Curso De Psicologia Clínica

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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação

CURSO DE

PSICOLOGIA CLÍNICA

Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação

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CURSO DE

PSICOLOGIA CLÍNICA.

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

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SUMÁRIO

1. HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NO MUNDO 1.1 JOHN LOCKE E A PSICOLOGIA 1.2 A INFLUÊNCIA DE DARWIN 1.3

WUNDT:

DA

PSICOLOGIA

EXPERIMENTAL

FISIOLÓGICA

À

PSICOLOGIA DOS POVOS 1.4 PSICOLOGIA DA INTELIGÊNCIA E DA FORMA 1.5 O PRINCÍPIO DO SENTIDO 1. 6 BREVES COMENTÁRIOS SOBRE A PSICOLOGIA NO BRASIL

2. GRANDES PENSADORES DA PSICOLOGIA E AS ABORDAGENS DELES DERIVADAS 2.1 INÍCIO, O ESTRUTURALISMO 2.2 FUNCIONALISMO 2.3 WUNDT E O ASSOCIACIONISMO 2.4 PAVLOV E A REFLEXOLOGIA 2.5 BEHAVIORISMO, A PRIMEIRA POTÊNCIA 2.6 GESTALT E A PSICOLOGIA DA FORMA 2.7 PSICANÁLISE 2.8 HUMANISMO 2.8.1 PIRÂMIDE DE MASLOW 2.9 PSICOLOGIA TRANSPESSOAL 2.10 PSICODRAMA 2.10.1 JACOB LEVY MORENO 2.10.2 TEORIA DO PSICODRAMA 2.10.3 MÉTODO PSICODRAMÁTICO 2.10.4 PSICODRAMA PSICANALÍTICO 2.11 PSICOLOGIA ANALÍTICA

1. A PSICOLOGIA ENQUANTO CIÊNCIA (PSICOLOGIA CIENTÍFICA)

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2. PRINCIPAIS ÁREAS DE ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO 3. PSICOLOGIA CLÍNICA: CONCEITO

1.CONCEITO DE SAÚDE 2.SAÚDE MENTAL 3 DEFICIÊNCIA MENTAL 4 TRANSTORNO MENTAL 5 PRINCIPAIS TRANSTORNOS MENTAIS

1. AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA 2. INTERVENÇÃO 3. EQUIPE MULTIPROFISSIONAL 4. PRESENTE E FUTURO DA PSICOLOGIA CLÍNICA 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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Prefácio

A Psicologia talvez seja uma das mais controversas ciências da atualidade. Amada por uns e odiada por outros, sem dúvida ainda permanece obscura para a grande maioria. Ouve-se falar dela como ‘coisa do demônio’ dentro de igrejas católicas e evangélicas. Confundida com práticas alternativas não reconhecidas pela Ciência tradicional, muitos cientistas a vêem com maus olhos e até com certo desdém. O certo é que as pessoas normalmente costumam combater aquilo que não conhecem. Esse comportamento é no mínimo preconceituoso. Faz-se necessário conhecer para só depois exercer sobre aquilo que se conhece algum tipo de pensamento, seja de apoio ou repulsa. Mas que seja feito com fundamento. O certo é que a Psicologia provavelmente seja uma das mais complexas ciências da atualidade. A começar pelo seu próprio objeto de estudo, a pretensão de estudar a alma humana. Por mais que se estude, jamais será possível abarcar toda esta complexidade, pois o ser humano é o reflexo de interações ambientais, sociais, físicas, cognitivas e espirituais. Várias Ciências se cruzam na busca deste conhecimento, como a Neurologia, a Filosofia, as Ciências Sociais, a Psiquiatria... Tudo o que for dito perto da dimensão do ser humano envolto em sua cultura e valores será muito pouco. Tudo isso faz da Psicologia uma Ciência extremamente bela e complexa, dificílima, embora fascinante. Ninguém, jamais sairá ileso depois que dela se aproximar. E o objetivo deste curso é facilitar uma primeira aproximação com esta Ciência, que mais pergunta que responde, pois não é função da Psicologia encontrar respostas, ou soluções simples e prontas para coisas complexas, mas apenas se propõe a entender melhor quem é o ser humano e como ele age. Quero caminhar

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com você ao dar os primeiros passos rumo ao conhecimento psicológico e espero que se apaixone tanto quanto eu me apaixonei por esta Ciência, ainda tão mal compreendida. Vamos lá?

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1. HISTÓRIA DA PSICOLOGIA NO MUNDO

Desde o início dos tempos, o ser humano sempre quis compreender melhor o mundo que o rodeia, conhecendo as suas origens. Se entendermos a Psicologia como um conhecimento amplo, é possível afirmar que os mais antigos filósofos, os pré-socráticos, eram, em sua essência, psicólogos, embora não fossem assim denominados nem tivessem o seu exercício regulamentado em lei. Na busca pela indagação de si e pelo entendimento de suas origens, Várias correntes teóricas se formaram, dentre elas as duas mais importantes, tentando explicar a origem do ser humano e do Universo: O Criacionismo e o Evolucionismo. Entende-se o Criacionismo como sendo a teoria ou sistema que sustenta as espécies animais e vegetais criadas de forma distinta, permanecendo invariáveis. Houve um Ser Superior que criou todas as coisas que existem. O relato da criação do mundo encontra-se pormenorizado na Bíblia Sagrada, livro de orientação de todos aqueles que professam a fé cristã. (FERREIRA, 1993). Ao processo gradual de mudança genética em que as características de toda uma espécie são alteradas durante muitas gerações, produzindo uma mudança cuja função é proporcionar uma melhor adaptação dos indivíduos daquela espécie ao meio ambiente, processo conhecido como Seleção Natural, dá-se a denominação de Evolucionismo. (HAYES, 1997). Mas as grandes questões da humanidade não se limitaram àquelas ligadas ao Universo. O ser humano sempre se interessou por conhecer melhor a sua própria essência - De onde vim? Para onde vou? Quem sou eu? O que vim fazer nesse mundo? As respostas a estas perguntas trariam alívio para a própria angústia e inquietação inerentes ao ser humano. Era preciso entender melhor as próprias emoções, ansiedades, sentimentos, o porquê da existência, do nascimento, da morte... Faz-se necessário entender que esses questionamentos tão profundos são naturais e fazem parte do processo de autoconhecimento. Não é preciso fugir de sensações que nem sempre são confortáveis, mas enfrentá-las, tirando proveito de cada evento desagradável para encontrar o próprio equilíbrio, a própria estrada. Um dos grandes equívocos atuais provavelmente seja o de querer se livrar a todo e qualquer custo, da dor e dos sofrimentos humanos. Mas eles são parte da complexa

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natureza humana. Não há fórmulas miraculosas para fazer com que o ser humano pare de sofrer, por mais que os livros de auto-ajuda falem o contrário. Não é essa a finalidade da Psicologia, mas sim, entender a alma humana e aprender a lidar melhor com a própria existência. A partir desse breve comentário, poderíamos afirmar que a Psicologia nasce de dois ramos distintos: Da Filosofia, considerando pensadores como Aristóteles e Platão os primeiros psicólogos (ainda que não utilizassem esse termo) e da Medicina, ainda que, de forma equivocada, tentassem encontrar respostas físicas para questões emocionais (Os pensadores, 1999). Provavelmente, a primeira grande obra psicológica de que se tem notícia seja a do grande pensador Aristóteles, intitulada De Anima. Embora já se estudasse a alma humana, o termo Psicologia só aparece no século XVI, com Rodolfo Goclênio. A palavra Psicologia tem sua raiz etimológica nos termos psiché (alma) + logos (razão, estudo). É bom que se diga que a Psicologia enquanto profissão é algo ainda recente, pois a regulamentação da profissão de psicólogo acontece somente em 27 de agosto de 1962. (Data em que hoje se comemora o Dia do Psicólogo). Tem-se afirmado que a Psicologia é uma ciência com um longo passado, mas com uma curta história de reconhecimento enquanto atividade profissional e Ciência. Tal frase lança luz sobre o fato de que os povos de todos os tempos e de todas as culturas se tenham ocupado dos problemas da alma e da vida humana. A partir de alguns testemunhos escritos que nos ficaram das antigas culturas da Índia, China, Ásia Anterior, do Delta e do Nilo. A partir de mitos e contos populares, bem como de obras eruditas, pode-se concluir que as pessoas sempre refletiram sobre a alma, a morte e a imortalidade, sobre o bem e o mal, e as causas dos seus medos e preocupações. O estudo da alma humana e a existência do ser humano são eventos interligados. Daí a afirmação que a Psicologia é uma ciência em construção e de que o psicólogo é um profissional sempre em formação. Não há psicólogos prontos, visto que compreender o ser humano requer estudo incessante e a capacidade de aprender com os próprios erros. A nossa ciência ocidental, assim como a psicologia, remonta à Grécia Antiga, pelo que o antigo escrito do filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) "Acerca

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da Alma", é designado muitas vezes como o primeiro Manual de Psicologia. De fato, este grande mestre da ciência antiga tratou de quase todos os problemas que ainda hoje nos ocupam; interessou-se de modo muito especial pela questão dos fundamentos biológicos da vida anímica e do seu desenvolvimento. É do pensador Aristóteles a tese de que o todo vem antes das partes e é, portanto, mais do que o somatório das suas partes. Por exemplo: cada floresta é mais do que o somatório das suas árvores, arbustos e ervas as quais a constituem e dos animais que nela habitam, é uma totalidade própria com características especiais que pertencem à totalidade. Porém, tais totalidades existem igualmente no domínio psíquico. Este é um dos grandes fundamentos do que atualmente se intitula Psicologia da Gestalt, ou Psicologia da forma. Esta concepção opõe-se à de Wilhelm Wundt (1832-1920), de que o todo da mente é constituído a partir de processos elementares, a qual dominou, a princípio, de a moderna Psicologia Científica, orientada pelo pensamento atomista da Física. Os gregos consideravam a alma como o sopro da vida, como aquilo que vivificava a vida. Como, porém, se realizava essa vivificação foi problema que permaneceu tão discutido quanto insolúvel. Tales de Mileto, muito antes de Aristóteles, considerou o movimento como algo essencial para o processo de vivificação; alguns filósofos da Antiga Grécia pensavam que a alma era "ar", outros, que eram os odores os elementos vivificantes. (Os pensadores: Pré-socráticos, 1999). Platão (427-347 a.C.) qualifica alma de ser algo espiritual; o seu discípulo Aristóteles considerava-a como uma força, aliás, incorpórea, mas que movia e dominava os corpos. A partir de tais concepções, adquiridas exclusivamente pela especulação, existiam, contudo, também já na Antigüidade, estudos amplos sobre processos cerebrais, sobre as funções dos órgãos sensoriais e sobre perturbações destas funções em caso de lesões cerebrais. Muito se houve falar sobre a doutrina dos quatro temperamentos, sobretudo em livros norte-americanos de Psicologia. Mas a grande verdade é que esta doutrina remonta ao grande médico grego Hipócrates (cerca de 400 a.C.), retomada e desenvolvida pelo médico romano Galeno (131 até 201 a.C.). Segundo ele, existem quatro temperamentos, determinados pela predominância de um dos quatro "humores": o sangüíneo (sangue: folgazão e superficial), o colérico (bílis amarela:

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vontade forte e iras repentinas), o melancólico (bílis negra: pensativo e triste) e o fleumático

(muco:

sossegado

e

inativo).

Apesar

do

seu

funcionamento

pseudocientífico, a doutrina dos quatro temperamentos afirmou-se na prática e os quatro tipos foram finalmente introduzidos como noções da nossa linguagem do diaa-dia. (Sournia, 1996). Outro nome fundamental para que se estudem os primórdios da Psicologia é Santo Agostinho (354-430), pelo fato de ter descoberto dois métodos importantes: o da auto-observação e o da descrição da experiência interior, dando origem a uma Psicologia mais subjetiva e qualitativa, baseada na fala e na introspecção, ao contrário daquela que prioriza apenas o comportamento observável. De certa forma, pode-se citar a Psicologia Européia como aquela que mais se aproxima de uma Psicologia menos comercial e imediatista para uma mais aprofundada e introspectiva denominada por alguns de ‘Psicologia profunda’.

Imagem retirada do site www.alamed.com.br/psicologia.htm

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1.1 JONH LOCKE E A PSICOLOGIA Grande parte das pessoas que trabalham na Educação já ouviu falar que ‘a criança é como uma folha em branco na qual são registradas as várias experiências’.

Esta

idéia

que

também

influenciou

bastante

a

Psicologia,

principalmente em relação às abordagens que priorizam a experiência como a principal fonte de formação do ser humano, vem de um pensador conhecido: Jonh Locke. Este pensador veio sublinhar a importância que desempenham as impressões sensoriais para o desenvolvimento da nossa experiência. Imaginou o espírito da criança como uma folha de papel em branco (tábula rasa) na qual são "registradas" as experiências. John Locke também tem papel decisivo na Pedagogia e na Psicopedagogia. Seu pensamento sustentou ricas correntes pedagógicas e psicológicas. (Abagnano, 2000). Já Aristóteles se ocupara das associações, da combinação de duas ou mais representações ou vivências parciais. O fato de David Hume (1711-1776) ter retomado e aperfeiçoado a teoria aristotélica das associações demonstrou ser de extraordinária importância, também para a atual Psicologia. Hume ensinou que as representações eram imagens de impressões sensoriais e se encontravam ligadas umas às outras com base em leis mecanicamente funcionais. Reforçando o pensamento de Aristóteles, formulou as leis da associação do contato espaçotempo, da semelhança, do contraste e da causalidade. Desde então se verifica a importância que as experiências exercem sobre a vida de qualquer ser humano, gerando gratificação ou traumas. As experiências têm uma função primordial na estrutura da pessoa, principalmente de zero aos seis anos de vida. Aquilo que é vivenciado nessa fase torna-se determinante na vida adulta. A forma de ser, de reagir e de enfrentar crises em boa parte é construído na infância. Também a forma feliz de celebrar a vida em seus detalhes mais simples.

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1.2 A INFLUÊNCIA DE DARWIN Charles Darwin

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A Psicologia sempre viveu o dilema de optar entre entregar-se à objetividade, para que ocorresse a apropriação do fazer científico, ou exercer um modo alternativo de fazer seus estudos de maneira mais alternativa e aberta à especulação e assim correr o risco de não ser legitimada nos meios acadêmicos. Pela própria raiz eminentemente filosófica, toda a Psicologia fora praticada até aos meados do século XX de modo predominantemente especulativo: julgava-se poder solucionar todos os problemas a partir da reflexão, da análise e da síntese. Ledo engano. Atualmente, percebe-se que as alternativas acima citadas não são excludentes, mas podem se complementar e se enriquecer mutuamente e assim o fazer científico enriquece seu olhar, tornando-se mais holístico e menos fragmentado. Prova disso são as propostas atuais do Sistema Único de Saúde, de tornar o trabalho cada vez mais interdisciplinar e menos individualista, o que amplia o prisma do observador para um horizonte mais amplo dentro do estudo de cada caso. Uma gastrite, por exemplo, pode ser analisada como algo proveniente de uma irritação gástrica apenas ou do produto complexo da somatização de uma vida corrida e sedentária. Aliado a uma alimentação precária digerida num ambiente de ansiedade, somatizando numa irritação gástrica, que vai eclodir num órgão de choque, que pode ser o estômago.

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Isso prova que vários olhares sobre o mesmo assunto mostram o quão complexo é cada situação e o quanto podem se tornar ricos os debates entre os vários fazeres científicos. Quanto ao modo empírico de fazer ciência, pode-se afirmar que um dos principais impulsos na Psicologia teve sua origem nas observações e experimentos de Charles Darwin (1809-1882), o fundador da moderna doutrina genética e da hereditariedade. “A Origem das Espécies" (1859), magnífica obra deste cientista, influenciou de modo revolucionário quase todos os domínios da Ciência, desde a Física e Química, passando pela Biologia até chegar à Psicologia. Essa obra promove debates, os mais acalorados, e inúmeras teses, colocando como inimigos frontais teólogos e cientistas, lógico, dentro de uma perspectiva excludente, fragmentada e dualista. Além das suas investigações biológicas, Darwin ocupou-se igualmente de uma série de problemas que hoje denominaríamos psicológicos. As idéias de Darwin deram um novo impulso à investigação psicológica e constituíram o fundamento para muitos campos da moderna Psicologia: - a Psicologia do Desenvolvimento e a Psicologia Animal; o estudo da expressão dos movimentos afetivos, a investigação das diferenças entre os diversos indivíduos; - o problema da influência da hereditariedade em comparação com a do meio ambiente; o problema do papel da consciência; e, logo a seguir; o estudo experimental das funções anímicas como também a introdução do princípio quantitativo da investigação. O historiador Boring, cuja formação acadêmica remonta a Wilhelm Wundt, passando por Edward E. Titchener, afirma, em determinado passo, acerca da psicologia americana, que ela herdou o corpo da investigação experimental alemã; o espírito, porém, provém de Darwin. Refere-se assim à tradição americana fundada com base em William James (1842-1910) e John Dewey (1859-1952) que diferentemente da tradição alemã criada por Wundt - transfere para primeiro plano as questões da Biologia, do Desenvolvimento e da Atividade Anímica. Historicamente é interessante verificar que as primeiras publicações de Fechner e Wundt sobre as Percepções Sensoriais surgiram ao mesmo tempo em que a "Origem das Espécies" de Charles Darwin: os "Elementos de Psicofísica" de

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Fechner apareceram em 1860 e os "Contributos para uma Teoria das Percepções Sensoriais" de Wundt, no ano de 1862. (DAVIDOFF, 2003).

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1.3

WUNDT:

DA PSICOLOGIA EXPERIMENTAL FISIOLÓGICA

À

PSICOLOGIA DOS POVOS Wundt

serendip.brynmawr.edu

Wundt é considerado por muitos estudiosos como o pai da Psicologia. Sem dúvida, a posição de destaque que Wundt ocupa entre os psicólogos e a sua influência internacional, gigantesca, tem sua fundamentação numa série de circunstâncias: Wundt não se limitou a criar em 1879, em Leipzig, o primeiro laboratório destinado à investigação experimental dos fenômenos da consciência, fato que muitos consideraram o marco inicial da Psicologia como ciência independente. Ele desenvolveu, além disso, um sistema amplo para o nascimento desta nova ciência, pesquisando aspectos que iam desde a Psicologia Experimental Fisiológica até a Psicologia dos Povos, dando origem àquilo que hoje se conhece como Psicologia Social e Comunitária. Essa ampla gama de estudos dentro da Ciência Psicológica demonstrava que Wundt possuía invulgar capacidade e fecundidade para o trabalho. Fato curioso é que a base teórica da Psicologia pensada por de Wundt vinha da Física. Não é à toa que hoje se fala em termos como campos de tensão dentro da dinâmica dos grupos. Tal como um físico, ele pretendia encontrar elementos e processos elementares; a partir deles pensava poder construir a alma como um todo. No entanto, também ele próprio, no fundo, não estava absolutamente convencido desta idéia, como demonstra o fato de ter esperado que a Psicologia dos Povos

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fornecesse de qualquer modo conhecimento para os fenômenos mais complexos da alma humana. Apesar da grandiosa concepção fundamental, a Psicologia dos Povos de Wundt não levou a quaisquer resultados duradouros precisamente no que se refere à compreensão dos fenômenos mais complexos ou mesmo daqueles que dizem respeito ao desenvolvimento humano. Mesmo porque Wundt não chegou a desenvolver um conceito preciso daquilo que seria essa área da Psicologia, a Psicologia dos Povos. Enquanto Wundt militava em defesa da Psicologia dos Povos, outros pensadores estudavam os fenômenos de maturação por meio da observação de animais e de crianças, o que daria origem à Psicologia do Desenvolvimento. Esse sistema

de

pensamento

incide

exclusivamente

sobre

a

observação

do

comportamento animal e humano e dos processos de maturação de tal comportamento. De Francis Galton a Lloyd Morgan, William McDougall, Thorndike, Yerkes e John B. Watson, encontramos uma série de investigações brilhantes que se ocupam das questões da hereditariedade, do comportamento animal, dos instintos e do comportamento infantil. O estudo do comportamento observável é um dos pilares doutrinários do Behaviorismo e os estudos realizados por seus seguidores baseavam-se quase que exclusivamente em observações animais e de crianças. Hoje em dia a Psicologia Animal e a Psicologia Infantil constituem dois ramos extremamente vastos e significativos da investigação psicológica, apesar de que já são necessários vários cuidados legais, pelos abusos antes cometidos por pesquisadores menos avisados. Em pesquisas que envolvam seres humanos, por exemplo, é necessário, atualmente, que seja assinado um termo de Livre Consentimento. É preciso conhecer de que trata a pesquisa e quais os possíveis riscos envolvidos nela, para, só assim, decidir se deseja fazer parte da experiência ou não. Em relação aos animais, o pesquisador precisa garantir, através de documentações específicas, que este não vai sofrer nenhum dano. Controvérsias à parte, o certo é que a tradição das observações realizadas em animais foi perpetuada em muitos países e pela comparação cuidadosa entre: o comportamento animal e humano, levada a efeito nas investigações de Wolfgang Köhler, Howard Liddel, Nikolaas Tinbergen, Konrad Lorenz e Otto Koehler, permitiu que se

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obtivessem conhecimentos fundamentais sobre as funções psíquicas em diferentes fases do desenvolvimento. Muitas pesquisas relacionadas a medicamentos, por exemplo, parte da generalização dos resultados obtidos do estudo com animais. É do conhecimento geral o grande incremento sofrido pela Psicologia da Criança e do Adolescente; amplificadas ao âmbito da investigação experimental, desde Karl Bühler e David Katz até Arnold Gesell e Jean Piaget. Praticamente toda a teoria piagetiana foi obtida a partir de observações dos seus próprios filhos. Um estudo cuidadoso e que certamente exigiu muito do seu espírito investigativo. Foram anos a fio para que fosse possível elaborar a sua teoria, de contribuição inestimável também para a Psicologia Clínica infantil, de maneira mais específica.

1.4 PSICOLOGIA DA INTELIGÊNCIA E DA FORMA

É impossível falar da Psicologia da Inteligência e da Forma sem citar nomes como: Franz Brentano (1838-1917), Christian von Ehrenfels (1859-1932) e Edmund Husserl (1859-1938). Estes dois grupos, que costumam normalmente serem designados por Escola de Würzburg e de Berlim, insistiam em que a compreensão das relações de sentido e a percepção de formas, ou seja, de formas e totalidades. São processos de uma espécie própria e não se podem explicar como sendo formados por elementos, ou seja, a forma não se mostra absoluta, mas existe uma relação entre a forma e a percepção de quem vê, para que haja um sentido. Esse pensamento explica de certa forma, a existência da relatividade e do significado da arte. O valor da obra artística, uma tela, por exemplo, está no significado atribuído pelo observador. Esta Escola Psicológica demonstra que o todo tem um significado maior do que o que teria simplesmente em unirem as suas partes. Fazendo uma analogia a esse pensamento e demonstrando-o, por exemplo, na rotina de uma policlínica, diria que trabalhar numa equipe interdisciplinar de saúde tem um efeito muito superior que tentar unir conclusões de trabalhos isolados de diversos profissionais de saúde, produzidos de forma individualizada. Daí ser a máxima desta Escola: “O todo é mais que a soma de suas partes”.

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Os pensadores da Psicologia da Inteligência e da Forma apresentavam, além disso, a comprovação experimental para provar a exatidão da sua tese. Não são as representações, mas sim as suas relações que decidem o sentido de um pensamento, afirmou Karl Bühler, um dos jovens representantes da Escola de Würzburg, ao ser contestado por Wundt. As percepções estruturais do pensamento são operações específicas, por meio das quais se constroem as nossas percepções: as impressões sensoriais não são simplesmente refletidas e ligadas umas com as outras, mas dá-se a partir de diferentes centros cerebrais, uma projeção das impressões sensoriais em diferentes direções, o que faz com que cada pessoa interprete e veja o mundo de uma determinada forma. (Pimentel, 2003; Perls, 1969).

1.5 O PRINCÍPIO DO SENTIDO “Minha vida carece de sentido”. “É preciso dar sentido à existência.” “Menino, dê um rumo à sua vida!” Todos certamente já ouviram frases assim, que denotam, de certa forma, a necessidade de que a vida tenha um significado, uma direção, senão se transformaria num barco a deriva. Eduard Spranger trouxe à Psicologia o que denominava de valores espirituais, aos poucos retornando à mesa de discussão, dentro de uma perspectiva mais abrangente e menos reducionista. "Reivindico a palavra Psicologia para a ciência da vida provida de sentido" declarou Eduard Spranger no ano de 1922, numa máxima verdadeiramente clássica. A palavra "sentido" é definida aqui de modo diferente do que na Psicologia da Inteligência, para a qual sentido significa o contexto espiritual de um pensamento. Sentido aqui é definido como "aquilo que está integrado num todo de valores como membro constituinte" ou, por outras palavras, provido de sentido é aquilo que contribui para a realização de valores, o que amplia a função da Psicologia, de apenas explicativa para algo compreensivo. Spranger, que, seguindo as idéias de Wilhelm Dilthey (1833-1911), contrapõe uma Psicologia compreensiva à Psicologia explicativa dos experimentalistas.

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O essencial na vida humana passa a ser a orientação dos valores. Dever-seia compreender a pessoa a partir do "espírito objetivo", produtor de valores. Na linguagem da moderna Psicologia isso quer dizer que Spranger se ocupava exclusivamente com as finalidades de valor e com os produtos de cultura formados através deles, enquanto considera o estudo da realização das ações humanas desprovidas de importância. Porém, como Karl Bühler acentua na sua obra "A Crise da Psicologia", ambos os aspectos são importantes. É necessário entender que se tratam apenas de aspectos diferentes de um mesmo ser, o ser humano. Portanto, uma dimensão não deve excluir a outra, mas a ela se complementar. Ação e sentido são inerentes à alma da pessoa. De nada adianta a execução de tarefas se aquilo não vier provido de sentido e, a falta deste sentido tem promovido diversos transtornos psíquicos no mundo do trabalho. Um terceiro grupo ocupou-se ainda de outra maneira com a relação de sentido das finalidades. Este fato mostra cada vez mais claramente que o ponto de vista do sentido ocupa um plano especial na Psicologia atual. É a relação de sentido da ação motivada, tal como Sigmund Freud (1856-1939), o fundador da Psicanálise, a viu e descreveu - aliás, descreveu-a, no início da sua teorização dentro dos limites daquilo que ele definiu como Libido, e que pode ser rapidamente conceituado como energia vital. Aos poucos a relação de sentido da ação motivada foi se ampliando, até compreender-se a concepção cada vez mais divulgada de que todo o nosso pensamento e procedimento visam a satisfação de determinadas necessidades e adquire o seu sentido a partir de tal necessidade ou desejo. Sob este ponto de vista, todo o procedimento é provido de sentido, uma vez que é determinado por motivos. Mesmo o pensamento e procedimento daqueles que estão em sofrimento psíquico têm sentido, isto é, tem em vista um objetivo, ainda que o sentido dos próprios objetivos seja mal compreendido naquele momento. No entanto, uma vez que mesmo esse sentido mal compreendido é muitas vezes susceptível de ser interpretado pelo analista, é possível, em muitos casos, ajudar a pessoa a adquirir uma melhor autocompreensão e a partir daí um modo de vida mais equilibrado e harmônico. Dentro de uma perspectiva psicanalítica, pode-se

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afirmar que até aquilo que se sonha é provido de sentido, visto que lhe é inerente uma finalidade dirigida no sentido da satisfação de necessidades. A interpretação, introduzida por Freud no pensamento psicológico como novo princípio fundamental, deve ser utilizado sempre que a pessoa que atua oculta a si própria e aos outros o verdadeiro objetivo dos seus anseios. Em tais casos, ela pensa e atua simbolicamente, quer dizer, (acontece inconscientemente), em vez do objetivo verdadeiro coloca um objetivo substituto ou ilusório, para desviar a atenção das intenções que lhe parecem contestáveis, reprováveis ou puníveis. No princípio do sentido amplo aqui desenvolvido, encontram-se incluídos, tanto o princípio da relação do sentido no nosso pensamento, acentuado pela Psicologia da Inteligência, como o princípio do sentido das finalidades de valor, defendido por Spranger. Atravessada por várias teorias, recorrendo a métodos e técnicas de investigação diversificada, organizada em várias especialidades, a Psicologia procura, nesta diversidade, responder às questões que desde sempre se colocaram acerca do comportamento, emoções, sentimentos, relações sociais, sonhos, perturbações... (NASIO, 1988).

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1. 6 BREVES COMENTÁRIOS SOBRE A PSICOLOGIA NO BRASIL

Fonte: www.veja.abril.com.br

É possível falar de uma Psicologia genuinamente brasileira? Até bem pouco tempo parecia impossível até mesmo pensar sobre essa possibilidade. O filósofo Farias Brito (1912, p. 277 apud Antunes, 2004 ) retrata bem essa posição pessimista ao questionar que de todo este assunto, de tão alta significação, o que motivaria entre eles incentivaria o interesse dos homens mais eminentes de todo o mundo? A resposta deveria ser: nada, absolutamente nada! Pois, para ele, realmente, o solo da intelectualidade nacional não parecia ser terreno fértil e propício para a semente da nova Ciência. Depois de posição tão desoladora, é importante ressaltar que se o pensamento culto brasileiro não fosse tão fértil, a Psicologia enquanto Ciência não teria tido a expansão tão grande que teve no início século XX, e ainda hoje continua tendo. Poucas vezes uma Ciência cresceu tanto e em tantas áreas ao mesmo tempo como a Ciência Psicológica, e de forma específica, a Ciência Psicológica Brasileira. O brasileiro tem as suas peculiaridades e, se ainda hoje ainda importamos boa parte das pesquisas da Europa e dos Estados Unidos, também já se fazem adaptações de testes psicológicos para a realidade brasileira, o que demonstra o franco crescimento desta Ciência em nosso País, o Brasil. A Psicologia enquanto profissão, por exemplo, está presente nas áreas jurídica, clínica, organizacional, dos esportes, hospitalar, do comportamento animal, AN02FREV001/REV 4.0

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etc. Além disso, o Brasil foi um dos primeiros países do mundo a regulamentar a profissão de Psicólogo, pela Lei 4.119. Infelizmente, não há muitos registros daquilo que se produz no Brasil em termos de Ciência Psicológica, pelo menos em termos proporcionais. Aprendeu-se a supervalorizar aquilo que vem de fora e a desvalorizar a nossa produção, seja ela artística ou científica e de que área for. Por um lado, os profissionais de Psicologia não registram seu trabalho, talvez por considerarem de pouco valor (Seria um complexo de inferioridade?). Por outro lado, o Brasil, pelo próprio processo de colonização, sofre daquilo que se pode denominar “Complexo de Menos Valia”. E assim se forma uma profissão sem registros, sem memória, sem história, aliás, noção plenamente generalizada para outras áreas no Brasil. Infelizmente, ainda há uma grande quantidade de conhecimentos importados, de forma especial, o conhecimento importado dos Estados Unidos. O grande problema é que a nossa gente e a nossa cultura são diferentes e aquilo que se aplica para outros países muito provavelmente não se aplicará para nosso povo. Principalmente em se tratando de questões psicológicas e emocionais, pois se tem no Brasil, uma diversidade religiosa e cultural completamente incomum a outros lugares. Daí se questionar tanto a validade dos testes psicológicos, em sua grande maioria criado em outros países e aplicado aqui. Ao realizar um breve retrospecto da história da Psicologia no Brasil, vê-se que no início do século XX muitos estudantes que se interessaram pela Psicologia foram estudar no exterior, vislumbrando problemas e “soluções” típicos daqueles locais. Ao retornarem ao Brasil, assumiram a posição de intelectuais dominadores, colocando o Brasil na posição de “objeto de pesquisa”. Dentro dessa perspectiva, tudo o que partia do povo, sua cultura, suas crenças, seus valores, era menosprezado, considerado como “não científico”. Apagar hábitos, costumes e tradições eram “papel científico”, sua “mais nobre função”. Decorre daí que um povo que não preserva as suas próprias raízes se torna mais fácil de dominar, pois não reconhece a sua própria identidade. Um povo sem história é um povo sem identidade.

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E um povo sem identidade assume a identidade de qualquer outro como sendo sua. O que não é verdade soa falso, inautêntico. Esse fato é visto muito facilmente nos hábitos alimentares, na linguagem, na forma de vestir... É urgente a necessidade de nos reconhecermos como Nação e valorizar aquilo que é genuinamente nosso. Boa parte desse problema tem a sua origem no Pensamento Positivista, que não considera o conhecimento histórico como algo de valor científico, o que se torna um impedimento ao próprio avanço. Ao desvalorizar a contribuição da cultura pré-científica à evolução do conhecimento humano, essa corrente restringe a história da Psicologia ao desenvolvimento da Psicologia científica nos últimos dois séculos. A exclusão do domínio historiográfico dos conhecimentos psicológicos difundidos no seio das diferentes tradições culturais e julgados não relevantes. Implica a renúncia à memória das raízes dessa disciplina presente em tais tradições e o esquecimento das questões originais que determinaram o seu surgimento, ou favoreceram sua influência e seu desenvolvimento em específicos ambientes culturais. Outra conseqüência é a redução da Psicologia a apenas a européia e norte-americana, revestidas de uma pretensa universalidade. (ANTUNES, 2004). Felizmente, o que era visto como avanço científico, hoje é visto como sério entrave ao conhecimento. Não há mais como negar o profundo nexo entre Ciência e conhecimento histórico. Parte daí a busca incessante de vários estudiosos em Psicologia para encontrar as verdadeiras raízes do conhecimento psicológico brasileiro. A partir do séc. XVI o que se vê é uma combinação original entre o que se pode denominar de Psicologia indígena e conhecimentos europeus. Como exemplos destes primeiros registros podemos citar os seguintes títulos: Tratados da Terra e Gente do Brasil (Londres, 1625), Notícias curiosas e necessárias sobre o Brasil: (Lisboa, 1668), Crônicas (Lisboa, 1661), Sermões-15 volumes (Lisboa, 1696), Arte de criar bem os filhos na idade de puerícia (Lisboa, 1685), Nova Escola para aprender a ler, escrever e contar, (Lisboa, 1722), Viridiário Evangélico IV volumes (Lisboa, 1724; 1734; 1746, 1755), Progymnasma Literário e Tesouro de erudição sagrada e humana, para enriquecer o ânimo de prendas e a alma de virtudes (Lisboa, 1737), Reflexões sobre a vaidade dos homens ou

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Discursos Morais sobre os efeitos da vaidade (Lisboa, 1752), Problemas de Arquitetura Civil, a saber: Porque os edifícios antigos têm mais duração e resistem mais ao tremor de terra que os modernos? (Lisboa, 1770). Muito interessantes são os relatos sobre o comportamento social dos índios numa fase de pré-colonização. Eles revelam muito sobre uma forma peculiar de Psicologia, a indígena. De acordo com esses relatos, o amor às crianças é intenso e se alguém trata bem aos pequenos indígenas tem dos pais aquilo de que precisar. O papel maternal é extenso, ou seja, as mulheres das tribos cuidam das crianças como se fossem suas mães. Depois do parto, a mulher se levanta e ocupa de suas tarefas domésticas e da roça. Enquanto o marido fica deitado na rede e recebe as visitas e os cuidados de amigos e parentes – como se fora à mulher – Para dar atenção à criança, o pai se afasta do trabalho e permanece em casa. A mãe amamenta a criança exclusivamente de leite materno até um ano, um ano e meio e em alguns casos até os sete ou oito anos. As índias, no período da colonização, foram proibidas de amamentar seus filhos por período prolongado – À moda das mulheres portuguesas, que entregavam seus filhos às amas nos primeiros anos -, tendo como justificativa que, se amamentadas, as crianças cresceriam ‘frouxas’. Atualmente, o hábito de amamentar é amplamente estimulado e reconhecido como benéfico pela Ciência. Há relatos deste período de que as crianças indígenas participam ativamente da sociedade e da rotina da vida adulta. Os pais levam as crianças para junto de si quando vão trabalhar. De igual modo, os hábitos higiênicos são aprendidos desde cedo: as crianças levantam cedo e vão ao rio, lavar-se e nadar. Os jogos simbólicos, tão enfatizados por psicanalistas como Erik Erikson e Bruno Bettelheim são prática comum na vida das crianças indígenas há muito tempo. Iniciadas na vida social e religiosa desde cedo, elas cantam, dançam e representam nas suas tribos e as brincadeiras variadas são feitas com muita alegria. Segundo relatos do período colonial, as crianças eram muito mais alegres que os meninos portugueses e as brincadeiras ocorriam sem brigas nem palavrões. É prática comum, os mais hábeis ensinarem os outros a tocar e a cantar. Não se observam práticas punitivas nas comunidades indígenas e há uma relação de estreito afeto entre pais e filhos. Também não se observa uma divisão radical entre infância e vida adulta, mas as regras sociais são transmitidas

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gradativamente, sempre ao lado de algum adulto, pai ou mãe, o que se transforma numa fonte de segurança e saúde emocional. As condições de vida social indígena aparecem como elementos que facilitam um desenvolvimento psíquico sadio e bem integrado em todos os seus fatores. A clareza acerca do significado e da positividade da vida, transmitida pelos adultos, permite à infância indígena uma alegria, vivacidade, abertura à realidade, muitas vezes relatadas pelos missionários e viajantes do período colonial, em seus diários. Pode-se dizer que, de modo geral, na formação da cultura brasileira, a Psicologia, antes do advento deste saber enquanto Ciência ocupava um lugar de conhecimento generalizado difuso, presente em diversas áreas humanas. No Brasil do séc. XIX, a Psicologia se restringe na transmissão e interpretação de conhecimentos

vindos

da

Europa

e

Estados

Unidos.

Observa-se

uma

descontinuidade entre conceitos e práticas de conhecimentos psicológicos do período colonial e aqueles adquiridos no século XIX. Este fato se deve à intensa desvalorização de tudo o que foi aprendido anteriormente, havendo, então, uma tentativa de apagar todo e qualquer registro e impregnar uma “nova psicologia”, a “psicologia médica”. Quase nada se sabe acerca das produções brasileiras. Pouco se fala das publicações psicopedagógicas de Alexandre de Gusmão, da obra de Pe. Vieira ou do Frei Mateus da Encarnação Pinna. Nossos pensadores não são reconhecidos, à época, como intelectuais. Pode-se afirmar que o esquecimento praticado no século XIX a respeito da tradição anterior é uma das causas da “perda de memória” da Psicologia atual. A fragmentação e a dispersão dos conhecimentos psicológicos também são uma grande barreira à tentativa de unificação desta Ciência, pois seus conhecimentos nascem da Medicina e da Filosofia e perpassam a Política, Sociologia, Direito e Religião. Sem dúvida, as dificuldades se iniciam a partir de seu objeto de estudo: a subjetividade humana. Apesar disso, ou até mesmo por causa disso, a Psicologia também é reconhecida como uma Ciência altamente rica e complexa, perpassando várias áreas humanas.

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2 GRANDES PENSADORES DA PSICOLOGIA E AS BORDAGENS DELES DERIVADAS

Letra grega psi, símbolo da Psicologia

2.1 Início, o Estruturalismo

Considera-se como fundador da psicologia moderna Wilhelm Wundt, por ter criado, em 1879, o primeiro laboratório de psicologia na universidade de Leipzig, Alemanha. A psicologia só se tornou uma ciência independente da filosofia graças a Wundt, nos finais do século XIX. Foi a partir deste acontecimento que se desenvolveram de forma sistemática as investigações em psicologia, através de vários autores que a esta ciência se dedicaram, construindo múltiplas escolas e teorias. Wundt criou o que, mais tarde, seria chamado de Estruturalismo, por Edward Titchener; cujo objeto de estudo era a estrutura consciente da mente, as sensações. Segundo esta perspectiva, o objetivo da psicologia seria o estudo científico da Experiência Consciente através da Introspecção. Titchener levou a idéia da Psicologia para os Estados Unidos da América, modificando-a em alguns pontos. As principais limitações do Estruturalismo residem no fato de a introspecção não ser um verdadeiro método científico incontestável e de esta corrente excluir a psicologia animal e infantil. Esta corrente foi extinta em meados do século XX. (Badcock, 1976).

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2.2 Funcionalismo

O Funcionalismo é o modelo que substitui o Estruturalismo na evolução histórica da Psicologia, sendo o seu principal impulsionador William James. O principal interesse desta corrente teórica residia na utilidade dos processos mentais para o organismo, nas suas constantes tentativas de se adaptar ao meio. O ambiente é um dos fatores mais importantes no desenvolvimento. (Cultural, 1974).

2.3 Wundt e o Associacionismo

Wilhem Wundt (1832-1920), juntamente com o seu discípulo Tichener, inicia o caminho que irá levar a Psicologia a atingir o estatuto de ciência. Começa por definir como objeto da psicologia o estudo da mente: O estudo da mente (ou consciência) faz-se ao nível do consciente do ser humano pela análise dos elementos simples da mente, à semelhança da divisão em átomos da realidade. (Monteiro 2003). Para ele e seus seguidores (nomeadamente Edward Tichener, 1867-1927), as operações mentais não eram mais do que a organização de sensações elementares, procurando relacioná-las com a estrutura do sistema nervoso. No seu laboratório, em Leipzig, vai procurar conhecer a forma como se relacionam

e

associam

os

elementos

da

consciência:

é

a

concepção

associacionista (vide associacionismo) dos comportamentos. Para atingir este objetivo, vai utilizar como método a introspecção (observação interna), mas de um modo controlado: Observadores treinados deveriam, no laboratório, descrever as suas próprias experiências, resultantes de uma situação experimental definida. Os dados eram depois relacionados e interpretados por uma equipe de psicólogos; ex. após a apresentação de um estímulo visual ou som teriam de descrever as sensações recorrendo a um conjunto definido de termos para maior objetividade.

2.4 Pavlov e a Reflexologia

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www.sonoma.edu/psychology/images/pavlov.gif

Você está condicionado a fazer isto ou aquilo. Joãozinho precisa de um reforço escolar. Os trabalhadores da empresa estão sem estímulo. Seqüestradores precisariam ser punidos no Brasil. Todos nós já ouvimos expressões desse tipo pelo menos uma vez na vida. Em grande parte o nosso vocabulário de base comportamentalista se deve ao pensador Pavlov, devido a uma de suas clássicas experiências fisiologistas e uma das mais conhecidas é a que ele realizou com cães. De modo simples esse experimento pode ser descrito de forma simplista, da seguinte forma: O cientista tocava uma sineta e em seguida oferecia alimento ao cão. Depois de algumas vezes repetindo essa experiência ele passou a apenas tocar a sineta e observou, através de equipamentos de laboratório que esse simples estímulo estimulava as glândulas salivares do cão, fazendo-o produzir secreção e exibir

um

comportamento

de

esperar

pela

chegada

do

alimento.

Esse

comportamento poderia ser reforçado e se tornar cada vez mais forte ou se tornar tênue até a ponto de ser extinto, a depender das variáveis apresentadas ao sujeito.

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Extraído do site http://animalbehaviour.net/gifs+pics/Pavlov's_dog.jpg

Os conhecimentos advindos dos experimentos de Pavlov se generalizaram e, com as devidas adaptações, puderam ser utilizados em muitas outras áreas e atualmente

são

empregados

nos

setores

empresarial,

escolar

e

clínico,

principalmente. Na área de adestramento animal, até hoje os princípios da Reflexologia de Pavlov são empregados. Pavlov

continuou

suas

pesquisas

em

ritmo

intenso,

estudando

minuciosamente aquilo a que hoje denominamos sistema nervoso e sistematizou um conjunto de leis fisiológicas, o que lhe valeu o Prêmio Nobel de Medicina em 1904. Segundo este cientista, é no córtex cerebral o local onde reside o espírito. É lá onde os comportamentos nascem, se modificam e são extintos. Atualmente, estas idéias já não são utilizadas de forma tão radical, apesar de muitas delas se fazerem presentes, de forma mais sutil, no chamado neobehaviorismo; contudo, é na aprendizagem onde ganha um forte impacto. Veja o nosso sistema de avaliações, por exemplo! O pensamento pavloniano foi aprofundado pelo cientista J.B.Watson. Ao reflexo condicionado de Pavlov, ele acrescentou o condicionamento denominado operante. Era tanta a confiança de Watson que ele afirmou em certa ocasião que bastava entregar nas mãos dele uma dúzia de crianças bem nutridas e um ambiente favorável no qual ele as transformaria naquilo que ele quisesse e isso não iria

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depender da raça, aptidões ou inclinações intelectuais. Da mesma forma, poderia transformar essas crianças em ladrões ou pedintes, caso desejasse. Essa forma de pensar e fazer a Psicologia trouxe para si um sem-número de críticas, principalmente a de ser “reducionista”, ou seja, o pensar psicológico estaria reduzido ao comportamento, fosse ele humano ou animal. O fato é que, por causa desse sistema de conhecimentos sobre o comportamento, a Psicologia pode ser reconhecida atualmente como Ciência, embora ainda seja vista com certa desconfiança pelos pensadores mais radicais de outras áreas, principalmente aquelas mais antigas, como o Direito e a Medicina. É lógico que isso não se aplica a todos. Para os behavioristas, entretanto, que se utilizavam e ainda se utilizam, do conhecimento objetivo, todo e qualquer comportamento poderia ser medido, quantificado, controlado, como também a possibilidade de repetir ações poderia ser prevista. Dentro de uma perspectiva mais radical, pode-se afirmar que a hereditariedade não é levada em conta e o ambiente só é considerado como forma de exercer um maior controle sobre as variáveis. Emoções não são levadas em conta. Não se cogita o subjetivo. Contudo, houve um intenso estudo dos processos cognitivos, dando origem em grande parte àquilo que hoje se denomina Neuropsicologia. O pensamento Behaviorista Radical é norteado por princípios que aos nossos olhos podem parecer estranhos, a depender da perspectiva com que observarmos esses parâmetros: Essa corrente apregoa que todo e qualquer comportamento se constitui de uma resposta a estímulos. Comportamentos simples são formados por cadeias menores e comportamentos mais complexos são simplesmente o somatório de redes mais simples de comportamentos interligados. O comportamento humano passa a ser visto, então, como fruto dos movimentos musculares e das secreções glandulares, o que parece absurdo aos nossos olhos. Watson não se resumiu à vida acadêmica, mas chegou a ser vicepresidente de uma agência de propaganda. Dentro dessa linha de pensamento também se destacaram nomes como Skinner, Tolman e Hull.

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2.5 Behaviorismo, a primeira potência Fonte: John B. Watson. Retirado de arbeitsblaetter.stangl-taller.at

A maior escola de pensamento americana surgiu no início do século XX, sendo influenciada por teorias sobre o comportamento e fisiologia animal. A tradução do inglês de Behavior é comportamento, portanto, o foco de estudo do comportamentismo ou comportamentalismo (título traduzido) é o comportamento observável, e o condicionamento é o método utilizado nesta escola. Foi fundada por John B. Watson (Behaviorismo Metodológico) que acreditava que o controle do ambiente de um indivíduo permitia desencadear qualquer tipo de comportamento desejável. Traz do funcionalismo a aplicação prática da Psicologia; o seu foco está na aprendizagem. Segundo esta perspectiva não se pode estudar cientificamente os pensamentos, desejos e sentimentos que acompanham os comportamentos em estudo. (Watson, 1972).

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2.5.1 Burrhus Frederic Skinner Skinner

www.facade.com/celebrity/B_F_Skinner/

Foi influenciado, inicialmente, pelas teorias de Ivan Pavlov e Edward Thorndike. E, posteriormente, pelas teorias do operacionismo. Foi Burrhus Frederic Skinner

o

maior

autor

neocomportamentalista,

levantando

a

tona

seu

condicionamento operante e a modificação do comportamento (Behaviorismo Radical). No meio do século XX, vários autores escreveram sobre o pensamento, a cognição. Diziam fazer parte do comportamento este pensamento, estava sendo criada uma divisão no behaviorismo: a Psicologia Cognitiva. Alguns autores desta escola foram: Albert Bandura, Julian Rotter e Aaron Beck. Estes falavam que o comportamento pode ser entendido também a partir da cognição. O aprendizado pode existir sem a necessidade de condicionamento em laboratório, mas pela observação e elaboração do que foi visualizado. É chamada de a primeira grande força da psicologia. (Skinner, 2006).

2.6 Gestalt, a psicologia da forma

Retirado de web.educastur.princast.es/.../191gestalt.gif

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Fundada dentro da filosofia por Max Wertheimmer e Kurt Koffka a Gestalt traz novas perguntas e respostas para a Psicologia. Ela se detém nos campos da percepção e na visão holística do homem e do mundo. A palavra gestalt não tem uma tradução para o português, mas pode ser entendida como forma, configuração. Criticava principalmente a psicologia de Wundt, que era chamada de Psicologia do "tijolo e argamassa", pois via a mente humana dividida em estruturas. A gestalt preocupa-se com o homem visto como um todo, e não como a soma das suas partes (o lema da Gestalt é justamente este: O todo é mais que a soma das suas partes). No ano de 1951, Frederic S. Pearls cria a teoria Gestaltterapia, trazendo consigo a teoria de campo de grupos de Kurt Lewin.

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2.7 Psicanálise

Sigmund Freud. Retirado de www.thecjc.org/sfreud.htm

Quando se pensa em procurar um psicólogo, um emaranhado de idéias invade a mente: Tem-se a falsa impressão de que é preciso estar transtornado emocionalmente ou mentalmente para procurar ajuda. Na verdade o psicólogo deveria trabalhar numa perspectiva muito mais de promoção à saúde que propriamente no âmbito meramente curativo, mas os preconceitos em relação ao seu trabalho muitas vezes o impedem de trabalhar dentro dessa perspectiva. Também se imagina uma sala sombria, com móveis pretos e um divã. Atrás dele alguém calado e de aspecto severo, fechado. Muito desse imaginário coletivo faz parte do legado deixado por Sigmund Freud, Pai da Psicanálise (1856-1939). Na verdade nem todo psicanalista é psicólogo. Ele pode ser formado em Medicina, por exemplo. O médico psiquiatra também pode se utilizar a Psicanálise para a elaboração de alguns conceitos. O psicólogo por sua vez, trabalha dentro do que denomina abordagem, que pode ser: Humanista, Existencialista, Behaviorista ou Psicanalista, a depender da base teórica que dá sustentação à sua prática. Isso também não quer dizer que o psicólogo só possa utilizar-se dos conhecimentos de sua abordagem.

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É cada vez maior o número de psicólogos denominados temáticos, ou seja, aqueles que se utilizam diversos arcabouços teóricos, a depender da demanda daquele momento. São também denominados de psicólogos ecléticos. Sigmund Freud foi um médico psiquiatra que estudou sobre vários assuntos e levou bem mais tempo que seus colegas para se formar, por ter utilizado boa parte de seus anos em estudos de laboratório. Estudou, por exemplo, temas como a fisiologia dos peixes. O seu interesse pela Psiquiatria, entretanto, se iniciou com as descobertas de Charcot, seu futuro mestre, e os estudos sobre Histeria, considerado naquela época, doença de mulher, principalmente daquelas que não haviam casado. O termo histeria vem de ‘útero’ e até hoje as mulheres solteiras de idade mais avançada são chamadas de forma desprezível, de histéricas. Freud descobriu que a histeria possuía causas emocionais e que as pessoas nas quais eram recalcadas, ou seja, as que não extravasavam seus desejos libidinais, poderiam sofrer de crises histéricas, inclusive homens. Essa descoberta, ao ser proclamada em um encontro científico, causou furor nos médicos presentes, que se retiraram, deixando o Dr. Freud falando sozinho naquele encontro internacional. Freud viu suas aulas particulares se esvaziarem de alunos. Como também suas turmas da faculdade se tornaram pouco freqüentadas. Polêmico, mas obstinado, estudava até às três horas da manhã, e muito material escrito acabava sendo jogado no lixo, pois já discordava de tudo aquilo. Suas teorias iam ser reescritas por várias vezes durante a sua vida. Trabalhou com hipnose, mas logo reconhecera a sua falta de habilidade com tal técnica e percebeu que poderia produzir os mesmos efeitos com a técnica da associação livre, o que daria origem à cura pela fala, ou, como ficaria conhecida mais tarde, psicanálise. A Psicanálise foi considerada por Freud como um conhecimento firmado em um tripé composto por técnica, teoria e pesquisa, principalmente. A Psicanálise é conhecida pela investigação do inconsciente e pela descoberta da sexualidade infantil, tema polêmico até hoje. Freud não teve apenas um mestre, mas vários nomes inspiraram sua teoria, desde Goethe a Nietzsche e costumava ler desde literatura e antropologia, a livros de Biologia e Fisiologia Animal. Também tinha uma predileção por antiguidades.

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Um personagem importante da psicanálise é seu discípulo, Carl G.Jung, primeiro presidente da sociedade psicanalítica. Com o avanço da teoria de Freud em relação à sexualidade infantil, Jung, que não concordava com o que Freud afirmava acerca do assunto, rompe com o psicanalista e segue outro caminho, criando uma nova teoria, denominada psicologia analítica. A proposta inicial foi retirar do inconsciente o seu teor puramente sexual. Mas Freud retifica o ex-colega, dizendo que "o ego possui várias naturezas das pulsões, mas a pulsão sexual é a que ganha mais investimento". Freud, inclusive, alerta que é possível canalizar as pulsões libidinais para as artes ou a produção científica. O conceito de inconsciente foi criado anos antes, e Freud utilizou-se desse termo com outro sentido, encarregando-se de criar uma teoria acerca do tema. Na psicanálise, inconsciente significa outra ordem, com outras regras, um dos elementos do aparelho psíquico, constituído por pensamentos, memórias e desejos que não se encontram em nível consciente, mas que exercem grande peso no comportamento humano. Existem atualmente várias correntes psicanalíticas, oriundas de pensadores que ampliaram ou discordaram da visão freudiana. Dentre estes nomes estão Anna Freud, filha de Freud, Melanie Klein, Lacan, Bion,Winnicott, Carl G. Jung, Alfred Adler, Erik Erikson, Carl Rogers etc. (TALAFERRO, 1996). A psicanálise hoje se apresenta de várias formas, que são a psicanálise ortodoxa, a psicanálise nova (ou neopsicanálise) e a psicologia de orientação analítica ou de orientação psicanalítica (utilizada não só por psicanalistas formados, mas

também

por

psicólogos

não

especializados),

todas

com

algumas

peculiaridades. A Psicanálise é considerada a segunda grande força de Psicologia, e segundo o Conselho Federal de Psicologia Brasileiro e demais Conselhos Regionais de Psicologia (CRPs). A psicanálise é aceita no meio acadêmico, porém só pode ser utilizada de forma integral com uma formação em Psicanálise, devo dizer que ainda não reconhecida pelo MEC. Caso contrário, deve-se utilizar a técnica de psicoterapia de orientação psicanalítica.

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Para a Psicanálise, as ações humanas são orientadas, basicamente, por três instâncias mentais (simbólicas): 

Consciente (EGO) - Raciocínio, operações lógicas;



Pré-consciente (SUPEREGO) - Memórias, interiorização de regras

sociais, produzem angústias, ansiedades e “pune” o EGO quando este aceita impulsos vindos do ID; 

Inconsciente (ID) - pulsões, desejos e medos recalcados. Não obedece

à lógica nem à moral. Representa os impulsos e os instintos. Para ter acesso ao inconsciente, o psicanalista utiliza processos indiretos, tais como: 

Hipnose – Consiste em induzir o paciente, através de uma sugestão

intensa, a um estado semelhante ao sono, a partir do qual é possível estabelecer a comunicação com o hipnotizador e ser sugestionado, podendo assim revelar memórias ocultas ou ser condicionado para determinada ação ou comportamento. A hipnose é pouco usada atualmente. Sua utilização se restringe ao controle de comportamentos de uso abusivo de álcool e drogas e só deve ser praticado por profissionais capacitados e treinados devidamente. 

Método psicanalítico, recorrendo às técnicas de:

o

Interpretação dos sonhos

o

Interpretação de atos falhos

o

Transferência, ou seja, o paciente atua, durante a sessão, em relação

ao psicanalista, como se ele fosse uma outra pessoa: pai, mãe, namorado, etc. Cabe ao profissional trabalhar com essa “encenação” de forma a levar o paciente à cura de seu trauma. Nesse jogo se encontram envolvidos sentimentos e emoções muito fortes, de raiva, ressentimento, paixão... A Psicanálise se popularizou demais, o que levou seu vocabulário a ser utilizado de forma indiscriminada e também a graves erros de interpretação. Além disso, várias pessoas praticantes de charlatanismo se dizem “psicanalistas”.

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2. 8 HUMANISMO Carl Rogers

www.psychotherapie-netzwerk.de

O enfoque da psicanálise no inconsciente, e seu determinismo, e o enfoque na observação apenas do comportamento, pelo behaviorismo, foram às críticas mais fortes dos novos movimentos de Psicologia surgidos no meio do século XX. Na verdade o humanismo não é uma escola de pensamento, mas sim um aglomerado de diversas correntes teóricas. Em comum elas têm o enfoque humanizador do aparelho psíquico, em outras palavras elas focalizam o ser humano como detentor de liberdade, escolha, sempre no presente. Traz da filosofia fenomenológico-existencial um extenso gabarito de idéias. Foi fundada por Abraham Maslow, porém a sua história começa muito tempo antes. A Gestalt foi agregada ao humanismo pela sua visão holística do homem, sendo importante campo da Psicologia, na forma de Gestalt-terapia. Mas foi Carl Rogers, um psicanalista americano, um dos maiores exponenciais da obra humanista. Ele, depois de anos afinco praticando psicanálise, notou que seu estilo de terapia se diferenciara muito da terapia psicanalítica. Ele utilizava outros métodos, como a fala livre, com poucas intervenções, e o aspecto do sentimento, tanto do paciente, como do terapeuta. Deu-se conta de que o paciente era detentor de seu AN02FREV001/REV 4.0

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tratamento, portanto não era passivo, como passa a idéia de paciente, denominando então este como cliente. Era a terapia centrada no cliente (ou na pessoa) Seus métodos foram usados nos mais vastos campos do conhecimento humano, como nas aulas centradas nos alunos, etc. Apresentou três conceitos, que seriam agregados posteriormente para toda a Psicologia. Estes eram a congruência (ser o que se sente, sem mentir para si e para os outros), a empatia (capacidade de sentir o que o outro quer dizer, e de entender seu sentimento), e a aceitação incondicional (aceitar o outro como este é, em seus defeitos, angústias, etc.). Erik Erikson, também psicanalista, trouxe seu estudo sobre as oito fases psicossociais, em detrimento às quatro fases psicossexuais de Freud, onde todas as fases eram interdependentes, e não necessariamente determinam as fases posteriores; para ele o homem sempre irá se desenvolver, não parando na primeira infância. Viktor Frankl, com sua logoterapia, veio a acrescentar os aspectos da existência humana, e do sentido da vida, onde um homem, quando sente um vazio de sentido na vida, busca auxílio, pois não se sente confortável em viver sem sentido ou ideais. Diz também que eventos muito fortes podem adiantar a busca pelo sentido da vida. Tais eventos podem criar desconforto, trauma intenso, mas podem criar um aspecto de fortaleza no indivíduo. (ROGERS, 1961, 1974).

2.8.1 Pirâmide de Maslow

Maslow trouxe, para a psicologia que havia fundado, estes autores, agregando, ainda seus estudos sobre a pirâmide de necessidades humanas.

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staff.gc.maricopa.edu/.../blackboard/MASLOW.JPG

Para Maslow, as necessidades fisiológicas precisam ser saciadas para que se precise saciar as necessidades de segurança. Estas, se saciadas, abrem campo para as necessidades sociais, que se saciadas, abrem espaço para as necessidades de

auto-estima. Se uma destas necessidades não está saciada,

há a

incongruência. Quando todas estiverem de acordo, abre-se espaço para a autorealização, que é um aspecto de felicidade do indivíduo. Esta é hoje considerada a terceira grande força dentro da psicologia. (FRICK, 1975).

2.9 Psicologia Transpessoal

www.rcespiritismo.com.br

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Maslow estava insatisfeito com sua própria teoria, dizendo que faltava-lhe o fato de o homem ser um ser espiritualizado. Para ele era importante a espiritualidade e as características da consciência alterada, teoria de Stanislav Grof. Criou então, com ajuda de outros psicólogos, uma teoria que era abrangente neste aspecto. Como Carl G. Jung era um estudioso dos aspectos transcendentais da consciência, foi tomada sua teoria para incorporar a Psicologia transpessoal. A abordagem Transpessoal é, portanto, uma área da psicologia que estuda as possibilidades psíquicas (mentais, emocionais, intuitivas e somato-sensoriais) do ser humano pelos diferentes estados ou graus de consciência pelos quais passa a pessoa (para se ter idéia do que sejam estados de consciência, lembre-se que o estado de consciência de quando se está acordado é diferente do estado de consciência de quando se está dormindo; que o estado de consciência de quando se resolve um problema de matemática é diferente de quando se assiste a um filme, etc.). (Jornal Infinito, 2003). Em cada um destes estados de consciência (que são vários, alguns ainda desconhecidos) é experimentado uma forma diferente de se perceber ou interpretar a realidade (quando estamos com raiva ou frustrados, percebemos o mundo de uma maneira muitíssimo diversa de quando estamos apaixonados). A Psicologia Transpessoal, portanto, volta-se para o estudo destes diversos estados, não os encarando como contrários, mas como complementares, dando, porém, especial ênfase aqueles estados de consciência superiores, espirituais ou “transpessoais”. Porque em tais estados, o sentimento de separação e de egoísmo torna-se um segundo plano em relação a um sentimento e identificação mais ampla, cooperativa, fraternal, transpessoal para com todos os seres vivos (consciência crística, búdica, nirvânica, universal ou ecológica). Segundo a Teoria Transpessoal, Francisco de Assis, Gandhi, Jesus Cristo, Einstein, Luther King e tantos outros grandes nomes foram detentores de uma outra forma de ver e sentir o mundo que o fizeram capazes de ajudar o próximo e tornaram-se capazes de ver o mundo de uma outra forma. A essa capacidade eles denominam “consciência cósmica”. A Psicologia Transpessoal fala de vários níveis de consciência, que vão do mais obscuro (a sombra), até o mais alto grau de consciência, a transpessoal. Por

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ter seu foco na consciência e seus aspectos, foi também chamada de psicologia da consciência. Seu estudo é recente e traz muitas características que necessitam de um estudo maior. (TABONE, 2005). Vale ressaltar que a Psicologia Transpessoal ainda não é reconhecida como prática científica pelo Conselho Federal de Psicologia e os psicólogos inscritos no Conselho não estão autorizados a tê-la como prática profissional.

2.10 Psicodrama

"Um Encontro de dois: olhos nos olhos, face a face. E quando estiveres perto, arrancar-te-ei os olhos e colocá-los-ei no lugar dos meus; E arrancarei meus olhos para colocá-los no lugar dos teus; Então ver-te-ei com os teus olhos e tu verme-ás com os meus." (J.L.Moreno)

2.10.1

Jacobo Levy Moreno Moreno

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O Psicodrama pode ser considerado como um dos meios psicoterápicos mais inovadores. Falar em Psicodrama nos remete a um médico romeno chamado

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Jacob Levy Moreno. Ele foi o criador do Psicodrama e do Sociodrama, reverenciado como exemplo de criatividade e dedicação à investigação psicológica e social. Ele nasceu na Romênia em 1892 e faleceu nos EUA em 1974. Foi um homem de ampla cultura e fortes idéias religiosas e filosóficas, amante do teatro e incansável investigador do ser humano e de seus vínculos afetivos; deixou-nos uma vasta obra escrita e um movimento psicodramático que abrange a América, Europa e Ásia. Em 1925, indo morar no EUA, desenvolveu e sistematizou suas descobertas: a socionomia, sendo dividida em sociometria, sociodinâmica e a sociatria. A socionomia é o estudo do grupo e suas relações. A sociometria visa medir as relações entre os membros do grupo, evidenciando as preferências e evitações presentes nas relações grupais. Utiliza como método o teste sociométrico. A sociodinâmica se interessa pela dinâmica do grupo e utiliza como método o role-playing ou jogo de papéis. Já a sociatria busca tratar as relações grupais e utiliza três métodos: o sociodrama, a psicoterapia de grupo e o Psicodrama. Com a leitura de suas obras, muitos autores declaram que o psicodrama possui um grande conteúdo emocional e uma audácia renovadora, pois surgiu como uma nova e dinâmica linha de investigação para o conhecimento e terapia dos conflitos psicológicos. Para o surgimento desta teoria, Moreno desafiou críticas, rompeu com o movimento médico da sua época, atacando os valores oficiais, conseguindo desenvolver uma teoria baseada numa concepção de ser humano e de saúde que têm como núcleo a espontaneidade. O otimismo sobre o vital, o amor, a catarse e os papéis que o Eu do indivíduo vai formando. (MORENO, 1980). Esta busca pelo reencontro dos verdadeiros valores éticos, religiosos e culturais em uma forma dramática espontânea, (mais tarde, denominado como desenvolvimento do Axiodrama) foi o primeiro conteúdo do Psicodrama. O lugar do nascimento do psicodrama foi um teatro dramático de Viena. Moreno declarou que não possuía nenhuma equipe de atores, nem uma peça e que neste dia apresentouse sozinho, sem nenhuma preparação, ante um público de mais de mil pessoas. Segundo ele no palco havia somente uma poltrona de espaldar alto, como o trono de um rei, no assento, uma coroa dourada. Surgiu com um intento de tratar e

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curar o público de uma enfermidade, uma síndrome cultural e patológica que os participantes compartilhavam no momento (Viena encontrava-se em pós-guerra, não havia governo... a Áustria estava inquieta em busca de uma nova alma). Mas psicodramaticamente, Moreno possuía um elenco e uma obra. Uma vez que o público era seu elenco, e a obra era retratada pela trama demonstrada pelos acontecimentos históricos, no qual cada um representava seu papel real. Cada representante de um papel foi então convidado para subir ao palco, e encenar o papel de um rei, sem preparação e diante de um público desprevenido, que funcionava como jurado. Mas neste primeiro momento nada se passou. Ninguém foi achado digno de ser rei e o mundo permaneceu sem líder. Apesar do aparente fracasso desta primeira representação, este foi o marco do nascimento de uma nova modalidade de expressão catártica que, instrumentada pelo exercício da espontaneidade e sustentada na teoria dos papéis, viria a se constituir o método psicodramático de abordagem dos conflitos interpessoais, cujo âmbito natural é o grupo. Surge então, a expressão “psicoterapia de grupo". O psicodrama desde seus primórdios estabeleceu um setting basicamente grupal, com a presença do terapeuta (diretor de cena), seus egos auxiliares e os pacientes (tanto como protagonistas como público). Aliás, a expressão, "psicoterapia de grupo" foi pela primeira vez utilizada por Moreno.

2.10.2 Teoria do psicodrama

Moreno foi capaz de dar sentido à improvisação dramática e retomar o conceito de catarse, pois, ao ocorrer uma identificação do espectador com os atores, ocorre uma catarse e, também, certa conscientização. Para que ocorra esta catarse deve existir uma espontaneidade e criatividade, pois, caso contrário, é uma mera repetição que não trará nada de novo nem aos protagonistas nem ao público. É na criação espontânea que se consegue o vínculo do ser humano com o mundo. O Psicodrama possui o conceito de espontaneidade-criatividade, a teoria dos papéis, a psicoterapia grupal como pontos básicos da sua teoria, além de outros como: Tele (capacidade de se perceber de forma objetiva o que ocorre nas situações e o que se passa entre as pessoas), Empatia (tendência para se sentir o

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que se sentiria caso se estivesse na situação e circunstâncias experimentadas pela outra pessoa.), Co-inconsciente (vivências, sentimentos, desejos e até fantasias comuns a duas ou mais pessoas, e que se dão em "estado inconsciente".) e Matriz de Identidade (lugar do nascimento). A teoria da espontaneidade: está ligada dialeticamente à criatividade, compreende uma fenomenologia, uma metapsicologia, uma psicotécnica, uma psicopatologia e uma psicologia genética. As que possuem maiores riquezas são: a Psicotécnica ou treinamento da espontaneidade que, ainda que pareça parado, procura resgatar o espontâneo perdido pelo homem ao longo da sua existência e a Psicologia Genética, quer dizer: a criança, ao nascer, realiza seu primeiro ato criativo: é o primeiro ato de catarse de integração. Nasce com uma capacidade criadora própria do ser humano que irá completando com a maturidade e com a ajuda dos outros. O primeiro ego-auxiliar é a sua própria mãe. Ao longo de sua infância, à medida que vai vivendo os diversos papéis e em contato com os agentes sociais. Desenvolve essa capacidade criadora e atrofia em maior ou menor medida, de acordo com o tipo de relações e na medida em que as "tradições culturais" lhe sejam impostas pelos mais velhos. Esses agentes da sociedade lhe submetem, durante o desenvolvimento, condutas estereotipadas, repetitivas, ritualistas, muitas delas para ela e para os demais vazias de significado, assim como também ajudam o desenvolvimento da espontaneidade. Depende de cada caso e do meio em que vive a criança em um determinado momento histórico-social. O ato espontâneo está intimamente ligado ao instante, dali surge à noção do aqui e agora. A filosofia do momento opõe-se à duração, os benefícios do instante, do presente, em constante mudança. É lugar (lócus) onde se dá o crescimento. Segundo Moreno, esta experiência primitiva da identidade configura o destino da criança. Em toda essa primeira etapa, os papéis são psicossomáticos. A segunda etapa é a do reconhecimento do Eu. A criança observa o outro (mãe) como algo diferente dela. Integra as diferentes partes do seu corpo numa unidade e é a partir dali que se diferencia. É na segunda etapa que aparecem os papéis psicodramáticos.

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Moreno faz uma pormenorizada descrição da evolução da imagem do mundo da criança, distinguindo: 1) Matriz de identidade total: primeiro universo: tudo é um. As configurações estão configuradas pelos atos. 2) Matriz de identidade total diferenciada: segundo tempo do primeiro universo diferencia-se as unidades, porém têm o mesmo grau de realidade, os indivíduos, os objetos imaginários e os reais. 3) Matriz da lacuna entre fantasia e realidade: começam a se organizar dois mundos, o da realidade e o da fantasia. Isto, na linguagem moreniana, marca o começo do segundo universo. O ideal é que o indivíduo possa dominar a situação e que não desenvolva um mundo real em detrimento da fantasia, nem vice-versa. Teoria dos papéis: o termo "papel" é um conjunto das várias possibilidades identificatórias do ser humano. Os papéis psicodramáticos expressariam as distintas dimensões psicológicas do eu (self) e a versatilidade potencial de nossas representações mentais. Nesta teoria, tomam-se os papéis como núcleos do desenvolvimento egóico, e à medida que a criança cresce e se diferencia vai ampliando seu leque de papéis. Alguns papéis ficarão inibidos, necessitando, posteriormente, serem resgatados (função do Psicodrama). A psicoterapia grupal: Moreno assim a define “a psicoterapia de grupo é um método para tratar, conscientemente, na fronteira de uma ciência empírica, as relações interpessoais e os problemas psíquicos dos indivíduos de um grupo...” na sua concepção, todos no grupo são agentes terapêuticos, e todo o grupo também o pode ser em relação a outro grupo. Este método aspira alcançar o melhor agrupamento de seus membros para os fins que persegue. Não trata somente dos indivíduos, mas de todo o grupo e dos indivíduos que estão relacionados a ele. Em sua relação sociológica vê a sociedade humana total como o verdadeiro paciente. O conceito de encontro está no centro da psicoterapia de grupo, comunicação mútua que não se esgota no intelectual, mas que abrange a totalidade de seu ser. O encontro vive no "aqui e agora". Vai mais além da empatia e da transferência. Forma um "nós". Moreno enumera os métodos a serem utilizados, entre os quais se destacam: método de clube ou associação, de assessoramento, de conferência, de classes, psicanalítico, visuais, discussão livre, sociométricos, de histórias clínicas, da

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bibliografia, magnetofônico (sessões gravadas), da música e da dança, ocupacionais e laboratoriais e o que se destaca é o método psicodramático.

2.10.3 Método psicodramático

O método do Psicodrama usa a representação dramática como um núcleo de abordagem e exploração do ser humano e seus vínculos. A ação, unida à palavra, brinda o mais completo desdobramento do conflito, do drama que ocupa o protagonista no espaço dramático. Na cena, o indivíduo pode representar seus conflitos passados e presentes, e também externar seus temores, expectativas, projetos e dúvidas sobre o futuro, explorando suas relações com o presente e o passado. Distinguem-se, no desenvolvimento da ação dramática, três momentos que possuem cada um, uma importância singular. A primeira fase, chamada aquecimento, é quando se prepara o clima do grupo. Escolhem-se um tema e um protagonista e tenta-se penetrar no mesmo no maior nível de espontaneidade possível. O segundo momento ou fase é a representação propriamente dita, a cena dramática. Aqui ganha importância os ego-auxiliares, que serão os encarregados de encarnar os personagens para os quais o protagonista os escolheu: os personagens reais ou fantasiosos, aspectos do paciente, símbolos do seu mundo. O terceiro momento ou fase é o compartilhar, é onde o grupo participa terapeuticamente. Nesta etapa o grupo devolve, compartilham seus sentimentos e vivências, tudo o que lhes foi acontecendo durante a cena, às ressonâncias que ele produziu. As diversas técnicas dramáticas utilizadas durante a representação foram pensadas por Moreno em relação à sua teoria da evolução da criança.

Cada uma delas cumpre uma função que corresponde a uma etapa do desenvolvimento psíquico. O diretor do Psicodrama instrumentará, em cada situação, aquelas que pareçam mais adequadas e correspondentes ao momento do drama, segundo o tipo de vinculação que nele se expressa. A primeira etapa de indiferenciação do Eu como o Tu corresponde à técnica do duplo. A segunda, do reconhecimento do Eu, a técnica do espelho. A terceira

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etapa do reconhecimento do eu, a técnica da inversão de papéis. Mediante a técnica do duplo, um eu-auxiliar desempenha o papel de protagonista. Verbal e gestualmente complementam aquilo que, a partir desse desempenho, entende e sente que o protagonista não pode expressar completamente por ser isto desconhecido ou oculto, por inibições. Coloca-se ao lado a idêntica postura ao protagonista, fazendo seus movimentos, funcionando como a mãe e a criança na primeira etapa. Na técnica do espelho, o protagonista sai do palco e é público da representação que um egoauxiliar faz dele. Busca-se, com isso, que o paciente se reconheça em determinada representação, assim como na sua infância reconheceu sua imagem no espelho. O terapêutico desta técnica consiste em que se reconheçam como próprios os comportamentos e aspectos que lhe são desconhecidos e que importam para o esclarecimento do conflito. Utilizando a técnica da inversão de papéis, a mudança de papéis investiga na cena o sentir desses personagens do mundo do paciente. Esta é a técnica básica do Psicodrama. Existem outras técnicas dramáticas criadas por Moreno e posteriores a ele. Moreno, tomando do modelo teatral seus elementos, distinguem, para a cena psicodramática, cinco elementos ou instrumentos: a) Cenário: neste continente desdobra-se à produção e nele podem-se representar fatos simples da vida cotidiana, sonhos, delírios, alucinações. b) Protagonista: o protagonista pode ser um indivíduo, uma dupla ou um grupo. É quem, em Psicodrama, protagoniza seu próprio drama. Representa a si mesmo e seus personagens são parte dele. Palavra e ação se integram, ampliando as vias de abordagem. c) Diretor: o psicoterapeuta do grupo é também o diretor psicodramático. O diretor do psicodrama está atento a toda informação ou dado que o protagonista dê, para incluí-la na cena, guia e ajuda a chegar à cena com espontaneidade. Uma vez começada a cena, o diretor se retira do espaço dramático e somente intervém se é necessário incluir alguma técnica, dando ordens ao protagonista ou ego-auxiliares. d) Público: é o grupo terapêutico Moreno distingue três procedimentos, segundo o objeto de estudo para se abordar quando se dramatiza: Psicodrama, tratamento dos conflitos individuais. Sociodrama, onde o

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objeto de estudo são os grupos sociais. Role playing: quando o Psicodrama é utilizado para a formação e treinamento de papéis profissionais e técnicos.

2.10.4 Psicodrama psicanalítico

O psicodrama psicanalítico nasceu na França em 1944. Hoje, há uma corrente na qual define que a cena dramática é reconhecida na função de concentrar o drama e permitir que apareçam novos significantes. Dizem que “... o Psicodrama não é a busca de certo sentido nem tampouco de um significante fundamenta”l. “Por isso, deve-se evitar a interpretação que proporcione o sentido e a perda do sentido...” Conforme Anzieu "...o psicodrama analítico favorece a expressão dos conflitos por intermédio de imagens simbólicas..." caracteriza quatro aspectos importantes no Psicodrama: dramatização dos conflitos, comunicação simbólica, efeito catártico e natureza lúdica. Na América Latina, a Argentina é o país pioneiro em Psicodrama. Atualmente , Brasil, México e outros fizeram um importante desenvolvimento, sendo pertinente destacar o Psicodrama no Brasil que, inicialmente foi desenvolvido por docentes argentinos e, atualmente, por seus próprios docentes. Para Osório, a teoria moreniana, que se torna pouco sólida, se a compararmos com a teoria psicanalítica, tem, entretanto, alguns aspectos que não são excludentes, mas que se complementam. E, em alguns casos, são parcialidades de conceitos psicanalíticos não reconhecidos e rebatizados com outros nomes ou trabalhados sob outros ângulos, como acontece com os conceitos de regressão e fixação. A regressão em Psicodrama não se obtém através da transferência, mas através de cena dramática que torna presente o passado. Tele e transferência em Moreno são conceitos herdeiros da transferência freudiana. Espontaneidade, essencialmente, está relacionada com o conceito de libido de Freud. O encontro, o compartilhar, a criatividade e o ato espontâneo possibilitam novos papéis e resgatam energias perdidas. Isto levará a uma catarse de integração e a uma catarse do público. A cena é a representação do passado, um “lugar simbólico” onde se revela o imaginário através das cenas atuais ou manifestas,

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podendo explorar e elaborar situações conflitivas do mundo externo, encontrando sua conexão com o mundo interno dele ou dos indivíduos, em sucessivas ações dramáticas com cenas antigas e inconscientes. Em suma, a cena dramática é, basicamente, a “presentificação” e “corporização” que, através da representação, têm os vínculos intrapsíquicos em sua mútua e dinâmica reestruturação com os vínculos interpessoais. Moreno resgatou o valor das forças imanentes ao grupo. Retomou o fato de que vivemos em grupo desde que nascemos e nossos problemas provêm desse mundo. Que todos se ajudam em um grupo, mas nem por isso estão ausentes as relações hostis. Afirmou que trabalhar em um grupo sem uma fundamentação sociométrica, antropológica e microssociológica, somente com a interpretação da análise individual, é impossível. Mostrando que a regra fundamental é a interação livre e espontânea, e o objetivo é favorecer a integração do indivíduo e do grupo. Considerou a transferência como expressão da dissociação e desequilíbrio do grupo. Este se deteve no papel de psicoterapeuta de grupo e psicodramaturgo, demonstrando uma série de normas éticas e, científico-técnicas. Normatizaram regras e normas de grupos como sigilo, os honorários iguais, a seleção de pacientes a livre expressão, o cuidado do indivíduo e do grupo, a utilização de métodos cientificamente comprovados. Resgatam assim, muito além da comunicação verbal, o contato corporal, motor e tátil.

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2.11 Psicologia Analítica

Carl Gustav Jung

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Também conhecida como Psicologia junguiana, é um ramo de conhecimento e prática da Psicologia, iniciado por Carl Gustav Jung no qual se distingue da psicanálise iniciada por Freud, por uma noção mais alargada da libido e pela introdução do conceito de inconsciente coletivo. (JUNG, 1981) Divergindo da perspectiva de Freud, Jung via a psique como positiva e negativa, um repositório não só das memórias e das pulsões reprimidas, mas também uma instância da dinâmica da divindade. A psicologia analítica foi desenvolvida com base nos estudos de Freud e no amplo conhecimento que Jung tinha da tradição psicológica contida na alquimia e na mitologia. Quando Jung conheceu a obra de Freud, identificou-se com suas idéias e logo quis conhecê-lo. Ao se conhecerem a admiração foi mútua, pois Freud rapidamente recebeu o jovem como seu discípulo e um dos defensores de suas idéias. Porém, esta parceria durou pouco, pois Jung mostrava-se insatisfeito, com algumas das posições de Freud, especialmente a teoria da libido e sua relação com os traumas. Freud, por

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sua vez, não compartilhava do interesse de Jung pelos fenômenos espirituais como fontes válidas de estudo. A Psicologia Analítica conheceu, depois da estruturação por C.G.Jung, um grande desenvolvimento nos chamados pós-junguianos, que ampliaram a visão de Jung. Merece destaque neste desenvolvimento a Escola Desenvolvimentista, que estudou o desenvolvimento humano desde o nascimento até a fase adulta. E, que tem como fonte a Escola Junguiana de Londres e a pessoa de Michael Fordham com sua obra "A criança como indivíduo" e também a pessoa de Eric Neumann, com a obra "A criança". Além desta, há também a Psicologia Arquetípica, que é fruto do trabalho de James Hillman, o qual explora e desenvolve ao máximo a importância dos arquétipos na vida das pessoas. Marie-Louise voz Franz foi uma das mais importantes colaboradoras de Jung, e após sua morte desenvolveu um amplo trabalho abordando temas como a alquimia, a interpretação psicológica dos sonhos e dos contos de fada. Parabéns, você está concluindo o primeiro módulo! Não se preocupe tanto com nomes e datas. É suficiente apenas que você tenha uma visão geral sobre os fundamentos da Psicologia.

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GLOSSÁRIO

ANÍMICO (VIDA ANÍMICA): Do Latim animu, que se refere à alma. Psicológico.

ASSOCIACIONISMO: Doutrina relativa à associação de idéias; teoria da explicação dos fenômenos psicológicos pela associação de idéias.

ATUAR: O termo atuar é utilizado dentro da abordagem psicanalítica para se referir a comportamentos que representam/simbolizam ações ou personagens que ainda estão inconscientes ao ser analisado. O comportamento “atuado” em consultório é uma resposta àquilo que se denomina transferência, ou seja, pessoa representada simbolicamente pelo analista, a quem o paciente, devota um suposto amor ou ódio, a depender do momento da análise.

BEHAVIORISMO:

do

Ing.

behaviorism,

behaviourism,

de

behavior,

behaviour, comportamento; Psicologia do comportamento; corrente segundo a qual a Psicologia tem por objeto o comportamento exterior do homem; Psicologia objetiva.

CATARSE: do Gr. Kátharsis s. f., .Purificação, evacuação, purgação.

CONGRUÊNCIA: Adequação, concordância, harmonia. EMPIRICISMO OU EMPIRISMO: Uma escola de pensamento filosófico com muita influência na Psicologia, cujo pressuposto é de que apenas aquilo que pode ser diretamente observável ou medido pode ser estudado de modo significativo.

EMPÍRICO: Aquilo que pode ser mensurado. Observações empíricas são aquelas que podem proporcionar um nível de dados objetivos, os quais podem ser avaliados de uma forma ou de outra. De forma geral, empregando o termo “medida”, AN02FREV001/REV 4.0

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vagamente, quase todas as formas de investigação psicológica podem ser consideradas empíricas.

ESTEREOTIPIA: do Gr. stereós, sólido + typos, tipo s. f., arte de converter em formas fixas o que primeiro se compõe com tipos móveis; casa em que se estereotipa;

palavra,

atitude,

gesto

invariavelmente

retido.

Comportamento

mecanicista, robotizado, pouco original, ritualista.

ESTRUTURALISMO: Pressuposto metodológico segundo o qual as ciências humanas devem abordar os seus objetos do ponto de vista das estruturas, na medida em que estas podem traduzir características universais ou princípios organizadores; denominação dada aos estudos lingüísticos da primeira metade do séc. XX, da gramática generativo-transformacional.

EXISTENCIALISMO: s. m., Filos., Corrente de pensamento, iniciada por Kierkegaard, que, por oposição às filosofias conceptuais (essencialismo), cujo modelo é o sistema hegeliano, tem o centro das suas reflexões na existência humana considerada como existência livre, desprovida de normas e de essência abstrata e universal, sendo o homem o responsável pelo seu próprio destino; movimento cultural em torno daquela corrente de pensamento, caracterizado, de uma forma geral, pelo relevo dado à subjetividade e ao método de descrição fenomenológica das realidades existenciais e ao absurdo da existência.

FENOMENOLOGIA: do Gr. phainómenon, fenómeno + logos, tratado. Estudo descritivo de um conjunto de fenômenos.

HISTERIA: do Gr. hystéra, útero. s. f., Doença nervosa caracterizada por convulsões e acessos espasmódicos.

LIBIDO: Termo originalmente utilizado por Sigmund Freud para se referir à energia sexual do ID (instância inconsciente responsável pelo instinto) e disponível para distribuir energia para os processos mentais e as atividades físicas. Mais tarde, AN02FREV001/REV 4.0

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Freud reconsiderou a libido como a energia geral de vida. No uso cotidiano, o termo ainda está associado à conotação de energia sexual.

PENSAMENTO ATOMISTA: Vertente do pensamento pré-socrático baseiase na teoria dos átomos, criada por Leucipo e desenvolvida, posteriormente, por Demócrito de Abdera. Para o pensamento atomista, o princípio (arché) da realidade (phýsis) reside nos átomos, elementos invisíveis, de número ilimitado, cada um possuidor de uma forma própria; sendo o número de formas presentes nos átomos, igualmente, ilimitado. A natureza destes elementos é unitária e plena, uma vez que eles são indivisíveis (em grego, o termo átomo significa sem divisão). Além dos átomos, deve também existir o vazio, lugar onde aqueles residem e realizam seu modo de ser, que é movimento incessante. Sem a existência do vazio, o movimento não pode ser explicado; nem pode haver pluralidade entre os entes, sem haver um meio que os separe. Deste modo, segundo alguns comentários de pensadores da Antiguidade acerca desta teoria, para pensar as questões relativas ao movimento, provando sua existência, é necessário aceitar a copertinência entre ser -- no presente caso, os átomos -- e não ser -- entendido aqui como o vazio. É do movimento realizado pelos átomos, constituído de turbilhonamentos e choques entre eles, que se formam todas as coisas. (conceito extraído do site www.algosobre.com.br em 19 de janeiro de 2008)

PSICOLOGIA DA GESTALT: A palavra Gestalt tem origem alemã e surgiu em 1523 de uma tradução da Bíblia, significando "o que é colocado diante dos olhos, exposto aos olhares". Hoje adotada no mundo inteiro significa um processo de dar forma ou configuração. Gestalt significa uma integração de partes em oposição à soma do "todo". A palavra gestalt tem o significado de uma entidade concreta, individual e característica, que existe como algo destacado e que tem uma forma ou configuração como um de seus atributos. Dizer que um processo, ou o produto de um processo é uma gestalt, significa dizer que não pode ser explicado pelo mero caos, a uma mera combinação cega de causas essencialmente desconexas, mas que sua essência é a razão de sua existência. A Psicologia da Gestalt, baseada neste princípio, dá origem a uma AN02FREV001/REV 4.0

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prática clínica denominada Gestalt-terapia, um método de psicoterapia desenvolvido por Fritz Perls, que trabalha de preferência com o aqui e agora e não com o passado, cuja pretensão é promover o aumento da consciência da pessoa acerca do modo como os seus processos psicológicos estão integrados. A ênfase na compreensão da pessoa como um todo decorre dos princípios da Gestalt. (HAYES, 1997).

PENSAMENTO POSITIVISTA: Teoria Filosófica que tem como base a idéia de evolução do pensamento e do comportamento humano, do mais baixo para o mais alto escalão. A evolução humana é tratada como algo alinear e contínuo. O pensamento só é considerado válido se tiver valor científico e a pesquisa científica válida é a quantitativa, numérica. Nada que não for comprovado não tem valor enquanto Ciência. Nâo são considerados pontos como a cultura, a religião ou os mitos de um determinado lugar. Este pensamento originou o Behaviorismo, na Psicologia, que acredita que o comportamento humano pode ser treinado, moldado.

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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação

CURSO DE

TERAPIA COGNITIVOCOMPORTAMENTAL

Aluno: AN02FREV001/ REV 3.0

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EaD - Educação a Distância Portal Educação

CURSO DE

TERAPIA COGNITIVOCOMPORTAMENTAL

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

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SUMÁRIO

1. PSICOTERAPIA

1.1 Conceitos de Psicoterapia 1.2 Fatores comuns a toda psicoterapia 1.3 Equívocos sobre a terapia cognitiva e comportamental

2 TERAPIA COMPORTAMENTAL 2.1 Histórico 2.2 Fundamentos Teóricos 2.3 Indicações e Contraindicações 2.4 Técnicas da Terapia Comportamental 2.5 Conceitos Básicos 3 TERAPIA COGNITIVA 3.1 Histórico 3.3 Fundamentos teóricos da terapia cognitiva 3.3 Indicações e Contraindicações 3.4 Técnicas da terapia cognitiva

3.5 Conceitos Básicos da Terapia Cognitiva 3.6 Teoria Focada em Esquemas de Young 3.7 Diferença entre Cognitivismo e o Construtivismo

3.8 Princípios Fundamentais 3.9 Distorções Cognitivas 3.10 Perfil Cognitivo dos Transtornos Psiquiátricos 3.11 Estruturação das sessões 3.12 Instrumentos Utilizados

3.13 Relação Terapêutica AN02FREV001/ REV 3.0

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3.14 Componentes Relevantes para se chegar ao problema 3.15 A TCC e a família 3.16 Mitos Equivocados sobre Terapia Cognitiva 3.17 Recaídas 3.18 Algumas resoluções referentes a atendimento psicoterápico REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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1 PSICOTERAPIA

1.1 Conceitos de Psicoterapia

Segundo Atkinson (2002) Psicoterapia pode ser conceituada como tratamento de transtornos mentais por métodos psicológicos, em vez de físicos e biológicos. Esse termo abrange uma variedade de técnicas, todas as quais destinadas a ajudar, pessoas emocionalmente perturbadas a modificarem seu comportamento, seus pensamentos e suas emoções, para que possam desenvolver melhores maneiras de lidar com o estresse e com as outras pessoas. Artur Scarpato, em seu artigo “Introdução sobre a Psicoterapia” cita vários conceitos sobre Psicoterapia. Vejamos alguns: 

“Recurso para lidar com as dificuldades da existência em todas as

formas que o sofrimento humano pode assumir, como transtornos psicopatológicos, crises pessoais, conflitos conjugais e familiares, crises profissionais, distúrbios psicossomáticos, dificuldades nas transições da vida, etc”; 

É um espaço especial de atenção às dificuldades da vida e aos

caminhos internos para solucioná-los, onde seus resultados demonstram uma grande potência de transformação de vidas, oferecendo uma oportunidade de compreender e mudar os padrões de vínculo e relação interpessoal. Outros autores a definem como terapia que usa diversas técnicas empregadas em Psicologia para o tratamento de transtornos e problemas psíquicos. Ou, processo de ajuda, autoconhecimento e desenvolvimento pessoal. “Psicoterapia é um método de tratamento mediante o qual um profissional treinado, valendo-se de meios psicológicos, especialmente a comunicação verbal e a relação terapêutica, realiza, deliberadamente, uma variedade de intervenções, com o intuito de influenciar um cliente ou paciente, auxiliando-o a modificar problemas de natureza emocional, cognitiva e comportamental, já que ele procurou com essa finalidade”. (Strupp, 1978 citado por Cordioli, 2008). Em termos etimológicos, terapia está relacionada à cura, então quando nos referimos à psicoterapia, estamos falando da cura por intermédio da psique. AN02FREV001/ REV 3.0

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Na psicoterapia a psique é trabalhada a favor do paciente buscando desenvolvimento de habilidades que o ajudem a enfrentar as adversidades no presente, ou seja, podemos conceituá-la também como um processo de mudança, de solução dos problemas causados pela falta de adaptação frente as dificuldades da vida, de aprendizado de como refletir, analisar e tentar viver melhor. Wampold (2001), diz que a psicoterapia é um tratamento primariamente interpessoal, baseado em princípios psicológicos, que envolve um profissional treinado e um paciente ou cliente portador de transtorno mental, problema ou queixa, o qual solicita ajuda, sendo o tratamento planejado pelo terapeuta com o objetivo de modificar o transtorno, problema ou queixa, e é adaptado a cada paciente ou cliente em particular. E de acordo com a Resolução do Conselho Federal de Psicologia sobre esse tema, temos no: "Art. 1º - A Psicoterapia é prática do psicólogo por se constituir, técnica e conceitualmente, um processo científico de compreensão, análise e intervenção que se realiza por meio da aplicação sistematizada e controlada de métodos e técnicas psicológicas reconhecidos pela ciência, pela prática e pela ética profissional, promovendo a saúde mental e propiciando condições para o enfrentamento de conflitos e/ou transtornos psíquicos de indivíduos ou grupos." (Resolução CFP N.º 010/00). Veja algumas resoluções sobre prestação de serviço por meio da psicoterapia no final deste módulo. Veremos adiante, que à psicoterapia se distingui de outras modalidades de tratamento por ser muita mais uma atividade colaborativa entre o paciente e o terapeuta do que uma ação predominantemente unilateral, exercida por alguém sobre outra pessoa, como ocorre com outros tratamentos médicos. Quando falamos de tempo de duração da psicoterapia, isso pode variar de semanas até anos, vai depender muito do tipo de psicoterapia, da abordagem usada e dos objetivos que se buscam. Por exemplo, a psicoterapia breve trabalha com objetivos mais específicos, então são bem mais rápidas que uma psicoterapia que vai trabalhar com uma psicopatologia mais severa, que envolverá conteúdos muito mais profundos.

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A psicoterapia pode ser aplicada para tratar diversos fins como: 

Resolução de conflitos pessoais, interpessoais, conjugais, familiares e

profissionais; 

Amadurecimento pessoal, para um autoconhecimento melhor, reflexão

e descoberta de novos modos de conduzir a própria vida; 

Crises existenciais;



Transições difíceis como luto;



Crises profissionais;



Mudanças de fases de vida (puberdade, adolescência, vida adulta,

menopausa, envelhecimento, etc.); 

Usada no tratamento de vários transtornos como depressão, anorexia,

bulimia, pânico, fobias, frigidez, impotência, etc. Assim percebemos que a psicoterapia oferece meios e recursos importantes para uma compreensão mais ampla do processo de adoecimento assim como estratégias para lidar com as várias contingências as quais estamos vulneráveis. São vários os tipos de psicoterapia, podemos citar a Psicoterapia Individual para crianças, adolescentes, adultos e idosos, psicoterapia de família, de casal, de grupo, psicoterapia em situações de crise e emergência. A psicoterapia é importante, pois vai nos ajudar a perceber questões que estão obscuras, vai nos ajudar a rever nossa história de vida de um ângulo diferente, vai nos ensinar a reconhecer nossos padrões de comportamento e aprender formas de influenciar e lidar com esses padrões que são responsáveis por como nós agimos, nos relacionamos, pensamos e sentimos. Artur Scarpato cita alguns motivos importantes que explicam porque a psicoterapia funciona: Segundo este autor ao dividirmos um problema, o sujeito estará compartilhando, isso ajuda a aliviar a carga emocional e seu sofrimento; O vínculo estabelecido entre terapeuta e cliente tem poder curativo, pois é mais fácil superar muitas dores mediante uma relação autêntica de respeito mútuo do que sozinho; A psicoterapia faz o sujeito parar para refletir sobre a própria vida e quando fazemos isso permitimos muitas mudanças de orientação, sentido, rumo e aprofundamento de nossas experiências; O psicoterapeuta vai ajudar a perceber as coisas de um ângulo que você não tinha visto antes e nem suspeitava ser possível; O AN02FREV001/ REV 3.0

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psicoterapeuta recebeu formação adequada e conhece teorias psicológicas que ajudam na compreensão do que ocorre com esse sujeito, auxiliam a identificar o que pode estar errado em sua vida, a direção que você está seguindo e as mudanças de rumo necessárias; Ele também tem prática com técnicas que tornam possível descobrir aspectos da personalidade que seriam inacessíveis a uma observação não treinada e está preparado para compreender você a partir do vínculo que você estabelece com ele, das respostas emocionais que você suscita nele; Essa presença autêntica no vínculo com o cliente permite que essa relação funcione como catalisador de processos de mudança como superação dos efeitos de traumas de relacionamentos anteriores. De acordo com Cordioli (2008) a psicoterapia originalmente chamada de cura pela fala, tem suas origens na medicina antiga, na religião, na cura pela fé e no hipnotismo. Entretanto ao final do século XIX que ela passou a ser utilizada no tratamento das doenças denominadas nervosas e mentais, tornando-se uma atividade médica inicialmente restrita aos psiquiatras, só no século XX outros profissionais passaram a exercê-la, como médicos clínicos, psicólogos, enfermeiros, assistente sociais, assim ultrapassando as fronteiras do modelo médico. Na atualidade existe um relativo consenso que as terapias são efetivas, além de uma concordância que uma boa parte dos seus efeitos deve-se a um conjunto de fatores que envolvem as técnicas efetivas utilizadas, em que cada abordagem possui as suas e também fatores específicos a todas as psicoterapias. Então

podemos

conceituar

a

psicoterapia

como

um

tratamento

primariamente interpessoal sendo realizada por um profissional treinado, utilizando meios psicológicos como forma de influenciar o paciente sendo a comunicação verbal o principal recurso, como já citamos. São vários os tipos de psicoterapia, mas todas possuem o mesmo objetivo, que é de reduzir ou remover um problema, queixa ou transtorno, trazido pelo paciente que busca ajuda.

Cordioli (2008) cita alguns elementos comuns a toda psicoterapia: 

Ela deve ocorrer num contexto de uma relação de confiança

emocionalmente carregada em relação ao terapeuta, pois se o paciente não sente AN02FREV001/ REV 3.0

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essa confiança, ficará um pouco difícil haver uma colaboração e assim o paciente não expressará o que o levou ao setting; 

A psicoterapia ocorre em um contexto terapêutico, no qual o

paciente acredita que o terapeuta irá ajudá-lo e confia que esse objetivo será alcançado, assim consegue-se estabelecer uma boa relação e levar a terapia à frente; 

De acordo com Frank (1973) citado por Cordioli (2008), existe uma

racional, um esquema conceitual ou um mito que provê uma explicação plausível para o desconforto, no caso um sintoma/um problema, e um procedimento ou um ritual para ajudar o paciente a resolvê-lo, ou seja, existe um problema e este pode ser explicado por uma teoria que com suas técnicas buscará ajudar. São várias as abordagens que dão suporte aos psicoterapeutas, aqui nos restringiremos às terapias comportamentais e cognitivo-comportamentais, em que estas se concentram nas alterações dos padrões habituais de pensamento e comportamento. Apesar das diferenças nas técnicas, a maioria dos métodos de psicoterapia possui características básicas em comum, umas delas que envolvem uma relação de auxílio entre duas pessoas, o cliente e o terapeuta, o cliente é estimulado a discutir preocupações íntimas e emoções e experiência livremente sem medo de ser julgado pelo terapeuta ou ter suas confidências traídas. E o terapeuta deve oferecer empatia e compreensão, engendrando confiança e tentando ajudar o cliente a desenvolver modos mais eficazes de lidar com seus problemas.

1.2 Fatores comuns a toda psicoterapia

De acordo com Cordioli (2008) existem muitos fatores comuns a todas as psicoterapias, citaremos alguns: 

A psicoterapia ocorre no contexto de uma relação de confiança

emocionalmente carregada em relação ao terapeuta; 

A psicoterapia ocorre em um contexto terapêutico, no qual o paciente

acredita que o terapeuta irá ajudá-lo e confia que esse objetivo será alcançado;

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Segundo Cordioli (2008) existe um racional, um esquema conceitual ou

um mito que prevê uma explicação plausível para o desconforto/sintoma/problema e um procedimento ou um ritual para ajudar o paciente a resolvê-lo; 

A psicoterapia é uma relação profissional que ocorre no contexto de

uma relação interpessoal, envolvendo outra pessoa ou um grupo de pessoas; 

Para a terapia ter sucesso é indispensável um contexto terapêutico

favorável, caracterizado por um ambiente de confiança e apoio, no qual o paciente acredita que o terapeuta irá ajudá-lo e, que esse objetivo será atingido; 

A psicoterapia deve proporcionar uma oportunidade para o paciente

expressar emoções, reviver e revisar experiências passadas, particularmente as que envolvem relacionamentos com figuras importantes do passado, percebendo as repetições no presente e encontrando novas formas de agir; 

Intervenções específicas são usadas pelo terapeuta, em que são

coerentes com o modelo explicativo sobre a origem e a manutenção dos sintomas, como propósito de eliminá-los; 

A terapia deve criar um ambiente que proporcione o entendimento e a

busca de alternativas para modos problemáticos de pensar, sentir e comportar-se; 

A terapia deve proporcionar a oportunidade para novas aprendizagens

por meio da exposição da situação, ideias, sentimentos e comportamentos que provocam ansiedade, fazendo com que o paciente supere seus medos e evitações; 

Segundo o autor citado, é indispensável o reconhecimento, por parte

do paciente, da necessidade de mudança e de um esforço pessoal para conseguir os resultados desejados.

1.3 Equívocos sobre a terapia cognitiva e comportamental AN02FREV001/ REV 3.0

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Nota-se que a Terapia Cognitiva tem sido frequente, e equivocadamente, identificada como Terapia Comportamental, originando a ideia, comum entre terapeutas treinados na abordagem comportamental, de que estariam naturalmente habilitados a praticá-la. A abordagem cognitiva e comportamental tem concepções de ser humano e modelos de personalidade e de psicopatologia diferentes, mas isso não quer dizer que elas não possam ser trabalhadas juntas como explicaremos adiante, pois elas são trabalhadas juntas e muitas pesquisas demonstram sua eficácia. A mudança da terapia cognitiva e suas técnicas por comportamentais requerem uma adaptação da visão de ser humano e a adoção dos modelos cognitivos de personalidade e psicopatologia. Essa integração de elementos da terapia comportamental à Terapia Cognitiva pode ser feita sim, resultando na assim chamada Terapia CognitivoComportamental (TCC), sendo viável desde que as técnicas comportamentais sejam empregadas com a finalidade de mudar cognições, e não comportamentos, ou seja, usar-se-iam técnicas comportamentais que seriam destinadas a mudar cognições e não comportamentos, mas à mudança de cognições consequentemente mudariam comportamentos. Todavia, que fique claro que o objetivo primeiro e principal seria a mudança da cognição, e assim modificariam os comportamentos. Deste modo, a Terapia Cognitiva, a TCC adota a hipótese de primazia das cognições sobre emoções e comportamentos e conceituam as cognições como eventos mentais.

FIM!

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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação

CURSO DE

PSICOLOGIA CLÍNICA

Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação

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CURSO DE

PSICOLOGIA CLÍNICA.

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

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1. A PSICOLOGIA ENQUANTO CIÊNCIA (PSICOLOGIA CIENTÍFICA)

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Muito se tem discutido sobre o que vem a ser conhecimento científico. Uns consideram que só deve ser reconhecido como Ciência aquele tipo de conhecimento que se pode medir e quantificar. A Ciência deve auxiliar no sentido de predizer os fatos. Todo e qualquer conhecimento que não se enquadre dentro das tabelas estatísticas deve ser colocado fora dos parâmetros científicos. Na verdade, o conceito de Ciência nunca foi uma unanimidade. Há várias correntes de pensamento se debatendo entre si, como também outros tipos de conhecimento lutando pelo reconhecimento de ser reconhecido como científico. Com a Psicologia não haveria de ser diferente e há várias práticas alternativas se autodenominando científicas dentro da prática psicológica. Entre punições efetuadas pelo Conselho de Ética dos Conselhos Regionais de Psicologia, muitas práticas hoje já são reconhecidas pelo Conselho Federal de Psicologia. O exemplo mais claro é a acupuntura.

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Mas o que vem a ser Ciência? O que poderia ser considerado científico ou não? Quais os critérios para que um conhecimento seja reconhecido como Ciência, ao passo que outros não o são? Qual a diferença entre pensamento e Ciência? A grande diferença entre o ser humano dos outros animais, pelo menos até que se prove o contrário, é que a pessoa é capaz de pensar. Pensamos ou pelo menos deveríamos pensar antes de agir. Ainda assim há aqueles que agem por impulso e só pensam naquilo que fizeram depois. Existem pensamentos simples, como aqueles que nos fazem preparar o café da manhã, levar o filho à escola e realizar tarefas simples como escovar os dentes e calçar os sapatos. Algumas dessas atividades são quase automáticas e praticamente não refletimos sobre elas. Há, contudo, cadeias de pensamentos bem mais elaboradas e que nos fazem parar para refletir sobre elas. Esse tipo de pensamento utiliza-se da razão e de cadeias lógicas para fazer sentido. Utiliza-se do pensamento racional para a tomada de decisões importantes na vida, como a escolha profissional, por exemplo. Dentre os tipos de pensamento existem aqueles rotineiros, comuns. Crê-se em determinadas coisas apenas porque todo o mundo crê. Fazem parte desse universo as crendices, as benzeduras, as superstições. Muitas práticas são oriundas de um método denominado tentativas e erro. Por exemplo, muitos chás são utilizados porque uma determinada pessoa fez uso dele e ele não fez mal, sem que houvesse um fundamento, uma explicação lógica para tal prática. A crença no sobrenatural é outro exemplo. As festas populares são ricas em rituais e precisam ser respeitadas, pois fazem parte da história de um povo. Os índios possuem uma cultura muito rica e muitas drogas utilizadas por eles já tiveram o seu valor científico comprovado. Todos os tipos de pensamentos humanos têm o seu valor. Mas só a partir do momento em que se pensa sobre os próprios processos de pensamento é que se dá início àquilo que comumente denominamos de saber científico. A Ciência se mostra principalmente como algo racional e sistemático. A Ciência utiliza métodos específicos, a depender de objetivos previamente traçados. Dentro da Psicologia Científica, para efeitos didáticos, é possível dividir a sua história em fases, desde a Antigüidade, quando já havia muito conhecimento

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apreendido da experiência humana. Embora não sistematizado, até os dias atuais, quando já existe um reconhecimento da Psicologia enquanto profissão e Ciência e já há um volume considerável de material científico produzido. Ao se falar em fase pré-científica, ou seja, aquela que foi do século XVI até 1879, havia rudimentos de uma psicologia ainda muito ligada à Filosofia. Essa foi uma fase de rejeição às verdades absolutas implantadas pela igreja e de questionamento sobre o pensar humano. A racionalidade se mostrava como traço preponderante do pensamento, sobretudo por construir as suas bases na Grécia Antiga, berço da civilização Humana. Cinco correntes se mostraram influentes dentro dos germes de uma futura psicologia científica e até hoje influenciam as escolas ou abordagens psicológicas. São elas: - O Empirismo Crítico que apresenta nomes de destaque como os de Descartes, Locke e Kant. Dentro dessa linha de pensamento considerava-se fator de suma importância que houvesse um pensamento racional, no qual fosse capaz de quantificar e provar, através de experimentos, os fenômenos mentais. O termo mente substitui o anteriormente utilizado, ‘alma’. Essa corrente filosófica daria origem, dentro da Psicologia, à Psicologia Experimental, que utilizaria animais de laboratório para reproduzir possíveis comportamentos humanos. Mais tarde, foram realizadas cirurgias mentais, com a intenção de mudar o comportamento do sujeito. A violência, assim como a alienação mental, eram frutos de distorções cerebrais facilmente tratáveis com cirurgias. Dessa corrente filosófica viriam todas as linhas que tentariam reduzir o comportamento humano a fórmulas matemáticas e estatísticas. O Behaviorismo tem uma forte base empirista. Sua linha mais radical elimina a possibilidade de estudar a psique humana. Apenas o comportamento observável é capaz de ser estudado dentro de parâmetros científicos. - Outra corrente filosófica propunha que a razão provinha do somatório de idéias simples. Pensamento de base fundamentalmente atomista se encontra presente até os dias atuais através, por exemplo, do nosso sistema de ensino. O profissional, para ser considerado bom precisa ter um profundo conhecimento em uma determinada área. Daí decorre em cursos de especialização,

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mestrado e doutorado, o que afunila a visão do todo a tal ponto que se torna praticamente impossível manter uma visão geral sobre o assunto. Nas rotinas do trabalho em saúde, tem se tornado uma luta incessante a implantação do trabalho interdisciplinar, pois a formação profissional estimulou o estudo em grades, que por sua vez se fragmenta em disciplinas e estas em unidades de ensino. É dito ao professor que ele “não pode fugir do assunto”. Depois, é cobrado que esse profissional trabalhe em equipe interdisciplinar. É possível? Essa forma de ver o mundo e de atuar vem do pensamento atomista, que tem nomes de importantes defensores como Darwin, Mill e Spencer. - O Materialismo Científico foi outra corrente filosófica que influenciou a Psicologia. De acordo com esse pensamento, apenas aquilo que fosse quantificável e observável valeria como objeto de estudo científico. Fazem parte desta corrente, nomes como August Comte e Marx. A nossa Bandeira representa bem esse pensamento, com o lema “Ordem e Progresso”. Ficaria fora daquilo que é considerado científico o estudo das emoções, dos sentimentos, a história e tudo o mais que pudesse de alguma forma, se relacionar com a dimensão subjetiva do ser. - Husserl trouxe a Fenomenologia, pensamento que deu origem à abordagem de mesmo nome, para a qual o que interessa é apenas a descrição do fenômeno. Na abordagem originada desse pensamento, não se utiliza classificações diagnósticas, visto que essa forma de agir dentro da Psicologia é considerada preconceituosa para a Psicologia, ou seja, uma forma de rotular e discriminar o ser humano. As angústias fazem parte da experiência humana, portanto, impossível à pretensão de querer curar as doenças. O ser humano é visto de forma única e a dicotomia cartesiana é eliminada nessa perspectiva de pensamento, ou seja, não há bem e mal, feio ou bonito, médico e paciente, mas um contexto que precisa ser descrito e observado. - O Romantismo origina uma corrente psicológica basicamente ingênua, na qual todo o homem é essencialmente bom e está direcionado para a auto-realização e auxílio mútuo. Se apresentar algum tipo de comportamento reprovável, não o faz por sua culpa, mas é vítima de um sistema social injusto e perverso, que o impede de ser bom. A abordagem Humanista deriva do Romantismo, por compartilhar dessa perspectiva. Rosseau eternizou essa corrente com o “Mito do Bom Selvagem”.

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É considerado como período da Psicologia enquanto Ciência aquela que vai de 1879 até os dias atuais e o seu marco inicial foi à criação do Primeiro Laboratório de Psicologia Experimental do mundo, na Alemanha, por Wundt. Nessa primeira fase da Psicologia enquanto Ciência, e até para afirmar-se enquanto tal, seu estudo era baseado em fórmulas físico-matemáticas e utilizava-se da terminologia médica, de forma mais específica, a fisiológica. Essa fase é marcada pela busca de estruturas imutáveis e universais, provavelmente para tentar encontrar respostas baseadas na anatomia humana a questões de outro âmbito. Os escritos freudianos são de certa forma, considerados estruturalistas, na medida em que representam muito bem as estruturas da consciência, em níveis de consciente, pré-consciente e inconsciente. Outra

ramificação

preocupa-se

muito

mais

com

o

dinamismo,

o

funcionamento mental, portanto, é denominada de Funcionalista. Baseia-se na linguagem da fisiologia para encontrar respostas aos estudos da percepção humana. Não diria que nessa época surgiriam as escolas ou abordagens psicológicas, mas que as correntes filosóficas tomariam forma de pensamento psicológico, o que seria conhecido como abordagens. Não há uma abordagem pura, mas cada abordagem fundamenta-se no pensamento de determinados filósofos e suas escolas. O Behaviorismo é uma das mais conhecidas abordagens psicológicas e tem o seu norte no pensamento positivista de Comte. Sem dúvida, foi à primeira escola organizada, fundamentando as suas estruturas no Positivismo. Ela foi reconhecida utilizando em termos a psicofísica de Wundt, embora não se ocupe muito em teorizar, pois já se inicia com experiências que visam entender o comportamento humano como algo produzido por determinados condicionantes. O comportamento torna-se, portanto, para essa Escola, fruto de pequenas ações aprendidas ou excluídas, a partir de estímulos ambientais. Tem-se claro, portanto, a visão atomista daquilo que seria denominada de estudo do comportamento humano. A Psicologia se restringe ao estudo daquilo que é observável. Destacam-se nomes como Skinner e Watson.

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Em relação à Psicanálise, ainda é questionada quanto à sua cientificidade. Resultado claro disso é que a grande maioria dos cursos de Formação em Psicanálise, ainda não são reconhecidos pelo MEC. Como amplamente divulgado, o Pai da Psicanálise foi o médico psiquiatra e psicanalista Sigmund Freud, no início do séc. XX. Duas grandes apropriações realizadas pela Psicanálise foram a descoberta do inconsciente, ou seja, aquilo que acaba por determinar ações do sujeito sem que se tenha acesso às suas reais causas e a descoberta da sexualidade infantil. Determinante da maioria das ações e atitudes da vida adulta, a depender da gratificação ou privação da satisfação dessas necessidades da vida infantil. Para Freud, a libido, energia sexual, é multifocal e permeia toda a vida psíquica do sujeito, podendo ser canalizada para vários aspectos e não apenas para a vida sexual em si. Este talvez seja o maior equívoco dos críticos dessa abordagem psicológica. Quando Freud se refere ao falo, por exemplo, que não está se referindo ao órgão sexual masculino, mas ao poder que ele representa. Por utilizar uma linguagem ‘sexualizada’, reduzem sua teoria às questões sexuais. Coube a Jung ampliar esse discurso, incluindo aí mitologia e antropologia. Fazem parte de temas importantes da Psicanálise o Complexo de Édipo, Inconsciente, Atos Falhos, Hermenêutica dos Sonhos, etc. Por se tratarem de temas tão subjetivos, ainda hoje se pergunta se a Psicanálise realmente funciona. O certo é que a Psicanálise propõe a cura pela fala e imortalizou a figura do analista e do divã. Se tornando um importante passo para o autoconhecimento e oportunidade rara para proporcionar um encontro com o eu e parar em meio a tanta correria dentro desse sistema produtivo-capitalista em que se vive. A Psicanálise permeia áreas como a Hospitalar, discursos do cinema, das letras, das artes, organizacional, psicodrama, escolar, ou seja, onde são realizadas análises de algum tipo de discurso, certamente aí estará a Psicanálise. São várias as escolas advindas da Psicanálise, dentre elas: as de Jung, Reich, Klein, Anna Freud, Adler, etc. É percebida a falta de algo novo em torno do conhecimento psicanalítico, pois o que se vê são repetições daquilo que já foi dito e feito.

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Quanto a Gestalt, há desacordos quanto a se tratar de uma escola definida. Ela é mais aceita como um conjunto de conhecimentos que veio auxiliar a Psicologia a ter uma visão mais total do ser humano. Algo que contemplasse as várias dimensões do ser e não apenas uma pequena parte fragmentada. Atualmente, muito graças a Gestalt, o ser humano é contemplado, dentro das mais diversas áreas da Psicologia, em suas dimensões físicas (comportamentos e somatizações), social, cognitiva, emocional e até mesmo a espiritualidade já se mostra como algo a não ser ignorado dentro das quatro paredes de um consultório, por exemplo. Já existem estudos científicos do benefício da fé para a proporção do bemestar humano. A Gestalt utiliza idéias de Koehler, Sartre, Merleau-Ponty e Husserl. Um importante ramo ou área da Psicologia trabalha com o desenvolvimento humano e baseia-se principalmente nas idéias de Piaget e Vygotsky. É a Psicologia do Desenvolvimento, aplicável em clínicas, hospitais e escolas, principalmente. Estudos

sobre

maturação

cognitiva,

relação

entre

linguagem

e

aprendizagem e o papel social entre todo esse processo fizeram parte do discurso desses brilhantes pensadores. Suas reflexões permanecem bastante atuais e tem gerado inúmeros debates acalorados. Enquanto para uns as idéias de ambos se excluem, para outros elas apenas se complementam. Carl Rogers, por sua vez, trouxe para a Ciência psicológica a concepção filosófica de humanismo, exaltando o ser humano como o autor mais importante da sua própria existência. Apregoava ser a pessoa mais importante que qualquer sistema psicológico. Essa grande quantidade de escolas acabou gerando ferrenhos adeptos de uma ou outra. Daria-se novamente a fragmentação e as guerras entre profissionais e estudantes, que acabariam por defender esta ou aquela posição. Isso gerou muita rivalidade e facções. Pouco se podia perceber que a pluralidade de escolas e pensamentos só enriqueceria o estudo da alma humana. Era necessário somar e não dividir. Quanto mais conhecimento teórico, melhor poderia ser a prática ou as práticas psicológicas. Aos poucos, o sistema quase partidário dentro das academias, aquele que forma discípulos deste ou daquele pensador, cede lugar a um novo profissional de

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Psicologia, aquele denominado ‘eclético’ e ainda criticado por muitos, por ser considerado indefinido em sua posição teórica. Seguindo a tendência atual do saber e fazer científicos, o profissional da Psicologia começa a atuar por temática, a depender da necessidade do paciente ou cliente, da pessoa que procura atendimento psicológico. É um profissional que pode ser considerado especialista e generalista ao mesmo tempo, pois necessita ter um conhecimento muito aprofundado sobre todo o saber psicológico, para ser tão generalista a ponto de entender a necessidade de seu paciente. O psicólogo temático tem, então, a liberdade de escolher uma área de atuação: Psicologia Jurídica ou Hospitalar, por exemplo, e a partir daí ter a liberdade de utilizar os diversos conhecimentos de cada corrente ou escola psicológica. O fato é que a Ciência é uma conquista recente da humanidade. Tem trezentos anos e surgiu no séc. XVIII. Isso não quer dizer que antes disso não tenha havido qualquer saber rigoroso, pois desde a Grécia Antiga o ser humano anseia por um tipo de conhecimento que seja distinto ao saber comum e ao mito. Enquanto Sócrates se preocupava com a definição dos conceitos, desejando atingir a essência das coisas, Platão mostrava o caminho que a educação do sábio deveria percorrer para ir do doxa (opinião) a episteme (Ciência). Entretanto, a Ciência só se desvincula da Filosofia na Idade Moderna. O mundo científico aspira à objetividade, pois as conclusões devem ser verificadas por qualquer outro membro competente da comunidade científica. A racionalidade deste conhecimento procura despojar-se do emotivo, tornando-se, na medida do possível, impessoal. A Ciência, apesar da busca por um conhecimento racional e verdadeiro, não é absoluta. É apenas mais uma de tantas outras verdades. Está tão sujeita a falhas, quanto qualquer outro tipo de conhecimento. Daí surgirem modelos científicos e até teorias contraditórias. É impossível admitir que um conhecimento seja neutro, pois conhecimento é poder e o poder está atrelado às ações políticas. Daí o cuidado que se deve ter para associar todo e qualquer conhecimento científico a uma prática ética.

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Como em qualquer outra prática científica, a pesquisa psicológica visa quatro finalidades básicas: Descrição, explicação, predição e controle. A descrição é o objetivo básico de qualquer Ciência. Os psicólogos reúnem fatos a respeito do comportamento e do funcionamento mental, a fim de formarem quadros precisos e coerentes destes fenômenos. (DAVIDOFF, 1983). Quando é extremamente difícil ou impossível usar estratégias diretas, recorrem a testes, entrevistas, questionários e outras táticas indiretas que têm menos probabilidade de serem exatas. Depois, faz-se necessário estabelecer uma relação de causa e efeito. Estas explicações se transformam em hipóteses. Quanto aos princípios básicos que norteiam a pesquisa psicológica, podem ser citados os seguintes, dentre outros:

1.

Precisão: Os psicólogos procuram serem precisos de diversas

maneiras. Primeiro, definem claramente o que estão estudando. Segundo tentam colocar seus dados em forma numérica, ao invés de confiar em impressões pessoais. É possível encontrar estes cientistas (principalmente os da linhagem positivista norte-americana) fazendo medições em fenômenos aparentemente imensuráveis, como o amor, a ansiedade ou a intoxicação por drogas lícitas ou ilícitas. Terceiro, após completarem a pesquisa, os psicólogos escrevem relatórios detalhados, descrevendo os sujeitos, o equipamento, os métodos, as tarefas e os resultados. O relatório preciso de pesquisa permite a outros cientistas do comportamento repetir ou replicar os estudos dos outros para ter a certeza de que são consistentes;

2.

Objetividade: A pesquisa científica em Psicologia se esmera para que

não ocorram distorções, pois, ao contrário de outras áreas, a Psicologia é a única em que o objeto de estudo tem a mesma natureza do pesquisador. Ou seja, ao pesquisar a personalidade de seres humanos, o cientista não pode perder de vista que também é um ser humano no qual não pode deixar que sentimentos como o amor e o ódio interfiram nos seus estudos;

3.

Empirismo: Os psicólogos acreditam que a observação direta é a

melhor fonte de conhecimento. E a especulação, por si só, é considerada como

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prova inadequada. Estes cientistas não devem adiantar como evidências noções populares, suas próprias idéias plausíveis, as especulações de cientistas eminentes ou pesquisas de opinião a respeito deste ou daquele tópico. Todas estas estratégias se apóiam apenas em conjecturas e não em observação direta;

4.

Determinismo: Todos os acontecimentos devem ter causas naturais.

Os psicólogos acreditam que os atos das pessoas são determinados por enorme número de fatores. Alguns intrínsecos: Potencialidades genéticas, motivos, emoções e pensamentos. Outros extrínsecos: Pressões pessoais e circunstâncias externas sejam ambientais ou sociais;

5.

Parcimônia, ou seja, as explicações devem ser padronizadas e

ajustadas aos fatos observados;

6.

Tentativas: As conclusões devem ser permanentemente reavaliadas e

jamais definitivas. O psicólogo não deve ter um conhecimento como algo absoluto e acabado, mas sempre duvidar dele.

Pesquisa em Psicologia e Bioética

Extraído do site www.ufpe.br

Bioética é um neologismo construído a partir das palavras gregas bios (vida) + ethos (relativo à ética). Segundo Diniz & Guilhem "...por ser a bioética um campo

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disciplinar compromissado com o conflito moral na área da saúde e da doença dos seres humanos e dos animais não-humanos, seus temas dizem respeito a situações de vida que nunca deixaram de estar em pauta na história da humanidade..." Em muitas ocasiões, ao longo da história, abusos dos mais diversos foram cometidos em nome da Ciência, através das denominadas pesquisas científicas. O alvo principal para o exercício de tais experimentos eram os menos favorecidos, os excluídos sociais: transtornados mentais, pobres, prisioneiros... O ponto culminante desse tipo de distorção aconteceu com as ‘experiências’ do holocausto, envolvendo inúmeros seres humanos sacrificados e que até hoje choca todo o mundo pela crueldade e pelo abuso de poder praticado por médicos nazistas. A Ciência jamais deve sobrepujar o ser humano e o psicólogo também deve estar atento a isso. O respeito ao outro deve permear toda a nossa prática. Foi criado, a partir disso, um código limitando pesquisas com seres humanos. Toda e qualquer pesquisa Científica não deve se colocar a serviço de interesses financeiros ou quaisquer outros que estejam acima do bem da humanidade. A Ciência não é neutra nem ingênua, por isso mesmo os estudiosos devem estar atentos ao uso que podem fazer das pesquisas advindas dela. O pesquisador precisa ter claro os possíveis efeitos sobre o outro que determinadas descobertas podem exercer sobre a humanidade, pois o mito da neutralidade científica é uma farsa. Toda pesquisa científica precisa ser controlada por rígidas normas, principalmente aquelas que envolvam seres humanos. Van R. Porter instaurou o termo Bioética em 1971 e desde então inúmeros progressos nesse sentido foram feitos. Os direitos dos seres humanos precisam ser respeitados, partindo do pressuposto de que aquele que participa de pesquisas devem ter claros os seus objetos e objetivos de cada estudo, como também o livre arbítrio de desejar

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participar da pesquisa ou não, sem jamais ser induzido a participar. O cientista deve estar alerta ao risco de sedução que o poder científico exerce. No Brasil, os aspectos éticos envolvidos em atividades de pesquisa que envolva seres humanos estão regulados pelas Diretrizes e Normas de Pesquisa em Seres Humanos, através da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, estabelecida em outubro de 1996. Estas Diretrizes foram detalhadas para pesquisas envolvendo novos fármacos, medicamento, vacinas e testes diagnósticos através de outra resolução ( 251/97), de agosto de 1997. Novas resoluções estão sendo elaboradas para tratar de outras áreas temáticas especiais. O objetivo maior da avaliação ética de projetos de pesquisa é garantir três princípios básicos: a beneficência, o respeito à pessoa e a justiça. Nesta garantia devem ser incluídas todas as pessoas que possam vir a ter alguma relação com a pesquisa, seja o sujeito da pesquisa, o pesquisador, o trabalhador das áreas onde a mesma se desenvolve e, em última análise, a sociedade como um todo. Os cuidados éticos da pesquisa em saúde envolvem a qualificação dos pesquisadores, o direito de informações precisas que o participante necessite obter, a relação custo-benefício, pois os benefícios devem sempre se sobrepor aos riscos, além de passar necessariamente por um Comitê de Ética, para avaliação a priori. É fundamental salientar que uma pesquisa que envolva seres humanos só pode ser realizada se absolutamente todos os outros possíveis meios tiverem se esgotado. O sigilo deve permear todo o processo de pesquisa, para que o indivíduo pesquisado não seja exposto de alguma forma. Se porventura os riscos envolvidos ultrapassarem aquele previsto, todo o processo da pesquisa deve ser imediatamente interrompido e sua metodologia revista. Seria ideal que o pesquisador fosse completamente indiferente aos resultados a serem obtidos, para não correr o risco de ser tendencioso, mas nem sempre isso é possível. Quanto ao comitê de Ética que é responsável pela autorização prévia da pesquisa, devem participar pesquisadores reconhecidamente competentes, como também representantes da comunidade, de preferência que não privilegiem algum

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setor, religião ou gênero. Devem ser avaliados tanto aspectos éticos quanto a qualificação dos respectivos pesquisadores.

2. Principais áreas de atuação do psicólogo

Psicologia do Esporte:

www.ead.pucrs.br/cursos/listartodos.php

Quem nunca se vio extasiado frente a uma jogada brilhante de Ronaldinho Gaúcho ou Kaká? Quem nunca ficou impressionado com a paixão de uma torcida fanática por um determinado time? O que motiva esportistas a treinarem horas e horas a fio? A verdade é que o início profissional de atletas está começando cada vez mais cedo e as pressões por resultados sempre maiores. Também o número de horas de treinamento testa os limites do atleta. Saudades de casa, necessidade de adaptar-se a países diferentes, jogadas cada vez mais duras, o que coloca a saúde do atleta sempre em risco e quando acidentes ocorrem, pressão para que retorne o mais breve possível…. Todo esse ambiente favorece transtornos como depressão e ansiedade, pois nem todo atleta apresenta estrutura emocional para lidar com a fama rápida e também com um sem-número de frustrações, pois sabe-se que o universo daqueles que ganham cifras milionárias é mínimo. AN02FREV001/REV 4.0

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A grande maioria vive quase que na miséria absoluta. Todo esse ambiente favoreceu o nascimento da Psicología do Esporte, pois o Esporte é considerado um dos maiores fenômenos de massa e tem requerido pesquisadores das mais variadas áreas, pois a tecnología empregada é quase sempre a tecnologia de Ponta. Pesquisadores da Antroplogia, Sociología e Filosofia têm feito parte deste universo, como também das áreas da Medicina, Engenharia, Fisiologia e Biomecânica, dentre tantos outros. De forma mais específica, dentro da Psicología do Esporte tem sido estudados temas como Motivação, Agressão, Violência, Liderança e Personalidade, embora no início os estudos tenham se restringido a apenas questões mais fisiológicas, como o Condicionamento Reflexo, tema de base Behaviorista. A Psicologia do Esporte tem seus primeiros registros como tal a partir do início do séc. XX, especificamente a partir da Copa do Mundo de Futebol de 1958, no Brasil. Ainda não há um arcabouço teórico específico dessa área da Psicología e esta acaba por recorrer a conhecimentos específicos da Psicología Clínica e da Psicología Social. No Brasil, essa área de atuação do psicólogo só se torna reconhecida em dezembro de 2000, e ainda assim apenas como uma especialidade. Problemas vividos por outras áreas de atuação também estão presentes na Psicologia do Esporte, pois a equipe Esportiva ainda não tem como certa a real possibilidade de auxílio quanto ao desempenho dos atletas e resultados práticos a partir do trabalho do psicólogo. João Carvalhaes foi o primeiro psicólogo brasileiro de que se tem registro, a atuar na Psicologia do Esporte Brasileira. Psicometrista, trabalhou no São Paulo Futebol Clube, na capital paulista, por vinte anos. Ele estava presente na conquista do primeiro título mundial, em 1958. (A. Machado, 1997; Rubio, 1999; 2000.a). O campo de atuação da Psicologia do Esporte envolve o estudo da pessoa praticante de esporte, seja este de caráter amador ou profissional, competitivo ou não competitivo.

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Isso inclui a avaliação, diagnóstico, intervenção ou simplesmente a análise do contexto esportivo incluindo o comportamento do grupo ou indivíduo praticante da atividade. Faz parte dessa perspectiva a necessidade de realizar ações prognósticas, ou seja, de tornar predizível possíveis resultados. Isso é realizado dentro de uma certa probabilidade estatística. (J. Azevedo Marques & S. Junishi, 2000; S. Figueiredo, 2000; M. Markunas, 2000; S. Martini, 2000). Os métodos normalmente utilizados para intervenção esportiva, após análise diagnóstica realizadas pelo psicólogo esportivo são aqueles baseados em processos sensoriais, sensório-motores, de pensamento, mnemônicos e volitivos como os de ordem psicossociais. Pode-se afirmar, então, que na Psicologia do Esporte são estudadas as particularidades psicológicas de um grupo esportivo, buscando revelar e explicar sua dinâmica e assim poder intervir de forma efetiva e eficaz, visando a obtenção dos resultados desejados, fazendo fluir o melhor que cada atleta possui, em termos potências, preservando a sua saúde e o seu equilíbrio psicológico.

Psicologia Ambiental AN02FREV001/REV 4.0

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Extraído de www.usp.br

A Psicologia Ambiental trata do relacionamento recíproco entre comportamento e ambiente físico, tanto construído quanto natural. Mantém interface com áreas de estudo tais como: a sociologia e antropologia urbana, ergonomia, desenho industrial, paisagismo, engenharia florestal, arquitetura, urbanismo e geografia, entre outras. Na medida em que estas áreas estudam diferentes aspectos da organização de espaço/ambiente físico e sua relação recíproca com o ser humano. Encontra-se freqüentemente, na literatura estrangeira, o termo environment-behavior relation, para caracterizar este campo de estudo, para o qual se sugere, em Português, o termo relações indivíduoambiente. (ARAGONÉS, 1998). Por sua característica interdisciplinar e por ser um campo que possibilita o estudo de fenômenos os mais diversos, a Psicologia Ambiental utiliza uma abordagem multimetodológica. O que determina a escolha do método é o problema em estudo em cada situação. Quase toda pesquisa se orienta para a resolução de um problema prático e no meio termo procura também avançar no

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conhecimento teórico da área, sob o modelo da pesquisa-ação.

Psicologia Organizacional

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A Psicologia Organizacional, inicialmente denominada como Psicologia Industrial ou Psicologia do Trabalho estuda os fenômenos psicológicos presentes nas organizações. Mais especificamente, atua sobre os problemas organizacionais ligados à gestão de recursos humanos (ou gestão de pessoas). A psicologia está muito ligada a empresas, atualmente, seja ela no bem-estar de cada um dos colaboradores, até mesmo nas emoções geradas num ambiente de trabalho. Tradicionalmente, as principais áreas da psicologia organizacional são: recrutamento, seleção de pessoal, treinamento, diagnóstico organizacional. A Psicologia do Trabalho ou Organizacional consolida-se em um contexto capitalista, sob um modelo de desenvolvimento fordista.

Fordismo:

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- Modo de desenvolvimento dos países capitalistas (hegemônico após a 2ª Guerra Mundial)

- Envolve um regime de acumulação intensivo, associado a um modo de regulação monopolista.

- "Produção em massa de produtos indiferenciados" e um consumo em massa, assegurado por salários elevados praticados pelas empresas e defendidos pelos sindicatos, e pelo estado que mantém, através de políticas de bem-estar social, desempregados e aposentados no mercado consumidor.

- Pacto social: * Papel do trabalhador: obediência às prescrições dos organizadores. * Conseqüência: aumento de produtividade. * Recompensa: manutenção de uma norma salarial e aumentos periódicos atrelados aos ganhos de produtividade obtidos.

- Trabalhador de "chão de fábrica": pouco especializado mal escolarizado, muito disciplinado e qualificado a exercer sua função empobrecida.

Psicologia Industrial:

- Surge a serviço de certa forma de administração. - Marcada pelo apelo dos controles individuais. - Visa fornecer elementos que permitam a seleção de trabalhadores, sua capacitação para o desempenho das funções, a descrição detalhada do que fazem introdução ao ambiente de trabalho, avaliação periódica, seu crescimento hierárquico

e

seu

aconselhamento

(principalmente

quando

compromete

desempenho).

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Psicologia Industrial, influenciada pela escola de relações humanas da administração, se preocupa:

- Como fazer para que os subordinados trabalhem (motivação) - Como fazer para que os chefes e supervisores tornem seus subordinados mais produtivos (liderança) - Como divulgar as informações e decisões tomadas pela cúpula para evitarem-se distorções e resistência (comunicação). - Prática de seleção - Treinamento

Psicologia Organizacional:

- Emergiu como resposta no âmbito da Psicologia do Trabalho à primeira crise do fordismo.

Fatores que contribuíram para a crise do modelo fordista:

1º surgimento da concorrência internacional (reconstrução européia do pósguerra e a emersão do Japão no cenário internacional) 2º rigidez do processo em massa tem dificuldade em atender mercado consumidor diferenciado e mais exigente. 3º maior qualificação e instrução dos países do centro levam à resistência por trabalhos empobrecidos e relações hierárquicas verticais. 4º surgimento de processos que permitem produção em massa de produtos extremamente diferenciados. 5º rigidez das relações salariais fordistas. 6º crise do petróleo caracteriza um aumento do custo.

Conseqüência da crise fordista:

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-

Dissociação

geográfica

do

fordismo:

exportação

da

montagem

desqualificada para países estáveis do 3º mundo.

Paralelo com a Psicologia Organizacional:

- Modificou-se para dar suporte ao processo de mudança organizacional. - Organizações deveriam atender às novas demandas do mercado aonde iriam se inserir. - Organizações deveriam aprender a lidar com trabalhadores de cultura diferente.

Função dos psicólogos

- Colaboração no diagnóstico organizacional - Pesquisas de clima e cultura organizacional - Levantamento de necessidades de treinamento - Análise do comportamento dos recursos humanos - Utilização dos traços de personalidade à seleção profissional.

Psicologia Organizacional X Ergonomia

- Adaptação do trabalho ao homem. - Envolve aspectos como a fisiologia, antropometria, percepção, acidentes de trabalho, fadiga, tecnologia, ambiente físico, ambiente psicossocial, organização do trabalho, postos de trabalho e produtividade.

Psicologia Organizacional X Qualidade de Vida no Trabalho

- Fruto de uma ampliação de papel do movimento sindical nos países do centro.

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- Associada a uma escolarização maciça da classe trabalhadora.

- Criam-se:

- Programas de estresse laboral: visam reduzir desgaste físico-psíquico do trabalhador. - Qualidade de vida no trabalho, orientada em direção à satisfação no trabalho.

FUNÇÕES DE RECURSOS HUMANOS

- Antes universais passam a ser vistas como políticas e programas de recursos humanos. - Técnicas e concepções podem ser alteradas e modificadas.

ARTICULAÇÃO

ENTRE

DIVERSOS

CONHECIMENTOS

E

A

ADMINISTRAÇÃO

- Psicanalítica medicina psicossomática e situações de trabalho: nasce a "psicopatologia do trabalho"

- Psicopatologia do trabalho - estuda o sofrimento, conceito situado entre a doença mental propriamente dita e a saúde mental, em contraponto à organização do trabalho.

- Transcende-se à noção de estresse organizacional e procura analisar também neuroses e psicoses em relação ao trabalho e à organização, tendo em vista sua prevenção.

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Psicologia Hospitalar

www.delboniauriemo.com.br/qualidade_parcerias.php

Definição

•É um ramo da Psicologia que se diferencia dos demais, por

pretender principalmente humanizar a prática dos profissionais de saúde dentro do contexto hospitalar. (BRANDÃO, 2001)

•A partir da Psicologia Hospitalar, a própria psicologia redefiniu

conceitos teóricos na tentativa de uma melhor compreensão da somatização, suas implicações, ocorrências e conseqüências. Histórico da Psicologia Hospitalar no Brasil

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1054- Matilde Neder dá inicio à Psicologia Hospitalar no Brasil

desenvolvendo uma atividade na Clínica de Ortopedia e Traumatologia da USP. 1974- Belkis Wilma Romano Lamosa implanta o Serviço de Psicologia no Instituto do Coração, Faculdade de Medicina da USP, que só abriria para a população em 1977.



1984- Criado o Departamento de Psicologia da Sociedade de

Cardiologia do Estado de SP, sob a Coordenação de Belkis W.R. Lamosa, a partir daí todos os Congressos da Sociedade Brasileira de Cardiologia contavam com a presença da Psicologia em sua programação Científica. •

1993- Criado o Departamento de Psicologia Aplicada à

Cardiologia da Sociedade Brasileira de Cardiologia-DF sob a Coordenação

de Lúcia Miranda. •

2002- Primeira Turma da Disciplina Optativa de Psicologia

Hospitalar–UniCEUB...

Psicologia Hospitalar

• O Psicólogo se descobre sendo instrumento de alívio de uma das

facetas mais sofridas da realidade humana: a morte.

O Psicólogo Hospitalar descobre de modo concreto um dos preceitos

máximos da Psicologia que é a cura através da palavra, a cura da dor provocada pelo sofrimento físico e emocional.

Psicologia Escolar

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www.ufmg.br/.../cursos/psicologia.htm

O interesse pela educação, suas condições e seus problemas, foi sempre uma constante entre filósofos, políticos, educadores e psicólogos. Com o desenvolvimento da Psicologia como Ciência e como área de atuação profissional, no final do século XIX, várias perspectivas se abriram, fato que também ocorreu à chamada Psicologia Educacional. (MACHADO, 2004). Durante as três primeiras décadas do século XX a psicologia aplicada à educação teve enorme desenvolvimento. Nos EUA destacava-se a necessidade de um novo profissional, capaz de atuar como intermediário entre a psicologia e a educação. Três áreas destacaram-se: as pesquisas experimentais da aprendizagem; o estudo e a medida das diferenças individuais e a psicologia da criança. Até a década de 50, a Psicologia da educação aparece como a 'rainha' das ciências da educação. Seu conceito: uma área de aplicação da psicologia na educação. A Psicologia Educacional era um ramo especial da Psicologia, preocupado com a natureza, as condições, os resultados e a avaliação e retenção da aprendizagem escolar. Ela deveria ser uma disciplina autônoma, com sua própria teoria e metodologia.

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Durante a década de 50, o panorama muda. Começa-se a duvidar da aplicabilidade educativa das grandes teorias da aprendizagem, elaboradas durante a 1ª metade do século XX. Prenuncia-se uma crise. Surgem outras disciplinas educativas tão importantes à educação quanto a psicologia, e esta precisa ceder espaço. Na década de 70, assume o seu caráter multidisciplinar que conserva até hoje. Não mais é considerada como a psicologia aplicada à Educação. Atualmente, a Psicologia da Educação é considerada um ramo tanto da Psicologia como da Educação, e caracteriza-se como uma área de investigação dos problemas e fenômenos educacionais, a partir de um entendimento psicológico.

Conceito de Psicologia da Educação:

Quando se fala, hoje, em 'Psicologia da Educação' vários termos são utilizados indiscriminadamente como sinônimos, tais como: psicopedagogia, psicologia escolar, psicologia da educação, psicologia da criança, etc. A lista poderia ser alongada. Esta imprecisão na linguagem, e esta confusão entre disciplinas ou atividades não são exatamente passíveis de sobreposição, pois cada qual tem suas definições e limitações. A Psicologia da Educação tem por objeto de estudo todos os aspectos das situações da educação, sob a ótica psicológica, assim como as relações existentes entre as situações educacionais e os diferentes fatores que as determinam. Seu domínio é constituído pela análise psicológica de todas as facetas da realidade educativa e não apenas a aplicação da psicologia à educação. Seu maior objetivo é constatar ou compreender e explicar o que se passa no seio da situação de educação. Por isso, tanto psicólogos quanto pedagogos podem possuir tal especialização profissional. A Psicologia da Educação faz parte dos componentes específicos das ciências da Educação, tal como a sociologia da educação ou a didática. Compõem um núcleo, cuja finalidade é estudar os processos educativos.

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Atualmente, rejeita-se a idéia de que a Psicologia da Educação seja resumida a um simples campo de trabalho da Psicologia; ela deve, ao contrário, atender simultaneamente aos processos psicológicos e às características das situações educativas.

Ela estuda os processos educativos com tripla finalidade:

1. Contribuir à elaboração de uma teoria explicativa dos processos educativos – nível teórico; 2. Elaborar modelos e programas de intervenção - nível tecnológico; 3. Dar lugar a uma práxis educativa coerente com as propostas teóricas formuladas - nível prático.

Definição de Psicopedagogia:

Especialização dentro da Pedagogia e/ou Psicologia que trata dos distúrbios de aprendizagem (crianças que possuem dificuldades para aprender).

Definição de Psicologia da Criança:

Também

chamada

de

Psicologia

Evolutiva

ou

Psicologia

do

Desenvolvimento Humano, estuda as leis gerais da evolução da criança, as sucessivas etapas de seu desenvolvimento nas quatro grandes áreas: cognitiva, afetiva, social e psicomotora.

APRENDIZAGEM INFORMAL E FORMAL

Conceito Geral de Aprendizagem:

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Aprendizagem é a aquisição de novos comportamentos, que são incorporados ao repertório individual de cada pessoa, que deverá apresentar, desse modo, capacidades e habilidades não existentes anteriormente. Além de adquirir comportamentos novos, através da aprendizagem, uma pessoa poderá também modificar comportamentos anteriormente adquiridos (ROCHA). “Aprendizagem é o resultado da estimulação do ambiente sobre o indivíduo já maturo, que se expressa, diante de uma situação-problema, sob a forma de uma mudança de comportamento em função da experiência; envolve os hábitos que formamos os aspectos de nossa vida afetiva e a assimilação de valores culturais, além dos fenômenos que ocorrem na escola” (JOSÉ & COELHO).“A aprendizagem é parte de um processo social de comunicação - a educação” - e apresenta os seguintes elementos:

Comunicador ou emissor: professor, enquanto transmissor de informações ou agente do conhecimento. O comunicador tem uma participação ativa no processo educativo, devendo estar motivado e ter pleno conhecimento da mensagem que irá transmitir a seus alunos. Mensagem: conteúdo educativo, conhecimentos e informações a serem transmitidas. A mensagem deve ser adequada, clara e precisa para ser bem entendida. Receptor da mensagem: aluno. O receptor não tem um papel passivo; deve ser um construtor crítico dos conhecimentos e informações que lhe são transmitidos. Meio ambiente: meio escolar, familiar e social, onde se efetiva o processo de Ensino-aprendizagem. O meio ambiente deve ser estimulador da aprendizagem e propício ao bom desenvolvimento do processo educativo. (DROUET)

Aprendizagem significativa: é interessante destacar que não basta apenas 'ensinar'; é preciso oportunizar aos nossos educandos uma aprendizagem significativa. Ou seja, para que a aprendizagem provoque uma efetiva mudança de comportamento e amplie cada vez mais o potencial dos educandos. É necessário que ele perceba a relação entre o que está aprendendo e a sua vida, sendo capaz de reconhecer as situações em que aplicará o novo conhecimento.

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“Uma aprendizagem mecânica, que não vai além da simples retenção, não tem significado nenhum” (JOSÉ & COELHO).

É possível medir o nível de aprendizagem?

Como a aprendizagem se concretiza em termos de comportamento, para avaliar o que alguém aprendeu é preciso observar o seu desempenho. Esta é a concepção das escolas mais tradicionais, onde a 'prova' era a única capaz de verificar o aprendizado, inferindo sobre sua ocorrência. Mas será esta a melhor e mais fidedigna maneira de verificar o aprendizado? Atualmente, têm-se realizado importantes mudanças no modo de pensar em relação à aprendizagem escolar, tendo como resultados esforços para combinar várias interpretações. A prova já não parece mais tão fidedigna assim, pois ela pode representar uma mudança temporária de comportamento e não uma mudança duradoura.

Curva representativa de Aprendizagem

Estamos permanentemente em estado de aprendizagem. O declínio da curva se dá porque começa a haver um enfraquecimento neuro-hormonal no indivíduo. Devido a esse enfraquecimento alguns envelhecem mais cedo, enquanto outros permanecem perfeitamente lúcidos até uma idade muito avançada.

Ensino X Instrução

ENSINAR: fazer com que as pessoas aprendam; fazer com que outros saibam, adquiram conhecimentos ou mudem atitudes. A aprendizagem é seu produto final. INSTRUIR: manipular deliberadamente o ambiente de outros, para torná-lo capaz de aprender, sob condições específicas (aprendizagem escolar). Este é um conceito ultrapassado. Desta diferença entre ensinar e instruir pode-se dizer que existem dois tipos de aprendizagem: informal e formal.

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A Aprendizagem e a Psicologia da Educação: Aprendizagem Informal e Formal

Aprendizagem Formal: processo que é direcionado, orientado e previamente planejado e organizado (sala de aula); advém da instrução. Aprendizagem Informal: processo que é de natureza incidental, não-dirigido, e carente de controle. Resultam da experiência no ambiente de vida (fora da escola); advém do ensino. A Psicologia da Educação exerce seu papel mais relacionado à aprendizagem formal.

Modelos de Ensino Formal:

Um modelo de ensino formal inclui um conjunto de procedimentos para que se realize o ensino. Pode resumir-se em seus componentes fundamentais: professor, aluno e conteúdo. Existem quatro modelos básicos:

Modelo Clássico: ênfase dada no professor, enquanto um transmissor de conteúdo. A educação consiste em transmissão de idéias selecionadas, organizadas e não de acordo com o interesse do aluno. O aluno é apenas um recipiente passivo. Modelo Tecnológico: ênfase na educação como transmissora de conteúdos; o conteúdo é o centro do processo. O aluno é um recipiente de informações. A educação se preocupa com aspectos observáveis e mensuráveis e o professor é o responsável por essa concretização. Modelo Personalizado: ênfase no aluno. O ensino se processa em função do desenvolvimento e interesse dos alunos. A educação é um processo progressivo e o professor oferece assistência ao aluno, enquanto um facilitador da aprendizagem. Modelo Interacional: apresenta um equilíbrio entre os componentes do modelo. O professor cria um clima de diálogo e troca experiências e valores com

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seus alunos. O conteúdo consiste na análise crítica de problemas reais e sociais. O aluno é ativo em sua aprendizagem.

DOMÍNIOS DA APRENDIZAGEM

A aprendizagem abrange três domínios fundamentais: 1. Intelectual ou Cognitivo; 2. Afetivo-social; 3. Sensório-psiconeurológico.

Domínio intelectual ou cognitivo (inteligência humana)

A inteligência e a idade mental (e não a cronológica) são domínios decisivos à aprendizagem humana. Inteligência: capacidade de interagir com o meio ambiente e adaptar-se a ele; desenvolve-se através de fases, ao longo da vida, que se sucede em uma mesma ordem, mas devido às diferenças individuais, podem ser alcançadas em idades diferentes para cada pessoa, dependendo do ritmo de desenvolvimento.

Domínio afetivo-social (emoções, sentimentos e aspectos psicossociais)

As pessoas são todas diferentes e únicas. As diferenças são determinadas pelas influências genéticas, bioquímicas de seu próprio organismo e por estímulos do ambiente em que vivem, bem como pela interação de todas as experiências sociais que tiveram desde o nascimento. A personalidade de cada indivíduo vai se formando se desenvolvendo; Portanto, o aluno que chega à escola ou universidade já possui sua personalidade bem definida. As características psicológicas momentâneas, tais como o humor, as emoções e os sentimentos, também são domínios fundamentais à aprendizagem humana.

Da

mesma

forma,

certo

amadurecimento

social

(relacionamento

interpessoal e intrapessoal) é elemento igualmente importante neste processo de ensino-aprendizagem.

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O sensório-psiconeurológico (sensações, desenvolvimento neuropsicológico e maturação neurológica).

-

A

integração

das

funções

neuropsicológicas

é

fundamental

à

aprendizagem. Para tanto, a estimulação é comprovadamente importante, já que crianças que viveram seus primeiros anos de vida em ambientes pobres de estímulos sofreram danos graves de desenvolvimento, principalmente em seus elementos sensoriais (audição, visão, tato, gustação, olfato), neurológicos (maturação neurológica), psicomotores (esquema corporal, lateralidade, equilíbrio) e lingüísticos (fala).

PRINCÍPIOS DA APRENDIZAGEM

1º princípio: “universalidade” - a aprendizagem é co-extensiva à própria vida, ocorre durante todo o desenvolvimento do indivíduo. Na vida humana a aprendizagem se inicia antes do nascimento e se prolonga até a morte. 2º princípio: A aprendizagem é um processo constante e contínuo. 3º princípio: “gradatividade” - A aprendizagem é gradual, isto é, aprende-se pouco a pouco. 4º princípio: “processo pessoal/individual” - cada indivíduo tem seu ritmo próprio de aprendizagem (ritmo biológico) que, aliado ao seu esquema próprio de ação, irá constituir sua individualidade. Por isso, tem fundo genético e também ambiental, dependendo de vários fatores: dos esquemas de ação inatos do indivíduo; do estágio de maturação de seu sistema nervoso; de seu tipo psicológico constitucional (introvertido ou extrovertido); de seu grau de envolvimento; além das questões ambientais. 5º princípio: “processo cumulativo” - as novas aprendizagens do indivíduo dependem de suas experiências anteriores. As primeiras aprendizagens servem de pré-requisitos para as subseqüentes. Cada nova aprendizagem vai se juntar ao

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repertório de conhecimentos e de experiências que o indivíduo já possui indo construir sua bagagem cultural. 6º princípio: “processo integrativo e dinâmico” - esse processo de acumulação de conhecimentos não é estático. A cada nova aprendizagem o indivíduo reorganiza suas idéias, estabelece relações entre as aprendizagens, faz juízos de valor.

FATORES DA APRENDIZAGEM

Saúde física e mental: para que seja capaz de aprender, a pessoa deve apresentar um bom estado físico geral; deve estar gozando de boa saúde, com seu sistema nervoso e todos os órgãos dos sentidos. As perturbações na área física, como na sensorial e na área nervosa poderão constituir-se em distúrbios da aprendizagem. Febre, dores de cabeça, disritmias (ausências mentais) são exemplos disto. Motivação: é o fator de querer aprender; o interesse é a mola propulsora da aprendizagem. O indivíduo pode querer aprender por vários motivos: para satisfazer a sua necessidade biológica de exercício físico e liberar energia; por ser estimulada pelos órgãos dos sentidos, através de cores alegres; por sentir-se inteligente e bem consigo mesmo ao resolver uma atividade mental; por sentir necessidade de conquistar uma boa classificação na escola (status social e pessoal, admiração). Prévio domínio: domínio de certos conhecimentos, habilidades e experiências anteriores, possuindo relativa vantagem em relação aos que não o possuem. Maturação: é o processo de diferenciações estruturais e funcionais do organismo, levando a padrões específicos de comportamento. A maturação neurológica se dá por etapas sucessivas e na mesma seqüência (Leis céfalo-caudal e Próximo-distal). A maturação cria condições à aprendizagem, havendo uma interação entre ambas. Inteligência: capacidade para assimilar e compreender informações e conhecimentos; para estabelecer relações entre vários desses conhecimentos; para

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criar e inventar coisas novas, com base nas já conhecidas; para raciocinar com lógica na resolução de problemas. Concentração e atenção: capacidade de fixar-se em um assunto/tarefa. Desta capacidade dependerá a facilidade maior ou menor para aprender. Memória: a retenção da aprendizagem é aspecto essencial à aprendizagem, pois quando a pessoa precisar de um conhecimento ela deverá ser capaz de resgatá-los da memória, usando os conhecimentos anteriormente adquiridos. No entanto, quem aprende está sujeito a esquecer o que aprendeu. O esquecimento se dá por vários motivos: pela fragilidade ou deficiência na aprendizagem, causada por estudo ineficiente, falta de atenção; pela tentativa de evocação do fato memorizado através de um critério diferente do usado na fixação da aprendizagem; pelo desuso das informações; por um componente emocional que não permite a memorização da informação ou a 'esconde' no subconsciente.

FATORES QUE INFLUENCIAM NA APRENDIZAGEM

A aprendizagem é produto de uma interação complexa e contínua entre hereditariedade e o meio ambiente. Este processo pode ser influenciado tanto na vida pré-natal como na vida pós-natal. As causas podem ser inúmeras: químicas, físicas, imunológicas, infecciosas, familiar, afetivas e sócio-econômicas.

FATORES GENÉTICOS OU HERANÇA

Os elementos hereditários que influenciam na aprendizagem são chamados de fatores genéticos e encontra-se na inscrição do programa biológico da pessoa herança. Está presente em toda parte: determina o grau de sensibilidade dos órgãos efetores aos estímulos indutores; condiciona o aparecimento de doenças familiares capazes de prejudicar a aprendizagem (insônia, depressão, síndrome de down, asma) e ainda pode indiretamente intervir nos fatores ambientais, garantindo maior ou menor resistência do organismo aos agravos do meio.

FATORES NEUROENDÓCRINOS

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O hipotálamo é destacado como o local controlador do sistema endócrino. Podemos considerar o hipotálamo como um centro integrador de mensagens, controlando a função da glândula hipófise na produção e liberação dos hormônios de todas as glândulas do organismo e possibilitando a criança explorar seu potencial genético,

de

desenvolvimento

e

de

aprendizagem.

Neuro-Hormônio

Adenocorticotrófico - ACTH: é liberado pelo hipotálamo; sua secreção acompanha um ritmo circadiano gerado por um ritmo cerebral intrínseco, ligado a alteração de luz (dia e noite), sono, estresse físico e emocional.

FATORES AMBIENTAIS

O meio ambiente na qual a pessoa está inserida exerce influências particularmente poderosas, contribuindo positivamente à realização do plano genético ou negativamente, apresentando obstáculos. O ambiente compreende tanto condições da vida material, estando em primeiro lugar a alimentação e sua utilização (nutrição), quanto pelo ambiente físico (sócio-econômico, estilo de vida) e o ambiente familiar e cultural, cujo elemento fundamental é constituído pela relação afetiva primária e o estímulo materno. Na interação da hereditariedade e do meio ambiente, quando o meio é normal e favorável pode-se calcular que 80 a 90 % da variabilidade natural da espécie humana, nos limites da normalidade, se realizam segundo o programa genético pré-determinado, entretanto, quando o meio é desfavorável e heterogêneo, a hereditariedade pode cair a 60%.

NUTRIÇÃO

Em relação à alimentação, o leite é a nutrição natural inicial para todos, e a qualidade desse leite tem condições para satisfazer o potencial genético ao crescimento e à aprendizagem. A alimentação saudável é a balanceada, com proteína suficiente, além da presença de hidratos de carbono, gorduras, sais minerais e vitaminas. É preciso ter presente que só o crescimento consome 40% das calorias fornecidas à criança.

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Deve-se fornecer energia à criança para atender às necessidades de metabolismo basal; ação dinâmico-específica dos alimentos; perda calórica pelos excretos; atividade muscular; crescimento. Para que a aprendizagem também seja beneficiada, a nutrição do indivíduo deve ser balanceada e saudável. Essa energia é, então, transmitida através dos macro nutrientes: Vitaminas; proteínas; hidratos do carbono; sais minerais; gorduras.

Dois aspectos relacionados à alimentação que exercem influências:

A superalimentação: aceleração e envelhecimento precoce do crescimento; A subalimentação: quando é global (fornecimento calórico abaixo de 1/3), o crescimento é bloqueado de forma completa. Quando a sobrevida é possível, se traduz pelo aspecto clínico de marasmo. Quando se refere especificamente sobre a proteína, continuando o fornecimento calórico global tolerável, o crescimento estatural é bloqueado - desnutrição protéica.

VARIÁVEIS SÓCIO-ECONÔMICO-CULTURAIS

As variáveis sócio-econômicas exercem importante influência: renda per capita, a idade dos pais, o tamanho da família, condições de habitação e saneamento, escolaridade, higiene; cultura dos pais (influencia na alimentação da criança). Dada a melhoria nas condições de vida, tais como a urbanização, melhoria nos cuidados médicos, maior ingestão alimentar de nutrientes, vestuário menos restritivo, entre outros fatores, existe uma forte tendência para que as crianças das gerações que nos sucedem alcancem uma maturação mais cedo. Esta tendência de aceleração secular pode ser vista nos estudos de Monteiro (1996), que demonstra que as crianças brasileiras estão maturando cada vez mais cedo, em todas as classes sociais, onde as regiões sul e sudeste do país são as que mais crescem.

FAMÍLIA E OS FATORES PSICOSSOCIAIS

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Outro aspecto importante, diz respeito ao ambiente familiar, que comporta elementos diversos, de ordem psicológica particular, mas também de ordem cultural segundo o nível intelectual, os conhecimentos adquiridos através dos pais, a herança dos costumes, etc. Acima de tudo, intervém a relação afetiva precoce da mãe com a criança desde os primeiros instantes da vida. A qualidade dessa ligação afetiva condiciona em grande parte o relacionamento da mãe e, conseqüentemente, a qualidade de sua conduta com a alimentação, proteção física, estímulo psíquico e cultural da criança. A carência afetiva consiste na falta de carinho e de solicitação afetiva materna, perturbando ou mesmo impedindo o vínculo mãe e filho, determinando o aparecimento de uma síndrome complexa com reflexos no seu desenvolvimento neuropsicomotor, no crescimento e no estado emocional, e por conseqüência, na aprendizagem.

O PROFESSOR E O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM

Quando inserido no processo de ensino-aprendizagem (sala de aula), o professor poderá vir a assumir vários papéis sociais. A Psicologia da Educação, após longos anos de pesquisa a respeito deste assunto, identificou alguns papéis claros, assumidos por professores em seu trabalho diário junto a uma classe de alunos.

# Grupo de papéis Negativos:

Bode expiatório: sente-se alvo de hostilidades, recusado por seus alunos; perde sua estabilidade emocional. Requer uma grande dose de segurança interior para aceitar esta situação e ainda permanecer no posto. Este professor poderá ter dois tipos de comportamento: a contra-hostilidade e a necessidade de constante submissão, para com a vontade de seus alunos para ser aceito.

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Inspetor e disciplinador: sente-se o distribuidor e o executor da justiça; Valoriza desempenhos, classifica alunos, promove-os e rebaixa-os. É o grande responsável pela conduta em sala de aula, faz o papel de inspetor. Julga o certo e o errado, administrando recompensas e punições.

# Grupo de papéis Autoritários:

Substituto da autoridade paterna: assume o papel de orientador dos alunos, orientando a todos de igual maneira. Não é nem paternalista demais, nem rígido demais. Mantém um bom e equilibrado nível de relações afetuosas com todos. Fonte de informações: sua função é transferir conhecimentos para os alunos; é aquele que sabe. Orienta-se em termos acadêmicos em sua abordagem. Forja uma concepção passiva do aluno quando se vê como o único que sabe tudo. Líder de grupo: professor que se coloca como líder. Pode assumir a liderança do grupo de duas formas: autocrática ou democrática, ambas envolvem o sistema de status no grupo. Cidadão modelo: sua função vai além de transmitir conhecimentos; colocase como mentor moral, ético, social e político de seus alunos. Dá sempre bom exemplo de comportamento social, utilizando-o para ensinar. Não separa sua vida provada da profissional.

# Grupo de papéis de Proteção:

Terapeuta: é um orientador e higienista mental do grupo; responsável pela prevenção e ajustamento de problemas, além de promotor de um meio favorável à aprendizagem; aceita as diferenças e promove aulas com atmosfera de aceitação emocional. Acredita que a experiência pessoal e todos os aspectos da vida afetam a aprendizagem. Amigo e confidente: é amigo e caloroso, convidando a todos a confidências e a participar das dificuldades do grupo. Leva tudo ao plano da amizade pessoal. É

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acessível e compreensivo, deixando o aluno contar suas dificuldades e problemas em um meio neutro. O excesso ocorre quando o professor usufrui satisfação primária à resposta afetiva do aluno para com ele. Gera-se um conflito entre o papel de professor e de amigo.

Psicologia Jurídica

Extraído de sinalizando.blogspot.com/2007/06/psicologia-j...

A Psicologia Jurídica, também chamada de Psicologia Criminal ou Psicologia Judiciária, consiste na aplicação dos conhecimentos psicológicos ao serviço do Direito. Dedica-se à proteção da sociedade e à defesa dos direitos do cidadão, através da perspectiva psicológica. Juntamente com a Psicologia Forense, constitui o campo de atuação da Psicologia conjuntamente com o Direito. Este ramo da Psicologia dedica-se às situações que se apresentam sobretudo nos tribunais e que envolvem o contexto das leis. Desse modo, na Psicologia Jurídica, são tratados todos os casos psicológicos que podem surgir em contexto de tribunal. Dedica-se ao estudo do comportamento criminoso. Clinicamente, tenta construir o percurso de vida do indivíduo criminoso e todos os processos psicológicos que o possam ter conduzido à criminalidade, tentando descobrir a raiz do problema, uma vez que só assim se pode partir à AN02FREV001/REV 4.0

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descoberta da solução. Descobrindo as causas das desordens, sejam elas mentais e/ou comportamentais (criminosas, neste caso), também se pode determinar uma pena justa, tendo em conta que estes casos são muito particulares e assim devem ser tratados em tribunal. Esta ciência nasceu da necessidade de legislação apropriada para os casos dos indivíduos considerados doentes mentais e que tenham cometido atos criminosos, pequenos ou graves delitos. A doença mental tem que ser encarada a partir de uma perspectiva clínica mas também do ponto de vista jurídico. Um psicólogo formado nesta área tem que dominar os conhecimentos que dizem respeito à Psicologia em si, mas também tem que dominar os conhecimentos referentes às leis civis e às leis criminais. Deve ser um bom clínico e possuir um conhecimento pormenorizado da Psicopatologia. Podem-se encontrar peritos nesta área em instituições hospitalares, especialmente do tipo psiquiátrico. A Psicologia Criminal realiza estudos psicológicos de alguns dos tipos mais comuns de delinqüentes e dos criminosos em geral, como, por exemplo, os psicopatas. De fato, a investigação psicológica desta área da Psicologia apresenta, sobretudo, trabalhos sobre homicídios e crimes sexuais, talvez devido à sua índole grave e fascinante. Psicologia Jurídica em linhas gerais Como visto anteriormente, o Positivismo ditava as regras da Ciência do final do século XIX e início do século XX. Contando com expoentes como Durkheim e Comte, transferia o método das Ciências naturais para as áreas humanas, privilegiando os exames criminológicos, laudos e testes, itens indispensáveis ao psicodiagnóstico. Se for realizada uma análise pormenorizada da realidade atual, verificar-se-á que ainda hoje os exames laboratoriais ainda mantêm o status de científico por ter em seu poder provas ditas ‘materiais’. Em detrimento de outras avaliações mais subjetivas. Ao psicólogo ainda é cobrado algo mais concreto, mas como tratar os

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seres humanos, complexos pela sua própria essência, com as mesmas técnicas empregadas por aquilo que é exato, quantificável? Mas era essa a proposta do Positivismo comteano. A Psicologia Jurídica, nomeada como Psicologia do Testemunho, era responsável por provar a fidedignidade do relato, ou testemunho, através de instrumentos específicos, o que só estimulou ainda mais o crescimento da Psicologia Experimental. Quem ainda não ouviu falar sobre a máquina que detecta mentiras? Era o impulso que faltava para que fossem realizados inúmeros estudos sobre memória, sensação e percepção, o que aumentou ainda mais a interface entre a Psicologia e o Direito. Os instrumentos da Psicologia legitimam, de certa forma, as práticas jurídicas, ratificando, ou não, as suas tomadas de decisão. Cabe ao psicólogo jurídico, entretanto, não ceder à tentação de atuar como um Juiz oculto, dono de um saber absoluto e apto a julgar, absolver ou condenar aqueles que lhes chegarem às mãos. A Psicologia Jurídica acaba por reforçar uma prática repressora e controladora, característica do Direito, segundo o qual os conflitos não passariam por uma solução, mas permaneceriam recalcados. Torna-se, então, fundamental, que a Psicologia aja abrindo uma brecha para que as práticas jurídicas tenham outro olhar, menos repressivo e mais acolhedor, vigilante das práticas que privilegiem os direitos humanos. Cabe ao psicólogo, então, uma atenta observância de que não lhe é dada à função de julgar, ditar normas e regras, regulando a relação do homem com a sociedade e favorecendo práticas de controle social, mas sim utilizar laudos periciais para favorecer a liberdade e a solidariedade humana. Atuando de forma o mais flexível possível, sempre para o bem do ser humano e não para endossar práticas repressivas que favoreçam determinadas partes. O psicólogo jurídico deve priorizar o bem do ser humano, favorecendo-lhe a liberdade e o devido amparo legal e não reforçar a repressão humana agindo como um ditador que carimba cada decisão tomada. Faz-se necessário refletir sobre cada ação, redação, documento e cada decisão. Não cabe ao psicólogo determinar AN02FREV001/REV 4.0

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culpados ou inocentes, nem fazer aquilo que cabe ao juiz: tomar a decisão final em cada processo. Ao psicólogo cabe apenas auxiliar-lhe na tomada de decisão. É preciso estar atento, pois não existe uma verdade absoluta inteira, mas sempre parcial e relativa. O psicólogo sempre terá apenas o olhar de um dos prismas da questão, jamais uma visão total. Cautela é fundamental. O jogo de poder pertence ao mundo jurídico. Não cabe ao psicólogo assumir posições, seja de defesa ou de acusação, apenas de análise do discurso e auxílio à reflexão, para a tomada de decisão. Num jogo de guarda dos filhos, por exemplo, cabe ao psicólogo não se deixar seduzir pela tendência jurídica de ceder à mãe o direito do pátrio poder, mas discutir, inclusive, que os pais também têm perfeita competência de criar bem os seus filhos. Já são muitos os que questionam em processos o atual sistema de visita domiciliar, pois desejam uma participação mais ativa junto aos seus filhos. O desejo desses pais tem gerado mudanças em nossa sociedade e na cultura de gênero (de que mães foram feitas para cuidar dos filhos e da casa e os pais do trabalho e do dinheiro), provocando inquietação e novas propostas para o conceito de parentalidade; eles têm se organizado em instituições, associações ou agremiações para discutir temas pertinentes ao casamento, divórcio, guarda dos filhos e paternidade. Grupos de discussão pela internet têm se tornado um veículo de divulgação muito rápido e eficaz para propagar suas idéias. É nesse sentido que a Psicologia Jurídica e o Direito devem se manter unidos para analisar a situação e, amparados em suas teorias e práticas, liberar essa nova geração de pais do antigo enquadre, onde os filhos são das mães e os pais apenas os provedores e “visitantes”, para estabelecer novos conceitos de família e relacionamento entre pais e filhos. A urgência para rever os laços de parentalidade tem implicações em um fenômeno que está surgindo no contexto de divórcio e guarda. Em que registros de

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que falsas denúncias intencionais de abuso sexual de pais contra seus próprios filhos surgem como um método para se impedir a visitação e o pedido de guarda. As falsas denúncias de abuso sexual como um ato deliberado de acusação, seja motivado por vingança, interesses financeiros distúrbios de caráter ou outros motivos, têm, por conseqüência mais imediata, o afastamento das crianças até que o genitor acusado prove sua inocência. Em razão do afastamento da criança com o propósito de salvaguardá-la do contato com o suposto abusador, o pai falsamente acusado teria seu direito à convivência familiar, normalmente garantido pela Constituição Federal (art. 227), pelo Código Civil (art. 1.634, II), e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, art. 3° e 4°), transgredido. Para esses pais, o Estado Democrático de Direito passaria a não existir, tendo sua cidadania e sua dignidade vilipendiadas perante todos. O trabalho do psicólogo, nestes casos, pode auxiliar e nortear a atuação de advogados, promotores, juízes, através da constatação dos indicadores da situação familiar, reconhecendo a necessidade de uma ação em conjunto com os demais profissionais na construção de um saber que auxilie a expressão da Justiça. Permitindo ao juiz aplicar a Lei, dentro dos fins sociais, visando a uma relação democrática, justa e igualitária (Verani, op.cit.). Ou prejudicar e alongar o processo por vários anos, sem diminuir o conflito e a dor dos envolvidos, através da restrição de seu exercício profissional à elaboração de laudos ou pareceres psicológicos, por vezes conclusivos, fechados e, portanto, iatrogênicos.

3.

PSICOLOGIA CLÍNICA: CONCEITO

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A Psicologia Clínica se baseia na observação e análise aprofundada de casos individuais. Criada por volta do final do século XIX por alguns médicos psiquiatras e neurologistas que tratavam pacientes com doenças mentais, foi desenvolvida por Freud, médico, discípulo de Breuer. Eles utilizavam a hipnose como método de cura de tais pacientes. Segundo a teoria de Breuer, que logo foi incorporada e melhor descrita por Freud, as doenças mentais provinham de conflitos que estavam localizados na mente da pessoa, e não necessariamente de problemas biológicos. Breuer acreditava que através da hipnose a pessoa poderia driblar censuras que a impediriam de lembrar certos fatos (os traumas), e assim melhorar sua idéia de tais, ou vivenciar experiências. Freud depois descreveu esse estado como catarse. Freud discordava quanto à eficiência da hipnose, e em contrapartida desenvolveu a técnica da livre associação. Foi aí que a Psicologia Clínica nasceu, porque trouxe a cura pela palavra. A Psicologia Clínica cresceu desde então. O advento da Psicanálise abriu um abrangente campo para novas teorias, como a Psicologia Analítica de Gustav Jung, discípulo de Freud. AN02FREV001/REV 4.0

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Hoje em dia há muitas linhas de pensamento em psicologia: as mais famosas são a Psicanálise a Psicologia Analítica, a Análise do comportamento ou Behavorismo de Skinner e a Fenomenologia. Esta última nasceu dos pensamentos de Sartre, Husserl, e tem seus expoentes na psicologia representados por Rollo May (existencialista) e Fritz Pearls (Gestalt Terapia). É freqüente o desconhecimento que, por vezes, se verifica relativamente à pessoa e ao papel do psicólogo clínico e de outros técnicos de saúde mental denominados, comumente, de "Psis". Se depararmos com técnicos de saúde com modelos de intervenção diferentes e bem delimitados tanto na forma como em conteúdo, torna-se premente distingui-los, para que a procura por cuidados em saúde mental seja, à partida, informada e racional. Sem querer minimizar a importância (bem como o dever ético e deontológico que lhe está subjacente) da indicação para um técnico de outra especialidade, quando a situação assim o exige, será benéfico para o funcionamento da saúde enquanto sistema. No qual a pessoa esteja suficientemente informada quanto ao tipo de ajuda disponível para que, logo de início, procure o tipo de intervenção adequada à situação. Importa, então, clarificar determinados aspectos inerentes à prática do psicólogo enquanto técnico de saúde, e diferenciá-lo de outros intervenientes neste âmbito. Não cabe aqui uma descrição pormenorizada da especificidade de outras áreas de intervenção no âmbito da saúde mental. No entanto, importa realçar a sobreposição que, com freqüência, se verifica, quer ao nível de entidades quer de metodologias, com outro técnico de saúde: o psiquiatra. Este profissional segue um modelo médico, próprio da formação que obteve: o indivíduo tem o "mal" para o qual existe o "remédio" que "cura". Trata-se de um modelo amplamente adotado, difundido e enraizado, quer pela longa idade da medicina enquanto ciência quer pelos valores sociais e políticos vigentes, amparados quer por interesses econômicos de algumas indústrias quer por AN02FREV001/REV 4.0

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movimentos científicos mais conservadores que se constituem como grupos de influência e que possibilitam a manutenção da performance deste tipo de modelo. Historicamente mais recente, a psicologia possui o seu quadro de referência, constituindo-se como ciência autônoma com objeto, metodologia e estatuto epistemológico próprios. Apesar disto, ainda é confundida com outras ciências com as quais compartilha alguns aspectos metodológicos ou o mesmo objeto de estudo. Se assim acontece um pouco em todas as áreas da psicologia, mais se verifica, esta situação, no campo da saúde. O próprio conceito de "psicologia clínica" torna-se por vezes ambíguo. O termo "clínico" é referente ao indivíduo que está de cama, como referência ao indivíduo que está doente. No entanto, atitude clínica não é uma atitude médica. A psicologia clínica entende os fenômenos psíquicos não num antagonismo saúde-doença, mas antes como sendo a expressão possível (para o indivíduo) de diferentes processos psicológicos socialmente contextualizados. Ou seja, relativiza a noção de "mal", "remédio" e de "cura". O ato clínico não é necessariamente um ato médico. Ao abordar o indivíduo que procura ajuda, o psicólogo clínico intervém contextualizando a problemática em questão. É esta contextualização que confere significado, originalidade e individualidade ao problema. Deixamos de estar perante aquele discurso factual, e por vezes redutor, do "mal", do "remédio" e da "cura" para passarmos a aceder aos fenômenos por outro caminho. O real vê agora o seu interesse diminuído em detrimento da verdade individual. Movimentam-se as peças de um "jogo de xadrez" assentes num tabuleiro que já não é o da realidade direta, mas antes da percepção, do simbolismo e da representação individual dessa realidade. Entramos no campo da relação, do imaginário e da comunicação. Assim, tanto aquilo que é verbalizado como aquilo que é transmitido de um modo não-verbal é susceptível de ser entendido e enquadrado num contexto específico.

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O discurso do indivíduo é o portal de acesso ao seu interior. Esse discurso é "decifrado" na relação estabelecida entre o psicólogo, o cliente é quem faz o pedido para a consulta. O pedido de ajuda é por si só, revelador. A intervenção da psicologia clínica reporta-se, pois, a uma metalinguagem. Na sua intervenção social o psicólogo clínico demarca-se significativamente de outros profissionais de saúde mental, não tanto ao nível da prática (já que o objeto de estudo, bem como a relação espistemológica em questão coexiste, por vezes, com outras áreas do saber). Mas antes ao nível do método e do paradigma de referência. Como disse, um dia, um determinado psicólogo: “Não será demais pedir a um psicólogo clínico que use o Rorschach (prova de avaliação psicológica) com a competência com que um médico usa o estetoscópio”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS... Então, o que o psicólogo faz? Você deve estar se perguntando a razão de estudar os vários campos de atuação do psicólogo, se o curso é sobre Psicologia Clínica. É que todas essas demandas aparecem no consultório de Psicologia e é dever do Psicólogo conhecer sobre cada uma delas, encaminhando a outro profissional de Psicologia apenas quando o caso exigir um conhecimenbto mais aprofundado. O psicólogo age em diversas áreas e é importante entender primeiramente onde e como se forma o conhecimento da ciência "Psicologia": a área científica. O psicólogo, em sua graduação, aprende a pesquisar novos caminhos a partir de dados já existentes; forma opiniões convergentes ou divergentes, podendo ser na forma de crítica ou avanço em uma determinada pesquisa; monta estudos com bases em experimentos, observação, estudos de casos, análises neurológicas e farmacológicas, além de estudar em grupos multidisciplinares vários outros conteúdos (mostrados à seguir).

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As áreas mais conhecidas desta criação científica são, como já vimos, entre outras, a Psicologia Social, a Psicometria, a Psicologia Experimental (nisto englobando a linha comportamental), a Psicologia do Desenvolvimento, a Psicologia Metafísica, a Neuropsicologia, a Psicopatologia. Esses estudos criam teorias que são utilizadas na Psicologia Aplicada, que como o nome diz, é a aplicação dos construtos teóricos em áreas específicas. A Psicologia Social estuda os movimentos sociais. Esta Psicologia Aplicada está inserida nos mais diversos campos da sociedade, resolvendo problemas práticos, sendo a área clínica a mais famosa. É importante, também, saber que esta Psicologia Aplicada pode criar constructos científicos, que é o caso de Sigmund Freud, Carl R. Rogers, Carl Gustav Jung, na Psicologia Clínica, além de Kurt Lewin e J. L. Moreno, de outras áreas. Além da clínica, o psicólogo aplicado trabalha em escolas, empresas (treinamento, R.H., grupos, terapia individual), nas terapias de grupos, na criminologia, nas academias de esportes, no clubes esportivos, nas propagandas (marketing, venda de produto, com o uso da gestalt), nos hospitais (em terapias breves, ou psicooncologia) e no tratamento de adicção (pela entrevista motivacional). Essas duas áreas, a de produção científica e a Psicologia Aplicada, são práticas aceitas pelos Conselhos de Psicologia. Porém, o psicólogo não pode medicar fármacos para um cliente, nem quebrar o sigilo deste sem seu consentimento (há casos onde esta quebra de sigilo é possível, como no caso de alguém que pode pôr em risco a vida de outra pessoa, ou a sua própria). O terapeuta não pode utilizar métodos que não estejam em estudo científico, aprovado pelo Conselho, como utilizar Florais de Bach, regressão a vidas passadas, homeopatia, terapia bioenergética, entre outros. Ao usar estes métodos, o terapeuta é proibido de utilizar-se do título de psicólogo. A acupuntura e a hipnose são as únicas práticas complementares regulamentadas e aceitas pelo Conselho de Psicologia, mas a utilização dessas

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práticas devem atender a normas de conduta ética estipuladas pelo Conselho de Psicologia.

Necessidades da multidisciplinaridade

A Psicologia nasceu de estudos filosóficos e fisiológicos, portanto carrega traços destes dois tipos de conhecimento. Atualmente, ela incorporou outros conhecimentos ao seu próprio, trabalhando lado a lado com estes, é o caso da Psicologia Social, por exemplo, que trabalha com bases teóricas de sociólogos, antropólogos, teólogos e filósofos, tais como Auguste Comte, Michel Foucault, entre outros. O próprio Carl Gustav Jung trabalha com trabalhos antropológicos, podendo traçar as diferentes culturas com símbolos em comum. A Psicologia Comunitária faz trabalho em campo, junto a assistentes sociais terapeutas ocupacionais. Os conhecimentos destas áreas se fundem. A Psicologia Jurídica trabalha com funcionários do Direito (advogados, juízes, desembargadores), assim como os Psicólogos Hospitalares trabalham com médicos, enfermeiros, enfim, com outros agentes promotores de saúde. Há, também, a área da psicopedagogia, que trabalha com conteúdos da pedagogia no campo da aprendizagem. Algumas áreas da Psicologia, como a Psicologia Transpessoal e ,em partes, a Psicologia Analítica, necessitam de estudos em física e metafísica para que possam se tornar conhecimentos amplos acerca do ser humano, seja em analogias, seja em estudos sobre eventos parapsicológicos, sendo que estes estudos são recentes e não se constituem plenamente como ciência psicológica. Tanto as áres alheias da Psicologia citadas, quanto a própria Psicologia precisam trabalhar unidas, quando tratam de interesses em comum, os conhecimentos se cruzam, e aumentam, e é possível que existam diferentes pontos de vista em constante diálogo.

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Comitês de Bioética trazem esta multidisciplinaridade, agindo sobre problemas corriqueiros e controversos. Estes comitês são formados por muitas outras correntes do conhecimento, além do psicólogo. São médicos, enfermeiros, advogados,

fisioterapeutas,

físicos,

teólogos,

pedagogos,

farmacêuticos,

engenheiros, terapeutas ocupacionais e pessoas da comunidade onde o comitê está inserido. Eles decidem aspectos importantes sobre tratamento médico, psicológico, entre outros.

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GLOSSÁRIO

HERMENÊUTICA: do Gr. hermeneutiké, scilicet téchne, a arte de interpretar; a arte de interpretar os livros sagrados; interpretação dos textos, dos símbolos; interpretação do sentido das palavras; arte de interpretar as leis. IATROGENIA: Fator que provoca doença. Algo iatrogênico. MNEMÔNICO: adj., Relativo à memória; conforme os preceitos da mnemônica; que facilmente se retém na memória.

PESQUISA-AÇÃO: Método de pesquisa no qual a interação é necessária para a obtenção de resultados.

PROGNÓSTICO: do Lat. prognosticu < Gr. Prognostikós s. m., prognose; ato ou efeito de prognosticar; conjectura sobre o que vai acontecer; parecer do médico acerca do curso e resultado de uma doença; pop., Sentencioso, doutoral. Probabilidade futura de desenvolver um determinado quadro. PSICOMETRIA: do Gr. psyché, alma + metrein, medir; s. f., medição das funções psíquicas através de testes normalizados destinados a estabelecer uma base quantificável das diferenças entre indivíduos.

PSICOMOTOR: que diz respeito simultaneamente às funções psíquicas e às funções motoras; relativo às relações entre a vontade e as reações motoras.

VOLITIVO: do Lat. *volitivu, volo, querer; adj., Que se refere à vontade ou à volição.

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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação

CURSO DE

TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL

Aluno: AN02FREV001/ REV 3.0

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EaD - Educação a Distância Portal Educação

CURSO DE

TERAPIA COGNITIVOCOMPORTAMENTAL

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

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2 TERAPIA COMPORTAMENTAL

2.1 Histórico

Sabemos que antes do Behaviorismo existir, muitas outras escolas de psicologia o antecederam, e outras surgiram a partir dele, como a Psicologia Experimental, a Psicologia de Wilhelm Wundt, o Estruturalismo (sistema da psicologia de E. B Titchener, que considerava a experiência consciente como dependente das pessoas que a vivenciava), o Funcionalismo (sistema de psicologia que se dedicou ao funcionamento da mente na adaptação do organismo ao ambiente tendo como precursor William James), posteriormente o Behaviorismo (ciência

do

comportamento

concebida

por

Watson

tratando

somente

do

comportamento passível de observação e descrição em termos objetivos), a Psicologia da Gestalt (sistema de psicologia que se dedica amplamente à aprendizagem e à percepção, sugerindo que a combinação dos elementos sensoriais produz novos padrões com propriedades que eram inexistentes nos elementos individuais), a Psicanálise (teoria de Sigmund Freud sobre a personalidade e o sistema de psicoterapia) que juntamente com o Behaviorismo, incentivaram o surgimento de diversas subdivisões dentro de cada escola. Na década de 50 a Psicologia Humanista (sistema de psicologia que enfatiza o estudo da experiência consciente e a integridade da natureza humana) incorporando os princípios da Psicologia da Gestalt desenvolveu uma reação contra o Behaviorismo e a Psicanálise. Em 1960, a Psicologia Cognitiva (sistema de psicologia que se concentra nos processos de aquisição do conhecimento, mais especificamente, na forma de organização das experiências da mente) desafiou o Behaviorismo a rever o conceito de psicologia, porque seu foco principal seria o retorno aos estudos dos processos conscientes. E posteriormente surgiram a Psicologia Evolucionista, a Neurociência Cognitiva e a Psicologia Positiva. Nesse tópico nos restringiremos ao Behaviorismo, chamada atualmente de Psicologia Comportamental. De acordo com Schultz & Schultz (2005) muitos nomes marcaram a história da psicologia e suas escolas. No Estruturalismo temos nomes como Wundt, Stumpf, AN02FREV001/ REV 3.0

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Kulpe, Titchener, Brentano, Ebbinghaus, no Funcionalismo temos James, Dewey, Munsterberg, Angell, Carr, Hall, Cattell, Witmer, Scott, Woodworth, na Psicanálise figuras como Freud, Jung, Adler, Horney se destacaram, no Behaviorismo temos Thorndike, Pavlov, Watson, Hull, Bekhterev, Lashley, Tolman, Skinner, Rotter, Bandura, na Psicologia da Gestalt se destacaram Wertheimer, Koffka, Kohler e Lewin, na Psicologia Humanista temos Maslow e Rogers, na Psicologia Cognitiva destaques foram para Miller e Neisser e na Psicologia Positiva, Seligman. Todos esses estudiosos tiveram grande participação para que hoje tivéssemos abordagens tão consistentes como a Psicologia Comportamental, as quais serão citadas agora. Tudo começou quando no ano de 1913 foi marcada uma espécie de declaração de guerra, com o surgimento de um movimento de protesto cuja intenção era dilacerar as visões antigas, buscando uma ruptura com ambas as posições, seus líderes não desejavam modificar o passado, muito menos manter alguma relação com ele, esse movimento revolucionário foi chamado de Behaviorismo e foi promovido pelo psicólogo B. Watson, com 35 anos de idade (veja foto logo abaixo):

Disponível em:. Acesso em: 24/09/2010.

Como já citamos acima o Estruturalismo e o Funcionalismo desempenharam papéis importantes, só que foram suplantadas por três escolas, o Behaviorismo, a AN02FREV001/ REV 3.0

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Psicologia da Gestalt e a Psicanálise. Segundo Atkinson (2002) das três, a que teve maior influência na América do Norte foi o Behaviorismo, em que Watson acreditava que para psicologia ser uma ciência, os dados psicológicos deveriam estar abertos ao exame público como os dados de qualquer outra ciência, defendia o comportamento como público e a consciência como privada, assim a ciência deveria tratar apenas dos fatos públicos. Uma vez que os psicólogos estavam ficando impacientes com a introspecção, o novo Behaviorismo foi rapidamente aceito. Schultz & Schultz (2005) afirmam que as premissas básicas de Watson eram simples, diretas e ousadas, buscando uma psicologia científica que lidasse exclusivamente com os atos comportamentais observáveis e passíveis de descrição objetiva, por exemplo, em termos de estímulos e respostas. Watson rejeitava quaisquer termos ou conceito mentalista, na sua visão palavras como imagem, sensação, mente e consciência, que eram adotadas desde antes da filosofia mentalista, não significavam absolutamente nada para a ciência do comportamento. Ele afirmava que ninguém jamais tinha tocado, visto, cheirado, experimentado ou transferido de um lugar a outro a consciência, sendo sua definição tão improvável como o conceito de alma. Deve-se ficar claro que não foi Watson que deu origem as ideias básicas do movimento Behaviorista, elas já vinham sendo desenvolvidas há algum tempo tanto na psicologia como na biologia, como qualquer outro fundador, o que Watson fez foi organizar e promover as ideias e as questões já aceitáveis para o Zeitgeist intelectual da época, assim ele destacou questões como: 

A tradição filosófica objetivista e mecanicista;



A psicologia animal;



A psicologia funcional.

Dessa forma Watson começou a trabalhar com questões que focasse apenas algo que fosse visível, audível ou palpável. Para entendermos melhor as ideias de Watson faremos um breve balanço de como surgiu várias ciências. Encontramos em Baum (1999) a definição de Behaviorismo como um conjunto de ideias sobre o comportamento, não como uma ciência, mas como uma filosofia da ciência. Esse conceito fica mais bem entendido quando percebemos que AN02FREV001/ REV 3.0

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houve um rompimento de várias ciências com a filosofia, todas começaram seus estudos com a filosofia e posteriormente se separaram uma ruptura de ciências como a astronomia, física, química, biologia com a filosofia, ciência da qual se originaram, sendo que com a psicologia não foi diferente. O raciocínio da filosofia parte de suposições para conclusões e sua verdade é absoluta, já a ciência segue direção oposta, observa e tenta explicar que verdade poderia levar essa observação e tem a verdade científica como relativa e provisória. Como dissemos, a Psicologia rompeu com a filosofia, apesar de até na última metade do século XIX ter usado métodos filosóficos como a introspecção, método este considerado vulnerável e pouco confiável. Os psicólogos da época acreditavam que seguindo os métodos objetivos que eram verificáveis e replicáveis em laboratórios, a Psicologia poderia transformarse numa verdadeira ciência. Em 1913, Watson articulou a crescente insatisfação dos psicólogos com a introspecção e a analogia como métodos. Ele defendia que a Psicologia deveria ser definida como a ciência do comportamento e não a ciência da consciência. De acordo com eles evitar os termos relacionados à consciência e mente deixaria a Psicologia livre para estudar o comportamento humano e social. Ele contestou bastante o antropocentrismo. Para Watson, o caminho era fazer da Psicologia uma ciência geral do comportamento, que compreendesse todas as espécies, e que estudaria apenas o comportamento objetivamente observável e deixaria de lado a subjetividade da introspecção e as analogias entre homem e animal. Com a ciência do comportamento veio o determinismo noção de que o comportamento é determinado unicamente pela hereditariedade e pelo ambiente. Em contra partida a essa tese temos o livre-arbítrio, que é a capacidade de escolha, e supõe um terceiro elemento além da hereditariedade e do ambiente, que ele diz ser algo que vem de dentro do indivíduo. O livre-arbítrio afirma que a escolha não é uma ilusão que são as próprias pessoas que causam o comportamento. De

acordo

com

Baum

(1999), alguns filósofos tentaram conciliar

determinismo com livre-arbítrio e propuseram para o livre-arbítrio teorias chamadas de “determinismo brando” e “teorias compatibilizadoras”, a primeira deixa implícita que o livre-arbítrio é apenas uma experiência, uma ilusão, e não uma relação causal AN02FREV001/ REV 3.0

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entre pessoa e ação, já a segunda define livre-arbítrio como deliberação antes da ação, isto é, comportamento que pode ser determinado pela hereditariedade e pelo ambiente passado. A Psicologia comparativa teve origem na ideia de fazer comparações entre espécies a fim de conhecer melhor a nossa própria. Passou-se a fazer comparações entre homem e animal para descobrir seus mecanismos, até mesmo suas formas de pensar e agir. Essa Psicologia teve grande influência no estudo do Behaviorismo, citaremos alguns pontos marcantes. Jacques Loeb acreditava na reação direta e automática do animal a um estímulo, afirmando que a reação comportamental forçada pelo estímulo, não cabia qualquer explicação em termos de definição consciente do animal, o que existia era o movimento forçado involuntário, que segundo sua teoria era chamado de tropismo, (veja foto logo abaixo):

Disponível em: . Acesso em: 24/09/2010

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Thorndike, um dos principais pesquisadores para o desenvolvimento da psicologia animal, elaborou uma teoria de aprendizagem objetiva e mecanicista com enfoque no comportamento manifesto, ele também acreditava que o psicólogo devia estudar o comportamento, não os elementos mentais ou a experiência consciente, não interpretando a aprendizagem do ponto de vista subjetivo, mas em termos de conexões concretas entre estímulos e a resposta, embora não admitisse qualquer referência à consciência e os processos mentais. Ele criou algumas teorias como à do “conexionismo”, que era baseada nas conexões entre as situações e as respostas, a “aprendizagem por tentativa-e-erro, que era baseada na repetição das tendências de respostas que levam ao êxito, que posteriormente ele definiu como “lei do efeito”, em que os atos que produzem satisfação em determinada situação tornam-se associados a ela, quando a situação se repete, o ato tende a ocorrer. Outra teoria seria a “lei do uso e desuso ou lei do exercício”, em que afirmava que quanto mais um comportamento é realizado em uma situação, mais forte se torna a associação entre comportamento e situação, (veja foto logo abaixo):

Disponível em: . Acesso em: 24/09/2010

Ivan Pavlov estudou os reflexos condicionados, que seriam reflexos dependentes na formação entre o estímulo e a resposta. Seus estudos foram feitos

AN02FREV001/ REV 3.0

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por meio de um aparelho utilizando cães que estudava a resposta da salivação, (veja foto logo abaixo):

Disponível em: . Acesso em: 24/09/2010.

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Disponível em: . Acesso em: 24/09/2010

Todos esses estudiosos importantes influenciaram Watson e seus estudos sobre o comportamento, fortalecendo desde o início sua intenção de fundar uma escola, onde ele desejava que o novo Behaviorismo tivesse valor prático e aplicável na vida real. Watson afirmava que quase todo comportamento é resultado de condicionamento e que o ambiente molda o comportamento reforçando hábitos específicos. Essa escola tendia a discutir os fenômenos psicológicos em termos de estímulos e respostas, dando origem ao termo psicologia de estímulo-resposta (ER). De acordo Schultz & Schultz (2005), instinto era conceituado por Watson como respostas condicionadas socialmente e emoções não passavam de uma simples resposta fisiológica a estímulos específicos. Embora o Behaviorismo houvesse chamado a atenção dos psicólogos americanos, nem todos concordavam com a visão de Watson. Alguns psicólogos desenvolveram sua própria psicologia behaviorista, conduzindo a escola de pensamento em direções distintas. A carreira produtiva de Watson na psicologia durou pouco menos de 20 anos, mesmo assim, afetou profundamente o curso do desenvolvimento da psicologia por muito tempo. Watson foi um eficaz agente do Zeitgeist, em uma época de mudanças não apenas na psicologia, como também nas atitudes científicas em geral, ele tornou a metodologia e a terminologia da psicologia mais objetiva, embora hoje suas formulações não sejam mais válidas. O Behaviorismo de Watson constituiu o primeiro estágio da evolução de escola de pensamento comportamental aproximadamente em 1913. Mas não parou por aí, do período de 1930 a 1960, surge o Neobehaviorismo, englobando os trabalhos de Tolman, Hull e Skinner, em que estes compartilhavam alguns pontos em comum, como tópico central da psicologia o estudo da aprendizagem, os comportamentos podem ser entendidos por leis de condicionamentos e o operacionismo. E o terceiro estágio da evolução behaviorista, que vai de 1960 e perdura até hoje, chamado de neoneobehaviorismo ou sociobehaviorismo, incluindo

AN02FREV001/ REV 3.0

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trabalhos de Bandura e Rotter, enfocam o retorno do estudo dos processos cognitivos, mas mantendo o enfoque na observação do comportamento manifesto. Edward Tolman foi um dos primeiros convertidos ao Behaviorismo cunhou o termo Behaviorismo Intencional, em que este combina o estudo objetivo do comportamento com a ponderação da intenção ou a orientação do propósito no comportamento. Seu principal enfoque segundo Schultz & Schultz (2005) estava no problema de aprendizagem. Tolman rejeitou a lei do efeito de Thorndike, afirmando que a recompensa ou o esforço exerciam pouca influência sobre a aprendizagem, e em seu lugar propunha uma explicação cognitiva para a aprendizagem, sugerindo que a repetição do desempenho de uma tarefa reforça a relação aprendida entre as dicas ambientais e as expectativas do organismo, dessa forma, o organismo acaba conhecendo seu ambiente, afirmando serem essas relações estabelecidas pela repetição da realização de uma tarefa, (veja foto logo abaixo):

Disponível em: . Acesso em: 24/10/2010.

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Já Clark Hull usava uma forma de Behaviorismo mais sofisticada e mais complexa que Watson, embora ainda fosse considerado como objetivo, reducionista e mecanicista. Descrevia seu Behaviorismo e sua visão de natureza humana empregando termos mecanicistas e considerava o comportamento humano automático e possível de ser reduzido e explicado na linguagem da física. Sua teoria da aprendizagem concentra-se no princípio de reforço, a qual é essencialmente a lei do efeito de Thorndike, (veja foto de Hull logo abaixo):

Disponível em: . Acesso em: 24/09/2010.

Segundo Schultz & Schultz (2005), o Behaviorismo de Skinner dedicava-se ao estudo das respostas, preocupando-se em descrever e não em explicar o comportamento, sua pesquisa tratava apenas do comportamento observável, e ele acreditava que a tarefa de investigação científica era estabelecer as relações funcionais entre as condições de estímulos controladas pelo pesquisador e as respostas subsequentes do organismo. Skinner não duvidava da existência das condições mentais ou fisiológicas internas, apenas não aceitava sua validade no estudo científico do comportamento. Em seus experimentos, Skinner conceituou condicionamento operante como uma situação de aprendizagem que envolve o comportamento emitido por um organismo em vez de eliciado por um estímulo detectável. Esse comportamento

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ocorre sem qualquer estímulo antecedente externo observável, (veja foto de Skinner logo abaixo):

Disponível em: . Acesso em: 24/09/2010.

Skinner também criou a lei da aquisição, em que a força de um comportamento operante aumenta quando, em seguida, recebe um estímulo reforçador. No

terceiro

estágio

da

evolução

behaviorista

chamado

de

neoneobehaviorismo ou sociobehaviorismo, Bandura, Rotter e outros seguidores adotavam uma forma de behaviorismo bem mais distinta que a de Skinner. Eles questionavam sua total negação aos processos mentais ou cognitivos e propunham em seu lugar uma aprendizagem social, uma reflexão sobre um movimento cognitivo mais amplo na psicologia como um todo. Este teóricos defendiam os pensamentos (cognições), o que fez com que fosse criada uma divisão no behaviorismo: nascendo a psicologia cognitiva. Outros AN02FREV001/ REV 3.0

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autores desta escola além de Albert Bandura, Julian Rotter, foi Aaron Beck. Eles acreditavam que o comportamento pode ser entendido também a partir da cognição, que o aprendizado pode existir sem a necessidade de condicionamento em laboratório, mas pela observação e elaboração do que foi visualizado. Bandura desenvolveu termos como Reforço Vicário (noção de que o aprendizado pode ocorrer por observação do comportamento de outras pessoas e das consequências delas decorrentes, e não apenas experimentando o reforço diretamente) e Autoeficácia (a percepção do indivíduo de sua autoestima e a competência em lidar com os problemas da vida), (veja foto logo abaixo):

Disponível em: . Acesso em: 24/09/2010.

Rotter desenvolveu uma forma de behaviorismo, que como a de Bandura, inclui referência às experiências subjetivas internas, sendo menos radical que o de Skinner. Rotter concentrou sua pesquisa nas crenças a respeito da origem do reforço. Ela acreditava num Locus de controle (a ideia sobre a origem do reforçamento, havendo o lócus de controle interno - crença de que o reforço AN02FREV001/ REV 3.0

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depende do próprio comportamento das pessoas e Locus de controle externo – reforço depende das forças externas).

Disponível em: . Acesso em: 24/09/2010.

Segundo Schultz & Schultz (2005), apesar do debate interno a respeito da questão cognitiva no behaviorismo ter provocado mudanças no movimento behaviorista, que se seguiram desde Watson até Skinner, é importante lembrar que Bandura, Rotter e outro neoneobehavioristas que são defensores da abordagem cognitiva ainda se consideram behavioristas. Assim, eles podem ser chamados de behavioristas metodológicos, porque se referem aos processos cognitivos internos como parte do objeto de estudo da psicologia, enquanto os behavioristas radicais acreditam que a disciplina devia se dedicar ao estudo do comportamento público e do estímulo ambiental, e não dos estudos internos presumidos. Watson era behaviorista metodológico e Skinner era behaviorista radical. Já Hull, Tolman, Bandura e Rotter podem ser classificados como metodológicos.

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Sabe-se que o domínio do tipo de behaviorismo de Skinner chegou ao auge na década de 1980 e diminuiu depois de sua morte em 1990. Skinner até admitiu que sua abordagem estivesse perdendo terreno e que o impacto da abordagem cognitiva aumentava. E hoje o behaviorismo que permanece vivo na psicologia contemporânea, principalmente na psicologia aplicada, é diferente daquele que surgiu nas décadas entre o manifesto de Watson em 1913 e a morte de Skinner, em 1990.

2.2 Fundamentos Teóricos

De acordo com Skinner (2003) a abordagem comportamental prioriza na terapia, a alteração de fatores ambientais e sociais (contingências), possibilitando ao indivíduo discriminar os estímulos no meio, que contribuem para manutenção de seus comportamentos e dessa forma possibilitar ao indivíduo maior autocontrole diante de seus comportamentos indesejáveis. Prioriza o uso de experimentos para verificar como ocorre o comportamento e como ele é mantido e formular conceitos como esquemas de reforçamento, punição, extinção, generalização de estímulos, equivalências de estímulos, controle de estímulos entre tantos outros. Como já ressaltamos anteriormente muitos teóricos contribuíram para que o behaviorismo chegasse tão longe, Pavlov trabalhou com conceitos como condicionamento clássico, estímulo não condicionado, estímulo condicionado, Thorndike e sua “Lei do Efeito”, Skinner, com os conceitos de condicionamento operante, reforçamento positivo, reforçamento negativo e punição, Wolpe enfatizou novas técnicas para a eliminação de medo e da evitação, usando uma hierarquia gradual de estímulos ansiogênicos, o que foi chamado de dessensibilização sistemática e também pela importância do paciente realizar extensas lições de casa in vivo entre as sessões de terapia. Hoje muitos autores conceituam como uma abordagem que trabalha os problemas

psicológicos

baseada

na

filosofia

da

ciência

conhecida

como

Behaviorismo Radical e na ciência do comportamento, Análise Experimental do Comportamento. O Behaviorismo radical, muito trabalhado atualmente por alguns terapeutas, defende que o comportamento dos organismos é ordenado, passível de ser estudado cientificamente na mesma forma das ciências naturais, assim busca-se AN02FREV001/ REV 3.0

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descobrir os eventos no Meio Ambiente que determinam os seus comportamentosproblema e o que os mantém. Na terapia comportamental, pensamentos e sentimentos são considerados comportamentos, diferentes apenas pela forma como se pode ter acesso a eles, pois este se dá por meio do relato verbal daquele que pensa e sente, ou seja, pensamentos e sentimentos, também, são levados em consideração, analisados e passíveis das intervenções do terapeuta. Cada terapeuta, de acordo com sua abordagem segue uma linha, mas com o mesmo objetivo, ou seja, melhora e bem-estar do seu paciente, no caso do terapeuta comportamental, ele entende que o cliente é único e seus problemas ou dificuldades são produto de uma história particular, com isso percebe-se uma humanização do processo psicoterápico, buscando assim, entender cada cliente e cada história, antes de propor qualquer intervenção. Seu principal instrumento é a análise funcional, ou o levantamento criterioso das variáveis - eventos, acontecimentos - que estejam funcionalmente relacionados aos comportamentos desejáveis e indesejáveis do cliente, com esse entendimento é possível propor uma estratégia eficaz no alcance do bem-estar e da melhora do paciente, mas que fique claro que na maioria das vezes não é fácil se chegar a essas variáveis. De acordo com Saffi, Savoia e Lotufo (2008), a terapia comportamental utiliza na clínica os conhecimentos derivados das teorias da aprendizagem, sua principal fonte teórica é o comportamento operante. Diz-se muito que se trata de uma terapia superficial e que aborda apenas o sintoma, mas isso não é verdade, ela pode ser aplicada a toda gama de problemas humanos, tanto para o autoconhecimento como para as dificuldades e conflitos interpessoais. Só que é uma abordagem que exige conhecimento teórico e técnico sofisticado e o terapeuta deve possuir empatia, interesse pelo paciente e calor humano. O terapeuta comportamental busca combater os comportamentos-problema, ao mesmo tempo em que busca instalar e aumentar a frequência de comportamentos adequados ao contexto, desejáveis, funcionais e geradores de satisfação e felicidade. O clínico, entre outras funções, auxilia com suas análises na construção de um novo repertório ou no fortalecimento do repertório existente, segundo Skinner (1989). AN02FREV001/ REV 3.0

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A terapia comportamental é, segundo Bouchard (1979) citado por Saffi, Savoia e Lotufo (2008), a aplicação do conjunto de conhecimentos psicológicos, adquiridos segundo os princípios da metodologia científica, à compreensão e solução de problemas clínicos, assim é uma prática de ajuda psicoterápica baseada na ciência e na filosofia caracterizada por uma concepção naturalista e determinista do comportamento humano. Pode ser conceituada também, segundo os teóricos citados, por um processo de aplicação de princípios da teoria da aprendizagem para a melhoria de comportamentos específicos e, simultaneamente, de avaliação de quaisquer modificações observadas, analisando se elas são de fato atribuíveis ao processo de aplicação e, em caso positivo, a que parte desse processo. A terapia comportamental é muito rica em informações e técnicas, ela é formada por um conjunto considerável de técnicas derivadas de pesquisas, em laboratório ou no próprio consultório. Para fecharmos esse tópico falaremos mais um pouco sobre o trabalho do terapeuta comportamental. O primeiro passo é o bom relacionamento com o paciente, por meio da empatia, do interesse, do calor humano e de outras qualidades do psicoterapeuta, segundo Saffi, Savoia e Lotufo (2008). Ele deve fazer a coleta de informação por meio da anamnese, do uso de diários, de escalas, de instrumentos diagnósticos e da observação para que se permita conhecer a pessoa e seus problemas. A análise funcional é a ferramenta para a coleta de informações e para o conhecimento da relação entre a pessoa e seu ambiente, em que por meio dela procura-se estabelecer todas as relações de contingências que afetam a pessoa procurando-se descrever operacionalmente o problema, detalhando os estímulos desencadeantes, os comportamentos envolvidos e as suas consequências. Mostraremos agora uma tabela bastante interessante que faz algumas diferenciações entre behaviorismo, cognitivismo e construtivismo, para que posteriormente fiquem mais claras as semelhanças e diferenças entre cada abordagem.

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Disponível em: . Acesso em: 24/09/2010.

Sintetizando tudo que já dissemos, podemos frisar que o terapeuta comportamental focaliza-se no comportamento manifesto, salientando de acordo com Kaplan e Sadock (2003), a remoção de sintomas manifestos, sem considerar as experiências privadas ou conflitos internos do paciente. Percebemos que o objetivo terapêutico de quem segue essa abordagem é claro e concreto: a extinção de hábitos ou atitudes mal-adaptativas e sua substituição por padrões novos, apropriados e não provocadores de ansiedade. Os métodos inerentes as terapias do comportamento fundamentam-se na crença fundamental de que as ansiedades e comportamentos persistentes e mal-adaptativos foram condicionados ou aprendidos, portanto o tratamento efetivo consiste de variadas formas de descondicionamento ou desaprendizagem, isto é, o comportamento inadequado aprendido pode ser desaprendido. Ainda segundo Kaplan e Sadock (2003), o clínico que deseja adotar o enfoque comportamental deve responder a algumas questões (tabela abaixo) em conjunto com o paciente, parentes ou outros responsáveis, que foi preparada por Robert Paul Liberman:

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1.

Quais são os problemas e objetivos da terapia?

Esta questão aborda as conquistas do paciente, bem como os déficits no comportamento adaptativo e excessos de comportamento mal-adaptativo. Frequentemente, os problemas do paciente estão relacionados à oportunidade inadequada ou contexto inapropriado das respostas comportamentais. A avaliação dos problemas e uma formulação de objetivos devem considerar toda a faixa de resposta objetivas, subjetivas, afetivas, sociais e cognitivas.

2.

Como o progresso pode ser medido e monitorado?

Cada problema e objetivo exigem especificação comportamental e monitoramento contínuo em termos de frequência, duração, forma, latência ou contexto da ocorrência. A operacionalização dos objetivos da terapia possibilita que o terapeuta determine se as intervenções selecionadas são eficazes e oferece a base empírica para a terapia comportamental.

3.

Que contingências ambientais estão mantendo o problema?

Uma

análise

do

comportamento

considera

as

relações

funcionais entre os problemas clínicos e seus antecedentes ambientais (estímulos

precipitadores

ou

desencadeantes)

e

consequências

(reforçadores). Antes de formular um plano de tratamento, o terapeuta deve

AN02FREV001/ REV 3.0

31

compreender as contingências sociais e instrumentos presentes, que podem ter de ser modificadas para um resultado eficaz.

4.

Que intervenções tendem a ser efetivas?

Esta questão final aborda as técnicas específicas que podem ser usadas no plano de tratamento. Somente após as três primeiras perguntas

terem

sido

respondidas,

uma

seleção

racional

das

intervenções pode ser feita. Frequentemente, uma combinação de princípios de aprendizado é usada, para maximizar os efeitos do tratamento.

Citaremos uma tabela feita por Rebecca Jones citada por Kaplan e Sadock (2003): OBJETIVO

Modificar padrões comportamentais mal-adaptativos

aprendidos

que

levam a sintomas patológicos. CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

Comportamentos

mal-adaptativos

específico, bem-definidos, circunscritos e facilmente identificáveis (por ex. fobia, consumo

excessivo

disfunções

sexuais).

psicofisiológicos manifestações

nos dos

de

alimentos, Transtornos quais

as

sintomas

são

afetadas pelo estresse (por ex. asma, dor e hipertensão) DURAÇÃO

Geralmente

limitado

em

tempo,

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específico

ao

comportamento

em

particular. TÉCNICAS

Baseada no princípio da teoria da aprendizagem da teoria do aprendizado (por ex. condicionamento clássico e operante); Treino de relaxamento; Reforços; Terapia aversiva; Dessensibilização sistemática; Imersão; Modelagem participante; Economia de fichas.

2.3 Indicações e Contraindicações

A terapia comportamental pode ser indicada e útil para tratar praticamente todos os problemas de saúde e de comportamento de atuação do psiquiatra ou do psicoterapeuta, como: 

Fobias específicas;



Agorafobia com ou sem pânico;



Fobia social;



Transtornos de ansiedade;



Transtorno obsessivo-compulsivo;



Disfunções sexuais: em especial ejaculação precoce e vaginismo;



Dificuldade de relacionamento interpessoal;



Reabilitação de doentes crônicos;



Depressão;



Transtornos alimentares; AN02FREV001/ REV 3.0

33



Problemas de comportamento na infância;



Problemas de comportamento na adolescência;



Abuso de dependência de álcool e drogas;



Autoconhecimento.

No caso do autoconhecimento, o terapeuta auxilia o paciente a explicitar as variáveis que influenciam seu comportamento, podendo a partir disso, auxiliar a pessoa a modificar seu ambiente para que possam ocorrer mudanças no seu comportamento, ou seja, autocontrole.

Cordioli (2008) cita que a terapia comportamental é também utilizada como coadjuvante no tratamento de: 

Depressão maior, particularmente na fase inicial de pacientes

gravemente deprimidos; 

Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade;



Estresse pós-traumático;



Transtornos de impulsos: Tricotilomania, comprar compulsivo e jogo

patológico; 

Déficits

de

habilidades

sociais:

transtornos

de

personalidade,

esquizofrenia, deficiências mental e autismo; 

Deficiência de controle esfincteriano;



Obesidade;



Hipertensão;



Insônia e insônia primária;



Asma;



Dor crônica;



Cefaleia, etc.

Cordioli

(2008)

também

cita

algumas

contraindicações

na

terapia

comportamental:

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Níveis de ansiedade muito elevados ou incapacidade de tolerar

aumento dos níveis de ansiedade (transtorno da personalidade borderline, histriônica); 

Problemas caracterológicos graves, incapacidade de estabelecer um

vínculo com o terapeuta (personalidade esquizoide ou esquizotípica); 

Incapacidade de estabelecer um relacionamento honesto com o

terapeuta (personalidade antissocial); 

Ausência de motivação.

Mas caso seja a terapia cognitivo-comportamental, podemos dizer que aumenta o leque de atuação, e podemos citar alguns transtornos que houve algum nível de evidência de eficácia: 

Sintomas de esquizofrenia;



Sintomas de demência;



Crises convulsivas não epilépticas;



Reabilitação cognitiva;



Insônia;



Síndrome da fadiga crônica;



Transtorno da personalidade borderline;



Conflitos familiares;



Tabagismo;



Obesidade;



Autismo;



Transtorno do pânico;



Depressão;



Fobias;



Transtorno obsessivo-compulsivo;



Tiques;



Parafilias;



Disfunção sexual;



Problemas de comportamento na infância;



Treino de habilidades parentais; AN02FREV001/ REV 3.0

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Bulimia nervosa;



Transtorno de estresse pós-traumático;



Dor crônica;



Vítimas de abuso sexual;



Jogo patológico;



Dependência de drogas;



Problemas de saúde relacionados a comportamento;



Prevenção de problemas de saúde;



Promoção de saúde;



Ansiedade generalizada;



Enurese noturna;



Transtorno bipolar.

Abaixo veremos um gráfico que mostra alguns transtornos que acometem a população e com eles suas taxas, em alguns, bastante elevadas, e perceberemos o quanto é importante o trabalho psicoterápico.

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Disponível em: . Acesso em: 24/09/2010.

2.4 Técnicas da Terapia Comportamental

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De acordo com Knapp (2004), todos os experimentos comportamentais têm um elemento cognitivo e a modificação das distorções cognitivas se dá também por meio das técnicas comportamentais. Padesky (1994) citado por Knapp (2004) afirma que a forma mais eficaz de modificar principalmente pressupostos e regras subjacentes é por meio de experimentos comportamentais, assim o paciente experimenta na prática o que acontece quando ele se engaja em comportamentos, que permitem examinar a veracidade e/ou utilidades dessas crenças subjacentes. Leahy (1996) citado por knapp (2004), diz que o objetivo dessas técnicas ou intervenções comportamentais é aumentar o comportamento positivo enquanto diminui o negativo, sendo assim pode-se dizer que o engajamento em um comportamento que traz resultados positivos aumenta a autoeficácia do indivíduo e estimula o empenho em novos comportamentos mais adaptativos.

A seguir algumas técnicas: 

Alvos comportamentais

Segundo Rangé (2004), nessa técnica o terapeuta ajuda o paciente a identificar possíveis comportamentos específicos que deseja modificar a curto, médio e longo prazo. Esse autor cita alguns exemplos para ficar mais claro: 

O engajamento em exercícios físicos;



As tarefas de casa concluídas;



O número de páginas de leitura diária;



A diminuição da checagem obsessiva;



A lavagem das mãos.

No caso de haver grandes alvos comportamentais, de difícil execução de uma só vez, devem ser divididos em pequenos comportamentos de mudança, até que o comportamento como um todo se modifique. Com essa técnica o paciente aprenderá a estipular metas e objetivos específicos e factíveis, tais comportamentos são passíveis de aferição em determinado período de tempo. AN02FREV001/ REV 3.0

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Assim o terapeuta deve questionar o paciente, se o objetivo foi alcançado, isso depois de algum tempo. 

Dessensibilização sistemática

Essa técnica foi criada por Joseph Wolpe, e baseia-se segundo Kaplan e Sadock (2003) no princípio comportamental do contracondicionamento, o qual afirma que o indivíduo pode superar a ansiedade mal-adaptativa provocada por uma situação ou objeto aproximando as situações temidas gradualmente, em um estado psicofisiológico que iniba a ansiedade. Nessa técnica o cliente é treinado a relaxar, é colocado em contato com uma hierarquia de situações geradoras de ansiedade e é solicitado a relaxar enquanto imagina cada uma delas, assim o paciente atinge um estado de completo relaxamento, quando é exposto ao estímulo que provoca a resposta de ansiedade. Nesse caso a reação negativa de ansiedade é inibida pelo estado de relaxamento, num processo chamado de inibição recíproca. Ao invés de utilizar as situações ou objetos reais que provocam medo, paciente e terapeuta preparam uma lista graduada ou uma hierarquia de cenas provocadoras de ansiedade associadas aos medos do paciente. Finalmente, o estado aprendido de relaxamento e as cenas provocadoras de ansiedade são sistematicamente pareados ao tratamento. Percebemos que a dessensibilização sistemática consiste então de três etapas: treino de relaxamento, construção de hierarquia e dessensibilização do estímulo.



Exposição in vivo

Semelhante a dessensibilização, exceto pelo fato de que o cliente realmente experimenta cada situação. 

Exposição com prevenção de respostas.

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Confrontar uma situação ou estímulo temido. Ex: o paciente obsessivo-compulsivo é instigado a refrear a lavagem de suas mãos após mergulhá-las em água suja. 

Flooding ou Inundação

É uma modalidade de exposição in vivo em que um indivíduo fóbico é exposto ao objeto ou situação mais temido por um período prolongado sem oportunidade de fugir. 

Reforçamento seletivo.

Reforço de comportamento específico, muitas vezes mediante o uso de fichas que podem ser trocadas por recompensas. 

Modelagem.

Segundo Atkinson (2002), consiste em reforçar somente variações de respostas que se desviam na direção desejada pelo experimentador. Na técnica de modelagem “o terapeuta modela a resposta/comportamento que se deseja” (RANGÉ, 2004), ou seja, ele reforça apenas os comportamentos desejados.



Modelação (imitação).

É o processo pelo qual uma pessoa aprende comportamentos observando e imitindo os outros. É um método bastante eficaz de mudança de comportamento, pois uma vez que observar os outros é uma das principais formas humanas de aprender, assistir a pessoas que estão apresentando comportamento adaptativo ensina melhores estratégias de enfrentamento as pessoas com respostas inadaptativas. A modelação é eficaz na superação de medos e ansiedades porque

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oferece uma oportunidade para observar outra pessoa passar pela situação geradora de ansiedade sem se ferir. Ex: O terapeuta emite comportamentos assertivos durante a sessão que podem ser copiados pelo cliente e reproduzidos. 

Ensaio comportamental.

Nessa técnica o paciente dramatiza o comportamento que planeja conduzir fora da terapia. Ex: O paciente pode demonstrar como ser assertivo mediante um diálogo com seu chefe. 

Hierarquia de respostas/estímulos.

Nessa técnica tem-se uma lista de situações ou respostas, das mais temidas até as menos temidas, para serem usadas em exposição. Ex: o paciente e o terapeuta fazem uma lista de situações ou comportamentos que o primeiro teme, com hierarquia de temor. O paciente fóbico de elevador coloca – pensar em elevador- como a menos temida e – subir de elevador o edifício mais alto da cidade-como a mais temida.



Autorrecompensa.

De acordo com Knapp (2004), usar autoelogio, gratificações e reforços concretos para incrementar comportamentos desejáveis. Ex: o paciente pode se recompensar com consequências positivas tangíveis (uma comida, um filme, um presente ou um comportamento prazeroso) ou com autoafirmações positivas (“estou orgulhoso de mim mesmo por tentar”). 

Treinamento de Relaxamento.

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Relaxar diferentes grupos musculares em sequência, imaginar imagens relaxantes, praticar exercícios de respiração. 

Reforço.

Para Skinner, segundo Myers (1999), recompensa é representado pela palavra “reforço”, que pode ser conceituada como qualquer evento que aumente a frequência de uma reação precedente. Assim o reforço pode abranger uma série de ações, como um elogio ou uma salva de palmas. Existem dois tipos básicos de reforço, o positivo e o negativo. 

Reforço positivo.

O reforço positivo é capaz de fortalecer uma reação quando oferece um estímulo logo após esta reação. Ele aumenta a probabilidade de um comportamento pela presença (positividade) de uma recompensa (estímulo). 

Reforço negativo.

O reforço negativo é capaz de fortalecer uma reação quando remove algum tipo de estímulo aversivo. Ele aumenta a probabilidade de um comportamento pela ausência (retirada) de um estímulo aversivo (que cause desprazer) após o organismo apresentar o comportamento pretendido. Segundo alguns autores, o que difere um reforço positivo de um reforço negativo é que o primeiro consiste em inserir um estímulo reforçador no ambiente e o segundo consiste em retirar um estímulo aversivo. Ex 1: comportamento de estudar bastante é reforçado pelo estímulo reforçador de se receber uma boa nota, de modo que a boa nota é um reforço positivo. Ex 2: desligar o telefone durante uma conversa desagradável retirará do ambiente um estímulo aversivo, que é a conversa, de modo que desligar o telefone é um reforço negativo.

AN02FREV001/ REV 3.0

42



Punição

A punição é um estímulo aversivo que reduz a probabilidade do comportamento. A punição pode ser positiva e negativa: 

Punição Positiva.

Inseri-se no ambiente um estímulo aversivo: o

Ex: um puxão de orelha.



Punição Negativa.

Retirada de um estímulo reforçador do ambiente: o

Ex: proibição que uma criança receba de assistir televisão.

OBSERVAÇÕES: 1. Reforço negativo não é a mesma coisa que punição: o reforço negativo é um estímulo que aumenta a frequência do comportamento que consiste em retirar um estímulo aversivo do ambiente. 2. Reforço ou reforçamento não é recompensa. 3. Reforços não apenas aumentam a probabilidade de incidência no comportamento

como

também

são

utilizados

para

que

um

determinado

comportamento deixe de acontecer, estimulando a não incidência do determinado comportamento.

AN02FREV001/ REV 3.0

43

4. Técnicas comportamentais para diminuação de frequência de um determinado comportamento: o

Punição positiva, pela qual se insere algo aversivo no ambiente;

o

Punição negativa pela qual se retira algo reforçador do ambiente;

o

Extinção.



Extinção

É a retirada total do estímulo ao comportamento do ambiente.

Veja quadro com tipos de reforçamento e punição de acordo com Atkinson (2002):

TIPOS

Reforçamento

Reforçamento

Punição

Punição

positivo

negativo

positiva

negativa

Estímulo

Remoção

de Apresentação

agradável que um

estímulo de um estímulo

ocorre após um desagradável

DEFINIÇÃO

desagradável

Remoção de um estímulo agradável

comportamento depois que um depois que um

depois que um

desejado.

comportamento

comportamento efeito

AN02FREV001/ REV 3.0

44

EFEITO

desejado

indesejável

indesejado

ocorre.

ocorre.

ocorre.

Aumenta a

Aumenta a

Diminui a

Diminui a

probabilidade

probabilidade

probabilidade

probabilidade

do

do

do

do

comportamento comportamento comportamento comportamento desejado.

desejado.

Nota alta em

Permitir a uma Uma nota

Cortar a

uma prova.

criança que

baixa em um

televisão de

saia do seu

exame.

uma criança que

EXEMPLO

indesejado.

indesejado.

quarto depois

se comporta

de parar com

mal.

um acesso de raiva.



Terapia aversiva.

De acordo com Kaplan e Sadock (2003), técnica prega que quando um estímulo nocivo (punição) é apresentado imediatamente após uma resposta comportamental específica, esta acaba sendo inibida ou extinta. Assim existem muitos tipos de estímulos aversivos como: o

Choques elétricos;

o

Substâncias que induzem a vômito;

o

Punição corporal;

o

Reprovação social, etc.

O estímulo negativo é pareado ao comportamento que é assim, suprimido. O comportamento inadequado geralmente desaparece após uma série de tais sequências. AN02FREV001/ REV 3.0

45

A terapia aversiva tem sido usada no tratamento de vários transtornos, dentre eles: o

Abuso de álcool;

o

Parafilias;

o

E outros comportamentos com qualidades impulsivas e compulsivas.

Muitos terapeutas a contestam, dizendo que ela é controvertida, um exemplo é que a punição nem sempre leva a diminuição esperada na resposta e pode, às vezes, ser positivamente reforçadora.

2.5 Conceitos Básicos 

Condicionamento respondente.

De acordo com Skinner (1987), diz respeito ao reflexo condicionada de Pavlov, que prepara o organismo para reagir a um ambiente ao qual apenas o indivíduo é exposto. 

Estímulo não condicionado.

De acordo com Atkinson (2002) é um estímulo que automaticamente provoca

uma

resposta,

normalmente

por

intermédio

de

reflexo,

sem

condicionamento prévio. 

Resposta não condicionada.

Resposta originalmente dada a um estímulo não condicionado, usada como base para estabelecer uma resposta condicionada a um estímulo anteriormente neutro. 

Estímulo condicionado.

AN02FREV001/ REV 3.0

46

Estímulo

anteriormente

neutro

que

passa

a

gerar

uma

resposta

condicionada por meio de associação com um estímulo não condicionado. 

Resposta condicionada.

A resposta aprendida ou adquirida a um estímulo que originalmente não provoca resposta, ou seja, um estímulo condicionado. 

Comportamento operante.

Nesse tipo de comportamento novas respostas podem ser fortalecidas – reforçadas – por eventos que as seguem imediatamente. 

Aprendizagem social.

Processo de aprendizagem no qual um indivíduo muda seu comportamento em função de observar, ver ou ler a respeito do comportamento de outro indivíduo.

3 TERAPIA COGNITIVA

3.1 Histórico

De acordo com Beck (1964), a Terapia Cognitiva foi desenvolvida por Aaron T. Beck, como uma psicoterapia breve, estruturada, orientada ao presente, para depressão, direcionada a resolução de problemas atuais e a modificar os pensamentos e comportamentos disfuncionais. Segundo Beck (2007), Aaron T. Beck a desenvolveram na Universidade da Pensilvânia no início da década de 60. Desde lá, Beck e outros vêm adaptando com sucesso essa terapia para um conjunto surpreendentemente diverso de populações e desordens psiquiátricas. O modelo cognitivo propõe que o pensamento distorcido ou disfuncional, que sabemos que influencia o humor e o comportamento do paciente, seja comum a AN02FREV001/ REV 3.0

47

todos os distúrbios psicológicos. Assim se o paciente faz uma avaliação realista e modifica seu pensamento, ele produz uma melhora no humor e no seu comportamento. Para se ter uma melhora duradoura deve-se modificar as crenças disfuncionais básicas dos pacientes. Judith Beck enfatiza que a terapia cognitiva é utilizada em uma ampla gama de aplicações também apoiadas por dados empíricos, que são derivados da teoria. A terapia cognitiva foi extensamente testada desde 1977, em que estudos controlados demonstraram sua eficácia no tratamento do transtorno depressão maior, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de pânico, fobia social, abuso de substância, transtornos alimentares, problemas de casais e depressão de pacientes internados. Beck (1997) diz que a terapia cognitiva pode ser usada também para pacientes com diferentes níveis de educação e renda, pacientes de todas as idades, da pré-escola até os idosos. Outras formas de Terapia Cognitivo-comportamental foram desenvolvidas por outros teóricos, a Terapia racional-emotiva de Albert Ellis, a modificação do comportamento de Donald Meichenbaum e a Terapia multimodal de Arnold Lazarus, e muitos outros contribuíram de forma importante para o desenvolvimento da Terapia Cognitiva, incluindo Michael Mahoney, Vittorio Guidano e Giovanne Liotti. A integração entre as abordagens cognitiva e a comportamental aconteceu a partir da aceitação de ideias cognitivas influenciado pelos “três sistemas” de Lang, (Salkovskis et al. 1997) que são o comportamental, cognitivo/afetivo e fisiológico, que enfatiza que os problemas psicológicos poderiam ser conceitualizados de maneira útil em sistemas de resposta sutilmente ligados. Isso foi um marco para a aceitação das noções cognitivas na abordagem comportamental. O tratamento na abordagem cognitivo-comportamental objetiva ajudar o paciente a reconhecer padrões de pensamento distorcido e comportamento disfuncional, utilizando-se a discussão sistemática e tarefas comportamentais previamente estruturadas para ajudar o paciente a avaliar e modificar tanto seus pensamentos deformados quanto seus comportamentos disfuncionais. Três proposições fundamentais são identificadas como estando no cerne das terapias cognitivo-comportamentais (Knapp & cols, 2004):

AN02FREV001/ REV 3.0

48



A atividade cognitiva influencia o comportamento, isto é, a avaliação

cognitiva dos fatos pode influenciar a resposta a esses fatos; 

A atividade cognitiva pode ser monitorada e alterada;



O comportamento desejado pode ser influenciado mediante a mudança

cognitiva.

3.2 Fundamentos teóricos da terapia cognitiva

A terapia cognitiva visa resolver problemas atuais e modificar pensamentos disfuncionais. Seu objetivo é reestruturar as cognições disfuncionais e dar flexibilidade cognitiva no momento de avaliar situações específicas. Visa também à resolução de problemas focais, objetivando, em última análise, dotar o paciente de estratégias cognitivas para perceber e responder ao real de forma funcional. O terapeuta cognitivo formula as ideias e crenças disfuncionais do paciente sobre si, sobre suas experiências e sobre seu futuro em hipóteses e, então, testa a validade dessas hipóteses de uma forma objetiva e sistemática. Segundo Beck & Alford (2000) a terapia cognitiva considera a cognição a chave para os transtornos psicológicos. “Cognição” é definida como aquela função que envolve deduções sobre as experiências e sobre a ocorrência e o controle de eventos futuros. Na terapia cognitiva clínica, a cognição inclui o processo de identificar e prever relações complexas entre eventos, de modo a facilitar a adaptação a ambientes passíveis de mudanças. Esta terapia propõe que os transtornos psicológicos resultam de uma maneira disfuncional de perceber os acontecimentos, influenciando com isso, o afeto e o comportamento. Então, uma modificação na cognição influenciará na mudança do afeto e consequentemente do comportamento. Os sustentáculos conceituais da prática da Terapia Cognitiva são os seguintes (explicaremos esses conceitos mais detalhadamente nos próximos tópicos): 

Esquemas e Crenças centrais: Os esquemas são estruturas cognitivas

dentro do pensamento, cujo conteúdo específico são as crenças centrais;

AN02FREV001/ REV 3.0

49



Pensamentos automáticos: “Pensamentos automáticos são um fluxo de

pensamento mais manifesto” (Beck, 1964); 

Estratégia compensatória: São comportamentos que visam aliviar ou

anular os pensamentos automáticos e emoções negativas; 

Conceituação

Cognitiva:

É

uma

hipótese

sobre

pensamentos,

suposições, emoções e crenças do paciente. No decorrer desse tópico voltaremos não só a Terapia Cognitiva, mas adentraremos a conceitos que se referem à Terapia Cognitivo-comportamental, para que fique mais clara como se dá esse trabalho das duas abordagens. De acordo com Rangé, a Terapia Cognitivo-comportamental é uma integração dos princípios e práticas das terapias, comportamental e cognitiva. É abordagem ativa, diretiva e estruturada usada no tratamento de uma variedade de problemas psiquiátricos, fundamentada nos modelos cognitivo e comportamental caracterizada pela aplicação de uma variedade de procedimentos clínicos como introspecção, teste de realidade, insight e inúmeros procedimentos comportamentais que conduzem a aprendizagens, visando aperfeiçoar discriminações e corrigir concepções equivocadas, modificar estados emocionais e mudar comportamentos julgados inadequados. A abordagem cognitivo-comportamental enfatiza a expressão de conceitos em termos operacionais e a comprovação empírica do tratamento por intermédio de estudos experimentais. Esse tratamento está baseado no aqui e agora, e tem como objetivo principal ajudar os pacientes a promover mudanças desejadas em sua vida. Para tanto, é necessário que o paciente trabalhe junto com o terapeuta numa relação cooperativa em que ambos planejam as estratégias para enfrentar problemas claramente identificados, sendo uma terapia limitada temporalmente e com objetivos previamente estabelecidos (Salkovskis et al. 1997).

AN02FREV001/ REV 3.0

50

Pensamentos Automáticos Crenças Subjacentes (pressupostos e regras) Crenças Nucleares (esquemas)

Objetivos da TCC: 

Identificar e modificar a forma distorcida de pensar;



Identificar e modificar as emoções que esses pensamentos provocam;



Identificar e modificar os comportamentos que são tomados como

consequência desses pensamentos e emoções; 

Utilizar formas alternativas, mais funcionais, de pensar e se comportar

diante das situações; 

Reestruturar crenças nucleares;



Solucionar problemas;



Construir estratégias de enfrentamento;



Construir habilidades necessárias ao enfrentamento;



Prevenir recaídas.

3.3 Indicações e Contraindicações

De acordo com Young (2003) pacientes diagnosticados com transtorno de personalidade e pacientes crônicos muitas vezes não respondem ao tratamento com a terapia cognitiva de curto prazo. Isso pode ser explicado por três características que estes pacientes possuem:

AN02FREV001/ REV 3.0

51



Rigidez;



Evitação;



Dificuldades interpessoais.

A rigidez está presente na maioria dos pacientes com transtorno de personalidade, não só rigidez como padrões invasivos, inflexíveis, círculos viciosos e muito duradouros, o que atrapalharia nesse tipo de terapia, pois ela exige certa flexibilidade por parte dos pacientes. Muitos pacientes com transtorno de personalidade bloqueiam ou evitam seus pensamento e sentimentos por serem muito dolorosos, “onde essa evitação pode ser explicada como resultado de um condicionamento aversivo, onde a ansiedade e a depressão foram condicionadas a lembranças e associações, levando a evitação, o que dificulta muito a tratamento cognitivo” (Young, 2003, p.13).

Outra característica dos pacientes com transtorno de personalidade é o relacionamento interpessoal disfuncional que não permite um relacionamento colaborativo entre paciente e terapeuta como prega a terapia cognitiva. De acordo com Cordioli (2008) a terapia cognitiva está bem-estabelecida nos seguintes transtornos: 

Depressão unipolar de intensidade leve ou moderada, não psicótica;



Transtorno de ansiedade (associada à terapia comportamental e a

drogas); 

Transtornos alimentares;



Transtornos somatoformes (hipocondria e transtorno Dismórfico

corporal).

O mesmo autor cita algumas indicações da terapia cognitiva como tratamento coadjuvante: 

Abuso de substância e álcool;



Transtorno de personalidade;



Transtornos psicóticos (esquizofrenia e transtorno delirante);



Transtorno bipolar; AN02FREV001/ REV 3.0

52



Transtorno de déficit de atenção com hiperatividade;



Dor crônica;

Segundo

Cordioli

(2008)

a

terapia

cognitiva,

em

princípio,

é

contraindicada para os seguintes transtornos: 

Doença mental orgânica, que implica comprometimento cognitivo

(demência); 

Retardo mental;



Pouca capacidade para trabalhar a introspectivamente (identificar

pensamentos, emoções, crenças, e expressá-los em palavras); 

Psicose aguda;



Patologia grave do caráter borderline ou antissocial;



Ausência de motivação.

3.4 Técnicas da terapia cognitiva Rangé, em seu texto “Por que sou terapeuta cognitivo-comportamental?” Nele são citadas as técnicas mais usadas na TCC e diz que usa primariamente, no trabalho cognitivo, o método socrático, não podendo ser de forma alguma persuasivo, transcorrendo fundamentalmente, em torno de perguntas que o terapeuta faz para que o paciente possa questionar os fundamentos de suas crenças e, na ausência destes, poder modificá-las. Os questionamentos que motivam as reestruturações giram em torno fundamentalmente de evidências que sustentam as crenças e pensamentos automáticos e de alternativas possíveis de se interpretar a situação. O que vai acontecer é que a falta de evidências e a descoberta de outras interpretações abala a confiança na crença, tornando-a uma hipótese entre outras sujeita a uma verificação. 

Automonitoramento ou autorregulação.

AN02FREV001/ REV 3.0

53

Segundo Atkinson (2002), como o cliente e o terapeuta raramente se encontram mais do que uma vez por semana, o cliente deve aprender a controlar e regular seu próprio comportamento, de modo que o progresso possa ser feito fora do horário da terapia. Além disso, quando as pessoas sentem que são responsáveis pela sua própria melhora, elas têm mais chances de manter os ganhos que conquistaram. Essa técnica envolve monitorar, ou observar, nosso próprio comportamento e usar várias técnicas como autorreforço, autopunição, controle de condições de estímulo,

desenvolvimento

de

respostas

incompatíveis,

para

mudar

o

comportamento de inadaptação. Assim o indivíduo monitora seu comportamento mantendo um registro cuidadoso dos tipos de situações que provocam comportamento inadaptativo e os tipos de respostas que são incompatíveis com ele. Ex.1 Uma pessoa preocupada com seu abuso de álcool observaria os tipos de situações em que se sente mais tentada a beber e tentaria controlar estas situações ou imaginar uma resposta mais incompatível com o beber Ex.2. Um homem que acha difícil não acompanhar os colegas de trabalho em um drinque na hora do almoço, poderia planejar almoçar no escritório, controlando assim seu comportamento de beber pelo controle do ambiente. Caso sinta-se tentado a relaxar com uma bebida ao chegar à casa do trabalho, ele poderia utilizar em seu lugar uma partida de tênis ou correr em volta da quadra como modo de aliviar a tensão, em que essas duas atividades seriam incompatíveis com o beber. 

Programação de atividades.

De acordo com Knapp (2004), uma vez monitorada as atividades que mais dão prazer e/ou habilidades, a dupla terapêutica prescreve atividades diárias que tragam recompensas ao paciente. Ex. Uma dona de casa pode ter muitas habilidades em fazer aquele bolo que seus filhos adoram, o que lhe traz prazer. Como está deprimida e antecipa somente sentimentos negativos e uma expectativa de futuro sombrio, planeja como experimento fazer o bolo preferido dos filhos e observar quais as suas recompensas por ter feito algo que, embora relutasse a princípio, acabou trazendo-lhe grande AN02FREV001/ REV 3.0

54

satisfação. Percebemos que a programação da atividade é útil em aumentar a autoeficácia do paciente e em encorajá-lo a buscar outras atividades que lhe deem prazer. -Terapeuta: “Você me falou que, diferente do que havia imaginado, se surpreendeu quando percebeu que estava feliz com os seus filhos, que outras atividades a senhora poderia realizar que talvez lhe tragam satisfação? 

Prescrição de tarefas graduais.

Segundo

Knapp

(2004),

neste

tipo

de

técnica

escolhem-se

os

comportamentos, os quais produzem prazer e/ou habilidades, ou seja, que trará algum tipo de recompensa e prescreve-se para o paciente. Todavia, tendo bastante cuidado para não iniciar atividades que são muito difíceis para o paciente, pois isto pode minar sua autoeficácia e até comportamentos. Inicia-se sempre da mais fácil para mais difícil. 

Solução de problemas.

De acordo com D’Zurilla e Goldfried(1971) e Dobson (2001) citados por Knapp (2004), esta técnica refere-se a tornar disponível uma variedade de respostas efetivas para lidar com uma situação problemática, aumentando a possibilidade de o paciente selecionar a resposta alternativa mais efetiva disponível. Devem-se seguir os seguintes passos: 

Identificar e especificar o problema;



Gerar soluções possíveis para lidar com o problema;



Avaliar as consequências de cada uma das diferentes soluções

encontradas; 

Escolher e colocar em prática a solução escolhida para ser testada;



Avaliar os resultados obtidos com a solução selecionada;



Se necessário, promover modificações e colocá-las em prática

novamente. 

Treinamento de habilidades sociais (assertividade). AN02FREV001/ REV 3.0

55

Nessa técnica o terapeuta busca o aprendizado da assertividade por meio da instrução de como fazer afirmações e solicitações legítimas. Segundo Knapp (2004), o paciente pratica comportamentos assertivos fora da sessão, numa escala de comportamentos assertivos dos mais fáceis até os mais difíceis de realizar, isto inclui aprender a escutar e interessar-se pelos outros, elogiar e gratificar. 

Treinamento de comunicação.

No treinamento de comunicação, o paciente treina o que quer dizer de forma clara e objetiva, sem agressividade e mostrando o que espera do outro. 

Treinamento de escuta ativa.

No treinamento da escuta ativa o paciente aprende a escutar, perguntar, empatizar, validar e refrasear (você está dizendo que...). 

Psicoeducação.

A Psicoeducação visa deixar o paciente informado sobre seu problema ou transtorno e mostrar como se vai trabalhar. A Psicoeducação acerca do transtorno, segundo Knapp (2004), melhora a motivação para a mudança e estimula a participação proativa do paciente na recuperação. Pode-se dizer que ela ajuda o paciente a retirar o aspecto distorcido que atribui a si mesmo por não ser capaz de resolver o problema, podendo ser feita por intermédio de folhetos explicativos, artigos de revistas, livros, páginas de internet e qualquer outro material que tenha informações verdadeiras. 

Identificação de pensamento automático/distorcidos ou ABC.

Nesse modelo de Albert Ellis, o A se refere aos eventos, situações ou experiências ativadoras, o B refere-se às crenças, esquemas, pensamentos, e o C refere-se às consequências, onde podem ser comportamentais, emocionais ou físicas. AN02FREV001/ REV 3.0

56

A (ativador)

B (Beliefs)

C (Consequências)

Evento ou situação

Pensamentos

Emocionais,

ativadora

automáticos,

comportamentais,

pressupostos, regras,

físicas.

crenças (esquemas)

.......

..........

..........

FONTE: Knapp (2004).



Registro de pensamentos automáticos distorcidos.

Nesse modelo assim que o paciente perceber que seu humor está mudando, piorando, ele deve-se perguntar: O que está passando no meu pensamento? Assim ele identificará seu pensamento, e a partir dele irá perceber a emoção que vem junta e consequentemente o comportamento provocado. Essa técnica foi formulada por Aaron Beck e modificada por Judith Beck, em que nota-se que ela é bem parecida com a técnica de Ellis. 

Questionamento Socrático e Descoberta Guiada.

Por intermédio de perguntas abertas, o terapeuta vai orientando o paciente de forma que ele entenda seus próprios problemas, explore possíveis soluções e desenvolva um plano para lidar com as dificuldades; seu objetivo é a avaliação independente e racional dos problemas e de suas soluções. 

Experimentos comportamentais.

AN02FREV001/ REV 3.0

57

Segundo Padesky (1994), a forma mais efetiva de examinar e desafiar o pressuposto, pensamentos e esquemas são os experimentos comportamentais, em que o paciente vai lidar com situações que não confirmem suas falsas crenças de si. Segundo

Beck

(2007),

os

experimentos

comportamentais

testam

diretamente a validade dos pensamentos ou das suposições do paciente e são uma importante

técnica

avaliativa,

utilizada

sozinha

ou

acompanhada

pelo

questionamento socrático, podendo ser feitas dentro ou fora do consultório. 

Técnicas de reatribuição.

Nessa técnica o terapeuta ajuda o paciente a flexibilizar seu julgamento por meio da identificação de outros fatores que contribuem para o resultado final ou pelo reconhecimento de diferentes critérios usados para avaliar a responsabilidade pessoal e a de terceiros, ou seja, Cordioli (2008) mostra que essa técnica é usada quando o paciente apresenta um padrão de autoatribuição de responsabilidades irreais em relação a vários resultados negativos. Knapp (2004), afirma que essa técnica é usada com pacientes que frequentemente consideram-se culpados por determinadas situações, ou ao contrário, colocam toda a culpa em outras pessoas, em que seu objetivo é levar os pacientes a considerarem todos os possíveis fatores e indivíduos envolvidos em determinadas

circunstâncias,

a

ponderarem

um

nível

mensurável

de

responsabilidade a cada um desses fatores/indivíduos. 

Ressignificação.

De acordo com Knapp (2004), é semelhante à reatribuição, seu objetivo seria ajudar o paciente a produzir uma resposta racional aos eventos, ou seja, uma versão mais lógica, realista e mais adaptativa do pensamento automático. 

Seta descendente.

Nessa técnica é feito um questionamento sucessivo sobre o significado de uma determinada cognição até alcançar seu significado mais central, podendo ser AN02FREV001/ REV 3.0

58

feito, segundo Cordioli (2008), mediante perguntas como: “O que isso significaria para você, e se o pior acontecer, e se isso for verdadeiro, então o que significa”. 

Descatastrofização.

Essa técnica visa “fazer com que o indivíduo imagine a consequência mais temida e possa reavaliá-la por meio de diversas técnicas cognitivas”. (CORDIOLI, 2008). 

Exame de vantagens e desvantagens.

Cordioli (2008), afirma que o objetivo dessa técnica é ressaltar as desvantagens e enfraquecer as vantagens que mantém uma crença. Por exemplo, com um paciente com problemas de drogas, enumeram-se as vantagens de se drogar, as vantagens de não se drogar, as desvantagens de se drogar e as desvantagens de não se drogar. 

Continuum Cognitivo

Segundo Cordioli (2008), essa técnica deve ser usada quando uma das distorções predominantes é o pensamento dicotômico, assim o terapeuta cria um continuum cognitivo, de 0 a 100%, para o que se está avaliando, em termos de tudo ou nada. Depois se pede que o paciente compare seu desempenho com o de outros indivíduos, posicionando-os no gráfico, facilitando assim que o paciente se avalie de forma mais relativa. 

Técnica do gráfico em forma de pizza.

Usado para o paciente ver suas ideias em forma de gráfico. Digamos que ele poderia colocar no gráfico metas que ela quer alcançar, fazendo assim dois gráficos, um com o real e outro com o que considera ideal.

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59

Cordioli (2008), diz que a visualização dos pensamentos em gráfico é útil para que o paciente discrimine qual sua parcela de responsabilidade em algum resultado ou o quanto deseja investir em alguma área de sua vida. 

Role-play.

Esta técnica pode ser usada para uma ampla variedade de propósitos, ou seja, uma dramatização que pode ser usada na identificação de pensamentos automáticos, para desenvolvimento de uma resposta racional e para a modificação de crenças, sendo também usada para aprender habilidades sociais, segundo Beck (1997). 

Cartões de enfrentamento.

Nessa técnica se usam cartões pequenos, geralmente de tamanho 8x13cm, segundo Beck (1997), em que o paciente o mantém por perto, em gavetas, na carteira, na bolsa, no bolso, fixados em espelhos, geladeira ou painel do carro, assim o paciente deve seguir uma rotina de lê-los algumas vezes por dia num período regular. Ele pode assumir algumas formas diferentes, segundo Judith Beck: o seguida

Escrever em um dos lados um pensamento automático ou uma crença de

sua

resposta

adaptativa

e

do

outro

escrever

estratégias

comportamentais para uma situação problemática específica e assim motivando o paciente; o

Escrever estratégias que foram discutidas na sessão, visando assim

lembrar o paciente; o

Usado para motivar o paciente quando este estiver desmotivado.



Empirismo colaborativo.

Aqui o trabalho conjunto entre terapeuta e paciente, usando de experimentos para confirmar e refutar as hipóteses levantadas para explicar o sofrimento psicológico do paciente e criar novos mecanismos, mais adaptáveis, para lidar com eles. AN02FREV001/ REV 3.0

60



Biblioterapia.

Podemos dizer que esta técnica consiste na leitura de variados materiais, possibilitando que o paciente obtenha mais informações fora da sessão e com isso, segundo Cordioli (2008), reestruture certas cognições. A Biblioterapia pode ser feita por meio da indicação de livros, páginas de internet (confiáveis), folhetos e outros tipos de literatura.

FIM!

AN02FREV001/ REV 3.0

61

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação

CURSO DE

PSICOLOGIA CLÍNICA

Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação

AN02FREV001/REV 4.0

1

CURSO DE

PSICOLOGIA CLÍNICA

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

AN02FREV001/REV 4.0

2

CONCEITO DE SAÚDE

www.usp.br

Seria possível compreender bem o que significa e o que representa transtorno psicológico sem ter o entendimento prévio do que significaria saúde? A definição mais conhecida de saúde é a encontrada na Constituição da Organização Mundial de Saúde, ou seja, aquela que se propõe a considerá-la um completo bem-estar físico, mental e social e não apenas ausência de doença. Seria possível ser portador de um completo bem-estar? Dentro dessa perspectiva, até parece que para ter saúde é necessário viver em outro planeta e não habitar aquele a que aprendemos a denominar Terra. O conceito de saúde é cada vez mais relativo e suas discussões atrelam esse bem a outras dimensões do bem-viver humano como saneamento básico, lazer e acesso à educação e cultura, por exemplo.

AN02FREV001/REV 4.0

3

O certo é que a percepção de saúde varia muito entre as diferentes culturas, assim quanto às crenças sobre o que traz ou retira a saúde. A Organização Mundial de Saúde (OMS) define ainda a Engenharia Sanitária como sendo um conjunto de tecnologias que promovem o bem-estar físico, mental e social. Sabe-se que sem o saneamento básico (sistemas de água, de esgotos sanitários e de limpeza urbana) a saúde pública fica completamente prejudicada. A OMS reconhece ainda que a cada unidade monetária (dólar, euro, real, etc.) dispendida em saneamento economiza-se cerca de quatro a cinco unidades em sistemas de saúde (postos, hospitais, tratamentos, etc.) e que cerca de 80% das doenças mundiais são causadas por falta de água potável suficiente para atender as populações. Portanto, a saúde deve ser entendida em sentido mais amplo, como componente da qualidade de vida. (Wood; Cohen, 2007) Assim, não é um “bem de troca”, mas um “bem comum”, um bem e um direito social, em que cada um e todos possam ter assegurado o exercício e a prática do direito à saúde. A partir da aplicação e utilização de toda a riqueza disponível, conhecimentos e tecnologia desenvolvidos pela sociedade nesse campo, adequados às suas necessidades, abrangendo promoção e proteção da saúde, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação de doenças. Em outras palavras, considerar esse bem e esse direito como componente e exercício da cidadania, que é um referencial e um valor básico a ser assimilado pelo poder público. Para o balizamento e orientação de sua conduta, decisões, estratégias e ações. A partir daí, deve-se perguntar: afinal, o que significa esse processo saúdedoença e quais suas relações com a saúde e com o sistema de serviços de saúde? Em síntese, em termos da determinação causal, pode-se dizer que ele representa o conjunto de relações e variáveis que produz e condiciona o estado de saúde e doença de uma população, que se modifica em diversos momentos históricos e do desenvolvimento científico da humanidade. Assim, houve a teoria mística sobre a doença, que os antepassados julgavam como um fenômeno sobrenatural, ou seja, ela estava além da sua compreensão do mundo, superada posteriormente pela teoria de que a doença era um fato decorrente das alterações ambientais no meio físico e concreto que o homem vivia. Em seguida, surge a teoria dos miasmas

AN02FREV001/REV 4.0

4

(gazes), que vai predominar por muito tempo. Até que, com os estudos de Louis Pasteur na França, entre outros, vem a prevalecer a “teoria da unicausalidade”, com a descoberta dos micróbios (vírus e bactérias) e, portanto, do agente etiológico, ou seja, aquele que causa a doença. Devido a sua incapacidade e insuficiência para explicar a ocorrência de uma série de outros agravos à saúde do homem, essa teoria é complementada por uma série de conhecimentos produzidos pela epidemiologia, que demonstra a multicausalidade como determinante da doença e não apenas a presença exclusiva de um agente. Finalmente,

uma

série

de

estudos

e

conhecimentos

provindos

principalmente da epidemiologia social nos meados deste século esclarece melhor a determinação e a ocorrência das doenças em termos individuais e coletivos. O fato é que se passa a considerar saúde e doença como estados de um mesmo processo, composto por fatores biológicos, econômicos, culturais e sociais. Deve-se ressaltar ainda o recente e acelerado avanço que se observa no campo da Engenharia Genética e da Biologia Molecular, com suas implicações tanto na perspectiva da ocorrência como da terapêutica de muitos agravos. Desse modo, surgiram vários modelos de explicação e compreensão da saúde, da doença e do processo saúde-doença, como o modelo epidemiológico baseado nos três componentes: agente, hospedeiro e meio, considerados como fatores causais, que evoluiu para modelos mais abrangentes, como o do campo de saúde, com o envolvimento do ambiente (não apenas o ambiente físico), estilo de vida, biologia humana

e

sistema-serviço

de

saúde,

numa

permanente

inter-relação

e

interdependência. Alguns autores questionam esse modelo, ressaltando, por exemplo, que o “estilo de vida” implicaria uma opção e conduta pessoal voluntária, o que pode não ser verdadeiro, pois pode estar condicionado a fatores sociais, culturais, entre outros. De qualquer modo, o importante é saber e reconhecer essa abrangência e complexidade causal: saúde e doença não são estadas estanques, isolados, de causa aleatória – não se está com saúde ou doença por acaso. Há uma determinação permanente, um processo causal, que se identifica com o modo de organização da sociedade. Daí se dizer que há uma “produção social da saúde e/ou da doença”.

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Em última instância, como diz Breilh, “o processo saúde-doença constitui uma expressão particular do processo geral da vida social”. Outro nível de compreensão que se há de ter em relação ao processo saúde-doença é o conceito do que é ser ou estar doente ou o que é ser ou estar saudável. Sem aprofundar as grandes discussões sobre esse tema, que envolvem entre outras, como base de discussão preliminar e compreensão, as categorias da “representação dos indivíduos” e a “representação dos profissionais” ou mesmo das instituições de saúde. Em um sentido mais pragmático pode-se destacar que em toda população há indivíduos sujeitos a fatores de risco para adoecer com maior ou menor freqüência e com maior ou menor gravidade. Além do que, há diferenças de possibilidades entre eles de “produzir condições para sua saúde” e ter acesso aos cuidados no estado da doença. Há, portanto, grupos que exigem ações e serviços de natureza e complexidade variada. Isso significa que o objeto do sistema de saúde deve ser entendido como as condições de saúde das populações e seus determinantes, ou seja, o seu processo de saúde-doença. Visando produzir progressivamente melhores estados e níveis de saúde dos indivíduos e das coletividades, atuando articulada e integralmente nas prevenções primária, secundária e terciária, com redução dos riscos de doença, seqüelas e óbito. Desse modo, há que se compreender outra dimensão, que é aquela que coloca o processo de intervenção, por meio de um sistema de cuidados para a saúde, para atender as necessidades, demandas, aspirações individuais e coletivas, como, um processo técnico, científico e político. É político no sentido de que se refere a valores, interesses, aspirações e relações sociais e envolve a capacidade de identificar e privilegiar as necessidades de saúde individuais e coletivas. Resultantes daquele complexo processo de determinação e acumular força e poder para nele intervir, incluindo a alocação e garantia de utilização dos recursos necessários para essa intervenção. É técnico e científico no sentido de que esse saber e esse fazer em relação à saúde-doença da população não devem ser empíricos, mas podem e devem ser instrumentalizados pelo conhecimento científico e desenvolvimento tecnológico, pelo avanço e progresso da ciência.

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Portanto, o saber e o fazer em relação à saúde da população mediante um sistema de saúde é uma tarefa que implica a concorrência de várias disciplinas do conhecimento humano. E a ação das diversas profissões da área de saúde, bem como ação articulada entre os diversos setores, que é requerimento para a produção de saúde. E aquela dimensão política inerente a esse processo social remete para a necessidade de satisfazer outro requerimento, próprio dos processos políticos democráticos, que é a participação social, ou seja, a participação ativa da população na formulação, desenvolvimento e acompanhamento das políticas e dos sistemas de saúde. Que hoje, no Sistema Único de Saúde (SUS), está minimamente estabelecida nos conselhos de saúde (nacional, estadual e municipal) e conferências de saúde.

SAÚDE MENTAL

http://s.socialesaude.zip.net/

O conceito de saúde mental deve envolver o homem no seu todo biopsicossocial (biológico, psicológico e social), o contexto social em que está

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inserido assim como a fase de desenvolvimento em que se encontra. Neste sentido, podemos considerar a saúde mental como um equilíbrio dinâmico que resulta da interação do indivíduo com os seus vários ecossistemas: O seu meio interno e externo; as suas características orgânicas e os seus antecedentes pessoais e familiares (Benedito, 1975). Numa abordagem à influência de fatores sociais na saúde mental, foi referido que a saúde mental deixou de serem a ausência de doença, problemas mentais e psíquicos, mas sim a percepção e consciência dos mesmos, e a possibilidade pessoal e/ou coletiva de solucioná-los, de modificar e de intervir sobre eles (Uribe Vasco et al., 1994).

DEFICIÊNCIA MENTAL

http://www.gazetadelimeira.com.br/jornaldamulher

A partir do século XX começou-se a estabelecer uma definição para o Deficiente Mental e essa definição diz respeito ao funcionamento intelectual, que seria inferior à média estatística das pessoas e, principalmente, em relação à dificuldade de adaptação ao entorno. (DSM-IV, CID 10).

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Segundo a descrição do DSM. IV, a característica essencial do Retardo Mental é quando a pessoa tem um “funcionamento intelectual significativamente inferior à média, acompanhado de limitações significativas no funcionamento adaptativo em pelo menos duas das seguintes áreas de habilidades: comunicação, autocuidados, vida doméstica, habilidades sociais, relacionamento interpessoal,

uso

de

recursos

comunitários,

auto-suficiência,

habilidades

acadêmicas, trabalho, lazer, saúde e segurança”. Essa é também a definição de Deficiência Mental adotada pela AAMR (Associação Americana de Deficiência Mental). Na Deficiência Mental, como nas demais questões da saúde mental, a capacidade de adaptação do sujeito ao objeto, ou da pessoa ao mundo, é o elemento mais fortemente relacionado à noção de normalidade. Teoricamente, deveriam ficar em segundo plano as questões mensuráveis de QI, (Coeficiente de Inteligência) já que a unidade de observação é a capacidade de adaptação. Acostumamos a pensar na Deficiência Mental como uma condição em si mesma, um estado patológico bem definido. Entretanto, na grande maioria das vezes a Deficiência Mental é uma condição mental relativa. A deficiência será sempre relativa em relação aos demais indivíduos de uma mesma cultura, pois a existência de alguma limitação funcional, principalmente nos graus mais leves, não seria suficiente para caracterizar um diagnóstico de Deficiência Mental, se não existir um mecanismo social que atribua a essa limitação um valor de morbidade. E esse mecanismo social que atribui valores é sempre comparativo, portanto, relativo. Como vimos nas definições acima, Deficiência Mental é um estado onde existe uma limitação funcional em qualquer área do funcionamento humano, considerada abaixo da média geral das pessoas pelo sistema social onde se insere a pessoa. Isso significa que uma pessoa pode ser considerada deficiente em uma determinada cultura e não deficiente em outra, de acordo com a capacidade dessa pessoa satisfazer as necessidades dessa cultura. Isso torna o diagnóstico relativo.

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Segundo

critérios

das

classificações

internacionais,

o

início

da

Deficiência Mental deve ocorrer antes dos 18 anos, caracterizando assim um transtorno do desenvolvimento e não uma alteração cognitiva como é a Demência. Embora o assunto comporte uma discussão mais ampla, de modo acadêmico o funcionamento intelectual geral é definido pelo Quociente de Inteligência (QI ou equivalente).

Classificações da Deficiência Mental A Deficiência Mental se caracteriza assim, por um funcionamento global inferior à média, junto com limitações associadas em duas ou mais das seguintes habilidades adaptativas: comunicação, cuidado pessoal, habilidades sociais, utilização da comunidade, saúde e segurança, habilidades escolares, administração do ócio e trabalho. Para o diagnóstico é imprescindível que a Deficiência Mental se manifeste antes dos 18 anos. As áreas de necessidades dos deficientes devem ser determinadas através de avaliações neurológicas, psiquiátricas, sociais e clínicas e nunca numa única abordagem de diagnóstico.

Tipo de classificação baseada na intensidade dos apoios necessários: Intermitente: O apoio se efetua apenas quando necessário. Caracteriza-se por sua natureza episódica, ou seja, a pessoa nem sempre está precisando de apoio continuadamente, mas durante momentos em determinados ciclos da vida, como por exemplo, na perda do emprego ou fase aguda de uma doença. Os apoios intermitentes podem ser de alta ou de baixa intensidade. Limitado: Apoios intensivos caracterizados por alguma duração contínua, por tempo limitado, mas não intermitente. Nesse caso incluem-se deficientes que podem requerer um nível de apoio mais intensivo e limitado, como por exemplo, o treinamento do deficiente para o trabalho por tempo limitado ou apoios transitórios durante o período entre a escola, a instituição e a vida adulta.

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Extenso:

Trata-se

de

um

apoio

caracterizado

pela

regularidade,

normalmente diário pelo menos em alguma área de atuação, tais como na vida familiar, social ou profissional. Nesse caso, não existe uma limitação temporal para o apoio, que normalmente se dá em longo prazo. Generalizado: É o apoio constante e intenso, necessário em diferentes áreas de atividade da vida. Estes apoios generalizados exigem mais pessoal e maior intromissão que os apoios extensivos ou os de tempo limitado. Ainda baseada na capacidade funcional e adaptativa dos deficientes, existe outra classificação bastante interessante para a Deficiência Mental. Trata-se da seguinte: Dependentes: geralmente QI abaixo de 25; casos mais graves, nos quais é necessário o atendimento por instituições. Há poucas, pequenas, mas contínuas melhoras quando a criança e a família estão bem assistidas. Treináveis: QI entre 25 e 75; são crianças que se colocadas em classes especiais poderão treinar várias funções, como disciplina, hábitos higiênicos, etc. Poderão aprender a ler e a escrever em ambiente sem hostilidade, recebendo muita compreensão e afeto e com metodologia de ensino adequada. Educáveis: QI entre 76 e 89; a inteligência é dita “limítrofe ou lenta” e estas crianças podem permanecer em classes comuns, embora necessitem de acompanhamento psicopedagógico especial. Essa classificação bastante simples é extremamente importante na prática clínica, pois, sugere o que pode ser proporcionado à criança com Deficiência Mental.

Por outro lado, a classificação da OMS - CID.10 (Organização Mundial da Saúde) é baseada ainda no critério quantitativo. Por essa classificação a gravidade da deficiência seria:

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Profundo: São pessoas com uma incapacidade total de autonomia. Os que têm um coeficiente intelectual inferior a 10, inclusive aquelas que vivem num nível vegetativo. Agudo Grave: Fundamentalmente necessitam que se trabalhe para instaurar alguns hábitos de autonomia, já que há probabilidade de adquiri-los. Sua capacidade de comunicação é muito primária. Podem aprender de uma forma linear, são crianças que necessitam revisões constantes. Moderado: O máximo que podem alcançar é o ponto de assumir um nível pré-operativo. São pessoas que podem ser capazes de adquirir hábitos de autonomia e, inclusive, podem realizar certas atitudes bem-elaboradas. Quando adultos podem freqüentar lugares ocupacionais, mesmo que sempre estejam necessitando de supervisão. Leve: São casos perfeitamente educáveis. Podem chegar a realizar tarefas mais complexas com supervisão. São os casos mais favoráveis.

TRANSTORNO MENTAL Durante séculos as pessoas com sofrimento mental foram afastadas do resto da sociedade, algumas vezes encarcerados, em condições precárias, sem direito a se manifestar na condução de suas vidas. Hoje em dia, as atitudes negativas os afastam da sociedade de maneiras mais sutis, mas com a mesma efetividade. Você provavelmente conhece alguém que tem problemas mentais. Transtornos mentais como a ansiedade, depressão, distúrbios alimentares, uso de drogas e álcool, demência e esquizofrenia, pode afetar qualquer pessoa em qualquer época da sua vida. Na realidade, elas podem causar mais sofrimento e incapacidade que qualquer outro tipo de problema de saúde. Apesar disso, pessoas com essas condições, muitas vezes atraem medo, hostilidade e desaprovação em vez de compaixão, apoio e compreensão. Tais reações não somente influem para que se sintam isolados e infelizes, como são AN02FREV001/REV 4.0

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impedimentos para que busquem ajuda efetiva e tratamento. A saúde mental é componente chave de uma vida saudável. O termo “doença mental” ou transtorno mental engloba um amplo espectro de condições que afetam a mente. Doença mental provoca sintomas tais como: desconforto emocional, distúrbio de conduta e enfraquecimento da memória. Algumas vezes, doenças em outras partes do corpo afetam a mente; outras vezes, desconfortos, escondidos no fundo da mente podem desencadear outras doenças do corpo ou produzir sintomas somáticos. Um grande espectro de fatores – nosso mapa genético, química cerebral, aspectos do nosso estilo de vida podem causar algum tipo de transtorno mental. Acontecimentos que nos acometeram no passado e nossas relações com as outras pessoas – participam de alguma forma. Seja qual for à causa, a pessoa que desenvolve a “doença mental” ou o transtorno mental, muitas vezes se sente em sofrimento, desesperançada e incapaz de levar sua vida na sua plenitude. Existem muitos tratamentos efetivos para a doença mental. Eles podem incluir medicamentos e outros tratamentos físicos, ou tratamentos pela fala (Psicoterapias) de várias espécies, aconselhamento e/ou apoio no dia-a-dia da vida em diferentes formas. Diferentes profissionais da saúde podem estar envolvidos na assistência da pessoa que está mentalmente enferma: clínicos gerais, psiquiatras, enfermeiros, psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais e grupos de apoio voluntários, dentre outros.. As causas do sofrimento mental são complexas e os psicólogos, assim como outros profissionais da saúde mental não têm todas as respostas. Sabe-se que alguns aspectos da doença mental, tais como ansiedade, desespero e sentimentos suicidas, nem sempre são fáceis de serem tratados, pois envolvem âmbitos os mais diversos da existência humana. Na antiga Grécia, sinais corporais ou “stigmata” feitos por cortes ou queimaduras no corpo, marcavam as pessoas como diferentes. Pessoas com doença mental que há muito não são marcadas no corpo, mas atitudes críticas e

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prejudiciais podem ser tão danosas quanto às marcas corporais. Basta abrir um jornal, ligar a TV ou ir ao cinema para perceber tais atitudes. Enquanto a mídia não aceitar essas queixa pelas percepções negativas, toda vez que um programa, artigo ou filme retrata um estereótipo ou falha em esclarecer um mal entendido sobre doença mental, ela auxilia na manutenção de mitos. Os estigmas podem surgir por diferentes caminhos. As pessoas com sofrimento mental podem agir de forma diferente. Uma pessoa deprimida pode se apresentar triste ou apática; alguém na fase maníaca da doença bipolar pode parecer exageradamente feliz ou irritável. O problema é que quando alguém é marcado como diferente, é difícil para ele ser aceito, não importa o quanto ele tente, Eles não conseguem afastar o estigma e o resultado disso, pois perdem a confiança em si mesmos. Com o tempo, começam a se sentir como estranhos e que não se enquadram na vida. Pessoas com transtornos mentais ou doenças mentais continuam a ser prejudicados e discriminados em todas as áreas de suas vidas, desde onde encontrar um lugar para viver, encontrar um trabalho. Não é surpreendente que muitas pessoas com doença mental grave terminem pobres ou sem teto. Cabe a todos nós tomarmos conhecimento do dano que provocamos com nossas atitudes negativas e nossa colaboração para isolá-los. Seja quem formos e seja o que fazemos, nós podemos combater os efeitos danosos do estigma estendendo nossa amizade, apoio e compreensão em vez do nosso julgamento e discriminação, para as pessoas que estão mentalmente doentes. Descrever pessoa com doença mental como “louco”, “esquisito”, “Pinel” “lunático”, o diminui como pessoa a não ser levada seriamente ou com a percepção que ele é perigoso pode excluí-lo das atividades do dia a dia. Muitas pessoas acreditam que doença mental é incurável. Eles podem até ver certos tratamentos, como com antidepressivos ou psicoterapias, como sem valor ou mesmo danosos, mesmo que em muitos casos tenham se mostrado efetivos. AN02FREV001/REV 4.0

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O fato é que cientistas estão fazendo progressos no desvendamento da estrutura e química do cérebro. Como conseqüência tem-se melhor compreensão da mente e com ela funciona. Entretanto, a doença mental tem muitas causas. Ela não é apenas uma questão de química alterada e envolve questões sociais, emocionais, cognitivas e físicas.

Principais transtornos mentais Depressão

http://escrevoapenas.blogs.sapo.pt/arquivo/depressao.jpg

Depressão é uma palavra freqüentemente usada para descrever nossos sentimentos. Todos se sentem angustiados de vez em quando, ou muito alegre às vezes e tais sentimentos são normais. A depressão, enquanto evento psiquiátrico é algo bastante diferente: é uma doença como outra qualquer que exige tratamento. Muitas

pessoas

pensam

estar

ajudando

um

amigo

deprimido

ao

incentivarem ou mesmo cobrarem tentativas de reagir, distrair-se, de se divertir para superar os sentimentos negativos. Os amigos que agem dessa forma fazem mais mal do que bem, são incompreensivos e talvez até egoístas. O amigo que realmente quer ajudar procura ouvir quem se sente deprimido e no máximo aconselhar ou procurar um profissional quando percebe que o amigo deprimido não está só triste.

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Uma boa comparação que podemos fazer para esclarecer as diferenças conceituais entre a depressão psiquiátrica e a depressão normal seria comparar com a diferença que há entre clima e tempo. O clima de uma região ordena como ela prossegue ao longo do ano por anos a fio. O tempo é a pequena variação que ocorre para o clima da região em questão. O clima tropical exclui incidência de neve. O clima polar exclui dias propícios a banho de sol. Nos climas tropicais e polares haverá dias mais quentes, mais frios, mais calmos ou com tempestades, mas tudo dentro de uma determinada faixa de variação. O clima é o estado de humor e o tempo as variações que existem dentro dessa faixa. O paciente deprimido terá dias melhores ou piores, assim como o não deprimido. Ambos terão suas tormentas e dias ensolarados, mas as tormentas de um, não se comparam às tormentas do outro, nem os dias de sol de um, se comparam com os dias de sol do outro. Existem semelhanças, mas a manifestação final é muito diferente. Uma pessoa no clima tropical ao ver uma foto de um dia de sol no pólo sul tem a impressão de que estava quente e que até se poderia tirar a roupa para se bronzear. Este tipo de engano é o mesmo que uma pessoa comete ao comparar as suas fases de baixo astral com a depressão psiquiátrica de um amigo. Ninguém sabe o que um deprimido sente, só ele mesmo e talvez quem tenha passado por isso. Nem o psiquiatra sabe: ele reconhece os sintomas e sabe tratar, mas isso não faz com que ele conheça os sentimentos e o sofrimento do seu paciente. Os sintomas da depressão são muito variados, indo desde as sensações de tristeza, passando pelos pensamentos negativos até as alterações da sensação corporal como dores e enjôos. Contudo para se fazer o diagnóstico é necessário um grupo de sintomas centrais: •

Perda de energia ou interesse



Humor deprimido



Dificuldade de concentração



Alterações do apetite e do sono AN02FREV001/REV 4.0

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Lentificação das atividades físicas e mentais



Sentimento de pesar ou fracasso

Os sintomas corporais mais comuns são sensação de desconforto no batimento cardíaco, constipação, dores de cabeça, dificuldades digestivas. Períodos de melhora e piora. Eles são comuns, o que cria a falsa impressão de que se está melhorando sozinho quando durante alguns dias o paciente sente-se bem. Geralmente tudo se passa gradualmente, não necessariamente com todos os sintomas simultâneos, aliás, é difícil ver todos os sintomas juntos. Até que se faça o diagnóstico praticamente todas as pessoas possuem explicações para o que está acontecendo com elas, julgando sempre ser um problema passageiro. Outros sintomas que podem vir associados aos sintomas centrais são: •

Pessimismo



Dificuldade de tomar decisões



Dificuldade para começar a fazer suas tarefas



Irritabilidade ou impaciência



Inquietação



Achar que não vale a pena viver; desejo de morrer



Chorar à toa



Dificuldade para chorar



Sensação de que nunca vai melhorar, desesperança...



Dificuldade de terminar as coisas que começou



Sentimento de pena de si mesmo



Persistência de pensamentos negativos



Queixas freqüentes



Sentimentos de culpa injustificáveis



Boca ressecada, constipação, perda de peso e apetite, insônia, perda

do desejo sexual Basicamente existem as depressões monopolares (este não é um termo usado oficialmente) e a depressão bipolar (este termo é oficial). O transtorno afetivo bipolar se caracteriza pela alternância de fases deprimidas com maníacas, de

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exaltação, alegria ou irritação do humor. A depressão monopolar só tem fases depressivas. Os sintomas depressivos apesar de muito comuns são pouco detectados nos pacientes de atendimento em outras especialidades, o que permite o desenvolvimento e prolongamento desse problema comprometendo a qualidade de vida do indivíduo e sua recuperação. Anteriormente estudos associaram o fumo, a vida sedentária, obesidade, ao maior risco de doença cardíaca. Agora, pelas mesmas técnicas, associa-se sintoma depressivo com maior risco de desenvolver doenças cardíacas. A doença cardíaca mais envolvida com os sintomas depressivos é o infarto do miocárdio. Também não se pode concluir apressadamente que depressão provoca infarto, não é assim. Nem todo obeso, fumante ou sedentário enfarta. Essas pessoas enfartam mais que as pessoas fora desse grupo, mas a incidência não é de 100%. Da mesma forma, a depressão aumenta o risco de infarto, mas numa parte dos pacientes. Está sendo investigado. A depressão costuma atingir 15 a 25% dos pacientes com câncer. As pessoas e os familiares que encaram um diagnóstico de câncer experimentarão uma variedade de emoções, estresses e aborrecimentos. O medo da morte, a interrupção dos planos de vida, perda da auto-estima e mudanças da imagem corporal, mudanças no estilo social e financeiro são questões fortes o bastante para justificarem desânimo e tristeza. O limite a partir do qual se devem usar antidepressivos não é claro, dependerá da experiência de cada psiquiatra. A princípio sempre que o paciente apresente um conjunto de sintomas depressivos semelhante ao conjunto de sintomas que os pacientes deprimidos sem câncer apresentam, deverá ser o ponto a partir do qual se deve entrar com medicações. Existem alguns mitos sobre o câncer e as pessoas que padecem dele, tais como"os portadores de câncer são deprimidos". A depressão em quem tem câncer é normal, o tratamento da depressão no paciente com câncer é ineficaz. A tristeza e o pesar são sentimentos normais para AN02FREV001/REV 4.0

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uma pessoa que teve conhecimento da doença. Questões como a resposta ao tratamento, o tempo de sobrevida e o índice de cura entre pacientes com câncer, com ou sem depressão estão sendo mais enfocadas do que a investigação das melhores técnicas para tratamento da depressão. Normalmente a pessoa que fica sabendo que está com câncer torna-se durante um curto espaço de tempo descrente, desesperada ou nega a doença. Esta é uma resposta normal no espectro de emoções dessa fase, o que não significa que sejam emoções insuperáveis. No decorrer do tempo o humor depressivo toma o lugar das emoções iniciais. Agora o paciente pode ter dificuldade para dormir e perda de apetite. Nessa fase o paciente fica ansioso, não consegue parar de pensar no seu novo problema e teme pelo futuro. As estatísticas mostram que aproximadamente metade das pessoas conseguirá se adaptar a essa situação tão adversa. Com isso estas pessoas aceitam o tratamento e o novo estilo de vida imposto não fica tão pesado. Para se afirmar que o paciente está deprimido tem-se que afirmar que ele sente-se triste a maior parte do dia, quase todos os dias, não tem tanto prazer ou interesse pelas atividades nas quais apreciava. E, não consegue ficar parado e pelo contrário movimenta-se mais lentamente que o habitual. Passa a ter sentimentos inapropriados de desesperança desprezando-se como pessoa e até mesmo se culpando pela doença ou pelo problema dos outros, sentindo-se um peso morto na família. Com isso, apesar de ser uma doença potencialmente fatal, surgem pensamentos de suicídio. Esse quadro deve durar pelo menos duas semanas para que possamos dizer que o paciente está deprimido. A

causa

exata

da

depressão

permanece

desconhecida.

Eventos

desencadeantes são muito estudados e de fato encontra-se relação entre certos acontecimentos estressantes na vida das pessoas e o início de um episódio depressivo. Contudo, tais eventos não podem ser responsabilizados pela manutenção da depressão. Na prática a maioria das pessoas que sofre um revés se recupera com o tempo. Os eventos estressantes provavelmente disparam a

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depressão

nas

pessoas

predispostas,

vulneráveis.

Exemplos

de

eventos

estressantes são: perda de pessoa querida, perda de emprego, mudança de habitação contra vontade, doença grave, pequenas contrariedades não são consideradas como eventos fortes o suficiente para desencadear depressão. O que torna as pessoas vulneráveis ainda é objeto de estudos. A influência genética como em toda medicina é muito estudada. Trabalhos recentes mostram que mais do que a influência genética, o ambiente durante a infância pode predispor mais as pessoas. O fator genético é fundamental uma vez que os gêmeos idênticos ficam mais deprimidos do que os gêmeos não idênticos. Ansiedade

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A ansiedade é uma sensação ou sentimento decorrente da excessiva excitação do Sistema Nervoso Central conseqüente à interpretação de uma situação de perigo. Parente próximo do medo, (muitas vezes onde a diferenciação não é possível) é distinguida dele pelo fato de o medo ter um fator desencadeante real e palpável enquanto na ansiedade o fator de estímulo teria características mais subjetivas.

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A ansiedade é o grande sintoma de características psicológicas que mostra a intersecção entre o físico e psíquico, uma vez que tem claros sintomas físicos como: taquicardia (batedeira), sudorese, tremores, tensão muscular aumento das secreções (urinárias e fecais) aumento da motilidade intestinal, cefaléia (dor de cabeça). Quando recorrente e intensa também é chamada de Síndrome do Pânico (Crise ansiosa aguda). Toda esta excitação acontece decorrente de uma descarga de um Neurotransmissor chamado Noradrenalina. O nosso Sistema Nervoso Central e a nossa mente necessitam de uma situação de conforto e de segurança para usufruir a sensação de repouso e de bem estar. Quando a nossa percepção nos alerta para uma situação de perigo a este estado acontece o estado ansioso. Evolutivamente faz muito pouco tempo que saímos dos tempos da caverna, onde os perigos de vida e a necessidade de luta eram uma constante. A excitação do Sist. Nerv. Central vinha como uma forma de estimular o nosso corpo para a luta ou para a fuga. O que interpretamos como perigo hoje, transcende e muito o perigo de vida biológico. Perda de status, de conforto, de poder econômico, de afetos, amizades, de privilégios, vantagens, de possibilidade de concretizar interesses, de vaidade, são fatores mais do que suficientes em muitos casos para disparar o estado ansioso. Em estados de desequilíbrio emocional, o simples contacto com o novo, com situações inesperadas e desconhecidas são o suficiente para disparar estados ansiosos. A principal característica psíquica do estado ansioso é uma excitação, uma aceleração do pensamento, como se estivéssemos elaborando, planejando uma maneira de nos livrar do perigo e da maneira mais rápida possível. Este movimento mental, na maioria das vezes acaba causando certa confusão mental, uma ineficiência da ação, um aumento da sensação de perigo e de incapacidade de se

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livrar do perigo o que configura um círculo vicioso, pois esta sensação só faz aumentar ainda mais o estado ansioso. “Mente acelerada é mente desequilibrada”. Este movimento impulsivo de a mente se acelerar, de precisar ter tudo sob controle, para poder usufruir a sensação de repouso e conforto faz com que ela se excite e se o problema não tiver uma solução mental imediata. Como o que acontece na maioria dos casos terá a chamada ansiedade patológica, que tende a se cronificar e piorar com os anos. A ansiedade poderia ter uma origem genética, ou seja, a pessoa herda de seus ancestrais uma pré-disposição para ter estes sintomas. Nestes casos as manifestações podem ser bastante precoces, sendo a pessoa desde cedo uma criança agitada, às vezes, hiperativa, que chora com facilidade e às vezes até com dificuldade de dormir. A ansiedade precoce também pode se manifestar através da avidez de mamar e numa postura mais teimosa e possessiva ainda como criança. A segunda é uma infância carente e problemática onde as dificuldades dos pais, mas principalmente da mãe de passar afeto e suprir as carências afetivas da criança, vão fazendo com que ela vá se sentindo insegura e exposta. E vá gravando e condicionando um sentimento de que coisas ruins e sensações negativas podem acontecer a qualquer momento. A terceira é a dificuldade de incorporar fatos e intercorrências novas ou desconhecidas. O velho ou conhecido sempre traz a sensação de segurança e controle. O novo por sua vez tem a capacidade de potencializar a sensação de medo no sentido de que algo ruim ou perigoso pode vir a acontecer. É mais ou menos assim, “Tudo que vem de mim é seguro e tudo que vem de fora e não está sob controle é perigoso". É a clássica postura do pessimista, como aquele personagem dos desenhos antigos de TV, a hiena Hardy, amiga do leão Lippy, que sempre dizia “Oh céus, oh vida, oh azar, não vai dar certo!" Traumas de infância, grandes sustos, perdas afetivas ou mesmo materiais também podem AN02FREV001/REV 4.0

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desencadear quadros ansiosos importantes, mas não chegariam a ser causas específicas Transtorno Bipolar

http://virtualpsy.locaweb.com.br/adm/img/temp/bipolar1a.jpg

É uma enfermidade na qual ocorrem alterações do humor, caracterizando-se por períodos de um quadro depressivo, que se alteram com períodos de quadros opostos, isto é, a pessoa se sente eufórica (mania). Tanto o período de depressão, quanto da mania podem durar semanas, meses ou anos. O termo mania não significa “repetição de hábitos”, mas sintomas de euforia. O Transtorno do Humor pode ocorrer, ao longo da vida, dentro de um curso bipolar ou unipolar. O curso unipolar refere-se a episódios somente de depressão e, no bipolar, depressão e mania (euforia). O Transtorno Bipolar do Humor atinge de igual maneira homens e mulheres em torno de 1% a 2% e, geralmente, entre os 15 e 30 anos de idade. O transtorno bipolar também pode atingir as crianças, manifestando-se com sintomas predominantes de humor ansioso e irritável. O humor da pessoa oscila de muito eufórico (agitado), para muito triste (com desesperança, desmotivação e desvalia).

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Como em outras doenças, o Transtorno Bipolar do Humor afeta não só quem o tem, como também, o cônjuge, familiares, amigos e empregadores. Se depressão, mania forem acompanhadas de alucinações (ouvir, ver, sentir o que não existe) e delírios (pensamentos irreais à realidade) trata-se do subtipo psicótico. As pessoas que sofrem de Transtorno Bipolar levam, em média, 8 anos antes de serem diagnosticadas ou receberem tratamento adequado, o que pode causar grande sofrimento e perdas.

Tipos de Transtorno Bipolar do Humor Existem quatro formas de Transtorno Bipolar do Humor: - Transtorno Bipolar Tipo I – Períodos de mania (euforia) com humor elevado e expansivo grave o suficiente para causar prejuízo no trabalho, relações sociais podendo necessitar de hospitalização contraposta por períodos de humor deprimido, sentimentos de desvalia, desprazer, desmotivação, alterações do sono, apetite, entre outros. Geralmente, o estado maníaco, dura dias ou pelo menos uma semana, e períodos de depressão de semanas a meses. - Transtorno Bipolar Tipo II – Períodos de hipomania, em que também ocorre estado de humor elevado e agressivo, mas de forma mais suave. Um episódio de tipo hipomania, ao contrário da mania, não chega a ser suficientemente grave para causar prejuízo em atividades de trabalho ou vida social. - Transtorno Bipolar Misto – Períodos mistos, em que em mesmo dia haveria alternâncias entre depressão e mania. Em poucas horas a pessoa pode chorar, ficar triste, com sentimentos de desvalia e desprazer e, no momento seguinte, estar eufórica, sentindo-se capaz de tudo, falante e agressiva. - Transtornos Ciclotímicos – Períodos em que haveria uma alteração crônica e flutuante do humor marcada por numerosos períodos com sintomas maníacos e numerosos sintomas depressivos que se alterariam. Contudo, não seriam suficientemente graves nem ocorreriam em quantidade suficiente para se ter certeza

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de se tratar de depressão e mania. Isto é, pode ser facilmente confundida com o jeito de ser da pessoa, “de lua”.

Principais teorias etiológicas Apesar de se desconhecer a base causal, existe uma interação complexa entre fatores biológicos, genéticos e psicossociais para tentar explicar o Transtorno: - Fatores Biológicos – As teorias dos neurotransmissores, nos sistemas noradrenérgico,

seratonérgico

e

dopaminérgico,

que

têm

características

semelhantes, pois todos se originam em núcleos localizados no tronco cerebral e se projetam para amplas áreas do pró-encéfalo, têm sido admitidas na etiologia dos Transtornos Bipolares. Além destes, outros neurotransmissores, incluindo o glutemato, neuropeptídeos, como a colecistocinina e o hormônio liberado de corticotrofina, têm sido implicados assim como anormalidades no eixo hipotalâmico pituitário - tireóide são comuns no Transtorno Bipolar. - Fatores Genéticos – Quando um dos pais apresenta Transtorno Bipolar, existe de 25 a 50% de chance de o filho adquirir Transtorno Bipolar. Quando maior a distância de parentesco, menor a possibilidade de ter um Transtorno Bipolar. Os estudos de gêmeos têm mostrado que a taxa de concordância em gêmeos monozigóticos é de 33 a 90% e gêmeos dizigóticos cerca de 5 a 25%. As associações entre o Transtorno Bipolar I e marcadores genéticos têm sido relatadas para os cromossomas 5,11 e x. - Fatores Psicossociais – Os acontecimentos vitais estressores precedem, mais freqüentemente, os primeiros episódios de Transtorno do Humor e poderiam provocar alterações nos estados funcionais de vários sistemas neurotransmissores e sinalizadores intraneurais. Dificuldades financeiras, doença na família, perda de uma pessoa importante, uso de drogas, entre outros, podem contribuir para o desencadeamento da doença.

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Achados clínicos – como identificar: Mania - Humor “para cima”, excitado, exaltação, alegria exagerada e duradoura; irritabilidade (impaciência, “pavio curto”); - Agitação, inquietação física e mental; - aumento da energia, da produtividade ou começar muitas coisas e não conseguir terminar; - Pensamentos acelerados, tagarelice; - Achar que possui dons ou poderes especiais de influência, grandeza e poder; - Otimismo e autoconfiança exagerados; - Aumento dos gastos, endividamentos; - Distração fácil: tudo desvia a atenção; - Maior contato social e desinibição, comportamento inadequado e provocativo, agressividade física e/ou verbal; - Erotização, aumento da atividade e necessidade sexuais; - Insônia, redução da necessidade de sono; - Quando grave, ocorrem delírios e/ou alucinações, estressores precedem, mais freqüentemente, os primeiros episódios de Transtorno do Humor e poderiam provocar alterações nos estados funcionais de vários sistemas neurotransmissores e sinalizadores intraneurais. Dificuldades financeiras, doença na família, perda de uma pessoa importante, uso de drogas entre outros, podem contribuir para o desencadeamento da doença.

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Depressão - Humor “para baixo”, tristeza, angústia ou sensação de vazio; - Irritabilidade, desespero; - Pouca ou nenhuma capacidade de sentir prazer e alegria na vida; - Cansaço mais fácil, desânimo, preguiça, falta de energia física e mental; - Falta de concentração, lentidão do raciocínio, memória ruim; - Falta de vontade, falta de iniciativa e interesse, apatia; - Pensamentos negativos repetidos amplificados, pessimismo, idéias de culpa, fracasso, inutilidade, falta de sentido na vida, doença, morte (suicídio); - Sentimentos de insegurança, baixa auto-estima, medo; - Interpretação distorcida e negativa do presente, de fatos ocorridos no passado e no futuro; - Redução da libido e vontade de ter sexo; - Perda ou aumento de apetite e/ou peso; - Insônia ou dormir demais, sem se sentir repousado; - Dores ou sintomas físicos difusos, sofridos, que não se explicam por outras doenças: dor de cabeça, nas costas, no pescoço e nos ombros, sintomas gastrointestinais, alterações menstruais, queda de cabelo, dentre outros; - Em depressões graves, alucinações e/ou delírios.

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Tratamento do Transtorno Bipolar

O tratamento envolve manejo nas fases agudas e na terapia de manutenção. Os quadros agudos demandam contenção imediata dos sintomas através da farmacologia:

estabilizadores

do

humor,

antidepressivos

(se

necessário),

antipsicóticos (se necessário) e, muitas vezes internação hospitalar para proteção do paciente. Os episódios de depressão aguda são tratados, preferencialmente, com antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina, pois são maiores indutores de “virada” maníaca (eufórica) ou hipomaníaca, mais comuns com as ADT (tricíclicos). As fases maníacas podem ser controladas com Carbonato de Lítio, Ácido Valpróico, Carbamazepina, lomotrigina, gebapentina e topiramato. Se sintomas psicóticos estiverem presentes, é necessário o uso de antipsicóticos ou benzodiazepínicos. Muitas vezes, é necessária a combinação de drogas, isto é, mais de um estabilizador do humor associado, antidepressivos, mesmo na fase de manutenção. Existem substâncias que propiciam a desestabilização do quadro do humor e que devem ser identificadas (tricíclicos, esteróides, álcool e os estimulantes).

Psicoterapia Sabe-se que a terapia cognitiva pode contribuir na adesão do tratamento e na prevenção das recaídas, tornando-se um valioso acessório para o tratamento farmacológico. Como relatado anteriormente, o Transtorno Bipolar não se limita meramente a um problema bioquímico, mas também, psicológico e social (envolve dificuldades pessoais, familiares e sociais). Existem outros tipos de psicoterapias como individual, grupal, de família, conjugal, entre outros, mas, o que importa é se está surtindo resultado na melhora do paciente e na sua qualidade de vida. AN02FREV001/REV 4.0

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TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO (TOC)

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Sou ou não sou um portador do TOC? Eis uma pergunta que você pode ter se feito eventualmente. Provavelmente, ouviu em algum programa de rádio ou TV, leu em alguma reportagem de jornal ou revista que lavar as mãos seguidamente, revisar várias vezes as portas, janelas ou o gás antes de deitar, não gostar de segurar-se no corrimão do ônibus. Evitar usar as toalhas de mão utilizadas pelos demais membros da sua família, não conseguir tocar com a mão no trinco da porta de um banheiro público, ter medo de passar perto de cemitérios ou entrar numa funerária, de deixar um chinelo virado. Assim como outros comportamentos semelhantes, podem, na verdade, constituir sintomas do chamado transtorno obsessivo-compulsivo ou TOC. E você deve ter ficado com dúvidas quanto a ser ou não um portador. Medos e preocupações fazem parte do nosso dia-a-dia. Aprendemos a conviver com eles tomando certos cuidados. Fechamos as portas antes de deitar, lavamos as mãos

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antes das refeições ou depois de usar o banheiro, desligamos o celular antes da sessão de cinema ou verificamos periodicamente o saldo bancário de nossa conta. Esses mesmos comportamentos e preocupações, entretanto, podem se tornar claramente excessivos, quando repetidos inúmeras vezes em um curto espaço de tempo e quando acompanhados de grande aflição. É comum, ainda, pelo tempo que tomam que comprometam as rotinas e o desempenho no trabalho. Isso configura o que, de forma convencional, chamamos de obsessões ou compulsões, sintomas característicos de um transtorno bem mais comum do que se imagina, o TOC. O TOC é um transtorno mental incluído pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana (DSM-IV) entre os chamados transtornos de ansiedade. Manifesta-se sob a forma de alterações do comportamento (rituais ou compulsões, repetições, evitações), dos pensamentos (obsessões como dúvidas, preocupações excessivas) e das emoções (medo, desconforto, aflição, culpa, depressão). Sua característica principal é a presença de obsessões: pensamentos, imagens ou impulsos que invadem a mente e que são acompanhados de ansiedade ou desconforto, e das compulsões ou rituais: comportamentos ou atos mentais voluntários e repetitivos, realizados para reduzir a aflição que acompanha as obsessões. Dentre as obsessões mais comuns estão à preocupação excessiva com limpeza (obsessão) que é seguida de lavagens repetidas (compulsão). Outro exemplo são as dúvidas (obsessão), que são seguidas de verificações (compulsão). A obsessão está ligada aos pensamentos; já os atos ou comportamentos são denominados de comportamentos compulsivos.

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O que são obsessões? Obsessões são pensamentos ou impulsos que invadem a mente de forma repetitiva e persistente. Podem ainda ser imagens, palavras, frases, números, músicas, etc. Sentidas como estranhas ou impróprias, as obsessões geralmente são acompanhadas de medo, angústia, culpa ou desprazer. O indivíduo, no caso do TOC, mesmo desejando ou se esforçando, não consegue afastá-las ou suprimi-las de sua mente. Apesar de serem consideradas absurdas ou ilógicas, causam ansiedade, medo, aflição ou desconforto que a pessoa tenta neutralizar realizando rituais, compulsões, ou através de evitações (não tocar, evitar certos lugares). As obsessões mais comuns envolvem: •

Preocupação excessiva com sujeira, germes ou contaminação



Dúvidas



Preocupação com simetria, exatidão, ordem, seqüência ou alinhamento



Pensamentos, imagens ou impulsos de ferir, insultar ou agredir outras

pessoas •

Pensamentos,

cenas

ou

impulsos

indesejáveis

e

impróprios,

relacionados a sexo (comportamento sexual violento, abusar sexualmente de crianças, falar obscenidades, etc.) •

Preocupação em armazenar, poupar, guardar coisas inúteis ou

economizar •

Preocupações com doenças ou com o corpo



Religião (pecado, culpa, escrupulosidade, sacrilégios ou blasfêmias)



Pensamentos supersticiosos: preocupação com números especiais,

cores de roupa, datas e horários (podem provocar desgraças) •

Palavras, nomes, cenas ou músicas intrusivas e indesejáveis.

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O que são compulsões ou rituais? Compulsões ou rituais são comportamentos ou atos mentais voluntários e repetitivos, executados em resposta a obsessões, ou em virtude de regras que devem ser seguidas rigidamente. Os exemplos mais comuns são lavar as mãos, fazer verificações, contar, repetir frases ou números, alinhar, guardar ou armazenar objetos sem utilidade, repetir perguntas, etc. As compulsões aliviam momentaneamente a ansiedade associada às obsessões, levando o indivíduo a executá-las toda vez que sua mente é invadida por uma obsessão. Por esse motivo se diz que as compulsões têm uma relação funcional (de aliviar a aflição) com as obsessões. E, como são bem sucedidas, o indivíduo é tentado a repeti-las, em vez de enfrentar seus medos, o que acaba por perpetuá-los, tornando-se ao mesmo tempo prisioneiro dos seus rituais. Nem sempre as compulsões têm uma conexão realística com o que desejam prevenir (p ex., alinhar os chinelos ao lado da cama antes de deitar para que não aconteça algo de ruim no dia seguinte; dar três batidas em uma pedra da calçada ao sair de casa, para que a mãe não adoeça). Nesse caso, por trás desses rituais existe um pensamento ou obsessão de conteúdo mágico, muito semelhante ao que ocorre nas superstições. Os dois termos (compulsões e rituais) são utilizados praticamente como sinônimos, embora o termo “ritual” possa gerar alguma confusão, na medida em que praticamente todas as religiões e diversos grupos culturais adotam comportamentos ritualísticos e contagens nas suas práticas: ajoelhar-se três vezes, rezar seis avemarias, ladainhas, rezar 3 ou 5 vezes ao dia, benzer-se ao passar diante de uma igreja. Existem rituais para batizados, casamentos, funerais, etc. Além disso, certos costumes culturais, como a cerimônia do chá entre os japoneses, o cachimbo da paz entre os índios, ou um funeral com honras militares, envolvem ritos que lembram as compulsões do TOC. Por esse motivo, há certa preferência para o termo “compulsão” quando se fala em TOC. AN02FREV001/REV 4.0

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As compulsões mais comuns são: •

De lavagem ou limpeza



Verificações ou controle



Repetições ou confirmações



Contagens



Ordem, simetria, seqüência ou alinhamento



Acumular, guardar ou colecionar coisas inúteis (colecionismo), poupar

ou economizar •

Compulsões mentais: rezar, repetir palavras, frases, números



Diversas: tocar, olhar, bater de leve, confessar, estalar os dedos.

Compulsões Mentais Algumas compulsões não são percebidas pelas demais pessoas, pois são realizadas mentalmente e não mediante comportamentos motores, observáveis. Elas têm a mesma finalidade: reduzir a aflição associada a um pensamento. Alguns exemplos: •

Repetir palavras especiais ou frases



Rezar



Relembrar cenas ou imagens



Contar ou repetir números



Fazer listas



Marcar datas



Tentar

afastar

pensamentos

indesejáveis,

substituindo-os

por

pensamentos contrários.

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ESQUIZOFRENIA

Esquizofrenia é uma doença mental que afeta a capacidade da pessoa distinguir se as experiências vividas são ou não reais. Afeta ainda a capacidade de pensar logicamente, sentir emoções e sentimentos, e comportar-se em situações sociais. Não há cura para a esquizofrenia, mas o tratamento controla os sintomas e ajuda a pessoa a ter uma vida parecida com a de quem não sofre da doença. Ou seja, pode trabalhar, namorar, ter amigos e divertir-se. A esquizofrenia é uma doença que tem início no fim da adolescência e começo da vida adulta (15 a 25 anos). Embora a freqüência seja igual entre os sexos, pode começar mais tardiamente nas mulheres. Em torno de 1% da população mundial tem Esquizofrenia. Esquizofrenia é uma doença complexa, intrigante e sua causa ainda não é conhecida.

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Sabe-se que a hereditariedade é um fator importante - pessoas que têm um familiar com esquizofrenia têm maior chance de desenvolver a doença - mas ainda não se sabe quais os genes envolvidos ou se a presença deles é suficiente para o desenvolvimento da esquizofrenia. Gêmeos idênticos têm 50% de chance de desenvolver a doença quando um deles já desenvolveu. Alguns pesquisadores acreditam que a esquizofrenia é resultado de uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Certas pessoas nascem com essa tendência, mas o problema só aparece se expostas a determinados fatores ambientais. Não existe um consenso de quais seriam os fatores ambientais envolvidos, mas estudos sugerem que infecções, má nutrição na gravidez e complicações no parto podem contribuir posteriormente para o desenvolvimento da esquizofrenia. Os sintomas são variados e podem aparecer subitamente, embora, geralmente, a doença se manifeste em meses ou anos. Inicialmente os sintomas podem não ser evidentes, e são confundidos com alterações próprias da idade ou com de outras doenças psiquiátricas. Os indivíduos começam a perceber que há algo estranho, mas muitas vezes são incapazes de contar para seus familiares. Podem relatar que estão mais tensos, tendo dificuldade de concentração ou para dormir, começam a isolar-se das pessoas, não conseguem mais ficar com os amigos e param de estudar ou trabalhar. Com a progressão da doença, aparecem os sintomas mais característicos da psicose. (Perda da noção da realidade)

Mudanças na Percepção do Pensamento

a) Delírios: são crenças não verdadeiras, baseadas numa inferência incorreta sobre a realidade exterior, apesar de provas e evidências contrárias. O paciente pode sentir que seus pensamentos são influenciados, controlados, inseridos ou transmitidos para fora da cabeça. Os eventos normais do dia-a-dia passam a ter significado diferente. O indivíduo pode sentir-se perseguido ou discriminado e achar que tem poderes ou atributos especiais. Pode sentir que seu corpo está mudando ou que recebe influências de forças externas.

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b) Alucinações: são falsas percepções na ausência de um estímulo externo, mas com as qualidades de uma verdadeira percepção. Isto é, eles podem ver, ouvir e sentir coisas que não estão realmente no local. As alucinações podem ser auditivas, visuais, táteis, olfativas, gustativas ou uma combinação de todas.



Auditivas - são as mais comuns em esquizofrenia e podem ocorrer na

forma de barulhos, músicas ou mais freqüentemente como vozes. Estas vozes podem ser sussurradas, ou claras e distintas, podem falar entre si ou ser uma única voz. Podem comentar o comportamento da pessoa e, às vezes, podem dar ordens. •

Visuais - podem ser simples ou complexas, podendo envolver fachos

de luz, pessoas ou coisas. •

Olfativas e gustativas - ocorrem em geral juntas como cheiros ou

gostos ruins. •

Táteis - o paciente tem a sensação de ser tocado ou picado, ou ainda

sensações elétricas como se insetos estivessem rastejando sobre a pele. c) Distúrbios formais do pensamento: os pensamentos mudam de assunto completamente e esta alteração aparece na fala da pessoa.

Transtornos de Comportamento e Motor

Muitos pacientes apresentam diminuição de iniciativa, transtornos motores e alterações no comportamento social. Um paciente pode ficar parado por um longo período de tempo ou engajar-se numa atividade repetitiva sem finalidade. Os extremos podem incluir o estupor catatônico - situação na qual o paciente fica imóvel por um período longo, ou o excitamento catatônico, onde o indivíduo apresenta atividade motora incontrolável e sem objetivo. Outras alterações motoras são estereotipias (movimentos repetidos sem objetivo aparente) e maneirismos (atividades normais, mas fora de contexto). Geralmente a deterioração do comportamento social ocorre junto com o isolamento social. Os indivíduos podem negligenciar seus cuidados pessoais, vestir

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roupas sujas ou inapropriadas, e suas coisas e ambientes permanecerem descuidados e desarrumados. Podem ainda desenvolver comportamentos que contrariam as convenções sociais como falar obscenidades em público ou apresentar maneiras rudes à mesa. Podem ser encontrados nas ruas marchando, falando alto e gesticulando. Esse descuido com a higiene pessoal e comportamentos excêntricos podem dificultar ainda mais a aproximação de familiares, amigos e estranhos. Essa situação corrobora ainda mais a certeza, destes pacientes, de que as pessoas não gostam deles.

Transtornos do Afeto

A diminuição da resposta emocional já foi considerada um sintoma característico da esquizofrenia. Muitos pacientes são indiferentes ou apáticos, evitam o contato com olhar, apresentam ausência na inflexão na voz, mudanças na expressão facial e os movimentos espontâneos e os gestos expressivos podem estar diminuídos. Com freqüência perdem a capacidade de sentir prazer e podem descrever-se como vazios de emoção.

Reações dos Pacientes aos Sintomas

A pessoa com esquizofrenia altera seu entendimento do mundo na tentativa de explicar as experiências vividas. Devido às experiências serem incomuns, as explicações também são. É difícil explicar para alguém o fenômeno de ouvir vozes. Pacientes mais crônicos, que já apresentam dificuldades de relacionamento social, ficam isolados e muitas vezes envolvidos em suas próprias fantasias. Podem imaginar que outras pessoas tentam prejudicá-los, não estão interessadas nele ou querem criticá-lo. Alternativamente, os pacientes podem experienciar reações negativas de outras pessoas durante os episódios psicóticos, o que pode pesar ainda mais na sua imaginação. Percebem ainda que não são mais competentes no trabalho. Ele pode ter sido um bom estudante durante anos ou um trabalhador devotado e competente, mas após a doença percebe que houve diminuição de sua performance.

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A experiência de estar "louco" é uma das mais dolorosas e significativas. Quando os pensamentos tornam-se desorganizados, quando as decisões estão bloqueadas, quando as emoções inexplicadas e não esperadas aparecem, há uma conscientização do clima de horror, de que mente está fazendo armadilhas e que foi embora seu modo usual de agir. A experiência da psicose faz com que o paciente mude o conceito a respeito de sua própria mente. A experiência do distúrbio faz com que a pessoa desacredite nos seus processos de pensamento, mesmo quando estes voltam ao normal. O paciente perde a fé de que possa pensar propriamente. Após a psicose, ele tem conhecimento de que alucinou e, por algum tempo ou para sempre, ele não será capaz de reagir normalmente aos sons estranhos e ocasionais que podem ser ouvidos em locais e horas não esperados.

Tratamento

O tratamento da esquizofrenia envolve vários tipos de profissionais que trabalham em equipe.

Os objetivos da equipe de saúde são: •

Controlar os sintomas da doença tentando minimizar os efeitos

deletérios da medicação •

Prevenir riscos de suicídio e crise paranóide



Evitar hospitalizações



Desencorajar o paciente ao uso indiscriminado da emergência médica



Cuidar da saúde geral do paciente



Melhorar sua qualidade de vida e dar à família suporte emocional

Talvez o fator mais importante para cumprir estes objetivos seja assegurar que o paciente faça o tratamento. Devido ao isolamento social, idéias paranóides, negação da doença e desconforto com os efeitos colaterais das drogas, muitos pacientes abandonam o tratamento.

Tratamento Farmacológico AN02FREV001/REV 4.0

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Antipsicóticos "típicos" ou clássicos são aquelas medicações que tendem a produzir sintomas extrapiramidais (EPS). Estes agentes têm sido as principais drogas na farmacoterapia da esquizofrenia por mais de um quarto de século. Os sintomas que respondem melhor aos antipsicóticos típicos são os chamados sintomas positivos, como delírios e alucinações. Já nos sintomas negativos, além de não responderem tão bem, podem ser acentuados com seu uso. A maioria dos autores divide o tratamento farmacológico da esquizofrenia em duas fases: aguda e manutenção ou profilática.

Fase Aguda

Envolvem a tentativa de aliviar os sinais e sintomas associados como delírios, alucinações, alterações formais do pensamento e do comportamento. Apesar da variação das doses utilizadas na prática clínica, as doses recomendadas para a fase aguda situam-se em 600-700 mg de clorpromazina ou equivalente/dia ou 5-20 mg/dia de haloperidol ou flufenazina. A administração de altas doses de antipsicótico (neuroleptização rápida) no tratamento de pacientes agudos não é indicada devido à falta de estudos controlados, demonstrando que esta medida é mais eficaz no controle de sintomas psicóticos. Após a remissão dos sintomas, diminui-se a dose e avalia-se a necessidade de tratamento em longo prazo com antipsicóticos. Se a medicação for suspensa, o médico deve estar atento a algum sinal de recidiva e, em caso de nova crise psicótica, a medicação deve ser introduzida por tempo indefinido.

Fase de Manutenção ou Profilática

Esquizofrenia é uma doença que dura a vida toda, como diabetes ou hipertensão. A maioria das pessoas com esquizofrenia necessitará de cuidados médicos e medicação pelo resto de suas vidas.

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As medicações antipsicóticas não curam a esquizofrenia, somente controlam os sintomas da doença. Ou seja, se o paciente deixar de tomar a medicação pode sofrer uma recaída. Algumas pessoas, mesmo tomando a medicação regularmente, podem ter uma recaída dos sintomas psicóticos. É muito importante que elas possam reconhecer que estes estão voltando, e procurar ajuda imediatamente. Antes do aparecimento de sintomas como delírios ou alucinações, é comum aparecerem sintomas menos específicos como irritabilidade, insônia e depressão. Os familiares devem estar atentos a mudanças sutis que possam ocorrer com seu familiar doente, pois a intervenção médica precoce pode impedir a recaída. Enquanto esta necessidade de tratamento por longo tempo é bem reconhecida pelo médico, freqüentemente não é bem aceito pelo paciente. Muitos estudos mostram quão inconstantes e não confiáveis eles podem ser em relação à medicação. Interrompem porque se sentem bem, e não entendem porque devem continuar tomando o remédio; ou ainda, porque os efeitos colaterais são muito desagradáveis. A introdução dos antipsicóticos de ação prolongada, de uso injetável, possibilitou uma maior adesão destes pacientes ao tratamento.

HIPERATIVIDADE E DÉFICIT DE ATENÇÃO

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A hiperatividade, denominada também como desordem do déficit de atenção, pode afetar crianças, adolescentes e até mesmo alguns adultos. Os sintomas variam de brandos a graves e podem incluir problemas de linguagem, memória e habilidades motoras. Embora a criança hiperativa tenha muitas vezes uma inteligência normal ou acima da média, o estado é caracterizado por problemas de aprendizado e comportamento. Os professores e pais da criança hiperativa devem saber lidar com a falta de atenção, impulsividade, instabilidade emocional e hiperativa incontrolável da criança. O comportamento hiperativo pode estar relacionado a uma perda da visão ou audição, a um problema de comunicação, como a incapacidade de processar adequadamente os símbolos e idéias que surgem, estresse emocional, convulsões ou distúrbios do sono. Também pode estar relacionado à paralisia cerebral, intoxicação por chumbo, abuso de álcool ou drogas na gravidez, reação a certos medicamentos ou alimentos e complicações de parto, como privação de oxigênio ou traumas durante o nascimento. Esses problemas devem ser descartados como causa do comportamento antes de tratar a hiperatividade da criança. O verdadeiro comportamento hiperativo interfere na vida familiar, escolar e social da criança. As crianças hiperativas têm dificuldade em prestar atenção e aprender. Como são incapazes de filtrar estímulos, são facilmente distraídas. Essas crianças podem falar muito, alto demais e em momentos inoportunos. As crianças hiperativas estão sempre em movimento, sempre fazendo algo e são incapazes de ficar quietas. São impulsivas. Não param para olhar ou ouvir. Devido à sua energia, curiosidade e necessidade de explorar surpreendentes e,

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aparentemente infinitas, são propensas a se machucar e a quebrar e danificar coisas. As crianças hiperativas toleram pouco, as frustrações. Elas discutem com os pais, professores, adultos e amigos. Fazem birras e seu humor flutua rapidamente. Essas crianças também tendem a ser muito agarradas às pessoas. Precisam de muita atenção e tranqüilização. É importante para os pais perceberem que as crianças hiperativas entenderam as regras, instruções e expectativas sociais. O problema é que elas têm dificuldade em obedecê-las. Esses comportamentos são acidentais e não propositais. Para a criança hiperativa e sua família, uma ida a um parque de diversão ou supermercado pode ser desastrosa. Há simplesmente muita coisa acontecendo - muito estímulo ao mesmo tempo. Devido

à

sua

incapacidade

de

concentrar-se

e

ao

constante

bombardeamento de estímulos, a criança hiperativa pode ficar estressada. A criança hiperativa pode ter muitos problemas. Apesar da "dificuldade de aprendizado", essa criança é geralmente muito inteligente. Sabe que determinados comportamentos não são aceitáveis. Mas, apesar do desejo de agradar e de ser educada e contida, a criança hiperativa não consegue se controlar. Pode ser frustrada, desanimada e envergonhada. Ela sabe que é inteligente, mas não consegue desacelerar o sistema nervoso, a ponto de utilizar o potencial mental necessário para concluir uma tarefa. A criança hiperativa muitas vezes se sente isolada e segregada dos colegas, mas não entende por que é tão diferente. Fica perturbada com suas próprias incapacidades. Sem conseguir concluir as tarefas normais de uma criança na escola, no playground ou em casa, a criança hiperativa pode sofrer de estresse, tristeza e baixa auto-estima. Um especialista em comportamento infantil pode ajudá-lo a distinguir entre a criança normalmente ativa e enérgica e a criança realmente hiperativa. As crianças

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até mesmo as menores podem correr, brincar e agitarem-se felizes durante horas sem cochilar, dormir ou demonstrar qualquer cansaço. Para

garantir

que

a

criança

realmente

hiperativa

seja

tratada

adequadamente - e evitar o tratamento inadequado de uma criança normalmente ativa - é importante que seu filho receba um diagnóstico preciso. Durante a primeira ou a segunda consulta médica, a criança hiperativa pode ser comportar de forma quieta e educada. Sabendo o que é esperado, pode se transformar em uma criança "modelo". Esteja preparado para descrever, de forma precisa e objetiva, o comportamento do seu filho em casa e nas atividades sociais. Se seu filho está encontrando dificuldade na escola, peça ao professor que converse com o médico ou envie-lhe um relatório por escrito. Podem precisar de várias consultas antes que o comportamento hiperativo torne-se aparente. Não se preocupe. Um especialista em crianças, geralmente, pode realizar um diagnóstico preciso. Ao tratar da criança hiperativa, sua meta é ajudá-la a fazer o melhor possível, em casa, na escola, e com os amigos. Lembre-se sempre de que seu filho está lutando com todas as forças para superar uma deficiência do sistema nervoso. Explique, se preciso for, mas não se sinta envergonhado ou culpado quando seu filho não se comportar bem. Os pais da criança hiperativa merecem muita consideração. É preciso muita paciência - e vigor - para amar e apoiar a criança hiperativa em todos os desafios e frustrações inerentes à doença. Os pais da criança hiperativa estão sempre preocupados e atentos, sempre "em alerta". Conseqüentemente, é fácil sentirem-se cansados, abatidos e frustrados. É de importância vital para os pais de a criança hiperativa, serem bons consigo mesmos, descansar quando apropriado, além de buscar e aceitar o apoio para eles e para o filho.

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TRATAMENTO CONVENCIONAL Antes de qualquer tratamento, um exame físico deve ser feito para descartar outras causas para o comportamento do seu filho, tais como infecção crônica do ouvido médio, sinusite, problemas visuais ou auditivos ou outros problemas neurológicos. O metilfenidato é o medicamento mais comumente receitado para hiperatividade. É um estimulante que tem efeito paradoxal de acalmar o sistema nervoso e aumentar a capacidade da criança hiperativa de prestar atenção. Contudo, não deixe de verificar com seu médico antes de parar de dar esse medicamento a seu filho. A tioridazina é um tranqüilizante ao qual se pode recorrer se a criança for extremamente agressiva e, nesse caso, apenas nas situações mais difíceis. Na maioria das circunstâncias, o medicamento para a hiperatividade pode ser interrompido durante o verão e retomado quando as aulas começarem novamente, após as férias. Essa conduta pode limitar alguns dos efeitos colaterais prolongados desses medicamentos. Após um verão sem medicamento, talvez seja útil deixar que seu filho freqüente as primeiras semanas de aula sem qualquer medicação. Considere esse período como um teste para determinar se seu filho pode passar sem o medicamento. (Converse sempre com seu médico antes de descontinuar qualquer tratamento, durante qualquer período de tempo).

PSICOTERAPIA E PSICOPEDAGOGIA Essas disciplinas ajudam a criança a entender o problema contra o qual está lutando, a estabelecer metas e padrões e reconhecer e avaliar seu comportamento. Podem ser de grande valia.

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Esses programas ensinam controles internos que podem ser usados em várias situações. Seu filho aprenderá a oferecer recompensas pelos seus feitos e aprenderá a partir dos seus erros. Coopere com seu médico ou terapeuta para desenvolver programas de modificação comportamental. É importante que o programa seja claro, facilmente entendido e executado por todos que dele participam - pela criança bem como pelos adultos. É essencial que essas intervenções sejam realizadas com cautela e boa vontade, em um ambiente calmo e carinhoso. A criança deve participar com disposição. Certifique-se de que os dois tenham entendido que esses programas objetivam ajudar e não punir. Desenvolva uma rotina estável em casa. Para diminuir a confusão e a quantidade de estímulos diários, defina horários específicos para comer e dormir. Experimente atribuir uma tarefa pequena e rápida e insista delicadamente para que seja concluída. Em seguida, não deixe de agradecer e elogiar seu filho quando a tarefa tiver sido concluída. Faça com que a criança participe de projetos que ela goste para ajudá-la a concentrar-se. Aprender a concentrar-se alterará sua resposta ao mundo, gradativamente. Lembre-se sempre de que, além de ter um desequilíbrio do sistema nervoso que transforma em tortura o simples ato de permanecer sentado, a criança hiperativa e inteligente entedia-se facilmente. Cooperar com o hiperativo para ajudá-lo a realmente concluir um projeto. Concluir um projeto oferecerá uma idéia de competência e maior auto-estima. O domínio e conclusão de uma tarefa requerem elogios. Busque terapia para você e seu cônjuge. Para ajudar a diminuir os sentimentos de frustração e isolamento, os pais da criança hiperativa precisam de informação e apoio. AN02FREV001/REV 4.0

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Busque auxílio; certamente encontrará. Você aprenderá a apoiar seu filho e a ficar calmo e próximo, mesmo quando a situação parecer fora de controle. Você também aprenderá que é importante que os pais tirem férias sem se sentirem estressados ou culpados por deixarem uma criança "difícil" com outras pessoas competentes. Nunca é demais enfatizar a necessidade dos pais terem uma folga. Tire uma tarde, uma noite ou um fim de semana. Entre em contato com uma pessoa que possa tomar conta do seu filho. Ligue para seus pais e amigos. Se você não fizer isso para o seu próprio bem, faça por seu filho. Provavelmente você voltará se sentindo renovado, mais calmo e carinhoso. ATIVIDADES FÍSICAS São fundamentais, principalmente aquelas que mantêm a criança em contato com a água, como a hidroginástica e a natação. É importante saber que a água exerce um efeito calmante. Práticas como a yoga e o tai-chi-chuan também são interessantes, pois treinam a mente para que fique quieta.

ALGUNS CUIDADOS IMPORTANTES Durante a gestação, mantenha a exposição a chumbo ambiental ao mínimo possível e elimine álcool. Os dois têm sido relacionados à hiperatividade. Não deixe que seu filho se exponha ao chumbo. As fontes mais comuns de exposição ao chumbo são tinta à base de chumbo, água potável e cerâmica mal esmaltada.

ALGUNS FATOS SOBRE A HIPERATIVIDADE Há

um

equívoco

muito

grande,

principalmente

nas

escolas,

em

“diagnosticar” crianças como sendo hiperativas. Embora muitos pais de crianças enérgicas perguntem aos médicos sobre a hiperatividade, ela não é problema

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comum. Agitação não é sinônimo de hiperatividade. Ansiedade também não. Tampouco problemas de concentração. É fundamental procurar um psicólogo, de preferência especialista em Psicopedagogia ou Psicologia Escolar. De acordo com um artigo publicado no British Journal of Psychiatry, apenas 3% das crianças são realmente diagnosticadas com a desordem do déficit de atenção. A hiperatividade é dez vezes mais comum nos meninos do que nas meninas. A causa ou causas exatas da hiperatividade são desconhecidas. Os profissionais de saúde teorizam que a desordem pode ser resultado de fatores genéticos; desequilíbrio químico; lesão ou doença na hora do parto ou depois do parto; ou um defeito no cérebro ou sistema nervoso central, resultando no mau funcionamento do mecanismo responsável pelo controle das capacidades de atenção e filtragem de estímulos externos. Metade das crianças hiperativas tem menos problemas comportamentais quando seguem uma dieta livre de substâncias como flavorizantes, corantes, conservantes, glutamato monossódico, cafeína, açúcar e chocolate e mantém psicoterapia associada a atividades físicas, ou seja, o tratamento deve ser multidisciplinar.

GLOSSÁRIO Os termos desconhecidos deste módulo foram explicados no próprio corpo do texto, não havendo necessidade de incluir termos no glossário.

-------------FIM-------------

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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação

CURSO DE

TERAPIA COGNITIVOCOMPORTAMENTAL

Aluno: AN02FREV001/ REV 3.0

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EaD - Educação a Distância Portal Educação

CURSO DE

TERAPIA COGNITIVOCOMPORTAMENTAL

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

AN02FREV001/ REV 3.0

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3.5 Conceitos Básicos da Terapia Cognitiva

De acordo com Dobson & Franche (2002), a terapia cognitiva foi desenvolvida por Aaron Beck quando realizava trabalhos com pessoas depressivas, seu modelo cognitivo de disfunção enfatiza o potencial dos indivíduos para perceber negativamente o ambiente e os acontecimentos que os rodeiam e, por meio destas percepções negativas, criar neles mesmos a perturbação emocional. A Terapia Cognitiva identifica três níveis de pensamento como já falamos anteriormente: os pensamentos automáticos, as crenças intermediárias e as crenças centrais. Os pensamentos automáticos são conteúdos espontâneos que fluem em nossa mente a partir de acontecimentos do nosso dia a dia, as crenças intermediárias correspondem ao segundo nível de pensamento e refletem ideias ou entendimentos mais profundos que os pensamentos automáticos e ocorrem sob a forma de suposições ou regras, e as crenças centrais, seriam o nível mais profundo da estrutura cognitiva e compostas por ideias absolutistas, rígidas e globais que um indivíduo tem sobre si mesmo. Beck (1997) faz distinção entre esquemas e crenças, em que estas são as ideias mais centrais da pessoa a respeito do self e esquemas seriam as estruturas cognitivas dentro dos pensamentos, cujo conteúdo específico seria as crenças centrais. Knapp (2004) também confirma essa distinção e acrescenta que na literatura os conceitos de crenças, mais especificamente as nucleares, com frequência são usados indistintamente, mas de acordo com o propósito clínico, podemos fazer a seguinte diferenciação: 

Esquemas são estruturas cognitivas;



E Crenças já seria o conteúdo dos esquemas.

De acordo com alguns autores como Falcone (2001), Knapp (2004) e Beck (2000) são feitas algumas distinções a esses conceitos: AN02FREV001/ REV 3.0

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Pensamentos automáticos.

Alguns autores que trabalham com a terapia cognitiva o conceituam como conteúdos espontâneos que fluem em nossa mente a partir de acontecimentos do nosso dia a dia. Que pensamentos poderiam ser estes? Esses pensamentos são as cognições mais fáceis de serem acessadas e modificadas, podendo ocorrer em forma de pensamento ou em forma de imagem. Geralmente, não são acessíveis a nossa consciência, mas podem ser identificados após um treinamento adequado, como por exemplo, solicitando ao paciente que pergunte a si mesmo quando verificar uma mudança brusca de humor, “o que está passando por sua cabeça agora?”. Isso pode fornecer qual pensamento disfuncional está por detrás dessa variação de humor. Podem-se classificar os pensamentos automáticos levando em consideração à sua validade e utilidade, em três tipos (Beck, J. 1997): 

Distorcidos, ocorrendo apesar das evidências encontradas;



Acurados, mas com a conclusão distorcida;



Acurados, mas totalmente disfuncionais.

Os pensamentos automáticos estão intimamente relacionados com as crenças centrais e não necessariamente são peculiares a pessoas com angústia, são pensamentos comuns a todos os indivíduos. O que se sabe é que a maioria das pessoas não é ciente de sua existência, embora com um pouco de treino já se possa trazer esses pensamentos facilmente à consciência. Quando os pensamentos automáticos se tornam conscientes, é possível se fazer uma avaliação da realidade e se existe ou não uma disfunção psicológica a ser trabalhada. Então qual seria o trabalho de um terapeuta cognitivo?

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O terapeuta cognitivo está preocupado em identificar os pensamentos disfuncionais, ou seja, os pensamentos que trazem prejuízo ao funcionamento psíquico de um indivíduo, pois de certa forma distorcem a realidade e dificultam o alcançar metas. Geralmente esses pensamentos são breves e o paciente está mais ciente da emoção do que o pensamento em si, podendo vir de forma verbal ou visual ou em ambas as formas bem como podem ser avaliados de acordo com sua utilidade e validade.



Crenças

As crenças podem ser: o

Intermediárias;

o

Centrais.

o Crenças

intermediárias:

Correspondem

ao

segundo

nível

de

pensamento e refletem ideias ou entendimentos mais profundos que os pensamentos automáticos e ocorrem sob a forma de suposições ou regras. Constituem uma forma que o indivíduo encontrou para reduzir o sofrimento provocado pelas crenças centrais. Essas crenças pressupõem que: “Desde que determinadas regras, normas e atitudes sejam cumpridas, não haverá problemas, e o indivíduo se mantém relativamente estável e produtivo. No entanto, se, por alguma circunstância esses pressupostos não estão sendo cumpridos, o indivíduo torna-se vulnerável ao transtorno emocional quando as crenças nucleares negativas são ativadas” ( Knapp & cols, 2004, p.25).

o

Crenças centrais: Seriam o nível mais profundo da estrutura cognitiva

e compostas por ideias absolutitas, rígidas e globais que um indivíduo tem sobre si mesmo, as pessoas e o mundo. São incondicionais, isto é, independente da situação que se apresente ao indivíduo, ele irá pensar de modo consoante com suas crenças. AN02FREV001/ REV 3.0

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Segundo Knapp & cols (2004) as crenças centrais vão se construindo e formando desde experiências de aprendizado mais primitivas e são fortalecidas ao longo da vida, moldando a percepção e a interpretação dos eventos, modelando o jeito psicológico de ser. Caso não haja ações corretivas dessas crenças centrais disfuncionais, o indivíduo irá considerá-las como verdades absolutas e imutáveis. O objetivo último da terapia é a modificação dessas crenças disfuncionais, o que irá resultar em mudanças duradouras na vida do indivíduo, mas que fique claro que o terapeuta inicia o processo sempre modificando os pensamentos automáticos para depois chegar até as crenças. As crenças centrais disfuncionais podem ser colocadas em dois grandes grupos, expandidos agora para três, de acordo com Beck: 

Crenças nucleares de desamparo:

Crenças sobre ser impotente, frágil, vulnerável, carente, desamparado e necessitado; 

Crenças centrais de desamor:

Crenças sobre ser indesejável, incapaz de ser gostado, incapaz de ser amado, sem atrativos, imperfeito, rejeitado, abandonado e sozinho; 

Crenças centrais de desvalor:

Crenças sobre ser incapaz, incompetente, inadequado, ineficiente, falho, defeituoso, enganador, fracassado e sem valor. Aprender a modificar pressuposições e crenças centrais mal adaptadas pode ajudar a reduzir o número de pensamentos automáticos negativos, distorcidos que se tenha. O desenvolvimento de novas pressuposições e crenças centrais pode reduzir a angústia e facilitar a mudança do comportamento de forma que esteja de acordo com as novas crenças. Essas pressuposições e as crenças, frequentemente são adquiridas na infância quando interage com outras pessoas significativas e encontram uma série de situações que confirmem essa ideia.

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As crenças centrais negativas são

usualmente

globais,

rígidas

e

supergeneralizadas. Quando ativada, o paciente facilmente é capaz de processar informações que a apoiam, mas falha em reconhecer e distorce informações que são contrárias a ela. As crenças levam a sofrimento psíquico e comportamentos desadaptativos além de dificultarem a concretização dos objetivos. De

acordo

com

Beck

(1997)

as

crenças

centrais

influenciam

o

desenvolvimento de uma classe intermediária de crenças que consiste em atitudes, regras, expectativas e suposições. Essas crenças intermediárias influenciam sua visão de uma situação, o que, por sua vez, influencia como ele pensa, sente e se comporta. O relacionamento dessas crenças intermediárias com as crenças centrais e pensamentos automáticos estão retratados a seguir:

Crenças Centrais

Crenças Intermediárias (regras,

expectativas,

atitudes

e

suposições)

Pensamentos Automáticos

Modelo Cognitivo:

Crenças Centrais

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Crenças Intermediárias (regras, expectativas, atitudes e suposições)

Situação

Pensamentos

Automáticos

Emoção

Conforme explicado no começo deste texto, é essencial para a terapia cognitiva que se aprenda a conceituar as dificuldades em termos cognitivos, a fim de se proceder a mudanças.

Crenças Centrais Eu sou incompetente

Crenças Intermediárias (regras, expectativas, atitudes e suposições) Se eu não entendo algo perfeitamente, então eu sou burro.

Situação Leitura deste texto

Pensamentos Automáticos

Reações

Isso é difícil demais.

Emocional:

Eu

Tristeza

jamais

entenderei

isso.

Comportamental: Fecha o livro Fisiológica: Peso no abdômen

FONTE: Terapia Cognitiva, Beck (1997).

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Esquemas

De acordo com Beck (2000), esquemas seriam estruturas de cognição com significados, servindo como o principal caminho para o funcionamento ou adaptação psicológica. Os esquemas são considerados ingredientes de suma importância no modelo cognitivo, pois eles servem para moldar os dados em cognições, constituindo a base para extrair, diferenciar e codificar os estímulos que confrontam o indivíduo. Beck (1997) mostra que os tipos de esquemas empregados determinam como o indivíduo estruturará experiências diferentes e quando eles são ativados em uma situação específica determinam diretamente o modo como a pessoa responde. De acordo com Beck (2000), esquemas seriam estruturas de cognição com significados, servindo como o principal caminho para o funcionamento ou adaptação psicológica. Entende-se que esse significado refere-se à interpretação da pessoa sobre um determinado contexto e da relação daquele contexto com ela. Os esquemas seriam estruturas e estariam compostos por crenças. Para o melhor entendimento de esquemas, como se dividem, não podemos deixar de ressaltar a Teoria dos Esquemas, Young (2003), que conceitua esquema como uma estrutura cognitiva que filtra, codifica e avalia os estímulos a qual o organismo é submetido, e o veremos nos próximos tópicos.

Veja agora no quadro abaixo um exemplo:

Pensamento Automático

Pressupostos Subjacentes

Crenças Nucleares

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Pensamento

Fisiologia:

calafrio, “É muito perigoso interagir com as “Sou

taquicardia e sudorese.

pessoas, pois elas não iriam gostar amado”

Emoção – angústia e medo

de mim”

Comportamento - fuga e evitação

“Para não ter problemas, eu não

incapaz

de

ser

devo interagir com as pessoas”.

1.

Ativados

por

eventos 1. Pressupostos, regras, normas e 1. Conteúdo - ideias e

externos/internos;

atitudes;

conceitos

2. Pensamentos ou imagens;

2. Condicionante e imperativo

fundamentais acerca de si,

3. Alteração de humor/fisiológico;

3. Estratégias Compensatórias.

dos outros, e do mundo;

mais

2. Esquemas



Modelo Cognitivo

Como já sabemos, a terapia cognitiva baseia-se no modelo cognitivo, que defende a hipótese de que as emoções e os comportamentos das pessoas são influenciados por sua percepção dos eventos. Não é uma situação por si só que determina o que as pessoas sentem, mas, antes, o modo como elas interpretam uma situação. O modelo cognitivo de interações (cognição, humor e comportamento) sugere uma variedade de intervenções, que vão desde as programadas para a modificação do afeto, para alcançar mudança comportamental, como também, intervenções focalizadas nas cognições. Percebemos então, que o ponto central seria quebrar o ciclo que perpetua os problemas do indivíduo, por intermédio de técnicas que focalizam a modificação dos pensamentos automáticos, para a melhoria do humor ou para a modificação dos comportamentos do paciente. Um fator muito importante a ser considerado na terapia cognitiva diz respeito à familiarização do paciente no modelo cognitivo, em que será ensinado ao paciente: 

A identificar os seus pensamentos automáticos que ocorrem em

situações problemáticas; 

A reconhecer os efeitos que eles produzem na emoção e no

comportamento; AN02FREV001/ REV 3.0

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A responder de forma eficaz a esses pensamentos disfuncionais.

Então o modo como as pessoas se sentem está associado ao modo como elas interpretam e pensam sobre as coisas e situações. A situação em si não determina diretamente como elas se sentem, mas o pensamento desse sujeito sobre essa situação é que vai determinar seu comportamento, assim sua resposta emocional é intermediada por sua percepção da situação. Tendo identificado seus pensamentos automáticos, você pode avaliar sua validade. Se o sujeito verifica que a interpretação dele é errônea e a corrige, você provavelmente descobre que o seu humor melhora. Em termos cognitivos, quando pensamentos disfuncionais são sujeitos à reflexão racional, nossas emoções em geral mudam. E é isso que a terapia busca - pensamentos racionais, reflexão racional, para que não cairmos nas armadinhas da nossa mente. 

Conceituação cognitiva

Conceituação Cognitiva é a formulação do caso, embasada na concepção cognitiva dos transtornos emocionais do paciente. Por intermédio da conceitualização ou conceituação cognitiva que serão percebidos os seguintes aspectos (Knapp & cols, 2004): 

Os problemas atuais e os fatores estressores precipitantes que

contribuíram para seus problemas psicológicos ou interferiram em sua habilidade para resolvê-los; 

As aprendizagens e experiências antigas que contribuíram para os

problemas atuais, 

Os pensamentos automáticos, as crenças intermediárias e as crenças

centrais; 

Os mecanismos cognitivos, afetivos e comportamentais que ele

desenvolveu para enfrentar suas crenças disfuncionais; 

Como ele percebe a si mesmo, os outros e o mundo. AN02FREV001/ REV 3.0

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Identificação de Pensamentos Automáticos

De acordo com vários autores acima citados, os pensamentos automáticos são pensamentos, palavras, imagens ou recordações que vêm espontaneamente em nossas mentes durante o dia. Sempre que temos um estado de humor forte, há também pensamentos automáticos presentes que fornecem pistas para a compreensão de nossas reações emocionais.



O que estava passando em minha mente, instantes antes de eu

começar a me sentir deste modo? 

O que isso diz a respeito de minha pessoa se for verdade?



O que isso significa em relação a mim, minha vida e meu futuro?



O que temo que possa acontecer?



O que de pior poderia acontecer se isso fosse verdade?



O que isso significa em termos do modo como a(s) outra(s)

pessoa(s) sente(m) ou pensa(m) a meu respeito? 

Quais imagens ou lembranças tenho nesta situação?

FONTE: Greenberger (1999).

Quando temos pensamentos automáticos negativos, geralmente damos importância a dados que confirmam nossas conclusões.

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Uma forma muito importante de desfazer esses pensamentos é reunir evidências que apoiam e não apoiam os pensamentos, assim ajudaríamos a esclarecer nossos pensamentos e reduzir a intensidade dos estados de humor angustiantes. Não esquecendo que evidências consistem de dados, informações e fatos, e não de interpretações.



Eu tive alguma experiência que mostra que este pensamento não é

completamente verdadeiro o tempo todo? 

Se meu melhor amigo ou alguém que amo tivesse este pensamento,

o que eu diria para ele ou ela? 

Se meu melhor amigo ou alguém que me ama soubesse que estou

tendo este pensamento, o que diriam para mim? Quais evidências eles me mostrariam que sugeririam que meus pensamentos não são 100% verdadeiros? 

Quando não estou me sentindo deste modo, penso sobre este tipo

de situação de forma diferente? Como? 

Quando me senti deste modo no passado, sobre o que pensei que

me ajudou a me sentir melhor? 

Eu já estive neste tipo de situação antes? O que aconteceu? Há

alguma diferença entre esta situação e as situações anteriores? O que aprendi de experiências prévias que poderia me ajudar agora? 

Existem pequenas coisas que contradizem meus pensamentos que

eu possa estar descartando como não sendo importante? 

Daqui a cinco anos, se olhar para trás em relação a esta situação,

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eu olharei para ela de forma diferente? Concentrarei minha atenção em qualquer outra parte de minha experiência? 

Existe algum ponto positivo ou forte em mim, ou na situação, que

estou ignorando? 

Estou tirando conclusões precipitadas que não são totalmente

justificadas pelas evidências? 

Estou me culpando por algo sobre o qual não tenho controle total?

FONTE: Greenberger (1999).



Reestruturação Cognitiva

De acordo com Greenberger (1999), quando as evidências não apoiam os pensamentos automáticos, devemos construir um ponto de vista alternativo da situação que seja mais coerente com as evidências. Percebemos como as evidências são importantes para desfazer esses pensamentos automáticos, que aparecem nas nossas mentes. Caso as evidências apoiem apenas parcialmente os pensamentos automáticos, devemos construir um pensamento compensatório que resuma as evidências que apoiam e contradizem o pensamento original. Por fim, é importante avaliar nossa crença no pensamento alternativo ou compensatório com uma escala que varia de 0 – 100%.



Com base nas evidências encontradas, existe um modo

alternativo de pensar ou de compreender esta situação?

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Construir uma ideia, frase ou pensamento compensatório a partir

do resumo ou combinação de todas as evidências que apoiam meu pensamento automático e de todas as evidências que contradizem este meu pensamento. 

Se alguém de quem gosto estivesse nesta situação, tivesse estes

pensamentos e tivesse estas informações disponíveis, qual seria meu conselho para esta pessoa? Como eu sugeriria que a pessoa compreendesse a situação? 

Se meu pensamento automático fosse verdadeiro, qual seria a

pior consequência? Se meu pensamento automático não fosse verdadeiro, qual seria a melhor consequência? Se meu pensamento automático fosse verdadeiro, qual será a consequência mais realista? Posso lidar com essas consequências? 

Alguém em quem confio poderia pensar de outro modo para

compreender esta situação? 

As outras pessoas consideram esta experiência como sendo tão

séria quanto eu considero? 

Algumas pessoas consideram-na menos séria? Por quê?



Quão séria ou grave eu consideraria a experiência se meu melhor

amigo fosse o responsável e não eu? 

Quão importante esta experiência parecerá daqui a um mês? Um

ano? Cinco anos? 

Quão séria eu consideraria a experiência se alguém fizesse isso

para mim?

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Eu sabia de antemão o significado ou as consequências de

minhas ações (ou pensamentos)? Com base no que eu sabia e passava na época, os meus julgamentos atuais são pertinentes? 

Pode qualquer dano que ocorreu ser corrigido? Quanto tempo

isso vai levar? 

Houve uma ação até mesmo pior que eu tenha considerado e

evitado?

FONTE: Greenberger (1999).

3.6 Teoria Focada em Esquemas de Young

Abordaremos aqui algumas teorias do desenvolvimento cognitivo, para que possamos entender como se dá a formação dos esquemas e crenças discutidos por Young. De acordo com Papalia (2000) a maioria dos pesquisadores do desenvolvimento cognitivo usa umas das quatro abordagens para estudos de questões referentes ao desenvolvimento cognitivo: 

Abordagem Behaviorista: Que já detalhamos anteriormente estuda a

mecânica básica da aprendizagem, preocupando-se em como o comportamento muda em resposta à experiência; 

Abordagem Piagetiana: Observa as mudanças na qualidade do

funcionamento cognitivo, ou o que a pessoa é capaz de fazer, onde faz relação com a evolução das estruturas mentais e como as crianças se adaptam ao seu ambiente, sustentando que a cognição se desenvolve em etapas; 

Abordagem Psicométrica: Tenta medir as diferenças individuais em

termos de quantidade de inteligência; AN02FREV001/ REV 3.0

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Abordagem do Processamento de Informação: Concentra-se nas

diferenças individuais quanto ao modo no qual as pessoas usam sua inteligência, focando os processos envolvidos na percepção e no manuseio de informação.

Como podemos perceber cada abordagem tem sua importância e todas nos ajudam a compreender o comportamento inteligente. Nesse tópico focaremos nosso estudo em Piaget e Bartlett, pois segundo Beck & Freeman (1993), o conceito de esquemas tem uma história relativamente ligada a estes dois teóricos, que foram os primeiros a definir o que seria um esquema descrevendo-o como estruturas que integram e atribuem significados aos eventos, em seguida trabalharemos como se dá o processamento de informações. Segundo Mussen (2001) Piaget acreditava que o desenvolvimento do conhecimento é um processo ativo dependente da interação entre a criança e o ambiente. A criança não possui um conjunto predefinido de habilidades mentais e nem é um recipiente passivo de estímulos do ambiente. A partir da infância, o movimento cada vez mais dá lugar ao pensamento e o aprendizado continua a ser um processo interativo. Papalia (2000), cita que Piaget acreditava que o núcleo do comportamento inteligente estaria numa capacidade inata de adaptar-se ao ambiente, pois é a partir daí que ele descreve o desenvolvimento cognitivo como uma série de estágios, em cada estágio a criança desenvolve uma nova maneira de pensar e responder ao ambiente, onde esse desenvolvimento ocorreria por meio de três princípios que estão inter-relacionados: organização, adaptação e equilibração. A organização cognitiva é a tendência de criar sistemas de conhecimento cada vez mais complexos. Desde que nascem as pessoas organizam o que conhecem por meio de representações mentais da realidade que as ajudam a dar sentido a seu mundo. Dentro dessas representações mentais encontram-se as estruturas chamadas esquemas, que podem ser conceituados como padrões organizados de comportamento que uma pessoa usa para pensar e agir em uma situação. À medida que as crianças adquirem mais informação, seus esquemas tornam-se cada vez mais complexos, progredindo as maneiras de realizar ações

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motoras até o pensamento crítico sobre percepções sensoriais, e depois até o pensamento abstrato. A adaptação é o modo como lidamos com as novas informações, onde vai envolver a assimilação que seria tomar uma informação e incorporá-la em estruturas cognitivas existentes e acomodação que seria mudar nossas ideias para incluir um novo conhecimento. Já a equilibração é uma busca constante de equilibrio, entre a criança e o mundo exterior e entre as próprias estruturas cognitivas da criança. Papalia (2000) afirma que segundo Piaget os esquemas têm origem no exercício dos reflexos, ou seja, o recém-nascido, ao exercitar seus reflexos hereditários começa a relacionar o contexto no qual o reflexo é aplicado com a situação alcançada por ele, dando origem aos esquemas. Essas informações nos mostram que o esquema piagetiano é uma estrutura cognitiva dinâmica que se modifica ao longo do tempo, agregando conhecimento. É por meio de suas interações, das experiências que a criança vivencia, que ela constrói ativamente os seus conhecimentos. A ação da criança sobre os objetos é que possibilita a formação da inteligência, em que a estrutura lógica é formada pelo desenvolvimento cognitivo, e neste sentido, a socialização, a linguagem, a curiosidade é expressão do desenvolvimento cognitivo. Não esquecendo de citar Bartlett, Atkinson (2002) afirma que talvez ele tenha sido o primeiro psicólogo a estudar sistematicamente os efeitos dos esquemas sobre a memória. Ele sugeriu que distorções de memórias muito semelhantes àquelas que ocorrem quando encaixamos pessoas em estereótipos podem ocorrer quando tentamos encaixar narrativas em esquemas. O que Bartlett concluiu na sua pesquisa sobre os esquemas é que os dois aspectos da memória: preservar e construir, podem sempre estar presentes, embora sua ênfase relativa possa depender da situação exata. Fica bem claro como Piaget e Bartlett querem definir um esquema: Uma representação mental de uma classe de pessoas, objetos, eventos e situações. Como sabemos, o desenvolvimento intelectual é um processo que começa desde o nascimento da criança (e, possivelmente, antes). Papalia (2000) nos confirma isso quando diz que um bebê ao nascer apresenta comportamentos simples e também alguns reflexos. Ele necessita de toda a atenção e cuidados do AN02FREV001/ REV 3.0

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adulto, sozinho ele não sobreviveria, pois o período que vai do nascimento à aquisição

da

linguagem

é

marcado

por

um

extraordinário

e

complexo

desenvolvimento da mente. A criança progressivamente aumenta o autocontrole do seu próprio corpo e sentimentos. Assim, ela conseguirá pouco a pouco lidar com as demandas da vida. A partir dessas concepções básicas citadas anteriormente, percebemos o quanto Piaget contribuiu para a descoberta dos processos de pensamentos e dos mecanismos de aprendizagem e como ele chegou à definição do que seria um esquema. Para entendermos de forma clara o que seriam realmente os esquemas de Young já fizemos uma breve revisão sobre a Terapia Cognitiva anteriormente, que é o ponto chave para entendermos a definição de esquemas. Para o entendimento da evolução e desmistificação de como são esses esquemas, como se dividem, não podemos deixar de ressaltar a Teoria dos Esquemas, Young (2003), que conceitua esquema como uma estrutura cognitiva que filtra, codifica e avalia os estímulos ao qual o organismo é submetido. Young é responsável por uma abordagem chamada “Terapia focada nos Esquemas” que se baseou na Terapia Cognitiva de curto prazo, terapia esta que se refere à abordagem de terapia Cognitiva de 16 a 20 sessões, originalmente desenvolvida por Beck e colegas para tratamento da depressão. E Young usou a teoria dos esquemas para tratar pessoas com transtorno de personalidade. De acordo com Young (2003), existem algumas suposições importantes sobre os pacientes a respeito da Terapia Cognitiva de Curto Prazo, que seria a Terapia Cognitiva criada por Beck. 

Os pacientes têm acesso aos sentimentos com um breve treinamento,

ou seja, com um treinamento relativamente breve, podemos ensinar o paciente a perceber quando estiver sentindo-se ansioso, triste, zangado, culpado ou com alguma outra emoção. Mais existem pacientes que estão bloqueados e não entram em contato com seus sentimentos, assim para estes pacientes tem se que modificar a abordagem da terapia cognitiva; 

Os pacientes têm acesso a pensamento e imagens com um breve

treinamento, mas como toda regra tem suas exceções, os pacientes com transtornos AN02FREV001/ REV 3.0

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de personalidade precisam de estratégias diferentes, pois eles não conseguem chegar aos seus pensamentos automáticos ou mesmo afirmam não ter nenhuma imagem; 

Esse tipo de terapia defende que os pacientes têm problemas

identificáveis a serem focalizados, caso alguns tenham problemas vagos ou difíceis de definir, deve-se também modificar a terapia cognitiva para trabalhar com esses pacientes que vem ao consultório sem ter nada específico como problema; 

Uma das técnicas utilizadas nessa terapia são tarefas de casa e

também uso de estratégias de autocontrole, mas alguns pacientes resistem a isso, mostrando que estão muito mais motivados a depender do terapeuta e a obter apoio do que aprender estratégias, para ajudarem a si mesmos; 

Deve haver um relacionamento colaborativo entre paciente e terapeuta,

mas existem casos também em que é muito difícil engajar pacientes num relacionamento colaborativo, podendo isso atrapalhar a terapia; 

Só que o relacionamento terapêutico não é o foco maior do problema,

mas em pacientes com transtornos de personalidade, que possuem sérias dificuldades de relacionamento interpessoal, seria muito importante focalizar esse problema de relacionamento, embora a terapia cognitiva tenha poucos estudos de como trabalhar em profundidade o relacionamento terapêutico; 

Todas as cognições e todos os padrões de comportamento podem ser

modificados por análise empírica, discurso lógico, experimentação, passos graduais e prática.

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82

Disponível em: . Acesso em: 24/09/2010.

Young (2003) propõem alguns constructos para tratamento de pacientes com transtorno de personalidade, que seriam muito difíceis de tratar por meio do modelo cognitivo, ele propõe uma expansão do modelo cognitivo proposto por Beck. Seriam eles: 

Esquemas Iniciais Desadaptativos (EIAs);



Domínio de um esquema;



Processos de um Esquema:

o

Manutenção de um esquema;

o

Evitação dos esquemas;

o

Compensação dos esquemas.

Agora conceituaremos cada um, para que a Teoria dos Esquemas de Young fique mais clara.

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Esquemas Iniciais Desadaptativos (EIAs): Young (2003) diz que

esses esquemas se referem a temas extremamente estáveis e duradouros que se desenvolvem durante a infância, são elaborados ao longo da vida e são disfuncionais em um grau significativo. A grande maioria desses esquemas são crenças e sentimentos incondicionais sobre si mesmo em relação ao ambiente, sendo autoperpetuadores e, portanto muito resistentes à mudança, eles podem levar a um sofrimento psicológico, seja direta ou indiretamente, sua ativação é feita por meio de acontecimentos ambientais relevantes para um esquema específico, sendo mais ligados a altos níveis de afeto quando ativados do que a suposições subjacentes. Eles parecem ser resultado de um temperamento inato da criança interagindo com experiências disfuncionais com os pais, irmãos e conhecidos durante os primeiros anos de vida, ou seja, sua maioria não são resultados de acontecimentos traumáticos isolados, sua maioria é causada por padrões continuados de experiências nocivas cotidianas com outras pessoas que reforçam de alguma maneira o esquema. 

Domínio de um esquema: Segundo Young (2003) são cinco

necessidades desenvolvimentais primárias que a criança precisa negociar para se desenvolver de maneira sadia. Podemos dizer que questões como temperamento inato e a biologia desempenham um papel no desenvolvimento de alguns desses esquemas. Assim esses dois fatores associados ou combinados com os estilos parentais e as influências sociais às quais a criança está exposta é que desenvolve as tarefas (conexão e aceitação, autonomia e desempenho, limites realistas, autoorientação e autoexpressão, espontaneidade e prazer) relacionadas aos esquemas que citamos acima, ou seja, quando os pais e o ambiente social são ótimos, as crianças se desenvolvem de maneira sadia em todas as cinco áreas, caso esse ambiente não seja bom, a criança pode desenvolver Esquemas Iniciais Desadaptativos em um ou mais dos domínios de esquemas, onde estes persistem por toda a vida e tornam-se princípios organizadores do funcionamento cognitivo, emocional, interpessoal e comportamental do paciente. Caso ela não consiga, ela terá dificuldades para funcionar nos seguintes domínios de esquemas:

o

Desconexão e rejeição; AN02FREV001/ REV 3.0

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o

Autonomia e desempenhos prejudicados;

o

Limites prejudicados;

o

Orientação para o outro;

o

Supervigilância e inibição.

Os

esquemas

que

fazem

parte

desses

domínios

serão

citados

detalhadamente no decorrer deste capítulo.

Agora falaremos de Processos de um Esquema: o

Manutenção de um esquema;

o

Evitação dos esquemas;

o

Compensação dos esquemas.



Manutenção de um esquema: Refere-se a processos pelos quais os

esquemas iniciais adaptativos (EIAs) são reforçados. Essa manutenção, de acordo com Young (2003), acontece salientando-se ou exagerando-se informações que confirmam os esquemas e negando ou minimizando informação que contradizem o esquema. Muitos desses processos de manutenção dos esquemas são descritos por Beck como distorções cognitivas. O terapeuta geralmente encontra uma enorme resistência quando começa a contestar esses esquemas, pois o paciente tem certeza que eles são verdadeiros. Nesses processos incluem distorções cognitivas explicadas a nível cognitivo e padrões de comportamento autoderrotistas, explicada a nível comportamental, que são os principais mecanismos de manutenção de esquemas e juntos servem para perpetuá-los, tornando-os cada vez mais inflexíveis. 

Evitação dos esquemas: São três os tipos mais importantes de

evitação dos esquemas – cognitivo, afetivo e comportamental – eles permitem que o paciente escape da dor associada ao seu EID. 

Compensação

dos

esquemas:

Refere-se

a

processos

que

supercompensam os EIA. Vale ressaltar que em Young (2003), foram citados 18 Esquemas Iniciais Desadaptativos, estando agrupados nos cinco domínios de esquemas abaixo: 

Desconexão e rejeição: AN02FREV001/ REV 3.0

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Expectativa de que as necessidades de segurança, estabilidade, carinho, empatia, compartilhamento de sentimentos, aceitação e respeito não serão atendidos, previsivelmente. A família de origem é tipicamente desligada, rejeitadora, refreada, solitária, explosiva, imprevisível ou abusiva. Esquemas associados:

o

Abandono/instabilidade;

o

Desconfiança/abuso;

o

Privação emocional;

o

Defectividade/vergonha;

o

Isolamento social/alienação.



Autonomia e desempenhos relacionados:

Expectativa sobre si mesma e o ambiente que interferem na capacidade percebida de separar-se, sobreviver, funcionar independentemente ou ter um bom desempenho. A família de origem é tipicamente emaranhada, abala a confiança da criança em si mesma, é superprotetora ou não consegue reforçar a criança para ter um desempenho competente fora da família. Esquemas relacionados:

o

Dependência/incompetência;

o

Vulnerabilidade/incompetência;

o

Emaranhamento/self subdesenvolvido;

o

Fracasso.



Limites prejudicados:

Deficiência em limites internos, responsabilidade com os outros ou orientação para objetivos em longo prazo. A família de origem é tipicamente caracterizada pela permissividade, excesso de indulgência, falta de direção ou senso de superioridade em vez de confrontação, disciplina e limites apropriados em relação a assumir responsabilidades, cooperar de maneira recíproca e estabelecer metas. Esquemas relacionados: AN02FREV001/ REV 3.0

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o

Merecimento/grandiosidade;

o

Autocontrole/autodisciplina insuficientes;



Orientação para o outro:

Um foco excessivo nos desejos, sentimentos e respostas dos outros, à custa das próprias necessidades a fim de obter amor e aprovação, manter o sentimento de conexão ou evitar retaliação. A família de origem é tipicamente baseada na aceitação condicional, em que as crianças precisam suprimir aspectos importantes de si mesmas a fim de obter amor, atenção e aprovação. Esquemas relacionados:

o

Subjugação;

o

Autossacrifício;

o

Busca de aprovação/busca de reconhecimento;



Supervigilância e inibição:

Nesse esquema há uma ênfase excessiva na supressão dos sentimentos, dos impulsos e das escolhas pessoais espontâneas ou na criação de regras e expectativas internalizadas rígidas sobre desempenho e comportamento ético à custa da felicidade, autossupressão, relaxamento íntimos ou saúde. A família de origem é tipicamente severa, exigente e, às vezes, punitiva. Esquemas relacionados:

o

Negativismo/pessimismo;

o

Inibição emocional;

o

Padrões inflexíveis/crítica exagerada;

o

Caráter punitivo.

Na teoria da terapia cognitiva, a natureza e a função do processamento de informação, formação de esquemas (atribuição de significados), constituem a chave para entender o comportamento mal-adaptativo e os processos terapêuticos adaptativos. AN02FREV001/ REV 3.0

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Embora os significados sejam construídos pelas pessoas em vez de serem componentes preexistentes da realidade, eles são corretos ou incorretos em relação a um determinado contexto ou objetivo. Então, quando ocorre a distorção cognitiva, os significados são disfuncionais ou mal-adaptativos, essas distorções incluem erros no conteúdo cognitivo (significados), no processamento cognitivo (elaboração de significados) ou ambos. “Os esquemas evoluem para facilitar a adaptação da pessoa ao ambiente e são neste sentido estruturas teleonômicas”. (BECK, 2000, p.25). Portanto, eles são essencialmente estruturas de significado consciente e inconsciente, em que servem à função de sobrevivência. Neste sentido, percebe-se que um estado psicológico não é nem adaptativo nem mal-adaptativo em si, mas encontram-se em relação ao contexto do ambiente social e físico mais amplo no qual a pessoa está inserida. O significado que uma pessoa atribui a uma situação, ou a forma como um evento é estruturado, construído por uma pessoa é que determina como aquela pessoa se sentirá e se comportará. Beck (2003) simplifica isso quando diz que as crenças que temos sobre nós mesmos, sobre o mundo e sobre o futuro determinam o modo como nos sentimos: o que e como as pessoas pensam afeta profundamente o seu bem-estar emocional. E é desse princípio que vem a ideia de que, examinando nossas crenças e, se apropriando, modificando-as, afetamos diretamente o nosso bem-estar emocional. Podemos entender isso melhor quando percebemos como se dá a formação de um esquema: Nossas respostas emocionais e comportamentais, bem como nossa motivação, não são influenciadas diretamente por situações, mas sim pela forma como processamos essas situações, em outras palavras, pelas interpretações que fazemos dessas situações, por nossa representação dessas situações, ou pelo significado que atribuímos a elas. As nossas interpretações, representações ou atribuições de significado, por sua vez, refletem-se no conteúdo de nossos pensamentos automáticos, contidos em vários fluxos paralelos de processamento cognitivo que ocorrem em nível pré-consciente. O conteúdo de nossos pensamentos automáticos, pré-conscientes, reflete a ativação de estruturas básicas inconscientes, os esquemas e crenças, e o significado atribuído pelo sujeito ao real.

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Nossas interpretações, representações, ou atribuições de significado atuam como variável mediacional entre o real e as nossas respostas emocionais e comportamentais. Daí decorre que, para modificar emoções e comportamentos, intervimos sobre a forma do indivíduo processar informações, ou seja, interpretar, representar ou atribuir significado a eventos, em uma tentativa de promover mudanças em seu sistema de esquemas e crenças. Como já foi dito as crenças estão contidas dentro dos esquemas, ou seja, “as crenças são um registro da história de cada entidade, da confiança que temos em obter as coisas que desejamos ou em ter sucesso em nossas empreitadas.” (LE BON, 2001, p.58). Por intermédio da história de vida do sujeito e com base em experiências relevantes desde a infância, desenvolvemos um sistema de esquemas, que estão cheios de crenças, localizado em nível inconsciente ou, utilizando conceitos da Psicologia Cognitiva, em nossa memória implícita. Esquemas, nesse sentido, podem ser definidos como superestruturas cognitivas, que refletem regularidades passadas, conforme percebidas pelo sujeito. Ao processarmos eventos, os esquemas implicitamente organizam os elementos da percepção sensorial, ao mesmo tempo em que são atualizados por eles, em uma relação circular. Os esquemas ainda dirigem o foco de nossa atenção. Como já foi explicitado, incorporadas aos esquemas, são desenvolvidos crenças básicas e pressuposições intermediárias específicas para diferentes classes de eventos, as quais são ativadas em vista de eventos críticos eliciadores. A ativação dessas crenças reflete-se em nosso pré-consciente, nos conteúdos dos pensamentos automáticos, que representam nossa interpretação do evento, ou o significado atribuído a ele. Estes, por sua vez, influenciam a qualidade e intensidade de nossa emoção e a forma de nosso comportamento, frente a essa determinada situação. Sintetizando como essas crenças atuam podemos dizer, que elas se desenvolvem na infância à medida que a criança interage com outras pessoas significativas e encontra uma série de situações que confirmem essa ideia, e essas crenças centrais negativas podem vir à tona apenas durante momentos de aflição psicológica.

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Segundo Beck (1997), quando uma crença central é ativada o sujeito é facilmente capaz de processar informações que a apoiam, mas ele frequentemente falha em reconhecer e distorce as informações que são contrárias a crença central. Chegamos até aqui com o propósito de mostrar que a construção de significados é muito importante e que esses significados interferem na nossa vida, pois essas crenças que adquirimos se tornam verdades absolutas e são apenas ideias que podem ser modificadas. É de extrema importância a interpretação que o próprio paciente tem sobre sua experiência, sobre seu mundo e sobre si mesmo. Não se trata mais de descobrir os significados ocultos, mas de conhecer os processos de sua construção. E como diz Silva (2003), um sistema de crenças e valores é capaz de conferir continuidade e coerência as nossas vidas, em razão de nos ajudar a tomar decisões e a avaliar a importância das experiências pessoais. Temos a tendência de aceitar melhor aquilo que está de acordo com nossas crenças e, ao aceitar, nós o validamos como verdadeiro.

3.7 Diferença entre Cognitivismo e o Construtivismo

Algumas concepções alicerçam a teoria e a prática dos diferentes modelos cognitivos, temos o cognitivismo tradicional (cognitivismo-objetivo) e o cognitivismo construtivista (construtivista). De acordo com Nabuco (2003) nos cognitivistas o conceito de realidade e de construção de significados pode ser entendido, como fruto direto das representações extraídas da realidade externa, ou seja, no desenvolvimento da nossa cognição, exibimos uma inclinação natural para revelar internamente os significados da existência concreta externa. Os conceitos já estão existentes no mundo exterior. Evidencia-se a busca contínua daquilo que objetivamente existe no mundo. Ao nos defrontarmos com o mundo, abstrairemos os conceitos possíveis, e nosso pensamento, em sua atividade, buscará tais eventos. Segundo Beck (1964), não é a situação e o contexto que determina o que as pessoas sentem, mas sim o modo como elas interpretam os fatos. Então se percebe que conhecimento é uma representação imediata do mundo exterior, dessa realidade que é única. AN02FREV001/ REV 3.0

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Já para o construtivismo, os conceitos de realidade e construção de significados encontram-se subordinados à influência das emoções, é por meio dos elementos proprioceptivos e das estruturas vivenciais (aquelas que interpretam os estímulos pela experiência) que ocorrerão esses processos. Assim a realidade interna será vista como derivada do modo pelo qual cada indivíduo sente emocionalmente o mundo, mediante percepções corpóreas e tácitas produzidas pelo seu aparecimento. Percebe-se que aqui, primeiro sente algo para depois pensar no seu conteúdo, a emoção sempre criará problemas para o pensamento resolver. No quesito emoção, os cognitivistas afirmam que as emoções são derivadas dos padrões de pensamento, pautadas nas crenças, direcionando a maneira como as pessoas interpretam a situação. Para o construtivismo, as emoções não são nem racionais, nem irracionais, mas sim adaptativas por natureza. Não são as emoções que nos afligem, mas a dificuldade de entendê-la. Somos aquilo que sentimos que somos. A psicopatologia afirma, cognitivamente, que algumas doenças surgem de pensamentos negativos automáticos e quanto mais desenvolverem os sintomas, mais intensos se tornaram os PNA, maior será a validade da crença central disfuncional e mantendo o circulo vicioso em atividade. As crenças disfuncionais deslocam as estruturas mais adaptativas, compostas por crenças mais razoáveis e adaptativas, prevalecendo nos atos finais de significação. Nabuco (2003) diz que o construtivismo, as disfunções e os distúrbios emocionais surgem quando as pessoas não se sentem autorizadas a reconhecer, sentir

ou

até

mesmo

legitimar

determinadas

emoções.

Aqui

os

padrões

desadaptativos ou dolorosos da experiência emocional refletem as tentativas individuais de adaptação e desenvolvimento. No tratamento, o cognitivismo foca a eliminação, o controle ou a substituição dos padrões negativos do pensamento. Propõe-se a identificação, seguida da alteração dos padrões irracionais por padrões mais lógicos e realistas. Para o construtivismo a ênfase está na experiência e na expressão apropriada das emoções, assim como na exploração do seu desenvolvimento.

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91

FIM!

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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação

CURSO DE

PSICOLOGIA CLÍNICA.

Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação

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CURSO DE

PSICOLOGIA CLÍNICA.

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

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1.

AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

http://www.crpsp.org.br/a_acerv/jornal_crp/146/frames/orientacao.gif

Muitas pessoas confundem a aplicação de testes com avaliação psicológica. A avaliação psicológica pode envolver técnicas de dinâmica de grupo, entrevistas, questionários, levantamento do histórico de vida e tudo o mais que tenha como objetivo avaliar - no sentido de analisar, compreender, esclarecer - a dinâmica dos processos psicológicos representativos de um indivíduo. Sendo, portanto, muito mais complexa que a simples aplicação de testes psicológicos. A depender dos objetivos da avaliação, que pode ser diagnóstica, de emprego, demissional, ela pode durar várias sessões. Um grande engano cometido por quem necessita de uma avaliação é que imagina que ela pode ser realizada em quinze minutos, por exemplo. Puro engano. Para se chegar a um diagnóstico mais preciso, o psicólogo necessita realizar um levantamento minucioso.

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A avaliação psicológica deve ser utilizada em todo e qualquer setor da sociedade em que se necessite conhecer melhor o funcionamento da psique humana, visando orientar ou tomar certas decisões relativas à pessoa em questão. (Pellini, 2000). Encontram-se referências precisas de que desde o século XIX já se realizava avaliação psicológica em vários países e no Brasil, obviamente de forma diferente dos modelos conhecidos atualmente. No Brasil, a Avaliação Psicológica começou a ser praticada mais sistematicamente nas décadas de 50 e 60, porém, já na década de 20 foram realizados trabalhos acadêmicos e criados institutos para a realização de processos de seleção de pessoal nos setores públicos e privados, destacando-se as empresas do segmento de transporte coletivo. Com a regulamentação da Psicologia na década de 60, houve um aumento significativo de profissionais e de empresas interessadas em investir na área de recrutamento e seleção, passando a compor setores e a contratar psicólogos que realizassem avaliação psicológica em candidatos, tendo o intuito de aumentar as probabilidades de “acerto”, isto é, de selecionarem “a pessoa certa para o lugar certo”. As décadas de 80 e 90 foram promissoras para a área. Entretanto, se por um lado havia a utilização maciça de testes psicológicos nas avaliações para seleção de pessoal, por outro, não se encontravam instrumentos adaptados ou criados especificamente para esse fim. Visualiza-se, atualmente, um panorama no qual houve uma redução significativa da utilização dos testes psicológicos devido às rigorosas exigências de qualidade dos instrumentos, trazendo maior segurança ao profissional que se embasa em seus resultados para tomar decisões estratégicas e, não raramente, de maneira decisiva no direcionamento da vida das pessoas. Tanto no setor da Psicologia Clínica quanto no da Psicologia Organizacional, onde se pode fazer uso da Avaliação Psicológica, contar com os resultados obtidos AN02FREV001/REV 4.0

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a partir de testes é de grande importância, pois traz ao avaliador dados não facilmente perceptíveis de outro modo a respeito do candidato, além de poder confirmar aspectos percebidos durante a entrevista e dinâmica de grupo, se for o caso. Praticada de modos diferentes de acordo com cada objetivo, a ferramenta contribui de forma decisiva para o diagnóstico do candidato ou paciente. A avaliação psicológica não se reduz à aplicação de testes. Além de testes, a avaliação compreende técnicas de dinâmica de grupo, entrevistas, observação de comportamento e uma anamnese bem-feita, ou seja, investigação da vida social, familiar, física e emocional do paciente, com análise criteriosa do histórico de vida.

Na prática

http://www.unipar.br:8080/unipar/vestibular2007/curso/fotos/psicologia_01.jpg

De maneira geral, uma avaliação psicológica se constitui por uma entrevista individual, às vezes substituída ou acrescida de uma dinâmica de grupo, e um teste para avaliação da personalidade. Outros testes, de habilidades ou aptidões específicas, são acrescentados ao conjunto de técnicas de avaliação, conforme o objetivo e a área de atuação do profissional.

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5

O objetivo maior é o de diagnosticar cada pessoa, conhecer suas competências individuais e, para isso, o teste psicológico ainda é o melhor instrumento de que se dispõe, embora jamais único no processo, pois além de resultar em dados confiáveis, já que suas características psicométricas são comprovadas cientificamente. Ele permite que o psicólogo tenha uma visão total da pessoa, que consiga definir quais são as suas competências ou características mais vantajosas e quais aquelas em que precisaria investir um pouco mais. Num processo de seleção, por exemplo, tais informações permitem ao psicólogo indicar com maior segurança pessoas para cargos específicos e orientar as lideranças sobre como lidar com seus colaboradores e no que efetivamente investir para obter maior desenvolvimento e melhores resultados. Da mesma forma, em treinamento e desenvolvimento, uma Avaliação Psicológica traz subsídios suficientes para que um programa seja encaminhado considerando as especificidades individuais e grupais, podendo até com isso gerar um redirecionamento das estratégias adotadas. Até pouco tempo, algumas empresas procuravam premiar colaboradores tecnicamente bons com uma promoção para cargos de chefia, sem outro critério senão a satisfação com o desempenho desse funcionário, ou seja, sem uma avaliação que pudesse assegurar que essa pessoa tivesse características condizentes com posições de liderança, além de sua competência técnica. O resultado final geralmente era desastroso para o colaborador e para a empresa. Por não ser um líder e necessitar desenvolver as competências de liderança, não se saía bem na nova função. Como nem sempre é possível a pessoa retornar ao cargo anterior, a empresa contava com duas opções: mantê-lo no cargo e arcar com conseqüências indesejáveis ou então demiti-lo. Prejuízo para ambos. Para um planejamento de carreira, a realização de uma Avaliação Psicológica também se torna decisiva, visto que norteará todo o programa a ser desenvolvido com o profissional, especificando as características psicológicas a serem desenvolvidas para que ele possa futuramente ascender numa hierarquia com sucesso. AN02FREV001/REV 4.0

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No momento atual, o foco das empresas, seja qual for o seu negócio, é cada vez mais seus recursos humanos e sabe-se que o sucesso da empresa deve-se ao conhecimento e ao investimento em pessoas. A Avaliação Psicológica, científica e ética, apoiada em instrumentos e testes fidedignos, contribui essencialmente para essa finalidade. Em se tratando da Psicologia Clínica, a avaliação psicológica é usada para fins diagnósticos, ou seja, para avaliar a saúde emocional do paciente e verificar se ele é portador de algum transtorno. Vale ressaltar que nem sempre a queixa inicial é a responsável pelo sofrimento psíquico de uma pessoa, mas a constatação disso só se verifica depois de uma avaliação psicológica.

Entrevista Psicológica

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http://kaizenrh.com.br/fotos/kaizen05.jpg

Existem vários tipos de entrevistas e são vários os profissionais que dela se utilizam. Com os psicólogos não é diferente. Ele se utiliza deste instrumento para elaborar diagnósticos, durante avaliações e em prognóstico, ou seja, quando, durante uma entrevista devolutiva, por exemplo, mostra as probabilidades futuras de um quadro psicológico atual. É bem verdade que a entrevista psicológica sofreu algumas modificações no início do século XIX, quando predominava o modelo médico. Naquela época, Kraepelin usava a entrevista com o objetivo de detalhar o comportamento do paciente, e, assim, poder identificar as síndromes e as doenças específicas que as classificavam segundo a nosografia vigente. (SILVA, 2007). Enquanto isso, Meyer, psiquiatra americano, se interessava pelo enfoque psicobiológico

(aspectos

biológicos,

históricos,

psicológicos

e

sociais)

do

entrevistado. A partir de Hartman e Anna Freud o interesse da entrevista se deslocou para as defesas do paciente. Isto é, a psicanálise teve sua influência na investigação dos processos psicológicos, sem enfatizar o aspecto diagnóstico, antes valorizado. Nos anos cinqüenta, Deutsch e Murphy apresentaram sua técnica denominada Análise Associativa que considerava importante registrar não somente AN02FREV001/REV 4.0

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o que o paciente dizia, mas, também, em fornecer informações sobre o mesmo. Desse modo, desviou-se o foco sobre o comportamento psicopatológico para o comportamento dinâmico. Ainda nesta década, Sullivan concebeu a entrevista como um fenômeno sociológico, uma díade de interferência mútua. Após este período, a entrevista e o Aconselhamento Psicológicos se deixaram influenciar, entre outros, por Carl Rogers, cuja abordagem consiste em centrar no paciente. Ou seja, em procurar compreender, de acordo com o seu referencial, significados e componentes emocionais, tendo como base a sua aceitação incondicional por parte do entrevistador.

DEFINIÇÃO DE ENTREVISTA PSICOLÓGICA

http://www.institutouniao.com.br/imagens

A entrevista psicológica é um processo bidirecional de interação, entre duas ou mais pessoas com o propósito previamente fixado no qual uma delas, o entrevistador, procura saber o que acontece com a outra, o entrevistado, procurando agir conforme esse conhecimento (WIENS apud NUNES, In: CUNHA, 1993). Enquanto técnica, a entrevista tem seus próprios procedimentos empíricos AN02FREV001/REV 4.0

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através dos quais não somente se amplia e se verifica, mas, também, simultaneamente, absorve os conhecimentos científicos disponíveis. Nesse sentido, Bleger (1960) define a entrevista psicológica como sendo “um campo de trabalho no qual se investiga a conduta e a personalidade de seres humanos”. Outra definição caracteriza a entrevista psicológica como sendo “uma forma especial de conversão, um método sistemático para entrar na vida do outro, na sua intimidade” (RIBEIRO, 1988, p.154). Enfim, Gil (1999) compreende a entrevista como uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes, busca coletar dados e a outra se apresenta como fonte de informação (p.117). A entrevista psicológica pode ser também um processo grupal, isto é, com um ou mais entrevistadores e/ou entrevistados. No entanto, esse instrumento é sempre em função da sua dinâmica, um fenômeno de grupo, mesmo que seja com a participação de um entrevistado e de um entrevistador. (SILVA, 2007).

OS OBJETIVOS DA ENTREVISTA

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http://www.ufmg.br/diversa/7/imagens/Psicologia2saladeaula-FLisboa.jpg

Com base nos critérios que objetivaram a entrevista em saúde mental, podese classificar a entrevista quanto aos seguintes objetivos: a) Diagnóstica – Visa estabelecer o diagnóstico e o prognóstico do paciente, bem como as indicações terapêuticas adequadas. Assim, faz-se necessário uma coleta de dados sobre a história do paciente e sua motivação para o tratamento. Quase sempre, a entrevista diagnóstica é parte de um processo mais amplo de avaliação clínica que inclui testagem psicológica; b) Psicoterápica – Procura colocar em prática estratégia de intervenção psicológica nas diversas abordagens - rogeriana (C. Rogers), jungiana (C. Jung), gestalt (F. Perls), bioenergética (A. Lowen), logoterapia (V. Frankl) e outras -, para acompanhar o paciente, esclarecer suas dificuldades, tentando ajudá-lo a solucionar seus problemas; c) De Encaminhamento – Logo no início da entrevista, deve ficar claro para o entrevistado, que a mesma tem como objetivo indicar seu tratamento, e que este não será conduzido pelo entrevistador. Devem-se obter informações suficientes para se fazer uma indicação e, ao mesmo tempo evitar que o entrevistado desenvolva um vínculo forte, uma vez que pode dificultar o processo de encaminhar; d) De Seleção – O entrevistador deve ter um conhecimento prévio do AN02FREV001/REV 4.0

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currículo do entrevistado, do perfil do cargo, deve fazer uma sondagem sobre as informações que o candidato tem a respeito da empresa, e destacar os aspectos mais significativos do examinando em relação à vaga pleiteada, etc.; e) De Desligamento – Identifica os benefícios do tratamento por ocasião da alta do paciente, examina junto com ele os planos da pós-alta ou a necessidade de trabalhar algum problema ainda pendente. Essa entrevista também é utilizada com o funcionário que está deixando a empresa, e tem como o objetivo obter um feedback sobre o ambiente de trabalho, para providências, intervenções do psicólogo em caso, por exemplo, de alta rotatividade de demissão num determinado setor; f) De Pesquisa – Investiga temas em áreas das mais diversas ciências, somente se realiza a partir da assinatura do entrevistado ou paciente, do documento: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Resolução CNS no 196/96), no qual estará explícita a garantia ao sigilo das suas informações e identificação, e liberdade de continuar ou não no processo.

A SEQUÊNCIA TEMPORAL DAS ENTREVISTAS DIAGNÓSTICAS

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http://www.corporal.com.br/segura/imagens_arquivos/quadrodefiguras.jpg

Essa seqüência pode ser subdividida em: entrevista inicial; entrevistas subseqüentes e entrevista de devolução, caracterizadas de forma diferente, e mostrando objetivos distintos conforme o momento em que elas ocorram (GOLDER, 2000).

a) Entrevista Inicial É a primeira entrevista de um processo de psicodiagnóstico. Semidirigida, durante a qual o sujeito fica livre para expor seus problemas. Segundo Fiorini (1987), o empenho do terapeuta nessa primeira entrevista pode ter uma influência decisiva na continuidade ou no abandono do tratamento (p.63). Pinheiro (2004) salienta que a mesma ocorre num certo contexto de relação constantemente negociada. O termo negociação se refere ao posicionamento definido como “um processo discursivo, através do qual [...] são situados numa conversação como participantes observáveis, subjetivamente coerentes em linhas de histórias conjuntamente produzidas”(DAVIES & HARRÉ apud PINHEIRO, 2004, p.186).

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Essa entrevista, geralmente, inicia-se com a chamada telefônica de outro técnico, encaminhando o entrevistado para a avaliação psicodiagnóstica, ou com a chamada do próprio entrevistado. Tem como objetivos discutir expectativas, clarear as metas do trabalho, e colher informações sobre o entrevistado, que não poderiam ser obtidas de outras fontes. (SILVA, 2007). As

primeiras

impressões

sobre

o

entrevistado,

sua

aparência,

comportamento durante a espera, são dados que serão analisados pelo entrevistador, e que podem facilitar o processo de análise do caso. Para Gilliéron (1996), a primeira entrevista deve permitir conhecer: - O modo de chegada do paciente à consulta (por si mesmo, enviado por alguém ou a conselho de alguém, etc.); - O tipo de relação que o paciente procura estabelecer com o seu terapeuta; - As queixas iniciais verbalizadas pelo paciente, em particular a maneira pela qual ele formula seu pedido de ajuda (ou sua ausência de pedido). A partir dessas impressões e expectativas, entrevistador e entrevistado constroem mutuamente suas transferências, contratransferências, e resistências que foram ativadas bem antes de ocorrer o encontro propriamente dito. Um clima de confiança proporcionado pelo entrevistador facilita que o entrevistando revele seus pensamentos e sentimentos sem tanta defesa, portanto, com menos distorções. No final dessa entrevista devem ficar esclarecidos os seguintes pontos: horários, duração das sessões, honorários, formas de pagamento (quando particular), condições para administrar instrumentos de testagem e para as condições de consulta a terceiros. b) Entrevistas Subseqüentes Após a entrevista inicial, em que é obtida uma primeira impressão sobre a pessoa do paciente, esclarecimentos sobre os motivos da procura, e realização do contrato de trabalho de psicodiagnóstico, normalmente são necessários mais alguns encontros. O objetivo das entrevistas subseqüentes é a obtenção de mais dados

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com riqueza de detalhes sobre a história do entrevistado, tais como: fases do seu desenvolvimento, escolaridade, relações familiares, profissionais, sociais e outros.

c) Entrevista de Devolução ou Devolutiva No término do psicodiagnóstico, o técnico tem algo a dizer ao entrevistado em relação ao que fundamenta a indicação. Em 1991, Cunha, Freitas e Raymundo (apud NUNES, In: CUNHA, 1993), elaboraram algumas recomendações sobre a entrevista de devolução: - Após a interpretação dos dados, o entrevistador vai comunicar-lhe em que consiste o psicodiagnóstico, e indicar a terapêutica que julga mais adequada; - O entrevistador retoma os motivos da consulta, e a maneira como o processo de avaliação foi conduzido; - A devolução inicia com os aspectos menos comprometidos do paciente, ou seja, menos mobilizadores de ansiedade; - Deve-se evitar o uso de jargão técnico (expressões própria da ciência circulante entre os profissionais da área, em outras palavras “gíria profissional”), e iniciar por sintoma ligado diretamente à queixa principal; - A entrevista de devolução deve encerrar com a indicação terapêutica.

DIFERENÇA ENTRE ENTREVISTA, CONSULTA E ANAMNESE

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A técnica da entrevista procede do campo da medicina, e inclui procedimentos semelhantes que não devem ser confundidos e nem superpostos à entrevista psicológica. Consulta não é sinônimo de entrevista. A consulta consiste numa assistência técnica ou profissional que pode ser realizada ou satisfeita, entre as mais diversas modalidades, através da entrevista. A entrevista não é uma anamnese. Esta implica numa compilação de dados preestabelecidos, que permitem fazer uma síntese, seja da situação presente, ou da história de doença e de saúde do indivíduo. Embora, se faça a anamnese com base na utilização correta dos princípios que regem a entrevista, porém, são bem diferenciadas nas suas funções. Na anamnese, o paciente é o mediador entre sua vida, sua enfermidade, e o médico. Quando por razões estatísticas ou para cumprir obrigações regulamentares de uma instituição, muitas vezes, ela é feita pelo pessoal de apoio ou auxiliar. A anamnese trabalha com a suposição de que o paciente conhece sua vida e está, portanto, capacitado para fornecer dados sobre a mesma. Enquanto que, a hipótese da entrevista é de que cada ser humano tem organizado a história de sua vida, em um esquema de seu presente. E, destes temos que deduzir o que ele não AN02FREV001/REV 4.0

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sabe. Ou seja, “o que nos guia numa entrevista, do mesmo modo que em um tratamento, não é a fenomenologia reconhecível, mas o ignorado, a surpresa” (GOLDER, 2000, p.45). Nessa perspectiva, Bleger (1980) compreende que, diferentemente da consulta e da anamnese, a entrevista psicológica tenta o estudo e a utilização do comportamento total do indivíduo em todo o curso da relação estabelecida com o técnico, durante o tempo que essa relação durar (p.12). A entrevista psicológica funciona como uma situação onde se observa parte da vida do paciente. Mas, nesse contexto não consegue emergir a totalidade do repertório de sua personalidade. Uma vez que não pode substituir, e nem excluir outros procedimentos de investigação mais extensos e profundos, a exemplo de um tratamento psicoterápico ou psicanalítico, o qual demanda tempo, e favorece para que possa emergir determinados núcleos da personalidade. Este tipo de assistência, também não pode prescindir da entrevista. Esta que apresenta lacunas, dissociações e contradições que levam alguns pesquisadores a considerá-la um instrumento pouco confiável. Mas, com diz Bleger (1980), essas dissociações e contradições, são inerentes à condição humana, e a entrevista oferece condições para que as mesmas sejam refletidas e trabalhadas.

TIPOS DE ENTREVISTA

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Segundo Gil (1999), as entrevistas podem ser classificadas em: informal, focalizada, por pautas e estruturada. a) Entrevista Informal (livre ou não-estruturada) – É o tipo menos estruturado, e só se distingue da simples conversação porque tem como objetivo básico a coleta de dados. O que se pretende é a obtenção de uma visão geral do problema pesquisado, bem como a identificação de alguns aspectos da personalidade do entrevistado; b) Entrevista Focalizada (semi-estruturada ou semidirigida) – É tão livre quanto a informal, todavia, enfoca um tema bem específico. Permite ao entrevistado falar livremente sobre o assunto, mas quando este se desvia do tema original o entrevistador deve se esforçar para sua retomada; c) Entrevista por Pautas (semi-estruturada ou semidirigida) – Apresenta certo grau de estruturação, já que se guia por uma relação de pontos de interesses que o entrevistador vai explorando ao longo do seu curso. As pautas devem ser ordenadas e guardar certa relação entre si. O entrevistador faz poucas perguntas diretas e deixa o entrevistado falar livremente à medida que se refere às pautas assimiladas. Quando este, por ventura, se afasta, o entrevistador intervém de maneira sutil, para preservar a espontaneidade da entrevista; AN02FREV001/REV 4.0

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d) Entrevista Estruturada (fechada) – Desenvolve-se a partir de uma relação fixa de perguntas, cuja ordem e redação permanecem invariáveis para todos os entrevistados, que geralmente são em grande número. Por possibilitar o tratamento quantitativo dos dados, este tipo de entrevista torna-se o mais adequado para o desenvolvimento de levantamentos sociais.

A ENTREVISTA QUANTO AO SEU REFERENCIAL TEÓRICO

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O processo de entrevista é orientado por seu referencial teórico. Aqui serão vistas, em síntese, algumas das perspectivas: a) Perspectiva Psicanalítica – Tem como base os pressupostos dos conteúdos inconscientes. O entrevistador busca avaliar a motivação inconsciente, o funcionamento psíquico e a organização da personalidade do entrevistado. A entrevista é orientada para a psicodinâmica da estrutura intrapsíquica ou das AN02FREV001/REV 4.0

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relações objetais1 e funcionamento interpessoal; b) Perspectiva Existencial-humanista – Não procura formular um diagnóstico, e sim, verificar se o interesse do indivíduo está auto-realizado ou não. Aqui não existe uma técnica específica de entrevista, estas são consideradas pelos existencialistas como manipulação. O entrevistador reflete o que ouve, pergunta com cuidado, e tenta reconhecer os sentimentos do entrevistado; c) Perspectiva Fenomenológica – Estuda a influência dos pressupostos e dos preconceitos sobre a mente, e que os acionam ao estruturar a experiência e atribuir-lhe um significado. Além de uma atitude aberta e receptiva, é necessário que o entrevistador atue como observador participante, e que, assim, seja capaz de avaliar criticamente, através de sua experiência clínica e conhecimento teórico, o que está ocorrendo na entrevista.

A ENTREVISTA QUANTO AO SEU MÉTODO

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Segundo Ribeiro (1988), a realização da entrevista psicológica segue diferentes enfoques: a) Psicométrico – O entrevistador faz uso constante de uma série de instrumentos:

testes, pesquisas,

controle

estatístico,

etc.,

predeterminados,

enquanto dispositivos para a aquisição de conhecimentos sobre o entrevistado. Nessa situação, dificilmente o entrevistador conseguirá aprofundar a relação, o encontro permanece mais em nível formal e informativo do que espontâneo criativo AN02FREV001/REV 4.0

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e transformador. Isto não quer dizer que seja menos válida ou mais superficial; b) Psicodinâmico – A relação poderá ser mais aprofundada devido ao fato do entrevistador contar com maior disponibilidade de tempo para questionar o entrevistado, e conduzir a situação de maneira “menos estruturada”. Sua atenção não está no aqui e no agora, ela atende a uma dinâmica de causa-efeito na qual submensagens poderão dificultar a comunicação; c)

Antropológico



Abrange

a

relação

ambiente-organismo

na

compreensão da comunicação. Qualquer dado será considerado, mas, nem sempre, é possível dizer em que momento ele está e onde será utilizado. Esse tipo de entrevista parece mais complexo, assim sendo, exige mais prática do entrevistador para analisar as informações.

TÉCNICAS DE ENTREVISTA

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Um dos aspectos essenciais da entrevista está na investigação que se realiza durante o seu transcurso. As observações são registradas em função das hipóteses que o entrevistado emite. O entrevistador ordena na seguinte disposição: observação, hipótese e verificação. Uma boa observação consiste de algum modo, em formular hipóteses que vão sendo reformuladas durante a entrevista em função das observações subseqüentes. No entender de Bleger (1980), o trabalho do psicólogo somente adquire real envergadura e transcendência quando coincidem a investigação e a tarefa

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profissional, porque estas são as unidades de uma práxis que resguarda a tarefa mais humana: compreender e ajudar os outros. Assim, indagação e atuação, teoria e prática, devem ser manejadas como momentos e aspectos inseparáveis do mesmo processo. Segundo Bleger (1980), a entrevista se diferencia de acordo com o beneficiário do resultado: - A entrevista que se realiza em benefício do entrevistado, a exemplo da consulta psicológica ou psiquiátrica; - A entrevista cujo objetivo é a pesquisa, valorizando, apenas, o resultado científico da mesma; - A entrevista que se realiza para terceiro, neste caso, a serviço de uma instituição. Com exceção do primeiro tipo de entrevista, os demais exigem do entrevistador que desperte interesse ou motive a participação do entrevistado. Segundo Gil (1999), as entrevistas podem acontecer em duas modalidades: Face a face e por Telefone. A entrevista tradicional tem sido realizada face a face. No entanto, nas últimas décadas vem sendo desenvolvida a entrevista por telefone. - Principais vantagens da entrevista por telefone, em relação à entrevista pessoal: custos mais baixos; facilidade na seleção da amostra; rapidez; maior aceitação dos moradores das grandes cidades, que temem abrir suas portas para estranhos; facilidade de agendar o momento mais apropriado para a realização da entrevista; - Limitações da entrevista por telefone: interrupção da entrevista pelo entrevistado; menor quantidade de informações; impossibilidade de descrever as características do entrevistado ou as circunstâncias em que se realizou a entrevista; parcela significativa da população que não dispõe de telefone ou não tem seu nome na lista.

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Segundo Erickson (apud SCHEEFFER, 1977), algumas recomendações devem ser aplicáveis ao processo de entrevista psicológica: - O entrevistador deve ter o cuidado para não transformar a entrevista numa conversa social. “Como posso ajudá-lo?”, é uma boa maneira de se iniciar uma entrevista; - O entrevistador não deve completar as frases do entrevistado. Devem-se evitar perguntas que induzam respostas do tipo “sim” ou “não”. Não interromper o fluxo do pensamento do entrevistado, a não ser que ele se perca em idéias que fogem dos tópicos da entrevista; - A atitude do entrevistador deve ser de aceitação completa das vivências do entrevistado. Não deve haver discussão de pontos de vista; - As pausas e silêncios são, quase sempre, embaraçosos para o entrevistador. Nesses momentos, possivelmente, o entrevistado está revivendo experiências que não consegue expressar verbalmente. Quando as pausas forem longas, o entrevistador poderá retomar um tópico anterior que estava sendo discutido; - O tempo de entrevista deve ser marcado, e o entrevistado será comunicado de quanto tempo dispõe. Se necessário, marca-se outra (s) entrevista (s). Deve-se limitar o número de assuntos em cada sessão para não confundir o entrevistado; - É necessário trocar o pronome pessoal “eu”, pelo uso de expressões mais vagas, tais como: “parece que ...”; “parece melhor ...”; etc.; - Recomenda-se fazer o resumo do que fora discutido em cada final de entrevista. E que o entrevistador faça uma síntese para o entrevistado do que foi abordado na sessão; - O término da entrevista não deve transformar-se numa conversa social, sem nenhuma relação com os problemas discutidos. Isto pode prejudicar o resultado da entrevista. AN02FREV001/REV 4.0

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Segundo Foddy (2002), é aconselhável o investigador ou entrevistador: - Adotar uma atitude comum e casual. Ex. “Por acaso você...”; - Empregar a técnica “Kinsey” de olhar os inquiridos bem nos olhos, e colocar a pergunta sem rodeios de modo a que eles tenham dificuldade em mentir; - Adotar uma aproximação indireta de modo a que os inquiridos forneçam a informação desejada sem terem consciência disso, a exemplo das técnicas projetivas; - Colocar as perguntas perturbadoras na parte final do questionário ou da entrevista de modo a que as respostas não sofram qualquer conseqüência desse efeito. Segundo Gilliéron (1996), podem-se estudar os comportamentos do paciente praticamente em relação a dois eixos: - A anamnese do sujeito que permite a observação dos comportamentos repetitivos que dão uma idéia exata da sua personalidade: trata-se do ponto de vista histórico; - A observação do comportamento do paciente quando da primeira entrevista também fornece indicações muito precisas sobre a organização da sua personalidade.

DINÂMICA DA ENTREVISTA

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O entrevistador, no seu papel de técnico, não deve expor suas reações e nem sua história de vida. Não deve permitir em ser considerado como um amigo pelo entrevistado e, nem entrar em relação comercial, de amizade ou de qualquer outro benefício que não seja o pagamento dos seus honorários. Para Gilliéron (1996), a investigação repousará: - Na análise do comportamento do paciente com relação ao enquadre; - Num modelo preciso suscetível de evidenciar a dinâmica relacional que se estabelece entre o paciente e o terapeuta; modelo de apoio objetal. O entrevistado deve ser recebido com cordialidade, e não de forma efusiva. Diante de informações prévias fornecidas por outra pessoa, se deixa claro que essas não serão mantidas em reserva. Em função de não abalar a confiança do entrevistado, estas lhe serão comunicadas.

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A reação contratransferencial deve ser encarada com um dado de análise da entrevista, não se deve atuar diante da rejeição, inveja ou qualquer outro sentimento do entrevistado. As atitudes deste não devem ser “domadas” ou subjugadas, não se trata de querer triunfar e nem se impor perante o mesmo. Compete ao entrevistador averiguar como essas atitudes funcionam e como o afetam. O grau de repressão do entrevistado, de certo modo, tem uma relação direta com o nível de repressão do entrevistador. Necessariamente, o entrevistado que fala muito não traz à tona aspectos relevantes das suas dificuldades. A linguagem que é um meio de transmitir informação, mas poderá ser também uma maneira poderosa de se evitar uma verdadeira comunicação (BLEGER, 1980). Nem sempre, uma carga emocional intensa significa uma evolução no processo. O silêncio é uma expressão não-verbal que muitas vezes comunica bem mais que as palavras. O silêncio é, geralmente, o fantasma do entrevistador iniciante. Ele pode ser também uma tentativa de encobrir a faceta de um momento o qual o sujeito não consegue enfrentar. Castilho (1995) cita uma série de tipos de silêncio que são comuns nas dinâmicas de grupo, mas que também ocorrem, com bastante freqüência, no processo de entrevista, etc. Para ilustrar foram destacados alguns tipos de silêncio: - Silêncio de Tensão – É a expressão da ansiedade. Facilmente observado através da postura corporal tensa ou inquieta do entrevistado, da sua respiração ofegante, do tamborilar dos dedos, etc.; - Silêncio de Medo – Deixa o entrevistado petrificado, na sua tentativa de fugir de uma situação psicologicamente ameaçadora. Esse silêncio suscita muita tensão e, como conseqüência, forte descarga psicossomática; - Silêncio de Reflexão – Surge normalmente após a intervenção do entrevistador, ou logo após um feedback, ou mesmo depois do entrevistador ter

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passado por algum tipo de vivência. Nele, observa-se a ausência de tensão, há um recolhimento introspectivo de elaboração mental; - Silêncio de Desinteresse – O indivíduo perde o foco da atenção, camufla resistência, se desinteressa pela situação externa porque interiormente ela o atinge.

A Ansiedade na Entrevista

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A ansiedade é parte da existência humana, todas as pessoas a sentem em grau variado, por vezes consiste em uma resposta adaptativa do organismo (SIERRA, 2003). Para Bion (apud ALMEIDA & WETZEL, 2001), se duas pessoas estão numa sala de análise sem angústia, não está havendo análise (p.272). Calligaris (apud GOLDER, 2000), percebe que em todo encontro, o outro está imediatamente implicado enquanto “semelhante imaginário”, o que se busca primeiro é uma tela, uma espécie de cumplicidade, na qual supõe um sentido comum ao que estamos dizendo(p.151). Desse modo, a ansiedade é um indicativo do desenvolvimento de uma entrevista, e deve ser controlada pelo entrevistador, a sua própria, e a que aparece no entrevistado. Durante a situação de entrevista, tanto à ansiedade quando os mecanismos de defesa do entrevistado podem aumentar, não somente devido a esse novo AN02FREV001/REV 4.0

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contexto externo que ele enfrenta, mas também devido ao perigo, em potencial, daquilo que desconhece em sua personalidade. O contato direto com seres humanos, coloca o técnico diante da sua própria vida, saúde ou doença, conflitos e frustrações. Considerando que o entrevistador é um agente ativo na investigação, sua ansiedade torna-se um dos fatores mais difíceis de lidar. Em sua tarefa, o psicólogo pode oscilar facilmente entre a ansiedade e o bloqueio, sem que isto o perturbe, desde que possa resolver na medida em que surja. Toda investigação implica a presença de ansiedade frente ao desconhecido, e o investigador deve ter a capacidade para tolerá-la, assim, poderá manter o controle da situação. Há casos em que o investigador, devido aos seus bloqueios e limitações, se vê oprimido pela ansiedade, e recorre a mecanismos de defesa para se sentir seguro, e assim, elimina a possibilidade de uma investigação eficaz, uma vez que conduz a entrevista de maneira estereotipada. Outro problema freqüente diz respeito à certa compulsão do entrevistador focalizar seu interesse ou encontrar perturbações exatamente na esfera que ele nega os seus próprios conflitos. A manipulação técnica, de toda ansiedade, deve ser realizada com referência a personalidade do entrevistado, e o nível de timing (sincronização e ajustamento) que se tenha estabelecido na relação. Toda interpretação fora desse contexto implica em agressão ao paciente ou entrevistado. Cabe ao psicólogo saber calar, na proporção inversa da sua vontade compulsiva de interferir. Nessa ótica, Almeida & Wetzel (2001, p.271) dizem que a interpretação algumas vezes vem de um desejo de intervenção com a finalidade de eliminar angústias (perda de continência), instados pela situação e autorizados pelo setting. Segundo Piaget (apud GIL, 1999), o bom entrevistador deve reunir duas qualidades: saber observar (não desviar nada, não esgotar nada); saber buscar (algo de preciso, ter a cada instante uma hipótese de trabalho, uma teoria, verdadeira ou falsa, para controlar). Douglas (apud FODDY, 2002) corrobora com essa idéia quando afirma que entrevistar criativamente é ter determinação atendendo ao contexto, em vez de AN02FREV001/REV 4.0

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negar, ou não conseguir compreender. O que se passa numa situação de entrevista é determinado pelo processo de perguntas e respostas, a entrevista criativa agarra o imediato, a situação concreta, tenta perceber de que modo esta afetação vai sendo comunicada e, ao compreender esses efeitos, modifica a recepção do entrevistador, aumentando, assim, a descoberta das verdades.

Transferência e Contratransferência

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Transferência Freud (1914-1969) entende que a transferência é (...) apenas um fragmento da repetição e que a repetição é uma transferência do passado esquecido (...) para todos os aspectos da situação atual (p.166). A transferência é designada pela psicanálise como um processo através do qual os desejos inconscientes se atualizam sobre determinados objetos, num certo tipo de relação estabelecida, eminentemente, no quadro da relação analítica. A repetição de protótipos infantis vividos com um sentimento de atualidade acentuada. Classicamente a transferência é reconhecida como o terreno em que se dá a problemática de um tratamento psicanalítico, pois são a sua instalação, as suas modalidades, a sua interpretação e a sua resolução que as caracteriza (LAPLANCHE & PONTALIS, 2004). A transferência e a contratransferência são fenômenos que estão presentes em toda relação interpessoal, inclusive na entrevista. Na transferência o entrevistado atribui papéis ao entrevistador, e se comporta em função dos mesmos, transfere situações e modelos para a realidade presente e desconhecida, e tende a configurar AN02FREV001/REV 4.0

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esta última como situação já conhecida, repetitiva. No entender de Gori (2002), repetindo transferencialmente, evoca-se a lembrança e é somente por meio da lembrança que temos acesso à história [...] Por meio da transferência é forjado num lugar intermediário entre a vida real e um ensaio de vida, para que o drama humano possa ter um desfecho (p.78). A articulação do conceito de “momento sensível”(grifo da autora) passa pelo posicionamento do terapeuta. Esse instante preciso determina os mecanismos que instalam a transferência. Com efeito, é o momento em que uma relação de trabalho se torna possível. A abertura ao outro, a espera de ajuda vinda do exterior é forte e expõe o paciente tanto ao melhor quanto ao pior dessa interação (GOLDER, 2000). Nessa perspectiva, Gilliéron (1996) diz que todos os pacientes procuram obter alguma coisa do terapeuta. Eles não buscam apenas a cura de um sintoma, mas também certa qualidade de relação (p.14). Os entrevistados revelam aspectos irracionais ou imaturos de sua personalidade, seu grau de dependência, sua onipotência e seu pensamento mágico. As transferências negativas e positivas podem coexistir num mesmo processo, embora, quase sempre com predomínio relativo, estável ou alterado, de uma delas. Segundo Sang (2001), é a situação analítica e não a sua pessoa o que levou a paciente a se apaixonar por ele, isto é, que o amor de transferência é essencialmente impessoal. [...] o analista não deve nem reprimir nem satisfazer as pretensões amorosas da paciente. Deve sim, tratá-las como algo irreal (pp.319-20). No que é confirmado por Yalom (2006), quando diz que os sentimentos que surgem na situação terapêutica. Geralmente pertencem mais ao papel que à pessoa, é um equívoco tomar a adoração transferencial como um sinal de sua atratividade ou charme pessoal irresistível (p.175).

Contratransferência Na contratransferência emerge do entrevistador reações que se originam do campo psicológico em que se estrutura a entrevista. Porém, se constitui, quando AN02FREV001/REV 4.0

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bem conduzida, num indício de grande significação e valor para orientar o entrevistador no estudo que realiza. Seu manejo requer preparação, experiência e um alto grau de equilíbrio mental, para que possa ser utilizada com validade e eficiência. Na contratransferência, salienta Gilliéron (1996), as emoções vividas pelo analista são consideradas reativas às do paciente, vinculando-se, portanto, ao passado deste último, e não dizendo respeito diretamente à pessoa do analista. Manfredi (apud ZASLAVSKY & SANTOS, 2005, p.296), distingue cinco tendências de abordagens desta questão: 1 - A contratransferência não é mais considerada como uma criação unicamente do paciente, por ignorar a transferência do analista; 2 - É problemático diferenciar a contratransferência normal da patológica (os dados à disposição do analista não permitem, quase sempre, uma diferenciação); 3 - A tolerância à contratransferência já seria suficiente, dada aqui, a dificuldade da diferenciação dos sentimentos envolvidos na dupla; 4 - Devia-se, mais sábia e humildemente, fazer também a rota inversa: procurar no paciente, e não só procurar no analista; 5 - A questão do confessar ou não, ou confessar/revelar até quando/quanto, os sentimentos contratransferências despertados. Para que o instrumento Entrevista Psicológica, de fato, se efetive como auxiliar no trabalho do psicólogo, não é o bastante a sua compreensão ou domínio teórico e técnico que fundamenta e norteia sua prática, mas também de experiências que são adquiridas em rollyplays através de estágio, supervisão; laboratório ou oficinas de sensibilidade. É preciso desenvolver a sensibilidade para entrevistar, aprender ser empático, saber lidar com a própria subjetividade e com a subjetividade do outro (entrevistando), facilitando assim que seu universo, um tanto livre das “ameaças”, se descortine.

O

entrevistador precisa

adquirir à

habilidade da

“dissociação

instrumental”, e ser capaz de adentrar esse universo, sem juízo de valor, sem

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preconceito, para que assim possa estar com o Outro, conhecer, não temer, se perder e se achar e, finalmente, voltar à realidade do contexto. E agora, de posse de sua bagagem técnica tecer suas observações, ponderações e considerações, de modo axiomático, considerado que a utópica da neutralidade sempre deverá ser perseguida. Os princípios éticos serão avivados em cada encontro, e nenhum instrumento poderá adquirir uma aura de prevalência sobre a pessoa do entrevistado, que é mais importante e assim deve ser respeitado. O que não significa ser “meloso”, por demais e muito menos autoritário. O entrevistador deve habilitar-se em se inscrever na virtualidade da distância e proximidades ótimas que o trabalho possa fluir. Ser a pessoa na figura do profissional imbuído da intenção singular de realizar uma atividade sem perder sua essência humana. Nesse investida, é fundamental que o profissional se “conheça”, e que faça de rotineiras as reflexões sobre suas atitudes, postura e comportamento, bem como de que tenha também flexibilidade em reformulá-los, quando a necessidade aponte. Muito do trabalho do psicólogo certamente vem em conseqüência do auto “mergulho” que lhe dará a base na qual se apóiam à sua atuação e intervenção com toda transparência.

2.

INTERVENÇÃO

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Abordagem Sistêmica Parte da teoria geral dos sistemas e da teoria da comunicação de Watzlawick. É um paradigma que emerge das ciências exatas e fornece uma base teórica e prática de compreensão dos sistemas humanos. Nos anos 40, Ludwig Von Bertalanffy publicava uma série de princípios válidos para vários sistemas (biológicos, físico-químicos, sociais). O sistema é um complexo organizado em múltiplos elementos que estão em interação recíproca no seu interior e com o meio. Um sistema pode ser aberto (autoorganizado) ou fechado (entropia). A perspectiva sistêmica constitui um bom suporte teórico para a intervenção, especialmente em terapia familiar. Põe em causa uma epistemologia linear, unidirecional e contextualiza os problemas humanos, não num único sentido, mas em função dos contextos em que emergem os problemas. Alarga a perspectiva de intervenção, centrada apenas num sistema pessoal, para uma perspectiva que se centra nos contextos de vida e nas redes de apoio dos sujeitos. Estes pressupostos são aplicados, sobretudo na terapia familiar.

Modelo Cognitivo-comportamental

" O que perturba o ser humano não são os fatos, mas a interpretação que ele faz dos fatos" Epitectus - Século I

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Esta perspectiva teve origem nos trabalhos de Aaron Beck e Albert Ellis. Sugere que as nossas crenças e atribuições desempenham um importante papel no comportamento. Esta abordagem é historicamente baseada nos princípios da aprendizagem e da psicologia experimental. Centra-se no comportamento observável e não observável.

Pensamentos

adquiridos

através

da

aprendizagem

e

do

condicionamento no ambiente social. As terapias cognitivo-comportamentais compartilham alguns pressupostos básicos, ainda que existam diferentes abordagens conceituais e estratégicas para os diversos transtornos. Há algumas características essenciais no núcleo das terapias cognitivo-comportamentais (Dobson, 2001):

1- A atividade cognitiva influencia o comportamento; 2- A atividade cognitiva pode ser monitorada e alterada; 3- O comportamento desejado pode ser influenciado mediante a mudança cognitiva. Esta terapia baseia-se na premissa que uma inter-relação entre cognição, emoção e comportamento é parte integrante do funcionamento psicológico normal. Um acontecimento de vida pode acarretar inúmeras formas de agir, sentir e pensar, mas não é o evento em si que gera as emoções e comportamentos, é o que nós pensamos e interpretamos sobre esse evento. Outra premissa é que as distorções cognitivas são muito freqüentes em diferentes transtornos. Ao contrário do que acontece com o modelo psicanalista, o material trazido à consulta não é interpretado pelo terapeuta, mas elaborado conjuntamente com o cliente, com o objetivo de identificar, examinar e corrigir as distorções do pensamento que causam sofrimento emocional ao indivíduo. AN02FREV001/REV 4.0

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Albert Ellis centrou-se nas crenças irracionais para lidar com pensamentos e comportamentos problemáticos. Pensamentos como "toda a gente deve me apreciar", "ninguém vai amar alguém tão feio como eu" vão inevitavelmente conduzir à decepção. Aaron Beck desenvolveu a terapia cognitiva para tratar a depressão e outros problemas. Beck considera que durante o desenvolvimento, as pessoas formulam regras sobre o funcionamento do mundo, tendendo serem simplistas, inflexíveis e freqüentemente baseadas concepções errôneas. As abordagens cognitivistas podem-se distinguir em duas tradições: - Cognitivismo Substantivo Racionalista:

centra-se no conteúdo,

pensamento interno, mecanicista. (Ellis, Beck, Meichenbaum, D´Zurilla, etc.) - Cognitivismo Construtivista Desenvolvimental: O Construtivismo prega que o conhecimento e a experiência humana implicam em uma proação ativa do sujeito, a importância das emoções e os problemas psicológicos refletem diferenças entre as exigências do ambiente e a capacidade adaptativa do cliente.

Abordagem Humanista Esta abordagem tem as suas origens na filosofia Européia e no trabalho psicoterapêutico de Victor Frankl, Carl Rogers, Abraham Maslow, Rollo May, Fritz Perls e outros. Rejeitando as premissas básicas das teorias psicodinâmicas e comportamentalista, os humanistas assumem uma abordagem fenomenológica que enfatiza a percepção individual e a experiência. Tende a ver as pessoas como ativas, pensadoras, criativas e orientadas para o crescimento. Consideram que as pessoas são basicamente bem intencionadas e que naturalmente lutam pelo crescimento, amor, criatividade e auto-atualização. Em vez de se centrar na influência do passado, os humanistas focam-se no "aqui e agora" ou presente.

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Exemplos de Conceitos e Técnicas Humanistas Empatia - capacidade de ver o mundo a partir da perspectiva da outra pessoa. Transmite a sensação de ser ouvido e compreendido. Aceitação incondicional- aceitar totalmente os sentimentos e pensamentos do cliente. Auto-atualização - As pessoas tendem a procurar o crescimento e a atingir o seu máximo potencial. Congruência- O terapeuta manifesta sentimentos autênticos durante a consulta. É uma harmonia entre os sentimentos e as ações. A terapia centrada no cliente é a perspectiva de Carl Rogers e é um dos exemplos mais clássicos da abordagem humanista. Usa técnicas não diretivas (indutoras) como a escuta ativa, empatia, congruência e aceitação incondicional. A empatia sincera é necessária para as pessoas se sentirem aceitas e compreendidas e para permitir o crescimento.

Abordagem Comportamentalista O expoente moderno mais importante do behaviorismo foi Skinner (19041990), que considerava que o único objeto da psicologia era o comportamento manifesto (observável). Nesta abordagem, pretende-se manipular e controlar o comportamento através do reforço (quando as pessoas têm o comportamento desejado, aumentando a hipótese da sua ocorrência) e através de castigos (quando as pessoas se comportam de maneira indesejável). A aprendizagem pode fazer-se por condicionamento clássico, em um estímulo, até aí neutro, é associado com dado motivacionalmente significativo e surge uma resposta.

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Ex: Condicionamento Clássico de Pavlov: Pavlov reparou que os cães salivavam muitas vezes sem razão fisiológica aparente, para que tal acontecesse. O cão aprende uma associação entre o alimento e um sinal casual que precedia o alimento. Pavlov verificou que ao tocar a campainha antes de dar comida ao cão, este começava a salivar quando ouvia a campainha, após alguns ensaios de associação entre campainha e comida- o que originava o reflexo condicionado. Uma campainha começava a tocar e passado algum tempo, com a campainha ainda a tocar, era fornecido ao animal comida. A seqüência campainha comida foi repetida uma série de vezes. Aos poucos, a quantidade de saliva produzida começou a aumentar logo após a campainha tocar. O cão salivava ao ouvir a campainha, o que não sucedia no início da experiência. A associação repetida entre o som da campainha (estímulo neutro) e a carne transformaram

o

estímulo

inicialmente

neutro

(campainha)

num

estímulo

condicionado que agora provocava a salivação sob a forma de um reflexo condicionado.

No condicionamento operante, há um aumento da probabilidade de resposta num determinado meio ambiente devido ao reforço da resposta. Ex: rato que carrega numa alavanca para obter uma recompensa de comida. Vários autores duvidaram da capacidade deste "behaviorismo radical" para explicar a complexidade do comportamento humano. As grandes diferenças de personalidade indicam que não é só importante o que as pessoas fazem, mas também o que pensam e esperam (expectativas). Isto levou a uma evolução do comportamentalismo, aceitando conceitos como expectativa e crença. Estes são os teóricos da aprendizagem social, como Albert Bandura e Walter Mischel. Defendem que muitas das diferenças individuais entre os indivíduos são basicamente cognitivas: são os modos diferentes de interpretar o mundo, de AN02FREV001/REV 4.0

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pensar e agir sobre ele. Assim, os comportamentos podem ser aprendidos e desenvolvidos pela observação do comportamento dos outros, em vez de ter de realizar esse comportamento ou ser reforçado para um determinado comportamento. Esta

abordagem

também

valoriza

o

papel

das

expectativas

no

desenvolvimento do comportamento. Por exemplo, alguém pode dedicar muito tempo e dinheiro para obter uma licenciatura, porque espera que essa qualificação vá originar uma carreira e vida satisfatória.

Abordagem Psicodinâmica

Foi fundada com o trabalho de Sigmund Freud. Muitos neofreudianos e outros revisionistas fizeram uma grande adaptação, desenvolvimento e mudança na abordagem básica de Freud. Esta abordagem ainda mantém certas concepções sobre o comportamento humano e problemas psicológicos. Defende que o comportamento humano é influenciado por desejos intrapsíquicos, motivações, conflitos e impulsos. Os mecanismos de defesa do ego (adaptativos ou não) são utilizados para lidar com conflitos, desejos, necessidades e fantasias não resolvidas, que contribuem para o comportamento normal ou anormal. As experiências precoces na infância desempenham um papel fundamental no desenvolvimento psicológico e no comportamento adulto. A compreensão destas influências inconscientes e a sua discussão e integração nas experiências quotidianas ajudam a melhorar o funcionamento psicológico. A relação de transferência que se desenvolve entre o cliente e o terapeuta também ajuda a melhorar o funcionamento psicológico. Freud desenvolveu uma compreensão do comportamento humano baseado em três estruturas mentais, que normalmente estão em conflito:

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- o Id, inato, funciona segundo o princípio do prazer e representa todos os desejos e necessidades mais primitivas. O Id não conhece juízos de valor, moral, ou o bem ou o mal. O Id procura a satisfação imediata sem considerar as circunstâncias da vida real. A nossa energia psíquica básica (libido) está contida no Id e exprime-se através da redução da tensão. Contudo, para a satisfação das necessidades é preciso interagir com o mundo real. O ego, que é mediador entre o id e o mundo exterior, ajuda nesta interação. - O ego, que funciona segundo o princípio da realidade, mantém em suspenso as exigências para o prazer que provêm do id, até que se encontre um objeto apropriado para satisfazer a necessidade e reduzir a tensão. Desenvolve-se cerca do primeiro ano de idade e representa os aspectos racionais e razoáveis da nossa personalidade, ajudando-nos a adaptar a um mundo desafiante. - O superego, que se desenvolve cerca dos cinco anos de idade, quando são assimiladas as regras de comportamento ensinadas pelos pais, através de um sistema de recompensas e castigos. Representa a internalização de normas e regras sociais, culturais e familiares. O superego inclui o ego ideal (a imagem perfeita do que somos e do que podemos ser) e a nossa consciência (as regras de bons e maus pensamentos e comportamento). Irá haver um conflito inevitável entre id, ego e superego para lidar com a ansiedade e desconforto e a necessidade de utilizar mecanismos de defesa do ego. O ego está numa posição difícil, pois têm de lidar com forças opostas. Os mecanismos de defesa são estratégias desenvolvidas pelo ego para proteger o indivíduo destes conflitos internos e em geral, inconscientes. Eles ajudam a lidar adaptativamente ou não, com a inevitável ansiedade de ser humano. Há uma variedade de mecanismos de defesa, como a repressão (manter pensamentos, desejos, sentimentos e conflitos desagradáveis fora da consciência).

Negação

(negar

que

existem

pensamentos

ou

sentimentos

problemáticos), sublimação (substituição de uma meta que não pode ser satisfeita por outra socialmente aceitável), projeção ( a origem da ansiedade é atribuída à outra pessoa).

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Freud também definiu vários estádios psicossexuais do desenvolvimento da personalidade. No decorrer destes estádios, as crianças são auto-eróticas ao obter prazer erótico quando estimulam as zonas erógenas do corpo. Cada estádio tende a estar localizado numa determinada zona erógena. Estes incluem as fases: oral, anal, fálica, latente e genital. - O Estádio oral vai desde o nascimento até ao segundo ano de vida. A estimulação da boca (sugar, morder, etc.) é a fonte de satisfação erótica. - No estádio anal, a satisfação vai da boca para o ânus e as crianças têm prazer na zona anal. Nesta fase treinam a higiene pessoal e as crianças podem reter ou expelir fezes. - No estádio fálico, por volta do quarto ano de idade, a satisfação erótica passa para zona genital, havendo manipulação e exibição dos órgãos genitais. Neste estádio há o desenvolvimento do Complexo de Édipo, em que o rapaz desenvolve um desejo incestuoso e de morte, desejando unir-se à mãe e eliminar o pai. Os medos de retaliação e de castração resultam na repressão destes impulsos e na identificação com o pai. O objetivo desta abordagem é o insight-compreensão de fatores inconscientes que levam a comportamentos e sentimentos problemáticos, através de uma análise aprofundada e cuidadosa do papel de desejos, impulsos e conflitos inconscientes na vida diária. Técnicas como a associação livre (dizer tudo o que nos passa pela cabeça), a análise dos sonhos e a interpretação são usadas para compreender e tratar vários problemas.

3.

EQUIPE MULTIPROFISSIONAL

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O trabalho em equipe multidisciplinar consiste numa forma especial de organização, que visa, principalmente, a ajuda mútua entre profissionais de uma mesma área, no caso da Psicologia, a área de saúde. O trabalho em Equipe deve ser descrito como um conjunto ou grupo de pessoas que se dedicam a realizar uma tarefa ou um determinado trabalho, visando um objetivo comum, neste caso é a pessoa atendida. A grande maioria dos transtornos psicológicos requer o auxílio de um médico psiquiatra, um neurologista, um nutricionista, assistente social, fonoaudiólogo ou profissional de Educação Física. Percebe-se, neste caso, que um bom profissional jamais deve ficar restrito à sua área de atuação, mas estudar sobre tudo aquilo que poderá beneficiar o paciente. Muitas vezes, por exemplo, a ajuda de um profissional do Direito é imprescindível. São muitas as crianças abusadas sexualmente que chegam ao consultório de Psicologia; também são bastante comuns casos de mulheres violentadas e espancadas por seus companheiros.

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Valorizando cada indivíduo e permitindo que todos façam parte de uma mesma ação, seja no campo escolar, profissional ou, até mesmo, em atividades cotidianas. O Trabalho em Equipe, além de possibilitar a troca de conhecimento é determinante nas relações humanas, pois motiva o grupo a buscar de forma coesa os objetivos traçados. Os estudos de caso devem fazer parte da rotina de consultórios e policlínicas de Saúde. Também uma boa supervisão e psicoterapia pessoal são suportes valiosos na rotina de um bom profissional de Psicologia. É preciso ficar claro que não há profissão melhor ou pior que a outra. O que deve existir é a consciência de que, em se tratando de seres humanos, nenhum tipo de conhecimento é demais. Todo conhecimento é válido e jamais se conhece sobre tudo. O trabalho em equipe é necessário e fundamental. Na visão do psicólogo Abraham Maslow (1908-1970), considerado por muitos como o profissional que deu início à Psicologia Transpessoal (área da psicologia que estuda a consciência nos seus diferentes níveis e a sua relação com os aspectos evolutivos do ser). O trabalho em equipe possibilita dar e receber, por parte de cada um de seus membros, afeição, aceitação e sentimento de importância. Para Maslow, "isto faz com que o indivíduo cresça, tornando o trabalho determinante, pois o objetivo a ser alcançado depende, exclusivamente, da satisfação psicológica do indivíduo bem como das relações humanas". A necessidade de desenvolvimento do trabalho em equipe passa por diversos fatores de importância para a evolução profissional, como a definição de prioridades, o ajuste de metas, otimismo e o “estar aberto” a mudanças. Todas estas qualidades, quando são acrescidas ao ser individual (si próprio), pode significar o sucesso nas relações pessoais, o que forma um círculo virtuoso, propiciando assim as tarefas conjuntas. É importante perceber que, quando se fala em trabalhar em equipe, fala-se em maior volume de atividades, mais e maior responsabilidade, comprometimento, flexibilidade, colaboração e esforço pessoal, detalhes que acabam sendo descobertos a cada novo dia de trabalho. Entretanto, como benefício, um grupo AN02FREV001/REV 4.0

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coeso aflora muitas características até então passadas desapercebidas no individual, como a criatividade, a participação, visão de futuro, questionamento de posições e colocações e senso crítico. Segundo a Psicóloga Solange B. R. Cremasco, a motivação é um fator substancial que deve estar ligado ao trabalho em equipe. De acordo com ela, esse atributo individual do ser humano representa o comprometimento e a "chave para o sucesso que está ao alcance de todos". "Quanto maior for o grau de responsabilidade, quanto maior for o universo de aprendizado e as perspectivas de evolução, muito mais eles (os profissionais) se envolvem com as atividades que lhes são atribuídas e, conseqüentemente, a motivação sempre se encontrará no topo", conclui. Trabalhar em equipe significa compartilhar uma direção comum. Além disso, atividades desenvolvidas em conjunto encorajam o grupo, o que aumenta o desempenho na hora de realizar atividades, transmitindo autoconfiança, habilidade e união, características primordiais para o sucesso. Isso também vale para os profissionais de saúde, incluindo aí os profissionais de Psicologia. 4.

PRESENTE E FUTURO DA PSICOLOGIA CLÍNICA

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A psicoterapia é um valioso recurso para lidar com as dificuldades da existência em todas as formas que o sofrimento humano pode assumir como transtornos psicopatológicos, crises pessoais, crises de relacionamentos, conflitos conjugais e familiares, distúrbios psicossomáticos, dificuldades nas transições da vida, crises profissionais, etc. A psicoterapia é também um espaço favorável ao crescimento pessoal, um lugar, tempo, modo privilegiado de criar intimidade consigo mesmo, de estabelecer diálogos construtivos, abrir novos canais de comunicação, de transformar padrões estereotipados de funcionamento, restabelecendo o processo formativo e criativo de cada um. A Psicoterapia oferece uma oportunidade de compreender e mudar os padrões de vínculo e relação interpessoal. Os problemas vinculares são fonte de incontáveis sofrimentos e doenças. A psicoterapia ocupa hoje um lugar fundamental na área da saúde, por trazer uma visão integrada do homem, considerando as dimensões orgânicas, psíquicas e sociais conjuntamente participantes na produção da existência humana e de seus problemas. Em alguns casos, a Psicoterapia cumpre também uma função de educação para a vida. Esta é uma área pouco considerada em nossa cultura, porém evidente quando as pessoas se vêem inaptas para lidar com situações como crises conjugais, desemprego ou envelhecimento, por exemplo. A psicoterapia é um espaço especial de atenção às dificuldades da vida e aos caminhos internos para solucioná-los. Seus resultados demonstram uma grande potência de transformação de vidas. Todos os últimos avanços na área da Psicologia e Psicoterapia têm permitido alcançar resultados cada vez maiores e mais significativos.

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OS PRAZOS VARIAM COM OS OBJETIVOS

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No geral, os prazos de tratamento são relativos aos objetivos almejados. Há vários desenvolvimentos recentes em psicoterapias breves, que são focadas em objetivos mais específicos. Atualmente é possível atingir resultados significativos em períodos de 3 meses a 12 meses e há muitos processos terapêuticos profundos que se encerram satisfatoriamente em prazos inferiores há 3 anos. Muitas pessoas obtêm resultados significativos no início do tratamento, compensando os investimentos realizados. Há casos que demandam um trabalho terapêutico mais demorado, geralmente com problemática psicopatológica mais severa, envolvendo traumas precoces, desorganização psicológica, problemas vinculares sérios, etc. Estes trabalhos podem demandar anos de trabalho árduo, compensados por ajudas significativas que o trabalho psicológico pode trazer. Algumas pessoas encontram na terapia um lugar fundamental de acompanhamento de seu processo de vida, onde são trabalhadas transformações mais profundas ao longo de vários anos. São situações em que o processo terapêutico não tem um prazo definido e segue em comum acordo entre o psicoterapeuta e o cliente.

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Apesar de poder parecer, à primeira vista, um tratamento oneroso em termos de tempo e dinheiro, a psicoterapia tem se mostrado, na realidade, um modo econômico de tratamento. Pesquisas indicam, por exemplo, que a psicoterapia diminui os índices de consumo de medicamentos e de internações hospitalares. A psicoterapia

tem

se

mostrado

também

um

tratamento

economicamente

compensador por prevenir e tratar problemas psicológicos que, quando não tratados adequadamente, trazem enormes prejuízos econômicos para as pessoas e para o país.

AS VÁRIAS APLICAÇÕES DA PSICOTERAPIA

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Vários estados de sofrimento, crises, transtornos e doenças têm encontrado uma solução e melhora apenas com o auxílio da psicoterapia.

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Não é possível hoje se falar em doenças sem uma consideração pela dimensão psicológica e emocional. Cada vez está mais evidente a natureza psicossomática de todas as experiências humanas. A saúde psicológica é précondição e parte integrante da saúde global. Cada ser psicossomático vive uma história de interações, encontros e acontecimentos em que as doenças (orgânicas ou mentais) resultam também dos desequilíbrios existenciais e de soluções inadequadas de vida. A psicoterapia é um processo que permite transformações profundas da personalidade, com resultados evidentes em diversas situações como: •

Tratamento de vários transtornos como pânico, fobias, depressão,

anorexia, bulimia, frigidez, impotência, etc. •

Resolução de conflitos pessoais, interpessoais, conjugais, familiares,

profissionais etc. •

Crises existenciais, transições difíceis (luto, crises profissionais, etc.) e

mudanças de fases de vida (puberdade, adolescência, vida adulta, menopausa, envelhecimento, etc.) •

Aprendizado do autogerenciamento da capacidade de lidar com o

estresse, dialogando com os estados afetivos internos e os efeitos dos desafios e problemas da vida. •

Descoberta de novos modos de conduzir a própria vida.



Aquisição

de

autoconhecimento,

autonomia

e

amadurecimento

pessoal.

OS TIPOS DE PSICOTERAPIA

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Há alguns tipos de psicoterapia, conforme as necessidades e a configuração dos problemas.

Os principais tipos são: •

Psicoterapia Individual para crianças, adolescentes, adultos e idosos.



Psicoterapia de Grupo



Psicoterapia de Casal



Psicoterapia de Família



Atendimento Emergencial

O PROCESSO TERAPÊUTICO MAIS PROFUNDO

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O processo terapêutico é como atravessar um túnel. Neste túnel você vai rever muitas cenas da história da sua vida de um ângulo completamente novo, fazendo conexões inusitadas entre os eventos e percebendo a potência do passado para moldar quem você é hoje. Na travessia deste túnel você vai aprender a reconhecer os seus padrões de comportamento, que levam você a se comportar de modo parecido em situações diferentes, inclusive repetindo os mesmos erros. Você vai aprender a reconhecer o "como," do seu comportamento, como você age, como se relaciona, como pensa, sente e vai aprender caminhos para poder influenciar e transformar estes padrões. Esta é uma travessia acompanhada de alguém que pode ajudar você a se compreender. Alguém que pode te ajudar a transformar o seu jeito de ser, a mudar e a se conhecer profundamente. Esta travessia pode mudar completamente a sua vida.

O VÍNCULO NA PSICOTERAPIA

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http://www.centrinho.usp.br

A base de uma boa terapia está na relação terapêutica. A boa terapia se desenrola num enquadre clínico (ambiente pré-definido) com um clima terapêutico favorável. Aí está um dos segredos desta arte: criar um ambiente que permita a revelação dos mundos internos e favoreça o desenvolvimento do processo singular de cada um. Neste clima é possível que o ser mais oculto e amedrontado se mostre, seja ouvido, transforme-se, que o processo formativo possa prosseguir formando vida. O ser humano nasce, cresce e vive em ambientes vinculares. Destes ambientes emocionais depende seu bem-estar e suas realizações na vida. Os problemas vinculares - da primeira infância à terceira idade - afetam profundamente a capacidade que as pessoas têm de amar, trabalhar e viver. A psicoterapia é um espaço para se esclarecer e transformar estas dificuldades vinculares. E este processo ocorre através de uma relação saudável com um profissional eticamente comprometido e tecnicamente qualificado.

POR QUE A PSICOTERAPIA FUNCIONA?

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É comum a desconfiança nos processos terapêuticos. Pela própria história da Ciência, exigindo uma quantificação, para que se legitime, fica mais difícil acreditar em um saber profissional que lide com a subjetividade. No entanto, as pesquisas, de caráter científico ou não, têm demonstrado uma grande eficácia da psicoterapia. Mesmo as recentes tecnologias de mapeamento cerebral têm permitido demonstrar como o tratamento psicológico age, transformando o funcionamento cerebral. A eficácia que vinha se demonstrando há muitos anos têm sido corroborados recentemente pelos novos conhecimentos das neurociências. Pela complexidade do tema existem centenas de livros e pesquisas explorando e explicando porque a psicoterapia funciona. Mesmo assim, como simples exercício de compreensão, vamos listar alguns motivos para explicar a efetividade da psicoterapia, dos mais simples aos mais complexos. No início da lista, como num continuum, temos aqueles motivos que são comuns a outras relações de ajuda, mesmo não profissionais, como uma conversa íntima com um amigo, uma conversa sobre um problema pessoal com um professor, um médico, etc. Avançando na lista vamos chegando aos motivos que são mais comuns na psicoterapia até aqueles que são exclusivos da psicoterapia - possíveis pelo cuidadoso treinamento teórico e técnico adquirido pelo psicólogo em sua trajetória de formação profissional. Eis o continuum com alguns motivos pelos quais a psicoterapia funciona:

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1 É fundamental ter alguém em quem confiar e com quem se possa dividir o peso do problema que se vivencia. Compartilhar auxilia sobremaneira a aliviar a carga emocional e conseqüentemente se sofre menos. Além disso, terá ao lado um profissional capaz de escutar e de guardar sigilo, além de não alimentar preconceitos e cobranças muitas vezes moralistas; 2 Provavelmente formarão um vínculo afetivo e o próprio vínculo tem um poder de cura. É mais fácil superar muitas dores através de uma relação autêntica de respeito mútuo do que sozinho. A relação terapêutica é uma relação de ajuda, de compreensão e apoio. 3 A psicoterapia é um ponto obrigatório para se parar e pensar na própria vida. Ao parar para um momento de reflexão, são revistos valores e projetos futuros. Parar, observar e refletir permite muitas mudanças de orientação, sentido, rumo e aprofundamento da experiência de vida. A vida não consiste apenas em produzir, mas em ser feliz. Este deve ser o verdadeiro sentido da vida. 4 O psicólogo clínico (psicoterapeuta) é outro, com o olhar e a perspectiva de um outro, o que lhe ajudará ver a sua vida de um modo diferente, lhe fazer perguntas diferentes, ajudá-lo a perceber as coisas de um ângulo que você não tinha visto antes e nem suspeitava ser possível. 5

O

psicoterapeuta

conhece

teorias

psicológicas

que

ajudam

na

compreensão do que ocorre com o ser humano, auxiliam na identificação do que pode estar errado em sua vida, a direção na qual você está seguindo e as mudanças de rumo necessárias. A partir de seu conhecimento o psicólogo pode apontar - O que olhar? Como olhar? O que fazer com o que se descobre? Para que estas descobertas possam ser construtivas em sua vida. 6 O psicoterapeuta conhece métodos de investigação que tornam possível descobrir aspectos da sua personalidade que seriam inacessíveis a uma observação não treinada. Há um amplo repertório de técnicas de investigação da personalidade que permitem esclarecer problemas de modo extremamente eficaz.

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7 O psicoterapeuta domina técnicas terapêuticas que permitem realizar mudanças profundas na existência. 8 O psicoterapeuta está preparado para compreender você a partir do vínculo que você estabelece com ele, das respostas emocionais que você suscita nele. Em seu treinamento ele afinou a si mesmo como instrumento de trabalho para reconhecer pequenas nuances do que você mostra na relação com ele (e conseqüentemente com os outros) e assim poder compreender seus modos de vinculação e suas dificuldades em relacionamentos. 9 O psicoterapeuta é capaz de oferecer uma presença autêntica no vínculo com você. Esta relação funciona como catalisador de processos de mudança necessários em sua vida, incluindo a superação dos efeitos de traumas de relacionamentos anteriores. 10 O psicoterapeuta passou por todos estes passos anteriores, tendo estado em todos os papéis, como cliente, como profissional e como observador. O que o habilita a "sentir-se em casa" em situações difíceis e poder caminhar por terrenos inóspitos, cheios de sofrimento e problemas emocionais e saber o melhor caminho a seguir. Certamente esta lista poderia ser estendida, mas o que se pretende é apenas oferecer uma idéia do trabalho da Psicologia Clínica numa linguagem diferente daquela do universo teórico, técnico e científico habitual na Psicologia.

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5.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Quero parabenizá-lo por ter chegado até aqui, ao final do curso. Você conheceu as linhas básicas da Psicologia científica e de como ela funciona, de forma mais específica sobre a Psicologia Clínica. Em muitos momentos, o trabalho deste profissional em muito se assemelha ao trabalho do psiquiatra e atualmente do filósofo clínico e não raro o psicólogo é AN02FREV001/REV 4.0

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convidado a integrar uma equipe. Com competência, atualização constante, uma paixão incomensurável pelo ser humano, capacidade mais para calar, do que para falar. Para observar, analisar, interpretar e muita humildade são pré-requisitos para quem quer atuar nesta área.

Necessita-se de muita disposição para trabalhar, sem horários fixos e disposição para dedicar-se, horas a fio, a analisar casos, avaliar testes, redefinir linhas de ação... Por fim, para quem se apaixonou pelo que leu. Aconselho que procure uma boa faculdade de Psicologia, que disponibilize do Curso de Formação (Única modalidade que dá direito a clinicar) e faça a graduação, ponto de partida da carreira profissional. Lembre-se: O psicólogo está em constante formação e deve se comportar como estudante sempre, jamais como dono de um saber acabado, pronto. De certeza, apenas uma: A Psicologia é a profissão mais complexa, mais difícil e mais fascinante que existe! Ame-a ou deixe-a! Sucesso a todos!

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GLOSSÁRIO ANAMNESE: do Gr. anámnesis, lembranças. f., Ret., Recordação do que se finge esquecido; reminiscência; recordação. Na área de saúde, trata-se de um levantamento do histórico do paciente, direcionado e de acordo com os objetivos traçados pelo profissional. Faz parte do levantamento diagnóstico. CONTRATRANSFERÊNCIA: Reações inconscientes e não racionais do psicoterapeuta, em relação às atuações transferenciais do paciente. NOSOGRAFIA: do Gr. nósos, moléstia + graph, r. de gráphein, descrever. s. f.,

descrição

ou

classificação

metódica

das

doenças,

segundo

as

suas

características. OBJETAL: Referente a “objeto”, alvo de vínculo afetivo. PSICODIAGNÓSTICO: Fase anterior à psicoterapia, propriamente dita, na qual são investigadas as queixas do paciente, analisando-as a fundo, ao tempo em que se verifica se há algum tipo de transtorno mental ou psicológico. Corresponde às dez primeiras sessões, em média, a depender dos objetivos do caso. ROLLYPLAYS: Refere-se ao momento sensível ou tempo sensível. SETTING: Diz-se do momento da sessão e dos papéis ali representados. Refere-se ao momento atemporal e não ao tempo cronometrado. Para tempo de relógio (De 45min à 1h), local, forma, pagamento, contrato de acompanhamento psicológico, denomina-se “enquadre”. São os acordos feitos normalmente na primeira consulta. TESTAGEM: Termo utilizado em qualquer tipo de pesquisa de saúde que envolva experimentos com grupos-teste e grupo-controle. TRANSFERÊNCIA: Atuações inconscientes durante a sessão psicológica. É quando ele “representa um papel”.

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PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação

CURSO DE

TERAPIA COGNITIVOCOMPORTAMENTAL

Aluno: AN02FREV001/ REV 3.0

125

EaD - Educação a Distância Portal Educação

CURSO DE

TERAPIA COGNITIVOCOMPORTAMENTAL

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.

AN02FREV001/ REV 3.0

126

3.13 Relação Terapêutica

A relação terapêutica é à base de uma boa terapia, pois a boa terapia se desenrola num enquadre clínico com um vínculo que favoreça esse processo, com essa junção de extrema relevância para o processo fluir de forma harmoniosa entre terapeuta e cliente. Quando há uma boa relação terapêutica, cria-se um ambiente que permita a revelação do interior desse sujeito e favorece assim o desenvolvimento do processo singular de cada um, assim o que está mais oculto se mostra, permitindo que o processo aconteça. Uma sólida relação terapêutica é a condição necessária para uma TCC efetiva. Algumas questões ou atributos como empatia, interesse genuíno, calor humano, autenticidade, devem estar presentes em todo terapeuta cognitivo. E essa relação que se estabelecerá será vista como um esforço colaborativo entre terapeuta e paciente. Juntos, terapeuta e cliente estabelecem os objetivos da terapia e cada sessão, prazo e duração do contrato terapêutico, os sintomas-alvo, as tarefas, etc., ficando clara a participação ativa do paciente em seu processo de mudança.



Função da Relação Terapêutica

Muitos autores concordam em dizer que a terapia tem como função básica, promover mudanças comportamentais que visam diminuir o sofrimento do paciente e aumentar as contingências reforçadoras, e isso, pode acontecer de duas maneiras: 

Por intermédio do uso de alguns procedimentos, técnicas, instruções,



Mediante a relação estabelecida entre terapeuta e cliente, que como já

etc.;

vimos é muito importante. AN02FREV001/ REV 3.0

127

Segundo Skinner (1953), a terapia tem como função primordial reduzir os efeitos gerados por punição. Kohlenberg e Tsai (1987) e Rosenfarb (1992), completaram as suposições de Skinner afirmando que um cliente também pode buscar ajuda porque suas relações interpessoais apresentam-se insatisfatórias e as fontes de reforço não são suficientes. Pode-se conceituar relação terapêutica como uma oportunidade para que o cliente emita comportamentos que lhe têm trazido problemas e a partir da interação com o terapeuta, aprender formas mais efetivas de respostas. Lettner (1998) aponta que o sucesso da terapia está diretamente ligado à qualidade da relação terapêutica, negligências nessa relação podem levar ao fracasso do tratamento. Outro fator importante é a percepção do cliente sobre essa relação, em que sendo vista de forma positiva está relacionada à efetividade do tratamento. Um resultado terapêutico satisfatório origina-se em parte, de características pessoais do terapeuta, de acordo com Lettner (1998) e Casullo (1999): 

Postura empática;



Compreensão;



Aceitação desprovida de julgamentos;



Autenticidade;



Autoconfiança;



Flexibilidade na aplicação das técnicas;



Terapeutas avaliados como calorosos, amigáveis, comprometidos,

tolerantes e interessados são aqueles que têm maior sucesso nos resultados do tratamento;

Pesquisas mostram alguns comportamentos considerados relevantes no tratamento: 

Altas taxas de comportamentos gestuais do terapeuta;

AN02FREV001/ REV 3.0

128



Grande número de verbalizações do terapeuta e do cliente referentes a

eventos privados; 

Elementos advindos da história de vida do terapeuta;



Opção sexual entre terapeuta e cliente;



Questões socioeconômicas;



Postura diretiva por parte do terapeuta acarreta resistência;



Terapeutas experientes são mais bem avaliados pelos clientes do que

iniciantes.

Citaremos agora algumas habilidades terapêuticas que merecem especial atenção durante um processo terapêutico: 

Habilidades Empáticas;



Habilidades Verbais;



Habilidades Não verbais;

Agora veremos algumas habilidades de observação, que devem ser consideradas durante a sessão terapêutica, pois trarão muitas respostas as perguntas do terapeuta: 

Habilidades dos Sentidos

o

VISÃO: Olhar Clínico – Observação;

o

AUDIÇÃO: Escuta-Ativa;

o

TATO: Cinesiologia (Hipercinesia e Hipotensão);

o

FALA: Consecução de fatos, Repetições, Erros, Parafraseamento, etc.



Instrumentos de avaliação da relação terapêutica

Há dois principais conjuntos de instrumentos de avaliação da relação terapêutica: 

1º conjunto:

AN02FREV001/ REV 3.0

129

Vários tipos de questionários, escalas e listas de avaliação respondida, ora por clientes, ora por terapeutas, ora por ambos; 

2º conjunto:

Baseia-se na observação das sessões de terapia, incluindo observações de videotipes. A pesquisa clínica ocorre com frequência em ambiente experimentalmente não controlado e deve ser feita de modo a não interferir na interação terapeuta cliente, o pesquisador é o terapeuta, e a observação ocorre de forma menos neutra, já que o próprio terapeuta contribui continuamente para ela. Três tipos de perguntas de pesquisas podem ser formuladas com relação ao processo terapêutico: 

Um tipo de questão geral:

Este tipo de questão permite a elaboração de dados por manipulação experimental; 

Dada certa consequência, de que operações e sob quais condições

podem levar à determinada consequência? 

Dada uma condição ou problema, que operação pode levar a

determinada consequência?

Assim segundo Lettner (1998) e Casullo (1999), foram elaboradas algumas recomendações de pesquisas necessárias de como: 

Elucidar fatores comuns e únicos entre as várias escolas de terapia;



Esclarecer os diferentes tipos de alianças;



Determinar se o estilo de personalidade ou o nível do sofrimento

afetam o papel que a aliança pode representar na mediação de mudanças positivas em terapia, entre outras.

As

características

que

mais

fortemente

discriminam

a

avaliação

comportamental da não comportamental que as classificaram quanto aos seus objetivos, focos, metas, estratégias, inferências, suposições sobre causalidade e propriedades dos comportamentos-problemas são variáveis observáveis em oposição a variáveis ou eventos intrapsíquicos da avaliação não comportamental e,

AN02FREV001/ REV 3.0

130

também, a busca de relações funcionais envolvendo variáveis de estímulos e de respostas, quando se referiam ao foco das avaliações. Outro fator importante é a escolha do instrumento, que também deve seguir critérios que sejam compatíveis ao referencial teórico da abordagem, não havendo como um terapeuta cuja abordagem é comportamental ou cognitiva utilizar um instrumento cuja fundamentação teórica encontra-se respaldada na teoria tradicional de personalidade. A avaliação é utilizada pela maior parte dos profissionais com a finalidade de diagnóstico e ao final de cada intervenção servindo de base para avaliação da prática do profissional. Assim

segundo

Matos

(1999)

é

característico

do

psicólogo

comportamental/cognitivo, visto que não fecha o diagnóstico inicialmente, rever a cada intervenção os objetivos e as hipóteses de avaliação, sendo novamente avaliados para uma intervenção futura. Alguns instrumentos como as entrevistas são as estratégias/instrumentos utilizadas com maior frequência na avaliação. Desse modo, pode-se supor que tais profissionais deveriam seguir o que preconizam

os

pressupostos

da

avaliação

cognitivo-comportamental,

são

características acentuadamente divergentes em relação à avaliação tradicional. A ênfase estaria no estabelecimento de relações funcionais ao invés de causais, nas quais o comportamento-problema seria entendido com base nos princípios da aprendizagem social e da análise experimental do comportamento, e não na teoria tradicional da personalidade.



Checklist de habilidades terapêuticas

Veremos agora algumas habilidades terapêuticas que o profissional deve ter, segundo Rangé (2001). O terapeuta deve se questionar se realmente está alcançando o que se propõe um terapeuta dessa linha e checar suas habilidades terapêuticas:

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131



O terapeuta preparou uma agenda para sessão? O terapeuta cognitivo

deve se antecipar e planejar a sessão para que não se perca; 

Os itens eram específicos e orientados para o problema?



Foram estabelecidas prioridades? Geralmente escolhe-se ou inicia-se

trabalhando os problemas menos graves. 

A agenda foi adequada ao tempo?



O terapeuta cobriu a maioria dos itens da agenda?



O terapeuta foi flexível para incluir temas relevantes que apareceram

na sessão? Deve-se ter bastante atenção para não perder o foco do problema e ter cuidado se o paciente traz sempre um problema novo. 

Soube limitar temas não pertinentes? (eram mesmo não pertinentes?).

Deve-se ter bastante atenção com o teor emocional, cognitivo que o paciente nos traz, escutar bem, perguntar, questionar e podar o que não é necessário; 

Identificou os problemas específicos e centrais a serem enfocados?

Observar sempre os problemas gerais e centrais, atentando-se ao que está atrapalhando o cliente nesse momento; 

Estes problemas eram apropriados para serem tratados nesse

momento? Deve-se escolher o problema mais emergencial nesse momento para o paciente. 

Concentrou-se em apenas um ou dois (sem ficar pulando entre vários)?

Deve-se focar o problema que vai ser trabalhado. 

Soube fazer perguntas abertas para obter dados relevantes? Deve-se

ter cuidado para não induzir o paciente por meio das perguntas. AN02FREV001/ REV 3.0

132



O terapeuta fez resumos periódicos para verificar sua compreensão e

sintonia? Deve-se sempre fazer resumos quando tiver histórias confusas, com muitas pessoas, para verificar se o que estamos entendendo é correto. 

O terapeuta ofereceu feedback?



Ele solicitou feedback (sobre a sessão atual, em momentos da sessão

atual e sobre a sessão anterior)? Nesses casos se o paciente não estiver conseguindo raciocinar sobre este feedback, uma saída seria usar a descoberta orientada. 

Solicitou sugestões e opções? Sempre perguntar para o cliente se ele

tem alguma sugestão ou proposta para resolver aquela situação. 

Entremeou resumos, exemplos, reflexões e espelhamento? Tentar

mostrar para o cliente situações de ganhos, mudanças que ele conseguiu alcançar e tudo que pode está se transformando na sua vida depois da terapia. 

Foi socrático? Fez perguntas e questionamentos para mostrar

incongruência no pensamento do paciente? Deve-se fazer o paciente pensar, questionar, perguntar, e nunca se deve dar respostas ao paciente. Caso o terapeuta seja ansioso, deve este trabalhar isso para que não atropele as informações que o paciente traz e possa pontuar na hora certa. 

Fez perguntas para ajudar o paciente a explorar sentimentos acerca de

um problema? Nesse caso busca-se primeiro trabalhar com questões racionais e depois entra nas emocionais. 

Fez perguntas para examinar alternativas de solução de um problema?

Muitas vezes acontece do paciente não ver soluções para seus problemas, nesse caso muda-se a situação (distração) e depois retorna.

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133



Fez perguntas para examinar consequências positivas ou negativas de

alguma ação proposta? Deve-se trazer consciência ao problema. 

Explicou a lógica da técnica utilizada? Sempre explicar a técnica e o

que objetiva alcançar com ela, sempre mantendo o contato com os olhos e passando segurança. 

Fez um resumo sobre os progressos alcançados na sessão? Deve-se

sempre que puder fazer um reforço. 

Explicou a lógica de usar trabalhos para casa?



Revisou o trabalho de casa da sessão anterior?



Resumiu os progressos alcançados com o trabalho de casa?



Estabeleceu novos trabalhos de casa?



O trabalho de casa foi apropriado aos problemas identificados e

tratados na sessão?

3.14 Componentes Relevantes para se chegar ao problema

Existem cinco componentes relevantes, segundo Greenberger (1999), para qualquer problema: 

Aspectos ambientais ou situacionais;



Reações físicas;



Estados de humor;



Comportamentos;



Pensamento

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134

Cada um dos cinco componentes, afeta e interage com os demais, assim pequenas mudanças em qualquer desses aspectos podem acarretar mudanças nos demais. Podemos perceber que é muito importante identificar esses componentes, pois essa identificação nos ajudaria a direcionar as áreas de mudança. Citaremos agora alguns questionamentos que nos ajudaria a identificar esses componentes, de acordo com Greenberger (1999):

MUDANÇAS AMBIENTAIS OU SITUAÇÕES DE VIDA:

o

Ultimamente, tenho experimentado qualquer mudança?

o

Quais foram os eventos mais estressantes para mim no último ano?

o

Nos últimos três anos?

o

Cinco anos?

o

Na minha infância?

o

Estou passando por quaisquer dificuldades duradouras ou atuais

(incluindo ser discriminado ou molestado por outros)?

REAÇÕES FÍSICAS:

o

Tenho quaisquer sintomas físicos que me incomodam, tais como

mudanças em nível de energia, apetite e sono, bem como sintomas específicos, tais como flutuações no ritmo cardíaco, dores de estômago, sudorese, tontura, dificuldades respiratórias ou dor?

HUMOR:

o

Que palavras isoladas descrevem meus estados de humor (triste,

nervoso, raivoso, culpado, envergonhado, etc.)?

COMPORTAMENTO:

AN02FREV001/ REV 3.0

135

o

Que coisas eu faço que gostaria de mudar ou melhorar?

o

No trabalho?

o

Em casa?

o

Com amigos?

o

Em mim mesmo?

o

Evito situações ou pessoas quando estou envolvido poderia ser

vantajoso para mim?

PENSAMENTOS:

o

Quando tenho estados de humor fortes, que pensamentos têm a

respeito de sua própria pessoa? o

Sobre outras pessoas?

o

Meu futuro?

o

Quais pensamentos interferem na realização de coisas que eu gostaria

de fazer ou acho que deveria fazer? o

Quais imagens ou lembranças me vêm à mente?

EXERCÍCIO

Mudanças ambientais Situações de Vida Reações físicas

Humor

Comportamento

Pensamentos

FONTE: Greenberger (1999)

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136

3.15 A TCC e a família

De acordo com Datillio (2004), a Terapia Familiar nas abordagens cognitivocomportamentais centra-se na análise detalhada dos conflitos cotidianos que podem levar a ruptura da relação, bem como do funcionamento e manutenção de problemáticas geradoras de interações disfuncionais. Essas problemáticas podem variar muito de família para família, abaixo alguns exemplos: 

Déficits em habilidades de comunicação;



Resolução de problemas;



Excessos de comportamentos negativos;



Déficits de comportamento positivo entre casais e membros familiares;



Déficits e excessos na experiência e expressão de emoções.

AVALIAÇÃO INICIAL:

Objetivos  Convocar maior número possível de familiares, envolverem os que estão mais motivados a participar e trabalhar com estes no sentido de atrair os que estão ausentes no processo;  Extrair a queixa e a percepção de cada membro da família;  Investigar toda a história familiar (eventos positivos e negativos);  Explorar a demanda apresentada com as características de cada família e dinâmica dos relacionamentos, ou seja, tentar perceber o que acontece com o paciente em meio a sua família;  Trabalhar com recursos utilizados para lhe dar com a situação e os fatores que favorecem o seu uso;  Tentar entender o interesse do grupo em seu conjunto;

AN02FREV001/ REV 3.0

137

 Coletar

informações

sobre

as

cognições,

reações

emocionais

e

comportamentais dos familiares e entre si, no sentido de formular hipóteses, as quais vão sendo testadas nas sessões subsequentes;

Instrumentos utilizados:  Entrevista individual e grupal com membros da família;  Questionários de descrição pessoal;  Inventários;  Observação comportamental das interações familiares.

Intervenções terapêuticas: 

Trabalhar nas intervenções as principais questões apresentadas,

pressões de vida e estressores que produzem dificuldades de adaptação, padrões construtivos e problemáticos de macronível em suas interações que parecem estar influenciando os problemas presentes; 

Considerar as mudanças advindas com a terapia e como isso afetará a

homeostase ou equilíbrio da família.

Modelo terapêutico: 

Educar a família e o paciente ao modelo Cognitivo-comportamental:

estrutura e natureza colaborativa da abordagem, princípios e métodos envolvidos; 

Tarefas de Casa;



Sessão Terapêutica: agenda, regras básicas de comportamento dos

familiares dentro e fora das sessões (revelar segredos para o terapeuta que não podem

ser

revelados

aos

demais,

participam

de

todos

nas

sessões,

comportamentos verbais e físicos agressivos são inaceitáveis;

Intervenções terapêuticas:

Modificando distorções cognitivas e extremadas AN02FREV001/ REV 3.0

138



Identificar

pensamentos

automáticos:

observar

padrões

de

pensamentos associados a reações emocionais e comportamentais negativas dos membros consigo mesmo; 

Identificar

distorções

cognitivas:

leitura

de

pensamentos,

hipergeneralização, maximização e minimização, personalização e pensamento dicotômico; 

Reestruturar pensamentos automáticos: identificar distorções em seu

modo de pensar e analisar alternativas e verificar as alterações das reações emocionais e comportamentais de si e de outros membros (evidencias? alternativas? informações adicionais?); 

Verificando e modificando regras, pressupostos e crenças nucleares

(seta descendente – “e se acontece o que acarretaria?”);

Intervindo com experiências comportamentais 

Testar as previsões de que determinadas ações acarretarão certas

respostas dos outros membros; 

Uso de role-play no sentido de despertar reações disfuncionais em

interações familiares no setting terapêutico – interação in vivo; 

Troca de papéis no sentido do outro compreender melhor a situação

vivenciada pelo membro; 

Cuidado com técnica de imagens!

Modificando padrões comportamentais 

Treinamento em comunicação (escuta e expressão);



Treinamento em resolução de problemas;



Acordos para mudança de comportamento;



Intervenção para déficits e excessos de reações emocionais;

AN02FREV001/ REV 3.0

139

Pelo o que tem se encontrado na literatura, observa-se que a abordagem cognitivo-comportamental na terapia familiar têm-se concentrado mais no tratamento de determinados transtornos em membros individuais, mas do que no alívio do conflito e da disfuncionalidade geral da família. Algumas informações são utilizadas em conflitos familiares em função de transtornos de condutas dos filhos, TDAH, Esquizofrenia, Transtorno Bipolar, Drogadição, Alzheimer como a psicoeducação sobre a etiologia, sintomas e fatores de risco, atuais tratamentos eficazes, treinamento de capacidade de comunicação e resolução de problemas, manejo de recaídas e crises;

3.16 Mitos Equivocados sobre Terapia Cognitiva

Knapp (2004) é um dos autores que cita com exatidão alguns mitos que são confundidos com a teoria da terapia cognitiva. Citaremos as 14 concepções equivocadas que este autor frisou em seu livro: 

1. Muitas pessoas pensam ou falam que a Terapia Cognitiva é

baseada no poder do pensamento positivo. Pode-se dizer que não seria bem o pensamento positivo, mas sim baseada no poder do pensamento realista, pois pensamentos demais irrealistamente otimistas podem ser tão prejudiciais e mal-adaptativos quanto uma visão irrealistamente negativa. O seu objetivo não é fazer com que o paciente tenha só pensamento positivo, pois isso seria um equívoco, mas o correto seria corrigir os pensamentos distorcidos ou disfuncionais, promovendo formas mais adaptativas de lidar com os problemas reais. 

2. A teoria cognitiva de psicopatologia propõe que os pensamentos

negativos distorcidos causam a psicopatologia. Essa proposição seria incorreta, pois existem outros fatores que influenciam também a psicopatologia. Sabemos que embora os pensamentos distorcidos façam parte do ciclo vicioso da psicopatologia, Knapp (2004) afirma que eles não são o AN02FREV001/ REV 3.0

140

único fator importante, temos outras questões que influenciam fortemente a psicopatologia, as quais seriam os desequilíbrios bioquímicos, os eventos de vida e as relações interpessoais são elementos que interagem conjuntamente, formando a psicopatologia. 

3. Muitos dizem que a Terapia Cognitiva é simples e apenas utiliza o

senso comum. Seria isso mesmo? O senso comum pode ser utilizado na terapia cognitiva, mas na maior parte do tempo, terapeuta e paciente tem muito trabalho em desvendar as interações cognitivo-afetivo-comportamentais do paciente, que por sinal são muito complexas. 

4. A TC convence as pessoas a sair dos seus problemas.

Esse tipo de terapia não trabalha convencendo ou argumentando o paciente do que ele tem que fazer. Aqui o terapeuta guia o paciente para que ele próprio faça descobertas, ao observar criticamente suas distorções, e assim trabalha as resistências e estimula o desenvolvimento de habilidades necessárias para futuramente analisar por si mesmo seus problemas. 

5. A TC ignora as emoções.

Sabemos que nesse modelo as cognições são o alvo principal, mas se trabalha sim as emoções. Knapp (2004) diz que por vezes, a forma mais adequada de examinar os pensamentos é pelas emoções. 

6. A meta da TC é eliminar as emoções.

Sua meta não é eliminar as emoções e sim ajustar a emoção à situação e ajudar o paciente a ser capaz de se adaptar com a emoção, regular as reações emocionais exageradas. 

7. A TC é a aplicação de uma variedade de técnicas.

A terapia cognitiva desenvolveu uma ampla variedade de técnicas específicas e também as emprestou livremente de outras terapias. Mas que fique claro que cada caso é um caso, e o terapeuta não deve se focar apenas em AN02FREV001/ REV 3.0

141

técnicas, pois não será de forma alguma eficaz. 

8. A terapia cognitiva ignora o passado e se interessa apenas pelo

presente. Quando necessário é investigado sim o passado, mesmo porque muitos detalhes só se chegam a eles quando há essa volta ao passado. Só que nesse método é possível resolver os problemas focalizando primariamente o presente e segundo Dattilio (1992) o foco não é tanto o que foi, mas o que é e o que mantém ou reforça o comportamento disfuncional. 

9. A TC é superficial.

A Terapia cognitiva pode trabalhar mais superficialmente e mais profundamente ou mais profundamente, isso vai depender do objetivo do indivíduo e dos problemas a serem tratados, sendo o paciente a tomar a decisão final sobre o grau de mudança que quer atingir. 

10. A relação terapêutica não é importante na Terapia Cognitiva.

Concepção muito errada sobre esse modelo, a relação é muito importante, sem ela o método colaborativo não anda. 

11. A TC tem um limite de 15 a 25 sessões ou menos.

A TC tende a obter resultados terapêuticos relativamente rápidos, mas a duração do tratamento depende da natureza dos problemas do paciente e seu nível de motivação para aprofundar o entendimento de suas questões, então o que podemos concluir é que ela pode variar de algumas sessões até vários anos. 

12. Fazer TC significa não usar medicação.

Em muitas situações o paciente só poderá fazer um tratamento cognitivo quando estiver medicado, em especial nas depressões graves, no transtorno bipolar, em psicoses e mesmo nos transtornos de ansiedade mais debilitantes, como cita Knapp (2004). Assim, podemos dizer que ela é compatível com os medicamentos e pode ser um complemento à psicofarmacoterapia, e vice-versa.

AN02FREV001/ REV 3.0

142



13. A TC é apropriada apenas para pessoas articuladas, com boa

capacidade intelectual. Segundo o autor seria mais fácil trabalhar com pacientes com boa capacidade de raciocínio, com sólida formação educacional, alguns conhecimentos psicológicos e motivação para o tratamento, mas também não quer dizer que qualquer pessoa de qualquer nível intelectual ou classe social possa ser trabalhada, tem-se apenas que adaptar de forma mais simples aquela pessoa. E segundo Beck (1995) pesquisas já demonstraram que esse modelo é efetivo para pacientes com diferentes níveis de escolaridade, renda e cultura. Ela precisa apenas ser adaptada as necessidades das pessoas. 

14. A TC não é eficaz em pacientes com transtornos mentais graves.

Ela pode sim ser usada de forma eficaz para pacientes com transtornos mentais graves, mesmo hospitalizados.

3.17 Recaídas

A prevenção de recaídas, ponto importante no tratamento, consiste em ajudar o paciente a tornar-se ciente das situações de risco, a identificar sinais indicadores de recaída e a desenvolver estratégias voltadas para lidar com as situações de risco. No tocante ao término da terapia, este deve estar pautado nos objetivos que foram montados conjuntamente para nortear o tratamento. Alcançado os objetivos, e feito o trabalho de prevenção de recaídas, terapeuta e paciente decidem ir diminuindo o número de sessões e a periodicidade das mesmas: “Se o paciente desejar, pode retornar ocasionalmente para sessões de reforço. E, em qualquer momento, pode voltar ao tratamento para mais um conjunto de sessões, a fim de abordar novas questões e aprofundar seu entendimento cognitivo comportamental” (Knapp & cols, 2004, p.35).

3.18 Algumas resoluções referentes a atendimento psicoterápico AN02FREV001/ REV 3.0

143

A.

RESOLUCÃO CFP N° 002/95 DE 20 de fevereiro de 1995

Dispõe sobre prestação de serviços psicológicos por telefone. O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, no uso de suas atribuições legais e regimentais, CONSIDERANDO análise efetivada pela Câmara de Orientação e Fiscalização sobre anúncios publicados em jornais relativos a serviços tais como Tele?Ajuda, Tele?Aconselhamento e similares; CONSIDERANDO que a matéria tem sido objeto de consultas a este Conselho Federal; CONSIDERANDO finalmente que é atribuição do Conselho Federal de Psicologia orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de psicólogo; RESOLVE: Art. 1º - Incluir a alínea "o" no Art. 02 do Código de Ética Profissional do Psicólogo, Resolução CFP 002/87 de 15 de agosto de 1987 com a seguinte redação: Art. 2º - Ao Psicólogo é vedado: 1º) Prestar serviços ou mesmo vincular seu título de Psicólogo a serviços de atendimento psicológico via telefônica". Art. 2º - Caberá aos Conselhos Regionais fiscalizar, junto à categoria, a observância do disposto na presente resolução. Art. 3º - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogando as disposições em contrário. Brasília (DF), 20 de fevereiro 1995

B.

Resolução CFP Nº 003/2000 de 25 de Setembro de 2000

Regulamenta o atendimento psicoterapêutico mediado por computador. Esta resolução foi alterada e revogada. Veja a Resolução CFP Nº 012/2005 de 18 de agosto de 2000.

AN02FREV001/ REV 3.0

144

C.

Resolução CFP N.º 010/2000 de 20 de dezembro de 2000

Especifica e qualifica a Psicoterapia como prática do Psicólogo. O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, no uso de suas atribuições legais e regimentais, que lhe são conferidas pela Lei nº 5.766, de 20 de dezembro de 1971 e; CONSIDERANDO a natureza pública do Conselho Federal de Psicologia, da qual decorre tanto a necessidade de aprimorar os serviços técnicos dos psicoterapeutas, quanto a defesa da população usuária desses serviços e do cidadão e; CONSIDERANDO o disposto no art. 2º, alíneas “e” e “n” do Código de Ética Profissional do Psicólogo, que veda ao psicólogo utilizar-se do relacionamento terapêutico para induzir a pessoa atendida à convicção religiosa, política, moral ou filosófica, bem como estabelecer com a mesma, relacionamento que possa interferir negativamente nos objetivos do atendimento ou qualquer outro que viole princípios técnicos, éticos ou científicos.

RESOLVE: Art. 1º – A Psicoterapia é prática do psicólogo por se constituir, técnica e conceitualmente, um processo científico de compreensão, análise e intervenção que se realiza através da aplicação sistematizada e controlada de métodos e técnicas psicológicas reconhecidos pela ciência, pela prática e pela ética profissional, promovendo a saúde mental e propiciando condições para o enfrentamento de conflitos e/ou transtornos psíquicos de indivíduos ou grupos. Art. 2º - Para efeito da realização da psicoterapia, o psicólogo deverá observar os seguintes princípios e procedimentos que qualificam a sua prática: I.

Buscar um constante aprimoramento, dando continuidade à sua

formação por meio de centros especializados que se pautem pelo respeito ao campo teórico, técnico e ético da psicologia como ciência e profissão; II.

Pautar-se em avaliação diagnóstica fundamentada, devendo, ainda,

manter registro referente ao atendimento realizado: indicando o meio utilizado para diagnóstico, ou motivo inicial, atualização, registro de interrupção e alta;

AN02FREV001/ REV 3.0

145

III.

Esclarecer à pessoa atendida o método e as técnicas utilizadas,

mantendo-a informada sobre as condições do atendimento, assim como seus limites e suas possibilidades; IV.

Fornecer, sempre que solicitado pela pessoa atendida ou seu

responsável, informações sobre o desenvolvimento da psicoterapia, conforme o Código de Ética Profissional do Psicólogo; V.

Garantir a privacidade das informações da pessoa atendida, o sigilo e a

qualidade dos atendimentos; VI.

Estabelecer contrato com a pessoa atendida ou seu responsável;

VII.

Dispor, para consulta da pessoa atendida, de um exemplar do Código

de Ética Profissional do Psicólogo, no local do atendimento. Art. 3º - Os casos omissos serão resolvidos pelo Plenário do CFP. Art. 4° - Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação. Art. 5° - Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília (DF), 20 de dezembro de 2000. ANA MERCÊS BAHIA BOCK Conselheira-Presidente

D. RESOLUÇÃO CFP Nº 010/2003 de 14 de Junho de 2003

Altera a Resolução CFP N° 003/2000. Esta resolução foi revogada. Para acessar a nova resolução veja Resolução CFP Nº 012/2005 de 18 de agosto de 2005.

E. RESOLUÇÃO CFP Nº 012/2005 DE 18 DE AGOSTO DE 2005

Regulamenta

o

atendimento

psicoterapêutico

e

outros

serviços

psicológicos mediados por computador e revoga a Resolução CFP N° 003/2000. O CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, no uso de suas atribuições legais, estatutárias e regimentais, CONSIDERANDO que, de acordo com o Código de Ética Profissional do Psicólogo é dever do psicólogo prestar serviços psicológicos de qualidade, em AN02FREV001/ REV 3.0

146

condições de trabalho dignas e apropriadas à natureza desses serviços, utilizando princípios, conhecimento e técnicas reconhecidamente fundamentados na ciência psicológica, na ética e na legislação profissional; CONSIDERANDO que, de acordo com o Código de Ética Profissional do Psicólogo, é dever do psicólogo respeitar o sigilo profissional a fim de proteger, por meio da confidencialidade, a intimidade das pessoas, grupos ou organizações, a que tenha acesso no exercício profissional; CONSIDERANDO o disposto no Código de Ética Profissional do Psicólogo sobre a realização de estudos e pesquisas no âmbito da Psicologia; CONSIDERANDO

o

princípio

fundamental

do

Código

de

Ética

Profissional do Psicólogo que determina que o psicólogo atuará com responsabilidade, por meio do contínuo aprimoramento profissional, contribuindo para o desenvolvimento da Psicologia como campo científico de conhecimento e de prática; CONSIDERANDO as Resoluções do CFP n°. 10/97 e 11/97 que dispõem, respectivamente, sobre critérios para divulgação, publicidade e exercício profissional do psicólogo, associados a práticas que não estejam de acordo com os critérios científicos estabelecidos no campo da Psicologia e sobre a realização de pesquisas com métodos e técnicas não reconhecidas pela Psicologia; CONSIDERANDO que os efeitos do atendimento psicoterapêutico mediado pelo computador ainda não são suficientemente conhecidos nem comprovados cientificamente e podem trazer riscos aos usuários; CONSIDERANDO o encaminhamento do V CNP - Congresso Nacional da Psicologia - de que o Sistema Conselhos de Psicologia deve continuar e aprimorar a validação de sites que possam prestar serviços psicológicos pela internet, de acordo com a legislação vigente, ainda que em nível de pesquisa; CONSIDERANDO a importância de atestar para a sociedade os serviços psicológicos que possuam respaldo técnico e ético; CONSIDERANDO a decisão deste Plenário em 13 de agosto de 2005;

RESOLVE:

CAPÍTULO I - DO ATENDIMENTO PSICOTERAPÊUTICO AN02FREV001/ REV 3.0

147

Art. 1o. O atendimento psicoterapêutico mediado pelo computador, por ser uma prática ainda não reconhecida pela Psicologia, pode ser utilizado em caráter experimental, desde que sejam garantidas as seguintes condições: I.

Faça parte de projeto de pesquisa conforme critérios dispostos na

Resolução 196/96, do Conselho Nacional de Saúde do Ministério da Saúde ou legislação que venha a substituí-la, e resoluções específicas do Conselho Federal de Psicologia para pesquisas com seres humanos em Psicologia; II.

Respeite o Código de Ética Profissional do Psicólogo;

III.

O psicólogo que esteja desenvolvendo pesquisa em atendimento

psicoterapêutico mediado pelo computador tenha protocolo de pesquisa aprovado por Comitê de Ética em pesquisa reconhecido pelo Conselho Nacional de Saúde, conforme resolução CNS 196/96 ou legislação que venha a substituí-la; IV.

O psicólogo pesquisador não receba, a qualquer título, honorários da

população pesquisada, sendo também vedada qualquer forma de remuneração do usuário pesquisado; V.

O usuário atendido na pesquisa dê seu consentimento e declare

expressamente, em formulário em que conste o texto integral desta Resolução, ter conhecimento do caráter experimental do atendimento psicoterapêutico mediado pelo computador, e dos riscos relativos à privacidade das comunicações inerentes ao meio utilizado; VI.

Esteja garantido que o usuário possa a qualquer momento desistir de

participar da pesquisa, retirando a autorização, impedindo que seus dados até então recolhidos sejam utilizados na pesquisa; VII.

Quando da publicação de resultados de pesquisa, seja mantido o sigilo

sobre a identidade do usuário e evitados indícios que possam identificá-lo; VIII. técnicas

O psicólogo pesquisador se compromete a seguir as recomendações e

aquelas

relativas

à

segurança

e

criptografia

reconhecidas

internacionalmente; IX.

O psicólogo pesquisador deverá informar imediatamente a todos os

usuários envolvidos na pesquisa, toda e qualquer violação de segurança que comprometa a confidencialidade dos dados. Art. 2º. O reconhecimento da validade dos resultados das pesquisas em atendimento psicoterapêutico mediado pelo computador depende da ampla AN02FREV001/ REV 3.0

148

divulgação dos resultados e reconhecimento da comunidade científica e não apenas da conclusão de pesquisas isoladas. Art. 3º. Os psicólogos, ao se manifestarem sobre o atendimento psicoterapêutico mediado pelo computador, em pronunciamentos públicos de qualquer tipo, nos meios de comunicação de massa ou na Internet, devem explicitar a natureza experimental desse tipo de prática, e que como tal, não pode haver cobrança de honorários. Art. 4º. As disposições constantes na presente Resolução são válidas para todas as formas de atendimento psicoterapêutico mediado por computador realizado por psicólogo, independente de sua nomenclatura, como psicoterapia pela Internet, ou quaisquer termos que designem abordagem psicoterapêutica pela Internet, tais como psyberterapia, psyberpsicoterapia, psyberatendimento, cyberterapia, cyberpsicoterapia, cyberatendimento, e-terapia, webpsicoterapia, webpsicanálise, e outras já existentes ou que venham a ser inventadas. São também igualmente válidas quando a mediação computacional não é evidente, como o acesso à Internet por meio de televisão a cabo, ou em aparelhos conjugados ou híbridos, bem como em outras formas possíveis de interação mediada por computador, que possam vir a ser implementadas. Art. 5º. As pesquisas realizadas sobre atendimento psicoterapêutico mediado pelo computador deverão ser identificadas com certificado eletrônico próprio para pesquisa, desenvolvido e conferido pelo Conselho Federal de Psicologia, na forma de selo, número com hiperligação ou equivalente, a ser incluído visivelmente nos meios em que são realizadas, como sites e páginas de Internet e equivalentes. I.

Para efeito do disposto acima, o psicólogo responsável pela pesquisa,

que esteja regularmente inscrito em Conselho Regional de Psicologia e em pleno gozo de seus direitos, dirigirá requerimento ao Conselho Regional de Psicologia via site www.cfp.org.br/selo, com protocolo em que detalha a pesquisa da forma padronizada recomendada pelo Conselho Federal de Psicologia e pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, e após análise e constatada a regularidade da pesquisa, será concedida a certificação eletrônica, devendo o psicólogo notificar ao Conselho Regional de Psicologia toda eventual mudança de endereços eletrônicos e de formatação da pesquisa realizada. AN02FREV001/ REV 3.0

149

II.

A hiperligação nos selos, números ou outra forma de certificado

eletrônico deverá remeter ao site do Conselho Federal de Psicologia ou Conselho Regional de Psicologia onde conste o texto integral desta Resolução e outras informações pertinentes a critério do Conselho Federal de Psicologia.

CAPÍTULO II - DOS DEMAIS SERVIÇOS PSICOLÓGICOS

Art. 6º. São reconhecidos os serviços psicológicos mediados por computador, desde que não psicoterapêuticos, tais como orientação psicológica e afetivo-sexual, orientação profissional, orientação de aprendizagem e Psicologia escolar, orientação ergonômica, consultorias a empresas, reabilitação cognitiva, ideomotora e comunicativa, processos prévios de seleção de pessoal, utilização de testes psicológicos informatizados com avaliação favorável de acordo com Resolução CFP N° 002/03, utilização de softwares informativos e educativos com resposta automatizada, e outros, desde que pontuais e informativos e que não firam o disposto no Código de Ética Profissional do Psicólogo e nesta Resolução, sendo garantidas as seguintes condições: I.

Quando esses serviços forem prestados utilizando-se recursos de

comunicação on-line de acesso público, de tipo Internet ou similar, os psicólogos responsáveis deverão ser identificados através de credencial de autenticação eletrônica por meio de número de cadastro com hiperlink, hiperligação ou outra forma de remissão automática, na forma de selo ou equivalente, desenvolvido e conferido pelo Conselho Federal de Psicologia. Os selos, números ou outros tipos de certificados eletrônicos conferidos trarão a identificação do ano de sua concessão e prazo de validade, a critério do Conselho Federal de Psicologia. As hiperligações ou remissões automáticas dos certificados eletrônicos concedidos deverão necessariamente remeter à página do site do Conselho Federal de Psicologia que conterá o texto integral desta Resolução e também os números de cadastro ou sites que estejam em situação regular, e outras informações pertinentes a critério do Conselho Federal de Psicologia. II.

Para efeito do disposto acima o psicólogo responsável técnico pelo

serviço, que esteja regularmente inscrito em Conselho Regional de Psicologia e em pleno gozo de seus direitos, dirigirá requerimento ao Conselho Regional de AN02FREV001/ REV 3.0

150

Psicologia via site www.cfp.org.br/selo, prestando as informações padronizadas solicitadas em formulário a respeito da natureza dos serviços prestados, qualificação dos responsáveis e endereço eletrônico, e receberá certificação eletrônica do tipo adequado que deverá ser incluída visivelmente em suas comunicações por meio eletrônico durante a prestação dos serviços validados. O procedimento de cadastro e concessão de certificado eletrônico será sempre gratuito. III.

A Comissão Nacional de Credenciamento de Sites avaliará os dados

enviados para a aquisição de certificação, e encaminhará parecer a ser julgado na Plenária do Conselho Regional de Psicologia em que o psicólogo requerente está inscrito. IV.

Da decisão do Conselho Regional de Psicologia caberá recurso

voluntário ao Conselho Federal de Psicologia. V.

O Conselho Regional de Psicologia utilizará os dados enviados pelo

requerente para verificar e fiscalizar os serviços oferecidos pelos psicólogos por comunicação mediada pelo computador a distância. Na detecção de qualquer irregularidade nos serviços prestados, o Conselho Regional de Psicologia efetuará os procedimentos costumeiros de orientação e controle ético. VI.

O cadastramento eletrônico deverá ser atualizado anualmente junto ao

Conselho Regional de Psicologia via site www.cfp.org.br/selo. Essa reatualização deverá ser sempre gratuita, e o novo certificado conferido trará a data de sua concessão e prazo de validade. Os serviços em situação irregular não receberão a revalidação do cadastramento. VII.

O psicólogo responsável pelo site deverá informar ao Conselho

Regional de Psicologia, via site www.cfp.org.br/selo alterações no serviço psicológico prestado. Art. 7º. Caso o Sistema Conselhos de Psicologia identifique, a qualquer tempo, irregularidades no site que firam o disposto nesta Resolução, no Código de Ética Profissional do Psicólogo e na legislação profissional vigente estará configurada falta ética e o site será descredenciado. Art. 8°. É permitido aos psicólogos que prestam os serviços indicados no Art. 6° desta Resolução a cobrança de honorários desde que se respeite o Art. 20 do Código de Ética Profissional do Psicólogo que veda a utilização do preço como forma de propaganda. Parágrafo Único - Caso o psicólogo queria prestar um AN02FREV001/ REV 3.0

151

serviço gratuito, o mesmo deverá seguir o padrão de qualidade e rigor técnico que trata essa Resolução sendo necessário seu credenciamento. Art. 9°. Será mantida, pelo Sistema Conselhos de Psicologia, Comissão Nacional de Credenciamento de Sites que além da avaliação dos sites, apresentará sugestões para o aprimoramento dos procedimentos e critérios envolvidos nesta tarefa e subsidiará o Sistema Conselhos de Psicologia a respeito da matéria. Art. 10º. Para realização do credenciamento de sites de que tratam os artigos anteriores a Comissão Nacional de Credenciamento de Sites terá um prazo máximo de 30 dias para encaminhar sua avaliação ao CRP. I.

Da data de recebimento do parecer da referida Comissão, o Plenário

do Conselho Regional de Psicologia terá o prazo máximo de 60 dias para efetuar o julgamento. II.

Da decisão do CRP, as partes terão um prazo de 30 dias a contar da

data da ciência da decisão para interpor recurso ao Conselho Federal de Psicologia. Art. 11º. Ficam revogadas as disposições em contrário, em especial a Resolução CFP n.° 003/2000. Art. 12º. Esta Resolução entra em vigor na dada de sua publicação.

Brasília (DF), 18 de agosto de 2005. ANA MERCÊS BAHIA BOCK Conselheiro Presidente

AN02FREV001/ REV 3.0

152

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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FIM DO CURSO

AN02FREV001/ REV 3.0

155

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação

CURSO DE

TERAPIA COGNITIVOCOMPORTAMENAL

Aluno: AN02FREV001/ REV 3.0

93

EaD - Educação a Distância Portal Educação

CURSO DE

TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL

Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/ REV 3.0

94

3.8 Princípios Fundamentais

Os princípios que aqui citaremos são de extrema importância para se entender e trabalhar com a terapia cognitiva, sendo citados em Beck (2003): 

Formulação em contínuo desenvolvimento do paciente e de seus

problemas.

A

terapia

cognitiva

se

baseia

em

uma

formulação

em

contínuo

desenvolvimento do paciente e de seus problemas em termos cognitivos, assim o terapeuta deve identificar o pensamento atual do paciente, que ajuda a manter seus sentimentos, depois investiga os comportamentos. Percebe-se que os comportamentos problemáticos, ao mesmo tempo em que fluem do pensamento disfuncional, eles também reforçam os pensamentos do paciente. O terapeuta também identifica fatores precipitantes que influenciam as percepções do paciente. E podemos dizer que ele deve levantar hipóteses sobre eventos desenvolvimentais chaves e padrões duradouros de interpretação desses eventos que podem ter predisposto o paciente ao transtorno ou problema que ele está acometido. Assim o terapeuta baseia sua formulação nos dados que o paciente traz e continua a refinar a conceituação ao longo da terapia. Em alguns momentos o terapeuta partilha a conceituação com a paciente para ter certeza que está indo no caminho certo. O paciente aprende principalmente a identificar os pensamentos associados a seu sentimento, ou seja, que esses são condutores de seu comportamento e assim avaliar e formular respostas mais adaptativas ao seu pensamento, para se ter comportamentos funcionais. 

Aliança terapêutica segura

A terapia cognitiva requer uma aliança terapêutica segura, por que muitos pacientes têm dificuldade em confiar e trabalhar com seu terapeuta, assim este deve demonstrar todos os ingredientes básicos necessários em uma situação de AN02FREV001/ REV 3.0

95

aconselhamento, que são: o

Cordialidade;

o

Empatia;

o

Atenção;

o

Respeito genuíno;

o

Competência.

Demonstre fazendo declarações empáticas, escutando com atenção e cuidado, resumindo cuidadosamente seus pensamentos e sentimentos e sendo realisticamente otimista. O terapeuta também deve pedir o retorno no final de cada sessão para certificar-se de que o paciente se sentiu entendido em relação à sessão. Deve-se tomar cuidado com pacientes com transtornos de personalidade, pois estes necessitam maior atenção no que se trata de relacionamento terapêutico e uma boa aliança de trabalho. 

Colaboração e participação ativa

A terapia cognitiva enfatiza colaboração e participação ativa, assim o terapeuta deve encorajar o paciente a ver a terapia como um trabalho em equipe, em que juntos eles decidem coisas, como o que trabalhar em cada sessão, a frequência com que eles deveriam encontrar-se e o que deveriam fazer, entre as sessões, como tarefa de casa da terapia. A princípio, o terapeuta é mais ativo em sugerir uma direção, mas o terapeuta deve encorajar o paciente a tornar-se mais ativo nas sessões, como decidir sobre que tópicos falar, identificar as distorções em seu pensamento, resumir pontos importantes e projetar tarefas para casa. 

Terapia orientada em metas e focalizada em problemas.

A terapia cognitiva é orientada em meta e focalizada em problemas. Na sessão inicial, o terapeuta deve pedir para seu paciente, enumerar seus problemas e estabelecer metas específicas, ou seja, o paciente deve relatar quais são seus problemas, o que lhe angustia, e depois tentar buscar soluções para resolver estes AN02FREV001/ REV 3.0

96

problemas, que seriam as metas. O terapeuta deve ajudar o paciente a avaliar e responder a seus pensamentos que interferem em suas metas e a avaliar a validade desses pensamentos no consultório por meio de um exame de evidências. Uma vez que o paciente reconhece e corrige a distorção em seu pensamento, ele é capaz de beneficiar-se com a resolução de problemas diretamente para melhorar seus relacionamentos. Assim, o terapeuta presta atenção particular aos obstáculos que impedem o paciente de resolver problemas e atingir metas por si mesmo. Assim, percebemos que o terapeuta precisa conceituar as dificuldades específicas do paciente e avaliar o nível apropriado de intervenção.



Inicialmente focaliza o presente

A terapia cognitiva inicialmente enfatiza o presente. Na maioria dos tratamentos o foco recai sobre os problemas atuais e sobre situações específicas que são aflitivas para o paciente. Para se reduzir os sintomas devem-se fazer uma avaliação realista do problema e do que ele está causando, assim esse terapeuta inicia a terapia com exame de problemas no aqui e agora, independentemente do diagnóstico. A atenção só volta-se para o passado em três circunstâncias, segundo Beck (2003): o

Quando o paciente expressa uma forte predileção a fazer isso;

o

Quando o trabalho voltado em direção a problemas atuais produz

pouca ou nenhuma mudança cognitiva, comportamental e emocional; o

Quando o terapeuta julga que é importante entender como e quando

ideias disfuncionais importantes se originaram e como elas afetam o paciente hoje. O terapeuta ajuda a avaliar a validade dessas crenças tanto no passado como no presente, fazendo com que o paciente desenvolva crenças mais funcionais e mais razoáveis. 

Educativa

AN02FREV001/ REV 3.0

97

A terapia cognitiva é educativa, visa ensinar o paciente a ser seu próprio terapeuta e enfatiza prevenção da recaída. Na sessão inicial o terapeuta deve educar o paciente sobre informações que dizem respeito a seu transtorno, sobre o processo da terapia cognitiva, como a terapia trabalha esse transtorno e sobre o modelo, como a terapia cognitiva conduzirá o problema. Assim, o paciente aprenderá a estabelecer metas, identificar e avaliar pensamentos e crenças e planejar mudança comportamental, mas também aprenderá como fazer isso sozinho e depois continuar sem a ajuda do terapeuta. 

Tem tempo limitado

A terapia cognitiva visa ter um tempo limitado. O terapeuta tem metas para serem trabalhadas com seus pacientes: o

Prover alívio de sintomas;

o

Facilitar uma remissão do transtorno;

o

Ajudar a resolver seus problemas mais prementes;

Assim pacientes com depressão ou transtornos de ansiedade são tratados de 4 a 14 sessões, porém nem todos os pacientes fazem progresso suficiente em apenas alguns meses. Alguns pacientes requerem um ou dois anos de terapia (ou possivelmente mais) para modificar as crenças disfuncionais muito rígidas e os padrões de comportamento que contribuem para a sua angústia crônica.



Sessões estruturadas

As sessões de terapia cognitiva são estruturadas. O terapeuta cognitivo deve estruturar e estabelecer o que vai ser feito cada sessão, assim ele verifica o humor do paciente, solicita uma breve revisão da semana, estabelece, de comum acordo entre ambos, uma agenda para a sessão, obtém feedback sobre a sessão anterior, revisa a tarefa de casa, discute os itens da agenda, estabelece nova tarefa para casa, resume com frequência e busca feedback no final de cada sessão. Essa estrutura que acabamos de citar deve permanecer constante ao longo da terapia. AN02FREV001/ REV 3.0

98



Paciente aprende a identificar e responder a pensamentos e crenças

A terapia cognitiva ensina os pacientes a identificar, avaliar e responder a seus pensamentos e crenças disfuncionais. Um dos métodos que pode ser utilizado para fazer o que falamos acima é por intermédio do questionamento socrático leve, que ajuda a promover o sentimento do paciente a qual o terapeuta está verdadeiramente interessado sem desafiar ou persuadir o paciente a adotar o ponto de vista do terapeuta. Já em outros momentos pode utilizar descoberta orientada, aonde o terapeuta chega a crenças subjacentes que o paciente mantém sobre si mesmo, seu mundo e outras pessoas. Mediante a todas essas técnicas de questionamento, ele também a orienta em avaliar a validade a funcionalidade das suas crenças. 

Uso de técnicas

A terapia cognitiva utiliza uma variedade de técnicas para mudar pensamento, humor e comportamento. Embora estratégias cognitivas como questionamento socrático e descoberta orientada sejam centrais à terapia cognitiva, técnicas de outras abordagens são também usadas na terapia cognitiva. Que fique claro que a terapia varia consideravelmente de acordo com o paciente individual, a natureza de suas dificuldades, suas metas, sua habilidade de formar um vínculo terapêutico forte, sua motivação para mudar, sua experiência prévia com terapia e suas preferências de tratamento. A ênfase no tratamento depende do transtorno(s) particular do paciente e assim de acordo com esse transtorno serão escolhidas as técnicas que mais se adéquam ao momento e ao contexto que o paciente traz.

3.9 Distorções Cognitivas

AN02FREV001/ REV 3.0

99

As pessoas muitas vezes tendem a cometer erros em seus pensamentos. Percebemos que com frequência, há uma tendência sistemática negativa no processamento cognitivo daqueles que estão sofrendo de algum mal-estar psicológico. E a identificação dessas distorções cognitivas é essencial e muito importante para sua correção. Veremos agora os erros ou distorções mais comuns: 

Personalização;



Catastrofização;



Rotulação;



Magnificação/minimização;



Leitura mental;



Supergeneralização/hipergeneralização;



Desqualificando ou desconsiderando o positivo;



Declarações do tipo “eu deveria ou eu devo”;



Visão em túnel;



Vitimização;



Questionalização;



Pensamento do tipo tudo ou nada/polarização ou pensamento

dicotômico; 

Raciocínio emocional;



Abstração seletiva;



Adivinhação;



Inferência arbitrária.



Personalização

É a tendência a se ver como causador de fatos ruins, sem o ser de fato. Acredita-se que os outros estão se comportando negativamente devido a você ou por sua culpa, sem considerar explicações mais plausíveis para o comportamento do outro. Knapp (2004) é assumir a culpa ou responsabilidade por acontecimentos negativos, falhando em ver que outras pessoas e fatores também estão envolvidos nos acontecimentos. AN02FREV001/ REV 3.0

100

Exemplo: Meu amigo foi rude comigo, devo ter feito algo de errado; Se algo de errado acontecer ao meu aniversário, a culpa será só minha. 

Catastrofização

Knapp (2004) conceitua essa distorção como uma pessoa que pensa que o pior de uma situação irá acontecer sem levar em consideração a possibilidade de outros desfechos. Ele afirma que é acreditar que o que aconteceu ou irá acontecer será terrível e insuportável. Os eventos negativos que podem ocorrer são encarados como catástrofes intoleráveis, em vez de serem vistos em perspectiva. Antecipar que as coisas, de qualquer maneira, vão dar errado, sem base para isso. Prever o futuro, antecipando problemas que podem não vir a existir. Estabelece expectativas negativas como se já fossem fatos. Exemplo: Eu sei que serei rejeitada; Eu não suportarei a separação da minha mulher; Se eu perder o controle, será o meu fim.



Rotulação

Como o próprio nome já diz é a tendência a descrever erros ou medos como, características estáveis do comportamento ou da personalidade, como fossem rótulos pessoais. De acordo com Knapp (2004) coloca-se um rótulo global e fixo sobre si mesmo ou sobre os outros sem considerar que as evidências poderiam levar a uma conclusão menos desastrosa. Exemplo: Eu sou um fracassado (em vez de: falhei nisso!); Ele não presta mesmo! (diante de um ato impensado do outro).

AN02FREV001/ REV 3.0

101



Magnificação/minimização

É a tendência a diminuir a importância dos aspectos positivos em si mesmo, nos outros ou nas situações e ampliar ou engrandecer a importância dos aspectos negativos. O positivo é minimizado, enquanto o negativo é maximizado. Exemplo: Obter boas notas não quer dizer que sou inteligente (ao passo que as notas baixas provam que é um fracasso); Eu tenho um ótimo emprego, mas todo mundo tem, e com tantas falhas qualquer dia irei perdê-lo.



Leitura mental

De acordo com Knapp (2004) quando uma pessoa tem distorções desse tipo, ela presume, sem evidências, que sabe o que outros estão pensando, geralmente dela, desconsiderando outras hipóteses possíveis. Exemplo: Tenho certeza que o professor está pensando que eu não estudei. Ele não gostou da minha casa. 

Supergeneralização ou hipergeneralização

É a tendência a ver um evento negativo como um padrão interminável de perigos ou sofrimentos. Tira-se uma conclusão negativa muito abrangente e radical que vai muito além da situação atual. Exemplo: Se eu senti medo aqui, vou sentir sempre de novo; Tudo dá sempre errado para mim (após ter batido o carro); Todo homem faz a mesma coisa, traem. 

Desqualificando ou desconsiderando o positivo AN02FREV001/ REV 3.0

102

É a tendência a rejeitar experiências ou fatos positivos por insistir que eles não contam, por qualquer motivo. Exemplo: Sou burra e fraca (mesmo depois de ter passado no vestibular e ter se formado); Eu fiz bem aquele projeto, mas isso não significa que eu seja competente, eu apenas tive sorte.



Declarações do tipo “eu deveria ou eu devo”-declarações imperativas

É a tendência a dirigir a própria vida em termos de “deverias”, por avaliações de “certo ou errado”, em vez de dirigi-la por seus desejos. Tem-se uma ideia exata estabelecida de como você ou os outros deveriam se comportar, superestimando quão ruim será se as expectativas não forem preenchidas. Knapp (2004) também cita demandas feitas a si mesmo, aos outros e ao mundo para evitar as consequências do não cumprimento dessas demandas. Exemplo: Eu deveria estudar mais (em vez de: eu quero (ou não quero) estudar mais; É terrível que eu tenha cometido este erro, eu deveria sempre dar o melhor de mim.



Visão em túnel ou seleção arbitrária

É a tendência em selecionar e ver apenas os aspectos negativos de uma situação. Exemplo: O professor do meu filho não sabe fazer nada direito: ele é crítico, insensível e ensina mal; Eu sou burro, tirei outra nota baixa.



Vitimização

AN02FREV001/ REV 3.0

103

É a tendência a considerar-se injustiçado ou não compreendido. A fonte da maioria dos problemas geralmente é em razão aos outros ou por algumas situações. Há recusa ou dificuldade de se responsabilizar pelos próprios sentimentos ou comportamentos. Exemplo: Minha mãe não entende meus sentimentos; Faço tudo pelos meus amigos, mas eles não me agradecem.



Questionalização;

De acordo com Knapp (2004) é a tendência a focar o evento naquilo que poderia ter sido e não foi. Culpar-se pelas escolhas do passado e questionar-se por escolhas futuras. Exemplo: Se eu tivesse aceitado o outro emprego, estaria melhor agora... e se o outro emprego não der certo? Se eu não tivesse viajado, isso não teria acontecido.



Pensamento do tipo tudo ou nada/polarização ou pensamento

dicotômico

É a tendência de interpretar todas as experiências em termos de categorias opostas e polarizadas. Pensamento do tipo tudo ou nada, branco ou preto, perfeição ou fracasso, sempre ou nunca. Perceber tudo em termos absolutos. Exemplo: Se eu não for um sucesso total, eu serei um fracasso. Um sinal imprevisto no meu corpo significa perigo iminente.



Raciocínio emocional

AN02FREV001/ REV 3.0

104

É a tendência a tomar as próprias emoções como provas de uma verdade. Pensa-se que algo deve ser verdade porque sente assim. Nesse caso a pessoa com a distorção deixa o sentimento lhe guiar, ou seja, guiam a interpretação da realidade. Exemplo: Se eu sinto pânico aqui, é porque essa situação é mesmo perigosa; Eu sei que eu faço muitas coisas certas, mas eu ainda me sinto um fracasso.



Abstração seletiva

É a tendência a focalizar apenas um detalhe retirado de um contexto, ignorando outros aspectos também importantes, e conceber a totalidade da experiência com base no fragmento selecionado. Presta-se atenção indevida a um detalhe negativo em vez de considerar o quadro geral. Exemplo: Cometi um erro neste trabalho, ele está deplorável (quando o erro é secundário e está em meio a muitos aspectos positivos do trabalho); Sou impotente (diante de uma única falha erétil).



Adivinhação

Aqui pessoas com a distorção preveem o futuro, antecipam problemas que talvez não venham a existir. Exemplo: Eu não irei me sentir bem quando viajar; Sei que não irei gostar desse emprego. 

Inferência arbitrária

É a tendência a chegar a uma conclusão (ou a uma regra) na ausência de evidências ou provas suficientes, ou por meio de um raciocínio falho.

AN02FREV001/ REV 3.0

105

Exemplo: Não sou atraente para as mulheres (após algumas tentativas infrutíferas).

3.10 Perfil Cognitivo dos Transtornos Psiquiátricos

De acordo com Kaplan e Sadock (2003) que cita Aaron Beck e John Rush, o perfil cognitivo de alguns transtornos psicológicos são os seguintes: Transtornos Conteúdo

cognitivo

específico

Anorexia nervosa Medo

1.

de

ficar

gordo

e

disforme.

Comportamento suicida Desesperança e déficit na

2.

resolução de problemas.

3.

Transtorno obsessivo-compulsivo

Alerta repetido ou dúvidas sobre a segurança e atos repetidos

para

afastar

ameaças.

4.

Transtorno depressivo

Visão negativa de si mesmo.

AN02FREV001/ REV 3.0

106

Transtorno de ansiedade

5.

Medo de perigo físico ou psicológico.

Transtorno de pânico

6.

Interpretação

errônea

e

catastrófica de experiências corporais e mentais.

Transtorno de pânico

6.

Interpretação

errônea

e

catastrófica de experiências corporais e mentais.

7.

Transtorno de personalidade paranoide

Visão

dos

outros

como

e

mal-

manipuladores intencionados.

8.

Fobia

Perigo

em

situações

específicas e evitáveis.

9.

Hipocondria

Atribuição de sério transtorno médico.

10

Episódio hipomaníaco

Visão inflada de si mesmo, da experiência e do futuro.

.

11

Transtorno conversivo

Conceito

de

anormalidade

motora e sensorial.

. FONTE: Kaplan e Sadock

3.11 Estruturação das sessões AN02FREV001/ REV 3.0

107

É preciso citar como é estruturada a sessão de TCC, segundo Rangé (2001). A estrutura é a seguinte: 

Revisão do humor, revisão da semana – checagem do humor para

monitoramento do progresso terapêutico; 

Ponte com a sessão anterior – feedback do paciente acerca do que foi

aprendido na sessão anterior; 

Revisão das tarefas;



Fazer a agenda dos tópicos importantes a serem discutidos na sessão

e trabalhar os itens da agenda; 

Estabelecimento de novas tarefas de casa;



Resumo da sessão e feedback – o paciente é solicitado a resumir os

pontos principais que foram aprendidos e também revelar quais sentimentos experimentou na sessão.



Revisão do humor/ Revisão da semana

De acordo com a maioria dos autores, a sessão inicial de terapia tem várias metas importantes. Knapp (2004) diz que é necessário, nessa sessão, revisar o humor. Isso pode ser feito por meio de uma nota de zero a 10 para o humor, em que zero indica nenhuma depressão ou ansiedade e 10 indica muita depressão e ansiedade. Deve-se também revisar os acontecimentos bons e ruins que aconteceram no intervalo dessas sessões, para que se dê prioridade a algumas questões a serem trabalhadas. Beck (1997) citado por Rangé (2001) cita questões como estabelecer rapport, refinar a conceituação, socializar o paciente no processo e na estrutura da terapia cognitiva, educar o paciente sobre o modelo cognitivo e sobre o seu transtorno prover esperança e algum alívio de sintomas e também desenvolver uma sólida aliança terapêutica e encorajar o paciente a aliar-se ao terapeuta para alcançar metas terapêuticas são questões de suma importância a serem trabalhadas. 

Ponte com a última sessão AN02FREV001/ REV 3.0

108

Cada sessão deve dar um sentido de continuidade, então é muito importante que o terapeuta faça perguntas como: O que você lembra-se de mais importante da última sessão? Assim o paciente fará a interligação com a sessão passada sem muita dificuldade. Alguns pacientes são muito esquecidos, nesses casos aconselhase trazer uma agenda ou caderno para que seja feita a anotação de pontos importantes e com isso relembre mais facilmente a sessão anterior. 

Revisão das tarefas

Segundo Knapp (2004) uma tarefa que não deu certo ou não alcançou o resultado esperado traz muitas informações, pois ao se realizar a revisão da tarefa se confirma se a direção e a marcha do trabalho terapêutico estão adequadas, ou ao contrário ainda se faz necessário incrementar as habilidades e autoeficácia do paciente, caso a tarefa não tenha seguido como se planejou. É muito importante que o terapeuta sempre revise a tarefa de casa, pois quando o terapeuta não revisa a tarefa e não extrai dela todo o aprendizado possível, ou seja, quando o terapeuta mostra de forma mais clara o objetivo da tarefa e como ela pode ajudar o paciente, estará reforçando no paciente a ideia de que a tarefa não é importante. 

Fazer agenda

Como já discutimos antes, esse tipo de terapia tem uma sessão estruturada, assim é feita a agenda, que nos guiará como seguir no decorrer da sessão, quais problemas são mais e menos importantes, estabelecendo assim ordem de prioridades, evitando que se perca tempo com questões que não teria importância naquela sessão. Ela deve ser feita no início das sessões em comum acordo com o paciente. Assim pode-se perguntar ao paciente no começo da sessão: O que o paciente gostaria de trabalhar na sessão de hoje? 

Resumos periódicos/Resumo final; AN02FREV001/ REV 3.0

109

Nesse tipo de terapia o paciente deve fazer resumos para que ele fortaleça o que foi aprendido. Fazem-se os resumos periódicos ou capsulares, em que são realizados ao longo da sessão e o resumo final, sendo relembradas as principais descobertas. O terapeuta pode ajudar o paciente a fazer esses resumos com a seguinte pergunta: O que você está levando da sessão de hoje? Onde segundo Knapp (2004) devem ser resumidos as descobertas e aprendizados que ocorreram, com conclusões e experimentos que irão confirmar e fortalecer os aprendizados. 

Feedback da sessão.

O feedback deve ser feito regularmente, para que o terapeuta perceba algum problema na relação terapêutica, buscando informar contrariedades e insatisfações do paciente com o terapeuta. Deve-se também buscar o feedback de como está o tratamento, o que o paciente está sentindo e pensando a cerca do processo e do progresso terapêutico, pois segundo Knapp (2004) essas informações do percurso terapêutico podem corrigir o rumo da terapia.

3.12 Instrumentos Utilizados



Conceituação Cognitiva

Nome_________________________________________________ Idade:_________ Data: _________

AN02FREV001/ REV 3.0

110

Dados relevantes da infância

Crenças Centrais

Crenças Intermediárias (Atitudes, regras, expectativas, suposições)

Estratégias Compensatórias

AN02FREV001/ REV 3.0

111

Situação:

Situação:

Situação:

Pensamento Automático

Pensamento Automático

Pensamento Automático

Significado do PA

Significado do PA

Significado do PA

AN02FREV001/ REV 3.0

112

Emoção

Emoção

Emoção

Comportamento

Comportamento

Comportamento

FONTE: Terapia Cognitivo-Comportamental na Prática Psiquiátrica.

Exemplo de Conceituação cognitiva:

Nome: A.B.C Idade: 18 anos Data: 15/05/2005

Dados relevantes da infância

Morte do pai aos cinco anos de idade; Decepção com o primeiro amigo da adolescência; Nunca conseguiu arranjar namorada.

AN02FREV001/ REV 3.0

113

Crenças Centrais

Sobre si: Eu sou sozinho; Eu sou inútil; Sou infeliz. Não sou amado. Sobre os outros: Sou louco; Sou estranho; Sou lesado.

Crenças Intermediárias (Atitudes, regras, expectativas, suposições)

Mesmo que eu arranje namorada e emprego eu ainda vou ser triste; Se meu pai estivesse vivo eu não seria assim; Mesmo que eu fique bom da depressão eu ainda vou ser infeliz.

Estratégias Compensatórias

Fazer terapia; Ler poetas tristes, como Augusto dos Anjos; Isolar-se e não fazer amizades; Beber para preencher o vazio que existe dentro de si; AN02FREV001/ REV 3.0

114

Pensar muito em suicídio e ver como a única saída.

Situação:

Situação:

Situação:

Briga com a mãe

Saindo da escola

Dia

dos

pessoas namorados,

sem

sobre a conta de energia.

e

vendo

as

sorrindo.

namorada.

Pensamento

Pensamento

Pensamento

Automático

Automático

Automático.

Quero me matar.

Eu

tenho

ódio

das Ninguém gosta de mim.

pessoas

Significado do PA

Eu não sirvo pra nada.

Significado do PA

Eu sou infeliz e sozinho.

Emoção

Emoção

Tristeza.

Tristeza, raiva.

Comportamento

Comportamento

Agressividade

Ir para casa e se

Significado do PA

Sou

sozinho,

ninguém gosta de mim.

Emoção

Melancolia e tristeza

Comportamento

AN02FREV001/ REV 3.0

115

com a mãe e se isola isolar no quarto.

Chorar.

mais ainda em seu quarto para ouvir música.



Data/

Registro de Pensamentos Disfuncionais (RPD);

Situação

Pensamento

Emoção

Comportamento

Horário

Registro de Pensamento mais complexo

Nome: _______________________________________________________ Idade: _____________ Data: ____________

AN02FREV001/ REV 3.0

116

Humor Situação

Pensamentos Automáticos

Distorções Cognitivas

Evidências Apoiadora s

Evidências Contrárias

Pensamentos Alternativos

Humor

FONTE: Greenberger (1999)



Tabela de atividades

Tabela de atividades segundo Beck (1997): Essa tabela de atividades é como se fosse uma monitoração de atividades, em que o paciente vai colocar o grau de prazer (P) e o grau de realização (R), de 1 a 10.

Dia 1

Dia 2

Dia 3

Dia 4

Dia 5

Dia 6

Dia 7

6-7

AN02FREV001/ REV 3.0

117

7-8 8-9 9-10 10-11 11-12 12-1 1-2 2-3 3-4

Estudo R=2 P=1

4-5 5-6 6-7

Jantar R=2 P=4

7-8 8-9 9-10 10-11 11-12

Dormir

12-1

...

1-2

. ..

2-3

. ..

3-4

. ..

4-5

. AN02FREV001/ REV 3.0

118

..

Mediante a tabela, terapeuta e cliente vão tirar conclusões sobre o que mais o paciente faz por prazer de maneira a sentir-se realizado.



Questionando pensamentos automáticos

Este quadro de questionamento está de acordo com Beck (1997):

Questionando os pensamentos automáticos

1.

Quais são as evidências?

Quais são as evidências que apoiam essa ideia? Quais são as evidências contra essa ideia? 2.

Existe uma explicação alternativa?

3.

Qual é o pior que poderia acontecer? Eu poderia superar isso?

O que é o melhor que poderia acontecer? Qual o resultado mais realista? 4.

Qual é o efeito da minha crença no pensamento automático?

Qual poderia ser o efeito de mudar meu pensamento? 5.

O que eu deveria fazer em relação a isso?

6.

O que eu diria ________ (a um amigo) se ele ou ela estivesse na

mesma situação?



Notas de terapia

Notas de terapia extraídas de Beck (1997):

AN02FREV001/ REV 3.0

119

Notas de Terapia

Nome do paciente: Data: Sessão nº:

Escores objetivos: Algum teste que pode ter sido feito com o paciente

Roteiro do paciente:

Objetivos do terapeuta:

Pontos importantes da sessão:

Tarefa de casa:

Sessão seguinte ou sessão futura:



Relatório de ligação de sessão

Este relatório foi extraído de Beck (1997), que segundo este a bibliografia foi adaptada com permissão de Thomas Ellis.

Relatório de ligação de sessão

1.

Sobre o que nós falamos na sessão anterior, o que foi

importante? O que você aprendeu? (1 a 3 frases).

AN02FREV001/ REV 3.0

120

2.

Houve algo que incomodou você na última sessão? Qualquer

coisa que você esteja relutante em dizer?

3.

Como foi a sua semana? Como estava o seu humor,

comparando a outras semanas? (1 a 3 frases)

4.

Alguma coisa aconteceu nessa semana que seja importante

discutir? (1 a 3 frases)

5.

Que problemas você deseja colocar no roteiro? (1 a 3 frases)

6.

Que tarefa de casa você fez/não fez? O que você aprendeu?



Relatório de terapia

Este relatório foi extraído de Beck (1997), por Judith S Beck: Relatório de terapia

1.

O que você vivenciou hoje que é importante para você lembrar?

2.

Quando você sentiu que podia confiar no seu terapeuta hoje?

3.

Houve qualquer coisa que incomodou você em relação à terapia

hoje? Se houve, o que foi?

4.

Quanta tarefa de casa você fez para a terapia hoje? Quão

propenso você está a fazer a nova tarefa de casa?

5.

O que você deseja certificar-se de abordar na próxima sessão?

AN02FREV001/ REV 3.0

121



Guia para sessões de autoterapia

Este guia está de acordo com Beck (1997);

Guia para sessões de autoterapia

1.

Estabelecer o roteiro:



Sobre os tópicos ou situações importantes eu deveria pensar?

2.

Revisar tarefa de casa:

 O que eu aprendi?  Se eu não fiz a tarefa de casa, o que me atrapalhou (problemas práticos, pensamentos automáticos)?  O que eu posso fazer para me tornar mais propenso a realização da tarefa de casa desta vez?  O que eu devo continuar a fazer como tarefa de casa?

3.

Revisão da semana passada:

 Além da tarefa de casa específica, eu usei alguma ferramenta de terapia cognitiva?  Olhando para trás, teria sido vantajoso ter usado mais intensamente as ferramentas da terapia cognitiva?  Como eu me lembrarei de usar as ferramentas da próxima vez?  Que coisas positivas acontecem durante a semana? Pelo o que eu mereço crédito?  Algum problema surgiu? Se sim, quão bem eu administrei? Se o problema reincidir, como eu o manejarei da próxima vez?

AN02FREV001/ REV 3.0

122

4.

Pense sobre tópicos/situações problemáticas atuais:

 Como estou vendo isso realisticamente? Eu estou reagindo exageradamente?  Há outro modo de ver isso?  O que eu deveria fazer?

5.

Prever problemas possíveis que podem ocorrer entre esse

momento e a próxima sessão de terapia:  Que problemas podem surgir nos próximos dias ou semanas?  O que eu deveria fazer se o problema de fato surgir?  Ajudaria imaginar-me enfrentando o problema?  Que eventos positivos eu tenho para esperar no futuro?

6.

Estabelecer nova tarefa de casa:

 Que tarefa de casa seria útil? Eu deveria considerar: o

Fazer RPDs;

o

Monitorar minhas atividades;

o

Agendar atividades de prazer e domínio;

o

Trabalhar sobre uma hierarquia comportamental;

o

Ler anotações da terapia;

o

Praticar as habilidades como relaxamento ou lidar com imagens;

o

Fazer um diário de autodeclaração positiva;

 Que comportamento eu gostaria de mudar?

7.

Marcar a próxima sessão da terapia:

 Quando deveria ser a próxima sessão? Quanto tempo deveria passar?  Eu deveria fazer sessões futuras regularmente no primeiro dia de cada semana/mês/estação?



Resolução de Problemas

AN02FREV001/ REV 3.0

123

Definição do problema

Pensamentos automáticos

Pensamento alternativo

Consequências Alternativas

realista

realistas

de

cada alternativa

Escolha da alternativa e plano de

Reavaliação

execução

FIM!

AN02FREV001/ REV 3.0

124

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