10 - Criatividade - Abrindo O Lado Inovador Da Mente (1).pdf

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JosÉ PREDEBON

CRIATIVIDADE

Abrindo o Lado Inovador da Mente Um Caminho para o Exercício Prático dessa Potencialidade,

Esquecida ou Reprimida quando Deixamos de Ser Crianças

3" edição com apêndice sobre Human Dynamics

--------------~----~ BIGUOTECA FERr-.!.A,NQC r,-~.~ TOS DE SOUZ4

---.

1

--~._o~-.

[;

EDITORA ATLAS SA

Rua Conselheiro Nébias, 1384 (Campos Elísios)

01203-904 São Paulo (SP)

Te!. : (011) 22 1-9 144 (PABX)

www.arIasnet.com.br

SÃO PAULO

EDITORA ATLAS SA - 2001

I

...J



© 1997 by EDITORA ATLAS SA 1.ed. 1997; 2.ed. 1998; 3. ed. 2001

ISBN 85-224-2798-4

ESTE LIVRO É DEDICADO às pessoas que se tomaram companheiras de minha viagem pelo país da criatividade. Menciono muitas no decorrer do livro; mas há centenas de ex-alunos que, não sendo possível nominar, são aqui lembrados por mais alguns depoimentos seus sobre as Aberturas, como os colocados na quar­ ta capa.

Projeto gráfico e capa de Sílvio Consentino Revisão de José Carlos Michelazzo Composição: Formato Serviços de Editoração S/ C Ltda.

Dênis de Lima Silva: ')\pós algum tempo de prática das Aberturas a sensação é de estar em permanente brainstorm. Na realidade é um bodystorm que transforma eventos antes desconsiderados e contribui para uma compreensão diferente do que vivenciamos."

Dados Internacionais de Catalogação na publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, S~ Brasil)

Predebon Criatividade : abrindo o lado inovador da mente : um caminho para o exercício práti­ co dessa porencialidade, esquecida ou reprimida quando deixamos de ser crianças / José

predebon . - 3. ed. - São Paulo: Atlas, 2001.

Bibliografia.

ISBN 85-224-2798-4

1. Criatividade

2. Criatividade em negócios

3. Imaginação

4. Percepção

5. Per­

sonalidade 1. Título. CDD-659.101

97-2466

Índice para catálogo sistemático: 1. Criatividade em propaganda

659 .101

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS - É proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer fonna ou por qualquer meio. A violação dos direitos de autor (Lei n" 9.610/98) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal.

Depósito legal na Biblioteca Nacional confonne Decreto n" 1.82 5, de 20 de dezembro de 1907.

Cód.: 0105 55 338

Impresso no Brasil!Printed in Brazil

Flávia Flamínio: "Com as Aberruras ficou mais fácil ver que o que é certo ou errado depende do quanto você está feliz ." Francisco Gustavo de Carvalho: "Com as Aberruras tive o privilégio de abrir minha arca mental, voltar a ser criança e redescobrir que dentro dela não existem limitações." José Elias: "Criatividade para mim é um óleo de untar a forma do bolo. Com as Aberturas descobri a importância desse ingrediente, desconheci­ do pela maioria das pessoas e responsável pelo sucesso de quem o desco­ bre." Paulo de Tarso Boaventura Pacífico: "Quando com as Aberturas abri meu lado inovador da mente, senti o quanto deixava de fazer, de falar, de sentir, e percebi que posso fazer muiro mais, falar muito maís, sentir muiro mais. Era o que eu precisava." Paulo Rogério Nicoli: ')\ opção é escolher ver, pensar e viver como o coletivo ou desenvolver sua criatividade para ser seguido. Com as Aber­ turas parei de seguir o coletivo." Marcelo Miyashita: "De repente você percebe que tudo podia ser fei­ to de forma diferente. Que você poderia ser diferente ." Ricardo Costa Barbosa: "Espetacular! As Aberturas ajudaram-me a repensar meu modo de ver, de sentir e fazer as coisas, direcionando mi­ nha vida pessoal e profissional para um caminho mais gosroso, criativo e feliz. " Ronaldo Z. Saraceni: "Praticar as Aberturas = ampliar horizontes , quebrar paradigmas, superar preconceitos. Em resumo, viver intensa­ mente."

Sumário

Prefácio , 13

Capítulo zero ou Introdução - Instruções para ler este livro, 15

Ecos do Capítulo Zero, 19

1 UMA PARÁBOLA SOBRE A ORIGEM DA CRIATMDADE, 21

Ecos do Capítulo 1, 24

2 COMO E POR QUE A CRIATMDADE É UNNERSAL, 27

Definições pessoais de criatividade, 28

Manifestações de criatividade, 29

Dona Maria e Niemeyer criando, 29

Exemplos exemplares, 30

Desenvolvimento do componamemo criativo, 31

Caracteristicas do componamento criativo, 32

A questão do engajamento pessoal, 32

Pessoa criativa, pessoa comum, 33

Uns nascem, outros se formam, 35

Ecos do Capítulo 2, 36

suMÁRlo

7

3 PROCESSO DO DESENVOLVIMENTO DA CRlATMDADE, 44

A terra e a semente, 44

t

O broto cresce, 45

8 ABERTURA DA MENTE, 90

Nova navegação do raciocínio, 91

Ecos do capítulo 8, 93

Adubando, dá,45

O sol da prática, 46

9 EFEITOS ESTENDIDOS DAS TRÊS ABERTURAS, 98

A chuva da consciência, 46

Da abertura da emoção para o autoconhecimento, 98

A grande copa adulta, 47

A extensão dos sentidos para uma visão sistêmica, 99

Os frutos palpáveis, 48

Abertura da mente, ponte para o inconsciente, 101

A escada para a colheita, 49

Ecos do Capítulo 9, 102

O delicioso consumo dos frutos, 50

Ecos do Capítulo 3, 51

4 CAMINHOS DIFERENTES PARA A CRlATMDADE, 54

10 AUTO-AVALIAÇÕES AUTO CONHECIMENTO E

CRlATMDADE,106

Ecos do Capítulo 10, 112

Nada elimina nada, 55

Mil abordagens a escolher, 55

11 PERSONALIDADE CRlATIVA E COMPORTAMENTO, 114

Três grupos de caminhos, 56

Características favorecedoras , 115

Ecos do Capítulo 4, 59

Desenvolvimento da personalidade criativa, 117

Do comportamento para a atitude, 118

5 COMO NASCEU A ABORDAGEM DAS ABERTURAS, 63

Abertura pessoal, uma "chave", 64

Comportamentos pré-criativos, 118

Ecos do Capítulo 11, 123

Criatividade também sem aberturas, 66

Como e por que ampliar aberturas, 67

Ecos do Capítulo 5, 69

6 ABERTURA DA EMOÇÃO, 75

12 OS INIMIGOS PESSOAIS DA CRIATMDADE, 127

Ecos do Capítulo 12, 130

13 PERCEPÇÃO MENTAL: DOM? HABILIDADE?, 134

Lidando com o novo, o diferente e o "errado", 76

Definindo percepção mental, 135

Vivenciando a emoção alheia, 78

Percepção mental se traduz por inteligência?, 13 5

A emoção otimizando os sentidos, 78

Exemplos de percepção mental, 136

Ecos do Capítulo 6, 80

Quem exerce melhor a percepção mental, 137

Caminhos e destinos da percepção mental, 138

7 ABERTURA DOS SENTIDOS, 83

Ecos do Capítulo 13, 140

A antena dos sentidos, 84

Manter a antena funcionando, 85

Ecos do Capítulo 7, 87

8

r.RIATMDADE

14 MOTIVAÇÃO, COMBUSTÍVEL DA CRlATMDADE, 144

Sem motivação, criatividade difícil, 145

sUMÁRJo

9

Quando a motivação funciona, 145 Chaves e recursos, 146 Um programa para crescer, 147 O uso criativo do tempo, 148 Um processo recompensador, 148 Ecos do Capítulo 14, 150 15 DESCOBRlNDO OPORTUNIDADES, 153

Atitude e comportamento dos descobridores, 154 Zoom-out, para começar bem, 154 Olhar lá na frente, 155 Focalizar o produto hoje, 155 Focalizar cada segmento, 156 Abaixo os feudos!, 157 Ligando os pontos, 157 Exemplo de exercício prático, 158 Ecos do Capítulo 15, 160 16 O VELHO E FAMOSO BRAINSTORM, 162 Visão técnico-acadêmica, 162 Ecos do Capítulo 16, 166 17 EXERCÍCIOS DE CRIATMDADE, 168 O que define um exercício de criatividade?, 169

Como são os exercícios de criatividade, 170 Exercícios para combater bloqueios psicológicos, 171 Exercícios para explorar rupturas, 172 Exercícios para explorar viagens da imaginação, 174 Exercícios para explorar a ousadia criativa, 175 Exercícios para explorar associações não lógicas, 177 Exercícios para explorar alternativas não lógicas, 179 Exercícios para explorar ambigüidades, 180 Exercícios para explorar territórios desconhecidos, 182 Exercícios para explorar a fluência imaginativa, 184 A prática dos exercícios nos treinamentos, 187 10

CRlATMDADE

Roteiro para inventar exercícios de criatividade, 187 Ecos do Capítulo 17, 190 18 DIFUSÃO DE CRlATMDADE NA EMPRESA, 192

Por que a criatividade está em alta nas empresas, 193 Viabilizando a criatividade empresarial, 194 O poder mágico da liderança criativa, 195 Brasil, criatividade e empresas, 196 Mudança também para quem não quer, 197 Comprar tiquetes para o futuro, 198 Hora de combater os inimigos, 199 Inimigos da inovação na empresa, 200 A origem histórica da empresa criativa, 201 Evolução via revoluções, 202 Casando criatividade com organização, 203 A estrutura criadora de criatividade, 204 Futuro, empresa ideal e seus dirigentes, 207 Ecos do Capítulo 18, 209 19 A POR'D\ DA PRÁTICA CRlATNA, 212 Aproveitar o investimento feito, a idéia, 213 Viagem bem planejada tem ponto de partida claro, 213 O momento de começar, 214 Cotidiano versus criativo, 215 Interação via comportamento criativo, 216 Introspecção, ferramenta da excelência, 217 Felicidade, a meta, 218 Últimos Ecos, 219 Apêndice A: O cruzamento entre criatividade e Human Dynamics, 223 Apêndice B: Avaliação de inovação e criatividade em organizações, 227 Bibliografia, 229

sUMÁRIo

11

!

Prefácio

ais do que nunca, necessitamos fazer uso de nosso po­ tencial para criar. Esse potencial ilimitado, que perma­ nece, muitas vezes, adormecido ou em estado latente, é o recurso mais precioso que indivíduos e organizações dispõem para lidar com os desafios que acompanham nossa época, em que a incerteza, o progresso e a mudança são uma constante.

M

Novos comportamentos e atitudes fazem-se necessários nes­ te cenário atual, marcado por uma complexidade crescente e por uma demanda permanente de novas respostas e inovação. Por outro lado, a cultura de aprendizagem e de ensino dominante neste final de século, na grande maioria das instituições responsá­ veis pela educação formal, privilegia em demasia o desenvolvi­ mento de algumas poucas habilidades de pensamento, dando ên­ fase especialmente ao domínio da informação e deixando de lado outras habilidades relevantes, como a de pensar de forma criativa e inovadora. Um estudo feito nos Estados Unidos mostrou, por exemplo, que 80% da energia educacional em cursos universitários é dirigida para disciplinas analíticas, quando a realidade atual está exigindo, de forma crescente, que também se priorizem a habili­ dade para lidar com fatos novos, sem regras preestabelecidas, a capacidade de inovar e o desenvolvimento do aluno como pessoa. As empresas líderes, como algumas gigantes transnacionais, estão procurando compensar essa deficiência com um treinamento es­ pecífico em criatividade para seu quadro de pessoal. PREFÁCIO

13

o livro

do Pro f. José Predebon aborda este tema fascinante os caminhos que a revelando os recursos em nossa mente para a De forma leve e atraente, o autor descreve o processo de da criatividade e seus tanto em termos como de ambiente de trabalho. Aponta atitudes e comportamentos a serem CHJ1I,.aU'JO e cultivados e chama a para o do afeto e da emoção como no processo de criaainda toda uma gama de exercícios que as várias dimensões do pensamento e da tam à pessoa conscientizando-se e de suas fontes inteCriatividade: abrindo o lado inovador da mente fruto de lon­ ga do autor no exercício permanente da criatividade. Como orofissional da área de de e programas de criativi­ tem vivência do processo aliando o ca­ nhecimenro teórico com a da criativo. Tlilhar os caminhos que este livro nos oferece é uma aventu­ ra que descortina novas e novos conhecimentos. nossa curiosidade. Leva-nos a refletir a de nossas POSSID1­ !idades e De nossos recursos interiores e circunstân­ eventualmente estar ofuscando nossa que o leitor desfrute desta aventura tanto quanto eu, que tive o de vivenciá-la em mão. Eunice Soriano de Alencar _ e conferencista da área de criatividade

Capítulo Zero

çõ

In

para Le

te Livro

ão que isso seja forma outra torma, mesmo uma que por acaso, adotem. Há os que co­ meçam pelo outros fazem leitura dinâmica de partes e, ain­ há outros que a iniciam Dela final. Aqui. tudo é válido.

N

Essas representam apenas um para tornar a leitura mais faria falta. dentro do tema além de útil.

A

quase uma isso não preten­

antes de vocês analisarem as também ser interessante tomar conhecimento da minha apresenta­ como autor. Será como quem, antes de ouvir uma recebe informações sobre a pessoa que vai falar. a estabele­ melhor entre o emissor e o receptor da mensa­ gemo çom llçença, apresento-me. Nasci em 1931 e até não tive uma vida chamada normal: virei a mesa vá­ rias vezes, poucas com bons resultados materiais. Estudei Sociolo­ Propaganda, setor em que me fixei por 30 anos, por­ gia e que havia finalmente encontrado uma atividade excitante: criar. Então fui bem pago e ganhei 0\.1'.""<0,:) tários criam para si nrr".. rl()~ como de criatividade. Na extensão dessa

14

CRl4TMDADE

PARA

ESTE I.IVRO

15

rante dois anos, de 1993 a 1995, o Departamento de Criatividade Aplicada da ESPM - Escola Superior de Propaganda e Marketing, em São Paulo. Esses dados completam-se com uma informação bem pessoal sobre um jeito de ser, que também deve explicar o estilo deste liVTo: confesso que, toda vez que me vejo diante de um público, me apaixono por ele. Isso acontece tanto em salas de aula, no primeiro dia de cada nova turma, como em work.shops e até mes­ mo em simples palestras. Inicialmente, achava que isso era decorrente de um senti­ mento que o materialista diria nascer do que o homem tem de gregário e que o espiritualista diria ser simplesmente amor ao próximo. Depois, refletindo, concluí que a base daquela afetividade espontânea deve vir de uma espécie de reconhecimen­ to pela aposta que as pessoas ali presentes fazem em mim, ou no curso, ou no tema cnatividade, que é o meu preferido. De qual­ quer forma, a simpatia tende a ser rerribuída, pois sempre aconte­ ce um clima bom, criado por alguma coisa além do simples sorriso de boas vindas. Caros leitores deste liVTo, é isso que vou tentar conseguir aqui, no início da viagem que faremos juntos. Como? Bem, confe­ rencistas experientes desenvolvem "técnicas quebra-gelo", que são piadas, casos pertinentes ou perguntas. Como professor, já fiz isso, mas sem nenhum efeito notável- até porque os amigos já me avisaram que não sou um showman. Nada que substituísse de for­ ma melhor a manifestação de simplesmente externar meu "amor à primeira vista", dirigindo-me às pessoas afetuosamente e fazen­ do isso de maneira inequivocamente sincera. Acredito muito no estabelecimento de uma comunicação mais-que-verbal entre as pessoas, o que sempre se tem confinnado cada vez que apareço, sorrio e informalmente digo: amigos, tudo bem? Portanto, cabe, no início deste liVTo, dizer: amigos leitores, tudo bem até aqui? Vamos em frente? Só mais um detalhe. Por que este coloquial do plural, vocês, em vez de você, já que o liVTo é lido por uma só pessoa de cada vez? Explico. Passei 30 anos criando propaganda, abusando do "você" como cunha para estabelecer um diálogo infonnal e mais personalizado. Esses "diálogos" sempre eram utilitários, de ven­ dedor para comprador. Nada errado, eu era um preposto pago para fazer isso mesmo, isto é, agir como um balconista eficiente. Mas nas salas de aula é diferente: não assumo papel algum de persuasor dialético, e assim me acostumei a falar com os alunos, 16

CRlATIVIDADE

tratando-os naturalmente por vocês. Sinto que é melhor. E, por­ tanto, quando uso o nós, não o interpretem como um plural majestático, mas simplesmente como eu que escrevo e vocês que lêem.OK? Bom, vamos às instruções propriamente ditas. Não sem an­ tes reafirmar que vocês não teriam ou não terão problemas para ler o livro do jeito que quiserem. Mas, dependendo da circunstân­ cia, talvez valha a pena alterar sua ordem de leitura natural, para navegar pelo assunto de forma mais articulada, com um interesse específico. A seguir, o esquema de sugestões.

Se vocês

Leiam primeiro

E depois

Tiverem certa preferência por descrições organizadas, logicamente defendidas e geralmente consideradas mais inteligentes

as páginas norma is de todos os capitulos

as páginas entre chaves, de todos os capitulos

Gostarem de abordagens mais emocionais que racionais, e suportarem certo nível de caos, em benefício da aventura e da ludicidade

as páginas entre chaves de cada capítulo

as normais, que antecedem as entre chaves de cada capítulo

Tiverem muito pouco tempo disponivel e interesse relativo pelo tema criatividade

os Cap itulos 5, 6,7 e 8

os Capítulos 11 e 18

Quiserem ter prioritariamente as "dicas" para o uso de seu potencial criativo no trabalho

os Capítulos 12, 15 e 18...

os Capitulos 10, 11 e os outros

Gostarem de criatividade sob o aspecto mais divertido ou artístico do que utilitário

as páginas entre chaves dos Capítulos 4, 5, 6, 7 e8

as páginas entre chaves dos outros capítulos

Estiverem interessados no aspecto técnico do tema

os Capitulos 2, 3, 4, 5, 11 os outros capítulos e 14

Estiverem em duvida, deixem·se levar pela seqüência normal; isto funciona

Para completar, faço a ressalva de que não será muito recompensador esperar deste liVTo um conteúdo academicamente profundo, porque não desembarquei no tema pelo porto da teo- . ria. Cheguei à criatividade por uma prática que deu certo, até por acaso ou sorte. Com o tempo, consegui atracar minha abordagem INSTRUÇÕES PARA UõR ESTE UVRO

17

humanista. Por outro em um é um relato de o que vocês consciente de que ~---­ Ihorar o do criativo das pessoas. Não é uma via que excluí outras nem elimina os atalhos que cada indiví­ duo costuma ter. Pode servir sob suas do com muitos alunos.

II1II

beci! em uma tas pelo lado Como nós ociden­ temos um vicio de cobrar

é constante,

esse de só não acontecendo em mesas de sob a influência liberalizante do ou em cir­ cunstâncias Como nos frustramos de do mundo!

as

em nos um pouco da fomos, e É

De vez em aparece um livro a ela como "Histórias de e Famas", de nossa adulta, Julio que parece ter sido escrito só com a nossa parte mais solta. Dele lembra­ e mos as para subir uma esca­ uma brincadeira mental deliciosa. ComepOUCO ça ensinando que devemos ficar de frente -----------­ levantar um dos para em transferir o ao mesmo tempo em que colocamos do orimeiro ou, em caso de pressa,

PARA LER ESTE LIVRO

18

CRlATJVlDADE

19

COMENf ÁRIOS

1

religioso rigoroso são figuras criadas por Júlio Ribeiro em seu livro Fazer acontecer. Um dos caminhos para tentar a cura é começarmos sendo um pouco tolerantes com o que Costumamos chamar de "boba­ gens". _

Uma Parábola sobre a Origem da Criatividade .~

odem dizer que a inspiração veio de Platão, com o Diálogo de Timeu, mas nem por isso esta parábola tem pretensões maiores. Aparece aqui como ficção, simplesmente para ilus­ trar uma base sobre a qual viajaremos: a importância da criativi­ dade para o ser humano.

P

I:

Peço paciência, amigos, pois ela não é uma parábola simples: envolve personagens de descrição difícil, mas cada um pode imaginá-la como quiser, sem prejuízo da história. Vou além, se a leitura deste capítulo mostrar-se maçante, por favor, pulem-no, pelo menos por enquanto; leiam, porém, agora os comentários, na página 24, para registrar o sentido da parábola. OK?

t ,"

, ~:

'n

',." r

Era uma vez duas entidades, que entre ' nós poderiam ser chamadas de seres superiores. Ocupadas em analisar uma massa de matéria solta no espaço, as entidades automaticamente come­ çaram a trocar seus pensamentos sobre o que fazer com ela. Men­ tes avançadas não discutem; daí um diálogo sem argumentações, com o simples sentido de se encontrar a complementaridade dos conceitos de cada uma. - Estamos vendo aqui matéria, que também é matéria­

prima.

- Certo, devemos observá-la assim; e, considerada como

matéria-prima, sempre o seria para compor sua própria e mais

perfeita integração no todo.

20

CR IATMDADE

UMA PARÁBOlA SOBRE A ORlGEM DA CRlATMDADE

21

.......

e talvez com um sistema menos

do que

mas culdade articulada com o

sistemas desenvolvidos sempre são mais interes­ subsistema. santes, tanto para a parte como para o todo.

deve ser ~

viabilizador do

esse.

- Incluiria uma dinâmica bém evolutiva.

;,,-~

- Evolutivo é um conceito que lembra construtivo. Mais interessante ainda. - Talvez então começar com uma nessa massa '

dos sistemas e teremos um ser com o que

que tenderia a ser tam­

mais

~_!.. ...._:­

- Vai ser uma pY11pr,pnn muito interessante mesmo,

a de

acabará de­ senvolvendo um ser com um bastante de nosso nível. - Hum! Ocorre-me que ele terá

de nós. e ocorre-me também que talvez nós mesmos de uma à que mos a estamos armando.

do

É uma ntpotese interessante; o ser que evoluir e interar-se e não com seu sistema tor­ nar-se um ser como nós.

vida. - Vida que, ao em com uma cada vez maior com o meio.

Talvez baste para isso uma adesão à ética. sempre mais linear do que in­ - Lembro que a Hum! Parece-me que, possumao essas da certa e compor um ciclo ele não sobreviver sem a ética. busca de Bem lembrado. vamos testar tudo e ver o que lvwnnp vinda esse ser assim dotado. da batizá-lo de "ser criativo"? "linearidade com temos assim que o Fechado. l1li Cju<...>L.uv de montagem de ciclos. mas me parece que dei.;mr uma expe­ riência comprovar até onde nossos pensamentos estão corretos e articulados. ser a Sem

e acrescento que a "womzaçao dessa chave conceito de anomalia.

Então vamos acionar o ae vzaa, como pensamos, mas incluindo nela uma semente de para escapar da que sempre se traduz em processos len­ tos, sem saltos. Mn.5rioc do sistema vivo tenha para o não 22

CRiATM OAD E

PARÁBOLA SOBRE A ORlGEM DA CRIATMDADE

23

COMENTAR/OS

)})))))) Ecos do Capítulo 1 (Especulando e comentando)

Parábola filosófica para quê? Aos que pularam a leitura da parábola, dou aqui um esbo­ ço de sinopse: duas entidades resolvem criar um mundo (seria o nosso?) a partir de um processo evolutivo da matéria, e che­ gam à conclusão de que essa dinâmica, para ser otimizada, deve incluir a criatividade. Sem ela, tudo fica linear e lento. Para quem conhece a personagem do Doutor Spock, da série 'Jornada nas Estrelas", temos aí um tipo de seu diálogo lógico, que não é novidade. Abstraindo-se certo pedantismo, próprio das mentes que se julgam perfeitas, o papo chega a ser interessante, apesar de parecer confuso, por sua densidade. Toda mensagem muito densa é cansativa, salvo para os extre­ mamente interessados. Aqui, reparem, chega-se à beira da ca­ racterização de um entendimento entre dois computadores, coisa até desagradável para pessoas sensíveis. Apesar da frieza do entendimento lógico-pragmático, ve­ mos brechas nesse contexto duro: reparem que uma entidade, ao dizer claro, entra no campo do "ceno e errado". Vejam como. Se Ué claro", isto é, se não cabe controvérsia, existe o pressuposto de que há evidência. A evidência vem de um valor que se sobrepõe a outro, dentro de uma situação de, no míni­ mo, mais conveniência, menos atrito. Portanto, quando a enti­ dade diz "claro", faz um leve comentário sobre uma obviedade - percebe-se já aí um traço de emoção . Há mais: na troca de informações há algo comunitário, ponanto ético, quando discutem o que é melhor para o siste­ ma. E ética, eu juro, tem muito a ver com criatividade em sua acepção sadia, como veremos m·ais adiante. Analisando um trecho do diálogo, vê-se que as entidades se mostram agentes de um princípio de dinâmica universal. Bem, seja quem for esse tipo de ser, sua ação está aqui de acor­ do com a física atual, que afirma que nada é inene e imutável no universo, o que toma o movimento natural e, portanto, de­

24

CRlATIVlDADE

COMENf ÁgiOS

sejável. A dinâmica compreende uma mudança constante, que

acontece sempre tendendo do caos para o equilíbrio, o qual, ao

se estabelecer, pela absorção de ·anomalias, volta a ser caos

(nova teoria dos sistemas entrópicos, de Illia Prigogine). Os sis­

temas tratam o desequilíbrio de forma organizadora, e isso é

feito de modo mais eficiente nos organismos auto­

reprodutivos. Daí, usarem vida para otimizar o processo. Se

fôssemos perguntados sobre essa idéia dos seres, teríamos de

admitir que ela é lógica e boa, vocês não concordam?

Vemos também que em outro trecho o diálogo aborda a

interatividade. Como é mesmo? Puxa, a colocação poderia ser

menos "densa" . Mas vamos tentar dissecá-la. As entidades con­

cordam que a interação (inter-ação, uma parte agindo sobre a

outra) tende a compor o equilíbrio em ciclos (processos

repetitivos). Ceno, isso se vê, por exemplo, nos vegetais, seres

vivos que interagem bem com o ambiente; eles têm ciclos que

vão de menos de um mês (rabanetes) , a mais de um século

(alguns pinheiros). Assim, a linearidade da qual elas falam vem

da evolução lógica, que acaba traduzindo-se em ciclos . E o que

isso tem a ver com criatividade? Bom, pensemos em evolução/

inovação: a própria natureza inova para. evoluir (Darwin) . E a

inovação não é irmã da criatividade?

Nessa história, a vida inteligente foi planejada com uma

pitada de "anomalia" ou "não lógica", simplesmente. Alguém

poderia dizer que isso seria um lado "não in­ teligente" do organismo? Reparemos o que as entidades queriam: uma aceleração de pro­ cessos. E elas planejavam isso por uma via Se o homem nunca que conseguia articular a linearidade com a fugisse da norma, anomalia, funcionando esta como uma espé­ cie de fermento para ativar o crescimento da teria um comporta­ massa. Está aí esboçada uma elementar "de­ mento repetitivo e fesa" do componamento não lógico, pai da criatividade. Ele constitui-se em um elemento seria só um mamífe­ acelerador da dinâmica de sistemas, quando ro a mais na Terra. não a própria dinâmica. Se tudo isso ~stá parecendo aborrecido a vocês, talvez esta pane do livro devesse ser "pulada" ou pre­ terida, de acordo com as "instruções" para a leitura. Queiram conferir, sim?

UMA PARÁBOlA SOBRE A ORIGEM DA CRIATMDADE

25

•l

jr!

lÇ 1(.

vocês já devem estar-se lem­ brando do mais famoso exercício do do ao consumo do fruto Calma. Acho que raleio que há de "anomalia" em nossa sob o ângulo de quem observa a dinâmica do sistema. A para a "não-nor­ ma", apesar de automaticamente pelo sistema, é um do processo. Faz parte dele, é-lhe útil. Se não CAL'''''''''', talvez o homem fosse um mamífero a mais, e sua par­ ....'lJa\,clv no todo seria à de outros, corno a baleia ou o que não comem alimentos oroibidos a eles .•

2

c

c

Por Q ea ,

ee

Vn­ do capítulo anterior, usando o caminho da fanta­ urna reflexão sobre a que de atividade similar a esse raciocínio encontrada nos demais seres vivos de nosso planeta. Podemos analisar o assunto do "raciocínio associativo" de animais, como o cachorro de ou da das chamadas sensitivas. por sempre se processam pela aproveitamento ae anteriores e se a estímulos. Já o homem sorna a esse tipO de raciocínio associativo sua de "ir além", construindo enfim. ências anteriores portanto, por nós de forma de­ finitivamente única. Podemos afirmar que a humana tem capacidade inata e exclusiva de raciocínar construtivamente. Essa capacídade o que tranqüilamente pode ser chamado de criatividade. Quando falo do jJUll::llLldl próprio. Daí a de que nós todos somos só pode ser contestado em termos de grau. Também se cnega a essa convicção fato aceito de que "todas as tivas", e que seu sendo no processo de assim como

26

CRlATMDADE

COMO E POR QUE A- CRIATIVIDADE É UNrvERSAl.

27

nascem pessoas mais altas e mais baixas, também há gente com maior ou menor capacidade criativa. A capacidade de cada um é utilizada e desenvolvida em fun ­ ção do meio, de seus estímulos, das limitações que apresenta e dos bloqueios que impõe. Há muitas limitações, às vezes enormes. Por isso, costumo defender, para os que estão entrando no assun­ to, que, seja qual for o potencial próprio da pessoa, o simples rom­ pimento dos bloqueios ou a prática pela tentativa, que tende a desenvolver a capacidade, já serão suficientes para que o compor­ tamento criativo se destaque da média. Bem, agora assim colocada a questão da universalidade da capacidade criativa, podemos partir para a análise de como esta se manifesta. O que queremos dizer realmente, quando falamos "criatividade"? Qual a definição, o modelo, o padrão?

Definições pessoais de criatividade A abordagem prática do tema criatividade, neste livro, pode­ ria passar ao largo das definições, mas correria o risco de colidir com expectativas criadas pela adoção mental de uma ou outra definição, na cabeça de alguns leitores. Todos nós, para uso próprio, guardamos algo parecido com uma definição de criatividade. A maioria de nós, entretanto, não se comprometeria com um enunciado exato e definitivo, porque o assunto é amplo e um pouco escorregadio, gerador de perguntas como: Inteligência inclui criatividade? Criatividade é um dom? É produto de insights? De neuroses? Há vários tipos e níveis? Vê-se, portanto, que uma só defmição teria de abranger mui­ tas fa cetas do tema. Mas acho impossível existir . um enunciado que contemple todos os aspectos e satisfaça a todas as pessoas. Enfrentando esse problema, ao precisar fornecer uma base conceitual, no início de cursos e work.shops , e até mesmo em pa­ lestras, criei a seguinte solução: cada pessoa pode formular sua própria definição, a partir de exemplos discutidos. É o que fare­ mos aqui. Antes dos exemplos, algumas considerações.

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CRlATMDADE

Manifestações de criatividade '1\.0 criar; a pessoa encontra seu eu, seu mundo, seu Deus. "

Erich Fromm Não é difícil concordarmos com Erik Fromm, mas, refletindo sobre esse bom encontro, sempre guardamos uma tendência de julgá-lo, enquanto ato de criar, uma quase exclusividade do cam­ po das artes. O que é natural, pois os artistas têm a base de sua atuação na criatividade . Entretanto, a vertente da expressão e da comunicação, em que se pode encontrar desde Da Vinci até Gilberto Gil, é apenas a mais evidente (e talvez a mais charmosa) face da criatividade ­ qualidade que não é somente própria do homem, mas também muito mais inerente a ele do que se costuma pensar, o que é exaustivamente defendido neste livro. Criatividade vai muito além das artes. Focalizaremos aqui, portanto, a criatividade em outros seto­ res, mais presos ao dia-a-dia, porém tão importantes, como o das artes, principalmente no que toca à frase de Erich Fromm: a reali­ zação pessoal.

Dona Maria e Niemeyer criando Muitos autores dividem atos criativos em ní­ veis de relevância, classificando-os de acordo com sua interferência no contexto. Certo, a receita ori­ ginal de um prato, criada pela mulher que precisa­ va aproveitar sobras, não pode ser colocada no mesmo plano de um projeto arquitetônico premia­ do. Ou pode? Ambos não são atos criativos, produ­ tos da ruptura das normas, eclodidores de uma nova realidade? A dona de casa e o arquiteto não tiveram o mesmo tipo de satisfação pessoal, só que em intensidades diferentes? Talvez. Sem esquecermos isso, vamos focalizar criati­ vidade utilizada na solução de problemas e na des­ coberta de oportunidades , conscientes da importân­ cia dessa abordagem, já que esses são os campos

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o comportamen­ to criativo facilita a vida, a partir do cotidiano. Impro­ VIsar um novo prato usando sobras é um ato de criatividade.

COMO E POR QUE.A CRIAT IVIDADE

E UNNERSA I

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da sobrevivência e do desenvolvimento do homem. A ele se aos animais mais Mais com a acionou o progresso, descobrindo ausência de atrito. para U1l1Ld'rdU, batizamos essa vertente de "cri­ ser criatividade orática, ou ob­ ou não artística etc. Vamos começar lembrando memoráveis "sacadas criativas" nesse campo, assim.

Exemplos ......"-,.. . .

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nas Ollmplaaas ae ':I~, construiu um de apartamentos, em urna área da deterioraos apartamentos foram vendidos com financiamento para habitantes locais um Droblema de mas com a <..UJ.1U."_O.U terem sido utilizados corno os fabricantes de creme dental haviam recebido urna automática que processava todos os insumos e soltava o pronto, em urna que seria maravilhosa não houvesse um pe­ queno e renitente defeito oculto: de vez em saia um tubo v",,,wav, mas cheio só de ar. um sem-número de tentativas infrutíferas de conserto, a veio de um dado quase casualmente por um dos trabalhadores que assistiam aos eston:os dos técnicos, "Por que vocês não colocam aí na saída um ventila­ dor que sopre para fora os tubos vazios? fabricante de a setor. Ao mesmo tempo em que apresentava (';uWjlU~l dade que os estavam o tempo vago e os restos de matetiais para fazer pequede uso Em de adotar V""'01'.'-'V as sobras ou a a lkeda abriu urna nova linha de pro­ a fabricar e vender churrasaueiras - atividade

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CRlATIVIDADE

Os três casos mostram criatividade fora da vertente das artes. A de mais que resolver pro­ urna autêntica descoberta de O caso do ventilador é urna de te, o de Barcelona é urna sorna de com a descoberta de Vemos aí campos de da criatividade que são estimulantes e que se estendem aos mais diversos setores de de ~.'L'-'I-'U"lC'.J" ficos de "v,,,-,,co ","

para nos beneficiarmos de urna ""rfnrrnnnr"

do comportamento

Ao lado constantes pantes de grupos, em começo de cursos e wnrl<'
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CRlATIVJDADE

UNIVERSAL

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Mas a criatividade pessoal não eclode com o conhecimento de re­ cursos e receitas, que é o que traz a maioria dos conjuntos de informações. O exercício do potencial de criatividade liga-se à psi­ cologia do indivíduo, como o comportamento se liga à personali­ dade. Adianta pouco adotar novas práticas, se elas se constiruem tão-somente em "estrururas". Eu frisei tão-somente porque as estrururas podem ser muito úteis, se forem aplicadas pela pessoa também engajada em um processo de desenvolvimento de seu comportamento criativo. Aqui chegamos ao "X" da questão: não tenho conhecimento de qualquer técnica (nem acredito que exis­ ta) que possa tomar a pessoa "mais criativa".

pende de determinação (ato volirivo), outras vezes é inato e ainda outras é produto das circunstâncias, pois estas sempre podem "empurrar" a pessoa para um destino específico.

Características do comportamento criativo

O engajamento inato é mais raro e caracteriza-se pela ten­ dência compulsiva de questionar, mudar, inventar novas maneiras de fazer as coisas. Aparece desde a infância, período em que todos somos naruralmente mais criativos por termos poucos condicio­ namentos ou mesmo nenhum. Se o mundo não consegue reprimir esse indivíduo, ele passará a vida, tentando realizar-se via criativi­ dade. Como o sistema é implacável e sólido, poucos conseguem grande sucesso como um Thomas Edison. Mas seguem compulsi­ vamente sua tendência inata.

O engajamento pela determinação pode ser exemplificado pela pessoa que descobre de alguma forma o prazer do ato de inovar, com um gratificante sentimento de estar interferindo no mundo, e assim passa a procurar melhor qualificação no campo da criatividade. Pesquisa, lê, faz cursos e, o que é mais importante do qualquer outra coisa, tenta, tenta, tenta. Não desanimando com insucessos ou erros, acaba rompendo seus bloqueios e otimizando seu potencial. Adquire, por vontade própria, a capaci­ dade de criar como um ato normal de exercício de sua personali­ dade.

O comportamento criativo é produro de uma visão de vida, de um estado permanente de espírito, de uma verdadeira opção pessoal quanto a desempenhar um papel no mundo. Essa base mobiliza no indivíduo seu potencial imaginativo e desenvolve suas competências além da média, nos campos dependentes da criatividade. Quando digo "além da média", estou lembrando o princípio, já defendido aqui, de que criatividade é uma característica de nos­ sa espécie. Como tal, ela está presente em nosso comportamento normal, em um nível às vezes até imperceptível para a maioria. Há cientistas que defendem ser a própria linguagem oral do ho­ mem um exercício de criatividade, porque ela tem um mecanismo de "improviso", e este só se viabiliza pela habilidade criadora. Por­ tanto, o que chamamos de comportamento criativo é uma forma de exercer o potencial imaginativo em um nível que, por estar acima da média, se toma evidente.

Já o engajamento resultante de circunstâncias é de longe o mais ' interessante para ser analisado, por revelar que o chamado homem comum pode tomar-se o homem criativo. Quem acompa­ nha o desempenho do pessoal em empresas está cansado de ver exemplos assim: um "apagado" ou "comportado" funcionário, de repente, ao ser colocado em uma função que o motiva, e que exi­ ge de si o máximo, transforma-se em pessoa dinâIlÚca e criativa. Algumas vezes a transferência é planejada para queimar de vez alguém não produtivo, e revela que a pessoa apenas estava no lugar errado. Esrudantes apáticos muitas vezes se tomam brilhan­ tes, ao mudar de escola. Filhos ganham iniciativa ao sair de casa, cônjuges mudam de personalidade ao ficarem sós, equipes intei­ ras se transformam ao mudar de líder.

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A questão do engajamento pessoal Pessoa criativa, pessoa comum

Voltando ao fio da meada, toda a minha experiência no cam­ po da criatividade aplicada, somada às pesquisas no campo aca­ dêmico, traz-me a convicção de que o processo descrito como um engajamento total para o exercício da criatividade às vezes de­ 32

No campo específico da criatividade, os estímulos do meio são decisivos para criar o aqui chamado engajamento totaL E, COMO E POR QUE A CRlATIVIDADE É UNIVERSAL

CR.IATMDADE

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Criatividade é ca­ racterística da es­ pécie humana: "O homem criativo não é o homem comum ao qual se acrescentou algo; o homem criativo é o homem comum do qual nada se tirou." Abraham Maslow

quando este acontece, vem confirmar aquele princípio, hoje já bem aceito pela ciência, de­ fendido na década de 60 por Abraham Maslow, um dos pais da psicologia humanista: "O ho­ mem criarivo não é o homem comum ao qual se acrescentou algo; o homem criarivo é o homem comum do qual nada se rirou."

Comparando-se dois tipos de engaja­ mento, no caso este último, produto das cir­ cunstâncias, com o inato, que se caracteriza principalmente pela compulsividade, descobri­ mos coisas interessantes. O indivíduo que nas­ ce com o comportamento criativo como que fazendo parte de sua personalidade tem uma postura de "viciado pelo novo" diante do mun­ do. Claro que o exercício de sua compulsão in­ clui o prazer, mas este sequer é procurado como um fim. Ao acabar cada tarefa de cria­ ção, a pessOa relaxa com a sensação de dever cumprido, perante si própria. Quando não tem obrigações de criar, ele descobre desafios no cotidiano, imaginando modificações em tudo, ou até mesmo fica "treinando", como no caso de um diretor de arte meu conhecido, que começa a criar layouts em guardanapos de papel, já na segun­ da semana de férias.

Com o indivíduo que as circunstâncias tomaram cnatIvo acontece algo diferente: ele passa a deslumbrar-se com o prazer que advém de sua criatividade e toma-se também um fã dessa condiçãO, nova para si, adquirindo o "vício" não pela via compul­ siva, mas pelo caminho hedonístico. Busca o prazer de criar, pelo prazer da conquista do "novo". Descobre, sem analisar por que, que o novo é irmão do diferente e que o diferente, quando rele­ vante, é chamado de criativo. O conceito de relevância é muito mais aplicado à criatividade no dia-a-dia ou no campo profissio­ nal do que nas artes, que têm outro compromisso com a realida­ de. O funcionário criativo percebe que suas idéias são chamadas de devaneios e rejeitadas quando não se articulam com a realida­ de, isto é, quando não apresentam evidentes vantagens que com­ pensem o risco que as mudanças sempre apresentam, em algum grau.

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Uns nascem, outros se formam Temos assim uma diferença notável entre o criativo compul­ sivo e o criativo circunstancial. Mas aquele, inato, quando conse­ gue atingir um bom nível de exercício de seu potencial, acaba ten­ do a mesma postura que o circunstancial. A consciência dessas condições e de como as coisas funcionam em cada caso pessoal é importante para este último tipo, o dos que desejam exercer me­ lhor sua criatividade. Tipo em que, a rigor, deve estar a maioria de vocês, leitores deste livro. O desenvolvimento do comportamento criativo também se estabelece quando os estímulos circunstanciais são os de "necessi­ dade de solução". Essa vertente é a mais comum que se encontra no campo profissional. O ambiente das empresas, cada vez mais mutante, traz constantes problemas de adaptação, o que também explica por que a criatividade está sendo cada vez mais valorizada nas organizações. As soluções são um "novo obrigatório", indis­ pensável até para a sobrevivência no mercado. Fora dessa verten­ te mais comum, as condições de mudança também estimulam o uso da criatividade na "descoberta de oportunidades", que se constituem em uma especulação com o novo. :j

Dentro desse panorama, encontramos denominadores co­ muns no desenvolvimento da criatividade pessoal. Trabalhando Com eles, por meio de diálogos com alunos e de pesquisa em áreas da Psicologia, cheguei a uma teoria de como pode funcionar o processo que nos leva a desenvolver o comportamento criativo. Essa teoria foi com o tempo ilustrada por uma metáfora, para uso em aulas, que estará no próximo capítulo. _

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COMENTÁRIOS

)))))))) Ecos do Capítulo 2 (Especulando e comentando)

Universalidade? Califórnia, adorável Califórnia, é o lugar onde há mais in­ telectuais alternativos do que em qualquer outra parte do mun­ do. Só São Francisco tem mais de 300 publicações espe­ culativas e/ou esotéricas. Uma amostra da cultura da região é Itzac Bentov, autor lido e respeitado até nos meios acadêmicos americanos. Pois bem, seu livro (prefaciado por William Tiller, cientista da Uni­ versidade de Stanford), traduzido para o português, À espreita do pêndulo cósmico, que basicamente explora princípios univer­ sais de oscilação e sincronicidade, traz algumas teorias das I quais me apodero e transformo em argumentação para defen­ der a tese de a criatividade constituir-se em uma característica de nossa espécie. Vejam só que interessante. Bentov, que não parte das dife­ renças entre seres vivos e a matéria em geral, montou um qua­ dro com os níveis do que ele chama de consciência, definindo esta como a capacidade de resposta a estímulos, presentes até nos átomos (que se alteram com raios ultravioleta). De acordo com a teoria, há uma possibilidade de medir o nível de consci­ ência, que é mínimo nos átomos, aumenta nos vírus, nos ani­ mais, e em grau maior atinge o que ele chama de faixa de nossa realidade comum. Ele não pára aí, definindo faixas em que o homem, desenvolvendo sua consciência, também pode situar­ se: a realidade emocional, a mental, a intuitiva, e chega por fim aos níveis espirituais, com a idéia de uma consciência plena universal, que me parece ser sua idéia de Deus.

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A escala de Bentov inspira-se na existência de uma per­ cepção cada vez mais sutil e de uma resposta cada vez mais refinada. E chega então ao ponto em que vejo contida a defesa da criatividade como característica da espécie, com base na idéia do "livre-arbítrio". Vale a pena transcrever o trecho que trata disso:

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CRlATMDADE

COM ENTÁgIOS

" ... uma rocha conterá menos consciência que uma planta ou um cão. Isso deixa à rocha um menor grau de controle sobre o seu meio ambiente, um menor número de respostas possíveis e, em conseqüência, menos livre­ arbítrio (se é que se pode falar em livre-arbítrio de uma rocha) . Todavia, não nos esqueçamos de que nós, seres humanos, também usufruímos de um livre-arbítrio limita­ do. Seu grau, bem como nossa capacidade para controlar ou criar nosso próprio meio ambiente, serão tanto maiores quanto mais para cima nos movermos na escala da evolu­ ção." Esse "movimento" na escala da evolução tanto pode ser uma simples mudança da visão do observador ao longo da es­ cala, como a alteração advinda da dinâmica de nossa consciên­ cia indo em direção ao que ele chama de livre-arbítrio, já que em outros trechos do livro ele trata desse desenvolvimento. Contudo, o que Bentov chama de livre arbítrio, eu interpreto como algo mais do que só a liberdade de escolher, porque ele o coloca no contexto de respostas refinadas a estímulos sutis. Vê­ se assim que não se trata só de liberdade de escolha, mas tam­ bém de um desenvolvimento da capacidade de raciocinar mais complexamente e construtivamente. Para meu propósito, aí está o X da questão: animais e plantas interagem com o ambi­ ente, processam estímulos, mas nenhum com essa característi­ ca peculiar ao ser humano. Daí minha defesa, com a ajuda de Bentov, de que essa qualidade, que pode ser tranqüilamente traduzida por criatividade, seja uma característica da espécie hümana. É uma proposição digna de ser pensada, se não esti­ ver desde logo aceita. Ela se insere em um painel de estudos da mente, que o crescente interesse pelo tema está fazendo surgir.

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Estudos sobre o raciocínio do homem estão em pauta. Há abordagens multidisciplinares como a do Projeto Zero de Harvard, do qual o livro Estruturas da mente (de Howard Gardner), é um exemplo. Há interessantes abordagens compa­ rativas "homem versus computador", das quais o livro A mente nova do rei (de R. Penrose) é um exemplo. Existem outras abor­ dagens cientificas que chegam até a neurologia, hoje já mapeando funções do cérebro, e aí o livro Left brain, right brain (de Springer e Deutsch) é exemplo. Há teorias novas sobre a mente, como a exposta no livro The right brain (de T. R. COMO E POR QUE-A CRlATlVlDADE É UNNERSAL

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COMENíÁRIOS COMENíÁRIOS

Blakeslee), que afirma ser o hemisfério cerebral direito nosso próprio inconsciente. De posse de informações como essas, facilmente se chega ao princípio aqui chamado de "universalidade" da criatividade. E a convicção não se estabelece somente atra­ vés de um raciocínio lógico, apesar de resistir a sua análise; ela vem como uma dedução in­ tuitiva. Aconteceu comigo e estou certo de o clichê "Eu não que será fácil suceder com vocês. As verdades sou uma pessoa definitivas e a própria sabedoria, já dizia Buda, repousam na intuição, não na razão. criativa" é uma pro­ Consideremos, portanto, o clichê "eu não sou uma pessoa criativa" como uma pro­ paganda subversiva, a ser ignorada, em nossa conquista do maravilhoso país da criativida­ de. Todos já somos naturais dele. Exploremo­ lo, como donos. Para finalizar, confesso que tudo isso aí acima não está muito coerente com o tom dos comentários dos outros capítulos, feitos mais com (e para) o lado direito do cérebro. Peço que vocês relevem esse fato, já que não encontrei local mais adequado a esses quase devaneios. Mas os considero muito úteis, no contexto geral. OK?

paganda subversiva que deve ser ignora­ da em nossa con­ quista do maravi­ lhoso país da criati­ vidade.

Definir criatividade? Exemplificar? Durante muito tempo, usei nos inícios de cursos e work.shops uma faixa de seis metros de pano, onde se lia: ''A Imaginação é Mais Importante que o Conhecimento. Ass.: Albert Einstein." Estendida na parede, a frase produzia algum impacto, como eu queria, e passava a ser tema de discussão, que objetivava provocar, entre os participantes, uma reflexão sobre a importância da criatividade. Geralmente, eram pessoas muito condicionadas pelo respeito ao conhecimento científico, pelas normas e pela obediência ao pensamento lógico. Dessa discussão partíamos para a definição de criativida­ de; eu apresentava uma, provisória, algo como "a competência

de raciocinar construtivamente, pensando o novo/relevante". Contudo, o que eu realmente propunha é que cada pessoa, após a discussão anterior, formulasse sua própria definição, ex­ traída da análise de exemplos da criatividade aplicada ao dia-a­ dia, que ali eu apresentava, então. Nunca foi fácil chegar a um nível alto de cooptação, pois a base era viciada. Para a grande maioria (principalmente entre nós, ocidentais), cartesianismo, mecanicismo, pragmatismo e o "dois e dois são quatro" agem como arquétipos culturais, para não dizer paradigmas, a serem obedecidos. O restante, e den­ tro deste o pensamento não lógico, cheira a especulação ou m.isticismo. O que não pode ser matematicamente provado pas­ sa para o lado do esotérico. Não duvidem: certa vez, ao comen­ tar com um colega professor o livro para mim muito importan­ te, "Diálogo Entre Cientistas e Sábios", que ele também havia lido, ouvi este tipo de conclusão: "O livro é interessante, Predeba, mas faz parte de uma moda recente que valoriza mui­ to o pensamento não científico; parece que estamos numa Re­ nascença às avessas." Os participantes de meus cursos, com quem comentava a frase de Einstein, por outro lado, também não deixavam de apresentar certo respeito e interesse pela criatividade, até por­ que estavam inscritos no evento. Mas, como se constata na apreciação do público em geral, criatividade era para eles um campo reservado quase exclusivamente a artistas e a pessoas superdotadas. Quanto perde a humanidade por não existir um consenso de que criatividade é uma característica natural da espécie hu­ mana e de que seu exercício é absolutamente cotidiano! Todos ganhariam muito mais estímulo e perderiam muitos bloqueios para o exercício de suas potencialidades. Bem, e ao se enfrentar o problema elementar de uma definição, o problema aparece. O que mais ocorre de imediato são afirmações como estas: "Criatividade é coisa de gênios, como Einstein ou Da Vinci." "Criatividade e loucura estão próximas." "Criatividade é subproduto de uma neurose." Ah! isso também passa por suas cabeças? Este livro vai tentar provar o contrário, estabelecendo um diálogo com a ra-

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CRIATIVIDADE

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COMENTÁRIOS

COMENTÁRIOS

zão de vocês. A tese da universalidade da criatividade não é nova, sequer corajosa. Mas sempre é discutível, e talvez assim o seja por uma questão de nomenclatura. Porque a grande maio­ ria acha que a palavra criatividade não inclui as ações inovado­ ras do cotidiano, e só se lembra dos gênios criativos, freqüente­ mente loucos como um Van Gogh ou neuróticos como poetas que se suicidam. Bem, voltemos aos exemplos, que valem mais que argu­ mentos. Os casos descritos pretendem defender o conceito de criatividade no dia-a-dia como uma forma interessante, mas ab­ solutamente normal de ação, ao alcance de to­ dos. Analisem um por um, verificando como eles são representativos, dentro do que cada um de nós está cansado de ver acontecer por torto de aí.

Exemplo raciocínio especulativo/inova­ dor: o conto-do­ vigário. O estelionatário nada mais é que um "cri­ ativo aético". .\

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Só para brincar um pouco, acrescento aqui um exemplo desse tipo de raciocínio especulativo/construtivo/inovador: o conto ­ do-vigário. Querem coisa mais engenhosa? E o malandro vigarista está a rigor sendo nada mais que um "criativo aético".

na metáfora temos o exercício da criatividade como um vôo de balão, no qual o gás seria a fantasia e o lastro sua tangência com a realidade (relevância). Mas, seja qual for a definição adotada, deverá estar próxi­ ma de algo que trata da competência mental de raciocinar de forma diferente do computador, isto é, articulando o que não é previsto pela lógica com a própria lógica. Se não houver a arti­ culação, não é criatividade, é só fantasia . Existindo a articula­ ção, a idéia passa a ser relevante, e aí caracteriza-se a criativi­ dade. Coisa de gente normal, que só se destaca da média pelo exercício desbloqueado de suas potencialidades .

Criatividade? Por quê? Para quê? Minha experiência como professor de cursos de criativida­ de e monitor de workshops me leva às deduções que estão aí. O ângulo do assunto está focalizado racionalmente pelo lado es­ querdo do cérebro. Vejam que aí eu afirmo, e o faço sincera­ mente, ser o comportamento criativo (aquele além da média) o produto de uma visão de vida, com um engajamento total.

É bom também trazer aqui mais um caso real de que tomei conhecimento, para que se pense em criatividade em nosso dia-a-dia . Aqui vai: uma grande casa foi desocupada pelo banco que a alugava e o inquilino que chegou para montar ali um restaurante encontrou, no lugar em que ia instalar a copa, um antigo e pesadíssimo cofre. O banco, avisado, informou que era artigo fora de uso, doado a uma ins­ tituição de caridade. Esta, por sua vez, não tinha recursos para a caríssima remoção, renunciando ao bem. Solução criativa do inquilino: abrir, ao lado do cofre, um buraco no chão e aí enter­ rar o trambolho para sempre. Criatividade, aqui, para solucio­ nar um problema trivial, mas enorme.

O fato relatado a seguir originou-se em uma noite de 1992, na Faculdade Cásper Líbero, quando quase 300 estudan­ tes assistiam a minha palestra sobre criatividade. Já contarei o que ocorreu, que me levou a um posicionamento interessante sobre o tema. Posicionamento que eu relato, depois de fazer aqui um "parêntese filosófico", à guisa de preâmbulo .

A esta altura, creio que será fácil ter na cabeça de cada um de nós uma definição própria de criatividade. Ela também pode nascer da reflexão sobre uma metáfora que uso em cursos: ima­ ginem um balão tripulado, cujo vôo eficiente acontece pelo balanceamento entre O gás e o lastro. Se tivesse gás demais, ele se perderia. Com lastro excessivo não sairia do chão. Pois bem,

(Filosofando, afirmo que seria ótimo se, ao viajarmos, não esquecêssemos o destino. É comum as atividades da viagem ocu­ parem tamo o viajante que ele acaba considerando o trajeto como um objetivo em si e perde de vista o destino real. Viagem nada mais é que a ida de um lugar para o outro. Não é um passeio, onde estamos, aí sim, curtindo a movimentação. Verdade é que

CRIATMDADE

Existe, porém, uma ressalva quanto a isso, e ainda bem que a mesma prática que me trouxe as referidas conclusões também me levou à descoberta de um ângulo restritivo da questão. Digo ainda bem, porque assim meu discurso fica me­ nos radical, mais realista, e passa a abranger aspectos não lógi­ cos que só nosso hemisfério direito ajuda a explorar.

COMO E POR QUE A CRlATIVlDADE É UNIVERSAL

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COMENTÁRIOS

podemos fazer a viagem e passear, ao mesmo tempo, mas isso não é comum. Essa consideração deságua em uma reflexão sobre o compor­ tamento criativo, que pode ser considerado uma atividade parcial (algo como um trajeto) dentro de um todo maior que é o sentido de nossa vida (algo como um destino). Como o sentido da vida inclui sempre a felicidade, ela é mais importante que o comporta­ mento criativo. Este deve ser almejado, portanto, à medida que trouxer felicidade. Se a vocês ocorre de imediato que exercer a criatividade é gratificante em si e os faz feliz, está aí o caso da viagem a passeio. Mas esse exercício só deve ser cultivado se não for sofrido. Se ele se tornar uma obrigação difícil de ser cumprida, há algo errado. Porque aí, insistindo, vocês estariam esquecendo o verdadeiro des­ tino de sua viagem, da viagem de suas vidas: ser feliz.)

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Agora conto o que sucedeu na Cásper LIbero. Os estudan­ tes me ouviam defender as vantagens de saber desprezar nor­ mas, quando o mister é conseguir chegar a soluções criativas e inovadoras. Acho que fui até bem-sucedido, o que na hora de­ duzi pela pergunta de uma aluna, muito sincera, sobre sua difi­ culdade para sair fora do trilho das coisas certinhas. À medida que ela falava ia ficando mais veemente, e o auditório inteiro fez um silêncio de expectativa, primeiro para ouvir aquele de­ poimento, muito humano, e depois pela curiosidade de saber o que eu diria .

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COMENTÁRIOS

"Pare com isso", eu disse. "Olhe, minha cara, eu penso que nós viemos ao mundo para sermos felizes e não para sermos criati­ Nosso verdadeiro vos. Em que pese eu ter dito aqui que a cria­ destino deve ter a tividade é sensacional, e nos faz maiores, e não há por que fugirmos de seus estímulos, direção da felicida­ pense que cada um de nós é uma pessoa, de. Criatividade será com um individualismo precioso, que deve­ mos cultivar. A criatividade não é uma porta só uma estrada. única para a realização pessoal, e daí para a felicidade. Se as práticas para exercer uma postura inovadora não estão de acordo com a parte mais pro­ funda de sua personalidade, não há por que insistir. Vivendo tranqüila, procurando crescer a partir de seu jeito, você achará outras portas mais adequadas a sua natureza . Que não é pior nem melhor que a natureza dos outros, é simplesmente sua maneira. Não fique se cobrando ser menos adequada às nor­ mas, nem se envergonhe de o ser. Exerça sua individualidade, e isto, sim, pode ser uma chave, uma solução." Raramente me senti tão realizado como naquele momen­ to, com as palmas que minha resposta provocou . E, refletindo depois, vi que o estímulo da pergunta da aluna havia provoca­ do uma instantânea mas delicada análise do assunto. E a con­ clusão, para mim, permanece muito válida, até hoje. * Nossa verdadeira viagem é em direção à felicidade. Criati­ vidade é só uma estrada.•

"Professor, tento, disse ela, com emoção. Deus sabe como faço força, mas não consigo. Eu já tinha consciência disso que o senhor fala, que querer tudo certinho não é bom, mas acho que nasci assim quadrada, e simplesmente fico me debatendo con­ tra isso. Deve haver alguma coisa que eu possa fazer, pois até mesmo um guardanapo, dobrado de maneira errada, me inco­ moda. Eu preciso ver as coisas na ordem certa, senão sinto uma compulsão para corrigir. Isso tem remédio? Por favor, diga, o que eu faço? " Senti uma responsabilidade muito grande, naquele mo­ mento. E, talvez, movido mais por respeito humano, minha mente fez um malabarismo para dar uma resposta honesta que fosse boa para ela e para aquele mundo de estudantes me olhando. Acho que por felicidade tive um insight.

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CRJATlVIDAD E

A conclusão foi enriquecida, posteriormente, por meio do comara com a Human

Dynamic:; , novo ramo da psicologia que explica nossas tendências pessoais. No

apêndice, ao final deste livro, há alg umas informações sobre HD .

COMO E POR QUE A CRlATlVIDADE É UNIVERSAl

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favorável para o assunto criatividade. Assim começamos a metá­

fora, que se presta bem a ser representada visualmente, o que

sempre faço em classe. Desenho a terra que é o potencial cria­

tivo, e a sementinha, que é a disposição favorável.

3

Processo do Desenvolvimento da Criatividade

Disposição favorável é pouco mais que "não-oposição". Não obstante isso, a oposição deve ser rara, no caso da criatividade. Mas a disposição favorável é uma força tangível, que se expressa de muitas formas. Como exemplo, ela pode ser a admiração que sentimos, com uma pontinha de inveja, quando encontramos uma solução criativa. "Como não pensei nisso antes?" "Puxa, eles não têm mais o que inventar!" "Que saída inteligente!" Essas são rea­ ções pessoais que ocorrem nas ocasiões mais prosaicas, como quando vemos uma embalagem com um sistema fácil de abertura, ou em casos mais complexos, como o de uma solução habilidosa que facilita nosso caminho no trânsito. Se admiramos esses fatos criativos, temos dentro de nós a semente, que com maior ou me­ nor freqüência aparece germinando, na forma das idéias criativas que nos ocorrem.

N

aceitar, plena ou parcialmente, o conceito de que criativi­ dade, como um tipo de raciocínio construtivo que se aplica o dia-a-dia, é uma característica da espécie, vocês, acredi­ to, tenderão também a aceitar, plena ou parcialmente, uma expli­ cação de como se dá o exercício desse potencial, o que estará con­ tido na metáfora que em seguida descreverei,

o

Bom, nossa imagem já tem uma plantinha brotada da terra. Em nossa metáfora, colocamos a seu redor uma quantidade ade­ quada de adubo para otimizar seu crescimento, e esse adubo é o que chamamos de proposição de ação. No desenho, faço um montinho ao lado da pequena planta. E a proposição de ação, que representa um ato volitivo e concreto, pode ser exemplificada pela determinação para tomar uma iniciativa, a partir de um in­ vestimento de esforço e/ou tempo, em direção à criatividade. Em uma criança, por exemplo, poderia ser algo como ''vou treinar para usar meus lápis de cor", ou, em um adulto, ''vou tentar pôr em prática a técnica que esse livro ensina, para desbloquear mi­ nha criatividade".

Antes, conrudo, cabe uma observação: a aceitação plena ou parcial daquele princípio de universalidade (todos somos criati­ vos em algum grau) e uma reflexão que solidifique essa idéia são fatores extremamente úteis para pessoas que desejam engajar-se em um processo de desenvolvimento da sua capacidade criativa, Porque dentro delas se estabelecerá um posicionamento positivo, que em níveis variados significará "sou capaz". Ora, como a criati­ vidade tem uma estreita dependência com o estímulo próprio e interior para a tentativa, esse pensamento positivo reJJfesentará uma grande ajuda.

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'.

t'

broto cresce

A terra e a semente Adubando,dá

Vamos à metáfora, Imaginem que o potencial criativo, por ser comum a todos nós, possa ser simbolizado pela terra, onde plantamos nossas sementes, e que em tese é disponível à espécie humana. Nossa semente, neste caso, será o símbolo da disposição 44

Nesse ponto, a metáfora mostra o crescimento da planta, que passa a ser uma árvore de tamanho regular. Ela é produto da ação do adubo e simboliza a atitude que passamos a apresentar para

CRlATMDADE

PROCESSO DO DESENVOLVlMENTO DA CRIATMDADE

.........

45

o tema criatividade em nossas vidas. Atitude que é um posicionamento interno, como uma forma de sentir as coisas rela­ tivas à criatividade. Ela terá vindo do aprofundamento e da potencialização da disposição favorável. Tende a integrar-se à personalidade, por tornar-se um fator permanente de apreciação e julgamento. Exemplo: a pessoa com atitude criativa reagiria ati­ vamente e com prazer ao desafio de achar um novo caminho para atingir um objetivo, como também ao estímulo de uma folha em branco. Essa atitude tende a valorizar o lado "lúdico" das tentati­ vas, e assim acaba tornando agradável o processo.

o

sol da prática

Prosseguindo com os fatores simbolizados dessa forma , tere­ mos agora sobre nossa árvore a ação benéfica de uma boa dose de sol e chuva, para ela vicejar e produzir frutos normalmente. Na metáfora, o sol é o símbolo do que chamamos de prática engajada. Trata-se de algo mais que a simples prática pelas ten­ tativas ocasionais ou decorrentes de estímulos circunstanciais, como, por exemplo, a necessidade de arrumar desculpas criativas para freqüentes atrasos na entrega dos pedidos, na empresa onde trabalhamos. A prática engajada vem com a adoção de uma abordagem ou técnica específica, que irá balizar nossas ações. O engajamento não requer disciplina total de obediência a determinado sistema ou escola. Pode aproveitar várias técnicas, cruzando-as e soman­ do-as. Mas constitui-se, isto sim, em uma prática sempre mais consciente do que a da tentativa casual. Isso talvez se viabilize por meio de pequenos "balanços" de ações já tomadas, verificando, à luz da técnica que procuramos usar como padrão, quando poderí­ amos ter agido de forma diferente para obter melhores resulta­ dos. Sob essa forma, a prática é consciente e traz benefícios cumu­ lativos, pois as experiências e suas avaliações passam a deixar re­ gistros que facilitam as tentativas seguintes.

:~

A chuva da consciência Após a ação do sol, que na metáfora se desenha brilhando sobre a árvore, vamos agora ao que se representa por uma nuvem que faz chover: é o autoconhecimento. 46

Aqui, chegamos a um ponto importante e

delicado do processo, pois se sabe que o

auroconhecimento é uma conquista valiosa e

nunca muito fácil, produto de outro processo, o do aperfeiçoamento pessoal. Ele não vem de

um simples exercício de vontade, é uma procu­

ra que pode durar muito tempo, por vezes a vida toda.

Os benefícios do autoconhecimento transcendem em muito seu objetivo pertinente à

criatividade.

o autoconhecimento é mesmo necessário ao processo do tornar-se criativo? Não afirma­

mos isso categoricamente, até porque temos

conhecido na prática muitos criadores profis­ sionais, como publicitários e arquitetos, que estavam longe de ser

péssoas centradas em uma boa imagem de si próprias. Neuróticos

e desajustados também podem tornar-se criativos, mas aqui anali­

samos a questão por seu lado saudável, focalizando a capacidade

criativa muito mais como Abraham Maslow a via, como uma qua­

lidade do homem comum, sem bloqueios, em um processo de

crescimento (self-actuali2ing people) e de realização pessoal.

Afirmamos, contudo, que o autoconhecimento é extrema­ mente valioso para o desenvolvimento da capacidade criativa e pode ser uma meta consciente da pessoa que deseja aperfeiçoar­ se no campo da criatividade. Claro que os benefícios do autoconhecimento transcenderão muito o objetivo pertinente à criatividade. Tanto melhor. Talvez o comportamento criativo seja, procurado dessa forma, um instrumento para o aperfeiçoamento pessoal geral. E eu tendo a dizer que o é, pelo que tenho visto na prática. Todas as pessoas envolvidas com o assunto em nosso meio, professores e alunos, dão testemunhos que confinnam: a prática da criatividade deixou suas vidas mais interessantes as fez crescer como pessoas.

A grande copa adulta Prosseguimos com a complementação da metáfora. Nossa árvore, já inteiramente formada e recebendo a ação do sol e da chuva, terá uma grande e definitiva copa, que simboliza aqui o comportamento criativo. Trata-se de um modo próprio de ser, incorporado à personalidade individual, que se caracteriza por uma atuação acima da média no exercício de suas potencia-

CRlATMDADE PROCESSO DO DESENVOLVIMENTO DA CRlATMD AD E

47

!idades criativas, dentro das atribuições assumidas na vida. A pes­ soa evidencia esse comportamento criativo quando sua atuação no dia-a-dia já se mostra naturalmente acima da média, nesse campo. É uma pessoa que se coloca, em seu meio, de forma "inter­ ferente-relevante-inovadora". Essa maneira de ser costuma gerar uma provocação freqüente por parte dos que a cercam: "Dê uma idéia para isso, você que é uma pessoa criativa." A partir daí, há um estímulo permanente para a pessoa exercer sua criatividade, o que passa a acontecer de forma cada vez mais freqüente . O com­ portamento criativo tem assim uma retroalimentação, o que pode ser chamado de feedback.

Os frutos palpáveis

i~ : 1;

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As idéias criativas, na forma de puros insights ou de soluções arduamente raciocinadas, são simbolizadas nessa metáfora pelos frutos que a árvore produz, denominados fatos criativos. Nada têm a ver, na maioria dos casos, com obras-primas de grandes per­ sonalidades criativas. Trata-se da manifestação prática da criativi­ dade no dia-a-dia, geralmente responsável pelo que chamamos de inovação. São atos originais e relevantes pensados para a solução de problemas, para a descoberta de oportunidades ou caminhos novos, na vida profissional e nas atividades de todo dia. Poderia ser, por exemplo, imaginar uma fonua mais fácil de chegar a urna fonte de lucro ou prazer, como uma família, que conheci, que des­ cobriu um jeito original de usar o calor do sol para desidratar sobras de alimentos, para sua conservação. Os fatos criativos podem ser definidos pelo que eles trazem de ganho mais rápido (e não previsto) em qualquer linha da evolução. Modificam o status quo de alguma forma, seja Os fatos criativos com uma nova receita de bolo ou com uma distinguem-se da nova concepção arquitetônica. manifestação criati­ Os fatos criativos distinguem-se das ma­ nifestações criativas nas artes pelo compromis­ va nas artes pelo so deles com a realidade e as circunstâncias. compromisso deles Sim, em ambos os campos há uma ruptura, com a realidade e os mas a criatividade artística tem um compro­ misso maior com a estética e a conquista de resultados. novas formas de expressão.

48

CRlATMDADE

Claro que o mecanismo da produção dos fatos criativos, que mais interferem no contexto do que são relatados e admirados, se processa nas mesmas áreas mentais que os gênios usam em suas criações maiores. Aqui, há um paralelo evidente entre a ação do homem criativo e a criatividade artística. Esta, entretanto, é fruto de outros estímulos, vocações e circunstâncias. A criatividade aplicada no dia-a-dia é um exercício natural e sadio e pode ser facilmente desenvolvida por todos nós.

A escada para a colheita Nossa metáfora está quase pronta. Ela revela um processo que pode se completar com mais um simbolismo: a escada que é usada para facilitar a colheita dos frutos. Essa escada representa os recursos conhecidos para estimular o aparecimento das idéi­ as criativas. Brainstorm é um recurso. A técnica do "pensamento paralelo", de Edward De Bono, é outro. Réguas heurísticas, siste­ mas analógicos, indutores de estado alfa, estruturas de problem­ solving e check-list, como outros tantos recursos, são eficientes para a eclosão de idéias criativas, como a escada é eficiente para facilitar a colheita dos frutos. Mas esses recursos não colaboram na produção do fato criativo. Em geral, a utilização contínua de recursos faz esgotar-se a fonte, e as pessoas envolvidas nessas cir­ cunstâncias vêem-se logo como limões espremidos, enfrentando o stress que advém de tentativas cada vez mais problemáticas para criar.

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Essa visão do processo explica um fato bem comum: pessoas compram livros sobre criatividade, concordam com tudo o que eles ensinam, mas acabam decepcionadas , pois a leitura não as tornou mais criativas. Faltou um engajamento total, interior, indi­ vidual, detalhado aqui na metáfora da árvore. O que se pretende neste livro é mostrar caminhos para a che­ gada de cada um a esse engajamento, que em última análise tem o objetivo de desbloquear e desenvolver seu próprio potencial de criatividade. Essa viagem ao encontro de sua capacidade tem sido feita por meus alunos e participantes de workshops com resulta­ dos sempre positivos, em graus diversos . A viagem não só é possí­ vel, como também entusiasmante e altamente gratificante.

PROCESSO DO DESENVOLVlMENTO DA CRlATNlDADE

49

o

COtvlENTÁRIOS

delicioso consumo dos frutos

Ecos do Capítulo 3 (Especulando e comentando)

Esta observação final pode acrescentar mais um detalhe à metáfora. Colhendo-se os frutos, teremos material para fazer com eles um delicioso suco, que simboliza o resultado gratificante da criatividade aplicada. É um resultado prático e evidente, em forma de reconhecimento ou lucro direto, que se obtém com a produção de fatos criativos. Todos sabem que a pessoa reconheci­ da como criativa passa a ser mais valorizada, elogiada, mais bem paga, bem como verifica ela própria que em todos os aspectos de sua vida, da sobrevivência financeira até o amor, tudo fica mais fácil com a ajuda da criatividade. 11

Metáforas, parábolas e alegorias.

Por quê?

Não que eu precise ou queira justificar-me pelo fato de

abusar dos simbolismos, como o deste capítulo, comparando o

desenvolvimento do comportamento criativo com o crescimen­

to de uma árvore. Como, porém, deve haver muitos leitores

parecidos com meu amigo Nelson Garcia, alérgico a metáforas,

preciso dividir com eles algumas informações sobre a estreita

ligação entre essas figuras de comunicação e o exercício da cri­

atividade. É algo que vai além da habilidade de dar colorido às

mensagens e chega a atingir o nível de uma massagem mental.

Entre as coisas que aprendi nos dois anos em que dirigi o

Departamento de Criatividade Aplicada da ESPM, reportando­

me diretamente ao Nelson como Diretor Acadêmico, estava a

forma de provocá-lo. Se a ocasião ensejava a oportunidade ma­

rota de deixá-lo contrariado, uma metáfora fazia mais sucesso

do que o aparecimento de uma barata em sua sala. Assim como

esta seria imediatamente atacada, esmagada ou chutada para

fora, o autor da "analogia lúdica" era escarnecido e quase con­

vidado a retirar-se.



Por quê? Metáforas vêm de longe. Desde quando se tem

registros, o homem usou essas figuras de comunicação, que

transcendem suas qualidades simplesmente eufêmicas. Insis­

tindo na pergunta: para que procurar, o que pode ser julgado à

luz de uma apreciação lógica, os caminhos mais longos? Por

que não ser "honestamente direto", "curto e grosso", como Nel­

son preferia? Há razões profundas, acreditem.

Para começar, a linguagem simbólica faz-nos utilizar os

dois hemisférios cerebrais, o que facilita a recepção do signifi­

cado. Além disso, ao atingir melhor as áreas emocionais, no

caso o hemisfério direito, o não verbal, o significado ganha

consistência e amplitude. Isso explica como as pessoas em geral

recebem bem os simbolismos e recordam o conteúdo das men-

PROCESSO DO DESENVOLVIMENTO DA CRlATfV1DADE

50

CRIATfV1DADE

51

COMENTÁRIOS

sagens muito melhor do que se elas fossem transmitidas apenas pelo caminho mais lógico, aquele que utiliza a codificação do alfabeto. Torna-se defensável até um princípio de que ao nos comu­ nicarmos simbolicamente, estaremos utilizando nossas capaci­ dades de forma mais plena. A propósito, o livro O cérebro do japonês defende interessante teoria de que o oriental usa mais sua intuição, em relação ao ocidental, por uma simples contin­ gência: a de sua linguagem escrita e falada ter uma codificação deficiente, em matéria de exatidão, em comparação com a co­ municação da linguagem ocidental. Segundo essa teoria, o estímulo resultante da codificação precária, ainda em relação à linguagem do ocidental, obriga a criança que está aprendendo a comunicar-se a ativar funções do hemisfério direito do cérebro, buscando significados além da lógica dos signos. Isso lhe dá um tipo de vantagem, a do maior exercício de uma potencialidade, que tende a ser atrofiada na criança ocidental. Dessa forma, a comunicação do oriental se processa por uma articulação entre os dois hemisfé­ rios: o esquerdo, que decodifica as informações de forma mate­ mática, e o direito, que acrescenta valores emocionais ao con­ junto. Esperem, não passamos a defender, citando essa teoria, uma superioridade do padrão oriental de pensamento. Aqui, estamos, isto sim, registrando uma diferença, e esta tem a ver com o exercício do raciocínio não lógico e, por extensão, com a criatividade. Daí se chega até a explicar, talvez, por que o orien­ tal tem mais afinidade com os hai-kais e bonsais do que com a pesquisa científica que leva a Prêmios Nobel. Ah' Então criatividade é uma competência meio inútil, do ponto de vista científico? Hum! Até há pouco tempo, a única resposta a essa conclusão apressada seria a de lembrar, por um lado, as artes, com seu valor próximo aos ideais mais refinados das sociedades e, por outro lado, a utilidade do pensamento intuitivo e suas manifestações em ritoS e mitos, para estabiliza­ ção emocional de culturas sem as angústias peculiares ao ho­ mem ocidental. Falo do que diz Campbell, em seu livro O poder do mito e também daquele estereótipo do "velho sábio chinês" e da tranqüilidade do índio brasileiro, que só agora, contami­ nado por nossos valores racionais, aprendeu a suicidar-se. 52

CRIATM DADE

COMENTÁRIOS

Pois é, essa seria a resposta ao questionamento da utilida­

de prática da criatividade, até um tempo recente. Mas hoje, na

era pós-Física Quântica, o melhor uso do raciocínio não lógico

(com a valorização da emoção, da intuição e da criatividade)

começa a tomar-se indispensável para a sobrevivência dessa

nossa civilização armada pelo cartesianismo e cultivada por va­

lores mecanicistas e pragmáticos, questão bem explorada por

Antônio Damásio, em seu livro O erro de Descartes.

Finalizando, desenvolvi . a conclusão de que metáforas e outros simbolismos, apesar de serem vulneráveis a ataques da lógica, contribuem diretamente para o exercício da criativida­ de, da seguinte forma: l. O simbolismo faz a mensagem levar o pensamento

para o campo do não-lógico, mexendo com o hemisfé­

rio direito do cérebro de quem a formula e de quem a

recebe. É um exercício de "não-lógica" que ajuda a de­

senvolver nossa competência criativa.

2. O simbolismo, que sempre facilita a síntese, também

ajuda a criar um significado essenciaVconceitual para

a mensagem, levando sua apreciação para um campo

menos exato, terreno da criatividade, que passa a ser

transitado. No campo didático esse princípio é muito

usado (mais vale um exemplo que mil explicações).

l'

4: ,.

3. Nós ocidentais temos clara tendência viciosa para o

racionalismo, e o exercício da comunicação simbólica

também contribui para desatrofiar nossa capacidade

de raciocinar de forma menos bitolada que a do com­

putador. No Capítulo 8, abordo de forma prática a li­

mitação do raciocínio exclusivamente lógico.

I:~

Termino aqui, simbolicamente falando, como quem aca­ bou de dançar um fre vo em um salão recém-encerado. Viram como eu não caí? Ou caí? •

P ROCESSO DO DESENVOLVIME NTO DA CRIATMDADE

53

Existem muitos caminhos diferentes para a

na são em caminhos confluentes. válidos.

4

Caminhos DO nte para a Criatividad ão há não há fórmulas para ativar nosso lado cria­ tivo. Se existir um este será a cada pes­ soa e só ser descoberto por ela mesma, com a essa tica. Como foi relatado dentro da metáfora da terá um rendimento ótimo se estiver ancorada em uma _~Arl"'A de uma

N

a eclosão do processo de desenvolvimento do Iam~mu criativo inclui quase necessariamente a adesão

da pessoa a uma delas escolher? caminho Em verdade. essa sem o dúvida não aparece o é casual, como acon­ a pessoa ouve falar bem de um livro ou de um curso e duas ou a pessoa sente um aprova o caminho e segue desenvolvendo seu meneIaI, ou a e então a fica debitada ao tema raramente ao caminho. "Realmen­ comum. Ou então: te, não sou uma pessoa criativa" é uma "Vi que criatividade não é tão interessante como eu ~an<'~,," Pouca gente tenta outra determinada a desenvol­ sur­ ver seu potencIal e ge a dúvida. Este para facilitar sua até que será descrita mais adiante. deste

~

54

CRJATNIDADE

todos

Nada ........... J,,...........

Por que quase todos os caminhos são válidos? porque, em

mais diversas não são excludentes

vias aparentemente mais opostas, elas quase

ao oferecer aos que conseguem sewi-las o mesmo

dizacão e o uso de seu poren­ cial criativo pessoal.

desenvolvimento

um apenas a Olselpm

somada às

sempre traz bons resultados. No mínimo.

ver a

o que nunca se pOde esperar, por outro lado, é que a de uma técnica

mais do que acelerar ou facilitar ao indivíduo o de uma Instantaneamente que ele tem. que nenhuma conhecida consegue mudar instantaneamente a pessoa ou acres­ a seu campo mental (o escrava das normas, relatado na a seu ilustra esta . Por exem------­ mesmo as técnicas que focalizam a fisiolo­ do cérebro não prometer mais do que estimular o uso

de certas que estariam inativas. Mas elas faziam parte

do e haveria sempre a por acaso, ou­ tro fator ou circunstância as tomar mais ativas.

.Mil

a

a

Como

um trabalho

CAMINHOS DIFERENTES PARA A CRIATIVIDADE

55

extenso e profundo no que toca à análise das abordagens diver­ sas. Mas verifico, como acontece em outras ocasiões, que as cir­ cunstâncias, principalmente aquelas presas ao foco deste livro e à disponibilidade de tempo, não me aconselham a fazer uma pes­ quisa para apresentar a vocês um panorama completo das alter­ nativas existentes. Aos leitores particularmente interessados nes­ sas informações recomendo os livros de Eunice Soriano de Alencar, constantes da bibliografia. Então, por essa contingência, reporto-me somente às abor­ dagens mais conhecidas. Delas tiro conclusões que julgo ser úteis a vocês, como a que diz serem os caminhos diferentes quase equi­ valentes, em termos de resultado. Lembro aqui, como ilustração, algumas abordagens conheci­ das, começando pela mais famosa, a do "pensamento paralelo", de Edward De Bono, autor de dezenas de livros sobre criativida­ de. Outra muito popular é a de Roger Von Oech, autor do Um toc na cuca e Pontapé na rotina. Na área mais ligada às empresas, temos várias, como a de Chik Thompson, autor de Grande idéia, e outra bem moderna, ainda não traduzida, de Arthur B. VanGundy, descrita no livro Brain boosters for business advamage. E finalizo lembrando três clássicos : Criatividade na propaganda, de Roberto Menna Barreto, Criatividade em marketing, de Duailibi e Simonsen, e a do pai do brainstorm, Alex Osborn, com seu O po­ der criativo da mente. Já há no Brasil muita literatura disponível, assim como cur­ sos livres, cursos rápidos e até um módulo regular de criatividade, criado por mim, no curso de pós-graduação de Marketing da ESPM, em São Paulo . São caminhos disponíveis.

!~

:-­

Três grupos de caminhos Uma apreciação de abordagens diversas , feita por mim em cursos, agrupa-as, para efeito de análise, em três grandes verten­ tes: abordagens estruturais, abordagens comportamentais e abor­ dagens atitudinais. As abordagens estruturais são, na maioria, filhas das técnicas de problem-solving. Oferecem esquemas mais ou menos prontos para dirigir o raciocínio em direção às soluções criativas. A maio­ ria dos cursos de criatividade oferecidos nos Estados Unidos, o curso Cinetics, e os cursos de Edward De Bono, na Universidade de Londres, são os exemplos mais conhecidos. 56

CRlATMDADE

A grande qualidade das abordagens estruturais é oferecer um trânsito fácil ao raciocínio cartesiano que caracteriza nossa cultura ocidental, bem como apresentar um resultado quase sem­ pre rápido e palpável. Por outro lado, as estruturas tendem a esquematizar demais o raciocínio, tornando-o mais um gerador aleatório de alternativas a se­ lecionar depois do que um raciocínio profun­ damente inovador. O brainstorm está nesse As abordagens campo. As abordagens comportamentais, muito populares ultimamente, são as que buscam anular os bloqueios normais do indivíduo por meio de exercícios geradores de iniciativa e autoconfiança. Exercícios que chegam até ao campo da atividade física, que tanto podem ser desenvolvidas em salas de aula, em sessões de biodança, como em acampamentos no meio da natureza rústica, com a prática de manobras radicais.

comportamentais para desenvolver criatividade usam desbloqueios. Mas as pessoas têm uma tendência para a volta aos bloqueios antigos.

Os ganhos dessa vertente são também rápidos . As pessoas saem de alguns cursos -----------­ comportamentais "tinindo", com mais confian­ ça própria, mais audaciosas, dispostas a se arriscarem mais. Tudo isso tem bons efeitos para o exercício de seu potencial criativo. São desbloqueios que funcionam bem. A restrição, para não dei­ xar de olhar o outro lado da moeda, é que dificilmente esse com­ portamento prevalece no tempo. Há uma terrível tendência de volta à posição anterior, mais acomodada à rotina e, portanto, mais confortável. Finalmente, as abordagens atitudinais. São baseadas em mudanças na pessoa, que se processam por meio de um traballio no campo psicológico, com a procura de uma expressão mais ple­ na e espontânea do potencial criativo. Compreendem técnicas que incluem reflexão, introversão de novos valores, renúncia a valores antigos, ganho de óticas novas. Fora do campo da criativi­ dade, são abordagens muito utilizadas nos livros de auto-ajuda, que apresentam um universo impressionantemente heterogêneo em termos de qualidade e honestidade. Há desde os trabalhos sé­ rios e consistentes, como Auto estima de Nathaniel Branden, até os disquetes de bla-bla-blá à venda na rua. Pode-se admitir, em um julgamento pragmático, que tudo o que é absorvido pelo mercado tem sua razão de ser. Só por isso se deve trocar a raiva CAl\1INHOS DIFERENTES PARA A CRIATIVIDADE

57

I~

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que se possa sentir

má de uma

COMENTÁF'::IOS

do Capítulo 4 A

p:>lLUIU)S

humanista oferece uma

e

campo autoconhedmento até o exercício de tividade. Autores como Abraham

verança, pela p[()1undId,lde mas prontos e Um bom exemplo das de nos livros de

aU\.J1

u. t l "'C: 1

tomar-se um best-seLler no Brasil e, por minha mada pelo aproveitamento de meus é um trabalho sério e Como existem três tipos diferentes de deve ha­ ver sintonia entre a personalidade do indivíduo e o caminho esco­ lhido, para melhor estimular o de seu lado cria­ tivo. Isso, entretanto, também não é um mas apenas 111

,-v""_,,,

criatividade? Ah, cam ínhos existentes com base nos moa elOS mais comuns usados para a redação dos mesmos. nada é para não dizer T""riru, " r; " os como esses:

LEIS PARA A

DO FATO CRIATIVO:

é defeituoso.

Se não estiver no Se não nascer em um

desenvolvido, não é

Se for simples, 1000 se descobre que era um Se for uma

p~nl>r,"'n('i

t:!lUélIIU.

nunca esperar o sucesso,

SE NUNCA FOI FEITO PRESTA.

ter verbalizado V1Sao peSSlmlsra têm nada a ver com refletindo sobre a luta das pessoas o poema "Se", de aos que estão sempre uma além": SE...

do

lareceres teu valor inibir os cobradores de 58

CAl\1INHOS DlFERENTES PARA

CRlATTVlDADE

59

- J

COM ENTÁ RIOS

CQ,I,JENTÁRIOS

metade dos professores dispostos a ocupar um espaço do novo

departamento.

Se tua ação for experimental, mas conseguires ser prestigiado ... Então, meu filho, serás um inovador inserido no sistema, e todos à tua volta te festejarão e elogiarão tua criatividade, e deitarão falação para te explicar; e organizarão seminários para te ouvir; e criarão cursos para ensinar como fazes, e, por fim, numa suprema homenagem, te considerarão não mais um inovador; mas um eficiente agente do sistema, e assim te defenderão de qualquer proposta que ouse questionar tua verdade. Se acontecer assim, meu filho, cuidado. Reavalia-te.

Entretanto, eu estava redondamente enganado, porque

ainda não havia formulado as "Leis para a rejeição do fato cria­

tivo" e, portanto, não podia avaliar os efeitos da seguinte soma:

1. A idéia generalizada de que criatividade é coisa de gênios e, o que é pior, gênios loucos.

Um relato verídico

..."

!~ .

.~

Vou contar um caso real em que senti a aplicação daquelas leis. Foi em 1993. A ESPM ia abrir um "Departamento de Criati­ vidade Aplicada", por conta de eu estar lá, promovendo work.shops de criatividade dirigidos a empresários, e porque, na visão de seu Diretor-Presidente, Francisco Gracioso, o tema ganhava importância no mundo das empresas, no qual a escola estava umbilicalmente inserida. E também porque o Diretor AcadêITÚCO, Nelson Garcia, me considerava um bom Quem deseja desen­ e confiável professor. volver sua criativi­ A oportunidade era preciosa e ao lado de meu contentamento e enrusiasmo pelo de· dade não pode preo­ safio, havia muita expectativa na faculdade. cupar-se muito com Entre os meus planos iniciais, estava o de conseguir uma adesão por parte dos profes­ a aprovação dos sores; por isso organizei um work.shop especi­ outros, pois o con­ al para eles. Contei com a colaboração dos senso sempre rejeita professores Edson Zogbi e Nestor Muller, que já trabalhavam comigo nos work.shops. Eu a mudança. pensava em apresentar a tese das aberturas, promover alguns exercícios e sair de lá, senão com um consenso favorável, pelo menos com

60

+ 2.

A idéia de que, se fosse possível desenvolver criati­

vidade em uma pessoa, o seria com uma fórmula

inédita, complexa e reconhecida à primeira vista

como surpreendente a ponto de provocar o "oh!"

em cabeças inteligentes.

+ 3.

A rejeição do "novo".

+ 4.

A idéia de que o sucesso dos work.shops anteriores

corria por conta do deslumbramento de mentes

receptivas, comuns entre alunos.

+ 5.

A suspeita de que essa era mais uma das tantas ex­

periências que a escola fazia e desfazia.

+ 6.

A idéia de que criatividade só poderia vir de fora

do país, como, por exemplo, de Buffalo, EUA, que

oferece um famoso curso, tradicionalmente bem

referendado por todos os que dele participaram.

::., I"

Resultado: 1 + 2 + 3 + 4 + 5 + 6 = avaliações gentis.

Apoio mesmo , só de meia dúzia dos 30 e tantos professores

presentes. Mas isso é recordação e só está aqui para ilustrar a

desconfiança que a proposição de ensinar criatividade desperta

naturalmente na grande maioria de nós, donos de mentes

cartesianas e racionais em demasia.

I '

Aviso útil aos interessados em

criatividade

Voltando ao assunto deste capítulo: quem deseja engajar­

se em um programa para desenvolver sua própria criatividade,

CA.YlINHOS DfFER.ENfES PARA A CRlATMDADE

CRlATMDADE

1

61

for a que escolher, enfrentar a força desse quase que modar-se a uma "notória IIllpU::;::;llHUUdue "não se nasceu pra isso" Para os dência é introverter o do "eu sou Soriano de Alencar descobriu no modelo de deve vir do que afirma: "Você se transforma naque você O tem a ver com a número 1 da soma Também será ótimo lembrar que a simplicidade é 2), que o novo é to de um fluxo hoje 3), que nem tudo o que que sem não se e que os americanos não têm cabe­ ças melhores que as nossas (narcela 6). Tudo de acordo com malditas "leis". l1li

asc Abord gem d Abe esde que comecei a trabalhar co­ vidade, tenho enfrentado e em geral, não só no que toca à mas quanto à eficácia de métodos que se propoem favorecer a criatividade pes­ soaL Há uma dúvida honesta sobre ser ou não a criatividade um dom e sobre a de se tornar

D

perrucIOsa

OU

uma

;:)v.lu....av

t;;:'l!lllUldllle;:" deve haver entre elas um denominae deve haver uma com comum de maior número de acertos, se é que existe possibilidade de se che­ gar a um resultado relevante. Essa que me tem sido proposta direta e indiretamen­ te ser pela tese de nosso curso de que não se formatou com base em uma técnica ou em um blicado. Por acaso, nasceu do aoroveitamento de minha como criador de

COMO NASCEU A ABORDAGEM DAS ABERTURAS

62

63

A tese desenvolveu-se, portanto, do exercício da prática, e dentro dela as técnicas de desbloqueio, esquemas estruturados e estímu­ los atitudinais estão sobrepostos em um só conjunto, que se arti­ cula a contextos individuais e tem uma base maior na atitude da pessoa, O que chamo de tese é uma linha de trabalho desenvolvida para gerar o comportamento criativo por meio de um posicionamento "aberto/dinâmico" do indivíduo diante do ambi­ ente. Parece uma abordagem simples demais, porém, como vere­ mos daqui para a frente, ela se justifica e demonstra eficácia. Essa idéia de "aberturas" nasceu como teoria, advinda de uma atitude prospectiva mantida durante o tempo em que me dediquei à criação publicitária. Ao enfrentar depois, em anos re­ centes, o desafio de ensinar a profissão de "criador" a jovens estu­ dantes de comunicação, fui levado, para desenvolver uma didáti­ ca, a também pesquisar "por que alguns criam com mais facilida­ de". A conclusão desse estudo incluiu a descoberta de que um dos acessos rápidos ao comportamento criativo é uma posição concili­ ada e, mais ainda, articulada às variáveis do meio. Assim tomava forma uma teoria, transformada em tese e em linha de trabalho após ter sido testada na prática. Teste feito pri­ meiro nos próprios cursos de criação publicitária e depois, com mais profundidade, nos workshops de criatividade que comecei a monitorar. Eu havia chegado, aos poucos, à espinha dorsal de um "curso de criatividade", que poderia ser resumido na seguinte proposição : aprenda a ser uma pessoa mais aberta e passe auto­ maticamente a ser uma pessoa mais criativa.

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Abertura pessoal, uma "chave"

linha das aberturas simples demais, pode-se registrar interessante correlação entre ela e os princípios de realização pessoal contidos na cultura e na filosofia orientais, principalmente no budismo tibetano e no Zen. Finalmente, aos que apreciam receitas, sistemas ou esque­ mas, vale dizer que o curso com a tese das aberturas desenvolveu uma linha de recursos e exercícios parecidos com os das linhas estrutural e comportamental. E o que são, afinal, pessoas "abertas"? E pessoas "fechadas"? A resposta imediata que essa pergunta provoca é baseada em ca­ racterísticas de extroversão e introversão do indivíduo. Entretan­ to, a tese das aberturas ganhou consistência com muitas discus­ sões em grupo sobre a definição de "pessoa aberta" que se queria ter, e mais, que se sentia necessária para a validação da proposi­ ção de meu curso de criatividade. Conclui-se então, um tanto experimentalmente, que pessoas abertas são as que, dentro de um contexto comportamental sem­ pre complexo, apresentam a prevalência de algumas cara.cterísti­ cas, como as seguintes: l. Flexibilidade . Característica de pessoas que não adotam

posições definitivas, podendo rever suas convicções e va­

lores, sem maiores traumas. Concordam que "tudo é re­

lativo" (inclusive esta afirmação) pensando e agindo a

partir disso . 2. Articulação. Encontrada em pessoas com alto grau de

conciliação e participação no ambiente. Gostam de se

manter informadas e vivenciam muito uma posição

gregária, até com certos ângulos de idealismo e despren­

dimento. 3. Comunicabilidade . Qualidade

dos extrovertidos, na

acepção semântica dos dicionários. Pessoas que conse­

Antes de explicar o que se entende aqui por pessoa mais guem estabelecer fáceis pontes de comunicação com o

aberta, acrescente-se à explicação da "tese das aberturas" o se­ mundo. Transmitem e recebem mais que a média dos in­

guinte: apesar de sua simplicidade, que tende a descontentar divíduos . quem procura maior embasamento científico/acadêmico em qual­ quer assunto, ela é facilmente aprovada pela psicologia 4. Inquietude . Característica de pessoas questionadoras e

humanista, inclusive pelo paralelismo existente entre o conceito prospectivas, as que duvidam de muita coisa e sempre

de "pessoa aberta" e o de "self-actualizing people", criado por querem conferir se normas e consensos são realmente

Maslow. "respeitáveis". Aventureiras no campo mental e material,

em sua maioria são também empreendedoras.

Também em quem procura, em cursos de desenvolvimento pessoal, alguma âncora "esotérica/ iluminadora" e vê, portanto, a

64

CRlATrvIDADE

COMO NASCEU A ABORDAGEM DAS ABERTURAS

65

5. Leveza. Caracteriza quem não leva o mundo a sério de­ mais, sem que isso se traduza em superficialidade. Pes­ soas que mantêm o bom humor com mais facilidade , na­ turalmente. Riem mais, até de si próprias.

Apenas a título ilustrativo, note-se que essas características, por um cuidado de didática, foram apresentadas de modo que suas iniciais formassem um acróstico, o adjetivo "fácil", que pode ser uma boa "definição guarda-chuva" para a pessoa aberta. E as pessoas fechadas? Essas podem ser definidas por carac­ terísticas praticamente opostas às das abertas: preocupadas (em vez de leves), espectadoras (em vez de articuladas), duras (em vez de flexíveis), refratárias (em vez de comunicativas) e acomo­ dadas (em vez de inquietas). Registre-se que a tese das abertUras não pretende, com essa tentativa de classificação, defender uma posição maniqueísta no que toca à personalidade; ninguém é totalmente isso ou aquilo, mas geralmente tende, muito ou pouco, para um dos lados - o das pessoas abertas ou o das fechadas. E há ainda outra ressalva : a confirmação da tese das abertUras passa por uma plena concilia­ ção com as exceções, como se explica a seguir.

Criatividade também sem aberturas .,.

Quadro 5.1 ~

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MAIS ABERTAS

o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o o" o o o o o o o o o o o o o 0 " , 0 o o o o o o o o o o MAIS o o o o o o ", o o o o o o o " ,o o CRIATI VAS o o o o o o o o ',O o o o o o o o o O o o o O " ,o o o O O O o O o o o O o o ',o o o O O O o MENOS O o " , o O o o O

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Como se vê neste quadro, que representa um universo qualquer de pessoas, a maioria das mais abertas é mais criativa. As menos abertas e mais criativas estão nas exceções e em minoria, assim como as mais abertas e menos criativas.

No ta: Pro posta feita pelo aluno A11an C. Basso , em um de meus cursos de 1998: acrescen­

tar-se um Vetor horizontal da esquerda para a direita, de "pesso as mais informa· das",

lhor exercer seu potencial criativo, adotar uma posição dinâmica em direção a um comportamento mais "aberto". Essa foi a base para a montagem de meu curso, que recebeu o título de '~bertu­ ras para a criatividade", instalado em abril de 1990, na ESPM, na forma primeira de um workshop.

Como e por que ampliar aberturas

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Muito além do princípio de que não há regra sem exceção, a tese das abertUras para a criatividade precisou encontrar uma convivência com o fato de que nem todas as pessoas mais abertas são mais criativas, e de que, por outro lado, também são encon­ tradas pessoas muito "fechadas" e muito criativas. A pesquisa fei­ ta para administrar essa realidade chegou a um resultado que pode ser expresso, visualmente, no Quadro 5.l. Mais uma vez foi a observação prática e continuada do ambi­ ente de criação na propaganda que tornou possível a estruturação desse princípio a ser, em seguida, confirmado pela pesquisa. Inte­ grantes de equipes criativas são pessoas dos mais diversos tipos de personalidade e comportamento; contudo, as criativas e mais "fechadas" notoriamente são uma minoria, como se expressa no Quadro 5.l. A partir dessa base, chegou-se à conclusão prática de que seria extremamente proveitoso, para o individuo desejoso de me­

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66

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Permitam-me daqui para a frente, durante uma parte deste livro, expor o assunto baseado na descrição de meu curso de cria­ tividade. Acho que o assunto fluirá bem, até com alguma didática. Não maçante, espero.

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O conceito de "aberturas para a criatividade" vinha de uma somatória de posicionamentos, óticas e comportamentos. Para abordar o assunto de forma analítica e assim discuti-lo com os interessados, e depois a ele aplicar uma bateria de exercícios, aca­ bei por dividi-lo em três segmentos. Ainda que consciente da interdependência e sobreposição dos vários aspectos do assunto, organizei o estudo seqüencial de três ângulos: a abertura da emoção, a abertura dos sentidos e a abertura da mente. Essa divisão obedeceu a incidências detectadas na análise de situações e comportamentos e permite um estudo de atitudes e COMO NASCEU A ABORDAGEM DAS ABERTURAS

CRlAT!V1 DAD E

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67

reações; a partir daí, chegou-se a uma espécie de treinamento para o aperfeiçoamento pessoal, com o objetivo de melhor exer­ cer nosso potencial criativo - sem qualquer tentativa de modifica­ ção de personalidade. Mesmo conciliados com nossa maneira própria de ser, pode­ mos liberar e cultivar nossos lados e aptidões naturais que favore­ cem o exercício da criatividade. Nas técnicas desenvolvidas para a prática das aberturas, não se cogitou de amarrar resultados à ne­ cessidade de muita disciplina ou de engajamentos ideológicos. É importante ressaltar que tudo vai pelo caminho da lógica, mas fica dependente, isto sim, da conscientização básica e de uma subseqüente reflexão da pessoa interessada, que ao se engajar co­ meça fazendo uma auto-avaliação, para então chegar à adoção de um propósito de aperfeiçoamento pessoal. ­

COMENTÁRIOS

'))))))) Ecos do Capítulo 5 (Especulando e comentando)

As aberturas funcionam? A tese das aberturas enfrenta com sucesso um exame para

comprovar sua consistência? Afirmo que sim, e a convicção de

que ela passa por qualquer prova não é a de um pai-coruja, mas

tem fundamento muito sólido: a eficiência verificada em sua

aplicação em cursos e workshops, por centenas de pós­

grad uandos e executivos, de maio de 1990 até hoje, segundo

semestre de 1997.

Mais profundamente, a prática das aberturas também mu­

dou minha vida e a dos professores que se envolveram com ela,

entre os quais destaco Edson Zogbi, Heraldo Bighetti e Nestor

Muller.

Refletindo sobre o que tem acontecido,

chego à conclusão de que a abordagem funci·

ona bem principalmente por sua simplicidade

e lógica. Em maior ou menor grau, os teste­ munhos positivos convergem para um tipo de

apreciação assim expressa: "Não havia muita

novidade, mas percebi como as coisas se en­ caixaram, e tudo pareceu ficar diferente em

minha relação com o mundo. Não tinha idéia de que eu pudesse ser uma pessoa criativa."

.,

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Por quê?

A abordagem das aberturas nasceu para tornar os pro­ fissionais mais cria­ tivos, mas acabou

mostrando-se útil para a realização pessoal de todos.

Livros de auto-ajuda falam em auto-esti­

ma, aceitação, motivação e outros valores que tornam a pessoa mais feliz . Há muitas re­

ceitas para o desenvolvimento desses aspec­ tos positivos da personalidade. A abordagem das aberturas

para a criatividade não é uma receita da área da Psicologia,

pois não foi criada nesse campo. Nasceu com o objetivo de tor­

nar empresários mais criativos, mas acabou mostrando-se tão

útil para a realização pessoal que até pode ser vista como equi­

valente a processos de auto-ajuda. Isso acontece à medida que

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CRlATMDADE

COMO NASCEU A ABORDAGEM DAS ABERTURAS

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COMENTÁRIOS

facilita às pessoas encontrar sua própria habilidade de, por um lado, enfrentar problemas e, por outro, descobrir oportunida­ des favoráveis, nascidas de suas idéias inovadoras. Isso, claro, costuma facilitar o encontro de situações mais felizes e estados de espírito satisfatórios. Assim é que escuto muitos dizerem "Mudou minha vida", o que, confesso, sempre me dá um arre­ pio de satisfação. Creio também, que não é por coincidência que esses teste­ munhos venham principalmente de pessoas com formação téc­ nica e de áreas de atividade mais exatas. Por força das circuns­ tâncias, é gente que tem seu lado criativo mais refreado, até esquecido, e, por defesa natural, acha que "não nasceu para isso". Para esse tipo de pessoas, as aberturas são uma porta de liberação de bloqueios. Para facilitar o crescimento pessoal via criatividade, tenho recomendado uma auto-avaliação inicial no período de engajamento. Uma prospecção interior é sempre útil, e mais ainda quando a pessoa está identificando um caminho de transformação que pretende seguir. Neste livro, essa recomen­ dação leva à leitura do Capítulo 10, sobre auto-avaliações.

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E aí, modificar-se para ser criativo?

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Em vez de pular de cabeça no poço do assunto definido por esse título, vou tentar explorar sua profundidade com o sonar do bom-senso, usado por professores e líderes de equi­ pes. A prática mostra caminhos e soluções que não dispensam a base científica, neste caso, a Psicologia, mas que se mostram abertos a todos e úteis nos casos simples, que são a maioria. A prática das aberturas situa-se nesse campo não patológico. Acredito que toda pessoa que dirige uma atividade em grupo, seja em sala de aula ou seja em grupos de trabalho, só pode ser bem-sucedida se respeitar os princípios do conceito de transformação pessoal. Para isso sempre se usam altas doses de psicologia, intuição e comunicação pessoal, o que talvez seja a base da função do chamado "facilitador". É com essa qualifica­ ção que começo por definir alguns pontos, antes de começar a

70

CRlATIVlDADE

COMENTÁRIOS

comentar o que foi dito sobre o que é neces­

sário para começar a otimizar nossa criativi­

dade. Primeiro ponto: deve-se sempre respei­ tar as características pessoais. Não se reco­

menda cirurgia plástica para a mente, a não ser em caso agudo de desajuste. Segundo:

deve-se estar consciente das prioridades do próprio plano de vida. E, por último: devem­

se adotar projetos a partir do autoco­ nhecimento, que os avaliza e os transforma

em agentes da auto-estima.

Desenvolver-se res­

peitando a própria personalidade é

caminho sábio. Não se recomenda uma "cirurgia da mente",

salvo em caso agudo

de desajuste.

Primeiro ponto: podemos? No capítulo sobre o comportamento criativo, contei o caso da aluna da Faculdade Cásper Líbero, que sofria por não conse­ guir deixar de ser escrava de normas. Eis um exemplo para se refletir sobre o primeiro ponto citado. Temos todos uma estru­ tura de psique que, a rigor, só pode ser desenvolvida, nunca contrariada. Aí o conceito de transformação pessoal estabelece seus limites. Assim, em casos de necessidade, tratamentos psi­ cológicos e psiquiátricos estão aí para tentar mudanças em ní­ vel estrutural. Mas aqui neste livro não há receitas para patolo­ gias. Neuroses ou desajustes maiores não se resolvem com as aberturas. Por isso afirmei que iria ficar no campo dos casos mais simples, que são a maioria. Portanto, se alguns leitores tiverem personalidade equiva­ lente ao da aluna citada, sugiro que reflitam sobre os altos cus­ tos que podem representar os esforços para mudar atitude e comportamento, em benefício de um desenvolvimento de sua criatividade. Será que vale a pena? Cada caso é um caso e é preciso considerar as variáveis, até para não se decepcionar com eventuais insucessos. Ao lado, porém, dessa advertência para um grupo, segue para outro grupo a boa notícia de que talvez não seja necessá-

COMO NASCEU Ã ABORDAGEM DAS ABERTURAS

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COMENTÁRIOS

rio nenhum sacrifício. Consultando o Quadro 5.1, vê-se que há uma minoria entre os mais criativos que não está entre os mais abertos. Os que concluírem estar nessa condição não precisam preocupar-se com as aberturas. Os esforços, em seus projetos de crescimento, devem concentrar-se em outros pontos.

Aos leitores que seguirem essa receita e mesmo assim ain­ da estiverem em dúvida recomendo não tentar solucionar a questão instantaneamente. Meditar sobre o assunto e adiar a solução é dar tempo a seu próprio "eu interior" para se posicio ­ nar. A resposta pode vir de repente, como um insight, ou pode estabelecer-se como uma convicção clara, que se revela em al­ gum momento ao se voltar ao tema.

Segundo ponto: necessitamos?

Só aos que encontrarem uma sintonia mínima entre seu plano de vida e o projeto de desenvolvimento da criatividade aconselho um esforço maior. Para eles, tudo será mais proveito­ so, pois a motivação interior, nascida daquela sintonia, mobili­ za energias e capacidades de forma quase mágica. Aos outros, tudo fica estranhamente contraditório: gostam de sentir-se cri­ ando, mas acabam entediando-se com a disciplina que o pro­ cesso requer. Se realmente necessitamos, acabamos podendo e querendo com muito mais intensidade.

É quase certo que os leitores que chegaram até este ponto do livro estejam mesmo interessados em se tomar mais criati­ vos. Mas não custa muito levantar algumas questões para veri­ ficar se esse interesse está de acordo com seus projetos de vida. Quem tem um plano de vida? Quando faço essa pergunta a alunos de pós-graduação, praticamente todos levantam a mão. Mas quando modifico a forma da pergunta, inquirindo sobre a existência de um claro e verbalizável projeto, sobram poucos de braço para cima.

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Por isso, trago a primeira questão aos leitores. Para saber se seu projeto de se tomar uma pessoa mais criativa está de acordo com seu plano de vida, em sentido bem amplo, primeiro é preciso ter bem claro esse plano. Quem nunca fez a experiên­ cia de verbalizar e escrever suas metas precisa fazer isso i I11 edi­ atamente. Largue o livro, pegue papel e lápis (de preferência com borracha) e vá escrevendo quais são suas metas. Não se preocupe com a importância de uma em relação às outras; vá escrevendo o que vier à cabeça. Quando achar que já pôs tudo no papel, então vem a parte mais delicada: coloque agora as metas em ordem de importância, isto quer dizer, defina suas prioridades. Finalmente, olhando essas prioridades, pense em seus meios disponíveis e desejáveis para alcançar cada uma. A variável mais crítica é a do tempo. Outras, como dinheiro e pre­ paro cultural, também são importantes, mas o tempo é a chave de rudo. Não é tarefa fácil, mas o plano, de alguma forma, de­ verá finalmente estar pelo menos esboçado. Importante é não se considerar nada definitivo, pois isso pode tomar-se um blo­ queio e impedir a conclusão. Ai é o momento de verificar se o desenvolvimento de seu potencial criativo está em consonância com o plano.

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CO A1ENTÁRIOS

CRlATMDADE

Terceiro ponto: queremos mesmo? Este é o ponto crucial para a maioria. Será que quero mes­ mo? Será que a vontade não é passageira? Será que essa vonta­ de vem só de um capricho ou uma vaidade ? Será que é produto de uma fase da vida? Respostas satisfatórias a essas dúvidas só podem advir de uma cuidadosa prospecção interior. Autoconhecimento será a chave. E, desculpem a franqueza, não é fácil conseguir um bom nível de auto conhecimento. Muita reflexão e alguma ajuda psi­ cológica podem ser úteis . Às vezes, reconhecimento próprio só vem com o amadurecimento do ser, em outras é produto de um período de ganho de consciência. Muitas vezes, emana de um diálogo com uma pessoa muito amiga ou com um terapeuta. O autoconhecimento tem como subproduto desenvolvi­ mento natural da auto-estima e, com base na consistência des­ ta, pode-se construir um sólido projeto de crescimento pessoal, incluindo-se aqui o melhor exercício do potencial criativo. Em que pese a complexidade do problema, cabe aqui um conselho simples: é preciso enfrentá-lo de alguma forma, pois ele é a grande base para a realização pessoal. COMO NASCEU -A ABORDAGEM DAS ABERTURAS

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COMENTÁRIOS

Finalizando: as pessoas que conseguem reconhecer suas próprias qualidades e defeitos, bem como suas melhores com­ petências e seus limites, além de desenvolver sua auto-estima, não terão a mínima dificuldade em identificar a profundidade de seus desejos, e a resposta à questão "Quero mais criativida­ de mesmo?" virá sem maior dificuldade. Então, a convicção de que realmente queremos, somada às outras (podemos e precisamos) será como um aditivo mági­ co para nossos projetos de desenvolvimento da criatividade. fremos adiante: a abordagem das aberturas funcionará maravi­ lhosamente e chegaremos longe, sem nenhuma dificuldade. 111

6 Abertura da Emoção

niciando a descrição das aberturas e de acordo com a divisão que encontrei para facilitar a análise do todo, aqui está a base do processo, que também é a parte mais introspectiva do as­ sunto. A abertura da emoção, que pode ser rapidamente resumida como flexibilização de nossa escala de valores, trata da tentativa de ganharmos um domínio maior sobre alguns de nossos condici­ onamentos, nascidos do respeito exagerado àquela escala.

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O domínio maior se dá principalmente por certo manejo ra­ cional de nosso lado emocional. O objetivo, certamente ambicio­ so, é a parcial e possível fuga das limitações impostas por for­ ças que vão de tendências até compulsões.

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Lembremos que desde crianças aprendemos a formular con­ ceitos, separando o que é certo do errado, o desejável do que te­ mos de evitar, o que podemos do que nos é proibido. Incorpora­ mos as conclusões a nossa personalidade, e assim conquistamos nossa ótica pessoal, indispensável para o sadio exercício do indivi­ dualismo. Uma corrente moderna dos estudos da mente, exemplificada pelo livro de Antônio Damásio, O erro de Descartes, defende que esse processo, sempre visto como psicológico, tem também bases neurológicas - o corpo desenvolve padrões somáticos provocadores de reações, que antecedem as que vêm dos pensamentos. A chamada escala de valores tem uma função normal, repre­ sentando a âncora de nosso individualismo. Entretanto, fácil e comumente somos levados ao exagero, obedecendo demais aos 74

CR1ATrvIDADE

ABERTURA DA EMOÇÃO

75

• modelos, tornando a escala de valores extre­ mamente rígida - o que se transforma em um obstáculo direto à prática da criatividade.

é absolutamente relativa, bem diferente das concepções cartesianas e mecanicistas vigentes antes do advento da Física Quãntica e da Relatividade, bases da ciência moderna.

Se formos donos de um "banco de dados" repleto de verdades definitivas, manteremos quase todas as informações que recebemos em compartimentos estanques: o que é certo em um escaninho, o que errado em outro, o que "é assim" distante do que "não é assim que se faz". Em termos de criatividade, passamos a administrar um inútil capital cognitivo, já que se tornará dificílimo estabelecer qualquer nova relação entre fatos que não se associam de acordo com o jeito que os vemos. Conclui-se assim que o exercício do potencial criativo tem muito a ver com a articulação entre as óticas pessoais e o contexto: tudo será mais fácil ao sobrevir uma conciliação entre o novo e o já existente.

Ao aceitarmos essa concepção de mundo, assumimos a con­ vicção de que "nossa verdade" é apenas "uma verdade" entre mui­ tas. O que nos irá posicionar menos doloridamente para aceitar tudo o que não nos parece certo, normal, verdadeiro . Talvez pos­ samos ver-nos também como depositários ou agentes de uma "parte da verdade". Nessa linha, não nos abstraímos de nossa es­ cala de valores, mas adotamos uma posição menos egocêntrica. Passamos a cultivar um tipo de renúncia parcial ou uma tolerân­ cia maior ao que não nos parece verdadeiro ou lógico.

Valorizar exageradamente a própria escala de valores se tranforma em um obstáculo direto à prática da criatividade.

Lidando com o novo, o diferente e o "errado" Quase todas as idéias novas (quase?) nascem de associações com informações já obtidas. Sem o uso daquelas ligações novas, ficaremos sempre no campo do já visto, do já resolvido, inclusive julgando tudo o que for novo soar tremendamente errado. Ain­ da que esse problema esteja descrito aqui de forma propositada­ mente radical, levanta por si uma solução natural: flexibilizar nossos julgamentos e valores. Será isso viável? De forma total, evidentemente não, até porque quem pregava termos "uma mente descondicionada como uma folha em branco" era Krishnamurti, e sua teoria sempre se demonstrou utópica, fora da realidade cotidiana.

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Então, o que encontramos como viável é um índice maior que a média, no que toca à aludida flexibilização. Todos nós pode­ mos encontrar caminhos para conseguir esse propósito, e a tese das aberturas "à grande montanha da criatividade" desenvolveu dois acessos: a via da conscientização e a via psicodramática.

Aqui está uma chave da questão: há um parentesco grande entre o que é novo (quase sempre diferente) e o que nos parece "errado". Quanto mais conseguirmos, trilhando esse caminho, flexibilizar nossos valores, mais facilmente iremos também prati­ car a abertura dos sentidos, por não carregarmos um "filtro selecionador" que também limita nossa percepção. O segundo caminho para a abertura da emoção, o psicodramático, não elimina o da conscientização, pois ambos po­ dem completar-se. Consiste em uma atitude "de mentirinha": al­ teramos provisoriamente nossa ótica pessoal, como se estivésse­ mos participando de um psicodrama. Assim, de um diferente pon­ to de vista, podemos observar um fato ou uma informação qual­ quer de forma a descobrir alguns "novos lados" interessantes, que não conseguíamos perceber antes, quando presos a nossa ótica própria.

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Esse segundo caminho tem certo paralelismo com uma técni­ ca de análise de assuntos apresentada por Edward De Bono, em seu livro Os seis chapéus, em que ele ensina o jogo, para a discus­ são de um tema, no qual se representam vários papéis, de acordo com o chapéu de cor diferente que estiver sendo usado: o chapéu do otimista, do pessimista, do juiz, do intuitivo, do criativo e do lógico. Exerce-se, dentro dessa linha, uma disposição mais aberta, boa para acompanhar argumentações contrárias a nossas opini­ ões, ou estruturas em desacordo com nosso referencial. Também para esse ângulo do assunto desenvolvi em cursos e workshops uma metáfora, descrita a seguir, que favorece a didática e a acei­ tação da tese das aberturas .

O caminho da conscientização baseia-se na aceitação, hoje corrente até nas ciências exatas, de que a realidade que nos cerca 76

CRIATNlDADE

ABERTURA DA EMOÇÃO

77

Vivenciando a Ao nos convencermos de que a obediência cega ao ponto de dificulta a de e manuseio de de uns 1I1<1.;":I1.-U:' que, ao serem usadOS, nos dessem imediatamente de ter uma "ótica universal da . Não mudaríamos nossa visão da mas teríamos a de enxergar urna dos mais variados pontos de tería­ mos assim conosco a visão de todos os nossos o que, por tabela. nos oermitiria oerceber um fato sem um exclusivo e

e as utilízaremos melhor se também nrMiC';Jrmos a chamada abertura da Anulando que consideramos ou sem imTudo será incluído em um banco de dados cada vez mais que será nossa de de novas idéias: trabalharemos com um rico para o nio 11psrondicíonado. moduto da abertUra da mente. 11

Claro que essa metáfora navega em urna dída que universal a nossa tornamo-nos mais concilian­ do-nos com fatos que antes nos errados ou ridículos. Passamos a ter uma mais para que ser chamado de "harmonia na diversidade". Ficamos mais abertos ao que não está de acordo com nossa escala de valores o »<>''-1\.l<1<.l'" de pensar criativa­ H"~)';J.'-V~, assumiríamos todos os sonhos . a um ser humano e isso também nos facilitaria mais a descoberta de novas dentro de todos os campos pos­ síveis.

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CRIATrv!DADE

otimizar para assim mantermos um a ser usado em nossas incursões campos do "novo" Um não apenas de referências e pontos de mas também de a ser combinada de maneiras Entretanto, a ",,,rr-,,,,,r ceber naturalmente mais

nós as ABERTURA DA EMOÇÃO

79

COMENrÁ.~/OS 1

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Ecos do Capítulo 6 (Especulando e comentando)

Surpresas no espelho do coração Como eu não tinha visto isso antes? Como não havia pen­ sado nisso? Essas são reações que nos ocorrem quando conse­ guimos analisar nossas convicções, na hora em que de fato es­ tamos tentando vivenciar o processo de Abertura da Emoção. Aconteceu comigo, com os professores com quem trabalhei e com muitos alunos que me trouxeram testemunhos de suas vivências. A experiência da Abertura da Emoção é profunda. Apesar de apresentar muitos problemas (falarei deles) para a adesão, ela tem efeito instantâneo. Após dez minutos de reflexão, pela via da conscientização ou de ação experimental, pela via psicodramática, vemos naquele espelho imaginário que fica­ mos diferentes. Na hora, sentimos que ganhamos uma nova e definitiva perspectiva. Como quem sobe uma montanha e vai olhando a paisagem modificar-se por seu ponto de vista; a cada lance, toma conhecimento de novos detalhes do panorama, que nunca mais esquecerá, simplesmente porque eles foram re­ gistrados em sua mente pela experiência viva. Assim, vemos que qualquer prática da Abertura da Emoção nos toma outra pessoa - com alguma diferença, ainda que mínima, do que éra­ mos antes.

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Infonnam os experts que esse fenômeno, principalmente pela via psicodramática, é um alicerce da neurolingüística que se trata de uma ação "de fora para dentro" da psique. E muitos fazem restrições à técnica que está em voga. Preciso registrar esse ângulo, mas sem que isso me impeça de continuar aqui a análise do tema. Se a via psicodramática para a Abertura da Emoção está em alta, vemos que a outra via, a da conscientização, também ganha terreno, nesta época de sucessos de livros de auto-ajuda. Aquele princípio budista de que "você se transfonna naquilo

80

CRlATJV1DADE

COMENTÁRIOS

que você pensa", julgo eu, torna-se efetivo e popular principal­

mente pelo "fator introspecção".

A procura do autoconhecimento traz a necessidade da

introspecção e também se torna produto desta. Analisando­

nos, compreendemo-nos melhor. E acabamos aceitando-nos

melhor, se não esbarrannos nos sentimentos doentios de culpa,

dos quais escapamos pelo princípio de que ninguém é perfeito,

por um lado, e de que é sempre possível melhorar, por outro.

Esse ponto está explorado adiante, no Capítulo 9, que focaliza

a extensão da abertura da emoção para a conquista do

autoconhecimento.

Exemplos de abertura da emoção Dificilmente alguém não vivenciou uma experiência pró­

pria do que chamo de "amizade forçada". Descrevo-a aqui. A

pessoa faz parte de uma comunidade já estruturada, tipo famí­

lia, ambiente de trabalho, clube ou sala de aula. De repente,

alguém vem de fora para entrar no grupo, a pessoa olha quem

chegou e de imediato antipatiza com ela. Parece-lhe ser assim

ou assado, com um jeito próprio que não é aceitável. Entretan­

to, a pessoa de fora definitivamente entrou no grupo e, por for­

ça dessa circunstância, passa a conviver com a que a achou an­

tipática. A convivência, forçada pelas circunstâncias, revela que

a primeira impressão era totalmente infundada. E às vezes

acontece mesmo uma grande amizade entre as duas.

Analisando essa experiência, a pessoa (do grupo) verifica

que se enganara e que, se não houvesse a convivência forçada

pelas circunstâncias, teria perdido a oportunidade de fazer

uma boa amizade ou, no mínimo, ter enriquecido suas relações

com mais um conhecimento positivo. Daí é fácil imaginar

quantas oportunidades perdemos por não ter uma posição

emocionalmente menos condicionada, menos julgadora de

"certos e errados", "bons e maus", "úteis e inúteis".

Praticar a Abertura da Emoção, portanto, é um caminho

para nos enriquecermos pela aceitação de fatos novos.

ABERTURA DA EMOÇÃO

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COMENTÁRIOS

A visão do bom humor

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Outro exemplo familiar a todos nós é o estado de graça que às vezes atravessamos em um período "pós-vitória". Radicalizando, apenas para exemplificar, a pessoa que acabou de ganhar na loteria ou a que acabou de receber um importante "sim" no campo afetivo, ou o vestibulando que acabou de rece­ ber a notícia de seu sucesso no exame, todos vêem o mundo de uma forma completamente diferente da usual. Tudo parece menos problemático, tudo fica até mais boni­ to. O nível de tolerância cresce, o fair-play toma o contexto melhor. Esse estado extremo de bem-aventurança é uma das metas da Abertura da Emoção, no que toca a seu obje­ Aceitando melhor o tivo de aceitação do contexto. que está fora de Essa visão do bom humor, que também seria um produto daqueles óculos mágicos da nós, ficamos menos metáfora mencionada antes, tem um interes­ ngorosos com o que santíssimo efeito paralelo. À medida que aceitamos melhor o que está fora de nós, está dentro de nós. também ficamos menos rigorosos com o que Conciliação e auto­ está dentro de nós. Quanto menos cobramos dos outros, menos cobraremos de nós. Conci­ estima, base para liação é aqui a palavra-chave, e auto-estima é aceitar renovações. o grande resultado final. •

Abertura dos Sentidos

entro da divisão das aberturas, em seqüência se focaliza a abertura dos sentidos, rapidamente definida como uma otimização da nossa percepção. Esta pode ser objetivada dentro de uma base bem racional, a partir de uma reflexão sobre as funções e o uso dos sentidos.

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Considere-se primeiro a relação viva e construtiva do ho­ mem com seu meio, em um plano superior à relação ativa manti­ da entre os outros seres vivos com o todo, em uma trama de total interdependência. Lembrando que a interação do homem ao seu mundo passa (totalmente?) pela janela dos sentidos, chega-se à interessante conclusão: como o uso dos sentidos não é um proces­ so exato, deduz-se que um melhor ou pior desempenho deles vai facilitar ou dificultar nossas relações em tudo: no trabalho, na fa­ mília, em nossos contatos com a cultura e assim por diante. Nossas competências e potencialidades, que se ativam pelo processamento de informações recebidas, serão, portanto, melhor ou pior exercidas e aproveitadas em função do uso da nossa per­ cepção. Considerando a criatividade como um potencial, temos que a interação com o ambiente, quando otimizada, automatica­ mente facilitará a ação criativa. O mundo nos oferece um constante fluxo de informações. Toda experiência acrescenta conhecimento se existe uma recep­ ção aberta. Verifica-se, na prática, que o grande inimigo dessa re­ cepção é a rotina, que, pelo conforto que proporciona, nos acomo­ da dentro de um campo que consideramos familiar. Tendemos a ABERTURA DOS SEl'ITIDOS

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CRlATMDADf.

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.. observar as coisas rapidamente e a classificar os fatos dentro de modelos conhecidos. Uma espécie de déjà-vu imaginário. O que não acontece, por exemplo, quanto estamos fora de nosso habitat como turistas ou quando ligamos nossos sentidos a um propósito de captar novidades , ao visitarmos uma feira de amostras. Um dos elementos que torna relevante a criatividade é o conceito de interferência. Se a criação passa em branco, é só fan­ tasia. O processo de criar também se baseia no recebimento de inputs de toda a espécie, no seu processamento e nas respostas com eles compostas. Assim nos ligamos ao contexto, somando, enriquecendo-o, modificando-o, em um processo de captar, traba­ lhar e exteriorizar, como se usássemos uma antena - receptora e transmissora.

a ter menos elementos para processar e fazer novas relações - perdemos uma base para o exercício de nosso potencial criativo. Ao contrário, se conseguirmos manter um fluxo ótimo de recepção, teremos disponível um grande número de informações que com­

porão variáveis a serem usadas nos processos de criação de novas realidades, novos "arran­

jos". As aludidas informações se constituem em tudo o que captamos - seja via processos específicos de pesquisa, seja na vivência do dia-a-dia. Informações úteis estão contidas em tudo o que captamos e com o que nos relacio­ namos: mídia e museus, sons e paisagens, li­ vros e conversas, artes e banalidades .

As informações que usamos no exercício da criatividade es­ tão contidas em

tudo o que a nossa percepção consegue captar.

A antena dos sentidos Manter a antena funcionando A idéia de uma antena ilustra o princípio do domínio da in­ formação, explica-se por si e se desenvolve ao nos determos na compulsão biológica própria das crianças, incondicionalmente ávidas por todo tipo de infOlmação. Assim, elas nasceriam com antenas 100% eficientes, em função de seu "banco de dados" ser absolutamente carente. Tudo para a criança é informação valiosa. Entretanto, com o tempo, três fatores fazem despencar esse rendi­ mento, a saber:

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l. O "banco de dados" que existe nas cabecinhas já não é

tão carente. 2. A sociedade, principalmente através da escola, acaba co­ locando uma série de anteparos em volta da antena, for­ mados pela cristalização do respeito às normas necessá­ rias à socialização do indivíduo. 3. O indivíduo tem sempre, em algum nível, uma compulsão à acomodação, e a recepção e transmissão exigem uma postura ativa. A rotina, sempre tão confortá­ vel, cria essa natural compulsão . Dessa forma, podemos imaginar que nossa antena de adulto fica pouco operante, como se estivesse oxidada. Recebendo me­ nos informações novas e/ ou de valor, nosso banco de dados passa 84

CRIATNIDADE

A abertura dos sentidos, vista como um permanente trabalho de desoxidação de nossa antena, se processa através de compor­ tamentos e atitudes, pais e mães de um trabalho cotidiano basea­ do na exploração de importantes fontes, como por exemplo: 1. O cultivo da chama da nossa curiosidade inata (infantil). 2. O uso de nossa curiosidade volitiva (a do turista ou a do

visi tante de feira) .

3. A manutenção de um permanente programa de atualiza­

ção, que inclui uma seleção de leituras enriquecedoras.

Práticas complementares são recursos facilitadores, desen­ volvidos com os exercícios e as vivências que fazem parte de prati­ camente todos os cursos de criatividade. São complementares porque não substituem as três fontes citadas; elas definem uma característica importante da pessoa mais aberta: ter os sentidos mais ativos. É preciso também considerar que a abertura dos sentidos, ao contribuir para otimizar a percepção em uma visão bem ampla, não apenas melhora nosso desempenho criativo, mas também contribui para nos realizar como indivíduos, principalmente quando se soma a uma atitude descondicionada, como foi focaliABERTURA DOS SENTIDOS

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zado por Aldous Huxley neste trecho do seu livro As portas da

COMENTÁRIOS

~ l)))))) Ecos do Capítulo 7

percepção:

(Especulando e comentando)

"Sair da rotina da percepção comum, ver o mundo exter­ no e interno, não com a aparência que eles têm para um ani­ mal obcecado por palavras e noções, mas tal como são apreen­ didos direta e incondicionalmente pela mente global, é uma ex­ "Ah!" periência de valor inestimável para todos."

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Nesse ponto, a abertura dos sentidos tangencia bastante o que chamei, na segmentação do assunto, de abertura da emoção. Vejam como essa ligação foi explorada em alguns versos do livro Deslimites, de minha autoria: "Melhor fugir da cinzenta rotina

que entorpece a visão sensível

e faz robôs de retinas frias

nunca plugadas a um coração." •

perdido em nosso passado

Poucos de nós retêm uma qualidade inata, filha da curiosi­ dade e da alegria: a capacidade de se admirar das coisas novas, somada à satisfação pelo enriquecimento cognitivo, simboliza­ da pelo ''Ah!''. O que nos faz perder quase completamente essa caracte­ rística do ser humano? Simplesmente o déjà-vu. Movidos por um sentimento menor, o orgulho, que paulatinamente vai sen­ do inserido em nossa personalidade, acabamos vacinados con­ tra a exteriorização de uma pretensa ignorância, revelada pela alegre surpresa de ver algo que não conhecíamos. Sutil e gradativamente, interiorizamos a vergonha de não saber, que julgamos não combinar com nossa condição de adul­ tos. Se nas primeiras vezes retemos o ''Ah!'' para não demons­ trar um desconhecimento, por fim realmente deixamos de re­ conhecer o que merece nossa admiração e alegria. Olhamos o fato novo nos dizendo, lá dentro, que ele deve ser conhecido e esquecido ou que ele não é tão interessante como à primeira vista pode parecer. Então nem precisamos mais reter a emoção. Ela passa a não acontecer mais. E vamos nos tornando menos sensíveis às facetas mais coloridas da vida. Nirmo aqui que o exercício autêntico da Abertura dos Sentidos nos fará recuperar a capacidade de nos admirarmos. Isso acontece porque a pequena disciplina adotada para a pro­ cura da informação irá aos poucos resgatar o seu valor. Concluindo este raciocínio, especulo aqui se também não ocorre o inverso: ao nos permitirmos dizer ''Ah!'', estaremos in­ duzindo em nós a valorização do ato de observar e procurar por novas informações, capazes de nos alegrar. Creio que, em algum nível, estaremos entrando em um processo de retroalimentação da Abertura dos Sentidos.

ABERTURA DOS SENTlDOS

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CRlATIV1DADE

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COMENTÁ RIOS

COMENTÁ RIOS

dia da informação nova

Abandonemos a idéia de já ter visto tudo: "A verdadeira viagem de descober­ ta consiste não em procurar novas pa­ ragens, mas em ter novos olhos." MareeI Proust

Tenho propOSto aos meus alunos mais interessados um exercício interessante : de­ cretar para si um dia dedicado à obtenção de novas informações, de toda a sorte. Ver, per­

ceber e registrar novos locais, novas pessoas,

novos detalhes do dia-a-dia, desde que se le­

vanta , pela manhã, até a hora em que se irá dormir. Antes de se recolher, consultar a me­ mória ou suas anotações e fazer um balanço do que se conheceu de novo. Quem faz esse exercício fica maravilha­

do com os resultados . Naquele dia, seu mun­

do mudou. Ficou mais colorido e interessan­

te. Houve quem anotasse mais de duzentos registros. Contudo, o mais interessante é a surpresa que nasce no meio da manhã, quan­ do o jogo começa a mostrar-se cada vez mais estimulante.

Claro que é preciso uma determinação forte apoiada em alguma disciplina para não se perder a concentração, em virtu­ de de distrações que sempre ocorrem. Também é preciso ajudar o acaso : mudar de trajetos, variar de pontos de vista, olhar o que normalmente não se olha até por educação. É preciso assu­ mir o descondicionamento da criança e a curiosidade do turista e, de quebra, agir também como repórter. Se vocês ficaram cu­ riosos, tentem. É uma experiência gratificante. Por um lado, descobrirão que tipos interessantes não estão só nos filmes de Fellini, e por outro, conhecerão uma outra cidade onde vocês já vivem.

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Marginal do Tietê, dia de sol, cinco ou seis da tarde , início de verão; quem segue de carro no sentido Penha-Lapa, quando estiver perto da ponte Cruzeiro do Sul, poderá ver o sol se pon­ do no horizonte, bem em cima do rio Tietê, que estará transfor­ mado numa lâmina vermelho vivo, cortando agressivamente o cinza da paisagem poluída. Parece um quadro de Van Gogh. Um turista típico poderia parar ali para fotogra fa r, pensando que já havia valido a pena vir a São Paulo somente por aquela vista. Entre cem alunos meus, noventa conhecem bem o local. Entre esses noventa somente uns dez notaram a beleza dessa paisagem. Por quê? Simplesmente porque a rotina nos cega, sem falar no déjà-vu. Praticando a Abertura dos Sentidos, dificilmente alguém deixa de perceber paisagens como aquela. O que, por si só já compensa o maior ou menor esforço para melhorar a percep­ ção. A Abertura dos Sentidos não nos faz somente mais ricos de informações - também colore nosso mundo. Finalizando, uma informação para pensar: entre aqueles dez alunos que percebera m o rio vermelho, sete ou oito eram mulheres .•

A vista do rio vermelho Meu exemplo preferido de Abertura dos Sentidos é bem dramático para quem vive na cidade de São Paulo, mas mesmo quem não conhece essa cidade poderá imaginar facilmente uma versão no local que lhe é familiar. 88

CRlATNlDADE

ABERTURA

DOS SENTIDOS

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8 Abertura da Mente

Lembro aqui a vocês a literatura geral sobre criatividade, que denomina o pensamento lógico de "pensamento convergente" e o outro, livre, de "divergente". Nos cursos e workshops, para não sermos afetados pela força restritiva da palavra divergente, que à primeira vista soa como "contrário", rebatizei o termo como "pen­ samento difuso", pois ele deve se espalhar pelo assunto, em todas as direções. Em última análise, pensamento difuso serve para não ficarmos restritos ao campo delimitado pelos nossos naturais blo­ queios e condicionamentos. Percebe-se imediatamente como as outras abertUras, da emoção e dos sentidos, são importantes para o exercício da aber­ tura da mente. A proveitosa exploração de alternativas pressupõe a disponibilidade de um grande número de variáveis, estabeleci­ das pela boa recepção de informações e liberadas pela não-censu­ ra de uma escala de valores rígida.

o processo estabelecido pela tese das aberturas, para otimizar o uso do potencial criativo da pessoa, a chamada abertUra da mente é a parte mais próxima do produto fi­ nal, o "fato criativo". Este, principalmente quando é uma solução de problema ou uma busca de novas idéias, surge através do tipo de raciocínio que chamo de "não linear", ou, mais precisamente, um raciocínio não baseado apenas na experiência e seu uso previ­ sível. Ele provoca uma ruptura do que era estabelecido e quase sempre pela porta da originalidade chega ao resultado inovador. A proposta abertura da mente é aparentemente simples: va­ lorizar, principalmente quando se está dentro de uma atividade criativa, a prática intermitente de um pensamento livre das li­ mitações e condicionamentos vindos do raciocínio lógico. Nada mais e nada menos que o tipo de pensamento adotado ao se parti­ cipar de uma sessão de brainstorm, aquela reunião informal para levantamento de idéias novas, baseada em ausência de julgamen­ tos, com o largo uso de associações, fantasia e bom humor. Note­ se a importância do conceito intermitente, que define a retira­ da temporária da sentinela lógica que todos estamos acostumados a usar. Formulam-se alternativas, invadindo áreas absurdas, para depois julgá-las à luz de suas possibilidades de uso . A prática da abertUra da mente acaba sendo uma articulação entre o pensar livremente e o pensar objetivamente. Com a práti­ ca, ela acontece de uma forma quase ou totalmente automática. Passa-se a buscar sempre as alternativas, antes de chegar-se às deduções ou conclusões .

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CRlATMDADE

Nova navegação do raciocínio A base do pensamento dito convergente é o pressuposto de que todo problema tem uma resposta certa, senão única, pelo menos ideal. Em qualquer ponto do raciocínio ou da abordagem de um assunto, vemo-nos obedecendo à idéia de que é preciso ir na direção dessa conclusão ideal. Seja efetuando uma operação matemática ou pintando um quadro ou desenvolvendo uma argu­ mentação verbal, o pensamento convergente nos faz trilhar a di­ reção daquela solução "certa", como se estivéssemos navegando a favor da corrente em uma bacia fluvial: em qualquer tio em que nos encontremos, as águas nos levam sempre em direção à foz, que representa a resposta única da questão. Agora, para compor essa metáfora, imaginemos que fosse possível, como em um passe de mágica, inverter a corrente da bacia fluvial, que passaria a le­ var a água da foz para as nascentes do rio principal e de todos os afluentes. Cada nascente, então, na metáfora, passa a representar uma alternativa de caminho ou solução, a ser visitada no processo do pensamento difuso . Após a exploração das nascentes, poremos em ação o pensamento lógico (convergente) para a escolha de nossa "nova foz", seja para a solução de um problema empresa­ rial, seja para a composição de um samba.

ABERTURA DA MENTE

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Essa metáfora contém outros dois aspectos do pensamento criativo: o que diz que da quantidade também se chega à qualidade e o que aconselha que não se deve apenas inverter nosso raciocínio, fazendo o contrário do que a lógica indica, como se passássemos a subir o rio principal, o que não nos dá muitas alternativas. A simbologia da bacia fluvial tem uma interessante idéia correlata, proposta por L. Fleck, no seu livro, de 1979, Genesis and development of a scientific fact (Universiry of Chicago Press), que registra um tipo de racionalismo científico como "raciocínio cor­ rente abaixo" (downstream thinking). Isso, segundo Fleck, é resul­ tante dos bloqueios gerados pelo pensamento lógico, que agem como os barrancos da margem, cavados pela corrente do rio. Tor­ nam-se cada vez mais altos e definitivos, impedindo qualquer mudança no curso das águas. De acordo com esse autor, os blo­ queios devem ser combatidos com a prática de um "raciocínio cor­ rente acima" (upstream thinking), que não difere muito do pensa­ mento difuso. Registre-se aqui o que pode parecer um fato fora desse pro­ cesso: a criatividade exercida como produto do insight, a idéia que nos vem como solução, muitas vezes aparecendo quando não estávamos pensando no assunto. Insights são manifestações do in­ consciente que, mercê de um envolvimento emocional da pessoa, passa a procurar a solu­ ção, que emerge espontaneamente, em mo­ mentos não esperados. Contudo, a mecânica .Insights são mani­ do insight não está à margem de um processo festações do consciente de procura. Mais facilmente será uma extensão daquele, pois os insights "gratui­ insconsciente que, tos", longe do terreno das buscas, são tão raros após um envolvi­ que podem ser considerados exceções. Uma das atividades dos meus cursos e mento emocional da workshops é a discussão das três aberturas, sin­ pessoa, passa a pro­ tonizando os princípios da prática com o uni­ .verso de cada um, pelo encontro de pontos de curar a solução de­ transposição da teoria para seu cotidiano. sejada pelo campo Além desse tipo de conscientização, o resulta­ do positivo também tem sido conseguido com consciente. exercícios práticos (Capítulo 17) e vivências. De forma geral, ainda que em graus diversos, os participantes têm experimentado e aproveitado os benefícios das aberturas para sua criatividade nos campos profissional e pes­ soal. E até agora esse resultado prático é o maior avalista da tese das aberturas. _

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CRIATIVIDADE

COMENTÁ.E:./OS

;l))))\) Ecos do capítulo 8 )

(Especulando e comentando)

A abertura da mente na prática o exemplo de criatividade da Ikeda, constante no Capítu­ lo 2, mostra especificamente como funciona na prática a Aber­ tura da Mente. Vamos explorá-lo, para obter pistas concretas de um "como fazer" em qualquer outra ocasião. Naquele caso, se não foi como se segue, poderia ter sido: o uso intermitente do pensamento convergente, fornecendo as alternativas tradicionais, foi acoplado ao pensamento difuso, explorador de caminhos não previstos pela experiência. As re­ ferências do passado indicariam alternativas, como proibir ou recolher as armas da transgressão que eram as sobras, ou então criar uma solução mais profunda, a de acabar com o tempo oci­ oso via demissões. Vamos explorar a fantasia e imaginar que os responsáveis pelo problema se tivessem reunido para fazer um brainstorm. Se fosse em uma reunião desinibida e bem-humorada, poderia ter sido assim: Participação 1: Que tal se a gente espalhasse um boato de que nossas sobras dão câncer? P 2: Câncer ou demissão imediata ... P 3: Por que não demitir alguém para dar um exemplo? P 4: E se as sobras entrassem imediatamente num proces­ so de reciclagem? P 5: Poderíamos achar um comprador de sobras que as recolhesse permanentemente? P 6: Vender as sobras para quem? P 7: Para algum escultor de sucata? Muita gente poderia se tomar escultor de sucata? P 8: Talvez nossos próprios funcionários poderiam se transformar em artistas de sucata.. . mas por conta própria.

ABERTURA DA MENTE

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COMENf ÁgIOS

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P 9: ...Transfonnaríamos sucateiros .. .

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PIO : ...Mas em vez de vender as obras de sucata, por que não vender as churrasqueiras que eles fazem? P 11: ...Vender para eles mesmos, talvez... já que o materi­ al é nosso e o tempo deles é pago por nós ... P 12: Espere aí, por que não vender as churrasqueiras para todos, no mercado? P 13: Aí está uma idéia, como está difícil vender mais implementos, vamos vender churrasqueiras! Fantasia à parte, está aí como um recurso infonnal e descompromissado poderia funcionar. Este é um desenvolví­ mento imaginário do caso, mas é bem freqüente a realidade copiar a ficção. O brainstorm costuma produzir agradáveis sur­ presas, como essa, e a Abertura da Mente é a transposição çie um princípio do brainstorm para uma fonna de raciocinar, ex­ plorando alternativas bem doidas. Por falar em "um princípio do brainstorm", veremos no Capítulo 16 os detalhes da técnica.

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A hora da verdade na criatividade

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gente cria normalmente, outros têm seus ritos. Hemingway es­ crevía de pé, gastando cada vez vários lápis, após apontá-los demoradamente, enquanto se preparava. O atual recordista mundial de patentes, Yoshiro Nakamats, inventor do disquete e do CD, costuma criar debaixo d'água (?I). Muita gente cria no banheiro, outros em recintos especiais, bem particulares, que John Kao recomenda sejam cultivados. Acho que não é ruim cultivar uma rotina particular para criar, desde que ela não se transforme num condicionamento excludente. Nada errado em procurar uma igreja para rezar, desde que não se condicione a oração àquele local com exclusi­ vidade. Bem, apesar de ser fácil concordar que não existe um sis­ tema operacional enlatado para o processo prático de criação, penso que existem etapas que podem ser consideradas denomi­ nadores comuns do processo, e que cada um, a sua maneira, sempre usa. É bom conhecer essas etapas, que fazem pane da cultura da criatividade, sendo de uma fonna ou de outra focali­ zada por vários autores, desde Kloester, em seu magnífico The act of creation, até Roger Von Oech, no seu Um chute na rotina. Dou aqui a minha versão, que é um cruzamento daquela cultu­ ra geral com minha experiência de trinta anos fazendo criação publicitária:

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Transformar a teoria em prática sempre tem seus mean­ dros e segredos. Nunca é um processo claro e automático, tan­ tas as variáveis que a realidade adiciona ao que a teoria previu. Isso acontece também com a prática da Abertura da Mente, que muitas vezes desemboca naquele momento crucial da pessoa em frente à folha em branco.

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Chamo esse momento de "processo prático da criação". Ele acontece de múltiplas fonnas, desde aquela em que a solu­ ção procurada não chega a ser solução, como no caso de um poema, até a da solução real de um problema de marketing. O dito processo prático de criação é bem indivídual, não tem regrinhas, e deve mesmo ser assim. Cada pessoa encontra sua maneira para conseguir articular fantasia e realidade e ob­ ter um fato criativo. A comparação da prática da Abertura da Mente com o brainstorm é apenas uma pista para cada um se­ guir e encontrar sua própria mecânica favorecedora. Muita 94

CRIATIV1DAD E

l. Preparar-se, ativando o campo

mental, instrumentando-se pela pes­ quisa de todas as infonnações possí­ veis, indo a campo e colocando em jogo o máximo de elementos. Definir sua meta, descondicionada de forma e caminhos, fixando-se no essencial. 2. Envolver-se: ativar o campo emo­ cional, motivando-se, com o máxi­ mo de entusiasmo e dedicação. Pen­ samento positivo, chave obrigatória.

Preparar-se, envol­ ver-se, gerar alter­ nativas, incubar e realizar são os pas­ sos comuns do pro­ cesso criativo.

3. Gerar alternativas: suspender o julgamento, víajar na fantasia, associar, anotar, brincar, depois julgar. O processo pode terminar exatamente aqui, com um "heureca" ou continuar, na falta deste.

ABERTURA DA ME1<TI·.

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COMENTÁRIOS

COMENTÁRIOS

4. Incubar: afastar-se do trabalho, para não atingir o estresse advindo da tentativa infrutífera. Um dia é o ideal, mas até dez minutos de afastamento dão resul­ tados. O inconsciente continuará trabalhando, é confi­ ar nele. Quando retomar, procurar mudar parâmetros, ângulos de apreciação e processos.

idéias e relutavam em aceitar meu julgamento profissional. No início eu via isso apenas como um probleminha de personalida­ de em formação, mas com o tempo consegui identificar no fe­ nômeno uma característica humana de apego à posse. "Essa idéia é minha, não posso perdê-la", uma reação que só o ama­ durecimento irá fazer menor. Indo além, vejo que esse tipo de apego nos acompanha sempre, apesar de minorado pela expe­ riência e até pelos insucessos, ao ver-se no fim em posições in­ sustentáveis. Assim como a criança de quatro anos quer tudo para si, uma personalidade imatura dificilmente se desapegará daquilo que julga ser uma conquista, a idéia pretensamente cri­ ativa.

5. Realizar: elaborar, finalizar, verificar a viabilização, se possível testando a criação na prática. No mínimo, relatá·la, pesquisando a recepção à idéia. Complementando, digo que a ação do inconsciente se confirma pelo fato de que quase todas as grandes idéias surgem fora da mesa de trabalho, num momento de atenção difusa. Certamente elas advêm do inconsciente que não abandonara o trabalho de elaboração.

Partindo do princípio de que em criatividade devemos tra­ balhar com a quantidade para chegar à qualidade, precisamos diminuir nosso natural apego às idéias, para poder ir adiante e criar outras. As grandes personalidades criativas não se for­ mam sem trilhar o caminho das tentativas, que incluem a quan­ tidade.

Durante todo o processo, desde o envolvimento, ler, ler anotando, construindo hipóteses ou enredos, escrever, dese· nhar, anotar, construir imagens, figurações e metáforas, o que é uma massagem mental. Pensar além do trivial, resolver proble­ mas parciais, pois esse tipo de escada encoraja e ajuda. Final· mente, tentar usar a intuição e abrir·se ao extra-sensorial.

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Na prática dos processos de AbertUra da Mente, podemos refrear o apego até pela via psicodramática da Abertura da Emoção, "fingindo" que não estamos satisfeitos com a idéia, a fim de nos dedicarmos a criar outras. Também podemos apenas colocar a idéia de lado, para usar depois, talvez enriquecida com detalhes de alguma outra que teremOS lá na frente.

Concluo insistindo em que esse ensaio de roteiro para o processo prático de criação não é uma estrutura na qual deve· mos nos enquadrar, mas apenas uma informação sobre procedi· mentos geralmente úteis. Devem-se adaptar à maneira particu­ lar que cada um elege para si. E somente tentando e praticando vocês poderão verificar qual seu caminho mais produtivo.

Esse desapego mental, que é uma grande chave para fazer render a AbertUra da Mente, tem algum paralelismo com as qualidades que precisamos desenvolver para manejar a inova­ ção, como será focalizado no Capítulo 11. Ao lerem-no vocês poderão verificar a sobreposição e rever o tema deste capítulo. Até lá, portanto, amigos .•

Desapego mental, uma chave de abertura Ao dar aulas de criação publicitária para alunos de graduo ação, quase adolescentes, uma das grandes dificuldades que eu encontrava era fazer os alunos não se entusiasmarem demais com o que julgavam ser os seus insights. Sem a arma (e o peso morto) da experiência e com um entusiasmo próprio da idade, eles se apegavam às primeiras

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CR1ATIVlDADE

ABERTURA DA MENTE

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pessoa 100% flexível e através dessa vivência acabamos incorpo­ rando algo dessa posição.

9 Efeitos Estendidos

das Três Aberturas

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três aberturas, emoção, sentidos e mente, têm apresentado efeitos paralelos, não objetivados, ara muitos dos praticantes. Ainda lembrando que essa divisão tem só caráter didático, vamos relatar agora os ganhos percebidos, que constituem um verda­ deiro processo de crescimento pessoal.

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Da abertura da emoção para o autoconhecimento

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A abertura da emoção objetiva um manejo mais fácil do "navaldiferente" através da flexibilização de nossa escala pessoal de valores. Ao nos conciliarmos com o que "nos é estranho", ganhamos condições de navegar melhor no terreno das alternativas - o que é vital para a criatividade. Pretende-se ser possível conse­ guir essa abertura de duas formas: a primeira e mais efetiva é a via da conscientização, na qual, pela refle­ xão, nos convencemos de que o processo nos é provei­ toSO, o que detona em nós, automaticamente, um pro­ cesso de mudança. A segunda forma é a via psicodramática, quando interpretamos o papel de uma 98

CRJ.A1lVlDADE

A prática da abertura da emoção vem demonstrando ser pos­ sível aproveitá-la também para uma prospecção de nosso interior, o que acontece ao definirmos mais precisamente nossos valores para nós mesmos. Sem dúvida, um passo para O autoconheci­ menta e, por decorrência, uma base para nossa auto-estima. Interessante notar que qualquer ganho de auto-estima se tra­ duz em segurança que, por sua vez, é OUtro fator importante para exercer nossa criatividade, já que dessa prática sempre decorre algum risco. Dentre os vários benefícios vindos da flexibilização dos valo­ res e, certamente, o primeiro efeito notável do novo posicio­ namento está uma menor "cobrança" de correção com os fatos que se nos deparam no dia-a-dia. Dessa conciliação com o exter­ no, por outro lado, decorre uma menor "cobrança" para com nos­ sos próprios erros. Naturalmente, isso aumenta imediatamente a nossa auto-estima, e talvez seja por rudo isso que muitos defen­ dem ser o autoconhecimento a porta de entrada para a criativida­ de. Concluindo, à medida que revemos nossas posições mais ra­ dicais frente ao que nos parece errado, podemos, portanto, deter­ nos na análise das próprias opiniões. Estaremos promovendo um diálogo com nosso interior, sob a bandeira da tolerância para com o mundo externo que, por fim, também tremulará para nosso mundo interior. Todo esse processo de flexibilização, análise, autoconheci­ menta e auto-estima nos tornará não só mais aptos para a criativi­ dade, como trará, de quebra, um índice muito mais alto de saúde mental.

A extensão dos sentidos para uma

visão sistêmica A abertura dos sentidos objetiva otimizar a percepção, o que se pretende conseguir, em resumo, pela fuga da ótica advinda da rotina, e isso de duas maneiras: pela incorporação de uma visão descondicionada, como a da criança, e com a visão aprofundada EFEITOS ESTENDlDOS DAS TRÊs ABERTURAS

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pela curiosidade, como a do turista. Pretende-se que a melhor captação de informações facilite o exercício da criatividade. A prática tem mostrado, contudo, que se pode ir além, otimizando a percepção também pela adoção de um ponto de vista menos antropocêntrico, passando a se ter, em algum percepção tam­ grau, uma visão holística.

bém é otimizada com uma visão me­ nos antropocêntrica, que leva à visão holística. Descondicionante e desbloqueadora, esta é irmã da cria­ tividade.

E o que esse ponto de vista nos dá? Em primeiro lugar, podemos imediata­ mente concluir que ganhamos uma percepção menos condicionada. Eliminamos o filtro terrí­ vel da visão totalmente engajada em nossa condição humana. Passamos a nos sentir uma parte do todo, e assim, de modo quase mágico, esse todo muda seu aspecto, adquirindo outros significados.

Novas informações, por outro lado, ficarão à disposição de nossos sentidos. Aspectos da realidade, que só uma postura filosófica pode perceber, entrarão em nosso "banco de dados". Enxergaremos melhor lados ocultos das coisas que um ser humano dificilmente percebe com sua visão estreita. Sob esse aspecto de abrangência pelo ângulo da observação, essa extensão dos sentidos se mescla à abertura da emoção, o que é natural. Até porque a divisão das aberturas em três vertentes (sentidos, emoção e mente) é um recurso de análise - trata-se, na verdade, de um processo uno.

r

Adotando uma visão holística, também nos conciliaremos mais com a realidade e poderemos captá-la melhor. Aquele aludi­ do "filtro", até certo ponto considerado saudável e necessário, como parte de nossa "âncora individual", será atenuado. Passare­ mos a ter uma sensibilidade mais acurada, o que além de facilitar o exercício de nosso potencial criativo, também nos proverá de serenidade frente à realidade. É algo na direção de um "olhar zen", revelador do que existe abaixo das superfícies aparentes.

Abertura da mente, ponte para o inconsciente A abertura da mente tem como objetivo ativar o nosso pen­ samento não-lógico, para articulá-lo com o lógico, conhecido como pensamento racional ou, simplesmente, como raciocínio. Como decorrência dessa abertura, ganhamos uma maior desen­ voltura para criar alternativas de soluções e caminhos novos, im­ possíveis de ser levantados dentro da lógica. A prática da abertura da mente tende a diminuir as naturais censuras que a mente humana, basicamente racional, impõe ao pensamento. Esse processo de liberalização maior da não lógica passa a valorizar o intuitivo, normalmente menosprezado, princi­ palmente em nossa cultura ocidental. Está sendo defendida a tese de que o nosso inconsciente é exa­ tamente uma função do nosso hemisfério direito (BLAKESLEE, T. R The right brain. Garden City, New York : Anchor Doubleday, 1980). Ainda que não se aceite isso, é fácil admitir que o inconsci­ ente e o intuitivo são parentes próximos. Portanto, se passannos a usar mais a nossa intuição, estaremos favorecendo um canal por onde fluem as manifestações do incons.ciente. Essa dedução pode ser confirmada pelo fato de que os insigths são mais freqüentes à medida que passamos a praticar mais freqüentemente o pensamento não lógico. Os artistas são um bom exemplo desse fenômeno: desenvolvem-se até atingir uma produção contínua. Concluindo, podemos começar a favorecer o acesso ao enor­ me potencial do nosso inconsciente pela crescente prática da abertura da mente, o que pode ainda ser articulado a outros re­ cursos como a atenção aos sonhos e o crédito aos chamados "aca­ sos". Aliás, os acasos são tão relevantes que existe até uma nova ciência que os estuda, a Serendipidade. * Nossa mente revela-se um manancial de riquezas, normal­ mente pouco exploradas. Seu uso volitivamente mais intenso abre possibilidades imensas para uso do nosso potencial criativo. In­ clusive pelo aproveitamento da sua parte mais oculta, o inconsci­ ente. _ Contam que o nome dessa ciência veio de uma lenda oriental. Serendip era um local

onde viviam crês principes que cosrumavam sair em seus camelos para procurar uma

determinada coisa e sempre acabavam enconrrando oucra.

100

CRlATIVlDADE

EFEITOS ESTENDIDOS DAS TRÊS ABERTURAS

101

COMENTÁRIOS

COME NTÁRIOS

I base

para um lúcido plano de vida. E, final­ mente, através do autoconhecimento tam­ bém se ganha a ceneZa de nossa capacidade criativa. O que irá favorecer diretamente o seu aproveitamento, pela mobilização ou res­

gate. Saber que se é criativo é tão positivo quanto é negativa a dúvida ou a negação de

nossa criatividade. O lado inovador da mente

é muito sensível às expectativas: se achamos que não somos capazes, nunca conseguire­

mos provar o contrário.

))\))))) Ecos do Capítulo 9 (Especulando e comentando)

Autoconhecimento em ação o Ministério do Bom-senso avisa: este capítulo pode inco­ modar os psicólogos. Primeiro, porque não tenho a formação acadêmica deles, que é a mais adequada para abordar esse as­ sunto. Assim, começo a invadir territórios alheios, mesmo sem pretender. É natural o incômodo do teórico, ao ver alguém ar­ riscar conclusões extraídas da prática. Contudo, como o exercí­ cio da especulação por não especialistas também traz resulta­ dos, não creio que seria justo para vocês, leitores, deixar de passar informações que se fundamentam na experiência de oito anos de cursos. Portanto, vamos lá, irei contar o que a prática e as pesquisas disseram. Primeiramente a prática nos mostra que, na medida em que conseguimos melhorar nosso autoconhecimento, ganha­ mos muitas doses de saúde mental. Traduzida principalmente por uma dupla conciliação: com nossa personalidade e nossos limites e com o mundo externo. Essa conciliação, quando se estabelece, produz a mente serena, que facilita todo tipo de re­ lacionamento com o mundo. Finalmente, tudo isso produz uma ótica leve ou Jair play, ótimo condimento para uma vida mais saborosa. Acho que tudo isso não agride a ciência da psicologia, assim como não o faz o discurso dos budistas, que diz qua­ se isso mesmo. Indo adiante, percebe-se que a soma das parcelas acima poderá se traduzir por uma postura bem mais equilibrada, sem aquelas crises comuns aos que vivenciam de forma direta as atuais neuroses da vida urbana. Eis dois pensamentos que exemplificam esse tipo de problema: 1. preciso procurar meu centro; 2. não vejo o que vim fazer nesse mundo. Esta última manifestação também revela carência não só de auto conheci­ mento, como de visão holística, focalizada logo a seguir.

1"

I

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."

:!: .,

Acrescente-se às vantagens do autoconhecimento urna ca­ pacidade de definir e manejar melhor as próprias prioridades,

102

CRlATIVIDADE

o autoconheci­ mento traz a certeza da capacidade cria­

tiva, o que favorece diretamente seu

aproveitamento pela mobilização ou res­ gate.

Visão holística, grande janela Fugir do antropocentrismo é caminho para um encontro

consigo próprio dentro do mundo. Vejo a visão holística como

saída natural daquela posição tão tradicional quanto pernicio­

sa, a antropocêntrica. Grande pane dos problemas do mundo

atual, desde a destruição da camada de ozônio até a

superpopulação; é conseqüência da velha cultura de ver o ho­

mem como a medida de todas as coisas. Cultura que parece ser

o arcabouço de outra ótica deformada, a do egocentrismo. I

Os conflitos provocados pela não aceitação da diversidade

têm sido combatidos, através dos tempos, pelo ideário das reli­

giões em geral. No Ocidente o combate assume a bandeira de

tolerância e, no Oriente, a aceitação da diversidade é defendida

como base da harmonia no universo e está até expressa no sím­

bolo Yin-Yang.

O desenvolvimento da visão holística, além de funções li­

gadas à conciliação, traz também a melhor captação das infor­

mações emitidas pelo mundo em constante mudança. Saben­

do-se parte de um todo interdependente, a pessoa tem mais

facilidade para reconhecer e aceitar as manifestações das par­

tes afastadas de seus pontos de vista. Otimiza-se a percepção,

enfim.

EFEITOS ESTENDIDOS DAS TRÊs ABERTURAS

103

COMENTÁRIOS

Praticando holismo Alguns exemplos do que representa a visão holística: acei­ tar a interdependência universal, sabendo-se parte do todo; alegrar-se com o aperfeiçoamento do todo; alegrar-se com sua própria contribuição para esse aperfeiçoamento; aprender a conviver não só com seu semelhante, mas com as outras partes do todo; enxergar o conjunto e sua dinâmica; conciliar-se com a diversidade das partes; propugnar pelo desenvolvimento sus­ tentado; buscar a ética na essência do relacionamento entre as partes; abstrair-se, quando preciso, de sua condição individual e exercer sua natureza na direção do equilíbrio do todo.

COMENTÁRIOS

disponíveis os mais diversos tipos de abordagem, desde as psi­ cológicas até as esotéricas. Vou passar ao largo da questão, mas remeto os interessados ao citado Nestor Muller, professor no curso de pós-graduação da ESPM . No mínimo ele pode forne­ cer a bibliografia mais indicada ao caso de cada um. Sem arriscar nada, faço, contudo, uma colocação para fi­ nalizar: o melhor uso do inconsciente naturalmente aumentará nosso índice de insights, bem como nos permitirá fugir um pou­ co da ditadura do racionalismo .•

Finalizo este assunto levantando uma hipótese para refle­ xão: a combinação da visão holística com o autoconhecimento constrói o optimum do processo total de integração do indiví­ duo ao seu ambiente. Até onde isso esteja certo, vale a pena cultivar os dois elementos.

o

inconsciente quer trabalhar para nós Quem ainda não ouviu falar de gente que sonha com solu­ ções de problemas? O meu colega professor Nestor Muller tem um amigo, engenheiro de manutenção da Petrobrás, que chega a "encomendar" para seus sonhos a solução de problemas téc­ nicos complicados. Está aí um exemplo radical da utilidade de usar bem o inconsciente. As técnicas para se usar melhor essa parte oculta da mente vão muito, muito além do ponto focalizado no capítulo que si­ tuou esse aumento de uso enquanto subproduto da abertura da mente. Sim, certamente é, mas não representa um caminho di­ reto ao objetivo de usar o inconsciente. É apenas uma vanta­ gem adicional da abertura da mente.

Quem se interessa bastante pelo tema já deve conhecer mais de uma fonte desse conhecimento, pois existe um grande universo de experts estudando e divulgando o assunto. Estão

104

CRlAllVIDADE

EFEITOS ESTENDIDOS DAS TRÊS ABERTURAS

105

10

Auto-avaliações Autoconhecimento e Criatividade

U

ma afirmação exagerada às vezes tem o importante papel de nos fazer prestar atenção em seu assunto, meditar so­ bre ele como ainda não tínhamos feito e, então, chegar a determinada conclusão, que poderá até estar de acordo com aquela colocação. Os americanos usam bastante o exagero (oversta-tement) nos processos de comunicação, numa exploração propositada da afirmação radical para, dizem eles, conseguir emergir do enorme volume de informações que disputa a atenção dos receptores de mensagens. Em 1993, eu trouxe Sérgio Graciotti* para dar uma aula so­ bre criação na ESPM e, em dado momento, ele afirmou dramati­ camente: "auto conhecimento é a porta da criatividade". Seria mesmo? pensei na época, um tanto chocado pela força da afirma­ ção. Parecia um exagero, mas o conteúdo fazia sentido. Sem pla­ nejar, acabei meditando muito sobre o assunto, por força de uma permanente pesquisa sobre o tema criatividade, e também porque a colocação tangenciava vários temas de minhas aulas. Acabei concordando, apenas ainda indeciso se devemos dizer "a" porta ou "uma" porta. Na verdade, é uma grande porta!

A partir disso tudo, tenho dado bastante ênfase nesta reco­ mendação para os que desejam mobilizar seu potencial criativo : cultive o autoconhecimento . Basicamente para ganhar o que a psicologia chama de autoconsciência e, a partir desta, conseguir aumentar sua auto-estima, que se traduz em segurança para o exercício da sempre arriscada atividade de implementar criativi­ dade em qualquer ambiente. Arriscada porque a permanente e normal oposição ao "novo" sempre provoca um jogo, em que se pode perder desde o conceito de "pessoa confiável" como até mes­ mo a própria posição na empresa. Convicto, portanto, de que o autoconhecimento cultiva em nós um melhor nível de segurança e serenidade frente às críticas, procuro estimulá-lo nos interessados em exercer mais sua criativi­ dade. Para isso, desenvolvi algumas estruturas facilitadoras, a maioria na forma de questionários que provocam reflexões e auto-avaliação. Todos conhecem de sobra os costumeiros questionários pu­ blicados em revistas, que pela superficialidade, e às vezes mesmo pela pouca consistência e/ ou inteligência, são sistematicamente desprezados pelas pessoas mais informadas . Encaro essa restrição com naturalidade, até concordando, porém sem generalizar ou deL'Xar de reconhecer as exceções e, principalmente, sem conde­ nar a técnica. Até porque temos exemplos de questionários bri­ lhantes, como os do livro Auto-estima, de Nathaniel Branden. Os questionários que desenvolvi procu­ ram prender-se a caracteristicas de atitude e personalidade que se relacionam com a criati­ vidade pessoal, particularmente no campo de­ finido pela abordagem das "aberturas". A seguir, reproduzo dois questionários que tenho usado com freqüência. O primeiro, ''Auto-avaliação do potencial de criatividade" é fornecido no início de um curso, com a propo­ sição de que a pessoa o responda para si pró­ pria e o guarde. Após terminado o curso, tendo adotado em algum grau os seus conceitos e técnicas, deverá examinar as respostas, e aí re­ conhecer, em sua própria personalidade, as ca­ racterísticas mais favoráveis para o bom exer­

cício de sua potencialidade no campo. Reco­ nhecer para privilegiá-las.

Auto-avaliações permitem reconhe­ cer, na própria per­ sonalidade, as ca­ racterÍsticas favorecedoras da criatividade. Reco­ nhecer para privilegiá-las.

Um dos mais reno mados cria dores publicitários do Brasil.

106

CRlATMDADE

AlITO-AVALIAÇÕES, AUTOCONHECIMENTO E CRIATM DADE

107

r Trata-se, como se vê, de um exercício de autoconsClencia. Algumas respostas prendem-se a comportamentos, outras a atitu­ des. Ficarão facilitadas as eventuais mudanças pessoais que a pes­ soa quiser se propor, em função do seu projeto de vida e do co­ nhecimento que ganhou no curso. Mudanças que devem significar crescimento, e nunca negação de sua maneira de ser ou de seus valores. Também deve-se considerar outro ponto interessante da autoconsciência: à medida que introvertemos uma convicção de que "seria bom que eu fosse assim", estaremos detonando em nos­ so inconsciente um processo de mudança naquela direção. Pode ser mínima, sutil, só reconhecível através do tempo, como às ve­ zes pode ser radical, produto de uma iluminação repentina. Esse processo nem é necessariamente consciente. Se acharmos que so­ mos da maneiraX, mas gostaríamos de ser da maneira Y, já estare­ mos dando o primeiro passo nesta direção.

,,

Ir

"Somos o que pensamos", diz a cultura oriental. E a cultura ocidental já aprendeu a respeitar a força do chamado pensamento positivo. Então, ao refletirmos sobre nossa maneira de ser, quan­ do já tivermos definido para nós um caminho de crescimento, es­ taremos automaticamente nos engajando no processo de aperfei­ çoamento.

L

Dessa forma, o escore que se obtém nesse primeiro questio­ nário serve como referência para compararmos nossa aptidão para a criatividade, frente à média, e também como base para as maiores ou menores mudanças que precisaríamos promover a fim de melhorar nosso desempenho nesse campo.

Marque suas notas, de zero a dez: 10 para cada frase que for absolutamente adequada a você e zero para o caso de ser, em seu caso, totalmente falsa. As notas intermediárias, as de 1 a 9, devem ser usadas para as verdades parciais. Nota: 1. Curiosidade é minha característica; quero saber tudo. 2. Tenho convicções firmes, sei bem o que quero. 3. Geralmente tenho uma "saída" diferente para os mais diversos problemas, em casa, no trabalho, na rua. 4. Não gosto de provar comidas diferentes. 5. Acho fácil mudar de opinião no meio de uma

discussão.

6. Prefiro dramas a comédias e não sou fã de anedotas.

1. média entre alunos de cursos de graduação em comuni­ cação e marketing, de classe média, entre 18 e 20 anos ­ 40 pontos positivos; 2. média entre alunos de cursos de pós-graduação em co­ municação e marketing, entre 25 e 30 anos - 30 pontos positivos;

10. Começo muita coisa e não termino. 11. Nunca sinto aversão por tipos diferentes e sempre

desculpo procedimentos inadequados dos outros.

3. média entre alunos de cursos livres, com escolaridade variada e idade entre 20 e 35 anos - 10 pontos positivos;

12. Nunca resolvo as coisas sem pensar e ponderar bem.

4. média entre alunos de cursos livres, com escolaridade variada e idade superior a 40 anos - 10 pontos negati­ vos. CRIATIVIDADE

AUTO-AVALIAÇÃO DO POTENCIAL DE CRIATIVIDADE

7. Gosto bastante de ir onde eu nunca fui: novos locais

de férias, restaurantes desconhecidos, casa de novos

amigos etc.

8. Não tenho muito interesse por assuntos fora de meu

dia-a-dia.

9. Curto brincadeiras, trocadilhos, filmes nonsense como

Mont Pithon, adoro caricaturas e piadas.

O escore varia de público para público, e minha experiência anotou médias como essas:

108

Advertência importante: qualquer tentativa de análise des­ sas médias e do nosso próprio escore tem de levar em conta con­ dições peculiares. No caso das médias, considere-se que elas são produto de questionários respondidos por um tipo de público es­ pecífico, que se matriculou em um curso de criatividade. No caso do próprio escore, devemos considerá-lo também um produto do estado de espírito no momento das respostas, já que as notas ficarão muito dependentes dele.

13. Gosto de poesia, de flores, pinturas, paisagens. l4. Sei que sou uma pessoa imperfeita e isso me

incomoda.

AUTO-AVALIAÇÕES, AUTOCONHECIMENTO E CRlATMDADE

109

VRLl.f\\.,-au

Nota: 15. Não acredito

acho que tudo

em

16. Tenho e outros.

do ridículo

mente falso e dez para o totalmente verdadeiro. Notas intermedi­ árias devem ser usadas para características oarcialmente certas. Nota:

17. Não tenho um coisas. 18. Minhas

gosto de muitas são sempre

1. EM

Minhas são baseadas tanto em afeto quanto

em tolerância.

bem

19. Gosto da ane da Bienal e de música de 20. Não gosto de conversar com pessoas que pensam "diferente", 21.

Aceito bem as contra as minhas e com facilidade,

Gosto de conhecer pessoas, dou-me bem com

promovo ~U'A~,,~v'

Aceito diálo5(os, perco discussões sem trauma e

dos outros,

incondicionalmente do Jeito que sou,

24. Tenho facilidade para acreditar no que leio ou ouço.

25. Sou de "sacar"

3. NO TRABALHO

nunca fico com

Aceito cuno os desafios que elas trazem e

recido-me sempre.

os

26. Não gosto de acadêmicos.

Procuro sempre caminhos novos e por isso sou agente

de HL\~""ÂH,.a"

27. Sem ore levo adiante minhas idéias e

4, NO DIA-A-DIA

28, Interesso-me bastante por um espane e só por ele.

29. Tenho muitos

[ememe da rotina e localizo detalhes

interessantes na não-rotina,

e costumo

30. Acho importante corresponder às outros,

rt"Mu<;>c

Procuro sempre conhecer novos locais e pessoas,

do sexo.

dos 5.

Some as notas das soma das notas das cular,

e desse subtotal diminua a

ESCORE _ _ __

o é aos alunos apos o es­ tudo e a discussão das três abertUras sentidos e Também é por eles para seu exclusivo uso Dessoal tem a finalidade de esclarecer seu ponto de em processo de crescimento que eles pensem adotar.

110

CRIATlVlDADE

eXIJe(:taltív;~s

2. NO RELACIONAMENTO PESSOAL

sempre o que me dá na telha.

22. Não dou boas respostas na hora: elas me ocorrem

23.

DAS ABERTURAS

Dê notas de zero a dez a cada ítem: zero para o absoluta­

COMUNIDADE Tenho mais ativa do que a média e mais do que critico.

Acho que sou meu idealismo em

,,<>rt;l"iT'\1'\

que está aí e

Somar e tirar a média que, se for abena. sonalidade

a sete, revela uma per­

111

AlTrO-AVALiAÇÕES, AUTOCONHECIMENTO E CRiATIVIDAD E

111

COM ENTÁ RIOS

COMENTÁRIOS

propor o uso da auto-avaliação formal como ferramenta de introspecção. Assim é que um questionário, por mais pueril que pareça, sempre nos ajuda a navegar pela auto-análise.

. \),'I )\ Ecos do Capítulo 10 'J /

' I (Especulando e comentando)

Auto-avaliações, hum???

!I!

Auto-avaliações quase sempre têm uma aparência de re­ cursos meio idiotas, mas o efeito positivo de uma reflexão so­ bre nossas próprias atitudes e comportamentos compensa uma experiência. Agora, um aviso aos que resolveram fazer qual­ quer auto-avaliação. O resultado numérico não deve ser levado muito a sério. Até porque as notas depende­ rão bastante do nível de humor e auto-estima que prevalecer na ocasião. Importante é re­ fletir sobre o conjunto e, ao reconhecer que Metas de aperfei­ se está como se deseja, propor-se alguma çoamento são bási­ não mudança.

cas para a psique sadia e sua falta dificilmente pode ser compensada por outros estímulos.

Arrisco dizer que tais proposlçoes de

mudança são necessárias para a saúde men­

tal, mesmo que a média da avaliação se apro­

xime do dez. Metas de aperfeiçoamento são básicas para a psique sadia e sua falta dificil­ mente pode ser compensada por outros estí­ ~~.



Ao tentar responder com honestidade a uma questão, es­ taremos avaliando nossas atitudes e comportamentos de forma direta, como raramente o fazemos no correr do tempo. A me­ nos que tenhamos sido vitimas de um fracasso, quando passa­ mos a avaliar as ações que o possam explicar. Só que nessa oca­ sião o tom será de cobrança, quase sempre com o amargo vere­ dicto "Eu não podia errar dessa forma. " Ainda assim essa análi­ se ajuda, e daí o consenso de que aprendemos mais com as der· rotas do que com as vitórias. Contudo, não precisamos esperar a ocorrência dessas dispendiosas lições vivenciais; podemos ir praticando análises limitadas, porém grátis, dentro da simulação desses questioná­ rios, talvez selecionando os menos imbecis. A pessoa que dese­ ja aproveitar melhor seu potencial criativo está, de uma ou de outra forma, tentando uma transformação pessoal. O ato de deter-se sobre si será sempre proveitoso para definir pontos de partida para seus projetos de crescimento. Encerrando, quero fazer uma comparação que vai escan· dalizar muita gente: a utilidade das auto-avaliações é de certa forma semelhante ao proveito dos mapas astrais e dos horósco­ pos em geral : são caminhos para a prospecção do interior. •

/

Alguém que não quer mudar, não por medo da mudança, mas porque se encontra totalmente satisfei­ to, está a um passo ou do tédio ou da megalomania, estados que não levam à felicidade.

Auto-avaliações, caminho de introspecção Mais adiante, no Capítulo 14, abordo a importância da motivação para o desenvolvimento da criatividade, quando de­ fendo diretamente a utilidade das introspecções como ferra­ mentas de autoconhecimento. Contudo, cabe exatamente aqui

112

CR.W1VIDADE

AUTO-AVALIAÇÕES, AUTOCONHEOMENTO E CRlATIV1DADE

113

criativa em suas vidas e se julgavam incapacitados para exercer qualquer tarefa que exigisse imaginação. Entretanto, ao lhes se· rem fornecidos recursos para vencer bloqueios e para aproveitar e desenvolver o potencial cri­ ativo, tornavam-se outros. Apresentavam ní­ veis excepcionais de criatividade, apesar dos No campo da antecedentes.

11 Personalidade Criativa e Comportamento

criati­ vidade, importa menos corno nasce­ mos do que corno nos educamos.

Não se pode até o presente avaliar o po­ tencial de criatividade sem usar os dados apa· rentes, como a ação concreta da pessoa, ainda que em testes. Assim, se a pessoa nada apre­

sentasse de criativo, a avaliação tenderia a lhe imputar um potencial muito baixo. Contudo, verifiquei que uma avaliação não fazia falta para se começar a influir no comportamento e que a alteração conseguida (externa, ou seja, de fora para dentro) sempre resul­ tava em uma excepcional diferença de performance - todos os que se dedicavam a melhorar, melhoravam. Daí a conclusão: no campo da criatividade, importa menos como nascemos do que como nos educamos.

riatividade é uma característica de nossa espécie. Esse princípio, já defendido no Capítulo 2, serve como base para as reflexões que vêm a seguir sobre o que é comumen­ te chamado de "personalidade criativa". Existe uma média de criatividade entre as pessoas, que pre­ sumivelmente não deve ser alta, em relação a nossas poten­ cialidades, à medida que sabemos como os bloqueios atingem a todos . Ainda assim, encontra-se gente muito criativa, o que gera a pergunta "Por quê?" Por isso, muitos começam a especular até onde a inteligência, em sua concepção tradicional, bem como os chamados padrões mentais, determina o nível de aproveitamento de nosso potencial inato de criatividade. E quando se verifica den­

tro do processo a importância dos padrões mentais, traduzidos

por atitudes, surge outra questão: com o objetivo de uma trans­ formação pessoal, padrões podem ser modificados? Até onde? Como? Independente disso, a literatura sobre criatividade costuma focalizar a personalidade criativa, e sempre conclui que a maior ou menor manifestação de criatividade acaba sendo o resultado de uma configuração psicológica da pessoa, cruzada com fatores externos. Minha experiência sugere que, em termos de comporta­ mento criativo efetivo, a educação e o ambiente são muito mais relevantes do que o próprio nível do potencial inato no indivíduo.

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Características favorecedoras Muitos experts em criatividade já detectaram e estudaram os fatores mais importantes que determinam o comportamento cria­ tivo. São o que se costuma chamar de componentes da personali­ dade criativa. Em geral, estes são os pontos sempre destacados:

independência (quase sempre produto da autoconfiança, ousadia e iniciativa e conjugada a um es­ pírito aventureiro); . curiosidade (característica inata, freqüentemente cas­ trada na educação e quase sempre conjugada ao espírito questionado r e especulativo) ; flexibilidade (caracteriza-se pela disposição de rever valores) ; sensibilidade (muitas vezes conjugada à emoção mais liberada).

Essa conclusão veio da observação que fiz de muitos casos de

transformações em alunos que não apresentavam nenhuma ação

114

li

PERSONALIDADE áUATNA E COMPORTAMENTO CRlATMDADE

j

i

115

r De minha pane, incluo como fator também muito imponan­ te o que pode ser chamado de leveza. Não só no que toca ao senso de humor que, em estudos recentes, tem sido bastante cita­ do como fator positivo, mas como a vejo, muito ligada ao otimis­ mo . Trata-se de uma ótica jovial e dela vem a disposição para ob­ servar o mundo e suas normas de forma menos condicionada e respeitosa. Vou além: quase todas as pessoas excepcionalmente criativas têm ótica tão leve que chegam a não dar muita importância (e levar muito a sério) o mundo e a si próprias. Vê-se nelas certo desprezo pelas convenções e pelos conceitos do ridículo, o que abre espaço para um pensamento e uma ação menos condiciona­ da. E o uso do que chamo assim de "mente sorridente" faz lem­ brar o princípio de que nem tudo que é criativo é engraçado, bem como nem tudo o que é engraçado é criativo ... mas existe um grande parentesco. Outra característica pessoal, também constante nos estudos da personalidade criativa, é a da boa fluência, tanto verbal quanto de raciocínio. Apesar de ser uma qualidade ligada particularmen­ te à capacidade de comunicação, ela também deve ser ligada ~o comportamento criativo.

É preciso também registrar aqui pesquisas da Universidade da Califórnia, feitas com pessoas notoriamente criativas. Foram estudadas a formação e a maneira de ser e pensar de cientistas, profissionais e artistas. Chegaram até a entrevistar pais, professo­ res e amigos. Os dados obtidos, comprovados em todos os estudos do gênero, além de confirmar aquelas características já citadas acima, acrescentaram outras :

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interesse variado (uma derivação da curiosidade, com empenho e disponibilidade para ação em campos diversos) ; estética diferenciada (no gosto pessoal, uma tendên­ cia a valorizar a ruptura, nunca o tradicional); percepção e valorização do intuitivo (ótica menos lógica e maior obediência aos impulsos, do que a média); sensibilidade "feminina" (emoção mais acessível aos esÚffiulos e aos valores cultivados pelo sexo femini­ no) . Além disso, esses estudos mostraram que os criativos não ti­ nham obrigatoriamente os melhores Q.I. na escola e que a maio­ 116

ria apresentava traços de incoerência no componamento: não

eram muito confiáveis.

Não há grandes enigmas quanto às características da perso­ nalidade criativa, e uma Visão bem rápida e geral é até provocan­ te: pessoas criativas estão mais perto do conceito de "cuca fresca" do que de qualquer outro.

Desenvolvimento da personalidade

criativa

Percebe-se, neste ponto, a afinidade entre as constatações

dos estudos da personalidade criativa e a tese das aberturas,

como está descrita no Capítulo 5. Como extensão dos raciocínios

contidos na caracterízação das pessoas "mais abertas", acrescen­

te-se aqui que o estudo da personalidade criativa não deve nos

sugerir que as pessoas são totalmente desta ou daquela forma. O

modo de ser de cada um, como foi dito na descrição dos mais

abenos, vem de um nível de prevalência ou da resultante de uma

somatória, ao longo de todas as manifestações da personalidade.

Por Outro lado, é bom lembrar que não se deve estabelecer critérios de "certo/errado" quanto às variáveis da personalidade. Em cada caso e até em cada ocasião, somos levados a ser de uma ou de outra forma. Talvez o mais ceno seja conhecer-se bem para poder mobilizar as competências necessárias ou mais adequadas a determinadas circunstâncias e para tentar minimizar as inapti­ dões em outras ocasiões. A partir da consciência do terreno escorregadio em que se situam essas considerações, uma boa conclusão seria a de que vale a pena explorar as possibilidades de desenvolvimento do comportamento criativo que a tese das aberturas oferece, pois isso irá incluir o aperfeiçoamento da própria personalidade. Assim, para os leitores que adotem os princípios da abertura da emoção, dos sentidos e da mente, se apresentará um caminho bem viável para o desenvolvimento da criatividade e da própria personalidade. Melhor ainda, a viagem por esse caminho acaba revelando outros destinos muito proveitosos. Ao aperfeiçoar o uso de nossa criatividade, crescemos como indivíduos e passamos a exercer melhor nossa individualidade, com enormes ganhos na vida prática e na própria auto-estima.

CRlATlVIDADE PERSONALIDADE CJÚATIVA E COMPORTAMENTO

117

cunstâncias de momento. Em todo caso, lembremos que a classifi­ cação em si é desimportante, tratando-se mais de uma nomencla­ tura, como foi dito antes, com fins de estudo.

Do comportamento p ara a atitude A linha de ação para o aperfeiçoamento da personalidade criativa, se não for a mesma para o desenvolvimento de nossas aberturas, é extremamente semelhante. Portanto, os que se engajarem na prática das Aberturas não têm muita coisa mais com que se preocupar em termos de personalidade. Conhecendo os valores da chamada personalidade criativa e trabalhando para abrir sua emoção, seus sen­ tidos e sua mente, eles estarão obtendo resul­ tados paralelos. Nossa criatividade, Falei de padrões mentais, traduzidos por atitudes, e agora faço uma ligação entre eles, que vem do interior, no que toca a sua transformação, com práticas também pode ser comportamentais que facilitam a eclosão da criatividade pessoal. Trata-se de uma decor­ induzida pelo exterência do conhecido e explorado princípio do rior, ao se adotar corpo agindo sobre a mente. Aqui será o com­

padrões de compor­ portamento (externo) agindo sobre a atitude

(interna). Assim como ao colocarmos um sorri­

tamento "pré-criati­ so no rosto favoreceremos a melhora do nosso humor, podemos empreender ações que facili­ vos" . tarão a modificação de padrões mentais que bloqueiam a criatividade, bem como o desen­ volvimento dos padrões favorecedores. Chamo a esses recursos de "comportamentos pré-criativos" .

As duas vertentes explicam-se melhor por meio de exemplos, e estes, nos dois grupos de ações, compõem uma relação que pode ser completada ou refeita por qualquer pessoa interessada que se debruce sobre a questão . Em cursos e workshops, uma das explorações do tema é a dinâmica de identificar exemplos dados, no que toca a sua vertente predominante, e a criação ou lembran­ ça de outros exemplos. Portanto, a lista que se segue, longe de esgotar o assunto, é um estímulo para a reflexão e comple­ mentação que vocês leitores poderão fazer. LIGAR-SE é principalmente manter um alto e permanente

nível de atenção e aplicar às suas atividades no dia-a-dia um

bom nível de concentração disciplinada. Um ótimo exemplo

de comportamento na vertente do ligar-se é o de um líder

de acampamento de jovens, que está sempre atento ao que

acontece para detectar problemas ou oportunidades que as

circunstâncias trazem.

SOLTAR-SE é principalmente dar valor não absoluto a nor­

mas e ao certo/lógico, abrindo terreno para a exploração de

hipóteses. Um exemplo ótimo para a vertente do soltar-se é

também o do líder de acampamento de jovens que, além de

manter-se ligado, está sempre disposto a soltar-se, modifi­

cando a programação de acordo com circunstâncias de mo­

mento, visando solucionar problemas ou renovar participa­

ção, evitando quedas de interesse.

Comportamentos pré-criativos

Este primeiro exemplo demonstra como as duas vertentes, ligar-se e soltar-se, são absolutamente complementares. A seguir, mais exemplos.

o que batizei como comportamentos pré-criativos são princí­ pios (nunca dogmáticos), direções (nunca excludentes) a adotar, somados a uma pequena disciplina, em iniciativas que permeiam nossas decisões no dia-a-dia. Para efeito didático, dividi as reco­ mendações em duas grandes vertentes, aparentemente antagôni­ cas, mas na realidade complementares, a vertente do "ligar-se" e a do "soltar-se" . Os dois grupos não são estanques, pois muitos desses com­ portamentos pré-criativos têm um pé em cada vertente, definin­ do-se muitas vezes só por uma predominância, muito presa às cir­

Exemplos de ligar-se: manter um bom nível de atenção no dia-a-dia, próprio de quem sempre valoriza informações, como um policial nato. Seu segredo é ficar alerta para a parte nova e/ ou relevante de todas as experiências; exercer mais livremente a curiosidade natural da nossa espécie, como o faz uma criança não muito vigiada;

PERSONALIDADE CRlATIVA E COMPORTAM ENTO

118

CRlATIVlDADE

I

J

119

:.1

tentar interpretar informações contidas nos acasos, o que pressupõe uma abertura ao desconhecido; agir como uma pessoa de espírito mais místico do que pragmático;

dar mais crédito à aventura, dispondo-se a assumir ris­ cos, como quem compra as chamadas "viagens-surpresa" de turismo, sem destino conhecido;

manter um sistemático registro de idéias e proposições de ações, como uma pessoa superorganizada que sempre carrega e usa um caderninho de notas;

dar menos valor aos conceitos de "ridículo", como o tu­ rista americano que sai à rua com roupas floridas, sem se importar com os olhares dos outros;

estipular uma disciplina de horas e/ou prazos para seus projetos, como se tivesse que prestar contas a uma secre­ tária encarregada de fazer follow-up.

adotar a prática de revisões de planos, expectativas e si­ tuações, a partir das perguntas "E se ... ?" e "Por que não ... ?", como as pessoas que conseguem dar ''viradas'' na vida;

Exemplos de soltar-se:

fugir da rotina sistematicamente, alternando atividades e cultivando vários campos de interesse, como provavel­ mente fomos quando adolescentes, seres até inconstan­ tes, porque desejam muitas coisas. Sem nos tomar dispersivos, manteremos um grande campo de ação mental;

cultivar um interesse variado frente ao mundo, aumen­ tando sua disponibilidade, agindo opostamente às pesso­ as que se fixam em um só trabalho ou hobby;

IF

viver enriquecedoramente, fugindo da rotina, como as pessoas que passam férias cada vez em um local;

fugir das compulsões de adequação aos papéis que so­ mos obrigados a assumir, e assim manter-se disponível até para experimentar novos caminhos. Fazer como pes­ soas ditas inquietas que na verdade podem ser especulativas, não se furtando a ler um livro ou assistir a uma palestra quase só por curiosidade;

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adotar sempre que possível comportamentos de turista, pessoa não muito envolvida nem compromissada com o ambiente externo; desidentificar-se (também sempre que possível) e abstra­ ir-se de sua própria condição, como pessoas que vivem fora de nossa realidade objetiva, como se fossem extra­ terrestres;

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especular para solucionar problemas e descobrir oportu­ nídades, principalmente pela prática de um tipo de brainstorm, que se faz deixando o pensamento vagar pelo país da fantasia, para depois se­ lecionar alternativas.

recapturar sua criança interior, mais freqüentemente do que quando brincamos com filhos ou sobrinhos;

,

cultivar uma visão mais leve do mundo, chegando ao li­ mite (sem ultrapassar) da irresponsabilidade, como pes­ soas que parecem ter a chamada "cuca-fresca";

Aqui também cabe uma lembrança das fi­ guras criadas por Júlio Ribeiro, já descritas an­

teriormente: o marinheiro bêbado e o pastor protestante que temos dentro de nós. O pastor

seria alguém sempre praticando o ligar-se e o

marinheiro estaria sempre praticando o soltar­ se.

colher oportunidades de mudar de posição, mesmo pro­ visoriamente, como se fosse pessoa que sempre se dobra numa discussão, por ser pouco convicta; colher oportunidades de brincar com o cotidiano, como pessoas que tentam acertar de longe as bolas de papel amassado na cesta de papéis;

Comportamentos pré-criativos tomam-se portas de entrada na criatividade em si e aca­ bam desenvolvendo a personalidade criativa. Ao incorporá-la, a pessoa irá se estimular a adotar novos padrões de comportamento.

identificar e dar menor valor ao censor lógico interno, aquele que nos impede de externar as "bobagens" (mui­ tas vezes não o são) que nos ocorrem; 120

CRIATMDADE

I

J

Comportamentos pré-criativos tor­

nam-se portas de entrada na criativi­

dade em si e aca­ bam desenvolvendo a personalidade criativa.

PERSONALIDADE CRIATNA E COMPORTAMENTO

121

"

Uma reflexão sobre esses princípios e disciplinas forçosamente faz surgir uma sobreposição do conjunto com o conceito das Abertu­ ras, e isso não é coincidência, A adoção dos comportamentos pré-criativos, dessa forma, acaba sendo uma porta de entrada para as Aberturas e para o pleno exercício do potencial criativo de cada pessoa, É isso que interessa a vocês, tenho certeza, •

CO/vIENTÁRlOS

I))))))) Ecos do Capítulo 11 I

(Especulando e comentando)

Comportamento criativo e criança interior A maioria de vocês lê este livro com o claro propósito de incrementar a própria criatividade, o que, em última análise, é desenvolver uma competência inata, explorada de acordo com sua personalidade, De certa forma, independente da eficácia de minhas recomendações e informações, só o fato de estarem in­ vestindo seu tempo no assunto já tem efeito positivo, Isso já foi mencionado antes, e se resume no princípio de que determina­ da atitude favorável sempre detona em nós um processo de mudança naquela direção, A atitude se transforma (em algum grau) em ação, que no caso é um comportamento mais inova­ dor,

!;

Mas o processo também funciona com outra direção: a adoção de determinado comportamento, induzido por qual­ quer razão, também irá influir na atitude, Trata-se de uma via de duas mãos, com uma analogia ao princípio oriental de que a mente influi no corpo e vice-versa, Conclui-se que, para os inte­ ressados em criatividade, vale a pena refletir sobre os compo­ nentes da própria personalidade, raiz das atitudes, como tam­ bém avaliar os padrões de seu comportamento normal, que po­ dem aprofundar ou atenuar sua atitude perante os estímulos para a criatividade,

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II

Caminhos para a reflexão Refletir sobre a própria personalidade, aqui neste caso, pode começar por dois caminhos, O primeiro é traçar um para­ lelo entre sua maneira de ser e a da maioria das pessoas noto­ riamente criativas, Comumente, fazemos algo parecido ao ler

122 I



CRlATIVlDADE

PERSONALIDADE CRlATNA E COMPORTAMENTO

123

COM ENTÁRIOS

biografias de pessoas que admiramos. Comparar-se com pesso­ as bem-sucedidas ao criar fica facilitado pelo grande número de estudos que já foram desenvolvidos sobre a chamada "per­ sonalidade criativa", o que está relatado neste capítulo. O se­ gundo caminho é tentar resgatar traços inatos de personalida­ de, identificados em nosso comportamento da infância, quando a educação e o meio ambiente ainda não tinham exercido seu efeito aplainador sobre nós. Focalizaremos esse caminho mais adiante, neste mesmo capítulo. Voltando à técnica de traçar paralelos entre nós e os mais criativos, é preciso lembrar o notório fato de existirem denomi­ nadores comuns para a personalidade criativa. A psicologia já demonstrou isso e o senso comum também o faz de forma in­ tuitiva. Todos nós cultivamos estereótipos do indivíduo criati­ vo, que comumente chamamos de "meio louco". Se queremos ser mais criativos, devemos imitar essa figura? Essa é uma questão falsa . Até porque nunca vale a pena ir contra nossa própria natureza. Então, por que ocupar-se em conhecer a cha­ mada personalidade criativa? A resposta está no princípio de que estamos, querendo ou não, sempre mudando. Nunca somos "definitivos", pois as ex­ periências vão-se registrando em nosso "banco de dados" e este vai-nos fazendo amadurecer conceitos e idéias. De tal forma isso se incorpora à nossa maneira de ser, que podemos facil­ mente lembrar como certos fatos ou fases marcaram nossa vida. Isso quando se trata de eventos marcantes, como mudan­ ça de cidade, de emprego, início ou rompimento de relações afetivas, grandes perdas ou ganhos de toda ordem. Contudo, os fatos menos importantes, diz a psicologia, também se somam a nossa experiência, e daí a conclusão de que somos bastante "produtos do meio". Aqui, chegamos ao cerne da questão: nossa personalidade está sempre em desen­ volvimento e, ao identificarmos, no presente e na infância pas­ sada, alguns de seus componentes que são favoráveis aos nos­ sos planos de vida, podemos privilegiá-los. Como? Isso se faz de várias formas; até simplesmente parando de reprimir carac­ terísticas que às vezes nos podem parecer indesejáveis. Exem­ plo: a curiosidade, a ousadia e o senso de humor são características que a sociedade considera boas se mantidas em certo nível conveniente. Para quem deseja exercer melhor seu 124

CRlATMDADE

CO MENTÁRIOS

potencial criativo, esse nível deve ser revisto, pois aquela hu­

mana compulsão à adequação as pode estar anulando.

Uma forma de privilegiar as características de personali­

dade favoráveis à criatividade é procurar dar espaço maior a

elas, encontrando e criando circunstâncias favoráveis para seu

exercício. Por exemplo, se detectarmos em nós uma ousadia

acima da média, devemos preferir atividades nas quais ela não

precise ser reprimida, mas possa ser usada. Neste exemplo, se­

ria melhor trabalhar com vendas do que em contabilidade.

Resgate de valores antigos Características como curiosidade, ousa­

dia, senso de humor e flexibilidade não foram

exemplificadas aqui por acaso. Elas estão en­

tre aquelas presentes em alto nível na criança que todos nós já fomos. Resgatar uma parte do que perdemos delas, ao nos tomarmos adultos, será utilíssimo para melhorar nossa

personalidade criativa. Lembrem-se de como na "idade da criativídade", isto é, no período

da vida em que exercemos mais intensamen­

te nosso potencial criativo, pela simples falta de maiores condicionamentos ou bloqueios,

conseguimos então exercer melhor nossas potencialidades. Claro, com as limitações na­ turais da idade.

Componentes da personalidade cria­ tiva: curiosidade, ousadia, humor,

flexibilidade, visão descondicionada,

originalidade, tole­ rância, auto-estima e iniciativa.

Vamos explorar este ponto importante,

como segundo caminho para nosso desenvol­ vimento no campo. Alinho a seguir algumas características de

personalidade que estão bem presentes na infância em geral e

exemplos de seu uso. Reflitam sobre seu caso particular, verifi­

cando como cada um desses pontos deixou de ser aproveitado

com o passar do tempo, para depois propor-se ao resgate, sem­

pre possível, ainda que parcial.

Curiosidade. Crianças desmontam brinquedos para ver

como funcionam, dissecam minhocas, e querem saber o porquê

de tudo.

PERSONALIDADE CRIATNA E COMPORTAMENTO

125

~

COMENTÁ RIOS

12

Ousadia. Crianças aventuram-se pelo prazer da aventura, como ao pular fogueiras ou colocar o dedo na tomada. Senso de humor. Crianças vêem facilmente o lado engraça­ do das situações, rindo até de si próprias.

Os Inimigos

Pessoais da

Criatividade

Flexibilidade. Com exceção das chamadas "teimosas" e de

circunstâncias especiais, crianças mudam de opinião com mais facilidade do que adultos. Visão não condicionada. Crianças têm o olhar mais capaz de ver as coisas como elas realmente se mostram, como na da fábula em que "o rei está nu". Originalidade. Crianças pintam céus de vermelho, menos­ prezando as conceitos adultos de "normalidade" e padrão. Tolerância. Crianças aceitam diferenças, até desprezando regras de uma brincadeira para crianças menores participar, no chamado regime "café com leite".

E

xercer nosso potencial criativo é um propósito com muitos pré-requisitos, além do básico engajamento a um processo atitudinal, como está focalizado no Capítulo 2. Um desses pré-requisitos é o combate a nossas naturais tendências contrárias à inovação. Quando elas se tomam radicais, o que também não é incomum, passam a representar verdadeiros bloqueios, que aqui chamo de "inimigos pessoais".

Boa auto-es tima. Com exceção das carentes e rejeitadas, as

crianças apresentam sempre altos níveis de auto-estima, bei­ rando o egocentrismo. Iniciativa empreendedora . Crianças tentam mais, com me­ nos "medo do erro" que os adultos, erigindo com mais disposi­ ção seus castelos de areia.

I~

Esses iIÚmigos pessoais da criatividade, como quase todos os

problemas que enfrentamos, geralmente estão bem dentro de

nós, e dificilmente temos consciência de sua existência e de como

representam um peso mono que carregamos. Os inimigos mais

difíceis de se localizar, combater ou prevenir, são os que invaria­

velmente fazem pane de nossa personalidade, em graus que vão

dos normais e suponáveis aos iIÚbidores de qualquer ação favorá­

vel à inovação. O combate faz-se dentro de um processo de aper­

feiçoamento pessoal e cada um deve enfrentar essa questão de

modo muito pessoal, que pode ir desde a leitura de bons livros de

auto-ajuda, até a procura de auxílio psicológico. Como exemplo

de bons livros nesse campo, recomendo dois que invariavelmente

os alunos de meus cursos dizem aproveitar bastante: Auto-estima,

de Nathaniel Branden, e Caminho da habilidade, de Tanang

Tulku.

Vê-se bastante coerência entre essas características e aquelas relatadas nos estudos da personalidade criativa, na pri­ meira pane deste capítulo. Percebe-se existir um padrão especi­ al nos adultos criativos, que por um lado os define como pessoa algo diferente dos modelos chamados normais, e por outro lado os aproxima de uma sadia "infantilidade".

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Percebam que está aqui então defendido por que tanta gente acha que um grande segredo do componamento criativo é "soltar a criança interior" .•

A seguir vemos alguns desses bloqueios, relacionados com base em observações e freqüentes discussões em grupo, que te­ mos promovido em workshops. Essa relação nunca será defiIÚtiva : 126

CRlATMDADE

OS INIMIGOS- PESSOAlS DA CRlATMDAD E

1

127

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Bloqueios mais co­ muns à criatividade: acomodação, mio­ pia estratégica, imediatismo, inse­ gurança, pessimis­ mo, timidez, pru­ dência, desânimo e dispersão.

facilmente pode ser aumentada pelo leitor, com base em sua própria experiência e suas observações . 1. Acomodação. Caracterizada por cer­

to imobilismo, cultivado a partir da valoriza­ ção da rotina confortável e do "não-desafio" do previsível. O velho instinto de sobrevivência é a origem daquela parte de nós que se apega às situações conhecidas. Entretanto, quando esse apego passa de certo nível, começa a inibir qualquer disposição de mudança, até chegar ao imobilismo.

2. Miopia estratégica. Falta de boa percepção do contexto e sua dinâmica. A visão de conjunto é um dos pontos de partida para nossa criatividade, que geralmente se baseia em ações nascidas da associação de realidades até então coloca­ das em campos separados. A miopia geralmente nasce de um ní­ vel exagerado de egocentrismo.

3. hnediatismo. Constituído pelo poSICIOnamento simplista de "ir direto ao ponto". Os que desprezam os atalhos e meandros de um assunto dificilmente vislumbrarão formas "não lógicas" de superar dificuldades pela adoção de ações criativas.

8. Desânimo. Falta generalizada de motivação e estímulo, leva a pessoa à posição de não-engajamento total, incluindo-se tudo o que se relaciona a criatividade e inovações. 9. Dispersão. Comum falta de administração do tempo, que dificulta ou impede a implementação de qualquer projeto que não esteja ligado às necessidades imediatas, o que provoca per­ manente adiamento das iniciativas inovadoras, objetivo maior da criatividade.

Entre os exercícios que criei em meus cursos, para provocar reflexões sobre os assuntos discutidos, está o de encontrar outros "inimigos", além dessa relação . É uma procura até divertida, à medida que nos vamos lembrando das pessoas notoriamente "não criativas" e de seus defeitos mais evidentes . Como disse acima, a lista pode crescer sempre, e aqui estão dois exemplos dos encon­ trados pelos alunos: acomodação a pressupostos, que se re­ laciona com certa preguiça mental de questionar o que se pressu­ põe estar OK, e megalomania mental, que define uma posição de dono da verdade .

.

Adquirir consciência de que esses bloqueios inibem nossa criatividade é meio caminho para nos vacinarmos e para localizar­ mos determinados tipos de atitudes e comportamentos que nos estejam prejudicando. Refletir sobre o tema já é um começo, vale a pena .•

4. Insegurança. Comum falta de confiança, peculiar às pessoas com necessidade exagerada de aprovação. Insegurança quase sempre decorrente da pobre auto-estima, que por sua vez vem da falta de autoconhecimento.

.,

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5. Pessimismo. Inimigo de todo e qualquer tipo de investi­ mento, pelo palpite invariável de que "não dará certo". Criativida­ de sempre requer desapego à segurança do previsível, com uma espécie de "aposta" no incerto. Claro, há sempre um risco. 6. Timidez. Característica de personalidade que inibe a apresentação de atitudes e comportamentos mais assertivos, ne­ cessários na discussão das iniciativas peculiares à criatividade. 7. Prudência. Qualidade pessoal que a partir de certo grau passa a se caracterizar simplesmente como medo, com óbvio pre­ juízo de todas as iniciativas necessárias no campo da criatividade e das inovações.

128

CRlATMDADE

os INIMIGOS PESSOAlS

DA CRlATMDADE

129

COMENTÁRIOS

))))))) Ecos do Capítulo 12 (Especulando e comentando)

Defeitos, sim. Doenças, não! Falar que temos dentro de nós maneiras de ser que não são as ideais é discorrer sobre o óbvio. Ninguém é perfeito, não é verdade? Mas tudo tem seu limite. Quando um defeitozinho pessoal começa a ser menosprezado ou então solenemente ig­ norado, ou ainda, sempre desculpado, então há muita chance de se tomar uma verdadeira patologia psicológica que, além de inibir nosso potencial criativo, nos tornará pessoas infelizes, aborrecidas e por fim evitadas pelo outros. Então, cuidado. Pelo bem de nossa criatividade, e por mui­ tas outras razões, vamos fazer um balanço de nossas idiossincrasias, evitando que elas se tomem doenças que, se não são letais, pelo menos irão prejudicar-nos muito. Para que possamos lembrar mais facilmente esses defeitos, além de te­ rem sido metaforicamente transformados em doenças, também o foram de maneira propositadamente ridícula. SIMPLES ACOMODAÇÃO PODE TORNAR-SE "ADEQUACIO­ NITE".

:") !~



Essa doença bem comum, chamada "Adequacionite", manifesta-se por paixão e fidelidade ao consenso que existe nos sistemas e por um grande respeito à norma. Atacadas pela enfermidade, as vítimas sentem uma compulsão à mesmice, com automática aversão a qualquer tipo de mudança. Comba­ te-se com maior prática do individualismo e pela conscien­ tização de que a visão tática, da qual decorre a maioria das inovações, deve ser praticada com prioridade sobre a necessá­ ria visão estratégica. MIOPIA ESTRATÉGICA EM GRAU FORTE, SINAL DE "UM­ BIGUITE". Chamamos de "Umbiguite" a doença que é extensão do egocentrismo. Manifesta-se pela incapacidade de perceber a 130

CRlATMDADE

COMENTÁR IOS

existência e demonstrar interesse por assuntos periféricos a seu próprio ambiente. Essa patologia, que tem raiz na especializa­ ção, impede a pessoa de cultivar uma visão sistêmica, impor­ tante para a criatividade e indispensável aos processos de mu­ dança. Combate-se com um posicionamento mais aberto, para­ lelo ao desenvolvimento de uma visão mais larga . Leituras, via­ gens, troca de informações, reciclagens e alguma humildade são recomendáveis às vítimas dessa doença. CUIDADO, IMEDIATISMO VIRA "OBJETIVITE". Caricatura do imediatismo, "Objetivite" é a patologia que se caracteriza pela exagerada disciplina mental. Escraviza o paciente ao pensamento lógico e convergente, cria apego exagerado às situações bem organizadas e certinhas, dificil­ mente encontráveis nos processos criativos. Decorre do uso exagerado do pragmatismo e combate-se por uma abertura maior a valores fora do "toma-Iá-dá-cá", com tolerância até à perda de tempo da ação especulativa. "Objetivite" tem uma do­ ença-irmã, a "Utilitarite", cuja principal manifestação é a ten­ dência de só defender causas ganhas, na chamada "Lei da Van­ tagem". Música, poesia e amor fazem parte do tratamento, bem como leitura de biografias de idealistas que venceram na vida. MUITA INSEGURANÇA, SINAL DE "EGOCEGUEIRA". Geralmente, a doença "Egocegueira" é uma simples manifestação aguda de autodesconhecimento, que provoca ataques de autocrítica e total carência de auto-estima. A "ego cegueira" costuma também trazer crônicos sentimentos de culpa e, por vezes, estados de ansiedade. As vítimas tomam-se incapazes de enfrentar (o que dirá provocar) qualquer tipo de inovação, com sua indefectível carga de risco. Combate-se com a introspecção na busca de sua essência, com o cultivo do amor-próprio e até com leitura de livros de auto-ajuda. Casos agudos requerem a ida ao divã do psicanalista. O PESSIMISMO PODE TRANSFORMAR-SE EM "TRISTE­ ZITE". Doença bem próxima do pessimismo, a "Tristezite" é a compulsão fisiológica à visão pesada, que traz a incapacidade

os

INIMIGOS. PESSOAlS DA CRIATMDADE

131

COMENTÁRIOS

COMENTÁRIOS

de se relacionar com o ambiente de forma otimista. Provoca freqüentes ataques de nostalgia e mau humor e inibe qualquer tipo de iniciativa baseada em pressuposições positivas, o que gera total aversão a novos projetos . Combate-se com exercícios lúdicos, físicos ou mentais, com a leitura de textos leves e até com ajuda psicológica. Recomendam-se também boa mesa, bons relacionamentos afetivos e férias periódicas.

sinapses responsáveis pela concentração

mental. Causa índice zero de criatividade e,

em casos agudos, a incapacidade de

finalização de simples idéias. Combate-se com alguma disciplina, doses de consci­ entização e técnicas de administração do tempo. Se a relação acima parecer desenco­ rajadora, tranqüilizem-se, pois o simples fato de estar lendo esse livro já é sinal de possuir um forte sistema imunológico contra esses ti­

pos de doença. Ocupar-se com a criatividade já é uma boa vacina. _

MUITA TIMIDEZ ACABA SENDO "ACANHAMENTITE".

"Acanhamentite": incapacidade crônica de enfrentar todo tipo de exposição de sua pessoa a qualquer público ou situação. Causa uma viciosa compulsão à discrição e renúncia a manifestações de firmeza para a vivência de situações novas, o que leva os "doentes" a cultivar a rotina. Combate-se com os mesmos tratamentos recomendados à "Egocegueira" e à ''Tristezite'' .

t !

Evitemos que os bloqueios comuns transformem -se dentro de nós em verdadeiras patolo­ gias mentais inibidoras de criati­

vidade.

PRUDÊNCIA É BOA, MAS PODE VIRAR "AVENTUROFOBIA". Doença comum em quem vê muitas horas diárias de tevê, a '~venturofobia" é patologia semelhante à "Timidezite", porém caracterizada por um temor doentio a qualquer evento não previsto na rotina ou que envolva algum nível de incerteza. As vitimas apresentam repúdio ao novo . Recomenda-se a práti­ ca de esportes competitivos, novas relações e também, em al­ guns casos, ajuda psicológica. O DESÂNIMO CRÔNICO GERA "DESPAIXÃO".

"Despaixão" é carência aguda das enzimas do entusias­ mo e pode levar à impotência vivencial. As vítimas dessa doen­ ça tomam-se incapazes de encontrar razões para tomar qual­ quer iniciativa, principalmente as criativas, que exigem o enfrentamento de situações desafiantes. Combate-se com os mesmos remédios recomendados aos casos de "Tristezite". A COMUM DISPERSÃO ACABA PROVOCANDO "DESFOQUI­ TE".

"Desfoquite" é patologia sutil e dificilmente diagnosti­ cada, pois seus sintomas mascaram-se como simples decorrên­ cia de circunstâncias. Costuma ser causada por atrofia das 132

CRlATMDADE

os

1

INIMIGOS PESSOAIS DA CRlATMDADE

133

da embrionária, até para gerar mais pesquisas sobre seus proces­ sos entre os leitores mais interessados.

13

Percepção Mental:

Definindo percepção mental Até agora, em 1997, estou definindo Percepção Mental como a competência de pegar ("sacar") verdades ou realidades que es­ tão abaixo da superfície aparente dos fatos . Apesar de não serem evidentes, os significados descobertos pela Percepção Mental são óbvios, imediatamente aceitos por todos.

Dom? Habilidade?

O processo é mais ou menos este: ninguém percebe determi­ nada realidade, até que alguém, exercendo sua Percepção Mental, a denuncia ou formula. Imediatamente, a realidade fica evidente para todos, independente de qualquer argumentação ou raciocí­ nio. Trata-se de uma espécie de "ovo de Colombo" no campo das idéias, com uso direto no campo da criatividade, o que se constata porque sua manifestação sempre abre um novo aspecto da reali­ dade, e provoca aquele tipo de comentário: "Como eu não tinha percebido isso antes?".

amos ver a seguir um exemplo de como a criatividade tam­ bém se aplica ao estudo da própria criatividade, tornando o tema sempre mutante, nunca defInitivo. O que não chega a ser novidade ou exceção, dentro de uma visão atualizada do mun­ do - que não pára de mudar. Os conceitos contidos na Abertura dos Sentidos, à medida que são discutidos e praticados em meus cursos e workshops, fre­ qüentemente levantam interessantes questões paralelas, demons­ trando como o assunto é profundo. Algumas questões, por sua importância, já acabaram provocando pesquisas e reflexões em direção a novos conceitos, como, por exemplo, o da extensão da Abertura dos Sentidos para o desenvolvimento de uma visão holística, como foi focalizado no Capítulo 9. Os participantes desses processos de exploração os acham muito interessantes, principalmente quando surge um terreno ou um caminho novo. Aí vem a alegria da descoberta, bem conhecida por quem pratica sua criatividade. Assim aconteceu quando nos­ sas discussões revelaram a existência de outro tipo de percepção, preso ao raciocínio intuitivo, bem dissociado do uso simples dos sentidos. Esse tipo de percepção denorninei-o provisoriamente de "percepção mental", sabendo que ele ainda precisa ser dissecado, para talvez definir um horizonte novo no campo das competênci­ as mentais. Contudo, a Percepção Mental, por sua importância, merece ser incluída neste livro, mesmo com a descrição de sua forma ain­

V

O caráter de evidência do que é descoberto pela Percepção Mental é o que determina a característica de simplicidade das so­ luções mais festejadas . O que me leva a observar que a simplicida­ de não é apenas o último degrau da sabedoria, como dizem os orientais, mas é também o degrau mais alto da criatividade. Ao analisar o planejamento de grandes estrategistas, encontramos essa realidade: o despojamento quase sempre substitui as elabo­ rações armadas pelos menos talentosos, que precisam usar de muitos recursos e detalhes. O gênio nunca é complicado. E a Per­ cepção Mental se ocupa das verdades simples.

Percepção mental se traduz por inteligência? As evidências reveladas no processo de descoberta, via Per­ cepção Mental, afastam seu conceito de um tipo de produto de raciocínioinvestigativo ou mesmo especulativo. Aliás, no proces­ so da descoberta da realidade não evidente, praticamente não há raciocínio, em sua acepção mais direta. I ·

I

134

CRlATMDADE

PERCEPÇÃO MENTAL: DOM? HABIUDADE?

135

Descobrem-se realidades ou verdades por meio de uma constatação instantânea, parecida com um insight, ou também parecida com uma "dedução não pensada" do tipo que assoma quando nos deparamos com uma equação extremamente simples, como dois mais dois igual a quatro. percepção

Boa mental também é decorrente de uma "visão sem filtros", que ativa a capaci­ dade dedutiva e daí a criatividade.

o mecanismo da Percepção Mental talvez possa ser comparado com o de uma "visão sem filtros", sendo estes os condicionamentos a que estamos sempre sujeitos, em maior ou menor grau, como decorrência de certos modelos mentais. Não acredito assim que a Percepção Men­ tal possa ser colocada como uma manifestação de "inteligência", a não ser dentro de um afunilamento de seu significado, como aconte­ ce com as "inteligências específicas", estudadas por Howard Gardner.

Exemplos de percepção mental Em uma reunião de professores da ESPM, da qual eu partici­ pava, discutíamos a aplicação de uma atividade extracurricular para incremento de criatividade. Reagíamos todos contra uma idéia de incentivar a atividade através de certo abono em notas no programa curricular, porque isso iria atrair quase tão exclusiva­ mente os maus alunos, notoriamente carentes de média . Então, o professor Heraldo Biguetti vira-se para nós e pergunta: "E o que temos contra os maus alunos? " Uma nova realidade apareceu en­ tão clara a todos: os "maus alunos" eram os mais necessitados de apoio e incentivo. Segundo exemplo, vivido por mim ao passar uma semana em São Francisco, Califórnia. Constatara então que aquela cidade tem uma característica especial que a toma tão admirada pelos visitantes: trata-se de um espírito leve, presente no ar e detectado pelo comportamento adoravelmente jovial de seus habitantes. Mais tarde, ao conversar com um engenheiro que se tinha muda­ do de lá "na segunda vez em que seu apartamento tremera", tive a imediata percepção mental de que os habitantes de São Francisco vivem mais o "aqui e agora" e assim são mais felizes , porque a 136

CRlATIVlDADE

latente perspectiva de um terremoto toma a cidade proibida a pessimistas ou preocupados . Uma conclusão com a qual todos concordam de imediato e isso porque é uma verdade óbvia, ape­ sar de não notória. Não está à tona da realidade conhecida sobre a cidade.

Quem exerce melhor a percepção mental Vocês devem conhecer pessoas que se caracterizam pela faci­ lidade de perceber e utilizar as ambigüidades do mundo. Esses detectores de segundos significados começam por ser pessoas de boas "tiradas". Geralmente, são as mesmas que têm facilidade para encontrar soluções fora da lógica e para vislumbrar os fatos sociais emergentes. Muitas são artistas ou trabalham em campos correlatos, como o da moda, e muito provavelmente são as consi­ deradas mais criativas. Deduz-se que essas pessoas são as que têm o nível mais alto de percepção mental, pois as ambigüidades "es­ condem" os segundos significados, geralmente óbvios. Imaginando como seria esse tipo, verificamos que é exata­ mente aquele de quem afirmamos "tem boa intuição". Isso é bem coerente com os princípios aqui expostos, já que a percepção mental, como a coloco, não se baseia no raciocínio lógico: ela se liga mais ao campo do insight, cujas origens vêm do inconsciente . Indo mais além com essa reflexão, verificamos que a Percep­ ção Mental nada tem que ver com a percepção sensorial. Uma pessoa pode ter as duas em níveis bem diferentes, e parece que é isso o que geralmente acontece: a facilidade para captar as infor­ mações aparentes não gera uma automática desenvoltura no le­ vantamento de verdades novas. São capacidades localizadas em áreas distintas, ocorrência do tipo das que Howard Gardner estu­ dou e demonstrou em seu livro As estruturas da mente. A boa percepção sensorial parece ser inata em determinados indivíduos, mas hoje é notório que ela pode ser desenvolvida com treinamentos. Especulo agora que o mesmo pode acontecer com a Percepção Mental. Por se tratar de um tipo de raciocínio sintetizador, ainda que próprio dos processos intuitivos, estará lo­ calizada no campo das habilidades mentais, que sempre podem ser incrementadas. As sinapses do cérebro, viabilizadoras do penPERCEPÇÃO MENTAL: DOM? HAB[LIDADE?

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sarnento, também podem ser desenvolvidas ou atrofiadas, como tudo em nosso corpo, dependendo de seu maior uso ou completo desuso.

via ligado esses dois conhecimentos e se ocupava com o problema de medir o peso específico da coroa do rei, para verificar se o seu ouro era puro. Pode-se dizer que, ao associar os dois fatos para tirar uma conclusão criativa e sair correndo nu, gritando "Heureca", Arquimedes tenha registrado na história o primeiro grande exem­ plo conhecido de Percepção Mental. O deslocamento da água per­ mitia medir o volume de qualquer sólido irregular, e assim achar seu peso específico. Quantas vezes, em casos simples, repetimos esse mecanismo de associação? Outros exemplos que possamos achar, do tipo dos dois descritos anteriormente, revelam sempre um paralelismo com o momento do "Heureca" e a grande impor­ tância para a criatividade de explorarmos o conceito e a possibili­ dade de desenvolvimento da Percepção Mental. _

Caminhos e destinos da percepção mental Essas considerações, como se percebe, precisam ser cientifi­ camente avaliadas, e assim a questão deve ser remetida aos experts. Exploro o assunto em suas tangências com o exercício do potencial de criatividade, mas estou regularmente entregando esse tema a pessoas como Gardner, citado anteriormente, como o neurologista americano Antônio Damásio, autor do livro O erro de Descartes, como Eunice Soriano de Alencar, psicóloga e pesquisa­ dora da UNB. Esperemos que logo a ciência nos dê formas de avaliarmos o nível de Percepção Mental de uma pessoa, pois aí estará a base para tudo o que se pode fazer de útil nesse campo. A partir da constatação dos elementos que compõem essa competência men­ tal, poderemos organizar programas de treinamento e, o que é importante de imediato, poderemos melhorar muito o rendimen­ to de trabalhos em equipe. Isso acontecerá desde o caso simples de duas pessoas que dividem uma tarefa, estabelecendo-se a pos­ sibilidade de cada uma ter a seu cargo a pane para a qual estiver mais qualificada, em termos de melhor percepção mental ou sen­ sorial. Os selecionadores de pessoal, na área de recursos huma­ nos, poderão formar equipes muito mais eficientes pela complementaridade, indo além dos dados de qualificação e voca­ ção atualmente disponíveis. Voltando ao campo da criatividade, o domínio da capacidade de associação parece ser o ponto central do uso da Percepção Mental. Anhur K1oester, em seu livro The act ofcreation, exploran­ do o mecanismo do insight pelo exemplo de Arquimedes e seu famoso momento de "Heureca", nos dá uma pista direta da im­ portância da habilidade de cruzar campos diferentes de conheci­ mento para a revelação de um fato inovador. Arquimedes, por um lado, conhecia bem o princípio de o volume de seu corpo deslocar o mesmo volume de água na banheira, e em outro campo mental guardava o conhecimento do peso específico dos metais. Não ha­

II 138

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PERCEPÇÃO MENTAL: DOM? HABJUDADE?

CRlATMDADE

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COMENTÁRIOS

COM ENTÁRIOS

2. Não entendo por que você acha que não vai dar

I))))))) Ecos do Capítulo 13

certo.

(Especulando e comentando)

Posição de quem percebe claramente a validade de um ca­ minho novo e não consegue encontrar o mesmo julgamento nos outros. Circunstância que ocorre quando a Percepção Men­ tal vai além do óbvio. Neste caso, a pessoa tende a ficar sem incentivos para sua ação pioneira.

Como exercer a percepção mental e ser feliz

3. Nesta empresa, ninguém enxerga um palmo adi­

Existe por aí a expressão "pavio longo", pejorativa, usada para designar pessoas que custam a perceber o que não está bem evidente. Não há notícias de existir um antônimo direto, pois "pavio curto" significa pessoa irritadiça. Contudo, se exis­ tisse, seria algo como "pessoa viva", o que, descontando-se o sentido secundário de esperta demais, chega a ser um elogio.

ante do nariz. Típico caso em que a pessoa se sente remando contra a correnteza. Também é uma posição que deteriora a motivação pessoal. 4. Eu não dizia que iria ser assim?

Porém, esse tipo de vivacidade, que permite "sacar' as coi­ sas mais rapidamente, até onde será uma característica utilitá­ ria? Contribui para a pessoa viver melhor? Pensemos um pouco antes de responder "Claro!", numa natural fuga daquela idéia esdrúxula de que a ignorância é um bem. Mas, ao lado de óbvi­ as facilidades decorrentes, existe algum perigo de descompasso entre quem entende melhor os processos e se posiciona de acordo com sua visão melhor e o grande contexto médio, com­ pOSto de pessoas sem alto nível de Percepção Mental. Nesse caso, a qualidade acaba incomodando a pessoa.

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Quando os fatos mostram que a pessoa com boa Percep­ ção Mental tinha razão, é difícil deixar de assumir essa posição meio antipática de quem era boicotado pela falta de visão dos outros. Essa cobrança posteríor, quase sempre compulsiva, não traz lucro algum. 5. Serei uma pessoa sempre incompreendida? O não-reconhecimento da diferença entre sua percepção e a da maioria pode trazer, além de falta de entrosamento com o meio, também um sentimento de insegurança.

Para quem duvida, proponho imaginar aplicações práticas da Percepção Mental, explorando o outro lado da questão, e verificar que nem tudo são vantagens. Vejamos cinco exemplos, na pele de uma pessoa com boa Percepção Mental.

Agora, cinco exemplos da pele dos "outros". 1. Ora, assim não vale.

Frase que demonstra o ressentimento de quem não conse­ guiu colocar o ovo em pé, antes de conhecer a maneira nova, utilizada com sucesso. Desse ressentimento, às vezes profundo, decorre sempre alguma rejeição por parte da pessoa com me­ lhor Percepção Mental.

1. Já vi esse filme.

Típica expressão de enfado de quem se cansa de perceber sozinho a base dos acontecimentos e vê os outros se iludirem com falsas aparências. Geralmente, essa pessoa tende a ficar isolada da maioria, como se fosse "do contra".

2. O que será que há no ar? O processo revela uma transição, mas não muito clara. Há um desconforto de quem finalmente é levado a ver, pela me-

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PERCEPÇÃO MENTAL: DOM? HABILIDADE?

CRlATJVlDADE

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COMENTÁRIOS

COMENTÁRIOS

Difícil dar receitas para desenvolver essa habilidade . Ela se traduz em capacidade política e/ ou competência psicológi­ ca. Um livro de nossa bibliografia trata especificamente desse ângulo do "fazer acontecer a inovação", que é uma extensão do uso da boa Percepção Mental: Make change work f or you, de Alison Hardingham. Como conclusão, remeto vocês, de boa Percepção Mental, à reflexão sobre a minha teoria do balão, que está no Capítulo 2, lembrando que é muito mais fácil aumentar e diminuir o gás da fantasia (neste caso, o gás da inovação) do que tentar mexer no lastro do sistema, na busca de um feliz equilíbrio . ­

lhor Percepção Mental de alguém, o que não conseguia ver ou interpretar antes. 3. Essa pessoa demonstrou uma capacidade de aná­

lise maquiavélica. Defesa de quem não percebeu o que estaVa acontecendo e depois imputa a boa Percepção Mental a uma característica de mau-caráter. 4.

"Nariz de porco sente o cheiro da sujeira."

Quando a boa Percepção Mental revela algo errado num processo, a defesa de quem não via nada é também a de desqualificar o descobridor. 5. Essa pessoa devia estar com informações que não

passou para nós. j

Ninguém gosta de passar por cego. Mais fácil é lançar sus­ peitas sobre quem conseguiu "sacar" uma realidade oculta.

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Percebemos como esses exemplos aproximam-se do dia-a­ dia de uma comunidade de trabalho sempre preocupada em defender sua limitada Percepção Mental. Dessa situação decor­ rem vários perigos para a pessoa que estiver exercendo naturalmente sua qualidade de melhor visão. É preciso articular a A boa Percepção Mental tanto pode le­ var a pessoa de vanguarda ao sucesso quanto boa familiaridade pode facilmente torná-la uma "estranha no com a inovação com ninho". Conclusão e conselho : é preciso am­ cular sua familiaridade com a inovação com uma habilidade de uma habilidade de comunicá-la aos menos comunicá-la aos dotados. A mediocridade é extremamente corporativa, armando reações sujas que se menos dotados. apóiam na parte menor de cada um. Nem é preciso ser mau-caráter para contribuir: mui­ tas vezes, basta a omissão ou então um silêncio irônico, segui­ do por um quase imperceptível sorriso.

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PERCEPÇÃO MENTAL: DOM? HABILIDADE?

CRlATlVlDADE

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Sem motivação, criatividade difícil

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Motivação, Combustível da Criatividade

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hicotear o burro é um estímulo normal aos olhos de carroceiros. Mas, quando o animal empaca, muitos colo­ cam um alimento a sua frente, recurso que é outro tipo de estímulo. Daí vem aquela figura da cenoura pendurada à frente do animal, estereótipo universal de estímulo ou motivação. Verifi­ quei em aulas que essa é uma metáfora com duas interpretações opostas : alguns vêem na siruação um engodo maldoso, já que o burro nunca alcançará a cenoura, presa a ele próprio por um su­ porte. Já outro ponto de vista considera a marcha como uma ação proveitosa, muito mais relevante do que a desilusão de não alcan­ çar o alimento, além de substituir o dolorido castigo físico do chi­ cote, quando este não é até substituído por uma fogueira acesa entre as quatro patas do pobre jumento. Chicote e cenoura são símbolos do "estímulo que gera res­ posta", que até pela via da física é uma lei que, pensemos bem, rege tudo no mundo. E criatividade não é exceção, pois o compor­ tamento inovador não aparece como padrão para o homem e pre­ cisa ser motivado. Pois bem, podemos escolher a forma de moti­ var nossa criatividade: pela força da necessidade (o chicote), po­ deremos ativá-la? Talvez, mas só em algumas ocasiões, e nunca de forma muito eficiente nem agradável. Pelo caminho da motiva­ ção sadia, que se aproxima da "cenoura" e que é manejada por nós mesmos, conseguiremos atingir os níveis mais altos de nossa criatividade.

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CR.IAI1VIDADE

A motivação é vital neste caso, pois normalmente não temos nenhuma compulsão para a criatividade. De forma inata, somos mais "organizadores e conservadores" do que "avenrureiros e re­ novadores". Como exceções, alguns individuos da espécie tendem para o lado da criatividade, mas, no balanço geral, basicamente sentimos mais necessidade da organização, na direção da sobrevi­ vência, do que vemos a utilidade da ousadia, na direção das con­ quistas. Confirmando rudo isso, nos sentimos confonáveis dentro da rotina, com alto índice de rejeição a sua mudança, que é a maté­ ria-prima da criatividade. Assim, de cena forma, temos até um "estímulo" para não sermos criativos. Precisamos conseguir desen­ volver motivações para desbloquear e ativar nossa ação inovado­ ra. Achar esse tipo de estímulo, por um lado, é essencial, e por outro lado, simplesmente, tem efeitos mágicos. O pensamento criativo contraria o fluxo normal do raciocí­ nio lógico, e por isso só tem lugar quando existe uma força especí­ fica motivadora. Precisamos encontrá-la, se quisermos ser criati­ vos. Onde a procuraremos? Em várias circunstâncias, que pode­ mos provocar, como veremos a seguir.

Quando a motivação funciona Quase todos nós guardamos a lembrança de uma ocasião es­ pecial, quando empreendemos alguma tarefa movidos pelo enru­ siasmo. Organizar uma festa em casa é um desses casos: tão en­ volvidos ficamos no sucesso da reunião, que multiplicamos nossas energias e capacidades e só vamos sentir algum cansaço quando o último convidado tiver saído. Fazer parte de uma equipe motivada pelo ideal de uma meta é outro caso: vê-se despertar no grupo uma energia contagiante e passamos a vivê-la intensamente, mobilizando toda a competên­ cia. Acabamos fazendo com prazer muito mais do que acreditáva­ mos ser capazes. Percebemos que enrusiasmo é definitivamente o pai da motivação mais fone. Outro caminho para gerar a motivação necessária à criativi­ dade é o da realização pessoal. Quando conseguimos transformar MOTIVAÇÃO, COMBUSTÍVEL DA CRlATMDADE

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nossas tarefas em meios de afirmação e nossos obstáculos em de­ safios, passamos a colher muitas oportunidades de aprimoramen­ to em nosso dia-a-dia e também mobilizamos a motivação neces­ sária para a ação criativa. Esse ponto é específica e eficientemente focalizado por Tartang Tulku em seu maravilhoso livro O caminho da habilidade. Essa vertente de realização pessoal deve conter para cada um de nós os princípios para o desenvolvimento de uma vida mais motivada e daí mais criativa. Mas os caminhos de cada um são diferentes, respeitando sua própria maneira de ser. Não há recei­ tas, listas das "dez maneiras", apesar de existirem uma regra geral e alguns recursos dos quais muitos de nós podemos valer-nos. A regra é o cultivo de uma visão mais leve e um pensamento positi­ vo, com doses de fé, esperança e ânimo . Otimismo, enfim - pesso­ as com expectativas ruins dificilmente conseguirão entusiasmarse e motivar-se. E quanto aos recursos? Vamos a eles .

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Chaves e recursos

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O primeiro segredo é desenvolver a ótica de um posicionamento interessado perante seu trabalho: procurar ba­ lancear sua visão entre o idealismo e o materialismo. Ver sua ativi­ dade exclusivamente como uma forma de ganhar dinheiro dificil­ mente alimentará uma motivação sólida. Acidentes de percurso, como uma perda de emprego ou o insucesso de uma empreitada, poderão danificar irremediavelmente o mecanismo da motivação. Sem falar aonde essa ótica pode levar a pessoa em casos radicais ­ até, por exemplo, a aceitar uma posição "de favor", com um rraba­ lho inútil ou inexistente, mas um gordo envelope de pagamento no fim do mês . Neste caso, o futuro lhe será, provavelmente, o de uma vida vazia e alienada - e nunca ligada à criatividade. Por outro lado, uma ótica exclusivamente idealista, em si mais louvável que a materialista, também toma a pessoa vulnerá­ vel às imperfeições do sistema, que é pragmático. Quem trabalha vendo só o prazer de sua atividade acaba sendo usado e vitimado por parrões e colegas de poucos escrúpulos. As decepções tam­ bém danificarão para sempre esse mecanismo de motivação. A única solução para evitar os perigos dessas posições é man­ ter uma visão balanceada, tentando sempre refletir sobre os dois

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CRlATlVIDADE

valores, para que eles se completem: o idealismo e, digamos as­ sim, a "objetividade". E, tão importante quanto, enxergar sua ati­ vidade como um caminho para o crescimento pessoal.

Um programa para crescer À medida que passamos a adotar um posicionamento novo perante o trabalho, nos veremos automaticamente engajados em um programa de aperfeiçoamento, que se tornará concreto se soubermos organizá-lo e discipliná-lo. Não será difícil. Devemos começar por um balanço sincero, feito para nós mesmos, de como estamos, e estabelece­ mos qual será o ponto de partida. O que esta­ mos fazendo, não na superfície, não nas apa­ Se precisarmos de rências, mas na essência? Como gostaríamos mais motivação, de ser?

precisamos de mu­ Uma reflexão cuidadosa nos dirá o que precisamos mudar, lá no fundo, o que inclui danças. Uma refle­ principalmente a atitude. Mudando esta, mu­ xão cuidadosa nos daremos o comportamento. Esse será um mo­

mento delicado, no qual não deverá existir dirá o que fazer,

nem sentimentos de culpa nem arrependimen­ principalmente to ou cobrança. Lembremos aquela figura qua­

se poética de que hoje "é o primeiro dia do res­ quanto à atitude.

to de nossa vida". Pois bem, podemos não ser

perfeitos nem ter muito orgulho do que temos

feito. Mas podemos sentir-nos bem sabendo que nos estamos tor­

nando melhores, errando cada dia menos. Esse sentimento dará

um bom alicerce à nossa nova fase de vida.

Mas não basta isso; o programa de crescimento precisa ali­ mentar-se de um fol1ow-up simples, mas importante, na forma de alguns minutos diários de introspecção e de programação de futu­ ro, quando estaremos planejando nossos próximos passos. E tudo o que pudermos fazer estará em função de como conseguiremos aproveitar nosso tempo. Senão, os planos não saem do campo das intenções.

MOTrvAÇÃO, CO MBUSTÍVEL DA CRlATlVIDADE

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USO

criativo do tempo

o melhor uso de nosso potencial criativo. Estaremos automatica­ mente nos engajando em um processo mais ou menos assim: gero motivação, que otimiza minha competência; minha competência gera mais criatividade; minha criatividade gera mais sucesso; o sucesso gera resultados gratificantes e estes, finalmente, se tradu­ zirão em mais motivação. Completa-se dessa forma um processo que chamo de "círculo ideal da criatividade". Retroalimentador, ele passa a definir uma vida mais fecunda e feliz.

Recurso indispensável para o desenvolvimento de planos de crescimento pessoal e de motivação é o uso inteligente do tempo, que se constitui num capital não acumulável que todos possuem em igual porção. A maioria queixa-se de não ter tempo para fazer o que deseja ou o que precisa. Há compêndios e cursos sobre o assunto, mas inexiste uma fórmula milagrosa. Contudo, não pas­ so ao largo desse problema sem registrar aqui uma "receita" de­ senvolvida por mim e que muitos alunos já usaram com sucesso.

Finalizando, é interessante lembrar que, de uma forma ou de outra, nossa vida profissional sempre estará sujeita a certos ele­ mentos determinantes, fora de nosso controle. Esses fatores po­ dem ser vistos como ventos que nos empurram para onde não planejamos ir, o que acontece quando não temos um leme forte, aqui representado por um plano de motivação própria. Desenvol­ vendo-o, estaremos repudiando o chicote das circunstâncias, que nos estimula à força, para optar pela cenoura de uma motivação sadia, que nós mesmos dominamos e usamos, em favor não só de nossa criatividade, mas de uma forma mais inteligente de se colo­ car na vida. _

Primeiro ingrediente dessa receita: saber o que realmente se deseja. Parece simples, mas geralmente temos só uma idéia difusa de nossas metas e prioridades. Pois bem, começa-se fazendo uma relação do que desejamos na vida, a curto e a longo prazos. É uma lista a ser feita sem pressa, cuidadosamente. Pronta a relação, co­ locaremos seus itens em ordem de importância - teremos aí nos­ sas prioridades. A partir delas, também por escrito, faremos o es­ boço de um plano de vida. Com metas quantitativas e qualitati­ vas, estabelecidas ao longo dos anos. Podemos fazer esse plano sem muita preocupação, se não o considerarmos infalível e intocável. Em seqüência, pegaremos esses dados registrados e os cruza­ remos para fazer, aí sim, um guia de uso de nosso tempo . Guia que pode ter esquemas diários, semanais, mensais, anuais. Esque­ ma que tem de absorver, com a flexibilidade necessária, nossas limitações e idiossincrasias. Se gostamos, por exemplo, de mo­ mentos de puro ócio, devemos reservar períodos de tempo para ficar ao léu. E assim gozaremos esses momentos sem sentimentos de culpa (eu aqui, na folga, com tanta coisa a fazer... ). Essa fór­ mula tem muitas vantagens e apenas uma exigência - um mínimo de disciplina, que até já pode ser prevista dentro do plano por quem já se conhece bem. Como grande vantagem, esse planeja­ mento permite fugir da dispersão, que sempre trabalha contra qualquer programa de realização pessoal, de motivação e de cria­ tividade.

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Um processo recompensador Quando conseguirmos ativar nossa motivação, por estas vias ou de qualquer outra forma, estaremos no caminho infalível para 148

CRlATIVIDADE

MOTIVAÇÃO, COMBUSTÍVEL DA CRlATMDADE

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COMENTÁ RIOS

i))))))) Ecos do Capítulo 14 (Especulando e comentando)

Mantendo a chama interna

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"No dia em que deixamos de exercer ao máximo nossa capacidade, estamos matando uma parte do Cristo, do Einstein e do Da "No dia em que deiVinci que temos nós." xamos de exercer ao Essa frase de Henry Miller durante mui­ máximo nossa capa­ to tempo fez parte do fechamento de minhas aulas de motivação. Nem sei por que deixei cidade, matamos de usá-la . Talvez porque não consigo pensar uma parte do Cristo, como o ator que interpreta a mesma peça durante muito tempo, sabendo que cada vez do Einstein e do Da ela é absolutamente nova para os espectado­

Vinci que temos em res , e por isso ele, o ator, também a vê nova.

Encontro até boas razões para ir mudando

nós." Henry Miller minhas aulas, mas às vezes vem a dúvida: melhorou mesmo? É o que me ocorreu ago­ ra, pensando que essa frase aí em cima é profundamente instigante. Nem precisa de mais comentários, OK? Penso que a maneira pela qual evitamos a acomodação que nos apequena é cultivar a motivação própria, o que este capítulo defende. Quando falo de motivação, fujo dos modelos estereotipa­ dos e demagógicos daquela linha exuberante do "você é ca­ paz!" Fujo por tendência própria de quem sempre busca pro­ fundidade, pois sei que os incentivos formais também funcio­ nam para muita gente . Enfim, todos os caminhos para a moti­ vação devem ser válidos, da mesma forma como são os cami­ nhos para a criatividade. Cada qual deve procurar o estímulo que melhor fale a seu coração e mente, e em meu caso funciona bem o pensamento de que cada um de nós é depositário de uma chama divina. É preciso cuidar dela, principalmente pas­ sando a usá-la.

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COMENTÁRIOS

Transformando crise em oportunidade Quando o estadista inglês Winston Churchill estava apo­ sentando-se definitivamente, após sua magnifica trajetória pela vida pública, um jornalista fez uma pergunta, durante uma en­ trevista. Comentou que naquele momento o filho de Churchill estava tentando iniciar sua carreira como candidato a um cargo eletivo e perguntou o que o estadista achava que seu filho de­ veria ter para conseguir sucesso. O velho inglês pensou (deve ter dado uma baforada em seu indefectível charuto) e só disse uma palavra: "Obstáculos". Transformar obstáculos em desafios é a forma mais rápida e direta de conseguir mobilizar-se. Para isso, o pensamento po­ sitivo é a base de uma receita que inclui preparo técnico, criati­ vidade e perseverança para conseguir vencer barreiras. Talvez devêssemos citar também a coragem e, por que não, a sorte. Sobre esta última, lembremos que o acaso beneficia quem está aberto ao acaso. Todos os fatores positivos ligados à motivação, entretanto, são passageiros do barco chamado mobilização. Ela revela as forças que podem ser multiplicadas pelos outros elementos. Creio que mobilização e motivação são quase sinônimos.

Empurrões para frente e para trás Chamo aqui de empurrões para frente pequenos recursos comportamentais que podemos usar em benefício da motiva­ ção, e empurrões para trás pequenos descuidos ou vícios que prejudicam nossa mobilização. Este é um campo muito pessoal, e os exemplos que darei a seguir só devem servir para que cada pessoa reflita sobre suas próprias variáveis, encontrando suas soluções. Sorrir. Endireitar a coluna, aprumando-se. Dar uma volta a pé, respirando fundo. Essas são providências comportamen­ tais que vão em direção à mobilização positiva. Lembremos que MOTIVAÇÃO, CO~IBUSTtVEL DA CRlATMDADE

CRllUMDADE

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COMENTÁRIOS

o corpo influi na mente. E, no interior desta, também induzir atitudes positivas, como procurar sempre enxergar a parte cheia do copo. Analisar a parte vazia, do ponto de vista menos pessoal possível. Praticar a Abertura da Emoção, frente ao que vemos como problemas. Temos aí exemplos de recursos externos para a mobilização e a motivação, a fim de alimentarmos nossa parte melhor, evitando acordar nossa parte menor, aquela que tende à acomodação.

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Descobrindo Oportunidades

Finalizando, prometer-se nunca mais pronunciar, ainda que mentalmente, aquelas três terríveis palavras castradoras: Não sou capaz. _

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ponunidade, aqui, está principalmente ligada à criativi­

dade aplicada na empresa, que também será analisada no

Capítulo 18. Focalizaremos agora as oportunidades pre­

sentes no campo que pode ser chamado de marketing criativo. É um dos se rores onde muito se valoriza o exercício da criatividade, pois estamos quase todos comprometidos (às vezes, até excessiva­ mente) com o lado econômico do sistema em que vivemos. Deve­ mos considerar, entretanto, que o exercício profissional de poten­ ciais, em particular a criatividade, seguramente é um caminho para a realização pessoal. No trabalho, seja ele qual for, sente-se facilmente os benefícios da ação criativa. As recompensas são automáticas.

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Além de tudo, a demanda por criativida­ de na empresa vem-se acentuando, dada a atu­ al característica mutante do mundo, que re­

compensa as posturas inovadoras e pratica­ mente penaliza as atitudes conservadoras.

Quem não se renova desarticula-se do contex­ ro e sofre várias conseqüências. Empreendi­ mentos não inovadores dificilmente alcançam sucesso e carreiras ficam prejudicadas pela in­ capacidade de adaptação às situações novas. Observando-se as duas vertentes do uso da criatividade profissional, solução de proble­ mas e descoberta de oponunidades, vemos

Empreendimentos não inovadores difi­ cilmente alcançam sucesso e carreiras ficam prejudicadas pela incapacidade de adaptação às situações novas.

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CRlATMDADE

DESCOBRINDO OPORTUNIDADES

153

esta última como a que mais merece uma atenção especial. Por­ que na primeira somos naturalmente estimulados, para não dizer compelidos, a ser criativos. Enquanto as situações desarmônicas forçam a uma ação criativa, descobrir oportunidades é um passo adiante nas situações ditas harmônicas, que por si sós convidam à acomodação_

Atitude e comportamento dos descobridores A personalidade do indivíduo, dentro do que vimos no Capí­ tulo 5, ao apresentar maiores ou menores graus de questiona­ mento e inquietude que a média, o levará a ter uma atitude mais ativa ou mais passiva perante as situações harmônicas, por si sós não tão estimulantes à mudança como as desannônicas. Entretan­ to, com o propósito de melhor exercer o potencial criativo, preci­ samos ficar alerta para as oportunidades que qualquer circunstân­ cia nos oferece.

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Na empresa, o ponto de panida para essa postura alerta é nosso desenvolvimento de uma visão menos condicionada. Em­ presários e dirigentes de negócios tendem a engajar-se visceralmente em sua atividade, o que é ótimo por um lado, mas por outro limita a capacidade de examinar situações com menos condicionamentos. Executivos e profissionais em geral também acabam por ter a mesma limitação, ao concentrar a visão em sua área de ação.

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Zoom-out, para começar bem A primeira recomendação para a fuga da acomodação é cul­ tivar o que pode ser chamado de "visão de consultor". Que conse­ gue analisar uma situação sem esquecer o que a envolve. O ambi­ ente é um dos determinantes de qualquer circunstância, e não se pode perder o ângulo de apreciação que inclua o todo. O sucesso da atividade de consultoria é uma prova disso. Uso o tenno zoom-out para definir a técnica de se ganhar esse ângulo, na análise necessária ao uso da criatividade nos ne­ 154

CRlATMDADE

gócios, Consiste em uma apreciação lógica e também "não lógica" de seu setor; a parrir de certo distanciamento, e portanto com menor envolvimento, para que se possa incluir na análise as variá­ veis do contexto. Deixar a rotina de lado, por uma hora ou por um dia, sair de

sua mesa e do alcance do telefone, enfim, desligar-se do fluxo

nonnal - esse o ponto de panida. Ai, começar a pensar, o mais

livremente possível. Nessa fase, importante é disciplinar-se para

fazer um registro (escrito ou gravado) das idéias que ocorrerem.

Sem policiá-las, no sentido da viabilidade. Nossas especulações

nunca irão longe se ficarmos tentando julgá-las de imediato. Dei­

xar as asas da imaginação soltas, e só depois tentar filtrar as idéias

passíveis de aproveitamento.

Olhar lá na frente Ainda nessa fase, importante é olhar mais para o futuro do que para o passado. Prestar mais atenção às tendências do que às experiências. Dar grande crédito aos palpites que vêm de nossa intuição. Esta geralmente nos mostra, ainda que pouco defini­ damente e às vezes de relance, as realidades que estão abaixo da superfície. Explorar essa fonte, sem dar muito ouvido ao guardião lógico que temos na porra do raciocínio. Perguntas-chave para esse tipo de exploração de possibilidades: Por que não? E se? Es­ taremos, com esse espírito especulativo, dando certa precedência às táticas, em lugar de seguir obedientemente o necessário pensa­ mento estratégico.

Estaremos assim, na prática, acionando uma antena para captar as mudanças que estão no ar e traduzindo-as em hipóteses. Estas poderão acabar traduzindo-se numa possibilidade bem liga­ da à realidade, ainda que no primeiro momento a idéia criativa soe desconectada da prática. É o momento de balancear fantasia e realidade, como no princípio do balão tripulado, já descrito.

Focalizar o produto hoje Comecemos por aplicar o pensamento questionador em nos­ so produto ou serviço, verificando a possibilidade de acrescentarDESCOBRlNDO OPORTUNIDADES

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mos a ele um diferencial essencialmente cnatIvo, o moder­ namente chamado "valor agregado", que não é aquele definido pela economia clássica. Valor agregado, nesta acepção atual, é a vantagem extra que nada ou pouco custa na contabilidade da produção. O exemplo clássico é o da sopa de letrinhas, feitas com o macarrão que usa as mesmas quantidades de matéria-prima, tem o mesmo custo de embalagem, comercialização e distribuição, mas acaba apresen­ tando ao consumidor final uma qualidade a mais. No caso, o valor lúdico para as crianças em fase de alfabetização. Outro ponto importante é o que pode ser chamado de "ade­ quação dinâmica" do produto ou serviço. Quanto menos definiti­ vo/ imutável for nosso planejamento de produção, mais faciLmen­ te poderemos adaptar o produto às contingências do mercado. Que incluem tudo o que muda em volta: desde os novos aspectos de administração do negócio, que devemos usar antes da concor­ rência, até as grandes ondas, como a da globalização, que mudam as regras do jogo. Não podemos ficar imóveis: precisamos estar atentos, para nos adequarmos e até nos anteciparmos.

Focalizar cada segmento '1

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Para facilitar a prospecção de inovações podemos segmentar nosso negócio, separando as várias fases que o compõem. Focali­ zando com exclusividade cada setor, podemos ir mais fundo e en­ contrar oportunidades também nos detalhes. Aqui está um exemplo de segmentação, adaptável à maioria das atividades profissionais:

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insumos e matérias-primas para a atividade/ produção; processos de obtenção' desses elementos; planejamento de produtos/serviços; processos de produçã%peração; levantamento de clientes; técnicas de abordagem e atendimento dos clientes; técnicas e processos de: vendas; entrega; cobrança; ope­ rações financeiras ; comunicação; propaganda e promo­ ção; pesquisas; relações públicas; marketing interno e RH', 156

CRl/\IWIDADE

ações pós-venda; acompanhamento da concorrência e desenvolvimento de novos produtos/ serviços .

Abaixo os feudos! Descobrir oportunidades em cada setor muitas vezes signifi­ ca mexer em áreas consideradas intocáveis. Ou porque estão fun­ cionando muito bem e prevalece o princípio comodista de que "não se mexe em time vencedor", ou até mesmo por circunstânci­ as de política interna, comuns nas organizações maiores . Talvez aí esteja outro tipo de oportunidade: combater os famosos feudos, quase naturais, mas sempre prejudiciais no balanço geral. Mexer em estruturas já estabelecidas passou a ser desejável por muitas razões. A dinâmica da inovação é cada vez mais saudá­ vel no mundo atual, e hoje há uma nítida vantagem competitiva nas chamadas leaming organizations, estruturas em constante processo de mudança. A procura de aperfeiçoamento faz parte de todos os processos do marketing moderno, até mesmo naqueles estritamente normativos, como os de qualidade total. Adotar essa ótica não apenas abre espaço à criatividade, mas faz bem para a saúde e a sobrevivência de qualquer atividade. Em organizações maiores, forçosamente departamenta­ lizadas, a descoberta de oportunidades não deve apenas ser dele­ gada aos responsáveis pelos setores, um a um. Eles devem ser en­ volvidos no processo, mas não de forma autônoma e isolada, pois sua visão é naturalmente limitada pela especialização e pela roti­ na. Os "grupos-tarefa", constituídos sob o princípio da diversida­ de de funções e da experiência, representam um bom caminho para a inovação. Contudo, o assunto é vasto e complexo, como o demonstra a volumosa bibliografia disponível. Ele está bem ex­ plorado no livro Mudando para melhor, escrito pela equipe da Price Waterhouse.

Ligando os pontos A parte final do processo de busca de oportunidades via cria­ tividade é a articulação da dinâmica interna com a dinâmica do DESCOBRINDO OPORTUNIDADES

157

contexto, que estão em constante mudança. Raros são os produ­ tos ou serviços que não se beneficiam com uma política de sintonia constante. Abrir canais de informação é a base de tudo. Colocar nossas antenas sob os cuidados da equipe inteira é o segredo. Cada cola­ borador torna-se um receptor de informações e pistas. Claro que para que isso funcione é preciso haver um engajamento irrestrito da equipe, o que se consegue com motivação e transparência. No caso de uma ação pessoal peculiar ao pequeno empreen­ dedor, o problema é menos complexo, mas tremendamente de­ pendente de uma permanente abertura dos sentidos, acoplada depois às outras aberturas. A todo momento estamos expostos a informações e muitas delas dirão respeito a nossa atividade.

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Consegue-se desco­ brir oportunidades, com criatividade, cruzando os regis­ tros do nosso uni­ verso de informa­ ções. O que torna vital a Abertura dos Sentidos.

Escolhida a empresa, o grupo procura, no jornal do dia, algu­ ma matéria que, de forma direta ou indireta, inspire uma ação criativa. A matéria pode ser notícia, comentário ou mesmo anún­ cio, mas preferivelmente deve representar uma tendência ou exemplificar um fenômeno social relevante. O exercício se com­ pleta com a descrição da ação criativa e seus detalhes. Os leitores podem fazer o exercício começando por sortear um gênero de negócios, usando para isso até mesmo a lista telefô­ nica. Quanto mais distante estiver a atividade de sua própria ocu­ pação, mais a simulação se torna ilustrativa e até mesmo diverti­ da. Quando feito em classe, o exercício termina pela apresenta­ ção das idéias e pela votação plenária do trabalho mais criativo. _

É quase impossível ficar o tempo inteiro pensando na inovação, procurando oportuni­ dades criativas. Mas as aberturas, quando bem exercidas, passam a facilitar a estruturação de um precioso banco de dados, disponível nos momentos em que focalizamos o assunto. Saindo à rua, conversando com pessoas de todo tipo, lendo jornais, vendo Tv, a todo momento estaremos recebendo inputs. Desco­ brir oportunidades, usando a criatividade, tal­ vez seja um processo de cruzar os registros de nosso universo de informações. Isso, de repen­ te, pode tornar vital um daqueles dados, na eclosão de uma grande ação criativa.

Exemplo de exercício prático Nos cursos e workshops de criatividade e inovação, tenho promovido com sucesso um exercício de descoberta de oportuni­ dades, que consiste em simular a sintonia com o contexto e o aproveitamento de fatos diversos no estabelecimento de ações cri­ ativas. O exercício é feito geralmente em grupos, mas também pode ser individual. Os grupos começam por "adotar" um gênero de negócios, de uma relação que inclui desde indústrias de alimentos e aparelhos de ginástica, até funerárias e editoras.

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158

CRWMDADE

DESCOBRJNDO OPORTUNIDADES

159

COMENTÁRIOS

)))))))) Ecos do Capítulo 15 (Especulando e comentando)

Descobrir oportunidades, uma atitude Na vida profissional, descobrir oponunidades se liga ao desenvolvimento do negócio ou da caneira. Mas a visão de des­ cobridor não precisa (nem deve) ser exercida somente das 8hOO às 18hOO, porque tudo o que nos envolve no mundo pode mudar para melhor. As variáveis que compõem todos os cenários, pessoais e profissionais, não estão todas sob nosso controle. Mas entre acomodar-se ao que acontece ou manter ou adquirir uma posi­ ção mais ativa pode estar a chave para melhorar situações ou criar novas, mais de acordo com nossas metas. Vem daí uma conclusão aceitável: descobrir oportunidades favoráveis facilita nossa vida e nossa felicidade. Até de acordo com aquele precei­ to de ação traduzido no adágio popular "Deus ajuda quem cedo madruga". Que também poderia ser "Deus ajuda quem se mexe". Ou quem usa a criatividade ... Descobrir oponunidades com criatividade, ponanto, pode tomar-se uma atitude ativa perante a vida, bem além do âmbi­ to profissional. Vamos a alguns exemplos?

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DESCOBRlR OPORTUNIDADES TAMBÉM É... 1. Encontrar um novo trajeto no trânsito.

2. Inventar um novo argumento em uma negociação. 3. Encontrar uma forma de abordar alguém de quem você quer se aproximar. 4. Criar uma nova técnica para fazer um trabalho enfa­ donho. 5. Encontrar um novo rumo para nossa carreira. 6. Descobrir como fazer uma tarefa rotineira com mais eficiência, o que vai desde escovar os dentes até con­ trolar a conta bancária. 160

IL

CRiATIVIDADE

COM ENTÁRIOS

7. Conseguir achar uma pequena disciplina para melho­

rar hábitos alimentares . Exemplo deste exemplo: ser­

vir-se de porções menores e fazer uma pausa, contan­

do devagar até 10 antes de repetir o prato.

8. Aproveitar pequenos momentos desperdiçados, como

aqueles em que somos obrigados a esperar, fazendo

nada. Exemplo do exemplo: no elevador, podemos

emedos

treinar nossa imaginação criando protagonizados pelos tipos interessantes que estão a

nosso lado. Esse, aliás, é um pequeno exercício de ob­

servação e imaginação, que recomendo a meus alu­

nos.

9. Aproveitar os momentos maiores, geralmente vindos

de inesperadas mudanças de horário, preenchendo

proveitosamente o tempo. Exemplo do exemplo: ver­

se de repente com meia hora de espera no aeropono e

aproveitá-la para pesquisar novidades na livraria ou

para tirar da pasta aquele livro que você está lendo e

que já estava ali para isso mesmo.

10. Imaginar as vantagens que poderíamos obter se esti­

véssemos dentro de um fato, cujo re­ lato estamos ouvindo. Exemplo do

exemplo: alguém nos conta sobre as

peculiaridades de um local, e imedi­

A criatividade é uma atamente fazemos um balanço sobre nossa presença lá, para em seguida grande arma para a incluí-lo como alternativa em nossas descoberta de opor­ próximas férias. A criatividade é uma grande arma para a descobena de oponunidades e esta, por sua vez, é uma grande arma para melhorar a qua­ lidade de vida. Interiorizando-se a atitude prospectiva de ir além da rotina, da norma e

do que chamamos de "adequado", essa arma fica de uso fácil e acaba se automatizando. _

tunidades e esta, por sua vez, é uma grande arma para melhorar a qualida­ de de vida.

~ DESCOBRINDO OPORTUNIDADES

161

16

o Velho e Famoso Brainstorm

ara muita gente a reunião informal para geração de idéias, o conhecido brainstorm, é quase uma tradução de criativida­ de. E não estou falando só de leigos, pois me contaram que um renomado autor americano, autoridade em criatividade, veio a uma universidade brasileira dirigir um workshop de criativida­ de, que se consistiu exclusivamente na exploração do velho e fa­ moso brainstorm. A decepção foi geral, porque hoje os caminhos do desbloqueio, apesar de não excluírem essa velha e famosa téc­ nica, a localizam como apenas mais um recurso. Não desprezo os recursos em geral nem o brainstorm, mas já há algum tempo só o tenho como uma "regra três" de meus cursos e workshops. Usado quando acontece algum hiato de sonolência, principalmente naqueles horários pós-almoço. Entretanto, para cobrir o assunto de forma completa, devo aqui fornecer o que uso como culrura do assunto, principalmente para informar as pessoas que poderão desempenhar o papel de facilitadoras em sessões de brainstorm. Eis portanto o que consta em meu material de aulas sobre a técnica do brainstorm.

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Visão técnico-acadêmica Bases do brainstorm - Suspensão do julgamento e ação em grupo . 162

CRJATMDAD E

Detalhando: é proibido proibir, o que significa que ninguém poder exclamar coisas como "isso é absurdo", ou "nunca", ou "isso é piada". Tem de valer tudo mesmo, para se iniciar um processo coletivo de desbloqueio da mente. A ação em grupo caracteriza-se por duas coisas: um clima de solidariedade e um espírito geral de complementaridade, com todos procurando apoiar e usar como deixa os palpites dos outros participantes. Estrutura - Reunião informal, com número ideal de 12 pessoas no mínimo e 30 pessoas no máximo, de nível homogêneo e liderada por um coordenador com experiência em "dinâmica de grupo".

Detalhando: se não houver um clima solto e de bom humor, dificilmente o brainstorm renderá de fato bons resultados; a informalidade e o riso combatem as posturas adequadamente contidas. O número mínimo de uma dúzia de participantes visa facilitar a desidentificação da autoria, com várias pessoas dando vários palpites. Com poucas pessoas, todas acabam marcando quem disse o quê e isso acaba contendo o fluxo de idéias. Por outro lado, mais de 30 pessoas toma difícil a participação mais ativa de todos e no fim alguns ficarão apenas assistindo à ação dos mais ativos. Quanto ao nível homogêneo, há controvérsias. Há quem diga que é possível colocar engenheiros e porteiros na mesma reunião, mas eu sou dos que pensam o contrário. Creio que os mais qualificados contêm-se para não se expor, e os peões, frente aos chefes, não se arriscam a dizer o que poderia ser consi­ derado fruto da sua baixa qualificação culrural ou mental. Quanto ao coordenador, é essencial que ele seja um encorajador simpáti­ co, tenha sensibilidade para abrir todos os caminhos possíveis, dominando a arte da dinâmica em grupo. Geralmente, o coorde­ nador ganha mais eficiência quando é auxiliado por um dos parti­ cipantes, principalmente na anotação das idéias em quadros ou flip-charts. Sistemática - Levantamento do problema, informações a todos, objetivação da solução, ação de busca coletiva e seleção final com julgamento.

Detalhando : é útil existir uma pesquisa sobre todos os ângu­ los do problema e até mesmo as soluções inviáveis já pensadas. Todos devem receber essas informações antes do brainstorm para evitar o tempo perdido indo atrás do que não faz parte do proble­ ma ou do que já foi pensado e descartado. A objetivação da solu­ o

VELHO E FAMOSO BRAINSTORM

163

ção deve ser feita com sabedoria, determinando-se não metas su­ perficiais, mas aquelas presas à essência do problema. A ação de busca é a sessão do brainstorm em si, que deve ter um tempo pre­ visto (uma hora é o mínimo, para permitir um aquecimento e um tempo de rendimento efetivo). A duração pode ser controlada pelo coordenador, com o discernimento de que deve ser abreviada ou estendida, de acordo com o andamento do trabalho. A seleção final com um julgamento das idéias viáveis é um detalhe impor­ tante, até para finalizar o trabalho de forma menos frustrante do que a que ocorre quando as pessoas se despedem perguntando: "E daí? Será que valeu a pena?" A seleção, ainda que depois seja revista pelos mais focados no assunto, tem também o sentido de gratificar os participantes com a visão de que tudo aquilo não foi só uma grande brincadeira. E esse encerramento contribuirá para o sucesso da convocação para o próximo braínstorm. Também é possível usar-se a seleção feita para um "segundo tempo" do tra­ balho, explorando caminhos mais específicos.

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Dicas e detalhes - Pedir a cada participante para enunciar o problema, encorajar absurdos, pedir uma idéia de cada vez por participante, fomentar a complementaridade e a livre associação. Detalhando: quando cada um relata o que pensa do proble­ ma em pauta, descobrem-se muitos ângulos da questão que não eram de conhecimento de todos, revelam-se ângulos que já são quase solução e também surgem subproblemas, que devem ser considerados pelos participantes. O encorajamento do absurdo, que o coordenador-facilitador deve fazer com habilidade, será o responsável pelo aparecimento de alternativas realmente novas. Uma só idéia por vez tem a finalidade de evitar que os mais extro­ vertidos tomem conta da sessão, inibindo a participação dos ou­ tros. Fomentar a complementaridade e a livre associação, no iní­ cio do processo, é função a ser exercida pelo coordenador, que usará as idéias que surgem para gerar outras parecidas ou opostas (vale tudo), o que incentivará os demais a fazer o mesmo. A livre associação pode ser exemplificada por um interessante livro, o Dicionário analógico da língua portuguesa, do padre Carlos Spitzer, edição de 1956 da Editora Globo; é um verdadeiro catálo­ go de brainstonn, com 688 verbetes interessantemente explora­ dos.

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Detalhando: qualquer assunto pode ser enriquecedoramente explorado pelo sistema de brainstonn, que traz à tona uma análi­ se abrangente, fruto da soma dos quadros de referências de cada participante ativo. O cruzamentO das visões diferenciadas acaba criando os novos ângulos, descortinados por essa multiplicidade de apreciações. Quando a reunião transcorre normalmente, cria­ se um animado clima que mobiliza a todos, com resultados que parecem nascer de uma reação em cadeia, só viável num brainstonn. Finalizando, registre-se que o brainstorm, criado por Alex Osborn, um publicitário ameri­ cano da década de 40, ganhou notoriedade, entrou em moda e com o tempo foi banalizado e quase descartado. Mantém-se em uso, mas com a grande limitação de sua pouca praticabilidade, já que exige um grande inves­ timento de tempo de uma equipe inteira - fica muito caro, portanto. Contudo, seu uso conti­ nua grande em uma forma simplificada, que é a da criação em duplas, utilizada nas agências de propaganda. As duplas trabalham em um brainstorm quase permanente. A prática individual da Abertura da Men­ te pode ser considerada um brainstonn, pela mecânica de soltar o raciocínio para o país da fantasia e depois selecionar as alternativas, acoplando-as ao pensamento lógico.•

A prática da Abertu­ ra da Mente se asse­ melha bem a um brainstorm, ao soltar o raciocínio na fantasia e depois selecionar alternati­ vas, acoplando-as ao lógico.

Vantagens - Soma dos bancos de dados individuais, com cruzamentos produtivos, feixe de olhares descortinando novos ângulos e estimulação recíproca, provocando reação em cadeia.

164

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CRIATIVIDADE

o VELHO

E FAMOSO BRAINSTORM

165

COMENTÁRIOS

li}))))) Ecos do Capítulo 16 (Especulando e comentando)

Toró de idéias, funciona mesmo? Tenho notícias de que o velho e famoso brainstorm já so­ freu um simpático novo batismo, ganhando o nome caboclo de toró de idéias . Sinal de que ele continua em uso, e se isso acon­ tece é porque ele ainda continua resolvendo problemas. Vou relatar aqui dois casos interessantes de resultados. Eu estava instalando um curso de férias, em pleno janeiro, com o sol entrando pelas janelas ainda sem cortinas da sala 31 do pré­ dio novo da ESPM. Ninguém no recinto agüentava mais o calor, quando um aluno avisou que a sala do outro lado do corredor, a 32, por corresponder ao nascente, estava muito mais fresca. Como as salas eram absolutamente equivalentes em tamanho e recursos, todos propuseram a mudança, que eu protelei para depois do intervalo, para verificar na secretaria se a sala estava realmente vaga. Surpreendentemente, a secretaria vetou a mu­ dança, por razões burocráticas, alegando que aquela sala já ha­ via sido reservada para outra turma que começaria um curso no dia seguinte, e isso já estava registrado etc. etc. Não adian­ tou argumentar que teríamos precedência, até porque o dia se­ guinte poderia ser mais fresco . Resolvi dividir o problema com os alunos, aproveitando-o para um exercício prático, e fizemos um velho e famoso brainstorm. Após 15 ou 20 minutos, aplica­ mos a alternativa selecionada, surgida entre dezenas de outras : trocamos os números das salas. E, para contentamento de nos­ sa consciência, no dia seguinte realmente fez menos calor e a turma que ficou na nova sala 32 (nós continuamos na 31) nada reclamou. Até muito tempo depois, quando as salas ganharam numeração nova, via-se uma seqüência insólita no corredor: 30, 32, 31, 33, 34. Como acontece em grandes organizações, como uma faculdade, ninguém sabia por que era assim - e nem perguntava. O segundo caso é mais sério. Numa empresa de embala­ gens flexiveis, surgiu um problema de reclamações de rompi­ mento de determinada embalagem a vácuo para frangos. O 166

CRlATMDADE

COM ENTÁRIOS

frango sem vácuo perdia sua boa aparência e era recusado pe­ las donas-de-casa. A solução técnica seria a de aumentar a re­ sistência do material, mas disso decorria um aumento de custo que tirava a competitividade frente à concorrência. O rompi­ mento era no manuseio das embalagens e no transporte, entre a linha industrial de embalagem e a geladeira do supermerca­ do . Não havia como forçar os operadores a ter mais cuidado, pois o processo passava por várias etapas. Um brainstorm foi convocado como último recurso . E o resultado nasceu de duas fontes, na preparação da reunião. A primeira: uma enunciação nova do problema, que não era exatamente ter uma embala­ gem mais resistente, mas sim ter o frango com vácuo na gela­ deira do supermercado. Segunda fonte da solução : a pesquisa prévia ao brainstorm, que mostrou os pontos mais críticos do processo, entre eles um engradado de plástico rígido, com qui­ nas e até arestas. Bastou trocá-lo. A técnica preparatória do brainstorm mostrou-se tão eficiente, que até o dispensou . _

o VELHO

E FAIv!OSO BRAlNSTORM

167

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17 Exercícios de

Criatividade

ão é por acaso que este capítulo é o maior do livro, com 24 páginas: ele é muito importante para quem deseja experimentar a prática da criatividade fora das condições reais de uso. O que é sempre útil para combater os naturais blo­ queios a que estamos sujeitos. De certa forma, é um texto destaca­ do do conjunto, válido por si, independente da tese do livro.

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Apesar de nada substituir a prática na vida real, os exercícios sempre colaboram para diminuir certo desconforto que a maioria sente frente aos desafios dos processos não lógicos. Praticando bastante, começamos a ficar mais confiantes. E essa confiança é parente próxima do pensamento positivo, essencial para mobili­ zar nosso potencial criativo.

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Até por falta de uma cultura teórica do tema, no início de meu envolvimento com workshops de criatividade, os exercícios de criatividade começaram a ser criados por mim e meus parcei­ ros somente a partir do estímulo à discussão dos subtemas em que o assunto "criatividade" foi segmentado com propósitos didáticos. Não existia naquela altura a proposição de só usar exercícios inéditos, mas vale a pena ser honesto: devo confessar que com o passar do tempo foi ficando cada vez mais difícil usar modelos que pareciam sabidamente comuns ou que eu descobria existir na literatura do gênero. Ninguém escapa da vaidade da autoria, o que pode ser considerado como normal e, até um limite razoável, saudável. 168

CRlATMDADE

Com a prática acabei obtendo um esqueleto de teoria sobre exercícios, que hoje procuro dissecar neste capítulo para os mais interessados. Nada que esgote o assunto, mas tudo bastante testa­ do pelo uso repetido.

o

que define um exercício de criatividade?

Pode até ser óbvio dizer, mas o que faz o exercício ser uma prática de criatividade é a característica de ser aberto, isto é, não conter "solução" por meio de uma "resposta certa". Em cima desse conceito fica a base para a apreciação de cada caso, para avaliar se a Pode-se confirmar proposta de um exercício é válida e até onde. Também se pode confirmar se um exercí­ se um exercício é de cio é autenticamente voltado à criatividade, verificando-se a hipótese de um programa de criatividade verifi­ computador (sempre lógico) conseguir cando que um pro­ executá-lo com sucesso. Se o computador pu­

der resolver uma questão, ela será lógica, difi­ grama de computa­

cilmente estimuladora de criatividade.

dor, sempre lógico,

Importante: esse parágrafo anterior não consegue tangencia a controvertida questão da incapaci­ dade de o computador assumir funções do cé­ executá-lo com rebro humano. Remeto os que têm dúvidas cesso. quanto a essa incapacidade da máquina à lei­ tura do livro A nova mente do rei, do matemáti­ co Penrose. Ele, com a autoridade de respeita­ do cientista, parceiro de Stephen Hawk, liqüida os argumentos dos que acham que computador pensar como ser humano é só uma questão de tempo.

su­

Entretanto, até por coerência com o princípio de rejeição das respostas únicas no exercício da criatividade, pode-se admitir a validade de exercícios que trabalhem em direção a uma "resposta certa", quando a criatividade estimulada ficar no caminho não ló­ gico para se chegar a ela. Mas penso que esse caso deve figurar no campo das exceções, tantas as oportunidades que dispomos para a prática do pensamento mais solto e imaginativo, sem preocupa­ ção com eventuais acertos ou erros. . EXERCÍCIOS DE CRlATMDADE

169

Usam-se exercícios de criatividade para combater bloqueios e explorar rupturas, imaginação, ousa­ dia, o não-lógico, ambigüidades, o desconhecido etc.

Quanto à finalidade, pode-se dizer que o

objetivo comum ao gênero "exercício de criati­

vidade" será aqui predominantemente o de es­

timular a mente a proceder não só logicamen­

te, mas usando o lado direito do cérebro, arti­ culadamente ao esquerdo. Registre-se conrudo que essa posição é adotada por vir do princípio da Aberrura da Mente, relatado no Capítulo 8. Como o princípio não é excludente, também não se pretende estabelecer regras sobre exer­ cícios de criatividade em geral.

A esta altura, cabe lembrar a existência de exercícios de criatividade que se direcionam para outros objetivos, como os de desbloqueios psicológicos e/ ou compona­ mentais. Exercícios de biodança ou de prática de espones radicais são exemplos. Apesar desse tipo de exercício ser absolutamente válido, aqui, na venente em que se sirua a abordagem das Aberru­ ras, acentuadamente atirudinal, ele também fica no campo das exceções.

Como são os exercícios de criatividade

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Sem estabelecer parâmetros rígidos e apenas para relatar or­ denadamente o tema, divido meus exercícios quanto a seu objeti­ vo principal, que visam o seguinte: a. combater bloqueios psicológicos; b. explorar rupruras; c.

explorar viagens da imaginação;

d. explorar ousadia criativa; e. explorar associações não lógicas; f.

explorar alternativas não lógicas;

g. explorar ambigüidades; h. explorar territórios desconhecidos; i. 170

CRlATMDADE

desenvolver a fluência imaginativa.

A mecânica da maioria é de imaginação verbalizada, com a descrição de um processo mental de criação . Às vezes, inclui al­ gum elemento componamental e outras vezes pode ser quase ex­ clusivamente de imaginação estimulada. Registre-se que todos os exercícios descritos neste capítulo foram criados para públicos com a maioria dos componentes entre 20 e 30 anos de idade. A descrição dos exemplos de cada tipo de exercício irá escla­ recer detalhes.

Exercícios para combater bloqueios psicológicos Vamos ver exemplos desse tipo de exercício. Panicipantes de cursos e workshops, ainda que interessados na prática da criatividade, em maior ou menor grau sempre apre­ sentam uma inibição narural. Esse bloqueio, bem geral, é preso a motivos paniculares de cada um. É bom combater essa condição, comum nos inícios de curso, o que eu procuro com a aplicação de um primeiro exercício de desinibição, preso à própria auto-apre­ sentação do participante para o grupo, a '1\uto-Apresentação Cri­ ativa". Na seqüência do curso, os alunos participam de outro exer­ cício de desbloqueio, o da "Foto Criativa". Vejam a seguir como são esses dois exercícios. AUTO-APRESENTAÇÃO CRlATIVA

Enunciado : Diga ao grupo o nome ou apelido pelo qual quer ser chamado(a), qual a sua formação escolar e descreva afunção profis­ sional que exerce. Até a~ tudo normal. Agora, diga também ao gru­ po qual o seu hobby, de que mais gosta na vida e o que mais detesta no mundo. Para terminar, leia uma frase sua sobre criatividade.

Percebe-se que a pessoa é induzida a se expor um pouco, o que na grande maioria dos casos facilita a integração ao grupo. É um início "quebra-gelo", que prepara o grupo para um exercício bem mais desinibidor, descrito mais adiante, o '1\taque/Defesa". A Auto-Apresentação Criativa começa pela minha própria e termina pela escolha das frases mais interessantes, anotadas resumida­ mente num quadro. EXERcíCIOS DE CRlATMDADE

171

FOTO CRIATIVA Enunciado: Em duplas ou em grupos de até quatro pessoas, você irá produ­ zir no recinto da classe uma foto criativa. Pode usar todos os recur­ sos disponíve is no momento. Ao selecionar a idéia, considere que a foto deverá ter legenda ou título, o que poderá ser colocado depois.

Há disponível na classe uma máquina fotográfica simples, é dado um tempo para todos discutirem sua idéia e a produzirem, e depois há alguns minutos para cada grupo usar a máquina. É uma proposição instigante, que sempre se encaminha para o terreno da brincadeira e da desinibição . Na aula seguinte, após uma "ex­ posição" com as legendas ou títulos já colocados, os próprios par­ ticipantes elegem a foto mais criativa, com votos individuais nas três consideradas melhores. Costumo levar brindes simbólicos para os autores da "foto premiada". Esses dois exerClClOS para quebra de bloqueio inibidor de participação em inícios de cursos usam menos as verbalizações do que componentes comportamentais.

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Exercícios para explorar rupturas

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Há em todos nós, em vários graus, um saudável respeito às normas. Mas numa atividade criativa, como a que deve acontecer no desenvolvimento de um curso ou workshop de criatividade, esse respeito precisa ser balanceado com a valorização da ruptu­ ra, para se chegar às idéias inovadoras, como foi comentado na descrição já feita da metáfora do balão . Com essa finalidade te­ nho usado especificamente dois exercícios: o ''Ataque e Defesa" e o "Notícias Populares". Descrições a seguir. ATAQUE E DEFESA Enunciado: Vocês estão divididos em dois grupos, para que um assuma o ataque e o outro a defesa da condição criativa dos casos que serão apresentados agora. A questão portanto é dizer "isso é (não é) criati­ vo porque.. . " A ação do grupo é coletiva, mas sem organização e lógica, procurando cada participante interferir quando lhe ocorrer

172

CRIATIVIDADE

argumentos, e estes não precisam ser necessariamente lógicos ou re­ levantes. No início, após o relato do caso, o primeiro participante a interferir, a favor ou contra, definirá o lado (favorável ou contrário) em que seu grupo ficará obrigatoriamente engajado.

A dinâmica deste exercício é bem desorganizada, como a de um brainstonn, e como ele é aplicado no início dos cursos, tam­ bém tem o objetivo de desinibir. Mas sua finalidade maior está no detalhe do uso de argumentos não lógicos, o que irá valorizar uma condição raramente admitida por nossa mente. Isso é facili­ tado porque durante o exercício estaremos apenas desempenhan­ do um papel, favorável ou contrário, independente do que real­ mente julgamos. Na metade das vezes, nossa ação não coincide com nossas convicções, o que provoca a chamada ruptura, que nesse caso é quase a inversão do raciocínio normal. O exercício então é também uma prática de "remar contra" a correnteza esta­ belecida pela lógica. Os casos apresentados, retratando soluções criativas, tam­ bém têm a função de estabelecer uma espécie de definição do campo da criatividade que será explorado no curso. Os ataques e defesas acabam revelando ângulos diversos do tema e não têm finalidades conclusivas - eles são interrompidos após algumas ro­ dadas, dependendo do rendimento da animação do diálogo e da eventual queda para um campo mais áspero ou polêmico. NOTÍCIAS POPUlARES Enunciado: Vocês estão vendo na tela os títulos da primeira página de hoje dJ Estadão. Observem-nos, escolham três deles e usem sua criatividade (individualmente ou em dupla) para tomá-los adequa­ dos ao Notícias Populares ."

A cabeça dos participantes de meus cursos e workshops está muito mais sintonizada com o estilo do Estadão do que do outro. Mudar os títulos, como se propõe, representa uma ruptura de ra­ ciocínio, pela abordagem usada no Notícias Populares , radical­ mente agressiva, jocosa e liberada, mas quase sempre muito cria­ tiva.

Notícias Populares e Esradão (O Estado de S. Paulo) são jornais de São Paulo, radical­

menre opOStoS pelo estilo: um sensacionalista/popular e o outro sério/conservador

EXERCÍCIOS

DE CRIATIVIDADE

173

são afixados num é feita a escolha do mais por votacao individual nos três considerados melhores.

explorar que nas­

desfru­

de liberdade do

pensamento, que é a essência do ato de brin­ voar com a imagina­ car. Já como essa liberdade é em graus que variam de acordo com cada pes­ Como soa. Salvo mais no campo __ .u,_~ essa das artes, ficamos inibidos pelo compro com a realidade. Os exercícios com a finalida­ dade, de de resgatar esse descondicio­ compromisso com a menos em parte, irão ser I-'ÂÍU'-':l.'-'\.J~ por dois casos: "Escultura com Sucata" e "Bola de Cristal". que aticamente todos os exercícios de criativida­ a liberdade de a outras variáveis. estes dois são mais do que a média no que toca a esse estímulo. ESCULTURA COM SUCATA Enunciado: na mesa aa }Tente, não menos que cinco e não e peças. Não há critérios para sua esco­ aos dois bastonetes de massa de

Esse exercício o artista que há em cada um e liberta a cnança interior, à a pessoa sente prazer ao enfrentar o pequeno desafio de criar tão 1-'",.,,,,,.,>.<, Alertados de que não existe na nmnn<:iriõín de "certo" ou "errado" de que a arte inclusive de os autores acabam entusiasmandose e desse momento em diante a flui livremente. Ao todos acabam da obra. É feita uma <:l\.IJUO'l\,."'U e os trabalhos mais criativos são escolhidos por individu­ aL Cada vota em duas ou três obras, de acordo com o tamanho BOLA DE CRISTAL Enunciado:

Para começar a praticar criatividade neste curso, ponha a cuca no último dia de aula de criatividade. você vai em 10 linhas no mínimo ou em 20 no um comentário de como você viu o tema e como . as aulas. Vale tudo: "meter o , mas sempre usando ao má.;dmo a com bom humor ou com mau com entusiasmo ou tédio etc. Divirta-se.

UClpame sobre o conteúdo do curso, que surge que o tema criatividade é por si muito elástico, Com o curiosidade e a dúvida transfonnam-se em uma via2'em da na também se revelam as eXj)ec:ratlva Este último ponto é um pessoas, diretamente só revelam suas expec­ , verdadeiros clichês. Conhecendo-se um pouco melhor as consegue-se orientar melhor as au­ las. Costumo recolher esse exercício e devolvê-lo na aula _ te, com um comentano de linhas. Ali estabele­ ço um de diálogo com o aluno, chamando sua para pontos bem ou mal pela sua

explorar a em cima de uma mesa a chamada sucata, que tampas de caneta e descartados. até en­ grenagens e caixinhas vazias.

174

CRIATMDADE

Todo ato criativo nimo para enfrentar o

grau de no mí­ critico dos outros, frente a EXERCÍCIOS DE CRIATMDADE

175

que é novo e não passível de uma aferição no campo do certo ou errado. Os exercícios que exploram mais essa ousadia são os que exigem uma exposição pública dos autores, como é o caso dos dois exemplos seguintes, o "Fala Mascarada" e o "Imagem Simbó­ Iica". Este último foi criado juntO com Júlio Vercezi, psicólogo que em 1990 dirigiu algumas experiências de psicodramas em meus workshops.

Esses exercícios, que exploram um pouco mais os elementos comportamentais, exercem grande atração para públicos de cer­ tas características como : pessoas que participam de um grupo onde ninguém se conhecia antes, pessoas com alguma iniciação ou cultura no campo da psicologia e pessoas com informação aci­ ma da média e participando de grupos homogêneos. Já os apli­ quei com sucesso em grupos heterogêneos e de uma mesma em­ presa, mas senti que eles se desenvolveriam ainda melhor em ou­ tras condições. FALA MASCARADA

Enunciado: Use o material que está recebendo para fazer uma máscara tos­ ca de alguma personagem, conhecida ou não, na pele da qual você fará uma pequena colocação oral (no mínimo uma fra.se, no máxi­ mo uma fala de um minuto) sobre uma da.s colocações abaixo, a sua escolha. (Exemplos da.s colocações: consumismo destrói os valores maiores da sociedade. Espionagem industrial, um crime contra o sis­ tema. ambiente bem humorado colaborando para a produtivida­ de. A importância da informática e a onda da Internet. A IV a cabo e o vício do pijama e chinelo. Cartão de crédito, alma eletrônica da deusa do consumo. A neurose advinda do medo dos a.ssaltos e rou­ bos. Cursos de Criatividade, portas para o país da inovação.)

°

°

Os participantes recebem cartolina, tesoura e canetas hidrográficas para fazer as máscaras. Este é um exercício eficien­ te, mas depende de uma boa disponibilidade de tempo para sua execução. Por isso é mais adequado a cursos com maior carga ho­ rária, para que não prejudique o ritmo do conjunto. Também se caracteriza como um trabalho muito individual, o que de alguma forma compromete seu rendimento em públicos pouco qualifica­ dos ou menos interessados. Além da ousadia criativa, explora também a desinibição. Após a apresentação de todas as falas, pro­ cede-se à escolha das mais criativas, por meio de votação secreta e individual. Cada participante recebe uma cédula para votar em duas ou três personagens, conforme o tamanho do grupo. 176

CRIATIVIDADE

IMAGEM SIMBÓLICA

Enunciado: Sua dupla escolherá um dos temas duplos abaixo e comporá uma imagem simbólica, com o corpo e a expressão de cada um da dupla, representando o mais criativamente possível os dois valores do tema. Vocês ficarão como estátua.s, imóveis e mudas, durante no mínimo 30 segundos e no máximo um minuto. Para compor a ima­ gem, podem ser usados os recursos disponíveis no momento. Procu­ ra-se, além da criatividade, a clareza da expressão, para que o resto do grupo possa adivinhar que tema está sendo representado. (Exemplos dos temas: AMOR/ÓDIO, LEALDADE/TRAlÇÃO, AFETO/FRlEZA, LÓGICO/EMOCIONAL, CONSIDERAÇÃO/DES­ PREZO, REFINAMENTO/ BA1.XAR1A, CALMA/AGITAÇÃO, HONESTI­ DADE/CORRUPÇÃO, TRANSPARÊNCWDISSIMUIAÇÃO, IDEALIS­ TNPRAGMÁTICO, PERDÃO/VINGANÇA, TESÃO/DESÂNIMO, INI­ CIATNNACOMODAÇÃ 0, ATENÇÃO/DISTRAÇÃO, MÁGONGRA­ TIDÃO, INOVADOR/CONSERVADOR, CREDULIDADE/ DESCONFI­ A1I/ÇA, TIMIDEZ/ATREVIMENTO, QUESTIONADOR/YES MAN, DE­ PRESSÃO/EUFORIA, OTIMISMO/PESSIMISMO.)

Exercício proveitoso para tunnas com bom nível panicipativo. Além de explorar a ousadia criativa, seu desenvolvi­ mento acaba sendo divertido como um "jogo de salão". Tem um parentesco com os jogos de mímica, onde de um lado há a criativi­ dade da expressão e do outro o esúmulo do raciocínio dedutivo. Os participantes também são incentivados a usar criativamente todo e qualquer recurso possível, como cestos de papéis, cádeiras empilhadas, vasos de plantas e outros objetos. As duplas ganha­ doras são escolhidas por votação nas mais criativas, havendo mé­ ritos também para as que conseguirem trans­ mitir claramente a imagem representada ao maior número de "acertadores".

Exercícios para explorar associações não lógicas Idéias cnatIvas são com freqüência pro­ duto de uma associação, aqui chamada de

"não lógica", porque reúne duas referências aparentemente estranhas entre si. Arthur

Idéias criativas são com freqüência produto de uma associação de duas referências aparen­ temente estranhas entre si.

EXERcicIOS DE CRIATfVIDADE

177

em seu livro The act como descrevemos no

creation. analisa esse 13.

ocorrência é facilitada por uma menor do e deve ser sempre o que se faz tentando anular o censor da e dizendo "ora, isso não tem nada exerclClOS são mais para se treinar esse mais solto. Aqui estão dois exem­ "Palavras Descruzadas" e "Manchetolas". Esse processo,

DESCRUZADAS Enunciado: você deve criar uma de Palavras de até duas letras não contam. são de um l.Uí!U::,llU. or­ outras: panqueca,

De certa forma visa provocar uma difi­ culdade de o abandono dos cami­ nhos tradicionais do pensamento. Este levando as pes­ soas à procura de tem o efeito instantâneo de colocá-las num campo lúdico e criativo. O das na da mais acaba tendo efeito Após ver o que o grupo a maioria se o que em alguns casos é aoroveitado para um MANCHETOLAS Enunciado:

mente o terceiro título feito é o mais criativo. O raciocínio tende a ficar mais solto, o que é e nos "Exercícios de Fluência Imaginativa" descritos mais adiante.

não vertentes para o uso da criatividade no diaa da e a da "descoberta", focalizadas no 2, baseiam-se na descoberta de caminhos imprevisíveis, vindos quase sempre da de alternativas que nunca estariam em uma que se consegue colocar em programas de Dois exercícios o foco específico nesse campo: "Mix3" e "Receita Exótica". Em ambos os casos, a vem com determinada para o uso da imaginação, exatamente como acontece na vida real - raras vezes encontramos liberdade total e o da fantasia sempre ficar balanceado com o lastro da realidade. MIX3 Enunciado: estão: um proauto com e um intermediário. Use a para assoc"';­ ando um novo ou que use exatamente os dos em um só Descreva o novo em no máxímo três linhas. Vá para o da fantasi.a ou não. à vontade. Divirta-se.

e cordo

traídas no máxímo. Use só uma "tesoura mental", isto é, não acres­ as existentes. cente nem Neste livres são menos induzidas do que no "Palavras , e daí vem uma dificuldade para pessoas muito condicionadas ao raciocínio essa os resultados são muito Uma técnica para facilitar o é solicitar que cada um faça três títulos e os mostre para seu vizinho de cadeira escolher o com isso desencadeia-se um processo de fluência, e

178

CRIATIVrDADE

Esse é um exercício bem delimitando o uso da Mas são exatamente assim as tarefas do de empresa, à criatividade. Isso torna o desafio aínda mais interessante. Para com melhor costumo acrescentar outro condicionante: o público-alvo Ea desse nunca é feita dentro de de 20 a 30 anos, da B, moradores em centros urbanos. É sempre fornecido um de público que em si caracteriza um como, por

ÉXERcíCIOS DE CRIATMDADE

179

q

Por tudo isso, a prática da criatividade beneficia-se com o trânsito mais fácil pelo terreno da relatividade de significado e valor. Pessoas de comportamento criativo exploram bastante a ambigüidade, o que de resto põe mais cores em seu mundo .

exemplo, neo-não-fumantes, pessoas com mais de 100 kg ou pú­ blico GLS (gays, lésbicas e simpatizantes). Mix3 tem sido usado para trabalho em grupo, de três a cinco pessoas, sempre com óti­ mo rendimento.

A tentativa de valorizar e explorar habilidades nesse campo está presente em quase todos os exercícios de criatividade, mas em alguns fica mais explícita. É o caso dos exercícios focalizados na exploração de ambigüidades, com sua identificação e/ ou cria­ ção. Temos aqui dois exemplos desse tipo, o "Dupla Boa" e o "Diciomário". Vejam como são .

RECEITA EXÓTICA Enunciado:

Você (ou seu grupo) está recebendo 10 ingredientes para criar a receita inédita de uma iguaria. Combine criativamente os elementos e descreva o processo de preparação da receita, que deve conter; em qualquer proporção, todos os ingredientes dados e nada mais. Den­ tro do processo, procure a maior verossimilhança, isto é, aproxime­ se ao máximo da possibilidade de aproveitamento real da receita. Coloque também um nome criativo nela. (Exemplo de conjunto de 10 ingredientes fomecidos: farinha de trigo, sal, açúcar, laranja, couve-flor; azeite, manteiga, mocotó, amêndoas e arroz.)

DUPLA BOA Enunciado:

Você tem aqui um exercício de percepção de ambigüidades. Pri­ meiro, observe e analise as pessoas que estão na sala. Repare no que elas fazem lembrar ou com quem se parecem. Depois, imagine que todos aqui sejam cantores de música sertaneja. Agora, escolha duas pessoas para formarem uma daquelas duplas bem características, tipo "Brinquinho e Orelhão". Identifique as pessoas e batize criativa­ mente sua dupla. Divirta-se.

Percebe-se a grande liberdade e a dificuldade para se chegar às combinações possíveis, que incluem, no caso desses ingredien­ tes, desde um prato salgado, como um risoto enfeitado com casca de laranja, até uma sobremesa de bolinho doce de mocotó em calda de amêndoas. Como cozinhar é uma das atividades huma­ nas notoriamente criativas, esse exercício tangencia o universo de quase todas as pessoas e revela-se extremamente lúdico. Muitos participantes fazem questão de levar a receita para casa, a fim de experimentá-la.

A partir do estímulo para localizar os segundos significados das aparências, já sob a bandeira da caricatura, os participantes, geralmente também trabalhando em duplas , assumem com facili­ dade a proposição hilária do exercício. A atividade de apelidar os outros é divertida e isso tende a desbloquear a imaginação. Para desinibir, não é pedida a identificação de autoria, em que pese o fato de que, mais tarde, na eleição do exercício mais criativo, os vencedores são identificados. Mas aí já com o mérito de terem sido os mais criativos.

Exercícios para explorar ambigüidades Mente aberta e per­ cepção alerta conse­ guem localizar am­ bigüidades a todo momento em nosso dia-a-dia. 180

DICIOMÁRlO Enunciado :

A mente aberta e a percepção alerta con­ seguem localizar ambigüidades a todo mo­ mento do dia-a-dia . Fatos, situações, palavras,

coisas, tudo enfim que tem mais de um signifi­

cado ou interpretação é insumo de soluções

criativas. Com base nos trocadilhos e nas me­ táforas. Por outro lado, é notório que o mundo da fantasia e da ficção também se alimenta do ambíguo.

Observar profundamente uma palavra, sacar suas ambigüida­ des e a partir daí fonnular uma nova e original definição, em fonna de verbete de dicionário. Exemplos: INCAUTO - Carrinho que trans­ porta turistas desavisados em Machu-Picchu. TRIGAL - Cantora baiana que quando elevada ao cubo passa a produzir pães. HEBREU - Exclamação semita, exprimindo profunda escuridão. NEGATNA ­ Senhora de cor, algo pessimista, mas que manda ver. Escolha na reEXERCÍCIOS DE CRIATIVlDADE

CRlATIVlDADE

---

181

REGRA DE DES­ DETERGEN­ INTIMAÇÃO, SOLUÇÃO, TAse

também outras

Este exercício foi do professor Mário tividade. Tem origem no mas ao contrário daquele, o Diciomário baseia-se no uso da sem nenhuma modificação, dentro dela os elemen­ toS para depois compor o verbete. O campo é fãs de trocadi­ em termos de criatividade verbal e adorado são necessanos para lhos. Os exemplos fornecidos no um empurrão inicial no raciocínio criativo que se quer estimular.

Enunciado: Este é um exercício de imaginação do dentro do roteiro de uma regra de três: há cinco anos eu era sou bem anterior. um para o atual presente. e relate para si como você será e/ou sua visão em um texto de 10 a 20 linhas. iA

V","O.,U.u.v

A para a por escrito é porque faz a pessoa ordenar um pouco seu devaneio. Os pantes são avisados de que o texto é feito para eles não existindo ou mesmo leitura por tercelro~, fica mais solta e Uma música de fundo ajUda a se e de execu­ ao clima de sonho. Os minutos de pf(,teSS(l[, e o final um diálo­ comentários voluntários sobre o rendimento do

exercício.

NADANÊS

em Cartas a um Rainer Maria I-'dLIUdUC: de nossa mente se ocupar com a ldl1ld~ld, tímulos externos e até quando estamos em como a de um recluso sozinho em sua cela. Nem todos se lem­ bram de que o que inclui a de territórios desco­ está sempre a nossa disposição. A maioria de nós res­ ao campo da racionalidade, de "não estar sendo objetivo" quando começa a até a de explorar e bases para exercer nossa criatividade. Um estímulo para esse de exercício de as "E se?" e "Por que não?". Elas nos levam às aberturas da emoção e da mente. Estímulos diversos para a do estão em todos os exercícios de criati­ mas, como sempre acontece, focalizam mais espe­ .lUI.ali•.l U '''"",,\)

cificamente um

os exercícios

~~~ . . . .

. . . _.. . . . . . . . .

i- .....

....

.o~rcl1'T''I

r-....... rnr. ovornn!()<,

Enunciado: Seu grupo ouviu a Nadanês, e agora vai teressanteloriginal. Mulher- Dra Homem -

tra?

Mulher - Indza dzu mulf? Dra vurs costiud ag

Homem­ Mulher-

dzu altud minda

Homem-Amím Mulher -

draie undra eliatza.

gar, dzu ianda marlod!

Homem - Gurd Mulher Homem-

\"'U~LLUU

minda urg dzu astind grun gran, ast

se explora o país das e estas tomam fonna com base na criatividade de cada um, ao compor-se o Há 182

EXERCÍCIOS

CRIATMDADE

183

w no processo um óbvio exercício de percepção, na interpretação das entonações das falas gravadas. Mas esse ponto praticamente só tem a função de tomar o exercício mais lúdico. O trabalho é feito em duplas, e ao final cada dupla lê e interpreta o seu diálogo.

II

Há exercícios que favorecem o treino da fluência imaginati­ va. Aqui estão dois exemplos : "Escritores de Jó" e "Fazendo Dife­ rente". ESCRITORES DE JÓ Enunciado:

11

Exercícios para explorar a fluência imaginativa Como todas as pessoas envolvidas em treinamentos de criatividade, também insisto no conhecido princípio de que "da quantidade Em criatividade, da se extrai a qualidade". Há várias razões para quantidade se extrai que isso aconteça. Em primeiro lugar, a procu­ ra de uma idéia criativa nunca foge do meca­ a qualidade. Erran­ nismo de eXploração de alternativas, como foi do bastante, facilita­ metaforizado com a bacia fluvial, na descrição da Abertura da Mente, no Capítulo 8. Ora, difi­ mos um acerto. cilmente poderemos ter a certeza de que che­ gamos a uma alternativa ótima, se não tiver­ mos outras para comparar. Por outro lado, a procura de alternati­ vas não lógicas também funciona como um brainstorm, onde uma idéia puxa outra, e a quantidade de idéias, por mais forçadas ou disparatadas, sempre ajudará. Finalmente, temos o fenômeno da descoberta ou do chamado insight, que se beneficia de um envol­ vimento mental com o assunto. E quando privilegiamos a quanti­ dade, estaremos envolvendo todos os recursos da mente numa direção. Verifica-se também, na prática, que a quantidade de al­ ternativas que aventamos não só evita ficarmos "empacados" ou "patinando" frente ao papel em branco, como também vai propici­ ando uma fluência cada vez mais fácil. Errando bastante, facilita­ mos um acerto. Por tudo isso é importante desenvolvermos a fluência men­ tal, no caminho da performance criativa. É importante tentar, como vimos na descrição do processo criativo, no comentário do Capítulo 8. Perceberemos também, com a prática, que a fluência mental é irmã da fluência verbal. Ao adquirir uma, também ga­ nhamos a outra, como verificam os profissionais que começam a dar aulas. Aconteceu comigo e com muitos outros conhecidos meus. 184

Seu grupo irá escrever uma estória muito louca. Cada pessoa do grupo escreve uma linha, em rodízio. Há um tempo limitado: quando o mestre dá o sinal de fim do tempo, a pessoa pára de escre­ ver onde estiver e passa a estória adiante. O objetivo é conseguir uma seqüência entre as linhas, sem muita preocupação com a lógica do enredo, mas procurando originalidade e rapidez. Os vizinhos de quem está escrevendo devem procurar ler o que já foi e está sendo escrito. Criatividade e fluência, vamos lá.

Formam-se grupos de seis a oito pessoas, sentadas em círcu­ lo. Em cada grupo circulam as pranchetas com as histórias em desenvolvimento. Onde há seis pessoas, há três pranchetas circu­ lando, e onde há oito, há quatro pranchetas. O tempo em que cada um fica com a prancheta para ler o que já foi escrito e acres­ centar sua linha é marcado pelo professor. Esse tempo, no come­ ço, é só o suficiente para se ler a linha anterior, e com o desenvol­ ver da história deve ficar um pouquinho maior, para dar tempo de a pessoa ler algumas linhas e sintonizar-se. A movimentação é grande e contribui para um clima de urgência, com muita produ­ ção de adrenalina entre os participantes. Dada a liberdade combi­ nada para cada um ir na direção que quiser e dada a rapidez com que deve decidir e escrever, o processo alimenta uma dinâmica, que por sua vez estimula o pensamento rápido dos participantes. Ao final, costumo proceder a uma avaliação coletiva, da seguinte forma : um grupo fica com as histórias do outro grupo e cada inte­ grante lê todas para si e dá sua nota individual. A história com a média maior, de cada grupo, é lida para toda a classe, que escolhe a melhor de todas por votação. FAZENDO DIFERENTE Enunciado: Aqui está uma relação de verbos com ações do dia-a-dia. Esco­ lha um dos verbos e crie novas maneiras de executar a ação. Solte a imaginação e chegue ao maior número de alternativas, das viáveis às absurdas. Se precisar; use o verso da folha. VERBOS: RESPIRAR, EXERCÍCIOS DE CRlATMDADE

CRlATMDADE

185

PESCAR, BOCEJAR, URiNAR, DESCASCAR LARANJA, BUZINAR, ESPIRRAR, VOAR, PUL4R, DEFECAR, TELEFONAR, CHUPAR PICO­ LÉ, FUMAR, DAR TCHAU, BEIJAR, DORMIR, ACORDAR, VER Tv, PAQUERAR, ABRIR PORTAS, PARAFUSAR, DIGITAR, PINTAR, QUE­ BRAR OVOS, AMARRAR SAPATOS, PENTEAR-SE, ACENDER FO­ GUEIRAS, DESCER ESCADAS, SUBIR ESCADAS, DAR CORDA EM RELÓGIOS, BEBER, TORCER POR SEU TIME, OUVIR RÁDIO, ATRA­ VESSAR RUAS, ENTRAR EM ELEVADOR, SAIR DE ELEVADOR, DI­ RIGIR AUTOMÓVEL, PASSEAR EM SHOPPING, IR A CINEMA, ME­ XER O CAFÉ, JOGAR FUTEBOL, SOLUÇAR, CHORAR, RIR, ROU­ BAR, PRENDER LADRÕES, ESCREVER, SORRIR, GARGALHAR, TO­ MAR BANHO, LER, SONHAR, OLHAR ESTRELAS, MORRER. (VOCÊ PENSOU EM UM VERBO QUE NÃO ESTÁ AQUI? ACRESCENTE-O À RELAÇÃO E USE-O.)

Este exercício pode ser feito individualmente, mas o ideal é um trabalho em duplas. Apesar de compreender apenas um exer­ cício de verbalização, ele mostra-se empolgante, graças a um fe­ nômeno que acontece sempre: no decorrer de sua execução, os participantes vão notando uma facilidade crescente: cada solução lembra outras. Estabelece-se uma real fluência mental, que demo­ ra para se esgotar. O professor atento notará quando o rendimen­ to geral começa a baixar, dando então o tempo por findo. Há uma vantagem óbvia de se processar o resultado na hora, pois todos estão interessados e curiosos. Costumo fazer a avalia­ ção com uma mecânica de trabalho coletivo, semelhante à da ava­ liação dos Escritores de Jó. A classe é dividida em duas metades e um grupo recebe os exercícios do outro. Os participantes vão len­ do aleatoriamente os trabalhos dos outros. As três primeiras leitu­ ras não geram notas (para facilitar um ângulo de apreciação). Mas da quarta leitura em diante, cada um vai colocando sua nota individual e passando o trabalho para diante. Tudo muito rápido. Quando o exercício já recebeu cinco notas, é recolhido. Somam-se e lêem-se para a classe alguns exercícios melhor pontuados, para a escolha coletiva do melhor. Todo esse processo é muito vibrante e a leitura e votação compõem um grande final. É um de meus exercícios preferidos, principalmente para grupos de faixa etária mais baixa, quando há menor consciência da utilidade de não se fixar em uma idéia. A pouca experiência prática, comum nos ado­ lescentes, faz com que o autor se apaixone por uma de suas pri­ meiras idéias e passe a defendê-la, em vez de procurar outras.

A p rática dos exercícios nos treinamentos A vasta literatura sobre inteligência humana surgida nos úl­

timos tempos, quando a ciência passou a estudar nossas funções

mentais, confirma algo que se intui: o funcionamento do cérebro

para a prática da criatividade segue as regras gerais das habilida­

des e vocações de nosso organismo: o que é bastante usado de­

senvolve-se, e o que nunca é usado atrofia-se. Daí a importância

da prática com a execução de exercícios de criatividade.

Os tipos de exercícios mostrados, com seus respectivos exemplos, são usados em meus workshops, que se desenvolvem dentro da abordagem das Aberturas. Entretanto, sua utilidade não se condiciona à adoção dessa abordagem: eles podem ser úteis in­ dependentemente de qualquer engajamento, pois exercícios de cri­ atividade em geral são sempre proveitosos. Exercitam e desenvol­ vem nosso raciocínio criativo, o que acontece pela otimização das sinapses, as vias de comunicação entre os neurônios. Em meu trabalho de treinamento de professores que irão aplicar a abordagem das abenuras, dedico-me a desenvolver ne­ les a facilidade de criar novos exercícios. Dominando o assunto, o professor ficará mais à vontade para aproveitar em classe o que chamo de "a magia do improviso". Muitas experiências já me con­ venceram de que nada substitui o diálogo aberto para o aprovei­ tamento de um assunto. Aberto principalmente pelo aproveita­ mento de perguntas e observações dos alunos, que criam momen­ tos preciosos de comunicação total. Essa forma de discutir e "ensinar" criatividade inclui tam­ bém, portanto, a implementação de um exercício criado na hora, decorrente do diálogo que se está desenvolvendo em classe. Como este livro é de certa forma uma descrição de minhas técni­ cas, incluo a seguir algumas informações sobre a elaboração de exercícios de criatividade.

Roteiro para inventar exercícios de criatividade l. Na procura e seleção de assuntos, privilegiar os que per­

tençam ao universo dos participantes.

186

CRlATMDADE EXERCÍCIOS DE CRIATMDADE

187

2. Dar preferência a temas que tenham cruzamentos com o mundo profissional dos participantes. No caso dos cursos de criatividade dentro do pós-graduação de marketing, temos nessa condição exemplos como Ataque/ Defesa, Novos Produtos, Regra de Três e Fala Mascaraca. Este úl­ timo pelos temas sugeridos. 3. Também privilegiar temas que estejam no universo da criança que todos têm dentro de si, como, nessa coleção de exercícios relatados, Escultura com Sucata e Dupla das Boas.

tro de uma condição única de execução, flexibilizar as regras até onde o bom-senso indique que não há prejuízo para o objetivo. Exemplo: costumo levar um exemplo já pronto de exercício feito anteriormente e o deixo à dis­ posição para os que quiserem ver. Isso porque, se eu for­ necesse o exemplo a todos, alguns se sentiriam direcionados e condicionados. Entretanto, outros sen­ tem-se tão desorientados para começar a execução que adoram ver um exemplo já pronto e não se sentem com isso frustrados para procurar seu próprio caminho. _

4. Procurar situações com carências ou conflitos, a serem supridos e resolvidos com criatividade. Exemplo de ca­ rência nessa coleção: Nadanês e Receitas. Exemplo de conflito: Ataque/ Defesa e Noticias Populares . 5. Encontrada a idéia, redigir um enunciado. Testar sua boa compreensão com quem esteja fora do assunto. Muitas vezes, um enunciado imperfeito não impede, mas dificul­ ta a execução e prejudica o rendimento. Durante minha experiêncía na aplicação de exercícios, tive casos de enunciados que, após anos de uso, foram aperfeiçoados e demonstraram que em sua nova forma rendiam muito mais. Não estavam errados, mas, por não serem absolu­ tamente claros, levavam as pessoas a muitas tentativas malsucedidas, antes de encontrarem o caminho melhor para a execução da tarefa. 6. Prever algum tipo de encerramento formal do exercício. É fato que ele vale por si, mas, se não houver um final bem organizado, alguma coisa fica faltando no ar. Costu­ mo fazer um processamento para escolher os mais feli­ zes, mas esse é um recurso para ser manipulado com muita habilidade pelo professor, pois há sempre aspectos negativos na disputa. 7. O comentário de um exercício é extremamente valioso para quem o fez. Com o tempo, convenci-me de que os comentários são uma ótima ferramenta didática para meu relacionamento com os alunos. Esse comentário às vezes toma a forma de uma apreciação geral em classe, na qual se fala do que se conseguiu na média. S. Respeitar a individualidade e os condicionamentos pes­ soais. Ao estabelecer os necessários parâmetros e forne­ cer um enunciado, em vez de nivelar a classe inteira den­ 188

CRlATJVlDADE

EXERCÍCIOS DE CRlATIVlDADE

189

COMENTÁRIOS

COMENTÁRIOS

)))))))) Ecos do Capítulo 17 '.

(Especulando e comentando)

Exercitar-se? Ou viver criativamente? Para estimular alunos a enfrentarem mais criativamente o dia-a-dia, parto de um exemplo simples: ao viajar em um eleva­ dor cheio, em lugar de ficar, como a maioria, olhando os núme­ ros iluminados que indicam os andares, escolher uma das des­ conhecidas pessoas presentes e usar a imaginação para fazer um pequeno enredo com ela no papel principal. Quem é, do que gosta, o que pensa, aonde vai etc.

Por que não ativar nossa capacidade criativa em todas as situações possíveis? Em primeiro lugar, é divertido.

Está aí o caminho para colorir a vida, em todas as suas situações. Rilke, como já citado anteriormente, fala do poder da imaginação usada até em adversas condições de isola­ mento. Por que não ativar nossa capacidade criativa em todas as situações possíveis? Em primeiro lugar, é divertido. Sem esquecer que dentro de nosso cérebro, as sinapses estarão desenvolvendo-se, em vez de se atrofiarem com o desuso .

Os exerclClOS específicos para ativar a criatividade, descritos aqui, obviamente são úteis, Mas nunca poderão substituir a riqueza de uma atitude criativa permanente, que se constitui em uma maneira de colocar-se na vida, extraindo dela todas as oportu­ nidades dadas ao animal não lógico que somos .

exemplo de como exercitar a criatividade e, de quebra, colorir

a vida.

Acrescento outro estímulo, especial para os fãs de Fellini.

Experimentar sair à rua com o espírito observador de quem

procura personagens típicos daquele diretor genial. Veremos

como o mundo está cheio de tipos inusitados e divertidos, que

deixamos de perceber porque nossOS olhos estão embaçados

pela rotina .

Durante uma palestra que proferi na PUC de Curitiba, um

assistente questionou esse tipo de postura no cotidiano, para

ele "leve demais, quase irresponsável". Não lembro exatamente

o que respondi, mas deve ter sido algo em tOmo de que o hu­

mor sisudo está mais perto do pessimismo e da infelicidade do

que do sucesso e da saúde, física e mental.

Acho que quase todas as pessoas realmente grandes e im­

portantes que conheci revelaram sensível leveza de atitude e

comportamento, às vezes traduzida até por não se levar muito

a sério. Falo de pessoas verdadeiramente importantes, não as

que apenas ocupam posições importantes. Estas geralmente

são muito compenerradas de sua posição, não se permitindo

nada menos do que uma extrema "gravidade" ao se apresenta­

rem.

Olhar a vida com óculos criativos não significa, sequer,

que eles sejam cor-de-rosa. Podemos ter uma abordagem "para

cima" praticamente em todas as circunstâncias. E necessitamos

expressamente dessa postura otimista para exercermos nossa

potencialidade criativa. Ela está ligada à esperança e à motiva­

ção, elementos indispensáveis para a mobilização de compe­

tências.

Concluindo, os exercicios são úteis e, academicamente fa­

lando, necessários. Eles, porém, representam um simples en­

saio para a grande realidade que o mundo nos oferece. _

Jorge Amado, em uma entrevista, respondendo como con­ seguia arquitetar tantos enredos, respondeu contando um caso, para exemplificar como o seu dia-a-dia era um constante exer­ cicio de criação. Sua esposa Zélia estava dando mingau a uma criança, que o recusava, dizendo que estava ruim . Em um mo­ mento de distração da esposa, Jorge colocou sal no mingau, para depois dizer à esposa: "Zélia, você provou esse mingau? Por que não prova? Talvez esteja mesmo ruim..." Ai está o 190

CR.LAJ'!VlDADE

EXERCÍCIOS

DE CRIATIVIDADE

191

18 Difusão de Criatividade na Empresa

, executando seus trabalhos dentro das organizações que as pessoas encontram wna boa oportunidade de aplicar o comportamento criativo, desenvolvido pelo engajamento na tese das Aberturas ou por qualquer outra abordagem. Dessa forma, o tema deste capítulo se acopla às informações do livro, apesar de re­ presentar uma incursão breve em um território enorme. Nas indica­ ções bibliográficas está incluída a boa literatura que conheço e que focaliza ou tangencia o assunto criatividade na empresa. John Kao, a equipe da Price Waterhouse e Eunice de Alencar são meus autores preferidos nesse campo. Vou, assim, focalizar algumas maneiras práticas de ligar o desempenho pessoal nas es­ truturas organizacionais, e também alguns re­ A empresa é um cursos para tomar as empresas mais porosas à sistema e por isso criatividade, já que, salvo exceções, a recep­

naturalmente prote­ tividade nunca é boa. A empresa é um sistema

e por isso, naturalmente, protege seu equilí­

ge seu equilíbrio brio contra toda e qualquer anomalia, incluin­

do-se as inovações não previstas em sua dinâ­

contra toda e qual­ mica. Isso acontece simplesmente porque tudo

quer anomalia, in­ o que é novo não tem o aval da experiência, tomando-se, portanto, incerto e potencialmen­ cluindo inovações te ameaçador para um conjunto em fun­ não previstas em cionamento, que é o sistema. Registre-se que quanto maior a empresa, enquanto sistema, sua dinâmica. maior sua defesa contra anomalias.

E

192

CRIATIVIDADE

Vale lembrar, contudo, que este fim de século está criando fato res que contrabalançam aquela aversão ao novo, inata aos sis­ temas. São frutos de circunstâncias principalmente advindas da competitividade empresarial, alimentada pela globalização. Hoje a inovação em si chega a ser um diferencial competitivo e a criati­ vidade está em alta. De qualquer forma, em seqüência, explorando as naturais dificuldades da difusão da criatividade nas organizações, acabarei chegando as minhas receitas facilitadoras de mudanças no con­ texto atual de nosso ambiente.

Por que a criatividade está em alta nas empresas John Kao, professor de criatividade na Universidade de Harvard, em seu inspirado livro Jamming, publicado em 1996, portanto, bem atual, faz uma profunda e abrangente análise dos fatores que estão tomando a criatividade empresarial cada vez mais necessária. Ele sintetiza dizendo que esta é a era da criatividade e aponta oito fatores determinantes disso, a saber: l. a atual tecnologia de informação, indu tora de inovação; 2. o fato de estarmos no que ele chama de era do conhecimento, que é naturalmente valorizada pela criatividade; 3. as empresas estão sendo obrigadas a se reinventar; 4. o fato de existir hoje muito talento alocado em trabalhos criativos; 5. a valorização do design; 6. as exigências do consumidor estão sendo privilegiadas; 7. o subtexto da globalização é o da concorrência sendo enfrentada com idéias; 8. a função de gerenciamento está-se transformando de controladora em facilitadora, inclusive de criatividade. Sem discutir essa visão sobre a oportunidade e a importância atual da criatividade, vejo-a na empresa como ferramenta de ino­ vação, tanto na solução de problemas como na descoberta de oportunidades. E aí me parece que ainda temos muito a fazer para aproveitar a criatividade de que dispomos. Tendo a concor­ dar mais com a visão do livro Mudando para melhor, escrito pela equipe da Price Waterhouse, quando aponta um grande hiato en­ tre a mudança potencialmente recomendável e aquela que em ge­ ral acaba acontecendo, mesmo em processos com objetivos espe­ cificamente renovadores. Nesse ponto, o livro da Price cita quatro fato res restritivos : práticas e tecnologias obsoletas, organização DIFUSÃO DE CRlATMDADE NA EMPRESA

193

foco na e não no consumidor e, te, a cultura da empresa. de o assunto discutido ser , reparem corno tudo o que levanta aí representa baseada também morte para a criatividade. Já Eunice de feitas em estatais, em toda a sua obra e em seu livro da reporta-se a barreíras cri­ A advindas do cruzamento entre as características humanas e as necessidades e rotinas das

......................... &.........11..............

a

tudo está mudando no campo da criatividade empresa­ dois fatores bási­ rial. Ao lado do atual estímulo da cos tornar mais viável a difusão da criatividade na empre­ sa, a saber: Contar com urna bem competen­ em lugar de funcionários apenas aptos e com a excelência do trabalho. 2. Fator estrutura. Manter urna estrutura facilitadora e não repressora, que sempre foi a mais comum.

1.

fator, No focalizei para o indivíduo mobilizar e usar seu )!Ul<::lILlU! criativo. Reiterando aquela cabe ar o foco para a das que modernamente estão a se tornando as células do trabalho na empresa. notória eficiência das que tendem a substituir os tradicionais esquemas baseados em organogramas. A força-tarefa, ou, mais exatamente, o trabalho em multidisciplinares, mostra-se mais eficiente que os sistemas hie­ porque representa a fonua mais sím­ de combater a rotina e sua muito selm1entac!os dinamiza e o que já é um passo em à Também estimula e desafia mais que os trabalhos regu­ o que acorda a criatividade de cada um dos componentes do grupo. 194

CRlATIVIDADE

do criativa.

o

mágico da

criativa

multiplica seu valor. A pessoa criativa que con­

segue abrir espaço para seus liderados exercerem suas

cias terá uma realizadora e feliz. Os

tes do grupo

tuo, denominador comum será o entusiasmo e o prodUlv

nal uma caoacidade incrível de o que

do curso de quase todos no ní­ falam muito das ocasiões em que

param de uma motivada, e os testemunhos sobre o que

em torno da satisfação, da e de uma

que otimiza a tarefa. Há em todos os relatos

uma invariável: a ação de uma lide­ rança construtiva e

mais castradora.

Estou convicto de que a cnativa nasce do exercício de duas características bási­ VUdl1lU à plUUClla) nasce do .oV".<:' ........

seu não teme o sucesso do seguro de ele abre todo o espaço cas pe, sabendo que é sócio e desapego. as vitórias do grupo, Por outro o UÇ.:>UI"'<::' go é uma mais rara, za de caráter, mas se traduz no do crescer graças a sua nnpnr",."n É óbvio dizer que essas são qualidades que a pessoa criativa deve cultivar em si para se tornar realmente um líder e agente lW..UCJLf.'A''''''UVJ de criatividade na

DIFUSÃO DE CRIATIVIDADE

EMPRESA

195

Brasil, criatividade e empresas Nosso ambiente só difere um pouco do que se vê no primeiro mundo porque somos "recém-chegados" ao mercado aberto e à concorrência feroz que ele gera. Antes dos anos noventa, a maio­ ria dos setores da economia não estava em ebulição, como hoje. Assim, a criatividade não era tão estimulada pela necessidade, e as empresas podiam acomodar-se dentro do princípio de que em time vencedor não se mexe.

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Hoje, temos também em nosso pais uma situação extrema­ mente mutante e uma realidade camaleônica levanta especifica­ mente duas questões básicas para o campo dos negócios. Como se adaptar? E como fazer acontecer as mudanças necessárias, em sis­ temas já estabelecidos?

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Das reflexões sobre a primeira pergunta nasceu há algum tempo o consenso de que se abrir para mudanças é função obriga­ tória dos dirigentes e líderes de hoje. Sempre o foi, mas nunca no atual nível de necessidade. O princípio de sintonia com o mercado tornou-se vital, o que explica por que aparecem tantos gurus nes­ se campo. Já a segunda questão, como promover mudanças, traz ou­ tras implicações, fazendo emergir este raciocínio: a condição de líder, por si própria, recomenda que ele se torne também um "agente de mudança". Caso contrário, mesmo permitida, essa mudança dificilmente acontece. A natureza humana tem uma ten­ dência de acomodação às rotinas confortáveis, que sabotam os projetos não incluídos no dia-a-dia conhecido. Essa tendência, que tem a constante de explorar a lei da inércia e assim repelir qualquer mudança, está sendo hoje combatida pelos empresários e líderes de sucesso que conseguem promover a inovação e reno­ var sistemas em funcionamento. A propósito, vale registrar que os sistemas nunca foram estaticamente eternos, mas também nunca foram como hoje, tão mutantes pela sua dinâmica intensa. Isso é o que acontece em todo o mundo, e agora também aqui, porque existe outro aspecto notório na mudança: a explosão da tecnologia faz existir cada vez menos setores-exceção, nos quais a atualização de produtos e processos não é requisito urgen­ te para a sobrevivência. Segmentos tradicionalmente estáveis apenas têm um pouco mais de tempo para permanecer viáveis sem mudar. Sabe-se que daqui para a frente não haverá como fu­ gir do contexto que corta custos e empregos de um lado e cria

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196

J

CRlATMDADE

novos ambientes de outro. Uma novidade, parece, é que a expan­ são do conhecimento aplicado acaba armando sistemas auto­ organizadores, alimentadores de um empuxo misterioso que até faz os vagões empurrarem a locomotiva. Ou promovemos a trans­ formação que o contexto armou, ou acabamos sendo atropelados por ela. E as tão faladas mudanças são causa e conseqüência da criatividade.

Mudança também para quem não quer A força autônoma dos processos de inovação, além de nos empurrar, provocando reações individuais que podem chegar a verdadeiras neuroses, também acorda em muitos de nós o senti­ mento nostálgico da perda do contexto mais tranqüilo. É a velha e conhecida saudade, manifestando-se como rejeição emocional de uma realidade diferente. Há algum tempo atrás, quando as mudanças eram mais len­ tas, esse problema não existia, pois as transformações eram absor­ vidas pela passagem do bastão às gerações seguintes. Hoje, todos vêem as coisas acontecerem rapidamente e, assim como as em­ presas têm necessidade de se articular pragmaticamente com as alterações rápidas do mercado, dirigentes e líderes que se mante­ rão no cenário de mudanças são os que as aceitam, as vivenciam sem revolta e, por fim, as promovem. Essa também é a conclusão da análise de dois trabalhos recentes sobre o futuro da empresas: de SENGE, Peter. The fifth discipline. New York : Doubleday (há uma tradução infiel para o português), e de HAMEL e PRAHAIAD. Competindo pelo futuro. Rio de Janeiro: Campus. Os que estão perto do centro dessas questões lucram ao ler os dois, assim como tudo o mais que ajude a ter uma visão sistêmica das variáveis do mundo atual_ Os problemas e desafios da mudança variam de caso para caso, mas acredito que existem denominadores comuns. Anali­ sando-os, chego a um tipo de roteiro, sem esgotar o assunto nem pretender milagres, para quem quer (porque precisa ou porque gosta) navegar pela inovação, exercendo sua criatividade, na di­ reção de objetivos comprometidos com o futuro.

DIFUSÃO DE CRlATMDADE NA EMPRESA

197

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o

Comprar

Para embarcar nos processos de ou melhor a é se deter sobre o fator

mudanças e

e acontecer num sistema UL,lUa .r""1'T1·~N"'C das pessoas que o ~~~~ do-nos sobre o binômio demos analisar o campo da num dos modelos mentais correntes, tema difícil de anteriormente esinicialmente que, em ou.,,".......'v das Dadrões de atitudes e que o compõem infiltrada nos uma consplraçao para que nada aconteça de novo, como se sem­ pre, no coraçao das a tácita obediência a orincÍoios con­ servadores. de Para começar o Devemos raciocinar semfazer mais do que apenas

devemos a pre dentro do cenário das das definitivas. devemos as aceitá-las do fundo do e, por devemos nos D051C10n ativamente em seus processos. Detalhando: uuau<.ao

1. Devemos pensar O início de tudo é a pro­ cura de hannonia entre nosso nosicionamento frente à HH1U
Nossa deve parte inovadora que possa anresentar. As·

desenvolve-se com o tempo um sexto sentido não só para fatos emergentes, como para de ne' les acrescentar novos diferenciais a nosso favor. É uma da Abertura dos Sentidos e que objetivo da lHlIUcl.HI_,d. , o que :>l;:;lUU<'''' como modelo para do presente. Descondicionamento e do novo. vras-síntese para a

3. Devemos aceitar

Esse talvez seja o mais difícil do processo, porque quase nunca a razão A que consegue mudar a idealmente deve tomar-se de ga­ nhar nova o que não é só um ato da vontade. autoconhecimento e a de­ lV-''''''.'''''''. sem a enfrenta com os desafios do novo. É uma autêntica da Abertura da J.iUIV".a.V, é

citar a mestre Zen budista.

4. Devemos propor

Nessa rase, o processo de de atitude e comportamento se com um maior exercício do de criativi­ dade. Entra-se na da Abertura da Mente. de ge­ rar idéias novas requer do que de bém de pensamento positivo. Não há artistas e empreen­ do dedores bem-sucedidos sem as que enfrenta obstáculos. Em termos de lideranca de é

de

os

O líder além de estimular sua eqlllpe, dmg1ra me­ lhor os processos de à medida que conhecer e enfrentar da criatividade da mudança", irmãos dos 12. São muitos. desde os nasciDIFUSÃO DE CRlATIV1DADE NA EMPRESA

CRLUlVlDADE

199

r

dos do tradicional medo do desconhecido, até outrOS modernos e mais sutis, criados à sombra das estruturas organizacionais. São inimigos presentes em algum nível em todo o tipo de organização. Aqui estão eles, também em uma lista, provisória e sempre incom­ pleta, que representa um estímulo à reflexão para os leitores que conhecem o meio e os meandros das empresas. Nesse ponto, o "fator equipe" sobrepõe-se muito ao campo do "fator estrutura".

I

Inimigos da inovação na empresa 1. Excesso de normas. Tendo por princípio a idéia de que todos os problemas podem ser previstos e/ou resol­ vidos pela normatização, a empresa acaba não deixando espaço algum para a iniciativa pessoal. norma também cria áreas Muita "imexíveis", geradoras de feudos, resisten­ tes a qualquer mudança.

il

Estruturas que blo­ queiam criatividade: as excessivamente normatizadas, rígi­ das, sisudas, presas a números segmen­ tados, consensuais e precavidas demais.

2.

Estratégias rigidamente frontais. A cultura da empresa que despreza os "ata­ lhos" desperdiça possibilidades de usar os flancos para a solução de problemas e nun­ ca localiza "novos lados" das situações para a descoberta de novas oportunidades.

3. Postura séria e contida. Derivada de uma concepção antiga e formal dos negóci­ os, essa cultura policia o funcionário, im­ pedindo-o de vivenciar sua atividade de forma mais agradável e motivadora. Cria um clima pesado que limita as ações indivi­ duais, principalmente as inovadoras.

4. Estrita obediência a números. A permanente co­ brança de "dados fundamentados" e a dependência ex­ cessiva de informações exatas cria, na comunidade de trabalho, a contenção e até a inibição para o uso de esti­ mativas e intuição na tomada de decisões, o que é, em geral, um alicerce da inovação. 5. Segmentação total de processos. Trata-se de uma herança da organização taylorista que, por sua vez, des­

200

CRlATNIDADE

cende dos paradigmas cartesianos. Cria uma cultura de especializações tão radical que departamentaliza toda a empresa, eliminando saudáveis fluxos paralelos de infor­ mação e impedindo a prática interna da interdisci­ plinaridade, agente da inovação.

6. Obediência cega ao consenso. Princípio que cria a

necessidade de manter todos os procedimentos dentro

de parâmetros já estabelecidos e tranqüilamente aceitos.

Isso, obviamente, dificulta qualquer tentativa de inova­

ção, que sempre exige alguma ruptura dos sistemas tra­

dicionais.

7. Cultura da segurança total. Caracterizada por ambi­

entes em que prevalecem atitudes excessivamente caute­

losas ou normalmente negativas. Ali não se abrem espa­

ços para inovações ou mesmo avanços de qualquer tipo,

dos quais sempre decorre algum risco.

Como adverti antes, uma lista como essa é no mínimo in­ completa, mas revela um campo de conhecimento imprescindível para os líderes de equipes, na atual conjuntura empresarial. E aqui, então, passemos a explorar a conformação desse contexto que, como foi dito, é o segundo fator básico para a difusão da criatividade em organizações.

A origem histórica da empresa criativa Para começar a focalizar aquele segundo fator, a estrutura facilitadora, vou recuar no tempo e lembrar fatos que se situam no início do processo social que desembocou no que chamamos de modernidade. Faço isso para podermos analisar a atualidade nas empresas, entendendo-as melhor à luz dos antecedentes. A criatividade na empresa pode ser vista como uma das faces da capacidade empreendedora, já que esta também se baseia em iniciativas de conquista de espaços novos. O que se dá pelo desen­ volvimento de uma atividade que não existia ou então pela con­ quista de terrenos de outros empreendedores, os concorrentes. Vista dessa forma, a criatividade se tomou realmente importante quando surgiu o mercado, em sua acepção atual, nesta era pós­ revolução industrial. DIFUSÃO DE CRlATNIDADE NA EMPRESA

201

!'

revoluções

UIUCUt:;S acaba­ a duas outras a revo­ ram de formatar o sistema econômico como o vemos da informacão. que vai de ao rádio e à que está dando novos ao con­ ea . ceito de mercado de massa. A da que continua em curso e se arti­ do foi uma se­ cula com todos os fenômenos de mente da lrlobalizacão, por Marshall McLuhan quan­

mauzaçao do mundo provocou, entre muitas outras do mercado que, como causa e na minha fez eclodir um novíssimo fenôme­ no social: o ideal de Sobre isso vemos que, de um ponto de vista dos bom mesmo é exercer a individualidade em tribos cada vez mais da da surgem e para satisfazer como o emer­ mana de identidade e reconhecimento. É o que gente "ideal de , que uma das bases da da criatividade no mundo das empresas. elemento. para mais adiante a outros nesse raciocínio. O universo de conhecimento do homem é o acelerada to. Pela via da para uma pessoa, por Nunca mais existirão sá­ os que domi­ com o slgnmcauo uamclU navam todo ou como menta também começa a ser

já que o único

mem.

Parêntese: engrossa a corrente científica que demonstra como é absurda a crença (ou o de que o aca­ bará como o homem. O matemático Penrose e o neurc)!O);;isl:a Antônio por têm trabalhos. cita­ dos na biblio~rafia deste livro, que Dulveriza Com o incrível universo de conhecimento sendo nos modernos bancos de dados e ali passa natural­ urna

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202

CRlATfVWADE

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mente o homem a se ocupar cada vez mais com o que não ser colocado na porque é não t;;'jJt:CUldt,.dU e a t:lllUt,.dU. que existem vários fatores que estão constru­ o atual sistema econômico e que a constante de novos e não mais massificados, E isso acontece, com o enga­ das empresas, exercendo um novo de agentes da portanto, passa a ser um diferencial que a já que não empresa precisa procurar no seu vir do que vocês concordem todos esses argumentos a razão da tividade

que está na soma de crescente da cria­

criatividade com E como fazer? Como otimizar o que eu chamei de "fator es­ trutura"?

Mais uma vez divido com vocês a de que este li­ vro só pode fazer urna breve incursão nesse terreno imenso da criatividade empresarial. Ainda assim. penso ser útil estabelecer e deles extrair recomenApós termos analisado o processo estu­ do presente, quanto à criatividade na empre­ dar uma sa. Para começar, dizer que aí a criatividade faz três coi­ sas, a saber: 1. substitui recursos e 2. contribui para a cOlnpeti1ti

etapas nos processos de e

3, sintoniza a empresa com a ~"U"UÇHlC; à em si urna técnica utilizada principalmente auando inexistam ou

de

DiFUSÃO DE CRLATfVlDADE NA EMPRESA

203

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ficientes os recursos, pois resolve-se com dinheiro a maioria dos problemas. A criatividade acha soluções com menos ou com ne­ nhum recurso material. Em vez da dinamite da solução cara, usa­ se a alavanca da idéia transformadora. Outro solucionador de problemas que pode ser substituído pela criatividade é o tempo. Em vez de esperar o desenvolvimento demorado de um novo remédio, uma idéia nova pode ser a cura rápida .

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Criatividade substi­ tui recursos: em vez da dinamite da solu­ ção cara, ela usa a alavanca da idéia nova.

Quanto ao ponto dois, falo basicamente das técnicas da descoberta de oportunidades, que foram exploradas no Capítulo 15 sob o prisma da ação criativa pessoal. As técnicas in­ dividuais projetam-se nas estruturas pelos es­ quemas que as possam acolher e incentivar e pelo trabalho do líder criativo.

Quanto ao pOntO três, começo observan­ do que a vanguarda de hoje é a realidade de amanhã. Se metaforizarmos o contexto social como um trem, imagem que uso bastante em aulas, a vanguarda é o vagão da frente . Esse trem, em cada etapa de seu trajeto, desengata o último vagão, que seria o das empresas desatualizadas, e acres­ centa um novo primeiro vagão, que seria o das empresas de van­ guarda. A permanência no vagão da frente é um seguro para o futuro .

1i

Fazendo um pequeno parêntese, os livros Competindo pelo futuro, de Hamel e Prahalad, e Feita.s para durar, de Collins e Por­ ras, que estão na bibliografia, focalizam especificamente essa ca­ pacidade de se manter não só no vagão da frente, mas, às vezes, na posição de locomotiva, reservada para os que hoje estão formatando o futuro. Ah, sim, falamos aí das grandes corpora­ ções, claro.

A estrutura criadora de criatividade Estrutura criativa é quase um contra-senso, o que já foi dito antes. Contudo pode-se minimizar a característica naturalmente conservadora de uma organização, assim, pelo menos, facilitando sua dinâmica inovadora. Para isso, arrisco aqui uma pequena re­ ceita com quatro ingredientes que, se não cobrem todos os pontos 204

J

CRIATlVlDADE

importantes, abrangem-nos direta e indiretamente. Eis aqui os quatro elementos a acrescentar na organização : 1. diminuição e flexibilização das normas;

2. sistemas permanentemente auto-reavaliadores; 3. clima de participação e diálogo; e 4. estimulo às iniciativas. Sobre o ponto um: ele inclui o combate àquele inimigo da inovação chamado excesso de normas, o que se faz primeiramen­ te pela sua síntese, sem renunciar ao seu conteúdo. Quando as normas tentam prever tudo, acabam cerceando qualquer tentati­ va de interpretação, mesmo as construtivas. A síntese das normas, reaguardando seu espírito e objetivos, abre um espaço maior para a iniciativa inovadora. A flexibilização, já provocada pela síntese, pode ainda ser mais explícita, mas aí com um trabalho na cultura da organização. Nada substitui o bom-senso, e este deve ser o grande juiz de qualquer decisão, não somente nos escalões supe­ riores. Se há pessoas certas nos lugares certos e estão todas mobi­ lizadas, motivadas e engajadas nos objetivos da empresa, cada qual precisa sentir-se à vontade para trabalhar melhor, indepen­ dente de procedimentos normatizados. Isso é o que a cultura bem trabalhada deve adotar. Acontecerão erros? Claro, mas eles, nas condições acima descritas, serão largamente compensados pela flexibilidade conseguida com um conjunto dinâmico, voltado para as melhores soluções de problemas e para uma constante procura de oportunidades de melhoria. Normas costumam trans­ formar-se em camisas de força para a inovação e a criatividade. Sobre o ponto dois: já abordei anteriormente o conceito de leaming organization, que inclui uma sistemática permanente de aperfeiçoamento, indispensável para uma estrutura favorecedora da criatividade. Essa sistemática obrigatoriamente passa pela re­ visão constante de tudo na empresa. Mesmo o que está aparente­ mente perfeito, porque está dando certo. O sistema, para receber melhor a inovação, precisa perder sua condição pragmática de "funciona, portanto está certo". Funciona, mas poderia funcionar melhor? Funcionará amanhã? Questionamento, a palavra-chave, base de uma cultura de aperfeiçoamento. Falei aperfeiçoamento, não perfeccionismo. Este vem de uma insatisfação doentia, filha da insegurança. A cultura da prospecção é sadia e enriquecedora e encaminha a empresa para o ideal de se tornar uma leaming organization projetada no futuro. DIFUSÃO DE CRlATMDADE NA EMPRESA

205

Sobre o ponto três: no 14 focalizei a motivação sob o e tudo o que foi dito lá deve ser transposto para o campo da estrutura, da forma: criar na organiza­ uma dinâmica que leve em conta a importância da motivação e a incentive ao máximo. Esse será o grande e sólido ali­ e imprescindível para cerce de um clima de inserir e criatividade num conjunto. Como fazê-lo? So­ bre todas as receitas e deve colocar-se o do comoartilhamento. a chave-mestra do processo de problemas e UllaUV:', as receitas serão eficazes. Aqui, lembremos que ,-,.,u,-.uv e colidem de frente com os famosos tam­ bém já focalizados anteriormente. Há de se eliminar áreas "intocáveis" para se confiança, promotora do In­ a transoarência. uma meta da organização que Sobre o ponto quatro: qualquer reflexão lúcida sobre estímu­ los às iniciativas para a óbvia de um sistema não repressor, não baseado na cobrança de e acertos e na dos erros. Mais será institucionalízar a filosofia aos acertos e do líder que a lnlC1atlva dos erros. O que nos remete ao combate de dois inimi­ gos da e da criatividade: a "estrita obediência aos núme­ ros" e a "obediência cega ao consenso". Em resumo, a soma dos pontos um, dois e três acabará criando as ~~'''~' . . ~,-" pelo ponto quatro. Uma estrutura flexível (ponto dois) e com clima de n."r-rir.,.,,-, mente criará estímulos às Como se percebe, não está aí uma receita para bene­ mas sim algo como uma "cana de ficiar a e a criatividade. Acredito que, se houver estas deverão ser tão presas às variáveis de cada caso que só po­ os são dem ser criadas sob medida. Para aí Em

americanas: a me na 206

CR:ATMOADE

fazer uma advertência às pessoas en­ e difusão de criatividade em que minha ser idêntico ao que conheci que ser lido na literatura 0U1VVl. laUlUem está presente nas empresas há uma vontade fir­
to­

tal no escalão e, Importante, presente também no último conhecido como chão de fábrica. Só aí são neutralizadas as re­ sistências dos escalões do que invaria­ velmente detêm o de não que as coisas aconteçam. Nada adianta no topo da de se não houver subindo das bases para cima. Os escalões intermediári­ os estar aparentemente mas na só realmente acederão às mudanças C;~'''Vlla,!v;) por cima e por baixo. Os escalões inferiores encaram positivamente as talvez porque têm pouco ou nada a Os gerentes e encarregados temem suas e até inconscientemente reagem mal aos estímulos para as mudanças.

vem escalão e é cooptada lão sim é

esca­ : asa re­

escalões

Esse parece ser um fenômeno mundial porque natureza humana. É estar consciente de sua brar o processo sempre levando-o em conta. Não é

da

ideal e seus Como podemos Imagmar a galllZa(,;aU eficiente do futuro? as atuais tendências no terreno cada vez mais xo e sutil das eu fico até com pessoas que poderão realizar seus numa do ano 2010, para não pensar muito e entrar no campo da ficção cientifica. Inveja porque deverá ser muito mais e menos estressante estar numa estrutura que mamente aperfeiçoada para ser viável. Empresas e com ou sem fins deve­ rão funcionar mais virtualmente do que com estruturas fixas e do que como permanentes e hie­ mais como rárquicas. A virtualidade da estrutura e sua necessidade absoluta de eficiência deverá modificar totalmente as . O sistema de e o novo de neswciacões , incluído no fluxo interno das esDIFUSÃO ElE CRlATíVlOADE NA EMPRESA

207

III truturas, por um lado trará mais instabilidade ao fator humano, e por outro o libertará de compromissos com uma aparente segu­ rança, tornando-o dono e gerente de sua carreira. Assim modeITÚzada, as organizações se integrarão ao siste­ ma de forma mais dinâmica, ainda que mais instável. Inovação será seu oxigênio e criatividade seu pulmão. Entretanto, as novas estruturas, graças à disponibilidade de sofisticados recursos tecnológicos , ganharão tão grande poder de influência no sistema que sua interação no todo sofrerá profundas modificações em re­ lação aos papéis que hoje lhes são atribuídos. Será inevitável uma maior responsabilidade, com todas as suas decorrências no cam­ po da função social. A organização deverá agir como parte de um todo mais harmônico, pois somente uma cultura bastante ética manterá o sistema inteiro em equilíbrio. Essa ética não será fruto do bom coração de dirigentes idealistas, mas de uma necessidade vital do sistema, que assim a imporá aos integrantes.

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As grandes corporações já tendem a conter um pragmatismo agressivo (guerra é guerra), intuindo os problemas que a socieda­ de daqui para frente lhes criará, se a ganância irracional prevale­ cer sobre o inteligente cultivo de suas competências. A dinâmica social, mais que nunca, estará se tomando depurativa. Os preda­ dores, os exageradamente egoístas e os inconscientes ameaçariam o sistema e até se destruiriam, se assim não estivessem contidos. A mesma tecnologia que cria poder, criará controles. A mesma cri­ atividade que dá melhores condições de competitividade, será uti­ lizada para o que já hoje está definido dentro do conceito de "de­ senvolvimento sustentado". E as pessoas? Penso que elas também serão favorecidas pelo contexto: poderão exercer melhor não só sua criatividade, mas todos os seus potenciais. Serão estimuladas por um ambiente mais liberal e dinâmico e, na minha visão, mais facilmente pode­ rão realizar-se. Fico feliz ao terminar este capítulo dessa forma entusiastica­ mente positiva. Como vocês vêem, minha bola de cristal é bem otimista. Tomara que ela esteja certa.•

))))))) Ecos do Capítulo 18 (Especulando e comentando)

Futuro e trabalho em equipe O novo contexto da empresa ideal, transformada em um conjunto de forças-tarefa, será baseado no trabalho em equi­ pes. Isso não significa perda alguma de individualidade, mas um avanço na interdisciplinaridade e na complementaridade das especializações. As oportunidades de realização pessoal continuarão as mesmas, só que com novas regras. Discutindo bastante essa visão de futuro, desenvolvi com meus alunos uma base de como as pessoas devem colocar-se nas equipes. Aqui está um resumo do tema. Cinco dicas para trabalho em grupos criativos: 1. Os componentes devem considerar o grupo como uma equipe, onde ganham todos ou perdem todos juntos. 2. Respeito mútuo, o grande princípio. Encorajamento recíproco, a grande chave. Motivação, a grande porta. Inovação, a grande meta. 3. Todos são diferentes, e assim podem completar.se: cultivar a harmonia na diversidade. 4. Da quantidade vem a qualidade: abrir um leque de al­ ternativas e explorar. Por que ficar Com uma só idéia? Por que não admitir outra nova? Por que não tentar melhorá-la?

Patologias e tratamentos do imobilismo Forças-tarefa, liderança cnanva e inovação empresarial são temas do presente, projetados no futuro. Ligados a tudo isso, os inimigos da criatividade e da inovação precisavam ficar bem presentes nas cabeças dos meus alunos. Suas carreiras de

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208

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COMENTÁRIOS

CRlATIVlDADE

DIFUSÃO DE CRlATlVIDADE NA EMPRESA

209

ou de t:)1''TH.... rQ~-:l,..i

também dessa Foi o que me levou a caricaturar o tema, crian­ uvem';d::> e os tratamentos a cada um dos uwmgos focalizados anteriormente. Obviamente essas são bem semelhantes às relativas ao comportamento pes­ descritas no comentário do Caoítulo 12. 1. Excesso de normas. Essa cultura é caricaturada

5.

~~'~",.u

chamada "Normolite", crô­ mas com acessos que trazem como maque conseguem ser maiores e mais detalhados LHCU...."'V brasileira de 1988. Essa doenca se ~.LlJL"'.,<,c'"a,v de todos os

os maior crédito para as pessoas, mais nascido da 2.

frontais. Esse modelo pouco que acaba pro­ caricatura-se como "Retite vi­ sual", nome diz tudo. Os doentes parecem usar antolhos. O mal se combate com um tratamento lon­ go, nas veias da cultura da Usam-se basicamente as análises em grupos não totalmente homo­ dos. o fomento e a táticos e a irradiacão de um clima de flexibilidade.

3.

a mais porosos. cega ao consenso. Um estudo

cariC;J!llr;Qn;Q como

ldlJlellCO$

6.

e

7. Cultura da acham vítimas da "Lei de de dar

o que se consegue a e motivadas. total. As empresas que se

caricaturada como que também é cima" e estimular o

<;;'''''',-uv.

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que tem cura a , da informais e da oromocão de uma distensão permanente no ambiente. 4. Estrita obediência a números. Os auditores hos­ o micróbio sem desenvolver mal eles os veículos de UU':::II~.d

210

CRlATMDADE DIFUSÃO DE CRlATMDADE NA EMPRESA

211

vel e movido pelo confessado afeto que as audiências me desper­ tam, como expliquei no primeiro capítulo, vou em frente. Come­ çando por sugerir uma reflexão utilitária sobre a leitura feita .

19

IlIiI

A Porta da Prática Criativa

li

s que abriram este livro ao acaso e iniciaram a leitura nes­ te ponto, cabe uma explicação sobre o objetivo dos próxi­ os parágrafos. Eles foram pensados para compor uma amarração final do conjunto de informações de todos os capítu­ los, com a meta ambiciosa de lhes acrescentar um valor comple· mentar. Isso deverá premiar os que leram o livro inteirinho, sem contudo se mostrar incompreensível e inútil aos demais. Este derradeiro capítulo corresponde ao último tema da aula de encerramento de meus cursos de criatividade pessoal. Com 15 a 30 horas de aulas, esses cursos têm estabelecido uma ponte de comunicação tão empática e afável entre mim e os participantes, que o assunto final ganha um sentido de nostálgica despedida en­ tre companheiros de viagem. Assim, talvez eu não consiga manter aqui uma posição isenta de emoção, como conviria em um traba­ lho sério, e assim já me escusO antecipadamente. Por outro lado, o tema batizado como "porta da prática" tal­ vez não devesse mesmo ser abordado friamente, já que ele fala de uma mobilização interior da pessoa, para a prática de um potenci­ al que certamente a tomará mais feliz. Isso porque, em última análise, praticar a criatividade inata é tomar-se alguém mais rea­

Ni

..

[

lizado. O que é apresentado neste final só não faz sentido para

quem não tivesse concordado com absolutamente nada do livro. Isso caracterizaria, ao chegar mesmO assim a este ponto da leitu­ ra, um caso de exceção. Assim, usando otimismo como combustí­

Aproveitar o investimento feito, a idéia Seja qual for sua área e nível de concordância com a tese das Aberturas, de 1 a 100%, já que vocês investiram seu tempo no tema, coloco aqui a idéia de que não percam o benefício, seja qual for seu tamanho, que possa advir da leitura feita.

O aproveitamento pessoal de cada leitor se dará a partir dessa proposição mais que ra­ zoável: fazer algo a respeito. Não colocar a in­ formação já adquirida trancada na gaveta dos planos a serem revistos algum dia, mas tentar dar-lhe uma utilidade prática. E aqui chego à primeira chave, com uma sugestão fácil de ser aceita. Que tal engajar-se em uma nova fase de vida, no que toca ao uso do seu potencial criativo? Essa resolução pode ser traduzida em assumir um propósito de crescimento pessoal. Trata-se, portanto, de um começo fácil e natural, porque, podemos con­ vir, é algo positivo e "mobilizador".

Crescimento em criatividade, como em tudo o mais, depende de se usar informações adqui­ ridas, nunca as dei­ xando na gaveta dos planos.

Viagem bem planejada tem ponto de partida claro Conhecendo o ponto em que estamos, começaremos a nova fase de forma mais lúcida. Em termos de criatividade, esse conhe­ cimento nasce de uma avaliação íntima e honesta de como nos vemos hoje. Estamos tendo um comportamento criativo satisfatório? Per­ gunta vaga, que pode ser esclarecida com um balanço pessoal para definir como nos sentimos. Algumas alternativas possíveis de como nos vemos, seriam: A PORTA DA PRÁTICA CRIATIVA

212

CRlATMDADE

213

a. um rorunao fracasso para ter idéias de raros b. rnllir:::l~ (lrClsíões: e c. com sucesso _~~~.4",,1 o",

d. sempre à vontade e

o mais dentro da dassific: b para o c ou d ou do c para o d. é fazer uma entre essa meta de tomar-se uma pessoa mais criativa com seu nlano de vida e de deve ser E

o momento de . . .

OIJA.I. ....;.;; ....

"LI. mas acabamos executan­ e não remoer

sente, único tempo sobre o

No caso de nosso realmente

mos começar a no mesmo instante em que tenninamos de Isso porque é fácil iniciar um por t1f'lITau iremos aIÍluellL<111UV

metas. Por

no campo das mecanismos de de que acabamos de

fazê-lo de um ponto de vista fora de nossa tirada das téc­ procuran­ o que se toma um exercício de Abertura dos Sentidos. E, lctllllt:nte, tentar adi­ de Aber­ vinha r a seqüência do tura da Mente. Colher as do momento presente é uma sábia decisão que transcende o campo da criatividade. Sem os sonhos. essa Drática nos toma pessoas realizadoras.

Cotidiano versus Nosso em maior ou menor acaba obedecen­ do a um de rotina. No essa normalidade não inclui um comportamento menos Por estímulo das circunstâncias ou por casuais momentos de temos os Denodos em que nos sentimos exercendo a criatividade. Para levar adiante o de desenvolver nossa criativida-

Dodemos começar identificando esses momentos casuais de

tentar encontrar suas causas e até onde isso

procurar o que "não havia sido retirado de nós" na­ de acordo com o de Abraham

é o homem comum do tanto meiremos usar a mesmo não verificaremos que, nos nas das es­ ses momentos de criatividade ficam mais fre· A ocupemo-nos em tentar ao

do tempo manter aberta uma porta en­

tre nosso cotidiano e esses momentos de criati­ o que se faz inserir os atos criativos no dia-a-dia normal. Se isso parecer é considerar a de que eSlejamClS

uma

entre o e nossos momentos um nos daremos conta que se

à medida que os momentos de

aconteçam como produto da maior fre-

A PORTA DA PRÁTICA CRIATIVA

214

CRlATMDADE

215

quencia proporcionada pelos recursos das Aberturas, somada à porta aberta que estaremos mantendo, veremos acontecer a gran­ de mudança em nosso cotidiano. Um dia nos daremos conta de que aquela porta sempre aberta já não existe, pois não temos dois ambientes diferentes a serem ligados; os momentos de criativida­ de e nosso dia-a-dia já são uma coisa só . Já não precisamos recor­ rer conscientemente à vontade de produzir atos criativos, pois eles já farão parte de nosso comportamento normal. Nosso cotidi­ ano se terá tornado um "cotidiano criativo".

Interação via comportamento criativo Os ganhos pessoais com o comportamento criativo são quase óbvios, no que toca ao sucesso facilitado em projetos, na carreira e na vida em geral. Entretanto, há um tipo de benefício muito especial que vai além da descoberta de oportunidades e da solu­ ção de problemas. Trata-se de uma deliciosa interação da pessoa com seu mundo. A prática da criatividade traz o exercício natural da inova­ ção. Entenda-se esta como um salto (grande ou pequeno) que se sobrepõe à linha natural da evolução. Esse é o processo de ganhos que podem ser chamados de "lineares", à medida que vêm de uma acumulação de conhecimentos e técnicas. A inovação aparece quando há ruptura não prevista pela dinâmica normal. Pois bem, o comportamento criativo, ao promover a inovação, torna-se um agente interferidor no contexto. Provoca sua fuga da linha evolutiva normal, com alteração imprevista e positiva . E nada é mais importante e realizador para a pessoa do que ver sua ação somando algo ao mundo. Mesmo que dele não venha um reco­ nhecimento justo, a realização pessoal é enorme, só ao saber que sua passagem pela vida tornou diferente e melhor a vida de todos. Essa interação está presente nas palavras de Erik Frohm, quando afirma que o homem, ao criar, encontra-se até com Deus, como foi citado no Capítulo 2.

216

Introspecção, ferramenta da

excelência

Supondo que vocês se disponham a cultivar o comportamen­

to criativo e que para isso incorporem a relativa disciplina contida

no engajamento às Aberturas, este capítulo está delineando for­

mas práticas de como desenvolver seu projeto de crescimento .

Se a viagem já tem ponto de partida, razões de ser e metas,

agora bastará cultivar suas "técnicas de navegação". Para isso,

não há receitas universais e infalíveis, e cada pessoa precisa

pesquisar sua maneira própria de guiar-se. Contudo, dentro da

própria pesquisa individual, existe um recurso infalível quanto

aos bons resultados : o uso da introspecção.

Voltar-se para dentro é um apanágio da espécie humana. Os

outros seres não o conseguem. Vê-se que os animais, ao abando­

nar sua posição de alerta para com o exterior, simplesmente ador­

mecem. Pois bem, essa capacidade de "ensimesmar-se" é um pri­

vilégio que podemos utilizar para nosso aperfeiçoamento em ge­

ral e, em particular, do comportamento criativo.

Para tal será necessária alguma disciplina : alguns minutos diários deverão ser religiosamente reservados à introspecção. Cinco, dez, quinze minutos, cada um encontra sua dose boa. Se­ rão momentos de recolhimento e isolamento do mundo externo. Sem ruídos para distrair, poderemos então meditar sobre como exercemos nosso potencial criativo. Não poderemos fazer isso com o sentido de cobrança e descoberta de falhas, mas com o sen­ tido de analisar o comportamento, verificando onde e como ele poderia ter sido mais proveitoso. Partindo da tranqüila convicção de que não somos perfeitos, e assim normalmente erramos, essa análise gentil permitirá que nossos mecanismos interiores se pre­ parem melhor para circunstâncias futuras. O mote deve ser mais ou menos este: "Sabendo como errei ontem, provavelmente erra­ rei menos amanhã." Ou então: "Verificando como acertei ontem, provavelmente acertarei mais amanhã. " Ao focalizarmos os acertos relativos ao campo da criativida­ de, facilmente poderemos ir incluindo outras áreas, o que aCOnte­ cerá até involuntariamente. Podemos até favorecer essa expan­ são, incluindo em nossa meditação, além do nosso balanço diário de criatividade, uma prospecção em torno de nossos planos, me­ tas e sonhos em geral. Será um momento precioso para redefinir

CRlATMDADE A PORTA DA PRÁTICA CRIATNA

217

.' valores que, se trancados no fundo da mente, acabam a sintonia com nossa tomando-se bandeiras apenas históricas. Já que o muda e nos faz mudar tam­ não de atualizar nossos nrooósitos e caminhos para viver melhor o oresente. nall:lIlt:111 agora como, em seu caso pes­ a0 abrir de

UIJ.lU:S

Ecos e comentando o

... o,"",~.. "',a,

há portas

sempre as circunstâncias para resgatar a criati­

vidade que temos e não estamos usando é a que

acho proveitoso de propor com base no que foi colocado neste

.... O'"'LLUHJ. No caso a circunstância foi a de

estar terminando de ler o livro e o como

a esse disse em resumo, fazer

Felicidade, a meta trClsneC'(:âo para o do coml vou terminar este livro um exem­ não para o uso da de .1.\.1.."'-\.1. .... é que nos serve, em termOS imedia­ um ótimo tos, para solucionar e revelar opor­ Entretanto, a vir-nos para um _~~~Ác; mos uma uma com a vida.

com o não é

um cammno que exclua outros. Na maioria dos casos, ela é realmente um caminho ótimo para a Muito além do a rnanviciaú~ é uma arma de resga­ sucesso na carreira e na te da E essa sim. nunca Poderemos realizar-nos como pessoa sem usar a criativida­ de, o que já foi neste livro. Entretanto, s6 há um desvio e para a não nos levar à lC11U'U
Mas quero ir além e convidar vocês a a lizadi() de colher as

CO:ns(~gllmlOS se deveram por certo ao . . U,""LUl1'... H''', transformadas em um tanto melancoHca­ mente, o que deixamos de motivo ou por simfalta de iniciativa.

Meu testemunho essas lemDranças pOdem ajUdar nosso como isso em Hum! para dar um co, vou novamente citar meu caso arriscando-me a ser acusado de vaidade ao terminar o livro do que falando de mim. porque tenho de que um testemunho sincero tem bastante A circunstância relevante que lembro em teve ocasião em minha e na verdade o seu ~~y~"o; .. ~ menta foi absolutamente fortuito. Filho tomei-me assim uma centro da cidade de São circunstancialmente criada com um nível de isolamento O que me levou para o hábito da

l1li A PORTA DA PRÁTICA CRIATIVA

218

CRIATIVIDADE

219



COMENTÁRIOS

forma intensa. Fui rato de biblioteca, tornando-me depois, até mesmo, na escola onde estudava, um dos alunos que auxiliava nos trabalhos na biblioteca, com horário obrigatório de perma­ nência. Cultivei amor pelos livros e, por decorrência, uma atra­ ção pelas viagens da imaginação. Deve ter sido minha primeira porta para a criatividade.

I

Curiosidade mais rebeldia As circunstâncias de isolamento devem ter-se cruzado com algum gene responsável pela natural curiosidade do ho­ mem, e disso apareceu um espírito primeiramente prospectivo, e depois, talvez por decorrência, questionador. Outra porta para a criatividade, aproveitada inconscientemente. Como exemplo, vejam, meu grau de questionamento se desenvolveu tanto que, durante a Segunda Guerra Mundial, eu procurava ouvir as transmissões em português feitas pelo inimigo, a Ale­ manha. Não me contentava com as notícias que chegavam a todos e faz ia a escuta sozinho, sem dividir a experiência com ninguém, até porque isso era considerado pouco patriótico. Basta dizer que o governo proibia (imaginem!) esse tipo de au­ dição, mantendo mesmo, por meio dos Correios, um registro dos rádios de ondas curtas. A porta da rebeldia se abria, e eu entrava, por acaso. Dando um salto no tempo, na mocidade também as cir­ cunstâncias tiveram um papel importante para cultivar na per­ sonalidade um sentido de independência acima da média. Sempre tendo morado em São Paulo, com vinte e um anos fui trabalhar no Rio de Janeiro, onde morei sozinho, aprendendo até a fritar ovos e lavar camisas. Morar longe de família, isso é notório, é uma receita para amadurecimento e, penso eu, tam­ bém para o autoconhecimento. Porta para a criatividade.

Empurrão porta adentro Só mais um exemplo, recente e diretamente ligado à cria­ tividade. Em 1990, eu já estava pesquisando o assunto cria ti vi­

COMENTÁRIOS

dade, levado pela circunstância de ser professor de criação pu­ blicitária. Ao mesmo tempo, trabalhava como consultor de co­ municação e marketing para alguns clientes. Ai veio o famoso Plano Collor, com impacto paralisante em todas as atividades econômicas, inclusive as de meus clientes. Então, de súbito, vi­ me sem renda, já que ganhava por tarefa ou por hora. Essa con­ tingência fez-me pensar em criar uma nova frente profissional, organizando workshops de criatividade para empresários, que naquela altura estavam mais do que receptivos à idéia de pro­ curar soluções inovadoras . O fato de a ESPM ter acolhido meu projeto foi decisivo. Entretanto, devo somar a isso outra circunstância, o fato de ter encontrado dois parceiros. Primeiro foi Edson Zogbi, um ex­ aluno trabalhando em marketing, e depois Nestor Muller, um amigo professor, músico e teólogo. Sem eles dificilmente mi­ nhas pesquisas em criatividade teriam frutificado . Localizo nis­ so tudo outra porta aberta pelo acaso (existe acaso?) e que en­ cerra meu exemplo pessoal de como as circunstâncias podem ser aproveitadas para o desenvolvimento de nosso potencial criativo. E, por fim , vejo aqui a deixa para finalizar o comentário do capítulo, cumprindo um ritual de autor que considero muito justo: o dos agradecimentos. Com licença.

Agradecimentos Aos leitores que investiram seu tempo na leitura do livro, meu "muito obrigado pela atenção dispensada". Com mais ou­ tro agradecimento, antecipado, para aqueles que quiserem comentá-lo ou dar idéias sobre o tema criatividade e inovação, alvo de minha permanente pesquisa. Endereço de meu estúdio de trabalho : Caixa Postal 19, São Bento do Sapucaí, Estado de São Paulo, CEP 12460-000. E-mail: [email protected]. A Edson Zogbi, aluno que se transformou em parceiro, agradeço pelo vento de otimismo que sua personalidade em­ preendedora fez soprar no barco de minhas pesquisas sobre cri­ atividade. Eu e Edson organizamos o primeiro workshop com

A PORTA DA PRÁTICA CRlATNA

220

CRlATMDADE

221

lO

.......... AA~'.~

A

das aberturas para a e a de muita gente mais.

Cruzamento

A Nestor

e a todos os que me e também aos que não o fizeram e criaram em desafios e acabaram iQ11éllmer

o contexto, com seus altos e baIXOS, sempre oso às partes que o vêem de. l1li

ótica da harmonia

Criatividade e

semestre de 1997, soube da existência vista pareceu-me ser uma novidade interessante que à Um o e no campo do desenvolvimento consultor Eduardo convidou-me para assistir com ele a "~"HL,,,,,"lV de uma nova ferramenta da a Human Disse-me que devia ser algo imDortante. Dois te­ ria muito a ver com processos de de ser um admirador que trazia o assunto André Alckrnim. não fui à aoresentacão. Tinha um

mês eu estava à edito­ ra os deste livro. Tenninara um processo trabalhoso de ordenar meus conhecimentos e de quase 10 anos no campo. Estruturar o com base nos seminários e cursos que fora um trabalho dar-lhe exclusividade. e isso aconte­ cera, agora porque não havia apresentacertamente o do livro so­ de HD. Caso houvesse O conhecimento da HD me segu­ freria sua enésima faria meu trabalho parecer to. Passado tempo, encontrei Alckmím e comecei a de um dos grupos de estudo de HD que seu Ele é uma dor e sonalidades definidas por Abraham Maslow na ,-u.'.'-"".n. gente que acaba sua com o do meio em que vive. mental se traduz por um brilho nos olhos que, penso, é o que conta5ria os outros com o entusiasmo Delas suas idéias.

222

CRlATMDADE

AP~NDlCE A -

o

CRUZAl\!lENTO ENTRE CRlATJV1DADE E HJJMAN DYNAMICS

223



Logo tornei·me fã daquela nova ferramenta da psicologia que, no campo do relacionamento pessoal, julgo ser uma conquis· ta. Entretanto, à medida que tomava mais contato com o assunto, sentia crescer uma angústia profissional, ao concluir, naquela al­ tura, que seria necessário cruzar HD com a tese das ';A,.berturas", base de meus cursos e do livro que já estava com os leitores, sem certas ressalvas que, eu achava, precisariam ser feitos à luz da HD . Comecei a estudar o tema e a fazer algumas referências so­ bre ele em minhas aulas. Até contendo o entusiasmo, que eu sabia vir um pouco do encantamento de quem depara-se com um as­ sunto importante. Honestamente, reconhecia a necessidade de aprofundar-me no assunto para poder transmiti-lo, e continuava estudando. Foi a partir daí que troquei a angústia da percepção de ter publicado o livro sem falar em HD por um sentimento de que isso, de certo modo, pode ter sido uma ventura. A recepção positiva do livro pelos leitores mostrava que valera a pena, apesar de tudo. Isso porque, agora eu sabia pela HD, os que podiam aproveitar o livro eram a grande maioria que, pelo seu perfil psicológico, res­ ponde bem aos estímulos para exercer melhor seu potencial cria­ tivo. E mais: fora daquela maioria, somente um número diminuto (5%) não tem sintonia alguma com a criatividade. HD nasceu das pesquisas de uma rede de profissionais da psicologia e psiquiatria, liderados por Sandra Seagal, "descobri­ dora" das primeiras pistas, e David Horne. De 1979 até 1995, es­ tudaram milhares de casos para estruturar a conclusão de que o ser humano processa as informações que recebe e relaciona-se com elas por meio de três centros: emocional, físico e mental, com uma ordem de prevalência determinada pela sua natureza individual. Dada aquela ordem, teríamos nove grupos. Entretanto, qua­ se a totalidade das pessoas coloca-se em cinco desses nove gru­ pos, e as pesquisas fixaram-se neles . Pois bem, focalizando aqui o assunto pelo ângulo da criatividade, vê-se que um dos grupos, com 25 % das pessoas, mostra-se impressionantemente a favor da inovação. Outro grupo, com !:iSOlo, lida com o novo sem grandes dificuldades. Os outros três grupos processam e reagem às infor­ mações novas e às mudanças com mais dificuldade. Há um grupo, que compreende 5% das pessoas, para o qual tudo o que é novo representa um grande problema. Registre-se, contudo, que os estudos da HD não mostram ou determinam comportamentos certos ou errados, nem melliores

. ..!

224

CRIATIVIDADE

ou piores. A diversidade constrói uma harmonia e uma

complementaridade que, em última análise, pode e deve ser um

vetor para a realização e a felicidade de todos. A grande tese da

HD , se formos defini-la rapidamente, é de que as pessoas podem

ser melhor integradas à diversidade, e assim tomar-se mais feli­

zes, pelo conhecimento e aceitação de sua natureza psíquica e,

como decorrência disso, pelo aperfeiçoamento de sua harmonia

com o todo. Tudo isso é tão maravilhosamente simples e eficiente que a

HD deve, daqui para a frente, ter um papel importante, cada vez

maior, na construção de um mundo onde as pessoas poderão en­

contrar mais facilmente seus caminhos para a realização pessoal e

bem-estar psíquico. Só a consciência da diversidade já é um passo

para sua aceitação. E a tolerância, daí decorrente, é uma ferra­

menta de aperfeiçoamento da sociedade.

Por outro lado, os estudos e o desenvolvimento da criativi­ dade, como competência de nossa espécie, daqui para a frente poderão tomar mais proveitosos rumos. HD proporciona maior consciência de características e potencialidades humanas, e isso abre novos horizontes.

Os cinco grupos da HD e sua incidência (de acordo com pesquisas feitas no Ocidente) Emocional Subjetivo. É o grupo que compreende 55% das pessoas e caracteriza-se por valorizar a relação interpessoal. Tem maior sensibilidade para perceber "o outro". Aceita mudanças e o "novo", mas procurando preservar relacionamentos anteriores. Emocional Objetivo . Compreende 25% das pessoas. Define-se por absoluta valorização do novo e uma quase compulsão pela mudança. Tem o dom de tocar as coisas para a frente e privilegia a criatividade em seu comportamento. Físico Mental. Compreende 10% das pessoas. Liga-se muito ao propósito das coisas e percebe os padrões. Cultiva a simplicida­ de e um raciocínio sistêmico, e dentro dele aceita as mudanças, mas sempre dentro da ordem e da finalidade . Mental Físico . Compreende 5% das pessoas. É o grupo que mais valoriza ajustiça e tem visão com grande perspectiva. Perce­ be e articula princípios e valores. Tende a ser estável e adota o novo quando o considera absolutamente necessário. APÊNDICE A -

o CRUZAMENTO

ENTRE CRIAT IVIDADE E HUMAN DYNAMICS

225



Físico Emocional. Compreende 5% das pessoas. Valoriza mui­ to a visão sistêmica e assim se liga à natureza. Raciocina após ter todas as informações possíveis. Por cuidar dos detalhes e da viabilização de sistemas, é o grupo que tem mais dificuldade com o "novo".

,Apêndice B

Avaliação de Inovação e Criatividade em Organizações

À luz do cruzamento, uma ressalva

A consciência das relações existentes entre os diversos gru­ pos estudados pela HD com o exercício da criatividade e também com o envolvimento pessoal na inovação, leva a uma conclusão: nem todos têm facilidade para navegar por esse campo. Essa res­ salva, que já havia sido constatada por mim, e focalizada em vá­ rias passagens deste livro, particularmente ao final dos "ecos" do Capítulo 2 confirma-se cientificamente com o estudo da HD. En­ tretanto, insistindo nisso, nada errado se uma pessoa não se sente atraída por criatividade ou à vontade com ela - talvez a dinâmica a que pertence dê a sua competência outro caminho, no qual po­ derá realizar-se plenamente.

Para verificar o nível de inovação e criatividade na organiza­ ção, a cada pergunta somar um ponto positivo para a resposta SIM, e um ponto negativo para a resposta NÃO. Escores baixos ou negativos mostram que a estrutura está carente de inovação/cria­ tividade para otimizar resultados, em que pese a relatividade da indicação, uma vez que cada setor de atividade necessita de um nível maior ou menor de inovação.

Mais informações

01 - Tem havido desenvolvimento de novos produtos/serviços?

Na Produção:

o primeiro livro sobre HD já foi traduzido para o português. Seu título é Human dynamics, de Sandra Seagal e David Horne (Rio de Janeiro: Qualitymark, 1998). As pessoas interessadas em participar de seminários e grupos de estudo de HD podem procurar informações na Sociedade In­ ternacional para a Excelência Gerencial (SIEG) , de André Alckmim e José Ricardo da Silveira.

02 - Aperfeiçoamento de processos?

03 - Remodelação (inclusive de design) de produtos/serviços exis­ tentes? Em Compras: 04 - Têm havido iniciativas de procurar novos fornecedores?

05 - Negociações fora das habituais?

06 - Sugestões de mudanças de matérias-primas/componentes?

Na Administração: 07 - Tem havido aperfeiçoamento de rotinas? 08 - Iniciativas/sugestões para a solução de problemas crônicos? 09 - Habilidade/agilidade na solução de problemas emergen­ ciais? EmRH: 10 - Tem havido desenvolvimento de novos programas de admis­ são, promoções, remuneração, assistência médica etc.? 11 - Reestruturação de seus conceitos e estruturas frente às novas circunstâncias?

226

CRlATIVlDADE

APÊNDICE B - AVALIAÇÃO DE INOVAÇÃO E CRlATIVlDADE EM ORGANIZAÇÕES

227

Em Finanças:

12 - Têm havido programas dinâmicos de aplicações?

13 - Procura de novos esquemas para suprir emergências?

14 - Postura aberta para negociações?

Em Vendas:

Bibliografia

15 - O departamento tem conseguido novos clientes?

16 - Novos canais de distribuição?

17 - Novos territórios?

18 - Tem conseguido manejar flutuações de preços?

19 - Tem aberto novas negociações com clientes antigos ?

Em Marketing:

20 - Tem havid o descoberta de oportunidades e lançamentos de prod utos/ serviços? 21 - Habilidade/ agilidade para resolver problemas de comerciali­ zação? 22 - Iniciativas para consolidar/melhorar a imagem de produtos e da empresa?

. Criatividade. Brasília: Universidade de Brasília, 1995 . BlAKESLEE, T R. The right brain. New York : Anchor Doubleday, 1980.

23 - Tem cuidado do pós-vendas e do relacionamento com clien­ tes?

BRANDEN, Nachanie l. Auto-estima. São Paulo: Saraiva, 1996.

Na Internet:

CAMPBELL, J. O poder do mito. São Paulo: Palas Achena, 1995.

24 - A organização está presente (ou planeja estar) de alguma forma no contexto do comércio eletrônico?

CAPRA, F Sabedoria incomum. São Paulo: Cultrix, 1993. DAMÁSIO, Antônio. O erro de Descartes. São Paulo 1996.

Cia. das Letras,

25 - Disponibiliza a Net para os funcionários usarem profissional­ mente?

DE BONO, Edward . Serious creativity. Londres: Harper Collins, 1992.

Na Direção:

GARDNER, Howard. Creating minds. Londres: Harper Collins, 1993.

26 - Tem-se dado atenção à relação das mudanças do ambiente com a missã%peração da organização? 27 - Tem sido investido tempo em estudos de inovações? 28 - Têm canais abertos de comunicação com clientes, fornece­ dores, funcionários e comunidade? Em Todos os Setores:

29 - Tem-se criado objetivos fora das rotinas? 30 - Têm havido iniciativas inovadoras para alcançar esses objeti­ vos?

228

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RESIDENCIAL

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