Bies03 As Quatro Nobres Verdades

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AS QUATRO NOBRES VERDADES Budismo passo a passo

BLIA

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AS QUATRO NOBRES VERDADES

BLIA

2 Venerável Mestre Hsing Yun

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CONTEÚDOS As Quatro Nobres Verdades: A essência do Budismo 6 I - A Verdade do Sofrimento

Copyright Fo Guang Shan International Translation Center

Título Original em Língua Inglesa: Four Noble Truth

II - A Verdade da causa do Sofrimento

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III - A Verdade da Cessação do Sofrimento

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IV. A Verdade do caminho que conduz à cessação do sofrimento

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O Ghata da transferência de Mérito

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Atividades da BLIA Portugal

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Contactos42

Escrito pelo Venerável Mestre Hsing Yun Tradução portuguesa por Patricia Rocha Revisão e design: João Magalhães Publicado por: Buddha’s Light International Association Lisboa Rua Centieira, nº 35 1800-056 Lisboa Portugal Tel: 218599286 Email: [email protected] www.ibps.pt

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AS QUATRO NOBRES VERDADES: A ESSÊNCIA DO BUDISMO O primeiro ensinamento do Buda, entregue após ter alcançado a iluminação em Isipatana, perto de Varanasi, foi sobre “As Quatro Nobres Verdades”. As Quatro Nobres Verdades são os ensinamentos fundamentais do budismo; elas foram realizadas, experienciadas e ensinadas pelo Próprio Buda. As “Quatro Nobres Verdades” incorporam a verdadeira natureza da vida e do universo. I.

A Verdade do Sofrimento

II.

A verdade da causa do sofrimento

III.

A verdade da cessação do sofrimento

IV.

A verdade do caminho que conduz à cessação do sofrimento

As Quatro Nobres Verdades formam a base do Budismo a partir da qual derivam todos os sutras budistas. Embora as Quatro Nobres Verdades sejam normalmente associadas ao budismo Theravada, Sutra Guirlanda de Flores, designado como um sutra Mahayana, existe um capítulo dedicado às Quatro Nobres Verdades. Assim, todos os budistas podem aprender os ensinamentos fundamentais das Quatro Nobres Verdades. A palavra “verdade” nas Quatro Nobres Verdades significa investigar a realidade. 6

A primeira nobre a verdade é a “verdade do sofrimento”, como se este mundo fosse uma casa em chamas, cheio de sofrimento e falta de alegria. A segunda nobre verdade é a “Verdade da causa do sofrimento”, que nos mostra que as aflições da ganância, raiva e ignorância são as causas do nascimento, morte e sofrimento. A terceira nobre verdade é a “verdade da cessação do sofrimento”, que é o de alcançar a verdadeira natureza do nirvana. A quarta nobre verdade é a “verdade do caminho que conduz à cessação do sofrimento”, que é encontrar a forma de transcender o mundo do sofrimento e procurar a felicidade real, via a que o Buda chamou o Nobre Caminho Óctuplo. A primeira e a segunda nobre verdade descrevem a formação deste mundo de ilusão; a segunda nobre verdade é a causa, e a primeira é o efeito. Da mesma forma, a terceira e a quarta nobre verdade descrevem como podemos entrar no mundo da iluminação; a quarta nobre verdade; o caminho óctuplo – quando praticado, actua como a causa para a Terceira Nobre Verdade - Nirvana. Vejamos as quatro Nobres Verdades uma por uma.

I - A Verdade do Sofrimento Devemos ter uma perspetiva de vida alegre, otimista e positiva. Não devemos falar constantemente sobre o que nos faz sofrer, ou estar de sobrancelhas baixas e expressões tristes, não nos deixarmos consumir pela depressão e miséria.

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Contudo, depois de ouvir as quatro nobres verdades, algumas pessoas podem questionar: “se devemos procurar a alegria na vida, então por que razão o Budismo insiste tanto no sofrimento?” A razão pela qual o Buda falou sobre o sofrimento foi porque, é importante tomarmos consciência de que todo o tipo de sofrimento existe neste mundo. Assim que entendermos a verdadeira natureza do sofrimento, podemos encontrar uma forma de acabar com o nosso sofrimento. Entender a existência do sofrimento é apenas uma parte do processo. Aprender como colocar um fim ao mesmo, assim como ser livre a partir dele, é a razão final de falarmos sobre o sofrimento no Budismo. Algumas pessoas podem pensar: “Porque é que o Budismo diz que a vida é cheia de sofrimento? Eu não tenho fome de fama e riqueza, nem me sinto prejudicado pelo amor e emoção. A minha vida está preenchida de felicidade”. De acordo com os sutras Budistas, existem muitas formas de sofrimento, tanto físico como mental. Algumas pessoas têm menos desejo de conforto material; elas são capazes de suportar o clima extremo e aceitar a dor da pobreza. Há aqueles que conseguem ultrapassar a fixação das emoções, lidar com a agonia de serem separados dos seus entes queridos, e tolerar o aborrecimento de ter que lidar com as pessoas que não gostam. No entanto, ninguém está livre da dor que ocorre no fim da vida. Portanto, é indiferente se vamos discorrer acerca do 8

sofrimento ou não; em dada altura da vida todas as pessoas irão experienciar algum tipo de sofrimento. Se conseguirmos compreender plenamente as fontes de sofrimento e em seguida encontrar formas de superá-lo, podemos libertar-nos do mar profundo de sofrimento e desfrutar da felicidade real. Quais são as causas do sofrimento?

Os Bens Materiais A primeira causa do sofrimento é a desarmonia entre os bens materiais e o Eu interior. Por exemplo, se vivemos numa casa pequena com muitas pessoas, podemos sentir-nos constrangidos e a nossa condição de vida fica limitada naquele espaço e pode tornar-se uma causa de sofrimento. Se uma almofada for demasiado baixa ou demasiado alta, podemos não conseguir dormir de todo, causando-nos cansaço e consequentemente mau temperamento. Para um estudante, a altura de uma mesa ou o brilho de uma luz poderão ser uma distração e uma fonte de desconforto. Portanto, a insatisfação com os bens materiais na nossa vida quotidiana pode levar-nos ao sofrimento. Para além dos bens materiais externos serem uma fonte de sofrimento, a pele, cabelo e unhas, se não forem cuidados adequadamente, podem tornar-se imundos e por consequência uma fonte de angústia. Existe um provérbio chinês que diz: “o nosso cabelo é como três mil fios de problemas.” As nossas vidas estão inextricavelmente ligadas aos bens materiais. 9

As Pessoas A desarmonia existente entre outras pessoas e nós próprios pode ser uma grande causa de aflição. Por exemplo: não podemos estar sempre com as pessoas que amamos e, no entanto, somos obrigados a lidar com pessoas que não gostamos. Devido às diferenças de opiniões e à forma como lidamos com as situações, surgem os conflitos que originam sofrimento. Por vezes, somos cuidadosos e tentamos não ofender os outros, no entanto se estivermos num grupo sentimo-nos inseguros quando vemos pessoas a segredar, porque assumimos que estão a criticar-nos pelas costas. A desarmonia existente nos nossos relacionamentos com outras pessoas pode diminuir as nossas aspirações, dando origem a um estado de desânimo e apatia. Assim, é essencial estabelecer relacionamentos harmoniosos com as pessoas com quem nos relacionamos.

O Corpo Algumas pessoas dizem, “saúde é saúde”. Mesmo quando possuímos todos os tesouros do mundo e somos incomparavelmente talentosos, não conseguimos realizar nada sem um corpo saudável. O ciclo de envelhecimento do corpo, a doença e a morte são fenómenos naturais aos quais ninguém pode escapar. Uma pessoa saudável tornar-se-á débil um dia. Uma tez bonita irá murchar com a idade. Podemos ostentar força 10

quando somos jovens, no entanto os órgãos do nosso corpo começarão a deteriorar-se com o passar do tempo. O nosso campo de visão irá diminuir e os nossos movimentos irão abrandar. Até mesmo uma pequena gripe poderá confinar-nos à cama por vários dias. Uma pequena dor de dentes poderá fazer-nos revirar e girar durante o sono. Devido à desarmonia entre o nosso corpo e o nosso EU, todo o tipo de sofrimento ocorre um depois do outro.

A Mente A mente gosta de tomar o controlo e agir como se fosse um Rei, dominando todos os seus súbditos. É também como se fosse um cavalo não domesticado correndo selvaticamente, não disposto a ser domado. A ganância, a raiva e a ignorância surgem nas nossas mentes, e apesar da nossa tentativa árdua de as manter sob controlo, elas ressurgem uma e outra vez. Os nossos esforços parecem inúteis. O sofrimento que surge através da desarmonia entre a nossa mente e o nosso EU pode exceder o sofrimento provocado pela desarmonia do corpo. Quando o corpo está doente podemos curá-lo com a medicina, mas quando a mente fica doente, até o melhor médico poderá não saber o que fazer. Ouvimos muitas vezes as pessoas a lamentarem-se a outras: “Não estás a ouvir o que estou a dizer!”. Na verdade, quem não está a ouvir é a nossa própria mente. 11

Muitas vezes não conseguimos parar a mente de vaguear ou de criar aflições mentais. Neste sentido, a mente pode ser o nosso maior inimigo. Se estamos constantemente em desacordo com a nossa mente, o sofrimento é inevitável.

O Desejo Enquanto seres humanos, é impossível sermos totalmente destituídos de desejos, mas os desejos tanto podem ser saudáveis como doentios. Os desejos saudáveis são os que procuram transformá-lo num sábio ou num Buda, destacar-se na carreira, servir a sua comunidade, ou ajudar um país e outros seres humanos. Por outro lado, desejar conforto material, ambicionar um lugar e poder, ou ansiar o prazer de uma aventura amorosa, são desejos doentios que nos podem conduzir à nossa ruína. Até os desejos saudáveis, quando não geridos de forma apropriada, podem tonar-se em encargos esmagadores e dar origem a um grande sofrimento. Os desejos doentios são ainda mais prejudiciais! Assim, o ingrediente importante do sucesso é saber como transcender os desejos materiais.

Visão

que aqueles que buscam a verdade, tiveram que viajar pelo caminho da Verdade sozinhos. O Buda ainda considerou entrar no nirvana imediatamente após a sua iluminação, porque questionava-se se os seres sencientes seriam capazes de compreender a verdade, que ele tinha descoberto e compreendido. O que nos faz sofrer mais são os pontos de vista e conceitos que parecem corretos, mas que na verdade estão errados. Durante o tempo de Buda, existiam devotos que praticavam todos os tipos de auto mortificação: alguns ficavam de cabeça para baixo na floresta; alguns sentavam-se de forma perigosa perto do fogo; alguns viviam na água; alguns recusavam-se a comer; e outros passeavam nus. Eles tentavam utilizar todo o tipo de métodos para torturar o seu corpo físico a fim de serem libertados do mesmo. Devido à sua compreensão e pontos de vista errados, estes devotos infligiam dor física em si mesmos desnecessariamente. Compreensão e pontos de vista errados podem causar-nos muito sofrimento; eles são os principais obstáculos para a nossa realização da Verdade.

Natureza

“Visão” refere-se à nossa maneira de pensar e às nossas perceções.Embora a falta de bens materiais seja tolerável, o isolamento devido à nossa perceção e a solidão de espírito são os mais difíceis de suportar. Desde os tempos mais antigos 12

Na história da humanidade, as nossas primeiras lutas foram entre nós próprios e o mundo da natureza. Desde os tempos mais antigos que a quantidade de sofrimento provocado em nós através dos furacões, terramotos e incêndios tem 13

sido incalculável. Quando chove muito, a inundação ocorre e pode cobrir completamente as áreas de baixa altitude. Quando chove pouco, ocorre a seca, fraturando o solo e impossibilitando o cultivo e a plantação. O sofrimento que experienciamos, devido à desarmonia existente entre a natureza e nós próprios, é claro e direto.

O Ego A verdadeira base do sofrimento pode ser atribuída ao nosso apego ao “Eu” e “meu”, quer seja causada pelos fatores externos como os bens materiais e a natureza, ou fatores internos como a mente e os nossos pontos de vista, De acordo com o Budismo, a fonte de todo o sofrimento é a ilusão do eu, o “Eu”. Este “Eu” é apenas uma combinação à qual Buda chamou de “cinco agregados”: forma; sensação; perceção; formações mentais e consciência. Quando os cinco agregados se juntam, resultam na vida, mas eles só podem existir mutuamente enquanto as condições adequadas estiverem presentes. Nada pode existir, a não ser que as condições para a sua existência sejam adequadas. Vivemos normalmente como se o corpo, que é formado pelos cinco agregados, pudesse existir eternamente. Agarramo-nos ao corpo como o verdadeiro Eu, criando todo o tipo de ânsias, que por sua vez levam a um sofrimento sem fim. Se conseguirmos ver através da ilusão do Eu, e 14

compreender a maravilhosa verdade do vazio, então conseguimos transcender todo o sofrimento. O Sutra do Coração diz: “[O Bodhisattva]” contempla o vazio dos cinco agregados e supera todo o sofrimento. Como podemos entender o vazio dos cinco agregados e superar todo o sofrimento? Se nós conseguirmos entender a natureza altruísta de tudo, (nem tudo tem um independente ou permanente ego), então conseguiremos entender o vazio dos cinco agregados. Assim que for compreendido, o sofrimento será ultrapassado. Permitam-me ilustrar o que tudo isto significa com o seguinte exemplo: o futebol é um desporto muito popular em todo o mundo, e o número de espectadores que assiste aos jogos são às dezenas de milhares. Entre os espectadores de um destes jogos estava um homem que fumava enquanto assistia ao jogo. Ele estava completamente absorvido no jogo e não se apercebeu que o seu cigarro estava muito próximo do homem que estava ao seu lado e queimou-o fazendo um buraco na roupa. “Au, isso magoou!” Gritou o homem. O fumador apercebeu-se então do que tinha feito e rapidamente desculpou-se. A pessoa que ficou com a roupa queimada estava tão envolvida na excitação do jogo, que disse: “não tem importância. Eu compro outra mais tarde”. Como descreveria o estado de espirito do vizi15

nho? Ele estava tão focado no jogo que estava num estado de “não-próprio”. Neste momento em particular, assistir ao jogo era o mais importante para ele. Mesmo com um buraco queimado na roupa não era motivo para luta. Se ele não estivesse tão envolvido na partida de futebol, tal incidente teria despoletado um grande conflito. Mas, quando ambos focaram toda a sua atenção em ver qual das partes estava a ganhar ou a perder, o conceito do “Eu”, não tinha importância. Imagine: algo tão simples como uma partida de futebol é o suficiente para capturar toda a nossa atenção, tanto que, conseguimos esquecer o “Eu” e prestar pouca atenção à dor de uma queimadura. Se conseguirmos entender o vazio dos cinco agregados, definitivamente que conseguimos superar todo o sofrimento. A existência do sofrimento é uma verdade inegável. O Budismo não só enfatiza o entendimento sobre a existência do sofrimento, como também dá o passo seguinte e procura uma forma de superar este problema. Atualmente, todos os estudos modernos, como a economia, medicina e política procuram melhorar as nossas vidas e minimizar o sofrimento humano. Mas os esforços de assistência social comuns, tais como ajudar os pobres e necessitados através do fornecimento de alimentos e roupas, apenas proporciona alívio momentâneo. Estas ações não são suficientes para erradicar as raízes do sofrimento. 16

O Budismo não enfatiza apenas a erradicação do sofrimento presente; mais importante, ele ensina como erradicar as raízes do sofrimento e a libertação de nós mesmos do interminável ciclo de nascimento e morte. O sofrimento no budismo não é uma aceitação pessimista; é algo que temos que superar e transcender ativamente. Alguns podem dizer: “não sou um budista e não estou isento do sofrimento do nascimento, envelhecimento, doença e morte. Mas mesmo os budistas estão sujeitos a este género de sofrimento. Então, qual é o objetivo do budismo?” Isto é verdade; acreditar no budismo não evita o nascimento, envelhecimento, doença e morte. Mas, quando confrontados com tal sofrimento, teremos uma força maior para superá-lo. Quando formos confrontados com a morte, seremos capazes de a aceitar de forma mais aberta e graciosa. Muitos dos grandes Mestres Budistas iluminados escolheram viver na floresta, na água (rios, lagos, mares,), ou mesmo em cemitérios, com o objetivo de compreender a sua natureza budista. Muitos dos nobres seguidores do Confucionismo escolheram abandonar a vida agitada da cidade, para viver uma vida simples, honesta e tranquila sem qualquer tipo de desejos mundanos. A maioria das pessoas acha que é difícil aceitar este estilo de vida, mas estes sábios, de forma voluntária, escolheram viver uma vida simples, tranquila e cheia de felicidade. Porquê? Porque eles tinham aspirações elevadas para eles próprios. Tinham uma grande confiança nos seus ideais, então tinham a força necessária para suportar as difi17

culdades e o sofrimento, que as pessoas comuns não têm. A adequada compreensão da religião proporcionará a força para superar as dificuldades de bom grado. Muitas pessoas rezam a muitos Deuses pedindo por proteção, dinheiro, riqueza, saúde e todas as coisas que elas acham que são “boas” na vida. Este tipo de crença só estimula a ganância. Quando estas pessoas não podem ter o que querem, elas acabam em desespero. Algumas culpam até os próprios Deuses pelo seu sofrimento. Este tipo de sistema de crença, que é baseada na ganância, não poderá dar força às pessoas. Os verdadeiros budistas não podem fazer exigências descabidas aos Budas ou Budhisattvas. Em vez disso, devemos seguir o caminho dos Budas e Budhisattvas e estarmos dispostos a dedicar-nos ao benefício de todos os seres. Se tivermos este tipo de crença e entendimento espiritual, então teremos a força para superar as aflições causadas pelo infortúnio e outras dificuldades. Se conseguirmos aceitar com equanimidade quando os outros são bons ou hostis para connosco, e se conseguirmos olhar para as questões mundanas, sejam elas boas ou más, da mesma forma, então conseguiremos confrontar o sofrimento com facilidade e tranquilidade. O Budismo pode abordar o sofrimento na vida, mas pessoalmente sinto que a vida é cheia de alegria. Porquê? Porque embora o sofrimento exista, se conseguirmos utilizar a nossa força 18

para lidar com ele, então conseguiremos entender o verdadeiro significado de alegria. O fruto que amadurece após o cultivo diligente tem um sabor particularmente doce. O cultivo de uma correta e forte fé, é a chave importante para nos auxiliar a transcender o sofrimento. Enquanto o cultivo de uma fé forte pode ajudar a transcender a dor do sofrimento, a erradicação do sofrimento fundamental da vida e morte é o objectivo final dos praticantes. Não podemos ser complacentes só porque podemos lidar com o sofrimento através da nossa força de vontade, ajuste mental e pensamento. Mesmo quando temos sob controlo as menores aflições da vida, se não estivermos completamente livres do nascimento, envelhecimento, doença e morte, então o sofrimento permanecerá. Um provérbio chinês diz: “Para capturar um gang de ladrões, primeiro tem que se capturar o seu líder”. Portanto, temos que erradicar a raiz do sofrimento a fim de atingir a alegria eterna. A raiz do sofrimento é o “Eu” ligado ao ego, o amor por si mesmo, e os nossos pontos de vista egoístas. Devido ao “Eu”, procuramos coisas agradáveis para satisfazer as nossas necessidades, e essa busca dá lugar à ganância. Quando a nossa ambição não pode ser satisfeita, a raiva surge. Quando nos agarramos às nossas visões ilusórias sem entender a verdade dos fatos, a ignorância surge. Por causa do “Eu”, os grilhões da ganância, raiva e ignorância perseguem-nos como sombras. Como podemos erradicar a raiz do sofrimento? Se 19

conseguirmos entender a verdade do “não-eu”, então a raiz do sofrimento pode ser erradicada.

do sofrimento causado pela impermanência, e experienciaram a eternidade.

Contudo, o “não-eu” não significa que temos de destruir as nossas vidas; O budismo não é niilista! O Budismo não nega que a vida tem valor e significado.

O “Eu” a que nos apegamos é como um sonhar: é uma ilusão. A nossa vida é vivida em apenas algumas décadas; é ilusório e muda constantemente. O “Eu” real transcende o tempo, o espaço e a relatividade. É livre de aflições e é puro. A chave para nos libertarmos do sofrimento e alcançar a alegria é expandir o “pequeno eu” e perceber a vida sem limites do verdadeiro Eu. Isso é algo que temos de cuidar urgentemente.

“Não-eu” significa libertar-se do apego de si mesmo, o amor de si mesmo, e os desejos do eu. Isso não significa que devemos destruir tudo, ou desistir de tudo. Mesmo se estivéssemos a cometer suicídio, a morte só ocorreria no corpo ilusório, não para o nosso persistente apego ao “eu”. No budismo, os ensinamentos sobre o “não-eu” abrangem os ensinamentos sobre a sabedoria, a origem dependente, a compaixão e o vazio. É através do libertar o apego do “eu” e pontos de vista errados que podemos perceber a Verdade suprema. Só poderemos manifestar a nossa verdadeira natureza, pura e alegre, quando erradicarmos o “pequeno eu” do ego a que está associado a ganância, a raiva e os desejos egoístas. Os homens nobres e mulheres que perceberam a verdadeira natureza do “Eu” não deixaram a multidão. Eles ainda bebem chá, comem as suas refeições, relacionam-se com outras pessoas, e lidam com questões sociais; eles ainda vivem vidas normais. A única diferença é que eles possuem um estado de mente puro na sua vida diária e espiritual. Eles abdicaram de todos os tipos de obsessões e compreenderam a verdadeira natureza das coisas. Eles estão livres 20

II - A Verdade da causa do Sofrimento No Budismo, “Karma” refere-se a tudo o que nós fazemos, dizemos e pensamos. Ao longo das nossas vidas, criamos um imenso Karma negativo devido aos nossos desejos e impulsos ignorantes. O Karma negativo é como uma semente que produz o fruto do sofrimento. Assim, o nosso sofrimento é causado pelo nosso próprio karma, uma vez que estamos sujeitos aos efeitos de quaisquer ações que tenhamos realizado. O Karma não desaparece; apenas se acumula. No entanto, o karma não é de todo ruim. Existe também o bom karma. Se nós saboreamos o fruto do sofrimento ou da alegria vai depender das sementes kármicas que plantarmos. O Karma é a Lei de Causa e Efeito e ambos são conceitos comuns a muitas filosofias indianas. O Karma é também um dos grandes ensinamentos do Budismo. 21

O ensinamento sobre o karma é o que nos permite criar um futuro brilhante para nós mesmos, e pode ser uma fonte de esperança. Existem aqueles que irão perguntar: “não acabou de dizer que o karma é a causa do sofrimento? Mas, por que diz que isso nos dá esperança? Não é contraditório? “ Se entender realmente o ensinamento do karma e como ele funciona, não irá duvidar que de facto seja muito esperançoso. O ensinamento essencial do karma é que todos nós somos responsáveis pelas nossas próprias ações. Ao longo da história, sempre houve uma questão inexplicável que confundiu filósofos, religiosos e pensadores, que é: Qual é a origem da vida e do universo. Várias teorias surgiram para explicar a origem do universo e da vida humana, como a teoria de elementos naturais e a teoria da evolução. A religião cristã defende que o mundo foi criado por Deus. O Brahmanismo na Índia refere que tudo evoluiu de Brahma. Estas e outras religiões tentam explicar o início da criação da vida e do universo, e estabelecer um conjunto de leis em que tudo é controlado por um Deus. Em alternativa, o Budismo ensina que o ser humano, e não outra pessoa, está no comando do seu próprio destino. Seja Deus ou Brahma, nenhum poderá escapar da Lei de Causa e Efeito. No Budismo, a retribuição Kármica é criada por si mesma, não por divindades. A felicidade ou o sofrimento na vida de alguém, o brilho ou a escuridão do futuro de outro alguém, não é concedido por deuses, mas determinado pelo esforço que temos feito. O Fruto saudável é produzido a partir das sementes das nossas ações benéficas. Da mesma forma que o fruto não saudável é produzido a partir das sementes das 22

nossas ações não benéficas. Ninguém nos pode dar sorte ou azar. Nós criamos as nossas próprias boas e más ações; mais ninguém nos controla. Assim, podemos ver que o budismo tem um grande respeito para a livre vontade. É uma religião que acredita na autodisciplina, e que colhe o resultado das suas próprias ações. Dr. Hu Shi, o grande erudito chinês moderno disse: “O que quer que seja que uma colheita der, é preciso primeiro plantar em conformidade.” Karma é como uma semente. Nós temos que semear o tipo de semente que irá produzir o tipo de fruta que gostaríamos de colher. Da mesma forma, as nossas ações irão determinar o nosso efeito kármico. Karma representa igualdade de oportunidades e é perfeitamente exata. Ninguém está isento dos efeitos do karma, nem mesmo os ricos e poderoso. Os efeitos do karma aplicam-se igualmente a todos, independentemente da posição, sexo, status, ou riqueza. Todos receberão o que merecem, e tornar-se-ão o seu próprio resultado Kármico. Ninguém pode tirar o lugar de outra pessoa, seja marido ou esposa, pai ou filho, professor ou aluno, ou os nossos amigos. O Nosso karma é um registro claro das nossas ações, de uma forma tão precisa que nem mesmo os supercomputadores de hoje podem ser comparados a ele. Quando todos entenderem o conceito de causa e efeito, a moral da sociedade irá melhorar, o crime irá diminuir, e nós vamos ser capazes de estabelecer facilmente uma sociedade alegre e pacífica. Portanto, 23

o conceito de causa e efeito desempenha um papel muito importante a purificar as nossas mentes e a elevar a moral da sociedade. Mas ainda há questões que permanecem. Podem questionar: “Eu sei de uma pessoa que tem feito muitas coisas más na sua vida. Ela não só tem sido impune, como goza de honra e riqueza. Por outro lado, uma outra pessoa que eu conheço tem feito muitas coisas boas, mas a desgraça parece segui-la. Como é que a Lei de Causa e Efeito funciona nestas situações? “ Na verdade, esta é também a Lei de Causa e Efeito. Porquê? Como mencionado anteriormente, a Lei de Causa e Efeito é como plantar sementes. Algumas plantas irão tornar-se exuberantes e verdes num ano. Algumas levarão vários anos para crescer. Da mesma forma, alguns resultados Kármicos amadurecem nesta vida, alguns irão amadurecer na próxima vida, e alguns não irão amadurecer por muitas vidas que venha a ter. Os efeitos do karma podem ser imediatos ou retardados, mas não podemos refutar a sua existência. Existe um provérbio no budismo que diz: “Bem gera bem, o mal gera o mal. Todas as causas darão origem a resultados; é apenas uma questão de tempo. “A Lei de Causa e Efeito é absolutamente justa. É apenas uma questão de Tempo. É por isso que falamos de causa e efeito em termos de passado, presente e vidas futuras. Alguns leitores que receberam uma educação superior podem reagir dizendo: “Este é o século XXI; a nossa tecnologia e civilização estão altamente avançadas. Por que deveríamos acreditar em superstições como causa e efeito?” Na verdade, a Lei de Causa e Efeito é a 24

mais científica e precisa de todas as leis naturais. A Lei de Causa e Efeito controla cada minuto das nossas vidas; não podemos viver separados dela. Por exemplo, quando estamos com fome, vamos comer. Depois de comer já não estamos com fome. Quando estamos cansados vamos descansar. Depois de descansarmos, vamos estar cheios de energia. Cada pequena parte das nossas vidas, até mesmo das nossas atividades mentais de perceção, emoção e vontade, jogam de acordo com a Lei de Causa e Efeito. Portanto, se quisermos ser felizes, devemos semear boas sementes. Então, vamos saborear a doçura da nossa própria fruta. Quando a primeira criança concebida pela fertilização “in vitro” nasceu, o mundo ficou chocado. Embora a criança não tivesse sido concebida dentro da mãe, a criança necessitou do esperma do pai e do óvulo da mãe, juntamente com o apoio da ciência, para poder crescer. Para esta criança ser concebida através da fertilização “in vitro”, foram necessárias todas as condições presentes, assim este método de conceção é totalmente coerente com a lei de Causa e Efeito. Não há nada neste mundo que possa escapar da Lei de Causa e Efeito. Uma vez que o Karma negativo seja realizado, um efeito mau vai certamente surgir. Embora o surgimento e a acumulação de mau karma nos possam trazer sofrimento, ainda há espaço para a esperança e um futuro brilhante. Isto é semelhante a uma pessoa que pede dinheiro emprestado de 25

muitas pessoas e é colocada em dívida. Depois de ela pagar todas as suas dívidas, ela será livre. Esta pessoa também pode ser comparada a um criminoso que é libertado depois de cumprir uma pena de prisão. Uma pessoa que tenha cometido muitos atos ruins ainda pode ter um belo futuro depois de ter tomado sobre si o fruto do seu karma. De acordo com os ensinamentos do Buda, todos os fenómenos são impermanentes. Mau karma também é impermanente e vazio, sem uma auto-natureza inata. Se nós pararmos de criar karma negativo e, em vez disso criarmos karma saudável, estaremos livres do sofrimento um dia e podemos ser verdadeiramente felizes. Assim, a Lei de causa e efeito não é nem pessimista nem fatalista; ao contrário, ela é otimista e progressista. Se queremos libertarmo-nos das profundezas do mar de sofrimento, devemos primeiro erradicar a causa do sofrimento e depois deixar de gerar mau Karma. Em seguida, uma vida de alegria não estará fora do alcance. Portanto, uma compreensão completa da causa original do sofrimento é absolutamente necessária para alcançar uma vida de prazer.

III - A Verdade da Cessação do Sofrimento Se alguém lhe perguntar: “Porquê ser um budista? Qual é o propósito do budismo?” Como responderia? Se me perguntar isso, a minha resposta pode assusta-lo, porque eu sou um budista em prol da busca 26

“cessação.” A palavra “cessação” pode fazer com que as pessoas pensem em aniquilação, extermínio, ou o “nada”, e assusta-las. Na história do Budismo, houve muitos casos em que o significado do ensinamento do Buda foi mal interpretado devido a traduções incorrectas, e estes erros tornaram-se obstáculos para a propagação do budismo. As pessoas normais e naturais podem ouvir a palavra “cessação” e pensar em aniquilação ou extermínio, mas o significado real da terceira nobre verdade é livrar-se da aflição, da ilusão e da discriminação, de um modo que é a verdadeira natureza e é revelada apenas como ela é. Assim, a cessação neste caso não é pessimista nem destrutiva, mas positiva, criativa e construtiva. A “cessação” é o estado ideal em que a ganância, raiva, e ignorância foram completamente erradicadas. O silêncio, o estado pacífico de nirvana aparecerá apenas quando o fogo do desejo sensual é extinto. Os ensinamentos de Buda sobre a sabedoria e o vazio também apontam para o mesmo objetivo: devemos esvaziar a nossa ilusão, ganância e desejo, para que possamos descobrir a nossa sabedoria. Quando o conceito de “vazio” é questionado, há alguns que se opõem e dizem: “Eu suponho que o céu e a terra estão vazios, e que eu e os outros não existimos.” Este “vazio” puxa as pessoas para um mundo sem propósito, para o nada. Isto Parece horrível! Na verdade, a doutrina do vazio no Budismo não significa inexistência ou niilismo. O infinito, a extensão 27

de existência está contido dentro do vazio; não haveria existência sem vazio. A nossa conceção típica de existência é imprecisa, mas a ideia budista do vazio permite a verdadeira existência e todas as maravilhas da realidade. Como é que o vazio se pode tornar não-vazio e a cessação se torna cessação incessante?

fase, o vazio, significa que se deve criar um “espaço” adequado dentro da mente e não ser teimoso ou condescendente. Se tem um espaço interior, novos conhecimentos podem ser facilmente absorvidos e outras sugestões são prontamente aceites. O progresso irá certamente surgir.

Se eu pretendesse organizar uma conferência, a primeira pergunta a considerar seria “Onde devemos colocar a plateia?” Se não houver espaço, não é possível para nós organizar a palestra. Normalmente, quando queremos organizar algo, temos de considerar cinco fatores: pessoas, assunto, tempo, lugar e objeto. “Lugar” significa espaço. O espaço tem uma relação muito íntima com as nossas vidas. Por exemplo, o bolso de umas calças pode manter as coisas se ele tiver espaço. Você pode colocar o dinheiro na sua carteira, se estiver vazia. É por causa do vazio do nariz, orelhas, boca, estômago, intestinos, e poros que pode respirar, absorver nutrientes, metabolizar e manter a sua vida. Se todos estes espaços não estivessem vazios, as pessoas não seriam capazes de sobreviver. Porque existe um vazio, existe a existência. Se não houvesse espaço vazio, não poderíamos construir edifícios. Isto é como o vazio faz “subir” a existência. Assim, “cessação” e “vazio” não querem dizer o “nada”. A cessação da ilusão e a eliminação do irreal são os pré-requisitos para a manifestação da verdade, a existência maravilhosa.

Ele diz num dos sutras: “Se alguém deseja saber sobre o estado de espírito do Buda, deve-se expandir a mente como o espaço vazio.” Todos já vimos o espaço, mas quem pode descrever claramente a sua forma? É um espaço de forma retangular, quadrado ou circular? O espaço está em todos os lugares. O espaço que enche um copo vai assumir uma forma de copo, enquanto o espaço interior numa caixa de forma retangular é retangular. Como o espaço não tem qualquer forma definitiva, forma fixa, ele pode assumir qualquer forma. O ensinamento sobre o Vazio transcende a existência e não-existência. Se nós podemos expandir a nossa mente para ser como o infinito do espaço, vamos compreender o Estado de espírito do Buda. Para se tornar um Buda, devemos perceber a verdadeira natureza da sabedoria e do vazio, e compreender a verdade do nirvana e cessação. Significa a cessação, a extinção de nascimento e morte e do corte do ciclo de renascimento. O ciclo de renascimento é a razão para o nosso sofrimento, que temos de suportar através de longos períodos de angústia. Portanto, somente erradicando o ciclo de renascimento – em que somos apanhados por causa dos nossos desejos - iremos atingir a liberdade definitiva de nenhum nascimento e nenhuma morte. Portanto, se queremos ser livres da dor do so-

Xunzi, o grande estudioso confucionista, sugeriu que é preciso passar por três etapas para cultivar a mente: o vazio, a unificação, e a quietude. A primeira 28

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frimento, devemos resolver o problema a partir da sua raiz, ou seja, extinguir todos os nossos desejos mundanos. Quando ouve que os defensores do budismo mencionam que as pessoas devem eliminar todos os desejos mundanos, pode ter receio de que, ao se tornar um budista deixa de ser livre para se casar, ter filhos, ganhar dinheiro, tem uma posição elevada, ou desfrutar de prazeres mundanos. No entanto, não há necessidade para se preocupar. O budismo é uma religião que procura a paz e a alegria. O Budismo não renuncia à vida normal; o que ele rejeita é excesso de indulgência. Na verdade, como um budista, pode casar-se, realizar negócios, e viver uma vida normal. Há um sutrq budista sutra, o Vimalakirti Sutra, que descreve um leigo nomeado Vimalakirti que estava casado e muito rico, ele ainda não era um escravo do desejo material. No sutra, ele é descrito assim: “Ainda que um leigo, ele não se conetou aos três reinos. Apesar de casado, sempre cultiva a pureza.” Há aqueles que dizem que o budismo rejeita afeição. Na realidade, o budismo enfatiza fortemente a afeição; o que o budismo visa eliminar é o egoísmo e o desejo. Deve-se transformar o egoísmo em compaixão e o desejo em sabedoria. O afeto defendido pelo budismo é a devoção, não a posse. Ela promove a compaixão de dar, não querendo. O amor defendido pelo budismo é amor por todos os seres sencientes, não apenas um ser específico. O ato de compaixão de bodhisattva1 de ajudar todos os seres sencientes 1 Um Bodhisattva é um praticante budista que prometeu 30

é a manifestação dessa afeição altruísta na sua forma mais elevada. A afeição que encarna a compaixão e a sabedoria não é errada. Algumas pessoas procuram o amor romântico toda a sua vida. Embora o amor possa trazer a felicidade, também pode ser uma fonte de sofrimento. Quando lemos o jornal, vemos que os assassinatos ocorrem todos os dias. Quando examinamos as causas subjacentes destes crimes, vemos que os relacionamentos e dinheiro são geralmente as principais causas. Amor sem sabedoria e compaixão é uma armadilha muito perigosa. Há alguns que acreditam que a alegria na vida não é nada mas a posse de amor e dinheiro é. O Budismo defende que as pessoas devem eliminar a afeição egoísta e a ganância pelo dinheiro. Nesse caso, que tipo de felicidade pode atingir com o budismo? Na realidade, o Budismo não se livra do dinheiro em si, nem diz que “o dinheiro é uma cobra venenosa.” Ser pobre não é um pecado, nem um rico repugnante. Na verdade, de acordo com o caminho do bodhisattva Mahayana, enquanto a riqueza não te fizer ganancioso e enquanto a posição puder beneficiar a propagação do budismo, riqueza ou uma posição elevada podem ser benéficas. Riqueza e posição podem ser muito úteis na promoção Budismo. Riqueza em si não é, nem bom nem mau, a chave reside na forma como foi criada e é usada. Algumas pessoas têm a ideia errada de que o budismo diz que devemos renunciar a todas as posses. Isso simplesmente não é verdade. Na verdade, o butornar-se um Buda para liberar todos os seres sencientes. 31

dismo diz que é importante possuir coisas; é justo que as coisas que temos sejam diferentes do que as pessoas geralmente pensam. De acordo com o budismo “ter” é alegria, não apenas para nós mesmos, mas para todos os seres sencientes. A maneira de concretizar esse objetivo é desenvolver a mente para o não-apego, que é, de ter tudo por não possuir nada. Costumo dizer que devemos considerar “não ter” como “ter”, assim como devemos ver o vazio como existência. Como mencionei anteriormente, sem vazio não há existência; da mesma maneira que podemos apenas “ter” coisas por “não ter.” Quando nós possuímos coisas que são limitadas por natureza, mensuráveis e calculáveis; considerando que, “não tendo” é ilimitado, imensurável, e sem limites. Dentro da vida existem dois mundos. O que está diante dos nossos olhos é um «mundo de possuir.» Por causa da sua ignorância, os seres sencientes lutam pelas suas posses. Eles não sabem que quando eles olharem para trás e olharem em seu redor, eles vão descobrir que há um outro mundo, maior e mais amplo. Este é o outro mundo, “Mundo de não ter” e será compreendido somente se os desejos egoístas e emoções forem erradicados. Dentro deste mundo de “não ter”, o nascimento e a morte são erradicados, os desejos extintos, e toda a dualidade, as diferenças e ilusões não existem mais. É completamente liberado e despreocupado de ser. Este é o estado que todos os budistas devem se esforçar para alcançar. Quando é que este estado de libertação pode ser 32

alcançado? Será que tem que se esperar até que o corpo físico morra e a vida não exista mais? Não. Isso foi o estado alcançado pelo Buddha quando ele se sentou debaixo da árvore Bodhi na noite de sua iluminação. Se trabalharmos diligentemente, podemos atingir este estado, assim como o Buddha fez. Qual é o estado de um ser iluminado? Nos olhos da maioria das pessoas, uma pessoa iluminada, muitas vezes comporta-se de forma muito estranha. Por exemplo, nos registros de Budismo Chan2, os iluminados mestres Chan expressaram-se de maneiras diferentes quando se tornaram iluminados. Alguns discípulos riam-se loucamente, e outros atingiram os seus mestres; os mestres não se importaram com tal comportamento, realmente aprovaram. Este tipo de comportamento era completamente inaceitável para as pessoas comuns. No entanto, para um ser iluminado, expressões como estas denotam a natureza de Chan

IV. A Verdade do caminho que conduz à cessação do sofrimento Como podemos eliminar as causas de sofrimento? Os Ensinamentos budistas descrevem o processo em 2 Também conhecido como Budismo zen 33

grande pormenor, e existem muitos ensinamentos, incluindo os quatro estados imensuráveis da mente, os quatro votos universais, o treino tríplice, os cinco preceitos, as dez ações saudáveis ​​, os sete membros da iluminação, o nobre caminho óctuplo, as trinta e sete práticas para a iluminação e as seis perfeições. Todos estes são considerados parte do caminho, mas por razões de brevidade é melhor descrever o Nobre Caminho Óctuplo. O caminho óctuplo nobre inclui oito fatores que, quando praticados corretamente, levam à cessação do sofrimento. Estes passos são visão correta, pensamento correto, linguagem correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção plena correta, e a direita meditativa concentração. O trajeto óctuplo nobre parece ser muito simples, mas para compreendê-lo completamente não é tão fácil. Vamos dar uma olhada em cada um dos elementos no trajeto óctuplo nobre.

Entendimento correto O Entendimento correto é o que nos permite manter a nossa fé na verdade, quando confrontados com as desigualdades ou dificuldades. O conhecimento mundano tanto pode ser bom como mau. Às vezes não é confiável e pode levar-nos ao engano. Consideremos por um momento o caracter chinês para a ignorância (chi): 痴 Este caracter é um composto de dois outros 34

caracteres: zhi (知), que significa conhecimento e Chuang (疒), que significa doença. Quando o conhecimento é corrompido, ele transforma-se em ignorância. Algumas pessoas são extremamente inteligentes, mas quando praticam más ações são duplamente destrutivas! Por exemplo, tanto o líder Nazi, Hitler, da Alemanha, como o Primeiro Imperador da dinastia Qin eram inteligentes, no entanto eram diabólicos. Como podemos ver, o conhecimento profundo de uma pessoa não é necessariamente proporcional à sua moralidade. O conhecimento é como uma faca afiada. Se não for usado corretamente, pode magoar os outros. Portanto, é muito importante para nós saber como transformar o conhecimento em sabedoria e entendimento correto. Transformar o conhecimento em sabedoria e entendimento correto não é fácil. O princípio é o mesmo como se estivéssemos a fotografar. O foco, a distância e a velocidade do obturador devem ser ajustados em conformidade antes de se poder ter uma imagem clara e bonita. Da mesma forma, só se pode ver a verdadeira natureza da vida e do universo como realmente são, se a pessoa tiver um entendimento correto. Se não tivermos o entendimento correto quando observamos este mundo terreno, sérios erros serão cometidos. É como espreitar as flores através de uma névoa pesada ou pessoas cegas tocarem um elefante.

Pensamento correto O pensamento correto é a vontade certa, deci35

são e contemplação. Significa não ter pensamentos de ganância, raiva e ignorância. Estes três venenos: a ganância, a raiva e a ignorância são os principais obstáculos no nosso caminho para a iluminação. Eles ocupam continuamente as nossas mentes e contaminam a nossa natureza pura. Não é fácil livrar-se destes três venenos. Temos que exercer o esforço contínuo de manter o pensamento correto necessário para superar estes três venenos e seguir o caminho de Buda.

Discurso correto Utilizar o discurso correto significa que não devemos mentir, caluniar outros, usar uma linguagem desagradável, ou proferir discursos frívolos. Há um provérbio chinês que diz: “A doença vem do que você come. O problema vem do que você diz”. A nossa boca é como um machado muito afiado. Se dissermos algo impróprio, não só prejudicaremos outros, como também a nós mesmos. Assim, é muito importante escolhermos sabiamente as nossas palavras.

Ação correta A ação correta significa que não devemos matar, roubar, envolver-nos em má conduta sexual, ou tomar intoxicantes de qualquer tipo. Além da abstenção à prática de ações doentias, precisamos também de realizar ativamente ações saudáveis.

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Modo de vida correto Modo de vida correto refere-se à maneira correta de viver; abstendo-se de trabalhar em postos de trabalho antiéticos, tais como: casas de jogo; venda de bebidas alcoólicas ou instrumentos que podem matar e matadouros em funcionamento. Além disso, parte do modo de vida correto é ter hábitos bem disciplinados, tais como: dormir as horas necessárias para a obtenção de um sono tranquilo; alimentação saudável; exercício físico; descanso e trabalho. O modo de vida correto, não só promove a eficiência e saúde, como também permite ter uma vida familiar feliz e uma vida social estável.

Esforço correto O esforço correto significa aplicar o nosso esforço em quatro áreas: 1ª) Não produzir qualidades prejudiciais que ainda não foram produzidas; 2ª) eliminar as qualidades nocivas que já existem; 3ª) alimentar as qualidades saudáveis que ainda não foram produzidas; e 4ª) manter e multiplicar as qualidades saudáveis ​​que já existem.

Atenção plena correta Para ter a atenção plena correta há que manter a atenção em nós, a consciência e uma mente focada nos quatro fundamentos de atenção plena:

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1º) o corpo é impuro; 2º) os sentimentos resultarão sempre em sofrimento; 3º) a mente é impermanente; 4º) nenhum fenómeno tem um ego substancial. Se contemplarmos sempre o significado da impermanência, do sofrimento e não-eu, não seremos ganancioso para com insignificâncias deste mundo. Lutaremos diligentemente para a Verdade.

Concentração meditativa

correta

Concentração meditativa correta refere-se aos quatro estágios de concentração meditativa (Dhyana). Na realidade significa que devemos concentrar a nossa vontade e pensamentos através da meditação. Se conseguirmos dominar completamente os oito elementos deste Nobre Caminho Óctuplo, alcançaremos o estado de Buda. Até agora, aprendemos o que são as Quatro Nobres Verdades, que pode ser comparado ao processo de cura de uma doença. A segunda nobre verdade, a causa do sofrimento, descreve como uma pessoa fica doente. Depois de definir a raiz da doença, prescrevemos métodos diferentes para curá-la, o que representa a quarta nobre verdade, o caminho que leva à erradicação do sofrimento. Quando a prescrição correta é aplicada e a doença fica curada, então é a terceira nobre verdade, a cessação do sofrimento. Doenças físicas são curadas com a medicina, mas as doenças mentais são curadas com o Budismo. Quando olhamos para as Quatro Nobres Verdades através dos princípios da cura de doenças, podemos 38

ver que o budismo é muito lógico e científico. Após a sua iluminação, o Buda começou o ensino sobre o que ele tinha entendido. A primeira vez que ele ensinou o Dharma, ele “virou a roda do Dharma” três vezes ao enfatizar diferentes aspetos das Quatro Nobres Verdades. O primeiro giro da roda foi instrutivo; ele ensinou sobre o conteúdo e definições das Quatro Nobres Verdades. Ele disse: “Este é o sofrimento, que é opressivo; tal é a causa do sofrimento, que surge; Esta é a cessação do sofrimento, que é atingível; tal é o caminho, o que pode ser praticado.” O segundo giro da roda era proporcionar encorajamento. O Buda convenceu os seus alunos a praticar as Quatro Nobres Verdades, para erradicar aflições e atingir a iluminação. Ele disse-lhes: “Este é o sofrimento, deve entendê-lo; tal é a causa do sofrimento, deve erradica-la; Esta é a cessação do sofrimento, deve perceber isto; tal é o caminho, deve praticá-lo.” No terceiro giro da roda, Buda partilhou a sua realização. O Buda disse aos seus alunos que ele entendeu as Quatro Nobres Verdades. Ele encorajou todos os seres sencientes a empenharem-se e a esforçarem-se para entenderem as Quatro Nobres Verdades como ele próprio realizou. O Buda disse-lhes: “tal é o sofrimento, eu entendi isso; tal é a causa do sofrimento, eu erradiquei-o; Esta é a cessação do sofrimento, eu percebi isso; tal é o caminho, eu pratiquei-o.” Devido ao enfase dado pelo Buda às quatro no39

bres verdades, sabemos que elas devem ser muito importantes. As quatro nobres verdades são os ensinamentos fundamentais do budismo. Elas têm vindo a ser praticadas há mais de dois mil anos. O seu conteúdo é muito fundamentado na verdade, de tal forma que é difícil expressar a sua profundidade num espaço tão curto. Embora o que acabou de ler seja apenas uma breve introdução, certamente plantou sementes saudáveis​​ para a sua futura investigação do budismo.

O GHATA DA TRANSFERÊNCIA DE MÉRITO Que a generosidade, a compaixão, a alegria e a equanimidade permeiem todo o universo;

Que valorizem as bençãos, criem vínculos, beneficiem o céu e a terra. Pratiquemos o Ch´an com pureza, sigamos os preceitos, aceitemos tudo com serenidade; Façamos os Grandes Votos com humildade e gratidão.

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ATIVIDADES DA BLIA PORTUGAL A BLIA desenvolver uma série de atividades no Templo, para o desenvolvimento pessoal, esclarecimento e estudos sobre Budismo.

BLIA

• Estudos de Budismo em horário pós-laboral e aos sábados; • Meditação Ch’an; • Cerimónia do Chá; • Aulas de Tai Chi; • Prática de Caligrafia; • Cerimónias budistas ao domingo. • Retiros

Torne-se associado, ajude a prática do budismo em Portugal.

CONTACTOS BLIA – Associação Internacional Buddha´s Light de Lisboa Rua Centieira, nº 35 1800-056 Lisboa Portugal Tel: 218599286 email: [email protected] www.facebook.com/bliaportugal 42

BLIA Associação Internacional Buddha´s Light de Lisboa Rua Centieira, nº 35 1800-056 Lisboa Portugal Tel: 218599286 email: [email protected] 43 www.facebook.com/bliaportugal

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