 28, 11— 15) durante os quais soavam as trombetas sagradas (Num. 10, 10). Na lua cheia começavam as festas de Páscoa e dos Tabernáculos. Com a trombeta convocava-se o povo para as solenidades religiosas (Lev. 23, 24; 25, 9; Num. 29, 1; 2 Sam. 6, 15; Joel 2, 1— 15) e profanas (2 Sam. 15, 10; 3 Reg. 1, 34, 39, 41; 4 Reg. 9, 13). 6c — ouvi uma linguagem: introduz-se, ao que parece, o sacerdote ou o profeta falando. 10, 11; cf. o princípio do decálogo (cf. Ex. 20, 2.3 .5 ). 11 — abre a tua boca e Eu a encherei: cf. v. 17. 16 — o lisonjeariam: ainda forçados se submeteriam (cf. Ps. 17 (18), 45; 65 (66), 3). o seu destino: parece tratar-se dos inimigos, cuja ruína será irreparável e perpétua. 17 — Metáforas que indicam os bens prometidos por Deus (cf. Dt. 32, 13— 15). flor do trigo, isto é, do melhor trigo; mel do rochedo: seria tanta a abun­ dância do mel que fluiria das rochas e pedras (cf. Joel, 3, 18; Am. 9, 13).

SALMO

81 (82)

O DESTINO DOS MAUS JUÍZES

O Salmista introduz o próprio Deus julgando os juizes prevaricadores (v. 1). Deus I — repreende-lhes a injustiça que favorece os ímpios e oprime os humildes (2— 4); II — convencido de sua obstinação e da perturbação total da ordem por eles causada, comina-lhes morte ignominiosa (5— 7). O Salmista roga a Deus que execute a sentença proferida [v. 8).

1. Salmo de Asaph.

Levanta-se Deus na assembléia divina,

No meio dos deuses institui o seu julgamento.

Ps. 81, 2-8; 82, 2 ---- 165

I

2. “ Até quando proferireis sentenças injustas, E tomareis partido pela causa dos ímpios? 3. Defendei o infeliz e o órfão, Fazei justiça ao humilde e ao pobre. 4. Livrai o oprimido e o indigente; Tirai-o das mãos dos ímpios” .

II

5. Não têm saber nem inteligência, Andam nas trevas: Vacilam todos os fundamentos da terra. 6. Eu disse: “ Sois deuses, Sois todos filhos do Altíssimo. 7. Pois bem, morrereis como simples homens, Caireis como um príncipe qualquer” . 8. Levantai-vos, ó Deus, julgai a terra, A Vós de direito pertencem todas as nações.

1 — no meio dos deuses: “ deuses” chamam-se aqui os juizes e magis­ trados que são lugar-tenentes de Deus e julgam e governam em seu nome e por sua autoridade. Cf. Ps. 57 (58), 2; Igo. 10, 34 sgs. A estes citou Deus numa as­ sembléia divina (cf. Is. 3, 3— 15). 6— 7 — Serão privados da autoridade e do poder que Deus lhes deu para os exercerem em seu nome e morrerão no opróbrio.

8 — Parece que o Salmista aqui indica o Messias como juiz que há-d governar toda a terra.

S A L M O 82 (83) ORAÇÃO CONTRA OS INIMIGOS DE ISRAEL CONJURADOS

Trata este Salmo de uma conjuração dos povos limítrofes e da Assíria contra Israel. O Salmista I — declara como se coligaram os povos contra Israel e os enumera um por um (2— 9); II — pede, em seguida, a Deus que os esmague como esmagou outrora outros príncipes adversários; descreve com várias metá­ foras a sua morte que prepara o advento do reino universal de Deus (10— 19).

1. Cântico.

I

Salmo de Asaph.

2. Não fiqueis silencioso, ó Senhor, Não Vos quedeis, ó Deus, mudo nem inativo!

166

— Ps. 82, 8-19

3. Tumultuam os vossos inimigos, E alçam a cabeça os que Vos têm ódio. 4 . Urdem tramas contra o vosso povo, E conspiram contra os vossos protegidos. 5. “Vinde, dizem, risquemo-los dentre as nações, E não haja mais memória do nome de Israel” . 6. Sim, com um só coração, conjuram, E contra Vós firmam aliança 7. As tendas de Edom e os Ismaelitas, Moab e os agarenos, 8. Gebal e Amon e Amalec, A filistia com os habitantes de Tiro. 9. A eles também se ajuntam os Atesírios, E dão os seus braços aos filhos de Lot. II

10. Tratai-os como Madian e Sisara, Como Jabin junto à torrente de Cison. 11. Eles foram exterminados em Endor; Serviram de adubo à terra. 12. Sejam os seus chefes semelhantes a Oreb e Zeb, E a Zebee e a Salmana todos os seus príncipes. 13. Eles que dizem: “Apoderemo-nos da morada de Deus” . 14. Meu Deus, assemelhai-os à folha que remoinha, Â palha que o vento leva. 15. Como o incêndio devora a floresta, Como a chama abrasa as montanhas, 16. Persegui-os com a vossa tempestade, Apavorai-os com a vossa procela. 17. Cobri-lhes o rosto de ignomínia Para que busquem, Senhor, o vosso nome. 18. Envergonhem-se e aterrorizem-se para sempre, Cubram-se de confusão e pereçam. 19. Aprendam que o vosso nome é Senhor ! E só Vós sois o Altíssimo sobre toda a terra. 4 — contra os vossos protegidos: à letra: “ os vossos escondidos” . 7—

— Com exceção dos Assírios, todos os povos aqui enumerados Israelitas. Os agarenos são um povo de pastores, situado pro-

tio Umltrofcn
P*. 82;

88, 2-5



167

vàvelmente no deserto, a leste das regiões de Ammon e Moab. Gébal, região iduméia ao Sul do Mar Morto. Não se sabe quando foi feita esta aliança. Talvez O salmista não fale de um fato histórico determinado, mas personifique, poèticamente, a conjuração de todos os povos contra o povo de Deus.

10 — M adian: cf. Ide. 7 s. Oreb, Zeb, Zebee e Satmana eram os che dos M adianitas vencidos por Gedeão (Ide. 7, 25; 8, 5, 10— 21). Sisara, comandan­ te do exército de Jàbin, rei dos Cananeus foi vencido no rio Cison, que nasce a pouca distância de Endor, ao pé do monte Tabor (cf. Ide., 4 sgs. 14 — folha que remoinha, em hebreu kaggalgat, “ como roda” . Alguns pensam que significa uma espécie de cardos; mas pode entender-se das folhas con­ torcidas e arrancadas pelo turbilhão.

SALMO

83 (84)

NOSTALGIA DO TEM PLO DO SENHOR

O Salmista I — declara o seu (fesefo ardente de ir ao templo de Deus (2— 4); II — proclama felizes os que nele podem morar sempre e também os que a ele sobem em peregrinações, que descreve como aben­ çoadas por Deus (5— 8); II I — por último, implorando o auxílio de Deus, celebra a felicidade dos que vivem nos átrios do Senhor e os bèns por Ele concedi­ dos (9— 13).

1. Ao Mestre de canto. filhos de Coré.

I

Conforme a melodia “ os lagares” .

2. Como é amável a vossa morada, Senhor dos exércitos! 3. Suspira e desfalece a minha alma Pelos átrios do Senhor! Exultam meu coração e minha carne Pelo Deus vivo! 4. Também o pardal encontra uma casa, E a andorinha um ninho, Para pôr os seus filhotes: Vossos altares, Senhor dos exércitos, Meu Rei e meu D eu s!

II

5. Felizes, Senhor, os que habitam em vossa casa; Perpètuamente Vos louvam.

Salmo dos

J68 —

Ps. «3,6-13; 84

6. Ditoso o varão, que de Vós recebe socorro, Quando pensa nas peregrinações sagradas. 7. Atravessando o vale árido, Muda-lo-á em fontes que jorram; E de bênçãos o revestirá a primeira chuva. 8. Vão, crescendo sempre em vigor, Contemplar a Deus em Sião. III

9. Escutai minha prece, Senhor dos exércitos; Prestai-me ouvidos, Deus de Jacob. 10. Deus, que sois nosso escudo, inclinai os olhos, E vede a face do vosso ungido. 11. Em verdade, mais vale um dia nos vossos átrios Que mil outros; Prefiro ver-me no limiar da casa do meu Deus, Antes que morar nas tendas dos pecadores. 12. Sol e escudo é o Senhor Deus; Graça e glória dá o Senhor, Nenhum bem recusa Aos que procedem com inocência. 13. Senhor dos exércitos, Bem-aventurado o homem. Que em Vós confia.

6 — 7 —

peregrinações sagradas: é o sentido que ressalta do contexto. vale árido, em hebreu bâkâ’, vocábulo que- sc não deve relacionar com bãkâ(h) “ chorar” , mas com o árabe baka'a “ter menos água e hum idade”, portanto, vale árido. Os peregrinos, estim ulados pela esperança, cam inham pelos vales estéreis como se foram cobe rtos de vegetação luxuriante, qual a que os veste depois das prim eiras chuvas. N a P alestina depois que a primeira chuva, em fins

de O utubro, em bebe a terra ressequida pelo verão, brotam de novo plantas e relva. 8 — Os próprios peregrinos sentem -se cada vez m ais fo rtes com os olhos fixos no term o d a peregrinação que os leva a contem plar a D eus. 10 — Chegados ao tem plo, oram tam bém pelo ungido, isto é, pelo rei, SALMO

84 (85)

O Salmista tem diante dos olhos as condições dos exilados que, depois do decreto de Ciro (538 a .C .) voltaram a Judtía. De volta à pátria, opri­ midos por grandes dijicuUladea (cf. Agg. 1, 5 --I1 ),

Ps. 84, 2-13 —

I — II — III —

169

relembram com gratidão que Deus lhes perdoou os pecados e abrandou a sua cólera (2—4); pede-lhe, leve a termo a obra começada de sua salvação e restitua ao povo a plenitude da vida (5— 8); por fim, o projeta mi. sacerdote, ouvindo, dentro de si, a vot de Deus, anuncia que está próxima a salvação, que há-de vir o Senhor, acompanhado, como de arautos, peta justiça, pelo, mi­ sericórdia e pela prosperidade (9— 14).

O Salmista trata da salvação messiânica que Deus há-de trazer.

1. Ao M estre de canto. Salm o dos filhos de Coré. I

2. Fostes propício, Senhor, à vossa terra, Mudastes para bem a sorte de Jacob. 3. Perdoastes a culpa do vosso povo; Aplacastes toda a vossa indignação, Acalmastes o furor de vossa cólera.

II

5. Restaurai-nos, Deus Salvador nosso, Ponde termo ao vosso ressentimento contra nós. 6. Ficareis acaso para sempre irritado, E prolongareis a vossa ira por todas as gerações? 7. Não nos haveis de restituir a vida, A fim de que em Vós se regozije o vosso povo? 8. Mostrai-nos, Senhor, a vossa misericórdia, E dai-nos a vossa salvação.

III

9. Vou escutar o que diz o Senhor Deus: É de paz que vai falar Para o seu povo e para os seus fiéis, E para os que de coração a ele se convertem. 10. Próxima está a sua salvação para os que o temem A fim de que em nossa terra habite a glória. 11. Encontrar-se-ão a bondade e a fidelidade, E oscular-se-ão a justiça e a paz. 12. Da terra germinará fidelidade E dos céus inclinará o seu olhar a justiça. 13. O Senhor dará o bem, E a nossa terra dará o seu fruto.

170 —

Ps. 84, 14; 85, 1-5

14. Diante dele marchará a justiça, E no caminho dos seus passos, a salvação. 9 — Sentindo em si a moção divina, o profeta espera o que Deus var dizer (of. Hab. 2, 1). 10 — a glória (hãbôd) do Senhor, que, Ezech. 11, 23 havia deixado Je­ rusalém, voltará de novo a habitar a terra.. 11— 12 — Encontram-se a misericórdia de Deus e a fidelidade do povo, a justiça de Deus e a paz dos homens, a fidelidade dos homens e a justiça de Deus: o céu e a terra unem-se na concórdia e na caridade (cf. Luc. 2, 14). Nem faltarãoos bens da terra (v. 13; cf. Is. 30. 23—25; íer. 31, 12; Os. 2, 21 sgs.; Am. 9, 13 segs.). 14 — Acv Deus Salvador acompanharão, como guardas, a justiça e a salvação.

S A L M O 85 (86) O RAÇÃO DÉ UM PIEDOSO SE R V O DE; DEUS, N A ADVERSIDADE

Este Salmo pode dividirrse em duas partes, constituídas por duas orações (I: 1— 7; III: 11— 17); e separadas por um breve hino ao poder de Deus (II: 8— 10). Na primeira ■parte: I — aduzem-se as razões que devem inclinar Deus a socorrer: a bondade e clemência de Deus (5), a miséria de quem pede (1— 7), a piedade & a roonjiança (2), a constância na oração (3 .4 .6 ). ATa última partç III — indicam-se as coisas pedida»: a graça de bem viver (11) e o au­ xílio contra inimigos prepotentes (14— 17). N o hino II — é para notar-se o universalismo do reino messiânico (v. 9).

1. Oração de David.

I

Inclinai, Senhor, os vossos ouvidos e atendei-me, Que sou desvalido e pobre. 2. Guardai a minha alma que Vos sou fiel; Salvai o vosso servo que em Vós espera. (3). Sois meu Deus; 3 apiedai-Vos de mim, Senhor, Que a Vós clamo sem cessar. 4. Consolai a alma do vosso servo, Porque para Vós, Senhor, elevo o meu espírito. 5. Sois bom, Senhor, e clemente, E de muita misericórdia para quantos Vos invocam.

Ps. 85, 6-17----- 171

6. Escutai, Senhor, a minha prece E atendei ao brado de minha súplica. 7. Para Vós clamo, na hora de minha aflição. Porque me atendeis. II

8. Não há, entre os deuses semelhante a Vós, Senhor E nada se compara às vossas obras. 9. Virão todas as nações que fizestes Prostrar-se diante de Vós, Senhor, E tributar glória ao vosso nome. 10. Que sois grande e operais maravilhas, Só Vós sois Deus!

III

11. Ensinai-me, Senhor, o vosso caminho, E andarei na vossa verdade; Dirigi o meu coração, E temerá o vosso nome.

12. De todo o meu coração Vos louvarei, Senhor meu Deus, E glorificarei eternamente o vosso nome. 13. Grande foi comigo a vossa misericórdia; Arrancastes minha alma das profundezas do Scheol. 14. Contra mim, ó Deus, levantaram-se os orgulhosos, E contra a minha vida atenta um bando de violentos, Que Vos não tem presente diante dos olhos. 15. Mas Vós, Senhor, sois um Deus clemente e compassivo, Sofrido, rico em misericórdia e fidelidade . 16. Ponde em mim os olhos e compadecei-Vos de mim; Comunicai ao vosso servo a vossa fortaleza, E socorrei ao filho de vossa serva. 17. Mostrai-me um sinal de vossa bondade, Para que vejam, confundidos, os que me têm ódio, Que Vós, Senhor, me assistis e consolais.

8 — entre os deuses (hebr. 'eliõhtm): entre os espíritos que assistem jun de Deus (os anjos, cf. Ps. 88 (89), 7, 8) ou ainda (interpretação mais acertada neste passo: cf. w . 8. 10) entre aqueles que se dizem deuses (cf. Ex, 15, 11). 17 — Pede que Deus, para confusão de seus adversários, confirme c algum sinal a sua benevolência.

172 — Ps, 86, 1-7

S A L M O

86

(8 7 )

SIÃO, MÃE DE TODOS OS P OVOS

0 Salmo é uma visão profética da Sião messiânica que será pátria e mãe de todos os povos e fonte de todos os bens. Deus ama esta Sião, e se pro­ clamam as suas glórias (1— 3). Nela, se diz, nasceram todos os povos (4— 6); e se lhe airibuem todos os bens de que fruem (7). — O Salmista resume aqui liricamente os vaticínios dos profetas sobre Sião (cf. Is. 2, 2—4; 54, 1—3; 60, 3—9; Ez. 37, 28; Am. 9, 11 sgs.; Mich. 4, 1—3; Gal. 4— 26).

1. Salm o dos filhos de Coré. Cântico. Fundou-a nas montanhas sagradas ! 2. Ama o Senhor as portas de Sião, Acima de todos os tabernáculos de Jacob. 3. Destinos gloriosos de ti se proclamam, Cidade de Deus ! 4. Acrescentarei Rahab e Babel aos que me veneram: Vede, a Filistia, Tiro e a Etiópia, Lá nasceram. 5. E de Sião se dirá: Todos os homens tornaram-se filhos seus; E a fundou o próprio Altíssimo” . 6. No livro dos povos escreverá o Senhor: “ São seus filhos’ \ 7. E guiando os coros, cantarão: “ Em ti estão todas as minhas fontes” .

1 — fundou-a: “fundação” (o ab strato pelo concreto) = o que D e fundou, isto é, (pelo paralelism o) Sião, da qual o poeta, enlevado pela sua glória e beleza, en tra a falar como ex-abrupto. 4 — Rahab, isto é, o E gito (cf. Is. 30, 7; 51, 9) e Babel, estes dois gra des reinos idolátricos serão num erados entre os que prestam culto a D eus e serão filhos de Sião; não só m as (v. 5) todos os povos, um por um (literalm ente: “hom em e hom em ”) se consideram como nela nascidos. 6 — Introduz-se o Senhor a escrever a lista de todos os povos, notando cada um dos que nasceram de Sião. 7 — Os próprios povos confessam, exultando, que de Sião lhes advieram todos os seus bens.

P*. 87, 2 -1 0 -----

SALMO

87

173

(88)

LAM ENT A Ç Ã O E P R E C E DE UM IN F E L IZ

0 Salmista, aflito por uma doença grave, talvez lepra (cf. v. 9), só em Deus encontra quem o console. Primeiro I — expõe a gravidade de seu mcd que o há-de levar à morte e o se­ parar de quantos lhe eram caros (2— 9); II—

implora o auxílio de Deus que só será louvado pelos vivos e não pelos mortos (10— 13);

III — repete a sua oração descrevendo a sua miséria e desolação (14— 19).

1. Cântico. Salmo, dos filhos de Coré. Ao Mestre de Cântico. Con­ forme a melodia “ Mahalat” . Para ser cantado. Maskil. D e Heman Ezraita.

I

2. Senhor meu Deus, clamo durante o dia, E pela noite me lamento na vossa presença. 3. Chegue até Vós a minha oração, Inclinai o ouvido aos meus brados. 4 . Saturada de males está minha alma, E do Scheol aproxima-se a minha vida. 5. Já me contam entre os que descem à tumba, Sou como um homem sem forças. 6. Entre os mortos está o meu leito, Como os assassinados que jazem no sepulcro, 7. Dos quais já Vos não lembrais, E que aos vossos cuidados foram subtraídos. 7. Vós me colocastes numa fossa profunda, Nas trevas, nos abismos. 8. Sobre mim pesa a vossa indignação, E com todas as vossas ondas me oprimis. 9. De mim apartastes os meus conhecidos, Para eles me tomastes objeto de horror, Estou preso e não acho como sair.

II

10. De miséria se me consomem os olhos, Todo o dia para Vós clamo, Senhor, E levanto minhas mãos.

17 4 -----Ps. 87, 11-19; 88

11. Será, talvez, para os mortos que fareis prodígios? Ressurgirão, acaso, os defuntos para Vos louvar ? 12. No sepulcro, proclamar-se-á a vossa bondade, E nos abismos, a vossa fidelidade ? 13. Porventura nas trfevas se manifestam as vossas maravilhas» E na região do olvido, a vossa graça? III

14. Mas eu clamo a Vós, Senhor, Desde pela manhã sobe a Vós a minha prece. 15. Por que, Senhor, repelis a minha alma, E ocultais de mim o vosso rosto? 16. Desditoso sou e agonizo desde a minha mocidade. Sob o peso de vossos terrores, desfaleci. 17. Sobre mim passaram as vossas iras, E me aniquilaram os vossos terrores. 18. Como vagas me rodeiam sempre, E juntas me assaltam todas. 19. De mim afastastes amigos e conhecidos ! Meus companheiros são as trevas !

6 — o meu leito, em hebreu hophêí; em Ezech. 27, 20, a palavra hõph significa o manto ou baixeiro que se estende sobre o animal de sela. Talvez bê (y) t — hahophsÜ, onde jazia o rei Azarias, vítima da lepra (4 Reg. 15. 5) se relaciona com este vocábulo. subtraídos aos vossos cuidados, literalmente “ cortados, separados de vossa mão” , porque entre os defuntos, que já têm o Seu destino certo e imutável, já não há lugar para a providência de Deus. 11— 12 — Cf. cf.

Ps.

6, 6; 29 (30), 10; 113. B (1,15), 17; Is.

38, 18 sgs.

13 — região do olvido: onde o homem já nada sabe das coisas da ter Job 14, 21; 21, 21.

SALMO

88

( 89)

AS PROMESSAS DIVINAS FEITAS OUTRORA A DAVID EM CONTRASTE COM A

RUÍNA

PRESENTE DE SUA CASA

O autor desle Salmo, que parece haver sido composto no começo do exílio, tem diante dos olhos a triste sorte da casa real de David e a compara com as promessas magníficas que Deus lhe fizera outrora. Após breve pre­ lúdio I —

r m que o Salmista evoca as promessas de Deu» e a sua fideli­ dade (2— 5);

Ps. 88, 2-9 —

175

II ■ — confirma a sua confiança e esperança com a consideração da grandeza e do poder de Deus que promete (6— 19); ninguém se pode comparar com Deus (6— 9); Ele i o Criador oni­ potente e a Providência podèmsa e justa do mundo (10— 15), o protetor e o rei de seu povo (16—‘19); III —- o Salmista refere as promessas deste Deus, feitas outrora a David e a suu, casa (20— 38).; escolheu David e há-de sustentá-lo (20—22); de defendê-lo conira oâ inimigos e ampliar-lhe o reino (23—26); eleváAo-á acima dos outros reis e firmará para sempre o seu trono (27— 30); ainda que pequem os seus descendentes, não há-de apartar a sua benevolência da casa de David (31— 34); este pacto estatuído com David munca será dissolvido (35— 38). A esta magnífica promessa IV — opõe o Salmista
1. Maskil.

I

D e Ethan Basíâiiita,

2. Cantarei eternamente as misericórdias do Senhor; De geração em geração proclamarão os meus lábios a vossa fidelidade. 3. Vós dissestes: “ Eterno áerá o Tavof” , Nos céus firmastes a vossà fidelidade; 4. “ Com o meu escolhido pactuei uma aliança; Fiz este juramento a David, meu servo: 5. Para sempre conservarei a tua posteridade E por todas as gerações firmarei o teu trono,”

II

6. Celebram os céus, Senhor, as vossas maravilhas, E, na assembléia dos santos, a vossa fidelidade. 7. Quem, nos céus, será igual ao Senhor ? Quem semelhante a Ele entre os filhos de Deus ? 8. Terrível é Deus no conselho dos santos, Poderoso e formidável «obre quantos em torno lhe assistem. 9. Quem é, como Vós,, Senhor Deus. dos exércitos ? Sois forte, Senhof, e Vos cerca a vossa fidelidade.

176 ----- Ps. 88, 10-27

10. Domais. o orgulho do mar, E lhe amansais as vagas encapeladas, 11. Calcastes a Rahab, como um ferido de morte; Com o poder do braço, dispersastes os vossos inimigos, 12. São vossos os céus; vossa é a terra; O mundo e o que nele se contém, Vós o fundastes; 13. Criastes o Aquilâo e o Austro; Em vosso nome exultam o Tabor e o Hermon. 14. Vigoroso é o vosso braço, Forte a vossa mão, levantada a vossa destra. 15. A justiça e o direito são os alicerces do vosso trono; Precedem a vossa face a bondade e a fidelidade. 16. Feliz o povo que conhece as aclamações da alegria, Que anda, Senhor, à luz do vosso rosto. 17. Pelo vosso nome alegrar-se-á todos os dias, E se elevará pela vossa justiça. 18. Porque sois o esplendor de sua força; E pelo vosso favor avulta o nosso poder 19. Porque do Senhor vem o nosso escudo E do Santo de Israel, o nosso Rei. II I

20. Outrora falastes em visão aos vossos santos e dissestes: “ A um herói dei uma coroa; D o meio do povo elevei um escolhido. 21. Encontrei David, meu servo, Sagrei-o com a minha unção santa. 22. Assistir-lhe-á sempre a minha mão, E o fortalecerá o meu braço. 23. Não o há-de surpreender o inimigo, Nem oprimi-lo o malvado. 24. Diante dele, esmagarei os seus adversários. E exterminarei os que lhe têm ódio. 25. Hão-de acompanhá-lo minha fidelidade e minha bondade. E em meu nome crescerá o seu poder. 36. Estenderei sua mão sobre o mar, E sobre os rios a sua destra. 27. Ele me invocará: “ Vós sois meu pai, Meu Deus e a Rocha de minha salvação” ,

Ps. 88, 2 8 4 5 ------ 177

28. E eu o constituirei meu primogênito, O mais elevado entre os reis da terra. 29 . Conservar-lhe-ei sempre a minha graça, E fiel lhe permanecerá a minha aliança. 30. Farei durar para sempre a sua descendência, E o seu trono como os dias do céu. 31. Se abandonarem os seu filhos a minha lei, E não caminharem nos meus preceitos, 32. Se transgredirem as minhas prescrições, E não guardarem os meus mandamentos, 33. Castigarei com vara as suas transgressões, Punirei com açoites os seus pecados, 34. Mas não hei-de retirar o meu favor, Nem faltar à minha fidelidade. 35. Não hei-de violar a minha aliança, Nem mudar o que proferiram os meus lábios. 36. Jurei, uma vez, por minha santidade. Não, a David não faltarei a palavra. 37. Para sempre há-de durar a sua posteridade, Ante os meus olhos será, como o sol, o seu trono, 38. Como a lua que subsiste sempre, Testemunha fiel nos céus. IV

39. Mas Vós o repelistes e rejeitastes, E Vos irritastes contra o vosso ungido. 40. Rompestes a aliança com o vosso servo, Lançastes por terra o seu diadema profanado. Destruistes todas as muralhas, Reduzistes a escombros as suas fortalezas. 42. Saauearam-no todos os transeuntes E o escarneceram os seus vizinhos. 43. Levantastes a destra de seus opressores, E regozijastes os seus inimigos. 44. Embotastes o fio de sua espada, E não o sustentastes no combate. 45. Empanastes a sua glória, E por terra derribastes o seu trono.

1 7 8 -----Ps, 88, 46-53

46. Abreviastes os dias de sua adolescência E o cobristes de ignomínia. V

47. Até quando, Senhor? Eseonder-Vos-eis para sempre? Arderá, como fogo, a vossa indignação ? 48. Lembrai-Yos da brevidade da minha vida, E quão efêmeros criastes todos os homens. 49. Quem há aí que viva sem ver a morte. E arranque a sua alma d:ts garras do Sheoi? 50. Onde estão, Senhor, os vosto- favores de outrora, Que a David jurastes pela vossa, fidelidade ? 51.

Lombrai-Vos, Senhor, do op. urio dos vossos servos: Levo no meu seio todos os ultrajes das nações,

52. Os insultos dos vossos inim Senhor. Insultos aos passos do v osso ungido. *** 53. x*exidito para - úiprc o Senhor! Assim seja ! Assim seja !

4 — Exprime-se a promesa divina feita a David pelo profeta Nata ( í Sam. 7, 8— 16).

6 — na assembléia dos Santos, isto é, dos anjos que no v. 7 são também chamados filhos de Deus (isto é, que pertencem ao grupo 'êlim das criaturas ce­ lestes).

11 — Rahab monstro que personifica a soberba e a rebeldia (rãhab “ es excitado ou comovido” ); as águas que no princípio cobriam a terra (Gen. 1, 2. 6— 9) são propostas aqui, com uma personificação poética, como os inimigos contra os quais Deus combate (cf v. 10, Ps. 73 (74), 13; Iob 9, 13; 26, 12; Is. 51, 9 segs.). Outros opinam que Rahab é o Egito (cf. Ps. 86 (87). 4). 15 — A bondade e a fidelidade são como arautos que vão adiante de Deus (cf. Ps. 84(85), 14). 19 — O nosso protetor (“ escudo” ) e o nosso rei são do Senhor, isto é, estão nas suas mãos e sob o seu cuidado. Estas palavras estabelecem a transição para a parte seguinte. 20 — Aos vossos santos, isto é, ao profeta Natan (2 Sam. 7, 8— 16) eT por ele, ao rei David e ao povo; talvez se possa adotar a lição de um manuscrito “ ao vosso santo” , isto é, a Natan. 26 — mar, o Mediterrâneo; rios} Eufrates e os seus afluentes. cínio fala do reino universal do Messias, filho de David. 27 — meu pai: cf.

2 Sam.

7, 14.

O vati-

Ps. 8 8 ----- 179 30 — os dias do céu (cf. w . 37 sgs; Ps.

71 (72) 5, 17): enquanto durar

0 inundo. 31— 34 — A condição enunciada aqui havia-se verificado na destruição de Jerusalém; por isso, Deus havia punido com varas e açoites (33); o favor, porém, que não é retirado é a duração do reino de David que Ele há-de restituir e conser­ var sob mais elevada forma, a de Cristo, rei, descendente de David. Assim se verifica a profecia ainda que pereça o reino terrestre da raça de David. O Salmista, sem distinguir entre o implemento absoluto e o hipotético da profecia, queixa-se da destruição do reino davídico e invoca o remédio. Deus lhe atende as súplicas restituindo-o em Cristo, não no sentido literal mas em sentido mais alto. 38 — lua. .. testemunha fiel: a lua que segue constantemente o curso que lhe foi imposto atesta fielmente como se realiza o que Deus determina. 39— 40 — O Salmista fala aqui das calamidades não só do rei e da sua raça senão também do povo; a ruína do povo é a ruina do rei. 42 — Cf.

Ps.

79 (80), 13, da vinha.

46 ■ — Abreviastes, não os dias de David ou de qualquer outro rei (v. g. Joaquim) mas da Casa real de David que envelheceu depressa e, como se lamenta o Salmista está prestes a morrer. 48— 49 — Antes de morrer deseja o Salmista ver o fim de tantas e ta­ manhas desgraças. 51 — no seio: Cf.

Ps. 79 (79), 12.

12 — insultos aos passos de vosso Ungido: onde quer que e o povo são insultados.

'em, o

LIVRO

IV

(Salmos 89— 105 [90— 106) SALMO

89

(90)

D eu s e t e r n o r e f ú g io d o h o m e m n a b r e v id a d e d e s u a v id a

Neste Salmo, considerado com razão como dos mais belos de todo o Saliè* rio, o Salmista I — compara a Deus eterno e onipotente, refúgio de todas oa gera­ ções, com o homem efêmero (1— 6); I I — mostra como a razão que torna tão triste e penosa a vida do ho­ mem é a cólera de Deus provocada pelos pecados dos homens (7 -1 1 );

III — pede a Deus que os homens cheguem à sabedoria e Ele, na sua misericórdia os recompense pelas misérias da vida e, por fim, apareçam a sua “ obra” e a sua “ glória" (12— 17).

1. Oração de Moisés, homem de Deus. I

Senhor, tendes sido para nós um asilo De geração em geração. 2. Antes que nascessem as montanhas E se formassem a terra e o mundo, De eternidade em eternidade, Sois, ó Deus. 3. A pó reduzis os mortais, E dizeis: “ Voltai, filhos dos homens” . 4. Mil anos, ante os vossos olhos, São como o dia de ontem que se foi, E como uma das vigílias da noite. 5. Vós os arrebatais: são como um so n h o d a m a n h ã , Como a erva que cresce: 6. Ao raiar do dia florece e viceja, A tarde é cortada e murcha.

] 82 —

II

Ps. 89, 7-17

7. É que somos consumidos pela vossa cólera E turbados com a vossa indignação. 8. Colocastes nossas iniqüidades sob vosso olhar, E os nossos pecados ocultos à luz da vossa face, 9. Ante a vossa ira, passaram todos os nossos dias, Acabamos os nossos anos como um suspiro. 10. A duração total de nossa vida é de setenta anos, Para os mais robustos, de oitenta; E a maior parte deles, sofrimento e vaidade: Passam depressa e nós voamos. 11. Quem ponderou o poder de vossa cólera, E a vossa indignação, como o exige o temor que Vos é devido ?

III

12. Ensinai-nos a bem contar os nossos dias, Para que cheguemos à sabedoria de coração. 13. Voltai-Vos, Senh o r— até quando?' Sede propício aos vossos servos. 14. Saciai-nos, desde a aurora, de vossa misericórdia, Para que na alegria e no júbilo passe toda a nossa vida. 15. Consolai-nos tantos dias quantos nos afligistes, Tantos anos quantos suportamos a desgraça. 16. Aos vossos servos apareça a vossa obra, E aos seus filhos, a vossa glória. 17. Sobre nós seja a bondade do Senhor nosso Deus; Favorecei a obra de nossas mãos, Sim, a obra de nossas mãos, favorecei-a.

1 — Atribui-se este Salmo a Moisés, ou porque ele seja o seu autor, como julgam S. Jerônimo (PI, 22, 1167 sgs.) com a maior parto dos autores, ou porque, pela semelhança das idéias e da linguagem com as idéias do Pentateuco e principal­ mente do Deuteronômio 32, se lhe atribui por ficção poética, como querem S. Agos­ tinho (Pl, 37, 1141. 1149), S. Roberto Belarmino (Explan. in Psalm. ed. G a l d o s (1932), vol. II, 513) e outros. de geração em geração: Deus, onipotente e eterno é o asilo de todas as gerações humanas que se sucedem. 2 — A própria ongem do mundo para Deus eterno é como o nascimento de um homem. 3 — réduzis, voltai, ef. Gen. 3, 19: pôr termo a uma vida humana.

p alav ra p u ra

“ voltarás a ser pó” .

Basta umd,

Ps. 90, 1-6 —

183

4 Cf. 2 Petr. 3, 8. Uma das vigílias da noite era a terça part uma noite, (cf. Ide. 7,19), portanto, um tempo muito curto.

5— 6 — A erva que nasce pela manhã sob o sol ardente do Oriente, bem depressa murcha (cf. Ps. 102 (103), 15 s.; 128, (129) 6; Is. 40, 6 sgs). 6 — Que a vida humana passe tão rápida e sua brevidade seja ao mem tão penosa, conseqüência é do pecado (cf. Gen. 3, 17— 20). 10 — A maior parte deles: O texto massorético tem w‘ robhãm, forma alguns derivam de rõhab: “ a soberba deles” os L X X e a versão siríaca peshitto inculcam a forma rubbãm. 12 — bem contar: na brevidade desta vida cada dia tem importa conhecer “ com sabedoria” .

o seu valor,

14— 17 — A misericórdia, a alegria, a aparição da "obra” de Deus, “a glória” , a bondade — outros tantos bens que o Salmista pede e espera — são bens da era messiânica, que hão-de iluminar a vida terrena e fazer prosperar as obras de nossas mãos. Deus as há-de dirigir com retidão e ajudar com vigor. A redenção de Cristo trouxe também a esta nossa vida efêmera um valor verdadeiro e eterno.

SALMO D eus, p r o t e t o r

90 (91) d o s ju s t o s

0 Salmo divide-se em duas partes

e várias Deus e guardados

I — o primeira é de índole didática; fala o Salmista com metáforas mostra como protegidos por petos seus anfos confiam Senhor (1— 13); II — na segunda parte, entra falar o pr&prio Deus as promessas feitas pelo Salmista (14— 16).

os que

são a

no

confirmando

No texto massorético o Salmo é anônimo; a versão dos L X X o atribui a David.

I

1. Tu, que habitas sob a égide do Altíssimo, E descansas à sombra do Onipotente, 2. Dize ao Senhor: “ Sois meu refúgio e meu baluarte, Meu Deus a quem me confio” . 3 . Porque ele te há-de livrar do laço do caçador E da peste perniciosa. 4. Cobrir-te-á com as suas penas, E te abrigarás sob as suas asas: Escudo e broquel é a sua fidelidade. 5. Não terás medo do terror da noite, E da flecha que voa de dia, 6. Da peste que se propaga nas treva,s E da epidemia que grassa pela hora meridiana.

184 -----Ps. 90, 7-16

7. Caiam mil a teu lado, E dez mil à tua direita, Tu não seras atingido. 8. Só com os teus olhos contemplarás E verás o castigo dos ímpios. 9. Pois o Senhor é o teu refúgio, E do Altíssimo fizeste o teu asilo. 10. Nâo te acontecerá nenhuma calamidade, Da tua tenda não se há-de acercar nenhum flagelo. 11. Em teu favor dará ordem aos seus anjos, Que te guardem em todos os teus caminhos; 12. Levar-te-ão nas suas mãos Para que na pedra não tropecem os teus pés. 13. Andarás sobre c áspide e a víbora, Calcarás aos pés o leão e o dragão. II

14. Porque a mim se uniu, Eu o preservarei; Protegê-lo-ei porque conheceu o meu nome. 15. Invocar-me-á e eu lhe atenderei; Com ele estarei na tribulação, Hei de livrá-lo e glorificá-lo. 16. Com longos dias o hei de saciar, E mostrar-lhe a minha salvação. 2 — dize ao Senhor, isto é, podes dizer com direito.

3 — da peste: Os L X X , a versão de Aquila e a peshito, lêem medd’ bar, “ da palavra” “ da coisa” ; mas sem razão. 4 — escudo e broquel. Cf. Ps. 34 (35), 2; cumpre, porém, notar que a palavra sõhêrâ(h), empregada aqui, é de sentido incerto. 11 — Que os Anjos são destinados por Deus ao bem do homem é doutrina muito antiga no Velho Testamento. Cf. Gen. 24, 7; Ex. 23. 20; Ps. 33 (34), 8. 12 — levar-te-ão, como a mãe leva o filho, para que não magoe o pé nas estradas, que outrora na Palestina eram eriçadas de pedras e asperezas. 13 — sobre o áspide: o texto massorético tem sàhal “ sobre o leão” , mas o leão é mencionado no segundo membro. 14 — uniu, em hebreu hãsãk, “ aderiu com amor” (cf.

Gen.

34. 8;

Dt.

7, 7, 10, 15). conheceu, em hebreu yãda, conhecer não só com a inteligência, mas acompanhá-la de amor, veneração e culto, como tantas vezos ocorre no An* t igo Toitamento.

Ps. 91, 2-10 —

185

15— 16 — A libertação dos perigos, a honra entre os homens, uma vida longa e a “ salvação'’ que vem de Deus, prometem-se ao que ee une a Deus. A salvação, não só nesta vida, mas ainda a salvação messiânica, que trará também amplíssima a retribuição na outra.

SALMO

91 (92)

LOÜ VOE A DEUS, SOBERANO JUSTO

E SÁBIO

O Salmista I — convida a celebrar a bondade e a fidelidade de Deus (2— 5); II — demonstra, que Deus governa os destinos dos homens com grande sabedoria, pela morte dos pecadores (6— 9) e III — pelo triunfo do justo (10— 12); IV — exalta, por fim, e loxiva a insigne bondade de Deus para com os justos (13— 16).

1. Salmo.

I

Canto.

Para o dia de sábado.

2. Bom é louvar o Senhor. E cantar Salmos, Altíssimo, ao vosso nome; 3. Publicar pela manhã a vossa misericórdia, E, durante as noites, a vossa fidelidade 4. Na lira de dez cordas e na citara, Aos acentos da harpa. 5. Vós me alegrais, Senhor, com as vossas ações; Exulto com as obras de vossas mãos.

II

6. Quão gloriosos, Senhor, são os vossos feitos, Quão profundos os vossos desígnios! 7. Não compreende estas coisas o insensato, Nem as percebe o néscio. 8. Ainda que floreçam os ímpios Somo a relva, E resplandeçam os operários do mal, A um extermínio eterno são destinados. 9. Mas Vós, Senhor, permaneceis eternamente nas alturas.

III

10. Eis que vossos inimigos, Senhor, VosSos inimigos hão-de perecer, E hão-de dispersar-se os obreiros do mal.

1 8 6 ----- Ps. 91, 11-16; 92, 1

11. Exaltastes a rainha força, como a do búfalo, E com óleo puro me ungistes. 12. Meus olhos viram com despreso os inimigos, E dos meus contrários boas novas ouviram meus ouvidos. 13. Como a palmeira, florecerá o justo, Elevar-se-á, como o cedro do Líbano. 14. Plantados na casa do Senhor, Nos átrios de nosso Deus hão-de florir. 15. Darão frutos ainda na velhice, Cheios de seiva e de viço, 16. Para proclamar que é reto o Senhor, Meu rochedo, e nele não há injustiça. 3 da paralelismo.

— pela manhã... durante as noites, isto é, sempre, segundo as reg

8 de pena temporal.

-— extermínio. .. eterno: é eterna a perdição dos maus; náo ae trata

11 — búfalo (r'ê (y) m, em acádico rimu, boi primogênito) símbolo de vigor e força indómita. Cf. também o Ps. 21 (22), 22; D t. 33, 17. óleo puro, símbolo de riqueza e opulência. 12 — boas novas: isto é, que sofreram o castigo de seus pecados. 13 — À relva humilde que murcha (v. 8) opõem-se o cedro e a palmeira, árvores altas e sempre verdejantes. 14 — plantados', isto é, os justos (sãdtq v. 13 em sentido coletivo), perto do Senhor, como as árvores plantadas nos átrios do templo, dele recebem graças especiais que os conservam sãos e fortes ainda na idade avançada.

SALMO O

92 (93)

SENHOR, R E I PODEROSO DO TTNIV ERSO

O Salmo é um hino que, viva e animadamente, celebra o reino de Deus, ex­ pondo e orando. O poeta vê a Deus, Rei, revestido de poder e majestade, sentado em seu trono eterno (1. 2). Contempla as poderosas vagas do mar a rolarem com fragor; Deus é mais poderoso (3. 4). Daí infere que os testemunhos de Deus merecem toda a fé e a sua habitação terrena (o seu templo) exige toda a santidade.

1, Reina o Senhor. Revestiu-se de majestade. De poder revestiu-se e cingiu-se o Senhor. Ele firmou o mundo que não vacila.

Ps. 92, 2-5; 93, X-3 -----

187

2. Desde a origém, firme é vosso trono, E Vós eterno sois.

3. Elevam os rios, Senhor, Elevam os rios a sua voz. Elevam os rios o seu fragor. 4. Mais imponente que o bramido das muitas Mais poderoso que as vagas do Oceano, Magnífico nas alturas é o Senhor.

águas,

5. Bem dignos de fé são os vossos testemunhos; Ã casa convém santidade, Senhor, pela duração dos séculos.

vossa

I — Reina o Senhor: istó é, “ começou a reinar e ainda reina” : é a ac mação solene com que se saudava o novo rei (cf. 2 Sam. 15, 10; 4 Reg. 9, 13). D o mesmo modo começam os Salmos 96 (97) e 98 (99); Ps. 95 (96), 10. 0 mundo está sujeito a Deus, porque Ele o firmou, criou. 5 — testemunhos: o que Deus revelou de si através dos profetas.

SALMO

93 (94)

O Salmista, profundamente indignado contra os crimes de opressores iní­ quos, na primeira parte do Salmo (A : 1— 11) 1 — invoca ardentemente contra eles a vingança de Deus (1— 4); II — manifesta os seus crimes e blasfêmias (5— 7); III — repreende-lhes a insensatez e perversidade, advertindo-os que tudo sabe Deus (8— 10); Na segunda parte (B: 12— 23) lembra o Salmista que em Deus está toda a sua confiança I — Deus não abandonará o seu povo mas dará vitória à justiça (12— 15); II — a graça de Deus conforta e consola o próprio Salmista (16— 19);

III — quaisquer que sejam os maquinações dos maus. Deus o há-de proteger e os há-de punir (20— 23).

A. I

1. Deus das vinganças, Senhor Deus das vinganças, manifestai-Vos. 2. Levantai-Vos, juiz da terra, Dai aos soberbos o que merecem. 3. Até quando os ímpios, Senhor, Até quando triunfarão os ímpios,

188 — Ps- 93, 4-19

4. E se derramarão em discursos arrogantes, E falarão com jactância os obreiros de iniqüidade? II

5. Esmagam, Senhor, o vosso povo, Maltratam a vossa herança; 6. Estrangulam a viuva e o estrangeiro, E assassinam os órfãos. 7. E dizem: Não o verá o Senhor, Nem o saberá o Deus de Jacob.

III

8. Compreendei, néscios do povo, Insensatos, quando cobrareis juízo? 9. Não ouvirá, porventura, quem plantou o ouvido? Não verá quem formou o olho? 10. Não há-de punir quem educou as nações? E ensinou aos homens o saber? 11. Conhece o Senhor os pensamentos dos homens, Sabe que são vãos.

B. I

12. Ditoso, Senhor, o homem, a quem amestrais E instruis na vossa lei, 13. Para lhe dardes a paz nos dias de infortúnio, Enquanto ao ímpio se lhe ábre a cova. 14. Não há-de rejeitar o Senhor o seu povo, Nem deixar desamparada a sua herança. 15. M as o julgamento há-de conformar-se com a justiça, E o aplaudirão todos os corações retos.

II

16. Quem se levantará por mim contra os malfeitores? Quem estará por mim contra os operários do m al? 17. Se não me socorrera o Senhor, Bem cedo habitaria a minha alma a região do silêncio. 18. Quando eu penso: “ vacilam-me as pés” , Suste nta-me, Senhor, a v ossa graça. 19. Quando no coração se me multiplicam os cuidados, Alegram-me a alma as vossas consolações.

Ps. 93, 20-23; 94, 1-5—

III

189

20. Sois, acaso, cúmplice com o tribunal de injustiça, Que, sob aparência da lei, perpetra vexames ? 21. Atentam contra a vida do justo E condenam o sangue inocente. 22. Mas o Senhor é meu baluarte, E o meu Deus, o rochedo em que me abrigo. 23. Sobre eles fará recair a sua iniqüidade, E há-de exterminá-los pela sua própria malícia; Há-de exterminá-los o Senhor, nosso Deus. 7 — Não o verá o Senhor: cf. Ps. 9 B(10), 4 . 11. 13.

15 — Há-de conformar-se com a justiça, isto é, será reintegrada de maneira a ordem da justiça que oa julgamentos serão feitos justamente. 17 (115), 17).

— na região do silêncio, i. é, nas profundezas, no i e’õl (cf.

Ps.

1

20 — O texto é obscuro. Parece que o Salmista se refere aos dize dos que se queixam que Deus já era quase aliado dos juizes iníquos que, sob apa­ rência da lei, vexavam os homens. sob aparência (em hebreu ’ãlê (y) ) da lei, isto é, de tal modo que a lei seja a razão simulada da opressão.

S A L M O 94 (95) C O N V IT E

A O LO U V O R DE D E U S E Ã D O C IL ID A D E

AOS

SEUS

PR EC E ITO S

Duas vezes convida o Salmista ao louvor de Deus (1 sg e 6): I — porque o Senhor è o rei de toda a terra, por ele criada (3— 5); II — porque ê o pastor de Israel (7) a que todos devem obediência para não serem rejeitados como o foram os seus maiores no deserto.

I

1.

Vinde, cantemos com alegria ao Senhor, Aclamemos o rochedo de nossa salvação:

2. Com louvores saiamos ao seu encontro, Com hinos o celebremos. 3. Ê o Deus supremo o Senhor, O grande rei acima de todos os deuses: 4. Nas suas mãos estão as profundezas da terra, E suas são as eminências das montanhas. 5. Dele é o mar: porquanto Ele o fez, Dele, a terra: plasmaram-na suas mãos.

190 ----II

Ps. 94, 6-11; 95, 1

6. Vinde, prosternemo-nos e adoremos, Dobremos os joelhos ante o Senhor que

nos fez.

7. Ele é nosso Deus, E nós somos o povo de que ele é pastor, As ovelhas que suas mãos conduzem. Oxala escutáreis hoje a sua voz: 8. “ Não endureçais o vosso coração, como em Meriba Como no dia de Massah, no deserto, 9. Onde me provocaram os vossos pais, E me tentaram, ainda que houvessem visto as minhas obras. 10. Durante quarenta anos, desgostou-me essa geração, E eu disse: é um povo de coração transviado, Não conhecem os meus caminhos. 11. Por isso, jurei na minha cólera: Não hão-de entrar no meu repouso” . 7 — oxalá, em hebreu 'im em senso optativo (cf. Jouo.v,

Gram. hebr.

163 o). 8 — Entra a falar o próprio Deus. Meriba (lugar de “ contenda” e de “ contradição” ) e Massah (lu­ gar da “ tentação” ), onde os israelitas murmuraram contra Deus (cf. Ex. 17, 1— 7; Num. 20, 2— 13). 11 14, 20— 23.

— jurei, depois da rebelião do povo no deserto de Cades, cf.

S A L M O 95 (96) L O U V A I O SENHOB, R E I D O UNIVERSO

O Salmista vê em espírito o Senhor, chegando, no fim dos tempos, para cons­ tituir o reino messiânico (13). I — Exorta a todos a que louvem o grande rei (1:— 3); II — Só Ele é Deus, cheio de majestade, de força e de esplendor ( — ); III — A Ele todos os povos tributem louvores, ofereçam sacrifícios, prestem adoração, porquanto começa o seu reino (7— 10);

4 6

IV — A própria natureza exulta diante de Deus que vem reger a terra (11— 13).

I

1. Cantai ao Senhor um cântico novo, Cantai ao Senhor, todas as terras.

Nu

Ps. 95, 2 -1 3 ----- 191

2. Cantai ao Senhor, bendizei o seu nome, Anunciai, t o dos os dias, a salvação que dele vem. 3. Proclamai, entre as nações, a sua glória, Em todos os povos, as suas maravilhas, II

4. Grande é o Senhor e mui digno de louvores, Temível sobre todos os deuses. 5. Não passam de ficções os deuses das gentes; O Senhor, porém, fez os céus. 6. Precedem-no a majestade e o esplendor, N o seu santuário estão o poder e a magnificência.

III

7.

Tributai ao Senhor, ó famílias dos povos, Tributai ao Senhor potência e glória.

8. Tributai ao Senhor a honra devida a seu nome, Oferecei sacrfício e entrai nos seus átrios; 9, Prostrai-vos ante o Senhor com sagrados ornamentos. Tremei na sua presença, toda a terra. 10. Dizei entre os povos: “ Rei é o Senhor!” Ele firmou o mundo para que não vacile; E rege os povos com eqüidade. IV

17. Álegrem-se os céus e rejifbile a terra, Reboe o mar e o que nele se contém, 12. Regozije-se o campo e tudo o que nele há, Tripudiem todas as árvores das selvas, 13. Na presença do Senhor, porque vera, Vem reger a terra. Regerá o universo com justiça, E os povos segundo a sua fidelidade. — cântico novo (d.

1

Is.

42, 10; P s.

32 (33), 3; e t c .): já n ã o b a sta m

v e lh o s cânticos para celebrar esta n o v a e in a u d ita m a n ifesta çã o d e D elis, c o m o rei de toda a terra.

todas as terras, ou “ to d a a terra” , Í3to é, todos o s habitantes da terra (o con tin en te p elo c o n te ú d o ). 4— 5 — todos os deuses: os qu e se ch am am “ deuses” n ã o p a ssa m d e fic ­ ções em hebreu 'êlílím, “ in a n id a d e” , “ v a id a d e ” , “ n a d a ” , o ú n ico D e u s v erd a d eiro é Ia h w eh que criou tod a s as cousas. 9 — com sagrados ornamentos, isto é, os qu e se v estem p a ra celebrar as solen id ad es sagradas. 10 — 0 Senhor ê rei (cf. h om en s com ju stiça .

P s.

92 (93), 1); d á firm eza à terra, g ov ern a os

1 9 2 ------Ps. 96, 1-12

S A L M O 96 (97) O SE N H OR R E I, QUE C O N F U N D E OS ÍDOLOS E E X A L T A OS JUSTOS

Corno o precedente, também este Salmo trata do advento do reino de Deus I — Em teofania magnífica Deus aparece para julgar (1— 6); II — confunde os idólatras e concede aos justos salvação dos inimigos, luz e alegria (7— 12).

I

1. Rei é o Senhor: exulte a terra, Alegre-se a multidão de ilhas. 2. Envolvido está em escura nuvem, A justiça e o direito são as bases de seu trono. 3. Ante seu rosto avança o fogo, E abrasa ao redor os seus inimigos. 4. Seus relâmpagos iluminam o mundo; Vê a terra e estremece. 5. Fundem-se como cera, as montanhas, na presença do Senuor, Na presença do Senhor de toda a terra. 6. Anunciam os céus a sua justiça, E vêm a sua glória todos os povos.

II

7. São confundidos todos os que adoram ídolos E os que se gloriam nos seus simulacros; Diante dele prostram-se todos os deuses. 8. Ouve Sião e regozija-se, Exultam as cidades de Judá Ã vista de vossos juízos, Senhor. 9. Porque Vós sois, Senhor, O Altíssimo sobre toda a -terra, Elevado muito acima de todos os deuses. 10. Ama o Senhor os que detestam o mal, Guarda as almas dos seus fiéis. E os salva das mãos dos ímpios. 11. Amanhece para o justo a luz, E para os corações retos, a alegria. 12. Alegrai-vos, ó justos, no Senhor, E celebrai o seu nome santo. 1 — Rei ê o Senhor', ef. Pb. 92 (93), 1. a multidão de ilhas: em hebreu 'iyyím, isto é, as praias do mar.

Ps. 97, 1-fi----- 19 3

as regiões em que podem encostar as naus; daí as terras situadas além do Mediter­ râneo, ilhas ou costas (cf. Is. 41, 1. 5 etc.). 2— 6 — Descrição de uma teofania semelhante à do Salmo 17 (18); 8— 16; Hab. 3 ,3 — 12. 7 — ídotos, em hebreu 'elttlrn (cf. Ps. 95 (96), 5). deuses, em hebreu, 'èlõhim, chamados deuses pelos que os adoram; estes “ deuses” são chamados “ anjos” , pelos L X X e pela Vulgata (cf. Hebr. 1, 6). 8 — cidades de Judá, literalmente “ filhas de Júdá” , é hebraismo para significar as aldeias e vilas de uma região.

S A L M O 97 (98) O SENHOR, VITORIOSO, R E I, JUSTO JUIZ

O Salmista

I — parte da magnífica vitória, que, sem auxílio de nenhuma força humana, Deus obteve em favor de seu povo (1— 3); II — convida todos os povos d alegria (4— 6); III — exulte a própria nalureza com a vinda do justo juiz (7— 9). Este Salmo i muito semelhante ao Salmo 95 (96); os versículos 7 9 são quase idênticos. Como naquele, também neste se trata do reino messiânico.

1. Salmo

I

Cantai ao Senhor um cântico novo, Porque operou prodígios. Deram-lhe a vitória a sua destra E o seu braço santo. 2. Manifestou o Senhor a sua salvação, Aos olhos das nações revelou a sua justiça. 3. Lembrou-se de sua bondade e de sua fidelidade, Para com a casa de Israel. Contemplaram todos os confins da terra A salvação de nosso Deus.

II

4. Aclamai ao Senhor, todas as terras, Regozijai-vos, alegrai-vos e cantai. 5. Modulai salmos, ao Senhor, na harpa, E à harpa juntai a voz dos hinos. 6. Com clarins e som de cornetas, Aclamai o Senhor, que é Rei.

194 — Ps. 97, 7-9; 98, 1-3

III

7. Reboe o mar e o que nele se contém, A terra e os seus habitantes. 8. Batam palmas os rios, E juntas bradem as montanhas. 9. Na presença do Senhor, porque vem, Vem reger a terra. Há-de reger a terra com justiça E os povos com equidade.

1 — A Vulgata atribui este Salmo a David. cântico novo: c. Ps. 95 (96), 1. vitória: não se trata tanto de uma vitória histórica, quanto da úl­ tima que há-de iniciar a era messiânica e da qual falam muitas vezes os profetas. 4 — todas as terras: cf. o Ps. 95 (96), 1. 8 — batam palmas os rios: personificação (cf.

Is.

55, 12).

S A L M O 98 (99) O

SENHOR. R E I SANTO

Também este Salmo trata do reino de Deus, mas considera de modo especial a santidade de Deus que, no seu reino, se manifesta. Sublinha-se esta santidade no estribilho dos versos 3, 5. 9, que divide o Salmo em três estrofes desiguais: I — ajirma-se sobre todos os povos o reino de Deus, presente no tem­ plo, assentado sobre os querubins (1—3); II — é próprio do seu reino a justiça que há-de exercer no povo de Israel (4); III — outra virtude do seu reino é a bondade com que falou a Moi­ sés, Arão e Samuel e lhes foi propício, ainda que por veies os punisse, quando desobedientes (6— 8). O estribilho dos vv. 5 e 9 adverte o povo que se prosterne diante de Deus, pre­ sente na arca.

I

1. Rei é o Senhor: tremem os povos; Está assentado sobre os querubins: vacila a terra. 2. É grande em Sião o Senhor, Elevado acima de todos os povos. 3. Celebrem o vosso nome grande e terrível: Ele é mnlo.

Ps. 98, 4-9; 99, 1 ---- 195

II

4. É rei poderoso que tem amor à justiça: Estabelecestes a retidão, Em Jacob praticais a justiça e o direito. 5. Exaltai ao Senhor, nosso Deus, Prostrai-vos ante o escabelo de seus pés: Ele é santo.

III

6. Entre os seus sacedortes contam-se Moisés e Arão, Samuel, entre os que invocavam > seu nome: Invocavam o Senhor e Ele os atendia. 7. Falava-lhes na coluna de nuvem; Guardavam os seus mandamentos, E a lei que lhes havia dado. 8. Senhor, Deus nosso, Vós os ouvieis; Para eles fostes um Deus clemente, Ainda castigando as suas faltas. 9. Exaltai ao Senhor, nosso Deus, Prostrai-vos ante o escabelo de seus pés; Porque santo é o Senhor, nosso Deus.

1. Está assentado sobre os querubins: cf. Ps. 79 (80), 2; Sam., 4, 4; 2 Sam. 6, 2. Sobre o “ propiciatório” da arca havia as imagens de dois querubins; “ falarei a ti sobre o propiciatório e no meio dos dois querubins” , Ex. 25, 22. 4 — Este rei poderoso manifesta a sua santidade no amor à justiça. 5 — o escabelo dos pés do Senhor chamava-se a própria arca (cf. I Par. 28 2; Ps. 131 (132), 7. 8 — Ainda castigando as suas jalias, isto é, de Moisés e de Arão (cf. Num. 20). Em Deus aliam-se harmoniosamente a bondade e a justiça.

S A L M O 99 (100) HINO DOS QUE VÃO A O TEMPLO

Provàvelmente costumava cantar-se este Salmo no ingresso solene do povo no templo (2. 4). Convidam.se a entrar no templo não só os isrealitas, mas todos os habitantes da terra, porque Deus é o criador e o pastor de de todos (2. 3). E, ainda, Deus é bom e misericordioso (5).

1. Salmo de ação de graças.

Aclamai ao Senhor, todas as terras;

196---- Ps.

99, 2-5; 100, 1-3

2. Servi ao Senhor com alegria; Vinde, com alvoroço, à sua presença. 3. Sabei que Deus é o Senhor: Ele nos fez e nós somos seus; Seu povo e rebanho de que Ele é pastor. 4. Entrai com louvores nos seus pórticos; Com hinos, nos seus átrios; Celebrai-o, bendizei-lhe o nome. 5. Porque bom é o Senhor; Para sempre a sua misericórdia, E de geração em geração a sua fidelidade. 2 — todas as terras:

cf. ad Ps. 95 (96), 1.

3 — rebanho de que ele é pastor: cf. Ps. 22 (23), 1; 94 (95), 7; Joh. 10, 1— 16. 5 — bom é o Senhor: cf. Ps. 105 (106), 1; 106 (107), 1; 135 (136), 1; pare que se trata de uma fórmula usada com freqüência na liturgia.

S A L M O 100 (101) MODELO DE UM BOM B E I

Com este Salmo traça o Salmista o retrato de um bom rei que faz da bondade e da justiça os princípios de seu governo. Canta Uruvores a Deus (1), zela pela inteireza da vida, de tal modo, que possa ser digno da presença divina (2), aparta de si toda o injustiça e todos os ímpios, caluniadores e soberbos (3— 5); no seu ministério emprega os fiéis e os honestos (6); julga severamente os pecadores e limpa a cidade dos criminosos (7. 8).

1. Salmo de David.

Quero cantar a bondade e a justiça; Quero celebrar-Vos, Senhor. 2. Quero seguir o caminho da perfeição: Oh! quando vireis a mim? Quero proceder com coração puro No interior de minha casa. 3. Ante os meus olhos não proporei Nenhuma ação injusta. Detesto os transgressores da lei; Comigo não hão-de unir-se.

Ps. 100, 4-8 —

197

4. Longe de mim o coração perverso; Não quero conhecer o mal. 5. Ao que caluniar, secretamente, o seu próximo, Exterminá-lo-ei. Ao homem de olhar altaneiro e coração presunçoso, Não hei-de tolerar. 6. Porei os olhos nos homens fiéis da região, Para que comigo habitem. O que trilhar por sendas perfeitas Será meu ministro. 7. Não há-de morar em minha casa O que pratica a fraude. Quem profere mentiras Não ficará ante meus olhos. 8. Cada manhã exterminarei Todos os malvados da terra, Extirpando da cidade do Senhor Todos os malfeitores.

2 — quando vireis a m im ?: o Salmista deseja a comunhão com Deu sua presença. Outros traduzem “ darei atenção ao caminho (modo de viver) do hom jm honesto, quando quer que se me ofereça” (isto é, quando se me apresentar ocasião de o ajudar).

5 — exterminárto-ei: muitos traduzem “ reduzi-lo-ei ao silêncio” ; m palavra sãmal na forma hiphil significa “ exterminar” , cf. v. 8.

8 — cada manhã: todos os dias pela manhã costumava o rei distr justiça à porta da cidade (cf. 2 Sam. 15, 2; Ier. 21, 12); não deseja afastar-se um só dia desta justa norma de agir.

S A L M O 101 (102) L A M E N T A Ç Ã O E P R E C E D E U M D ESDITOSO

Este Salmo, quinto entre os penitenciais consta de três partes bem distintas: I — um doente e aflito lamenta tristemente a sua miséria, descrevendo-a com viveza de metáforas (2. 12); II — considerando a triste sorte da cidade e dos exilados pede a Deus gue, tembrando-se de sua misericórdia, restaure o povo e a ci­ dade (13— 23); I I I — voltando ao sofrimento próprio, roga a Deus, cuja eternidade celebra, não o leve deste mundò antes do tempo (24— 29).

19 8 ---- Ps.

101, 1-15

Na opinião de inuitos autores este Salmo foi para uso litúrgico. composto de dois outros, num dos quais, um simples particular lamenta a sua miséria (2— 12; 24— 29), no outro, o povo de Israel implora a sua restauração (13— 23). Não se impõe, porém, como necessária esta divisão.

1. Prece de um miserável que, abatido, expande a sua angustia na pre­ sença do Senhor.

I

2. Ouvi, Senhor, a minha oração, Cheguem a Vós os meus clamores. 3. Não oculteis de mim o vosso rosto No dia de minha angústia. Inclinai a mim vosso ouvido, Quando Vos invocar, acudi-me prontamente. 4. Como fumo, desvanecem os meus dias, E ardem como fogo os meus ossos. 5. Como a erva queimada, meu coração murcha, Esqueço até de comer o meu pãc» 6. Ã força de gemer e gemer Colam-se-me os ossos à pele. 7. Sou como o pelicano na soledade, Semelhante à coruja das ruínas. Sem sono, passo as noites a suspirar, Como o pardal solitário no telhado. 9. A toda a hora, insultam-me os inimigos; Furiosos contra mim praguejam com meu 10. Ando a comer cinza à maneira de pão, E misturam-se lágrimas à minha bebida. 11. Por causa da vossa indignação e da vossa cólera, Porque me exalçastes e precipitastes. 12. Como a sombra que se estira são os meus dias, Vou murchando como a relva.

II

13. Mas Vós, Senhor, permaneceis eternamente, E dura o vosso nome todas as gerações. 14. Levantai-Vos, tende piedade de Sião. É tempo de compadecer-Vos dela, Sim, é chegada a sua hora. 15.. Os vossos servos têm amor às suas pedras E compaixão de suas ruínas.

nome,

Ps. 101, 16-29 — 199

16. Todos os povos, Senhor, hão-de reverenciar o vosso nome, E todos os reis da terra, a vossa majestade. 17. Porque o Senhor reconstruiu Sião, E se manifestou em sua glória, 18. E voltou-se para a oração dos desvalidos, E não desdenhou as suas preces. 19. Escrevam-se estas coisas para a geração futura, E um povo, a ser criado, celebre o Senhor. 20. Porque o Senhor baixou a vista das alturas do seu santuário, Dos céus pôs-se a contemplar a terra, 21. A fim de ouvir os gemidos dos que estavam em cadeias, E libertar os condenados à morte; 22. Para que em Sião se anunciasse o seu nome, E em Jerusalém o seu louvor, 23. Quando juntos se hão-de reunir os povos, E os reinos para servir ao Senhor. III

24. Exgotou-me as forças no caminho, Abreviou os meus dias. 25. E eu digo: Não me leveis, meu Deus, No meio de minha vida; Vós, cujos anos duram por todas as gerações. 26. Fundastes outrora a terra, E os céus são obra de vossas mãos. 27. Eles passarão, Vós permanecereis; Como um vestido, hão-de envelhecer todas as cousas, Como roupa, Vós as mudareis e elas mudarão. 28. Mas Vós, Vós sois sempre o mesmo. E não terão fim os vossos anos. 29. Seguros hão-de habitar os filhos de vossos servos, E diante de Vós subsistirá a sua posteridade. 6 — Sofreu e queixou-se tanto que, poueo a poueo, só lhe ficou pele e osso.

Is.

7 — pelicano do deserto, em hebreu qa'ãt, ave que vive nos desertos (cf. 34, 11, Soph. 2, 14); as versões chamam-na pelicano. corufa em hebreu kôs; a Vulgata e os L X X , “ nycticorax” .

9 — praguejam com meu nome, à letra “ juram por mim” , isto é, os i migos proferem o meu nome quando praguejam: “ aconteça-te o mesmo que a ele” . 11

— Exalçastes e precipitastes, como quem atira um peso para o a

para oair com mais força.

200

— Ps. 102, 1-8

12 — sombra que se estira: a que indica que se avizinha o pôr do SoL 15 — Que o amor dos desterrados a Jerusalém destruída mova Deus ao perdão.

19 — estas coisas, isto é, os grandes benefícios feitos por Deus ao s pov o (cf. w . 20. 21). 23 —

Note-se aqui o universalismo proclamado.

24 — exffotou-me: o caminho que leva & libertação do povo é tão longo, que já se consumiram as forças do Salmista e a morte se avizinha antes do tempo. Por isso pede no v. 25 que não o leve no meio da vida (cf. Is. 38,10; ler. 17, 11).

S A L M O 102 (103) LO U V O R

X

M ISERICÓRDIA DIVIN A

Com, grande afeto e ternura de piedade, o Salmista I — depois de excitar-se ao louvor (1. 2), celebra a misericórdia de Deus, por ele experimentada (3— 5); em seguida II — exalta os benefícios de Deus. feito» a seu povo (6— 10); III — encarece a grandeza da misericórdia divina, comparando-a com a pequenez e a fraqueza do homem (11— 18); por ]im , IV — convida os anjos e o universo todo ao* louvores do Altíssimo.

1.

D e David

I

Bendize, alma minha, ao Senhor, E tudo o que há em mim, o seu santo nome. 2. Bendize, alma minha, ao Senhor, E guarda-te de esquecer um só de seus benefícios. 3. Porque Ele é que perdoa todas as tuas faltas, E sara todas as tuas enfermidades. 4. Que resgata do túmulo a tua vida, E te coroa de bondade e misericórdia, 5. Que de bens cumula a tua existência: Como a da águia, renova-se a tua juventude.

II

6. Exerce o Senhor a justiça, E a todos os oprimidos restituiu o direito. 7. A Moisés manifestou os seus caminhos, E aos filhos de Israel os seus grandes feitos. 8. Misericordioso e clemente é o Senhor, Longánime e rico em bondade.

Ps. 102, 9-22-----

201

9. Não repreende sempre, Nem eterna é a sua cólera. 10. Não nos trata segundo os nossos pecados, Nem nos castiga em proporção das nossas faltas. III

11. Quanto acima da terra se elevam os céus, Tanto, para os que o temem, prevalece a sua bondade. 12. Quanto do Ocidente dista o Oriente, Tanto de nós afasta os nossos crimes. 13. Como dos filhos se compadece o Pai, Assim dos que o temem se apieda o Senhor. 14. Ele sabe de que somos feitos: Tem presente que não passamos de pó, 15. O homem! São como o feno os seus dias; Floresce como a flor dos campos: 16. Mal sopra o vento, já não existe; E já o não conhece o seu lugar. 17. Mas a misericórdia do Senhor, dura, de eternidade a eternidade, Sobre os que o temem. E sua justiça sobre os filhos dos filhos, 18. Sobre os que guardam a sua aliança, E recordam e observam os seus mandamentos.

IV

19. Nos céus estabeleceu o Senhor o seu trono, E a todas as cousas se estende a sua realeza. 20. Bendizei ao Senhor, todos os seus anjos, Poderosos heróis, que executais as suas ordens, E obedeceis à sua palavra. 21. Bendizei ao Senhor, todos os seus exércitos, Ministros seus que cumpris a sua vontade. 22. Bendizei ao Senhor, todas as suas obras, Em todos os lugares onde Ele domina. Bendize, alma minha, ao Senhor.

5 — renovar-ae-á como a da águia: of. S. Jerô n im o (In Is. 40, 31): “D iz-se freq ü en tem en te que, ao m u d a r as penas, rejuvenesce a velhice d a s ág uias” (P L 24, 412 (426 sg.). 8 — E nco ntram -se estas p alav ras no E x . 34, 6, onde fa la o pró S enho r; of. Ps. 144 (145) 8.

2 0 2 ----- Ps. 103, 1-6 15 — Cf. Ps. 89 (90), 5 sgs. 16 — e já o não conhece o seu tugar: tão fugaz é a sua memória, que o lugar, onde morou, já dele se não lembra. Assim também fala Job 7, 10 (cf. 8, 18: “ não te vi” ).

S A L M O 103 (104) LOUVOR

a

DEUS CRIADOR

Peneirado de grande admiração de Deus, Criador de todas as coisas, o Salmista, contemplando o universo, descobre em toda a parte, os vestígios de único e supremo Artífice e conservador: I — o céu é a sua sede, a lua o seu manto, as nuvens o seu carro, os ventos os seus mensageiros (2— 4); II — com o seu poder criou e ordenou a terra (5— 9); III — envia as águas dos rios e as chuvas para que as plantas cresçarn e delas se sirvam os homens para viver e os animais para morar (10— 18); IV — o sol e a lua, criados por Dimts, marcam o tempo do trabalho para o homem e os animais (19— 23); V — o mar com os seus seres vivos e as suas naus são obra de Deus (24— 26); por fim, VI — de sua vontade dependem o começo e o termo de toda a vida (27— 30); VII — a um Deus tão bom e poderoso tributem louvores todos os bons, e da terra extirpem-se os ímpios (31— 35).

I.

1. Bendize, minha alma, ao Senhor! Senhor, meu Deus, como sois grande! De majestade e esplendor estais vestido. 2. Envolvido de luz como de um manto! Estendeis os céus como um pavilhão. 3. Sobre as águas construístes a vossa morada, Das nuvens fazeis o vosso carro, E voais nas asas do vento. 4. Dos ventos fazeis vossos mensageiros, E do fogo ardente vossos ministros.

II

5. Fundastes a terra nas suas bases: Será para sempre inabalável.

6. Com o Oceano a cobristes como um vestuário, Sobre as montanhas estiveram as águas.

Ps. 103, 7-23 —

7. A uma vossa ameaça deitaram a fugir, Ao ribombo do vosso trovão, estremeceram. 8. Surgiram as montanhas, sulcaram-se os vales, Nos lugares que lhes destinastes. 9. Vós lhes assinastes limites que não hão-de transpor, Nem tornarão a cobrir a terra. III

10. Mandastes que as fontes corram em regatos E deslizem entre as montanhas. 11. Dão de beber a todos os animais do campo, E ao onagro apagam a sede; 12. Perto delas moram as aves do céu, E entre a folhagem desferem o seu canto. 13. Do alto das vossas moradas abeberais as montanhas; Do fruto que fazeis nascer farta-se a terra. 14. Para as alimárias produzis o feno, E as plantas para o uso do homem, 15. A fim de tirar, do seio da terra, o pão E o vinho que alegra o coração do mortal; E o óleo que lhe faz brilhar o rosto, E o pão que lhe sustenta as forças. 16. Fartam-se as árvores do Senhor, E os cedros do Líbano que Ele plantou. 17. Ali constroem as aves os seus ninhos; Nos ciprestes põem as cegonhas a sua casa. 18. Para as cabras são as altas montanhas, E os rochedos asilo para os arganazes.

IV

19. Para marcar o tempo fizestes a lua; O sol conhece a hora de seu ocaso. 20. Quando estendeis as trevas e surge a noite, Entram a vaguear todas as feras da floresta. 21. Rugem os cachorrinhos do leão pela presa, E clamam a Deus por alimento. 22. Ao despontar do sol recolhem-se, E deitam-se nos seus covis. 23. Sai o homem para o seu trabalho, E para a sua tarefa até à tarde.

203

2 0 4 ----- Ps. 103, 24-35

V 24. Que variedade nas vossas obras, Senhor! Com sabedoria fizestes todas as cousas: Cheia está a terra de vossas criaturas! 25. Eis o mar amplo na sua vastidão imensa, Onde se agitam peixes sem número, Animais pequenos e grandes. 26. Nele sulcam as naus, E Leviatan que, form&stes, para retouçar nas ondas. VI

VII

27. Todos os animais de Vós esperam Que a seu tempo lhes deis alimento. 28. Vós lhes dais; eles acodem a recolhê-lo; Abris a mão; eles fartam-se de bens. 29. Se escondeis o rosto, perturbam-se; Se lhes retirais o sopro, expiram, E voltam ao pó de que saíram. 30. Se enviais o vosso sopro, são criados, E renovais a face da terra. 31. Ao Senhor, glória eterna: Alegre-se nas suas obras, o Senhor. 32. Ele que faz tremer a terra com o olhar; E com o seu contacto inflama as montanhas. 33. Cantarei ao Senhor em toda a minha vida, Entoarei hinos ao meu Deus no resto dos meus dias. 34. Sejam-lhe agradáveis os meus acentos; Minha alegria, pô-la-ei no Senhor. 35. Desapareçam da terra os pecadores, Não existam mais ímpios; Bendize, alma minha, ao Senhor! Aleluia!

2 — como um ■pavilhão, com que se cobre a tenda. Como em outras passagens do Antigo Testamento, a forma do Universo descreve-se aqui segundo “ as aparências sensíveis” . (Carta encycl. Providenlissimus, Enchir. Bibl. n. 106) e não segundo a sua natureza íntima. 3 — sobre as águas, isto é, sobre o oceano celeste (“ águas superiores” , Gen. 1, 7); Deus construiu sòlidamente o seu palácio. 4 — Todo o céu, portanto, ê “ por ele” e “ para ele” (cf. Roma. 11, 36). S. Paulo (Hebr. 1, 7) argumenta da seguinte forma: quanto aos anjos, sua dignidade é inferior à dignidade do Filho, porque para a função

Ps. 103; Ps. 104 ----- 205

(de mensageiros) Deus se serve também dos ventos e para a função de ministros também das chamas.

5 — sobre as suas bases: a terra é comparada a um grande edifício c truído sobre sólidos alicerces. 6— 8 — Ao Oceano (tehôm) que cobriu toda a terra (cf. Gen. 1, 2. 6. 7.). Deus com sua ameaça faz recuar de modo que apareçam as montanhas separadas pelos Vales. 9 — assinastes limite, isto é, às águas do mar (v. 6): cf. Job 38, 10 sgs; Ier. 5, 22. 13 — Do alto das vossas moradas: das “ águas superiores” . Cf. Job. 38, 22, 23; Eccl. 43, 15 (14). 18 — hyracibus: em hebreu sãphãn (cf. Lev. 11, 5; D t. 14, 7, “ hyrax syriacus” . 26 — naus: Deus quis também e previu as artes humanas — Alguns autores, levados pelo contexto e paralelismo, em lugar de ’oníyyõt lêem ’êmõL ov tanntmtm, “ monstros marinhos” . Leviathan, segundo Job 40, 20— 41, 26 (25) é o crocodilo. Na mitologia gentflica Leviathan é um monstro que luta com os deuses; para o Salmista, porém, é um animal criado por Deus para brincar no mar (ou. na opinião de outros; para que Deus brinque com ele como as crianças brincam com os animais): cf. Iob 40, 29 (V 40, 24). 30 — enviais o vosso sopro: o sopro de Deus é o princípio de toda a vida, principalmente dos homens (cf. Gen. 2, 27). 31 — alegre-se: cf.

Gen.

1, 31: "viu D e u s ... e eram boas todas as

coisas” . 35 — pecadores: neste mundo criado por Deus a única voz discordante é o pecado, que provoca a ira de Deus (v. 32); desapareçam, pois, os pecadores.

SALMO

104

(105)

DEUS CU M PRE AS PROMESSAS FEITAS A A B R A A O

Como os Salmos 77 (78), 105— 107 (106— 108), 135 (136), este Salmo resu­ me a história do povo para mostrar a benignidade e justiça da Providên­ cia de Deus. Após o proêmio I — em que o Salmista convida a celebrar as obras de Deus (1— 7); II — lembra a aliança feita com os patriarcas e as promessas da terra de Canaã (8— 11); III — narra como Deus protegeu os patriarcas (12— 15); IV — resume a vida de José (16— 22); e V — o entrada dos israelitas no Egito (23— 24); V I — a missão confiada a Moisés e Arão (25— 27); V II — mais largamente descreve as pragas do Egito (28— 38). Depois V III — enumera os milagres feitos na salda do Egito e no deserto (39— 43) e IX — conclui mostrando como os Israelitas obtiveram a terra dos cananeue que lhes havia sido prometida (44— 45).

206

I

II

— Ps. 104, 1-17

1. Celebrai o Senhor, aclamai o seu nome, Anunciai, entre as gentes, as suas obras. 2. Cantai-lhe cânticos, entoai-lhe hinos Narrai todos os seus prodígios. 8. Gloriai-Vos de seu nome santo; Alegre-se o coração dos que buscam o Senhor. 4. Meditai sobre o Senhor e sobre o seu poder; Procurai sempre a sua face. 5. Lembrai-Vos das maravilhas por Ele operadas, Dos seus prodígios, e dos julgamentos proferidos pelos seus láb ios. 6. Vós, raça de Abraão, seu servo, F ilhos de Jacob, seus escolhidos, 7. Ele, o Senhor, é nosso Deus; Em toda a terra executam-se as suas sentenças. 8. Lembra-se eternamente de sua aliança, Da promessa empenhada para mil gerações, 9. Da aliança que pactuou com Abraão, E do juramento que fez a Isaac, 10. E que confirmou a Jacob como lei inviolável E a Israel como aliança eterna, 11. Dizendo: “ Dar-te-ei a terra de Canaã, Como quinhão de vossa herança” .

III

12. Quando eram em número reduzido, Poucos estrangeiros naquela região, 13. E passavam de uma nação para outra, E de um para outro povo, 14. A ninguém permitiu que os oprimisse, Por amor deles castigou aos reis: 15. “ Não toqueis nos meus ungidos, Nem maltrateis os meus profetas” .

IV

16. E chamou a fome sobre a terra E os privou do pão que sustenta. 17. Diante deles enviou um homem: José fora vendido como escravo.

Ps. 104, 18-85

— 207

18. Com grilhões apertaram-lhe os pés, Com ferros cingiram-lhe o colo, 19. Até que se cumpriu o seu vaticínio, E o justificou o verbo do Senhor. 20. O rei ordenou que o soltassem, E este potentado dos povos lhe restituiu a liberdade. 21. Constituiu-o senhor de sua casa, E governador de todos os seus domínios. 22 . Pará educar os magnatas segundo a sua vontp.de, E aos seus anciãos ensinar a sabedoria. V

23. Entrou assim Israel no Egito, E Jacob foi viver como peregrino na terra de C ham. 24. E deu (o Senhor) ao seu povo grande fecundidade. E o fez mais forte que os seus opressores.

VI

25. Mudou-lhes o coração para detestarem o seu povo E conspirarem contra os seus servos, 26. Enviou-lhes então Moisés, seu servo, E Arão, seu escolhido. 27. Por eles operou suas maravilhas, E fez seus prodígios na terra de Cham.

VII

28. Enviou trevas e tudo escureceu, Mas eles foram rebeldes à sua palav ra. 29. Transformou-lhes as águas em sangue. E fez perecer os seus peixes. 30. Pulularam as rãs na sua região, Até nos apartamentos dos reis. 31. Disse, e veio uma nuvem de moscas, Mosquitos em todo o seu território. 32. Mandou-lhes granizo em vez de chuva, Chamas de fogo em toda a sua t erra. 33. Devastou-lhes os vinhedos e os figueirais, E partiu-lhes as árvores de seu território. 34. Disse e vieram os gafanhotos, E lagartos que se não podia contar. 35. E devoraram toda a verdura do país, E devoraram todos os frutos de seus campos.

2 0 8 ----- Ps.

104, 36-43

36. E feriu de morte todos os primogênitos do país, Primícias de sua virilidade. 37. E conduziu (o seu povo) carregado de prata e ouro, E nas suas tribos não havia um inválido. 38. Alegraram-se os egípcios com a sua partida, Por causa do temor que lhes causava. VIII

IX

39. Distendeu uma nuvem que lhes servisse de toldo, E um fogo para iluminar-lhes a noite. 40. A seu pedido, mandou-lhes codornizes, E os fartou com o pão do céu. 41. Abriu um rochedo e jorraram as águas, Que correram, como rio, pelo deserto. 42. Porque lembrava-se da sua palavra santa, Empenhada a Abraão, seu servo. 43. E conduziu o seu povo com júbilo, E, entre gritos de alegria, os seus eleitos. 44. E deu-lhes as terras dos gentios, E desfrutaram as riquezas de outros povos, 43. Para que guardassem os seus mandamentos E observassem as suas leis. Aleluia.

1 — Celebrai: com o os S alm os 105— 107 (106— 108) e 135 (136), ta m b é m com eça com hôdú "professai” "reconhece a b erta m e n te ” o u a in d a “a g ra ­ decei” ; os L X X m enos e x atam e n te v e rte m ifoj«>Xo7
Ps, 105,1-2 —

36 — de toda a sua virilidade', cf .

209

Ps. 77 (78), 51.

37 — inválido (kôsêl): o paralelismo permitiria traduzir também por “ pobre” . 40 — pão do céu: cf. Ps. 77 (78), 24. 41 — como rio: hipérbole poética. 44 — terras dos gentios, isto é, a Palestina outrora habitada por vários povos.

SALMO

105 (106)

CULPA E CASTIGO DO POVO INGRATO

Este Salmo narra também a história do povo, mas põe ao mesmo tempo em relevo o número e a grandeza de suas ingratidões. N o proêmio, A . — o Salmista exorta a celebrar o poder e a misericórdia de Deus (1— 5). Depois, B . — enumera oito rebeliões do povo contra Deus: I —■ começa pelos pecados cometidos pelos pais no Egito e durante o Êxodo, tanto mais graves quanto maiores eram as maravilhas com que Deus os libertara (6— 12); II — esquecidos dos benejícios, pecaram de novo por concupiscênda (13— 15) e III — rebelião (16— 18); IV — fabricaram um bezerro de ouro (19— 23); V — desprezaram a terra da promissão (24— 27); IV — sacrijicaram a Beeljegor (28— 31); V II — induziram o próprio Moisés a pecar (32— 33); V III — uma vez na Palestina, não extirparam os cananeus, adoraram os seus deuses e lhes sacrijicaram os próprios filhos (34— 39). C . — Por isto Deus entregou-os apesar de haverem, pecado sua aliança (43— 46). O ram a volta do exílio (47). dos Salmos.

nas mãos dos inimigos (40— 42). M as muitas vezes, perdoou-lhes, lembrado da Salmo termina com preces que implo­ O último verso (48) é o fecho do limo IV

1. Aleluia.

A. Celebrai ao Senhor, porque é bom, E eterna a sua misericórdia. 2. Quem poderá contar os feitos poderosos do Senhor, E apregoar todos os seus louvores ?

2 1 0 ----- Ps.

IOS, S-16

3- Bem-aventurados os que observam a lei, E praticam a justiça em todo o tempo ! 4. Lembrai-vos de mim, Senhor, Na complacência pelo vosso povo; Visitai-me com o vosso socorro, 5. A fim de que me regozije com a felicidade de vossos escolhidos. E me alegre com a alegria de vossa nação, E me glorie com a vossa herança. B.

I

6. Pecamos, como os nossos pais, Cometemos a iniqüidade, praticamos o mal. 7. Nossos pais, no Egito, Não consideraram as vossas maravilhas, Não se lembraram da multidão de vossas graças, Mas se revoltaram contra o Altíssimo, no Mar Ver­ melho. 8. Mas Ele os salv ou por amor de seu nome. Para fazer patente o seu poder. 9. Ameaçou o Mar V ermelho e ele secou, E conduziu-os por entre os abismos, como num deserto. 10. E os salvou das mãos daquele que os odiava E os libertou do poder do inimigo. 11. E sepultaram as águas aos que os perseguiam: Sem que um só escapasse. 12. Acreditaram então nas suas palavras E cantaram os seus louvores.

II

13. Bem cedo esqueceram as suas obras: Não confiaram nos seus desígnios. 14. Entrégaram-se à concupiscência no deserto, E tentaram a Deus na solidão. 15. Concedeu-lhes o que pediam; Mas feriu-os de consumpçâo.

III

16. Invejaram a Moisés, nos acampamentos, E a Arão, consagrado ao Senhor.

Ps. 105, 17-82 —

17. Abriu-se a terra e tragou a Datan, E sorveu Abiron com os seu sequazes. 18. Incendeu-se o fogo contra a sua facção, E as chamas consumiram os ímpios. IV

19. Fabricaram um bezerro em Horeb E adoraram o ídolo de ouro fundido. 20. E trocaram a sua glória Pela estátua de um novilho que come feno. 21. Esqueceram a Deus que os salvara, E obrara prodígios no Egito, 22. Maravilhas na terra de Cham, Portentos no Mar Vermelho. 23. E já cogitava em exterminá-los Se Moisés, seu escolhido, Não interpuzesse sua intercessão Para impedir a sua cólera de os destruir.

V 24. Desprezaram depois uma terra de delícias; Não confiaram na sua palavra. 25. Murmuraram nas suas tendas, E não obedeceram ao Senhor. 26. Jurou-lhes então, com a mão erguida, Que os havia de deixar estendidos no deserto, 27. E dispersar, entre as nações, a sua descendência, E disseminá-los por outras terras. VI 28. E consagraram-se a Beelfegor, E comeram vítimas oferecidas a deuses mortos, 29. E o provocaram com os seus crimes, E sobre eles irrompeu um flagelo. 30. Mas levantou-se Finéias e fez justiça, E cessou o flagelo. 31. Zelo que lhe foi Imputado como merecimento, De geração em geração, para sempre. VII 32. Depois o irritaram nas águas de Meriba, E por causa deles sofreu Moisés,

211

212 —

Ps. 105, 33-46

33. Porque lhe exacerbaram o ânimo, E seus lábios disseram palavras temerárias. V III

34. Não exterminaram os povos Que lhes havia mandado o Senhor. 35. Mas mesclaram-se às nações E aprenderam os seus costumes. 36. E prestaram culto aos seus ídolos Que foram para eles ocasião de escândalo. 37. E imolaram os seus filhos E as suas filhas aos demônios. 38. Verteram o sangue inocente: O sangue de seus filhos e filhas Imolados aos ídolos de C a n » » , E a terra foi profanada pelo assassínio, 39. Contaminaram-se com as suas obras E prostituiram-se com os seus crimes. C 40. Inflamou-se contra o seu povo a cólera do Senhor, E abominou a sua herança. 41. E os entregou nas mãos das nações, E sobrfe eles dominaram os que lhes tinhan ódio. 42. Oprimiram-nos os seus inimigos, E foram humilhados sob as suas mãos. 43. Muitas vezes os libertou, Mas eles o exasperaram com os seus enredos, E foram abatidos por suas iniqüidades. 44. Olhou-os, contudo, o Senhor, quando estavam atribulados, E ouviu-lhes as orações. 45. E, em favor deles, lembrou-se de sua aliança, E por sua muita misericórdia deles se apiedou. 46. E conciliou-lhes a graça De todos os que os levaram cativos. * * *

Ps. 105, 47-48 ----213

47. Salvai-nos, Senhor, Deus nosso, Congregai-nos de entre as nações, Para celebrarmos o vosso santo nome, E nos gloriarmos de Vos louvar 48. Bendito o Senhor Deus de I srael, Da eternidade para a eternidade. Diga todo o povo: Amém! Aleluia! 4— 5 — Pensa o Salmista na restauração gloriosa do povo no que há-de acontecer na era messiânica. 7 — no Mar Vermelho: cf. Ex. 14, 10— 14. Ex.

321

Esta idéia encontra-se com muita freqüência em Ezequiel (v.

g .t

8 — por amor de seu nome, isto é, pela sua própria glória; cf. 11— 14. 20, 9— 14).

15 — consumpção, o texto massorético tem rãzôn, a versão de Síma àrpoipLa. O Salmista tem diante dos olhos a passagem dos N úmeros 11, 20, onde se diz que a carne causou aos israelitas zãrd, palavra que os LX X tra­ duzem x°Mpai e S. Jerónimo “ náusea” . Por esta razão opinam alguns autores modernos que também neste passo se deve ler, derivada da mesma raiz, a palavra tãrôn (que não se encontra em nenhum lugar na Bíblia) em vez de rãzôn. É certo que se trata de.uma doença. 16— 18 — Cf.

Num.

16.

20 — a sua glória, isto é, Deus, cuja glória (hàbâd) os acompanhava 23 — interpusesse sua intercessão, literalmente, “ se não estivesse na bre­ cha (do muro, onde maior era o perigo) diante dele” . 24 — desprezaram, quando voltaram os exploradores de Canaã (Num. 14). 26

— com a mão erguida lhes furasse, à letra "levantou-lhes a mão (

rando)” . 28 — comeram, vitimas, juntamente com os moabitas.

Cf. Num. 25, 2.

32— 33 — Cf. Num. 20, 1— 13. Moisés sofreu, porque, em castigo, IIjo nSo foi permitido entrar na terra da promissão. 34 — que lhes havia mandado, isto é, exterminar. 36 — (os ídolos) ocasião de escândalo, por lhe sacrificarem os filhos.

39 — prostituíram-se, em hebreu zãnâ (h), palavra empregada muit v um-h polos profetas para designar o culto dos falsos deuses. Iahweh é o único marido do Israel (cf. Os. 2, 2— 16, 19 sgs.).

LIVRO

V

Salmos 106 (107) — 150) SALMO

106 (107)

A Ç Ã O DE GRAÇAS P E L A L IB ER TA Ç Ã O DOS PERIGOS

O Salmo começa por um prólogo (1— 3) em que são convidados os que torna­ ram do exílio a dar graças a Deus. O corpo do Salmo consta de duas partes. A primeira (4 : 4— 32) descreve a libertação de quatro peri­ gos: I — os esfomeados que vagavam pelo deserto são reconduzidos ao caminho direito e saciados (4— 9); II — os presos em cárcere escuro recuperam, a liberdade (10— 16); I I I — os doentes graves são curados (17—22); IV — os navegantes, salvos dos riscos da morte e da procéla, entram no porto (23— 32). Estas quatro partes, de extensão desigual, apresentam o mesmo estribilho constituído por dois versos, se­ parados por outro verso (na parte IV , por dois versos); o segundo verso do estribilho ê o segundo de cada estrofe. Na segunda parte (B: 33— 44) descreve-se a Providência de Deus que muda os desertos em regiões férteis, as terras estéreis em frutíferas e abençoa e multiplica os seus habitantes (37—41). No epttogo (42— 43) adverte o Salmista a todos que meditem estes benefícios de Deus. Como no prólogo é clara a referência à volta do exílio bàbilônico, é justo que se interpretem simbòlicamente as descrições da primeira parte, como li­ bertação dos sofrimentos do desterro. A segunda parte descreve através de figuras bem manifestas a volta do exílio e a restauração da vida nacional na pátria.

1. Celebrai ao Senhor porque é bom, E eterna é a sua misericórdia. 2. Digam-no os resgatados do Senhor, Os que Ele resgatou das mãos do inimigo, 3. E congregou de diferentes terras, Do Oriente e do Poente, do Setentrião e do Meio-Dia.

216 ----- Ps.

106, 4-1»

A

X

4. Errando no deserto, por ermas paragens, Não encontravam caminho de cidade onde alojar. 5. Esfaimados e sedentos, Desfalecia-lhes a vida. 6. Quando se viram; angustiados clamaram ao Senhor, E Ele os livrou de suas tríbulações.

7. Conduziu-os pelo caminho direito Para chegar à cidade onde alojar-se, 8. Agradeçam ao Senhor a sua bondade E os seus prodígios em favor dos filhos dos homens

9. Porque dessedentou a alma sequiosa, E cumulou de bens a alma faminta. II

10. Sentados nas t rev as e nas sombras da morte, Jaziam cativos na miséria e em ferros, 11. Por se haverem rebelado contra os oráculos de Deus, Por haverem desprezado os desígnios do Altíssimo. 12. E ele lhes abateu o coração com trabalhos; Quedaram sem forças e não havia quem lhes socorresse. 13. Quando se viram angustiados clamaram ao Senhor E Ele os livrou de suas tríbulações.

14. Tirou-os das trevas e da sombra da morte E partiu-lhes os grilhões. 15. Agradeçam ao Senhor a sua bondade E os seus prodígios em favor dos filhos dos homens.

16. Porque despedaçou as portas de bronze E quebrou os ferrolhos de ferro. III

17. Enfermos por causa de seus excessos,

Aflitos por causa de seus crimes, 18. Nauseava-lhes a alma qualquer alimento; C hegaram às portas da morte. 19. Quemdo se viram angustiados clamaram ao Senhor E Ele os livrou de suas tríbulações.

Ps. 106, 20-36 ----- 2 17

20. Enviou-lhes a sua palavra e os curou E os preservou da sepultura. 21. Agradeçam ao Senhor a sua bondade E os seus prodígios em favor dos filhos dos homens,

22. E ofereçam sacrifícios de ação de graças E proclamem com júbilo as suas obras. IV

23. Os que, em naus, haviam descido aos mares, Para comerciar na imensidade das águas, 24. Contemplaram as obras do Senhor, E os seus prodígios nas profundezas do pego. 25. Com uma palavra suscitou um vento de tempestade, Que encrespou as ondas; 26. Subiam às nuvens, desciam aos abismos, Na desgraça finava-se-lhes a alma. 27. Titubeavam e cambaleavam como ébrios; Esvaeceu-se-lhes toda a habilidade. 28. N a sua angústia clamaram ao Senhor E Ele os livrou de seus tributações.

29. Amainou a procela em brisa suave, E silenciaram as ondas do mar, 30. E alegraram-se porque emudeceram; E os levou ao suspirado porto. 31. Agradeçam ao Senhor a sua bondade E os seus prodígios em favor dos filhos dos homens.

32. Celebrem-no nas assembléias do povo E o louvem no conselho dos anciãos. B 33. Converteu os rios em desertos, E os mananciais de água em terra árida, 34. A terra frutífera em salsugem, Por causa d®, malícia de seus habitantes. 35. Trocou o deserto em lençol de águas E na terra seca fez correr fontes. 36. Aí estabeleceu os esfaimados Que fundaram uma cidade em que habitam.

2 1 8 -----Ps. 106, 37-43

37. E semearam os campos e plantaram as vinhas, E obtiveram abundantes colheitas. 38. Ele os abençoou; eles sobremaneira se multiplicaram, E não lhes deixou diminuir o gado. 39. Foram reduzidos a poucos e humilhados, Sob a pressão da desgraça e do sofrimento. 40. Mas aquele que verte o desprezo sobre os príncipes, E os faz andar errantes por ínv ios desertos, 41. Soergueu o pobre de sua miséria, E tornou as famílias numerosas como rebanhos. 42. Vêem isto os justos e regozijam-se; E por toda parte fecham os maus a boca. 43. Quem é sábio para atentar nestas cousas, E compreender as misericórdias do Senhor? 4 — cidade onde alojar: na interpretação simbólica significa a pátria, a Palestina.

11 — Diz-se que a pena de prisão foi infligida por graves pecados, com de fato, o exílio foi castigo do pecado. 20 — o sua palavra: isto é, a ordem de Deus, aqui personificada (cf. Ps. 147, 15; Is. 55, 10 sgs.). 25— 27 — Note-se a descrição viva da tempestade, tanto mais digna da nota quanto os hebreus raras vezes navegavam (cf. Ioan. 1, 4— 15). 32 — no conselho dos anciãos, isto é, às portas da cidade onde se cos­ tumam reunir os anciãos para julgar; cf. Ruth 4, 1 sgs. 33— 41 — Estes versos, ainda que se possam entender da Providência universal de Deus, parece que aqui visam pôr em foco o auxílio de Deus concedido ao povo que voltava do exílio e de novo se estabelecia na Palestina. Encontram-se as mesmas metáforas em Is. 35, 7; 41, 18; 42, 15; 50, 2 para descrever a volta do exílio. 40 — desprezo sobre os príncipes: cf, Iob 12, 21, 24b. 43 — Cf. Os. 14, 10

SALMO

107

(108)

LO U V O R A DEÜS E P E TIÇ Ã O DE SOCORRO N A GUERRA

O Salmo compõe-se do Salmo 56 (57) 8— 12 ( = w 2— 6) e do Salmo 59 (60), 7— 14 (vv 7— 14). Na primeira parle I — o Salmista manifesta a firmeza da confiança com que pede a vitória (2— 7). Veja-se o que se disse acima a propósito do Salmo 56 (57) 8— 12;

Ps. 107, 2-14 —

219

II — na segunda parte recorda as promessas de Deus (8— 10) e imptora o seu socorro (11— 14). Ver o que já jo i dito sobre o Salmo 59 (60), 7— 14.

1. Cântico.

I

Salmo de David.

2. Firme está o meu coração, ó Deus, Firme está o meu coração; Entoarei cantos e salmos. 3. Desperta, alma minha; despertai, lira e citara! Quero acordar a aurora. 4. Entre os povos, Senhor, cantarei os vossos louvores Entre as nações Vos entoarei salmos. 5. Porque aos céus se eleva a vossa misericórdia, E às nuvens a vossa fidelidade. 6. Elevai-Vos, Senhor, acima dos céus; Em toda a terra esplenda a vossa glória, 7. Para que sejam preservados os vossos amigos, Ajudai-nos com a vossa destra e ouvi-nos.

II

8. Deus disse no seu santuário: “ Exultarei de alegria; partilharei Sichem E medirei o vale de Succoth. 9. A mim pertence Balaad, Manassés é meu, Efraim é elmo de minha cabeça E Judá, o meu cetro. 10. Moab, a bacia em que me lavo; Sobre Edom atirarei as minhas sandálias E da Filistia soltarei o meu grito de triunfo” . 11. Quem me introduzirá na cidade fortificada? Quem me levará a Edom? 12. Quem senão Vós, ó Deus, que nos haveis desamparado, E já não sais à frente dos nossos exércitos? 13. Socorrei-nos contra o opressor, Porque vão é o socorro dos homens. 14. Com Deus faremos proezas; Ele aniquilará os nossos inimigos.

220 — Ps. 108

SALMO

108 (109)

C O N T R A INIMIGOS INJUSTOS E PÉRFIDOS

O Salmo começa I — com o pedido do auxílio divino contra inimigos injustos e pér­ fidos (2— 5);

II

(6—19):

— seguem-se imprecações contra um inimigo particular • que seja condenado em juízo (6— 7), morra prematuramente e deixe os seus na miséria (8— 10), perca os seus haveres e ri­ quezas (11). seja privado da compaixão do próximo (12), se­ jam extirpados os seus descendentes e ele pague os pecados de seus maiores (13— 15), e a lei do castigo- seja a lei de talião (16— 19);

III — com insistência pede o Salmista a Deus o livre dos muitos rles que o ajligem e sejam confundidos os seus inimigos (20— 31.. Na interpretação deste Salmo muito autores modernos opinam que as ter­ ríveis imprecações (6— 19) são pronunciadas pelos inimigos do Salmista que as rejere para mostrar quão amargo e cruel é o seu ódio. Depois do v. 5 deve acrescentar-se: “ e dizem” o v. $0 deverá entender-se mais ou me­ nos assim: “ Todas essas imprecações lançadas contra mim, retribua-lhes o Senhor” . — Deve porém confessar-se que semelhante interpretação levanta suas dificuldades. A explicação do v. 20 parece um tanto forçada. Além disto, è pouco provável que um inimigo malvado exprobre ao piedoso Sal­ mista a sua dureza com os pobres e aflitos, e tanta perversidade de alma que chegue a recusar a bênção (16— 19). Que nos vv. 6 — 19 se empregue o singular quando na primeira e última parte se fala em plural explica-se por tratar-se de um particular, chefe e guia dos outros e que persegue ao Salmista com ódio especial. Por fim, a interpretação não evita a dificulda­ de das imprecações. porque no v. 20 tudo se retorque contra o inimigo. Se alguém explicar de outro modo as palavras deste versículo ( “ hoc est opus eorum) restam ainda os vv. 28 e sgs nos quais o Salmista, servindo-se quase das mesmas palavras que o v. 19, deseja a confusão dos seus inimigos. Aliás não ê insolúvel a questão das imprecações que não se apresenta só neste Salmo. Convém ter presente que no A. T. vigorou a lei do talião (Ex. 21, 12; 23 — 25; Lev. 24, 17— 21). penas eram então muito mais duras que em nossos dias. O Salmista, falando em linguagem poética, serve-se de metáforas que não se devem interpretar literalmente. Por fim, o Salmista não defende a própria causa mas a de Deus; ele fala contra inimigos que o atacam pela devoção e fidelidade com que observa os man­ damentos divinos (sobre as imprecações na Escritura cf. A. B e a , D e S cripturae sacrae inspiratione, Edit. 2.a [1935] p. 80 sgs.; Inst. Bibl., vol. I, ed. 5.‘ [1937], p. 71 sgs.).

S. Pedro (Act. I, 16— 20) aplica as palavras do v. 28 a Judas, o traidor “ que foi o chefe dos que prenderam a Jesus” {v. 16). O Salmo é, pois, messiânico, pelo menos tipicamente; assim as imprecações contra os inimigos de Cristo adquirem também maior plenitude de significado.

I . Ao Mestre de cântico. Salmo de David;

Deus de meu louvor não guardeis silêncio, 2. Porque contra mim se desataram os lábios do ímpio e do pérfido. Com língua mentirosa falaram comigo, 3. E envolveram-me com palavras de ódio, E, sem motivo, declararam-me guerra. 4. Em retribuição de meu afeto, tratam-me como inimigo : Mas eu orava. 5. Pagaram-me o bem com o mal, E o amor com o ódio. 6. Suscitai contra ele um ímpio, E à sua direita esteja um acusador. 7. Quando o julgarem, seja condenado, E sem efeito o seu recurso. 8. Sejam abreviados os seus dias, E tome outro o seu cargo. 9. Fiquem órfãos os seus filhos, E viúva a sua esposa. 10. Andem errantes e mendigos os seus filhos, E sejam expulsos de suas casas em ruínas. 11. Insidiosamente apodere-se o usurário de todos os seus bens, E roubem-lhe extranhos o fruto de seus trabalhos. 12. Ninguém lhe conserve benevolência, Nem haja quem se compadeça de seus órfãos. 13. Votada ao extermínio seja a sua descendência, E no curso de uma só geração extinga-se o seu nome. 14. Na lembrança do Senhor viva a culpa de seus pais, E não se apague o pecado de sua mãe; 15. Permaneçam sempre ante os olhos do Senhor; E risque-se da terra a sua memória. 16. Porquanto não pensou em usar de misericórdia, Mas perseguiu o pobre e o desvalido, E o aflito de coração para entregá-lo à morte. 17. Amou a maldição: caia-lhe em cima; Não quis a bênção: afaste-se dele.

222 — i's. 108, 18-31

18. Vista-se da maldição como de uma túnica: Penetre, como água, nas suas entranhas, E, como óleo, nos seus ossos. 19. Seja-lhe como o vestido que o cobre, E como a cinta com que sempre se cinge. III

20. Tal seja, da parte do Senhor, a retribuição de meus adver­ sários, E dos que falam mal contra a minha alma. 21. Mas, Vós, Senhor Deus, tratai-me segundo o vosso nome, E livrai-me segundo a vossa bondade misericordiosa. 22. Porque pobre sou e indigente, E, dentro de mim, ferido sinto o meu coração. 23. Como a sombra que foge, assim vou passando, Sou sacudido para longe como o gafanhoto. 24. Ã força de jejuar vacilam-me os joelhos, E de magreza vai mirrando o meu corpo. 25. Tornei-me para eles objeto de escárneo; Olham-me e meneiam a cabeça. 26. Socorro, Senhor, meu Deus; Salvai-me na vossa bondade. 27. Saibam que anda aqui a vossa mão, E é coisa, Senhor, que Vós fizestes. 28. Eles, lancem-me maldições; Vós, abençoai-me; Sejam confundidos os que contra mim se insurgem; Alegre-se, porém, o vosso servo. 29. Vistam-se de ignomínia os meus detratores, E envolvam-se na sua vergonha, como num manto. 30. Glorificarei altamente ao Senhor com os meus lábios, E cantarei seus louvores no meio da multidão: 31. Porque se pôs à direita do pobre Para salvá-lo dos que o julgavam. 1 — de meus louvores: a quem louvo e sempre hei-de louv ar. não guardeis silêncio: cf. Ps. 34 (35), 22; 82 (83), 2.

6 — acusador, em hebreu sãtãn; ef. Zaeh. 3, 1, onde também se encontra o acusador à direita do sumo sacerdote acusado. 15 — a sua memória, isto é, de toda a sua descendência. 20 — a retribuição, em hebreu p eullâ (h), ação, lucro, recompensa; interpretação depende do sentido que se der aos vv. 6— 19.

a

Ps. 109,

1-5 —

223

23 — sacudido para longe como o gafanhoto', os gafanhotos qu e sacodem-se p a ra se destruírem ou são atirados no mar pelos ventos v io le n to s (cf. Ex. 10, 19; Joel, 2, 20).

apanham

27 me salvasteS.

— que Vós o fizestes : isto é, permitistes que eu fosse perseguido e V

SALM O

109

(110)

O MESSIAS, H E I, SA C E R D O TE , T R IU N F A D O S

O Salmo trata do M essias; demonstra-o não só o próprio texto, mas ainda o testemunho do Novo Testamento e o consenso unânime dos SS. Padres e exegetas católicos. O próprio Cristo, Senhor nosso, interpretou do M essias o Salmo (M l. 22, 42— 46). O Salmo prediz

I — a dignidade real do M essias, que lhe fo i conferida por Deus e se funda na sua origem divina (1—3); II — a dignidade sacerdotal (4); III — a vitória de todos os inimigos (5—7).

1. Salmo de David.

I

Oráculo do Senhor ao meu Senhor: “ Assenta-te à minha direita, Até que ponha os teus inimigos Como escabelo de teus pés” . 2. De Sião estenderá o Senhor O cetro de tua potência: Domina entre os teus inimigos! 3. Contigo a soberania, no dia do teu nascimento, Nos esplendores da santidade; Antes da aurora, como orvalho, eu te gerei” .

II

4. Jurou o Senhor e não se arrependerá: “ Tu és sacerdote para sempre Segundo a ordem de Melchisedech” .

III

5. O Senhor está à tua direita: N o dia de sua cólera esmagará os reis.

224

— Fs. 109, 6 6. Julgará as nações, empilhará cadáveres; Esmagará cabeças de muitos na terra. Beberá da torrente no caminho; Por isto levantará a cabeça.

1 — Dixit (o Senhor), em hebreu ne’um, palavra que significa "sent “ oráculo” , que o Senhor comunica ao profeta; cf. Ps. 35 (36), 1. Do Senhor ao meu Senhor, literalmente “ Iahweh a meu Senhor” . (adõni, forma empregada quando se dirige a palavra a um herói, príncipe, rei; quando se dirige a Deus emprega-se o sufixo plural: 'adõnãy). “ Seu Senhor” chama ao Messias o Salmista, seguindo o costume hebreu (cf. v. g., I Sam. 25, 25 sgs.; 2 Sam. 1, 10). O sentido, portanto, é este: “ Oráculo que Iahweh diz a ti, meu Senhor” . à minha direita, isto é, o lugar de maior dignidade (cf. v. g., 3 Reg. 2, 19) escabeto de teus pés-, a ti sujeitarei plenamente os teus inimigos; os reis antigos costumavam pôr os pés sobre a nuca do inimigo vencido. 2 — cetro de tua potência: isto é, o teu cetro poderoso (hebraísmo). Deus fará que o teu cetro poderoso de Sião se estenda sobre a terra. 3 — Este verso é realmente obscuro. O testo hebraico atual pode traduzir-se assim: “ 0 teu povo è prontíssimo no dia de tua fortaleza (ecpediçãol) com ornamentos sagrados; do seio da aurora (vem) para ti o orvalho de tua adolescência'' . Parece, portanto, que se promete ao Messias um exército de jovens guerreiros, que sejam da ordem sacerdotal e numerosos (ou: íntegros, robustos) como o orvalho da primeira hora do dia. Mas esse texto tem suas dificuldades e muito difere do texto das versões, principalmente do dos L X X , que diz assim: “ Contigo o prin­ cipado, no dia do teu poder, nos esplendores dos (teus) santos; do seio, antes de lúcifer (ou da aurora) eu te gerei” . A versão dos L X X lê quase as mesmas consoantes que o texto massorético mas associa-lhes outras vogais; além disto, omite as pala­ vras leka tal, que se encontram nas outras versões. Parece, portanto, que à luz da crítica se pode restituir o texto como fizemos acima. Com esta restituição afir­ ma-se a soberania (o seu império) sagrado (“ no esplendor da santidade” ) do Messias, fundada na sua origem eterna do próprio Deus que o gerou como, misteriosamente, antes da aurora nasce o orvalho matutino. Note-se que em vez de “ no esplendor [ behadrê (y) ] dos santos” pode ler-se, como muitos manuscritos, a versão de Symacho e S. Jerônimo, “ nos montes [ beharrê (y)} santos” ; estas palavras significariam então que o Messias é gerado na morada de Deus, isto é, no céu. Esta geração divina do Messias é também afirmada no Ps. 2, 7; nada tem portanto, esta interpretação que não se contenha na revelação do A. T. conhecida por outros textos; e, parece, deve ser preferida ao sentido do texto massorético, posterior à versão dos L X X , e à peshitto. 4 — segundo a ordem de Melchisedech, isto é, investido de um sacerdócio verdadeiro e não só em sentido figurado, tal como Melchisedech que foi verdadeiro sacerdote oferecendo pão e vinho (cf. Gen. 14, 18), nem só do sacerdócio levítico como o dos filhos de Aarâo. Cf. Hebr. 7, 11— 28. 5 — d tua direita: para prestar-lhe auxílio na luta contra os reis rebeldes. A imagem é, pois, diferente, da do v. 1 (a menos que não se corrija o texto, como fazem alguns autores).

Ps. 110 , 1-8 —

22 5

6 — empilhará cadáveres: metáfora para indicar que serão duros e cru­ entos os combates. Entrevê-se a idéia do “ dia do Senhor” , de quo falam muitas vezes os profetas (cf. Is. 2, 12; Joel 2, 1— 2, 11; Am. 5, 18: Soph. 1, 7) do “ dia da ira do Senhor” (Is. 13, 13). 7 — beberá da torrente no caminho: fatigado da luta, o Messias refocila as forças, bebendo da torrente, para prosseguir na conquista de novas vitórias. A metáfora pode explicar-se do seguinte modo: ao'Messias “ no seu caminho” nunca faltará o auxílio divino para reanimá-lo a fim de que levante a cabeça e vença.

SALMO

110 (111)

AS OBRAS MAGNÍFICAS DE DEUS EM ISRAEL

O Salmo é alfabético, e mais livre o nexo entre as suas idéias. Do modo espe­ cial acentuam-se as seguintes: as obras de Deus, em geral são grandes e dignas de atenta consideração (2— 3); Ele providencia para que a lembrança das suas maravilhas se conserve em seu povo por meio da tra­ dição e das festas (4). Entre as principais obras de Deus enumera o Salmista que concedeu o maná no deserto (5), deu ao seu povo, com grande força, a posse da terra de Canaã (6), promulgou leis firmes, estáveis e justas (7—8), livrou o povo de vários perigos, lembrando-se sempre da aliança com ele firmada (9). Por isto, verdadeira e suprema sabedoria é “ temê-lo” , isto é, prestar-lhe culto com reverência (10).

1. Aleluia.

aleph beth

Quero louvar o Senhor de todo o meu coração Na companhia dos justos e na assembléia.

ghi?nel daleth

2. Grandes são as obras do Senhor, Dignas da consideração de

he vau

3. Esplendor e magnificência é seu modo de agir, E para sempre permanece a sua justiça.

zain heth

4. Deixou a lembrança de suas maravilhas; Misericordioso e clemente é o Senhor.

teth iod

5. Aos que o temem deu sustento; Lembrar-se-á eternamente de sua aliança.

caph lamed

6. Ao seu povo manifestou o vigor de suas obras, Dando-lhe a herança das nações.

mem nun

7. Verdadeiras e justas são as obras de suas mãos; Estáveis são todos os seus mandamentos,

samech ain

8. Confirmados para os séculos dos séculos, Instituídos com firmeza e justiça,

quantos nelas se comprazem.

226



Ps. 110, 9-10; 111, 1-6

phe taadè coph

9. Enviou ao seu povo a libertação; Estabeleceu para sempre a sua aliança; Santo e venerável é o seu nome.

resch schin thau

10. O princípio da sabedoria é o temor do Senhor: Prudentes são os que o praticam; O seu louvor continua por todos os séculos.

5 — oo* qut o temem deu sustento: ostas palavras são, pela Igreja, apli­ cadas à Eucaristia (cf. Ioh. 6, 31-33 48-51). Adquirem assim, como outros passos deste Salmo, um sentido mais amplo e mais profundo.

SALMO A

111 (112)

F E LIC ID A D E DO JUSTO

Também este é um Salmo aljabélieo, muito semelhante ao anterior. N ele se descreve o procedimento do justo e a felicidade que dal lhe advêm. Louva-se no justo a fidelidade na observância dos mandamentos de Deus (1) a munificência (3. 9), a misericórdia com que ajuda os outros (4. 5), a justiça com que dispõe o que c seu (5). A recompensa desta vida santa ê: o poder seu e dos filhos (2.9), as riquezas (3), a segurança no perigos (6.7), a confiança d’alma (8), o vitória dos inimigos (8), e, por último a memória eterna entre os homens (6). Os maus indignam-se contra ele, mas não serão satisfeitos os seus desejos (10). — Os bens aqui prometidos, de acordo com a índole do A . T . são, quase todos deste mundo; no cristão tudo se eleva a uma ordem mais alia.

1. Aleluia.

aleph beth

Ditoso o varão que teme o Senhor, E nos seus mandamentos põe a sua alegria.

dalGth

2. Poderosa na terra será a sua descendência; Bendita será a geração dos justos.

he vav

3. Haveres e riquezas terá em sua casa, E para sempre há-de durar a sua munificência.

z a in

heth

4. Para os homens retos eleva-se, como luz, nas trevas O que é compassivo, misericórdioso e justo.

ieth yod

5. Feliz o homem que tem compaixão e empresta, E com justiça dispõe os seus negócios.

kaph

6. Não, nunca há-de vacilar; Eterna será a memória do justo.

gllimel

larned

Ps. 111, 7-10; 112, 1-4 — 227

mem n uri sarnech ain phè tsadè koph schin thav

7. N ão temerá notícias funestas; Seguro está o seu coração, confiante no Senhor. 8. Fortalecido será o seu coração, não temerá, Até ver confundidos os seus inimigos. 9. Distribui a mancheias os seus bens aos pobres, Para sempre há-de durar a sua munificência; 10. Vê o pecador e indigna-se, Range os dentes e definha; Mas será impotente o desejo dos pecadores.

3 — munificência: o j usto conservará sempre os haveres que lhe permitam ser munífico. Sobre este sentido que diz bem com o contexto, cf. Eccli. (ebr.) 3, 30; 7, 10, talvez também Prov. 10, 2; 11, 4. Outros traduzem por "justiça” a palavra sedãqâ(h). 4 — eleva-se: para os outros, o justo será como uma luz nas trevas (sofri­ mentos, adversidades) desta vida. Outros interpretam de Deus, estas palavras. 9 — o seu poder (cornu), dignidade e autoridade crescerão no conceito dos outros. 10 — O ímpio se consumirá de indignação e inveja, mas serão baldados os seus desejos (cf. Ps. 1, 6).

SALMO

112 (113)

LOUVOR A DEUS, ALTÍSSIMO E MISERICORDIO SO

O Salmista I — convida os servos do Senhor a louvá-lo sempre e em toda a parte

d -3 ); II — celebra-lhe a grandeza, superior à dos céus e da terra (4— 6); III — revela-o benigno para com os que sofrem e são desprezados (7— 9).

1. Aleluia.

I

Louvai, servos do Senhor, Louvai o nome do Senhor. 2. Bendito seja o nome do Senhor Agora e sempre. 3. D o nascer do sol ao seu ocaso, Louvado seja o nome do Senhor,

II

4. Exeelso sobre todas as gentes é o Senhor; Acima dos céus eleva-se a sua glória.

228 — Ps. 112, 5-9; 113 A, 1-3

5. Quem há como o Senhor, nosso Deus, Que habita nas alturas 6. E baixa os seus olhares para o céu e a terra? III

7. Ele levanta do pó o desvalido, E do esterquilínio eleva o indigente, 8. Para colocá-lo com os príncipes, Com os príncipes do seu povo; 9. E faz que a estéril viva em sua casa. Mãe alegre de filhos.

1 — Aleluia: Os Salmos 112— 117 (113— 118), que começam todos po halelú— yah, eram chamados Hallel. Recitavam-se nos outros dias solenes e na ceia pascoal (cf. Mat. 26, 30). servos do Senhor: isto é, os piedosos que prestam culto ao Senhor. nome do Senhor, isto é, o Senhor que ao seu povo manifestou o seu nome ( a sua natureza, a si mesmo). 6 — baixa os olhares... à letra: “ que faz profundo o (seu) ver o céu e terra” Antropomòrficamente representa-se Deus sentado num trono, tão alto que para ver o céu e a terra deve dirigir o olhar nas profundezas. 9 — estéril, a esterilidade era tida por maldição e castigo (cf. Gen. 16, 4—5: I Sam. 1, 7.11; 2, 5).

SALMO

113 (114-115)

Na Vulgata, corno nos L X X , no Salmo 113 unem-se dois Salmos divididos no texto hebraico. De jato dijerem tanto, pelo conteú/lo como pelo estilo poético que dificilmente se pode sustentar a unidade. A segunda parte (o Salmo 115 hebraico) tem numeração própria dos versos ainda nas edições da Vulgata.

S A L M O 113A (114) MILAGRES OPERADOS POR DEUS NO ÊXODO 1. Aleluia.

Ao sair Israel do Egipto E a família de Jacob de um povo bárbaro, 2. Judá tornou-se o seu santuário, E Israel, seu reino. 3. O mar o viu e deitou a fugir, E o Jordão volveu atrás.

Ps. 113 A , 4-8; 113 B , 1 - 4 -----

229

4. Saltaram os montes como cabritos,

E as colinas como cordeiros: 5. Que tens, ó mar, para assim fugires? E tu, Jordão, para retrocederes ? 6. Montes, por que saltastes como cabritos, E Vós, colinas, como cordeiros? 7. Ante a face do Senhor, estremece, ó terra, Ante a face do Deus de Jacob, 8. Que converteu a rocha em lençol de água E a penha em fontes que jorram. 1 —• Aleluia com os L X X vem para aqui do fim do Salmo anterior. de povo bárbaro, literalmente “ de um povo que balbucia uma língua estrangeira” , a saber, dos egípcios. 3— 4 — Expõem-se aqui “ dramàticamente” os milagres operados na passagem do Mar Vermelho, do Jordão e no Monte Sinai. 8 — Evoca o Salmista o milagre da água que jorrou no deserto (Ex. 17, 6; Num. 20, 11) para mostrar que nada resiste à omnipotência de Deus.

SALMO

113 B (115)

GRANDEZA E BONDADE DO VERDADEIRO DEUS

— Digno de louvor é só o nosso Deus omnipolente que esiá nos céus (1—3); II — os deuses, que os gentios adoram, são vaidade e impotência (4 - 8 ) ; III — por isso todo o povo dè Israel confia no Senhor que o abençoa (9 -1 8 ).

1 (9)

2 (10)

Não a nós, Senhor, não a nós, Mas ao vosso nome dai a glória, Pela vossa misericórdia e pela vossa fidelidade. Por que diriam as nações: “ Onde está o seu Deus?”

3 (11). No céu está o nosso Deus, Tudo o que lhe aprouve, fez. 11

4 (12). Ouro e prata são os seus ídolos, Feitura de mãos dos homens.

230 — Ps. 113 B, 5-18

5 (13). Têm boca e não falam; Olhos e não vêem. 6 (14). Têm ouvidos e não ouvem Narinas e não cheiram. 7 (15). Com suas mãos não tocam Com seus pés não andam; Com a sua garganta não articulam um som. 8 (16). A eles serão semelhantes os que os fabricam, E quantos neles confiam. III

9 (17). No Senhor confia a casa de Israel: Ele é o seu amparo e o seu escudo. 10 (18). No Senhor confia a casa de Aarão: Ele é o seu amparo e o seu escudo. 11 (19). Confiam no Senhor os que temem o Senhor: Ele é o seu amparo e o seu escudo. 12 (20). De nós se lembra o Senhor, E dar-nos-á a sua bênção. Abençoará a casa de Israel Abençoará a. casa de Aarão. 13 (21). Abençoará aos que temem o Senhor, Aos pequenos como aos grandes. 14 (22). O Senhor há-de multiplicar-vos, A vós e aos vossos filhos. 15 (23). Sede benditos pelo Senhor, Que fez o céu e a terra. 16 (24). O céu é o céu do Senhor; Mas a terra, Ele a deu aos filhos dos homens. 17 (25). Não são os mortos que louvam o Senhor Nem os que descem à região do silêncio. 18 (26). Mas nós bendizemos o Senhor, Agora e sempre.

1 (9) — O Salmo parece haver sido composto no tempo do exílio, quan os gentios escarneciam dos israelitas e do verdadeiro Deus que parecia haver sido vencido pelos seus deuses. O Salmista pede a D eus que zele pela sua honra. 4— 8 (12— 16) — Ao D eus onipotente opõem-se os ídolos vãos adorados pelos gentios. 9— 11 (17— 19) — casa de Israel... casa de Aarão... os que temem o Senhor: o povo, os sacerdotes, os prosélitos (cf. Ps. 117 (118), 2—4; 134 (135), 19 s).

Ps. 114-115, 1-7 ----- 231

16 (24) — Paru si reservou Deus o céu, aos homens deu a terra. 17— 18 (25—26) — Como Deus não pode ser louvado na região do silêncio (cf. Ps. 6, 6; 29 (30), 10; 87 (88), 11) louvá-lo é dever dos que ainda vivemos na terra.

S A L M O 114 — 115 (116) Na versão dos L X X e na Vulgata é este Salmo dividido em, dois (hebr. 116, 1— 9; 10— 19). Como de ambas as partes idêntico é o argumento, idên­ tico o estilo, julgam muitos antigos e modernos que se trata de uma só poesia, cuja primeira parte (A) trata do amor de Deus (cj. v. 1) e a segunda (B) da confiança {v. 10). Na primeira parte (Salmo 114) o Salmista, livre de um grave risco de vida (3 -8 ) I — descreve o perigo em que se encontrou e as orações que fez (1— 4); II — já incólume e lembrado da bondade divina, exorta a si mesmo à tranqüilidade dalma (5— 9). Na segunda parte (Salmo 115) mostra como havendo desesperado dos homens, só em Deus pôs a sua esperança (10— 11) e, alegre, oferece sacrifícios de acção de graças e de louvor (12— 19).

A (Salmo 114 da Vulgata)

1. Aleluia.

I

Amo ao Senhor porque ouviq A minha voz suplicante, 2. Porque para mim inclinou o ouvido, No dia em que o invoquei. 3. Cercaram-me os laços da morte, Envolveram-me as angústias do Scheol, Caí na aflição e na ansiedade. 4. E invoquei o nome do Senhor: “ Senhor, salvai-me a vida!”

II

5. É clemente o Senhor e justo, É misericordioso o nosso Deus. 6. Sobre os simples vela o Senhor: Estava prostrado e salvou-me. 7. Volta, alma minha, a ter sossego, Porque te favoreceu o Senhor.

232 -----Ps. 114-115, 8-19

8. Preservou-me a alma da morte: Das lágrimas, os olhos, da queda os pés. 9. Andarei na presença do Senhor, Na região dos vivos. B (Salmo 115 da Vulgata) 10 (1). Conservei a confiança, ainda quando disse: “ Sou extremamente infeliz” , 11 (2). E na minha perturbação afirmei: “ T odo homem é falaz!” 12 (3). Que retribuirei ao Senhor Por t odos os benefícios que me tem feito ? 13 (4). Tomarei o cálice da salvação, Invocarei o nome do Senhor. 14 (5). Cumprirei os meus votos ao Senhor, Na presença de todo o seu povo. 15 (6). De grande preço é aos olhos do Senhor A morte dos seus santos. 16 (7). Sou, Senhor, vosso servo, Vosso servo, filho de vossa serva: Quebrastes as minhas cadeias. 17 (8). Vou oferecer-Vos um sacrifício de ação de graças, E invocarei o nome do Senhor. 18 (9). Cumprirei os meus votos ao Senhor, Na presença de todo o seu povo, 19 (10). Nos adros da casa do Senhor, No teu recinto, ó Jerusalém. I — Com os L X X , transfere-se para aqui o aleluia do fim do Salmo precedente. 3 — Cf. Ps. 17 (18), 5—6. 6 — simples, à letra “ inexpertos” , incapazes de se defenderem. — Cf. Ps. 55 (56), 14. Preservado da morte, poderá fruir da vida. II — todo o homem ê falaz, isto é, toda confiança posta nos homens é enganadora (cf. Ps. 32 (33), 16; 59 (60), 13). 13 — cálice da salvação, resumidamente chama o Salmista ao cálice em que se oferece o sacrifício de libação em ação de graças pela saúde alcançada. Sobre o cálice daa libações, cf. Ex. 25, 29; 37, 16. D urante a oblação do sacrifício invoca-se o nome do Senhor.

Ps. 116, 1-2 —

233

15 — de grande -preço, isto é, cousa de grande valor, muito grave; por isto não permite Deus fàcilmcnte a morte dos justos, em cujo número está o Sal­ mista (v. 16). Cf. Is. 48 (49', 9. 16 — filho da vossa serva: sou vo3so servo, não só por profissão própria, senão também em razão de minha origem — de minha raça.

SALMO 116 (117) HINO DE LOUVOR E AÇÃO DE GRAÇAS

A'este brevíssimo canto, convoca o Salmista todos os povos a louvar o Senhor pela sua bondade e fidelidade. A este convite se responde plenamente no reino do Messias (cf. Rom. 15, 11).

1. Aleluia.

Nações, louvai todas ao Senhor, Enaltecei-O, povos todos. 2. Porque poderosa foi para nós a sua bondade, E eterna permanece a fidelidade do Senhor. 1 — Com os L X X , transfere-se para aqui o Aleluia do fim do Salmo precedente. 2 — bondade e fidelidade, em hebreu, hksed we ’ émet são a benignidade de Deus e sua imutável inclinação para nós.

SALMO 117 (118) AÇÃO DE GRAÇAS AO SEtíHOR QUE SALVOU ISRAEL

Esta poesia de regozijo e quase dramática parece ter sido cantada na entrada solene do templo, provàvelmente por vários coros, talvez na festa dos tabemáculos (cf. vv. 15, 27). O Salmista começa (rt) por um convite à acção de graças (1— 4); narra em seguida (B) como foi salvo de gravíssimo perigo (5— 18): I — no risco invocou o Senhor em quem se deve pôr toda a eorfi­ ança (5— 9); II — o Senhor o conservou incólume dos adversários que o acossavam de todos os lados (10— 18). A terceira parte (C) do Salmo ê um colóquio entre o Salmista, os Sacer­ dotes e o Povo, (19— 29) que I — começa ao entrar no templo (19— 25) II — e conclui no próprio templo (26— 29).

2 3 4 -----Ps. 117, 1-15

A 1. Aleluia.

Agradecei ao Senhor porque é bom; E para sempre a sua misericórdia. 2. Diga a casa de Israel: “ Sim, para sempre é a sua misericórdia” . 3. Diga a casa de Aarão: “ Sim, para sempre é a sua misericórdia” . 4. Digam os que temem ao Senhor: “ Sim, para sempre é a sua misericórdia” . B I

5. No meio da tribulação invoquei o Senhor; E ouviu-me o Senhor e li.bertou-me. 6. Comigo está o Senhor: não temo; Que me poderão fazer os homens? 7. Comigo está o Senhor, meu amparo, Verei abatidos os meus inimigos. 8. Mais vale procurar refúgio no Senhor Do que confiar nos homens. 9. Mais vale procurar refúgio no Senhor D o que confiar nos príncipes.

II

10. Cercaram-me todas as gentes: Esmaguei-as em o nome do Senhor. 11. Envolveram-me de todos os lados; Esmaguei-as em o nome do Senhor. 12. Cercaram-me como abelhas, Chamejaram contra mim, como fogo entre espinhos; Esmaguei-as em nome do Senhor. 13. Empurraram-me violentamente para derribar-me; Mas ajudou-me o Senhor. 14. Meu vigor e minha fortaleza é o Senhor, E foi minha salvação.

III

t5. Soam gritos de alegria e de vitória Nas tendas dos justos: Fez proezas a destra do Senhor.

Ps. 117, 16-29 — 235

16. Elevou-me a destra do Senhor, Fez proezas a destra do Senhor. 17. Não hei-de morrer: mas terei vida, E contarei as obras do Senhor. 18. Castigou-me severamente o Senhor, Mas não me entregou à morte. C I

19. Abri-me as portas da justiça: Entrarei e darei graça ao Senhor. 20. Esta é a porta do Senhor, Por ela entrarão os justos. 21. Graças Vos dou porque me ou vistes, E fostes minha salvação. 22. A pedra, rejeitada pelos construtores, Chegou depois a ser a pedra angular. 23. Foi o Senhor quem assim o fez; E é uma maravilha aos nossos olhos. 24. Este é o dia que fez o Senhor; Passemo-lo no regozijo e na alegria. 25. ó , Senhor, dai-nos a salvação, ó Senhor, dai-nos a prosperidade!

II

26. Bendito o que vem em nome do Senhor, Nós Vos bendizemos da casa do Senhor. 27. Deus é o Senhor, e é nossa luz. Ordenai a procissão com ramos frondosos, Até aos ângulos do altar. 28. Sois meu Deus, graças Vos dou; Sois meu Deus, quero enaltecer-Vos. 29. Agradecei ao Senhor porque é bom E para sempre a sua misericórdia.

1. Com a versão dos L X X , transfere-se para aqui o Aleluia do fim do Salmo precedente. Agradecei... a sua misericórdia: cf. Ps. 105 (106), 1; 106 (107), 1; 135 (136), 1; Ier. 33, 11. 2— 4 — Cf. Ps. 113 (115), 9— 11; 134 (135), 19 sgs. 5— 18 — Quem fala parece fazer as vezes do poVo.

236 — Ps. 117; Ps. 118 9 — nos príncipes: muitas vezes experimentou Israel que os príncipes reis não o puderam socorrer. Cf. Is. 30. 3— 5; 31, 3. 10— 12 — descrição metafórica e hiperbólica do perigo e do combate. 15 — nas tendas dos justos: talvez signifique as tendas em que costu­ mavam acampar os israelitas nas festas do outono (cf. Lev.23, 42 sg.; Neh. 8, 14— 17). 19— 20 — A solene procissão já chegou à porta do templo e os que chegam pedem licença para entrar (cf. Ps. 14 (15); 23 (24) ).

22 — O povo de Israel rejeitado e desprezado por grandes reis foi esc lhido por Deus para ser a pedra angular do reino messiânico. E em sentido mais perfeito, de si afirmou Cristo a mesma coisa (Mt. 24., 42— 44 e paral.; cf. Act. 4, 11; Eph, 2, 20 sgs.; 1 Petr. 2, 7). 25 — dai-nos a salvação, em hebreu hôsiâ(h)nâf hosana; cf. Mt. 21, 9: o povo e os discípulos que acompanhavam Jesus observam as cerimônias de cos­ tume na entrada solene do templo. 26 — Os sacerdotes abençoam os que entram no templo (ver a fórmula da bênção em Num. 6, 24). 27 — é nossa luz. Cf. Num. 6, 25. ordenai a procissão com ramos frondosos: parece que significa as gri­ naldas de flores e ramos que levavam os que entravam no templo, cf. 2 Mach. 10, 7. ângulos do altar, isto é, dos holocaustos que se achava no adro dos sacerdotes (Ex. 40, 29), os quatro ângulos dos altares eram salientes como pontas (cf Ex. 27, 2; 38, 2; 29, 12; Lev. 4, 25.30.34).

SALMO

118 (119)

ELOGIO DA LEI DIVINA

Este Salmo, o mais longo de todos, enaltece a excelência da lei divina, isto é, da revelação sobrenatural enquanto é norma de vida. Com oito nomes designa o Salmista esta “ lei" : 1) tôrâ(h), lex, “ lei,,') 2) ‘imrâ(h), eloquium, “ palavra, oráculo” {algumas vezes promessa” ; 3) dãbãr, verbum, “ palavra” ; 4) huqqim, justificationes, decreto” ; 5) miswâ(h), “ mandatum” , f‘mandamento''J; 6 ) mispãt, “ decretum” , “judicium\ juízo, sentença; 7) edüt, <‘testimunium,’, “ monitum” , “ praescriptum” , “ p r e s c r i ç ã o 8) piqqúdim, “ praecepta” , “ preceitos O Salmo é alfabético; a cada letra do alfabeto correspondem oito versos, cada um dos quais encerra um dos nomes acima (exceto o v. 122, a não ser que se corrija a?bdakã por d’ bãr‘kã; nos vv. 3. 37, em vez de dabar encontra-se dèrek, no v. 90 em vez de imrâ(h) lê-se émúnâ(h), talvez por erro). Como nos outros Salmos alfabéticos, a ordem das idéias não é rigorosamente lógica; ainda assim em cada estrofe (letra) predomin. uma idéia, não, porém, de tal modo que se lhe não associem outras.

Ps. 118, 1-13 —

237

Aleph Bem-aventurados Os que guardam a lei de Deus.

1. Bem-aventurados os puros no seu caminho, Os que guardam a lei do Senhor. 2. Bem-aventurado^ os que observam as suas prescrições, E o procuram de todo o coração, 3. Que não cometem iniqüidade, Mas andam nos seus caminhos. 4. Impusest-es os vossos preceitos, Para serem observados à risca. 5. Oxalá se confirmem as minhas veredas, Na observância de vossos decretos. 6. Não terei então que envergonhar-me Ao considerar todos os vossos mandamentos. 7. Hei-de louvar-Vos na retidão de coração, Ao aprender os juízos de vossa justiça. 8. Observarei os vossos decretos; Não me desampareis nunca. 1 — caminho, como no Salmo I e em muitos outros passos, é o modo de agir e de viver;, o caminho (os caminhos) de Deus: é o modo de agir prescrito pela lei de Deus.

Beih 0bseri'arei com alegria a vossa lei

9. Como poderá o jovem conservar puro o seu caminho? Regulando-se pelas vossas palavras. 10. De todo o meu coração eu Vos procuro; Não permitais me aparte dos vossos mandamentos. 11. Conservo no meu coração a vossa palavra Para Vos não ofender. 12. Sede bendito, Senhor; Ensinai-me os vossos decretos. 13. Com os meus lábios enumero Todos os juízos de vossa boca.

2 3 8 -----Ps. 118, 14-26

14. De seguir as vossas prescrições me alegro, Como se possuíra todas as riquezas. 15. Meditarei os vossos preceitos E considerarei os vossos caminhos. 16. Regozijar-me-ei dos vossos decretos; Não me esquecerei das vossas palavras. Ghimel Dai-me a graça de observar a lei ainda entre as perseguições.

17. Concedei ao vosso servo o benefício da vida, E guardarei a vossa palavra. 18. Desvendai os meus olhos, Para contemplar as maravilhas da vossa lei. 19. Peregrino sou eu sobre a terra, Não me oculteis os vossos mandamentos. 20. Arde a minha alma Em desejos de amar sempre os vossos juízos. 21. Repreendestes os soberbos; Malditos os que se afastam dos vossos mandamentos. 22. Livrai-me da infâmia e do desprezo, Porque observo as vossas prescrições. 23. Sentem-se ainda os príncipes para falar contra mim, Vosso servo medita os vossos decretos. 24. Sim, são minhas delícias as vossas prescrições, E meus conselheiros, os vossos juízos.

19 — sou na terra um peregrino: é mister, portanto, v iver bem ne breve tempo. 24 — meus conselheiros: não segue os conselhos dos poderosos que d prezam a lei de Deus.

Daleth Na minha tristeza peço que me ensineis e me consoleis.

25. Prostrada no pó está a minha alma Restitui-me a vida, segundo a vossa palavra. 26. Eu vos expus os meus caminhos e me ouvistes, Ensinai-me os vossos decretos.

Ps. 118, 27-40 — 2 3 9

27. Instrui-me no caminho de vossos preceitos. E meditarei sobre as vossas maravilhas, 28.

De tristeza verte lágrimas a minha alma, Confortai-me segundo a vossa palavra.

29.

Dos caminhos do erro apartai-me, Dai-me o benefício da vossa lei.

30.

Escolhi o caminho da verdade, Ante os meus olhos ponho os vossos juízos.

31.

Nas vossas prescrições quero apoiar-me: Não permitais, Senhor, seja eu confundido.

32.

Correrei pelo caminho dos vossos mandamentos, Quando me dilatardes o coração.

32 — quando me dilatardes o coração, isto é, quando me derdes corag alegria e forças; cf. Is. 60, 5.

He Dai-me luz e graça para observar jielmente a vossa lei 33.

34

Mostrai-me, Senhor, o caminho de vossos decretos, E o seguirei com fidelidade.

. Ensinai-me a observar a vossa lei, E a guardarei com todo o meu coração.

35.

Conduzi-me pela senda de vossos preceitos, Porque nela encontro minha felicidade.

36. Inclinai-me o coração às vossas prescrições, E não para a avareza. 37.

Desviai-me os olhos para que não vejam a vaidade; Fazei que eu viva nos vossos caminhos.

38.

Cumpri com o vosso servo a vossa promessa, Feita aos que Vos temem.

39.

Afastai de mim o opróbrio que eu temo, Porque são agradáveis os vossos juízos.

40.

Suspiro pelos vossos preceitos, Dai-me que viva segundo a vossa justiça.

36— 37 — Os maiores obstáculos à observância da lei são a avareza, ou cobiça das riquezas e a vaidade, isto é, as cousas frívolas e vãs que excitam a «mcupiscência do homem. 39 — opprobrium,, isto é, o escárneo e o desprezo dos inimigos; cf. v. 22.

240



Ps. 118, 41-53

Vau Com O vosso auxílio, professarei alegremente a vossa verdade em face dcs poderosos

41. Venha sobre mim, Senhor, a vossa misericórdia, O vosso auxílio, segundo a vossa promessa. 42. Saberei como responder aos que me insultam, Que tenho confiança na vossa palavra. 43. Não me tireis da boca a palavra da verdade, Porque ponho a minha esperança nos vossos juízos. 44. E guardarei constantemente a vossa lei, Para sempre e pelos séculos dos séculos. 45. E andarei por um caminho largo, Porque procuro os vossos preceitos. 40. E falarei das vossas prescrições #a presença dos reis, Sem falsa vergonha. 47. E hei-de deleitar-me nos vossos mandamentos, Objeto de meu amor. 48. Levantarei as mãos para os vossos mandamentos, E meditarei os vossos juízos. 45 — caminho largo, amplo, sem nenhum obstáculo. 48 — levantarei as mãos: gesto de quem adora e venera.

Zain Na aflição e na dor vossa lei é meu consolo e minha alegria.

49. Lembrai-Vos da vossa promessa ao vosso servo, Na qual me ensinastes a esperar. 50. Na minha aflição, este é o meu consolo, Que a vossa palavra me conserve a vida. 51. Prodigalizam-me os soberbos os seus insultos; Não me afasto da vossa lei. 52. Lembro-me, Senhor, dos vossos juizos de outrora, E é para mim um conforto, 53. Indigno-me à vista dos pecadores, Que abandonam a vossa lei.

Ps. l l f , 54-65 —

241

54. Argumento de meus cantos são os vossos decretos, No lugar de minha peregrinação. 59. De noite, Senhor, lembro-me de vosso nome, Quero guardar a vossa lei: 56. Eis o quinhão que me toca: Observar os vossos preceitos. 54 — cantos, isto ê, assunto dos cantos: com cânticos e louvores quer celebrar a lei de Deus.

Heth Fiz o firme -propósito de observar a lei, contrariando os maus, associando-me aos bons.

57. Meu quinhão, Senhor, eu o declaro, É guardar as vossas palavras. 58. De todo o meu coração imploro a vossa face; Apiedai-Vos de mim segundo a vossa promessa. 59. Considerei os meus caminhos, E à observância de vossas prescrições dirigi os meus passos. 60. Apressei-me sem tardança Em guardar os vossos mandamentos. 61. Cercaram-me os laços dos maus: Não esqueci a vossa lei. 62. E levanto-me no meio da noite para louvar-Vos Pelos vossos juízos cheios de justiça. 63. Sou amigo de todos os que Vos temem E guardam os vossos preceitos. 64. De vossa bondade, Senhor, está cheia a terra: Ensinai-me os vossos decretos. 58 — imploro, ao pé da letra: "torno para mim agradável e benévola a vossa face” (cf. Ps. 44 ('45), 13).

Teth As aflições que me enviastes ensinaram-me a observar a vossa lei.

65. Tratastes com bondade o vosso servo, Senhor, segundo a vossa palavra.

242 — Ps. 118, 66-80

66. Ensinai-me o senso de retidão e a sabedoria, Porque tenho fé nos vossos mandamentos. 67. Antes de sofrer, errei; Agora, porém, cumpro a vossa palavra. 68. Sois bom e benfazejo; Ensinai-me os vossos decretos. 69. Contra mim maquinam fraudes os soberbos; Mas eu, de todo o coração, guardo os vossos preceitos. 70. Tornou-se insensível, como a gordura, o seu coração; E eu, na vossa lei, encontro o meu prazer. 71. Bom para mim haver passado pela dor, Para aprender os vossos decretos. 72. A lei que saiu de vossa boca me é mais preciosa Que milhões de ouro e prata. 70 — insensível... o seu coração e, por isso, como que obtuso, incapaz de sentir os estímulos da lei divina (cf. Ps. 16 (17), 10).

Iod Provado pelo sofrimento peço que me consoleis e conjundais os meus inimigos

73. Formaram-me e plasmaram-me as vossas mãos; Instrui-me para que aprenda os vossos mandamentos. 74. Alegrem-se, ao ver-me, os que Vos temem, Porque na vossa palavra pus minha esperança. 75. Sei que são justos, Senhor, os vossos juízos, E com razão me provastes. 76. Console-me agora a vossa bondade, Segundo a promessa feita ao vosso servo. 77. Desça sobre mim a vossa misericórdia para que eu vim ; Porque meu prazer é vossa lei. 78. Sejam confundidos os soberbos que sem razão me afligem: Eu meditarei os vossos preceitos. 79. Para mim se voltem os que Vos temem, E os que conhecem a vossa lei. 80. Nos vossos decretos perfeito seja o meu coração, Para que eu não seja confundido. 79 — Para mim se voltem, isto é, a mim se juntem, sigam-me como amigos e companheiros.

Ps. 118, 81-93 ----- 243

Caph Oprimido pela violência de meus inimigos, desejo ardentemente e imploro o vosso socorro.

81. Desfalece-me a alma de desejo do vosso socorro; Na vossa palavra ponho a minha esperança. 82. Fatigam-se-me os olhos de desejo das vossas promessas; Quando haveis de consolar-me? 83. Assemelho-me a um odre exposto ao fumo, Mas não esqueci os vossos decretos. 84. Quantos são os dias de vosso servo? Quando fareis justiça de meus perseguidores? 85. Para mim cavaram fossas os orgulhosos, Que não se portam conforme a vossa lei. 86. São verdadeiros todos os vossos mandamentos; Sem razão me perseguem; ajudai-me. 87. Por pouco não deram cabo de mim na terra, Mas eu não abandonei os vossos preceitos. 88. Conservai-me a vida, segundo a vossa bondade, E guardarei as prescrições saídas de vossa boca. 83 — odre exposto ao jumo'. nas casas antigas, no Oriente, o odre exposto ao fumo seoa-se e enruga.

Lamed Vossa lei é estável, agradável, perfeita, ilimitada.

89. Eterna, Senhor, é a vossa palavra, Estável como os céus. 90. De geração em geração, dura a vossa fidelidade; Fundastes a terra e ela permanece. 91. Segundo os vossos decretos tudo subsiste sempre, Porque todas as cousas Vos são sujeitas. 92. Se na vossa lei não houvera encontrado o meu prazer Já houvera perecido na minha aflição. 93. Vossos preceitos, não esquecerei nunca, Porque por eles me destes a vida.

244 ----- Ps. 118, 94-105

94. Sou vosso, salvai-me, Porque busquei os vossos preceitos. 95. Espreitam-me os pecadores, para perder-me; Atendo às vossas prescrições. 96. Vi que toda a perfeição tem um limite, Vosso mandamento estende-se sem termo. 91 — subsiste: o céu (v. 89) e a terra (v. 90). 96 — Tudo o que os homens chamam “ perfeito’' tem seus limites, só não os tem a lei divina.

Mem Fossa lei dá sabedoria e alegria.

97. Como amo a vossa lei, Senhor ! Todo o dia é ela a minha meditação. 98. Mais sagaz que meus inimigos fizeram-me os vossos man­ damentos, Que perenemente os tenho ante os meus olhos. 99. Mais sábio sou do que os meus mestres, Porque vossas prescrições são a minha meditação. 100. Mais prudente sou do que os anciãos, Porque guardo os vossos preceitos. 101. Dos maus caminhos desvio os meus pés, Para observar a vossa palavra. 102. Não me aparto de vossos juízos, Porque Vós mos ensinastes. 103. Quão doces ao meu paladar as vosass palavras, Excedem para a minha boca a suavidade do mel. 104. Pelos teus preceitos torno-me prudente; Por isto detesto todas as sendas da iniqüidade. 103 — Doce ao meu paladar — Cf. Ps. 18 (19), 11.

N lln Observarei sempre, ainda na opressão e na dor, a vossa lei que é minha luz.

105. Facho ante os meus passos é a vossa palavra, Luz na minha senda.

Ps. 118, 106-119 ----- 245

106. Juro e determino Guardar os vossos justos decretos. 107. Estou em aflição extrema, Senhor, Conservai-me a vida, segundo a vossa palavra. 108. Aceitai, Senhor, a oferenda de meus lábios, E ensinai-me os vossos juízos. 109. Em perigo constante está a minha vida, Mas não me esquece a vossa lei. 110. Ciladas contra mim armam os pecadores, Mas não me desviei dos vossos preceitos. 111. Vossas prescrições serão sempre meu patrimônio, Porque são a alegria de meu coração. 112. Inclinei o meu coração a praticar os vossos juízos: Para sempre e com perfeição. 108 — a oferenda de meus lábios: as promessas e orações que oferece como se oferecem os sacrifícios. 109 — em perigo: literalmente “ está na minha mão” (cf. Ido. 12, 3); 1 Sam. 19, 5); o que se leva na mão aberta está sempre em perigo de cair.

Samech Detesto sinceramente os maus que Vós oborreceis.

113. Detesto os homens de coração hesitante, E amo a vossa lei. 114. Meu protetor e meu escudo sois Vós: Na vossa palavra ponho a minha esperança. 115. Afastai-Vos de mim, malvados: Quero guardar os mandamentos de meu Deus. 11G. Amparai-me, segundo a vossa promessa, para que eu viva! Não permitais fique burlada a minha esperança. 117. Ajudai-me e serei salvo, E me ocuparei sempre dos vossos decretos. 118. Desprezais quantos se apartam de vossos decretos, Porque são mentira os seus pensamentos, 119. Regeitais, como escória, todos os maus da terra, E, por isto, amo as vossas prescrições.

246 —

Ps. 118, 120-131

120. Diante de Vós, arrepiam-se-me as carnes de terror, E temo os vossos juízos. 113 —• coração hesitante: os que hesitam entre a fidelidade a Deus e a apos­ tasia; cf. 3 Reg. 18, 21. 119 — escória, isto é, coisa sem valor que se joga fóra.

Ain Ajudai-me 'prontamente contra os soberbos porque amo a vossa lei.

121. Pratiquei o direito e a justiça: Não me entregueis aos meu opressores.

122. Sede fiador do vosso servo para o seu bem, E não me oprimam os orgulhosos. 123. Desfalecem-me os olhos no desejo do vosso socorro, E das vossas justas promessas. 124. Tratai com bondade o vosso servo, E ensinai-me os vossos decretos. 125. Sou vosso servo: instrui-me Para que conheça as vossas prescrições. 126. E tempo para o Senhor de intervir: Violaram a vossa lei. 127. Por isso amo os vossos mandamentos Mais que o ouro e mais que o ouro fino. 128. Por isso escolhi para mim todos os vossos preceitos E detesto toda vereda falsa.

122 — Sede jiador do vosso servo: quando me faltarem as forças, agi em meu lugar. Como neste verso falta o nome da lei, muitos lêem dfbãr^kã, em vez de abdekã', “ dai-me como penhor a vossa palavra” .

Phe Instrui e protegei a quem admira e ama a vossa lei

129. Admiráveis são as vossas prescrições, Por isso as observa minha alma. 130. A exposição das vossas palavras é luminosa, E dá inteligência aos simples. 131. Abro a boca para aspirar: Porque anelo pelos vossos mandamentos.

Ps. 118, 132-144 —

247

132. Voltai-Vos para mim e sede-me propício, Como costumais fazer com os que amam o vossô nome. 133. Dirigi os meus passos pelo vosso oráculo, E não me domine maldade alguma. 134. Livrai-me da opressão dos homens, E guardarei os vossos preceitos. 135. Ao vosso servo mostrai o rosto sereno, E ensinai-me os vossos decretos. 136. De meus olhos correram torrentes de lágrimas, Por não haver observado a vossa lei. 131 — aspiro', desejo com tanto ardor os vossos mandamentos, que os quero atrair aspirando com avidez. 136 — cf. Ps. 66 (67), 2; 79 (80), 4.

Sadè Justa, forte e pura é a vossa lei.

137. Sois justo, Senhor, E retos, os vossos juízos. 138. I mpusestes as vossas prescrições com justiça, E com grande firme za. 139. A mim me consome o meu zelo, Porque os meus adversários esquecem a vossa palavra. 140. A vossa palavra é inteiramente provada, E o vosso servo lhe tem amor. 141. Sou pequeno e desprezado: Não esqueço os vossos preceitos. 142. Vossa justiça é justiça eterna E firme, a vossa lei. 143. Surpreenderam-me a tribulação e a angústia, E são meu prazer os vossos mandamentos. 144. Eterna é a justiça das vossas prescrições, Ensinai-mas para que eu viva. 139 — consome: cf. Ps. 68 (69), 10. 140 — provada, à letra, “ purificada pelo fogo” , como o metal, e, por isso puríssima (cf. Ps. 11 (12), 7).

248 ---- Ps.

118, 145-158

Coph De todo o meu coração imploro: concedei-me a graça de observar a lei.

145. De todo o coração eu Vos invoco, ouvi-me, Senhor; Observo os vossos decretos. 146. Eu Vos invoco; salvai-me, E guardarei as vossas prescrições. 147. Antecipo a aurora e imploro socorro; Nas vossas palavras ponho minha esperança. 148. Adiantam-se os meus olhos às vigilias da noite, Para meditar a vossa palavra. 149. Na vossa bondade, Senhor, ouvi a minha voz, E dai-me vida, segundo o vosso juízo. 150. Aproximam-se os que criminosamente me perseguem; Bem longe estão de vossa lei. 151. Perto estais, Senhor, E fiéis são os vossos mandamentos. 152. De há muito sei que as vossas prescrições, Vós as estabelecestes para durarem eternamente. 148 — adiantam-se ...às vigtíias da noite, isto é, madrugo, antes que chegue a hora do levantar. Cf. v. 62; Ps. 76 (77), 5.

Resh Salvai-me dos perseguidores e prevaricadores

153. Vede a minha aflição e livrai-me, Que não me esqueceu a vossa lei. 154. Defendei a minha causa e libertai-me; Conservai-me a vida segundo a vossa promessa. 155. Longe dos ímpios a salvação, Porque descuram os vossos decretos. 156. São muitas, Senhor, as vossas misericórdias, Conservai-me a vida segundo os vossos juízos. 157. Muitos são os que me perseguem e atribulam: Não me aparto das vossas prescrições. 158. Â vista dos traidores senti desgosto, Porque não guardaram as vossas palavras.

Ps. 118, 159-170 —

249

159. Vede, Senhor, como amo os vossos preceitos; Conservai-me a vida, pela vossa bondade. 160. Capital na vossa palavra é a constância, E para sempre dura o decreto da vossa justiça. 160 — capital, verbi tui caput, segundo outros: “ o resumo (a compreensão, complexo) de vossas palavras é a verdade” ; o paralelismo favorece mais à inter­ pretação adotada.

Sin Vossa lei enche-me de reverência e alegria, de amor, paz e confiança.

161. Sem motivo perseguem-me os príncipes, Mas são as vossas palavras que teme o meu coração. 162. Alegro-me nas vossas promessas, Como quem acha ricos despojos. 163. Abomino e detesto a iniqüidade; Vossa lei é todo o meu amor. 164. Sete vezes no dia eu Vos louvo, Pela justiça dos vossos juízos. 165. Profunda a paz dos que amam a vossa lei, Para eles não há tropeço. 166. Espero, Senhor, o vosso socorro, E cumpro os vossos mandamentos. 167. Guarda a minha alma as vossas prescrições, E lhes tem grande amor. 168. Observo os vossos preceitos e as vossas ordens, Porque ante vossos olhos estão todos os meus caminhos. 164 — sete vezes no dia, isto é, muitas vezes (cf. Ps. 11 (12), 7; Prov. 24, 16.

Tau Chegue a Vós a minha prece; livrai-me e instruí-me; sem F<5s sou uma ovelha desgarrada.

169. Chegue até Vós, Senhor, o meu brado; Instruí-me segundo a vossa palavra. 170. Entre a minha prece até ao vosso acatamento, Livrai-me segundo a vossa promessa.

2 5 0 -----Ps. 118, 171-176; 119, 1-5

171. Irrompa dos meus lábios um hino, Quando me ensinardes os vossos juízos. 172. Cante a minha língua o vosso oráculo, Que j ustos são todos os vossos mandamentos. 173. Venha em meu auxílio a vossa destra, Porque escolhi os v ossos preceitos. 174. Suspiro, Senhor, pela vossa salvação, E é meu prazer a vossa lei. 175. Viva a minha alma para louvar-Vos, E sejam meu apoio oã vossos juízos. 176. Ando errante como ovelha desgarrada; procurai o vosso servo, Porque não esqueci os vossos mandamentos. SALMO

119 (120)

C O N TR A AS MÁS LÍNGUAS

Vivendo entre homens enganoso» e pérfidos, o Salmista I — pede a Deus que o livre das suas insídias (1— 2); II — comina4hes castigos muitos severos (3— á); I I I — queixa-se de ter que viver tanto tempo entre eles (5— 7).

1. Cântico das ascensões.

I

Clamei ao Se nhor na minha t ributação, E atendeu-me. 2. Livrai-me a alma, Senhor, dos lábios que mentem, E da língua que engana.

II

3. Que te dará ou que te acrescentará, Língua pérfida? 4. As setas agudas do guerreiro, Os carvões da giesta.

III

5. Infeliz de mim que devo morar em Mosoch, E habitar nas tendas de Cedar.

Ps. 119, 6-7; 120, 1-2 —

251

6. Já de há muito vive minha alma Com os que odeiam a paz. 7. Quando em paz lhes falo, Eles na guerra insistem. 1 — Cânticos das ascensões (segundo a Vulgata e S. Jerónimo, gradual) é o título dos Salmos 119 — 133 (120— 134), provàve-mente porque era cantado pelos que "ascendiam” ao templo, isto é, pelos israelitas que, três vezes no ano, iam ao templo (cf. Ex. 23, 17; Dt. 16, 16). Na opinião de outros, assim se chamavam porque os cantavam os levitas nos 15 degraus pelos quais se subia do átrio das mulheres ao átrio dos israelitas. Alguns foram talvez compostos quando os exilados, com permissão de Ciro, “ subiram” de Babilônia para a Palestina (cf. Esdr. 7, 9); às suas condições adaptam-se perfeitamente não poucos destes Salmos. Em outros, parece que se descrevem as condições do tempo de Nehemias. Como, porém, pouco sabemos do que nestes séculos ocorreu na Palestina, quase nada podefbos afirmar com certeza ou sólida probabilidade. 2 — O Salmista, que já experimentou muitas vezes o socorro de Deus (v. 1), agora de novo o implora. 3 — Que te dará... (Deus): maneira de falar tirada da fórmula de juramento: “ isto te faça Deus e isto te acrescente se...” (cf. 1 Sam. 3, 17; 14, 44; 25, 22 etc.,. Trata-se, pois, de uma pena muito grave que Deus lhes há-de infligir. 4 — Estas penas são as setas agudas, isto é, a morte certa, e os carvões da giesta, isto é, fogo ardente; da madeira dura da giesta fazem-se carvões que dão um fogo muito forte e duradouro. 5 — Mosoch, região setentrional do lado do Mar Negro (cf. Gen. 10, 12;; Cedar} região do deserto siro-árabe (Gen. 25, 13). Empregam-se estes dois termos figuradamente para significar povos bárbaros e sem cultura.

SALMO

120 (121)

O SENHOR, GUARDA E PROTECTOR DE SEU POVO

O Salmista I II III IV

— — — —

conjessa que lhe vem socorro de Deus onipotente (1,2), porque guarda com jidelidade e constância o seu povo (3— 4); e o protege dia e noite (5— 6) e sempre e em toda a parte o dejende de todo o mal (7— 8).

1. Cântico das ascensões.

I

Para as montanhas levanto os meus olhos: De onde me virá socorro? 2. O meu socorro vem do Senhor, Autor do céu e da terra.

252 -----Ps. 120, 3-8; 121, 1-3

II

3. Não permitirá que resvalem os teus pés, Nem dormitará aquele que te guarda. 4. Não, por certo, não há-de dormitar nem adormecer O que guarda Israel.

III

5. Teu guarda, o Senhor; O Senhor, tua protecção, assiste à tua direita. 6. Não te molestará o sol de dia, Nem de noite, a lua.

IV

7. De todo o mal te guardará o Senhor: Guardará a tua alma. 8. Guardará o Senhor a tua partida e a tua chegada, Desde agora e para sempre.

1 — Para as montanhas, nas quais está situada a cidade santa e o temp (cf. Ps. 86 (87), 1; 124 (125), 2).

6 — Não te molestará o sol: cf. 4 Reg. 4, 19; Iudith, 8, 3; nem a lu durante a noite: ainda hoje atribuem os orientais algumas doenças à lua. Outros opinam que “ lua” significa o frio da noite (cf. Gen. 31, 40). 8 — partida e chegada — designam todas as ocupações da vida (cf. Dt. 28, 6; 31, 2; 2 Sam. 3, 25.

SALMO

121 (122)

SAUDAÇÃO A JERUSALÉM, CIDADE SANTA

Já às portas da cidade, o Salmista I — alegra-se da peregrinação e da vista da cidade bem construída ( 1— 3 );

II — lembra-se que ela ê a sede do culto do verdadeiro Deus, e dos supremos magistrados do povo (4— 5); III — deseja à cidade paz e segurança (6— 9).

1. Cântico das ascensões.

I

D e David.

Alegrei-me com o que se me disse: “ Vamos à casa do Senhor” . 2. Param enfim os nossos pés, Ãs tuas portas, Jerusalém! 3. Jerusalém, construída como uma cidade, Cujas partes estão entre si unidas!

Ps. 121, 4-9; 122, 1-2 -----

II

25 3

4. Para lá sobem as tribos, as tribos do Senhor, Segundo a lei de Israel, para louvar o nome do Senhor. 5. Lá se estabeleceram os tribunais de justiça, Os tribunais da casa de David.

III

6. Implore-se a paz para Jerusalém! Vivam na segurança os que te amam! 7. Reine a paz nos teus muros, A segurança nos teus palácios. 8. Por causa de meus irmãos e de meus amigos Pedirei para ti a paz! 9. Por amor da casa do Senhor, nosso Deus, Para ti desejo todos os bens.

3— como uma cidade, isto é, como convém a uma grande cidade, cufas partes estão entre si unidas, à letra “ que está junta a si, em unidade” , isto é, onde os edifícios se sucedem unidos com perfeição e beleza.

5 — tribunais de justiça: aí reside o supremo magistrado do povo, i é, o rei da casa de David e o tribunal do rei. 8— 9 — A paz e segurança de Jerusalém serão um benefício para os irmãos, isto é, para o povo e, sobretudo, para o templo.

SALMO

122 (123)

A CONFIANÇA EM DEUS DO POV O DESPREZAD O

O povo I — compara-se com o servo e a serva que dependem dum sinal do senhor ou senhora (1—2); II — implora com piedosa confiança a libertação do estado de opres­ são e desprezo (3— 4).

1. Cântico das ascensões.

I

Os meus olhos levanto para Vós, Que habitais nos céus! 2. Sim, como os olhos dos servos Estão postos nas mãos dos seus senhores, E como os olhos das servas, Nas mãos de suas senhoras, Assim os nossos olhos estão fitos no Senhor, nosso Deus, Até que de nós se compadeça.

254 — Ps. 122, 3-4; 123, 1-8

II

3. Compadecei-Vos de nós, Senhor, compadecei-Vos de nós, Porque estamos saturados de opróbrios. 4. Mui saturada está a nossa alma Do escárnio dos ricos e do desprezo dos orgulhosos. SALMO

123 (124)

O SENHOR QUE SALVOU DE UM GRANDE PERIGO

Livre de um grande perigo, o povo I — descreve com viveza o que the leria acontecido se não houvera Deus ajudado (1— 5); II — e agradece-lhe a libertação (6— 8).

1. Cântico das ascenções.

I

De David.

A não haver sido por nós o Senhor, Proclame-o agora Israel, 2. A não haver sido por nós o Senhor, Quando contra nós arremeteram os homens, 3. Decerto nos houveram devorado vivos. Quando se encandesceu contra nós o seu furor, 4. Decerto nos houveram submergido as águas. Sobre nós houvera passado uma torrente, 5. Sobre nós houveram passado as ondas intumescidas.

II

6. Bendito o Senhor que não nos entregou Como presa aos seus dentes. 7. Salvou-se a nossa alma, como a ave, Do laço dos caçadores. Quebrou-se o laço, E nós fomos libertados. 8. Nosso socorro está no nome do Senhor, Autor do céu e da terra.

1 — De David: falta em 3 manuscritos, no Códice Alexandrino da versã dos L X X e em S. Jerônimo. 4— 6 — Com as duas metáforas da torrente que, avolumando-se tudo arrasta, e da fera que devora a sua presa, pinta o Salmista o seu perigo e a sua fraqueza. 7 — Não se sabe ao certo de que perigo fala o Salmista.

Ps. 124, 1-5----- 255

SALMO

124 (125)

O SENHOR, AUXÍLIO DO POVO CONTHA OS INIMIGOS

I — Com a ma proteção, envolve o Senhor ao povo, como os montes cercam, a cidade de Jerusalém (1—2); II — por isso, não hão-de prevalecer os maus (3); III — socorra-nos togo o Senhor (4— 5).

1. Cântico das ascensões.

I

São os que confiam no Senhor como o monte Sião, Que não vacila, firme para a eternidade. 2. Os montes cercam Jerusalém, Cerca também o Senhor ao seu povo, Desde agora e para sempre.

II

3. Não permanecerá o cetro dos ímpios Sobre a herança dos justos, Para que também não estendam os justos Suas mãos à iniqüidade.

III

4. Mostrai-vos bom, Senhor, para os bons E para os retos de coração. 5. Mas aos que se desviam para sendas tortuosas, Precipite-os o Senhor com os malfeitores. Paz sobre Israel!

1 — Que não há-de v acilar o monte Sião, prometeu-o muitas vezes o Senhor, v. g., Is. 2, 2; Mich. 4, 1. 2 — Jerusalém é protegida, como um vale, pelas montanhas que a cir­ cundam. 3 — para que não estendam. . .: a opressão dos maus pode fàcilmente arrastar à apostasia os fracos na fé. 5 — A sorte dos israelitas que apostatam da fé seja a mesma que dos ímpios opressores do povo.

SALMO

125 (126)

ORAÇÃO PELA COMPLETA RESTAURAÇÃ O DO POVO

I — Descreve-se d alegria do povo pela magnífica libertação do exí­ lio de Babilônia (1— 3 );

256 — Ps. 125, 1-6 II — corno, porém, os tempos presentes, tão tristes, mostrem que ainda se não realizou a plena restauração (messiânica), pede-se a Deus, que, mudando a sorte de seu povo, tragam as calamitosas condições do presente uma messe risonha e eopiosa.

1. Cântico das ascensões.

I

Quando reconduziu o Senhor os repatriados de Sião, Foi para nós como um sonho. 2. Encheu-se então de risos o nosso semblante, E de cantos de alegria a nossa língua. Dizia-se então entre as nações: “ Foi magnífico o que por eles fez o Senhor” . 3. Foi magnífico o que por nós fez o Senhor! Tripudiamos de alegria!

II

4. Mudai, Senhor, o nosso destino, Como as torrentes nas terras do sul. 5. Os que semeiam com lágrimas Ceifarão com alegria. 6. Na ida, vão a cborar, Carregando e esparzindo as sementes: De volta, virão entre cantos de júbilo, Trazendo as suas paveias.

1 — foi para n<5s como um sonho: trata-se mais provàvelmenfce de um ac tecimento passado, não, como opinam alguns, de coisa futura expressa pelo “ perfeito de confiança” ou “ perfeito profético” . Os israelitas já voltaram do exílio; mas são tris­ tes ainda e duras as suas condições (cf. Esdr. 3-6; Agg. 1, 6-11; 2, 4 (3), 15-17). 4 — como as torrentes nas terras do sul: a região do sul (o deserto Negeb), árida e ressequida, tranforma-se num campo verde e florido apenas as primeiras torrentes do outono trazem as águas das chuvas. 6 — carregando e lançando sementes, em hebreu mèsék hazz&ra “ a de levar a semente” , isto é, a semente que deve ser lançada nos sulcos da terra; outros dão a mhsèk o sentido de “ pele” , “ cútis” , isto é, “ um odre de couro” (cf. Z o re i .l , Lex. hebr. s. v. p. 481.).

SALMO

126 (127)

A PROSPERIDADE DEPENDE DA BÊNÇÃO DE DEUS

Com dois exemplos, esclarece o Salmista o seu argumento I — sem auxílio de Deus, baldados são os esforços do homem (1, 2); II — o número de filhos e a prosperidade da família são doits de Deus (3— 5).

PS. 126, 1-5; 127, 1-2 — 1. Cântico das ascensões.

I

Se o Senhor Em vão Se o Senhor Debalde

257

De Salomão.

não edificar a casa, trabalham os que a edificam. não guardar a cidade, vigiam as sentinelas.

2. Inútil levantar-vos antes do amanhecer, E retardar até alta noite o vosso descanso, Vós que comeis o pão de um trabalho penoso: Pois que (o Senhor) o dá aos seus amigos que dormem. II

3. Dom do Senhor são os filhos, É recompensa sua o fruto das entranhas. 4

Como as flechas nas mãos do guerreiro, São os filhos da juventude.

5. Ditoso o varão que com elas enche a sua aljava: Não será confundido quando pleitear Com seus inimigos, à porta da cidade.

2 — retardais até alta noite, à letra: “ fazer tardio (retardar muito) o d canso” (a ocupação que se faz sentado; cf. Is. 5, 11); segundo outros: “ retardar o descanso da noite” ; nas duas interpretações ò sentido é o mesmo. 4 — os jilhos da juventude ajudam e aliviam o pai, na velhice. 5 — sua aljava: volta a metáfora do guerreiro (v. 4). à porta julgavam-se os pleitos (cf. Prov. 31, 23); neles os fi­ lhos defenderão os pais acusados injustamente.

SALMO

127 (128)

FELICIDADE DOMÉSTICA DE UM ISRAELITA PIEDOSO.

O Salmo I — celebra a felicidade de quem. teme ao Senhor: serão abençoados os seus trabalhos, a esposa e os jilhos (1— 4); II — deseja que viva longa vida numa cidade próspera.

1. Cântico das ascensões.

I

Feliz és tu que temes o Senhor, E andas nos seus caminhos! 2. Comerás do trabalho de tuas mãos; Ditoso serás e cumulado de bens.

258 — P*. 127, S-6; 128, 1-3

3. Como uma vide fecunda será tua esposa, N o interior de tua casa. Como pimpolhos de oliveira estarão os teus filhos, Ao redor de tua mesa. 4. Assim é abençoado o varão Que teme o Senhor! II

5. Assim de Sião te abençoe o Senhor Para que vejas a prosperidade de Jerusalém, Todos os dias de tua vida. 6. Para que vejas os filhos dos teus filhos! Paz sobre Israel!

2 — comerás. .. do trabalho, isto é, poderás gozar do que preparast com o trabalho de tuas mãos e dele não será privado por maldade ou calamidade alguma; por isto serás cumulado de bens. 5— 6 — Aos bens já descritos acrescenta o Salmista mais dois: uma vida tranqüila numa cidade próspera e tranqüila (Jerusalém) e uma vida longeva. As promessas feitas aqui pelo Salmista, de acordo com a índole do A T . (cf. Lev. 26, 3— 12; Dt. 28, 3— 14) são de bens terrenos; em sentido mais perfeito, verificam-se no Novo Testamento.

SALMO

128 (129)

ISRAEL OPRIMIDO DESDE A JUVENTUDE IMPLORA O AUXÍLIO DE DEUS.

O Salmista I — considera o que aconteceu ao povo em tempos passados: sempre vexado, nunca vencido (1— 4); II — jirmado nesta experiência pede que também agora sefam con­ fundidos os inimigos.

1. Cântico das ascensões.

I

M uito me combateram desde a minha juventude, Pode dizê-lo agora Israel, 2. Muito me combateram desde a minha juventude; Mas não prevaleceram contra mim. 3. Lavraram-me o dorso os lavradores, E nele abriram longos sulcos.

Ps. 128, 4-8; 129, 1-2 ---- 259

4. Mas o Senhor que é justo Cortou as cordas (dos arados) dos ímpios. II

5. Sejam confundidos e postos em fuga Todos os que têm ódio a Sião. 6. Sejam, semelhantes à erva dos telhados, Que, antes de arrancada, seca. 7. Dela não enche as mãos o ceifador, Nem os braços, o que recolhe as paveias. 8. Nem dizem os transeuntes: “ A bênção do Senhor seja convosco” “ Nós vos abençoamos em nome do Senhor” .

1— 2 — Nos seus primeiros tempos o povo sofreu a opressão no Egito e duras batalhas na Palestina; mais tarde foi sempre cruelmente atribulado pelos inimigos.

6 — Nos telhados planos das casas antigas da Palestina cobertos de Iod depois das chuvas cresce às vezes a erva. Apenas nascida, seca logo, antes de poder ser arrancada e não deixa de si quase nenhum vestígio. Assim pereçam os inimigos do povo — O sentido do verbo salãph é duvidoso. Os L X X vertem ixairaaBrivai, a Vulgata evellalur; mas Aquila e S. Jerônimo: viruerit.

SALMO

129

A CULPA DO HOMEM E A MISERICÓRDIA DE DEUS

I — 0 salmista imerso na profundeza dos pecados invoca a Deus

d -2 ); II — como somos todos pecadores, só o perdão de Deus nos pode salvar (3— 4);

III — com desefo e confiança aguarda o pecador este perdão (5— 6b); IV — também o povo de Israel alimenta a mesma esperança de perdão e de redenção copiosa (6c— 8). Este Salmo repassado de afeto e de piedade ê o 6o dos penitenciais e recita-se muitas vezes nas orações pelos defuntos.

1. Cântico das ascensões.

I 2.

Das profundezas clamo a Vós, Senhor, Ouvi, Senhor, a minha voz! Atendam os vossos ouvidos O brado de minha súplica.

2 6 0 -— Ps. 129, 3-8; 130, 1

II

3. Se conservardes, Senhor, a memória das ofensas, Quem, Senhor, poderá subsistir? 4. Mas em Vós está o perdão dos pecados., Para que sejais servido com reverência.

III

5. No Senhor ponho a minha esperança, Espera minha alma na sua palavra. 6. Aguarda minha alma o Senhor, Mais do que os vigias da noite, a aurora.

IV

Sim, mais do que os vigias da noite, a aurora, 7. Aguarde Israel o Senhor, Porque no Senhor, a misericórdia, Nele, a redenção abundante. 8. E Ele resgatará Israel De todas as suas iniqüidades.

1 — Das profundezas dos pecados, não da calamidade; de calamida não fala o Salmista.

4 — Para que sejais servido com reverência: o fruto do perdão alcança é uma piedade mais reverente para com Deus. (cf. Rom. 2, 4). 6— 7 — A repetição das mesmas palavra-s acentua a veemência do de­ sejo.

8 — resgatará Israel, no dia da salvação me.ssiânica como prometer os profetas (cf. Ier. 3, 21— 23; 24, 7; 32, 37—40; Ez. 11, 17— 20).

SALMO

130 (131)

HUMILDE E FILIAL ABANDONO EM DFUS

Com palavras cheias de unção e piedade confessa o Salmista que renunciou a tudo que é graruie, sublime, superior às suas forças para descansar em Deus com tranqüilidade e sossego, como a criança descansa no seio materno. Cf., as palavras de S. Agostinho: “ Inquieto está o meu coração enquanto não descansa em Vós” . (Conf. I. 1, P. L., 32, 661).

1. Cântico das ascenõses.

Do David.

Não é soberbo, Senhor, o meu coração, Nem altivo, o meu olhar; Não aspiro a grandezas. Nem a coisas superiores à minha capacidade.

Ps. 130, 2-3; 131, 1-4 —

261

2. Não, acalmei e sosseguei a minha alma, Como a criança no seio materno; Como a criança, assim em mim está a minha alma. 3. Espera, Israel, no Senhor, Agora e sempre. 2 — como a criança, em hebreu gãmúl “ desmamado” : diz-se da criança de três anos que já tem consciência de si; que, levado ao colo da mãe, nela depo­ sita toda a sua confiança sem nada mais desejar. 3 — Assim espere Israel em Deus.

SALMO

131 (132)

PROMESSAS DE DAVID a o SEN HOR E DO SENHOR A DAVID

Este Salmo, que alguns crêem que é o resumo do discurso de Salomão, após a dedicação do templo (3 Reg. 8; 2 Par. 5 sgs.), consta de duas partes simétricas. Na primeira (A: 1— 10) descreve-se I — o que David prometeu com juramento ao Senhor (1—-5) e II — e como o cumpriu transladando a arca para a sede que lhe fora preparada (6-10); na segunda parte (B; 11— 18) I — rejere-se o juramenio com que Deus prometeu a David a pere­ nidade do reino (11— 13); II — mostra-se como se cumprirá esta promessa (14— 18). Aqui nos versos 11 e 12 rejere-se mais resumidamente o que no Salmo 88 (89) 20— 38 vem amplamente exposto; como, porém, este Salmo provàvelmente joi composto antes do exílio, não se encontra/m. as lamentações do Salmo 88 (89), 39— 52.

1. Cântico das ascensões.

A I

Lembrai-Vos, Senhor, em favor de David, De toda a sua solicitude. 2. Como fez este juramento ao Senhor, Como fez este voto ao Poderoso de Jacob: 3. “ Não entrarei na tenda em que moro, Não subirei ao leito em que descanso, 4. Não darei sono aos meus olhos, Nem repouso às minhas pálpebras,

262 —

Ps. 131, 5-18

5. Até que encontre um lugar para o Senhor, Uma casa para o Poderoso de Jacob” . II

6s Dela havíamos ouvido em Ephrata; Encontramo-la nos campos de Iaar. 7. Entremos na sua habitação, Prostremo-nos ante o escabelo de seus pés. 8. Levantai-Vos, Senhor, para ir ao lugar de vosso repouso, Vós e a arca de vossa majestade. 9. Vistam-se de justiça os vossos sacerdotes, E regozijem os vossos fiéis. 10. Por amor de David, vosso servo, Não aparteis a face de vosso ungido. B

I

11. Jurou o Senhor a David Esta promessa firme que não há-de retractar: “ O fruto de tuas entranhas, Eu o colocarei no teu trono. 12. Se guardarem os teus filhos a minha aliança, E os mandamentos que lhes hei-de ensinar, Também os seus descendentes para sempre Se sentarão no teu trono” . 13. Porque o Senhor escolheu Sião: E a preferiu para sua morada:

II

14. “ Este é, para sempre, o lugar de meu repouso, Aqui hei-de morar porque o escolhi. 15. Aô suas provisões abençoarei copiosamente, Fartarei de pão os seus pobres. 16. Vestirei de salvação os seus sacerdotes, E regozijarão os seus fiéis. 17. Aí acrescentarei o poder de David, E prepararei uma lâmpada para o meu ungido. 18. Cobrirei de confusão os seus inimigos; Na sua fronte, porém, fulgirá o meu diadema” . 1 — solicitude, de construir o templo; cf. 2 8am. 7, 2— 3; 3 Reg. 8, 17.

Ps. 132, 1-3----- 263

2 — Poderoso de Jacob (cf. v. 6): Assim é Deus chamado no Ge . 49, Is. 1, 24, 49, 26; 60, 16. 6 — Dela havíamos ouvido: isto é, da arca (da qual v. 7) que se devia transferir para Jerusalém ouviram em Ephrata, isto é, em Belém, cidade de D avid; depois a encontraram nos campos de Iaar, isto é, em Cariathiarim (em hebreu Qiryat yeãrim), onde ficou longo tempo (1 Sam. 7, 1, 2; 2 Sam. 6, 2; 1 Par. 13, 1— 8). Outros entendem os sufixos femininos do v. 6 como se fossem do gênero neutro: “ ouvimos isto” ; “ encontramos isto” , mas esta interpretação dificulta muito o sentido. 7 — escabelo dos seus pés: o Senhor estava presente sobre a arca (“ sen­ tado sobre os querubins” , cf. Ps. 79 (80), 2; 98 (99), 1), que por isto se chamava escabelo dos pés do Senhor (cf. Ps. 98 (99), 5). 8 — repouso: depois que saiu de Silo (1 Sam. 4, 3 sgs.) a arca já não teve sede fixa. 10 posto o Salmo.

— do teu ungido: é o rei, da familia de David, em cujo reino foi co

11— 12 — Cf. 2 Sam. 7, 8— 16; 88(89), 4—5, 29— 38. 17 — acrescentarei, em hebreu 'asmiah, “ farei germinar” ; o Messias é chamado “ germe” (sèmah) em Jer. 23, 5; 33, 15; Zach. 3, 8; 6, 12. — poder (cornu), isto é, uma prole poderosa, o Messias. lâmpada chama-se, simbòlicamente, a prole, a posteridade; cf. 2 Sam. 21, 17; 3 Reg. 11, 36; 15, 4; 4 Reg. 8, 19. — ungido, isto é, David. 18 — na sua fr e n te ...: trata-se do Messias.

SALMO

132 (133)

A ALEGRIA DA CONCÓRDIA FRATERNA

a

Com duas imagens muito familiares aos orientais descreve o Salmista alegria da concórdia fraterna: a do óleo que corre lentamente da cabeça para a barba e dal para as vestes e a do orvalho que pela manhã desce em abundância na montanha de Sião. Tal é a bênção com que Deus recompensa a concórdia.

1. Cântico das ascensões.

D e David.

Oh! como é bom e agradável Aos irmãos viverem juntos. 2. Como o óleo perfumado na cabeça, Que desce para a barba, a barba de Arão; Que desce para a orla de suas vestiduras. 3. Como o orvalho do Hermon Que desce sobre a montanha de Sião.

264 —

Ps. 133, 1-3

Ali derrama o Senhor a sua benção, A vida para todo o sempre. 2 — barba de Arão: o sumo sacerdote era consagrado com a efusão de óleo na cabeça (Ex. 30. 30). 3 — o orvalho de Hermon: não que o orvalho do Hermon desça sobre Jerusalém. A expressão é quase como a de um provérbio: ‘‘orvalho tão abundante como o que costuma cair no Hermon” . o óleo traz suavidade, o orualho, vigor e fertilidade. ali: onde são concordes os irmãos.

S A L M O 133 (134) LOUVORES NO TEMPLO À NOITE

Este brevíssimo cântico parece que se recitava no templo quando, pela tarde} uma parte dos levitas se retirava do serviço e outra entrava. Ao sair?7ios exortamos os que chegam a louvar a Deus durante a noite (1— 2). Es­ tes (ou um deles) abençoam os que partem (3).

1. Cântico das ascensões.

Abençoai o Senhor, Vós todos, servos do Senhor, Que assistis na casa do Senhor, Durante as horas da noite. 2. Levantai vossas mãos para o santuário E bendizei ao Senhor. 3. De Sião abençoe-Vos o Senhor, Autor do céu e da terra. 1 — servos do Senhor: sacerdotes e levitas (cf. Dt. 10, 8).

SALMO

134 (135)

HINO DE LOUVOR A DEUS SENHOR DE TODAS AS COISAS

E BENFEITOR DE ISRAEL

O Salmo que reproduz muitos outros passos do texto sagrado, exorta, no princípio e no jim, a louvar a Deus (A: 1— 4; C: 19— 21). Na parte central B: (5— 18) expõem-se três idéias: I — Deus é o Senhor da natureza (5— 7); II — assistiu com seu poder € bondade ao seu povo (8— 14); III — os ídolos náo têm poUer algum (15— 18).

Ps. 134, 1-15 — 265

1. Aleluia.

A Louvai o nome do Senhor; Louvai-o, servos do Senhor, 2. Vós que assit-is na casa do Senhor, Nos átrios da casa do nosso Deus. 3. Louvai o Senhor porque o Senhor é bom; Cantai o seu nome porque é suave. 4. A Jacob escolheu para si o Senhor, A Israel como sua herança. B I

5. Sim; sei que é grande o Senhor, E o nosso Deus superior a todos os deuses G. O que a.praz ao Senhor Ele o faz, no céu e na terra, No mar e em todos os abismos. 7. Das extremidades da terra faz subir as nuvens, Produz a chuva com os relâmpagos, Tira o vento de seus reservatórios.

II

8. Feriu os primogênitos do Egipto, Desde os homens até aos brutos. 9. Operou milagres e portentos, em ti, ó Egito, Contra Faraó e todos os seus servos. 10. Abateu muitas nações E exterminou reis poderosos: 11. Sehon, rei dos Amorreus, e Og, rei de Basan, E todos os reis de Chanaan. 12. E deu a sua terra em herança, Em herança a Israel, seu povo. 13. Subsiste eternamente, Senhor, o vosso nome, E a vossa memória, Senhor, de geração em geração. 14. Porque o Senhor protegeu o seu povo, E se compadece de seus servos.

III

15. Os ídolos das gentes são prata e ouro, Feitura das mãos dos homens.

266 -----Ps. 134, 16-21; 135, 1

16. Têm lábios e não falam; Têm olhos e não vêem; 17. Têm ouvidos e não ouvem; E não há alento de vida na sua boca. 18. A eles se assemelham os que os fabricam E quantos neles põem a sua confiança.

C 19. Casa de Israel, bendizei ao Senhor; Casa de Arão, bendizei ao Senhor; 20. Casa de Levi, bendizei ao Senhor Os que temeis ao Senhor, bendizei ao Senhor. 21. Desde Sião se bendiga o Senhor, Que habita em Jerusalém. 1— 2 — Cf. Ps. 133 (134) 1. 4 — Cf. D t. 7, 6; o povo de Israel muitas vezes é chamado -pecúlio (como herança), coisa que de modo especial é do Senhor (Ex. 19, 5; D t. 7, 6; 14, 2; 26, 18). 5 — sei: após o coro que convida a louvar, parece que entra a falar o sacerdote. todos os deuses, isto é, todos os que se chamam deuse3 (cf. Ps. 96 (97) 9), mas de fato nada são (15— 18). 7 — a chuva cai entre relâmpagos e trovões (cf. Iah. 38, 25 sgs). Sobre o reservatório dos ventos, cf. Iab. 38, 22— 24. 15— 18 — Cf. Ps. 113 (115) 4—8. 19— 20 — Cf. Ps. 117 (118) 1— 4.

SALMO

135 (136)

AÇÃO DE GRAÇAS PELOS MUITOS BE N EFÍCIOS DE DEUS

Neste Salmo, composto a modo de ladainha, após o proêmio em que se con­ vidam os fiéis piedosos a louvar a Deus (1— 3), celebram^se os bene­ fícios recebidos de Deus, I — na criação e formação do mundo (4— 9); II — na proteção, defesa e direção do seu povo (10— 22); III — na providência continuada no governo de todos os homens (23— 25) A cada um dos títulos segue-se o estribilho: “ porque para sempre é a sua misericórdia” (cf. Ps. 117 (118), 4; 2 Par. 7, 3.6).

1. Aleluia.

Louvai ao Senhor, porque é bom, Porque para sempre é a sua misericórdia;

Ps. 135, 2-19----- 267

2. Louvai o Deus dos deuses, Porque para sempre é a sua misericórdia;

3.

Louvai ao Senhor dos Senhores,

Porque para sempre é a sua misericórdia. I

4. Ao único que operou grandes maravilhas. Porque para sempre é a sua misericórdia; 5. Que fez os céus com sabedoria, Porque para sempre é a sua misericórdia; 6. Que estendeu as terras sobre as águas, Porque para sempre é a sua misericórdia; 7. Que fez os grandes luminares, Porque para sempre é a sua misericórdia; 8. O sol para presidir ao dia, Porque para sempre é a sua misericórdia; 9. A lua e as estrelas para presidirem à noite, Porque para sempre é a sua misericórdia.

II

10. Que feriu os Egípcios nos seus primogênitos, Porque para sempre é a sua misericórdia; 11. E tirou Israel do meio deles, Porque para sempre é a sua misericórdia; 12. Com mão poderosa e braço estendido, Porque para sempre é a sua misericórdia; 13. Que dividiu em duas partes o Mar Vermelho, Porque para sempre é a sua misericórdia; 14. E fez passar Israel no meio delas, Porque para sempre é a sua misericórdia; 15. E precipitou a Faraó e ao seu exército no Mar Vermelho, Porque para sempre é a sua misericórdia; 16. Que conduziu o seu povo pelo deserto, Porque para sempre é a sua misericórida; 17. Que abateu grandes reis, Porque para sempre é a sua misericórdia; 18. E exterminou reis poderosos, Porque para sempre é a sua misericórdia; 19. Sehon, rei dos Amorrheus, Porque para sempre é a sua misericórdia;

268 — Ps. 135, 20-26

20. E Og, rei de Basan, Porque para sempre é a sua misericórdia; 21. E deu a terra deles em herança, Porque para sempre é a sua misericórdia; 22. Em herança a Israel, seu servo, Porque para sempre é a sua misericórdia. III

23. Que se lembrou de nós, na nossa pequenez, Porque para sempre é a sua misericórdia; 24. E livrou-nos dos nossos inimigos, Porque para sempre é a sua misericórdia; 25. Que dá alimento a toda a carne, Porque para sempre é a sua misericórdia! 26. Louvai ao Senhor do céu, Porque para sempre é a sua misericórdia!

1 S a lm o p recedente.

— Aleluia, c o m a versão d o s L X X , transfere-se p ara a q ui d o fim

2— 3 — Deus dos deuses. . . Senhor dos senhores, isto é, ú n ico D e us e S e n h or suprem o. 13 os iraelitas.

— em duas partes, à letra “ e m seg m en tos” entre o s qu ais passara

15 — E ste v e rso é ma i s lo n g o q u e o s ou tros, p rov à v elm en te d e v e sup m ir-se “ e o seu e x é r cito ” ; Faraó, isto é, o e x é rcito d o s eg íp cios co m a n d a d o por F araó.

D a m o rte d o p ró p rio rei na da se p o d e inferir desse te x to p o é tico .

R ei,

eq ü iv a le aqui, p o r sin édoqu e, a reino, a t o d o o p o v o . 23— 24 — T a lv e z se alu da aqui à lib e rta çã o d o ca tiv e iro de B abilôn ia.

SALMO

136 (137)

TRISTEZA E NOSTALGIA DOS EXILAD O S

Repatriado, o Salmista I — lembra-se que os babilônios opressores pediram aos desterrados,

abatidos pela tristeza, que lhes recitassem os seus cantos sa­ grados (1— 3); I I — refere a resposta indignada que deram os exilados fiéis à cidade

santa de Jerusalém (4— 6); I I I — impreca aos edomitas e babilônios, em castigo de sua crueldade,

uma morte impiedosa.

Ps. 136, 1-9 —

I

269

1. As margens dos rios da Babilônia, Sentávamos e chorávamos, Ao nos lembrarmos de Sião. 2. Nos salgueiros daquelas terras, Penduramos as nossas harpas. 3. E ali os que nos levaram cativos Pediam-nos que lhes cantássemos um canto, E os que nos oprimiam, que fôssemos alegres: “ Cantai-nos algum dos cânticos de Sião !”

II

4. Como haveríamos de cantar um cântico do Senhor Em terra estranha? 5. Se me esquecer de ti, ó Jerusalém, Esqueça-me a minha direita. 6. Apegue-se-me a Se me não Se não puser a Acima de

III

língua ao paladar lembrar de ti, Jerusalém todas as minhas

alegrias.

7. Contra os filhos de Edom, lembrai-Vos, Senhor, Do dia de Jerusalém. Eles diziam: “ Arrasai, arrasai-a Até oè fundamentos!” 8. Filha de Babilônia, a devastadora, Ditoso aquele que te der o pago Do mal que nos fizestes sofrer! 9. Ditoso aquele que tomar e esmagar, Contra uma pedra, os teus filhos!

1 — rios de Babilônia: o Eufrates e o Tigre com seus muitos e grandes canais que também pelos babilônios são chamados rios. 2 — nos salgueiros: em hebreu ãrãbím: árvore que cresce à beira d*água, provàvelmente populus euphratica, e não propriamente salix (babilônica) que se encontra nas versões. penduramos: a tristeza não lhes permitia tanger os seus instrumentos. 3 — pediam: levados pela curiosidade, ou pelo escárnio e ludibrio (cf. Ide. 16, 25). 5— 6 — a violência das expressões mostra quanto se ofenderam os des­ terrados com o pedido e prepara os vv. 7— 9. 7— 9 — Para os exilados, Jerusalém não era só a pátria terrena, senão ainda a cidade santa, a morada de Deus. Julgam, por isso, que o crime cometido

270 —

Ps 137, 1-6

c o n tra ela é ta m b é m u m a in jú ria a D e u s que exige vin gan ça . seg u n d o a lei de talião

(cf. P s. 108 (109), de u m

O S alm ista fala

m o d o m u ito u sad o no antigo

O rien te em c o n d içõ e s análogas. — Edom :

7 J eru salém

e

lhe a m eaçam

fa lam

terríveis

freqü en tem en te castig os;

os

p rofeta s

de

seu

ó d io

con t

cf. I s. 34, 5— 15; Ier. 49, 7— 22;

E z . 25, 12— 14; A m . 1, 11— 12 etc.

— esmagar: sobre esta m orte cru el das crianças m u ito usada ent

9

a q u eles p o v o s , nas cid a d es cap tu ra d a s em guerra cf. 4 R e g . 8, 12; Os. 10, 14; N ah . 3, 10.

O S alm ista designa a d estru ição d a cid a d e

pelos fa tos qu e o c o rr ia m o r -

d in àriam en te n u m a cid a d e con qu istada .

SALMO

137 (138)

AÇÃO DE GRAÇAS POR ÜM BENEFÍCIO

O Salmista I — agradece o auxílio recebido

(1— 3 ):

I I — deseja que a Deus louvem todos os reis da terra (4— 6 ); III —

pede com grande conjiança que Deus leve a termo a obra co­ meçada (7— 8).

1. D e D a v id .

I

Quero glorificar-Vos, ó Senhor, de todo o meu coração, Porque ouvistes as palavras de minha boca. Na presença dos anjos quero cantar-Vos hinos. 2. Prostro-me no vosso santo templo, E presto homenagem ao vosso nome, Pela vossa bondade e fidelidade, Porque sobre todas as coisas exaltastes O vosso nome e a vossa promessa. 3. Quando Vos invoquei, Vós me atendestes, E aumentastes a força de minha alma.

II

4. Hão-de celebrar-Vos, Senhor, todos os reis da terra, Quando ouvirem as palavras de vossa boca; 5. E cantarão os caminhos do Senhor: “ Sim, grande é a glória do Senhor” . 0 . Excelso é o Senhor e baixa o olhar sobre os humildes, Mas os soberbos vê de longe.

Ps. 137, 7-8; 138, 1-6 ---- 271

ill

7. Quando ando no meio das, tríbulações, me conservais a vida; Contra a cólera de meus inimigos, estendeis a vossa mão; Salva-me a vossa destra. 8. O que por mim começou, levará o Senhor a termo. Senhor, eterna é a vossa bondade, Não abandoneis a obra de vossas mãos. 1 — na presença dos anjos, e m h eb reu ’ èlõMm, o u “ n a p resen ça d os d eu ­

ses d os g e n tio s” (S. J erôn im o, A q u ila , ve rsã o g rega n a H e x a p lò n de O rfgenes) q u e assim serão con fu n d id os, o u na p resen ça das criaturas su pram u n da n as q u e con s­ titu em a c o rte de D eu s, d os A n jo s, c o m o , c o m m ais p ro b a b ilid a d e, tradu z a V u lg ata. — o que começou.. . levará a termo, isto é, a em presa de a ju d a r e f

8 talecer.

SALMO

138 (139)

DEUS, ONIPRESENTE, TUDO VÊ

O Salmista I — medita piedosamente e admira o conhecimento perfeito que Deus

tem dele e de todas as coisas (1— 6 ); em seguida I I — celebra a sua onipresença (7— 12 ); I I I — aprofundando as suas considerações lembra como Deus for­

mou o seu corpo e a sua alma, previu as ações de sua vida, determinou-lhe os dias, e confessa-se incapaz de compreender os seus desígnios (13— 18 ); I V — professa, por fim, na presença de Deus, o seu ódio aos ímpios (19— 24).

1.

I 2.

A o m estre de C a n to . S a lm o d e D a v id .

Vós, Senhor, me perscrutais e me conheceis, Sabeis quando me sento e quando me levanto. De longe penetrais os meus pensamentos;

3. Quando ando e quando me deito, Vós o vedes, E todos os meus caminhos Vos são familiares. 4. Ainda me não chegou à língua uma palavra, E já, Senhor, a conheceis toda. 5. Por trás e pela frente, Vós me envolveis, E sobre mim colocais a vossa mão. 6. Ciência maravilhosa; não me é acessível; Muito elevada: não chego a alcançá-la.

272 —

II

Ps. 188, 7-21

7. Para onde irei, longe do vosso espírito? Para onde fugirei, fora da vossa face? 8. Se subo aos céus, ali estais; Se me vou deitar no scheol, lá Vos encontro; 9. Se tomo as asas da aurora, Se me fixo nos confins dos mares: 10. Ainda lá me conduzirá vossa mão, E me colherá vossa destra. 11. Se eu disser: “ ao menos as trevas hão-de ocultar-me, E a noite, em vez de luz, me há-de envolver” : 12. As próprias trevas para Vós não são escuras, E a noite brilha como o dia, E a escuridão, como a claridade.

III

13. Vós formastes os meus rins, Vós me tecestes no seio de minha mãe. 14. Eu Vos louvo, porque tão maravilhosamente me plasmastes, Porque tão admiráveis são as vossas obras; Conheceis, à perfeição, a minha alma, 15. E não Vos é oculto o meu corpo Quando fui formado no mistério, E tecido nas profundezas da terra. 16. Viram os vossos olhos as minhas ações, E no vosso livro todas elas estão escritas: Foram prefixados os meus dias. Antes que um só deles existisse. 17. Como são difíceis de compreender, ó Deus, os Vossos de­ sígnios, Quão grande é o seu número! 18. Se quero contá-los, excedem os grãos de areia, Se chego ao fim, ainda estou convosco.

IV

19. Tomara, ó Deus, que exterminareis o ímpio, E se apartaram de mim os homens de sangue! 20. Contra Vós insidiosamente se revoltam, E pèrfidamente se insurgem os vossos inimigos. 21. Porventura, Senhor, não odeio aos que Vos têm ódio, E não abomino os que contra Vós se levantam ?

Ps. 138, 22-24 ----- 27 3

22. Odeio-os com ódio total; Para mim são inimigos. 23. Perscrutai-me, ó Deus, e conhecei o meu coração; Provai-me e conhecei os meus pensamentos, 24. Vede se ando por um caminho errado , E conduzi-me pela via antiga. O sem pre

te x to deste S a lm o n ã o se ach a b e m c o n serv a d o; a in terp reta çã o n

é segura.

2— 3 — quando sento e quando me levanto: . . quando ando e quando me deito; isto é, em tod a s as a ções de m inha v id a .

— da aurora: qu e se v ê no O riente: nos con fin s d os m ares, isto é,

9 e x trem o ocid e n te .

12 — A escuridão como a claridade; estas p alavras são talv ez um a glossa ex eg ética

qu e

passou

da

m argem

p ara

o

texto.

13 — os meus rins: m inhas partes internas (cf. Ps. 25 (26), 2). 14 —

maravilhosamente me plasmastes, em hebreu niphlê{y)ti “ de m o d o

m a ra v ilh o so fui fe it o ” . 15 — meu corpo, literalm ente, ‘ ‘m eus o sso s’ 7 16 — minhas ações;

em

hebreu ,

golml sign ifica “ a m im e n v o lv id o '’ ,

isto é, m eu c o rp o ain da não fo rm a d o (S. J e ró n im o : “ in fo rm e m m e ” )* ^ la s o c o n ­ tex to exige o u tra p alavra, p ro v à v e lm e n te gemülay ( gemúl “ o qu e a lg u ém faz a g in d o ” ). A liás, o te x to e o sen tid o d os v v . 16, 17, são b a sta n te ob scu ros. 18 — se chego ao jim ; o texto m assorético: “ se d e sp erta r” ; c o m o , p orém o co n te x to não fala de son o d o Salm ista, parece qu e se d e v a ler a fo r m a v erb a l

hãqissôti “ se ch eg o ao fim ” . ainda estou convosco, isto é, V ó s ain da ficais t o d o a ser p erseru ta d o, c o m o se eu na da h ou v era fe ito . 19— 22 —

Ê b e m d ifícil o nexo destes v ersos co m os anteriores.

T a lv e z

O Salm ieta, c o m o se disse acim a, d ian te desse D e u s qu e tu d o perscruta, p rofessa o seu ó d io sin cero e to ta l (v. 22) aos ím pios.

S e g u n d o ou tros, ad m ira-se c o m o D eu s,

q u e tu d o sabe e vê, perm ite a in da q u e viV am os ím p ios o u qu e os m a lv a d os se le­ v a n te m c o n tra u m D e u s tã o exeelso. Os v . 2 3 — 24 re co m e n d a m m ais a prim ei s olu çã o. — via antiga, na q u a l a n d a v a m

24

N o é , A b ra ã o , e ou tros. C f. Ièr. 6, 16; 18, 15.

os ju stos de o u tros tem p os

O ca m in h o d os m od ern os é u m ca­

minho errado.

SALMO

139 (140)

C O N T R A INIMIGOS V I OLE N T0S E P ÉRFIDOS

O Salmista I — pede a Deus que o livre de inimigos violentos e pêrjidos (2 — 4 );

c

274 — Ps. 139, 2-13 I I — descrevendo as suas itisídias insiste mais no -pedido do socorro divino (5— 8); I I I — roga que jrustre os seus desígnios e sobre eles recaia a sua mal­

dade (9—11); I V — certo do juízo de Deus prediz a morte dos maus e a vitória dos bons (12— 14).

1 . Ao Mestre de Canto.

Salmo de David.

1 2. Livrai-me, Senhor, do malvado, Guardai-me do homem violento; 3. Dos que meditam maus desígnios no coração, E todos os dias provocam rixas. 4. Aguçam a língua como a serpente: Nos seus lábios têm o veneno da víbora. II 5. Preservai-me, Senhor, das mãos dos ímpios, Guardai-me do homem violento: Dos que pensam em atirar-me por terra; G. Dos soberbos que me escondem as suas armadilhas. Estendem as suas cordas, como uma rede, E no meu caminho, armam os seus laços. 7. Digo ao Senhor: sois meu Deus; Ouvi, Senhor, as vozes de minha súplica. 8. Senhor, Deus, socorro meu poderoso, No dia do combate, Vós me protegeis a cabeça. III 9. Não atendais, Senhor, o desejo do ímpio, Não permitais, se cumpram os seus desígnios. 10. Levantam a cabeça os que me cercam: Sobre eles recaia a malícia de seus lábios, 11. Sobre eles chovam carvões em brasa; Precipitem-se na fossa donde se não levantem. IV 12. Não viverá muito na terra o deslinguado; Ao homem violento surpreenderão as desgraças. 13. Sei que o Senhor defende o direito do desvalido, E a justiça do pobre.

Ps. 139, 14; 140, 1-5 ----- 275

14. Oh! sim, os justos hão-de celebrar o vosso nome, E os homens retos habitarão na vossa presença. 4 —

C f. P s. 54

(55), 22: 57 (58),

5.

6 — E n co n tra m -se as m esm as m etáfora s n o P s. 9, 16; 30 (31), 5; 5 6 (57), 7 ; 63 (64), 6. 8 — meu socorro 'poderoso, lite ra lm e n te

“ fo r ta le z a

de

m in h a s a lv a çã o ”

(so co rro ). — surpreenderão

12 sig n ifica çã o p o u c o

(d e

certa; p ro v à v e lm e n te

SALMO

repen te)

em

“ q u e d a v e lo z ,

temi'dhèphõt, p a la v r a

h e b reu

p recip ita d a ” .

140 (141)

ORAÇÃO DO JUSTO C ONTRA AS INSÍDIAS DOS MAUS

Depois do proêmio I — em que o Salmista pede a Deus sejam as suas orações aceitas

como um sacrifício agradável (1— 2 ); I I — implora a preservação das seduções dos ínvpios aos quais pre­ diz castigos atrozes (3— 7); I I I — ■ pede para si a salvação, para os inimigos a morte (8— 10).

1 . S a lm o de D a v id .

I

Clamo a Vós. Senhor; socorrei-me logo; Escutai a minha voz quando Vos invoco. 2. Como incenso, suba à vossa presença a minha oração, E, como oferenda vespertina, a elevação de minhas mãos.

II

3. Ponde, Senhor, uma guarda na minha boca, E uma sentinela à porta de meus lábios. 4. Não permitais se incline ao mal o meu coração, Para perpetrar ações criminosas; Nem me assente nunca com os malfeitores, Para comer as suas iguarias. 5. Fustigue-me o justo: é caridade; Repreenda-me: é perfume na minha cabeça. E minha cabeça não há-de rejeitá-lo Mas por eles hei-de orar quando

atingidos pela desgraça.

276



III

Ps. 140, 6-10; 1.41, 2-3

6. Os seus chefes foram desped idos junto do rochedo E ouviram quão b randas eram as minhas pa lavras. 7. Como se e smiuça a terr a quando sulcada e fendida, Assim se dispersaram os seus ossos à beira do scheol. 8. Para Vós, Senhor Deus, se volvem os meus olhos; Em Vós me abrigo, não rejeiteis a min ha alma. 9. Preservai-me do laço que me armaram E das redes dos obreiros de iniqüidade. 10. Caiam os ímpios nas suas emboscadas, Enquanto eu me salvo incólume. 2 —

O incenso q u e im a v a-se t o d o s os d ias n o a lta r d o s h o lo c a u s t o s (L e v .

2, 1, 15 sg .) e n o a lta r d o in c e n s o (E x . 30, 3 4 — 37). 5 —

O s e n tid o , a o q u e p a r ece, é q u e o h o m e m p ie d o s o n ã o r e c usa a re­

p re e n s ã o e c a s tig o d o s j usto s (c f. P r o v . 27, 6), a n tes o ra , a p esa r de c a s tig a d o e r e p r e e n d id o . 6— 7 —

O n e x o e o s e n tid o d e ste s v e r s os, c u jo t e x t o p a re ce a lte ra d o ,

s ã o , d e t o d o e m t o d o , o b s c u ro s .

N ã o s a b e m o s d e q u e a c o n t e c im e n to se f ala.

r e c e q u e se d e s c re v e a m o r t e d o s ím p io s.

Pa­

T e rá , p o rv e n tu ra , o S a lm ista , d ia n te

d o s o lh o s a n a rr a ç ã o d e 1 S a m . 24, 1— 16; 26, 8 — 20, e m q u e o rei S a u l p erm ite q u e D a v id se v á in c ó lu m e , perto do rochedo (n o d e se r to ) com palavras brandas.

A l­

g u n s in te r p r e ta m os v v . 6 — 7 d o castigo futuro d o s ím p io s. N en h u m a in te r p r e ta ç ã o é p le n a m e n te sa tis f a tó ria .

S ALMO 141 (142) O R A Ç Ã O DE ÜM h o m e m

in t e ir a m e n t e

abandonado

O Salmista em extrema necessidade

a

implora instantemente o socorro de Deus que conhece sua condição (2 — 4 b ); II — descreve a perseguição em que se vê privado de iodo auxílio humano (4 c — 5 ); por isto, III — pede a Deus que o ajude e livre, prometendo-lhe a ação de. graças sua e dos justos (6 — 8). I —

1 . M askil.

De

D a v id

quando

e sta v a

na

c a v e rn a — O ra çã o.

I 2. Ao Senhor brado a grandes vozes, A grandes vozes imploro o Senhor. 3. Expando na sua presença a minha inquietação, Diante dele e x p o n h o n min lia angústia.

Ps. 141, 4-8 — 277

4. Quando ansioso se agita o meu espírito, Vós conheceis a meu eaminho. II Na vereda em que ando, Ocultaram-me um laço. 5 . Olho à direita e vejo: Ninguém que de mim cuide, Nenhum lugar para onde possa fugir, Ninguém que vele pela minha vida. III 6. A Vós, Senhor, clamo; Eu digo: sois meu refúgio, Meu quinhão na terra dos vivos. 7. Atendei ao meu brado; Extrema é a minha miséria. Livrai-me dos meus perseguidores, Porque são mais fortes que eu. 8. Tirai-me da prisão, Para que eu agradeça ao vosso nome. Os justos hão-de acorrer ao redor de mim, Quando me fizerdes este benefício. 1 — na caverna: cf. 1 Sam. 22, 1; 24, 4. 3 — expando: cf. Ps. 41 (42), 6; 61 (62), 9; 101 (102), 1. 4 — o meu caminho: minha condição, minha sorte (presente e futura). 5 — à direita, em juizo, costumava ficar o defensor (Cf. Ps. 15 (16), 8; 120 (121), 5). § — prisão: ou da caverna em que David se achava enclausurado como numa pri#ão# ou de uma grave calamidade qire, por metáfora, se chama prisão. hão-de acorrer ao redor de mim, alegres, quando

fôr ao santuário

render fra fa f-

SALMO 142 (143) O RAÇÃO DE UM PENITENTE ATRIBULADO

Q Salmistm, interna e externamente angustiado, I — cônscio de seus pecados que mereceram castigo, implora auxilio

à clemência de Deus (1— 2); I I — descreve o» assaltos do inimigo e as tristezas da sua alma; mas

lembrando-se dos benejícios divinos já recebidos, deseja arden­ temente a Deus (3— 6);

27 8

— Ps. 142, 1-10

III — IV —

fortalecido por este desejo, pede a Deus que o auxilie logo contra os inimigos (7— 9); e, ainda, que o ajude no futuro a fazer a vontade divina, des­ truídos os seus inimigos (10— 12).

Este Salmo ê o



dos

penitenciais.

1. S alm o de D a v id .

I

Senhor, ouvi a minha oração, Prestai ouvidos à minha súplica na vossa fidelidade, Atendei-me na vossa justiça. 2. Não chameis a juízo o vosso servo, Porque aos vossos olhos nenhum vivente é justo.

II

3. Um inimigo persegue a minha alma: Calcou em terra a minha vida, R elegou-me nas trevas, como os mortos para sempre. 4. E desfaleceu em mim o meu espírito; E gelou-se-me no peito o coração. 5. Recordo os dias de antanho. Penso em todas as vossas obras. E considero os feitos de vosso braço. 6. Para Vós estendo as minhas mãos; E, como terra sem água, tem sede de Vós minha alma,

III

7. Ouvi-me prontamente, Senhor, Porque desfalece o meu espírito. Não me oculteis a vossa face, Para que me não assemelhe aos que descem à sepultura. 8. Fazei-me sentir logo a vossa graça, Que em Vós ponho a minha confiança. Mostrai-me o caminho em que hei-de andar, Que a Vós elevo a minha alma. 9. Livrai-me, Senhor, de meus inimigos, Que em Vós espero.

IV

10.

Ensinai-me a fázer a vossa vontade, Porque sois meu Deus. Ê bom o vosso espírito; Conduza-me em terra plana.

Ps. 142, 11-12; 143, 1-4 — 279

11. Pelo vosso nome, Senhor, conservai-me a vida, Pela vossa clemência, livrai-me a alma da angústia. 12. E, na vossa bondade, extenninai os meus inimigos, E destruí quantos me atribulam a alma: Porque sou vosso servo.

2 — O Salm ista sabe que m erece cast igo, se D eus o quiser ju lg ar com estrita justiça, m as im plora a sua clem ência porque todos os hom ens são pecadores (tf. P s. 50 (51) 6, 7; 129 (130) 3). 3 — Sem luz e sem esperança, é como um hom em h á m uito sepultado. 5 — Recordo os dias de anlanho, isto é, os benefícios feitos p o r D eus ao seu povo nos séculos passados; cf. Ps. 70 (77) 4, 6, 12, 13. 10 — em terra plana onde já não tropeçam os m eus pés nem enco perigos de vida (cf. Ps. 25 (26), 12; 26 (27), 10). Alguns m anuscritos e a P esh itto lêem “em cam inho” . SALMO

143 (144)

O R A Ç Ã O DO R E I P A R A A L C A N Ç A R V IT Ó R IA E PROSPERIDADE

No proêmio

I — II — III —

o rei proclama a Deus seu protetor e amparo (1, 2). consciente de sua própria indignidade e fraqueza implora o seu poderoso auxílio ctmira os inimigos (3— 8); promete, uma vez livre do perigo, louvores e ações de graças

IV •—

pede paz e prosperidade para o povo

(9— 11);

(12— 15).

1. D e D avid. I

Bendito seja o Senhor, meu Rochedo, Que adestra minhas mãos para o combate , E os meus dedos para a guerra, 2. Minha misericórdia e minha cidadela, Meu baluarte e meu libertador, Meu escudo e meu refúgio, Que a mim submeteu os povos.

II

3. Que é, Senhor, o homem para Vos ocupardes dele, E o filho do homem para lhe dardes at enção ? 4. Comparável â um sopro é o homem, E os seus dias são como a sombra que passa.

280 ---- Ps. 143, 5-15

5. Inclinai, Senhor, os vossos céus e descei, Tocai as montanhas e elas fumegarão. 6. Vibrai o raio e dispersai-os, Desferi as vossas flechas e enchei-os de temor. 7. Estendei do alto a vossa mão. Salvai-me das muitas águas, Do poder de estrarihos, Cuja boca projere mentira, E cuja destra jura jalso. IÍI

9. Quero cantar-Vos, Senhor, um cântico novo. Quero celebrar-Vos na lira de dez cordas, 10. A Vós que aos reis eoncedeis vitória, E livrastes David, servo vosso. 11. Do gládio mortífero salvai-me, Livrai-me do poder de estranhos, Cuja boca projere mentira, E cuja destra jura jalso.

IV

12. Nossos filhos sejam como plantas, Que crescem no vigor de sua juventude; Nossas filhas, como colunas angulares, Esculpidas para ornamento do templo. 13. Atulhados estejam os nossos celeiros, A transbordar de toda espécie de frutos. Por milhares se multipliquem as nossas ovelhas, E por miríades cresçam em nossos campos. 14. Carregados andem os nossos jumentos. Não haja brecha em nossos muros, nem exílio, Nem prantos em nossas praças. 15. Ditoso o povo que goza destes bens, Ditoso o povo que tem por seu Deus ao Senhor!

A primeira parte do Salmo (1— 11) compõe-se de palavras tiradas, quase todas, de outros Salmos, principalmente dos Pss. 8, 17 (18), 32 (33), 103 (104), nos quais se explicam as várias metáforas. Sobre os vv. 12— 15 há divergência entre os exegetas. Alguns, seguindo a interpretação dos L X X , de Símaco e da Peshitto, pensam que nestes versos se descreva a prosperidade de ímpios inimigos (cf. v. 11), à qual (v. 15), dizem, se opõe a felicidade do povo que é o povo de Deus. Para outros, que seguem o texto

Ps. 144, 1-4----- 281 p ia ssorético , S. J e r ó n im o e o T argurn, os v v . 12— 15 co n tê m u m a ora çã o p ara im p lora r a p rosp erid a d e d o p o v o de D e u s.

E^ta ú ltim a in te rp reta çã o p a ra ce m ais

a d a p ta d a à ín d oie d o A . T . n o qu al aos ju sto s se p ro m e te m ben s terrenos. 12 — X o

te x to m assorético este v erso c o m e ç a c o m 'ãser, p a rtícu la qu&

se d eve ex plicar c o m sen tid o fin al ou co n se cu tiv o (cf. Z o k e i.l, Lex. hebr. s. v . I I I a, e) ou d e v e ler-se 'asscr, **iazei felizes”

(im p erfeito p iei d o v e r b o fãsar).

de sua juventude., isto é, no v ig o r, na fo r ç a da id a d e ju v en il. como colunas, esculpidas para O templo: estas p alavras, u m ta n to escuras, p arece, qu e d escrev em o a sp ecto flo rid o e belo das donzelas. q u e pên<ar c m C ariátides, c o m o p ro p õ e m alguns.

N ão há por

13 — de toda espécie de jrutos, ao p é d a letra “ d os fru tos de esp écie em e s p é c ie ” , isto é, de to d a espécie. 14 — gados”

carregados. . . os nossos jum entos, e m heb reu mesubbã!un “ carre­

da colh eita, de m ercad orias: d ificilm e n te se p o d e ria pensar n a g rav idez

(form a tnascu lin a).

brecha nos muros: esteja m firm es as m uralhas d a cid a d e e as p a re­ des das casas.

exlíio, à letra “ sa in d o ” , refere-se à m u ltid ã o d os h a b ita n tes qu e, der­ r o ta d a a cida de, o in im ig o le v a v a p ara o exíüo. 15 — P ro le num erosa, riquezas, p rosperida de, p az, sem pre n o

A.

T.

são d on s qu e o v e rd a d e iro D e u s c o n ce d e aos seus serv os p ied osos.

SALMO GRAN DEZA

144 (145)

E BONDADE DE DEUS

Este é ura Salmo alfabético (mas no texto massorético jalta a letra n u n). O Salmista quer louvar a Deus (1— 2) celebra o seu poder e majestade (3— 0), a sua bondade (7— 9), a glória do seu reino (10— 13b), o cuidado e a providencia de todas as coisas (1 3c— 16), a benignidade para com os servos piedosos (17— 20). Por tudo deve ser louvado (21) — Também este Salmo utiliza muitos passos de outros Salmos e dos demais livros sagrados.

l.

aleph

beth

L o u v o re s de D a v id .

Quero exaltar-Vos, meu Deus, Rei; Quero bendizer o vosso nome pelos séculos dos séculos. 2. Eu Vos bendirei todos os dias, E louvarei o vosso nome pelos séculos dos séculos.

gkimel

3. Grande é o Senhor e digno de todo o louvor, Insondável é a sua grandeza.

daleth

4. Cada geração diz à seguinte as vossas obras, E proclama o vosso poder.

282 — Ps. 144, 5-21

he

5. Narram a glória magnífica de vossa majestade, E apregoam as vossas maravilhas.

zain

7. Publicam os louvores da vossa imensa bondade E aclamam a vossa justiça.

heth

8. Clemente e misericordioso é o Senhor, Longânime e cheio de benevolência.

teth

9. Para todos é bom o Senhor, E a todas as criaturas estende-se a sua mise­ ricórdia.

jod

10. Glorifiquem-Vos, Senhor, todas as vossas obras, E Vos bendigam os vossos servos fiéis.

kaph

11. Digam a glória do vosso reino, E falem do vosso poder.

lamed

12. A fim de tornar conhecida aos filhos dos homens a vossa potência, E o magnífico esplendor do vosso reino.

mem

13. Vosso reino estende-se a todos os séculos, E o vosso império a todas as gerações.

nun samech

ain

Fiel é o Senhor em todas as suas promessas, E santo em todas as suas obras. 14. Sustém o Senhor todos os que vacilam, E apruma todos os prostrados. 15. Em Vós esperam os olhos de todos, E, a seu tempo, lhes dais o alimento.

phé

16. Abris as vossas mãos, E fartais com benevolência tudo o que tem vida.

tsadé

17. Justo é o Senhor em todos os seus caminhos, E santo em todas as suas obras.

qoph

18. Perto está o Senhor de quantos o invocam, De quantos o invocam com sinceridade.

resch

19. Fará a vontade dos que o temem; Ouvirá os seus clamores e os salvará.

schin

20. Guarda o Senhor quantos o amam, Mas exterminará todos os maus.

thav

21. Proclamem os meus lábios os louvores do Senhor, E bendiga toda a carne o seu nome santo, Nos séculos dos séculos.

Ps.

SALMO

14S,

1-10

— 283

145

LOU VOR A DEUS C R IA D O R , A U X ÍL IO DE TODOS, R E I E T E R N O

Querendo louvar a Deus (2), o Salmista I — mostra que não se pode depositar nenhuma confiança nos ho­

mens fracos (3— 4), mas I I — pôr toda esperança em Deus (5— 10), que criou todas as coisas (6) socorre a todos os oprimidos e aflitos (7— 9), é rei eterno (10).

1. Aleluia.

2.

I

Louva, minha alma, ao Senhor. Louvarei o Senhor durante a minha vida, Enquanto existir cantarei hinos ao Senhor.

3. Não ponhais nos poderosos a vossa confiança, Num homem que não pode salvar. 4. Vai-se-lhe o espírito e ele volta ao limo da terra, E logo perecem todos os seus desígnios.

II

5. Ditoso aquele que tem por protetor ao Deus de Jacob, E põe sua esperança no Senhor, seu Deus, G. Que fez o céu e a terra, E o mar e tudo o que neles se contém, Que guarda fidelidade para sempre, 7. Faz justiça aos oprimidos, E dá pão aos que têm fome. O Senhor solta os grilhões dos cativos, 8. O Senhor abre os olhos aos cegos, E sempre apruma os recurvados, O Senhor ama os justos. 9. O Senhor protege os peregrinos, Ampara o órfão e a viúva, Mas estorva o caminho dos pecadores. 10. Para sempre reinará o Senhor, Teu Deus, Sião, na série das greações. Aleluia. 1

— O s ú ltim os c in c o S alm os co m e ça m n o te x to h eb ra ico, c o m halHây

“ lou v a i o S e n h o r” . O títu lo in d ica-lh es p e rfe ita m e n te o a rgu m en to. N este S alm o oh

m elhores m anu scritos gregeos a c r e s c e n ta m :

“ D e A g e u e Z a ca ria s” .

284

----- Ps. I4G-147, 1-8

7— 9 — N o te -se a ênfase c o m qu e cin co vezes, no se repete o n o m e de Y a h w e (li), o S en h o r.

SALMO

c o m e ç o d o s incisos

146.147 (147)

L OU VOR A DEUS, QUE R E STAU ROU ISR A EL COM SEU PODER E SABEDORIA

No texto massorético c no Targvm, os Salmos 146 e 147 (em contrário, os L X X , a Peshitto, a Vulgata) constituem um só Salmo e com razão. Ê idêntico o argumento de ambos. Três partes distinguem-se no Salmo: I —

louvor de Deus que restaurou Israel com seu -poder e sabedoria

d -6 ); louvor de Deus que, com a sua providência, governa todas as coisas em favor dos que nele confiam (7— 12); I I I — louvor de Deus que restaurou a cidade de Jerusalém e lhe deu paz e prosperidade, que dirige as forças da natureza e deu a lei ao seu povo (12— 20) = P s. 147 da Vulgata). II —

SALMO

146 (147. 1— 11)

1. A lelu ia.

I.

Louvai o Senhor porque é bom; Cantai ao nosso Deus porque é amável: Fica-lhe bem o hino de louvor. 2. Edifica o Senhor Jerusalém, E congrega os dispersos de Israel: 3. Sara os corações partidos, E pensa-lhes as feridas. 4. Sabe o numero das estrelas, E chama cada uma pelo nome. 5. Grande é o Senhor nosso, e poderosa a sua força; Não tem limites a sua sabedoria. 6. Ampara os humildes o Senhor, E abate os ímpios até a terra.

II

7. Entoai ao Senhor um canto de ação de graças, Celebrai na harpa ao nosso Deus. 8. Que cobre de nuvens o céu, E prepara a chuva para a terra, Que produz a relva nas montanhas, E as plantas para o serviço do homem;

Ps. 146-147, 9-20

---- 285

9. Que dá sustento aos animais. E aos filhotes dos corvos que a ele clamam. 10. Não lhe agrada o vigor do corcel, Nem se compraz nos músculos do guerreiro. 11. Gosta o Senhor dos que o temem, E na sua bondade confiam. SALMO III

147 (147, 12— 20)

12. Louva, ó Jerusalém, ao Senhor, Louva, 6 Sião, ao teu Deus. 13. Porque reforçou os ferrolhos de tuas portas, E abençoou em teu seio os teus filhos, 14. Estabeleceu a paz nas tuas fronteiras, E te sacia com a flor da farinha. 15. Ele envia a palavra à terra, E veloz corre o seu verbo. 16. Faz cair a neve, como a lã; Espalha a geada, como a cinza. 17. Envia o seu gelo, como pedaços de pão; Ante o seu frio endurecem as águas. 18. Manda a sua palavra e as derrete; Ordena que soprem os ventos e corram as águas. 19. Anuncia sua palavra a Jacob, As suas leis e os seus preceitos a Israel. 20. Não o fez assim a nenhuma outra nação: Não lhes manifestou os seus preceitos. Aleluia.

2 — Edifica Jerusalém: estas palavras indicam que o Salmo foi com posto quando os desterrados, de volta do exílio, restauraram a cidade santa, 4— 5 — Mostra-se o poder e a sabedoria com que Deus restaurou o povo. 8 — a relva. . . cf. Ps. 103 (104), 1. 9 — os filhotes dos corvos: cf. Iob. 38, 41. Dizem que os corvos expulsam do ninho os filhotes ainda muito novos (cf. Plin., Hist. Nat. 10. 12, 31). 10— 11 — A Deus não agrada a potência e a força (v. g. dos grandes reinos) mas a fé e a confiança das almas piedosas. Cf. Ps. 19 (20), 8; 32 (33), 16-18. 13— 14 — reforçou os ferrolhos de tuas portas: quer dizer que o Salmo foi composto em tempo de paz e prosperidade depois que Nehemias reconstruiu os muros da cidade (cf. Neh. 2, 11— 7, 3).

28 0 —

Ps. 148, 1-n

15

— T u d o se d e v e a o p o d e r e e ficá cia d a p a la v ra de D e u s qu e g o v e r

a n a tu reza (16— 18) e dirige Israel (19). 17 — gelo: p a rece qu e se tra ta d e g e a d a ( “ p e d a ço s de p ã o ” ).

SALMO

148

C É U E T E R R A LO U V E M AO SENHOR O Satm isla convida com in sistên cia a todas as criaturas para que, em m ajes­ toso concerto, louvem a D eu s: I — o céu com os anjos, os astros, e as águas (1— 6 ); I I — a terra (7— 1 2 ): o m ar com os seu habitantes (7), o ar (8), os m ontes e as colinas (9a), as arvores (9 b), os a nim a is (10), os hom ens de todas as idades e condições (11— 12). do h ino

1.

J

m ostra p or que D eu s

A conclusão

deve ser louvado.

Aleluia.

Louvai ao Senhor do alto dos céus, Louvai ao Senhor nas alturas. 2. Louvai-o, todos os seus anjos, Louvai-o todos os seus exércitos. 3. Louvai-o, sol e lua, Louvai-o todas as estrelas brilhantes. 4. Louvai-o, céus dos céus, E águas que estão acima do firmamento: 5. Louvem o nome do Senhor, Porque Ele mandou e foram criadas as cousas, 6. E as estabeleceu para sempre, pelos séculos: Fixou-lhes uma ordem que não passará.

II

7. Louvai ao Senhor da terra, Dragões marinhos e abismos do mar, 8. Fogo e granizo, neve e neblina, Ventos procelosos que executam sua palavra. 9. Montanhas e colinas, Arvores frutíferas e cedros, 10. Feras e gados de toda espécie, Serpentes e aves aladas, 11. Reis da terra e multidões de povos, Príncipes e juizes de toda a terra.

Ps. 148, 12-14; 149, 1-5 ----- 28 7

12. Mancebos e também donzelas, Anciãos e meninos. 13. Louvem o nome do Senhor. Porque só o seu nome é excelso. Sua majestade domina o céu e a terra, 14. E exalta o poder de seu povo. Louvem-no todos os seus fiéis, Os filhos de Israel, seu povo familiar.

Aleluia.

1 — dos céus soe o louvor de Deus do céu (2— 6) e da terra (7— 12). exércitos de Deus, chamam-se aqui as várias ordens dos anjos. 4 — Céus dos céus: o céu supremo (cf. Dt. 10, 14; 3 Reg. 8, 27).

8 — que não passará, isto é, não será ab-rogada; alguns lêem ya’ake “ que não transgridem” , as criaturas. 14 — eleva o poder (cornu), a grande potência (cf. Ps. 17 (18), 3; 74 (75), 11 etc.). louvem-no, isto é, é objeto de louvor para todos os israelitas pie­ dosos é ou Deus, ou o poder que Ele deu ao povo.

SALMO

149

LOUVE ISR A EL AO SENHOR COM OS LÁBIOS E A ESPADA

O Salmista I — convida o povo a louvar a, Deus que o escolhe, o governa, o ama e lhe deu a vitória (1— 5), mas II — não o exorta menos a preparar-se para a luta a jim de executar o juízo de Deus sobre, os reis e as nações (6— 9).

1. Aleluia.

Cantai ao Senhor um cântico novo; Ressoem os seus louvores na assembléia dos fiéis. 2. Alegre-se Israel no seu Criador, E no seu rei exultem os filhos de Sião. 3. Louvem o seu nome nos seus coros, E cantem-lhe Salmos com tambores e cítaras. 4. Porque ama o Senhor ao seu povo, E glorifica os humildes com a vitória, 5. Regozijem-se na glória os seus santos, E gozem-se de alegria nos seus leitos.

288 —

II

Ps. 149, 6-9; 150, 1-5

6. Nos seus lábios estejam os louvores de Deus, E nas suas mãos as espadas de dois gumes: 7. Para executar a vingança entre as nações E os castigos entre os povos; 8. Para meter em grübões os seus reis, E em algemas de ferro os seus nobres. 9. Para executar contra eles a sentença escrita: Esta a glória de todos os seus santos. Aleluia. 3 — coros, o u d an ça, em h e b re u mãhôl, d a n ça sagrad a ( c f. E x . 15, 20;

2 S a m . 6, 5, 14, 16). 5 ■— nos seus leitos, isto é, alca n ça d a a v itó r ia q u a n d o g oza m d o r ep ou so. 6 — C f. N eh . 4, 16— 23: 2 M a c . 15, 27 (on de este v erso ta v e z é c ita d o ). 7— 8 — T ra ta -se d e n a ções e reis, in im ig os de D e u s e d o M essias (cf.

P s. 2, 1— 3; E z. 38 sgs). 9 — sentença escrita, isto é, desde m u ito firm a d a p o r D e u s e a n u n cia d p elos p rofeta s.

glória: g lória d os israelitas será co m b a te r pela causa de D e u s n a ú ltim a luta.

S A L M O 150 C O N C E R TO SOLENE DE LOUVOK DE DEUS

Este Salmo é urna doxObgia não só do livro V, mas de todo o saltério. Deu$ deve ser louvado aqui na terra, no templo e no céu (1) pelas suas obras e pela sua majestade (2). Para estes louvores converge toda a sinfonia da música do templo e de tudo o que respira (3— 5).

1. A leluia.

Louvai ao Senhor no santuário, Louvai-o no seu firmamento majestoso. 2. Louvai-o pelas suas grandes obras, Louvai-o pela sua ex^elsa mejestade. 3. Louvai-o ao som da trombeta, Louvai-o na lira e na harpa, 4. Louvai-o com adufes e danças Louvai-o com instrumentos de corda e de sopro. 5. Louvai-o nos címbalos sonoros, Louvai-o nos címbalos retumbantes. Tudo o que respira louve o Senhor! Aleluia.

CÂNTICOS DO BREVIÁRIO ROMANO

CÂNTICO

DE M O I S É S

Êxodo 15, 1— 18

CÂ N TIC O DA V IT Ó R IA DEPOIS DA PASSAGEM DO M AR VERM ELHO

De duas partes consta este cântico, por todos considerado como dos mais belos poemas do Antigo Testamento, A -primeira parte (A: 1— 10) descreve a submersão dos egípcios no Mar Vermelho pelo poder de Deus : no exórdio I — celebra-se a majestade e a potência do Senhor (1— 2); a seguir, II — descreve-se resumidamente a destruição dos egípcios (3—-5); III — mostra-se como foram submergidos pelas ondas do mar em vir­ tude da onipotência de Deus (6— 8), IV — e, ávidos de presa e de morticínio, pereceram numa submersão

repentina (9—10). Uma estrofe média (B: 11— 13) entre a primeira e a segunda parte estabe­ lece a transição para o argumento da segunda parte (C: 14— 18) qual

na

I — se decreve a viagem pelo deserto e o temor dos povos vizinhos (1 4 -1 6 ); II — e o ocupação da terra de Canaã, sob o governo de Deus eterno (17— 18).

1. Então Moisés e os filhos de Israel entoaram este cântico ao Senhor dizendo:

A I

Quero cantar ao Senhor, o altíssimo: Carros e cavalos, precipitou-os no mar. 2. Meu vigor e minha fortaleza é o Senhor, Ele que me salvou. Ele é o meu Deus; hei-de celebrá-lp; O Deus de meu pai, hei-de louvá-lo.

292 ----

M oisés (Ê x. 15) 3-15

Guerreiro é o Senhor: Senhor é o seu nome.

III

4

Aos carros de Far&ó e ao seu exército, lançou-os no mar, Os seus melhores capitães, enguliu-os o Mar Vermelho.

5

Afogaram-nos as ondas; Desceram até ao fundo, como uma pedra.

6

A vossa destra. Senhor, soberano na potência, A vossa destra, Senhor, aniquilou o inimigo.

7

E na vossa excelsa majestade destruístes os vossos adver­ sários: Desencadeastes a vossa cólera que os devorou, como palha. Ao sopro do vosso furor amontoaram-se as águas, Pararam, como um dique, as ondas que corriam, Coagularam as vagas no seio do mar.

8

IV

9

Dissera o inimigo: “ Hei-de persegui-los, alcançá-los, Repartir-lhes os espólios; fartar-se-á a minha vingança. Desembainharei a minha espada, E minha mão há-de despojá-los” .

10 Sopraram os vossos ventos: sepultou-os o mar; Afundaram como chumbo Nas águas impetuosas.

B

11

Quem há entre os deuses, semelhante a Vós, Senhor, Quem há semelhante a Vós, augusto em santidade, Venerando e louvável, operador de prodígios?

12 Estendestes a vossa destra: Tragou-os a terra. 13

Pela vossa graça conduzistes o povo por Vós resgatado; E com o vosso poder os guiastes  vossa santa morada.

14

Ouviram os povos e tremeram: Dos habitantes da Filistia apoderou-se o pavor; Aterrorizaram-se os príncipes de Edom; E o medo salteou os chefes de Moab; Estarreceram todos os moradores de Canaã,

C I

15

Moisés (Êx. 15), 16-18 — 293

16. Saltearam-nos o espanto e o horror. Pela fortaleza do vosso braço Ficaram imóveis como uma pedra. Até que passasse o vosso povo, Senhor, Até que passasse o povo que adquiristes. II

17. Vós os introduzistes e plantastes na montanha da vossa propriedade. No lugar que preparastes para a vossa morada, Senhor, N c santuário, Senhor, que fundaram as vossas mãos. 18. Eternamente e para sempre há-de reinar o Senhor.

2 — fortaleza, em hebreu zimratíi) (cf. o árabe damir “ forte” ), ‘ "'vigor, fortaleza” ; as versões traduzem “ cântico, louvor” (zimrâQi) palavra derivada de outra raiz). Cf. Joüon, Gram. hebr. 89 n. 3 — guerreiro, à letra “ homem de guerra, de combate” , figura poética o ara exprimir a potência de Deus. 5— 8 — N ote-se a abundância e variedade de imagens com que se des­ creve a destruição dos egípcios. 10 — O sopro do vento basta para exterminar os inimigos ávidos de presa e de morticínio. 11 — entre os deuses, isto ê, entre aqueles que os homens chamam de deuses e como deuses veneram. 12 — tragou-os a terra: a “ terra” é aqui empregada por uma de suas partes, o Mar Vermelho; não se trata aqui da morte de Coré e companheiros (Num. 16, 32). 14— 16 — O poder de Deus manifestado durante a viagem dos israelitas pelo deserto, descreve-se através do terror que se apoderou dos povos vizinhos e dos cananeus. 17 — nas montanhas de vossa propriedade, isto é, nas regiões montan sas de Canaã que Deus de modo especial declarou suas.

CÂNTICO

DE M O I S É S

Deut. 32, 1— 45 OS B E N E FÍC IO S D E DE U S, A IN F ID E LID A D E E OS CASTIGOS DO POVO

Depois de predizer a Moisés a futura infidelidade do povo, mandou-lhe Deu3 que escrevesse um poema no qual os pósteros pudessem conhecer a có­ lera e vingança de Deus (Deut. 31, 16— 21). Este objetivo determina o argumento e a divisão do poema. Depois do proêmio, I — em que Moisés exorta os Israelitas a opvir (1— 3) e indica que o argumento de seu poema é á fidelidade e a justiça de Deus e a perversidade do povo (4— 6),

294—

Moisés (Deut. 32) 1-8

II — descrevem-se os grandes benefícios jeitos por Deus aos Israelitas (7— 14d): eleição (8— 9), proteção no deserto (10— 12), rique­ zas da terra de Canaã (13— 14d); a seguir, III — enumeram-se os pecados do povo: apostasia do verdadeiro Deus e culto dos ídolos (14c— 18); por isso, IV — Deus ameaça castigos: serão entregues às mães dos inimigos (19— 25); V — não serão, porém, de todo destruídos para que os gentios, in­ sensatos e maldosos, não atribuam a si a vitória (26— 35); antes, V I — com estes castigos levará Deus os Israelitas a reconhecê-lo como único Deus verdadeiro (36— 39), V II — e punirá terrivelmente o orgulho dos gentios (40— 43).

I

1. Escutai, ó céus que vou falar; Ouça a terra as palavras de minha boca. 2. Caia, como a chuva, o meu ensinamento; Destilem, como orvalho, as minhas palavras, Como chuvisco na verdura, Como gotas de água na relva. 3. Pois vou proclamar o nome do Senhor: Dai glória ao nosso Deus. 4. É o Rochedo: perfeitas são as suas obras; Porque justos são todos os seus caminhos. Fiel é Deus e sem iniqüidade: Justo e reto. 5. Pecaram contra Ele os filhos degenerados, A geração depravada e perversa. 6. Assim retribues ao Senhor, Povo néscio e insensato? Não é Ele teu pai, teu criador, Não foi Ele que te fez e plasmoü ?

II

7. Lembra-te dos dias de antanho, Recorda os anos, de geração em geração: Interroga o teu pai e ele te informará, Os teus anciãos e eles te dirão: 8. Quando, entre as nações, distribuiu as terras o Altíssimo, Quando disseminou os filhos de Adão, Fixou os limites dos povos, Segundo o número dos filhos de Tsrael.

M o isés (Deut. 32) 9-19 ------ 295

9. Porque a porção do Senhor é o seu povo, Jacob é o quinhão de sua herança. 10. E m terra deserta o encontrou, Em lugar selvagem, entre os uivos da solidão. E o acalentou e prestou-lhe os seus cuidados, E o guardou como a pupila de seus olhos. 11. Como a águia que incita a sua ninhada, E voeja por cima dos filhotes, Assim estendeu Ele as suas asas, e o impolgou, E o transportou nas suas plumas. 12. Só o Senhor o conduziu, Nem havia com Ele deus estranho. 13. Levou-o a uma terra alta, Alimentou-o com o fruto dos campos, Deu-lhe a sugar o mel do rochedo, E o óleo das penhas mais duras; 14. A manteiga das vacas e o leite das ovelhas, Com a gordura dos carneiros e dos cordeiros, Os touros de Basan e os cabritos, Com a flor da farinha de trigo; E bebeste o sangue da uva, o vinho generoso. III

Comeu Jacob e fartou-se, 15. Engordou o amado e recalcitrou. Ficaste pingue, cevado, obeso. E abandonou a Deus, seu Criador, E desprezou o rochedo de sua salvação. 16. Provocaram-no com deuses estranhos, Irritaram-no com suas abominações. 17. Ofereceram sacrifícios aos demônios que não são deuses, A deuses que desconheciam, Deuses novos, vindos recentemente, Que não haviam adorado os vossos pais. 18. E abandonaste o Rochedo que te gerou, E esqueceste o Deus teu Criador.

IV

19. Viu isto o Senhor e sentiu náusea, Irritado pelos seus filhos e filhas.

2 9 6 — M o isés (Deut. 32) 20-30

20. E disse: Esconderei deles a minha face; Verei o fim que os espera; E uma raça perversa; São filhos em que não há boa fé. 21. Provocaram-me com aquilo que não é deus, Irritaram-me com seus ídolos vãos; Eu os provocarei com aquilo que não é um povo E os irritarei com uma nação insensata. 22. Acendeu-se o fogo de minha cólera, Que há-de arder até às profundezas do Scheol, Que há-de devorar a terra e os seus frutos E abrasar os fundamentos das montanhas. 23. Neles acumularei males sobre males, Contra eles despedirei todas as minhas flechas. 24. Serão consumidos pela fome, devorados pela febre, E pela peste mortífera. Contra eles enviarei os dentes das feras E o veneno dos que serpeiam na terra. 25. Por fora, os devastará a espada, Por dentro, o pavor, O mancebo como a donzela A criança de peito como o ancião. V

26. Eu diria: “ Dissipá-los-ei, Apagarei dentre os homens a sua memória” , 27. Se não receara a jactância do inimigo; Não fosse caso se iludissem os seus adversários, E dissessem: “ Foi nossa mão que venceu, Não foi o Senhor quem fez estas coisas” . 28. Porque é uma nação insensata, Neles não há inteligência. 29. Se foram sábios, haveriam de compreender, Haveriam de considerar o fim que os espera: 30. Como pode um homem perseguir mil, E dois pôr em fuga dez mil, Se não os houvera vendido o deus deles, Se não os houvera entregue o Senhor?

Moisés (Deut. 32) 31-41 —

297

31. Não é semelhante ao nosso Deus, o deus deles: Que o atestem os nossos próprios inimigos. 32. A sua vinha provém da vinha de Sodoma E dos campos de Gomorra. As suas uvas são uvas venenosas, Amargam os seus cachos. 33. Veneno de dragões é o seu vinho, Peçonha virulenta de víboras. 34. Não tenho acasc guardadas todas estas coisas, Seladas nos meus tesouros ? 35. A mim pertence o castigo, a mim a vingança, No dia em que vacilaram os seus pés. Perto está o dia de sua desgraça, E aproxima-se o seu destino fatal. VI

36. O Senhor defenderá o direito do seu povo, E se apiedará dos seus. ser vos. Quando vir que se exgota a sua força, E desfalecem escravos e livres. 37. Dirá: Onde estão os seus deuses, O Rochedo em que buscaram refúgio? 38. Os que comiam a gordura de suas vítimas, Bebiam o vinho de suas libações? Levantem-se e venham em vosso socorro E vos estendam a sua proteção. 39. Vede agora que Eu, só Eu sou Deus, E não há deus fora de mim. Sou eu quem tira e quem restitui a vida, Eu quem fere, e eu sou quem cura, E ninguém se poderá subtrair a meu poder.

V II

40. Sim, aos céus levanto a minha mão E digo: “ Eu sou o que vive eternamente: 41. Quando afio o raio de minha espada, E quando para o julgamento se preparar a minha mão, Tirarei vingança de meuS adversários, E darei o pago aos que me têm ódio.

298 ---- M o isés (Deut. 32) 42-43

42. Embriagarei de sangue as minhas flechas, E a minha espada devorará as carnes: D o sangue dos mortos e dos cativos, Da cabeça dos chefes inimigos” . 43. Aclamai, nações, o seu povo: Porque Ele há-de vingar o sangue dos seus servos, E tomará vingança de seus inimigos, E reconciliará a sua terra e o seu povo. 4 • — Rochedo: Com esta metáfora repetida muitas vezes inculoa o poeta que Deus é refúgio poderoso de seu povo (cf. w . 15, IS, 30, 31, 37; Ps. 17 (18, 3 e outros). 5 — filhos degenerados: o tex to massorético (“ peco u contra ele, não os seus filhos (mas) mas a nódoa deles” ) está alterado; benê(y) múm: filhos que des­ dizem da natureza de filhos, degenerados. 8 — jixou os limites dos povos: na opinião de alguns,"povo s” são as tri­ bos de Israel (cf. Gen. 28, 3; 48, 4 etc.); na de outros: Deus ao dividir toda a terra levou em consideração os israelitas, aos quais reservou antecipadamente umá região determinada, a terra de Canaã. 13 — levou-o a uma terra atía: isto é, fê-lo caminhar vitorioso por lugares seguros (cf. Ps. 17 (18). 34; Is. 58, 14; Hab. 3, 19). do rochedo.. . das penhas mais duras: as montanhas da Palestina, ainda que muito pedregosas, são, por Providência de Deus, ricas do que há do r:flhor (cf. Dt. 8, 7— 10; 1 Sam. 14, 25 sgs.). 14 — touros de Basan: cf. Ps. 21 (22), 13. 15 —- o amado, em hebreu yesürún, forma diminutiva (hipocorístiei,; c ■ nome de Israel. 28—35 -— deve entender-se com mais acerto dos gentios. Descreve-se aqui a su a arrogância, insensatez e malícia que os levam a juízos errados. 30 — o Deus deles, literalmente: “ o Rochedo deles” . 31 — que o alestem: experimentaram muitas vezes o poder invencível do Deus de Israel. 32 — A sua vinha, a dos gentios (que aqui se apresentam sob a imagem, da vinha, como muitas vezes Israel: v. g. Is. 5, 1— 7; Ps. 79 (80), 9— 17) é corrom­ pida e perversa como a de Sodoma e Gomorra. Por isto também os gentios me­ recem castigo e serão punidos. 34 —■estas coisas, isto é, a perversidade e malícia dos gentios são reco­ lhidas por Deus e, como os documentos antigos, conservam-se nos tesouros (erá­ rios) (cf. Os. 13, 12; lob. 14, 17) para que deponham contra eles o seu testemunho no dia do juízo.

42 — do sangue: o sangue de que se embriagam as flechas de Deus é o sangue dos mortos, e a sua espada há-de devorar a carne das cabeças deles. 43 — É a predição do triunfo de Israel, que, por algum tempo será cas­ tigado, mas depois da correção e p urificação, será pelo Senhor protegido o libertado .

A na (1 Reg.) 1-6------ 299

CÂNTICO

DE

A NA

1 Reg. (Sam.) 2 ,1 — 10 O SENHOR A B A T E OS SOBERBOS, E X A L T A OS HUM ILDES

Ana, mulher de Elcana, depois de haver consagrado a Deus o filhinho Sa­ muel, entoa um hino de ação de graças pelo benefício com que o Senhor a livrou do opróbio da esterilidade. Depois do proímio, I — em que se anuncia o argumento do poema (I). II — celebra a grandeza, o poder e a bondade de Deus (2— 10a): Deus único e poderoso tudo conhece e julga todas as ações (2— 3); eleva os fracos, confunde òs soberbos, como se vê pelo confronto dos destinos de uns e de outros (4— 8d); governa com seu poder todo o mundo (8é— 10a); III — prediz profUieamente o juízo universal de Deus e a potência do rei ungido, isto é,_ do Messias (10b— d). Este c&ntico apresenta muita afinidade com o Magnificat, que a Virgem Maria entoou para louvar a Deus em circunstâncias semelhantes.

1. E Ana orou e disse:

I

II

Exulta o meu coração no Senhor. E no meu Deus exalta-se a minha força, Dilata-se a minha boca contra os meus inimigos, Porque me regozijo do vosso socorro. 2. Não há santo como é o Senhor; Nem outro há fora de Vós, Nem rochedo semelhante ao nosso Deus. 3. Não multipliqueis as palavras orgulhosas, Nem de vossa boca saia linguagem arrogante. Deus que tudo sabe é o Senhor, Por Ele são pesadas as ações. 4. Os arcos dos fortes são partidos, È de força cingem-se os fracos. 5. Os saturados assalariam-se por pão, E os famintos levantam mão do trabalho. Sete vezes dá à luz a estéril, E a mãe de muitos filhos definha. 6. O Senhor dá a morte e a vida. Faz descer ao Scheol e de lá voltar.

300 -----Ana (1 Reg.) 7-10

7. O Senhor empobrece e enriquece, Humilha e exalta. 8. Levanta do pé o desvalido, E do esterco eleva o indigente, Para dar-lhe assento entre príncipes, E assinar-lhe um trono de glória. D o Senhor são as colunas da terra, Sobre elas assentou o mundo. 9. Guarda os passos dos seus santos, Mas os ímpios perecerão nas trevas. Não é pela sua robustez que é forte o homem: Esmagará o Senhor os seus adversários. III

10. Trovejará nos céus o Altíssimo; Julgará o Senhor os confins da terra. Dará poder ao seu Rei, E sublimará a força de seu Ungido.

1 — exalta-se a minha força: dá-se-me fortaleza e poder contra os me s. iversários (cf. Ps. 74 (75), 5; 88 (89), 18, 25; 111 (112), 9). dilata-se a minha boca, para falar em alta voz. Cf. Ps. 34 (35), 21. 3 — Deus que tudo sabe, no original, o hebraísmo “ Deus da ciência” . 5 — os saturados, .

cf. Luc. 1, 53.

8 — as colunas da terra, segundo os antigos semitas a terra era suste tada sobre colunas postas no mar (cf. Ps. 74 (75), 4; Job, 9, 6). Deus que as pôs é o supremo senhor do mundo.

10 — trovejará nos céus: o trovão é o sinal que anuncia o advento de De Cf. Ps. 17 (18), 14. confins da terra: como nos Salmos messiânicos esta expressão in­ dica a universalidade do reino do Messias (cf. Ps. 2, 8; 71 (72), 8 e outros). O rei, pois, e o Ungido ê o Messias.

juiz.

CÂNTICO

DE

DAVI D

1 Par. 29, 10— 18 SÃO VOSSAS, SEN H OR, TODAS AS COUSAS

No fim da vida, David, depois de falar, numa assembléia solene do povo, sobre as coisas oferecidas por ele e pehs príncipes, para a construção do templo, canta, alegre, os louvores de Deus, fonte de todo o bem. Ben­ diz a Deus (10) pela sua suprema majestade, pelo seu domínio sobre iodo mundo e sobre o próprio rei (11) e por que dEle provêm todos os bens (12); ét por isto} digno de louvor.

Davi d (I Par.) 10-13; Tobias (Tob. 13) 2 — 10.

E David louvou o Senhor diante de toda

301

a multidão, dizendo:

Bendito sois, Senhor, Deus de Israel, nosso pai, De eternidade em eternidade. 11. A Vós, Senhor, a magnificência e o poder, E o esplendor e a glória e a majestade. Tudo o que há, no céu e na terra, é vosso, Vossa é a realeza, Senhor, vosso o príncipe que acima de todos se eleva. 12. De Vós as riquezas e a glória, E dominais tudo com o v osso império. Nas vossas mãos, a força e o poder, Nas vossas mãos, o engrandecer e consolidar todas as cousas. 13. Agora, pois, Deus nosso, nós Vos celebramos, E louvamos o vosso nome glorioso.

11 — o príncipe.. literalmente: “ (vosso é) aquele que se eleva com chefe sobre todas as cousas” ; também o rei recebeu de Deus a sua dignidade e poder.

CÂNTICO

DE T O B I A S

Tob. 13, 2— 9 (na Vulgata 13, 1— 9) CONVERTEI-VOS AO SENHOR QUE CASTIGA E SALVA

Velho, no exílio, Tobias, após a volta do filho e a recuperação da vista, agra~ dece e louva a Deus.

I — Celebra a Deus que dá o bem e o mal (2); II — exorta os Isrmlitas a louvarem a Deus no exílio e a se conver­ terem a Ele de todo o coração, para receber a sua graça (3— 7); III — ele louvará sempre a Deus e manifestará o seu poder para que se convertam os pecadores (8— 9). A tradução ê feita do texto grego (Côd. B) que é um pouco diferente da Vulgata latina; a numeração dos versículos obedece ao texto grego (cf. os Setenta, ed. Rahlfs).

I

2. Bendito Deus que vive eternamente; A todos os séculos se estende o seu reino. Ele castiga e se apieda, Leva ao Scheol e dele retira; E ninguém se subtrai às suas mãos.

gQ2 ---- Tobias (T ob. 13), 3-9; Judith (JdL 16)

II

3. Celebrai-O, filhos de Israel, em face das nações; Que entre elas Ele nos dispersou. 4. Manifestai a sua grandeza, Cantai os seus louvores diante de todos os viventes. Ele é o Senhor nosso e Deus; É o nosso pai para sempre. 5. Castiga-nos pelas nossas iniquidades, E de novo se compadece e Vos reunirá de todas as nações, Entre as quais andais dispersos. 6. Se vos converterdes a Ele de todo o coração e de toda a alma, E andardes com sinceridade na sua presença, Voltará então a Vós, E não Vos esconderá a sua face. 7. Considerai o que Vos há-de fazer, E celebrai-o à boca cheia. E bendizei ao Senhor justo E publicai os louvores do rei dos séculos.

III

8. Eu o celebro na terra de meu cativeiro, E a uma nação pecadora manifesto o seu poder e sua grandeza. Convertei-vos, pecadores, e fazei o que é justo na sua presença; Confiai que convosco será benévolo e usará de mi­ sericórdia. 9. Direi os louvores de meu Deus e do rei do céu, E por sua grandeza exultará minha alma. CÂNTI CO

DE

JUDITH

Judith 16, 13— 17 (Vulg. 16, 15— 21). O SENHOR, C R IA D O R DO U N IV E RSO , PROTEGE 0 SEU POVO

Morto Hotofernes e libertada a cidade de Betulia, Judith, na presença de todo o povo, dá graças a Deus (Judith 16, 1— 17, L X X ) . A princípio descreve sumànamente a expedição dos inimigos, a morte de Holofernes, a vitória dos Israelitas (1— 12, versículos que não foram incluídos no cântico do Breviário Romano), em seguida

Ju dith (Jdt 16) 13-17 —

303

I — louva o poder de Deus, Criador do mundo (13— 15b) e I I — mostra como Deus protege os piedosos mas destina às penas eternas os inimigos do seu povo (15c— 17). A tradução proposta é feita do texto grego, levando em consideração o texto da Vetus latina; a numeração dos versiculos, segundo as edições do texto grego.

13. Quero cantar um hino ao Senhor, N ovo hino quero cantar ao meu Deus. Grande sois, Senhor, e glorioso, Admiráv el no vosso poder; ninguém vos sobrepuja. 14. A Vós sirvam todas as vossas criaturas, Porque Vós dissestes e elas foram feitas, Enviastes o vosso espírito e foram criadas, E nenhuma resiste à vossa palavra. 15. As montanhas e as águas agitam-se nos seus fundamentos, As pedras derretem-se, como cera, ante a vossa face. II

Mas aos que Vos temem Sois propício. 16. Pequeno é todo sacrifício em odor de suavidade, De somenos valor toda a gordura a Vós oferecida em holocausto; Mas o que teme o Senhor Será grande em todas as coisas. 17. Ai das nações que se insurgirem contra o meu povo: Delas, no dia do juízo, se vingará o Senhor dos exércitos. Entregará as suas carnes ao fogo e aos vermes. E hão-de chorar numa dor eterna. 14 — dissestes e foram feitas: cf. Ps. 32 (33), 9. 15— 16 — As palavras “ sois propicio. . . teme o Senhor” faltam na Vul­

gata (por homoioteleuton). 15 — .ás montanhas. .. agitam-se: cf. Ps. 96 (97)

5.

16 — Cf. 1 Sam. 15, 22; Ps. 39 (40), 7; 50 (51), 18; Os. 6, 6. 17 — fogo e vermes: cf. Is. 66, 24.

304 —

liclesiástico (Etl. 36), 1-12

CÂNTICO

DO

ECLESIÁSTICO

Ecl. 36, 1— 16 “ VENHA

O VOSSO

R E IN O ”

0 sábio pede a Deus que, humilhada a soberba dos gentios, faça vir o tempo desejado da restauração do povo. I — Mostre Deus, vencendo, as nações estrangeiras que é o único Deus verdadeiro (1— 5); II — como em outro tempos, também agora oprima os inimigos e esmague os príncipes contrários (6— 12); II I — reúna o povo disperso,, tenha piedade de Jerusalém, encha o teinph da glória (messiânica) (14— 16). A tradução ê feita do texto grego (cod. B), levando em consideração também o hebraico. A numeração dos versículos é a da Vulgata.

I

1. Piedade de nós, Deus do Universo, volvei para nós o vosso olhar, 2. E infundi o vosso temor em todas as nações. 3. Levantai vossa mão contra os povos estranhos, Para que experimentem o vosso poder. 4. Como à vista de seus olhos demonstrastes em nós a vossa santidade, Assim também à nossa vista mostrai neles a vossa glória! 5. Para que reconheçam, como nós reconhecemos, Que, fora de Vós, Senhor, não há outro deus.

II

6 Renovai os prodígios e reproduzi as maravilhas; 7. Glorificai vossa mão e vosso braço direito. 8. Despertai a vossa cólera e expandi o vosso furor; 9. Suprimi o adversário e aniqüilai o inimigo, 10. Acelerai o tempo e fixai o termo, Para que narrem os vossos grandes feitos. 11. Pela chama da cólera seja devorado o que tentar fugir, E precipitem-se na ruína os que afligem o vosso povo. 12. Esmagai a cabeça dos príncipes inimigos, Que dizem “ Ningem há fora de nós” ,

Eclesiástico (Ecl. 36), 13-16; Isaías (Is. 12), 1 -----

III

305

13. Reuni todas as tribos de Jacob, E restituí-lhes, a sua herança, como nos-dias de antanho. 14. Piedade, Senhor, do vosso povo, que leva o vosso nome, E de Israel a quem chamastes primogênito. 15. Piedade da cidade santa de Jerusalém, D o lugar de vossa morada. 16. Enchei Sião de vossos louvores, E de vossa glória, o vosso templo. 4

povo.



demonstrastes a vossa santidade, p u n in d o os p eca d os c o m e t id o s p

C f. E z. 28, 22; 38, 23. 6^— 9 — E m p re g u e D e u s t o d o 10 — acelerai o termo. . .

o seu p o d e r p ara d estru ir os in im ig os.

o tempo, isto ê, te m p o m essiân ico e m q u e se

h ã o -d e reu n ir 'os rem a n escen tes d o p o v o disperso p e lo m u n d o (v . 13) e se h á -d e m a n ifesta r n o te m p lo a g lória d o S e n h o r (v . 16; c f. A g g . 2, 9). 11 — pela chama da cólera seja devorado: cf. 4 R e g . 1, 10— 12. 12 — a cabeça dos príncipes inimigos, isto é, d o s Selêueid as d a S íria , q u e n a q u e la ó p o ca (p rin cíp ios d o séc. 2, a . C . ) , h a v e n d o o c u p a d o a P a lestin a , ten ­ ta v a m im p o r aos ju d e u s os cu lto s e os co stu m es h elen ísticos.

O te x t o h e b ra ico

te m “ d os p rín cip e s de M o a b ” , referidos sim b ò lica m e n te p o r t o d o s in im ig os.

C f.

N u m . 24, 17.

Ninguém há fora de nós: cf. Ls. 47, 8 .1 0 13 — • S o b r e a reu n iã o d e to d a s

(d a so b e r b a d e B a b ilô n ia ).

as trib os n a era m essiân ica, cf. Is. 11,

11— 16; J e r .. 3, 18. 14 — Israel é chamado com o nome d e seu D e u s “ p o v o d e I a h w e h ” .

primogênito: c f. E x. 4, 22 : Ier. 31, 9.

CÂNTICO Is.

12,

DE I S A Í AS 1— 6

JÚBILO DO POVO RESGATADO

Depois de haver descrito grandiosamente nos cc. 7 — 11, o advento do M es­ sias Emanuel e a sua obra, conclui esta série de vaticínios com louvores e ações de graça. 1 — 0 povo remido celebra a Deus, seu libertador (1— 2); II — Os Israelitas, haurindo a água das jontes da sahação, anun­ ciam a todos os povos os altos feitos e a grandeza do Deus de Israel (3—-6).

1. E naquele dia dirás

Graças vos dou, Senhor; estáveis irritado contra, mim, Mas se aplacou a vossa cólera e me consolas tes.

306 ----- Isaías (Is. 12) 2-6; Ezequias (Is. 38), 10

2. Vêde: Deus é minha salvação, Terei confiança e não temerei: Que o Senhor é minha força e minha fortaleza, E para mim se tornou Salvador. II

3. E com alegria haveis de haurir as águas Das fontes de salvação; 4. E direis naquele dia: Dai graças ao Senhor e aclamai o seu nome; Publicai entre os povos os seus grandes feitos, Anunciai que excelso é o seu nome, 5. Cantai hinos ao Senhor que fez cousas gloriosas; Que isto se divulgue em toda a terra. 6. Exultai e louvai os que morais em Sião, Porque grande, no meio de vós, é o Santo de Israel.

2 — minha fortaleza, em hebreu zimrã(i); of. Eg. 15, 2; Ps. 117 (118), 14; Jou on , Gram. hebr. 89 n. 3 — fontes de salvação, ab u n d a n te s o perenes, signi f ica m a g ra ça e a b ên ­ ç ã o d a era m essiân ica of. I o h . 4, 13; 7, 37— 39 ; A p o o . 7, 17; 21, 6. C o s t u m a v a ca n ta r-se este v e rso na festa d o s T a b e r n á cu lo s e n q u a n to se d e rr a m a v a n o a lta r a á g u a le v a d a d a fo n te d e S iloé. 6 — S a n to d e Israel: cf. P s. 70 (71), 22; 7 7 (78), 4 1 ; 88 (89), 19.

CÂNTICO Is.

DE 38,

EZEQUIAS 10— 22

ANGÚSTIA DO REI MORIBUNDO, ALEGRIAS DO REI RESTABELECIDO Convalecidn de enfermidade mortal (ís. 38, 1— 5) o rei Ezequias I — rejere os sentimentos e as suas queixas durante a doença e ante

o receio da morle iminente

(10— 14 );

I I — considerando o beneficio da cura, irrompe em

de graças (1 5 — 20).

I

10. Eu dizia: N o meio de meus dias, Vou-me às portas do Scheol, Defraudado do resto dos meus anos.

alegria e ação

Ezequias (Is. 38), 11-20 ----- 307

11. Eu dizia: Já não hei-de ver o Senhor, Na terra dos vivos; Já não v erei homem algum, Entre os habitantes da terra. 12. Desfeita será a minha habitação E levada para longe de mim como uma tenda de pastores. Como um tecelão, urdia a minha vida, E ele arrancou-me do fiar. Dia e noite me atormentais. 13. Gritei até à manhã. Ele como um leão partiu-me todos os ossos. Dia e noite me atormentais. 14. Pipilo como a andorinha, Gemo como a pomba. Fatigam-se-me os olhos de olhar para o alto: Senhor, sofro violência, ajudai-me. II

15. Que direi? Ele falou-me, Ele fez! Completarei todos os meus anos, Vencida a amargura de minha alma. 16. Os a quem Deus protege, vivem, E entre eles se completará a vida do meu espírito: Vós me curastes e me conservastes vivo! 17. Eis que em saúde se mudou a minha amargura: Preservastes a minha vida da fossa de perdição; E atirastes para trás todos os meus pecados. 18. Por certo, não Vos celebra o Scheol, Nem canta a morte os vossos louvores; E os que descem na fossa Não esperam na vossa fidelidade. 19. Celebra-Vos quem vive, sim, quem vive, Como eu, neste dia. Aos seus filhos fará conhecer o pai A vossa fidelidade. 20. Salva-me o Senhor; Cantaremos os nossos hinos,

3 0 8 ----Ezequias

(Is. 38); Isaias (Is* 45)

Todos os dias da nossa vida Na casa do Senhor. O sentido que

texto

d este c â n tic o ach a -se t ã o a lte ra d o e n ã o

m u ito s p assos d a tra d u çã o são b e m

ra ro t ã o o b s c u r o é

d u v id o s os.

10 — na metade dos meus dias, isto é, an tes qu e a v id a chegasse a o te rm o o rd in á rio d o s a n o s; c f. P s. 54 (55), 24 ; 101 (1 02), 25. 11 —



não hei-de ver o Senhor na terra: só n e sta v id a p o d e o h o m e m

“ v e r a D e u s ” , isto é, v e n e rá -lo nas solen id ad es d o cu lto , v isita r-lh e o te m p lo , g o za r d e seus fa v o r e s e b e n e fício s (c f. P s. 10 (1 1), 7) e con v e rsa r c o m o s h om en s. 12 — C o m d uas fig u ras d escre v e a m o rte : a d a te n d a d o b r a d a q u a n d o os p a stores e m ig ra m e a d a tela, qu e, c o rta d o o fio , é en ro la d a p e lo te ce lã o , se m ser a ca b a d a . 13 — como um leão, partiu-me, isto é, D e u s qu e lhe m a n d o u a en ferm i­ d a d e. 15 — que direi, isto é, c o m o p o d erei expressar c o m p a la v ra s a alegria e g ra tid ã o p e la saú d e in esp erad am en te r e cu p e r a d a ?

completarei todos os meus anos, à letra “ seguirei (tra n q ü ila m en te, aleg rem en te) p o r t o d o s os m eus an o s” qu e ain d a m e resta m p ela v o n ta d e d e D e u s .

vencida a amargura, e m heb reu al [mar,] p re p o siçã o q u e sig n ifica ta m b é m qu e se fa z algu m a cou sa “ a lé m ” d e ce rto te m p o o u lugar (c f. L e v . 15, 2 5 ). 16 — m o d o s.

os a quem protege, este t e x to m u ito o b s c u ro é in te rp re ta d o de v á r io s ’ ãdõnãy alê(y)em são to m a d a s c o m o

N a tra d u çã o seguid a, as p a la v ra s

p r o p o s iç ã o

relativ a .

entre eles se completará, literalm en te “ de m o d o q u e c o m p le te ... a v id a ” .

C f. J o ü o n , Gram. hebr. 1240). 17 — se mudou... a amargura; e m h eb r.

mãr... mar; n ote-se o jo g o d e

palavras. atirastes para trás, isto é, já não vedes nem cuidais, esquecestes (cf. 3 Reg. 14, 9; Ez. 23, 35; Ps. 49 (50), 17). 18 — O s m o rto s n e m p o d e m lo u v a r a D e u s n o c u lto p ú b lic o e solen e (P s. 6, 6; 2f9 (3), 10; 8 7 (88), 12; 113 (115), 17) n e m n o e sta d o e m q u e se e n c o n tr a m a n tes d a m o rte de C risto, re ce b e m os b e n e fício s de D e u s, c o m o q u a n d o se a c h a v a m n a terra (c f. P s. 87 (88), 6).

CÂNTICO Is.

45,

DE I S A Í A S 15— 2 6

CONVERTAM-SE TODOS OS P OVOS AO SENHOR QUE É O ÚNICO DEUS VERDADEIRO

Depois de haver predito no começo do capítulo 45 que o rei Ciro havia de libertar os exilados (v. 13), o projeta

Isaías (Is. 45), 15-21-------309

I — pondero.; a grandeza desse beiiejício (15— 17), em seguida I I — introduz o próprio Deus falando e expondo seus secretos de­

sígnios (1 8— 2 5 ): só Ele é Deus sábio (1 8— 1 9 ); de há muito, na sua sabedoria, havia predito estas coisas (20— 2 1 ); por isto, convertam-se todos os povos ao único Deus verdadeiro e lhe prestem obséquio para conseguir a salvação (22— 25).

I

15. Em verdade, sois um Deus escondido, Deus de Israel, Salvador. 16. Confusos estão e envergonhados Todos os seus adversários. Cobertos de ignomínia se foram Os fabricadores de ídolos. 17. Com salvação eterna foi salvo Israel pelo Senhor; Não sofrereis confusão nem vergonha pelo séculos sem fim. II

18. Pois assim fala o Senhor, criador dos céus, O mesmo Deus que formou a terra, Que a fez e consolidou. Não a criou para ficar vazia, Formou-a pará ser habitada. “ Eu sou o Senhor, e não há outro. 19. Não falei em oculto, Em algum lugar obscuro da terra; Não disse à descendência de Jacob: ‘ Haveis de procurar-me em vão!' Eu. sou o Senhor que promete a justiça, E anuncia a eqüidade. 20. Reuni-vos e vinde, aproximai-vos todos Os que fostes salvos dentre as gentes. Insensatos são os que levam o seu ídolo de madeira, E invocam um deus que não pode salvar. 21. Enunciai, falai, consultai justos: Quem anunciou estas coisas desde o princípio? E desde então as predisse ? Por ventura não sou eu o Senhor? E não é assim que não há outro Deus senão eu? Deus justo e salvador, Não o há fora de mim.

310 — Isaías (Is. 45), 22-24; Jeremias (Jer. 31)

22. Voltai-vos a mim e sereis salvos, Vós, todos os confins da terra. Porque eu sou Deus e não há outro. 23. Por mim mesmo juro, De minha boca sai a verdade, Palavra que não será revogada: Diante de mim dobrará todo o joelho, E prestará juramento toda a língua. 24. Só no Senhor, dirão de mim, Há justiça e força, Dele se achegarão confundidos Todos os que lhe resistiram. No Senhor será justificada e glorificada Toda a descendência de Israel” .

15 — Deus escondido: que age de modo a nós escondido e até agora desconhecido pelos gentios. Parece que são os próprios gentios que falam (cf. v. 15). Por isto, muitos autores, em lugar de ’attâ(h) preferem ler ’ittãk: “ contigo (Israel) está um deus escondido” (que nós até agora não conhecemos). A vitória de Ciro mostrou que Jahweh é o único Deus e Salvador (v. 6). 18 — O mesmo Deus, isto é, o único verdadeiro Deus, em hebreu hã’ êlõhím vazia, em hebreu tõhú (cf. Gen. 1, 2), palavra que se explica pela intenção oposta (“ para scr habitada” ). 19 — não... em oculto, como os deuses dos gentios que costumavam enunciar os seus oráculos em escuras cavernas e na presença de poucos iniciados haveis de procurar-me em vão, isto é, sem conhecer os desígnios de Deus, levados por oráculos ambíguos ou ainda por mentiras. 20 — levam: nas procissões solenes estes deuses “ são levados” , pois “ têm pés mas não podem andar” (cf. Ps. 113 (115) 15; Bar. 6, 25).

CÂNTICO

Jer.

DE

31,

J EREMI AS

10— 14

FELICIDADE DO POVO LIBERTADO

Depois de haver predito a restauração de Israel e a volta das tribos a Jeru­ salém, (1— 9), Jeremias I — adverte aos próprios gentios para que anunciem a libertação do povo de Israel (10, 11); a seguir, II — por meio de várias figuras declara qual será a felicidade e a alegria dos que hão-de voltar (12— 14).

Jeremias

I

(Jer. 31), 10-14; Três Mancebos (Dan. 3) -----

311

10. Ouvi, nações, a palavra do Senhor, E anunciai-a nas ilhas longínquas; E dizei: Aquele que dispersou Israel, há-de reuni-lo. E guardá-lo, como um pastor, o seu rebanho. 11. Porque o Senhor resgatará Jacob, E livrá-lo-á das mãos do mais poderoso.

II

12. E hão-de voltar com gestos de alegria à montanha de Sião E correr aos bens do Senhor, Ao trigo, ao vinho e ao azeite, Ãs crias das ovelhas e das vacas. E será sua alma como jardim regado, E não continuarão a definhar. 13. Alegrar-se-á então a donzela na dança; E os moços e os anciãos juntos. E trôearei em gozo o seu luto, E os consolarei e regozijarei, passada a tristeza. 14. E refocilarei com abundância a alma dos sacerdotes, E viverá o meu povo na fartura de seus bens.

nas ilhas (cf. Ps. 96 (97), 1): nas costas marítimas bem remotas. 12— 14 — Descreve-se a felicidade e a alegria com as figuras tiradas da felicidade da vida humana. Muitas vezes, nos profetas são elas o sím­ bolo da felicidade espiritual e sobrenatural, como bem mostra a sua verificação no N ovo Testamento. 12 — fardim regado, símbolo de amenidade e abundância. 14 — abundância: a palavra distn ou significa a abundância (cf. Ps. 64 (65), 12) das oferendas e vítimas de que se podia alimentar no templo o sacer­ dote, ou designa os bens da alma, as delícias do espírito (cf. Ps. 35 (36), 9). A úl­ tima explicação parece preferível.

CÂNTICO Dan.

D O S TRÊS M A N C E B O S 3,

52— 88

(L X X )

BENDIZEI TODAS AS O BRAS DO SENHOR AO SENHOR

Os

três mancebos Sidrach, Misach e Abdenago, atirados ò fornalha ardente, por sua fidelidade a Deus, e conservados incólumes, cheios de alegria “ como se fora uma só boca louvavam, e glorificavam e bendiziam a Deus na fornalha, dizendo” este cântico que só foi conservado no texto grego. Na -primeira

312 —

Três Mancebo s (Dan. 3), 52-63

parte {A : 52— 56) são os próprios mancebos que louvam a Deus; na segunda (B: 57— 90) são convidadas a louvar a Deus “ todas as obras do Senhor” (5 7 ): I — as criaturas celestes (58— 63); I I — todas as jorças do ar e as vicissitudes do tempo (6 4— 7 3 ); I I I — iodas as criaturas irracionais que se encontram na terra (7 4— 8 1 ); I V — todos os homens e principalmente Israel (82— 8 7 ); por jim, V — os três mancebos louvam a Deus pela siia incolumidade e con­

vidam aos servos de Deus a louvá-lo (8 8— 90). A primeira parte do cântico mais o v. 37, recita-se no Breviário Romano nas Laudes I I de Domingo; da segunda parte recitam-se nas mesmas Laudes I os vv. 57— 88, aos quais no jim. se acrescenta o v. 56. — Na parie B depois de cada membro acrescenta-se “ louvai-o e sobre-exaltai-o nos séculos” , mas esta adição, que aqui omitimos, teve a sua origem provável na liturgia do tempo. — —- A tradução ê jeita do texto grego.

A 52. Bendito sois, Senhor, Deus de nossos pais; E digno de ser louvado e sobre-exaltado para sempre. E bendito é o vosso nome santo e glorioso, E digno de ser louvado e sobre-exaltado para todo sempre. 53. Bendito sois no templo de vossa santa glória, E digno de supremo louvor e glória para sempre. 54. Bendito sois no trono do vosso reino, E digno de supremo louvor e exaltação para sempre. 55. Bendito sois Vós, cujo olhar penetra os abismos, Sentado sobre os querubins; B digno de ser louvado e superexaltado para sempre. 56. Bendito sois no firmamento do céu, Digno de louvor e glória para sempre. B 57. Obras do Senhor, bendizei todas ao Senhor, Louvai-o e sobre-exaltai-o para sempre. I

58. Anjos do Senhor, bendizei ao Senhor, 59. Céus, bendizei ao Senhor 60. Aguas todas que estais acima dos céus, bendizei ao Senhor; 61. Exércitos do Senhor, bendizei todos ao Senhor. 62. Sol e lua, bendizei ao Senhor, . Estrelas do céu, bendizei ao Senhor,

Três Mancebos (Dan. 3), 64-88 —

II

313

64. Chuva e orvalho, bendizei ao Senhor; 65. Ventos todos, bendizei ao Senhor. 66. Fogo e calor, bendizei ao Senhor. 67. Algidez e frio, bendizei ao Senhor. 68. Rocios e chuvas, bendizei ao Senhor 69. Gelo e geada, bendizei ao Senhor. 70. Saraiva e neves, bendizei ao Senhor. 71. Noites e dias, bendizei ao Senhor. 72. Luz e trevas, bendizei ao Senhor. 73. Raios e nuvens, bendizei ao Senhor.

III

74. Bendiga a terra ao Senhor. Louve-o e sobre-exalte-o para sempre. 75. Montanhas e colinas, bendizei ao Senhor. 76.

Plantas todas que germinais na terra, bendizei ao Senhor. 77. Fontes, bendizei ao Senhor. 78.

Mares e rios, bendizei ao Senhor.

79. Monstros e tudo o que se agita nas águas, bendizei ao Senhor. 80. Aves todas do céu, bendizei ao Senhor. 81. Feras e rebanhos, bendizei ao Senhor. Louvai-o e sobre-exaltai-o para sempre. IV

82. Filhos dos homens, bendizei ao Senhor. 83. Israel, bendizei ao Senhor. 84. Sacerdotes do Senhor, bendizei ao Senhor. 85. Servos do Senhor, bendizei ao Senhor. 86. Espíritos e almas dos justos, bendizei ao Senhor. 87. Santos e humildes de coração, bendizei ao Senhor. 88. Ananias, Azarias, Misael, bendizei ao Senhor. Louvai e sobreexaltai-o para sempre.

53— 54 — no templo da vossa santa glória... no trono do vosso reino: na opinião de alguns significa o sacerdócio e a dignidade real instituída por Deus em Israel; na de outros, o templo e o trono celeste de Deus. Parece mais provável esta explicação. 60 — águas... que estais acima do Céu: cf. Ps. 103 (104) 3, 13; 148, 4. 61 — todos os exércitos do Senhor (sebã’ôt Yahwe (h) significam aqui os astros (cf. D t. 4, 19, 17, 3; 4 Reg. 17, 16, etc.).

314 —

Tiês Mancebos (Dan.

67— 68 — fa lta m lá tin a .

8); Habacuc (Hab. 3), 2-5

e m T h e o d o tio n

(C o d V a t.), na P e sh itto e n a V e tu s

P ro v à v e lm e n te p r o v é m de o u tr a tra d u çã o d o m esm o te x to h eb ra ico. 85 — servos do Senhor, isto é, os le v ita s e o u tro s m in istros d o te m p lo . 86 — espíritos e almas dos justos: as energias d a in te lig ên cia e d a v o n ta d e ,

e t o d o s os a fe to s e a p etites, isto é, to d a s as fa cu ld a d e s internas d os ju stos. 87 — santos ( hsaídim), isto é, os p ie d o so s serv o s de D e u s e o s h u m ild es d e co ra çã o (ínãrv‘ãm o u ‘ániyyímm) qu e a D e u s se su b m e te m c o m o b ed iên cia .

CÂNTICO Hab.

DE H A B A C U C 3,

2— 19

TERRÍVEL JU Í ZO DE DEUS SOBRE O S GENTIOS

Depois de anunciar nos cc. 1 e 2 que Deus havia de castigar severamente os opressores e injustos, o projeta descreve, num poema sublime, o advento do Senhor, juiz. I —

II — III — IV — V —

Tomado de terror pede a Deus que, ao lado das manifestações de sua cólera, use também, da sua misericórdia (2 ); depois, descreve um terrível advento de Deus juiz, a cuja chegada treme a terra e se aterrorizam os homens (3— 7 ); e o tremendo juízo de Deus relativo à terra (8— 11), o juízo dos gentios, inimigos de seu povo (1 2— 15); ante a descrição deste juízo treme o profeta, mas, tranqüilo no meio dos mates, confia em Deus salvador.

1. Oração. D e Habacuc profeta. Segundo o modo das lamentações (? ).

I

II

2. Ouvi, Senhor, o vosso oráculo, Vi, Senhor, a vossa obra. Manifestai-a no decurso dos anos, N o decurso dos anos tornai-a conhecida; N o momento da cólera lembrai-Vos da misericórdia. 3. Deus vem de Theman, E o Santo da montanha de Pharan. Sua majestade cobre o céu, E de louvor está cheia a terra. 4. E como a luz o seu esplendor, De suas mãos saem raios, Nos quais se oculta a sua potência. 5. Diante dele marcha a Peste, E a Febre segue os seus passos.

Habacu c (Hab. 3), 6-16 —

3 }5

6. Para e faz tremer a terra; Olha e sacode as nações. Desconjuntam-se as montanhas eternas, Prostram-se as colinas antigas: Sobre elas avança desde a eternidade. 7. Perturbadas vejo as tendas de Cusan, Tremem os pavilhões da terra de Madian. III

8. Acaso é contra os rios que se irrita, Senhor, Contra os rios, a vossa cólera? Contra o mar, o vosso furor, Quando montais nos vossos cavalos, Nos vossos carros vitoriosos? 9. Desembainhado levais o vosso arco. De flechas encheis a vossa aljava. Em torrentes dividis a terra; 10. Ao ver-Vos estremecem as montanhas. Irrompe uma tromba d’água, Solta as suas vozes o oceano; 11. Esquece 0 sol a luz do seu nascer; Na sua morada permanece a lua, Ante a claridade das vossas flechas que voam, Ante o esplendor da vossa lança fulgurante.

IV

12. Em cólera, percorreis a terra, Em furor, esmagareis as nações. 13. Sais para salvar o vosso povo, Para salvar 0 vosso ungido. Derribais a cumieira da casa do ímpio, E lhe descobris os fundamentos até a rocha. 14. Atravessais com as vossas lanças a cabeça d os seus guerreiros, Que se atiram para me fazer em pedaços, E exultam como quem às escondidas devora um pobre. 15. Precipitais no mar os seus cavalos, No lodo das muitas águas.

V

16. Ouvi e tremeu a minha carne, A esta voz fremiram os meus lábios, Nos meus ossos penetrou a sânie, E titubiaram os meus passos.

316 — liabacuc (Hab. 3), 17-19

Tranqüilo espero o dia da tribulação, Que há-de nascer para o povo que nos oprime. 17. Ainda que não floreça a figueira, Nem se carreguem as vinhas de fruto, Ainda que falte o trabalho da oliveira, Nem produzam os campos alimento, Ainda que do redil desapareçam as ovelhas, E dos estábulos, o gado, 18. Eu exultarei no Senhor, Alegrar-me-ei em Deus, meu Salvador. 19. O Senhor, poderoso, é minha força, Fará que sejam os meus pés semelhantes aos da corça, E me conduzirá para as alturas. 0

te x to d este p o e m a está ba sta n te a lte ra d o ; o sen tid o, p o r causa das

m e tá fo ra s fre q ü e n te s, é n ã o raro o b scu ro .

P o r isto, n e m sem pre se p o d e d ar u m a

tr a d u ç ã o segura. 1 —

O se n tid o d a p a la v ra sigyõnôt n ã o é ce rto (cf. P s. 7, 1).

oráculo p re ce d e n te re la tiv o a o ca stig o d o s in im ig os d o p o v o d e D e u s; vossa obra: o p ró p r io ju íz o qu e o p ro fe ta v iu n a v isã o. 2 —

3 —

Theman (cid a d e e m E d o m ) e Pharan (d eserto n a reg iã o seten trion a l

d a p en ín su la sin a ítica ) são as regiões das quais p a rtiu o p o v o de Israel so b a d ire çã o d e D e u s , n a arca, p a ra a co n q u ista d a terra de C an aã.

D a li ta m b é m p a rte agora

o S e n h o r p a ra o ju íz o . 4 —

E stes raios v e la m a potência ou m a g n ificê n cia de D eu s, c u jo a s p e c to

n ã o p o d e m su p o rta r os hom ens. 6 —

sobre elas (colin a s) avança desde ioda a eternidade, à letra “ (sob re

as q u a is) os seu s p assos são e te rn o s ” ; so b re D e u s q u e a v a n ç a sob re as m on ta n h a s. C f. A m . 4, 13; M ic h . 1, 3.



É u m a expressão sim b ó lic a d a m a jes ta d e etern a

e d o p o d e r d e D e u s. 7 —

Cusan ( Kúsãh ) p a re ce q u e é Kús} certa reg iã o d a A rá b ia (c f. J o b .

28, 19): o s q u e m o r a m nas ten d as d o d e serto d a A rá b ia tre m em saltead os de m e d o . 11



O te rro r in c u tid o p or D e u s é ta n to q u e já n ã o ap a recem o sol

a lu a ; as tre v a s n ã o são ilu m in a d as sen ão p e lo s fu lgores de D e u s qu e ch ega.

— tranqüilo espero (C f. 1 S am . 25, 9; Is. 14, 7): n ã o p erg u n to im p a

16

en te (c o m o H a b . 1, 2 — 3; 17; 2, 1) até q u a n d o os m au s n os h ã o -d e op rim ir im p u n e ­ m en te, m a s e sp e r o tra n q ü ilo até qu e su rja o d ia d a trib u la çã o qu e h á -d e aflig ir o p o v o q u e n o s a g rid e (de c u jo ca stig o tra ta m os v v . 13— 15). 17— 18 —

... ainda que a figueira... eu: ain d a qu e se ja m m u ito tris te s

as c o n d iç õ e s p resen tes, eu m e a legro; estou ce rto qu e D e u s n os h á -d e s o c o r re r . 19 —

C f. P s. 17 (18), 33 sgs.; D t , 32, 13; Is. 58, 14.

N o te x to h e b ra ico , acrescen ta-se; “ A o M e stre de ca n to.

C o m in s tr u m e n to s

de c o r d a ” , p á la v ra s qu e se d e v e m e x p lica r c o m o n a in scriçã o d os S a lm os, n ã o c o m o u m in ciso d o v . 19 d o p ró p rio C â n tic o .

Bem-aventurada Virgem Maria (Luc. X), 46-55 — 3 17

CÂNTICO DA BEM-AVENTURA DA V IRGEM MARIA

Luc.

1,

46— 55

“ GLORIFICA MINHA ALMA AO SENHOR

A bem-aventurada Virgem Maria, saudada por Isabel, como " mãe do meu Senhor” , movida do espírito profético, I — louva a Deus que, peta sua misericórdia, potência e santidade, lhe fez tantas graças que todas as gerações futuras hão-de pro­ clamá-la bem-aventurada (46— 50); II — explica a norma geral de proceder de Deus: eleva os humildes, abate os soberbos (51— 53);

III — por fim, preconiza a fidelidade de Deus a Abraão e a descendentes; cumprindo agora pelo seu filho as promessas que lhes havia fcito{ 54— 55).

I

46. Glorifica Minha alma ao Senhor; 47. E exulta o meu espírito Em Deus, meu Salvador, 48. Por haver posto os olhos na baixeza de sua serva: De hoje em diante eis que me chamarão bem-aven­ turada todas as gerações, 49. Cumpriu em mim grandes desígnios o Poderoso, E santo é o seu nome. 50. E, de geração em geração, se estende a sua misericórdia, Por sobre os que o temem.

II

51. Expandiu a força de seu braço; D ispersou os que se orgulhavam nos pensamentos de seu coração. 52. Depôs do trono os poderosos, E exaltou os humildes. 53. Aos famintos encheu de bens, E aos ricos despediu vazios.

III

54. Tomou sob a sua proteção Israel, seu servo, Lembrado da sua misericórdia, 55., Como dissera aos nossos pais, Em favor de Abraão e de sua posteridade para sempre.

3 1 8 ----- Zacarias (Luc. 1), 68-78

CÂNTICO Luc.

DE Z A C A RI AS 1,

68— 79

Nascido o precursor, seu pai Zacarias, solta já da mudez a língua, e ani­ mado de espírito profético, I — louva a Deus pela salvação messiânica que, verificados os antigos valicínios, já chegou trazendo a libertação do pecado e a graça de uma vida santa e justa (68— 75); II — voltando-se em seguida para o filho prediz que ele será o pre­ cursor do Senhor e o mensageiro da salvação que há de trazer o Messias com a remissão dos pecados (76— 79).

I

68. Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, Porque visitou e remiu o seu povo, 69. E suscitou uma força para nos salvar, Na casa de David seu servo, 70. Como havia prometido pela boca dos santos, Dos seus profetas, desde os tempos antigos: 71. Para livrar-nos dos nossos inimigos, E das mãos de todos os que nos tem ódio, 72. Para usar de misericórdia com os nossos pais, E lembrar-se de sua santa aliança; 73. E do juramento que fez a Abraão, nosso pai, De se dar a nós, 74. A fim de que, sem temor, livres das mãos de nossos inimigos, O sirvamos, 75. Em santidade e justiça na sua presença, Por todos os nossos dias.

II

76. E tu, menino, profeta do altíssimo serás chamado; Porque irás diante da face do Senhor, Para preparar os seus caminhos, 77. Para dar conhecimento da salvação a seu povo, Na remissão de seus pecados, 78. Pelas entranhas da misericórdia de nosso Deus, Com quo noa há de visitar do alto este Sol nascente.

Zacarias (Luc. 1), 79; Simeão (L uc. 2), 29

— 319

79. A fim de alumiar os que jazem Nas trevas e nas sombras da morte, E dirigir os nossos passos, No caminho da paz. 68 — visitou, em hebreu paãqad, palavra que se diz de Deus em quanto tem cuidado dos homens e os enche de graças e dons. 69 — Força que salva (córnu salutis), isto é, salvação poderosa e abun­ dante. 71 — Dos inimigos... que nos têm ódio: cf. Ps. 17 (18), 18, 41; 105 (106), 10 etc. 72 — com os nossos pais: não só porque as promessas que lhes foram feitas se cumprem nos seus filhos, mas também porque eles, participando dos frutos da redenção, hão-de entrar no céu. 73 — do juramento: cf. Gen. 22, 16— 18; 26, 3. 74— 75 — Os frutos da redenção são a libertação do pecado (74) e a viua santa e justa (85). 77 — João ensinará ao povo que o Messias trará a salvação pela remissão dos pecados. A índole do reino messiânico será espiritual, não terreno. 78 — Esta salvação deve-se às entranhas da misericórdia de Deus, isto é, à plenitude íntima da misericórdia com que Deus “ visita” o seu povo. Sol nascente do alto, em grego, àvaroXfi, é chamado Messias que é grande luz (Is. 9, 2) luz dos povos (Is. 42, 6; 49. 6), sol de justiça (Mat. 4, 2), nascente do atto, isto é, vindo do seu alto trono dos céus; Os L X X e a Vulgata também em Zach. 6, 12 trazem Nascente como nome do Messias, onde no hebraico se lê sèmah (“ germen” ). 79 — nas sombras da morte, em hebreu salmawet (deve-se ler "trevas densas” ; cf. Ps. 22 (23), 4; 43; (44), 20; 106 (107), 10.

salmút?),

Também aqui se indica a natureza espiritual do reino messiânico. O Messias trará a remissão dos pecados (77) e ensinará os homens a viver com retidão e santidade.

CÂNTICO

DE

SIMEÃO

Luc. 2, 29—32 O velho Simeão, santo e justo, depois que viu com seus olhos o Salvador e o tomou nos braços, exultando de alegria, já não deseja coisa alguma na terra, sabendo que veio o Messias, luz dos gentios e glória de Israel.

29. Agora sim, Senhor, podeis despedir o vosso servò Em paz, segundo a vossa promessa.

3 2 0 ----- Simeão (Luc. 2), 30*32

30. Porque viram estes meus olhos, A salvação que de Vós vem, 31. Que preparastes Ante a face de todos os povos, 32. Luz que há-de alumiar as gentes, E glória de Israel, vosso povo. 29 — podeis despedir (dimittis): da servidão que é a vida do homem. na terra. 31— 32 — Ante a face de todos os povos: o santo velho entendeu que a salvação messiânica não se destinava só aos judeus, mas, como haviam predito os profetas, a todos os povos. Para estes, o Messias será luz que lhes levará a revelação; para o povo de Israel será glória, porque a ele prometido, dele nasce (Ioh. 4, 22; Rom. 9, 4.5) a ele anuncia por primeiro a salvação (Act. 13, 26; Rom. 1, 16).

ÍNDI CES

ÍNDICE

DAS MATÉRIAS [Págs.]

P R E F Á C IO ....................................................................................................................

5

M OTU PRO PRIO D E PIO PAPA X II: In colidianis precibus......................

7

IN TR O D U Ç ÃO I . Os Salmos e o Saltério.............................................................................

11

1. Gênero e argumento dos Salmos......................................................

11

2. O livro dos Salmos........................... ..................................................

13

3. Título dos Salmos...............................................................................

14

4. Autores dos Salm os...........................................................................

15

5. Textos e versões dos Salmos.............................................................

17

II. A nova versão latina.................................................................................

19

1. Constituição crítica do texto............................................................

19

2. linguagem e estilo da nova tradução.............................................

20

3. Estrutura poética e ritm o..................................................................

22

SOBRE A TRA D U Ç Ã O P O R TU G U E SA ...........................................................

23

SALM OS 1— 150..........................................................................................................

27

CÂ N TICO S D O B R E V IÃ R IO R O M A N O ..........................................................

289

ÍNDICE

DOS

SALMOS

POR O RDEM ALFABÉTICA

(Segundo a Vulgata) SALMOS

[P á g S .]

119 Ad Dominum cum tribularer...............................................................................

250

27 Ad te, Domine, clam abo.............................. .................. ...............................

65

2 4 A d te, Domine, leva vi animam...........................................................................

60

122 Ad te levavi oculos m eos......................................................................................

253

28. A fferte D om ino..................... ■■•...................................................................... ••

66

77 Attendite, popule m eus. . ......... . . . . . . . .............................................................

152

48 Audite haec, omnes gentes............................................. .................................

101

118 Beati immaculati...................................................................................................

236

127 Beati omnes............................................................................................................

257

s i itíéati quorum remissae.........................................................................................

71

40 Beatus qui intelligit ......................................................... .....................................

88

I Beatur vir, qui non abiit..................................................................... .. 111 Boatur vir, qui tim et................................................... .........................................

27 226

33 Benedieam D om inum ..................................................................................... ..

74

102 Benedic, anima mea..., et om n ia .......................................................................

200

J03 Benedic, anima mea..., Domine D eus............................................... ................

202

143 Benedietus D om inas.............................................................................................

279

84 Benedixisti;, D om ine................................................... . . . . . ................................

169

91 Bonum est confiteri...............................................................................................

185

18 Caeli enarrant........................................................................ ............................... J

51

Oantáte Domino..., can tate............................ ....................................................

190

149 ( lantate Domino..., laus ejus............ ................................... ...............................

287

vv Oantate Domino..., quia mirabilia........................ . ............. ...........................

193

74 Confitebimur tibi ................................................................................. ..

148

110 Co i teb r tibi..., in consilio......... ........................................... ...........................

225

9 Coníitebor tibi..., narrabo......................... ................. .................. ' ...................

36

326 — ÍNDICE DOS SALMOS 137 Confitebor tibi..., quoniam audisti................................................................ ....

270

104 Confitemini Domino et invocate........................................................................

206

135 Confitemini Domino..., confitemini...................................................................

266

106 Confitemini Domino..., dicant qui redem pti... ............................................

215

117 Confitemini Domino..., dicat nunc Israel.........................................................

233

105 Confitemini Domino..., quis loquetur...............................................................

209

15 Conserva m e ..........................................................................................................

44

115 Credidi.....................................................................................................................

232

4 Cum invocarem.....................................................................................................

30

129 D e profundis..........................................................................................................

259

43 Deus, auribus n ostris...........................................................................................

93

49 Deus, Deorum Dominus.....................................................................................

103

62 Deus, Deus m eus..................................................................................................

123

21 Deus, Deus meus, respice....................................................................................

55

69 Deus, in adjutorium............................................................................................

137

53 Deus, in momine tu o............................................................................................

109

71 Deus, judicium tuum ...........................................................................................

140

108 Deus, laudem meam.............................................................................................

220

66 Deus misereatur....................................................................................................

128

45 Deus noster refugium.............................. ............................................................

97

82 Deus. quis similis.................................................................................. ................

165

59 Deus, repulisti nos.................................................................................................

119

81 Deus stetit in synagoga.............................................. ...................................

164

93 Deus ultionum.......................................................................................................

187

78 Deus, venerunt gentes..........................................................................................

158

114 D ilexi........................................................... ............................................................

231

17 Diligam te ............................................ ............................................................

47

38 Dixi: Custodiam....................................................................................................

84

109 D ixit D ominus.......................................................................................................

223

35 D ixit injustus.......................................... .............................................................. 52 Dixit insipiens... Deus de caelo............................................... .................... ..

78 108

13 Dixit insipiens... Dominus de caelo...................................................................

42

140 Domine, elamavi ad te .........................................................................................

275

7 Domine, Deus meus.............................................................................................

33

87 Domine. Deus salutis...........................................................................................

173

8 Domin- Dominus noster.....................................................................................

35

142 Domino, exaudi..., auribus.......................... ........................................................

277

101 Domine, exaudi..., Et clamor meus...................................................................

197

Í N D I CE

DOS

S A L M O S — 327

20 Domine, invirtute tu a.............................. ..........................................................

54

6 Domine, ne in furore..., miserere........................................................................

32

37 Domine, ne in furore..., quoniam .......................................................................

82

130 Domine, non est exaltatum.................................................................................

260

138 Domine, probasti m e............................................................................................

271

3 Domine, quid multiplicati...................................................................................

29

14 Domine, quis habitat............................................................................................

43

89 Domine, refugium..................................................................................................

181

23 Domini est terra....................................................................................................

59

26 Dominus illuminatio..............................................................................................

63

22 Dominus regit m e..................................................................................................

58

92 Dominus regnavit, decorem...............................................................................

186

96 Dominus regnavit, exsultet.................................................................................

192

98 Dominus regnavit, irascantur.............................................................................

194

133 Ecce nunc benedicite............................................................................................

264

132 Ecoe quam bonum .................................................................................................

263

58 Eripe me de inimicis..............................................................................................

117

139 Eripe me, Dom ine.................................................................................................

273

44 Eructavit.................................................................................................................

95

144 Exaltabo te, Deus meus.......................................................................................

281

29 Exaltabo te, D om ine.............................................................................................

67

19 Exaudiat te D om inus.......................................................... .................................

53

60 Exaudi, Deus, deprecationem.............................................................................

120

63 Exaudi, Deus, orationem meam cum deprecor................................................

124

54 Exaudi, Deus, orationem meam et ne despexeris............................................

110

16 Exaudi, Domine, justltiam..................................................................................

46

39 Exspectans.............................................................................................................

86

80 Exsultate D e o .........................................................................................................

162

32 Exsultate, justi......................................................................................................

72

67 ExsurgatDeus.......................................................................................................

129

86 Fundamenta ejus..................................................................................................

172

85 Inclina, D om ine....................................................................................................

170

125 In convertendo......................................................................................................

255

10 In Domino cionfido..............................................................................................

39

113 Inescitu....................................................................................................................

228

30 In te, D omine, speravi.........................................................................................

68

70 In te, Domine, speravi..., in justitia..................................................................

138

528 — Í N D I C E

DOS

SALM OS

65 Jübilate Deo.., psalmum dicite...........................................................................

127

99 Jubilate Deo..., servite.........................................................................................

195

34 Judica, D om ine................................................. . . ...............................................

75

42 Judica me, D eus....................................................................................................

92

25 Judica me, D om ine.................. ............................. . ...........................................

62

121 Laetatus sum..........................................................................................................

252

145 Lauda, anima m ea.................................................................................................

283

147 Lauda, Jerusalem..................................................................................................

285

148 Laudate Dominum de eaelis................................................................................

286

150 Laudate Dominum in sanctis............. ................................................................

288

116 Laudate Dominum, omnes gentes......................................................................

233

146 Laudate Dominum quoniam bonua...................................................................

284

134 Laudate, nomen D om ini......................................................................................

264

112 Laudate, pueri, Dom inum ...................................................................................

227

120 Levavi oculos meos................................................................................................

251

47 Magnus Dom inus........................... ................................................. ....................

99

131 Memento, Domine, D a v id ...................................................................................

261

56 Miserere mei, Deus, miserere..............................................................................

114

55 Miserere mei, Deus, quoniam .............................................................................

112

50 Miserere mei, Deus, secundum magnam misericordiam............................. .

105

100 Misericordiam et judicium ..................................................................................

196

88 Misericórdias D om ini..................................................................................... ..

174

126 N isi Dominus aedificaverit..................................................................................

256

123 N isi quia Dom inus................................................................................................

254

36 Noli aemulari..........................................................................................................

79

61 Nonne D eo subjecta..............................................................................................

121

75 Notus in Judaea.....................................................................................................

149

46 Omnes gentes, plaudite...........................................*............................................

98

107 Paratum cor meum................................................................................................

218

72 Quam bonus Israel D eus......................................................................................

143

83 Quam dileota..........................................................................................................

167

2 Quare fremuerun t..................................................................................................

28

41 Quemadmodum desiderat....................................................................................

91

124 Qui confidunt in D om in o.....................................................................................

255

51 Quid gloriaris in malitia............................................................ ...........................

107

90 Qui habitat..............................................................................................................

183

79 Qui rcgirt Israel..,.......................... .........................................................................

101

ÍN D IC E

DOS

S A L M O S — 329

128 Saepe expugnaverunt m e ... , .............................................................................

258

68 Salvum me fac, D eus........................... ..............................................................

133

11 Salvum me fac, D omine.......................................................................................

40

57 Si vere u tiq u e........................................................................................................

115

136 Super flumina........................................................................................................

268

64 Te decet hymnus....................................... ....... ....................................................

125

12 Usquequo, D om ine...............................................................................................

41

73 Ut quid, Deus........................................................................................................

143

94 Venite, exsultemus D om ino.................................................................................

189

5 Verba mea..............................................................................................................

31

76 V oce mea ad Dominum..., et intendit m ihi......................................................

151

141 Voce mea ad Dominum..., deprecatus sum ...................... ...............................

276

ÍNDICE

DOS C Â N T I C O S

P O R OR D E M A L F A B É T I C A (Segundo o Vulgata) C ÂNTICOS

[P á g s .]

Audite, caeli (Moisés I I ) ..............................................................................................

293

Audite verbum Domini (Jeremias)............................................................................

310

Benedicite omnia opera (Três jovens I ) ....................................................................

312

Benedictus Dominus (Zacarias)..................................................................................

318

Benedictus es Domine (D avid)...................................................................................

300

Benedictus es Domine, Deus patrum (Três jovens I I ) ..........................................

311

Cantemus D omino (Moisés I ) ....................................................................................

291

Confitebor tibi, Domine (Isaias I ) ..............................................................................

305

Domine, audivi auditionem (H a b a cu c)....................................................................

314

Ego dixi: In dimidio (Ezequias)..................................................................................

306

Exsultavit cor meum (Ana).........................................................................................

299

Hymnum cantemus (Judith)...................................................................................

302

Magnificat (Virgem M aria).........................................................................................

317

Magnus es, Domine (Tobias)......................................................................................

301

Miserere nostri (Jesus Ben-Sirá)................................................................................

304

N une dimittis (Simeão)................................................................................................

319

Vere tu es Deus absconditus (Isaias I I ) ....................................................................

308

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