20 - Filosofia Na Idade Moderna.pdf

  • Uploaded by: Mr. Pança
  • 0
  • 0
  • February 2021
  • PDF

This document was uploaded by user and they confirmed that they have the permission to share it. If you are author or own the copyright of this book, please report to us by using this DMCA report form. Report DMCA


Overview

Download & View 20 - Filosofia Na Idade Moderna.pdf as PDF for free.

More details

  • Words: 17,480
  • Pages: 35
Loading documents preview...
qq,.Í



f,ú

@

Filosofia na Idade Moderna Aula 20 por Olavo de Carvalho

coleçâo

História Essencial da

Filosofia

Filosolia na Idade Moderna Aula 20 por Olavo de Carvalho Coleçáo História Essencial da Filosolia

Ácompanha eía Publicaçáo um DVD. que náo pode ser vendido sepaladamenle. Implesso no BrÊsil, ágosto de 2007 Coptaight @ 2007 by Olavo de Cawalho

Folo Olavo de cãrvalho Mário Caslello

Edilor Edson Mânoel de oliveira

Iilho

Monique Schenkels e Dàgmar Rizzolo

Dagui Desjgn

Filosofia na Idade Moderna Atl],a 2O

por Olavo de Carvalho 'IEreza Mana Lourenço Pereira

Os direiios autorais desà ediçáo pertencetn à É Realizaçóes Editora, Livraria e Distribuidora Ltda. CEP: 04010-970 - Sáo Paúlô SP Telefa* (11) 5572-5563 E-mai| e@ercalizâcôes.com br

w.erealizacoes.con.br

coleção

História Essencial da

Filosofia

Resenâdô s rodos os direir.s deÍa obra póibidâ loda e qualquer reprcdu çáo dêsLâ ediçÀo por {ruâlquer neio ou foma, sejâ elâ êlêtuônica ou mecânica, Iotocópiâ, gnvaçáo ou qualquer meio

*

2007

Coleçáo História Essencial dâ Filosoiia

Filosofia na Idade Modema- Aula 20 por Olavo de Carvalho Esse conceito

de Renâscimento foi inventado primeiro parâ

o

domínio das artes, por um estudioso chamado Giorgio Vasari. Mais tardc, o conceito foi ampliado, sendo transformâdo numa fe[amenta de interuretaQáo históricâ por Jacob BurcLardt. no fim do século XIX. Mas, quanto mais avançam os estudos, mais a gente vê que, como náo houve rcnascimento algüm, houve um montáo. Mas ainda esses vários processos, longe de ter uma unidade de sentido, muitos deles váo em direçóes exatamente opostas, sendo realmente impossível você tlaçar um perfil de conjunto, mesmo que se âtenhâ só ao domínio da história Mesmo ali se observâm tendências bastante antagônicas, linhas de

dcscnvolvimentohistódcobâstanteantagônicâs ou entãoheterogêneas, que náo têm nada aver uma com a outra. Por exemplo, o fato de dizer qüe nesse período a Europa abandona a filosofia escolástica e assume

novas direções, nem isso coflesponde à verdade, a nâo ser qüe nós expulsemos da Europa a Penínsüla Ibédca, quejustâmente no período era a sede de um dos Estados mais podercsos do mundo, a Espanha.

Entáo, justamente

ro

período em que havia na França, na Holanda

e na Inglateffa üma Íuptüra com â lilosofia escolástica, na Península

Ibérica ela alcançava algumas de suas melhores realizâçôes

-

as quais,

devido ao iato de que a opiniáo franco-bítânica se tornou dominante no século seguinte, foi colocada duÍante um tempo entrc parênteses permâneceu como que à margem do plocesso dâ

Histó

e

â da Filosofia.

Notem bem que náo existe materialmente um fenômeno châmâdo

"história da filosofia". A História dâ Filosofia foi uma disciplina que as pessoas inventaram e que estuda mais ou menos numa clave

crcnológicaalgumas idéias quc algumas pessoâs tiveram. Não existeum

poÕio de orienlâçáo, mesrno frcticio, mesmo hipotético e fictício para

fenômeno matedâl identiÊcável chamado "desenvolvimento histórico

sc ârticular o passado histórico. Entáo, isso naturalmente cÍia un1a

da filosofiâ". Isso é uma síntese mental quc opcramos em cima de

certa desorientâqáo, màs. por outro lado, essa dcsoricntaçâo pode ser

heterogêneos. De modo

benélica, poÍqüe úos ajudaâ ver o câráterprovisóúo. relativo-para nào

acontecjmentos às vezes bastante

i,7úa,n

eclos

e

que existem muitas maneiras de se moniar esse desenvolvimcnto,

dizer ialso

conlbrme o ponto que

tome como rcfcrôncia. Gcmimente, tomâmos

essâ mesna divisãLr de ldâde Médiâ e ltenascimento. Idadc Modcrna c

como referência a moda prcscntc, quer dizer âquilo que parece dominante no momento presente. Mas mesmo isso seriâ muito difícil, porque durunte lodo o século XX, por cxemplo, houve três centros de

Pós'Modernidade, ela é ieita desde um ponto de vistâ que tomâ como ccntro alguns dcscnvolvimcntos cspccíficos desla lilosolia que, mai s dià

relerênciai (1) um centro dc rcfcrôncia mamistâ-leninista, colocadoem

o que nós chamamos hoje de "pós moderno" pod€ ter sido esquecido

todo o mundo soviético, o mundo sob domínio soviético, en que teria

amanhá ou dcpois. Nâo temos um châo firme ou nem mesmo uma

que se contar toda a história da filosofiâ como sc fosse uma antecipação

rfirêncid Je Lhíu firme nu quul po.idmus nu. upuidr pa'a criar

ou preparaçáo do advento do marxismoi (2) um bloco continental

visão retrcspectlva, na qual pareçâmos estar orientados.

se

-

das outras articuiaçôcs quc tínhamos antes. Po. exemplo,

nenos dia. podem ser considerâdos âbsolutamente i[elevantes. Tudo

uma

franco-gcrmânico, dominado pelâ lênomenologia, pelo existencialismo, etc.; (3) e um bloco anglo-saxônico, dominado por filosofiâ andlítica 1ógjca matemática. Cada um dcsscs trôs se aoreditavâ no

direito de

e

se

considerar o topo da evoluçáo histórica e. portanto, de explicat tudo o que se passou antes em função do seu pÍópÍio posto de obscrvaçáo.

Na etapa seguinte, exisic uma dissoluçâo desscs blocos, e hoje em dia seria müiio difícil ca.racterizâr, ver que estilos coletivos de ilosofia

xx.

lAluno: Como Íoí criada essa segmetTíttção da ldade Média, Modena?l Istovcm dopróprio início do que nós chanamos de ldâdeModerna, quando há no PerÍodo lluminista um ccrto grupo de intelectüais que se definem como o cüme da evoluçáo humana e começâm a medir

rudn o quc vcro para rrâ\ como

\c Ío..e ou uma prepirdçxo ou

utn

Há filósolbs

obstáculo pâra chegar até onde eles cstavam. Hojc nós t€mos até uma

individuais sem nenhuma conexáo cm tornoi há lênômenos como Xavier Zubiri, por cxcmplo, que é absolutamente inclassijlicável, náo se sabc onde colocá-lo, cujâ obra aparece toda postumamcnic; há

certa dificuldade de conceber uma espécie de sentimento triunlàlista

o lênômeno de Edc Voegelin, qüe é provavclmcnte o filósotb màis importante do pcríodo, mas que continua âmplamente desconhecido

pelas rcalizaçóes. pelas conquistâs intelectuâis da época. Na vcrdâdc,

cxistem, sDbretudo na primeim melade do século

lcomo, por exemplo, no mundo liâncês).

Paraâsegundametadedoséculoxxeopcríodoquevematéàgorâ. já não

se

tem mais csses pontos de relêrêncià, já náo

se 1em mâis algo

qre se possâ dizer que é un1a filosolia dominanie e quc fomeça um

quc a intclectualidade européia tinha nessa época senlimento inspirado. vamos dizer por um scntimcnto muito pouco justificado foi uma época de mediocridâde filosófica que chega a ser assombrosai âssustâdorâ, quando vemos que â grandc figüra da intelectualidade européiê no perÍodo

foi Voltâire. Está certo que Voltaire cra pouco

mâis do que um jornalista, um divulgador, mas como um filósoIo era

nrDilíssiino defi.icnte

JAluno: Isso iustíÍicatia cansiderut

o que aeio a tes como

o

Eniendemos, entáo, que nesse período houvc uma espécie de ampliaçáo do público debâiedor. do púbiico pretensàmenle filosófico.

mínitno patu tudo no tfiutTdo (...), naio é? Aquíla era o passado e

Isso dâva a impressào de que a cultura estava se disseminando c dc

agoru estatttos tto prcsente-..)

que âs pessoas estavam chegando. Dâva a impressâo dc um proSresso,

Ccrto. é certamente a primeira coisa quc acontecc. Veja, quando

em suma, mas cra âpenâs uma ampliâqáo quântitâlivâ. E justamente

vo(:ê descobre uma coisa nova. em vez de ela se acrescentar ao aceNo dos seus conhecimenLos, ola o encobrc, de modo quevocê dáum passo

o maior filósofo do período que a nós hoje interessa mâis erê

Leibniz

-

que

permanece à margem do scu século. Os suieitos mais

interessantcs do século

para a liente e dez para irás, isso ó muito comum

XVIII eram Leibniz e Ciambattista Vico, para

nós hoje. Leibniz foi totâlmente incompÍeendido, caricaturado ató por

Voltâire na figura do Dr. Panglossl; e Gianbattista Vico nào

lbi

nem

isso, ningüém nem ouviu falar do suieito. Entâo, tudo âquilo do qual

a

inteleclualidade

se orgu

lhava na época,

a nós hoje parece lotalmente irelevante, mas, na época, cles tinham realmente a impressáo de ter rompido com milênios de obscurantismo e chegado enfim à descoberta da verdade. Não que se considcrasscm pessoalmente merecedores dessa qüalificaçáo, mas, pclo menos

a

partir

tAluno: É a utiLidade da diaísila tipaúíte? Porque a Voe\eli'l comenta que isso é uma caructeústica gnósíiar lipica. l Sem sombra cle dúvida. A idéia de que o coniunto dâ história humanavâi até o conjunto dahistória cósmica con1o uma evoluçâo cn tÍês ctâpas já vinhâ de longe. Há o conceito de Joaqüim de Fiod, a Erâ do Pai, depois à Era do Filho, dcpois a Era do Espírito Santo; cxislia uma infinidade de doutrinas iripafliics, isso entrou proÍundamente no subconsciente europeu- Existe o conceito do Mesire Eclàârt, no quâl

uma coisa táo assombrosa e táo revolucioná a que eÍa como se, de

háiambém umaetapainicial em queDeus cstácentrado em simcsmo e maniiestado, depois há a etapa da pÍecessão, quando Ele se manilesta,

Íàto, milênios de ignorância tivessem sido rompidos dc repcnte por um

e depois há uma etâpa do retomo a Deus. Tem, por excmplo, a lei dos

raio de luz.

três estágios de Conúc, etc., etc. Mâs náo precisa ser necessariamenle

de Isaac Newton, o sistema do mundo ncwtoniano pâreceu na épocâ

Exisic um poema de william Blake que diz assim: "Deus disseifaçase

Newton. e tudo virou luz". Era entáo unr entusiasmo. uma idolatria

Iantástical Quando sevê qüe, trôs sóculos dcpois, o sistema de Newton alcança o seu limitc c é substituído porumflorescimento extraordinrÍio de doutrinas contraditórias dentro da física, de modo quc hojc iá náo se pode mais ter certeza de nada) entáo nós cntendemos que esse

tripaflite. A simples idéiadeque o conjunto da história humanâ possâ ter uma figura é algo rcalmente muito esquisito. Como é que vocôvai estabclecer umâ linha única de desenvolvimento entre culturas e sociedades que náo tiveram a menor conexáo entte si, náo tiveram nenhum contato? Se existe uma fiAuta únicâ- ela foi criada por mágica. Mas eu acho

umadescriçáo de uma realidade, mas a expressão do scntimento deum

que é mais um efeiio desses como quando você olha nuvens e vê um câvalo, um alragáo. É uma aparência. Olhando de uma certa maneira, de uma certa distânciâ, parece que houve três etâpas ou quâtro etapas,

certo grupo de pcssoas enormemenie vasto.

c parece quc á coisa Íormâ uma c\ oluCâo ünica.

sentimento de vitória que se infundiu na intelestualidade euÍopéia da época era um fenômeno ideológico, eÍâ uma auto-imagem; náo era

vdianc.I M

^

de,Cind o Siô Plnlô: S.ipione

199r

Náo ó necessário dizer tâmbém que âs tentâtivas de elucidar cientificamentc esse tipo dc pÍoblemas sáo nâ verdade muito rccentes. Quândo se vê quc a primeira tcoria unificada da hisiória apârcce no sécuio

XVIII com Giambâttista Vico

e, mcsmo assim, âinda demora

dc "espirito da época", ninguém tinha pensado nisso antes. Nós é quc queremos definirmais ou menos os "espiritos das épocas". porque nos

i

àcostumamos quc âs épocas têm que ter seus espíritos definidos por clas mesmas. Mas se você dissesse isso para Santo Tomás deÁqüjno ou

muito tempo para enirar em d iscussáo, isso quer dizcr que a human irlade simplesmente náo iem prática desse negócio. Entâo. quando não se

paÍa Duns Scol, eles nem saberiam do que é quc você estavâ falândol Até umâ certa épocâ da História. não havia esta preocupaçáo de as

ten prática,

pcssoâs dizercm: "Mas, espcre aí, em que etapa histórica

aínda náo se tem um senso crítico âprimorado de quais sâo os conceitos âdequados pâra discutir âquilo. quais sào os mótodos possívcis, qual é o alcance possível do estudo que se cstá fazendo.

Como ó qlle se coÍreça â investjgàçâo do que qucr que seia?

I I

propÍia

ente

A

consciênciâ de "espÍrito de época" elâ tâmbém é uma criação de uma ceda época, mâs com todos os limltes dcssâ época. Na verdade, nós náo sabemos se eriste isto.

nós estâmos vivendo?".

E E

Começa corn o discurso poético. começa quando você conccber uma forma imagináriâ quc lhe párecc unificêr uman1uliidáo de lenómenos.

i;

Ou sejâ:vocêcÍiâ urn mito. Nào que o mito sciâ umacoisa maligna. Elc é o começo da investigaçáo, e a possibilidade da investigâÇáo depende

dc Newton, você pergunta assim: "Quantas pessoas sáo alêtâda§ por isso?". Um número absolutamente insignificaÍte. os outros continuarn

disso aÍ, depende dc que haja umâ articulaÇáo imàginaiiva do conjunio dos dâdos. Denho dessa ariiculação, supondo que ela tcnha sialo bem fcita. é que poden sâir dcpois as pergunlas âpropriadas, âs hipóteses e

vivcndo mais ou menos conto scviviâ nos sécrlos anteriorcs, e há Iugares onde até hojc o sujeito está nunlâ espécie de economia medieval, numa

os mótodos de investigaçáo, ctc.

muilas

Nós podcmos dizer até que a idéia dessâ cronologia de atar tdâdc Antiga, Média e Modema é uma síntese irnâginativa. É como você

com que certos grupos humanos tentâm se autodefinir parâ sentir que esláo orientâdos. É um eslbrço de auto_identificação, assim como nós

hânsformar a hisiória do pcnsamento num drama com primeiro a1o, segundo ato. terceiro ato, e que dcve chegar a uma resolução depois.

nâ nossa vida. Lembro Ortega y Gâsset, quc diziâ: 'Várias vezes na vida tive a impressao qüe tinhâ üe tornado âdulto".

II É

Quer dizef tudo o que a genie tenta imaginar, compreendc! tem que ddr uma lormâ qualquer EstafoÍnâ pode ser totâlmenie imaginária no começo, contanto que â lonna imagináriâ náo sejatâo fcchâdaque náo

pcrmiia uDra análise intema dâquilo.

Se

pennitc, então ela vale cono

começo da investigaçáo.

tl

Mâs acontece quc neste mesmoperíodo quenós estamos estudando,

't:

quc começa mais ou menos em Maquiavel, o número de auto, inierprctaçóes do que está acontecendo é muilo grande. Êsse negócio 10

Quando vocé nota que há uma grande mudânça na csfera intelectual, como por exeinplo com o advcnto da teoria mecânicista

cultura medieval.

de'.â'

É possível, essâs épocas

imâgcns

ÍAlutto: Mas nàa

púptia

ti

coexistem, na verdade Então.

de 'e5prrilus de epoca" 'áo ilpena' prui
ha que achal que o mundo giru em

tor

o da

pessoa, não é?)

Bom, dc

ce o modo

ele gira mcsmo, quer dize! você vai tcr que

começar a reptescntâ! a delinear âs coisas a pârtir dâ sua própria silua(áo. O probl(mr e vocc poder ânrculàr itso com as vi!e' qur outras pessoas, outras épocâs e outras culturas também têrn. Mas náo convém esquecer que toda essa especülaçáo ainda é nova na mente

ll

humanâ. Qüando, num

ce o

período, unl certo grupo dc inteiectuais

ao qual todos pertenciam. numâlíngua internacional que eradê uso

acrcdita que rompeu com o univemo mcdievâl e cstá inauguranalo uma coisa nova, isso podcriâ muito bem ter sido êpenas um Ienômeno Srupal quc se e§gotasse âti mesmo. que Iosse apenâs uma pâlologiâ

coml{m, etc. De rcPerte, comcçam a apareccr ouiros "filósolbs". llu náo sei sepertcncemao mcsmoSênero, mas sáo homens de ciência e

de um cedo grupo de pcssoas c fosse esquccido. Como a coisa depois se prcpaga no século seguinte náo inediatamente, mas nlr sóculo

scguinte

-, entáo,

dc certo modo, as gcrâções subseqüentcs endos§am

essa âüto imagcm que esse grupo teve.

Mas nós ainda náo temos certeza se as coisas lbran reâimcnte assim. O que é seguro, ná vcrdade, é que tudo o que âconiece nesse período vinha sendo preparâdo desde muito, nuito antes. por exen1plo. sevocê pegaro llorescimento datecnologiâ que seobservâ nessa época (mesmo porque prâticamentc alináo cxiste nenhuma iecnologiâ nova,

formàdoÍes dc opiniáo, por âssim dizer, que aparecem dcntro da classc aristocrática oü sob â proteçáo da clâsse ari§tocrática, sem pcrtencer à profi ssáo universitáriê. Isso ó característico.

Essa difercnça, que é sociológica, scda uma estupidez dizer que ela é a bâse que câusa as outras mudânças, pois de iàlo náo é assim. Mas como é uma dilêrença efctiva e nílida, clapode nos scrvir de ponto

dc orieÍlaçãoi você pode marcâr uma épocâ, quet dizcr. â épocâ do inielectual acadêmico

ca

época do iniclectual palaciano ou aristocrático.

Também não é dc espàniat quc sejâ assim, porque no mcsmo peíodo

alos

cstavam se constituindo os Estâdos Nâcionais modernos. Portanto. ó natuÍal quc a arisiocrâcia de cada local, no seu esforço de anrmar uma

beneditinos, que cran1 loucos por ess€ negócio de mecânicê e relógios, etc.), é dilicil você dizer quc há alguma inovaçáo recnológica que scja

identidade pÍópria. tâmbém subsidiasse intclcctuâis qúe lhe lãlássem numa linguagcm que lhe fosse própÍia. No intercsse dc fomentar as

reâlmenie uma inovâçáo. O que exisie ó mais umâ utilizâção cle certas possibilidâdes tecnológicas que ânies âs pessoas investigavam por cüriosidadc e que, a partir daí, passam a ter uma aplicaçâo econômica

línguas nacionais, isso ó bem comprccnsÍvel nesse peíodo, tanto que ondc a fonnaçáo da naçáo loi mais tardiâ, como na Alemanha, pot

tudo aquilo iá vinha sendo prcparâdo, sobretudo nos mostciros

ou militar maior

Do ponto de vista intelecruat, é Ínuito difícil vocô dizer quc houve realmentc umâ rupiurâ com a Idadc Média, pois o quc hoüve toi unra mudança dc assunto. E, sobrctudo, sc você quiscr carâctcrizar mesmo

cxcmplo, o uso da línguâ nacional para fins de filosofia foi também ràrdio I cibniz e\L,evia cm I rlim e tran.ir, nxo em alemao. P verdad( que Jâcob Bóehme escrevia em alemáo, mas elo era um lipo popular' náo cra umr coi\a n(nr oulra. náu

(rJ nem urn uni\er5rrario nern um

o período, o que âconteceu independcntemente do que as pessoâs

inteleciual palaciàno, era um tipo absolutamente extravagânie Jacob Bóehme cra um sapatciro que. de repente, recebe umâ revelaçáo e

achávam que estava aconiccendo, dâs auto,interpretaçÕes, se quiser marcar uma diferença objetiva, identificável. você rem a lbrmaçáo

comcça â escrcvcr livros de tcologia mística nunl âlenráo por um lado muilo rico mas por ouiro lado precário, porque falha a grâmátjca, ctc.

da nova intclectuâtidâde náo universitária, quc davâ a difeÍença

Entáo, tirando o caso de Jâcob Róehme, você podc dizer que o alcmáo se torna uma lingua filosóllca muito tardiamentc.

sociológica obictivâ. A1é uDr

certo momenlo,

â maior pârtc dos fi lósofos erâm profissionâis que discutiam com outros profissionâis dcntro do âmbito universitário

lAluna No setul.o XtX?l No fim do sécuioXVIIl. Houveduas figuÍâs importantes na fiiosofia

O própr;o eslorço de Descartcs de buscâr desespeÍadamcntc um novo tundamcnto âbsoluto e apodíctico da vcrdade, um lundamento

êlemá dessc período: um é Leibniz. pelas inovações, pelas descobertas,

inabalávcl que náo pudesse ser posto cm dúvida, refleie a incerteza

outro é Chdstian WollT, que erâ o professor da naçáo alemá e escrcvia em latim. Wolff foi â grande influência formâdora de toda a geraçâo de filósolbs que depois lizeram o idealismo e o romantismo. Fichte,

gcral, que nâo era certamente só a incerteza dele. Quer dizer, a mcsma idéia de um fundanento apodíctico, se vocô dissesse isso para uÍr

Schelling, Hegel, todos eles estudaram nos manuais de ChristianWolff, e esses manuais eram em latim.

as ciências do conhecimento humano é pelo iundamento rclativoi náo

e

[Alrno:

O

que pemite

outros pensadorcs, que hoie

atimu que

VoLtaie. que

efi día a Eefite poderia

esses

úê-Ios como

insíEnilicantes?... Você talou que

I

Iilósofo medievâI, ele ia era achar isso uma pretensáo excessiva. Medir existe umâ coisa táo inabêlável quanto você está buscando.

Santo Tomás de Aquino já dizia que náo é próprio do sábio busc mais conhecimento do que o obielo admite. Por outro lado. se você comprccndc que desde a Antiguidâdc, desde AristóteLes,

Leib iz(.._).) Náo é que hoje em dia poderíamos dizer isso; qualqunr

todos cstavâm conscientes de que o mundo da naiureza é o mundo

sujeito treinado, com treino filosófico, já na época perccberia isso imediatamente. Quer dizer que a desproporção entre, por um lado,

mudando, e quc Aristóteles tinha advertido contra o uso do método matcmático nas ciências lísicas justamenie porque nada na nalurcza

as pretensóes daquela geração e, por olrtro, suas descobertas e a consistência da sua filosofia eÍa táo grande que isso dá na vistâ_

ó exato, basta isto para você ver como os filósofos medicvais eran muito mais modcstos quanto às pretersóes dc um conhecimento

Mas dánâvista dâ gente hoje como daria navista dc algun observador

apodíctico. Bom, ele âdnitiria que existcm conhecimentos que sáo muito imporlantes, masqucnáo sáopassíveis de uma prova apodícticâ,

qualificado na época, como o próprio Leibniz, por exemplo. Na verdade, com a dissoluÇão da inielectuâlidade acadômica em algunslugarcs (naEspânhaeem podugalnáoaconteceu isso; oprocesso

das transibnnaçóes, ó o mundo onde as coisâs esláo continuamente

âpenas uma prova relativà; e tem ouiros quc 5áo passíveis de prova

apodíctica precisâmente porque náo têm ncnhuma importância.

l'oi um pouco diferenle), o qüe âcontece é que você perdc os critérios de investigaçáo e dc provâ. Você não sâbe nuis qual é o iundamento.

Por exemplo: as verdadcs matemáticas. Você pode dar unÉ prova âpodícticade muitasdclas. Só que, o queéamatemática? A matemática,

Unl sujeito que, dentro da univcrsidade medievâi, quisesse apresentar uma idéiâ nova, ele sàbia como é que tinha quc apresentar aquilo, o

segundo a visáo antigâ e nedieval. é o estudo de um tipo especial de scrcs que tênr â caracierística de tcr uma consisiênciâ permanentc,

quc

piecisamente porquc eles não existem nem no tcnlpo nem no espaço.

é

que cle tinhâ que dizer paraqueas pessoâs acreditâssem naquele

negócio. para que aquilo se tornâsse âceito. Havia um certo conjunto de critérios dâ verdade que era de

nâo tem mais isto.

1.1

do

ínio público. De repente, você

Eo

pior

ó

quc os sujeitos iinham razão dc pcnsâr assim. Então, âlivocê

obtinha umâ certeza apodíctica, mâs sc relêria à seres que só existiam sob certo aspecto; nâo se podia dizer que eram rcalmcnte existenies.

l5

cxisiern só porquc as linitaçóes naturais que dâo o próprio pcrfil, a

sáo uúra pura invenção da mente humâna. E você sabe isso por quê?

própria definiçáo do conhecimerto huÍrano, passam a ser encarâdos

Porque elcs não sc comporiam do jeito quevocê que! entáo vocô faz a a figurâ gcométrica e ela lem as propriedades quc cla tem, e náo as que

como liniles no sentido negativo do termo. Por exemplo, você observa quc um tigre é um bicho linilâdo porque ele só tem listras, náo tcm bolinhas con1o a onça. Náo existe bicho quc tenha lisirâs e

você quer Elcs tôm uma consistência objetivâ, mâs cssa consistência

bolinhas;é uma terrível

ó puramente lbrmal. Ele está lãlando de rclaçoes possíveis. Aí você

qLlando é listrado nâo é câvalo, é zebrâ. É uma coisa telrível, náo é?

obtén uma cêteza apodiciica absolutâmentc inabalável; no resto. !u!L lem quc sc conrcnlar co.r conhec,nr
Não cxiste taúarugâ voadorâ. Entáo. o famoso problcma do limitc do

oonhecimentohumano

cncontrar aqui uma espécie de plrnto arquimédico"

quer dizer, um

dc quc cxistârn liniLes do conhecinrento humano e qucr transcendê-

conhecimcnto que seja por si nesmo táo certo e tào inabalávcl quc nada possa destruí-lo. O simples fato de ele levantfi esta peryunta já

Ios; ou, entáo, âo contrário, você toma o lado da ignoráncia e celebra

cra üma novidade. Essapergüntê, se colocada num âmbiente medieval,

Nós náo podemos làzer nada, somos todos uns ignorantcs...".

contae ela dá o resultadoque elâ quet

r

problc âs filosóficos que suryenr

No século XX se dirá quc os cntes Ínaiemáticos náo sáo nem reâis nem irÍeais, são ideais ou formais. Elcs tôm uma consistência. náo

e

náo aquevocê qtler Vocétraça

-

Sendo assim, muitos

I

é

im itaÇáo.

depois

Etambórnnâo existecavâlo listrado;

que as pessoas dcscobrem esses limites

e

ficam

chocâdas. Dependcndo da simpâiiâ que você tenhâ, você íica chocâdo

un1a espécie de derrota do conhccimento humano.

Diz: "Está vendo?

Tudo isso começa a partir do momento cm quc René Descartes

pareccriâ cxccssiva ou ambiciosa demais.

Em segundo lugar: o fato dc quc ele vai encontrar ou acreditâ encortraÍ esie iundamento âpodíctico náo em âlgllma entidade objctiva. mas nele mesmo. Você pode dizer quc, dc ccrto modo, o eu pensante, que é o fundamcnto do mundo de Descârtes, padece do mesmo deleito dâs entidadcs matcmáiicas. O eu pensante tem

quer enconirar um fundamento apodíctico. Orâ, o§ ântigos também conhcciam âlguns fundamentos apodícticos de ordem purâmcntc

absoluta certeza de si no momento em que clc cstá pensando, só que

mcsma necessâriamente, iss.r nao queÍ dizer que vocô saiba o quc cia é.

este momento tcm unra duraçáo infinitesimâi e este eu pensante só

Vocé pegâ unl dragáo verde com bolinhas cor-de-rosa, por exemplo.

existe quândo vocé pensa nclc.

Sem sombra de dúvidas, clc ó um dragáo verde com bolinhas cor de

Então, no fundo, essa certezâ de Descârtcs ó táo pobre qüanto âs ceÍezas matcmáticas. Descârtes, no fundo, nào tinhâ saído de deniro dos limites do conhecimcnto ial cono os admitiam os lilósolos nredievais. S(i que eles nã.r lãlavâm propriamenie de "linrites de

rosa, mas náo rne pergunle o que é um dragão verdc com bolinhas

conhecimento". Isso parâ eles nâo era erâ â própria nâturezâ do conhccimcnto.

linite do conhecinento,

mas

mctafisicê. Conheciam pelo principio de identidadc. Mas o princípio de identidâde. no lim dês contas, sob certos âspcctos é tào pobre quanio qualquer verdâdc matcmáticâ. Porqu€ vocé saber que uma coisa é ela

O. princrpio\ f'r'mcirns dn con\(, im(nrú. qu( erdrn u. principio. .lâontoiogia, náocramentáo um conhecimento no sentido substantivo dotermo. Erâ um conhecimento apenas daarnradura das possibilidades e impossibilidades e dentro do qual se procedia a buscâ do verdadeiro

t7

conhecimento humano substântivo que, sendo substantivo, poroütro

e

uma espécic dc

rcvolta contra a incerteza do conhccimcnto humano. À pârtir de René

princípios e, portanto, pelo ideal do conhecimento apodíctico, sabendo

llescades elâ já cstava muito exâcerbada. À ambiqao do conhecimento

que iria se âproÍmâr dele sem nunca âlcançálo.

orcscc tânto que naturâlmente ela vai chegar em decepÇóes. Logo cm

Aristótclcs diz que sempre que você está invcstigando unr domínio rovo do conhecimcnto o problema é que você não tcm as premissas. Só tem as premissas universais tipo princÍpio dâ

seguida. então, começa-sc corn a busca do conhecimento apodictico

identidade, mas as premissas específicas daquelc domínio, digâmos,

qlrando já

as leis daquele domínio, você náo as tem, vai ter que começar por

inalcaneável, e até as noções básicâs da lógica são todas incertas.

lâdo era relativo

I(

Existc essa estrânheza. âs pessoas têm estrânhezâ

incerto, emborâ se orientassc pelo jdeal dos primeiros

e

rcssa época do racionalismo filosófico, com DescaÍtes e Espinosai pâssa um séculoemeioe sechegano totalceticismo. com David Hurne,

íáo podemos conhecer nada, pois tudo é

absolutamente

investigálas. E como é que vâi investigá-las? Vai investigar pelo

Mas, noten bem, iodo esse drama. §e apresentado para um filósofo

método dialéiico de conlrontação de hipóteses. E o méiodo dialético, no fim dâs contas, vâi lhe dar apcnas um conhecimento provável ou

nedieval, ele resolveria em cinco minutos. Eie diria: "Olhâ, isso âqui tcm uma limitaçào inlrinseca. Mas essa limjtaçáo náo é uma limitaaáo

razoável. Entáo, o conjunto do conhecimcnto humano, na verdade.

no sentido negalivo, no senlido de uma privaçáo. é no scntido de que

está limitado ao dialético.

es1â

é a naturcza humana". O ser hunano tem um conhecimento

Agora, pensa bem, por que uma criatuÉ cuja lbrma de existência

hurnano. Entâo, o conhecimento divino, porquevocê deveriatcr mais?

é elâ mesmâ temporâI, relativa, contingcntc, etc. precisada ter um conhecimenlo 3b\olulu r apudr( ri(u.' lsso e quasc umd incongruencia.

Você pode pârticipar indireiamente do conhccimcnio divino através do

conhecimento dos primciros principios e da

Você pode saber que um conhecimento àpodíctico é hipoteticamcntc

fornras dc participaçáo sáo deficientes.

1é, e

olhe lá, e essâs duas

possível ou que Deus o tcm. Mas, §e você náo tem. isso náo é um

molivo para ficâr assustado... Você náo tcm, mas eu também não tenho, ele também náo tem, nuncâ ninguém teve... Nós estamos vivendo há milênios assim, e isso não épara vocêlicarmuilo assustado Isso faz pafte da natureza das coisas. Você ier que se contentar com um conhecimento relativo é uma simples admissáo do senso de rcalidade, portanto, é uma das bases do conhecimento. Estâ linitaçáo

ÍAluno:

Esse pessoaL das

uniaetsíúules, eles (...) da ldade MAJia

que torum pe lendo a impott,âncict soci.tl?)

Em âlguns países sim. Na Françâ e Inglatcrra clcs lbram. E â intelectualidade palacianâ adquirc umâ l'oraa tremendâ, principalmenle

do conhecimento é a naturcza do conhecimenio humano, entâo, nao é

porquc a aristocracia precisavà desses camarâdas. a não apenas por um motivo de preslígio, rráo erâ isso. Precisâvâ pam quc clcs a orie.tassem. Quer dizer, os intelectuais dâ aristocrâcia erâm uma

pâra você ficâr assustâdo com elâ, como também um cavalo náo deve

espécic dc espclho retrovisor dâ própria aristocrâcia. Assim como em

ficarassustado qüandoele percebequenáo pode voâr, ou a galinha que

outras épocâs â intelectualidâde acadêmica tinha seruido de refcrôncia

olha pârâ trás e pensa: "Poxa, eu só boto ovo, náo dou leite. Todo dia

para as autoridades, agora quc a nova organizaçáo política se dava

eu Íaço uma lorça aqui e só sai ovo".

em entidadcs nacionais distintâs, suas respectivas classes dominantes

1E

t9

tâmbém precisavâm ter um espelho rctrcvisor alguém que lhes dissesse mais ou menos o que pârecia que estava âcontecendo.

lAlnno: Seni que ,em daí unla cetta prcpotência, uüa absoLuta prcpotêficia dos inteLecluais fiadefios de hoie Ílc peÍceber que a (...)

cêntica do que eles estâo dizefido deüe (.-.)

deLes

Íicarcfi ?ollados

Isso aí é certo. Essa prepotênciâ cârâcterística dos intelectuais

O empirismo aparece exalamentc corn ]ohn Locke, que é, nessc oâso, umâ espécie de antípoda de Espinosa, o avcsso dcle. Espinosa diz que o conhecimcnto por experiéncia nada lhc ensinâ, porque o que quer que vocô obtenhâ da experiência é por Inera irduçáo, que lhc lcva somente a resultados possiveis, estatísticos, por assin dizer, náo lhc dáo cerieza de nada; c que. porianto. o esscncial é você conhecer u\ plnreiro. frinirpius c obrír luLio nnÍ lin\a de purJ dedu(ao I nnr isso que se chama "racionalismo". porque toda a operaçáo ó fcita pelà razâo, sem o recurso da cxperiêrcia.

modcrnos data exatamente daÍ.

bÍutal cxagero de Espinosa provocará um exagero pelo lâdo cnrpirista, quando John Locl.e diz "Nós náo conhecemos nada por pura razáo; tLrdo o quc sabemos. nesrro os princÍpios dâ lógica, vcDr pela erpe.iência sensível". Quer dizef nós nascemos corno uma lblha em branco, na qual a expcriôncia vai gravando âs formas dos scrcs percebidos até quc. por semelhanças e difcrcnças. acâbâm se j,Àrupàndu em .5pc. ic\, dirr nu. perceDerno. as cal' gurir.. 1! cone(oc5 Esse

IF

ll'lllno: Mas parcce que é üma sequnda naturcza

deLes, e

eles ào

se dáo conta dela...l

Vejâ, â partir da hora cm quc vocô tem um empreendimenlo como

i:.

o de Espinosa... Espinosa é un1 sujeito quc âcrcdita que descobrju os

primeiros princÍpios, dos quais ele pode deduzir todo o conhecimenlo

do universo sem neccssidadc do apelo à experiência

-

portanto,

escapando de toda incefteza, de toda incxatidáo. Mais prctensào do

lógicas, etc.

que isso não é possível. A Élicd de F,spinosa é um sistema inteirc,

É claro que essas düas hipótcses sáo âbsurdas. sáo uma espécie

do univcrso obtido por pum dcduçáo. E o que é, no finr das contas,

dc t€ntâtiva de se pcgar uma hipótese limitada c lcvá-la alé as últimas

o sistemâ de Ne\À.ton? É a mesmíssima coisa. "Eu dcscobri a chavc

conseqüências, fonnândo então dois cstilos oposios. E, de fato, em qualquer manuâl de Hisrória da Filosofia se verá que essc pcríodo do

do uüivefso. o reslo se obtém àpenâs por método dedutivo, por cálcuio." ÍAlnno: Kanl Ídlfibé

1?l

xVI XVII é marcâdo pelo conlronto de racionâiismos Daí até metâde do século Xvlll é um período marcâdo pelo confronto de sóculo

racionâlistas c empirislâs. Como ncnhum consegue resolvcr, aparece

Náo, Kant é o contrário. cle vaijogar um balde de água IÍiâ nisso âí,

üm sujeito châmado Humc, quc esculhaüba com tudo c diz que náo é

só que vai iogâr água demâis... Essâs preiensÕes do racionalismo clássico, naturalmente elas vâo

possível conheccr praticâmente nada. Estudâremos Hume mais adiante,

encontÍar duas barreiras, e isso é o que narcâ sobretudo esse peíodo.

A p meirâ barreira

é a do cmpirismo; a segunda, do ccticismo, quc

ven iogo em seguida. 2A

porque é um filósofo importante. Scm cle você náo vai entendcr Kant; sem I(ant você náo vai eniendcr nadâ do que está acontccendo hoje.

ceticismo dc Hume já é uma conseqüénciâ natuml da irlpossibilidade de você resolver os cnigmas cdados pelo confronio de

O

racionalismo e empiismo. Mas o simples fâio de que essas questóes

cstáo em toda a discussão, você tem pela primeira vez um corpo de

apareçam reflete uma inâbilidade filosófica monstruosa. Veia, um filósol'o medicval, pelo menos a partir do século XlI, era um suicito

hipóteses que aí pode ser investigâdo a partir do que você mesmo sabe

treinado em Aristótelcs, c Aristóteles ensina que, quando você pegâ

Isso

q

uer dizer que a possjbilidade de

un sujeitodesses desenvolver

umaqucstáo, antes de tudovocê lê o que os seus antepassados disscram a respeito. Eniáo vocô já tem que levantar as várias hipóteses e tentar

rm edifrcio lao unrlareral quanlu o e.pinosismo ou o empirismo a Íemotissima, porque a primeirâ coisa que ele lembraria em quc o

olhar a coisâ pelo maior númcro de lados possível.

sujeito queria fazer um negócio empirista, e logo apareceriam pârâ dizer: "Por que náo íazer prccisamente o contrfuio?".

É a partir

dessa aliscussão

do que já existe historicamcntc

que vocé vai articular a colocaçáo do prcblema. Áté àí você nâo está procumndo soluçâo, está simplcsmente tentando articular o problcma de uma maneira râzoável. E o que é quc você faz? Pega âs várias opinióes. 1ãz uma listâ e tenta montar uma discussão com esras opinio(r qu( ià lurdm cmirida\. Aconlece que nem rempr( issú c possr\c,. f'orque nem \empre uma upiniau rc.pondc a ourra. {5 vezes, ela simplesmentc diz outra coisa. Nem sempre as opiniôes enfocam o objeto pelo mesmo lado. Então, à medidaquevai ientândo ârticdar as opiniõcs já existentes,

você vê que a discussáo que historicanrente âconieceu tem várias

lacunar Preenche (ssJ\ larunàs (om opinroes imagrndria. que \ocê mesmo invcnta e daí íoÍma um sistema de dúvidas eln torno do

Desenvolver a Êlosofia no sentido linear de uma argumentaçáo em làvor de certas coisas náo ocorreria. entáo, ao filósofo medieval. Se

você pegara S,rmr leológica de SantoTomás deAquino, ou qualquer

outra suma da épocâ a S md de Alexandre Hales,

aS

rna cotxtra os

rios, do próprio Santo Tomás -, vcrá qüe ela é iodinha arquitetada cm torno da pluralidade de respostas possíveis a uma qüestáo. Quer Gen

dizer, se você nâo sabe nem as perguntas, se não é capaz de dâI um lratamento dc conjunto às perguntas que foram levantadas, entáo pouco importa o que tenha a dizer â respcito.

Se na Idade Médiâ

o sujeito

levantasse essa hipótese de quc o

conhecimento porexpcriênciâ náo éválido, só éválido o conhecimento

probtema. Na hora cm que formou esse sistema de dúvidas, você podc

obtido por puro raciocínio, enião, providência número 1: estudar todo mundo que a-rgumentou num sentido mais ou menos parecido e todo

começar a reduzir aquilo, dizendo quc umas dúvidas sáo dependentes

mündo que argumentou num sentido mâis ou menos contrário. Feitâ

de outras, podem ser reduzidas a outras, ctc., c assim chega ao

a lisla dos argumentos a lãvor e dos contra, elc deve ver se náo pode

equacionamcnto do problema.

inventar mais alguns, â làvor e contra, Feito tudo isso, deve redüzir o conjunto pela busca das premissas comuns; se um diz que siln e

Se até ai você sobreviveu a esta opcraçáo, o que é que pode lãzer

enl scguida? Pode começar a investigar se essas várias colocaçóes âpàrentemente antagônicas ou beterogêneas náo estão bascadas cm princípios comuns náo declarados ou mâl conscientizados; se elas náo têm premissas comüns que permitiriam rcsolvcr pelo menos parte d§sar (unhonracôc5. Buscando enlr( c\sas premtsas comuns que 22

outro diz qüe náo, podem estar os dois apelando à mesma premissa como fundamento do seu argümento; qucr dizet pârtindo de uma mesma premissa, chegaram a conclusóes opostâs, entáo aí tevc algum

problema. Depois de ter feito tudo isso, ai é que ele ia estudar a materialidade da questáo. 23

EntÃo. erâ evidentementc uma filosofia muito mais cuidadosa.

muito mais cicntífica, na verdadc. A paÍtir do moúenlo enl que você náo ienl â comunidadc organizâda pâra isto. oniáo você pode dizer qualqller coisâ, e essâs coisês vâo scr discutidas dcsdc pontos de vistâ

r.

püdcr, amre ulnâ discussáo entrc cles. É quasc impossível, náo é'? E com o tempo isto evolui parâ â lormâçáo. Já náo são mâis âpenâs individüatidades incomunicáveis. mas blocos incomunicáveis E às veTes sáo incomunicáveis náo somcntc nâquilo que estáo dizcndo,

pe\\uJ\

porén na própria visão quc clcs 1êm do câmpo filosófico inteiro. O que Lrm sujeito está chêÍrando de filosofia, no que ele cstá interessado,

lsio significâ que â discussáo Iilosí)Êca fica rcalmcntc câótica a partir dcssc pcríodo. e por isso se iornn difícil escrever sua histó a.

isso náo tem nada â vcr com o que o outro está charnando de filosofia c quc, por süa vcz, lhe inlercssa. Tenho â impressáo de quc tudo

História da Filosofia mcdicvalófácildc scescrcver, pois há uma certa

começa com essa erigôncia do conhccimenio apodíctico de achar o

arhrrrârio\ que \ao Jque e\ que oconrÍ

,4.

unidàde no desenvolvirnento das qucstócs, no dcscnvolvimento dâs várias correnles. Quando as pessoas váo tonândo direções diltrentcs, vocêentendcporquc nroiivo as tomaram, eniende qual loi â diliculdade, quêl lbi o pontoexato dc divcrgência. Dâí para

ad

iânte você já náo sabe

mâis. pois exisle un1à pulülaçáo caótica de idéiâs c sugcstõcs. Claro quc cxistc muita discüssáo. e discussáo sjnceral Quando se pega, por exemplo, as MêdirdÇôes metatísícas dc Dcscartes., depois aparcceni várias pessoas que olereccm obieções àquilo e c1c tcnta rcspondcr o

inelhoÍ que pode, mas se vê clêÉDrente que esta discussâo nào era ordenadâ, nâo cra rcalmcntc uma discussáo cieniílica, na qual se dá J preuLUfa(iu dr l(vdnldr lud,,,,F àrp., ,Á pn\.r\.i' f rnar. um" polênrica no sentido modern(J. Náo

ó

prcciso dizerque

a

parlirdaíesse carátercaótico dadiscussáo

Íilosóficavai ficando cadâvcz mais caótico, mais caótico, até que chega um ponlo em que náo dá pâra se comparar o quc unl sujcito dissc aqui com o que o orliro disse lá, porquc simplcsmcntc nâo tôm nada a

ve! estáo lãlando de mundos difcrcntcs. as rcferências sao tolalnente diversas, a experiênciâ do mundo quc cada um tcm é irredutível à oulra. e4lao n.ro .e ríbe rnJ i. u que. úmpdraí Sc você pegar dois camaradas mais ou lnenos conternporâneos, (umu liàrl \4à \, 1(icrl"gaard born lacã uma \ompard(ao 5e voce 24

iÍo

ponto arquin1édico.

l\lúna (. .. ) por exeÍnplo, tla Academia q ue se diüide, não se dilide... Mas se ocê criat üárias núcleos lambém nao lorna dilícíI, potque oocê não ten fiais cettezo? (--. ) O il1diaídu o, paru úlocafido, tle colocdt opiniôes cofibfuias, é

fuzer isso que aaú estú nuitn üais diÍícil, poryue eLe

aümentou a quanlídade ile inÍatmação. Você lem, eníão, qüe Íazet um trcbalho que ufi inàiaíd o so?inho às üezes fido íem condiçoes...) Você não sabc mâis o que ó o contrário a quê... Náo dá mâis parâ tr/er, r"n da mdi\ p:r ra afl i, uhr or discu.'ür'. l: por is.n quc rrn apena.

dois séculos isto sc converie, vâmos dizer, na polêmicâ iomalística do século XVIII, quando aparcce um flotescimcnto de milhar€s de novàs individualidades pcnsantes. cada uma dando os palpites lnais

\cgurdu l.r( parccc qu( ( il mancirà mzoável de colocar as coisas. Pior é que esta maneira que parece razoável â cada um representa para câdâ um deles a encarnação dâ râzáo no sentido univcrsâI. [,nlão, pelo lãto de o suicito a]gumentar coln uma certa lógicâ, ele acredita que se colocou no plano da razáo, pois quem veio colocâdo antcs cstava colocâdo no plano da irrazáo de.en.

nrllàd.'

e drguminlr

'Jo

Quanto mâis inconsistcnte â argumentaçáo, mais o suieito acredita que ele ó a razáo univcrsâ].

[Nuno: É aí que começam as ideoLogias ou iá eru antes?l Bon, partce que sim, parece que vocô pode dalêr um pensamento do tipo ideológico no séc1 o XVIIL Mas não poalcmos esquecer que o iena "ideologia" também .Á uma autodefiniçâo que uma cerra coüente dá dâquilo que ela está fazendo e do que os outros esiáo iãzendo. O tema "ideologia" âparece com Napoleão Bonaparte. Napoleáo tinha um certo grupo de filósol'os liberais que lhe fâzcm oposiçáo, a quem ele denomina pejorativamente Les tdeotogues, q)er dizer, os suteitos que têm a ciênciâ das idéias. Depois Marx também usa a pâlavra! primeiro num sentido pejorativo e depois num sentido positivo.

Eu náo sci se o conceito de ideologia reâlmente funciona. Existem muiias maneiras de você definir essa tal ,,ideologia,,, náo é? Comcçacomo um termo pejorativo e depois, ao iongo do tempo, adquire prctensões científicas, com Karl Marx; depois, ibra de um contexto marxistâ, vem o pessoal da Sociologia do Conhecimento _ que procura descobriras bases sociais do conhecimento, da ciência, da culturâ, etc. que apela ,

também

ao mesmo conceito. Mâs nós também nâo sabemos se a Sociologiâ do

Conhecimento é cla própria uma ideologia. Enfim, pensando bem, esse conceito não ajuda em nada. ncm a favor nem contra. Eu preÊro usaravelha distinçáo aristotéiica enirc as autodeliniçóes dos agentes de ümâ açáo _o sujeito está estualânalo um fenómeno hurnano, as pessoas que estáo agindo iãlam, a linguagem é

nrais ou menosparaelese orientâr dentro da imagem darcalidadequeé

propícia àquela açáo que ele querfâzer. O discurso do cientista náo tcm csse objetivo: ele visa descrever o que cstá elêtivamente acontccendo,

c â úoica maneira de fazer isso é decompondo analiticamente vários discursos dos agentes

e

os

arliculando-os de umâ maneira que nào

corresponde exatamente à de nenhum deles, mas ao coniunto do que

Âristóteles foi quem inventou isso, que funciona mais do que ideologia. Você não precisa deprcciar os discürsos dos agertes já que sáo merâmenle ideológicos, porque. pelo simplcs lãto de ser o discurso de um âgente, náo é um discurso científico, evidentementc. no sentido de que não é um discurso anâlítico. O sujeito náo está ientando analisar, decompôla, ele está tentando agir sobre a situaçáo.

ÍAlúno O pÍoblema é que Maw e todos os mal,íistos ou filo marúsía§ ,ão dizer que tudo é íàeoLogia, tudo é doxa...l A paftiÍ dai tudo é iLoÍa. tttdo é dox.l... Daí você .esponde o seguinte: "Vá lamber sabáol Você nem sabe o que é lógicâ, o que é dialética, está fâzendo

é

umâ cristica de muito baixâ qualidade. Você é

um charlatáo, náo me amola". E âssim que tem que responder.

l{funo Mas ão ten nenhuma resposta

possiaeL pata

phntat a

uma maneirade ação de câracterísticaessencialmentc humana; ao falar, elas se autodefinem, e vocô tem. então, as váúas âutodefiniçóes

semente íecütxdadoru?l Mârx é Iilosofra para retardados mentais. Só uma pessoâ burra. só

várias individualidades, dos vários grupos que, paÍa o cienrista, para o observador científico, sáo a matériâ-prima do que você vai

uma pessoa sem inteligência pode cntrar nâquilo.

das

estudar.

Você vai entáo passdrde um discurso sintético e de autodefiniçáo para

um discu$o analisado, decomposto.

O discurso dos agentes, por um lâdo ele serve para o indivíduo se autodefini( para ele exercer uma idluência sobre os outros. e scrvê 26

ÍAlútto: Sim, m,ts o suieito já lazer pot ele?l Marx nâo é sério,

Leibniz.

e

entnu,

ào tem

nda

qúe se possa

eu estou lãlando decoisa séria, estou falando de

de Àristóteles. Marx náo é sério. Z7

Eu âcabei de ler hoje quetem um sujeito nos Estâdos Unidos, acho quc é um tcheco que mora lá, que publicou um cstudo sobie a tese

parâ o slrjeito pâssar dâeconomiâ extrativista parâ aagricultura, aquilo

de doutommenlo de l(a.rl Marr, que eÍa sobre Epicurc e Demócrito,

poder ser realizado, cono tudo qüe é humano, meu Deus do céul Vcia cssc negócio do aviáo. Chega uma época em conseguiram fazer. Mas

e ali já se vê que Karl Marx era novinho, novinho, e já era vigarista.

Quando eie náo entendc um negócio. dá uma maquiada em cima. enrola. Daí você pensa: "Como ó que eu lui prestar atenÇáo neste palhaço?". Mârx náo é sério mesmo, nada do nârxismo é sório, nada,

loi ümâ obra de génio,

e

certÍLmentc apâreceu como idéiamuito ântes de

desde quando estavam pensando nessâ porcaria? Como é que você vai

explicâr isso pela base econômica? É uma cstupidez táo gânde que

é

mclhor dizer: "Esquece".

ê eu não estou exagcrando. Quando chegarmos lá, vamos ver isso conr

sujcito que falou issovocê pode dizer: "Pode parar". Porque, pdmeiro, desenhar csse conjunto já é impossível, qualquer que scjâ a base que você escolha A pretensáo já é absurda, c o instrumento que vocô está

lAluno: Mas depoís que é implementado, a sociedade nào se oÍEaniza em terfias dessa base ecofiômíca? Por etemplo, esse ercmplo (1 e o senhot está dando...l A base econômica náo consegue ticar pâÍâda um minuto- porque tcm gente quc pensa outra coisâ. O próprio progÍesso tecnológico está aqui organizando uma sociedade âssim, assim, assim.. Está aqui a

usando é pequeno demais parâ isso É muito fácil perceber que o que

basc econômicai você está montando isto aqui e tem um suieito qüe já

querquc tenha sido ieito. em q ualquer atividâde econômica do mundo,

pcnsou outra coisa qüe vai estuporar com tudo aquilo. Quer dizer, â

loi pensâdo muito antes de ser l'eito. Por exemplo. qualquer inovaçáo

inteligência humana se antecipa a isso.

nlâis dctalhe.

A

sirnplcs hipótese de que scja possivel se traçar â unidade do desenvolvimento da hisiódahumana a partir da suabâse econômica, ao

tecnológicà, você quer montar uma firma. Primeiro â lirmâ aparece

lêitâ e dcpois você pensâ? É isso que acontece? Isso náo é possível. O sujeito não entende que cconomia é simplesmente uma das aiividâdes do cspíriio hunano, quc elâ não pode ser a bâsc do

lAlLlno: Entào o sefihot acaba de dat üna eüidência.-.1 A basc económica decide a vida de um monte de imbecis; dâs pessoas inteligentes. náo. Pode ser que a vida menial dos cretinos

descnvolvimenlo do espírito humano, que eu preciso, qüe o espíritr) hunâno prccisa cÍiá-lê.-. Quer dizcr, ele lala como se produziÍ Íosse

dependa da basc econômica. Você organiza â vida econômica do cara c diz: "Olha. você acorda a tântas horas, vai lá, bate o ponio, mcxe lá

já começa âli: ,'Vamos fazeÍ

as engrenagens até tantas hoÍas, daí almoça, volta...". E daí ioda a vida

uma coisa assim natrral. O sujeilo nascc

e

um negócio àqui chamado agriclrllutâ".

mental do suicito é decidida por isso. Podc ser quê com unl cÍeiino

Vocé imagina a trabâlheirâ quc o ser humano teve para um dia, ele que estava acostumado a buscar banana em tal lugâr, ialâr: ,,EspeÍa aí,

âconteça isso.

vamos plântar a banana aqui". O sujeito deve ter um QI enorme para pensar um treco desses, e o primeiro que pensou, os outros devem ter bâtido nelc: "Pára de falar bobagem, rapaz, calâ â bocal". Quer dizer, 2'l

É o caso do lfilmel Telrpos modernos, niLo é? O sujeito fica 1á o dia inteiro tazendo "nhec, nhec. nhec" nas engrenagcns. Quando temina a horâ do expediente ele náo conseglle parar. lsso aí é a base do materialisno histódco. Pode scr que as pessoâs de müito baixo QI ?9

seiam assim Mâs sáo essâs que fazem â HistóÍiâ? Elas pâdecem a

Histórial A Históriâ real é scmpre pensada antcs dc scr feita. ]üdo o que exisle loi pensâdo primeiro, e às vezes você pensa e náo ten1 os

À base econômica pode não ter os elementos disponíveis, mas cle

meios ainda pâra impleÍnentar aquilo. Vocé vê que, por ex€mp]o, a teoria inteira da economia de mercâdo

eslava prontê no século XVI, quando

lAluno: Mas, se a base econômica niio perfiite. esse ifivento lambém não pode nem ser desefiaolí)ido. pade lcat só na cabeça do

a economia de mercado nal

podc buscá-los de âlguma maneira. Além disso, quem disse que a base cconômica é que dá isso aí?

cxisiiâ, cstava no gcrme, c você vê que aquilo tudo virârá realidade no náo erâ nâda. erâm os filósofos portugueses da [scola de Coimbra. Tlês

l{lüÍro: Eu ão sei hoie, mas no lmpétío Romano teüe ü süieilo queinüe tou o at condicíonado, e aqüiLa fião Íoi desenrcL?t ido potque

sóculos dcpois, você vê aquilo matcrializâdo por umâ outra clâssc sociâI,

o rcgime eta escruÍJistat, Ao é?l

séculoXlX. Aquelâteoriâ loi 1êitâ toda por monges. Náo era abürgu€sia,

num outro lugar Entio. como é que você vai explicar esse raio dessa

Náo

ioi

desenvolvido porquc náo tinha cletdcidade. Tinha um

burgucsia do sóculo XIX, necessitando criar uma

calendário das Lcis de Murphy, das vtuias Leis de Murphy, c uma delas

ideologiâ, transmitiu aqujlo retroaiivamcntc três sócuios antes para

dizia assim: "Quâlquer coisa que você inventc nccessita de que algo já tenhâ sido inventado antes". Eniâo âparecia um sujeiio na Idade da

basc econômica?

-'A

Po(ugt , e os sujeitos expuseram âquilo." Ah, iaça-mc o favor, isso c de umâ estüpidez tão grande que não deve un1a outrâ classe soci.ú, em

ser levado em contâ nem como hipótesc. porquc sc a pcssoa gasta dez

m:nulo\ pcrr rr(io(inJí e.rr nipúr(\e quir di7(r qui r,là bulÍu:

t

umd

pedra, vestido com pele de onçai com uma torradeira clétrica na máo,

procurando ümâ tomada. É o mesmo problcma do ar condicionâdo. É evidente que o regimc cscravista por si nào

pode a impedir uma

hipótese idiota, Írâs o proble a é que você náo consegue invenlaÍ olrtÍa

coisa dessas. Mas podia ser que un1 invenlo desses. o contrário, podia

alternâtivâ. Como náo inv€nta outra, fica com csia. Mas por quc ten de

garanÍo: abase econômica não é. Ponto tinal. Base econômica depende

serverdade quer dizer, você cria um dctcrminado invento e estupoü com a estrulüra econômica. Isto é possível. Um cara pode fazer isso. O sujeiio qüe invcntou esse protocolo htm, html, que possibiliiou a difusâo da lnternet no mundo, ele mudou ioda a economia do mundo, ele sozinhol Ele náo precisavâ tcr ltito isso, nâda detenninava que ele fizesse isso. AgoÍa, depois de feito, você expiica retÍoativamente por

de tccnolosia, dcpcndc dc disponibilidadc tccnológica. E a tccnologia

mágica: as condições econômicas requeriam que ele fizcssc, entáo ele

sai de onde? Sai da bâse econômica lambém? Entáo é rírculo vicioso.

fez. Oh, meu Deus do céui Primciro, as condições econômicas colocam

Ora, toda a estrutura econômica de um país inleiro pode ser mudada

milhóes de problemas c só alguns deles têm soluçao; e quando tcm

dcrcpcntc por um invcnto, c cssc invcnto náopoderia ser d€terminado por esla mesna bâse económica. É determinâdo pelâ inleligênciâ do

solüçáo é porquc alguém encontrou.

teralgumâ? Por que náo âdmitirsimpiesmente: "Olhâ,

a

coisa é complexâ,

nós náo temos nenhuma erplicâçáo; e náo é porque náo temos nenhuma que vâmos pegar a

p

meira cxplicaçâo idiotâ quc vocô aprcscntou".

Nós não sabemos o que detenninâ o curso da Históriâ, mas eu lhe

suieito que pensou aquilo. :ll

poryue a base económíca de hoie, por ele lifiha algüíM coisa noüa, ifioutdota tccfioloqícamefite,

lAl.rno: Mas, efitão, não exemplL), ele aaí

a Íeit

luctu e

é

uii consegui tefidet, e...1

Ele náo autêriu 1ucro, o sujeiio nao fez isso pata aulêrir lucro. Foi

úm irlandês, um irlandês ultracatólico, que estava indignado com a tiraniâ no mundo. com a tecnocrâcia. o comunismo. etc., âí resolveu fâzer um ncgócio para d€mocrâtizar. Foi por puro idealismo. Esse cara é um santo, a gentc deviê bolar umâ es1átüa para cle

ÍAlüno: Parcce que a teoría filaKista et plica maruDilhosamente beü o passado, mas semüe eru no lutuÍo.l Vejâ, é ser scmpre o "profcta do acontecido". É ela náo explica o passado, dá umâ impressâo de que explica o passado. Quândo você vâi articulá-]â com os fatos do passado, nunca cles coincidcm con1

a cxplicâçAo marxista, nlrnca. Eu nao encontro um único caso de acontecimento histódco quc se ârticule com a explicaçáo marxista, nunca encontrei. Alé aqucles exemplo§ que eie mesmo dá da Revoluçáo Francesâ, depois o Dezoito Brumário de Luiz Bonâpa(e, tudo aquilo é lurâdo.

Você começa, porexcmplo. com as prarprias divisões das classes sociais: 'Ah, porquc a burguesia náo sei o quê... a btüguesia Íez o

capitaiismo". A burgüesia fez o capiialismo coisíssima nenhuma, quem fez o capiialismo lbram os aristocmtasl O primeiro capilalismo qüe surgiu foi o capitalismo imobiliário, que eram os donos da terra que botavam dinheiro parafazcrcasâ para poder vender, para poder atrair gente parâ lá. É assim que surge o capitâlisnro. E os

primeiros bânqueiros foram os paúes. Então, o quc é que a borguesiê tem a ver com isso? A buÍguesia náo fez capitalismo nenhum. Foi criada por um capitalismo inventado por padres e aristocratas.

Quando tem a Revoluçáo Franccsa, você pega todos os líderes,

todos, um por um: 'Ah, é a revoluçâo da burgucsia, do câpitalis o, eic.". Quantos capitalistâs tinham cntre eles? Nenhüm. Tinha um, mas é um sujeito que permancceu desde o Àntigo Regime âté depois.

Entáo, como é que eles para a

burgucsia."

pudcram?

"Mas eles cstavan trabalhando

Sim, nas a burgucsia deve ter pago a clcs, pelo

menos. Pelo menos reuniu os suieitos e passou uma conversâ neles.

Mas esse encontÍo nunca houve. nunca houvc intercânbio algum. Lnláo ele: adrvrlharam u. inlere\se\ da burgu(riâ, que naô eram os delcs. fizeram uma revolução parâ beneficiála e clcs mesmos ser guilhotinados? É isso quc você quer dizer? Isto é umâ bobâgem sem tamanllo, está entcndendo? É uma explicaçáo purâmente mágica. lAlJJmo Hoie o senhot está comefilafido que ha?ia a íon açao dos Estailos Nacionais, e a arísíocracia pega e comega a apoiat os ÍilósoÍos

paru que eles dêefi idefitidad.e ao póptio EsÍado Nacional Nisso a gente não pode üet uma aisão ma ísta de uma micrcesttutura dafido conseqüêficia a una superestrüÍuru?7 Náo, porquc primeiro isso náo foi

u

ma cstrutura econômica. Primeiro

eles emm uma estrutura dinásticâ e mililâÍ, que mai§ tarde vai tentar

criar instrumentos econômicos pàra podeÍ

se

viabilizar O princípio da

açáo náo é econôrnico, de maneira alguma. Náo tem absolutamentc nada a ver, púrque nao e uma r'^a rlar..e qLre rurgiLr cnm um nu!u interesse econômico diferente, etc., náo é nada disso. A aglutinâçáo de

lbrças ali náo tinha nada a ver com economia- Ao contrário, do ponto de r i.ra economicu, muitâ: ve,,e' Íoi dc'vanlaju.o

Quâl é â vanlagem dc desmenbrar um império cm um monte de unidades indepcndentes que terão seus próprios problemas, náo ieráo assistência nacional? É táo contraproducente do ponto de vista econômico que, se fosse dcpcnder da economia, isso iamais tedâ sido feito. Acontece que, quando começâ a ser feito, de repente âparecenl

.ll 12

novas possibilidâdes de esses Estados ganhârem dinheiro. Uma delâs

certos ideólogos do tempo do Iluminismo, da Revoluçáo Fmncesa,

sáo as gÉndes navegaçóes, Esse é um caso em que uma mudança de

tcm dificuldade de acrcditâr que alguém possa ter levado aquilo â

ordem militar e polÍtica encontra um meio econômico de se sustentar

sério. No entanto, levaram.

Nâo ó uma teoria respeitável, está entendendo? Umâ tcoria

A economia aí vem nitidamente depois. E tem uma outm coisa quevocê pode observar lacilmente i nunca o

ideólogo de classc pertcnce àquela classe. Quando você vê um suicito que lbrmulou a ideologia. o sujeito é de outra classe. Por que é sempre assim? Dificilmente aparece âssim i aqui temos um burguês formulando

uma ideologia burguesa; o prolctário form ulando a ideologia proletária; o aristocrâta formulando a ideologia aristocrática. Nunca é assiml

Por exemplo, desses novos filósoibs, havia um pequenlr número

rcspeitável tem que ter um mínimo de consistênciâ como hipótese pàrâ merecer atençáo. Mas a lbmulaçáo dâ hipótese já é absurda. NAo é quc ela é absurda, é invisívelt Ela náo conscgue se erprcssar, nàoconsegue dizcro que querdjzer Entâo porque você quer dizerque

umâ idcologia de classe é a ideologia do sujeito que pertencc àquela classe? "Não, é â ideologia dos interesses subjetivos daquela classe,

-

os quajs podem serpercebidos poÍ um sujeito de

outraclasse.,, Orat

que era aistocrata de origem, como o próprio René Descartes, mas

E por que o sujeito dc outm classe náo percebe os interesses subjelivos

muitos nâo cram, eram gente do povo, gcntc qucfoi rccolhida ali e quc

de

acâbou seNindo à aristocraciâ porque erâ o neio de vida que se tinha.

imbecil.

ru" propria Lld\si c

5im dit rlas.c v./inha:'

f

priÍríriu. c roto,

e

Seria o caso de você pensa( "Mas por que o sujeito foi lá servir os

aristocratas cm vez dc scrvir à sua própria classe?". A História intcira é uma demonstraçâo de que náo há conexáo entre a posiçáo sociâl

do sujeito e a ideologia de clâsse dele. Náo há conexáo algunra. Você cscolhc

â

idcologia qucvocê quiscr;sc não quisertcr nenhumâ, tambóm

pod(. luda (slà hipririse màr\isru e uma [anràcmaporia mcinrn. ( uma superposiçáo de imagens, está enlendendo?

lAluno BolÍheüista também tinha cLasse néàia...) Não tinhâ nenhum proletfuio lá no meio. Olhâ, nâo tinha burguês nâ revoluçáo bulguesa, náo tinha capitalista na Íevoluçâo capitalista, náo tinha proletário na revoluçâo prolctâia, c assim por diantc. E náo tem camponês na revoluçáo câmponesa. Você náo âcerta umâ? Prestâ

atençáo no que eu eslou dizendo: I(aÍl

Maü

é um palhâço em ioda

linha. Um dia os historiadores tcráo dificuldade de entendcr como

é

que se levou a sédo este sujeito, assim como â gente lendo às vezes 34

ÍAlrno, No petíoda afiÍeriot ila ldade Modema

esse htibito tambén...l Kârl Marx é umâ espécie de Epicuro. euando você lê Epicuro só conseguc daÍ risâdâ. Ele é ddículo em toda linha. Mas. como tem uma faixa sociâl de indivíduos que estáo completamente perdidos, baratinados. e que lêm dinheiro para jogar íora. eles váo conprâr isso aí.

ÍAlrno: No petíoào afiteriot, aliás, antes da ldad.e Modelna. todo mu da agia dessa ma.fieia, ào é? Maquíaz)el tanbém ficaüa te Íand,a idefititicat os üefi.adeircs ifiÍercsses (le ufi Eoae lafiÍe da época... O Hobbes, .t mesma coisa...f

Maquiavcl, deum govcrnante quenáo eraele. Hobbes, amesmíssima coisa. Sempre o intercsse subjetivo de umâ ciasse que náo era a sual Eniáo, tem que pegar esses conceitos todos e jogá los fora. Eles náo explicâm nada, inclusive o conceito de ideologia. É um conceito feito 35

pâra dcprcciar a idóiâ (lo outro conro se lossc âpenas uma tmduçáo dos inieresscs de clnsse. O fatu de vocô cstar deicndcndo os intcrcsses dc clâsse significa que à visào qüe você tcm das coisas ó Iats.rt Claro que náol Você podc, paü âtendcr âos intercsscs de classc. fazer uDra dcscric,ro pcúciiârnente cxata da realjdade Mas IGrl Marx diz que nenhuma llassc pode lazer isso, só o prolctâriâdo. c os outros rodos

t(r r ',,,n..ie h i, àlicr . di' . purquc.te. ,run. o nneqr i rnd,, .,a rrü\!rj ficâm só no mundo dâs idóins P Karl Mârxi, Se ringuénr podc làzcr isso porque nào pÕc â máo nâ massa. Karl Marx, que nuncâ ir.rbàlhou Lnn único dia da sua vida- como a quc realizou o milagre dc trârscencter

eía iinitâçáol) §c você lcm uma Iilosofiâ que vai explicar a clrndiçáo hunrâna, cm

princiro lugar sua primeira obrigação é cxplicar p a vocô nresnúj NIar\. Sc você nio cntcnder slra situâção, como ó que vâi cxplicâr a minhà? 1iltrio, por lavorj escrcva uma autobiogr.úia dizcndo como sc deucstc nrilagredcquevocé, filhodcum juristâ, quâseministro, captou o irltcrcssc subjetivo do prlrletâ ado e passou pâra o lado prolelário. Conie me conro é que sc dcu isso aí. Naverdade, quando lQrlMârx oscrevcos prim eirLrs tcxtff â respei k) da ltevoluçáo Socialista. ele nuncâ tioha visto um proletário na vida. Náo

conhccia esnlo. nâda sabia. nada. D:ri

elc lcu aquete nctarcio do

Engcls sobre a sitraçao da classe operária c disse: ,.Saqucit

,

lA]unor abrlra isso se pad.eria aryume tot. que .'s mestrcs de Coimbtu tcmbém nur\a íinhãú1 üista Í)uryueses e. no enta to, Náo. clcs eíarir dcscrcvendo âquilo. elll princiro tugar, a pârtir de uDra experjêrlcia existentc, de niuitos sóculos. Estão disculindo uma qucstão que já cxiste lrtj muit(x séculos. c csião discurindo a parrir da colocacão medicvâl (lo problcma, que é a .tcoria do preço jusid,.

Eles conrcçaln cntáo a dizer: "Bonr, sc c:riste um preço jus(o. qüâl seria a base dc cálculo? ' Tcrtanr todâs a! bases de cálculo c vôcm quc ncnhuma delas dá um prcço ius1o. Conclusão: só Dcus sabe o preço justL,. QueÍdizcr, cxistc o preço juslo. rnas clc ó um mistériu. !htio. se ó um mistério, o preço lusto é aqLrcle que você esiá disposto â pagâr

E sc você está disposto a pagar ó porque âchâ quc ó um prcço juslo. e o oulro está disposto a vendcr. llnião, pronto, cssa é uma economiâ

lAlü1a: Mas. em r(nnos t11ais rcais, Sattto A9osti ho thca lillha natado es\.t hipótese [.le disse que é absolttlamc te impossíul pata a sd huma o acetta t o ponta m éd io ewlo de sej a o q ue lot. )

É,

teoricâmcntc

já eslaria resolvitlo.

leorizândo sobrc o inleressc ohictivo

mâs clcs náo eslavarn tinharn

de un1â ciâsse qlre nünca

visto. Não erâ isso quc clcs cstavam lirlando. rnas siln dcquâlqLrerpessoa qlrc conrpÍacvcndc. Não âdianlavocê qucrcr cxplicar esle período por ideologiâ dc classc ou qualqücr outro pcriodo. Votê não \,ai cncontrât

pois essa corespondôncia não e:riste. Acontccc o scguintc. quc esta scqüência quc IGrl Mârx coloca nâ Históriâ

-

cornunidade prhritivâ,

depois o cscravisno, depois o tcudâlisnD, depois o capilalismo, dcpois

o socialisno é

urrr dranra quc \,ocê invenlâ. é um cincminha. e csse cjneminha é quc dá â impressio dc quc você está orientado rro rcIjunio. Nâ faltâ de outl(rs icrnros quc csteianl em circulaÇáo, vocô usa csscs con1o ulna espócic dc rcfcrancia.

Prri nô...Iu.,-rdnrú, i\rL,1i,,Jô

i.^r.d

.rru

r

,,ru (

(i:r'c:i i

discurso do agcnle. Esle é um dos muilos dis{ursos de üm dos muibs agcntcs. CLrincidiu de elc ficar niuilo pocleÍoso c tcr uma cntidêde com quinhenlos mil funcionários pâ.â cspalhar isso pelo Dlurdo, daí a coisa pcilou, mas é apenas urn discurso de uln agenie Pâra nós, isto

rão ó unl prirlcipio erplicativo, ó um objelo â scr cxplicâdo. Então .17

I

náo podemos üsar o método marxista, porque ele náo é um método científico. O método marxistê é um fenómeno histórico. Isso náo quer

c, ao dizer isso, ele já está dizendo: "Eu sou um ignorante". Se ele é ignorante, por que você vai perder tempo discutindo com ele?

dizer que náo tenho outro método alternativo pârâ explicar a ele. Eu sobretudo náo posso ter outro táo simplesinho quânto esse. Eu náo

a(redilo quc à hisroria sclâ lao simples as\im.

lAluno: Pois

lefi

l,

Íudo bem, o sujeito que nào diz isso, mas ainda

esse rafiço,,.1

É qüe a genie tem dó dos nossos parentes, dos nossos amigos. Náo

lAluno: Mas fios últimos minuíos o senhot acaba de fios dar ertdàncta\ tabat' úntra a idet1 dc indu'ftia pconomiru, contro o íeoict da ideolo,ia- É possírel também aprese lat eúidê cias cabaís pelo menos paru pessoas que estejam dispostas a ouúir? Não estou Í(iafido paru... um marxistd, muilo ben, que é um murc. mas para muila\ pe'\oasquc nao\ào ma t\ta\, \oqueo maÍ\i\no sp imprc\na

uha espécie de cacoete,,.1 Mas é isto mcsmo que eu estou làlando.'Ibm o discurso do consciente do agente e tem o discurso que é impregnado, nelas e atcaba se lomaÍldo

instrumcntos da açáo...

ÍAluno: Parc essas pesioas, é possíúel fiosttat, pot ercmplo, eüídêncías cabais de que, contra a id.éía de que nào e sÍa episteme, só existít doxa, por er;emplo, stj ex.istc o discutso do ageníe, que tudo é discurso do aqefite?)

Náo é possível, porque eles só têm d.ul7, eles náo têm experiência

tcnha náo- lgnorante é ignorante é deve ser desprczado, mesmo que seia a nossa máe.

A ignorânciâ é um

pecado. Exisle a inocência ou

ncsciência, que não é um pecado. Um bebezinho não sabe nada porque náo sabc nada. 'lem coisa que nos nào .abemo\ porque náo precisamos saber: não sabemos quanÍo cabelo tem na nossa cabeçâ, náo sabemos

quantas estrelas existem. E existe a ignorância, que é culposa ou até dolosa, que é a ignorância dâqueles assuntos nos quais você pretendc opinar.

ÍAl[no: Corno o Alltôtll Sim, o Alaôr Caffél "Ah. náo existe ciência..." "Bom, quantâs ciências você examinou para poder dizer isso?" - "Nenhumal" "Éntáo cala a boca, burrol Náo enche!

ÍAllrno

O

Alad

CaÍíé escrcae isso

nufi artigo?)

Náo, mâs ele é um exemplo do sujeito que está em pler,a dor.a.

da ciênciâ.

lAlluno:

ELes

queü?l

ÍAluno, Mas ele cita essa opiníão onde?l Ele náo ciia, ele é que é um exenplo disso aí, ele pessoalnente é

O suieito pode dizer: "'fudo é do.ra, náo existe episteme" -E e! digo: "É, você tem razáo, porque tudo o qrc tcm na

um exemplo do sujeito qlre só tem dord na cabeça, Ele nunca

sua câbeça é sódora. Eu náo posso mcterum pouco de ciência âí para

como em certos estudos certas realidades se impôem de tal maneira

você ver ê dilêrença. Qucr dizer, vocé primeiro tenha uma experiência da ciência e depois sâberá do que está Ialando". O sujeito diz isso

que você nâo pode mudálas de jeito nenhum. E entende que aquilo é

Essas pessoas.

38

ciência, náo

ten idéiâ do que

üu uma

seia. Ele náo tem idéia, por exemplo,

uma rcalidade objetiva porque você topou ali e náo vai mudar! Ainda 3r)

quevocê náo queira que seia assim, ainda que queirateroutra opiniáo, vocô náo conseguel Isto é uma cxpedéncia que qualquer homem dc

cle procede cientificamente, procede pelaciência enáo pela ddÍa. Você

ciência tcml

está dependendo da ciência em milhôes de coisâs da suâ vida, entáo

Sevocê náotemessa experiência, entáo de fâto âchaque, ârespeito do que quer que seja, você pode pensar o que queira. Pode. O que você

diz: 'Ah. náo, cla náo tem lundâmento absoluiol". Mâs nenhuma

nâo podc é fazer o que que! porque náo pode

ruzoável.

vivff dc acordo com

o que

está dizendo. Por exemplo, quândo você vai ao dentista, você qüer que

o dentista arânque o scu dente de acordo com algum procedimento cientificamente consolidado ou quer que afanque a marteladas? Quer que ele peguc um alicate de mecânico e puxe, é isso que você quer que ele faça? Náol Entáo vocô diz que tudo é doxa, mas você mesmo nâo

âcredita nisso. Exige um tratamento cientificâmentc diferenciado. Se você mesmo não âcredita no que está dizendo, por que é que eu vou discutir o que você está dizendo? Isso é bobagem, é um

Mas na hora em que o suieito vai fazer a conia do saldo bancário

ciênciâ vâi ter o lundamento absoluto, vai ter apenas um lundamento

dola nâo é fizoável; a episíefie ê ruzoá\/el Ela náo é um conhecimcnto divino, apodíctico e indestrutível, apenas náo é um conhecimento absurdo, é só isto. O süjeito negâr que existe isto é negâr que ele mesmo existe. Daí o A diferençâ cntre

a

doÍa

e a

epistefie é essa:

a

suieito diz: "Só exisle doxa". Eu digot "Sim, na suâ cabeça só existe dora, e eu jamais vou poder provar o contrá o. Àgora, na sua vida. a sua existência real está entremeâda dâ presença de conhecimento

/atus

cicntífico'. Você está tomando água. Essa água náo foi filtrada? Por

zúcis: você náo está dizendo nâda. Quer dize! você percebe... Se tudo é doía, por que qüando você fica doente quer um tratamento médico

que você náo toma qualqucr água? Porque você náo é besia. Você diz:

de boa quâlidade? O que significâ "boa quâlidade"? Qual a difcrença entrc o Dr Zerbini e o Zé Aigó? Se é tudo dora, você vai nesse ou

está âpenas lãlando para te provocâr. Para que você vai entrâr numa

Entáo nâo percam tempo com essas pessoas, Olha, qualqucr sujeiio ignorante que prctendc impor suâ ignorância é uma pessoa mát ninguém faz isso por boa intençáo. É que a gente náo está âcostumado a olh as pessoas pela conduta delas, mas pelos sentimentos que iemos por ela. Porque, sc cu gosto dele, ele deve

discussáo dessas?

ser bom. Por qu€ você náo pode gostâr de porcaria também? Entáo

naquele, vai dar na mesmâ, você vai morrer de quâlquer modo. Entáo a pessoa náo age de acordo com aquilo, ela náo âcreditâ nâquilo,

O Robetío Caüpos de úez em quanalo diz

una coisa assim qüe (...) que os sujeitos Íicam dizendo que tuda é ideologia, que fiAo

l|lúno:

existe

ü

eúade obi etia a...1

Mas é que na cabeça deles só tem isso-..

''Túdo

é

doxa. ma non ttuppol"

.

você tem afeiçáo pelâ pessoa, mâs náo precisa fazer um julgamento positivo dela: "Olha, eu gosto dessa pessoa. quero aiudá-la, quero ser bom para ela, mas cia náo prestâ âbsolutamente". Se você sabe disso,

cntáo sabc quc vâi ter que lhe dâr um tiatamento pedagógico. E qual é o tratamento pedagógico para um sujeito quc já cstá discutindo de rnaneira toialmente dcsonesta? É levar a sério a discussáo dele? Ele

lAlrno: Mas nenhum deles é besta, iusto fia horu eh que ele oai acender a luz ou IiE lr o cafia...l 40

não esiá prccisando de discussáo, está precisando de um bom 'cala a boca": 'Você fica quieto, vai estudar o negócio c, dcpois, quando .1i

voltar, a gente discute". É iguâl com o Alaor Caífér ,,Vai pra casa rapaz,

[Â]unol Os Ílósolos qüe cofieçarum a lonper cofi a üisão fieàieaal, os primeíros, eles agifim de má-Íé? (...) potque toi uÍn

Algo aconteceu, então, nesse ínÍedm; algo sc perdeu seriamente. Mâs o lato é que esse processo nào afeta todo mundo. O sujeito continua com um lundo de honorabilidâde, de seÍiedade, que segue ató hoje. Tem mais agitaçáo na supedicie do mundo das idóias, na polêmica mais pública. Mas eu vejo em todos esses lilósofos desse período clcmentos de má-fé, àssim de varreÍ as coisas para baixo do

O coeficiente de má-fé é crescente ao longo do tempo. Veia, o prcblema nâo é a cosmovisão mcdieval, é a exigência científica

tapete, esconder âs coisas porque não combinam com o que se está querendo argumentar Tbdos eles fazem isso.

medieval- Enláo ÍAl]lJro: Até René Desca es?l

[Alúna: Eistiam pessoas de má-té fidqüeLl épaca também, fias a etigê cia acabaúa Íazefido com que üocê identiÍicasse aquilo?) A pressão do grupo científico era enorme, porque tinha algo chamado quaesíionis quod libetalis, a questáo sobre o qüe quer que se,a. Porque o §ujeito, quando chcgâva â um ce$o ponto na caÍreirà academica. cle.e âprcscnravd à congregâcáo. ao conjunto de prcfessores e alunos, e tinha que responder qualquer pequnta

René Descades?

O iempo todol A Descaftes âplica se âquela

obscrvaçâo do Ronald Laing, o antipsiquiatra, que diz o seguintcr "Se

um filósofo afima que os homens sâo máquinas, nós aceitamos isso como uma teoria perfeitamcnte respeitável, mâs se um individuo diz que ele é uma máquina, você o in1erna". Qual

é

a difercnça?

o

sujeiio

que você cra üm burro, entAo â pessoa tomava um pouco dc cuidâdo. Hoje náo, se você quer destruir

diz: "OIha, eu não soü üm ser humano, sou apenas uma máquina, sou teleguiado, tenho aqui umtm.nsistof tenho um circuito integrado, ctc.". Isto se chamâ despersonalizaçáo, ele não so idcntifica como pessoâ humana. É muito grave isso, cniáo você manda o su,eito se tratar. QuandoRenó Dcscartcs diz que todos os homens sáonáqüinas, cle está querendo dizer que ele também é máquina? Náo, o que elc

a reputaçáo do sujeito, nâo vai dcsiruir no plano inteiectual, vai dizer

está querendo dizer é que os homens sáo máquinas sob certo aspecto,

que ele sonegou o imposto de renda, ou que elc tem umâ amante, ou que ele é veado, ou qualquer coisa àssim.

que tem alguma analogia com as máquinas. Dito de outro modo: ele

sobrc o qüe quer que fosse. Se respondesse ma1, estava ferrado. É um negócio telrível, náo ó? E mais ainda: todo mundo estava louco pam

dcstruir sua repüiação para

prcv

está dizcndo que os homens náo sáo máquinâs de maneira alguma. O sujeilo diz isso poque ele náo acrcdita no que está dizendo. Entâo,

[Alúno

Ou que ele é de dileita---l

Ou que ele é de direitâ, tâmbém vale. Mas

só teÍn duas hipótcscs: ou o sujeito nâo acredita e está con1 vigarice, se você prova que um

sujeito é intelectuâlmente um charlatáo. isso náo diminui a fama dele no mais minimo que seja. Às vezes as pessoas gostam exatâmente por câusa disso. 42

ou elc acredita e é louco. Toda a vida intelectlral moderna oscilâ entrc esses dois póllrs, â

vigffice

e a loucurâ.

l{ll]no: A má Íé

é semprc consciente? O suieito sefipre sabe tlue

ele está sendo igfiorufiÍe e üai esÍat tentando impot

a i+noúficía

dele?)

Â

pergunta é a scguintc: Você tem consciénciâ moràl sempre? E consciência moral é üm dado de nâtureza? Você tcm a consciência

consciênciâ moral barâta que se sâtisfaz com qualqueÍ coisa- EntAo ele já não prcsta, porqüc ter escúpulos, fazer pergunÍâs faz pârte: "Será que eu estou agindo bem? Scrá que eu estou agindo corretâmente?" Isto é o bem humano. Ninguén nascc santo, todos nór temos pecado'

morâI. Depois que âcabou com cla, você náo tem mais. Dâí diz: "Eu

Qual adifcrençâ entrc o sujeito que presta c o quenáoprestâ? O su,eito que prestâ faz pcrgunias "Será que cu devo fazer isso? Será qüe está certo?" , e o outro não faz. Se náo l'ez a pcrgunta, já nâo presia.

estou inoccnie porque náo tenho consciência do que estou fazendo".

Você diz: 'Ah, mas cle está inocenie, ninguém se preocupâ com essâs

O primiiÍu pa..o dc rnJn vrgari\râ e a(ab.r com x pruprià run{.icncia

coisas". Entáo, sáo todos vigadslas.

moral âssirn lãtalmente? Não, você pode acâbar com a sua consciência

moral.pois,seeleacabou,daívocêdizr'Ah,elenáotemmaisconsciêncial

Coitadinhol". NAo, nAo ter consciênciâ é a primcira culpa.

mais LAIúno: Há pessoas que têfl i níoÍfiaÇào, mas iá ltão cbnseguefi concebeÍ... Esses iarnalistas, eu acho que e bamnissa, ão conseluefi

[Àluno: ?rdo bem, mas eu esÍou rendo uma quafilidade nüito ArundP dP rc\tolr quc hof (n dta nào tpn p,so ron\ctpncto, na"

mat\ conceb?Í qu' aqullo po\\a nào ?sl0t ce,1C: naa con5PÉu?n fiois co cebet a àiÍercnça enbe Íato e opilliaio.l Náo consegucn concebcr e náo tôm nenhum impulso dc fazer â

potq

e se

laftnafam num ambiente efi que iá fião erisíia prcüiome

íe.

pergunta, entáo elesjáestáo eshagados compleiamcnte. Existc unl princípio

O sujeila esíá.tcostumado já àaquela naneiru...l

com cssc ambiente. náo tentâ ser melhor? Entáo vocô é táo ruim

jurídico que diz que o criminoso náo pode alegar suà própriatorpeza como desculpâ para o seü âto: "Olha, cu estuprei porque sou um estupmdor Éu

quanto ele.

Íôubii pl,rqu, 'uu unl lâdràu. Porlanlo. ru

Ah, você está criado lá nàquele ambientc. Evocô náo fica revoltado

nao rcnhu curpa". L u que rocc

cstá lâzendo com esses caràst "Eu minto porquc sou mentiroso".

lAlrtto Eu rou dat um exefiplo: üejo iomaListas, ionais e rer istas fiaciofiais dizenda batbaidades que se cofitrudízefi a si tnesmos, em que a doído

púptia Íruse cofituadiz o que au ele é un ailatisla .]

se está dizendo. Ou o sujeilo é

perguntas é uma lAluno: Náo é issol Esse impulso de lazcr as acuidâde naturàl?l Náo, é âpenas uma obÍigaÇâo hümana. É apenas uma obrigaçào humana porque náo há outra maneira de você agir bem.

Clarol Sáo iodos âssim.

Náo, ele náo sâbe. Por quê? Porquc clc náo quer sabet não lâz

l{lLüto. Toda set htlfiafio L'ai íazer essas perguntus, ( ..) ou íssa é construído a patti de um mofienb? ) É porquc sinplesmente náo há outra maneira de você âgiÍ bcm.

essa pcrguntai náo se exanlina. não tem exigência moral. Ele tcm uma

você fazer as perguntâs. A náo ser que você já nasccu sânio. Ou você

lAluno: Mds será que necessdriamente ele sabe que

está

tcm uma assislénciâ direta do EspÍrito Santo, que sempre lhe diz o que é certo scnr você precis.rr perguntar nada, ou entáo tem que lãzer as

pâlavra Eu náo sei se isso é um cstado natural no sentido atual da "natureza". Nós cntendcmos por natural aquilo que nâsce com o

perguntas. Se vocô náo faz as perguntâs é porquc a simples hipótese

sujeito por genótica, etc. Eu náo sei se é natural, sobrenatural ou cxtranatural. ncm prctenderia discut isto âgora; eu sei é qlre nào existe outra mancirâ de âgir melhot, a não ser pergunlar se vocô cstá agindo pior. E, se é âssim, entáo nao podemos tolerar nenhum

de que haja umâ açào mclhor e pioÍ nem lhe ocorre. cntáo você esiá abaixo dc animal.

lAlüno, Pois é, mas seú que aleum did fiessa úida não lhe oco eu que 1)ocê tez... houre uma sétíe de dccísões, entim, que...)

ser humano que não laqa essâ pergunta. Porque, se eÜ faço vou me impedir dc lãzer uma série ale coisas com relaçáLr a cle, mas ele não

Veja, ninguém pode dizcr qüe nesta vidâ nuncâ foi convidado aâgir

vai se impedir de nada com relaçáo a minr, cntáo cle podc tudo c eu podem náo posso nada. As pessoas que tôm a consciência maior náo iolerar a compânhia dâs pessoas que nâo iêm' Senáo é o scguinte:

mclhor Quando uma pessoa lãla mal de !ocê, criLica, reclârnâ algo dc você. ó um convite a que você se exâminc Você tem unra nânrorâda, de

repente, seln explicaçâo. vocô a chutâ fora. Ela vai reclamar: "Você fez isso comigo...". Vocé vai parar pârâ pcnsâr: iiSerá que eIâ tem râzáo?".

Ou você não vai nem iazer essâ pergunta? Sc nem laz, entáo você é moralmente iüsensível, é um sociopata. Sociopâtia é isso, vocô náo tern intcrcsse nos senlimentos morâis. E qüando isso se consolidâ, scia

individualmcnte. seja coletivamente, entáo vocô tem a epidemia de

lAlnno: O perconagefi Wi sLon do liarc 19841 é uü ercfiplo de aLeuéfi que sente o impuLso de lazet .r peryunta mesmo nào consequindo. nio é? ELe se te que tem algo esÍrufiho..-l Sim, mesrno não conseguindo... Você podc ter sido criado nun1 ambienle iAo amorâl quc vocô náo ten os termos para formular as

pode cxisle uma lei pâra você. você tem que âgir denlro da lei, mas ele pcssoa? l'azer o que cle quiser Será que dá pata convivcr com essa Claro que nào! Você náo precisa chegar a Úmã doÜtrinâ noral mais profu nda para isso, nâo precisa nem responder se isso é de nâtuÍeza ou qual é o fundâmento disto, pode dar umâ soluçáo meÍamcnte prática Olha, nâo dá para agüentar cssâs criaturas' Eu não quero ter nada a ver com elas. Se pcrcebo que uma pessoa é vagâmente assim, saio no corrcndo. Mâs às vezes você náo percebc. A sociopatia só aparece quc o perccbe de opQões morais mais decisivas, c ai vocô

monento

sujeiio é insensível. Se você percebcu. alê no pé, luia, porque náo vâle adâ' a pena. senáo você vni ter que passar a vida vigiando aquele câm fiscâlizando. amarrando a mao dele, e parâ istovocê precisaÍia termuito

o desconlbrto cxistc. Agora, se náo len1 desconfoúo âlgurn, se você

amoÍpor ele. Por excmplo,você tem um trlho âssim, âdora aquele filho' mas ele náo prestâ, é üln sociopata Boln, enÍáo vocô vai tcr o resio da vida trâbalho coin ele Nâo iem máes c pais que gastam a vida

cstá perfeiiamente bem assim. cntáo é exatanente um sociopata.

inteira tenclo problcma por câusa daquelc fi]ho c tentando? Por quê?

perguntas. náo sabe equacionâr o problcma. mas tem o impulso âindâ,

l{llrttu: Mas entào

o estado

üalwal

é de alEuma

üocê ter

lfeus. nAol

um desconlotlo peLa fienos...l

ui,.,..,!,b;;!'rr\.,.i.

ma eiru

quc Porque eles o amaml Mas você é obrigado a amar todo sociopatâ apàÍecc nâ sua vida c cuidar dele como sc lbsse seu filho? GraÇas a

.o'. 11

v Se

cx livcssc vocaçao pâra isso eu âr

*

,"" ,"1,;;: 1," " I InDà :', Irànlltra. cu i(ntava

.,.;:;,:l'11".:::1i:::';:.;;

nrn",,*.

*,,r",',1í.lji"T:j:::"r"#

mandar rmbo

mcsmo quc rbssc um

é tanto que vâj pâssar a vjdâ inieira cuidando. Eu não tenho ianto Il ": \a lcrrcjrà que re Ê/i r ru pej(eb.r qu, 'e

:,:" rn\.n\r\(1 i"::' :"'ru mindú(rnburrj -V.l.. ' cre c nraror,lr

idarlr.

*

rira. ja fiz o que devia fazer por você,,. Mas se você ó trouxa c quer conlinuàr proccdendo com o amor paterno ató o fim. faça. n um ai.citn qre

ljl"^

rI", *i"

,m" ubrigeç"o.

ll.1 GraçasaDeus Imporsrvcl eu sen, dúvida mandava

,r]"

porque nrnguc,n c ubrigeoo ao tsso nào me ac,,rlicceu' nlas, seacontecesse.

emborâ

,ninna ràm,tia.

,-.-1,,:,' l" ,ntcr'à deu rrdba,ho f,rãva

rir,"|q;rp

r,..,,.

m,u quc ê \jdi la o 5utc n Lon:<.5entr ann, de i(tJde c

esiavam paje mâe preocupados porquc elc iâ êprcrü.lralguma. Eu tinha

uln vizinho iambém, que erâ meu amigo de inJâncià. Elc catava iu.to quanlo rra drnh(iro do püi r dd máe c.arà parJ iugrr.,.,",ri;,

Afundou com afamíiia, tiquidou. Etes faziam rudo, tudo. desdeporrâda até as psicotempias mais sofisticadas, e o sujcito nunca parcu. Quc obrigaçãovocê tem cle suportfiisso o rcsto cla suavida? Náo .

exi.tc,, (onceito da nr(nonüâ.lr:, Lnquàntu u .uiejro c Ine|lor de ,udo(.vocL e rc\pon.r\ct poreh d, po;s\u.e taz.eq.ri.er NinlLern va; r((titnar Um crrâ de trinlir ano, tui la e nr.reu r m;^ no seu drnheiro é? Ao

todo. Vocô nâo vai chegar para a mãe delc e reclamar. nãi)

contúrio, você vai considerar

essa mae Lrma vítima talnbéür.

EIa cstá sofrendo por jsso, você náo vai cobrar dcta.

,

Ádemais, csse negócio de sociopatia náo tem nadâ a ver com u.ur(i,o, à5\j,'' fnrouceà,\in,. su.,upir.a

:::,:ll.*-,*",," c ulrt ,llrtar.tô f\i.tetn

umJ5 pc5.oa. quo n"o te,I o.e litnento nur"l, pronto, acaboul Então elâs não desconfiam que cstáo aginclo errêdo

não scntem, não querem saber. Elâs até entcnalem que você ache crÍado. E não sáo pcssoas nada burras. Sociopâta ó inteligcnte. Enlre os pensadorcs dos úliimos três séculos, cxisie urn núnero enorme de sociopaias.

lAluno:

KarlMâü

ó um sociopata.

O q!/e tetrata o paul

Johnson naquele liüto Os

intcicctuâisr..l Geralmente o sociopata é muito inteligente, muito astuto, é câpaz dc enganâr todo mundo, quer dizer. todo mundo quc cstejâ âo alcance

dâ burrice delc. Porque, se ele é inseüsível a um ccrio sentimento morâl e você está cm dúvida com reiaçáo à essc sentimento, ele vai pcgaÍ esse fundinho dc dúvida c vai âcabar com você, vai lhc deixar numâ desorientâçáo trenrenda. Curiosàmente, são as pessoas que esláo mais desoricniadas aquclas que mais se cxpôem â isso. porque as pessoas acreditâm que é preciso chegarao fundo do poço: .Ah. você

está um pouco desorientado? Entâo precisa chegâr à desorientaçáo toial para vocé sair". É a mesma coisa que ach que ulna doençâ, pâra scrclrrada, tcm que chcgar a seus últimos dcsenvolvimentos, dâí tem o chamado êxito letal. Deu o êxito lctal, acabou.

l,\lül]á: Também acabou o ptoblema.l Acabou o problelllal Tambérn cxisie a presunçáo de que, se você iem uma dúvida, deve aprolundar a dúvidâ âté o fim. Há a presunçáo de que você tenha a qualificaçào intelectual parâ aquilo. Daívocê pega

os maioÍes enigmas da humanidadc, que nunca ninguém resolveu, e achà quc vai resolver. Você não vâi, vai é ficàr rnais louco ainda. Você tcm entâo, aqui, um sociopata e, em volta, uma corte dc loucos, neuróticos, incapazes. fracassados, que náo sâo sociopatas em si mcsmos. mâs que entram nâ convelsê do cêra. Mcsmo porque

o sociopata tem aqucla peculiar iütensidade psicológicâ que a ,tentc Rnr Je

lancro:

lrnàr:ro, 1990

r Dáo conscguc

te!

é aqueie sujeito que mcnte com aquela conviccáo nruiundr a Bcnr( ncâ as\u\tadu. Lu .ci quc eu nao noso cum um sociopalâ, pot isso quando eu iopo com um eu 1ujo, pois, se eu for discutir com o cara, ele é que vai confunalir â minha cabcça. A gente náo tcm aquela intensjdadc, aquele negócio yeâts:,.The alo

.

best lack

all

conaictioÍl...', ('.Os melhorcs estáo sem nenhuma convicçáo, enquanto os piores estáo cheios de intensidade âpaironada.,).5

Intensidadê âpaironâda é com o sociopatâ mesmot O sujciio sobe cm cima de um caixote e grita absurdidades nâs quêis eie mesmo náo âcrcdita. Mas o acrediiârou não àoeditarnào éprcblema para elc, porque acreditarou não acreditâr é uma opçáo momt também. Elc náo vai tc perguntar se ele está sendo sincero, isto pouco importâ.

E por isso que eu digo: a gente tcm rcgras. Se teln unla coisa com a qual eu esiou mais ou menos convictoi vou graaluar

é náo dar ouvidos. Porque, se você entrâ no plano

intclcctuat, se você sai do plano exjstencial c cntra no plano intclectual, ele te pcgou. No plâno cxistencial, você scmpre pode dizer: ,'Olha, quer sâber? Náo me interessa". É a olerta demoníaca, ofeÍta do alemônio, a tentaçáo... Você vai

discutiÍcom

o capctâ? Ele discute bem mcltrorque vocêt Vocô

sinplesmentc falai "Náo me intcrcssal Eu náo quero saberl,,.

I{luno: (...) nüm attigo, eu Ao fie lembru o tema. mas o senhor sefiprc fala que, dianLe dc üm debate, a gente, pot er.empLo, cafi a cefteza fiofal em detefmifiado assunto, consegue sempfe queblat o arlumento da outfa pessotl, que a pessoa üai titar semprc leÍutanào,

rcÍuta do.

e Docê...1

Quebraràrgumento, desde que seia uma discussAo honesta. euanalo a discussáo é desonesta, náo se tmta de quebrar o ârgumerto, trâta-se

minhâ ârgumeniação de acordo com o grau da ntinha convicçáo sincera: se eu acredito un1 polrco, vou âryumentar um poucoi se eu acredii.i muito, vou ârgumentar muito Mas um sociopêta náo é assim. Se ele âcrcdita muito ou pouco, para ele não é problema; só o que importa é

que ser denunciada. Em geral. você náo vai encontrar a desonestidade

você está acreditando. Ele vai a.rgunlcntâr a fâvor alaquilo com tudo o que cle iem, vai pegar o ârsenal inteiro da dialéticâ, lógica. erisiica,

completa; encontra desonestidade depois de um cerlo ponto, c aí está na hora de acabar a discussáo. Deve acabar â discussâo, náo saindo

se

rctórica, tudo. tudo, entáo você não agúenta, nâo resiste. Scvocêvâ; se colocarneste piano, vocêvai scdâr mal com ele, porque tem que entrâr no plano psicológico. tem que olhar para a cara dele que e ver

ele está

mcnlindo. Eu digo: ,,Quer saber? Sua conversa náo me interessâ],,_ Você tem que perceber a faltâ de sinceridadc Ío fundo. euando

percebcu, você já estâva na incerteza, aívocê fica em dupia incerteza. Você tem â sua incerlcza e tem mâis a incerteza quanio

Qual e a mslho. cuila à

Íalcr: Fugrr pni!

i

ao sujeito. c\arãnrenrc i.rn o que eu

estou rccomcndando que iãaa. Scvocêvê que o inclivíduo csiáibrçândo pàra pe$uadi-lo muilo além do que ele mesmo está convicto. o melhor

,no.J..oo .B !r

,;,1';fu;"".,'"

" ô...,,,t ". ",.,,.

-;.;;"..

;rr o;,,..,,

, B*-,",,. a- 4.?,,tot

de você demonstrar a talsidade da situaçáo.

A

aryumcntâçáo supóe

a aceitação dos mesmos principios e dos critérios de honestidade da discussáo. Se náo há isto, então é aprópriâ situaçâo dediscurso quetcm

baiendo o pczinho; deve âcabar dcnunciando â situaÇáo; ,,Olha aqui, você me chamou para discutir tal coisa. mas você mesmo náo tem nenhum interesse nâ coisa, porque náo estudou nâda. Que palhâçada ó essâ? Náo posso continuar discutindo, porque o matcial da discussâo está âLrsente. Como ó que é? Está aqui a filosofia dc l(arl Marx. Cadé ela? Ela náo veiol Entáo, náo tcm disclrssáo".

Eu estou ncsse negócio de polômica ;ornâlistica fâz dez ános. Nunca iiveumâ discussáo com ninguém. Sempre que acontcceu de me confuontar com alguém, era assim, era umâ coisa falsa. Discussào pâra valer, âcho quc cu iive alguma no tcmpo em que tinha o fórum, aquete

5l

li,IIr

(tt]c havia n ntirrha página. Tinha uns suicitos que insistiam, insistiaor, cniao âli chego! a tcr algumas discussóes de vcrdade. Eles

csiavaDi rcalnrentc interessados, qüerian sabe! eu também queria sâber. I,lnião, até cclto ponto vai. Mas con essas figums públicâs aí. l,eândro Kondcr, Ataô. Câiié, pelo aDn)r dc t)eus, náo dá. â coisa é

tsm primeiro iugar. você tem quc ver

o scguinte: Vocé vejo âdDi fàro J íun\,jrr u rra ,e\c: \ rio uqui parr dc ,ún\trar quc \ ui.. e ma;j bonito do que eu? Veio aqui parâ lnc arrum para

uma arapucâ? mc boiar no meio dos scus cupirchâs e elcs me baterem na portâ? O que vocô qucr, afinal? eual é a situaqâo reat? É urr confronlD de ego ou o quê? Conftunb de ego comjgo não tcm. por Lrm motivo muito simples; sc você tivcr razão, eu .ligo que você tem rêzáo. não tcnho a menor dificuldade parâ isso, nenhumâ, ncnhumâ.

Não faço qlrestão de tcr razáo a1é o tim. Eu iambém não tenho tantâs cerlczâs assim pâm ofcreccr às pessoas; ienho âtó certo ponlo.

Ilntão, âié ccrto ponto eu vou. depois daí cu não sci. Mas daí vocé se conliontâ coDr as pessoas que estáo cheias dc certeza. VocÊ qucr ter problemas? Discute com essas caras que clchcram a cabeca de 5rnro io ,à. d( {quino. th. rap,/ c hunr!,i púrqu( pJra rudo.;udo. cle. urrà o\Dli.a(aô re,.uc ,dir d( denrrô 'ênr d"quilô

vocô se âtam a isto aqlri c cstará Ia tinllÀ scgurn,, Esiá. umâ pinarial Nao c-\iste douirinâ que rc detendâ da incerrcza da vklà, ncnhunrâ,

l^]nno Eu enconírci a lfitemeí ufi

casa

cu

um caro (tue é (11ào catóLica, ctt.todoto) e que ft.jeita, literutnrc te. Sa lo'lbmãs, pofttue diz q e de laz paúe dd hercsía catótic.t.l Ilom, quândo o sujeiro entrou nessc ncgócio... Eu nâo estr)u pcrg0ntando sc ó hercsiâ. csiou pcrguntardo sc é vcrdêcle. Se aso:

t:ristdo arlodo$

ó

hcrcsia. sc ó lêio. ai supóc o scguinrer cxisrc Iá umâ revelâçáo dc dois nrji anos âtrás que vocês convertcrânr nun)a lormülâçáo doutri rttodâ probleDrática. toda chcia de crcrcnca. e no minimo quc sai daqujlo vocôs dizcm qlre ó hercsia tsso pdra ffin1 ó una cslupidcz quc não

merecc atençáo, se quercrr sabcr primeiro, porquc ,l firrmulâçáo douldnal já é um probicma. Ela nascc rle uma jnfinidade dc cliscussares e, quando chega numa co|clusáo, estâ gerâlmente loi obtida àtrâ\rés

Pâpâ a quâ1. por süa vcz. iambónl tcm que ser irterprctadâ. c podc scr illtcryretadâ .le quiuze nrâneiras diterc les. llntão, vocôs nao rcsolverâr11 é coisa ncnhumâ, estáo se apcgândo num de ulna sentençâ do

letichc dizendo quc sabcm âlgumâ coisa que, naverdâde, nâo sabem, e âcham que qualquer outrLr quc sâi djsso é hcrege, csiá condena.lo e tal. glc IAo sâbe,

Que isto ó compatÍvei conl a ioiâl estupidez ficou comprovaalo ncl caso do frei lcarlosl Josaphat, aqucle sujeito com quem cu tive um

n1as locês tanbóm náo sâbem. Isso aí ó bobâgem. Os planos dâ deliüção dosmáiicâ têm a sua razáo dc ser. mas não sáo feitos parâ isto. Se você rcsolve uma coisa por umÍr dcfinição

Durnlâ-se coü

dogmática, o qlrc cslá querendo Ítizer com isso? Esrá qlrcrcndo clizer que você dcsistiu de invcsrigâr Se desjsiiu dc irvestigar, cntão não

debatc. que passou â vidâ estddândo Santo,lbnrás de Aquino e chegou à conclusão de que elc erâ ün1 precursor da Nova Era. um bârulho dcssest Eu náo estudei

un ccntésimo do Santo

Tbmás de

Aquino que você estudou, posso não sabcr o que é Santo Ionrás. mrs sei quc isso ele nâo é. As pcssoas quc achâm que sc apc8ancto... Dizem:

i.ra rtu, u tipa

52

rnanduu r\rudàr Srnru tnmd.

J,

Aqu,nú, cnran

disculal Você tcm todo o dirciio dc fazer isso. porque a menie huilrâna cânsa: "Olha. eu nalr sci. mas o papa disse que . ,,. Esrá bem. isso serve pára

â

sua orientaçâo nâ vida. mas você não poclc fazer disso nratéria de

discussão, nâo pode discutir coln base nisso. Nào foi têito Dara isso

o Cristo está reâlmcnte presentc nâ hóstia". pergunte pâra ele: "O que

Às vezes, as pcssoâs náo pegam isso, confrontam. por exenrplo, dognâ da lgrcja com uma teoria cicntifica. Mâs como é qlre vocô conscgüc lãzer isso? O nr€u pobrc córcbro, por nrais que sc csÍorcc. não collsegue Do lnesmo modo que elr náo posso confrontar umâ

você quer dizer exatamcnte coin isso?'. Ele tcrá que dizcr: "ELr náo sei exatamente- estc é um rnistório. ístou âqui proclâmândo um fâto

tartarlrga conl uma apólice de seguros, náo sci coDro é que se laz essa comparâçào. Â pessoa a íaz coln umâ totdl ingenuidâdc c cai nessas

pessoa ÍA]i:tÍto: Aliás, este ato é qüe Tiia objelo de estudo tambén. A Íazer ísso se torna m Prcblema WÍa Locê.-.1 PoÍ exemplo, quando o Pâpa dizr "Oihâ, vamos baixar urn dogma,

que eu mesmo náo enteÍdo". Evocê diz:

"O(r,

se isso é â

proclamaçáo

ile um fato que você nresmo não entende, cntáo náo é umâ doütrina que possa ser discutidâ, nem a favor, nem

iipo Plínio Corrcia de Oliveira, Orlândo Fcdcli. O que â genle faz diantc dcssas criatuÍas? Fica pcrplexol liu não sei o qüc coisâs do

contÉ Você está at€stândo

um faio do qualvocé recebcu um iestcmunho airavés de Jesus Crisio Muito bem, entáo vamos paÍtir desse faio e investigar para vcr aié onde isto é pâssívcl de ser comprecndido, que sentido pode ter". Da invesiigaçáo de seniido quevocê 1àç4, aí sim é possívcl chegaÍâ âlgumâs conclusúes quc poden scr discutidas. Mas eu náo vejo como discutir um dogmadâ lgreia. Elc é tecnicamente impossível de discuiir, e ale ccrto modo é também impossivcl de contraditâr Porquc, se ele

por sua vez tcm que ser interyretâdo paÍa s.r trânsformado numa proposiçáo discutívcl, enláo tambén náo pode seNir de premissa de

l,\lntlo: A &entu está w do aqüi o i ício da ldade Média, então eu lembro que fio clebate con o Alaôr o se hot comenbu que, por eftmplo, o leudaLismo aL:abou qua do a rci deixou fu fazer a papel

pare, A/ ess/r

le lefi de potque a Eente leudaLismo é eco ônica íambén, ma isLa, fiaa é? que uma aisão ílos nloclas o senhoÍ íalou, a Eefile lem nao bfi essa de inter pâres (prinrus inter

É, a visào moderna, a visão atual do

urrsiio que a p;e

ltudÂlis

o o definc pela sua

a*umcntos. Se você entendcque âbase docristianismo é um mistério. entáo. toala douirina é um mistérioi É um mistério. é u fato de ordenr

varianle econônrica. mâs nào crá assiÍ, que o senhor lcudâl

sobrenâiural, portânto, ó um dâdo a mais na nossa discussáo. Mesn''

tem a prcrrogâtivâ de usar armas, com ou sem

quando parece uma doutrina, não é.

todâs as lerlas, conscrvava sua prerogaiiva, e isso dcfinia sua posiçáLr.

Naverdade, cu estou radicâlizando cadavez mais esse negócio. f)igo que o cristianismo náo surgiu como doutrina. Pensando bem, ele náo é

1êr teÍrâ ou não tcr terrâ é apenas

se

definia.

Ele náo se dcfinia como proprietáÍio de terras, mas como o suieilo que

lerú.

Se ele perdcssc

uma doutrina de maneira alguma. mesmo depois dc trânslormado enr doutrinâ. E essa doutdnâ também náo é doutrina, é âpenas aexpiessáo

una comodidadc dâ vidà. [ntão, üma caractcrística dessas erplicaÇõcs modcmâs. tipo marxismo, c que elas impugnâm a auto-explicaçáo do agente. O suicito diz: "Eu estou fâzendo assim, âssim, âssim!', e o marxista diz: "NAo, c, que

verbâlizada mâis detalhada do tato, um iato que nós continuâmos náo

você cstá lãzendo náo é isto, é oüira coisâ completameÍte diícrcntc.

entendendo e quc o bispo nao entende melhor do que eu Portantlr. nada disso podc serviÍ ncn de obieio de discussâo, nem dc base dc

nâ qual vlrcê nunca pcnsoul". Esperâ âil Vucé pode dizer quc aquelâ

discussão: ó apenâs um fato â mais. 5+

àuto explicâÇáo que ele dá náo abrange o coniunto. c que um âgente ou outro pode estàr real entc cnganado quânto ao seu papel ncssc

conjunto mâs diTer que lodos esta\.an enganados durantc sóculos?l

Você vê que, biblicârrcrie.

a propricdadc d.1 terra é

Lünâ coisâ

O senhor Ícudal náo sâbia o que eles estâvam [azendo. C(nno o scnhor

nuito inccriê Na Bíblia cstá cscriio clarancntc, âcho quc uo livro

leuLlal o canponês tâmbóm não sabia. o burguôs tanrbém niLr sabia. u

dos Mâcâbcus. uma coisiL âssim: Arrcnde a lerra por longo tempo e

clcro



bém náo !abia... E só

l«rl

Marx ó quc chcgor e disse à eles

quâl era o papcl dc cada üm no conjlrnto. Tsso nao é .tigno dc âtenÇáol Você iem que partir dâ scricdâdc do dcpoiffenio do âgerrlc, rnesnro que

cle csicjâ enganado

l{l\tno:

O que é tti ste hoie (.n Íli a.. . VoLê íiê. pot eremplo, qüe i sso

ctia Et, pottl o atlolesunte. a títub de llisÍótia, a pattit dess'l etplicllção nettisLtr Il n.a se lá o tnenor (...) é é ensinãda paru a

a use. n1as nâo â

co

prc clelinitivanrcnic. porque a terrâ pcrte ce

a

Dcus'. Essc ó o pedaço dc fundnmcnto qlre os scm-têrra tên1. Entáo. a propricdadc da lerru não é uurâ coisr absolurâ como â propriedadc dc outras coisas. A prcpriedade dâ tcrrâ dcve ser reâlmcnic relativâ. O pcdaço de razio, eles o pcrdcrn pelo seguinrcr o sujeiio do qual clcs estáo tonrândo a terra e!tá produzindo, eles tomam c náo produzem rrada. l'inha quc ser o clrnlrário, tinhâ que ionrar a tcrra deles. O coniunro dâs terrâs quc csráo ocupadas por cles telr que scr romado urgcntcntcnte por quen1 produza.

L por lsso qlre o sujeilo sai da PLIC com um diploma de soci(ilogo pago pclâ rrãc dele, pelo pai dele. entra no NIST e diz quc clc c um camponês opdmido. Elc âcrcditâ nisto. cntáo. ele eíá enganado quan

iL)

ao seu Prpel no clrnjunt(J.

f^luno:álins, a prcaa de que essa quesLda dos seúhorcs leudais sercntdofios de leru úa era o elenento nais ifitpattanÍeéque nuilos leudos no petiodo medieüal eram descontínuos, ão i'l Um pedaço de tetra eru {le Ltn leudo, oulrc eru da lercia, otlLrc er.t d.e oufi'o fuutlo. d.r!.i o

a

Lrc eta do

pti

eiro...I

Não só em assim como. se o sujeito não adminlstrassc suas terrâs

dircito. podiam iourâr â terra dele. A propriedadc fcudâl nâo crâ inercnle. náo cra propricdade no sentido âtual Erâ uffa concessal) que â conrunidâde làzia em vista dos méritos militarcs do cklâdão. nundo nlolrcndo dc fomc, juniâvan enráo ou os outros senhores Íêudâis, on a lgreja, iflm 1á c a Sc aquilo lossc pârâ o brejo. se eslâv todo

ioma\,â dele: "VamLrs boiar Lrrden ncsse ncgócioi". Tinha umâ espécie dc rcforma agrária.

[Aluro: Po]'que re c.rrs ideru qrk a Í{.u.a seia díferelúe das outtos

tuh

eLonômicosl'l

Porquc os outros bens nós tcmos, c a terra nós

cÍâmos

elâl Nâo

cxislcln linitcs naturâis d.r terrr, todos os limires sío convcncionais. Entáo. sc cu lenho estâ xicârâ cla tcm um línitc prcciso, esrá sob o ncu comârrdo. rras á iei.à náor IAluno: c u sa s. sa

Issa su a plicat

ia a Lodos as tut óa{.is, i ncLusite ap4úaLnentos,

las colfi erci.ri s?l

Náo. âpârtâmcnto

ji

é

diÍícjl. porqnc náo esttí nê tcrra, náo

é?

E a lettur pramúítl a ? | ^luno: l:lom, a tcrrâ prometida é pnnnctidâ para todo mundo. A terra prorretida é socialisia, iodo rnundo ó dono. )

l{lüno: () senllot cstítzn erylicando essa ttuestào que é a do aeefile auta identiÍiar a qltcslao í1o leudalislna. Aí eu e lenbrc,

no debate eu Ííquei pensando a questãa ào LapitaLismo. Esse tetma sut9íu qua do? Pelo Ma ? Depois eu Íiqueí pensando també (1ue fiat épocat do Impétio

Ro

la

o I ifiha cofierci afites, liúha banco-.. Setá

por cLrusít disso, nao sei

que a ítente hmbém...1

Nãol Os camârâdas começarânr a chanar de capiialismD a partir do monenlo em que a riquezâ linànceira é n1âis decisivâ do que a propricdadc da icIra. Mas é cvidcnic quc â propricdâde da tcrra ó quc vaigerar

a

riqueza finânceirâ. Entào, énatural tâmbémqueos prnneiros

que tiveram riqueza tinanceiralbrân os própril,s proprietários de lerrâ, c quc dcpois, gradâiivamcntc, sc Íormarâm outrâs fortunas por outros

neios. Mas nâo lbi assim:

{A,uno: Eles ao sabefi a diíercnçn entre wn buryuês e um atistocruta, pot exempb. O que um aristacrata chaüa de büEuê\ rl., nao oipm Jtlcpho- para pte' ? tutlo a m?\na tot'o L natuÍ,il

surl.aiu urna nova classe, e essa nova classe

invenlou umà nova ecoDonia. Nao, nao lbi nàdâ disso. Âo clrnlrário, â classc burgucsa ó criâdâ pelâ economiâ câpitâlisia criâdâ, por sua vez. pelos senhores de terra. O que é nâlural. elas consegueü durâr baslânte lempo,

grandes familiês. se

^s vãLr adotando

os novos nélodos

se

dá ptlro percebet...

I

Mas l(arl Marx sabc a diterenqà entrc o aristocrata e o burguês, ele sabel O que cle nâo pára pâra examinar é se a tal da revoluçào

capitâlisla foi feita pelos capitalistas ou pelos âristocratas. Isto ncm lhc passa pela cabeça. Mas eu acho quc os aristocralas estavâm

lJ. subrctudo qucm |ez a re\olu,'i,u r u quc:' I o que eu chamo d( burocracia virtual, aquclc bando de sujeitos semiletrados, produto do sistema educacionâl que não é nem burguês, nem capitalista, nem milico, nenl governânte, mas quc lãla, é a classe fâlante. Essa é a classc revolucionária. sempre. E elcs podcm ser colhidos em quaktuer clâsse social. Estâ é uma realidade sociológica maierial. â burocracia viúual

é

de criaçáo dc riquezâ, os que funcion€m mais. O sujeito rem aqui â

identilicável maierialmente, cabeça por câbeça. Este é um conceito

lãzcnda; â tãzcnda só dá problcmâs. O quc vocô faz? Você vcndc â

cfetivo, náo é como burguesia. não. O sujcito saiu de casa, estudou, âdquidu os meios dc agir no mundo letrado e ráo tem oficialmcntc um

lazenda e, conpra uma indúsiriâ: ou vende a indúslria e comprâ um

eff pornogrâfia.

Vocô vai mudândo de

cârgo, umà posiçáo de mando. Pronio. ele está nê burocraciâ virtuall

râmo, mas náo qucr dizcr quc tcm quc surgir nnlâ nova classc. A mcsma

Isso nAo é uma distinção metalisica, ó matcrial. O suieito que esiá Iá

classe pode lãzer isso.

na Fâculdade de Direito, eniAo. ali todo mundo é burocraciâ virtual. 'Ibdo mundo ali tcm idéias, ó capâz de ialaÍ, conhece as leis, etc., náo

bânco; vcndc o banco c invcsrc

Seria o caso de você averiguar. poÍ exerrplo. na França. qual é a composiÇáo social da chamada bürgüesia. Está cheia de condcs, duqucs, marquescs, ctc. Esiâo todos lá.

nanda nadâ e está louco pâra mandar Pronto. se tem ulna classe fácil de identificâÍ materiâlmenlel É mâis fácil de distinguir csta classe do que distinguir burguôs dc pcqucno burguês, poÍque essâ náo é uma

l{tuno

Na lnglatetta. acho que tumbéml Daí poryue os ptóptios

leqistas entendem pot buryuesia..

I

É uma entidade puramente larÍasmal, é nominal.

dislinçAo econômica. é uma distinçáo funcionâI. Se você ÍoÍ só pelâ linha econômicâ, náo dá pârâ disringuir unla classe da outra. Classe se distingue por muitas coisas. Vcja a clâsse pobÍe aqui

en

Sáo Pau1o.

Quase toda a classe pobre de periLria, todos tôm suâ casa própria, e a classe médiâ vive com o sonho da casa própria. 59

l{lúo:

QuantLo tem, esÍá paeando.j

Quando iem está pagando... E o outro lá náo, cle comprou um teüeninho por dois "rcal',. já construiu. está moranalo iá laz vinte anos. Quando o bairro progride, aquilo vale unr dinheirão, ele vende e abre

vcf o sujcito ganhava mâis do que o meu tio. o dentista, carrcgando saco de câIé. Quando eu vi a casa do cara, faleii "É esivador ou conlrabandista?" "Náo, é estivadorl"

uma padariâ. Você vô, então, que a classe pobre tem mais mobilidadc nesse aspecto do que a pequena burgue§ia, e vive melhor às vezes.

Isso eu náo vi, n1as o Ronâldo Aives me contou que no Morro da Rocinhâ existe um monte de cêsebre que você vê assim por fora, mas quando enira lá dentro iem coisas luxuosíssimas. Só que é o seguinte: náo há interesse dos suieitos em cnfeiiar por fora, porque, se você tem êquela propriedadc toda bonitinha, o pessoal vai querer reguladzâr e

vai qucrer quc você pague imposio. E pague luz! pague água... Eles dizem: 'Ah, náo quero nadê dissol,'. Daí cle deixa feio por fora e bonito por dentro. Entâo você náo ten1 â visáo certa do padráo de vida quc os sujeitos estáo tendo lá. Pelo número dc camamdas quc está mctido no 4arcolràfico ld i m (irna. \ocê ve oue ú dinheiro nao e pouco Há vinte anos a gente iá reparavâ nesse negócio, porque você olhava parâ o morro e toda casa tinha an tena de ielevisão. O número de televisôcs na classe pobre parecia ser maior do que o alâ classe média, o da c]àssc B oll C. Já coniundiu tudo No cnlanto. sociologjcamente náo economicamente, mas sociologicamentc

-.

eies estáo numa classe

inferior, pelo próprio bairro em que moram. Digamos, pelo grâu de risco do bairro, por exemplo.

lAlooo Os opeúios do ABC dt décado de 1g7O e 1g80_._l Clârol O prolctariàdo, em comparaçáo com a classc média. era ricol E os cstivadores de Santos? Tinha uma prima minha cujo pai era um dentista, um deniista de succsso em Santos, e a filha casousc com um estivâdor Eu era pcqueno e falei: ,,Como é jsso, por que eia está lãzendo csse negócio? É um prejuízo danadot:.. Daí eu fui ó0

I

I

Leituras sugeridas (RISTEL!ÉÂ. Paul Oskâr', Àrrd issdnce ÍhauEht ond' ils souts New York CÔlmbü UnivditY PÉs, 1979 coPÉNHAwR, Brian P & ScHMÚt, chaíes B Ré,,,st4"" PliLsopirv Oxlord: Oxiod UniYesity Pre$, 1ss2' IIETMSOÉI,I Íleirz. La neraltsica nanzna'

Ítad

1966' losé Gaos Maürd, Rdista dê occidentê,

63

Drdos lnlsnrciomis dr Catarog.qáo na pubticaqáo (CIp) (Cánrrâ Binsilclrâ doLnm SPBràs )

Histór e$cncialda hnxOlr / rorOlavodeCr6âlho Sào PauL.: (Colcção

É

Ilettz!çô.s,2007

hislóia csscnci.t di IiI)§ofia)

aro.roúdo arla: 15 âulâ t6r XarierZubii I acs.oláíi.n t7 Escoláíica ^r§coLáÍrca lI: rerdn! da anicutaqáô do !orhecimenr) dLa 13 Sânlolnmís dc Aquino âula:

anla 19: Íaquirvol c o lôrnkçio dns ldcnlidâdes naúionars rula20 filosoli. nr ldadc Vodenr

I Filoson. EÍudoccnsnro2

Hislórir r Tituio.II séiie

Finri)lia

Íldiccs paÍâ .arúk)8. !istemático

ISI]N 1]

DiGIf']S

liro éa t.anscriçao daâula quc loigravada no dia 05/1212003 na

Este

E Realizações.nr §áo

Paulo

SP BrasiI

lmpr.sso pela Prcl pda a E Âealizaçócs, em agosb dc 2007 Os lipos usadôs sáo da lamilia Dulch. O papel é Chanrois Bulk 90 g/mr para o miolo e súprcmo250 g/m?

paraâcapa

Related Documents

Filosofia
February 2021 1
Filosofia
February 2021 2
Filosofia
January 2021 1
20
January 2021 3
20
February 2021 3

More Documents from "Chunka Omar"