Gramatica-secundario

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Gramática didática de português

Colaboraram nesta obra:

Cristina Serôdio, Dulce Pereira, Esperança Cardeira e Isabel Falé

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ÍNDICE

CAPÍTULO 1 | LÍNGUA, COMUNIDADE LINGUÍSTICA, VARIAÇÃO E MUDANÇA 1.1 LÍNGUA E COMUNIDADE LINGUÍSTICA 1.1.1 Estatuto de uma língua 1.1.2 Língua e falante

10 10 12

1.2 VARIAÇÃO E NORMALIZAÇÃO LINGUÍSTICA 1.2.1 Variação Variedades sociais Variedades situacionais Variedades geográficas As variedades do português Variação histórica 1.2.2 Normalização linguística e língua padrão

14 14 14 15 15 15 19 20

1.3 CONTACTO DE LÍNGUAS 1.3.1 Bilinguismo e multilinguismo 1.3.2 Substrato, superstrato e adstrato 1.3.3 Crioulo Os crioulos de base lexical portuguesa

21 21 21 23 23

1.4 MUDANÇA LINGUÍSTICA 1.4.1 Fatores e tipo de mudança Fatores internos Fatores externos Tipos de mudança 1.4.2 História do português As origens do português O galego-português O português antigo O português clássico O português contemporâneo 1.4.3 Genealogia linguística As famílias de línguas As línguas românicas

25 26 26 26 26 28 28 28 28 29 30 31 31 32

F I C H A D E AT I V I D A D E S | 1

33

CAPÍTULO 2 | FONÉTICA E FONOLOGIA 2.1 FONÉTICA E FONOLOGIA 2.1.1 A produção articulatória: breve introdução 2.1.2 Representação dos sons da fala: O Alfabeto Fonético Internacional

38 38 40

2.2 SONS E FONEMAS 2.2.1 Classificação e caracterização de vogais e de semivogais 2.2.2 Classificação e caracterização de consoantes

43

2.3 SEQUÊNCIAS DE SONS 2.3.1 Encontros vocálicos 2.3.2 Encontros consonânticos

47 47 49

2.4 PROCESSOS FONOLÓGICOS 2.4.1 Processos de inserção de segmentos 2.4.2 Processos de supressão de segmentos

50 50 50

43 45

2.4.3 Processos de alteração de segmentos 2.4.4 Processos de permuta de segmentos 2.5 PROSÓDIA/NÍVEL PROSÓDICO 2.5.1 Sílaba Formatos de sílaba Propriedades acentuais das sílabas Classificação das palavras quanto ao número de sílabas 2.5.2 Acento Classificação das palavras quanto à posição da sílaba acentuada 2.5.3 Entoação 2.5.4 Pausa Pausa silenciosa Pausa preenchida F I C H A S D E AT I V I D A D E S | 2 | 3 | 4 | 5

51 53 54 54 55 56 56 57 57 57 58 58 58 59

CAPÍTULO 3 | MORFOLOGIA 3.1 A PALAVRA E OS SEUS CONSTITUINTES 3.1.1 Morfemas ou constituintes morfológicos Radical Afi xos 3.1.2 Palavra simples e palavra complexa

68 68 68 68 69

3.2 MORFOLOGIA FLEXIONAL 3.2.1 Flexão nominal Género Número Grau 3.2.2 Flexão adjetival Género e número Grau 3.2.3 Flexão verbal Conjugações verbais

70 70 70 71 72 73 73 73 76 77

Pessoa e número Modo Tempo Tipologia verbal 3.3 PROCESSOS MORFOLÓGICOS DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS 3.3.1 Derivação Afi xação Conversão Derivação não afi xal 3.3.2 Composição Composição morfológica Composição morfossintática F I C H A S D E AT I V I D A D E S | 6 | 7 | 8 | 9

78 78 79 87 91 91 91 96 96 97 97 98 100

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CAPÍTULO 4 | CLASSES DE PALAVRAS 4.1 CLASSES ABERTAS DE PALAVRAS 4.1.1 Nomes Nomes próprios Nomes comuns 4.1.2 Verbos Verbos principais Verbos auxiliares Verbos copulativos 4.1.3 Adjetivos Adjetivos qualificativos Adjetivos relacionais Adjetivos numerais 4.1.4 Advérbios Subclasses de advérbios Advérbios em -mente Locuções adverbiais 4.1.5 Interjeições

111 111 111 112 113 113 116 117 117 118 119 119 119 121 122 122 123

4.2 CLASSES FECHADAS DE PALAVRAS 4.2.1 Pronomes Pronomes pessoais Pronomes demonstrativos Pronomes possessivos

124 124 125 127 127

4.2.2

4.2.3

4.2.4 4.2.5

Pronomes indefinidos Pronomes relativos Pronomes interrogativos Determinantes Artigos Determinantes demonstrativos Determinantes possessivos Determinantes indefinidos Determinantes relativos Determinantes interrogativos Quantificadores Quantificadores universais Quantificadores existenciais Quantificadores numerais Quantificadores interrogativos Quantificadores relativos Preposições Conjunções Conjunções coordenativas Conjunções subordinativas

F I C H A S D E AT I V I D A D E S | 1 0 | 1 1 | 1 2 | 1 3

128 128 129 130 131 132 133 134 134 134 134 134 135 135 136 137 137 139 140 140 142

CAPÍTULO 5 | SINTAXE 5.1 FRASE 5.1.1 Tipos de frase Frases declarativas Frases interrogativas Frases exclamativas Frases imperativas 5.1.2 Constituintes da frase Grupo nominal Grupo verbal Grupo adjetival Grupo preposicional Grupo adverbial

154 155 155 156 157 157 157 159 160 160 160 160

5.2 FUNÇÕES SINTÁTICAS 5.2.1 Funções sintáticas ao nível da frase Sujeito Predicado Modificador da frase Vocativo 5.2.2 Funções sintáticas internas ao grupo verbal Complementos do verbo Predicativo do sujeito e do complemento direto Modificador do verbo 5.2.3 Funções sintáticas internas ao grupo nominal

161 161 161 162 163 163 163 163 168 170

Complemento do nome Modificador do nome 5.2.4 Funções sintáticas internas ao grupo adjetival Complemento do adjetivo

171 172 172 172

5.3 FRASES SIMPLES E FRASES COMPLEXAS 5.3.1 Coordenação Coordenação assindética Coordenação sindética 5.3.2 Subordinação Orações subordinadas substantivas Orações subordinadas adjetivas relativas Orações subordinadas adverbiais

173 175 175 176 177 177 179 182

5.4 PROCESSOS SINTÁTICOS 5.4.1 Concordância Concordância verbal Concordância nominal 5.4.2 Frases ativas e frases passivas Frases ativas Frases passivas 5.4.3 Elipse

188 188 188 191 192 192 192 194

F I C H A S D E AT I V I D A D E S | 1 4 | 1 5 | 1 6 | 1 7

195

171

3

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ÍNDICE

CAPÍTULO 6 | LÉXICO 6.1 LÉXICO E VOCABULÁRIO

204

6.2 ARCAÍSMOS E RENOVAÇÃO DO LÉXICO

205

6.3 SEMÂNTICA LEXICAL 6.3.1 Significação Signo linguístico, significado e significante Denotação e conotação Monossemia, polissemia e homonímia 6.3.2 Relações semânticas entre palavras Hiperonímia e hiponímia Holonímia e meronímia Sinonímia e antonímia Campo lexical e campo semântico

206 206 206 206 207 208 208 209 209 210

6.4 PROCESSOS IRREGULARES DE FORMAÇÃO DE PALAVRAS 6.4.1 Extensão semântica 6.4.2 Empréstimo 6.4.3 Amálgama 6.4.4 Sigla 6.4.5 Acrónimo 6.4.6 Onomatopeia 6.4.7 Truncação

212 212 212 213 214 215 215 216

F I C H A S D E AT I V I D A D E S | 1 8 | 1 9 | 2 0 | 2 1

217

7.4 ASPETO 7.4.1 Aspeto lexical 7.4.2 Aspeto gramatical

230 230 231

7.5 MODALIDADE

232

F I C H A D E AT I V I D A D E S | 2 2

233

CAPÍTULO 7 | SEMÂNTICA FRÁSICA 7.1 SIGNIFICADO

226

7.2 CONTEÚDO PROPOSICIONAL 7.2.1 Referência Especificidade e genericidade 7.2.2 Predicação 7.2.3 Polaridade

226 226 227 228 228

7.3 TEMPO

229

CAPÍTULO 8 | O USO DA LÍNGUA: ENUNCIAÇÃO, DISCURSO E COMUNICAÇÃO 8.1 ENUNCIAÇÃO E DISCURSO 8.1.1 Enunciação Enunciador Enunciado 8.1.2 Discurso Coesão e coerência Contexto Discurso oral e discurso escrito 8.1.3 Atos de fala Atos ilocutórios Atos de fala indiretos e inferências

236 236 236 237 238 239 239 243 249 250 252

8.2 COMUNICAÇÃO E INTERAÇÃO LINGUÍSTICA 8.2.1 Comunicação verbal e não verbal 8.2.2 Comunicação face a face e à distância 8.2.3 Diálogo e conversa Princípio de cortesia Princípio de cooperação 8.2.4 Regras sociais de uso da língua Adequação às situações de comunicação

255 255 257 257 258 258 262 263

F I C H A S D E AT I V I D A D E S | 2 3 | 2 4 | 2 5

267

CAPÍTULO 9 | TEXTO E RETÓRICA 9.1 TEXTO 9.1.1 Coerência textual Princípio da não tautologia Princípio da não contradição Princípio da relevância 9.1.2 Coesão textual Coesão lexical Coesão referencial Coesão tempero -aspetual Coesão interfrásica Marcadores discursivos 9.1.3 Texto e contexto — deixis Deixis pessoal Deixis temporal Deixis espacial

274 275 275 275 276 276 276 276 278 278 279 281 281 281 282

9.1.4 Relato do discurso 282 Verbos introdutores do relato do discurso 282 Modos de relato do discurso 283 9.1.5 Tipologia textual 285 Textos argumentativos 285 Textos conversacionais 285 Textos descritivos 287 Textos expositivos 287 Textos instrucionais ou diretivos 287 Textos preditivos 288 Textos narrativos 288 9.1.6 Paratexto 289 Título 289 Prefácio 290 Posfácio 290

4

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Índice Bibliografia Epígrafe 9.2 RETÓRICA 9.2.1 Figuras de retórica e tropos Alegoria Aliteração Alusão Anáfora Antítese Apóstrofe Comparação Disfemismo Enumeração Eufemismo Gradação Hipálage Hipérbato Hipérbole

290 290 291 292 293 293 293 293 294 295 295 295 296 296 296 297 297 297 297

Imagem Ironia Lítotes Metáfora Metonímia Oxímoro Perífrase Personificação Pleonasmo Prosopopeia Símbolo Sinédoque Sinestesia 9.3 MODOS LITERÁRIOS 9.3.1 Modo dramático 9.3.2 Modo lírico 9.3.3 Modo narrativo

298 298 298 299 299 300 300 300 301 301 302 302 302 303 303 304 305

F I C H A S D E AT I V I D A D E S | 2 6 | 2 7 | 2 8 | 2 9 306

CAPÍTULO 10 | PONTUAÇÃO 10.1 SINAIS DE PONTUAÇÃO 10.1.1 Vírgula 10.1.2 Ponto e vírgula 10.1.3 Ponto 10.1.4 Dois pontos 10.1.5 Ponto de exclamação 10.1.6 Ponto de interrogação 10.1.7 Travessão 10.1.8 Reticências

314 314 316 317 317 318 318 318 319

10.3 CONFIGURAÇÃO GRÁFICA 10.3.1 Formas de destaque

323 324

10.2 SINAIS AUXILIARES DE ESCRITA

320

F I C H A D E AT I V I D A D E S | 3 0

325

A N E X O S D E C O N J U G AÇ Ã O V E R B A L S O LU Ç Õ E S DA S F I C H A S D E AT I V I DA D E S

328 351

10.2.1 10.2.2 10.2.3 10.2.4 10.2.5 10.2.6

Parênteses retos ou colchetes Parênteses curvos Aspas Aspas altas Asterisco Chaveta

ÍNDICE REMISSIVO BIBLIOGRAFIA

320 320 321 322 322 322

361 367

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Prefácio A Grámática Didática de Português é uma obra que visa contribuir para um melhor conhecimento e uso das estruturas linguísticas da língua portuguesa, apresentando-se como um material completo e atualizado de apoio ao ensino do Português. Não se tratando de uma gramática exclusivamente escolar, é especialmente indicada para alunos e professores do 3.º ciclo do Ensino Básico e do Ensino Secundário, visto que os seus conteúdos, com uma cobertura linguística ampla, abrangem todos os temas gramaticais lecionados nestes níveis de ensino. Por esse motivo, as autoras tiveram a preocupação de usar uma linguagem e descrições gramaticais claras e acessíveis a todos os leitores, mantendo, no entanto, o rigor terminológico. A gramática encontra-se organizada em dez capítulos, desenvolvidos por professoras do Ensino Superior especialistas nas respetivas áreas. Os conteúdos teóricos, apresentados de forma clara e acompanhados de vários exemplos a fim de facilitar a sua compreensão, são complementados no final de cada capítulo por fichas de atividades relativas aos temas abordados, que permitem consolidar conhecimentos e desenvolver competências linguísticas específicas. Por se tratar de uma componente prática e mais vocacionada para estudantes, as atividades foram desenvolvidas por professoras do 3.º Ciclo do Ensino Básico e do Ensino Secundário. As soluções destas atividades são apresentadas no final do livro. A Grámática Didática de Português respeita o Dicionário Terminológico, aprovado pelo Ministério da Educação. Os termos deste dicionário podem facilmente ser localizados a partir do índice remissivo que se encontra no final da gramática. Tratando-se de uma nova terminologia, procurou-se ao longo da gramática estabelecer, sempre que possível, uma relação entre os termos agora introduzidos e os da gramática tradicional. Uma nota final para a ortografia da gramática, que segue as regras do novo Acordo Ortográfico, em vigor em Portugal desde janeiro de 2010.

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Convenções e símbolos Adj Adv Comp C. A. Pas C. Dir C. Ind C. Obl Conj Det F GAdj GAdv GN

Adjetivo Advérbio Complemento Complemento agente da passiva Complemento direto Complemento indireto Complemento oblíquo Conjunção Determinante Frase Grupo adjetival Grupo adverbial Grupo nominal

GP GV Mod N O P P. C. Dir P. Suj Pred Suj V V. Aux V. Cop

Grupo preposicional Grupo verbal Modificador Nome Oração Preposição Predicativo do complemento direto Predicativo do sujeito Predicado Sujeito Verbo Verbo auxiliar Verbo copulativo

ALFABETO FONÉTICO Vogais orais

[i] [e] [E] [a] [å] [ˆ] [ç] [o] [u]

pico peso esta mata cama dente porta bolo tu

Vogais nasais [" ]) [e)] [å)] [o)] [u)]

pingo frente irmã ontem nenhum

Semivogais [j] [w]

pai mau

Consoantes [p] [t] [k] [b] [d] [g] [f] [s] [S] [v] [z] [Z] [m] [n] [ˉ] [l] [l‚ ] [¥] [R] [{]

pato taco casa bule dó galo fato saco xaile veado casa janela mão não manhã lado mal telha caro carro

Notas: O asterisco (*) indica uma estrutura agramatical. O símbolo > indica a evolução de uma palavra.

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1 O L U CAPÍT

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, a u g n í L e d a d i n comu , a c i t s Linguí o ã ç a i r a v a ç n a d e mu GUÍSTICA N I L E D A D I COMUN 1.1 LÍNGUA E UÍSTICA G N I L O Ã Ç A Z E NORMALI O Ã Ç A I R A V 1.2 ÍNGUAS L E D O T C A T 1.3 CON GUÍSTICA N I L A Ç N A D 1.4 MU ADES | 1 D I V I T A E FICHA D

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Língua, comunidade Linguística, variação e mudança

LÍNGUA E COMUNIDADE LINGUÍSTICA

Saber Mais

O que é a língua portuguesa? A resposta óbvia será: «É a língua que os portugueses falam.» Mas não são apenas os portugueses que falam português: a língua portuguesa foi levada para todos os continentes, sendo falada também no Brasil, em Angola, Moçam­ bique, Cabo Verde, Guiné­Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor­Leste e Macau. A nossa língua tem cerca de 200 milhões de falantes (é a quinta língua mais falada no mundo), o que faz da comunidade linguística do português (o conjunto de falantes que comunicam entre si em português) uma das mais vastas do mundo.

Portugal

Cabo Verde

Guiné-Bissau

Oceano Pacífico

Oceano Índico

Oceano Atlântico

Oceano Pacífico

Brasil

Moçambique

São Tomé e Príncipe Angola

Timor-Leste

Figura 1 | A comunidade linguística portuguesa.

Uma comunidade linguística é composta por todos os falan­ tes que utilizam uma mesma língua (ou um mesmo dialeto) para comunicarem entre si. Na comunidade linguística portuguesa, para a maior parte das pessoas o português é, também, a língua que aprendem desde que nascem, mas muitas pessoas com outras lín­ guas maternas falam diariamente o português em países em que este é a língua oficial.

1.1.1 Estatuto de uma língua Em Portugal e no Brasil, o português é a língua nacional e ofi­ cial. Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné­Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor­Leste têm diversas línguas nacionais e, por opção governamental, têm o português como língua oficial. Em Macau, o português mantém­se como língua oficial, a par do chinês, por um 10

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período de cinquenta anos, iniciado no ano da sua integração no território na China (1999). Uma língua nacional é aquela que é falada pelos habitantes de uma nação. Em Portugal, a língua nacional é o português, mas há países, como a Suíça ou a Espanha, que têm mais do que uma língua nacional. Uma língua oficial é a que os cidadãos usam, obrigatoria­ mente, no contacto com a administração do país onde residem. Em Portugal, a língua nacional e a língua oficial coincidem.

Saber Mais

Desde que nascemos, entramos em contacto com a língua que os nossos pais falam. No ambiente familiar, começamos a apren­ der a falar a nossa língua materna; depois, na escola, aprendemos línguas estrangeiras. Em Portugal, é costume aprendermos inglês, francês, alemão ou espanhol. O português é a nossa língua materna; o inglês, o francês ou o espanhol que aprendemos são, para nós, línguas estrangeiras, embora sejam línguas maternas para outras comunidades linguísticas (o inglês é a língua materna dos ingleses e o francês, dos franceses, etc.). Há, em Portugal, muitos imigrantes que vieram de países afri­ canos ou do Leste da Europa. Imaginemos a situação de um imi­ grante ucraniano em Portugal: a sua língua materna é o ucraniano e, aqui, aprende português. Ao fim de algum tempo, terá capaci­ dade para se exprimir em português fluentemente, quase com a mesma naturalidade com que se exprime na sua língua materna, porque o português se tornou a sua língua segunda. Como se vê, o estatuto de uma língua pode depender da pers­ petiva: o português é língua materna e oficial para portugueses e brasileiros; língua oficial (embora possa não ser língua materna) para um cabo­verdiano ou um angolano; língua estrangeira para um inglês ou um francês; língua segunda para um imigrante inte­ grado em Portugal.

Saber Mais

No território português, além da língua portuguesa, existe também outra língua, o mirandês. O mirandês é uma língua minoritária falada no distrito de Bragança. Para as pessoas naturais de Miranda do Douro, o mirandês é a sua língua materna e o portu­ guês, a língua nacional. Não se trata de uma variedade do portu­ guês, mas de uma língua com origem no asturo­leonês. A região de Miranda do Douro foi povoada por leoneses desde o início do século XIII até ao século XV. Ao longo desses sécu­ los, o leonês fixou­se nas terras de Miranda, que, isoladas do resto de Portugal devido à sua localização geográfica mas em constante contacto com as vizinhas terras do reino de Leão, conservaram esta variedade linguística até aos nossos dias. Em 1999, o parlamento português reconheceu aos falantes de mirandês o direito de uti­ lizarem a sua língua, conferindo­lhe o estatuto de língua oficial minoritária. 11

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Língua, comunidade Linguística, variação e mudança

Saber Mais

O português, o inglês ou o francês são exemplos de línguas , adquiridas como línguas maternas nos nossos dias. Mas algumas línguas deixaram de ser faladas ou porque perderam importância e foram substituídas por outras ou porque evoluíram e se transformaram em línguas diferentes. Chamamos línguas mortas a essas línguas que se extinguiram. Por exemplo, no Sul da Península Ibérica, na época da ocupação árabe, falava­se moçá­ rabe. Com a Reconquista Cristã, o moçárabe foi substituído pelo português e pelo castelhano e deixou de ser falado, tornando­se uma língua morta. Outro caso é o do latim: é uma língua morta (não é língua materna de ninguém) não por ter sido substituída por outras, mas porque evoluiu, dando origem a novas línguas (português, espanhol, francês, italiano e romeno)(1) .

1.1.2 Língua e falante Estamos sempre a comunicar. Quando conversamos, quando pedimos alguma coisa a alguém, quando respondemos a uma per­ gunta, estamos a comunicar. Comunicamos quando falamos ou quando escrevemos. Até quando pensamos estamos a comunicar connosco. Como somos falantes do português, comunicamos, normal­ mente, em português. Mas ser falante do português não significa, apenas, «falar português». Um falante de uma língua é um utiliza­ dor dessa língua, possuindo conhecimentos sobre a mesma. Uma pessoa que tenha como língua materna o português terá a capa­ cidade de usar as suas estruturas de forma consciente e intuitiva, ou seja, terá a competência linguística suficiente para conseguir comunicar eficazmente em português. Observem­se as sequências de palavras que se seguem. (1) Esta árvore é uma pereira. (2) Pereira uma é árvore esta. (3) Esta árvore é azul. Um falante de português reconhecerá que a primeira sequên­ cia (Esta árvore é uma pereira.) é uma frase portuguesa; em (2), compreenderá todas as palavras, mas perceberá que não consti­ tuem uma frase possível em português; finalmente, em (3), ape­ sar de a frase não parecer fazer sentido, reconhecê­la­á como bem formada de acordo com as regras do português. É a competência linguística dos falantes que permite interpretar estes enunciados. Através do contacto com a comunidade linguística e da ins­ trução, um falante de uma língua desenvolve a sua competência comunicativa (capacidade de comunicar de forma eficaz) e a sua competência metalinguística (capacidade de manipular e refletir sobre unidades, processos e regras da gramática da sua língua). (1)

Para saber mais sobre as línguas que tiveram origem no latim, ver a página 32.

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Comunicar não é só falar ou escrever: quando comunicamos, temos de adaptar o nosso discurso à situação em que nos encon­ tramos. Não comunicamos da mesma forma se estivermos a con­ versar com amigos ou a expor um trabalho na aula, se estivermos ao telefone ou a ser entrevistados para a televisão, se escrevermos um SMS a um colega ou uma carta a um professor. Um falante de uma língua desenvolve a capacidade de adequar o seu discurso à situação particular em que se encontra e ao meio de comunicação que utiliza. Essa capacidade é a competência comunicativa e é ela que nos permite comunicar de forma adequada em cada momento e compreender o que nos dizem, distinguindo uma ordem de uma opinião ou de um pedido. A competência comunicativa não se resume à competência linguística, englobando também conhecimentos sociais e cultu­ rais. Por exemplo, para comunicarmos de forma eficaz, não basta sabermos falar português, precisamos, também, de saber quando devemos tratar o nosso interlocutor por tu, você ou o senhor. E pre­ cisamos, ainda, de compreender o contexto em que um enunciado é proferido. É a nossa competência textual que nos permite per­ ceber que a frase Esta árvore é azul não faz sentido se estivermos a falar de uma pereira, mas que se torna aceitável se for um verso de um poema. É também a competência textual que nos capa­ cita para produzirmos e interpretarmos diversos tipos de discurso (uma notícia, um conto, uma conversa, etc.). Muitas vezes, quando falamos ou escrevemos, interrogamo­ ­nos sobre a correção de uma determinada forma: Escreve­se nessessidade ou necessidade? Diz­se o livro que eu gosto ou o livro de que eu gosto? Vende-se apartamentos ou vendem-se apartamentos? Esta capacidade que temos para refletir sobre as estruturas e o funcionamento da nossa língua é a nossa competência metalinguística e desenvolvemo­la, em grande parte, com a instrução escolar. No seio familiar adquirimos, naturalmente, competência linguística na nossa língua materna; com o contacto com grupos sociais mais alargados, desenvolvemos a competência comunica­ tiva, aprendendo a viver e a comunicar em sociedade. O conhecimento consciente do funcionamento da língua, a competência metalinguística que aprofundamos na escola, per­ mite­nos falar, escrever e pensar de forma mais eficaz. É também a competência metalinguística que nos permite perceber trocadilhos e jogos de palavras: Ministénio = aparelho de som de dimensões reduzidas. Eficiência = estudo das propriedades da letra F. Coordenada = que não tem cor. 13

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Língua, comunidade Linguística, variação e mudança

1.2 VARIAÇÃO E NORMALIZAÇÃO LINGUÍSTICA 1.2.1 Variação Uma propriedade comum a todas as línguas vivas é a varia­ ção. Quando comparamos o modo de falar de pessoas de regiões ou grupos sociais distintos, apercebemo­nos de diferenças quer a nível lexical quer a nível fonético, semântico ou morfossintático. Temos, também, consciência de que o português moderno não é igual ao antigo e de que não falamos do mesmo modo em todas as situações. A língua varia, portanto, em função das regiões geo­ gráficas, do tempo, dos grupos sociais e das circunstâncias em que a utilizamos. Chamamos variação à propriedade que as línguas têm de se diferenciarem em função da geografia, da sociedade e do tempo, dando origem a variantes e a variedades linguísticas. Variedade é o nome que damos a uma subdivisão de uma determinada língua que é definida por um conjunto de caracterís­ ticas linguísticas próprias de uma comunidade restrita. Tomando como critério uma divisão social, estilística ou geográfica, uma lín­ gua tem variedades sociais, variedades situacionais e variedades geográficas.

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Variedades sociais A língua varia consoante os grupos sociais a que pertencem os seus falantes: diferentes grupos sociais podem utilizar vocabu­ lário, construções frásicas e pronúncias diferentes. Pessoas que partilham o mesmo ambiente socioeconómico ou educacional desenvolvem, por vezes, características linguísticas particulares. Quando uma variedade é usada por falantes que pertencem à mesma classe social, denomina­se socioleto (dialeto social). Pensar que esses socioletos são característicos de classes sociais desprestigiadas é um erro: na verdade, todos os falantes pertencem a grupos sociais com traços linguísticos próprios. No desempenho da sua profissão, os falantes usam, muitas vezes, uma terminologia que não é compreendida por profissionais de outros ramos. Termos jurídicos — frustração de créditos, acareação, … Termos da medicina — joelho valgo, abóbada palatina, … Termos da linguística — sujeito expletivo, verbo copulativo, … Termos da marinha — abafar o pano, baldeação, … Termos da economia — bancassurance, câmbio deslizante, … Termos da vinicultura — alvarelhão, tinto cão, … Termos da química — ânodo de sacrifício, lixiviação, …

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Variedades situacionais As variedades situacionais resultam da situação de comuni­ cação em que o falante se encontra, já que a língua varia, também, consoante as circunstâncias: falamos de modo diverso com ami­ gos e em situações formais ou quando nos dirigimos a alguém que nos é hierarquicamente superior; escrevemos de forma diferente uma carta e um texto literário; não escrevemos como falamos. Ao longo da vida, em contacto com os outros membros da nossa comunidade linguística e através da instrução formal que recebemos na escola, aprendemos a adequar o estilo de lingua­ gem às situações de comunicação em que participamos, desenvol­ vendo a nossa competência comunicativa.

Variedades geográficas

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Uma língua assume formas diferentes ao longo da sua exten­ são territorial. Os acontecimentos históricos, os contactos com falantes de outras línguas ou o tempo determinam que a língua se vá progressivamente diferenciando e que cada região em que é falada desenvolva traços próprios. Como acontece a todas as línguas, o português sofreu nume­ rosas mudanças à medida que se foi implantando em diferentes espaços geográficos, originando diversas variedades. Em cada região, encontramos uma variedade distinta, com os seus traços particulares. No Brasil não se fala português como em Portugal e mesmo em Portugal há diferenças entre o falar de um algarvio e o de um minhoto. Chamamos variedades geográficas, dialetos regionais ou, sim­ plesmente, dialetos a estas diferentes formas que a língua apresenta consoante as regiões em que é falada.

As variedades do português Como consequência do movimento expansionista dos Des­ cobrimentos, a partir do século XV, o português tornou­se língua materna de muitos milhões de pessoas, das quais apenas uma pequena parte vive em Portugal, e tem, atualmente, além da variedade europeia, a variedade brasileira e as variedades africanas.

A variedade europeia Ao português falado em Portugal continental e nos arquipé­ lagos dos Açores e da Madeira chamamos variedade europeia. Podemos distinguir dois grandes grupos de dialetos no por­ tuguês continental: • dialetos setentrionais; • dialetos centro­meridionais. 15

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O grupo dos dialetos setentrionais fala­se nas regiões de Trás­os­Montes, Alto e Baixo Minho, Douro e Beira Alta. Distingue-se, sobretudo, por não fazer distinção entre b e v (um falante desta região dirá pobo em vez de povo) e pronunciar o som [s] de uma forma diferente (o chamado «s beirão»). Os dialetos setentrionais são muito conservadores e diversi­ ficados, o que se deve a razões diversas, geográficas e históricas: são dialetos de regiões desde cedo povoadas, «terras antigas» e de grande densidade populacional. Ao longo dos séculos, conserva­ ram traços antigos mas foram­se diversificando. O grupo dos dialetos centro-meridionais abrange a Estre­ madura e a Beira Baixa, o Ribatejo, o Alentejo e o Algarve. O traço mais marcante destes dialetos é a passagem do ditongo ei à vogal e («dinhero» em vez de «dinheiro»). Os dialetos dos Açores e da Madeira podem ser inseridos no grupo dos dialetos centro­meridionais, mas têm algumas caracte­ rísticas específicas. Por exemplo, no arquipélago açoriano, na ilha de São Miguel, a vogal u é articulada como a vogal francesa de tu; na Madeira, a consoante l quando precedida da vogal i pronuncia­ ­se como lh (fila soa como filha). Além destas características fonéticas, registam­se diferenças lexicais de vocábulos ou expressões utilizados em diferentes regi­ ões. Por exemplo, enquanto na área a sul do Tejo se diz ordenhar (a vaca), na serra da Estrela usa­se mugir ou mungir e em outras regiões. Outros exemplos são:

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cadeado → aloquete (Norte de Portugal) ervilhas → griséus (Algarve) amendoins→ alcagoitas (Algarve) batata → semilha (Madeira) hortênsia → novelo (Madeira) novilho → gueixo (Açores) mesa de cabeceira → escaparate (Açores)

A variedade brasileira O português do Brasil descende do português europeu. No Brasil, o português do colonizador entrou em contacto com as línguas indígenas brasileiras e com as línguas africanas chega­ das pelo tráfico negreiro entre o século XVI e o século XIX, transfor­ mando­se e adquirindo uma nova feição. A partir de meados do século XIX, o desenvolvimento do por­ tuguês no Brasil recebeu, também, influências das línguas dos que emigraram para o Brasil, oriundos da Europa e da Ásia.

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Algumas diferenças entre a variedade brasileira e a variedade europeia

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Quando um português ouve um brasileiro, a primeira impressão que tem é a da diferença de pronúncia. Essa diferença resulta, em grande parte, da pronúncia das vogais não acentua­ das, que são claramente articuladas no português do Brasil mas não no europeu: • ao a aberto no Brasil corresponde um a fechado em Por­ tugal e à vogal aberta o corresponde u, como em partir e moleza, pronunciados no Brasil como pártir e móleza; • enquanto o falante do português europeu torna quase inaudível a vogal e em peludo ou nome, na fala do brasileiro esta vogal realiza­se como i: piludo, nomi. Quanto às consoantes, as principais diferenças são: • l em final de palavra ou sílaba passa a semivogal (2) na varie­ dade brasileira (as palavras Brasil e alto, por exemplo, são pronunciadas Brasiu e auto); • r final é frequentemente eliminado na variedade brasileira (amor é pronunciado amô); • t e d são palatalizados (3) quando ocorrem antes de i (tónico ou átono) ou de e (pós­tónico): as palavras tia e dia, ponte e pede são pronunciadas como tchia, djia, pontchi e pedji na variedade brasileira. Além destas diferenças fonológicas entre a variedade brasi­ leira e a europeia, também se verificam diferenças a nível morfológico, lexical e sintático: • o português europeu tem um complexo sistema de formas de tratamento (tu, você, o João, o senhor, o doutor, ...). No Bra­ sil, esse sistema reduziu­se, generalizando­se a forma você; • a variedade brasileira substitui as formas dos pronomes pessoais de terceira pessoa com função de complemento — o, a, os, as — por ele, ela, eles, elas. Assim, enquanto um português diria Eu vi-o ontem, um brasileiro dirá Eu vi ele ontem. Outra diferença consiste na utilização do pronome lhe, que em Portugal tem a função de complemento indi­ reto, usado no Brasil como complemento direto: Eu vi-te no cinema. / Eu lhe vi no cinema; • os pronomes pessoais com função de complemento são geralmente colocados depois do verbo em Portugal (Ele deu-me um beijo.) e antes do verbo no Brasil (Ele me deu um beijo.); (2) (3)

Sobre o conceito de semivogal, ver a página 45. Sobre o conceito de palatalização, ver a página 52.

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• na variedade brasileira, usa­se o verbo ter com o significado de existir (há muito tempo/tem muito tempo); • o paradigma verbal do português com seis pessoas (eu canto, tu cantas, ele canta, nós cantamos, vós cantais, eles cantam) tem vindo a ser reduzido no Brasil para três (eu canto; você/ele/a gente canta; vocês/eles cantam) ou, até, nos falantes menos escolarizados, para duas (eu canto; você/ele/a gente/eles canta). As diferenças lexicais na variedade brasileira são abundantes devido à influência ameríndia, especialmente na toponímia (Guanabara, Tijuca, ...) e nos campos da fauna e da flora (piranha, urubu, mandioca, abacaxi, maracujá, caju, jacarandá, ...), bem como à presença de africanismos (senzala, samba, moleque, vatapá, moqueca, ...).

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O português em África: variedades africanas O português é, por opção política, a língua oficial de um con­ junto de países africanos: Angola, Moçambique, Guiné­Bissau, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe. Nestes países, o português é a língua institucional, do ensino e da produção literária. Por enquanto, a língua portuguesa em África segue a norma europeia. Contudo, a forte interferência das línguas africanas vai dando origem a mudanças, já bem visíveis nos textos literários, e que conduzirão à constituição de novas normas(4), como sucedeu no Brasil. Em Angola e Moçambique, o português convive com diversas línguas nacionais (por exemplo, quimbundo, umbundo e quicongo em Angola, ronga e macua em Moçambique), que são línguas maternas da maior parte da população. O português é para mui­ tos, principalmente nas zonas rurais, uma língua segunda. São as interferências dessas línguas maternas que explicam alguns tra­ ços do português falado em Angola e em Moçambique: o ensur­ decimento do s intervocálico (cassa por casa), a alternância entre consoantes oclusivas surdas e sonoras (bata por pata, pom por om), a indistinção entre r e l (arto por alto e talimba por tarimba, por exemplo), a nasalização (enconomia por economia) ou a falta de concordância em número do artigo com o nome (as casa, os pai). Tal como acontece com os falantes de português do Brasil, também notamos imediatamente, quando ouvimos um falante de uma variedade africana, diferenças em relação à variedade europeia: na pronúncia, na construção das frases e no vocabulário. Cerca de 60% da população de Angola fala português, a par da sua língua materna. Durante a guerra civil que se seguiu à inde­ pendência (1975), uma parte da população rural refugiou­se nas cidades e adotou o português como meio de comunicação. Em Moçambique, existem várias línguas nacionais. O portu­ guês, falado por cerca de 25% da população, coexiste não só com Para saber o que é a norma, ver a página 20.

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essas línguas maternas mas também com o suaíli, língua franca(5) da África Oriental. Na Guiné-Bissau, a situação linguística é complexa: além do crioulo(6), que funciona como língua veicular entre falantes de línguas maternas diversas, fala­se uma multiplicidade de línguas africanas (mandinga, jacanda, fula, balanta, manjaca, etc.) e portu­ guês, que, embora seja a língua oficial e do ensino, é utilizado por apenas cerca de 10% da população. Em Cabo Verde, o português, falado por cerca de 80% da população, coexiste com o crioulo cabo­verdiano, de base portu­ guesa, que é a língua materna e o principal instrumento de comu­ nicação. Também em São Tomé e Príncipe, o português — língua ofi­ cial e do ensino, falada por mais de 95% dos santomenses — con­ vive com crioulos.

O português no resto do mundo Além de ser falada na Europa, na América e em África, a lín­ gua portuguesa difundiu­se, também, na Ásia, sendo falada na Índia, em Macau e em Timor. Em Goa (integrada na Índia em 1961, passando o inglês a lín­ gua oficial), ainda há, atualmente, falantes de português. Em Macau, o português continua a ser falado como língua segunda por um reduzido número de macaenses, «os filhos da terra», que têm como primeira língua o cantonês. Em Timor, anexado pela Indonésia em 1974, a língua portu­ guesa manteve­se (a par do tétum, língua franca nacional) como símbolo de resistência durante todo o período da ocupação, apesar de o seu ensino ter sido proibido. Depois da independência, o por­ tuguês tornou­se língua oficial. O português é, também, falado nas comunidades de emi­ grantes espalhadas por todo o mundo.

Variação histórica A variação não se limita ao espaço, à sociedade ou à situação do falante: a língua também varia no tempo. Quando comparamos textos escritos em português antigo com a língua que usamos atualmente, apercebemo­nos de pala­ vras e construções que desapareceram. É essa variação no tempo que justifica uma divisão da história da língua em períodos: por­ tuguês antigo, português clássico e português contemporâneo são designações que utilizamos quando nos referimos às diferen­ tes fases evolutivas do nosso idioma. Naturalmente, em qualquer um desses períodos também se registam variedades geográficas, sociais e situacionais. (5) (6)

Para saber o que é uma língua franca, ver a página 21. Para saber o que é um crioulo, ver a página 23.

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Variação histórica é a mudança que a língua sofre com o decorrer do tempo(7). A este tipo de variação também se chama variação diacrónica.

1.2.2 Normalização linguística e língua padrão Ler Mais

Apesar de existirem diferenças entre as suas variedades, o português falado em Portugal é hoje uma língua bastante homo­ génea devido à ação de diversos fatores, entre os quais se desta­ cam a ampla difusão dos meios de comunicação e a implantação do ensino obrigatório. O traço de união entre as diversas variedades é a língua padrão, que funciona como um modelo linguístico. Entre as muitas variedades de uma língua, há uma que se destaca e é escolhida pela sociedade como modelo, como ideal lin­ guístico da comunidade (as normas linguísticas, tal como as nor­ mas de conduta em sociedade, são um compromisso aceite pela comunidade). Em geral, a variedade que se torna padrão é a que é falada na região mais prestigiada do país, o que significa que essa escolha é determinada por fatores históricos, políticos, sociais e culturais. Língua padrão é a variedade social de uma língua que foi legi­ timada historicamente enquanto meio de comunicação de uma comunidade linguística. No caso de Portugal, a língua (escrita e falada) dos meios de comunicação social e da escola é a língua padrão, que assenta na variedade das classes média e alta de Lisboa. Isto não significa que esta variedade seja «melhor» do que qualquer outra, mas apenas que ela é, tacitamente, aceite como modelo pela sociedade, funcionando, desse modo, como um dos elementos que identificam e dão coesão a uma comunidade, tal como a história, a cultura ou a religião. A escola, os meios de comunicação social e as obras literárias difundem a língua padrão, tornando­se, assim, instrumentos de normalização linguística, controlando a gramática, a pronúncia e a ortografia. No ambiente familiar aprendemos, desde que nascemos, o português enquanto língua materna. Na aula de Português, apren­ demos a norma padrão, o conjunto de regras prescritas pelas gra­ máticas normativas.

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Sobre o conceito de mudança linguística, ver a página 25. | Sobre a história do português, ver a página 28.

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1.3 CONTACTO DE LÍNGUAS

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Assim como os povos estão em contacto uns com os outros, também as línguas entram em contacto com outras línguas. Desse contacto podem resultar alterações na estrutura da língua. Atualmente o inglês estende­se por todo o mundo como a língua internacional por excelência (é, nomeadamente, a princi­ pal língua da Internet e do cinema). Estamos, por isso, expostos a um contacto constante com o inglês, o que se nota na nossa lin­ guagem quotidiana, pois usamos frequentemente vocábulos de origem inglesa: bowling, aftershave, catering, etc. O inglês tornou­ ­se, nos dias de hoje, uma língua franca. Uma língua franca é uma língua de comunicação entre diferentes comunidades de línguas distintas.

1.3.1 Bilinguismo e multilinguismo Por vezes, em determinada região coexistem duas ou mais línguas. Um falante — ou uma comunidade linguística — pode ter capacidade para se exprimir em duas línguas. Diz­se que um falante é bilingue quando tem competência linguística em duas línguas diferentes. Os emigrantes portugueses são, geralmente, bilingues: têm competência linguística na língua materna e na lín­ gua do país em que residem e que aprendem como língua segunda. Pode acontecer que uma pessoa tenha capacidade para se exprimir com um desempenho semelhante em várias línguas: diz­ ­se, então, que é multilingue. O bilinguismo e o multilinguismo podem caracterizar toda uma comunidade. Por exemplo, o Canadá é um país bilingue (tem duas línguas oficiais: francês e inglês) e a Suíça, um país multilin­ gue (o alemão, o francês e o italiano são as suas línguas oficiais). Calcula­se que cerca de 70% da população mundial seja bilin­ gue ou multilingue. Os portugueses eram, em geral, indivíduos monolingues (só falavam a sua língua materna), mas, nas últimas décadas, com a facilidade de circulação na Europa e o aumento da escolarização, passaram a falar também uma ou mais línguas estrangeiras.

1.3.2 Substrato, superstrato e adstrato Quando na mesma região convivem duas línguas diferentes, é natural que, com o passar do tempo, se influenciem mutuamente e sofram, por isso, mudanças. Foi o que aconteceu na Península Ibé­ rica. Antes da chegada dos Romanos (no século III a. C.), existiam na Península vários povos (celtas, iberos, fenícios, bascos) e falavam­se diversas línguas, que, à exceção do basco, foram substituídas pelo latim. 21

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O latim impôs­se como a língua falada na maior parte da Península e os antigos habitantes tornaram­se bilingues, introdu­ zindo no latim palavras e estruturas das suas línguas maternas. A estas línguas (céltico, lusitano, …), desaparecidas em consequên­ cia do contacto com uma língua invasora, e aos vestígios que dei­ xaram na língua que se lhes sobrepôs, chamamos substrato; à língua que sobreviveu, tornando­se dominante (o latim), chama­se estrato. estrato No início do século V, os povos germânicos invadiram o Impé­ rio Romano. À Península Ibérica chegaram suevos e visigodos. Tam­ bém eles se tornaram bilingues, acabando por abandonar as suas línguas e adotar o latim. Neste caso, foi a língua dos invasores que desapareceu, deixando vestígios linguísticos na língua do territó­ rio dominado: trata­se de um superstrato. Mais tarde, no século VIII, a Península Ibérica foi de novo inva­ dida e, mais uma vez, o latim entrou em contacto com outra lín­ gua, o árabe. O superstrato árabe, além de introduzir léxico novo no estrato latino, contribuiu para o aumento das diferenças exis­ tentes no latim falado em cada região. Com o tempo, da evolução dessas diferenças resultou uma fragmentação linguística: o que havia sido uma língua única (o latim) deu origem ao galego, ao português, ao castelhano e ao catalão. A língua portuguesa resulta, portanto, da evolução do estrato (latino), modificado pelos substratos (línguas pré­romanas) e pelos superstratos (germânico e árabe). Por isso, o léxico português é, na maior parte, constituído por palavras latinas, mas tem vestígios dos substratos e dos superstratos: • Das línguas pré­romanas ficaram­nos palavras como camisa, cerveja, brejo, lousa, esquerdo ou chaparro. • O superstrato germânico deixou­nos vocabulário relacio­ nado com a atividade militar (guerra, guarda, elmo, ganhar, roubar, dardo, trégua, ...), nomes próprios (Afonso, Rodrigo, Fernando, ...) e comuns (albergue, broa, sopa, fato, sala, orgulho, ...). • Os Árabes nomearam as localidades que dominavam (Algarve, Almada, Alcântara, Odemira, ...) e introduziram no português vocabulário relacionado com as atividades mili­ tar (almirante, alferes, ...), agrícola (arroz, açúcar, ...) e cientí­ fica (algarismo, cifra, álgebra, ...). Nem sempre o contacto entre duas línguas provoca mudan­ ças profundas nas suas estruturas. Por vezes, as línguas sobrevivem no mesmo território ou em territórios próximos, estabelecendo uma relação superficial, sem que nenhuma delas assimile a outra. Nesse caso, fala­se de adstrato. Por exemplo, em Espanha, as lín­ guas galega, catalã e castelhana mantêm atualmente uma relação de adstrato, sem que nenhuma delas perca a sua autonomia.

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1.3.3 Crioulo Em certas condições, o contacto entre duas línguas pode con­ duzir ao nascimento de uma nova língua. É o caso dos crioulos Um crioulo é uma língua que resulta de uma situação de contacto entre uma ou várias línguas locais e uma língua estrangeira, tor­ nando­se meio de comunicação de toda uma comunidade. Foi o que aconteceu, por exemplo, em Cabo Verde. Quando os Portugueses chegaram a Cabo Verde, encontraram um arquipélago sem habitantes. Começaram a povoá­lo, levando consigo escra­ vos africanos que falavam diversas línguas maternas. Durante algum tempo conviveram, em Cabo Verde, o português (a língua dominante, dos «senhores») e várias línguas africanas. Uma vez que falavam línguas diferentes, os escravos precisavam de usar uma língua comum para comunicarem entre si e com os portu­ gueses. Passaram, então, a usar o português como língua comum. No entanto, como não tinham muitas oportunidades de aprender português, não dominavam as estruturas da língua e o seu voca­ bulário era muito reduzido (apenas algumas palavras, como pão água, trabalhar, bom, mau,, etc.). A esta linguagem muito simplifi­ cada, que nasce da necessidade de comunicação entre falantes de línguas maternas diferentes e que é usada em situações pontuais, chamamos pidgin. Com o passar do tempo, as necessidades de comunicação torna­ ram­se maiores: nasciam, em Cabo Verde, crianças que aprendiam este pidgin como língua materna,, usando­o, portanto, na comuni­ cação quotidiana. Nessas circunstâncias, o pidgin desenvolveu­se, ganhando uma estrutura gramatical própria, tornando­se cada vez mais complexo e transformando­se numa língua nova, o crioulo de Cabo Verde.

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Os crioulos de base lexical portuguesa No processo de expansão da língua portuguesa, devemos dis­ tinguir duas situações: a afirmação do português, sobrepondo­se às línguas autóctones, e a constituição de crioulos de base lexical portuguesa. A navegação na costa africana e o comércio com o Oriente, com a consequente fundação de portos de mar fortificados, propi­ ciaram a formação de crioulos, entre o início do século XVI e o século XVIII. Comerciantes e colonos estabeleciam­se nas possessões por­ tuguesas, casando com mulheres indígenas. Desenvolveram­se, assim, nas regiões costeiras do Oriente e de África, variedades linguísticas de base portuguesa com influências das línguas indí­ genas, tendo uma estrutura gramatical muito simplificada que se foi complexificando conforme as necessidades comunicativas dos seus falantes. Em geral, estas variedades acabaram por desapare­ cer, mas em algumas das possessões portuguesas a intensificação dos contactos linguísticos, favorecida pelos casamentos mistos, 23

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pelo comércio e pela escravatura, permitiu que essas variedades se expandissem, tornando­se a primeira língua da comunidade. • Em África formaram­se os crioulos da Alta Guiné (Cabo Verde, Guiné­Bissau e Casamansa) e os do golfo da Guiné (São Tomé, Príncipe e Ano Bom). • Na Índia e no Sri­Lanka, surgiram os crioulos indo­portu­ gueses. • Na Malásia e na Indonésia, constituíram­se os crioulos malaio­portugueses. • Em Macau e Hong Kong sobreviviam, ainda há poucos anos, crioulos sino­portugueses. Os crioulos de base portuguesa do Oriente já quase desapa­ receram, sobrevivendo ainda na Malásia (em Malaca, uma comu­ nidade com cerca de um milhar de pessoas fala papiá kristang — «falar cristão») e na Índia (em Damão e em Korlai). É em África que os crioulos de base lexical portuguesa têm maior vitalidade:

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• Em Cabo Verde, o português é a língua oficial e o crioulo é a língua materna de todos os cabo­verdianos. • Em São Tomé e Príncipe, a par do português (língua oficial), existem dois crioulos: forro e moncó. O crioulo forro foi ado­ tado como língua literária por alguns escritores santomen­ ses. • Na Guiné-Bissau, que tem o português como língua oficial, o crioulo é a língua de comunicação e de unidade nacional: atualmente menos de 5% dos guineenses falam português, mas mais de 70% falam crioulo. Foi durante a luta pela inde­ pendência que o uso do crioulo se difundiu, servindo de lín­ gua veicular entre falantes de diversas línguas maternas.

Crioulo de Cabo Verde

Crioulo da Guiné-Bissau

Crioulo de São Tomé e Príncipe Figura 2 | Crioulos de base lexical portuguesa em África. 24

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1.4 MUDANÇA LINGUÍSTICA Com o passar do tempo, as línguas vão sofrendo alterações. Chamamos mudanças linguísticas às modificações que ocorrem na estrutura da língua. O português é uma língua que tem séculos de história e que, ao longo desses séculos, sofreu muitas mudan­ ças linguísticas. Por isso temos dificuldade em perceber um texto escrito em português antigo. Algumas mudanças linguísticas que as palavras latinas sofre­ ram na sua evolução para o português tiveram resultados curiosos. Atente­se, por exemplo, nas frases seguintes.

Saber Mais A disciplina que estuda a mudança

(1) O Pedro é um rapaz são. (2) São João é o santo preferido dos portuenses. (3) O João e o Pedro são irmãos. A forma são ocorre como um adjetivo na frase (1), como um nome na frase (2) e como um verbo na frase (3). Então por que razão se escrevem e pronunciam do mesmo modo? Porque cada uma destas formas teve origem numa palavra latina diferente, mas, depois de sofrerem diversas mudanças, tornaram­se, aparen­ temente, iguais: SANU > são SANCTU > santo > são SUNT > são A estas palavras que, apesar de terem origens diferentes, apresentam a mesma forma chamamos palavras convergentes. Também pode acontecer que uma mesma palavra latina tenha sofrido mudanças diferentes, em momentos distintos da história do português. A essas palavras que apresentam formas diferentes embora tenham a mesma origem chamamos palavras divergentes. Por exemplo: ARENA

> >

areia arena

MASCULO > >

macho másculo

MACULA

> >

mancha mácula

CÁTEDRA

> >

cadeira cátedra 25

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1.4.1 Fatores e tipos de mudança A mudança linguística observa­se em todos os níveis gra­ maticais e pode resultar das tendências e da evolução da própria língua, do contacto com outras línguas ou de fatores geográficos, históricos, políticos ou sociais.

Fatores internos Designam­se por fatores internos as condições de mudança linguística que advêm da própria estrutura de uma língua. Por exemplo, se tivermos de articular, um a seguir ao outro, dois sons iguais ou muito semelhantes, tenderemos a fundi­los: não pronun­ ciamos Dona Augusta mas Donaugusta. Na evolução do português encontramos muitos casos semelhantes de mudanças que resul­ taram do contexto de ocorrência dos sons: PEDE > pee > pé DOLOR > door > dor LANA > lãa > lã NUDU > nuu > nu

Fatores externos Por vezes, alterações das condições de vida de uma comuni­ dade são causa de mudança linguística. Neste caso, a mudança não é provocada pela estrutura da língua mas é condicionada por fatores externos a ela. Condições socioculturais ou políticas (por exemplo, quando se verificam mudanças na organização social de uma comunidade ou quando um país se torna independente) e períodos históricos em que se verifique uma situação de contacto de línguas são exemplos de causas externas de mudança. A própria situação geográfica de uma comunidade pode fun­ cionar como fator de mudança linguística. Até há pouco tempo, Portugal era um país isolado, no extremo da Europa; atualmente, as melhorias no sistema rodoviário e a facilidade de circulação de pessoas criaram condições para o contacto de línguas, promo­ vendo a mudança linguística.

Tipos de mudança Mudança regular Quando uma mudança atinge sistematicamente determina­ dos sons da língua, diz­se que é uma mudança regular. Esta mudança verifica­se quando um som evolui sempre no mesmo sentido, durante um certo período de tempo, em todas as palavras que apresentam o mesmo contexto fonético. 26

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Um exemplo de mudança regular é a transformação das con­ soantes latinas p, t e c nas portuguesas b, d e g:

Latim LUPU VITA FICU

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Português > > >

lobo vida figo

Esta mudança é regular não só porque se verificou, sempre que estas consoantes estavam em contexto intervocálico, em todas as palavras latinas que entraram no português durante um determinado período de tempo, mas também porque não atingiu palavras em que o contexto fonético era diferente (por exemplo, na palavra porta, p e t mantiveram­se por não se encontrarem entre vogais).

Mudança irregular Quando a mudança se verifica apenas esporadicamente, sem atingir todas as palavras da língua, diz­se que é uma mudança irregular. • Atualmente, em português europeu, suprimimos com fre­ quência, no discurso oral, o elemento de em expressões como Madre Deus (em vez de Madre de Deus) ou Avenida Visconde Valmor (em vez de Avenida Visconde de Valmor) para evitarmos a repetição do som d. • Embora seja um desvio à norma, alguns falantes acres­ centam, por vezes, um s na segunda pessoa do singular do pretérito perfeito, dizendo tu fizestes (em vez de tu fizeste), por analogia com as terminações da mesma pessoa noutros tempos verbais (tu fazes, tu fazias, …).

Gramaticalização A gramaticalização é um processo de mudança linguística pelo qual uma palavra muda de estatuto morfológico, deixando de ser uma palavra lexical e tornando­se uma palavra gramatical(8). Deste modo, por exemplo, um nome pode transformar­se numa conjunção: O caso é sério! (caso é um nome) Telefona-me, caso queiras sair. (caso é uma conjunção) O homem foi salvo pelos bombeiros. (salvo é um particípio) Falei contigo ontem, salvo erro. (salvo é uma preposição) (8)

Palavra gramatical é uma palavra cuja função é, em grande parte ou totalmente, gramatical, como as preposições ou as conjunções.

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Língua, comunidade Linguística, variação e mudança

1.4.2 História do português O português é uma língua românica, com origem no latim, mas conserva traços das línguas que se falavam na Península Ibé­ rica antes da conquista romana e das línguas de outros povos que a habitaram posteriormente (visigodos e árabes).

As origens do português No ano 218 a. C., Roma empreendeu a conquista da Península Ibérica. Os territórios conquistados integraram­se na estrutura do Império Romano e, pouco a pouco, adotaram o latim como língua comum. No início da Idade Média, as antigas línguas (à exceção do basco) já tinham sido completamente substituídas pelo latim. As sucessivas vagas de invasores (primeiro, os povos germânicos, depois os árabes) e a decadência do Império Romano contribuíram para que a Península Ibérica se fragmentasse em vários reinos. Na Península Ibérica, as influências dos substratos e dos superstratos(9) variavam consoante as regiões, o que favoreceu a divisão do latim em várias línguas: galego­português, castelhano e catalão.

O galego-português

Saber Mais

No Noroeste Peninsular, numa região que ocupa a atual Galiza, uma parte das Astúrias e o Norte de Portugal, desenvolveu­ ­se, a partir dos séculos VI e VII, o romance galego-português. A palavra romance tem origem na expressão latina romanice fabulare («falar à maneira dos romanos»). Inicialmente designava a forma de falar (latim) das várias regiões do Império Romano; com o tempo, passou a referir­se a qualquer texto escrito nestes falares de base latina e, finalmente, tornou­se a designação de um género literário. O galego­português teve uma grande importância na litera­ tura medieval, especialmente no campo da poesia, com a chamada lírica galaico­portuguesa ou poesia trovadoresca.

O português antigo Independente desde 1143, o reino de Portugal avançou para sul com a Reconquista Cristã, ocupando a faixa oeste da Península e traçando, em cerca de um século, uma das fronteiras mais anti­ gas e estáveis da Europa. Foi nessa altura que começaram a surgir documentos escri­ tos em português. O mais antigo documento conhecido é uma Notícia de Fiadores, de Paio Soares Romeu, datada de 1175. (9)

Sobre as defi nições de substrato e superstrato, ver a página 22.

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Os nomes convencionados para designar esta fase da história da língua portuguesa são português antigo, português arcaico ou galaico-português. O português antigo foi falado durante a Idade Média, entre o século XII (época em que se começaram a redigir textos em portu­ guês) e o século XV. A nível gramatical existiam inúmeras oscilações. Os possessi­ vos, por exemplo, tinham duas formas (tua/ta; sua/sa). ). O género de alguns nomes não coincidia com o de hoje (valor e fim eram femi­ ninos, linguagem era masculino). O particípio passado de verbos como ter ou haver terminava em ­udo (teudo, avudo). Quanto ao léxico, a base latina foi­se enriquecendo com palavras procedentes de outras línguas, especialmente do francês (ligeiro, dama, pajem, etc.) e do provençal (mensagem, homenagem, etc.). As diferenças entre o português antigo e o português atual são bem visíveis quando comparamos a língua de um poema tro­ vadoresco com o português de uma composição lírica dos nossos dias: Ai Deus, se sab’ora meu amigo Com’eu senheira estou em Vigo! E vou namorada!

Tinha um cravo no meu balcão; veio um rapaz e pediu-mo — mãe, dou-lho ou não?

Ai Deus, se sab’ora meu amado Com’eu em Vigo senheira manho! E vou namorada!

Sentada, bordava um lenço de mão; veio um rapaz e pediu-mo — mãe, dou-lho ou não?

Com’eu senheira estou em Vigo, E nulhas gardas num ei comigo! E vou namorada!

Dei um cravo e dei um lenço, só não dei o coração; mas se o rapaz mo pedir, — mãe, dou-lho ou não?

Com’eu em Vigo senheira manho, E nulhas gardas migo nom trago! E vou namorada!

Saber Mais

Eugénio de Andrade, Antologia Breve, 1972.

Martim Codax, século xviii.

O português clássico Os Descobrimentos, o Humanismo Renascentista, os grandes génios literários e o desenvolvimento da imprensa determinaram a afirmação e a evolução do português. No começo do século XV, o português era já a língua de um estado que, depois de uma crise que culminara na Batalha de Aljubarrota, afirmava a sua independência. A corte instalou­se em Lisboa e é aí que se irá iniciar o pro­ cesso de normalização linguística e uma fase expansionista (os Descobrimentos) que culminará na chegada de Pedro Álvares Cabral, em 1500, à terra que virá a ser a grande colónia portuguesa, o Brasil. Durante os séculos XVI e XVII atenuaram­se as oscilações do português. A imprensa, a literatura e a difusão de gramáticas e dicionários contribuíram para a homogeneidade e o prestígio do idioma.

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Língua, comunidade Linguística, variação e mudança

Durante o período clássico, a gramática do português registou grandes mudanças. Como resultado de algumas destas mudanças, o português diferenciou­se em duas grandes variedades: a seten­ trional e a meridional. Quanto ao léxico, ao longo dos séculos XV, XVI e XVII, o portu­ guês enriqueceu­se com um número significativo de palavras. Com o avanço das conquistas portuguesas, intensificaram­se os contactos com falantes dos mais diversos pontos do mundo. Ani­ mais, plantas, frutos desconhecidos foram trazidos para Portugal, e com os novos produtos chegaram, também, as suas designações originais: jangada, canja, pijama, biombo são importações de lín­ guas asiáticas; banana, girafa, missanga provêm de línguas africa­ nas. No Brasil, o contacto com o tupi­guarani deixou­nos nomes como ananás, amendoim, cacau, etc. Português clássico é o nome convencionado para designar uma fase da história do português: o português europeu falado durante a Idade Moderna (entre os séculos XVI e XVIII). Esta fase engloba o Renascimento (século XVI), o Barroco (século XVII) e o Ilu­ minismo (século XVIII).

O português contemporâneo Saber Mais

Saber Mais

A partir do século XIX desenvolveu­se o ensino do português e cresceu o interesse pelas questões gramaticais. A língua modi­ ficou­se, transformando­se, a pouco e pouco, no português que falamos atualmente: português contemporâneo é o português europeu falado a partir do século XIX e até aos dias de hoje. Os avanços científicos, técnicos e sociais que caracterizam os dois últimos séculos implicaram uma contínua renovação do léxico. São numerosas as palavras que, nos últimos duzentos anos, o português recebeu do francês (garagem, bisturi, cassete, etc.) e, em especial, do inglês (líder, futebol, ténis, pudim e muitas outras). A estes empréstimos devemos acrescentar numerosos termos que foram criados a partir do grego e do latim, especialmente no âmbito científico: oftalmologia, exógeno, gastroscopia, megalópolis, ecológico, aeródromo, …). Atualmente, o português é uma língua de comunicação inter­ nacional: • é falado em quatro continentes, sendo a quinta língua mais falada no mundo e a terceira mais falada no Ocidente; • tem cerca de 200 milhões de falantes nativos; • tem estatuto oficial na União Europeia, no Mercosul e na União Africana; • é língua oficial de oito países independentes; • é uma língua largamente falada ou estudada como segunda língua em muitos países.

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1.4.3 Genealogia linguística Algumas pessoas conhecem bem a história da sua família e possuem até a sua árvore genealógica. Também é possível traçar a árvore genealógica de uma língua, dado que muitas línguas apre­ sentam características que permitem estabelecer, entre elas, rela­ ções de parentesco.

Saber Mais

As famílias de línguas Atualmente existem cerca de 5000 línguas no mundo, per­ tencentes a diversas famílias linguísticas. Uma família de línguas é um grupo de línguas que partilham um antepassado comum. Dentro de uma família, considera­se que as línguas mais próximas pertencem ao mesmo ramo. O português faz parte do ramo das línguas românicas, derivadas do latim, que, por sua vez, se situa no grupo das línguas indo­europeias. Há cerca de seis mil anos, o povo indo­europeu iniciou uma migração que difundiu a sua língua pela Ásia e pela Europa. Com o tempo, vários grupos deste povo fixaram­se em regiões diversas e foram adquirindo características linguísticas próprias. Formaram­ ­se, assim, muitas línguas pertencentes à mesma família, já que todas têm a mesma origem.

Uma das questões mais difíceis para

ramo itálico

latim

línguas românicas

ramo helénico

grego clássico

grego moderno

ramo germânico

inglês alemão neerlandês sueco dinamarquês norueguês islandês

ramo celta

bretão galês escocês irlandês

Indo-Europeu

ramo eslavo

búlgaro macedónio servo­croata esloveno checo eslovaco polaco russo bielorrusso ucraniano 31

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C AP Í T U L O 1

Língua, comunidade Linguística, variação e mudança

À família indo-europeia, que se estende pela Europa e Sul da Ásia, pertencem o grego, o latim (origem das línguas românicas como o português, o francês, o catalão, o espanhol ou castelhano, o galego, etc.), o germânico (origem do inglês, do alemão, etc.), as línguas celtas e as línguas eslavas (russo, checo, etc.).

As línguas românicas As línguas românicas são as línguas descendentes do latim, que, por sua vez, pertence ao ramo itálico, e este à família das lín­ guas indo­europeias. Atualmente, as línguas românicas com maior número de falantes são o português, o espanhol, o francês, o italiano e o romeno.

Origem das línguas românicas As línguas românicas surgiram de um processo de fragmen­ tação do latim. As causas dessa fragmentação foram diversas: o desaparecimento do Império Romano; a própria extensão do ter­ ritório em que se falava latim; a fraca instrução da maior parte da população; o isolamento dos diversos territórios; a existência de traços linguísticos próprios de cada zona geográfica, etc. Ao longo da Idade Média, o povo foi criando novas formas e novos usos linguísticos a partir da língua latina original e assim se formaram as línguas românicas: • • • • •

português castelhano (espanhol) francês italiano sardo

Oceano Atlântico

Galego Português

• • • • •

galego catalão provençal romeno retorromânico

Francês

Provençal

Retorromânico ou rético

Romeno

Italiano

Castelhano ou Espanhol Catalão Sardo

Mar Mediterrâneo

Figura 3 | Principais línguas românicas. 32

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F I C H A D E AT I V I DA D E S | 1

L Í N G U A , C O M U N I DA D E L I N G U Í S T I C A , VA R I AÇ Ã O E M U DA N Ç A

1. Nomapaabaixo,identifiqueospaísesondesefalaalínguaportuguesa.

A

B

C

Oceano Pacífico

Oceano Índico

Oceano Atlântico

Oceano Pacífico

G

E D

A — B — C —

H

F

D — E — F —

G — H —

2. Completeasfrasesseguintescomasexpressõesabaixoindicadas. língua oficial língua segunda língua morta língua materna

língua estrangeira língua minoritária língua nacional

a) Uma é uma língua falada pelos habitantes de uma nação, podendo coin­ cidir ou não com a língua oficial desse país. b) Uma tração do país onde vivem.

é a língua usada pelos cidadãos quando contactam com a adminis­

c) Uma é uma língua que começamos a aprender no ambiente familiar e que nos ajuda a estabelecer a nossa primeira gramática. d) Uma é uma língua não materna adquirida para aprofundar conhecimen­ tos e facilitar contactos sociais. e) Uma é uma língua não materna falada numa comunidade por falantes oriundos de outros países, que se torna vital para a sua participação na vida dessa comunidade. f) Uma é uma língua falada por uma determinada comunidade linguística num território onde existe uma outra língua nacional com maior número de falantes. No caso do nosso país, temos como exemplo o mirandês. g) Uma é uma língua que deixou de ser falada, mas que se encontra em documentos escritos, podendo a sua gramática e o seu vocabulário ser estudados na atualidade. 33

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CAPÍTULO 1

Língua, comunidade Linguística, variação e mudança

3. Relembre as diferenças entre o português europeu e o brasileiro e identifique-as nos provérbios abaixo,apresentadosnavariedadebrasileira. a) Fazendo muro é que se vira pedreiro. b) Diz­me com quem vais, te direi o que farás. c) Cachorro bom («bão») nunca late em vão. d) Fulano fala feito um papagaio. e) Riqueza de tolo é patrimônio de pilantra. 4. D  e acordo com o que estudou, diga se as afirmações seguintes são verdadeiras (V) ou falsas (F). Corrijaasqueassinaloucomofalsas. A —Uma língua franca é uma língua de comunicação entre diferentes comunidades de línguas distintas. B —Um falante bilingue tem competência linguística em duas línguas diferentes. C —Estrato, substrato e superstrato resultam do contacto entre várias línguas. D —O árabe e o germânico são substratos do latim. E —O léxico português é um misto de latim, de substratos e de superstratos. F —Às línguas que convivem no mesmo espaço e que não assimilam traços uma da outra dá­se o nome de adstrato. G —O crioulo resulta da adulteração de uma língua local. H —Há crioulos que se tornam a primeira língua de uma comunidade. 5. T  endoemcontaasuaevolução,classifiqueaspalavrasseguintesemconvergentesoudivergentes. Sigaoexemplo. OCULO > olho óculo

palavras divergentes

a) RIVUS > rio (nome) RIDEO > rio (forma verbal) b) SOLITARIUS > solitário solteiro c) MACULA > mágoa mancha d) CANTUS > canto (de pássaro) CANTHUS > canto (da sala) e) SUNT > são (forma verbal) SANU > são (nome) f) INTEGRU > inteiro íntegro

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6. Nasopadeletrasquesesegue,encontre13línguasquepertençamàfamíliadoIndo-Europeu. L N O R U E G U E S U O G I L U

V P A R J L M E P O P M R T I C

I R I N G L E S O P V B A A N R

P O G S D C V L R E I R T L V A

O H N S U H B O T S T E O I E N

L B L A T I M V A C A T R A C I

A O A R E D A A V O D A Z N A A

C L T D E x B C I C O O I O N N

O R A O I S V O L E R E N P E O

Q D S O A T E R E S U E C O T L

U G A L E G O I R H L U A R I M

O R A C R I L E O S E R U S S O

6.1 C  omplete agora o esquema abaixo com as línguas que identificou. Indo-Europeu

Itálico | A | Línguas românicas | Português Castelhano Catalão Francês Provençal Romeno Retorromânico b c d

Helénico | Grego clássico | Grego moderno

Germânico | Alemão Neerlandês Dinamarquês Islandês e f g

Celta | Irlandês Galês h i

Eslavo | Búlgaro Macedónio Servo­Croata Bielorrusso Checo Esloveno j k l m

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2 O L U CAPÍT

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a c i t é n Fo a i g o l o e Fon nologIA

A E Fo 2.1 FonÉTIC

onEMAS 2.2 SonS E F E SonS D S A I C n Ê U Q 2.3 SE nológICoS o F S o S S E C o 2.4 pr roSóDICo p l E V Í n / A I 2.5 proSóD | 3 | 4 | 5 2 | s e D a D at i V i FicHas De

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CAPÍTULO 2

Fonética e Fonologia

2.1 Fonética e Fonologia A forma como os sons de uma língua são produzidos e per‑ cecionados e o modo como eles se organizam são os objetos de estudo de duas das disciplinas da Linguística: a Fonética e a Fono‑ logia. A Fonética é a ciência que estuda os sons da fala desde o momento da sua produção até ao momento da sua perceção, incluindo a sua transmissão. A Fonética subdivide‑se em três áreas de estudo: • a Fonética Articulatória, que se ocupa da investigação dos movimentos dos articuladores (lábios e língua, por exem‑ plo) no aparelho fonador para produzir os sons; • a Fonética Acústica, que estuda as propriedades físicas das ondas sonoras dos sons da fala; • a Fonética Percetiva, que compreende o estudo da receção auditiva e da interpretação dos sons da fala. Se a Fonética se ocupa de uma vertente mais física da rea‑ lização dos sons da fala, a Fonologia estuda os sistemas sonoros das línguas, isto é, o comportamento, a distribuição e a função dos sons que permitem distinguir significados numa língua. A Fonologia considera dois níveis de análise dos sons: o nível segmental, em que se estudam as propriedades dos fonemas e das sequências de fonemas, e o nível prosódico, em que se analisa a forma como as sequências de fonemas se podem organizar em unidades estruturais maiores, como a sílaba.

2.1.1 a produção articulatória: breve introdução Para uma melhor compreensão da produção dos sons da fala, apresenta‑se, em seguida, informação básica e essencial sobre a articulação dos sons. O aparelho fonador é o responsável pela articulação dos sons da fala, integrando as partes do corpo humano que estão envol‑ vidas no seu processo de produção. Genericamente, o aparelho fonador divide‑se em três áreas: cavidades subglotais (pulmões), laringe (glote e cordas vocais) e cavidades supraglotais (faringe, trato oral e trato nasal). As cavidades subglotais são responsáveis pela produção da energia que permite articular os sons da fala. Na laringe, estão situadas as cordas vocais, que produzem voz — a fonação. As cavi‑ dades supraglotais incluem os articuladores que modelam a forma como o fluxo de ar sai para o exterior, permitindo a produção dos diferentes sons da língua. 38

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Cavidades supraglotais Laringe (cordas vocais)

Cavidades subglotais

Figura 1 | Representação do aparelho fonador.

Na figura 2 encontra‑se uma representação do trato vocal, na qual a cavidade oral (trato oral) se encontra preenchida com a cor verde e a cavidade nasal (trato nasal), com a cor azul. Os articula‑ dores ativos do trato vocal são: os lábios, a língua, o véu palatino ou palato mole, a úvula e o maxilar inferior. Os articuladores passivos são: os dentes, os alvéolos e o palato duro.

Lábios Dentes Língua

Palato duro Palato mole ou véu palatino Úvula Faringe Cordas vocais

Figura 2 | Representação do trato vocal (trato oral + trato nasal), com indicação dos principais articuladores ativos (móveis) e passivos (imóveis).

A descrição do aparelho fonador e do trato vocal mostra que na produção de um som de fala intervêm várias estruturas anató‑ micas. Mas como é que se desenrola o percurso de um som? O primeiro grande responsável pela produção da fala é o cérebro, que transmite ao aparelho fonador e ao trato vocal as coordenadas motoras para a realização do som. Os pulmões são o primeiro órgão motor interveniente na produção de um som, for‑ necendo a energia, através do fluxo de ar expiratório, que permite colocar em vibração as cordas vocais. Por sua vez, as cordas vocais produzem fonação. Ao trato vocal e aos articuladores cabe a tarefa final de modelar o som proveniente das cordas vocais ou a energia do fluxo de ar. 39

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CAPÍTULO 2

Fonética e Fonologia

2.1.2 Representação dos sons da fala: o alfabeto Fonético internacional Os sons da fala são representados graficamente através do Alfabeto Fonético Internacional. Este alfabeto apresenta como vantagem, relativamente aos sistemas ortográficos, o facto de existir uma relação biunívoca entre cada som e o símbolo grá‑ fico que o representa, isto é, cada símbolo deste alfabeto fonético representa sempre o mesmo som, independentemente da língua que está a ser utilizada(1). A lista de símbolos fonéticos dos sons — consoantes, vogais e semivogais — da variedade padrão do portu‑ guês europeu encontra‑se apresentada nos quadros abaixo. [p] porta, sapo

[b]

barco, abóbora

[t] terra, festa

[d]

dote, morada

[k] carro, macaco

[g]

garrafa, migas

[f] faca, sofá

[v]

vaso, nave

[s] sal, passo

[z]

zanga, azeite

[S] chave, macho, paz, mosca

[Z]

janota, ajuda

[l] lar, mola

[m]

mala, cama

[¥] folha

[n]

nota, pano, abdómen

[…] salto, sol

[ˉ]

banho

[R] pera, parte, mar [{] rolha, barro Quadro 1 | Consoantes da variedade padrão do português europeu.

[i] apito

[ˆ]

pedal

[u] agulha

[e] medo

[å]

pano

[o] sopa

[E] neta

[a]

sapo

[ç] mó

[ı)] finta

[u)]

mundo

[e)] lente

[o)]

ponto

[å)] manto [w] pau

[w)] mão

[j] cai

[æ)]

mãe

Quadro 2 | Vogais e semivogais da variedade padrão do português europeu. (1)

Quando se representa um som de uma língua recorrendo ao Alfabeto Fonético Internacional, coloca-se o símbolo correspondente entre parênteses retos — [ ].

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Como mostram os quadros anteriores, no português europeu não existe uma correspondência biunívoca entre sons e letras: • um som não é representado apenas por uma única letra (ou grafema — unidade mínima do sistema de escrita); • uma letra não representa sempre o mesmo som. Tendo por base a variedade padrão do português europeu, os diagramas abaixo mostram os sons que cada grafema pode repre‑ sentar. Vogais

[a] — arco [å] — cama

<e>

[E] — erva [e] — caneta [ˆ] — dedal [å] — telha [i] — exame [j] — geada [æ)] — mãe



[i] — idade [j] — gaivota



[ç] — mola [o] — sopa [u] — portada [w] — ao

<ã, an, am>

[u] — gula [w] — pau

[å)] — pão, canto, campo [å)w)] — comam

<en, em>

[e)] — quente, embora [å))æ ]) — quem



[")] — pintor, imposto

<õ, on, om>

[o)] — limões, ontem, compra [u)] — mundo, umbigo

Quadro 3 | Correspondência entre letras (vogais) e os respetivos sons.

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CAPÍTULO 2

Fonética e Fonologia

Consoantes

Dígrafos



[b] — belo, aba



[S] — chuva



[s] — cigarro, hélice [k] — casa, maca



[¥] — ilhéu



[ˉ] — rainha



[k] — quinta



[{] — garrafão

<ss>

[s] — pássaro



[d] — diário, cadeira



[f] — foca, afiador



[g] — gota, mago [Z] — giro, magia

<j>

[Z] — janota, poejo



[l] — lima, sala [¬] — salto

<m>

[m] — moeda, amostra



[n] — nata, cana



[p] — poesia, mapa



[R] — cara, jardim [{] — rotunda, honra

<s>

[s] — saco, valsa [z] — risota [S] — anis, pasta [Z] — asma, esmeralda



[t] – telhado, data



[v] – veado, ave

<x>

[S] — xilofone, lixo [s] — auxílio [z] — exame [ks] — tóxico



[z] — zumbido, azeite [S] — paz

Quadro 5 | Correspondência entre dígrafos e os respetivos sons.

Grafema composto <ç>

[s] — palhaço

Quadro 6 | Correspondência entre o grafema composto <ç> e o respetivo som.

Quadro 4 | Correspondência entre letras (consoantes) e os respetivos sons.

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2.2 sons e FoneMas Quando falamos, produzimos sons. Estes sons estão orga‑ nizados de forma sistemática em qualquer língua, permitindo a ocorrência de diferentes palavras. O sistema fonológico de uma língua contém todos os sons que permitem estabelecer distinções de significado nessa língua e toda a informação sobre a forma como os sons se organizam e relacionam entre si. O fonema é a unidade mínima do sistema fonológico de uma língua que permite distinguir significados. Por exemplo, ao compararmos a produção das palavras pato e rato, verificamos que estas palavras apenas são diferentes no primeiro som. Se tro‑ carmos o som [p] da palavra pato pelo som [{], obtemos a palavra rato e vice‑versa. Os sons que permitem distinguir significados, ou seja, obter palavras diferentes através desta alteração, deno‑ minam‑se fonemas. Os fonemas podem também ser designados por segmentos.

2.2.1 classificação e caracterização de vogais e de semivogais

saber Mais

Uma vogal é um som produzido sem obstrução no trato vocal durante a passagem do fluxo de ar para o exterior, ou seja, o ar passa livremente pelo trato vocal sem encontrar obstáculos à sua passagem. A língua e os lábios são os principais responsáveis pela articu‑ lação das vogais e pela sua diferenciação. A passagem ou não do fluxo de ar pela cavidade nasal durante a articulação de uma vogal torna‑a nasal ou oral, respetivamente. Na variedade padrão do português europeu, existem 14 vogais fonéticas: 9 orais e 5 nasais (ver quadro 7). voGAis Orais [i] — ilha, fita, ali [e] — dedo, cabelo, dê [E] — égua, papel, café [ˆ] — estrada, pedal, de [å] — ateu, sapato, bola [a] — água, casa, sofá [u] — unha, azul, cru [o] — ovo, sopa, avô [ç] — mota, bota, pó

Nasais [")] — pinto, cinto [e)] — pente, quente [å)] — canto, campo [u)] — untar, atum [o)] — ponte, compra

Quadro 7 | Vogais da variedade padrão do português europeu. 43

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CAPÍTULO 2

Fonética e Fonologia

A posição do dorso da língua (altura e recuo/avanço), a posi‑ ção dos lábios (arredondados ou não) e a posição do véu palatino (fechado ou aberto) determinam a produção das diferentes vogais do português europeu e a sua respetiva classificação. No quadro 8, encontra‑se uma síntese da classificação articulatória das vogais da variedade padrão do português europeu. Recuo/AvAnço Altu R A

Anterior ou palatal

Central

Posterior ou velar

Alta

[i, ")]

[ˆ]

[u, u)]

Média

[e, e)]

[å, å)]

[o, o)]

Baixa

[E]

[a]

[ç]

Não Arredondada

Arredondada

Quadro 8 | Classificação articulatória tradicional das vogais orais e nasais da variedade padrão do português europeu.

saber Mais

Relativamente ao parâmetro da altura, as vogais podem ser , médias ou baixas, em função da posição do dorso da língua no momento da passagem do ar para o exterior. O recuo ou o avanço da língua determina o seu ponto de arti‑ culação no trato vocal. Assim, são anteriores ou palatais as vogais que são produzidas com um avanço do corpo da língua e são pos‑ ou velares as que são produzidas com recuo. O parâmetro da posição dos lábios refere‑se à existência, ou não existência, de arredondamento dos lábios na produção de um som. Em português europeu, esta característica permite distinguir dois grandes grupos de sons: as vogais arredondadas e as vogais não arredondadas. A posição do véu palatino determina a ocorrência de sons orais ou nasais. Se o véu palatino estiver a bloquear a passagem do ar pela cavidade nasal, o som resultante será oral; caso contrário, será nasal. Em português europeu é sobre vogais que o acento da pala‑ vra recai; porém, nem todas as vogais podem ser acentuadas. A vogal [ˆ], que ocorre em palavras como dedal ou pesado, nunca é acentuada. Do ponto de vista do funcionamento da língua, a vogal pode ocorrer sozinha numa sílaba, como acontece com a primeira vogal da palavra água, ou pode combinar‑se numa mesma sílaba com dois outros tipos de sons: as semivogais e as consoantes. Uma semivogal é um som que apresenta características acús‑ ticas e articulatórias idênticas às das vogais. A diferença fundamen‑ tal entre uma vogal e uma semivogal reside na energia acústica produzida, que é menor na semivogal, tornando‑a menos audível. Em termos de funcionamento da língua, vogal e semivogal distin‑

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guem‑se ainda pelo facto de a semivogal ocorrer sempre junto de uma vogal, formando com ela um ditongo (a vogal pode ocorrer sozinha) e por o acento de palavra nunca incidir sobre a semivogal. Em português europeu, temos duas semivogais: pai pau

[j] [w]

[pa@j] [pa@w]

vai cauda

[va@j] [ka@wdå]

As semivogais podem ser nasalizadas em alguns contextos, como acontece nas palavras abaixo: mãe mão

[æ)] [w)]

[må)æ )] quem [må)w)] foram

[kå)æ )] [foRå)w)]

A classificação articulatória das semivogais encontra‑se no quadro 9. Recuo/AvAnço Altu R A

Anterior ou Palatal

Posterior ou Velar

Alta

[j, æ)]

[w, w)]

Não Arredondada

Arredondada

Quadro 9 | Classificação articulatória tradicional das semivogais orais e nasais.

2.2.2 classificação e caracterização de consoantes A consoante é um som produzido com obstrução parcial ou total à passagem do fluxo de ar expiratório no trato vocal (cavida‑ des supraglotais). Podemos caracterizar as consoantes de acordo com os se‑ guintes parâmetros: • modo de articulação; • ponto de articulação; • posição do véu palatino; • estado das cordas vocais. O modo de articulação descreve a forma como se realiza a obstrução à passagem do ar. Se houver uma obstrução total à pas‑ sagem do ar, teremos uma consoante oclusiva. Se a obstrução for parcial, podem ser produzidas consoantes fricativas (dá‑se a pro‑ dução de um ruído), consoantes laterais (a obstrução ocorre no centro da boca, passando o ar pelos lados) ou consoantes vibrantes (a passagem do ar provoca uma vibração na zona do véu palatino). 45

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CAPÍTULO 2

Fonética e Fonologia

O ponto de articulação refere o local no trato vocal onde se dá a obstrução à passagem do fluxo de ar durante a articulação da consoante. Assim, esta obstrução pode ser bilabial (entre os lábios), labiodental (entre os dentes e os lábios), dental (com a lín‑ gua junto aos dentes incisivos do maxilar superior), alveolar (com a língua junto aos alvéolos), palatal (com a língua junto ao palato), velar (com a parte posterior da língua junto ao véu palatino) ou uvular (com vibração da úvula). Tal como nas vogais, a posição aberta ou fechada do véu palatino determina se a consoante será oral ou nasal. Outro parâmetro determinante na classificação das consoan‑ tes é o vozeamento, ou seja, a vibração das cordas vocais durante a passagem do fluxo de ar. Se as cordas vocais vibrarem, será pro‑ duzida uma consoante vozeada; se as cordas vocais não vibrarem, será produzida uma consoante não vozeada. A classificação articulatória das consoantes da variedade padrão do português europeu é apresentada no quadro 10. Modo de ARticu l Ação Oclusiva Ponto de ARticulAção Bilabial Labiodental Dental Alveolar Palatal Velar Uvular

Oral

Nasal

Vozeada

b

m

Não vozeada

p

Fricativa

Vozeada

v

Não vozeada

f

Vozeada

d

z

Não vozeada

t

s

Vozeada

n

Lateral

Vibrante

l

R

Não vozeada Vozeada

ˉ

Não vozeada

¥

S

Vozeada

g

Não vozeada

k

Vozeada

Z

¬

{

Não vozeada Quadro 10 | Classificação articulatória tradicional das consoantes da variedade padrão do português europeu.

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2.3 seQUÊncias De sons O contínuo sonoro da fala é formado por sons ou segmentos que se sucedem no tempo, dando origem a diferentes sequências de sons.

2.3.1 encontros vocálicos O ditongo é um encontro de dois sons vocálicos numa sílaba, constituído por uma vogal e uma semivogal (ditongo decrescente ou por uma semivogal e uma vogal (ditongo crescente), ), sendo a vogal o núcleo da sílaba. Em função da natureza dos seus elemen‑ tos, os ditongos podem ser orais ou nasais. Tal como foi referido, em português europeu, existem apenas duas semivogais, [j] e [w], com as quais se podem formar os diton‑ gos. Nos quadros seguintes, encontram‑se exemplos de ditongos decrescentes (quadro 11) e de ditongos crescentes (quadro 12) pos‑ síveis na nossa língua.

saber Mais

ditonGos decRescentes Semivogal [j] Orais [aj] — pai, cai [åj] — peixe, frei [Ej] — papéis, pincéis [oj] — boi, noivo [çj] — sóis, dói [uj] — azuis, fui

Nasais [å)æ )] — mãe, bebem, bendito, cãimbra [o)æ )] — canções, põe [u)æ )] — muito

Semivogal [w] Orais [aw] — pauta, bacalhau [åw] — saudade [ew] — meu, liceu [Ew] — chapéu, céu [iw] — sentiu, sorriu

Nasais [å)w)] — pão, falam

Quadro 11 | Ditongos decrescentes da variedade padrão do português europeu.

Em alguns dialetos do português europeu é possível encon‑ trar ainda outros ditongos, nomeadamente o ditongo [ow], em palavras como couve e pouco, característico das dialetos setentrio‑ nais. 47

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CAPÍTULO 2

Fonética e Fonologia

O ditongo [ej], outrora comum nos dialetos centro‑meri‑ dionais, presente em palavras como leite e sei, foi conservado com a pronúncia [åj] na região de Lisboa, tendo sofrido nas restantes áreas geográficas deste dialeto um processo de supressão da semi‑ vogal.

saber Mais

ditonGos cRescentes Semivogal [j] Orais [ja] — iate, hiato [jå] — côdea, fêmea [jˆ] — cárie, planície [ju] — núcleo, aéreo

Nasais [æ)e)] — paciente [jå)] — passeando

Semivogal [w] Orais [wå] — nódoa, tábua [wˆ] — ténue [wu] — vácuo

Nasais [w)å)] — tatuando [w)e)] — cinquenta

Quadro 12 | Ditongos crescentes da variedade padrão do português europeu.

Até ao momento, foram apresentadas sequências de sons vocálicos que podem ocorrer na mesma sílaba. Todavia, as sequên‑ cias de sons vocálicos também podem ocorrer na fronteira de duas sílabas. Ao encontro de vogais que pertencem a sílabas diferentes dá‑se o nome de hiato. As sequências de vogais presentes nas palavras seguintes constituem hiatos. • país: pa‑ís • lua: lu‑a • baú: ba‑ú • suíno: su‑íno • suor: su‑or • raiz: ra‑iz Em situação de produção articulatória rápida, alguns hia‑ tos podem transformar‑se em ditongos crescentes. Por exemplo, a palavra trotear pode ser produzida como trote‑ar, mantendo o hiato, ou pode ser pronunciada como tro‑tear, com ditongo cres‑ cente.

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2.3.2 encontros consonânticos As sequências sonoras incluem também encontros de con‑ soantes seguidas numa mesma sílaba, também referidos como grupos consonânticos. Os grupos consonânticos mais frequentes em português europeu são formados por uma consoante inicial seguida de [l] ou [R]. No quadro 13, apresentam‑se exemplos destes grupos consonânticos. GRu P os consonânticos Consoante + [l] [pl] — pluma, aplicação [bl] — blusa, desbloquear [tl] — atlas [kl] — classe, tecla [gl] — gladíolo, englobamento [fl] — floco, reflorestação

Consoante + [R] [pR] — princípio, cumprimento [bR] — brincar, dobro [tR] — trovoada, montra [dR] — dromedário, quadro [kR] — criança, lacre [gR] — grave, engraçado [fR] — frasco, sofreguidão [vR] — livraria

Quadro 13 | Grupos consonânticos constituídos por consoante + [l] ou por consoante + [R].

Os grupos consonânticos do quadro 13 não são os únicos que existem na língua portuguesa. Outras sequências consonânticas, com menor frequência na língua, surgem num grupo restrito de palavras. Alguns exemplos destas sequências podem ser observa‑ dos no quadro 14. GRu Pos consonânticos Pouco fR equ entes [gn] — agnóstico [mn] — amnésia [pn] — apneia [ps] — sinopse [pt] — aptidão [bt] — obtuso [tm] — tmese [gd] — amígdala Quadro 14 | Grupos consonânticos com menor frequência em português europeu.

Em alguns dialetos do português do Brasil, é frequente a introdução de uma vogal (normalmente [i]) entre as consoantes que formam estes grupos menos comuns. Assim, palavras como pneu ou captar são pronunciadas como [pinew] e [kapitaR]. 49

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CAPÍTULO 2

Fonética e Fonologia

2.4 PRocessos Fonológicos Um som ou segmento pode sofrer alterações por influência do contexto em que ocorre, por exemplo, quando se encontra entre duas vogais. Estas alterações, resultantes de diferentes situações contextuais, designam‑se por processos fonológicos(2) .

2.4.1 Processos de inserção de segmentos A inserção (ou adição) de segmentos é um processo fonológico que consiste na introdução de um som ou segmento na articulação da palavra. Este processo pode ocorrer em três diferentes posições na palavra, assumindo, desta forma, diferentes designações. • Prótese — segmento introduzido em posição inicial de pala‑ vra. stare > estar (na evolução do latim para o português) levantar > alevantar (num registo de fala popular) • Epêntese — segmento introduzido em posição medial de palavra. pneu > peneu (no português do Brasil) catena > cadea > cadeia (na evolução do latim para o português) • Paragoge — segmento introduzido em posição final de palavra. cantar > cantari (nos dialetos portugueses centro‑ ‑meridionais) ante > antes (na evolução do latim para o português)

2.4.2 Processos de supressão de segmentos A supressão de segmentos é um processo fonológico que consiste no apagamento de um som ou segmento na articulação (2)

Para demonstrar os processos fonológicos, recorre-se com frequência a exemplos de derivações de palavras do latim para o português. Por uma questão de rigor, optou-se por apresentar sempre a derivação completa, o que implica que podem existir outros processos fonológicos no decurso da derivação. Por esta razão, o processo fonológico a ser exemplificado em cada caso encontra-se destacado com negrito.

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da palavra. Este processo, tal como o anterior, pode ocorrer em três diferentes posições na palavra, às quais correspondem diferentes designações. • Aférese — segmento apagado em posição inicial de palavra. ainda > inda (num registo de fala informal) escola > scola (num registo de fala informal) você > cê (num registo de fala regional e informal em português do Brasil) • Síncope — segmento apagado em posição medial de palavra. dolorem > dolore > dolor > door > dor (na evolução do latim para o português) limones > limõnes > limões (na evolução do latim para o português) leite > lete (nos dialetos portugueses centro‑meridionais e nos dialetos micaelenses) • Apócope — segmento apagado em posição final de palavra. male > mal (na evolução do latim para o português) mare > mar (na evolução do latim para o português) aquam > aqua > água (na evolução do latim para o português)

2.4.3 Processos de alteração de segmentos Os processos fonológicos anteriormente descritos modifi‑ cam, aumentando ou diminuindo, o número de segmentos arti‑ culados na palavra. Os processos fonológicos descritos de seguida referem casos em que apenas é alterada a qualidade do segmento, mantendo‑se constante o número de segmentos por palavra. A assimilação é um processo fonológico em que um seg‑ mento se torna semelhante a um segmento vizinho pela aquisi‑ ção de traços fonéticos desse segmento. Em casos extremos, esta semelhança pode ser total, isto é, o segmento pode transformar‑se num segmento igual. ad sic > ad si > assi > assim (na evolução do latim para o português) persona > pessoa (na evolução do latim para o português)

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CAPÍTULO 2

Fonética e Fonologia

A dissimilação é um processo fonológico em que um seg‑ mento se afasta de um segmento vizinho através da perda de tra‑ ços fonéticos comuns a esse segmento. espelho > esp[å@]lho (no dialeto de Lisboa) rotundu > rodondo > redondo (na evolução do latim para o português) locusta > lagosta (na evolução do latim para o português) Os processos de assimilação e de dissimilação são, como se depreende pelo seu funcionamento, contrários. Os processos fonológicos mais comuns em português euro‑ peu são descritos de seguida. A nasalização consiste na transformação de uma vogal oral em vogal nasal através da aquisição do traço fonético de nasali‑ dade, por influência de um som nasal vizinho. A nasalização é um processo fonológico de assimilação. canes > cãnes > cães (na evolução do latim para o portu‑ guês) lana > lãna > lãa > lã (a síncope do ‑n‑ originou a nasaliza‑ ção da vogal anterior) muito > m[uæ ]) to (na fala coloquial) A palatalização é um processo de assimilação no qual um segmento — vogal ou consoante — adquire o ponto de articulação palatal de um segmento palatal vizinho. fila > [få@j¥å] (nos dialetos madeirenses) filiu > filho (na evolução do latim para o português) A vocalização é um processo fonológico que consiste na trans‑ formação de uma consoante em vogal ou semivogal. reGnu > reino (na evolução do latim para o português) nocte > noite (na evolução do latim para o português) A sonorização é a denominação atribuída ao processo fonoló‑ gico do qual resulta o vozeamento de sons não sonoros. Esta alte‑ ração depende de condições contextuais. locusta > lagosta (na evolução do latim para o português) luPu > lobo (na evolução do latim para o português)

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A consonantização refere‑se ao processo que transforma uma vogal numa consoante. Uita > vida (na evolução do latim para o português) iesus > Jesus (na evolução do latim para o português) A ditongação é a designação para o processo fonológico em que se observa a transformação de uma vogal em dois segmentos: uma vogal e uma semivogal. Esta semivogal pode aparecer em posição pré‑ ‑vocálica, isto é, antes da vogal, ou pós‑vocálica, depois da vogal. porto > p[wo@]rto ou p[wå@ ]rto (nos dialetos setentrionais) pavio > [påvå@ j u] (nos dialetos madeirenses) A redução vocálica é um processo em que se verifica o enfra‑ quecimento de uma vogal que se encontra em posição não acentu‑ ada (posição átona). f[E@]sta > f[ˆ]stinha j[o@]go > j[u]gador p[ç@]rta > p[u]rtão A crase é a denominação do processo de contração ou fusão de dois segmentos vocálicos iguais num só. O exemplo mais repre‑ sentativo deste processo é a contração da preposição a com o artigo feminino a. a (preposição) + a (artigo) > à pede > pee > pé (na evolução do latim para o português) panatarium > paadeiro > padeiro (na evolução do latim para o português)

2.4.4 Processos de permuta de segmentos A metátese é um processo fonológico que consiste na troca de posição de um segmento ou de uma sílaba no interior de uma palavra. preguiça > *perguiça dormir > *dromir lagarto > *largato malabarismo > *mabalarismo

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CAPÍTULO 2

Fonética e Fonologia

saber Mais

ler Mais

2.5 PRosóDia/nÍVel PRosóDico A prosódia é um dos níveis de análise fonológica das línguas que se dedica ao estudo do comportamento e da distribuição de unidades estruturais maiores do que os fonemas/segmentos, como a sílaba, a palavra ou a frase. Neste nível de análise estudam‑ ‑se fenómenos como o acento de palavra e a entoação. Do ponto de vista acústico, no nível prosódico, consideram‑ ‑se três características fundamentais: o tom, a duração e a intensi‑ . Estas características estão diretamente relacionadas com a entoação, o ritmo da fala e o acento de palavra. O tom corresponde à sensação auditiva de altura da voz, isto é, à sensação auditiva que nos permite classificar uma voz como aguda ou grave. O tom depende da frequência de vibração das cordas vocais e é usado de forma distinta nas línguas do mundo. Em português europeu, uma sequência de tons que se estende, na maior parte das vezes, por mais de uma sílaba constitui o contorno entoacional da frase, ou seja, a curva melódica da frase. A duração refere‑se ao tempo de produção articulatória de um segmento, de uma sílaba ou de um enunciado. Esta característica determina uma das propriedades mais importantes do contínuo sonoro da fala: o ritmo. Importa referir que a duração varia muito em função da velocidade da fala: se a produção for mais rápida, a duração dos segmentos e das unidades linguísticas é necessaria‑ mente menor, o que obriga a uma série de transformações no sinal de fala que pode incluir, entre outras, o apagamento de segmentos. A intensidade é a quantidade de energia envolvida na pro‑ dução de um som. Esta característica relaciona‑se com a sensação auditiva de proeminência, fundamental para a perceção do acento de palavra. Em português é, portanto, a intensidade que permite distinguir sílabas tónicas de sílabas átonas. Quando se pretende destacar uma palavra numa frase, utiliza‑se a intensidade e a ento‑ ação para a realçar auditivamente.

2.5.1 sílaba A sílaba é uma das unidades de análise do nível prosódico. Esta unidade pode ser formada por um ou mais sons, sendo a vogal — núcleo da sílaba — o seu elemento obrigatório. As semivogais (em ditongos decrescentes e crescentes) ocupam a posição de núcleo juntamente com a vogal de que dependem. As consoantes podem preceder o núcleo, ocupando a posição de ataque da sílaba, ou ocorrer depois da vogal, na posição de coda da sílaba. O núcleo e a coda constituem o que se denomina a rima da sílaba. A sílaba possui, assim, uma estrutura interna organizada, como se pode observar no esquema seguinte.

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Sílaba Rima

Ataque

m

Núcleo

Coda

a

r

Figura 3 | Representação da estrutura da sílaba e dos seus constituintes.

Uma sílaba que só tenha uma vogal ocupa a posição de núcleo, ficando a de ataque e a de coda vazias. Na posição de ata‑ que, podem ocorrer tanto consoantes como grupos consonânticos: casa, prato, dado, cobre, fraco Em posição de coda, apenas ocorrem as consoantes [¬, R, S]: salto, azul, sargo, juiz, susto, afinar

Formatos de sílaba A sílaba em português europeu pode ter vários formatos em função da sua estrutura interna. O constituinte ataque da sílaba, como foi referido, só pode ser preenchido por consoantes. Existem três tipos de ataque: • Ataque simples — ataque preenchido por uma consoante. Ex.: mão, chave. • Ataque vazio — ataque não preenchido. Ex.: água, efémero. • ataque ramificado — ataque preenchido por duas conso‑ antes. Ex.: prateleira, sogro. Quanto ao constituinte núcleo da sílaba, verifica‑se a pos‑ sibilidade de ser ramificado ou não ramificado. As sílabas mais frequentes em português europeu apresentam uma estrutura de sílaba não ramificada: • Núcleo não ramificado — núcleo preenchido por uma vogal. Exs.: pato, pó. • Núcleo ramificado — núcleo preenchido por uma vogal e uma semivogal. A semivogal pode ocorrer em posição pré‑ ‑vocálica ou pós‑vocálica. Exs.: joelho, pauta. 55

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CAPÍTULO 2

Fonética e Fonologia

Em português europeu, o constituinte coda da sílaba só pode ser preenchido por um elemento consonântico, ou seja, não pode ser ramificado. As consoantes que podem surgir nesta posição são [ S, Z, ¬, R]. As palavras susto, asno, talco e marte são exemplos de palavras que contêm sílabas com codas não ramificadas. À semelhança dos ataques, as codas podem também não ser preenchidas. Neste caso, encontram‑se, por exemplo, as palavras carro e prédio. O constituinte rima integra os constituintes núcleo e coda. Existem dois tipos de rima: • Rima não ramificada — rima sem coda; • Rima ramificada — rima com coda. As sílabas que não têm a coda preenchida, isto é, que termi‑ nam em vogal ou em semivogal, designam‑se por abertas. As síla‑ bas que têm a coda preenchida com consoante são fechadas. Sílabas abertas — sa‑pos, pau‑tas, sai Sílabas fechadas — sal‑to, par‑to, natu‑ral, mar

Propriedades acentuais das sílabas Relativamente ao acento, as sílabas são classificadas como tónicas ou acentuadas se a proeminência correspondente ao acento de palavra incidir sobre elas. Caso contrário, isto é, se o acento não recair sobre elas, denominam‑se átonas ou não acentuadas. Sílabas tónicas — ca‑sa‑co, ca‑na‑pé, es‑tô‑ma‑go Sílabas átonas — li‑vro, pon‑ta‑pé, dí‑vi‑da

classificação das palavras quanto ao número de sílabas As palavras podem ser classificadas em função do número de sílabas que possuem: • Monossílabo — palavra constituída por uma única sílaba: pá, mó, noz, mar, sol, mãe, cais. • Dissílabo — palavra constituída por duas sílabas: pa‑ís, sa‑po, mar‑ca, cha‑ve, sal‑to. • Trissílabo — palavra constituída por três sílabas: sa‑pa‑to, tra‑ve‑ssa, a‑ves‑truz. • Polissílabo — palavra constituída por mais de três sílabas: com‑pu‑ta‑dor, re‑pre‑sen‑ta‑ção. 56

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2.5.2 acento O acento destaca a sílaba mais proeminente numa palavra. O português europeu é considerado uma língua de acento livre, uma vez que o acento de palavra pode incidir em três posições silá‑ bicas diferentes.

classificação das palavras quanto à posição da sílaba acentuada Relativamente à posição do acento, as palavras podem ser: • agudas ou oxítonas — se o acento incidir sobre a última sílaba da palavra: lençol, papel, jornal, vendedor, chaminé, sofá, dominó, ladrão, país, inglês. • graves ou paroxítonas — se o acento incidir sobre a penúl‑ tima sílaba da palavra: cadeira, bolsa, camisola, hiato, toalha, telefone, reserva, açúcar, lápis, faísca. • esdrúxulas ou proparoxítonas — se o acento incidir sobre a antepenúltima sílaba da palavra: chávena, lâmpada, árabe, número, lástima, trânsito, política, ângulo, cântaro, lírica.

2.5.3 entoação A entoação consiste na utilização de tons em sequência que dependem e interagem com os diferentes sons e com os consti‑ tuintes prosódicos de uma frase. Em português europeu, uma sequência de tons que se estende, na maior parte das vezes, por mais de uma sílaba constitui o con‑ torno entoacional, ou seja, a curva melódica da frase. A entoação tem um papel distintivo na língua portuguesa, per‑ mitindo diferenciar significados. Por exemplo, a sequência sonora a sofia vai ao cinema pode ser produzida com uma entoação decla‑ rativa, uma entoação interrogativa ou uma entoação exclamativa. Do ponto de vista fonético, os sons com que a frase é produzida não mudam, o que se altera é a melodia associada à frase. A infor‑ mação dada pela curva entoacional é suficiente para nos permitir distinguir qual dos significados anteriormente referidos está a ser veiculado. A entoação pode também ser usada para destacar consti‑ tuintes prosódicos numa frase, atribuindo‑lhes maior relevância semântica. A título de exemplo, a sequência sonora o João comeu o bolo pode ser produzida com uma proeminência na sequência o João, de forma a destacar esta informação do resto da frase.

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CAPÍTULO 2

Fonética e Fonologia

Imagine‑se uma situação em que existia um bolo que tinha sido comido e ninguém sabia quem o tinha feito, se o João se o Filipe. Para salientar que tinha sido o João a fazê‑lo, poderia tornar‑se — através da entoação, da duração e da intensidade — este cons‑ tituinte mais audível, isto é, mais proeminente, de forma que o sig‑ nificado da frase fosse: foi o João e não o Filipe que comeu o bolo. A transmissão de emoções como a alegria, a raiva e a tristeza pode igualmente ser projetada na curva entoacional de uma frase.

2.5.4 Pausa O contínuo sonoro da fala é muitas vezes intercalado com momentos de silêncio ou com momentos sonoros que não cor‑ respondem a unidades linguísticas, isto é, a sons ou a fonemas da língua.

Pausa silenciosa Aos momentos de silêncio que ocorrem no meio de um con‑ tínuo sonoro chamamos pausas silenciosas. Este tipo de pausas não contém material sonoro mas é, habitualmente, funcional na língua, uma vez que possibilita a diferenciação de constituintes sintáticos e/ou entoacionais. o menino gostava muito de ir à praia [pausa silenciosa] porque podia brincar na areia. no sábado [pausa silenciosa] vou ao cinema com a Joana. quando nevar [pausa silenciosa] vou tirar muitas fotografias.

Pausa preenchida No contínuo sonoro existem ainda momentos que não vei‑ culam informação linguística. São momentos em que o contínuo sonoro portador de um significado linguístico é interrompido, embora continue a existir emissão de som. As hesitações, muitas vezes utilizadas pelos falantes para planificar o discurso que vai ser produzido a seguir, são exemplos de pausas preenchidas. Estas pausas podem ocorrer em qualquer momento do discurso, apesar de serem mais comuns na fronteira de constituintes sintáticos e/ ou entoacionais. amanhããããã vou jantar com o antónio. (alongamento da vogal final) Gostava muito de ir ao ao Brasil. (repetição do vocábulo) o antónio disss quer ir ao teatro logo. (mudança de vocábulo) 58

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FonÉTICA E FonologIA

F I C H A D E AT I V I DA D E S | 2

1. Complete as frases selecionando as hipóteses adequadas, de entre as palavras ou expressões indicadas abaixo. semivogal ditongo fonador

os sons um só som Percetiva

laringe letras [j] e [w]

a) A Fonética é a ciência que estuda

Articulatória Acústica biunívoca da fala.

b) A Fonética dedica‑se ao estudo dos movimentos que ocorrem no apare‑ lho fonador para produzir os sons; por exemplo, o movimento dos lábios e da língua. c) A Fonética

estuda as características das ondas sonoras dos sons da fala.

d) O estudo da receção auditiva e da interpretação dos sons da fala é desenvolvido pela Fonética . e) O aparelho

é o responsável pela articulação dos sons da fala.

f) As cordas vocais situam‑se na

.

g) O Alfabeto Fonético Internacional permite criar uma relação som e o símbolo gráfico que o representa.

entre cada

h) Uma letra pode corresponder a vários sons, mas a cada símbolo fonético corresponde . i) Os parênteses angulares, < >, representam representam sons.

e os parênteses retos, [ ],

j) Uma semivogal só ocorre junto de uma vogal, formando com ela um enquanto uma vogal pode ocorrer sozinha. k) O acento de palavra nunca incide sobre uma l)

,

.

são as semivogais do português europeu.

2. Atente nas palavras que se seguem e circunde aquelas cuja letra destacada não corresponde ao som indicado. a) som [z]

b) som [u]

enxame cremoso prensa nozes desinibido

despensa tóxico lusitano exato azar

exame despesa produzir êxito denso

doença rolha dicionário nominal boneca

comprimento sossego escoltar canto bota

solução explosivo fonética toldo botão

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CAPÍTULO 2

Fonética e fonologia

3. Encontre palavras que exemplifiquem as diferentes grafias que podem representar cada som (o número de linhas corresponde ao número de grafias possíveis). Siga o exemplo. [s]

sals

ss

a

cela

a) [S] b) [Z] c) [k] d) [{] e) [¥] f) [ˉ] 4. Complete as entradas do dicionário escrevendo a palavra que corresponde a cada representação fonética. Atente no exemplo. privilégio

[privilE¤Zju]

a)

[liSívjå]

b)

[fˆminínu]

c)

[fRˆkwe)sjå]

d)

[ekilíbRiu]

e)

[tˆlˆvizívu]

f)

[ˆSkEse¤ R]

g)

[pRˆfˆrídu]

h)

[ˆSkuláR]

i)

[{ˆkizitáR]

j)

[på)dˆmç¤ nju]

5. A letra <e> pode corresponder a sete sons. Identifique-os e dê dois exemplos de palavras em que ocorrem. Repare no exemplo. Som [ i ]

leão

examinar

Som [ ] Som [ ] Som [ ] Som [ ] Som [ ] Som [ ]

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D I To n g o S

1. Identifique os ditongos presentes no texto. «Há quatro anos estava a brincar à apanhada com a minha irmã, em frente das lojas. Corri para o coito, que era do outro lado da rua, e apanhei com um autocarro de dois andares em cima. Felizmente o bicho vinha devagar porque já estava quase na paragem. A minha irmã foi a correr chamar a minha mãe e lá fui socorrido. Apareceu um médico que nos levou para o hospital. Nessa noite fiquei lá. Tinha só uma ligeira “concussão” — foi o que eles disseram. No dia seguinte fui para casa.» Aidan Macfarlane; Ann Mcpherson, Diário de Um Adolescente com a Mania da Saúde.

2. Atente nas palavras abaixo e distinga as que possuem ditongos orais das que possuem ditongos nasais, colocando-as nos respetivos quadros. coração carapau feijão

réu grão comeu

correm rui piões

dançam tabloide mentiu

Ditongos orais

muito sai bebem

Ditongos nasais

3. As palavras que se seguem possuem um ditongo — crescente ou decrescente. Identifique-os e proceda à sua classificação. a) muito

n) contínuo

b) baleia

o) véu

c) série

p) iate

d) saudar

q) nau

e) corrimão

r) partiu

f) quando

s) cem

g) ruivo

t) cairo

h) beira

u) linguística

i) papéis

v) roupões

j) pneu

w) poiso

k) recreio

x) quatro

l) coima

y) pai

m) doente

z) glória

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CAPÍTULO 2

Fonética e fonologia

F I C H A D E AT I V I DA D E S | 4

proCESSoS FonológICoS

1. Identifique os processos fonológicos ocorridos, na evolução do latim para o português, nas palavras apresentadas nas alíneas (analise-as da esquerda para a direita). Os processos a identificar encontram-se listados no quadro abaixo. consonantização

sonorização

assimilação

nasalização

prótese

apócope

metátese

palatalização

dissimilação aférese

crase

ditongação

a) capitulu > capituu > capitu > cabido 1 2 3 1. _________________________________ 2. _________________________________ 3. _________________________________ b) aBsente > ausente 1 1. _________________________________ c) fenestra > feestra > festra > fresta 1 2 3 1. _________________________________ 2. _________________________________ 3. _________________________________ d) claVe > chave 1 1. _________________________________ e) iBi > ii > i > aí 1 2 3 1. _________________________________ 2. _________________________________ 3. _________________________________ f) dat > dá 1 1. _________________________________ g) ipsu > isso 1 1. _________________________________

síncope

epêntese

paragoge

vocalização

h) Humile > humilde 1 1. _________________________________ i) liliu > lírio 1 1. _________________________________ j) iesus > Jesus 1 1. _________________________________ k) canes > cães 1 1. _________________________________ l) arena > area > areia 1 2 1. _________________________________ 2. _________________________________ m) pectu > peito 1 1. _________________________________ n) psalmo > salmo 1 1. _________________________________ o) ante > antes 1 1. _________________________________ p) aranea > aranha 1 1. _________________________________

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2. Passe para o português atual as frases seguintes, retiradas do Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente (1517). Siga o exemplo. Excertos do Auto da Barca do Inferno «Que saboroso arrecear!»

Português atual Que saboroso recear!

A — «Ó onzena, como es fea» B — «Querês mais outro testão?» C — «E eu som apostolada,» D — «A mor cárrega que é:» E — «Como pod’rá isso ser, / que m’escrivia [mil dias?»

F — «Oh! Nom nos sejais contrairos, / pois [nom temos outra ponte!» G — «No Inferno vos poeremos.»

H — «Fazê conta que nacestes / pera nosso [companheiro.»

I — «Pera vossa fantesia / mui estreita é [esta barca.» J — «Se tu viveras dereito»

2.1 Indique os fenómenos fonológicos que ocorreram nas palavras em itálico. A— B— C— D— E— F— G— H— I — J — 3. No dialeto da Madeira, é comum a passagem do som [l] ao som [¥] depois da vogal [i]. Refira o nome deste processo fonológico. 63

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CAPÍTULO 2

Fonética e fonologia

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n Ú M E r o D E S Í l A B A S E p o S I Ç Ã o DA S Í l A B A AC E n T U A DA

1. No texto que se segue, reconheça monossílabos, dissílabos, trissílabos e polissílabos, distribuindo-os pelos quadros abaixo. Era uma vez uma menina que todas as noites, no momento de ir para a cama, ficava pequenina, pequenina. — Mamã — dizia — sou uma formiga. E a mãe percebia então que era chegada a hora de a pôr a dormir. GIANNI RODARI, Novas Histórias ao Telefone.

a) Monossílabos

b) Dissílabos

c) Trissílabos

d) Polissílabos

2. Classifique as palavras seguintes de acordo com o seu número de sílabas. a) televisão

g) livro

b) café

h) castiçal

c) tu

i) chaminé

d) cadeira

j) candelabro

e) são

k) pinto

f) zoológico

l) sol

3. Em cada alínea, conte as sílabas de cada palavra e descubra o intruso, circundando-o. a) fechar, comer, teclado, novo;

e) borboleta, chocolate, saudade, paracetamol;

b) volume, porta, pele, taco;

f) estojo, cortinado, panela, pormenor;

c) eu, céu, pai, herói;

g) chão, feijão, amor, maçã;

d) matilha, caminho, mensagem, nosso;

h) pau, dia, mãe, cru.

3.1 Justifique a sua escolha. a) b) c) d) e) f) g) h)

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4. A partir da sopa de sílabas, forme palavras, que podem estar na horizontal ou na vertical. Depois, registe-as nos quadros à direita. co mi da ar ei ca vro si za co en xa me

a ru la go vo mi ju la ne pe ni fu ti

lu no to a bu da do fa bri la bi ul si lu li so la vro li ber da ba mim go ru ve er se so nhar ja du sol ne eu ro la xi ju

ni ne ca ga lo bi de ci fa to ra peu ta

re nas ci men to ve fa tem po zo al ma xi

Monossílabos

Dissílabos

Trissílabos

Polissílabos

5. Das palavras que se seguem, identifique as esdrúxulas, as graves e as agudas, registando-as nos quadros abaixo. cérebro

avô

íntimo

máximo

miúdo

sótão

café

país

irmão

catástrofe

túneis

maçã

júri

cédula

a) Palavras esdrúxulas

b) Palavras graves

c) Palavras agudas

5.1 Explicite as regras de acentuação dos grupos de palavras que identificou. a) Acentua‑se ____________________________________________________________ da palavra. b) Acentua‑se ____________________________________________________________ da palavra. c) Acentua‑se ____________________________________________________________ da palavra. 6. Sublinhe as sílabas tónicas das palavras e classifique-as quanto à posição da sílaba acentuada. a) pseudónimo

f) opção

b) submeter

g) saída

c) mnemónica

h) colapso

d) abstrato

i) replicação

e) amígdala

j) medrosa 65

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3 O L U CAPÍT

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a i g o l o f Mor STITUInTES n o C S U E S S AEo 3.1 A PAlAVR l A FlEx IonA I G o l o F R o 3.2 m FoRmAÇão E D S o C I G Ó oS moRFol 3.3 PRoCESS S DE PAlAVRA 7 | 8 | 9 | 6 | s e d aT i v i d a FicHas de

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C AP Í T U L O 3

Morfologia

3.1 a Palavra e os seUs coNsTiTUiNTes A morfologia é a parte da gramática que estuda a forma e a estrutura interna das palavras, bem como os processos morfológi‑ cos de formação e de variação de palavras. Frequentemente, usa‑ ‑se o termo morfossintaxe para referir aspetos e comportamentos morfológicos que se prendem diretamente com a sintaxe das expressões em que as palavras ocorrem. Uma palavra é uma unidade linguística dotada de significado que pertence a uma dada classe, podendo desempenhar uma fun‑ ção sintática. Algumas palavras podem ser divididas em unidades mais pequenas com significado lexical ou gramatical, chamadas morfemas. Outras, pelo contrário, não podem ser divididas em uni‑ dades menores.

3.1.1 Morfemas ou constituintes morfológicos Os morfemas ou constituintes morfológicos são as unidades mínimas que constituem uma palavra. São morfemas, por exem‑ plo, os radicais e os afixos. O significado de uma palavra resulta da combinação dos significados dessas unidades. biologia­=­­­bio­­­+­­­logia ­ (vida) (ciência)

radical saber Mais

O radical é o morfema que veicula o significado lexical das palavras. Este constituinte pode conter afixos derivacionais, mas não afixos flexionais. Por exemplo, na palavra ferro o radical é ferr‑ e em ferreiro o radical é ferreir‑,­elemento que integra o sufixo derivacional­‑eir‑. As palavras que partilham um mesmo radical — como ferragem,­ferro,­ferreiro — têm um significado parcialmente idêntico e constituem o que se denomina uma família de palavras.

afixos Ao contrário dos radicais, que podem ocorrer isolados (pala‑ vras como mar ou lápis são formadas apenas por um radical), os afixos são morfemas que ocorrem sempre associados a uma forma de base; por exemplo, o sufixo ‑oso pode aparecer preso ao radical poder, poder formando a palavra poderoso, mas nunca como uma forma livre: *Ele­é­oso.

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Os afixos ocorrem, tipicamente, antes ou depois da forma de base. No primeiro caso, denominam‑se prefixos (por exemplo, o constituinte des‑ na palavra desleal) e, no segundo, sufixos (por exemplo, o afixo ‑vel em adorável). Podem ainda ocorrer entre duas formas de base ou entre uma base e um sufixo. Neste caso, denominam‑se interfixos (por exemplo, a vogal de ligação ‑i­‑ na palavra fusiforme). Os afixos podem participar em processos de flexão ou de derivação. Em português, os afixos flexionais ocorrem sempre depois da forma de base e indicam valores gramaticais como género, número, pessoa, modo, etc. Por exemplo, o sufixo ­‑s indica o plural de um nome (como em gatos), o sufixo ­‑m indica a terceira pessoa do plural de um verbo (como em vendem), etc. Os afixos derivacionais podem ocorrer antes ou depois da forma de base. Estes morfemas juntam‑se a um radical para for‑ mar um novo radical, dando origem à formação de uma nova pala‑ vra. Por exemplo, juntando o sufixo ‑­ eir‑ ao radical simples ferr‑, obtém‑se o radical derivado ferreir‑, que forma a palavra ferreiro. Os afixos derivacionais transportam informação extragramatical (na palavra ferreiro, o sufixo indica uma ocupação).

3.1.2 Palavra simples e palavra complexa Tendo em conta a estrutura do radical, as palavras podem ser simples ou complexas. As palavras simples são constituídas por um único radical, que pode ou não ser seguido de afixos flexionais, mas não de afi‑ xos derivacionais. Por exemplo, a palavra gatos é formada pelo radical gat‑, pelo sufixo flexional de género ­‑o e pelo sufixo flexio‑ nal de plural ­‑s; enquanto as palavras bom ou mar são constituídas apenas pelo radical. As palavras complexas são formadas por derivação (radical + afixo derivacional) ou por composição (radical + radical; palavra + palavra). Ao radical complexo podem seguir‑se um ou mais afi‑ xos flexionais. Por exemplo, a palavra cozinheiro contém, além do sufixo flexional ‑o, um radical formado pela combinação do radical básico cozinh­‑ com o sufixo ‑eir­‑: cozinh­‑ + ‑eir‑ + ‑o. pal avr a coz i n h ei ro Radical cozinh­‑

Morfemas que se acrescentam ao radical Morfemas derivacionais

Morfemas flexionais

­‑eir­‑

­‑o

Quadro 1 | Morfemas que formam a palavra cozinheiro.

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Morfologia

3.2 MorFoloGia FleXioNal As palavras podem ser variáveis (flexionam) ou invariáveis (não flexionam). As palavras variáveis ocorrem sob diferentes formas, expres‑ sando os valores gramaticais associados à sua classe. Por exemplo, os adjetivos flexionam em género e em número, como claro (claro,­ clara,­claros,­claras). As palavras invariáveis têm uma única forma, ou seja, não flexionam, como calças ou óculos. Algumas classes de palavras são constituídas apenas por palavras invariáveis. É o caso das preposi‑ ções e das conjunções.

3.2.1 Flexão nominal Os nomes flexionam em género, número e grau: gato,­gata,­gatos,­gatas,­gatinho

saber Mais Género Os nomes são especificados quanto à categoria gramatical género, que em português tem os valores masculino e feminino. Os nomes, os determinantes e os modificadores adjetivais partilham o mesmo valor de género. São masculinos os nomes que se combinam com formas masculinas dos determinantes e dos adjetivos, como por exemplo lugar (um­lugar­inóspito). Os nomes femininos combinam‑se com formas femininas dos determinantes e dos adjetivos. É o caso de casa (uma­casa­faustosa). Certos nomes admitem contraste de género (o­gato/a­gata), enquanto outros não apresentam variação (o­rio,­a­mesa). Os nomes que referem entidades não animadas não aceitam contraste de género. Incluem‑se, neste caso, nomes concretos como a­rua,­o­lápis;­nomes abstratos como a­doença,­o­ódio;­e nomes cole‑ tivos como o­rebanho,­a­assembleia,­etc. O valor de género no caso des‑ tes nomes não corresponde a nenhuma característica do referente(1). Os nomes cujos referentes são entidades animadas (pes‑ soas ou animais) admitem em geral variação de género, corres‑ pondendo esse valor, tipicamente, a uma diferenciação sexual (menino/menina,­ etc.). O contraste entre formas masculinas e femininas pode resultar da: • alternância do sufixo de género associado ao radical: gato/ gata,­aprendiz/aprendiza,­professor/professora; (1)

Referente é o objeto extralinguístico, real ou imaginário, para o qual a palavra remete.

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• criação de formas por derivação:barão/baronesa, ator/atriz,­ plebeu/plebeia,­sacerdote/sacerdotisa; • alternância de palavras distintas: boi/vaca, homem/mulher. Em alguns casos, existe uma alteração de significado asso‑ ciada ao contraste de género: o­guarda/a­guarda,­o­caixa/a­caixa,­ o­cesto/a­cesta,­o­saco/a­saca.

Nomes epicenos São epicenos os nomes de animais invariáveis quanto ao género. O género natural, ou sexo, destes animais pode ser dado pelas palavras macho e fêmea: a águia,­a­borboleta,­o­puma o­elefante‑macho,­o­elefante‑fêmea

Nomes sobrecomuns Esta designação aplica‑se aos nomes que designam pessoas e que não apresentam variação de género: a­vítima,­a­testemunha,­o­cônjuge

Nomes comuns de dois Designam‑se deste modo os nomes cuja forma morfológica é ambígua, sendo o género determinado pela forma do determi‑ nante: o colega/a­colega,­o­cliente/a­cliente,­o­jovem/a­jovem

Número A categoria gramatical número tem, em português, os valores de singular e plural. Os nomes no singular referem uma entidade individual (mesa, carro, garfo, ...) ou coletiva (grupo, rebanho, multidão, ...). Os nomes no plural, regra geral, remetem para mais do que uma enti‑ dade (focas, canetas, cardumes, ...). Existem, no entanto, alguns nomes que apenas ocorrem no plural que denotam entidades individuais: termas,­calças,­brócolos,­ óculos,­suspensórios,­etc.

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Morfologia

Formação do plural Nos nomes cujo radical termina em vogal ou ditongo, o plural é formado acrescentando o sufixo ‑s ao singular: gato + ‑s­­­→­­­gatos; pai­+­‑s­→­pais. Certos nomes terminados no ditongo nasal ‑ão formam o plural em ‑ãos (mão/mãos,­cidadão/cidadãos), outros em ‑ães (cão/ cães,­pão/pães) e outros ainda formam o plural em ‑ões (leão/leões,­ vulcão/vulcões). Este último é o processo mais produtivo de forma‑ ção de plurais deste tipo no português atual. No caso dos radicais terminados em consoante, a forma da palavra pode ser afetada de diversos modos: • Nos nomes cujo radical termina em ‑l, esta consoante final transforma‑se na semivogal [j] (radical­­­→­­­radicai­­­→­­­radi‑ cais): postal/postais,­ papel/papéis,­ funil/funis,­ farol/faróis,­ paul/pauis. • Quando o radical do nome termina em ‑r, o plural forma‑se pela afixação da sequência ‑es (que resulta da combinação da vogal [ˆ] com o sufixo de plural ‑s): o­doutor/os­doutores,­ o­relator/os­relatores. • Nos nomes cujo radical termina em ‑s, o sufixo do plural é assimilado quando se trata de palavras graves (o­ lápis/os­ lápis,­o­ténis/os­ténis) ou de monossílabos (o­cais/os­cais,­o­ caos/os­caos,­o­cós/os­cós). Incluem‑se neste casos os nomes terminados em [ks]: o­tórax/os­tórax. Se a palavra for aguda, o plural forma‑se pela junção do sufixo ‑es: o­país/os­países,­ o­obus/os­obuses. Não se devem confundir estes casos de alteração morfofono‑ lógica com o caso dos radicais terminados em vogal nasal, como bom/bons,­bem/bens, em que a variação entre as formas do singu‑ lar e do plural é meramente ortográfica.

Grau Alguns nomes apresentam variação em grau: grau normal, grau diminutivo e grau aumentativo. Essa variação é expressa mor‑ fologicamente, através da junção de sufixos como ‑inho, ‑ito, ‑ão, ‑arra,­etc. gr au

form as

Normal

gato

pulga

boca

carro

Diminutivo

gatinho

pulguinha

boquinha

carrito

Aumentativo

gatarrão

pulgão

bocarra

carrão

Quadro 2 | Grau de alguns nomes.

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3.2.2 Flexão adjetival Género e número Todos os adjetivos flexionam em número, mas nem todos têm formas distintas para expressar os valores de género. Os adjetivos variáveis (ou biformes) flexionam em género e em número: velho­→ velha,­velhos,­velhas rico­→ rica,­ricos,­ricas cru­→ crua,­crus,­cruas europeu­→ europeia,­europeus,­europeias marítimo­→ marítima,­marítimos,­marítimas Os adjetivos invariáveis (ou uniformes) apenas flexionam em número: difícil­→ difíceis breve­→ breves interior­→ interiores comum­→ comuns hipócrita­→ hipócritas Quando constituem palavras graves cujo radical termina em ‑s (reles,­simples,­medricas,­piegas,­...), estes adjetivos têm uma forma igual no singular e no plural: um­problema­simples alguns­problemas­simples uma­questão­simples algumas­questões­simples

Grau O grau dos adjetivos expressa a intensidade de uma caracte‑ rística ou qualidade em relação a um dado ponto de referência de uma escala. O­Pedro­é­alto. O­Pedro­é­muito­alto. Dizer que o­Pedro­é­muito­alto significa que situamos a pro‑ priedade expressa pelo adjetivo no extremo superior da nossa escala de referência. 73

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Morfologia

Os adjetivos que denotam propriedades não escalares (civil,­ fl­uvial,­carnívoro, …) não admitem variação de grau: um­animal­carnívoro *um­animal­muito­carnívoro uma­fonte­documental *uma­fonte­muito­documental Os graus dos adjetivos são o normal, o superlativo e o compa‑ rativo. Estes graus podem ser expressos morfologicamente (grau superlativo absoluto sintético) ou sintaticamente (graus compara‑ tivos, por exemplo).

Grau normal O grau normal dos adjetivos graduáveis indica que a proprie‑ dade denotada se localiza na zona média da escala de referência: um­carro­económico uma­casa­cara uma­paisagem­bonita No caso dos adjetivos não graduáveis, indica simplesmente a ocorrência da propriedade: o­casamento­religioso um­homem­casado um­processo­judicial

saber Mais

Grau superlativo O grau superlativo situa a propriedade denotada pelo adje‑ tivo num dos pontos extremos da escala de avaliação: um­carro­muito­económico o­carro­mais­económico o­carro­menos­económico Este grau pode ser absoluto ou relativo. O grau superlativo absoluto exprime um grau elevado da pro‑ priedade denotada pelo adjetivo. Pode ser sintético (formado pela junção do sufixo ‑íssimo ‑ ao grau normal: velhíssimo) ou analítico (formado pela anteposição do advérbio muito­ao adjetivo: muito­ velho).

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Certos adjetivos têm uma forma de superlativo absoluto sin‑ tético obtida a partir de um radical diferente do radical dos outros graus. Em alguns casos, esta forma (chamada forma culta) coe‑ xiste com a forma regular de superlativo: gr au Normal

Superlativo absoluto sintético Forma culta

Forma regular

pobre

paupérrimo

pobríssimo

célebre

celebérrimo



magro

macérrimo

magríssimo

simples

simplicíssimo­

simplíssimo

antigo

antiquíssimo



Quadro 3 | Formas de superlativo absoluto sintético cultas e regulares de alguns adjetivos.

O grau superlativo relativo exprime um grau maior ou menor da propriedade denotada pelo adjetivo. Pode ser de superioridade (o adjetivo é antecedido de o/a­mais) ou de inferioridade (o adje‑ tivo é antecedido de o/a­menos). O­António­é­o­mais­velho­de­todos.­­ (grau superlativo relativo de superioridade) O­Rui­é­o­menos­velho­de­todos.­­ (grau superlativo relativo de inferioridade)­

Grau comparativo Os adjetivos graduáveis ocorrem também em construções comparativas: O­Tomás­é­mais­alto­do­que­o­Paulo.­­ (grau comparativo de superioridade) O­Tomás­é­tão­alto­como­o­Paulo.­­ (grau comparativo de igualdade) O­Tomás­é­menos­alto­do­que­o­Paulo.­­ (grau comparativo de inferioridade) O grau comparativo é expresso através de construções sin‑ táticas comparativas e envolve dois termos (que correspondem a dois graus da mesma propriedade, observados em duas entidades diferentes ou em estados distintos da mesma entidade).

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Morfologia

gr au

form a

e xemplos

Normal

Adj

novo

sintético

Adj­+­­‑íssimo

novíssimo

analítico

muito­+­Adj

muito­novo

de superioridade

o­mais­+­Adj

o­mais­novo

de inferioridade

o­menos­+­Adj

o­menos­novo

de superioridade

mais­+­Adj­+­do­ que­+­GN

mais­novo­do­ que…

de igualdade

tão­+­Adj­+­como­ +­GN

tão­novo­como…

de inferioridade

menos­+­Adj+­do­ que­+­GN

menos­novo­do­ que…

absoluto Superlativo relativo

Comparativo

Quadro 4 | Graus dos adjetivos.

Alguns adjetivos têm formas especiais para expressar o grau: gr au

adj etivos

Normal

bom

pequeno

grande

mau

Comparativo

melhor

menor

maior

pior

Superlativo

ótimo

mínimo

máximo

péssimo

Quadro 5 | Formas especiais para expressar o grau de alguns adjetivos.

3.2.3 Flexão verbal Do ponto de vista morfológico, os verbos são palavras com‑ plexas, formadas pela combinação de vários morfemas. Os verbos são constituídos por um tema, que resulta da combinação de um radical com uma vogal temática (que define a conjugação do verbo, ou seja, indica o seu paradigma flexional). radical

cant

a

vogal temática

tema

Ao tema verbal (1) segue‑se um conjunto de sufixos que transportam informações de tempo, modo e aspeto e de pessoa e número. A ordem desses sufixos é a seguinte: sufixos de tempo, modo e aspeto (2) + sufixos de pessoa e número (3). cant

á 1

va

mos

2

3

76

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No entanto, nem todas as formas verbais têm esta estrutura morfológica; as formas verbais não finitas (infinitivo impessoal, gerúndio e particípio), por exemplo, são formas invariáveis. Dado o número de combinações possíveis, o paradigma de flexão de um verbo regular é formado por um elevado número de formas (ver anexos de conjugação verbal).

conjugações verbais Em português, os verbos agrupam‑se em três conjugações de acordo com a vogal temática que possuem. Os verbos da primeira conjugação formam o tema com a vogal ­‑a­‑­(ansiar, cantar, falar recear, ...), os da segunda, com a vogal ­‑e­‑ (crer, dizer, fazer, perder,, ...) e os da terceira, com a vogal ­‑i­‑­(dormir, fugir, pedir, sorrir, ...). A primeira conjugação é composta maioritariamente por ver‑ bos regulares, ou seja, verbos que mantêm o radical em toda a fle‑ xão (canta, cantava, cantaria,, ...). A flexão irregular existe sobretudo nos verbos da segunda e da terceira conjugações, que sofreram muitas transformações no processo de passagem do latim para o português; estes verbos não mantêm o radical em toda a flexão (faço, fazia, faria, fazendo, ...). A vogal temática pode ser claramente identificada a partir da forma do infinitivo: andar, comer, sair.

saber Mais Considera-se que o verbo irregular

verBos Conjugação

Vogal temática

Exemplos

Primeira

a

saltar,­andar,­rebolar,­pintar,­...

Segunda

e

correr,­ler,­temer,­roer,­viver,­...

Terceira

i

fugir,­vir,­consentir,­admitir,­...

Quadro 6 | Vogal temática de verbos da primeira, segunda e terceira conjugações.

Em alguns tempos verbais, a vogal temática pode não ser visível, porque ocorrem alterações fonéticas em determinados contextos. Por exemplo, no presente do indicativo e do conjuntivo, a vogal temática desaparece quando se encontra antes de vogal. tempo conj ugação Presente do indicativo Presente do conjuntivo Primeira

cant­+­a­+­o­→­canto

cant­+­a­+­e­→­cante

Segunda

com­+­e­+­o­→­como

com­+­e­+­a­→­coma

Terceira

sub­+­i­+­o­→­subo

sub­+­i­+­a­→­suba

Quadro 7 | Supressão da vogal temática antes de vogal.

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Morfologia

Pessoa e número As formas flexionadas dos verbos expressam a concordância em pessoa e número com o sujeito da oração de que fazem parte. Na maioria dos casos, um único morfema expressa simul‑ taneamente os valores de tempo, modo e aspeto, e de pessoa e número (por exemplo, no caso do verbo falar, o sufixo ­‑o em falo indica presente do indicativo + 1.ª pessoa do singular). Em casos excecionais, a concordância é expressa através de um conjunto de sufixos independentes que ocupam a última posição na ordem dos morfemas verbais. Por exemplo, na forma verbal cantávamos, ‑va‑ é o sufixo de tempo, modo e aspeto, e ‑mos é o sufixo de pes‑ soa e número. Em português, existem três formas para a pessoa (primeira, segunda e terceira), que variam em número (singular e plural). su fixos de pessoa e n úmero Número Singular

Plural

Pessoa

Sufixo

Exemplo

1.ª



falava

2.ª

‑s

falavas

3.ª



falava

1.ª

‑mos

falávamos

2.ª

‑des/‑is

faláveis

3.ª

‑m

falavam

Quadro 8 | Sufixos verbais de pessoa e número.

A forma de segunda pessoa do plural (por exemplo, vós­ides) está em desuso no português contemporâneo, mantendo‑se ape‑ nas em alguns dialetos. Existem verbos que só são conjugados em certas combi‑ nações de pessoa e número. É, por exemplo, o caso dos verbos impessoais, como nevar, que apenas ocorrem na terceira pessoa do singular.

Modo O modo verbal é uma categoria gramatical que expressa o ponto de vista do locutor acerca do estado de coisas descrito no enunciado. Um dado estado de coisas pode ser apresentado como real, como possível, como não real, como obrigatório, como desejá‑ vel, como incerto, etc. Distinguem‑se, em português, quatro modos verbais: indica‑ tivo, conjuntivo, imperativo e condicional.

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O modo indicativo expressa a convicção no caráter factual da descrição: Lisboa é­a­capital­de­Portugal.­ O­Pedro­comprou­um­carro­novo. Picasso­não­pintou­este­quadro. O modo conjuntivo não refere um estado de coisas real, mas um estado de coisas possível, desejável, incerto ou irreal: Quero que venhas cá­manhã. Talvez­leia­este­livro. Duvido­que­chegues­a­tempo. O modo imperativo é usado para expressar uma ordem, um convite, um conselho ou uma exortação em frases afirmativas cujo sujeito é uma segunda pessoa: Vai­‑te­embora! Abre­a­porta! Vem­jantar­comigo­amanhã. Este modo é, portanto, defetivo(2) na primeira e na terceira pessoas. Nessas pessoas e em frases negativas, as formas verbais usadas para expressar ordens, pedidos, etc. pertencem ao modo conjuntivo: Chegue­aqui! Não­venhas­tarde! O modo condicional expressa uma probabilidade que é afir‑ mada sob uma condição: Se­não­tivesses­aparecido,­ainda­estaríamos­perdidos. Se­tivesse­mais­tempo­livre,­iria­mais­ao­cinema.

Tempo Um tempo verbal é um conjunto de formas verbais que parti‑ lham os mesmos sufixos de tempo, modo e aspeto, distinguindo‑se apenas pelos sufixos de pessoa e número. Esta categoria morfos‑ sintática permite distinguir os seguintes paradigmas de flexão verbal: presente, pretérito (perfeito, imperfeito, mais‑que‑perfeito) e futuro. (2)

Sobre o conceito de verbo defetivo, ver a página 90.

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Morfologia

Tempos verbais simples e compostos Os tempos verbais podem ser agrupados em duas séries: os tempos simples e os tempos compostos. tempos simples Modo

Indicativo

Conjuntivo

Tempo

Exemplos

Presente

corro

Pretérito imperfeito

corria

Pretérito perfeito

corri

Pretérito mais‑que‑perfeito

correra

Futuro

correrei

Presente

corra

Pretérito imperfeito

corresse

Futuro

correr

Condicional

correria

Imperativo

corra

Quadro 9 | Tempos verbais simples.

Os tempos compostos em português são formados por uma forma flexionada de um verbo auxiliar combinada com o particípio passado dos verbos principais. O auxiliar dos tempos compostos mais frequente no português atual é ter, mas o verbo haver tam‑ bém é por vezes usado:­Havíamos­lido­os­livros­e­feito­os­exercícios. Os tempos compostos indicam que o estado de coisas refe‑ rido na frase se realizou, isto é, estas formas têm um valor aspetual perfetivo. tempos compostos Modo Indicativo

Conjuntivo

Tempo

Exemplos

Pretérito perfeito

tenho­corrido

Pretérito mais‑que‑perfeito

tinha­corrido

Futuro

terei­corrido

Pretérito perfeito

tenha­corrido

Pretérito mais‑que‑perfeito

tivesse­corrido

Futuro

tiver­corrido

Condicional

teria­corrido

Quadro 10 | Tempos verbais compostos. 80

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Formas verbais finitas As formas verbais finitas variam em tempo, pessoa e número. Ao contrário das formas verbais não finitas (infinitivo, gerúndio e particípio), estas formas podem constituir a única forma verbal numa frase simples. Tempos do modo indicativo Regra geral, as formas do presente são usadas para referir os estados de coisas atuais, as formas do futuro indicam os estados de coisas que irão acontecer e as formas de pretérito, os que se localizam no passado. No entanto, os tempos verbais são muitas vezes usados para indicar um valor temporal diferente daquele que normalmente veiculam. Por exemplo, não é invulgar usar uma forma do presente para referir uma ação passada (1) ou futura (2): (1) ­Nos­anos­90,­uma­epidemia­quase­acaba­com­ os­golfinhos­riscados. (2) Amanhã­vou­às­compras. Na verdade, em português, o presente do indicativo só expressa o tempo presente num número restrito de casos. O presente do indicativo é usado: • para referir um estado de coisas localizado num intervalo de tempo contemporâneo do tempo da enunciação: Estamos­aqui­para­falar­do­contrato. A­Rita­está­de­férias. • em enunciados que expressam verdades intemporais ou eternas: A­terra­gira­em­volta­do­Sol. A­neve­é­fria. • em enunciados que contêm instruções: Giras este­manípulo­e­inseres­o­disco. Vais­à­loja­e­compras­um­litro­de­leite. • para referir um estado de coisas habitual: Como­uma­maçã­ao­pequeno­‑almoço. Desde­pequeno­que­vou­para­a­praia­da­Adraga.

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Morfologia

• para indicar o futuro próximo (geralmente acompanhado de adverbiais de tempo): Vou­a­Paris­amanhã. Logo­leio­isso. • na descrição de factos passados, em sequências narrativas que contêm uma expressão temporal: Em­1530,­a­armada­chega­à­Baía. Para situar uma ação no passado, usam‑se os seguintes tem‑ pos verbais:

saber Mais

• pretérito imperfeito — expressa uma ação passada habitual; • pretérito perfeito — expressa uma ação passada terminada; • pretérito perfeito composto — expressa uma ação pas‑ sada que continua no momento da enunciação; • pretérito mais‑que‑perfeito simples — expressa uma ação passada anterior a outra também situada no passado; • pretérito mais‑que‑perfeito composto — expressa uma ação passada anterior a outra também situada no passado. tempos

e xemplos

Pretérito imperfeito

Dantes,­o­Rui­pintava.

Pretérito perfeito simples

Já­resolvi­o­problema.­

Pretérito perfeito composto Pretérito mais‑que‑perfeito simples Pretérito mais‑que‑perfeito composto

Ultimamente,­tenho­estudado. O­Zé­disse­‑me­que­já­estudara. O­Zé­disse­‑me­que­já­tinha­ estudado.

Quadro 11 | Tempos do passado.

saber Mais

O tempo futuro tem duas formas: simples e composta. O fu‑ turo simples (irei,­estudaremos,­farão, ...) indica a probabilidade de ocorrência de um acontecimento ou estado num tempo posterior ao momento de enunciação: A­fi­nal­da­prova­decorrerá­em­Lisboa. O­Pedro­fará­anos­na­próxima­semana. Frequentemente, o futuro simples é substituído pelo presente do indicativo (Amanhã,­vou­à­praia.) ou por construções perifrásticas (Hei­de­comprar­um­carro­novo.; A­Laura­vai­mudar­de­casa­amanhã.).

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O futuro composto (terei­ ido,­ teremos­ estudado,­ terão­ feito, etc.) indica uma ação terminada antes de outra: Quando­o­João­voltar,­já­o­fi­lho­terá­ido­para­a­escola. Este tempo verbal pode ainda indicar incerteza: Julgo­que­terá­sido­o­Pedro­a­causar­o­acidente. Tempos do modo conjuntivo tempos

e xemplos

Presente

ande

Pretérito imperfeito

andasse

Futuro

andar

Pretérito perfeito composto

tenha­andado

Pretérito mais‑que‑perfeito composto

tivesse­andado

Futuro composto

tiver­andado

Quadro 12 | Tempos do modo conjuntivo.

Os tempos simples do conjuntivo podem, além do seu valor temporal intrínseco, expressar uma localização temporal futura. Numa frase como Ela­quer­que­tu­lhe­tragas­um­presente­de­Paris­ quando­ voltares,­ o­ presente do conjuntivo expressa um tempo futuro em relação ao tempo da enunciação. Em A­Luísa­pediu­que­ arranjasses­ a­ torneira, o imperfeito do conjuntivo expressa um tempo posterior ao tempo da oração subordinante e ao tempo da enunciação. Tempos do modo condicional

saber Mais

O condicional simples ou futuro do pretérito simples indica um tempo futuro em relação a um momento localizado no pas‑ sado: O­autor­matriculou­‑se­na­universidade­em­1947­ e­terminaria­o­curso­cinco­anos­depois. Este tempo verbal pode igualmente expressar uma possibi‑ lidade: O­treinador­disse­que­o­convidaria­se­ele­chegasse­a­tempo. 83

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Morfologia

O condicional composto indica uma consequência possível da não realização de um estado de coisas localizado no passado: Se­não­tivesse­sofrido­aquela­lesão,­teria­ganho­a­taça. Tempo do modo imperativo O modo imperativo tem um caráter defetivo, visto só apre‑ sentar um tempo (o presente) e uma pessoa (a segunda pessoa gramatical). imper ativo Pessoa

Exemplos

2.ª pessoa do singular

anda

2.ª pessoa do plural

andai

Quadro 13 | Formas verbais do imperativo.

Para expressar os valores associados ao imperativo em frases com sujeito gramatical diferente da segunda pessoa (frases com o sujeito você/vocês, que é formalmente uma terceira pessoa) ou para expressar frases imperativas negativas, usa‑se o conjuntivo: Traga­‑me­já­o­contrato! Não­venhas­tarde!

As formas verbais não finitas As formas verbais não finitas são o infinitivo (pessoal e impes‑ soal), o gerúndio e o particípio. Estas formas ocorrem, normal‑ mente, associadas a outras formas verbais e não variam em tempo. Infinitivo impessoal O infinitivo impessoal é uma forma que pode ocorrer em ora‑ ções subordinadas substantivas com função de sujeito (1), de com‑ plemento do verbo (2) e de complemento do nome (3), em orações subordinadas adverbiais temporais (4) e em orações subordinadas adverbiais causais (5): (1) Fumar­mata. (2) O­Pedro­quer­ir­ao­cinema. (3) A­ideia­de­ir­à­praia­agrada­‑me. (4) Eles­encontraram­o­Pedro­ao­sair­de­casa. (5) Eles­caíram­por­escorregar­no­óleo. 84

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Este tempo tem uma forma simples (ex.: andar) e uma forma composta (ex.: ter­andado). Infinitivo pessoal O português possui uma forma de infinitivo pessoal ou fle‑ xionado, além do infinitivo impessoal. Esta forma, que tem flexão de pessoa e de número (por exemplo: ler,­ leres,­ ler,­ lermos,­ lerdes,­ lerem), ocorre em certas orações subordinadas, como as finais: Vim­chamar­‑te­para­ires ao­telefone. Gerúndio O gerúndio é uma das formas não finitas do verbo. Este tempo verbal tem uma forma simples, constituída pela junção do sufixo ­‑ndo­ao tema verbal (andando, lendo, saindo), e uma forma composta, que associa o gerúndio do verbo auxiliar ter­ao particí‑ pio do verbo principal (tendo­andado, tendo­lido, tendo­saído). O gerúndio expressa um valor durativo e não acabado, indi‑ cando a simultaneidade das ações expressas pelo verbo no gerún‑ dio e por um verbo numa forma finita (1) ou a anterioridade da ação expressa pelo verbo no gerúndio em relação à ação expressa pela forma verbal finita (2). (1) Ela­ouvia‑o­sorrindo. (2) Dizendo­isto,­saiu­da­sala. As construções que têm como núcleo um gerúndio têm um valor adverbial. Dizendo­isto,­saiu­da­sala­=­Assim­que­disse­isto,­saiu­da­sala. Particípio O particípio é uma forma verbal não finita que entra na for‑ mação dos tempos compostos e das construções passivas. Nos tempos compostos, ocorre como forma invariável: Ela­tinha­ido­à­rua. Os­rapazes­tinham­jantado­fora. Em construções passivas, o particípio é uma forma que fle‑ xiona em género e em número: Estes­carros­foram­reparados­ontem.

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Morfologia

Existem verbos que apresentam duas formas de particípio passado: uma regular (forma fraca), habitualmente usada na for‑ mação dos tempos compostos com os auxiliares ter­e haver, e outra irregular (forma forte), geralmente utilizada com os auxiliares ser­e estar. O particípio regular é formado pela afixação do sufixo ­‑do ao tema verbal: ama­+­do­→­amado. Apresentam‑se abaixo os principais verbos que manifestam esta particularidade. primei r a conj ugação Infinitivo

Particípio regular

Particípio irregular

aceitar entregar enxugar expressar expulsar isentar matar salvar soltar vagar

aceitado entregado enxugado expressado expulsado isentado matado salvado soltado vagado

aceite entregue enxuto expresso expulso isento morto salvo solto vago

segu n da conj ugação Infinitivo

Particípio regular

Particípio irregular

acender benzer eleger envolver incorrer morrer nascer prender romper suspender

acendido benzido elegido envolvido incorrido morrido nascido prendido rompido suspendido

aceso bento eleito envolto incurso morto nado/nato preso roto suspenso

tercei r a conj ugação Infinitivo

Particípio regular

Particípio irregular

afligir emergir exprimir extinguir frigir imergir imprimir inserir omitir submergir

afligido emergido exprimido extinguido frigido imergido imprimido inserido omitido submergido

aflito emerso expresso extinto frito imerso impresso inserto omisso submerso

Quadro 14 | Duplo particípio de alguns verbos da 1.ª, 2.ª e 3.ª conjugações.

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As formas de particípio ocorrem frequentemente como adje‑ tivos qualificativos: Gosto­de­peixe­assado. Quando os verbos possuem duas formas de particípio, é sem‑ pre a forma irregular que funciona como adjetivo: Comi­batatas­fritas. *Comi batatas­fritadas. É também a forma forte que ocorre normalmente nas cons‑ truções passivas: O­suspeito­foi­solto­pelo­juiz. *O­suspeito­foi­soltado­pelo­juiz.

Tipologia verbal Verbos regulares Os verbos regulares conservam o mesmo radical em todas as suas formas e os sufixos a ele associados seguem o paradigma da respetiva conjugação. A maioria dos verbos da primeira conjuga‑ ção são regulares. i n fi n itivo

presente

pretérito perfeito

pretérito m ais ‑qu e‑ ‑perfeito

andar

and­+­o

ande­+­i

andar­+­a­

lavar

lav­+­o

lave­+­i

lavar­+­a­

saltar

salt­+­o

salte­+­i

saltar­+­a

Quadro 15 | Verbos regulares da primeira conjugação.

Verbos irregulares Os verbos irregulares apresentam um conjunto de sufixos fle‑ xionais que não seguem o paradigma da conjugação a que perten‑ cem. Em alguns casos, a irregularidade destes verbos pode afetar igualmente o radical. O verbo ser, por exemplo, apresenta mais do que um radical na sua flexão: sou,­és,­fui,­etc. Estas formas flexio‑ nadas pertencentes a radicais diferentes que preenchem lacunas existentes no paradigma flexional de um verbo denominam‑se formas supletivas. 87

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Morfologia

Para determinar se um verbo é irregular, basta observar as seguintes formas do indicativo (exceto no caso dos verbos irregu‑ lares dar, estar, haver, querer, saber e ir): presente, pretérito perfeito e futuro. i n fi n itivo

presente

pretérito perfeito

fut u ro

comer (regular)

como

comi

comerei

caber

caibo

coube

caberei

dizer

digo

disse

direi

Quadro 16 | Verbos irregulares.

As irregularidades manifestadas pelos verbos podem dizer respeito a: • ocorrências de vários radicais: i n fi n itivo

presente

pretérito perfeito

fut u ro

ir

vou

fui

irei

ser

sou,­és

fui,­foste

serei,­serás

Quadro 17 | Verbos irregulares com mais de um radical.

• alterações sistemáticas na forma dos radicais: tempos do presente Verbo

Presente do indicativo

Presente do conjuntivo

ouvir

ouço

ouça

perder

perco

perca

poder

posso

possa

Quadro 18 | Verbos em que há alteração da última consoante do radical nos tempos do presente.

tempos do presente Verbo

Presente do indicativo

Presente do conjuntivo

caber

caibo

caiba

crer

creio

creia

Quadro 19 | Verbos em que há adição de uma semivogal à vogal do radical nos tempos do presente.

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tempos do passado Verbo

Indicativo P. perfeito

Conjuntivo

P. mais‑que‑ P. imperfeito ‑perfeito

Futuro

pôr

pus

pusera

pusesse

puser

ter

tive

tivera

tivesse

tiver

trazer

trouxe

trouxera

trouxesse

trouxer

Quadro 20 | Verbos em que há alternância da consoante e da vogal do radical nos tempos do passado.

tempos do passado Verbo dizer

Indicativo P. perfeito disse

Conjuntivo

P. mais‑que‑ P. imperfeito ‑perfeito dissera

dissesse

Futuro disser

Quadro 21 | Verbos em que há alternância da consoante do radical nos tempos do passado.

tempos do passado Verbo

Indicativo P. perfeito

Conjuntivo

P. mais‑que‑ P. imperfeito ‑perfeito

Futuro

fazer

fiz

fizera

fizesse

fizer

poder

pude

pudera

pudesse

puder

saber

soube

soubera

soubesse

souber

Quadro 22 | Verbos em que há alternância da vogal do radical nos tempos do passado.

Por razões fonológicas, em alguns verbos o timbre da vogal do radical altera‑se em determinados contextos. É o que se verifica na flexão dos seguintes verbos: sonhar:­sonho,­sonhava­— alternância entre [o] e [u]; dever:­devo,­deves — alternância entre [e] e [E]; ferir:­firo,­feres — alternância entre [i] e [E]; mover:­movo,­moves,­movia — alternância entre [o], [ç] e [u]. A este fenómeno dá‑se o nome de alternância vocálica.

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Morfologia

Verbos defetivos Os verbos defetivos são verbos que apenas ocorrem em cer‑ tas combinações de pessoa e número e de tempo, modo e aspeto. A sua conjugação é, por isso, incompleta. Isto pode suceder por razões semânticas, como no caso dos verbos impessoais, que só ocorrem na terceira pessoa (nevar, suceder, acontecer, ...). Também os verbos que designam vozes de animais (ladrar,­ miar,­ zurrar, ...) são considerados defetivos no seu uso normal, embora possam ocorrer em qualquer pessoa num contexto ade‑ quado (por exemplo, numa fábula). Um verbo como falir só é usado, por razões de eufonia, na pri‑ meira e na segunda pessoas do plural do presente do indicativo (falimos,­falis), e na segunda pessoa do plural do imperativo­(fali). Outros verbos defetivos do mesmo tipo são banir,­colorir,­demolir,­ punir, etc. Verbos impessoais Os verbos impessoais apenas ocorrem na terceira pessoa do singular: é o caso de haver na aceção de existir, do verbo fazer quando indica tempo decorrido, do verbo tratar quando conjugado pronominalmente e dos verbos que indicam fenómenos meteoro‑ lógicos — nevar,­chover,­trovejar,­amanhecer,­anoitecer, etc. As fra‑ ses com estes verbos não têm sujeito expresso: Há­muitos­problemas­nesta­cidade. Faz­cinco­anos­que­ele­emigrou. Nevou­ontem­em­Londres. Ontem­choveu­torrencialmente. Trata‑se­de­um­projeto­interessante. Verbos unipessoais Os verbos ditos unipessoais apenas flexionam na terceira pessoa do singular e do plural. Esta restrição tem origem na semân‑ tica dos próprios verbos, que selecionam sujeitos não humanos. É o caso dos verbos que designam vozes ou comportamentos de ani‑ mais: Os­cavalos­relincharam. O­cão­ladrou. Os­lobos­uivaram­toda­a­noite. Os­pássaros­chilreavam­alegremente. O­cavalo­galopou­velozmente.

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3.3 Processos MorFolóGicos de ForMação de Palavras O português dispõe de processos morfológicos e não morfo‑ lógicos de formação de palavras.(3) Nos processos morfológicos de formação de palavras, distinguem‑se dois grandes grupos: a deri‑ vação e a composição.

3.3.1 derivação A derivação é um processo de formação de palavras que pode envolver ou não a adição de constituintes morfológicos a uma forma de base. No primeiro grupo, encontram‑se os processos de afixação. Por exemplo, a partir da palavra papel, formou‑se papela‑ ria, papelão, papeleira, etc. No segundo, incluem‑se a conversão e a derivação não afixal, processos em que há uma recategorização das formas sem associação de um afixo derivacional à forma de base.

afixação A afixação consiste na junção de um afixo a uma forma de base, resultando a criação de uma nova palavra. Por exemplo, quando à forma de base livr‑ se junta o sufixo ‑eir‑, resulta a forma livreir‑, a partir da qual se forma a palavra livreiro. Se à base pobre se juntar o prefixo em‑ e o sufixo ‑ecer, resulta o verbo empobrecer. Os afixos que ocorrem antes do radical denominam‑se prefi‑ xos e os que ocorrem depois, sufixos. A maioria dos afixos do por‑ tuguês tem uma origem latina ou grega.

Prefixação A prefixação é um processo de formação de palavras muito frequente em português. Consiste na junção de um prefixo a uma forma de base. pôr­→­repor feliz­→­infeliz aparecer­→­desaparecer presidente­→­vice‑presidente balançar­→­contrabalançar mercado­→­supermercado tabaco­→­antitabaco estrutura­→­infraestrutura

(3)

Sobre os processos não morfológicos de formação de palavras, ver as páginas 212-216.

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C AP Í T U L O 3

Morfologia

prefixos de origem grega Prefixo

Significado

Exemplos

amoral, analgésico, acéfalo inversão, anacronismo, ana­‑ repetição, analogia, semelhança anáfora de ambos os anfiteatro, anfi­‑ lados, movimento anfíbio, circular anfitrião antimíssil, anti­‑ oposição antinatural, antítese apogeu, separação, apo­‑ apologia, afastamento apóstrofe arqui­‑­­ arcanjo, (arque‑,­arce‑,­ superioridade arcebispo, arci‑,­arc­‑) arquétipo automóvel, auto­‑ próprio autobiografia, autoplastia bioética, bio­‑ vida biologia, biomassa cataclismo, movimento cata­‑ catacumbas, para baixo catarata democracia, demo­‑ povo demofilia, demografia dicromático, duas vezes, di­‑ diglossia, duplicação díptico diagénese, movimento dia­‑­(di­‑) diagrama, através de diacronia disfunção, dificuldade, dis­‑ disgrafia, anomalia dislexia eclipse, movimento e‑,­ec­‑­(ex­‑) ectopia, para fora de êxodo endovenoso, endo­‑ para dentro endoscopia, endotélio epicentro, sobre, epi­‑ epiderme, posição superior epílogo an­‑­(a­‑)

privação

Prefixo

Significado

Exemplos

eucalipto, eufonia, eutanásia filologia, filo­‑ que ama filosofia, filotecnia fonofobia, fono­‑­(fon­‑) som fonografia, fonologia fotocópia, foto­‑ luz fotoelétrico, fotografia,­ geocentrismo, geo­‑ terra geofísica, geobiologia hemiciclo, hemi­‑ meio, metade hemiopia, hemisfério hipertensão, hiper­‑ posição superior hipermercado, hipertexto hipoderme, hipo­‑ posição inferior hipotálamo, hipotermia metafísica, meta­‑ mudança metamorfose, metáfase palimpsesto, palim­‑­(palin­‑) mudança palingénese, palinologia paradigma, aproximação, para­‑ paralelo, semelhança paranormal pericárdio, à volta de, peri­‑ periferia, em torno de periscópio polidesportivo, poli­‑ muito poliglota, polivalente posição prognóstico, pró­‑ em frente, prólogo, anterioridade proparoxítono simpatia, simultaneidade, sin­‑­(sim‑,­si­‑) sincronia, união síntese telegrafia, tele­‑ longe telepatia, telescópio eu­‑

bem, bondade

Quadro 23 | Prefixos de origem grega.

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prefixos de origem l ati na Prefixo

Significado

a‑,­ab‑,­abs­‑

afastamento, separação

a‑,­ad­‑­

aproximação, junção

ante­‑

anterioridade

bene­‑ circum­‑­ (circun­‑)

movimento em vários sentidos, ideia contrária movimento para dentro, mudança de estado

abdução, abstinência, aversão adjacente, adjudicar anteontem, antepassado benemérito, benevolência circumpolar, circunferência, circunstância cisalpino, cisjordânico composição, copiloto, correspondência contradição, contramestre, contraprova dedução, decair, deformar desconfiança, desobedecer difamação, discórdia, dispersar embarcar, empacotar, engrossar

posição intermédia

entreabrir, entrelinha

ideia de bem, a favor de em redor, movimento circular

cis­‑

aquém de

com­‑­(con­‑),­ co­‑­(cor­‑)

união, companhia, simultaneidade

contra­‑

oposição, proximidade

de­‑

movimento de cima para baixo

des­‑

ideia contrária

di‑,­dis­‑ em‑,­en­‑ entre­‑

Exemplos

emanar, emigrar, expatriar extrajudicial, de fora de, extra­‑ extraordinário, além de extraterrestre movimento­para­ implantar, in­‑­(im­‑),­i­‑­(ir­‑) dentro,­ideia­ incursão, contrária ilícito interioridade, intramuros, intra­‑ movimento para intramuscular, dentro intravenoso ex‑,­es‑,­e­‑

movimento para fora

Prefixo

Significado

intro­‑

movimento para dentro

justa­‑

aproximação

male­‑­(mal­‑)

ideia de mal

ob‑,­o­‑

oposição

per­‑

movimento através de, acabamento

pos‑,­pós­‑

posição posterior

pre‑,­pré­‑

posição anterior, intensidade

pro‑,­pró­‑ re­‑ retro­‑

movimento para diante, a favor de, em vez de movimento para trás, repetição, intensidade movimento para trás

semi­‑

meio, metade

soto‑,­sota­‑

posição inferior

Exemplos introduzir, intrometer, introverter justalinear, justaposição maledicência, maljeitoso obter, opor percentagem, perfazer, perfurar posfácio, pós­‑guerra prefácio, premeditar, pré­‑aviso procriar, pronome, pró­‑sindicato reação, refluxo, reforçar retrocesso, retrovisor semicírculo, seminu, semirrecta sotopor, sota­‑almirante

sobpor, sub‑,­sus‑,­su‑,­ posição inferior subconsciência, sob‑,­so­‑ suceder sobrenatural, super‑,­sobre‑,­ posição superior, supermercado, supra­‑ excesso suprassumo transbordar/ trans‑,­tras‑,­ movimento trasbordar, tres­‑ para além de trespassar ultramar, movimento para ultra­‑ ultrassom, além de, excesso ultravioleta vice­‑diretor, vice­‑­(vizo­‑),­ substituição, em vice­‑rei/vizo­‑rei, vis­‑ vez de visconde

Quadro 24 | Prefixos de origem latina.

93

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C AP Í T U L O 3

Morfologia

Sufixação O processo de formação de palavras mais produtivo em português é a sufixação. Este processo consiste na junção de um sufixo a uma forma de base. fruto → frutificar amar → amável metal → metalizar barba → barbeiro A junção de um sufixo a uma forma de base altera o seu signi‑ ficado e, frequentemente, a classe da palavra original. su fixos

cl asse origi nal

cl asse fi nal

e xemplos

­‑ista,­‑oso,­‑al

Nome

Adjetivo

nortista,­budista,­horroroso,­formal

Nome

Nome

Verbo

Nome

­‑vel

Verbo

Adjetivo

durável,­lavável

­‑itar,­‑inhar,­‑ilhar

Verbo

Verbo

dormitar,­escrevinhar,­fervilhar

­‑dade,­­‑ez,­­‑ia,­­‑ura,­­ ‑ismo,­‑idade

Adjetivo

Nome

crueldade,­pequenez,­alegria,­doçura,­ realismo,­formalidade

­‑ista

Adjetivo

Adjetivo

ativista,­federalista

­‑izar,­­‑ecer

Adjetivo

Verbo

modernizar,­formalizar,­amarelecer

­‑mente

Adjetivo

Advérbio

claramente,­eficazmente

­‑agem,­­‑aria,­­‑eiro,­­ ‑­ edo,­­‑ismo,­­‑ista,­­‑al ­‑dor,­­‑deira,­­‑ção,­­‑nte,­ ­‑mento,­­‑ncia

folhagem,­livraria,­livreiro,­arvoredo,­ heroísmo,­pianista,­laranjal jogador,­torradeira,­educação,­pedinte,­ julgamento,­dominância

Quadro 25 | Formação de palavras por sufixação.

Alguns sufixos, chamados sufixos avaliativos, não alteram a classe da forma de base, modificando apenas o seu significado. su fixos avaliativos Tipo de sufixo Diminutivos Aumentativos Depreciativos De grau

Sufixos

Exemplos

­‑inho,­­‑ito,­­‑zinho,­­ ­livrinho,­pedrita,­cidadezinha,­pãozito,­paizinho,­aranhiço ­‑zito,­­‑iço,­etc. ­‑ão,­­‑zão,­­‑aça,­­‑aço,­­ pulgão,­florão,­mulheraça,­ricaço,­gatarrão,­copázio ­‑arrão,­­‑ázio,­etc. ­‑astro,­­‑arra,­­‑ebre,­­ poetastro,­bocarra,­casebre,­lojeca ­‑eca,­etc. ­‑íssimo,­‑érrimo,­etc.

larguíssimo,­interessantíssimo, aspérrimo

Quadro 26 | Formação de palavras por sufixação avaliativa.

94

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Parassíntese A parassíntese é um processo derivacional de formação de palavras que consiste na afixação simultânea de um sufixo e de um prefixo a uma forma de base. Este processo é muito usado para criar formas verbais: embelezar (em­+ beleza­+ ar). A base destas palavras pode ser um nome, um adjetivo ou um verbo, sendo mais frequentes as que têm como base um nome. par assíntese Prefixo

Radical

Sufixo

Exemplos

adjetivo

-ado

arruivado­(Adj)

nome a-

adjetivo nome adjetivo verbo

des-

em-/en-

-ecer

acomodar­(V) abocanhar­(V) apodrecer­(V) adormecer­(V)

-ear

descantear­(V)

nome

-izar

desodorizar(V)

nome

-ado

emproado­(Adj)

adjetivo

-alhar

emporcalhar­(V)

nome

-ar

embarcar­(V) encurtar­(V)

adjetivo

-ecer

empobrecer­(V)

verbo

-açar

esvoaçar (V)

nome

-anhar

esgatanhar­(V)

nome

-ear

espernear­(V)

adjetivo verbo re-

-anhar

aproar­(V)

nome

adjetivo

es-

-ar

nome

-ecer -ear

esclarecer (V) espairecer­(V) recencear­(V)

Quadro 27 | Alguns casos de parassíntese.

Nestas palavras, a impossibilidade de eliminar um dos afixos confirma a sua natureza parassintética: encurtar/*encurto/*curtar esclarecer/*esclaro/*clarecer

95

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C AP Í T U L O 3

Morfologia

conversão A conversão, ou derivação imprópria, é um processo de for‑ mação de palavras em que não há associação de um afixo deriva‑ cional a um radical. A conversão opera sobre palavras alterando simplesmente a sua classe, mas não a sua forma. Por exemplo, a palavra jantar é um verbo em Vou­ jantar e um nome em O­jantar­estava­ótimo; a palavra rosa é um nome comum em Gosto­de­rosas, mas é um nome próprio em A­Rosa­foi­ às­compras. Algumas classes em que a conversão é frequente são: • verbo → nome (ex.: jantar) Vamos­jantar­(V). O­jantar­(N)­estava­ótimo. • adjetivo → nome (ex.: rico) Ela­é­rica­(Adj). Os­ricos­(N)­que­resolvam­o­problema. • nomes próprios → nomes comuns (ex.: damasco) Damasco­(NP) é­a­capital­da­Síria. Gosto­muito­de­damascos­(NC). • nomes comuns → nomes próprios (ex.: Rosa) Que­bem­que­cheira­esta­rosa­(NC). A­Rosa­(NP)­viajou­para­o­Brasil.

derivação não afixal A derivação não afixal (também chamada derivação regres‑ siva) consiste na formação de um nome a partir de um verbo por meio de um processo derivacional que cria uma nova palavra mais reduzida: apelar (V) → apelo (N) atacar (V) → ataque (N) dançar (V) → dança (N) escolher­(V) → escolha (N) desgastar­(V) → desgaste (N) gastar­(V) → gasto (N) perder­(V) → perda (N) pescar (V) → pesca (N) Ao radical verbal são associadas marcas de flexão nominal. Por exemplo, o nome canto é formado a partir do radical cant‑, do verbo cantar,­ao qual se junta o índice temático ‑o, que funciona como marcador do género nominal: cantar­(V) → canto (N). 96

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3.3.2 composição A composição é um processo de formação de palavras que combina dois radicais (compostos morfológicos) ou duas palavras (compostos morfossintáticos). As palavras formadas por composição denominam‑se com‑ postos ou palavras compostas.

composição morfológica Os compostos morfológicos são formados pela combinação de um radical com outro radical ou com uma palavra. Entre os radi‑ cais ou entre o radical e a palavra a que se associa, pode ocorrer uma vogal de ligação, que não pertence a nenhuma das formas combinadas: musicoterapia­(músic­+­o­+­terapia) Os compostos morfológicos comportam‑se como uma pala‑ vra, admitindo apenas sufixos flexionais em posição final: discoteca­→­discotecas/*discostecas r adicais de origem l ati na Forma

Significado

Exemplos

bi-, bis-

duas vezes

bicicleta,­bisavô

calori-

calor

calorífero

equi-

igual

equilátero

loco-

lugar

locomotiva

omni-

todo

omnipotente

pisci-

peixe

piscicultura

quadri-

quatro

quadrimotor

-cultura

ato de cultivar

viticultura

-forme

com forma de

cuneiforme

-fugo

que foge

centrífugo

-icida

que mata

inseticida

-pede



bípede

-voro

que come

carnívoro

Quadro 28 | Radicais latinos de uso frequente. 97

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C AP Í T U L O 3

Morfologia

r adicais de origem grega Forma

Significado

Exemplos

antropo-

homem

antropologia

bio-

vida

biologia

crono-

tempo

cronómetro

lito-

pedra

litografia

neo-

novo

neologismo

quilo-

mil

quilograma

xeno-

estrangeiro

xenofobia

-algia

dor

nevralgia

-arquia

governo

monarquia

-dromo

lugar para correr

autódromo

-grafia

descrição

geografia

-logia

ciência

antropologia

-morfo

forma

antropomorfo

Quadro 29 | Radicais gregos de uso frequente.

composição morfossintática Os compostos morfossintáticos resultam da combinação de palavras: papa­‑formigas, apara­‑lápis, surdo­‑mudo. Este tipo de compostos pode resultar da junção de: • nome + nome:­bomba­‑relógio • nome + adjetivo:­amor­‑perfeito • adjetivo + adjetivo: anglo‑lusitano • numeral + nome: mil­‑folhas • verbo + nome:­saca­‑rolhas • verbo + verbo:­vaivém Os compostos morfossintáticos apresentam três padrões de flexão: • Padrão 1: Os dois elementos do composto são nomes e o pri‑ meiro é o núcleo, sendo, por isso, este o elemento que flexiona: homem­‑rã­→ homens­‑rã *homens­‑rãs 98

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• Padrão 2: Nenhum dos elementos funciona como núcleo e os padrões de flexão dependem das propriedades das pala‑ vras que formam o composto. — No caso de o composto ser formado por adjetivos, todos os constituintes flexionam e concordam em género e número: surdo­‑mudo­→ surdos­‑mudos surda­‑muda­ *surdo­‑muda autor‑compositor­→ autores‑compositores autora‑compositora­ *autor‑compositora — Quando os membros do composto são nomes anima‑ dos, todos os seus constituintes flexionam e concordam em género e número: tradutor­‑revisor­→ tradutora­‑revisora tradutoras­‑revisoras *tradutora­‑revisoras trabalhador‑estudantes­→ trabalhadora‑estudante trabalhadores‑estudantes­ *trabalhador‑estudantes — Quando os membros do composto são nomes não ani‑ mados, apenas flexiona o primeiro membro: ano­‑luz­→ anos­‑luz *ano­‑luzes porta­‑janela­→ portas­‑janela *porta­‑janelas • Padrão 3: Quando o composto resulta da combinação de um verbo com um nome, apenas o nome flexiona em número: picapau­→ picapaus quebra­‑mar­→ quebra­‑mares quebra­‑noz­→ quebra­‑nozes Note‑se que a maioria destes compostos são formados por nomes plurais e, por isso, estas formas não variam em número: um­saca­‑rolhas, dois­saca­‑rolhas

99

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C AP Í T U L O 3

Morfologia

F I C H A D E AT I V I DA D E S | 6

FlExão Do nom E

1. Classifiqueasafirmaçõesseguintescomoverdadeiras(V)oufalsas(F). A — Todos os nomes admitem contraste de género. B — A palavra mesa varia em género. C — Os nomes que referem entidades não animadas não flexionam em género. D — O contraste de género entre as palavras gato e gata resulta de um processo de derivação. E — O feminino de sacerdote é sacerdota. F — As palavras cobra‑macho e cobra‑fêmea são formadas por composição. G — Nos nomes cujo radical termina em ‑s, o plural forma‑se acrescentando o sufixo ‑es se a palavra for grave. H — Alguns nomes apresentam variação em grau. 2. Completeocrucigramacomaspalavrasadequadas. 3

1— Feminino de cavalo. 2— Feminino de réu. 3— Feminino de imperador. 4— Feminino de carneiro. 5— Masculino de lebre. 6— Feminino de veado. 9 7— Masculino de fêmea. 8— Feminino de barão. 9— Masculino de cabra. 10— Feminino de ator.

6

7

1

10

8

5

4

2

3. Osnomesdestacadosnãopodemsofrercontrastedegénero.Identifique,emcadacaso,otipodenome. 1. Nome epiceno

2. Nome sobrecomum

3. Nome comum de dois

a) Um corvo pode ter quase 70 cm de comprimento. b) A Sandra é o cônjuge do António. c) O José Rodrigues dos Santos é um excelente jornalista. d) A testemunha não compareceu em tribunal. e) Um pianista tem de treinar diariamente. f) A águia é um predador com uma visão excecional. g) Este ano, uma estudante obteve a nota máxima a todas as disciplinas. h) Será que as crianças dizem sempre a verdade? i) O puma-fêmea amamenta as suas crias durante sete meses. j) O vidente previu mal o futuro. 100

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F I C H A D E AT I V I DA D E S | 7

F l E x ã o D o A D J E T I Vo

1. Classifiqueasafirmaçõesseguintescomoverdadeiras(V)oufalsas(F). A — Todos os adjetivos flexionam em género. B — O adjetivo pobre é uniforme. C — Os adjetivos uniformes apenas flexionam em género. D — O adjetivo comprido é biforme. E — Nem todos os adjetivos admitem flexão em grau. F — O adjetivo belíssimo encontra‑se no grau superlativo absoluto analítico. G — A forma pobríssimo é a forma culta do superlativo absoluto sintético do adjetivo pobre. 2. Identifiqueograudosadjetivosnasfrasesapresentadas. a) A árvore da esquerda é mais pequena do que a da direita. b) O António é tão velho como o Joaquim. c) O edifício do meio é o mais alto dos três. d) Aquele anel é muito caro. e) A rapariga loira é a menos rápida de todas. f) Este bolo é dulcíssimo. g) A chita é um animal rápido. 3. Completeasfrasescomaspalavrasouexpressõesindicadasnoquadroabaixo,utilizandoosuperlativorelativodesuperioridadedosadjetivosaípresentes. estado­ rio­ montanha­ planeta­

alto­ grande­ pequeno­ extenso­

de­África do­mundo do­sistema­solar do­mundo

a) O Everest

.

b) Júpiter

.

c) O Vaticano

.

d) O Nilo

.

4. Completeosespaçoscomograusuperlativoabsolutosintéticodoadjetivoindicadoentreparênteses. Ambrósio, esta festa está

(lindo). Deve ter sido

(difícil) arranjar tantos empregados! Vamos ficar

(célebre) com este evento.

Não se compara nada à da Marquesa! Essa estava

(pobre)!! Afinal, nós somos

(rico), temos uma família peças só poderão dizer que somos

(notável), uma casa com

(antigo), jardins

(grande), portanto, os media (importante). 101

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C AP Í T U L O 3

Morfologia

FlExão Do VERBo

F I C H A D E AT I V I DA D E S | 8

1. Identifiqueoradicaleavogaltemáticadasformasverbaisindicadas. Formaverbal a) amas b) ­passeavam c) compreendi d) desistirão e) comeriam f) partiria g) lavávamos

Radical

Vogaltemática a

passe

e

part

2. Preenchaosespaçosembrancocomoauxiliardostemposcompostosreferidosentreparênteses. a) Daqui a vinte anos já minha vida.

(futuro simples do indicativo) feito a viagem da

b) Talvez nós importância ao problema. c)

(pretérito perfeito composto do conjuntivo) dado demasiada

(pretérito perfeito composto do indicativo) levado sempre o computador

contigo.

d) O David sair quando tu telefonaste. e) Se vocês comigo antes, eu

(pretérito mais‑que‑perfeito composto do indicativo) acabado de (pretérito mais‑que‑perfeito composto do conjuntivo) falado (condicional composto) preparado tudo a tempo.

f) Amanhã estarei em Roma, se tudo corrido pelo melhor.

(futuro composto do conjuntivo)

3. Completeoquadro. Verbono infinitivo

Pessoa

Número

Tempo

Modo

andar desenhar

andei 3.ª

plural

condicional simples

condicional

viver

viverão

partir

2.ª

singular

presente

indicativo

pôr

1.ª

singular

pretérito‑mais‑ ‑que perfeito

indicativo

fazer ferir comer

Formaverbal

tivesse feito 2.ª

singular

pretérito perfeito

conjuntivo teria comido

102

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4. Completeocrucigramaseguindoasindicaçõesabaixo. 1 2

3

4

5 6

E

7

8

9

10 12

13 15 17

M O D O S

18

11

14 16

T E M P O S V E R B A I 19 S

 1— Modo verbal que transmite uma ordem, um pedido ou um conselho.  2— Verbo dormir na 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo.  3— Modo verbal que indica que algo está dependente de uma condição.  4— Verbo desenvolver na 3.ª pessoa do plural do pretérito mais‑que‑perfeito do indicativo.  5— Verbo estudar na 2.ª pessoa do singular do pretérito imperfeito do indicativo.  6— Verbo saber na 1.ª pessoa do singular do pretérito imperfeito do conjuntivo.  7— Verbo investigar na 2.ª pessoa do singular do imperativo.  8— Verbo dar na 3.ª pessoa do plural do presente do conjuntivo.  9— Verbo resumir na 1.ª pessoa do plural do pretérito imperfeito do indicativo. 10— Verbo emprestar na 3.ª pessoa do plural do futuro do indicativo. 11— Modo verbal que transmite dúvida, desejo ou possibilidade. 12— Verbo desistir na 3.ª pessoa do plural do condicional. 13— Verbo escrever na 1.ª pessoa do plural do pretérito imperfeito do conjuntivo. 14— Verbo responder na 1.ª pessoa do singular do pretérito mais‑que‑perfeito simples do indicativo. 15— Verbo sobrepor na 3.ª pessoa do singular do pretérito imperfeito do conjuntivo. 16— Verbo subtrair na 3.ª pessoa do singular do condicional. 17— Verbo conjugar na 1.ª pessoa do plural do presente do indicativo. 18— Modo verbal que demonstra uma certeza, uma realidade ou um facto. 19— Verbo sair na 2.ª pessoa do plural do imperativo.

103

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C AP Í T U L O 3

Morfologia

5. Algunsverbospodemterduasformasdeparticípiopassado:umaforteeumafraca.Classifiqueas formasdeparticípiopassadoqueseseguem. a) entregue

e) matado

b) isentado

f) preso

c) aceso

g) imprimido

d) eleito

h) omitido

6. Façaacorrespondênciaentreascaracterísticasapresentadaseotipodeverbosaquesereferem. Tiposdeverbos

Características A. Só ocorrem na terceira pessoa do singular.



B. Apenas flexionam na terceira pessoa.



C. Conservam o mesmo radical em todas as suas formas.



D. Apresentam um conjunto de sufixos flexionais que não seguem o paradigma da conjugação a que pertencem.



E. Ocorrem apenas em certas combinações de pessoa/número e tempo/modo/aspeto.



F. Os sufixos associados ao seu radical seguem o paradigma da respetiva conjugação.



G. A sua irregularidade pode afetar o seu radical.



H. Selecionam apenas sujeitos não humanos.



I. As frases com estes verbos não têm sujeito expresso.



J. A sua conjugação é incompleta.





1. Verbos regulares



2. Verbos irregulares



3. Verbos defetivos



4 . Verbos impessoais



5. Verbos unipessoais

7. Classifiqueosverboscomoregulares,irregulares,defetivos,impessoaisouunipessoais. a) levantar

k) falir

b) ser

l) encantar

c) arrulhar

m) abrir

d) banir

n) estar

e) haver

o) comer

f) pôr

p) zurrar

g) trovejar

q) nevar

h) cacarejar

r) punir

i) amanhecer

s) coaxar

j) demolir

t) caber

104

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F I C H A D E AT I V I DA D E S | 9

D E R I VAÇ ã o E C o m P o S I Ç ã o

1. Identifiqueosprocessosdeformaçãodaspalavrasapresentadasabaixo. 1. Prefixação

2. Sufixação

3. Prefixação e sufixação

4. Parassíntese

a) empobrecer

j) lavável

s) sinceramente

b) racismo

k) laringite

t) infelizmente

c) antitabaco

l) repatriar

u) desinteressantíssimo

d) dentista

m) contracurva

v) aterrorizar

e) disgrafi­a

n) expatriar

w) televisão

f) paranormal

o) deslealdade

x) ensonado

g) cobardia

p) hiperativo

y) desleal

h) prever

q) trespassar

z) injustiça

i) refazer

r) cansaço

2. Formequatropalavrasapartirdasquelhesãofornecidas,juntando-lhesafixosadequados.Façaas alteraçõesnecessárias,demodoaobterpalavrascorretas. a) pobre­

—­

b) adjetivo­ —­ c) saco­

—­

d) interesse­—­ e) caderno­ —­ f) regular­ —­ g) fúria­

—­

h) caixa­

—­

i) barco­

—­

j) doce­

—­

3. Atentenasfrasesapresentadasabaixoeidentifiqueaclasseaquepertencemaspalavrasdestacadas. a) — São horas de jantar e o jantar já está na mesa! b) As irmãs Silva têm uma silva no jardim. c) O inverno é frio e, por vezes, o frio é difícil de suportar. d) — Ali? O teu ali é muito confuso… e) Ele é rápido, mas o cão corre ainda mais rápido. f) — Porquê? Queres saber o porquê? 3.1 Perante os exemplos apresentados, defina conversão (ou derivação imprópria). 105

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C AP Í T U L O 3

Morfologia

4. Seguindooexemplo,crie,paracadaversodado,umafraseemqueapalavradestacadapertençaa umaclassediferente.Identifiquearespetivaclasse. O Porto é uma cidade lindíssima! O barco atracou num porto longínquo. (nome próprio) (nome comum) a) «Se eu fosse um dia o teu olhar» (Pedro Abrunhosa); b) «Eu hei de te amar por esse lado escuro» (Rui Veloso/Carlos Tê); c) «Desço o vão da escada, foi sempre assim» (João Pedro Pais); d) «Armando, continua com a batida» (Da Weasel); e) «É o poder / que você sabe que tem bem» (Nelly Furtado); f) «Estou num paraíso onde nada vai mudar» (Beto); g) «Pede‑me que roube o azul do céu» (Rita Guerra). 5. Na sopa de letras, encontrará sete pares de palavras que são exemplos de derivação não afixal (ouderivaçãoregressiva).Registe-osabaixo. T A B L I T R E I N A R A C A

O L U I R A M U E C O R T E V

1 —

/

2—

/

3—

/

4—

/

5—

/

6—

/

7—

/

Q U A E U B R A D A R I S N A

U L I C A F O N A C A C H S O

E N R R U L E Q U H E P U U L

O T Q S F I A C R O Q A M R E

S U C E N S U R A R U T L A U

E A U L O L A O V O E C O B C

M L L A T M C C O C R U R O A

P M U I T A H A N H E L R C T

U I V O Q U O R U M L T D P A

E A E M B A R C A R A I E A S

R I S O E L A R L R C V U N E

T O R T U V R A M O T O C A R

106

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6. Seguem-sequatrogruposdepalavrasformadasporcomposição.Observe-asatentamente. Grupo1 bar‑discoteca bomba‑relógio peixe‑espada couve‑flor palavra‑chave homem‑rã Grupo3 autarca‑deputado cirurgião‑dentista surdo‑mudo trabalhador‑estudante caixeiro‑viajante tradutor‑revisor

Grupo2 autocarro filosofia agricultura videoconferência telespetador afro‑americano Grupo4 bate‑chapas salva‑vidas abre‑latas tira‑nódoas saca‑rolhas limpa‑vidros

6.1 Classifique os compostos de cada grupo. Grupo 1 — Grupo 2 — Grupo 3 — Grupo 4 — 6.2 Flexione essas palavras no plural. Grupo 1 — Grupo 2 — Grupo 3 — Grupo 4 — 6.2.1 Para cada grupo de palavras, explicite a respetiva regra de formação do plural. 7. Formepalavrascompostasutilizandoradicaisdeorigemlatinaougrega. a) Que está ao mesmo tempo em todo o lado. — b) Que tem duas dimensões. — c) Que tem forma de fuso. — d) Descrição da vida de alguém. — e) Ciência que estuda os fósseis. — f) Dor na região lombar. — g) Medo de recintos fechados. —

107

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4 O L U CAPÍT

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s e s s a l C s a r v a l de Pa PALAVRAS E D S A T R E B A 4.1 CLASSES E PALAVRAS D S A D A H C E F 4.2 CLASSES 12 | 13 | 1 1 | 0 1 | t I v I da d e s a e d s a h fIC

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Classes de Palavras

As palavras de uma língua possuem diferentes propriedades quanto à forma, quanto ao significado e quanto às posições em que podem ocorrer numa frase. Os conjuntos de palavras com pro‑ priedades comuns são chamados classes de palavras ou categorias gramaticais. Para identificar a classe de uma palavra, podemos usar vários critérios: • Uma classe de palavras é um conjunto de formas que podem ocorrer no mesmo contexto distribucional. Por exemplo, partindo do contexto O _________ ficou em casa (em que o traço indica a posição que os elementos podem ocupar), verificamos que cão e livro podem ocupar a posi‑ ção livre na frase, pertencendo à mesma classe, mas que as palavras sempre e por pertencem a outra(s) classe(s): O cão ficou em casa; O livro ficou em casa; *O sempre ficou em casa; *O por ficou em casa. • A cada classe de palavras está associado um conjunto de propriedades morfológicas: os verbos flexionam em tempo, modo, aspeto, pessoa e número; os nomes e os adjetivos, em género e número; as preposições, as conjunções, as interjeições e os advérbios são formas invariáveis. Existem classes abertas e classes fechadas de palavras. Nomes Verbos Classes abertas

Adjetivos Advérbios Interjeições

Classes de palavras

Pronomes Determinantes Classes fechadas

Quantificadores Preposições Conjunções

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4.1 Classes abertas de palavras Uma classe aberta de palavras constitui um conjunto não finito de palavras. São classes abertas os nomes, os verbos, os adje‑ tivos, os advérbios e as interjeições. Os processos de mudança lexical afetam sobretudo as classes abertas de palavras. Assim, as listas dos elementos que pertencem a cada uma destas classes sofrem constantes alterações ao longo do tempo (devido à introdução e ao desaparecimento de palavras).

4.1.1 Nomes Os nomes (também denominados substantivos) são palavras que funcionam como núcleo do grupo nominal (GN). GN

A blusa azul agrada-me. N

Os elementos desta classe podem denotar: • entidades concretas ou abstratas: mulher, mesa, rato, paz, beleza; • relações: pai, mãe, professor; • ações ou processos: destruição, crescimento, assassínio; • estados: gravidez, doença. Na classe dos nomes, é possível identificar algumas subclasses: Nomes

Próprios (ex.: Luís)

Comuns (ex.: livro)

Contáveis (ex.: porta)

Não contáveis (ex.: água)

Coletivos (ex.: rebanho)

Nomes próprios Os nomes próprios designam um indivíduo, um lugar, uma instituição, etc. cuja referência é única: João, Lisboa, Tejo, ... 111

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Classes de Palavras

Os nomes próprios têm as seguintes características: • são invariáveis; • não podem ser modificados; • não podem ter complementos; • não têm significado lexical.

saber Mais

Em português, os nomes próprios são por vezes acompanha‑ dos por um artigo definido (o João, o Porto, a China, os Açores). Tam‑ bém é frequente a ocorrência de nomes próprios acompanhados por determinantes demonstrativos (Este Zé é insuportável!) ou pos‑ sessivos (A minha Rita casou ontem). Aos nomes próprios que referem pessoas (incluindo os ape‑ lidos, as alcunhas, os hipocorísticos e os pseudónimos) dá‑se o nome de antropónimos. Os topónimos são nomes próprios que referem lugares, aci‑ dentes geográficos, rios, etc.

Nomes comuns Os nomes comuns designam classes de entidades, de ações, de lugares, de objetos, etc. (exs.: barco, primo, lealdade, ...). Estes nomes apresentam as seguintes características: • podem variar em género e em número: gato, gata, gatos, gatas; • podem ser modificados (por grupos adjetivais e preposicio‑ nais ou por orações relativas): Gosto da tua camisola nova; • podem ter complementos: A reconstrução da cidade é fundamental; • têm significado lexical.

saber Mais

Os nomes comuns podem subclassificar‑se em nomes contá‑ veis, nomes não contáveis e nomes coletivos.

Nomes contáveis e nomes não contáveis Os nomes contáveis designam entidades ou objetos que podem ser enumerados (exs.: árvore, rua, bola, ...). Estes nomes podem ser associados a numerais (exs.: três bolas, cinco árvores, ...). Os nomes não contáveis denotam entidades ou objetos que podem ser medidos ou quantificados, mas não enumerados: (exs.: ar, água, madeira, ferro, bondade, ...). Regra geral, estes nomes não podem ser associados a numerais: Tenho dinheiro. *Tenho dois dinheiros. 112

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Nomes CoNtáveis

Nomes Não CoNtáveis

cigarro, charuto

tabaco

moeda, nota

dinheiro

camisa, saia, calças

roupa

Quadro 1 | Algumas correspondências entre nomes contáveis e nomes não contáveis.

Nomes coletivos Os nomes coletivos designam conjuntos formados por várias entidades ou objetos do mesmo tipo, mesmo quando ocorrem no singular (exs.: manada, regimento, bando, assembleia, ...). Estes nomes podem designar: • um conjunto de elementos da mesma espécie: manada, cardume, cacho, ...; • um conjunto de elementos pertencentes a uma organiza‑ ção: turma, regimento, assembleia, ...; • um conjunto acidental: grupo, conjunto, multidão, … Os nomes coletivos podem ser contáveis (ex.: bosque) ou não contáveis (ex.: eleitorado).

4.1.2 verbos Os verbos são os elementos centrais da estrutura das orações e constituem o núcleo dos grupos verbais. Morfologicamente, são formados por um tema (associando um radical e uma vogal temá‑ tica) que se combina com um conjunto de sufixos verbais que vei‑ culam informação sobre tempo, modo, aspeto, pessoa e número. Do ponto de vista semântico, os verbos expressam ações, estados, qualidades, processos ou eventos. Numa língua como o português, que admite sujeitos nulos, o verbo pode ser a única palavra a ocorrer numa oração: Cheguei!

verbos principais Os verbos principais selecionam constituintes que ocorrem em posições que recebem uma função sintática: sujeito, comple‑ mento direto, complemento indireto, etc. O Pedro cumprimentou a professora de Português. Suj

V

C. Dir

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Classes de Palavras

A categoria e a interpretação desses constituintes é determi‑ nada pelo verbo principal. Em função do número de complementos que selecionam, da natureza categorial desses complementos e da possibilidade de ocorrerem com um predicativo, os verbos principais podem subclassificar‑se em: • verbos transitivos; • verbos transitivos diretos; • verbos transitivos indiretos; • verbos transitivos diretos e indiretos; • verbos transitivos‑predicativos. Dependendo do contexto em que ocorre, o mesmo verbo pode pertencer a mais do que uma subclasse. A Maria aspirou a casa. (verbo transitivo direto) Muitos artistas aspiram à perfeição. (verbo transitivo indireto) O João fuma. (verbo intransitivo) O João fuma cinco cigarros por dia. (verbo transitivo direto)

Verbos intransitivos Os verbos intransitivos não selecionam nenhum comple‑ mento: O rapaz sorriu. A Ana tropeçou. O Marco adoeceu. O grupo verbal em que estes verbos ocorrem pode ser consti‑ tuído apenas pelo verbo, como nos exemplos acima, ou pelo verbo e por um modificador: O rapaz sorriu naturalmente. A Ana tropeçou no degrau. O Marco adoeceu ontem. Alguns verbos intransitivos admitem, excecionalmente, cons‑ truções com predicativo do sujeito (1 e 2) ou com um complemento (3). (1) A Rita chegou esfomeada. (2) O dia amanheceu nublado. (3) Eles dormiram a sesta. 114

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Verbos transitivos diretos Os verbos transitivos diretos selecionam um complemento com a função de complemento direto: A Maria comprou um livro. O complemento selecionado por estes verbos pode ser um grupo nominal ou uma oração: O Miguel adora motas. GN

V

GN

O Diogo disse que ia ao cinema. GN

V

O

Verbos transitivos indiretos Os verbos transitivos indiretos selecionam um complemento preposicionado, que pode desempenhar a função sintática de complemento indireto ou de complemento oblíquo: O Ricardo ligou à mãe. Suj

V

C. Ind

A Maria gosta de doces. Suj

V

C. Obl

Verbos transitivos diretos e indiretos Os verbos transitivos diretos e indiretos selecionam um com‑ plemento direto e um complemento preposicionado, com a função sintática de complemento indireto ou de complemento oblíquo: O João ofereceu uma rosa à Cristina. Suj

V

C. Dir

C. Ind

A Rita avisou o João de que não faria o jantar. Suj

V

C. Dir

C. Obl

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Classes de Palavras

Verbos transitivos-predicativos Os verbos transitivos‑predicativos selecionam um comple‑ mento direto e um predicativo do complemento direto, que pode aparecer sob a forma de grupo adjetival, grupo nominal ou grupo preposicional: O júri considerou a apresentação satisfatória. Suj

V

C. Dir

P. C. Dir (GAdj)

Eles acharam as férias uma maravilha. Suj

V

C. Dir

P. C. Dir (GN)

Corte o bolo em fatias. V

ler Mais

C. Dir P. C. Dir (GP)

verbos auxiliares Os verbos auxiliares precedem os verbos principais numa mesma oração, mas, ao contrário dos últimos, não selecionam nem sujeito nem complementos. Os verbos auxiliares mais frequentes são ter, haver e ser. Os verbos ter e haver auxiliam a formação dos tempos com‑ postos: O João tinha/havia feito o jantar. Todavia, neste contexto, o verbo haver é hoje pouco utilizado, reservando‑se o seu uso às situações em que ocorre como verbo principal, sinónimo de existir (conjugado unicamente na terceira pessoa do singular). O verbo ser é usado como auxiliar da passiva: O jantar foi feito pelo João. Regra geral, os verbos auxiliares não têm significado lexical, sendo apenas portadores de informação gramatical (de tempo, modo e aspeto, e de pessoa e número). Por exemplo, o verbo ter não conserva o seu significado de posse na frase Tenho de ir ao correio hoje. Além de ter, haver e ser, outros verbos auxiliares são: estar, andar, ir, vir, ficar, dever, acabar, costumar, começar e continuar.

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verbos copulativos Os verbos copulativos ocorrem associados a um predicativo do sujeito: A Ana é simpática. Suj

V

P. Suj

Estes verbos, apesar de serem sintaticamente proeminentes, não são o elemento central da oração do ponto de vista semântico, veiculando sobretudo valores gramaticais — tempo, modo, aspeto, pessoa e número. Nas construções em que os verbos copulativos ocorrem, é o predicativo do sujeito que atribui propriedades ao sujeito da oração. São copulativos verbos como ser, estar, ficar, parecer, permanecer ou continuar: A Rita está cansada. Eu fiquei desapontada. O João parece triste. Ela permanece doente. A máquina continua avariada.

4.1.3 adjetivos Os adjetivos são o núcleo dos grupos adjetivais e ocorrem sempre relacionados com um elemento nominal cuja interpre‑ tação afetam. A existência de uma relação entre um nome e um adjetivo implica a sua concordância em género e em número: Tenho um casaco novo. Tenho umas calças novas. Além de flexionarem em género e em número, os adjetivos podem também flexionar em grau: Um rapaz inteligente/inteligentíssimo. Os adjetivos podem coocorrer com advérbios de quantidade e grau (1) e podem ter como complemento um grupo preposicional (2) ou uma oração (3): (1) O quadro é demasiado caro. (2) Ele é um apreciador de vinhos. (3) O Pedro está desejoso de saber o resultado do exame. 117

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Classes de Palavras

saber Mais

adjetivos qualificativos Os adjetivos qualificativos modificam a interpretação dos nomes, explicitando uma característica (um atributo) do nome que qualificam: Um carro preto N

Mod

Podem também expressar uma avaliação do locutor acerca da entidade referida pelo nome: um livro interessante/bom/caro uma pessoa bonita/simpática As propriedades expressas pelos adjetivos estão relacionadas com as características dos nomes que modificam e, entre outros aspetos, podem dizer respeito a: • dimensão: grande, pequeno, alto, largo, … • idade: novo, recente, velho, antigo, … • velocidade: rápido, lento, … • forma: redondo, quadrado, retangular, … • diversas propriedades físicas (cor, sabor, temperatura, etc.): azul, verde, doce, amargo, salgado, quente, gelado, … Os adjetivos qualificativos apresentam as seguintes caracte‑ rísticas: • Ocupam geralmente uma posição pós‑nominal (exs.: casa grande, livro difícil, filme interessante), sendo essa posição obrigatória em alguns casos (ex.: um homem careca / *um careca homem). No entanto, muitos podem ocorrer igual‑ mente antes do nome, tendo normalmente neste caso uma interpretação diferente: uma velha amiga (de longa data) / amiga velha (idosa). • Podem ocorrer em posição atributiva (ex.: Moro numa casa grande.), funcionando como modificadores do nome, ou em posição predicativa, funcionando como predicativos do sujeito (ex.: A casa era grande.) ou do complemento direto (ex.: O Ricardo acha a Ana bonita.) • Variam, na sua maioria, em grau (ex.: Uma casa grande/ muito grande). • Formam, geralmente, pares de antónimos (exs.: bom/mau; alto/baixo; grande/pequeno.)

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adjetivos relacionais Os adjetivos relacionais estabelecem uma relação entre dois termos — o termo expresso pelo nome e o termo expresso pelo adjetivo (exs.: pesca marítima, romance camiliano, filme indiano). Estes adjetivos derivam de uma base nominal: marítima (base: mar); camiliano (base: Camilo). Os adjetivos relacionais apresentam as seguintes caracterís‑ ticas: • Ocorrem em posição pós‑nominal: caça submarina / *submarina caça construção civil / *civil construção • Não podem ocorrer em posição predicativa: A pesca marítima / *A pesca era marítima. • Não são graduáveis: A pesca marítima / *A pesca muito marítima • Não têm antónimos. • Podem ser substituídos por uma expressão preposicional com sentido equivalente: romance camiliano ~ – romance de Camilo

adjetivos numerais Os adjetivos numerais expressam ordem ou sucessão (exs.: primeiro, décimo, quadragésimo quinto, etc.). Este tipo de adjeti‑ vos ocorre em posição pré‑nominal, entre o(s) determinante(s) e o nome: o terceiro dia; os meus primeiros jogos. Esta classe de adjetivos corresponde à classe dos numerais ordinais da gramática tradicional.

4.1.4 advérbios Os advérbios são palavras invariáveis que funcionam como modificadores ou complementos. Ao contrário das restantes classes de palavras, os advérbios constituem uma classe heterogénea, não partilhando todos o mesmo conjunto de propriedades sintáticas, semânticas e morfo‑ lógicas.

ler Mais

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Classes de Palavras

Observem‑se os exemplos seguintes. (1) O Pedro joga ténis hoje. O Pedro hoje joga ténis.

(2) O Pedro joga bem ténis. *O Pedro bem joga ténis.

Em (1), o advérbio hoje não possui uma posição fixa na oração, podendo ocorrer antes ou depois do verbo. Em (2), encontramos um advérbio com um comportamento diferente, gerando uma oração agramatical se ocorrer antes do verbo. Regra geral, os advérbios modificam frases ou grupos verbais, mas podem também expressar o grau de um adjetivo ou de outros advérbios, ou ocorrer como modificadores de um grupo preposi‑ cional: O preço do petróleo caiu inesperadamente. Mod de F

A Isabel cozinha bem.

Mod de GV

O Zé está muito elegante. Mod de GAdj

Eles chegaram demasiado tarde. Mod de GAdv

Ele estava mesmo no meio. Mod de GP

Os advérbios podem também complementar o sentido de um verbo. Os advérbios de predicado com valor locativo, por exem‑ plo, podem ocorrer como complemento de verbos que selecionam locativos: O Paulo mora ali. É ainda possível encontrar advérbios a desempenhar a fun‑ ção de predicativo do sujeito: O Paulo está mal. Os advérbios, uma vez que são palavras invariáveis, não se combinam com sufixos flexionais. Contudo, alguns advérbios admitem grau, combinando‑se com sufixos que exprimem esse valor: muito → muitíssimo; longe → longíssimo (superlativo). São advérbios graduáveis.

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subclasses de advérbios De acordo com a atual terminologia(1), consideram‑se as seguintes subclasses de advérbios: advérb ios Subclasses

Características

Exemplos

De afirmação

• Surgem como resposta positiva a interrogati‑ vas totais. Podem ocorrer como modificadores, refor‑ • çando uma afirmação.

Vens jantar? Sim. Ele vem efetivamente jantar.

De negação

• Revertem o valor de verdade de uma frase ou negam um constituinte. • Podem ocorrer como modificadores de todo o grupo verbal ou de um dos seus constituintes.

Ele ainda não conseguiu emprego. A Ana comprou não um jornal, mas uma revista.

De quantidade e grau

• Fornecem informação sobre quantidade ou grau. Podem ocorrer como modificadores de gru‑ • pos adjetivais, adverbiais ou verbais.

O Bruno está muito crescido. Ela adormeceu demasiado cedo. A Ana gosta bastante de doces.

De inclusão

• Realçam o caráter de inclusão ou de abran‑ gência do constituinte que modificam.

Até o Diogo foi à Praia.

De exclusão

• Destacam o caráter de exclusão ou de exce‑ ção do constituinte que modificam.

Todos foram à Praia, exceto a Ana.

Conectivos

• Funcionam como elementos de ligação entre frases ou constituintes frásicos. Distinguem ‑se das conjunções por poderem • ocorrer entre o sujeito e o verbo.

O jogador fez falta. Consequentemente, foi expulso. A Ana, primeiro, foi ao talho, depois, foi à mercearia.

De predicado

• Ocorrem no interior de um grupo verbal. • Podem ser afetados pela negação ou por estruturas interrogativas. Podem ter valor locativo, temporal ou de modo. •

O Pedro dorme mal. O Pedro não dorme mal, dorme bem. Ele mora ali. A Joana regressou ontem. A Rita dança bem.

De frase

• Modificam frases. • Não são afetados pela negação nem por estruturas interrogativas.

Sinceramente, penso que ele não vem.

Relativos

• Ocorrem numa oração relativa identificando o constituinte relativizado. • Podem ser substituídos por um grupo adver‑ bial ou preposicional.

O local onde trabalha tem muito bom ambiente.

Interrogativos

• Ocorrem em construções interrogativas iden‑ tificando o grupo interrogado. • Podem ser substituídos por um grupo adver‑ bial ou preposicional.

Quando regressas? Onde foste ontem?

Quadro 2 | Subclasses de advérbios. (1)

Dicionário Terminológico (2008).

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Classes de Palavras

advérbios em -mente Os advérbios em ‑mente são formas derivadas de adjetivos. Se se tratar de um adjetivo biforme, o sufixo ‑mente junta‑se à forma do feminino. Este tipo particular de advérbios constitui uma lista aberta, já que é sempre possível criar novos advérbios a partir de novos adjetivos. difícil → dificilmente leve → levemente rápida → rapidamente dura → duramente Quando dois advérbios terminados em -mente ocorrem lado a lado, apenas o último recebe o sufixo: O aluno fez o exame calma e tranquilamente. A Ana reviu a matéria rápida e eficazmente. Ele discursou clara e pausadamente.

locuções adverbiais As locuções adverbiais são expressões formadas por mais de uma palavra que funcionam como um advérbio simples. Resultam da combinação de: • preposição + nome (ex.: de dia) • preposição + adjetivo (ex.: em breve) • preposição + advérbio (ex.: para sempre) loCuções adverb iais Com valor locativo

à esquerda, ao lado de, em cima, de perto, por dentro, por aqui, …

Com valor de modo

à vontade, às claras, com gosto, de bom grado, em regra, em geral, …

Com valor temporal

à noite, de manhã, de vez em quando, pela manhã, em breve, …

De afirmação

de facto, com efeito, sem dúvida, …

De negação

de forma alguma, de modo nenhum, de maneira nenhuma, …

De quantidade

de todo em todo, pelo menos, tão pouco, …

Quadro 3 | Exemplos de locuções adverbiais.

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4.1.5 Interjeições As interjeições são palavras invariáveis que têm um valor expressivo. Estas formas constituem, por si só, um enunciado de valor exclamativo: Ai!, Oh!, Olá!, Irra!, Credo! Algumas expressões fixas constituem locuções interjetivas: Ai de mim!, Ora bolas!, Macacos me mordam! As interjeições podem expressar sentimentos (surpresa, dor, aflição, etc.) ou servir para estabelecer contato com um interlocu‑ tor (chamar a sua atenção, pedir ajuda, etc.). Do ponto de vista formal, algumas interjeições são seme‑ lhantes às palavras do português (porque têm origem em palavras do léxico comum, como Bravo!, Alto!, Basta!, Bis!, ou porque obede‑ cem à estrutura morfofonológica da língua, como Ai!, Olá!). Outras, como Pst! ou Brrr!, são formas irregulares no português. Também do ponto de vista sintático as interjeições são anó‑ malas, visto que não estabelecem relações sintáticas com outras palavras nem desempenham funções sintáticas. Comum a todas as interjeições é o facto de a sua produção estar associada a uma entoação particular, que na escrita é assina‑ lada por um ponto de exclamação. O critério normalmente usado para classificar as interjeições assenta no tipo de sentimento que elas expressam. ti po de i Nter j eição

e xemplos

De alegria

Ah!, Oh!, ...

De aplauso

Bravo!, Bis!, Viva!, …

De desejo

Oxalá!, Oh!, …

De dor

Ai!, Ui!, …

De encorajamento

Vamos!, Força!, Coragem!, …

De impaciência

Arre!, Irra!, Bolas!, …

De invocação ou chamamento

Pst!, Eh!, Olá!, …

De ordem ou suspensão

Alto!, Basta!, …

De silêncio

Psiu!, Silêncio!, Caluda!, …

De terror

Ui!, Credo!, Céus!, …

Quadro 4 | Classificação semântica das interjeições. 123

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Classes de Palavras

4.2 Classes feChadas de palavras Uma classe fechada de palavras constitui um conjunto finito. Os pronomes, os determinantes, os quantificadores, as preposições e as conjunções formam classes fechadas de palavras. As listas dos elementos das classes fechadas podem ser exaustivamente enumeradas num dado momento, porque os seus constituintes se mantêm estáveis ao longo de largos intervalos de tempo. Note‑se que as classes fechadas também sofrem altera‑ ções, embora a um ritmo muito mais lento do que o das classes abertas: por exemplo, a forma medieval per (preposição) não faz parte do léxico português atual; por outro lado, o quantificador bué é de incorporação recente na língua.

4.2.1 pronomes Os pronomes ocorrem no lugar dos grupos nominais, substi‑ tuindo os nomes: A rapariga veio jantar. → Ela veio jantar. Nomes e pronomes não podem, por esse motivo, coocorrer: *A rapariga ela veio jantar. Ao contrário dos nomes, os pronomes não têm um significado constante. Um nome pode referir sempre a mesma classe de obje‑ tos, independentemente do contexto em que ocorre. Observem‑se as seguintes frases: Esta mesa está desconjuntada. Vou comprar esta mesa. Nas frases acima, é sempre feita referência a um mesmo objeto (uma mesa). Pelo contrário, os pronomes são interpretados de forma variável, consoante o contexto em que ocorrem. Vejam‑se, agora, as frases seguintes: O Pedro está zangado com a Maria porque ela não o convidou para o casamento. A Maria escreveu à Joana para ela lhe trazer um livro de Londres. Na primeira frase, o pronome ela refere‑se à Maria, mas, na segunda, refere‑se à Joana. 124

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A este elemento que fixa a interpretação do pronome num dado contexto dá‑se o nome de antecedente do pronome. O ante‑ cedente dos pronomes pode ser uma expressão linguística (como nos exemplos anteriores) ou um elemento extralinguístico. Neste caso, o antecedente pode ser um elemento definido contextual‑ mente — por exemplo, uma pessoa entra numa sala e alguém diz: Ela hoje chega cedo! (ela refere a pessoa que entrou)

pronomes pessoais Os pronomes pessoais referem‑se aos participantes do dis‑ curso, tendo uma interpretação deítica(2): as formas de primeira pessoa referem a pessoa que fala (ou locutor), as formas de segunda pessoa, a pessoa com quem se fala (ou interlocutor) e as de terceira pessoa referem uma pessoa ou entidade não partici‑ pante no ato de fala, de quem se fala. Estas formas pronominais variam em pessoa (primeira, segunda e terceira), número (singular e plural) e género (mascu‑ lino e feminino nas formas da 3.ª pessoa). Além desta variação, os pronomes pessoais têm formas específicas consoante a função gramatical que desempenham. Esta característica é o que resta em português do sistema de casos existente no latim para a flexão de adjetivos, nomes e pronomes:

ler Mais

Eu vou lá. (função sintática: sujeito) A Laura leu-as. (função sintática: complemento direto) Dei-lhe um caderno. (função sintática: complemento indireto)

Formas tónicas e formas átonas dos pronomes pessoais Os pronomes pessoais têm formas tónicas (ou fortes) e for‑ mas átonas (ou fracas, também denominadas clíticos). As formas tónicas dos pronomes pessoais possuem um acento e ocorrem em posição de sujeito (eu, tu, nós, …)) ou como oblíquos, caso em que surgem como complemento de preposições (de mim, a ela, com eles, comigo, …). As formas átonas dos pronomes pessoais são formas que não possuem acento próprio e que ocorrem junto a formas verbais. As formas átonas podem ocorrer associadas a várias funções sintáti‑ lhe cas: Vi-o: complemento direto; Aqui come-se bem: sujeito; Dei-lhe uma prenda: complemento indireto. Os clíticos também aparecem associados aos verbos pronomi‑ nais (Esqueci-me da pasta.), .), sendo neste caso designados clíticos ine‑ rentes, e na conjugação pronominal reflexa (Ela viu-se ao espelho.). (2)

saber Mais Os clíticos ocorrem em enunciados

Sobre o conceito de deixis, ver as páginas 281-282.

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Classes de Palavras

proNomes pessoais

Plural

Singular

Função sintática Sujeito

C. Obl

C. Dir

C. Ind

Reflexo

1.ª pessoa

eu

mim, comigo

me

me

me

2.ª pessoa

tu, você

ti, contigo, consigo

te, o, a

te, lhe

te

3.ª pessoa

ele, ela

si, consigo, ele, ela

o, a

lhe

se

1.ª pessoa

nós

nós, connosco

nos

nos

nos

2.ª pessoa

vós, vocês

vós, convosco

vos, os, as

vos, lhes

vos

3.ª pessoa

eles, elas

si, consigo, eles, elas

os, as

lhes

se

Formas tónicas

Formas átonas

Quadro 5 | Formas dos pronomes pessoais.

No português europeu, as formas átonas do pronome pes‑ soal ocorrem à direita do verbo (ênclise) nas frases finitas declara‑ tivas afirmativas neutras: Ele viu-as no cinema. O Zé cortou-se. Quando os verbos ocorrem num tempo composto, estas for‑ mas ficam junto do auxiliar: O Zé tinha-se cortado. As formas átonas do pronome pessoal ocorrem à esquerda do verbo (próclise) em frases com pronomes interrogativos ou rela‑ tivos (1), em frases negativas (2) e quando a frase contém certos quantificadores (3) e determinados advérbios (4). (1) Quem te contou isso?; O livro de que te falei. (2) Ela não o quer. (3) Todos o viram.; Ambos lhe mentiram. (4) Ele já a conhecia.; Eu bem te disse. Nas frases não finitas com infinitivo não flexionado, o clítico pode ocorrer à direita do verbo, mesmo na presença do advérbio não: Posso não amá-lo. / Posso não o amar. As formas pronominais átonas podem ainda ocorrer no inte‑ rior de formas verbais de futuro e de condicional (mesóclise): Amanhã levar-te-ei um presente. Ele dir-lhe-ia o que aconteceu. 126

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pronomes demonstrativos Os pronomes demonstrativos têm um valor deítico, loca‑ lizando um objeto, uma entidade, um lugar, etc. em relação aos participantes num ato de comunicação. Estas formas pronominais variam em género e em número. proNomes demoNstr ati vo s Singular

Plural

Invariáveis

Posição do objeto

Masculino

Feminino

Masculino

Feminino

Próximo do locutor

este

esta

estes

estas

isto

Próximo do interlocutor

esse

essa

esses

essas

isso

Afastado de ambos

aquele

aquela

aqueles

aquelas

aquilo

Quadro 6 | Formas dos pronomes demonstrativos.

Os pronomes demonstrativos distinguem‑se dos determi‑ nantes demonstrativos porque os segundos têm de estar sempre à esquerda de um nome (Este livro é meu.). Pelo contrário, os pro‑ nomes não podem coocorrer com um nome nem ser precedidos de determinantes (Isso preocupa-me.).

pronomes possessivos Os pronomes possessivos designam uma relação de posse entre duas entidades (um possuidor e um possuído) num ato de comunicação. Estas formas pronominais flexionam em pessoa, género e número. proNomes possessivos

Singular Plural

p ossu i dor

Singular

Plural

Masculino

Feminino

Masculino

Feminino

1.ª pessoa

meu

minha

meus

minhas

2.ª pessoa

teu

tua

teus

tuas

3.ª pessoa

seu

sua

seus

suas

1.ª pessoa

nosso

nossa

nossos

nossas

2.ª pessoa

vosso

vossa

vossos

vossas

3.ª pessoa

seu

sua

seus

suas

Quadro 7 | Formas dos pronomes possessivos.

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Classes de Palavras

Também os pronomes possessivos se distinguem dos deter‑ minantes possessivos por não poderem coocorrer com um nome, ainda que sejam geralmente precedidos de um artigo definido: Acabei de ler o meu livro. Já leste o teu?

pronomes indefinidos Os pronomes indefinidos correspondem ao uso pronominal de um quantificador indefinido (1) ou de um determinante indefinido (2): (1) Todos queriam bilhetes para o concerto. (2) Só vi alguns. Existem formas pronominais que variam em género e em número. Outras são invariáveis. proNomes i N defi N i dos Singular

Plural

Masculino

Feminino

Masculino

Feminino

algum

alguma

alguns

algumas

muito

muita

muitos

muitas

nenhum

nenhuma

nenhuns

nenhumas

outro

outra

outros

outras

pouco

pouca

poucos

poucas

qualquer

qualquer

quaisquer

quaisquer

tanto

tanta

tantos

tantas

todo

toda

todos

todas

Invariáveis

algo alguém cada nada ninguém outrem tudo

Quadro 8 | Formas dos pronomes indefinidos.

saber Mais

pronomes relativos Os pronomes relativos introduzem uma oração subordinada adjetiva relativa, no interior da qual desempenham uma função sintática (sujeito, complemento direto, etc.). Oração subordinada

Conheço os jogadores que participaram na competição. Sujeito

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pro Nomes rel ativos Singular

Plural

Masculino

Feminino

Masculino

Feminino

o qual

a qual

os quais

as quais

Invariáveis que, quem

Quadro 9 | Formas dos pronomes relativos.

Os pronomes relativos têm um antecedente, que é um grupo nominal, e funcionam como elemento de ligação entre a oração relativa e o grupo nominal que modificam. Grupo nominal Oração relativa O atleta que venceu a corrida Antecedente

recebeu uma medalha de ouro.

O relativo que ocorre como sujeito (1) e como complemento direto (2). O antecedente deste relativo pode ser uma entidade ani‑ mada (1) ou uma entidade não animada (2). (1) Encontrei o homem que telefonou. (2) Já vi o aparelho que compraste. A forma quem só pode ter um antecedente humano e ocorre como sujeito (1), como complemento indireto, antecedida pela pre‑ posição a (2), ou como oblíquo, antecedida por outra preposição (3). (1) Quem chega tarde não janta. (2) O amigo a quem ela deu o carro partiu. (3) Vi o homem sobre quem contaste aquela história. O pronome relativo o qual ocorre como complemento indi‑ reto, precedido pela preposição a (ex.: Trouxe o aparelho ao qual retirei esta peça.), ou como oblíquo, precedido por outra preposição (ex.: Aqui fica o rio pelo qual temos de passar.).

pronomes interrogativos Os pronomes interrogativos introduzem frases interrogativas parciais, substituindo o elemento acerca do qual se faz a pergunta: Quem trouxe isto? A resposta a esta pergunta identifica o constituinte interro‑ gado: O Pedro, por exemplo. 129

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Classes de Palavras

As formas pronominais interrogativas que, o que e quem ocor‑ rem como sujeitos, complementos diretos, indiretos ou oblíquos, ou seja, com a função gramatical das formas nominais equivalentes nas frases declarativas correspondentes: A Rita fez a sopa. / O que fez a Rita? C. Dir C. Dir Frequentemente, estas formas ocorrem acompanhadas pela expressão é que: A quem é que deste o meu número de telefone? Nas interrogativas em que o elemento interrogativo não ocorre em início da frase, a forma o que é substituída por o quê: Viste o quê na rua? proNomes i Nterrogativos Funções gramaticais Sujeito

C. Direto

C. Indireto

C. Oblíquo

quem

quem

a quem

prep. + quem

que

que

a que

prep. + que

o que

o que

ao que

prep. + o que

Quadro 10 | Formas dos pronomes interrogativos.

Algumas palavras que introduzem frases interrogativas não pertencem à classe dos pronomes. É o caso, por exemplo, dos quan‑ tificadores relativos (Quantos anos tens?) ou dos advérbios interro‑ gativos (Onde moras?).

4.2.2 determinantes Os determinantes ocorrem dentro do grupo nominal, à esquerda do nome, e concordam com este em género e em número. No caso dos nomes que não apresentam variação de género ou número, é através da forma dos determinantes que se pode saber o valor destes traços gramaticais: o/este cais, os/estes cais Os determinantes especificam a interpretação do nome, res‑ tringindo a sua referência (específico, não específico, genérico, …).

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artigos Os artigos indicam se o nome que precedem refere uma enti‑ dade conhecida (artigos definidos) ou uma entidade não identifi‑ cada (artigos indefinidos).

Artigos definidos Os artigos definidos em português apresentam formas dis‑ tintas em função do seu valor de género e de número. artigos defi N i dos Masculino

Feminino

Singular

o

a

Plural

os

as

saber Mais

Quadro 11 | Formas dos artigos definidos.

A interpretação de um grupo nominal com artigo definido pressupõe que o locutor e o seu interlocutor partilhem o mesmo conhecimento acerca das entidades referidas. Por isso, na ausên‑ cia de um contexto que forneça a informação necessária, não é adequado iniciar uma sequência por um grupo nominal definido. Comparem‑se as seguintes frases: Um homem esteve cá ontem. O homem trouxe-te este livro. *O homem esteve cá ontem. O homem trouxe-te este livro.

Artigos indefinidos Os artigos indefinidos precedem nomes cuja referência não é conhecida: Preciso de comprar um livro de culinária. Estes artigos apresentam formas distintas conforme o seu valor de género e de número. artigos i N defi N i dos Masculino

Feminino

Singular

um

uma

Plural

uns

umas

Quadro 12 | Formas dos artigos indefinidos.

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Classes de Palavras

determinantes demonstrativos

saber Mais

Os determinantes demonstrativos são formas variáveis em género e em número que localizam um objeto, uma entidade, um lugar, etc. em relação aos participantes num ato de comu‑ nicação. Tal como os artigos, também estes determinantes estabele‑ cem o caráter referencial do grupo nominal de que fazem parte. Numa dada situação, o grupo nominal complemento direto na frase Já li esse livro refere um objeto particular identificável pelo interlocutor. Os demonstrativos são uma categoria deítica: a sua inter‑ pretação depende do grau de vizinhança entre a entidade de que se fala e um dos participantes no ato de fala: este livro, esse livro, aquele livro. Para referir uma entidade presente na situação de comunica‑ ção e que está localizada próximo do locutor, usa‑se a forma este (ex.: Este prato está partido.). A forma esse localiza uma entidade na vizinhança do interlocutor (ex.: Passa-me essa garrafa.). A forma aquele localiza uma entidade presente na situação e afastada de ambos os participantes (ex.: Por favor, levanta-te e traz-me aqueles livros.) ou uma entidade ausente da situação (ex.: Quero ver outra vez aquele filme que vimos ontem.). determi NaNtes demoNstr ativos Singular

Plural

Posição do objeto/entidade

Masculino

Feminino

Masculino

Feminino

Próximo do locutor

este

esta

estes

estas

Próximo do interlocutor

esse

essa

esses

essas

Afastado de ambos

aquele

aquela

aqueles

aquelas

Quadro 13 | Formas dos determinantes demonstrativos.

Os demonstrativos podem igualmente ter uma interpretação anafórica, isto é, referir‑se a um elemento presente no discurso. Num texto escrito, apenas são usadas as formas este e aquele: As raposas e os ratos pertencem a espécies diferentes. Estes são roedores e aquelas são carnívoras. Num diálogo, a forma esse refere um elemento do discurso do interlocutor: Esse argumento não é suficiente.

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determinantes possessivos Os determinantes possessivos contribuem para o estabeleci‑ mento da referência de um nome, podendo ter uma interpretação deítica ou anafórica. Estas formas, variáveis em pessoa, género e número, ocorrem geralmente à esquerda do nome e são antece‑ didas por artigos, demonstrativos ou quantificadores: o meu carro; este nosso amigo; todos os teus problemas. Com nomes plurais sem determinante (1) ou especificados por um indefinido (2), o posses‑ sivo pode ocorrer à direita: (1) Ouvi notícias tuas. (2) Li um texto teu no jornal. determi NaNtes possessivos

Singular Plural

possu i dor

Singular

Plural

Masculino

Feminino

Masculino

Feminino

1.ª pessoa

meu

minha

meus

minhas

2.ª pessoa

teu

tua

teus

tuas

3.ª pessoa

seu

sua

seus

suas

1.ª pessoa

nosso

nossa

nossos

nossas

2.ª pessoa

vosso

vossa

vossos

vossas

3.ª pessoa

seu

sua

seus

suas

Quadro 14 | Formas dos determinantes possessivos.

No português padrão, para designar os possuidores da ter‑ ceira pessoa, usa‑se geralmente o grupo preposicional dele — O livro dela, o carro deles — e não as formas de terceira pessoa do determinante possessivo (seu, sua, seus, suas). Estas são usadas para designar possuidores da segunda pessoa você: os seus livros. O termo possessivo sugere que esta categoria designa uma relação de posse entre duas entidades (um possuidor e um pos‑ suído) num ato de comunicação. Esta relação verifica‑se em casos como o meu carro, as nossas empresas, mas não em exemplos como as minhas filhas, a nossa cidade ou a minha perna. Nestes últimos casos, o determinante possessivo expressa, respetivamente, uma relação de parentesco e a pertença a um conjunto ou a um todo. O determinante possessivo pode ainda aparecer associado a diferen‑ tes valores estilísticos. É o que acontece em fórmulas de tratamento (exs.: minha senhora, meu capitão). 133

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Classes de Palavras

determinantes indefinidos Os determinantes indefinidos são formas variáveis em género e em número que indicam que o nome que precedem corresponde a informação não específica ou não identificada: Certas pessoas têm conhecimento do sucedido. Estes determinantes podem coocorrer com artigos indefinidos: Umas certas pessoas têm conhecimento do sucedido.

determinantes relativos Os determinantes relativos são as palavras que introduzem orações subordinadas adjetivas relativas, antecedendo um nome: Encontrei o rapaz cujo pai é dono deste café.

determinantes interrogativos Os determinantes interrogativos ocorrem antes de um nome em frases interrogativas, permitindo a identificação do consti‑ tuinte interrogado: Que flores te ofereceram?

4.2.3 Quantificadores Os quantificadores são palavras que especificam ou quantifi‑ cam um conjunto. Podem remeter para a totalidade dos elementos de um conjunto (quantificadores universais) ou expressar a quan‑ tidade de forma não precisa (quantificadores existenciais) ou de forma exata (quantificadores numerais).

Quantificadores universais Os quantificadores universais são palavras que ocorrem à esquerda de um nome e que remetem para a totalidade dos ele‑ mentos do conjunto expresso por esse nome. Todos os macacos são mamíferos. Qualquer pessoa tem o direito de expressar a sua opinião. 134

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quaNti fi Cadores u N iversais Singular

Plural

Masculino

Feminino

Masculino

Feminino

todo

toda

todos

todas

nenhum

nenhuma

nenhuns

nenhumas

qualquer

Invariáveis

cada tudo

quaisquer ambos

ambas

Quadro 15 | Quantificadores universais.

Quantificadores existenciais Os quantificadores existenciais são palavras que ocorrem à esquerda de um nome e que expressam uma quantidade não exata de elementos de um conjunto, sem remeter para o conjunto na sua totalidade. Algumas mulheres não querem casar. Muitos rapazes gostariam de um dia ser futebolistas. Várias pessoas foram à praia. quaNti fi Cadores e xisteNCiais Singular

Plural

Masculino

Feminino

Masculino

Feminino

algum

alguma

alguns

algumas

muito

muita

muitos

muitas

pouco

pouca

poucos

poucas

bastante

bastantes

tanto

tantos vários

várias

Quadro 16 | Quantificadores existenciais.

Quantificadores numerais Na classe dos quantificadores numerais incluem‑se os nume‑ rais cardinais, os numerais fracionários e os numerais multiplica‑ tivos, que se distinguem em função do tipo de quantificação que expressam.

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Classes de Palavras

Numerais cardinais Os numerais cardinais são quantificadores que se associam a um nome atribuindo‑lhe uma quantidade exata: Dois, três, cento e trinta, mil, quarenta mil, ... Os numerais não flexionam em género, exceto um e dois e os que designam duas centenas ou mais: um/uma, dois/duas, duzentos/duzentas. Os numerais que designam a classe dos milhões e classes superiores flexionam em número: um milhão/dois milhões, um trilião/cinco triliões, etc.

Numerais fracionários Os numerais fracionários são quantificadores que indicam um valor inferior à unidade, ocorrendo geralmente associados a um cardinal com o qual formam um numeral complexo: um quarto, dois quintos, um décimo, doze avos, ... Estes numerais flexionam em número: um quinto, três oitavos.

Numerais multiplicativos Os numerais multiplicativos expressam o produto ou o múl‑ tiplo de uma quantidade: dobro, triplo, quádruplo, quíntuplo, …. Estes quantificadores concordam com o núcleo do grupo nominal em que ocorrem: um whisky duplo, uma dose dupla Note‑se que estes numerais se comportam como adjetivos, ocupando a posição pós‑nominal.

Quantificadores interrogativos Os quantificadores interrogativos precedem um nome numa construção interrogativa direta ou indireta identificando o consti‑ tuinte interrogado e concordando em género e número com ele. De quantas garrafas precisas? Quanto leite bebes por dia? Não sei quantos anos tem o João.

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Quantificadores relativos Os quantificadores relativos introduzem orações relativas iden‑ tificando o elemento relativizado: Fiz tudo quanto podia para a ajudar. O antecedente das orações encabeçadas por um quantifica‑ dor relativo também é um quantificador, como a palavra tudo no exemplo acima.

4.2.4 preposições As preposições constituem o núcleo dos grupos preposicio‑ nais. São palavras invariáveis que funcionam como elementos de ligação, introduzindo um grupo (1) ou uma oração (2): (1) O Diogo veio com o primo. (2) O Pedro está desejoso de comprar uma casa. preposições a

Ele vai a Paris amanhã.

ante

O suspeito compareceu ontem ante o juiz de instrução.

após

Não se deve tomar banho após as refeições.

até

Vou até ao café.

com

Ela vive com o namorado.

contra

O ministro está contra o projeto.

de

Eles já vieram de férias.

desde

Estou a trabalhar desde ontem.

em

Moro em casa de uns amigos.

entre

Isto fica entre nós.

para

Trouxe este livro para ti.

perante

Ele desiste perante a menor dificuldade.

por

Temos de sair por aqui.

sem

Se não te despachares, vou sem ti.

sob

O barco passou sob a ponte.

sobre

O helicóptero passou sobre a ponte.

saber Mais

Quadro 17 | Preposições simples. 137

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C AP Í T U L O 4

Classes de Palavras

Além das preposições simples listadas atrás, existem preposi‑ ções compostas ou locuções prepositivas. As locuções prepositivas são combinações de duas ou mais palavras que funcionam como uma única categoria preposicional. Resultam da combinação de uma preposição com outras preposições, com nomes ou com advérbios. loCuções prepositivas abaixo de

a par de

diante de

perto de

acerca de

apesar de

em baixo de

por baixo de

acima de

a respeito de

em cima de

por causa de

a fim de

debaixo de

em frente a

por cima de

além de

de cima de

em lugar de

por diante de

antes de

dentro de

graças a

por entre

ao lado de

depois de

para baixo de

por trás de

Quadro 18 | Locuções prepositivas mais frequentes.

saber Mais

As preposições introduzem os complementos dos nomes e dos adjetivos e, no caso dos verbos, os complementos indiretos e os oblíquos: A atitude da Ana surpreendeu-me. → Complemento do nome O Rui deu um livro à Ana. → Complemento indireto O Zé vive em França. → Complemento oblíquo Semanticamente, as preposições expressam diversos tipos de relações, como posse, origem, meta, tempo e outras. A interpretação da maioria das preposições depende da cate‑ goria e do significado do constituinte com que estão relacionadas. No caso de este ser um constituinte nominal, a preposição pode indicar uma relação de posse (o carro da Maria, uma casa com janelas) ou ser apenas um elemento gramatical sem conteúdo semân‑ tico (uma ( venda de antiguidades, a professora de ginástica). Este último caso é também o que ocorre quando as preposições intro‑ duzem complementos de adjetivos (É um pai orgulhoso do filho.; Ele está ansioso por partir.). Quando introduzem complementos verbais, as preposições expressam valores que dependem da seleção do verbo. Por exem‑ plo, o verbo morar seleciona um complemento com um valor loca‑ tivo, que é expresso pela preposição em: Ele mora em Lisboa. O verbo ir seleciona um complemento que indica a origem e outro o alvo do movimento e que são introduzidos pelas preposições de e para, respetivamente: Ela foi de Braga para Coimbra.

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Quando introduzem modificadores do grupo verbal, as pre‑ posições expressam um leque de valores compatíveis com os res‑ tantes constituintes: Ele leu o livro em casa. (lugar) O Rui não correu nesse dia. (tempo) O Zé furou o cano com um berbequim. (instrumento) Além disso, as preposições podem ainda ocorrer como cate‑ gorias puramente gramaticais, que estabelecem uma relação entre o verbo e um complemento: O João gosta de peras. Algumas preposições admitem várias interpretações. A pre‑ posição de, por exemplo, pode indicar, entre outros valores: • origem: Vim de Londres. • tempo: Ele trabalha de manhã. • posse: A casa do Zé. Outras preposições mantêm um mesmo sentido nas várias ocorrências: a preposição sem, por exemplo, indica sempre priva‑ ção. Estou numa sala sem janelas. Ele comeu sem vontade.

4.2.5 Conjunções As conjunções, ou conectores, são palavras invariáveis que estabelecem uma relação sintática entre constituintes, formando unidades sintáticas complexas. Podem ligar palavras, grupos ou ora‑ ções. Além das conjunções (ou, que, embora, ...), há também locu‑ ções conjuncionais (posto que, visto que, se bem que, ...). Algumas conjunções ocorrem sob formas complexas: não só… mas também, tão… que, etc. O Pedro não só é campeão de judo como também é finalista de engenharia. Ele é tão alto que não cabe no carro. Existem duas grandes classes de conjunções: as coordenati‑ vas e as subordinativas. 139

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Classes de Palavras

Conjunções coordenativas As conjunções coordenativas ligam palavras ou grupos com a mesma função sintática ou orações independentes. As crianças e os idosos são os grupos de maior risco perante a gripe. GN

GN

Remadores e remadoras competem nesta regata. N

N

O Carlos quer jantar, mas a Rita ainda não chegou. O

O

Os vários tipos de conjunções coordenativas determinam diferentes relações entre os elementos coordenados. CoNj u Nções e loCuções CoNj u NCioNais CoordeN ativas Classes

Conjunções e locuções

Significado

Exemplos

Copulativas

e, nem, não só… mas também, tanto… como, …

Sequência

O João foi à praia e constipou-se. Não só fizeram o almoço como arrumaram a cozinha.

Disjuntivas

ou, ou… ou, nem… nem, ora… ora, …

Alternativa

Fico em casa ou vou à escola. Nem fico em casa nem vou à escola.

Adversativas

mas, porém, todavia, apesar disso, no entanto, …

Contraste

O carro tem motor, mas não anda.

Conclusivas

logo, pois, assim, portanto, por isso, …

Causalidade (o primeiro termo expressa a causa, e o segundo, o efeito)

Explicativas

que, pois, porquanto

Justificação

Penso, logo existo. Liga o aquecedor, que tenho frio.

Quadro 19 | Conjunções e locuções conjuncionais coordenativas.

Conjunções subordinativas As conjunções subordinativas estabelecem uma relação de dependência entre orações. A oração introduzida pela conjunção (a oração subordinada) é uma oração sintaticamente dependente da oração subordinante ou principal. Os grandes tipos de conjunções subordinativas correspon‑ dem às diferentes relações sintáticas e ao nexo semântico entre a oração subordinada e a oração subordinante.

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CoNj u Nções e loCuções CoNj u NCioNais su bordi Nativas Classes

Conjunções e locuções

Completivas

que, se

Tipo de orações que introduzem

Orações que funcionam como complementos de nomes, verbos e adjetivos.

Exemplos O Zé diz que chega amanhã.

Causais

Orações que exprimem um nexo causal entre a oração porque, pois que, já que subordinada (a causa) e a oração subordinante (a consequência).

A relva está amarela porque não chove.

Concessivas

Orações que expressam uma relação inesperada entre o embora, ainda que, estado de coisas expresso na conquanto, mesmo que oração subordinante e a situação descrita na subordinada.

Dou-te um beijo, embora esteja zangada contigo.

Condicionais

Finais

Temporais

se, caso, salvo se, desde que

Orações que expressam uma condição de que depende o estado de coisas expresso na oração subordinante.

Se tiveres nota inferior a 9 valores, reprovas.

para, porque, a fim de que

Orações que expressam a atribuição de uma finalidade ou de um objetivo ao estado de coisas descrito na oração subordinante.

Acordei-te cedo para não chegares atrasado.

Orações que localizam quando, antes que, temporalmente a ação expressa depois de, mal, até que na oração subordinante.

Consecutivas

tão… que, tanto… que

Orações que referem uma consequência do grau elevado ou baixo de uma propriedade, ou de uma circunstância ou de um acontecimento referido na oração subordinante.

Comparativas

mais… que, tanto… como

Orações que estabelecem uma comparação entre dois termos.

O Zé chegou quando a Ana saiu.

Está tão escuro que não vejo nada.

Gosto tanto de Lisboa como tu gostas do Porto.

Quadro 20 | Conjunções e locuções conjuncionais subordinativas.

A classificação da maioria das conjunções só pode ser feita tendo em conta o contexto em que ocorrem, dado que a mesma palavra pode pertencer a várias categorias. Por exemplo, a palavra que pode ser uma conjunção completiva ou comparativa, a forma se pode ser uma conjunção completiva ou condicional, etc. A Ana avisou que se ia atrasar. (conjunção completiva) Gosto mais de maçãs que de peras. (conjunção comparativa) 141

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Classes de Palavras

C L A S S E S D E PA L AV R A S

F I C H A D E AT I V I DA D E S | 1 0

1. Leia atentamente a letra da música que se segue e identifique a classe a que pertencem os elementos destacados. ser astronauta,

esta dor não quer desaparecer

Acordar, meter os pés no chão,

2. Preencha os espaços em branco com uma palavra da classe indicada entre parênteses. Utilize as palavras fornecidas no quadro abaixo. finalmente onde férias

malta bastante português

cinema não ali

curioso boa realmente

hoje primeiro sempre

à tarde computador turma

(advérbio de predicado com valor temporal) acordei com uma (adjetivo qualificativo) sensação. tivo) chegaram as

(nome comum não contável)!

A

(nome comum coletivo não contável) da

(nome coletivo contável) combinou ir ao filme

(advérbio conec‑

(nome comum contável) ver um

(adjetivo relacional) que a professora de Língua Portuguesa tinha reco‑

mendado. É o

(adjetivo numeral) filme de Manoel de Oliveira que vou ver, por

isso, estou

(adjetivo qualificativo). (locução adverbial de tempo), combinámos ir

(advérbio de predicado com valor locativo) ao parque para nos encontrarmos com o resto do pes‑ soal para dois dedos de conversa. Este é o sítio

(advérbio relativo) passamos

grande parte do tempo juntos. Além dos programas com os amigos, também vou passar de quantidade) tempo a dormir, a ver televisão e a jogar no meu comum contável). eu

(advérbio (nome

, (advérbio de frase) as férias perderiam toda a graça se (advérbio de negação) tivesse estas máquinas

(advérbio de predicado com valor temporal) à minha disposição! É claro que haverá muita coisa para fazer, basta haver imaginação. 142

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F I C H A D E AT I V I DA D E S | 1 1

N O M E S , A D J E T I VO S E A DV É R B I O S

1. Leia atentamente a letra da canção que se segue e circunde os nomes comuns que encontrar. Depois, distribua-os pelas subclasses referidas nas alíneas abaixo. sei de cor

sei cada capricho teu e o que não dizes

cada traço do teu rosto, do teu olhar

a) Nomes contáveis — b) Nomes não contáveis — 2. Complete o crucigrama com nomes coletivos. Siga as indicações. 1 — Conjunto de animais característicos de uma região. 2 — Conjunto de desportistas. 3 — Conjunto de prisioneiros. 4 — Conjunto de foguetes simultâneos. 5 — Conjunto de atores. 6 — Conjunto de pinheiros. 7 — Conjunto de mercadores 8 — Conjunto de navios. 9 — Conjunto de lobos. 10 — Conjunto de mosquitos ou gafanhotos. 11 — Conjunto de eleitores. 12 — Conjunto de plantas características de uma região. 13 — Conjunto de porcos. 14 14 — Conjunto de pássaros. 15 — Conjunto de pessoas. 16 — Conjunto de ilhas.

3

9

7

10

12

5

4 11 1

8

13 6

2

15

16

 os nomes coletivos que identificou, distinga os contáveis dos não contáveis. 2.1 D 143

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C AP Í T U L O 4

Classes de Palavras

3. Identifique os adjetivos presentes no texto e circunde-os. Medalhasemedalhados Para que conste, desde há muito que existem bons atletas portugueses! Ora olhemos para 2006. Francis Ubikwelu, grande atleta naturalizado português, ganhou a medalha de ouro nos cem e duzentos metros nas Competições Europeias de 2006. Naide Gomes conquistou o segundo lugar no salto em comprimento e João Viera, o terceiro lugar nos 20 km marcha. Nos Mundiais Juniores de Triatlo, João Silva ficou em terceiro lugar. Nos Campeonatos do Mundo de Atletismo para Deficientes, a estafeta 4 x 100 metros portuguesa obteve o primeiro lugar. Gabriel Potra conquistou o terceiro lugar no pentatlo para amblíopes. Na Taça do Mundo de Lisboa, o judoca João Neto obteve o primeiro lugar e Pedro Dias alcançou o segundo, na categoria de 66 kg. Estes são apenas alguns exemplos de sucesso no desporto português. Nem só de futebol vive Portugal e é lamentável que tão bons desportistas não tenham o destaque merecido!

3.1 C  lassifique os adjetivos que identificou. a) Adjetivos qualificativos

b) Adjetivos relacionais

c) Adjetivos numerais

4. Assinale os pares de frases em que a posição do adjetivo qualificativo implica uma mudança de sentido. A —O falso médico fez um mau diagnóstico. / O médico falso fez um mau diagnóstico. B —Um rapaz bonito entrou na sala. / Um bonito rapaz entrou na sala. C —É uma grande mulher! / É uma mulher grande! D —Uma jornalista verdadeira participa num debate. / Uma verdadeira jornalista participa num debate. E —A pobre mulher trabalha de sol a sol. / A mulher pobre trabalha de sol a sol. F —Desejo‑te um feliz dia. / Desejo‑te um dia feliz. 4.1 E  xplique as diferenças que encontrou. 5. Partindo das frases que se seguem, transforme o nome destacado num adjetivo relacional. a) Ele propôs uma transação de comércio.



transação

b) A empresa fez uma proposta de negócio.



proposta

c) Gosto de ler literatura para jovens.



literatura

d) Fiz uma receita de França.



receita

e) Ela procura produtos da horta.



produtos

f) Li um romance de Camilo.



romance

g) Tenho uma casa no campo.



casa

h) Hoje houve uma revolta de estudantes.



revolta

i) Ele é um excelente crítico de literatura.



crítico

j) Gosto da vida na cidade.



vida

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6. Descubra na sopa de letras 21 advérbios de predicado. A Q U I V T L N Z D V L R J F D

L U A M A N H A I E A E A U R E

I E F V N I E B N V L N Z N I P

N M A L I U A E R A E T O T L R

H I S A L G T N Q G R A P O T E

A G O R A B R J U A I M I L O S

C O T I C A A A E R E E O C N S

I R D E E T V I R S L N R E J A

M A B C B R E V E C E T I D A P

A D E P O I S A N U N E H O J E

R F M X H G R I H N T R S T E V

C O H A S S I M L H I P E R T O

6.1 D  istribua os advérbios que identificou consoante o seu valor. a) Valor locativo — b) Valor temporal — c) Valor de modo — 7. Usando advérbios interrogativos, formule as questões para as respostas abaixo apresentadas. a) P: R: Estou no hipermercado. b) P: R: Chegámos ontem à noite. c) P: R: Não me sinto nada bem. d) P: R: Eles foram ao teatro porque ganharam bilhetes na rádio! Que sorte! 8. Substitua as expressões destacadas por advérbios com o sufixo -mente. a) Jornal que se publica todos os dias. → b) Revista que sai todas as semanas. → c) Festa que decorreu de modo agradável. → d) Aluno que faz o exercício com cuidado. → e) Ator que atua com frequência. → f) Alguém que avança com cautela. → g) Criança que age de modo instintivo. → 145

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C AP Í T U L O 4

Classes de Palavras

F I C H A D E AT I V I DA D E S | 1 2

VERBOS, CONJUNÇÕES E PREPOSIÇÕES

1. Atente nos verbos das frases apresentadas e preencha o quadro abaixo. Siga o exemplo. A —Quando cheguei, vimos logo um filme.

K —A Elsa vai passear o cão.

B —A Marta está aborrecida.

L —Imagino o Tomás felicíssimo!

C —O José contou a verdade ao professor.

M —O assunto foi debatido por todos.

D —Os alunos permaneceram quietos.

N —Eles tomaram um excelente pequeno‑almoço.

E —Devias correr ao domingo.

O —Tenho ouvido demasiados boatos.

F —A empresa faliu em agosto.

P —Os jogadores obedecem às regras.

G —Ela chorou tanto…

Q —Levei os apontamentos ao Xavier.

H —Considerámos o museu espetacular!

R —O Vítor ofereceu uma viagem à mãe.

I —Afinal, telefonaste à Ana?

S —A Sofia guardou as compras na despensa.

J —A turma achou o teste difícil. Transitivos diretos Transitivos indiretos Verbos principais

Transitivos diretos e indiretos Transitivos‑predicativos Cheguei,

Intransitivos Verbos auxiliares Verbos copulativos

2. Dos verbos apresentados abaixo, circunde aqueles que podem ser considerados verbos copulativos. ter enviar distrair contactar continuar

ser pôr revelar‑se participar presumir

andar considerar‑se desaparecer ficar poder

estar permanecer parecer dizer haver

2.1 D  efina verbo copulativo.

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3. Sabendo que os elementos a analisar são conjunções ou locuções conjuncionais coordenativas, assinale a(s) opção(ões) correta(s). a) Mas é uma: 1 — conjunção adversativa. 2 — locução conjuncional copulativa. 3 — locução conjuncional adversativa. b) Nem… nem é uma: 1 — locução conjuncional adversativa. 2 — locução conjuncional copulativa. 3 — locução conjuncional disjuntiva. c) Na frase Acorda-me cedo, que não posso atrasar-me, a palavra que é uma: 1 — conjunção copulativa. 2 — conjunção conclusiva. 3 — conjunção explicativa. d) Pois pode ser uma: 1 — conjunção explicativa. 2 — conjunção conclusiva. 3 — conjunção copulativa. e) Um exemplo de locução conjuntiva copulativa é: 1 — não só… mas também. 2 — apesar disso. 3 — no entanto. f) A frase Adoro o verão, porém, detesto o calor excessivo! contém uma: 1 — conjunção copulativa. 2 — conjunção adversativa. 3 — conjunção disjuntiva. g) Um exemplo de conjunção coordenativa copulativa é: 1 — nem. 2 — logo. 3 — porém. h) Ou… ou é uma: 1 — conjunção adversativa. 2 — locução conjuncional adversativa. 3 — locução conjuncional disjuntiva. 147

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C AP Í T U L O 4

Classes de Palavras

4. Sublinhe, nos provérbios que se seguem, as conjunções e as locuções conjuncionais e classifique-as. a) A viagem é mais rápida quando se tem companhia. b) A vida é uma escola, enquanto vivemos, aprendemos. c) O galo fecha os olhos quando canta porque sabe a música de cor. d) Basta uma ovelha ronhosa para perder o rebanho. e) Se saudades matassem, muita gente morreria. f) Quereis que vos sirva, bom rei? Dai‑me do que viva. g) Ninguém é tão pobre que não possa dar nem tão rico que não possa receber. h) Segue a razão, ainda que a uns agrade e a outros não. 5. Na sopa de letras seguinte, descubra 19 preposições. A B C A T E X C P S R C

P E R A N T E O A E O O

E F D C T U V M T G C N

S G P O R Z S E M U I P

A I H N S A O D L N D O

L A N T E B B I E D U A

V P Q R N T R A D O R N

O O P A T R E N E U A V

J S P A R A C S S G S E

M N L O E Z O E D M T N

D C O N F O R M E I A I

E X C E P T O D M S O B

6. Complete as frases seguintes com as preposições adequadas, fazendo contrações sempre que seja necessário. a)

as refeições, não é aconselhável entrar

b) Eu quero o trabalho feito

quinta‑feira. E

c) Não vamos falar mais nós!

vocês!

esse assunto. Que isto fique só

d) O réu apresentou‑se de defesa. e) Posso ir

mar.

o juiz

o advogado

o Júlio às compras, mãe?

f) Conheço o meu vizinho o dia em que vim morar esta casa, mas é como se nos conhecêssemos há muito mais tempo. g) Estou a falar h) Trabalho nesta empresa i) Sou

sério! 2001. essa política do governo.

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DETERM I NANTES, PRONOM ES E QUANTI FICADORES

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1. No diálogo que se segue, identifique os determinantes existentes e registe-os no quadro abaixo. JUIZ — O réu é acusado de ter cometido alguns delitos, nomeadamente certos furtos em casas parti‑ culares, cujo conteúdo vendeu a terceiros, bem como os assaltos à loja e habitação deste senhor. Tem alguma coisa a alegar em sua defesa? RÉU — Meritíssimo, gostaria de dizer que nenhuma das acusações é verdadeira; todos sabem que sou inocente. Cada um sabe o que faz. O senhor acha mesmo que o seu veredito é o mais correto? E que provas tem contra mim? Determinantes Artigos Determinantes demonstrativos Determinantes possessivos Determinantes indefinidos Determinantes interrogativos Determinantes relativos 2. Complete as frases com determinantes das subclasses indicadas. a)

(det. artigo definido) pessoas deviam praticar algum exercício físico.

b) Comprei o

(det. possessivo) presente na loja perto da minha escola.

c)

(det. artigo indefinido) dia vou até ao México.

d)

(det. demonstrativo) casas são mais antigas do que estas.

3. Faça corresponder o tipo de determinantes à afirmação que lhes diz respeito. Determinantes

Afirmações

A. Artigos definidos





1. Precedem nomes cuja referência não é conhecida.

B. Artigos indefinidos





2. Designam uma relação de posse entre duas entidades num ato de comunicação.

C. Demonstrativos





3. Indicam que o nome que precedem refere uma entidade específica.

D. Relativos





4. Localizam, num ato de comunicação, um objeto, uma entidade, etc. em relação aos participantes.

E. Possessivos





5. Introduzem orações subordinadas adjetivas relativas.

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Classes de Palavras

4. Complete as frases com informações sobre os pronomes. a) Os pronomes possessivos distinguem‑se dos determinantes possessivos porque não podem coo‑ correr com um . b) Os introduzem uma oração subordinada adjetiva relativa, no interior da qual desempenham uma função sintática. c) Os introduzem frases interrogativas parciais, substituindo o elemento acerca do qual se faz a pergunta. d) Os

correspondem ao uso pronominal de um quantificador existencial.

5. Leia o diálogo seguinte e sublinhe todos os pronomes que encontrar. — Bom dia, Almerinda! Como é que tu tens passado? — perguntou a Júlia. — O quê? O chão está molhado? Não está nada! Já o lavei ontem — respondeu a Almerinda. Então, a Júlia disse: — Olha, eu cá vou andando com as minhas dores nas cruzes! — Acendo as luzes? Não está escuro! A tua visão está pior do que a minha. — exclamou a Almerinda. — As cruzes! As cruzes! — gritou a Júlia — As minhas dão‑me dores terríveis! E as tuas? — Duas? Duas luzes? Esta só não chega? — perguntou a Almerinda. — Não! — disse a Júlia, um pouco desesperada — Olha… hoje venho lanchar contigo. — Trigo?! Não tenho! Eu não gosto muito de cereais! Então a Júlia disse: — Não! Deixa, deixa! Ó Almerinda, está ali um embrulho em cima da mesa. O que é aquilo? — Ao quilo? Cereais são sempre ao quilo! Olha… com quem vais lanchar hoje? — Contigo! — respondeu a Júlia. — Outra vez o trigo! Esta hoje não está boa! Olha, passa‑me aí uma tigela, por favor — pediu a Almerinda. — Esta? — perguntou a Júlia. — Festa? Não, não é nenhuma festa! É só um lanche para mim e para o meu António. Afinal, ainda não me respondeste! Queres lanchar cá connosco? — perguntou a Almerinda. — Convosco? — perguntou a Júlia, já completamente desesperada pela falta de audição da amiga. — Ó mulher, mas tu estás surda? Connosco, sim! Tu estás surda! Tu vai ao médico ver isso, Júlia!

 lassifique os pronomes que identificou. 5.1 C 6. Transforme as frases simples que se seguem em frases complexas recorrendo a um pronome relativo e evitando, assim, repetições. a) O João frequenta a minha faculdade. A minha faculdade fica em Entrecampos. b) A Maria comeu um bolo. O bolo era delicioso. c) Os meus amigos compraram um carro. Eles trabalharam durante as férias para juntar dinheiro. d) O meu primo recebeu um ótimo presente. Ele é bom aluno. e) A senhora abriu‑nos a porta. Ela estava a usar um vestido preto. f) A Lúcia comprou um carro. Foi extremamente caro. g) O Nuno viajou. Falei‑te ontem do Nuno.

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7. Classifique as afirmações como verdadeiras (V) ou falsas (F). A —Os quantificadores são palavras que quantificam os elementos de um conjunto. B —Qualquer é um quantificador existencial. C —Ambos é um quantificador universal. D —Um quantificador existencial expressa uma quantidade não exata de elementos de um conjunto. E —Os numerais ordinais são um tipo de quantificadores. F —Na frase Fiz tudo quanto pude, a palavra quanto é um quantificador interrogativo. 8. Identifique os quantificadores presentes nas frases seguintes e classifique-os. a) Quantos cães tens no teu quintal? b) Eu tenho vários livros sobre essa autora. c) Poucas pessoas conseguem resolver esse exercício. d) Eu conheço todos os operadores turísticos daquela região. e) Encontrei alguns livros antigos no sótão. f) Vi, pelo menos, sete pessoas escondidas no barracão. g) Contei‑lhe tudo quanto tenho feito. 9. Complete as frases seguintes com as palavras do quadro abaixo, antecedidas dos quantificadores adequados. Siga o exemplo e faça as alterações que achar necessárias. sumos

quadros

anos

pessoas

pão

gaivotas

Tenho fome! Vou comprar algum pão. a)

foram pintados por Renoir.

b) Nunca tinha visto

à volta de um barco! Deve vir cheio de peixe.

c) Eu conheço

capazes de ajudar os outros sem esperar nada em troca.

d) Comprei e)

para beber ao jantar; um para ti, outro para mim. viveste em Angola?

10. A partir dos grupos de elementos apresentados, construa frases utilizando quantificadores. Siga o exemplo. Nilo, Tejo, Mondego (rios) — Todas as palavras referem rios. a) figo, melão, morango (vegetais) — b) elefante, búfalo (animais) — c) Eunice Munõz, Alexandra Lencastre, Sílvia Rizzo (atrizes) — 10.1 Identifique o tipo de quantificadores usados. 151

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5 O L U CAPÍT

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e x a t n i S 5.1 FRASE

ÁTICAS T N I S S E Õ Ç N 5.2 FU COMPLEXAS S E S A R F E S E IMPL 5.3 FRASES S INTÁTICOS S S O S S E C O R 5.4 P 5 | 16 | 17 1 | 4 1 | s e aT i V i D a D e D s a H C i F

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CAPÍTULO 5

Sintaxe

5.1 Frase A sintaxe é a parte da gramática que se dedica ao estudo das relações entre as palavras na frase. Com base no conhecimento das propriedades das várias classes de palavras, os falantes combinam diferentes tipos de palavras formando frases. A frase é a unidade máxima de combinação de palavras. a, Det um, Det ver, V rapariga, N barco, N branco, Adj

a rapariga A rapariga viu um barco branco.

viu um barco branco

viu um barco branco um barco branco

Além de possuírem uma estrutura sintática, as frases são assinaladas por uma pausa final, graficamente marcada pelo sinal de pontuação, e podem ter diferentes entoações, dependendo, também, do objetivo de comunicação. As frases podem ser simples ou complexas. No caso das frases simples (1), uma frase corresponde a uma oração (um sujeito e um predicado). Esta correspondência não se verifica no caso das frases complexas, que contêm mais de uma oração (2). (1) A Luísa telefonou. (2) A Luísa avisou que se ia atrasar. Cada frase transmite um significado completo e independente, visto que esse significado se baseia nas relações que o predicado (núcleo verbal dessa frase) estabelece com o sujeito e com os complementos que seleciona. No entanto, embora sejam unidades sintática e semanticamente autónomas, as frases produzidas num dado contexto ou discurso estabelecem relações entre si. Estas relações têm que ver, entre outros aspetos, com a coesão e a compatibilidade de valores referenciais e temporais. Por exemplo, a sequência de factos e tempos gramaticais expressos pelas frases deve obedecer a uma sequência lógica (diremos Ontem o Zé foi ao cinema e amanhã vai ao teatro e não *Ontem o Zé vai ao cinema e amanhã foi ao teatro). A interpretação de uma frase pode também depender de elementos presentes noutras frases. Uma frase como Quando eles lá chegaram, encontraram a porta fechada não tem interpretação sem qualquer outra informação, mas na sequência de O Pedro e o Rui foram a casa da Rita, a frase anterior já tem uma interpretação possível. 154

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Na atividade linguística, por vezes os falantes produzem estruturas não frásicas. Estas estruturas ocorrem, por exemplo, em resposta a perguntas (1), no uso de interjeições (2) e de vocativos (3). (1) Pergunta: Quem vem jantar? Resposta: O Zé. Pergunta: Quantos livros compraste? Resposta: Três. Pergunta: A Ana fez os trabalhos? Resposta: Fez./Sim. (2) Cuidado!, Ai!, Andor! (3) Mãe!, Tareco! Numa língua, não existe um número finito de frases, podendo ser sempre criadas frases novas.

5.1.1 Tipos de frase A produção de um enunciado traduz uma intenção de comunicação por parte do locutor. Em alguns casos, as opções comunicativas correspondem a diferentes possibilidades de realização sintática. A intenção de comunicação, a entoação e o modo verbal permitem distinguir diferentes tipos de frase: frases declarativas, frases interrogativas, frases exclamativas e frases imperativas.

Frases declarativas As frases declarativas expressam uma asserção do locutor. Na escrita, caracterizam-se por terminarem normalmente com um ponto final. A maré está cheia. Estou atrasado. A Sara não foi a Paris. As frases declarativas podem ser não marcadas ou marcadas. Quando os seus elementos constituintes ocorrem na ordem sujeito-verbo-complementos, diz-se que a frase é não marcada (1). Se a ordem não for esta, considera-se que a frase declarativa é marcada (2). (1) O Pedro viu esse filme. (2) Esse filme, o Pedro viu-o. As frases simples declarativas afirmativas são consideradas neutras do ponto de vista descritivo.

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CAPÍTULO 5

Sintaxe

Frases interrogativas As frases interrogativas são produzidas quando o locutor tem intenção de obter uma informação. Estas frases estão associadas a uma ordem de palavras própria, havendo diferentes tipos de interrogativas. As interrogativas podem ser totais se a pergunta envolver toda a frase. Compraste o livro que te pedi? A Joana telefonou? Se a interrogação incidir apenas sobre um constituinte, a interrogativa será parcial. Quem comprou este livro? Onde compraste este livro? Que livro compraste? O que compraste na feira? Nas interrogativas totais, em geral, não há qualquer alteração da ordem de palavras. Pelo contrário, nas interrogativas parciais a frase inclui sempre um pronome interrogativo, que ocorre geralmente em posição inicial de frase. Alguns pronomes interrogativos podem ocorrer noutras posições na frase. O João comprou o quê? Compraste este livro quando? Foste jantar onde? As interrogativas podem também ser diretas ou indiretas. As frases interrogativas diretas estão associadas a uma entoação particular e, frequentemente, a uma ordem de palavras diferente da das frases declarativas. Na escrita, terminam com um ponto de interrogação. Queres vir comigo? Amanhã vamos ao cinema? As frases interrogativas indiretas não têm marcas características próprias. São frases subordinadas completivas, selecionadas por alguns verbos. Na escrita, terminam com um ponto final. Não sei se o João vem amanhã. Preciso de saber se jantas em casa.

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Frases exclamativas As frases exclamativas servem essencialmente para transmitir diferentes valores expressivos e estão tipicamente associadas a uma entoação característica. Os sentimentos transmitidos pelas frases exclamativas são, por exemplo, a satisfação, a admiração, o entusiasmo, a dúvida, a dor, entre outros. Estas frases podem ser introduzidas por palavras que traduzem a exclamação, como que. Que belo dia! Estás muito bonito! O trabalho está excelente!

Frases imperativas As frases imperativas expressam ordens, pedidos ou instruções do locutor, que, desta forma, pretende condicionar ou provocar um dado comportamento por parte do seu interlocutor. Traz-me a pasta. Saiam daqui! Dá-me um copo de água, se faz favor.

5.1.2 Constituintes da frase Numa frase, as palavras ocorrem agrupadas formando sequências a que se dá o nome de grupos. Os grupos são construções endocêntricas,, isto é, estruturas que possuem obrigatoriamente um núcleo. Por isso, na maior parte dos casos, basta a ocorrência de uma categoria nuclear para definir um grupo. Por exemplo, na frase Os rapazes corriam,, o grupo verbal é formado apenas pela forma do verbo correr. Sendo a categoria de um grupo definida pelo núcleo, um grupo cujo núcleo é um verbo será um grupo verbal, um grupo cujo núcleo é um nome será um grupo nominal, etc. Os grupos podem fazer parte de outros grupos sintáticos, funcionando como complementos ou modificadores de um nome, de um adjetivo, de um verbo, etc. Grupo

Grupo

O melhor amigo do Vítor

vive numa caravana.

Grupo

saber Mais Em estudos linguísticos, o termo

Grupo

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CAPÍTULO 5

Sintaxe

Os grupos funcionam como blocos da estrutura das frases. Assim, propriedades como as funções sintáticas são atribuídas ao grupo no seu conjunto e não a uma das suas partes. Decorre daqui que os grupos evidenciam determinados comportamentos sintáticos, que facilitam a sua identificação: • não é possível inserir elementos adverbiais de tempo no interior de um grupo; • não se pode substituir parte de um grupo; • não se pode deslocar parte de um grupo. Por exemplo, para reconhecer os principais grupos existentes na frase O melhor amigo do Vítor vive numa caravana, podemos identificar as suas fronteiras inserindo um advérbio como agora. Assim, podemos concluir que a sequência o melhor amigo do Vítor forma um grupo, visto que não é possível interrompê-la inserindo o advérbio agora: *O melhor agora amigo do Vítor vive numa caravana ou *O melhor amigo agora do Vítor vive numa caravana. Nesta frase, a única possibilidade é inserir o advérbio antes ou depois dos grupos: Agora o melhor amigo do Vítor vive numa caravana ou O melhor amigo do Vítor agora vive numa caravana. As possibilidades de ocorrência do advérbio agora seriam, então, as seguintes: agora agora agora agora i i i i O melhor amigo do Vítor vive numa caravana. Da mesma forma, também não é possível substituir uma parte de um grupo. Podemos dizer Ele vive numa caravana, mas não *Ele amigo do Vítor vive numa caravana; ou O melhor amigo do Vítor vive lá, mas não *O melhor amigo do Vítor vive numa lá. GRU POS Núcleo Nome Pronome

Categoria Grupo nominal

Exemplos O pintor comprou um livro novo. Ele não veio.

Verbo

Grupo verbal

O pintor comprou um livro novo.

Adjetivo

Grupo adjetival

O pintor comprou um livro novo.

Preposição

Grupo preposicional

Eles estiveram em Braga.

Advérbio

Grupo adverbial

O Luís comeu agora.

Quadro 1 | Grupos sintáticos.

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Além do núcleo, um grupo pode conter outros elementos que funcionam como determinantes, modificadores ou complementos. Os determinantes são categorias que especificam a interpretação de um nome e que ocupam a posição à esquerda do núcleo nominal. os

planetas

trinta

alunos

Det

N

Det

N

Os complementos são constituintes selecionados por um núcleo (verbal, nominal ou adjetival), sendo obrigatórios. comeram

sardinhas

moram

em Loures

V

Comp

V

Comp

estudante

de Física

construção

da ponte

N

Comp

N

Comp

orgulhoso

da filha

desejoso

por partir

Adj

Comp

Adj

Comp

Os modificadores afetam a interpretação do constituinte a que se juntam, acrescentando informação, mas são elementos opcionais na estrutura. jogo

perfeito

correu

no estádio

N

Mod

V

Mod

Grupo nominal Um grupo nominal é uma unidade sintática cujo elemento central (núcleo) é um nome (1) ou um pronome (2). Além do núcleo, o grupo nominal pode integrar determinantes (3), complementos (4) e modificadores (5): (1) Praga é uma bonita cidade. (2) Ela é uma boa rapariga. (3) A Ana foi-se embora. (4) A filha da Joana tem 12 anos. (5) O João, que está de férias, foi passear. 159

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CAPÍTULO 5

Sintaxe

Grupo verbal

saber Mais

Um grupo verbal é uma unidade sintática cujo núcleo é um verbo (1). Além do núcleo, o grupo verbal pode conter complementos (2) e/ou modificadores (3): (1) A Rita desmaiou. (2) O Pedro comeu um bolo. (3) A Maria magoou-se ontem.

Grupo adjetival

GN GV O Governo proibiu a manifestação ontem Det

N

V

C. Dir

GN GAdv a manifestação ontem Det

N

Adv

Mod

Um grupo adjetival é uma unidade sintática que tem um adjetivo como elemento central (1). No grupo adjetival, o adjetivo (núcleo) pode coocorrer com um complemento (2) e/ou com um advérbio de quantidade e grau (3): (1) O rapaz interessado fez uma pergunta. (2) O Pedro está desejoso de saber o resultado do exame. (3) O Rui é o meu filho mais velho.

Grupo preposicional Um grupo preposicional é uma unidade sintática cujo núcleo é uma preposição, que ocorre obrigatoriamente com um complemento (1). Este complemento também pode ocorrer sob a forma de oração (2): (1) Esqueci-me da carteira em casa. (2) Esqueci-me de que não vinhas jantar a casa.

Grupo adverbial Um grupo adverbial é uma unidade sintática que tem um advérbio como elemento central (1). Além do advérbio (núcleo), o grupo adverbial pode integrar um complemento (2) e/ou outro advérbio (3): (1) Amanhã vou à praia. (2) Independentemente de estar ou não a chover, eu vou passear. (3) O aluno que respondeu mais rapidamente foi o Marco.

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5.2 FUNÇÕes siNTÁTiCas A função sintática de um constituinte depende da relação que ele estabelece com o predicado da frase. Por exemplo, o grupo nominal o gato funciona como sujeito numa frase como O gato fugiu, em que o verbo apenas seleciona um sujeito; o mesmo grupo nominal funciona como complemento direto numa frase como O Manuel quer o gato, em que o predicado verbal da frase exige um complemento. Em português, em geral, o sujeito antecede o verbo e o complemento direto ocorre à direita deste. No entanto, são muitas as orações cuja ordem não é sujeito-verbo-complemento. Por exemplo, o sujeito ocorre muitas vezes em posição pós-verbal: Telefonou a Maria. A ordem das palavras não é, portanto, um critério determinante para saber qual é a função sintática de um constituinte.

5.2.1 Funções sintáticas ao nível da frase sujeito Do ponto de vista sintático, o sujeito é o constituinte que concorda com o verbo. Para determinar o sujeito, deve(m) identificar-se a(s) palavra(s) que concorda(m) com o verbo em número. Sujeito

saber Mais

Predicado

Várias firmas hoteleiras construíram um hotel na Lua. plural

Sujeito

Uma firma hoteleira singular

plural

Predicado construiu um hotel na Lua. singular

O sujeito pode ser um grupo nominal ou uma oração. O sujeito nominal (1) pode ser substituído pelo pronome pessoal com função de sujeito (2) e o sujeito frásico (3), pela forma pronominal isso (4):

A solução falhou

(1) O João foi à praia. (2) Ele foi à praia. (3) Que te tivesses atrasado aborreceu-me. (4) Isso aborreceu-me.

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CAPÍTULO 5

Sintaxe

Sujeito realizado e sujeito nulo

saber Mais Algumas línguas, como o inglês

Todas as orações são constituídas por um sujeito e por um predicado. No entanto, ao contrário de outras línguas como o inglês, a existência de uma flexão verbal rica em português permite que ocorram os denominados sujeitos nulos. Assim, além de frases como As cantoras deram uma entrevista ou Eles ganharam, em que o sujeito corresponde a um grupo nominal, é possível ter em português frases como Fomos ontem ao cinema, em que não existe nenhuma palavra que corresponda ao sujeito. Nas primeiras, ocorre um sujeito realizado e na última, um sujeito nulo nulo. As orações de sujeito nulo são orações cujo sujeito não se encontra realizado lexicalmente. O sujeito nulo pode ser: • subentendido — corresponde a um elemento (sujeito pronominal) identificado pela flexão do verbo: Não chegaste a tempo. (equivalente a Tu não chegaste a tempo.) • indeterminado — exprime o chamado sujeito de referência arbitrária («alguém») e é identificado pelo verbo como uma terceira pessoa do plural: Dizem que vai chover muito amanhã. • expletivo — não tem interpretação, como no caso dos verbos impessoais, e é geralmente equivalente à terceira pessoa do singular: Choveu muito hoje.

predicado O predicado é a função desempenhada pelo grupo verbal, que integra o verbo e os seus complementos e/ou modificadores, caso existam. Predicado A Graça deu um par de esquis ao João. V

C. Dir

C. Ind

Em frases com verbos copulativos ou transitivos-predicativos, o grupo verbal que desempenha a função de predicado integra o predicativo. Predicado Os dromedários são muito resistentes. V

P. Suj (GAdj)

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Modificador da frase O constituinte com a função sintática de modificador não é selecionado por nenhum elemento da frase. No entanto, afeta globalmente a sua interpretação, acrescentando-lhe informação. Por não ser exigido por nenhum elemento, pode ser omitido sem pôr em causa a gramaticalidade da frase. Esta função sintática pode ser desempenhada por um grupo adverbial (1) ou por uma oração subordinada adverbial concessiva (2) ou condicional (3):

saber Mais

Para determinar as funções sintáticas

(1) Infelizmente, não conseguimos acabar o trabalho a tempo. (2) Vou fazer o trabalho, embora esteja muito cansada. (3) Se tivesse estudado, teria tido uma boa nota.

Vocativo A função sintática de vocativo é desempenhada pelo constituinte que interpela o interlocutor. Em geral, este constituinte ocorre em frases do tipo interrogativo (1), exclamativo (2) e imperativo (3):

A rapariga GN Sujeito pôs um copo de água em cima da mesa. GV Predicado

(1) Ana, sabes como se faz este bolo? (2) Que horror, João! (3) Pedro, vem já para casa! O vocativo é um chamamento e sintaticamente vem isolado do resto da frase, sendo, por isso, analisado à parte. Embora não seja subordinado a nenhum outro elemento frásico, pode estabelecer uma relação semântica com outros termos da oração, em especial com o sujeito. Outras características do vocativo são não ter posição fixa na frase e vir sempre separado por algum sinal de pontuação, normalmente uma vírgula.

5.2.2 Funções sintáticas internas ao grupo verbal Complementos do verbo O núcleo verbal pode ser acompanhado por um ou mais complementos que restringem ou delimitam a informação expressa no predicado. Estes constituintes são selecionados pelo verbo e possuem uma determinada função sintática. Os complementos podem estar unicamente relacionados com o verbo ou com o verbo e com outro constituinte que faça parte da oração. 163

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CAPÍTULO 5

Sintaxe

saber Mais

Tendo em conta as relações que mantêm com outros elementos oracionais, podemos distinguir duas classes de complementos: • Complementos que se relacionam unicamente com o verbo que funciona como núcleo do predicado: — complemento direto; — complemento indireto; — complemento oblíquo; — complemento agente da passiva. • Complementos que se relacionam com o verbo que funciona como núcleo do predicado e com outro constituinte da oração. — predicativo do sujeito; — predicativo do complemento direto. Para identificar os complementos dos verbos, podemos usar o seguinte critério: se um constituinte for obrigatório, então é um complemento. Atente-se na seguinte frase: Eles puseram o livro no balcão.

saber Mais

Nesta frase, os constituintes o livro e no balcão são complementos, visto que a sua omissão torna a frase agramatical: *Eles puseram. *Eles puseram o livro. *Eles puseram no balcão. Do ponto de vista semântico, os complementos são os constituintes selecionados pelo verbo. Por exemplo, o verbo pôr seleciona três constituintes, que correspondem ao agente que controla a ação, ao objeto que é deslocado e ao local para onde o objeto é deslocado. Numa frase que apresente a ordem básica, o primeiro constituinte é o sujeito e os outros são os complementos do verbo (complemento direto e complemento oblíquo, respetivamente). Eles puseram o livro na mesa. Suj

A rapariga pôs um copo de água em cima da mesa. GP

GN

V

C. Dir

C. Obl

O número e o tipo de complementos selecionados pelos verbos é o critério para o estabelecimento das subclasses verbais. Assim, os verbos que não selecionam nenhum complemento são intransitivos, os que selecionam um complemento direto são transitivos diretos, os que selecionam um complemento indireto são transitivos indiretos, etc.

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Complemento direto O complemento direto corresponde ao constituinte selecionado pelo verbo que não é antecedido de preposição. Na maior parte dos casos, o complemento direto é um grupo nominal que, na ordem básica do português, ocorre imediatamente à direita do verbo. O Maurício destruiu a estufa. O complemento direto pode também ser uma oração. É o caso dos verbos que selecionam orações subordinadas substantivas completivas: Ele disse que a viagem foi horrível.

Pronominalização O complemento direto nominal é substituível por uma forma acusativa de pronome pessoal: O Zé viu a tua irmã. → O Zé viu-a. O João encontrou os livros. → O João encontrou-os. A pronominalização do complemento direto ocorre também em construções em que o complemento surge destacado no início da frase: A Rita, vi-a ontem na Baixa. Amigos desses, não os quero para nada. O complemento direto oracional pode ser substituído pela forma pronominal isso: A Rita disse que não queria ir. A Rita disse isso.

Ordem O complemento direto ocupa, geralmente, a posição imediatamente à direita do verbo, antes de outros complementos e/ou modificadores: A Joana pôs o livro na mesa. O Renato ouviu essa notícia ontem. 165

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CAPÍTULO 5

Sintaxe

No entanto, quando o complemento direto é muito longo ou complexo, pode ocupar a posição final da frase: A Joana pôs na mesa o livro que o pai lhe mandou dos Estados Unidos. O Renato viu ontem um documentário sobre o desaparecimento do gelo polar.

Complemento indireto O complemento indireto é o complemento do verbo que tem a forma de um grupo preposicional cujo núcleo é a preposição a. Comprei esta casa a um amigo que emigrou. A Sandra deu um livro à professora. O Ricardo comprou este barco ao representante da marca.

Pronominalização O complemento indireto é substituível pela forma dativa de um pronome pessoal: Comprei-lhe esta casa. A Sandra deu-lhe um livro. O Ricardo comprou-lhe este barco.

Ordem Nas construções com mais de um complemento que apresentam a ordem básica, o complemento indireto ocorre na posição imediatamente à direita do complemento direto: Ela ofereceu um candeeiro de teto à mãe. Contudo, se for pronominalizado (1) ou se o complemento direto for muito longo (2), o complemento indireto ocupa a posição imediatamente à direita do verbo: (1) Ela deu-lhe a chave de casa. (2) Ele comprou ao Pedro a casa onde passava férias em pequeno.

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Complemento oblíquo Complementos oblíquos são complementos do verbo que podem ser grupos preposicionais (1) ou grupos adverbiais (2). Quando são grupos preposicionais, a preposição pode introduzir um grupo nominal (3) ou uma oração (4): (1) O Pedro gosta da Paula. (2) A Laura mora aqui. (3) Eles foram para Itália. (4) A Câmara autorizou o clube a construir um novo pavilhão. Ao contrário dos complementos indiretos, os grupos preposicionais com função de complemento oblíquo não podem ser substituídos por formas dativas de pronome pessoal: O condutor obedeceu ao agente. → O condutor obedeceu-lhe. (ao agente é um complemento indireto) O Pedro gosta da Paula. → *O Pedro gosta-lhe. (da Paula é um complemento oblíquo)

Complemento agente da passiva O complemento agente da passiva é o grupo preposicional selecionado pelo verbo nas frases passivas que é interpretado como agente: A gala foi apresentada por um artista famoso. O complemento agente da passiva pode ser identificado através das seguintes características: • Forma — O complemento agente da passiva é um grupo preposicional cujo núcleo é a preposição por: A lei foi rejeitada por uma larga maioria de deputados. Em casos raros, o agente da passiva pode ser opcionalmente introduzido pela preposição de: A sua fama era conhecida de todos/por todos. • Relação com uma frase ativa — Na forma ativa, o complemento agente da passiva ocorre como sujeito. Passiva

Ativa

A ponte foi inaugurada pelo rei.

O rei inaugurou a ponte.

Suj

C. A. Pas

Suj

C. Dir

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CAPÍTULO 5

SINTAXE

Predicativo do sujeito e do complemento direto Saber Mais

Predicativo do sujeito O predicativo do sujeito é um constituinte obrigatório nos grupos verbais cujo núcleo é um verbo copulativo (ser, estar, ficar, permanecer, permanecer continuar, ...). Pode ser um grupo adjetival (1), um grupo nominal (2), um grupo preposicional (3) ou um grupo adverbial (4). (1) O teu comportamento é criticável. (2) A Berta é uma cantora famosa. (3) A escola fica em Sintra. (4) O Pedro permanece ali. Propriedades sintáticas • O predicativo do sujeito é o constituinte selecionado obrigatoriamente por um grupo verbal formado com verbos copulativos. Por isso, a sua supressão torna as frases agramaticais: *O teu comportamento é. *A escola fica. • O predicativo do sujeito de natureza adjetival concorda em género e número com o sujeito da frase: O rapaz é alto. *O rapaz é alta./*O rapaz é altos. • O predicativo do sujeito de natureza nominal concorda com o sujeito, exceto se for uma expressão nominal qualitativa (uma maravilha, um horror, etc.): Elas são professoras. *Elas são professores./*Elas são professora. Aquela pintura é um horror. Aquele quadro é um horror. • O predicativo do sujeito é substituível pelo clítico demonstrativo o (que é uma forma pronominal invariável): A Maria é alta. A Maria é-o. Alta, a Maria é-o.

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Propriedades semânticas O predicativo do sujeito é o predicador das frases em que ocorre (os verbos copulativos veiculam apenas valores gramaticais — tempo, modo, aspeto, pessoa e número), sendo, portanto, o elemento que atribui uma propriedade, uma característica ou uma localização (temporal ou espacial) ao sujeito da frase.

Predicativo do complemento direto

Saber Mais

O predicativo do complemento direto é um constituinte que ocorre obrigatoriamente com verbos transitivos-predicativos (conconsiderar, achar, julgar,, ...) e opcionalmente com verbos de outras classes. O predicativo do complemento direto pode ser um grupo adjetival (1), um grupo nominal (2) ou um grupo preposicional (3). (1) O Rui considera a solução extraordinária. (2) Eles acharam as férias uma maravilha. (3) Todos o tinham por culpado.

Propriedades sintáticas • O predicativo do complemento direto é um constituinte obrigatório dos grupos verbais que têm como núcleo verbos transitivos-predicativos e, por isso, não pode ser suprimido: *O Rui considera a solução. *Eles acharam as férias. *Todos o tinham. • Com verbos de outras classes, o predicativo do complemento direto é um constituinte opcional: A turma elegeu a Sara delegada de turma. A turma elegeu a Sara. O Pedro comeu a sopa fria. O Pedro comeu a sopa. • O predicativo do complemento direto quando tem forma adjetival concorda em género e número com o complemento direto: O Rui considera a solução extraordinária. *O Rui considera a solução extraordinário.

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CAPÍTULO 5

Sintaxe

A pronominalização do complemento direto permite distinguir os predicativos do complemento direto dos modificadores do complemento direto. Quando um grupo é um modificador do complemento direto, tem de ser incluído na pronominalização deste: A Marta comprou um casaco azul. *A Marta comprou-o azul. / A Marta comprou-o. Pelo contrário, o predicativo do complemento direto não pode ser incluído na pronominalização do complemento direto: Eles acharam o concerto fraco. Eles acharam-no fraco. / *Eles acharam-no.

Propriedades semânticas

saber Mais

O predicativo do complemento direto forma um predicado complexo em conjunto com o verbo. Ao contrário do que acontece com os verbos copulativos, os verbos que entram na formação destes predicados são verbos principais. O grupo com a função sintática de complemento direto é selecionado pelo verbo e, simultaneamente, são-lhe atribuídas propriedades pelo predicativo do complemento direto.

O Pedro achou

a festa C. Dir

aborrecida. P. C. Dir

Modificador do verbo Os predicados podem conter outros constituintes não selecionados pelos verbos, que acrescentam informação sobre a localização dos eventos e estados, os seus modos, meios, etc. Estes constituintes são modificadores (ou adjuntos) e têm geralmente um valor adverbial (sintaticamente, realizam-se como grupos preposicionais, grupos adverbiais ou orações subordinadas adverbiais), sendo opcionais. Eles puseram o livro na mesa com cuidado. V

Comp Comp

Mod

Eles puseram o livro na mesa para enganar o professor. V

Comp Comp

Mod

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5.2.3 Funções sintáticas internas ao grupo nominal Complemento do nome A função sintática de complemento do nome é desempenhada por um constituinte que é selecionado pelo nome. Este constituinte pode ser um grupo preposicional (1) — que pode incluir uma oração (2) — ou, embora com menos frequência, um grupo adjetival (3): (1) A remodelação da casa durará duas semanas. (2) A ideia de que me falaste é interessante. (3) Governos condenam a prática da pesca baleeira. Os nomes de ação relacionados com verbos, como viagem, leitura, ensino ou construção, e os nomes agentivos, como viajante, leitor, professor ou construtor, podem selecionar complementos. Nestes casos, a estrutura do grupo nominal é paralela à estrutura do grupo verbal do verbo de que deriva, quer do ponto de vista sintático (em todos os casos existe um complemento) quer do ponto de vista semântico (o complemento é o objeto da ação): GV

GN

GN

construir barcos

construção de barcos

construtor de barcos

V

Comp

N

Comp

N

Comp

GV

GN

GN

ler jornais

leitura de jornais

leitor de jornais

V Comp

N

Comp

N

Comp

GV

GN

GN

treinar a equipa

treino da equipa

treinador da equipa

V

Comp

N

Comp

N

Comp

Em geral, são complementos dos nomes os grupos preposicionais: • com valor possessivo — constituintes que podem ser substituídos por um determinante possessivo: o filho da Rita = o seu filho; a loja do Filipe = a sua loja; • que indicam origem: vinho do Porto; • que indicam matéria: panela de ferro.

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CAPÍTULO 5

Sintaxe

Modificador do nome Os modificadores do nome são constituintes opcionais, podendo, por isso, ser omitidos.

Modificador restritivo O constituinte com a função sintática de modificador restritivo pode ser um grupo adjetival (1), um grupo preposicional (2) ou uma oração subordinada relativa restritiva (3): (1) Vou comprar uma camisola azul. (2) Vou jantar com a amiga do Pedro. (3) O meu filho que vive em Inglaterra é o mais velho. Como o nome sugere, este modificador restringe a referência do nome, não podendo ser separado dele por vírgula.

Modificador apositivo A função sintática de modificador apositivo também é desempenhada por um constituinte que não é selecionado pelo nome. Contudo, ao contrário do modificador restritivo, o apositivo não restringe a referência do nome, devendo ser separado dele por vírgula. Em geral, o modificador apositivo é um grupo nominal (1), um grupo adjetival (2) ou uma oração subordinada relativa explicativa (3): (1) Cavaco Silva, presidente da República, vai falar à imprensa. (2) A fruta, madura, caía da árvore. (3) O meu filho, que está a estudar, tem tirado ótimas notas.

5.2.4 Funções sintáticas internas ao grupo adjetival Complemento do adjetivo Tal como os nomes, também os adjetivos podem selecionar complementos: ansioso, orgulhoso, contente, capaz, etc. O complemento dos adjetivos é sempre um grupo preposicional (1), que pode também incluir uma oração (2): (1) Fiquei satisfeito com a minha prestação. (2) Ela ficou desejosa por saber a novidade. 172

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5.3 Frases siMples e Frases CoMplexas As frases simples têm um único verbo principal. GV As raparigas trouxeram os livros ontem. V

GV A torre da igreja tinha um grande relógio. V

Além do verbo principal, as frases simples podem conter outras formas verbais, como os verbos auxiliares e semiauxiliares que formam os tempos compostos (1) e as formas perifrásticas (2): (1) A Rita tem estudado muito. (2) O João vai correr logo. As frases que contêm mais do que um verbo principal denominam-se frases complexas: Eles querem que tu venhas para casa. V

V

A Ana esqueceu-se de te dar o recado. V

V

O facto de nas frases complexas existir mais do que um predicado verbal significa também que estas contêm mais do que um sujeito, ou seja, as frases complexas são compostas por mais do que uma oração. Quando a Ana chegou, o Rui cumprimentou-a. Oração

Oração

O Pedro saiu, mas o irmão ficou em casa. Oração

Oração

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CAPÍTULO 5

Sintaxe

As frases complexas podem ser formadas por coordenação ou por subordinação. A formação de uma frase complexa requer a existência de uma conjunção, que funciona como um conector frásico. A coordenação e a subordinação distinguem-se pelas conjunções associadas a cada um dos processos e pela relação sintática entre orações. No caso da coordenação, as orações mantêm a sua independência estrutural, enquanto na subordinação a oração subordinada integra a estrutura da subordinante. Coordenação Frase complexa O Pedro escreveu e a Ana telefonou. Oração

Oração

Subordinação Frase complexa GN

GV

Eles querem que tu venhas para casa. Oração subordinada

A classificação das orações que integram frases complexas encontra-se resumida no esquema que se segue. OR açõeS Coordenadas Sindéticas

Substantivas

Adjetivas

Adverbiais

Copulativas

Completivas

Relativas restritivas

Causais

Disjuntivas

Relativas

Relativas explicativas

Finais

Adversativas

Assindéticas

Subordinadas

Temporais

Conclusivas

Concessivas

Explicativas

Condicionais Comparativas Consecutivas

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5.3.1 Coordenação

saber Mais

A coordenação é a união de orações sintaticamente independentes através de um elemento conector ou, no caso da coordenação assindética, sem nenhum elemento explícito.

Coordenação assindética Na coordenação assindética, duas ou mais orações independentes constituem uma frase complexa sem que ocorra uma conjunção a ligá-las. Na fala, a coordenação assindética é assinalada por marcas prosódicas, que na escrita são indicadas pela pontuação (geralmente por vírgula). Não vou de comboio, vou de autocarro. Oração

Oração

ler Mais Para saber mais sobre este tema, pode

Não tenho problemas, sou uma pessoa feliz. Oração

Oração

A Vera andou ao sol, ficou doente. Oração

Oração

As orações coordenadas assim formadas denominam-se orações coordenadas assindéticas. Estas frases podem ser formadas por duas ou mais orações independentes sintaticamente: Cheguei, vi e venci. Do ponto de vista semântico, as orações coordenadas assindéticas podem estabelecer entre si vários tipos de relações: ReL açõeS Justaposição Sucessão temporal Consequência

e xeMPLOS Anda de um lado para o outro, solta, vira-se, não para. Agora está a jogar, daqui a pouco aborrece-se. Dói-me o corpo todo, devo estar com gripe.

Quadro 2 | Relações que se estabelecem entre orações coordenadas assindéticas.

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CAPÍTULO 5

Sintaxe

Coordenação sindética Quando uma oração é coordenada por intermédio de uma conjunção ou de uma locução coordenativa, denomina-se sindética. Estas orações podem ser copulativas, disjuntivas, adversativas, explicativas ou conclusivas. OR açõe S COORDeNaDaS SI N DÉTICaS Subclasses

Conjunções e locuções conjuncionais

Copulativas Indicam a simples concatenação de frases.

e, nem, não só... mas também, tanto... como, não só... como

Disjuntivas Expressam uma alternativa entre os membros da construção coordenada.

ou, ou... ou, nem... nem, ora... ora, quer... quer

Adversativas Expressam um contraste entre os membros da construção coordenada.

mas, porém, todavia, contudo

Explicativas Apresentam uma explicação ou justificação que legitima o que foi expresso na oração anterior.

pois, que, porquanto

Conclusivas Expressam uma relação de causalidade entre uma causa, que é expressa pelo primeiro membro da coordenação, e o seu efeito, que é indicado pelo segundo membro.

logo, assim, portanto, por isso

Exemplos Saí de casa e fui comprar o jornal. Não gosto de viajar nem de conduzir durante muito tempo. Amanhã escrevo-lhe ou telefono-lhe. O Pedro nem acaba o curso nem arranja emprego. O carro tem gasolina mas não anda. Estava com muita fome, pois tinha comido já há algum tempo. Despacha-te, que nos vamos atrasar. Penso, logo existo. Não estudei nada para o teste, por isso tive negativa.

Quadro 3 | Orações coordenadas sindéticas.

As conjunções coordenativas ocupam em geral uma posição fixa no interior da estrutura coordenada (encabeçando o segundo membro da coordenação). No entanto, as conjunções adversativas porém, contudo, todavia, no entanto, entretanto e as conjunções conclusivas logo e portanto podem ocorrer em várias posições. O Zé é bom aluno, porém o irmão não estuda nada. O Zé é bom aluno, o irmão, porém, não estuda nada. 176

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5.3.2 subordinação

saber Mais

A subordinação é a relação de dependência entre duas orações. A oração subordinada ocupa uma posição na estrutura complexa formada pela junção das duas estruturas. A oração que não está encaixada na estrutura de outra oração denomina-se oração subordinante. A subordinação estabelece-se através de um elemento de ligação: uma conjunção subordinante ou um pronome relativo. Frase complexa GN

GV

O advogado declarou que o seu cliente estava inocente. Oração subordinada

Frase complexa GN

GV

O homem que entrou agora mesmo é o meu patrão. Oração subordinada

Frase complexa GN

GV

Ela chegou quando eu estava no escritório. Oração subordinada

Frase complexa GN

GV

A Lúcia é simpática embora tenha mau feitio. Oração

Oração subordinada

Dependendo da função sintática que desempenham na frase, as orações subordinadas podem classificar-se em: • substantivas — quando desempenham uma função característica do nome: Ele disse que a viagem foi ótima. • adjetivas — quando exercem uma função geralmente atribuída ao adjetivo: Comprei uma casa que tem um jardim. • adverbiais — quando desempenham uma função típica do advérbio: Não me interrompas enquanto estudo. 177

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CAPÍTULO 5

Sintaxe

orações subordinadas substantivas Orações subordinadas substantivas são orações que funcionam como sujeito ou como complemento de um verbo, de um nome ou de um adjetivo.

Orações subordinadas substantivas completivas As orações que têm uma distribuição equivalente aos grupos nominais são orações subordinadas substantivas completivas. Em geral, é possível substituir as orações subordinadas completivas por um grupo nominal ou pela forma de demonstrativo isso.

O secretário esperava

que o ministro viesse. a vinda do ministro. (grupo nominal) isso. (demonstrativo)

As orações subordinadas substantivas completivas podem ser finitas ou não finitas, consoante o verbo se encontre numa forma finita (1) ou não finita (2). (1) Esqueci-me de que fazias anos. (2) Esqueci-me de trazer a carteira. Estas orações podem desempenhar diferentes funções sintáticas na oração subordinante. OR açõe S SU BORDI NaDaS SU BSTaNTI VaS COMPLeTI VaS Função sintática

Exemplos

Sujeito

Aborrece-me que digas mentiras. Andar ao sol é perigoso para a saúde.

Complemento direto Complemento oblíquo Complemento do nome Complemento do adjetivo

A Alice quer que o filho seja advogado. Eles pretendem mudar de casa este ano.

Não te esqueças de que o Pedro faz anos amanhã. Não te esqueças de passar pela farmácia.

A ideia de que ele possa estar a adoecer aflige-me. Agrada-me a ideia de passar férias com elas.

Ela está certa de que não se enganou. Estamos todos desejosos de conhecer a casa nova do Rui.

Quadro 4 | Funções desempenhadas pelas orações subordinadas substantivas completivas.

As interrogativas indiretas são um tipo particular de orações subordinadas substantivas completivas, que ocorrem como complemento de verbos como perguntar, ignorar, saber.

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Estas orações interrogativas são sintaticamente dependentes; correspondem a perguntas, mas não podem surgir isoladas. As interrogativas indiretas podem ser: • parciais — contêm uma palavra interrogativa (que, quem, quanto, onde, ...) que encabeça a subordinada: A Ana pergunta quem vai com ela às compras. Perguntaram-me quantos anos tinha. • totais — são introduzidas pela conjunção se e não contêm nenhum elemento interrogativo: O Rui pergunta se quer um gato. Não sei se a Joana vem hoje.

Orações subordinadas substantivas relativas

ler Mais

As orações subordinadas substantivas relativas são introduzidas por um pronome relativo (quem, o que, onde, quanto)) sem antecedente (palavra ou expressão que fixa a referência do pronome relativo). Estas orações podem ser finitas ou não finitas e podem ocorrer nos mesmos contextos em que ocorrem constituintes que desempenham as seguintes funções sintáticas: • Sujeito: Quem te avisa teu amigo é. • Complemento direto: Já sei quem me resolverá o problema. • Complemento indireto: Dei os contactos a quem mos pediu. • Complemento oblíquo: Esqueci-me de quem me deu a informação. • Modificador do grupo verbal: Ele trabalha onde quer.

orações subordinadas adjetivas relativas As orações subordinadas adjetivas relativas são introduzidas por um pronome relativo associado a um antecedente. Comprei o livro de que me falaste. A intervenção que acabámos de ouvir foi muito interessante. O Pedro, que já tinha um carro, comprou outro.

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CAPÍTULO 5

Sintaxe

Nestas orações, a interpretação do pronome relativo é fixada pelo grupo nominal que lhe serve de antecedente. Antecedente Oração adjetiva relativa que mia toda a noite

um gato

«que» = «um gato» O pronome relativo está associado a uma função sintática dentro da oração subordinada adjetiva relativa. Antecedente

Oração adjetiva relativa

um gato

que mia toda a noite Suj

Antecedente

Oração adjetiva relativa

uma pessoa

que todos conhecem

C. Dir Antecedente

Oração adjetiva relativa

a amiga

a quem dei uma prenda de Natal C. Ind

Antecedente Oração adjetiva relativa o livro

de que me falaste C. Obl

Orações subordinadas adjetivas relativas restritivas As orações subordinadas adjetivas relativas restritivas têm a função de modificador do grupo nominal. Esta função de modificador é partilhada com os grupos adjetivais e preposicionais.

Ela tem um gato

que mia toda a noite. branco. (grupo adjetival) de olhos verdes. (grupo preposicional)

Semanticamente, as orações subordinadas adjetivas relativas restritivas limitam (restringem) a denotação do grupo nominal antecedente.

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Estas orações podem ocorrer com o verbo no modo indicativo ou no modo conjuntivo. O modo em que a relativa ocorre afeta a interpretação do grupo nominal antecedente. • Indicativo — O modo indicativo induz a leitura específica do grupo nominal antecedente: Procuro um cão que tem manchas brancas no focinho. Neste exemplo, o grupo nominal um cão refere-se a um cão particular de cuja existência estamos certos. A leitura específica do antecedente permite que este contenha determinantes definidos ou demonstrativos: Quero o pacote que tem um brinde. Vou levar aquele livro que me recomendou. • Conjuntivo — Nas orações subordinadas adjetivas relativas restritivas no conjuntivo, o antecedente é interpretado como não específico: Procuro uma casa que tenha vista para o rio. Numa frase como esta, não se refere nenhuma casa específica, nem sequer se pode assegurar a existência de tal entidade; o que se faz é enunciar uma propriedade que um dado objeto deve satisfazer para corresponder à descrição. A leitura não específica do antecedente bloqueia a possibilidade de este ser determinado por artigos definidos ou por demonstrativos: *Procuro a casa que tenha vista para o rio. *Procuro aquela casa que tenha vista para o rio.

Orações subordinadas adjetivas relativas explicativas Sintaticamente, as orações subordinadas adjetivas relativas explicativas são modificadores apositivos; por isso, também se podem denominar relativas apositivas. Estas orações são limitadas por pausas, que na escrita são assinaladas por sinais gráficos (em geral por um par de vírgulas, mas também por travessões ou parênteses): Os nossos amigos, que já tinham jantado, foram-se embora. O João, que tinha chegado na véspera, quis ir logo à praia.

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CAPÍTULO 5

Sintaxe

saber Mais

orações subordinadas adverbiais As orações subordinadas adverbiais ocorrem predominantemente como modificadores. Tradicionalmente, classificam-se como adverbiais não só as subordinadas que expressam valores adverbiais (como tempo, modo, lugar) mas também outras subordinadas que não têm propriamente um valor adverbial, como as comparativas e as consecutivas. Excetuando as comparativas e as consecutivas, as orações subordinadas adverbiais apresentam grande mobilidade na frase. Quando antecedem a oração subordinante ou quando aparecem intercaladas, devem ser separadas por vírgulas: O Ivo não encontrou a irmã quando chegou a casa. Quando chegou a casa, o Ivo não encontrou a irmã. O Ivo, quando chegou a casa, não encontrou a irmã.

Orações subordinadas adverbiais causais As orações subordinadas adverbiais causais exprimem uma relação de causalidade entre a oração contida na subordinada (a causa) e a oração subordinante (a consequência). As flores murcharam porque a Vera não as regou. Consequência

Causa

Estas orações são introduzidas pelas seguintes conjunções e locuções conjuncionais: porque, pois, como, pois que, visto que, etc. As orações subordinadas adverbiais causais podem ser finitas (1) ou não finitas (2). (1) O motor gripou porque ficou sem óleo. (2) A Sara perdeu o comboio por se ter atrasado.

Orações subordinadas adverbiais finais As orações subordinadas adverbias finais expressam a finalidade ou o objetivo que levou ao estado de coisas descrito na oração subordinante. São introduzidas pelas seguintes conjunções e locuções conjuncionais: para, para que, a fim de que, porque, etc. Tal como as subordinadas adverbiais causais, também se dividem em finitas (1) e não finitas (2). (1) Telefono-te de manhã para que não percas o comboio. (2) Telefono-te de manhã para não perderes o comboio. 182

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Orações subordinadas adverbiais temporais As orações subordinadas adverbiais temporais são equivalentes a advérbios de tempo: O trânsito ficou um caos quando choveu. (oração sub. temporal) O trânsito ficou um caos ontem. (advérbio de tempo) Estas orações são introduzidas por uma conjunção temporal ou por uma locução conjuncional temporal: CON eCTOReS TeMPOR aIS Conjunções

quando, apenas, mal, que, enquanto, …

Locuções conjuncionais

antes que, depois que, até que, sempre que, desde que, …

Quadro 5 | Conjunções e locuções conjuncionais temporais.

A relação entre o tempo da oração subordinada e o tempo da oração subordinante pode assumir vários valores: ReL açõe S

e xeMPLOS

Anterioridade

Mal acabem os exames, vou de férias.

Posterioridade

Quando quis falar com ele, já tinha saído.

Simultaneidade

Não me interrompas enquanto estudo.

Quadro 6 | Relações temporais.

Orações subordinadas adverbiais concessivas As orações subordinadas adverbiais concessivas expressam um facto contrário ao estado de coisas expresso na oração subordinante. Estas orações são introduzidas pelas seguintes conjunções e locuções conjuncionais: ainda que, apesar de, mesmo que, embora, posto que, nem que, etc. As orações concessivas podem ser factuais, hipotéticas ou contrafactuais. Orações concessivas factuais Nas orações concessivas factuais, a situação descrita na oração subordinante é considerada inesperada, tendo em conta o estado de coisas descrito na subordinada: Dou-te os parabéns, embora esteja magoada contigo. Tenho apetite, apesar de ter muita febre. Gosto de ti, ainda que te tenhas portado mal. 183

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CAPÍTULO 5

Sintaxe

Orações concessivas hipotéticas No caso das orações concessivas hipotéticas, a oração subordinante descreve uma situação futura que se verificará mesmo no caso de ocorrer o estado de coisas expresso pela subordinada: Mesmo que tu não queiras, vou mudar de curso. Ainda que tentes, não vais conseguir dissuadir-me. Mesmo que eles comprem um carro novo, não vão vender o velho.

Orações concessivas contrafactuais As orações concessivas contrafactuais expressam uma situação em que o estado de coisas expresso pela oração subordinante não teria ocorrido mesmo que se tivessem verificado as condições descritas na oração subordinada: Mesmo que ela o tivesse avisado, o Zé não teria conseguido chegar a tempo. Desta vez ele não perdia, mesmo que o Gil tivesse ido ao torneio. Mesmo que eu não tivesse estado doente, não teria ido à praia.

Orações subordinadas adverbiais condicionais As orações subordinadas adverbiais condicionais expressam uma condição da qual depende o estado de coisas descrito na oração subordinante. A oração subordinada é muitas vezes designada como o termo antecedente da relação, e a subordinante, como o termo consequente. Estas orações são introduzidas pelas seguintes conjunções e locuções conjuncionais: se, contanto que, salvo se, sem que, desde que, caso, etc. Os vários tipos de orações condicionais, apresentados a seguir, correspondem ao grau de realidade dos factos descritos. Orações condicionais factuais As orações condicionais factuais expressam uma relação que ocorre de facto entre uma condição e um estado de coisas: Se uma figura tiver quatro lados, (então) é um quadrilátero. Se tiveres um resultado negativo, não és selecionada. Se o resultado do teste de gravidez for positivo, estás grávida. 184

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Orações condicionais hipotéticas As orações condicionais hipotéticas expressam a relação entre uma condição e um estado de coisas que pode ou não vir a ocorrer: Traz-me o jornal, se fores à rua. Caso tenhas sumo, traz-me um copo. Se fores à mercearia, compra um litro de leite.

Orações condicionais contrafactuais As orações condicionais contrafactuais expressam uma relação entre a condição e o seu consequente que não corresponde a um estado de coisas real: Se tivesse estudado, teria tido boa nota. Se tivesses chegado a horas, terias entrado no concurso. Se elas tivessem ido ao cinema, teriam gostado do filme.

Orações subordinadas adverbiais comparativas As orações subordinadas adverbiais comparativas estabelecem uma comparação entre dois termos através de um elemento conjuncional: A Ana demora mais a fazer uma sopa do que a tua irmã a cozinhar um jantar completo. O primeiro termo da comparação contém normalmente um advérbio de quantidade (mais, menos) ou um adjetivo no grau comparativo (maior, menor, melhor, pior). O segundo termo é introduzido por uma das seguintes conjunções ou locuções conjuncionais: que, do que (antecedidas por mais, menos, maior, menor, melhor ou pior), quanto (antecedida por tanto), como, assim como, etc. PRIMeI RO TeRMO Da COMPaR açÃO

Se GU N DO TeRMO Da COMPaR açÃO

A Isabel fala inglês melhor

do que tu.

Os números falavam mais

do que as palavras.

Apareceu

como se viesse de outro planeta.

Tem tantos milhões

como peixes há no mar.

Quadro 7 | Termos comparados nas orações subordinadas adverbiais comparativas.

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CAPÍTULO 5

Sintaxe

As construções comparativas permitem expressar vários graus: GR aUS

CONj U NçõeS

e xeMPLOS

Comparativo de igualdade

tanto... como; o mesmo... que

O teu primo é tão alto como tu. Ele tem a mesma altura que tu.

Comparativo de superioridade

mais... do que/que

Tenho mais cromos do que tu.

Comparativo de inferioridade

menos... do que/ que

A Luísa tem menos rugas do que tu.

Quadro 8 | Graus expressos pelas orações subordinadas comparativas.

Orações subordinadas adverbiais consecutivas As orações subordinadas adverbiais consecutivas expressam uma consequência de uma propriedade, de uma circunstância ou de um acontecimento referidos na oração subordinante. São introduzidas pelas seguintes conjunções e locuções conjuncionais: que (antecedida por tal, tanto, tão), de forma que, de maneira que, de modo que, etc.: Estava tanto calor que o chão queimava. Ele gritou de tal modo que ficou sem voz. A terra era tão seca que não se conseguia cultivar nada. Estava muito cansado, de modo que resolvi procurar abrigo. Em alguns casos, as orações consecutivas podem exprimir grau. É o que se verifica quando indicam a consequência do grau em que se encontra um determinado facto apresentado na subordinante: Estou tão cheia que já não consigo comer sobremesa. Ele é tão perspicaz que resolveu o problema sozinho. Tal como as orações subordinadas adverbiais comparativas, as orações consecutivas não apresentam mobilidade na frase: Estava tão escuro que não se via nada. *Que não se via nada estava tão escuro. Estas orações podem também ser não finitas: A Sofia gostou da cidade a ponto de lá comprar uma casa.

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Análise de frases complexas: procedimento Para analisar uma frase complexa, deve proceder-se da seguinte forma: 1. Localizar os diferentes grupos verbais. 2. Determinar o sujeito e os complementos de cada verbo para delimitar as respetivas orações. 3. Observar a relação sintática entre as orações: — se as orações forem sintaticamente independentes, estamos perante um caso de coordenação; — se uma das orações depende sintaticamente da outra, trata-se de orações compostas por subordinação. 4. Nas orações ligadas por coordenação, se não existir nenhuma conjunção a ligá-las, estamos perante um caso de coordenação assindética. 5. Nas orações coordenadas, deve observar-se a natureza da conjunção coordenativa: — se a conjunção for copulativa, a frase é composta por coordenação copulativa; — se a conjunção for adversativa, a frase é composta por coordenação adversativa; — se a conjunção for disjuntiva, a frase é composta por coordenação disjuntiva; — se a conjunção for conclusiva, a frase é composta por coordenação conclusiva; — se a conjunção for explicativa, a frase é composta por coordenação explicativa. 6. Nas orações formadas por subordinação, deve observar-se a relação entre a oração subordinada e a oração subordinante: — se a oração subordinada tiver a distribuição típica dos grupos nominais, é uma oração subordinada substantiva completiva; — se a oração subordinada se comportar como um grupo adjetival, é uma oração subordinada adjetiva relativa; — se a oração subordinada tiver a distribuição característica dos advérbios, é uma oração subordinada adverbial. 7. As orações subordinadas substantivas completivas podem funcionar como sujeito da oração subordinante ou como complemento de um verbo, de um nome ou de um adjetivo. O verbo destas frases pode ocorrer num tempo finito ou no infinitivo. 8. As orações adjetivas relativas podem ser restritivas ou explicativas. 9. Se se tratar de uma oração subordinada adverbial, determinamos a sua classe tendo em conta o tipo de relação com a oração subordinante. Estas orações podem expressar uma causa, um fim, uma circunstância temporal ou ter um valor comparativo, concessivo ou consecutivo.

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CAPÍTULO 5

Sintaxe

5.4 proCessos siNTÁTiCos 5.4.1 Concordância ler Mais

Denomina-se concordância a partilha de traços flexionais de género, número e pessoa entre duas ou mais palavras que se encontram numa dada expressão ou oração, de tal modo que a variação no género, no número e na pessoa de uma delas obriga à alteração do traço correspondente na outra. O menino é moreno. (masculino singular) As meninas são morenas. (feminino plural) A locutora falava depressa. (3.ª pessoa do singular) Os locutores falavam depressa. (3.ª pessoa do plural) A concordância é obrigatória nos seguintes contextos: • entre sujeito e verbo flexionado (ex.: Nós fomos às compras.); • entre determinante e nome (ex.: um aluno); • entre quantificador e nome (ex.: muitas pessoas); • entre nome e adjetivo (ex.: homem honesto); • entre sujeito e predicativo do sujeito (ex.: Ele ficou satisfeito.); • entre complemento direto e predicativo do complemento direto (ex.: Considero-a bonita.) • entre sujeito e particípio passado em construções passivas (ex.: Os bolos foram comidos.).

saber Mais

Concordância verbal Relação de concordância entre sujeito e verbo O sujeito concorda em pessoa e número com o verbo que é o núcleo do grupo verbal da oração a que ambos pertencem.

Eles deram uma prenda ao pai. Suj

V

O biólogo afirmou que os golfinhos do Sado estão em extinção. Suj

V

Suj

V

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No caso de o verbo ocorrer num tempo composto, a concordância estabelece-se com o verbo auxiliar.

Elas tinham visto o filme na televisão. Suj V. Aux

V

Uma vez que os traços de pessoa e número presentes no verbo são partilhados com o sujeito, a forma verbal permite identificar os traços gramaticais dos sujeitos nulos. Subimos à serra em duas horas. Suj

V

(1.ª pessoa do plural) Dado que a concordância com o verbo é obrigatória em português, podemos usá-la como critério para identificar o sujeito da frase. Na frase O leão caçou a gazela, o constituinte o leão é o sujeito, visto que é ele que concorda com o verbo: Os leões caçaram a gazela. *O leão caçaram a gazela. *O leão caçaste a gazela. *O leão caçaram a gazela.; *O leão caçaste a gazela.; Os leões caçaram a gazela.; O leão caçou as gazelas.

Casos particulares de concordância A concordância estabelece-se sempre entre o verbo e o núcleo do grupo com função de sujeito, independentemente dos valores de pessoa e número de outras expressões nominais que possam nele ocorrer:

saber Mais

A solução é boa. A solução destes problemas é boa. No caso de grupos contendo expressões quantitativas, como a maioria de, um terço de,, etc., a perceção dos falantes sobre o que constitui o núcleo do grupo com função de sujeito não é uniforme. Assim, alguns falantes fazem a concordância com a expressão quantitativa — 3.ª pessoa, singular (1) — e outros com o núcleo nominal (2). (1) A maioria dos estudantes vive em casa dos pais. (2) A maioria dos estudantes vivem em casa dos pais. 189

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CAPÍTULO 5

Sintaxe

Concordância com um sujeito composto São frequentes as frases que têm um sujeito composto. Nestes casos, o sujeito é sempre plural e o verbo ocorre, portanto, numa forma do plural: O Pedro e o João saíram para a escola. CONCORDÂNCIa COM UM SUj eITO COMPOSTO Contextos

Exemplos

Se o sujeito contiver um pronome da 1.ª pessoa, o verbo ocorre na 1.ª pessoa do plural.

Tu e eu levamos a Rita a casa. Ele e eu viemos ontem. O Pedro e eu vamos escalar nos Alpes.

Na maior parte das variedades do português, a 2.ª pessoa do plural vós caiu em desuso, tendo sido substituída pela forma você, que é uma 3.ª pessoa. Por isso, o sujeito composto com uma forma de 2.ª pessoa desencadeia a concordância na 3.ª pessoa do plural.

Tu e tu vão arrumar a sala. Tu e o Rui verão o que lhes acontece. Você e ela têm muito em comum.

Se os membros do sujeito composto forem da 3.ª pessoa, o verbo ocorre na 3.ª pessoa do plural.

O Pedro e o Zé foram às compras. Ele e a Sandra montaram um negócio.

Quadro 9 | Concordância com um sujeito composto.

Concordância com o sujeito você A forma de tratamento de segunda pessoa você é formalmente uma terceira pessoa. Por isso, é na terceira pessoa que ocorre o verbo em frases com este sujeito: Você vai de férias? Quero que vocês mudem já de roupa. Concordância com sujeitos coletivos Os nomes coletivos singulares denotam uma pluralidade de seres ou objetos, mas têm forma de singular. Como tal, é este valor gramatical que a concordância manifesta: O rebanho foi inspecionado pelo veterinário. Esta biblioteca possui dez mil obras. Quando os coletivos ocorrem no plural, o verbo também ocorre no plural: Os rebanhos desciam da montanha no outono. 190

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Concordância com sujeitos oracionais As orações com função de sujeito são constituintes da terceira pessoa do singular, e a forma dos verbos ocorre, portanto, nesta pessoa e neste número: Agrada-me que venhas cá. Convém que todos fiquem calados.

Concordância nominal No interior do grupo nominal, estabelecem-se relações de concordância de género e número entre os seguintes elementos: • Determinante — Nome O determinante deve concordar com o nome em género e em número: o rapaz/a rapariga/os rapazes/as raparigas o leão/a leoa/os leões/as leoas Se o nome for uniforme, é o determinante que define o género e o número: o atleta/a atleta o lápis/os lápis • Quantificador — Nome Os quantificadores também concordam com o nome em género e em número: muitos alunos/muitas alunas nenhum cidadão/nenhuma cidadã • Nome — Adjetivo O adjetivo tem de concordar com o nome em género e em número: rapaz alto/rapariga alta/rapazes altos gato branco/gata branca/gatos brancos Se o adjetivo não permitir variação em género, concorda apenas em número: homem elegante/mulher elegante animal veloz/animais velozes 191

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CAPÍTULO 5

Sintaxe

5.4.2 Frases ativas e frases passivas Frases ativas As frases ativas são frases em que o sujeito corresponde ao agente (entidade que controla a ação). O verbo principal das frases ativas pode ocorrer num tempo simples ou composto: O Rui escreveu uma carta ao pai. Pretérito perfeito do indicativo

Eles tinham ido ao cinema ontem. Pretérito mais-que-perfeito composto

O Alberto conhece um restaurante muito barato. Presente do indicativo

ler Mais

Frases passivas Nas frases passivas, o verbo principal ocorre na forma de particípio, acompanhado por uma forma do auxiliar ser (estas construções são, por vezes, denominadas passivas sintáticas). O sujeito da frase passiva é interpretado como a entidade que sofre a ação expressa pelo verbo e o constituinte preposicional com a função de complemento agente da passiva expressa o agente dessa ação: Suj

Pred

Os atletas foram recebidos pelo presidente. V. Aux

V

C. A. Pas

Quando o verbo tem duas formas de particípio (como soltado/solto e matado/morto), é normalmente a forma forte, ou não regular, que ocorre na passiva: O suspeito foi solto pelo juiz. *O suspeito foi soltado pelo juiz. O indivído foi morto pelo tubarão. *O indivíduo foi matado pelo tubarão.

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O agente nas frases passivas é expresso através de um grupo preposicional introduzido pela preposição por (1), mas as frases passivas sem agente expresso são muito frequentes (2 e 3): (1) A sopa foi feita pela Ana. (2) Estas casas foram vendidas. (3) A proposta da oposição não foi aprovada.

Relação entre frases ativas e frases passivas Uma frase ativa pode ser transformada numa frase passiva através das seguintes alterações: • A forma verbal ativa é substituída pela forma passiva correspondente de particípio passado e o auxiliar ser ocorre no tempo verbal da forma ativa. • O sujeito passa a complemento agente da passiva. • O complemento direto passa a sujeito da frase passiva. A polícia vedou a zona. Suj

V

C. Dir

A zona foi vedada pela polícia. Suj

V

C. A. Pas

O Duarte vendeu o carro. Suj

V

C. Dir

O carro foi vendido pelo Duarte. Suj

V

C. A. Pas

Passivas de -se Além das passivas formadas por um particípio verbal e pelo auxiliar ser, existe na língua portuguesa um outro tipo de passivas: as passivas de -se. Estes tijolos usavam-se para fazer muros. Estas casas construíram-se depressa. Tal como nas passivas sintáticas, também aqui o sujeito corresponde ao complemento direto da forma ativa. 193

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CAPÍTULO 5

Sintaxe

Estas passivas, chamadas passivas de -se ou passivas reflexas, caracterizam-se pelas seguintes propriedades: • O verbo ocorre numa forma flexionada. • Não é possível expressar o agente (*Convocaram-se os sócios para o debate pelo presidente). • O sujeito é obrigatoriamente uma terceira pessoa. • A construção contém sempre a forma do clítico pronominal -se. Suj

Pred

Estes casacos usavam-se no ano passado. V + -se As frases com verbos transitivos em que ocorre o clítico -se na terceira pessoa do singular são ambíguas, podendo ser interpretadas quer como frases passivas quer como frases impessoais: Inventou-se um novo método para extrair petróleo. = Foi inventado um novo método para extrair petróleo. = Alguém inventou um novo método para extrair petróleo. As frases com verbos intransitivos não podem ser transformadas em passivas, pelo que são sempre impessoais: Aqui vive-se bem. As frases com sujeito no plural são sempre passivas: Neste terreno cultivam-se beterrabas.

5.4.3 elipse A elipse é um processo em que uma expressão é omitida/apagada na frase porque a sua interpretação pode ser recuperada pelo contexto linguístico ou pela situação de comunicação. O João quer um bolo e a Maria (quer) um gelado. A Ana comprou dois livros e a prima (comprou) dez (livros). As elipses ocorrem em certos contextos sintáticos, como nas respostas a perguntas. Por exemplo, num par pergunta-resposta como Viste a Rita? Vi., a resposta é interpretada como Vi a Rita. 194

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F I C H A D E AT I V I DA D E S | 1 4

C O N S T I T U I N T E S DA F R A S E

1. Classifique as afirmações como verdadeiras (V) ou falsas (F). A — Os grupos são estruturas que possuem obrigatoriamente um núcleo. B — Na frase A filha do João começou hoje a escola, a sequência A filha constitui um grupo nominal. C — Um grupo preposicional pode não integrar um complemento. D — Na frase A Joana dança bem, o grupo verbal é constituído pela sequência dança bem. E — No interior de um grupo adjetival, é possível ocorrer uma oração. F — Um grupo adverbial só pode integrar um advérbio. 2. Identifique nas frases abaixo os grupos sublinhados. a) A Mariana leu um livro à filha. — b) O aluno respondeu rapidamente. — c) Liguei ao Manuel após o jantar. — d) Achei o filme fantástico. — e) A aluna leu o livro recomendado. — f) O Pedro lutou contra o fracasso. — g) Gostei bastante da casa nova. — h) Nós comprámos um carro. — i) Chegaram ontem à noite. — j) Os cientistas descobriram a cura. — k) Por te teres atrasado, já não veremos o início do filme. — 3. Complete as frases com os constituintes indicados. a)

(grupo nominal)

b) O António

ao teatro.

(grupo adverbial)

.

(grupo verbal)

c)

(grupo nominal)

d) Um homem e)

foi

(grupo nominal)

f) Partiram g) Eles consideram-se

estudou

(grupo preposicional)

(grupo adjetival) comprou uma casa

(grupo adverbial) (grupo adjetival)

.

ofereceu-me flores.

(grupo adjetival)

.

para o aeroporto. .

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CAPÍTULO 5

Sintaxe

F I C H A D E AT I V I DA D E S | 1 5

F U N Ç Õ E S S I N TÁT I C A S I

1. Atente nas frases seguintes e identifique o tipo de sujeito nelas presente, selecionando a opção correta. 1. Sujeito simples 2. Sujeito composto

3. Sujeito nulo expletivo 4. Sujeito nulo indeterminado

5. Sujeito nulo subentendido

A — Dizem que o filme Avatar é fantástico. B — Os alunos e os professores participaram numa visita de estudo a Coimbra. C — Trovejou intensamente esta noite. D — A Joana acabou de ler um livro excelente. E — Vamos de férias assim que o verão começar! F — Eles pensam que ganharão o concurso facilmente. G — Nunca telefonas a avisar que chegas tarde! H — A Ana e quem tu sabes vêm à festa. I — Pensa-se que será um ano difícil… J — Não nevava assim há anos! K — Parece que ele já não vem. L — Vive-se bem em Lisboa. 2. Em cada grupo de frases que se segue, existe uma cujo sujeito é diferente dos restantes. Assinale as frases intrusas e identifique o tipo de sujeito predominante de cada grupo. a) 1. Diz-se que este ano ela vai ganhar o óscar. 2. Vou às compras. 3. Conversa-se muito, mas acerta-se pouco. 4. Comenta-se que foste de férias. Sujeito b) 1. Choveu a semana inteira. 2. Este ano nevou imenso na serra da Estrela. 3. Ouvi dizer que vai ficar mau tempo. 4. Ontem trovejou. Sujeito c) 1. Ele foi passear. 2. Vou ao centro comercial ver as novidades da nova estação. 3. Comprei um livro de banda desenhada. 4. Fazemos hoje um bolo? Sujeito

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3. Identifique os elementos que fazem parte do predicado de cada uma das frases seguintes e complete o quadro. a) Os jogadores obedecem ao árbitro.

f) Os alunos parecem apreensivos…

b) O avião está atrasado.

g) O ilusionista fez um truque fantástico!

c) A Marisa ofereceu um livro à mãe.

h) A juíza considerou o réu culpado.

d) Eles tomaram o Carlos por parvo.

i) Acho que deves fugir.

e) O médico pratica natação.

j) Começou o espetáculo!

Sujeito a) b) c) d) e) f) g) h) i) j)

Núcleo

Os jogadores O avião A Marisa Eles O médico Os alunos O ilusionista A juíza (Subentendido) o espetáculo

Predicado Complemento Predicativo Predicativo do do sujeito complemento direto Direto Indireto

4. Classifique os verbos das frases abaixo numa das categorias que se seguem. 1. Verbo transitivo direto 2. Verbo transitivo indireto

3. Verbo transitivo direto e indireto 4. Verbo intransitivo

a) Cheguei! b) Telefonei à Marta. c) O quadro caiu. d) Resolvi a questão. e) Ele jantou. f) A Alexandra vendeu a carrinha na semana passada. g) Entreguei os apontamentos ao Paulo. h) Ele jantou peixe. i) Nós obedecemos às regras! j) A empresa reabriu em agosto. k) Esta bicicleta pertence à Filipa. l) O meu primo Rogério emprestou-te o carro? 197

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CAPÍTULO 5

Sintaxe

F I C H A D E AT I V I DA D E S | 1 6

F U N Ç Õ E S S I N TÁT I C A S I I

1. Identifique a função sintática dos constituintes destacados nas frases seguintes. a) A minha mãe ofereceu-lhe um perfume. — b) O ator foi entrevistado pelo jornalista. — c) O Rui gosta de futebol. — d) Nomearam-no capitão de equipa. — e) Os amigos do capitão leram o diário de bordo. — f) Eles continuam zangados um com o outro. — g) Os meus pais viajaram ontem. — h) A Joana leu o livro que a amiga lhe deu. — i) Os amigos achavam-na extremamente competente. — j) O Manuel foi ao Brasil. — k) Já assinou os documentos, senhor diretor? — 2. Selecione, em cada conjunto de frases apresentadas nas alíneas abaixo, aquela cujo constituinte destacado não desempenha a função sintática indicada. a) Complemento direto

1. A Marlene vendeu o barco na semana passada.

2. Os velejadores perderam a regata. 3. O nadador-salvador atirou a boia ao náufrago. 4. As focas comem peixe. b) Complemento oblíquo

1. Não te aconselho a fugir. 2. Ele bateu ao irmão. 3. Gosto de passear. 4. Duvido disso.

c) Complemento agente da passiva 1. O Brasil foi descoberto por Pedro Álvares Cabral. 2. O Pedro anseia pelo teu regresso. 3. O barco foi desviado da rota pelo vento. 4. Os papéis foram organizados pela secretária. d) Predicativo do complemento direto 1. A Ana continua na mesma empresa. 2. Os padrinhos estimavam-no como filho. 3. O juiz considerou-o inocente. 4. Os vizinhos tinham-no por caloteiro. 198

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3. Atente nas frases que se seguem e, depois, classifique as afirmações abaixo como verdadeiras (V) ou falsas (F). 1 — Vestiste a tua camisola lilás. 2 — D. Maria I, a Piedosa, foi a primeira rainha reinante de Portugal. 3 — A minha mãe, que está de férias, vai para o Algarve amanhã. 4 — A ideia da Joana é interessante. 5 — O meu irmão mais novo magoou-se. 6 — Não te esqueças de trazer leite, Miguel. A — Na frase 1, o constituinte destacado desempenha a função sintática de modificador restritivo do nome. B — Na frase 2, o constituinte destacado é um complemento do nome. C — Na frase 3, o constituinte destacado é um modificador restritivo do nome. D — Na frase 4, o constituinte destacado desempenha a função sintática de complemento do nome. E — Na frase 5, o constituinte destacado é um modificador explicativo do nome. F — Na frase 6, o constituinte destacado desempenha a função sintática de vocativo. 3.1 Corrija as afirmações que assinalou com falsas. 4. Em cada par de frases (retiradas da obra Aliás voltas sempre, Ali às voltas sempre, de Ana Goês), assinale aquela em que existe um constituinte com a função de vocativo. a) 1. Anda, Luzia, quero vê-la… 2. Andaluzia, quero vê-la… b) 1. Vinde, táxi, depressa! 2. Vim de táxi, depressa… c) 1. Não é Regina! 2. Não erre, Gina! d) 1. Glória, adeus! 2. Glória a Deus! 5. Reescreva as frases em discurso direto, de modo a usar o vocativo. Siga o exemplo. A Amélia avisou a Raquel para ter cuidado com o cão. — Raquel, cuidado com o cão! a) O Pedro chamou o Paulo para vir ter com ele. b) A Sofia disse ao Mário que ele era preguiçoso. c) O professor pediu à Carolina para ir ao quadro. d) A mãe perguntou ao filho se trazia trabalhos de casa. 199

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CAPÍTULO 5

Sintaxe

F I C H A D E AT I V I DA D E S | 1 7

FRASES SIMPLES E FRASES COMPLEXAS

1. Classifique as frases seguintes como simples (S) ou complexas (C). a) Os ingleses desenvolveram o futebol. b) A Pietà foi esculpida por Miguel Ângelo e a Mona Lisa foi pintada por Leonardo Da Vinci. c) A roda foi uma das invenções mais geniais de todos os tempos. d) A viagem à Lua foi um grande passo para a Humanidade. e) A informática é excelente, porque nos facilita muito a vida. f) A música e a dança são artes espetaculares. g) O Concorde deixou de atravessar os ares, mas serão criados outros aviões igualmente rápidos. 2. Identifique o processo de coordenação e o conector presente em cada uma das frases apresentadas abaixo. a) A Ana não gosta de brócolos nem tolera espinafres. Coordenação — Conector — b) Quer saias quer fiques em casa, tens de arrumar o quarto! Coordenação — Conector — c) Chegas atrasado, logo, começamos a reunião sem ti. Coordenação — Conector — d) Vês televisão, mas não lês jornais! Coordenação —

Conector —

e) Precisamos de nos divertir, no entanto, não podemos exagerar! Coordenação — Conector — 3. Una cada par de frases simples estabelecendo o tipo de coordenação indicado e fazendo as alterações necessárias. Siga o exemplo.

e) Coordenação copulativa

Em 1998, José Saramago ganhou o Prémio Nobel da Literatura. Em 2010, Mário Vargas Llosa ganhou o Prémio Nobel da Literatura. José Saramago ganhou o Prémio Nobel da Literatura em 1998 e Mário Vargas Llosa, em 2010.

a) Coordenação adversativa

O Rafael comprou um jogo de computador. O Rafael não gostou do jogo.

b) Coordenação disjuntiva

A Beatriz fica em casa. A Beatriz vai à biblioteca.

c) Coordenação explicativa

Choveu. O chão está molhado.

d) Coordenação conclusiva

Sherlock Holmes desvendou muitos crimes. Sherlock Holmes era um bom detetive.

e) Coordenação copulativa

O cão adora o dono. O cão é um animal leal.

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4. Identifique, nas frases complexas, as orações subordinadas, classifique-as e indique o conector que as une. a) Quando chegaram, começaram logo a conversar. b) Se o António abrisse a porta, esperávamos lá dentro. c) O filme foi tão divertido que todos o apreciaram. d) Nada o aborrecia tanto como esperar por alguém. e) A Cristina tomou banho na piscina porque estava calor. 5. Considere a frase simples abaixo. Todos nós gostamos de ver as estrelas. 5.1 Transforme-a numa frase complexa acrescentando-lhe: a) uma oração subordinada temporal; b) uma oração subordinada causal; c) uma oração subordinada condicional; d) uma oração subordinada concessiva. 6. De entre as frases que se seguem, descubra duas orações relativas explicativas e duas orações relativas restritivas. 1 — Espero que faças os trabalhos de casa. 2 — O bebé que estava a chorar levou uma vacina. 3 — O escritor que ganhou o Prémio Camões é português. 4 — O prato, que está em cima da mesa, é antiquíssimo. 5 — A Ana, que é uma ótima cientista, foi para os EUA. 6 — Era bom que lhe desses uma explicação. 7. Construa frases complexas com a oração subordinada indicada. Siga o exemplo. O adepto que estava na primeira fila cumprimentou o jogador. oração relativa restritiva a) As pessoas b) Os surfistas c) O António

oração relativa restritiva oração relativa explicativa oração relativa explicativa

perderam o comboio. não puderam ir ao mar. ajudou-me muito.

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6 O L U CAPÍT

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Léx ico BulÁrIO A C O V E O C I 6.1 lÉX DO lÉX ICO O Ã Ç A V O N E OS E r 6.2 ArCAÍSm ICA 6.3 SEmÂNT

lEX ICAl

mAÇÃO r O F E D S E r OS IrrEGulA S S E C O r p .4 6 S DE pAlAVrA 19 | 20 | 21 | 8 1 | s e d AT i v i d A FicHAs de

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CAPÍTULO 6

Léxico

6.1 léxico e vocABUlÁrio saber mais

O léxico é o conjunto de todas as palavras ou constituintes morfológicos que pertencem a uma língua. Conhecer o léxico de uma língua é conhecer a forma das palavras, a classe a que perten‑ cem e as suas propriedades semânticas. Intuitivamente, a caracterização dos elementos lexicais é muito simples: qualquer falante do português é capaz de distinguir uma palavra nativa de uma palavra estrangeira; qualquer falante do português é capaz de usar e compreender palavras novas e, even‑ tualmente, criar novas palavras. No entanto, a análise do léxico revela‑se surpreendentemente complexa. Por um lado, quando se fala do léxico do português, tanto podemos estar a considerar todas as palavras da língua (incluindo arcaísmos que caíram em desuso há séculos) como apenas aquelas que são de uso corrente. Por outro lado, o léxico é a componente da língua em que a variação é mais ampla, quer consideremos as variedades geográ‑ ficas (como o português europeu e o português do Brasil) quer as variedades sociais e individuais. Variação le xical Português europeu

Português do Brasil

autocarro

ônibus

hospedeira

aeromoça

telemóvel

celular

Quadro 1 | Variação lexical entre o português europeu e o português do Brasil.

O vocabulário é o conjunto das palavras que ocorrem num contexto específico (conjunto de palavras de uma área do saber, de uma atividade, de um grupo social, de um falante, etc.). No que respeita ao vocabulário de um falante, é costume dis‑ tinguir vocabulário ativo de vocabulário passivo. O vocabulário ativo é o conjunto de palavras que cada falante realmente usa. A dimensão deste vocabulário depende de fatores socioculturais (profissão do falante, nível cultural, …), mas é sempre inferior à do vocabulário passivo. O vocabulário passivo é o conjunto de palavras que cada falante conhece mas não usa (alguns estudos apontam para que um falante médio adulto conheça entre 30 e 50 mil palavras). Os dicionários, os vocabulários, as enciclopédias e obras seme‑ lhantes registam listas de palavras que satisfazem certos critérios, como a frequência. Todavia, qualquer uma destas obras, por melhor que seja, nunca pode registar todas as palavras de uma língua (não regista, por exemplo, as palavras caídas em desuso nem as que são muito recentes, nem mesmo as que têm um uso muito restrito). 204

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6.2 ArcAísmos e renovAção do léxico Muitas palavras permaneceram no léxico do português ao longo dos séculos. Isso permite‑nos ler hoje um texto escrito há muito tempo (obviamente, quanto mais antigo for o texto, mais difícil será a sua leitura). No entanto, ao ler esses textos, podemos observar que certas palavras nos são familiares, enquanto outras são desconhecidas ou não fazem parte do nosso léxico ativo. Entre as primeiras estão, certamente, as palavras que têm um significado gramatical (como as preposições, conjunções, etc.). As segundas serão, na sua quase totalidade, verbos, adjetivos e nomes que, por uma razão ou por outra, caíram em desuso. Os arcaísmos são as palavras usadas em épocas passadas que, num dado momento, deixaram de fazer parte do léxico ativo dos falantes de uma língua: ca (porque); fiacre (tipo de carruagem); leda (alegre) Por outro lado, encontramos a todo o momento palavras de recente incorporação no léxico do português (como as palavras que designam novos objetos, novas práticas ou novos conceitos). A essas palavras dá‑se o nome de neologismos: bloguista, cibercomprador, infoliteracia Alguns neologismos, sobretudo termos técnicos e científicos, são criados a partir de elementos de origem grega ou latina: sis‑ mógrafo, telescópio, etc. Estes elementos podem combinar‑se uns com os outros (ex.: pluviómetro) ou combinar‑se com elementos portugueses (exs.: hipermercado, pluriemprego). form ação de n eologismos Elemento

Significado

Exemplo

agri­‑

campo

agricultura

ferro­‑

ferro

ferroviário

omni­‑

totalidade

omnipresente

­‑voro

que come

herbívoro

Quadro 2 | Elementos de origem latina que entram na formação de neologismos.

Outros neologismos são importações de outras línguas. Nesse caso, denominam‑se empréstimos (exs.: chat, call center)(1) . (1)

Sobre o conceito de empréstimo, ver o ponto 6.4.2., na página 212.

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CAPÍTULO 6

Léxico

6.3 semÂnTicA lexicAl A semântica lexical é a parte da gramática que se ocupa do estudo do significado das palavras e das relações que as palavras estabelecem entre si.

6.3.1 significação saber mais

signo linguístico, significado e significante Todas as línguas naturais (português, espanhol, mandarim, etc.) são formadas por signos que são produzidos oralmente ou por meio de gestos (línguas gestuais): os signos linguísticos. Estes signos são constituídos por um significado e por um significante e podem ter diferentes naturezas. O significado de um signo linguístico é o conceito que asso‑ ciamos na nossa mente a um significante concreto. Assim, qual‑ quer falante do português associa a sequência l‑á‑p‑i‑s ao conceito de «lápis» (instrumento de escrita sem tinta). O significado não é o objeto real, mas o conceito associado a uma sequência sonora ou gráfica. Por isso, quando ouvimos a forma lápis, podemos pen‑ sar num lápis de madeira, num lápis de carvão ou num lápis de cor. Mas, em qualquer caso, pensaremos sempre num instrumento de escrita que contém uma mina de grafite ou um material seme‑ lhante e que serve para escrever ou desenhar. O significante de um signo linguístico é a imagem mental da cadeia sonora ou gráfica de uma determinada palavra. Essa ima‑ gem permite que, por exemplo, possamos pensar em palavras sem as pronunciar. Línguas diferentes atribuem significantes distintos a signi‑ ficados que podem ser comuns. Assim, por exemplo, o conceito «ser humano adulto do sexo masculino» está em português associado ao significante homem, enquanto em francês está associado a homme e em inglês, a man. Este facto mostra que a relação entre significado e significante é arbitrária: os falan‑ tes de uma língua associam uma determinada cadeia sonora ou gráfica a um conceito, associação que foi estabelecida por razões históricas, mas que poderia ter sido fixada de forma diferente.

denotação e conotação A denotação de uma palavra ou expressão é o seu significado de base ou literal. A conotação corresponde aos significados não literais associados a uma palavra ou expressão, podendo designar valores ideológicos, emocionais, etc. Por exemplo, Natal, além de designar uma época do ano e um período da liturgia cristã (os valo‑ res denotativos), evoca para muita gente a ideia de paz, família, etc. 206

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(os valores conotativos). Quando o significado conotativo se torna predominante e veicula valores de natureza cultural ou ideológica, fala‑se de um estereótipo.. Os estereótipos transmitem frequen‑ temente apreciações discriminatórias ou depreciativas acerca de grupos étnicos, sociais ou culturais.

saber mais

monossemia, polissemia e homonímia Nas línguas naturais, regra geral, a uma palavra estão asso‑ ciados vários significados. No entanto, quando existe apenas um significado associado a uma palavra, diz‑se que esta é monossémica. Esta característica é rara e encontra‑se sobretudo em termos científicos. A palavra leucócito, por exemplo, é monossémica, uma vez que apenas significa «glóbulo branco do sangue». Quando uma palavra tem vários significados, diz‑se que é polissémica. Por exemplo, a palavra serra significa, entre outras coisas, «extensão de montanhas ligadas umas às outras» e «ins‑ trumento para serrar». Os vários significados de uma mesma pala‑ vra denominam‑se aceções. Em regra, esses significados mantêm entre si alguma afinidade semântica. A maior parte das palavras é polissémica e, para as interpre‑ tar, é necessário ter em conta o contexto em que ocorrem e a situa‑ ção em que são proferidas. As relações lexicais de polissemia distinguem‑se das de homonímia. As palavras polissémicas têm mais do que um signifi‑ cado. As palavras homónimas são palavras com a mesma forma (escrevem‑se e pronunciam‑se do mesmo modo), mas com ori‑ gem e com significados diferentes. Por exemplo, canto (forma do presente do indicativo do verbo cantar) e canto (nome, «esquina»). Nos dicionários, a polissemia e a homonímia são apresenta‑ das de forma distinta. As várias aceções de uma palavra polissé‑ mica aparecem na mesma entrada, assinaladas por um número.

saber mais

jarrão [Zå'{å‚ w‚]. s. m. (De jarra + suf. -ão). 1. Jarra grande, usada sobretudo como peça decorativa, ornamental. 2. Fam. Mulher que já não é jovem e que, num baile, fica sempre sentada, vendo os outros dançar. 3. Fam. Pessoa inativa, inútil. Pl. jarrões. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Academia das Ciências de Lisboa (adaptado).

As palavras homónimas têm entradas diferentes (por vezes, identificadas por números). bote1 ['bçtˆ]. s. m. (Do ingl. medieval bôt, hoje boat). 1. Embarcação pequena de boca larga, movida geralmente a remos, utilizada na navegação em rios, portos ou pesca costeira e na comunicação dos navios uns com os outros ou com a terra. 2. Embarcação de proa direita e proa elíptica, movida à vela e por vezes a motor, utilizada em algumas zonas na pesca do alto. 3. Pequeno pacote, especialmente de rapé. bote2 ['bçtˆ]. s. m. (Do prov. bot). 1. Golpe de arma branca. ≈ CUTILADA, ESTOCADA. 2. Ataque, investida; censura, recriminação. 3. Desfalque. 4. Acontecimento infeliz, desastroso; grande azar. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Academia das Ciências de Lisboa (adaptado).

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CAPÍTULO 6

Léxico

6.3.2 relações semânticas entre palavras Nesta secção, apresentam‑se os vários tipos de relações semânticas que se podem estabelecer entre palavras: relações de hierarquia (hiperonímia e hiponímia), relações de parte‑todo (holonímia e meronímia), relações de equivalência‑oposição (sino‑ nímia e antonímia) e relações de sentido (campo lexical e campo semântico).

Hiperonímia e hiponímia Os termos hiperonímia e hiponímia expressam relações de hierarquia ou de inclusão entre palavras. Algumas palavras formam séries hierarquizadas em que um dos termos designa uma classe (ex.: flor) e os outros, os seus tipos (exs.: cravo, rosa, lírio, dália, ...). Numa série de palavras, um hiperónimo designa a classe mais abrangente ou um termo que tem um significado genérico. Por exemplo, a palavra animal é um hiperónimo de gato, cão, cavalo, etc. Um hipónimo corresponde a uma subclasse numa série de palavras ou a um termo que tem um significado mais restrito. Por exemplo, a palavra gato é um hipónimo de animal. H i P erÓn imo

H i PÓn imos

embarcação

bote,­fragata,­traineira,­…

móvel

aparador,­cadeira,­mesa,­…

veículo

autocarro,­automóvel,­bicicleta,­…

ave

melro,­galinha,­corvo,­…

mamífero

gato,­cavalo,­golfinho,­…

Quadro 3 | Exemplos de hiperónimos e respetivos hipónimos.

Para verificar se um dado termo é hipónimo de outro, pode verificar‑se a possibilidade de aquele ocorrer numa frase como: x é um tipo de y; por exemplo: Um bote é um tipo de barco. Uma rosa é um tipo de flor. A substituição de um hipónimo por um hiperónimo permite evitar a repetição de palavras: A rosa é muito apreciada, mas esta flor requer alguns cuidados. 208

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Mas, atenção, a substituição de um hiperónimo por um hipó‑ nimo não é aceitável: *Ter um animal em casa pode ser problemático pois este cão precisa de muitos cuidados.

Holonímia e meronímia A relação de holonímia‑meronímia verifica‑se entre os ter‑ mos que designam uma entidade no seu todo (holónimos) e os que designam as suas partes (merónimos). Um termo é merónimo de outro se puder ocorrer numa frase como x é uma parte de y (em que x corresponde ao merónimo e y ao holónimo): A cabeça é uma parte do corpo. O teclado é uma parte do computador. HolÓn i mo

m erÓn imo

casa

porta,­janela,­telhado,­...

avião

porão,­asa,­fuselagem,­...

árvore

copa,­tronco,­ramo,­...

livro

capa,­lombada,­páginas,­...

cara

olhos,­nariz,­boca,­...

Quadro 4 | Exemplos de holónimos e respetivos merónimos.

sinonímia e antonímia tico:

Palavras sinónimas são palavras que têm um significado idên‑

mesclar — combinar coisas diferentes umas com as outras. misturar — combinar coisas diferentes umas com as outras. A relação de sinonímia pode ser definida usando o seguinte critério: duas palavras são sinónimas se, quando se substitui uma palavra por outra, no mesmo contexto, a interpretação do enun‑ ciado em que ocorrem não se altera: O Pedro é uma pessoa saudável. <‑‑‑‑> O Pedro é uma pessoa sã.

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CAPÍTULO 6

Léxico

A sinonímia pode ser total ou parcial. Na sinonímia total, os significados das palavras recobrem‑ ‑se totalmente. Os casos de sinonímia total são raros, já que esta implica que uma palavra possa ser substituída por outra em todos os contextos. Na sinonímia parcial, os significados das palavras recobrem‑ ‑se parcialmente. É o caso mais comum de sinonímia: as palavras são intersubstituíveis apenas em alguns contextos. Ti P o de s i nonímia

Total

e xemPlos O­recomeço­dos­trabalhos­está­ marcado­para­amanhã. O­reinício­dos­trabalhos­está­ marcado­para­amanhã. É­preciso­reduzir­esta­imagem.

Parcial

É­preciso­comprimir­esta­imagem. É­preciso­reduzir­o­sal. *É­preciso­comprimir­o­sal.

Quadro 5 | Sinonímia total e sinonímia parcial.

A escolha de uma forma ou de outra, de entre os sinóni‑ mos disponíveis na língua, é condicionada por fatores de uso. Por exemplo, as palavras cego e invisual são sinónimas, mas a segunda é considerada mais respeitadora e a primeira, discrimi‑ natória. As palavras antónimas expressam significados opostos, embora partilhem algumas propriedades semânticas que as rela‑ cionam, como, por exemplo, medo e coragem, alto e baixo. A antonímia pode corresponder a uma relação de oposição entre o significado de palavras não derivadas (alto/baixo; dentro/ fora) ou a uma relação de oposição associada à presença de um prefixo (fazer/desfazer; político/apolítico; apto/inapto). Os significados das palavras antónimas podem opor‑se total‑ mente (morto/vivo; ligado/desligado) ou parcialmente, correspon‑ dendo os antónimos aos pontos extremos de uma escala (frio/ quente — escala: frio/fresco/morno/quente).

campo lexical e campo semântico Quando se considera o conjunto de palavras de uma língua, observa‑se que algumas delas têm entre si afinidades de sentido. Por exemplo, as palavras pai, mãe, filho e nora têm em comum o facto de se referirem todas a relações de parentesco. A um con‑ junto de formas como estas, que partilham um mesmo campo conceptual, dá‑se o nome de campo lexical. 210

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Apresentam‑se nos quadros seguintes exemplos de campos lexicais (os exemplos dados são parciais; cada um dos campos uti‑ lizados como exemplo é, na realidade, formado por mais palavras). rel ações de ParenTesco mãe

pai

filho

avô

marido

tio

nora

primo

irmão

Quadro 6 | Campo lexical das relações de parentesco.

música maestro

piano

violinista

afinar

nota

cantar

compositor

tocar

orquestra

Quadro 7 | Campo lexical da música.

A expressão campo semântico é muitas vezes usada errada‑ mente como sinónimo de campo lexical, mas este conceito é mais vasto e abrangente. Dá‑se o nome de campo semântico ao conjunto dos diferen‑ tes significados que uma palavra pode assumir de acordo com o contexto em que ocorre. Por exemplo, a palavra coração, além de ser o «órgão central da circulação», pode também significar «sentimento», «afetivi‑ dade», «amor», «centro», «sinceridade». ca mPo sem ânTico

e xemPlos



Estive­toda­a­noite­a­pé. O­pé­é­uma­unidade­de­comprimento. A­cadeira­tem­o­pé­partido.

canto

O­árbitro­marcou­canto­contra­o­adversário. Aquele­pássaro­tem­um­canto­melodioso. Ela­ficou­a­olhar­pelo­canto­do­olho.

dente

Dói‑me­um­dente. Pique­um­dente­de­alho. Vamos­dar­ao­dente.

mão

Tenho­as­mãos­frias. Ele­comprou­um­carro­em­segunda­mão. Um­senhor­conduzia­fora­de­mão.

Quadro 8 | Campos semânticos.

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CAPÍTULO 6

Léxico

6.4 Processos irreGUlAres de FormAção de PAlAvrAs Na secção 3.3 (cf. página 91), descreveram‑se os vários pro‑ cessos morfológicos de formação de palavras. Nesta secção, serão abordados os processos não morfológicos de que o português dis‑ põe para formar novas palavras.

6.4.1 extensão semântica A alteração do significado das palavras pode decorrer da mo‑ dificação do seu significado original ou da aquisição de um novo significado. Este processo é conhecido como mudança semântica. Entre os processos de mudança semântica, destaca‑se a extensão semântica. A extensão semântica dá‑se quando uma palavra amplia o seu significado original (ou literal). Frequentemente, este processo tem origem no uso habitual de uma palavra em sentido figurado: o que começa por ser um uso metafórico ou metonímico de uma palavra deixa de ser reconhecido pelos falantes como um sentido não literal da palavra e passa a ser incorporado no seu significado normal. e xTensão sem ânTica Palavra

Valor original

Outro valor

carta

tipo de papel

missiva

lençol

tipo de pano

peça usada para cobrir o colchão

chave

instrumento

solução

Quadro 9 | Exemplos de extensão semântica.

6.4.2 empréstimo saber mais

é a adaptação de uma palavra ou

Fala‑se de empréstimo (lexical) quando a criação de uma nova palavra se faz por incorporação no léxico de uma palavra originária de outra língua. Novas palavras são adotadas acompa‑ nhando a introdução de novos produtos, de novos conceitos, etc. A maioria destas palavras está, pois, relacionada com a investigação científica e o desenvolvimento de novas tecnologias e artefactos. Ao longo da história do português, a origem predominante dos empréstimos lexicais foi variando. Se, atualmente, a maioria dos empréstimos tem origem no inglês (aftershave, casting, chat, …), há cem anos era o francês que fornecia a maior parte das palavras introduzidas (crochet, boutique, bordeaux, …)

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Por outro lado, a proveniência dos empréstimos está também relacionada com a origem de bens culturais, económicos, etc. Mui‑ tos termos da tauromaquia são de origem castelhana; na música são frequentes os termos de origem italiana; no vocabulário auto‑ mobilístico são comuns os de origem francesa; as designações de produtos exóticos têm normalmente origem em línguas não euro‑ peias. emPrÉsTimos Língua de origem

Exemplos

Alemão

diesel,­hámster

Castelhano

paelha,­polibã

Francês

embraiagem,­garagem

Italiano

ópera,­maestro,­piano

Japonês

biombo,­gueixa

Mandarim

chá

Nahuatl (México)

chocolate

Russo

vodca,­parca

Quadro 10 | Línguas de origem de alguns empréstimos.

Quando as palavras de origem estrangeira são incorporadas na língua, podem sofrer um processo de adaptação que modifica a sua forma ortográfica e/ou fonética: bidé (do francês bidet); san‑ duíche (do inglês sandwich); paelha (do castelhano paella). Outras mantêm a sua forma original: franchising (do inglês); web (do inglês); toilette (do francês); graffiti (do italiano). A estas palavras costuma chamar‑se estrangeirismos.

6.4.3 Amálgama A amálgama é um processo irregular de formação de pala‑ vras que consiste na combinação de partes de duas ou mais palavras. Por exemplo: burótica = bureau (escritório) + informática cibernauta = cibernética + nauta credifone = crédito + telefone domótica = domos (casa) + informática portunhol = português + espanhol Este processo é recente em português e é especialmente pro‑ dutivo na criação de termos das áreas tecnológicas. 213

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CAPÍTULO 6

Léxico

saber mais

6.4.4 sigla As siglas são formadas pela combinação de letras iniciais de palavras: BD = Banda Desenhada GNR = Guarda Nacional Republicana PME = Pequenas e Médias Empresas UE = União Europeia Estas palavras são soletradas, visto que não têm uma estru‑ tura morfofonológica legítima, e a sua formação obedece a crité‑ rios não linguísticos, como, por exemplo, a sua extensão (a grande maioria das siglas tem três ou quatro letras). As siglas são muito frequentes nas denominações institucio‑ nais e nas designações de técnicas e aparelhos: IPQ = Instituto Português da Qualidade FSE = Fundo Social Europeu ONG = Organização Não Governamental USB = Universal Serial Bus Na maior parte dos casos, na formação de siglas são omitidos os artigos, as preposições e as conjunções, mas estas categorias podem ser incluídas para criar siglas equilibradas: BPM = Batimentos por Minuto EDP = Electricidade de Portugal RSF = Resposta sem Franquia TSF = Telefonia sem Fios Também por questões de equilíbrio, podem não ser incluídas todas as palavras da designação: IRC = Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas IRS = Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares Existem muitas siglas que constituem elas próprias emprésti‑ mos, maioritariamente do inglês. Estas siglas estão realmente rela‑ cionadas com o campo da tecnologia. CD = Compact Disc MBA = Master Business of Administration PC = Personal Computer SMS = Short Message Service

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6.4.5 Acrónimo Os acrónimos são, tal como as siglas, formas reduzidas de designações longas, mas, ao contrário daquelas, os acrónimos dão origem a uma sequência compatível com a estrutura morfofonológica da língua. Por isso, uma sequência como ETAR = Estação de Tratamento de Águas Residuais pode ser lida como uma palavra, respeitando a estrutura silábica da língua, enquanto as siglas têm de ser soletradas. Outros exemplos de acrónimos são: IVA = Imposto sobre o Valor Acrescentado PALOP = Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa PIB = Produto Interno Bruto TOC = Técnico Oficial de Contas Os acrónimos podem também ser formados pela junção de sílabas ou grupos de letras iniciais de um conjunto de palavras: BENELUX = Bélgica, Netherlands (Holanda) e Luxemburgo FRELIMO = Frente de Libertação de Moçambique Interpol = International Police (Polícia Internacional) É muito frequente a lexicalização de acrónimos, isto é, a passagem destas formas reduzidas a verdadeiras palavras, que podem flexionar: Ele já fez uma tac/três tacs. Tac = TAC = Tomografia Axial Computorizada

6.4.6 Onomatopeia As onomatopeias são palavras que procuram reproduzir ou imitar um som (de um animal, como ão‑ão, de um objeto, como trriim, etc.). As onomatopeias não têm uma forma regular, pois não obedecem aos padrões morfológicos e fonológicos que seguem as palavras do português: não possuem morfemas (radicais e/ou afixos), não possuem uma estrutura silábica e não têm acentuação. Existem muitos verbos (1) e nomes (2) que procuram reproduzir sons de animais que têm origem onomatopaica: (1) cacarejar, chilrear, miar, ronronar, uivar, zumbir, … (2) cacarejo, ronrom, uivo, zumbido, …

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CAPÍTULO 6

Léxico

Nos livros de banda desenhada é muito comum o uso destas formas. Alguns exemplos são: atchim! (espirro) bang! (tiro) buáá! (choro) chuac! (beijo) clap! (palmas) ding‑dong! (campainha) Apesar de se poder pensar que as onomatopeias são de en‑ tendimento universal, existem diferenças na sua forma consoante as línguas que revelam a arbitrariedade destas formas. Vejam‑se alguns exemplos: Som do ladrar do cão: ão‑ão (português); guau‑guau (castelhano); woof‑woof (inglês). Som de bater à porta: toc‑toc (português); knock‑knock (inglês). Som de espirrar: atchim (português); achoo (inglês).

6.4.7 Truncação A truncação é um processo de formação de palavras em que a palavra criada consiste numa redução da palavra original, à qual foram eliminadas sílabas, geralmente as finais: otorrinolaringologista → otorrino quilograma → quilo motociclo → moto fotografia → foto metropolitano → metro negativa → nega exposição → expo Muitas formas resultantes de truncação entraram no léxico comum (1). Outras têm um uso mais restrito, por serem caracterís‑ ticas de registos de língua informais, por serem típicas de certos grupos sociais ou por terem um valor pejorativo (2): (1) otorrino, foto, expo, metro, zoo (2) cusca, prof, facho, reaça, comuna, emigra As formas truncadas mantêm, em geral, a classe gramatical e o significado da palavra original.

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NEOlOGISmOS

1. Complete a frase selecionando a opção correta. Um neologismo é: A — uma palavra que o falante desconhece. B — uma palavra que nunca foi usada. C — uma palavra de recente incorporação no léxico de uma língua. D — uma palavra formada por derivação. 2. Descubra os neologismos no excerto que se segue e explique o seu significado. «Zezé — Tóni, eu só quero saber onde é que estão as bebidas para a viaje. O que ficou combinado é que eu ficava com a logística em geral e tu com a tasquística. Oras, antes que eu me arrependa de te ter delegado uma pasta tão importante, diz-me onde pára o bebidame, vai! Tóni — Ah, ‘tás a falar desse bebidedo? ‘Tá descansado que já tenho o frigorífico atestado de cervejélia para nós...» Fonseca et al., Livro da Treta.

2.1 Proponha palavras ou expressões alternativas existentes na língua para substituir os neologismos que identificou. 3. O autor do excerto que se segue, Mia Couto, é conhecido por recorrer com frequência à inovação lexical. No excerto apresentado, reconheça as palavras criadas pelo autor. «Havia e vivia um agentamento num certo prédio, tudo em alegres conformidades. A todos faltava o pão mas nenhum ralhava e todos tinham razão. Uns e outros bem avizinhados, conversas ganhando intimidade de paredes e ouvidos. […] Pois, no prédio tudo decorria sem correria. E nem estória haveria não fora certa noite, quando o Roulenço acordou o edifício gritando: — Um gato! Vi um gato a voar! Risos. O tipo se variara, sonhâmbulo, estragado de visão. Mas ele, no patamar, insistia: diante da janela lhe passara uma gatazana, cheia de sete vidas e bem miaudível. Desbichanara-se defronte da janela, rumo aos céus. De nada valiam as juras: os testemunhos de Roulenço se desbotavam nas gerais risadas. Vertia-se tudo na conta da brincriação até que o vizinho Diamantífero se juntou à multidão mais lívido que a plumagem sem a garça: — Também eu! — Também o senhor, o quê? […] Gatos voadeiros? Sabe-se lá, nos tempos que morrem. […]» Mia Couto, «Os Gatos Voadores», Na Berma de Nenhuma Estrada e Outros Contos.

3.1 D escubra como são formados os neologismos que identificou e explicite a ideia que transmitem. 4. Crie neologismos a partir dos radicais que lhe são dados. a) eco

c) forme

b) fobia

d) multi

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Léxico

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S I G N I F I C AÇ Ã O

1. Distinga, nas expressões destacadas, as que têm sentido conotativo e as que têm sentido denotativo, referindo o sentido de cada uma. a) A Equipa das Quinas está em boa forma física. b) Separar o lixo é uma atitude verde. c) Os olhos dela pareciam dois diamantes. d) A vida é um jogo! e) Ela tinha uns cabelos de ouro. f) Aqui há gato! 2. A palavra rato é um termo polissémico. Identifique nas frases abaixo os diferentes sentidos que a palavra pode assumir. a) O André é cá um rato! b) És mesmo rato de biblioteca! c) O rato de hotel mais procurado foi preso. d) O rato escapou à ratoeira. e) O rato do computador não funciona. f) Tenho há horas um rato no estômago. 3. Refira, agora, os diferentes sentidos que a palavra estrela assume nas frases seguintes. a) Ele bateu com a cabeça e ficou a ver estrelas. b) Uma constelação é um conjunto de estrelas. c) Vi desfilar as estrelas de Hollywood. d) O teu trabalho está cinco estrelas. 4. Partindo das entradas de dicionário apresentadas abaixo, refira como se distingue, nestas obras, polissemia de homonímia. 1

colher, s.f. 1. Utensílio de mesa ou de cozinha formado por uma parte côncava e por um cabo que serve para levar à boca alimentos ou para mexer. 2. Porção contida nesse utensílio. 3. Utensílio de forma aproximada usado pelos pedreiros.

2

1

colher, v. 1. Tirar, arrancar da terra, das plantas, das árvores. 2. Extrair de um corpo. 3. Fazer coleta.

sede, n.f. 1. Local onde funcionam os serviços centrais de um organismo ou de uma instituição. 2. Local onde uma empresa tem o seu principal centro de atividade. 3. Ponto escolhido para que nele ocorra alguma coisa.

2

sede, n.f. 1. Sensação que provoca a necessidade orgânica de beber. 2. Desejo ardente.

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r E l AÇ Õ E S E N T r E pA l AV r A S

1. Encontre diferentes hipónimos para os hiperónimos apresentados. a) Flor

c) Peixe

b) Grau de parentesco

d) Cor

2. No quadro que se segue, encontra vários hipónimos que pertencem a um mesmo hiperónimo. Elimine o intruso de cada grupo e descubra o hiperónimo correspondente. a) b) c) d) e) f) g)

Hipónimos gato, golfinho, andorinha, elefante, baleia avião, teatro, autocarro, bicicleta, automóvel Terra, Vénus, Zeus, Apolo, Hádes enciclopédia, dicionário, romance, prontuário, gramática médico, jornalista, pai, professor, pedreiro morango, cebola, banana, laranja, pêssego banco, televisão, leitor de CD, micro‑ondas, frigorífico

Intruso

Hiperónimo

3. Refira possíveis merónimos do holónimo

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Léxico

4. Descubra um holónimo para cada conjunto de palavras apresentado. a) Raiz, caule, folha, ramo, fruto — b) Telhas, tijolos, paredes, janelas, portas — c) Palco, plateia, cadeiras, balcão, cortina — d) Capa, contracapa, lombada, folhas, introdução — e) Guelras, barbatanas, escamas, espinhas, boca — f) Teclado, rato, monitor, leitor de CD, cabo de alimentação — g) Cabeça, pé, braço, perna, costas — 5. Preencha os espaços com um sinónimo adequado. a) inteligente

f) normalmente

b) horrível

g) miúdo

c) antipático

h) fiel

d) labutar

i) casa

e) aldrabice

j) nostalgia

6. Selecione um sinónimo para cada vocábulo destacado. a) Comprei um produto inócuo para o ambiente. 1. inoportuno

2. inofensivo

3. inóspito

b) Não se deve oscular um estranho. 1. beijar

2. cumprimentar

3. importunar

c) Isso é um pensamento muito rebuscado. 1. repetido

2. importante

3. elaborado

7. A letra da canção que se segue é constituída por pares de antónimos. Apresente sugestões para completar os espaços em branco. Mas porquê Que há vida e que há Que há Que há bem e há Que há Real e magia Que há Que há ódio e

e há forte e que há dia e calor

Diz minha mãe Porque é que o mundo é sempre assim Porque é que há sonho E a vida tem princípio e

Mas porquê Que há e há branco Que há diabo e há santo Que há grande e Que há verão e inverno E há Céu e Que há o tu e o eu Que há o meu e o teu. NUNO VINHAS, Diz Minha Mãe.

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8. Em cada uma das alíneas, as palavras destacadas formam um campo semântico. Refira o significado que essas palavras assumem em cada frase. a) 1. Ele tem a chave da porta. 2. Ainda não encontrei a chave para o problema. 3. Esta chave do Totoloto só me dá azar! 4. Uma boa educação é a chave para um futuro promissor. b) 1. Aquele jardim não tem um só banco. 2. Ele avistou um banco de carapaus. 3. O banco ainda não me enviou cheques. 4. O meu médico hoje está de banco. 9. Proponha um campo semântico para cada uma das palavras apresentadas abaixo, criando frases de forma a tornar explícito cada um dos significados atribuídos. a) luz; b) cabeça; c) água; d) ponto. 10. Distribua as palavras listadas abaixo pelos respetivos campos lexicais. estradas ondas estádio chapéus poluição a) Saúde

jogadores prédios areia estetoscópio treinadores b) Futebol

tráfego mar doentes adeptos consultório c) Cidade

multidão hospital médicos sol bola d) Praia

11. Crie um campo lexical para as palavras seguintes. a) educação b) consumismo c) poluição d) mar

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Léxico

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p r O C E S S O S I r r E G u l A r E S D E F O r m AÇ Ã O D E pA l AV r A S

1. Os exemplos listados abaixo ilustram um processo irregular de formação de palavras. Identifique-o. rato (animal) → rato (dispositivo informático) leitor (aquele que lê) → leitor (professor universitário) portal (porta grande) → portal (página da Internet) salvar (livrar de perigo) → salvar (guardar) 2. Distribua as palavras que se seguem pelo quadro abaixo. soirée bife flamenco confetti alzheimer

restaurante lambreta maestro piloto tapa

menu diesel recuerdo dobermann tablier

jeep airoso futebol stock muesli

Empréstimos

Galicismos Anglicismos Italianismos Espanholismos Germanismos

3. Descubra, na sopa de letras, seis palavras formadas por amálgama. Encontrá-las-á na horizontal e na vertical. U R I L P L M O T E L O G I A

R I S Z O J V F V X S U I F O

T C R A R U G I O U P G N E T

E R N F T R M A C A O E F L S

L O L I U I C R E D I F O N E

E N U L N D X O E S T I R C U

F I B U H U R S D U O L M T U

O R E Q O B Q P A C R F A R I

N T U H L A U G T A S U T F V

I O S I J U T V O M J D I N A

A E B I O N I C A B U O C I E

A D J X S C I R Z E F R A C L

3.1 D efina amálgama.

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4. A lista de palavras apresentada é composta por acrónimos e siglas. Classifique-as e especifique o seu significado. a) PALOP — b) CD — c) PSP — d) OVNI — e) CEE — f) BD — g) OTAN — h) OMS — i) ONU — j) TAP — k) UE — l) PME — 5. Recorra ao processo de truncação para formar palavras. a) otorrinolaringologista → b) motociclo → c) fotografia → d) exposição → e) zoológico → f) quilograma → g) metropolitano → h) hipermercado → i) discoteca → 6. Proponha uma onomatopeia para cada caso apresentado. a) avalancha — b) mergulho — c) vidro partido — d) chuva — e) batida na porta — f) vento — g) trovão — h) queda —

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7 O L U T Í CAP

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A C I T N Â SEM A C I S Á R F ADO 7.1 SIGNIFIC

ICIONAL

ROPOS P O D Ú E T N O 7.2 C 7.3 TEMPO 7.4 ASPETO

E

AD 7.5 MODALID

at i V i d a d ficHa de

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7.1 Significado De um modo muito genérico, o significado corresponde à informação conceptual que uma palavra ou expressão veicula. No entanto, as palavras não são as únicas unidades linguísticas dotadas de conteúdo semântico. As palavras combinam-se formando orações, que, por sua vez, dão origem a textos. Estes constituem as unidades máximas com conteúdo semântico. Por outro lado, cada palavra pode ser decomposta em morfemas — as unidades mínimas portadoras de significado.

7.2 conteúdo propoSicional 7.2.1 referência Numa dada situação discursiva, a relação que se estabelece entre uma expressão linguística e uma entidade do mundo (referente) denomina-se referência. A referência pode ser constante ou variável. Numa frase com uma expressão de referência constante, o referente é único, não varia em função do contexto. Exemplos de expressões com referência constante são os grupos nominais com nomes próprios: O Miguel foi ao cinema. As referências variáveis dependem do contexto para a identificação do seu referente. Atente-se na seguinte frase: Ele foi ao cinema. Nesta frase, o pronome sujeito ele pode referir-se ao Miguel ou a outro rapaz. As referências variáveis podem ser fixadas por um processo de deixis (1) ou anaforicamente. Observem-se, agora, as frases seguintes. O Miguel foi ao cinema. Ele gostou do filme. No exemplo acima, ao usar-se um pronome para referir um sujeito já introduzido, está-se a estabelecer uma relação anafórica, em que uma expressão referencial constante (O Miguel) fixa a referência de uma expressão com referência variável (Ele). Neste caso, diz-se que O Miguel e Ele são expressões correferentes, ou seja, têm a mesma referência. (1)

Sobre o conceito de deixis, ver as páginas 281-282.

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especificidade e genericidade As expressões referenciais podem ser definidas ou indefinidas, sendo este valor fixado pela presença de artigos (definidos ou indefinidos) ou de demonstrativos: Vou comprar um livro de culinária. (expressão indefinida) Vou comprar o livro de que me falaste. (expressão definida) Vou comprar esse livro. (expressão definida) Tanto as expressões definidas como as indefinidas podem ter uma interpretação específica ou genérica. No primeiro caso, é possível determinar se a expressão em causa refere uma entidade ou uma situação identificável num dado contexto discursivo. Na frase O João foi a Lisboa, as expressões O João e Lisboa denotam uma pessoa e um local específicos. Diz-se que a interpretação de uma expressão é genérica quando não é feita referência a entidades ou situações específicas, mas a uma classe de entidades ou de situações. Na frase O cão é um animal simpático, o grupo nominal O cão não remete para uma entidade específica mas para o cão enquanto classe. A interpretação de um grupo nominal pode ainda fazer apelo ao conhecimento do mundo que os interlocutores possuem. É o que se verifica numa frase como O cinto de segurança tem salvo a vida a muitos automobilistas. O artigo definido especifica as interpretações dos grupos nominais de várias formas. Em casos como A torradeira deu-me um choque, estamos perante uma interpretação específica: o grupo nominal refere uma entidade singular com valor específico. Neste caso, o artigo tem um valor deítico: o contexto permite identificar o objeto em causa. Já numa frase como O mocho caça de noite, estamos perante uma interpretação genérica: a afirmação é feita não em relação a um indivíduo específico mas sim em relação a todos os membros da espécie. Os grupos nominais com artigos indefinidos também podem ter uma interpretação específica ou uma interpretação genérica: • Interpretação específica: O grupo nominal refere uma entidade, mas não a identifica. Em casos como Achei um livro na rua ou Uns pássaros comeram as sementes todas, o interlocutor não pode saber de que livro ou de que pássaros se trata, mas apenas que as entidades referidas têm as características que as identificam como um membro da classe «livro» ou da classe «pássaro». • Interpretação genérica: O grupo nominal não refere uma entidade. Na frase Este projeto pretende criar um automóvel não poluente, o grupo nominal um automóvel não poluente não refere um objeto específico, mas designa as suas propriedades. 227

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7.2.2 predicação Uma predicação consiste na atribuição de uma característica ou propriedade a uma ou mais entidades (seres ou objetos). Na frase O André é inteligente, é feita uma predicação em relação ao constituinte O André, atribuindo-se-lhe a propriedade de «ser inteligente». Considera-se, igualmente, que existe predicação quando se estabelece uma relação entre entidades: O Pedro leu o jornal. Nesta frase, o verbo ler estabelece uma relação entre O Pedro e o jornal. Todas as predicações contêm um elemento que desempenha uma função nuclear na predicação — o predicador. Regra geral, os predicadores são verbos, como na frase O Pedro leu o jornal. No entanto, em construções com verbos copulativos, é o predicativo do sujeito (com núcleo nominal ou adjetival) que funciona como predicador: O João continua doente. (o adjetivo doente é o predicador da frase) A Ana é professora. (o nome professora é o predicador da frase)

7.2.3 polaridade Qualquer enunciado tem um valor de polaridade, que pode ser afirmativo ou negativo. Os enunciados afirmativos (ou de polaridade afirmativa) correspondem a descrições de estados de coisas que o locutor apresenta como tendo ocorrido ou podendo vir a ocorrer. Estes enunciados não são assinalados por nenhum operador especial: A Maria foi trabalhar. A Ana costuma nadar. Aconteceu um imprevisto. Os enunciados negativos descrevem um estado de coisas que não ocorreu ou que já não ocorre. Essa polaridade negativa é expressa por um operador de negação, que pode ser um advérbio (1) ou outras palavras ou expressões com valor negativo (2 e 3): (1) A Maria não foi trabalhar. (2) A Ana deixou de nadar. (3) Nada aconteceu.

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7.3 teMpo O tempo é a categoria gramatical que localiza temporalmente um evento ou uma situação. Em português, o tempo é concebido como uma sequência constituída por passado, presente e futuro. A localização temporal funciona de forma deítica: o presente é o tempo coincidente com o momento da enunciação, o passado é o tempo anterior a esse momento, e o futuro, o momento posterior. Os valores temporais são sobretudo veiculados pelas formas de flexão dos verbos — tempos verbais — (1), por certos advérbios ou expressões adverbiais (2), ou por meio de orações temporais (3): (1) Estive a dormir. (2) A Ana amanhã está a trabalhar. (3) Saio de casa assim que tu chegares. O tempo verbal localiza o estado de coisas descrito na frase em relação ao momento de enunciação ou em relação a um outro momento temporal indicado no discurso.

Saber Mais

• As formas do passado situam o tempo dos acontecimentos num momento anterior ao tempo da enunciação: Já vimos esse filme dez vezes. Fui a Paris no ano passado. A Diana nadava todos os dias. • As formas do presente indicam que o tempo do estado de coisas é simultâneo ao tempo da enunciação: Este relógio não funciona. O Pedro está de férias. A Joana já dorme. • As formas do futuro localizam o estado de coisas descrito num momento posterior ao tempo de enunciação: Irei buscar-te às 20 horas. Farei a pesquisa na biblioteca. Quando chegares, já terei saído. É, assim, possível estabelecer relações temporais de anterioridade — passado —, de simultaneidade — presente — e de posterioridade — futuro — em relação ao tempo da enunciação.

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7.4 aSpeto Aspeto é a categoria gramatical que exprime a forma como a situação presente num enunciado é perspetivada pelo locutor no que respeita ao seu desenvolvimento temporal. Os valores aspetuais podem ser expressos lexicalmente, através da escolha dos itens lexicais (sobretudo verbos, mas também perífrases verbais ou locuções adverbiais), ou gramaticalmente, através dos tempos verbais, verbos auxiliares, quantificadores ou modificadores. O valor aspetual de um enunciado, por norma, não depende do seu valor temporal. Observem-se os exemplos seguintes. (1) O Rui conversou com a Sandra. (2) O Rui estava a conversar com a Sandra quando lhe liguei. (3) Dantes, o Rui conversava muito com a Sandra. Todas as situações apresentadas acima podem ser localizadas temporalmente como anteriores ao momento da enunciação. No entanto, apresentam diferentes valores aspetuais: em (1), sabe-se que a conversa acabou (aspeto perfetivo); em (2), não é dada informação sobre o momento em que a conversa terminou (aspeto imperfetivo); e, em (3), existe uma situação que corresponde a um hábito (aspeto habitual).

7.4.1 aspeto lexical O aspeto lexical é um valor que resulta das propriedades (semânticas, etc.) inerentes aos itens lexicais, tipicamente aos verbos. É este valor que permite distinguir situações estativas de situações dinâmicas: A Ana conhece o João. (situação estativa) A Ana cumprimentou o João. (situação dinâmica) A distinção entre eventos pontuais e eventos durativos é também estabelecida com recurso ao aspeto lexical. Por exemplo, verbos como nascer ou morrer indicam um estado de coisas pontual ou não durativo (por isso, pode dizer-se O João nasceu às três horas, mas não O João nasceu durante 3 horas), enquanto verbos como viajar ou dormir têm um valor durativo: O João nasceu às três horas. (valor pontual) A Luísa dormiu durante quatro horas. (valor durativo)

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7.4.2 aspeto gramatical O aspeto gramatical combina as informações dadas pelo aspeto lexical com as fornecidas pelos diferentes tempos verbais, verbos auxiliares, quantificadores ou modificadores. O aspeto gramatical permite, assim, distinguir diferentes situações: perfetivas (ou acabadas), imperfetivas (ou inacabadas), habituais, genéricas e iterativas. Os valores aspetuais perfetivo e imperfetivo estão associados aos sufixos flexionais. Os tempos verbais expressam esses valores através da oposição entre as formas do perfeito e do imperfeito. • Quando um estado de coisas é apresentado como terminado, usam-se tempos verbais perfetivos: Eça de Queirós nasceu no século xix. As formas do pretérito perfeito simples e os tempos compostos têm, geralmente, um valor perfetivo. • Quando um estado de coisas é apresentado como não acabado, usam-se tempos verbais imperfetivos, como é o caso do pretérito imperfeito do indicativo: Dantes, passava as férias em casa da minha avó. Um enunciado tem valor aspetual habitual quando descreve uma ação ou um estado de coisas que decorre durante um período de tempo ilimitado. O presente do modo indicativo traduz frequentemente este valor aspetual: Saio do trabalho sempre às 18 horas. Costumo ir àquele restaurante. O aspeto genérico encontra-se em enunciados que referem uma pluralidade de situações consideradas atemporais e verdadeiras em qualquer situação discursiva. Nestes enunciados, o verbo ocorre geralmente no presente do indicativo: Os cavalos têm crina. A Terra gira à volta do Sol. Diz-se que um enunciado tem valor aspetual iterativo quando uma ação ou um estado de coisas se repete com frequência. O pretérito perfeito composto exprime, regra geral, o valor iterativo: A Mara tem ido à praia. A Mara vai à praia todos os fins de semana. 231

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7.5 Modalidade Ao falar, o locutor evidencia a sua atitude perante a realidade que descreve: um dado estado de coisas pode ser apresentado como sendo certo, possível, obrigatório, desejável, incerto, etc. A modalidade é a categoria linguística que veicula essa informação. A modalidade pode ser expressa por advérbios (provavelmente, talvez, …), adjetivos (possível, capaz, …) ou auxiliares modais (dever, poder, ter de, …), por meio da entoação ou pelo modo verbal: • O indicativo expressa a convicção no caráter factual da descrição: Lisboa é a capital de Portugal. • O conjuntivo indica que o estado de coisas é considerado como possível, desejável ou incerto: Talvez leia este livro. • O imperativo expressa um estado de coisas concebido como resultado de uma ordem: Vai-te embora! • O condicional expressa uma probabilidade que é afirmada sob uma condição: Se não te tivesses atrasado, já estaríamos a jantar. Existem diferentes tipos de modalidade: • Modalidade epistémica — está relacionada com o domínio da incerteza, da probabilidade ou da possibilidade: O João é capaz de se atrasar. • Modalidade deôntica — está relacionada com o domínio da obrigação e da permissão: Tens de ir ao médico. • Modalidade apreciativa — está relacionada com a expressão de uma opinião (positiva ou negativa) em relação ao conteúdo de um enunciado: Ainda bem que amanhã é sábado. 232

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SEMÂNTICA FRÁSICA

1. Identifique o valor aspetual das situações apresentadas. a) Ele acabou de redigir a ata da reunião da Associação de Estudantes. b) A Tânia anda a ler muita literatura alemã. c) Vou ao cinema todos os sábados. d) Nem todas as bandas de rock são famosas. e) Ela andava tão feliz... f) O Rafael gritou quando ouviu um estrondo. g) O exercício faz bem à saúde. h) Chegas sistematicamente atrasado! 2. Refira o tipo de modalidade expresso em cada um dos enunciados que se seguem. a) Provavelmente o João não chega a horas. b) Que vestido maravilhoso! c) Termina essa tarefa! d) Podes terminar o trabalho na próxima aula. e) Podes ter escrito isso, mas eu não vi a tua mensagem. f) Eles devem chegar amanhã. g) Felizmente tenho férias para a semana. h) Podes ir para o teu quarto. 2.1 Identifique o valor associado a cada frase. 3. Os enunciados sublinhados no excerto abaixo correspondem a diferentes tipos de modalidade. Identifique-os. — Amanhã tenho mesmo de ir às aulas — murmurou Vasco. — Ele também pode aguentar um dia em casa — disse Adriana. — Apesar de tudo, não é o tal homem da série da televisão… — Ainda se ele fosse capaz de andar sozinho… Mas tudo lhe faz uma grande confusão. Os automóveis, os autocarros, os elétricos… Se o deixasse sozinho era logo atropelado. — Ele diz que não consegue perceber donde é que vem tanta gente. Ficaram os dois a olhar um para o outro. — Ser velho é muito complicado — murmurou Adriana. Sentiram então a chave da mãe a abrir a porta da rua. — Vaaaaaaaaaaaasco! — ouviu-se pela casa toda. — Ser novo também não é pera doce… — murmurou ele, saindo do quarto da irmã. A LICE VIEIRA , Trisavó de Pistola à Cinta.

4. Algumas destas afirmações sobre a modalidade são falsas. Identifique-as e proceda à sua correção. A — A modalidade deôntica está relacionada com o domínio da obrigação e da permissão. B — A modalidade apreciativa está diretamente ligada à incerteza. C — A modalidade nunca pode estar associada ao uso de adjetivos.

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8 O L U CAPÍT

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: a u g n í l a d O s Ou , O ã ç a enunci e O s r u disc O ã ç a c i cOmun ISCURSO D E O Ã Ç A I C 8.1 ENUN uíSTICA g n I L O ã ç A r AçãO E InTE C I n u m O C 8.2 24 | 25 | 3 2 | S E D AT I V I D A FICHAS DE

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CAPÍTULO 8

O usO da língua: enunciaçãO, discursO e cOmunicaçãO

8.1 ENUNCIAÇÃO E DISCURSO Quando usamos uma língua para falar ou escrever, num dado momento — o momento da enunciação —, recorremos ao saber gramatical que temos dessa língua para produzir enunciados. O conjunto articulado de enunciados produzidos durante a enunciação tem o nome de discurso. Os enunciados e os discursos são, pois, realizações concretas, num dado tempo e num dado local, de frases e de textos que ganham um valor comunicativo especial, consoante as situações em que são produzidos. A enunciação é uma forma de ação linguística. Todo o enunciado é, pelo simples facto de ser produzido, um ato de fala ou ato linguístico. Não basta conhecer as regras da gramática para saber usar adequadamente uma língua. O uso da língua é condicionado por princípios, regras e convenções sociais. O contexto de uso condiciona a produção e a interpretação dos enunciados e dos discursos.

8.1.1 Enunciação A enunciação é o ato de tomar a palavra, numa situação concreta, quer para falar quer para escrever. A enunciação pressupõe não só saber uma língua, mas também usá-la.

Enunciador

Saber Mais É frequente usar o termo emissor para

Quando uma pessoa usa a língua num dado momento, produzindo enunciados, diz-se que é o enunciador. Simetricamente, aquele que o escuta ou lê é o enunciatário. O termo enunciador é mais específico do que o termo falante. Falante é todo aquele que sabe falar uma língua. Os seres humanos nascem com a faculdade da linguagem e, por isso, em contacto com uma língua, tornam-se naturalmente falantes. Isso não quer dizer que estejam sempre a falar. Só quando decidem usar a língua é que se tornam, de facto, enunciadores. Existe um outro termo, de uso frequente, que se pode aplicar ao enunciador mas que é também mais específico. É o termo locutor. Locutor aplica-se apenas àquele que está a usar a língua oralmente. As pessoas com quem falamos são os nossos interlocu. O interlocutor não é um mero ouvinte. O que é normal, em particular numa conversa, é que haja uma troca, um intercâmbio linguístico, em que os vários participantes vão falando e interagindo uns com os outros. É essa ideia de intercâmbio que é dada pelo prefixo inter-, em interlocutor.

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Enunciado Qualquer expressão linguística, de extensão variável, como uma frase ou até uma palavra, pode constituir um enunciado, desde que produzida num contexto particular, com uma dada intenção comunicativa. Um simples não, em resposta a uma pergunta, já é um enunciado, como nos seguintes diálogos: — Queres café? — Não. — Tens fome? — Não. A mesma expressão usada em contextos distintos, por indivíduos diferentes ou até pelo mesmo indivíduo, ganha sentidos também diferentes. Repare-se na frase: Está muito calor. Esta frase, fora de contexto, tem sempre o mesmo significado: num dado local (que não se especifica qual é), a temperatura do ar está com valores elevados. Mas, quando esta frase se transforma em enunciado, quando é usada num contexto concreto, o seu valor comunicativo varia(1) . Se o enunciador, por exemplo, está num país do Norte da Europa, tradicionalmente frio, calor refere-se com grande probabilidade a uma temperatura do ar a rondar os vinte graus. Pelo contrário, se o mesmo enunciador se encontrar num país equatorial, a temperatura estará provavelmente mais próxima dos quarenta graus. Algo idêntico acontece numa expressão como: O meu filho é um rapaz alto. O valor de alto muda consoante a frase se refira a um rapaz de 10 ou de 15 anos e também depende da média de alturas dos jovens da mesma idade numa dada comunidade. A mesma frase pode, pois, transformar-se num número indefinido de enunciados, tantos quantas as situações ou os contextos diferentes em que for usada. Dito de outro modo, cada enunciado é único e irrepetível, porque os contextos de uso também nunca se repetem. Basta mudar o local, o momento do dia, a época do ano, os hábitos culturais ou até o estado de espírito do enunciador para que a mesma frase ganhe valores diferentes. (1)

Veja-se o capítulo sobre contexto situacional, nas páginas 241-242.

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CAPÍTULO 8

O usO da língua: enunciaçãO, discursO e cOmunicaçãO

Significado e sentido(2) As unidades e expressões linguísticas (como as palavras, as frases e os textos) têm significado, isto é, contêm em si ideias ou conceitos sobre o mundo a que se referem. O sentido é o valor semântico que as unidades linguísticas ganham em situações concretas de enunciação. A expressão sim, isoladamente, significa sempre sim: confirmação, aquiescência, concordância, aceitação. No entanto, em certos contextos, sim pode querer dizer não, indicar negação, oposição, discordância. Imagine-se um diálogo como o seguinte (entre mãe e filho): — Dá-me um brinquedo, está bem? — Sim, sim! É muito vulgar as mães recusarem os pedidos insistentes dos filhos deste modo. Neste caso, sim mantém o significado original, enquanto palavra, mas, dada a entoação e o contexto em que é produzido, ganha o sentido oposto (de negação), enquanto enunciado.

8.1.2 Discurso O discurso é entendido como toda e qualquer sequência articulada e organizada de enunciados, produzida com uma dada intenção comunicativa, num contexto concreto de comunicação. Assim, pode dizer-se que uma pessoa começou um discurso interminável ou que está com um discurso incoerente. O termo discurso não tem aqui o valor habitual de texto preparado para ser dito em público, como na expressão O presidente da República fez um discurso nas comemorações do 25 de Abril. O discurso pode ser oral ou escrito. Tanto no enunciado como no discurso se dá especial relevo ao contexto de produção. Repare-se no pequeno texto que se segue: Fumar mata. Proteja as crianças: não as obrigue a respirar o seu fumo. Se este for o discurso de um médico, numa consulta, sabe-se que a sua intenção é fazer com que as pessoas não fumem por razões de saúde. No entanto, se esse mesmo texto estiver escrito num maço de cigarros, trata-se de um discurso imposto por razões legais que não tem como intenção aconselhar as pessoas a deixarem de fumar. Para compreender o sentido de um discurso, não basta, pois, saber o significado das frases que o compõem. É fundamental (2)

Adota-se, aqui, a distinção entre significado e sentido, embora alguns linguistas utilizem os termos significado e sentido como sinónimos.

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recorrer a outros conhecimentos, nomeadamente a conhecimentos sobre o mundo em que o discurso é produzido (por exemplo, neste último caso, sobre a existência de mecanismos legais que obrigam os fabricantes de tabaco a alertarem os compradores para os malefícios do seu consumo).

Coesão e coerência Em geral, espera-se que, no discurso, os enunciados se interliguem e organizem de forma coesa e coerente e que não se sucedam de forma aleatória, ao acaso. Se alguém disser O João é solteiro porque casou ontem com a Joana, está a fazer um discurso incoerente, uma vez que o significado de solteiro (não casado) entra em contradição com a afirmação casou ontem. Por outro lado, repare-se num discurso como: A Joana casou com o João. A Joana não sabe onde se meteu. A Joana devia ter pensado melhor. Este discurso não é incoerente, mas falta-lhe coesão. O enunciador não faz a ligação entre os enunciados e fá-los sucederem-se uns aos outros como se não tivessem nenhuma relação entre si. De facto, há pelo menos um elemento que os une: a expressão A Joana. Para tornar este discurso coeso, é necessário mostrar que a expressão A Joana se refere sempre à mesma pessoa. Para isso, a língua portuguesa permite recorrer a pronomes (ela) e até a elipses (como a elipse do sujeito em devia ter pensado melhor, no texto seguinte): A Joana casou com o João. Ela não sabe onde se meteu. Devia ter pensado melhor.

Saber Mais É o nome que se dá à omissão de um

Existem vários mecanismos que asseguram a coesão e a coerência de um discurso(3).

Contexto A palavra «contexto» refere-se, originalmente, a tudo o que está associado a um dado texto, a tudo o que o rodeia. O contexto de um discurso ou de um texto é muito vasto e pode ser de natureza linguística — contexto verbal — ou não linguística — contexto não verbal. O contexto verbal e o não verbal influenciam o modo como os enunciados e os discursos são produzidos e interpretados. (3)

Para mais informações sobre mecanismos de coesão e de coerência, leia-se o capítulo sobre texto, nas páginas 274-281.

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CAPÍTULO 8

O usO da língua: enunciaçãO, discursO e cOmunicaçãO

Contexto verbal O contexto verbal é todo o conjunto de formas ou expressões que vêm antes e depois de uma certa unidade linguística, seja ela uma palavra, uma frase, uma parte de um texto, etc. Também se chama ao contexto verbal cotexto. Considere-se o texto seguinte: Falar é uma arte que envolve múltiplos saberes. Não basta saber uma ou mais línguas. O contexto verbal da palavra múltiplos é o conjunto das palavras que a rodeiam: envolve e saberes. O contexto verbal da segunda frase (Não basta saber uma ou mais línguas.) é a frase que a precede: Falar é uma arte que envolve múltiplos saberes. Em ambos os casos, trata-se do contexto verbal imediato, uma vez que existe uma relação de contiguidade ou vizinhança entre as unidades em causa. A palavra envolve, por exemplo, vem imediatamente antes de múltiplos, não há nenhum outro elemento de permeio. Podemo-nos referir, também, ao contexto verbal alargado de uma unidade linguística, isto é, a todas as expressões linguísticas que ocorrem antes ou depois dessa unidade, mesmo as que estão mais afastadas, mas que contribuem, de algum modo, para a sua interpretação. Assim, o primeiro capítulo de um livro faz parte do contexto verbal alargado do terceiro ou do quarto capítulos do mesmo livro e a interpretação destes últimos é condicionada pelo conhecimento do que ficou dito no primeiro. A consideração do contexto verbal é, pois, fundamental na produção e na interpretação de um enunciado ou de um discurso. No texto que vimos atrás (A Joana casou com o João. A Joana não sabe onde se meteu. A Joana devia ter pensado melhor), é a ocorrência de A Joana no contexto verbal imediato (na primeira frase) que torna inútil e indesejável a sua repetição nas frases seguintes.

Contexto não verbal O contexto não verbal é o conjunto dos elementos que rodeiam os enunciados e os discursos e que, não sendo linguísticos, influenciam direta ou indiretamente o modo como eles são produzidos e interpretados. O lugar e o momento em que um discurso está a ser produzido, as características individuais de quem o produz e de quem o escuta, os saberes partilhados pelos interlocutores, os hábitos culturais da comunidade, etc. são alguns dos muitos fatores que caracterizam o contexto não verbal. O valor comunicativo e a interpretação dos enunciados e dos discursos dependem, em muito, do contexto em que são realizados.

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Repare-se no seguinte enunciado: Vou ali e já venho. O valor de ali depende do local em que se encontram os interlocutores, da sua posição em relação uns aos outros, do gesto com que o enunciador acompanha o enunciado e até do conhecimento que os interlocutores têm dos hábitos do enunciador. Se os interlocutores estão no pátio de uma escola e um dos falantes aponta na direção do bar da escola, todos saberão que ali se refere a esse bar e que o falante pretende, muito provavelmente, ir comprar um qualquer alimento. Pelo contrário, se os interlocutores estão num local relativamente próximo de um jardim de infância, à hora em que a pessoa que produz o enunciado costuma ir buscar o filho, saberão, mesmo sem olhar e sem que haja qualquer gesto da sua parte, que ali se refere a esse jardim de infância. O contexto não verbal inclui o contexto situacional e o contexto sociocultural. Contexto situacional(4) O contexto situacional é o conjunto de circunstâncias em que ocorre uma atividade concreta de comunicação linguística, que engloba: • o local (uma sala de aula, o pátio de uma escola, um café, uma igreja, …); • o momento (a hora da refeição, o intervalo entre as aulas, a celebração de um casamento, um funeral, …); • o tipo de atividade linguística (uma conversa, um debate, uma declaração amorosa, …); • os participantes: — o número de pessoas envolvidas (apenas duas pessoas, uma assembleia de cem pessoas, …); — as suas características individuais (a idade, o sexo, …); — o seu estatuto social (nomeadamente a profissão e o cargo que ocupam no seu local de trabalho); — o seu papel social no momento da comunicação (o mesmo indivíduo pode assumir, em situações diferentes, papéis diferentes como o de pai, de marido, de irmão, de amigo, de professor, …); — as relações que mantêm entre si (de poder, de solidariedade, de respeito mútuo, de intimidade, …); — o papel que estão a desempenhar na atividade linguística (orientador de um debate, entrevistador, entrevistado, …). (4)

Saber Mais O conceito de papel social está

Para melhor compreender como o contexto situacional influencia as escolhas linguísticas dos falantes, ver o capítulo sobre adequação às situações de comunicação, nas páginas 263-266.

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CAPÍTULO 8

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Eis um exemplo de caracterização simples de um contexto situacional específico: • Local: Assembleia da República, em Portugal. • Momento: tempo reservado à discussão de um projeto de lei, antes da sua votação. • Participantes: ministro da Educação, deputados dos vários partidos. • Papéis dos participantes: decisores políticos. • Relações sociais entre os participantes: igualdade de estatuto (havendo uma ligeira diferença do estatuto do ministro e dos membros do governo em relação aos restantes deputados). • Atividades linguísticas: discurso de apresentação da lei; discursos argumentativos (apresentação de argumentos a favor ou contra). Basta mudar um dos componentes ou fatores da situação para que todo o contexto se altere, sendo previsível que mude também o tipo de atividades linguísticas e o tipo de discurso. Os mesmos participantes, na mesma Assembleia da República, num momento diferente, de pausa dos trabalhos, envolver-se-ão em atividades linguísticas também diferentes (conversas informais sobre o tempo ou sobre as férias, por exemplo), assumindo, nalguns casos, outros papéis sociais (amigos de longa data, familiares, etc.). Os contextos situacionais são muito variados, no dia a dia, pois dependem das diferentes combinações de fatores que os definem. Uma situação em que o enunciador toma a palavra na presença de apenas um participante é diferente de uma outra em que os participantes são quatro ou cinco, mesmo que tudo o resto se mantenha constante, como o local, o momento, a relação social entre os participantes, etc. Alguns contextos situacionais são mais estáveis e impõem regras mais rígidas do que outros. Estão, nesse caso, os chamados contextos institucionais. São contextos como a escola, a igreja, o parlamento, o tribunal, etc. Nestes contextos, existem, em geral, regras claras sobre quem pode tomar a palavra, quando e como. Se, por exemplo, um juiz estiver no uso da palavra, numa sessão de tribunal, os advogados e o réu não o podem interromper, embora o contrário seja permitido. No mesmo tribunal, o advogado, ao dirigir-se ao juiz, deverá tratá-lo por Sr. Dr. Juiz ou por Vossa Excelência, mas nunca por tu nem por você, nem mesmo por o Senhor. O contexto situacional influencia, pois, não só o sentido do que se diz ou escreve, mas também a escolha do que se pode ou deve dizer ou escrever, do modo como se deve dizer ou escrever e ainda do momento adequado para o fazer.

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Contexto sociocultural O contexto sociocultural diz respeito às condições sociais e culturais, de âmbito geral, que envolvem a enunciação. Tudo o que os falantes sabem (ou não sabem) sobre o mundo que os rodeia influencia o modo como usam a língua e como interpretam o que os outros dizem ou escrevem. Perante um enunciado como A Terra está a aquecer, os ouvintes interpretarão automaticamente Terra não como a terra onde vivem, nem sequer como o chão que pisam, nem como a terra contida num vaso, mas sim como o planeta Terra. E isto porque as alterações climáticas atuais fazem parte do seu conhecimento do mundo e são frequentemente debatidas na comunidade em que vive. Imagine-se que, num jornal português, surge a seguinte notícia:

Saber Mais

O violento embate de um autocarro contra uma loja da Av. da Liberdade provocou grandes danos materiais. Os leitores saberão que não houve perda de vidas humanas, mesmo que a notícia não lhes dê essa informação de forma direta. Essa informação fica implícita (subentendida) e decorre do contexto sociocultural português, que, como muitos outros, dá mais valor à vida humana do que aos bens materiais. Neste contexto, se tivesse havido mortes, o jornal, por regra, mencioná-las-ia em primeiro lugar. O contexto sociocultural e o modo como ele interfere no discurso mudam de comunidade para comunidade e, até, dentro da mesma comunidade, de época para época, de grupo para grupo e de indivíduo para indivíduo. Por exemplo, no tempo em que não havia telemóveis nem Internet, não faria muito sentido dizer o seguinte: Vou mandar uma mensagem à Joana, que está no Porto, para saber o que ela quer hoje para o jantar (em Lisboa). Nessa altura, a palavra mensagem estava associada ao envio de bilhetes ou de cartas que levavam o seu tempo a chegar a um destinatário distante.

Discurso oral e discurso escrito Há dois modos de realização do discurso: o modo oral e o modo escrito. A oralidade é uma forma natural de o ser humano se expressar verbalmente, ao passo que a escrita tem de ser aprendida. Há pessoas com um discurso oral fácil e fluente, no seu dia a dia, que têm grandes dificuldades em organizar o discurso escrito porque este tem regras próprias que é necessário aprender e dominar.

Saber Mais ORALIDADE E ESCRITA

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CAPÍTULO 8

O usO da língua: enunciaçãO, discursO e cOmunicaçãO

Conversar num grupo de amigos, falar ao telefone, discursar numa assembleia, fazer um relato de futebol são situações de oralidade. Pelo contrário, escrever um romance, fazer um requerimento, redigir uma carta ao diretor da escola ou participar num chat são situações de escrita. Algumas formas de discurso oral aproximam-se das da escrita (como no caso da apresentação oral, numa aula, de um trabalho previamente planificado) e algumas formas de discurso escrito têm características das da oralidade (como nas mensagens escritas que os amigos trocam entre si, no Messenger, por e-mail ou através do telemóvel). No entanto, falar e escrever têm regras e formas de organizar o discurso que, em muitos casos, são opostas ou muito diferentes. Pode, assim, distinguir-se o discurso oral típico (como numa conversa despreocupada, entre amigos) do discurso escrito típico (como numa carta a pedir emprego ou num artigo de jornal).

Discurso oral típico Saber Mais

O discurso oral típico é aquele em que: • o locutor e os seus interlocutores estão em presença uns dos outros, no mesmo contexto situacional; estão inseridos no mesmo espaço e podem observar aquilo que os rodeia: os objetos, o ambiente, os gestos e as reações dos outros, etc.; • o tempo de planificação por parte de quem fala e de descodificação por parte de quem ouve é muito curto, dado que se espera velocidade na fala e rapidez no tempo de reação às interpelações; os falantes têm de ir falando à medida que vão pensando e os ouvintes têm de ir descodificando e interpretando à medida que vão ouvindo; • não há possibilidade de voltar atrás e de apagar o que foi dito: o discurso oral é irreversível. As alterações ou reformulações que vão sendo feitas pelo locutor vão ficando registadas, à medida que este fala. Assiste-se ao processo de produção do discurso. Diz-se, por isso, que o discurso oral é um discurso que se processa on-line, tanto para quem o produz como para quem o escuta. Este modo de processamento tem as suas consequências a nível da organização do discurso e da forma como ele é estruturado. O facto de os interlocutores estarem em presença uns dos outros permite interrupções e interferências, nomeadamente para pedir esclarecimentos ou para introduzir novos temas. Isso obriga o locutor a fazer pausas, a deixar palavras e frases inacabadas, a repetir o que disse ou a dizê-lo por outras palavras, a mudar de assunto sem ter finalizado o que era sua intenção comunicar, etc.

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Saber que o seu interlocutor o pode interromper e questionar, caso necessite, faz com que o locutor nem sempre se preocupe muito com a correção ou com a clareza da expressão, porque sabe que pode explicar melhor a seguir, se não tiver sido bem entendido. Também a observação das reações físicas do interlocutor, em particular da sua expressão facial (gestos de assentimento, de dúvida, de perplexidade, etc.), só possível na oralidade, é uma importante fonte de informações sobre o modo como o discurso está a ser recebido e interpretado e orienta o locutor na progressão do discurso. A falta de tempo para planificar o discurso enquanto este está a ser produzido é mais uma razão para que o discurso oral apresente hesitações, palavras e frases inacabadas, sons sem significado como hum, ha, … Pela mesma razão, os falantes recorrem frequentemente ao uso repetido de palavras ou expressões, quase sempre vazias de sentido, que têm como função dar-lhes tempo para organizar as ideias e para escolher as palavras a dizer, garantindo ainda que o interlocutor se mantém atento durante o compasso de espera. São os chamados bordões linguísticos, como portanto, bom, quer dizer, estás a ver, tipo, etc. As repetições e as redundâncias, em geral, têm ainda uma outra função: garantir que o interlocutor, que também está on-line não perca informações importantes para a interpretação do que está a ser dito.

Saber Mais

A velocidade exigida pelo discurso oral está na origem de muitos erros que os falantes, em princípio, não produziriam se estivessem a escrever ou a falar pausadamente. É o caso da pronúncia incorreta das palavras, das faltas de concordância entre o sujeito e o verbo, das trocas de palavras, etc. Essa mesma exigência de velocidade determina que os falantes recorram ao vocabulário mais frequente (que vem mais facilmente à memória) e evitem muitas vezes frases mais complexas, que impliquem um maior trabalho de construção, e a escolha de palavras menos usuais. Repare-se no seguinte par de enunciados: Está frio, mas, mesmo assim, vou à praia. Embora esteja frio, vou à praia. O primeiro enunciado será o preferido no discurso oral, pois evita o uso de uma conjunção menos frequente (embora), que, por sua vez, obriga ao uso do modo conjuntivo (esteja). Em contrapartida, no primeiro enunciado, mas introduz uma oração com o verbo no modo indicativo (vou), que é o modo típico das frases simples.

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CAPÍTULO 8

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Saber Mais

É a velocidade discursiva que determina também, em parte, o uso muito comum, na oralidade, de construções com elipses, em que algumas partes dos enunciados são omitidas, como no discurso seguinte, produzido por uma mulher, em forma de desabafo: Estou estoirada. Levantar-me cedo, levar as crianças à escola, ir às compras, depois o almoço, dar aulas, tratar dos meus pais, ir buscar os miúdos… Estou de rastos. Se fosse escrito, este discurso seria diferente. Provavelmente, assim: Estou estoirada. Tenho de me levantar cedo, de levar as crianças à escola, de ir às compras… Depois, ainda tenho de fazer o almoço antes de ir dar aulas. Além disso, sou eu que tenho de tratar dos meus pais e de ir buscar os miúdos… Estou de rastos. O facto de os interlocutores terem acesso ao mesmo contexto situacional também faz com que, na oralidade, não seja preciso dizer ou explicitar tudo, uma vez que há informações que são dadas pelo contexto ou que podem ser facilmente recuperadas recorrendo a ele. Imaginemos que um professor, no início de uma aula, diz o seguinte: Vamos então começar! Os alunos saberão, pelo local e pelo momento em que o enunciado foi produzido, que o professor quer dizer: Vamos então começar a aula. Pelo contrário, se o mesmo enunciado for proferido a meio da aula, tendo estado o professor a preparar a leitura de um conto, quererá dizer: Vamos então começar a ler o conto. No primeiro caso, fica implícita a expressão a aula e, no segundo caso, a expressão ler o conto.

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Por vezes, o falante aponta diretamente para o contexto, quer através do simples gesto, com a mão, quer através de expressões linguísticas especiais, denominadas deíticos ou díticos(5) . Os deíticos são expressões linguísticas cujo valor de referência é variável e depende do momento de enunciação em que ocorrem. Na oralidade, pode perguntar-se a alguém Gosta?, apontando simplesmente para um qualquer objeto, ou Gosta deste? No último caso, usa-se um deítico, este,, para referir o objeto em causa. Só quem estiver presente, no momento da enunciação, saberá a que objeto ou entidade o pronome este se está a referir. O mesmo pronome pode designar um livro, se se estiver numa biblioteca, ou um vestido, se se estiver numa loja de roupa. O discurso oral, pelas razões referidas, recorre frequentemente a deíticos e a elipses. Eu, por exemplo, refere-se sempre a quem toma a palavra, mas quem toma a palavra pode ser qualquer pessoa. Expressões como hoje, aqui, isto ou eu são deíticos. Quase todos os aparentes defeitos da oralidade (erros, expressões inacabadas, falsas partidas, repetições, omissões, etc.) decorrem das condições próprias do discurso oral e têm muitas vezes vantagens, quer em termos de economia (como no caso das omissões, que permitem maior velocidade no discurso) quer em termos do sucesso da comunicação (como no caso de algumas repetições e redundâncias que ajudam o ouvinte a reter a informação). Dado que os falantes sabem que o discurso oral é irreversível, isto é, que não se pode apagar o que já foi dito, existe uma natural e generalizada complacência para com as referidas falhas, que são facilmente perdoadas ou ignoradas. No trabalho de interpretação do discurso oral, o ouvinte assume como sua responsabilidade o papel ativo de colaborar na (re)construção do discurso e dos seus sentidos, preenchendo lacunas, desfazendo contradições e desprezando eventuais erros. Não se pode afirmar que o discurso oral típico, em geral, seja pouco estruturado, mas sim que tem uma estrutura própria, muito diferente da da escrita.

Saber Mais

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Discurso escrito típico O discurso escrito típico é aquele em que, ao contrário do discurso oral: • os participantes na comunicação não estão em presença uns dos outros e não partilham o mesmo contexto situacional; • há tempo de planificação e de descodificação.. Tanto quem escreve como quem lê tem a possibilidade de parar para pensar, à medida que vai estruturando ou interpretando o discurso; (5)

A autora deste capítulo considera que a forma dítico é mais correta. Adotou-se, no entanto, nesta gramática a forma deítico por ser a usada no Dicionário Terminológico.

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CAPÍTULO 8

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• existe a possibilidade de voltar atrás e de reformular ou de ler de novo o que foi escrito. O discurso escrito típico apresenta-se ao leitor não no seu processo de produção, como no caso do discurso oral, mas como um produto final. As implicações destas condições na estruturação do discurso escrito são inversas das do discurso oral. Dado que não há nem pode haver interrupções nem interferências diretas do leitor e que existe um tempo de planificação e de reflexão e também a possibilidade de rever, apagar, corrigir e reformular, espera-se que o produto final: • expresse as ideias de forma organizada; • seja coeso e coerente; • seja claro para quem lê; • não mude de tema sem que isso seja assinalado explicitamente (através de expressões como mudando de assunto, voltemos à ideia inicial, uma outra questão, …); • não apresente erros decorrentes de desatenção (como faltas de concordância ou palavras cujo significado não corresponde à ideia pretendida); • não tenha repetições ou redundâncias desnecessárias; • não apresente hesitações nem palavras ou frases inacabadas; • não use bordões linguísticos; • apresente um vocabulário diversificado; • inclua estruturas gramaticais complexas e menos usuais. Por outro lado, dado que os leitores não têm acesso direto ao contexto em que é produzido o discurso escrito, é fundamental que o enunciador: • explicite sempre (não deixe implícitas, subentendidas ou omissas) todas as informações que não podem ser recuperadas a partir do contexto; • não use deíticos cuja referência só possa ser interpretada se se tiver acesso direto ao contexto. Imagine-se que um deputado, na Assembleia da República, começa um discurso (oral) dizendo: O que aconteceu hoje aqui foi uma vergonha para o País! Todos os outros deputados entenderão o que ele quer dizer com hoje e com aqui.

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Se, no entanto, o deputado estiver a escrever a um amigo ou a redigir uma notícia para um jornal, terá obrigatoriamente de explicitar a informação sobre o local e o dia a que se está a referir, uma vez que nem o amigo nem os leitores estavam presentes na situação em que os factos ocorreram. Dirá, então, por exemplo: O que aconteceu hoje na Assembleia da República foi uma vergonha para o País! A expressão na Assembleia da República substitui o deítico aqui. Quanto a hoje, terá de ser a data da mensagem ou do artigo a indicar exatamente o dia. Se, no entanto, estes não tiverem data, então o enunciador terá de explicitar também o dia, escrevendo, em vez de hoje, por exemplo: … no dia em que os partidos da oposição apresentaram uma moção de censura… ou … no dia 1 de abril de 2009… Podemos definir, como princípio geral, que quanto maior for a proximidade entre o enunciador e os enunciatários, em termos físicos (contexto situacional) e culturais (contexto sociocultural), mais implícito pode (e, em alguns casos, deve) ser o discurso. Pelo contrário, quanto maior for a distância entre o enunciador e os enunciatários, em termos físicos e culturais, mais explícito deve ser o discurso. Há discursos escritos que têm características que os aproximam dos discursos orais típicos. É o caso dos recados deixados a um membro da família. A intimidade entre quem escreve e quem lê e o facto de partilharem conhecimentos sobre o contexto em que vivem permitem uma escrita não planificada, pouco cuidada e em que não é necessário explicitar tudo, sendo mesmo aceitável o uso de deíticos que o conhecimento mútuo permite descodificar.

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8.1.3 Atos de fala Falar e escrever são ações, tal como beber ou passear. São ações praticadas quando se usam as línguas e que, como todas as ações, têm repercussões no mundo envolvente. Quando as pessoas comunicam, não falam apenas sobre o mundo, como meros espectadores, mas tentam influenciá-lo, agindo e fazendo agir os outros. Há sempre qualquer coisa que acontece e que muda quando se usa a palavra. O simples facto de alguém produzir um enunciado como Pronto, tinha de ser! já é um ato de fala ou ato linguístico. 249

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CAPÍTULO 8

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Um ato de fala é, pois, a ação de produzir um enunciado num dado contexto concreto de comunicação. O enunciado referido — Pronto, tinha de ser! — pode não ser dirigido a ninguém e ser apenas um desabafo ou uma expressão de desespero, mas, se for realmente ouvido por outra pessoa, vai desencadear a sua atenção e eventualmente o seu interesse. Neste caso, com o seu ato linguístico, o falante não tem nenhuma intenção especial de agir sobre os outros, embora o possa fazer indiretamente. Há outros casos, porém, em que essa intenção existe. Quando alguém faz uma pergunta como Perdeste o comboio?, espera que aquele a quem se dirige lhe dê uma resposta, isto é, usa a língua, intencionalmente, para agir e para fazer agir.

Saber Mais Um ato perlocutório tem a ver

Quando um enunciado, que é um ato de fala, realiza uma ação intencional, diz-se que é um ato ilocutório. O ato de perguntar é um bom exemplo. A pergunta Perdeste o comboio? é um ato de fala direto: direto faz-se a pergunta para obter uma resposta. Mas há casos em que, através do ato de perguntar, se realizam, indiretamente, outros atos. Assim, por exemplo, perguntas como Tem horas que me diga? ou Passas-me o vinho? são, indiretamente, verdadeiros pedidos. De facto, não se espera que o interlocutor responda se tem ou não tem horas, ou que diga se passa ou não o vinho. Pretende-se, sim, que olhe para o relógio e diga que horas são ou que tome imediatamente a iniciativa de passar o vinho. Neste caso, está-se perante atos de fala indiretos.

Atos ilocutórios Costumam classificar-se os atos ilocutórios em cinco tipos diferentes: assertivos, expressivos, diretivos, compromissivos e declarativos.

Ato assertivo Ato assertivo é aquele em que o simples enunciado compromete o enunciador com a verdade daquilo que diz. Isto é, aquilo que o enunciador afirma é para ser entendido como uma verdade. O ato assertivo pode assumir a forma positiva (1 e 2) ou a forma negativa (3 e 4), como nas seguintes afirmações: (1) Já li o novo livro do Harry Potter. (2) Garanto-te que vi a Joana na praia ontem. (3) O João não conseguiu aumentar a nota de Física. (4) O bebé já não está a chorar.

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Ato expressivo Quando alguém exprime verbalmente um sentimento, uma emoção ou uma atitude relativamente ao mundo que o rodeia, diz-se que realiza um ato expressivo: Tenho tanta pena de não ir ao Rock in Rio! Fico feliz por teres conseguido entrar na faculdade!

Ato diretivo Através deste tipo de atos, o falante procura, de uma forma direta, influenciar e fazer agir os seus interlocutores. É o caso da pergunta (em que se espera uma resposta), da ordem, do pedido e do conselho (em que se procura que o interlocutor reaja de acordo com o que lhe é dito): Já puseste dinheiro no telemóvel? (pergunta) Por favor, dê-me dois bilhetes para a sala 3. (pedido) Vai-me buscar o jornal. (ordem)

Ato compromissivo Atos compromissivos são aqueles em que o falante assume um compromisso, em que se obriga a agir de uma determinada maneira. Estão neste caso as promessas: Prometo que para a próxima não chego atrasado. Juro que não volto a fazer isso.

Ato declarativo O ato declarativo é um ato de fala muito especial. É um ato linguístico que, por si só, tem o poder de alterar a realidade. Eis um bom exemplo: Declaro-vos marido e mulher. Um casal só fica realmente casado quando o padre ou o conservador do registo civil emitem estas palavras, sob a forma de declaração. Também o enunciado seguinte é um ato ilocutório declarativo se for proferido por um juiz: Declaro o réu inocente. 251

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CAPÍTULO 8

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Atos de fala indiretos e inferências Muitos dos enunciados que as pessoas produzem no dia a dia, quando falam com as outras, não realizam atos diretos, mas sim indiretos. Quer isto dizer que, para alcançar um objetivo, se usam enunciados que parecem ter um objetivo diferente daquele que na realidade têm. Fazer uma pergunta, cujo objetivo mais óbvio seria obter uma resposta verbal, serve muitas vezes para fazer um pedido, como por exemplo: Emprestas-me a caneta? Podes acender a luz? Repare-se noutro caso. Imagine-se uma sala de aula com as janelas abertas, num dia ventoso. A professora entra e diz: Que frio que está aqui dentro! Muito provavelmente, haverá quem se levante para ir fechar as janelas. A professora faz uma afirmação e o aluno interpreta-a como um pedido. Considere-se, agora, outra situação, em que a professora pergunta: Não acham que já chega de barulho? Todos os alunos saberão que a pergunta não é mais do que uma forma camuflada de os intimar a calarem-se. E se, logo a seguir, a professora fizer um silêncio prolongado, também será claro para todos que ela lhes está a dar uma ordem (o que quer dizer que, às vezes, o silêncio funciona como um enunciado). Duas questões se podem colocar: • Como é que os alunos sabem que a pergunta e a afirmação são, na realidade, pedidos? • Por que razão a professora não faz o pedido ou não dá a ordem diretamente?

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A resposta a estas questões tem que ver com a natureza do ser humano e da própria linguagem humana e com o modo como esta é adquirida e usada na comunicação. Quando os falantes adquirem uma língua, adquirem ao mesmo tempo as regras de uso dessa língua. As crianças sabem que as palavras servem para fazer agir os outros. E também sabem, desde muito cedo, brincar com as palavras e que nem tudo o que dizem ou que lhes dizem é para ser tomado à letra.

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É muito vulgar as mães e os seus bebés entrarem no jogo do fingimento linguístico. Mãe: O João quer a bola, quer? João: Não. Pergunta e resposta podem repetir-se inúmeras vezes, sabendo o João que a mãe sabe que ele quer a bola, mas que está apenas a fingir que não a quer. Se a mãe resolver levar à letra o «não» do João e lhe tirar a bola, ele imediatamente mostrará a sua zanga. Outro exemplo: se uma criança pedir um gelado à mãe e esta lhe disser Já comeste um de manhã, não precisará de ouvir mais nada para saber que não terá o que quer. E se chegar a casa com os sapatos rotos e as calças sujas e a mãe disser Vens lindo!, não terá dúvidas de que aquele lindo quer dizer exatamente o contrário: que a mãe está a ser irónica. Os seres humanos, quando usam a língua para comunicar com os outros (já desde crianças), têm em conta dois factos fundamentais para o bom êxito da comunicação: • é preciso estar atento e associar ao que é dito de forma explícita aquilo que está implícito ou subentendido; • é preciso dar atenção aos eventuais sentidos não literais daquilo que é dito, isto é, aos segundos sentidos. Para isso, é necessário: • dar atenção à situação concreta em que o enunciado é produzido (contexto situacional); • atender ao que já foi dito antes (contexto verbal); • recorrer ao conhecimento que se tem do mundo, incluindo o conhecimento que se tem do interlocutor; • fazer inferências, isto é, deduzir ou reconstruir o que está implícito a partir do que é realmente dito ou explicitado. Assim, a criança a quem a mãe diz Vens lindo! sabe que não pode acreditar no significado literal da expressão, porque o seu conhecimento do mundo (a sua curta experiência de vida, neste caso) lhe diz que estar sujo e ter os sapatos rotos não agrada às mães nem desperta nelas uma atitude positiva. Do mesmo modo, a criança a quem dizem Já comeste um de manhã vai ter de fazer as suas inferências recorrendo ao que já lhe foi dito anteriormente e ao conhecimento que tem das convicções da mãe.

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Pensará assim: Se a minha mãe está sempre a dizer que só posso comer um gelado por dia, porque comer muitos gelados faz mal à saúde, e se ela me está a dizer agora que já comi hoje um, então, tenho de concluir (inferir) que me está a querer dizer que não me vai dar o gelado que estou a pedir. Este raciocínio, longo e aparentemente complexo, faz-se instantaneamente na prática comunicativa. A inferência é, pois, o processo de derivar, de extrair uma conclusão a partir daquilo que foi dito. Quanto maior for a experiência do indivíduo, a sua capacidade de dar atenção ao contexto e o seu conhecimento do mundo, mais hábil ele será na interpretação adequada do que os outros dizem ou querem dizer mesmo sem o dizerem: mais capacidade ele terá para reconhecer os sentidos não literais e para descobrir aquilo que está implícito, fazendo as inferências adequadas. Essa capacidade evolui e pode melhorar ao longo da vida. Repare-se num outro caso. Se uma pessoa disser a um colega que mandou uma carta ao patrão queixando-se das condições de trabalho e o colega responder Estás despedido!, para compreender a resposta, essa pessoa terá de fazer, quase instantaneamente, o seguinte raciocínio: O meu colega acha que o patrão não aceita reclamações dos empregados e, portanto, imagina que ele vai castigar-me por eu ter feito uma reclamação, despedindo-me. Por certo, não pensará que o colega o está realmente a despedir, e isto porque sabe que o colega não tem esse poder, uma vez que não é seu superior. Se se tratasse de um superior, a interpretação poderia ser mesmo a do despedimento. Além do que já ficou dito, para interpretar adequadamente um enunciado, é, pois, também necessário dar atenção às relações sociais existentes entre os interlocutores, que podem ser de hierarquia (patrão/empregado; professor/aluno, …) ou de solidariedade (amigos, irmãos de idades próximas, colegas com estatuto idêntico, …). Essa capacidade de dar atenção às relações sociais é mais fácil de encontrar nos adolescentes e nos adultos do que nas crianças muito pequenas. Mas a capacidade de fazer inferências, em geral, revela-se muito cedo.

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8.2 COMUNICAÇÃO E INTERAÇÃO LINGUÍSTICA Comunicar é uma atividade eminentemente social. Para haver comunicação, é preciso que haja pelo menos dois indivíduos nela empenhados: os participantes na comunicação. Os animais também comunicam. No entanto, a comunicação humana tem características próprias que a distinguem das formas de comunicação dos outros animais. O conceito de comunicação pressupõe a existência de uma intenção comunicativa, própria dos seres humanos e de alguns animais. Usa-se, no entanto, muitas vezes o conceito em sentido figurado, como quando se diz que o azul comunica um sentimento de paz. Na perspetiva dos seres humanos, comunicar é procurar colocar na mente dos outros aquilo que cada um tem na sua mente. É transmitir aos outros o pensamento: as ideias sobre o mundo, os sentimentos, as vontades e os desejos, as invenções, etc. É procurar influenciar os outros, convencendo-os a pensar eventualmente como eles próprios ou a agir de acordo com a sua vontade. A situação de comunicação mais natural e habitual é a da comunicação oral entre indivíduos — os interlocutores — que têm, alternadamente, o duplo papel de locutor e de ouvinte: a situação de interação linguística.. Diz-se, neste caso, que os falantes (dois ou mais) estão em diálogo. Dado que alguns seres humanos não possuem línguas orais mas sim gestuais, também falamos de interação linguística e de diálogo quando os participantes na comunicação interagem por gestos. Nem sempre os falantes, ao comunicarem, se dirigem a indivíduos específicos ou reais. É comum, sobretudo na comunicação escrita,, imaginar-se um destinatário fictício ou desconhecido ou mesmo uma entidade coletiva sem rosto próprio. É o que acontece quando se prepara uma conferência ou a apresentação de um trabalho para um público que ainda não se conhece. Em geral, o modo de dialogar e de comunicar, enquanto ato social, está sujeito a alguns princípios e regras que são ditados pela sociedade e que diferem muitas vezes de comunidade para comunidade e, dentro da mesma comunidade, de grupo social para grupo social.

Saber Mais Algumas pessoas, que nascem

8.2.1 Comunicação verbal e não verbal Para comunicar, é preciso uma qualquer linguagem, que pode ser verbal ou não verbal. Nem toda a comunicação se faz através da palavra (comunicação verbal). O ser humano tem à sua disposição outras linguagens, não verbais, como a linguagem corporal. 255

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CAPÍTULO 8

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Saber Mais SINAIS DE TRÂNSITO

Na linguagem dos sinais de trânsito, é o vermelho que transmite o significado de «obrigatoriedade de parar».

Para mostrar que se está de acordo com o que alguém diz, nem sempre se recorre a expressões verbais. Em vez de se dizer está bem, de acordo ou sim, pode simplesmente fazer-se um gesto com a cabeça que se convencionou, em muitas sociedades como a portuguesa, ser um movimento para baixo e para cima. Pelo contrário, para comunicar desacordo, faz-se um movimento da cabeça para a esquerda e para a direita. É muito vulgar os seres humanos, quando comunicam oralmente, fazerem acompanhar a linguagem verbal de gestos que tornam a comunicação mais informativa e emotiva (gestos faciais de espanto, de desânimo, de tristeza, de afeto, movimentos com a mão, indicando uma direção, etc.). Para aumentar a sua capacidade de comunicação natural, o ser humano tem criado, ao longo dos tempos, linguagens artificiais. Um exemplo de linguagem artificial criada pelo ser humano é a dos sinais de trânsito, em que as formas (triângulo, círculo, quadrado) e as cores (como o verde, o amarelo e o vermelho) são unidades fundamentais. Os sinais luminosos, por exemplo, vieram substituir os gestos do antigo polícia sinaleiro e têm um valor comunicativo idêntico. Trata-se aqui de uma linguagem artificial não verbal. Uma linguagem é um sistema organizado de unidades com uma forma e um significado próprios, intimamente ligados. Na língua portuguesa, que é uma forma de linguagem verbal, é o conjunto de sons [p], [a], [t] e [u] que, organizado desta forma, transmite o significado de pato. Mas, se estiver organizado de outra forma, já pode traduzir um significado diferente, como o de tapo ou o de apto. Para que haja uma comunicação de sucesso, é necessário que todos os participantes no ato comunicativo partilhem o conhecimento da mesma linguagem: das suas unidades, do modo como estas se combinam e das suas regras de uso. Quando essa linguagem é verbal, dizemos que os falantes usam a mesma língua. Se um chinês tentar falar com um português numa língua que este não conheça, como o mandarim, quase não haverá comunicação verbal(6). O mesmo acontecerá entre um falante de língua gestual portuguesa e um falante de língua portuguesa. Por vezes, quando a necessidade ou o desejo de comunicação são grandes e os falantes não partilham nenhuma língua, recorrem a estratagemas vários: comunicam por gestos, misturam gestos com algumas palavras, repetem a mesma palavra várias vezes, falam pausadamente ou muito alto, na esperança de que os outros os entendam. Dada a existência de uma real intenção comunicativa, podemos dizer que os falantes estão a comunicar. Mas não se trata de uma comunicação plena, uma vez que a maior parte da informação se perde por não haver uma língua comum. (6)

A própria entoação é portadora de significado, pelo que, apesar de tudo, mesmo que não domine a língua do seu interlocutor, é possível que um falante compreenda alguma coisa. Por exemplo, se aquele lhe está a fazer uma pergunta ou a dar uma ordem.

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8.2.2 Comunicação face a face e à distância A forma mais natural de as pessoas comunicarem é face a face, em presença umas das outras. Essa é a situação típica da comunicação oral, no dia a dia: na família, na escola, no trabalho, na rua, nas relações entre amigos, … Quando estão face a face, os falantes partilham o conhecimento do contexto envolvente e têm a possibilidade de observar as reações dos seus interlocutores. Isso interfere diretamente no modo como vão organizando o seu discurso e escolhendo as palavras e as expressões que usam. Se um dado interlocutor mostrar um gesto facial de incompreensão, o locutor pode optar por explicar o que disse por outras palavras. Se o gesto for de impaciência, poderá calar-se, por sentir que o outro já não o quer ouvir. Além disso, o interlocutor pode interrompê-lo, pedir um esclarecimento, começar a falar ao mesmo tempo, etc. Tudo isso condiciona o discurso de quem está no uso da palavra. A comunicação à distância é a forma de comunicação típica da escrita. Implica que os participantes na comunicação não partilhem o mesmo espaço físico e não possam dialogar e interferir diretamente na produção do discurso do outro. Costuma designar-se por interação linguística a situação de comunicação em que os falantes estão face a face. No entanto, com o telefone, a videoconferência ou a Internet, podemos alargar o conceito de interação linguística a situações em que existe distância física mas em que os falantes podem dialogar, quer oralmente quer por escrito.

8.2.3 Diálogo e conversa No contexto da interação linguística, no sentido tradicional (a situação de diálogo direto, em que não se recorre a nenhum meio ou instrumento de comunicação artificial), ocorre com frequência um tipo específico de comunicação a que damos o nome de conversa ou conversação. A conversa é um diálogo que duas ou mais pessoas mantêm entre si, durante um certo espaço de tempo, e em que as falas se sucedem de forma intercalada. Em geral, espera-se que cada participante tome a palavra a seu tempo, aguardando que os outros acabem o que estão a dizer ou que deem sinal para o outro come). No çar (por exemplo, com uma pergunta como O que é que acha?). entanto, é frequente os falantes interromperem-se e até sobreporem as suas falas às dos outros, sobretudo em situações de intimidade ou em debates muito vivos.

Saber Mais contrapõe-se

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CAPÍTULO 8

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Saber Mais

Quando os falantes conversam, espera-se que estabeleçam uma relação de diálogo adequada às expectativas uns dos outros e que tenham em conta as regras de comunicação da comunidade linguística, do seu grupo social ou do grupo social dos seus interlocutores. Há alguns princípios muito gerais que regulam a conversação e que parecem ser comuns a todas as comunidades, como o princípio de cortesia ou delicadeza e o princípio de cooperação.

Princípio de cortesia Num diálogo, espera-se que os falantes cumpram regras de delicadeza ou de boa educação, isto é, que escolham, em função do interlocutor e da relação que com ele mantêm, aquilo que vão dizer, as palavras que vão usar, o tom de voz, a forma direta ou indireta de expressar as suas intenções, etc. Se, num diálogo, existe uma relação de distância (porque não há intimidade ou porque existe diferença de idade ou de estatuto social, por exemplo), os falantes evitam dar ordens diretas, preferindo fazer pedidos, sob a forma de perguntas, tais como Não se importava de me abrir a porta?, em vez de Abra-me a porta! Os atos de fala indiretos são uma boa estratégia que as pessoas têm à sua disposição para cumprirem as regras sociais da delicadeza na comunicação, sobretudo quando ainda não conhecem bem aqueles a quem se dirigem. Também o modo como se escolhem as formas de tratamento (tu, você, V.ª Excelência, o Senhor, …), que depende da relação de distância ou de proximidade entre os participantes na conversa, é entendido, socialmente, como um sinal de delicadeza ou de indelicadeza por parte de quem fala.

Princípio de cooperação Num diálogo, ou numa conversa, os falantes esperam que haja cooperação mútua, isto é, que todos correspondam, de forma apropriada, ao que os outros lhes dizem. Em geral, uma pergunta merece uma resposta, um pedido de informação tem direito a uma informação. Se um falante responder a uma pergunta pedindo ele próprio uma informação, não está a corresponder ao que dele se espera: não está a cooperar. É o que acontece no diálogo seguinte: — Sabes dizer-me onde fica o Bairro Alto? — E tu sabes dizer-me onde fica Almada? A falta de cooperação impede o diálogo e pode ser interpretada como sinal de rejeição do outro ou de conflito. 258

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Os falantes, em geral, esperam que os seus interlocutores sejam coerentes, que não se contradigam, que não mintam, que sejam claros, etc. Podemos analisar essas expectativas sociais de cooperação linguística como um conjunto de princípios ou de máximas que regulam o diálogo e que são tacitamente aceites pela comunidade, a que se dá o nome de máximas de conversação. Há quatro grandes grupos de máximas: de qualidade, de quantidade, de relação e de modo.

Máximas de conversação Máxima de qualidade Numa conversação normal, as pessoas não dizem aquilo que pensam ser falso.

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Imaginemos que alguém diz: Hoje vai chover, é melhor levares o chapéu de chuva. Baseando-se neste princípio, o interlocutor pode duvidar de que vá chover, mas não de que a pessoa que o avisou tem razões para estar convicta disso (porque observou os sinais do meio ambiente ou porque ouviu uma notícia na rádio, etc.). A própria pessoa, se tiver algumas dúvidas, dirá preferencialmente: Dizem que hoje vai chover… Também um enunciado como este será tomado como verdadeiro. Ninguém porá em causa que a pessoa ouviu alguém dizer que vai chover. Só em casos especiais, fora do normal, é que os falantes mentem deliberadamente neste tipo de conversações. Máxima de quantidade Os falantes devem dar toda a informação necessária ou pedida e apenas essa. Considere-se este pequeno diálogo entre duas pessoas que designaremos por A e por B. A — Tens filhos? B — Tenho dois. Imaginem-se dois cenários: 1. B tem dois filhos. 2. B tem quatro filhos.

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Em ambos os casos, o falante B cumpre a máxima da qualidade: não diz nada que seja falso. De facto, é verdade que quem tem quatro filhos também tem dois filhos (dois mais dois). No entanto, se B tiver quatro filhos, a resposta não está a fornecer toda a informação, não cumprindo, por isso, a máxima da quantidade. O falante A parte do princípio de que B está a dizer toda a verdade e, por isso, B, se quiser ser cooperante, não poderá dizer apenas «meias verdades». Máxima de relação Num diálogo, o discurso deve ser pertinente ou relevante. Aquilo que os falantes dizem deve ser relevante em relação ao que foi dito antes: deve corresponder ao esperado e contribuir para o prosseguimento da conversa. Imagine-se um diálogo como o seguinte: A — Sabes nadar? B — Adoro música. A resposta não é relevante, pois nada tem a ver com a pergunta. Neste caso, a irrelevância da resposta pode ser interpretada como uma recusa de diálogo. Há casos, porém, em que a irrelevância é apenas aparente. Repare-se no pequeno diálogo que se segue: A — Tens frio? B — Vamos para dentro. Numa primeira instância ou impressão, não existe nenhuma relação entre a pergunta e a resposta. Esta deveria ser algo como: Tenho ou Não, não tenho frio. No entanto, o falante A considerará a resposta de B relevante se fizer inferências a partir dela(7) : — Se B propõe ir para dentro (pressupõe-se de uma casa), para um local abrigado, sem frio, então B tem frio. Ou: — Se B propõe ir para dentro, então B deduziu, a partir da minha pergunta, que eu tenho frio (e, por isso, propõe-me ir para um local abrigado onde eu não tenha frio). Nos diálogos do quotidiano, os falantes esperam, em geral, que os seus interlocutores colaborem ativamente na construção do sen(7)

Sobre atos de fala indiretos e inferências, ver as páginas 252-254.

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tido e façam inferências, o que permite uma maior economia (pois não é preciso dizer tudo) e uma maior velocidade na comunicação. Máxima de modo Os falantes devem ser claros, ordenados, não devem dar informações repetidas ou desnecessárias e devem evitar ambiguidades que perturbem a interpretação desejada. Considere-se a expressão: Comprei fruta no mercado e fui ao mercado. Há dois fatores que põem aqui em causa a máxima de modo: a ordem dos acontecimentos é alterada e a informação sobre o local é repetida. Na verdade, o que seria de esperar era um enunciado como: Fui ao mercado e comprei fruta. (subentende-se no mercado). O mesmo acontece num enunciado como: Ele apresentou um texto inédito que nunca tinha sido publicado. Neste caso, está-se perante um pleonasmo, uma vez que inédito significa «que nunca foi publicado».

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Considere-se outro enunciado que não cumpre a máxima de modo: Ele disse à Joana que ela era incompetente. Neste caso, se o contexto não o permitir descodificar, não se saberá se o pronome ela se refere à Joana ou a outra pessoa do sexo feminino que não a Joana (por exemplo, a Maria). O enunciado é ambíguo porque tem mais de uma interpretação. Se o falante quiser garantir que a interpretação é só uma, terá de optar por outras formas de expressão: Ele chamou incompetente à Joana. Ele disse à Joana que a Maria era incompetente. Todas as máximas referidas fazem parte do princípio de cooperação que está presente nas relações de diálogo entre os falantes e que assegura, em grande parte, o seu sucesso. No entanto, há 261

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muitos casos em que essas máximas são quebradas, sem que a cooperação seja posta em causa. Considere-se o seguinte diálogo: A — A Joana é diretora de três empresas. B — E eu sou o presidente da República… A réplica de B, numa primeira análise, é anómala, provoca estranheza, pois vai contra a máxima de qualidade (é falso que B seja o presidente da República) e a máxima da relação (uma vez que a réplica nada tem que ver com a informação dada por A). Em geral, se A acreditar que B é uma pessoa que sabe dialogar e que não está a falar com ele de má fé, tentará, também de forma cooperativa, fazer um esforço de compreensão e procurar as razões da aparente anomalia da resposta. Neste caso, terá de fazer o seguinte raciocínio: B não tem intenção de mentir; se B não é o presidente da República e diz que o é, então B está a fazer uma comparação entre ser «presidente da República» e ser «diretora de três empresas». Logo, o que B pensa é que é falso que a Joana seja diretora de três empresas. Por sua vez, com a forma como respondeu (E eu sou o presidente da República…), o falante B conseguiu sugerir, sem ter de o dizer abertamente, que A está a mentir ou então que tem uma convicção errada. Este tipo de violação das máximas de conversação é uma das bases da ironia.

8.2.4 Regras sociais de uso da língua Para comunicar com sucesso, numa dada língua, não basta saber o vocabulário e a gramática dessa língua. Também não é suficiente cumprir regras básicas de conversação como as que atrás foram referidas. É preciso saber quando falar, ou tomar a palavra, e como adequar aquilo que se diz a cada uma das situações concretas de comunicação, de acordo com as regras sociais de comportamento linguístico esperadas pela comunidade. Essas regras diferem de comunidade para comunidade. Há comunidades e grupos sociais que têm regras de comportamento linguístico muito rígidas que, se forem quebradas, dão origem a sanções (castigos) com diferentes graus de gravidade. Por exemplo, se alguém vai a uma entrevista para obter um emprego, numa empresa, e se dirigir à pessoa que o está a entrevistar tratando-a por tu ou pelo nome, arrisca-se a ser imediatamente excluído. Se um aluno, numa aula do 3.º ciclo, se dirigir à professora tratando-a por vossemecê, arrisca-se a que os colegas se riam dele. 262

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O riso é mesmo uma das sanções sociais mais vulgares quando as pessoas não sabem adequar os seus comportamentos (nomeadamente os comportamentos linguísticos) às situações, de acordo com as regras do grupo em que estão inseridas.

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Adequação às situações de comunicação Repare-se no seguinte discurso: Se atravessar a via pública fora das passadeiras de peões, está sujeito a uma penalização pecuniária. Trata-se de um enunciado gramatical, mas que todos os membros da comunidade linguística portuguesa sentirão ser inadequado numa situação de diálogo entre pessoas íntimas. Seria mais adequado dizer, por exemplo: Se atravessares a rua fora das passadeiras, podes apanhar uma multa. As diferenças entre estes enunciados residem, essencialmente, no vocabulário escolhido: via pública/rua; penalização pecuniária/multa; estar sujeito/apanhar. Do mesmo modo, não seria adequado perguntar a alguém que acabámos de conhecer: Então como é que vai o teu pessoal lá por casa? Nesta situação, de pouca intimidade, seria mais adequado não fazer referência à vida pessoal do interlocutor ou produzir um enunciado equivalente, como o seguinte: Como está a sua família? Mais uma vez, nesta situação de comunicação, era necessário mudar o vocabulário (pessoal/ família), em particular as formas de tratamento (tu/você), optando por não mencionar a casa do interlocutor (que é um espaço íntimo). As pessoas têm, em geral, um conhecimento intuitivo das regras de adequação dos enunciados às situações. Esse conhecimento é adquirido em grande parte de forma natural, pela experiência e pela simples exposição às situações, nomeadamente pela observação dos comportamentos linguísticos que são considerados aceitáveis (ou não) nos diferentes grupos sociais em que estão inseridas. No entanto, essa aprendizagem também se faz, direta ou indiretamente por via da palavra.

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CAPÍTULO 8

O usO da língua: enunciaçãO, discursO e cOmunicaçãO

São conhecidas as observações que os pais fazem aos filhos:

Saber Mais

Não se trata o senhor por tu… Olha lá, julgas que estás a falar com os teus colegas? Desde cedo, as crianças descobrem por si, ou são levadas a descobrir, que existem diferentes formas de dizer o mesmo, ou quase o mesmo, e que têm de escolher aquelas que são mais apropriadas a cada uma das situações. Isso faz parte da sua socialização linguística. É o facto de haver variação nas línguas que permite essas escolhas linguísticas(8) . Assim como há diferentes formas de falar consoante a região, ou consoante a idade, também há diferentes formas de falar (ou de escrever) em função da situação de comunicação. São as chamadas variedades estilísticas ou estilos.

Estilos ou registos formais e informais São muitos os fatores que condicionam as variações estilísticas dos falantes. Um dos mais importantes é o grau de distância (ou de proximidade) entre o locutor e o seu interlocutor e o consequente grau de formalidade da situação de comunicação. Quanto maior for a distância, mais formal é, em geral, a situação, e quanto menor for a distância, menos informal é a situação. A distância pode ser de diferentes tipos: de caráter social e de caráter afetivo. Em termos sociais, a distância entre os interlocutores depende, essencialmente, do estatuto social de cada um e do grau de conhecimento que existe entre eles. O grau de distância é maior quando existe uma grande diferença de estatuto e de poder (como entre um empregado de um banco e o seu diretor) ou quando as pessoas não se conhecem ou se conhecem mal (como dois passageiros que se encontram, por acaso, no mesmo autocarro). Nestes casos, espera-se um maior cuidado na escolha da variedade estilística a usar: um estilo mais formal. Quando, pelo contrário, as pessoas têm estatutos sociais idênticos (como dois estudantes da mesma idade) ou têm uma relação de intimidade (como a que é vulgar entre irmãos), existe maior proximidade e a situação de comunicação é considerada socialmente informal. Nestas circunstâncias, a comunidade espera, em geral, que seja usado um estilo também informal. Imagine-se o seguinte cenário: uma senhora entra num autocarro e quer que outra senhora, que já está sentada, desvie a mala que está no chão, à sua frente, para poder passar para um lugar junto da janela e sentar-se. Como comunicá-lo verbalmente? Que escolhas fazer? (8)

Sobre o conceito de variação linguística, ver as páginas 14-20.

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Vejamos algumas possibilidades. Os enunciados que se seguem estão ordenados do menos formal para o mais formal. Só os três últimos são adequados a uma situação de comunicação em que as pessoas não se conhecem. — Tira a mala daí! (ordem simples, no imperativo) — Tira a mala daí para eu passar! (introdução de uma justificação) — Tire a mala daí para eu passar. (tratamento na terceira pessoa) — Não se importa de tirar a mala, para eu passar? (pedido, em vez de ordem, através de uma pergunta e da introdução de uma expressão que torna esse pedido ainda menos direto: não se importa) — Não se importa de desviar a mala, para eu passar? (uso de uma palavra menos habitual no dia a dia, desviar) — Não se importa de desviar um pouco a mala, para eu passar? (introdução de uma expressão que procura minimizar, tornar menos evidente, a interferência no comportamento do outro: um pouco) Considere-se um outro cenário: um diretor de um banco e um seu funcionário assistem a uma peça de teatro, numa festa promovida pela instituição bancária. No intervalo, encontram-se junto ao bar e o funcionário pergunta ao seu chefe se está a gostar da peça. — Então que tal? Está a gostar disto? (uso de uma expressão que aponta diretamente para o contexto situacional — isto) — Está a gostar? (omissão de isto) — O senhor está a gostar? (introdução de uma forma de tratamento delicada) — O senhor doutor está a gostar? (introdução de uma forma de tratamento que faz referência ao estatuto do interlocutor — doutor) — O senhor doutor está a gostar da peça? (introdução da referência explícita ao objeto de gostar: a peça) — A peça está a ser do seu agrado, senhor doutor? (introdução de uma construção e de uma palavra (agrado) menos habituais no dia a dia) Também aqui os enunciados estão organizados por ordem crescente de formalidade. Repare-se que, mesmo sabendo que o diretor do banco identifica exatamente a que se refere isto, no primeiro enunciado, porque ambos acabaram de assistir a uma parte da peça, o funcionário, para ser mais formal, tem de manter a distância e explicitar tudo aquilo a que se refere, como se não partilhasse o mesmo espaço do seu chefe. 265

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CAPÍTULO 8

O usO da língua: enunciaçãO, discursO e cOmunicaçãO

Saber Mais

A formalidade ou a informalidade de um enunciado depende, pois, de múltiplos fatores, como a escolha dos modos verbais, das formas de tratamento, de um certo tipo de vocábulos e de construções sintáticas, da explicitação ou não de todas as informações a transmitir, etc. Muitas das estratégias para tornar um discurso formal são estratégias de delicadeza. Há um outro tipo de distância que pode influenciar as escolhas linguísticas dos falantes, numa dada situação: a distância afetiva. Uma relação afetiva positiva (de solidariedade) favorece o uso de estilos informais, ao passo que uma relação negativa, de conflito, favorece o uso de estilos mais formais. Isto é explicável à luz do conceito de distância. O afeto aproxima as pessoas, mesmo que, na vida social, tenham estatutos diferentes. Nas comunidades em que as regras de uso da língua são mais flexíveis, uma relação de intimidade e de solidariedade pode sobrepor-se, por acordo mútuo, a uma relação de hierarquia e de distância social. Deste modo, pessoas de estatuto muito diferente (como um patrão e o seu empregado), mas que têm uma relação de amizade, usam, por vezes, um estilo informal, quando comunicam entre si. Pelo contrário, pessoas que sejam íntimas e que até tenham o mesmo estatuto social podem, em situações de conflito, mostrar, através da linguagem, que querem marcar as distâncias, usando estilos mais formais. É vulgar dois amigos ou dois familiares, quando estão em conflito, adotarem um estilo próprio de quem não se conhece. Mas você julga que eu sou rico? São também conhecidas as mudanças bruscas das mães quando se zangam e deixam subitamente de tratar os filhos, como habitualmente, por tu, introduzindo expressões de aparente deferência que têm como principal função marcar a dita distância afetiva: O menino ouviu o que eu lhe disse? Esteja quieto, se faz favor. Os falantes, em cada momento e em cada situação, negociam entre si, de forma quase sempre implícita, a dimensão que prevalece na escolha do estilo mais adequado à situação concreta de comunicação: o estatuto, o grau de conhecimento ou a relação afetiva.

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E n u n C I Aç ã O E D I S C u r S O

1. Observe a banda desenhada e indique: a) o enunciador b) o(s) interlocutor(es) c) os enunciados Quem vem ao quadro resolver o exercício?

Eu vou!

2. Tendo em conta o contexto situacional, identifique as circunstâncias em que ocorre a comunicação no excerto abaixo e complete o quadro. Professor: Pois claro, pois claro! Isso estava eu a ver… Mas não lucra nada com o estratagema, porque, dure o que durar a exposição do caso, não prescindo da lição marcada. Tonecas: É pena!... Então, conto mais abreviado: Eu entrei [de manhã] na farmácia, que estava cheia de freguesia, e disse logo, muito alto: — Avie-me, que estou com pressa! O farmacêutico olhou-me com mau modo, e respondeu: — Espere a sua vez, menino! E vai eu, disse-lhe: — Se não me avia imediatamente faço aqui um barulho que os fregueses vão-se todos embora! E vai ele, perguntou-me: — Então que é que o menino deseja? E vai eu respondi: — Dê-me cinco tostões de bicarbonato para cozer mais depressa os feijões em dois papéis! JOSÉ COSME, As Lições do Tonecas (adaptado).

a) Local b) Tipo de atividade linguística c) Número de participantes d) Características individuais dos participantes e) Estatuto social dos participantes f) Relações que os participantes mantêm entre si g) Papel que estão a desempenhar na atividade linguística 267

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CAPÍTULO 8

O USO DA LÍNGUA: ENUNCIAÇÃO, DISCURSO E COMUNICAÇÃO

3. Atente na transcrição parcial de uma entrevista a José Rodrigues dos Santos, realizada por Nilton, no Programa «5 para a Meia-Noite». Nilton: Bom... Ia aqui desafiá-lo rapidamente haaaa pra... pra uma uma série de perguntas só que nós somos simpáticos e lhe damos hipóteses de de escolha. Pergunto-lhe eu: escrever um livro de oitocentas páginas é… tão fácil que demora uma semana, só faço porque impede as bavlas [balas] do exército de entrar, embora ele ainda não tenha comprado nenhum, não é?…; e tenho muito tempr [tempo] haaa e muita coisa para dizer, mas não tenho com quem falar. José Rodrigues dos Santos: Aaaaa aaaaa hipótese quatro. Nilton: A hipótese quatro. José Rodrigues dos Santos: É assim: um romance não é… o romance é grande… um romance de cem páginas é grande se for chato. Um romance de mil páginas é pequeno se for muito interessante. O que faz o tamanho do romance não é o número de páginas, é o interesse que ele suscita. Nilton: Mas tem limite ou não, de páginas? José Rodrigues dos Santos: Não haa, o limite, quer dizer… se eu chegar à página mil e tiver vontade de ler mais o livro é pequeno. Nilton: Muito bem.

3.1 Transcreva características do discurso oral típico. a) Reformulações/hesitações — .

b) Pausas — .

c) Repetições de palavras ou expressões — .

d) Bordões linguísticos — .

e) Pronúncia incorreta de palavras — .

f) Problemas sintáticos — .

g) Deíticos — .

3.2 Transforme esta entrevista oral numa entrevista escrita, respeitando as regras do modo escrito. 4. Identifique características do discurso oral presentes nos enunciados seguintes. a) — Marta, estás uma hora atrasada! — Mãe… mãe… haa a verdade é que me distraí. Desculpa! b) — Maninha, emprestas-me o teu mp3? — Ó pá! Tipo… Tens o teu. Tás sempre a pedir-me coisas! És memo chato! c) — Mário, não tens um trabalho para me entregar? — perguntou o professor. — N… não. O meu… o meu… Professor, posso entregá-lo amanhã?

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AT O S D E FA L A

1. Crie enunciados que tenham como objetivo realizar: a) uma ameaça; b) uma promessa; c) um pedido; d) uma ordem; e) um conselho; f) a expressão de um sentimento. 2. Leia as anedotas que se seguem, atente nas frases destacadas e registe, no quadro abaixo, o tipo de ato ilocutório a que correspondem esses enunciados. Texto A Um rato toma banho num lago. O seu amigo elefante chega à borda do lago. — Ei! Vem tomar banho — diz-lhe o rato. — A água está ótima. — Não posso — responde o paquiderme. — Não trouxe o meu fato de banho… — Não faz mal, eu empresto-te o meu.. 365 Piadas Novas, Civilização Editora.

Texto B — Levante-se o réu! — disse o Juiz — Este tribunal considera o réu culpado, estando condenado a oitenta dias de prisão. O que tem o senhor a dizer? — Senhor Doutor Juiz, se possível, eu gostaria de cumprir a pena no inverno. Os dias são mais curtos… 365 Piadas Novas, Civilização Editora.

Texto C — Um diretor de circo faz audições para encontrar novos talentos. — Então! — diz ele a um artista candidato. — Que é que sabe fazer? — Eu sei imitar pássaros — disse o artista timidamente. — Isso não interessa a ninguém — disse o diretor. — O seguinte. — Lamento muito! Até à próxima — despediu-se o artista. E voou pela janela. 365 Piadas Novas, Civilização Editora.

Ato ilocutório

Definição

Assertivo

O enunciado compromete o falante com a verdade daquilo que diz.

Expressivo

O falante exprime verbalmente um sentimento, uma emoção ou uma atitude.

Diretivo

O falante procura, de forma direta, influenciar e fazer agir os seus interlocutores.

Compromissivo

O falante assume um compromisso, que o leva a agir de determinada maneira.

Declarativo

Ato linguístico que tem o poder de alterar a realidade.

Frases

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CAPÍTULO 8

O usO da língua: enunciaçãO, discursO e cOmunicaçãO

3. Refira a intenção de cada um dos atos ilocutórios que se seguem. a) Enfermeira para paciente: — Não pode fumar aqui! b) Senhor num café para outro: — Podia dizer-me as horas, por favor? c) Professor para os alunos: — Amanhã entrego-vos as fichas de avaliação. d) Médico para paciente: — Devia comer menos doces… e) Pai para filho: — Ou te portas bem ou ficas de castigo! f) Pessoa a pensar: — Não voltarei a fumar! g) Mãe para filho: — Vem já para a mesa, João. h) Empregado para o patrão: — Amanhã, sem falta, redijo o relatório. i) Irmão para irmã: — Prometo que não te vou desiludir. 3.1 Classifique os atos ilocutórios presentes nos enunciados das alíneas anteriores. 4. Atente na situação apresentada. Locutor — Está mesmo frio! Interlocutor 1 — E então? Interlocutor 2 — Vou fechar a janela! 4.1 Identifique o tipo de ato de fala. 4.2 Refira qual era a intenção do locutor ao produzir o enunciado e explique a forma como cada um dos interlocutores entende a mensagem. 5. Explicite as inferências de cada uma das situações apresentadas abaixo. a) Situação 1 Um menino parte um vidro. A mãe diz: — Que lindo serviço! b) Situação 2 A filha diz para a mãe, olhando para a montra de uma sapataria: — Que ténis tão lindos! A mãe responde: — São muito caros! c) Situação 3 Um amigo para o outro, numa festa de aniversário: — O bolo está ótimo! — Pois… Já percebi! 5.1 Defina inferência.

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C O m u n I C Aç ã O E I n T E r Aç ã O L I n g u í S T I C A

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1. Leia atentamente os excertos abaixo. Texto 1 Funcionário — Dr. Lopes da Silva, dá-me licença? Olhe, passa-se isto assim, assim, de maneiras que eu amanhã não posso vir trabalhar. Pronto, adeus, bom dia. Dr. Lopes da Silva — Mas o que é isso? Passa-se isto, assim, assim! Mas isto o quê? Funcionário — Quer que seja, se calhar, mais específico, é? Eu amanhã não posso vir ao emprego por motivos profissionais. Dr. Lopes da Silva — Por motivos profissionais? Mas quais? Funcionário — É que não me apetece trabalhar. Dr. Lopes da Silva — Não lhe apetece? Mas isso não são motivos profissionais… Funcionário — Não são? Então, não me apetece trabalhar. Está mesmo a dizer, se é trabalhar… é profissional.

Texto 2 Juiz — O senhor foi encontrado com a mão no bolso do senhor Ribeiro, aqui presente, estando, por isso, acusado de tentativa de roubo. O que tem a dizer em sua defesa? Réu — Eu não estava a tentar roubar nada, Senhor Doutor Juiz, estava apenas com frio nas mãos e o bolso do senhor Ribeiro estava quentinho.

Gato Fedorento — série Lopes da Silva.

1.1 Tendo por base os conhecimentos adquiridos relativamente à interação discursiva, indique as máximas que os locutores não terão respeitado em determinado momento do diálogo. 2. Imagine que precisa de escrever uma carta a várias pessoas para reclamar a instalação de aquecimento central na sua escola. Redija uma carta a descrever a situação a um amigo seu e à ministra da educação. Veja abaixo um exemplo da carta que poderia ter sido escrita ao diretor da escola. Arrabaldes de Baixo, 21 de novembro de 2010 Ex.mo Senhor Diretor da Escola Secundária Senhor dos Aflitos, Venho por este meio comunicar-lhe o descontentamento de alunos e professores da turma 10.º F face às condições de climatização a que estamos expostos na sala de aula. Assim, fica o senhor informado de que a temperatura dentro da sala é muito baixa, não possuindo esta nenhum tipo de aquecimento. Professores e alunos sentem os efeitos nocivos desta situação, pois a atenção e o empenho são francamente menores do que o normal. Pelo exposto acima, vimos pedir a instalação de aquecimento central nas salas da nossa escola, a fim de minimizar os efeitos do frio sobre quem tem de ali permanecer, quase imóvel, durante noventa minutos. Grato pela atenção dispensada, fico à espera de deferimento.





Atenciosamente, António Onofre

3. Explique a má utilização das formas de tratamento em cada situação, tendo em conta as regras sociais do uso da língua. a) Um doente, impaciente por não ver melhoras no seu estado de saúde, entra no consultório do médico e diz-lhe: — Achas que eu tenho paciência para andar a aturar as tuas experiências? b) Uma mãe, que habitualmente trata o filho por tu, repreende-o: — Ouça lá, o menino acha que o que fez está bem feito? Arrume já isto tudo imediatamente! 271

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9 O L U CAPÍT

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a c i r ó t e r e o t tex 9.1 TEXTo A 9.2 rETÓrIC

rÁrIoS

ITE 9.3 MoDoS l

A FICHAS DE

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7 | 28 | 29 2 | 6 2 | S E T I V I DA D

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texto e retórica

9.1 TEXTO Saber Mais

Saber Mais

Um texto é uma sequência de enunciados orais ou escritos, com início e fim claramente definidos. Do ponto de vista linguís‑ tico, é a unidade gramatical de maior dimensão, mas a sua exten‑ são é variável. Pode ser constituído por enunciados de grandes proporções — Os Miseráveis de Victor Hugo, por exemplo — ou por uma só palavra de advertência como «Silêncio!». O autor de um texto escrito ou oral, literário ou não, é aquele que o produz. Normalmente, o autor é singular, mas pode haver situações de coautoria de dois ou mais autores. Nem sempre o autor se identifica: pode usar um pseudónimo ou esconder‑se no anonimato. No caso do poeta Fernando Pessoa, há heterónimos, autores denominados com nomes diferentes que têm biografias, conceções estéticas e escritas particulares. O autor (dito real ou empírico) tem uma existência real fora do texto que criou, factos que o identificam no tempo e no espaço. Pode, contudo, dentro do texto, ser observado quando se manifesta enquanto instância intratextual. Nesse caso, designa‑se por autor textual ou implícito. «Afastemo‑nos, deixemos aqueles dois a palrar num tortuoso cami‑ nho de cabras e vamos localizar duas altas patentes na reforma, que tagarelam um tanto à solta, não raro sobre assuntos que exi‑ gem perspicácia e concentração ou, pelo menos, decorosa gravi‑ dade. Ouçamos os coronéis, chamados Bernardes e Lencastre que se encontram, ou encontrarão, a taramelar à beira de uma determi‑ nada piscina, em lugar ainda incerto. O coronel Bernardes, de que ouvimos, claramente ouvida, a voz sonora, acostumada a comandar, embora não o vejamos, por razões que agora não sei explicar, está a dizer o seguinte:» Mário de Carvalho, Fantasia para Dois Coronéis e Uma Piscina.

O leitor, real ou empírico, corresponde à pessoa concreta que lê um texto e que participa ativamente na sua interpretação. Quando o leitor existe dentro do texto e é uma entidade com a qual o autor ou narrador dialoga, diz‑se, neste caso, «leitor implí‑ cito». «Sim, leitor benévolo, e por esta ocasião te vou explicar como nós hoje em dia fazemos a nossa literatura. Já não me importa guardar segredo; e depois desta desgraça, não me importa já nada. Saberás, pois, ó leitor, como nós outros fazemos o que te fazemos ler.» Almeida Garrett, Viagens na Minha Terra.

Um texto enquadrado pelas circunstâncias da sua produção e pela intenção comunicativa do seu autor (ou autores) tem unidade de sentido, mas o seu sentido só pode ser atualizado e concretizado através da interpretação do(s) leitor(es) ou do(s) ouvinte(s). Podem, assim, desenvolver‑se múltiplos sentidos — plurissignificação.

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A pluralidade de sentidos resulta não só das características semân‑ ticas, formais e pragmáticas do texto, mas depende também das características do leitor, dos seus conhecimentos do mundo, dos seus saberes literários e das suas estratégias interpretativas.

9.1.1 Coerência textual A coerência textual é uma importante propriedade textual relacionada com a possibilidade de criação de um sentido para o texto. Ocorre quando há continuidade de sentido entre as partes e a totalidade do texto, e interação entre macroestruturas e microestruturas textuais.. Resulta ainda da conjugação do trabalho e da intencionalidade global do autor com a cooperação interpretativa do recetor/leitor. A coerência textual difere da coesão textual porque depende da capacidade interpretativa do destinatário, sendo assegurada pela sua competência linguística, pelo seu conhecimento do mundo e pelos seus conhecimentos literários. A continuidade de sentido caracterizadora da coerência tex‑ tual é construída de acordo com os géneros e os tipos de texto, porque o espaço de intervenção interpretativa do leitor depende das estruturas textuais. Se textos científicos, técnicos e diretivos limitam as possibilidades interpretativas, em particular os textos literários dão ao leitor um espaço interpretativo alargado. A coerência de um texto deve ser assegurada por princípios básicos de natureza conceptual.

Saber Mais

Princípio da não tautologia Este princípio determina que um texto coerente não deva ser nulo do ponto de vista informativo. O exemplo seguinte viola este princípio. Estou muito contente por estar aqui, primeiro porque estou muito contente, depois porque estou aqui.

Princípio da não contradição Este princípio postula a condição cognitiva de que um texto coerente não pode conter afirmações que são incompatíveis. É o que se verifica no exemplo que se segue. O trio musical Los Hermanos, composto por quatro elemen‑ tos, tocou até às quatro da madrugada.

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Princípio da relevância Segundo este princípio, espera‑se que entre as diferentes sequências de enunciados haja relações de diversa natureza, que sejam compatíveis com o conhecimento do mundo dos leitores/ recetores.

9.1.2 Coesão textual Para que um texto seja coeso, é necessário que disponha de mecanismos linguísticos que permitam uma continuidade de sen‑ tido entre os diferentes elementos que o constituem. Os mecanismos que estabelecem a coesão textual são a coe‑ são lexical, a coesão referencial, a coesão temporo‑aspetual, a coesão interfrásica e os marcadores discursivos

Coesão lexical A coesão lexical é conseguida através de reiterações e substi‑ tuições lexicais. No primeiro caso, é a repetição da mesma unidade lexical ao longo do texto que assegura a coesão lexical: A Sara é muito boa aluna. Desde criança que a Sara lê muito e aprende com gosto. Pode também recorrer‑se à substituição da unidade lexical por outras unidades lexicais que com ela mantêm relações de significado, como as relações de hiponímia‑hiperonímia ou de sinonímia‑antonímia. Quando a Margarida quis ocupar o lugar que lhe estava destinado no parque de estacionamento, viu que um Fiat já aí estava estacionado. O automóvel era de uma colega distraída. No exemplo acima, é a substituição da palavra Fiat (hipó‑ nimo) pela palavra automóvel (hiperónimo) que assegura a coesão lexical.

Coesão referencial A coesão referencial é assegurada por mecanismos discursi‑ vos que correlacionam elementos textuais, permitindo a sua cor‑ reta interpretação. Quando num texto há um ou mais elementos textuais sem referência autónoma cuja interpretação depende de um referente (expressão que corresponde àquilo de que se fala) apresentado 276

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anteriormente (anáfora) ou subsequentemente (catáfora), esta‑ mos perante uma cadeia de referência.

Anáfora Uma anáfora é uma expressão não autónoma do ponto de vista referencial que retoma, total ou parcialmente, o valor referen‑ cial do antecedente. Observe‑se o exemplo seguinte. O Manel está em Economia na Universidade Nova. Vi‑o na semana passada, em Santos. Neste exemplo, o termo anafórico — pronome pessoal o — e o termo antecedente — grupo nominal O Manel — são correferentes, falam da mesma pessoa. Atente‑se, agora, no exemplo que se segue. O cão brinca no jardim. O animal está habituado a estas digressões. Neste exemplo, o termo anafórico — o animal — retoma o valor referencial do antecedente — o cão. Há uma relação de hipo‑ nímia e hiperonímia entre cão e animal que suporta a correferência. Também as relações de parte‑todo podem sustentar as rela‑ ções anafóricas. A sala de aula está muito bem conservada. As carteiras parecem novas. Neste exemplo, a interpretação referencial do grupo nominal as carteiras depende da sua relação anafórica com o grupo nomi‑ nal a sala de aula. Observe‑se outro exemplo: O jantar do Gonçalo foi no dia 15 de janeiro. No dia anterior, os amigos encontraram‑se para lhe comprar uma prenda. Neste exemplo, o valor referencial da expressão no dia ante‑ rior constrói‑se a partir da interpretação do antecedente, a expres‑ são de localização temporal no dia 15 de janeiro.

Catáfora Numa cadeia de referência, a expressão que estabelece o referente pode ocorrer a seguir às expressões que lhe são referen‑ cialmente dependentes. Quando a cadeia de referência apresenta esta ordenação, o termo catáfora substitui o termo anáfora. 277

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A Ana olhou‑o e disse: — Ricardo, estás com um ar muito feliz.

Elipse A elipse é uma categoria vazia cuja interpretação depende em absoluto do antecedente. Ocorre quando, numa cadeia de refe‑ rência, o termo anafórico não está lexicalmente realizado. O Nuno é um aluno aplicado e Ø tem boas notas. Neste exemplo, verifica‑se a elipse do sujeito da segunda ora‑ ção. No entanto, esse sujeito continua a ser interpretado anaforica‑ mente porque retoma o valor referencial do antecedente, O Nuno.

Correferência não anafórica Duas ou mais expressões linguísticas podem identificar o mesmo referente, sem que nenhuma delas seja referencialmente dependente da outra. O João foi trabalhar para Angola. Finalmente, o namorado da Ana conseguiu alcançar o seu sonho. No exemplo acima, as expressões 0 João e o namorado da Ana podem ser correferentes, ou seja, podem identificar a mesma entidade, sem que nenhuma delas funcione como termo anafó‑ rico. Assim, só o saber compartilhado entre interlocutores permite afirmar se existe ou não correferência entre as duas expressões.

Coesão temporo‑aspetual Este tipo de coesão é assegurado pela utilização de tempos verbais que se correlacionam e pela compatibilidade entre ele‑ mentos de localização temporo‑aspetual. Quando o Manel nasceu, a Madalena tinha dois anos. Enquanto ele lavava a loiça do jantar, ela lia aos filhos o Romance da Raposa.

Coesão interfrásica A coesão interfrásica é assegurada por conectores (con‑ junções e locuções conjuncionais ou advérbios conectivos) que servem para ligar as frases, os períodos e os parágrafos do texto. 278

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Estes elementos contribuem para a coesão textual. Vou ao café quando concluir o trabalho de casa de Português. Desejo fazer todas as tarefas necessárias. Agora, não me peçam que abdique do jogo de futebol.

Marcadores discursivos Os marcadores discursivos são unidades linguísticas invariá‑ veis sem função sintática ao nível da frase nem contributo semân‑ tico ao nível do discurso. Têm, no entanto, funções importantes na estruturação textual e discursiva (contribuindo para a coesão tex‑ tual) e na gestão do contacto do locutor com o interlocutor. De acordo com as suas diferentes funções, podem ser estru‑ turadores de informação, conectores, reformuladores, operadores discursivos e marcadores conversacionais ou fáticos.

Estruturadores de informação Os marcadores estruturadores de informação criam uma ordem no discurso: em primeiro lugar, em segundo lugar, por outro lado, por último, … Vou falar, em primeiro lugar, daquilo que se espera de um ouvinte.

Conectores discursivos Os conectores discursivos são uma classe de marcadores do discurso que estabelecem uma ligação entre partes do discurso. Criam relações de sentido entre enunciados ou entre sequências de enunciados em discursos orais ou escritos. São, do ponto de vista morfológico, unidades linguísticas invariáveis, pertencentes a diferentes categorias gramaticais (conjunções, advérbios, inter‑ jeições). Os conectores podem ser, do ponto de vista pragmático, clas‑ sificados como: • aditivos ou sumativos — apresentam sobretudo informa‑ ção nova; • conclusivos ou explicativos — estabelecem entre os enun‑ ciados uma relação de causalidade e consequência; • contrastivos ou contra-argumentativos — evidenciam uma relação de contraste entre dois enunciados ou de contra‑argumentação. 279

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Estes elementos contribuem fortemente para a coerên‑ cia textual uma vez que orientam o recetor na interpretação dos enunciados. CON ECTORES Tipo

Elementos

Exemplos

Aditivos ou sumativos

e, ainda, nem, também, inclusivamente, além disso, de facto, da mesma forma, ainda por cima, igualmente, também, de novo, pela mesma razão, por um lado, por outro lado, do mesmo modo, etc.

A casa era muito luxuosa. Tinha, inclusivamente, uma pequena sala de cinema para projeção de filmes.

Conclusivos ou explicativos

assim, daí, então, consequentemente, em consequência, por conseguinte, por isso, logo, desta forma, portanto, por esta razão, de modo que, donde se segue, etc.

O condutor ultrapassou em muito os 50 quilómetros/hora permitidos. Foi, por conseguinte, autuado pela polícia.

Contrastivos ou argumentativos

não obstante, pelo contrário, apesar disso, por seu lado, mas, todavia, contudo, de qualquer modo, em todo o caso, etc.

Gostava muito dela, sim, da beleza dela, da companhia, mas o medo de falhar impedia‑o de avançar para um compromisso.

Quadro 1 | Conectores discursivos.

Reformuladores Os marcadores reformuladores têm como função explicar ou retificar a informação no sentido de a tornar mais adequada: ou seja, por outras palavras, melhor dizendo, quer dizer, ... A tua prima Guida é muito faladora, melhor dizendo, é insuportável.

Operadores discursivos Os operadores discursivos são operadores que visam reforçar a argumentação: de facto, efetivamente, na realidade, por exemplo, mais concretamente, ... E depois, acontece que, na realidade, eu não gosto muito de sair à noite.

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Marcadores conversacionais ou fáticos Os marcadores conversacionais ou fáticos mantêm e regu‑ lam a interação discursiva: olha, ouve, presta atenção, ... Magui, olha, queres jantar o quê?

9.1.3 Texto e contexto — deixis A deixis é a propriedade envolvida na interpretação das expressões que identificam quer os intervenientes no discurso quer o espaço e o tempo em que a interação verbal está a decorrer. Os deíticos são palavras e expressões que remetem para refe‑ rentes específicos do ato enunciativo. Assinalam o sujeito enun‑ ciador e o sujeito a quem se dirige o ato enunciativo (deíticos pessoais), o tempo da enunciação (deíticos temporais) e o espaço da enunciação (deíticos espaciais).

Deixis pessoal Os deíticos pessoais apontam diretamente para os interve‑ nientes no discurso. Podem ser: • pronomes pessoais: eu, tu, nós, ... • pronomes e determinantes possessivos: meu, teu, nosso, ... • marcas de flexão verbal referentes à pessoa e ao número: cantamos, comes, … • constituintes com a função sintática de vocativo: Podes che‑ gar aqui, Vera.

Deixis temporal Tendo como ponto de referência o momento de enunciação, os deíticos temporais indicam a anterioridade, a simultaneidade ou a posterioridade das situações relatadas. São deíticos tempo‑ rais: • advérbios e locuções adverbiais de valor temporal: hoje, agora, cedo, depois, tarde, na semana passada, no dia seguinte, neste momento, … • tempos verbais: disse (anterioridade em relação ao momento da enunciação), entenderá (posterioridade em relação ao momento da enunciação), ... • alguns adjetivos: atual, contemporâneo, futuro, ... • alguns nomes: véspera, século, sábado, ...

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Deixis espacial Os deíticos espaciais apontam para os elementos espaciais e para a sua maior ou menor proximidade relativamente ao local em que se encontra o locutor no momento da enunciação. Aqui se incluem: • advérbios e locuções adverbiais de valor locativo: aqui, aí, ali, à frente, … • pronomes e determinantes demonstrativos: este, esse, aquele livro, aquilo, … • alguns verbos que indicam movimento: entrar, sair, ir, vir, chegar, aproximar‑se, …

9.1.4 Relato do discurso Chama‑se relato do discurso ao fenómeno discursivo que apresenta a reprodução de um discurso num outro discurso, envol‑ vendo duas enunciações diferentes.

Verbos introdutores do relato do discurso Há verbos que introduzem o discurso relatado no discurso do relator. Estes verbos permitem a articulação sintática do discurso reproduzido com o discurso que o reproduz. O significado destes verbos equivale, normalmente, ao do verbo dizer. São os ditos verbos dicendi, como: afirmar, proferir, refe‑ rir, comunicar, declarar, ... Outros verbos há, também com funções de introdução do relato do discurso, que, além de indicarem o ato de dizer, exprimem outros valores semânticos: gritar, sussurrar, murmurar, berrar, consi‑ derar, observar, desabafar, lamentar, ... E há ainda verbos com valor metafórico: rugir, roncar, rosnar, ... «— Vamos, filho, tem maneiras — rosnou­‑lhe muito seca D. Ana» Eça de Queirós, Os Maias.

«Pareces um doutor, disparei eu em direcção ao Martinho» Fernando Assis Pacheco, Memórias de Um Craque.

Com alguma frequência, o discurso relatado é introduzido por expressões que equivalem aos verbos dicendi: fazer considera‑ ções, deixar escapar as palavras, etc. «E antes de cortar, num arriscado passo de dança, deixou­‑lhe­dita uma frase misericordiosa: Filhos assim dão cabo de mim.» Alface, Filhos Assim Dão Cabo de Mim.

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Modos de relato do discurso São modos de relato do discurso a citação, o discurso direto, o discurso direto livre, o discurso indireto e o discurso indireto livre.

Citação Uma citação é a reprodução de um fragmento de um texto noutro texto. É destacada graficamente — normalmente com aspas ou itálico — e faz referência ao autor ou à obra a que per‑ tence. Pode ter funções argumentativas, didáticas ou ser uma marca da relação entre textos. «Como Tchekhov era escritor, sabia que tudo o que as pessoas dizem sobre o amor pode ser poetizado e enfeitado. (Se não existisse a ideia do amor, muitos talvez nem sequer se apaixonariam). Mas como também era médico, achava que só podemos perceber o sentimento amoroso individualizando e desfiando cada caso concreto. No conto que tem o título «Sobre o Amor», Tchekhov escreve isso mesmo: Uma explicação que, aparentemente, serve para um caso já não se aplica a dez outros, e o melhor, a meu ver, é esclarecer cada caso em separado, sem tentar generalizar.» Pedro Lomba, «Um Caso Concreto».

Discurso direto O discurso direto reproduz, ou procura reproduzir, literal‑ mente o discurso de um locutor no seu discurso ou no de outro. Deste modo mantém, sem alteração, as formas deíticas do dis‑ curso citado (os indicadores de pessoa, de tempo e de lugar). Este modo de relato do discurso é assinalado frequentemente por verbos introdutores do relato do discurso: dizer, responder, retorquir, etc. Na escrita, o discurso direto é normalmente assina‑ lado e delimitado por indicadores gráficos como: aspas, itálico, dois pontos, travessão, parágrafo. «Ela segurou de leve o seu ombro robusto: — Quantos males te esperam, oh desgraçado! Antes ficasses, para toda a imortalidade, na minha ilha perfeita, entre os meus braços perfeitos… Ulisses recuou, com um brado magnífico: — Oh deusa, o irreparável e supremo mal está na tua perfeição!» Eça de Queirós, «A Perfeição».

Discurso direto livre O discurso direto livre é uma modalidade de discurso direto característica da escrita narrativa contemporânea. Nestes casos, a reprodução supostamente literal do discurso (do próprio autor ou de outro) não é introduzida formalmente com verbos introdutores do relato do discurso nem é delimitada, graficamente, por indica‑ dores gráficos, como as aspas ou o travessão. 283

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«Cresceste depressa de mais. De repente ficaste mulher, parecias mais velha, ainda que mais nova, eu sentia‑me em fífia, falava alto quando queria falar baixo, dizia o contrário do que pretendia, estu‑ dava estratégias que saíam sempre erradas. Gostas de mim? E às tantas começaste a irritar‑te.» Manuel Alegre, A Terceira Rosa.

Discurso indireto No discurso indireto relata‑se, com alterações, o discurso de um locutor no discurso do mesmo ou de outro locutor. As formas deíticas do discurso original são alteradas (indica‑ dores de pessoa, tempo e espaço) passando a ser as do emissor/ relator. A modalidade de discurso direto transforma‑se, deste modo, em discurso indireto: E por fim a minha mãe disse: — Não te quero hoje até tarde na rua. → discurso direto E por fim a minha mãe disse que nesse dia não me queria até tarde na rua. → discurso indireto

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Discurso indireto livre O discurso indireto livre é uma modalidade de reprodução de discurso que concilia o discurso direto e o discurso indireto. Não se trata de discurso direto porque não ostenta as marcas formais deste discurso: verbos introdutores do relato do discurso ou sinais gráficos de identificação e delimitação. Também não se trata de discurso indireto porque os segmentos citados não estão sujeitos à subordinação e podem conservar as interrogações, as exclama‑ ções, o léxico e as construções de frase do discurso citado. No discurso indireto livre é frequentemente difícil distinguir a voz do emissor/narrador da voz do emissor/da personagem citado(a). É uma modalidade muito usada no romance realista do século XIX. «Mas o Teixeira, muito grave, muito sério, desiludiu o Sr. Adminis‑ trador. Mimos e mais mimos, dizia Sua Senhoria? Coitadinho dele que fora educado com uma barra de ferro! Se ele fosse a contar ao Sr. Vilaça! Não tinha a criança cinco anos já dormia num quarto só, sem lamparina, e todas as manhãs, zás, para dentro de uma tina de água fria, às vezes a gear lá fora… E outras barbaridades. Se não se soubesse a grande paixão do avô pela criança, havia de se dizer que a queria morta. Deus lhe perdoe, ele, Teixeira, chegara a pensá‑lo... Mas não, parece que era sistema inglês! Deixava‑o correr, cair, trepar às árvores, molhar‑se, apanhar soalheiras, como um filho de caseiro. E depois o rigor com as comidas! Só a certas horas e de certas coisas... E às vezes a criancinha, com os olhos abertos, a aguar! Muita, muita dureza.» Eça de Queirós, Os Maias.

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9.1.5 Tipologia textual Há nos textos marcas pragmáticas e estruturas verbais, de natureza semântica e formal, que os caracterizam e enquadram em determinados tipos ou géneros. As particularidades dos dife‑ rentes tipos ou géneros são indicadores importantes quer para a produção quer para a interpretação dos textos. Podem considerar‑se as seguintes tipologias textuais: argu‑ mentativa, conversacional, descritiva, expositiva, instrucional, nar‑ rativa e preditiva.

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Textos argumentativos Os textos argumentativos têm como função nuclear a persu‑ asão do(s) interlocutor(es), comprovando e refutando afirmações, estabelecendo relações entre factos, hipóteses e provas. Verifica‑se a presença abundante de marcadores e conectores discursivos que articulam as partes do texto e o domínio do tempo verbal presente. «— Senhor presidente! O meu escândalo, a ofensa que me dão estes projetos bárbaros e de vandalismo, não vem só da mutilação com que eles ameaçam o pequeno e inocente estabelecimento literá‑ rio que sua majestade tinha confiado aos meus cuidados. A pros‑ crição é geral; é uma hecatombe das letras e das artes, sacrificadas sem dó nem alma. Este modo de fazer economias, de regenerar um país, de salvar uma nação, destruindo os seus estabelecimentos de instrução e civilização, escandaliza‑me por bárbaro, por nulo, por contra‑indicado; ofende‑me porque ofende a minha religião social, os princípios em que tenho fé. Pois quê? Como havia eu de ver a san‑ gue frio atacar, destruir por bárbaros o que tanto custou a fundar e a conservar! Quando um homem sacrificou a sua pessoa, a sua vida, a sua apli‑ cação, a sua existência toda a um fim santo, honesto e justo, o da civilização e da glória do seu país, que desse fim e dos meios que levaram a ele fez uma religião para a sua alma, uma crença para o seu espírito, uma devoção para o seu coração, admira que, vendo‑a atacada, insultada e proscrita por aqueles de quem menos devia esperá‑lo, se indigne, se fanatize? Sou, confesso que sou fanático, pela instrução, pela ilustração do meu país; que o meu fanatismo se escalda e exacerba contra estas pretendidas e falsas economias, que tanto querem poupar nas tristes migalhas que apenas caíam da mesa do orçamento para entreter a vida das pobres artes, que nunca se sentaram a ela!»

Saber Mais PROTÓTIPOS­TEXTUAIS

Almeida Garrett, «Discursos Parlamentares».

Textos conversacionais Os textos conversacionais são textos produzidos por, pelo menos, dois interlocutores que vão tomando a palavra à vez. Incluem a conversa quotidiana, cara a cara ou à distância — via telefone ou pela Internet —, a entrevista, o debate, a tertúlia. Um exemplo de texto conversacional é a entrevista que se segue, realizada por João Céu e Silva a António Lobo Antunes.

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«De­ vez­ em­ quando­ ameaça­ que­ só­ escreverá­ mais­ dois­ ou­ três­ livros.­Perdeu­a­vontade? Não só não é isso que eu tenho vontade como tão‑pouco é uma ameaça. Está muito mais relacionado com o medo de não ser mais capaz de escrever. Aparece a cada livro que acabo e pergunto‑me se serei capaz de fazer um próximo. Ninguém que escreva a sério vai poder dizer isso. Também é uma espécie de negociação com a morte, deixa‑me escrever mais um, mais dois, mais três... Gostava de ter tempo para escrever outro e arredondar o trabalho, é um círculo que ainda não está completo. Quantos­livros­faltam­para­fechar­esse­círculo.­Só­mais­um? Gostava que fossem mais porque o círculo vai aumentando sem nos darmos conta. Eu gostava de viver mais duzentos anos mas é impro‑ vável que os tenha. Sofre­muito­ao­escrever? Há instantes de intensa felicidade — às vezes sinto as lágrimas a caírem‑me pela cara — e momentos de grande irritação porque num dia consigo fazer meia página e no noutro só três linhas. O material resiste, as palavras não chegam, o livro não sai. Normal‑ mente as primeiras duas, três horas são perdidas, os mecanismos sensórios ainda estão muito vivos. Então, quando começo a estar cansado, as coisas começam a articular‑se com mais facilidade. É como quando estamos a dormir e de repente temos a sensação de termos descoberto os segredos da vida e do mundo, mas sabemos que estamos a dormir. Lutamos para acordar e quando chegamos à superfície não temos nada, diluiu‑se enquanto fomos subindo. Quando consigo um estado próximo dos sonhos é muito mais fácil trabalhar e só o tenho estando fatigado. Já­ experimentou­ algumas­ substâncias­ para­ atingir­ esse­ estado­ artificialmente? Nunca tomei drogas, nunca apanhei uma bebedeira na vida. Não bebo café, não me dá prazer. Acho que o único vício que tenho é fumar. Portanto,­é­bem­comportado? Não é uma questão de comportamento, em casa dos meus pais não havia vinho à mesa, só água. Eram muitos filhos... É­normal­os­filhos­romperem­hábitos! Não havia vinho à mesa da mesma maneira que a roupa passava de uns para os outros. Os meus pais deram‑nos uma educação de grande austeridade, não tinham muito dinheiro. Quando­ faz­ o­ julgamento­ da­ convivência­ com­ a­ vida­ acha­ que­ ambos­se­dão­bem? Nunca me pus esse problema, tenho tentado viver o melhor que posso. Fiz certamente muitos erros e continuarei a fazer — espero que menos — mas nós não fomos feitos para a morte, fomos feitos para a vida e sempre me custou ver o sofrimento alheio. Quando fazia muita medicina, não era só o sofrimento que custava mas a minha impotência para com ele. Acho que as pessoas não foram fei‑ tas para a morte mas para a vida e para a alegria.» Diário de Notícias, 30 de setembro de 2007.

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Textos descritivos Os textos descritivos dão informação sobre um dado objeto, pessoa, personagem, espaço ou situação. As sequências descritivas costumam construir‑se com o verbo ser e outros verbos caracteri‑ zadores conjugados predominantemente no presente e no preté‑ rito imperfeito e com a presença de muitos adjetivos qualificativos e de advérbios com valor locativo. Atente‑se na seguinte descrição da Custódia de Belém: «A custódia parece uma árvore sobre cuja copa, formando uma pirâmide, se sobrepõem três baldaquinos, cada um subordinado a uma das pessoas da Santíssima Trindade, que de alguma maneira se representam. Nas raízes figuram elementos da vida, enquanto no tronco central da árvore se inscrevem símbolos do rei. É, no ouro, a representação da terra e do céu. Assenta numa base oblonga, contornada por um friso vertical, onde, em caracteres latinos de esmalte branco opaco, se insere a legenda: O. MVITO. ALTO. PRICIPE. E. PODEROSO. REI. DÔ. MANUEL.I. A.MDOV. FAZER. DO OVRO. I. DAS. PARIAS. DE QILVA. AQYAHBOV. E. CCCC‑ CVI. As palavras são intercaladas por losangos esmaltados a verde escuro, e, na parte dianteira da peça, uma cruz de Cristo em esmalte vermelho separa o princípio do fim da legenda.» João Nuno Sales, Custódia.

Textos expositivos Os textos expositivos visam expor e explicar, analisar e sin‑ tetizar factos, ideias, conceitos e teorias. São dominantes nestes textos o tempo presente e as estruturas verbais que apresentam o verbo ser com predicativo de sujeito nominal ou o verbo ter com complemento direto. «Esboço­de­cronologia 1893 7­de­abril. José Sobral de Almada Negreiros nasce na Fazenda Sau‑ dade, em S. Tomé, ilha pertencente ao arquipélago de S. Tomé e Prín‑ cipe, colónia portuguesa até 1975. Seu pai, António Lobo de Almada Negreiros, natural de Aljustrel (nascido em 1868), poeta, jornalista, autor da História Ethnographica da Ilha de S. Thomé, foi adminis‑ trador do concelho entre 1890 e 1899. Sua mãe, Elvira Freire Sobral, nascida em 1873, era filha de um proprietário rural e neta de uma negra angolana. Educada no Colégio das Ursulinas, em Coimbra, tinha uma grande habilidade para o desenho. 24­de­junho. É batizado na Igreja da Trindade» Luís Manuel Gaspar, El alma de Almada el impar: obra gráfica, 1926‑1931 (catálogo da exposi‑ ção da Galeria do Palácio Galveias, 2004).

Textos instrucionais ou diretivos O propósito dos textos instrucionais ou diretivos é ensinar ou indicar procedimentos aos seus destinatários. Listam e caracteri‑ zam operações sucessivas usando predominantemente o impera‑ tivo verbal. 287

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Aqui se incluem: as receitas de culinária, as instruções de montagem e manuseamento de aparelhos, as administrações de produtos, as proibições afixadas/publicadas, etc. Amêndoas de canela «Levam‑se ao lume 480 g de açúcar com 1 copo de água e 480 g de amêndoas descascadas; deixa‑se ferver um pouco, deita‑se‑lhe canela moída, q. b., e vai‑se mexendo até o açúcar estar seco; nessa altura estão prontas.» Maria Isabel de Vasconcelos Cabral, O Livro de Receitas da Última Freira de Odivelas.

Textos preditivos Os textos preditivos dão informações sobre o futuro, através da antecipação e previsão de acontecimentos. A estrutura verbal dominante é o futuro. São exemplos de textos preditivos os horós‑ copos e os boletins meteorológicos. Veja‑se no seguinte exemplo, publicado numa quinta‑feira, o que se prevê para o sábado e para o domingo seguintes. As formas verbais «vão sentir‑se» e «há‑de chegar» evidenciam o caráter de antecipação e predição do texto. No próximo fim de semana, vão sentir‑se chuvadas em todo o País. O vento há‑de chegar aos 90 km/h.

Textos narrativos Os textos narrativos são relatos de acontecimentos ou ações que se desenvolvem ao longo de um tempo, usando predominan‑ temente o passado/pretérito verbal (perfeito e imperfeito). Nestes textos, ocorrem frequentemente advérbios com valor de tempo ou de lugar. O­Tímido «“Ele deu‑me um vestido precioso, pespontado de cuidados e debru‑ ado de terror”— diz a canção. E, todavia — quem pode abordar o coração duma mulher, mesmo a mais obscura? A sua submissão é um elo tão forte que não pode ser cortado nem com a foice nem com a espada; nem o vento de mil lâminas agudas, que sopra desde o deserto até à selva, o desfaz. E todavia! Trata‑se aqui duma rapariga bela, o que é um bom começo para interessar uma leitura. Vivia todo o ano perto da praia, e quando se sentava na areia o seu perfil escuro lembrava a Lorelei de Cope‑ nhague. […] Lorelei era doce e delicada, embora soubesse muito de matemáticas. Tinha continuamente dois ou três apaixonados perdidos por ela, e, o que é extraordinário, não preferia nenhum deles. Gostava de ser cortejada e de ouvir palavras elogiosas: era uma afetiva, muito mais do que uma amorosa. Há pessoas assim. Mas um dia encontrou‑se com um rapaz tímido, de Lobrigos, que é terra de vinho e que produz paixões tão fortes quanto o seu moscatel.

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Chamava‑se Adonias. O pai tinha uma pequena loja de panos que lhe dava escassamente para pagar os estudos do rapaz e trazê‑lo vestido com decência. Adonias parecia mais velho do que era na realidade, pois não contava mais de dezassete anos. Mas o seu amor por Lorelei caíra‑lhe no coração como a experiência de dez filósofos gregos. Os dois passavam as manhãs na praia, calados, ele tocando a mão dela debaixo da areia. Quase não falavam; o rosto dele deixava ver uma emoção tão estranha, que parecia sintoma duma doença. Lorelei provavelmente influía no seu amigo de maneira catastró‑ fica, pois ele perdera toda a relação com o mundo que o rodeava. Em Setembro, ainda em férias, Lorelei foi para Santa Senhorinha, onde alguém da família tinha uma quinta do tempo do Condestável; e arranjou lá outro namorado. Adonias retirou‑se para casa do pai e ajudou na loja a medir sarja e entretela. Vi‑o uma vez; trazia calças brancas de risquinhas, como só se encontravam nas fotografias das antigas termas onde se organizavam cottillons e burricadas. Estava tão desfigurado e ridículo, que até a sua paixão se convertia numa espécie de pequena mania, e não nalguma coisa de fundamental e glorioso. Tinha na mão uma cana de junco e batia com ela na beira do sapato. — Não volta para o colégio? — Não, não volto mais. O meu pai precisa de mim. Descobrira que era feio e pobre, e que os seus dezassete anos não serviam de modelo para uma propaganda da juventude a quem o mundo se promete. Os seus olhos escuros, tristes, estavam velados de lágrimas. Eu folguei um pouco, aberta numa crueldade sagaz que provinha do conhecimento do exclusivo amor dele pela Lorelei. Pouco tempo depois ele morreu. Que significava tudo aquilo? Por‑ que quebra o coração de um homem a fria estrela duma rapariga sem virtude, sem calor, sem promessa alguma? E desde essa data eu reprovei sempre na matemática — e não me arrependo.» Agustina Bessa‑Luís, Conversações com Dimitri e Outras Histórias.

9.1.6 Paratexto O paratexto compreende o conjunto de elementos — ver‑ bais e gráficos — que enquadram, acompanham e/ou publicitam o texto principal. São da responsabilidade do autor ou do editor e servem a apresentação do texto/livro ao público, dando informa‑ ções orientadoras. Incluem‑se nesta categoria o nome do autor, o nome da edi‑ tora, o título, o subtítulo, a(s) dedicatória(s), o prefácio, o posfácio, o índice, a bibliografia, a epígrafe, notas várias, ilustrações e infor‑ mação de vária natureza apresentada nas badanas ou na contra‑ capa de um livro.

Título Constituído por uma palavra ou grupo de palavras, o título serve a identificação de um texto. Segue normalmente o nome do autor, mas pode ocasionalmente precedê‑lo. É pelo título que o leitor estabelece um primeiro contacto com o texto, que tem dele uma expectativa e uma primeira inter‑ pretação.

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Prefácio O prefácio é um discurso que aparece nas primeiras páginas dos livros que fala sobre o texto que em seguida se apresenta. É escrito pelo autor, pelo editor ou por um convidado de mérito. Quando assinado pelo autor, o prefácio incide normal‑ mente nas razões e nas intenções que terão estado na origem da escrita do livro que introduz. Se for da responsabilidade de outro, contém sobretudo aspetos de apresentação e apreciação da obra. Prefácio «Isto é como ir ao funeral de uma boa pessoa. É claro que vamos elogiar o morto, mas há algum morto que não seja elogiado? Parece que o simples ato de morrer, por mais involuntário e acidental, é digno de elogio. [ ] Com os prefácios é a mesma coisa. Seja o livro bom ou mau, tenha o autor muito ou nenhum interesse, há sempre um prefácio que os recomenda com igual entusiasmo. [ ]» Ricardo Araújo Pereira, «Prefácio». In rui tavares, Pobre e Mal Agradecido.

Posfácio O posfácio é um elemento paratextual da responsabilidade do autor, ou de outro, que se apresenta a seguir ao final do texto, nas últimas páginas, e que assume funções semelhantes às do prefácio.

Índice O índice consiste numa lista ou enumeração de termos sele‑ cionados a partir de um dado texto (capítulos, assuntos, nomes de autores, etc.) que exibe indicações de localização (número de página ou parágrafo) no mesmo texto ou livro. Os livros costumam ter um índice geral no qual se indica o nome dos capítulos ou das principais partes da obra e se refere o número da página em que esse capítulo ou essa parte começa. Este índice geral costuma aparecer no início do livro. Algumas obras contêm, além do índice geral, um índice no qual se apresentam em pormenor e por ordem alfabética os temas de que trata o livro ou os nomes próprios que nele aparecem, jun‑ tamente com o número de página onde são mencionados. Estes índices denominam‑se índices remissivos temáticos ou índices onomásticos, respetivamente, e situam‑se no fim do livro. São especialmente úteis quando se pretende localizar uma informa‑ ção concreta.

Bibliografia A bibliografia é a listagem de obras que um determinado texto refere direta ou indiretamente.

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Deverá conter os seguintes elementos: • nome do autor (apelido seguido do nome próprio); se hou‑ ver mais de um autor, num máximo de três, deve apare‑ cer o nome de todos; se o trabalho for da responsabilidade de mais de três autores, surge apenas o nome do primeiro seguido de et al. («e outros»); • título da obra (em itálico); • local da edição; • nome da editora; • data da edição. GALVÃO, Henrique — Kurika. Lisboa: Cotovia, 2008. Se se tratar de um artigo ou de um capítulo, este deve apa‑ recer entre aspas, antes do título da obra, mantendo‑se todos os outros elementos. PERES, João Andrade; MÓIA, Telmo — «Concordância». In Áreas Críticas da Língua Portuguesa. Lisboa: Editorial Caminho, 1996. No caso de textos recolhidos na Internet, deve indicar‑se o nome do autor, o título, o endereço eletrónico e a data do acesso (mês e ano). Por exemplo: SILVA, José Mário — O Crescimento dos E‑books, acedido a 2 de janeiro de 2010 em: http://bibliotecariodebabel.com/geral/o‑crescimento‑ dos‑e‑books

Epígrafe A epígrafe é uma citação recolhida na obra de um determi‑ nado autor que é colocada à cabeça de um texto, livro ou capítulo de livro. As epígrafes são relevantes no processo interpretativo por‑ que podem manifestar relações de intertextualidade entre obras, autores e textos. Veja‑se um exemplo de uma epígrafe presente na obra de José Saramago História do Cerco de Lisboa:

Saber Mais Texto ou textos com que se relaciona

«Enquanto não alcançares a verdade, não poderás corrigi‑la. Porém, se não a corrigires, não a alcançarás.» Do Livro dos Conselhos.

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9.2 RETÓRICA

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Saber Mais TROPO

Num sentido lato, a retórica é a arte do discurso em geral e compreende um conjunto sistematizado de técnicas que é neces‑ sário aprender para obter determinados fins. Enquanto arte — no sentido da techné grega —, a retórica estuda e ensina os princípios e as regras do discurso correto e elegante — a ars recte et bene dicendi, isto é, «a arte de bem dizer» — e tem como finalidade nuclear a persuasão do auditório. Para isso, ensina a elaborar o dis‑ curso e a argumentação, tendo em conta o assunto, o interlocutor e a situação particular de comunicação. A arte de bem dizer diz respeito à qualidade do discurso em termos estéticos e persuasivos. Assim, a retórica antiga coligiu um conjunto de recursos estéticos — enquadrados no ornatus — para evitar o tédio ou a indiferença do recetor. Segundo Yvancos, dentro da retórica clássica há duas oposi‑ ções: uma que opõe tropo a figura e outra que distingue figuras de dicção de figuras de pensamento. Uma figura é um mecanismo retórico que opera ao nível da linearidade do texto, em palavras combinadas e em frases. Cria, além do significado literal, enunciados com novos significados, com vários desígnios expressivos, por vezes contrários ao sentido literal. Tropo, da palavra grega tropos, que significa «volta, desvio, mudança», é um processo de significação que consiste na transpo‑ sição de sentido de uma palavra ou expressão, de modo que passa a ser usada num sentido diferente daquele que lhe estava asso‑ ciado originalmente, causando estranheza. Ao transferir os signifi‑ cados das palavras e ao estabelecer relações semânticas inéditas, o tropo faz com que a realidade seja olhada de um modo novo. O sentido da oposição tropo versus figura pode encontrar‑ ‑se nas quatro operações ou categorias do ornatus que visam a alteração do uso normal da linguagem: adição de algo (adiectio), supressão (detractio), variação da ordem (transmutatio) e substi‑ tuição ((inmutatio). Os tropos cabem dentro desta última catego‑ ria, pelo que há um tropo quando se dá a substituição ou troca de uma palavra por outra. As figuras estão incluídas nas três primei‑ ras categorias. Distinguem‑se ainda dos tropos por estes se verifi‑ carem, particularmente, na substituição de palavras equivalentes consideradas individualmente (in verbis singulis) e por as figuras se apresentarem em disposições e combinações de várias palavras (in verbis conjuntis). A oposição entre figuras de dicção e figuras de pensamento radica na seguinte diferença: as figuras de dicção manifestam‑se no plano do significante (no som, na morfologia das palavras ou na construção sintática) e as figuras de pensamento intervêm no plano do significado, na conceção de pensamento.

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9.2.1 Figuras de retórica e tropos Alegoria

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A alegoria é um tropo de pensamento que representa de modo figurado um conceito ou uma abstração. Na alegoria, coexistem o significado literal e o significado figurado, que se tornam indissociáveis na interpretação. A alego‑ ria é uma forma de metáfora continuada que se pode prolongar e ocupar integralmente um texto. «A primeira cousa que me desedifica, peixes, de vós, é que vos comeis uns aos outros. Grande escândalo é este, mas a circunstân‑ cia o faz ainda maior. Não só vos comeis uns aos outros, senão que os grandes comem os pequenos. […] Santo Agostinho, que pregava aos homens, para encarecer a fealdade deste escândalo, mostrou‑ ‑lho nos peixes; e eu, que prego aos peixes, para que vejais quão feio e abominável é, quero que o vejais nos homens. Olhai, peixes, lá do mar para a terra. Não, não: não é isso o que vos digo. Vós virais os olhos para os matos e para o Sertão? Para cá, para cá; para a Cidade é que haveis de olhar. Cuidais que só os Tapuias se comem uns aos outros? Muito maior açougue é o de cá, muito mais se comem os brancos.» Padre António Vieira, Sermão de Santo António (aos Peixes) e Sermão da Sexagésima.

Aliteração A aliteração consiste na repetição da mesma consoante, fre‑ quentemente na sílaba inicial de palavras contíguas, contribuindo para a criação de ritmo e musicalidade nos textos. Este termo, segundo vários autores, poderá alargar‑se aos inícios vocálicos das palavras. «Saudade­Dada Em horas inda louras, lindas Clorindas e Belindas, brandas, Brincam no tempo das berlindas, As vindas vendo das varandas, De onde ouvem vir a rir as vindas Fitam a fio as frias bandas. […]» Fernando Pessoa, Poesias.

Alusão Uma alusão é uma figura de pensamento que corresponde a uma referência indireta a alguém ou a algo. Por vontade ou impos‑ sibilidade, o que se evoca não é nomeado. Lausberg considera que a alusão corresponde a uma intenção lúdica que exige do ouvinte um raciocínio próprio: «ora serve para a obscuridade do ornatus, que provoca o estranhamento […], ora para os gracejos.»

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A alusão serve ainda para pôr à prova o ouvinte no que se refere à sua cultura. De facto, esta figura exige ao ouvinte/leitor que, tendo em conta as circunstâncias discursivas, faça apelo à sua memória literária e cultural para poder identificar o «não dito». No excerto de Frei Luís de Sousa que se segue, ao contrário das outras personagens, Telmo acredita que D. João de Portugal está vivo, e alude a isso: «MADALENA (quase ofendida) Porquê? Não és hoje o mesmo, ou mais ainda, se é possível? Quitaram‑te alguma coisa da confiança, do respeito, do amor e do carinho a que estava costumado o aio fiel do meu senhor D. João de Portugal, que Deus tenha em sua glória?» TELMO (aparte) Terá…». Almeida Garrett, Frei Luís de Sousa.

Anáfora A anáfora é uma figura que consiste na repetição de uma palavra, várias palavras ou expressões análogas no início de frases ou membros de frase que se sucedem(1). «Pensamento honrado, pensamento nobre!... Sim, maldição­ ao­ homem que desvaira a razão do outro para satisfazer os seus inte‑ resses particulares! Maldição­ao­homem que leva outro ao campo de perigo, e que fica em casa! Maldição­ ao­ homem que vê outro vitimado por sua influência, e que não o socorre com a sua voz e com a sua bolsa! Maldição… […]» José Estêvão, Discursos Parlamentares.

«Tudo­Tem­o­Seu­Tempo Para tudo há um momento e um tempo para cada coisa que se deseja debaixo do céu: tempo para nascer e tempo para morrer, tempo para plantar e tempo para arrancar o plantio, tempo para matar e tempo para curar, tempo para destruir e tempo para edificar, tempo para chorar e tempo para rir, tempo para se lamentar e tempo para dançar, tempo para atirar pedras e tempo para as ajuntar, tempo para abraçar e tempo para evitar o abraço, tempo para procurar e tempo para perder, tempo para guardar e tempo para atirar fora, tempo para rasgar e tempo para coser, tempo para calar e tempo para falar, tempo para amar e tempo para odiar, tempo para guerra e tempo para paz.» Eclesiastes (Nova Bíblia dos Capuchinhos).

(1)

No âmbito da semântica frásica, dá‑se o nome de anáfora às palavras ou expressões cujo sentido está dependente de termos que as antecedem no contexto verbal. Ver coesão referencial, nas páginas 276‑278.

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Antítese A antítese é uma figura de pensamento que apresenta dois pensamentos contrapostos em palavras, grupos de palavras ou frases. «Dom­Duardos Sou quem anda e não se muda, sou quem cala e sempre grita sem sossego; sou quem vive em morte crua, sou quem arde e não se quita deste pego; sou quem corre estando preso, sou quem voa e não se aparta do amor; sou quem prazer tem, se aceso, sou quem pena e não se farta desta dor.» Gil Vicente, Tragicomédia Dom Duardos.

Apóstrofe A apóstrofe consiste na invocação de um interlocutor pre‑ sente ou ausente, humano, objeto ou ideia, normalmente sob a forma exclamativa e com recurso ao discurso direto e ao vocativo. «Campo, que te estendes com verdura bela; ovelhas, que nela vosso pasto tendes:» luís de camões, «Verdes São os Campos». In Rimas.

Comparação Uma comparação consiste em associar conceitos distintos, pondo em destaque as semelhanças que os unem, por meio do uso de uma palavra ou expressão de ligação (ex.: como). «Os seus olhos negros — como negros eram sempre o fato, o chapéu e a gravata que trazia — brilhavam como dois carbúnculos e neles transparecia claramente o génio ou a loucura.» mário de sá-carneiro, «Ladislau Ventura». In Primeiros Contos.

Observem‑se outros exemplos da linguagem quotidiana: A Rita parece um bicho, não fala com ninguém. O jogador, como uma seta, entrou no campo adversário e marcou o segundo golo da noite.

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Disfemismo Ler Mais

O disfemismo corresponde ao processo inverso do eufe‑ mismo. Visa tornar depreciativo e ofensivo o que é dito sobre uma dada realidade. Frequentemente, as expressões de disfemismo usam‑se para obter efeitos sarcásticos e cómicos. O verbo morrer é substituído, por exemplo, por: — bater as botas — vestir o sobretudo de madeira

Enumeração Uma enumeração é uma sequência de palavras ou elementos que ocorrem em forma de lista. «Calisto, como bom filho, renunciou à carreira das letras, deu‑se ao governo do casal algum tanto, e muito à leitura de copiosa livraria, parte de seus avós paternos, e a maior dos doutores em cânones, cónegos, desembargadores do eclesiástico, catedráticos, chantres, arcediagos e bispos, parentela ilustríssima de sua mãe.» camilo castelo branco, A Queda dum Anjo.

Eufemismo Um eufemismo é uma figura de pensamento que ocorre quando, por conveniência social, se substitui uma palavra que designa uma realidade desagradável, indecente ou impronunciá‑ vel por outra ou outras. O eufemismo, como estratégia discursiva, usa outras figuras como a alusão, a metáfora, a perífrase e a lítotes. Assim, em vez de morrer, diz‑se: — chegar ao fim dos seus dias — deixar o mundo — ter chegado a sua hora O verbo mentir eufemiza‑se através de locuções, perífrases: — afirmar alguma coisa contrária à verdade — dizer algumas inverdades Outras substituições: Em vez de hospital, diz‑se casa de saúde. Salão de beleza em vez de barbeiro ou cabeleireiro. Convidar a sair em vez de expulsar. 296

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Gradação Uma gradação é uma sequência de palavras ou elementos que se organizam por ordem crescente ou decrescente, ascendente ou descendente. «É a guerra aquela tempestade terrestre, que leva os campos, as casas, as vilas, os castelos, as cidades, e talvez em um momento sorve os reinos e monarquias inteiras. padre antónio vieira, Sermões.

«Mais dez, mais cem, mais mil e mais um bilião.» machado de assis, «O Desfecho».

Hipálage Denomina‑se hipálage a figura de retórica de natureza sin‑ tática e semântica que ocorre quando um elemento da frase — normalmente um epíteto (que qualifica um nome) — é deslocado e se associa a outro nome ao qual não se adequa do ponto de vista semântico. «Gil ficou para o serão; e enquanto em torno, sobre as almofadas persas, as aias se entretinham em alegre folgar, pela primeira vez os­ olhos­dele­quiseram­ser­corajosos» Aquilino Ribeiro, «A Tentação do Sátiro». In Jardim das Tormentas.

Hipérbato O hipérbato é uma figura de retórica de sintaxe, também conhecida como inversão, que ocorre quando se altera a ordem normal dos elementos na frase. A alteração do lugar natural das palavras na frase reconfi‑ gura a linguagem comum, transformando‑a artisticamente. Se for violenta, a modificação da sintaxe verbal pode obscurecer o seu entendimento. «Já que adorar‑me dizes que não podes» «Se a minha amada um longo olhar me desse» Cesário Verde, Cânticos do Realismo e Outros Poemas.

Hipérbole Designa‑se por hipérbole a figura de pensamento que con‑ siste na amplificação da realidade proposta num enunciado. Cons‑ titui um exagero e, por ultrapassar os limites da credibilidade, provoca a estranheza. A hipérbole pode ocorrer em combinação com outros tropos, como a hipérbole metafórica ou irónica. 297

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Observem‑se os seguintes exemplos da linguagem quoti‑ diana: Fui mil vezes à janela ver se chegavas, de aflição. Nessa tarde morremos a rir com as graças do Ruizinho. Atente‑se, agora, num exemplo da linguagem literária: «da alma um fogo me sai, da vista um rio» Luís de Camões, Lírica Completa II.

Imagem Saber Mais

Equivalendo a tropo, a imagem dá forma visual à represen‑ tação das ideias, sentimentos e ações. Significa «representação», «ilustração». Engloba figuras de significação como a comparação, a metáfora e a metonímia. «Basta nadar no mar neste mês de maio e sentir as ondas a atirar‑ ‑nos para onde querem e os ventos, por sua vez, a fazer a mesma coisa às ondas, para perceber que vivemos dentro de um gigantesco shaker, agitado por um barman divino. E que nós e as plantas e os peixes e os bichos e os ares e as águas e os gelos somos apenas o cocktail do momento.» Miguel Esteves Cardoso, «Está Tudo a Cair». In Público, 07/05/2009.

Ironia A ironia é uma figura de pensamento que ocorre quando se produz um enunciado cujo significado literal é o contrário do sig‑ nificado intencional. Exige cooperação e cumplicidade do recetor, sem as quais se perde o sentido pretendido. O recetor/intérprete terá de se aperceber, perante a ironia, da sua incredibilidade. Vida­Dura­30­de­Maio­de­2003 «A luta estudantil contra o aumento das propinas é uma luta justa? Basta olhar para o parque automóvel de uma qualquer universi‑ dade portuguesa. A miséria é confrangedora. São BMW, Mercedes, os encantadores jipes da praxe. Sem falar da praga Volkswagen que estranhamente se abateu sobre os petizes. A vida não está fácil para ninguém. […]» joão pereira coutinho, Vida Independente 1998‑2003.

Lítotes A lítotes é uma figura de pensamento que atenua o signifi‑ cado de uma afirmação, negando o contrário do que se pretende afirmar.

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São diversas as razões que sustentam o uso, muito regular e quotidiano, desta figura. Diz‑se: A rapariga não era nada feia. em vez de A rapariga era bonita. Na verdade, a sua perspetiva não é disparatada. em vez de A sua perspetiva é correta.

Metáfora A metáfora é um tropo que ocorre quando se substitui uma palavra por outra com a qual não está diretamente associada. É uma forma de «comparação abreviada», de acordo com Lausberg, em que o que é comparado é identificado com a palavra cujo sen‑ tido lhe é semelhante. Consiste na alteração do significado de uma palavra que é retirada do seu campo semântico habitual e é transportada para um outro diferente.

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«Matilde era um espelho quebrado. Um anjo negro que perdera o norte.» Alface, O Fim das Bichas.

«O passado é apenas Mais uma rua Onde uma vez passámos.» Pedro Mexia, Vida Oculta.

Metonímia A metonímia é uma figura que consiste em designar uma rea‑ lidade através de uma palavra ou expressão que se refere a uma outra realidade, mas com a qual existe uma relação de contigui‑ dade. O processo metonímico resulta de relacionamentos diversos entre o elemento substituído e o elemento substituto. Diz‑se então: Passas‑me a água, por favor? em vez de Passas‑me o jarro com água, por favor? Sabias que o João tem uma Paula Rego? em vez de Sabias que o João tem um quadro da Paula Rego?

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Oxímoro O oxímoro é uma figura de retórica que expressa um para‑ doxo, uma contradição de ideias, uma aproximação de dois termos incompatíveis (ver antítese). «Ela viu as palavras magoadas que puderam tornar o fogo frio» luís de camões, «Aquela Triste e Leda Madrugada». In Rimas.

Perífrase A figura de retórica que ocorre quando se diz, por meio de várias palavras, o que se podia dizer numa só denomina‑se perí‑ frase. É usada frequentemente no eufemismo. Observem‑se alguns exemplos da linguagem quotidiana: Não ver um palmo à frente do nariz. = ser estúpido Acabar‑se‑lhe o pavio da vida. = morrer Veja‑se, agora, num exemplo de linguagem literária, uma perífrase de anoitecer: «Mas já que pouco a pouco o Sol nos falta e dos montes as sombras se acrescentam» luís de camões, Lírica Completa II.

Personificação Saber Mais

A personificação consiste num tropo que atribui propriedades humanas a uma coisa, a um ser inanimado ou a um ente abstrato. «Eu já fui salvo por um livro. Mais do que uma vez. Nem todos os livros têm esse condão, naturalmente. Depende dos livros, mas depende também muito dos náufragos. Um livro que salva fá‑lo de um modo especial. Não afasta a dor, o sofrimento, a perda, a morte, pelo contrário. Usa estes males como as principais bóias, e é com elas que primeiro nos traz à superfície e depois nos salva. A tudo aquilo que constituía uma ameaça, o livro dá‑lhe o nome exato. Atrai‑o e torna‑o nosso amante ou nosso amigo. […]» António Pinto Ribeiro, «Há Livros Que Salvam». In Melancolia.

«A Europa jaz, posta nos cotovelos: De Oriente a Ocidente jaz, fitando, E toldam‑lhe românticos cabelos Olhos gregos, lembrando.» Fernando Pessoa, «O dos Castelos». In Mensagem.

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Pleonasmo O pleonasmo é uma figura de retórica que se caracteriza pelo emprego, num enunciado, de palavras e expressões repetitivas ou redundantes. Observem‑se alguns exemplos da linguagem quotidiana: Viver a vida Vereador da cidade Acabamento final Atente‑se, agora, num exemplo da linguagem literária: «Junto de um seco, fero e estéril monte, inútil e despido, calvo, informe, da natureza em tudo aborrecido, onde nem ave voa, ou fera dorme, nem rio claro corre, ou ferve fonte, nem verde ramo faz doce ruído; […] Só com vossas lembranças me acho seguro e forte contra o rosto feroz da fera Morte» Luís de Camões, Lírica Completa III.

Prosopopeia A prosopopeia é uma figura de pensamento, muito próxima da personificação, que se manifesta em zonas alargadas de texto. Apresenta, enquanto entidades falantes, personagens mortas ou ausentes, abstrações, seres inanimados e sobrenaturais. As­Vozes «A infância vem Pé ante pé Sobe as escadas E bate à porta — Quem é? — É a mãe morta — São coisas passadas — Não é ninguém Tantas vozes fora de nós! E se somos nós quem está lá fora E bate à porta? E se nos formos embora? E se ficámos sós?» Manuel António Pina, Poesia Reunida 1974‑2001.

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Símbolo Saber Mais

Um símbolo é um termo de duplo sentido que exige uma interpretação enquadrada por uma dada cultura. O símbolo evoca uma realidade que não tem relação direta com o significado literal da palavra ou expressão. Pode construir‑se através da metonímia e da metáfora. Atente‑se no seguinte excerto: «Numa mão sempre a espada, na outra a pena» luís de camões, Os Lusíadas.

No verso apresentado, encontramos dois símbolos: espada referindo‑se a carreira militar; pena, a escrita.

Sinédoque A sinédoque consiste num tipo particular de metonímia que implica a transferência de significado de uma palavra para outra, baseando‑se na relação entre a parte e o todo, ou entre o todo e a parte. Vejam‑se alguns exemplos da linguagem quotidiana: E o Zé lembrou‑se dos homens sem teto. (sem casa) Na verdade, o português é engenhoso. (os portugueses) Observe‑se, agora, um exemplo da linguagem literária: «[…] Que angústia me enlaça Que amor não se explica? É a­vela­que­passa na noite que fica» Fernando Pessoa, Poesias.

No exemplo acima, vela está por barco.

Sinestesia A sinestesia é um recurso estético em que há a junção de per‑ ceções relativas a dados sensoriais diferentes. «Às horas cor de silêncios e angústias» álvaro de campos, «Ode Marítima».

Outros exemplos da linguagem quotidiana são: Usava um perfume doce nesse dia. O vinho tinha um trago aveludado. 302

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9.3 MODOS LITERÁRIOS 9.3.1 Modo dramático O modo dramático é um dos três modos fundacionais da lite‑ ratura, que se distingue do modo lírico e do narrativo. Os textos pertencentes ao modo dramático diferenciam‑se primeiramente dos textos dos modos lírico e narrativo — modos eminentemente literários — porque a sua receção transcende o plano da leitura. O texto de teatro é um texto incompleto, sem autonomia, que procura a sua forma na ação teatral. No texto dramático, diferenciam‑se graficamente as didascálias (ou indicações cénicas) e as réplicas (ou falas de personagens), consideradas, respetivamente, como texto secundário e texto pri‑ mário. Se as réplicas são verbais — as falas a dizer pelos atores —, as didascálicas apontam para códigos não verbais, como gestuali‑ dade, coreografia, adereços, cenografia, etc. O texto dramático nem sempre precede a representação. No caso do teatro de Gil Vicente, o registo impresso foi feito posteriormente, tratando‑se, neste caso, não de um projeto, mas de uma memória.

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«PRIMEIRO ATO Cena I No jardim. Elisa sozinha com uma garrafa de espumante. ELISA Triste sou. Triste. Ai Natureza, quem dera para mim a liberdade das tuas árvores que pela terra espalham raízes e pelo ar ramos. Quem dera ser ave e não viver entre paredes e tetos. Quem dera ser outra, a cada dia mudável, cada manhã diferente, ser homem e depois mulher, mãe e depois filha, branca e depois preta, alegre e séria, gorda e magra, tudo expe‑ rimentar, tudo viver… Mas não. (Bebe da garrafa.) Triste sou. Triste. Nunca mais independente, presa à casa paterna, casa seca e esté‑ ril que o meu pai, com medo de a perder, veda a estranhos. Porta sempre trancada, persianas sempre corridas, casa que nem uma corrente de ar atravessa. Mil vezes o mesmo ar eu respiro, agoniada pelo meu próprio cheiro, impedida de lamber a vida, pálida de pele por não avistar o sol. E eu que aprecio todos os sabores, todas as cores, toda a vida, eu que não sou esquisita de paladar, que tenho tanta necessidade do sor‑ tido. Estou na idade de experimentar. E por isso me aflijo aquando adi‑ vinho já hoje a manhã seguinte. Sufoco e o dia passa. E a este outro se segue igual. Tudo o que amo escondo, tudo o que quero oculto. Vivo pela noite, camuflada, fechada em mim. Encerro ideias dentro da garganta, abafo os sentidos por baixo da pele. E encontro em ti, Natureza muda, irmã dos meus sentidos, o único ouvinte disponível e com‑ preensivo. Doces flores, deleitoso arvoredo, ramos dourados, águas cristalinas, prados canoros, para quando... (Interrompendo‑se) Quem vem lá?!

Saber Mais Tipo de discurso frequente no texto

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Entra Varela. VARELA (chamando) Elisa! ELISA (aparte) É o meu precetor e pretendente, Varela. VARELA (chamando) Menina Elisa! Ah estais aí. ELISA (aparentando pesar) Estarei? Não sei. VARELA Que se passa? ELISA (com a mão na testa) Oh nada. Nada. VARELA Acho‑a pálida. ELISA Talvez seja das brancas nuvens que me contagiam a face, irmãs de meu desgosto. VARELA De que desgosto falais? ELISA (com a mão na testa) Oh nada. Nada. VARELA De novo vos invade a melancolia? ELISA Já passa, já passa. VARELA Está na hora da lição. ELISA Não pode ser aqui? VARELA Que dizeis? ELISA Se não a podemos fazer aqui. VARELA Aqui? No jardim? ELISA Quereis coisa mais natural que a Natureza como casa? VARELA Mas a lição exige ambiente apropriado. ELISA Será possível ambiente mais propício que o proporcionado pelas sábias plantas, pelos juncos e arbustos, pela protecção das eruditas oliveiras, aqui sobre o capim que cobre a terra, envolvidos pelo olor das margaridas. VARELA Menina Elisa, evocais o que de mais belo tem esta paisagem, mas estais a esquecer‑vos dos perigos que ela também esconde. Pois tal como a luz traz consigo a sombra, também a rosa traz consigo os espinhos e a relva as urtigas. […]» José Maria Vieira Mendes, «O Avarento ou A Última Festa». In Teatro.

9.3.2 Modo lírico Ler Mais

Segundo Aguiar e Silva, os textos do modo lírico afastam‑ ‑se claramente da representação da realidade exterior e objetiva, fixando‑se «na revelação e no aprofundamento do eu lírico». Têm ainda um caráter estático já que «o poeta como que se imobiliza, enquanto instância do discurso, sobre uma ideia, uma emoção, uma sensação, não se ocupando do encadeamento causal ou cro‑ nológico desses estados da subjetividade». Carlos Reis considera que estes textos «concretizam um pro‑ cesso de interiorização centrada num sujeito poético eminente‑ mente egocêntrico»; «representam uma atitude marcadamente subjetiva» e do ponto de vista semântico e técnico‑compositivo são regidos pelo princípio da motivação. O texto lírico centra‑se no sujeito individual que interpreta emotivamente o mundo ganhando consciência da experiência subjetiva. De natureza acentuadamente evocativa e alusiva, exige aos seus leitores atenção, interpretação e conjetura, assim como o conhecimento das suas convenções. A linguagem dos textos de poesia é fortemente marcada pelo ritmo, a rima, a imagética, a disposição vertical dos versos, a esco‑ lha motivada das palavras, a anormalidade da ordem sintática.

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«Canção­da­Partida Ao meu coração um peso de ferro Eu hei‑de prender na volta do mar. Ao meu coração um peso de ferro... Lançá‑lo ao mar. Quem vai embarcar, que vá degredado... As penas do amor não queira levar... Marujos, erguei o cofre pesado, Lançai‑o ao mar. E hei‑de mercar um fecho de prata. O meu coração é o cofre selado. A sete chaves: tem dentro uma carta... — A última, de antes do teu noivado. A sete chaves, — a carta encantada! E um lenço bordado... Esse hei‑de‑o levar, Que é para o molhar na água salgada No dia em que enfim deixar de chorar...» Camilo Pessanha, Clepsydra.

9.3.3 Modo narrativo Os textos literários que se incluem no modo narrativo apre‑ sentam um processo de representação dinâmica conseguida atra‑ vés de processos temporais. São dois os planos em que se estrutura a narrativa: o plano da história, ou da intriga que é narrada, e o plano do discurso que a relata. Na articulação destes planos na narração, estão as categorias narrativas como a personagem, o espaço, a ação, o tempo, a perspetiva narrativa e o narrador. Carlos Reis refere três propriedades fundamentais dos textos narrativos: «uma atitude de exteriorização» centrada no narrador; uma «representação de natureza objetiva»; e a instauração de uma «dinâmica de sucessividade.» «A­Princesa­de­Braços­Cruzados — Não quero trabalhar, nem estudar, o que eu quero é namorar. — disse a princesa e cruzou os braços. Dormia de braços cruzados e tinham de lhe dar de comer porque a princesa só podia abrir os braços para abraçar o namorado e não havia nenhum namorado para ela. Quando se acabou o dinheiro, acabaram‑se as criadas e acabou‑se a comida. A princesa morreu de fome, muito suja, mas sempre de braços cruzados. […] Foi conservada em formol dentro de um frasco de vidro transparente para ser mostrada aos visitantes do Museu de História Natural. Na placa que dá informações sobre o conteúdo do frasco está escrito em latim: «só descruzará os braços quando lhe aparecer um namorado». Todos no Museu têm a esperança de que um dia um visitante saiba latim e seja o namorado da princesa de braços cruzados. Mas a empregada do balcão do bar do Museu, menos positivista do que o resto do pessoal, resolveu fazer o mesmo que a princesa dos braços cruzados. Por isso não há bicas para ninguém.» Adília Lopes, Caras Baratas: Antologia.

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CAPÍTULO 9

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F I C H A D E AT I V I DA D E S | 2 6

CoESÃo E CoErÊnCIA

1. Restabeleça a coerência nos enunciados apresentados. a)­ ­Deite a gelatina numa cama de modo a ficar com cerca de 1 cm de descanso. Prepare a gelatina de morango de acordo com as instruções da perfumaria, mas utilizando apenas 1 dL de sopa a ferver e 2 dL de água fria. b)­Não choveu, porque houve seca. c)­ Primeiro, entrei em casa da Joana, depois cheguei lá. d)­— Têm duas hipóteses: ou calam‑se ou calam‑se! e)­ — O dueto a solo foi fantástico! f)­ — D. Afonso Henriques foi o primeiro rei do Condado Portucalense. g)­ — Venci, vi e cheguei. 2. Leia atentamente o texto e identifique as formas que dizem respeito aos «dinossauros», referindo qual é a relação entre elas. Os­Dinossauros Em tempos, já houve a «mania dos dinossauros». Então, toda a gente adorava esses monstros e não parava de dizer «— Que seres fantásticos!», que os peluches desses répteis eram «queridos», «fofi nhos» e mais uma série de inutilidades. Pergunto‑me: o que é que se achou de tão espetacular nesses bichos? Eles são feios até dizer basta e, ainda por cima, estão extintos. Em vez de se adorar tais criaturas, porque não se olha para espécies em vias de extinção? Pensemos no Tamagochi, no Furby e em tantas outras coisas pelas quais muitas pessoas perderam a cabeça. Agora, estão esquecidos nos armários ou mesmo «extintos de brincadeiras». Os dinossauros foram pelo mesmo caminho… Enfi m, foram febres da nossa sociedade que já passaram e que deram muitos lucros, que é o que parece interessar!

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3. Recorrendo aos princípios da coesão lexical, elimine o problema das repetições da palavra televisão no texto apresentado. A­Televisão A televisão é um vício que nos tira a vontade de viver verdadeiramente. Para vermos televisão, deixamos de comer, conviver, estudar, trabalhar... Por outro lado, a televisão põe‑nos em contacto com o mundo. A televisão é inimiga do nosso progresso: «É só mais este programa, depois vou estudar!» A televisão é, também, adversária das relações humanas: «Desculpa, o que é que disseste?» ou «Agora não posso sair, porque estou a ver um fi lme!» A televisão faz‑nos ter uma vida mais sedentária e menos saudável, provocando problemas como a obesidade. Há quem diga que a televisão é um veículo de cultura importantíssimo. Com a televisão adquirimos, de facto, muitos conhecimentos e, o mais importante, sem qualquer esforço. É preciso refletirmos se a televisão nos devolve em qualidade informativa e lúdica o tempo que gastamos a ver televisão. Considero a possibilidade de estarmos iludidos… Pensando que mandamos no nosso mundo, nas nossas vidas, somos, afi nal, uns escravos da televisão, uns «televisodependentes»! Será que, se não houvesse televisão, consumiríamos horas e horas de outra forma? Será que teríamos melhores relações humanas e mais cultura? Talvez devêssemos deixar o comando da televisão na gaveta.

3.1 Explicite os processos a que recorreu em cada uma das reiterações e substituições e como estabe‑ leceu a cadeia de referência.

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4. Os pronomes destacados nas frases seguintes asseguram a sua coesão referencial. Diga a que se refere cada um dos pronomes. a)­ ­O Jaime conhecia muito bem o Pedro. Ele conhecia‑o tão bem que lhe ofereceu um presente invulgar. b)­O rapaz viu a carrinha que estava estacionada à beira da estrada. c)­ O João viu o Henrique no cinema e este disse‑lhe que já tinha visto aquele filme. d)­O teu computador e o meu deviam ser substituídos. e)­ Quaisquer que sejam as dúvidas, esclarecê‑las‑ei! f)­ Gosto muito de ler Eça de Queirós. Tenho vários livros dele. 5. Assegure a coesão interfrásica dos enunciados seguintes ligando as orações com os conectores adequados. a)­ ­Fui cedo para a bilheteira. Consegui bilhete. b) Eram oito horas. Ele chegou a casa. c) Ele estava maldisposto. Comera uma salada russa. d) Comi um bolo. Bebi um sumo. e) Consegui marcar os bilhetes para o concerto na Casa da Música. Não marquei bilhetes para o teatro. 5.1 Classifique esses conectores. 6. Selecione do quadro abaixo os marcadores discursivos adequados para completar os enunciados que se seguem. efetivamente agora a) b)

depois primeiro

antigamente ou seja

tomei o pequeno‑almoço, mais complicado.

escovei os dentes.

pensava que tudo era fácil, mas,

c) Adoro citrinos, frutos preferidos.

, penso que é

, laranjas, limões, …

, são os meus

7. Conjugue os verbos entre parênteses por forma a assegurar a coesão temporo-aspetual. a) Ontem não saí de casa.

(ficar) o dia inteiro a descansar

e a trabalhar, porque

(ter) uma semana complicada. (dormir), (ler) um pouco e

b) Um dia, a uma aurora boreal. É claro que

(visitar) a Islândia para

(ver) televisão, (estudar) bastante. (assistir) (haver) muito mais para ver.

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CAPÍTULO 9

texto e retórica

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D I S C u r S o D I r E To, I n D I r E To E I n D I r E To l I V r E

1. Identifique os modos de relato do discurso presentes nos exemplos seguintes. Texto­1 O telefone está a tocar! — disse a mãe. — É para mim. Não atendas. — respondeu o filho.

Texto­3 — «E tu, Chico Calado?» — E o Chico Calado lá explicou na sua linguagem de trejeitos que gostaria de poder impingir os seus elixires sem suportar perseguições nem pedradas. josé g omes ferreira , Aventuras de João Sem Medo.

Texto­2 — Manos! O cofre tem três chaves... Eu quero fechar a minha fechadura e levar a minha chave! — Também eu quero a minha, mil raios! — rugiu logo Rostabal. Rui sorriu. Decerto, decerto! A cada dono do ouro cabia uma das chaves que o guardavam.

Texto­4 E ele respondeu que nunca na vida fora visto por um médico, nunca tomara um remédio comprado na farmácia, e não era agora que havia de mudar. a ntónio mota , A Casa das Bengalas.

eça de queirós, Contos.

2. Transponha as frases seguintes para o discurso indireto, utilizando alguns dos verbos listados abaixo, de forma a não repetir o verbo dizer. insistir­ explicar

anunciar concordar

exclamar prometer

perguntar admitir

a)­Vou‑me casar para o ano — disse o Carlos. b)­Amanhã estou lá às 10 horas. Não faltarei — disse a Joana à irmã. c) Tens mesmo de ir à minha casa — disse o Paulo à Eva. d) Deve ligar este fio ao vermelho e carregar no botão — disse o funcionário da loja. e) Onde vais amanhã? — disse o Pedro. f) Eu menti porque tive medo. Não volta a acontecer, mãe! — disse o António. g) Sim, esta nota é falsa — disse o Duarte ao Rui. h) Não aguento mais esta situação! — disse a Maria. 3. Considere a situação seguinte. Ontem à noite, houve um assalto na mansão dos Albuquerque. Alguém roubou as joias da família durante a noite. O crime está a ser investigado por um detetive. Para tentar apurar a verdade, o detetive interroga o mordomo. Transponha o diálogo para o discurso indireto. Detetive: Onde esteve ontem à noite? Mordomo: Estive toda a noite aqui no meu quarto. Detetive: O que esteve a fazer? Mordomo: Estive a ver televisão até às 11 horas e depois comecei a ler um livro porque estava com insónias. Detetive: Que programa viu na televisão? Mordomo: Vi as notícias e depois peguei num livro. Detetive: Como se chama o livro? Mordomo: Ó senhor inspetor, olhe, era este! Detetive: Ouviu algum barulho estranho durante a noite? Mordomo: Não, não ouvi. Dormi profundamente durante a noite. Detetive: Obrigado pela sua colaboração.

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TI PoloG IA TEXTuAl

1. Faça corresponder as definições que se encontram na coluna da esquerda ao respetivo tipo de texto, na coluna da direita. Definição

Texto

A. Visa explicar, expor, analisar e sintetizar factos, ideias, conceitos e teorias.





1. Texto argumentativo

B. É produzido, pelo menos, por dois interlocutores que vão tomando a palavra à vez.





2. Texto descritivo

C. Tem como função persuadir os interlocutores, comprovando e refutando afirmações.





3. Texto conversacional





4. Texto narrativo





5. Texto expositivo

F. Tem como função indicar ou ensinar procedimentos aos seus destinatários, listando e caracterizando operações sucessivas. Recorre ao imperativo verbal.





6. Texto instrucional

G. Conta acontecimentos ou ações que se desenvolvem ao longo de um tempo. Recorre ao uso de tempos verbais do passado.





7. Texto preditivo

D. Fornece informações sobre o futuro, através da previsão de acontecimentos. Recorre ao futuro como tempo verbal. E. Fornece informações sobre um objeto, uma pessoa, uma personagem, um espaço ou uma situação.

2. Identifique o tipo a que pertencem os excertos a seguir apresentados. Texto­1 Era uma vez uma pobre viúva, que tinha só uma filha que nunca saía da sua beira; outras raparigas da vizinhança foram‑lhe pedir que na véspera de São João deixasse ir a sua filha com elas para se banharem no rio. A rapariga foi com o rancho; antes de se meterem no banho, disse‑lhe uma amiga: — Tira os teus brincos e põe‑os em cima de uma pedra, porque te podem cair na água. [ …] teófilo braga , Contos Tradicionais do Povo Português.

Texto­2 Escorpião — 23/10 a 21/11 Você está muito ligado ao trabalho, o que será extremamente produtivo. A sua atenção está voltada para o futuro, e você está apto a mudar o que for necessário em qualquer área da sua vida. Fique atento aos acontecimentos: alguns apontarão a melhor direção no futuro próximo. Texto­3 Estávamos sobre a pedra do Calvário. Em torno, a capela que a abriga, resplandecia com um luxo sensual e pagão. No teto azul‑ferrete brilhavam sóis de prata, signos do Zodíaco, estrelas, asas de anjos, flores de púrpura; e, dentre este fausto sideral, pendiam de correntes de pérolas os velhos símbolos da fecundidade, os ovos de avestruz, ovos sacros de Astarté e Baco de ouro. [...] Globos espelhados, pousando sobre peanhas de ébano, refletiam as jóias dos retábulos, a refulgência das paredes revestidas de jaspe, de nácar e de ágata. E no chão, no meio deste clarão, precioso de pedraria e luz, emergindo dentre as lajes de mármore branco, destacava um bocado de rocha bruta e brava, com uma fenda alargada e polida por longos séculos de beijos e afagos beatos. eça de queirós, A Relíquia.

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CAPÍTULO 9

texto e retórica

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RETÓRICA

1. Identifique as figuras de estilo presentes nos excertos seguintes. a) Tentei uma brecha naquela impenetrável muralha de palavras, já cansada de andar para cá e para lá no corredor, enquanto a minha mãe, da sala perguntava, pela 756.ª vez, quem era. A lice VieirA , Chocolate à Chuva.

b)

Bastava a ponta dos meus dedos sobre a mesa, e logo o coração da mesa respondia, batendo pausadamente ao ritmo do meu. A lice VieirA , Chocolate à Chuva.

c)

Na primavera o sol faz o ninho no beiral da minha casa. FrAncisco DuArte M AngAs ; João P eDro M ésseDer, «Ave». in Breviário do Sol.

d) São como um cristal,

as palavras. Algumas, um punhal, um incêndio. Outras, orvalho apenas. eugénio De A nDrADe, «As Palavras». In Antologia Breve.

e) [...] aquela menina casadoira, que mora junto ao largo, vem à varanda ver a Lua.

M Anuel DA FonsecA , «Noite de Verão». In Obra Poética.

f)

Perdido num sonho: o sol, o deserto... Na linha dos olhos — tão longe, tão perto — ondula... a miragem? FrAncisco DuArte M AngAs ; João P eDro M ésseDer, «Ave». in Breviário do Sol.

g) Já descoberto tínhamos diante,

Lá no novo Hemisperio, nova estrela, luís De c AMões, Os Lusíadas.

h)

Viva a Mademoiselle! Viva a minha precetora! Viva o papá que mandou a outra ir embora! Viva! Viva! Augusto gil , Gente de Palmo e Meio.

i)

Fidalgo: — Esta barca onde vai ora, que assi está apercebida? Diabo: — Vai pera a ilha perdida e há-de partir logo ess’ora. gil Vicente, Auto da Barca do Inferno.

j)

Não há ninguém mais rico no mundo. Sou riquíssimo. Sou podre de rico. Cheiro mal de rico. José g oMes FerreirA , Aventuras de João sem Medo.

k)

Batizei quase todos os poemas que escrevi. Certo dia, coloquei-os pela ordem alfabética dos títulos e deixei-os sobre a mesa a repousar, cansados de tanto trabalho com as palavras. João P eDro M ésseDer, De Que Cor É o Desejo?

l)

Que medonho sítio! i rene l isboA , Uma Mão Cheia de Nada e Outra de Coisa Nenhuma.

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m) — Senhor João Sem Medo: cá o meco chama‑se Zé Porco... Este meu sócio é o Chico Calado, mudo de nascença...

E aquele tem a alcunha de «Louro» porque passa a vida a beberricar pelas tabernas, onde improvisa cada versalhada de se lhe tirar o chapéu. «Sim, senhor... — pensou João Sem Medo. — Linda colecção!»

josé g omes ferreira , Aventuras de João sem Medo.

n)

Não acredito — disse Gil. — Você não tem fibra para ensinar a esgadanhar um bocado de Liszt a essas monas filhas de tubarões da finança e medíocres cortesãs. agustina bessa-luís, Contos Impopulares.

o)

E erguendo a cabeça do bordado explicou‑se melhor: — Quando Deus quer, até os cegos vêem. c arlos de oliveira , Uma Abelha na Chuva.

p)

Cessem do sábio Grego e do Troiano As navegações grandes que fizeram; Cale‑se de Alexandre e de Trajano A fama das vitórias que tiveram; Que eu canto o peito ilustre Lusitano, luís de c amões, Os Lusíadas.

q)­ Meio‑dia

O Sol tem os seus Caprichos: não gosta Que o olhem Olhos nos olhos. francisco duarte m angas ; joão p edro m ésseder, Breviário do Sol.

r)

Que, da ocidental praia lusitana luís de c amões, Os Lusíadas.

s)

Era um céu alto, sem resposta, cor de frio. sophia de m ello breyner a ndresen, Contos Exemplares.

t)

Uma árvore tem raízes, tem tronco, tem ramos, tem folhas, tem varas, tem flores, tem frutos. Assim há‑de ser o sermão: há‑de ter raízes fortes e sólidas, porque há‑de ser fundado no Evangelho; há‑de ter um tronco, porque há‑de ter um só assunto e tratar uma só matéria; deste tronco hão‑de nascer diversos ramos, que são diversos discursos, mas nascidos da mesma matéria e continuados nela. padre a ntónio vieira , O Sermão de Santo António aos Peixes.

u)

Enquanto os vermes iam roendo esses cadáveres amarrados pelos grilhões da morte. a lexandre h erculano, Eurico, o Presbítero.

v)

Eu não posso senão ser desta terra em que nasci. jorge de sena , «Quem A Tem».

w) O céu tremeu, e Apolo, de torvado,

Um pouco de luz perdeu, como enfiado. luís de c amões, Os Lusíadas.

x)

Diabo: Fezestes bem que é fermosa! E não punham lá grosa No vosso convento santo? Frade: E eles fazem outro tanto! Diabo: Que cousa tão preciosa… gil vicente, Auto da Barca do Inferno.

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0 1 O L U CAPÍT

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o ã ç a u t Pon o ã ç a r u g i f n o c e gráfica NTUAÇÃO

E PO 10.1 SINAIS D

ESCRITA E D S E R A I L I AUX 10.2 SINAIS GRÁFICA O Ã Ç A R U G I 10.3 CONF des | 30 a d i V i t a ficHa de

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Pontuação e configuração gráfica

10.1 Sinais de pontuação A pontuação é o subsistema que visa representar na escrita certas características prosódicas da oralidade e fornecer indicações sobre a estrutura sintática dos enunciados. Na escrita usam-se os sinais gráficos da pontuação para substituir de forma aproximada os recursos expressivos da fala — pausas, entoação, intensidade, etc. Convencionalmente, os sinais de pontuação agrupam-se em sinais de pausa, ou de registo de silêncios no discurso oral (vírgula, ponto e vírgula, e ponto), e sinais de entoação (dois pontos, ponto de interrogação, ponto de exclamação, reticências, travessão). Acontece, porém, que há sinais que são simultaneamente sinais pausais e melódicos. É o exemplo do ponto, que, ao representar enunciados afirmativos, se distingue melodicamente dos pontos de interrogação e de exclamação. Tal como na fala a prosódia se articula com aspetos gramaticais sintáticos e semânticos, também os sinais de pontuação estão associados à estrutura sintática dos enunciados; servem, portanto, para assegurar a clareza de sentido e a correção dos enunciados escritos. Os sinais de pontuação podem ainda funcionar como elementos de organização do texto escrito. Servem para distinguir a intervenção de diferentes falantes (como no caso dos dois pontos), para indicar a alternância entre discurso indireto e direto ou para identificar membros de enumerações (como o travessão).

10.1.1 Vírgula A vírgula separa elementos de uma oração ou de diferentes orações dentro de um mesmo período. A vírgula corresponde na fala a uma pausa de pequena duração e está associada a diversos processos sintáticos, como a deslocação de constituintes (orações ou grupos) que ocorrem antepostos ou intercalados, a coordenação de constituintes, a elipse de constituintes ou a distinção entre modificadores restritivos e apositivos. São separados ou destacados por vírgula: • modificadores do nome apositivos (oracionais ou não): A Carla, a minha cunhada, tem muita energia e boa vontade. D. Pedro, que foi o famoso amante de Inês de Castro, dançava à noite pelas ruas. • constituintes intercalados de natureza oracional, adverbial, preposicional, participial ou gerundiva: 314

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O escritor, quando foi entrevistado, declarou que não gostava da popularidade. Este assunto, infelizmente, não está ainda resolvido. O presidente, com as listas na mão, dirigiu-se para a sala. A equipa, uma vez acabadas as férias, regressou aos treinos. Os rapazes, vendo o jogo, esqueceram-se das horas do jantar. • constituintes antepostos de natureza oracional, adverbial, preposicional, participial ou gerundiva: Quando ele apareceu na festa, Sofia fingiu que não o viu. Infelizmente, não conseguimos terminar o trabalho. Com as listas na mão, o presidente dirigiu-se para a sala. Terminada a sessão, saímos rapidamente. Julgando o assunto encerrado, desliguei o telefone. • constituintes da frase com a mesma função sintática coordenados, não ligados por conjunção (coordenação assindética): O Francisco, o Rui, o António e a Margarida decidiram apanhar a camioneta e ir passar uns dias ao campo. Os faróis do carro iluminavam serras, bermas, matas, casebres e, de longe em longe, portões de quintas. (Sophia de Mello Breyner andreSen, Contos Exemplares.) • orações coordenadas assindéticas: Combinaram ver-se em Aveiro, encontraram-se na Praça do Peixe, foram jantar. • orações coordenadas sindéticas, salvo as que, tendo o mesmo sujeito, são ligadas pela conjunção copulativa e: O Francisco era muito inteligente, mas confiava demasiado na sua facilidade em aprender e estudava pouco. A Rute e o Zé Pedro seguiram no avião da manhã, e o Miguel e a Madalena foram no da tarde. 315

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Pontuação e configuração gráfica

• o vocativo: Não venhas tarde, António, tens de dormir. João, diz ao teu irmão que a sopa está na mesa. • constituintes suprimidos: O meu carro é o azul; o branco, da Ana. • o nome do local nas datas:

saber Mais A vírgula é muito importante para

Lisboa, 25 de maio de 2008 Não se deve usar a vírgula para separar: • o sujeito do predicado; • o verbo dos seus complementos; • um modificador restritivo do constituinte modificado; • uma conjunção da oração que introduz.

10.1.2 ponto e vírgula Este sinal marca uma pausa intermédia, mais longa do que a da vírgula e menor do que a do ponto. O ponto e vírgula usa-se: • para separar os itens de uma enumeração: Na sala de aula, são os seguintes os deveres do aluno: — aceitar a autoridade do professor e corresponder às suas solicitações; — ser assíduo e pontual; — intervir oralmente só depois de lhe ser dada a palavra (pedida por sinal visual); — dispor dos materiais necessários ao trabalho a desenvolver na aula. • para, num mesmo período, separar frases cuja ligação é assegurada por advérbios conectivos: A Maria sentiu-se melhor depois de sair da sala repleta. Respirou fundo o ar frio da noite; depois, aconchegando o casaco largo ao corpo, com determinação, começou a caminhar.

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10.1.3 ponto O ponto representa uma pausa longa, indicando uma fronteira frásica. Emprega-se: • para marcar o fim de um período: Estávamos à espera. O maestro entrou. De repente todos se calaram e começou a festa. • para assinalar uma abreviatura: E enviara os pêsames, por telegrama, ao Sr. Dr. Alberto e à sua filha, Sr.ª D.ª Maria de Fátima.

10.1.4 dois pontos Os dois pontos são utilizados: • na introdução do discurso direto: E disse-lhe firmemente e com gentileza: — Parto amanhã. • para introduzir enumerações: Tinha na agenda as tarefas do fim do dia: levar o João ao judo; comprar-lhe o manual de Português em falta; ir buscar o exame à clínica; marcar-lhe a consulta de ortopedia. • para anunciar uma citação: E o Gonçalo afirmou a sua concordância com os versos de Pessoa: «Tudo vale a pena se a alma não é pequena.» • precedendo explicações ou exemplos: A Sara precisava mesmo de saber: tinha ou não tinha o apoio monetário dos pais para poder fazer uma especialização em Londres? O perfil do António adequava-se na perfeição ao lugar: era excecionalmente trabalhador.

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10.1.5 ponto de exclamação Este sinal representa uma entoação presente em: • frases exclamativas: Detesto levantar-me cedo! Gostava tanto de ir a Paris! • frases imperativas: Desaparece da minha vista! Inscreva-se já! O ponto de exclamação aparece ainda associado ao uso de interjeições que têm um valor exclamativo ou exortativo: Bolas! Esqueci-me do passe. Andor!

saber Mais

10.1.6 ponto de interrogação O ponto de interrogação sinaliza uma pergunta. Usa-se no final das frases interrogativas diretas: É o senhor Matos Maia? Posso dizer a frase? Posso dizer a minha música preferida?

10.1.7 travessão O travessão é utilizado: • no início de um enunciado em discurso direto: Ao telefone então, superando a timidez, o Nuno disse: — Gostava tanto de te ver. • para registar, num diálogo, a fala de um locutor ou de uma personagem diferente. — Qual queres? A amarela ou a azul? — A azul. O azul é a minha cor preferida. Não sabias?

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• quando o narrador interrompe a fala de uma personagem: — Não perdeste tempo! — exclamou a Margarida, surpreendida. • na sua forma dupla, para destacar uma palavra ou frase intercalada: Será que alguém consegue compreender — e tomar a sério — a política europeia? Neste último caso, o travessão pode ser substituído por parênteses ou por vírgulas. Será que alguém consegue compreender, e tomar a sério, a política europeia? Será que alguém consegue compreender (e tomar a sério) a política europeia?

10.1.8 Reticências As reticências indicam uma pausa e uma entoação que correspondem a uma suspensão do discurso. Do ponto de vista estilístico, podem ser usadas para criar um efeito de expectativa ou de surpresa, para exprimir hesitação ou para convocar a intervenção do leitor. Não tenha medo, disse ele sorrindo, não tenha medo de meu silêncio… Sou um louco mas guiado dentro de mim por uma espécie de grande sábio… (ClariCe liSpeCtor, Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres. ) Este sinal pode ainda indicar a interrupção do enunciado, assinalando que a sequência que termina com reticências constitui um fragmento e não uma sequência sintática completa. Primeiro, comprei… não. Primeiro, fui levantar dinheiro. Em combinação com parênteses retos, as reticências indicam a supressão de um segmento do texto numa citação. O entrevistado declarou: «Naquele mesmo dia, resolvi […] mudar de profissão.»

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Pontuação e configuração gráfica

10.2 sinais auxiliaRes de escRita Os sinais auxiliares de escrita são um conjunto de sinais gráficos que servem para assegurar a clareza do texto escrito. Desempenham diversas funções, como as de separar, assinalar ou destacar elementos de uma frase ou partes de um texto. Os sinais auxiliares mais utilizados são os seguintes: parênteses retos ou colchetes [ ], parênteses curvos ( ), aspas « », aspas altas “ ”, asterisco * e chaveta {.

10.2.1 parênteses retos ou colchetes [ ] Estes sinais auxiliares de escrita são usados: • para intercalar na citação de um texto observações próprias: «As armas e os barões assinalados [estes versos sabia-os de cor] que da ocidental praia lusitana». • para isolar numa construção dentro de parênteses curvos uma parte do texto: O António volta a falar da sua passagem preferida n’Os Maias (a descoberta do romance de Ega e Raquel Cohen [capítulo ix]) e os colegas riem com as suas observações. • em conjunto com reticências, servem para indicar a supressão de uma passagem numa citação: De acordo com o regulamento, «Os candidatos devem: […] c) entregar duas fotografias atualizadas». • para fazer a transcrição fonética: A palavra «gato» pronuncia-se [ga tu].

10.2.2 parênteses curvos ( ) Recorre-se ao uso dos parênteses curvos para: • isolar palavras ou frases intercaladas que veiculam informação acessória — datas, indicações bibliográficas, etc. —, especificando, explicando ou completando um aspeto referido no discurso. 320

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Será que alguém, no Próximo Oriente, seja muçulmano (xiita ou sunita), cristão ou mesmo judeu, consegue compreender — e tomar a sério — a política de Bush? (Mário SoareS, in Visão, 16/08/2009.) • nos textos de teatro, destacar didascálias ou indicações cénicas. MADALENA (na maior ansiedade) — Deus tenha misericórdia de mim! E esse homem, esse homem… Jesus! esse homem era… esse homem tinha sido… levaram-no aí de donde?… de África? (alMeida Garrett, Frei Luís de Sousa.)

10.2.3 aspas « » As aspas empregam-se nas seguintes situações: • para assinalar uma citação, sendo colocadas no início e no fim do trecho que é transcrito: E depois, a Maria José referiu os versos de Rui Cinatti «Quem me não deu amor, não me deu nada». • para destacar uma declaração em discurso direto reproduzida literalmente: «Angola converteu-se numa terra de oportunidades», assegurou ao nosso correspondente o empresário João Silva. • para destacar palavras ou expressões cujo significado é diferente do significado habitual ou denotativo: Os assaltantes queriam «administrar» os bens dos residentes. • para assinalar o nome de um artigo de jornal ou revista, ensaio, capítulo de livro, poema, conto, crónica: Leste a crónica do Ricardo Araújo Pereira de hoje, «Anástrofe e Incerteza na Poesia de Tony Carreira»? «O Diletante» é um dos melhores contos de Thomas Mann.

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10.2.4 aspas altas “ ” As aspas altas, atualmente, asseguram as mesmas funções das outras aspas. No entanto, devem utilizar-se dentro daquelas, ou seja, para destacar uma palavra ou uma expressão numa passagem que já se encontra entre aspas. «Sem dúvida, “se mais mundo houvera lá chegara”, como vaticinou o seu Poeta Maior na epopeia...» (roSa VirGínia MattoS e SilVa, «Diversidade e Unidade: A Aventura Linguística do Português», 1987)

10.2.5 asterisco * O asterisco é um sinal gráfico sobrescrito que se coloca depois de uma palavra ou expressão e que remete para uma nota de rodapé contendo uma explicação ou uma referência. Os nomes próprios que referem pessoas, incluindo os hipercorísticos*, denominam-se antropónimos. *Hipercorísticos são formas truncadas de nomes próprios de pessoas (ex.: Zé). Em obras que abordam conteúdos gramaticais, o asterisco é usado para assinalar construções que não estão de acordo com os princípios e as regras de uma dada gramática, ou seja, construções agramaticais. Neste caso, o asterisco antecede a construção: *Tivestes uma boa nota. *Haviam muitas pessoas na sala.

10.2.6 chaveta { A chaveta é um sinal auxiliar de escrita que indica as partes em que se divide um assunto. Geralmente, este sinal gráfico aparece em obras de caráter científico. próprios nomes comuns

contáveis não contáveis coletivos

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10.3 configuRação gRáfica A configuração gráfica diz respeito à composição da página escrita e aos seus diversos aspetos: formato, margens, espaços, parágrafos, períodos e formas de destaque. A margem é o espaço em branco que circunda a mancha escrita. De acordo com a posição em relação ao texto, diz-se superior, inferior e lateral direita ou esquerda. O espaço assinala um intervalo visual entre palavras, linhas ou parágrafos. O parágrafo é uma forma de estruturação do texto que pode conter um ou mais períodos. Apresenta unidade de ideias e um sentido completo. Termina com ponto final, ponto de interrogação, de exclamação ou reticências, tal como o período, mas distingue-se deste por se iniciar numa nova linha do texto, com avanço de alguns espaços em relação à margem esquerda do texto ou depois de um espaço entre linhas superior ao comum. O período corresponde a cada uma das partes constituintes de um parágrafo. Contém uma ou mais frases simples ou complexas e termina com ponto final, ponto de interrogação, de exclamação ou reticências. A alínea é um sinal configurado pelas letras minúsculas do alfabeto, destacadas através de um parêntese. Utiliza-se para apresentar a subdivisão de unidades textuais que constituem globalmente uma listagem. A nota de rodapé é uma anotação colocada no final da página que serve para esclarecer um segmento do texto ou apresentar fontes da informação. O segmento de texto a destacar é seguido por um algarismo sobrescrito, que posteriormente surge a identificar e a numerar a nota de rodapé. CA P ÍTU LO 1

LÍNGUA, COMUNIDADE LINGUÍSTICA, VARIAÇÃO E MUDANÇA

Margem

1.4.2 História do português O português é uma língua românica, com origem no latim, mas conserva traços das línguas que se falavam na Península Ibérica antes da conquista romana e das línguas de outros povos que a habitaram posteriormente (visigodos e árabes).

As origens do português No ano 218 a. C., Roma empreendeu a conquista da Península Ibérica. Os territórios conquistados integraram-se na estrutura do Império Romano e, pouco a pouco, adotaram o latim como língua comum. No início da Idade Média, as antigas línguas (à exceção do basco) já tinham sido completamente substituídas pelo latim. As sucessivas vagas de invasores (primeiro, os povos germânicos, depois os árabes) e a decadência do Império Romano contribuíram para que a Península Ibérica se fragmentasse em vários reinos. Na Península Ibérica, as influências dos substratos e dos superstratos(9) variavam consoante as regiões, o que favoreceu a divisão do latim em várias línguas: galego-português, castelhano e catalão.

O galego-português No Noroeste Peninsular, numa região que ocupa a atual Galiza, uma parte das Astúrias e o Norte de Portugal, desenvolveu-se, a partir dos séculos vi e vii, o romance galego-português. A palavra romance tem origem na expressão latina romanice fabulare («falar à maneira dos romanos»). Inicialmente designava a forma de falar (latim) das várias regiões do Império Romano; com o tempo, passou a referir-se a qualquer texto escrito nestes falares de base latina e, finalmente, tornou-se a designação de um género literário. O galego-português teve uma grande importância na literatura medieval, especialmente no campo da poesia, com a chamada lírica galaico-portuguesa ou poesia trovadoresca.

Período

Espaço

Parágrafo

O português antigo Independente desde 1143, o reino de Portugal avançou para sul com a Reconquista Cristã, ocupando a faixa oeste da Península e traçando, em cerca de um século, uma das fronteiras mais antigas e estáveis da Europa. Foi nessa altura que começaram a surgir documentos escritos em português. O mais antigo documento conhecido é uma Notícia de Fiadores, de Paio Soares Romeu, datada de 1175. (9)

10

Sobre as definições de substrato e superstrato, ver a página 22.

Nota de rodapé

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C AP Í T U L O 10

Pontuação e configuração gráfica

10.3.1 formas de destaque Há na configuração gráfica dos textos um conjunto de recursos que permitem destacar palavras, frases ou partes de texto. São diversas as formas de destaque de que nos podemos socorrer: • itálico (cursivo ou grifo) — texto • negrito — texto • sublinhado — texto • sobrescrito — texto • subscrito — texto Usa-se o itálico principalmente em: • títulos de livros, jornais, filmes, representações teatrais, peças musicais, etc. Este ano trouxe para férias A Capital, de Eça de Queirós, e Ema, de Jane Austen. • palavras em língua estrangeira: Nessa tarde apareceu, muito afogueado, o Nuno, com uma T-shirt branca suada e muito suja. O negrito e o sublinhado são recursos adicionais que permitem o destaque de certas palavras ou segmentos de texto, sobretudo em trechos já graficamente destacados. O sublinhado também se usa, atualmente, para assinalar ligações no hipertexto. O sobrescrito, como o nome indica, é um sinal que se coloca acima da base da linha, remetendo para anotações, e que pode ter a forma de letra, de algarismo ou de asterisco. Usa-se na indicação das notas de rodapé. Dirigiu-se à Dr.ª Isabel. O livro era de heráldica (1)1 e pertencia ao seu avô. (1)

Ciência que se dedica ao estudo dos brasões.

Chama-se subscrito a um sinal — constituído por letras ou algarismos — que se coloca abaixo da base da linha e que especifica a informação dada. Usa-se sobretudo em textos de caráter técnico ou científico. A fórmula da água é H2O. Existe homonímia no caso de cantoN e cantoV.

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F I C H A D E AT I V I DA D E S | 3 0

P O N T U AÇ Ã O

1. Uma vírgula pode mudar completamente o sentido de uma frase. Pontue as frases seguintes com vírgula(s) de forma a criar sentidos distintos. a) Não vá. Não vá. b) Aceito obrigada. Aceito obrigada. c) Não queremos ficar. Não queremos ficar. d) Esse senhor é corrupto. Esse senhor é corrupto. e) Não tenha pena! Não tenha pena! 2. Pontue a frase de modo a torná-la lógica. Um lavrador tinha um bezerro e a mãe do lavrador era também o pai do bezerro 3. O enunciado seguinte poderia ter sido proferido por um patrão ou por um funcionário. Distinga, por meio do uso da pontuação, a versão do patrão e a do funcionário. Este funcionário disse o patrão é preguiçoso 4. As três versões do poema que se segue divergem na sua pontuação. Descubra em cada versão qual é a amada do sujeito poético: Soledade, Lia ou Iria? a)

Três belas que belas são. Querem que por minha fé Eu diga qual delas é Que adora o meu coração. Se consultar a razão, Digo que amo Soledade, Não Lia, cuja bondade Ser humano não teria. Não aspiro a mão de Iria, Que não tem pouca beldade. A ntónio FeliciAno de c Astilho, Novas Escavações.

b)

c)

Três belas que belas são. Querem que por minha fé Eu diga qual delas é Que adora o meu coração. Se consultar a razão, Digo que amo Soledade? Não! Lia, cuja bondade Ser humano não teria? Não! Aspiro a mão de Iria, Que não tem pouca beldade. A ntónio FeliciAno de c Astilho, Novas Escavações.

Três belas que belas são. Querem que por minha fé Eu diga qual delas é Que adora o meu coração. Se consultar a razão, Digo que amo Soledade? Não! Lia, cuja bondade Ser humano não teria. Não aspiro a mão de Iria, Que não tem pouca beldade. A ntónio FeliciAno de c Astilho, Novas Escavações.

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C AP Í T U L O 10

Pontuação e configuração gráfica

5. Uma vírgula serve para separar constituintes de natureza diversa. Na coluna da esquerda são apresentados vários constituintes que devem ser separados por vírgula. Faça correspondê-los às frases apresentadas na coluna da direita. A. M  odificadores de nome apositivos, oracionais ou não.





1. Quando ele começou, já os outros tinham acabado.

B. C  onstituintes intercalados de natureza oracional, adverbial, preposicional, participial ou gerundiva.





2. Decidiu apanhar um avião, foi tomar o pequeno-almoço a Paris, acabou o dia em Bruxelas.

C. Constituintes antepostos de natureza frásica, adverbial, preposicional, participial ou gerundiva.





3. A Lisa, a nossa amiga, tem muita paciência e compreensão.

D. C  onstituintes da frase coordenados com a mesma função sintática, não ligados por conjunção (coordenação assindética).





4. Pedro, podes ajudar-me?

E. O  rações coordenadas assindéticas.





5. Coimbra, 20 de maio de 2010.



6. A Catarina, a Madalena e a Inês assistiram ao espetáculo e adoraram o final. 7. O João confiou na sorte, mas perdeu a sua fortuna e decidiu não mais jogar.

F. O  rações coordenadas sindéticas, salvo as que, tendo o mesmo sujeito, são ligadas pela conjunção copulativa e.



G. O vocativo.





H. O nome do lugar nas datas.





8. A Ana, quando viajou para África, declarou que adoraria fazer um safari.

6. Nos quadrados destacados, coloque os sinais de pontuação e os sinais auxiliares de escrita em falta. Já deves ter reparado que basta alguém à tua volta bocejar para que sintas uma vontade enorme de fazê-lo e se fechares os olhos para evitares o contágio sabes que não vai resultar se ouvires o bocejo ou se te falarem nisso a tua boca parece que tem vida própria e ler este artigo apostamos que já bocejaste pelo menos uma vez consegues controlar-te não não consegues o bocejo é uma ação involuntária isto significa que por mais que o teu cérebro não queira bocejar o teu corpo não vai cumprir a ordem Um bocejo começa na boca que se abre completamente vamos lá a tapá-la com as mãos com a boca aberta o próximo passo é inspirar assim o ar vai chegar em grande quantidade aos teus pulmões depois apenas uma parte deste ar é que vai voltar a sair do teu corpo Bocejar é um mistério os especialistas reúnem-se em volta desta questão mas não conseguem explicar de uma vez por todas porque é que bocejamos Visão Júnior, n.º 58, março de 2009 (com adaptações). 326

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7. Reescreva as frases seguintes eliminando os problemas de pontuação. a) A Ana uma amiga minha vem cá jantar. b) Eu e a minha irmã, vamos viajar. c) Onde está a minha carteira. d) Eis o que precisamos pão leite fruta e legumes. e) Avó passa-me o jarro de água por favor. f) Ofereci uma prenda, à minha tia. g) A minha mãe que tem 52 anos tem uma ótima saúde. h) Que lindo dia. 8. As frases que se seguem, da obra de Alexandre O’Neill Abandono Vigiado, fazem alusão a sinais de pontuação. Faça a correspondência entre as frases dadas e os sinais de pontuação indicados à direita. A. Introduzimos, por vezes, / frases nada agradáveis...





1. Ponto final

B. G  osto de quem responde / antes de perguntar...





2. Travessão





3. Vírgula





4. Dois pontos





5. Parênteses curvos

F. Não abuses de mim!





6. Ponto de interrogação

G. Que nos separa, Amor, um traço de união?...





7. Ponto de exclamação

H. Quem nos dera bem juntos sem grandes apartes entre nós!





8. Reticências

C. Em aberto, em suspenso / fica tudo o que digo. E também o que faço é reticente... D. Depois de mim: maiúscula / ou o espaço em branco contra o qual defendo os textos. E. Quando estou mal disposta / (e estou-o muitas vezes...) / mudo o sentido às frases, / Complico tudo...

9. Reescreva o texto que se segue pontuando-o convenientemente. Não se esqueça de delimitar os parágrafos. A partir deste [livro] Edward e Bella casam-se e logo em seguida o que parecia ser impossível acontece uma gravidez inesperada segundo a lenda nenhum humano pode dar à luz um vampiro e vice-versa Carlisle convence Edward a conversar com Bella sobre o possível risco de o próprio filho a matar pois estas hipóteses são grandes segundo a lenda mas Rosalie não quer perder o seu neto e ajuda Bella a ter o bebé mesmo vivendo sob pressão então chega o dia do nascimento da criança e esta faz com que Bella quase morra é neste exato momento que Edward a transforma em vampira o nascimento do bebé gera muita polémica e discussão um membro dos Denali conta ao clã Volturi que o nascimento deste primogénito poderá ser o fim para todos uma vez que este pode vir a ser imortal entretanto Alice encontra um meio-vampiro e meio-humano e confirma a todos que o Renesmee é totalmente humano trazendo o desfecho para a série stephenie M eyer, Amanhecer.

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S O X E N A

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O Ã Ç A G CONJU VERBAL I VERBOS AUX

LIARES

ULARES

VERBOS REG

GULARES E R R I S O B R E V GAÇÃO) U J N O C E D O AIS (MODEL N I M O N O R P VERBOS GAÇÃO) U J N O C E D O L EXOS (MODE L F E R S O B R E V

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A N E XO S

VERBOS AUXILIARES

ESTAR Presente

estou estás está estamos estais estão

Pretérito imperfeito

estava estavas estava estávamos estáveis estavam

INDICATIVO

Pretérito perfeito

estive estiveste esteve estivemos estivestes estiveram

CONJUNTIVO

Presente

esteja estejas esteja estejamos estejais estejam Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

hei hás há havemos haveis hão

Futuro

estivesse estivesses estivesse estivéssemos estivésseis estivessem

estiver estiveres estiver estivermos estiverdes estiverem

haja hajas haja hajamos hajais hajam Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

estaria estarias estaria estaríamos estaríeis estariam

Futuro

estarei estarás estará estaremos estareis estarão IMPERATIVO

está esteja

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

estar, estares, estar, estarmos, estardes, estarem estar

estando estado

Pretérito imperfeito

havia havias havia havíamos havíeis haviam

INDICATIVO

Pretérito perfeito

houve houveste houve houvemos houvestes houveram

CONJUNTIVO

Presente

estivera estiveras estivera estivéramos estivéreis estiveram CONDICIONAL

Pretérito imperfeito

HAVER Presente

Pretérito mais-que-perfeito

Pretérito imperfeito

houvesse houvesses houvesse houvéssemos houvésseis houvessem

Pretérito mais-que-perfeito

houvera houveras houvera houvéramos houvéreis houveram CONDICIONAL

Futuro

haverei haverás haverá haveremos havereis haverão IMPERATIVO

Futuro

houver houveres houver houvermos houverdes houverem

haveria haverias haveria haveríamos haveríeis haveriam

há havei

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

haver, haveres, haver, havermos, haverdes, haverem haver

havendo havido

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VERBOS AUXILIARES

SER Presente

sou és é somos sois são

Pretérito imperfeito

era eras era éramos éreis eram

INDICATIVO

Pretérito perfeito

fui foste foi fomos fostes foram

CONJUNTIVO

Presente

seja sejas seja sejamos sejais sejam Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

Pretérito imperfeito

fosse fosses fosse fôssemos fôsseis fossem

tenho tens tem temos tendes têm

CONDICIONAL

tenha tenhas tenha tenhamos tenhais tenham Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

serei serás será seremos sereis serão IMPERATIVO

Futuro

for fores for formos fordes forem

seria serias seria seríamos seríeis seriam

sê sede

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

ser

sendo sido

Pretérito imperfeito

tinha tinhas tinha tínhamos tínheis tinham

INDICATIVO

Pretérito perfeito

tive tiveste teve tivemos tivestes tiveram

CONJUNTIVO

Presente

fora foras fora fôramos fôreis foram

Futuro

ser, seres, ser, sermos, serdes, serem

TER Presente

Pretérito mais-que-perfeito

Pretérito imperfeito

tivesse tivesses tivesse tivéssemos tivésseis tivessem

Pretérito mais-que-perfeito

tivera tiveras tivera tivéramos tivéreis tiveram CONDICIONAL

Futuro

terei terás terá teremos tereis terão IMPERATIVO

Futuro

tiver tiveres tiver tivermos tiverdes tiverem

teria terias teria teríamos teríeis teriam

tem tende

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

ter, teres, ter, termos, terdes, terem ter

tendo tido

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A N E XO S

VERBOS REGULARES

LAVAR

Primeira conjugação Presente

TEMP O S S I M P LES

lavo lavas lava lavamos lavais lavam

Pretérito perfeito

lavava lavavas lavava lavávamos laváveis lavavam

Pretérito mais-que-perfeito

lavei lavaste lavou lavámos lavastes lavaram

lavara lavaras lavara laváramos laváreis lavaram

CONJUNTIVO

Presente

lave laves lave lavemos laveis lavem Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

Pretérito perfeito

TEM POS COMPOSTOS

INDICATIVO

Pretérito imperfeito

tenho lavado tens lavado tem lavado temos lavado tendes lavado têm lavado Pretérito perfeito

tenha lavado tenhas lavado tenha lavado tenhamos lavado tenhais lavado tenham lavado

CONDICIONAL

Pretérito imperfeito

Futuro

lavarei lavarás lavará lavaremos lavareis lavarão IMPERATIVO

Futuro

lavasse lavasses lavasse lavássemos lavásseis lavassem

lavaria lavarias lavaria lavaríamos lavaríeis lavariam

lavar lavares lavar lavarmos lavardes lavarem

lava lavai

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

lavar, lavares, lavar, lavarmos, lavardes, lavarem lavar

lavando lavado

INDICATIVO

Pretérito mais-que-perfeito

tinha lavado tinhas lavado tinha lavado tínhamos lavado tínheis lavado tinham lavado CONJUNTIVO Pretérito mais-que-perfeito

tivesse lavado tivesses lavado tivesse lavado tivéssemos lavado tivésseis lavado tivessem lavado

Futuro

terei lavado terás lavado terá lavado teremos lavado tereis lavado terão lavado CONDICIONAL

Futuro

tiver lavado tiveres lavado tiver lavado tivermos lavado tiverdes lavado tiverem lavado

teria lavado terias lavado teria lavado teríamos lavado teríeis lavado teriam lavado

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

Infinitivo pessoal

ter lavado, teres lavado, ter lavado, termos lavado, terdes lavado, terem lavado

Infinitivo impessoal

ter lavado

Gerúndio

tendo lavado

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VERBOS REGULARES

COMER

Segunda conjugação

Presente

TEMP O S S I M P LES

como comes come comemos comeis comem

Pretérito perfeito

comia comias comia comíamos comíeis comiam

Pretérito mais-que-perfeito

comi comeste comeu comemos comestes comeram

comera comeras comera comêramos comêreis comeram

CONJUNTIVO

Presente

coma comas coma comamos comais comam Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

Pretérito perfeito

TEM POS COMPOSTOS

INDICATIVO

Pretérito imperfeito

tenho comido tens comido tem comido temos comido tendes comido têm comido Pretérito perfeito

tenha comido tenhas comido tenha comido tenhamos comido tenhais comido tenham comido

CONDICIONAL

Pretérito imperfeito

Futuro

comesse comesses comesse comêssemos comêsseis comessem

comer comeres comer comermos comerdes comerem

comeria comerias comeria comeríamos comeríeis comeriam

Futuro

comerei comerás comerá comeremos comereis comerão IMPERATIVO

come comei

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

comer, comeres, comer, comermos, comerdes, comerem comer

comendo comido

INDICATIVO

Pretérito mais-que-perfeito

tinha comido tinhas comido tinha comido tínhamos comido tínheis comido tinham comido CONJUNTIVO Pretérito mais-que-perfeito

tivesse comido tivesses comido tivesse comido tivéssemos comido tivésseis comido tivessem comido

Futuro

terei comido terás comido terá comido teremos comido tereis comido terão comido CONDICIONAL

Futuro

tiver comido tiveres comido tiver comido tivermos comido tiverdes comido tiverem comido

teria comido terias comido teria comido teríamos comido teríeis comido teriam comido

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

Infinitivo pessoal

ter comido, teres comido, ter comido, termos comido, terdes comido, terem comido

Infinitivo impessoal

ter comido

Gerúndio

tendo comido

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A N E XO S

VERBOS REGULARES

PARTIR

Terceira conjugação

Presente

TEMP O S S I M P LES

parto partes parte partimos partis partem

Pretérito perfeito

partia partias partia partíamos partíeis partiam

Pretérito mais-que-perfeito

parti partiste partiu partimos partistes partiram

partira partiras partira partíramos partíreis partiram

CONJUNTIVO

Presente

parta partas parta partamos partais partam Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

Pretérito perfeito

TEM PO S COM POSTOS

INDICATIVO

Pretérito imperfeito

tenho partido tens partido tem partido temos partido tendes partido têm partido Pretérito perfeito

tenha partido tenhas partido tenha partido tenhamos partido tenhais partido tenham partido

CONDICIONAL

Pretérito imperfeito

Futuro

partisse partisses partisse partíssemos partísseis partissem

partir partires partir partirmos partirdes partirem

partiria partirias partiria partiríamos partiríeis partiriam

Futuro

partirei partirás partirá partiremos partireis partirão IMPERATIVO

parte parti

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

partir, partires, partir, partirmos, partirdes, partirem partir

partindo partido

INDICATIVO

Pretérito mais-que-perfeito

tinha partido tinhas partido tinha partido tínhamos partido tínheis partido tinham partido CONJUNTIVO Pretérito mais-que-perfeito

tivesse partido tivesses partido tivesse partido tivéssemos partido tivésseis partido tivessem partido

Futuro

terei partido terás partido terá partido teremos partido tereis partido terão partido CONDICIONAL

Futuro

tiver partido tiveres partido tiver partido tivermos partido tiverdes partido tiverem partido

teria partido terias partido teria partido teríamos partido teríeis partido teriam partido

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

Infinitivo pessoal

ter partido, teres partido, ter partido, termos partido, terdes partido, terem partido

Infinitivo impessoal

ter partido

Gerúndio

tendo partido

334

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VERBOS IRREGULARES

ACUDIR Presente

acudo acodes acode acudimos acudis acodem

INDICATIVO

Pretérito imperfeito

acudia acudias acudia acudíamos acudíeis acudiam

Pretérito perfeito

Pretérito mais-que-perfeito

acudi acudiste acudiu acudimos acudistes acudiram

acudira acudiras acudira acudíramos acudíreis acudiram

CONJUNTIVO

Presente

acuda acudas acuda acudamos acudais acudam Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

Pretérito imperfeito

acudisse acudisses acudisse acudíssemos acudísseis acudissem

agrido agrides agride agredimos agredis agridem

agrida agridas agrida agridamos agridais agridam Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

IMPERATIVO

Futuro

acudiria acudirias acudiria acudiríamos acudiríeis acudiriam

acudir acudires acudir acudirmos acudirdes acudirem

acode acudi

acudir, acudires, acudir, acudirmos, acudirdes, acudirem acudir

acudindo acudido

Como acudir, conjugam-se os verbos consumir, engolir, fugir, sacudir, subir, …

INDICATIVO

Pretérito imperfeito

agredia agredias agredia agredíamos agredíeis agrediam

Pretérito perfeito

Pretérito mais-que-perfeito

agredi agrediste agrediu agredimos agredistes agrediram

agredira agrediras agredira agredíramos agredíreis agrediram

CONJUNTIVO

Presente

acudirei acudirás acudirá acudiremos acudireis acudirão

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

AGREDIR Presente

CONDICIONAL

Futuro

Pretérito imperfeito

agredisse agredisses agredisse agredíssemos agredísseis agredissem

CONDICIONAL

Futuro

agredirei agredirás agredirá agrediremos agredireis agredirão IMPERATIVO

Futuro

agrediria agredirias agrediria agrediríamos agrediríeis agrediriam

agredir agredires agredir agredirmos agredirdes agredirem

agride agredi

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

agredir, agredires, agredir, agredirmos, agredirdes, agredirem agredir

agredindo agredido

Como agredir, conjugam-se os verbos prevenir, progredir, transgredir, …

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A N E XO S

VERBOS IRREGULARES

ATEAR Presente

ateio ateias ateia ateamos ateais ateiam

Pretérito imperfeito

ateava ateavas ateava ateávamos ateáveis ateavam

INDICATIVO

Pretérito perfeito

ateei ateaste ateou ateámos ateastes atearam

CONJUNTIVO

Presente

ateie ateies ateie ateemos ateeis ateiem Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

Pretérito imperfeito

ateasse ateasses ateasse ateássemos ateásseis ateassem

caibo cabes cabe cabemos cabeis cabem

CONDICIONAL

caiba caibas caiba caibamos caibais caibam Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

atearei atearás ateará atearemos ateareis atearão IMPERATIVO

Futuro

atear ateares atear atearmos ateardes atearem

atearia atearias atearia atearíamos atearíeis ateariam

ateia ateai

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

atear

ateando ateado

Como atear, conjugam-se os verbos alhear, guerrear, nomear, passear, pentear, …

Pretérito imperfeito

cabia cabias cabia cabíamos cabíeis cabiam

INDICATIVO

Pretérito perfeito

coube coubeste coube coubemos coubestes couberam

CONJUNTIVO

Presente

ateara atearas ateara ateáramos ateáreis atearam

Futuro

atear, ateares, atear, atearmos, ateardes, atearem

CABER Presente

Pretérito mais-que-perfeito

Pretérito imperfeito

coubesse coubesses coubesse coubéssemos coubésseis coubessem

Pretérito mais-que-perfeito

coubera couberas coubera coubéramos coubéreis couberam CONDICIONAL

Futuro

caberei caberás caberá caberemos cabereis caberão IMPERATIVO

Futuro

couber couberes couber coubermos couberdes couberem

caberia caberias caberia caberíamos caberíeis caberiam

cabe cabei

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

caber, caberes, caber, cabermos, caberdes, caberem caber

cabendo cabido

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VERBOS IRREGULARES

CAIR Presente

caio cais cai caímos caís caem

INDICATIVO

Pretérito imperfeito

caía caías caía caíamos caíeis caíam

Pretérito perfeito

Pretérito mais-que-perfeito

caí caíste caiu caímos caístes caíram

caíra caíras caíra caíramos caíreis caíram

CONJUNTIVO

Presente

caia caias caia caiamos caiais caiam Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

Pretérito imperfeito

caísse caísses caísse caíssemos caísseis caíssem

construo constróis constrói construímos construís constroem

construa construas construa construamos construais construam Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

IMPERATIVO

Futuro

cairia cairias cairia cairíamos cairíeis cairiam

cair caíres cair cairmos cairdes caírem

cai caí

cair, caíres, cair, cairmos, cairdes, caírem cair

caindo caído

Como cair, conjugam-se os verbos atrair, contrair, distrair, sair, …

INDICATIVO

Pretérito imperfeito

construía construías construía construíamos construíeis construíam

Pretérito perfeito

Pretérito mais-que-perfeito

construí construíste construiu construímos construístes construíram

construíra construíras construíra construíramos construíreis construíram

construirei construirás construirá construiremos construireis construirão

CONDICIONAL

IMPERATIVO

CONJUNTIVO

Presente

cairei cairás cairá cairemos caireis cairão

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

CONSTRUIR Presente

CONDICIONAL

Futuro

Pretérito imperfeito

construísse construísses construísse construíssemos construísseis construíssem

Futuro

Futuro

construir construíres construir construirmos construirdes construírem

construiria construirias construiria construiríamos construiríeis construiriam

constrói construí

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

construir, construíres, construir, construirmos, construirdes, construírem construir

construindo construído

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A N E XO S

VERBOS IRREGULARES

CRER Presente

creio crês crê cremos credes creem

Pretérito imperfeito

cria crias cria críamos críeis criam

INDICATIVO

Pretérito perfeito

cri creste creu cremos crestes creram

CONJUNTIVO

Presente

creia creias creia creiamos creiais creiam Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

Pretérito imperfeito

cresse cresses cresse crêssemos crêsseis cressem

dou dás dá damos dais dão

CONDICIONAL

dê dês dê demos deis deem Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

crerei crerás crerá creremos crereis crerão IMPERATIVO

Futuro

crer creres crer crermos crerdes crerem

creria crerias creria creríamos creríeis creriam

crê crede

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

crer

crendo crido

Pretérito imperfeito

dava davas dava dávamos dáveis davam

INDICATIVO

Pretérito perfeito

dei deste deu demos destes deram

CONJUNTIVO

Presente

crera creras crera crêramos crêreis creram

Futuro

crer, creres, crer, crermos, crerdes, crerem

DAR Presente

Pretérito mais-que-perfeito

Pretérito imperfeito

desse desses desse déssemos désseis dessem

Pretérito mais-que-perfeito

dera deras dera déramos déreis deram CONDICIONAL

Futuro

darei darás dará daremos dareis darão IMPERATIVO

Futuro

der deres der dermos derdes derem

daria darias daria daríamos daríeis dariam

dá dai

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

dar, dares, dar, darmos, dardes, darem dar

dando dado

338

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VERBOS IRREGULARES

DESCOBRIR Presente

descubro descobres descobre descobrimos descobris descobrem

INDICATIVO

Pretérito imperfeito

descobria descobrias descobria descobríamos descobríeis descobriam

Pretérito perfeito

Pretérito mais-que-perfeito

Futuro

descobri descobriste descobriu descobrimos descobristes descobriram

descobrira descobriras descobrira descobríramos descobríreis descobriram

descobrirei descobrirás descobrirá descobriremos descobrireis descobrirão

CONDICIONAL

IMPERATIVO

CONJUNTIVO

Presente

descubra descubras descubra descubramos descubrais descubram Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

Pretérito imperfeito

descobrisse descobrisses descobrisse descobríssemos descobrísseis descobrissem

digo dizes diz dizemos dizeis dizem

descobriria descobririas descobriria descobriríamos descobriríeis descobririam

descobrir descobrires descobrir descobrirmos descobrirdes descobrirem

diga digas diga digamos digais digam Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

descobri

descobrir, descobrires, descobrir, descobrirmos, descobrirdes, descobrirem descobrir

descobrindo descoberto

Como descobrir, conjugam-se os verbos cobrir, encobrir, recobrir, …

Pretérito imperfeito

dizia dizias dizia dizíamos dizíeis diziam

INDICATIVO

Pretérito perfeito

Pretérito mais-que-perfeito

disse disseste disse dissemos dissestes disseram

dissera disseras dissera disséramos disséreis disseram

CONJUNTIVO

Presente

descobre

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

DIZER Presente

Futuro

Pretérito imperfeito

dissesse dissesses dissesse disséssemos dissésseis dissessem

CONDICIONAL

Futuro

direi dirás dirá diremos direis dirão IMPERATIVO

Futuro

diria dirias diria diríamos diríeis diriam

disser disseres disser dissermos disserdes disserem

diz dizei

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

dizer, dizeres, dizer, dizermos, dizerdes, dizerem dizer

dizendo dito

Como dizer, conjugam-se os verbos contradizer, desdizer, maldizer, …

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A N E XO S

VERBOS IRREGULARES

FAZER Presente

faço fazes faz fazemos fazeis fazem

Pretérito imperfeito

fazia fazias fazia fazíamos fazíeis faziam

INDICATIVO

Pretérito perfeito

fiz fizeste fez fizemos fizestes fizeram

CONJUNTIVO

Presente

faça faças faça façamos façais façam Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

Pretérito imperfeito

fizesse fizesses fizesse fizéssemos fizésseis fizessem

fujo foges foge fugimos fugis fogem

CONDICIONAL

fuja fujas fuja fujamos fujais fujam Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

farei farás fará faremos fareis farão IMPERATIVO

Futuro

fizer fizeres fizer fizermos fizerdes fizerem

faria farias faria faríamos faríeis fariam

faz fazei

fazer, fazeres, fazer, fazermos, fazerdes, fazerem fazer

fazendo feito

Como fazer, conjugam-se os verbos contrafazer, desfazer, perfazer, satisfazer, …

Pretérito imperfeito

fugia fugias fugia fugíamos fugíeis fugiam

INDICATIVO

Pretérito perfeito

fugi fugiste fugiu fugimos fugistes fugiram

CONJUNTIVO

Presente

fizera fizeras fizera fizéramos fizéreis fizeram

Futuro

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

FUGIR Presente

Pretérito mais-que-perfeito

Pretérito imperfeito

fugisse fugisses fugisse fugíssemos fugísseis fugissem

Pretérito mais-que-perfeito

fugira fugiras fugira fugíramos fugíreis fugiram CONDICIONAL

Futuro

fugirei fugirás fugirá fugiremos fugireis fugirão IMPERATIVO

Futuro

fugir fugires fugir fugirmos fugirdes fugirem

fugiria fugirias fugiria fugiríamos fugiríeis fugiriam

foge fogi

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

fugir, fugires, fugir, fugirmos, fugirdes, fugirem fugir

fugindo fugido

Como fugir, conjugam-se os verbos acudir, consumir, engolir, sacudir, subir, …

340

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VERBOS IRREGULARES

IR Presente

vou vais vai vamos ides vão

Pretérito imperfeito

ia ias ia íamos íeis iam

INDICATIVO

Pretérito perfeito

fui foste foi fomos fostes foram

CONJUNTIVO

Presente

vá vás vá vamos vades vão Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

Pretérito imperfeito

fosse fosses fosse fôssemos fôsseis fossem

jazo jazes jaz jazemos jazeis jazem

CONDICIONAL

jaza jazas jazas jazamos jazais jazam Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

irei irás irá iremos ireis irão IMPERATIVO

Futuro

for fores for formos fordes forem

iria irias iria iríamos iríeis iriam

vai ide

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

ir

indo ido

INDICATIVO

Pretérito imperfeito

jazia jazias jazia jazíamos jazíeis jaziam

Pretérito perfeito

Pretérito mais-que-perfeito

jazi jazeste jazeu jazemos jazestes jazeram

jazera jazeras jazera jazêramos jazêreis jazeram

CONJUNTIVO

Presente

fora foras fora fôramos fôreis foram

Futuro

ir, ires, ir, irmos, irdes, irem

JAZER Presente

Pretérito mais-que-perfeito

Pretérito imperfeito

jazesse jazesses jazesse jazêssemos jazêsseis jazessem

CONDICIONAL

Futuro

jazerei jazerás jazerá jazeremos jazereis jazerão IMPERATIVO

Futuro

jazer jazeres jazer jazermos jazerdes jazerem

jazeria jazerias jazeria jazeríamos jazeríeis jazeriam

jaz jazei

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

jazer, jazeres, jazer, jazermos, jazerdes, jazerem jazer

jazendo jazido

341

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A N E XO S

VERBOS IRREGULARES

LER Presente

leio lês lê lemos ledes leem

Pretérito imperfeito

lia lias lia líamos líeis liam

INDICATIVO

Pretérito perfeito

li leste leu lemos lestes leram

CONJUNTIVO

Presente

leia leias leia leiamos leiais leiam Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

Pretérito imperfeito

lesse lesses lesse lêssemos lêsseis lessem

meço medes mede medimos medis medem

CONDICIONAL

meça meças meça meçamos meçais meçam Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

lerei lerás lerá leremos lereis lerão IMPERATIVO

Futuro

ler leres ler lermos lerdes lerem

leria lerias leria leríamos leríeis leriam

lê lede

ler, leres, ler, lermos, lerdes, lerem ler

lendo lido

Pretérito imperfeito

media medias media medíamos medíeis mediam

INDICATIVO

Pretérito perfeito

medi mediste mediu medimos medistes mediram

CONJUNTIVO

Presente

lera leras lera lêramos lêreis leram

Futuro

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

MEDIR Presente

Pretérito mais-que-perfeito

Pretérito imperfeito

medisse medisses medisse medíssemos medísseis medissem

Pretérito mais-que-perfeito

medira mediras medira medíramos medíreis mediram CONDICIONAL

Futuro

medirei medirás medirá mediremos medireis medirão IMPERATIVO

Futuro

medir medires medir medirmos medirdes medirem

mediria medirias mediria mediríamos mediríeis mediriam

mede medi

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

medir, medires, medir, medirmos, medirdes, medirem medir

medindo medido

342

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VERBOS IRREGULARES

ODIAR Presente

odeio odeias odeia odiamos odiais odeiam

Pretérito imperfeito

odiava odiavas odiava odiávamos odiáveis odiavam

INDICATIVO Pretérito perfeito

Pretérito mais-que-perfeito

odiei odiaste odiou odiámos odiastes odiaram

odiara odiaras odiara odiáramos odiáreis odiaram

CONJUNTIVO

Presente

odeie odeies odeie odiemos odieis odeiem Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

Pretérito imperfeito

odiasse odiasses odiasse odiássemos odiásseis odiassem

ouço/oiço ouves ouve ouvimos ouvis ouvem

ouça/oiça ouças/oiças ouça/oiça ouçamos/oiçamos ouçais/oiçais ouçam/oiçam Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

IMPERATIVO

Futuro

odiaria odiarias odiaria odiaríamos odiaríeis odiariam

odiar odiares odiar odiarmos odiardes odiarem

odeia odiai

odiar, odiares, odiar, odiarmos, odiardes, odiarem odiar

odiando odiado

Como odiar, conjugam-se os verbos ansiar, incendiar, remediar, …

Pretérito imperfeito

ouvia ouvias ouvia ouvíamos ouvíeis ouviam

INDICATIVO

Pretérito perfeito

ouvi ouviste ouviu ouvimos ouvistes ouviram

CONJUNTIVO

Presente

odiarei odiarás odiará odiaremos odiareis odiarão

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

OUVIR Presente

CONDICIONAL

Futuro

Pretérito imperfeito

ouvisse ouvisses ouvisse ouvíssemos ouvísseis ouvissem

Pretérito mais-que-perfeito

ouvira ouviras ouvira ouvíramos ouvíreis ouviram CONDICIONAL

Futuro

ouvirei ouvirás ouvirá ouviremos ouvireis ouvirão IMPERATIVO

Futuro

ouvir ouvires ouvir ouvirmos ouvirdes ouvirem

ouviria ouvirias ouviria ouviríamos ouviríeis ouviriam

ouve ouvi

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

ouvir, ouvires, ouvir, ouvirmos, ouvirdes, ouvirem ouvir

ouvindo ouvido

343

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A N E XO S

VERBOS IRREGULARES

PEDIR Presente

peço pedes pede pedimos pedis pedem

Pretérito imperfeito

pedia pedias pedia pedíamos pedíeis pediam

INDICATIVO

Pretérito perfeito

Pretérito mais-que-perfeito

pedi pediste pediu pedimos pedistes pediram

pedira pediras pedira pedíramos pedíreis pediram

CONJUNTIVO

Presente

peça peças peça peçamos peçais peçam Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

Pretérito imperfeito

pedisse pedisses pedisse pedíssemos pedísseis pedissem

perco perdes perde perdemos perdeis perdem

perca percas perca percamos percais percam Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

IMPERATIVO

Futuro

pediria pedirias pediria pediríamos pediríeis pediriam

pedir pedires pedir pedirmos pedirdes pedirem

pede pedi

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

pedir

pedindo pedido

Como pedir, conjugam-se os verbos despedir, expedir, impedir, …

Pretérito imperfeito

perdia perdias perdia perdíamos perdíeis perdiam

INDICATIVO

Pretérito perfeito

perdi perdeste perdeu perdemos perdestes perderam

CONJUNTIVO

Presente

pedirei pedirás pedirá pediremos pedireis pedirão

pedir, pedires, pedir, pedirmos, pedirdes, pedirem

PERDER Presente

CONDICIONAL

Futuro

Pretérito mais-que-perfeito

perdera perderas perdera perdêramos perdêreis perderam CONDICIONAL

Pretérito imperfeito

Futuro

perdesse perdesses perdesse perdêssemos perdêsseis perdessem

perder perderes perder perdermos perderdes perderem

perderia perderias perderia perderíamos perderíeis perderiam

Futuro

perderei perderás perderá perderemos perdereis perderão IMPERATIVO

perde perdei

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

perder, perderes, perder, perdermos, perderdes, perderem perder

perdendo perdido

344

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VERBOS IRREGULARES

PODER Presente

posso podes pode podemos podeis podem

Pretérito imperfeito

podia podias podia podíamos podíeis podiam

INDICATIVO

Pretérito perfeito

pude pudeste pôde pudemos pudestes puderam

CONJUNTIVO

Presente

possa possas possa possamos possais possam Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

Pretérito imperfeito

pudesse pudesses pudesse pudéssemos pudésseis pudessem

ponho pões põe pomos pondes põem

CONDICIONAL

ponha ponhas ponha ponhamos ponhais ponham Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

poderei poderás poderá poderemos podereis poderão IMPERATIVO

Futuro

puder puderes puder pudermos puderdes puderem

poderia poderias poderia poderíamos poderíeis poderiam

pode podei

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

poder

podendo podido

Pretérito imperfeito

punha punhas punha púnhamos púnheis punham

INDICATIVO

Pretérito perfeito

pus puseste pôs pusemos pusestes puseram

CONJUNTIVO

Presente

pudera puderas pudera pudéramos pudéreis puderam

Futuro

poder, poderes, poder, podermos, poderdes, poderem

PÔR Presente

Pretérito mais-que-perfeito

Pretérito imperfeito

pusesse pusesses pusesse puséssemos pusésseis pusessem

Pretérito mais-que-perfeito

pusera puseras pusera puséramos puséreis puseram CONDICIONAL

Futuro

porei porás porá poremos poreis porão IMPERATIVO

Futuro

puser puseres puser pusermos puserdes puserem

poria porias poria poríamos poríeis poriam

põe ponde

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

pôr, pores, pôr, pormos, pordes, porem pôr

pondo posto

Como pôr, conjugam-se os verbos compor, depor, dispor, expor, impor, opor, propor, supor, …

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A N E XO S

VERBOS IRREGULARES

PROVER Presente

provejo provês provê provemos provedes proveem

INDICATIVO

Pretérito imperfeito

provia provias provia províamos províeis proviam

Pretérito perfeito

Pretérito mais-que-perfeito

provi proveste proveu provemos provestes proveram

provera proveras provera provêramos provêreis proveram

CONJUNTIVO

Presente

proveja provejas proveja provejamos provejais provejam Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

Pretérito imperfeito

provesse provesses provesse provêssemos provêsseis provessem

quero queres quer queremos quereis querem

queira queiras queira queiramos queirais queiram Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

IMPERATIVO

Futuro

prover proveres prover provermos proverdes proverem

proveria proverias proveria proveríamos proveríeis proveriam

provê provede

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

prover

provendo provido

Pretérito imperfeito

queria querias queria queríamos queríeis queriam

INDICATIVO

Pretérito perfeito

quis quiseste quis quisemos quisestes quiseram

CONJUNTIVO

Presente

proverei proverás proverá proveremos provereis proverão

prover, proveres, prover, provermos, proverdes, proverem

QUERER Presente

CONDICIONAL

Futuro

Pretérito mais-que-perfeito

quisera quiseras quisera quiséramos quiséreis quiseram CONDICIONAL

Pretérito imperfeito

Futuro

quisesse quisesses quisesse quiséssemos quisésseis quisessem

quiser quiseres quiser quisermos quiserdes quiserem

quereria quererias quereria quereríamos quereríeis quereriam

Futuro

quererei quererás quererá quereremos querereis quererão IMPERATIVO

quer querei

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

querer, quereres, querer, querermos, quererdes, quererem querer

querendo querido

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VERBOS IRREGULARES

RIR

INDICATIVO

Presente

rio ris ri rimos rides riem

Pretérito imperfeito

ria rias ria ríamos ríeis riam

Pretérito perfeito

Pretérito mais-que-perfeito

ri riste riu rimos ristes riram

rira riras rira ríramos ríreis riram

CONJUNTIVO

Presente

ria rias ria riamos riais riam Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

Pretérito imperfeito

risse risses risse ríssemos rísseis rissem

sei sabes sabe sabemos sabeis sabem

CONDICIONAL

saiba saibas saiba saibamos saibais saibam Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

IMPERATIVO

Futuro

rir rires rir rirmos rirdes rirem

riria ririas riria riríamos riríeis ririam

ri ride

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

rir

rindo rido

Como rir, conjuga-se o verbo sorrir.

Pretérito imperfeito

sabia sabias sabia sabíamos sabíeis sabiam

INDICATIVO

Pretérito perfeito

soube soubeste soube soubemos soubestes souberam

CONJUNTIVO

Presente

rirei rirás rirá riremos rireis rirão

rir, rires, rir, rirmos, rirdes, rirem

SABER Presente

Futuro

Pretérito mais-que-perfeito

soubera souberas soubera soubéramos soubéreis souberam CONDICIONAL

Pretérito imperfeito

Futuro

soubesse soubesses soubesse soubéssemos soubésseis soubessem

souber souberes souber soubermos souberdes souberem

saberia saberias saberia saberíamos saberíeis saberiam

Futuro

saberei saberás saberá saberemos sabereis saberão IMPERATIVO

sabe sabei

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

saber, saberes, saber, sabermos, saberdes, saberem saber

sabendo sabido

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A N E XO S

VERBOS IRREGULARES

TRAZER Presente

trago trazes traz trazemos trazeis trazem

Pretérito imperfeito

trazia trazias trazia trazíamos trazíeis traziam

INDICATIVO

Pretérito perfeito

trouxe trouxeste trouxe trouxemos trouxestes trouxeram

CONJUNTIVO

Presente

traga tragas traga tragamos tragais tragam Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

Pretérito imperfeito

trouxesse trouxesses trouxesse trouxéssemos trouxésseis trouxessem

valho vales vale valemos valeis valem

CONDICIONAL

valha valhas valha valhamos valhais valham Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

trarei trarás trará traremos trareis trarão IMPERATIVO

Futuro

trouxer trouxeres trouxer trouxermos trouxerdes trouxerem

traria trarias traria traríamos traríeis trariam

traz trazei

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

trazer

trazendo trazido

Pretérito imperfeito

valia valias valia valíamos valíeis valiam

INDICATIVO

Pretérito perfeito

vali valeste valeu valemos valestes valeram

CONJUNTIVO

Presente

trouxera trouxeras trouxera trouxéramos trouxéreis trouxeram

Futuro

trazer, trazeres, trazer, trazermos, trazerdes, trazerem

VALER Presente

Pretérito mais-que-perfeito

Pretérito imperfeito

valesse valesses valesse valêssemos valêsseis valessem

Pretérito mais-que-perfeito

valera valeras valera valêramos valêreis valeram CONDICIONAL

Futuro

valerei valerás valerá valeremos valereis valerão IMPERATIVO

Futuro

valer valeres valer valermos valerdes valerem

valeria valerias valeria valeríamos valeríeis valeriam

vale valei

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

valer, valeres, valer, valermos, valerdes, valerem valer

valendo valido

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VERBOS IRREGULARES

VER Presente

vejo vês vê vemos vedes veem Presente

veja vejas veja vejamos vejais vejam Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

Pretérito imperfeito

via vias via víamos víeis viam CONJUNTIVO Pretérito imperfeito

visse visses visse víssemos vísseis vissem

INDICATIVO

Pretérito perfeito

Pretérito mais-que-perfeito

vi viste viu vimos vistes viram

vira viras vira víramos víreis viram CONDICIONAL

Futuro

verei verás verá veremos vereis verão IMPERATIVO

Futuro

veria verias veria veríamos veríeis veriam

vir vires vir virmos virdes virem

vê vede

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

ver, veres, ver, vermos, verdes, verem ver

vendo visto

Como ver, conjugam-se os verbos antever, entrever, prever e rever.

VIR Presente

venho vens vem vimos vindes vêm

Pretérito imperfeito

vinha vinhas vinha vínhamos vínheis vinham

INDICATIVO

Pretérito perfeito

Pretérito mais-que-perfeito

vim vieste veio viemos viestes vieram

viera vieras viera viéramos viéreis vieram

CONJUNTIVO

Presente

venha venhas venha venhamos venhais venham Infinitivo pessoal Infinitivo impessoal Gerúndio Particípio passado

Pretérito imperfeito

viesse viesses viesse viéssemos viésseis viessem

CONDICIONAL

Futuro

virei virás virá viremos vireis virão IMPERATIVO

Futuro

viria virias viria viríamos viríeis viriam

vier vieres vier viermos vierdes vierem

vem vinde

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

vir, vires, vir, virmos, virdes, virem vir

vindo vindo Como vir, conjugam-se os verbos advir, convir, intervir, sobrevir, …

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A N E XO S

VERBOS PRONOMINAIS (MODELO DE CONJUGAÇÃO)

LAVAR Presente

lavo-o lava-lo lava-o lavamo-lo lavai-lo lavam-no

Pretérito imperfeito

lavava-o lavava-lo lavava-o lavávamo-lo lavávei-lo lavavam-no

INDICATIVO

Pretérito perfeito

lavei-o lavaste-o lavou-o lavámo-lo lavaste-lo lavaram-no

CONJUNTIVO

Presente

o lave o laves o lave o lavemos o laveis o lavem Infinitivo pessoal Gerúndio Particípio passado

Pretérito mais-que-perfeito

lavara-o lavara-lo lavara-o laváramo-lo lavárei-lo lavaram-no

Futuro

lavá-lo-ei lavá-lo-ás lavá-lo-á lavá-lo-emos lavá-lo-eis lavá-lo-ão

CONDICIONAL

Pretérito imperfeito

Futuro

o lavasse o lavasses o lavasse o lavássemos o lavásseis o lavassem

o lavar o lavares o lavar o lavarmos o lavardes o lavarem

lavá-lo-ia lavá-lo-ias lavá-lo-ia lavá-lo-íamos lavá-lo-íeis lavá-lo-iam

IMPERATIVO

lava-o lavai-o

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

lavá-lo, lavare-lo, lavá-lo, lavarmo-lo, lavarde-lo, lavarem-no lavando-o —

VERBOS REFLEXOS (MODELO DE CONJUGAÇÃO)

LAVAR Presente

lavo-me lavas-te lava-se lavamo-nos lavais-vos lavam-se

Pretérito imperfeito

lavava-me lavavas-te lavava-se lavávamo-nos laváveis-vos lavavam-se

INDICATIVO

Pretérito perfeito

lavei-me lavaste-te lavou-se lavámo-nos lavastes-vos lavaram-se

CONJUNTIVO

Presente

me lave te laves se lave nos lavemos vos laveis se lavem Infinitivo pessoal Gerúndio Particípio passado

Pretérito imperfeito

me lavasse te lavasses se lavasse nos lavássemos vos lavásseis se lavassem

Pretérito mais-que-perfeito

lavara-me lavaras-te lavara-se laváramo-nos laváreis-vos lavaram-se

Futuro

lavar-me-ei lavar-te-ás lavar-se-á lavar-nos-emos lavar-vos-eis lavar-se-ão

CONDICIONAL

IMPERATIVO

Futuro

me lavar te lavares se lavar nos lavarmos vos lavardes se lavarem

lavar-me-ia lavar-te-ias lavar-se-ia lavar-nos-íamos lavar-vos-íeis lavar-se-iam

lava-te lavai-vos

FORMAS VERBAIS NÃO FINITAS

lavar-me, lavares-te, lavar-se, lavarmo-nos, lavardes-vos, lavarem-se lavando-se —

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SOLUÇÕES

F I C H A D E AT I V I D A D E S

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6.1 A — Latim; B — Galego; C — Italiano; D — Sardo; E — Inglês; F — Sueco; G — Norueguês; H — Bretão; I — Escocês; J — Eslovaco; K — Polaco; L — Russo; M — Ucraniano.

1

1. A — Portugal; B — Cabo Verde; C — Guiné-Bissau; D — Brasil; E — São Tomé e Príncipe; F — Angola; G — Moçambique; H — Timor-Leste. 2. a) língua nacional; b) língua oficial; c) língua materna; d) língua estrangeira; e) língua segunda; f) língua minoritária; g) língua morta.

F I C H A D E AT I V I D A D E S

3. a) Utilização do gerúndio pelo infinitivo do verbo fazer; uso do verbo virar com o sentido de «tornar-se». b) O pronome pessoal complemento na variedade brasileira utiliza-se antes do verbo, enquanto em português europeu se usa depois ou em posição de mesóclise. c) Utilização do ditongo nasal ão pelo som nasal om. d) Realização da comparação através de feito, em vez da partícula comparativa como. e) Em patrimônio, utiliza-se o o fechado, em vez do o aberto da variedade do português europeu. 4. A — V; B — V; C — V; D — F (O árabe e o germânico são superstratos do latim.); E — V; F — V; G — F (O crioulo resulta da mistura das línguas locais com uma estrangeira.); H — V. 5. a) palavras convergentes; b) palavras divergentes; c) palavras divergentes; d) palavras convergentes; e) palavras convergentes; f) palavras divergentes. 6. N O

G

O G

O L A C H B O

O R A C R I L E O S E R U S S O

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1. a) os sons; b) Articulatória; c) Acústica; d) Percetiva; e) fonador; f) laringe; g) biunívoca; h) um só som; i) letras; j) ditongo; k) semivogal; l) [j] e [w]. 2. a) enxame, prensa, despensa, tóxico, denso; b) rolha, comprimento, escoltar, bota, toldo. 3. a) mexer, bicho, pés, giz; b) coragem, jasmim, asma; c) carro, querer; d) rato, carro; e) telha; f) manhã. 4. a) lixívia; b) feminino; c) frequência; d) equilíbrio; e) televisivo; f) esquecer; g) preferido; h) escolar; i) requisitar; j) pandemónio. 5. [E] relva, meta; [e] — dedo, pelo; [ˆ] — pedal, come; [j] — preencher; reencontro; [æ)] — pães, mães [å] — coelho, telha. F I C H A D E AT I V I D A D E S

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1. «Há quatro anos estava a brincar à apanhada com a minha irmã, em frente das lojas. Corri para o coito, que era do outro lado da rua, e apanhei com um autocarro de dois andares em cima. Felizmente o bicho vinha devagar porque já estava quase na paragem. A minha irmã foi a correr chamar a minha mãe e lá fui socorrido. Apareceu um médico que nos levou para o hospital. Nessa noite fiquei lá. Tinha só uma ligeira ra “concussão” — ffoi o que eles disseram. No dia seguinte fui para casa.» 2. Ditongos orais — carapau, réu, comeu, Rui, tabloide, mentiu, sai; ditongos nasais — coração, feijão, grão, correm, piões, dançam, muito, bebem.

b) baleia — decrescente; c) série — crescente; d) saudar — decrescente; e) corrimão — decrescente; f) quando — crescente; g) ruivo — decrescente; h) beira — decrescente; i) papéis — decrescente; j) pneu — decrescente; k) recreio — decrescente; l) coima — decrescente; m) doente — crescente; n) contínuo — crescente; o) véu — decrescente; p) iate — crescente; q) nau — decrescente; r) partiu — decrescente; s) cem — decrescente; t) cairo — decrescente; u) linguística — crescente; v) roupões — decrescente; w) poiso — decrescente; x) quatro — crescente; y) pai — decrescente; z) glória — crescente.

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1. a) 1. síncope; 2. crase; 3. sonorização. b) 1. vocalização. c) 1. síncope; 2. crase; 3. metátese. d) 1. palatalização. e) 1. síncope; 2. crase; 3. prótese. f) 1. apócope. g) 1. assimilação. h) 1. epêntese. i) 1. dissimilação. j) 1. consonantização. k) 1. nasalização. l) 1. síncope; 2. ditongação. m) 1. vocalização. n) 1. aférese. o) 1. paragoge. p) 1. palatalização. 2. A — Ó onzena, como és feia B — Queres mais outro tostão? C — E eu sou apostolada, D — O maior carrego que é: E — Como poderá isso ser, / que me escrevia mil dias? F — Oh! Não nos sejais contrários, / pois não temos outra ponte! G — No Inferno vos poremos. H — Faz de conta que nasceste / para nosso companheiro. I — Para vossa fantasia / muito estreita é esta barca. J — Se tu viveras direito. 2.1 A — fea> feia — epêntese.

3. a) muito — decrescente; 351

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SOLUÇÕES B — testão > tostão — assimilação. C — som > sou — desnasalização. D — mor > maior — epêntese. E — pod’rá > poderá — epêntese. F — contrairos > contrários — metátese. G — poeremos > poremos — síncope. H — pera > para — assimilação. I — fantesia > fantasia — assimilação. 3. Palatalização.

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1. a) vez, que, as, no, de, ir, a, sou, e, a, mãe, que, a, de, a, pôr, a; b) era, uma, uma, todas, noites, para, cama, mamã, uma, então, era, hora, dormir; c) menina, momento, ficava, dizia, formiga, chegada; d) pequenina, pequenina, percebia. 2. a) polissílabo; b) dissílabo; c) monossílabo; d) trissílabo; e) monossílabo; f) polissílabo; g) dissílabo; h) trissílabo; i) trissílabo; j) polissílabo; k) dissílabo; l) monossílabo. 3. a) teclado; b) volume; c) herói; d) nosso; e) saudade; f) cortinado; g) chão; h) dia.

3.1 a) trissílabo entre dissílabos; b) trissílabo entre dissílabos; c) dissílabo entre monossílabos; d) dissílabo entre trissílabos; e) trissílabo entre polissílabos; f) polissílabo entre trissílabos; g) monossílabo entre dissílabos; h) dissílabo entre monossílabos.

4. co mi da ar ei ca vro si za co en xa me

ni fu ti

ja ne la

re nas ci men to ve fa tem po zo al ma xi

Monossílabos — mim, sol, da, de, lá, se, pé. Dissílabos — fato, lado, toda, rua,

alma, livro, tempo, sonhar, táxi, galo, lua. Trissílabos — janela, argola, fabrica, enxame, europeu, sílaba. Polissílabos — Renascimento, liberdade, camisola. 5. a) Palavras esdrúxulas — cérebro, íntimo, máximo, catástrofe, cédula; b) Palavras graves — miúdo, sótão, túneis, júri; c) Palavras agudas — avô, café, país, irmão, maçã. 5.1 a) a antepenúltima sílaba; b) a penúltima sílaba; c) a última sílaba. 6. a) pseudónimo — esdrúxula; b) submeter — aguda; c) mnemónica — esdrúxula; d) abstrato — grave; e) amígdala — esdrúxula; f) opção ção — aguda; g) saída — grave; h) colapso — grave; i) replicação ção — aguda; j) medrosa — grave. F I C H A D E AT I V I D A D E S

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1. A — F ; B — F; C — V ; D — F; E — F; F — V; G — F; H — V. 2. 1 — égua; 2 — ré; 3 — imperatriz; 4 — ovelha; 5 — lebrão; 6 — corça; 7 — macho; 8 — baronesa; 9 — bode; 10 — atriz. 3. a) 1; b) 2; c) 3; d) 2; e) 3; f) 1; g) 3; h) 2; i) 1; j) 3. F I C H A D E AT I V I D A D E S

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1. A — F ; B — V; C — F ; D — V; E — V; F — F; G — F. 2. a) grau comparativo de superioridade; b) grau comparativo de igualdade; c) grau superlativo relativo de superioridade; d) grau superlativo absoluto analítico; e) grau superlativo relativo de inferioridade; f) grau superlativo absoluto sintético; g) grau normal. 3. a) O Everest é a montanha mais alta do mundo. b) Júpiter é o maior planeta do sistema solar. c) O Vaticano é o estado mais pequeno do mundo.

d) O Nilo é o rio mais extenso de África. 4. lindíssima; dificílimo; celebérrimos; paupérrima; riquíssimos; notabilíssima; antiquíssimas; grandíssimos; importantíssimos. F I C H A D E AT I V I D A D E S

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1. a) radical — am; vogal temática — a. b) radical — passe; vogal temática — a. c) radical — compreend; vogal temática — e. d) radical — desist; vogal temática — i. e) radical — com; vogal temática — e. f) radical — part; vogal temática —i g) radical — lav; vogal temática — a. 2. a) terei; b) tenhamos; c) tens; d) tinha; e) tivessem; teria; f) tiver. 3. Andar: pessoa — 1.ª; número — singular; tempo — pretérito perfeito; modo — indicativo; forma — andei. Desenhar: pessoa — 3.ª; número — plural; tempo — condicional simples; modo — condicional; forma — desenhariam. Viver: pessoa — 3.ª; número — plural; tempo — futuro; modo — indicativo; forma — viverão. Partir: pessoa — 2.ª; número — singular; tempo — presente; modo — indicativo ; forma — partes. Pôr: pessoa — 1.ª; número — singular; tempo — pretérito mais-que-perfeito simples; modo — indicativo; forma — pusera. Fazer: pessoa — 1.ª; número — singular; tempo — pretérito mais-que-perfeito composto; modo — conjuntivo; forma — tivesse feito. Ferir: pessoa — 1.ª; número — singular; tempo — pretérito perfeito; modo — conjuntivo; forma — tenhas ferido. Comer: pessoa — 1.ª; número — singular; tempo — condicional composto; modo — condicional; forma — teria comido. 4. 1 — imperativo; 2 — dormiste; 3 — condicional; 4 — desenvolveram; 5 — estudavas; 6 — soubesse; 7 — investiga; 8 — deem; 9 — resumíamos; 10 — emprestarão; 11 — conjuntivo; 12 — desistiriam; 13 — escrevêssemos; 14 — respondera;

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d) — O que estás armando (verbo)? e) Vais poder (verbo) pensar nas tuas decisões. f Adão e Eva viviam no Paraíso f) (nome próprio). g) O céu está tão azul (adjetivo)!

15 — sobrepusesse; 16 — subtrairia; 17 — conjugamos; 18 — indicativo; 19 — saiam. 5. a) forma forte; b) forma fraca; c) forma forte; d) forma forte; e) forma fraca; f) forma forte; g) forma fraca; h) forma fraca;

5.

7. a) omnipresente; b) bidimensional; c) fusiforme; d) biografia; e) paleontologia; f) lombalgia; g) claustrofobia.

6. A. 4; B. 5; C. 1; D. 2; E. 3; F. 1; G. 2; H. 5; I. 4; J. 3. 7. a) regular; b) irregular; c) unipessoal; d) defetivo; e) impessoal; f) irregular; g) impessoal; h) unipessoal; i) impessoal; j) defetivo; k) defetivo; l) regular; m) regular; n) irregular; o) regular; p) unipessoal; q) impessoal; r) defetivo; s) unipessoal; t) irregular. F I C H A D E AT I V I D A D E S

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1. a) 4; b) 2; c) 1; d) 2; e) 1; f) 1; g) 2; h) 1; i) 1; j) 2; k) 2; l) 4; m) 1; n) 4; o) 3; p) 1); q) 1; r) 2; s) 2; t) 3; u) 3; v) 4; w) 1; x) 4; y) 1; z) 3. 2. a) empobrecer, pobreza, pobretanas, pobremente; b) adjetival, pré-adjetival, adjetivar, adjetivamente; c) ensacar, sacola, saquinho, saqueta; d) desinteresse, interesseiro, interessar, desinteressar; e) encadernar, encadernação, caderneta, caderninho; f) irregular, desregular, regularizar, regularidade; g) enfurecer, enfurecido, furioso, furiosamente; h) encaixar, caixinha, caixote, desencaixar; i) embarcar, embarcado, barquinho, embarcadiço; j) doçura, docinho, adoçar, adoçante. 3. 3.1 a) Verbo/nome comum; b) Nome próprio/nome comum; c) Adjetivo/nome comum; d) Advérbio/nome comum; e) Adjetivo/advérbio; f) Advérbio/nome comum. 3.2 A conversão é um processo de formação de palavras em que as palavras mudam de classe mas não de forma, ou seja, não existe a associação de um afixo derivacional a um radical.

4. a) Gostava de olhar (verbo) para ti. b) As crianças temem o escuro (nome comum). c) Eles vão (verbo) por aí?

animados, todos os constituintes flexionam em género e número. Grupo 4 — Quando há combinação entre um verbo e um nome, só este flexiona em número.

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S U R A O L E U

1. cultivar/cultivo; 2. tocar/toque; 3. embarcar/embarque; 4. censurar/ censura; 5. treinar/treino; 6. cortar/ corte; 7. chorar/choro. 6. 6.1 Grupo 1 — compostos morfossintáticos; Grupo 2 — compostos morfológicos; Grupo 3 — compostos morfossintáticos; Grupo 4 — compostos morfossintáticos. 6.2 Grupo 1 — bares-discoteca, bombas-relógio, peixes-espada, couves-flor, palavras-chave, homens-rã. Grupo 2 — autocarros, filosofias, agriculturas, videoconferências, telespetadores, afro-americanos. Grupo 3 — autarcas-deputados, cirurgiões-dentistas, surdos-mudos, trabalhadores-estudantes, caixeiros-viajantes. Grupo 4 — bate-chapas, salva-vidas, abre-latas, tira-nódoas, saca-rolhas, limpa-vidros. 6.2.1 Grupo 1 — Quando o primeiro elemento é o núcleo, é esse o elemento que flexiona. Grupo 2 — Se a palavra for composta por dois radicais ou um radical e uma palavra, só admite sufixos flexionais em posição final. Grupo 3 — Sendo o composto formado por dois adjetivos ou nomes

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1. queria — verbo principal transitivo direto; minha — determinante possessivo; vontade — nome comum não contável; o — determinante artigo definido; não — advérbio de negação; eu — pronome pessoal; tanto — advérbio de quantidade e grau; mas — conjunção coordenativa adversativa; ó — interjeição de chamamento; a — preposição simples. 2. Hoje; boa; Finalmente; férias; malta; turma; cinema; português; primeiro; curioso; À tarde; ali; onde; bastante; computador; Realmente; não; sempre. F I C H A D E AT I V I D A D E S

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1. a) traço, rosto, olhar, sombra, voz, gesto, amor, capricho, louco, becos, pormenor, palavra. b) cor, silêncio, melhor, pior. 2. 1 — fauna; 2 — equipa; 3 — leva; 4 — girândola; 5 — elenco; 6 — pinhal; 7 — caravana; 8 — frota; 9 — alcateia; 10 — nuvem; 11 — eleitorado; 12 — flora; 13 — vara; 14 — bando; 15 — multidão; 16 — arquipélago. 2.1 Nomes coletivos contáveis — frota, elenco, leva, alcateia, pinhal, bando, caravana, girândola, vara, nuvem, eleitorado, multidão, arquipélago. Nomes coletivos não contáveis — fauna, flora. 3. 3.1 a) bons, grande, lamentável, merecido; b) (atletas) portugueses, (competições) europeias, (estafeta) portuguesa, (desporto) português; c) segundo, terceiro, primeiro. 4. A, C, D e E.

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SOLUÇÕES 4.1 Nos pares de frases B e F, a posição do adjetivo não interfere no sentido das frases. Nos restantes pares, influencia. Assim, em A, o adjetivo falso anteposto refere alguém que não é médico. Quando ocorre depois do nome, refere um médico não confiável. Em C, o adjetivo grande anteposto ao nome pode referir-se a alguém que pratica grandes feitos. Depois do nome, sugere que a mulher é alta. Em D, na primeira frase o adjetivo confere bons atributos à jornalista; na segunda frase, a anteposição do adjetivo refere que uma jornalista de profissão participa no debate. Em E, na primeira frase, a anteposição do adjetivo pobre é empregue no sentido de se ter pena da mulher; na segunda frase, refere a condição social desta. 5. a) comercial; b) negocial; c) juvenil; d) francesa; e) hortícolas; f) camiliano; g) campestre; h) estudantil; i) literário; j) citadina. 6.

A L

I N H A C I M A R C

H S G S I M

P E R T V O

longe, perto, junto, aqui, ali, através, acima; b) agora, amanhã, hoje, já, breve, cedo, depois; c) depressa, pior, devagar, mal, bem, lentamente, assim. 7. a) P.: Onde estás? b) P.: Quando é que chegaram? c) P.: Como te sentes? d) P.: Porque foram eles ao teatro? 8. a) diariamente; b) semanalmente; c) agradavelmente; d) cuidadosamente;

e) frequentemente; f) cautelosamente; g) instintivamente. F I C H A D E AT I V I D A D E S

5.

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A P B E C R

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1. Verbos principais transitivos diretos — passear, tomaram, ouvido. Verbos principais transitivos indiretos — telefonaste, obedecem. Verbos principais transitivos diretos e indiretos — contou, levei, ofereceu, guardou. Verbos principais transitivos-predicativos — considerámos, achou, imagino. Verbos principais intransitivos — cheguei, correr, faliu, chorou. Verbos auxiliares — vai (passear), foi (debatido), tenho (ouvido). Verbos copulativos — está, permaneceram. 2. ser, estar, ficar, parecer, permanecer, continuar, considerar-se, revelar-se, andar. 2.1 Verbo copulativo é um verbo que ocorre numa frase ligando o sujeito a um constituinte com a função sintática de predicativo do sujeito. 3. a) conjunção adversativa; b) locução conjuncional disjuntiva; c) conjunção explicativa; d) conjunção explicativa e conclusiva; e) não só… mas também; f) conjunção adversativa; g) nem; h) locução conjuncional disjuntiva. 4. a) quando — conjunção subordinativa temporal; b) enquanto — conjunção subordinativa temporal; c) quando — conjunção subordinativa temporal; porque — conjunção subordinativa causal; d) para — conjunção subordinativa final; e) Se — conjunção subordinativa condicional; f) que — conjunção subordinativa completiva; g) tão… que — locução conjuncional subordinativa consecutiva; nem — conjunção coordenativa copulativa; h) ainda que — locução conjuncional subordinativa concessiva.

S E R O C O

6. a) Após; no; b) até; por; c) sobre; entre; d) perante; sem/com; e) com; f) desde; para; g) a; h) desde; i) contra. F I C H A D E AT I V I D A D E S

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1. Artigos — os, o, as; determinantes demonstrativos — deste; determinantes possessivos — sua; determinantes indefinidos — certos; determinantes interrogativos — que; determinantes relativos — cujo. 2. a) As; b) teu; c) Um; d) Aquelas. 3. A. 3; B. 1; C. 4; D. 5; E. 2. 4. a) nome; b) pronomes relativos; c) pronomes interrogativos; d) pronomes indefinidos. 5. — Bom dia, Almerinda! Como é que tu tens passado? — perguntou a Júlia. — O quê? O chão está molhado? Não está nada! Já o lavei ontem — respondeu a Almerinda. Então, a Júlia disse: — Olha, eu cá vou andando com as minhas dores nas cruzes! — Acendo as luzes? Não está escuro! A tua visão está pior do que a minha. — respondeu a Almerinda. — As cruzes! As cruzes! — gritou a Júlia — As minhas dão-me dores terríveis! E as tuas? — Duas? Duas luzes? Esta só não chega? — perguntou a Almerinda. — Não! — disse a Júlia um pouco desesperada — Olha… hoje venho almoçar contigo contigo. — Trigo?! Não tenho! Eu não gosto muito de cereais! Então a Júlia disse: — Não! Deixa, deixa! Ó Almerinda, está ali um embrulho em cima da mesa. O que é aquilo aquilo? — Ao quilo? Cereais são sempre ao quilo! Olha… com quem vais lanchar hoje?

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— Contigo Contigo! — respondeu a Júlia. — Outra vez o trigo! Esta hoje não está boa! Olha, passa-me aí uma tigela, por favor — pediu a Almerinda. — Esta? — perguntou a Júlia. — Festa? Não, não é nenhuma festa! É só um lanche para mim e para o meu António. Afinal, ainda não me respondeste! Queres lanchar cá connosco ? — perguntou a Almerinda. — Convosco? — perguntou Júlia já completamente desesperada pela falta de audição da amiga. — Ó mulher, mas tu estás surda? Connosco, sim! Tu estás surda! Tu vai ao médico ver isso, Júlia! 5.1 Tu — pronome pessoal; o — pronome pessoal; eu — pronome pessoal; minha — pronome possessivo; minhas — pronome possessivo; tuas — pronome possessivo; esta — pronome demonstrativo; contigo — pronome pessoal; eu — pronome pessoal; aquilo — pronome demonstrativo; quem — pronome relativo; contigo — pronome pessoal; esta — pronome demonstrativo; -me — pronome pessoal; esta — pronome demonstrativo; mim — pronome pessoal; connosco — pronome pessoal; convosco — pronome pessoal; tu — pronome pessoal; tu — pronome pessoal; connosco — pronome pessoal; tu — pronome pessoal; isso — pronome demonstrativo. 6. a) O João frequenta a minha faculdade, que fica em Entrecampos. b) A Maria comeu um bolo, que era delicioso. c) Os meus amigos, que trabalharam durante as férias para juntar dinheiro, compraram um carro. d) O meu primo, que é bom aluno, recebeu um ótimo presente. e) A senhora que nos abriu a porta estava a usar um vestido preto. f) A Lúcia comprou um carro que foi extremamente caro. g) O Nuno, de quem te falei ontem, viajou. 7. A — V; B — F; C — V; D — V; E — F; F — F. 8. a) Quantos — quantificador interrogativo; b) vários — quantificador existencial;

c) Poucas — quantificador existencial; d) todos — quantificador universal; e) alguns — quantificador existencial; f) sete — quantificador numeral; g) quanto — quantificador relativo. 9. a) alguns quadros; b) tantas gaivotas; c) muitas pessoas; d) dois sumos; e) quantos anos. 10. a) Nenhuma palavra refere vegetais. b) Ambas as palavras referem animais. c) Todas as palavras referem nomes de atrizes portuguesas. 10.1 Quantificadores universais. F I C H A D E AT I V I D A D E S

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1. A — V; B — F; C — F; D — V; E — V; F — F. 2. a) grupo nominal; grupo verbal; b) grupo nominal; grupo adverbial; c) grupo verbal; grupo preposicional; d) grupo verbal; e) grupo nominal; grupo adjetival; f) grupo nominal; grupo preposicional; g) grupo adverbial; grupo preposicional; h) grupo nominal; grupo verbal; i) grupo verbal; grupo adverbial; grupo preposicional; j) grupo nominal; grupo verbal; k) grupo preposicional. 3. Sugestões de resposta:

a) A Margarida foi ontem ao teatro. b) O António comprou um carro. c) O aluno estudou para a ficha de avaliação. d) Um homem misterioso ofereceu-me flores. e) O meu amigo comprou uma casa lindíssima. f) Partiram agora para o aeroporto. g) Eles consideram-se inteligentes. F I C H A D E AT I V I D A D E S

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1. A — 4; B — 2; C — 3; D — 1; E — 5; F — 1; G — 5; H — 2; I — 4; J — 3; K — 3;L — 4. 2. a) 2 — sujeito nulo indeterminado; b) 3 — sujeito nulo expletivo; c) 1 — sujeito nulo subentendido. 3. a) obedecem — núcleo; ao árbitro — complemento indireto; b) está — núcleo; atrasado — predicativo do sujeito; c) ofereceu — núcleo; um livro — complemento direto; à mãe — complemento indireto;

d) tomaram — núcleo; o Carlos — complemento direto; por parvo — predicativo do complemento direto; e) pratica — núcleo; natação — complemento direto; f) parecem — núcleo — apreensivos — predicativo do sujeito; g) fez — núcleo; um truque fantástico — complemento direto; h) considerou — núcleo; o réu — complemento direto; culpado — predicativo do complemento direto; i) Acho — núcleo; que deves fugir — complemento direto; j) núcleo — Começou. 4. a) 4; b) 2; c) 4; d) 1; e) 4; f) 1; g) 3; h) 1; i) 2; j) 4; k) 2; l) 3. F I C H A D E AT I V I D A D E S

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1. a) complemento indireto; b) complemento agente da passiva; c) complemento oblíquo; d) predicativo do complemento direto; e) complemento direto; f) predicativo do sujeito; g) modificador do grupo verbal; h) modificador restritivo do nome; i) predicativo do complemento direto; j) complemento oblíquo; k) vocativo. 2. a) 3; b) 2; c) 2; d) 1. 3. A — V; B — F; C — F; D — V; E — F; F — V.

3.1 B — O constituinte destacado é um modificador explicativo de nome. C — O constituinte destacado é um modificador explicativo de nome. F — O constituinte destacado é um modificador restritivo de nome.

4. a) 1; b) 1; c) 2; d) 1. 5. a) Paulo, chega aqui. b) És um preguiçoso, Mário. c) Carolina, vai ao quadro. d) Filho, trazes trabalhos de casa? F I C H A D E AT I V I D A D E S

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1. a) simples; b) complexa; c) simples; d) simples; e) complexa; f) simples; g) complexa. 2. a) Coordenação — copulativa; conector — nem. 355

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SOLUÇÕES b) Coordenação — disjuntiva; conector — quer… quer. c) Coordenação — conclusiva; conector — logo. d) Coordenação — adversativa; conector — mas. e) Coordenação — adversativa; conector — no entanto. 3. a) O Rafael comprou um jogo de computador, mas não gostou do jogo. b) A Beatriz ou fica em casa ou vai à biblioteca. c) Choveu, pois o chão está molhado. d) Sherlock Holmes desvendou muitos crimes, por isso era um bom detetive. e) O cão adora o dono e é um animal leal. 4. a) Quando chegaram — oração subordinada adverbial temporal; conector — quando. b) Se o António abrisse a porta — oração subordinada adverbial condicional; conector — se. c) que todos o apreciaram — oração subordinada adverbial consecutiva; conector — que. d) como esperar por alguém — oração subordinada adverbial comparativa; conector — como. e) porque estava calor — oração subordinada adverbial causal; conector — porque. 5. 5.1 a) Todos nós gostamos de ver as estrelas quando o céu está limpo. b) Todos nós gostamos de ver as estrelas, porque são brilhantes. c) Se o céu estiver limpo, todos nós gostamos de ver as estrelas. d) Todos nós gostamos de ver as estrelas, embora, por vezes, esteja nublado. 6. Orações relativas explicativas — 4 e 5; orações relativas restritivas — 2 e 3. 7. a) As pessoas que foram ao congresso perderam o comboio. b) Os surfistas, que estavam na praia, não puderam ir ao mar. c) O António, que é meu amigo de longa data, ajudou-me muito. F I C H A D E AT I V I D A D E S

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1. C 2. Os neologismos são tasquística,

bebidame, bebidedo, cervejélia. A palavra tasquística tem o seu significado ligado à palavra tasca, estando, neste contexto, ligada à comida necessária para a dita viagem. O mesmo acontece com as palavras bebidame e bebidedo, que se referem às bebidas. A palavra cervejélia, dentro do mesmo contexto, refere-se à cerveja que levariam com eles. 3. Agentamento, sonhâmbulo, gatazana, miaudível, desbichanara-se, brincriação, voadeiros. 3.1 agentamento: gente e juntamento — muita gente junta; sonhâmbulo: sonhar e sonâmbulo — que se levanta enquanto dorme, sonhando; gatazana: gata e ratazana — gata muito grande; miaudível: miar e audível — da qual se ouvia nitidamente o miar; desbichanara-se: prefixo des- + bichano + sufixo -ar ar — transformara-se em algo diferente; brincriação: brincar e criação — ato de brincar, criando; voadeiros: voador + sufixo -eiro — aqueles que voam. 4. a) ecoestudo, ecoalimento, ecozona; b) ratofobia, piscinofobia, lagartofobia; c) arbustiforme, livroforme, dedoforme; d) multiáreas, multitrabalhos, multiodores. F I C H A D E AT I V I D A D E S

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1. a) das Quinas: sentido conotativo — a expressão substitui a palavra Portugal. b) lixo: sentido denotativo; verde: sentido conotativo — no sentido de ecológico. c) diamantes: sentido conotativo — lindos, brilhantes. d) jogo: sentido denotativo — nunca se sabe se se ganha ou se se perde. e) cabelos: sentido denotativo; ouro: sentido conotativo — loiros. f) gato: sentido conotativo — mistério. 2. a) O André é cá um rato! = espertalhão.

b) És mesmo rato de biblioteca! = = frequentador assíduo. c) O rato de hotel mais procurado foi preso. = ladrão que atua em estabelecimentos hoteleiros. d) O rato escapou à ratoeira. = roedor. e) O rato do computador não funciona. = dispositivo manual com que se realizam operações no computador. f) Tenho há horas um rato no estômago. = fome. 3. a) ver estrelas = sentir uma dor violenta e repentina; b) estrelas = astros; c) estrelas = atores famosos; d) cinco estrelas = excelente. 4. Os números sobrescritos representam palavras homónimas e os números 1, 2 e 3 são valores polissémicos das palavras colher e sede. F I C H A D E AT I V I D A D E S

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1. a) rosa, cravo, túlipa, hortênsia, buganvília, malmequer, orquídea, gladíolo, … b) pai, mãe, avó, avô, tio, primo, cunhado, nora, genro, … c) robalo, dourada, pargo, sardinha, carapau, salmão, peixe-espada, espadarte, … d) azul, roxo, amarelo, vermelho, lilás, cinzento, branco, … 2. a) intruso — andorinha; hiperónimo — mamífero. b) intruso — teatro; hiperónimo — meio de transporte. c) intruso — Terra; hiperónimo — deus da mitologia grega. d) intruso — romance; hiperónimo — compêndio. e) intruso — pai; hiperónimo — profissão. f) intruso — cebola; hiperónimo — fruto. g) intruso — banco; hiperónimo — eletrodoméstico. 3. velas, mastro, leme, proa, popa, âncora, remos. 4. a) árvore; b) casa; c) teatro; d) livro; e) peixe; f) computador; g) corpo humano. 5. Sugestões de resposta:

a) perspicaz; b) horrendo; c) desagradável; d) trabalhar; e) mentira; f) geralmente; g) garoto; h) leal; i) habitação; j) saudade.

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6. a) 2; b) 1; c) 3. 7. morte; fraco; mal; noite; frio; amor; fim; preto; pequeno; Inferno. 8. a) 1 — objeto que abre a fechadura; 2 — solução; 3 — combinação de números; 4 — segredo. b) 1 — assento; 2 — cardume; 3 — instituição bancária; 4 — serviço de urgências. 9. a) Faltou a luz. — iluminação; Deu à luz. — nascimento de um bebé; Fez-se luz! — surgimento de uma ideia; Gosto da Maria da Luz. — nome próprio; És a luz da minha vida. — pessoa importante na vida de outra; Vejo uma luz ao fundo do túnel. — esperança. b) Dói-me a cabeça. — parte do corpo humano; Tenho a cabeça feita num oito. — estar cansado; Cabeça de vento. — ser esquecido; Cabeça no ar. — ser distraído; Estou de cabeça perdida. — estar desesperado; Entalei a cabeça do dedo! — ponta. c) Bebi um copo de água. — bebida; Meteste água. — fazer algo errado; Foi por água abaixo. — algo que não se concretizou; Tenho a cabeça feita em água. — estar cansado; Água benta. — água abençoada pelos párocos da Igreja Católica; Moro em Águas de Moura. — povoação; Há água por todos os lados. — poças, inundações. d) Vamos colocar um ponto final nesta discussão. — acabar algo; Nesta frase falta um ponto de interrogação. — sinal de pontuação; No palco há um lugar específico para o ponto. — pessoa que ajuda os atores com o texto durante a representação; Vamos colocar os pontos nos is. — clarificar uma situação; Neste jogo, ganhei apenas um ponto. — pontuação; A fonte do jardim será o nosso ponto de encontro. — lugar de encontro. 10. a) saúde — hospital, doentes, médicos, estetoscópio, consultório. b) futebol — estádio, jogadores, adeptos, treinadores, bola. c) praia — mar, areia, chapéus, ondas, sol.

d) cidade — estradas, tráfego, prédios, multidão, poluição. 11. a) professores, alunos, escola, manuais; b) dívidas, compras, dinheiro, bens; c) gases, reciclagem, atmosfera, barulho; d) onda, maré, barco, peixe. F I C H A D E AT I V I D A D E S

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1. Extensão semântica. 2. Galicismos — restaurante, menu, soirée, tablier;anglicismos — bife, futebol, jeep, stock; italianismos — piloto, lambreta, maestro, confetti; espanholismos — airoso, flamenco, recuerdo, tapa; germanismos — dobermann, diesel, muesli. 3.

U R I L P L M O T

R T E L E F O N I A A I C R O N I R T O E D S Z O J D U B A V X R Q U F O S P G V E D A T

G I I F A O

R M A T C T R F U U I V

3.1 A amálgama consiste na junção de partes de duas ou mais palavras. 4. a) acrónimo — Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa; b) sigla — Compact Disc; c) sigla — Polícia de Segurança Pública; d) acrónimo — Objeto Voador Não Identificado; e) sigla — Comunidade Económica Europeia; f) sigla — Banda Desenhada; g) acrónimo — Organização do Tratado do Atlântico Norte; h) sigla — Organização Mundial de Saúde; i) acrónimo — Organização das Nações Unidas; j) acrónimo — Transportes Aéreos Portugueses; k) sigla — União Europeia; l) sigla — Pequenas e Médias Empresas.

5. a) otorrino; b) moto; c) foto; d) expo; e) zoo; f) quilo; g) metro; h) híper; i) disco. 6. a) brrrum; b) splach; c) crach; d) plim-plim; e) toc-toc; f) fiiiiiiiuuuu; g) boom-boom; h) catrapus. F I C H A D E AT I V I D A D E S

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1. a) perfetivo; b) imperfetivo; c) iterativo; d) genérico; e) imperfetivo; f) perfetivo; g) genérico; h) iterativo. 2. a) modalidade epistémica; b) modalidade apreciativa; c) modalidade deôntica; d) modalidade deôntica; e) modalidade epistémica; f) modalidade epistémica; g) modalidade apreciativa; h) modalidade deôntica.

2.1 a) probabilidade; b) opinião; c) obrigação; d) permissão; e) possibilidade; f) probabilidade; g) opinião; h) permissão.

3. Amanhã tenho mesmo de ir às aulas — modalidade deôntica; Ainda se ele fosse capaz de andar sozinho — modalidade epistémica; Se o deixasse sozinho era logo atropelado — modalidade apreciativa; Ser velho é muito complicado — modalidade apreciativa. 4. A — Verdadeira; B — Falsa — A modalidade apreciativa está relacionada com a expressão de uma opinião; C — Falsa — A modalidade pode ser expressa por adjetivos. F I C H A D E AT I V I D A D E S

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1. a) Professor; b) Os alunos; c) «Quem vem ao quadro resolver o exercício?»; «Eu vou!». 2. a) Sala de aula. b) Conversa entre professor e aluno. c) Dois (o professor e o aluno). d) Dois indivíduos do sexo masculino, um adulto e uma criança. e) Professor e aluno. f) Relação hierárquica entre professor e aluno e relação de respeito. g) O professor é, supostamente, o inquiridor e o aluno é o inquirido que elucida o professor.

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SOLUÇÕES 3. 3.1 a) «um romance não é… o romance é grande…»; b) «aqui desafiá-lo rapidamente haaaa p’ra… p’ra uma uma série de perguntas»; c) «uma uma série de perguntas»; «hipóteses de de escolha»; d) «Bom…»; «É assim»; e) «bavlas»; « tempr»; f) «só que nós somos simpáticos e lhe damos hipóteses de de escolha»; g) «Pergunto-lhe eu»; «se eu chegar à página mil»; «aqui». 3.2 Nilton: Desafio-o rapidamente para uma série de perguntas. Visto que nós somos simpáticos, damos-lhe hipóteses de escolha. Pergunto-lhe: escrever um livro de oitocentas páginas é: tão fácil que demora uma semana; só faço porque impede as balas do exército de entrar, embora ele ainda não tenha comprado nenhumas; e tenho muito tempo e muito para dizer, mas não tenho com quem falar. José Rodrigues dos Santos: A hipótese quatro. Nilton: A hipótese quatro. José Rodrigues dos Santos: Um romance de cem páginas é grande se for aborrecido. Um romance de mil páginas é pequeno se for muito interessante. O que faz o tamanho do romance não é o número de páginas, é o interesse que ele suscita. Nilton: Mas tem limite de páginas ou não? José Rodrigues dos Santos: Se eu chegar à página mil e tiver vontade de ler mais, o livro é pequeno. Nilton: Muito bem. 4. a) pausas, repetição de palavras; b) bordões de linguagem, pronúncia incorreta de palavras; c) hesitações, pausas, deíticos. F I C H A D E AT I V I D A D E S

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1. a) Se te portas mal, ficas de castigo. b) Amanhã, levo-te à praia. c) Pode dizer-me as horas, por favor? d) Quero este trabalho pronto até às 18h. e) Devias ir ao médico. f) Adoro esta banda. 2. Assertivo: «— Não trouxe o meu fato de banho…»; «Eu sei imitar pássaros.»; expressivo:

«— A água está ótima.»; «Lamento muito!»; diretivo:«— Ei! Vem tomar banho.»; «— Levante-se o réu.»; «— O que tem o senhor a dizer?»; «O que é que sabe fazer?»; «O seguinte»; compromissivo: «— Não faz mal, eu empresto-te o meu.»; declarativo: «— Este tribunal considera o réu culpado.» 3. a) ordem; b) pedido; c) compromisso; d) conselho; e) ameaça; f) promessa; g) ordem; h) compromisso; i) promessa. 3.1 a) ato ilocutório diretivo; b) ato ilocutório diretivo; c) ato ilocutório compromissivo; d) ato ilocutório diretivo; e) ato ilocutório diretivo; f) ato ilocutório compromissivo; g) ato ilocutório diretivo; h) ato ilocutório compromissivo; i) ato ilocutório compromissivo. 4. 4.1 Ato de fala indireto.

4.2 O locutor pretende que se feche a janela, porque está frio. O interlocutor 2 compreende a mensagem, mas o interlocutor 1 não a entende.

5. a) A mãe está zangada com o filho, que partiu o vidro, e usa uma ironia. b) A mãe recusa comprar os ténis à filha. c) Infere-se que alguém já comeu muitas fatias de bolo. 5.1 Uma inferência consiste numa dedução do que está implícito a partir do que é realmente dito. F I C H A D E AT I V I D A D E S

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1. 1.1 Texto 1 — Máxima de quantidade; Texto 2 — máxima da qualidade. 2. Carta a um amigo:

Olá, Alberto, Está tudo bem contigo? Comigo está tudo ótimo. Tenho uma coisa para te contar: os alunos e professores da minha turma estão muito chateados com o gelo que têm dentro da sala de aula. Andamos para morrer de frio e, vê lá tu, não há um único aquecedor, logo não conseguimos prestar atenção à aula, nem os professores se sentem motivados para estarem ali naquelas condições. Por isso decidimos escrever ao diretor da nossa escola e à ministra

da Educação, para ver se arranjam aquecimento central para o pessoal. É que custa à brava passar ali noventa minutos a congelar. Vamos lá ver no que isto dá. Fico a aguardar notícias tuas. Abraços do, António Onofre Carta à ministra da Educação: Ex.ma Senhora Ministra da Educação, Como representante dos alunos e professores da turma 10.º F da Escola Secundária Senhor dos Aflitos, em Arrabaldes de Baixo venho por este meio solicitar a V. Excelência a instalação de aquecimento central na nossa escola, pois professores e alunos sofrem o incómodo do frio, que perturba o bom funcionamento das aulas. Igual reclamação foi já apresentada ao diretor da nossa escola e esperamos ansiosamente que os esforços concertados entre o Ministério de V. Excelência e a nossa instituição escolar venham em breve beneficiar a nossa comunidade escolar. Sem outro assunto de momento, subscrevo-me atenciosamente, O representante dos alunos, António Onofre 3. a) Tratamento por tu, não respeitando a linguagem mais formal. b) Expressão de aparente deferência, que tem como função principal marcar a distância afetiva. F I C H A D E AT I V I D A D E S

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1. a) Deite a gelatina de morango numa taça de modo a ficar com cerca de 1 cm de altura. Prepare a gelatina de acordo com as instruções da embalagem, mas utilizando apenas 1 dL de água a ferver e 2 dL de água fria. b) Houve seca porque não choveu. c) Primeiro cheguei a casa da Joana e depois entrei. d) Têm duas hipóteses: ou calam-se ou saem. e) O dueto foi fantástico. f) D. Afonso Henriques foi o primeiro rei de Portugal. g) Cheguei, vi e venci. 2. 1 — «esses monstros»: substituição — hiperónimo. 2 — «seres»: substituição — hiperónimo.

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3 — «desses répteis»: substituição — hiperónimo. 4 — «nesses bichos»: substituição — hiperónimo. 5 — «eles»: pronominalização — anáfora. 6 — «Ø estão extintos»: elipse. 7 — «criaturas»: substituição — hiperónimo. 8 — «dinossauros»: repetição. 3. Sugestão de resposta:

A televisão é um vício que nos tira a vontade de viver verdadeiramente. Para vermos TV TV, deixamos de comer, conviver, estudar, trabalhar… Por outro lado, esse aparelho põe-nos em contacto com o mundo. A televisão é inimiga do nosso progresso: «É só mais este programa, depois vou estudar!» É, também, adversária das relações humanas: «Desculpa, o que é que disseste?» ou «Agora não posso sair, porque estou a ver um filme!» Este eletrodoméstico faz-nos ter uma vida mais sedentária e menos saudável, provocando problemas como a obesidade. Há quem diga que este aparelho é um veículo de cultura importantíssimo. Com esta, adquirimos, de facto, muitos conhecimentos e, o mais importante, sem qualquer esforço. É preciso refletirmos se a televisão nos devolve em qualidade informativa e lúdica o tempo que gastamos a ver os seus programas. Considero a possibilidade de estarmos iludidos… Pensando que mandamos no nosso mundo, nas nossas vidas, somos, afinal, uns escravos do LCD, uns «televisodependentes»! Será que, se não houvesse televisão, consumiríamos horas e horas de outra forma? Será que teríamos melhores relações humanas e mais cultura? Talvez devêssemos deixar o comando na gaveta.

3.1 TV: sigla com valor de sinónimo — coesão lexical; anáfora. esse aparelho: hiperónimo — coesão lexical; anáfora. A televisão: repetição — coesão lexical; reiteração. Ø É: elipse — coesão referencial. Este eletrodoméstico: hiperónimo — coesão lexical; anáfora.

este aparelho: hiperónimo — coesão lexical; anáfora. esta: anáfora — retoma o valor referencial do antecedente. a televisão: repetição — coesão lexical; reiteração. os seus programas: anáfora. do LCD: correferência não anafórica. televisão: repetição — coesão lexical; reiteração. 4. a) Ele — O Jaime; lhe — o Pedro; b) que — a carrinha; c) este — Henrique; d) meu — computador; e) las — as dúvidas; f) dele — Eça de Queirós. 5. a) Fui cedo para a bilheteira, pelo que consegui bilhete. b) Eram oito horas quando ele chegou a casa. c) Ele estava maldisposto desde que/ porque comera uma salada russa. d) Comi um bolo e bebi um sumo. e) Consegui marcar os bilhetes para o concerto na Casa da Música, mas não marquei bilhetes para o teatro. 5.1 a) pelo que — locução conjuncional coordenativa conclusiva; b) quando — conjunção subordinativa temporal; c) desde que — locução conjuncional subordinativa temporal; porque — conjunção subordinativa causal; d) e — conjunção coordenativa copulativa; e) mas — conjunção coordenativa adversativa. 6. a) Primeiro tomei o pequeno-almoço, depois escovei os dentes. b) Antigamente, pensava que tudo era fácil, mas, agora, penso que é mais complicado. c) Adoro citrinos, ou seja, laranjas, limões, … Efetivamente, são as minhas frutas preferidas. 7. a) Ontem não saí de casa. Fiquei o dia inteiro a descansar e a trabalhar, porque tinha tido uma semana complicada. Dormi, vi televisão, li um pouco e estudei bastante. b) Um dia, visitarei a Islândia para assistir a uma aurora boreal. É claro que haverá muito mais para ver.

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1. Texto 1 — discurso direto; Texto 2 — discurso direto e indireto livre; Texto 3 — discurso direto e indireto; Texto 4 — discurso indireto. 2. a) O Carlos anunciou que se casava no ano seguinte. b) A Joana prometeu à irmã que estaria lá no dia seguinte às 10 horas e que não faltaria. c) O Paulo insistiu para que a Eva fosse à sua casa. d) O funcionário da loja explicou que se devia ligar aquele fio ao vermelho e carregar no botão. e) O Pedro perguntou onde é que ela ia no dia seguinte. f) O António admitiu que tinha mentido porque tinha tido medo. Ele prometeu à mãe que não voltaria a mentir. g) O Duarte concordou com o Rui que a nota era falsa. h) A Maria exclamou que não aguentava mais a situação. 3. O detetive perguntou ao mordomo onde tinha estado na noite do dia anterior. Este respondeu que tinha estado toda a noite ali, no seu quarto. Por sua vez, o detetive questionou o mordomo sobre o que ele tinha estado a fazer. Este respondeu que tinha estado a ver televisão até às 11 horas e depois tinha começado a ler um livro porque estava com insónias. O detetive quis saber que programa é que o mordomo tinha visto. Ele afirmou que tinha visto as notícias e depois tinha pegado num livro. Então, o detetive inquiriu-o acerca do título do livro. O mordomo respondeu ao inspetor que era aquele livro que ele ali tinha. O detetive perguntou-lhe se tinha ouvido algum barulho estranho durante a noite, ao que o mordomo respondeu que não, que não tinha ouvido, pois tinha dormido profundamente toda a noite. Por fim, o detetive agradeceu ao mordomo a sua colaboração.

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1. A. 5; B. 3; C. 1; D. 7; E. 2; F. 6; G. 4. 2. a) texto narrativo;

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4. a) Soledade; b) Lia; c) Iria.

b) texto preditivo; c) texto descritivo. F I C H A D E AT I V I D A D E S

5. A. 3; B. 8; C. 1; D. 6; E. 2; F. 7; G. 4; H. 5. |

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1. a) metáfora e hipérbole; b) personificação; c) metáfora e animismo; d) comparação e metáfora; e) aliteração; f) antítese; g) hipérbato; h) anáfora; i) eufemismo; j) gradação; k) hipálage; l) imagem; m) ironia; n) metonímia; o) paradoxo; p) perífrase; q) pleonasmo; r) sinédoque; s) sinestesia; t) alegoria; u) disfemismo; v) lítotes; w) hipérbole e comparação; x) ironia. F I C H A D E AT I V I D A D E S

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1. a) 1 — Não vá. 2 — Não, vá. b) 1 — Aceito obrigada. 2 — Aceito, obrigada. c) 1 — Não queremos ficar. 2 — Não, queremos ficar. d) 1 — Esse senhor é corrupto. 2 — Esse, senhor, é corrupto. e) 1 — Não tenha pena! 2 — Não, tenha pena! 2. Um lavrador tinha um bezerro e a mãe. Do lavrador era também o pai do bezerro. 3. Versão do funcionário: Este funcionário disse: «O patrão é preguiçoso.» Versão do patrão: «Este funcionário» — disse o patrão — «é preguiçoso.»

6. Já deves ter reparado que basta alguém à tua volta bocejar para que sintas uma vontade enorme de fazê-lo. E, se fechares os olhos para evitares o contágio, sabes que não vai resultar. Se ouvires o bocejo, ou se te falarem nisso, a tua boca parece que tem vida própria. E ler este artigo? Apostamos que já bocejaste pelo menos uma vez! Consegues controlar-te? Não, não consegues. O bocejo é uma ação involuntária. Isto significa que, por mais que o teu cérebro não queira bocejar, o teu corpo não vai cumprir a ordem. Um bocejo começa na boca, que se abre completamente (vamos lá a tapá-la com as mãos). Com a boca aberta, o próximo passo é inspirar. Assim, o ar vai chegar em grande quantidade aos teus pulmões. Depois, apenas uma parte deste ar é que vai voltar a sair do teu corpo. Bocejar é um mistério. Os especialistas reúnem-se em volta desta questão, mas não conseguem explicar, de uma vez por todas, por que é que bocejamos. 7. a) A Ana, uma amiga minha, vem cá jantar. b) Eu e a minha irmã vamos viajar. c) Onde está a minha carteira? d) Eis o que precisamos: pão, leite, fruta e legumes.

e) Avó, passa-me o jarro de água, por favor. f) Ofereci uma prenda à minha tia. g) A minha mãe, que tem 52 anos, tem uma ótima saúde. h) Que lindo dia! 8. A. 4; B. 6; C. 8; D. 1; E. 3; F. 7; G. 2; H. 5. 9. A partir deste [livro], Edward e Bella casam-se e, logo em seguida, o que parecia ser impossível acontece: uma gravidez inesperada! Segundo a lenda, nenhum humano pode dar à luz um vampiro e vice-versa. Carlisle convence Edward a conversar com Bella sobre o possível risco de o próprio filho a matar, pois estas hipóteses são grandes, segundo a lenda. Mas Rosalie não quer perder o seu neto e ajuda Bella a ter o bebé, mesmo vivendo sob pressão. Então chega o dia do nascimento da criança e esta faz com que Bella quase morra. É neste exato momento que Edward a transforma em vampira! O nascimento do bebé gera muita polémica e discussão. Um membro dos Denali conta ao clã Volturi que o nascimento deste primogénito poderá ser o fim para todos, uma vez que este pode vir a ser imortal. Entretanto, Alice encontra um meio-vampiro e meio-humano e confirma a todos que o Renesmee é totalmente humano, trazendo o desfecho para a série.

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Í N D I C E R E M I S S I VO

Abreviatura

214 Acento 44, 56, 57 Acrónimo 215 Acusativo 125 Adjetivo 73-76, 117-119 Adjetivo biforme 73 Adjetivo numeral 119 Adjetivo qualificativo 118 Adjetivo relacional 119 Adjetivo uniforme 73 Adstrato 21, 22 Advérbio 119-122 Advérbio conectivo 121 Advérbio de afirmação 121 Advérbio de exclusão 121 Advérbio de frase 121 Advérbio de inclusão 121 Advérbio de negação 121 Advérbio de predicado 121 Advérbio de quantidade e grau 121 Advérbio em -mente 122 Advérbio interrogativo 121 Advérbio relativo 121 Aférese 51 Afixação 91 Afixo 68, 69 Alegoria 293 Alfabeto Fonético Internacional 40 Alínea 323 Aliteração 293 Alusão 293, 294 Amálgama 213 Anáfora 277, 294 Animismo 300 Antítese 295 Antonímia 210 Aparelho fonador 38, 39 Apócope 51 Apóstrofe 295 Arcaísmo 205 Artigo 131 Artigo definido 131 Artigo indefinido 131 Aspas 321 Aspas altas 322 Aspeto 230 Aspeto gramatical 231 Aspeto lexical 230 Assimilação 51, 52 Asterisco 322 Ataque de sílaba 54, 55 Ato de fala 249, 250 Ato de fala direto 250 Ato de fala indireto 250, 252 Ato ilocutório 250, 251 Ato ilocutório assertivo 250 Ato ilocutório compromissivo 251 Ato ilocutório diretivo 251 Ato ilocutório expressivo 251 Ato linguístico 249 Ato perlocutório 250 Autor 274

Base

68 Bibliografia 290, 291 Bilinguismo 21 Bordão linguístico 245

Campo lexical

210, 211 Campo semântico 211 Caso 125 Catáfora 277, 278 Chaveta 322 Citação 283 Classe aberta de palavras 111 Classe de palavras 110 Classe fechada de palavras 124 Clítico 125 Coda de sílaba 54-56 Coerência textual 275 Coesão interfrásica 278, 279 Coesão lexical 276 Coesão referencial 276-278 Coesão temporo-aspetual 278 Coesão textual 276-281 Colchetes 320 Comparação 295 Competência comunicativa 12, 13 Competência linguística 12 Competência metalinguística 13 Competência textual 13 Complemento agente da passiva 167 Complemento direto 165, 166 Complemento do adjetivo 172 Complemento do nome 171 Complemento do verbo 163-170 Complemento indireto 166 Complemento oblíquo 167 Composição 97-99 Composição morfológica 97, 98 Composição morfossintática 98, 99 Comunicação 255 Comunicação à distância 257 Comunicação face a face 257 Comunicação não verbal 255, 256 Comunicação verbal 255, 256 Comunidade linguística 10 Concordância 188-191 Concordância nominal 191 Concordância verbal 188-191 Condicional 79, 83, 84, 232 Conector discursivo 279, 280 Configuração gráfica 323, 324 Conhecimento do mundo 243 Conjugação verbal 77, 329-350 Conjunção 139-141 Conjunção coordenativa 140 Conjunção subordinativa 140, 141 Conjuntivo 79, 83, 181, 232 Conotação 206, 207 Consoante 40, 42, 45, 46 Consoante alveolar 45, 46 Consoante bilabial 45, 46 Consoante dental 45, 46 Consoante fricativa 45, 46 361

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Í N D I C E R E M I S S I VO Consoante labiodental 45, 46 Consoante lateral 45, 46 Consoante nasal 46 Consoante oclusiva 45, 46 Consoante oral 46 Consoante palatal 46 Consoante uvular 46 Consoante velar 46 Consoante vibrante 45, 46 Consonantização 53 Constituinte morfológico 68, 69 Constituintes da frase 157-160 Contacto de línguas 21-24 Contexto 239-243 Contexto não verbal 240, 241 Contexto situacional 241, 242 Contexto sociocultural 243 Contexto verbal 240 Conversa 257 Conversão 96 Coordenação 174, 175, 176 Coordenação assindética 175 Coordenação sindética 176 Cordas vocais 38, 39 Correferência não anafórica 278 Cotexto 240 Crase 53 Crioulo 23 Crioulos de base lexical portuguesa

Dativo

125 Deítico 247, 281, 282 Deixis 281, 282 Deixis espacial 282 Deixis pessoal 281 Deixis temporal 281 Denotação 206 Dequeísmo 177 Derivação 91 Derivação não afixal 96 Determinante 130-134 Determinante demonstrativo 132 Determinante indefinido 134 Determinante interrogativo 134 Determinante possessivo 133 Determinante relativo 134 Dialeto 15 Diálogo 255, 257 Dígrafo 42 Discurso 236, 238, 239 Discurso direto 283 Discurso direto livre 283, 284 Discurso escrito 243, 244, 247-249 Discurso indireto 284 Discurso indireto livre 284 Discurso oral 243-247 Disfemismo 296 Dissílabo 56 Dissimilação 52 Ditongação 53 Ditongo 47, 48 Ditongo crescente 47, 48

Ditongo decrescente 47, 48 Ditongo nasal 47, 48 Ditongo oral 47, 48 Dois pontos 317 Duração 54

Elipse

23, 24

194, 239 Emissor 236 Empréstimo 212, 213 Encontro consonântico 49 Encontro vocálico 47, 48 Entoação 57, 58 Enumeração 296 Enunciação 236 Enunciado 237 Enunciador 236 Enunciatário 236 Epêntese 50 Epígrafe 291 Espaço 323 Especificidade 227 Estilo 264 Estilo formal 264 Estilo informal 264 Estruturador de informação 279 Estrato 22 Étimo 27 Etimologia 27 Eufemismo 296 Extensão semântica 212

Falante

12 Família de línguas 31 Família de palavras 68 Fatores externos de mudança linguística 26 Fatores internos de mudança linguística 26 Figura de dicção 292 Figura de pensamento 292 Figura de retórica 293-302 Flexão adjetival 73-76 Flexão nominal 70-72 Flexão verbal 76-90 Fonema 43 Fonética 38 Fonética Acústica 38 Fonética Articulatória 38 Fonética Percetiva 38 Fonologia 38 Forma forte 86 Forma fraca 86 Forma supletiva 87 Formas de destaque 324 Formas de tratamento 258, 264 Formas verbais finitas 81-84 Formas verbais não finitas 84-87 Frase 154, 155 Frase ativa 167, 192, 193 Frase complexa 154, 173, 174 Frase declarativa 155 Frase exclamativa 157 Frase imperativa 157 Frase interrogativa 156

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Frase passiva 192-194 Frase simples 154, 173 Funções sintáticas 161-172 Funções sintáticas ao nível da frase 161-163 Funções sintáticas internas ao grupo adjetival 172 Funções sintáticas internas ao grupo nominal 171, 172 Funções sintáticas internas ao grupo verbal 163-170 Futuro 81-83, 229

Genealogia linguística

31, 32 Genericidade 227 Género 70, 71, 73, 188, 191 Gerúndio 85 Gradação 297 Gramaticalização 27 Grau aumentativo 72 Grau comparativo 75, 76 Grau diminutivo 72 Grau dos adjetivos 73-76 Grau dos advérbios 120 Grau dos nomes 72 Grau normal 74 Grau superlativo 74, 75 Grupo 157-160 Grupo adjetival 160 Grupo adverbial 160 Grupo consonântico 49 Grupo nominal 159 Grupo preposicional 160 Grupo verbal 160

Hiato

48 Hipálage 297 Hipérbato 297 Hipérbole 297, 298 Hiperonímia 208, 209 Hipertexto 274 Hiponímia 208, 209 História do português 28-30 Holonímia 209 Homonímia 207

Imagem

298 Imperativo 79, 84, 232 Indicativo 79, 181, 232 Índice 290 Inferência 252-254 Infinitivo impessoal 84 Infinitivo pessoal 85 Inserção de segmentos 50 Intensidade 54 Interação linguística 255, 257 Interfixo 69 Interjeição 123 Interlocutor 236 Intertexto 291 Intertextualidade 291 Ironia 298 Itálico 324

Leitor

274 Léxico 204 Língua estrangeira

11

Língua franca 21 Língua materna 11 Língua minoritária 11 Língua morta 12 Língua nacional 11 Língua oficial 11 Língua padrão 20 Língua segunda 11 Língua viva 12 Linguagem artificial 256 Línguas românicas 32 Lítotes 298, 299 Locução adverbial 122 Locução prepositiva 138 Locutor 236

Macroestruturas textuais

275 Marcador discursivo 279-281 Margem 323 Máxima de modo 261, 262 Máxima de qualidade 259 Máxima de quantidade 259, 260 Máxima de relação 260, 261 Máximas de conversação 259-262 Meronímia 209 Metáfora 299 Metátese 53 Metonímia 299 Microestruturas textuais 275 Modalidade 232 Modalidade apreciativa 232 Modalidade deôntica 232 Modalidade epistémica 232 Modificador 159 Modificador apositivo 172 Modificador da frase 163 Modificador do nome 172 Modificador do verbo 170 Modificador restritivo 172 Modo 78, 79, 232 Modo de articulação 45 Modo de relato do discurso 283, 284 Modo dramático 303, 304 Modo lírico 304, 305 Modo narrativo 305 Monólogo 257, 303 Monossemia 207 Monossílabo 56 Morfema 68 Morfossintaxe 68 Mudança irregular 27 Mudança linguística 25-27 Mudança regular 26, 27 Multilinguismo 21

Nasalização

52 Negrito 324 Neologismo 205 Nível prosódico 54-58 Nome 70-72, 111-113 Nome coletivo 113 Nome comum 112

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Í N D I C E R E M I S S I VO Nome comum de dois 71 Nome contável 112, 113 Nome epiceno 71 Nome não contável 112, 113 Nome próprio 111, 112 Nome sobrecomum 71 Nominativo 125 Norma padrão 20 Normalização linguística 20 Nota de rodapé 323 Núcleo de sílaba 54, 55 Numeral cardinal 136 Numeral fracionário 136 Numeral multiplicativo 136 Número nos adjetivos 73 Número nos nomes 71, 72 Número nos verbos 78

Onomatopeia

215, 216 Operador discursivo 280 Oração 154 Oração coordenada 174-176 Oração coordenada adversativa 176 Oração coordenada conclusiva 176 Oração coordenada copulativa 176 Oração coordenada disjuntiva 176 Oração coordenada explicativa 176 Oração subordinada 174, 177-186 Oração subordinada adjetiva relativa 179-181 Oração subordinada adjetiva relativa explicativa 181 Oração subordinada adjetiva relativa restritiva 180, 181 Oração subordinada adverbial 182-186 Oração subordinada adverbial causal 182 Oração subordinada adverbial comparativa 185, 186 Oração subordinada adverbial concessiva 183, 184 Oração subordinada adverbial condicional 184, 185 Oração subordinada adverbial consecutiva 186 Oração subordinada adverbial final 182 Oração subordinada adverbial temporal 183 Oração subordinada substantiva 178, 179 Oração subordinada substantiva completiva 178, 179 Oração subordinada substantiva relativa 179 Oração subordinante 177 Oralidade 243-247 Oxímoro 300

Palatalização

52 Palavra 68 Palavra aguda ou oxítona 57 Palavra complexa 69 Palavra esdrúxula ou proparoxítona Palavra grave ou paroxítona 57 Palavra homógrafa 207 Palavra homónima 207 Palavra invariável 70 Palavra simples 69 Palavra variável 70 Palavras convergentes 25 Palavras divergentes 25 Paragoge 50 Parágrafo 323 Paralinguagem 256

57

Parassíntese 95 Paratexto 289-291 Parênteses curvos 320, 321 Parênteses retos 320 Particípio 85-87 Pausa 58 Pausa preenchida 58 Pausa silenciosa 58 Perífrase 300 Período 323 Personificação 300 Pessoa 78, 125-127, 133 Pidgin 23 Pleonasmo 301 Plurissignificação 274 Polaridade 228 Polissemia 207 Polissílabo 56 Ponto (final) 317 Ponto de articulação 44-46 Ponto de exclamação 318 Ponto de interrogação 318 Ponto e vírgula 316 Pontuação 314-319 Português antigo 28, 29 Português clássico 29, 30 Português contemporâneo 30 Posfácio 290 Pragmática 252 Predicação 228 Predicado 162 Predicativo 168-170 Predicativo do complemento direto 169, 170 Predicativo do sujeito 168, 169 Prefácio 290 Prefixação 91-93 Prefixo 91 Preposição 137-139 Presente 81-83, 229 Pretérito imperfeito 82, 83 Pretérito mais-que-perfeito 82, 83 Pretérito perfeito 82, 83 Princípio da não tautologia 275 Princípio da não contradição 275 Princípio da relevância 276 Princípio de cooperação 258, 259 Princípio de cortesia 258 Processos de alteração de segmentos 51-53 Processos de inserção de segmentos 50 Processos de permuta de segmentos 53 Processos de supressão de segmentos 50, 51 Processos fonológicos 50-53 Processos irregulares de formação de palavras 212-216 Processos morfológicos de formação de palavras 91-99 Processos sintáticos 188-194 Progressão temática 274 Pronome 124-130 Pronome demonstrativo 127 Pronome indefinido 128 Pronome interrogativo 129, 130 Pronome pessoal 125, 126 Pronome possessivo 127, 128

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Pronome relativo 128, 129 Prosódia 54-58 Prosopopeia 301 Prótese 50 Protótipo textual 285

Quantificador

134-137 Quantificador existencial 135 Quantificador interrogativo 136 Quantificador numeral 135, 136 Quantificador relativo 137 Quantificador universal 134, 135 Queísmo 177

Radical

68 Recetor 236 Redução vocálica 53 Referência 226 Reformulador 280 Registo formal 264 Registo informal 264 Regras sociais de uso da língua 263 Relações semânticas entre palavras 208-211 Relato do discurso 282-284 Rema 274 Reticências 319 Retórica 292-302 Rima (de sílaba) 54-56

Segmento

43 Semântica lexical 206 Semivogal 44, 45 Sentido 238 Sequência de sons 47-49 Sequência textual 285 Sigla 214 Significação 206, 207 Significado 206, 238 Significante 206 Signo linguístico 206 Sílaba 54-56 Sílaba aberta 56 Sílaba átona 56 Sílaba fechada 56 Sílaba tónica 56 Símbolo 302 Sinal auxiliar de escrita 320-322 Sinal de pontuação 314-319 Sinal gráfico 314 Síncope 51 Sinédoque 302 Sinestesia 302 Sinonímia 209, 210 Sobrescrito 324 Socioleto 14 Som 43 Sonorização 52 Sublinhado 324 Subordinação 174, 177-186 Subordinante 177 Subscrito 324 Substrato 21, 22

Sufixação 94 Sufixo 91 Sujeito 161, 162 Sujeito composto 190 Sujeito nulo 162 Sujeito nulo expletivo 162 Sujeito nulo indeterminado 162 Sujeito nulo subentendido 162 Sujeito realizado 162 Superstrato 21, 22 Supressão de segmentos 50, 51

Tema

68, 76, 274 Tempo 79-87, 229 Tempo verbal 79-87 Tempo verbal composto 80 Tempo verbal simples 80 Texto 274-291 Texto argumentativo 285 Texto conversacional 285, 286 Texto diretivo 287, 288 Texto expositivo 287 Texto descritivo 287 Texto instrucional 287, 288 Texto narrativo 288, 289 Texto preditivo 288 Tipologia textual 285-289 Tipologia verbal 87-90 Tipos de frase 155-157 Tipos de mudança linguística 26, 27 Título 289 Tom 54 Travessão 318, 319 Trissílabo 56 Tritongo 47 Tropo 292 Truncação 216

Variação

14 Variação histórica 19, 20 Variedade 14 Variedade brasileira 16-18 Variedade estilística 264 Variedade europeia 15, 16, 17 Variedade geográfica 15 Variedade situacional 15 Variedade social 14 Variedades africanas 18, 19 Variedades do português 15-19 Verbo 76-90, 113-117 Verbo auxiliar 116 Verbo copulativo 117 Verbo defetivo 90 Verbo impessoal 90 Verbo intransitivo 114 Verbo introdutor do relato do discurso Verbo irregular 87-89 Verbo principal 113-116 Verbo regular 87 Verbo transitivo direto 115 Verbo transitivo direto e indireto 115 Verbo transitivo indireto 115

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Í N D I C E R E M I S S I VO Verbo transitivo-predicativo Verbo unipessoal 90 Vírgula 314-316 Vocabulário 204 Vocabulário ativo 204 Vocabulário passivo 204 Vocalização 52 Vocativo 163 Vogal 43-45 Vogal alta 44

116

Vogal anterior ou palatal 44 Vogal arredondada 44 Vogal baixa 44 Vogal central 44 Vogal não arredondada 44 Vogal nasal 44 Vogal oral 44 Vogal posterior ou velar 44 Vogal temática 76, 77 Vozeamento 52

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BIBLIOGRAFIA AGUIAR E SILVA, Vítor Manuel — Teoria da Literatura, vol. 1, 8.ª ed. Coimbra: Almedina, 1999. CARDEIRA, Esperança — História do Português. Col. «O Essencial sobre Língua Portuguesa». Lisboa: Editorial Caminho, 2006. CASTELEIRO, Malaca (coord.) — Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Academia das Ciências de Lisboa. Lisboa: Editorial Verbo, 2001. CINTRA, Luís Filipe Lindley — Estudos de Dialectologia Portuguesa. Lisboa: Sá da Costa, 1983. CLUL e Instituto Camões — Português Falado — Documentos Autênticos. CD-ROM. Lisboa, 2001. CUNHA, Celso; CINTRA, Luís Filipe Lindley — Nova Gramática do Português Contemporâneo. 15.ª ed. Lisboa: Edições João Sá da Costa, 1999. DELGADO-MARTINS, Maria Raquel; FERREIRA, Hugo Gil — Português Corrente. Estilos do Português no Ensino Secundário. Lisboa: Editorial Caminho, 2006. DUARTE, Inês — Língua Portuguesa — Instrumentos de Análise. Lisboa: Universidade Aberta, 2000. DUARTE, Isabel Margarida Oliveira — O Relato de Discurso na Ficção Narrativa. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian / Ministério da Ciência e do Ensino Superior, 2003. FARIA, Isabel Hub; PEDRO, Emília; DUARTE, Inês; GOUVEIA, Carlos — Introdução à Linguística Geral e Portuguesa. Lisboa: Editorial Caminho, 1996. FREITAS, Maria João; ALVES, Dina; COSTA, Teresa — O Conhecimento da Língua: Desenvolver a Consciência Fonológica. PNEP. Lisboa: Ministério da Educação, 2007. LAUSBERG, Heinrich — Elementos de Retórica Literária. Lisboa: Gulbenkian, 1993. LIMA, José Pinto de — Pragmática Linguística. Col. «O Essencial sobre Língua Portuguesa». Lisboa: Editorial Caminho, 2007. MATEUS, Melena Helena et al. — Gramática da Língua Portuguesa. Lisboa: Editorial Caminho, 2003. MATEUS, Maria Helena — Uma Política de Língua para o Português. Lisboa: Colibri, 2002. MATEUS, Maria Helena; FALÉ, Isabel; FREITAS, Maria João — Fonética e Fonologia do Português. Lisboa: Universidade Aberta, 2005. MATEUS, Maria Helena; CARDEIRA, Esperança — Norma e Variação. Col. «O Essencial sobre Língua Portuguesa». Lisboa: Editorial Caminho, 2007. PEREIRA, Dulce — Crioulos de Base Portuguesa. Col. «O Essencial sobre Língua Portuguesa». Lisboa: Editorial Caminho, 2006. PEREIRA, Dulce — «Algumas Questões sobre Oralidade». Projecto Diversidade Linguística na Escola Portuguesa. CD-ROM 2. Lisboa: ILTEC, 2006. Disponível em: http://www.iltec.pt/divling/_pdfs/cd2_oralidade_refexoes.pdf PERES, João Andrade; MÓIA, Telmo — Áreas Críticas da Língua Portuguesa. Lisboa: Editorial Caminho, 1996. REIS, Carlos — O Conhecimento da Literatura. Coimbra: Almedina, 1999. YVANCOS, José María Pozuelo — Teoría del Linguage Literario. Madrid: Catedra, 1992.

RECURSOS EM LINHA «A Pronúncia do Português», disponível no Centro Virtual Camões http://cvc.instituto-camoes.pt/aprender-portugues/a-falar/pronuncia-do-portugues-europeu.html Ciberdúvidas da Língua Portuguesa http://www.ciberduvidas.com Dicionário de Termos Linguísticos http://www.ait.pt/recursos/dic_term_ling/index2.htm Dicionário Terminológico (2008) http://dt.dgidc.min-edu.pt Portal da Língua Portuguesa http://www.portaldalinguaportuguesa.org

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A Gramática Didática do Português é uma obra coletiva,

concebida e criada pelo Departamento de Investigações

e Edições Educativas da Santillana-Constância, sob a direção de Sílvia Vasconcelos AUTORES

Cristina Serôdio (capítulos 9 e 10) Dulce Pereira (capítulo 8)

Esperança Cardeira (capítulo 1) Isabel Falé (capítulo 2)

Benilde Abegão (fichas de atividades) Cristina Moura (fichas de atividades) Luísa Pinto (fichas de atividades)

A obra também contempla conteúdos realizados por Eva Arim e André Eliseu (capítulos 3, 4, 5, 6 e 7) EQUIPA TÉCNICA

Chefe de Equipa Técnica: Patrícia Boleto Modelo Gráfico: Orlando Gaspar Capa: Paulo Oliveira

Paginação: Gráfica 99

Documentalista: Luísa Rocha Ilustração: Paulo Oliveira

Revisão: Ana Abranches, Manuela Gonzaga e Nuno Carvalho EDITORA

Eva Arim e Sónia Luz

© 2011 Estrada da Outurela, 118 2794-084 CARNAXIDE

APOIO AO PROFESSOR Tel.: 214 246 901

Fax: 214 246 909

[email protected] APOIO AO LIVREIRO Tel.: 214 246 906 Fax: 214 246 907

[email protected] Internet: www.santillana.pt Impressão e acabamento: Printer Portuguesa ISBN: 978-972-761-888-0 1.a Edição

1.a Tiragem: 3500 Depósito Legal: 321992/11

A cópia ilegal viola os direitos dos autores. Os prejudicados somos todos nós.

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